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LUIZ FIRMINO MARTINS PEREIRA
AS TERRITORIALIDADES QUE EMERGEM NA GESTÃO DAS ÁGUAS: UM
CAMINHO PARA A AGENDA 21
Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal Fluminense –
UFF, como requisito parcial para obtenção do Grau
de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. FLÁVIO GOMES DE ALMEIDA
Niterói
2007
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Pxxx Pereira, Luiz Firmino Martins
As territorialidades que emergem na gestão das águas:
um caminho para a agenda 21/Luiz Firmino Martins Pereira.
– Niterói : s.n., 2007.
163 f.
Tese (Doutorado em Geografia) –
Universidade Federal Fluminense, 2007.
1. Processo Participativo. 2. Gestão de Bacia.
3. Agenda 21. I. Título.
CDD xxx.xxxx
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LUIZ FIRMINO MARTINS PEREIRA
AS TERRITORIALIDADES QUE EMERGEM NA GESTÃO DAS ÁGUAS: UM
CAMINHO PARA A AGENDA 21
Tese apresentada ao curso de Pós-Graduação em
Geografia da Universidade Federal Fluminense –
UFF, como requisito parcial para obtenção do Grau
de Doutor.
Aprovado em maio de 2007.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Flávio Gomes de Almeida – Orientador
Universidade Federal Fluminense
Profa. Dra. Sandra Batista Cunha
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Reiner Olibano Rosas
Universidade Federal Fluminense
Prof. Ph.D. James M. Dietz
University of Maryland
Profa. Dra. Beate Frank
Fundação Universidade Regional de Blumenau
Niterói
2007
A minha esposa Valeria e aos meus filhos Lucas e Luiza,
por serem minha fonte de inspiração na busca de mudanças que
possam realmente contribuir para uma melhor qualidade de vida.
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. Flávio Gomes Almeida, pela orientação na condução deste trabalho,
Ao Professor Phd. James Dietz, pela orientação durante o período da realização da
bolsa sanduíche em Maryland,
A todos os professores do Programa de Pós Graduação em Geografia com os quais
convivi, troquei idéias e opiniões, todas importantes para a realização deste trabalho,
Ao Russell E. Train Education for Nature Program (EFN) do World Widelife Fund
(WWF) que nos anos de 2002 e 2003 deu suporte a pesquisa através de bolsa de estudos,
A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)
que proporcionou um Programa de Doutorado de Estágio no Exterior (bolsa sanduíche), junto
a Universidade de Maryland nos EUA,
A todos aqueles que contribuíram de alguma forma para que a transformação do
espaço na Região dos Lagos nos últimos anos, pudesse ocorrer a partir de uma verdadeira
gestão participativa, com superação dos obstáculos que dificultam o bom ordenamento
territorial de nossas cidades.
EPÍGRAFE
“O novo modelo de gestão se fundamenta no uso máximo e ótimo das
potencialidades locais em recursos humanos, e na gestão descentralizada do
território, entendida como um processo em que os esforços do
desenvolvimento são baseados na parceria construtiva entre todos os atores
do desenvolvimento por meio da discussão direta, onde normas e ações são
estabelecidas e responsabilidades e competências são definidas. Privilegia-se,
assim, o poder local como base do desenvolvimento”. (BECKER, 1995).
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO, p. 14
1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA, p. 15
1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO, p. 15
1.3 METODOLOGIA, p. 16
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS, p. 19
2.1 DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL, p. 20
2.2 A HERANÇA DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO SOBRE AS ÁGUAS, p. 23
2.3 A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E SUA INFLUÊNCIA NO ORDENAMENTO, p. 27
TERRITORIAL
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, p. 34
3.1 UM OLHAR DA GEOGRAFIA SOBRE O PROCESSO DE GESTÃO DE BACIAS, p. 34
3.1.1 O ESPAÇO, p. 34
3.1.2 PAISAGEM, LUGAR E TERRITÓRIO, p. 35
3.1.3 REGIÃO, p. 38
3.1.4 ESCALA, p. 39
3.1.5 REDE, p. 39
3.2 A MULTIPLICIDADE DE ATORES NO CONTROLE SOCIAL E NO PROCESSO DECISÓRIO
EM BACIAS HIDROGRÁFICAS, p. 41
4 A EXPERIÊNCIA DO CONSORCIAMENTO NA BACIA LAGOS SÃO JOÃO, SUAS
BASES DE FUNCIONAMENTO, RESULTADOS E LIÇÕES, p. 46
4.1 A CRIAÇÃO DO ORGANISMO DA BACIA, p. 47
4.2 O INÍCIO DO PROCESSO DE PARTICIPATIVO, p. 51
4.3 PRIMEIROS RESULTADOS - EXEMPLOS DAS DECISÕES PARTICIPATIVAS (O CASO
DA EXTRAÇÃO DE CONCHA DA LAGOA E DA AREIA DE RIO), p. 53
4.4 RESULTADOS EXPRESSIVOS: DEMONSTRAÇÃO DO PROCESSO PARTICIPATIVO (O
EXEMPLO DA EXECUÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO), p. 55
4.5 A LUTA PELO TERRITÓRIO: O EMPODERAMENTO DE UMA COMUNIDADE (O
EXEMPLO DA AÇÃO DE DRAGAGEM DO CANAL DE ITAJURÚ), p. 61
4.6 MANTENDO O PROCESSO PARTICIPATIVO: CONTROLANDO AS FORÇAS EM BUSCA
DE RESULTADOS POSITIVOS, p. 63
4.7 LIÇÕES APRENDIDAS (UM MODELO CONCEITUAL PARA O PROCESSO
PARTICIPATIVO), p. 65
5. A GESTÃO DA BACIA APÓS A CRIAÇÃO DO COMITÊ, p. 68
5.1. O PROCESSO DE CRIAÇÃO, AS FUNÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO COMITÊ LAGOS
SÃO JOÃO, p. 69
5.2. A ESTRATÉGIA DE TRABALHO ADOTADA PELO COMITÊ, p. 73
5.3. O PLANO DE BACIA PROPOSTO PELO COMITÊ, p. 77
5.4. UMA CONJUNÇÃO DE RESULTADOS: DO CONSÓRCIO AO COMITÊ, p. 80
6 DISCUSSÃO: A AGENDA 21 E A GESTÃO DE BACIA NA REGIÃO DOS LAGOS, p.
86
7 CONCLUSÃO: UM ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DA AGENDA 21 VIA GESTÃO DE
BACIAS, p. 104
7.1 PLATAFORMA DAS AÇÕES PRIORITÁRIAS DA AGENDA 21 POR BACIA
HIDROGRÁFICA, p. 106
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS, p. 108
8.1 O CUSTO DA GESTÃO PARTICIPATIVA NA BACIA, SEU POTENCIAL DE INFLUENCIAR
OS INVESTIMENTOS PÚBLICOS E FUTURAS POSSIBILIDADES, p. 108
8.2. OS LIMITES DA GESTÃO DE BACIA SEM A VISÃO DE AGENDA 21: O CASO DE
CHESAPEAKE BAY, p. 112
9 REFERÊNCIAS, p. 116
10 APÊNDICES, p. 123
10.1 HISTÓRICO DA LUTA PELO SANEAMENTO, p. 123
10.1.1 OS PRÓS E CONTRAS DO SISTEMA CONSENSADO, p. 123
10.1.2 CRONOLOGIA DOS 27 MESES QUE ANTECEDERAM A REPACTUAÇÃO, p. 126
10.1.3 AS BASES PARA DEFINIR A FORMA DE PAGAMENTO DO SERVIÇO, p. 130
11 ANEXOS, p. 134
11.1 DELIBERAÇÃO DE CRIAÇÃO DO GELA, GELSA E GERSA, p. 135
11.2 REPORTAGENS E MATÉRIAS DE JORNAIS SOBRE OS TEMAS PESQUISADOS, p. 136
11.3 NOTÍCIAS EXTRAÍDAS DOS BOLETINS DO CONSÓRCIO, p. 148
11.4 AGENDA 21 GLOBAL, p. 155
11.5 AGENDA 21 BRASILEIRA, p. 162
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig. 1 - Distribuição dos recursos hídricos, superficiais e população, f. 20
Fig. 2 - Cobertura dos serviços de abastecimento de água, f. 21
Fig. 3 - Cobertura dos serviços de coleta de esgotos, f. 21
Fig. 4 - Principais rios brasileiros, f. 22
Fig. 5 - Áreas de estresse hídrico, f. 23
Fig. 6 - Localização da Bacia Hidrográfica Lagos São João, f. 46
Fig. 7 - Diagrama do processo de criação da organização, f. 49
Fig. 8 - Mapa conceitual da logística da organização, f. 51
Fig. 9 - Diagrama do fluxo do trabalho participativo do Consórcio, f. 53
Fig.10 - Boom de algas em praia de São Pedro da Aldeia, f. 56
Fig.11 – Sociedade civil pressiona a ASEP, f. 59
Fig.12 - Panorama geral das interceptações, elevatórias e sistemas de tratam., f. 61
Fig. 13 – Modelo de representação das forças de tensão no processo de gestão, f. 64
Fig. 14 – Localização da bacia e sub-bacias, f. 68
Fig. 15 – Demarcação das principais Unidades de Conservação, f. 95
Fig. 16 – Níveis de participação do GELSA, f. 98
Fig. 17 – Níveis de participação no GERSA, f. 98
Fig. 18 – Níveis de participação no GELA, f. 99
Fig. 19 – Escolaridade, idade e sexo dos participantes, f. 102
Fig. 20 – Liberdade de expressão e regimes de poder, f. 103
Fig. 21 – Receita versus gastos do CILSJ em 2006, f. 109
Fig. 22 – Níveis de investimentos de 2002 a 2006, f. 111
Fig. 23 – Organograma do “Chesapeake Bay Program”, f. 113
Fig. 24 – Fontes de Nitrogênio para a Baia, f. 114
Fig. 25 – Arranjo do sistema de interceptação e tratamento do esgoto, f. 124
Fig. 26 - Representação esquemática da distribuição e trajetórias da água pluvial, f. 126
LISTA DE TABELAS
Tab. 1 - Estrutura organizacional do Comitê, f. 71
Tab. 2 - Composição da Plenária do Comitê, f. 72
Tab. 3 - Deliberação 001 do Comitê, cria os sub-comitês de bacia, f. 75
Tab. 4 - Volumes do Plano de Bacia do Comitê lagos São João, f. 78
Tab. 5 - Metas 2001 GELA, versus situação 2006 para bacia da Lagoa de Araruama e Rio
Una, f. 80
Tab. 6 - Metas 2001 GERSA, versus situação 2006 para bacia do Rio São João e Ostras, f. 82
Tab. 7 - Metas 2001 GELSA, versus situação 2006 para bacia da Lagoa de Saquarema e
Jaconé, f. 83
Tab. 8 – Listagem dos cap. da Agenda 21 atendidos no processo de gestão, f. 88
Tab. 9 – Deliberação do CILSJ de criação do GESAN, f. 91
Tab. 10 – Deliberação do CILSJ de criação do GEAP, f. 93
Tab. 11 – Deliberação do CILSJ de criação do GEICO, f. 96
Tab. 12 – Ações prioritárias para o CILSJ e demais entrevistados, f. 102
Tab. 13 – Acesso e disponibilidade das informações, f. 103
Tab. 14 – Comparação dos passos da Agenda 21 Local e do processo de gestão, f. 106
AGENERSA
ANA
AMLD
APA
ARBL
ASEP
CALSJ
CBHLSJ
CRBIO
CEDAE
CERHI
CILSJ
CNRH
COMDEMA
CONAMA
DER
EE
ETA
ETE
FEAM
FEEMA
IBAMA
IBGE
IDH
RESUMO
O presente trabalho buscou pesquisar as territorialidades que estão surgindo no
processo de gestão das águas, suscitado pela atual Política Nacional de Recursos Hídricos,
contratastando as possibilidades destas territorialidades com o contexto clássico de ausência
de processos efetivos de superação de obstáculos que vêm sendo observados no crescimento
das cidades e que resultam no seu ordenamento territorial. As relações sociais daí resultantes
foram apreendidas, e confrontadas aos princípios da Agenda 21, lançada internacionalmente
como instrumento de promoção de um novo padrão de desenvolvimento.
Mirando na nova legislação de recursos hídricos, buscou-se aferir através de um caso
prático, o da gestão participativa na Região dos Lagos - RJ, o surgimento de novas
territorialidades, suas relações subjetivas e os movimentos dos grupos sociais que a integram.
Sua organização e resultados foram pesquisados, indicando uma nova dimensão que se mostra
oportuna para novos regimes de poder por meio de novas territorialidades.
Como as experiências de gestão participativa por bacias hidrográficas, ainda são
muito novas no país, e a aplicabilidade dos instrumentos previstos na Lei de Recursos
Hídricos incitam o afloramento de territorialidades. O estudo conclui que estes processos de
gestão podem ser um excelente caminho para implantação de uma Agenda 21 regional, e
assim propõe uma plataforma de ações onde a gestão bacia hidrográfica insere e incita a
consolidação da agenda 21.
Palavras-chave: Processo Participativo. Gestão de Bacias. Agenda 21.
ABSTRACT
The present work looked for to apprehend the territorialities that are appearing in the
water management process, raised for the current Water Resources National Policy,
contrasting the possibilities of these territorialities, with the classic context of absence of
effective processes to transpose obstacles that has been observed in the growth of the cities,
which usually result in the territorial arranges. The social relationships gave resultants that
were apprehended, and were confronted to the beginnings of the Agenda 21, which represents
an instrument for a new model of development.
Aiming at the new water resource legislation, it was looked for the results of a
practical case, the one of the participatory management in the Lakes Region - RJ, the
appearance of new territorialities, your subjective relationships and the movements of the
social groups that integrates it. Its organization and results were researched, indicating a new
dimension that is shown opportune for new sources of power through new territorialities.
As the experiences of participatory watershed management were very newest in the
country, and the application of the instruments foreseen in Water Resource Law incites to
emerge territorialities, the study concludes that these management processes can be an
excellent way for the implantation of a regional Agenda 21, and also propose an action
platform where the watershed management inserts and stirs up the consolidation of Agenda
21.
Key-words: Participatory Process. Watershed Management. Agenda 21.
1 INTRODUÇÃO
O autor do presente trabalho tem envolvimento direto com o modelo de gestão em
estudo, e vem portanto desempenhando um papel bastante interessante visando à consolidação
da Política de Recursos Hídricos no Estado e no País. Fala-se aqui do interesse maior desta
política, que reside no fato de uma comunidade poder discutir e interagir junto com seus entes
federativos, e atores privados, no âmbito de uma bacia hidrográfica, os caminhos e soluções
para problemas que influenciam diretamente na qualidade de vida das pessoas que nesta bacia
vivem.
O autor teve a oportunidade de vivenciar situações inusitadas, aonde o controle social
nos processos de gestão ambiental vem aflorando e se consolidando, a ponto de efetivamente
mudar realidades bastante ruins, gerando reflexos incontestáveis no ordenamento territorial
ambiental aonde, independente do planejamento raramente existente, um viés de recuperação
ambiental vem a melhorar o processo de uso do espaço como um todo, recuperações estas
resultantes de ações de saneamento, de suspensão de processos extrativos predatórios, de
efetivação de planos diretores de unidades de conservação, e de tantas outras que refletem a
inquietude da população diante da inércia dos poderes constituídos.
Desta forma, um laboratório de pesquisa já estava montado desde o ano de 2000, e o
programa de pós-graduação em geografia com enfoque no ordenamento territorial ambiental,
no qual o autor ingressou no ano de 2004, reuniu todas as condições para o desenvolvimento
da pesquisa pretendida, que buscou identificar e qualificar os dados existentes, sabidos e
disponíveis, buscando assim avaliar sua eficácia em termos de resultados concretos, traçando
a partir de então um diálogo com a agenda 21 e suas possibilidades, além é claro de registrar
toda a experiência vivida, o que poderá contribuir muito, em futuros processos de formação
de gestão por bacias que ainda estão por começar na maior parte do território brasileiro.
15
A participação da área acadêmica no processo de gestão participativa em bacias é
ainda pequena, mas de fundamental importância, pois todas as mudanças necessitam de
conhecimento, que universidades por vezes já dispõe, ou no mínimo possuem as melhores
condições de desenvolver. A Universidade Federal Fluminense (UFF) já tem uma relação
histórica com a Região dos Lagos e Rio São João, com diversos estudos promovidos. Espera-
se portanto que este trabalho possa contribuir não só pelos resultados do projeto de pesquisa
proposto, mas também como instrumento de interação, ajudando assim a levar a Universidade
e o saber teórico ao campo da prática, dando respaldo e credibilidade as decisões locais.
1.1 PROBLEMÁTICA E JUSTIFICATIVA
Os modelos de gestão por bacias hidrográficas estão apenas começando a surgir no
país. Sua concepção, embora baseada no modelo francês, prima por dar um cunho formal e
oficial a participação da sociedade, garantido sua interferência no processo de tomada de
decisão. O próprio usuário é chamado à reflexão de seus históricos descasos, de forma
permanente através de sua participação no processo, que inclui ainda o pagamento pelo uso do
recurso natural (água). Já o governo passa a ter que expor com clareza seus objetivos e
limitações, e aprende assim a lidar com uma nova forma de governar mais democrática.
Toda experiência que cerca um modelo como esse, que dá espaço para o efetivo
controle social, é por si só importante e interessante, e merece ser estudado.
Os resultados de um estudo como o que se pretende fazer, poderá servir para o
aprimoramento do processo, não só no caso específico da bacia Lagos São João, mas também
para bacias que estão por implantar seus modelos.
Do ponto de vista do ordenamento territorial, as barreiras clássicas político-
institucionais podem estar sendo finalmente transpostas por um modelo que se afirme nos
princípios e diretrizes resultantes do equilíbrio gerado pela participação efetiva da sociedade
nas decisões.
1.2 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO
Objetivo geral:
16
Identificar a oportunidade de aplicação da Agenda 21 em processos de gestão de
bacias hidrográficas, tomando-se por base um estudo de caso e, propondo-se a partir então um
modelo de Agenda 21 por Bacia, com suas temáticas e linhas de ações identificadas.
Como objetivos específicos pretende-se:
- Contextualizar a questão de recursos hídricos, sua importância e influências
que exerce no ordenamento do território;
- Entender o olhar das categorias da geografia aplicadas aos processos
desenvolvidos numa gestão de bacia;
- Apreender, pesquisar, registrar e acompanhar os trabalhos de gestão por bacias
hidrográficas, atualmente desenvolvidos na região Hidrográfica das Bacias da
Região dos Lagos e Rio São João, com ênfase na forma de manejo das bacias
da região, qualificando e quantificando seus resultados, buscando entender sua
influência sobre o ordenamento territorial ambiental;
- Tirar lições a partir da interpretação dos trabalhos pesquisados;
- Estabelecer um diálogo entre o processo de gestão de bacia, em especial do
caso de estudo com os preceitos e propostas da Agenda 21;
- Apresentar uma proposta concreta para aplicação da Agenda 21 por Bacia
Hidrográfica;
- Tecer considerações sobre a importância dos preceitos da Agenda 21 para os
processos de gestão de bacia;
1.3 METODOLOGIA
Buscar-se-a inicialmente contextualizar a questão de recursos hídricos, sua
importância e influências que exerce no ordenamento do território, utilizando-se para tal,
pesquisas de estatísticas e dados de relatórios de institutos oficiais como o IBGE, assim como
de organizações como a ONU, UNESCO e WWF, entre outros.
17
A descrição de alguns processos de ocupação históricos no país e seus efeitos
deletérios para os corpos hídricos, como a eutrofização
1
e comprometimento do uso das águas
será relatado a fim de preparar a discussão sobre gestão.
Registros das primeiras iniciativas de se criar uma política de gestão das águas no país
serão descritos, e o modelo da atual de Política de Recursos também será descrito de forma
resumida, ainda dentro de um caráter introdutório.
Uma visão e interpretação sobre a aplicação das categorias da geografia e suas
correntes, frente aos processos desenvolvidos a partir da gestão de bacia, servirá de referencial
teórico para compreensão das diversas possibilidades de percepção do processo, ainda que a
categoria escolhida para ancorar a pesquisa seja o território, com o foco voltado para a
territorialidade, como sugerido no título.
Apreender, pesquisar, relatar, registrar e acompanhar os trabalhos de gestão por bacias
hidrográficas, atualmente desenvolvidos na região Hidrográfica das bacias da Região dos
Lagos e Rio São João, com ênfase na forma de manejo das bacias da região, qualificando e
quantificando seus resultados, buscando entender sua influência sobre o ordenamento
territorial ambiental e tirando lições a partir da interpretação dos trabalhos pesquisados será
fundamental para a pesquisa, e servirá de base para sustentar as discussões que se pretende
fazer com a agenda 21.
A escolha da bacia Lagos São João se deve em parte ao envolvimento do autor com os
trabalhos lá transcorridos, como dito na introdução da presente dissertação, mas também pela
repercussão do modelo de gestão lá praticado. Um farto acervo de relatos e registros vêm
sendo acumulado ao longo dos últimos sete anos, e seus desdobramentos fazem parte da
história da implantação da Política de Recursos Hídricos no Estado e no País. Portanto,
entender como vem sendo implantada a Política de Recursos Hídricos na região de estudo, a
bacia hidrográfica dos Rios São João, Una, Ostras e das Lagoas de Araruama e Saquarema,
será também um registro importante para futuros processos.
O levantamento de informações se dará principalmente através da informação
disponível no “website” do Consórcio Intermunicipal Lagos São João e do Comitê de Bacia
de mesmo nome, além de documentos editados por ambos os organismos. O contato
permanente com as instituições envolvidas também é peça chave para aquisição de
informações e dados.
1
Eutrofização - ou eutroficação é o fenômeno causado pelo excesso de nutrientes num corpo de água, o que leva
à proliferação excessiva de algas.
18
Uma análise de resultados da efetivação do processo de gestão será descrita a partir de
uma comparação das primeiras metas traçadas de forma participativa em 2001 pelos Grupos
Executivos de Trabalho das Bacias (GELA, GELSA e GERSA)
2
, com a situação das mesmas
em 2006 já com o Comitê de Bacia em plena atividade, via os três sub-comites que vieram a
substituir os grupos de trabalho, visando assim avaliar a eficiência do modelo adotado.
Estabelecer um diálogo entre o processo de gestão de bacia, em especial do caso de
estudo com os preceitos e propostas da Agenda 21, visando entender de que forma este
processo contribui para o cumprimento dos capítulos da Agenda 21.
Para confirmar tal avaliação, serão pesquisados dados através das atas de reunião do
Consórcio e do Comitê de 2000 a 2005, recortes de jornal, pesquisas de Projetos como o
Marca D’água
3
e entrevistas com atores diversos envolvidos, de que forma o processo de
gestão vem colaborando para viabilizar preceitos da Agenda 21.
Concluindo o trabalho será montada uma proposta de tópicos, nos moldes da Agenda
21 Global e da Agenda 21 Brasileira para aplicação da Agenda 21 por Bacia Hidrográfica.
Considerações finais serão tecidas sobre custos e vantagens do processo participativo
por bacia, e a importância dos preceitos da Agenda 21 para os processos de gestão de bacia,
tomando-se por base a gestão de bacia em “Chesapeake Bay” nos Estados Unidos, país que
apesar de desenvolvido, não adota a Agenda 21.
2
GELA, GELSA e GERSA – Grupos Executivos de Trabalho por sub-bacia hidrográfica, criados para promover
a gestão participativa (ver anexo 11.1)
3
Marca D’água – O projeto Marca d'Água é um estudo multidisciplinar da criação de instituições gestoras de
bacias hidrográficas no Brasil. A pesquisa reúne instituições nacionais e estrangeiras das áreas acadêmicas e
técnicas. O Marca D'Água surgiu a partir da iniciativa da Professora Doutora Margaret Keck, da Universidade
Johns Hopkins, em Baltimore, nos Estados Unidos, através do Centro de Políticas Públicas. No Brasil, o Projeto
Marca d´Água é coordenado pela Fundação de Empreendimentos Tecnológicos e Científicos (Finatec) da
Universidade de Brasília (UnB), através do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas. Durante cinco anos, a
partir de 2001, este grupo interdisciplinar de pesquisadores vai estar acompanhando e estudando o processo de
desenvolvimento do novo sistema de gestão das águas no Brasil. É uma análise independente que se propõe a
investigar e a comparar as experiências em pelo menos 15 bacias hidrográficas (na primeira fase 23 bacias foram
estudadas), distribuídas em quatro das cinco grandes regiões do país.
19
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO DE RECURSOS HIDRICOS
Sem água não há vida. Ela está presente não só na constituição física dos animais
como em todas as ações humanas: produção de energia, alimentação, transporte, integração,
turismo... Desde a Antigüidade, observa-se que o acesso à água é fonte de poder e ao mesmo
tempo ponto de conflito de interesses (ALMEIDA et al., 2002).
A água estará em foco neste novo milênio já aparecendo, com freqüência, nos
noticiários. Notícias sobre poluição, falta de água, seca e, mais recentemente, o problema da
geração de energia têm sido muito veiculadas.
A verdade é que sempre se pensou a água como um bem abundante e, por
conseqüência, inesgotável. Somente há pouco tempo nos demos conta de que da totalidade da
água que temos em nosso planeta, 97,5% é salgada, o que exigiria enormes investimentos para
viabilizar o seu consumo e mesmo sua utilização como insumo para o processo produtivo. Os
2,5% restantes são água doce, mas cerca de 75% destes encontram-se em forma de geleiras,
de modo que somente 0,78 % do total encontra-se disponibilizada para o consumo, mas parte
dela está poluída (Relatório WWF – Brasil, 2003).
Estes números não são novos, pois sempre foi assim, mas só agora que percebemos
que manejando de forma errada os 0,78%, estamos caminhando para sérios problemas. Além
disso, a população mundial aumenta, sendo crescente também seus níveis de urbanização e
industrialização, o que aumenta a demanda de água, cuja quantidade tem se mantido constante
ao longo dos últimos séculos. Assim, a deficiência em qualidade e quantidade de recursos
hídricos tornou-se evidente e preocupante.
A água não se encontra distribuída de forma homogênea em nosso planeta, bem como
sua demanda também é heterogênea, fato este que torna necessária uma eficiente gestão, de
maneira que se contemple o uso múltiplo dos recursos hídricos, com a água estando
disponível em quantidade e qualidade suficientes para os interessados, pois ela é um bem
natural público, logo é de todos. É obrigação do Estado fornecer água em quantidade e
20
qualidade para todos os segmentos da sociedade, não somente os que pagam ou que pagarão
por ela.
A água é também o recurso natural mais importante para a atividade econômica e
social da população, de forma que ela é hoje o mais importante vetor para a indução ao
investimento em determinadas regiões, representando um diferencial competitivo essencial
para definição de novos projetos.
O presente capítulo tenta desenvolver a idéia de que as questões ambientais,
principalmente no caso da água, estão cercadas de conflitos, e que na medida em que
avançamos na utilização do espaço físico, torna-se imperioso a Gestão dos Recursos Hídricos.
Atreladas a esta gestão estão conflitos humanos, sociais, e as idéias de Justiça e Direito. Aliás,
Maas (1962) já ressaltava como pré-requisitos para a Gestão, no caso de Recursos Hídricos, a
existência do Estado de Direito em sua sociedade democrática.
2.1 DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL
No Brasil, devido a irregular distribuição da população ao longo do território e a
irregular distribuição dos recursos hídricos, dos 182.633 m3/s disponíveis, perto de 80 %
ocorrem em regiões hidrográficas com densidade de população inferior a 10 hab/km2., ao
passo que 20% ocorrem nas áreas mais povoadas, cujas densidades atingem mais de 100
hab/Km2.
