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Rafael Vicente de Moraes
A produção acadêmica sobre trabalho infantil: um olhar nos
periódicos científicos brasileiros (1981
-
2004)
Marília/SP
2007
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Rafael Vicente de Moraes
A produção acadêmica sobre trabalho infantil: um olhar nos
periódicos científicos brasileiros (1981
-
2004)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ciências So
ciais da Faculdade de Filosofia e
Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP, como
requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências
Sociais.
Área de concentração: Cultura, Identidade e Memória
Orientadora: Ethel Volfzon Kosminsky
Marí
lia/SP
2007
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Rafael Vicente de Moraes
A produção acadêmica sobre trabalho infantil: um olhar nos
periódicos científicos brasileiros (1981
-
2004)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia
e Ciências, Universidade Estadual Paulista UNESP,
como requisito para a obtenção do título de Mestre em
Ciências Sociais.
Área de concentração: Cultura, Identidade e Memória
Orientadora: Ethel Volfzon Kosminsky
Data de defesa: 22/02/2007
MEMBRO
S COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________________________
Nome: Luis Antonio Francisco de Souza
Titulação: Doutor
Instituição: Universidade Estadual Paulista
__________________________________________________________________
Nome: Ileizi Fiorelli Silva
Titulação: Doutora
Instituição: Universidade Estadual de Londrina
__________________________________________________________________
Nome: Célia Aparecida Ferreira Tolentino
Titulação: Doutora
Instituição:
Universidade Estadual Paulista
Local: Universidade Estadual Paulista
UNESP
Faculdade de Filosofia e Ciências
Campus de Marília
4
Moraes, Rafael Vicente de.
M827p A produção acadêmica sobre trabalho infantil : um
olhar nos periódicos científicos brasileiros (1981-2004) /
Rafael Vicente de Moraes.
Marília, 2007.
129 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)
Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade
Estadual Paulista, 2007.
Bibliografia: 111
-129
Orientadora: Ethel Volfzon Kosminsky
1. Trabalho infantil no Brasil. 2. Infância. 3. I. Autor. II.
Título.
CDD 331.31
5
Dedicatória
Ao meu pai, Eudário, pela força e
sensibilidade com que, sem o saber, traduz a
vida
6
Agradecimentos
À Coordenação de Aprimoramento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de
estudos concedida.
Assim como a história não segue um curso positivo a feitura dessa dissertação conheceu
caminhos bastante tortuosos, mas que foram compreendidos de muito perto pela professora Ethel, a
quem sou profundamente grato. Além disso, suas leituras e observações pormenorizadas puderam me
orientar melhor, o que não exclui o autor da responsabilidade por problemas com o texto.
Agradeço àqueles que, sem seu empenho e competência não poderia ter levado adiante esse
trabalho que se assenta em um conjunto relativamente vasto de artigos. Refiro-me aos funcionários
da biblioteca da Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília: Sonia Faustino da Silva (Tininha),
Ilma Marques Binatto,
Maria Luzinete Euclides e Lair dos Santos Soares.
Agradeço à Alessandra Ossuna, grande parceira, pela colaboração dada na confecção dos
quadros.
A todos que compartilharam angústias e avanços durante a elaboração do trabalho
menciono com muito carinho: Julieth Aquino (amiga e companheira), Zeca de Deus, Julian Simões e
Sérgio Cardoso.
7
Resumo
A produção acadêmica sobre trabalho infantil: um olhar nos periódicos científicos
brasileir
os (1981
-
2004)
No Brasil tem-se elaborado, nos últimos quinze anos, um conjunto significativo de pesquisas
denominadas ‘estado do conhecimento’, ‘estado da arte’ ou balanço da produção. A produção
acadêmica acerca do trabalho infantil tem sido significativa na década de 1980 e mais ainda nos
últimos anos. Este trabalho expõe o resultado de um estudo bibliográfico onde foram reunidos 97
artigos relacionados ao trabalho infantil distribuídos em 58 títulos de periódicos brasileiros. O
recorte temporal feito abrange desde o início da década de 1980, momento em que a temática
começou a adquirir visibilidade na produção acadêmica, até o ano de 2004 quando
sistematizamos as bases do projeto de pesquisa. O balanço da produção propõe-se a mapear e
discutir a produção científica acerca do trabalho infantil realizada em publicações de periódicos
científicos examinando o instrumental teórico, as perspectivas e as conclusões apresentadas. O
estudo se debruçou sobre os aspectos mais enfocados pelos(as) autores(as) que publicam artigos
nos periódicos, como os que associam trabalho infantil e pobreza e os analisam a questão a partir
da 'escolha', 'estratégia de sobrevivência' que a criança realiza dentro de seu grupo de
pertencimento. Além disso, pode-se delinear uma análise inicial de questões relevantes à
compreensão do trabalho infantil ressaltando a escassa produção encontrada no que diz respeito
ao estudo do trabalho infantil doméstico e das relações de gênero.
Palavras
-chave: Infância. Trabalho infantil. Balanço da produção. Periódicos científicos
brasileiros.
8
Abstract
The academic production on child labor: a look at the brazilian scientific
publications (1981
-
2004)
In the last fifteen years, a substantial amount of so called "state of the art" research in Brazil has
been developed. The academic research concerning child labor has been significant in the 1980's
and even more in the past few years. This work shows the result of a bibliographical study where
97 articles related to child work, distributed among 58 brazilian publications were analyzed
together. The period selected cover the begining of the 1980 decade, when the academic
production started to pay attention in this subject, until 2004, when we designed this research
project, which also proposes to map and discuss the scientific productions, reviening the
theoretical framework, the perspectives and presented conclusions, approaching most important
topics pointed by the authors, like those that relates child work with poverty. Besides, its possible
to outline an initial analisys of the most important questions in order to understand the child
work, considering the sparse production regarding themes such as domestic child labor and
gender issues.
Keywords: Infancy. Childhood. Children work. Research balance. Brazilian scientific
publications.
9
Lista de quadros
Quadro 1 - Distribuição numérica dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, por ano de publicação (1981
-
2004). (p. 39)
Quadro 2 - Listagem dos tulos de periódicos científicos brasileiros pesquisados sobre Trabalho
Infantil contendo a respectiva quantidade de artigos identificados e a ano de publicação. (p. 41
-
42)
Quadro 3 - Distribuição quantitativa dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, no conjunto dos títulos. (p. 43)
Quadro 4 - Distribuição numérica e porcentagem do total dos títulos de periódicos científicos
brasileiros pesquisados sobre Trabalho Infantil de acordo com a região do Brasil. (p. 43)
Quadro 5 - Distribuição numérica e porcentagem da região dos títulos de periódicos científicos
brasileiros sobre Trabalho Infantil nos Estados da região SUDESTE. (p. 44)
Quadro 6 - Distribuição numérica dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
bra
sileiros, por quadriênios; a quantidade de artigos que apresentou o resumo e informou a origem
do texto. (p. 45)
Quadro 7 - Distribuição numérica dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, por quadriênios e subtemas. (p. 47
)
GRÁFICO
-
Distribuição regional de bibliotecas e centros de documentação no Brasil. (p. 44)
10
Sumário
Introdução..............................................................................................................................10
Capítulo 1 UM BREVE PANORAMA DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL.....16
1.1 Situando a idéia de trabalho..............................................................................................16
1.2 Mãos e braços pequenos nos primórdios da industria
lização brasileira...........................18
1.3 O trabalho das crianças...crianças no trabalho..................................................................22
Capítulo 2 O BALANÇO DA PRODUÇÃO EM PERSPECTIVA..................................27
2
.1 Anotações gerais ..............................................................................................................27
2.2 O itinerário da pesquisa....................................................................................................29
2.3 O papel do periódico no meio acadêmico .........................................................................34
Capítulo 3 A PRESENÇA DO TRABALHO INFANTIL NOS PERIÓDICOS
CIENTÍFICOS BRASILEIROS ........................................................................................37
3.1 Aspectos quantitativos da produção arrolada...................................................................37
3.2 Subtemas em relevo.........................................................................................................49
3.2.1 Trabalho Infantil no campo..........................................................................................49
3.2.2 Escolarização e Trabalho Infantil.................................................................................53
3.2.3 Trabalho Infantil na cidade...........................................................................................60
3.2.4 Trabalho Infantil e legislação trabalhista......................................................................63
3.2.5 Trabalho Infantil na perspectiva histórica.....................................................................65
3.2.6 Trabalho Infantil e Organizações Não
-
Governamentais; Organismos Multilaterais...66
3.2.7 Saúde do trabalhador
infantil........................................................................................68
3.2.8 Trabalho Infantil doméstico..........................................................................................69
3.2.9 Trabalho Infantil e ident
idade.......................................................................................70
3.2.10 Trabalho Infantil e políticas públicas..........................................................................72
3.2.11 Trabalho Infantil e relações de
gênero........................................................................75
3.2.12 Considerações gerais acerca do Trabalho Infantil......................................................75
Capítulo 4 ANÁLISE DOS ARTIGOS PUBLICADOS SOBRE O TRABALHO
INFA
NTIL............................................................................................................................77
4.1 As linhas explicativas......................................................................................................77
4.2 O tratamento estatístico do trabalho infantil....................................................................84
11
4.3 Os tipos de pesquisa realizada..........................................................................................86
4.4
Sobre a presença da fala da criança nas pesquisas...........................................................89
4.5 Um adendo: contribuições teórico
-
metodológicas ao estudo da infância........................96
5. Considerações Finais.......................................................................................................109
6. Referências.......................................................................................................................112
Anexo A - Listagem contendo os 58 títulos de periódicos científicos brasileiros dispostos em
ordem alfabética....................................................................................................................118
Anexo B - Listagem bibliográfica sobre Trabalho Infantil contendo 97 artigos dispostos em
ordem alfabética....................................................................................................................123
12
Introdução
O desafio de dissertar constitui uma ocasião singular para um aspirante a sociólogo
refletir sobre o ofício de cientista social. É um momento ímpar para olhar para si mesmo e
estabelecer um diálogo interno. O trajeto é árduo, íntimo; contém riscos e labirintos, porque, é um
rito de passagem, no sentido antropo
lógico da expressão, e como tal deixa marcas profundas.
Na última década, a sociologia empreendeu um esforço reflexivo acerca da prática de
pesquisa e sobre os limites inerentes à produção do conhecimento. A entrada em cena de novos
atores que rearranjam as instâncias sociais, culturais; estruturas sociais em transformação e a
busca de conceitos explicativos, tudo isso tem gerado inquietações aos pesquisadores. Se nos
propusermos a estar afinados ao processo de construção crítica da realidade podemos criar, não
sem correr riscos, formulações que se voltem ao entendimento do sujeito que se enfoca num
determinado espaço
-
tempo.
Assim sendo, tal empreendimento não perde de vista a fragmentação atual [não só] da
Sociologia em áreas especializadas muitas das quais isoladas umas das outras - pelos diversos
enfoques teórico-metodológicos utilizados - que acabam emergindo como campos disciplinares
ilhados e demarcam fronteiras extremamente rígidas para a atividade de pesquisa. Falar em
termos gerais, de esquemas e
xplicativos universalizantes que celebram o valor de lei geral parece,
talvez realisticamente, uma teorização vacilante.
As disciplinas e as especialidades têm se mostrado ora em uma confluência e
enriquecimento, ora envolta em um cipoal de objetos, enfoques e teorias. Afora as fendas
disciplinares que aumentam à medida que a construção do conhecimento complexifica disso se
faz esplendor e miséria os domínios das ciências sociais se fertilizam e se entrelaçam uns com
os outros à luz da experiência. Bem,
mas isso não é um grande achado.
Vive
-se um momento em que a pesquisa histórica e sociológica desata-se de modelos
cientificistas e recupera a complexidade dos processos, dos sujeitos e da existência coletiva
rasgando
perspectivas. O convívio social entre anônimos de gritos longos, de mãos e rostos
vincados e desimportantes da história oficial deixados na vala comum por longo tempo são agora
vigorados. Esse balbucio se esquiva a perfazer alguns dos debates epistemológicos clássicos, a
explicitar a organização propriamente dita de uma pesquisa, os seus pontos de partida e os meios
13
utilizados para conduzi-la. Por isso mesmo, as noções mobilizadas no decorrer do texto não
apresentaram grande refinamento teórico.
Acreditamos na possibilidade de uma autonomia individual, mais ou menos difusa, no
exercício do pensamento que deveria ser encarada e por que não adotada em algum momento
de ‘nossas carreiras acadêmicas’. Autonomia essa que em nosso trabalho irmana a sensibilidade e
mesmo o envolvimento afetivo com o rigor da análise. Essa combinação contribuiu bastante para
produzir aquilo que está sendo estudado.
Escrever um texto que se intitula A produção acadêmica sobre trabalho infantil: um
olhar nos periódicos científicos brasileiros
(1981
-
2004)
é bastante ambicioso, tanto pela
complexidade que a temática carrega consigo como, também, pelo número de artigos compilados.
De maneira geral, não se pretendeu conferir ao texto um largo aprofundamento teórico, porém,
em alguns momentos, buscou-se questionar as condições de produção dos artigos, o desenlace do
tema e a identificação dos marcos conceituais presentes.
Propomo
-nos a traçar e discutir os territórios do trabalho infantil. Debruçamos-
nos
sobre a produção científica acerca do trabalho infantil realizada em periódicos científicos
brasileiros e examinamos o instrumental teórico, as perspectivas e as conclusões apresentadas.
A dissertação visa mapear as tendências presentes no estudo do trabalho infantil,
ressaltando as pesquisas que desenvolvem os eixos reflexivos em curso. Visa também contribuir
para a linha de investigação sociológica referente aos periódicos brasileiros, recenteme
14
‘quando’ e ‘quem’ constrói as reflexões num determinado período e contexto, àquelas questões
que se reportam a ‘o que’ e ‘como’ dos artigos produzidos.
Ca
da artigo foi lido enquanto produto de uma tensão elaborada na ruptura ou na
continuidade que o pesquisador estabeleceu entre a realidade vivida em sua pesquisa e as
condições materiais e discursivas de sua produção. Se essas pesquisas não expressam uma
li
nearidade e tampouco uma seqüência em seu conjunto elas trazem nos seus interstícios além das
marcas deixadas pelos seus(as) autores(as), um fio capaz desencadear novas preocupações que
acabam estabelecendo pontos de partida para outros trabalhos.
O periód
ico é o lugar onde se sistematiza, debate e se difunde os conhecimentos sobre o
trabalho infantil. Nele são criadas as condições para a publicação de ensaios e pesquisas
científicas. A interlocução com ele ajuda a explicar os traços constitutivos das formulações sobre
o trabalho infantil e, em especial, suas incidências temáticas que auxiliam a entender, dentre
outros aspectos, a própria produção dos consensos (alguns de longo alcance, outros provisórios e
outros ainda, em gestação).
Toda a organização do material implicou na leitura que compreendeu não o
levantamento dos dados bibliográficos e dos resumos informativos, mas principalmente o estudo
de cada artigo para que a reflexão adquira densidade.
Os resultados da pesquisa estão nos 4 capítulos que se seguem e formam o corpo da
dissertação. Os capítulos foram construídos fundamentalmente com base em um amplo
levantamento bibliográfico de artigos realizado nos periódicos científicos brasileiros. Utilizamos
também como material de apoio livros, capítulos de livros, dissertações de mestrado, teses de
doutorado e documentos históricos brasileiros (Anais e Coleção das Leis) que versam sobre o
trabalho infantil constantes nas referências bibliográficas. Embora tenhamos escolhido os
periódicos brasileiros como espaço privilegiado da
e
para
pesquisa
escolha que de deve à
importância desse veículo de expressão da comunidade acadêmica buscou-se um tratamento
que transbordasse os limites da fonte utilizada.
O texto está dividido em 4 seções.
A primeira “Um breve panorama do trabalho infantil no Brasil” faz uma discussão
inicial mostrando que o trabalho infantil se encontra e se firma numa relação bastante próxima
que a criança estabelece com o mundo em que vive. Isso acaba por criar e reforçar ‘modos de ser’
de menino, de menina, de homem, de mulher. A questão de fundo é a seguinte: O trabalho
15
resume
-se ao fato de a criança ser concebida tão só como um receptáculo que sofre passivamente
um processo de inculcação e socialização de mão única realizado pelo adulto? É feito ainda um
resgate das dimensões que o trabalho infantil assumiu nos primórdios da industrialização
brasileira (final do século XIX e início do século XX), dentre elas, e que ganhou força nos
discursos de empresários e deputados da época, dizia que a presença da criança na fábrica
impediria o seu ingresso no mundo da delinqüência e vadiagem.
Na seqüência, “O balanço da produção em perspectiva expõe os caminhos e as
dificuldades encontradas pelo autor no desenvolvimento da pesquisa. Embora os perió
dicos
científicos brasileiros sejam reconhecidos pela comunidade acadêmica como importante veículo
de divulgação da pesquisa científica o tratamento a ele dispensado conservação, consulta,
disponibilidade nos acervos
parece não refletir seu grau de val
oração.
A terceira seção “A presença do trabalho infantil nos periódicos científicos brasileiros”
se debruça na leitura e categorização dos artigos arrolados. Oferece um panorama do conjunto da
literatura publicada sobre o trabalho infantil tais como: distribuição dos artigos por ano e em
quadriênios ao longo do período que cobre o estudo (1981-2004); o total de títulos de periódicos
pesquisados, o volume das publicações de cada um distribuído durante os anos; sua distribuição
regional no país, em especial na região Sudeste, onde se encontra o maior número dos periódicos
pesquisados. Em segundo, traz os principais aspectos que compõem a questão do trabalho
infantil. Para tanto, categorizamos a produção em 12 subtemas: Trabalho Infantil no campo;
Escolarizaçã
o e Trabalho Infantil; Trabalho Infantil na cidade; Trabalho Infantil e legislação
trabalhista; Trabalho Infantil na perspectiva histórica; Trabalho Infantil e Organizações Não-
Governamentais e Organismos Multilaterais; Saúde do trabalhador infantil; Trabalho Infantil
doméstico; Trabalho Infantil e identidade; Trabalho Infantil e políticas públicas; Trabalho Infantil
e relações de gênero e Considerações gerais acerca do Trabalho Infantil. Os artigos foram lidos,
descritos
e categorizados nos subtemas. Esse procedimento permitiu identificar como os
subtemas aparecem, ou continuam no conjunto da produção.
A quarta seção "Análise dos artigos publicados sobre o trabalho infantil" se volta sobre
os principais aspectos dos artigos publicados. Para tanto se fez necessário organizá-la em
subseções: 'As
16
artigos perspectivas e tendências que estão na base de entendimento do trabalho infantil e, em
segundo, perceber em que sentido os estudos publicados se relacionam e dialogam com outros
estudos
, seja pelo caminho da superação, seja pelo do acréscimo, seja ainda através do caminho
da repetição de modo a tecerem uma compreensão substancial do tema.
Compõe ainda esta seção “Um adendo: contribuições teórico-metodológicas ao estudo
da infância” que discute o conceito de infância e mostra que esse debate começou a preocupar os
estudiosos muito recentemente. No texto, e no caso brasileiro, exceção feita às pesquisas de
Florestan Fernandes com crianças pobres nos bairros paulistanos nos anos de 1940. De todo
modo, o que se observa é o esforço dos(as) pesquisadores(as) em denunciar a ‘invisibilização’ da
criança, seja enquanto grupo, seja enquanto agente social na produção acadêmica da ciência
social no Brasil. Essa discussão se justifica, pois, embora no conjunto de artigos, principalmente
aqueles produzidos a partir da segunda metade da década de 90, se fale, não poucas vezes, da
infância, não se tem a pretensão de explicitá-lo. E o "adendo..." procura expor seus principais
pontos.
Na introdução tratamos das características gerais e operacionais deste estudo o que
responde pela sua forma, pelo seu conteúdo e pelos seus resultados. Sua realização foi marcada
pela persistência imprescindível à leitura dos sumários, dos editoriais, além dos 97 artigos
identificados nos periódicos brasileiros. Se tal esforço algo rendeu espera-se então que o texto
elaborado possa contribuir para o entendimento mais amplo do trabalho infantil no Brasil e para o
desenvolvimento de novos estudos que tomem o periódico como
objeto de pesquisa.
17
Capítulo 1 UM BREVE PANORAMA DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL
1.1
Situando a idéia de trabalho
O trabalho enquanto atividade fundamentalmente humana não é algo exclusivo das
sociedades modernas e contemporâneas, porque no decorrer dos séculos o homem atuou sobre a
natureza e ao mesmo tempo em que a transformou a si mesmo também modificou. O homem não
apropriou da natureza por meio do trabalho como logrou um conjunto de relações complexas.
Efetuou segundo suas necessidades e idé
ias próprias, modos de vida através do trabalho.
Um grupo social consiste na alocação de indivíduos que partilham da crença de que são
membros da sociedade e aquilo que interiorizam e desempenham condutas, normas, valores
encontra
-se em uma relação direta com os benefícios que traz para si mesmo, se o para todos.
Ao assumir esse processo vital o indivíduo potencializa e articula as interações sociais como um
todo.
Tudo aquilo necessário às satisfações vitais e elementares são tão grudados entre si
den
tro do ciclo biológico medido entre o nascimento e a morte que sua dinâmica imprime na
vida humana um movimento singular. Nesse ponto, o trabalho revela que a eliminação do esforço
(dispêndio de energia física) que lhe é intrínseco despojaria a própria vida de seu valor e
vitalidade, pois é um modo pelo qual ela mesma, juntamente com as necessidades às quais está
atrelada, se faz sentir. A realidade vivida depende quase que exclusivamente da intensidade com
que é experimentada e do impacto com que se faz presente (Dauster, 1992, p. 33-34); (Madeira,
1993, p. 80).
O trabalho tem sido representado de diversas formas ao longo do tempo. Estivera
associado ao sofrimento, à penalização, ao aperfeiçoamento moral. Nas sociedades
contemporâneas tem sido entendido como transformador da natureza e fonte de riqueza. A
palavra trabalho recobre várias acepções. Como aponta Albornoz (1994, p. 131):
Às vezes, carregada de emoção, lembra tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras,
mais que aflição e fardo designa a operação humana de transformação da
matéria natural em objeto de cultura. É o homem em ação para sobreviver e
realizar
-se, criando instrumentos, e com esses, todo um novo universo cujas
vinculações com a natureza, embora inegáveis, se tornam opacas.
18
Os enfoques analíticos em relação ao trabalho constituem um tema de grande interesse
para estudos históricos e sociológicos sobre a condição infantil. Em contextos muito distintos
entre si, o trabalho é uma das esferas onde se desenvolvem as relações inter e entre gerações, se
complexificam os mecanismos de socialização infantil desenhando os ‘papéis da vida adulta’ e
onde se gestam os processos de reprodução social, econômica e cultural de grupos inteiros. De
todo modo, e em traços iniciais, as atitudes diante do trabalho infantil são influenciadas pelo
quadro sócio
-
econômico da família, pelo lugar de origem e pelo gênero.
Um excurso naquilo que se poderia chamar de história da infância permite-
nos
identificar uma série de imagens associadas, ou então, ‘próprias da infância’: fragilidade,
inocência, marginalidade, carência, futuro da nação, entre muitas outras. Nesse contexto, uma
multiplicidade de profissionais: médicos, psicólogos, higienistas, reformadores sociais,
educadores, sociólogos da infância contribu
i para (re)criar as faces infantis.
A produção de imagens e narrativas a respeito da infância expressa em maior ou menor
grau, um ritmo de elaboração e difusão que, muito embora, esteja em alguns momentos em
sintonia com projetos políticos e governamentais específicos, isso não significa reflexo imediato
e cristalino da sociedade. Pois, a infância enquanto segmento societário dispõe de uma
capacidade de participar e intervir nos processos sociais amplos trazendo novas
problematizações.
A presença do trabalho na vida da criança não pode se resumir ao fato de ela ser
concebida tão como um receptáculo que sofre passivamente um processo de inculcação e
socialização de mão única. Ela é capaz de compreender sua experiência. A criança se expressa
como membro de uma organização (família, comunidade, classe social) e como tal constrói
relações com os outros, o que acaba respondendo por uma experiência vivenciada. Talvez
necessário fosse perceber que o universo do trabalho infantil ainda que se pesem seus mais
va
riados tipos para a criança vai além de um sentido dual: ruim nem tampouco bom; de
funcionamento nem dramático nem harmonioso ou que seja descrito em termos de ‘ritual de
passagem’ para a vida adulta. Uma abordagem que desvie de um sentido reificante. Se
ria
importante se perguntar sobre a extensão que o trabalho assume em suas vidas, seja através da
observação das práticas cotidianas seja através das representações sociais.
As representações associadas a essas experiências são gradativamente difundidas no
seio social no qual a criança pertence e tendem a ser partilhadas pelos demais sujeitos. Para
19
compreender o lugar do trabalho no sistema de valores e representações dos segmentos populares
no Brasil, que são esses que o vivenciam, é mister refletir acerca do processo de socialização
que a criança vive em seu grupo de pertencimento e a ‘prepara para a vida’ dando-
lhe
conhecimentos práticos que a enreda nas tramas sociais.
Essa preparação exige procedimentos, cuidados, minúcias, ‘sermões’, e como tal
cons
erva características. Supõe familiarizar a criança com dispositivos que a referencia para o
pensamento, para a ação e para o sentimento nos mais diversos graus em que estão presentes nas
relações humanas. Não seria exagero afirmar que a idéia de trabalho, com o vigor que aqui se
apresenta, constitui e reforça a percepção que a criança tem acerca de si mesma justamente
quando integra a vida de cada uma e de todos que o vivem. Vê-
se no
e
pelo
trabalho o
firmamento de valores morais, de vontades e vínculos emocionais. Nesse ponto, a idéia de
trabalho transborda a superfície que o vê tão só como mecanismo que responde pela satisfação de
necessidades mais imediatas. Não se quer com isso afirmar a defesa de um pensamento que apela
para a positividade do trabalho, como fator de desenvolvimento humano pleno que ancora as
noções de produtividade e progresso.
1.2 Mãos e braços pequenos nos primórdios da industrialização brasileira
A análise de estudos presentes na história da infância no Brasil permite afirmar que a
preocupação com a criança existe desde o último quarto do século XIX, através de trabalhos
realizados por cronistas, literatos, passando por juristas, políticos até médicos e higienistas. ‘A
descoberta da infância pobre no Brasil’ deu-se num contexto marcado pela urbanização e
crescimento acelerado das duas cidades importantes da época, Rio de Janeiro e São Paulo, pela
criação de uma força de trabalho livre em decorrência da Abolição da Escravatura e também por
contingentes de imigrantes estrangeiros. Em meio a essa turbulência que a infância pauperizada,
ou infância abandonada foi tida como parte da ‘questão social’
1
.
1
Na década de 1970, a preocupação com o ‘menor’ parece ganhar importantes contornos nas Ciências Sociais. Nesse
sentido, o Tribunal de Justiça de São Paulo solicitou ao Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
Cebrap
-
, uma
pesquisa de campo sobre o
menor abandonado e infrator publicada em 1972, com o título de:
A Criança, o
Adolescente e a Cidade.
Na cidade do Rio de Janeiro foi empreendida uma pesquisa semelhante intitulada:
Delinqüência Juvenil na Guanabara,
publicada em 1973 (MISSE, 1973). Estes
trabalhos expressam, em largos
traços, um passo importante das Ciências Sociais rumo à formulação de diagnósticos sistemáticos referentes à
condição social do menor marginalizado, ao mesmo tempo em que reúnem os interesses do Estado aos estudos dos
assiste
ntes sociais, psicólogos, sociólogos e pedagogos.
20
Historicamente, o trabalho esteve no cotidiano de crianças, sobretudo das camadas mais
carentes. Ao se observar as atividades infantis no decurso histórico vê-se que o trabalho infantil
não é peculiar somente à época industrial (QVORTRUP, 2001, p. 129). Pois está presente nos
diversos modos de produção que, sem depender do grau de desenvolvimento científico e
tecnológico, encontram as mais var
iadas formas para sua continuidade.
Segundo Singer (1977, p. 120), na Europa, do século XVI, os capitalistas tiravam
proveito da mão
-
de
-
obra infantil. Nessa época em que predominava a indústria doméstica, esta se
mantinha através do trabalho de toda a família camponesa que, sem se desligar da terra, se
empenhavam na produção de mercadorias em troca de salários.
A implantação do sistema industrial e sua difusão foram responsáveis pelo destino de
uma fração significativa de crianças de camadas economicamente oprimidas, seja no Brasil, seja
em outras partes do mundo. A própria designação tradicional de trabalho infantil era aplicada à
prática de empregar crianças em fábricas, onde a mão-
de
-obra infantil foi incorporada em
grandes contingentes ao processo de
trabalho.
Na década de 1870, no Brasil, estabelecimentos industriais faziam anúncios solicitando
crianças para trabalharem principalmente no setor têxtil. Em princípios do século XX, a
terminologia utilizada para caracterizar tal mão-
de
-
obra
“meninos, meninas, assim como
crianças e aprendizes” reforçava a inserção precoce na atividade produtiva (MOURA, 1999, p.
262). Esse segmento atingia 60% da mão-
de
-obra empregada na indústria têxtil, sendo que o seu
trabalho era dividido segundo a habilitação por função (VIANNA, 1976, p. 82). Em 1919, nas
indústrias de alimentação, metalurgia e química as porcentagens de trabalhadores menores de 14
anos variavam de 8 a 9%, nos setores têxtil e de vestuário eram de 7 a 8%. Já na indústria de
cerâmica 15% da mão
-
de
-o
bra eram de menores de 14 anos (DALROSSO; RESENDE, 1986).
Nas primeiras décadas do século XIX a fábrica esse local de trabalho por excelência
que aparece principalmente no discurso patronal como imprescindível à interiorização dos “bons
hábitos do trabalho” pelo trabalhador tornou-se um imperativo na vida de milhares de
brasileiros pobres (homens, mulheres, jovens, crianças). Talvez por isso mesmo, denúncias
estampadas nas páginas da imprensa operária como a que veiculou durante o movimento grevista
de
1917, em São Paulo, no jornal A Plebe
(21/07/1917) apud
(Silva, 1996, p. 63): “Que seja
abolida de fato a exploração do trabalho dos menores de 14 anos nas fábricas, oficinas, etc.” ou
ainda discursos de políticos como Nicanor Nascimento reproduzidos na se
qüência condenando as
21
condições insalubres nos locais de trabalho
falta de higiene, ventilação, promiscuidade, os maus
tratos de encarregados, mestres, diretores - permaneceram inócuos. Nas palavras do referido
deputado:
[...] tive o desgosto profundo de ver, que em 100 infantes de uma fábrica, um
médico achou 80% de homens perdidos; todas as formas do depauperamento,
da desnutrição, dos vícios orgânicos e vícios morais. [...] Do mesmo modo que
se encontram logo nos meninos de 10 anos, inveterados alcoólicos, com a
expressão do vício, da imbecilidade na face, desnutridos e desmoralizados aos
10 anos, em promiscuidade sexual, realizando mancebias indecorosas
completamente inutilizados das suas energias sexuais (ANAIS DA CÂMARA
DOS DEPUTADOS, 1918, p. 76
6).
A denúncia das formas predatórias de exploração a que estavam expostos os menores
não foi capaz de lograr uma legislação efetiva para esse segmento da força de trabalho. O mesmo
deputado ainda enfatiza:
Tome o infante de 10 anos como unidade de produção, dê-lhe o
desenvolvimento necessário à moral, dê-lhe os princípios de família, proteja-
o
contra todos os vícios, ensine
-
lhe o amor ao trabalho, a confiança na eficácia de
seu esforço, a tranqüilidade, enfim, pelo seu preparo profissional, ele é capaz
de
produzir mais do que estritamente necessário para sua manutenção, todas essas
condições farão deste homem, primeiro um patriota, que sabendo que deve à
sua pátria como expressão de seu próprio valor, a ela se dedica de corpo e alma;
como expressão intelectual porque adquire capacidade para todas as aquisições
futuras; como expressão econômica, porque ele poderá produzir dez vezes mais
do que aquele, que faz mecanicamente um ofício simplíssimo (ANAIS DA
CÂMARA DOS DEPUTADOS, 1918, p. 764).
