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IDILIO ZAMIN JÚNIOR
ESTEATO-HEPATITE NÃO ALCOÓLICA
MODELO EXPERIMENTAL
Porto Alegre, 2006
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ii
IDILIO ZAMIN JÚNIOR
ESTEATO-HEPATITE NÃO ALCOÓLICA
MODELO EXPERIMENTAL
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Medicina: Hepatologia da Fundação
Faculdade Federal de Ciências dicas de
Porto Alegre para obtenção do título de
Doutor em Medicina.
Orientador: Prof. Dr. Ângelo Alves de Mattos
Porto Alegre, 2006
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iii
Ficha Catalográfica
Ruth B. F. Oliveira
Bibliotecária CRB10/501
Z23e
Za
min Júnior, Idílio
Esteato hepatite não alcoólica modelo experimental / Idílio
Zamin Júnior; orient. Ângelo Alves de Mattos. Porto Alegre :
FFFCMPA, 2006.
100f.; il.; tab.
Tese (Doutorado) - Fundação Faculdade Federal de Ciências
Médicas de Porto Alegre. Faculdade de Medicina. Programa de
Pós-Graduação em Medicina. Área de concentração: Hepatologia.
1. Esteato -
3. Vitamina E. 4. Metformina. I. Mattos, Ângelo Alves de. II.
Titulo.
CDD 6l6.36 23
CDU 6l6.36
002
iv
Para minha esposa, Laura, que durante a
realizão deste trabalho, com seu companheirismo,
soube abdicar de muitos momentos de lazer. Seu
carinho, sua sensibilidade e seu apoio foram
fundamentais para esta conquista.
Para minha filha, Mariana, sua presença e alegria
são estímulo constante para o meu crescimento
profissional.
v
Agradecimentos
Ao meu orientador, amigo e exemplo profissional, Prof. Dr. Ângelo Alves de Mattos,
para quem agradecer simplesmente é pouco diante de tudo o que representou na execução
deste trabalho. Durante estes 13 anos de convívio científico, que se transformaram em
grande amizade, o Dr. Ângelo muito acrescentou à minha formação, tanto pessoal como
profissional e intelectual. Médico e pesquisador brilhante, com prestígio internacional,
ocupa sem dúvida o lugar de destaque que merece. A quem sempre soube incentivar o meu
desenvolvimento científico, a minha admiração e gratidão.
Aos acadêmicos da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre
(FFFCMPA), hoje residentes, Ângelo Z. Mattos, Diogo Santos, Ernesto Soares e Eduardo
Migon que me auxiliaram em todo o período do estudo experimental, incansáveis e sempre
dispostos a despender seu precioso tempo de trabalho.
Ao Prof. Dr. Marcos Luiz Santos Perry, do Departamento de Bioqmica da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, sempre muito atencioso e disponível para qualquer
explicação. A sua experiência e o seu conhecimento em modelos experimentais foram
extremamente importantes para o desenvolvimento da dieta.
À Gabriela Coral, Gastroenterologista e Hepatologista da FFFCMPA e da Irmandade
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA), pelo auxílio prestado na área da
Patologia
À Dra. Cláudia Ramos Rhoden, do departamento de farmacologia da FFFCMPA, a sua
colaboração foi fundamental para a realização do estudo do estresse oxidativo.
A todos os professores da Enfermaria de Gastroenterologia e Hepatologia da FFFCMPA e
ISCMPA, que muito contribuíram para minha formação, tanto pessoal como intelectual.
vi
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
.................................................................................................... viii
LISTA DE TABELAS
.............................................................................................................................................................. x
LISTA DE FIGURAS
............................................................................................................................................................... xi
RESUMO
............................................................................................................................................................................................ xii
ABSTRACT
...................................................................................................................................................................................... xiv
1 INTRODUÇÃO
........................................................................................................................................................................ 2
1. 1 Epidemiologia
..................................................................................................................................................................... 3
1. 2 História Natural
............................................................................................................................................................... 4
1. 3 Patogênese da EHNA
................................................................................................................................................... 6
1.3.1 Primeira Etapa: Esteatose
......................................................................................................................................... 7
1.3.2 Segunda Etapa: Esteato-Hepatite Não Alcoólica
..................................................................................... 12
1.4 Tratamento
........................................................................................................................................................................... 18
2 OBJETIVOS
............................................................................................................................................................................. 25
3 MATERIAL E MÉTODOS
.......................................................................................................................................... 27
3. 1 Animais
.................................................................................................................................................................................... 27
3. 2 Dieta
............................................................................................................................................................................................ 27
3. 3 Drogas
....................................................................................................................................................................................... 28
3. 4 Procedimento Experimental
.................................................................................................................................. 28
3. 5 Coleta dos Materiais e Morte dos Animais
............................................................................................... 29
3. 6 Análise Bioquímica
........................................................................................................................................................ 29
3. 7 Análise da Lipoperoxidação
................................................................................................................................... 30
3. 8 Análise Histológica
......................................................................................................................................................... 31
3. 9 Comitê de Ética
................................................................................................................................................................. 33
3.10 Análise Estatística
........................................................................................................................................................... 33
vii
4 RESULTADOS
......................................................................................................................................................................... 35
4. 1 Peso dos Animais
............................................................................................................................................................. 35
4. 2 Aminotransferases
.......................................................................................................................................................... 37
4. 3 Perfil Lipídico
..................................................................................................................................................................... 38
4. 4 Análise da Lipoperoxidação
................................................................................................................................... 39
4. 5 Aspecto Macroscópico dos Fígados
.................................................................................................................. 40
4. 6 Histologia
................................................................................................................................................................................ 42
5 DISCUSSÃO
............................................................................................................................................................................... 49
5. 1 O Modelo Experimental Desenvolvido
......................................................................................................... 49
5. 2 Drogas
....................................................................................................................................................................................... 54
5.2.1 Metformina
............................................................................................................................................................................ 54
5.2.2 Vitamina E
............................................................................................................................................................................. 58
5.2.3 Sinvastatina
........................................................................................................................................................................... 63
6 CONCLUSÕES
........................................................................................................................................................................ 67
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
................................................................................................................. 69
viii
Lista de Abreviaturas e Símbolos
α
alfa
% percentual
ALT alanina-aminotransferase
AST aspartato-aminotransferase
ATP trifosfato de adenosina
C282Y substituição da cisteína por tirosina
CHC carcinoma hepatocelular
cm Centímetros
CYP2E1 citocromo P450 2E1
DHGNA doença hepática gordurosa não alcoólica
DM diabetes melito
DMC dieta deficiente em metionina e colina
EHNA esteato-hepatite não alcoólica
FA fosfatase alcalina
FFFCMPA Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre
FNT fator de necrose tumoral
g grama
GGT gama-glutamiltransferase
h hora
H63D substituição da histidina por ácido aspártico
HDL colesterol de alta densidade
HFE gene da hemocromatose
HMG-CoA 3-hidroxi-3metilglutaril-coenzima A redutase
HOMA Homeostasis Model Assessment Method
IMC índice de massa corporal
IU unidade internacional
IU/d unidade internacional por dia
IU/kg unidade internacional por quilograma
kg quilograma
LDL colesterol de baixa densidade
LPO lipoperoxidação
ix
MF metformina
mg/d miligrama por dia
mg/dL miligrama por decilitro
mg/kg miligrama por quilograma
ml mililitro
mmHg milímetro de Mercúrio
mmol/L milimol por litro
n número
NASH Nonalcoholic Steatohepatitis
nm nanômetros
nmol nanomol
º C grau centígrado
R ração
RI resistência à insulina
rpm rotações por minuto
SF soro fisiológico
Sinv sinvastina
SM síndrome metabólica
TBARS teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
TGF β1 transforming growth factor β1
U/mL unidade por mililitro
Vit E vitamina E
VLDL lipoproteínas de densidade muito baixa
β
beta
µg/min
micrograma por minuto
x
Lista de Tabelas
Tabela 1 Peso dos ratos (gramas) antes e após o tratamento
...................................................................... 35
Tabela 2 Comparação dos níveis séricos de colesterol total, LDL, HDL e
triacilgliceróis
......................................................................................................................................................... 39
Tabela 3 Distribuição de freqüência dos escores de atividade inflamatória
entre os grupos
....................................................................................................................................................... 45
Tabela 4 Distribuição de freqüência dos escores de fibrose entre os
grupos
........................................................................................................................................................................... 46
xi
Lista de Figuras
Figura 1 Animal que recebeu a dieta DMC e metformina após 90 dias de
tratamento
................................................................................................................................................................. 36
Figura 2 Animal que recebeu ração normal para ratos durante 90 dias
............................................. 36
Figura 3 Comparação dos níveis de AST (U/L) entre os grupos
............................................................ 37
Figura 4 Comparação dos níveis de ALT (U/L) entre os grupos
........................................................... 38
Figura 5 Comparação dos escores de lipoperoxidão (nmol de malondialddo/mg
de proteína) entre os grupos
......................................................................................................................... 39
Figura 6 Aspecto macroscópico de um fígado do grupo que recebeu ração
.................................. 40
Figura 7 Aspecto macroscópico de um fígado, após ser removido, do grupo que
recebeu ração
.......................................................................................................................................................... 40
Figura 8 Aspecto macroscópico de um fígado do grupo que recebeu a dieta DMC
................ 41
Figura 9 Aspecto macroscópico de um fígado, após ser removido, do grupo que
recebeu a dieta DMC
........................................................................................................................................ 41
Figura 10 Fotomicrografia demonstrando esteatose macrovesicular acentuada e
atividade necroinflamatória (H&E, 200X)
........................................................................................ 42
Figura 11 Fotomicrografia demonstrando esteatose macrovesicular acentuada e
infiltrado inflamatório celular (H&E, 400X)
................................................................................... 43
Figura 12 Comparação dos escores de esteatose macrovesicular entre os grupos
........................ 44
Figura 13 Comparação dos escores de atividade inflamatória entre os grupos
............................... 45
Figura 14 Fotomicrografia demonstrando a presença de cirrose (picro-sirius, 400X)
............... 46
Figura 15 Comparação dos escores de fibrose entre os grupos
.................................................................. 47
xii
RESUMO
Este estudo tem como objetivo desenvolver um modelo experimental de esteato-
hepatite não alcoólica (EHNA) induzida por dieta deficiente em metionina e colina (DMC),
bem como avaliar o papel do hipoglicemiante metformina, do antioxidante vitamina E e do
hipolipemiante sinvastatina na doença hepática gordurosa não alcoólica.
Foram estudados prospectivamente 50 ratos da linhagem Wistar, por um período de 90
dias, sendo os mesmos divididos em 5 grupos de 10 ratos. Um grupo recebeu ração e os
demais a dieta DMC. Dentre os 4 grupos que receberam a dieta, para um foi administrado
soro fisiológico (SF) e para os demais o metformina, a vitamina E e a sinvastatina. Após o
período de estudo os animais foram mortos, sendo colhido sangue para análise bioquímica e
removido o fígado para análise da lipoperoxidação e histológica. Na análise estatística foi
utilizado um nível de significância de α = 0,05.
A utilização da dieta DMC foi capaz de induzir o desenvolvimento de esteatose em
100% dos animais enquanto que a EHNA foi diagnosticada em 26 (66,6%) dos 39 ratos
submetidos à dieta.
Entre os grupos que receberam a dieta DMC, os animais que utilizaram a vitamina E
apresentaram os menores níveis de aminotransferases, mas não houve diferença estatisticamente
significante em relação ao grupo do SF e do metformina. Os níveis da alanina-aminotransferase
(ALT) foram significativamente maiores no grupo da sinvastatina. Os níveis de aspartato-
aminotransferase (AST) também foram maiores no grupo da sinvastatina, mas apenas foram
estatisticamente significantes em relação ao grupo da ração. o ocorreu diferença no perfil
lipídico entre os grupos. Quando se compararam os valores de lipoperoxidação, os grupos da
ração e da vitamina E apresentaram índices significativamente menores que os demais. A
presença de EHNA foi significativamente maior naqueles que receberam sinvastatina e foi
semelhante entre os demais grupos que receberam a dieta DMC. Todos os ratos que
receberam a dieta DMC apresentaram esteatose macrovesicular. A atividade inflamatória e o
escore de fibrose foram significativamente maiores naqueles que receberam sinvastatina.
xiii
Quando a comparação foi feita apenas em relação a presença ou ausência de fibrose, a mesma
foi significativamente menor no grupo que recebeu a vitamina E.
Com os resultados obtidos, foi possível estabelecer as seguintes conclusões:
A dieta DMC desenvolvida foi eficaz em induzir esteatose e EHNA, podendo ser
utilizada para estudos experimentais em modelo animal.
O grupo que utilizou a vitamina E apresentou os menores veis de aminotransferases
ao final do tratamento entre os grupos submetidos à dieta DMC, porém estes achados não
foram estatisticamente significativos. No entanto, a utilização da sinvastatina foi associada
com níveis de ALT significativamente maiores que os demais.
Quando utilizado o teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico no tecido
hepático, a vitamina E demonstrou reduzir o estresse oxidativo hepático.
A vitamina E foi eficaz em reduzir o desenvolvimento de fibrose na EHNA, e a
sinvastatina agravou tanto a atividade inflamatória como o estadiamento da EHNA.
xiv
ABSTRACT
The present study aims at developing an experimental model of nonalcoholic steatohepatitis
(NASH) induced by a methionine and choline deficient diet (DMC), as well as analysing the
role of the insulin sensitizing agent metformina, the antioxidant vitamin E and the
antihyperlipidemic agent sinvastatin in the nonalcoholic fatty liver disease.
Fifty Wistar rats were prospectively studied, along a 90 days period, divided in 5 groups, 10
rats in each group. One of the groups was fed with standard diet to rats while the others were
given the DMC diet. Physiologic solution was given to one of the four groups on the diet
DMC, and metformina, vitamin E and sinvastatina to the other groups. The animals were
death after the experiment, blood samples were biochemically analysed and their livers were
checked for stress oxidative and histological analysis. For statistical analysis a α = 0,05 was
considered significant.
The DMC diet was able to induce the development of steatosis in 100% of the animals while
NASH was diagnosed in 26 (66.6%) out of the 39 rats on the DMC diet.
The lowest rates of aminotransferases found among the groups on the DMC diet were shown
by the animals given the vitamin E, however, there was no relevant statistical difference when
compared with the physiologic solution and the metformina groups. Considerably higher
levels of alanine aminotransferase (ALT) were found in the sinvastatin group. The rates of
aspartate aminotransferase (AST) were also higher in the sinvastatin group, while just
statistically relevant concerning the group of standard diet. There was no difference among
the lipid concentrations feature of the groups. Concerning stress oxidative the groups given
standard diet and vitamin E showed considerably lower rates than the others. The NASH rates
were quite higher in those under sinvastatin and were similar to the ones given the DMC diet.
All the rats fed with the DMC diet showed macrovesicular steatosis. Inflammatory activity
and score of fibrosis were quite higher among the ones in the sinvastatin group. When
checked for presence or absence of fibrosis, lower rates were shown by the vitamin E group.
xv
The results obtained led to the following conclusions:
The DMC diet was effective to induce steatosis and NASH, and may be used in
experiments on animals.
In the end of the treatment, lower rates of aminotransferases were shown by the vitamin E
group compared with the other groups on the DMC diet, although such results were not
statistically significant. However, the use of sinvastatin was related to rates of ALT
considerably higher than others.
Vitamin E proved to reduce stress oxidative hepatic when the test for thiobarbituric acid
reactive substances was used on hepatic tissue.
Vitamin E was effective to reduce the development of fibrosis in NASH, while sinvastatin
increased both the inflammatory activity and the staging the NASH.
1 INTRODUÇÃO
1 Introdução
2
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é contribuir para o avanço do conhecimento das doenças
associadas com o acúmulo de gordura no fígado. Para tal fim, foi realizada pesquisa
experimental com ratos, desenhada de forma a desenvolver esteatose e EHNA. O experimento
testou alternativas terapêuticas, com a finalidade de comparar os resultados por elas
proporcionados.
A associação de esteatose, infiltrado inflamatório hepático e cirrose com obesidade e
diabetes melito (DM) aparece descrita desde longa data
1apud
, tendo sido bem caracterizada por
Schaffner e Adler
2
, em 1979. Esses autores, ao estudarem indivíduos obesos sem história de
consumo abusivo de álcool, observaram achados histológicos hepáticos semelhantes àqueles
encontrados nos pacientes etilistas ou que realizaram cirurgia de derivação intestinal. A
continuidade desses estudos por Ludwig e colaboradores
3
, em 1980, levou à utilização do
termo esteato-hepatite não alcóolica. Tais autores chamaram a atenção para a associação da
doença com obesidade, sexo feminino e DM, bem como para seu potencial evolutivo.
Posteriormente, outros estudiosos
4
demonstraram que a EHNA também pode ocorrer em
indivíduos do sexo masculino e não obesos.
Atualmente, no ocidente, a EHNA tem sido considerada a segunda
5
ou a terceira
6
doença hepática mais comum em pacientes ambulatoriais, sendo que muitos casos de cirrose
criptogênica podem ser devidos à evolução da EHNA
6, 7
.
O reconhecimento do seu potencial evolutivo
2, 3, 4, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15
e a sua alta
prevalência o os principais motivos que despertam o interesse da comunidade científica em
relação ao seu estudo.