Vejamos os dados disponibilizados pelo IBGE:
O Brasil tem muita água, mas sua distribuição geográfica é irregular:
Distribuição dos recursos hídricos, superfície e
população
68
16
76
3
45
19
7
11
18
15
43
29
5
8
0
20
40
60
80
100
Norte Centro Oeste Sul Sudeste Nordeste
(%)
Recursos hídricos Superfície População
Região Norte - 68%
Região Centro-Oeste - 16%
Região Sul - 7%
Região Sudeste - 6%
Região Nordeste – 3%
Fig. 1 – Distribuição dos recursos hídricos, superfície e população
Utilização da água no Brasil:
21
Setor agrícola (com irrigação) - 60%
Indústrias - 20%
Abastecimento urbano - 20%
Total dos domicílios com abastecimento de água no Brasil:
Território Nacional - 86%
Cobertura dos serviços de abastecimento de água (%)
79,7
90,6
93,5
78,3
67,5
86,3
0
50
100
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Ce ntro
Oeste
Por região:
Região Sudeste - 94%
Região Sul - 91%
Região Centro-Oeste – 80%
Região Nordeste – 79%
Região Norte – 67% Fig. 2 – Cobertura dos serviços de abastecimento
Total dos domicílios com serviços de coleta de esgotos:
Território Nacional - 49%
Cobertura dos serviços de coleta de esgotos (%)
33,3
17,9
70,5
13,2
1,7
49,0
0
50
100
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro
Oeste
Por região:
Região Sudeste - 71%
Região Centro-Oeste - 33%
Região Sul – 18%
Região Nordeste – 13%
Região Norte – 2%
Fig. 3 – Cobertura dos serviços de coleta de esgotos
O Brasil, em relação à disponibilidade hídrica per capta (descarga média de longo
período dos rios, dividida pela população total), possui uma oferta de água doce perto de
40.000 m3/hab/ano, o que coloca o país na classe dos países ricos em água doce no mundo.
Entretanto, pode-se observar que em algumas áreas registra-se menos de 500 m3/hab/ano, o
que na avaliação das Nações Unidas significa muito pobre, como acontece em parte do
nordeste setentrional. No restante do Brasil as disponibilidades sociais variam entre regular
(1000 a 2000 m3/hab/ano), rica (10.000 a 100.000 m3/ano) e ainda como em casos extremos,
22
nas reg
mais do que os 0,3% dos rios e lagos. As águas
bterr eas são vitais para a manutenção de rios e lagos, pois elas que em geral os abastecem
iões hidrográficas do Amazonas e Tocantins, encontramos os maiores índices de
disponibilidade hídrica do Brasil, de 558.000 m3/hab/ano (SRH, 2002).
Ao falar em disponibilidade, é preciso considerar ainda a água subterrânea, que
corresponde à parcela mais lenta do ciclo hidrológico e constitui nossa principal reserva de
água, ocorrendo em volumes muito superiores ao disponível na superfície, ou seja: 29,9% dos
2,5% de água doce disponível no planeta, bem
su ân
nos períodos de seca, mantendo-os perenes.
g. 4 –
doce nos rios, não se tem, efetivamente escassez quantitativa de água no Brasil. Os problemas
Fi Principais rios brasileiros (Fonte: Ministério dos Transportes)
O que se pode relacionar do elemento recurso hídrico quando se pensa em termos de
ordenamento territorial é que apesar das diferenças na distribuição dos potenciais de água
23
atuais decorrem fundamentalmente, da concentração desordenada das demandas, da baixa
eficiência do fornecimento e principalmente pela degradação da qualidade em números nunca
imagin
nde 36.317 m³ estão disponíveis por pessoa/ano (Relatório sobre RH da UNESCO,
ados (como veremos no item 2.2).
A água apesar de elemento essencial à vida, e dada sua disposição diferenciada no
Planeta, não impediu que houvesse ocupações em áreas com pouca disponibilidade hídrica,
como é o caso hoje de 180 países e territórios, que dispõe de pouca quantidade de recursos
hídricos renováveis disponíveis per capta, considerando toda água encontrada na superfície ou
em lençóis freáticos mais profundos. É o caso, por exemplo, do Kuwait, com 10 m³
disponíveis por pessoa a cada ano, um forte contraste para paises como, por exemplo, o
Brasil, o
2003).
Fig. 5 – Áreas com estresse hídrico (Fonte: Water Management Institute (IWWI)) – Azul: Pouco ou nenhum
es
E
tresse – Cinza: Não estimado – Laranja: Próximo de estresse – Vermelho: Área com escassez – Marrom claro:
scassez por fatores econômicos.
.2 A HERANÇA DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO SOBRE AS ÁGUAS
marítima, ou fluvial, constituiu parte do esforço colonizador português. Toda esta situação
2
No Brasil, as facilidades das comunicações e o escoamento de mercadorias por via
24
marcou profundamente o modelo de ocupação no Brasil, recaindo sobre os ecossistemas
aquáticos forte pressão e degradação (PEREIRA, 2004).
Além disso, durante muitos anos estes ecossistemas aquáticos foram utilizados por
comunidades tradicionais de pescadores pequenos agricultores e extrativistas. Estes recursos
ambientais já foram utilizados pelos primeiros ocupantes do país, como atestam os numerosos
sambaquis dispersos nessas áreas (KNEIP, 1994). Um exemplo disto são as populações que
viviam dos mangues, em áreas estuarinas
4
, com a venda de caranguejo, moluscos e
crustáceos. Cabe ressaltar a importância do manguezal para o homem, uma vez que este
fornece uma grande variedade de organismos que são utilizados na pesca como moluscos,
crustáceos e peixes. A captura destes animais para comercialização e consumo permitiu ao
longo dos anos a sobrevivência de inúmeras comunidades em zonas estuarinas e a
manutenção de uma tradição e cultura próprias.
De um jeito ou de outro, esses ecossistemas extremamente produtivos foram
justamente às áreas escolhidas, para a implantação de vilas e povoados, e segue até hoje, dado
o modelo de exploração, estando ainda entre as áreas mais visadas para ocupação, sempre
voltada ao suporte de um modelo primário exportador. Não obstante, a intensificação no uso e
a degradação dos ecossistemas estuarinos, se deram também mediante a implantação de
projetos industriais. Além disso, houve a ampliação de portos e terminais para o escoamento
de produtos agrícolas e minérios, químicos e petroquímicos, caracterizados por indústrias
pesadas (DIEGUES, 1988).
Portanto, o modelo de crescimento do Brasil, fez com que a ocupação humana se
desse exatamente junto a estas áreas, degradando e ameaçando grande parte destes
ecossistemas. Mais da metade da população do país vive hoje a uma distância inferior a
sessenta quilômetros de distância do mar, em áreas cortadas por rios, e parte significativa da
produção industrial também se realiza nestas áreas, já que a água também é fator decisivo na
implantação de indústrias. Esta degradação pode ser medida não só pela supressão direta das
espécies vegetais e ocupação das áreas, mas também por problemas decorrentes ao desprezo
do papel que alguns destes ecossistemas desempenham, absorvendo e retendo águas de chuva,
controlando cheias de rios ou defendendo a faixa costeira de ressacas. Situações que são ainda
mais agravadas em decorrência dos problemas de infra-estrutura surgidos, com a interrupção
de sistemas naturais de drenagem, lançamento de lixo e de esgotos sem tratamento em corpos
4
Áreas estuarinas – áreas em que parte de um rio que se encontra em contato com o mar.
25
hídricos, aumentando a produtividade primária além da capacidade de suporte do meio.
Some-se a isto ainda os despejos de origem industrial com metais pesados.
O desmatamento em áreas de bacia e as inundações que assolam alguns centros
urbanos do Brasil estão intimamente relacionados. O desmatamento das encostas aumenta o
assoreamento
5
e diminui a capacidade de vazão dos rios, que somados à perda da capacidade
de retenção da água das chuvas, e à impermeabilização do solo com as construções nas
cidades, provocam as enchentes. Outro fator que pode potencializar os efeitos das enchentes é
o aquecimento da Terra ocasionado pelas mudanças climáticas.
As taxas de crescimento de inúmeras áreas ribeirinhas demonstram que a pressão
sobre estes ecossistemas é cada vez maior e resultante da expansão urbana, sempre associada
a grandes obras de engenharia como: aterros e dragagens. Não obstante, a problemática no
caso dos rios vai além das áreas de expansão urbana, registrando forte fator de pressão
também em áreas rurais utilizadas via de regra para mono cultivos.
A proximidade de centros consumidores tem sido um dos argumentos para instalação
de parques fabris junto ao litoral, assim como a necessidade de água para os processos
produtivos justifica a proximidade aos rios. As implicações para o meio ambiente com o
acréscimo da poluição, podem ser claramente visíveis nos ambientes aquáticos, que tem sua
turbidez elevada, reduzindo a penetração de luz, afetando a cadeia trófica, reduzindo o
oxigênio dissolvido na água e por fim modificando o habitat de peixes e aves, inviabilizando
por vezes o uso para agricultura e para o próprio consumo humano.
O aumento da oferta de detrito orgânico no ecossistema, como numa reação em
cadeia, interfere em processos de grande importância para o metabolismo do ecossistema
aquático, tais como: aumento da taxa de decomposição, que é um processo que consome
grandes quantidades de oxigênio da água (DBO) e incremento da concentração de nutrientes,
que fertilizam a coluna d'água, favorecendo o aumento de biomassa das algas. Além disto à
acumulação de resíduos orgânicos no fundo, onde reinam condições altamente redutoras,
causa à redução de sulfatos a gás sulfídrico e o processo de decomposição microbiana
anaeróbica gera gás metano. Ambos os gases são responsáveis por mau cheiro e podem
eventualmente provocar mortandades de peixes.
A sociedade urbano-industrial imprime profundas cicatrizes nos ambientes,
(degradação de solos e florestas, poluição dos recursos hídricos, aumento da carga de
poluentes na atmosfera, etc) em nome da modernidade e do progresso. O que realmente
5
Assoreamento - é a obstrução, por sedimentos, areia ou detritos qualquer corpo hídrico.
26
pretende, aonde quer chegar esta sociedade urbano – industrial com a manutenção de suas
práticas insustentáveis? (ALMEIDA, 2002).
Observa-se, entretanto que mesmo com o crescimento do setor fabril no Brasil,
aproximadamente 70% da poluição das águas é de origem doméstica e 30% de origem
industrial (Relatório WWF – Brasil, 2003).
Na desordem das cidades, os pobres são as primeiras vítimas de doenças relacionadas
à falta de saneamento e a inundações. São também os mais afetados pelo aumento da
incidência de doenças relacionadas à água, que hoje estão entre as principais causas de doença
e de morte em muitas áreas urbanas (Relatório da ONU, 2003).
Em todo mundo, cerca de 10 milhões de mortes anuais resultam de doenças intestinais
transmitidas pela água, e no Brasil, 70% das internações hospitalares são provocadas por
doenças transmitidas por água contaminada. Isto gera um gasto adicional de dois bilhões de
dólares por ano no sistema de saúde brasileiro. Os índices de desperdício de água no Brasil
chegam a 40% devido a problemas na tubulação e ligações clandestinas, entre outros
(Relatório WWF – Brasil, 2003).
Está previsto para o ano 2025 um aumento de 50% no consumo de água nos países em
desenvolvimento e de 18% nos países desenvolvidos, de acordo com o relatório da ONU. Os
efeitos deste aumento sobre os ecossistemas do mundo podem piorar dramaticamente a
situação atua. O relatório da ONU, descreve ainda o círculo vicioso causado pelo crescimento
da demanda pela água. Ao exaurir os recursos hídricos e poluir os rios, lagos e zonas úmidas,
estamos destruindo ecossistemas que têm um papel essencial na filtragem e no abastecimento
de recursos de água doce.
Não são somente as áreas urbanas que sofrem influência direta na ocupação do
território pela localização de recursos hídricos. A fronteira agrícola no Brasil avança com alto
nível de mecanização e utilização de recursos hídricos para os sistemas de irrigação, além do
uso de defensivos e fertilizantes agrícolas, gerando forte impacto nos recursos hídricos.
Disponibilidade hídrica é fator limitador para esta expansão, limite que não se observa no
avanço desta fronteira em Goiás e Tocantins, em direção a Amazônia. Estima-se ainda um
grande desenvolvimento da agricultura dos paises latino-americanos nos próximos 30 anos.
As monoculturas passam a predominar nas paisagens rurais visando abastecer os
centros urbanos tanto no interior dos diferentes países, como para garantir o fluxo de matéria
entre os países, fluxo esse, sobretudo dirigido aos países hegemônicos, que assim
externalizam seus custos de produção fazendo com que estes custos sejam arcados pelos
27
países produtores. Não nos esqueçamos que para produzir um quilo de soja são gastos 1000
litros de água em média.
Em contraste a está situação de crescimento da produção agrícola, alguns países já
vivem o limiar que assinala o ponto a partir do qual estes são forçados a fazer escolhas
difíceis, entre o setor de abastecimento urbano e o setor de abastecimento da agricultura.
No Brasil, além dos problemas do crescimento e concentração populacional junto às
áreas estuarinas e ribeirinha, a visão das autoridades (nas décadas de 70 a 90), indicava que a
solução para as questões hídricas estava nas obras de engenharia e não na gestão das bacias
hidrográficas. Este modelo levou a inúmeros projetos de retificação de cursos de água, que
objetivavam a drenagem de áreas alagadiças, construção de barragens e açudes e projetos de
transposição de águas que modificavam por completo a dinâmica natural de diversos
ecossistemas.
Hidroelétricas e barragens estão entre estas grandes obras, e contribuíram também para
o ordenamento do território, já que determinaram o fim e o surgimento de inúmeras cidades,
vilas e povoados. A geração de energia através de hidroelétricas está entre aquelas com custo
de produção mais barato no mundo, mas seu custo de implantação, considerando as áreas que
passaram a ser alagadas, mudanças de regimes hídricos dos rios, interferência no “habitat” de
inúmeras espécies, nem sempre é quantificado e suficientemente mitigado.
Pouco se pode falar ainda sobre a água subterrânea, pois persiste ainda um grande
desconhecimento, mas sabe-se que ela contribuí com a retenção de águas de chuva, controle
de cheias e possuem proteção natural contra agentes poluidores ou perdas por evaporação,
entretanto é fato que se contaminada, seus custos para recuperação podem ser proibitivos.
Mesmo assim, a captação de águas subterrâneas se generaliza, tanto para fins agrícolas como
de abastecimento urbano-industrial, com o uso crescente em todo o mundo, sobretudo nos
últimos 30 anos, de bombas a diesel e de poços artesianos. “O problema da água, literalmente,
se aprofunda” (GONÇALVES, 2001).
2.3 A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS E SUA INFLUÊNCIA NO ORDENAMENTO
TERRITORIAL
A história nos mostra que alguns povos tratavam da água com a verdadeira dimensão
de influência da organização do espaço (ordenamento territorial), como foi o caso do Império
28
Inca. O arranjo das vilas e povoados em forma de platôs que se ajustava à topografia,
tornando as terras cultiváveis, maximizava hidraulicamente a utilização do recurso “água”,
que escorria de um platô para outro. É uma demonstração inequívoca de que, já no século XII
havia povos que racionalizavam os princípios que hoje perseguimos.
A idéia de gestão por bacia não chega a ser nova, tanto que Worster em “La
democracia de cuencas” recuperando a visão de John Wesley Powell em 1890, p. 4, dizia:
Cada cuenca dentro de cada área de drenaje, sostenía Powell, debería ser medida y
abierta a los colonizadores como una sola unidad integrada. Los colonizadores que
ingresaran a la cuenca debería poseer en común esa tierra, o la mayor parte de ella,
así como el agua. Juntos, debería establecer reglamentos para administrar todo uso
dentro de una misma área de captura.
Worster, coloca Powell na condição de profeta do ambiente habitado, o profeta das
bacias hidrográficas, o profeta da democracia de bacias. Powell percebeu, já naquela época, a
paisagem norte americana de uma maneira revolucionária: como uma série de bacias, antes
mesmo do que como uma série de unidades político administrativas artificialmente
construídas. Dentro destas bacias imaginou uma nova sociedade que exibia suas raízes, uma
sociedade comprometida com valores comunitários e democráticos, e com comprometimento
à proteção destas bacias.
Apesar de vermos que visões de gestão por bacia não são necessariamente recentes,
pouco se fez ao longo do século XX para incorporá-la aos processos de produção e
transformação do espaço. Assim, chegamos ao século XXI com o desafio de melhorar a
eficácia do uso da terra e da água. A nível mundial, a irrigação é extremamente ineficiente –
aproximadamente 60% da água usada é desperdiçada. Nesta área, haverá uma melhora
estimada de apenas 4%. Há uma enorme necessidade de melhorias nos financiamentos de
tecnologias melhores e na promoção de melhores práticas de gestão (Relatório UNESCO,
2003). Por outro lado, a média de produção de grãos dobrou entre 1962 e 1996, indo de 1,4 a
2,8 toneladas por hectare em cada plantação, graças à introdução da irrigação. Isto significa
que a mesma quantidade de grãos pode ser produzida usando menos da metade da terra
cultivável. “Até 2030, é esperado que 80% do aumento da produção agrícola seja devido à
obtenção de um maior rendimento, à diversificação das culturas e a períodos mais curtos de
descanso da terra”, diz o relatório da UNESCO, 2003.
O uso de água residual tratada poderia amenizar a crise da água. Fazendeiros em
países em desenvolvimento já utilizam esse recurso em aproximadamente 10% da terra
29
irrigada, e poderiam aumentar esse percentual. Com o tratamento adequado, a água residual
pode até mesmo aumentar a fertilidade do solo.
Na área urbana, o panorama não é diferente, o desperdício de água tratada para
abastecimento humano chega aos 40%, e a falta de saneamento básico é generalizada, a
despeito dos dados fornecidos pelo IBGE constantes do item 2 deste estudo, que apontam para
um número irreal de cerca de 50% de domicílios atendidos por saneamento. Some-se a isso a
ocupação das áreas ribeirinhas e os processos erosivos e de assoreamento a que estão
submetidos nossos rios. A solução do século XX foi buscar a água para o abastecimento cada
vez mais longe, ao invés de conservar mananciais.
No Brasil, pode-se dizer que a primeira tentativa de se organizar uma gestão voltada
para as águas, surge na década de 30, com a decretação do Código de Águas, que tomou o nº
24.643 e foi publicado em 10 de julho de 1934. O Código de Águas trouxe para a época
alguns dispositivos polêmicos, que acabaram não sendo implementados, caso do princípio
usuário-pagador (Arts. 36, 109 e 110). Mas era bastante abrangente, já não se atinha apenas à
utilização das águas, mas também à ocupação de margens, à formação ou desaparecimento de
ilhas e aos efeitos de enchentes. Considerava as águas pluviais e a navegação e previa a
necessidade de autorização administrativa para que a agricultura e a indústria descartassem
efluentes (SRH, 2002).
Segundo Almeida (2002), o ordenamento é um dos instrumentos da gestão ambiental,
portanto seus caracteres normativos, fiscalizadores, controladores preventivos e corretivos,
devem ser harmonizados com uma proposta política crítica e responsável que vise ao
exercício da sustentabilidade, envolvendo todo o espaço (ambiente natural e social) para
evitar que só alguns setores sejam atingidos ou privilegiados. Daí a necessidade da
democratização de tomadas de decisão, ou seja, para se obter avanços nas políticas públicas
que visam ações interventoras sobre territórios, é necessário criar mecanismos de participação
ativa das comunidades envolvidas. Por outro lado, há de se questionar o papel do Estado, que
é, institucionalmente incumbido de legislar, normatizar e fiscalizar.
O Estado deve participar do processo de ordenamento territorial como interventor
(através de políticas públicas) e também como disciplinador das ações dos principais atores
não-estatais. Esses podem ser a sociedade civil, as ONGs, instituições financeiras (FMI,
BID,BIRD) e grandes corporações empresariais. Santos, M. (2000) faz a seguinte observação
sobre a atuação das forças hegemônicas e a situação do Estado: há um uso privilegiado do
território em função das forças hegemônicas. Estas, por meio de suas ordens, comandam
verticalmente o território e a vida social, relegando o Estado a uma posição de coadjuvante ou
30
de testemunha, sempre que ele se retira, como no caso brasileiro, do processo de ordenação do
uso do território. Então, sob o jogo de interesses individualistas e conflitantes das empresas, o
território acaba sendo fragmentado. Na ausência de uma regulação unificadora do processo
social e político, o que se impõe é a fragmentação social e geográfica também como um
processo social e político.
Em 1997, o Brasil aprova a Lei n. 9433, que institui a Política Nacional de Recursos
Hídricos prevendo processos participativos e instrumentos econômicos que promovam uma
utilização mais eficiente da água. O país vem, portanto, se preparando para participar dessa
nova forma de propor, construir e implantar políticas públicas, especialmente na área
ambiental, que é a proposta doutrinária que estrutura toda a legislação de gestão das águas
brasileiras.
Entre os principais fundamentos estão:
i) A água é um bem de domínio público;
ii) A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
iii) A Bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política
Nacional de Recursos hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
recursos hídricos;
iv) A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação
do Poder Público, dos usuários e das comunidades.
Entre os principais instrumentos estão:
i) O comitê de Bacia;
ii) O Plano de Bacia;
iii) A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos;
iv) A cobrança pelo uso de recursos hídricos;
v) A agência de água.
O comitê de bacia é a essência
6
dos instrumentos, constituindo-se em um fórum
deliberativo tripartite, ou seja: com participação dos governos, usuários e sociedade civil em
6
O comitê é a essência da Política de Recursos Hídricos - no entendimento do autor o comitê é a figura mais
importante da Política, por abrir espaço ao processo decisório e participativo. A cobrança pelo uso dos recursos
31
quantitativos que normalmente variam entre 20% e 40% por categoria, de acordo com a Lei
de cada estado. Nele são hierarquizadas as ações prioritárias para gestão e recuperação da
bacia, que é o Plano de Bacia Hidrográfica – PBH. No Comitê são dirimidos os conflitos
quanto ao uso da água, definindo-se assim as regras para a outorga, que é o direito de uso de
um determinado quantitativo de água.
É importante entender que o Comitê é um instrumento de governo e não do governo, a
gestão continua pública, e assim deve ser, mas com base nas decisões participativas. Para
colocar o Plano de bacia em curso, o Comitê deve decidir sobre a chamada cobrança
condominial, ou seja, o quanto cada usuário do recurso hídrico vai pagar pelo metro cúbico de
água captada ou devolvida ao curso d’água, para que os programas e projetos da bacia sejam
custeados. Estes recursos devem ser geridos por uma Agência, que diferentemente do Comitê
tem personalidade jurídica, e a quem cabe executar os planos e projetos aprovados e decididos
pelo Comitê.
O meio ambiente, que não tem quem o represente no processo econômico, encontra-se
convenientemente enquadrado, no caso da Política de Recursos Hídricos, ao se dar preço à
água. O que tem preço pode ser vendido e pode ser comprado; o que não preço não é
negociável. Então por trás de eventuais e ingênuos exercícios de natureza contábil se
escondem, ou podem vir a se esconderem profundas questões de ordem ética e moral
(PEREIRA, P. A .S, 2000).
Este é um dos pontos mais controversos da Lei, entretanto o comitê é quem define as
regras da cobrança e, portanto pode através destas regras, de forma participativa, definir quais
por exemplos os processos produtivos que devem pagar mais, e quais por questões sociais
devem ser isentos. Um simples exercício de cálculo mostra que pelos valores praticados até
agora no país no exercício desta cobrança, a arrecadação é infinitamente aquém das
necessidades, por exemplo, de gastos com tratamento de esgotos das cidades. Isto demonstra
que não há como substituir os investimentos estruturais para os quais inclusive existe a
obrigação das esferas públicas de investir. O Comitê pode sim, se bem trabalhado representar
para o poder público o anseio local e assim configurar-se como um indutor de políticas
públicas, tenso o compromisso de ajudar a encontrar meios para viabilização de projetos, haja
vista a disponibilidade de recursos públicos.
hídricos, imaginadas por alguns como
32
Não obstante à preocupação com a mercantilização da água, a aplicabilidade dos
princípios e instrumentos da Lei n. 9433/97, traz consigo a possibilidade do surgimento de
novas territorialidades, diante da condição de acesso que é dada a grupos e pessoas de
influírem decisivamente através do Comitê de Bacia, fórum deliberativo. Esta nova
territorialidade é condição indispensável para o surgimento de novos territórios, onde a água
se inscreve como elemento de união de multiterritorialidades, diferindo assim do território
clássico, onde a delimitação do espaço obedece a critérios geo-políticos.
Constitui-se assim um campo fértil para o surgimento de um modelo de governança,
onde não se pretende substituir o papel do Estado, mas torná-lo mais democrático a
participação daqueles que produzem o espaço.
Na avaliação de Almeida (2002), em países subdesenvolvidos, o Estado precisa
assumir papel central no caminho da sustentabilidade, pois o sistema social desses países é
marcado por fortes injustiças, precariedade de serviços, desemprego e concentração de renda.
Daí a necessidade de um Estado ativo (não coadjuvante de forças hegemônicas) e de uma
gestão descentralizada, participativa e integrada. A criação dos comitês será fundamental,
pois, através deles, se estabelecerá um canal de comunicação com as comunidades envolvidas.
A proposta é, realmente, acabar com as metodologias diretivas que impõem planejamentos de
cima para baixo e que, na maioria das vezes, só atendem às necessidades da reprodução do
capital em detrimento do social.
É importante portanto, considerar que no ordenamento territorial, o conhecimento da
dinâmica ambiental é que irá instrumentalizar os processos decisórios com vistas a atingir a
qualidade ambiental. A noção de ambiente a qual nos referimos compreende tanto o meio
físico (análise da dinâmica natural), quanto o meio social (economia, tecnologia, culturas) que
se encontram em complexas interações, a relação sociedade e natureza. Tal relação é criadora
de novas dinâmicas que precisam ser investigadas.
Atualmente, pode-se dizer que o país possui uma legislação avançada de gestão das
águas, onde se destacam questões como descentralização espacial (bacias hidrográficas),
política (Comitês de Bacia), técnica (Agência técnicas de Bacias) e financeira (recursos
obtidos pela cobrança pelo uso da água), e ainda a negociação coletiva e a inserção do
cidadão, através de seus representantes nos Comitês de Bacia, no processo decisório do futuro
dos recursos hídricos na sua região.
No processo de gestão via comitês, conceitos como escassez quali-quantitativa, água
como um bem natural público dotado de valor econômico e social, exercício da cidadania
através da informação, papel social do técnico e da tecnologia, outorga, licenciamento
33
ambiental, sistema de informações, cadastro de usuários, enquadramento dos rios conforme
resolução do CONAMA, planos de bacia, cobrança pelo uso da água, principio usuário-
pagador, desenvolvimento sustentado e outros, fazem parte da vida cotidiana de um número
cada vez maior de brasileiros.
Com algum atraso em relação à Lei das Águas de 1998, em 2000, foi criada a Agência
Nacional de Águas (ANA), responsável por implementar a nova Lei. Ao mesmo tempo estão
sendo criados os Comitês de Bacias, que contam com a participação dos usuários, da
sociedade civil organizada e dos governos, promovendo a discussão e a viabilização de
soluções.
Para o sucesso da gestão, convém olhar para sistemas bem sucedidos em Gestão dos
Recursos Hídricos, como o sistema francês, que reduziu a carga de poluição de seus rios em
mais de 60%, e que adotaram as bacias hidrográficas como unidades territoriais para
implementação, gerenciamento e que registram como principais armas à descentralização e
transparência.
Outro tipo de organização, os consórcios de municípios organizados em bacias
hidrográficas tem obtido grandes resultados na gestão dos recursos hídricos, como o caso do
Consórcio Piracicaba Capivari em São Paulo, com mais de dez anos de existência, ou o Lagos
São João no Rio de Janeiro (que será objeto deste estudo), com mais de cinco anos.
Compreendem um tipo de associação, prevista nas constituições estaduais, que facultam aos
municípios, mediante aprovação das respectivas Câmaras Municipais se associarem, seguindo
as diretrizes preconizadas nas Políticas Nacional de Recursos Hídricos, Lei nº 9.433 de 08 de
janeiro de 1997 e as Leis Estaduais de Recursos Hídricos, as quais possibilitam por exemplo,
que as bacias hidrográficas sejam trabalhadas dentro de seus limites e seus potenciais
hídricos, a utilização de novos paradigmas relativos aos usos múltiplos da água, permitindo o
acesso a todos os usuários.
Este capítulo, após caracterizar sinteticamente processos de influência da ocupação do
solo nos recursos hídricos, abordar sua gestão e a participação de atores sociais, procura desta
forma contextualizar o momento que vivemos, em termos de uma ausência de concretude de
processos efetivos de superação dos obstáculos clássicos, que vêm sendo encontrados ante o
crescimento das cidades e seus problemas.
