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MÔNICA DA MOTTA SALLES BARRETO HENRIQUES
A monografia no Veredas:
construindo sentidos para a produção de textos
Juiz de Fora
2006
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2
A monografia no Veredas:
construindo sentidos para a produção de textos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de Educação
da Universidade Federal de Juiz de Fora, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª. Dr.ª Maria Teresa de Assunção
Freitas
Juiz de Fora
Faculdade de Educação da UFJF
2006
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3
MÔNICA DA MOTTA SALLES BARRETO HENRIQUES
A monografia no Veredas: construindo sentidos para a produção de textos
Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre no Programa
de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Juiz de Fora, pela seguinte banca examinadora:
_________________________________________________________
Profª. Dra. Maria Teresa de Assunção Freitas – Orientadora
Programa de Pós-Graduação em Educação/UFJF
_________________________________________________________
Profª. Dra. Glaura Vasques de Miranda
Programa de Pós-Graduação em Educação/UFMG
_________________________________________________________
Prof. Dr. Márcio Silveira Lemgruber
Programa de Pós-Graduação em Educação/UFJF
Juiz de Fora, 30 de agosto de 2006.
4
Aos queridos Antônio e Nobile e à pequena
Laura.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Jubel e Helena: referências em todos os momentos.
Aos meus irmãos, André, Tati e Bruninho, por serem imprescindíveis.
À Ilka, por ter me despertado para a Educação e pela interlocução e amizade.
Aos bisos, pelo acolhimento e apoio tão carinhosos.
À Virgínia, pela força e atenção prestadas de forma tão amiga.
Às cunhadinhas Luana e Simone, pela alegria de sempre.
À tia Zu e tia Nana, por estarem presentes em todos os momentos.
Aos primos e amigos, pelo companheirismo e amizade.
À Eduarda, por compor nossa família de forma suave e tão significativa.
À Eleuza, pelas oportunidades e aposta.
À Maria Teresa, por ter acompanhado de maneira firme o meu trabalho.
Ao Márcio e aos colegas da equipe de monografia, pela interlocução na construção de uma
nova concepção de trabalho.
À Letícia, Verônica, Wal, Janine e Rose, por fazerem da sala do Veredas um lugar sempre tão
alegre e acolhedor.
Aos colegas do Veredas, pela experiência compartilhada.
À FESO – Fundação Educacional Serra dos Órgãos, pela força e compreensão.
6
Mestre não é quem ensina, mas quem de
repente aprende.
7
RESUMO
Este estudo tem por objetivo compreender, através do discurso dos professores cursistas do
Projeto Veredas
1
os sentidos que constroem para a produção de textos a partir do
desenvolvimento de suas monografias de conclusão de curso. Esta investigação tornou-se
possível a partir da leitura e da análise das monografias dos professores cursistas que tinham
como tema a produção de textos e tendo como referencial teórico-metodológico o pensamento
dos autores russos Bakhtin e Vygotsky, que contribuíram para esse trabalho a partir de uma
perspectiva sócio-histórica, e de alguns autores da lingüística aplicada, tais como Ângela
8
ABSTRACT
The goal of this work is to understand how the teachers graduating in "Projeto Veredas"
2
see
the matter of text production. For that, the final year essays produced by them on the subject
were analysed. The current research has its theoretical and methodological basis on the socio-
historical approach of Bakhtin and Vygotsky, as well as on several authors from applied
linguistics, like Angela Kleiman and Wanderley Geraldi, whose line of thought helped on the
comprehension of text production in the school's everyday life. The study pointed out that the
graduating teachers had great difficulty carrying out their research due to a lack of experience
and to obstacles inherent to distance learning. This is clear when one analyses their essays,
which present incoherences between the authors' objectives and the development of the work,
and between the theoretical concepts supposedly adopted and the actual work in the
classroom. Regardless, I believe the process of formulating an essay was of great value for
the teachers involved in the project. Many of them had the chance of taking part in a research
project for the very first time, which provided them with a new, "exotopic" view of their daily
practice. Besides, "Projeto Veredas" has given these teachers the opportunity of a first contact
with some theoretical concepts brought up by both the authors studied and the project's
didactic material.
Key-words: Text production- Distance learning - Projeto Veredas
2
"Projeto Veredas" was a distance-learning project carried out in the state of Minas Gerais whose main
purpose was the formation of teachers for the first years of basic education.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 Distribuição dos temas de pesquisa escolhidos pelos cursistas do Projeto
Veredas para a elaboração de suas monografias ................................................................... 25
Gráfico 2 – Distribuição de temas na área da linguagem em relação ao total de temas ...... 26
Gráfico 3 – Distribuição dos temas nomeados pelos professores ........................................ 27
Gráfico 4 –
Distribuição das categorias criadas a partir dos temas nomeados pelos
professores na área da linguagem ......................................................................................... 28
Gráfico 5 – Distribuição do tema “produção de textos” em relação à área da linguagem ... 29
10
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................................
12
1 – As Monografias no Veredas ..............................................................................................
17
1.1 – Apresentando o Projeto Veredas ..............................................................................
17
1.2 – A concepção de monografia no Veredas ..................................................................
19
1.3 – As monografias na AFor UFJF ................................................................................
21
1.4 – As monografias na área de linguagem .....................................................................
27
1.5 – As monografias que trabalharam com o tema a produção de textos ........................
28
2 – A produção de textos .........................................................................................................
30
2.1 – A formação discursiva .............................................................................................
30
2.2 – Os gêneros do discurso ............................................................................................
32
2.3 – O desenvolvimento da escrita ..................................................................................
34
2.4 – A produção de textos em sala de aula ......................................................................
38
3 – Procedimentos metodológicos ...........................................................................................
41
4 – Análise de dados ................................................................................................................
52
4.1 – Os sentidos que os cursistas constroem para a produção de texto ...........................
53
4.1.1 – O texto/intertexto como enunciado e suas relações dialógicas ....................54
4.1.2 – O texto como unidade básica no ensino de línguas .....................................
61
4. 2 Como se reve
la nas monografias o trabalho dos professores com produção de
textos na sala de aula .........................................................................................................
66
4.2.1 – Os textos como elementos mediadores ........................................................
68
4.2.2 – Os textos como metalinguagem ...................................................................
73
4.2.3 – Fuga ao texto ...............................................................................................
82
4.3 – Como os professores produzem seus textos .............................................................
84
4.3.1 – Ter o que dizer .............................................................................................
87
4.3.2 – Ter uma razão para dizer o que se tem a dizer ............................................
91
4.3.3 O
locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para
11
quem diz (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo) ...................
93
Considerações finais ................................................................................................................
98
Referências Bibliográficas .......................................................................................................
102
12
INTRODUÇÃO
...o mais importante e bonito, do mundo, é isso:
que as pessoas não são sempre iguais, ainda não
foram terminadas mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam.
Guimarães Rosa
Uma pesquisa não nasce, a meu ver, de uma indagação apenas, e nem, tampouco,
pretende abarcar todas aquelas questões que nos instigam, nos orientam, nos movem. Uma
pesquisa nasce de uma história, de um percurso que carrega consigo diversas indagações.
Dessas, selecionamos aquela que pode representar a ntese de todas as questões, sem
pretender responder a todas e nem esgotar aquela que tem o duro e pretensioso papel de
representá-las.
Pretendo apresentar, brevemente, meu percurso acadêmico e profissional para que o
leitor possa compreender de onde vieram as indagações que tento, em parte, responder nesta
pesquisa.
Formada no curso de Letras pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF,
trabalhei no projeto Veredas
3
Curso de Formação Superior de Professores, integrando a
equipe de orientação de monografia de conclusão de curso.
3
O Projeto Veredas será apresentado no capítulo 1.
13
Ao longo do período de minha graduação, participei como bolsista na primeira Semana do
Professor, no segundo semestre de 1999, e desenvolvi, sob a coordenação de um professor
orientador, também como bolsista, dois projetos de treinamento profissional: Experiência e
Diálogo: Prática de Leitura e Escrita na Educação Básica e Continuando o Diálogo: Prática
de Leitura e Escrita na Educação Básica, que tinham como objetivo o acompanhamento de
alunos de a séries do ensino fundamental com dificuldades de aprendizagem na língua
materna.
Meu interesse pela linguagem me levou à escolha de meu curso de graduação e, em
minha formação, fui desenvolvendo cada vez mais o gosto por essa área de estudo, entrando
também em contato com outras questões da educação, como a formação de professores,
através dos projetos em que participei como bolsista nesse período e do Projeto Veredas, no
qual trabalhei até sua conclusão.
Posso dizer que a educação sempre orientou minha trajetória, tendo escolhido,
inclusive, me formar em um curso de licenciatura. Foi o percurso da minha formação até hoje,
e, mais precisamente, meu contato com o Projeto Veredas, que me despertaram para a
dignidade da educação.
O projeto Veredas, que tem como objetivo formar em nível de Graduação Plena, na
modalidade a distância, professores das séries inicias das redes públicas municipais e estadual
de Minas Gerais, me apresentou não uma nova proposta de formação de professores, um
novo conceito de educação a distância, mas um outro significado para a educação.
Este projeto possibilita novos conhecimentos para muitos professores que não teriam
acesso à formação se não fosse pela modalidade a distância. Muitos desses professores têm
longa experiência em sala de aula, mas por lhes ter sido negado o direito de uma formação
teórica contínua, sentem-se diminuídos por não poderem fazer um curso de nível superior e
desacreditados de seu próprio potencial.
14
O projeto Veredas resgata, assim, a auto-estima, a identidade e a dignidade de muitas
dessas pessoas em formação. A educação que leva à cidadania é o novo significado que a
educação adquiriu para mim através do Projeto Veredas. Por isso, não poderia desenvolver
uma pesquisa em outra área que não fosse a educação, não poderia desenvolvê-la em outro
lugar que não fosse o Veredas
4
.
Ao trabalhar no Veredas diretamente com as monografia de conclusão de curso dos
professores cursistas do projeto e levando em consideração minha área de formação, pude
observar a alta incidência de questões de monografias voltadas para a linguagem.
Chamou-me a atenção, nesse significativo índice de pessoas interessadas em
desenvolver um estudo no campo da linguagem, o fato de as monografias desse curso terem
como característica questões que emergiram da prática docente, de problemas enfrentados em
sala de aula. Isso me levou a outro aspecto fundamental, que é o lugar de retorno mais
importante do curso Veredas: a sala de aula.
Dessa forma, vinculo meus interesses, sintetizando em uma só questão de pesquisa, as
indagações que me movem hoje: a formação de professores, a educação a distância, a
linguagem.
Através das questões identificadas nas monografias, procurei alcançar os principais
problemas na área de linguagem presentes nas salas de aula de acordo com os professores que
são, no interior do Veredas, cursistas e, portanto, alunos.
Dentre os temas selecionados pelos professores, escolhi pesquisar a produção de
textos, já que estes cursistas desenvolveram um trabalho de pesquisa acerca do tema enquanto
produziam seus próprios textos. Ao realizarem seu estudo monográfico, buscando
compreender o processo de produção textual de seus alunos, produziram, também, seus textos
próprios, construindo novos sentidos para a produção. Os professores ressignificaram,
4
A partir daqui vou sempre me referir ao Projeto Veredas, apenas como Veredas
15
portanto, a produção de textos a partir destas duas instâncias: da pesquisa realizada sobre o
tema e dos próprios textos que construíram.
Dessa forma, pretendo compreender, através do discurso dos professores cursistas,
os sentidos que constróem para a produção de textos a partir do desenvolvimento de
suas monografias de conclusão de curso
5
.
Esta questão foi vista não através do produto, os trabalhos finais escritos, mas do
processo do qual participei, tendo, assim, a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento
dessas monografias e os sentidos que foram sendo construídos durante todo o percurso. Os
sentidos foram construídos pelos professores e por mim de uma forma interativa.
Por ser a sala de aula o ponto de partida e de chegada das questões das monografias, é
fundamental investigar se o professor mudou sua maneira de compreender o problema que o
levou à construção de suas questões.
A partir desta, outras questões se fazem presentes: Qual a definição de produção de
textos para estes professores? Por que escolheram este tema? De que maneira o investigaram?
Como produziram seu próprio texto?
Importante destacar que não pretendi esgotar essas questões em minha pesquisa, mas
apenas apontar caminhos na tentativa de compreender melhor essa prática social que se faz
hoje tão significativa em minha vida, a educação.
Para isso, desenvolvi a pesquisa que foi sistematizada em quatro capítulos. No
primeiro, teci uma apresentação do Projeto Veredas e das concepções de monografia no
interior deste projeto e, mais especificamente, como foi trabalhada na AFOR UFJF
6
. No
segundo, desenvolvi discussões acerca da produção de textos a partir da contribuição de
5
Os conceitos de discurso e construção de sentidos serão definidos a partir de uma perspectiva sócio-histórica e
serão discutidos no capítulo 4.
6
A definição de AFOR será estabelecida no capítulo 1
16
alguns autores. O terceiro capítulo apresenta os caminhos metodológicos percorridos para o
desenvolvimento e conclusão desta pesquisa.
Pude concluir, a partir da leitura e da análise das monografias, que os professores
cursistas têm muita dificuldade em definir e compreender textos, assim como de trabalhar
com eles em sala de aula. A partir desta dificuldade, elaboraram as questões de pesquisa que
tentam responder às suas indagações acerca do tema. As inquietações que os levaram à
questão de pesquisa, se expressam na dificuldade que têm em definir, compreender e trabalhar
com os textos. Em busca de respostas, fizeram uma reflexão da prática, na medida em que
selecionaram um problema/questão, desenvolveram um novo olhar para este problema – mais
distanciado e com outros objetivos, que os levaram a discutir o problema no cotidiano escolar
– e desenvolveram diversas leituras acerca do tema.
17
1 – AS MONOGRAFIAS NO VEREDAS
É preciso, muitas vezes, para fazer ciência, evitar
as aparências de cientificidade, contradizer mesmo
as normas em vigor e desafiar os critérios
recorrentes do rigor científico.
Pierre Bordieu
1.1 – Apresentando o Projeto Veredas
O Projeto Veredas foi planejado e implantado pela Secretaria de Educação do Estado
de Minas Gerais como parte importante da Escola Sagarana – um plano de ação para a escola
mineira. Destinou-se à habilitação de professores do Estado de Minas Gerais que se
encontravam atuando nos anos iniciais do ensino fundamental das redes públicas municipais e
estadual que não possuíam formação superior. Foi um curso desenvolvido na modalidade de
educação a distância que buscou atender 15.000 professores, tendo como objetivo central
formar o profissional preparado para atuar nas séries iniciais do ensino fundamental.
Por ser um curso de formação em serviço, contou com a parceria de várias instituições
de ensino superior as agências formadoras (AFORs) –, estimulando o contato estreito entre
professores do ensino básico e professores do ensino superior.
Para viabilizar a formação de um grande número de professores geograficamente
dispersos, o projeto contou com a tecnologia e com os recursos metodológicos de uma
educação a distância, elementos imprescindíveis para diminuir não a distância
demográfica, mas as distâncias econômica e social. Trata-se, portanto, de um instrumento que
concretiza políticas públicas para a educação mineira.
18
Houve 18 agências formadoras (AFORs) selecionadas em todo o estado. Para
possibilitar o andamento do curso, foi necessário dividir o estado de Minas Gerais em 21
pólos, alguns deles em subpólos, para que cada AFOR pudesse responsabilizar-se por 600
alunos, em média. As instituições de ensino superior foram responsáveis pelas 18 agências
formadoras em todo o estado. Dentre elas, encontram-se as universidades federais mineiras.
A UFJF, como uma das agências formadoras do Projeto Veredas, foi responsável por
três los: Juiz de Fora, Janaúba e Porteirinha, pólos 03, 14 e 15, respectivamente, tendo, ao
todo, 1.800 alunos.
Para possibilitar um contato entre os professores cursistas e os profissionais da área de
educação envolvidos com o projeto, contamos com os tutores, mediadores que atendiam, em
média, 15 professores cursistas, acompanhando-os na tentativa de facilitar seu processo de
formação. No caso da AFOR de Juiz de Fora, tivemos também os professores especialistas,
responsáveis por orientar os cursistas, através dos tutores, em suas áreas específicas. Este
19
foram, em sua maioria, professores que, se por um lado, estavam afastados dos centros de
formação, por outro, tinham uma importante experiência prática em sala de aula. Foi com esta
experiência que o projeto contou para a elaboração das monografias.
Por isso, é importante ressaltar que o trabalho de conclusão de curso enfatizou a
prática docente e procurou extrair dela as suas questões.
1.2 – A concepção de monografia no Veredas
A monografia foi apresentada aos cursistas como requisito obrigatório para avaliação
final ao término do curso. Assim se apresenta definida a monografia no Manual de Avaliação
de desempenho de cursistas do Veredas:
Esse trabalho é elaborado ao longo de todo o curso
com base em estudos interdisciplinares e experiências de integração do ensino e da pesquisa
pedagógica” (SEE/MG, 2002c, p. 29).
De acordo com essa definição, o processo de elaboração da monografia se
desenvolveu em função do tema escolhido pelo próprio cursista, a partir de discussões atuais
na área de educação e de questões vivenciadas pelos professores em sua prática pedagógica.
Buscou-se um rigor científico abordando um único problema. Segundo a Secretaria Estadual
de Educação, esse trabalho “é a sistematização escrita de uma pesquisa realizada dentro dos
padrões de cientificidade, que trata de desenvolver ou estudar um problema delimitado e
construído pelo pesquisador” (Idem, ibidem).
O objetivo maior que se pretendeu com a elaboração das monografias do Veredas foi
desenvolver no professor a visão crítica e reflexiva acerca dos problemas pedagógicos que
enfrenta nas atividades profissionais.
A estrutura das atividades do Curso de Formação Superior foram previstas e
implementadas da seguinte forma:
20
HORAS POR MÓDULO
ATIVIDADES
Horas
semanais
Total por
módulo
HORAS
TOTAIS DO
CURSO
OBSERVAÇÕES
Atividade da Fase Presencial
Intensiva
__
40
280
Uma semana no
início do semestre
Atividades Individuais a
Distância
10 160 1120 16 semanas por
módulo
Prática Pedagógica Orientada
(incluindo Estágio Curricular
Supervisionado)
10
150
1050
15 semanas por
módulo
Atividades Coletivas X 24 168 3 vezes por módulo
Atividades de Avaliação
X
8
56
1 vez ao final de
cada módulo
durante 8 horas
Memorial 2 h e 30 min. 40 280 16 semanas por
módulo
Monografia
2
32
246
16 semanas por
módulo, mais 22
horas no módulo 7
Total
24 h e 30 min.
