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FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS
MÉDICAS DE PORTO ALEGRE
MAURÍCIO FRAGA DA SILVA
AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TRATAMENTO
CIRÚRGICO PARA O CARCINOMA HEPATOCELULAR
Porto Alegre
2006
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MAURÍCIO FRAGA DA SILVA
AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO TRATAMENTO
CIRÚRGICO PARA O CARCINOMA HEPATOCELULAR
Dissertação apresentada ao Curso do
Programa de Pós-Graduação em Medicina da
Fundação Faculdade Federal de Ciências
Médicas de Porto Alegre como requisito para
a obtenção do Grau de Mestre.
Área de concentração: Hepatologia.
Orientador
Dr. Angelo Alves de Mattos
Co-orientador
Dr. Paulo Roberto Ott Fontes
Porto Alegre
2006
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Ficha Catalográfica
S586a Silva, Maurício Fraga da
Avaliação da efetividade do tratamento cirúrgico para
o
carcinoma hepatocelular / Maurício Fraga da Silva; orient
.
Angelo Alves de Mattos; co-orient. Paulo Roberto Ott Fontes
.
Porto Alegre: FFFCMPA, 2006.
72 fl.;il.; tab.
Dissertação (Mestrado). Fundação Faculdade Federal d
e
Ciências Médicas de Porto Alegre. Programa de Pós-Graduaçã
o
em Medicina. Curso de Hepatologia.
1. Carcinoma hepatocelular. 2. Neoplasia hepática. 3. Cirros
e
hepática. 3. Procedimento cirúrgico. I. Mattos, Angelo Alves de
.
II. Fontes, Paulo Roberto Ott. III. Título.
CDD 6l6.99436
2
CDU 6l6-006.
6
Ruth B. F. Oliveira
Bibliotecária CRB10/501
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Dinorá Fraga da Silva e Pedro
Câncio da Silva, por me proporcionarem, no
cotidiano, subsídios que possibilitam dispensar
anjos e demônios. Exemplos de humanismo e
bondade, sempre presentes em meus valores e
lutadores incansáveis por um mundo melhor. Aos
meus irmãos Lívia e Paulo, pelo amor e apoio ao
longo de minha trajetória.
Agradecimentos
Ao professor Angelo Alves de Mattos, pessoa fundamental em meu desenvolvimento intelectual,
indicando caminhos, sempre motivando minha autonomia. Orientador e amigo, presente em várias
idéias e muitas discussões desse estudo, exemplo de ética, capacidade e trabalho.
Ao professor Paulo Roberto Ott Fontes, pelo incentivo e amizade, exemplo de médico e
determinação, auxiliando-me diariamente nas atividades científicas e médicas.
Ao professor Luiz Pereira-Lima, por explicitar o implícito sempre que meu desenvolvimento está
em questão. Estimulador permanente de minhas reflexões sobre a vida e o ser humano.
Ao Dr. Fábio Luiz Waechter, amigo e incentivador da realização desse estudo, contribuindo de modo
indispensável.
Ao Dr. Hermes Torres Júnior, pela amizade e ensinamentos durante esses anos, exemplo de
dignidade e humanismo.
À Dra. Gabriela Perdomo Coral, pela dedicação na busca de conhecimentos relacionados à
hepatologia, tendo, de modo significativo, contribuído na elaboração deste estudo.
Aos professores e amigos da Disciplina de Gastroenterologia da Universidade Federal de Santa
Maria, em especial aos professores Nestor Bonini e Renato Borges Fagundes, pelo apoio durante o
período de minha Residência Médica.
Aos meus tios Dilamar e José que, juntamente com meu primo Zahiel, presenças constantes em
minha vida.
iv
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
................................................................................................................. vii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
................................................................................................................................................... viii
RESUMO
.................................................................................................................................................................................................. ix
ABSTRACT............................................................................................................................................................................................ xi
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 2
1.1 O carcinoma hepatocelular
.................................................................................................................................... 2
1.2 Epidemiologia
..................................................................................................................................................................... 3
1.3 Fatores e grupos de risco
.......................................................................................................................................... 4
1.4 Rastreamento e vigilância
....................................................................................................................................... 7
1.5 Aspectos histopatológicos
......................................................................................................................................... 8
1.6 Diagnóstico
............................................................................................................................................................................ 9
1.7 Tratamento
........................................................................................................................................................................... 11
1.7.1 Tratamento curativo
....................................................................................................................................................... 12
1.7.2 Tratamento paliativo
...................................................................................................................................................... 14
2 OBJETIVOS
................................................................................................................................................................................ 16
2.1 Objetivo geral
..................................................................................................................................................................... 16
2.2 Objetivos específicos
..................................................................................................................................................... 16
3 PACIENTES E MÉTODOS
.......................................................................................................................................... 18
3.1 Delineamento
....................................................................................................................................................................... 18
3.2 População
............................................................................................................................................................................... 18
3.3 Metodologia
.......................................................................................................................................................................... 18
3.4 Variáveis em estudo
...................................................................................................................................................... 19
3.5 Considerações éticas
..................................................................................................................................................... 20
3.6 Análise estatística
............................................................................................................................................................ 20
4 RESULTADOS
.......................................................................................................................................................................... 22
4.1 Resultados gerais............................................................................................................................................................. 22
v
4.2 Sobrevida após a ressecção cirúrgica........................................................................................................... 23
4.3 Identificação de fatores prognósticos
............................................................................................................ 23
4.4 Recidiva tumoral
............................................................................................................................................................. 30
5 DISCUSSÃO
................................................................................................................................................................................ 33
6 CONCLUSÕES
......................................................................................................................................................................... 42
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
................................................................................................................. 44
8 ANEXOS
.......................................................................................................................................................................................... 55
Anexo 1. Coleta dos dados
......................................................................................................................................................... 55
Anexo 2. Banco de dados
............................................................................................................................................................ 57
vi
Lista de Abreviaturas e Siglas
AFP Alfa-fetoproteína
AASLD American Association for the Study of the Liver Disease
BCLC Barcelona Clinic Liver Cancer
BT Bilirrubina Total
CH Cirrose Hepática
CHC Carcinoma Hepatocelular
CHILD Child-Pugh-Turcotte
GPVH Gradiente de Pressão Venosa Hepática
HBsAg Antígeno de Superfície do Vírus da Hepatite B
MELD Model for End-Stage Liver Disease
RH Ressecção Hepática
RT Recidiva Tumoral
TOF Transplante Ortotópico de Fígado
VHB Vírus da Hepatite B
VHC Vírus da Hepatite C
vii
Lista de Ilustrações
Figura 1 Algoritmo sugerido pela AASLD para o diagnóstico do CHC..........................
10
Figura 2 Sobrevida global após o tratamento cirúrgico....................................................
23
Figura 3 Sobrevida estratificada pelo nível sérico de BT.................................................
24
Figura 4 Sobrevida estratificada pelo nível sérico de AFP...............................................
25
Figura 5 Sobrevida estratificada pela classificação CHILD.............................................
26
Figura 6 Sobrevida estratificada pela classificação MELD..............................................
27
Figura 7 Sobrevida estratificada pelo tamanho e número de tumores..............................
28
Figura 8 Sobrevida estratificada em relação à invasão microvascular .............................
29
Figura 9 Sobrevida estratificada em relação à lesão satélite.............................................
30
Tabela 1 Resultados de diferentes estudos avaliando a ressecção hepática no
tratamento do CHC.............................................................................................
35
viii
RESUMO
O carcinoma hepatocelular é uma complicação que acomete pacientes que apresentam
cirrose hepática. A ressecção hepática, o transplante ortotópico de fígado e a ablação
percutânea constituem opções terapêuticas com o intuito curativo. O objetivo desse estudo é
avaliar os resultados da ressecção hepática para o tratamento do carcinoma hepatocelular, em
fígados cirróticos, em um hospital geral.
Foram avaliadas as características clínicas, laboratoriais, endoscópicas e
histopatológicas de 22 pacientes submetidos à ressecção hepática entre os anos de 1996 e
2005, com o intuito de se avaliar a sobrevida, a identificação de fatores prognósticos e a
incidência de recidiva tumoral. Para tanto, especial atenção foi dada aos níveis séricos de
bilirrubinas e alfa-fetoproteina, grau de disfunção hepatocelular (avaliado pelas classificações
Child-Pugh-Turcotte e Model for End-Stage Liver Disease), tamanho e número de tumores,
invasão microvascular e presença de lesões satélites. O nível de significância estatística
utilizado foi de 95% e um poder estatístico de 80%.
Na casuística avaliada, observou-se uma média de idade de 62,09 anos, sendo 17
pacientes do sexo masculino. Em 10 casos, a cirrose hepática esteve associada à infecção
crônica pelo vírus da hepatite C, em quatro à combinação do uso crônico do etanol e vírus da
hepatite C, em três ao vírus da hepatite B, em dois ao uso do etanol isoladamente, em um com
uso de medicamentos e, em dois casos, não foi identificada a etiologia. Dezoito pacientes
apresentaram tumor único, sendo que em 11 o tumor media menos que cinco centímetros. A
sobrevida variou entre dez dias e 120 meses, com uma média de 33,5 meses. No final do
primeiro, terceiro e quinto anos, identificou-se uma sobrevida de 61,90%, 16,67% e 11,11%,
respectivamente. Houve três óbitos nos primeiros três meses posteriores à ressecção hepática.
Treze óbitos foram identificados após os primeiros três meses, sendo que 12 casos foram
relacionados à recidiva e progressão da neoplasia. Um paciente faleceu no período pós-
operatório imediato de novo procedimento cirúrgico com o intuito de que fosse ressecada uma
recidiva tumoral. No que se refere à sobrevida e à identificação de fatores prognósticos, foi
ix
identificada uma relação entre sobrevida e invasão microvascular (p=0,0158). Não foi
observada diferença, com significância estatística, nas curvas de sobrevida entre os níveis
séricos de bilirrubinas e alfa-fetoproteína, grau de disfunção hepatocelular, tamanho e número
de lesões. Entretanto, foi identificada uma probabilidade de recidiva tumoral maior no grupo
de pacientes que apresentavam invasão microvascular no estudo histopatológico (p=0,03).
Apesar do pequeno número de pacientes estudados, observou-se maus resultados com
o tratamento cirúrgico do carcinoma hepatocelular. A seleção adequada dos casos pode ser
um fator importante para a melhoria desse resultado.
