1 Introdução
Atualmente, acredita-se que a resistência à insulina (RI) é um dos principais fatores
que promovem a esteatose
44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51
, e sua presença também tem sido identificada
na maioria dos pacientes com EHNA
44, 45, 48
. A RI é um achado comum em pacientes obesos e
diabéticos, e os indivíduos com esteatose e EHNA têm, significativamente, maior RI quando
comparados aos controles
44
.
O termo resistência à insulina indica a presença de uma menor resposta biológica à
secreção de insulina endógena ou à sua administração de forma exógena. A RI é manifestada
por uma redução do transporte e metabolismo da glicose no tecido adiposo e no músculo
esquelético, mediada pela insulina. A sensibilidade à insulina decorre de uma série de fatores,
incluindo raça, idade, altura, obesidade (principalmente abdominal), atividade física,
medicamentos, entre outros
48, 52
. Também há uma forte influência genética para a ocorrência
de RI e, desta forma, para o DM
48
.
O mecanismo patogênico da RI consiste numa alteração da capacidade da célula do
tecido adiposo em responder a variações dos níveis séricos de glicose, o que acaba ocasionando
um aumento da insulina circulante. A insulina, em níveis elevados, produz alterações tanto no
tecido adiposo, como no fígado. No adipócito, a insulina produz lipólise com liberação de
ácidos graxos para o fígado. Já no hepatócito, mais particularmente na mitocôndria, a insulina
estimula a síntese e inibe a oxidação de ácidos graxos, o que acaba gerando acúmulo hepático
dos mesmos
53, 54
. Outro estudo
55
também demonstrou que a hiperinsulinemia pode aumentar a
degradação da apolipoproteína B100, que é um dos principais componentes da VLDL,
dificultando, desta forma, a mobilização de lipídios do fígado para a periferia.
A importância da insulina agindo diretamente no fígado foi comprovada por Wanless e
colaboradores
46
, ao observarem a ocorrência de esteatose e EHNA subcapsular, em pacientes
diabéticos e com insuficiência renal crônica, que realizavam diálise peritoneal e recebiam
infusão de insulina junto com a solução de diálise. A insulina, entrando em contato com o
fígado durante a diálise, promoveu a ocorrência de esteatose e EHNA. A este respeito, Sohn e
colaboradores
47
observaram a ocorrência de esteatose adjacente a metástases hepáticas de
insulinoma, identificando, desta forma, o papel direto da insulina na patogênese da esteatose.
Alguns autores consideram também que a hiperinsulinemia pode exercer um efeito
indutor do citocromo P450 2E1 (CYP2E1), contribuindo, desse modo, para a formação de
substâncias pró-oxidantes que favorecem a evolução da esteatose para a EHNA, como será
discutido adiante
52
.