454
3200
454 x 7 = 3178
3178 + 22 = 3200
Fonte: SEE/MG, 2002b, p. 31.
De acordo com a organizão das atividades apresentadas acima, podemos perceber
que a monografia no Veredas não foi vista como um produto a ser entregue e avaliado ao
término do curso, mas como um processo de construção contínua ao longo de todo o período
da formação superior, que ocorreu em três anos e meio.
A proposta do Veredas, como consta no Projeto Pedagógico do Curso, de que o
trabalho seja “elaborado ao longo de todo o curso com base em estudos interdisciplinares e
experiências de integração do ensino e da pesquisa pedagógica” (SEE/MG, 2002d, p. 34). foi
abarcada por nós, da AFOR UFJF, como um desafio, e todo o trabalho de orientação,
supervisão e coordenação foi organizado tendo em vista o processo de construção da
monografia.
21
Essa perspectiva foi trazida, também, para meu trabalho de pesquisa. As monografias
foram analisadas por mim através de seu produto, a análise documental, mas sem perder de
vista todo o processo do qual participei desde o início do curso.
1.3 – As monografias na AFOR UFJF
De acordo com o previsto no Projeto Veredas, a AFOR UFJF orientou o trabalho das
monografias levando o cursista à compreensão de que os seus temas de pesquisa deveriam ser
extraídos da prática docente.
Para a orientação desses trabalhos de pesquisa contou-se com o tutor e com uma
equipe de supervisores integrada por seis membros e um coordenador. Cada membro da
equipe foi responsável por onze tutores, em média, de um total de aproximadamente trezentos
cursistas.
A equipe acompanhou, através do tutor, o trabalho de construção de monografia pelos
cursistas ao longo de todo o ano e, no início de cada semestre, nas Semanas Presenciais
7
,
aconteceram os encontros com os cursistas nas oficinas de monografia.
Foram realizadas quatro oficinas ao todo. A primeira teve como objetivo a formulação
dos temas e questões a serem desenvolvidos; na segunda, o objetivo foi trabalhar a construção
dos anteprojetos, num primeiro momento e, posteriormente, foram tratados, com um pouco
mais de afinco, os procedimentos metodológicos; a terceira oficina trabalhou a coleta, a
interpretação e a análise dos dados; por fim, a última oficina desenvolveu-se com a
apresentação da ficha de correção das monografias e com a análise de todo o processo de
construção do trabalho de pesquisa até aquele momento.
7
As Semanas Presenciais iniciavam os semestres letivos. Essas semanas constituíam-se de oficinas, palestras e
atividades culturais, com carga horária de quarenta horas.
22
Pudemos
8
confirmar, como havíamos previsto, na maioria dos cursistas, uma vasta
experiência profissional e uma grande defasagem no campo teórico. Por isso, ao entrarem em
contato com os guias de estudo e com o conteúdo das disciplinas cursadas, houve uma
dificuldade em se apropriarem das idéias, conceitos e teorias e, conseqüentemente, de
relacioná-los com sua prática e com o problema gerador do tema de sua pesquisa.
Todas as dificuldades e propostas eram discutidas nas reuniões semanais que
aconteciam na coordenação do Projeto Veredas AFOR UFJF. Destas reuniões, presididas
pelo coordenador da equipe de monografia, participava essa equipe e também coordenadores
do curso, de acordo com sua disponibilidade. Foram encontros essenciais para discutirmos as
dificuldades encontradas, como a mencionada acima, e para pensarmos em propostas para
viabilizar o trabalho dos cursistas da melhor maneira possível. Assim, trocávamos
experiências, trazíamos dúvidas, discutíamos idéias. Nas reuniões, foram planejadas também
as oficinas que já mencionei anteriormente.
Estes encontros foram fundamentais não só pelas discussões e sistematizações de
propostas, mas principalmente pela oportunidade de construirmos, ao longo do curso, uma
nova concepção de pesquisa buscou-se orientar os cursistas acerca de sua própria prática a
partir de um exercício reflexivo sobre ela - que foi um desafio para todos nós. O curso
acontecia pela primeira vez e aprendíamos com ele uma nova proposta de educação que trazia
dificuldades e possibilidades inéditas. O curso foi realizado a distância, com os horários,
encontros, materiais e disponibilidades próprios desta modalidade. Os professores cursistas,
de acordo com o que foi dito, traziam uma vasta experiência de sala de aula, mas lhes
faltava suporte teórico consistente. Diante dos desafios encontrados, entre eles as grandes
distâncias, e de acordo com a orientação do Projeto Veredas, tentamos valorizar o que os
8
Como fiz parte da equipe orientadora das monografias, uso a primeira pessoa do plural quando me refiro ao
desenvolvimento desse processo.
23
professores traziam de mais consistente, suas experiências e, ao lado disso, oferecer um
suporte teórico que lhes permitisse o desenvolvimento de uma pesquisa.
Ao longo de todo esse trabalho, nós tentamos incentivar a reflexão dos professores
cursistas acerca dos problemas da prática pedagógica, em especial aquele que fora
selecionado para sua pesquisa, no intuito de valorização da experiência de cada um desses
profissionais da educação.
Nosso objetivo, portanto, foi possibilitar um maior contato dos professores com a
teoria e auxiliar para que eles a relacionassem com sua prática, na tentativa de promover uma
reflexão sobre esta última.
A partir da concepção adotada, as questões de pesquisa foram extraídas da prática
pedagógica. Tentamos incentivar os cursistas a formularem questões a partir de suas
inquietações diante de problemas suscitados pela cotidiano de sua sala de aula. Pensávamos
que, desta maneira, estes professores teriam uma maior implicação em suas pesquisas e seria
valorizada a sua prática. Além disso, a monografia foi pensada, também, procurando valorizar
o vasto campo de pesquisa que estes professores tinham nas mãos, a escola. Por isso, as
pesquisas foram realizadas, em sua maioria, nas escolas, a partir de entrevistas, observações e
análise documental. Elaborada desta maneira, a monografia contribuiu para que os professores
vissem suas escolas com um novo olhar. Possibilitou que estes profissionais mergulhassem
por um momento nesta prática cotidiana vendo-a com um novo olhar, agora mais crítico.
A primeira dificuldade que encontramos, ocorrida a partir da primeira oficina, foi
delimitar as questões de pesquisa. Os professores traziam em geral problemas muito amplos e
viam nesta pesquisa a oportunidade de resolverem suas principais dificuldades enfrentadas
nas escolas. Sabíamos, e pudemos confirmar através destes professores, que as dificuldades
que se fazem presentes nesta área não são poucas, e tivemos que discutir com os professores a
respeito, já que não era possível, a partir de uma pesquisa apenas, solucionar todas as
24
indagações trazidas por eles. Por isso, demandou tempo e muita conversa para que estes
profissionais conseguissem delimitar suas questões de pesquisa.
A partir desta primeira oficina, foi aberto um desafio grande de procurarmos, passo a
passo, soluções para todas as etapas que se seguiram.
O contato desses cursistas com referenciais teóricos se fez difícil, uma vez que o
acesso de muitos a esse tipo de material era restrito. Percebemos, também, a falta do hábito de
leitura na vida de muitos desses professores.
Na tentativa de sanar esta dificuldade, montamos sete bibliotecas, que ficavam
distribuídas de acordo com as distâncias, em subpólos nos quais essa fonte de pesquisa não
estava disponível. O acervo destas bibliotecas foi feito de acordo com a demanda dos
cursistas, avaliada a partir das questões de investigação, e os títulos foram indicados pelos
professores especialistas de cada área.
Percebo hoje que esta iniciativa constituiu-se em um grande avanço nesse campo, visto
que muitos cursistas, através dela, entraram em contato com autores e documentos oficiais até
então por eles desconhecidos. Outra dificuldade que encontramos, e talvez a maior delas, foi o
medo que os professores tiveram diante da proposta de realizarem uma pesquisa. Era uma
tarefa inédita para a grande maioria deles e pudemos perceber, logo no início do nosso contato
com os cursistas, uma grande ansiedade em função disso. A cada etapa era apresentado a eles
um novo desafio, desde a delimitação da questão de pesquisa, passando pelo anteprojeto, até a
coleta e análise de dados. Pudemos perceber, porém, que esta ansiedade foi passando à
medida que o curso se desenvolvia e também ao vencerem algumas etapas iniciais. Assim
mesmo, durante todo o processo, houve uma expectativa grande em torno desta tarefa.
As dificuldades encontradas no meio do caminho criavam para nós desafios contínuos,
assim como o retorno dos professores a nossas propostas e os passos que deram ao longo do
25
processo, que eram imprevisíveis, traziam uma satisfação muito grande em trabalharmos
elaborando e reelaborando a cada dia.
As monografias foram lidas e corrigidas por dois profissionais responsáveis, o tutor,
que fez a primeira correção das monografias de seus cursistas e o professor, que fez a segunda
correção das monografias dos cursistas que estavam sob sua orientação. As notas foram
definidas de acordo com a média das notas da primeira e da segunda correção e, quando
houve reprovação, por parte de um avaliador apenas, a monografia foi encaminhada para uma
terceira correção, sob a responsabilidade do coordenador da equipe de monografia.
Os temas de monografia que, conforme pudemos observar, emergiram da prática
pedagógica, foram organizados em categorias, para que uma visualização deles fosse possível.
Essas categorias, construídas por mim para a realizão da pesquisa, ajudam não só na
visualização dos dados mas, acima de tudo, na sua organização, conforme se observa no
gráfico
9
a seguir:
26
É possível observar um alto índice de temas na área de linguagem, representando 40%
do total de temas. Tal proporção pode ser percebida mais nitidamente no gráfico abaixo:
Outros
60%
Linguagem
40%
GRÁFICO 2 – Distribuição de temas na área da linguagem em relação ao total de temas.
A escolha destes profissionais de realizarem uma pesquisa no campo da linguagem
chama a atenção visto que, como foi dito anteriormente, são temas que emergiram de
problemas da prática pedagógica.
O motivo de tal interesse nessa área é de fundamental importância, porém não faz
parte de meus objetivos responder a esta questão, que fiz um recorte em relação ao meu
tema escolhendo pesquisar especificamente monografias que trabalharam com produção de
textos. Ao fazer este recorte, estou ciente de que muitas outras questões deixarão de ser
respondidas dentro de minha área de formação e interesse, a linguagem. Sei também que tal
recorte se fez necessário devido aos limites de tempo previstos para a conclusão deste
trabalho e também para um maior aprofundamento da questão. Compreendo, ainda, que seria
27
pretensioso demais tentar esgotar todas as questões que se fizeram presentes nas monografias
na área da linguagem.
1.4 – As monografias na área de linguagem
A categoria
linguagem
foi criada a partir de quatorze temas, nomeados pelos
professores e que estão apresentados abaixo:
Interpretão de textos
4%
Produção de textos
9%
Leitura
32%
Literatura Infantil
2%
Português
2%
Poesia
0,4%
Linguagem
3%
Ortografia
2%
Letramento
1%
Alfabetização
40%
Escrita
5%
GRÁFICO 3 – Distribuição dos temas nomeados pelos professores.
28
alfabetização 40%
produção de textos
9%
leitura 36%
escrita 7%
letramento 1%
aspectos genéricos
da língua portuguesa
5%
literatura 2%
GRÁFICO 4 Distribuição das categorias criadas a partir dos temas nomeados
pelos professores na área da linguagem.
O tema que se faz mais presente dentro da área de linguagem é a alfabetização, outro
ponto interessante que poderá ser explorado em pesquisas futuras. A produção de textos, tema
selecionado para a realização de minha pesquisa, aparece em um total de 9%.
O motivo que levou os professores a escolherem a produção textual como tema de
suas pesquisas é uma das questões a que pretendi responder em minha investigação.
1.5 – As monografias que trabalharam com a produção de textos
A proporção de “produção de textos” em relação às outras questões na área de
linguagem pode ser melhor visualizada a seguir:
29
Produção de
textos
9%
Linguagem
91%
GRÁFICO 5 Distribuição do tema “produção de textos” em relação à área
da linguagem.
Apesar de considerar baixo o índice de monografias que pesquisaram a produção
textual, tomando como referência a relação entre este tema e os outros, o índice não é baixo
em relação aos temas de linguagem, representando 9% desses temas.
Estes índices apresentados nos gráficos acima nos dão uma idéia do panorama geral de
monografias que foram desenvolvidas em nossa AFOR, das monografias na área de
linguagem e, mais especificamente, das que trabalharam com o tema produção de textos.
Estes índices inicialmente diziam muito pouco e puderam ter uma análise mais
aprofundada a partir do momento da finalização, que ocorreu durante o mês de junho de 2005.
Assim, pude me debruçar sobre os trabalhos completos para analisá-los com o rigor
necessário.
30
2 – A PRODUÇÃO DE TEXTOS
Uma música que seja como ponto de reunião de
muitas vozes em busca de uma harmonia nova.
Uma música que seja como o vôo de uma gaivota
numa aurora de muitos sons.
Vinícius de Moraes
Por compreender que o texto, apesar de ser materializado de maneira individual,
expressa múltiplas vozes sociais que, entrelaçadas e somadas à voz do autor, tecem um novo e
antigo discurso, fez-se necessário ouvir neste trabalho de dissertação outros autores que
discorrem acerca da produção textual.
Para compreendermos a produção textual e o seu papel dialógico
10
no
desenvolvimento da relação social, é preciso que se discuta, em um primeiro momento, o
conceito de discurso e seus gêneros para, em um segundo momento, tornar-se possível a
compreensão da escrita e do papel da produção textual na escola e na sala de aula.
2.1 – A formação discursiva
A formação discursiva, Segundo Cardoso (1999), são grandes unidades históricas que
constituem. os enunciados. O enunciado é, por sua vez, segundo a autora, “uma função que
cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis e que faz com que apareçam, com
conteúdos concretos, no tempo e no espaço” (1999, p. 37). O sujeito de um enunciado é,
portanto, um lugar determinado e vazio que pode ser ocupado por indivíduos diferentes.
10
O conceito de dialogismo será discutido no capítulo 4.
31
Essa concepção está de acordo com Bakhtin (2003), que concebe o enunciado como
uma unidade da comunicação discursiva que vai além das relações meramente lingüísticas.
Difere da palavra e da sentença, tendo, além desse aspecto lingüístico, o contextual. Para este
teórico sócio-histórico, o enunciado constitui-se como um elo da cadeia muito complexa de
outros enunciados e supõe a alternância dos sujeitos falantes (1997, p. 291).
Um enunciado pressupõe outros, faz parte de uma série ou de um conjunto no interior
do qual desempenha seu papel em conformidade com estes outros. Entrando em redes, os
enunciados se colocam em campos de atualização, podendo integrar-se em certas operações e
estratégias, segundo Cardoso (1999). Essa autora deixa entrever em seu texto que entende
como conceitos distintos enunciado e enunciação:
Um enunciado suporta enunciações distintas, dado que tem uma existência
material e sua materialidade é repetível. O enunciado pode, pois, ser repetido
(por um mesmo indivíduo ou por indivíduos diferentes), apesar de sua
materialidade. O que caracteriza o enunciado é sua materialidade repetível,
sendo o regime de materialidade a que obedecem os enunciados de ordem
institucional (1999, p. 37).
O texto é o produto das atividades discursivas. Portanto, se relaciona com outros
textos e pode, por isso, ser compreendido como intertexto.
De acordo com a tradução de Bezerra, em
Estética da Criação Verbal
, para Bakhtin
(2003) não há uma distinção entre enunciado e enunciação. Ele emprega o termo
viskázivanie
,
que abarca os dois conceitos. Apesar disso, o próprio tradutor mantém na língua portuguesa a
distinção entre enunciado que é utilizado por ele para se referir ao produto, ao discurso
pronto – e enunciação que é utilizado com referência ao processo. Provavelmente, a
distinção foi mantida pelo tradutor por não termos, em nossa língua, um termo mais amplo,
como na língua russa, que possa abranger os dois conceitos mencionados acima.
32
2.2 – Os gêneros do discurso
De acordo com Bakhtin (2003), o emprego da língua é efetuado em forma de
enunciado. Os enunciados são múltiplos e refletem as condições e finalidades do
falante/escritor de acordo com o que se pretende dizer e com os recursos que se dispõe para
dizer. O enunciado é constituído não pelos recursos e estilos, mas, acima de tudo, pela
construção composicional. Cada enunciado é particular e individual, mas um grupo
relativamente estável de enunciados é nomeado de gênero discursivo por Bakhtin.
Os gêneros são infinitos para este autor, já que as situações humanas pelas quais a
linguagem perpassa são inesgotáveis. A linguagem está presente em todas as atividades
humanas. Além de as atividades serem inesgotáveis, são infinitas também as maneiras de se
expressar no interior dessas atividades. Bakhtin faz ainda uma distinção entre gênero e estilo,
que o primeiro compreende um grupo relativamente estável de enunciados, mas no interior
deste grupo há também as particularidades individuais, os estilos.
A partir destas definições estabelecidas pelo autor, compreendo que os enunciados são
formados a partir das diversas maneiras de se expressar, que abarcam os estilos, os recursos e
as construções composicionais. O gênero discursivo é formado por grupos relativamente
estáveis de enunciados. Este grupo compreende, por sua vez, múltiplos estilos, que trazem
para o discurso as particularidades e as escolhas individuais.
Apesar de as formações de gêneros discursivos serem infinitas, Bakhtin propõe que
estes se distinguem em gêneros primários e secundários. Os primeiros são mais simples,
formados em condições de comunicação discursiva imediata. Os secundários surgem em
condições de convívio cultural mais complexo e são relativamente mais desenvolvidos e
organizados. Exemplos deste último seriam os discursos artísticos, científicos e sociopolíticos.
33
Os gêneros primários integram os complexos, se transformando e adquirindo um caráter
especial:
Perdem o vínculo imediato com a realidade concreta e os enunciados reais
alheios: por exemplo, a réplica do diálogo cotidiano ou a carta no romance,
ao manterem a sua forma e o significado cotidiano apenas no plano do
conteúdo romanesco, integram a realidade concreta apenas através do
conjunto do romance, ou seja, como acontecimento artístico-literário e não
da vida cotidiana (BAKHTIN, 2003, p. 264).