Mais recentemente
5, 11
, vem sendo proposto o termo doença hepática gordurosa não
alcoólica (DHGNA) com a finalidade de englobar o espectro de doenças associadas com acúmulo
de gordura no fígado, desde a esteatose, a EHNA a a cirrose e carcinoma hepatocelular
(CHC).
1 Introdução
3
1.1 Epidemiologia
A prevalência exata da EHNA permanece desconhecida, principalmente devido ao seu
curso silencioso e assintomático na maior parte dos pacientes. A maioria dos estudos realizados
sobre a EHNA
2, 3, 4, 9, 16
é retrospectiva e avalia pacientes referendados por apresentarem alterações
de provas de função hepática ou pacientes que haviam recebido diagnóstico prévio de hepatite
alcoólica através dos achados histológicos, sendo, posteriormente, excluído o uso de álcool.
Wanless e Lentz realizaram estudo a partir de necropsias e encontraram esteatose em
70% dos obesos e 35% dos indivíduos sem obesidade, tendo diagnosticado EHNA em 18,5%
dos obesos e em 2,7% nos demais indivíduos
10
.
A DHGNA tem distribuição mundial, embora exista importante variação geográfica,
pois ocorre maior prevalência justamente em países onde a obesidade é mais comum. A
EHNA é encontrada em 7-11% dos pacientes que realizam biópsia hepática nos Estados
Unidos e Cana
3, 17
, porém, no Japão, ocorre em apenas 1,2% das biópsias
16
.
Nos Estados Unidos, estima-se que a DHGNA seja a principal causa de elevação
persistente de aminotransferases. Recentes dados do National Health and Nutritional
Examination Survey mostram que sua prevalência atinge 23% em americanos adultos, o que
significa que a doença ocorre em torno de 30 milhões de pessoas neste país
5
. Além disso,
como a prevalência de obesidade nos Estados Unidos continua aumentando, estima-se que a
prevalência da DHGNA e, conseqüentemente, a da EHNA também aumentem.
Dixon e colaboradores
18
realizaram biópsia hepática em pacientes com obesidade
mórbida que foram submetidos à cirurgia bariátrica e observaram uma prevalência de
DHGNA de 95% e de EHNA de 25%.
Um estudo prospectivo que avaliou 81 pacientes referendados com aminotransferases
elevadas e marcadores virais e auto-imunes negativos observou EHNA em 26 casos (32%),
sendo que 2 pacientes já apresentavam cirrose na avaliação inicial
19
.
Em nosso meio, ao serem avaliados, prospectivamente, 912 indivíduos obesos, sem
DM associado, em um ambulatório de nutrição, foi possível determinar, pela primeira vez em
estudo populacional e não de uma série de casos, uma prevalência de esteato-hepatite não
alcoólica da ordem de 3,18%
20
. Essa prevalência, no entanto, é subestimada, uma vez que
foram avaliados os pacientes com alterações de aminotransferases.
1 Introdução
4
1.2 História Natural
A despeito de apresentar alta prevalência na população, a história natural de EHNA
ainda é pouco estudada. Atualmente, acredita-se que a EHNA pode evoluir para cirrose e
CHC, enquanto que a esteatose isolada não costuma apresentar esta evolução; porém existem
poucos estudos prospectivos na literatura com biópsias seqüenciais em pacientes com EHNA.
Os resultados de três estudos que se propuseram a realizar nova biópsia hepática em
26 pacientes com EHNA, após um período médio de seguimento de 9 anos, mostraram que,
em 50% destes pacientes, a doença permaneceu estável, mas, em 46%, ocorreu progressão em
relação ao escore de inflamação e/ou fibrose, sendo que, em 19%, houve evolução para
cirrose
4, 14, 21
.
Por outro lado, Teli e colaboradores
13
repetiram a biópsia em 12 pacientes, após um
seguimento de 7,6 a 16 anos, e observaram que apenas um paciente apresentou evolução do
quadro com desenvolvimento de fibrose leve, após 9 anos da primeira biópsia. Nos demais
pacientes, os achados permaneceram inalterados ou ocorreu melhora.
Harrison e colaboradores
22
avaliaram 22 pacientes com diagnóstico prévio de EHNA e
realizaram nova biópsia hepática em um período médio de 5,7 anos. Em relação à atividade
inflamatória, foi observada redução em 50% dos pacientes, enquanto que, em 18%, ocorreu
evolução. O escore de fibrose permaneceu inalterado em 50% dos pacientes e reduziu em
outros 18%. Em 32% dos pacientes, entretanto, ocorreu evolução da fibrose. Tanto nos
pacientes em que a doença melhorou, como naqueles em que ocorreu progressão, os autores
não encontraram relação com o índice de massa corporal (IMC), idade, presença de diabetes e
com o índice AST/ALT, que são fatores descritos como de maior risco para a evolução.
Recentemente, Adams e colaboradores
23
, em estudo retrospectivo, avaliaram 103
pacientes que realizaram uma nova biópsia hepática, após um diagnóstico inicial de DHGNA
e não foram submetidos a um tratamento específico. Após um intervalo médio de 3,2 anos, os
autores observaram que o estágio de fibrose progrediu em 37%, permaneceu estável em 34%
e regrediu em 29% dos pacientes. Através de análise multivariada, os autores associaram
presença de DM, estágio baixo de fibrose na biópsia inicial e alto IMC com uma maior
progressão da fibrose.
Matteoni e colaboradores
24
, em um estudo retrospectivo, observaram que a mortalidade
associada à doença hepática dos pacientes com EHNA foi significativamente maior do que a
população geral nos Estados Unidos. Este estudo, em um seguimento médio de 8,3 anos,
1 Introdução
5
observou que a ocorrência de cirrose, a taxa de mortalidade geral e a mortalidade associada à
doença hepática foram de 15%, 36% e 7% respectivamente. Os autores também destacaram
que o risco de mortalidade associa-se com o grau de inflamação e fibrose observados na
biópsia inicial. Por outro lado, pacientes nos quais foi diagnosticada apenas esteatose tendem
a não apresentar progressão da doença.
Um dos maiores estudos populacionais a respeito da história natural da DHGNA foi
realizado por Adams e colaboradores
25
, em que os autores identificaram 420 pacientes que
receberam este diagnóstico entre os anos de 1980 a 2000, em uma cidade dos Estados Unidos.
Após um seguimento médio de 23,5 anos, observaram que a ocorrência de cirrose, a taxa de
mortalidade geral e a mortalidade associada à doença hepática foram de 5%, 12,6% e 1,7%
respectivamente. Esta sobrevida foi estatisticamente inferior a da população geral da mesma
cidade pareados para sexo e idade.
Em relação à evolução para cirrose é interessante salientar o trabalho de Caldwell e
colaboradores
6
que revisou 102 casos de pacientes com diagnóstico de cirrose criptogênica.
Os autores observaram franco predomínio de mulheres obesas, com diabetes melito e idade
mais avançada, semelhante ao perfil observado em pacientes com EHNA, concluindo que
muitos casos de cirrose dita “criptogênica” podem ser, na realidade, secundários à EHNA.
Bugianesi e colaboradores
8
, em um estudo de caso-controle, avaliando 23 pacientes
com cirrose criptogênica e CHC, observaram uma maior prevalência de obesidade, de DM, de
dislipidemia, de resistência à insulina e de níveis baixos de aminotransferases. Quando
realizada uma análise multivariada, foram identificados como fatores de risco para a neoplasia
a presença de DM, dislipidemia e um menor vel de aminotransferases. Avaliando-se este
estudo, conclui-se que os fatores implicados na EHNA são mais freqüentes nos pacientes com
neoplasia e cirrose idiopática, podendo a neoplasia ser uma complicação tardia da cirrose
relacionada à EHNA.
A identificação dos pacientes que apresentarão curso desfavorável com evolução da
doença hepática constitui outro desafio em relação à EHNA e também vem sendo estudada.
Alguns autores observaram que a idade avançada, DM, obesidade, níveis elevados de ácidos
graxos livres e grau de atividade inflamatória na biópsia hepática são fatores associados com a
presença e evolução da fibrose
10, 11, 26, 27
. A presença de um índice AST/ALT superior a 1 também
foi associada com um maior grau de fibrose em pacientes com EHNA
10, 28
.
1 Introdução
6
Outros autores
29
sugerem que a presença de mutação no gene para hemocromatose
(HFE) resulta em maiores níveis séricos de transferrina, maior concentração de ferro hepático
e lesão hepática mais importante, principalmente com maior expansão fibrosa. Acreditam que
uma leve sobrecarga de ferro, como ocorre no paciente heterozigoto para hemocromatose,
pode atuar sinergicamente na promoção de fibrose na EHNA. Esses trabalhos, no entanto,
receberam contestações
30, 31
.
A porcentagem de pacientes que desenvolveu cirrose clinicamente descompensada e
necessitou transplante hepático não é conhecida, tendo em vista o desaparecimento da
esteatose com a evolução da doença, pois, no momento do transplante, não está mais presente
o quadro histológico característico da EHNA
32
. Isto pode ocorrer devido a alterações no fluxo
sanguíneo e permeabilidade capilar que ocorrem com a evolução da fibrose e dificultam a
deposição de gordura no gado
33
. Entretanto, muitos pacientes com cirrose criptogênica que
realizam transplante apresentam os fatores epidemiológicos associados à EHNA, incluindo,
principalmente, a obesidade e o DM
6
.
A ocorrência de esteatose e EHNA tem sido observada nos enxertos pós-transplante
hepático de pacientes que apresentavam cirrose criptogênica
34
. Charlton e colaboradores
35
acompanharam 16 pacientes com cirrose por provável evolução da EHNA que realizaram
transplante hepático. Os autores observaram recorrência da EHNA em 33% dos pacientes,
sendo que, em 12,5%, a doença progrediu para cirrose em 1 ano após o transplante. Os autores
sugerem que a EHNA, além de evoluir para cirrose, também pode apresentar recidiva após o
transplante.
Tendo em vista a prevalência desta entidade, bem como a sua história natural, é
fundamental que haja uma melhor compreensão dos seus mecanismos patogênicos, para que
possamos propor alternativas terapêuticas com mais segurança.
1.3 Patogênese da EHNA
A patogênese da EHNA ainda o está bem esclarecida e também não são conhecidos
os fatores envolvidos com a sua progressão para cirrose. Vários estudos recentes sugerem que
a patogênese é multifatorial e citam, entre os fatores potencialmente envolvidos, a resistência
periférica à insulina, os distúrbios do metabolismo dos lipídios, a produção hepática de
1 Introdução
7
radicais livres de oxigênio, a produção anormal de citoquinas, todos levando à injúria celular
e fibrose.
A teoria mais aceita em relação à patogênese foi proposta por Day e James em
editorial publicado em 1998
36
. Segundo esta hipótese, a doença ocorre em duas etapas:
a)a) a primeira etapa consiste no acumulo de ácidos graxos e triacilgliceróis no fígado,
levando à esteatose;
b)b) uma vez a esteatose presente, em alguns pacientes, ocorre a segunda etapa, que
consiste na formação de inflamação crônica, injúria e necrose celular.
1.3.1 Primeira Etapa: Esteatose
A esteatose, condição necessária para a ocorrência posterior de EHNA, acontece
quando um distúrbio no metabolismo hepático dos lipídios e está associada com ltiplas
condições clínicas, como obesidade, diabetes melito, alcoolismo, desnutrição protéico calórica,
uso crônico de corticoesteróides
37, 38, 39, 40
.
O fígado exerce um papel central no metabolismo dos lipídios. São consideradas como
suas principais funções:
a) facilitar a digestão e absorção através da produção de bile;
b) realizar a síntese e oxidação de ácidos graxos e a síntese de triacilgliceróis e
fosfolipídeos;
c) converter os ácidos graxos em corpos cetônicos;
d) realizar a síntese e o metabolismo de lipoproteínas
40, 41, 42
.
Quando um desequilíbrio entre a velocidade de formação e de liberação hepática
dos triacilgliceróis em favor da lipogênese, ocorre a esteatose
43
. Isto pode acontecer quando,
pelo menos, um dos quatro processos básicos no ciclo de lipídios entre tecido adiposo e o
fígado está alterado
4, 15, 40
, ou seja, quando ocorrer:
a) aumento na quantidade de ácidos graxos liberados para o fígado;
b) aumento na síntese de ácidos graxos no fígado;
c) redução na betaoxidação de ácidos graxos no fígado;
d) redução na síntese ou secreção de lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL).
1 Introdução
8
Atualmente, acredita-se que a resistência à insulina (RI) é um dos principais fatores
que promovem a esteatose
44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51
, e sua presença também tem sido identificada
na maioria dos pacientes com EHNA
44, 45, 48
. A RI é um achado comum em pacientes obesos e
diabéticos, e os indivíduos com esteatose e EHNA têm, significativamente, maior RI quando
comparados aos controles
44
.
O termo resistência à insulina indica a presença de uma menor resposta biológica à
secreção de insulina endógena ou à sua administração de forma exógena. A RI é manifestada
por uma redução do transporte e metabolismo da glicose no tecido adiposo e no músculo
esquelético, mediada pela insulina. A sensibilidade à insulina decorre de uma série de fatores,
incluindo raça, idade, altura, obesidade (principalmente abdominal), atividade física,
medicamentos, entre outros
48, 52
. Também há uma forte influência genética para a ocorrência
de RI e, desta forma, para o DM
48
.
O mecanismo patogênico da RI consiste numa alteração da capacidade da célula do
tecido adiposo em responder a variações dos níveis séricos de glicose, o que acaba ocasionando
um aumento da insulina circulante. A insulina, em níveis elevados, produz alterações tanto no
tecido adiposo, como no fígado. No adipócito, a insulina produz lipólise com liberação de
ácidos graxos para o fígado. no hepatócito, mais particularmente na mitocôndria, a insulina
estimula a síntese e inibe a oxidação de ácidos graxos, o que acaba gerando acúmulo hepático
dos mesmos
53, 54
. Outro estudo
55
também demonstrou que a hiperinsulinemia pode aumentar a
degradação da apolipoproteína B100, que é um dos principais componentes da VLDL,
dificultando, desta forma, a mobilização de lipídios do fígado para a periferia.
A importância da insulina agindo diretamente no fígado foi comprovada por Wanless e
colaboradores
46
, ao observarem a ocorrência de esteatose e EHNA subcapsular, em pacientes
diabéticos e com insuficiência renal crônica, que realizavam diálise peritoneal e recebiam
infusão de insulina junto com a solução de diálise. A insulina, entrando em contato com o
fígado durante a diálise, promoveu a ocorrência de esteatose e EHNA. A este respeito, Sohn e
colaboradores
47
observaram a ocorrência de esteatose adjacente a metástases hepáticas de
insulinoma, identificando, desta forma, o papel direto da insulina na patogênese da esteatose.
Alguns autores consideram também que a hiperinsulinemia pode exercer um efeito
indutor do citocromo P450 2E1 (CYP2E1), contribuindo, desse modo, para a formação de
substâncias pró-oxidantes que favorecem a evolução da esteatose para a EHNA, como será
discutido adiante
52
.
1 Introdução
9
Existem vários métodos de avaliar a sensibilidade à insulina. O padrão áureo foi descrito
por DeFronzo e colaboradores
56
em 1979 e consiste no clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico.
O teste é realizado colocando-se um cateter venoso em um braço para a infusão de solução de
glicose/insulina. Um segundo cateter é inserido em uma veia do braço oposto, permanecendo
com infusão de solução salina, para a coleta de amostras de sangue a intervalos estabelecidos
para a determinação de glicose e insulina plasmática, que são inseridos e analisadas em uma
curva, segundo o protocolo do teste. Um outro teste mais simples de sensibilidade à insulina e
que apresenta ótima correlação com o clamp euglicêmico-hiperinsulinêmico é o HOMA
(Homeostasis Model Assessment Method). Neste teste, é realizada apenas uma determinação
de insulina e de glicemia de jejum. O cálculo é realizado com a seguinte fórmula: insulina
(U/ml) x glicose (mmol/L)/22,5. O resultado do teste HOMA maior do que 3,5 indica resistência
à insulina. Vários estudos em relação à sensibilidade à insulina na EHNA utilizaram o
HOMA
44, 48, 49
.
Alguns trabalhos têm sido realizados para identificar o papel que a RI e a hiperinsulinemia
exercem na patogenia da EHNA
44, 50, 57
. Em 1999, Marchesini e colaboradores
44
estudaram 46
pacientes que apresentavam esteatose à ecografia e aminotransferases elevadas, sem diabetes
melito e compararam com grupo controle. Os autores observaram que a RI e a hiperinsulinemia
foram associadas com a presença de esteatose, independentemente do IMC.
Sanyal e colaboradores
57
compararam pacientes com EHNA com outros que
apresentavam apenas esteatose e com um grupo de controle, normal em relação à resistência à
insulina. Os autores concluíram que a resistência periférica à insulina, via de regra, está
sempre presente nos pacientes com esteatose e nos pacientes com EHNA, enquanto que os
últimos também apresentam anormalidades estruturais mitocondriais e maior estresse oxidativo.
Os autores formularam a hipótese de que as alterações observadas nas mitocôndrias são
responsáveis pela progressão da esteatose para a EHNA, porém ressalvaram que tais achados
podem ser conseqüências e, não, causa da EHNA.
