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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA:
percepção, uso e predisposições comportamentais de alunos do
ensino médio de Natal, Rio Grande do Norte.
Violeta Odete Ribeiro de Quevedo
Natal
2005
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ii
Violeta Odete Ribeiro de Quevedo
A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA:
percepção, uso e predisposições comportamentais de alunos do
ensino médio de Natal, Rio Grande do Norte.
Dissertação elaborada sob orientação do
Prof. Dr. José Q. Pinheiro e apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Psicologia.
Natal
2005
ii
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iii
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
A dissertação "A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA: percepção, uso e predisposições
comportamentais de alunos do ensino médio de Natal, Rio Grande do Norte", elaborada
por "Violeta Odete Ribeiro de Quevedo", foi considerada aprovada por todos os
membros da Banca Examinadora e aceita pelo Programa de Pós-Graduação em
Psicologia, como requisito parcial à obtenção do título de MESTRE EM PSICOLOGIA.
Natal, RN, 12 de setembro de 2005
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. José Q. Pinheiro (orientador) __________________________
Prof. Dr. Hartmut Günther (examinador externo) __________________________
Prof. Dr. Manoel Lucas Filho (examinador interno) __________________________
iii
iv
“Nossa sociedade será definida não só pelo que criamos,
mas também pelo que nos recusamos a destruir.”
John C. Sawhill
The Nature Conservancy
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá-lo
para as presentes e futuras gerações.”
Constituição da República Federativa do Brasil, Artigo 225
iv
v
A meus pais (in memorian) e irmãos.
A minha filha Kahena.
Ao meu orientador.
A todos aqueles que sonham,
gritam e lutam por
um mundo melhor e que, de
alguma forma, inspiraram e contribuíram, até
sem saber, para que este trabalho fosse realizado.
v
vi
Agradecimentos
A Deus.
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por viabilizar a realização
deste projeto.
Ao professor e orientador Dr. José Q. Pinheiro, pela dedicação, paciência,
compreensão, competência, amizade, profissionalismo e abnegação com que orientou e
possibilitou a conclusão deste trabalho.
Ao professor Dr. Victor Corral Verdugo, pela inspiração e contribuição teórico-
metodológica.
Aos professores e colegas do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
UFRN, pela rica convivência e oportunidade de aprendizado durante o período de
vinculação ao Programa.
Aos professores-leitores e demais participantes dos seminários de dissertação,
pelas contribuições que muito ajudaram nos encaminhamentos do trabalho ao longo de
sua construção.
Aos amigos e colegas do GEPA – Grupo de Estudo Inter-Ações Pessoa-
Ambiente pela paciência, carinho, cooperação e aprendizado.
A Fernanda, Mônica, Thiago, Hugo e Bia, cuja colaboração na reta final do
trabalho foi de fundamental importância.
A Cilene, muito mais que uma paciente e eficiente Secretária do Programa, uma
grande amiga e estimada pessoa.
Ao CEFET/RN, particularmente a Direção de Ensino, Gerência de Recursos
Naturais e de Informática, professores que cederam suas aulas para a realização deste
trabalho e alunos que concordaram em participar da pesquisa.
A Enilce Dias Leão Barbalho e demais integrantes da Equipe Técnica Social do
Projeto Integrado Passo da Pátria/UEM pelo apoio e motivação.
Aos amigos, próximos ou distantes, pessoais e de trabalho, impossível de
nomear aqui sem cometer injustiças, que com companheirismo, compreensão,
colaboração e paciência me ajudaram nos momentos mais difíceis.
À minha família, material e espiritual, por tudo que representa para mim.
À minha filha Kahena, que soube entender as exigências desse período e com
resignação, carinho, compreensão e amor, acompanhou esse processo de grande
aprendizado.
vi
vii
Sumário
Lista de Tabelas................................................................................................ ix
Resumo............................................................................................................. x
Abstract............................................................................................................. xi
1. Apresentação................................................................................................ 12
2. A água nossa de cada dia.............................................................................. 14
2.1. Breve panorama da água no mundo...................................................... 18
2.2. A água no Brasil................................................................................... 22
2.3. A água no Rio Grande do Norte e Natal.............................................. 26
3. Psicologia Ambiental, meio ambiente e sustentabilidade............................ 28
4. Crise de água ou de comportamento? Uma proposta de estudo................... 35
5. Estratégias metodológicas empregadas........................................................ 44
5.1. Participantes.......................................................................................... 45
5.2. Instrumento........................................................................................... 46
5.3. Procedimento........................................................................................ 49
6. Resultados e discussão................................................................................. 51
6.1. Concepções, usos e percepções........................................................... 51
6.1.1. Concepções de água pelos respondentes.......................................... 51
6.1.2. Economia de água............................................................................ 52
6.1.3. Situação percebida da água............................................................. 53
6.1.4. Relações entre definições de água, usos e percepções..................... 54
6.2. Indicadores em associação com definições, usos e percepções de
água......................................................................................................
55
6.2.1. As variáveis sócio-demográficas: sexo, religião, e co-habitantes.... 55
vii
viii
6.2.2. Os indicadores de pró-ambientalismo.............................................. 58
6.2.3. Demais preditores: escola de origem, nível de instrução da mãe,
coletivismo, IZPT e percepção das externalidades..........................
62
7. Considerações finais.................................................................................... 68
8. Referências bibliográficas............................................................................ 72
Apêndice
viii
ix
Lista de Tabelas
Tabela 1 – Sexo do participante por curso freqüentado............................................... 45
Tabela 2 – Turno de estudos por tipo da escola de origem.......................................... 45
Tabela 3 – Distribuição da freqüência de modelos válidos de questionários
aplicados...................................................................................................
48
Tabela 4 – Médias e desvios-padrão dos indicadores analisados por sexo do
respondente...............................................................................................
55
Tabela 5 – Média dos indicadores analisados por religião do respondente................. 56
Tabela 6 – Número de co-habitantes do respondente, por faixas etárias..................... 57
Tabela 7 – Correlações (Pearson) entre número de co-habitantes e uso e percepção
da água......................................................................................................
57
Tabela 8 – Correlações (Pearson) entre o indicador de pró-ambientalismo e uso e
percepção da água.....................................................................................
59
Tabela 9 – Comparação das freqüências de respostas a deixar contato e praticar
cuidado ambiental.....................................................................................
60
Tabela 10 – Média dos indicadores analisados por deixar forma de contato, ou não.. 60
Tabela 11 – Média dos indicadores analisados por praticar, ou não, cuidado
ambiental...................................................................................................
61
Tabela 12 – Média dos indicadores analisados por ter mais tempo em escola
pública ou privada.....................................................................................
63
Tabela 13 – Correlações (Pearson) entre coletivismo/individualismo e uso e
percepção da água.....................................................................................
64
Tabela 14 – Correlações (Pearson) entre externalidades e uso e percepção da água... 65
Tabela 15 – Correlações (Pearson) entre perspectivas temporais e uso e percepção
da água......................................................................................................
66
ix
x
Resumo
Embora a escassez de água seja reconhecida como um dos principais problemas
mundiais a ser enfrentado pela humanidade, padrões comportamentais ecologicamente
insustentáveis ainda persistem. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar determinantes
do comportamento pró-ambiental relativo à água, bem como os significados que lhe são
atribuídos por alunos do ensino médio do Centro Federal de Educação Tecnológica do
Rio Grande do Norte, em Natal. Compuseram a amostra de conveniência 315
estudantes, 146 mulheres e 169 homens, que responderam a um questionário sobre uso e
percepção da água, contendo também indicadores de pró-ambientalismo, cuidado
ambiental, desenvolvimento sustentável, perspectiva temporal, externalidades e
coletivismo, além de inquérito sócio-demográfico. Para os participantes, água é
sinônimo de vida, muito embora a relação que mantém com ela parece dúbia e, muito
mais funcional que ecológica; consideram-na um recurso finito, um patrimônio
indispensável à vida, contudo não foi observada coerência entre as concepções
manifestadas e os comportamentos auto-relatados de uso da água. Os resultados
encontrados apontaram preditores importantes do comportamento pró-ambiental
relativo à água: sexo do respondente, Escala Novo Paradigma Ecológico e deixar forma
de contato para participar de campanhas futuras. Seja para aprofundamento teórico em
novos estudos, seja para auxiliar na elaboração de programas de educação ambiental,
que poderiam contribuir para inibir os efeitos de uma cultura de consumo e de uma
visão utilitarista da água, ampliando esforços individuais e coletivos para a preservação
de bens comuns, como a água.
Palavras-chave: psicologia ambiental; sustentabilidade; água; comportamento pró-
ambiental.
x
xi
Abstract
Although water scarcity is recognized as one of the main world-wide problems to be
faced by human kind, ecologically unsustainable patterns of behavior still persist. Thus,
the objective of this study was to analyze pro-environmental behavior related to water,
as well as meanings associated to it by high school students of Federal Center of
Technological Education of Rio Grande do Norte, in Natal. The convenience sample
was composed by 315 students, 146 women and 169 men, who answered a
questionnaire about use and perception of water, containing indicators of pro-
environmentalism, environmental care, sustainable development, time perspective,
externalities and collectivism, besides socio-demographic items. According to
participants, water is synonymous of life, even though the relationship they present with
it is ambiguous, much more functional than ecological; they consider it a finite resource,
an indispensable life patrimony, however there was no coherence between such
conceptions and the self-reported behaviors of water use. Results indicated three
important predictors of pro-environmental behavior: sex of respondent, New Ecological
Paradigm Scale and telephone/address left for eventual contact to participate in future
environmental campaigns. They may be used in additional studies for theoretical
development, or to assist in the planning of programs of environmental education,
aimed at the inhibition of the effects of a culture of consumption and of an utilitarian
perception of water, extending individual and collective efforts towards the preservation
of common resources as water.
Key-words: environmental psychology; sustainability; water; pro-environmental
behavior.
xi
1. Apresentação
Embora a mídia abra cada vez mais espaços para a discussão de problemas
ambientais, a educação ambiental venha se consolidando dentro e fora do contexto
escolar/acadêmico e a escassez de água seja reconhecida como um dos principais
problemas mundiais a ser enfrentado pela humanidade nas próximas décadas, padrões
comportamentais considerados insustentáveis ainda persistem. Seja porque temos uma
visão bastante utilitarista do meio ambiente, predominantemente antropocêntrica, seja
pelas representações, crenças, percepções, que cada pessoa constrói internamente a
respeito do meio ambiente, ou mesmo porque o ser humano ainda não tomou
consciência da finitude do patrimônio natural do Planeta, particularmente da água, com
significados multidimensionais.
Portanto, conhecer e compreender as questões relacionadas a meio-ambiente,
conduta pró-ambiental, desenvolvimento sustentável, sustentabilidade e sua relação
interativa com o ser humano, além de fomentar o debate e propor alternativas de
mudança, é empreendimento complexo, mas imprescindível diante da crítica situação de
esgotamento das reservas naturais em que nos encontramos.
No geral, apresentamos hábitos e atitudes desfavoráveis à manutenção de
condições para uma vida saudável, tanto em relação às reservas naturais renováveis,
quanto às não-renováveis. Ou seja, apesar de todas as informações e discussões a
respeito, temos muitas dificuldades para empreender as mudanças necessárias para que
nossa relação com o meio ambiente seja mais construtiva. Por que então, não mudamos?
O que determinaria ou influenciaria nosso comportamento em relação ao meio ambiente
e, mais especificamente em relação à água? Que significado tem a água para as pessoas?
13
O acesso a um estudo realizado por Corral e colaboradores (2002) nas cidades
de Hermosillo e Obregón, no México, intitulado Consumo doméstico de agua,
motivación para ahorrarla, y la continua tragédia de los comunes, ampliou o desejo de
aprofundar o conhecimento sobre possíveis indicadores de um comportamento pró-
ambiental, tendo como foco a percepção e o uso doméstico de água. Neste trabalho,
Corral pesquisou a relação que as pessoas mantêm com a água, considerando
principalmente o conceito de tragédia (ou dilema) dos comuns, criado por Hardin, em
1968, e relacionado ao princípio das externalidades, conceito empregado por Corral e
abordado no presente estudo.
Tive como objetivo geral identificar possíveis preditores do comportamento pró-
ambiental, relacionados ao uso da água, bem como os significados que são atribuídos a
ela, levando em conta conceitos como perspectiva temporal, princípio das
externalidades e predisposições sócio-culturais e psicológicas na interação pessoa-
ambiente, conforme relato nas páginas seguintes.
Inicio com um breve panorama da situação da água no mundo, em nosso país e
na região de Natal, para, em seguida, apresentar parte da literatura sobre comportamento
pró-ambiental, em particular, relacionado à água, deixando claro que sua crise é também
uma decorrência direta do comportamento adotado pelos seres humanos para se
relacionarem com o Planeta. A esses capítulos seguem-se os referentes à investigação
empírica realizada, referências e apêndices.
2. A água nossa de cada dia
A água tem um papel fundamental no processo de desenvolvimento da
humanidade. Indispensável à vida, faz parte do planeta Terra sob todos os seus aspectos,
existindo nos estados sólido, líquido e gasoso. É considerado o bem natural mais
importante, que participa de todos os ciclos ecológicos, dinamizando-os.
Mas afinal, com tantos significados, usos e utilidades, o que é a água para nós?
Fonte de vida, recurso hídrico, elemento vital/purificador, recurso natural renovável,
bem comum, bem econômico, capital ecológico?
No geral, a concepção que se tem da água e das relações que são estabelecidas
no cotidiano doméstico e laboral em relação a ela, é multidimensional e às vezes
contraditória. Ora ela é tratada como um bem público, fonte de vida; ora é um bem
econômico, fonte de lucro. Da visão mística, em que é uma dádiva divina existente em
abundância no Planeta para nossa sobrevivência, à econômica, em que é uma
mercadoria sujeita as regras mercadológicas e aos princípios de eficiência e eficácia do
produto, há um percurso marcado por disputas pela sua posse e poder, com potencial
para construir ou destruir povos, nações, relações.
No seu sentido estrito, água é uma composição molecular (H
2O), elemento
natural desvinculado de qualquer uso ou significado, também chamado de solvente
universal.
Recurso hídrico, fonte de vida, dádiva divina ou capital ecológico, esgotável
para alguns, inesgotável para outros, é um bem natural considerado finito, indispensável
à vida e razoavelmente disponível para uso comum, de acordo com as condições locais.
15
Geralmente revestido de valor econômico, cuja exploração é permitida, cabe aos
poderes constituídos a responsabilidade pelo seu fornecimento e disponibilidade. "Se a
água é considerada um bem público, na maioria dos países e no Brasil, a partir da
Constituição Federal de 1988, significa que ela não poderá ser desperdiçada ou
degradada de forma livre pelo usuário" (Rebouças, 2002, p. 691). Ou seja, necessita de
cuidado e outras estratégias associadas, para não reforçar uma atitude passiva e
perdulária dos consumidores, que os leve a pensar que, ao pagar pelo produto, estariam
isentos da responsabilidade de conservação e preservação.
Na opinião de Quadrado e Vergara (2003), há
um choque entre ideologias completamente diferentes, com concepções
de mundo antagônicas. De um lado, há os que entendem a água como um
produto que se pode manejar, engarrafar, pôr preço e vender. Esse grupo
acredita na tecnologia e no mercado e vê a água como uma necessidade
humana que pode ser atendida eficientemente pela iniciativa privada.
Para eles, a água pode e talvez deva se tornar “o petróleo do século 21”.
Do lado oposto, estão os ambientalistas, para quem a água não tem preço
nem dono, pois pertence a todos. Eles acreditam no resgate da relação
primitiva com a natureza, na cooperação entre os povos e no manejo
sustentável dos recursos naturais e vêem a água como um direito
fundamental e inegociável do ser humano. (p. 45)
Além disso, esses autores postulam a desestatização da água e a “transferência
de direitos de propriedade e de poderes gerenciais para comunidades locais” (pp. 35-
36); ou seja, a sua desmercantilização. Para eles, considerar a água como bem
econômico é algo muito simplista, pois estaria enfatizando apenas uma de suas muitas
dimensões específicas. Seria uma opção baseada em questões ideológicas, que
pressupõem um poder de escolha que na realidade não existe, já que todos precisam de
água e ela não pode ser substituída por nenhum outro bem. Portanto, ela é um bem
social, comum e básico para qualquer comunidade humana (pp. 83-84).