O romance, assim como a réplica de uma conversa cotidiana ou um bilhete, constitui
um gênero em seu conjunto. A diferença entre eles é a natureza do gênero: o romance é um
enunciado secundário, e seu conjunto constitui, pois, um gênero secundário, complexo, ao
passo que o discurso cotidiano ou o bilhete são enunciados mais simples que formam, cada
um em seu conjunto, gêneros primários.
A competência sociocomunicativa dos falantes/ouvintes, segundo Koch (2002), leva-
os à detecção do que é adequado ou inadequado em cada uma das práticas sociais (p. 53). É
esta competência, por sua vez, que leva à diferenciação de determinados gêneros de textos. A
competência textual de um falante permite-lhe distinguir os diferentes tipos de textos ou os
diversos gêneros textuais.
A partir da perspectiva bakhtiniana, diversas formas de compreender os gêneros e
de abordá-los em sala de aula. Entre elas, Schneuwly & Dolz, citados por Koch (2002),
indicam três maneiras principais de abordar o ensino da produção textual:
34
a) O gênero torna-se uma pura forma lingüística e o objetivo é o seu
domínio: o fato de o gênero continuar sendo uma forma particular de
comunicação entre professores e alunos não é absolutamente tematizado e os
gêneros são estudados totalmente isolados dos parâmetros da situação de
comunicação.
b) A escola é tomada como autêntico lugar de comunicação e as situações
escolares como ocasiões de produção/recepção de textos. As ocasiões de
produção de textos se multiplicam: na classe, entre classes, entre escolas.
c) Nega-se a escola como lugar particular de comunicação, ou seja, age-se
como se houvesse continuidade absoluta entre o exterior da escola e o seu
interior (p. 57).
A primeira opção é a única que não está de acordo com o conceito de gênero proposto
por Bakhtin, que, de acordo com o autor, os gêneros são formados a partir das diversas
formas de discurso em diferentes situações, desde a conversa mais cotidiana até as formas
mais complexas. Dessa forma, de acordo com esta perspectiva, os gêneros compreendem os
discursos que vão além dos limites escolares, aqueles que são produzidos em situações menos
formais, mais espontâneas. Aumentam-se, assim, as possibilidades de produção de textos, de
discursos, que passam a ser vistos como gêneros. Situações que abarcam desde o discurso
produzido na classe, entre classes e entre escolas, compreendendo uma continuidade entre o
exterior e o interior da escola.
2.3 – O desenvolvimento da escrita
Para discorrermos acerca do desenvolvimento da escrita, podemos começar com as
indagações propostas por Kramer (2003) sobre os motivos que levam as pessoas a
escreverem, isto é, a finalidade desta escrita. A autora, diante de tais questões, defende a idéia
35
de que a escrita deve ser trabalhada na escola como sendo algo não-útil, pois não servindo
para nada, não corre o risco de ser servil (p. 63).
A idéia da autora chama a atenção, ao afirmar que um texto não deve ser servil, para a
importância da autonomia que está acima da utilidade do texto. Este, segundo a autora, antes
ser inútil a servil.
Numa linha de continuidade, Susan Sontag, citada por Kramer (p. 69), afirma que
“pensar e escrever são fundamentalmente questões de resistência”.
O texto, linguagem escrita,
é um elemento mediador por onde o sujeito pode se expressar enquanto se constitui. É preciso
compreender a linguagem textual em todos estes espaços e desempenhando todas estas
funções.
Compreendo que a escrita, para essa autora, tem um papel que extrapola os limites da
comunicação. É através dela que o sujeito se expressa, estabelece suas propostas, se impõe.
Essa perspectiva leva à compreensão de que a escrita ocupa, assim, o papel de enunciado, na
medida em que, trazendo outros discursos, inserida em seu contexto, traz a sua marca.
O processo de produção e seu produto, o texto, desempenham, portanto, papéis
fundamentais nas relações de ensino/aprendizagem, entre professor/aluno,
pesquisador/professor, pesquisador/pesquisa. Através do texto, é possível que se penetre na
realidade do outro e se compreenda, em parte, o seu universo.
De acordo com Vygotsky (2003), a escrita não pode ser imposta de fora, vinda das
mãos do professor, mas, ao contrário deve se fundamentar nas necessidades da criança. A
escrita deve ter significado para as crianças e deve ser incorporada a uma tarefa necessária e
relevante para a vida.
Vygotsky (1991) compreendia que em sua época (anos 20/30) a escrita tinha um
espaço restrito no âmbito educacional de seu país, a Rússia. A linguagem, em sua forma
escrita, era tida meramente como um desenvolvimento motor complexo, não havendo uma
36
relação entre este sistema de mbolos e signos com a forma real a que estes grafemas se
referem.
O autor considera que o processo de aquisição da escrita “prenuncia um ponto crítico
em todo o desenvolvimento cultural da criança”
(Vygotsky, 1991, p. 120). A linguagem
escrita é um sistema de signos que designam as palavras. Estas, por sua vez, representam
formas reais e concretas do mundo. Com o desenvolvimento deste tipo de habilidade, qual
seja, a escrita, este sistema simbólico passa a representar as formas reais a que se referem sem
que haja o intermédio da expressão oral.
O desenvolvimento da escrita não ocorre, porém, de forma única, universal, direta e
crescente. Diferente disso, se dá de forma caótica. Assim,
juntamente com processos de desenvolvimento – movimento progressivo – e
o aparecimento de formas novas, podemos distinguir, a cada passo,
processos de redução, desaparecimento e desenvolvimento reverso de velhas
formas (VYGOTSKY, 1991, p. 120).
Diferente do que ocorre com a fala, não há, na psicologia infantil, uma visão
consistente da linguagem escrita como um processo histórico e unificado do desenvolvimento.
Marcuschi (2001) apresenta o conceito de
retextualização
, que consiste basicamente
na passagem da língua falada para a língua escrita. Segundo o autor, está havendo um
crescimento de pesquisas acerca do assunto e estas apontam, entre outros achados, para a
semelhança entre ambas.
Atividades de retextualização são rotinas altamente automatizadas. Segundo o autor,
apresentam-se como ações aparentemente não-problemáticas, já que lidamos
com elas o tempo todo nas sucessivas reformulações dos mesmos textos
numa intrincada variação de registros, gêneros textuais, níveis lingüísticos e
estilo (
MARCUSCHI, 2001,
p. 48).
37
O autor afirma que, apesar de o homem poder ser definido como um ser que fala e não
como um ser que escreve, isso não significa que a oralidade seja superior à escrita, nem traduz
a convicção, hoje tão generalizada quanto equivocada, de que a escrita é derivada e a fala
primária. A escrita não pode ser vista como uma representação da fala, pois as duas têm
características próprias que as diferenciam (p. 17).
Segundo Geraldi (1996),
no quadro de uma concepção sóciointeracionista da linguagem, poder-se-ia
propor uma compreensão do processo de elaboração de textos como uma
forma, materializada na língua, de “retorno” ao interindividual do que se
tornara intra-individual (p.137).
Neste sentido, ainda de acordo com Geraldi, a fala e a escrita são sempre trabalhos
conjuntos, apesar de serem materializadas por apenas um indivíduo, “revelando um
movimento contínuo e recursivo entre inter-intra-inter-individual” (p.137).
O autor faz uma ressalva de que se considerarmos a hipótese apresentada acima, isso
nos permitiria “olhar” para a materialidade lingüística do texto e nela detectar suas inscrições
lingüístico-discursivas, sem que isso signifique que uma destas materialidades contenha a
outra, como se o discurso do exterior inscrevesse na “linguagem” do texto seu sentido (p.138).
Numa linha de continuidade, nas palavras de Mario Osorio (1997)
É o escrever que imprime significância à escrita; mas, antes, necessitou o
homem descobrir que os traços depositados em algum suporte material
podem sinalizar para algo outro que eles mesmos, para uma ação humana
reconhecível nas marcas que deixou após si. A esses sinais é possível
conferir sentido para outrem (p. 41).
38
2.4 – A produção de textos em sala de aula
Para trabalhar a questão da produção textual nas escolas, é necessário fazer uma rápida
discussão acerca da escrita em sala de aula e suas implicações no texto. Para isso, é
importante distinguir escrita e produção de textos, num primeiro momento, para discutir suas
implicações em sala de aula e a produção textual dos alunos.
De acordo com Soares (2003),
a escrita engloba desde a habilidade de transcrever a fala, via ditado, até
habilidades cognitivas e metacognitivas; inclui a habilidade motora
(caligrafia), a ortografia, o uso adequado da pontuação, a habilidade de
selecionar informações sobre um determinado assunto e de caracterizar o
público desejado como leitor, a habilidade de estabelecer metas para a escrita
e decidir qual a melhor forma de desenvolvê-la, a habilidade de organizar
idéias em um texto escrito, estabelecer relações entre elas, expressá-las
adequadamente (p. 70).
A partir desta definição de escrita, podemos localizar a produção de textos como uma
das possibilidades ou uma modalidade da escrita, sendo, numa perspectiva sócio-histórica,
tudo aquilo que exprime significado.
Nesse sentido, Koch (2002) afirma que
o tratamento da linguagem, quer em termos de produção, quer de recepção,
repousa visceralmente na
interação produtor-ouvinte
/
leitor,
que se manifesta
por uma antecipação e coordenação recíprocas, em dado contexto, de
conhecimentos e estratégias cognitivas (p. 31).
39
Adepta desta perspectiva sócio-histórica, Leal (2003) diz que esta maneira de ver a
produção de texto e seu produto vem modificando, algum tempo, o processo de ensino-
aprendizagem do texto escrito na escola. Pensar o ensino de produção textual requer pensar,
segundo a autora, em primeiro lugar, que um texto produzido por um aprendiz manifesta-se
como produto de um sujeito que, de acordo com suas possibilidades, busca estabelecer uma
relação de interlocução com o leitor de seu texto, o professor. Dessa forma, o aluno espera de
seu interlocutor, o professor, um retorno, não um retorno qualquer, mas “algo capaz de
permitir uma dialogia, entendendo-a como um momento de produção de sentido, de dizeres e
de trocas significativas” (p. 55).
A autora chama a atenção para a necessidade de o professor, que ensina a escrever, ser
o leitor privilegiado dos textos dos alunos. Reconhece que os textos, como instâncias
discursivas individualizadas, são atravessados por um conjunto de fatores ou determinantes. A
autora considera que saber detectar nos textos as marcas desses determinantes é poder
começar a receber a palavra do “outro” (do “aprendiz”), para poder realizar a atitude
responsiva ativa (p. 56). Nas palavras da autora, “compreender como o texto produz sentido e
realiza a discursividade é saber que o texto individualiza um conjunto de relações
significativas” (p. 62).
Na produção de discursos, o sujeito articula um ponto de vista sobre o mundo que, de
forma não mecânica, não pode ser considerado mera reprodução. Por isso, segundo Geraldi
(1991), os discursos não são sempre idênticos, se modificam de acordo com quem escreve e
para quem se escreve.
A novidade, que pode estar no reaparecimento de velhas formas e de velhos
conteúdos, é precisamente o fato de o sujeito
comprometer-se
com sua
palavra e de sua
articulação
individual com a formação discursiva de que faz
parte, mesmo quando dela não está consciente (p. 136).
40
É a partir dessa perspectiva que o autor estabelece, no interior das atividades escolares,
uma distinção entre
produção de textos
e
redação.
Nesta, produzem-se textos para a escola;
naquela produzem-se textos na escola (p. 136).
Segundo o autor, para produzir um texto (em qualquer modalidade) é preciso que:
a)
Se tenha o que dizer;
b)
Se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
c)
O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz
para quem diz (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo);
d)
Se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d)
(GERALDI, 1997, p. 236).
São estas características propostas por Geraldi que respaldaram minha pesquisa como
critério para compreender os textos dos professores cursistas do Projeto Veredas.
41
3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para além da orelha existe um som, à extremidade
do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um
objeto – é para lá que eu vou.
Clarice Lispector
Para trabalhar as questões propostas por este trabalho de pesquisa, desenvolvi uma
metodologia de abordagem qualitativa, pautada na busca da compreensão das práticas
discursivas e orientada pela perspectiva sócio-histórica baseada em conceitos de Vygotsky e
Bakhtin.
De acordo com a perspectiva dos autores russos, o sujeito é construído na relação com
o outro, no campo social, num processo de interação materializado pela linguagem. Nas
palavras de Freitas (2002), “considerando a pesquisa como uma relação entre sujeitos,
portanto numa perspectiva dialógica, Bakhtin assume a interação como essencial nos estudos
dos fenômenos humanos” (p. 28). Isso justificou minha opção por trabalhar com esses autores
como referencial teórico a partir do qual se orienta o processo metodológico.
Ao investigar a questão proposta nesta pesquisa, levei em consideração a concepção
dos autores citados na medida em que estou atenta ao fato de o professor, que traz o problema
de sua sala de aula para sua questão de monografia, se constituir através da interação social,
por estar inserido e atuando neste grupo.
no campo metodológico, considerei fundamental tal concepção sócio-histórica, uma
vez que o “objeto” a ser estudado não é estático e inanimado. É um sujeito que traz consigo o
resultado de sua interação com o seu grupo social, ao mesmo tempo em que irá interagir
42
diretamente com a pesquisa a ser desenvolvida. Nesta interação é que o trabalho de pesquisa
se constrói, ao mesmo tempo em que interfere em seu campo de atuação (FREITAS, 2003).
O trabalho de pesquisa tem, pois, uma perspectiva dialógica, que se revela nos
conceitos que aponto em seguida.
O homem, na perspectiva desses autores, é um ser histórico/cultural. Se, por um lado,
o homem se faz através de seu contexto, por outro, a linguagem cria este contexto
possibilitando interações interpessoais e intrapessoais que fazem parte da própria estrutura da
linguagem que é, em sua natureza, dialógica.
Compreendo, portanto, que através da linguagem, as relações são estabelecidas no
interior da sala de aula, da escola e entre pesquisador e sujeito de pesquisa. Este último, vale
ressaltar, é ouvido durante todo o processo de pesquisa e é reconhecido como sujeito falante,
que expressa e que contribui, junto com o pesquisador, para a construção do saber. Isso
porque, segundo Freitas (1995),
o ato de fala e seu produto, a enunciação, não podem ser explicados somente
a partir das condições do sujeito falante, mas também não podem dele
prescindir. Tendo a enunciação uma natureza social, para compreendê-la
seria necessário entender que ela se dá sempre numa interação ( p. 28).
A metodologia sócio-histórica adota, segundo Freitas (2003), uma perspectiva
interpretativa, respeitando diferentes culturas como textos diversos que podem ser resgatados
através da interpretação construída na interação.
É importante ressaltar algumas características
apontadas por esta autora a respeito da
pesquisa qualitativa com orientação sócio-histórica:
43
A fonte dos dados é o texto (contexto) no qual o acontecimento emerge,
focalizando o particular enquanto instância de uma totalidade social.
Procura-se, portanto, compreender os sujeitos envolvidos na investigação
para, através deles, compreender também o seu contexto (Freitas, 2003: p.
28).
É, portanto, através dos textos destes professores que pretendi compreender seu
contexto, sua prática pedagógica: o trabalho com produção de textos na sua sala de aula e
também sua própria produção de texto.
As questões formuladas para a pesquisa não são estabelecidas a partir da
operacionalização de variáveis, mas se orientam para a compreensão dos
fenômenos em toda a sua complexidade e em seu acontecer histórico. Isto é,
não se cria artificialmente uma situação para ser pesquisada, mas vai-se ao
encontro da situação no seu acontecer, no seu processo de desenvolvimento.
(Freitas, 2003: p. 28).
Este aspecto também se tornou fundamental em minha pesquisa, visto que os dados
emergiram de uma situação real, as monografias de conclusão de curso do Projeto Veredas,
que tiveram como tema a produção textual.
O processo de coleta de dados caracteriza-se pela ênfase na compreensão,
valendo-se da arte da descrição que deve ser complementada, porém, pela
explicação dos fenômenos em estudo, procurando as possíveis relações dos
eventos investigados numa integração do individual com o social
(Freitas, 2003: p. 28).
Esta pesquisa buscou compreender e descrever o processo de produção textual dos professores
cursistas do Veredas, numa integração da pesquisadora com os sujeitos da pesquisa a partir de seus
discursos presentes em seus textos. Nesta pesquisa não foram apresentados dados estáticos e
44
inflexíveis, e sim textos passíveis de interpretação, que não é impessoal, mas realizada a partir de uma
interação entre a pesquisadora e seus sujeitos e mediada pelos textos. Essa interpretação, partida dos
discursos das professoras, busca compreendê-los na relação com o seu contexto social.
A ênfase da atividade do pesquisador situa-se no processo de transformação
e mudança em que se desenrolam os fenômenos humanos, procurando
reconstruir a história de sua origem e de seu desenvolvimento.
(Freitas, 2003: p. 28).
A partir desta pesquisa, percebi uma transformação do meu olhar de pesquisadora e,
conseqüentemente, este objeto passa a ser visto por mim de outra maneira.
O pesquisador é um dos principais instrumentos da pesquisa porque, sendo
parte integrante da investigação, sua compreensão se constrói a partir do
lugar sócio-histórico no qual se situa e depende das relações intersubjetivas
que estabelece com os sujeitos com quem pesquisa (Freitas, 2003: p. 28).
O critério que se busca numa pesquisa não é a precisão do conhecimento,
mas a profundidade da penetração e a participação ativa tanto do
investigador quanto do investigado. Disso resulta que pesquisador e
pesquisado têm a oportunidade para refletir, aprender e ressignificar-se no
processo de pesquisa (Freitas, 2003: p. 28).
Nesta pesquisa não houve um contato direto entre pesquisador e sujeito, mas um
diálogo a partir dos textos. Apesar disso, um envolvimento e uma proximidade grande
entre mim e meu objeto de pesquisa, o que me permite considerar-me instrumento de minha
pesquisa. Essa proximidade surge na medida em que realizei este trabalho a partir de meu
olhar, por ter trabalhado diretamente com este material, enquanto supervisora de monografia.
Há, por outro lado, um distanciamento, uma vez que tive, durante a pesquisa, um olhar já
distanciado devido ao projeto já ter chegado ao fim.
45
Esse distanciamento de meu objeto de pesquisa me permitiu ter um olhar exotópico. A
exotopia, etimologicamente, é formada pelo prefixo
ex
, que significa fora, e
topia
, lugar. Para
Bakhtin, a exotopia é o excedente de visão, o lugar extraposto. Este olhar me levou a ter, no
momento em que realizei essas correções, na conclusão do curso, uma percepção diferenciada
em relação àquela que tive quando entrei em contato pela primeira vez com as monografias do
Veredas. A partir deste distanciamento, de onde nasce minha pesquisa, uma inevitável
transformação na minha maneira de perceber meu objeto, as monografias do Veredas.