Muitos pacientes apresentam, simultaneamente, obesidade, dislipidemia, diabetes melito e
hipertensão, condição denominada síndrome metabólica (SM)
58
. Atualmente, vários estudos
têm demonstrado forte associação entre os componentes da SM e a EHNA. Porém, desde a
descrição original, as condições que compreendem a SM bem como os valores limites das
mesmas vêm sendo tema de diversos debates.
1 Introdução
10
A Organização Mundial de Saúde
59
definiu a SM como a presença de resistência à
insulina (diabetes melito tipo 2, intolerância a glicose ou glicemia de jejum elevada), mais 2
dos seguintes itens:
a)a) hipertensão arterial sistêmica (pressão sistólica ≥ 140 mmHg e diastólica ≥ 90 mmHg)
ou uso de tratamento anti-hipertensivo;
b)b) veis ricos de triacilgliceróis acima de 150 mg/dl e/ou níveis baixos de colesterol
HDL (< 36 em homens e < 40 em mulheres);
c)c) índice da massa corporal > 30 kg/m² e/ou obesidade abdominal (índice cintura-
quadril > 0,9 em homens e > 0,85 em mulheres);
d)d) presença de microalbuminúria (albumina urinária ≥ 20 ug/min).
Porém há divergências em relação aos critérios diagnósticos da SM. Uma outra definição
também muito utilizada não leva em consideração a microalbuminúria, e a resistência à
insulina não necessita estar sempre presente
60
.
Com o objetivo de determinar a presença da SM em pacientes com EHNA assim como
o papel da SM na sua progressão, Marchesini e colaboradores
51
estudaram 304 pacientes
consecutivos, com alteração persistente de aminotransferases e esteatose à ecografia, sem
diagnóstico de diabetes melito ou história de alcoolismo e com marcadores virais e auto-
imunes negativos. Dos 163 pacientes que realizaram biópsia hepática, foi diagnosticada
EHNA em 120 (73,6%), sendo que 88% dos mesmos preencheram os critérios para diagnóstico
da SM, o que foi estatisticamente significativo em relação aos pacientes com esteatose à
biópsia, em que foi diagnosticada SM em apenas 53%. Os autores observaram também que a
SM foi associada com a presença e graduação da fibrose e concluíram que os pacientes com
EHNA e SM são aqueles que apresentam maior probabilidade de evoluir para cirrose.
Chitturi e colaboradores
48
estudaram 66 pacientes com EHNA em relação à resistência
à insulina e compararam com grupo controle de pacientes com hepatite crônica C, pareados
para sexo, idade e grau de fibrose hepática. Os autores observaram que a resistência à insulina
é condição essencial para a ocorrência da EHNA, independente do grau de obesidade, sendo
que a maioria destes pacientes preencheu os critérios mínimos para o diagnóstico da SM. A
presença de RI e de SM foram significativamente superiores nos pacientes com EHNA, quando
comparados aos pacientes com hepatite C. Os autores chamaram atenção também para a
presença de obesidade central na maioria desses pacientes com EHNA e consideraram que a
deposição de gordura esplâncnica favorece a formação de esteatose. Outros estudos também
reconhecem a obesidade central como fator de risco para EHNA
45, 61
.
1 Introdução
11
A RI e a SM parecem ser os principais fatores associados com a EHNA, mesmo em
pacientes não obesos e sem diabetes melito. A este respeito, Pagano e colaboradores
45
estudaram 19 pacientes com diagnóstico de EHNA, sem cirrose, não obesos e sem diabetes
melito e compararam com grupo controle normal, pareados para sexo e idade. Os autores
observaram haver RI e hiperinsulinemia na maioria dos pacientes com EHNA. Em relação à
SM, 9 pacientes preencheram os critérios para o diagnóstico e outros 7 apresentavam 1
componente da síndrome. O fato de apenas terem sido estudados pacientes sem doença
avançada sugere que o desequilíbrio do metabolismo da insulina é causa e não conseqüência
da doença hepática. Nesses pacientes ocorre um aumento da secreção pancreática de insulina.
tardiamente, com a progressão da doença hepática, pode ocorrer redução da degradação
hepática de insulina, agravando a hiperinsulinemia e conseqüente resistência periférica. Nesse
estudo, os autores observaram correlação entre a circunferência abdominal e o índice de
resistência à insulina e os níveis de aminotransferases em pacientes com EHNA
45
.
Apesar da resistência à insulina, atualmente, ser considerada condição essencial para a
ocorrência da EHNA, o seu papel na patogênese da inflamação e da fibrose ainda não está
claro e necessita ser melhor investigado.
Outro hormônio que, atualmente, está associado com a patogênese da esteatose e
também da EHNA é a leptina. Esse hormônio é responsável pela homeostasia de energia no
organismo. Sendo produzido, principalmente, pelos adipócitos, exerce um efeito regulador
importante do metabolismo dos ácidos graxos, orientando a direção da rota metabólica dos
mesmos para a oxidação mitocondrial ou para a síntese de triacilgliceróis
62
. Em nível central,
a leptina promove um sinal de saciedade, e a sua ausência está associada com hiperfagia e
obesidade
63
.
A deficiência de leptina, como acontece em ratos geneticamente obesos (ob/ob), está
associada ao fenótipo obeso e também à redução da oxidação de ácidos graxos no gado e
conseqüente acúmulo de gordura (esteatose). Por outro lado, a administração exógena de
leptina reverte tanto a obesidade como a esteatose nestes animais
63
.
Em humanos, porém, paradoxalmente, a obesidade está associada a veis elevados de
leptina
64
, provavelmente devido a uma resposta inadequada dos seus receptores periféricos,
caracterizando a presença de resistência. Acredita-se que este hormônio, em níveis elevados,
promove resistência periférica à insulina, agindo principalmente no adipócito. no fígado, a
leptina induz aumento da produção de ácidos graxos
53
. A este respeito, Uygun e colaboradores
65
observaram níveis elevados de leptina na maioria dos pacientes com EHNA.
1 Introdução
12
Uma observação interessante em ratos com deficiência de leptina é a de que, apesar da
ocorncia de obesidade e esteatose, não formação de fibrose, sugerindo que a mesma participe
do processo de fibrogênese
66
. Em seres humanos, estudos epidemiológicos demonstraram que
a obesidade é um fator de risco independente para o desenvolvimento de fibrose em pacientes
com doença hepática crônica, como a hepatite C ou a doença hepática alcoólica
67
. A leptina
pode ser o elo de ligação entre a obesidade e o diabetes melito com a fibrose hepática, tendo
em vista que a mesma demonstrou ser um importante indutor das células estrelares e das células
endoteliais dos sinusóides, quando se apresenta em níveis elevados e um estímulo
inflamatório crônico hepático
66
.
Em modelos animais de cirrose, também foi demonstrado um importante papel da
leptina na formação de fibrose. A este respeito, Ikejima e colaboradores
68
realizaram estudo
com ratos Zucker (fa/fa), os quais o resistentes à ação biológica da leptina, devido à mutação
em seu receptor. Quando expostos à intoxicação por thioacetamide, ocorreu uma redução
significativa da resposta fibrogênica em relação aos ratos normais. Também foi observada a
ocorrência de maior resposta inflamatória e maior fibrose em ratos expostos ao tetracloreto de
carbono, quando receberam injeção de leptina
68
.
Desta forma, a leptina pode estar envolvida tanto na patogênese da esteatose, promovendo
a deposição de gordura hepática, quanto na patogênese da EHNA, ao induzir a inflamação e
fibrose.
Por outro lado, recentemente, Serin
69
e colaboradores, estudando 2 grupos de pacientes
com esteatose à ecografia, um com aminotransferases normais e outro elevadas, observaram
que aqueles pacientes com enzimas normais apresentavam significativamente maiores veis
séricos de leptina, sugerindo um efeito “protetor”da mesma na DHGNA.
Certamente, maiores estudos necessitam serem realizados para um melhor entendimento
do papel da leptina na DHGNA.
1.3.2 Segunda Etapa: Esteato-Hepatite Não Alcoólica
Uma vez que a esteatose esteja presente, em alguns pacientes, ocorre o desenvolvimento
de inflamação hepatocitária, necrose e fibrose. Os fatores que desencadeiam estas alterações
ainda estão sendo investigados.
1 Introdução
13
Estudos em relação à patogênese da EHNA
12, 23, 36, 48, 51, 52
acreditam que a mesma seja
multifatorial e sugerem que uma série de eventos deva ocorrer no hepatócito de um paciente
com esteatose para que aconteça a progressão para EHNA. Como várias condições clínicas
estão associadas com a EHNA (obesidade, diabetes melito, dislipidemia, desnutrição protéico-
carica, etc.), provavelmente a mesma seja o evento final de uma série de diferentes estímulos, os
quais podem agir de forma isolada ou combinada.
Lipoperoxidação
O estresse oxidativo, resultando em lipoperoxidação, está sendo considerado como um
dos principais fatores associados com a progressão da esteatose para EHNA
70, 71
.
evidências sugerindo que os triacilgliceróis hepáticos fornecem um aumento de substrato para
oxidação, via mitocôndria e microssomos, com conseqüente geração de intermediários
potencialmente reativos e citotóxicos, que podem induzir uma resposta inflamatória hepática
39, 42
.
A partir de estudo, em modelo animal, Pessayre e colaboradores
72
sugerem que a peroxidação
dos lipídios exerce um papel central na fisiopatologia da esteato-hepatite, de forma independente
da etiologia da esteatose. Isso pode explicar por que estímulos diferentes podem causar um
dano hepático semelhante. Desse modo, a peroxidação crônica de lipídios pode explicar
diversas lesões encontradas na EHNA, pois pode causar necrose celular. Por outro lado, os
produtos da peroxidação estimulam a produção de colágeno pelas células estrelares
73
. Achados
semelhantes haviam sido observados por Lombardi
74
, ao demonstrarem que a presença de
ácidos graxos livres acarreta resposta inflamatória hepática e produção de tecido fibroso. Um
aumento de fibroblastos hepáticos foi demonstrado em animais com esteato-hepatite induzida
por drogas
75
. Além disso, os produtos da lipoperoxidação podem ligar-se a proteínas do
hepatócito formando antígenos capazes de desencadear uma resposta imunológica, desta
forma aumentando o processo inflamatório e a indução de fibrose
76
.
A esteato-hepatite é menos freqüente em obesos e em pacientes com diabetes melito
do que em etilistas. Isto pode ser explicado porque, em casos de alcoolismo, além do substrato
para a peroxidação de lipídios (esteatose), também formação de substâncias oxidantes em
níveis elevados
73
, fato também observado com o uso de certas drogas
75
.
O CYP2E1 é a maior fonte microssomal de radicais livres de oxigênio e tem aparecido
como um dos principais fatores associados com a patogênese da EHNA. Weltman e
colaboradores
77
demonstraram que pacientes com EHNA, à semelhança de pacientes com doença
hepática alcoólica, apresentam CYP2E1 induzido. Os autores concluem que o mecanismo
1 Introdução
14
patogênico da EHNA é similar ao descrito nos etilistas, em que a indução do citocromo
CYP2E1 exerce um importante papel na patogênese da doença hepática. Dessa forma, os
pacientes com esteatose que apresentem uma expressão maior do CYP2E1 podem evoluir
para EHNA. Afirmam também que os ácidos graxos e os corpos cetônicos exercem indução
do citocromo nos obesos à semelhança do que ocorre com o uso de álcool. A este respeito,
Nanji e colaboradores
78
, em modelo animal, observaram que os ácidos graxos e corpos
cetônicos são indutores endógenos do CYP2E1. Uma situação extrema dessa indução seria a
que ocorre durante uma rápida perda de peso, como a produzida após uma cirurgia de
derivação intestinal. Nesse caso, há níveis muito elevados de ácidos graxos e de corpos
cetônicos no fígado
77
. Yoo e colaboradores
79
, em modelo animal, verificaram que o CYP2E1
é ativado por corpos cetônicos e dietas com alta concentração de lipídios e pobres em
carboidratos, explicando por que a EHNA ocorre com maior freqüência em pacientes com
obesidade e DM ou nos casos de desnutrição protéico-calórica.
Weltman e colaboradores
80
realizaram um estudo com modelo animal de EHNA, induzida
por dieta deficiente em metionina e colina. Os autores observaram haver importante indução
mitocondrial do CYP2E1, a qual, semelhante à EHNA em humanos, foi mais proeminente na
zona 3.
Emery e colaboradores
71
estudaram a atividade do CYP2E1 em 16 pacientes com
obesidade mórbida e esteatose ou EHNA, que realizaram cirurgia redutora strica. Os autores
utilizaram, como grupo controle, indivíduos sem obesidade. Foi verificada uma associação
positiva entre a atividade do CYP2E1 pré-operatória e o grau de obesidade, bem como com a
presença de esteatose, sendo que os pacientes com EHNA apresentaram maior atividade do
CYP2E1. Em 1 ano após a realização da gastroplastia, todos os pacientes obtiveram redução
significativa do peso, a qual foi acompanhada por redução da atividade do CYP2E1. Não foi
realizada, entretanto, nova biópsia hepática. Neste estudo os autores sugerem que a obesidade
promova indução do CYP2E1, levando à lesão hepática, enquanto que a redução de peso
exerce efeito contrário
71
.
Leclercq e colaboradores
81
, em modelo animal de EHNA, observaram que outra região
do citocromo P450, a 3A4, também está associada com a lipoperoxidação e EHNA. Os
autores demonstraram que esse citocromo está ativado na EHNA, gerando níveis elevados de
produtos da lipoperoxidação, e o uso de anticorpos anti-CYP2E1 inibe a formação destes
produtos.
1 Introdução
15
Conforme relatado, o papel do CYP2E1 na EHNA tem sido bastante investigado em
modelo animal, porém, poucos estudos em seres humanos com EHNA. A este respeito,
Chalasani e colaboradores
70
avaliaram a atividade do CYP2E1 em 20 pacientes com EHNA
sem diabetes melito e compararam com grupo controle, pareados para sexo, idade e IMC. Os
autores observaram que a atividade hepática do CYP2E1 foi significativamente superior nos
pacientes com EHNA. Através de análise univariada, observaram correlação significativa
entre a atividade do CYP2E1 e o IMC e também com os níveis séricos de triacilgliceróis, de
insulina e a resistência periférica a insulina.
Provavelmente, a indução do citocromo não seja o único fator associado com a
lipoperoxidação e a formação de radicais livres de oxigênio na EHNA. A este respeito,
Berson e colaboradores
82
, em modelo animal de EHNA induzida por drogas, observaram a
ocorrência de disfunção mitocondrial e lipoperoxidão sem a indão do citocromo. Nesse
estudo ocorreu inibição da ß-oxidação mitocondrial de ácidos graxos e conseqüente redução
da síntese de trifosfato de adenosina (ATP), além de aumento da formação mitocondrial de
radicais livres de oxigênio. Os autores sugerem que tanto a depleção de ATP como a formação
de radicais livres de oxigênio causam necrose celular
82
.
A lipoperoxidação crônica também gera depleção hepática da glutationa, a qual é
considerada um antioxidante endógeno. Por isso, ocorre acúmulo de substâncias oxidantes e
radicais livres de oxigênio, que além de serem lesivos ao hepatócito, costumam perpetuar o
processo
83
.
Citoquinas
As citoquinas o um grupo de moléculas com atividade endócrina, parácrina e
autócrina que podem ser produzidas por quase todas as células nucleadas do organismo, sendo
subdivididas em interleucinas, fator de necrose tumoral (FNT), interferons, entre outras
84
. No
fígado, em condições normais, a produção de citoquinas é mínima ou ausente, porém, com
uma injúria, sua produção aumenta consideravelmente, participando na resposta inflamatória
hepática, necrose hepatocitária e formação de fibrose
84
.
Atualmente, postula-se a interação das citoquinas com a liperoxidação como um dos
principais fatores associados à progressão da esteatose para EHNA
85
. Dentre as citoquinas, na
EHNA, o FNT-alfa tem sido responsabilizado como um importante mediador associado com a
resposta inflamatória hepática, ativando a produção de outras citoquinas que associadas, além
de perpetuarem o processo inflamatório, favorecem a necrose hepatocitária e também estimulam a
1 Introdução
16
cicatrização, induzindo a formação de fibrose. Os pacientes com EHNA, por sua vez, costumam
apresentar o FNT-alfa em níveis elevados
86
.
Em modelo animal de EHNA, utilizando ratos geneticamente obesos, os quais também
apresentam resistência à insulina e dislipidemia, foi observada uma produção elevada de FNT.
Estes animais apresentam também disfunção mitocondrial, tornando a célula mais sensível à
injúria produzida pelo FNT. Nesses casos, os depósitos de gordura parecem ser a principal
fonte de citoquinas
84
.
Os modelos animais com indução de EHNA, através de dieta deficiente em metionina
e colina, apresentaram resultados semelhantes, com elevada produção do FNT e hiperativação
do CYP2E1, com conseqüente estresse oxidativo. Nestes estudos, o uso de anticorpos anti-
FNT reduziu significativamente a resposta inflamatória
80, 87
.
Também as endotoxinas de origem bacteriana podem contribuir para a patogênese da
EHNA ao estimular síntese e liberação de citoquinas
88
.
