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Por fim, para fechar o círculo, os recursos desviados do crédito agrícola, serviram para
os grandes produtores comprar as terras dos pequenos produtores endividados ou falidos, num
processo de concentração fundiária, e de rendas, talvez nunca antes visto em todo o mundo,
pela velocidade e amplitude que lhe foi característica.
A presença do governo no INCRA e nos sindicatos, a influência da propaganda
ideológica, das maravilhas do modelo americano, e do atraso da nossa agricultura, a
desvalorização cultural, a alienação, a marginalização do sistema político, a desestruturação
social, eram o pano de fundo sobre o qual se operaram estas transformações. A falta de
transporte, de habitação, a quase inexistência de sistema de saúde e de escolas, também eram
outros pontos vitais de desestruturação do meio social rural (MENEGAZ, op. cit.).
O governo brasileiro, literalmente “virou as costas” para o pequeno agricultor e para
suas necessidades. Partiu da visão econômica tantas vezes manifestada por Delfim Neto, e por
outras figuras de destaque do seu período, de influência, segundo a qual a pequena
propriedade é inviável economicamente, ou seja, não possui capacidade concorrencial num
regime de livre iniciativa. A partir desta visão, há uma necessidade de se integrar aos
mercados mundiais, o que requer produtividade, o que só é obtido pela especialização. A
agricultura não produz mais alimentos e sim mercadorias – commodities. O que importa é ir
em busca de divisas, e não considerando a importância da integração ao mercado interno,
visão típica dos liberais. Isso, mesmo sabendo que os pequenos eram responsáveis por 60-
80% da oferta de alimentos para o mercado interno (MENEGAZ, 199-). A exportação,
contudo, era o alvo das diretrizes do modelo econômico então implantado.
Numa tentativa de compensar o processo marginal a que foram submetidos ao longo
dos anos, a partir da década de 80, dentro de um plano de produção interna na lógica da
modernização, os agricultores familiares tiveram uma pequena redução nas taxas de juros nos
financiamentos de custeio. Mas, mesmo com taxas de juros menores, estas eram positivas,
sem contemplações de ordem social que as minimizassem acaso. Evidentemente, os pequenos
agricultores foram novamente os mais prejudicados com as mudanças, porque o volume de
dinheiro a eles destinado continuou sendo pequeno (MENEGETTI, 200-), e pesado o fardo da
cobrança em prazos exíguos.
A década de 90 é marcada pelos planos de estabilização da economia e pela
liberalização dos mercados. A agricultura, como os demais setores da economia, é submetida
a uma concorrência internacional severa. A produção familiar, principalmente, é submetida a
um jogo de concorrência internacional, num contexto de forte protecionismo por parte dos
EUA, Europa e Japão, na maioria das vezes. Internamente, a agricultura familiar é afetada