são ímpares. A maneira que se presta a fazer essa função
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, de ir nomeando paro o bebê o
que julga que ele necessita, e, além disso, a maneira pela qual se vai ofertar o objeto de
satisfação, irá fomentar as primeiras inscrições psíquicas, abrindo o caminho para a
constituição do psiquismo do bebê. Assim, a primeira experiência de satisfação está
implicada na sobrevivência do organismo, bem como no nascimento do psiquismo, através
da linguagem advinda de outrem.
Através desta, nos primórdios da existência de um filhote humano, começará a se
constituir o sujeito, que por sua vez, não se confunde com o eu. Mas afinal, esse eu, a partir
do que ele se constitui? Como se dá essa constituição?
Freud é levado a pesquisar acerca do eu
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a partir de 1906, atravessado pelas
descobertas de seus colegas psicanalistas que vinham tratando de pacientes psicóticos. O
que se verificava nos delírios de grandeza desses pacientes era um crescente
desinvestimento libidinal
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para com os objetos do mundo, para haver um re-investimento
dessa libido, maciçamente, no eu do sujeito. A megalomania, com seus delírios de
grandeza, seria o protótipo dessa transposição para o eu, inflando-o; libido esta que deveria
ter sido investida e mantida nos objetos do mundo externo.
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Essa função é, costumeiramente, identificada à mãe, mas pode ser que outra pessoa se preste a fazê-la. Essa
função inicial implica na formulação de demandas ao bebê, na medida que suas vocalizações, choros, gritos,
são tomados como interpretáveis, têm sentidos. Essa função desempenhada pelo Outro primordial, a
designamos como função materna.
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Podemos perceber que o vocábulo eu já aparece na pena de Freud desde suas correspondências para seu
amigo íntimo Wilhelm Fliess. Em seu Projeto para uma psicologia científica ([1895]1950/1987), este
comparece no interior do conflito psíquico, como uma instância que funcionava no sentido de obstruir o fluxo
energético no aparelho psíquico, exercendo um certo controle no que diz respeito aos estímulos que
provocavam desprazer ou satisfação. Contudo, é preciso ressaltar que esta é uma instância inteiramente
inconsciente que não coincide com o eu que ora estamos tratando. Segundo Garcia-Roza (1984), não devemos
confundir o ego do Projeto com o designado pela operação narcísica. “O ego do Projeto nada tem que ver
com o ego do sujeito. Ele é muito mais um objeto, (...) não possuindo acesso à realidade, não sendo sujeito da
percepção, da consciência ou do desejo” (p.56).
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Freud (1905/1989) denomina libido a energia sexual que tem sua origem no corpo (numa fonte somática) e
investe os objetos.