Para Rebouças (2002),
16
em todas as suas diferentes formas de utilização, a água tem um valor
econômico – que compete entre si – e uma fixação de preço só fará com
que os padrões sustentáveis de uso sejam perseguidos, além de se gerar
recursos hídricos necessários para a expansão dos serviços. (p. 701)
Rebouças (2003) defende também que a “alternativa mais barata de solução da
escassez local e ocasional da água é sua gestão integrada”, valendo-se de diversos
instrumentos e mecanismos que “produzam resultados sanitários, ambientais e
econômicos satisfatórios” (p. 34).
Todavia, independente de qual concepção predomine ou se escolha defender, da
antiguidade aos nossos dias, continua sendo um dos principais mobilizadores de
desenvolvimento de assentamentos humanos e manutenção das espécies e das inúmeras
dimensões que compõem a vida, de uma maneira geral. "Desde tempos primórdios, a
água sempre foi um dos reguladores sociais mais importantes. As estruturas das
sociedades camponesas e das comunidades aldeãs, onde as condições de vida estão
intimamente ligadas ao solo, eram organizadas ao redor da água." (Petrella, 2002, p.
59).
Por outro lado, rios, mares e oceanos, também foram caminhos para a destruição
de inúmeras civilizações. Aproximadamente entre 1850 e 1750 A.C., o rei Hamurabi
estabeleceu a hegemonia da Babilônia sobre a Mesopotâmia, com a construção de
diques no rio Eufrates, os quais, cortados estrategicamente, quando das enchentes,
afogavam os povos sumérios que viviam à jusante. Também foi ele que organizou o
Código de Hamurabi, considerado como o provável “primeiro documento a definir o
direito de uso da água por todo e qualquer indivíduo, prescrevendo estímulos às práticas
consideradas adequadas e castigos severos aos que infringissem essas condições”
(Rebouças, 2003, p. 34). “Para alguns, a politização e centralização atuais do poder
sobre a água teriam tido suas origens nessa época” (Rebouças, 2002, p. 17).
17
Também é interessante observar que alguns dos nossos atuais problemas
referentes aos usos da água, e possíveis soluções relacionadas ao seu fornecimento, já
faziam parte da rotina de algumas cidades, há 20 séculos, como se pode notar neste
comentário:
Ser administrador geral do departamento de água talvez não fosse o
cargo mais charmoso da hierarquia romana, mas como curator aquarum
do final do século I D.C., Sextus Julius Frontinus reconheceu que seu
trabalho era importante “não só para o conforto, mas também para a
saúde e até a segurança da cidade”. Além dos escribas e assessores
técnicos, ele liderava uma equipe de cerca de 700 pedreiros, encanadores
e outros operários. Os vazamentos nos nove aquedutos que traziam a
Roma a água fresca das montanhas mantinham seus homens sempre
ocupados, assim como o combate às tentativas ilegais de canalizar
água diretamente dos suprimentos públicos. “O suprimento público fica
paralisado”, queixava-se Frontinus, “por causa dos cidadãos
particulares que querem regar seus jardins.” (...) O controle rigoroso
de Frontinus permitiu-lhe quase dobrar o suprimento público, e ele se
vangloriava de que “nem mesmo a água servida é perdida”,
aproveitava-a para limpar os esgotos e as latrinas públicas, antes de
despejá-la no rio Tibre. (TIME-LIFE Books, 1993, p. 50; grifos meus)
Já naquela época, talvez até mesmo antes, percebia-se que a problemática da
água transcendia a ela mesma. Sextus Julius Frontinus tocava sutil e simultaneamente
em vários aspectos relacionados à questão da água na antiguidade, que ainda hoje são
cruciais para serem administrados, principalmente pelo poder público, devido a
inúmeros conflitos de interesses, tanto de ordem pública quanto privada. Conforto,
alimentação, saúde, segurança, lazer, trabalho, eram – e continuam sendo –, apenas
algumas das facetas visíveis desse complexo problema.
Desperdício, poluição e exploração contínua das reservas subterrâneas de água,
têm sido apontadas como causas de grande parte dos atuais problemas ambientais
relacionados à água, como o afundamento da cidade do México, ao longo do tempo, em
7,5 metros. Ali só os vazamentos consomem quase 1/3 da água disponível (Montaigne,
2002, p. 57).
18
Tuffani (2003) faz um alerta a respeito da negligência com que as questões
referentes a água são tratadas, tanto nos países pobres quanto nos ricos, citando o
historiador Sérgio Buarque de Hollanda que, em 1936, publicou o livro Raízes do
Brasil, mostrando o caráter predatório de nossos colonizadores e observando que
mesmo decorrido todo este tempo, ainda estamos
a demonstrar que não temos praticamente nenhuma capacidade de
aprender com o nosso passado. Continuamos não só a devastar florestas,
a erodir e contaminar os solos e a poluir o ar, mas também a transformar
nossos rios em esgotos a céu aberto, como se não houvesse nada a deixar
paras as futuras gerações. Agimos ainda como desterrados e
transformaremos nossos filhos em deserdados. (p. 54)
Esta é uma herança que precisa ser revista e modificada. Afinal, o que
destruímos ou construímos no presente é que vai determinar o nosso futuro, o que indica
a existência de um vasto campo para investigação a respeito do comportamento humano
em relação ao seu meio ambiente.
2.1. Breve panorama da água no mundo
Embora nosso planeta seja composto por 70% de água, menos de 1% é
disponível para consumo humano. Aproximadamente 97% da água existente na Terra é
salgada e encontra-se nos oceanos e mares. Algo em torno de 2% encontra-se congelada
nas geleiras e regiões polares. O que sobra, encontra-se armazenada em lençóis
subterrâneos, rios e lagos, em condições naturais de potabilidade. Do 1% que se
considera em condições de consumo humano, aproximadamente 10% são destinados ao
uso doméstico, 20% ao industrial e 70% ao agrícola.
Segundo Quadrado e Vergara (2003),
vazamentos, métodos obsoletos e desperdício drenam cerca de 50% da
água usada para beber e 60% da água de irrigação. Com a tecnologia
disponível atualmente, a agricultura poderia reduzir sua taxa de uso em
19
até 50%, as indústrias em até 90% e as cidades em um terço sem
prejudicar a produção econômica ou a qualidade de vida. (p. 45)
Para Petrella (2002), 60% dos recursos hídricos do planeta estão situados em
apenas nove países, incluindo Brasil, Rússia, China, Canadá, Indonésia e Estados
Unidos, enquanto que oitenta países, representando um total de 40% da população
mundial, enfrentam escassez de água. Dentre os países mais pobres em água no mundo,
onze deles dispõem de menos de 500 m³/hab/ano, sendo cinco abaixo de
100m³/hab/ano, incluindo o Kuwait, com disponibilidade praticamente nula (Rebouças,
2002, p. 19).
Rebouças (2002) menciona um critério de avaliação, segundo o qual a oferta
inferior a 1.000 m³/percapita/ano, representaria uma condição de estresse de água. Com
menos de 500 m³/hab/ano, significaria escassez de água. Por este critério, o Norte da
África e o Oriente Médio são as regiões mais críticas atualmente.
Na Etiópia, apenas entre 10 a 20% da população rural têm acesso a água potável
e, na África do Sul, cerca de 7 milhões dos 44 milhões de habitantes ainda não têm
acesso à água pura num raio de 180 metros de suas residências (Montaigne, 2002, p. 51
e 77).
Mesmo lugares considerados com abundância de água não estão imunes a
problemas com seu abastecimento. Na América do Sul, onde se concentra cerca de 35%
de toda a água potável do planeta, há áreas que enfrentam problemas semelhantes a
certas regiões africanas, continente em que se encontram os mais altos índices de
pobreza hídrica.
O Haiti, na América Central insular, é apenas um dos vários exemplos desse tipo
de situação. Embora tenha uma razoável disponibilidade de água, o seu péssimo manejo
deixa mais de 75% da população sem acesso à mesma. É um país com os piores índices
20
sociais do mundo, ocupando o último lugar (dentre 147 países), no ranking de saúde
hídrica divulgado pelo Conselho Mundial da Água em dezembro de 2002 (Montaigne,
2002, p. 51 e 77). Como exemplos de abundância e bom manejo, estão a Finlândia,
seguida do Canadá, respectivamente primeiro e segundo lugares.
“Israel e Cingapura também são dois bons exemplos de manejo adequado.
Vivem em seca quase permanente, mas estão em situação melhor que o nosso semi-
árido, pois cuidam da qualidade da água e desperdiçam muito pouco” (Garcia, 2003, p.
44).
Para Montaigne (2002), os processos de irrigação e o serviço público estão entre
os principais responsáveis pela maior parte dos gastos e desperdícios globais de água. A
velocidade com que se extrai e gasta água é maior que a capacidade de recuperação das
reservas subterrâneas.
Rios históricos, como o Amarelo, que devido a suas grandes inundações já foi
conhecido como o Infortúnio da China, atualmente superexplorado pelos aglomerados
urbanos, por fazendeiros para a irrigação de lavouras e outras atividades comerciais, tem
chegado seco a sua foz nos últimos dez anos. O “Ganges, na Índia e o lendário Nilo, na
África, atualmente mal conseguem chegar ao mar no período das secas” (Montaigne,
2002, p. 57).
A poluição industrial e agrícola, de certa forma também é um reflexo da relação
insustentável do ser humano com o meio ambiente e particularmente com a água,
ressaltando um lado perverso de uma sociedade de consumo.
A poluição das águas, nos países ricos, é resultado da maneira como a
sociedade está organizada para produzir e desfrutar de sua riqueza,
progresso material e bem-estar. Já nos países pobres, a poluição é
resultado da pobreza e da ausência de educação de seus habitantes. Isso
leva as indústrias a poluírem mais intensamente ainda e os governos a
fecharem os olhos para a questão, como se a poluição das águas não
atingisse a eles também. (EMBRAPA, 1996, p. 59)
21
Esta é uma realidade que traz à tona todo o processo de degradação ambiental e
contaminação dos corpos d’água, desencadeado dentre outras coisas, por uma acelerada
e desordenada urbanização, crescimento populacional e expansão das atividades
econômicas, industriais e tecnológicas. “Entre 1950 e 1990, o número de cidades com
mais de um milhão de habitantes aumentou de 78 para 290 e atingirá 650 ao redor do
ano de 2025” (Petrella, 2002, p. 40).
Numa perspectiva global, a persistir o atual ritmo de consumo, 2,7 bilhões de
pessoas irão sofrer de severa falta d’água até o ano de 2025. Se na década de 1950 a
população mundial era de aproximadamente 5 bilhões de habitantes, as expectativas de
aumento dos atuais 6 bilhões, para 9 bilhões até 2050, tornam ainda mais sombrias as
previsões de uma futura grande seca global (Montaigne, 2002, p. 57).
Isto representa um aumento exponencial de consumo de água e diversos tipos de
impactos ambientais. “Segundo a Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial (UNIDO), as atividades industriais poderão estar
absorvendo duas vezes mais água até o ano 2025 e a poluição industrial pode aumentar
quatro vezes” (Petrella, 2002, p. 55).
De acordo com Garcia (2003), todos esses fatores devem elevar o atual consumo
de 54% da água doce disponível no planeta, para 90%, em 2025, ampliando as
possibilidades de que este recurso esteja esgotado em até 50 anos. E ainda, essa
“perspectiva sombria só vai mudar com o fim do desperdício, da poluição e do descaso
com as populações pobres” (p. 43).
Não se pense, porém, que este é um problema associado a pobreza. Muito pelo
contrário, ocorre igualmente nas famílias abastadas. Ainda que por motivos e situações
diferentes, ricos e pobres poluem e degradam o meio-ambiente, da mesma forma que
também se encontram iniciativas de conservação e preservação em ambas as classes.
22
Para Tundisi (2003), todos esses problemas podem estar representados na
superposição, ao ciclo hidrológico, de um ciclo hidrossocial de grande dimensão e
impacto ecológico e econômico. Para ele, este ciclo hidrossocial “na verdade é uma
adaptação do ser humano às diferentes características do ciclo hidrológico e, também as
suas alterações, causam inúmeros impactos” (p. 32).
Dessa forma, o problema da escassez não deve ser visto e entendido apenas sob
os enfoques da oferta e da potencialidade, mas também quanto ao seu acesso e uso,
tanto em termos quantitativos, quanto qualitativos. Deve ser considerado que nem toda
água disponível para consumo é de fato consumível ou está acessível para este
consumo. Além disso, uma análise mais realista “deve abranger os seus inter-
relacionamentos geo-ambientais e sócio-culturais, em especial, as condições de uso e
conservação dos seus recursos naturais, em geral, e da água, em particular, de uso e
ocupação do território – tanto urbano como rural” (Rebouças, 2002, p. 32).
Assim como “a água possibilitou a construção de cidades, sua falta e mau uso
estão roubando dessas cidades a possibilidade de um futuro” (Petrella, 2002, p. 40).
Cabe a nós mudarmos essa tendência, principalmente porque, não fosse a conduta
humana insustentável com relação ao uso da água, no geral, provavelmente o total de
recursos hídricos existentes no planeta seria suficiente para todos, mesmo com a
distribuição geográfica natural desigual.
2.2. A água no Brasil
Apesar da riqueza de nossos mananciais, no Brasil a situação não é muito
diferente dos países menos favorecidos pela natureza. Nossa população, principalmente
das regiões norte e nordeste, enfrenta sérias dificuldades relacionadas à água, tanto
23
quanto ao acesso, como na distribuição e qualidade, impactando ainda mais os graves
problemas sociais existentes.
O semi-árido nordestino, além de conter áreas originalmente secas, sofre com a
evaporação das águas das chuvas.
Em algumas regiões a situação é tão crítica, que a fome está deixando de ser o
problema mais grave:
Quando a comitiva do presidente Luís Inácio Lula da Silva chegou ao
município piauiense de Guaribas, em fevereiro, recebeu um recado
importante da população local: a fome é grave, mas a sede é hoje um
problema pior. Apenas 1% dos 4.800 habitantes da cidade tem água
encanada... (Garcia, 2003, p. 44)
Uma realidade como essa não expõe apenas o drama de quem sofre com a falta
d’água, em decorrência da indisponibilidade, ou da falta de potabilidade. Na verdade,
retrata a intensidade das múltiplas mazelas sociais que assolam o mundo, a maioria
delas associadas à água, como causa ou conseqüência, seja do seu uso ou consumo, seja
da sua carência ou inadequada gestão e qualidade.
Se a situação anteriormente citada chega a um nível de compreensão razoável
num lugar carente de água, onde impera a pobreza, é quase inaceitável que grandes
centros urbanos como Belém e Manaus, inseridos na bacia hidrográfica do Rio
Amazonas, que detém cerca de 72% das reservas hídricas brasileiras, enfrentem
problemas de racionamento d’água. Principalmente se atentarmos para o fato de que
essa região tem uma das menores taxas de densidade demográfica do país, equivalente a
2 a 5 hab/km² (Rebouças, 2003, p. 29).
Na Amazônia encontram-se cerca de 10% do total de água potável mundial
(Duarte, 2001, p. 17) e no subsolo brasileiro estão 70% do maior reservatório de águas
subterrâneas do mundo – o Aqüífero Guarani, com potencial para “abastecer a
24
população mundial por uma década” (Oliveira, 2003, p. 42), se não for contaminado.
Uma prova de que não basta ter, é preciso poder e saber usar e administrar o que se tem.
Apesar da aparente abundância, sob alguns aspectos até real, a maior parte da
produção hídrica brasileira (cerca de 80%), concentra-se em apenas três bacias
hidrográficas: Amazonas (a maior delas), São Francisco e Paraná.
Uma das propostas que mais se têm discutido ultimamente para suprir o déficit
de água das regiões mais carentes, em âmbito macro, refere-se à transposição de bacias.
A mais recente envolve a bacia de São Francisco, provavelmente uma das principais
responsáveis pelo desenvolvimento do Nordeste. O Rio São Francisco, seu maior
integrante, é também o maior da região onde se localiza, sendo importante corredor de
transporte fluvial desde a colonização do Brasil. Às suas margens vários municípios e
comunidades ribeirinhas foram se desenvolvendo e a agricultura irrigada se
consolidando. Posteriormente, ampliando os múltiplos usos de seu grande potencial
hidrográfico, foram construídos os reservatórios de Sobradinho, Paulo Afonso, Itaparica
e Xingó, geradores de energia hidrelétrica.