Além do distanciamento inevitável, a partir do término do curso, houve uma mudança
no meu olhar a partir dos objetivos, que foram definidos neste segundo momento norteados
pela questão de minha pesquisa. Além disso, levei em consideração neste caso também minha
formação, minhas interlocuções, enfim, meus diálogos com/pelo mundo até a realização desta
pesquisa, que definiram também meu olhar de pesquisadora.
Deste lugar de pesquisadora, concluída minha pesquisa, tenho como objetivo retornar
seus resultados para todos aqueles que estiveram envolvidos no Projeto Veredas, através da
escrita de artigos, em que serão divulgadas a análise dos meus dados e as possíveis
considerações que teci a partir deles.
Este meu olhar de pesquisadora deve ser considerado, uma vez que, de acordo com as
características da abordagem sócio-histórica, nota-se que a pesquisa de cunho qualitativo
ênfase à percepção do sujeito socialmente constituído.
Vygotsky (1998) se preocupa, ao discorrer acerca da pesquisa em psicologia, com a
concepção de homem enquanto ser social, histórico e cultural, procurando, portanto, construir
um método coerente com tal concepção. Assim, em sua psicologia, Vygotsky buscou
compreender o homem como sujeito único e indivisível, e a forma de perceber este sujeito
esteve presente também na busca de um método que a abarque.
46
A concepção de sujeito datado, inserido em um determinado contexto histórico-
cultural que o
constitui, extrapola os limites da psicologia e ganha força na pesquisa
qualitativa, não só por definir este olhar que se tem para o sujeito de pesquisa, mas pela visão
de construção de um conhecimento que se faz através da interação. Essa interação foi feita
através dos textos dos cursistas, por isso não posso afirmar que houve uma interação direta
com estes sujeitos, mas uma interação mediada por seus trabalhos monográficos.
Pretendi trazer para minha pesquisa esta perspectiva de sujeito ao ler as monografias
dos professores cursistas do Projeto Veredas, que carregam um pouco de suas histórias, além
de buscar compreender todo o processo de pesquisa como uma construção de conhecimento,
que se dará a partir da interação no interior do processo.
De acordo com a concepção do antropólogo norte-americano Clifford Geertz, segundo
a qual o pesquisador fala do seu lugar, o que mais me chamou a atenção foi essa distinção
entre no/do espaço. “No”, preposição “em” mais artigo “o”, diz do interior do espaço
pesquisado. “Do”, preposição “de” mais artigo “o”
diz do exterior, daquele que está com um
olhar de fora do campo de pesquisa (GEERTZ, 1989).
Essa distinção, pequena de grafema mas portadora de relevante significado, define o
olhar do pesquisador, o seu lugar. Diante de tal definição, apresentada por Geertz, pude
perceber que o mais importante da pesquisa não é o olhar que se tem do campo, mas estar no
campo sabendo que seu olhar é o de quem está nesse espaço e, ao mesmo tempo, tem o olhar
de fora, já que seu olhar é o do pesquisador.
O conceito de Geertz contribuiu para uma transformação do meu olhar de
pesquisadora na medida em que me permitiu ter um olhar para o meu
corpus
, apesar de estar
inevitavelmente de fora.
uma distância entre mim pesquisadora –, meu
corpus
, e meus sujeitos de
pesquisa, mas é fundamental perceber que posso vê-los de forma mais próxima. A quebra da
47
lacuna entre o eu e o outro, entre o eu e o campo possibilita este novo olhar em pesquisas
como a minha e a pesquisa se transforma em algo que faz parte de nossa vida, assim como
passamos a fazer parte do espaço que está sendo pesquisado.
Para tornar possível a coleta de dados, realizei um levantamento dos temas de
monografias dos professores cursistas do Projeto Veredas, conforme foi apresentado no
capítulo anterior, com a finalidade de visualizar aquelas que seriam selecionadas para minha
pesquisa dentre os 1808 trabalhos monográficos construídos na AFOR UFJF.
A coleta de dados foi feita através da análise documental realizada nas monografias
selecionadas cujo tema foi a produção de textos. Monografias que trazem múltiplas vozes de
diversos textos e pessoas que auxiliaram tanto diretamente no construto da monografia quanto
indiretamente, que o sujeito se faz através do outro, através do meio social e carrega
consigo, assim, múltiplas vozes.
O primeiro passo para a análise das monografias foi um levantamento feito através de
registros no site do Veredas (www.veredas.ufjf.br) que podiam responder à pergunta: Que
temas da linguagem despertam mais a atenção do professor?
Para selecionar as monografias que seriam analisadas, em um primeiro momento fiz
um levantamento dos temas pesquisados pelos cursistas do Veredas. Para este levantamento,
utilizei o site do Veredas que tem um sistema de busca a partir de palavras-chave. Após a
conclusão do curso com a entrega das monografias, houve um trabalho da secretaria do
Veredas para lançar todas as monografias no referido site, com as respectivas notas e
palavras-chave. A partir deste levantamento, os temas foram agrupados nas seguintes áreas:
aprendizagem, avaliação, comportamento, educação especial, educação inclusiva, estrutura,
formação continuada, linguagem, outras disciplinas, questões sociais, temas transversais.
Foram registradas no site 1808 monografias
11
. As monografias na área de linguagem
constituíram um total de 718. Dentre estas, considerei como objeto para minha pesquisa
11
Estes dados foram apresentados no capítulo 1.
48
aquelas que tinham como a primeira palavra-chave a produção de textos, tendo em vista que
esta primeira palavra definia o tema a ser pesquisado, e as seguintes, o recurso e/ou
procedimento utilizados para investigação da temática escolhida, conforme orientação da
coordenação para facilitar a pesquisa através deste banco de dados do site. Dessa forma, não
considerei como objeto da pesquisa aquelas monografias que apresentaram a produção de
textos como segunda ou terceira palavra-chave. Alcancei, assim, um total de 69 monografias
que buscaram investigar a produção de textos. Para selecionar, dentre estas, as monografias
que iria analisar, utilizei como critério terem mais de 70 pontos, que a média para
aprovação foi de 60 pontos.
Dentre as monografias que trabalharam com este tema, em Janaúba, somei um total de
26. Destas, 11 não chegaram a ser lançadas, pois na data da coleta, havia apenas as palavras-
chave no site; cinco tinham nota inferior a 70; três tiveram problemas no lançamento e, por
isso, não tive acesso a elas. As monografias de Juiz de fora somavam um total de 26. Destas,
cinco não haviam sido lançadas no momento da coleta. e cinco tinham nota inferior a 70
pontos. Na lista de Porteirinha, foram encontradas 16 monografias. Dentre elas, cinco no
momento da coleta não haviam sido lançadas, oito tinham nota inferior a 70 e uma, embora
lançada nesta categoria, fugia ao tema. O total foi somado em 25 monografias. Entre estas,
quatro continham a palavra-chave “produção de texto” equivocadamente, pois tratavam de
outro tema. Ficaram, assim, ao final, 21 monografias, com as quais trabalhei
Realizei essa análise documental, numa abordagem bakhtiniana, considerando-a como
um processo dialógico, estabelecendo uma relação de sentidos entre os enunciados na
comunicação verbal. Isso foi feito na tentativa de contribuir para a resposta das seguintes
perguntas norteadoras: Por que os professores se dedicam a tais temáticas? De que maneira os
autores compreendem a produção de textos?
49
Geraldi considera
a produção de textos (orais e escritos) como ponto de partida (e ponto de
chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da língua. E isto não
apenas por inspiração ideológica de devolução do direito à palavra às classes
desprivilegiadas, para delas ouvirmos a história, contida e não contada, da
grande maioria que hoje ocupa os bancos escolares. Sobretudo, é porque no
texto que a língua objeto de estudo se revela em sua totalidade [...] no
próprio processo de enunciação marcada pela temporalidade e suas
dimensões (GERALDI, 1991, p. 35).
Nesta definição de produção textual, destaco dois aspectos: 1) o aspecto ideológico,
que se realiza no direito de manifestar daquele que produz o texto; 2) 2) aquele mais amplo
que é o aspecto totalizante do texto, como uma manifestação mais ampla, determinada pela
temporalidade e suas dimensões. O que diferencia estes dois aspectos é a especificidade do
primeiro, que focaliza o singular apesar de este estar inserido no plural, e a generalização do
segundo, que, em contrapartida, abarca o primeiro.
Ainda de acordo com Geraldi, o discurso do sujeito, embora reflita uma certa
formação discursiva, articula uma visão de mundo. o é meramente uma reprodução do
ambiente que o influencia, mas uma criação, mesmo que do velho texto. A novidade está no
comprometimento do autor com seu texto, ou, de acordo com a concepção de Bakhtin (2004),
o sujeito reflete e refrata a sua realidade, sendo influenciado, mas deixando sua marca.
50
Os dois pontos acima indicados mais estes cinco aspectos, foram norteadores na
escolha de meus sujeitos de pesquisa, cujas concepções de produção de textos emergirão de
suas próprias produções textuais.
Pretendi compreender, portanto, os diversos sentidos atribuídos à produção de textos.
Os critérios que a definem, de acordo com a concepção que adotei através de meu referencial
teórico, foram descritos acima com o objetivo de esclarecer para o leitor de qual concepção
estou partindo, que meu olhar de pesquisadora não é neutro, segundo Bogdan & Biklen
(1994) e as características da pesquisa qualitativa de cunho sócio-histórico desenvolvidas por
Freitas (2003) e que foram apresentadas anteriormente. Além disso, considero importante que
haja uma perspectiva que permeie toda a análise realizada.
Para realizar, portanto, as análises das monografias, utilizei uma chave de leitura,
elaborada com base em minhas indagações, quais sejam: a) Qual a definição de produção de
textos para estes professores?; b) Por que escolheram este tema?; c) De que maneira
pretendem investigá-lo? e d) Como analisaram os textos de sua pesquisa e como produziram o
próprio texto a partir dos critérios definidos por Geraldi (1997) para se produzir um texto
13
A chave de leitura, elaborada com a finalidade de me auxiliar na compreensão do que
pretendia compreender a partir dessas monografias, contou, assim, com os seguintes critérios
de análise: a) Ter o que dizer; b) Ter uma razão para se dizer justificativa; c) Ser sujeito do
que diz; d) Ter para quem dizer; e) Escolher as estratégias (metodologia); f) O que é produção
de textos para o autor; g) Conclusão a que chegou achados; h) Relação com o Veredas; i)
Referencial teórico.
Fiz a leitura de todas as monografias preenchendo para cada uma delas uma ficha de
leitura com indicadores construídos a partir da chave de leitura descrita acima. Após todo esse
trabalho, fazendo uma re-leitura das 20 fichas, consegui definir três categorias de análise que
me auxiliaram na análise de dados. São elas: 1 o que os professores compreendem como
13
ver no capítulo 2, p. 40
51
produção de texto; 2 como os professores produzem seus textos; 3 a reflexão da prática a
52
4 – ANÁLISE DOS DADOS
Compreender é cotejar com outros textos e pensar
num contexto novo (no meu contexto, no contexto
contemporâneo, no contexto futuro). Contextos
presumidos de futuro: a sensação de que estou
dando um passo (de que me movimentei). Etapas
da progressão dialógica da compreensão; o ponto
de partida o texto dado, para trás os contextos
passados, para frente – a presunção (e o início) do
contexto futuro.
Mikhail Bakhtin
Debruçando-me sobre as monografias selecionadas, na tentativa de compreender quais
sentidos os professores cursistas constróem para a produção de textos a partir da elaboração
de seus trabalhos de conclusão de curso, pude formular três novas perguntas que me
auxiliaram na compreensão dessa questão.
Os desdobramentos de minha investigação foram materializados em três categorias: 1)
Como os professores compreendem produção de texto; 2) A reflexão da prática dos
professores a partir de suas pesquisas;. 3) Como os professores produzem seus textos.
Na primeira categoria, busquei os sentidos que os professores, interlocutores dessa
pesquisa, atribuíam à produção de textos, a partir da relação que estabeleciam com o material
didático do Veredas e suas concepções de produção de texto.
Na segunda, considerei importante a reflexão da prática tendo como referência a
elaboração dos trabalhos monográficos, já que este era um ponto fundamental para o Veredas.
Assim, procurei compreender se houve uma relação das definições que foram elaboradas a
partir do referencial teórico do curso e a maneira como se reflete, no texto monográfico dos
professores, o trabalho com produção de texto que realizam em sala de aula. As orientações
53
para as monografias salientavam a idéia de que os cursistas deveriam extrair de sua própria
prática a questão a ser pesquisada, desenvolvendo, a partir dela, uma reflexão.
Na terceira categoria, investiguei como os professores produzem seus textos tomando
como referência os princípios propostos por Geraldi, discutidos no capítulo 2 deste trabalho,
relacionando-os com as definições teóricas apresentadas pelos cursistas.
Os conceitos bakhtinianos de
interação verbal
,
enunciação e dialogismo
,
dos quais
me apropriei, auxiliaram na análise dos dados. A perspectiva vygotskyana, por sua vez, trouxe
contribuições a partir de seus pressupostos acerca da
relação entre
aprendizagem/desenvolvimento
, a importância da
mediação
, sua perspectiva sobre a
construção da escrita
e sua concepção acerca de
conceitos espontâneos e conceitos
científicos
. Além desses conceitos, apoiei-me em João Wanderley Geraldi, Angela Kleiman,
Maria da Graça Costa Val, Ingedore Villaça Koch, Luiz Carlos Travaglia e Marlene Carvalho,
teóricos da lingüística aplicada, que me auxiliaram na compreensão e na definição do binômio
linguagem/texto e seu lugar no cotidiano da sala de aula. Estes conceitos são fundamentais
para a realização da análise dos dados coletados a partir das monografias selecionadas do
Projeto Veredas.
54
4.1.1 – O texto/intertexto como enunciado e suas relações dialógicas
Com a leitura das monografias dos professh0.1793(f)232295585(i)d0(m)-12.4659(o)-0147792(e)3.74122(n)-4.33117(u)5.67474(n)-4.33117(cdo55059(o)-0996(s)-1.13565(s)-1.135.74122(n)4.99938679(a)3.84656(s)-1.i)-2.16436(25 s436(a)-0.295585(l)-2.16436(ó)-0.291õ(u)552555s)-1.io
55
Nessa visão totalizante, o homem se constitui a partir de suas relações sociais e a
linguagem se apresenta fundamental nessa constituição por possibilitar as interações entre os
sujeitos. Visto dessa forma, o humano se constitui através da linguagem ao mesmo tempo em
que a (re)cria.
As relações interpessoais que fazem com que o homem se constitua, depois de
internalizadas, possibilitam o diálogo intrapessoal, dando continuidade à rede de interações do
sujeito com/no mundo. Servindo à comunicação, a linguagem constitui a consciência
individual, enquanto influencia a vida social, econômica e política da coletividade. O sujeito
falante é, portanto, um ser social, não individual, que constrói seu discurso a partir de outros
discursos sociais que o precedem.
Por isso, segundo uma leitura bakhtiniana, podemos dizer que a linguagem é dialógica.
Se o homem se constitui como sujeito e adquire consciência através da linguagem, isso é feito
através de um diálogo ininterrupto. A comunicação, segundo Bakhtin, não pode ser vista fora
de uma situação em que se pressupõe haver um falante e um ouvinte. O sujeito, ao enunciar,
sempre estará se referindo a alguém, haverá sempre um ouvinte, mesmo que imaginário ou
em potencial, pois “a palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se
apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o
território comum do locutor e do interlocutor” (BAKHTIN, 1988, p. 113).
Em uma perspectiva dialógica, o homem que faz hoje uma enunciação, está
construindo um enunciado que dará voz a outros textos amanhã. Ao mesmo tempo, no
momento em que faz a enunciação, está trazendo, através de sua voz, diversas vozes de
diálogos entre textos e atores sociais. , pois, um contínuo e ininterrupto diálogo entre
textos.
Essa concepção de Bakhtim vai para além da linguagem, é uma concepção de sujeito,
na medida em que aquela é constituidora de subjetividade.
56
Vale ressaltar que o dialogismo para Bakhtin transcende o diálogo face a face,
existindo em duas instâncias: no encontro e embate de diálogos que se entrecruzam no interior
do texto (diálogo entre interlocutores) e na interação entre os diversos textos (diálogo entre
discursos). Trabalhei, portanto, com este segundo tipo de diálogo, que minha investigação
foi feita através dos textos dos professores.
O texto é visto nessa pesquisa numa perspectiva dialógica, e podemos compreendê-lo
dessa maneira a partir das palavras de Geraldi:
No quadro de uma concepção sóciointeracionista da linguagem, poder-se-ia
propor uma compreensão do processo de elaboração de textos como uma
forma, materializada na língua, de “retorno” ao interindividual do que se
tornara intra-individual. Neste sentido, o trabalho do locutor (na fala e na
escrita) é sempre um trabalho conjunto, embora materialmente realizado por
um indivíduo, revelando um movimento contínuo e recursivo entre inter-
intra-inter-individual (GERALDI, 1996, p. 137).
Nesse sentido, encontramos
uma citação de Pondé e Maria Riche (2002) em uma
monografia, afirmando que “um texto não se cria isoladamente, porque ele se apropria de
imagens e trechos de outros textos, num processo dialógico de intertextualidade(PONDÉ &
RICHE, 2002, p. 43).
Outros professores ressaltam o aspecto dialógico nos textos dos alunos na medida em
que se constituem a partir da interação entre diversos textos.
Marli
14
, cursista do projeto Veredas,
que pontuou a importância de o aluno ter contato
com diversos textos, traz contribuições para essa discussão, acrescentando que
para aprender
a escrever é necessário deixar que o aluno tenha acesso a diversos textos. A utilização de
materiais diversos como jornais, filmes e música, faz o aluno sentir-se inserido no mundo à
sua volta”
.
14
Os nomes dos professores são fictícios no intuito de preservar a sua identidade.
57
Esta idéia é reforçada por
outra professora ao afirmar que “produzir textos corretos e
58
o produtor do trabalho de produção se oferece ao leitor, e nele se realiza a
cada leitura, num processo dialógico cuja trama toma as pontas dos fios do
bordado tecido para tecer sempre o mesmo e outro bordado, pois as mãos
que agora tecem trazem e traçam outra história (1991, p. 166).