Palavras-chave:
carcinoma hepatocelular – neoplasia hepática - cirrose hepática – procedimento
cirúrgico.
x
ABSTRACT
The hepatocellular carcinoma is a disorder that affects patients suffering from
cirrhosis. Liver resection, orthotopic liver transplantation and percutaneous ablation are some
forms of therapy currently used to provide a cure for the disease. The aim of this study is to
assess the results achieved through liver resection in the treatment of the hepatocellular
carcinoma in patients with cirrhosis being under treatment in a general hospital.
Clinical observation, laboratory test results, endoscopic and histopathologic analysis
were taken into consideration in the case of 22 patients who underwent liver resection
between 1996 and 2005. The objective of this study analysis was to verify the survival rates,
identify the prognostic factors and determine the chances of recurrence. Special attention was
given to the serologic levels of bilirubins and alpha-fetoprotein, and to the level of the
hepatocellular dysfunction (classified according to the Child-Pugh-Turcotte and the Model for
End-Stage Liver Disease parameters). The size and number of tumours, microvascular
invasion and the presence of secondary tumours were also taken into consideration. The level
of statistic significance employed was of 95% and a statistic power of 80%.
In the cases studied, patients had an average age of 62.09 years, being 17 of them
male. In ten cases the liver cirrhosis was associated to the hepatitis C chronic infection; in
four cases there was a combination of chronic ingestion of ethanol and the hepatitis C virus;
in three cases there was an association with the hepatitis B virus chronic infection. Two cases
were related to the chronic ingestion of ethanol alone and in one case the use of medications
was reported. It was not possible to establish the aetiology in two of the cases studied.
Eighteen patients had a single tumour, eleven of them smaller than five centimetres.
The survival rate varied between ten days and 120 months, being of 33.5 months on average.
At the end of the first, third and fifth year, the survival rates were 61.90%, 16.67% and
11.11% respectively. Three patients died within the first three months after the liver resection.
Thirteen patients died after the first three months, being 12 of the cases associated to tumour
xi
recurrence and tumour progression. There was one death in the immediate aftermath of a
second operation carried out to remove a recurrent tumour.
When it comes to the survival rate and the identification of prognostic factors, a
relationship between patient’s survival and microvascular invasion was observed (p=0.0158).
No statically significant relationship was established between the survival rate and the
serologic levels of bilirubins and alpha-fetoprotein or the level of hepatocellular dysfunction,
size or number of tumours. However, a more significant incidence of tumour recurrence was
observed in patients with microvascular invasion in the histopathologic study (p= 0.03)
In spite of the reduced number of cases studied, the surgical treatment of the
hepatocellular carcinoma produced bad results. A careful selection of cases where surgery
could be an option may be a decisive factor to improve such results.
Key-words:
hepatocellular carcinoma – liver cancer - liver cirrhosis – hepatic resection.
xii
1 INTRODUÇÃO
1 Introdução
2
1 INTRODUÇÃO
1.1 O carcinoma hepatocelular
O carcinoma hepatocelular (CHC) é um tumor maligno primário do fígado que
desperta grande interesse entre os pesquisadores. Caracteriza-se por ser, em regra, uma
complicação da doença hepática crônica e apresentar uma íntima relação com fatores
ambientais, o que acarreta considerável variação em sua distribuição mundial
1,2
.
Sua incidência tem aumentado, nas últimas décadas, em diversos países
1,3,4
.
Estimativas sugerem que 564.000 novos casos surgiram durante o ano 2000, sendo que
398.364 acometeram o gênero masculino
5
. Representando 5,6% das neoplasias que ocorrem
na espécie humana
6
, encontra-se entre as dez mais freqüentes. Acomete, fundamentalmente,
fígados cirróticos, com incidência anual variando entre 2% e 8%, se a doença é secundária à
infecção crônica pelo vírus da hepatite C (VHC)
7
; 2% nos casos em que o vírus da hepatite B
(VHB) é agente agressor
8
e 5% quando a hemocromatose hereditária está presente
9
.
Considerando-se o uso crônico de etanol, observa-se que essas são as quatro condições que
conferem os maiores riscos para o surgimento do CHC
10
.
Aliada à elevada prevalência, empresta um prognóstico empobrecido aos doentes.
Assim, determina uma sobrevida, em cinco anos, menor que 5% entre os pacientes cirróticos,
se não for realizada uma conduta terapêutica efetiva
2
. Informações relacionadas ao
prognóstico são observadas através de diversos parâmetros, dentre os quais se encontra o
estudo histopatológico. Invasão vascular, presença de satélites (lesões que representam
disseminação local do tumor, geralmente de pequeno tamanho e junto ao nódulo principal) e
margens livres da lesão podem gerar informações em relação ao risco de recorrência,
modificando, eventualmente, a conduta a ser tomada frente a esses achados
11
.
O diagnóstico do CHC em sua fase inicial é muitas vezes difícil. Considerando que a
constatação dessas lesões precocemente é de extrema validade – os melhores resultados terapêuticos
se encontram nesse momento – e que os sinais e sintomas ocorrem em fases avançadas da doença,
1 Introdução
3
diversas propostas propedêuticas para os pacientes cirróticos são indicadas
12
. Com o avanço
tecnológico, os exames de imagem e os marcadores tumorais têm sido considerados critérios que
auxiliam o diagnóstico, dispensando, muitas vezes, o estudo histopatológico. Evitando-se, portanto,
os riscos relacionados à biópsia hepática. No entanto, não há evidências inequívocas que as
propostas de rastreamento e vigilância diminuam a mortalidade por CHC
13
.
Após o diagnóstico de CHC ser estabelecido, uma abordagem envolvendo diferentes
especialidades médicas deve ser ofertada para esses pacientes, tendo em vista que, para diferentes
circunstâncias, existem diversas opções terapêuticas, e que a melhor conduta deve ser
individualizada, considerando abordagem clínica, cirúrgica e radiológica. De um modo geral,
consideram-se opções com o intuito curativo o transplante ortotópico de fígado (TOF), a ressecção
hepática (RH), a alcoolização e a radiofreqüência. Entre as abordagens paliativas, destaca-se o papel
da quimioembolização, sendo o único método que, até o momento, demonstrou aumento de
sobrevida para um grupo selecionado de doentes que apresentou condições de realizá-la
14
.
1.2 Epidemiologia
A incidência do CHC é variável considerando diferentes populações mundiais. Acomete
ambos os sexos, com uma freqüência de duas a três vezes maior em homens. No que se refere à
idade, apresenta uma ampla variação, acometendo pacientes mais jovens nas áreas de maiores
incidências, devido, fundamentalmente, à elevada prevalência de transmissão vertical pelo VHB,
presente em 80% dos casos de CHC no sudeste asiático. Em regiões de baixa incidência, o CHC
acomete pacientes com idades mais avançadas e, geralmente, associa-se a fatores de risco
adquiridos, como uso crônico do etanol e hepatites virais crônicas
15
.
Os países em desenvolvimento apresentam uma incidência três vezes maior em
relação aos países desenvolvidos
10
. Estima-se que o número de novos casos de CHC
diagnosticados anualmente supere 500.000, com aumento progressivo em diversos países
4,6,8
.
Regiões do sudeste asiático e África Sub-Saariana apresentam as maiores incidências,
chegando a 35 novos casos para cada 100.000 habitantes anualmente
6
, liderando as causas de
morte por neoplasias. Levantamentos epidemiológicos demonstram que, apesar do aumento
em sua incidência, em países desenvolvidos, como Estados Unidos da América, Canadá,
França e Inglaterra, o CHC apresenta as menores incidências, com valores médios variando
entre 2,65 e 7,64 casos novos/100.000/ano
3
.
1 Introdução
4
Não está claro o motivo do aumento da incidência nos países desenvolvidos, porém
dados sugerem que se relaciona ao pico de prevalência da infecção pelo VHC e devido à
imigração de populações existentes em áreas endêmicas pelo VHB para esses países
3
.
Estimativas realizadas pelo Centro para o Controle de Doenças dos Estados Unidos da
América sugerem que a incidência do CHC triplicará na próxima década naquele país
16
.
No Brasil, segundo o Fórum Nacional sobre CHC, realizado em 1995, foram
analisados 187 casos diagnosticados de CHC entre os anos de 1992 e 1994, em oito estados da
federação, com os seguintes dados divulgados: média de idade de 54,7 anos, 3,4 vezes mais
prevalente em homens, presença do VHB em 41,6%, positividade do anti-HCV em 26,9%,
presença de etilismo crônico em 37% e presença de cirrose em 71,2%
17
.
1.3 Fatores e grupos de risco
Aproximadamente 90% dos casos de CHC ocorrem em associação com cirrose
hepática (CH). Entre os fatores etiológicos mais freqüentemente relacionados, destacam-se os
vírus das hepatites B e C e o uso crônico do etanol.
Quando o CHC se desenvolve sem a presença de cirrose, destaca-se a associação com
a infecção crônica pelo VHB, fundamentalmente no sudeste asiático e com a exposição à
aflatoxina, substância com características carcinogênicas encontrada em conservantes
utilizados em cereais mais comumente em regiões do continente africano
18
.
Diversos estudos populacionais demonstram que a incidência de CHC é relevante
quando se associa CH e VHC
19-21
. A incidência anual nessa condição varia de três a oito casos
novos a cada 100.000 habitantes. Alguns fatores relacionados ao hospedeiro determinam uma
probabilidade ainda maior de desenvolvimento de CHC. Idade superior a 55 anos no
momento do diagnóstico e sexo masculino aumentam o risco em cerca de três vezes
22,23
.
Sobrecarga de ferro no fígado, esteatose hepática e diabetes melittus são comorbidades que
também demonstraram aumento na probabilidade de surgimento do CHC
24
.
Importantes estudos longitudinais falharam em encontrar diferentes riscos quando os
diferentes genótipos virais são estudados individualmente
21,25
. Em uma importante coorte
européia com 255 pacientes com CH e VHC, foram encontradas incidências cumulativas, em
cinco anos, de 6%,4% e 4% de CHC em genótipos 1b, 2 e outros, respectivamente
25
.
1 Introdução
5
Estudos sugerem que a co-infecção com o VHB determina um risco de duas a seis
vezes maior de desenvolvimento de CHC, quando comparada à monoinfecção, tanto em série
italiana
26
, quanto chinesa
27
.