Essa longa intervenção de Nicanor Nascimento leva-nos a refletir que o caminho da
industrialização brasileira deu ao trabalhador e isso inclui necessariamente o menor um valor
econômico esforçando-se para ‘torná-lo’ disciplinado, produtivo e moralizado como requeria a
fábrica.
No caso dos menores, nota-se que o que está em curso na fala do deputado não é
propriamente a extinção desse tipo de trabalho o que causaria enormes prejuízos ao ritmo
produtivo fabril que muitas máquinas eram adaptadas ao tamanho desses trabalhadores - ao
futuro da pátria e à vida desses trabalhadores que ao serem lançados nas ruas estariam propensos
a toda espécie de crimes, vícios e entregues ao ócio e à vadiagem -. Pelo contrário, é defendido
22
um meio mais racional de explorar a mão-de-obra infantil. Em nenhum momento se pensou
positivamente a vida dessas crianças para fora do ambiente disciplinador da fábrica.
A constância do trabalho nas oficinas e fábricas aparece nas falas desse e de não poucos
deputados e ainda do patronato como tendo explicitamente feição e conteúdo pedagógicos,
portanto moralizadores. A presença de um discurso normativo produtor de
verdades
acabou se
tornando extensivo a toda população pobre urbana e imprimindo a ela uma certa concepção de
vida em sociedade. Ess
e é, o argumento do valor do trabalho infantil.
Remonta ao ano de 1891, a primeira regulamentação do trabalho dos menores, nas
fábricas do Rio de Janeiro, então Capital Federal. O decreto n. 1.313, de 17 de janeiro, também
denominado Decreto Deodoro da Fonseca, estabelecia no seu artigo 4, que os menores do sexo
feminino, com idade entre 12 e 15 anos e os do sexo masculino, na faixa dos 12 aos 14 anos,
teriam uma jornada diária não superior a 7 horas consecutivas, de modo que o excedesse 4
horas de trabalho contínuo. Fixava uma jornada máxima de 9 horas para os meninos de 14 a 15
anos de idade. Além disso, os aprendizes entre 8 e 10 anos de idade, admitidos nas fábricas
trabalhariam até 3 horas diárias e durante 4 horas os de 10 a 12 anos. Foi concedido um prazo de
6 meses para que os donos dos estabelecimentos fabris se adaptassem ao decreto (COLEÇÃO
DAS LEIS DO BRASIL, 1891, p. 327
-
328).
O Decreto n. 17.943A, de 12 de outubro de 1927, aprovou o Código de Menores
2
que
foi a legislação mais importante da primeira metade do século XX tratando especificamente da
infância. O artigo 108 no Decreto anterior era o artigo 66 - que tratava da duração do trabalho
dos operários com idade inferior a 18 anos estabeleceu que esta não poderia exceder 6 (seis)
horas
diárias mediada por repouso de, no mínimo, 1 (uma) hora.
Esses e tantos outros dispositivos de lei não foram cumpridos a rigor, pois como visto, a
utilização da força de trabalho infantil contribuía para o processo de acumulação capitalista.
Nesse sentido afirma Silva (1996, p. 91): “[...] a maioria, senão a totalidade das leis trabalhistas
votadas pelo Congresso naquele período permaneceram letra morta durante toda a Primeira
República, pelo menos”.
2
Na verdade, o Decreto Legislativo n. 5.083, de 01 de dezembro de 1926, já versava sobre a estrutura do Código de
Menores. Como informa Mineiro (1929, p. 21), os dois textos dos respectivos Decretos foram
redigidos pelo juiz de
menores do Distrito Federal José Cândido de Albuquerque Mello Mattos.
23
1.3 O trabalho das crianças...crianças no trabalho
Ca
da vez mais, o trabalho infantil tem sido tema presente nas discussões e nos debates
na sociedade brasileira. Seus contornos ficam ainda mais pronunciados quando controvérsias
sobre o trabalho doméstico, no corte de cana, nas carvoarias e, recentemente, a
brutal e alarmante
prática de exploração sexual infantil se colocam no foco das atenções públicas.
A idéia do trabalho infantil agrega tanto formas inadmissíveis de exploração quanto
atividades exercidas sob a tutela dos pais e/ou responsáveis. A despeito das atividades
degradantes que milhares de crianças testemunham e realizam todas ao que parece se encontram
atadas a um destino comum: a pobreza que em certas situações atinge os limites absolutos.
Sobrevivem à custa de ganhos ínfimos, assim como seu grupo familiar, e não possuem
rendimentos fixos.
Aos ouvidos minimamente atentos àquilo que se veicula nos meios de comunicação - e
mesmo em estudos acadêmicos não é raro ouvir aquilo que se chamaria de fatos apregoados.
Ou seja, que a luta pela sobrevivência impele e é responsável pelo trabalho precoce de grande
contingente de crianças que, por esse motivo, não f
24
Hoje, sabe-se que a questão do trabalho infantil está vinculada, embora não esteja
restrita, à pobreza e às desigualdades sociais existentes no Brasil. Nesse sentido, na literatura
especializada, ou pelo menos houve, um certo consenso de que a pobreza seja a principal causa
do trabalho infantil. Não obstante, alguns estudos
4
questionam tal associação que tende a uma
conclusão simplista em se tratando de política social, a saber: de que seria necessário acabar com
a pobreza para erradicar o trabalho infantil; um problema a ser equacionado em longo prazo.
No Brasil, as disparidades regionais e as variações na taxa de participação de crianças
no trabalho não corroboram que a pobreza seja o único determinante do trabalho infantil. Mesmo
observando o vínculo estreito entre incidência do trabalho infantil e nível de renda per capita,
isso por si é insuficiente para que a pobreza se constitua como a causa única. Assim, ela a
pobreza
- é um elemento importante para elucidá-lo, porém não se figura enquanto seu único
condicionante.
outros elementos, igualmente importantes para se compreender o trabalho infantil,
como os de natureza cultural que são referentes a formas tradicionais e familiares de organização
econômica, em especial na pequena propriedade agrícola
5
que também acabam respondendo pela
sua existência. Os pequenos proprietários dependem da força de trabalho de toda a família para
garant
ir a produção, onde o trabalho infantil é parte integrante da mão-
de
-obra. A cultura do
fumo, em algumas regiões do Rio Grande do Sul, exige mão-
de
-obra intensiva, num ciclo que
dura cerca de 10 meses, sendo, nestes casos, imprescindível o envolvimento de todo o grupo
familiar (HILLESHEIM, 2001).
Nas atividades exercidas fora da pequena produção familiar, tais como nas
plantations
de cana-
de
-açúcar ou na produção de carvão vegetal, os pais utilizam o braço infantil para
garantir as cotas produtivas. O emprego precoce de crianças explica-se pela decisão familiar que,
enquanto estratégia para aumentar sua cota produtiva e completar a renda utiliza o trabalho
infantil.
A exploração intensa da força de trabalho da criança tende a ser mais acentuada no
âmbito do trabalho, uma vez que as próprias famílias são compelidas a engajar os filhos na tarefa
de contribuir para seu sustento. É criado o vínculo através do qual, a criança, em virtude da
4
Brasil (1998) especialmente p. 14. Barros; Mendonça; Velazco (1994). Enfocando as áreas urbanas, os autores
listam obras
que apontam a pobreza como causa nodal do trabalho infantil no Brasil
.
5
A região Sul do Brasil é onde há o maior número de crianças ocupadas em atividades agrícolas. Em Santa Catarina,
por exemplo, todas as crianças estão no campo, segundo Rizzini (1999,
p. 380).
25
pseudo
-autonomia que o dinheiro lhe dá, nem sempre quer se livrar deste (C
ORDEIRO;
MENEZES, 2001, p. 28). O tempo de ser criança, tempo esse relativamente breve, é ocupado
largamente pelo tempo do trabalho intenso e por vezes desgastante. Compreender o universo do
trabalho infantil é identificar os mecanismos sócio-econômicos de produção e reprodução do
capital, aliados aos aspectos da cultura e do imaginário, e as crianças, portadoras de interesses,
carências e necessidades.
Enfocadas essas discussões a respeito do trabalho infantil, o desenvolvimento de
pesquisas e estudos nes
sa área, não deve perder de vista dois aspectos. Primeiro, se por um lado a
busca de modos de ação global é positiva, por outro, as soluções ocorrerão numa dimensão local,
atendendo às singularidades de cada país, região ou comunidade (BRASIL, 1998). Isso
porque,
disparidades regionais podem ser determinantes nas formas de manifestação do trabalho infantil e
nas alternativas mais apropriadas para erradicá
-
lo.
A erradicação do trabalho infantil talvez não se resolva através de projetos
governamentais, ou com a expansão da oferta de vagas nas escolas ou ainda com sensíveis
modificações nas condições materiais familiares que respondem, em larga medida, pela sua
perpetuação. É preciso considerar a influência de outros fatores que incidem na extensão do
trabalho
da criança, dentre os quais, as necessidades e aspirações do sujeito que compartilha suas
experiências com familiares, parentes, amigos, etc.
Os grupos humanos se constituem e se afirmam à luz de um conjunto de valores, de um
sistema cultural e de práticas produzidas pelos próprios homens. O trabalho tende a despertar na
criança determinadas atitudes. Na verdade, aperfeiçoa aspectos subjetivos e identitários que
medeiam o conteúdo das relações sociais e perpetua os significados dessa ordem societária. A
ati
vidade do trabalho é uma manifestação ontológica do ser humano. Ela é parte constitutiva
intrínseca e fundamental da própria condição humana. Tem, portanto, uma substância histórica,
social e subjetiva geradora de não poucas conseqüências, negativas e positivas. Seria necessário
os pesquisadores conhecerem o sistema de valores (crenças, hábitos, costumes) que se encontram
à disposição da criança
26
Enquanto manifestação coletiva, o trabalho atravessa tanto a vida de grupos e
comunidades inteiras como a vida do indivíduo. Nesse particular, orienta ações e percepções
como também contri
bui para que os indivíduos compartilhem situações vivenciais comuns. Ainda
assim, não se trata de analisar a presença do trabalho infantil somente a partir de um conjunto de
preceitos e hábitos de conduta que a criança deve incorporar e seguir como se tratasse de uma
modelagem explícita.
O trabalho infantil mais do que uma idéia é um fato que precede a noção de infância que
é algo moderno. Mas nem por isso, esse último diz respeito ao campo metafórico e, nem o
primeiro ao campo literal, ou ainda, que a infância seja uma chave naturalizada e o trabalho
infantil tenha um caráter completamente historicizado. Ambos os conceitos - infância e trabalho
infantil
invocam articulações de cunho histórico, sociológico, entre outras.
O trabalho constrói uma concepção de sujeito infantil bastante peculiar. Por detrás das
motivações e incentivos do trabalho enquanto atividade libertadora se esconde concepções de
mundo que buscam legitimar e constituir lugares de regulação sutilmente operados. Cada grupo
dispõe entã
o de práticas e recursos discursivos que permitem alimentar esses dispositivos.
O trabalho encontra-se numa relação direta com o entendimento do sujeito no mundo
em que vive. Essa idéia está associada à referências objetivas “o que você vai ser quando
cr
escer”
e ao alcance de responsabilidades que irá propiciar. Esteve e está ligado à produção e
ao reforço de determinadas subjetividades e comportamentos próprios de ser do menino ou da
menina, aos quais não ficam imunes. O trabalho infantil produz, afirm
a e perpetua
uma verdade
a
respeito do que é ser criança e, conseqüentemente, do que é ser adulto.
É reconhecível em muitas falas (como as lidas nos artigos), como o trabalho aparece
embora cause desgaste físico e mental relacionado aos benefícios e às perspectivas de futuro.
São produzidas noções de verdade que fazem com que pensar o trabalho infantil se no interior
de uma determinada configuração. Nesse ponto parece reivindicar para si o entendimento do
mundo social através de efeitos positivos de autonomia e consciência social. O desenvolvimento
dessas noções expressa a internalização de condutas tidas como desejáveis, firmadas no solo
cultural e social. Tem-se como resultado o entrecruzamento desses mecanismos de ajuste, das
formas discursivas de estabelecê-los e reproduzi-los e a perspectiva auto-reflexiva da criança que
está imersa nessa relação fundamental.
27
Os conteúdos que o trabalho infantil trata dizem respeito aos processos de constituição
de identidade de gênero, as interações do tipo face a face e às ações auto-reflexivas que acabam
descortinando o universo de relações objetivas e subjetivas que a criança traz consigo mesma e
com o grupo a que pertence. Para Larrosa (1995, p. 43):
A experiência de si, historicamente constituída, é aquilo a respeito do qual o
sujeito se oferece seu próprio ser quando se observa, se decifra, se interpreta, se
descreve, se julga, se narra, se domina, quando faz determinadas coisas consigo
mesmo, etc. E esse ser próprio sempre se produz com relação a cer
tas
problematizações e no interior de certas práticas.
Falar do trabalho infantil que se manifesta em diferentes modalidades não significa
apresentar um enfoque não conflituoso das relações sociais, ou ainda, de uma idéia de ajustes
preexistentes aos papéis sociais. Quando circulada, essa visão de mundo suprime e distorce uma
série de questões ao passo que atribui a outras um suposto caráter natural, inevitável e imutável.
O sujeito infantil reconhece o campo de relações que estabelece com seus pares e com
a
realidade que o cerca. Age, escolhe, toma decisões e participa do estabelecimento de regras. A
aceitação e a força desses enunciados são sustentadas em determinada concepção de mundo que
legitima uma particular dinâmica social que se quer preservar.
A
partir de todas as considerações feitas é possível pensar possibilidades de constituição
do sujeito infantil no interior da atividade do trabalho sem, no entanto, desconhecer que tais
caminhos o recobertos por dinâmicas de classe, família, gênero, geração e por divisões que
afetam cada uma dessas instâncias formando, em inúmeras situações, um quadro altamente
discriminatório e excludente das crianças?
28
Capítulo 2 O BALANÇO DA PRODUÇÃO EM PERSPECTIVA
2.1 Anotações gerais
O balanço da produção é uma modalidade de pesquisa que dispõe das seguintes
características: a) é de caráter bibliográfico; b) apresenta um recorte temporal definido; c)
sistematiza o conhecimento acerca de determinada área do conhecimento; e d) é um meio de
difundir estudos que podem auxiliar em novos projetos investigativos. O balanço da produção
longe de ser um enfoque teórico, é um modo de compreender aquilo que se de coletar e
observar em termos de abordagens.
A realização de um balanço da produção não se inicia por uma teoria a ser testada, pois
funciona como um dispositivo experimental. Toma o trabalho infantil em suas mais variadas
modalidades e como tal, não é regido por nenhuma lei infalível. Se assim o fosse, suas derivações
correriam o risco de serem particularmente sensíveis à visões estáticas e fetichizadas, sobretudo
para uma disciplina como é o caso da Sociologia onde as teorias podem ser muito
dificilmente nomológicas, ou seja, se é válido para um caso, é válido para todos os casos que
estejam na mesma situação. A atividade cotidiana e suas interações não podem ser explicadas
pelo controle do laboratório.
Não obstante, o balanço da produção apresenta uma séria dificuldade. Segundo Mauger
(1994, p. 6, tradução nossa) o empreendimento “aparentemente inocente, técnico de constituição
de uma bibliografia, de recenseamento de unidades de pesquisa, de pesquisadores e de trabalhos
em andamentos, coloca um primeiro problema clássico: o da delimitação do domínio dos
objetos”, ou seja, da própria definição da categori
a trabalho infantil.
Para os interessados em sistematizar as investigações sobre o trabalho infantil convém
observar que o levantamento da produção de conhecimento implicaria um instrumental analítico,
mesmo provisório, do objeto a ser enfocado a fim de orientar minimamente os critérios de
seleção. Por outro lado, para se construir esse conceito inicial, é pouco provável a adoção de uma
categoria que se impusesse a todos os estudos.
O conjunto de artigos produzido foi expresso com questionamentos endereçados ao
modo como fora construído. Ainda assim, diga-se de passagem, que toda reconstrução de dados,
29
informações, documentos – afora os riscos que encerra oferece uma imagem, no limite,
aproximada do material arrolado.
O desafio é identificar como se elabora teórica e metodologicamente o tema do trabalho
infantil enquanto objeto/sujeito investigativo, seus recortes e os vínculos existentes com os
processos sociais e históricos nos quais se insere e adquire visibilidade na sociedade brasileira.
Ainda que não disponha de trabalhos do tipo balanço de produção
6
, na área
especificamente do trabalho infantil, pode-se considerar, sobretudo, nas últimas duas décadas no
Brasil, inúmeros estudos acerca da infância. Nesse sentido, o balanço da produção permite
sist
ematizar os esforços de pesquisadores(as) para encontrar nas abordagens históricas e
sociológicas condições responsávei
30
registrando seu ciclo de vida, os enfoques temáticos, dados sobre seus leitores e colaboradores,
entre outros (CATANI, 1989; GANDINI, 1990; NERY, 1993; GOMES, 1996).
Diferente dessas perspectivas de análise examinamos a produção acerca do trabalho
infantil identificando
-
a simultaneame
nte nos periódicos científicos brasileiros, dentro de um corte
temporal demarcado (1981 a 2004). Segundo Megid (1999, p. 23) existem as:
[...] limitações dos catálogos ou banco de dados sobre a produção acadêmica,
no que se refere a uma divulgação adequad
a da mesma. Os dados bibliográficos
dos trabalhos permitem uma primeira divulgação da produção, embora
bastante precária. Os resumos ampliam um pouco mais as informações
disponíveis, porém, por serem muito sucintos e, em muitos casos, mal
elaborados ou equivocados, não são suficientes para a divulgação dos
resultados e das possíveis contribuições dessa produção [...]. Somente com a
leitura completa ou parcial do texto final os (resultados, subsídios, sugestões
metodológicas etc.) podem ser percebidos.
2.2 O itinerário da pesquisa
Escolhemos o início da década de 1980 porque esse período assistiu a consolidação da
política de ciência e tecnologia do País. Houve, na década anterior, a implantação e o
investimento no sistema de pós-
graduação
strictu sensu e o desenvolvimento da pesquisa no
Brasil através dos Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPGs): 1975/79; 1982/85; 1986/89 o
que gerou posteriormente crescimento da produção científica (MOROSINI, 2001, p. 17). Além
disso, remonta ao limiar dos anos 80 quando as agências de Ciência e Tecnologia (C&T) como o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP) desenvolveram programas específicos de apoio às revistas científicas
contribuindo sensivelmente para a melhora de sua qualidade, ainda que fosse reduzido o número
beneficiado (SCHWARTZMAN,1984, p. 28
-
29).
A data final respeita a um aspecto técnico: o projeto que reuniu dados e informações
para a formulação deste balanço da produção teve sua sistematização em 2004 e se propôs
realizar o levantamento até o referido ano. Do início de 2004 até meados de 2006 seguiu um
ritmo contínuo: pesquisas em bases eletrônicas de dados, nos catálogos e acervos das instituições
de ensino superior do Estado de São Paulo, contatos com profissionais responsáveis pelos
serviços oferecidos nessas instituições como o pedido de artigos.
31
A fonte estudada periódico científico brasileiro sabe-se, é amplamente conhecida
pelos estudiosos e pesquisadores. No entanto, pouco fora alvo de uma reflexão sociológica ou
historiográfica (GANDINI, 1995; GOMES, 1996)
8
.
Ainda que o propósito deste trabalho não tenha sido acompanhar o aparecimento e o
ciclo de vida dos periódicos reunidos, procuramos mostrar a relevância desse
rico manancial para
a construção de um quadro explicativo acerca do trabalho infantil. Tratou-se de reconhecer as
potencialidades dos periódicos científicos brasileiros através da elaboração do repertório
bibliográfico, o que não significa que isso não possa ser realizado por meio de outras
sistematizações e interpretações.
Deparamo
-nos com dificuldades de consulta e ausência de informações sobre os
periódicos já que algumas instituições não dispunham do material localizado nos catálogos,
apesar de ele contar nas bases de dados de consulta. Em geral, os catálogos das bibliotecas não
indexam os artigos de periódicos, apenas o título, o volume, o número e o ano de cada
publicação.
O desenlace da pesquisa permitiu constatar que o estudo de um certo tema pode ser
dificultado pela dispersão da fonte no caso, o periódico científico bem como o acesso e a
socialização limitados. Os dados e as informações acerca dos periódicos não são somente
escassos, assim como uma pequena parte dos existentes não são facilmente encontráveis. Na
pesquisa direta nos acervos constatamos que grandes esforços de editores, apoiadores e
colaboradores preocupados com sua divulgação ainda permanecem, em alguma medida,
dispersos e a poucos acessíveis.
Não obstante, têm-se iniciativas de agências de fomento à pesquisa que disponibilizam
em suas bases eletrônicas de dados artigos completos de inúmeras publicações brasileiras, como é
o caso do Portal de Periódicos da CAPES:
http://www.pe
riodicos.capes.gov.br/
e do projeto
SCIELO:
http://www.scielo.br/
que foram utilizadas na pesquisa.
Como instrumento metodológico, a pesquisa está calcada em fontes básicas de
referência localizadas em base eletrônica de dados, nos catálogos e acervos de universidades,
8
O livro de Gomes intitula
-
se
História e historiadores:
a pol
ítica cultural do Estado Novo. Nele, a autora foca duas
publicações vinculadas aos serviços de propaganda do governo Vargas; o suplemento contido no jornal
A Manhã,
“Autores e Livros” e a revista
Cultura Política
visando recuperar a “cultura histórica do p
eríodo” e o lugar da
história no discurso estado
-
novista. O retrato analítico da autora elege vinte historiadores consagrados entre 1941 e
1945 pelo suplemento.
32
faculdades, associações e institutos de pesquisa onde foi realizado o levantamento dos artigos
sobre o trabalho infantil publicados em periódicos brasileiros.
Quanto ao critério para localizar os artigos foi feita primeiramente a análise dos títulos
identificando aqueles cuja temática refere
-
se ao universo do trabalho infantil. Nesse sentido, cabe
ressaltar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), considera criança a pessoa
com até 14 (quatorze) anos de idade. o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que é a
legislação complementar a Constituição de 1988, diz em seu Art. “Considera-se criança, para
os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze
e dezoito anos de idade” (ECA, 2005, p. 1).
A primeira etapa deste trabalho consistiu na reunião sistemática dos periódicos
disponíveis nos catálogos e acervos das bibliotecas do Estado de São Paulo das seguintes
instituições: a Fundação Carlos Chagas (FCC) através do site
http://www.fcc.org.br
; a biblioteca
central da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
http://www.fflch.usp.br
e
a biblioteca da Faculdade de Educação (FEUSP)
http://www.fe.usp.br/biblioteca
, ambas da
Universidade de São Paulo (USP); o acervo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC
-SP); além das bibliotecas da rede UNESP
http://www.ct.ibict.br/ccn/owa/ccn_consulta.
Utilizamos para pesquisa nos bancos de dados os seguintes termos de busca ou palavras
-
chave:
infância;
criança trabalhadora;
tr
abalho precoce;
trabalho infantil;
trabalho infanto
-
juvenil;
trabalho da criança;
trabalho da criança e do adolescente;
trabalho do menor.
As buscas utilizaram como filtro o país da publicação (Brasil) e os idiomas (português e
espanhol). Além disso, a publicação deveria compreender o período entre 1981 a 2004 inclusive.
O estudo agregou 97 artigos publicados e distribuídos em 58 títulos de periódicos científicos
brasileiros.
O fato de inexistir publicações específicas sobre o trabalho infant
il
o máximo que
ocorreu foi a presença de até 5 (cinco) artigos sobre o tema em uma única edição de periódico por
33
se tratar justamente de um dossiê intitulado: Trabalho Infanto-
juvenil
- tornou a pesquisa extensa
e dispersa.
A produção arrolada cobre o que de mais relevante sobre o trabalho infantil no
Brasil, publicado a partir do início dos anos 80 nos periódicos brasileiros. Embora tenha sido
minuciosa a pesquisa, alguns artigos não foram identificados durante o levantamento
considerando um provável desconhecimento da parte do pesquisador de publicações regulares
circulando junto a públicos restritos. Espera-se que essa lacuna seja preenchida através da
divulgação deste trabalho e por novas contribuições.
Não se efetuaram levantamentos referentes: ao surgimento e à história de cada
publicação; às agências e instituições colaboradoras; ao apoio financeiro recebido; à
normalização; ao formato do periódico; aos custos e tiragens de cada edição impressa; ao total de
números editados e ao total de números pesquisados em cada periódico; à(s) proposta(s)
editorial(is); se os artigos científicos foram gerados a partir de pesquisas originais, ainda não
divulgadas em outros periódicos; a sua disponibilidade nos acervos. Além desses, não foram
abordados os seguintes aspectos relativos a sua abrangência: as ações desenvolvidas com vistas
ao seu conhecimento junto aos pesquisadores, docentes e discentes (assinatura, permuta e
doação); o impacto dos periódicos frente à comunidade científica em geral; as informações
sobre
critérios de classificação e indexação dos periódicos.
Claro está que se a pesquisa se debruçasse sobre a trajetória de um único periódico
todos estes aspectos que presidem a sua criação e longevidade poderiam ser destrinçados. Além
do mais, seria instigante trazer à baila o perfil intelectual e institucional de seus autores, os
desdobramentos narrativos inerentes à proposta editorial, a presença e originalidade das
contribuições publicadas e a posição do periódico no universo das revistas científica
s.
Para cada título disponível (ANEXO A) foram registrados os seguintes dados:
A identificação do periódico e da instituição a ele vinculada.
Sua periodicidade (mensal, bimestral, trimestral, quadrimestral, semestral, ou então, anual).
O ISSN – Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas – (International
Standard Serial Number) que é o identificador aceito internacionalmente para individualizar o
título de uma publicação seriada, tornando-o único e definitivo. O ISSN é composto de o
ito
34
dígitos, sendo representado em dois grupos de quatro dígitos cada um, ligados por hífen,
precedido sempre por um espaço e a sigla ISSN
9
.
Foram basicamente três os critérios utilizados para caracterizar o periódico como sendo
científico
:
i) a peri
odicidade definida
10
;
ii) a proposta editorial;
iii) a existência de um comitê ou conselho editorial responsável pela análise das contribuições
enviadas que é composto por membros da própria instituição em que está atrelada a publicação
e/ou por membros ext
ernos que podem ou não ter vínculos com instituições estrangeiras.
A existência desses elementos aliada aos editores, assistentes editoriais e bibliotecários
é responsável pelo cumprimento de padrões e normas editoriais vigentes, pela regularidade da
publ
icação e pelos mecanismos de distribuição, comercialização e permuta estabelecidos. Não
obstante, isso seja um quadro ideal que poucos títulos gozam. Todos esses aspectos tornam-
se
necessários em razão da crescente importância e especialização do periódico científico e do
aumento vertiginoso desse tipo de literatura quando se observa o número de títulos criados nos
últimos dez anos.
Para cada artigo localizado registraram-se os seguintes dados bibliográficos (ANEXO
B)
11
:
Sobrenome e nome do(s) autor(e
s).
Título do artigo.
Título do periódico.
Local de publicação.
Volume.
Número.
Paginação inicial e final.
Mês/ano da publicação.
Essa foi a tipologia elaborada.
9
Até o momento de apresentação deste trabalho duas publicações não dispunham do ISSN:
Cade
rnos de Saúde
Coletiva
(RJ) e Em Aberto
(DF).
10
O fato de eleger a periodicidade como um critério de
cientificidade
não significa necessariamente que os
periódicos vêm sendo editados com regularidade desde a sua criação. Nos títulos reunidos somente os
Cad
ernos
PUC apresentaram periodicidade irregular.
35
2.3 O papel do periódico no meio acadêmico
12
Um estudo pormenorizado do periód
ico científico permite visualizar seu papel dentro da
comunidade científica
13
. O exame de sua função e de suas características interessa a todos
aqueles ligados à pesquisa, sobretudo. Sua análise permite conhecer alguns indicadores de
avaliação não do pesquisador em particular, mas também da própria atividade de pesquisa em
geral.
Constatou
-se a criação e a divulgação de periódicos ligados diretamente à programas de
pós
-graduação, grupos, núcleos e centros de pesquisa em áreas temáticas. Talvez esse fato se
deve a pelo menos dois fatores: o primeiro de ordem im
36
entendida pela sociedade como prestadora de serviços passa pelo rótulo da qualidade tendo
como definição:
Qualidade:
é definida como competência e excelência, tendo como critério seu
“atendimento às necessidades de modernização da economia e desenvolvimento
social”; e é medida pela produtividade. A produtividade, que mede a qualidade,
é orientada por três critérios:
quanto
uma universidade produz, em quan
to
tempo
produz e qual
o custo
do que produz. [...] Observa
-
se que a pergunta pela
produtividade não indaga: o que se produz, como se produz, para que ou para
quem se produz [...] aqui, temos a inversão ideológica, pura e simples, da
qualidade em quantidad
e (CHAUÍ, 1998, p. 25
-
26, grifos da autora).
Assim, o reconhecimento e a legitimidade dessas instituições passa pelo crivo da
eficácia, otimização e da instrumentalidade de seus resultados em um curto espaço de tempo.
Ao mapear e discutir os assuntos emergentes é necessário ficar atento para a relação
artificial, porém imprescindível, elaborada no roteiro preestabelecido pelo pesquisador. Tendo
identificado os principais aspectos do material reunido, é preciso, num segundo momento
retornar aos objetivos iniciais da pesquisa e, em alguma medida redimensioná-los. O rigor desse
instrumento não é definido pela sua validade intrínseca se é que alguma mas sim pela
compreensão dos seus limites.
Os periódicos são analisados, pois concentram grande peso da produção teórica na área
do trabalho infantil e constituem-se num veículo dinâmico de circulação entre docentes e
pesquisadores. A pesquisa deita atenção no levantamento bibliográfico, sistemático e analítico de
artigos acerca do trabalho infantil em periódicos científicos brasileiros. Segundo Soares (1989),
esse tipo de produção, juntamente com as teses de doutorado e as dissertações de mestrado, é o
que melhor pode expressar o conhecimento em construção, cuja circulação se dá de forma
concomitante a sua elaboração. Ou seja, os periódicos informam de forma ágil e dinâmica a
comunidade acadêmica.
Em lugar de ser encarado apenas como depositário de conteúdos que, em muitos casos,
se presta a odiosa quantificação hierárquica do desempenho acadêmico
14
do pesquisador, o
14
Pierucci (1999, p. 239) se refere, ou melhor, qualifica ‘o mundo acadêmico’ como “um seletivo campo de batalha
com regras bem conhecidas ou um ninho de cobras criadas com copos de cólera em torno e em busca
da definição do
mérito científico
strictu sensu”.
Ou, tudo pelo
mainstream
e gozo acadêmicos. A citação é colocada
propositadamente no pé da página respeitando a condição de “aspirante à sociólogo” que “se comporta como quem
adentra pela primeira vez num r
ecinto fechado” (Pierucci, 1999, p. 251
-
252).
37
periódico foi apreciado enquanto importante espaço que salienta, difunde e dinamiza a literatura
acadêmica, além de guardar as marcas de seus autores e de seus objetos de referência.
Considera
-se essa fonte como um registro expressivo, fruto da atividade intelectual,
onde se apresenta e se discute os resultados de pesquisas permitindo um intercâmbio vital no seio
acadêmico e das instituições de pesquisa.
A proposta de mapear, discutir e empreender um balanço da produção científica em
periódicos científicos brasileiros a respeito do trabalho infantil é relevante para estudiosos e
entidades ligadas à área da infância, que poderão contar com subsídios teóricos e conceituais para
estruturação de seus projetos. Constitui-se enquanto um instrumento de amparo à pesquisas no
campo da sociologia da infância brasileira, campo esse bastante amplo, complexo e ainda
incipiente considerando a produção do conhecimento sobre a criança, na Europa e Estados
Unidos.
