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Ao observarmos as crianças que compõem as mais diversas classes sociais,
percebemos que elas possuem um universo de escrita e de leitura que antecede a
sua chegada à escola, ou seja, têm idéias próprias, pois, elas pensam sobre a
escrita, como confirma Ferreiro (2001, p.7) “a criança se coloca problemas, constrói
sistemas interpretativos, raciocina, inventa, buscando compreender esse objeto
social particularmente complexo que é a escrita, tal como ela existe na sociedade”.
A própria criança nos obriga a entender que a escrita está na vida, que é um
objeto social e, assim precisa ser tratada pelo alfabetizador, pois quando
observamos as produções escritas espontâneas de uma criança de quatro, cinco,
seis anos, constatamos que ela não escreve letras isoladas ou palavras mortas, mas
independente do modo de escrever – (grafismos primitivos, escritas diferenciadas,
escritas silábicas,) o que prevalece nela é a construção de uma escrita com intenção
comunicativa, e ela escreve porque encontra sentido para o que está produzindo.
Luria (1988) corrobora com a idéia ao mencionar que, para uma criança ser
capaz de escrever ou anotar alguma coisa, é necessário que as coisas representem
algum interesse para ela, por exemplo: coisas que gostaria de possuir ou com as
quais brinca; ou os objetos que tenham função utilitária, um significado funcional.
Assim sendo, é improcedente o ensino por meio de fragmentos: letras, sílabas,
palavras e frases, pois dessa forma há uma distância entre a maneira de ensinar a
escrever e o modo como as crianças se apropriam da escrita. Vygostsky (2003,
p.157) escreve “o que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem escrita e não
apenas a escrita das letras”.
Desse modo, faz-se necessária a construção de uma metodologia apropriada,
na qual o professor crie oportunidades de interações e construções de conhecimento
em torno da escrita, permitindo assim, indagações e questionamentos sobre a
função e o uso da escrita como objeto que representa a linguagem, e um ambiente
alfabetizador que permita às crianças estabelecer relações por meio do manuseio de
rótulos, receitas, propagandas, livros, enfim, com os mais diversos materiais escritos
expostos no seu cotidiano, para assim poder avançar em suas hipóteses e
progressivamente chegar à escrita convencional, sendo importante ressaltar as
palavras de Weisz (2005, p.12) quando escreve: “que não é o ambiente que
alfabetiza, que não é o fato de pendurar coisas escritas nas paredes que produz por
si só um efeito alfabetizador”, mas a mediação do professor ou de pessoas capazes
de ler e escrever desafiando a criança a pensar sobre o que ela produz.