34
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 UM OLHAR DA GEOGRAFIA SOBRE O PROCESSO DE GESTÃO DE BACIA
3.1.1 O ESPAÇO
Comum a todos na geografia, o conceito de que geografia tem a ver com espaço,
permite iniciar nossa jornada, avaliando de início as correntes que afirmam que o espaço
ganha significado dependendo do uso que alguém faz dele, ou de que, não se pode dizer que o
espaço seja só sua composição física, pois deste modo, perderiam-se as práticas sociais.
Assim sendo, para explicar um espaço, temos que estudar a sociedade e sua relação com este,
o que pretendemos fazer, ao analisar a multiplicid
35
Recorreremos freqüentemente durante a elaboração deste trabalho, a abordagem feita
por Soja (1993), que evidencia que as constantes tentativas de classificar a espacialidade
desprezando uma de suas componentes, remeteu a distorções. Não há como desconsiderar as
relações sociais e a atuação da mente na produção da espacialidade.
Componentes da Espacialidade:
Social
Local Mental
Tal inter-relação se mostra inseparável. Um exemplo disto pode ser visto quando
Ignacy Sachs (1995) cita que: “as mesmas produções localizadas em lugares diferentes, têm
impacto sociais e ambientais totalmente diferentes”. Isto vem a demonstrar a variável de
opções ao se caracterizar uma espacialidade. Qualquer pequena diferença em uma das
componentes produzirá resultados diferenciados.
Exatamente por isto é um processo dinâmico, no qual Soja defende que sua matriz
necessite ser constantemente reforçada, até mesmo reestruturada, na perspectiva de que a
espacialidade seja socialmente reproduzida, justificando aí os permanentes processos de
conflitos e crises.
3.1.2 PAISAGEM, LUGAR E TERRITÓRIO
A geografia, enquanto ciência social, tem como objeto de estudo a sociedade que, no
entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte grau de parentesco,
pois todos se referem a ação humana modelando a superfície terrestre: espaço, paisagem,
região, lugar e território (CORRÊA, 2003).
Sobre o espaço, optou-se por abordar distintamente, por ser uma categoria que não
exclui qualquer outro conceito.
36
Já os demais conceitos, guardam uma relação estreita diante da abordagem que se
pretende fazer sobre a gestão em bacias hidrográficas. Senão vejamos: Para começar a
interpretar a relação do ser com o espaço, é preciso apreender de início aquilo que uma
sensorialidade organizada permite, através da paisagem, constituindo-se em uma ordem
carregada de valores de relação que influenciam o sentido de mundo para o ser. Toda esta
relação é mediada pelo simbólico, ou seja, tudo aquilo que conseguimos compreender. A
paisagem é, portanto tudo aquilo que se vê no campo do sensório, ou seja, a leitura do espaço
através do olhar, fazendo desta forma a mediação entre o concreto e o subjetivo. Essa
representação do real, é claramente visível em um processo de gestão participativa, onde
colocamos o “logos” (leis e razões) e o “mitos” (fatos) em discussão (contradição). Há,
portanto que se analisar os simbólicos de diferentes atores, pois para alguns, a visão de outros
sobre determinados temas, simplesmente pode não ser levada em conta, já que foge a sua
compreensão ou saber. Nestes caso pode ser necessário desvendar aquilo que não se enxerga.
O movimento do conhecimento transforma o paisagístico em território, e a relação
entre paisagem e território concebe a ordem do lugar. Tudo isto, em uma determinada região
dada a técnica e características que se use ao classificá-la.
A construção do espaço geográfico, pode ser vista como resultado da epistêmia:
Paisagem ____________ Território
Lugar
A resultante de como o ser converge a aparência e a buscada essência, como ato,
configura o que chamamos de ontologia (o estudo do ser e sua relação com o mundo).
Mesmo na fenomenologia, enquanto alternativa a geografia teorética e a geografia
crítica, reconhece que cada pessoa constrói seu mundo (seu lugar) a partir de seus
referenciais. Desta forma o lugar passa pela dimensão da vivência, sendo categoria primordial
da geografia, sem o qual não existem as outras. Uma visão interessante pode relacionar que o
território é um arquipélago de lugares, que são referenciados a partir de uma paisagem, e
ainda que a construção do território se dá através da gestão, gestão representada pelo acesso
ao poder decisório conferido pelo processo participativo, podendo ser ainda representado em
uma escala maior, como uma região, conferidas características que assim a definam.
37
O presente trabalho, parte do princípio de que o território clássico surgido após 1648,
com a Paz de Westfália, que evoluiu para o Estado Nacional, vem a cada dia revelando suas
limitações, em especial no campo ambiental, onde os corpos hídricos e ecossistemas, não
conhecem ou reconhecem os limites territoriais definidos na geografia política do homem
moderno. É dentro deste princípio, inspirado no modelo francês, que o Brasil passa a adotar a
partir de 1997, com a promulgação da Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei nº
9433/97), a bacia hidrográfica como território de gestão e planejamento, aliada a ao princípio
da gestão descentralizada. Conspira assim, esta política, para o surgimento de novas
territorialidades, resultantes do acesso que é dado a sociedades, indivíduos e todas as
subjetividades do espaço geográfico.
A água tem que ser pensada enquanto território, isto é, enquanto inscrição da
sociedade na natureza com todas as suas contradições implicadas no processo de
apropriação da natureza pelos homens e mulheres por meio das relações sociais e
de poder. (GONÇALVES, 2004, p. 5)
Não há, portanto, como desperdiçar ou negar a oportunidade para que novos
protagonistas locais e regionais venham à cena política, constituindo-se de novos regimes de
poder por meio de novas territorialidades. Há, portanto um desafio entre o ousar e empreender
a geograficidade na gestão da bacia, incorporando todos os atores que tradicionalmente têm
sido desprezados nos processos políticos decisórios.
Para existir território, tem que haver territorialidade, mas alguns poderão dizer que se
pode ter territorialidade (existem as condições), mas não existe o território concretizado,
assim sendo a territorialidade é um simbolismo do que é o território, o que pode ser
representado pela figura abaixo:
Dominação Apropriação
(funcional) (simbólica)
Território com experiência total do espaço
A multi-territorialidade assume papel fundamental na análise da participação social,
quer seja por indivíduos, enquanto atores sociais, na dinâmica capitalista globalizante, que
38
transitam entre vários espaços no seu cotidiano, quer seja pela necessidade de romper
barreiras entre diferentes territórios formados por grupos em suas relações rotineiras.
A análise destes conceitos, se dá separadamente, entretanto, em um segundo momento
far-se-á necessário a rejunção destes para se obter as formações territoriais, que é a forma da
geografia ler a história.
3.1.3 REGIÃO
A região guarda íntima relação com a bacia hidrográfica, não por menos, já havia
antecedentes na geografia do século XVIII, onde as bacias hidrográficas eram vistas como
demarcadores naturais das regiões.
Mais recentemente, a regionalização passa a ser uma tarefa de dividir o espaço
segundo diferentes critérios que são devidamente explicitados e variam segundo as intenções
explicativas de cada trabalho (GRIGG, 1967).
Pode-se entender que uma relação de escala está associada à conceituação de região
na gestão por bacia hidrográfica, por exemplo, na escala do nível estadual e até federal, a
bacia hidrográfica pode ser encarada com uma região, que dá direcionamento às relações
entre estado e união com a gestão ambiental regional, aliás esta relação é reforçada nas Lei
Federal n. 9433/97 e na Lei estadual n. 3239/99. Ambas as leis pré-identificam critérios gerais
e uniformes (no caso a bacia hidrográfica) que estrutura o espaço.
A região será, portanto um conceito chave ao se discutir as relações políticas dos
processos de gestão participativa com o poder governamental, quer do Estado, quer da União.
Sem dúvida, no escopo do trabalho, haverá o questionamento de que estes movimentos
regionais contestam a malha administrativa e gestionária do Estado, como uma manifestação
dos interesses locais em face de uma burocracia esmagadora do poder central, muitas vezes
insensível às diferenças e às desigualdades.
...a região tem em sua etimologia o significado de domínio, de relação entre um
poder central e um espaço diversificado. É hora talvez de estabelecer que na
afirmação de uma regionalidade há sempre uma proposição política, vista sobre
um ângulo territorial. (GOMES, 2003, p. 50)
39
A região é portanto sempre uma discussão entre os limítes da autonomia em face de
um poder central.
3.1.4 ESCALA
A escala enquanto recurso matemático fundamental da cartografia, sempre foi uma
fração que indica a relação entre as medidas do real e aquelas da sua representação gráfica,
entretanto esta utilização esta longe de esgotar as possibilidades deste conceito.
No caso em questão, a escala pode ser trabalhada como referencial ao recorte sob
investigação, sendo sua variação sempre correspondente a uma mudança no nível de análise.
A escolha adequada da escala é fundamental, pois ela é quem irá conferir visibilidade ao
fenômeno, assim sendo é preciso adotá-la como estratégia de apreensão da realidade.
...quando se trata de estudar a distribuição de poder entre os diversos grupos da
sociedade, impõe-se o recurso a uma problemática do poder, de influência e de
análise dos processos de tomada de decisão nas escalas adequadas...
....Esta perspectiva tem conseqüências imediatas quando o objeto do estudo é a
territorialidade do poder e aponta a necessidade de diferenciar as suas
características em escalas diferentes...(CASTRO, 2003, p. 128)
A operacionalidade da escala de observação, permite ainda a apontar para mudanças
de conteúdo e de sentido do fenômeno da urbanização, não apenas como uma forma de
organização do espaço, mas também como um fenômeno social complexo.
3.1.5. REDE
É preciso romper com a dicotomia entre território e rede, pois através de redes você
interliga os fragmentos. Esta afirmação faz grande sentido no estudo de caso que o autor
aborda, já que as relações entre diversos dos atores sociais se dão por meio de redes, em
especial entre a ONGs, assim estas instituições têm suas identidades configuradas para além
dos territórios locais, enquanto sua intervenção ganha legitimidade em virtude, em grande
40
parte, dessa crise de territorialidade, no nosso caso o (des)ordenamento do território,
representado pela ausência de políticas nas áreas de saneamento básico e do próprio uso do
solo. Por vezes entidades não-governamentais isoladamente podem ser mais a expressão da
fragilidade da sociedade civil do que de sua força.
Destaque-se que essas entidades não têm mandato nem representatividade
política para falar em nome de que quer que seja, retirando sua legitimidade
da moral e do apelo, cada vez mais freqüente, à ética que, assim, ocupam,
cada vez mais, o papel da política. (GONÇALVES, 2001, p. 32)
Entretanto ao se relacionarem com outros grupos sociais, privados e governamentais,
como ocorre na gestão de bacia passam, por força da necessidade de dialogar a interagir de
forma pró-ativa e voluntária nas questões em pauta.
A denominação de rede está intrinsecamente ligada a “ponte”, que cumpre o papel de
interligar pontos antes separados, que ao se interligarem podem atuar de forma conjunta
tornando-se mais fortes, solidários.
As redes podem ser vistas como instrumento valioso para a compreensão da dinâmica
territorial, analisá-las implica em, ao invés de tratá-las isoladamente, procurar suas relações
com a urbanização, com a divisão territorial do trabalho e com a diferenciação crescente que
esta introduziu entre as cidades (DIAS, 2003).
É preciso entender as redes como espaço de conquista do território, de poder, em se
relacionar com outros atores dos processos de gestão, como o estado e o setor privado. Não
obstante, a imprensa configura em boa parte das vezes, a liga final que dá peso (poder) ao
grupo solidarizado em rede, fazendo com que está seja respeitado, ou ao menos ouvido.
Outro grande mérito da rede diz respeito às condições de acesso que permitem aflorar
territorialidades, já que são fortes disseminadoras e por assim dizer socializadoras de saber,
saber este, indispensável a melhor compreensão das relações e da própria percepção do ser
com o espaço.
...a análise em termos de redes de movimento implica em buscar as formas de
articulação entre o local e o global, entre o particular e o universal, entre o uno e o
diverso, nas interconexões das identidades dos atores com o pluralismo. Enfim,
trata-se de buscar os significados dos movimentos sociais num mundo que se
apresenta cada vez mais como interdependente, intercomunicatico, no qual sugere
um número cada vez maior de movimentos de caráter transacional, como os de
direitos humanos, pela paz, ecologistas, feministas, étnicos e outros. (SCHERER-
WARREN apud DIAS, 2003:158)
41
3.2. A MULTIPLICIDADE DE ATORES NO CONTROLE SOCIAL E NO PROCESSO
DECISÓRIO EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
O grande desafio imposto ao ser humano nas últimas décadas vem se manifestando
freqüentemente na expressão “desenvolvimento sustentável” , mas o que representa na
essência este conceito?
O Desenvolvimento Sustentável é um desenvolvimento que provem serviços
ambientais, sociais e econômicos básicos a todos, sem prejudicar a viabilidade dos
Sistemas ecológicos e comunitários dos quais dependem estes serviços. (ICLEI,
1996)
Fala-se muito que o conceito de sustentabilidade está associado à conservação de
recursos para futuras gerações, em entregar um meio ambiente equilibrado, no mínimo em
iguais condições a que recebemos, para a próxima geração. Entretanto, percebe-se que esta
expressão resume por demais a gama de variáveis de difícil controle. Um exemplo disso,
segundo Sachs, é que as mesmas produções localizadas em lugares diferentes, têm impactos
sociais e ambientais totalmente diferentes, em outras palavras, a política de ordenamento
territorial é uma parte integral da estratégia de desenvolvimento.
Há que se analisar as diversas variáveis que interferem neste comportamento, em
especial em casos de novos espaços políticos, como aqueles proporcionados pelo modelo de
gestão participativa em bacias hidrográficas. Nestas, o controle social representa o trabalho de
uma sociedade unida ao redor de problemas, que são definidos a partir de uma visão holística.
Até hoje, um dos maiores instrumentos de controle social existente é o voto, meio pelo
qual o cidadão elege seus representantes para o comando do poder executivo e para o
legislativo. Entretanto, a realidade vivida no Brasil mostra que estamos longe de um estágio
de controle como descreve Darcy Ribeiro em O Povo Brasileiro;
“A estratificação social gerada historicamente tem também como característica a
racionalidade resultante de sua montagem como negócio que a uns privilegia e
enobrece, fazendo-os donos da vida e aos demais subjuga e degrada, como objeto
de enriquecimento alheio. Esse caráter intencional do empreendimento faz do
42
Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não estrutura
a população para o preenchimento de suas condições de sobrevivência e de
progresso, mas para enriquecer a camada senhorial voltada para atender às
solicitações exógenas.”
Este quadro, configurado por uma concentração do poder decisório nas mãos do
Estado Governo, de onde se espera resultado e soluções para todos os problemas, retrata-se na
dinâmica empreendida ao se governar, ficando o povo subjugado, a mercê dos interesses e
pressões de grupos mais poderosos. A divisão de poder portanto não existe, o controle social
mostra-se inócuo e não apresenta resultados no que tange as inquietudes de alguns segmentos,
abrindo desta forma espaço para reações diante das insatisfações.
Assim sendo, criam-se as condições para movimentos sociais, em especiais os
ecológicos, que se organizam e lutam... Há um traço comum a esses movimentos:
todos eles emergem a partir de determinadas condições sociais de existência que
lhes dão substância. (GONÇALVES, 1998)
Uma estrutura social híbrida, instável, mas muito dinâmica, faz-se hoje ouvir em
múltiplas vozes da sociedade civil que rapidamente organiza suas demandas “de
baixo para cima”, informalmente ou em projetos alternativos, como nunca antes
verificado na história do país, e nos mais longínquos rincões do território. Alguns
desses movimentos são temporários, correspondendo a pulsações em torno de uma
reivindicação, que cessam quando ela é alcançada. Outros se tornaram duradouros
e se institucionalizaram. (BECKER, 2000)
Segundo Liszt Vieira (2000), a distinção entre movimentos sociais e grupos de pressão
nem sempre é muito clara, já que os primeiros defendem os interesses públicos de forma
aberta e transparente, fortalecendo com sua ação a esfera pública, já os segundos,
caracterizam-se pela defesa de seus interesses particularistas.
O Controle Social via processo de gestão nas bacias hidrográficas, representa uma
nova abordagem de gestão ainda pouco explorada, já que seu espaço veio a se abrir
formalmente após a implantação da nova Política de Recursos Hídricos (Lei Federal 9433/97).
Apresenta-se como uma nova abordagem, pois representa a participação de novos atores no
processo decisório, interferindo e regulando aos poucos o papel antes exclusivo do Estado
enquanto definidor das políticas públicas, e assim sendo, único capaz de solucionar os
problemas, ou de quem cobrar as soluções, para a assunção de um novo “status” onde a
sociedade organizada e unida em torno dos problemas de uma determinada bacia hidrográfica,
debate junto ao primeiro e segundo setores como superar os obstáculos que impedem o
43
ordenamento territorial ambiental. A natureza destes obstáculos é maior do que a simples
ineficiência da máquina pública, e representam superação de condicionantes políticas que
durante décadas dificultaram processos voltados para a gestão participativa, desacorrentando
o Estado e efetivamente influenciando nos processos de decisão.
Em o Mito Moderno da Natureza Intocada, Diegues (1996) conceitua que em espaços
comunitários torna-se necessário analisar o sistema de representações que indivíduos e grupos
fazem de seu ambiente, pois é com base nelas que eles agem sobre o ambiente.
Assim sendo, podemos dizer que a partir da democratização das discussões e decisões
proporcionada pelo modelo de gestão do organismo de bacia, temos verdadeiramente a
reflexão e participação dos movimentos sociais não só filosoficamente, mas em sua interação
com os demais processos de ocupação e uso do solo na bacia, e da própria interação do
homem com o restante dos ecossistemas, todos em busca da dita sustentabilidade, que embora
expresse uma amplitude de conceitos e varáveis, indica certamente o inverso do que estamos
vivendo, ou seja o (des)ordenamento territorial.
O terceiro setor
7
, se diz à representação da busca e do anseio de se construir uma
sociedade mais ordenada. A construção de agendas 21, noções de desenvolvimento
sustentável estão mais presentes a cada dia em grupos sociais, entretanto como colocar em
prática estes princípios tem-se mostrado um grande desafio. Esta representação se dá a partir
da mudança do modelo decisório centralizador, para o descentralizador com a efetiva tomada
de decisão compartilhada.
É preciso repensar o ordenamento para além das soluções meramente tecnicista e
pouco refletida. O ordenamento, a serviço da sustentabilidade, precisa fazer parte
de uma política de gestão ambiental que permita conjugar a avaliação crítica dos
reais interesses dos atores sociais com a capacidade de suporte dos territórios.
(ALMEIDA, 2002, p. 16)
O conceito de sociedade civil implica o reconhecimento de instituições
intermediárias entre o indivíduo, por um lado, e o mercado e governo, por outro.
Essas instituições mediadoras cumprem o papel de institucionalizar princípios
éticos que não podem ser produzidos nem pela ação estratégica do mercado nem
pelo exercício do poder de Estado. (VIEIRA, 2000, p. 22)
7
Terceiro setor - O Terceiro Setor é assim chamado porque engloba instituições com fins públicos, porém de
caráter privado, que não se enquadram, portanto no Primeiro Setor (Estado). São regidas pelo direito privado,
mas não possuem objetivos mercantis, também não sendo qualificadas como instituições do Segundo Setor
(Mercado). Fazem parte do denominado espaço público não estatal. Qualificam-se como entidades do Terceiro
Setor as ONGs, associações, fundações, entidades de assistência social, educação, saúde, esporte, meio ambiente,
cultura, ciência e tecnologia, entre outras várias organizações da sociedade civil.
44
Ao tentar entender a crise instalada no (des)ordenamento que assistimos do território,
podemos buscar referência na teoria do caos sistemico, lembrada por Carlos Walter
Gonçalves em da Geografia às Geo-grafias, 2001, onde suscita que a criação das chamadas
Organizações Não-governamentais, regulamentadas pela própria ONU já quando da sua
criação, foi um primeiro indício desse “caos sistêmico”, dos conflitos de territorialidades que
haveriam de se explicitar mais tarde. Afinal, o ente jurídico que protagonizara formalmente a
criação da ONU fora exatamente o Estado Territorial Nacional e vemos essa mesma
organização consagrar formalmente entidades que se põem como não-governo, cuja atuação
sobrepõe-se a qualquer Estado Territorial Nacional.
Podemos, no entanto nos valer desta mesma teoria para explicar o surgimento de
movimentos que buscam encontrar aquilo que o atual Estado não tem conseguido
proporcionar.
Recuperemos, aqui, o significado de todo movimento social que a partir das
contradições materialmente postas procuram construir um determinado ethos. Não
sem sentido se auto-designam como União, Liga, Associação na medida que
buscam a ligação entre cada um e todos (re-ligare). Para isso precisam recuperar a
palavra que é meio de ligação, pois é por meio da palavra que se constrói sentidos.
(GONÇALVES, 2001, p. 42)
Na abordagem da tese sobre a gestão em bacias hidrográficas, não se pode imaginar
que algum modelo vá substituir o papel do Estado, do público, mas sim, na condição de fazer
a gestão do público de forma participativa. O grande desafio então, vai além de só o de
gestionar (dialogar), requer que não se perca de vista o papel de que todos os atores que atuam
no processo de gestão, em especial o Estado, tem que estar fortes, capazes de desempenhar
suas funções.
Para que se constitua em um modelo de gestão bem sucedido, será necessário
realmente ascender a geograficidade, incorporando todos os atores que tradicionalmente tem
sido desprezados nos processos político decisórios, falamos daqueles que representam desde a
comunidade tradicional à ciência do saber das Universidades;
“La eficacia de la ciencia le ha conferido una legitimidad dentro de la
cultura hegemónica del Occidente como paradigma “por excelencia” de conoci-
miento, negando y excluyendo los saberes no científicos, los saberes populares,
los saberes indígenas, tanto en el diseño de estrategias de conservación
ecológica y en los proyectos de desarrollo sostenible, así como en la resolución
de conflictos ambientales. (Manifesto por la vida, por una ética para la
sustentabilidad, 2002, p. 5)
45
É evidente que ao se colocar frente a frente, em um mesmo fórum, com igualdade de
expressão, governantes, usuários, setor em que a legislação inclui, das companhias de
abastecimento aos pescadores, além da sociedade civil, representada por seus grupos
organizados, quer sejam associações, ongs e universidades, uma enormidade de conflitos
latentes ou não, haverão de vir à tona.
Faz-se necessário gerir os conflitos que ocorrem nesta territorialidade segundo dois
segmentos de atores envolvidos, um daqueles que tem poder de decisão, e que podem barrar
os processos, assim sendo, necessitam estar bem informados e comprometidos com as
decisões. Um segundo segmento, daqueles que estão envolvidos, se interessando ou não pelas
questões, pois são partes afetadas direta ou indiretamente nos processos e devem portanto
participar das decisões para também estarem comprometidos. Cabe lembrar que os
encaminhamentos devem se dar sem a pretensão de que se possam resolver os conflitos,
ressalvando que conflitos sociais dificilmente são de fatos resolvidos (BARBANTI Jr, 2001).
Neste processo é preciso atentar para a ilusão de ótica, que constrói teorias que sempre
parecem mascarar o conflito social e a atuação social, reduzindo-os a pouco mais do que a
expressão conjunta de preferências individuais, tipicamente presumidas como sendo dadas.
Perdidas de vista ficam então as origens sociais mais profundas da espacialidade, sua
produção e reprodução problemáticas, e sua contextualização da política, do poder e da
ideologia (SOJA, 1989).
46
4 A EXPERIÊNCIA DO CONSORCIAMENTO NA BACIA LAGOS SÃO JOÃO, SUAS
BASES DE FUNCIONAMENTO, RESULTADOS E LIÇÕES
Muito já foi escrito já sobre o desafio de se encontrar maneiras para resolver os
problemas baseados em um processo que seja realmente participativo, e em como tornar
efetivo aquilo que foi decidido. Os esforços formais para solução de conflitos são chamados
por muitos nomes diferentes: mediação ambiental, negociação ambiental, definição de
alternativa ao conflito, e visão ambiental do conflito (ver BACOW e WHEELER 1984;
MOORE 1986; AMY 1987; SUSSKIND e CRUIKSHANK 1987; CARPENTER e
KENNEDY 1988; O CROWFOOT e WONDOLLECK 1990), mas os exemplos e as lições de
estruturas bem sucedidas que criaram oportunidades para resolver problemas gerando bons
resultados, são realmente difíceis de se ver. A experiência do Consorcio Ambiental Lagos São
João é um caso interessante, e que será agora explorada esperando que suas lições possam
servir aqueles que estão à frente de um processo de gestão de bacia e tomada de decisão.
Fig. 6 – Localização da Bacia Hidrográfica Lagos São João (fonte CILSJ)
47
Inicialmente é importante compreender porque uma experiência como a de um
Consórcio Ambiental pode resultar em um processo bem sucedido, ou não. Existem várias
experiências de consórcios no Brasil que não deram certo, e outras que tiveram grandes
resultados, como o São João.
4.1. A CRIAÇÃO DO ORGANISMO DA BACIA
A primeira coisa observada é que alguém teve que se dedicar 24 horas por dia para
que um processo participativo fosse em frente. É interessante quando se encontra esta pessoa
em uma das instituições que necessariamente estarão envolvidas, pois assim facilita-se sua
participação. A segunda, é que algum tipo de organização deve ser formada para viabilizar
este processo, e esta organização poderia ser um consórcio, ou outra instituição que tivesse a
potencialidade para permitir acordos com foco no interesse coletivo. Naturalmente que um
consórcio, que tenha como missão promover o processo participativo, facilita em muito as
coisas para que possam seguir adiante. Um consórcio tem a vantagem de proporcionar
acordos entre prefeitos, já que são estes que compõem via de regra o conselho inicial que
institui este tipo de organização.
Para levar adiante a idéia, no caso de São João, fizeram uma grande reunião em abril
de 1999, que juntou quase 600 pessoas, entre elas os prefeitos e a população em geral. Nesta
reunião foi assinado um protocolo de intenções para a criação do consórcio, juntamente com a
aprovação de uma minuta de estatuto, que viria a ser discutida ainda por todos os seguimentos
antes de ser levada as Câmaras Municipais para aprovação. A minuta foi preparada por
funcionário da então Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
do Estado, que tinha vivência junto a outros consórcios de bacia no Brasil. Esta reunião teve o
apoio de uma companhia local de seguro de saúde, que mobilizou todos seus empregados para
trabalhar com dedicação e afinco, de forma a tornar o encontro uma realidade. Esta empresa
veio também a ser mais tarde, uma das sócias do Consórcio por diversos anos (ver anexo 11.2,
p. 136).
Encontrar uma pessoa que se dedique a este processo, como foi feito no Consórcio, é o
primeiro passo, e essa pessoa deve inspirar confiança em todas as partes interessadas que
serão envolvidas. Alguém que tenha uma história e um currículo de respeitabilidade, e sem
vínculos com política partidária. A pessoa que preencheu esta condição na região no ano de
48
1999, e dedicou-se a este projeto, foi um analista ambiental da Agência Ambiental do Estado,
que gozava de credibilidade da maioria das partes envolvidas; tinha uma história de
atendimento as queixas das ONGs, respeito das companhias privadas, pois sobre elas aplicou
por muitos anos a lei ambiental e era familiar a todos os prefeitos que seriam envolvidos.
Chamaremos a partir de agora esta pessoa de GC (gerente de conflito), e seu trabalho será
fundamental para todas as etapas que iremos analisar.
Algumas questões subjetivas também devem ser levadas em conta, como no caso em
questão; a degradação da Lagoa de Araruama, para a qual todos estavam propensos a fazer
algo, mas ninguém sabia exatamente o que, e por onde começar! Isto funcionou como uma
bandeira para o processo, e viria a ser um elemento de união de todos.
Falando de conflito, é fato que existem muitas maneiras de se alcançar uma solução
para uma questão ambiental, mesmo que não seja aquela mais rápida e óbvia. Assim, é
preciso ter em mente que um processo participativo é algo onde cada um tem seu interesse:
pessoal, corporativo ou público.