Todavia, a transposição de águas não é uma medida simples. Os custos
financeiros e ecológicos advindos dela são bastantes elevados e não há consenso sobre a
questão. Principalmente por não se ter segurança de que os problemas serão resolvidos e
a relação custo x benefício será favorável.
Alternativas que vêm sendo viabilizadas no nordeste brasileiro compreendem a
construção de adutoras, barragens e cisternas, captação das águas de chuva, instalação
de poços artesianos e dessalinizadores e distribuição de água através de chafarizes e
carros-pipa. Como cada localidade vive sob diferentes condições sócio-ambientais,
devem ser efetuados estudos comparativos das opções disponíveis que melhor atendam
as especificidades locais.
25
A combinação de diversos fatores sócio-econômico-ambientais e históricos, em
que se destaca o uso excessivo e inadequado das reservas subterrâneas, principalmente
em atividades rurais; a urbanização e industrialização crescentes, certa passividade ou
acomodação dos usuários e gestões equivocadas ou ausentes, têm contribuído para um
quadro de deterioração ambiental cada vez mais preocupante.
No Brasil existe um Código de Águas, com 205 artigos, aprovado pelo Decreto
n
o
24.643, de 10/07/1934, “considerado pela Doutrina Jurídica, como um dos textos
modelares do Direito Positivo Brasileiro” (Rebouças, 2002, p. 699), que é praticamente
desconhecido da população. Depois desse decreto, a lei com mais destaque sobre a
questão ambiental (n
o
4.771/65), trata da adoção do Código Florestal, seguida da lei n
o
6.938/81, que cria a Política Nacional do Meio Ambiente.
A Agência Nacional de Água – ANA, entidade federal de implementação da
Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, foi criada pela Lei n
o
9.984, de 17/07/2000 e, de
início, causou alguma polêmica devido à instituição de cobrança de taxa pelo uso de
recursos hídricos de domínio da União.
Sem dúvida, as leis têm sido um dos grandes instrumentos de gestão ambiental,
mas só elas não bastam. É desejável ampla participação e envolvimento da população
nas mudanças comportamentais necessárias e na discussão de alternativas mais
sustentáveis que transcendam o modelo antropocêntrico em direção a um
relacionamento mais harmônico do ser humano com o meio ambiente.
26
2.3. Água no Rio Grande do Norte e Natal
O RN está entre os 5 estados brasileiros com menor disponibilidade de água, ao
lado de Sergipe, Distrito Federal, Alagoas, e Paraíba. No interior do RN, principalmente
na região do alto Seridó, a situação é preocupante.
No outro extremo, encontra-se em primeiro lugar de potencialidade hídrica, o
estado do Amazonas e, em segundo, o do Pará (Rebouças, 2002, p. 31). Apesar disso, a
população desses estados também sofre com problemas decorrentes do desequilíbrio na
relação oferta/suprimento e consumo/demanda de água.
Em Natal, capital do RN, a situação não é tão crítica quanto na vizinha
Recife/PE, por exemplo, que embora também litorânea e banhada por dois rios, já há
alguns anos sofre com um rigoroso racionamento.
Encontramos em Rebouças (2002), que
as regiões de Natal (RN), Maceió (AL) e Recôncavo (BA) dispõem de
um dos maiores potenciais de água subterrânea doce desta província
hidrogeológica, podendo abastecer a totalidade das respectivas
demandas, desde que as formas de extração passassem a ser ordenadas e
controladas pelos órgãos públicos responsáveis. (p. 139)
Natal é servida pelos rios Potengi e Pitimbú, além das lagoas de Jiquí e
Extremoz, que são algumas de suas fontes de renovação das reservas de água. O
abastecimento de água local é parcialmente proveniente do aqüífero denominado
Dunas-Barreiras, que ocupa toda a área de subsolo de Natal, indo até os estados de
Ceará e Pernambuco. O restante do abastecimento é feito a partir de duas captações
superficiais (lagoas do Jiquí e de Extremoz).
Conforme dados publicados na imprensa local, a CAERN – Concessionária de
Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte, estimou que por conta de desperdício, Natal
perderia a cada ano 45% dos 95 milhões de metros cúbicos de água retirados do
27
aqüífero e da superfície. Posteriormente, a própria CAERN corrigiu e divulgou também
na imprensa local, que o desperdício total (pontos físicos e não-físicos) chega a 56%.
Ainda segundo a CAERN, tanto a água de superfície quanto a captada do
manancial subterrâneo, seria de excelente qualidade no período de estiagem, requerendo
neste período apenas filtração, correção de ph, desinfecção e diluição para correção do
teor de nitrato. Este, fruto da biodegradação de excrementos humanos de efluentes
domésticos, é considerado atualmente um dos principais poluidores das reservas
subterrâneas de água de centros urbanos e causa de várias doenças.
A resolução dos problemas relacionados à água não pode ser viabilizada de
forma isolada. Lixo e esgotamento sanitário também deverão ser tratados
simultaneamente. Só para se ter uma idéia dos impactos ambientais, estima-se que
apenas 32% da população natalense seja beneficiada com ligações domiciliares e
tratamento de esgoto. O acelerado crescimento urbano, com ocupação desordenada,
construção de fossas e sumidouros sem critérios técnicos e poluições de diversas fontes,
aumentam a impermeabilização do solo e contaminam os mananciais de água,
dificultando a recarga das reservas com as chuvas e piorando a qualidade da água local.
Assim, considerando que escassez e dificuldade de acesso à água não são os
únicos problemas decorrentes de gestão, uso e consumo inadequados dos recursos
ambientais, e que estes são basicamente causados pelo comportamento humano,
percebe-se a existência de uma crise que transcende as questões ecológicas e que
merece ser mais estudada.
3. Psicologia Ambiental, meio ambiente e sustentabilidade
Problemas ambientais não é novidade em nossa sociedade. São tão antigos
quanto a nossa própria civilização. Nova, ou diferente, talvez seja a forma como esses
problemas passaram a ser encarados a partir da segunda metade do século XX.
Em 1866, o biólogo alemão Ernst Haeckel adotou a Ecologia como uma
disciplina, a qual era voltada para o estudo das relações das espécies animais com o
meio ambiente. Encontrou nas palavras gregas oikos – casa – e logos – ciência, a idéia
precisa do que se pretendia estudar à época – a “grande casa” que habitamos – nosso
planeta Terra.
Posteriormente os estudos passaram a ser em torno da relação que as pessoas
estabeleciam com o seu meio ambiente, originando mais recentemente o que se
convencionou chamar de Educação Ambiental (EA). Seu marco histórico, de âmbito
internacional, dá-se na Conferência de Estocolmo, em 1972, e vem se revelando como
um processo de grande contribuição para o desenvolvimento de uma nova consciência
ambiental, como tem sido comum se chamar esse movimento de re-conexão com o que
nos cerca.
É nesse contexto que em meados do século passado surge a Psicologia
Ambiental. Sua identidade é um processo em construção, que parece transitar
paradoxalmente num mundo que transcende o tempo e o espaço, embora tenha raízes
bem profundas na própria relação sócio-espacial; ao mesmo tempo em que nasce e se
expande justamente na delimitação espaço-temporal das relações pessoa-ambiente.
Para alguns é uma especialização, para outros um ramo novo da Psicologia; mais
uma disciplina desta ou, ainda, uma nova ciência com possibilidades de dar vazão
29
psicológica para algumas das demandas decorrentes dos inúmeros problemas sócio-
ambientais intensificados no Planeta, nas últimas décadas.
Para Pinheiro (2003), a
Psicologia Ambiental impõe dificuldades para sua definição devido,
entre outros fatores, à sua "dupla personalidade": parte "psicologia",
parte "ambiental". Considerar essa dupla natureza é fundamental para
uma compreensão adequada da área e das dificuldades em se estabelecer
uma identidade própria. (p. 282)
Para Anthony e Watkins (2002), os psicólogos ambientais teriam como unidade
primária de análise o sistema pessoa-ambiente, preocupando-se mais em como as
pessoas se envolvem e se prendem aos lugares, do que propriamente a outras pessoas.
Sime (1999), destacando a trans-disciplinaridade da Psicologia Ambiental, diz
que ela “é muitas coisas. É algo que é visto e sentido” (p. 192), acrescentando mais
adiante que “as posições adotadas variam em relação aos dois lados do conceito pessoa-
meio ambiente, profissional e educacionalmente instável, porque justamente isso
transcende os limites educacionais tradicionais entre disciplinas dedicadas
principalmente às pessoas ou ambientes” (p. 202).
Aragonés e Amérigo (1998) salientam que a deterioração ambiental, o
desenvolvimento sustentável e o meio ambiente como produto de mercado, formam os
pontos angulares do desenvolvimento da Psicologia Ambiental.
Para Wiesenfeld (2001), não existe ser humano sem referência espacial. O
ambiente é uma realidade subjetiva. Comunidade e ambiente são entendidos como
construções sociais cujos significados se elaboram na interação social e são
influenciados pelas características do contexto. Ou seja, existe uma relação de dupla
interação entre o ser e o ambiente. Ambos interagem e são influenciados pela
ação/reação de um sobre o outro.
30
O enfoque dos problemas ambientais sob essa perspectiva comunitária situa esse
contexto como um palco de compreensão e resgate da pluralidade de interpretações e da
participação de todos os envolvidos no processo, estabelecendo-se novas possibilidades
de superação da individualidade.
Para a Ecologia Profunda, somente mudanças radicais e significativas na
estrutura da sociedade humana poderão alterar o atual estado de
deterioração ambiental, sendo necessária uma renovação na forma pela
qual vemos o mundo e o desenvolvimento de uma percepção sistêmica
da vida. (Martinelli, 1996; citado por Viana & Höeffel, 1998, p. 70).
Mudanças em nossos padrões de comportamento com o meio ambiente deveriam
ser orientadas por uma perspectiva temporal de propensão ao futuro (Pinheiro, 2002),
não submetida exclusivamente à lógica insustentável da produção-consumo voltada
basicamente para o atendimento das demandas do presente, mas também prever o
atendimento das necessidades materiais e imateriais das gerações futuras. Ao mesmo
tempo oportunizar a participação democrática de todos na tomada de decisões, para que
as mudanças estivessem inseridas num contexto sócio-histórico e cultural e numa
dimensão ecológica em que se restabelecesse a harmonia entre o ser humano e a
Natureza.
Embora os estudos de Gouveia (2002) não sejam direcionados à questão da
água, contribuem para o entendimento das tendências comportamentais individuais e
coletivas na dimensão da responsabilidade sócio-cultural, da qual o uso da a água faz
parte. O individualismo tem ênfase no presente, com tendência à busca do êxito e a
priorização do indivíduo e seus interesses acima dos demais. Já o coletivismo se
caracteriza pelos valores sociais, com tendência à cooperação e valorização das
tradições herdadas.
31
Moser e Vanssay (2004, p. 1015) postulam que “o aparecimento e a manutenção
de relações compatíveis com o desenvolvimento durável são retidos ou favorecidos por
certos fatores individuais, ambientais e culturais”, destacando e reforçando a
multidimensionalidade da questão.
Para Corral (2002), seja qual for a estratégia adotada para diminuir o impacto
das externalidades (contexto sócio-cultural e ambiental), é importante que a mesma seja
impulsionada como um esforço conjunto entre cientistas ambientais, políticos e
sociedade civil. Este autor considera que a tragédia dos comuns se origina de fontes
fundamentais do comportamento, estando indissoluvelmente ligada à nossa evolução
como espécie (p. 95). “Soluções para este desafio têm de ser encontradas combinando
estratégias tecnológicas e sócio-comportamentais para promover a conservação da água
em populações de todo o mundo” (Corral, 2003, p. 246), do que se conclui que qualquer
intervenção deve necessariamente considerar também os aspectos pessoais e sócio-
culturais individuais e coletivos.
Partindo-se do princípio da aceitação de que problemas ambientais são causados
principalmente pelo comportamento humano, que implica na organização do seu
habitat, das estruturas sociais e das tecnologias de produção, também deveria haver a
consciência da necessidade de avaliar, discutir, refletir, rever e modificar os
comportamentos considerados insustentáveis e administrar seus efeitos e conseqüências.
Responsabilidade, respeito, redução de consumo, reutilização, reciclagem são alguns
dos Rs atualmente considerados imprescindíveis na harmônica relação/interação pessoa-
ambiente.
Mas, como compatibilizar conduta sustentável com cultura de consumo, segundo
a qual quase tudo é descartável, inclusive o próprio ser humano? Como desenvolver e
aplicar princípios de sustentabilidade e se tornar auto-sustentável?
32
Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade são atualmente dois termos
usados com bastante freqüência e, na maioria das vezes, como sinônimos. De fato,
possuem pontos comuns e geralmente andam juntos na discussão das questões sócio-
ambientais, mas não devem ser vistos nem entendidos como sendo a mesma coisa.
Um dos conceitos de desenvolvimento sustentável mais conhecido é o descrito
no Relatório Brundtland, de 1987, que o apresenta como sendo aquele que atende "as
necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras
atenderem também às suas” (Comissão Mundial, 1988, p. 9). Esse conceito foi
posteriormente adotado pela II Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, em 1992, a Rio 92, ou ECO 92. Na Agenda 21 Brasileira acrescenta-
se ainda que “o conceito de desenvolvimento sustentável ganhou múltiplas dimensões,
na medida em que os estudiosos passaram a incorporar outros aspectos das relações
sociais e dos indivíduos, com a natureza.” (Agenda 21 Brasileira – Bases para
Discussão, 2000, p. 24).
Para Pol (1999), desenvolvimento sustentável é um conceito global que pretende
integrar gestão ambiental e desenvolvimento econômico em um processo evolutivo de
mudança contínua, conservando, porém, os sistemas ecológicos sustentadores da vida e
da biodiversidade, que garantam a sustentabilidade de uso dos recursos renováveis e
reduzam ao mínimo o esgotamento dos recursos não-renováveis, mantendo-se dentro da
capacidade dos ecossistemas sustentadores.
Em relação à sustentabilidade, Gärling, Biel e Gustafsson (2002) observam que
ela não pode ser atingida por mudanças comportamentais de um único cidadão, a menos
33
individual. É uma afirmação que num primeiro momento pode parecer um pouco
paradoxal, mas que reflete bem o caráter multidimensional da sustentabilidade.
Para Carvalho (2001), sustentabilidade é um conceito polissêmico que, por si
mesmo, não define um único marco interpretativo e ideológico, e que transita entre
diferentes matrizes discursivas, sendo disputado ideológica e semanticamente. Por isto
mesmo, é interessante tomar a noção de sustentabilidade como um horizonte de
compreensão dos processos de transformação da sociedade contemporânea.
Franco (2000), afirma que “sustentabilidade diz respeito, também e
principalmente, a um padrão de organização de um sistema que se mantém ao longo do
tempo em virtude de ter adquirido certas características que lhe conferem capacidades
autocriativas”. Observa ainda, que “em geral se confunde sustentabilidade com
durabilidade de um ente ou processo, mas a durabilidade é uma conseqüência da
sustentabilidade” (p. 45-46).
Independentemente da corrente teórica, ideológica ou filosófica adotada, parece
haver um consenso quanto à necessidade de mudanças comportamentais pessoais e
coletivas; principalmente as relacionadas a hábitos de consumo.
Na opinião de Salati, Lemos e Salati (2002), “a água é um fator limitante para o
desenvolvimento sustentável” (p. 47), pois coloca a humanidade diante do grande
desafio de minimizar os efeitos, tanto de sua escassez quanto dos excessos que
provocam inundações, bem como da poluição, principalmente nos países em
desenvolvimento. Segundo eles “hoje, a disponibilidade de água é ainda mais um
recurso limitante não apenas pela sua quantidade, mas especialmente pela sua
qualidade.” (p. 48).
Considerando o total de água existente no planeta, o disponível e acessível para
consumo e a média da densidade demográfica da população mundial, mesmo com todas
34
as desigualdades naturais de oferta, é provável que a situação fosse menos crítica.
Todavia, nosso comportamento em relação ao seu uso e consumo intensifica as
desigualdades naturais e compromete sua disponibilidade futura. Somos fruto de
diferentes concepções, que permeiam nossa visão de mundo e resultam em
procedimentos nem sempre pró-ambientais.
Nota-se um interesse cada vez mais crescente sobre esta questão,
particularmente na última década, com predisposição das pessoas para fazer alguma
coisa a respeito.