Outros Fatores
Um outro fator que está sendo considerado na etiopatogenia da EHNA, principalmente
na formação da fibrose, é a presença de depósitos aumentados de ferro no fígado. George e
colaboradores
29
, estudando 51 pacientes com EHNA, demonstraram que 31% apresentaram
mutação no gene para hemocromatose, causando uma substituição da cisteína por tirosina
(C282Y) ou a substituição da histidina por ácido aspártico (H63D), sendo considerados
heterozigotos. Os autores observaram que esses pacientes apresentaram maiores níveis séricos
de transferrina, maior concentração de ferro hepático e lesão hepática mais importante,
principalmente com maior expansão fibrosa. Acreditam que uma leve sobrecarga de ferro,
como ocorre no paciente heterozigoto para hemocromatose, pode atuar sinergicamente na
promoção de fibrose na EHNA e consideram que a flebotomia pode ser uma forma de
tratamento nos pacientes com sobrecarga hepática de ferro, na tentativa de prevenir o
surgimento de fibrose. A este respeito, Desai e Chiorean
89
realizaram flebotomias seqüenciais
em 8 pacientes com EHNA com aminotransferases elevadas e, ao final de um ano, observaram
queda significativa das mesmas em todos os casos. Neste estudo, não foi realizada biópsia de
controle.
Por outro lado, Younossi e colaboradores
31
, ao avaliarem pacientes com EHNA,
realizaram determinação das concentrações hepáticas de ferro e do índice de ferro hepático.
Os autores não encontraram associação do ferro com a ocorrência de fibrose ou com os
1 Introdução
17
demais achados histológicos observados na EHNA, sugerindo não haver um papel importante
do ferro na EHNA.
Outros dois estudos que se propuseram a avaliar a prevalência da mutação do HFE na
EHNA apontaram resultados divergentes. Bonkovsky e colaboradores
90
estudaram 57
pacientes com EHNA e 348 doadores de sangue como controle. Os autores observaram a
presença de mutação do HFE (C282Y ou H63D) em 69,4% dos pacientes com EHNA o que
foi significativamente superior aos pacientes do grupo controle, em que a mutação foi
observada em 40,5% dos casos. Também a presença de fibrose hepática foi significativamente
maior naqueles pacientes com EHNA e mutação do C282Y. Por outro lado, Chitturi e
colaboradores
30
, ao avaliarem 59 pacientes com EHNA, observaram uma prevalência na
mutação do HFE menor. Neste estudo, foi observada a presença de mutação do C282Y em
22% dos pacientes com EHNA, significativamente superior aos 9,9% dos controles. a
mutação do H63D foi menor dos pacientes com EHNA (19%), quando comparada ao grupo
controle (33%). Além disso, a presença da mutação não foi associada com maior expansão
fibrosa hepática.
Em nosso meio, quando avaliamos um grupo de pacientes com EHNA em relação à
mutação do HFE (C282Y e H63D), não observamos diferença na sua prevalência em relação
ao grupo controle, bem como não foi observada associação entre a presença da mutação e a
atividade inflamatória hepática e o escore de fibrose
91
.
Desta forma, a o presente momento, o papel do ferro e da mutação do HFE na
EHNA permanecem incertos, e a pesquisa rotineira das mutações do HFE em pacientes com
EHNA bem como a realização de flebotomias naqueles pacientes com sobrecarga de ferro
ainda carecem de respaldo científico.
O supercrescimento de bactérias no intestino também está sendo considerado como
um fator associado à EHNA
92,
sendo detectado através de testes respiratórios com lactulose e
d-xilose
93
. Também, a proliferação bacteriana intestinal tem sido associada na patogênese de
uma forma secundária de EHNA que ocorre após cirurgia de derivação intestinal para o
tratamento da obesidade
86
.
As bacrias intestinais e suas endotoxinas podem liberar radicais livres de oxigênio e
aumentar o estresse oxidativo hepático, através do estímulo da produção de etanol endógeno e
da liberação de lipopolissacarídeos bacterianos, sendo que ambas estimulam a produção de
citoquinas inflamatórias, principalmente o FNT-alfa
92
. Neste sentido, alguns autores propõem a
utilizão de antibióticos para o tratamento da EHNA, os quais agiriam reduzindo a flora
1 Introdução
18
bacteriana
1,39
. Com finalidade similar, outros estudos recomendam o uso de probióticos, que
poderiam agir reduzindo a formação de citoquinas, substituindo as bactérias patogênicas e
auxiliando a barreira epitelial a bloquear a entrada dos produtos bacterianos na circulação
92
.
Atualmente, a divisão em duas etapas proposta em 1998
36
, em relação à patogênese da
EHNA, apesar de ainda amplamente aceita, está sendo revisada. As principais modificações
propostas sugerem que a resistência à insulina, os ácidos graxos livres e o tecido adiposo
sejam as principais origens tanto do estresse oxidativo como das citoquinas, os quais ainda
são considerados os fatores centrais na patogênese da EHNA
94
.
O reticulo endosplasmático também tem sido apontado como um fator muito importante
na patogênese desta doença, levando a injúria hepatocitária e morte celular por apoptose
95
.
Neste novo modelo proposto, a esteatose e a EHNA ocorreriam simultaneamente e o
tecido adiposo tem papel ativo na patogênese, principalmente em produzir citoquinas
inflamatórias
94
.
Certamente outros estudos ainda se fazem necessário para um melhor entendimento da
complexa patogênese da EHNA.
1.4 Tratamento
Em relação ao tratamento da EHNA, até o presente momento, nenhuma terapia
específica mostrou resultados conclusivos. Enquanto a maioria dos autores acredita que os
pacientes que apresentam esteatose devem ser apenas observados e avaliados periodicamente,
muito tem se estudado em relação à terapêutica da EHNA. Embora alguns trabalhos sugiram
que a redução gradual de peso em pacientes obesos pode ter um efeito benéfico
14, 96, 97
, mais
estudos com seguimento histológico são necessários para demonstrar se essa conduta ocasiona
regressão das lesões hepáticas a longo prazo. Também é importante salientar que a rápida
perda de peso, como costuma ocorrer imediatamente após a realização de cirurgia bariátrica,
tende a ocasionar piora do processo necro-inflamatório e uma maior proliferação de tecido
fibroso
98
. Isto ocorre porque uma grande mobilização de gordura do tecido adiposo para o
fígado e, como o organismo está desprovido de proteínas e outros nutrientes essenciais, não
consegue mobilizar esta gordura hepática
99
. No entanto, outros autores observaram ocorrer
regressão da esteatose, do infiltrado inflamatório e da fibrose em pacientes com EHNA que
1 Introdução
19
foram submetidos a cirurgia bariátrica, mesmo quando a perda de peso foi considerada
rápida
100
.
Luyckx e colaboradores
101
realizaram biópsia hepática em pacientes que foram
submetidos à cirurgia bariátrica e a repetiram após marcada redução de peso. Os autores
observaram regressão significativa da esteatose, porém tanto a atividade inflamatória como a
fibrose permaneceram inalteradas.
Anderson e colaboradores recomendam que a perda de peso não deve exceder a 1,6 kg
por semana
102
, pois observaram que a rápida perda de peso foi associada com aumento do
grau de esteatose, maior infiltrado inflamatório portal e um maior grau de fibrose. Outros
autores sugerem que ocorra uma perda de aproximadamente 10% do peso basal em 6 meses
97
.
Existem pacientes obesos que apresentam freqüente ganho e perda de peso. À
semelhança do que ocorre com uma rápida perda de peso, esta “flutuação” do índice de massa
corporal pode agravar as lesões hepáticas
103
.
Wang e colaboradores
104
, em 2003, realizaram estudo de revisão a respeito do papel da
perda de peso na EHNA. Dentre os 517 estudos identificados, apenas 15 preencheram os critérios
de inclusão. Nesta revisão, não foi possível identificar se a redução de peso é realmente eficaz
no tratamento da EHNA, porém os autores chamam a atenção para a carência de estudos
randomizados e controlados a este respeito, principalmente com seguimento histológico.
Alguns autores acreditam que a realização regular de atividade física aeróbica, associada à
dieta, pode ser benéfica, tanto como auxiliar para a redução gradual de peso, como também
pelo aumento da sensibilidade do tecido muscular à insulina
5, 11, 12, 63, 105
. A este respeito, Franzese
e colaboradores
106
estudaram 33 crianças obesas, com esteatose à ecografia e alteração de
aminotransferases, que foram submetidas a um programa de redução gradual de peso através
da realização de uma dieta hipocalórica, associada a atividade física regular. Após um período
de 6 meses, os autores observaram que todos os pacientes que perderam, no mínimo, 10% do
peso basal apresentaram normalização das aminotransferases e regressão da esteatose à
ecografia. Neste estudo não foi realizada biópsia hepática.
Os agentes anorexígenos, como a sibutramina, e uma droga que atua inibindo a
absorção de lipídeos, o orlistat, foram liberados pelo Food and Drug Administration para o
tratamento da obesidade nos Estados Unidos. O National Institutes of Health recomenda
considerar a terapia farmacológica, se não houver uma perda ponderal equivalente a 10% do
peso basal, após 6 meses de dieta e exercícios
107
. Como adjuvante no tratamento da EHNA,
no entanto, poucos estudos com estas drogas. Harrison e colaboradores
108
relatam três
1 Introdução
20
casos de pacientes obesos com EHNA que utilizaram orlistat e, após um período de 6-12
meses, apresentaram perda de peso, normalização das aminotransferases e melhora histológica
com regressão da esteatose, inflamação e fibrose.
Em relação ao tratamento medicamentoso da EHNA, inúmeras drogas já foram
propostas como será discutido a seguir.
Agentes antidiabéticos
Quando os pacientes apresentam diabetes melito associado, recomenda-se adequado
controle glicêmico, porém ainda não há estudos demonstrando se esta medida realmente
previne a evolução da EHNA.
Como a resistência à insulina e a hiperinsulinemia exercem importante papel na
patogênese da doença, o uso de drogas que atuem nesta condição parece bastante atrativo.
Com este propósito, Caldwell e colaboradores
109
realizaram estudo no qual administraram a
troglitazona, que é um hipoglicemiante oral da classe das thiazolinediones, cujo principal
mecanismo de ação envolve a redução da resistência à insulina e atua tanto no fígado como no
tecido adiposo e muscular. Neste estudo, foram incluídos 10 pacientes com diagnóstico
histológico de EHNA, sendo que apenas dois pacientes apresentavam DM. Todos receberam a
droga por 6 meses. Ocorreu normalização das aminotransferases em 7 pacientes, porém nova
biópsia mostrou que todos ainda apresentavam EHNA e, em apenas quatro pacientes, havia
ocorrido pequena redução da atividade necroinflamatória. Os autores chamam a atenção para o
fato de que a normalização bioquímica não se correlacionou com a resposta histológica.
Posteriormente, a troglitazona foi retirada do mercado devido à ocorrência de casos de
hepatite fulminante
110
.
Uma outra droga da classe das thiazolinediones, a rosiglitazona foi testada em pacientes
com EHNA por Neuschwander-Tetri e colaboradores
111
. Os autores administraram a droga a
30 pacientes obesos com EHNA por 48 semanas. Em todos os pacientes ocorreu redução da
resistência à insulina de forma significativa. Dos 25 pacientes que completaram o tratamento,
24 realizaram nova biópsia. Os autores observaram redução significativa na atividade
necroinflamatória e também na balonização hepatocitária, porém a redução do escore de
fibrose não apresentou significância estatística.
1 Introdução
21
Outro estudo promissor foi realizado por Promrat e colaboradores
112
, utilizando a
pioglitazona. Os autores avaliaram prospectivamente 18 pacientes com EHNA, sem DM
associado, os quais foram tratados com esta droga por 48 semanas. Após este período, foi
observada melhora bioquímica e histológica na maioria dos pacientes.
Tanto a rosiglitazona quanto a pioglitazona foram associadas com aumento do índice
de massa corporal, o que traz um questionamento quanto ao seu uso a longo prazo. Estes
últimos estudos sugerem, no entanto, que este grupo de drogas pode ser uma opção terautica
para a EHNA.
Um outro agente hipoglicemiante oral que tem sido estudado para tratamento da EHNA é
o metformina, cujo efeito principal é reduzir a resistência à insulina e a hiperinsulinemia. A
utilização do metformina em um pequeno grupo de pacientes com EHNA por quatro meses
foi associada com normalização das aminotransferases e da esteatose à ecografia, porém não
houve controle histológico desses casos
113
.
Ácido ursodesoxicólico
Laurin e colaboradores
114
realizaram estudo comparando os efeitos do ácido
ursodesoxicólico com o clofibrato no tratamento de pacientes com EHNA. Os pacientes que
receberam o ácido ursodesoxicólico, após 12 meses, apresentaram redução estatisticamente
significativa na AST, ALT, fosfatase alcalina (FA) e gama-glutamiltransferase (GGT) e
também na esteatose, em relação aos pacientes que receberam clofibrato. Porém, em ambos os
grupos, não ocorreram alterações no grau da inflamão ou da fibrose hepática. Posteriormente,
Ludwig e colaboradores
115
observaram melhora das provas de função hepática e redução da
esteatose com o uso do ácido ursodesoxicólico, mas também não ocorreu redução do grau de
inflamação hepática e da fibrose. Recentemente, Lindor e colaboradores
116
, em um grande
estudo, randomizaram 166 pacientes com EHNA para receberem ácido ursodesoxicólico ou
placebo por um período de 2 anos. Deste grupo, 107 pacientes realizaram nova biópsia hepática
ao final do tratamento. Os autores
116
observaram que esta droga não foi superior ao placebo,
tanto em relação à melhora bioquímica como à histológica. Desta forma, pode-se concluir que
esta droga, aparentemente, não mostrou benefícios para os pacientes com EHNA.
Agentes hipolipemiantes
Como a EHNA está associada com uma disfunção da homeostasia hepática dos
lipídeos, sendo que a hipertriacilgliceridemia e os veis baixos de colesterol HDL são as
1 Introdução
22
principais alterações observadas na EHNA
5
, a consideração de que os agentes hipolipemiantes
exercem um efeito benéfico parece atrativa, porém existem poucos estudos utilizando estas
drogas e apresentam resultados insatisfatórios.
Um agente que promove redução dos níveis de triacilgliceróis, o clofibrato, foi testado
em um grupo de pacientes com EHNA e hipertrigliceridemia
114
, mas, após 12 meses de
tratamento, não ocorreu melhora histológica. Porém, outro agente, o genfibrosil, reduziu os
níveis de aminotransferases após 4 semanas de tratamento, mas não foi realizado controle
histológico
117
.
alguns poucos estudos testando a eficácia dos inibidores da enzima 3-hidroxi-3-
metilglutaril-coenzima A redutase (HMG-CoA) na EHNA
118, 119, 120
, provavelmente devido ao
receio que estas drogas, com potencial hepatotóxico, possam agravar as lesões hepáticas.
Agentes antioxidantes
Tendo em vista o importante papel que a lipoperoxidação crônica e seus produtos bem
como as citoquinas exercem na fisiopatogenia da EHNA a utilização de agentes antioxidantes
na tentativa de bloquear este processo parece bastante atrativa. Neste sentido, várias drogas
com potencial antioxidante tem sido estudadas, como a betaina, a N-acetilcisteína e as vitaminas
E e C.
Abdelmalek e colaboradores
121
avaliaram, por 12 meses, a eficácia da betaina em 10
pacientes com EHNA. Os autores observaram redução significativa das aminotransferases e
melhora histológica, tanto na esteatose como na atividade inflamatória e no escore de fibrose.
Esses dados sugerem que esta droga pode ser promissora no tratamento da EHNA.
A N-acetilcisteina atua aumentando os níveis de glutationa no fígado, protegendo-o do
estresse oxidativo. Em um estudo piloto, Gulbahar e colaboradores
122
administraram esta
medicação a 11 pacientes com EHNA, por um período de 3 meses, e observaram redução
significativa dos níveis de aminotransferases e GGT, ao final do período. Neste estudo não foi
realizado controle histológico.
Lavine
123
administrou vitamina E para um grupo de 11 crianças obesas com esteatose
à ecografia e aminotransferases elevadas. Após um período médio de 5 meses, os autores
observaram normalização das aminotransferases em todos os pacientes, as quais tornaram a
elevar-se com a suspensão da medicação. No entanto, Kugelmas e colaboradores
85
, em estudo
piloto com um grupo de 16 pacientes com EHNA, os quais foram submetidos e dieta para
redução de peso e atividade física e foram randomizados para receber vitamina E ou nenhuma
1 Introdução
23
terapia associada, obtiveram resultado diverso. Houve redução dos níveis sérios das
aminotransferases e da interleucina 6 (um marcador de estresse oxidativo) após 12 semanas,
porém não ocorreu diferença entre o grupo que realizou apenas dieta e atividade sica e aquele
que também recebeu vitamina E.
Harrison e colaboradores
124
, em um dos poucos estudos que realizaram controle
histológico, avaliaram a eficácia do uso combinado das vitaminas E e C em pacientes com
EHNA. Neste estudo prospectivo, 45 pacientes foram randomizados para receber as vitaminas
E e C ou placebo por 6 meses. Após este período, os pacientes realizaram uma nova biópsia
hepática. Os pacientes que receberam as vitaminas apresentaram melhora significativa no
escore de fibrose, embora não tenha sido observada diferença no infiltrado inflamatório entre
os grupos.