Em relação ao aumento do risco de CHC em pacientes infectados com o VHC e o uso
crônico de etanol, estudos de caso-controle sugerem um risco relativo duas a quatro vezes
maior em indivíduos que consomem mais de 80 gramas dessa substância diariamente
28,29
. Em
uma coorte de pacientes infectados por VHC e com o consumo diário maior que 65 gramas de
etanol, identificou-se um risco relativo três vezes maior de incidência de CHC
30
. Entretanto,
mais estudos são necessários para que se avalie o risco de CHC em pacientes que ingerem
pequenas quantidades dessa substância
24
.
Atualmente, entre os fatores objetos de estudo relacionados com o risco para o
surgimento de CHC em pacientes cirróticos portadores de VHC, convém citar, entre outros,
infecção oculta por VHB, co-infecção com vírus da imunodeficiência humana e tabagismo.
Entretanto, essas análises carecem, até o momento, de respaldo científico consistente
24
.
Baseado no fato de que o CHC é encontrado em análises populacionais de pacientes
que apresentam infecção crônica por VHC, porém sem CH, em freqüência não desprezível e
superior à encontrada na população em geral, podemos considerar o VHC um fator de risco
independente de CHC
31,32
.
O VHB apresenta importante papel no desenvolvimento de CHC em pacientes infectados.
Caracteriza-se por apresentar elevada incidência, mesmo naqueles pacientes que não apresentam
fígado cirrótico. A proporção de casos de CHC em pacientes que apresentam o diagnóstico prévio
de CH, em relação àqueles sem tal diagnóstico, varia consideravelmente em diferentes áreas
geográficas
20,26
. As razões para esse fato não estão completamente estabelecidas, porém há um
consenso geral de que o CHC, quando associado à infecção crônica pelo VHB, resulta da ação de
vários fatores, incluindo a CH e a ação direta do vírus sobre os hepatócitos
33
.
Ao se considerar regiões de alta prevalência do VHB, como o sudeste asiático,
observa-se que o risco anual de desenvolvimento de CHC é de 0,2, 1 e 3,2 casos novos a cada
100.000 habitantes em pacientes portadores inativos, com doença em atividade e em
cirróticos, respectivamente. Em contrapartida, ao serem analisadas regiões de baixa
prevalência, como Europa e Estados Unidos da América, observa-se um risco
consideravelmente maior em cirróticos, com incidência cumulativa, em cinco anos, que varia
de 10 a 15%, dez vezes maior quando comparada ao surgimento de CHC em casos em que
não houver CH associada
8,18,26
.
1 Introdução
6
Alguns fatores associados ao hospedeiro propiciam um maior risco de desenvolvimento de
CHC. Idade avançada no momento do diagnóstico (superior a 50 anos) configura uma variável
independente de risco – aproximadamente quatro vezes mais chances de desenvolvimento de
CHC
23
. Ao se avaliar uma coorte de pacientes europeus, com ênfase na associação de cirrose, VHB
e CHC, observou-se que os pacientes portadores dessa neoplasia, além da idade mais avançada no
momento do diagnóstico, apresentaram CH por um tempo mais prolongado, sugerindo que, na
realidade, o tempo de infecção possa também, de modo independente, acarretar um maior risco
34
.
Ao contrário do que se observa com o VHC, quando a população é estratificada em relação ao
gênero, os achados nos casos de associação com VHB são conflitantes
34
. Em relação ao consumo de
álcool, estudos demonstraram o risco aumentado, em até três vezes, de desenvolvimento de CHC,
em pacientes cirróticos infectados pelo VHB que consomem, diariamente, mais que 60 gramas de
etanol
29,35
.
Características relacionadas à carga viral do VHB configuram uma particularidade
com relevância clínica: a despeito de não se conseguir, na maior parte das vezes, supressão
completa e sustentada da replicação viral em pacientes infectados, o fato é que estudos
sugerem que suprimindo a carga viral, com normalização ou diminuição da atividade
inflamatória, poder-se-ia diminuir a incidência anual de CHC nesses pacientes
36,37
.
Em relação ao genótipo do VHB, um estudo realizado em Taiwan sugere que o risco
de CHC em pacientes portadores de genótipo B aumenta a probabilidade de surgimento de
CHC
38
, porém, a exemplo da associação de CHC e VHC, não há elementos que, em um
contexto geral, atualmente corroborem esse achado.
Entre os fatores agressores do tecido hepático que conferem maior risco de CHC em
cirróticos, destaca-se, de modo independente, o efeito do etanol. Uma meta-análise de 17
estudos de caso-controle mostra uma nítida relação entre o consumo de álcool e o risco de
CHC
39
. Com uma incidência cumulativa, em cinco anos, de até 8% nesse grupo de cirróticos,
o álcool se encontra como um dos principais fatores de risco para o surgimento do CHC
18,19,40
.
Importante salientar o potencial oncogênico da hemocromatose hereditária em
cirróticos. É considerada a condição que mais aumenta o risco de desenvolvimento de CHC
em cirróticos, determinando uma incidência cumulativa, em cinco anos, de até 21%, duas
vezes maior quando comparada a outros relevantes fatores de risco
41
.
Outras causas de cirrose não configuram, de um modo geral, um risco comparável às
citadas acima. Doença de Wilson, deficiência de alfa
1
-antitripsina, cirrose biliar primária,
colangite esclerosante primária e hepatite auto-imune apresentam uma incidência cumulativa
1 Introdução
7
que varia entre 2% e 5%, em cinco anos, em diversas populações estudadas, quando se exclui
a associação com hepatites virais e consumo de álcool
18
. Atenção deve ser dada a esteato-
hepatite não alcoólica, onde achados histológicos sugestivos da doença foram encontrados em
fígados com CHC e diagnóstico prévio de cirrose criptogênica em cerca de 50% dos casos
42
.
1.4 Rastreamento e vigilância
Conceitualmente, pode-se definir rastreamento como a realização de exames com o
intuito de se identificar doenças em uma população de risco estabelecido, no momento em que
não há parâmetros objetivos que possam sugerir a presença da doença a ser pesquisada. Em
relação à vigilância, definem-se questões mais complexas, como o intervalo entre os exames
de rastreamento, levando em consideração análises do grupo de risco individualizado no que
se refere ao risco de desenvolvimento de determinada doença e a relação custo-efetividade do
método a ser empregado
13
.
Rotineiramente, a recomendação de vigilância para o CHC em cirróticos é realizada
através da realização de ecografia abdominal e dosagem sérica de alfa-fetoproteína (AFP)
semestralmente
13
. Com esse propósito, somente no ano de 2004 foi publicado o primeiro
estudo randomizado com o intuito de definir o benefício das medidas de vigilância
desenvolvidas na prática médica. Analisando quase 20.000 pacientes com evidência de
infecção por VHB, observou-se uma diminuição das mortes relacionadas ao CHC em 37%
dos pacientes que foram submetidos a esse método de vigilância
43
. Entretanto, críticas
metodológicas são pertinentes, tendo em vista que o seguimento completo foi realizado em
menos de 60% dos pacientes inicialmente contemplados para participar do estudo, e a
população estudada foi, especificamente, de portadores de infecção pelo VHB.
Outros estudos não randomizados ou controlados, baseados em análises populacionais e
seguimento de uma população submetida a esquemas de vigilância, sugerem benefício com essa
conduta, porém sob o ponto de vista epidemiológico, carecem de maior respaldo científico
7,44
.
A decisão de que seja ofertada uma medida de vigilância, baseia-se,
fundamentalmente, no risco que o paciente desenvolva CHC em curto período de tempo,
justificando análises de custo-efetividade. A American Association for the Study of the Liver
Disease (AASLD) sugere que essa conduta poderia ser contemplada para pacientes que
apresentam um risco anual maior que 1,5% para o desenvolvimento de CHC. Incluem-se,
1 Introdução
8
nesse grupo, pacientes portadores de cirrose secundária à infecção crônica pelos vírus das
hepatites B e C, ao uso crônico do etanol, e à hemocromatose hereditária. Em pacientes
portadores do VHB, mesmo na ausência de cirrose, a vigilância seria custo-efetiva em
asiáticos masculinos com mais de 40 anos e em mulheres com mais de 50 anos ou,
independentemente do gênero, na presença de história familiar de CHC. Os pacientes que
apresentam CH secundária às outras etiologias não seriam, em princípio, candidatos à
vigilância, por não apresentarem uma relação custo-efetiva favorável
13
. Entretanto, cabe
ressaltar que a própria AASLD salienta que tais recomendações carecem de um nível de
evidência satisfatório, sendo baseado em estudos com baixo poder epidemiológico e na
opinião de autoridades no assunto
13
.
1.5 Aspectos histopatológicos
Diversas classificações histológicas, tanto sob o ponto de vista macroscópico, quanto
microscópico, foram desenvolvidas para possibilitar melhor entendimento do CHC.
A primeira classificação macroscópica foi descrita em 1901, dividindo esse tumor em:
nodular (solitário ou múltiplo), maciço e difuso
45
. Posteriormente, já em 1984, Okuda et al
propuseram uma classificação que contemplava o modo de crescimento tumoral, dividindo-o
em expansivo e invasivo
46
. Com o avanço dos métodos de imagem, propiciando a constatação
de lesões pequenas, e que a maior parte dos casos de CHC era de lesões nodulares e com
crescimento expansivo, foi proposto, em 1987, que esse tumor fosse dividido em: tipo 1 –
nodular isolado, tipo 2 – nodular com crescimento extranodular, tipo 3 – multinodular
confluente e tipo 4 – nodular mal demarcado
47
.
Apesar de ser uma neoplasia que, microscopicamente, apresenta um padrão
heterogêneo, de um modo geral pode ser identificada uma arquitetura básica de trabéculas
delimitadas por espaços semelhantes a sinusóides. Baseado nessa característica, a
Organização Mundial de Saúde reconhece os padrões trabecular, pseudoglandular e
esquirroso
48
. A maior parte dos casos é enquadrada no padrão trabecular, sendo identificada
como uma proliferação de trabéculas largas, formadas for hepatócitos atípicos.
Edmondson e Steiner, em 1954, desenvolveram uma graduação histológica que, até os
dias atuais, é rotineiramente empregada. O CHC é dividido em quatro tipos histológicos: grau
1 – tumores bem diferenciados com trabeculação delicada, grau 2 – aparecimento de
1 Introdução
9
estruturas glandulares e acinares entre as trabéculas e os núcleos apresentando atipia bem
definida, grau 3 – múltiplos nucléolos, perda do padrão trabecular e presença de células
gigantes e grau 4 – células não se dispõem de modo coeso, estrutura irregular, dificultando
definir a linhagem hepatocelular da neoplasia
49
.