A compreensão do estado do conhecimento sobre o trabalho infantil, do modo aqui
proposto, ordena uma gama de resultados atingidos e permite identificar as vertentes
integrativas de perspectivas como também possíveis ambigüidades, contradições e lacunas
existentes. Diante disso, é necessário o estudo dessas perspectivas que vêm multiplicando-se nos
últimos anos para que se possa traçar um balanço da produção no campo do trabalho infantil.
A localização das questões relevantes nos artigos organicidade evitando descrever
estudo por estudo. Em torno de cada questão serão analisadas áreas de consenso ou proximidade
indicando autores que defendem um enfoque, os elementos explicativos utilizados para se
compreender o fenômeno do trabalho infantil ou estudos que fornecem evidências da proposição
apresentada.
O mesmo será realizado para áreas de controvérsia. Não haverá necessidade de
apresentar todos os autores e suas respectivas pesquisas individualmente para sustentar a mesma
idéia. Análises individuais se justificam quando a reflexão, por seu caráter seminal na construção
do conhecimento a respeito do trabalho infantil merecer destaque. Por exemplo, o caso de estudos
acerca de políticas públicas destinadas ao combate do trabalho infantil que se mostraram escassos
no mapeamento.
38
Capítulo 3 A PRESENÇA DO TRABALHO INFANTIL NOS PERIÓDICOS
CIENTÍFICOS BRASILEIROS
3.1 Aspectos quantitativos da produção arrolada
No Brasil, a pesquisa científica, dentro e fora das universidades, assiste a um avanço
quantitativo e qualitativo de estudos em ciências sociais versando acerca da presença do trabalho
na vida da criança. Para nossos propósitos, os denominaremos de trabalho infantil expressão
consagrada pela literatura acadêmica. Sabe-se que o interesse pelo tema não decorre apenas de
sociólogos e historiadores. Tam
bém os psicólogos e assistentes sociais têm
-
se voltado com maior
freqüência para o desenvolvimento de pesquisa de campo, discussões e ensaios sobre o trabalho
infantil.
O presente estudo agrega 97 artigos publicados e distribuídos em 58 títulos de
periódi
cos científicos brasileiros sob a forma de listagem bibliográfica anotada/lida/categorizada
e disposta em 12 subtemas. Todo o material reunido foi localizado em periódicos impressos.
Aqueles que só dispõem de versões
on line
ou eletrônica não foram contemp
lados.
O texto propriamente dito aborda o estudo do artigo no periódico. Entendemos por
artigo um texto de extensão não muito longa que problematiza e discorre sobre determinado tema
considerando seus referenciais teórico-metodológicos e dispõe de uma bibliografia. Ainda assim,
não deixamos de utilizar outras fontes de pesquisa como as que aparecem no primeiro capítulo.
Foi tomada por base a leitura integral dos artigos e não somente dos resumos descritivo
-
informativos. Cabe aqui uma observação necessária: a importância de consulta da literatura
mencionada para que se possa dimensionar as apropriações que foram realizadas dos artigos nesta
seção onde as afirmações dos autores são pinçadas de forma sucinta, não sendo intenção reduzir a
sua abrangência e complexidade. O estudo problematiza o material arrolado o que proporciona
reconstituir uma fração dos diversos modos de existência da criança trabalhadora.
Inicialmente fez-se um levantamento dos títulos dos artigos sobre trabalho infantil nos
sumários dos periódicos, tendo em vista o estabelecimento do material analisado. Embora tenha-
se utilizado bases eletrônicas de dados e catálogos on line basicamente o estudo foi feito via
39
acesso às prateleiras
de modo direto nos acervos
15
. Os títulos sintetizam o cont
eúdo, sendo uma
boa técnica para esse tipo de abordagem e para aproximar do conteúdo.
Na seqüência fez
-
se um apanhado de todos os artigos que dissessem respeito ao trabalho
infantil, nos 24 anos pesquisados. Todo o material foi lido considerando-se o título, o resumo
(quando apresentado). Não obstante, como alguns artigos não informaram em seu título, de
maneira precisa a proposta de análise, além do mais, dos 97 artigos compilados, 22 o
apresentaram o resumo informativo e considerando que um dos objetivos foi categorizar a
produção arrolada houve a necessidade de ler todo o material para melhor categorizá
-
lo.
A pesquisa sustenta uma interrogação em torno dos motivos que desencadeiam o
ingresso e a permanência da criança no mundo do trabalho. Se de um lado, a criança se tornou
objeto se saberes especializados, de outro, as vicissitudes do ato de trabalhar passam a ser
consideradas a partir de uma série de fatores que se dão num quadro que transcende o ato mesmo
de trabalhar. O desafio formatado justifica a crença de se fundamentar uma intervenção
sociológica na realidade infantil. Temos assim, enquanto pesquisadores, grandes preocupações
sociais, notadamente para a infância em situação de miséria e exclusão social.
Não são poucas as maneiras através das quais poderíamos começar a falar da infância.
Arbitrariamente elegemos uma, aquela que significa um traçado sinuoso carregado de
dificuldades e que tem gerado muita inquietação. Escolhemos como foco analítico o estudo do
trabalho infantil em periódicos científicos brasileiros e examinamos as abordagens trazidas nesse
veículo específico de publicação. Não caberia catalogar os assuntos em busca do consensual e do
estável porque, eles em si mesmos, são heterogêneos e descontínuos.
Ao longo de quase duas décadas e meia que cobre o estudo, o crescimento perceptível
do número de artigos publicados
entendidos como uma das formas de expressão da comunidade
acadêmica em geral também pode estar sendo influenciado pelos critérios utilizados no
processo avaliativo das agências de fomento à pesquisa e da própria avaliação da carreira do
docente
-pesquisador dentro das instituições universitárias. O peso conferido a publicação de
artigos é maior que o peso de outras formas de produção (MOROSINI, 2001, p. 19).
15
Esse procedimento permitiu constatar sérios problemas: revistas e periódicos fora do lugar de
classificação; não poucos deles grifados, dobrados, desenhados e, outros ainda, mutilados pelo ‘leitor voraz’.
40
Os quadro
s apresentados são uma tentativa de mostrar as observações realizadas através
da leitura dos artigos. A seguir é dado um balanço do número de artigos publicados ao longo do
período que cobre a pesquisa.
Quadro 1
Distribuição numérica dos artigos sobre
Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, por ano de publicação (1981
2004).
ANO DE PUBLICAÇÃO
Nº DE ARTIGOS
81 03
82 01
83 04
84 02
85 04
86 01
87 02
88 01
89 02
90 03
91 -
92 01
93 01
94 -
95 02
96 06
97 06
98 08
99 11
2000 03
2001 11
2002 11
2003 07
2004 07
TOTAL
97
O Quadro 1 oferece um panorama no número de artigos sobre trabalho infantil
publicados ao longo de 24 anos o que mostra um crescimento significativo a partir da segunda
metade dos anos de 1990. O período de 1986 a 1995 foi marcado por um decréscimo na produção
científica em periódicos brasileiros o que em parte pode ser explicado pela política de Ciência &
Tecnologia (C&T) marcada pelo corte acentuado de verbas. Houve também a extinção da
41
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), em seguida recriada
co
mo Fundação (MOROSINI, 2001, p. 17). Numericamente, nesse mesmo período de 10 anos,
são publicados 13 artigos sobre o trabalho infantil, ou seja, 13% do total.
Com exceção do ano de 2000 que registrou 3 artigos, a partir de 1996 até 2004, cada
ano viu publicado pelo menos 6 artigos. Os anos de 2001 e 2002 registraram cada 11 artigos
publicados. Considerando de 1981 até a primeira metade dos anos de 1990, em 1983 e 1985
foram publicados 4 artigos em cada ano; em 1981 e 1990, 3; nos demais anos somente 1 e 2
artigos e ainda registra
-
se que em 1991 e 1994 não foi identificado nenhum artigo.
Se fizermos um recorte no conjunto da literatura em três subperíodos: (1981-
1990);
(1991
-2000) e (2001-2004) verificaremos o seguinte: o primeiro e o segundo subperíodos que
comportam dez anos cada responderam por 23 e 38 artigos publicados respectivamente, enquanto
que o terceiro subperíodo que representa somente 4 anos abriga o número de 36 artigos
publicados.
O Quadro 2 especifica com detalhes o número de artigos identificados e o ano de sua
publicação em cada um dos 58 periódicos brasileiros. Um total de 8 periódicos abrigam 3 artigos
cada: Cadernos CEDES; Cadernos CERU; Cadernos de Saúde Pública; Educação & Realidade;
Perspectiva; Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos; Revista de Informação Legislativa e São
Paulo em Perspectiva. Os periódicos: Estudos de Psicologia e Revista Brasileira de História
reuniram respectivamente 5 e 4 artigos cada. E a revista: Trabalho & Educação respondeu por 6
artigos publicados.
Os 48 títulos restantes publicaram 1 e 2 artigos.
Quanto aos pesquisadores e pesquisadoras que publicaram seus trabalhos nos periódicos
científicos brasileiros verificamos que, na década de 80, alguns eram ligados à Economia, ao
Direito e, principalmente à Sociologia, como fora informado nos próprios artigos. a década de
90 assistiu a entrada em cena de autores das áreas do Serviço Social, da Saúde do trabalhador e
da Psicologia Social, que concentram suas publicações nos periódicos: Estudos de Psicolog
ia
(UFRN); Psicologia: teoria e pesquisa (UnB); Psicologia Clínica (PUC-RJ); Cadernos de Saúde
Coletiva (UFRJ); Cadernos de Saúde Pública (Escola Nacional de Saúde Pública do Rio de
Janeiro); Ciência & Saúde Coletiva (Associação Brasileira de Pós-
graduação
em Saúde Coletiva
do Rio de Janeiro); Psicologia em Estudo (UEM). Esses 7 periódicos publicaram juntos 14
artigos acerca do trabalho infantil. E, quanto aos artigos assinados por sociólogos manteve-
se
certa regularidade.
42
Quadro 2
Listagem dos títulos
de periódicos científicos brasileiros sobre Trabalho Infantil
contendo a respectiva quantidade de artigos identificados e o ano de publicação.
Título do periódico
Quantidade de artigos identificados
Ano de publicação
Barbarói
02
2001; 2004
Cadernos Adenauer
01 2001
Cadernos CEDES
03
2002; 2003
Cadernos CERU
03
1981; 1984
Cadernos de Educação
01 1997
Cadernos de Estudos
Sociais
01 1999
Cadernos de Pesquisa
02
1983; 1992
Cadernos de Saúde
Coletiva
01 2002
Cadernos de Saúde
Pública
03
1997; 1998; 2002
Cadernos do CEAS
01 1982
Cadernos do CEOM
01 2004
Cadernos do IFAN 01 1998
Cadernos PUC
01 1983
Chronos
01 1996
Ciência Hoje
02
1984; 1985
Ciência & Cultura
01 1988
Ciência & Saúde
Coletiva
02 2003
Comunicações
02
1998; 1999
Educação & Pesquisa
01 2000
Educação & R
ealidade
03
1990; 1997; 2002
Educação & Sociedade
01 2002
Educar em Revista
01 1999
Em Aberto
02 1985
Em Pauta
01 2002
Ensaio
01 2002
Estudos
01 1999
Estudos de Psicologia
05 2001
Estudo
s em Avaliação
Educacional
01 2003
Grifos 01 1997
História
02 1995
História: questões e
debates
01 2003
Horizontes
01 1999
Humanidades
01 1987
Indicadores Econômicos
FEE
01 1996
43
Lócus
01 1999
Paidéia
01 1998
Perspectiva
03
1990; 1996
Perspectivas
02
1981; 1989
Psicologia
01 2002
Psicologia Clínica
01 2000
Psicologia em Estudo
01 2003
Redes
01 2001
Reflexão e Ação
02
1999; 2001
Revista Brasileira de
Ciências Sociais
01 1990
Revista Brasileira de
Educação
02
2000; 2002
Revista Brasileira de
Estudos de População
01 2004
Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos
03
1983; 1985; 1997
Revista Brasileira de
História
04
1989; 1999
Revista de Educação
01 2004
Revista de Educação
Pública
01 2004
Revista de História
Regional
01 2001
Revista de Informação
Legislativa
03
1986; 1996; 2003
Revista do BNDES
01 1997
Revista Katálysis
01 2002
São Paulo em
Perspectiva
03
1987; 1993; 2004
Symposium
01 1983
Trabalho & Educação
06
1996; 1998; 1999;
2001; 2004
Veritas
02 1998
TOTAL
97
Vejamos como toda es
sa produção se distribui em termos quantitativos.
44
Quadro 3
-
Distribuição quantitativa dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, no conjunto dos títulos.
Quantidade de artigos
Quantidade de títulos
01 36
02 11
03
ou mais
11
Total de títulos
58
Como é um número relativamente significativo de periódicos que comporta a produção,
isso tornou difícil acompanhar as publicações acerca do trabalho infantil. Quando se observa o
Quadro 3, em termos quantitativos, verific
a-
se que 36 títulos publicaram apenas 1 artigo cada; 11
títulos publicaram 2 artigos cada e, 3 ou mais artigos foram publicados em 11 títulos diferentes.
Ao que parece, o tema do trabalho infantil não se figura enquanto área de grande interesse nos
periódi
cos científicos brasileiros, particularmente nas ciências sociais.
Os Quadros 1, 2 e 3 dão um panorama geral acerca do conjunto de artigos pesquisados
ao longo do recorte da pesquisa (1981-2004); o número de artigos que cada periódico publicou e
como estes se distribuíram em termos quantitativos. O Quadro 4 revela como os títulos de
periódicos científicos brasileiros se distribuem considerando a região do país.
Quadro 4
Distribuição numérica e porcentagem do total dos títulos de periódicos científico
s brasileiros,
sobre Trabalho Infantil, pesquisados de acordo com as regiões do Brasil.
Regiões
Nº de títulos
(%) do total
Sudeste
31 55
Sul
16 26
Centro
-
Oeste
07 12
Nordeste
04 07
Norte
0 0
Total
58 100
Observa
-se a maciça concentração das publicações nas regiões Sudeste e Sul
respectivamente que respondem juntas por 47 publicações, ou, 81% do total. Além disso, o
45
Quadro 4 mostra que a maior parte da produção científica publicada está ligada à região Sudeste
onde estão sediados as maiores universidades, centros de pesquisa e de pós-graduação, em
particular São Paulo e Rio de Janeiro. O Quadro 5 informa como os títulos dos periódicos
pesquisados se distribuem dentro da região Sudeste.
Qu
adro 5
-
Distribuição numérica e porcentagem da região dos títulos de periódicos científicos brasileiros,
sobre Trabalho Infantil, nos Estados da região SUDESTE.
Estados
Nº de títulos
(%) da região
São Paulo
21 67
Rio de Janeiro
08 27
Mi
nas Gerais
02 06
Total
31 100
O Estado do Espírito Santo não apresentou nenhuma publicação. Das 31 publicações
realizadas na região Sudeste, o Estado de São Paulo abriga 21, ou, 67%. E, no conjunto total das
58 publicações, sozinho,
o Estado de São Paulo representa 37%.
O Gráfico a seguir permite compreender melhor a dinâmica da literatura arrolada
considerando a distribuição regional de bibliotecas e centros de documentação no Brasil.
Gráfico
Distribuição regional de bibliotecas
e centros de documentação no Brasil.
Fonte: VIEIRA (1999). Perfil dos sistemas de indexação de documentos utilizados nas bibliotecas e centros de documentação
voltados à educação na América Latina e países de Língua Portuguesa. Brasília: I
nep/MEC, 1999.
Essa pesquisa foi realizada
pela Fundação Carlos Chagas (FCC) e financiada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
0
100
200
300
Norte
Centro
-
Oeste
Nordeste
Sul
Sudeste
Norte
Sul
Centro
-
Oeste
Nordeste
Sudeste
46
A pesquisa de Vieira mostrou que do total de 446 bibliotecas e centros de documentação
existentes
no Brasil, a sua maioria surgida nos anos 60 e 70, 257 (57%) estão localizados na
região Sudeste; 75 (17%), na região Sul; 59 (13%), na região Nordeste; 52 (12%), na região
Centro
-Oeste; e 03 (1%), na região Norte. O estudo demonstrou ainda que das instit
uições
pesquisadas, 81% possuem acesso à Internet, muito embora, apenas 31% a utilizem para
disponibilizar dados e informações bibliográficas na rede.
O Quadro 6 divide a produção científica dos artigos em quadriênios (períodos de 4
anos), especifica a quantidade de artigos que apresentou o resumo e informou a sua origem. Isso
permitiu um detalhamento da produção.
Quadro 6
-
Distribuição numérica dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos
brasileiros, por quadriênios; a quantidade de ar
tigos que apresentou o resumo e informou a sua origem.
(1981
1984)
Número de artigos: 10
Apresentaram o resumo: 04
Informaram a origem do texto: (se
resultou de dissertação de mestrado;
tese de doutorado; pesquisa de campo
financia
da ou não, ou ainda, de
comunicação apresentada em
evento): 05
(1985
1988)
Número de artigos: 08
Apresentaram o resumo: 04
Informaram a origem do texto: (se
resultou de dissertação de mestrado;
tes
e de doutorado; pesquisa de
campo financiada ou não, ou ainda,
de comunicação apresentada em
evento): 04
(1989
-
1992)
Número de artigos: 06
Apresentaram o resumo: 05
Informaram a origem do texto: (se
resultou de dissertação de mestrado;
tese de doutorado
; pesquisa de
campo financiada ou não, ou ainda,
de comunicação apresentada em
evento): 05
(1993
-
1996)
Número de artigos: 09
Apresentaram o resumo: 05
Informaram a origem do texto: (se
resultou de dissertação de mestrado;
tese de doutorado; pesquisa de
campo financiada ou não, ou ainda,
de comunicação apresentada em
evento): 01
(1997
-
2000)
Número de artigos: 28
Apresentaram o resumo: 22
Informaram a origem do texto: (se
resultou d
e dissertação de mestrado;
tese de doutorado; pesquisa de campo
financiada ou não, ou ainda, de
comunicação apresentada em
evento):11
(2001
-
2004)
Número de artigos: 36
Apresentaram o resumo: 32
Informaram a origem do texto: (se
resultou de dissertação d
e mestrado;
tese de doutorado; pesquisa de campo
financiada ou não, ou ainda, de
comunicação apresentada em
evento):23
47
As informações contidas no quadro 6 mostram que os quadriênios (1985-1988); (1989-
1992); (1993-1996) apresentaram respectivamente, a publicação de 08; 06 e 09 artigos
cada.
Juntos somam no conjunto dos artigos 23. Ou, 24%. Considerando que os quadriênios cobrem
juntos 12 anos, ou metade do total de anos que a pesquisa contempla exatamente, o
boom
da
produção dos artigos sobre trabalho infantil encontra-se nos dois últimos quadriênios (1997-
2000); (2001-2004) que agregam juntos o número de 64 publicações, ou então, 66% do total.
48
Quadro 7
Distribuição numérica dos artigos sobre Trabalho Infantil, em periódicos científicos brasileiros, por quadriênios e subtemas.
Quadriênios
Subtemas
1981
-
1984
1985
-
1988
1989
-
1992
1993
-
1996
1997
-
2000
2001
-
2004
TOTAL
Trabalho infantil no campo
03
01
- -
04
04
12
Escolarização e trabalho infantil
04
03
03
02
06
04
22
Trabalho infantil na cidade
03
03
01
04
01
04
16
Trabalho inf
antil e legislação
trabalhista
-
01
- -
02
-
03
Trabalho infantil na perspectiva
histórica
- -
03
04
02
03
12
Trabalho infantil e ONG’s;
Organizações Governamentais;
Organismos Multilaterais
- - - -
03
02
05
Saúde do trabalhador infantil
- - - -
01
02
03
Trabalho infantil doméstico
- - - -
02
-
02
Trabalho infantil e identidade
- - - -
01
04
05
Trabalho infantil e políticas públicas
- - - -
01
06
07
Trabalho infantil e relações de gênero
- - - - -
04
04
Considerações gerais acerca do
trabalho infant
il
- - - -
05
01
06
TOTAL
10
08
07
10
28
34
97
49
Dentro do estudo do trabalho infantil, nos 24 anos que a pesquisa cobre (1981-
2004),
quais têm sido os subtemas enfatizados? O Quadro 7 reúne a produção por subtemas (um total de
12) e períodos de 4 anos (quadriênios). Este recorte permitiu acompanhar a presença ou não de
certos subtemas no conjunto da literatura.
A classificação em subtemas do conjunto dos artigos sobre o trabalho infantil obedece
a ordem cronológica de sua publicação e, além disso, d
á a idéia da extensão que estes abrangem.
Conforme o Quadro 7, cada artigo foi classificado segundo o seu subtema principal
realizado pelos autores que é indicado no próprio resumo, ou ainda, no texto propriamente dito.
Nesse último, coube ao pesquisador c
ategorizá
-lo quando da ausência do resumo descritivo do
artigo
16
.
Claro está que alguns artigos poderiam ter sido classificados em mais de um subtema
como é o caso de Antuniassi (1981) e de Moreira (1998). Os referidos textos apresentam a
extensão
bem pouco usual - de 47 e 252 páginas respectivamente (ver Anexo B). Não obstante,
optou
-
se por uma só classificação, justamente com o propósito de melhor qualificar o conjunto da
produção já que se trata de artigos que, em geral, dispõem de uma extensão limita
da.
Ao observar o Quadro 7 verificamos o número de subtemas presentes nos 6
quadriênios: para os períodos de 1981
-
1984 (3 subtemas); 1985
-
1988 (4 subtemas); 1989
-
1992 (3
subtemas); 1993
-
1996 (3 subtemas); 1997
-
2000 (11 subtemas) e para o quadriênio 2001
-20
04 (10
subtemas).
Uma primeira análise da produção sobre o trabalho infantil aponta uma tendência
acentuada de crescimento, quando disposta em quadriênios. O aumento da produção científica,
sistemática e fomentada, via investigação, predomina.
O grau de atingimento que os artigos compilados exercem e que contribuem para o
avanço do conhecimento do que se disse sobre o trabalho infantil no Brasil pode ser auferido –
mas não pelo número crescente de publicações relacionadas ao tema, como se quando
dispostos em quadriênios. E o efeito mais alentador desse crescente é a profusão de subtemas
como ocorre a partir da segunda metade da década de 90.
16
22 artigos não apresentaram o resumo: Antuniassi (1981); Luppi (1982); Silva et al. (1983); Spindel (1984);
Paulilo (1985); Manus (1985); Spindel (1985); Gomes (1986); Chaia (1987); Faleiros (1987); Madeira (1995);
Corrêa (1996); Bazílio (1996); De To
ni (1996); Fiod (1996); Veronese; Custódio (1997); Cecílio (1998; 1999);
Oliveira (1999); Cunha (2000); Neves (2001) e Coelho (2003).
50
Conhecer a perenidade de uma questão enquanto objeto de estudo, de sua sutileza, da
sua variância, de suas injunções e de seus ligamentos não traz a diluição de seus desníveis
embora possibilite certa maturidade na discussão travada. Quando se acompanha o
desenvolvimento de uma área de investigação, com um amplo espectro de estudos e seu potencial
argumentati
vo pode
-
se avaliar como estes fornecem atributos para refinar a análise sociológica.
3.2 Subtemas em relevo
Depois de buscadas várias formas de classificação optou-se pelos subtemas que estão
expostos no Quadro 7. Neles estão preservadas, sempre que possível, a terminologia que cada
artigo trouxe. Entretanto, algumas observações se fazem necessárias. Categorizar um artigo sob
determinado subtema não significa que o mesmo não pudesse ter sido incluído num outro
subtema. Em segundo, foram incluídos os artigos em subtemas que nos pareciam estar de acordo
com o propósito do estudo e não necessariamente o efeito que ele pudesse causar.
Desse modo, por exemplo, classificou-se de “Considerações gerais acerca do trabalho
infantil” artigos que tratam de aspectos gerais do trabalho infantil. Porém, isso não significa que
eles não discorram também sobre “Trabalho infantil no campo” ou “Trabalho infantil na cidade”.
A classificação dos artigos contemplou satisfatoriamente o perfil do conjunto dos artigos lid
os.
Na seqüência, toda a produção dos artigos percebida nos periódicos científicos
brasileiros aparece classificada dentro de cada subtema: um total de 12. Optamos por colocar o
sobrenome e o ano da publicação do artigo já que todos os artigos estão dispostos com a
referência completa no Anexo B ao final da dissertação. Abordaram-se os principais aspectos no
estudo dos artigos conservando as expressões utilizadas pelos autores que aparecem entre aspas.
3.2.1 Trabalho Infantil no campo
Nesse subtema foram categorizados 12 artigos: Antuniassi (1981); Luppi (1982);
Ribeiro (1983); Paulilo (1985); Cecílio (1998;1999); Moreira et al. (1998); Moreira (1999);
Cadoná (2001); Hillesheim (2001); Neves (2001); Campos; Francischini (2003). Foram
identificados os seguintes termos: ‘trabalho do menor no campo’; ‘na agricultura’; ‘na zona
rural’.
51
O trabalho de Antuniassi (1981) é desenvolvido em 47 páginas e baseia-se na sua tese
de doutorado “O trabalhador mirim na agricultura paulista” defendida na Universidade de S
ão
Paulo. Não é informado o ano de defesa.
A autora estuda o trabalho infanto-juvenil (menores de 15 anos de idade) e busca
compreender “as condições de sua existência e o significado social de sua participação numa
agricultura em processo de tecnificação e de transformação das relações de trabalho” (p. 75). O
objeto é agricultura paulista nos meses agrícolas de março de 1970/71 e abril 1974/75 com dados
sobre a mão-
de
-obra volante. Como informa a autora, os dados analisados correspondentes as
oito culturas mais importantes do Estado de São Paulo: algodão, amendoim, arroz, café, cana-
de
-
açúcar, feijão, milho e soja
foram cedidos pelo Instituto de Economia Agrícola da Subsecretaria
da Agricultura do Estado de São Paulo.
Afirma que os estudos sobre o trabalho infanto-juvenil em geral e particularmente no
meio rural não têm motivado a preocupação dos cientistas sociais no Brasil. Apóia sua afirmação
no número de trabalhos publicados a esse respeito. Nesse sentido cita o estudo de Clóvis Caldeira
“Menores no meio rural” (1960) que realiza uma pesquisa em 132 municípios brasileiros, onde
descreve as atividades de trabalho das crianças e jovens no meio rural que o incorporados à
força de trabalho seja na unidade familiar, sob diversos regimes de posse de terra (proprietários,
arrendatários, parceiros, colonos) seja no trabalho assalariado.
Quanto ao fato de poucos estudos se voltarem ao trabalho assalariado infantil afirma
seguindo Caldeira que este se em uma quantidade muito inferior. Em 1975, o trabalhado
r
infanto
-juvenil representava 18% do total da força de trabalho residente nas propriedades rurais
do Estado de São Paulo com maior incidência entre os trabalhadores por unidade familiar que
entre os assalariados. Verifica que a participação infanto-
juveni
l cresce de maneira mais
perceptível que a adulta.
Onde predominam culturas como a soja, a laranja, a cana-
de
-açúcar, hortifrutigranjeiros
a participação da mão-
de
-obra mirim é maior que nas demais regiões. E, nas regiões pecuaristas
que também cultivam a
lgodão e café, os trabalhadores mirins não assalariados (arrendatários) têm
maior participação. Nas regiões de maior incidência de pequenas propriedades existe grande
participação da mão-
de
-obra familiar de proprietários. O trabalhador volante mirim tem ma
ior
participação relativa nas regiões de maior área cultivada e agricultura mais tecnificada que
52
cultivam produtos tais como: cana-
de
-açúcar, soja e laranja. Nessas regiões “a polarização das
relações capital/trabalho assalariado aparece de forma mais efet
iva” (p. 92).
No que se refere aos produtos cultivados, a autora (p. 98) diz que a participação relativa
do trabalhador é maior onde as categorias de trabalhadores familiares proprietários, arrendatários,
parceiros e colonos é maior no total da força de
trabalho, como acontece no cultivo do feijão e no
algodão.
O fato do cultivo da cana-
de
-açúcar apresentar grande quantidade de trabalhadores
volantes mirins, cerca de 41%, significa que a modernização da agricultura paulista “não está
liberando de forma significativa a mão-
de
-obra infantil” (p. 103), ainda que, como ressalta
Antuniassi, o fato desta modernização não se realizar de maneira homogênea, seja pelos diversos
produtos, seja pelas fases do processo produtivo. Pois as tarefas de plantio e colheita por serem
realizadas em grande medida de forma manual e nesse particular, a mão-
de
-obra temporária,
entre os quais, os trabalhadores infanto-
juvenis
requerem esse trabalhador. Para a autora, isso
reflete os níveis de exploração a que são submetidos os trabalhadores” (p. 106). Constata que a
liberação dos trabalhadores mirins da família de proprietários corresponde a uma maior utilização
destes como força de trabalho assalariada temporária.
O estudo de Ribeiro (1983) foi realizado na Zona da Mata Pernambucana com
trabalhadores infantis da agricultura canavieira. Mostra que o assalariamento permanente e
temporário
predomina como forma de organização do trabalho e de remuneração dos
trabalhadores (p. 48). A autora afirma que o uso da “fração infantil da força de trabalho”
evidencia um processo de expropriação e submissão ao capital.
O trabalho de Paulilo (1985) traz a idéia de “trabalho leve” plantar, adubar, arrancar -
realizado por mulheres e crianças, portanto, mais barato ao empregador.
Com uma lacuna de 13 anos tem-se o artigo de Cecílio (1998) que aborda o trabalho de
crianças e adolescentes no “setor rural” do norte e nordeste do Estado do Paraná, na monocultura
de exportação cana-
de
-açúcar e algodão -. Devido às longas jornadas diárias um
“impedimento da permanência da criança na escola” (p. 127).
O trabalho de Cadoná (2001) foi fruto de uma intervenção realizada junto a 253 crianças
e adolescentes inseridos na produção agrícola do fumo nos municípios gaúchos de Santa Cruz do
Sul, Venâncio Aires e Candelária. O autor mostra que o trabalho assume um valor educativo, pois
“trabalhando se aprende alguma coisa e assim se prepara para o futuro” (p. 55, depoimento
53
colhido não especificado). Hillesheim (2001) percebe o trabalho como “uma prática social” de
grupos (p. 113).
Moreira (1999) aborda a presença do trabalho infantil nas olarias da região de Bragança
Paulista (interior de São Paulo) que abastece de tijolos a cidade de São Paulo, o grande ABC e a
região de Jundiaí e Campinas. A maior parte da força de trabalho nas olarias é constituída por
mulheres, adolescentes e crianças. As olarias surgiram no município no final do século XIX com
os imigrantes italianos. Com o processo de urbanização, o setor oleiro praticamente se tornou
autônomo, porém ainda guarda, em Bragança Paulista, vínculos com a economia agrária, seja
pelas condições de uso da terra, seja pela atividade mista das trabalhadoras e dos trabalhadores
envolvidos na atividade.
Na página 107 o autor informa que em Bragança Paulista segundo levantamento de
1997 existiam cerca de 250 olarias incluindo as clandestinas e as registradas agregando 2 mil
pessoas na produção direta de tijolos no município.
A organização do processo produtivo é feita de modo que o homem executa as tarefa
s
tidas como “pesadas” (retirar o barro do barreiro, jogá-
lo na prensa para ser amassado, enfornar e
desenfornar o tijolo, queimá-
lo e carregá
-
lo no carrinho). As mulheres, adolescentes e as crianças
são responsáveis pela execução de tarefas que requerem menor esforço físico (cortar o tijolo,
levantá
-lo na prensa, colocá-lo no carrinho e transportá-lo até as pilhas para secagem). Mas,
durante as visitas de campo, Moreira constatou que as funções se misturavam o que significou
que mulheres, adolescentes e crianças também realizavam tarefas que demandavam maior
esforço físico.