Utilizando-se destas premissas, o GC começou a falar com cada segmento em
separado para ver o que pensavam sobre a idéia criar um fórum onde todos juntos debateriam
as questões e tomariam decisões. Estes segmentos eram as ONGs, o setor privado e o
governamental. Nos primeiros contatos, muitas pessoas achavam que seria impossível unir
aqueles segmentos mas, mesmo assim começaram a discutir o estatuto separadamente, o que
resultou em uma proposta aceita por todos. Não foi fácil chegar a isso, pois as ONGs
rejeitavam a idéia de uma companhia privada envolvida em problemas ambientais se juntar ao
consórcio.
Mas como veremos adiante neste capítulo, no caso da extração de concha da Lagoa de
Araruama, a participação da companhia privada foi fundamental não só para se atingir os
objetivos quanto à questão das conchas, mas também e mais importante, foi à mudança de
atitude e práticas da empresa, porque esta companhia que foi olhada como a maior poluidora e
rival da região, transformou-se com o tempo em um exemplo de boa conduta e grande
parceira desse Consórcio. Sua imagem passou de vilã, a uma das grandes aliadas das causas
ambientais, suas portas sempre abertas
8
, laboratórios disponíveis e tudo mais que se pedisse
em nome da gestão coletiva.
8
A CIA Nacional de Álcalis passou a colaborar com o Consórcio incondicionalmente a partir de 2002, embora já
fosse associada desde criação do Consórcio, passou a sediar as reuniões de bacia, fazer parceria com o Consórcio
para uso das instalações do Laboratório de análises de água, além de colocar pessoal e equipamento para apoiar
projetos, como foi o caso da dragagem do Canal de Itajurú.
49
ENCONTRAR
O GERENTE
DE
CONFLITOS
PROCESSO DE CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO
50
Atento a todos estes conceitos, foi importante definir como esta organização
trabalharia: Quem poderia trabalhar lá? De onde viriam os fundos para sua operação? Quantas
pessoas deveriam compor uma equipe? Onde estabelecer sua sede? No caso do Consórcio em
estudo, as respostas a estas questões estão baseadas em sua experiência, que revela a maneira
encontrada para se trabalhar, de onde se pode concluir que:
i) A equipe é tão pequena quanto possível, porque é importante ter em mente que a
organização é criada para unir os segmentos e colocá-los para dialogar, encontrando assim
encaminhamento para as questões ou conflitos. Sabemos que existem inúmeras instituições
criadas, e também com responsabilidade constitucional de trabalhar as questões ambientais,
assim sendo criar mais uma não ira ajudar. O Consórcio tem desde o começo do seu
funcionamento, um secretário executivo, um coordenador de projetos, uma secretária
administrativa, e um coordenador de educação ambiental.
ii) Outros trabalhadores só são contratados quando ligados a projetos que tenham
recursos extras e específicos para eles. Falando sobre recursos, para fins de custeio, o
Consórcio enquanto associação civil, assim definido em estatuto, recolhe uma contribuição
associativa que é paga por parte de seus membros, no caso, as municipalidades e companhias
privadas envolvidas na bacia. As ONGs não arcam com contribuição financeira, pois é
acertado que estas já contribuem com seu trabalho voluntário ao processo.
iii) Seja qual for à estratégia de custeio, ela deve fornecer a maioria dos custos fixos,
mas dos projetos financiados por fundos são sempre muito importantes, como acontece no
caso em estudo através de parcerias com o WWF, MMA, CRBio e outro. Ao que se percebe,
estes fundos proporcionaram vários avanços e ações bem sucedidas que iremos ver mais
tarde.
iv) A sede, de acordo com a experiência, deve ser um escritório simples, independente
de qualquer membro ou parte interessada.
51
ORGANIZAÇÃO
52
Os seminários funcionaram como uma apresentação de todas a partes interessadas:
quem eram? o que faziam? ou o que deveriam estar fazendo? E neste momento, naturalmente
é preciso ter uma grande sensibilidade de quem esta à frente do processo, de forma a se evitar
confrontos latentes, desenvolvidos provavelmente no passado: como pó exemplo: uma
reclamação de uma ONG, que não foi atendida por uma secretaria de meio ambiente ou
instituição do Estado. Neste momento é importante ter o GC administrando todos os conflitos
que surgem no momento em que se coloca frente a frente setores que nunca dialogaram antes,
e que estavam geralmente em lados opostos.
Foi importante neste momento mostrar que não havia interesse em criar conflitos, mas
sim em resolvê-los. Percebe-se ser necessário fazer um permanente exercício de busca de
paciência e de compreensão, como observar que existem limites para aqueles que estão na
coordenação de uma instituição pública, ou mesmo de que os atores não devem se ver como
inimigos. A partir desta apresentação, decidiu-se pela criação de grupos de trabalho por sub-
bacias hidrográficas, e de que forma e quando eles se reuniriam.
O Conselho de Sócios do Consórcio viria mais tarde a oficializar a criação oficial dos
Grupos de trabalho, reconhecendo estes como a base do instrumento de trabalho do
Consórcio (ver deliberação no anexo 11.1, p. 135).
Seguindo adiante, em 2001 o Consórcio realiza três oficinas, uma em cada uma das
sub-bacias pré-definidas (Lagoa de Araruama, Lagoa de Saquarema e São João, Una e
Ostras), obedecendo assim ao acordo e as decisões de limites geográficos discutidos nos
encontros de 2000.
Estas oficinas tiveram um apoio importante fornecido pela GTZ, Agência de
Cooperação Alemã, que viabilizou moderação e metodologia de processos de planejamento
participativo, que permitiram identificar uma primeira lista das necessidades geradas por
todas as partes interessadas, até mesmo metas incomuns como transpor uma parede de
burocracia.
O trabalho do consórcio após as oficinas começou em um primeiro momento,
concentrando-se nas ações que não envolviam dinheiro. Naturalmente isto é o que era
possível de ser feito naquele momento, e parecia ser a maneira mais fácil de começar a obter
resultados. Quando um processo como este é iniciado, é fundamental atingir resultados
palpáveis, pois assim o mesmo se fortalece.
53
Identificadas as lideranças
e instituições afetas as
questões das bacias
Convidar todos para
encontros onde possam
ser apresentados: quem
são; o que fazem;
Decidir juntos como serão
os primeiros grupos de
trabalho
Através de workshop,
definir o escopo de ações
e prioridades
O trabalho começa
atuando em conflitos que
não envolvem recursos
Os grupos de trabalho de
bacia se reunidos, definem
juntos formas de
encaminhamentos
Decisões participativas são
tomadas e o comprometimento
em implementá-las
estabelecido
AS DECISÕES SÃO
EMCAMINHADAS AO
CONSELHO DE
PREFEITOS PARA
COMPROMETE-LOS COM
A EFETIVAÇÃO
O GC deve estar
atento a todos
estes passos
para manejar os
conflitos
inerentes a cada
momento
A MÍDIA DIVULGA AS
DECISÕES
Fig. 9 – Diagrama do fluxo do trabalho participativo do Consórcio
4.3 PRIMEIROS RESULTADOS: EXEMPLOS DAS DECISÕES PARTICIPATIVAS (O CASO DA
EXTRAÇÃO DE CONCHA DA LAGOA E DA AREIA DE RIO)
Uma das primeiras experiências do Consórcio foi começar a trabalhar com conflitos
que por muito tempo não foram tratados, como a extração de concha da Lagoa de Araruama, e
a extração da areia do Rio São João.
A questão em torno da extração de conchas da Lagoa de Araruama transformou-se em
um grande conflito, quando começaram a ser feitas mais próximas das margens (final dos
anos 90), incomodando os turistas que usavam aquelas praias. Eram dois os processos de
extração que ocorriam, um pela Cia Nacional de Álcalis que usava dragas grandes, e o outro
por 23 embarcações pequenas que não tinham qualquer controle. A Cia de Álcalis tinha nesse
momento (2000) comprado uma draga que, diferente das antigas que operavam somente em
áreas profundas, poderia operar muito perto das praias.
54
As ONGs não aceitaram esta situação, e em uma das primeiras vezes em que a
máquina foi usada, requereram força policial e acabaram todos, denunciantes e denunciado,
na delegacia, sob a alegação de que eles estavam em desacordo com a lei, o que de fato era
verdade, porque a licença da companhia aparentemente não permitia que houvesse exploração
a menos de 500 metros da borda da lagoa. Um dos diretores acabou por passar uma noite na
delegacia, e este episódio fez com que o Governo do Estado não renovasse a licença
ambiental e ainda estabelecesse um período de dois anos para o fim da atividade na Lagoa.
Todo este acordo foi tratado no Grupo de Trabalho da Bacia da Lagoa de Araruama (GELA)
do Consórcio.
O mais interessante sobre esta história foi que a companhia não se afastou das
reuniões de bacia, e a draga que custou meio milhão de dólares, acabou deslocada para
trabalho voluntário de desassoreamento do Canal de Itajurú, com todos os custos cobertos
pela companhia, e após um ano, o diretor da companhia já podia ser visto apertando a mão do
líder do grupo das ONGs.
Depois de resolvida a situação da extração da Álcalis, a discussão se voltou para as
pequenas empresas de extração, e durante as reuniões da bacia o “tempo literalmente fechou”,
chegando a tal ponto que; um dia durante uma grande discussão sobre o assunto, um
representante da polícia florestal presente a reunião se levantou, pôs sua mão no coldre da
arma e disse: “Vou levar todos aqui para a delegacia porque esta reunião esta chegando às
vias de fato”, foi quando se fez presente um silêncio na reunião, mas imediatamente depois,
foi explicado a este policial que às vezes os ânimos se exaltam, mas o importante é que ao
final da reunião chega-se a uma conclusão e todos a respeitam.
As pequenas empresas de extração não ficaram satisfeitas, pois a conclusão foi pela
saída delas da Lagoa, já que o grupo entendeu que suas atividades chegaram ao fim, por não
haver mais conchas disponíveis nas áreas profundas da lagoa. Observou-se entretanto mais
tarde, que boa parte destas empresas reconheceram que a decisão foi acertada.
A extração da areia do rio no Rio de São João foi um outro conflito que esteve latente
por diversos anos, e como se supunha, foi um dos principais assuntos a serem tratados durante
as reuniões do Grupo de Trabalho da Bacia do Rio São João (GERSA).
Em 2001, 14 empresas extraíam areia do rio e as queixas eram constantes, mas como a
licença ambiental era individual, o impacto cumulativo sobre o rio era sempre maior do que
aquele analisado na licença individual.
55
O assunto foi pauta de várias reuniões, até que todos concordassem que as atividades
só deveriam prosseguir após um estudo da capacidade de suporte do rio. Um acordo chegou a
ser feito com a Agência Ambiental do Estado, mas nunca foi finalizado e as atividades foram
paralisadas desde então já que as licenças não foram renovadas respeitando a decisão do
GERSA.
O que realmente é interessante de se perceber, é que depois destes episódios, o
processo participativo tornou-se mais forte, porque mesmo na Bacia do São João, ou na Bacia
da Lagoa de Araruama, as partes interessadas perceberam que eles tinham o poder de decidir
e de fazer acontecer.
4.4 RESULTADOS EXPRESSIVOS: DEMONSTRAÇÃO DO PROCESSO PARTICIPATIVO (O
EXEMPLO DA EXECUÇÃO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO)
A partir dos anos 70, registra-se um incremento exponencial da ocupação do solo da
bacia hidrográfica da Laguna de Araruama, situada no Estado do Rio de Janeiro, tendo como
atividade base à implantação de loteamentos e condomínios de segunda residência, em sua
grande maioria sem qualquer infra-estrutura sanitária. A ocupação se deu de forma caótica. As
Prefeituras liberavam os loteamentos em sua grande maioria sem quaisquer ou com poucas
exigências técnicas, urbanísticas e ambientais. A empresa estatal concessionária de água e
esgoto (CEDAE), eximiu-se de realizar investimentos e os órgãos ambientais do Estado,
SERLA e FEEMA, pouco atuavam em atividades não industriais até então.
No início do processo de ocupação da região, a vegetação funcionava como barreira
ou sumidouro de parcela considerável do esgoto. Os brejos funcionavam como sistemas
naturais de tratamento, contudo, com o manilhamento
9
generalizado ocorrido com a
“urbanização” das cidades, os esgotos passaram a chegar em estado bruto nos corpos
receptores. Levantamento produzido por um projeto intitulado “Iraruama” (assim como os
índios chamavam a Laguna), já havia identificado desde 1991, 365 pontos de lançamentos de
efluentes na Laguna. O esgoto gerado pela população (fixa e flutuante) era continuamente
despejado diretamente na lagoa, sem qualquer tratamento prévio.
No final da década de 90, a população residente no entorno da Laguna já era de cerca
de 200 mil habitantes, e portanto considerando-se uma produção diária por habitante, de 10 g
9
Manilhamento – instalação de redes de drenagem pluvial subterrânea.
56
de nitrogênio (N) e 3 g de fósforo (P), o despejo diário teórico seria de 2 mil Kg de N e
600Kg de P, estimativa que ainda aumentaria muito quando incluída a população temporária.
Em 1998, assumiram os serviços de água e esgoto as empresas Água de Juturnaíba e
Prolagos, através de uma Concessão de 25 anos feita por contrato onde o Estado detém 50%
da concessão, e os municípios os outros 50%. A Concessionária Águas de Juturnaíba ficou
responsável pelos municípios de Silva Jardim, Saquarema e Araruama; e a Concessionária
Prolagos pelos municípios de Armação dos Búzios, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia,
Cabo Frio e Arraial do Cabo (este último somente água), mas a prioridade dos editais de
concessão foi o aumento da oferta de água, grande problema na época, ficando o esgotamento
sanitário para segundo momento, em alguns casos parcialmente para 2015.
Os cronogramas contratuais das obras de esgotamento, a cargo das concessionárias
eram tardios demais para as necessidades urgentes da lagoa. As melhorias no abastecimento
de água promovidas pelas empresas concessionárias acarretaram um aumento do volume de
esgoto, já que nos três primeiros anos de concessão (1998 a 2001), o volume aduzido passou
de 600l/s para 1.800 l/s, levando a uma elevação do aporte de água doce e esgoto na laguna,
cabendo registrar ainda que a água, sob a forma de esgoto, que segue para a Lagoa de
Araruama, vem do reservatório de Juturnaíba, na bacia do rio de São João. A conseqüência foi
o aumento dos nutrientes (esgoto) e a diminuição da salinidade, favorecendo o boom de algas
e de agentes patogênicos (figura 10).
Fig. 10 – Boom de algas em Praia de São Pedro da Aldeia em 2003 (fonte CILSJ)
57
Para fazer a recuperação ambiental da Lagoa de Araruama e acabar com o processo de
eutrofização, o Consórcio decidiu de maneira coletiva (através do GELA), com base técnica
(dados sobre nutrientes e chuvas) e é claro, limitado pela disponibilidade dos recursos, propor
um sistema de coleta e tratamento de esgotos, que se aproveita em um primeiro momento do
sistema de drenagem pluvial, necessitando para tanto de acordos regionais, dada a forma
específica de operação e a remuneração pelos serviços.
Na impossibilidade de executar em curto prazo as redes coletoras separadoras
absolutas de que o sistema regional necessitava, já que sozinhas estas redes consumiriam
cerca de 70% dos recursos previstos para serem aplicados em esgoto durante toda a
concessão, o grupo da bacia entendeu ser viável a utilização provisória dos sistemas de
drenagem pluvial como coletores, até porque os esgotos lá já estavam, e que direcionados
através de tomadas de tempo seco para Estações Elevatórias (EE) e Estações de Tratamento
de Esgotos (ETE), constituiam-se em opção viável, face ao baixíssimo índice pluviométrico
da região (cerca de 700 mm/ano), ocasionando assim uma redução imediata e maciça da carga
orgânica que chegava à Lagoa de Araruama.
Desta forma imaginou-se concentrar investimentos iniciais da ordem de 30% do
previsto nas concessões, em Tomadas de Tempo Seco (interceptação de galerias pluviais e
valões), estações elevatórias (EE’s) e estações de tratamento de esgotos (ETE’s), ficando as
redes separativas para serem construídas em um segundo momento ao longo da concessão.
Tal decisão se deu ainda sob o argumento de que os mesmos 30% de recursos, se aplicados
em sistema convencional (rede separativa, EE e ETE), tratariam somente um, ou poucos
bairros por município, reduzindo muito pouco a carga orgânica que era lançada na Lagoa.
Ou seja, entendeu-se ser melhor ter algo em torno de 80% dos esgotos captados e
tratados durante 95% do ano (período que não chove), do que ter cerca de 10% dos esgotos
tratados em 100% do ano.
Houve grande resistência das concessionárias, já que o sistema proposto não seguia a
engenharia tradicional, além de requerer recursos superiores aqueles previstos para a ocasião
nos contratos de concessão. Muita pressão precisou ser feita pelo Consórcio: pressão política
dos prefeitos, manifestações das ONGs, e até um pacto que pudesse resultar em um termo do
ajuste de conduta (TAC) com o Promotor do Ministério público tiveram que ser feitos, até que
por fim fosse assinado um Termo Aditivo ao contrato em 2002 (ver apêndice 10 com detalhes
de toda a luta travada até a assinatura do TAC).
Apesar de todos os atrasos e problemas enfrentados durante a fase de obras, os
sistemas foram entrando em carga até dezembro de 2004, quando eclodiu um problema já
58
esperado por todos, mas até então latente, que viria a ser a forma de remuneração do serviço
às concessionárias.
Pagar a tarifa prevista em contrato, de um para um, ou seja: quem paga R$ 30,00 reais
de água, passaria a pagar mais R$ 30,00 de esgoto, não teria sentido, já que o sistema ainda
não estava completo, por outro lado não havia precedente no país sobre um pagamento parcial
de tarifa. Não pagar nada, significaria a impossibilidade de entrada em funcionamento do
sistema, já que a operação deste implica custos significativos de energia elétrica, funcionários
e outros mais.
Somente um grande pacto na bacia poderia levar a uma solução que viabilizasse um
pagamento par e passo com as fases (percentuais) de implantação do sistema, o que foi feito,
representado mais tarde, uma vez mais, em um termo novo do ajuste de conduta (TAC) com
os Promotores do Ministério Público. Com base no TAC, a ASEP
10
teria meios então para
deliberar, com base no princípio de que dada à forma difusa de atendimento, bem como o
benefício geral da população e ainda a necessidade imediata de início da operação dos
sistemas, que a remuneração dos serviços se daria através de re-equilíbrio econômico-
financeiro dos contratos, conforme acabaria por ser definido mais tarde, não sem antes um
amplo processo de mobilização (ver apêndice 10, p. 123).
Apesar dos meios propiciados pelo TAC, a ASEP não se sentia segura para autorizar
um aumento na tarifa de água, destinado a cobrir os custos com os serviços de esgoto e foi
preciso que em 14 de setembro de 2004, a sociedade civil organizada com apoio do Consórcio,
comparece-se a seção regulatória da ASEP, mais uma vez com faixas cartazes, divulgação na
imprensa, para que fosse levada a termo a decisão acordada na região de reajustar as tarifas de
água para cobrir os custos do esgotamento sanitário.
Finalmente em 24 de novembro de 2004, mais uma vez com a presença da sociedade
(figura 11), da Secretária de Estado de Meio Ambiente e de prefeitos da região, devidamente
mobilizados pelo Consórcio, a ASEP votou o re-equilíbrio do contrato, reajustando de forma
escalonada as tarifas de água.
Durante a homologação da decisão, o Presidente do Conselho da ASEP, registrou em
seu parecer jamais ter visto tamanha demonstração de mobilização da sociedade, ainda mais
para reivindicar um aumento na tarifa. Foi quando a liderança das ONGs da região retrucou
dizendo não haver nada de estranho, pois a sociedade sabia da importância de custear o serviço
pelo qual ela tanto lutou.
10
ASEP – Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos do Estado do Rio de Janeiro, encarregada de
atuar como reguladora das Concessionárias segundo o contrato.
59
Fig. 11 – Sociedade civil faz pressão em seção da Agencia Reguladora (fonte CILSJ)
Desde dezembro de 2004, o sistema que custou cerca cem milhões de reais já está em
carga, coletando e tratando mais de 70% (500 l/s) de todo o esgoto que antes era lançado na
Lagoa. A melhoria da qualidade da água é evidente, e é confirmada pelas análises da água
realizada pelo Consórcio, onde se verifica que a maioria das praias que antes recebiam esgoto
e estavam impróprias para o banho, agora se encontram boas condições para o uso.
A decisão da ASEP de conceder o reajuste de forma escalonada vem forçando as
Concessionárias a continuar investindo, sob pena de não aplicar novos reajustes na tarifa.
Desta forma, novas negociações na bacia continuam a ocorrer, e um novo acordo já foi
traçado para novos investimentos (em torno de setenta e sete milhões de reais) para o período
2007 a 2009, que esta sendo chamado de “fase II”, e que estenderá a captação em tempo seco
para próximo dos 100%, mas ainda se utilizando os sistemas de drenagem.
A “fase III”, de 2010 a 2023, também já esta planejada, e é justamente quando rede
separativa será feita, de acordo com as prioridades observadas pelo grupo da bacia.
Entretanto, mais uma não esta sendo fácil ver as decisões da bacia serem respeitadas:
A AGENERSA (ex ASEP) ainda não aprovou o novo cronograma, apesar de um acordo já
60
estar assinado por todos os prefeitos, o Estado e as concessionárias. Essa demora fez com que
os promotores do Ministério Público, ouvindo o grupo da bacia, decidissem abrir uma ação
civil contra a Agência Reguladora, por estar a mesma sendo lesiva aos interesses públicos ao
demorar em analisar o novo acordo.
Antigo despejo na Praia do
Siqueira em Cabo Frio
Comporta do Siqueira em
Cabo Frio
ETE de Cabo Frio
ETE de Iguaba Grande Elevatória do hospital em
São Pedro
ETE de São Pedro
Elevatória do Pirata em
Araruama
Comporta do Mataruna em
Araruama
ETE de Araruama
Fig. 12 – Panorama geral das interceptações, estações elevatórias e das unidades de tratamento de esgoto.
61
4.5 A LUTA PELO TERRITÓRIO: O EMPODERAMENTO DE UMA COMUNIDADE (O
EXEMPLO DA AÇÃO DE DRAGAGEM DO CANAL DE ITAJURÚ)
Vimos que alguns episódios já descritos mostram bons exemplos de empoderamento
11
de uma comunidade, e ainda apontam para o estabelecimento, ainda que não claramente
identificado, de um território, nos termos de sua dimensão poder demonstrada na capacidade
de se decidir como as coisas devem acontecer na bacia. Apesar dos exemplos já citados, há
uma situação que merece ser relatada e que mostra claramente quando um processo atinge o
nível de empoderamento.
Uma importante ação destinada à recuperação a Lagoa de Araruama, além é claro do
tratamento do esgoto, é a melhora da troca de água entre a lagoa e o mar, e para isto, desde
que 2000 a dragagem do Canal de Itajurú era vista como uma prioridade. A draga da Cia
Nacional de Álcalis, que no passado fora usada para extração de calcário, desde 2001 passou a
ser usada para o desassoreamento do Canal, a fim retomar sua antiga condição de três metros
de profundidade. Apesar do Consórcio já haver solicitado uma licença ambiental para este
trabalho, nem o Estado nem a União a concedeu, sob a alegação de que muitos estudos
deveriam ser feitos.
As Agências Ambientais, ao invés de terem uma visão de apoio ao processo de
licenciamento, colaborando para viabilizando estudos e análises de monitoria necessárias,
passaram a criar dificuldades, encarando a dragagem como um empreendimento privado (que
normalmente tem uma função lucrativa), especialmente a Agência Federal, que em
determinado momento, usando seu poder fiscal, embargou os trabalhos pela falta de licença
(vide anexo 11.2, p. 136).
Mesmo sendo a ausência da licença um fato, os trabalhos prosseguiram, ainda que sem
usar nenhum recurso do orçamento do Estado ou do orçamento Federal, os quais por missão
constitucional, teriam a obrigação de viabilizar recursos para o serviço, ou mesmo executá-lo
diretamente. O grupo da bacia vinha discutindo cada etapa da dragagem, e criou inclusive
uma câmara técnica para acompanhamento dos trabalhos, visando monitorar adotar todos os
cuidados necessários para fazer o melhor trabalho possível.
11
Empoderamento - o termo "empoderamento" (em inglês: empowerment) é utilizado para designar um processo
contínuo que fortalece a autoconfiança dos grupos populacionais desfavorecidos, os capacita para a articulação
de seus interesses e para a participação na comunidade e que lhes facilita o acesso aos recursos disponíveis e o
controle sobre estes, a fim de que possam levar uma vida autodeterminada e auto-responsável e participar no
processo político.
62
O que aconteceu a partir de então, foi uma grande e generalizada queixa, liderada por
grupos das ONGs; e-mails foram emitidos a jornais, que publicaram notícias como: “Agência
Federal atrapalha a recuperação da Lagoa de Araruama”, enfatizando que o trabalho, que
obviamente tinha que ser feito, estava sendo feito sem dinheiro público, usando esforços
exclusivos da região, e assim, passava uma imagem de que o governo, que deveria fazer a
ação, além de não fazê-la, ainda atrapalhava. Além disso, pescadores da lagoa, que
acompanhavam o processo e que percebiam dia a dia a melhoria na qualidade de água,
invadiram o escritório de Agência Federal local reivindicando que a decisão do embargo fosse
revista.
Cerca de duas semanas depois que os trabalhos de dragagem foram interrompidos,
após chegarem às esferas de governo reclamações de diferentes lugares, até mesmo de fora do
país, alcançada através da Internet pelas ONGs, uma decisão do Ministério do Meio Ambiente
foi passada ao Escritório Regional da Agência Federal no Estado, mandando que fosse
encontrada a forma de se liberar imediatamente os trabalhos, o que foi feito repassando-se a
responsabilidade ao Estado, que conseguiu da Comissão Estadual de Controle Ambiental
(CECA), autorização para execução dos trabalhos em caráter emergencial, até que a licença
fosse expedida, tomando-se por base as atas de reunião do grupo da bacia.
Os trabalhos prosseguiram até 2005 com inúmeras dificuldades, até que finalmente o
Governo do Estado colocou em seu orçamento oito milhões de reais para a dragagem, e ainda
mais cinqüenta e cinco milhões de reais, para construir uma nova ponte sobre o Canal de
Itajurú, reivindicada pelo grupo de bacias ao Departamento de Estradas e Rodagens (DER)
em 2001, ação fundamental para melhoria da renovação de águas.
Esta ponte também só viria a ser anunciada após intenso processo de pressão dos
atores da bacia, pois quando fora anunciada a duplicação da RJ 106 e RJ 140 em 2003, a
ponte não estava prevista no projeto. Uma forte pressão e inúmeras discussões foram feitas no
Grupo de bacia, inclusive com a presença do Presidente do DER para definir dados de projeto
como: extensão, altura e outros, assim como viabilização de custos para a execução da mesma
através de remanejamento de outros orçamentos previstos na obra, de forma a se diminuir o
volume de desapropriações e custos de outras partes da obra e assim encontrar recursos que
viabilizassem construção da ponte (vide anexo 11.3, p. 148).
Para diminuir custos, uma questão extremamente polêmica foi trazida ao grupo.
Tratava-se de reduzir o tamanho de um elevado previsto na estrada de 140 metros para 10
metros e evitar-se a desapropriação de trecho a margem da Lagoa, mas para tal seria
necessário aterrar-se uma faixa de 8 a 30 metros em trecho de 800 metros na margem da
63
Lagoa, permitindo-se a mudança na angulação do viaduto e a conseqüente redução do seu
tamanho, além de se evitar a desapropriação de áreas construídas. O grupo acabou por
concordar, desde que a área equivalente a que seria aterrada fosse devolvida á Lagoa em
terreno de antiga salina adjacente. Este acordo mais tarde também viria a se materializar
através de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público.
4.6 MANTENDO O PROCESSO PARTICIPATIVO: CONTROLANDO AS FORÇAS EM BUSCA
DE RESULTADOS POSITIVOS
Para manter o processo participativo, percebe-se ser necessário que haja alguém
coordenando este processo, especialmente as reuniões, como um verdadeiro GM (gerente de
conflito), porque se faz necessária grande habilidade para não perder o controle, face ao
discurso de diferentes tendências e correntes, durante uma reunião. E isto é algo que acontece
toda a hora, porque haverá sempre alguma questão em pauta com visões diferentes sobre ela,
pois esta é a lógica dos conflitos.