1.6 Diagnóstico
O diagnóstico do CHC baseia-se no conceito de que esses tumores se iniciam como lesões
únicas e assintomáticas em fígados cirróticos ou em população selecionada entre portadores do
VHB. Desse modo, devem ser estabelecidos exames periódicos de rastreamento para detecção
dessas lesões. Ao se identificar um nódulo em fígado cirrótico, como regra, deve-se descartar a
presença de CHC. O modo inequívoco de se estabelecer o diagnóstico de CHC é através do
estudo histopatológico. Entretanto, na maior parte das vezes, o diagnóstico pode ser realizado
através de achados radiológicos característicos dessa neoplasia, associando-se, quando necessário,
marcadores tumorais. Desse modo, o estudo histopatológico ficaria reservado a casos
selecionados, evitando-se o risco inerente a esse procedimento invasivo.
É importante considerar que a probabilidade de um nódulo hepático ser representativo
de CHC aumenta em proporção direta com o tamanho da lesão. Com o crescimento tumoral, a
lesão se torna menos diferenciada e com vascularização em fase arterial mais acentuada.
Estudos demonstram que lesões menores que um centímetro de diâmetro se associam, na
maior parte das vezes, a nódulos regenerativos
50
.
A AFP é um marcador tumoral que sugere a presença de CHC. No entanto, outras
condições podem aumentar seus valores, incluindo a presença de atividade hepática inflamatória
como a que ocorre nas hepatites crônicas virais. Não existe um ponto de corte definido para a
valorização diagnóstica desse marcador tumoral
51
. Estudos sugeriram que o valor de 400 mg/dL
fosse indicativo de CHC, quando associado à presença de um nódulo hepático, porém uma revisão
realizada em 2001 chamou a atenção para a arbitrariedade desse valor
52
.
Quando se considera o estudo ecográfico, é fundamental que se atente ao fato de que o
CHC pode se apresentar hipoecóico, isoecóico ou hiperecóico com esse método. Desse modo,
não é um método apropriado para contemplar aspectos diagnósticos desse tumor, ficando
reservado para o seu rastreamento e vigilância.
1 Introdução
10
O uso de contrastes radiológicos para determinar a hipervascularização em fase arterial
das lesões é de extrema utilidade. Recentemente, o washout também está sendo considerado
um importante parâmetro radiológico que sugere a presença de CHC. Os exames que
rotineiramente são contemplados com esse propósito são a ecografia e a tomografia
computadorizada após administração de contraste endovenoso, bem como a ressonância
nuclear magnética com o uso de gadolínio
13
.
Com o intuito de ofertar um guia prático com recomendações para o diagnóstico do
CHC, a AASLD, desenvolveu o algoritmo que segue:
Figura 1:. Algoritmo sugerido pela AASLD para o diagnóstico do CHC (13).
1 Introdução
11
Importante salientar que o tamanho da lesão é o principal parâmetro para orientar a
conduta de investigação diagnóstica. Se o estudo ecográfico demonstrar um nódulo menor que
um centímetro, seria adequada a repetição do exame em três meses. Ao ser identificado um
nódulo maior que um centímetro, o diagnóstico poderia ser realizado, de modo não invasivo,
com a identificação de lesões com características típicas de CHC em exame de imagem.
O estudo histopatológico é sugerido nos casos em que o nódulo meça entre um e dois
centímetros e que não seja possível realizar o diagnóstico com a utilização dos critérios não
invasivos.
Em relação à AFP, percebe-se que sua dosagem é útil ao estabelecer o diagnóstico,
fundamentalmente em nódulos com mais de dois centímetros de diâmetro com características
atípicas no exame de imagem
13
.
1.7 Tratamento
Uma vez estabelecido o diagnóstico de CHC, torna-se fundamental que seja ofertada a
conduta terapêutica mais apropriada para o paciente. Diversas variáveis são consideradas para
a tomada dessa decisão. Como tratamento ideal, uma abordagem terapêutica com o intuito
curativo deve ser ofertada. Alguns parâmetros são utilizados para determinar o tratamento
ideal para cada doente. De modo geral, analisam-se características relacionadas ao tumor
(tamanho, número, localização), e ao paciente (performance status, grau de disfunção
hepática, presença de hipertensão portal). Quando se opta por uma conduta com o intuito
curativo, advoga-se a utilização de TOF, a RH ou a ablação percutânea
13
. Ressalta-se o papel
do TOF, pois, além da remoção da neoplasia, possibilita o tratamento da doença de base
naqueles casos associados à CH.
No momento em que se estabelece impossibilidade de cura do paciente, opta-se,
quando houver viabilidade técnica e condição clínica adequada, por uma abordagem com
intuito paliativo, aumentando a sobrevida e/ou aliviando sintomas. A quimioembolização da
neoplasia é o método preferencial nessas situações, por ser o único método que demonstrou,
através de uma meta-análise, aumento na sobrevida
14
.
1 Introdução
12
1.7.1 Tratamento curativo
Importante salientar que, independente da proposta terapêutica a ser ofertada, há
carência de estudos que permitam comparações diretas, entre os diferentes métodos, que
propiciem respaldo científico consistente. Portanto, em regra, as recomendações são
realizadas com base nos resultados encontrados com a análise de coortes submetidas aos
tratamentos anteriormente citados
10,13
.
Em relação à RH, essa opção deve ser considerada sempre com o intuito curativo,
pois, tratando-se de uma abordagem agressiva, não se justifica expor o paciente a um risco
não desprezível, inerente ao procedimento, quando o intuito paliativo for contemplado.
Entretanto, discussões são estabelecidas na literatura médica no que se refere ao momento em
que se possa rotular um CHC como incurável. A maioria dos grupos restringe a indicação
cirúrgica para tumores únicos e, no que se refere ao tamanho do tumor, não está definido um
ponto de corte exato que contra-indique esse tratamento
13
.
Apesar de haver uma correlação entre o tamanho do tumor com invasão vascular e a
presença de lesões satélites
53
, há tumores grandes que não são acompanhados desses achados
e existem estudos que não demonstram uma menor sobrevida relacionada ao tamanho do
tumor na indicação cirúrgica
16,54
.
De modo geral, a partir de um importante estudo realizado, em 1999, pelo Barcelona
Clinic Liver Cancer (BCLC), foi demonstrado que, mesmo naqueles pacientes que se
apresentavam classificados como Child-Pugh-Turcotte (CHILD)
55
A, a ressecção da neoplasia
somente deveria ser realizada se o valor de bilirrubina total (BT) fosse normal e o gradiente
de pressão venosa hepática (GPVH) menor do que 10 mmHg. No momento em que o paciente
apresentar sete pontos na classificação de CHILD, o transplante hepático deveria ser o
tratamento de eleição
16
.
O TOF desempenha importante papel entre as opções terapêuticas para o CHC em
cirróticos. Além de remover a neoplasia, o TOF oferece a possibilidade da substituição
completa do tecido hepático doente, diminuindo o risco de novos tumores e permitindo a
restauração da função hepática. Inicialmente, os resultados do TOF nessas situações foram
desanimadores. Porém, nos dias atuais, através do aperfeiçoamento de técnicas relacionadas à
terapêutica, aliado ao desenvolvimento de critérios selecionados para a indicação desse
tratamento, os resultados comparam-se com os encontrados em pacientes submetidos ao TOF
sem neoplasia
10
. Parece então ser este, do ponto de vista teórico, o procedimento de eleição a
1 Introdução
13
ser indicado nos pacientes portadores de CHC. Sua limitação é dada pela carência de órgão
nos sistemas de captação.
Entre os trabalhos elaborados com o objetivo de selecionar pacientes para o TOF,
destaca-se aquele capitaneado por Mazzaferro em 1996
56
. Demonstrou-se que, se o TOF fosse
realizado somente naqueles pacientes que apresentem um nódulo menor que cinco
centímetros ou até três lesões com, no máximo, três centímetros cada uma, sem evidência de
invasão vascular ou metástases à distância, a sobrevida, em cinco anos, é superior a 70%. A
partir desse momento, ficou evidente que o TOF desempenha relevante papel nessas
situações, pois esse critério de seleção é o que apresenta maior subsídio científico até o
momento e sugerido pela AASLD nesse contexto
13
.
De acordo com as recomendações da AASLD
13
, sugere-se que o paciente deva ser
submetido à RH se apresentar nódulo único e não houver um GPVH maior que 10 mmHg ou
aumento do nível sérico de bilirrubinas. Se isso ocorrer, o TOF deve ser a primeira escolha,
bem como naqueles casos onde estiverem presentes até três lesões, sendo que a maior delas
medindo menos de três centímetros.
Quando o paciente apresenta neoplasia em fase inicial, sem critérios para realizar a
RH, e não possui condições para ser submetido ao TOF ou não deseja realizá-lo, a ablação
percutânea é o tratamento de eleição, pois parece existir a possibilidade de cura com essa
modalidade terapêutica
10,13
. Pode ser realizado através da introdução de substâncias químicas
ou ablação térmica. A alcoolização e a radiofreqüência são os seus principais representantes.
Apesar de não existirem ensaios clínicos comparando RH e tratamento percutâneo, estudos
demonstram uma menor recidiva tumoral nos pacientes submetidos à primeira
13
.
Os resultados da alcoolização variam de modo inversamente proporcional ao tamanho
da neoplasia, atingindo até 100% de necrose, quando o nódulo for menor que dois centímetros
e menos de 50% em nódulos maiores de três centímetros
57,58
. Em relação à radiofreqüência,
estudos demonstraram resultados semelhantes à alcoolização quando esse procedimento foi
efetuado em tumores com menos de dois centímetros
59,60
. Já naqueles tumores maiores,
estudos com maior poder de evidências foram desenvolvidos, constatando-se resultados
melhores com a ablação térmica, considerando o controle do tumor e, inclusive, aumento de
sobrevida
61,62
. No entanto, convém ressaltar que alguns estudos demonstram maiores
complicações nos casos em que esse método é utilizado
60,63
.
1 Introdução
14
1.7.2 Tratamento paliativo
Uma vez estabelecido que o paciente não apresenta a possibilidade de que lhe seja
ofertado um tratamento com intenção curativa para o CHC com os métodos já apresentados, o
tratamento paliativo é considerado. Ao contrário dos métodos curativos, a abordagem
paliativa apresenta resultados desanimadores.