Uma pesquisa de opinião pública realizada pelo IBOPE, em 1997,
utilizando amostra representativa da população brasileira, urbana e rural,
mostra que 69% identificam a água como um dos elementos mais
importantes a proteger no meio ambiente. Por sua vez, 52% diziam-se
dispostos a combater o desperdício de água e separar o lixo, como forma
de ajudar na proteção do meio ambiente. (Rebouças, 2002, p. 31)
Talvez fosse importante resgatar para a vida cotidiana, alguns princípios da
interdependência humana, a partir de uma visão sistêmica da relação ser humano e
natureza. Aquilo que acontece em uma determinada região pode gerar inesperados
efeitos sociais, ambientais e outros, em locais às vezes bem distantes e sem nenhuma
ligação aparente com o local de origem. A poluição atmosférica e da água são dois
exemplos clássicos de como as pessoas e o meio-ambiente de uma forma geral podem
ser afetados direta e indiretamente por esse processo. Mas, que efeito produz nas
pessoas, um fato/ação cujas conseqüências, muitas delas invisíveis, só vão aparecer após
vários anos ou gerações distantes do fato gerador, dificultando ainda mais as ações de
responsabilidade civil e o processo de recuperação ambiental? Quanto vale um rio? Ou
uma floresta? O que dizer então sobre consciência ou comportamento pró-ambiental?
Como trabalhar essa dimensão temporal e a realidade de que o futuro é construído no
presente? Por que um futuro, e não um presente sustentável?
4. Crise de água ou de comportamento? Uma proposta de estudo
A contaminação hídrica provocada pelos esgotos domésticos tem sido
responsável pela morte anual de mais de 5 milhões de pessoas no mundo, em
decorrência de doenças como cólera e disenteria. “Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas
bebam água imprópria para o consumo ainda hoje e cerca de 2,5 bilhões não disponham
de saneamento básico” (Montaigne, 2002, pp. 29 e 57). Segundo dados do IBGE, cerca
36
vista psico-sócio-ambiental, talvez seja o primeiro passo, ou um dos fundamentais, para
uma conduta ambiental sustentável.
Iniciativas que possam despertar a consciência individual e coletiva, com
condições de unir culturas e interesses distintos em prol de objetivos comuns e
promover mudanças na relação do ser humano com o meio ambiente, embora
complexas, são mais do que necessárias. O Brasil, por exemplo, tem se notabilizado
tanto pela vanguarda das discussões e regulamentações ambientais quanto pela
degradação e destruição de importantes fontes de recursos naturais.
Embora as leis e normas ambientais brasileiras, que cumprem significativo papel
regulador de conflitos, sejam freqüentemente citadas como modernas, há um vácuo
entre existência e operacionalização. Mesmo quando se consegue aplicar os
instrumentos legais pertinentes, é difícil constatar e avaliar corretamente um dano
ambiental.
A promulgação de leis, de qualquer natureza, por si só, não se traduz em
mudança efetiva da situação que se legisla, para a que se objetiva. Principalmente para
os fatos em que o contexto sócio-econômico-cultural e político tenham pesos
significativos e diferenciados. De qualquer maneira, não se devem subestimar os
avanços conseguidos no Brasil, cuja Constituição Federal destina um artigo específico
para o tema (Artº 225), enquanto muitos países ainda nem discutem a questão ou se
recusam a participar de acordos internacionais em prol do meio ambiente.
Fora da esfera governamental e das tradicionais organizações voltadas para a
militância pró-ambiental, também são encontradas significativas iniciativas em distintas
áreas de atuação. O "Prêmio Super de Ecologia", promovido pela revista Super
Interessante, da Editora Abril, em 2002 teve como vencedor um projeto na categoria
água e no "Grande Prêmio Super", eleito por maioria absoluta, o Programa 1 Milhão de
37
Cisternas Rurais (P1MC) da ASA – Articulação no Semi-Árido Brasileiro, que integra
quase 700 ONGs de 11 estados – 09 do Nordeste, mais Minas Gerais e Espírito Santo.
O Programa, além de resolver muitos problemas relacionados à água na região nordeste,
incentiva a organização comunitária e gera renda para milhares de pedreiros. “O P1MC
dá uma nova dimensão ao conceito de ‘projeto ambiental’ – não se trata apenas de
proteger a natureza do homem, mas de ensinar o homem a conviver com a natureza”
(Burgiermam, 2002, p. 51). Em 2003, novamente o grande vencedor do prêmio foi na
categoria água, com um projeto de construção de micro-barragens.
O tema da Campanha da Fraternidade de 2004 teve como título “Fraternidade e
Água” e o lema “Água, fonte de vida”, com o objetivo de mobilizar e conscientizar a
população sobre a importância da água para a nossa sobrevivência.
Também na mídia televisiva se intensificaram as abordagens envolvendo o tema.
Em setembro de 2004, numa cena de novela foi veiculado um merchandising do
lançamento de uma bacia sanitária com redutor de vazão de água em sua base. Em
novembro do mesmo ano, outra novela deu destaque para uma cena em que três
personagens pré-adolescentes falavam sobre os 12% de água potável do Brasil, a
importância de sua preservação e dos 04 erres relacionados a consumo (recusar, reduzir,
reutilizar e reciclar) como comportamentos a serem adotados para proteger os recursos
naturais do Planeta. São exemplos distintos que, ainda que por motivos diferenciados,
refletem a importância da questão, colaboram com o processo informativo e incentivam
uma possível mudança comportamental.
Vivendo em sociedades nas quais historicamente predominam a competição e o
hedonismo, o ser humano encontra dificuldade para a adoção de uma prática
permanente de condutas pró-ambientais e sustentáveis, baseada numa cultura de
cooperação, solidariedade e preocupação com as gerações futuras.
38
Inúmeras e diferentes podem ser as motivações para padrões comportamentais
expressos em condutas com tendências mais individualistas ou coletivistas, sustentáveis
ou insustentáveis. É possível que uma postura pró-ambiental de fato tenha alguma
relação com o grau de maturidade individual. Não me parece, no entanto, haver um
"padrão x ou y" de personalidade, própria de quem defende a conservação do meio-
ambiente, ainda que haja um locus de controle, que é interno, e existam determinadas
características e valores, presentes na maioria das pessoas envolvidas com a questão,
como cooperação, solidariedade e altruísmo.
Um indivíduo com responsabilidade pela sustentabilidade ambiental, portanto,
deve apresentar uma propensão ao futuro (Pinheiro, 2002), o que significa que antecipa
os efeitos de suas ações e pensa nos benefícios e prejuízos que pode ocasionar.
Para Corral (2001), na literatura psico-ambiental mencionam-se os termos
comportamento ambiental, conduta pró-ambiental, conduta ecológica, conduta
ambiental responsável e conduta sustentável, como ações que resultam no cuidado com
o meio ambiente. Segundo esse autor, as chaves para enfrentar os problemas ambientais
podem estar nas culturas tradicionais; o grande desafio estaria em encontrar uma forma
científica para essa abordagem.
Em seus estudos iniciais, Corral (2001) adotou a terminologia conducta
proambiental, que definiu como um conjunto de ações deliberadas e efetivas que
respondem a demandas sociais e individuais e que resultam na proteção do meio-
ambiente, conceituação essa incorporada no presente estudo, sob a denominação de
comportamento pró-ambiental.
Diferencio comportamento pró-ambiental de conduta sustentável, na medida em
que esta pressupõe três características psicológicas: a efetividade, que implica em
responder de maneira hábil às demandas ou exigências de cuidado do meio físico; a
39
deliberação, que significa que a conduta deve se produzir com o propósito ou a intenção
específica de cuidar do ambiente e propiciar o bem-estar humano e de outros
organismos do entorno; e também a antecipação, implicando que, ainda que a conduta
se realize no momento atual, o indivíduo se desliga temporalmente e projeta sua ação
para o futuro, que é o tempo a que se dirige sua ação no presente (Corral & Pinheiro,
2004).
Para Gärling, Biel e Gustafsson (2002), a falta de conhecimento do futuro
(incerteza ambiental) ou a vinculação de resultados a outras decisões (incerteza social e
interdependência), no que eles chamam genericamente de dilemas sociais e Teoria da
Utilidade (como e porque são tomadas determinadas decisões), seriam determinantes no
comportamento sócio-ambiental. Para eles, quando uma percepção comum, do tipo o
que nós deveríamos fazer, emerge em dilemas sociais, consiste um tópico importante e
que deveria ser investigado. Eles constataram que os resultados de decisões que
diferentes pessoas tomam, são interdependentes (dependem de como os outros
decidem). O que uma pessoa faz, não tem só conseqüências para si, mas também para
outros, fato que levou aqueles autores a denominar essa forma de relação com o meio
ambiente de paradigma da interdependência humana. Com isso, estão referendando a
natureza interdependente do comportamento das pessoas numa sociedade humana,
destacando que os problemas ambientais são causados pela predominância dos
interesses pessoais em detrimento dos interesses coletivos e mudando o foco da
pesquisa tradicional de resposta do indivíduo para o ambiente, para o papel do contexto
social.
Em relação a esse tema, Wiesenfeld (2001) destaca o perigo real de deterioração
das condições ambientais, colocando em risco a sobrevivência das gerações futuras. A
não consideração dos fatores sócio-culturais e políticos como impactantes desse
40
processo, intensifica os problemas e revela a necessidade urgente de se traçar estratégias
de curto, médio e longo prazo para se promover um relacionamento mais adequado com
o meio ambiente.
Orduña-Cabrera, Espinoza-Gallego e González-Lomelí (2002) também
observam a necessidade de se considerar características pessoais não psicológicas, bem
como as situações que as envolvem, quando de investigações sobre a origem do
comportamento pró-ambiental. Eles realizaram um estudo a respeito da relação entre
variáveis demográficas, variáveis contextuais, conhecimento ambiental e economia de
água, considerando as variáveis: sexo, idade, escolaridade, condição sócio-econômico-
financeira e lugar de origem (se rural ou urbana). Encontraram que
a variável demográfica "sexo" e o fator situacional "utensílios" têm um
efeito direto sobre o comportamento de economia de água. Outras
variáveis demográficas como o lugar de origem, o nível educacional e a
condição sócio-econômica-financeira mostraram uma influência indireta
e negativa sobre o cuidado com a água. Contra o esperado, nem o
conhecimento ambiental, nem o tamanho da família, afetaram esse
comportamento pró-ambiental. (Orduña-Cabrera et al, 2002, p. 110)
Para Corral, Armenta, Urías, Cabrera e Gallego, (2002), a motivação para uma
conduta pró-ambiental relaciona-se com a percepção que as pessoas têm do
comportamento que acontece ao seu redor (princípio das externalidades). Assim,
tenderiam à manutenção de comportamentos destrutivos do entorno ambiental quando
percebem que outros estão consumindo recursos naturais sem nenhuma preocupação
com sua conservação. Uma possível explicação para este tipo de atitude estaria na
adoção do comportamento percebido no outro como guia de conduta pessoal, explicação
essa desenvolvida a partir do conceito de tragédia dos comuns, criado por Hardin, em
1968. Ainda segundo aqueles autores, “o bem comum (o planeta) é aproveitado por
alguns indivíduos em benefício próprio, que esgotam os recursos e contaminam o meio,
41
à custa de um mal para os demais e, em última instância, para si mesmo” (p. 82). Ou
seja, os indivíduos tomam decisões e desencadeiam ações que prejudicam os outros,
sem se preocuparem com os danos produzidos e com o processo de ação-reação ou a
relação de causa-efeito. Num estudo realizado por esses pesquisadores (2002), esse
raciocínio foi transposto para a análise do consumo, ou da relação que as pessoas
mantêm com a água, a partir de depoimentos sobre desperdícios ou economia (própria e
dos outros). A pesquisa foi realizada em duas cidades do México: Obregón, (situada
numa região semi-desértica, mas com acesso a uma das maiores represas do México) e
Hermosillo (localizada no deserto, e com pouca disponibilidade de água, a qual vem
basicamente do subsolo). Levou-se em consideração a percepção de gasto pela
população, em relação às atividades locais impactantes (agricultura e pecuária),
indústrias e vizinhança.
Um resultado interessante foi o de que, para a maioria dos habitantes
investigados, quem consome mais água são os habitantes da zona urbana, ainda que a
maior incidência de gasto venha da zona rural, nas áreas de agricultura. No geral,
segundo o autor, os resultados obtidos parecem demonstrar que a percepção das
externalidades nas comunidades estudadas é um inibidor significativo de motivação
para atuar de maneira pró-ambiental. A tragédia dos comuns atuaria induzindo o
consumo de água como resposta à percepção de que outros indivíduos e setores da
comunidade abusam do gasto de água (Corral, et al., 2002, p. 92).
A partir desses mesmos dados, Corral (2003) procedeu à análise de
determinantes psicológicos e situacionais do comportamento de conservação de água, o
que o levou à conclusão de que “o problema da escassez de água possui componentes
psicológicos e sociais” (p. 246); estando seu consumo “sob a influência combinada de
fatores situacionais e disposicionais” (p. 251). Dentre eles se destacam as variáveis
42
contextuais, tais como escassez da água e a disponibilidade de aparelhos e utensílios
para seu consumo, e as variáveis psicológicas, como motivos ambientais, habilidades e
crenças. A compreensão da integração entre essas variáveis psicológicas e contextuais
certamente constitui importante direção para a pesquisa na área, visando a diminuir a
atual falta de harmonia das relações pessoa-ambiente.
De acordo com o observado na literatura da área, grande parte dos estudos
realizados sobre comportamento ambiental relaciona-se mais a questões envolvendo
lixo (particularmente sobre reciclagem) e energia. Sobre água, há pouca informação a
respeito de preditores psicológicos.
Sendo a água inquestionavelmente indispensável à vida e dentre tantas questões
merecedoras de investigação, algumas me chamaram mais a atenção, como é o caso da
relação que as pessoas mantêm com a água. Teríamos de fato uma crise de água? Ou
essa crise seria do comportamento humano em relação à natureza, mais especificamente
com a água? Como explicar o comportamento perdulário que vemos prevalecer em
nossa sociedade? Que preditores poderiam determinar ou influenciar esse
comportamento? A partir destas questões norteadoras, foquei meu trabalho
fundamentalmente na busca de respostas para a concepção e a percepção que os
participantes teriam em relação a água e sua influência sobre o comportamento de uso
auto-relatado. Para tanto, o conjunto de perguntas a que este trabalho se deteve a
pesquisar, compreende:
Qual o significado da água para os respondentes?
Que percepção e crenças os respondentes apresentam sobre o meio ambiente em
relação à água?
Será que as crenças e percepções sobre o uso da água se refletem na adoção de
comportamentos pró-ambientais?
43
Que influência(s) têm sobre o comportamento pró-ambiental, variáveis
demográficas, do tipo sexo, condição civil, local de nascimento e de residência durante
a infância, variáveis situacionais como tipo de moradia, tamanho da família, profissão e
escolaridade dos pais, particularmente da mãe, e tempo de estudos em escola pública ou
privada?
Que concepções de desenvolvimento sustentável têm os respondentes? Observa-
se alguma relação entre estas, o significado da água e as crenças em relação a situação
da água e do meio ambiente?
Que tipos de cuidados os participantes têm com o meio ambiente e qual a sua
relação com o comportamento de uso da água?
Perspectiva de futuro e tendências a atitudes pessoais mais individualistas ou
coletivistas, seriam preditores de um comportamento pró-ambiental?
E como funciona com esse grupo de respondentes, o princípio das
externalidades? Qual a percepção sobre o comportamento dos outros em relação ao
consumo de água e que implicações tem em seu próprio comportamento?
Qual a relação do significado que dão à água e da percepção que têm sobre sua
situação, com o comportamento de uso auto-relatado pelos respondentes?
5. Estratégias metodológicas empregadas
Partindo do quadro de referência exposto nos capítulos anteriores, escolhi
investigar o fenômeno água, tal como expresso no relato dos participantes deste estudo,
quanto ao seu uso, percepção, crenças e significado, com o objetivo de identificar e
analisar alguns dos determinantes do comportamento pró-ambiental relacionado ao uso
da água.
O local de realização da pesquisa foi o CEFET/RN – Centro Federal de
Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte, envolvendo alunos do ensino médio
integrado e técnico subseqüente. O curso de ensino médio integrado é uma associação
do ensino médio tradicional com formação técnica profissional e duração total de quatro
anos. O curso técnico subseqüente é a mesma formação técnica profissional, só que para
alunos oriundos do ensino médio tradicional não integrado.