A escola exerce um papel fundamental ao promover o diálogo do aluno entre diversas
leituras e sua produção textual, na tentativa de levá-lo a tecer novos textos a partir de suas
histórias.
De acordo com Claude Duchet (1971), não existem textos “puros”. Os textos só
existem em relação a outros textos anteriormente produzidos, seja em conformidade ou em
oposição a um esquema textual preexistente, mas sempre em relação a eles. Por isso o aluno
deve ter acesso a outros textos, a diálogos, temas e discussões, pois é destes outros textos que
surgem suas idéias, que não são cópias, são novos textos, originais, mas que nascem a partir
de idéias que o antecedem.
Nesse sentido, o professor cursista Samuel
afirma que, para que os alunos possam
produzir textos e alcançar os objetivos, é preciso partir de seus conhecimentos prévios, ter
uma finalidade para escrever.
Podemos observar que os professores estabelecem uma relação direta entre leitura e
escrita, ressaltando a importância de os alunos entrarem em contato com diversos textos.
Trabalham nessa perspectiva, muitas vezes, porém, sem conceber a dimensão proposta por
Bakhtin. A leitura prévia atua na sala de aula como um modelo para a produção textual dos
alunos.
Um exemplo disso é
a afirmação de
Márcia, estabelecendo uma relação direta entre
leitura e escrita e afirmando que ler e escrever são atividades complementares. Segundo ela,
os bons leitores têm grande facilidade em escrever, que “a leitura fornece a matéria-prima
para a escrita. Quem mais dispõe de um vocabulário mais rico e compreende melhor a
estrutura gramatical e as normas ortográficas da Língua Portuguesa”.
59
A leitura, nesse caso, se apresenta como modelo de escrita, o que remete à utilização
do texto como metalinguagem
15
. Isso nos leva a compreender que, apesar de assinalar o
aspecto dialógico do texto, afirmando que as produções textuais nascem da relação com
outros textos, a professora não abarca todo o significado de dialogismo. Diferente disso, essa
profissional da educação tangencia, mas não internaliza o conceito.
Observei também que as leituras realizadas pelos alunos são vistas como elementos
que promovem a interação.
A idéia de interação é trazida pelo Veredas como uma mensagem recebida ou enviada
que promove a interação (SEE, 2002d). Esta concepção adotada pelo material didático do
curso pontua que o texto não tem significado exclusivamente por si mesmo, sendo seu sentido
construído pelo produtor e pelo leitor, que precisa deter o conhecimento necessário à sua
interpretação. Uma leitura conduz o leitor a uma experiência do outro que o transforma. Dessa
forma, a leitura é também produção de conhecimento. O texto se constitui, assim, no processo
de interação com o leitor. Numa linha de continuidade, este material enfatiza o caráter de mão
dupla da linguagem, da interlocução. Dessa forma, apresenta o interlocutor como elemento
ativo, uma vez que produz significado e reage ao enunciado (SEE/MG, 2002e).
A professora Andrea
buscou estabelecer esse diálogo entre textos a partir da contação
de histórias e pontuou o aspecto interativo da escrita ao afirmar que
escrever é interagir. E interage aquele que tem algo a dizer, a quem dizer,
por que dizer e para quem dizer. A criança deve adquirir progressivamente
uma competência em relação à linguagem a fim de solucionar problemas
cotidianos, ter acesso aos itens culturais e alcançar a liberdade de uma
participação no mundo letrado, para que possa assumir a sua própria palavra
produzindo textos coerentes, coesos e eficazes.
15
Este conceito será discutido no item 4.2.
60
Para cumprir sua função sociocomunicativa, o texto em sua recepção e produção deve
ter uma série de propriedades que definem seu sentido e que fazem parte do contexto
sociocultural em que ele é produzido e em que ele é lido. Essas propriedades garantem que o
texto se forme e seja compreendido como um todo significativo. Essa perspectiva é adotada
por Val (1999), que compreende o texto como uma ocorrência lingüística falada ou escrita, de
qualquer extensão, dotada de unidade sociocomunicativa, semântica e formal.
Dando continuidade a este pensamento,
encontramos a seguinte afirmativa:
Considera-se texto tudo aquilo que consegue expressar idéias, sentimentos,
pensamentos e emoções, com o objetivo de comunicação. Frases, orações,
conjunto de idéias, histórias, poemas, bilhetes, cartas, avisos, anúncios,
anotações. Escrever é uma habilidade que se adquire com o exercício e o
tempo e torna-se fruto das atividades desenvolvidas pelo aluno em sua vida
social e a escola. Forma sua maneira individual de perceber e construir o
mundo em que vive, expondo idéias, sentimentos e opiniões (IVANA
).
Carvalho (2005) está de acordo com esta perspectiva e, a este respeito, define texto
como “uma unidade significativa, uma passagem que faz sentido. Pode ser curto ou longo:
uma frase ou uma oração que expressa um significado completo podem ser um texto”
(CARVALHO, 2005, p. 49).
Esta maneira de compreender o texto é bem ilustrada por Carvalho (2005) através da
metáfora do tecido. A autora, a partir das raízes das palavras texto e tecer, define esta primeira
se remetendo à idéia que temos de tecido. As palavras soltas, desconexas, não formam um
texto, assim como os fios soltos não formam um tecido.
A função da linguagem é a interação, por isso deve ser vista a partir de seu
significado. O texto é tudo aquilo que porta significado completo no interior de seu contexto,
se remetendo a ele. Por isso o texto torna-se central no processo de aquisição da língua. A
linguagem, dissociada de seu aspecto significativo, passa a nada representar, perde sua
61
função. Por isso, na aquisição da linguagem, o texto, como portador de significado, é central.
Podemos considerar, nas palavras de Geraldi (1991), “a produção de textos (orais e escritos)
como ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de ensino/aprendizagem da
língua” (p. 135).
4.1.2 – O texto como unidade básica no ensino de línguas
Adepto desta percepção de Geraldi, o material didático do Veredas defende que o
texto deve ser o centro dos estudos da língua, já que a linguagem, para além de estabelecer a
comunicação, é uma forma de interação (SEE/MG, 2002e).
Este diálogo intertextual, em suas diferentes formas, possibilita ao aluno produzir seu
texto dando continuidade a uma rede dialógica. Segundo Geraldi e Citelli (1997),
Conceber o texto como unidade de ensino/aprendizagem é entendê-lo como
um lugar de entrada para este diálogo com outros textos, que remetem a
textos passados e que farão surgir textos futuros. Conceber o aluno como
produtor de textos é concebê-lo como participante ativo deste diálogo
contínuo: com textos e com leitores (1997, p. 22).
Numa linha de continuidade, Márcia acrescenta que
Se o objetivo é que o aluno aprenda a produzir e a interpretar textos, não é
possível tomar como unidade sica de ensino nem a letra, nem a sílaba,
nem a palavra, nem a frase que, descontextualizadas, pouco têm a ver com a
competência discursiva, que é questão central. Dentro desse marco, a
unidade básica de ensino só pode ser o texto [...].
62
Neste sentido,
Cíntia
utilizou o poema para que os alunos produzissem seus textos de
forma interativa e sintetiza bem esta idéia ao afirmar que,
considerando a função social da
escrita, o texto torna-se o centro do trabalho no processo de aquisição da língua”.
A escola tem, pois, um papel fundamental na formação de leitores competentes e,
conseqüentemente, de produtores de textos, na medida em que pode incentivar o contato dos
alunos com diferentes leituras e buscar os conhecimentos prévios dos alunos de forma
significativa. O texto, se opondo à idéia de leitura como modelo ou motivação que foi trazida
por uma professora, trabalhado em sala de aula de forma significativa e prazerosa pode
despertar o aluno para a produção textual, promovendo o diálogo entre os diversos textos.
Segundo Carvalho, “não se ensina a gostar de ler por decreto, ou por imposição, nem se
forma letrados por meio de exercícios de leitura e gramática rigidamente controlados. Para
formar indivíduos letrados, a escola tem que desenvolver um trabalho gradual e contínuo”
(CARVALHO, 2005, p. 67)
Este trabalho deve ser feito através do incentivo à leitura, buscando trabalhar o texto
com os alunos de maneira significativa. As crianças, que estão em contato diário com o
mundo letrado, têm contato com diversos tipos de textos e tentam, desde muito cedo,
compreender estas informações e interagir com elas. A escola deve promover este diálogo,
ampliando as possibilidades de o aluno transitar no mundo a partir do código letrado, sem que
o texto seja apresentado de forma descontextualizada de sua realidade, de maneira
fragmentada e não significativa.
Para que isso não aconteça, a professora cursista Andrea
sugere que “as atividades
propostas pelo professor devem desencadear ações concretas de produção em que a criança
escreve sempre para um interlocutor: colegas, professor ou alguém fora da escola”.
A partir
desta vivência, trabalhando e compreendendo o texto como portador de significado, tendo o
63
que escrever, para que escrever e para quem escrever, as normas são internalizadas de forma
natural. Neste sentido, ainda de acordo com Andrea,
a criança vai internalizando as particularidades do código da norma culta que
será apresentada, mas que não desfavorecerá o potencial lingüístico que leva
consigo ao entrar na escola. Muitas vezes a criança apresenta seus textos em
uma única versão, sem anteriormente ter feito um esboço do que vai
apresentar. É necessário que ela perceba a provisoriedade dos textos e então
rascunhe o que está pensando e assim reflita sobre o que está produzindo,
analisando todo o processo de escrita e reescrita.
É fundamental, a partir destas premissas, vermos a importância dos conhecimentos
prévios dos alunos e o papel do texto em sala de aula, já que o texto não se faz a partir de uma
voz unívoca, mas de diversas vozes sociais. As diversas leituras e os diferentes diálogos
oferecem ao aluno subsídios para se expressar, trazendo para o seu discurso elementos de seu
contexto.
A leitura prévia não é, portanto, o único elemento que garante a boa produção textual
dos alunos. Os professores devem incentivá-los trabalhando o texto de forma significativa,
que, como foi dito anteriormente e reforçado pelas falas dos professores, o texto, dissociado
de seu aspecto significativo, nada representa, perde sua função.
De acordo com a concepção do Veredas (SEE/MG, 2002f) ler e escrever são
atividades culturais e devem, por isso, ser desenvolvidas a partir de sua função social. No
trabalho com a produção de textos na escola, é fundamental que os alunos tenham objetivos
para escrever.
A leitura é vista, pois, pelo Veredas, como uma forma de interlocução, onde ocorre o
encontro entre sujeitos, marcado por condições sociais e históricas. Nesse processo de
interação é fundamental que se tenha um objetivo para cada leitura,
uma definição do objeto
de quem escreve. O objetivo de cada produção de texto deve ser baseado no assunto, no
64
possível leitor e nas circunstâncias que envolvem a interlocução. A partir daí, é possível
escolher o tipo de texto a ser produzido e sua forma.
Por isso, é necessário que o professor crie esta situação de forma clara para o aluno,
oferecendo um objetivo e um auditório que pode ser, segundo Vygotsky (1993), imaginário,
65
[...] a produção de textos na escola foge totalmente ao sentido de uso da
língua: os alunos escrevem para o professor (único leitor, quando lê os
textos). A situação de emprego da língua é, pois, artificial. Afinal, qual a
graça em escrever um texto que não será lido por ninguém ou que selido
apenas por uma pessoa (que por sinal corrigirá o texto e dará nota para ele)?
(GERALDI, 1997, p. 65).
Neste sentido, Geraldi faz uma distinção entre redação e produção de textos que é
trazida por uma professora:
Geraldi (1995, p. 22-23) descreve a diferença entre o que se escreve na
escola e o que se escreve na sociedade de um modo geral, insistindo que
existe uma diferença entre redação e produção de textos. Ele afirma que a
redação é fruto de uma prática escolar tradicional. É o resultado de
condições de produção desfavoráveis, em que o aluno é descaracterizado
como sujeito e se vê obrigado a um uso reprodutivo da linguagem, um mero
exercício de preenchimento de folha em branco, de acordo com um modelo
prévio, com o objetivo de obtenção de notas. A produção de texto é outra
coisa: constitui um uso efetivo da escrita, nas suas funções legítimas. Um
texto estabelece uma relação de interação entre sujeitos de linguagem,
configurando-se como diálogo entre interlocutores ausentes, cujo sentido
resulta do trabalho desses interlocutores. (JOANA)
De acordo com a leitura que realizei das monografias, o texto é visto pelos professores
como enunciado que promove a interação e nasce de um processo interativo, a partir de um
diálogo com outros textos que o precedem, apesar de esses professores nem sempre
alcançarem a dimensão do que isso significa. A produção textual dos alunos, respeitando as
abrangências do significado de um texto, deve ser incentivada considerando seus
conhecimentos prévios, reconhecendo a importância de diversas leituras e promovendo este
diálogo com novos textos.
66
Esta perspectiva é defendida teoricamente pelos professores cursistas, que apontam
também que nem sempre ela é trazida para o cotidiano da sala de aula. Faz-se necessário,
portanto, compreendermos de que maneira a produção textual vem sendo trabalhada por estes
professores no interior das escolas públicas mineiras.
4.2 – Como se revela nas monografias o trabalho dos professores com produção de textos
na sala de aula
A concepção de monografia adotada pelo Projeto Veredas é a de que as questões de
pesquisa deveriam emergir das práticas pedagógicas. Por conta disso, acredito que é
fundamental uma reflexão desta prática. Assim, como disse anteriormente, essa foi a
justificativa do meu interesse em tecer uma reflexão sobre este tema.
As indagações, os problemas ou as dificuldades encontradas pelos professores em suas
práticas docentes, de onde emergiram suas questões de pesquisa, devem ser vistos com um
outro olhar a partir da realização da pesquisa monográfica. Busquei compreender, no interior
das monografias, de que maneira os professores cursistas trabalham produção de textos em
sala de aula e que reflexão conseguem realizar sobre sua prática, ou seja, estabelecer uma
relação desta conduta com as concepções teóricas adotadas por eles.
Nesta análise também se faz presente o conceito de dialogismo de Bakhtin que foi
trabalhado em outros momentos e que norteou todo o meu trabalho, visto que é fundamental o
diálogo entre a teoria e a prática desses professores.
Outro conceito norteador desta pesquisa e que se faz presente nesta análise é o de
mediação semiótica de Vygotsky, segundo o qual poderíamos considerar estes trabalhos
monográficos como elementos mediadores entre seus autores e suas práticas, tentando
67
estabelecer um elo entre ambos, visto que os problemas de sala de aula geram as questões de
pesquisa e o desenvolvimento desta pesquisa provoca uma reflexão desta prática. Há,
portanto, uma relação de duas vias entre a prática desses professores e seus trabalhos de
pesquisa. Uma relação inter/ intra/ interpessoal.
Além destes conceitos, trabalhei aqui, também, a relação entre desenvolvimento e
aprendizagem proposta por Vygotsky.
Ao compreendermos o desenvolvimento como conseqüência da interação social,
podemos perceber um papel essencial na instituição escolar como um ambiente constituidor
do indivíduo e do professor que faz a mediação do processo ensino/aprendizagem e,
conseqüentemente, o papel das monografias de conclusão de curso, na medida em que estas
possibilitam uma reflexão da prática.
É interessante observar que no conjunto das monografias analisadas, apenas duas
tiveram como objetivo investigar como a produção de textos vem sendo trabalhada nas
escolas. Essas duas monografias apontaram, de diferentes maneiras, a dificuldade dos
professores em trabalhar com a produção de textos. Essa dificuldade, por sua vez, mostrou-se
presente nas outras monografias analisadas. O trabalho com a produção de textos, como
descrito nas monografias, se apresentou como bastante difícil para os professores e, por isso,
viram na possibilidade de elaborar essas monografias uma oportunidade para buscar um
método, um recurso que os auxiliasse nesta tarefa.
Pude surpreender, com a leitura dessas monografias, como a produção de texto
acontece nas salas de aula desses professores cursistas identificando os diferentes recursos
que utilizaram como estratégia ou método para este trabalho com seus alunos.
Entre estes recursos, que foram utilizados pela maioria dos professores, consegui
identificar o uso de: a) textos diversos, como histórias em quadrinhos, literatura; b) recursos
lúdicos, como as gravuras e as dobraduras e c) manifestações artísticas como o teatro e a
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música. A partir desses recursos apresentados pelos professores, organizei-os em três grupos:
4.2.1 textos como elementos mediadores; 4.2.2 textos usados como metalinguagem; e
4.2.3 – fuga ao texto.
4.2.1 – Os textos como elementos mediadores
Para refletir sobre produção de texto a partir de recursos mediadores apresento o
conceito de mediação semiótica de Vygotsky. Este conceito possibilita entender que o
desenvolvimento das funções elementares em superiores é feito através de processos de
mediação. A relação do sujeito com o mundo deixa de ser direta e se torna essencialmente
mediada. O conceito de mediação é central na teoria de Lev Vygotsky. É através dela que o
sujeito é constituído, construindo as funções mentais superiores que o diferenciam dos
animais que possuem funções mentais elementares. A mediação, segundo Pino (1991), é
um instrumento conceitual extremamente adequado para possibilitar que avance um
pensamento psicológico cujo postulado fundamental é que as funções psíquicas humanas têm
sua origem nos processos sociais.
Na concepção de Vygotsky, a mediação é feita através de dois elementos: o
instrumento e o signo. Vygotsky apresenta o seu conceito de instrumento a partir da relação
do trabalhador com os seus objetos de trabalho (ferramentas, instrumentos construídos pelo
homem, etc.), que ampliam as possibilidades de transformação da natureza. O segundo
elemento, ao qual me debrucei neste trabalho, funciona à semelhança do instrumento, mas
agindo internamente no indivíduo. Analogamente, funciona como o primeiro elemento, porém
no campo psicológico. A mediação internalizada ocorre quando o homem não utiliza
objetos
externos, concretos. O signo passa a ser uma imagem, um conceito, uma idéia. (Vygotsky,
1991).
De acordo com Vygotsky,
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a diferença mais essencial entre signo e instrumento, [...] consiste nas
diferentes maneiras com que eles orientam o comportamento humano. A
função do instrumento é servir como um condutor da influência humana
sobre o objeto da atividade [...]. O signo, por outro lado, não modifica em
nada o objeto da ão psicológica. Constitui um meio da atividade interna
dirigido para o controle do próprio indivíduo; o signo é orientado
internamente
(1991, p. 62).
O signo, apreendido externamente para depois ser internalizado, é compartilhado por
um grupo social, funcionando como um “código” para a interpretação do mundo.