Entre os métodos contemplados com esse propósito, identifica-se a
quimioembolização como o de melhor perspectiva. Após a realização de uma importante
meta-análise, Llovet e Bruix, ao avaliarem os principais estudos realizados com esse enfoque,
demonstraram que a quimioembolização foi o único método que proporcionou aumento da
sobrevida, tornando-se, portanto, o método de eleição para essa população de pacientes
14
. De
modo geral, sugere-se sua utilização nos casos em que não seja possível realizar o TOF, a RH
ou a ablação percutânea e não houver evidências de invasão vascular (fundamentalmente em
ramos portais) ou disseminação hematogênica
13
.
Para todos os casos em que houver relevante disfunção hepatocelular (CHILD C) ou
comprometimento funcional orgânico, aferido através da performance status, o alívio dos
sintomas deve ser o objetivo primário, tendo em vista que nenhuma abordagem terapêutica
demonstrou benefício nessas situações.
Ao se avaliar as diferentes propostas terapêuticas, observa-se que diversos centros,
motivados por inúmeros fatores, optam por distintas condutas, pois o conhecimento médico
amadurece e a conduta correta sofre constantes modificações. Ao ser considerado esse fato,
entende-se que a avaliação do tratamento cirúrgico do CHC é oportuna e necessária que seja
realizada em diferentes locais, fundamentalmente, no que diz respeito à sobrevida pós-
operatória.
2 OBJETIVOS
2 Objetivos
16
2 OBJETIVOS
2.1. Objetivo geral
Avaliar a sobrevida de pacientes cirróticos, com diagnóstico de CHC, após serem
submetidos à ressecção cirúrgica para o tratamento da neoplasia.
2.2 Objetivos específicos
Identificar fatores que possam ser preditores prognósticos.
Avaliar a incidência de recidiva tumoral.
3 PACIENTES E MÉTODOS
3 Material e Métodos
18
3 PACIENTES E MÉTODOS
3.1 Delineamento
O presente estudo avalia uma coorte histórica de pacientes.
3.2 População
Pacientes que foram submetidos à ressecção hepática como alternativa terapêutica para
o CHC, na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, nos últimos dez anos.
Critérios de inclusão @ diagnóstico estabelecido de cirrose hepática, presença de
carcinoma hepatocelular e ter sido submetido ao tratamento cirúrgico com um médico
integrante da Equipe de Transplante Hepático e Cirurgia Hepatobiliopancreática da Santa
Casa de Porto Alegre.
Critérios de exclusão @ prontuários que impossibilitem a adequada obtenção das
informações existentes no protocolo de trabalho, não sendo foi factível o contato com o
paciente ou familiar para a obtenção dos dados.
3.3 Metodologia
Foi realizada uma pesquisa no setor de internação hospitalar para identificação dos
pacientes que foram submetidos à RH. Posteriormente, identificaram-se aqueles pacientes que
foram submetidos a esse procedimento por um dos cirurgiões da Equipe de Transplante
Hepático e Cirurgia Hepatobiliopancreática da Santa Casa de Porto Alegre. Os prontuários
foram revisados para verificação das variáveis em estudo, contempladas no protocolo de
trabalho (ANEXO 1). Quando, eventualmente, não foi possível a identificação de todas as
3 Material e Métodos
19
variáveis, houve contato com o paciente ou familiar para complementação das informações
exigidas. Posteriormente, localizou-se o material que foi enviado para análise histopatológica
com o objetivo de ser realizada uma revisão histológica das lesões, por um único patologista.
A etiologia da cirrose foi definida como secundária ao VHB na presença do antígeno
de superfície do VHB (HBsAg), ao VHC na positividade do exame qualitativo de reação de
cadeia da polimerase específico para esse vírus e secundária ao uso de álcool quando a ingesta
fosse maior que 40 gramas/dia durante dez anos para homens e 20 gramas/dia, no mesmo
período, para mulheres.
O grau de disfunção hepatocelular foi aferido através da classificação de CHILD e
Model for End-Stage Liver Disease (MELD), calculado mediante fórmula matemática que
contempla os valores de creatinina, BT e relação normalizada internacional, no endereço
eletrônico da United Network for Organ Sharing: Organ Donation and Transplantation
64
.
3.4 Variáveis em estudo
Foram avaliados parâmetros clínicos, laboratoriais, endoscópicos e histopatológicos.
Parâmetros clínicos @ idade, sexo, história de ascite e encefalopatia porto-sistêmica.
Avaliação da sobrevida @ número de meses em que o paciente viveu após a realização
da ressecção cirúrgica.
Recidiva tumoral (RT) @ evidência de neoplasia, através de exames de imagens,
posteriormente ao tratamento cirúrgico (ecografia e tomografia computadorizada).
Parâmetros laboratoriais @ dosagem sérica de albumina, BT, atividade de
protrombina, creatinina e AFP.
A dosagem dos exames precedeu, no máximo, uma semana a data da cirurgia, com
exceção da AFP que se admitiu até 30 dias.
Parâmetros endoscópicos @ presença ou ausência de varizes gastro-esofágicas.
Parâmetros histopatológicos @ tamanho, número, grau de diferenciação celular,
presença de lesões satélites e invasão vascular.
3 Material e Métodos
20
3.5 Considerações éticas
Trata-se de um estudo retrospectivo, baseado na análise de prontuários de uma série de
casos provenientes de médicos selecionados que atenderam cada paciente e se propuseram a
colaborar com o estudo. Os casos não foram individualizados e as informações foram
mantidas de modo confidencial. Não houve riscos relacionados ao estudo, pois nenhuma
intervenção foi aplicada. Além disso, a pesquisa foi apreciada e aprovada pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Irmandade Santa Casa de Porto Alegre.
3.6 Análise estatística
Nas análises de sobrevida foi utilizado o método Kaplan-Meier com teste Log Rank
para verificar possíveis diferenças entre as curvas de sobrevida entre os grupos. Os dados
foram analisados utilizando-se o software SPSS 12.0 e o nível de 5% de significância para os
testes. Para variáveis quantitativas, foram calculadas as médias e os desvios-padrão, com um
intervalo de confiança definido em 95% (IC 95%). Os percentuais de sobrevida em um, três e
cinco anos foram calculados de acordo com os sobreviventes ao final de cada período sobre o
total de casos não censurados antes do fim do respectivo período. Para testar a associação
entre variáveis categóricas foi utilizado o Teste Exato de Fisher.
4 RESULTADOS
4 Resultados
22
4 RESULTADOS
4.1 Resultados gerais
Foram analisados os dados de 22 pacientes. Destes, 17 eram homens. A idade variou
entre 48 e 80 anos, com média e desvio-padrão de 62,09 e 8,35 anos, respectivamente.
A causa da cirrose foi VHC em dez casos, VHC associada a álcool em quatro, VHB
em três, álcool em dois, medicamentosa em um (uso crônico de alfa-metildopa) e criptogênica
em dois casos.
Em relação ao grau de disfunção hepatocelular, as classificações CHILD A e B
contemplaram 15 e cinco casos, respectivamente. Em dois casos não foi possível estabelecer o
CHILD devido à ausência de todos os dados para o cálculo dessa classificação.
Quando se adotou a classificação MELD, foi observada a média de 9,75.
Dezenove pacientes realizaram endoscopia digestiva alta, sendo constatada a presença
de varizes esofágicas em 16 casos.
Dezoito pacientes apresentavam lesão única, sendo que o tumor media mais de cinco
centímetros em sete casos. Três pacientes apresentavam duas lesões e a neoplasia era
multinodular em um caso.
Em três casos o tumor foi classificado como pouco diferenciado e, em cinco, como
bem diferenciado. Os demais casos apresentavam um grau moderado de diferenciação celular.
Invasão microvascular foi identificada em 16 casos e a presença de lesões satélites foi descrita
em 17 casos.
Um paciente foi submetido à quimioembolização no pré-operatório e um à
alcoolização do tumor no mesmo período.
Dois casos apresentavam história de ascite.
Em um caso a hepatectomia foi realizada no ano de 1996, um em 1998, um em 1999,
quatro em 2000, dois em 2001, dois em 2002, um em 2003, seis em 2004 e quatro em 2005.
4 Resultados
23
4.2 Sobrevida após ressecção cirúrgica
A sobrevida dos pacientes variou entre dez dias e 120 meses, com média de 33,5
meses (IC 95%:12,2-50,8). Para esse desfecho, foram analisados 22 pacientes. A sobrevida
em um, três e cinco anos foi de 61,90%, 16,67% e 11,11%, respectivamente. Esse resultado
está representado na Figura 2.
0 20 40 60 80 100 120
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Sobrevida
Figura 2: Sobrevida global após o tratamento cirúrgico.
Ocorreram dezesseis óbitos durante o seguimento. Em três casos, esse evento
aconteceu nos primeiros três meses (mortalidade pós-operatória imediata de 13,63%).
4.3 Identificação de fatores prognósticos
Não foi identificada diferença, com significância estatística, nas curvas de sobrevida
no que se refere aos níveis séricos de BT e AFP, grau de disfunção hepatocelular, tamanho e
número de tumores e presença de lesões satélites. Por outro lado, houve diferença nas curvas
de sobrevida em relação à invasão microvascular. Os dados poderão ser vistos e analisados a
seguir.
4 Resultados
24
A média de sobrevida dos pacientes da amostra que apresentaram um valor de BT
menor e maior que 1,3 mg/dL foi de 18,2 meses (IC 95%:11,2-25,1) versus 33,6 meses (IC
95%:13-54,2), respectivamente. O resultado está representado na Figura 3.
0 10203040506070
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
BT>1,3 mg/dL
BT até 1,3
mg/dL
.
Sobrevida
Figura 3: Sobrevida estratificada pelo nível sérico de BT
Não houve diferença entre as curvas de sobrevida dos pacientes nos diferentes valores
de BT (p=0,2247).
A média de sobrevida dos pacientes da amostra que apresentaram um valor de AFP
menor e maior que 200 mg/dL foi de 30,7 meses (IC 95%:15,9-45,4) versus 17,8 meses (IC
95%:10-25,5), respectivamente. O resultado está representado na Figura 4.
4 Resultados
25
0 10203040506070
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
AFP <200
mg/dL
AFP >200
mg/dL
<200-censored
>200-censored
.
Sobrevida
Figura 4: Sobrevida estratificada pelo nível sérico de AFP.
Não houve diferença entre curvas de sobrevida dos pacientes nas diferentes faixas de
AFP (p=0,1663).
Não foi realizada análise estatística comparando a sobrevida dos pacientes que
apresentavam VE em relação àqueles que não as apresentavam, devido ao pequeno número no
último grupo (apenas três casos). Entretanto, observou-se que a sobrevida dos pacientes que
apresentavam VE foi de 60% ao final do primeiro ano e de 15,38% ao final do terceiro ano.