É muito importante primeiramente ver se todas as pessoas envolvidas em uma
determinada questão, ou as instituições envolvidas no assunto foram convidadas para o
debate, assim há que se ter uma atenção especial para convidar e garantir a presença de todos
aqueles que tem relação com o assunto. Se não for trazida à arena, ambas as parte de um
problema, com certeza haverá dificuldades de se acertar no encaminhamento. Assegurar o
direito para que todos exponham seu ponto da vista, por mais que possa soar totalmente
absurdo o que está sendo dito por alguém, e manter controle do restante do público na reunião
são questões vitais, a fim de que se possa ouvir e respeitar todas as posições, e desta forma,
somente depois de ouvidos todos, montar uma proposta de encaminhamento para a questão.
Este é um ponto muito delicado; o GC deve ter sensibilidade para propor a melhor
maneira de encaminhar o assunto. É necessário analisar imediatamente em sua mente se a
questão foi suficientemente discutida, se esta compreendida por todos, para assim procurar
um consenso ou mesmo partir para uma votação. Às vezes é melhor propor que sejam
coletadas mais informações, trazendo o assunto para discussão em um outro momento.
Naturalmente que o GC deve ter o sentimento sobre a possibilidade de esperar um segundo
momento, ou se a questão urgente que não pode mais esperar.
64
Estes pontos que acontecem durante as reuniões são muito importantes, mas é
realmente atrás do campo de batalha, que na maioria das vezes os assuntos são inicialmente
tratados, buscando sempre a melhor maneira para se resolverem os conflitos, ou mesmo para
propor projetos. Isto, porque os conflitos acontecem sem data marcada, e a partir do
surgimento, o caminho natural é ser levado ao grupo da bacia, porém, antes da reunião, muitas
conversações podem ser feitas, a fim de se encontrar quem aceite ceder ou dar um passo atrás,
para se encontrar uma solução.
Isto testa, uma vez mais, a capacidade do GC, pois é preciso ter a habilidade de
conversar com cada segmento envolvido, argumentar e tentar encontrar um acordo. A arte de
persuadir deve ser aqui também posta em prática, e para se convencer uma ou outra parte é
preciso ter um bom conhecimento de causa, buscar os argumentos corretos e por vezes jogar
com as forças envolvidas no processo, como se vê representado na figura 13.
TEMPO
EFETIVIDADE
FORÇA DAS ONGs
FORÇA DOS USUÁRIOS
FORÇA DOS GOVERNOS
Fig. 13 - Modelo representativo das forças de tensão no processo de gestão de bacia
65
Às vezes é necessário jogar com as forças envolvidas no processo, a fim encontrar o
melhor caminho para a eficácia do mesmo (vide figura 13), por exemplo: no caso do sistema
de esgoto que foi abordado, houve certos momentos em que foi preciso colocar as ONGs na
frente de batalha, indo à Agência Reguladora para pressionar pela aceitação do acordo que
validasse a decisão da bacia, e para isto, o Consórcio viabilizou transporte para pegar as
pessoas em diferentes lugares e levar todos à sede da Agência. Os prefeitos sabiam e
concordavam, mas às vezes, por razões políticas, não podiam aparecer, a fim preservar sua
relação com o Governo do Estado, empregador da Agência.
É claro que a melhor maneira de manter um processo participativo forte, é manter
permanentemente todos os atores mobilizados, e isto é algo que acontece facilmente quando o
grupo vê resultados em suas decisões. Desta maneira o processo se torna cada vez mais forte,
e o Consórcio, enquanto instituição cresce, e ganha a credibilidade de todos os que vivem na
bacia.
4.7 LIÇÕES APRENDIDAS (UM MODELO CONCEITUAL PARA O PROCESSO
PARTICIPATIVO)
Há que se registrar nos casos analisados um exemplo bom de controle social, ainda
mais quando envolve serviços públicos concedidos, matéria de extrema controversia no país.
De qualquer forma, entre as lições aprendidas, está o fato de que com comprometimento e
envolvimento, os resultados podem ser muito positivos como visto. Com todos os
contratempos, o manejo da bacia Lagos São João adotado nos últimos seis anos mudou a
história do trato das questões ambientais na região, entre elas: o sistema do saneamento, a
recuperação da lagoa, a recuperação do rio São João e em outros tópicos não relacionados
neste trabalho, mas que também estão sendo tratados pelo Consórcio. É fácil perceber ações
que buscam a sustentabilidade, e é possível imaginar seu reflexo na qualidade da vida das
pessoas e até mesmo, indiretamente na proteção de outras espécies.
Como visto, faz-se necessário encontrar uma pessoa que se dedique a este processo já
na primeira etapa, e essa pessoa deve inspirar um mínimo da confiança em todas as partes
interessadas que serão envolvidas.
66
Algum tipo de organização deve viabilizar este processo, e esta pode ser um
Consórcio, mas pode ser também uma outra instituição que tenha a potencialidade para
permitir criar acordos em nome do interesse coletivo.
A estrutura organizacional, pela experiência estudada, deve ser um escritório simples,
autônomo, mantendo assim independência de cada membro ou parte interessada.
A equipe deve ser tão pequena quanto possível, porque é importante ter em mente que
a organização é criada para articular e unir os segmentos, e assim colocá-los para conversar e
encontrar soluções. Já existem inúmeras instituições criadas, que tem inclusive por
responsabilidade constitucional, trabalhar as questões ambientais. Portanto, criar mais uma,
com superposição de atribuições, por certo não é a saída.
A estratégia de financiamento da instituição deve fornecer a maioria dos custos fixos,
mas projetos financiados por parceiros devem ser sempre olhados como importante, como foi
visto no caso de parcerias com o WWF, MMA, CRBio (vide anexo 11.2, p. 136) e outros.
É importante mostrar sempre que a idéia não é criar conflito, e sim buscar soluções
para conflitos. Assim sendo, é necessário ter tolerância e compreensão, e saber que existem
limites para aqueles que estão à frente de uma instituição pública, e que não se pode olhar o
outro como um inimigo.
Deve-se discutir da forma mais ampla possível quantos grupos da discussão serão
criados, assim como de que forma, como e quando se reunirão.
É preciso ter sempre em mente que um processo participativo é algo onde cada tem
seu interesse pessoal, corporativo ou público, mas ninguém é contra uma melhor condição
para questões ambientais. Neste processo não há vencedores ou perdedores, todos os
envolvidos devem saber que não importa a questão em discussão (não importa se for uma
espécie, um ecossistema, um rio ou qualquer outra coisa), o objetivo é sempre melhorar sua
gerência e recuperação, e este é um ponto comum que une a todos.
Nunca deixe de fora do processo grandes empresas, mesmo se forem grandes
poluidoras, porque estas, mais do que quaisquer outras, têm que ser envolvidas a fim de serem
reeducadas ao longo do processo, e assim mudarem seu comportamento, como foi visto no
caso da Cia. Nacional de Álcalis.
Sustentar as decisões é primordial. No caso do saneamento, apesar da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro ter um artigo que proíbe a condução de esgotos em via unitária
(junto com as águas pluviais), o grupo da bacia entendeu ser esta a opção mais viável diante
das peculiaridades da região (baixo índice pluviométrico), e partiu para fazer valer sua
decisão.
67
A territorialidade surgida com o acesso à informação, se faz presente na busca em ver
respeitada suas decisões pelo Estado, neste caso Poder Concedente e ASEP. O controle social
também estaria sendo exercido em sua plenitude, ao ditar as concessionárias os rumos que
elas deveriam tomar a partir das necessidades da população e não do capital
descompromissado.
Pode também ser atribuída à gerência coletiva, à gestão participativa, a capacidade de
costurar um acordo de ampla dimensão, como no caso de assegurar a justa remuneração pelos
serviços de esgoto, escalonada, de forma a manter as concessionárias investindo e
aprimorando o sistema, até chegar ao valor integral da tarifa quando completado o processo.
O papel do Ministério Público é fundamental, especialmente quando se trata de
chancelar decisões coletivas sobre interesses difusos e que nem sempre estão amparadas na
Lei.
Os resultados eficazes mantêm o processo de mobilização em alta, uma vez que
projetos são tirados do papel e tornam-se realidade. O processo não termina, e está na
atividade constante, como mostram as inúmeras reuniões que continuam a ocorrer entre a
sociedade, instituições públicas e privadas, agências e Concessionárias, garantindo a
implantação de projetos, e sua continuidade.
O princípio da gestão participativa e descentralizada está em pleno curso, já que as
decisões são tomadas aliadas às características locais, gerando responsabilidades a todos os
envolvidos. Pactos envolvendo vários segmentos vêm sendo estabelecidos.
A informação técnica tem sido usada com propriedade nas decisões, como no caso da
escolha do modelo de coleta e tratamento, que tomou por base as informações técnicas
consagradas em publicações, assim como sobre a necessidade de redução imediata de taxas de
fósforo e nitrogênio para evitar a eutrofização da Lagoa e ainda em dados pluviométricos que
indicam a lógica da escolha.
O processo demonstra o empoderamento da sociedade, e um modelo que apesar de em
certo caso, envolver um serviço terceirizado, demonstra que não existe cisão entre o que é
público e privado, ou seja, a decisão é participativa, a operação é privada, mas o sistema é
público.
O controle social não é fácil, mas não é impossível. A garantia da manutenção das
decisões é verificada quando os inúmeros obstáculos que aparecem para a consolidação das
propostas são transpostos diante de ampla e constante mobilização. Os princípios da agenda
21 estão sendo cumpridos, mesmo assim sem esta rotulação.
68
5 A GESTÃO DA BACIA APÓS A CRIAÇÃO DO COMITÊ
O presente capítulo analisa a forma com que o Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos
São João (CBHLSJ) localizado no Estado do Rio de Janeiro encontrou para desenvolver suas
atribuições. Seus antecedentes, seu processo de criação, a forma de se coordenar os trabalhos,
a criação das figuras dos sub-comitês de Bacia, a ainda a forma diferente de se montar um
Plano de Bacia.
Fig. 14 – Localização da Bacia Hidrográfica Lagos São João e suas sub-bacias (fonte CILSJ)
69
A área de atuação do Comitê abrange uma superfície aproximada de 3.800 km2, que
corresponde a 8 % do território do Estado do Rio de Janeiro, abrigando os municípios de
Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Cachoeira de Macacú, Casimiro
de Abreu, Iguaba Grande, Rio Bonito, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia, Saquarema e
Silva Jardim.
Neste vasto território, que compreende as bacias hidrográficas das Lagoas de Jaconé,
Saquarema, Jacarepiá e Araruama (Região dos Lagos) e dos rios Una, São João e das Ostras
(vide figura acima), que inclui ainda a zona costeira adjacente, ocorre o fenômeno da
ressurgência (encontro de correntes marítimas quentes e frias), e encontra-se a maior laguna
hipersalina do mundo (Lagoa de Araruama) em contato permanente com o mar, o segundo
maior manancial abastecedor do Estado, significativas reservas de petróleo da costa
fluminense, uma extensa faixa de Mata Atlântica, serras com cachoeiras, belas praias e abriga
ainda o habitat natural o Mico Leão Dourado, espécie endêmica e emblemática na temática de
conservação.
A região possui ainda um Consórcio Intermunicipal de Bacia, como descrito no
capítulo quatro, com a mesma área de abrangência do Comitê, que atua desde o ano 2000, o
Consórcio Intermunicipal Lagos São João. Participam deste Consórcio (dados de 2006)
cinqüenta e quatro organizações da sociedade civil, os doze municípios da Bacia através dos
seus prefeitos após aprovação das câmaras municipais, o Governo do Estado através da
secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e seis empresas privadas de com abrangência
regional. O trabalho do Consórcio se desenvolve sempre em fóruns que gestão participativa, e
em alguns casos no passado funcionaram como embriões do comitê de bacia. A estruturação
desenvolvida permite ainda que decisões coletivas sejam levadas ao Conselho de Associados,
onde estão as representações que participam do consórcio, e assim tenham chance de se
transformar em políticas públicas.
5.1. O PROCESSO DE CRIAÇÃO, AS FUNÇÕES E O FUNCIONAMENTO DO COMITÊ LAGOS
SÃO JOÃO
O CBHLSJ foi criado pelo Decreto Estadual n. 36.733 de 08 de dezembro de 2004, e
teve sua instalação aprovada pela plenária do Conselho Estadual de Recursos Hídricos
70
(CERH) em 13 de novembro de 2003, junto com os Comitês do Rio Piabanha e da Baía da
Guanabara Leste.
O Decreto representou o coroamento de um processo de que teve início no final de
1999, quando os associados do Consórcio Intermunicipais Lagos São João (CILSJ)
estabeleceram como meta dotar a região de um Comitê de Bacia. No final do segundo
semestre de 2002, o CILSJ submeteu ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos a
documentação necessária para obter o assentimento e assim instalar o Comitê da Bacia do Rio
São João. O CERH negou o pedido, solicitando que fossem incluídas as bacias do Rio Una e
das Lagoas de Araruama, Saquarema, Jaconé e Jacarepiá, de modo a formar um único Comitê
para toda região.
Acatando a decisão, no dia 25 de julho de 2003 o CILSJ submeteu a Câmara Técnica
de Sistemas de Gestão do Conselho Estadual de Recursos Hídricos, a proposta do novo
Comitê, englobando as bacias mencionadas. No dia 08 de agosto do mesmo ano, a referida
Câmara Técnica aprovou a criação do Comitê Lagos São João, decisão posteriormente
ratificada pela Plenária do CERH em 13 de novembro de 2003.
O CBHLSJ constitui um órgão público colegiado com atribuições normativas,
deliberativas e consultivas que pertence à estrutura organizacional da Secretaria de Estado do
Ambiente (SEA), antiga Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
(SEMADUR), e desta forma, integra o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos
Hídricos estando subordinado ao CERH. A missão institucional do Comitê, de acordo com o
art. 53 da Lei Estadual 3239 de 02 de agosto de 1999 é a seguinte:
“Coordenação das atividades dos agentes públicos e privados, relacionados aos
recursos hídricos e ambientais, compatibilizando as metas e diretrizes do Plano
Estadual de Recursos Hídricos (PERHI) com as peculiaridades de sua área de
atuação”.
De acordo com o artigo 55 da Lei Estadual 3239 de 02 de agosto de 1999, o Comitê da
Bacia têm as seguintes atribuições e competências:
solicitar ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERHI) a autorização para
constituição da respectiva Agência de Água;
aprovar e encaminhar ao CERHI a proposta do Plano de Bacia Hidrográfica (PBH), para
ser referendado;
acompanhar a execução do PBH;
71
aprovar as condições e critérios de rateio dos custos das obras de uso múltiplo ou de
interesse comum ou coletivo, a serem executadas nas bacias hidrográficas;
elaborar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos de sua bacia hidrográfica;
propor o enquadramento dos corpos de água da bacia hidrográfica, em classes de uso e
conservação, e encaminhá-lo para avaliação técnica e decisão pelo órgão competente;
propor os valores a serem cobrados e aprovar os critérios de cobrança pelo uso da água da
bacia hidrográfica, submetendo à homologação do CERHI;
encaminhar, para efeito de isenção da obrigatoriedade de outorga de direito de uso de
recursos hídricos, as propostas de acumulações, derivações, captações e lançamentos
considerados insignificantes ;
aprovar a previsão orçamentária anual da respectiva Agência de Água e o seu plano de
contas;
aprovar os programas anuais e plurianuais de investimentos, em serviços e obras de
interesse dos recursos hídricos, tendo por base o respectivo PBH;
ratificar convênios e contratos relacionados aos respectivos PBH's;
implementar ações conjuntas com o organismo competente do Poder Executivo, visando a
definição dos critérios de preservação e uso das faixas marginais de proteção de rios,
lagoas e lagunas; e
dirimir, em primeira instância, eventuais conflitos relativos ao uso da água.
As tabelas 1 e 2 a seguir mostram a estrutura organizacional adotada pelo Comitê
lagos São João, e a composição da Plenária do mesmo:
Tabela 1 - Estrutura Organizacional do Comitê
Plenária Instância máxima do Comitê, a Plenária é composta por 54 membros
com direito a voto.
Diretoria
Colegiada
2 (dois) representantes do sub-comitê da bacia da Lagoa de araruama
e Una
2 (dois) representantes do sub-comitê da bacia da Lagoa de
Saquarema e Jaconé
2 (dois) representantes do sub-comitê da bacia dos Rios São João e
das Ostras
Presidente Eleito pela Plenária
Secretaria
Executiva
A Secretaria executiva do Comitê e exercida pelo CILSJ
Câmaras Técnicas Criadas no âmbito do comitê e dos sub-comitês, podem se
temporárias ou permanentes
72
Tabela 2 - Composição da Plenária do CBHLSJ
Governo
(18 MEMBROS)
Usuários
(18 MEMBROS)
Sociedade Civil
(18 MEMBROS)
1 (um) representante do município
de Cachoeiras de Macacú;
1 (um) representante do município
de Rio Bonito;
1 (um) representante do município
de Silva Jardim;
1 (um) representante do município
de Casimiro de Abreu;
1 (um) representante do município
de Rio das Ostras;
1 (um) representante do município
de Cabo Frio;
1 (um) representante do município
de Armação dos Búzios;
1 (um) representante do município
de Arraial do Cabo;
1 (um) representante do município
de São Pedro da Aldeia;
1 (um) representante do município
de Iguaba Grande;
1 (um) representante do município
de Araruama;
1 (um) representante do município
de Saquarema;
1 (um) representante do município
de Marica;
1 (um) representante da SESRHI;
1 (um) representante da SEAAP;
1 (um) representante da
SEMADS;
1 (um) representante do BPF;
1 (um) representante do IBAMA.
1 (um) representante da
Concessionária ADJ;
1 (um) representante da
Concessionária PROLAGOS;
1 (um) representante da CEDAE;
1 (um) representante dos SAAE;
1 (um) representante do setor de
Irrigação Agrícola;
1 (um) representante da ALA –
FOZ;
1 (um) representante da ASSOC.
PESCA – REPRESA;
1 (um) representante da ASSOC.
PESCA DA LAGOA DE
ARARUAMA;
1 (um) representante da ASSOC.
PESCA DA LAGOA DE
SAQUAREMA;
1 (um) representante das
COLONIAS DE PESCA;
1 (um) representante dos
AQUICULTORES;
2 (dois) representantes das
ATIVIDADES MINERAIS;
1 (um) representante da
INDÚSTRIA;
1 (um) representante do setor DE
MARINAS E CLUBES
NÁUTICOS;
1 (um) representante do setor de
HOTEIS E POUSADAS;
1 (um) representante do setor de
POSTOS DE GASOLINA;
1 (um) representante dos
SALINEIROS.
1 (um)
representante do
Consórcio
Ambiental Lagos –
São João;
1 (um)
representante da
AMLD – MICO
LEÃO;
5 (cinco)
representantes de
ONG’s
AMBIENTALIST
AS;
3 (três)
representantes de.
ASSOC.
MORADORES;
3 (três)
representantes do
SINDICATO
RURAL;
3 (três)
representante da
ASSOC. PEQ.
PRODUTORES
RURAIS;
2 (dois)
representante de
INSTITUIÇÃO
DE ENSINO
SUPERIOR.
O CBHLSJ têm um elenco variado de responsabilidades, a serem implementadas
diretamente ou através da futura Agência de Águas conforme determinam as Leis Estaduais
3.239 de 02 de agosto de 1999 e 4.247 de 16 de dezembro de 2003.
O funcionamento e pleno desempenho das atribuições legais do Comitê exige uma
equipe que desempenhe as funções de secretaria executiva, assessoria técnica e que
73
encaminhe e operacionalize suas deliberações. Como o Comitê não possui recursos próprios,
nem personalidade jurídica, o que o impede de celebrar convênios, receber e administrar
recursos, contratar pessoal e serviços, o CBHLSJ julgou prioritário organizar um Escritório
Técnico de Apoio para superar estas limitações.
5.2 A ESTRATÉGIA DE TRABALHO ADOTADA PELO COMITÊ
A estratégia adotada pelo CBHLSJ foi delegar ao CILSJ a função de Escritório
Técnico de Apoio, e assim potencializar e ampliar os projetos e atividades na área de gestão e
proteção dos recursos hídricos que já vinham sendo realizando pelo CILSJ, ou seja, ao mesmo
tempo em que o CILSJ presta apoio ao funcionamento do Comitê, ele se dedica a
implementar suas decisões.
Em linhas gerais, do Escritório Técnico de Apoio (ETA/CILSJ), conforme descrito no
Plano de Bacia, desenvolve os seguintes tipos de atividade: (i) apoio ao funcionamento do
Comitê e comunicação institucional; (ii) gestão da informação, planejamento e pesquisa
científica; (iii) comunicação; (iv) projetos de recuperação e manutenção da integridade
ecológica dos ecossistemas aquáticos e das águas subterrâneas e ordenamento dos usos
múltiplo; (v) assistência técnica; (vi) capacitação e treinamento e (vii) captação de recursos.
Deste modo, o objetivo principal de organizar um Escritório Técnico de Apoio no
âmbito do CILSJ busca:
Assessorar o Comitê da Bacia e trabalhar cooperativamente com todos os níveis de
governo, sociedade civil e empresas na gestão dos ecossistemas aquáticos para
restaurar e manter a integridade ecológica dos rios, lagoas e brejos através de
programas e atividades que harmonizem as necessidades humanas, ambientais e
econômicas de modo a assegurar águas limpas e usos múltiplos sustentados em
benefício das gerações atuais e futuras. (Plano de Bacia do CBHLSJ, p. 74)
Os serviços desenvolvidos pelo Escritório Técnico de Apoio (ETA/CILSJ) foram
definidos com base no exame das responsabilidades, atribuições e competências do Comitê da
Bacia, a serem implementadas diretamente ou através da futura Agência de Águas, conforme
estabelecido nas Leis Estaduais 3.239 de 02 de agosto de 1999 e 4.247 de 16 de dezembro de
2003.
74
Os serviços compreendem os seguintes grupos de atividades:
Apoio o funcionamento do Comitê e prover comunicação institucional;
Gestão da informação, planejamento e coordenação das atividades de pesquisa científica;
Coordenação do Plano da Bacia, incluindo o Plano de Ação 2007-2008 e a formulação do
Diagnóstico Ambiental e dos Recursos Hídricos e do Plano Decenal 2009-2019;
Execução dos programas e projetos a seu encargo, especificados no Plano de Ação 2007-
2008 e no Plano Decenal;
Assistência técnica aos municípios;
Capacitação e treinamento;
Captação de recursos para investimentos;
O ETA/CILSJ atua provendo o suporte administrativo ao pleno funcionamento do
CBHLSJ incluindo as seguintes atividades:
Apoiar a função de secretaria-executiva do Conselho, participando das discussões para
prestar esclarecimentos; organizar as reuniões do Comitê, bem como encaminhar aos
representantes a convocação, a pauta e os documentos objeto de exame e deliberação;
Organizar o calendário anual de reuniões do Comitê e elaborar as atas e as resoluções do
Comitê, providenciando o envio dos documentos ao Conselho Estadual de Recursos
Hídricos e a SERLA;
Acompanhar a administração financeira da sub-conta exclusiva da bacia existente no
Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FUNDRHI);
Organizar o Website do Comitê;
Fornecer ao COMITÊ e a SERLA informações sobre a execução dos trabalhos e objetivos
alcançados;
Promover o COMITÊ nas diversas comunidades municipais, urbanas e rurais;
Dar conhecimento público sobre os objetivos e resultados da atuação do Comitê;
Viabilizar a edição de documentos técnicos;
Realizar exposições de divulgação e informação dirigidas ao público e aos técnicos
envolvidos com o assunto;
Organizar eventos e seminários, palestras, demonstrações, debates e mesas-redondas;
Recepcionar visitantes;
75
Editar livros e publicações sobre os ecossistemas aquáticos;
Produzir materiais informativos e ocasionalmente folhetos de extensão ambiental;
Publicar mensalmente os resultados das análises de balneabilidade das praias lagunares,
marinhas e dos locais de lazer fluvial;
Promover campanhas de economia da água;
Depois de constituído, a primeira decisão do comitê foi a de implantar sub-comitês de
bacia, com a mesma abrangência e configuração de trabalho dos antigos Grupos Executivos
de Trabalho de Bacia (GET) do Consórcio (GELA, GELSA e GERSA), permitindo desta
forma a continuidade dos trabalhos que já eram desenvolvidos dentro do espírito da Lei de
Recursos hídricos.
O processo não trouxe alterações à rotina dos trabalhos de manejo nas bacias, pois os
GET funcionavam realmente como embriões dos sub-comitês. A estruturação em sub-comitês
foi instituída através de uma deliberação do Comitê, como pode ser visto na tabela 3 a seguir.
Tabela 3 – Deliberação 001 do Comitê que institui os sub-comitês de bacia
COMITE DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DAS LAGOAS DE ARARUAMA E
SAQUAREMA E DOS RIOS SÃO JOÃO UNA E OSTRAS
Deliberação N
0
001/2005
Cria Sub-Comitês das Bacias Hidrográficas
Considerando que o Comitê das Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama e
Saquarema e dos Rios São João Una e Ostras, reconhecido e qualificado pelo Decreto Nº
36.733 de 08 de dezembro de 2004 Atos do Poder Executivo, no uso de suas atribuições
legais, previstas na Lei Estadual nº 3.239, de 02 de agosto de 1999 e na Lei Federal nº
9.433, de 08 de janeiro de 1997, estabelece a Deliberação N
0
001/2005, aprovada pelo
seu Plenário em reunião de 23/02/2005.
DELIBERA:
1 – Instituição de Três Sub-Comitês:
I – Sub-Comitê das Bacias Hidrográficas da Lagoa de Araruama e Rio Una;
II – Sub-Comitê da Bacia Hidrográfica da Lagoa de Saquarema;
III – Sub-Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios São João e Ostras.
2- Estrutura dos Sub-Comitês
I – Diretoria Colegiada (Dois membros por sub-comitê)
II– Plenário
III – Câmaras Técnicas
76
3- Composição dos Sub-Comitês:
1/3 Poder Público – 1/3 Usuários e 1/3 Sociedade Civil, com composição a seguir
descriminada, conforme definido nas reuniões públicas:
Bacia da Lagoa de Araruama e Una – 17 de outubro de 2002
Bacia da Lagoa de Saquarema – 20 de setembro de 2002
Bacia dos rios São João e Ostras – 19 de novembro de 2002
I – Sub-Comitê das Bacias Hidrográficas da Lagoa de Araruama e Rio Una:
Governo
(13 MEMBROS)
Usuários
(13 MEMBROS)
Sociedade Civil
(13 MEMBROS)
Araruama - 1
Iguaba Grande – 1
São Pedro da Aldeia – 1
Cabo Frio – 1
Águas de juturnaíba - 1
Prolagos - 1
Assoc. pesca – 2
Col.
p
esca – 1
Calsj - 1
Ong’s – 5
Crbio -2
Assoc. moradores – 1
II – Sub-Comitê da Bacia Hidrográfica da Lagoa de Saquarema:
Governo
(8 MEMBROS)
Usuários
(8 MEMBROS)
Sociedade Civil
(8 MEMBROS)
Saquarema - 2
Marica - 1
Concessionária ADJ - 1
Setor de
p
rodu
ç
ão
Calsj - 1
ONG’s - 2
III – Sub-Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios São João e Ostras:
77
SEAAP (Emater) - 1
FEEMA - 1
IBAMA (APA SJ) -1
Ext. de mineral - 1
Assoc. pesca artesanal - 1
Setor turístico - 1
Produção agropecuária -1
Instituição de ensino
superior - 1
Rppn - 1
Os Sub-Comitês serão constituídos por membros representantes titulares ou por suplentes
e ainda por profissionais por estes indicados formalmente junto à Secretaria Executiva do
Comitê, os quais terão direito a voz e a voto exclusivamente no âmbito do sub-comitê, e
deverão ter sua indicação referendada pelo Comitê Lagos São João.
4 – Competências dos Sub-Comitês
Os Sub-Comitês serão colegiados encarregados de deliberar e encaminhar ao Plenário do
Comitê Lagos São João, assuntos de competência de suas Bacias Hidrográficas.
5- Funcionamento do Plenário
O Plenário será regido pelas mesmas regras estabelecidas no Regimento do Comitê artigos
9 a 17, excetuando-se a periodicidade das reuniões preconizadas no art 9, que serão
t
rimestrais, e a regra para publicação das deliberações, que deverão ser primeiro
submetidas e aprovadas pelo Comitê.