O objetivo do estudo foi “analisar a situação específica da infância na olaria, integrando
cultura, visão de mundo, linguagem e imaginários próprios das crianças neste estrato social
mar
ginalizado”, onde o trabalho das crianças principalmente é considerado “invisível”, uma
“ajuda” ao adulto (p. 104). Além disso, trata-se de um universo que se situa os mecanis
54
da família, adotada graças às péssimas condições de remuneração do trabalho
vigentes (MOREIRA, 1999, p. 109).
Foram entrevistadas 69 crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 17 anos e colhidas
informações, tais como: idade em que começaram a trabalhar; se houve interrupção ou não dos
estudos; se sim, quantas vezes; desejo de estudar se sim, se não; por quê; atividades de lazer;
sonhos futuros; profissão.
Ao mesmo tempo em que as entrevistas mostraram que essas crianças e adolescentes
acreditavam no valor do trabalho, como disse Nilmar (9 anos, série, p. 116) “Eu gosto, porque
daí eu vou ganhando dinheiro, vou juntando e vou aprendendo as coisas da olaria que a gente faz,
carregá caminhão” elas denunciaram o desgaste físico que ele proporcionava: “Eu canso quando
tem um carrinho assim, eu encho, dou umas dez viagens, eu não agüento mais” (Onésio, 12
anos, p. 117).
3.2.2 Escolarização e Trabalho Infantil
Este subtema arrolou 22 artigos: Carvalho (1981); Fukui; Sampaio; Brioschi (1981);
Demartini; Lang (1983); Spindel (1984); Fukui; Sampaio; Brioschi (1985); Gomes (1986);
Chakur (1988); Whitaker (1989/1990); Louro (1990); Dauster (1992); Madeira (1993); Bazílio
(1996); Ferraro (1997); Fischer (1998); Goulart (1999); Schueler (1999); Cunha (2000); Schueler
(2000); Oliveira et al (2001); Oliveira e
t al (2002); Myers (2003); Mattiuzzo (2004).
A pesquisa de Carvalho (1981, p. 49) constata:
O trabalho infantil é necessário para a reprodução social da família e essa
necessidade não pode ser satisfeita com soluções acadêmicas ou burocráticas.
Apesar da quase impossibilidade de conciliar as duas atividades – trabalho
freqüência à escola os meninos persistem, ignorando os sucessivos fracassos
escolares, embalados pela crença de que a escolarização poderá melhorar suas
condições profissionais e, portanto
de sobrevivência.
Esta fora a conclusão a que chegou a autora ao estudar uma escola estadual de grau
de Ribeirão Preto (SP). A coleta de dados realizou-se de setembro de 1978 a junho de 1979. Os
alunos eram integrantes do curso noturno. Foram utilizados no estudo observação direta, 167
questionários e 50 entrevistas pessoais com alunos cuja idade variava de 12 a 20 anos.
55
Nas entrevistas ou nos “desabafos” a “tônica geral era aceitar a obrigação de assistir as
aulas” (p. 50). E, para “evitar humilhações, preferem dizer que gostam do período noturno, dos
professores, das aulas, e que até conseguem auxiliar os mais necessitados” (p. 50), embora em
outras falas não se esconda a questão do cansaço. “Marisa, operária de 14 anos, lamenta-se: às
vezes falto às aulas pelo cansaço, por esforçar as vistas e outras partes do corpo, a noite torna-
se
muito difícil” (p. 51).
[...] à medida que se avança na interpretação do material, comparando com as
entrevistas, as conversas, as visitas em casa, vai se consolidando a certeza de
que a nossa escola de hoje é uma escola disciplinadora. Parece que uma
assimilação do medo. O aluno aprende a ser dócil, a obedecer sempre
(CARVALHO, 1981, p. 52).
Quanto ao componente curricular expressa: “E entende-se que a escola não o f
aça
[questionar o estatuto do trabalhador], particularmente no quadro das relações capitalistas de
produção, pois se o fizer, estará utilizando o espaço pedagógico para instaurar o questionamento”
(p. 55). Ou seja, é um processo de mão única, onde o aluno “domesticado pela escola” não a
numa relação próxima com problemas do seu cotidiano.
O estudo de Fukui; Sampaio; Brioschi (1981) inclui a faixa etária de 10 a 14 anos. A
Lei 5692/71, Lei de Reforma do Ensino de e graus, estende o ensino obrigatório e gratuito
de 4 para 8 anos, estipulando a obrigatoriedade da freqüência à escola para a população de 7 a 14
anos. Em 1975, o Brasil declarava ter 2,9 milhões de crianças economicamente ativas,
correspondente a 7% da população menor de 15 anos” (p. 35).
As autoras informam que para a população de 10 a 14 anos no Brasil os índices de
analfabetismo oscilaram. No período de 1970 a 1976 caiu de 29% para 18%; ainda assim, essa
tendência não se manteve, que em 1978 houve um aumento da porcentagem de analfab
etos
ficando em torno de 20%. No Estado de São Paulo, esses índices de analfabetismo diferem
sensivelmente considerando a mesma faixa etária: 5% em 1970 e 3% em 1976. E, a porcentagem
de analfabetos era de 4%.
As autoras dividem esse segmento da população
10 a 14 anos
-
em categorias:
[...] o escolar, aquele cuja família pode investir em sua escolaridade; o
escolar/trabalhador que com fruto de seu trabalho investe na própria
escolaridade
em geral em cursos supletivos ou noturnos, considerados como
56
ens
ino de segunda categoria - e o trabalhador infantil, que não freqüenta a
escola e que desempenha atividades voltadas para própria sobrevivência
(FUKUI; SAMPAIO; BRIOSCHI, 1981, p. 39).
Afirmam que o “trabalho infantil é apontado como uma necessidade em se tratando de
camadas desprivilegiadas da população, notadamente como forma de prevenção da delinqüência”
(p. 51).
Na argumentação do artigo é ressaltada a escassez de estudos acerca do trabalho infantil
“do desconhecimento de sua extensão” quanto a sua utilização e exploração, embora a sua
efetividade no meio social seja latente assim como a ineficiência da organização escolar.
Demartini; Lang (1983) discutem a partir de pesquisa empírica realizada em municípios
do Estado de São Paulo o processo de preparação para o trabalho dentro da produção agrícola
onde foram entrevistados 149 proprietários, 24 arrendatários, 126 parceiros, 58 trabalhadores
permanentes e 1/F0 2048 Tf0.09765 0 0 -099765 6397 5310 Tm(s)Tj0.0976q9765 1591 5655 Tm(r)55 T3(m)Tj0.09765 0 0 -0.09765 1591 5655 T32(r)Tj0.09765 0 0 -0.09765 1812 5655 T3(s)Tj0.09765 0 0 -0.09765 3764 2550 Tm46mu
t
1rr
s
57
O estudo de Spindel (1984) baseia-se nos dados estatísticos fornecidos pela Pesquisa
Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), na cada de 1970. Spindel, 1984, p. 102-
103
conclui:
O trabalho na vida no menor de idade tem constantemente sido referido como
um obstáculo a uma trajetória educacional mais prolongada. Contudo, as
informações estatísticas da última década [1970] teimam em mostrar por um
lado que o nível de escolaridade dos menores que trabalham aumenta e que
a
proporção dos que trabalham e estudam se eleva no período. O que podemos
constatar é que o emprego remunerado para uma parcela dos trabalhadores
menores, ao invés de ser um obstáculo à continuidade da sua vida escolar é a
condição de sua realização.
O
trabalho viabiliza o ingresso, o retorno ou a permanência da criança e do adolescente
no sistema escolar. É a única garantia de sua escolarização. Escola e trabalho não são
necessariamente excludentes e irreconciliáveis.
Whitaker (1989/1990) realizou uma pesquisa na região dos canaviais à volta de
Araraquara (interior do Estado de São Paulo), espaço que denomina “as franjas do rural-
urbano”,
onde predominava o trabalho volante.
E sobre a instituição escolar revela: “... a escola desempenha aqui dupla função: por um
lado ela é a esperança, embora remota, de os pais prepararem um futuro melhor para seus filhos;
por outro lado, ela é apenas a forma de manter as crianças ocupadas enquanto aguardam a entrada
no mundo do trabalho” (p. 110), por volta dos 12, 13, 14 anos.
A contribuição de Louro (1990) amplia a discussão ao mostrar que a educação nas
colônias italianas no Rio Grande do Sul preparava desde muito cedo meninos e meninas para
realizarem tarefas que deveriam exercer quando adultos, entre elas, e muito fortemente, “o
trabalho na roça”. “Através da educação afirma-se que o esforço (físico e espiritual) era o móvel
da vida; nada se alcança sem esforço” (p. 40).
O enfoque de Dauster (1992) envolve “entrevistas com um número significativo de
professoras, cria
nças a partir de 7 anos de idade e jovens”
não sendo informado o número exato
que freqüentavam a escola pública em uma favela do Rio de Janeiro. A autora também, se
utiliza da observação participante sem abrir mão das “especulações teóricas” buscando “
conhecer
‘de dentro’, os comportamentos, atitudes, valores e representações que configuram o modo de
vida destes segmentos. Conseqüentemente, situa o objetivo deste artigo em um campo de
58
interesse que abrange tanto a Antropologia quanto a Educação” (p. 32). E acrescenta: “... a
inserção no trabalho deve não apenas às condições econômicas dessas famílias, mas a razões
ainda não suficientemente elucidadas” (p. 33).
Desenha
-se uma perspectiva que difere de uma abordagem puramente econômica no
entendimento do trabalho infantil ao levar em conta que a inserção da criança no universo do
trabalho também é “uma estratégia do sistema de socialização das camadas populares”, que não
se contrasta por completo à escola, pelo contrário, deve complementá-la. Escola e trab
alho
assumem “usos simbólicos” e sendo assim, não necessariamente se excluem, como mostrou
Spindel (1984), embora a escola não atenda aos interesses e necessidades reais das crianças.
A obrigatoriedade do trabalho abrange outros significados além da ins
tância
econômica. Isto porque o trabalho infantil
que sem dúvida representa uma das
formas de dominação e exploração social no contexto de nossa sociedade
pode ser reinterpretado como escolha e decisão e é visto, até certo ponto, como
natural enquanto
orientação de pais e mães (Dauster, 1992, p. 33).
Pode-se afirmar que Dauster ao enfocar crianças e adolescentes de setores populares
urbanos que trabalham, a partir do recorte antropológico, supera as posturas anteriores,
enfatizando o papel e o sentido do trabalho na apropriação que sofre pelas crianças e
adolescentes.
As pesquisas de Madeira (1993) constatam que, na década de 1980, a “conduta teórico-
explicativa” que ganhou prestígio relacionou o fracasso escolar à pobreza, “sobretudo à
decorrente da imperiosa necessidade do trabalho infanto-juvenil como complemento da renda
familiar, para garantir a sobrevivência da mesma” o que acabou transformando-se quase que
num truísmo, uma espécie de verdade que não precisava de verificação” (p. 71 e 78).
É
o que ocorre em Ferraro (1997) que apóia seu estudo na Pesquisa Nacional por
Amostragem de Domicílios (PNAD 1995) do Estado do Rio Grande do Sul que registrou
43.336 crianças de 5 a 9 anos ocupadas (4,7% do total de pessoas nessa faixa etária), e destes,
38.042 (que representava 88% do total) trabalhando em atividades agrícolas. O ingresso precoce
da criança no mercado de trabalho incidia mais naquelas crianças que viviam em condição de
pobreza e os baixos índices de escolarização situavam na faixa etária entre 5 a 17 anos no Estado
resultavam “certamente em grande medida de sua inserção precoce e ao arrepio da lei no mercado
de trabalho” (p. 218).
59
Em Madeira (1993), o sistema institucional escolar ficou isentado de sua parcela de
geração, responsabilidade e solução do problema. A fala e o depoimento de professores
corroboram essa idéia, pois associam evasão ao ingresso precoce no mundo do trabalho motivado
pela atitude dos pais, ou extrema necessidade econômica e afirmam ser escola e trabalho como
ativida
des excludentes (p. 78). No enfoque de Oliveira et al. (2002) a relação trabalho-escola é
permeada por uma dimensão de valor
“imperativo moral”
-
e por uma dimensão de necessidade
econômica
“imperativo social” (p. 191).
Madeira ainda faz uma importante distinção entre trabalho infantil (até 14 anos) e
trabalho do adolescente (15 a 17 anos). É muito comum agregar as duas faixas etárias numa
(10 a 17 anos) sob a denominação de “menores”. Isso se torna problemático por duas razões: a
taxa de ingresso e participação no mercado de trabalho dá-se substancialmente a partir dos 14
anos e, além disso, o sentido e as conseqüências de trabalhar para uma criança de 10 anos são
diferentes do que para um adolescente de 16 anos, por exemplo, o que de resto, acaba po
r
superestimar o trabalho propriamente infantil (p. 79). Essa preocupação não teve Bazílio (1996).
O autor usa “trabalho da criança”, “trabalho do adolescente”, trabalho do jovem”; sem discerni-
los (ver especialmente p. 204).
Voltando à Madeira (1993), o trabalho não assume um caráter de “opressão e sim como
prática cotidiana coletiva dos pobres(p. 80) e que deve ser visto e reinterpretado na lógica dos
três atores sociais
pais, filhos e educadores.
o estudo de Schueler (2000) versa sobre a criação
do Asylo Agrícola de Santa Isabel,
criado pela Associação Protetora da Infância Desamparada, na Província do Rio de Janeiro, em
1886. O objetivo era promover a instrução primária e a educação agrícola destinadas às crianças
pobres do Império, além de manter a ordem pública e a “limpeza” das ruas. As crianças que para
eram encaminhadas tinham idades que variavam de 10 a 16 anos, sendo maior o número na
faixa etária dos 12 aos 14. A permanência no Asylo se estendia até os 21 anos de onde poderiam
ser encaminhados para os cursos superiores de agricultura. A autora não informa que fim teve a
referida instituição.
Em Myers (2003) o debate da relação entre trabalho infantil e educação enquanto
“preocupação internacional” ganha novos tons. O autor nota que o público em geral e os
formuladores de políticas educacionais reforçam a “premissa tradicional” de que trabalho infantil
e freqüência à escola são incompatíveis. A partir daí o autor passa a se debruçar sobre o caso da
60
Índia que apresenta em seu sistema público de ensino um dos mais baixos índices de
alfabetização, de freqüência à escola e de término do ensino fundamental.
Para Myers há inúmeros tipos de trabalho que estimulam habilidades e iniciativas
valiosas, embora outros “reduzam o potencial humano”. Em u
m dos itens de seu texto: “Conciliar
trabalho com educação é uma boa idéia atualmente?” a proposta de aliar trabalho infantil e
freqüência à escola deve preencher três critérios práticos. Primeiro que responda a uma “legítima
demanda social. As partes interessadas realmente desejam isso?Em segundo, teria que fazer
algum sentido educacional seja trazendo a criança para a escola ou outro local de aprendizado, ou
ainda, aprimorando seu aprendizado durante o tempo que lá estiver. E, por último, a proposta tem
que ser viável, ou seja, capaz de ser implementada (p. 13).
Para combinar essas circunstâncias Myers examina as diferentes políticas e programas
que aliam trabalho infantil e estudo. São 4 opções. A primeira busca eliminar os entraves que
impedem as crianças que trabalham de receber educação, de modo que essas duas atividades
estejam acomodadas em suas vidas. Cita o Programa Escuela Nueva da Colômbia que
originalmente atendia crianças das regiões produtoras de café. Nessas comunidades rurais as
crianças pa
rticipavam da elaboração do calendário escolar; é o “aprendizado com trabalho”.
A segunda, aprendizado a partir do trabalho” busca conduzir a criança a refletir sobre
sua experiência de trabalho e com ela aprender a partir de situações relacionadas ao tra
balho.
Menciona o Projeto AXÉ, realizado em Salvador (BA). Nele, os educadores de rua reúnem as
crianças e os adolescentes em pequenos grupos, em seu ambiente de trabalho para debaterem
problemas próximos e imediatos.
A terceira proposta de conciliar trabalho infantil e estudo diz respeito ao ensino
profissionalizante, “aprendizado para o trabalho”. Nessa, as crianças aprendem habilidades de
trabalho antes de assumirem um emprego. Pressupõe crianças “minimamente alfabetizadas”, por
meio de treinamento profissional. A idéia básica dessa proposta “é capacitar as crianças que
trabalham a se tornarem mais ativas e a defenderem seus próprios direitos, saúde e segurança” (p.
27).
A quarta e última proposta versa sobre o “aprendizado por meio do trabalho” que pode
se dar em diversas modalidades, formais e informais, individualizadas e coletivas. Essa forma de
aprendizado prático que as crianças aprendem “com trabalho que gera dinheiro”, habilidades de
61
negócio está mais concentrada nos países ricos, “em que a maioria das crianças isso como
recreação” (p. 31).
Após sustentar a viabilidade de tais políticas que conciliam trabalho infantil e estudo, o
autor questiona:
[...] como um modelo de política que enfatiza a separação das duas coisas
conseguiu perdurar por tanto tempo nos países em desenvolvimento? [...]
Existem mais do que razões suficientes para abandonar políticas baseadas na
hipótese não-confirmada de que a educação e a maioria dos trabalhos sejam
incompatíveis entre si (MYERS, 2003, p. 34
-
35).
3.2
.3 Trabalho Infantil na cidade
Foram reunidos neste 15 artigos: Gouveia (1983); Silva et al. (1983); Woortmann
(1984); Spindel (1985); Chaia (1987); Faleiros (1987); De Toni (1996); Corrêa (1996); Marques
(1996; 1998); Gomes (1998); Marques (2001); Alves et al. (2002); Facchini et al.
(2003);
Nogueira (2004). Reunimos também artigos que utilizaram a expressão ‘trabalho nas regiões
metropolitanas’.
Destaca
-se primeiramente a pesquisa de Gouveia (1983). Na página 56 a autora diz que
o trabalho do menor embora “passível de subremuneração e exploração” não mereceu a atenção
dos pesquisadores. Para o estudo foram “entrevistados 71 menores do sexo masculino e 25 do
feminino, entre os 9 e os 17 anos de idade, que se encontravam em variados tipos de trabalho
de
vendedores de rua e empregadas domésticas, funcionárias de escritório e aprendizes do SENAI
colocados em fábrica” (p. 59). Entre o total de entrevistados, 20 eram menores de 14 anos.
Revelou que a proporção de menores trabalhadores aumenta à medida que baixa o
rendimento da família, não obstante, recebam menos que os adultos. Pois: “Pressionado pela
necessidade de ganhar dinheiro, o menor pode aceitar um emprego sem registro e, curiosamente,
até mesmo ver certa vantagem nessa situação quando é levado, como se constatou, a acreditar que
o empregador dessa maneira poderá pagar-lhe mais” (p. 59). Reforçam a idéia de que a extensão
da escolaridade é importante para se obter um bom emprego.
62
Na amostra, 66% dos menores do sexo masculino começaram a trabalhar antes dos 14
anos. Quanto às meninas, “o seu dever é ajudar nos serviços domésticos e cuidar dos irmãos
menores” (p. 61).
Por fim, “acredita-se, em geral, que ocupando-se no trabalho em vez de vagar pelas
ruas, cujos perigos são amplamente divulgados pela televi
são, as crianças e os adolescentes ficam
mais protegidos” (p. 61). O trabalho adquire visibilidade positiva, e nos entrevistados com
exceção de seis deles um sentido de auto-realização, ou, como diz Gouveia (p. 61), “é a
necessidade transfigurada em vi
rtude”.
Em Silva et al. (1983) o artigo trata de um “estudo exploratório” realizado em quatro
feiras de São Paulo. Em cada uma delas foram entrevistados cinco elementos, totalizando vinte
carregadores do sexo masculino na faixa etária de 10 a 20 anos. O questionário continha 113
perguntas. Após oferecer um perfil detalhado acerca dos menores: tempo de trabalho na feira e
em outras ocupações, escolaridade, renda familiar, tipo de habitação os autores concluíram que:
[...] a equipe observou que os entrevistados sentiram-se prestigiados e
valorizados por serem alvo de atenção do entrevistador. Sente-se a preocupação
do menor carregador quanto à criação e preservação de sua imagem não
junto à clientela a quem serve como também junto à comunidade em geral, no
sentido de ser visto como um trabalhador íntegro e honesto, diferenciado
daqueles que apresentam comportamento tido como pernicioso à sociedade
(SILVA, et al., 1983, p. 101).
No estudo de Spindel (1985) foram entrevistados 800 menores (considerados as
pessoas
na faixa etária de mais de 10 e menos de 18 anos) em 8 regiões metropolitanas do Sul e Sudeste
no Brasil, no primeiro semestre de 1982. Ressalta a vigência na sociedade de que “o menor pobre
sem escola e sem trabalho é um perigo para a sociedade”
(p. 27).
A autora afirma que “a incapacidade organizacional e o seu baixo poder de
reivindicação são traços, no comportamento do menor, bastante valorizados pelos empresários”
(p. 18). Essa observação também é realizada por Faleiros (1987, p. 8) que ao estudar os
trabalhadores com idade entre 10 e 14 anos aponta a ausência de organização, através de
sindicatos, dessa fração da força-
de
-trabalho que acaba contribuindo para uma super-
exploração
dessa parcela pelo capital.
A pesquisa de Chaia (1987) abord
a o mercado de trabalho da Grande São Paulo, através
de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), da Fundação SEADE e DIEESE.
63
Analisa os menores de idade, entre 10 e 17 anos. No primeiro trimestre de 1987, na Grande São
Paulo, encontravam
-
se trabalh
ando nos mais diversos setores da economia, cerca de 615 menores
de 10 a 17 anos (p. 9).
Depois de detalhar o perfil desse segmento social diz:
Parcelas de crianças e adolescentes da Grande São Paulo vivem o fenômeno do
desemprego, que deve colidir com uma dupla necessidade: da família, que
precisa aumentar a renda, e do próprio sujeito, que precisa continuar o processo
de formação educacional e profissional. Premidos por estes fatores, a criança e
o adolescente sofrem a violência que tem origem em uma situação sócio-
econômica mais ampla (CHAIA, 1987, p. 16).
O estudo de Marques (1996) recolhe e analisa depoimentos de um grupo de “crianças e
adolescentes marginalizados” composto por 11 meninos e 5 meninas com idades variando de 7 a
12 anos. As entrevistas mostraram a forma como vivem uma realidade que exige maneiras de
sobrevivência para si e para suas famílias. Na fala de muitos meninos e meninas o autor não
informa o número o “trabalho apareceu como um desvalor” que não oferece as condições
mínimas p
ara se viver como cidadão (p. 153).
Ao analisar os depoimentos, o autor argumenta que essa situação é gerada pela
“necessidade de inserção precoce no mundo do trabalho, e em segundo, pelo compromisso dos
laços familiares”. E conclui: “... é imprescindível mudar as condições sócio-econômicas, para se
garantir a dignidade dessa população” (p. 157).
De Toni (1996) aborda a região metropolitana de Porto Alegre e a inserção de crianças e
adolescentes
na faixa etária de 10 a 17 anos, no período de abril de 1992 à março de 1995 - no
mercado de trabalho. Utiliza
-
se de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
e da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).
Quanto ao grau de escolaridade, mais de 60% desse segmento populacional tem no
máximo, o grau incompleto. Ao desagregar o grupo em dois segmentos, constata-se que a taxa
de participação de crianças entre 10 e 14 anos é de 6,3% e adolescentes de 15 a 17 anos é de
46,1% (p. 289). Para esse mesmo recorte, o desemprego atinge 37,2% e 34,8% res
pectivamente.
Ao final, a autora enfatiza a necessidade de formular e implementar programas
municipais de apoio financeiro às famílias de baixa renda com crianças e adolescentes mantendo
o compromisso de colocá-los na escola, ao contrário de projetos de alcance nacional que
enfrentam desperdício e desvio de recursos e não atinge seu público alvo.
64
O estudo de Gomes (1998) é fruto de mais de uma década de pesquisas sobre trabalho e
socialização entre crianças e jovens de camadas populares urbanas da região metropolitana de
São Paulo. Visualiza “o trabalho enquanto instrumento familiar de socialização dos mais jovens,
sobretudo no nível da pobreza” (p. 50) e dentro desse quadro a existência do “ideal do trabalho
enquanto um dos instrumentos essenciais de socialização” (p. 59). Cita as investigações de
Antonio Candido “Os parceiros do Rio Bonito” (1964) e as de José de Souza Martins “O
massacre dos inocentes” (1991) para mostrar que ao se enfocar os grupos rurais, “a centralidade
do trabalho é consensual” e que o trabalho constitui um valor básico desse segmento social.
Afirma que a realização de tarefas domésticas não significa necessariamente um impedimento à
escolaridade regular, tampouco ao entretenimento das crianças (p. 52).
O enfoque de Marques (2001), que é um autor da Psicologia Social, deu-se em famílias
que utilizam o trabalho infantil como “estratégia de sobrevivência”. O cenário foi as ruas do
centro da cidade de Belo Horizonte (MG).
O autor sugere que se transponha os aspectos jurídicos, econômicos e demográficos
ampliando a discussão do problema do trabalho infantil para os “níveis simbólicos, culturais e
históricos”.
3.2.4 Trabalho Infantil e legislação trabalhista
Um total de 3 artigos foram condensados neste subtema: Manus (1985); Cruz Neto;
Mo
reira (1998); Franco (1998).
A discussão de Manus (1985) começa pelo trabalho famili
n
65
Na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) o trabalho do menor é abordado nos
artigos 402 a 441. Nesta, a idade mínima para a inserção no mercado de trabalho continua sendo
de 12 anos, o que acaba sendo uma visível incoerência, pois o ensino primário
que era o ensino
de grau abrangia 8 anos, da à série. E, ao admitir que a “criança termine a série aos
14 anos, há uma incongruência em permitir o trabalho a partir dos 12 anos” (p. 12).
Quanto a remuneração do trabalho do menor enfatiza:
É preciso acabar com essa história de que o trabalho do menor aprendiz deve
ser remunerado com valor inferior ao do trabalho do adulto, porque é um
estímulo à fraude. Quer dizer, há, através dessa situação de aprendizagem, uma
super
-
exploração do trabalho
dessas crianças (MANUS, 1985, p. 12).
Ao que parece, para o autor, o fato de remunerar melhor o trabalho do menor poderia
reduzir ou mesmo acabar com a sua exploração.
Seria razoável que a criança estivesse em contato com o trabalho para
experimentar o que é o mercado de trabalho, a questão da hierarquia, da
subordinação, dos deveres e dos direitos que tem o trabalhador, não para jogá
-
lo
no mercado em uma atividade completamente desinteressante e causar um
impacto negativo no que diz respeito à sua forma
ção (p. 14). E continua: [...] há
trabalho de menores de 13, de 12, de 11, de 10, de 8, de 6 anos. Se isto ocorre, é
preciso disciplinar. [...] a formação da criança, do menor, do pobre, implica
obrigatoriamente o trabalho (MANUS, 1985, p. 15).
É flagrante a idéia que o autor transmite de um trabalhador dócil, adaptado ao fatalismo
de sua origem e condição social, onde o exercício do trabalho exige “um determinado
comportamento”.
Com um intervalo de 13 anos em relação a esse estudo, os artigos de Cruz
Neto;
Moreira (1998) e Franco (1998) se apóiam largamente em dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatístico (IBGE) para analisarem a parcela de crianças e adolescentes ocupados no
mercado de trabalho.
66
3.2.5 Trabalho Infantil na perspectiva
histórica
Neste subtema foram dispostos 12 artigos: Moura (1989); Alvim; Lopes (1990); Ostetto
(1990); Lewkowicz (1995); Pesavento (1995); Fiod (1996); Herédia (1996); Gutiérrez;
Lewkowicz (1999); Moura (1999); Botelho (2003); Marques (2003); Nascimento (
2004).
O estudo de Moura (1989) assinala a presença e incorporação do “operariado menor”
nas primeiras indústrias têxteis brasileiras no final do século XIX e constitui juntamente com as
mulheres e meninas maioria naquelas funções em que a atividade manual não exige qualificação
ou onde o próprio emprego da máquina dispensa grande força física e qualificação profissional.
Ressalta que esse segmento sempre tem uma remuneração inferior ao sexo masculino adulto (p.
91). Essa verificação também é feita por Oste
tto (1990, p. 99).
A autora mostra que o trabalho, nessa mesma época, tinha uma conotação de prevenir as
crianças da marginalidade. Além disso, aumentava
-
se o rendimento familiar; os patrões tinham os
gastos com o processo produtivo bastante reduzidos, pois se utilizavam de mão-
de
-obra não
especializada e mais barata; o Estado, que reduzia os encargos com a população carente e via
garantido a formação de trabalhadores hábeis e futuros cidadãos que acabariam por garantir o
fortalecimento da República (p. 10
3).
A contribuição de Lewkowicz (1995) traz a ótica dos industriais têxteis na crítica e luta
contra a aplicação do Código de Menores de 1927, nas fábricas de tecidos de São Paulo. O peso
da mão-
de
-obra infantil no setor têxtil, em 1920, era em torno de 13 mil e, em 1927, 20 mil
aproximadamente. Esse segmento era composto em sua maioria por filhos de imigrantes,
geralmente italianos.
A autora enfatiza que na época da discussão do Código de Menores, os industriais da
tecelagem e fiação que mais se utilizavam da força de trabalho infantil trataram de se mobilizar
contra a implantação da nova lei que estabelecia a jornada máxima de 6 horas para os que
tinham menos de 18 anos publicando artigos na imprensa e colocando-se enquanto baluartes
dos interesses econômicos nacionais, demonstrando também que a lei contrariava os anseios do
operariado (p. 206). Pois, o “trabalho livraria [os filhos de operários] de uma situação de
marginalidade predestinada” (p. 207). Essa idéia de que o trabalho fabril reunia ao mesmo tempo
um conteúdo educativo e disciplinador capaz de impedir a ociosidade que desembocava no
67
caminho do crime e da delinqüência também está presente no artigo de Pesavento (1995, p. 197-
198).
O foco da análise de Gutiérrez; Lewkowicz (1999) é o trabalho infantil no Brasil
Colonial. Segundo os autores, o tema não mereceu a atenção dos pesquisadores, considerando a
sua ampla disseminação em todas as camadas sociais. Nos anos de 1830 e 1840, em Minas
Gerais, o trabalho de tecelagem e fiação estava muito presente e ocupava mulheres,
possivelmente de todas as idades (p. 12
-
13).
Foi analisado, a partir do recenseamento de 1831, que a Comarca de Mariana (Minas
Gerais) contava com 39.086 habitantes, dos quais 8.803 eram crianças de 5 a 14 anos; 1/5 da
população infantil com ocupação declarada. No censo considerado de 1831, havia meninos de 3 e
4 anos de idade com ocupação definida (p. 21). O ofício de confecção que incluía fiandeiras,
costureiras e rendeiras, setor esse quase exclusivamente feminino, arregimentava também
crianças livres, libertas e escravas (p. 14). “A proporção de crianças livres de 5 a 14 anos que
aparecem no recenseamento de 1831 com ofício definido correspondia a 18% do total de crianças
livres, proporção muito similar ao percentual de menores escravos da mesma faixa etária que
estavam ocupados, 21%” (p. 20).
Na agricultura predominava quase por inteiro a mão-
de
-obra masculina. “Nove em cada
dez crianças que ali exerciam funções eram homens” (p. 20). Entre as crianças estudantes, 96%
eram meninos e esta era a principal atividade entre as crianças alforriadas. 40% das crianças
escravas se alocavam na agricultura como lavradores e chacareiros. Também exerciam, assim
como as crianças livres, ofícios de sapateiros, cozinheiros, mineiros, carvoei
ros, entre outros.
E concluem: “Apenas a chegada da industrialização, no século XX, começará a
questionar essa presença maciça de menores nos lugares de trabalho, quando também a educação
formal nas primeiras idades se torna um valor importante e cada vez
mais universal” (p. 27).