Entre os três pacientes que não apresentavam VE, dois faleceram aos dez e 31 meses e um
está vivo com 68 meses de seguimento.
A sobrevida dos pacientes da amostra, em relação ao grau de disfunção hepatocelular
pelas classificações CHILD A e B, apresentou uma média de 21,5 meses (IC 95%:11,5-31,5)
versus 26,3 meses (IC 95%:7,5-45), respectivamente. O resultado está representado na Figura 5.
4 Resultados
26
0 10203040506070
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
CHILD A
CHILD B
B-censored
.
Sobrevida
Figura 5: Sobrevida estratificada pela classificação CHILD.
Não houve diferença nas curvas de sobrevida dos pacientes, ao se comparar o grau de
disfunção hepatocelular CHILD A e B (p=0,8226).
A sobrevida dos pacientes da amostra em relação ao grau de disfunção hepatocelular
pelo MELD, menor ou igual e maior que dez, foi de 23,4 meses (IC 95%:12,3-34,5) versus 27
meses (IC 95%:6-48), respectivamente. O resultado está representado na Figura 6.
4 Resultados
27
0 10203040506070
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
MELD > 10
MELD MENOR
OU IGUAL A
10
.
Sobrevida
Figura 6: Sobrevida estratificada pela classificação MELD.
Não houve diferença entre as curvas de sobrevida dos pacientes nos diferentes valores
de MELD (p=0,9420).
A sobrevida dos pacientes que apresentaram nódulo único e menor que cinco
centímetros foi de 41,4 meses (IC 95%:16,2-66,6). Esse grupo foi composto por 11 pacientes.
Ressalta-se que, em nove pacientes, a endoscopia digestiva alta demonstrou a presença de VE,
e o nível sérico de BT estava aumentado em quatro casos. Nos pacientes que apresentaram
nódulo único, porém medindo mais que cinco centímetros, a média da sobrevida foi de 23,6
meses (IC 95%:6,1-41). Esse grupo foi composto por sete pacientes.
No grupo de pacientes que apresentaram mais do que um nódulo (quatro casos),
observou-se uma sobrevida de 12,6 meses (IC 95%:0-26,4).
O resultado das curvas de sobrevida entre os três grupos está representado na Figura 7.
4 Resultados
28
0 102030405060708090100110120
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Tumor menor ou igual a 5 cm
Tumor maior que 5 cm
Tam anho
2 ou mais nódulos
Sobrevida
Figura 7: Sobrevida estratificada pelo tamanho e número de tumores.
Não houve diferença entre as curvas de sobrevida dos pacientes que apresentavam
diferentes tamanhos e número de lesões (p=0,3134).
A sobrevida dos pacientes da amostra em relação à presença e ausência de invasão
microvascular foi de 18,6 meses (IC 95%:10,6-26,6) versus 89 meses (IC 95%:46-132),
respectivamente. O resultado está representado na Figura 8.
4 Resultados
29
0 102030405060708090100110120130
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Com Invasão
Vascular
Sem Invasão
Vascular
.
Sobrevida
Figura 8: Sobrevida estratificada em relação à invasão microvascular.
Houve diferença, com significância estatística, entre curvas de sobrevida dos pacientes
em relação à invasão microvascular (p=0,0158).
A média de sobrevida dos pacientes da amostra em relação à presença e ausência de
lesões satélites foi de 25 meses (IC 95%:15,8-34,3) versus 66,2 meses (IC 95%:10,2-122,1),
respectivamente. O resultado está representado na Figura 9.
4 Resultados
30
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130
meses
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
Com satélite
Sem Satélite
.
Sobrevida
Figura 9: Sobrevida em relação à lesão satélite.
Não houve diferença entre curvas de sobrevida dos pacientes em relação a lesões
satélites (p=0,156).
4.4 Recidiva tumoral
Entre os 22 pacientes analisados durante o seguimento, 19 foram avaliados para a RT
(excluindo-se os três óbitos no período pós-operatório imediato). Treze casos (68,4%)
apresentaram RT, sendo que 12 faleceram devido a complicações relacionadas à progressão
da neoplasia. Um paciente faleceu no quarto dia após a realização de nova cirurgia para
tratamento de RT.
Em onze pacientes foi possível identificar quando ocorreu a RT, sendo que, em nove
(69,2%), esse evento foi identificado dentro de 12 meses posteriores à RH. O tempo médio da
identificação da RT foi de 8,9 meses com variação de três a 25 meses. Os demais seis
pacientes não apresentaram RT e todos eles estavam vivos ao final do seguimento.
Entre os sete pacientes que apresentaram tumor único e maior que cinco centímetros,
houve dois óbitos no período pós-operatório imediato. Três pacientes faleceram aos sete, 25 e
30 meses de seguimento, todos eles relacionados à recidiva e à progressão da neoplasia. Dois
4 Resultados
31
pacientes permanecem vivos, com 16 e 66 meses de seguimento, sem evidências de recidiva
tumoral.
Quando foi avaliada a possibilidade de RT e a presença de invasão microvascular,
observou-se uma relação com significância estatisticamente significativa (p=0,003). Entre os
13 pacientes que apresentaram RT, a presença de invasão microvascular foi identificada em
12 e, nos demais seis casos sem RT, este evento foi identificado apenas em um caso.
Não foi identificada a associação entre a RT com a presença de lesões satélites na
análise histopatológica (p=0,071). Entre os 13 pacientes que apresentaram RT, a presença de
lesões satélites foi identificada em 12. No entanto, este evento foi identificado em três dos
demais seis casos.
5 DISCUSSÃO
5 Discussão
33
5 DISCUSSÃO
Diversos estudos foram desenvolvidos com o propósito de se avaliar os resultados do
tratamento cirúrgico para o CHC
65
. A partir da metade da década de 90, estudos com maior
representatividade científica foram publicados, servindo, até os dias de hoje, como elementos de
referência para os conhecimentos e recomendações relacionados ao tratamento do CHC
66-71
.
Houve inúmeros fatores que contribuíram para que os resultados da RH no tratamento
do CHC apresentassem uma mortalidade pós-operatória e sobrevida tardia aceitáveis
65
:
aperfeiçoamento das técnicas cirúrgicas e anestésicas
72
, identificação de neoplasias em fases
iniciais
73
e aprimoramento dos conhecimentos relacionados à adequada seleção dos pacientes
e dos métodos de estadiamento
13
.
Com a finalidade de que sejam realizadas comparações entre os resultados desse estudo com
os encontrados na literatura médica, optou-se por selecionar as principais séries que contemplaram
apenas o tratamento cirúrgico para o CHC na presença de CH. Alguns outros estudos que incluíam
casos de CHC, com ou sem a associação com CH foram considerados, desde que houvesse sido
realizada a análise individualizada entre os pacientes cirróticos.
Franco et al publicaram, em 1990, importante estudo com a experiência de três centros
europeus. Foram avaliados 72 pacientes cirróticos que apresentavam CHC e que realizaram
RH. Observou-se uma sobrevida no final do primeiro e terceiro ano de 68% e 51%,
respectivamente. Esse estudo apresenta importância, pois foi a primeira série que se
identificou avaliando uma casuística selecionada de pacientes cirróticos com essa neoplasia
entre europeus
74
.
Suenaga et al, em 1992, avaliaram uma experiência japonesa em 118 pacientes com
CHC. A presença de CH foi constatada em 98 casos. Observou-se uma sobrevida, ao final do
primeiro, terceiro e quinto anos, de 57,9%, 36,8% e 20,0%, respectivamente
75
.
Em 1996 foi publicado um interessante estudo realizado pelo BCLC avaliando esse
aspecto. Relatou-se uma experiência em 48 casos. Apenas analisando pacientes cirróticos com
tumores menores que cinco centímetros, observou-se sobrevida, em um, dois e três anos, de
5 Discussão
34
79%, 73% e 64%, respectivamente. Os autores chamaram a atenção para o fato de que a
identificação dos fatores prognósticos relacionados à sobrevida e a RT deveria ser o objetivo
dos estudos que estavam sendo desenvolvidos nesse sentido
66
.
Dois anos depois, Mazziotti et al publicaram seus resultados, durante um seguimento
de 15 anos, em 238 pacientes com os diagnósticos de CH e CHC. A sobrevida em cinco anos
foi de 41,3%
76
. Três anos mais tarde, Grazi et al atualizaram os dados, após o estudo de 264
casos, demonstrando uma sobrevida, ao final dos três e cinco anos, de 63,1% e 41,1%,
respectivamente
68
.
Fong et al, em 1999, publicaram uma análise de 412 pacientes com o diagnóstico de
CHC e CH tratados em uma instituição norte-americana. Destes, 154 foram submetidos à RH.
Constatou-se uma sobrevida em um, três e cinco anos de 77%, 47% e 37%, respectivamente.
Interessante observar que não foi encontrada diferença, com significância estatística, quando
esta sobrevida foi comparada com os pacientes que não apresentavam CH
67
.
Em 2000, Chiappa et al publicaram uma experiência que avaliou uma coorte de 51
pacientes com o diagnóstico simultâneo de CH e CHC. A sobrevida encontrada em um e três
anos foi de 89% e 53%. Constatou-se, ainda, que o tamanho da neoplasia não acarretou
diferenças nas curvas de sobrevida
77
.
Ainda com esse objetivo, foi elaborado, em 2002, um estudo comparando uma técnica
cirúrgica tradicional
78
com um procedimento de ressecções cirúrgicas expandindo critérios
usualmente realizados, no momento em que o estudo ecográfico no trans-operatório
identificava novas lesões ou eventual invasão macrovascular. Ao se avaliar um total de 206
casos, não se encontrou diferença nas curvas de sobrevida. No primeiro grupo, identificou-se
sobrevida em um, três e cinco anos de 70%, 50% e 33%, respectivamente. A sobrevida
observada no segundo grupo, no mesmo período, foi de 79%, 54% e 44%
71
. Se não fosse
realizada essa estratificação, identificar-se-ia uma sobrevida geral de 77,03%, 53,1% e 41,5%
em um, três e cinco anos, respectivamente.
Em 2003, Escolani et al publicaram os resultados de dois centros italianos, avaliando
224 pacientes com o mesmo propósito deste estudo. A sobrevida encontrada em um, três e
cinco anos foi de 83%, 62,8% e 42,6%
69
.
