Um breve olhar sobre a arquitetura moderna
apresentavam propostas tão modernizadoras quanto às
de Le Corbusier. Na visão de Lúcio Costa, dentre os
brasileiros talvez o que mais longe foi na compreensão e
aceitação das teses propostas, tratava-se de associar
Le Corbusier às suas próprias iniciativas, visando a
renovação da arquitetura brasileira. Embora outros
arquitetos modernos fossem estudados no Brasil, como
Gropius e Mies van der Rohe, o grupo carioca reunido
em torno de Lúcio Costa, encontrava maior identificação
com Le Corbusier
6
. A recíproca era verdadeira:
“Caro Costa
...tive o grande prazer em ter notícias suas. Nunca se
sabe, nesse seu país de grandes agitações, se vocês
estão aos pedaços ou se os pedaços já estão recolados!
O Brasil é um país bem grande, há espaço. Não sei
porque sempre gostei deste país. Minhas primeiras
visitas foram em 1929, depois em 1936.
Amicalement à vons et saluez bien a Oscar aussi.”
Le Corbusier
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Uma das primeiras expressões concretas de uma nova
arquitetura aparece em São Paulo, com a construção das
duas casas modernas por Gregori Warchavchik
8
em
1927. Lucio Costa
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em seu depoimento escrito em 1948,
reconhecendo o papel pioneiro de Warchavchik e a ação
transgressora dos cânones vigentes por parte de Flavio
de Carvalho, declara-se retardatário e partícipe da árdua
tarefa de implantar, num meio altamente desinteressado
ou hostil, a nova maneira de conceber projetar e
construir.
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A participação de Lúcio Costa no panorama
da arquitetura brasileira é sabidamente decisiva e
polarizadora, como tradutor que foi das abstrações
conceituais da arquitetura internacional aqui
transformadas em uma nova linguagem,
inconfundivelmente brasileira. Para ele, o que chama a
atenção, aguça a perplexidade e a curiosidade dos
arquitetos e críticos de arte do exterior não é o fato de
que a arquitetura nova tenha chegado no Brasil com
6
Idem.
Este grupo, além de Lucio, era formado
por Carlos Leão, Affonso Reidy, Oscar
Niemeyer, Jorge Moreira e Ernani
Vasconcellos, que antes da chegada de
Le Corbusier estudava um novo projeto
para o Ministério da Educação e Cultura -
MEC, desde a anulação por Gustavo
Capanema do primeiro concurso.
7
Idem.
8
Grigory Warchavchic, arquiteto russo
que vem para o Brasil em 1923. Sua
formação foi na Itália, onde trabalhou com
Piacentini. Suas idéias sobre a
necessidade de se fazer uma arquitetura
funcional, coerente com o mundo
mecanizado o aproxima de Le Corbusier.
Em 1930 é convidado para lecionar na
Escola Nacional de Belas Artes por Lúcio
Costa, com quem virá a trabalhar em
diversos projetos. A construção de sua
casa moderna em São Paulo foi um de
seus projetos na cidade.
9
Lúcio Costa nasceu em Toulon, na França
mas aos 14 retorna ao Brasil. Forma-se
na Escola Nacional de Belas Artes e,
inicialmente em sua carreira, opta pelo
ecletismo e pelo estilo neo-colonial. Faz
uma longa viagem pela Europa e quando
retorna declara ter percebido o equívoco
desse estilo. A partir de então começa sua
trajetória como um dos fundadores da
arquitetura moderna no Brasil. Nos anos
de 1930 foi convidado para lecionar e
posteriormente reformular o ensino na
ENBA. Sua reforma causa polêmica, pois
propunha o afastamento do neo-colonial
e o alinhamento com a arquitetura
moderna. Apesar de não ter sido
implementada, a reforma surtiu o efeito de
contribuir para instalar a discussão sobre
a arquitetura moderna no Brasil. Foi
chamado por Anísio Teixeira, então diretor
da Secretaria de Educação do Distrito
Federal, para projetar as escolas públicas.
Nas palavras de Anísio, pela primeira vez
se pensava um projeto específico para
uma escola e não para moradia.
Participou, também a convite de Anísio
Teixeira, da Universidade do Distrito
Federal, juntamente com Portinari, Carlos
Leão, Cecília Meireles e Villa Lobos, entre
outros.
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