3.2.6 Trabalho Infantil e Organizações Não Governamentais (ONGs); Organismos
Multilaterais (OIT, UNICEF)
A pesquisa classificou 5 artigos: Gonçalves (1997); Veronese; Custódio (1997);
Almeida Neto (1998); Rosemberg; Freitas (
2002); Coelho (2003).
68
O estudo de Gonçalves (1997) situa os tipos de trabalhos realizados com os pais nos
afazeres domésticos, nas lojas como aprimoramento e profissionalização e podem “atuar
positivamente” sobre o desenvolvimento de habilidades e sobre o processo de socialização da
criança, desde que não interfiram diretamente na sua vida escolar, no seu repouso e no seu
entretenimento.
Cita a Organização Internacional do Trabalho (OIT) que aponta a existência, em 1995,
de 73 milhões de crianças trabalhadoras no mundo, com idades entre 10 e 14 anos, ou seja, 13%
do total das crianças nessa faixa etária. A Organização afirma que o trabalho infantil não se
encontra tão só presente nos países pobres, mas também nos países desenvolvidos principalmente
entre as minorias étnicas ou em comunidades de imigrantes; que existe a carência estatística da
participação de meninas, uma vez que não abrigam os serviços caseiros por elas realizados.
Em termos de ações concretas a OIT e o UNICEF estabelecem:
Medidas que visem à eliminação do trabalho de crianças em atividades perigosas e de
crianças menores de 12 anos.
Medidas que, sem visar explicitamente ao trabalho infantil, ataquem as suas causas.
Garantia de educação gratuita e obrigatória.
Difusão de experiências que pri
vilegiem o combate ao trabalho infantil (p. 232
-
233).
O artigo de Veronese; Custódio (1997) diz que, embora a Convenção 138, de 1973,
estabeleça a idade mínima não inferior a quinze anos para o trabalho, com o intuito de erradicar o
trabalho infantil, o Br
asil
enquanto signatário da OIT não ratificou essa Convenção com base
numa possível sobretaxa nos produtos que poderia acontecer em virtude da adoção da medida. Se
proibir o trabalho infantil, as empresas teriam que contratar adultos para substituir a
mão
-
de
-
obra
de baixo custo, encarecendo desse modo, os custos de produção que necessariamente refletiriam
nos preços finais daqueles produtos. O Brasil se apóia em argumentos de ordem econômica e
educacional a fim de não ratificar a Convenção 138.
Um
outro enfoque a esse problema é dado por Almeida Neto (1998). Ao situar as
medidas e ações de organismos internacionais como vistas à erradicação do trabalho infantil
aponta a preocupação dos países mais ricos do mundo com os baixos preços dos produtos
exp
ortados dos países pobres que se tornam diretamente competitivos pelo baixo custo de sua
mão
-
de
-
obra. Invoca um argumento de ordem econômica para a questão do trabalho infantil.
69
Em Rosemberg; Freitas (2002) a atenção das autoras volta-se para o grupo etário de 10
a 14 anos. Baseando-se em Myers que analisa a questão do trabalho de crianças e adolescentes
na literatura internacional
as pesquisadoras exprimem:
Não nos parece que a produção especializada brasileira ‘esteja revendo
concepções antigas’ e que nossas políticas e programas para controlar o
trabalho infantil estejam baseadas numa avaliação acurada da situação e
necessidades das crianças a que se destinam. [...] A tematização do trabalho
infantil no Brasil parece-nos, neste momento, mais uma destas iniciativas:
recortar um problema associado à infância pobre, tratá-lo de modo focalizado
através de políticas de emergência que têm mais impacto para uso externo na
mídia nacional e internacional, na imagem do país para fins de acordos
comerciais int
ernacionais
do que na diminuição das desigualdades sociais
(ROSEMBERG; FREITAS, 2002, p. 110).
3.2.7 Saúde do trabalhador infantil
Neste subtema foram enunciados 3 artigos: Minayo-Gomes; Meirelles (1997); Dias et
al. (2002); Nobre (2003).
O estudo de M
inayo
-Gomes; Meirelles (1997) elenca uma série de atividades realizadas
por crianças e adolescentes, em diversos Estados brasileiros e as conseqüências para a sua saúde.
Para os autores, “a pobreza aparece como principal elemento explicativo para o trabalho precoce
de crianças e adolescentes” (p. 157).
Enfatizam ao final a importância de estudos e pesquisas que se voltem para os efeitos
que o trabalho causa na vida de crianças e adolescentes para poder esquadrinhar melhor
estratégias de intervenção. Essa i
déia também está presente em Nobre (2003, p. 970).
A pesquisa de Dias et al. (2002) envolve uma equipe multidisciplinar de professores,
estagiários, alunos da área da Saúde & Trabalho do Departamento de Medicina Preventiva e
Social da Faculdade de Medicin
a da Universidade Federal de Minas Gerais.
A intervenção deu
-
se em um município do Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais
pobres do Estado de Minas Gerais a fim de conhecer: “Quais as principais condições de risco
para a saúde presentes no processo de produção artesanal do carvão vegetal e seus possíveis
efeitos sobre a saúde dos trabalhadores?” (p. 270).
Os dados foram colhidos por meio de entrevistas, observação direta com os
trabalhadores ativos e afastados, individualmente e em grupos, elaboração de “histórias de vida”,
70
com ênfase na história ocupacional, além da escuta de autoridades da admistração municipal,
profissionais da educação e do sistema de saúde do município e, por fim, encarregados da
produção nas empresas.
Os autores descrevem todo o processo de trabalho na produção de carvão vegetal
começando pelo corte e transporte de madeira, abastecimento ou enchimento do forno, a
carbonização, a retirada do carvão do forno até o ensacamento e transporte além da duração de
cada etapa.
O trabalho das crianças começa desde os 4, 5 anos de idade acompanhando os pais às
carvoarias, e lá “brincam” de ajudar a encher o forno. Em torno dos 6, 7 anos, alguns já
conhecem todo o processo, e aos 12, 13 anos assumem a tarefa, sem distinção de sexo. No caso
das
mulheres, elas acumulam as responsabilidades pelas tarefas domésticas, caracterizando uma
dupla jornada de trabalho.
Quanto à saúde do trabalhador infantil constatou-se os riscos potenciais de
traumatismos e picadas de animais peçonhentos, como escorpiões, aranh18 5051 Tm(s)Tj( )Tj0.0975Tm(ç)Tj0.09765 0 0 -0.09765 4618 6086 T65 04.09765 1647 4361 Tm(v)Tj0.077d86 T65 04.09765 1647 4361 Tm -0.09765 2888 3326 Tm(t)Tj0.09765 0 0.097m -0.09765 2888 3326 Tm(t)Tj0.09766 T09765 5806 65741 Tm(a)Tj0.09765 0 0 -0.095 515( )Tj0.0976m409765 0 0 -0.0976 0 0 -0.095 515( )Tj0.0976m4465 0 0.097m -0.09765 2888 3326  7035 6086 Tf0.09765 0 0 -0.09765 6781 5741 T435 6m(a)Tj0 6875 1946 Tm(e)Tj0.09765 0 09(a)Tj0 6875 1946 Tm74j( )Tj0.0975Tm(a)Tj0 6875 1946 Tm0 0 -0.09765 8555 2981 Tm(f)Tj0.09765 0 0 8 3326 Tm(t)Tj0.09765 0 0.097m -8980 -0.09765 6334 6086 Tm(r)Tj0.09765 0 0 -0.09765 4529 6086 Tm(ç)Tj0.09765 0 0 -0.09765 5806 6086 Tm(e)Tj( )Tj/F0 2048 Tf0.09765 0 0 -0 0 765 8555 2981 Tm(f)Tj0.0976510 0 -0 0 765 6466 1946 Tm(í)Tj0.09765 0 4 -0 0 765 1869 1946 Tm(s)Tj0.09765 6 0 -0 0 765 1735 1946 Tm(i)Tj0.09765 650 -0 0 765 1880 4706 Tm(c)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 5806 6086 Tm(o)Tj( )Tj0.097650 06 -0 0 765 1880 4706 Tm(c)Tj0.09765 995 -0 0 765 5806 4706 Tm(c)Tj0.097652095 -0 0 765 2012 2981 Tm(n)Tj0.09765 095 -0 0 765 1957 6086 Tm(t)Tj0.09765 2 0 -0 0 765 6466 1946 Tm(í)Tj0.09765 0 7 -0 0 765 2012 2981 Tm(n)Tj0.09765 4 7 -0 0 765 2296 5741 Tm(u)Tj0.09765 500 -0 0 765 5806 6086 Tm(o)Tj( )Tj0.0976520 0 -0 0 765 2551 6086 Tm(e)Tj( )Tj0.09765 0 0 -0 0 765 1735 1946 Tm(i)Tj0.097652870 -0 0 765 2012 2981 Tm(n)Tj0.09765 970 -0 0 765 3601 2981 Tm(t)Tj0.09765 020 -0 0 765 2551 2981 Tm(t)Tj0.09765 115 -0 0 765 2012 2981 Tm(n)Tj0.097653215 -0 0 765 3154 5741 Tm(s)Tj0.09765 093 -0 0 765 5806 6086 Tm(o)Tj( )Tj0.0976530 0 -0 0 765 5192 3326 Tm(é)Tj( )Tj0.097653600 -0 0 765 2957 4706 Tm(r)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 2551 2981 Tm(t)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 3154 5741 Tm(s)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 6401 6086 Tm(p)Tj0.0976539 0 -0 0 765 3912 4706 Tm(o)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.09765 134 -0 0 765 1869 1946 Tm(s)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 á86 Tm(s)Tj( )Tj0.09765 000 -0 0 765 3924 3326 Tm(v)Tj0.09765 400 -0 0 765 4402 1946 Tm(e)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 5729 5741 Tm(l)Tj( )Tj0.097654605 -0 0 765 6401 6086 Tm(p)Tj0.097654705 -0 0 765 4402 1946 Tm(e)Tj0.09765 794 -0 0 765 5729 1946 Tm(e)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 5806 6086 Tm(o)Tj( )Tj0.0976550 0 -0 0 765 5061 5051 Tm(d)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 4918 6086 Tm(e)Tj0.09765 198 -0 0 765 1869 1946 Tm(s)Tj0.0976550 0 -0 0 765 4918 6086 Tm(e)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.0976554 0 -0 0 765 3924 3326 Tm(v)Tj0.097655565 -0 0 765 5806 4706 Tm(c)Tj0.097655665 -0 0 765 5772 5051 Tm(l)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 3924 3326 Tm(v)Tj0.0976558 0 -0 0 765 5673 5741 Tm(i)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 6049 3326 Tm(m)Tj0.09765 0 0 -0 0 765 4918 6086 Tm(e)Tj0.0976560 0 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.097656220 -0 0 765 3601 2981 Tm(t)Tj0.0976560 0 -0 0 765 6448 3326 Tm(o)Tj( )Tj0.09765 435 -0 0 765 5061 5051 Tm(d)Tj0.097656535 -0 0 765 4402 5051 Tm(s)Tj( )Tj0.09765 083 -0 0 765 6309 2636 Tm(h)Tj0.09765 783 -0 0 765 7013 5051 Tm(é)Tj0.097656870 -0 0 765 6334 6086 Tm(r)Tj0.09765 939 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.097657039 -0 0 765 7515 5741 Tm(i)Tj0.09765 095 -0 0 765 7102 6086 Tm(a)Tj0.09765 084 -0 0 765 1869 9765 1647 4361 Tm(v)Tj0.07320 -0 0 765 4918 6086 Tm(e)Tj0.097657410 -0 0 765 1869 1946 Tm(s)Tj0.0976570 0 -0 0 765 1880 4706 Tm(c)Tj0.0976575 0 -0 0 765 7035 6086 Tm(r)Tj0.09765 640 -0 0 765 3912 4706 Tm(o)Tj0.097657740 -0 0 765 7180 5051 Tm(t)Tj0.09765 800 -0 0 765 7752 5051 Tm(a)Tj0.09765 089 -0 0 765 7515 5741 Tm(i)Tj0.09765 945 -0 0 765 3154 5741 Tm(s)Tj( )Tj0.09765 082 -0 0 765 4402 5051 Tm(s)Tj( )Tj0.09765-0.0 -0 0 765 7515 5741 Tm(i)Tj0.097658286 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.097658386 -0 0 765 8618 4361 Tm(g)Tj0.09765 486 -0 0 765 8451 3326 Tm(u)Tj0.09765 086 -0 0 765 8611 5741 Tm(i)Tj0.09765 042 -0 0 765 4718 6086 Tm(n)Tj0.097658742 -0 0 765 8784 4016 Tm(a)Tj0.09765 030 -0 0 765 5673 5741 Tm(i)Tj0.09765 0 7 -0 0 765 3154 5741 Tm(s)Tj( )Tj0.097659023 -0 0 765 (41 Tm(s)Tj( )Tj0.0976590 0 -0 0 765 6401 6086 Tm(p)Tj0.0976591 0 -0 0 765 26  7035 m(e)Tj( )Tj/F0 2048 Tf0.09765 0 0 -7709765 14000 0 20277)o nas empresas.
71
si mesmo, pelo tipo de trabalho realizado (afinal, é uma mera ajuda!) podem
levar
a criança, quando adulta, a predispor
-
se a aceitar passivamente relações de
produção excludentes socialmente (OSOWSKI; GUE MARTINI, 1997a, p.
123
-
124).
No início do segundo artigo Osowski; Gue Martini (1997b) tomam o conceito de
trabalho de Marx que o ent
ende como o “conjunto das faculdades físicas e espirituais que existem
na corporalidade, na personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez que
produz valores de uso de qualquer espécie” (p. 61).
As autoras trazem para o artigo uma série de depoimentos de crianças meninos e
meninas
- entre 6 e 14 anos que realizam atividades em casa. O trabalho aparece como ajuda,
algo natural, por exemplo, passar roupa, cuidar de irmãos pequenos, lavar a casa, lavar a louça,
sem pedir nada em troca. “No entanto, demonstram [as crianças] essa realidade de modo
ambíguo, caracterizando ora como ajuda, logo atividade não remunerada, ora enquanto atividade
passível de remuneração” (p. 65). As falas também são entrecortadas em alguns momentos pela
importânci
a do trabalho como fonte de prazer e felicidade enquanto que em outras como
expressão de desprazer e infelicidade (p. 77).
3.2.9 Trabalho Infantil e identidade
O levantamento categorizou 5 artigos: Sarmento; Silva; Costa (2000); Martinez (2001);
Sarmento
(2002); Alves
-
Mazzotti; Migliari (2004); Marques (2004).
No artigo de Sarmento; Silva; Costa (2000) são apresentados os resultados de um
projeto de pesquisa realizado em olarias no noroeste de Portugal no Vale do Cávado com
crianças que trabalham e estudam bem como os efeitos desta atividade na formação de suas
identidades.
Procuram mostrar que o mundo da criança é amplo, heterogêneo, considerando que ela
está em contato com várias realidades diferentes, na sua família, na escola, com seus pais, no
trabalho que realiza, a partir das quais formula estratégias que contribuem para sua identidade
pessoal e social. Por isso mesmo, ao se falar de culturas da infância não se pode desligá-las do
mundo dos adultos.
O solo dessa região é composto por argilas o que propiciou o desenvolvimento de um
artesanato em barro, que adquiriu algumas cadas, enorme notoriedade. As crianças estão
72
envolvidas seja na preparação da matéria-prima, na limpeza do molde, seja nas pinturas e
desenhos das figuras de barro.
Os autores o detalham a organização da pesquisa: quantidade de crianças ouvidas e
entrevistadas etc.; porcentagem de meninos e de meninas; suas idades. De todo modo, frisam que
o processo de artesanato doméstico familiar com “mobilização do imaginário infant
il”
vem
perdendo terreno, ou se transformando gradativamente em relações de produção capitalistas
fundadas no vínculo salarial o que acaba “renovando a condição social da infância” (p. 61).
Em Martinez (2001) o trabalho marca trajetórias diferentes de desenvolvimento da
criança em virtude dos sentidos que aquele assume em sua subjetividade, como quando para
umas crianças, o trabalho adquire uma conotação de insatisfação, de dever, de cansaço constante,
enquanto que para outras é fonte de satisfação, esp
aço de liberdade, de aprendizado (p. 214
-
243).
O foco de Sarmento (2002) é compreender os aspectos intrínsecos à constituição das
subjetividades infantis. Para tal considera que:
[...] a posição social das crianças, ou a sua pertença étnica ou ainda a sua
inserção geográfica (central ou periférica, urban
a
,
73
de sobrevivência e se tornam estratégias defensivas contra a segregação social.
Nesse contexto, o valor material se defronta com o valor moral. Ou seja, apesar
de se sentirem desapropriados, em termos materiais, sentem-se enriquecidos em
termos morais. Tais contradições demonstram que a construção da identidade
humana envolve processos complexos. No caso dos sujeitos aqui pesquisados,
ficou evidenciado que para fugirem das censuras e das depreciações sofridas
pelo uso do trabalho infantil usam de artifícios retóricos que tentam situar essa
forma de sobrevivência familiar na ordem da moralidade para protegerem não
a própria família contra a criminalidade, mas também, a própria sociedade
(MARQUES, 20
04, p. 33).
3.2.10 Trabalho Infantil e Políticas Públicas
Foram compilados 7 artigos: Wadsworth (1999); Campos; Averga (2001); Feitosa et al.
(2001); Ferreira (2002); Santos (2002); Rocha (2002); Carvalho (2004). Encontramos para este
subtema as express
ões: trabalho infantil e ‘programas sociais’; ‘políticas sociais’.
Enfatizamos neste subtema as conclusões a que chegaram os autores Campos; Averga
(2001, p. 228):
[...] o presente estudo parte da compreensão de que a perspectiva de erradicação
do trabalho infantil requer, da parte dos responsáveis pela formulação e
implementação das propostas nessa direção, considerar a necessidade de
combater os aspectos subjetivos dos sujeitos, no sentido das crenças pessoais de
patrões, famílias e crianças sobre o tra
balho.
Já na pesquisa de Feitosa et al (2001) o caminho a se trilhar é bem diferente. Nas falas e
depoimentos dos técnicos ligados à saúde e de moradores de Gramorzinho (Rio Grande do Sul),
“o trabalho é motivo de orgulho” (p. 26), ou seja, um estímulo ao trabalho da criança. Além
disso, os autores estabelecem alguns princípios em termos de construção e implementação de
políticas públicas, no que diz respeito ao trabalho infantil, o que difere radicalmente da
abordagem de Campos; Averga (citado anterior
mente), a saber:
Ouvir as crianças.
Avaliar o seu trabalho e possíveis sofrimentos físicos e psíquicos.
Conhecer melhor as representações expressas pelos cnicos e profissionais da saúde
pública.
74
Apontam que o fato do programa de Pós-graduação em Psicologia Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte ao incluir “a mão-
de
-obra infantil na linha de
pesquisa” dá maior visibilidade ao tema.
o artigo de Ferreira (2002) analisa um Programa do Governo Federal. Assim, em
1996, este lançou o Programa Brasil, Criança Cidadã com o propósito de subsidiar iniciativas
voltadas à proteção integral de crianças e adolescentes na faixa etária dos 7 aos 14 anos. Em
decorrência dessa iniciativa e sob a responsabilidade da Secretaria de Assistência Social do
Minist
ério da Previdência e Assistência Social, surge o Programa de Erradicação do Trabalho
Infantil (PETI). O objetivo maior é prevenir e eliminar o trabalho desse grande contingente
populacional que compõe a força de trabalho no meio rural.
O PETI foi implantado em Pernambuco em 1997 em três municípios Xexéu, Joaquim
Nabuco e Palmares - atendendo 2.100 crianças. Em maio do mesmo ano mais 10 municípios
pernambucanos entraram no Programa, que passou a atender 8.000 mil crianças. Durante
setembro de 1998, a quase totalidade dos municípios da Zona da Mata Pernambucana passaram a
fazer parte do PETI momento em que Vicência iniciou a implantação do Programa. No final de
1999, atendia aproximadamente, 75.000 crianças e adolescentes trabalhadores no setor
canavieiro.
Ao longo dos 3 primeiros anos de desenvolvimento do Programa (1997-
1999) o valor
da bolsa paga era de 50.00 reais. A partir de 2000, o valor da bolsa caiu para 24.00 reais,
propondo
-
se agora a sua ampliação para a área urbana (p. 528
-
529).
O autor ressalta que o desenvolvimento do projeto tem que ser visto sob dois enfoques
complementares: 1) os impactos objetivos: aquilo que diz respeito ao alcance do atendimento do
público alvo e, 2) os impactos subjetivos: relacionados a sua importância para a vida das
crianças
e adolescentes, da comunidade e de sua função social (p. 538).
O artigo de Santos (2002) analisa a implantação do PETI no município de São José,
região metropolitana de Florianópolis, que foi um dos 17 municípios a participar do Programa no
Estad
o de Santa Catarina, com 208 crianças e adolescentes atendidos.
A autora levanta os seguintes dados a respeito do público atendido: responsável pela
criança e/ou adolescente; escolaridade do responsável; profissão do responsável; renda familiar
mensal; escolaridade da criança e/ou do adolescente; tipos de atividade desenvolvida e a
contribuição do trabalho na renda familiar. E por considerar que “o trabalho infantil está
75
enraizado historicamente na cultura brasileira” (p. 76), sendo visto de forma natural p
elas
camadas mais pobres conclui:
[...] ressaltamos que as formas de intervenção de muitas instituições e
programas sociais não vêm alcançando êxito e que, atualmente, estas famílias
encontram
-se esgotadas de tantas intervenções e intromissões em suas vida
s
particulares, expostas a vários profissionais sem que nada se altere (SANTOS,
2002, p. 76).
O artigo de Carvalho (2004) também volta-se ao estudo do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (PETI).
Em 2000, com a expansão do PETI, ele passou a atender 140 mil crianças e
adolescentes no Brasil. Em 2002, esse número chegou a 810.769, beneficiando 2.590 municípios
brasileiros. O atendimento prioriza famílias com uma renda per capita de até meio salário
mínimo. O Programa oferece uma compensação financeira para a retirada de crianças e
adolescentes do trabalho; uma bolsa no valor de 25 reais por cada criança e/ou adolescente nas
áreas rurais e de 40 reais nas áreas urbanas e metropolitanas em atividades que envolvem o
trabalho precoce, como no comércio ambulante, nas feiras livres e nos lixões. Nesse caso, o
município tem que possuir uma população igual ou superior a 250 mil habitantes. A vinculação
ao Programa significa que a criança e/ou adolescente deve freqüentar regularmente a escola.
Além disso, e
stabeleceu
-se um tempo máximo de quatro anos para a permanência de cada
beneficiário no Programa (p. 51).
O PETI, no Estado da Bahia, se estendeu em 93 municípios retirando 117.809 crianças e
adolescentes das atividades no sisal, nas pedreiras, na cafeicultura, na cacauicultura, nos lixões,
no comércio ambulante, na coleta de sucata e na mariscagem. Ainda que se volte para as “piores
formas de ocupação precoce”, o Programa não contempla grande parcela de uma potencial
clientela e “não transforma significativamente as condições e perspectivas dos seus próprios
beneficiários. Os ganhos obtidos quanto a nutrição, estímulos socioculturais e a própria
escolarização tendem a ser relativamente restritos e temporários” (p. 59).
A autora frisa a importância da participação da sociedade civil na formulação e
acompanhamento das políticas sociais. Além disso, os programas devem ser articulados à
políticas sociais estruturais e amplas que signifiquem desenvolvimento social principalmente.
76
3.2.11 Trabalho Infantil e r
elações de gênero
Este subtema dispôs 4 artigos: Silva (2001); Silva (2002); Whitaker (2002); Hillesheim
(2004).
Em sua pesquisa Silva (2001), estuda a forma como a inserção precoce no trabalho é
assimilada pelas crianças, em especial pela menina. A faixa observada compreendeu as idades de
10 a 12 anos. As meninas pertenciam à famílias de pequenos produtores rurais, onde a principal
atividade agrícola era o cultivo do fumo.
Revela que a menina fica circunscrita às tarefas de organização da casa como lim
par,
varrer, cozinhar, cuidar dos irmãos menores como transparece nos relatos colhidos. Não lhe são
dadas outras possibilidades, pois aprendem desde cedo o que devem fazer, como fazer, como se
comportar e qual é o “lugar da mulher”. A autora citando Scott diz que a construção do gênero
longe de se pautar em explicações biológicas é “uma maneira de indicar a criação social de
idéias sobre papéis adequados entre os homens e as mulheres” (p. 98). Essa idéia se encontra em
Hillesheim (2004, p. 62 e 68) ao afirmar: “estas posições normativas não são produtos do
consenso, mas de conflito social”.
Silva (2002) pesquisa o cotidiano de meninos e meninas da Zona da Mata Canavieira
Pernambucana, ou aquilo que denomina “mundo amargo da cana-
de
-açúcar”. Propõe o
en
tendimento da questão a partir de dois eixos. Primeiro, perceber as meninas enquanto
“humilhadas, ofendidas e aviltadas pelo sistema patriarcal”. Em segundo, reconhecê-las como
sujeitos que, a exemplo dos meninos trazem no corpo as “marcas da dominação que portam já ao
nascer” (p. 17).
Quando analisa as falas e os depoimentos das meninas percebe uma “regra geral”: para
elas o trabalho tem um valor fundamental para a vida e ao mesmo tempo reconhecem o “grau de
alienação” contido na exploração do trabalho na
cana e o seu conseqüente desgaste.
3.2.12 Considerações gerais acerca do Trabalho Infantil
Optamos por criar esse “subtema aberto” com a intenção de classificar artigos que não
se debruçaram especificamente sobre algum aspecto do trabalho infantil. Estiveram reunidos 6
77
artigos: Oliveira (1999); Silva (1999); Siqueira (1999); Souza (1999); Neri; Costa (2001); Alves-
Mazzotti (2002). O subtema reúne as seguintes observações:
• Em geral, são textos que não resultam de pesquisa e intervenção de campo.
Trazem dados oficiais sobre a distribuição do trabalho infantil nas dimensões nacional
e internacional. Para tanto, apóiam-se em estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD); do
Departamento Intersindical de Estudos Sociais e Econômicos (DIEESE); da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Citam diversos tipos de trabalho realizados pelas crianças e as conseqüências daí
resultantes, as diversas regiões onde ocorrem, mas sem uma preocupação marcante em
aprofundá
-
los.
Fazem, ou ainda, reproduzem afirmações de caráter geral sem problematizá-las, tais
como: i) a defasagem, a evasão e o afastamento da instituição escolar quando do ingresso e
permanência no mercado de trabalho; ii) as crianças “vitimadas pela pobreza”, “pela miséria”
acabam inseridas no trabalho precoce; iii) a criança constitui mão
-
de
-
obra barata e abundante que
tem um custo bem menor que a do adulto; iv) é “dócil”, “disciplinada”, não dispõe de
organização nem de representação sindical”; v) tem um “baixo poder reivindicativo”.
Afirmam a existência de leis, embora nem sempre aplicáveis na prática, que protegem
a criança do trabalho degradante, nocivo ao seu desenvolvimento educativo, psicossocial e
lúdico. Citam os dispositivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069/90.
É evidente que tais observações também se encontram presentes em maior ou menor
grau nos demais artigos. Não obstante, aparecem com maior freqüência nos textos que foram
categorizados neste subtema.
78
Capítulo 4 ANÁLISE DOS ARTIGOS PUBLICADOS SOBRE O TRABALHO INFANTIL
4.1 As linhas explicativas
Por certo tempo a sociedade brasileira, ao que parece, não escondeu o interesse em que
a questão do trabalho infantil não fosse discutida a fundo, apenas lateralmente (o que em parte
ajuda a compreender a escassez de publicações sobre o tema até a década de 1980). Para evitar o
debate ela nos inculcou alguns princípios. Dentre eles, que o ingresso da criança pobre no
trabalho, desde cedo, aparece como a determinação de algo natural, ou ainda, como fator de
integração social.
E, subtrair a criança desse mecanismo quase que automático insinuava uma violação
como a que represa o curso das corredeiras. O trabalho na sua conotação e natureza uma
necessidade, ‘uma ajuda’, um acessório, ou uma condição social – era então inevitável, um ponto
sobre o qual havia concordância. Para Manus (1985, p. 15): “[...] a formação da criança, do
menor, do pobre, implica obrigatoriamente o trabalho”. O trabalho é tido como socialmente
edificante. Nesse sentido, Alvim; Valladares (1988) que investigaram como a infância pobre
brasileira passou a preocupar a sociedade e os estudiosos do te
ma
-
afirmam:
Se foram várias as respostas oferecidas ao problema, todas elas basearam-
se
numa concepção de infância pobre como necessariamente perigosa e
conseqüentemente ameaçadora. A integração à ordem estabelecida sempre se
colocou como necessária, mas os menores, por permanecerem à margem (da lei
e dos benefícios da sociedade), sempre foram excluídos de um projeto nacional
(ALVIM, VALLADARES, 1988, p. 11).
Ora, não é por acaso que o trabalho sacralizado para a criança pobre se mostra na
sociedade brasileira, que fazendo uso de bordados institucionais, de mecanismos jurídico-
legislativos e de práticas sociais concebe o trabalho enquanto atividade valorativa e muito
apropriada para esse segmento da população que, à revelia do destino, teima sorrateira em não se
enquadrar à “ordem dita estabelecida”.
Araújo (1984, p. 42) citado pelas autoras lembra que o “menor”
79
para a despersonalização e remete para o âmbito jurídico que trata por meio de um sistema
classificatório.
O que se observou pela leitura dos art
t
80
Ribeiro (1983); Manus (1985); Gomes (1986); Faleiros (1987); Minayo-Gomes; Meirelles
(1997); Ferraro (1997); Cecílio (1999); Cruz Neto; Oliveira (1999); Silva (1999); Siqueira
(1999); Souza (1999); Campos; Alverga (2001); Neri; Costa (2001); Alves-Mazzotti (2002);
Santos (2002) e Facchini et al. (2003).
O segundo eixo busca fundamentar a presença do trabalho infantil em motivações que
não dizem respeito exatamente ao aspecto organizacional da economia capitalista. Aponta a
necessidade de entrelaçar na análise outros fatores tais como o gênero, a identidade, a
socialização e a fala da criança. Sobre esse aspecto Rosemberg; Freitas (2002, p. 96), que s
ão
autoras da área da Psicologia Social afirmam: “[...] as razões subjetivas das crianças são
descartadas em nome das ‘razões concretas e objetivas’ do analista adulto que não consegue
integrá
-
las a seu quadro interpretativo”.
Nos estudos que associam direta e exclusivamente pobreza e trabalho infantil veri
81
A partir da leitura de tal perspectiva indaga-se: Por que na sociedade capitalista
contemporânea, com todo o seu desenvolvimento tecnológico que resultou num contínuo e
espetacular aumento da produtividade do trabalho, a extensão do trabalho infantil continua o
aderida em suas entranhas? É possível considerar a presença deste única e estritamente como
reflexo da economia c
apitalista, por mais complexa que esta seja?
O que se quer, entretanto, não é discutir as noções de produtividade e progresso
técnico, porém atentar para o fato de que a discussão sobre o trabalho infantil quando situada nos
artigos publicados nos periód
icos brasileiros remete a essas perspectivas.
Tais questionamentos mostram que as razões que têm impedido uma efetiva redução do
trabalho infantil em suas mais variadas formas e dimensões devem também ser buscadas além do
campo da economia capitalista; na própria necessidade de autopreservação de comunidades, de
grupos e de arranjos familiares que por estarem fundados no trabalho fazem dele elemento axial
de sua existência.