Como pode ser observado, ainda existe uma carência de estudos que permitam a utilização
segura de tratamento medicamentoso em pacientes com EHNA. A maior parte dos existentes
carece de um mero significativo de pacientes e peca em seu desenho metodológico, pelo
fato de o considerarem, em regra, um segundo estudo histológico. Este fato é compreensível,
visto ser a biópsia de gado um procedimento intervencionista, não raras vezes com efeitos
colaterais de monta
125
. Desta forma, tendo em vista a história natural de doença é mister que
se demonstre o papel terapêutico medicamentoso para alterar o seu curso evolutivo. Nesta etapa
do conhecimento, entende-se que os modelos experimentais são os mais adequados para
individualizar seu papel.
Tendo em vista o custo de linhagens de ratos geneticamente modificadas, é importante
que se consiga desenvolver um modelo experimental de EHNA, adaptada à necessidade do
nosso meio, para, então, avaliar o efeito terapêutico das drogas elencadas, objetivo maior do
presente estudo.
2 OBJETIVOS
2 Objetivos
25
2 OBJETIVOS
Desenvolver um modelo experimental de indução de EHNA, através da utilização
de dieta deficiente em metionina e colina.
Analisar, quando presente, o efeito do hipoglicemiante metformina, do antioxidante
vitamina E e do hipolipemiante sinvastatina na DHGNA, através da análise:
a)a) das enzimas hepáticas (AST e ALT);
b)b) do estresse oxidativo, pelas alterações decorrentes da utilização das drogas, no
processo de lipoperoxidação (LPO);
c)c) das alterações histológicas observadas.
3 MATERIAL E MÉTODOS
3 Material e Métodos
27
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Animais
Nesse experimento, foram utilizados 50 ratos machos, com 45 dias de idade, pesando
entre 200 e 250 g, da espécie Rattus norvegicus da linhagem Wistar, heterozigotos. Os animais
foram provenientes do Biotério da Fundação Faculdade Federal de Ciência Médicas de Porto
Alegre (FFFCMPA). Esses ratos foram mantidos em gaiolas de polipropileno de dimensões
47 x 34 x 18 cm, em conjuntos de 5 animais por gaiola, sob um ciclo claro/escuro de 12 h
(ciclo claro das 7 às 19 h) e sob condições controladas de temperatura (22º C ± 2,0º C).
3.2 Dieta
A dieta DMC foi processada no Laboratório da Faculdade de Bioquímica da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, segundo o modelo de Rogers e Newberne
126
,
para a indução de EHNA, sendo composta por:
caseína livre de vitaminas 6%;
óleo de soja 45%;
amido 41% ;
fibras 1%;
mistura vitamínica 2% (acetato de vitamina A 0,03; vitamina D 0,003; menadiona
0,001; acetato de vitamina E 0,045; tiamina 0,001; riboflavina 0,002; piridoxina 0,001; ácido
p-aminobenzóico 0.01; biotina 0,00005; nicotinamida 0,005; pantotenato de cálcio 0,005;
inositol 0,02; ácido ascórbico 0,02);
sais 5%.
3 Material e Métodos
28
3.3 Drogas
Foram utilizadas as formas comerciais das seguintes drogas com suas respectivas
doses:
c)a) Sinvastatina (0,5 mg/kg de peso por dia);
b)b) Vitamina E (10 IU/kg de peso por dia);
a)c) Metformina (35 mg/kg de peso por dia).
As drogas foram diluídas, em soro fisiológico, imediatamente antes da sua administração.
Para a vitamina E, como é lipossolúvel, foi adicionado uma gota de solvente durante a
diluição.
3.4 Procedimento Experimental
O modelo de indução de EHNA foi realizado mediante alimentação dos animais com
dieta pobre em metionina e colina
126
ad libitum durante três meses. A água foi oferecida ad
libitum através de mamadeiras de vidro com bico de inox em rolha de borracha.
O animais foram divididos, aleatoriamente, em cinco grupos:
Grupo 01 (grupo R): 10 ratos receberam ração padronizada (Nuvilab CR-1-
Nuvital Nutrientes Ltda
®
) sem administração de qualquer substância durante três meses.
Grupo 02 (grupo SF): 10 ratos receberam dieta deficiente em metionina e colina
concomitante ao uso de soro fisiológico 1 ml/kg de peso, diariamente, administrada por
gavagem durante três meses.
Grupo 03 (grupo VitE): 10 ratos receberam dieta deficiente em metionina e colina
concomitante ao uso de vitamina E 10 IU/kg de peso, diariamente, administrada por gavagem
durante três meses.
Grupo 04 (grupo MF): 10 ratos receberam dieta deficiente em metionina e colina
concomitante ao uso de metformina 35 mg/kg de peso, diariamente, administrada por gavagem
durante três meses.
Grupo 05 (grupo Sinv): 10 ratos receberam dieta deficiente em metionina e colina
concomitante ao uso de sinvastatina 0,5 mg/kg de peso administrada por gavagem durante três
meses.
3 Material e Métodos
29
Durante o período de estudo, os animais foram pesados semanalmente, e a dose das
drogas foi reajustada quando necessário.
3.5 Coleta dos Materiais e Morte dos Animais
No primeiro dia do estudo, além da determinação do peso dos animais, foi coletado
sangue por punção de plexo retro-ocular, sob anestesia com éter etílico, para a análise
bioquímica proposta. Um dia após o término do período de indução e administração das drogas
(90 dias), os animais foram mortos por decapitação. Novamente, coletou-se sangue de cada
animal para análise bioquímica. Então, foi realizada laparotomia com hepatectomia total e
preparo do material para análise macroscópica, histológica e da lipoperoxidação.
Os fígados foram seccionados e o lobo direito colocado em fixador de Bouin (solução
composta por ácido pícrico, formol e ácido acético), permanecendo nessa solução por
aproximadamente 4 horas, para então ser lavado em água corrente. Após, o material foi
transferido para frascos com álcool 50%, onde permaneceu por 30 minutos. Por último, os
fígados foram armazenados em frascos com álcool 70%, aguardando o processo para inclusão
em parafina. o lobo esquerdo foi preparado em solução tampão e com soro fisiológico e,
posteriormente, foi congelado a uma temperatura de menos 80º C para, em uma etapa
posterior, ser avaliada a LPO.
3.6 Análise Bioquímica
A determinação da atividade sérica das enzimas AST e ALT foi realizada no tempo
zero e no momento da morte dos animais através de teste colorimétrico, utilizando o kit
Labtest Diagnóstico S, sendo o intervalo de referência para a AST foi 39-111U/L e para a
ALT foi 20-61 U/L. Também foi analisado o perfil lipídico, ao final do período de tratamento,
com a determinação dos níveis séricos de colesterol total e triacilgliceróis através do todo
enzitico automatizado, do HDL colesterol com o todo enzimático colorimétrico direto e o
LDL colesterol foi determinado através da fórmula de Friedewald, utilizando o kit 2
ADVIA 1650, Bayer, no Laboratório Weimann.
3 Material e Métodos
30
3.7 Análise da Lipoperoxidação
Além da amostra de gado destinada à análise histológica, uma amostra de tecido
hepático foi destinada para a realização da LPO.
Foi realizado o homogeneizado do tecido na proporção de 9 ml de KCl 1,15% para
cada grama em um homogeneizador (Ultra Turrax), durante 1 minuto, à temperatura de a
C. A seguir, o homogeneizado foi colocado em centrífuga refrigerada (Sorvall RC 5B
Rotor SM 24) por 10 minutos a 1.000 rpm. O precipitado foi desprezado e o sobrenadante
utilizado para as medidas de LPO, através do teste de substâncias reativas ao ácido
tiobarbitúrico (TBARS).
O método TBARS consiste em incubar o material biológico com ácido tiobarbitúrico
em meio ácido, e medir, espectrofometricamente (535 nm), a formação de malondialdeído
derivado da LPO, que se constitui em um pigmento rosa.
Para determinar a LPO no fígado, foram utilizados 1,5 ml de ácido tricloroacético a
10%, 0,5 ml de homogeneizado do tecido, 1,0 ml de ácido tiobarbitúrico a 0,67% e 0,5 ml de
água destilada, para completar o volume adequado à cubeta do espectrofotômetro.
Esta mistura foi agitada por 10 segundos e aquecida durante 15 minutos a 10 C.
Depois de resfriada, foi adicionado 3,0 ml de álcool n-butílico para extrair o produto corado
(apolar) da solução aquosa, que foi agitado, a seguir, durante 40 segundos. Após, foi
centrifugado por 10 minutos a 2.500 rpm. O sobrenadante foi agitado para a leitura no
espectrofotômentro (535 nm). Ao final, a proteína do mesmo homogeneizado foi quantificada
segundo o método descrito por Lowry e colaboradores
127
, e os resultados foram expressos em
nmol de malondialdeído/mg de proteína.
O cálculo para determinação da concentração de malondialdeído seguiu o método de
TBARS:
AX diluição/E
Conc. prot.
C = concentração de TBA-RS em nmol/mg de proteína
A = absorbância da amostra
E = 1,5X10
5
M
-1
cm
-1
Diluição = volume final (1,5 ml)/ volume da amostra (250 ul) = 6
diluição/E = 38,46
Conc. prot. = concentração de proteínas
C =
3 Material e Métodos
31
3.8 Análise Histológica
Inicialmente, foi realizado estudo macroscópico dos fígados retirados. Para a avaliação
microscópica, os fígados foram processados em histotécnico (OMA, Brasil) e, após, incluídos
em parafina. Foi obtido 1 bloco de parafina de cada animal, para posterior microtomia (Leica
RM 2025, Alemanha), com espessura de 3 µm e fixação em lâminas de vidro. As lâminas dos
fragmentos hepáticos foram coradas com hematoxilina-eosina, picro-sirius, para avaliação do
grau de fibrose, e Perls, para avaliação da presença de depósitos de ferro, tendo sido examinadas
por um único patologista, “as cegas” em relação aos dados dos animais.
O critério histológico mínimo para o diagnóstico de EHNA foi a presença de esteatose
associada à balonizão hepatocelular, envolvendo a zona 3 e infiltrado inflamatório lobular
128, 129
.
Os corpúsculos de Mallory e a fibrose sinusoidal, envolvendo a zona 3, podem ou não estar
presentes
128, 129
.
Na análise histológica, foram determinados e quantificados os seguintes aspectos:
esteatose macrovesicular;
esteatose microvesicular;
balonização hepatocelular;
inflamação porta;
inflamação lobular;
corpúsculos de Mallory;
depósitos de ferro;
fibrose/cirrose.
Esses dados histológicos foram classificados em ausente, leve, moderado ou acentuado, de
acordo com sua intensidade.
A esteatose foi considerada leve quando atingiu até 1/3 do lóbulo hepático; moderada,
quando foi encontrada em 1/3 a 2/3 do lóbulo hepático e acentuada, quando presente em mais
de 2/3 do lóbulo hepático.
Para determinar o grau da inflamação do espaço porta (leve, moderado ou acentuado),
foi considerado o número de espaços porta comprometidos e a presença de atividade em cada
espaço porta.
A determinação do grau de inflamação lobular (leve, moderado ou acentuado) foi
realizada de acordo com o tipo de infiltrado e a intensidade do mesmo.
3 Material e Métodos
32
A balonização hepatocelular também foi quantificada em leve, moderada ou acentuada
de acordo com sua intensidade e localização e baseada no número de hepatócitos que
apresentou esta alteração.
Então, de acordo com a presença e a intensidade destes achados, foi realizado o
diagnóstico de esteato-hepatite não alcoólica bem como determinado o escore da atividade
necroinflamatória e o escore da fibrose:
Atividade necroinflamatória:
a) grau 1: esteatose envolvendo no máximo 66% da amostra; leve balonização
hepatocelular na zona 3; presença de polimorfonucleares no parênquima hepático com ou sem
linfócitos; com inflamação portal ausente ou leve;
b) grau 2: esteatose de qualquer grau; balonização hepatocelular moderada
(predominante na zona 3); presença de polimorfonucleares no parênquima hepático os quais
podem estar associados a fibrose pericelular na zona 3; infiltrado inflamatório portal e lobular
considerado leve a moderado;
c) grau 3: esteatose panacinar; balonização hepatocelular acentuada (predominante
na zona 3); infiltrado inflamatório lobular as custas de polimorfonucleares; infiltrado inflamatório
portal leve ou moderado.
Escore de fibrose:
a) estágio 1: fibrose perisinusoidal e/ou pericelular na zona 3;
b) estágio 2: fibrose perisinusoidal e/ou pericelular na zona 3 com septos ou pontes
fibrosas porta incompletas;
c) estágio 3: presença de septos completos, porta-porta ou porta-centrolobular;
b) estágio 4: cirrose.
A graduação, tanto da atividade necroinflamatória como da fibrose, foi realizada
segundo a classificação proposta por Brunt e colaboradores
129
em 1999.
3 Material e Métodos
33
3.9 Comitê de Ética
Este projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em estudo
animal da FFFCMPA. Todos os ratos foram manipulados observando-se, rigorosamente, as
normas institucionais para trabalhos experimentais com animais preconizadas por este comitê.
3.10 Análise Estatística
Foram calculadas a médias e o desvio padrão de todas as variáveis quantitativas e
ordinais. No caso dos escores, optou-se por realizar transformação em postos antes da
comparação dos grupos. A comparação foi feita por análise de variância com um critério de
classificação, que quando aplicada sobre os postos é equivalente ao procedimento de Kruskal-
Wallis. A localização de eventuais diferenças entre os grupos baseou-se no procedimento de
Tukey, executado sobre os postos (quando necessário). As variáveis dicotômicas foram
comparadas pelo teste exato de Fisher. O nível de significância do estudo foi estabelecido em
α = 0,05. Os dados foram analisados no programa SPSS v12.0
130, 131
.
4 RESULTADOS
4 Resultados
35
4 RESULTADOS
Dos 50 ratos que foram submetidos ao estudo, 49 completaram os 90 dias da dieta e
tratamento. Apenas um rato foi ao óbito durante o período de estudo devido à hemorragia
ocorrida por lesão durante a gavagem para administração da medicação. Este animal pertencia
ao grupo do metformina.
4.1 Peso dos Animais
O peso inicial dos animais foi semelhante entre os grupos, porém os ratos que receberam a
dieta DMC, independentemente da medicação utilizada, apresentaram perda significativa de
peso ao final dos três meses com achados de desnutrição. Ao contrário, o grupo que recebeu
ração apresentou ganho de peso (tabela 1 e figuras 1 e 2).
Tabela 1 - Peso dos ratos (gramas) antes e após o tratamento
Grupo Peso inicial (g) Peso final (g) P
Ração 260,7 ± 24,9
b
368,1 ± 32,9
b
< 0,001
Soro fisiológico 237,1 ± 11,4
a
213,2 ± 25,3
a
0,002
Vitamina E 270,7 ± 18,6
b,c
226,1 ± 18,3
a
< 0,001
Metformina 279,3 ± 18,2
c
212,6 ± 29,1
a
< 0,001
Sinvastatina 253,6 ± 21,4
a,b
229,8 ± 31,4
a
0,001
P* < 0,001 < 0,001
Os dados são apresentados como média ± desvio padrão.
* Letras-índice não coincidentes dentro das variáveis peso inicial ou peso final
representam diferenças estatisticamente significativas.
4 Resultados
36
Fig. 1 - Animal que recebeu a dieta DMC e metformina após
90 dias de tratamento.
Fig. 2 - Animal que recebeu ração normal para ratos durante 90 dias.
4 Resultados
37
4.2 Aminotransferases
Em relação às aminotransferases, todos os animais apresentavam AST e ALT normais
na primeira determinação, que foi realizada um dia antes do início do tratamento. No entanto,
ao final do estudo, as aminotransferases apresentaram-se alteradas na maioria dos animais
submetidos à dieta deficiente em metionina e colina, enquanto aqueles que receberam apenas
ração permaneceram com aminotransferases normais. Quando foram analisados os níveis de
AST entre os grupos, foi observada diferença estatisticamente significativa entre o grupo 1
(ração) com os demais grupos (figura 3).
Média 73,1 159,6 143,4 174,2 189,6
Desvio padrão 24,5 45,6 21,8 52,5 88,0
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 3 - Comparação dos níveis de AST (U/L) entre os grupos.
No entanto, os níveis de ALT foram significativamente maiores no grupo 5 (sinvastatina)
e menores no grupo 1 (ração) (figura 4). Já nos demais grupos, não ocorreu diferença
significativa.
300
250
200
150
100
50
0
AST (U/L)
R SF Vit E MF Sinv
4 Resultados
38
Média 40,8 59,4 53,2 60,0 83,1
Desvio padrão
7,5 8,8 7,1 9,6 7,5
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 4 - Comparação dos níveis de ALT (U/L) entre os grupos.
4.3 Perfil Lipídico
Os níveis de colesterol total, de suas frações e dos triacilgliceróis, colhidos ao final do
período de estudo, podem ser observados na tabela 2. A comparação entre os níveis de
colesterol total e suas frações bem como dos níveis de triacilgliceróis mostrou não haver
diferença significativa entre os grupos.