Foi selecionada uma amostra de conveniência, considerando-se principalmente
que a instituição trabalha com regime de cotas (50% para alunos de escolas públicas e
50% para originários de escolas privadas), o que poderia se refletir em um maior
equilíbrio do grupo em termos de condição sócio-econômica de origem.
Os cursos escolhidos foram: Controle Ambiental, Geologia e Mineração (ambos
da Gerência de Recursos Naturais) e Informática (Gerência de Informática), pois pensei
em diferenciar os participantes em termos de seu perfil vocacional/profissional,
orientado para uma formação com maior ou menor interação psico-sócio-ambiental e
conseqüente influência em atitudes e comportamentos pró-ambientais.
45
5.1 Participantes
Foram aplicados 359 questionários, dos quais foram excluídos 32 por serem os
únicos do período noturno e 12 por erros de preenchimento, totalizando 315
participantes válidos no estudo como um todo, ainda que esse número seja inferior em
algumas das questões, por ausência de resposta específica na questão.
Os respondentes são predominantemente nascidos e vividos em zona urbana até
os 10 anos de idade (85% e 81%, respectivamente), sendo 46% do sexo feminino e 54%
do masculino, distribuídos por curso conforme a Tabela 1.
Tabela 1
Sexo do participante por curso freqüentado
Sexo
Curso freqüentado
Feminino Masculino
Total
Controle Ambiental 73 40 113
Geologia e Mineração 44 83 127
Informática 29 46 75
Total 146 169 315
A Tabela 2 mostra o conjunto de 315 participantes (com 311 respostas válidas)
distribuído de forma praticamente eqüitativa pelos turnos matutino (52%) e vespertino
(48%) e pelo tipo de escola em que estudou por mais tempo até então: estudante de
escola pública (51%), ou privada (49%).
Tabela 2
Turno de estudos por tipo da escola de origem (N = 311)
Maior tempo em escola
Turno de estudos
Pública Privada
Total
Matutino 85 78 163
Vespertino 74 74 148
Total 159 152 311
46
A média de idade do grupo foi 16,85 anos (DP = 2,88; valor mínimo = 13;
máximo = 27) e a religião com maior percentual de opção foi a católica (65%), seguida
da evangélica (25%), em 287 questionários válidos. Do total de respondentes, 76,5%
informaram residir em casa própria.
5.2 Instrumento
O questionário utilizado foi inspirado em instrumento semelhante, de um estudo
realizado por Corral e colaboradores (2002) no México, revisto e adaptado à presente
proposta, variando na seqüência das partes e conteúdos, conforme os quatro tipos
descritos mais abaixo. Para se chegar à sua formatação final foram realizados dois pré-
testes, com pessoas de faixa etária, condição sócio-econômica, profissão e instrução
diferenciadas.
Como pode ser observado em detalhes na cópia apresentada no Apêndice A, o
questionário continha perguntas abertas e de múltipla escolha (escalas tipo Likert),
compreendendo itens de auto-avaliação sobre comportamento de uso da água;
percepção sobre o consumo (desperdício) de água por outros; Escala de Individualismo
e Coletivismo (Gouveia, 1998); as subescalas de presente e de futuro do Inventário
Zimbardo de Perspectiva Temporal (IZPT, Zimbardo & Boyd, 1999); questões que
abordam crenças sobre a situação/disponibilidade de água; a Escala Novo Paradigma
Ecológico (NPE, Dunlap et al, 2000); perguntas abertas sobre cuidado, água e
desenvolvimento sustentável; além de itens de caracterização sócio-demográfica (sexo,
idade, origem, etc.).
Essas seções foram dispostas em seqüências diferenciadas dentro do
instrumento, de acordo com os quatro tipos – A, B, C e D – descritos a seguir:
47
Tipo A: auto-relato sobre consumo de água; escala de percepção das
externalidades (Corral, 2002); crenças sobre a situação percebida quanto a
disponibilidade de água; Escala Novo Paradigma Ecológico (NPE, Dunlap et al, 2000);
itens de presente e de futuro do Inventário Zimbardo de Perspectiva Temporal (IZPT,
Zimbardo & Boyd, 1999); Escala de Individualismo e Coletivismo (Gouveia, 1998);
perguntas abertas sobre o significado da água e a concepção de desenvolvimento
sustentável; variáveis sócio-demográficas; questões sobre cuidado ambiental (se
pratica/praticou e descrever de que tipo) e deixar forma de contato para participação em
campanhas.
Tipo B: escala de percepção das externalidades (Corral, 2002); auto-relato sobre
consumo de água; Escala Novo Paradigma Ecológico (NPE, Dunlap et al, 2000);
crenças sobre a situação percebida quanto a disponibilidade de água; Escala de
Individualismo e Coletivismo (Gouveia, 1998); itens de presente e de futuro do
Inventário Zimbardo de Perspectiva Temporal (IZPT, Zimbardo & Boyd, 1999);
variáveis sócio-demográficas; questões sobre cuidado ambiental (se pratica/praticou e
descrever de que tipo) e deixar forma de contato para participação em campanhas e
perguntas abertas sobre o significado da água e a concepção de desenvolvimento
sustentável.
Tipo C: Escala Novo Paradigma Ecológico (NPE, Dunlap et al, 2000); Escala de
Individualismo e Coletivismo (Gouveia, 1998); itens de presente e de futuro do
Inventário Zimbardo de Perspectiva Temporal (IZPT, Zimbardo & Boyd, 1999); escala
de percepção das externalidades (Corral, 2002); perguntas abertas sobre significado da
água e a concepção de desenvolvimento sustentável; auto-relato sobre consumo de
água; crenças sobre a situação percebida quanto a disponibilidade de água; variáveis
48
sócio-demográficas; questões sobre cuidado ambiental (se pratica/praticou e descrever
de que tipo) e deixar forma de contato para participação em campanhas.
Tipo D: variáveis sócio-demográficas; questões sobre cuidado ambiental (se
pratica/praticou e descrever de que tipo) e deixar forma de contato para participação em
campanhas; Escala Novo Paradigma Ecológico (NPE, Dunlap et al, 2000); auto-relato
sobre consumo de água; crenças sobre a situação percebida quanto a disponibilidade de
água; Escala de Individualismo e Coletivismo (Gouveia, 1998); perguntas abertas sobre
significado da água e a concepção de desenvolvimento sustentável; itens de presente e
de futuro do Inventário Zimbardo de Perspectiva Temporal (IZPT, Zimbardo & Boyd,
1999) e escala de percepção das externalidades (Corral, 2002). Este modelo,
apresentado no Apêndice A, foi usado como matriz para o banco de dados no programa
estatístico
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).
A Tabela 3 reflete o bom resultado do planejamento e execução da coleta de
dados, uma vez que a distribuição dos tipos válidos do questionário foi bastante
eqüitativa.
Tabela 3
Distribuição da freqüência de modelos válidos de questionários aplicados
Freqüência
Modelo
Absoluta Porcentual
A 75 23,8
B 79 25,1
C 80 25,4
D 81 25,7
Total 315 100,0
No Apêndice B apresento uma comparação das médias e freqüências
encontradas nas respostas, mostrando a quase completa ausência de variação por
influência dos tipos de questionários utilizados. Conforme se pode observar no referido
49
Apêndice, houve apenas dois casos isolados em que a média de Individualismo no tipo
A foi significativamente maior do que no tipo D e a média de Externalidades no tipo D
foi significativamente maior do que nos tipos B e C.
5.3 Procedimento
A coleta de dados foi realizada no período de março a maio de 2005, com alunos
dos cursos de Controle Ambiental, Geologia e Mineração e Informática; dos turnos
matutino e vespertino (como já mencionado, os poucos alunos do período noturno não
fizeram parte das análises).
Após aceitação e autorização da Diretoria de Ensino e das gerências envolvidas
no processo, foi feito contato com os professores indicados pelas gerências para a
entrada em sala de aula, os quais me apresentavam à turma quando da aplicação do
questionário, preenchido pelos respondentes.
Antes da aplicação eram apresentados a proposta e seu objetivo, o tempo
estimado para resposta e a futura disponibilidade dos resultados para os interessados.
Esclarecia ainda ser uma atividade sem identificação do participante e totalmente
voluntária; por isso, se alguém não consentisse em participar – na linguagem deles, não
estivesse "a fim" –, poderia não fazê-lo, ficando à vontade para sair da sala ou nela
permanecer. Não havendo manifestações contrárias, agradecia a concordância com a
participação na pesquisa e iniciava a distribuição do questionário (durante o processo
apenas dois alunos disseram que “não estavam a fim” de participar e pediram para sair
da sala).
Procurei realizar a distribuição dos quatro tipos de questionário (A, B, C e D) de
forma a evitar uma única seqüência que pudesse influenciar os dados numa mesma
50
direção (enviesada). Também anotei quaisquer ocorrências e observações gerais em
todas as aplicações.
No caso das respostas de múltipla escolha, os dados foram registrados em
planilha eletrônica e posteriormente analisados com auxílio do programa estatístico
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Para análises de freqüência (teste de
qui-quadrado), comparações de médias (teste t) e correlações (coeficiente de Pearson), o
nível de significância estatística adotado foi de probabilidade igual ou inferior a 5%. As
respostas às questões abertas foram transcritas para uma listagem única, com o objetivo
de facilitar a análise de seu conteúdo, o que gerou as categorias empregadas no
detalhamento da interpretação.
As escalas incluídas no questionário foram analisadas quanto à consistência
interna (confiabilidade medida pelo coeficiente Alfa de Cronbach), tendo sido
empregada como indicador final a média aritmética simples dos itens considerados
confiáveis. Os itens adotados por escala encontram-se listados no Apêndice C, no qual
também estão informados os níveis de Alfa para cada instrumento empregado.
6. Resultados e discussão
O capítulo está organizado em duas grandes seções. Começo apresentando os
principais resultados relativos a como os respondentes definem, usam e percebem a
água (as variáveis critério do estudo), na seção 6.1. Em seguida, apresento os resultados
dos demais indicadores, variáveis preditoras, em suas relações de associação/correlação
com as variáveis critério (seção 6.2).
6.1. Concepções, usos e percepções
6.1.1. Concepções de água pelos respondentes
A análise dos significados atribuídos à água revelou uma predominância da
dimensão bio-ecológica (94%), classificados na categoria Natureza/Vida, com 70% de
referência a “vida”, seguida da palavra “bem” (25%) e “fonte” (18%), numa clara
conotação de sobrevivência. Dessa forma, se água é vida e sua ausência ou inexistência,
seria morte e, não dependendo de nenhuma produção humana para existir, só poderia
ser considerada um bem público, ou seja, pertence a todos. A Constituição Federal
Brasileira em seu artigo 225 incorpora esse caráter de universalidade. Todavia,
paradoxalmente sem regulamentação e gerenciamento, aquilo que é de todos passa a ser
de ninguém. Para Petrella (2002),
O controle da água deve ser dado a seus verdadeiros donos, os habitantes
do planeta Terra. Ele não pertence aos estados nacionais, nem aos
mercados, corporações ou acionistas. Ele pertence às comunidades
humanas, das menores (aldeias) até as maiores (a comunidade global).
(p. 149)
52
Qualquer que seja o modelo adotado para a gestão das águas, precisa-se de
cuidado para não restringi-la à dimensão econômica e definir com clareza quem
gerencia e quem usa, seus principais usos, formas e condições de acesso, incluindo as
inúmeras dimensões que a compõem. Até porque “os usos da água geram conflitos em
razão de sua multiplicidade e finalidades diversas, as quais demandam quantidades e
qualidades diferentes.” (Tundisi, 2003, p.1).
No presente estudo, a predominância de respostas dos participantes fazendo
referências aos aspectos mais naturais e sociais da água sugere necessidade de reflexão
sobre os encaminhamentos que direta ou indiretamente a sociedade de uma forma geral
tem dado à questão, para a implementação de uma política socialmente mais justa para o
uso e gerenciamento integrado e sustentável da água.
6.1.2. Economia de água
A escala original do estudo de Corral e colaboradores (2002) continha nove itens
para respostas quanto ao número de vezes que nos últimos sete dias se realizou a ação
enunciada. Neste estudo usei uma escala com dezesseis itens para análise do
comportamento de uso em geral (ver a seção "Ações" do questionário, no Apêndice A).
A análise da confiabilidade interna desse conjunto de indicadores para o grupo estudado
na presente investigação, levou à gradual eliminação de itens pouco relacionados aos
demais, conduzindo à seleção final de 9 itens (Alfa = 0,72; ver Apêndice C). Foi então
extraída a média aritmética simples dos valores desses 9 itens para cada respondente,
que passou a ser o indicador "economia de água" neste estudo, com valor médio de 2,99
(DP = 0,58; valor mínimo = 1; valor máximo = 4; para N = 315).
Com relação aos itens não incluídos na construção do indicador acima, com
exceção de dois (referentes ao tempo de banho e quantidade de água servida para
53
beber), os demais diziam respeito a atividades provavelmente não apropriadas pelos
participantes, por integrarem a rotina doméstica. Seja por eles não colaborarem nesses
serviços, seja por não perceberem ou se preocuparem com sua realização. Também é
curioso notar que justamente as duas ações que não apresentaram consistência interna
para sua manutenção na construção do indicador, talvez sejam as que mais se reportem
à satisfação de necessidades internas, geradoras de prazer. Quanto aos itens que
permaneceram, penso que eles poderiam ser mais bem estudados e trabalhados no
sentido de se construir uma medida de avaliação subjetiva para o consumo de água, que,
associada a outros indicadores, pudesse contribuir para análises do quanto uma pessoa
economiza ou gasta água e o que isto sugere em termos de comportamento ambiental.
6.1.3. Situação percebida da água
A seleção de itens da escala de água como situação percebida baseou-se no índice
de confiabilidade (Alfa de Cronbach). Dos 18 itens adaptados do estudo de Corral e
colaboradores (2002) e incluídos na seção "Frases" do questionário (ver Apêndice A),
sobraram 11 itens na escala utilizada neste estudo (Alfa = 0,72). Como no caso anterior,
a média aritmética simples desses itens passou a ser o indicador situação percebida da
água, cujo valor médio foi de 4,25 (DP = 0,54; valor mínimo = 2,19; valor máximo =
5,00; para N = 312). Interessante observar que os itens com menor índice de
confiabilidade estejam entre situações que de alguma forma relacionam a questão de
acesso e distribuição da água, a intervenções de ordem político-governamental.
Curiosamente, dos 18 itens da escala, sete estão relacionados à percepção de abundância
ou crença na água como um recurso infinito. Dentre estes, estão quatro que não foram
incluídos na composição do indicador situação percebida da água e têm em sua redação
a palavra problema, o que pode ter conotações de negação ou distanciamento da
54
situação. A presença de valores antropocêntricos nos que permaneceram seria uma
possível indicação da tendência pela sua preferência.
6.1.4. Relações entre definições de água, usos e percepções
Os indicadores economia de água e situação percebida da água não apresentaram
correlação entre si (r = 0,059), o que significa que para os respondentes não há paralelo
entre a conduta que adotam no uso efetivo da água (comportamento auto-relatado), o
significado que dão a ela e o modo como percebem sua situação no geral. Ou seja, se é
possível considerar a variável economia de água como representativa dos
comportamentos dos respondentes de poupar água, tal indicador não se associa com as
percepções e concepções que eles apresentam da água. É possível inferir a existência de
uma alta carga de influência externa, possivelmente pela necessidade de atender à
expectativa do outro (desejabilidade social) e manifestada por meio de um
comportamento pró-ambiental auto-relatado. Ao mesmo tempo, existe também o
impacto do comportamento ditado pelo que é visto ou percebido ao redor (princípio das
externalidades), Corral e colaboradores (2002), que pode se sobrepor ao conhecimento e
impedir ou dificultar que este tenha efetividade e se transforme em conduta pró-
ambiental. Ou, ainda, talvez seja razoável não esperar correlação desse comportamento
auto-informado – e carregado de juízos de valor e de simbolismos sobre a satisfação de
necessidades objetivas e subjetivas, sobre o que é socialmente aceitável – de economia
de água com uma percepção (mais impessoal) de um problema abstrato, genérico e
mundial.
