significados para aqueles que as fazem, para aqueles que as observam e para os que passam por elas
e se deixam capturar por sua rede de sentidos.
Observa-se que a grafitagem e a pichação foi útil para designar formas de vida, práticas
cotidianas e para, de certa forma, datar ruínas como é o caso dos murais descobertos em Pompéia ou
dos próprios símbolos grafitados pelos primeiros cristãos nas catacumbas de Roma como lugar de
encontro secreto. Desses discursos, interessa-me perceber que há coisas sendo ditas, há significados
sendo fabricados, que devem ser consideradas para que eu possa “ao mesmo tempo distinguir os
acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem e reconstituir os fios que os ligam e
fazem com que se engendrem, uns a partir dos outros” (FOUCAULT, 2004b, p. 5). Nesse processo de
garimpagem, meu desafio é o de não fazer um relato linear da história da grafitagem e da pichação,
mas sim tramar os acontecimentos para reconstituir os fios que os ligam.
Ao me enredar por esse campo da grafitagem e da pichação em busca de pesquisas, pouco
tenho encontrado em minhas garimpagens, na perspectiva dos Estudos Culturais pós-estruturalistas e,
especificamente, no campo da educação. Defrontei-me, por certo, com pesquisas e compreensões
sobre grafitagem e pichação, mas muitas delas voltadas para as ciências das artes e da comunicação
(Lara, 1996), (Costa, 2000), (Ramos,1993), (Duarte, 2001); algumas caminhando para o campo da
antropologia (Silveira, 1991), (Garcez, 2000), (Munhoz, 2003); da psicologia (Mascarenhas,1996),
Barbosa (1984) e outras chegando, mansamente, a interlocuções com a educação Bernardes (1991),
(Goldgrub,1998). No campo da educação, eu encontrei apenas dois trabalhos, lugar que também me
inscrevo para realizar esta pesquisa.
Aproximei-me da pesquisa de Bernardes (1991), intitulada: A compreensão do grafite na
escola, para ver como ela problematizava a temática. Percebi que o lugar de onde falava e a forma
como construiu sua pesquisa distanciavam-na do meu objetivo. Ela o fez, utilizando o grafite como
forma de expressão artística e de aproximação ao contexto das experiências de alunos. Organizou-se
a partir da pergunta, feita a alunos de uma escola de ensino fundamental: o que é o grafite para você?.
Valendo-se dessa pergunta, descreveu entendimentos que as crianças tinham e realizou uma
experiência com grafitagem dentro do espaço escolar, utilizando o grafite como parte do currículo na
disciplina de artes, traduzindo em projeto pedagógico nos referenciais das Teorias Críticas. Não
poderia permanecer nesse terreno de quem pergunta sobre o quê?, pois ao compreender assim os
grafismos urbanos, eu estaria encerrando o sentido e apagando sua produtividade cultural.
Encontrei trabalhos entre o período da década de oitenta, do século XX, até a atualidade, em
vários campos, como já referi. Um dos que sempre é referendado pelos autores, talvez por ser um dos
primeiros no Brasil, é o trabalho Grafitos de banheiro realizado por Barbosa (1984), com acento na
análise mais psicológica e antropológica. Percorre banheiros masculinos e femininos de várias
instituições (repartições públicas, fábricas, terminais de passageiros, bibliotecas, bares, cinemas) em
diversas capitais do Brasil, durante um ano inteiro. Denomina essas inscrições latrinárias de literatura
proibida e as trata como resultado possível da repressão sexual e de degradação da sexualidade, da
culpa, da proibição versus transgressão, investindo tempo em ordená-las, classificá-las e descrevê-las.
Observa que o grafiteiro, como material de escrita, utiliza caneta esferográfica ou hidrográfica, lápis
grafite e, ainda, conforme a superfície, instrumentos pontiagudos: estilete, canivete, compasso. Em
alguns casos, segundo esse autor, usavam as próprias fezes como material de escrita. Os suportes
visados para fazer as inscrições eram, principalmente, as portas e as paredes, mas também os vasos,
os assentos sanitários, as caixas de descarga, o teto e até o chão. A forma como o autor mobiliza essa