100
80
60
40
20
ALT (U/L)
R SF Vit E MF Sinv
4 Resultados
39
Tabela 2 - Comparação dos níveis séricos de colesterol total, LDL, HDL e triacilgliceróis
Grupo Ração Soro
fisiológico
Vitamina E Metformina Sinvastatina P
Colesterol LDL
(mg/dL)
11,1 ± 3,5 17,9 ± 7,6 10,0 ± 10,1 19,3 ± 19,7 14,3 ± 6,7 0,25
Colesterol HDL
(mg/dL)
53,6 ± 7,6 46,0 ± 13,5 55,6 ± 12,1 61,0 ± 12,3 58,1 ± 17,2 0,13
Triacilgliceróis
(mg/dL)
71,3 ± 38,7 76,8 ± 27,5 68,3 ± 13,6 64,9 ± 15,5 69,4 ± 14,4 0,86
Colesterol total
(mg/dL)
79,3 ± 9,1 79,0 ± 15,3 77,7 ± 14,0 90,8 ± 20,0 85,9 ± 15,8 0,29
Os dados são apresentados como média ± desvio padrão.
4.4 Análise da Lipoperoxidação
Quando se compararam os valores de lipoperoxidação, obtidos através do teste de
substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico, realizado no tecido hepático dos animais estudados,
os grupos 1 (ração) e 3 (vitamina E) apresentaram índices significativamente menores que os
demais (figura 5).
Média 0,23 0,50 0,30 0,58 0,51
Desvio padrão 0,08 0,11 0,06 0,17 0,10
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 5 - Comparação dos escores de lipoperoxidação (nmol de malondialdeído/mg
de proteína) entre os grupos.
R SF Vit E MF Sinv
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
Escore de lipoperoxidação
4 Resultados
40
4.5 Aspecto Macroscópico dos Fígados
Em relação ao exame macroscópico dos fígados, todos os animais que receberam ração
apresentaram fígado com aspecto e coloração normal, enquanto os animais que receberam a dieta
DMC apresentaram fígado aumentado de tamanho, com coloração esbranquiçada e, em alguns
espécimes, puderam ser observadas áreas amareladas de depósitos de gordura (figuras 6 a 9).
Fig. 6 - Aspecto macrospico de um fígado do grupo que recebeu
ração.
Fig. 7 - Aspecto macroscópico de um fígado, após ser removido,
do grupo que recebeu ração.
4 Resultados
41
Fig. 8 - Aspecto macroscópico de um gado do grupo que recebeu
a dieta DMC.
Fig. 9 - Aspecto macroscópico de um fígado, após ser removido, do
grupo que recebeu a dieta DMC.
4 Resultados
42
4.6 Histologia
Em relação aos achados histológicos, nenhum dos 10 ratos que recebeu ração
apresentou alterações histológicas, sendo considerados como tendo fígado normal.
O diagnóstico de esteato-hepatite não alcoólica foi realizado nos 10 ratos que receberam
sinvastatina, porém, no grupo que recebeu vitamina E, apenas quatro ratos preencheram os
critérios diagnósticos de EHNA, e a mesma foi diagnosticada em seis e sete ratos que
receberam metformina e soro fisiológico, respectivamente. Quando se comparou a presença
de EHNA entre os grupos, a mesma foi significativamente maior naqueles que receberam
sinvastatina e foi semelhante entre os demais grupos que receberam a dieta DMC.
Dentre os 39 ratos que receberam a dieta DMC, todos apresentaram, pelo menos,
algum grau de esteatose macrovesicular, que sempre foi predominante em relação à
microvesicular. As figuras 10 e 11 ilustram dois casos com esteatose macrovesicular.
Fig. 10 - Fotomicrografia demonstrando esteatose macrovesicular acentuada
e atividade necroinflamatória (H&E, 200X).
4 Resultados
43
Fig. 11 - Fotomicrografia demonstrando esteatose macrovesicular acentuada e
infiltrado inflamatório celular (H&E, 400X).
Na análise por grupo, dentre os animais que receberam sinvastatina, quatro apresentaram
esteatose macrovesicular considerada moderada e seis, acentuada. No grupo que recebeu a
vitamina E, um rato apresentou esteatose macrovesicular leve; três, moderada e outros seis
apresentaram esteatose macrovesicular acentuada. No grupo que recebeu metformina, a
esteatose macrovesicular foi considerada leve em um rato, moderada em quatro e acentuada
em outros quatro. no grupo que recebeu soro fisiológico, a esteatose macrovesicular foi
considerada moderada em oito e acentuada em dois. Quando se comparou o grau de esteatose
macrovesicular entre os grupos que utilizaram a dieta DMC, não se observou diferença
significativa (figura 12).
4 Resultados
44
Média 0,1 2,3 2,7 2,2 2,9
Desvio padrão 0,3 0,7 0,9 0,8 0,9
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 12 - Comparação dos escores de esteatose macrovesicular entre os grupos.
Em relação ao grau de atividade inflamatória, no grupo da sinvastatina todos os animais
apresentaram algum grau de atividade, sendo que três ratos apresentaram grau 1, outros três
grau 2 e quatro, Grau 3. No grupo da vitamina E, entretanto, a atividade inflamatória esteve
ausente em seis ratos; foi considerada grau 1 em dois, grau 2 em um, e apenas um rato
apresentou grau 3. No grupo que recebeu metformina, a atividade inflamatória esteve ausente
em três ratos, foi considerada grau 1 em cinco e grau 2 em um animal. no grupo que
recebeu SF, três ratos não apresentaram atividade inflamatória, três foram considerados grau
1; outros três, grau 2 e apenas um rato foi considerado grau 3. A tabela 3 resume o grau de
atividade inflamatória observado nos grupos.
R SF Vit E MF Sinv
4
3
2
1
0
Escore de esteatose
macrovesicular
4 Resultados
45
Tabela 3 - Distribuição de freqüência dos escores de atividade inflamatória entre os
grupos
Atividade inflamatória Soro fisiológico Vitamina E Metformina Sinvastatina
Ausente 3 6 3 0
Grau 1 3 2 5 3
Grau 2 3 1 1 3
Grau 3 1 1 0 4
Quando se comparou o grau de atividade inflamatória entre os grupos, a mesma foi
significativamente maior naqueles que receberam sinvastatina, quando comparados ao grupo
que recebeu vitamina E (p = 0,003) e ao grupo que recebeu metformina (p = 0,009). No
entanto, entre os demais grupos, não foi observada diferença significativa na atividade
inflamatória, apesar de ter ocorrido uma tendência de a mesma ser menor nos grupos que
receberam vitamina E e metformina, quando comparados àqueles que receberam SF (figura 13).
Média 0,0 1,2 0,6 0,7 2,1
Desvio padrão 0,0 1,0 0,8 0,7 0,9
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 13 - Comparação dos escores de atividade inflamatória entre os grupos.
R SF Vit E MF Sinv
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,4
0,0
Escore de esatividade
inflamatória
4 Resultados
46
Embora ausente em dois casos, a fibrose foi mais freqüente no grupo que recebeu
sinvastatina. Em cinco ratos deste grupo, foi considerada estágio 1, dois apresentaram estágio
3 e um rato apresentou cirrose (Estágio 4). No entanto, no grupo que recebeu vitamina E,
apenas dois ratos apresentaram fibrose, sendo um deles diagnosticado como estágio 2 e outro
estágio 3. A fibrose esteve presente em quatro ratos que receberam metformina, sendo três no
estágio 1 e outro foi diagnosticado como estágio 3. no grupo que recebeu SF, seis ratos
apresentaram fibrose, sendo cinco diagnosticados no estágio 1 e outro no estágio 3. A tabela 4
resume a presença e o estadiamento da fibrose observada nos grupos, e a figura 14 ilustra o
caso que apresentou cirrose.
Tabela 4 - Distribuição de freqüência dos escores de fibrose entre os grupos
Escore de fibrose Soro fisiológico Vitamina E Metformina Sinvastatina
Ausente 4 8 5 2
Estágio 1 5 0 3 5
Estágio 2 0 1 0 0
Estágio 3 1 1 1 2
Estágio 4 0 0 0 1
Fig. 14 - Fotomicrografia demonstrando a presença de cirrose (picro-sirius, 400X).
4 Resultados
47
Quando se comparou o estágio de fibrose nos diferentes grupos, o mesmo foi
significativamente maior no grupo que recebeu sinvastatina (p = 0,003). No entanto, entre os
demais grupos, não ocorreu diferença significativa (figura 15). Quando a comparação foi feita
apenas em relação a presença ou ausência de fibrose, a mesma foi significativamente menor
no grupo que recebeu a vitamina E (p < 0,05).
Média 0,0 0,8 0,5 0,6 1,4
Desvio padrão 0,0 0,9 1,0 1,0 1,2
n 10 10 10 9 10
R: ração; SF: soro fisiológico; Vit E: vitamina E; MF: Metformina; Sinv: sinvastina.
Fig. 15 - Comparação dos escores de fibrose entre os grupos.
Dentre os demais aspectos histológicos, não foram observados depósitos de ferro e a
presença de Corpúsculos de Mallory ocorreu em apenas 5 casos, sendo 4 deles pertencentes
ao grupo da sinvastatina.
4
3
2
1
Escore de Fibrose
R SF Vit E MF Sinv
5 DISCUSSÃO
5 Discussão
49
5 DISCUSSÃO
5.1 O Modelo Experimental Desenvolvido
A utilização de modelos animais com EHNA é muito importante no estudo desta
doença, pois pode permitir um melhor entendimento de sua fisiopatologia, ajudar a esclarecer
os mecanismos envolvidos na transição da esteatose para a EHNA, bem como testar o
resultado das várias drogas disponíveis para o seu tratamento. A indução de EHNA tem sido
realizada de diferentes maneiras: por indução medicamentosa (tetraciclina, amiodarona,
corticosteróides, entre outros); com a utilização de ratos geneticamente obesos ou com
manipulação genética e com a utilização de dietas que promovem a sua ocorrência, seja por
ser rica em gordura ou por restrição de aminoácidos
75, 80, 126, 132, 133
.
As drogas podem induzir esteatose e EHNA ao inibir a β-oxidação mitocondrial de
ácidos graxos, como ocorre com a amiodarona, as tetraciclinas e os corticosteróides entre
outras, ou também ao bloquear a liberação de triacilgliceróis do fígado, proporcionando,
conseqüentemente o seu acúmulo como ocorre, por exemplo, com o ácido valpróico
133
.
Lettéron e colaboradores
133
, conseguiram a indução de esteatose em ratos com a administração de
diversas drogas (amiodarona, doxiciclina, etanol, tetraciclina, ácido valpróico e dexametasona)
em diferentes raças de animais. A maiorias dos animais apresentou esteatose predominantemente
microvesicular, à exceção do grupo que recebeu etanol, no qual a forma de esteatose
predominante foi macrovesicular. Este modelo de indução de esteatose e esteato-hepatite,
apesar de eficaz, certamente, na maioria das vezes, não traduz uma patogênese semelhante à
da EHNA e também pode refletir a hepatotoxicidade específica da droga, confundindo os
resultados dos estudos quando avaliado o papel de determinado medicamento em sua
prevenção. Desta forma, não parece ser a melhor opção para modelos experimentais que se
propõem a estudar a EHNA.
5 Discussão
50
Os modelos genéticos de EHNA utilizam animais que possuem alguma mutação
espontânea que promove a doença ou linhagens de animais geneticamente modificadas em
laboratório, que desenvolverão EHNA
134
.
Os ratos ob/ob são o principal exemplo de animais que apresentam uma mutação
esponnea que bloqueia a produção de leptina
134, 135
. Este hormônio, sintetizado principalmente
pelo tecido adiposo, é responsável pela sensão de saciedade, exercendo um efeito anorexígeno
quando a ingestão calórica foi suficiente para suprir as demandas do organismo. A sua
ausência está associada com hiperfagia e obesidade
135
. Também, à semelhança dos humanos,
estes animais apresentam hiperinsulinemia (resistência à insulina), hiperglicemia e dislipidemia e
desenvolvem esteatose
135
. A administração exógena de leptina reverte tanto a obesidade como
a esteatose
134, 135
.
Na deficiência de leptina, conforme descrito, ocorre importante esteatose, porém a
esteato-hepatite somente ocorre se houver um outro estímulo hepatotóxico como, por exemplo,
o uso de alguma droga ou a indução de isquemia
66
. Em ratos com deficncia de leptina, portanto,
apesar da ocorrência de obesidade e esteatose, não há formação de inflamação e fibrose, o que
sugere que a leptina participa do processo de fibrogênese
66
.
Uma outra linhagem de ratos geneticamente obesos são os fa/fa, que desenvolvem uma
mutação espontânea no gene do receptor da leptina
136
. Desta forma, apesar de produzirem o
hormônio, apresentam resistência periférica ao mesmo, com efeito final semelhante ao que
ocorre com os ratos ob/ob, porém sem responderem à administração exógena de leptina
134
.
Em laboratório de genética, consegue-se realizar modificações gênicas e a produção de
linhagens de animais que desenvolvem esteatose. Existem várias intervenções que podem ser
realizadas em genes diferentes com objetivo semelhante, ou seja, gerar um desequilíbrio na
homeostasia dos lipídeos, de forma que ocorra a formação de esteatose. Uma das principais
modificações genética utilizada nestes modelos é a ativação de genes envolvidos na síntese de
ácidos graxos e colesterol, promovendo a lipogênese e deposição de gordura no fígado
134
.
Tanto os ratos com mutação natural que induz a esteatose e a EHNA, como aqueles
geneticamente modificados são excelentes modelos experimentais para estudo desta doença e
são utilizados, rotineiramente, com tal propósito em pesquisas
68, 137, 138
. Trata-se, porém, de
modelos onerosos, pela dificuldade de aquisição de linhagens com mutação espontânea ou
pela necessidade de técnicas sofisticadas em laboratório de biologia molecular, as quais são
pouco disponíveis em nosso meio. Desta forma, torna-se difícil a utilização destes modelos na
maioria das pesquisas.
5 Discussão
51
A indução de EHNA também é possível em modelos animais, através de manipulação
da dieta, de forma a promover a deposição de lipídeos no fígado. Neste sentido, podem-se
utilizar dietas que promovam a obesidade e a esteatose ou dietas que induzam somente a
deposição de gordura hepática, sem a ocorrência de obesidade.
Como a DHGNA está fortemente associada com a obesidade, alguns estudos em
modelos experimentais a induzem e, desta forma, esperam a ocorrência posterior de esteatose
e EHNA. Entretanto, à semelhança dos seres humanos, os ratos apresentam respostas e
suscetibilidade diferentes à dieta, sendo que tanto a ocorrência de obesidade como posteriormente
a DHGNA dependem de outros fatores, como idade, sexo e predisposição genética. Dentre as
diversas dietas com este propósito, aquelas com elevadas quantidades lipídeos ou glicídios são
as mais utilizadas.
Lieber e colaboradores
139
propuseram um modelo de dieta hiperlipídica (71% da
energia sendo proveniente de lipídeos) para a indução de EHNA e, com este propósito, a
testaram em um grupo de 22 ratos por 3 semanas. Esse grupo foi comparado a outro semelhante,
que recebeu dieta com igual quantidade de calorias e mesmo período, só que com apenas 35%
da energia proveniente de lipídeos. Apesar de os autores não informarem a porcentagem de
ratos que desenvolveu EHNA em cada grupo, os animais submetidos à dieta hiperlipídica
desenvolveram esteatose, infiltrado inflamatório e fibrose. Também, à semelhança dos pacientes
com EHNA, estes animais desenvolveram obesidade, resistência à insulina, elevados níveis de
fator de necrose tumoral e ativação do citocromo P450 2E1, com aumento da lipoperoxidação
hetica. Os autores
139
concluem que a dieta hiperlidica reproduz a forma humana da doença,
sendo um excelente modelo experimental para o seu estudo.
Dietas com alta quantidade de glicídios também induzem DHGNA. A este respeito,
Poulsom
140
demonstrou que ratos alimentados com dietas enriquecidas com frutose desenvolvem
anormalidades semelhantes àquelas que ocorrem em indivíduos com diabetes melito, incluindo
doença hepática e vasculopatia periférica. Por outro lado, dietas com quantidades semelhantes
de glicose não produzem tais efeitos. Ressalta-se que uma variação na resposta à dieta,
dependente, principalmente de raça e sexo, sendo os ratos machos da raça Wistar os mais
vulneráveis
141
.
Ao contrário do que acontece com as dietas anteriormente descritas, os animais que
são alimentados com dieta deficiente em metionina e colina apresentam perda de peso e
importante desnutrição
80, 132
. Estes aminoácidos essenciais possuem papel fundamental na
síntese das apoproteínas, que são proteínas especializadas no transporte dos lipídios no
5 Discussão
52
plasma, favorecendo na sua ausência o acúmulo dos mesmos no fígado
80, 132
. Além disso, com
a dieta DMC, a ß-oxidação mitocondrial de lipídeos fica reduzida, contribuindo para a
ocorrência de esteatose. O mecanismo da produção deste modelo também se vale do fato de
que a metionina e a colina são precursores essenciais para a ntese hepática de fosfatidilcolina, a
qual, junto com o colesterol, perfaz a maioria absoluta dos lipídeos secretados na bile
134
.
