Correio Paulistano: o primeiro diário de São Paulo e a cobertura da Semana de Arte
Moderna - O jornal que “não ladra, não cacareja e não morde”-
O presente trabalho busca compreender o jornal Correio Paulistano (1854-1963) –
primeiro diário de São Paulo e o terceiro do Brasil – e sua relação com o movimento
modernista, demonstrada pela comparação entre as matérias publicadas por ele e pela
concorrência. Os jornais eleitos para análise são, além do Correio Paulistano, o Estadão, o
Jornal do Commércio, a A Gazeta e a Folha da Noite (posteriormente, Folha de São Paulo).
As matérias escolhidas são as que retratam a cobertura da Semana de Arte Moderna, que
provam que o Correio Paulistano foi o único a dar cobertura favorável ao evento,
reconhecendo o vanguardismo do movimento modernista e contrariando a elite e a imprensa
da época, que os consideraram “subversores da arte”, “espíritos cretinos e débeis” ou
“futuristas endiabrados”. Apesar disso, nesta época, o jornal era representante do Partido
Republicano Paulista, dirigido e sustentado por aristocratas, tradicionalistas e passadistas.
A descoberta da presença marcante de Menotti del Picchia na redação - ou Helios
como costumava assinar a coluna Chronica Social, palco da prática de seu jornalismo
literário e convincente - foi fundamental para compreendermos as diferenças gritantes na
tônica da cobertura da Semana de 22, que pode ser apontada como um dos casos
polêmicos que não recebeu tratamento maniqueísta por uma imprensa que historicamente
se fecha em pool. Esse conflito só foi possível graças à postura do Correio Paulistano.
Nascido sob a monarquia, republicano por convicção, ora liberal ora conservador,
rebelou-se contra forças políticas influentes e posicionou-se contra Vargas, sendo por ele
empastelado por vários anos. O apoio ao movimento modernista representa uma rebeldia a
mais na tumultuada vida do “conservador” Correio Paulistano. Sombra e reflexo de
importantes transformações políticas e sociais que culminaram na sociedade e na imprensa
de hoje, o objeto é tratado como parte do resgate da memória histórica do nosso jornalismo.
Como ferramenta para este estudo foi fundamental o concurso de autores como
Nelson Werneck Sodré, Juarez Bahia, Paulo Duarte, Alberto de Souza (imprensa); Mário da
Silva Brito, Francisco Alambert e Charles Harrison (Modernismo); José Maria Bello, Lilia
Schwarcz e Leonardo Trevisan (História). Na formação do senso crítico quanto aos
processos comunicacionais que transparece ao longo do trabalho, apontamos os autores
Paul Virilio, Eugênio Trivinho, Krishan Kumar, Harry Pross, James Hillmann, Edgar Morin,
Vilém Flusser, Jean Baudrillard, Boris Cyrulnik e Norval Baitello. Quanto à metodologia
foram aplicados os métodos histórico e comparativo – o primeiro, permitindo a reconstrução
histórica do cotidiano do jornal; o segundo, possibilitando a verificação das diferenças entre
as coberturas jornalísticas à época da Semana de Arte Moderna.
Palavras-chaves: Correio Paulistano, história da imprensa paulista, Modernismo, Semana de
Arte Moderna, Menotti del Picchia.