São Pedro da Aldeia, 23 de fevereiro de 2005
5
5
.
.
3
3
O
O
P
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L
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E
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L
O
O
C
C
O
O
M
M
I
I
T
T
Ê
Ê
O Comitê ao ser criado já dispunha também de uma versão bastante adiantada do
Plano da Bacia Hidrográfica da Região dos Lagos e do Rio São João, que fora preparado pelo
CILSJ ao longo dos cinco anos anteriores. O Plano aprovado pelo Comitê difere de planos
tradicionalmente elaborados para bacias. Esta reside basicamente no fato de que planos
tradicionais são feitos via de regra por consultoria externa a bacia, geralmente contratada por
grandes cifras de recursos, e que termina por apresentar uma proposta seca, de obras e valores
de custo, sem que haja qualquer tipo de comprometimento dos atores envolvidos. A proposta
do CBHLSJ é bastante inovadora, e consiste na elaboração por etapas do Plano (tabela 4),
buscando atingir um pacto governamental.
78
Tabela 4 – Volumes do Plano de Bacia do Comitê Lagos São João
TOMO I SINOPSE SOBRE A BACIA Concluído
TOMO II PLANO DE AÇÃO 2007-2008 Concluído
TOMO III TERMO DE REFERÊNCIA PARA O
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E DOS
RECURSOS HÍDRICOS
Concluído
TOMO IV DIAGNÓSTICO AMBIENTAL E DOS
RECURSOS HÍDRICOS
Prevista conclusão para
meados de 2008
TOMO V ZONEAMENTO ECOLÓGICO-
ECONÔMICO
Prevista conclusão para
primeiro trimestre de
2009
TOMO VI PLANO DECENAL 2009-2019
Prevista conclusão para
primeiro trimestre de
2009
TOMO VII PACTO GOVERNAMENTAL PARA
IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DECENAL
2009-2019
Prevista conclusão para
segundo trimestre de
2009
TOMO VIII PLANO DE INVESTIGAÇÃO E PESQUISA
CIENTÍFICA DE LONGO TERMO (2010-
2019)
Prevista conclusão para
2010
Os Tomos I, II e III encontram-se concluídos como resultado do apoio do CILSJ, que
contou com apoio técnico e financeiro da World Wildlife Fund (WWF BRASIL) através do
“Programa Água para a Vida”.
O Tomo I tem por objetivo expor um resumo das características da região objeto do
Plano. Apresenta uma relação das atividades, programas e projetos que tem sido executados
na região ou que direta ou indiretamente podem influenciar o referido Plano, assim como
relaciona as instituições públicas e privadas atuantes na região ou com potencialidade de atuar
na implementação do Plano. As informações disponibilizadas permitem obter um quadro
abrangente do cenário onde o Plano será implementado, contribuindo para o planejamento de
ações mais eficazes e de menor custo. Impressiona a primeira vista a quantidade de
instituições públicas que atuam no campo ambiental e de manejo da água e que podem ser
futuros parceiros.
O Tomo II, Plano de Ação para o período 2007-2008, descreve os programas e as
atividades, com metas e prazos, a serem executadas pelos diversos atores que atuam na bacia,
dentre os quais o CILSJ, através de sua Secretaria-Executiva, das Prefeituras e das ONG’s,
assim como pelos órgãos ligados a esfera do Governo Federal e Estadual, ou mesmo pelas
empresas concessionárias que prestam serviços ambientais, especialmente aquelas referentes a
água e esgoto e coleta, reciclagem e destinação final de resíduos.
79
O Tomo III contém as especificações técnicas para desenvolvimento do Diagnóstico
Ambiental e dos Recursos Hídricos, que compreende estudos detalhados de hidrologia,
geomorfologia, meio ambiente e sócio-economia da situação atual, assim como projeções de
demandas hídricas em distintos cenários de planejamento. As informações servirão para
formular o Plano Decenal da Bacia (2009-2019) e para subsidiar diversas outras atividades,
como por exemplo, a atualização dos Planos Diretores Municipais.
O Tomo IV, Diagnóstico Ambiental e dos Recursos Hídricos planeja-se empreender
em parceira com Universidade, procurando-se estabelecer equipes técnicas mistas onde os
funcionários públicos municipais possam participar da coleta e tratamento dos dados,
incorporando assim o conhecimento. Fala-se em buscar ainda o apoio de voluntários junto as
ONG’s e empresas. A conclusão encontra-se prevista para meados de 2008.
O Tomo V, Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) será um dos produtos do
Diagnóstico Ambiental e dos Recursos Hídricos. O Zoneamento será uma ferramenta chave
para ser incorporado pelas Prefeituras em seus zoneamentos municipais. Por ser um
instrumento preventivo, o ZEE é estratégico para a conservação e o uso sustentado dos
recursos naturais das bacias.
O Tomo VI, o Plano Decenal 2009-2019, deverá ser concluído no início de 2009 com
base na sólida base de dados que se espera constituir através do Diagnóstico Ambiental e dos
Recursos Hídricos e orientado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico, o que possibilitará a
formulação de projetos e obras consistentes, a serem executados a médio e longo prazo, e
assim promover a recuperação da integridade ecológica e o ordenamento dos usos múltiplos
dos ecossistemas aquáticos.
O Tomo VII deverá definir as bases e os compromissos para o estabelecimento de
pactos e convênios entre os governos municipais, federal e estadual para implementação do
Plano Decenal.
O Comitê, CILSJ, as Prefeituras e os Governos Federal e do Estado sempre irão
necessitar de estudos técnico-científicos para fundamentar suas decisões, elaborar projetos de
modo a promover uma eficiente gestão das bacias e dos ecossistemas aquáticos e aferir a
eficácia das ações empreendidas. A melhor maneira de se materializar esta ação é celebrar
convênios de cooperação técnica com instituições de pesquisa que já atuam nas bacias.
Após a conclusão do Plano Decenal, e em particular do Diagnóstico, onde será
identificado o nível de conhecimento, as falhas e as carências de informações, o Comitê
pretende solicitar as universidades, a preparação de um Plano de Investigação e Pesquisa de
Longo Termo (2010-2019). A finalidade do Plano é aprofundar a base de conhecimentos
80
sobre a estrutura, processos, funções e interações existentes nos ecossistemas aquáticos e em
suas bacias hidrográficas, reunindo estudos e atividades de investigação e pesquisa que
mobilizem disciplinas como ecologia, geografia, cartografia, geomorfologia, geologia,
meteorologia, hidrologia, sedimentologia, biologia, limnologia, geoquímica, urbanismo,
sociologia, antropologia e economia.
5.4 UMA CONJUNÇÃO DE RESULTADOS: DO CONSÓRCIO AO COMITÊ
Buscando se aferir os resultados do processo em andamento, resgatou-se o primeiro
levantamento participativo de ações, preparados em 2001 pelos GET do CILSJ (GELA,
GELSA e GERSA), e verificou-se o estágio dos mesmos no final de 2006, de forma a
observar como processo tem avançando, ou não, na implantação de propostas (ver tabelas 5, 6
e 7).
Tabela 5 – Metas 2001 GELA versus situação 2006 para a Bacia da Lagoa de Araruama e Una
Metas em 2001 Situação em 2006
Dotar a lagoa de um sistema de gestão compartilhada
Definir os usos múltiplos
Implantado o Sub-Comitê
Demarcar e materializar fisicamente a faixa marginal da
lagoa de Araruama (incluindo identificar, demarcar,
cadastrar e fiscalizar os terrenos de marinha, em convênio
com órgão da União, nos termos do artigo 4° da Lei
Federal 9.636 de 15 de maio de 1998
Criada uma Câmara Técnica
em 2006 para cuidar da
questão
Demolir e remover as edificações irregulares da FMP
Realização de estudo para cobrança de uso da faixa
marginal dos que hoje estão instalados (impossível de
remover)
Remoção de Salinas Desativadas
Remoção de Marnéis, Adutora e Ganchos no canal do
Itajurú
Remoção das obras responsáveis pelas alterações no
processo de transportes de sedimentos
Em andamento a remoção de
adutora e obras que alteram
o processo de transportes de
sedimento
81
Definir os usos múltiplos permitidos
Dotar a Lagoa de Araruama e faixa marginal de um
zoneamento ecológico-econômico dos usos múltiplos
capaz de conciliar seus diversos usos atuais e potenciais
D
efinidos os usos, que
inclusive levou ao fim da
extração de calcário
Dotar a lagoa de um Plano nos moldes preconizados na
Lei Estadual de Recursos Hídricos
P
lano de Bacia elaborado em
2005
Cadastro e Mapeamento atualizado das fontes
potencialmente poluidoras ou degradadoras situadas na
orla e na bacia hidrográfica: salinas, pequenas extrações
de conchas, marinas, clubes náuticos, postos de serviço
(oficinas mecânicas, lava-jatos, postos de gasolina, etc),
empresas de limpeza de fossas;
Cadastro de embarcações
Levantamento e locação topográfica de todas as obras de
defesa costeira e de acostagem e dos locais de lavagem
de conchas nas margens (Levantamento de todas as obras
de defesa costeira e de acostagem que interfiram na
circulação da água e na movimentação de sedimentos.
Em andamento no Plano de
Bacia
Instalação de web-câmaras em pontos estratégicos, que
forneçam ampla visão das distintas enseadas
N
ão implantado
Implantar o monitoramento da qualidade da água da
lagoa
Implantado
Operacionalizar modelos de circulação hidrodinâmica e
transporte de sedimentos;
Operar modelo na Agência SEMADS de Araruama
R
ealizado
Instalar de limnígrafos e marégrafos na ponta do
Hospício, Pontinha, Figueira e Praia Seca.
Instalar ondógrafo na ponta das Coroinhas
A
inda não realizado
Produzir relatório de situação atual e pretérita bi-anuais
R
ealizado
Ampliar a área e mangue
Em andamento
Dragagem do Canal de Itajurú e dos Esporões
Recuperação de Praias Erodidas (engordas)
Realização de Obras de Estabilização da Orla
Demolir e Reconstruir Ponte Ambrósio
Em andamento
Restauração de Brejos em valas negras
Instalação de Comportas nos Canais
Construção de Galeria de Cintura
Implantado
Dar uso a área pública sem utilização
Elaborar Plano de Manejo
Implantar infra-estrutura básica (Sede, Centro de
Visitantes, Alojamentos e Guaritas)
N
ão implantado
Reusar água oriunda de efluentes tratados
P
rojeto elaborado
Implantar Conselhos Gestores das APAs
Centro de visitação
Implantado
Deposição de lixo coletado
A
terro sanitário em implant.
Proteção das lagoas de Vermelha, Pitanguinha,
Pernanbuca, Espinho, do Sal ou Salgada e Azul
Em andamento
82
Tabela 6 – Metas 2001 GERSA versus situação 2006 para a Bacia dos rios São João e Ostras
Metas em 2001 Situação em 2006
comissão de estudos p/ criação da APA
consulta pública p/ identificar, localizar dimensão e
limites mais adequadas p/ a APA
comissão p/ estudo da reserva extrativista do mangue –
rios Ostras e S. João
consulta pública p/ ambas as áreas
Criada a APA
Elaborar Plano de manejo p/ Rebio União e PMRO
Revisão Plano de manejo de Poço das Antas
Finalizar Plano de manejo APA do Iriri
83
demarcação da FMP
Não realizado
materialização da FMP
Não realizado
Preservação da FMP e nascentes (fiscalização)
Em andamento
recuperação de mata ciliar Rio São João
renaturalização do São João
Em andamento
Estudo de recuperação da mata ciliar dos rios da bacia
Em andamento
implantar a rampa escada de peixes com repovoamento
Em andamento
elaborar projeto de ordenamento pesqueiro
Elaborada Portaria
irrigação e outras USN
Mosaico em Implantação
estudo de capacidade de suporte de areia dos rios
Iniciado e paralisado
Recuperação de Unamar
Elaborada Proposta
Tabela 7 – Metas 2001 GELSA versus situação 2006 - Bacia da Lagoa de Saquarema e Jaconé
Metas em 2001 Situação em 2006
Preparar proposta de decreto do comitê
Sub-comitê implantado
Realizar conferência Munic. Meio Ambiente
Realizada
Fazer a tramitação do projeto de lei ambiental munic. já
existente
Não realizado
Monitorar os parâmetros físico/ químicos e micro
biológicos
Implantado
Implantar estação meteorológica digital
Não implantado
Mapeamento e cadastramento
Em andamento
Levantamento aerofotogramétrico da bacia hidrográfica
Realizado
Mapeamento geológico de campo em escala 1:5000, da
bacia
Realizado
Cadastramento de poços artesianos e semi-artesianos na
Bacia Hidrográfica
Não realizado
Estudo hidrogeológico dos aqüíferos subterrâneos da
bacia hidrográfica
Não realizado
Criação da fiscalização municipal ambiental
Criada
Conscientização e Educação dos pescadores sobre
preservação dos recursos pesqueiros
Em andamento
Cadastramento de pescadores e embarcações
Em andamento
Implementar a REEJ
Em andamento
Demarcação Física dos limites da REEJ
Implantado
Sancionar Plano Diretor APA de Massambaba
Demarcação física c/ sinalização dos limites e
zoneamento da APA
Implantado
Criar UC na Região Serrana
Em andamento
Fomentar a criação de RPPN’s
Em andamento
Demarcação, cercamento e fiscalização dos sítios
identificados
Não realizado
Divulgar e informar a importância dos sítios
arqueológicos
Não realizado
Recuperação das matas ciliares e proteção das nascentes
Não realizado
Revisão e ampliação das metas da concessionária
Realizado
84
Acompanhar impl. da obra da barra franca e medidas
mitigadoras
Em andamento
Substituir Ponte do Jirau
Em andamento
Implantar programa pro-lixo
Em andamento aterro
regional
Revisão articular a sintonia entre as licenças do
município e estado. Só o poder público constituído
como os demais órgãos licenciadores quanto as
construções irregulares/ ou ocupações indevidas
Articular com os órgãos/ responsáveis pelo
cumprimento da Portaria da ANEL
Em andamento
Resgate das informações do SPU
Realizado
Levantamento da biodiversidade e dos valores
arqueológicos das unidades
Parcialmente realizado
Observando-se as tabelas acima, constata-se a existência de um grau de efetividade
bastante razoável das ações propostas, o que pelo percebido “in loco”, vem tornando o
processo da gestão participativa através do Comitê de Bacia cada vez mais forte.
A existência de um Consórcio de Bacia com personalidade Jurídica atuando em
parceria com o Comitê, que não dispõe de tal personalidade, parece ser muito oportuna e
como demonstrado, vem trazendo resultados bastante positivos. Além disso, o trabalho
participativo iniciado enquanto consórcio proporcionou um processo de maturação do que
viria a ser o Comitê, que começou com Grupos de Trabalho de um consórcio e passou a sub-
comitês de bacia de um Comitê, com poder deliberativo.
A estruturação oficial em sub-comitês é inovadora, e no caso do “Lagos São João”
vem proporcionando bons resultados, já que tem permitido capilarizar o processo, abrindo o
mesmo, a participação de um maior número de representações, como pôde ser observado na
tabela que apresenta a deliberação que institui a figura dos Sub-comitês de Bacia.
O Comitê valendo-se da equipe do CILSJ intensifica o acúmulo gradativo de
informações técnicas sobre a região, de forma proporcionar a feitura de um Plano de Bacia
Hidrográfica realista e executável em longo prazo. Por outro lado, verifica-se que o Consórcio
se dedica também à tarefa de forjar novas parcerias para implementar projetos e de captar
recursos de fontes nacionais e internacionais para investir na bacia, reduzindo assim a
dependência dos recursos da cobrança pelo uso da água, cujo montante, embora de
fundamental importância, é com certeza muito inferior às necessidades de investimentos para
recuperação e manutenção dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos onde eles estão.
85
Percebe-se que modelo adotado para elaboração do Plano de Bacia, objetiva-se o
estabelecimento de pactos de governança, ou seja, todos os membros têm metas a cumprir, as
entidades públicas assumem assim metas regionais a serem cumpridas, metas essas que não
fogem de suas atribuições legais. O Plano neste caso apenas ordena, aquilo que em parte já
são obrigações.
O Plano chama para o comprometimento e para a participação. Ele é discutido e
aprovado no âmbito do Comitê e do Conselho de Sócios do Consórcio, logo todos se
comprometem a cumprir aquilo que está escrito, pois todos juntos construíram e aprovaram. A
sociedade ainda ganha um instrumento para cobrar, já que as metas são claras e transparentes.
86
6 A AGENDA 21 E A GESTÃO DE BACIA NA REGIÃO DOS LAGOS
A ONU - Organização das Nações Unidas, através da sua Comissão Mundial para o
Meio Ambiente e Desenvolvimento, lançou o conceito de Desenvolvimento Sustentável.
Trata-se de um modelo que preconiza satisfazer as necessidades presentes sem
comprometer os recursos necessários à satisfação das gerações futuras, buscando atividades
que funcionem em harmonia com a natureza e promovendo, acima de tudo, a melhoria da
qualidade de vida de toda a sociedade.
Um grande passo para nortear a prática de ações sob esse conceito, foi à elaboração e
lançamento da Agenda 21 Global na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano conhecida como ECO-92, realizada em 1992, no Rio de Janeiro.
A Agenda 21 é um programa de ações para o qual contribuíram governos e
instituições da sociedade civil de 179 países, que constitui a mais ousada e abrangente
tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento,
conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
Na verdade, a Agenda 21 aprovada pelos países tem a função de servir como base para
que cada um desses países elabore e implemente sua própria Agenda 21 Nacional,
compromisso, aliás, assumido por todos os signatários durante a ECO-92.
A Agenda 21 surge às vésperas do final do milênio quando o modelo capitalista
calcado na acumulação do capital demonstra claramente sua insustentabilidade, haja vista o
fato de a capacidade de suporte do planeta ter sido ultrapassada, suscitando a necessidade de
buscar mudanças no modelo em voga no planeta. As Ongs internacionais deram inclusive um
apelido para esta situação: “pegada ecológica”, ou seja a retirada (impacto) de recursos do
planeta hoje, segundo dados do WWF Internacional, já é 20% maior que a capacidade do
planeta de repor aquilo que o homem tira da natureza.
87
Esta conclusão não é recente, a discussão sobre os limites do crescimento econômico
remonta ao início da década de 1970. Vários pensadores e economistas publicaram, em 1972,
um extenso relatório intitulado Limites do Crescimento, editado pelo Clube de Roma e que
evidenciava a completa falta de sustentabilidade dos padrões de consumo. Mais tarde, o
diagnóstico traçado pelo Relatório Brundtland
12
em 1987, também alertava para um modelo
consumista insustentável, chamando a atenção para o fato de que o planeta não disporia de
matéria prima suficiente caso todos resolvessem desfrutar do modelo de consumo pregado
pelo capitalismo consumista, representado pelo “american way of life”. Alertava ainda para as
conseqüências da pobreza para o meio ambiente, mostrando os impactos e os reflexos das
ocupações de assentamentos humanos desprovidos de quaisquer cuidados sanitários.
Em tempos de globalização, a Agenda 21 preenche confortavelmente um discurso de
preocupação com o planeta, como forma de se demonstrar o reconhecimento e a preocupação
com a sustentabilidade do planeta, entretanto, o que se vê na prática em termos de postura dos
países mais ricos, não coaduna com o discurso e princípios da agenda 21, já que a dita
“pegada ecológica” destes países vem aumentando consideravelmente nos últimos anos,
mesmo após a Conferência Mundial do Meio Ambiente, “Rio 92” ocorrida em 1992.
A comprovação do descaso de países ricos com as metas estabelecidas se dá na
contradição do discurso, retratado de forma clara no Protocolo de Kioto
13
, onde os ricos
signatários compram o direito de continuar a poluir, com a adoção de projetos de sequestro de
carbono
14
no terceiro mundo, ao invés de realmente cortar e reduzir suas fontes de poluição.
Ainda pior quando a maior potência mundial, responsável por mais de 25% do consumo de
energia e das emissões do planeta não adere ao citado tratado, porque mesmo em longo prazo,
teria que se comprometer a reduzir suas emissões.
No mundo globalizado, a agenda 21 não traz resposta, ou proposta para a
externalidade de custos imposta pelos países ricos, aos países mais pobres, como por
exemplo: à água que é consumida nos paises mais pobres para produzir insumos que são
12
Relatório Brundtland - O Relatório Brundtland foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento, faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à
Agenda 21, as quais reafirmam uma visão
crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em
desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade
de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre
desenvolvimento sustentável e os
padrões de produção e consumo vigentes.
13
Protocolo de Kioto – Constitui-se no protocolo de um internacional com compromissos mais rígidos
para a redução da emissão dos gases que provocam o , considerados, de acordo com a maioria das
investigações científicas, como causa do .
tratado
efeito estufa
aquecimento global
14
Sequestro de carbono - termo usado para a ação que corresponde a não emissão de carbono, ou retirada do
mesmo da atmosfera, normalmente realizada por meio de projetos ou de reflorestamento, ou de coleta de fontes
de carbono atualmente lançado na atmosfera.
88
importados por países ricos, “para produzir 1 kg de soja (item de peso na balança de
exportação do Brasil), 1000 litros de água foram usados”. Esta discussão já vem sendo
travada em fóruns internacionais, que esperam colocar na ordem econômica mundial, o “trade
off”, ou seja o balanço entre o custo agregado relativo ao consumo de água que se deu para
produzi-lo.
Para manter o discurso de preocupação com força, freqüentemente são (re)produzidas
revitalizações do mesmo, promovidas através da própria ONU, como por exemplo as metas
do milênio de 2000, que reproduzem nas entrelinhas as premissas da agenda 21.
Apesar da distância entre a prática e o discurso e não obstante do pouco esforço dos
países ricos para cumprir os princípios propostos na Agenda 21, não há como negar que suas
diretrizes convergem para o entendimento global do que seria digno e sustentável para a vida
do ser humano no planeta. Por este motivo o estudo em tela busca avaliar o modelo de gestão
de bacia da região dos Lagos, enquanto processo, com os princípios e preceitos da Agenda 21,
buscando assim aferir sua compatibilidade e capacidade de colaborar para as metas da
Agenda.
Analisando o trabalho de gestão de bacia pesquisado neste trabalho, com ampla
participação social como vem acontecendo na região, contribui para o cumprimento dos
capítulos da Agenda 21 da seguinte forma (tabela 8):
Tabela 8 - Listagem dos capítulos da Agenda 21 atendidos direta, indireta, superficial e não aplicado, pelo
processo de gestão de bacia da região dos Lagos.
DIRETAMENTE
20 CAPÍTULOS
INDIRETAMENTE
11 CAPÍTULOS
SUPERFICIALMENTE
4 CAPÍTULOS
NÃO SE APLICA
4 CAPÍTULOS
(1, 6, 7, 8, 10, 11,
12, 13, 14, 15, 17,
18, 21, 23, 25, 27,
28, 33, 36 e 40)
(3,5,24,29,30,31,32
34,35,37 e 39)
(2, 4, 9 e 16) (19, 20, 22 e 26)
Para confirmar tal avaliação, pesquisou-se através das atas de reunião do Consórcio e
Comitê de 2000 a 2005, recortes de jornal, pesquisas de Projetos como o Marca D’água e
entrevistas com atores diversos envolvidos, de que forma o processo de gestão vem
colaborando para viabilizar preceitos da Agenda 21.
Serão listados a seguir de que forma se verificou que o processo já em curso
contribuiu de forma direta com a agenda 21 Global:
89
Capítulo 1 – Introdução à Agenda 21
Capítulo de preâmbulo da Agenda 21, onde se suscita que o êxito da Agenda depende
das estratégias, planos e políticas que venham a ser implementadas, buscando sempre o
fortalecimento das instituições e o estímulo a participação do maior número de grupos
interessados. O processo analisado na Região dos Lagos, preenche tais características, pois
como já visto no relatório de pesquisa e no “modus operandi” envolve estratégias, planos e
política com ampla participação de diferentes categorias visando alcançar os objetivos
traçados. O Plano de Bacia, recém aprovado pelo Comitê trabalha dentro da estratégia de
construir um comprometimento dos envolvidos, pois sabiamente avalia que sem
comprometimento de atores importantes, dificilmente logrará êxito nas suas propostas.
A combinação que se estabeleceu no modelo de gestão da região, que envolve um
Consórcio de Bacia e um Comitê de Bacia, adquire uma performance surpreendente, pois as
decisões tomadas de forma compartilhadas e técnicas no âmbito do Comitê, buscam o
comprometimento político através do Consórcio, onde os prefeitos reunidos são chamados a
aderir às propostas.
Capítulo 6 – Proteção e promoção das condições da saúde humana
Capítulo 14 – Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável
Ambos os capítulos dão ênfase à área rural, e o desenvolvimento do processo de
gestão por microbacias do CILSJ, chamado de Projeto CAM – Comunidades em Ação nas
Micro-bacias transcende a gestão de recursos hídricos, já que desce a escala do indivíduo que
mora na micro-bacia, e assim segue diagnosticando e encaminhando propostas que vão desde
o transporte das comunidades, as demais carências de equipamentos públicos, como escolas e
postos de saúde. Tem o mérito de organizar o grupo e levá-lo para o debate da bacia no sub-
comitê correspondente, aquele que está na ponta, no início de todo o processo de uso do solo.
De suas práticas dependerão a qualidade das águas mesmo antes de chegarem às cidades. O
grande desafio neste projeto é o de propiciar incentivos para que práticas sustentáveis sejam
adotadas, e para tal já existem propostas para criação de fundos voltados a financiamento rural
com recursos da cobrança pelo uso da água, destinados aqueles que receberem um selo do
Comitê de boas práticas.
Ainda com relação à saúde humana em áreas urbanas, os avanços conquistados no
campo do saneamento, tem reflexos imediatos no controle de doenças infecto contagiosas,
90
pois a maioria delas são propagadas por veiculação hídrica. É fato que para R$ 1 real aplicado
em saneamento, R$ 4 reais serão economizados no serviço de saúde. Se assim for, os R$ 100
milhões já aplicados em saneamento, poderão representar uma economia de até R$ 400
milhões de reais no sistema de saúde nos próximos anos.
Capítulo 7 – Promoção ao desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos
Capítulo 21 – Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões
relacionadas com esgotos
O capítulo 7 enfatiza a discussão dos assentamentos humanos, destacando a questão
da infra-estrutura básica para tais assentamentos. Em função da localização da bacia em
estudo junto a uma capital da região sudeste do país, os problemas mais comuns recaem sobre
a ausência de saneamento básico, água, esgoto, drenagem e coleta de lixo, temas diretamente
abordado no capítulo 21.
Como mostrado no relatório de pesquisa do presente trabalho, a Região vivenciou nos
últimos três anos um investimento de R$ 100 milhões de reais em esgotamento sanitário, o
que a coloca em uma situação de atendimento de cerca de 70% da população, uma posição
relativamente privilegiada no Brasil. Estão previstos ainda R$ 60 milhões de investimento
para os próximos três anos somente em tratamento de esgotos, elevando o índice para
próximo dos 100% de atendimento. Alguns municípios com áreas parciais na Bacia, como
Rio Bonito e Casimiro de Abreu, que estão fora das áreas de Concessão, ainda carecem de
avançar com seus sistemas.
No abastecimento d’água, a região saltou de 600 l/s que eram aduzidos em 1998,
quando foram concedidos os serviços, para 1.800 l/s em 2002, eliminando o problema
constante até então da falta de água. Estão previstos para os próximos três anos investimentos
da ordem de R$ 30 milhões para construção de novas adutoras que elevarão para 2.400 l/s a
vazão aduzida, fazendo frente ao impressionante crescimento populacional que vem
experimento a região de 6% ao ano. Campanhas de conhecimento e uso parcimonioso da água
são veiculadas na TV local, visando esclarecer a população sobre a fonte e o combate ao
desperdício de água.
Os sistemas de drenagem estão na pauta do dia nas reuniões, pois eles são o principal
meio de condução de esgotos para as lagunas costeiras, receptoras da drenagem, assim sendo
sob o olhar vigilante das ONGs. Desta forma não é difícil que a implantação de tais sistemas
de drenagem sejam discutidas e projetos ajustados em função da demanda do Comitê.