A linguagem, signo por excelência, segundo Bakhtin (
apud
Freitas, 1995), é, pois,
apreendida através do convívio social e, depois de internalizada, utilizada na organização do
próprio pensamento. As relações do homem com seu meio são, desde o seu nascimento, cada
vez mais mediadas e menos diretas. As funções superiores passam, portanto, a predominar em
relação às elementares, progressivamente. A linguagem funciona como a principal via
mediadora entre o sujeito e o mundo. De acordo com a concepção de Vygotsky, ela não atua
somente como uma ponte. Enquanto faz a mediação entre o eu e o mundo, atua na
constituição do sujeito (FREITAS, 2002).
Como conseqüência dessa perspectiva social e do papel que nela ocupa a linguagem,
Vygotsky (1991) defende a idéia da palavra como elemento mediador fundamental.
Analisando as monografias, encontrei a seguinte definição do papel do elemento
mediador: “a presença de elementos mediadores introduz um elo a mais nas relações
organismo/meio, tornando-as mais complexas. Ao longo do desenvolvimento do indivíduo as
relações mediadas passam a predominar sobre as relações diretas” (LETÍCIA).
Visto desta maneira, percebi que as cursistas concebem os recursos utilizados como
elementos mediadores, por intermediarem a relação do aluno com o texto a ser por ele
produzido. A mediação semiótica compreende, porém, que haja por parte do sujeito uadteuj
70
internalização de questões apreendidas culturalmente, mas esse aspecto não é considerado
pelos professores.
Além disso, outros professores utilizaram a leitura diversificada que é a
nomenclatura por eles utilizada para designar diferentes gêneros textuais como elemento
mediador para despertar a criatividade e a imaginação na escrita de seus textos. A imaginação
é considerada por Vygotsky como uma função superior e vital do cérebro. Essa função se
desenvolve à medida que o sujeito adquire maior experiência e contatos com diferentes
elementos do mundo. Neste sentido, Vygotsky afirma:
La actividad creadora de la imaginación se encuentra em relación directa
com la riqueza y la variedad de la experiência acumulada por el hombre,
porque esta experiência es el material com el que erije sus edifícios la
fantasia. Cuanto más rica sea la experiência humana, tanto mayor seel
materal del que dispone esa imaginación (Vigotskii, 1982, p. 16).
A professora Andrea
buscou despertar a imaginação e a fantasia de seus alunos a partir
da contação de histórias. Justifica sua escolha, ao afirmar que:
Se as crianças escutam histórias desde pequenas, provavelmente gostarão de
livros e descobrirão neles uma fonte de satisfação. A história é importante
enquanto alimento da imaginação e curiosidade. Trabalhando com histórias
para as crianças, o professor também abre as portas da sala de aula para a
descoberta do mundo e a convivência com o texto escrito.
A contação de histórias se constitui como elemento mediador do processo de escrita
dos alunos na medida em que estimula a criatividade da criança a partir do texto. O contato
com a leitura da história traz elementos que, internalizados, ampliam a capacidade
imaginativa do leitor. Essa experiência é adquirida a partir dos elementos significativos do
texto, possibilitando ao leitor ampliar a imaginação que é uma função psíquica superior. Além
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disso, a imaginação é a base da formação dos sujeitos criativos.
Foi pensando na criatividade textual que a professora Letícia selecionou como
elemento mediador as histórias em quadrinhos. Segundo ela, “através dos desenhos e dos
diálogos, a criatividade fica mais acentuada, proporcionando à criança diversão e
encantamento”
.
E acrescenta:
Nesse sentido as Histórias em Quadrinhos podem ser consideradas como um
instrumento mediador entre o aluno e a produção de texto. Através da leitura
das histórias em quadrinhos a criança passa por momentos de diversão que
ampliam suas possibilidades de idéias que poderão ser utilizadas na
produção de texto.
Apesar de as histórias em quadrinhos serem um gênero textual, a professora o utilizou
como elemento mediador a partir de seu aspecto lúdico.
A Literatura Infantil, que pode ser considerada como um gênero textual, foi utilizada
como elemento mediador por uma das cursistas. Nesse sentido,
a professora Edna
afirma que
a literatura infantil pode ser vista também como manifestação artística e lúdica da linguagem.
Lúdica por utilizar a metáfora, que consiste num jogo de linguagem que transfere o
significado de uma determinada palavra para outra. Artística por ser uma fonte de
enriquecimento, um meio saudável que ensina desenvolvendo idéias conscientes ou
inconscientes, levando a mudanças na maneira de pensar, de ser, de agir, aumentando os
valores do indivíduo.
A literatura, além dos aspectos lúdico e artístico, é vista como um (inter)texto que
dialoga com a produção dos alunos. Nesse sentido, uma monografia
que
aborda o aspecto
dos conhecimentos prévios a partir da literatura infantil
como um elemento desses
conhecimentos. Este recurso é visto também por um outro professor como um artifício que
pode auxiliar na escrita do alunos, na medida em que estimula o seu interesse.
72
A partir dessa perspectiva, podemos encontrar afirmações que contribuem para essa
discussão, como:
É preciso ver a criança como um sujeito construtor de conhecimentos. No
momento em que entra em contato com a escrita através da interação com
pessoas que lêem e escrevem, começa a elaborar noções básicas da função
social da escrita, como por exemplo, comunicação, registro e fazer
(CINTIA).
Dessa forma, a criança é vista de maneira ativa, interagindo com o texto e trazendo
conhecimentos prévios para esse diálogo. Nesse processo, a literatura pode ser vista como um
intertexto, interagindo com as produções textuais dos alunos. A literatura auxilia nesse
processo, na medida em que “ao ler uma história a criança também desenvolve todo um
potencial crítico. A partir daí ela pode pensar, dividir, se perguntar, se questionar. Pode se
sentir inquieta, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se pode mudar de opinião”
(RUTH).
Despertando a criança, desenvolvendo seu potencial crítico e levando-a a novas
indagações, a literatura infantil atua como elemento mediador para que ocorra a elaboração de
novos textos. Porém, a literatura nem sempre é empregada pelos professores como elemento
mediador. Assim como outros gêneros textuais, pode atuar como modelo de escrita para os
alunos, sem que haja, por parte deles, uma apropriação dos elementos que a compõem. São os
textos utilizados como metalinguagem.
73
4.2.2 – O texto como metalinguagem
Um exemplo do uso da literatura infantil como metalinguagem pode ser visto na
seguinte afirmação:
A recriação de textos literários é um recurso para o progresso do educando
na produção de textos, pois tendo o suporte da literatura infantil, ele escreve
o seu próprio texto acrescentando e modificando os fatos da história,
acrescentando ou subtraindo os personagens ou contextualizando a história
escrita, que mostra uma outra época, um outro costume, com a realidade ou
contexto de hoje (ELISA).
Podemos aqui perceber que a literatura, embora possa contribuir para a escrita dos
alunos, não foi empregada como elemento mediador, e sim como metalinguagem. Isso pôde
ser observado em relação a outros trabalhos, embora apresentem seus recursos como
elementos mediadores. Um outro exemplo é a monografia que,
citando o PCN, afirma que
a
leitura, por um lado, nos fornece a matéria-prima para a escrita: o que escrever. Por outro,
contribui para a constituição de modelos: como escrever”
(PCN, 1997, p. 53).
Além disso, a leitura é vista como motivadora da escrita, conforme o relato
:
A escrita se diferencia de outras formas de representação, não porque
induz à leitura, mas tamm porque essa leitura é motivada, isto é, quem
escreve, pede ao leitor que faça a interpretação do que está escrito para
realização do que a escrita está indicando (NATÁLIA).
As leituras diversificadas são vistas por estes professores como um elemento que
oferece ao aluno subsídio para se ter o que escrever, como escrever e para que escrever. No
74
contexto lingüístico chamamos isso de metalinguagem. Isso fica claro nas palavras de uma
professora: “produzir textos corretos e bem escritos é resultado tanto da leitura de muitos e
diferentes textos e também da motivação sobre o ato de redigi-lo” (OLÍVIA).
Kleiman (2004) discorre acerca do uso do texto como metalinguagem no interior das
escolas, trazendo contribuições fundamentais para essa discussão, ao afirmar que no contexto
escolar “a atividade de leitura é difusa e confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um
pretexto para cópias, resumos, análise sintática, e outras tarefas do ensino de língua” (p. 30).
As professoras, neste caso, não utilizam o texto com seus elementos que lhe são
inerentes, mas como um pretexto para trabalhar a produção textual com os alunos. A ação do
leitor foi caracterizada por Kleiman (2004) da seguinte forma: “o leitor constrói, e não apenas
recebe, um significado global para o texto; ele procura pistas formais, antecipa essas pistas,
formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões” (p. 65).
Há, portanto, uma interação a distância entre leitor e autor em que as idéias, conceitos,
indagações deste são decodificadas e ressignificadas por aquele. Dessa forma, o texto pode ser
visto como elemento mediador, uma vez que o leitor tornará “intra” aquilo que é “inter”, para
depois, ao redigir seu texto, torná-lo “inter” novamente. Este movimento de internalização de
elementos externos, que é visto por Vygotsky o de maneira individual, mas coletiva, é que
pode ser considerado como mediado.
As professoras, que trabalham o texto como metalinguagem, empregam os recursos
em sala de aula como um elemento facilitador para se trabalhar um texto. Este elemento pode
ser visto como um instrumento externo, mas não como signo, na concepção vygotskyana,
como foi discutido anteriormente. Isso porque esses textos são trabalhados no cotidiano
escolar como modelo para se escrever um texto, mas não uma incursão nos elementos
lingüísticos/argumentativos do texto/recurso.
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Ao empregarem o texto como metalinguagem, as professoras não exploram os
aspectos significativos presentes no seu interior. O leitor, ao entrar em contato com o texto,
formula hipóteses a partir do título, da fonte e das ilustrações, de acordo com o que foi dito
por Kleiman anteriormente. Estas expectativas podem ser confirmadas ou refutadas com a
leitura. Assim como, a partir da leitura, podem ser identificados os tópicos presentes nos
parágrafos, a tese central do texto, seus argumentos e contra-argumentos.
Outro aspecto interessante que pude identificar na leitura dessas monografias é que os
professores entraram em contato com um referencial teórico e tentaram se apropriar de seus
conceitos, mas estes não foram internalizados. Por isso, ora eles apresentam o conceito de
mediação, o estudo do texto a partir do texto, o texto como forma de interação, o diálogo
intertextual, ora retornam para suas concepções anteriores, recorrendo ao texto como pretexto
para se trabalhar a produção textual e buscando conceitos (como a motivação) que são
próprios da pedagogia que enfatizava os aspectos da incentivação e motivação. Num período
da história da nossa educação, que ocorreu por volta dos anos setenta, em que os professores
se preocupavam em buscar recursos didáticos para incentivar – aspectos externos e motivar
aspectos internos os alunos na aprendizagem. Nesta época houve uma grande ênfase nos
recursos didáticos. Acreditamos que venha daí a crença de muitos educadores de que se deve
usar muitos materiais como acreditam alguns professores investigados nessa pesquisa
como gravuras e dobraduras (origami). Essa concepção vai de encontro ao embasamento
adotado teoricamente por eles.
Para melhor compreensão, podemos recorrer à idéia de Vygotsky de conceitos
espontâneos e conceitos científicos apresentada por Moll:
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Os conceitos espontâneos são categorias antológicas que formam a base das
teorias sobre o mundo, intuitivas e próprias a cada indivíduo. Essas teorias
desenvolvem-se informalmente como produto das experiências de vida do
indivíduo, alheias à escolarização formal em corpos sistemáticos de
conhecimento (1996, p. 264).
Por outro lado, os conceitos científicos são
sistemas de relações entre objetos definidos em teorias formais. Os conceitos
científicos são formulados pela cultura, e não pelo indivíduo. Os indivíduos
adquirem conceitos científicos por intermédio da instrução, num processo de
transmissão cultural (MOLL, 1996, p. 264).
Visto dessa forma, os professores cursistas ora rec
77
Compreendido dessa forma, podemos perceber que os professores não utilizaram os
conceitos verdadeiros, transitara.1793(u)-0..174622()656(r)2.88431( )-130.133(q)-10.1793(u3(q)-10.1793(u)-0.175843(p)]TJ279.293 0 TdQQq8.33333 0 0 8.33333 0 0 cm(q)-10.1793(u)-0.175843(p)]TJ279.293 08QQq8.3)n10979(l)-2.0914412(m)-2.2714412(m)-2.2714412(m)-/QQQQQ7ar130.133(d)-0.175146(e0.1793(u3(Q7)(a)3.84656(QQQQQ.1751(m)-/.174622(e)3.8453QQQQQQ.17/.88675(a)3QQQ7)(a)3.84689Q211111111119534(r)2.88431(a)3.8454412(m)-2.231(m)-/.17-0.175843(p)]TJ279.293 074622(m)-241n 1 53843(s)-)-0.174622Q1111111119534(r)2.88431(a)3.845n 1 53d3.84656(r130tmbW3)-2.2714412(m)-/b1700.174622(d)-0.174622(i)-2.0979(d)-0.8311)-0.174622(i)-2.09796640.174622(i)-2.3(11019(a)3.84656(n)-0.174622(s)-1.13687(i)-2.-0.174622(i)-2.09796640.174622(i)-2.3(11019(58(s)-E9(a)3.8j5Ms)-E9(a)3.8j5Ms)-E9(.13565( )-130.133(p)-0.1v)2.88675(a)3.84412(mQ7)1Q6E9QQ]216n.0914(t)-2n9 3)Q93(o)-0.175843(s)-1.13551TJ-314.97Q034(z)-6.15938(a)3.8.3247a-1.135Q2111111234622(r)-7.11l raltltrldu3(Q803r)2.88431(d)8172.27375(o).126za03r-2.0979(d)-0.174622(o)6iia3 (i)-29(a)3.8l75133(q)-10.6Q6E9-1.1ç179.293 0830ü7-0.175146(e)-0.175146(e)-0.17519175843(t)-2.0-0.175146(e)-0.175141-0.-2.0v(t)-2.09795843(t)-2.(t)-2.09795843(t)10-]2165Q211111120c9(a)36m6.12 Tm[(C)-3.23478(9Qof9(a)3.8l7.091474622(i)-2.09a)3.8lQQ(.1)-0.175141365653“0eiaaeiqi36m 9.175146(e)-0.175146(e.09ê9(l)-2.) ê9(l)-2.3634 84187ip
78
A professora Ivana
teve como sujeitos de pesquisa alunos adultos e buscou trabalhar
com músicas cujos temas eram próximos à realidade destes alunos. Depois de apresentadas as
músicas, a professora promovia debates com a turma e buscava extrair dos alunos aquilo que
mais lhes chamou a atenção nas letras das músicas. Por fim, pedia a estes sujeitos que
redigissem um texto acerca do que foi destacado.
A professora buscou no interior das letras de música trabalhar com a tese do texto, mas
o fez a partir dos trechos que mais despertavam a atenção dos alunos. Interessante que este
mecanismo tenta extrair das letras de música os aspectos significativos para cada sujeito, mas
não podemos deixar de considerar que em todo texto uma tese central que o norteia e que
se faz presente de forma implícita ou explícita. Esta tese, assim como os argumentos que a
sustentam, o pode ser desconsiderada. Entretanto, da maneira como foi trabalhado, o
posso afirmar que o texto foi utilizado como metalinguagem para a produção textual dos
alunos, apesar de a professora não ter explorado alguns aspectos lingüísticos fundamentais aos
textos. Também não se pode afirmar que o recurso foi utilizado como elemento mediador,
que as atividades apenas tangenciaram o tema central, que é o fio condutor do texto.
A professora Valquíria
justifica a escolha da música popular brasileira como artifício
para introduzir a produção textual entre os alunos a partir da motivação, assegurando que “a
música popular é um valioso meio de motivar os alunos, uma vez que essa música é assumida
como cultura ‘natural’ dos adolescentes”.
Na tentativa de buscar o interesse nos alunos, a professora recorreu ao conceito
espontâneo de motivação, embora empregue o conceito de Vygotsky, ao afirmar que “a
principal função da linguagem é a de intercâmbio social, ou seja, o homem serve para se
comunicar com seus semelhantes”.
No trabalho com seu aluno em sala de aula, a professora se preocupa com a questão
social, mas não se desvincula da motivação para alcançar o objetivo de promover a interação.
79
Isso demonstra que ela transita entre os conceitos espontâneos e científicos, na concepção
vygotskyana.
Encontrei em outro trabalho uma afirmativa que também reforça a idéia de que a
música auxilia na interação, intercalando os conceitos espontâneos e científicos: “a música
contribui na produção de textos, na interação entre os alunos, no comportamento na sala de
aula, porque a música no cotidiano da escola é bastante proveitosa”
(MARLI).
E acrescenta que “a música é um material de uso social, pois os alunos aprendem
sobre algo que os mantém atualizados sobre o que acontece no mundo, estabelecendo o
vínculo entre o que é aprendido na escola e o conhecimento extra-escolar”.
Apesar da afirmação acima, em seu capítulo metodológico, a professora não esclarece
de que maneira trabalhou com a música em sala de aula. Relatou apenas que realizou
observações para compreender se as atividades com música motivaram os alunos. Não há, em
contrapartida, nenhuma descrição de discussões acerca dos elementos significativos do texto.
Pude Inferir que a professora considera que a motivação coletiva é o suficiente para garantir a
interação social e, conseqüentemente, a boa produção textual. De acordo com o que foi visto,
este recurso não garante, assim como nenhum outro, a boa produção por parte dos alunos. A
maneira como esses recursos são utilizados é que define se auxiliarão neste objetivo.
Além disso, a interação proposta e esperada pelas professoras Valquíria e
Marli não
está de acordo com a concepção de Vygotsky, cuja proposta ultrapassa os limites de um turno
de conversa em momentos pontuais. Diferentemente, a interação vygotskyana vai além das
situações imediatas, abrangendo um tempo, um espaço e um público, não limitado e restrito,
mas que compartilha uma mesma cultura. São estes dados culturais que são transmitidos para
diferentes grupos sociais e, internalizados, passam a fazer parte do novo grupo. Isso dará voz
a um contínuo diálogo entre textos, entre culturas e entre sujeitos.
80
Outra atividade por mim nomeada como manifestação artística o teatro foi
implantada como recurso por três professores. Todos eles recorreram às atividades teatrais na
tentativa de promover a interação, que auxiliaria na produção de textos
.