No ano seguinte, um grupo italiano capitaneado por Vivarelli, ao analisar seus
resultados em 79 pacientes cirróticos portadores de CHC, observou sobrevida em um e três
anos, de 83% e 65%
79
.
5 Discussão
35
Em 2005, Capussotti et al relataram, também na Itália, uma experiência em 216
pacientes. Com um seguimento médio de 28 meses, observou-se uma sobrevida de 51,3% e
34,1% em três e cinco anos, respectivamente
80
.
No mesmo ano, foi publicada uma casuística com o intuito de que fosse avaliada a RH
em relação a diferentes idades, com um ponto de corte de 70 anos, não se encontrando
diferenças na sobrevida. Observou-se uma sobrevida global, ao final do primeiro, terceiro e
quinto anos, de 76%, 51,6% e 36,8%, respectivamente
70
.
Em São Paulo, em 1999, realizou-se a avaliação do tratamento, em 23 casos de CHC
diagnosticados entre 1989 e 1997. A RH foi realizada em 12 pacientes, a quimioembolização
em dez e a quimioterapia sistêmica em um caso. Observou-se sobrevida média de 14,8 meses
no primeiro grupo e 9,8 meses no segundo. Não foi demonstrada diferença com significância
estatística nas curvas de sobrevida. Os autores chamaram a atenção para a importância do
diagnóstico precoce do CHC e sua relação com o prognóstico
81
.
Os principais resultados podem ser observados na Tabela 1.
Autor, ano Número
de casos
Cirrose (%) Mortalidade pós-
operatória
(%)
Sobrevida (%)
1 3 5
anos
Franco,1990(74) 72 100 7,0 68 51
Suenaga,1992(75) 118 83 11,0 58 37 20
Fuster,1996(66) 48 100 4,0 79 64
Mazziotti,1998(76) 238 100 4,6 41
Fong,1999(67) 154 35 5,0 77 47 37
Chiappa, 2000(77) 51 100 8,0 89 53
Grazi,2001(68) 264 100 4,9 63 41
Poon,2002(71) 206 100 6,2 77 53 41
Escolani,2003(69) 224 100 3,5 83 63 43
Vivarelli, 2004(79) 79 100 3,8 83 65
Capussotti,2005(80) 216 100 8,3 51 34
Ferrero,2005(70) 241 100 7,9 76 52 37
Tabela 1: Resultado de diferentes estudos avaliando ressecção hepática no tratamento
do carcinoma hepatocelular
5 Discussão
36
No presente estudo, a média da sobrevida encontrada foi de 33,5 meses, sendo que a
mesma foi em um, três e cinco anos, de 61,90%, 16,67% e 11,11%, respectivamente. Percebe-
se que a sobrevida, em todos os períodos analisados, foi menor em relação àquelas relatadas
nos diferentes estudos indicados. Os resultados encontrados foram desanimadores,
fundamentalmente, quando se analisou a sobrevida ao final do terceiro e quinto anos.
O fato de terem sido estudados 22 casos não justifica, per se, maus resultados.
Entretanto, reflete uma casuística com menor poder estatístico, fundamentalmente, na
identificação de fatores prognósticos em relação aos desfechos encontrados. Tendo em vista o
elevado nível dos profissionais envolvidos nas cirurgias aqui avaliadas, bem como a estrutura
do hospital onde as intervenções foram realizadas, acredita-se que o enfoque principal a ser
discutido deva ser a seleção de pacientes para diferentes propostas.
Com a intenção de que fossem aprofundados os conhecimentos sobre as diferentes
opções terapêuticas com intuito curativo, foi publicado, em 1999, um estudo que avaliou, de
modo retrospectivo, quais são os pacientes em que a RH deva ser ofertada como tratamento
inicial e quais são os pacientes que devem ser submetidos ao TOF. Entre os 1265 pacientes
com o diagnóstico de CHC durante os anos de 1989 a 1997, 164 casos foram submetidos à
RH ou ao TOF. Foram identificados 77 e 87 casos em cada grupo, respectivamente. Todos os
pacientes apresentavam nódulos menores de cinco centímetros, sem evidência de doença
avançada, tanto relacionada à neoplasia, quanto ao grau de disfunção hepatocelular. Se o
paciente apresentasse comprometimento da função hepática (CHILD B ou C), o TOF era
indicado inicialmente. Identificou-se, ao se comparar a sobrevida entre as diferentes
abordagens terapêuticas, que o paciente ideal para ser submetido a RH não apresentou GPVH
maior que 10 mmHg, tampouco valor de BT maior que 1 mg/dL. Se alguma dessas variáveis
estivesse presente, o paciente deveria, idealmente, ser candidato ao TOF
16
.
Observou-se, nesse momento, uma tendência de restringir a indicação de RH a casos
selecionados. Os ensinamentos extraídos desse clássico estudo servem de embasamento para
as sugestões elaboradas no consenso da AASLD
13
.
No presente estudo, identifica-se que, entre os 11 pacientes que apresentaram nódulo
único, medindo menos que cinco centímetros, em nove foi demonstrada a presença de
hipertensão portal significativa, inferida pela identificação de VE ao estudo endoscópico e,
em quatro casos, os valores de BT estavam acima do limite superior à normalidade. Desse
modo, mesmo avaliando casos que teoricamente poderiam ser beneficiados pela cirurgia, do
ponto de vista das características do tumor, a intervenção teria sua indicação reavaliada, uma
5 Discussão
37
vez que o perfil dos pacientes não preenchia os critérios atualmente preconizados. Deve-se
levar em conta, no entanto, ser este um estudo retrospectivo, que avaliou pacientes incluídos
desde 1996, quando então os critérios de indicação cirúrgica não estavam estabelecidos como
nos dias atuais.
Llovet et al demonstraram que, nas regiões onde o tempo em lista de espera para TOF
é maior que um ano, a RH é uma importante opção, aumentando em até 6,1 meses a sobrevida
dos pacientes, com benefício, inclusive, em análise de custo-efetividade
82
. No entanto, há de
ser considerado o status performance do doente. Na presente casuística, a despeito da média
do MELD ser baixa (9,75), houve cinco pacientes classificados como CHILD B.
Diante do resultado desanimador encontrado, um dado que desperta interesse é a
comparação com os estudos que avaliaram uma abordagem conservadora para esses
pacientes, apenas com o intuito de proporcionar alívio dos sintomas. Existem poucos
trabalhos demonstrando a história natural dos pacientes portadores de CHC, porém, em 1999,
foi publicado um interessante estudo demonstrando que a sobrevida dos pacientes que
apresentam CHC quando não é ofertada nenhuma modalidade terapêutica é, em três anos, de
40%
83
. Desta forma, superior a aqui observada, ressaltando o fato de ser um controle
histórico.
Ao ser estabelecido o período pós-operatório imediato de três meses, observou-se três
mortes entre os 22 pacientes estudados. Esse achado representa uma mortalidade de 13,63%
nesse período. Diversos estudos têm demonstrado uma diminuição dessa mortalidade nos
últimos anos. Enquanto que na década de 80 a mortalidade pós-operatória variava entre 10% e
20%, estudos atuais demonstram que 5% dos pacientes falecem nesse período
84-86
. Difícil se
estabelecer comparações entre os resultados encontrados nesse estudo e aqueles citados pela
literatura, porém fica sugerido que as características dos pacientes possam predispor a um
maior risco de morte nesse período. Entretanto, observa-se que o resultado apresentado em
diversos estudos que contemplaram esse aspecto não apresenta uma uniformidade relacionada
ao tempo de avaliação, sendo o mesmo bastante variável
65
. Enquanto alguns trabalhos
avaliam a mortalidade pós-operatória no período hospitalar, outros consideram como aquela
ocorrida no final do primeiro mês. Apenas a menor parte adota o terceiro mês para a avaliação
deste desfecho
65
.
A tentativa de se obter parâmetros relacionados ao prognóstico que predisponham uma
melhor sobrevida em pacientes cirróticos, portadores de CHC e submetidos à RH é um
objetivo constante. Entre os diversos parâmetros elencados na literatura
13
, salienta-se o papel
5 Discussão
38
dos níveis séricos de BT e AFP, o grau de disfunção hepatocelular, o tamanho e número de
lesões e a presença de lesões satélites e de invasão microvascular. Não foram encontrados
resultados com significância estatística nas curvas de sobrevida, no momento em que essas
variáveis são analisadas, salvo quando se avaliou a presença de invasão microvascular,
observando-se pior prognóstico em relação aos casos em que esse evento ocorreu, quando
comparados ao grupo sem esse achado.
Diversos estudos demonstram que a presença de invasão microvascular é importante
fator que, independente da presença de CH, empresta um mau prognóstico aos
doentes
66,67,72,87,88
. Dessa forma, vamos ao encontro da opinião de autores que sugerem ser
este o principal fator prognóstico no que se refere à sobrevida
11,65,73
.
Não se encontrou associação entre as outras variáveis estudadas. Entre os motivos para
esse achado, entende-se ser relevante o fato de que, apesar de ser um número representativo
de casos para apenas uma equipe cirúrgica, sob o ponto de vista epidemiológico é um número
pouco expressivo, o que certamente gera reflexos na avaliação estatística.
A RT é outro aspecto que deve ser avaliado quando são estudados os resultados de
diferentes tratamentos relacionados a neoplasias. A despeito de a RH oferecer uma sobrevida
em cinco anos sobreposta àquela encontrada com o TOF, diferentes estudos demonstram que
a RT é bem maior, ao redor de 70%, quando se considera o período de cinco anos após a
cirurgia
16,54,89
.
No presente estudo, entre os 13 pacientes que apresentaram RT, observa-se que, em
nove, o diagnóstico foi estabelecido no primeiro ano de seguimento. Estudos demonstram
que, quando a RT ocorre dentro dos primeiros três anos, a possibilidade de disseminação local
do tumor deve ser primariamente considerada
90,91
, o que, mais uma vez, reflete os critérios de
seleção utilizados na época da cirurgia.
As reflexões que surgem sobre esse aspecto claramente reforçam o conhecimento de
que o TOF é o tratamento ideal para CHC em pacientes cirróticos, pois além da remoção da
neoplasia, é removido também o restante do parênquima hepático com eventuais tumores
incipientes, diminuindo consideravelmente, a possibilidade de RT ou surgimento de novos
tumores
10,13
.