55
6.2. Indicadores em associação com definições, usos e percepções de água
6.2.1. As variáveis sócio-demográficas: sexo, religião, e co-habitantes
Como já mencionado, o sexo dos respondentes esteve equilibradamente
distribuído em 146 (46%) do sexo feminino e 169 (54%) do masculino.
Ao analisar o papel da variável sexo em relação aos comportamentos de economia
de água e situação percebida da água, obtive as médias apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4
Médias e desvios-padrão dos indicadores analisados por sexo do respondente
Sexo
Feminino
(N = 146)
Masculino
(N = 169)
Economia de água Média
Desvio-padrão
3,15 *
0,50
2,85
0,61
56
O levantamento da religião dos participantes mostrou que 187 (65%) são católicos
e 71 (25%) são evangélicos/protestantes. As demais freqüências obtidas (espírita = 9;
nenhuma = 4) foram baixas demais para justificar sua participação nas análises.
Quanto ao papel exercido pela religião do respondente, a Tabela 5 apresenta as
médias das variáveis analisadas. Nenhuma das diferenças observadas em relação à
variável religião (católicos vs evangélicos/protestantes) resultou estatisticamente
significativa. Esperava-se uma maior implicação desta variável, principalmente entre os
católicos, em virtude da possível influência da Campanha da Fraternidade 2004 (Água
como fonte de vida), com uma série de inserções na mídia ao longo do ano e abordagem
direta do tema no âmbito da comunidade católica (campanhas, sermões, caminhadas,
etc), o que não se verificou, embora nas definições dadas pelos respondentes tenha
preponderado a concepção de água como vida.
Tabela 5
Média dos indicadores analisados por religião do respondente
Religião
Católica
(N = 187)
Evangélica
(N = 71)
Economia de água 2,99 3,00
Situação percebida da água 4,28 4,25
O número de co-habitantes na residência do participante foi fornecido levando em
conta a faixa etária do co-habitante; os parâmetros básicos de cada caso podem ser
observados na Tabela 6. As médias parecem sugerir que o respondente típico mora com
os dois pais, existindo mais duas pessoas na casa, possivelmente irmãos ou irmãs de
idade próxima à do respondente (cuja média foi de 16,85; DP = 2,88; amplitude de
variação = 13 a 27).
57
Tabela 6
Número de co-habitantes do respondente, por faixas etárias
Total de co-
habitantes
Co-habitantes
até 10 anos
Co-habitantes
entre 11-20
anos
Co-habitantes
entre 21-50
anos
Co-habitantes
>= 51 anos
N respostas válidas 310 312 310 310 308
Média 3,82 0,32 1,12 1,97 0,42
Desvio-padrão 1,98 0,77 1,12 1,10 0,73
Valor mínimo 0 0 0 0 0
Valor máximo 18 7 7 7 4
A análise de correlação em relação ao número de co-habitantes gerou os
coeficientes de Pearson que podem ser apreciados na Tabela 7.
Tabela 7
Correlações (Pearson) entre número de co-habitantes e uso e percepção da água
Economia de
água
Situação
percebida da
água
Co-habitantes de até 10 anos 0,01 0,04
Co-habitantes entre 11-20 anos 0,02 - 0,05
Co-habitantes entre 21-50 anos 0,12 * - 0,01
Co-habitantes >= 51 anos 0,04 0,03
Total de co-habitantes 0,10 - 0,01
(*) correlação significativa ao nível de 0,05 (teste bi-caudal; Ns variando de 308 a 312)
A quantidade de co-habitantes do respondente é de um modo geral, irrelevante em
relação às variáveis indicadoras de uso e percepção de água. Os co-habitantes na faixa
de 21 a 50 anos (pais dos respondentes?) exerceriam alguma (reduzida) influência direta
(positiva) sobre os comportamentos de poupar água (r = 0,12).
Uma das questões inicialmente levantadas para este estudo era se a influência das
tradições familiares e das possíveis práticas transmitidas de pais para filhos, resultariam
em uma conduta pró-ambiental destes. Embora os resultados encontrados estejam longe
de confirmar tal tendência, sinalizam um caminho interessante para investigação
posterior, pois a única faixa etária de co-habitantes a mostrar alguma influência foi a
58
equivalente à dos ascendentes, provavelmente pais dos respondentes. Em outras
palavras, os dados mostram uma (ligeira) relação do comportamento de poupar água
com o fato de morar com os pais (ou figuras representativas destes). O mesmo efeito
não se observou para outras faixas etárias de co-habitantes (sem autoridade para exercer
influência?), nem para a situação percebida da água, aspecto possivelmente mais sujeito
a outros tipos de influências, como a da mídia, por exemplo. Considerado o contexto de
multideterminação do comportamento pró-ambiental e a natureza exploratório-
descritiva deste estudo, essa constatação de que a convivência com figuras parentais de
autoridade pode contribuir para condutas poupadoras do líquido pelos jovens pode
significar um indicador importante para a compreensão da economia de água em
investigações futuras e para a adoção de propostas educativas.
6.2.2. Os indicadores de pró-ambientalismo
Com base na análise da consistência interna (Alfa de Cronbach, ver apêndice C),
foram selecionados 14 itens da Escala Novo Paradigma Ecológico (NPE; Dunlap et al.,
2000), cuja média aritmética simples passou a representar o indicador de pró-
ambientalismo adotado no estudo. Os resultados ficaram abaixo do esperado. No
entanto, como em outro estudo recente (Pinheiro et al., 2005) com um grupo de
universitários, aconteceu algo semelhante, pode-se questionar a sua validade para
aplicação em nossa realidade, pelo menos no formato adotado para essa investigação.
As correlações desse indicador de pró-ambientalismo com as variáveis uso e percepção
da água são apresentadas na Tabela 8. A correlação com a variável economia de água (~
20%) é inferior à da variável situação percebida da água (32%), talvez porque a
primeira se refere a comportamentos efetivamente praticados pelos respondentes (ainda
que em forma de auto-relato), enquanto a segunda está relacionada à percepção da
59
situação da água de uma maneira mais impessoal, o que aproximaria seu conteúdo do
significado contido nos itens que compõem a Escala NPE. O único item da escala sem
índice de confiabilidade para compor o indicador de pró-ambientalismo “A Terra terá
quantidade suficiente de recursos naturais se aprendermos a aproveitá-los” infere uma
necessidade de mudança de atitudes em relação ao meio ambiente ou, em outras
palavras, a adoção de um comportamento pró-ambiental.
Tabela 8
Correlações (Pearson) entre o indicador de pró-ambientalismo e uso e percepção da água.
Economia de
água
Situação
percebida da
água
Indicador de pró-ambientalismo (Escala NPE) 0,19 ** 0,32 **
(**) correlação significativa ao nível de 0,01 (teste bi-caudal; Ns variando de 312 a 315)
Em relação ao indicador deixar forma de contato, 23 participantes
(aproximadamente 7%) não responderam à questão, ou tiveram suas respostas
invalidadas. Do total de 292 respostas válidas, 124 (42%) não deixaram um meio para
contato futuro, ao passo que 168 (58%) afirmaram sua disposição ao deixar forma de
contato para serem eventualmente convidados a participar de campanhas ambientais, o
que pode ser considerado como indicador de predisposição para a adoção de práticas
mais protetoras do meio ambiente.
Em relação à questão "Você pratica (ou já praticou) algum tipo de atividade ou
ação que considera como um bom exemplo de cuidado com o meio ambiente, ou que é
resultado de sua preocupação ambiental?" (cuidado ambiental), das 307 respostas
válidas, 199 (65%) foram negativas, enquanto 108 (35%) positivas, seguidas de uma
breve explicação sobre esse cuidado ambiental praticado pelo respondente. Essas
explicações foram categorizadas e analisadas quanto a: forma de expressão, tempo do
60
verbo, grau de deliberação, âmbito e tipo da ação, tendo por base os trabalhos de
Pinheiro et al. (2005) e Corral (2001), como se verá mais adiante.
Deixar contato e praticar cuidado ambiental não correspondem necessariamente a
um mesmo tipo de reação dos respondentes, pois ao compararmos as freqüências de
resposta das duas variáveis, observamos diferenças significativas em sua distribuição
(teste qui-quadrado, considerando-se p d 0,05), como se pode observar na Tabela 9.
Tabela 9
Comparação das freqüências de respostas a deixar contato e praticar cuidado ambiental
Deixou forma de contato?
Não Sim Total
Não
96
(78)
88
(106)
184
Sim
25
(43)
78
(60)
103
Pratica ou praticou
cuidado ambiental?
Total 121 166 287
Nota: entre parênteses e em itálico as freqüências esperadas
Para analisar a relação com os indicadores pró-ambientais de deixar contato e
praticar cuidado ambiental, procedi à comparação das médias de uso e percepção de
água (teste t), separadas por aqueles dois indicadores, como se pode observar nas
Tabelas 10 e 11.
Tabela 10
Média dos indicadores analisados por deixar forma de contato, ou não (N = 292)
Deixar forma de contato
Não
(N = 124)
Sim
(N = 168)
Economia de água
2,86
(0,63)
3,05 **
(0,53)
Situação percebida da água
4,09
(0,61)
4,37 **
(0,45)
(**) diferença estatisticamente significativa (teste t; p < 0,001)
Nota: o desvio-padrão é informado entre parênteses e em itálico
Deixar uma forma de contato para uma futura campanha ambiental está
relacionado a níveis significativamente mais elevados tanto do comportamento de
61
economizar água (t = - 2,678; gl = 235,576; p = 0,008) como da percepção da situação
da água (t = - 4,170; gl = 214,548; p = 0,000). Embora este preditor tenha gerado
resultados na direção esperada, na realidade é uma questão carregada de desejabilidade
social, que parece acabar contaminando tanto os indicadores mais
pessoais/comportamentais, como uso da água, quanto os mais impessoais/abstratos, caso
da percepção da água.
Ao comparar as médias de uso e percepção da água com cuidado ambiental (ver
Tabela 11), a única diferença que resultou significativa foi para o comportamento de
economizar o líquido, com média mais elevada para os que responderam sim à questão
(t = - 3,705; gl = 292,443; p = 0,000). Observa-se uma relação mais direta entre duas
medidas em nível comportamental (cuidado ambiental e uso de água) e não entre a
prática de cuidado e situação percebida, o que novamente sugere que uso e percepção da
água pertencem a dimensões distintas, como já havia sido apontado pela ausência de
correlação entre esses indicadores (ver seção 6.1.4).
Tabela 11
Média dos indicadores analisados por praticar, ou não, cuidado ambiental (N = 307)
Pratica/ praticou cuidado ambiental?
Não
(N = 199)
Sim
(N = 108)
Economia de água
2,91
(0,64)
3,13 **
(0,43)
Situação percebida da água
4,22
(0,53)
4,32
(0,54)
(**) diferença estatisticamente significativa (teste t; p < 0,001)
Nota: o desvio-padrão é informado entre parênteses e em itálico
Para as definições de cuidado, conforme já mencionado anteriormente, foi
realizada uma categorização em que se considerou a forma de expressão (afirmativa e
negativa), tempo verbal (presente, passado e infinitivo), grau de deliberação (primeira e
62
terceira pessoas), âmbito de atuação (individual, grupal e organizacional) e o tipo da
ação pró-ambiental (conforme Corral, 2001).
As freqüências obtidas por categorias revelaram a predominância de respostas
afirmativas (74%), de caráter impessoal (58% na 3ª pessoa do verbo), individual
(55,5%) e com ações pró-ambientais principalmente relacionadas a estética ambiental e
controle do lixo (36%), enquanto a categoria economia de água teve um índice de 11%.
Dentre todos os índices anteriores, cuidado ambiental foi o que me pareceu menos
contaminado pelo fator desejabilidade social, pois ao falar dessas práticas pró-
ambientais, o respondente precisa aludir a ações concretas, realizadas pontual ou
cotidianamente, entre as quais predominou a problemática do lixo.
A questão sobre desenvolvimento sustentável havia sido abordada com vistas a ser
um referencial adicional para as análises, mas seu alcance se mostrou bem limitado
nesse sentido e por isto optei por não incluí-la como um indicador de pró-
ambientalismo. Dos 315 respondentes, apenas 91 (29%) deram algum tipo de definição
e destes, somente 16 (17,5%) incluíram alguma idéia de futuro, que era um dos pontos
principais a serem explorados nas análises.
6.2.3. Demais preditores: escola de origem, nível de instrução da mãe, coletivismo,
IZPT e percepção das externalidades
Dentre as 311 respostas válidas para a questão que indagava em que tipo de
escola o respondente tinha estudado até então (pública ou privada/particular), 159
afirmaram ter estudado na pública (51%), enquanto 152 na particular (49%). A
indagação que se colocava era: como essa trajetória poderia estar relacionada ao uso e
percepção da água? Considerando-se principalmente que, subjacente a ela poderiam
estar influenciando também as variáveis condição sócio-econômica, acesso a
63
informação e instrução familiar. A resposta estava na comparação das médias daqueles
indicadores pelos dois tipos de escola que apresento na Tabela 12.
Tabela 12
Média dos indicadores analisados por ter mais tempo em escola pública ou privada (N = 311)
Mais tempo em escola
Pública
(N = 159)
Particular
(N = 152)
Economia de água
3,05 *
(0,58)
2,91
(0,57)
Situação percebida da água
4,28
(0,52)
4,22
(0,56)
(*) diferença estatisticamente significativa (teste t)
Nota: o desvio-padrão é informado entre parênteses e em itálico
Tanto economia de água como situação percebida de água têm médias mais
elevadas para os participantes que estudaram mais (ou exclusivamente) em escola
pública, mas só a primeira diferença (comportamento de poupar água) é estatisticamente
significativa (t = 2,068; gl = 308,684; p = 0,039). A condição sócio-econômica familiar
que impõe restrições de acesso (material e financeiro) a determinados bens e serviços,
dentre eles a água, pode ser uma explicação plausível para esse tipo de resultado. Corral
(2003) constatou em um de seus estudos que, de um lado, “a afluência econômica é um
instigador do desperdício de água” (p. 250), ao mesmo tempo em que oferece “melhores
condições (educação, conhecimento ambiental) para desenvolver um número variado de
habilidades”, inclusive as referentes à economia de água. De outro, viver sob uma
condição de restrição ou escassez de água, “promove o desenvolvimento de tendências
de comportamento (motivos, habilidades e crenças) que levam o indivíduo a economizar
água.” (p. 251).
Também nos pareceu importante verificar o grau de instrução da mãe como uma
variável possivelmente associada ao compromisso das pessoas com o ambiente,
considerando também as prováveis influências das figuras parentais e de autoridade e a
64
subjetividade da relação maternal. Entretanto, no caso específico dos indicadores de uso
e percepção da água do presente estudo, não se observou correlação alguma entre o grau
de instrução da mãe e percepção e uso da água pelos respondentes. Considerando,
entretanto, que foi encontrada certa influência dos co-habitantes na faixa etária provável
dos pais, essa determinação parental precisaria ser mais bem compreendida.
Quanto aos indicadores da Escala de Coletivismo e Individualismo (Gouveia,
1998), por coerência, havia uma expectativa de correlações positivas entre o índice de
coletivismo e o do posicionamento pró-ambiental em relação à água. Uma postura
coletivista está associada a um comportamento de cooperação e solidariedade em prol
de um bem comum enquanto que a individualista foca prioritariamente seus interesses
pessoais acima dos grupais. Não encontramos nenhuma ênfase na postura individualista
que pudesse ser indicativa de correlação do tipo quanto maior o índice de coletivismo,
maior também o de cuidado e pró-ambientalismo. Como se pode observar na Tabela 13,
ocorreu tênue associação entre economia de água e individualismo (negativamente) e
entre percepção da água e coletivismo, ambas as correlações estatisticamente
significativas.
Tabela 13
Correlações (Pearson) entre coletivismo/individualismo e uso e percepção da água (N = 311)
Economia de
água
Situação
percebida da
água
Coletivismo 0,09 0,14 **
Individualismo - 0,11 * - 0,03
(*) Correlação significativa (p = 0,03; teste unicaudal)
(**) Correlação significativa (p = 0,008; teste unicaudal)
O princípio das externalidades tem sido apontado como uma hipótese para
explicar um comportamento de consumo insustentável, em que a conduta anti-ambiental
65
seria reforçada pela percepção que as pessoas têm das atitudes que predominam fora do
seu âmbito de ação (Corral et al., 2002). No presente estudo o conjunto das questões
sobre percepção de fontes de desperdício ou contaminação da água resultou em um
indicador geral cujas correlações com uso e percepção da água estão informadas na
Tabela 14. Somente a correlação com economia de água resultou significativa, apesar de
seu baixo valor. Ou seja, perceber o comportamento de desperdício dos outros tem
alguma relação (ainda que apenas de 10%) com o comportamento de uso da água
próprio dos respondentes, conforme esperado, mas não tem associação alguma com a
percepção que eles têm da situação mais geral (e abstrata, impessoal) da água.