Houve uma crença de
que este mecanismo estimularia a criatividade dos alunos.
De acordo com a primeira professora mencionada, o teatro estimula a criatividade, a
espontaneidade, a iniciativa e a ampliação do vocabulário. Estes são critérios que, segundo
ela, garantem uma boa produção textual. Afirma, neste sentido, que “quanto maior a
diversidade de situações, melhor a bagagem para criar textos”.
Não especifica de que maneira o teatro foi introduzido na sala de aula e, por isso, não
pude inferir se houve um auxílio para a produção de textos.
A professora Moema utilizou o teatro de fantoche, de acordo com suas descrições,
como um recurso para os alunos representarem seus textos, mas não deixa claro, em sua
monografia, de que maneira essas atividades podem ter auxiliado na produção dos alunos,
uma vez que elas ocorriam após as produções textuais. Afirma, também, que a motivação,
garantida a partir da atividade proposta, auxilia na produção de textos dos alunos, mas não
esclarece como.
O cursista Samuel forneceu aos alunos os textos que deveriam representar e, num
segundo momento, os alunos escreveram sobre o texto representado. Assim como no das duas
professoras mencionadas acima, não houve, nesse caso, uma relação clara entre as atividades
propostas e a produção textual. Não fica explícito no texto de que maneira esses professores
esperavam promover uma relação entre teatro e escrita e de que forma o primeiro auxiliaria
para que a segunda ocorresse.
Os professores que trabalharam com o teatro como recurso mencionaram apenas a
crença na interação, na motivação e no teatro como estímulos para a criatividade, mas não
explicitaram como isso deveria ocorrer, nem tampouco uma relação entre esses dados e a
81
facilidade em redigir textos. Por isso, posso conceber que utilizaram tal recurso como
metalinguagem, ou seja, como pretexto para se trabalhar a produção textual com os alunos,
sem apresentarem uma incursão nos elementos significativos do texto.
Apenas duas cursistas buscaram compreender como os professores de suas escolas
vêm trabalhando a produção de textos com os alunos. Ambas realizaram observação nas salas
dessas professoras e apenas uma delas utilizou como procedimento metodológico a entrevista
com professores.
Márcia
defende o texto como unidade básica do ensino e, neste sentido, afirma:
Ler e escrever são atividades que se complementam. Os bons leitores m
grandes chances de escrever bem, já que a leitura fornece a matéria-prima
para a escrita. Quem mais dispõe de um vocabulário mais rico e
compreende melhor a estrutura gramatical e as normas ortográficas da
Língua Portuguesa.
Nas observações, buscou compreender o desempenho dos alunos na produção e na
interpretação de textos. Apesar disso não ter ficado claro na monografia, posso conceber que
as observações foram feitas em aulas realizadas a partir de atividades com leitura.
De acordo com uma das professoras
o contato com os portadores de texto (livros infantis, jornais, revistas, etc.)
são importantes no sentido de motivar o aluno, criando nele o desejo de
expressar emoções, de contar um história, de emitir uma opinião, relatar um
fato, de fazer uma comunicação. (
LEONOR,)
Além disso, a professora considera que a leitura diversificada estimula a criatividade.
Duas professoras que buscaram compreender como a produção textual tem sido
trabalhada em sala de aula discorrem acerca da importância da leitura para se redigir textos.
Fica claro também que, apesar de elas não terem dirigido as atividades de leitura com os
82
alunos, não se referem a esse tipo de atividade como elemento mediador, mas como
metalinguagem, uma vez que mencionam como finalidade do texto a promoção da interação,
concebendo o texto como exemplo para a produção e também como motivador para a escrita,
recorrendo ora aos conceitos espontâneos, ora aos conceitos científicos.
4.2.3 – Fuga ao texto
Outras professoras trabalharam os recursos a partir do que chamei de aspecto lúdico
através de gravuras. Este recurso é utilizado pelas professoras a partir de uma perspectiva de
intertextualidade, mas podem ser considerados também conceitos espontâneos, tendo em vista
que não um embasamento teórico e nem tampouco uma internalização dos elementos
utilizados.
Estes pesquisadores vêem as gravuras como um elemento externo ao texto, que
dialoga com ele. Neste sentido, cursista Vitória
cita Ponde e Riche (2002, p. 34): “A
compreensão de texto não obedece apenas às regras internas de coerência textual, mas deve
levar em conta as relações extratextuais de enunciação”.
Interessante observar que, ao recorrerem às atividades lúdicas, os professores
deixaram de promover as relações interativas entre os textos. Concebendo as gravuras como
recurso para a produção textual, a professora deixa de apresentar aos alunos diversos textos
que podem dialogar com suas produções, a partir de elementos significativos que passam a
fazer parte da realidade lingüística/argumentativa deste aluno, atuando como elemento
mediador. Por identificar que os professores evitaram trabalhar o texto, nomeei os recursos
lúdicos utilizados pelos professores de “fuga ao texto”. Pude compreender que esses
professores evitaram trabalhar a produção textual a partir de leituras por falta de
conhecimentos lingüísticos que os embasassem para essas atividades.
83
O texto, trabalhado como mediador, possibilita ao aluno produzir seus próprios textos,
a partir de elementos de sua realidade acrescidos destes outros elementos que foram por ele
internalizados e tornaram-se também próprios. Neste sentido, encontramos afirmativas, como:
é de suma importância que o professor valorize os alunos dentro do contexto
sóciocultural de cada um, e parta da linguagem das crianças. Dentro dessa
perspectiva, o propósito do professor é auxiliar o aluno, para que ele possa
construir sua própria forma de expressão e de comunicação dentro de uma
seqüência lógica
(MAGALI).
Para que o aluno construa sua própria forma de expressão é necessário que o professor
lhe apresente dados que desenvolvam sua capacidade lingüística, sua capacidade de expressar
suas idéias de maneira sistematizada. Nesse sentido, a professora Magali, embora enfatize a
importância de o professor propiciar aos alunos a possibilidade de se expressarem através da
escrita, trabalhou com eles a partir de gravuras, que não trazem para estes alunos os elementos
necessários para se expressarem.
A cursista Joana
utilizou as dobraduras como recurso, buscando o aspecto lúdico para
despertar o interesse dos alunos para a produção textual. Isso porque, segundo ela,
a produção de texto é enfrentada pela maioria dos alunos como uma tortura,
pois não conseguem perceber a função social da escrita. É necessário que o
aluno esteja consciente do quanto a escrita é importante e útil no seu dia-a-
dia, bem como dos vários usos que se pode fazer dela.
As dobraduras podem despertar o interesse dos alunos, e não ser uma atividade
tortuosa, diferente do que é relatado pela professora em relação ao texto. Todavia, para que
este texto deixe de se apresentar para os alunos de forma pouco significativa, o caminho
poderia ser trabalhar com este texto de forma significativa e prazerosa, não evitá-lo.
84
O lúdico, a partir de dobraduras, jogos e brincadeiras, pode ser um recurso interessante
para despertar a imaginação dos alunos. Segundo Silva (2003), as atividades lúdicas permitem
que a criança se desenvolva e aprenda, imaginando, fantasiando, construindo regras e
resolvendo conflitos. As atividades lúdicas são, po
85
4.3 – Como os professores produzem seus textos
De acordo com o objetivo proposto neste item, como os professores produzem seus
textos, procurei observar, a partir dos preceitos de Geraldi, que foram apresentados
anteriormente e que retomo nesta análise, a produção textual dos professores. Segundo
Geraldi, para se produzir um texto é preciso que:
e)
Se tenha o que dizer;
f)
Se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer;
g)
O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz
para quem diz (ou, na imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo);
h)
Se escolham as estratégias para realizar (a), (b), (c) e (d) (GERALDI,
1997, p. 236).
Tendo em vista tais pressupostos, procurei compreender de que maneira os professores
redigiram seus textos, se havia uma coerência entre os itens apresentados, e,
consequentemente, entre os capítulos do texto e entre o objetivo de pesquisa e o trabalho
desenvolvido. Procurei, assim, compreender, num primeiro momento, de que forma os autores
desenvolviam cada item apresentado, de acordo com a elaboração de uma chave de leitura que
foi mencionada no capítulo anterior.
Busquei analisar o que eles tinham para dizer, que se concretiza na questão da
pesquisa; se havia uma razão para se dizer e qual era esta razão isso foi analisado a partir
das justificativas que os professores redigiram em suas monografias; e se o locutor se
constituiu como tal e de que maneira o fez. Depois de concluída esta etapa, procurei
compreender se houve uma coerência entre estes itens, que se materializam nos capítulos do
texto. Tal análise se faz presente, visto que “a base da coerência é a continuidade de sentidos
86
entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto”
(KOCH e TRAVAGLIA, 1998, p.
24).
A partir desta concepção, considerei importante a análise dos textos dos professores
através da coerência. O texto deve ser considerado como um todo interligado, que porta
significado completo, havendo, pois, uma coerência interna que o norteia. É a partir deste fio
condutor que analisei as monografias dos professores cursistas: pensando na forma como
desenvolvem o objetivo e a justificativa ao longo do texto, na maneira como se apropriam de
suas concepções teóricas e se colocam enquanto sujeitos em seus textos, e buscando, ao longo
destes três aspectos mencionados, compreender se houve coerência entre os diversos capítulos
das monografias, ou entre os diferentes itens apresentados por Geraldi.
Beaugrande e Dressler (1983) afirmam que a coerência do texto deriva de sua lógica
interna, resultado dos significados que sua rede de conceitos e relações põe em jogo, mas
também da compatibilidade entre essa rede conceitual o mundo textual e o conhecimento
de mundo de quem processa o discurso. Já a coesão é a manifestação lingüística da coerência.
Visto isto, torna-se importante destacar que minha preocupação ao analisar a coerência
textual destas monografias não se esgota em seus aspectos coesivos, seus aspectos lingüísticos
que contribuem para uma coerência do texto; me preocupei, além disso, com a coerência
discursiva, com as relações que se fazem presentes entre o que os professores afirmam ser
produção textual, a maneira que trabalham com este tipo de produção em sala e, ao
discorrerem a respeito, como isso se expressa em seus textos. A produção textual dos
professores foi vista, assim, a partir da coerência entre os capítulos, procurando compreender
as relações entre os aspectos mencionados.
O texto é visto e analisado nesta pesquisa como um todo integrado que se realiza a
partir de um fio que o conduz internamente e que necessariamente estabelece uma relação
com discursos que o precedem. É necessário aqui, pois, retomarmos o conceito de dialogismo.
87
Este conceito é fundamental, e se relaciona diretamente com o de mediação semiótica,
de Vygotsky, apresentado anteriormente. o estes preceitos que norteiam a pesquisa,
permitindo compreender que o texto produzido pelos professores dialoga com outros textos
que o precedem, com outros discursos que se fazem presentes na vida de seus autores. Isso
justifica também minha opção por analisar os textos dos professores tendo em vista todas
essas instâncias de coerência: as relações entre objetivos e o desenvolvimento da monografia,
as relações inter/intra textuais, buscando uma relação entre os textos dos professores, suas
concepções acerca de texto e a maneira como trabalham com ele em sala de aula. Todas essas
instâncias foram materializadas e analisadas a partir da coerência entre os capítulos, que
apresentam todas estas instâncias.
A mediação semiótica de Vygotsky contribuiu, visto que as monografias atuam como
elementos mediadores entre os seus autores e sua prática de sala de aula, e mediam também o
contato da pesquisadora com os sujeitos de pesquisa, os professores cursistas.
Durante a análise deste item, mantenho sempre estes conceitos que nortearam minha
pesquisa, delimitaram meu olhar de pesquisadora e conduziram este processo.
4.3.1 – Ter o que dizer
Busquei, na análise deste item, analisar a maneira como os professores cursistas
apresentam e desenvolvem o objetivo central de suas pesquisas.
Com a leitura e análise das monografias a partir dessa perspectiva, pude perceber que
houve uma incoerência grande entre o objetivo proposto e o desenvolvimento da pesquisa, em
grande parte dos trabalhos monográficos.
Alguns professores ficaram perdidos em seus objetivos, não conseguiram focalizar um
aspecto da produção de textos produzindo, assim, um texto desconexo, sem um objetivo
norteador que trouxesse coerência para o texto.
88
Assim, algumas monografias tiveram diversos enfoques ao longo de seu
desenvolvimento. Um exemplo disso é uma professora que buscou verificar como os
professores têm trabalhado a produção de textos. Interessante que a autora apresenta seu
trabalho dizendo no resumo e na introdução que pretendia investigar como os professores
estão trabalhando com a produção de textos. Na metodologia, ela diz ter utilizado como
procedimento metodológico a observação em sua própria sala de aula, com seus alunos e, por
fim, nas considerações finais, afirma:
Considerando os elementos analisados, pode-se concluir que nesta pesquisa a
gravura possibilita um trabalho enriquecedor na escrita de textos e que a
propaganda ajuda na compreensão de um enunciado, desencadeando novos
textos e abrindo outras perspectivas aos olhos do identificador, reconhecendo
a importância da função comunicativa da imagem. A notícia de jornal escrito
auxilia na expressão oral e favorece a iniciativa de expressar-se, porque à
criança a oportunidade de opinar após ler e interpretar a mensagem oferecida
a ela; a reportagem falada incentiva o ato de ouvir para interpretar a narração
ouvida (ANDREA).
Não fica claro, portanto, o que a autora pretendeu pesquisar. Apresentou em seu
objetivo que pretendia analisar como os professores vinham trabalhando a produção textual,
mas acabou por realizar uma pesquisa em sua própria sala de aula, com seus alunos,
concluindo o que apresentei acima.
Um outro exemplo de texto com diversos enfoques foi uma monografia que
apresentou como seu objetivo analisar a importância da literatura infantil na produção de
textos, mais especificamente, auxiliando na ortografia. Na introdução de seu trabalho, a autora
deslocou seu objetivo para a leitura e escrita dos alunos. Já no referencial teórico, ela mantém
o enfoque da escrita, mas não menciona mais a ortografia. Na metodologia e na análise de
89
dados, pude observar que ela se preocupou somente com a leitura, e não com a escrita dos
alunos, que foi simplesmente esquecida.
A autora pretendia compreender o auxílio da literatura infantil, mas não ficou claro
para ela se seria na leitura ou na escrita. Provavelmente ela considera que o aluno, quando
interpreta bem o texto, tem facilidade em escrever, embora isso não tenha sido dito. Por isso,
no decorrer do trabalho, ela se esquece da escrita e se preocupa somente em analisar se os
alunos compreendem aquilo que lêem.
Outros professores não conseguiram estabelecer uma relação clara entre o recurso que
elegeram e o objeto pretendido. É o caso de
Elisa, que pretendeu investigar se o uso da
literatura infantil contribui para o desenvolvimento da produção de textos, mas seu trabalho
ficou confuso, os objetivos se perderam no caminho e ela não conseguiu fazer uma relação
entre a literatura infantil e a produção textual.
Outro exemplo foi uma professora que objetivou analisar se o uso de poemas auxilia
na produção textual dos alunos. Seu referencial teórico é bastante fundamentado e consistente,
mas ela não conseguiu trazê-lo para a interpretação dos dados, que ficou superficial. Outro
ponto que me chamou a atenção foi o fato de que, de acordo com seu referencial, a ortografia
é considerada como um aspecto não muito relevante relevante, mas foi um dos focos por ela
analisados. Acredita-se que, apesar de um referencial consistente, sua percepção de produção
textual não se alterou com essa leitura, nem com o desenvolvimento do trabalho.
Outros professores, que também não têm uma definição muito clara do recurso
selecionado, deslocaram seus objetivos, mudando o aspecto através do qual analisaram a
produção textual. Uma professora apresentou em seu referencial teórico questões ligadas ao
significado dos textos, mas em sua análise utilizou abordou a ortografia e a pontuação, apesar
de afirmar:
90
Os textos produzidos por mim na minha trajetória educacional de estudante,
e os textos produzidos pelos meus alunos até pouco tempo eram textos
soltos, onde os alunos escreviam, às vezes casualmente, sem proposta, pois
aprendia e ensinava através de gravuras e títulos soltos. Não ensino mais
assim. Os textos produzidos hoje pelos meus alunos são produtos de um
trabalho realizado, uma situação anterior, é uma continuação com
significado e não um amontoado de palavras sem sentido (EDNA).
Isso sinaliza que a professora tinha, de fato, uma preocupação em trabalhar com textos
com os alunos de forma significativa, apesar de ter analisado os aspectos ortografia e
pontuação, somente. Houve uma dificuldade em trabalhar com os aspectos semânticos, que
são menos objetivos, e, por isso, na hora da coleta e análise de dados, ela talvez tenha se
detido nos aspectos mencionados.
Houve um trabalho
que apresentou como objetivo investigar se a contação de história
auxilia na produção de textos significativos para os alunos, mas sua autora analisou somente o
aspecto criatividade, apesar de ter apresentado também como foco em sua metodologia a
coerência, que foi esquecida no momento da análise. A criatividade é, portanto, um conceito
assimilado pela docente, diferente do conceito de coerência, em que houve apenas uma leitura
teórica a respeito, mas não uma apropriação dele.
Faz-se necessário retomar aqui, portanto, as definições de conceitos espontâneos e
científicos que foram apresentadas no item anterior. Fica claro, também, a partir dessas
incoerências, que os professores recorrem ora aos primeiros conceitos, ora aos segundos. Isso
porque os pesquisadores apresentam um recurso através do qual pretendem analisar a
produção textual, mas realizam tal análise a partir de outro aspecto, do qual têm maior
domínio. Os aspectos selecionados pelos professores, além de um mecanismo utilizado para
realizar uma análise, demonstram também uma concepção de texto. Assim, a coerência é um
aspecto que se pode analisar em um texto, diferente da ortografia, que um outro enfoque
sobre ele. Por isso, posso conceber que esses professores recorreram às concepções teóricas
91
no momento de selecionar o recurso, utilizando, portanto, o conceito científico, mas
recorreram aos conceitos espontâneos no momento de selecionar os aspectos através dos quais
iriam analisar as produções textuais de seus alunos.
Um outro exemplo de deslocamento de objetivo foi a monografia de um cursista que
se fixou no recurso que pretendia utilizar conceito espontâneo , e se esqueceu do objeto
conceito científico. Ele pretendeu investigar de que maneira o teatro auxilia na produção
textual, mas no decorrer do trabalho, se esqueceu da questão da produção de textos e se fixou
somente no teatro. Além disso, não estabeleceu a relação necessária entre ambos. Isso deixou
claro que sua opção foi pelo teatro, mas por uma exigência do curso, qual seja, de afunilar a
questão, escolheu a articulação com a produção textual, mas não desenvolveu o trabalho com
este enfoque.
