A fala de G.L., 36 anos, separada, mãe de quatro filhos, oriunda do meio
rural, e que veio para a cidade à procura de melhores condições de vida, traduz
o quanto a Ecos possibilitou a re-organização de sua vida e lhe deu novas
perspectivas:
Na colônia não deu mais para ficar. Meu pai alugava umas terrinhas. A
gente plantava milho, feijão, mandioca, batata doce. Coisa para comer.
E eram cinco filhos. Depois meus pais faleceram. Eu ainda era uma
mocinha. As pessoas disseram para eu dar as crianças pequenas. Eu
era a mais velha e tive pena de dar meus irmãos. Então vim para a
cidade. Me juntei com o pai de meus filhos e trabalhei como doméstica
para criar meus irmãos. Mas, o serviço de doméstica é brabo. A gente
agüenta muitas coisas e ainda é explorada. Eu queria arrumar outra
coisa, essa vida não servia para mim (17/10/2005).
Ao ser indagada sobre sua entrada na Ecos do Verde, G.L. falou o
seguinte:
Eu fiquei sabendo por um vizinho que iam inscrever gente na
cooperativa. Eu vim, me inscrevi e depois de cinco dias, eles me
chamaram. Eu gostei de ficar aqui. As pessoas se ajudam. Quando
falta alguma coisa, por exemplo, gás ou comida, a gente consegue um
vale. Aliás, depois que eu comecei aqui, posso fazer compras no
mercado com vale que a associação dá. Eles aceitam porque tem
crédito. E se a associação tem crédito a gente também tem. Às vezes
eu penso que trabalhar de carteira assinada talvez fosse melhor. Mas
quando eu penso mesmo, aí eu vejo que não. Aqui nós temos nossa
liberdade. E todos trabalham juntos. Todos têm que saber o que fazer,
pois tudo é nosso. Agora o que eu quero para o ano que vem, é
melhorar minha casa. Ela tá muito ruim. Falta um quarto. E chove
dentro. Mas eu vou lutar e vou conseguir. Quando saio daqui, eu cato
materiais, no fim de semana também. Durante o almoço, eu também
cato no lixão. Tudo isso aumenta os ganhos da gente. Mas o meu
projeto é ficar aqui. Está melhor que antes (17/10/2005).
Nas falas dos entrevistados está sempre presente um projeto de vida, um
objetivo pelo qual o sujeito se propõe a continuar vivendo. As histórias que
foram contadas, sejam vividas ou sonhadas, surgiram de muitas lutas.
Poderíamos pensar que os catadores da Ecos do Verde são grandes guerreiros.
Guerreiros contra a fome, a miséria, a falta de moradia, a falta de trabalho. Só
mesmo a solidariedade de seus iguais, para fortalecer seus projetos! É preciso
juntar os trapos, costurar os retalhos para cobrir a vida nua de condições sócio-
econômicas. Linhas para as costuras, agulhas para os enlaces, retalhos para
compor a colcha e muitas mãos que se abraçam: para os pobres, as relações
entre eles é que lhes sustentam o corpo, os sonhos, a realidade, o trabalho, a
comida, a casa. Para Fernandez (2003, p.33), o sujeito poderá ser pensado