As autoras Alvim; Valladares (1988, p. 21) após analisarem alguns estudos na déca
da
de 80, no Brasil, afirmam que estes não mais reduzem "o trabalho infantil à exploração capitalista
da força de trabalho. Reconhecem as condições gerais de exploração da classe trabalhadora, mas
não a consideram como a única explicação para a existência do trabalho infantil". Esta
constatação abriu possibilidades para estudos sociológicos e antropológicos acerca do tema
preocupados fundamentalmente em apreender os valores e o substrato simbólico presentes em
segmentos populares urbanos. Há, portanto, uma outra perspectiva de análise que ao enfatizar a
'escolha' e a 'decisão' da criança que trabalha se encontra situada para além do quadrante
unicamente econômico no entendimento da questão (Dauster (1992); Madeira (1993);
Rosemberg; Freitas (2002).
As abordagens que enfocam os condicionantes subjetivos se esforçam em mostrar que a
exploração do trabalho infantil como reflexo imediato da ordem social e de suas relações daí
decorrentes acabou congelando a subjetividade, a voz e a ação da criança em meio a esse
processo.
Esses artigos contrastam com os que vêem a reprodução da força-
de
-trabalho como
necessária ao capital e a situação dos grupos e das famílias como realidades dadas pois abordam a
questão do trabalho infantil a partir da ‘escolha’, da ‘opção’, da ‘experiência subjetiva’, das
‘razões subjetivas’, de uma ‘estratégia de sobrevivência’, ou ainda como ‘um valor simbólico da
82
família’. Para Madeira (1993, p. 80): “O trabalho da criança se insere na estratégia de
socialização das camadas populares”. E Gomes (1998, p. 59) afirma a existência do “ideal do
trabalho enquanto um dos instrumentos essenciais de socialização”.
A atividade do trabalho não é tida somente pelo rendimento econômico que propicia
como afirma Dauster (1992, p. 33) que realizou uma pesquisa com crianças e jovens de uma
favela carioca:
A obrigatoriedade do trabalho abrange outros significados além da instância
econômica. Isto porque o trabalho infantil - que sem dúvida representa uma das
formas de dominação e exploração social no contexto d
e nossa sociedade
-
pode
ser reinterpretado como escolha e decisão e é visto, até certo ponto, como
natural enquanto orientação de pais e mães.
Ou seja, existe uma "outra visão do trabalho infantil, que foge à opressão e exploração
às quais ele é habitualmente relacionado” (DAUSTER, 1992, p. 34). Afiliam-se a essa
perspectiva (Demartini; Lang (1983); Madeira (1993); Gonçalves (1997); Gomes (1998);
Moreira (1999); Hillesheim (2001); Marques (2001; 2004); Martinez (2001) e Rosemberg;
Freitas (2002).
A princípio vê-se uma mudança conceitual. Tais pesquisas começaram a empregar
conceitos como: ‘sujeito’; ‘subjetividade’; ‘cotidiano’; ‘experiência’; ‘imaginário’; ‘significação’;
‘linguagem’ oriundos da história social ao invés de conceitos consagrados pela sociologia. Parte
significativa da produção bibliográfica que adere a este caminho interpretativo do trabalho
infantil se desvirtua das preocupações ‘clássicas’ e ‘paradigmáticas’ das ciências sociais no
Brasil, como os conceitos de ‘classe social’, ‘estrutura social’, ‘estrutura econômica’ e todos os
esquemas totalizantes que os alimentam.
O esforço analítico desloca-se para o entendimento das práticas e das experiências
específicas que as crianças enquanto grupo realizam. É estabelecida a convicção de que o
trabalho infantil não é definido e entendido unicamente pelas desigualdades de ordem econômica,
e passa-se a privilegiar os aspectos referentes à saúde do trabalhador infantil (Minayo-
Gomes;
Meirelles (1997); Dias et al. (2002) e Nobre (2003), ao trabalho infantil e identidade (Sarmento;
Silva; Costa (2001); Sarmento (2002); Alves-Mazzotti; Migliari (2004) e Marques (2004), ao
83
trabalho infantil e relações de gênero (Silva (2001); Silva (2002); Whitaker (2002) e Hillesheim
(2004).
Para os autores a idéia de trabalho e o trabalho propriamente dito produzem e firmam
vínculos que a criança estabelece no seu cotidiano que ela é capaz de perceber a si mesma em
relação com as demais, onde ela elabora sua própria identidade. Desta perpectiva, o trabalho
infantil
não pode ser visto como um espaço neutro de desenvolvimento ou de mediação; pelo
contrário, deve ser compreendido como um espaço produtor de experiências no qual a criança
torna
-
se sujeito de uma maneira muito particular.
É interessante observar que a presença deste segundo enfoque no entendimento do
trabalho infantil é explicada, em grande medida, pela existência cada vez maior de grupos,
centros e núcleos de pesquisa interdisciplinares; de estudos assinados por pesquisadores ligados à
Psicologia Social, à Saúde do trabalhador, ao Serviço Social; e pela criação de revistas e
periódicos que abrigam parte do volume da produção desse segmento.
Os artigos de Demartini; Lang (1983); Dauster (1992); Madeira (1993); Moreira (1999)
Marques (2001; 2004); Martinez (2001) e Rosemberg; Freitas (2002) representam uma tentativa
que conceber o trabalho infantil a partir da construção da subjetividade. Esse é o denominador
comum. A motivação dessa perspectiva, segundo Larangeira (1999, p. 104) encontra
-
se nas:
[...] teses pós-modernas que enfatizam o aspecto de pluralidade, da
diferenciação e da fragmentação do social [...] criticando, sobretudo, a ‘ilusão’
do estudo da realidade social baseada na idéia de agregados e de coletivos, e
dos aspectos recorrentes. Tal postura
tende a desdenhar os esforços objetivistas,
sob o argumento de que os fenômenos sociais são socialmente construídos,
expressando, portanto, realidades que se explicariam muito mais por fatores
simbólicos do que por fenômenos estatísticos.
No entanto,
pela leitura e análise dos artigos publicados, percebeu
-
se que os autores que
trabalharam essa perpectiva com o dia-a-dia da criança no trabalho e o trabalho no dia-a-dia da
criança
se resvalaram das explicações teóricas e, por conseguinte, os desenvol
vimentos
argumentativos que dão substância aos conceitos aparecem prejudicados na sua busca de darem
voz e visibilidade às práticas cotidianas das crianças, em especial o trabalho. Com isso, este
enfoque do trabalho infantil também está criando seus vícios e vieses: rejeitou os esquemas
globalizantes sem mesmo tê
-
los submetido ao crivo reflexivo.
84
Afora isso, a produção dos artigos filiada aos ‘novos olhares sociológicos’ sofre a
contaminação, por vezes, enfadonha e repetitiva da fala dos entrevistados, ou melhor, do “novo
empirismo das descrições sem autoria que vicia atualmente todas as ciências sociais”
(GUIMARÃES, 1999, p. 34). Nesse sentido acrescenta Larangeira (1999, p. 106):
[...] a Sociologia, seguindo os princípios do novo individualismo, torna-
se,
excessivamente subjetivista. Num mundo cada vez mais globalizado, complexo
e dominado de forma arrogante pelos atores econômicos, a Sociologia renuncia
à análise dos processos sociais mais abrangentes, isolando-se nas análises
simbólicas e subjetivas, mui
tas vezes, puramente descritivas.
A leitura e a análise do conjunto da produção demonstraram que não há, dentro de seus
limites, uma corrente explicativa plenamente desenvolvida, ou melhor, não tiveram estudos que
lograram a construção de modelos substanciais e consistentemente fundamentados. Os artigos
publicados não tiveram a pretensão de esquadrinhar linhas explicativas, se por isso se entende um
estilo de pensamento e de textualidade que busca questionar e reorientar certas formas de
pensamento em um campo específico de saber. "Teorizar" significa, nesse sentido, um esforço de
enriquecimento dos dispositivos conceituais através da discussão de idéias e princípios o que
pode gerar um outro desenho das relações disciplinares. Além disso, permite o ensaio de novos
sentidos, a criação de novas metáforas que acabam por produzir efeitos na pesquisa e no debate
científicos.
Como vimos nesta seção, tiveram alguns artigos, que embora não fizessem um caminho
de teorização, suscitaram questionamentos internos e paralelos ao estudo do trabalho infantil, ou
então, que as questões já existentes pudessem ser compreendidas de modo diverso gerando
preocupações investigativas por parte de outros pesquisadores e um acréscimo ao conhecimento
até então elaborado.
Para aquém ou para além de discussões teóricas e epistemológicas sobre a abrangência
das idéias debatidas a pesquisa permitiu avançar o conhecimento a respeito do trabalho infantil
no Brasil. Se existem discordâncias quanto ao seu entendimento, elas devem ser enu
nciadas a fim
de que o balanço da produção em periódicos brasileiros permita uma maior compreensão do
tema.
85
4.2 O tratamento estatístico do trabalho infantil
Segundo Desrosières citado por Sirota (2001, 25), “a estatística é produzida a partir do
moment
o em que uma questão é julgada social, quer dizer, julgada pela sociedade como
dependente dela”. Nesse sentido, Arendt (1993, p. 51) dedicou parte de seus estudos
18
ao
entendimento da sociedade através da cientifização “juntamente com seu principal instrume
nto, a
estatística” que tem suas leis válidas quando predomina a “uniformidade”, pois além de serem
raros os “eventos” que escapam a esta regra, eles são tidos como “desvios”.
A uniformidade estatística não é de modo algum um ideal científico inócuo, e
si
m o ideal político, agora não mais secreto, de uma sociedade que,
inteiramente submersa na rotina do cotidiano, aceita pacificamente a concepção
científica inerente à sua própria existência (ARENDT, 1993, p. 53).
A tomada dos escritos de Arendt serve aos propósitos desta seção no que concerne a
complexidade que o tratamento estatístico que conta, que mensura as coisas e as pessoas sob
diversos ângulos de vista assume na sociedade moderna. Passa ao largo, considerando nossos
intentos explicitar a sua pretensão em planejar, ordenar e dispor a vida dos indivíduos e mesmo
da sociedade.
Não se quer criticar fortuitamente, nem desmerecer a validade deste ou daquele artigo
publicado, nem tampouco cobrar de seus autores que apresentem esta ou aquela concepção sobre
a presença das estatísticas. Não é isso. Porém, necessário se faz rever as formas de abordagem do
trabalho infantil que se sedimentaram, pelo menos por algum tempo na produção bibliográfica
arrolada e que acabaram por constituir parte significativa
da fonte com que se dialogou.
O uso da fundamentação estatística atravessa as perspectivas gerais dos artigos o que
não significa que isso implique necessariamente pensar em termos de técnicas operacionais
dentro de uma dada situação. Observou-se nos artigos uma ampla utilização de séries e
indicadores estatísticos
19
, tomados dos censos demográficos brasileiros feitos pelo Instituto
18
Nos baseamos no capítulo II
As esferas pública e privada, item 6. A Promoção do Social
(p. 47
-
59) contido em
sua obra
A condição humana.
19
Lançaram mão desse recurso os artigos de: Gouveia (1983); Fukui; Sampaio; Brioschi (1981; 1985); Spindel
(1985); Gomes (1986); Chaia (1987); Madeira (1993); Bazílio (1996); De Toni (1996); Ferraro (1997)
; Gonçalves
(1997); Minayo
-
Gomes; Meirelles (1997); Veronese; Custódio (1997); Cruz Neto; Moreira (1998); Franco (1998);
Gomes (1998); Cecílio (1999); Oliveira (1999); Silva (1999); Siqueira (1999); Cadoná (2001); Feitosa et al. (2001);
Ferreira (2001); Ne
ri; Costa (2001); Silva (2001); Dias et al. (2002); Santos (2002); Rosemberg; Freitas (2002);
86
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (PNAD); do Departament
o Intersindical de Estudos Sociais e Econômicos (DIEESE);
da Fundação SEADE; e, num plano mundial, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e
do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), ao que parece, para tornar possível um
entendimento mai
s vasto da extensão do trabalho infantil no país.
Spindel (1985, p. 32) fez uma observação bastante pertinente quanto a essa utilização
ao afirmar: que se ir além das evidências estatísticas quantitativas”. Com isso, quer se dizer,
que a utilização de indicadores agregados na dimensão nacional, como tendem a ser mais
descritivos, subestimam a extensão do trabalho infantil. Madeira (1993, p. 83) toma as estatísticas
oficiais para mostrar que divulgaram
-
se:
[...] um conjunto de informações e correlações estatísticas que até pela
legitimidade das fontes aceitas e tantas vezes repetidas que viraram verdadeiros
mitos. Entretanto, na realidade não traziam uma clara explicação de suas formas
de produção ou, quando traziam, eram utilizadas de forma inadequada em
relação aos conceitos que as geraram.
O emprego, no conjunto dos artigos, dos dados estatísticos que, em alguns casos,
conduziram a uma avaliação apenas numérica da questão (algo como a necessidade primeira de
enumerar os fatos e as coisas para se c
onhecer o presente e prognosticar o futuro) ajuda a explicar
a escassez de reflexões históricas e sociológicas do trabalho infantil.
Um outro aspecto da estatística ferramenta de análise como se imagina é que ela é
capaz
é o que se pressupõe de fornecer ao pesquisador uma imagem precisa que permite
superar atitudes idiossincráticas e sentimentais em seu estudo conferindo legitimação necessária
e por que não científica
para a delimitação do trabalho infantil na sociedade.
Não se afirma com isso que todos os artigos que utilizaram as estatísticas conceberam a
questão do trabalho infantil em termos quantitativos, embora a sua leitura e análise deixassem
entrever que a estatística forneceu considerável aporte a fim de se compreender a questão. A
esta
tística para além de um recurso de pesquisa e de uma acomodação tendencial nos artigos
publicados se mostrou como importante meio de conhecimento e intervenção na realidade.
Campos; Francischini (2003); Coelho (2003); Facchini et al. (2003); Marques (2003); Myers (2003); Nobre (2003);
Carvalho (2004); Mattiuzzo (2004) e Nogueira (2004
).
87
4.3 Os tipos de pesquisa realizada
Sabe
-
se que a explicação socioló
gica para se forjar passa por um trabalhoso processo de
pesquisa e interpretação o que acaba por contribuir, desde que bem costurado, para o avanço do
conhecimento na disciplina. Nesse movimento, a pesquisa pode se debruçar para a caracterização
de certas populações num certo momento no tempo ou ainda acompanhar possíveis
transformações ocorridas ao longo de um período. Além disso, pode construir subsídios para
programas de intervenção direta numa população.
Esta seção versa sobre a importância de se explicitar durante a pesquisa empírica os
procedimentos de seleção da população, das entrevistas a serem incluídas na amostra e sua
conduta. Orienta
-
se a partir de artigos que trouxeram pesquisas do tipo por amostragem; “estudos
exploratórios”; “estudos de caso”, ou estudos baseados em técnicas de “história de vida” e
constituíram a sua base empírica. Sobre esses tipos de estudo Cardoso (1986, p. 13) constata:
Atualmente, a produção das Ciências Sociais se concentra em trabalhos que
valorizam a pesquisa de campo. Esta orientação é basta
88
pesquisa e o leitor quanto aos procedimentos trabalhados para se compreender melhor as
conclusões apresentadas.
No caso da aplicação dos questionários
20
e das entrevistas, o que foi privilegiado na sua
elaboração? Como foram conduzidas? Somente pelo pesquisador, ou houve auxílio de assistentes
de pesquisa? Onde? Em local reservado? Estavam presentes somente o entrevistador e o
entrevistado? Se sim, durante quanto tempo? Quantas idas à campo foram realizadas? Como
foram selecionados(as) os(as) entrevistados(as)? Os(as) entrevistados(as) foram informados(as)
do(s) objetivo(s) da pesquisa? Houve recusa e silêncio à entrevista? Acrescente-se a essas
questões a obs
ervação de Zaluar (1986, p. 110
-
111):
O contexto da ação do que foi dito muitas vezes não é registrado. Como o
antropólogo [e isso serve também para o sociólogo e para o psicólogo social]
obteve a entrevista, quem é a pessoa entrevistada e a sua adesão ao que diz não
são problemas. Nem muito menos a sua representatividade como porta-voz do
grupo: todos são suportes de um mesmo pensar consensual (social) porque
inconsciente.
Os autores não fizeram tal detalhamento na execução de seus respectivos estudos,
o que
é claro, não significa necessariamente que desconheçam o seu percurso e importância. Talvez o
próprio limite do artigo ajude a explicar essa falta já que dispõe de uma extensão determinada.
As entrevistas, em geral, se mostraram específicas, de casos individualizados
nominalmente (Pedro, Célia, Onésio, Maria, Cleusa.....) sem uma preocupação em apontar
tendências mais gerais. Pensando em tais questões Ianni (1975, p. 77
-
79, grifos do autor) alerta:
[...] o sociólogo da [sociologia técnica] não está interessado em transbordar o
nível imediato da objetividade das coisas. Essa objetividade é dada nas
informações contidas nos documentos, questionários, formulários, entrevistas,
declarações e histórias de vida.
É um tipo de trabalho que se limita ao reino
das
aparências,
já que esse é meio no qual se podem apanhar, medir, testar e
verificar ou comprovar os dados. [...] O fetichismo, ou ascetismo metodológico
transforma o trabalho sociológico numa técnica de reificação, de produção
ideológica, ou, como em m
uitos casos, numa ficção insípida.
Através da leitura e análise dos artigos publicados percebe
-
se que, em seu conjunto, não
apresentaram formulações teóricas mais elaboradas e, como nos seus limites não detalhou a
20
Entre os estudos que lançaram mão do uso do questionário somente o de Moreira (1998) apresentou o seu
conteúdo.
89
construção de um feixe de técnicas e procedimentos de pesquisa quando se tratou de estudos
empíricos
o conhecimento produzido acerca do trabalho infantil oscila muito visivelmente em
meio a caminhos teórico-metodológicos que se cruzam. Porém, não é do todo grave oscilar. O
grave é a carência/ausência de relações críticas com as influências que conduzem a análise
segundo esta ou aquela linha argumentativa.
Por mais que se elaborem estudos e ensaios originais, são parcas, as possibilidades de
forjarem um trajeto investigativo fértil e renovado, sempre que não ficam indicados e situados os
desdobramentos que requer o exercício científico. Essa é uma observação que assinala a
relevância das condições de existência da atividade intelectual, muito embora, aqui não cuidamos
de tratá
-
las detidam
ente.
De uma forma geral, os artigos publicados que se fizeram resultados de “estudos de
caso”, “pesquisa de campo” ou “estudos exploratórios” um total de 25 pode-se afirmar que a
coleta de dados e os procedimentos, que não foram explicitados são freqüentemente pontuais,
esparsos e não-comparáveis, o que de resto, conduz os fecharem-se em si mesmos. Repetem-
se
inúmeros estudos de caso que, embora bem intencionados, ficam na epiderme do problema, na
afirmação do óbvio, ou ainda, na revelação de aspectos positivos e negativos sobre o trabalho na
vida da criança sem, no entanto, dispor de fundamentação consistente. Os exemplos mais
notórios deste desperdício de esforços são as análises que se voltam demasiadamente para
circunstâncias específicas (escolas, ruas, bairros rurais e agrícolas, municípios) e menos para a
teoria.
Mesmo reconhecendo a importância desse tipo de estudo como um caminho promissor e
necessário para se fundamentar pesquisas mais abrangentes e admitindo uma certa insuficiência
dos dados e das informações coligidas e sistematizadas deve haver um esforço analítico que
procure dar conta das características mais gerais do trabalho infantil no Brasil, ou, que articule os
estudos isolados com os processos mais amplos nos quais se insere. Nesse sentido, ressalta-se o
estudo de Bonamino; Mata; Dauster (1993, p. 60) que ao fazerem um balanço da bibliografia
brasileira produzida nas décadas de 1970 e 1980 sobre o tema educação e trabalho afirmam:
[...] percebe-se a existência de lacunas com relação a estudos de cunho
etnográfico, que busquem conhecer em profundidade a criança e o jovem
das camadas populares. Faltam estudos que focalizem as articulações
simbólicas e práticas entre estudo e trabalho nos contextos sócio
-
cultural,
familiar, labo
ral e escolar.
90
A produção acadêmica aborda o tema do trabalho infantil do ponto de vista de cada
contexto onde é produzido o que em alguma medida tem desaproximado perspectivas analíticas
que articulem os componentes teóricos variados. Com essa preocupação Ferreira (2001, p. 214)
argumenta:
[...] levanto a necessidade de multiplicar estudos com recortes mais específicos,
seja em relação à delimitação espacial, como na configuração interior dos mais
diversos campos disciplinares e/ou em objetos que os trespassem, num
movimento de cooperação entre disciplinas/áreas do conhecimento.
No conjunto dos artigos lidos, a incidência de propostas e análises muito embora
poucas sustentem uma originalidade permitiu constatar avanços significativos na compreensão
do trabalho infantil que, ao que parece, aponta para o desafio de buscar a interdisciplinaridade, ou
seja, de estabelecer diálogos e articular suportes teóricos e metodológicos de diversos campos
investigativos no avanço do conhecimento. Além disso, o autor convoca a universidade para
contribuir com pesquisas e reflexões em favor da produção de conhecimento acerca do trabalho
infantil o que poderia começar pela multiplicação de estudos sócio-antropológicos que capturem
diversos níveis de interação
famili
ar, grupal e societária (FERREIRA, 2001, p. 222).
Reconhece
-se que muito da elaboração que presidiu a escolha de certos artigos em
detrimento de outros e a discussão daí decorrente pode ter se diluído nesse esforço de ntese.
Ainda assim, espera-se que tal esforço não tenha turvado a importância que o debate acerca do
trabalho infantil assume para a sociedade brasileira, tanto no sentido de uma reflexão teórico-
metodológica, como também em que medida a publicação dos artigos
se
influencia e
tem
influenciad
o a aparição de áreas investigativas.
4.4 Sobre a presença da fala da criança nas pesquisas
Uma coisa é vivenciar a experiência do trabalho infantil com todo o seu fardo, outra,
radicalmente distinta é querer testemunhar em segunda instância. O lugar que o pesquisador
passa a ocupar deve significar o 'esquecimento' proposital de um pouco de si, de suas origens e de
seus esquemas mentais fixos. Neste caso, o pesquisador pode romper com esquematismos, o que
talvez, não seja nenhum grande achado, muito embora desvele a possibilidade de enfocar certos
pontos de vista incomuns que podem vir a ser bastante esclarecedores. Mais ou menos nessa
91
direção, Martins
21
(1993, p. 17) estimula os pesquisadores a "uma reciclagem de seus materiais
de pesquisa, na maior
parte dos casos um retorno ao campo [...]".
Seria satisfatório encerrar com essa observação. Não obstante, o pesquisador deve se
acautelar com as falas da criança ainda que se considere que elas sejam elaborações próprias.
A maldição das ciências humanas, talvez, seja o fato de abordar um objeto que
fala
[...]. Não basta que o sociólogo esteja à escuta dos sujeitos, faça a gravação
fiel das informações e razões fornecidas por estes, para justificar a conduta
deles e, até mesmo, as razões que propõem: ao proceder dessa forma corre o
risco de substituir pura e simplesmente suas prenoções pelas prenoções dos que
ele estuda, ou por um misto falsamente erudito e falsamente objetivo da
sociologia espontânea do 'cientista' e da sociologia espontânea de seu objet
o
(BOURDIEU; CHAMBOREDON; PASSERON, 2002, p. 50, grifos dos
autores).
Ou seja, não basta ouvir, entrevistar, gravar, transcrever que esses registros dão e
formam uma idéia aproximada, embora aparentemente compreensível, do universo da criança. A
dificu
ldade interpretativa da parte do pesquisador é justamente transitar
do quê
para
como se
lê os
registros vivos e pulsantes, no caso estudado, o trabalho infantil, ou a fala da criança a esse
respeito. Os autores valorizam a fala do sujeito como expressão das condições de existência. E,
em especial, para Bourdieu, a palavra, é um símbolo da comunicação que representa o
pensamento. A fala ao revelar grupos determinados, em condições históricas, sociais e culturais
singulares mostra um sistema de valores que de
fine o campo de expressão das relações sociais.
Dito isto, a fala da criança, apesar de sua aparente feição subjetiva, tem um significado
mais amplo, pois abriga uma concepção de realidade. Mas nem por isso, há uma fórmula
sociológica capaz de apreender todas as suas mediações. Segundo Martins (1993, p. 55): "É falso
que o cientista social possa compreender a fala do outro sempre, como é falso que é
socialmente eficaz a fala que pode ser compreendida e explicada pelo cientista social".
Para melhor enten
-la é preciso buscar o que se acha em seus interstícios, muitas
vezes, no
não dito
. Sobre esse aspecto em específico afirma Martins (1993, p. 55):
As ciências humanas, com a possível exceção da antropologia, não têm sido
capazes de decifrar o silêncio daqueles que não foram eleitos pelo saber
21
O autor organizou uma coletânea de textos que reúne, entre outros estudos, entrevistas gravadas e quase duas
centenas de depoimento
s escritos pelas próprias crianças, filhos e filhas de colonos de Mato Grosso e posseiros do
Maranhão. É um estímulo para que se dê voz à criança nas pesquisas e constitui, portanto, um trabalho singular.
92
acadêmico como informantes válidos dos pesquisadores. Quando o são, como
ocorre hoje quando se trata da mulher ou do delinqüente, é como se fossem
informantes menores, que falam de sua condição específica, como a c
ondição
feminina e os “assuntos de mulher” ou como protagonista de “conduta
divergente”.
A criança emerge como uma força a ser considerada. Sua fala quando trazida à tona
parece desmanchar esquemas de pensamento e tece outros fios entre o conhecido e o por
conhecer. Representa algo de audacioso na pesquisa que deve ser trabalhado a partir de avanços e
recuos. A fala infantil expressa concepções e percepções de mundo. Com efeito, são fontes
inestimáveis para se compreender o universo da criança que é soc
ial e cultural.
Motivado por todas essas questões até aqui ventiladas passamos então a nos debruçar
em artigos que se basearam nos 'depoimentos de crianças'; nas 'entrevistas' e 'falas infantis'. São
os que se seguem: Carvalho (1981); Gouveia (1983); Silv
a et al. (1983); Faleiros (1987); Dauster
(1992); Marques (1996); Osowski; Gue Martini (1997); Moreira (1998); Goulart (1999); Silva
(1999); Sarmento; Silva; Costa (2000); Cadoná (2001); Feitosa et al. (2001); Martinez (2001);
Silva (2001); Alves et al. (2002); Dias et al. (2002); Oliveira et al. (2002); Silva (2002); Facchini
et al. (2003); Francischini; Campos (2003); Alves-Mazzotti; Migliari (2004); Marques (2004) e
Nascimento (2004). Observa
-
se que do total de 24 artigos publicados ao longo da pesquisa
(1981
-
2004) que se utilizaram das 'falas infantis', somente os últimos 4 anos (2001-2004), responderam
por 13 artigos o que assinala uma preferência crescente por esses tipos de estudo.
Alguns artigos foram pinçados a fim de ilustrar o procedimento de pesquisa que
predominou. Cabe uma observação válida para esse conjunto de artigos: todos os que trouxeram a
fala da criança, nenhum informou se seus nomes são verdadeiros ou fictícios.
Vejamos o estudo de Carvalho: Trabalho e escola: uma trajetória de vida (1981), que
como informou a autora foi extraído de sua dissertação de mestrado, apresentada em 1981, na
Universidade Federal de São Carlos. Na pesquisa, que contou com o apoio financeiro do
Conselho Nacional de Pesquisa e Tecnologia (CNPq), focou o interesse em uma escola estadual
de primeiro grau de Ribeirão Preto, em São Paulo. Os dados foram coletados entre setembro de
1978 a junho de 1979, "sendo a fonte básica de informações o discurso dos alunos e integrantes
do curso noturno, apreendido através de o
bservação direta sistemática, questionários e entrevistas
pessoais". Foram obtidas resposta a 167 questionários e realizadas 50 entrevistas gravadas com
alunos, de idades variando de 12 a 20 anos, além de entrevistas com o pessoal docente,
93
administrativo e auxiliar (CARVALHO, 1981, p. 49). Não foi informada a porcentagem de
alunos do sexo masculino e do sexo feminino. O objetivo era "a análise das relações
escola/trabalho".
Feito esses esclarecimentos a autora passou a transcrever para o artigo as falas de seus
entrevistados e, em não poucos casos, as citou (pois está entre aspas) e não disse de quem são:
menino, menina, idade. Além disso, é muito presente no artigo a semelhança entre as falas dos
entrevistados e as da autora:
[Entrevistada: Marisa, 14 anos
]
"Os professores falam muito, quem trabalha de dia vem com a cabeça cheia de
problemas que traz de seus próprios trabalhos e precisa agüentar cinco aulas. Não é fácil"
(CARVALHO, 1981, p. 51).
[Autora]
"Nota
-se a existência de uma quase impossibilidade de enfrentar as aulas à noite. O
trabalho solicita muito dos alunos e eles não encontram na escola o 'mundo da sabedoria' que
esperavam. Ao contrário, identificam quase uma hostilidade inerente à vida escolar, que exige
ficar à disposição dos professores
'que falam sem parar'" (CARVALHO, 1981, p. 51).
Ou então:
[Entrevistado: Rogério, 14 anos]
"o aproveitamento geral é pouco, porque eu estou cansado, por mais que me esforce o
curso de aprendizagem aproveitado por mim é fraco" (CARVALHO, 1981, p. 51).
[Aut
ora]
"Para esse menino, da série, atrasado em relação à idade escolar 'normal', o pequeno
aproveitamento está colado ao cansaço que não consegue superar. Quando se solicita que
descreva o cotidiano escolar, apenas comenta a quase impossibilidade de realizar as duas
atividades ao mesmo tempo" (CARVALHO, 1981, p. 51).
Citamos o artigo de Marques: Crianças e adolescentes marginalizados: de como a rua
passou a ser este lugar (1996) que entrevistou "um grupo composto de 11 meninos e 05 meninas
e esse grupo foi distribuído em quatro subgrupos": meninos de rua; meninos de 'alto risco
social'; pequenos trabalhadores; ex-meninos de rua institucionalizados. A faixa etária variava
entre os 7 a 10 anos.
[Entrevistado: S. 16]
94
"Tem uns que foi de rua, uns não tem mãe, não sei não, tem um colega que fica bem
vestido, com o que se consegue na rua, no furto e começa a roubá, prá conseguí roupa. O cara
trabalha e não consegue nada e vai roubá. Fica pensando: Eu ganho salário mínimo, roubá
mais, tem cara que larga emp
rego prá roubá" (MARQUES, 1996, p. 153).
[Autor]
"Oprimida pela sua condição social e pela marginalização, essa criança acaba por
submeter
-se a um aprendizado proibido; o roubo envolve perícia, precisão, risco de vida,
comercialização, que requerem um tre
inamento, um saber" (MARQUES, 1996, p. 153).
E por se elaboraram os artigos. Ambos os autores pondo em outros termos (ou quase
isso) aquilo que os entrevistados haviam dito. Em si, tal procedimento de pesquisa, não é
exatamente incorreto. A questão a ser levantada é a seguinte: quantas falas dos entrevistados
encontraram
-
se encobertas nas afirmações dos autores?
o artigo de Gouveia: O trabalho do menor: necessidade transfigurada em virtude
(1983) é um tanto quanto diferente. Trata-se de uma "pesquisa exploratória que se realizou no
segundo semestre de 1981. Os dados derivados desse estudo referem-se a menores que puderam
ser entrevistados a partir de contatos feitos em algumas escolas noturnas e variados locais de
trabalho na área metropolitana de São Paulo" (GOUVEIA, 1983, p. 59). Informa que foram
entrevistados "71 menores do sexo masculino e 25 do feminino, entre os 9 e os 17 anos de idade,
que se encontravam em variados tipos de trabalho..." (GOUVEIA, 1983, p. 59).
Apesar de ter entrevistado 96
menores no total, a autora transcreveu somente a fala de 5
entrevistados e, além disso, não informou quem são os autores. O leitor sabe porque ela está entre
aspas. Exemplo: '"Sem carteira, os home (policiais) pega", afirmou um deles" (p. 59). Ou: "Eu
comprei uma camisa e um par de sapatos" (p. 61). Será que as referidas falas são representativas
no conjunto dos entrevistados? Isso não é dito.