91
Em relação aos resíduos sólidos, as cidades já dispõem de alto índice de atendimento
nos serviços de coletas domiciliares, mas somente nos últimos anos um projeto de aterro
sanitário regional está sendo tirado do papel. Mais uma vez a estratégia adotada foi a de atrair
o capital privado para investir cerca de R$ 8 milhões de reais no projeto, em área
cuidadosamente escolhida pelo Consocio, atualmente já licenciada e em fase de implantação.
O CILSJ criou em 2005 um Grupo executivo de Trabalho, chamado GESAN – Grupo
Executivo de Saneamento, destinado a promover o debate sobre a questão:
Tabela 9 – Deliberação que cria o GESAN
DELIBERAÇÃO Nº 001/05, 30 DE JUNHO DE 2005.
Dispõe sobre a criação de Grupo
Executivo de Trabalho de
Saneamento - GESAN
Considerando que o Consórcio Ambiental Lagos São João tem entre as suas metas
propor, apoiar e executar ações de recuperação e gestão ambiental, na área que
compreende as bacias hidrográficas das lagoas de Jaconé, Saquarema e Araruama e dos
rios Una, São João e das Ostras e zona costeira adjacente,
Considerando que o Consórcio como instrumento de gestão integrada e participativa,
vêm promovendo o debate em torno das obras de esgotamento sanitário, e ainda em
torno da destinação de resíduos sólidos na região,
Considerando a necessidade de melhor se relacionar com a ASEP, no caso dos oito
municípios que tem concessão regulada por esta, e assim exercer de forma mais eficaz o
voto vogal durante as seções regulatórias,
Considerando a necessidade de se aprofundar nas questões relativas a captação e
distribuição de água, assim como nas questões relativas a drenagem urbana,
DELIBERA:
1 - Oficializar a instituição do Grupo Executivo de Trabalho de Saneamento – GESAN, a
quem caberá tratar dos temas relativos a sistemas de tratamento de esgotos, coleta e
distribuição de água, destinação de resíduos sólidos e drenagem;
2 – O GESAN será vinculados à Secretaria Executiva do Consórcio, e poderá ser
coordenados diretamente por esta, ou por um coordenador escolhido dentro do Grupo;
3 – Ao GESAN cabe a definição de metas, e ações consorciadas a serem tomadas em
consonância com as políticas estadual e federal sobre o assunto;
4 - Para cumprimento das metas deverão ser elaborados de Planos de Trabalho (bi-
anual), que deverão descrever e hierarquizar as atividades e projetos à serem
desencadeadas no âmbito das áreas de abrangências. A Secretaria Executiva fará a
su
p
ervisão
g
eral, encaminhando
p
osteriormente
p
ara referendo do Conselho de
92
Associados;
5 – Deverão ser convidados a participar dos GESAN, além dos secretários de meio
ambiente, todos os interessados, entre eles, concessionárias, instituições civis, empresas,
órgãos de pesquisa e esferas de governo;
6 – O voto vogal durante as seções regulatórias da ASEP, deverá ser exercido
preferencialmente pela Secretaria Executiva do CILSJ, refletindo a decisão do GESAN.
Caberá a Secretaria Executiva, buscar antecipadamente as informações sobre matérias
que serão votadas na ASEP, e discuti-las com o GESAN e Prefeitos, quando for o caso.
Saquarema, 30 de junho de 2005
Não obstante do cenário promissor relativo à disponibilidade dos serviços de infra-
estrutura de saneamento básico, há um comprometimento de recursos terrestres e aquáticos
oriundo de crescimento de bairros espontâneos
15
, movidos pelas altas taxas de crescimento
populacional da região, em áreas de baixa renda, e que desafiam a engenharia e futura
urbanização destas áreas.
Capítulo 8 – Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de
decisões
Capítulo 10 – Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos
recursos terrestres
Capítulo 18 – Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos:
aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos
hídricos
Estes três capítulos são plenamente atendidos com a efetividade da implementação das
Políticas Estadual e Nacional de Recursos Hídricos na região. A Bacia Lagos São João, é a
primeira bacia de rio de domínio estadual do país a ter todos os instrumentos previstos na Lei
implantados. Possui seu Comitê, que já elaborou e aprovou o Plano de Bacia, conta com a
cobrança pelo uso dos recursos hídricos implantada no Estado do Rio através da Lei Estadual
4247/03, e conta com o Consórcio como Escritório de Apoio Técnico com personalidade
15
Bairros espontâneos – áreas de baixa renda que crescem sem qualquer planejamento, com sucessivos
“puxadinhos” ou construção de habitações que não obedecem a padrões salutares, tão pouco dados a traçados
urbanos de malha viária.
93
jurídica, que funciona na prática como a Agência de Águas da Bacia, executando os projetos
propostos pelo Comitê.
O desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos, assim como sua
interface com os planos políticos vêm acontecendo através da relação entre o Comitê, que
detêm a tomada de decisão compartilhada, e o Consórcio que pactua no plano político as
pospostas aprovadas no Comitê, os recursos terrestres não ficam de fora, pois estão afetos ao
manejo da bacia, já que as alterações no solo resultam em consequências diretas nos recursos
hídricos. Assim sendo o Plano de Bacia elaborado pelo Comitê trabalha com a visão
ecossistêmica, fazendo uma interface entre as questões relacionadas a recursos hídricos e
terrestres, permitindo uma aproximação entre diversas Políticas, com a Florestal, a de
Educação, a Ambiental e a de Gerenciamento Costeiro, entre outras.
Capítulo 11 – Combate ao desflorestamento
Capítulo 12 – Manejo de ecossistemas frágeis
Capítulo 13 – Gerenciamento de ecossistemas frágeis
Capítulo 15 – Conservação da diversidade biológica
Os quatro capítulos guardam intima relação em uma Bacia de pequena extensão, como
a Lagos – São João, e que não tem atividade agrícola ou industrial fortes. Tendo o turismo
como sua principal força econômica, a política de criação e implementação de Unidades de
Conservação é facilmente entendida como uma política destinada à manutenção dos atrativos
turísticos que revelaram a região ao país e ao mundo.
O CILSJ possui um programa destinado a apoiar e estimular a gestão de Unidades de
Conservação, e para tal constitui um Grupo Executivo de Trabalho, chamado GEAP – Grupo
Executivo de Áreas Protegidas e Patrimônio Histórico.
Tabela 10 – Deliberação que cria o GEAP
DELIBERAÇÃO Nº 002/05, 30 DE JUNHO DE 2005.
Dispõe sobre a criação de Grupo
Executivo de Trabalho de
Áreas Protegidas - GEAP
Considerando que o Consórcio Ambiental Lagos São João tem entre as suas metas
propor, apoiar e executar ações de recuperação e gestão ambiental, na área que
compreende as bacias hidrográficas das lagoas de Jaconé, Saquarema e Araruama e dos
rios Una, São João e das Ostras e zona costeira adjacente,
94
Considerando que o Consórcio, como instrumento de gestão integrada e participativa,
vêm promovendo o debate em torno da gestão das Unidades de Conservação da região,
revestindo-se da maior importância o tratamento em mosaico destas unidades, tendo em
vista a vocação turística da Região;
Considerando que durante a realização do primeiro encontro de Unidades de
Conservação da região, realizado pelo Consórcio em abril de 2005, foram registradas a
existência de 43 Ucs já existentes, 36 em fase de implantação e 18 potenciais a serem
criadas;
Considerando a necessidade de se buscar a regulamentação das UCs ainda não
implantadas, bem como a implementação de incentivos como o ICMS ecológico;
DELIBERA:
1 - Oficializar a instituição do Grupo Executivo de Trabalho de Áreas Protegidas –
GEAP, a quem caberá buscar o reconhecimento formal do mosaico de unidades de
conservação da Região;
2 – O GEAP será vinculados à Secretaria Executiva do Consórcio, e poderá ser
coordenados diretamente por esta, ou por um coordenador escolhido dentro do Grupo;
3 – Ao GEAP cabe a definição de metas, e ações consorciadas a serem tomadas em
consonância com as políticas estadual e federal sobre o assunto;
4 - Para cumprimento das metas deverão ser elaborados de Planos de Trabalho (bi-
anual), que deverão descrever e hierarquizar as atividades e projetos à serem
desencadeadas no âmbito das áreas de abrangências. A Secretaria Executiva fará a
supervisão geral, encaminhando posteriormente para referendo do Conselho de
Associados;
5 – Deverão ser convidados a participar dos GEAP, além dos secretários de meio
ambiente, Feema, IEF e Ibama, todos os interessados, entre eles, instituições civis,
empresas, órgãos de pesquisa e esferas de governo;
Saquarema, 30 de junho de 2005
Desde a criação do Consórcio foram implantados os Conselhos Gestores das três
Áreas de Proteção Ambiental administradas pela FEEMA, assim como, junto com a AMLD –
Associação Mico Leão Dourado, fomentou a criação da APA da Bacia do Rio São João de
âmbito federal. Atualmente o CILSJ desenvolve um projeto apoiado pelo Ministério do Meio
Ambiente, destinado a fortalecer unidades existentes e implementar novas Unidades. Uma das
prioridades deste projeto é a elaboração do Plano de Manejo da APA da Bacia do São João,
que envolve mais de 50% do território físico da bacia Lagos São João.
95
Fig. 15 – Demarcação das principais Unidades de Conservação (fonte CILSJ)
A Gestão por Mosaico é outra tônica na pauta de trabalho do GEAP, já que a região
conta hoje com mais de 40 Unidades de Conservação.
Outro programa desenvolvido pelo CILSJ em parceria com a Prefeitura de Rio Bonito
nos últimos três anos, diz respeito ao reflorestamento de faixas ciliares, com produção de
mudas nativas através da contratação de antigos carvoeiros, que largaram a atividade de
tombar a floresta para produção de carvão.
Capítulo 17 – Proteção de oceanos, de todos os tipos de mares, inclusive mares
fechados e semi fechados – e das zonas costeiras
Desde 2002, o CILSJ conta com um Grupo Executivo de Trabalho, chamado GEICO
– Grupo Executivo de Implantação do Gerenciamento Costeiro:
96
Tabela 11 – Deliberação do CILSJ que cria o GEICO
CONSÓRCIO AMBIENTAL LAGOS SÃO JOÃO
Deliberação n. 001/2002
Cria Novo Grupo Executivos de Trabalho - GET
Considerando que o Consórcio Ambiental Lagos São João tem entre as suas metas
propor e executar ações recuperação e melhoria ambiental, na área que compreende as
bacias hidrográficas das lagoas de Jaconé, Saquarema e Araruama e dos rios Una, São
João e das Ostras e zona costeira adjacente,
Considerando que o Consórcio como instrumento de gestão de política ambiental e de
recurso hídrico, deve fomentar a discussão destas políticas com a participação de todos
os usuários e beneficiários diretos e indiretos dos recursos naturais da bacia e das
instituições civis, empresas, órgãos de pesquisa e esferas de governo,
Considerando a necessidade de se trabalhar de forma integrada as questões do
Zoneamento Ecológico e Econômico do Litoral, a proposta de municipalização das orlas
pelo SPU – “Projeto Orla” e a necessidade da efetiva implantação do Gerenciamento
Costeiro em nossa região,
Considerando o crescimento da atividade petrolífera no litoral da região e a necessidade
de maior envolvimento dos municípios e de seus cidadãos na questão, evidenciados nos
debates promovidos pela PMAB,
DELIBERA:
1 - Oficializar a instituição do Grupo Executivo de Trabalho para implantação do
Gerenciamento Costeiro – GEICO;
2 – O GEICO será vinculados à Secretaria Executiva do Consórcio, e poderá ser
coordenado diretamente por esta, ou por um coordenador escolhido dentro do Grupo;
3 – Ao GEICO cabe a definição de metas, e ações consorciadas a serem tomadas em
consonância com as políticas estadual e federal sobre o assunto;
4 - Para cumprimento das metas deverão ser elaborados de Planos de Trabalho (bi-
anual), que deverão descrever e hierarquizar as atividades e projetos a serem
desencadeadas no âmbito das áreas de abrangências. A Secretaria Executiva fará a
supervisão geral, encaminhando posteriormente para referendo do Conselho de Sócios;
5 - Deverão ser convidados a participar dos GEICO, todos os interessados e beneficiários
diretos e indiretos dos recursos naturais da área costeira, entre eles, instituições civis,
empresas, órgãos de pesquisa e esferas de governo;
Rio Bonito, 28 de junho de 2002
O GEICO vem promovendo de forma integrada e participativa o debate da Zona
Costeira, com ênfase em duas questões a saber: 1) O Projeto Orla, programa dos Governos
97
Estadual e Federal para ordenamento das orlas e gerenciamento das áreas de domínio da
União. 2) A discussão com os setores petrolíferos, que até hoje não tem por parte dos
municípios, qualquer tipo envolvimento maior sobre as questões afetas ao desenvolvimento
da indústria “off shore
16
”.
Capítulo 23 – Introdução ao fortalecimento dos grupos principais
Capítulo 27 – Fortalecimento do papel das organizações não governamentais:
parceiros para um Desenvolvimento
Capítulo 28 – Iniciativas das autoridades locais em apoio à agenda 21
Capítulo 40 – Informação para tomada de decisão
Estes quatro capítulos tratam do fortalecimento de grupos, organizações, parceiros e
autoridades para envolvimento nos processos de tomada de decisão. A informação e a
transparência nas discussões e propostas são cruciais para que as decisões reflitam o mais fiel
possível à vontade da maioria, e principalmente o comprometimento dos atores com as
decisões.
Aqui repousa o cerne de todo o processo de gestão participativa, pois quando a
informação está acessível e participação é alta e a mais equânime possível, dificilmente ela
pode ser ignorada por algum grupo de força política, assim como sua capacidade de
influenciar nas políticas públicas torna-se extremamente alta, gerando o interesse inclusive da
mídia.
Para melhor entender este processo, levantou-se a participação das categorias de
governo, usuários e sociedade civil de 2001 a 2005, nos três sub-bacias onde o processo de
gestão existe e tem produzido resultados importantes.
Os gráficos a seguir trazem também a média de participação dos seguimentos ao
longo destes cinco anos, sendo que em 2001, 2002, 2003 e 2004, sob a égide do respectivo
GET – Grupo executivo de Trabalho da Bacia, e em 2005, já sob a égide do Comitê de Bacia,
nas respectivas sub-bacias:
16
Off shore – expressão que caracteriza o setor de exploração de petróleo em alto mar
98
Gráfico do nível de participação GELSA de 2001 a 2005
0
5
10
15
20
25
2001 2002 2003 2004 2005
USRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Média da Participação no GELSA
USUÁRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Figura 16 – Níveis de participação de grupos no GELSA
Gráfico do nível de participação GERSA de 2001 a 2005
0
5
10
15
20
25
2001 2002 2003 2004 2005
USRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Média da Participação no GERSA
USUÁRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Figura 17 – Níveis de participação de grupos no GERSA
99
Gráfico do nível de participação GELA de 2001 a 2005
0
5
10
15
20
25
2001 2002 2003 2004 2005
USRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Média da Participação no GELA
USUÁRIOS
GOVERNO
SOC. CIVIL
Figura 18 – Níveis de participação de grupos no GERSA
A análise dos gráficos nos permite produzir algumas reflexões interessantes; a Bacia
da Lagoa de Saquarema e Jaconé, por ser uma bacia de somente dois municípios, sendo que
Saquarema tem seu território integralmente na bacia e Marica, possui apenas 4% do seu
território na bacia, explica a menor participação numérica na categoria de governo, e chama
atenção neste caso a importância da participação do seguimento da sociedade civil, que puxa
o processo.
Na bacia do São João e Ostras, há uma participação mais equilibrada entre governo e
sociedade, mas ainda é pequeno o número de usuários, que só ganha uma participação maior
em 2005, com o surgimento do comitê e da cobrança pelo uso da água, onde o usuário é o
quem está sujeito ao pagamento. Esta bacia, é a mais clássica das três, já que sob seu manejo
está o segundo manancial abastecedor do Estado do Rio de Janeiro, de onde já se pensa em
retirar a água para a futura refinaria a ser instalada em Itaboraí. Possui contrastes importantes
como o município de Silva Jardim, que a despeito de ser o maior produtor de água da Bacia,
tem um dos menores IDHs
17
do Estado.
17
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, baseado na renda, educação e saúde.
100
Já a avaliação da bacia da Lagoa de Araruama e Una, mostra o processo mais
equilibrado e maduro da região. Vários aspectos podem explicar tal questão, mas o principal é
o fato de a bacia conviver desde 2000, com a eutrofização de seu corpo hídrico mais
importante, a Lagoa de Araruama. Diz o dito popular, que a desgraça une, e é verdade, a
situação caótica a que chegou a Lagoa, fez com que os diversos grupos estivessem propensos
a se mobilizarem em torno de um processo que apontasse a saída. São ONGs, pescadores,
instituições de ensino e governantes, que preocupados com a situação amadureceram o
processo, como se percebe no equilíbrio de forças. Não é por menos que esta bacia foi a que
registrou mais avanços nestes cinco anos.
Pode-se perceber que os governos têm dado atenção ao processo, pois se registra um
bom nível de participação deste seguimento, até mesmo crescente.
Picos de variação de alguns seguimentos foram observados na análise individual das
reuniões, e podem ser associados à participação de grupos de interesse, que entram no
processo momentaneamente porque seus interesses estavam em jogo. Foi o caso por exemplo,
quando em 2002 pactuou-se o fim da atividade de extração de calcário na bacia da Lagoa de
Araruama, ou quando no mesmo ano, pactuou-se o fim da atividade de extração de areia em
rios na bacia do São João.
De qualquer forma, percebe-se que o processo amadurece a cada dia pois em cinco
anos mantém um grau de mobilização significativo, que se fortalece a cada resultado de meta
alcançada, como observamos nas tabelas 5, 6 e 7 nas páginas 80 a 83.
Capítulo 25 – A infância e juventude no desenvolvimento sustentável
Capítulo 36 – Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento
A educação ambiental é inquestionavelmente o caminho para se formar uma geração
consciente e responsável com a sustentabilidade do planeta. Neste sentido o trabalho
desenvolvido pelo PEA – Programa de Educação Ambiental do CILSJ e mais recentemente
materializado no Programa de Trabalho da CETEA – Câmara Técnica Permanente de
educação Ambiental do Comitê de Bacia, estabeleceu uma série de linhas de ação que buscam
a promoção do papel da juventude, a formação da criança, o aumento da consciência pública e
a inclusão das questões ambientais no ensino formal.
A atuação em redes na Internet garante a coesão do grupo que conta com a
participação das Secretarias Municipais de Educação, e é claro das Secretarias de Meio
Ambiente.
101
Capítulo 33 – Recursos e mecanismos de financiamento
O CILSJ tem em sua essência estatutária o custeio de associados, entre eles os
municípios, tem ainda a participação de empresas privadas no processo, já que através de
Tremo de Adesão, empresas de caráter regional, se comprometem a participar, inclusive
financeiramente, no processo de gestão consorciada da bacia. Além disso o Consórcio tem um
desempenho impressionante em termos de captação de recursos via projetos. Desde 2002, o
Consórcio conta com apoio da ONG WWF – Brasil, que através de parceria faz do processo
de gestão da bacia um caso demonstrativo para o restante do país e da rede mundial do WWF.
O CRBio 2, Conselho Regional de Biologia, também atua em programas como o
monitoramento de corpos hídricos. Projetos junto ao Ministério do Meio Ambiente,
representam importantes aportes de recursos ao processo de gestão.
Mesmo com todas estas parcerias, há neste momento uma proposta em discussão no
Conselho de Associados do CILSJ, para criação de um fundo intermunicipal, chamado
FICADS – Fundo Intermunicipal para a Conservação Ambiental e Desenvolvimento
Sustentável. Sua proposição tem por objetivos investir em projetos impacto regional e
habilitar o CILSJ a ter agilidade para acessar outros recursos, multiplicando os benefícios.
A cobrança pelo uso dos recursos hídricos já em curso na Região, é também forte
mecanismo de financiamento e tem uma previsão de receita de R$ 1,2 milhão por ano, pouco
para obras já descritas como saneamento, mas suficiente para inúmeros outros projetos não
menos importantes.
O projeto Marca D’água que durante o ano de 2004 entrevistou representantes de 18
organismos de bacia no país, traz alguns dados interessantes de forma comparativa, entre o
desempenho do CILSJ e a média dos demais organismos entrevistados, vejamos alguns dados
interessantes para melhor avaliação e compreensão do processo de gestão:
102
0
10
20
30
40
50
1. grau 2. grau Superior Pós
graduado
MsC e
PhD
Lagos São João
Média dos Entrevistados
Gráfico indicativo do grau de escolaridade dos participantes das reuniões em percentagem
43,5
44
44,5
45
45,5
46
46,5
Média de
Idade
Lagos São
João
Média dos
En t r e vis t ad o s
Média de idade dos participantes
0
20
40
60
80
100
Homens Mulheres
Lagos São Jo
Média dos
Entrevistados
Percentual de participação de homens e mulheres
Figura 19 – Escolaridade, idade e sexo dos participantes
Percebe-se que tanto no CILSJ quanto nos demais entrevistados, que o processo de
gestão concentra-se em pessoas com maior escolaridade, sendo a média de idade de cerca de
45 anos, e a participação da mulher restrita a uma em cada cinco participantes.
Quais são as três ações ou atividades que o comitê/consórcio deveria priorizar
Lagos São João Total
Mediar conflitos pelo uso da água (18%) (22%)
Plano de recursos hídricos (53%) (51%)
Cobrança pelo uso da água (18%) (28%)
Outros instrumentos de gestão (enquadramento, outorga, sistema de informações, etc.) (35%) (21%)
Projetos de saneamento básico (melhoria na captação de água, tratamento de esgotos) (65%) (53%)
Outros projetos de infra-estrutura (barragens, etc.) (6%) (9%)
Rede de monitoramento (12%) (10%)
Educação ambiental e mobilização social (59%) (58%)
Integração da política de recursos hídricos com outras políticas públicas (29%) (35%)
Outros (6%) (1%)
Tabela 12 – Ações prioritárias para o CILSJ e demais entrevistados
O saneamento básico, a educação ambiental / mobilização e o planejamento das ações,
são considerados por todos os organismos como prioritários.
103
Sobre a divulgação de informações técnicas entre os participantes do consórcio
a. São disponíveis e de fácil acesso a todos os membros/associados? Lagos São João Total
Sim (100%) (62%)
Não (0%) (36%)
Não Respondeu/ Não Sabe (0%) (2%)
Total (100%) (100%)
b. São apresentadas de maneira que facilita o entendimento de todos os
membros?
Lagos São João
Total
Sim (100%) (69%)
Não (0%) (30%)
Não Respondeu/ Não Sabe (0%) (2%)
Total (100%) (100%)
Tabela 13 – Acesso e disponibilidade da informação
No caso do CILSJ, todos os entrevistados declaram que as informações são de fácil
acesso aos membros e são apresentadas de forma didática, diferente da média dos demais
organismos.
A figura 21 apresenta diferentes aspectos da política interna dos organismos. É
possível verificar que 94% dos membros do Consórcio Lagos São João declaram sentir que as
pessoas podem se expressar livremente no consórcio, valor maior que o citado nos outros
organismos.
0
20
40
60
80
100
CILSJ OUTROS
SIM
AS VEZES
O
Gráfico indicativo sobre a capacidade de se expressar livremente
0
5
10
15
20
25
30
Técnicos Ong's Empresas Políticos Indivíduos poderosos Organizões
populares
CILSJ
OUTROS
Gráfico indicativo sobre quem tem mais poder na bacia
Figura 20 – Liberdade de expressão e regimes de poder
104
7 CONCLUSÃO: UM ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DA AGENDA 21 VIA GESTÃO DE
BACIAS
A Política Nacional de Recursos Hídricos é a única que se ampara numa Lei que
assegura a participação social, através da previsão de instituição dos comitês de bacia com
caráter deliberativo. Este diferencial confere uma verdadeira oportunidade para o surgimento
de territorialidades, como já mostrado nesta pesquisa.
Normalmente a Agenda 21 Local de abrangência municipal, tem sido proposta em
reuniões aleatórias promovidas por fomentadores governamentais, que costumam apresentar
um conjunto teórico de informações sobre o que é a Agenda e seus princípios, a grupos
reunidos em municípios, e que dificilmente levam a um processo de continuidade.
Contamos hoje com a Agenda 21 Global, com a Agenda 21 Brasileira, um Grupo
Executivo do Programa Estadual da Agenda 21 – RJ, e as Agendas Locais resultantes de
iniciativas isoladas. A partir da Agenda 21 Global, todos os países que assinaram o acordo
assumiram o compromisso de elaborar e implementar sua própria Agenda 21 Nacional.
A Agenda 21 Nacional deve adequar-se à realidade de cada país e de acordo com as
diferenças sócio-econômico-ambientais, sempre em conformidade com os princípios e
acordos da Agenda 21 Global.
A metodologia empregada internacionalmente para a elaboração das agendas 21
nacionais contempla a participação de diferentes níveis do governo, o setor produtivo e a
sociedade civil organizada.
No Brasil foi criada, por decreto do Presidente da República, em fevereiro de 1997, a
Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21, no âmbito da Câmara
de Políticas dos Recursos Naturais, incluindo representantes do governo e da sociedade civil,
com as atribuições de (1) propor estratégias de desenvolvimento sustentável e (2) coordenar,
elaborar e acompanhar a implementação daquela Agenda.
105
A Comissão tem sua formação fixa e poderá, sempre que necessário, instituir grupos
de trabalho temáticos. Cabe ao Ministério do Meio Ambiente prover o apoio técnico-
administrativo necessário ao funcionamento da Comissão.
Um fator diferencial da Agenda Brasileira em relação às demais experiências no
mundo é a opção pela inclusão das Agendas Locais.
Num país de dimensões continentais e de múltiplas diferenças, a criação das Agendas
Locais torna-se condição indispensável para o êxito do programa
Processos como o que avaliamos nesta pesquisa, embora em sua essência seja a mais
fiel aplicação de Agenda 21, não gozam deste reconhecimento formal, tampouco se apropriam
do conjunto de preceitos da Agenda para aprimorarem suas ações. O reconhecimento formal
do processo de Agenda 21 pode abrir linhas importantes de fomento criadas pelos governos
não só a nível nacional, mas também internacional.
Podemos afirmar seguramente que a gestão de bacia é uma espécie de Agenda 21,
pois como visto, pode contemplar a maior parte dos aspectos desta Agenda. Pretende-se a
seguir introduzir e formular um roteiro metodológico, com base na experiência avaliada, do
que seria uma Agenda 21 Regional, a partir do processo de gestão de bacias hidrográficas.
Comecemos por observar a semelhança das recomendações do passo a passo da
agenda 21 Local, versus a aplicação da Política de Recursos Hídricos e seus instrumentos
(Tabela 14). Uma rápida comparação permite concluir que os processos são idênticos, sendo
que a gestão de bacia assegura ainda recursos para implementação do Plano, com a associação
de uma personalidade jurídica que dê o devido o suporte às ações.