Pude observar que os professores estabelecem uma relação clara entre leitura e escrita,
trabalhando com poemas, literatura infantil, histórias em quadrinhos ou até mesmo textos
teatrais para que os alunos possam produzir seus próprios textos. Nem sempre, porém,
conseguem estabelecer uma relação entre estas leituras e as atividades de produção textual dos
alunos.
Os professores deixaram claro em suas monografias que não têm uma definição de
texto muito precisa e, consequentemente, houve uma dificuldade grande em produzir textos
coerentes. Esta dificuldade dos professores ficou clara na análise do item anterior, em que
busquei compreender o que os professores entendem como produção de textos. De acordo
com esta análise e a partir de algumas incoerências apresentadas neste item, onde busco
compreender como os professores produzem seus textos, pude perceber que os professores
discorrem ora acerca da importância do significado no texto, ora enfocando aspectos como a
ortografia e a pontuação, transitando entre conceitos científicos e espontâneos. Por não terem
92
claro o que é um texto, surge a dúvida de como trabalhar com a leitura e a escrita em sala de
aula.
Isso fica claro quando os professores justificam a escolha de suas questões de
pesquisa, que é o que busquei analisar no próximo item.
4.3.2 – Ter uma razão para dizer o que se tem a dizer
Busquei compreender neste item de que maneira os professores apresentam e
desenvolvem as justificativas de seus objetivos de pesquisa. Pude observar, durante essa
análise, que os professores justificam a escolha em trabalhar com o tema produção textual a
partir das dificuldades encontradas.
Alguns professores discorrem acerca das dificuldades em trabalhar com textos
afirmando que essas se situam entre os alunos, conforme pude observar nas afirmações que
seguem:
Por se tratar de uma dificuldade nos primeiros anos do Ensino Fundamental:
mediar o trabalho docente oferecendo alternativas para que o aluno se sinta
capaz de produzir textos coerentes e ortograficamente corretos, considerou-
se importante a execução desta pesquisa (VITÓRIA).
A produção de textos surgiu das angústias que sentia nas minhas
observações, onde percebia as dificuldades que os alunos enfrentavam em
produzir textos e a necessidade de compreender como se dá esse processo. A
falta de interesse dos alunos pela escrita e talvez a falta de incentivo para a
leitura contribuíram para a substituição da literatura pelos jogos eletrônicos e
outros. Percebia que, quando uma criança escrevia, ela estava fazendo
mecanicamente, como se estivesse escrevendo para ningm (
EDNA).
93
As dificuldades dos alunos podem aparecer como um resultado da falta de uma
definição clara de texto por parte dos professores que se reflete em seu trabalho na sala de
aula. Se a sala de aula for considerada como um lugar de interação verbal, onde o
conhecimento é construído através do diálogo, um espaço de trocas de saberes, muitas
dificuldades podem ser resolvidas. A partir desta concepção, “são os sentidos socialmente
constituídos os verdadeiros objetos do processo de ensino e aprendizagem. Neste processo,
ainda que escolar, apostando-se no trabalho interativo, produtos novos vão se constituindo”
(GERALDI E CITELLI, 1997, p. 23).
Alguns professores, a partir dessa perspectiva, em que os sentidos são socialmente
constituídos, compreendem que seus alunos refletem suas próprias indagações acerca do tema.
Neste sentido, a dificuldade, segundo a professora cursista Joana é
“a forma com que nós
educadores trabalhamos a produção de texto, sem a devida motivação em fazermos ligação
entre ela e o cotidiano dos educandos, proporcionando um entrave para o desenvolvimento da
produção de texto”.
A dificuldade em compreender e trabalhar com textos em sala de aula foi a grande
motivadora para que eles elaborassem suas questões de pesquisa focalizando tal tema. A
mesma dificuldade fez também com que, paradoxalmente, se fizessem nítidas as incoerências
presentes nos textos. Assim, os professores acabam por elaborar textos que perdem seus
objetivos iniciais, deixando evidente que não têm uma definição clara de texto e, por isso, têm
problemas para focalizar uma questão de investigação.
Por isso, torna-se importante analisar como os professores/autores se constituem
enquanto sujeitos na escrita de suas monografias.
94
4.3.3
O locutor se constitua como tal, enquanto sujeito que diz o que diz para quem diz (ou, na
imagem wittgensteiniana, seja um jogador no jogo)
Busquei analisar neste item se os professores se apropriaram das concepções teóricas
adotadas, no intuito de compreender se houve uma atuação destes autores, ou se, na imagem
wittgeinsteiniana, foram jogadores no jogo.
Uma incoencia que pude observar foi a diferença de concepção apresentada no
referencial teórico acerca da produção textual e os aspectos que foram considerados no
momento da análise de dados.
Um exemplo disso é um trabalho monográfico que apresenta como seu objetivo
central analisar se o teatro de fantoche desenvolve a produção de textos coerentes e coesos,
afirmando, inclusive, que para se produzir um texto
é necessário: (a) um motivo válido; (b) um processo de geração de idéias; (c)
sua organização em frases e períodos que façam sentido, dentro de uma
estrutura de texto; (d) o registro por escrito; (e) sua comunicação a alguém.
O escritor que possui todas essas habilidades produz um texto de maneira
95
Outro exemplo que apresentou diferentes concepções de produção textual foi uma
professora que ressaltou em sua apresentação a importância da ortografia e da coerência, a
partir da seguinte justificativa para enfocar tais aspectos:
Por se tratar de uma dificuldade nos primeiros anos do ensino fundamental:
mediar o trabalho docente oferecendo alternativas para que o aluno se sinta
capaz de produzir textos coerentes e ortograficamente corretos, considerou-
se importante a execução desta pesquisa, pois seus resultados trouxeram um
pouco mais de esclarecimentos à questão da produção de textos no contexto
escolar (VITÓRIA).
Apesar desta afirmação, em seu referencial teórico não menciona a ortografia, apesar
de retomá-la em sua análise.
Acredito ter havido esse tipo de incoerência de maneira bastante freqüente, porque nos
aspectos apresentados pelos autores a respeito da produção de textos, de acordo com o
referencial proposto pelo Veredas e com a concepção também estimulada pelos orientadores
de monografia do curso, uma ênfase no significado geral do texto, no texto como portador
de significado completo. Ao lado disso, os professores já traziam suas concepções que muitas
vezes divergiam dos autores. Dessa forma, eles apresentaram as concepções dos autores
conceitos científicos, mas estas não foram internalizadas, recorrendo-se, assim, aos conceitos
espontâneos. Posso conceber, portanto, que houve uma tentativa de diálogo com os autores,
mas isso não se efetivou nesses casos. Os professores trazem outras vozes sociais, de textos
lidos, de discursos do interior das escolas e de outras instâncias de suas vidas que os fizeram
ter a percepção que têm de produção textual. Percepção esta que foi tão incorporada que
não se alterou com as novas leituras realizadas para a pesquisa.
A incoerência que leva à oscilação entre os conceitos científicos e espontâneos levou
alguns professores a olhares contraditórios acerca do campo de pesquisa. Há uma monografia,
96
por exemplo, que em seu capítulo teórico, expõe as idéias de Vygotsky e discute acerca da
importância do texto como portador de significado, mas, em sua análise, conclui que o baixo
rendimento dos alunos na produção de texto é conseqüência da falta de acesso aos textos por
terem pais analfabetos. A autora, por um lado, afirma que não podemos desprezar os
conhecimentos prévios dos alunos da zona rural, afirmando, por exemplo, que
uma das principais recomendações é que os professores nunca desprezem a
bagagem de conhecimento sobre a escrita que a maioria das crianças leva
para a escola. O que se sabe é que nenhuma criança da zona rural chega
“ignorante” à escola. Nós, adultos, é que temos a tendência de confundir os
saberes diferentes de nossos alunos pobres com ignorância. Por isso, os
discriminamos (MÁRCIA).
Em outro momento, porém, justifica o baixo rendimento dos alunos pela falta de
acesso a textos, por morarem na zona rural, desprezando os seus conhecimentos prévios a
partir de uma concepção preconceituosa.
Além dessa professora, duas outras trabalharam a partir do conceito vygotskyano de
mediação semiótica. As ts tiveram uma incursão neste conceito, mas não se apropriaram
dele de maneira a conseguir estabelecer um diálogo com suas concepções consolidadas e
com os dados extraídos de suas salas de aula.
Uma professora que pretendeu utilizar a história em quadrinhos como recurso para
trabalhar a produção de textos apresentou em seu referencial teórico os conceitos de mediação
semiótica de Vygotsky. Ela pretendeu investigar o uso das histórias em quadrinhos como
elemento mediador, apesar de isso não ter sido dito de maneira direta e clara. Na análise de
dados, ela discorre acerca do papel dos elementos mediadores, mas não explicita o papel do
elemento utilizado por ela.
97
Duas professoras trabalharam com os conceitos de Vygotsky mas não souberam
explorá-los na análise de dados. A primeira porque havia uma justificativa prévia
internalizada, de que os alunos tinham dificuldade por terem pouco contato com textos, e a
segunda ficou presa no conceito de mediação e não soube explorá-lo para a produção textual,
que foi deixada de lado.
Outra professora, que também trabalhou com conceitos vygotskyanos, objetivou
investigar se a utilização da música popular brasileira auxilia na produção de textos. Ela
estabeleceu uma relação dos dados com os conceitos de Vygotsky, reforçando a idéia de que a
música atua como mediadora na aprendizagem, e discorrendo acerca da importância da
interação para o desenvolvimento:
na atividade escolar a interação entre os alunos também provoca intervenção
no desenvolvimento das crianças. Qualquer modalidade de interação social,
quando integrada num contexto realmente voltado para a promoção do
aprendizado e do desenvolvimento, poderia ser utilizada, portanto, de forma
produtiva na situação escolar (VALQUÍRIA).
Interessante observar que ela se preocupou, na análise dos dados, com a compreensão
e a interpretação que os alunos tiveram das músicas, mas nem sequer mencionou a produção
textual. Os alunos não produziram textos, e o tema foi deixado de lado.
Faz-se necessário discutir agora, a partir da consideração acima, o processo de autoria
desses professores, já que não houve uma aproprião dos pressupostos teóricos apresentados
por eles. Bakhtin (2004) traz contribuições acerca dessa questão, ao discorrer a respeito do
que nomeia compreensão ativa e responsiva, que gera uma resposta. Segundo este teórico, tal
processo se dá a partir da contrapalavra do interlocutor que propõe a sua à palavra do locutor.
A significação se dá, portanto, a partir desse diálogo.
98
Assim, podemos inferir que os professores, apesar de serem responsáveis pelos seus
textos, não podem ser considerados autores, no sentido bakhtiniano, já que não se apropriaram
dos conceitos utilizados tornando-os parte de seu discurso, propondo uma contrapalavra,
dialogando, enfim, numa compreensão ativa. Não uma compreensão desses conceitos. As
incoerências apresentadas entre as diversas partes das monografias e, mais especificamente, as
incoerências entre as concepções teóricas e a análise de dados, mostram que houve uma
sobreposição de idéias, sem que ficasse configurada uma concepção que atuasse como um fio
condutor, uma base para que as idéias fossem interligadas no interior do texto.
99
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a
nado, e passa; mais vai dar na outra banda é um
pouco mais embaixo, bem diverso do que primeiro
se pensou.
João Guimarães Rosa
Esta dissertação buscou compreender quais os sentidos construídos pelos professores
cursistas do Projeto Veredas para a produção de textos, a partir da elaboração de suas
monografias de conclusão de curso. Tal busca se fez através da leitura desses trabalhos,
promovendo o diálogo entre suas vozes e as dos autores que me acompanharam nessa
trajetória, numa perspectiva sócio-histórica de metodologia de estudo.
Por haver trabalhado no Veredas, integrando a equipe de orientação de monografias,
tive a oportunidade de entrar em contato com os trabalhos monográficos, para algumas
orientações, durante o curso, e de forma mais sistemática no período de correção desses
textos. Durante os primeiros contatos, pude observar algumas dificuldades dos professores em
desenvolver uma pesquisa. No meu segundo contato com as monografias, agora com o
olhar exotópico de pesquisadora, diante dos trabalhos desenvolvidos acerca da produção
textual, percebi novas dificuldades e novos caminhos traçados pelos cursistas.
O curso, desenvolvido na modalidade de educação a distancia, contou com a
orientação dos tutores e de uma equipe, da qual participei, que era formada por seis membros
e um coordenador de monografia, com o intuito de auxiliar no trabalho de orientação dos
tutores. Essas orientações, que tiveram o apoio dos dois grupos de profissionais, se fizeram,
ainda assim, escassas, pelos entraves impostos a essa modalidade. Cada tutor tinha como
atribuição de seu cargo a orientação dos cursistas que compunham sua turma, em média, trinta
100
alunos. Os membros da equipe de monografia ficaram responsáveis por onze tutores com suas
referentes turmas, em média. Pudemos contar com as tecnologias necessárias à modalidade de
ensino a distância, sobretudo com o site do Veredas AFOR UFJF. Apesar de toda essa
estrutura que tornou possível o trabalho de orientação, houve alguns entraves que são, a meu
ver, inerentes à modalidade, tendo em vista que a distância dificulta encontros mais
sistemáticos entre orientador e orientando e que os tutores ficaram com um número grande de
alunos sob sua responsabilidade.
Além dessas dificuldades, ainda a inexperiência dos cursistas em realizar pesquisas
muitos o fizeram pela primeira vez –, e a inexperiência dos tutores, que, em muitos casos,
nunca haviam assumido a função de orientador, além de, com freqüência, ser este o primeiro
contato com o trabalho monográfico. Muitos tutores não haviam ainda sequer feito uma
monografia e tiveram que aprender, junto com seus cursistas, o que é e como se faz uma
investigação.
Essas lacunas foram observadas na maioria das monografias, com os mais diversos
temas e pude notá-las já no primeiro contato com esses trabalhos, reforçando essa constatação
num segundo momento, quando iniciei meu trabalho de dissertação.
Nas monografias que foram analisadas nesta dissertação, me deparei, para além das
dificuldades encontradas em realizar a pesquisa, com as dificuldades em compreender,
trabalhar e discorrer acerca das produções textuais tema escolhido por um número
significativo de professores que cursavam o Veredas para suas monografias. Acredito que isso
se deu pelo fato de esses professores encontrarem problemas relacionados a este tema no
cotidiano escolar, e procurarem, em seus trabalhos monográficos, alguma maneira de
compreendê-lo melhor e, sobretudo, de trabalhá-lo em sala de aula. Essa dificuldade que os
levou ao tema se reflete na escrita de suas monografias. uma incoerência entre o que
apontam em seus capítulos teóricos e a maneira como isso se reflete em sala de aula e também
101
naquilo que buscaram analisar em seus dados. um descompasso entre objetivos e
desenvolvimento. Isso demonstra que houve entraves em relação à compreensão do que é um
texto, levando esses professores, muitas vezes, a transitarem entre o que Vygotsky chama de
conceitos espontâneos e conceitos científicos. Essa oscilação demonstra que não ocorreu uma
apropriação das concepções teóricas, ocasionando uma polarização entre as vozes dos
professores e as dos autores por eles selecionados para referenciar suas pesquisas. Não um
diálogo, um embate, ou uma contrapalavra, mas uma heterogeneidade, vozes que se
apresentam dissociadas e que não se entrelaçam para formar um tecido. Essa dissociação de
idéias faz com que os professores, contradizendo o que apresentam a partir dos teóricos que
os embasaram, apresentem o texto como metalinguagem, como um modelo de escrita, que é
puramente tecnológica e não atentem para o aspecto da compreensão. Outros professores, que
também não internalizaram as concepções apresentadas teoricamente, evitaram trabalhar com
texto como recurso em suas pesquisas e recorreram a outros mecanismos, como as gravuras e
dobraduras, o que nomeei como fuga ao texto.
Pude observar, também, que alguns professores conceberam os recursos selecionados
para trabalhar em sala de aula para o desenvolvimento da pesquisa como elementos
mediadores, atentos à internalização dos diversos textos propostos para que os alunos
desenvolvessem suas produções textuais. Mesmo que esses cursistas não tenham alcançado a
dimensão da interação entre textos, que é nomeada na concepção bakhtiniana de dialogismo,
tiveram uma incursão nessa proposta. Percebi, ainda, que um apontamento do texto como
portador de significado e, conseqüentemente, como unidade básica do ensino das línguas.
A partir dessas constatações, posso compreender hoje que, apesar das inexperiências
com pesquisa, dos entraves inerentes ao curso e das dificuldades com o tema “produção de
textos”, houve uma aprendizagem significativa por parte dos professores cursistas. Muitos
deles tiveram contato pela primeira vez com uma pesquisa e se depararam com sua prática
102
docente com um outro olhar, agora exotópico, acerca do cotidiano escolar e de suas
intervenções em sala de aula. Outro passo significativo que acredito ter sido dado por esses
profissionais da educação foi o encontro inicial com novos conceitos, a partir de diferentes
autores e do material didático do Projeto Veredas. Esse encontro, mesmo que não represente
ainda uma incursão mais profunda nesses conceitos, mostra, de maneira embrionária, um
ingresso do professor no universo da discussão teórica, sendo esse o primeiro passo para a
formação de professores.
Este estudo trouxe muitas contribuições para a minha formação. Uma delas reside no
fato de ter podido trabalhar com professores em sua formação e prática docente. A outra diz
respeito à interface que estabeleci entre o curso de Letras, minha formão inicial e o
mestrado em educação, que, na pesquisa, meus companheiros de viagem foram os teóricos
da perspectiva sócio-histórico-cultural e estudiosos da lingüística aplicada.
Chego ao término deste trabalho sem uma resposta conclusiva sobre o tema que me
propus investigar, e com novas questões que sugiram a partir dessa pesquisa. São novas
perguntas que emergiram a partir daquela que se fez central durante o andamento da pesquisa.
Busquei aqui desenvolver algumas indagações e apontamentos que se fizeram presentes em
todo o trabalho. Paradoxalmente, essas questões que foram sendo respondidas geraram outras.
É exatamente aí que reside a importância de um trabalho científico: à medida que vai
respondendo a algumas questões, gera outras. E essas outras, o que geram? Outros trabalhos,
que fortalecem a rede da produção científica do conhecimento.
103
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