O artigo de Dauster: Uma infância de curta duração: trabalho e escola (1992) também
escorrega na apresentação dos dados da pesquisa. Trata-se de um "trabalho de campo [que]
envolveu entrevistas com um número significativo de crianças a partir de 7 anos e de jovens, que
cursam uma escola pública em uma favela do Rio de Janeiro" (DAUSTER, 1992, p. 32). Essas
são as únicas informações a respeito do estudo que constam no texto. Não foi dito o número de
entrevistados, o sexo, o período de realização das entrevistas, entre outras informações.
95
Poderia ter-se descrito e analisado mais alguns artigos publicados. Não obstante,
acredita
-se que os estudos tomados aqui cobrem os propósitos desta seção, ou seja, de explicitar,
ainda que em linhas gerais, os procedimentos de pesquisa de campo.
O artigo de Silva et al. (1983) de "caráter exploratório" apresentou um cuidado
substan
cial nos procedimentos de pesquisa de campo. O texto intitula-
se
Um estudo preliminar
sobre o menor carregador em feiras livres e está dividido em: Introdução; Justificativa;
Amostragem; Elaboração e revisão dos instrumentos de trabalho; Perfil das feiras
pesquisadas;
Análise e interpretação dos dados e Conclusão. Para o estudo foram selecionadas 4 grandes
feiras, localizadas em 4 grandes regiões do município de São Paulo.
Antes de discutir os principais resultados, as autoras fazem uma revisão de literatura do
tema: "marginalidade urbana". Em cada feira foram selecionados "5 elementos, perfazendo um
total de 20 carregadores". As autoras expõem os critérios utilizados para selecionar os garotos; os
objetivos; as dificuldades com "perguntas abertas". Por exemplo, a entrevistadora ao pedir a um
menino: "'Fale um pouco sobre o seu trabalho' obteve a seguinte resposta: 'O que a senhora quer
que eu fale, dona?'" (SILVA et al., 1983, p. 67). Estas questões sugeriram modificações no
questionário que foi aplicado que, ao final continha 113 perguntas. E acrescenta: "Houve, ainda,
o cuidado de deixar espaço lateral para observações referentes a cada questão, no sentido de
focalizar situações inerentes às respostas obtidas, registrando aquelas que se apresentassem como
interessantes" (SILVA et al., 1983, p. 67).
Ao final as autoras dizem: "As entrevistas transcorreram em clima amistoso, havendo
efetiva colaboração dos entrevistados, que contribuíram na prestação das informações solicitadas.
Com cada entrevistado foi mantido um único contato, o que foi visto pela equipe como passível
de revisão em futuros estudos dessa natureza" (SILVA et al., 1983, p. 100). Sem dúvida, o artigo
referido foi uma exceção em termos de preocupação com os procedimentos de pesquisa.
Termin
amos esta seção fazendo alguns apontamentos de fundo a serem considerados na
pesquisa de campo com crianças.
A leitura e a análise os artigos publicados que trouxeram a fala da criança para si
mostraram que os(as) pesquisadores(as) não ultrapassaram a fala
da criança de modo a situá
-
la no
tempo e no espaço, com especificidades em relação ao adulto. Não a tornaram
sujeito
da pesquisa
através de espaços de narrativa. Apenas transcreveram suas falas, muitas delas sem autoria.
96
Nos movemos para nelas identificar se o seu conteúdo aparecia criado e recriado sob o
jogo das forças sociais onde a criança de insere. Pois: "Em cada localidade, a fala de cada criança
é claramente fragmento de um enredo mais amplo, que ela protagoniza
com
os outros"
(MARTINS, 1993, p. 58, grifo do autor). Nos interrogamos no seguinte sentido: O que a fala da
criança guarda de reprodução, de denúncia, de contradição? um interesse manifesto pelo seu
pensamento? É possível falar de estratégia da criança nas relações sociais; em sensibili
dade
infantil? Como ela se distancia/aproxima em face das expectativas que nela o adulto deposita?
Ora, se a criança fala do trabalho que realiza com uma lógica que reflete a sua
reprodução ligada à família ao afirmar a importância - diga-se valor - ou inevitabilidade da
atividade de trabalho na sua vida, a criança também aponta formas sutis de crítica, quando
observa, por exemplo, o ritmo das atividades que ela ou algum membro de sua família realiza
diferentemente daqueles que não o fazem, ou ainda, quand
o deixa de ir à escola para trabalhar.
O fato é que a criança enquanto sujeito, antes de cifrar significados sobre o social, ela
mesma tem um significado social dentro das relações que participa (família, escola, comunidade,
rua, bairro, etc.) e da socie
dade como um todo.
A produção e exteriorização de signos pela criança contêm tipos de expressão - fala,
escrita, pintura, desenho, silêncio - que permanecem recônditos para ela mesma que revelam
seus estados interiores, tanto na sua forma intencional como não intencional. Além disso, como
argumenta Martins (1993, p. 16-17, grifos do autor) é bem vindo o encorajamento dos
pesquisadores das ciências sociais a enfocarem a concepção dos:
[...] mudos da História, os deserdados, banidos e excluídos [...] cada vez mais
sujeitos
do processo histórico. Reconhece-se que neles uma rica inteligência
dos processos e situações que estão envolvidos. Neste caso, particularmente,
esses sujeitos são crianças, que dão significativa demonstração de compreensão
do que estão vivendo. As ciências humanas dariam um passo importante no seu
desenvolvimento se reconhecessem que são
elas,
nos dias de hoje, os principais
portadores da crítica social.
Nas suas entrelinhas, a citação de Martins sugere que o resgate do universo cr
iança
possibilita o confronto com uma série de categorias que, na verdade, mostram a arbitrariedade
com que se ordena e se classifica as pessoas e as coisas. O pensamento ordena o mundo de
acordo com categorias criadas e estabelecidas. Quando postas em contato com uma forma
97
diferente
- e estranha, por isso mesmo - que organiza a experiência do sujeito percebe-se a
debilidade das categorias construídas.
Tratamos a fala infantil como prática que mais do que pertencer a um conjunto de
crenças e atitudes ocupa
regiões discursivas que definem a existência de seu enunciado. A análise
dos usos discursivos que a criança faz e o modo pelo qual é significado podem nuançar as
permanências, rupturas e transformações que integram de uma forma geral suas regularidades.
A possibilidade de forjar interpretações que se assentam em análises qualitativas não
existe isolada das condições que vivenciam o entrevistado e o entrevistador. A ida ao campo de
trabalho não se restringe à coleta de dados, informações, registro de discu
rsos e comportamentos,
porém se veicula com a reinvenção de hipóteses formuladas, além de ser completada com a
descoberta de novos fragmentos que permitem avançar a explicação do investigador. Portanto, se
as pesquisas de campo de orientação positivista buscam retirar da arena a subjetividade do
pesquisador o seu reverso procura desenhar outros lugares para a subjetividade do pesquisador:
empatia, afetividade, convivência também contribuem para a compreensão das diferenças e dos
significados.
As questões até aqui abordadas não foram desenvolvidas no conjunto dos artigos
analisados. De todo modo, elas ventilam pistas para se conhecer melhor as condições históricas,
sociais e culturais da produção de sentidos da fala da criança. Não a fala, mas também outras
formas de expressão da criança - escrita, pintura, desenho, silêncio - têm muito a dizer a respeito
das situações em que a criança vive, como age, interpreta, ressignifica. Quando bem costurados
na pesquisa esses pontos podem captar a experiência do trabalho na vida da criança, não raras
vezes, dramática.
Um adendo: contribuições teórico
-
metodológicas ao estudo da infância
Este adendo começa por aquilo que não se presta. Ou seja, a uma genealogia do campo
infantil o que de resto demandaria assinalar na literatura existente as diferentes percepções e
representações a respeito da infância desde os tempos modernos no Ocidente. Uma análise desse
quilate está intimamente relacionada aos processos desencadeados no seio de diversos grupos e
agentes sociais. Os autores e suas respectivas obras foram abordados, pois dizem com muita
98
ênfase como a infância pode ser estudada. Além disso, a discussão realizada o esteve presente
na constituição propriamente dita dos artigos publicados, embora a fundamente.
Na universidade, após décadas de quase total ausência, a infância volta a ser tema
investigativo através principalmente de dissertações de mestrado e teses de doutorado, ainda que,
parte substancial desses trabalhos discuta os sistemas escolares e institui
ções familiares presentes
na vida da criança. Poucos abordam o modo pelo qual a criança elabora essas situações através de
suas experiências e das relações de sociabilidade infantis (CASTRO, 2001a; 2001b;
FERNANDES, 2004).
Discutir os contornos do trabalho infantil implicou nuançar os vários aspectos que
compõem a sua dinâmica. E acima de tudo, deitar atenção para “aqueles que não m a palavra”,
segundo a origem etimológica
infans
aquele que não fala (SIROTA, 2001, p. 9) o que de resto
produziu o efeito de desaparição ou mesmo marginalização da infância (QVORTRUP, 1994;
CORSARO, 1997) por parte dos sociólogos da infância enquanto objeto de estudo e discurso
científico.
Quando novos interesses e preocupações passaram a considerar a infância como
constru
ção social produzida pelo ator no sentido pleno, isto se deveu, em certos aspectos, ao
estudo realizado por Ariès (1960)
22
. É o que Sirota (2001, p. 10) exprime: “Essa visão da infância
como uma construção social, dependente ao mesmo tempo do contexto social e do discurso
intelectual, foi iniciada pelo trabalho do historiador Ariès”. A partir da década de 1980,
multiplicaram as pesquisas no conjunto das Ciências Sociais questionando os modelos
explicativos existentes e realizando críticas à concepção de socialização enquanto processo
unilateral, ou seja, da influência exercida pela instituição e pelos agentes sociais visando à
adaptação e à integração da criança na sociedade (JENKS, 1982; QVORTRUP, 1994).
Segundo o sociólogo dinamarquês Qvortrup (1994, p. 6) falar da infância como objeto
sociológico não mascara a diferença entre as crianças, pois não há apenas uma, mas várias
22
Trata
-
se de
L’ Enfant et la vie familiale sous l’ Ancien Régime
.
A 1ª edição brasileira data de 1978. Utilizaremos,
no entanto, a 2ª edição brasileira, de 1981, traduzida por Dora Flaksman a partir da 3ª edição francesa, publicada em
1975 pela Editions du Seuil, de Paris. Em 1962,
L’ Enfant et la vie fam
iliale sous l’ Ancien Régime
foi traduzida para
o inglês. Durante os anos 60 nenhuma prestigiosa revista de história ou pedagogia do mundo a resenhou. Em 1975,
foi traduzida para o italiano, o alemão e outras línguas. Até 1986, no mundo anglo
-
saxão foi mai
s de 12
reimpressões. Depois de duas décadas de sua primeira edição a referida obra tornou
-
se um estudo muito citado nas
áreas de educação, história, sociologia, psicologia, embora no início não tenha despertado tantos interesses. Sobre as
dificuldades da recepção do livro de Ariès entre os historiadores, Becchi e Julia
apud
Sirota (2001, p. 10) afirmam:
“ele atrapalha os quadros tradicionais de exposição”.
99
infâncias. A infância de uma menina não é a mesma que a de um menino, assim como as
experiências de filhos de operários não é igual aos
filhos de camadas altas da sociedade. Mas isso
não impede que se façam estudos comparativos das infâncias entre diferentes regiões e mesmo
países.
Pensando em tais questões abordamos o estudo feito com grupos infantis, na década de
40, pelo então jovem Florestan Fernandes, nos bairros pobres de São Paulo. Trouxemos para o
debate, na seqüência, sem a pretensão de esgotá
-
lo, as contribuições de Alanen (2001); Sarmento;
Pinto (1997) e Martins (1993).
Em 1941, então com 21 anos, Florestan Fernandes (1920-1995), na qualidade de aluno
regular do curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo realizou a cargo do professor Roger Bastide “uma pesquisa sobre o
folclore paulistano”
23
.
A Editora Vozes relançou em 1979: “Folclore e Mudança Social na cidade de São
Paulo” reunindo alguns dos primeiros estudos sociológicos efetuados por Florestan, com base em
pesquisas feitas entre 1941 e 1959. Neste, cinco estudos são voltados basicamente ao
desvelamento do mundo infantil: ‘O folclore de uma cidade em mudança’; ‘As ‘trocinhas’do
Bom Retiro’; ‘Contribuição para o estudo sociológico das cantigas de ninar’; ‘Contribuição para
o estudo sociológico das adivinhas paulistanas’ e; ‘Aspectos mágicos do folclore paulistano’.
Para sua realização, Florestan passou a observar sistematicamente certos aspectos de grupos
infantis nos bairros, da então, periferia paulista: Brás, Penha, Cambuci, Santa Cecília, Pinheiros,
Bela Vista, Belém, Lapa, Liberdade, Pari, Bom Retiro. Pôde então conhecer o universo das
crianças pobres das ruas dos bairros de trabalhadores.
Coletou, sistematizou e analisou material sobre: “folclore infantil, cantigas de ninar e
acalanto, cantigas de piquenique, brinquedos de salão, respostas, ou melhor, jogo de pulha en
tre
adultos, alguns contos, lendas, fábulas, adivinhas populares, sonhos (apenas as interpretações de
cunho mágico), superstições, ditos e provérbios” (FERNANDES, 2004, p. 232). Na experiência
do trabalho de campo, a observação dos elementos do folclore in
fantil paulistano e dos conteúdos
culturais foi realizada do seguinte modo: “A coleta de dados foi feita exclusivamente por meio da
23
O ensaio “As ‘trocinhas’ do Bom Retiro
contribuição ao estudo folclórico e sociológico da cul
tura e dos grupos
infantis” foi escrito e apresentado no primeiro semestre de 1944, para o concurso “Temas Brasileiros”, instituído
pelo Departamento de Cultura do Grêmio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo
100
observação direta. A descrição fiel das ocorrências é a técnica mais adequada em pesquisas deste
gênero” (FERNANDES, 2004, p
. 233).
Em se tratando de pesquisa de campo Fernandes lidou com uma questão bastante
espinhosa: as dificuldades em conduzir investigações no mundo infantil. Como é sabido o
instrumental sociológico que é representado pelas orientações e necessidades analíticas da
pesquisa
-
por ter sido criado pelo adulto acabou voltando
-
se para ele. As formas de comunicação
e as interações sociais foram definidas pelos adultos
‘pessoas maduras’
-
. Assim, no decorrer da
pesquisa, o envolvimento com a criança pressupõe ferramentas e habilidades do pesquisador a
fim de capturar os códigos e significados tipicamente infantis. Trata-se de um ajustamento ao
mundo infantil, ou, nas palavras de Roger Bastide (2004, p. 230): “para poder estudar a criança, é
preciso tornar-se criança”. Florestan concluiu que existe uma ‘cultura infantil’ específica e
justamente por ser distinta da cultura do adulto é que a criança não é um adulto em miniatura.
O esforço de Fernandes reserva um lugar à criança em termos de interagir e fazer as
situações cotidianas. Mostra que as crianças criam e recriam uma cultura passada de geração em
geração com seus aspectos regionais e suas particularidades locais. Se bem que esse seu interesse
se arrefeceu pouco tempo depois não suscitando novos esforços da
parte de outros pesquisadores.
o trabalho de Alanen (2001) assinala uma crítica ao conceito de criança
fundamentalmente ocidental e adultocêntrico, pois ela emergiu do ponto de vista do adulto e
de seus interesses naquilo que viria a ser, e não naquilo que ela é. Alanen (2001, p. 71, grifo da
autora) propõe trazer “as crianças e seus pontos de vista para dentro da sociologia”, que sejam
compreendidas enquanto “
sujeitos
falantes, atuantes e que vivem experiências, com seus próprios
pontos de vista sobre o mundo no qual vivem conosco” (ALANEN, 2001, p. 71, grifos da
autora). Trata-se de forjar e experimentar instrumentos conceituais no desenvolvimento de uma
sociologia da infância, que abarque a criança em seus múltiplos aspectos, sociais, culturais,
identitários.
Pinto (1997, p. 68) acredita na necessidade de ver as crianças como sujeitos ativos nos
processos sociais. Defende que, para compreender as culturas infantis e as relações estabelecidas
entre as mesmas, é preciso, pois, um deslocamento radical da perspectiva do adulto e assim
buscar a desconstrução de imagens
mitificadas
e
estereotipadas
acerca das crianças que
e ganho por
Florestan Fernandes no âmbito da seção de Ciências Sociais; posteriormente publicado pela
Revista do
Arquivo Municipal
, São Paulo, n. CXIII, p. 7
-
124, 1947.
101
perpassam nos discursos, nas práticas e, em geral, nas formas mais variadas de representação da
infância”.
Segundo o autor, nos
registros histórico
-
discursivos, a criança é tida como objeto de um
discurso científico e ambicioso em compreendê
-
la. O efeito [pernicioso] disso foi justamente o de
atribuir à criança uma série de imputações que incidiram sobre sua mente, seu corpo, sua v
ida.
Ela sofreu ‘passivamente’ pois lhe fora criado um sentimento de impotência e inércia em face de
sua realidade.
Sarmento e Pinto (1997, p. 13) insistem em delimitar e definir os conceitos de criança e
infância:
[...] crianças existiram desde sempre, desde o primeiro ser humano, e a infância
como construção social a propósito da qual se construiu um conjunto de
representações sociais e de crenças e para qual a qual se estruturam dispositivos
de socialização e controle que a instituíram como categoria social própria
existe desde os séculos XVII e XVIII.
E assinalam a distinção entre essas duas categorias:
Infância, como categoria social que assinala os elementos de homogeneidade
deste grupo minoritário, e as crianças, como referentes empíricos
cujo
conhecimento exige a atenção aos fatores de diferenciação e heterogeneidade,
afiguram
-se não como uma redundância ou uma sutileza analítica, mas como
uma necessidade incontornável na definição de um campo de estudos ou
investigação (SARMENTO; PINTO, 1
997, p. 24).
Sarmento; Pinto (1997, p. 17) acreditam que a infância em si não é uma experiência
natural e universal - o que poderia mascarar as diversas realidades que a cercam porém, é uma
invenção social que está relacionada aos sentidos e significados atribuídos pela sociedade, pela
cultura e pela história de cada um.
Os autores supracitados apontam a importância da construção social da infância
enquanto novo paradigma o que acabou gerando um exame mais agudo “das
práticas de pesquisa
dos sociólogos, para se descobrir como de fato se produzia a ‘invisibilização’ das crianças
(ALANEN, 2001, p. 70, grifo da autora).
Quanto à 'invisibilização' da criança como tema no panorama da sociologia brasileira há
pelo menos duas razões. Em primeiro, a predominância e o peso da perspectiva marxista no
conjunto da produção da ciência social no Brasil. Considerando que o conceito de classe é axial
102
no enfoque marxista, conjugá-lo com estudos que trouxessem a criança e o universo infantil para
frente do debate tornava-se, portanto, difícil. Como o visto, pouquíssimos ensaios - com exceção
de Florestan Fernandes na década de 1940 - trouxeram novas contribuições a partir dos anos 80.
Guimarães (1999, p. 14) ao realizar um balanço crítico acerca de estudos e autores que ab
ordaram
o tema das classes sociais, a partir dos anos 40, afirma que o debate travado caminhou no sentido
de "definir o objeto mesmo da reflexão sociológica no Brasil". E acrescenta:
[...] serão as classes sociais os principais agentes e o seu conceito a principal
ferramenta da sociologia. A própria idéia de sociologia passa a ser associada ao
conhecimento de uma estrutura social regida por leis científicas e, portanto,
racionalmente compreensível, mas totalmente opaca ao entendimento dos
indivíduos
qua
atores sociais. [...] Os anos 60 assistiram ao avanço da teoria das
classes e à consolidação da influência do marxismo, e de todas as formas de
explicação estrutural, na sociologia brasileira (GUIMARÃES, 1999, p. 15).
A par deste aspecto, uma outra razão que ajuda a compreender a invisibilidade da
criança na produção sociológica brasileira é levantada por Martins (1993, p. 51
-
51):
As ciências sociais têm, num certo sentido, uma concepção definida de quais
são as fontes aceitáveis e respeitáveis do dado sociológico. Do mesmo modo,
entre a história oral e a história documental, dificilmente um historiador
consideraria a primeira tão importante e segura quanto a Segunda. Entre o
formulário pré-codificado e o depoimento autobiográfico espontâneo, o
sociólo
go e o cientista político tenderão a considerar o primeiro fonte mais
objetiva que o segundo. Entre o depoimento do chefe da família e o da
empregada doméstica dirão que o primeiro é mais completo e mais seguro,
quando se tratar de um estudo em que a família for considerada o "sujeito" da
investigação.
Um aprofundamento detido nessas questões poderia ventilar sobre os limites e as
tensões constitutivas da própria área de estudo e suas linhagens. Mas isso é algo a se fazer e que o
exame aqui realizado nã
o evidencia.
Com base nas reflexões suscitadas por Fernandes (2004), Alanen (2001); Sarmento;
Pinto (1997) e Martins (1993)
pode
-se afirmar que não somente na Sociologia, mas também nas
Ciências Sociais, trabalhos acerca da infância não têm merecido, por parte dos pesquisadores, ao
longo do século XX, um enfoque sistemático e detalhado. Com efeito, tardou para que as ciências
sociais deitassem luz à criança enquanto sujeito central de suas investigações buscando
compreender suas representações de mundo, o complexo e multifacetado processo de construção
103
sócio
-histórico e cultural da infância
24
. Tais conceitos têm sua natureza singular abrigando uma
carga de valores, significados, opções de vida presentes no decurso de cada época e sociedade.
O desdobramento de tais aspectos conduziu as disciplinas de Ciências Sociais a um
rearranjo no interior dos campos de estudo. Segundo Sarmento e Pinto (1997, p. 14), muito da
diversidade de olhares acerca da infância se deve a ‘disputas’ entre as linhas teóricas dentro das
disciplinas. As motivações também se materializaram em inúmeros encontros, colóquios,
seminários, grupos e centros de pesquisa, intensificados a partir dos anos 90, envolvendo
sociólogos da infância, antropólogos, historiadores da educação, pedagogos e psi
cólogos
25
. Além
disso, nesse processo foram - e estão sendo - criadas revistas especializadas, programas, grupos e
centros de pesquisa revelando um alargamento
26
de suas fronteiras epistemológicas o que
confere, em grande medida, uma sensibilização e um esta
tuto teórico
-
metodológico ao tema.
Esta síntese deixa na sombra certo número de trabalhos o que a faz ser limitada também
pelo pouco aprofundamento que recebe. Além disso, pode-
se até considerar talvez que as idéias e
24
Fernandes (2004). Ressaltamos o estudo de Pereira (1997). A autora faz uma retrospectiva da ‘A
ntropologia da
Infância’ a partir da análise dos trabalhos de Margaret Mead, Mary Goodmann e Charlotte Hardman retratando o
modo como o adulto percebe e vê a criança. Além disso, mostra a ausência da criança na pesquisa antropológica.
Instigante também é a
coletânea de artigos organizada por Castro (2001b). Nela, três cidades brasileiras: Rio de
Janeiro, Fortaleza e São José dos Campos foram o cenário de um estudo junto a crianças e jovens nos seus modos de
compreenderem as diferenças e desigualdades sociai
s.
25
Citamos alguns núcleos interinstitucionais e/ou interdisciplinares que desenvolvem e aprofundam o conhecimento
das várias situações nas quais a infância se constrói. O (NUCEPEC) Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a
Criança da Universidade F
ederal do Ceará; o (NESCIA) Núcleo de Estudos Socioculturais da Infância e
Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; o (NIPIAC) Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e
Intercâmbio para a Infância e Adolescência Contemporâneas da Universida
de Federal do Rio de Janeiro; o (NEIA)
Núcleo de Estudos sobre a Infância e a Adolescência da Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Marília; o
(CIESP) Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância do Rio de Janeiro; o (LAPIC) Laborató
rio de
Pesquisas sobre Infância, Imaginário e Comunicação da Escola de Comunicação e Artes; o (LEPSI) Laboratório de
Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a Infância da Faculdade de Educação ambos da
Universidade de São Paulo; o (ICA) Ins
tituto da Criança e do Adolescente da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. A existência desses centros e núcleos de pesquisa permite que se faça algumas observações, a saber:
eles demonstram a carência e a parcialidade de estudos empíricos sob
re a infância; apontam a ausência de
comunicação interdisciplinar e em alguma medida buscam romper a fragmentação disciplinar; ilustram a tentativa de
pesquisas originais e renovadas já que a formação dos pesquisadores é bem variada. Caberia investigar se
a presença
desses e outros centros e núcleos de pesquisas disseminados nas instituições de ensino superior, ou então vinculados
a elas, expressam o resultado de trabalhos ali realizados ou se são, condição para que eles se efetivem.
26
Em 1996, o Governo Fe
deral, realizou em Brasília, um encontro que reuniu centros brasileiros de pesquisa, como
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), os Ministérios do Trabalho, Saúde e
Educação e organismos internacionais como a Organização In
ternacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF), onde foram narradas e debatidas experiências de combate ao trabalho precoce
como as feitas pelo Programa Internacional para Abolição do Trabalho Infantil (IPEC)
-
criado em
1992, pela OIT
-
e intervenções em áreas críticas de vários Estados brasileiros, com ênfase nas atividades realizadas nos canaviais,
olarias, carvoarias e em regiões tipicamente urbanas. Além disso, houve um grande estímulo a novas investigações
no campo
do trabalho infantil, tendo como pano de fundo intervenções diretas na realidade (FERREIRA, 2001, p.
216
-
217).
104
abordagens no plano conceitual sejam novas, mas não são muito numerosas nem completamente
originais.
Feita essa discussão mais geral gostaríamos agora de fazer mais alguns apontamentos
acerca da problemática da infância seguindo ainda, em largos traços, o percurso dos autores
citados.
Desde que Ariès afirmou em seu estudo que o "sentimento de infância" não esteve
presente na sociedade da mesma forma, os estudiosos trataram de dimensionar ainda mais esse
conceito, sobretudo nos campos da sociologia, da psicologia e da educação. A busca se norte
ava
para desvelar as inúmeras faces que envolvem a infância.
Sua obra abre um veio diferente daquele presente nas configurações biológicas e
psíquicas da infância que passou a ser inscrita também em outros contextos das relações
humanas, isto é, no domínio sócio-cultural e seus aspectos corporais, religiosos, morais,
psicopedagógicos. James e Prout citados por Sirota (2001, p. 18-19) afirmam: “A infância, vista
como fenômeno diferente da imaturidade biológica, não é mais um elemento natural ou universal
dos
grupos humanos, mas aparece com um componente específico tanto estrutural quanto cultural
de um grande número de sociedades”.
De certa forma, a infância tal como produzida no decurso da reflexão de Ariès ainda
encontra
-se presente nas abordagens contemporâneas. O registro de Ariès tornou-se um marco
basta observar a quantidade de autores que o citam direta ou indiretamente seja porque
influenciou e corroborou enfoques analíticos, seja porque constituiu uma referência que deveria
ser criticada/superada
para a construção de outras abordagens.
O trabalho de Ariès situa a infância como um fenômeno moderno que para o autor
houve “a ausência do sentimento da infância na Idade Média” (ARIÈS, 1981, p. 14) resultado
de uma série de condições que se conjugaram. O seu gesto descortinou o entendimento de um
fenômeno que antes era tido como um fato biológico e que a partir de então se figurou enquanto
uma construção cultural. Segundo Jenks (1982, p. 12, tradução nossa):
A transformação social da criança em adulto não resulta diretamente de seu
crescimento físico. O reconhecimento da infância pelos adultos, e vice-
versa,
não é socialmente determinado pela diferença física; tampouco esta é uma base
suficientemente nítida para a relação entre o adulto e a cria
nça.
105
Para Ariès (1981), a definição de um estatuto da infância surge no contexto de
profundas transformações econômicas, políticas e sociais que incidiram na Europa e foram
criando novos suportes societários. A partir da segunda metade da Idade Média européia o
desenvolvimento das estruturas educativas, da cultura escrita potencializou as condições de
emergência da sensibilidade moderna para com a infância.
Inicia
-se, então, para a criança fechada na família burguesa européia o desenvolvimento
de toda uma educação dos sentidos que diz respeito fundamentalmente a permissões e restrições,
ou aquilo que se poderia denominar de mundo da criança em oposição ao mundo do adulto; ou
ainda, modos de ser da criança e modos de ser do adulto como etapas sucessivas e justapostas no
tempo.
Essas mudanças ganharam força com o pensamento iluminista que concebe o indivíduo
como ser único, reflexivo e consciente dotado, portanto, de capacidade crítica. As Luzes
celebraram o ápice da civilização européia que, com os ideais de liberdade e emancipação
frutos do uso da razão inspiraram o protótipo de sujeito ideal para as gerações vindouras:
homem branco, europeu, heterossexual, colonizador (VEIGA-NETO, 1995, p. 12). Se o
Iluminismo ruiu uma antiga forma de regime político, social, econômico, cultural, por
conseguinte, as relações entre adultos e crianças não poderiam continuar exatamente as mesmas.
Os primeiros começarão a ser vistos a partir de uma concepção de individualidade, autonomia e
racionalidade. Os últimos serão tomados e colocados sob o visgo da dependência, menoridade,
carência (LERENA, 1983). Porque se ainda não são racionais, moralizados e autônomos
necessariamente virão a ser através de esforços sistematizados do Estado capitalista nascente, da
educação esc
olar por ele proporcionada e de todas as suas vicissitudes.
Varela (1986, p. 157) faz uma crítica a moderna concepção de infância que está em
Ariès ao salientar: “Esta moderna visión de la infancia que, no es homogénea, aunque sea
dominante en algunos grupos sociales, supone una descalificación y un rechazo de las formas
medievales de socialización e impone su segregación de la vida colectiva”. De nossa parte, pela
leitura feita de seu livro, percebemos a ausência e importância - dos processos de
socialização
dentro da família de classes populares ligados a condições ideológicas e morais. Ou então, outras
infâncias, como a proletária, ou da Revolução Industrial; a sua relação com a criação das escolas
primárias e jardins de infância. Ainda que se pesem as críticas que foram endereçadas, o estudo
de Ariès mostra como mudaram os sentimentos e atitudes diante da criança.
106
A partir daí, o enfoque sobre a infância procurou esquadrinhar o leque de experiências
que são próprias de cada idade; estabelecer os espaços e cuidados específicos com vistas ao seu
desenvolvimento pleno; reafirmar e inventar direitos para a criança. A criança passou a ser foco
privilegiado de ações políticas, de campanhas ideológicas, de operações que buscam regular sua
vida (BUJES, 2000, p. 26
-
31).
Ao redor do tema veiculam inúmeros discursos sobre esse ser concebido por tantos
nomes
criaturinha inocente’, ‘plantazinha do céu’, ‘coisinha engraçadinha’, ‘imaturo’,
‘pichote’
27
, ‘trombadinha’, ‘baixinho’, infante, aprendiz, criança e que hoje ocupa parte das
preocupações governamentais, educacionais, acadêmicas, médicas. O saber produzido tem dois
efeitos complementares, pois estabelece os processos através dos quais a criança vive ao longo de
seu desenvolvimento biológico e psicossocial e, em segundo, serve de baliza para que tais
processos sejam observados, descritos, avaliados e desencadeiem novas abordagens sobre a
criança.
A construção social da infância pressupõe a construção de um modelo societário que
assegure a não possibilidade de desvios sociais ou mesmo questionamentos da ordem moral e
social criadas. Deve ser entendida como um processo de intervenção que se pauta em saberes
relacionados ao corpo, à sexualidade, à postura, os valores aderidos à infância. A princípio, essa
intervenção se no indivíduo e gradativamente passa a ocorrer numa dimensão coletiva
enfocando aspectos afetivo, biológico, emocional da criança. É justamente aí, que a educação da
criança realizada pela família se extrapola.