Diversos estudos sugerem que a presença de lesões satélites e invasão microvascular
são os principais fatores predisponentes ao surgimento de RT
11,16,54,89,90
. No presente estudo,
13 dos dezenove pacientes apresentaram RT (excluindo-se os três casos que faleceram no
período pós-operatório imediato). Identificou-se a presença de invasão microvascular em 12
5 Discussão
39
casos, contrastando com apenas um dos seis casos em que a RT não foi identificada. Em
contrapartida, a presença de lesões satélites não atingiu significância estatística, considerando
uma análise com intuito sobreponível à realizada com a invasão microvascular. Esse achado
se justifica pelo fato de que, entre os seis pacientes que não apresentaram RT, a presença de
lesões satélites foi identificada na metade dos casos.
A identificação de lesões satélites e invasão microvascular na peça cirúrgica poderia
indicar que fosse realizado o TOF, imediatamente após a RH, mesmo na ausência de RT,
devido à grande possibilidade de que esse evento possa ocorrer. Ao se avaliar 17 pacientes
com CHC ressecados, contemplando, simultaneamente, a indicação de TOF e RH, observou-
se, em sete casos, dentre os oito que pertenciam ao grupo de alto risco de RT (presença de
invasão microvascular e lesões satélites), a presença de neoplasia na análise do explante,
recomendando-se, portanto, esse procedimento após a constatação desses achados
11
.
O tamanho do CHC é um outro parâmetro que pode apresentar relação com a
possibilidade de RT. A justificativa racional para essa afirmação se baseia no fato de que
quanto maior o tumor, maior é a probabilidade de recorrência, pois diversas variáveis
relacionadas ao prognóstico variam de modo proporcional com o tamanho dessa neoplasia.
Nakashima et al desenvolveram um estudo demonstrando uma relação diretamente
proporcional entre o tamanho do tumor e a presença de invasão microvascular e disseminação
local
53
. Outros estudos demonstram que, independente da relação entre o tamanho e a
presença de lesões satélites e de invasão microvascular, esse achado empresta, per se, um
prognóstico desfavorável aos pacientes
11,54,66
. Por outro lado, há estudos sugerindo que,
mesmo em casos de tumores maiores que cinco centímetros, se não houver a presença de
invasão microvascular, o prognóstico, ofertando-se o tratamento cirúrgico, é sobreponível a
esse tratamento em tumores menores que cinco centímetros, constatando-se, portanto, que o
tamanho da lesão possa não ser um fator que diretamente interfira na probabilidade de RT
11,54
.
No presente estudo, foram analisados sete casos de pacientes com tumores maiores que
cinco centímetros. Dois pacientes faleceram no período pós-operatório imediato e três aos sete, 25
e 30 meses de seguimento, todos por recidiva e progressão do CHC. Dois casos permanecem
vivos, 13 e 63 meses após a cirurgia e sem evidência de RT. De modo peculiar, observou-se, no
estudo histopatológico do segundo caso, que o nódulo media 12 centímetros no seu maior
diâmetro e, além disso, foi constatada a presença de invasão microvascular e de lesões satélites. A
despeito de dois pacientes permanecerem vivos e sem evidência de RT, entende-se que o tamanho
do tumor é um parâmetro que contribui para estimar o prognóstico dos pacientes.
5 Discussão
40
O TOF é uma realidade em diversos estados brasileiros, porém, devido ao longo
tempo de espera a que os pacientes estão submetidos, fica justificada a utilização da RH com
o intuito de que seja evitada a progressão da neoplasia e a conseqüente exclusão da lista para
o procedimento, fundamentalmente quando esse tempo for superior a um ano
82
. No entanto, a
utilização de rígidos critérios de seleção é fundamental.
Considerando os dados obtidos com esse trabalho, julga-se que, apesar do pequeno
número de pacientes, o tratamento cirúrgico para o CHC, em fígados cirróticos, apresentou
resultados desanimadores no que se refere aos principais desfechos analisados: mortalidade
pós-operatória imediata, sobrevida tardia e recidiva tumoral. A razão principal identificada é
que a maior parte dos pacientes extrapola os limites atualmente preconizados pela literatura
médica no sentido de que sejam otimizados os resultados com essa alternativa terapêutica.
Torna-se fundamental, portanto, reflexões no sentido de uma seleção mais apropriada dos
casos.
6 CONCLUSÕES
6 Conclusões
42
6 CONCLUSÕES
No presente estudo, foi encontrada uma sobrevida em um, três e cinco anos de
61,90%, 16,67% e 11,11%. A sobrevida média observada foi de 33,5
meses, variando entre dez dias e 120 meses.
Identificou-se a presença de invasão microvascular como fator preditivo de mau
prognóstico, tanto no que se refere à sobrevida, quanto em relação à
recidiva tumoral.
A recidiva tumoral foi elevada, sendo identificada em 13 dos 19 pacientes
analisados para esse desfecho (68,42%).
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
7. Referências Bibliográficas
43
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ANEXO
8 Anexo
55
Anexo 1. Coleta dos dados
Nome @ ______________________________________
Telefones @ ___________________________________
Idade no momento da cirurgia @___________________
Sexo @ ( ) M ( ) F
História de ascite @ ( ) Sim ( ) Não
Uso de diuréticos @ ( ) Sim ( ) Não
História de encefalopatia portossistêmica @ ( ) Sim ( ) Não
Data da cirurgia @ ___/___/_____.
Sobrevida @ ____ meses.
Óbito @ ( ) sim ___ meses pós-cirurgia ( ) não
Recidiva tumoral @ ( ) sim ___ meses ( ) não
Situação em agosto de 2006 @ ( ) vivo ( ) morto
Child-pugh @ ( ) A ( ) B ( ) C ______ pontos
MELD @ ____ pontos
HBsAg @ ____
PCR para VHC @ _______
Causa da cirrose @ ______
Exames no momento da cirurgia:
Atividade de protrombina @ ____
INR @ ____
Bilirrubina total @ ___
Albumina @ ___
Creatinina@ ___
8. Anexo
56
Alfa-feto proteína @ ___
Endoscopia digestiva alta @ ( ) Não ( ) Sim ___/___/____.
Presença de varizes esôfago-gástricas @ ( ) Sim ( ) Não
Números de CHC @ ( ) 1 ( ) 2 ( )3 ( ) >3.
Diâmetro da maior lesão @ ____ cm
Estudo histopatológico:
Grau de diferenciação celular @ ___________________
Invasão vascular @ _____________________________
Presença de satélites @ _________________________
8. Anexo
57
Anexo 2. Banco de dados
Nº Pac. BT TP INR albumina AFP sobrevida atual creatinina child meld ascite
Tamanho
01 0,8 81 1,10 3,6 210,0 10,0 Morte 1,00 5 7 Sem
2 ou mais
nódulos
02 2,1 71 1,29 3,2 1.681,0 16,0 Morte 1,00 7 12 Sem
Menor que
5 cm
03 0,9 76 1,20 3,1 3,8 7,0 Morte 0,90 6 8 Sem
Maior que 5
cm
04 0,7 82 1,24 4,5 43,9 22,0 vivo 5 Sem
Menor que
5 cm
05 0,5 62 1,19 3,5 48,9 1,5 Morte 0,84 6 8 Sem
2 ou mais
nódulos
06 0,5 73 1,24 2,9 4.671,0 6,0 Morte 1,10 6 10 Sem
2 ou mais
nódulos
07 1,1 78 1,28 4,2 300,0 25,0 Morte 0,70 5 10 Sem
Maior que 5
cm
08 0,7 77 1,16 3,7 4,9 0,3 Morte 0,90 5 Sem
Maior que 5
cm
09 1,7 78 1,22 3,4 10,0 63,0 vivo 0,73 6 10 Sem
Maior que 5
cm
10 87 2,9 120,0 vivo 0,80 Com
Menor que
5 cm
11 0,6 88 3,4 10.667,0 30,0 Morte 0,89 6 Sem
Maior que 5
cm
12 1,2 56 1,55 3,6 298,0 10,0 Morte 1,10 6 13 Sem
Menor que
5 cm
13 2,1 72 1,29 3,1 4,5 24,0 Morte 1,20 7 14 Sem
Menor que
5 cm
14 2,0 58 1,45 3,3 3,3 58,0 Morte 0,83 8 11 Sem
Menor que
5 cm
15 0,6 61 1,45 2,7 1.868,0 33,0 Morte 0,90 8 10 Sem
2 ou mais
nódulos
16 1,7 79 1,18 4,1 236,0 6,0 vivo 0,80 5 10 Sem
Menor que
5 cm
17 0,6 80 1,22 4,1 23,0 31,0 Morte 0,80 5 8 Sem
Menor que
5 cm
18 1,3 73 3,0 7,0 Morte 0,98 6 10 Sem
Menor que
5 cm
19 75 1,15 3,7 8,0 25,0 vivo 0,80 Com
Menor que
5 cm
20 1,4 56 1,36 3,2 11.678,0 0,3 Morte 0,73 7 Sem
Maior que 5
cm
21 0,4 102 0,95 4,3 22,5 33,0 Morte 0,80 5 6 Sem
Menor que
5 cm
22 0,6 72 1,25 3,1 36.300,0 13,0 vivo 1,00 6 9 Sem
Maior que 5
cm
8. Anexo
58
Pac.
Child AB AFP cat Meld cat VE BTcat3 Recidiva Invasão vasc Satélite Sexo Idade
01
A >200 até 10 não BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 66
02
B >200 >10 sim BT>1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 62
03
A <200 até 10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
F 69
04
A <200 BT até 1,3 Sem
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Com
satélite
M 59
05
A <200 até 10 sim BT até 1,3 < 3
meses
Com Invasão
Vascular
Sem
Satélite
M 52
06
A >200 até 10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 69
07
A >200 até 10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 50
08
A <200 sim BT até 1,3 < 3
meses
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
F 80
09
A <200 até 10 não BT>1,3 Sem
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 52
10
sim Sem
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Sem
satélite
M 69
11
A >200 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 62
12
A >200 >10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 56
13
B <200 >10 sim BT>1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
F 70
14
B <200 >10 sim BT>1,3 Com
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Com
satélite
F 68
15
B >200 até 10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
F 60
16
A >200 até 10 sim BT>1,3 Sem
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Sem
Satélite
M 76
17
A <200 até 10 não BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 63
18
A até 10 sim BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Sem
Satélite
M 64
19
<200 sim Sem
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Com
satélite
M 56
20
B >200 BT>1,3 < 3
meses
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 55
21
A <200 até 10 BT até 1,3 Com
recidiva
Com Invasão
Vascular
Com
satélite
M 60
22
A >200 até 10 sim BT até 1,3 Sem
recidiva
Sem Invasão
Vascular
Sem
satélite
M 48
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