Tabela 14
Correlações (Pearson) entre externalidades e uso e percepção da água (N = 315)
Economia de
água
Situação
percebida da
água
Indicador de externalidades 0,10 * 0,05
(*) Correlação significativa (p = 0,041; teste unicaudal)
Seguindo a tradição de estudos que tem analisado a relação da perspectiva de
futuro e pró-ambientalismo (Corral et al., 2002; Pinheiro, 2002a e 2002b; Corral &
Pinheiro, 2004), eu esperava obter uma correlação positiva entre esse indicador
desenvolvido por Zimbardo e Boyd (1999) e as posturas pró-ambientais relativas a uso e
percepção de água. Ao mesmo tempo, e coerentemente com a mesma tradição de
estudos, esperava que essas formas de pró-ambientalismo fossem inversamente
relacionadas às perspectivas de presente (hedonista e fatalista) consideradas no
instrumento deste estudo. Na Tabela 15 podem-se observar os resultados de tais
relações.
66
Tabela 15
Correlações(Pearson) entre perspectivas temporais e uso e percepção da água (N = 315)
Perspectivas de tempo
Economia de
água
Situação
percebida da
água
Futuro 0,09 0,24 **
Presente fatalístico 0,00 - 0,04
Presente hedonístico - 0,13 ** - 0,08
(**) Correlação significativa ao nível de p d 0,01 (teste unicaudal)
Encarar os fatos como obra do destino (presente fatalístico) não apresenta
correlação alguma com os indicadores de uso e percepção de água, enquanto o presente
hedonístico mostrou leve correlação negativa com o comportamento de economizar
água, fazendo supor que o apego ao prazer do momento não coincide com esforços de
economizar o líquido.
A perspectiva de futuro apresenta correlação positiva (ainda que reduzida) e
significativa com a percepção da água, mas não com o comportamento de utilização do
líquido, o que mais uma vez reforça que a percepção da água está dissociada do uso da
água efetivamente praticado pelos respondentes. Entre o que se pensa e o que se faz
ainda há uma distância a ser vencida – mesmo quando os dados são obtidos por auto-
relato, como neste estudo – e os programas de (re)educação ambiental poderiam
trabalhar no sentido de ampliar a reflexão a respeito – construir uma ponte entre o
pensar, o sentir e o agir.
Como observado, os principais preditores analisados – sexo do participante,
religião, co-habitantes, escola de origem, instrução da mãe, indicadores de pró-
ambientalismo (Escala do Novo Paradigma Ecológico, deixar contato e praticar cuidado
ambiental), individualismo, coletivismo, externalidades e perspectiva temporal
67
(presentes fatalístico e hedonístico e futuro) – não se mostraram convincentes como
possíveis determinantes do comportamento pró-ambiental para este grupo. Religião,
instrução da mãe e presente fatalístico não apresentaram nenhuma forma de associação
com as variáveis critério economia de água (comportamento de uso auto-relatado) e
situação percebida da água (conhecimento, crenças, etc.). Co-habitantes de 21 a 50 anos
de idade, praticar cuidado ambiental, escola de origem (pública ou privada),
individualismo, externalidades e perspectiva temporal (presente hedonístico)
apresentaram correlação significativa com a variável critério economia de água. Ao
mesmo tempo, coletivismo e perspectiva de futuro se correlacionaram positivamente
com a variável critério situação percebida da água. De uma lista de catorze preditores,
apenas três se correlacionaram significativa e positivamente com as duas variáveis
critério estabelecidas – sexo dos respondentes e os indicadores de pró-ambientalismo:
escala NPE e deixar contato (vide Quadro Síntese no Apêndice D).
A predominância da concepção de água enquanto vida, além dos simbolismos
que a própria carrega, pode estar fortemente influenciada pelas campanhas veiculadas
nos diferentes tipos de mídia, nos últimos dois anos (ano internacional da água em 2003
e campanha da fraternidade em 2004). Todavia, no geral, está em consonância com o
encontrado na literatura, mantendo a multidimensionalidade de concepções e a
concentração em duas principais – a econômica e a bio-ecológica/ambiental de caráter
antropocêntrico.
7. Considerações finais
Busquei conhecer indicadores do comportamento pró-ambiental relativo à água,
bem como sua associação com uso e percepção do líquido. Investiguei também os
significados que são atribuídos à água, sempre partindo do pressuposto de que as
pessoas tendem a adotar comportamentos que percebem como predominantes ao seu
redor e a serem influenciadas por aspectos psico-sociais e situacionais presentes na sua
interação com o meio ambiente.
Os respondentes revelaram ter consciência da problemática (percepção e crenças
a respeito da situação da água), embora essa consciência não tenha sido traduzida em
seu comportamento de uso da água, o que foi evidenciado, entre outros aspectos, pela
ausência de correlação entre essas duas variáveis. Também pude constatar uma relação
mais direta entre cuidado ambiental e uso de água, mas não entre essa prática de
cuidado (habilidades) e situação percebida (crenças utilitárias), o que ratifica a
dissociação entre comportamento de uso da água e percepção de sua situação. Mesmo
que ambos possam integrar um quadro mais amplo do comportamento pró-ambiental
relacionado à água, para o grupo investigado constituem dimensões claramente
distintas.
Além de trazer implicações práticas, essa constatação é teoricamente importante,
pois aponta para desdobramentos e relações que podem levar a uma melhor
compreensão por estudos futuros do comportamento pró-ambiental relacionado à água e
predisposições associadas.
Por um lado, Coletivismo e Perspectiva Temporal de Futuro se relacionaram
com a percepção da situação geral da água, mas não com o comportamento de uso do
69
líquido. Essas correlações seriam fruto de uma mesma expressão de desejabilidade
social, na medida em que os respondentes fazem uma idéia mais ou menos clara do que
se espera deles ao responder? A ausência de correlação com o comportamento de uso da
água seria conseqüência do fato de que tal comportamento ocorre por outras
motivações, sem estar culturalmente associado à noção de coletividade/coletivismo e/ou
vínculo com o futuro? E como interpretar as correlações negativas de Individualismo e
Presente Hedonístico com o uso da água, se suas contrapartidas (Coletivismo e
Perspectiva de Futuro) não se correlacionaram com esse indicador comportamental?
Por outro lado, observei associação de indicadores exclusivamente com o
comportamento de uso da água, a saber: percepção de externalidades, prática de cuidado
ambiental, escola de origem e presença de co-habitantes com idade entre 21 e 50 anos.
A interpretação que parece mais pertinente enxerga externalidades, escola de origem e
co-habitantes como determinantes comportamentais, tanto para o comportamento de
economia da água como de cuidado ambiental em geral. Evidentemente tal interpretação
precisaria ser verificada em estudos ulteriores.
Apenas três indicadores se mostraram simultaneamente relacionados às duas
variáveis critério (uso e percepção), que foram: sexo do respondente, escala NPE de
pró-ambientalismo e deixar contato, o que os indica como elementos imprescindíveis
para explorações adicionais futuras. Igualmente interessante é o fato de que no caso
desses três indicadores, os valores associados à percepção da situação da água foram
sempre mais elevados do que os associados ao comportamento de uso, o que sugere
uma sensibilidade instrumental diferenciada, que deve ser levada em conta (ver a tabela
síntese no Apêndice D, para detalhes).
Ainda que muitos dos indicadores estudados tenham apresentado resultados de
baixa magnitude (principalmente no caso de correlações), é importante observar que,
70
estando o grupo estudado predominantemente em faixa etária da adolescência, alguns
resultados são coerentes com a fase, como estar num momento naturalmente menos
coletivista, voltado mais para a vivência do presente do que para preocupações com o
futuro, à satisfação de necessidades mais pessoais e imediatas e pouca ligação com
aspectos sócio-políticos, principalmente quando relacionados a comportamento pró-
ambiental. Outros resultados também se mostraram bastante interessantes, revelando
preocupação dos participantes com a água como recurso finito. Isto é muito
significativo, pois “quanto mais os indivíduos pensam na água como um recurso
ilimitado, tanto menos eles se sentem compelidos a conservá-la” (Corral, 2003, p. 251).
Essa percepção pode não ter aparecido nos resultados como traduzida em
comportamento individual de uso devido à ação de variáveis intervenientes nessa
relação, como no caso de alguma limitação do instrumento, ou da influência da cultura
de consumo estabelecida na sociedade [caso em que teríamos uma outra forma de
manifestação do princípio das externalidades ?]. De qualquer modo, a percepção pelos
participantes da água como recurso finito é um indicativo de possibilidades futuras de
que a consciência desse limite possa se transformar em ação mais efetiva para um
consumo sustentável da água.
Apesar do conhecimento manifestado a respeito do tema, o peso da variável
econômica e a restrição de uso parecem ser maiores que o papel da informação, como
aconteceu na campanha de economia de energia em nosso país, na época do “apagão”.
Corral (2003, p. 251) concluiu em seu estudo que “a escassez de água promove o
desenvolvimento de tendências de comportamento (motivos, habilidades e crenças) que
levam o indivíduo a economizar água”. Ou seja, pessoas em situação de abundância de
recursos (de qualquer ordem) tendem a gastar mais que pessoas que vivem em
condições de restrições, as quais, além do valor que passam a dar ao pouco que tem,
71
aprendem a conviver com a falta. Isto é muito importante para campanhas educativas e
adoção de medidas conservacionistas públicas baseadas na regulação pelo custo e
oferta, com os devidos cuidados para que estas não se transformem num reforçador das
desigualdades sociais.
De um modo geral, e a partir dos resultados obtidos, pode-se dizer que, para esse
grupo de respondentes, água é sinônimo de vida, muito embora a relação que mantém
com ela parece dúbia e, muito mais funcional que ecológica. Consideram-na um recurso
finito, um patrimônio indispensável à vida e, para uma grande parcela de respondentes,
a própria vida. Contudo, apesar de a variável comportamento de economia de água estar
coerente com as concepções que predominaram, não foi observada coerência entre as
concepções manifestadas e os comportamentos de uso auto-relatado.
Como sugestão de aprofundamento no estudo da questão, talvez fosse
interessante realizar outra investigação com o mesmo grupo, daqui a três anos, quando
eles estivessem concluindo o curso e, provavelmente, já em outra fase de
amadurecimento, tanto pessoal, como profissional.
Finalizando, se os resultados encontrados para esse grupo de estudantes de nível
médio não confirmaram algumas das pressuposições iniciais, sinalizaram para
preditores importantes do comportamento pró-ambiental, mais especificamente relativo
à água. Seja para aprofundar novos estudos a respeito, seja para auxiliar na elaboração
de programas de educação ambiental, através dos quais se poderiam trabalhar hábitos,
atitudes e comportamentos que inibam os efeitos de uma cultura de consumo e de uma
visão utilitarista da água, ampliando esforços individuais e coletivos para a preservação
de bens comuns, como a água.
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Apêndice A
Instrumento da coleta de dados
Inventário de Usos da Água – Natal/RN – tipo D
Nº_________
D
INVENTÁRIO DE USOS DA ÁGUA – NATAL/RN
Prezado (a) participante,
Esta pesquisa tem por objetivo conhecer a opinião de estudantes sobre várias questões relacionadas aos usos da água,
a fim de melhor compreendermos a relação do ser humano com seu meio ambiente natural. Está inserida nas atividades
do Grupo de Estudos Inter-Ações Pessoa-Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, coordenado pelo
Professor Doutor José Pinheiro, orientador desta pesquisa.
O tempo estimado para respondê-la é de 30 minutos e sua participação é absolutamente voluntária. Todas as
informações aqui prestadas serão consideradas de forma anônima, ou seja, você não será identificado(a).
De uma forma geral, as questões solicitam respostas que refletem sua opinião e não o seu conhecimento. Portanto, não
há respostas certas ou erradas.
Esclarecimentos adicionais poderão ser obtidos com a responsável por esta pesquisa, Violeta Quevedo, através do
telefone 215-3590 R. 209 e 210, ou pessoalmente, nas salas 610 ou 611, do Departamento de Psicologia – Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes, da UFRN, Campus Universitário – Natal/RN.
Por favor, responda a TODAS as questões.
Agradecemos desde já, por sua colaboração.
Instituição de Ensino:_____________________________________________ DATA: _____/_____/_______
CURSO
: _____________________________ PERÍODO: ________________TURNO: _________________
Informações sócio-demográficas:
sua idade _______________ sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino estado civil:__________________
filhos?: ( ) SIM ( ) NÃO Religião:______________________________Praticante? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) Às vezes
Participa de algum tipo de movimento/associação? ( ) NÃO ( ) SIM – QUAL? _______________________________________
local de nascimento ______________________________________ ( ) área urbana ( ) área rural
onde viveu até os 10 anos:_________________________________ ( ) área urbana ( ) área rural
tempo de residência em Natal/RN:________________________ Bairro em que reside atualmente: _________________________
sua moradia é: ( ) própria ( ) alugada ( ) emprestada
reside em: ( ) casa individual ( ) condomínio de apartamentos ( ) condomínio de casas
Além de você, quantas pessoas moram na sua residência, com idade de 0 a 10 anos _________; de 11 a 20 anos ________; de 21
a 50 anos ________; acima de 50 anos _________
Ocupação/profissão de seu pai (mesmo que já falecido ou aposentado):_________________________________________________
Ocupação/profissão de sua mãe (mesmo que já falecida ou aposentada):_________________________________________________
nível de instrução/escolaridade de sua mãe:
( ) sem instrução
( ) ensino fundamental I incompleto (1ª a 4ª)
( ) ensino fundamental I completo (1ª a 4ª)
( ) ensino fundamental II incompleto (5ª a 8ª)
( ) ensino fundamental II completo (5ª a 8ª)
( ) ensino médio incompleto (2º grau)
( ) ensino médio completo (2º grau)
( ) superior incompleto
( ) superior completo
A maior parte do seu tempo de vida escolar até o momento, foi em: ( ) escola pública ( ) escola particular/privada
Você pratica (ou já praticou) algum tipo de atividade ou ação que considera como um bom exemplo de cuidado com o meio ambiente, ou que
é resultado de sua preocupação ambiental?
( ) NÃO ( ) SIM. Descreva-a resumidamente: __________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________________________
Gostaria de participar de alguma campanha com a finalidade de promover na população atitudes em favor do meio ambiente?
( ) NÃO ( ) SIM – Se desejar, deixe anotado a seguir uma forma de contato (telefone, e-mail, etc) para que possamos informar a
respeito futuramente:________________________________________________________________________________________________
Com as questões seguintes desejamos obter informação sobre aspectos relacionados com os cuidados com o meio ambiente
de uma forma geral. Por favor, responda às perguntas, marcando com um “X” a opção mais próxima de sua opinião.
Discordo totalmente Discordo parcialmente Concordo parcialmente Concordo totalmente
Estamos nos aproximando do número máximo de pessoas que a Terra pode suportar.
( ) ( ) ( ) ( )
Os seres humanos têm o direito de modificar o ambiente natural para adequá-lo às suas necessidades.
( ) ( ) ( ) ( )
Quando os seres humanos interferem na natureza, provocam com freqüência conseqüências desastrosas.
( ) ( ) ( ) ( )
A genialidade humana assegura que a Terra nunca se tornará inabitável.
( ) ( ) ( ) ( )
A humanidade está abusando seriamente do ambiente.
( ) ( ) ( ) ( )
A Terra terá quantidade suficiente de recursos naturais se aprendermos a aproveitá-los.
( ) ( ) ( ) ( )
As plantas e os animais têm o mesmo direito a existir que os seres humanos.
( ) ( ) ( ) ( )
O equilíbrio da natureza é bastante forte para suportar o impacto dos países industrializados.
( ) ( ) ( ) ( )
Apesar de nossas habilidades humanas especiais, ainda estamos sujeitos às leis da natureza.
( ) ( ) ( ) ( )
A assim chamada “crise ecológica” que a humanidade enfrenta tem sido divulgada com exagero.