O que se pretendeu com isso foi a mobilização de conteúdos em torno dos diversos
aspectos que compõem a infância fazendo dela matéria e objeto a serem trabalhados pelos
variados mecanismos de controle do indivíduo. Tal discurso fundante consistiu em definições da
forma como as relações sociais deveriam ser tecidas
para
e não
pela
própria criança, efetivando
assim, um mecanismo bastante específico de regulação de suas vidas.
A produção de saberes especializados acerca da infância está vinculada à regulação de
condutas infantis e à implementação de projetos educacionais, psicopedagógicos e correcionais
voltados para ela: a vida infantil colonizada pela norma. É a “arte de governar a infância” posta
27
Observamos o vocábulo em Fernandes (2004, p. 241), muito embora, o dicionário de sinônimos
Novo Aurélio
Século XXI
(1999) não o registre. Pesqu
isamos em ‘pixote’ (s. m., p. 1581) V. ‘pexote’. Este, entre outros sinônimos,
significa: menino novo; criança (p. 1559).
107
em prática
28
. Os contornos dados à infância, no século XX, podem ser dimensionados através do
corpo de saberes elaborado e grassado sobre ela por meio de congressos, campanhas, dos
manuais de pediatria, puericultura, das Grandes Exposições Internacionais (KUHLMANN
JÚNIOR, 1996). Assistiu-se a emergência de uma construção da ciência, ou seja, de pesquisas e
teorias em educação, saúde, psicologia, sociologia, entre outros, que vão abordar a infância
delineando cada vez mais seus espaços. Os cuidados e a educação da criança passaram a se
inscrever em ambientes protegidos e regulados onde o tempo e as atividades desenvolvidas serão
especificamente programados para a criança. É o que afirma Bujes (2000, p. 28-29, grifos
nossos):
As crianças passam a ser alvo privilegiado destas operações que administram
corpos e visam a gestão calculista da vida: tornam-se objeto de operações
políticas, de intervenções econômicas, de campanhas ideológicas de
moralização e de escolarização, de uma intervenção calculada. [...] Nesta
perspectiva, é fácil entender por que os últimos séculos foram pródigos na
produção
de saberes sobre a infância. Os corpos e as mentes infantis tornam-
se
objeto da ciência.
A “descoberta da infância” pela ciência e todo seu rol de conceituações lactância,
primeira infância, segunda infância que classifica cada grupo etário significa um movimento
único e ao mesmo tempo ambíguo. Pois, se a infância passa a dispor de um estatuto
fundamentado em conhecimentos científicos e especializados que criou teorias para governá-
la,
28
Citamos dois autores que sugeriram meios de educar as crianças e tornaram
-
se clássicos da pedagogia européia no
século XVIII. Em
Pen
samientos sobre la educación
(1693)
publicado originalmente em Londres
-
John Locke
(1632
-
1704) ensinou minuciosamente, através de 27 capítulos sobre a educação, como formar o caráter do homem.
Tratou, entre outros aspectos da saúde, natação, das roupas,
dos alimentos, do entretenimento, dos castigos, das
regras e recompensas. E Jean
-
Jacques Rousseau (1712
-
1778) quem falou da arte de governo das crianças na sua
obra:
Emílio ou da educação
publicada originalmente em 1762. Para o filósofo
que vincula o ‘i
rracionalismo’ e o
‘primitivismo’ à natureza específica da criança
-
a educação desta deveria cumprir dois objetivos básicos: o primeiro,
impedir o surgimento de vícios e da hipocrisia. O segundo, preparar terreno para que a razão pudesse exercer maior
vig
or em sua vida. Vale lembrar que Rousseau escreve numa época em que a burguesia européia estava se
enriquecendo e ascendendo socialmente: “Para este nuevo grupo social en ascenso, que rechaza el contacto com las
clases populares, la família se ha convertid
o en un lugar necesario de afectos entre sus miembros, cuja preocupación
máxima es la educación de los hijos” (VARELA, 1986, p. 169). Ou seja, receber uma educação que desenvolva a
virtude e o culto às letras. Esses pensadores, na suposição da existência de necessidades e interesses próprios da
criança compreenderam a sua particularidade que como tal requeria tratamento pormenorizado. Além disso,
enfatizaram a importância moral quanto social da educação baseada em uma formação metódica. Talvez resida aí a
c
ontribuição fundamental para a moderna concepção de infância. Seria interessante, nesse sentido, investigar como e
até que ponto a educação, em Locke e Rousseau é um instrumento que legitima e naturaliza as desigualdades
sociais.
108
ela nunca deixou de realizar na discursividade científica ocidental e moderna a renúncia de
sua finitude de idealização futura, não raro, salvífica.
Firmado um estatuto privilegiado e um lugar distinto a infância passa a ser entendida a
partir de singularidades históricas, culturais e das práticas sociais. O terreno de afirmamento e
difusão dos discursos terá não poucos efeitos sobre a infância, pois: estabeleceu a unidade do
‘objeto infância’ e seu
corpus
de princípios; delineou as formas e divisas de sua enunciação; além
de reservar para a infância o desenvolvi
mento de um conjunto de disposições científicas.
As maneiras como os homens se organizam para produzir os bens que constituem a
sociedade, a forma societária que constroem para conviver, o modo como diferentes sujeitos
ocupam diferentes papéis sociais, tudo isso fixa o repertório de idéias e o conjunto de normas,
princípios com que uma sociedade é dinamizada.
Apesar do esquadrinhamento das ações, dos gestos, dos corpos e mentes infantis e de
tudo aquilo que se refere como ‘normal’ e ‘desejável’ em seu desenvolvimento, a infância não
pode existir no seio social se não manifestar seus dilemas, anseios e expectativas, muito embora,
essa manifestação, não raras vezes, esteve encoberta no manto da fragilidade, da carência, da
vitimização e, no limite, suscetível de operações ideológicas realizadas por outros grupos
(BUJES, 2001, p. 28).
Falamos rasteiramente seguindo o rastro de Ariès que a infância de cada criança não é
do todo natural e universal. Idéia essa que vai sendo costurada a partir de novas formas de s
entir
dos adultos e de noções que distinguem a criança daquele. Para o OIT Organização
Internacional do Trabalho
apud
Bequele (1993, p. 38) a infância:
[...] pode ser definida em função da idade, mas diversas sociedades aplicam
critérios distintos para estabelecer o limite entre a infância e a idade adulta. Em
certas sociedades, no entanto, idade não constitui base suficiente para
determinar a infância. O cumprimento de determinados ritos sociais e
obrigações tradicionais podem também ser requisito para a definição do estado
de adulto ou de criança. Em outras, a integração da criança na vida cio-
econômica pode começar tão cedo ou a transição da infância para a idade adulta
pode ser tão lenta e gradual que é praticamente impossível identificar
claramen
te as diferentes etapas da vida.
Ademais, qualquer enunciação da infância, seja ela dada pelas artes, pela religião, pela
literatura, ou então, e, sobretudo pelo discurso científico - com sua ‘pretensão de verdade’ é
uma invenção que trabalha a partir
de recortes temporais e espaciais.
109
Ressalta
-se que o que está em discussão não é o conceito de infância propriamente dito,
mas antes a generalização da experiência do trabalho infantil na qual seus significados são
estabelecidos enquanto marcos importantes para o desenvolvimento das relações sociais. Essa
generalização é inerente à atividade da criança que trabalha porque a experiência do modo como
existe prolonga
-
se e implica em um valor intrínseco que resulta em considerações práticas.
Desacompanhada do discurso, a infância enquanto
construto
mental perderia não a
sua feição reveladora como, e pela mesma razão, o seu sujeito. Sem o discurso, a infância,
deixaria de ser infância, pois não haveria ator
-
aquele que produz palavras e atos
-.
A conotação de agente inicia-se na disposição de falar e agir, de inserir-se no mundo
social e desencadear uma história própria. Nesse particular, a infância mostra com vigor suas
identidades subjetivas e peculiaridades como também sua condição de pluralidade. Se se perd
er
de vista o que a infância apresenta de específico corre
-
se o risco de não se chegar a uma definição
satisfatória dela mesma, uma vez que todas as definições comportam
ou pelo menos deveriam
interpretações do que a infância é e, sendo assim, as características que ela possa ter em comum
com outros sujeitos, têm de ser buscadas determinando
-
se que tipo de infância ela é.
A infância é marcada por um duplo processo de desdobramento, tanto da experiência
subjetiva, individual quanto da vida coletiva, social que se traduz pela participação ativa da
criança. Além disso, conserva o núcleo fundamental de revelar o seu agente que se move em uma
trama na qual seus interesses específicos ocorrem. Isso constitui em decorrência, um elo que
relaciona e aproxima os s
ujeitos. É através dessa mediação que a infância descortina seus sujeitos
e
110
5 Considerações finais
Necessário se faz ressaltar que o texto não se orientou pela pretensão de compreender e
desvelar inteiramente as bases nas quais se assentam as motivações e representações nem sempre
manifestas acerca do trabalho infantil. A própria dinâmica do texto traz para si noções de
pluralidade que estão no cerne dos processos de constituição do trabalho infantil.
Quanto à estrutura da dissertação, talvez fosse necessário aprofundar o material
arrolado, seja através da elaboração de resumos para os artigos que não o apresentaram
um total
de 22 -, seja por meio da construção de um banco de dados, ou ainda, a inclusão de outros
periódicos impressos e também eletrônicos. O que um estu
do posterior possa o fazer.
O balanço da produção permitiu um mapeamento das perspectivas e, em segundo, essa
revisão permitiu afirmar que em seu conjunto vem crescendo sobretudo, nos últimos dez anos.
Restaria saber, se esse processo de expansão vem marc
ado por certas dificuldades de manutenção
e consistência da qualidade editorial.
O registro da produção sobre o trabalho infantil em periódicos científicos brasileiros
oferece duas observações, a saber: estamos diante de um veículo de comunicação, fonte de
debate
e expressão do pensamento acadêmico, por vezes, tão maltratado em prateleiras capengues e
empoeiradas. Em segundo, estamos diante do estabelecimento de uma área de investigação que
conjuga e estimula novas reflexões acerca do trabalho infantil. Nesse sentido, a discussão
ampliou o grau e os limites de entendimento do tema e possibilitou o entendimento de alguns dos
mecanismos que estão atrelados ao processo de (re)produção de certas especificidades que o
cercam. Além disso, abriu a possibilidade de aproximação e articulação dos estudos entre áreas
do conhecimento.
É visível o crescimento da proteção legal que a criança é um ‘sujeito de direitos’
pelo menos em termos estatutários e normativos, o que infelizmente ainda não se pode afirmar
por extensão tal efetividade na prática. ainda a mobilização de setores da sociedade civil
preocupados com o cumprimento dos direitos da criança e também se constata o aumento
significativo de investigações e pesquisas de campo que culminam na elaboração de
dissertações
de mestrado, teses de doutorado, na publicação de livros, relatórios e artigos científicos. Não
obstante, o trabalho infantil em suas mais diversas formas encontra espaços para sua
continuidade. Com efeito, o estudo do trabalho infantil requer investidas que o considere, para
111
quem o vivencia, como uma experiência decisiva e não experimentação que é interiorizada e
exteriorizada em práticas, discursos e enunciados sociais.
Vimos que o discurso científico ora se move com uma imagem de criança que faz
referência à fragilidade, à inocência, ora ainda à necessidade de proteção e direção rigorosas. O
mundo dos afetos e o mundo das normas se confundem e se excluem. Quando pensados hoje, tais
conteúdos rechaçam o trabalho da criança e sinalizam para a importância do entretenimento e da
instituição escolar em suas vidas.
Se admitirmos a concepção de que o trabalho nega a condição de ser criança em sua
plenitude, então, aquelas crianças que o vivem desde muito cedo acabam negando o conteúdo e a
repre
sentação com os quais a sociedade pensa a infância. Portanto, estamos diante de
infâncias
e,
contraditoriamente, na projeção de uma imagem apropriada que atribui à criança um lugar e uma
função dentro da sociedade. A respeito desse vir a ser, não poucas circunstâncias concorrem para
que, no seu subsolo, a construção dessa imagem apresente desvios e percalços ou, aquilo que se
afirma como idéia a realidade trata de negar.
Após a leitura e análise do material inúmeros artigos que foram resultados de pesquisas
não apresentaram de forma clara as diretrizes metodológicas. Muito embora ressalta-se que um
artigo não dispõe da mesma estrutura e densidade do que um relatório de pesquisa. Ainda assim,
as informações apresentadas auxiliam os leitores a terem uma compreensão mais abrangente das
questões abordadas, dos sujeitos envolvidos, do contexto temporal e espacial. Não houve nos
artigos publicados uma discussão sobre questões éticas envolvidas durante o processo de coleta
de informações e dados nas intervenções de campo. Os autores/pesquisadores nos limites de seus
textos não expuseram, por exemplo, a importância de garantir sigilo e proteção com crianças que
vivem nas ruas, ou ainda, o respeito por parte do pesquisador da vontade da criança em participar
ou não do
estudo, frente à apresentação clara dos propósitos e procedimentos do mesmo.
No que se refere à analise do conjunto de artigos publicados o trabalho infantil abriga
em si mecanismos de transmissão e apropriação de determinadas concepções de mundo. Buscou-
se estabelecer modos de articulação entre as representações do trabalho infantil e a formulação de
propostas que interfiram efetivamente na realidade como ocorreu nos artigos categorizados no
subtema: Trabalho Infantil e Políticas Públicas. A agenda do trabalho infantil corresponde a uma
articulação entre a pesquisa acadêmica e preocupações de intervenção social por meio de
políticas de abrandamento das desigualdades sociais.
112
Deixamos sublinhados alguns apontamentos mais ou menos desenvolvidos e que talv
ez
sirvam de estímulo para outros trabalhos. Os artigos compilados expuseram as principais
características do trabalho infantil no Brasil, em termos de sua extensão, dos instrumentos de
ação para erradicá-lo. Além disso, nota-se como, no recorte temporal considerado (1981-
2004)
foram sedimentando
-
se concepções que se tem hoje acerca do trabalho infantil e suas implicações
para a criança e para a sociedade.
A análise dos artigos conduziu-nos a um ponto que é da maior relevância quando se
leva em conta as interpretações que se fazem do trabalho infantil no Brasil nos seguintes termos:
quais são as fronteiras do trabalho infantil, ou, entre aquilo que se considera uma atividade
'necessária', 'importante' e o que de fato não se tolera? Se se admite a existência de tais linhas
demarcatórias, quem as estabelece? O grupo familiar; a criança, ela mesma? Os organismos e as
agências internacionais? Ou, a alcunha acadêmico-científica? O balanço da produção aqui
desencadeou muito custosamente o descobrimento deste nódulo - e, o descobrimento - que,
por ora, já é um achado bastante profícuo.
O fato é que milhares de crianças no Brasil brutalizadas pelo trabalho que se instala em
suas vidas, crianças de nervo permeadas por um tempo fatídico e duradouro, são a antítese
de
pretensas idealizações. Ajustadas em atos de pensamento; reféns de um futuro evanescente em
migalhas; figuras da retórica, essas mesmas crianças acabam por escancarar a parcialidade de
operações bem intencionadas.
No fio desta exposição transparecem as sucessivas aproximações e investigações feitas
ao longo do percurso de reconstrução do material que não se deu completamente. Por isso mesmo
existe o esforço de retomá-lo, mas retomá-lo como quem volta ao passado e volta a ele
enriquecido.
113
6
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Dissertação. (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de São
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cultura.
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econômica. Rio de Janeiro: OIT/IPEA, 2000.
SARMENT
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delimitando o campo. In: ______ (Org.). As crianças: contextos e identidades. Braga: Centro de
Estudos da Criança, 1997. p. 9
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pobre no Brasil. In: RIZZINI, Irene (Org.). Olhares sobre a criança: séculos XIX e XX. Rio de
Janeiro: Petrobrás
-
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SCHWARTZMAN, Simon. A política brasileira de publicações científicas e técnicas: reflexões.
Revista Brasileira de Tecnologia,
São Paulo, v. 3, n. 15, p. 25
-
32, mai./jun. 1984.
SILVA, Josué Pereira. Três discursos, uma sentença tempo e trabalho em São Paulo –
1906/1932
. São Paulo: Anablume/FAPESP, 1996.
SINGER, Paul. Economia política do trabalho: elementos para uma análise histórico-
estrutural
do emprego e da força de trabalho no desenvolvimento capitalista. São Paulo: Hucitec, 1977.
SIROTA, Régine. Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar.
Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, n. 112, p. 7
-
31, mar. 2001.
118
SOARES, Magda Becker. Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento.
Brasília:
INEP/REDUC, 1989.
VARELA, Julia. Aproximación genea
lógica a la moderna percepción social de los ninõs.
Revista
de Educación,
Madrid, n. 281, p. 155
-
191, sept./dic. 1986.
VEIGA
-NETO, Alfredo José (Org.). Crítica pós-estruturalista e educação. Porto Alegre:
Sulina, 1995.
VIANNA, Luiz Werneck. Leis do trabalho e burguesia industrial: a tentativa do liberalismo
fordista nos anos vinte. In: ______. Liberalismo e sindicato no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1976. p. 63
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VIEIRA, Maria Graças C. Perfil dos sistemas de indexação de documentos utilizados nas
bibliotecas e centros de documentação voltados à educação na América Latina e países de
Língua Portuguesa.
Brasília: INEP/MEC, 1999.
YUNES, Eliana. Infância e infâncias: as representações da criança na literatura. 1986. Tese.
(Doutorado em Educação)
-
Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 1986.
ZALUAR, Alba. Teoria e prática do trabalho de campo: alguns problemas. In: CARDOSO, Ruth.
(Org.).
A Aventura Antropológica.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p. 107
-125.
ZIMAN, John.
Conhecimen
to público.
São Paulo: Edusp/Itatiaia,1979.
Bases eletrônicas de dados e catálogos
on line
consultados:
http://www.scielo.br
http://www.periodicos.capes.gov.br
http://www.fcc.org.br
(Fundação Carlos Chagas).
http://www.fflch.usp.br
(Biblioteca Central da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo).
http://www.fe.usp.br/biblioteca
(Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo).
http://www.ct.ibict.br/ccn/owa/ccn_consulta
(Bibliotecas da
rede UNESP).
119
ANEXO A
Listagem contendo os 58 títulos de periódicos científicos brasileiros dispostos em
ordem alfabética
29
BARBARÓI
Revista semestral do Departamento de Ciências Humanas e do Departamento de
Psicologia da Universidade de
Santa Cruz do Sul
UNISC
(RS). ISSN 0104
-6578.
CADERNOS ADENAUER
Publicação bimestral da Fundação Konrad Adenauer da República
Federal da Alemanha. ISSN 1519-
0951. Disponível em: http://
www.adenauer.org.b
r
CADERNOS CEDES Publicação quadrimestral do Centro de Estudos Educação e Sociedade
da Universidade de Campinas UNICAMP (SP). ISSN 0101-3262. Disponível em:
http://
www.scielo.br
CADERNOS CERU Publicação anual do Centro de Estudos Rurais e Urbanos
120
CADERNOS DO CEOM Publicação semestral do Centro de Memória do Oeste de Santa
Ca
tarina da Universidade Comunitária Re
121
ENSAIO
avaliação e políticas em educação. Revista trimestral da Fundação CESGRANRIO.
ISSN 0104
-
4036. Disponível em: http://
www.cesgranrio.org.br
ESTUDOS
Publicação mensal da Univer
sidade Católica de Goiás
UCG
-
. ISSN 0103
-0876.
ESTUDOS DE PSICOLOGIA Revista quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN -. ISSN 1413-
294X.
Disponível em: http://
www.scielo.br
ESTUDOS EM AVALIAÇÃO EDUCACIONAL Publicação semestral da Fundação Carlos
Chagas (SP). ISSN 0103
-
6831. Disponível em: http://
www.fcc.org.br
GRIFOS
– Revista de divulgação científica e cultural da Universidade do Oeste de Santa
Catarina
UNOESC
-
. ISSN 1414
-0268.
HISTÓRIA
Publicação anual da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade Estadual
Paulista
– UNESP -
, formada a partir de 1982 pela fusão das revistas Anais de História
e Estudos
Históricos. ISSN 0101
-9074.
HISTÓRIA
: questões e debates Publicação semestral da Associação Paranaense de História
(APAH) e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná
UFPR
-
. ISSN 0100
-6932.
HORIZONTES
Revista semestral do Programa de Pós-
Graduação
em Educação da
Universidade São Francisco, de Bragança Paulista (SP). ISSN 0103-7706. Disponível em: http://
www.saofrancisco.edu.br/edusf
HUMANIDADES
Revista trimestral da Universidade de Brasília
UnB
-
. ISSN 0102
-9479.
INDICADORES ECONÔMICOS FEE Revista trimestral da Fundação de Economia e
Estatística Siegfried Emmanuel Heuser do Rio Grande do Sul. ISSN 0103-3905. Disponível em:
http://
www.fee.rs.gov.br
LOCUS
Publicação semestral do Núcleo de História Regional da Universidade Federal de Juiz
de Fora
UFJF
-
. ISSN 1413
-
3024. Disponível em: http://
www.locu
s.ufjf.br/arquivo
PAIDÉIA
Cadernos de Psicologia e Educação - Revista semestral da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto (SP). ISSN 0103
-
863X.
PERSPECTIVA
Publicação semestral do Centro de Ciências da Educação da Universidade
F
ederal de Santa Maria
UFSM
-
. ISSN 0102
-
5473. Disponível em: http://
www.ced.ufsm.br
PERSPECTIVAS
Revista de Ciências Sociais. Publicação semestral da Universidade Estadual
Paulista
UNESP
-
. ISSN 0101
-3459.
PSICOLOGIA
: teoria e pesquisa Revista quadrimestral do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília. ISSN 0102
-
3772. Disponível em: http://www.revistaptp.org.br
122
PSICOLOGIA CLÍNICA Revista semestral do Departamento de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica
PUC
-
do Rio de Janeiro. ISSN 0103
-5665.
PSICOLOGIA EM ESTUDO Publicação quadrimestral do Departamento de Psicologia da
Universidade Estadual de Maringá UEM (PR). ISSN 1413-7372. Disponível em:
http://
www.scielo.br
REDES
Revista quadrimestral do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional
da Universidade de Santa Cruz do Sul (RS). ISSN 1414
-7106.
REFLEXÃO E AÇÃO Revista semestral do Departamento de Educação da Universidade de
Santa Cruz do Sul (RS). ISSN 0103
-8842.
REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS P
123
REVISTA DO BNDES Publicação semestral do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social do Rio de Janeiro. ISSN 0104-5849. Disponível em:
http://
www.bndes.gov.br/conhecimento/publicacoes
REVISTA KATÁLYSIS Publicação semestral do Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC ISSN 14144980. Disponível em:
http://
www.kalalysis.ufsc.br
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA – Revista trimestral da Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados
SEADE
-
. ISSN 0102
-
8839. Disponível em: http://
www.scielo.br
SYMPOSIUM
Revista semestral da Universidade Católica de Pernambuco UCP -. ISSN
0039-7695.
TRABALHO & EDUCAÇÃO Revista semestral do Núcleo de Estudos Trabalho e Educação
(NETE) da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais UFMG -
ISSN
1516
-
9537. Disponível em: http://
www.fae.ufmg.br/trabalhoeeducacao
VERITAS
- Revista trimestral da Pontifícia Universidade Católica PUC - do Rio Grande do
Sul. ISSN 0042
-3955.
124
ANEXO B
Listagem bibliográfica sobre Trabalho Infantil contendo 97 artigos dispostos em
ordem alfabética
ALMEIDA NETO, Honor. Trabalho infantil: um velho pro
blema na ordem do dia.
Veritas
, Porto
Alegre, v. 43, n. especial, p. 21
-
26, dez. 1998.
ALVES, Paola Biasoli et al. Atividades cotidianas de crianças em situações de rua.
Psicologia
:
Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 18, n. 3, p. 305
-
313, set./dez. 2002.
A
LVES
-MAZZOTTI, Alda Judith. Repensando algumas questões sobre o trabalho infanto-
juvenil.
Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 87
-98, 2002.
ALVES
-MAZZOTTI, Alda Judith; MIGLIARI, Maria Fátima B. Representações sociais do
trabalho infantil: encontros e desencontros entre agentes educativos. Revista de Educação
Pública
, Cuiabá, v. 13, n. 23, p. 149
-
166, jan./jun. 2004.
ALVIM, Maria Rosilene Barbosa; LOPES, José Sérgio Leite. Famílias operárias, famílias de
operárias.
Revista Brasileira
de Ciências Sociais
, São Paulo, v. 5, n. 14, p. 7
-
17, out. 1990.
ANTUNIASSI, Maria Helena Rocha. O trabalhador mirim e a modernização da agricultura
paulista.
Cadernos CERU
, São Paulo, n. 15, p. 75
-
122, ago. 1981.
BAZÍLIO, Luiz Cavalieri. Trabalho, formação profissional e educação do adolescente.
Perspectiva
,
Florianópolis, v. 14, n. 26, p. 203
-
220, jul./dez. 1996.
BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. O trabalho de crianças e jovens no Brasil Imperial: Minas
Gerais, 1831
-1832.
História
, Curitiba, ano 20, n. 39, p. 191
-
220, jul./dez. 2003.
CADONÁ, Marco André. A infância precarizada: o trabalho de crianças e adolescentes na
produção de fumo na região fumicultora de Santa Cruz do Sul. Reflexão e Ação, Santa Cruz do
Sul, v. 9, n. 2, p. 45
-
61, jul./dez. 2001.
CAMPOS, Herculano Ricardo; ALVERGA, Alex Reinecke. Trabalho infantil e ideologia:
contribuição ao estudo da crença indiscriminada na dignidade do trabalho. Estudos de
Psicologia
,
Natal, v. 6, n. 2, p. 227
-
233, jul./dez. 2001.
CAMPOS, Herculano Ricardo; FRANCISCHINI, Rosângela. Trabalho infantil produtivo e
desenvolvimento humano.
Psicologia em Estudo
, Maringá, v. 8, n. 1, p. 119
-
129, jan./jun. 2003.
CARVALHO, Célia Pezzolo. Trabalho e escola: uma trajetória de vida.
Perspectivas
, São Paulo,
v. 4, p. 49
-63, 1981.
CARVALHO, Inaiá Maria M. Algumas lições do programa de erradicação do trabalho infantil.
São Paulo em Perspectiva
, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 50
-
61, out./dez. 2004.
125
CECÍLIO, Maria Aparecida. Educação e trabalho na zona rural: a construção intelectual do
trabalhador infanto
-
juvenil explorado em atividades braçais.
Comunicações
, Piracicaba, ano 5, n.
2, p. 125
-132, nov. 1998.
______. Trabalho infanto-juvenil: a retroação na história da organização social do trabalho.
Comunicações
, Piracicaba, ano 6, n. 2, p. 170
-180, nov. 1999.
CHAIA, Miguel W. O menor no mercado de trabalho. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v.
1, n. 1, p. 9-
16, abr./jun. 1987.
CHAKUR, Cilene Ribeiro Sá. Desenvolvimento cognitivo e educação escolar: as condições do
menor tra
balhador.
Ciência e Cultura
, São Paulo, v. 40, n. 3, p. 230
-
234, mar. 1988.
COELHO, Bernardo Leôncio Moura. Considerações sobre a globalização e seus efeitos sobre o
trabalho infantil. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 40, n. 158, p. 195-201,
abr./jun. 2003.
CORRÊA, José Campos Rossini. Diário da criança e do adolescente a infância e a juventude
nos jornais de Brasília entre agosto e novembro do ano de 1995. Revista de Informação
Legislativa
, Brasília, v. 33, n. 131, p. 241
-
249, jul./set. 1996.
CRUZ NETO, Otávio; MOREIRA, Marcelo Rasga. Trabalho infanto-juvenil: motivações,
aspectos legais e repercussão social. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p.
437-
441, abr./jun. 1998.
CUNHA, Luiz Antônio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil. Revista Brasileira de
Educação
, Rio de Janeiro, n. 14, p. 89
-
107, mai./ago. 2000.
DAUSTER, Tania. Uma infância de curta duração: trabalho e escola. Cadernos de Pesquisa,
São Paulo, n. 82, p. 31
-
36, ago. 1992.
DEMARTINI, Zeila Brito F.; LANG, Alice Beatriz Silva G. Educando para o trabalho: família e
escola como agências educadoras. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 64,
n. 148, p. 217-
233, set./dez. 1983.
DE TONI, Míriam. O desemprego entre crianças e adolescentes na região metropolitana de Porto
Alegre: ampliar oportunidades de trabalho ou resgatar a infância? Indicadores Econômicos
FEE
, Porto Alegre, v. 24, n. 3, p. 281
-
302, dez. 1996.
DIAS, Elizabeth Costa et al. Processo de trabalho e saúde dos trabalhadores na produção
artesanal de carvão vegetal em Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 18, n. 1, p. 269
-
277, jan./fev. 2002.
126
FACCHINI, Luiz Augusto et al. Trabalho infantil em Pelotas: perfil ocupacional e contribuição à
econo
mia.
Ciência & Saúde Coletiva
, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 953
-961, 2003.
FALEIROS, Vicente Paula. A fabricação do menor.
Humanidades
, Brasília, v. 4, n. 12, p. 5-15,
fev./abr. 1987.
FEITOSA, Izabel Christina et al. O trabalho precoce e as políticas de saúde do trabalhador em
Natal.
Estudos de Psicologia
, Natal, v. 6, n. 2, p. 259
-
268, jul./dez. 2001.
FERRARO, Alceu R. Crianças e adolescentes no Rio Grande do Sul: trabalho e analfabetismo.
Educação & Realidade
, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 203
-221,
jul./dez. 1997.
FERREIRA, Marcos Artemio Fischborn. Trabalho infantil e produção acadêmica nos anos 90:
tópicos para reflexão.
Estudos de Psicologia
,
Natal, v. 6, n. 2, p. 213
-
225, jul./dez. 2001.
FERREIRA, Rosilda Arruda. Inovações educacionais no âmbito do poder local: os impactos do
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) na política educacional do Município de
Vicência
Pernambuco.
Ensaio
, Rio de Janeiro, v. 10, n. 37, p. 527
-
543, out./dez. 2002.
FIOD, Edna Garcia Maciel. Crise da educação e sociedade do trabalho.
Perspectiva,
Florianópolis, v. 14, n. 26, p. 71
-
91, jul./dez. 1996.
FISCHER, Nilton Bueno. Escola pública e trabalho infantil: formação de crianças e adolescentes,
no início do século, em Porto Alegre.
Veritas
, Porto A
127
GOUVEIA, Aparecida Joly. O trabalho do menor: necessidade transfigurada em virtude.
Cadernos de Pesquisa
, São Paulo, n. 44, p. 55
-
62, fev. 1983.
GUTIÉRREZ, Horácio; LEWKOWICZ, Ida. Trabalho infantil em Minas Gerais na primeira
metade do século XIX.
Locus
, Juiz de Fora, v. 5, n. 2, p. 9
-21, 1999.
HERÉDIA, Vania Beatriz M. A vila operária de Galópolis.
Chronos
, Caxias do Sul, v. 29, n. 1,
p. 44-
55, jan./jun. 1996.
HILLESHEIM, Betina. O trabalho e o ser-criança na vida de meninos e meninas
trabalhadores(as) em lavouras de fumo.
Redes,
Santa Cruz do Sul, v. 6, n. 3, p. 109
-
117, set./dez.
2001.
______. Infância e trabalho
feminino e masculino em construção.
Barbarói
, Santa Cruz do Sul,
n. 20, p. 61
-
70, jan./jun. 2004.
LEWKOWICZ, Ida. Crianças nas fábricas de tecidos: o empresário e o trabalho do menor em São
Paulo nos anos 20.
História
, São Paulo, v. 14, p. 203
-214, 1995.
LOURO, Guacira Lopes. Lembranças de velhas colonas italianas: trabalho, família e educação.
Educação & Realidade
, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 33
-
43, jul./dez. 1990.
LUPPI, Carlos Alberto. O massacre do menor no Bra
sil.
Cadernos do CEAS
, Salvador, n. 78, p.
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