Historicamente, esta dieta foi descrita por Rogers e Newberne
126
em 1973, ao observarem
que poderia ocorrer o desenvolvimento de cirrose em um modelo animal apenas com
manipulação da dieta e sem o uso de álcool. Os autores demonstraram que a utilização de uma
dieta deficiente dos aminoácidos colina e metionina e também sem o ácido fólico e a vitamina
B12, mas rica em lipídios, induz importante esteatose e doença hepática semelhante à
observada com o uso de álcool. Quanto mais deficiente em aminoácidos, ficou comprovada
maior velocidade de instalação e gravidade da doença hepática. Neste estudo, os autores
descreveram e testaram três composições com graus progressivos de deficiência nutricional,
mas não relataram a porcentagem de esteatose e EHNA obtida com cada dieta. Este modelo
de dieta DMC vem sendo utilizado até hoje com o propósito de indução de EHNA em
modelos animais.
Okan e colaboradores
142
, com a finalidade de testar o papel do ácido ursodesoxicólico
na EHNA, realizaram a sua indução em ratos Wistar, utilizando uma dieta DMC. Os autores
empregaram uma forma industrializada da dieta disponível comercialmente nos Estados
Unidos. Ao final de 30 dias, foi observada esteatose em 19 (52,7%) dos 36 ratos submetidos à
dieta. A EHNA, porém, ocorreu em apenas 5 (13,8%) ratos. Por outro lado, Weltman e
colaboradores
80
, também utilizando uma forma comercial da dieta DMC, conseguiram a
indução de esteatose em todos os 6 animais submetidos ao estudo, após quatro semanas de
tratamento. Como o objetivo do estudo era avaliar a atividade do citocromo CYP2E1 e a
lipoperoxidação, os autores não citaram quantos ratos desenvolveram EHNA. Chamaram a
atenção, entretanto, para a importante perda de peso que esta dieta induz nos animais.
A maioria dos estudos em modelos animais
80, 81, 142
que utiliza a dieta DMC para a
indução de EHNA usou uma forma industrializada dessa dieta e somente citou o laboratório
que a produziu. Apenas Grattagliano e colaboradores
143
, apesar de também utilizarem forma
industrial da dieta, descreveram detalhadamente a sua fórmula. Neste estudo, após 10 dias de
dieta, os autores observaram esteatose macrovesicular significativa em todos os 14 animais
avaliados, porém, provavelmente pelo curto período, não foi observada a ocorrência de
EHNA.
5 Discussão
53
No presente estudo, foi utilizada a dieta DMC para a indução de EHNA, desenvolvida
de maneira “artesanal”, seguindo o modelo proposto por Rogers e Newberne
126
. Todos os
animais estudados, com exceção de um, concluíram o protocolo proposto. O único óbito
ocorreu devido a uma hemorragia ocasionada durante a gavagem para a administração da
medicação. Desta forma, o óbito não foi associado com a dieta ou com a medicação.
À semelhança dos outros estudos
80, 81, 142, 143
, os animais que utilizaram a dieta DMC
apresentaram perda significativa de peso ao final dos 90 dias de tratamento, com sinais
inequívocos de desnutrição protéico-calórica.
Com a administração desta dieta por 90 dias, obteve-se a indução de esteatose em
100% dos animais. A esteatose pôde ver avaliada macroscopicamente, pois os animais
submetidos ao tratamento apresentaram fígado aumentado de tamanho, com coloração
esbranquiçada, podendo ser observadas áreas amareladas de depósitos de gordura em alguns
espécimes. Ao analisar-se a histologia, todos os ratos apresentaram, pelo menos, algum grau
de esteatose macrovesicular, que sempre foi predominante em relação à microvesicular, indo
ao encontro dos demais estudos que utilizam dieta DMC para a indução de EHNA
80, 81, 142, 143
.
O diagnóstico de esteato-hepatite não alcoólica foi realizado em 27 (69,2%) dos 39
animais submetidos à dieta DMC. Dentre os 10 ratos em que foi utilizado soro fisiológico junto
com a dieta DMC, desta forma sem a interferência de drogas, 7 (70%) foram diagnosticados
com EHNA. Estes achados confirmam que a dieta utilizada é altamente eficaz para a indução
da doença. Os estudos que utilizam a dieta DMC não especificam exatamente quantos animais
desenvolveram a EHNA para comparação.
O estudo comprovou, pois, que a utilização de dieta com restrição de metionina e
colina é eficaz e se destaca, entre as várias maneiras de induzir EHNA em modelos animais,
pelo baixo custo e pelo fato de poder ser facilmente manipulada em laboratório, sem a
necessidade de técnicas sofisticadas. É também importante destacar o fato deste modelo o
necessitar o uso de uma droga para a indução da doença e, principalmente, por apresentar
elevados índices de indução de esteatose e EHNA.
5 Discussão
54
5.2 Drogas
poucos estudos testando drogas para avaliar a eficácia terapêutica em modelos
animais com EHNA tanto quanto em seres humanos, nos quais uma das grandes dificuldades
é a necessidade da realização de uma segunda biópsia hepática, uma vez ser esta a única
maneira fidedigna de avaliar o efeito da droga na evolução da EHNA.
Tendo em vista a escassez de estudos na literatura com modelos animais, ao discutir o
papel dos fármacos utilizados, algumas vezes compararam-se resultados com os obtidos em
humanos. Essa ressalva mostra a atenção dada às dificuldades e limitações destas comparações.
5.2.1 Metformina
uma indiscutível relação da resistência à insulina e da hiperinsulinemia com a
esteatose, assim como com a EHNA
44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51
. O metformina é um agente
hipoglicemiante oral, cujo efeito principal é reduzir a hiperinsulinemia e melhorar a resistência
hepática à insulina
144
. Além disso, esta droga tem a capacidade de aumentar a utilização de
glicose pelos tecidos periféricos e reduzir a lipólise, levando a menor concentração hepática
de ácidos graxos livres
144, 145
, os quais são o substrato para posterior lipoperoxidação. Em
função disso, especula-se muito o valor terapêutico do metformina na EHNA.
Lin e colaboradores
137
estudaram o efeito do metformina em ratos geneticamente
obesos, os quais caracteristicamente apresentam resistência à insulina e hiperinsulinemia.
Neste estudo, os autores dividiram os animais em 3 grupos. O primeiro deles recebeu ração
normal para ratos concomitantemente com uma dose de metformina de 35 mg/kg de peso por
dia por 4 semanas. O segundo e o terceiro grupos receberam a mesma dieta, um deles
ad
libitum
e o outro com uma quantidade controlada de dieta, igual à do grupo que estava usando
a medicação. Foram observados níveis significativamente menores de aminotransferases e FA
no grupo tratado em relação aos controles. Em relação aos achados histológicos, também
ocorreu redução significativa da esteatose e atividade necroinflamatória naqueles animais que
receberam o metformina. Neste estudo, os autores não analisaram a fibrose, bem como não foi
avaliada a lipoperoxidação.
5 Discussão
55
Os autores
137
observaram que o efeito benéfico do metformina na EHNA não foi em
conter a hiperfagia ou em reduzir a ingestão calórica, que ambas foram virtualmente idênticas
nos três grupos. Também não ocorreu diferença nos veis glicêmicos e de trigliacilgliceróis
entre os grupos. A resposta terapêutica do metformina foi atribuída à redução da resistência à
insulina e a menor expressão hepática do fator de necrose tumoral-alfa observadas no grupo
tratado. O FNT-alfa tem sido responsabilizado como um importante mediador associado com
a resposta inflamatória hepática, favorecendo a necrose hepatocitária e também induzindo a
formação de fibrose. Além disso, o FNT-alfa induz a uma maior resistência à insulina
perpetuando o processo, sendo que tal indução é bloqueada pelo uso do metformina
146, 147, 148
.
Estas observações de Lin e colaboradores
137
foram posteriormente confirmadas em um
estudo piloto em seres humanos, realizado por Marchesini e colaboradores
113
, no qual 14
pacientes com EHNA usaram metformina 500 mg três vezes por dia por um período de 4
meses. Foi utilizado um grupo controle de 6 pacientes. Neste estudo, os pacientes que
utilizaram o metformina apresentaram queda significativa nos níveis das aminotransferases,
menor resistência à insulina e redução da hepatomegalia e da esteatose à ecografia. Não foi
realizada biópsia de controle.
No presente estudo, o metformina foi administrado para um grupo de 10 animais em
dose diária igual aquela utilizada no estudo realizado por Lin e colaboradores
137
, já que foi o
único estudo com o metformina em modelo animal de EHNA identificado. Um dos animais
deste grupo morreu devido à hemorragia ocorrida por lesão, durante a gavagem para
administração da medicação. No início do tratamento, os animais apresentaram aminotransferases
normais. ao final do tratamento, após os 90 dias do estudo, as aminotransferases estavam
elevadas. Este grupo apresentou níveis de AST com diferença estatisticamente significativa
do grupo da ração, porém os níveis não diferiram dos demais grupos que usaram a dieta
DMC. Em relação a ALT, os níveis foram inferiores ao grupo da sinvastatina e superiores ao
da ração. Foram semelhantes aos grupos que utilizaram SF e vitamina E. Ao contrário de Lin
e colaboradores
137
, no presente estudo, o uso do metformina não mostrou eficácia em reduzir
os níveis de aminotransferases em relação ao SF.
A respeito dos veis séricos de colesterol e triacilgliceróis, entretanto, os resultados
foram semelhantes aos obtidos por Lin e colaboradores
137
, pois não ocorreu diferença significativa
entre o grupo que utilizou metformina com os demais ao final do tratamento.
5 Discussão
56
Em relação à lipoperoxidação hepática, o metformina não demonstrou benefício,
sendo os níveis observados, através do teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico
realizado no tecido hepático, semelhantes aos animais que utilizaram o SF. Desconhece-se
estudo que tenha avaliado o papel do metformina na lipoperoxidação hepática para comparão
com o resultado agora obtido.
A EHNA foi diagnosticada em 6 (66,6%) dos 9 ratos que completaram o tratamento
com o metformina, o que não foi diferente daqueles do grupo do SF (70%). Também não
houve diferenças estatisticamente significantes com o grupo que recebeu vitamina E (40%). A
presença de EHNA, porém, foi significativamente maior naqueles animais que receberam
sinvastatina (100%). A esteatose foi semelhante entre os 4 grupos que utilizaram a dieta
DMC.
A atividade inflamatória, no grupo que recebeu metformina, esteve ausente em 3 ratos;
foi considerada Grau 1 em 5 e Grau 2 em 1 animal, sendo de menor intensidade quando
comparada aos animais que utilizaram a sinvastatina, e semelhante ao grupo da vitamina E.
Apesar de haver uma tendência a ser menor, não foi observada diferença significativa em
relação ao soro fisiológico, provavelmente devido ao tamanho da amostra. Estes dados
contrastam com aqueles observados por Lin e colaboradores
137
, que observaram redução da
atividade inflamatória com a utilização do metformina em modelo animal.
Ocorreu fibrose em 4 (44,4%) ratos que receberam metformina, sendo 3 no estágio 1 e
um no estágio 3. Neste estudo, o metformina não mostrou benefício, quando comparado ao SF
em reduzir a fibrose. No estudo de Lin e colaboradores
137
, os autores não analisaram a fibrose.
Em seres humanos, há alguns estudos utilizando o metformina em pacientes com
DHGNA ou com EHNA, além do citado
113
. Em uma população pediátrica, Schwimmer e
colaboradores
148
utilizaram o metformina, na dose de 500 mg, duas vezes por dia, por 24
semanas em pacientes com EHNA e sem DM associada. Nos 10 pacientes que completaram o
tratamento, os autores observaram queda significativa dos níveis de aminotransferases e redução
da esteatose mensurada por ressonância magnética. Os autores observaram também melhora
dos índices de resistência à insulina. Não foi realizada nova biópsia hepática para controle.
Uygun e colaboradores
146
randomizaram 36 pacientes com EHNA para receber dieta
hipocalórica isolada ou a mesma dieta associada ao uso de metformina 850 mg, duas vezes
por dia, por um peodo de 6 meses. Ao final do tratamento, foi observada redução significativa
dos níveis de aminotransferases e dos índices de resistência à insulina no grupo que recebeu o
metformina. O índice de massa corporal reduziu em ambos grupos, mas a perda de peso foi
5 Discussão
57
significativamente maior no grupo que recebeu a medicação. A biópsia hepática foi repetida
em 10 pacientes do grupo controle e em 13 pacientes do grupo que recebeu metformina. Os
pacientes que receberam o metformina apresentaram melhora da atividade necroinflamatória e
da esteatose, mas esse resultado não foi estatisticamente significativo. Também não ocorreu
diferença em relação ao escore de fibrose em ambos os grupos. Neste estudo piloto
146
, os
autores observaram um efeito benéfico do metformina na EHNA e sugeriram que devem ser
realizados estudos com maior número de pacientes e, principalmente, com controle histológico
realizado com um período de tempo maior, para que os benefícios observados, laboratorialmente,
reflitam-se na histologia.
Contrastando com o estudo anterior, Nair e colaboradores
149
utilizaram o metformina
em 15 pacientes com EHNA por um período de 1 ano e observaram redução transitória das
aminotransferases e da resistência à insulina nos primeiros meses de tratamento, com retorno
aos veis anteriores ainda durante o uso da droga. Neste estudo, dos 10 pacientes que realizaram
nova biópsia hepática, apenas dois evidenciaram melhora da atividade necroinflamatória, e o
escore de fibrose regrediu em apenas um paciente.
Finalmente, Bugianesi e colaboradores
150
realizaram estudo em um grupo de pacientes
com EHNA, no qual compararam os efeitos do metformina com a vitamina E. Os autores
randomizaram 55 pacientes para usar metformina 2 g/dia, por 12 meses. Para o grupo controle, os
autores administraram a vitamina E 800 UI/dia para 28 pacientes e para outros 27 pacientes
foi prescrita apenas dieta hipocalórica. Foi observado que os níveis de aminotransferases
reduziram-se nos três grupos, mas o grupo do metformina foi associado com as mais altas
taxas de normalização, depois de análise multivariada. Apenas 17 pacientes realizaram uma
nova biópsia hepática após o tratamento, todos do grupo que recebeu o metformina e ainda
permaneciam com aminotransferases elevadas. Os autores observaram que a atividade
inflamatória e a fibrose regrediram em, pelo menos, um grau em 10 pacientes, permaneceram
inalteradas em 6 casos, e apenas um paciente apresentou evolução desfavorável. A partir
desses dados, concluíram que o metformina é superior à vitamina E para o tratamento da
EHNA. Este estudo apresenta, contudo, vários problemas metodológicos, principalmente pelo
fato de apenas um grupo de pacientes, aqueles que receberam o metformina, terem realizado
controle histológico. Dessa forma, não permite que se assuma a conclusão de que metformina
é melhor que a vitamina E.
5 Discussão
58
Cabe salientar que, nestes estudos em seres humanos
146, 148, 149, 150
, não foram observados
efeitos colaterais importantes associados à droga. Mesmo naquele que administrou doses
elevadas do metformina
150
e também nos voltados para a população pediátrica
148
, a tolerância
foi boa. A acidose láctica, uma complicação potencialmente grave decorrente do metformina,
não foi observada.
5.2.2 Vitamina E
A vitamina E possui propriedades antioxidantes, tendo a capacidade potencial de
proteger as estruturas celulares de lesões promovidas por radicais livres de oxigênio e também
pelos produtos da lipoperoxidação
151
. Além disso, existem estudos indicando que a vitamina
E pode melhorar o transporte de glicose na célula e reduzir a resistência periférica à
insulina
152, 153
, embora permaneçam desconhecidos os mecanismos exatos pelos quais exerce
esta atividade. Além disso, a vitamina E auxilia na reposição das reservas de glutationa no seu
estado reduzido, o qual constitui um dos principais agentes antioxidantes hepáticos
154
e
também está associado ao favorecimento da ação da insulina, reduzindo sua resistência
periférica
153
. Desta forma, o uso da vitamina E vem sendo considerado para várias condições
clínicas em que o estresse oxidativo está envolvido, embora as evidências de seu efeito
benéfico sejam muito variáveis
151
.
Conforme discutido anteriormente, o estresse oxidativo parece ser o principal responsável
pela “segunda etapa” da patogênese da EHNA, por favorecer a ocorrência de inflamação e
fibrose
36
. Deste modo, justifica-se a utilização da vitamina E em pacientes com EHNA, como
proposto em alguns estudos clínicos e experimentais.
Parola e colaboradores
155
, em estudo experimental com ratos expostos ao tetracloreto
de carbono, observaram que a administração concomitante de vitamina E reduziu a necrose
hepática aguda induzida pela droga. Durante a exposição crônica ao tetracloreto de carbono,
os autores observaram também que a vitamina E, embora não tenha protegido os animais da
ocorrência de esteatose, foi eficaz em reduzir o estresse oxidativo e a produção de colágeno.
O grupo de animais que utilizou a vitamina E apresentou menor atividade inflamatória e
menor evolução para cirrose. Desta forma, esses autores concluíram que esta vitamina protege
o fígado da lesão crônica induzida pelo tetracloreto de carbono.
5 Discussão
59
Posteriormente, Parola e colaboradores
156
, em outro estudo com modelo animal,
utilizaram ratos Wistar, os quais foram divididos em dois grupos. Um deles recebeu a ração
padrão para ratos e o outro recebeu a mesma ração, porém enriquecida com vitamina E,
250 mg/kg de ração, ambos por três semanas. Após este período, 50% dos animais de cada
grupo foram submetidos à indução de cirrose com a administrão intraperitoneal de tetracloreto
de carbono por cinco semanas e, então foram sacrificados. Os autores observaram que a
administração de vitamina E inibiu a síntese de colágeno, bloqueando a atividade do pró-
colágeno tipo I e da expressão do gene responsável pela produção do peptídeo
transforming
growth factor β1
(TGF β1), o qual é reconhecido como um dos principais reguladores dos
fibroblastos e responsável pela indução de fibrose hepática em condições experimentais
157
.