( ) ( ) ( ) ( )
A Terra é como uma espaçonave com espaço e recursos muito limitados.
( ) ( ) ( ) ( )
Os seres humanos existem para dominar o resto da natureza.
( ) ( ) ( ) ( )
O equilíbrio da natureza é muito frágil e facilmente alterável.
( ) ( ) ( ) ( )
Um dia a humanidade aprenderá o suficiente sobre o funcionamento da natureza a ponto de poder controlá-la.
( ) ( ) ( ) ( )
Se as coisas continuarem assim, logo sofreremos uma grande catástrofe ecológica.
( ) ( ) ( ) ( )
Assinale na coluna ao lado, a freqüência com que você geralmente costuma agir:
AÇÕES
SEMPRE FREQÜEN
TEMENTE
QUASE
NUNCA
NUNCA NÃO SE
APLICA
fecha a torneira enquanto ensaboa a louça
toma banho em menos de cinco minutos
Indique o quanto está de acordo com as frases abaixo, utilizando-se das opções de resposta e assinalando com
um “X” a coluna correspondente a opção que mais se aproxima de sua opinião:
1 = está/estaria em completo desacordo
2 = está/estaria ligeiramente em desacordo
3 = está/estaria nem de acordo nem em desacordo
4 = está/estaria ligeiramente de acordo
5 = está/estaria completamente de acordo
FRASES
12345
Há muita água no mundo, só precisaria ser adequadamente distribuída
A água é o bem natural mais importante para o ser humano
Com a ciência teremos como solucionar os problemas de escassez de água
A água potável nunca se acabará
Uma maneira de se evitar que a água se acabe é utilizarmos apenas o estritamente necessário
Aqueles que gastam muita água deveriam pagar mais caro pelo seu uso
Se a população continuar crescendo, a água existente não será suficiente para todos
Os seres humanos têm direito de usar toda a água que desejam
A água potável poderá acabar rapidamente se não a economizarmos
A maior parte da água que consumimos está contaminada
Os problemas de água no mundo não são de quantidade mas de qualidade
Falta água porque os seres humanos não lhe dão o devido valor
Existe água em abundância no mundo e por mais que se use, ela nunca se acabará
Não existe problema de escassez de água no mundo, mas de dificuldade de acesso a ela
Os problemas de água no mundo podem ser resolvidos se houver empenho dos governantes
Existe água suficiente no Nordeste do Brasil, o problema é que ela está mal distribuída
Os problemas com a água podem ser resolvidos se os seres humanos cuidarem melhor dela
Sem um maior controle dos órgãos públicos, em pouco tempo não teremos mais água em condições de
consumo humano
A seguir estão colocadas uma série de afirmações para as quais você deve expressar o quanto está de acordo ou
desacordo. Para tanto, utilize a escala de resposta indicada ao lado de cada frase, circulando a alternativa (o número) que
melhor indica sua opinião.
AFIRMAÇÕES
Discordo
totalmente
Concordo
totalmente
É importante para mim respeitar as decisões tomadas pelo meu grupo. 1 2 3 4 5 6 7
Sinto-me muito bem quando colaboro com os outros. 1 2 3 4 5 6 7
Com freqüência faço “minhas próprias coisas”. 1 2 3 4 5 6 7
Pais e filhos devem estar juntos sempre que possível. 1 2 3 4 5 6 7
Triunfar é tudo. 123 4567
Os membros da família devem estar juntos, não importa quanto sacrifício seja
necessário.
123 4567
Preferiria depender de mim mesmo do que dos demais. 1 2 3 4 5 6 7
Para mim, prazer significa passar o tempo com os demais. 1 2 3 4 5 6 7
Na maior parte do tempo, confio em mim mesmo; raramente confio nos demais. 1 2 3 4 5 6 7
Quando outra pessoa faz alguma coisa melhor que eu, fico tenso e chateado. 1 2 3 4 5 6 7
É meu dever cuidar da minha família, mesmo quando tenho que sacrificar meus
interesses.
123 4567
É importante, para mim, fazer meu trabalho melhor que os demais. 1 2 3 4 5 6 7
O bem-estar dos meus companheiros de trabalho é importante para mim. 1 2 3 4 5 6 7
Independente dos demais, minha identidade pessoal é muito importante para mim. 1 2 3 4 5 6 7
A competição é a lei da natureza. 1 2 3 4 5 6 7
Sentiria-me orgulhoso se um companheiro de trabalho ganhasse um prêmio. 1 2 3 4 5 6 7
Para você:
a água significa: ________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
desenvolvimento sustentável é: ____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________
Agora leia cada item abaixo e responda, tão honestamente quanto possível, o quanto cada afirmação apresentada se aplica a
você, ou é verdadeira a seu respeito. Assinale um “X” para cada caso, usando as colunas correspondentes, ao final da
sentença.
bastante
inaplicável
neutro
bastante
aplicável
AFIRMAÇÕES
12345
Eu acho que as pessoas deveriam planejar o seu dia a cada manhã.
Eu faço coisas sem pensar.
Quando eu quero conseguir alguma coisa, traço metas e avalio os recursos necessários para obter o que desejo.
Já que o que tem de acontecer vai mesmo acontecer, o que eu fizer não importa.
Antes de pensar em me divertir tenho que cumprir com os prazos que estão próximos de vencer e
fazer as tarefas necessárias.
Eu tento viver minha vida o mais plenamente possível, um dia por vez.
Eu cumpro minhas obrigações com amigos e autoridades no prazo certo.
Eu tomo decisões na hora (no calor do momento).
Eu vivo cada dia como ele se apresenta, não fico fazendo planos.
É importante viver com emoção.
Antes de tomar uma decisão, eu avalio custos e benefícios.
Assumir riscos torna minha vida menos monótona.
Para mim é mais importante aproveitar a vida do que apenas pensar aonde vou chegar.
Incomoda-me chegar atrasado em compromissos.
Não é possível realmente planejar para o futuro, porque as coisas mudam muito.
Não faz sentido se preocupar com o futuro, já que no final das contas não há nada que eu possa fazer a respeito.
Eu assumo riscos para colocar emoção em minha vida.
Eu faço listas das coisas que preciso fazer.
Com freqüência eu sigo meu coração mais do que a minha cabeça.
Eu me percebo envolvido pela emoção do momento.
Eu prefiro a vida mais simples do passado, pois a vida de hoje é complicada demais.
Sempre haverá tempo para colocar em dia meu trabalho.
Se a tarefa for necessária para avançar, sigo trabalhando mesmo que ela seja difícil ou
desinteressante.
Prefiro gastar o que eu ganhei, com os prazeres de hoje, do que economizar para o futuro .
A sorte costuma ser mais vantajosa do que o trabalho duro.
As frases seguintes referem-se ao que você tem visto ou ouvido sobre o comportamento dos outros a respeito da água:
Com que freqüência você acredita que:
SEMPRE FREQÜEN
TEMENTE
QUASE
NUNCA
NUNCA NÃO
SEI
seus vizinhos desperdiçam água
seus vizinhos contaminam a água
o governo municipal desperdiça a água de sua cidade
os órgãos públicos são os maiores responsáveis pela contaminação da água das cidades.
há muito desperdício de água nas indústrias
as indústrias contaminam mananciais de água com suas atividades
os agricultores desperdiçam muita água irrigando suas lavouras
os agricultores contaminam os lençóis de água com agrotóxicos
os pecuaristas desperdiçam água com seus animais
os pecuaristas contaminam a água em suas propriedades
MUITO OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO.
Apêndice B
Médias e freqüências por tipos do questionário
Tabela B-1
Médias das variáveis estudadas pelos quatro tipos do questionário
Tipos do questionário
A B C D
Idade atual 17 17 17 17
Co-habitantes, até 10 anos 0 0 0 0
Co-habitantes, entre 11-20 anos 1 1 1 1
Co-habitantes, entre 21-50 anos 2 2 2 2
Co-habitantes, maiores que 51 anos 0 0 0 0
Co-habitantes: total sem você 4 4 4 4
Uso (economia) de água 2,91 2,98 3,09 2,97
Situação (percepção) da água 4,21 4,24 4,28 4,28
Pró-ambientalismo (Escala NPE) 3,21 3,24 3,30 3,22
Coletivismo 5,84 5,88 5,97 5,93
Individualismo 4,29
a
3,88 3,99 3,61
a
Futuro 3,80 3,89 3,93 3,93
Presente Hedonístico 2,82 2,92 2,94 2,95
Presente Fatalístico 2,45 2,37 2,27 2,29
Externalidades 2,76 2,69
b
2,61
b
2,93
b
(a) Média de Individualismo no tipo A é significativamente maior do que no tipo D (p < 0,05)
(b) Média de Externalidades no tipo D é significativamente maior do que nos tipos B e C (p < 0,05)
Tabela B-2
Freqüências das variáveis estudadas pelos quatro tipos do questionário
Tipo do questionário
A B C D
Controle Ambiental
28 27 29 29
Geologia/Mineração
28 33 33 33
Curso
Informática
19 19 18 19
Matutino 36 42 42 43Turno
Vespertino 39 37 38 38
Feminino 35 32 39 40Sexo
Masculino 40 47 41 41
Pública 38 44 34 43Escola anterior
Particular 37 34 44 37
Não 44 50 52 53Cuidado com
ambiente?
Sim 30 29 22 27
Não 28 36 33 27Forma de contato?
Sim 41 39 38 50
Nota: nenhuma das variações de freqüência analisadas resultou estatisticamente significativa (teste do
qui-quadrado; p < 0,05)
Apêndice C
Itens utilizados em cada escala e respectivos coeficientes
Alfa
Escala: Uso (economia) de Água (adaptada de Corral, 2002)
Relação dos 9 itens empregados nas análises (Alfa = 0,7203)
01. Fecha a torneira enquanto ensaboa a louça
05. Escova os dentes usando apenas um copo de água
06. Fecha a torneira enquanto ensaboa as mãos
07. Lava o carro utilizando apenas baldes com água
08. Molha as plantas pela manhã bem cedo
09. Fecha a torneira enquanto escova os dentes
10. Fecha o chuveiro enquanto se ensaboa
13. Limpa os resíduos dos pratos antes de colocá-los na pia ou lava-louça
16. Deixa a torneira aberta enquanto faz outra coisa (pontuação revertida)
Escala: Situação (Percepção) da Água (adaptada de Corral, 2002)
Relação dos 11 itens empregados nas análises (Alfa = 0,7177)
2. A água é o bem natural mais importante para o ser humano
4. A água potável nuca se acabará (pontuação revertida)
5. Uma maneira de se evitar que a água se acabe é utilizarmos apenas o estritamente
necessário
6. Aqueles que gastam muita água deveriam pagar mais caro pelo seu uso
7. Se a população continuar crescendo, a água existente não será suficiente para todos
8. Os seres humanos têm direito de usar toda a água que desejam (pontuação revertida)
9. A água potável poderá acabar rapidamente se não a economizarmos
11. Os problemas de água no mundo não são de quantidade, mas de qualidade
12. Falta água porque os seres humanos não lhe dão o devido valor
13. Existe água em abundância no mundo e por mais que se use, ela nunca se acabará
(pontuação revertida)
18. Sem um maior controle dos órgãos públicos, em pouco tempo não teremos mais água em
condições de consumo humano
Escala: Externalidades (adaptada de Corral, 2002)
Relação dos 07 itens empregados nas análises (Alfa = 0,7797)
1. seus vizinhos desperdiçam água
2. seus vizinhos contaminam a água
3. o governo municipal desperdiça a água de sua cidade
7. os agricultores desperdiçam muita água irrigando suas lavouras
8. os agricultores contaminam os lençóis de água com agrotóxicos
9. os pecuaristas desperdiçam água com seus animais
10. os pecuaristas contaminam a água em suas propriedades
Escala: Novo Paradigma Ecológico (Dunlap et al., 2000; Pinheiro et al., 2005)
Relação dos 14 itens empregados nas análises (Alfa = 0,5822)
1. Estamos nos aproximando do número máximo de pessoas que a Terra pode suportar.
2. Os seres humanos têm o direito de modificar o ambiente natural para adequá-lo às suas
necessidades.
3. Quando os seres humanos interferem na natureza, provocam com freqüência
conseqüências desastrosas.
4. A genialidade humana assegura que a Terra nunca se tornará inabitável.
5. A humanidade está abusando seriamente do ambiente.
7. As plantas e os animais têm o mesmo direito a existir que os seres humanos.
8. O equilíbrio da natureza é bastante forte para suportar o impacto dos países
industrializados.
9. Apesar de nossas habilidades humanas especiais, ainda estamos sujeitos às leis da
natureza.
10. A assim chamada “crise ecológica” que a humanidade enfrenta tem sido divulgada com
exagero.
11. A Terra é como uma espaçonave com espaço e recursos muito limitados.
12. Os seres humanos existem para dominar o resto da natureza.
13. O equilíbrio da natureza é muito frágil e facilmente alterável.
14. Um dia a humanidade aprenderá o suficiente sobre o funcionamento da natureza a ponto
de poder controlá-la.
15. Se as coisas continuarem assim, logo sofreremos uma grande catástrofe ecológica.
Escala de Coletivismo & Individualismo (Gouveia, 1998)
Subescala de Coletivismo: relação dos 05 itens empregados nas análises (Alfa =
0,6993)
2. Sinto-me muito bem quando colaboro com os outros.
4. Pais e filhos devem estar juntos sempre que possível.
6. Os membros da família devem estar juntos, não importa quanto sacrifício seja necessário.
11. É meu dever cuidar da minha família, mesmo quando tenho que sacrificar meus
interesses.
13. O bem-estar dos meus companheiros de trabalho é importante para mim.
Subescala de Individualismo: relação dos 06 itens empregados nas análises (Alfa =
0,6593)
5. Triunfar é tudo.
7. Preferiria depender de mim mesmo do que dos demais.
9. Na maior parte do tempo, confio em mim mesmo; raramente confio nos demais.
10. Quando outra pessoa faz alguma coisa melhor que eu, fico tenso e chateado.
12. É importante, para mim, fazer meu trabalho melhor que os demais.
15. A competição é a lei da natureza.
Inventário Zimbardo de Perspectiva Temporal (Zimbardo & Boyd, 1999)
Escala de Futuro: relação dos 05 itens empregados nas análises (Alfa = 0,5951)
6. Eu acho que as pessoas deveriam começar o seu dia planejando como ele será.
10. Quando eu quero conseguir alguma coisa, eu traço metas e avalio as condições
necessárias para obter o que desejo.
21. Eu cumpro minhas obrigações com amigos e autoridades no prazo certo.
30. Antes de tomar uma decisão, eu avalio vantagens e desvantagens.
51. Eu continuo tarefas difíceis e desinteressantes se elas vão me ajudar a progredir.
Escala de Presente Hedonístico: relação dos 06 itens empregados nas análises (Alfa
= 0,5718)
23. Eu tomo decisões no calor do momento.
31. Assumir riscos torna minha vida menos chata.
32. Para mim é mais importante aproveitar a vida do que pensar sobre aonde vou chegar.
42. Eu assumo riscos para colocar emoção em minha vida.
44. Com freqüência eu sigo mais meu coração do que minha cabeça.
46. Eu me vejo como alguém que se deixa levar pela emoção do momento.
Escala de Presente Fatalístico: relação dos 04 itens empregados nas análises (Alfa
= 0,5313)
13. Antes de me divertir hoje à noite, eu preciso terminar as tarefas que tenho para amanhã.
39. Não faz sentido me preocupar com o futuro, já que não há nada que eu possa fazer a
respeito.
47. A vida de hoje é complicada demais; eu prefiro a vida mais simples do passado.
56. Sempre haverá tempo para colocar em dia meu trabalho.
Apêndice D
Relações entre as variáveis preditoras e as
variáveis critério
Quadro-síntese de R&D
Relações entre as variáveis preditoras e as variáveis critério de tipo quantitativo (só resultados significativos)
(p d 0,05 Æ 95% de certeza em aceitar o resultado)
(definições qualitativas não estão incluídas)
Variáveis preditoras (VIs)
Economia de água
(Critério 1)
(cpto de uso auto-relatado)
Situação percebida da água
(Critério 2)
(conhecimento, crenças, etc.)
Sexo do participante (Tab XX, p. ___) Mulheres: 3,15 > Homens: 2,85 Mulheres: 4,36 > Homens: 4,16
Religião sem efeito sem efeito
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