Em humanos, veis aumentados do TGF β1 foram detectados em pacientes com hepatite
crônica C e houve correlação dos mesmos com a fibrose hepática
158
.
A respeito do TGF β1, fibrose e o papel da vitamina E na EHNA, Hasegawa e
colaboradores
159
realizaram estudo com 22 pacientes, sendo 10 com esteatose e 12 com EHNA,
todos com diagnóstico realizado por biópsia hepática, os quais foram submetidos à dieta
hipocalórica e receberam a vitamina E 300 IU/d por 12 meses. Os autores observaram,
inicialmente, que os pacientes com esteatose apresentavam níveis séricos de TGF β1 semelhantes
a voluntários normais, enquanto que, naqueles com EHNA, os níveis do TGF β1 estavam
elevados e poderiam, inclusive, constituir um método o-invasivo para o diagstico diferencial
entre esteatose e EHNA. Após os 12 meses de tratamento, os pacientes com EHNA apresentaram
redução significativa dos veis ricos das aminotransferases, bem como ocorreu redução
significativa do TGF β1 sérico. Foi repetida a biópsia hepática em 9 pacientes com EHNA,
que mostrou regressão da esteatose em 6 pacientes e da inflamação e da fibrose em 5
pacientes. Os autores concluíram que a vitamina E pode exercer um efeito terapêutico na
EHNA.
Harrison e colaboradores
124
realizaram estudo duplo-cego, randomizado, com seguimento
histológico, no qual avaliaram o papel das vitaminas E e C, na EHNA. Dos 45 pacientes que
completaram o estudo, 23 receberam a combinação das vitaminas (1.000 IU/d de vitamina E e
1.000 mg/d de vitamina C) e 22 o placebo por 6 meses. Apesar de não ter ocorrido queda
importante das aminotransferases no grupo tratado, ocorreu significativa redução no escore de
fibrose.
5 Discussão
60
Não foi possível encontrar, mesmo após extensa revisão bibliográfica, estudo que
tenha testado o papel da vitamina E em modelo animal de EHNA para comparação. Sendo
publicado na forma de resumo, Phung e colaboradores
160
, em modelo animal de EHNA
induzida por dieta DMC, administraram a vitamina E na dieta (250 IU/kg de dieta) por 10
semanas. Os autores observaram a ocorrência de menor escore de fibrose, estatisticamente
significativo, nos animais que receberam a vitamina E quando comparado ao grupo controle,
concluindo que a vitamina E inibe a fibrogênese em modelo animal de EHNA. Como está
publicado na forma de resumo, não há maiores informações sobre o estudo para discussão.
Os estudos em modelo animal da EHNA que utilizaram a vitamina E, acrescentaram a
mesma na dieta
156, 160
. No presente estudo optou-se por administração das drogas por gavagem
a qual, embora trabalhosa, garante que cada animal, diariamente, receba a dose da medicação
determinada para o seu peso. Foi utilizada a vitamina E em uma dose de 10 IU/kg por dia.
Essa dose foi baseada em pesquisas em seres humanos, que utilizaram doses de 300 a
1.200 IU por dia
123, 124, 150, 161
, tomando-se uma dose média de 800 IU por dia e estimando-se o
peso médio de um adulto de 80 kg.
O grupo que utilizou a vitamina E apresentou os menoresveis médios de AST entre
os animais que usaram a dieta DMC, porém sem significância estatística. Em relação à ALT,
nos animais tratados com a vitamina E, os níveis médios também foram os menores entre os
que receberam a dieta DMC, estatisticamente significantes apenas em relação ao grupo da
sinvastatina.
Em seres humanos, Harrison e colaboradores
124
não observaram redução das
aminotransferases com a vitamina E, porém no estudo de Hasegawa e colaboradores
159
os
autores observaram redução significativa dos níveis das aminotransferases após 12 meses de
tratamento com a vitamina E. Lavine
123
, estudando uma população pediátrica, observou
queda significativa dos níveis das aminotransferases com a utilização de vitamina E, com
retorno aos níveis anteriores após a interrupção da droga. Mesmo com a normalização das
aminotransferases, os autores não observaram redução da esteatose à ecografia. Vajro e
colaboradores
161
randomizaram 28 crianças obesas, com aminotransferases elevadas e
esteatose à ecografia para realizar dieta hipocalórica associada com placebo em um grupo e
com vitamina E no outro grupo. Os autores observaram redução das aminotransferases com a
utilização da vitamina E, independentemente da ocorrência de perda de peso, e sugerem a
mesma como opção terapêutica para aqueles pacientes que não aderem à dieta hipocalórica.
5 Discussão
61
No presente estudo, a vitamina E, aparentemente, não exerceu efeito sobre os níveis
séricos de colesterol e suas frações, bem como em relação aos triacilgliceróis. Não foi
encontrado estudo que tenha avaliado o papel desta vitamina sobre o perfil lipídico para
comparação.
A vitamina E foi efetiva em reduzir os valores de lipoperoxidação observados através
do TBARS realizado no tecido hepático. Dentre os animais estudados, aqueles que utilizaram
a vitamina E apresentaram estresse oxidativo significativamente inferior aos demais grupos
submetidos à dieta DMC, sendo que os níveis de lipoperoxidação observados foram semelhantes
ao grupo controle geral que recebeu a ração. Desta forma, confirmou-se a ação antioxidante
que a vitamina E exerce na EHNA. Em estudo experimental realizado em ratos e publicado na
forma de resumo Phung e colaboradores
160
também observaram que a vitamina E reduz
significativamente o estresse oxidativo, mensurado através do TBARS realizado no tecido
hepático. No grupo controle, os autores
160
também observaram depleção das reservas da
glutationa hepática, fato que não ocorreu naqueles que receberam a vitamina E. Phung e
colaboradores
160
concluíram que esta vitamina exerce importante papel terapêutico em
modelo animal de EHNA ao inibir o estresse oxidativo. Não foi encontrado nenhum outro
estudo que tenha analisado o papel da vitamina E na lipoperoxidação hepática em modelo
animal de EHNA.
Em seres humanos, Kugelmas e colaboradores
85
estudaram um grupo de 16 pacientes
com EHNA, os quais foram submetidos à dieta para redução de peso e atividade física e
foram randomizados para receber vitamina E ou nenhuma terapia associada. O objetivo do
estudo foi avaliar o efeito da redução de peso e da vitamina sobre as aminotransferases e as
citoquinas, as quais, conforme discutido anteriormente, junto com a lipoperoxidação, exercem
importante papel na patogênese da EHNA, principalmente para induzir resposta inflamatória.
Os autores
85
observaram, após 12 semanas de tratamento, redução dos níveis sérios das
aminotransferases e da interleucina 6, a qual é considerada um marcador do estresse oxidativo
e da resposta inflamatória
162
. Não ocorreu, entretanto, diferença entre o grupo que realizou
apenas dieta e atividade física e aquele que também recebeu vitamina E. A interleucina 8 e o
fator de necrose tumoral, que estavam em concentrações elevadas nos pacientes com EHNA,
não se modificaram com a dieta e com o uso da vitamina E. Ressalta-se que, neste estudo,
foram incluídos apenas 16 pacientes, por um curto período, e não foi realizada análise
histológica.
5 Discussão
62
No presente estudo, os animais que receberam a vitamina E apresentaram a menor
prevalência de EHNA. O seu diagnóstico foi realizado em apenas 4 (40%) dos 10 ratos, a
despeito de ter sido diagnosticada EHNA em 100% dos animais que receberam sinvastatina,
em 70% do grupo do soro fisiológico e 66% daqueles tratados com metformina. Quando se
comparou a presença de EHNA entre os grupos, a mesma foi significativamente maior
naqueles que receberam sinvastatina e foi semelhante entre os demais grupos que receberam a
dieta DMC, embora tenha ocorrido uma tendência a ser menor no grupo da vitamina E. Pode-
se inferir que, com uma amostra maior, provavelmente seria verificado, de forma significativa, o
efeito protetor da vitamina E na ocorrência de EHNA. Não foi encontrado estudo
experimental semelhante para comparar o efeito da vitamina E na prevenção da ocorrência de
EHNA.
Neste estudo, todos os animais que receberam a vitamina E apresentaram esteatose,
não ocorrendo diferença em relação à presença e intensidade da esteatose com os demais
grupos que receberam a dieta DMC. Os estudos que avaliaram seu papel em pacientes com
esteatose
123, 124, 159
também não observaram um efeito da vitamina E sobre a mesma.
Em relação à atividade da doença, os ratos que receberam a vitamina E foram os que
menos apresentaram atividade inflamatória, estando presente em apenas 4 (40%) ratos, sendo
que, em 2 deles, foi considerada de Grau 1. No entanto, na comparação com os achados dos
demais grupos, o grupo da vitamina E foi estatisticamente menor somente em relação ao
grupo da sinvastatina.
Em relação ao estádio da doença, os animais que receberam vitamina E foram os que
menos apresentaram fibrose, que esteve presente em apenas 2 (20%) ratos. Comparando-se o
estágio de fibrose nos 4 grupos que receberam a dieta DMC, porém, esta diferença é
estatisticamente significativa apenas com relação ao grupo da sinvastatina. Já, quando se
analisou apenas a presença ou a ausência de fibrose, foi observada diferença estatisticamente
significativa entre os achados dos animais que receberam a vitamina E com os demais. Estes
resultados vão ao encontro daqueles estudos que acreditam que a vitamina E exerce um efeito
terapêutico na EHNA, principalmente na prevenção da ocorrência de fibrose
124, 156, 159, 160
.
5 Discussão
63
5.2.3 Sinvastatina
A sinvastatina é uma droga da classe das vastatinas, as quais têm a propriedade
comum de inibir a ntese de colesterol endocelular, por competição com a enzima 3-hidroxi-
3metilglutaril-coenzima A redutase (HMG-CoA), a qual é a fundamental para a síntese do
colesterol
163
. Tanto a sinvastatina como as demais vastatinas são absorvidas no intestino e
extraídas do sangue na primeira passagem pelo fígado. Nas lulas hepáticas, são metabolizadas
pelo citocromo P450 (3A4) e transformadas em metabólitos ativos e inativos
163
.
As vastatinas podem causar injúria hepática, sendo descrita a ocorrência de alteração
dos níveis séricos das aminotransferases em 1% a 3% dos pacientes em uso destas drogas, os
quais costumam voltar ao normal com a interrupção da medicação
164
. Nos casos testados, parece
ser bastante rara hepatite aguda com comprometimento maior da função hepática
164, 165
.
Apenas três estudos, sendo dois publicados na forma de resumo, foram encontrados a
respeito da utilização das vastatinas para tratamento da EHNA. Horlander e colaboradores
118
avaliaram o papel da atorvastatina em um pequeno grupo, de apenas 7 pacientes com EHNA e
dislipidemia, e observaram a ocorrência de melhora da esteatose e também da atividade
inflamatória, após um seguimento médio de 21 meses. Neste estudo
118
, não foi observado
ocorrer regressão do escore de fibrose.
Kiyici e colaboradores
119
realizaram estudo prospectivo com 44 pacientes com EHNA.
Para os 17 indivíduos sem dislipidemia associada, foi administrado o ácido ursodesoxicólico,
enquanto que os 27 pacientes que apresentavam dislipidemia receberam atorvastatina, todos
por 6 meses. Ao final do estudo, os autores observaram redução significativa dos veis da
AST e da ALT e também redução da esteatose à tomografia nos pacientes que utilizaram a
atorvastatina, enquanto que, no grupo que recebeu o ácido ursodesoxicólico, apenas a ALT e a
GGT reduziram significativamente. Neste estudo, não foi realizado controle histológico.
Nair e Wiseman
120
, com o propósito de avaliar a hepatotoxicidade das vastatinas em
pacientes com DHGNA, realizaram estudo de caso e controle no qual avaliaram pacientes
com DHGNA que estavam em uso de uma das vastatinas mais de 6 meses devido a
dislipidemia. Como grupo controle foram utilizados pacientes com DHGNA pareados para idade
e sexo. Os autores não observaram diferenças histológicas entre os controles e os pacientes
em uso dos inibidores da HMG-CoA, concluindo que a utilização dos mesmos não altera a
evolução da DHGNA.
5 Discussão
64
No presente estudo, utilizou-se a sinvastatina numa dose de 0,5 mg/kg/dia. Como não
foram encontrados estudos experimentais ou em seres humanos com esta droga na EHNA, a
dose foi calculada a partir de estudos experimentais em ratos realizados com outras
finalidades, principalmente na área da cardiologia, que utilizaram doses variando de 0,1 a
10 mg/kg/dia
166, 167, 168, 169
.
Em relação aos níveis da AST, não foi observada diferença entre os quatro grupos que
receberam a dieta DMC. No entanto, ao contrário do observado com a atorvastatina por Horlander
e colaboradores
118
e Kiyici e colaboradores
119
, os veis de ALT foram significativamente
maiores no grupo da sinvastatina.
O grupo que utilizou a sinvastatina apresentou, ao final do tratamento, perfil lipídico
semelhante aos demais, não ocorrendo diferença significativa dos níveis de colesterol e dos
triacilgliceróis. Kiyici e colaboradores
119
também não observaram diferença nos níveis de
triacilgliceróis, porém os pacientes apresentaram redução significativa dos níveis de colesterol
com o uso da atorvastatina.
No presente estudo, em relação à lipoperoxidação, o grupo que utilizou a sinvastatina
não apresentou diferença no estresse oxidativo em relação aos grupos do SF e do metformina.
Não foi encontrado estudo que tenha avaliado o papel da sinvastatina no estresse oxidativo
hepático, em modelo experimental de EHNA ou em humanos, para comparação.
Todos os 10 (100%) ratos que receberam a sinvastatina desenvolveram EHNA, sendo
esta incidência estatisticamente superior em relação aos achados nos demais grupos,
demonstrando que, provavelmente, a utilização desta droga pode aumentar o dano hepático.
Ressalta-se não ter havido diferença em relação à presença de esteatose.
A atividade inflamatória e a fibrose foram significativamente maiores no grupo que
utilizou a sinvastatina, inclusive quando comparado com o grupo do SF, sugerindo sua
atuação no agravamento das lesões hepáticas observadas na EHNA. Estes achados contrariam
aqueles observados nos 2 estudos que utilizaram vastatinas para pacientes com EHNA e
realizaram controle histológico, pois Horlander e colaboradores
118
observaram melhora da
esteatose e da atividade inflamaria enquanto que Nair e Wiseman
120
o observaram diferenças
histológicas com o grupo controle. Como estes 2 estudos estão publicados na forma de
resumo, não há maiores informações para comparação.
Atualmente, tanto a sinvastatina como as demais vastatinas não estão sendo consideradas
como uma opção terapêutica para os pacientes com EHNA. Como estas drogas são a base do
tratamento da dislipidemia, que é uma condição comumente associada com a EHNA, e a
5 Discussão
65
letalidade das alterações cardiovasculares associadas à dislipidemia é maior do que aquelas
causadas pela DHGNA, é usual serem utilizadas nestes pacientes. Caso sejam confirmadas as
observações do presente estudo, em que a sinvastatina agravou as lesões da EHNA, o uso das
vastatinas para tratamento da dislipidemia em pacientes com EHNA deverá ser reconsiderado.
Os resultados do presente estudo permitem fazer uma avaliação das drogas usadas para
o tratamento da EHNA. Por um lado, a sinvastatina agravou as lesões hepáticas, o que sugere
que, quando necessária, deva ser usada com cautela. Por outro lado, a vitamina E e, em menor
grau, o metformina, parecem contribuir para melhores resultados. Como a esteatose e a EHNA
estão associadas com a resistência à insulina, e a progressão da doença, com inflamação e
fibrose, está intimamente ligada ao estresse oxidativo, provavelmente a associação do
metformina com a vitamina E possa trazer maiores benefícios. Para verificar essa hipótese,
sugere-se a realização de novos estudos com esta combinação.
6 CONCLUSÕES
6 Conclusões
67
6 CONCLUSÕES
A dieta deficiente em metionina e colina desenvolvida foi eficaz em induzir
esteatose e EHNA, podendo ser utilizada para estudos experimentais em modelo animal.
O grupo que utilizou a vitamina E apresentou os menores níveis de AST e ALT ao
final do tratamento entre os grupos submetidos à dieta DMC, porém estes achados não foram
estatisticamente significativos. Por outro lado, a sinvastatina concorreu para níveis mais
elevados de ALT.
Quando utilizado o teste de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico no tecido
hepático, a vitamina E demonstrou reduzir o estresse oxidativo hepático.
Não se observou papel protetor das drogas avaliadas no que tange a esteatose.
O grupo que utilizou a vitamina E apresentou o menor desenvolvimento de EHNA,
sem ter sido detectada significância estatística. A vitamina E foi eficaz em reduzir o
desenvolvimento de fibrose na EHNA, e a sinvastatina agravou tanto a atividade inflamatória
quanto o estadiamento da EHNA.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7 Referências Bibliográficas
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