Tabela 14 – Comparação dos passos da Agenda 21 Local e do processo de gestão
PASSOS AGENDA 21 LOCAL GESTÃO DE BACIA
1 Mobilizar para sensibilizar
governo e sociedade
Mobilizar para criar a comissão pró-
comitê de bacia
2 Criar o fórum da Agenda 21 Local Aprovar no Conselho de Recursos
Hídricos e publicar decreto de criação
do Comitê
3 Elaborar o Diagnóstico
participativo
Elaborar Diagnóstico dos recurso
Hídricos
4 Elaborar o Plano Local de
desenvolvimento Sustentável
Preparar e aprovar o Plano de bacia
Hidrográfica
Aprovar valores e implantar a
cobrança pelo Uso dos recursos
hídricos e criar a Agência de Águas
5 Implementar o Plano Local de
desenvolvimento Sustentável
Implementar o Plano com apoio da
a
g
ência e defini
ç
ão da a
p
lica
ç
ão dos
106
recursos pelo Comitê
6 Monitorar o Plano Local de
desenvolvimento Sustentável
Monitorar o Plano de Bacia e fazer
ajustes necessários
7.1 PLATAFORMA DAS AÇÕES PRIORITÁRIAS DA AGENDA 21 POR BACIA
HIDROGRÁFICA
Governança e mecanismos de financiamento
.Disponibilidade de informações, acesso e transparência
.Fomento a criação de Consórcios Intermunicipais de Bacia
.Implementação de Fundo Intermunicipal de Conservação e Desenvolvimento Sustentável
.Implementar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos e outras formas de psa
.Estabelecer o Pacto de Governança na Bacia para implementação do Plano
Promover a participação, conscientização de instituições, crianças, jovens e adultos
.Estimular e apoiar a implantação de sub-comitês na bacia
.Estimular o envolvimento das universidades nos processos de planejamento e gestão
.Estimular a participação de jovens, mulheres, associações e organizações comunitárias
.Estimular a formação de redes
Abordagem ecossistêmica e integração de outra políticas públicas
.Buscar a interface entre as Políticas Florestais, Meio Ambiente, Gerenciamento Costeiro,
Educação Ambiental, Planos de Manejo de Ucs e Planos Diretores Municipais
.Introduzir o conceito de integridade ecológica nos Planos de Bacia
Gerenciamento de ecossistemas, conservação, biodiversidade e reflorestamento
.Promover a revegetação ciliar e seu uso recreativo como parque
.Fomentar a criação de Reservas Particulares do PatrEMC sisaeioNBaconael
.Fom89(entar aiom89(plantação nos ConslhnosGrestores de Ucs )]TJETEMC /P <</MCID217 >>BDC BT/TT0 1 Tf 12 0 0 12 85.08189.60803 Tm[(.Fom)9(entar a gestão de Ucspor Mosarics na bacia )]TJETEMC /P <</MCID283 >>BDC BT/TT1 1 Tf0.0056 Tc -0.0015 Tw 12 0 0 12 85.08168.86003 Tm(Promação dosMantamentobtsricses prteaçãoados recursos h5dricos )TjETEMC /P <</MCID 19 >>BDC BT/TT0 1 Tf0.0101 Tc -0.0001 Tw 12 0 0 12 85.08148.28203 Tm[(.Im)9(p)1(aentar pregrrm)9(o deom)9(uniocri quali-quaentteatiia )]TJETEMC /P <</MCID310 >>BDC BT/TT0 1 Tf0.0009 Tc -0.0009 Tw 12 0 0 12 85.08127.58203 Tm[(.Estim)9(ular a participação vo apttels pblicses ptii volem)9o concss7ões de Mantam)9(ento elix3o )]TJETEMC /P <</MCID321 >>BDC BT/TT0 1 Tf0.0008 Tc -0.0008 Tw 12 0 0 12 85.08106.87803 Tm[(.Prom)9(over o contrlde socilo daslem)9poreaes de Mantamento
107
Estratégias para adoção de práticas sustentáveis no meio rural
.Adotar a micro-bacia como unidade local de gestão mobilizando os moradores
.Estimular a participação de representantes das micro-bacias nos sub-comitês
.Aplicar recursos da cobrança em fundos de aval para propriedades com boas práticas
108
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Num país de grandes extensões como Brasil e de características físicas e sócio-
ambientais tão diversificadas, não se pode imaginar que exista uma fórmula única de gestão,
pois são tantas as variáveis, que cada um deve encontrar a melhor forma de ajustar a
implantação do processo de gestão de bacia.
8.1 O CUSTO DA GESTÃO PARTICIPATIVA NA BACIA, SEU POTENCIAL DE
INFLUENCIAR OS INVESTIMENTOS PÚBLICOS E FUTURAS POSSIBILIDADES
Existem inúmeras formas de se viabilizar um processo de gestão participativa em
bacias hidrográficas, e evidentemente que o tamanho da bacia e outros fatores influenciam
diretamente nos custos de articulação deste, mas é certo, como visto neste trabalho, que o
sucesso depende de alguma estrutura que proporcione o ambiente para que as coisas
aconteçam, para que as decisões de um comitê, ou fórum de debate participativo, sejam
levadas adiante.
A história da gestão no país mostra que os comitês que hoje servem de referência
nacional, e que tem um histórico antecede a Lei das Águas, como o CEIVAP
18
e o
18
CEIVAP - O CEIVAP foi criado em 1996 pelo Decreto Federal 1.842, tendo como área de abrangência a
totalidade da bacia do rio Paraíba do Sul. O CEIVAP estruturou em Março de 2000 o seu escritório técnico de
apoio, contratando 7 pessoas. Esta equipe foi viabilizada, na sua maior parte, pela Secretaria de Recursos
Hídricos do Ministério do Meio Ambiente e, desde Julho de 2001, pela Agência Nacional de Águas (ANA). Este
investimento em recursos humanos técnicos surge em resposta a uma carência técnica e logística sentida desde a
criação do Comitê. A sua estrutura inicial era tímida, com apenas 3 funcionários cedidos ou pagos por diversas
instituições (municipal, estadual e privada).
109
CBHPCJ
19
, sempre tiveram um escritório trabalhando por sua mobilização e realizações,
como o escritório que antecedeu a AGEVAP
20
no caso do Paraíba do sul ou do Consórcio dos
Rios Piracicaba, Capivarí e Jundiá, no caso do CBHPCJ.
A despeito das inúmeras possibilidades de modelos de um processo de gestão, no caso
estudado (Lagos São João) os números levantados podem facilmente dar uma idéia de receitas
e custos envolvidos, e assim proporcionar algumas reflexões interessantes (ver figura 21).
67%
13%
20%
CONVÊNIOS PRIVADOS PREFEITURAS
41
%
4%
5%
49%
1%
PESSOAL SERV. PUB.
ADMIN. GERAIS
BANCÁRIAS
ARRECADAÇÃO
(2006)
R$ 467.716,20
DESPESAS
(2006)
R$ 458.966,53
Fig. 21 – Receita versus gastos do CILSJ em 2006 (Fonte CILSJ)
Verifica-se que os convênios representam a maior fonte de receita do Consórcio, fato
que explica a variedade de projetos em andamento como foi visto no capítulo 6. O Consórcio,
19
CBHPCJ - A criação do Comitê de Bacias Hidrográficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (CBH-PCJ)
estava prevista na lei estadual 7.663/91, mas a sua instalação ocorreu somente em 1993. Foi o primeiro Comitê
de Bacia do Estado de São Paulo. O processo de constituição do CBH-PCJ foi gradual e bastante negociado,
devido à sua estrutura tripartite e pioneira, e também ao fato da implementação do Comitê implicar uma
alteração das relações de poder existentes e das formas de resolução dos problemas hídricos da região. A tensão
entre a criação de um novo colegiado para o gerenciamento dos recursos hídricos e a dinâmica já consolidada
com o Consórcio Intermunicipal já existente, constituiu um obstáculo significativo ao andamento dos trabalhos.
Finalmente, os papéis entre o Consórcio e o CBH-PCJ foram clarificados, salientando-se a importância política
do CBH-PCJ para a região e a natureza não-concorrente entre a sua atuação e a do Consórcio.
20
AGEVAP - Associação Pró-Gestão da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul.
110
entre os anos de 2001 e 2006 manteve um amplo convênio com o Programa de Águas do
WWF – Brasil, que avaliou e participou de cada passo dado neste período, a fim de apoiar e
aprender, olhando o Consórcio como um projeto demonstrativo para outros processos de
gestão.
Além destes, outros convênios realizados com o Conselho regional de Biologia em
2003, e mais recentemente com o Ministério do Meio Ambiente através do Programa PDA
Mata Atlântica
21
, sem dúvida foram fatores preponderantes na performance adquirida pela
instituição, e permitiram que fossem estruturados vários projetos como o de monitoramento,
educação ambiental, plantio ciliar, entre outros, além é claro de estruturar a organização, que
hoje conta com veículos embarcações, equipamentos de laboratório dentre outros.
O trabalho através de convênios proporciona a realização direta de inúmeros projetos
de pequena monta, mas acaba por estruturar e habilitar o Consórcio a melhor promover a
coordenação do processo de gestão, o que resulta em projetos indiretos de políticas públicas,
onde os recursos são aplicados pelos setores competentes, sem que tenham que passar pelo
Consórcio, ou seja são resultados da gestão, como pode ser visto na figura 22.
Analisando-se os níveis de investimentos, percebe-se que recursos diretos do
Consórcio chegaram a dois milhões no período de 2002 a 2006, mas em termos de
investimentos resultantes do processo de gestão, chega-se a impressionante cifra de cento e
setenta e cinco milhões.
Interessante observar ainda que o valor arrecadado com a cobrança de água, não
chegou a meio milhão no período, reforçando a tese defendida neste trabalho, de que a
cobrança pelo uso da água não é a solução, ou esta longe de ser a solução para os
investimentos da bacia.
21
O “PDA - Mata Atlântica”, é voltado a apoiar projetos de iniciativa de Organizações da Sociedade
Civil, observando o domínio do Bioma Mata Atlântica definido pelo Decreto 750/93.
111
2
100
55
8
12
0,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CILSJ ESGOTO PONTE ATERRO
SANITÁRIO
DRAGAGEM PAG. ÁGUA
INVESTIMENTOS EM MILHÕES DE REAIS
2002 to 2006
Fig. 22 – Níveis de investimentos de 2002 a 2006
Entre as futuras possibilidades está o Fundo Intermunicipal de Conservação Ambiental
e Desenvolvimento Sustentável (FICADS), uma idéia que esta na pauta das discussões no
Conselho de Sócios do Consórcio.
Trata-se de uma idéia de criar um fundo intermunicipal, onde cada prefeitura
contribuiria com 1% do royalty de petróleo
22
que recebe, o que gera uma expectativa de
arrecadação de cerca de cinco milhões de reais por ano.
Entre os objetivos básicos do fundo estariam; a realização de investimentos somente
em projetos impacto regional e a habilitação do Consórcio para acessar outros recursos,
multiplicando os benefícios. Vislumbra-se entre as possíveis aplicações dos recursos do
Fundo:
- o financiamento de atividades previstas no Plano de Bacia
22
Royalty de petróleo – Valor recebido pelas prefeituras a título de compensação pela exploração de petróleo, ou
passagem de dutos das empresas de petróleo.
112
- o fortalecimento institucional (estruturação, capacitação, equipamentos, ...) dos
órgãos municipais de meio ambiente.
- a capacitação de Ong’s ambientalistas
- pequenas intervenções em saneamento
- criação e implementação de Unidades de Conservação
- educação ambiental
- conservação da flora e fauna (espécies endêmicas e ameaçadas)
- a capacitação para adoção de práticas econômicas sustentáveis (agroecologia,
ecoturismo....)
- a restauração de áreas protegidas degradadas (APPs) e ecossistemas aquáticos.
- Turismo: Marketing (web site, mapas, materiais impressos....), sinalização regional,
centros de visitação turística.
Além da possibilidade do fundo, já estão acordados e com recursos assegurados para
investimentos na bacia nos próximos dois anos, mais cinqüenta milhões de reais em
esgotamento sanitário, vinte e sete milhões em abastecimento de água, quatro milhões na
recuperação da Represa de Juturnaíba e cinco milhões no re-uso de efluentes tratados, por
meio de obras de transposição de bacia para as áreas rurais.
8.2. OS LIMITES DA GESTÃO DE BACIA SEM A VISÃO DE AGENDA 21: O CASO DE
CHESAPEAKE BAY
Investigando a gestão da Bacia de Chesapeake Bay
23
, é possível observar que mesmo
em um país desenvolvido com suposta folga de recursos para aplicação em projetos de
recuperação e conservação, não é simples fazer gestão da bacia, e alcançar resultados
favoráveis.
A Bacia de Chesapeake possui 64 mil milhas quadradas e envolve seis estados e o
Distrito de Colúmbia. É o maior estuário dos Estados Unidos, tem 25% de suas áreas
destinadas a pastagens, 47% ainda florestadas e 12% ocupadas e consolidadas.
Em 1983 foi iniciado através de um amplo acordo entre os Estados de Maryland,
Virginia, Pensilvânia, Distrito de Columbia e a EPA (Agência de Proteção Ambiental), um
23
Chesapeake Bay – É o maior estuário dos Estados Unidos
113
programa de gestão denominado “Chesapeake Bay Program”. Em 1987, através da
promulgação do “Clean Water Act”
24
, o programa ganhou reconhecimento legal.
O programa se desenvolve através da parceria entre as seguintes instituições:
EPA Region 3
17 Federal Agencies, including NOAA, NPS, FWS, COE, DOD, USDA, USGS
6 Bay Watershed States—Depts. of Ag, Natural Resources, Environment
Chesapeake Bay Commission
Chesapeake Bay Foundation
Chesapeake Bay Trust
Chesapeake Bay Alliance
• Environmental Defense
Fig. 23 – Organograma do “Chesapeake Bay Program” (fonte EPA)
24
Clean Water Act – Lei que estabelece regras e limites de poluentes em despejos de efluentes
114
O programa conta com uma estrutura altamente qualificada, como pode ser visto no
organograma (figura 23). Possui ainda um orçamento significativo que conta hoje com
aproximadamente 20 milhões de dólares por ano, assim divididos:
$8 milhões para implementação de programas estaduais;
$2 - 3 milhões para monitoramento e modelagem;
$6 milhões para pessoal e projetos especiais;
$3.5 - 4 milhões para suporte administrativo;
A maior ameaça é, desde o início do Programa, a poluição das águas da Baia por altos
níveis de nutrientes (fósforo e nitrogênio), resultantes de despejos de esgotos, carreamentos
superficiais das áreas agrícolas e de efluentes industriais e de atividades de criatórios de
animais (figura 24).
Fig. 24 – Fontes de Nitrogênio para a Baia (AZUL – Agricultura 42% / VERMELHO – natural 1% / LARANJA
– deposição atmosférica 20% / VERDE - tanques sépticos 4% / BEGE - efluentes urbanos e industriais 22%) –
(fonte EPA)
As fontes decorrentes de efluentes urbanos e industriais estão entre as que mais tem se
conseguido controlar, por conta do emprego de alta tecnologia em termos de tratamento,
115
exigido pelo “Clean Water Act”. Entretanto, a fonte mais significativa de contribuição de
nitrogênio é a agricultura, em função de alto uso de fertilizantes e intensificação cada vez
maior das práticas agrícolas e pecuárias, e é justamente onde reside a maior dificuldade de
controle de impactos. Em terceiro lugar e ainda bastante expressiva, encontra-se a
contribuição resultante da deposição de poluentes atmosféricos oriundos principalmente
veículos automotores.
Ou seja, mesmo com recursos e tecnologias de ponta para controle de poluentes, o
Programa da Baia de Chesapeake não tem conseguido diminuir o comprometimento de
grandes áreas da Baia que se encontram com níveis de oxigênio próximos de zero, tanto que o
índice criado para medir a qualidade da Baia, que vai de zero a cem pontos, sendo cem a
perfeita condição, e zero o absoluto comprometimento da Baia, encontra-se hoje me torno de
vinte e sete pontos, sem grandes variações em relação aos últimos anos.
Entre os problemas enfrentados em relação à agricultura, encontra-se o
comportamento do setor, que em grande parte julga ter o direito de continuar com suas
práticas, alegando que seus antepassados já trabalhavam desta forma. Já em relação
contribuição da poluição atmosférica por deposição, verifica-se um entrave ainda maior
resultante do modelo em voga no país, calcado em numerosa frota de veículos que despeja
diariamente toneladas de poluentes na atmosfera. Esta fonte foge inclusive ao alcance da
gestão da Bacia Hidrográfica, já que a Bacia Aérea extrapola os limites da Bacia Hídrica.
Ao não adotar a Agenda 21 e seus preceitos, estes limites enfrentados pela gestão da
Bacia dificilmente serão transpostos, pois faltará um direcionamento, já proposto a nível
global, que provoque a gradativa mudança de práticas insustentáveis quer na escala local, quer
na global.
116
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123
10 APÊNDICES
10.1 DETALHES DA LUTA PELO SANEAMENTO
10.1.1 OS PRÓS E CONTRAS DO SISTEMA CONSENSADO
O fato de o esgoto já estar sendo lançado na lagoa via os sistemas de drenagem
urbana, somado ao conhecimento difundido nas reuniões sobre as inúmeras teses de mestrado
e doutorado, nas quais os pesquisadores identificam claramente o fósforo e o nitrogênio como
os grandes vilões do sistema, aliado ao baixo índice pluviométrico da região, fez com que
surgisse a idéia imediata de um cinturão coletor ao redor da lagoa, apelidado de “esgotovia”
pelas ONGs, interceptando o esgoto antes que esse alcançasse a lagoa e direcionando o
mesmo para as Estações de Tratamento.
Muito se discutiu sobre o os sistemas de tratamento primário, secundário e terciário,
sendo este último defendido por todos diante da sabida necessidade de se remover o fósforo e
o nitrogênio. Por outro lado, a captação de tempo seco, tal como concebida, implica na coleta
de um efluente diluído, com altos índices de cloreto, que comprometem a eficiência de
estações terciárias.
Na base da proposta, onde se discutiu os valões e galerias pluviais que deveriam ser
interceptados nesta primeira fase, e quais seriam os sistemas de tratamento, observou-se o
estabelecimento de acordos dos seguintes princípios:
Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) adaptadas ao tratamento unitário;
124
Captações de tempo seco, estrategicamente posicionadas nos sistemas de drenagem de
águas pluviais, de forma a coletar o máximo dos esgotos conduzidos pelas tubulações
de drenagens existentes;
Utilização de coletores tronco para a condução do esgoto coletado até um sistema de
elevatórias;
Estações Elevatórias associadas a tubulações por recalque e gravidade para condução
dos esgotos até as Estações de Tratamento;
Tais definições levaram ao arranjo ilustrado a seguir, onde se pode perceber a
localização das ETEs e os cinturões coletores, com o indicativo previsto de percentuais de
esgoto que em tempo seco estarão sendo tratados nesta primeira fase (figura abaixo).
Embora esta solução determine uma redução considerável nos níveis de poluição
dos corpos receptores, não solucionará todos os problemas sanitários, estéticos e operacionais
decorrentes do uso das redes de drenagem pluvial.
LAGUNA DE ARARUAMA
Estação de Tratamento de Esgoto - ETE
Tomada de Tempo Seco
Fi
g
. 25
Arran
j
o do sistema de interce
p
ta
ç
ão e tratamento do es
g
oto
(
Fonte CILSJ
)
125
A proposta de utilização dos sistemas de drenagem de águas pluviais para
recebimento da contribuição de efluentes sanitários, com captação de tempo seco, tratamento
e lançamento final nos corpos receptores, apresenta aspectos favoráveis e desfavoráveis, que
se encontram descritos a seguir:
Aspectos favoráveis
- Proteção dos corpos receptores finais e das praias pelo tratamento dos efluentes
sanitários captados nos rios não perenes e canais de drenagem, garantindo balneabilidade às
praias e mantendo o turismo em alta.
- Grandes níveis de cobertura, já que coletando os sistemas de drenagem atingesse a
toda uma bacia hidrográfica, acrescida ainda pela reversão de sub-bacias para um ponto
comum de captação, quando possível.
- Garante resultados de curto prazo, otimizando os primeiros investimentos,
permitindo que ao longo do tempo se aperfeiçoe o sistema.
Aspectos desfavoráveis
- O sistema de drenagem pluvial não foi construído com a finalidade de receber a
contribuição de efluentes sanitários.
- Em vista desta observação:
. A presença de efluentes sanitários em canais abertos poderá
apresentar aspecto estético e odores indesejados em vias urbanas; mesmo nos
coletores e galerias fechados, o odor poderá ser, eventualmente, percebido
junto às “bocas-de-lobo”.
. Os coletores de águas pluviais se caracterizam por receber elevada
contribuição de águas de infiltração, que nos períodos considerados como de
“tempo seco”, deverão constituir parcela substancial da vazão captada e tratada
de efluentes sanitários, onerando, desta forma, os investimentos de implantação
e operação das estações de tratamento.
. Da mesma forma infiltrações de dentro para fora (exfiltrações) nas
redes pluviais e em canais abertos, implicam na contaminação do lençol
freático (figura 5).
- A parcela de águas de infiltração, quando elevada, poderá resultar em dificuldades
operacionais para o tratamento dos efluentes sanitários, seja pela possível e exagerada
126
diluição dos efluentes, com redução a níveis indesejados da parcela de matéria orgânica
presente, ou pela eventual contribuição de água salobra com teores de salinidade inadequados
ao tratamento biológico.
- Na ocasião de chuvas intensas ou de ocorrência de vazão de escoamento superior à
de captação de tempo seco, a parcela que excede este valor verterá diretamente para os corpos
receptores, carreando juntamente com as águas pluviais, ainda que diluídas, parte da
contribuição dos efluentes sanitários.
ETE
Fig. 26 - Representação esquemática da distribuição e trajetórias da água pluvial em bacias de drenagem
tipicamente naturais e urbanas / Parecer sobre a Utilização de Sistemas Unitários na Drenagem Conjunta de
Águas Residuais e Pluviais (Prolagos, 2004).
10.1.2 CRONOLOGIA DOS 27 MESES QUE ANTECEDERAM A REPACTUAÇÃO
Iniciou-se então um longo caminho, onde um histórico, registrado a seguir do caso
da Prolagos, demonstra os inúmeros obstáculos superados, para se chegar ao acordo chamado
de “re-pactuação do contrato”
127
17/03/2000 – Reunião dos Prefeitos do Consórcio, com a presença da ASEP, denuncia
a impossibilidade de conviver com os prazos estabelecidos para investimentos em
saneamento. Lembra-se à ASEP que deve haver definição dos cronogramas de obras,
as quais devem atingir 30% de cobertura até agosto de 2001 (36 meses de concessão)
– Cria-se a Comissão de saneamento com presença das Prefeituras, ONG’s,
Concessionárias, ASEP, SESRH
i
, SEMADS
ii
.
Inúmeras reuniões da Comissão buscam conhecer os projetos e prazos para
saneamento da Prolagos. Não há apresentações concretas, sempre evasivas.
01/08/2000 – Reunião dos Prefeitos do Consórcio com a presença da ASEP: propõe-
se, por sugestão da última, que o Consórcio prepare um termo de referência a ser
proposto para atendimento às necessidades da região.
Em setembro a região perde em Brasília R$ 8.300.000,00, provenientes de uma
emenda de bancada federal que atenderia a projetos de coleta e tratamento de esgotos
na Lagoa de Araruama, face ao fato de a região ter os serviços concedidos.
Em novembro/2000 o Consórcio entrega à ASEP uma proposta de cronograma para o
ano 2001, que concentra neste ano a construção das ETE’s, Estações Elevatórias e
linhas de recalque, admitindo-se a utilização das galerias de água pluvial,
provisoriamente, até que as redes sejam implantadas ao longo do próximos 20 anos de
concessão.
Em dezembro/2000, a Prolagos submete à ASEP uma proposta para investir R$
22.000.000,00 em obras, com cronograma iniciando em jan/2001 até jan/2002.
A proposta da Prolagos não agrada ao Consórcio, pois não contempla soluções
julgadas mínimas para a Lagoa de Araruama. Inicia-se um processo de não aceitação
da proposta, até que se ache a fórmula de atingir a meta solicitada pelo Consórcio.
A Prolagos orça em mais R$ 28.000.000,00, as obras solicitadas, que representariam
antecipações de metas previstas para até 2009.
05/03/2001 – as ONG’s protestam com faixas e cartazes na porta da ASEP, que decide
cancelar a votação do plano original da Prolagos.
08/03/2001 – Os prefeitos, o Sec. Est. de Meio Ambiente, o Sec. Est. de Saneamento e
a Concessionária, além de deputados estaduais e federais com atuação na região, se
reúnem com o governador para encontrar uma solução para o problema. Está em jogo
também a mudança societária da empresa Prolagos para o grupo Águas de Portugal, o
que dependia da assinatura dos prefeitos. Sabedores de todo o processo via Consórcio,
128
os prefeitos decidem só assinar a concordância com a mudança societária, se o pleito
do Consórcio fosse atendido. Da reunião surge o acordo no qual a empresa se
comprometia a investir os R$ 22.000.000,00 por conta própria, e mais R$
28.000.000,00 em até dois anos, para atender a antecipação proposta, sendo que o
Governo do Estado concederia um diferimento de ICMS à Concessionária, para arcar
com o custo financeiro referente à antecipação das metas.
16/03/2001 – aprovado pela ASEP (Deliberação n. 136/2001) o Plano original da
Prolagos, R$ 22.000.000,00 no primeiro ano, e mais 138.000.000,00, ao longo dos
demais anos, com destaque feito pelo Presidente do Consórcio (Prefeito de Araruama),
que exerceu voto vogal em nome dos prefeitos, para o registro do acordo selado com a
Concessionária, prefeitos e Governador, que previa a antecipação de R$ 28.000.000,00
em metas.
Como a aprovação provocou uma defasagem de dois meses em relação ao cronograma
original, entendeu o Consórcio, que deveria ser dado o mesmo prazo de defasagem
para o cronograma de obras da concessionária.
Desta forma, já com a defasagem, as obras deveriam ter iniciado em: 15/08/01 – Cabo
Frio, 15/09/01 – Iguaba Grande e Armação dos Búzios e 15/10/01 – São Pedro da
Aldeia, o que não ocorreu.
Em 20/09/2001 a Prolagos anuncia as obras da ETE e elevatória em Cabo Frio e a
Captação via sistema pluvial em São Pedro da Aldeia.
Em 21/10/2001 – Ocorre uma manifestação pública em Búzios em protesto pelo atraso
das obras sob o slogan “saneamento já”.
Em 12/12/2001 – a Prolagos anuncia o início da ETE de Búzios.
Em 12/12/2001 – Durante reunião promovida pela SESRH, para avaliar o andamento
das obras, é denunciado mais uma vez pelo Consórcio o atraso e conseqüente
descumprimento dos cronogramas.
Em 13/12/01 – Em reunião solicitada pela ASEP, realizada em Cabo Frio, a ASEP
apresenta a solicitação de aumento real de tarifa de cerca de 12%, para compensar a
perda de receita com a supressão no inicio da Concessão do “efeito 65”, que obrigava
o cidadão a pagar de conta sempre no mínimo 65% do maior consumo do ano,
rejeitada por todos por entender que não deveria haver re-equilíbrio enquanto não
houvesse resposta para os descumprimentos de prazo já denunciados.
129
Em 20/12/2001, a pedido dos Prefeitos e com apoio do Secretário de Estado de Meio
Ambiente, a ASEP tira de pauta o aumento da Prolagos.
Em 31/01/02 a ASEP coloca em pauta o aumento da tarifa já citado e ainda mais oito
itens além do “efeito 65”, e não contempla o principal pleito da Região, que é a
solução para antecipação dos R$ 28.000.000,00 em obras, que “não pôde ser
viabilizado por diferimento de ICMS, como prometido pelo Estado, por questões
jurídicas”. As ONG’s da região lotam o plenário da ASEP com faixas e redes de pesca
impregnadas com algas, e com seus argumentos, juntamente aos do Prefeito de Iguaba
Grande, representando os demais, conseguem tirar de pauta a votação.
Em 04/02/2002 - As ONG’s recorrem a ouvidoria da ASEP, e apelam para não haver
votação até que hajam garantias de que as obras ocorram. A proposta é que seja
assinado com o MP um termo de Ajustamento de Conduta, para solução no mais curto
prazo possível.
Em 28/02/2002 – Numa reunião realizada na Prolagos, com participação dos
municípios, ASEP, Concessionária e Consórcio, são fixados todas as contribuições
pluviais que deveriam ser interceptadas na primeira fase de obras e os prazos para
realização destas obras, além das EE’s e ETE’s, com prazos até dezembro de 2002 e
maio de 2003.
Em 04/03/2002 – Finalmente a “Repactuação do Contrato” é deliberada pela ASEP
(Delib. N. 203/02) e posteriormente assinada, comprometendo a concessionária a
realizar o conjunto de obras constantes da Ata de 28/02/02, para se dar a repactuação.
Diante da impossibilidade de diferimento de ICMS acenado pelo Governador do
Estado em 08/03/01, foram trocados cerca de oito milhões de reais em outorga
iii
,
sendo abatido deste valor cerca de dois milhões de reais em multa pelo atraso das
obras até então.
Assim, após 27 meses de pressão, foi conseguida junto à ASEP (Agência
Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos), a repactuação dos Contratos de Concessão. A
Prolagos, que atende as cidades de Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Búzios,
ficou comprometida em aplicar R$ 55.000.000,00 até maio de 2003. A Concessionária Águas
de Juturnaíba, que atende as cidades de Araruama, Saquarema e Silva Jardim, teve o re-
equilíbrio do seu Contrato de Concessão assinado somente em 01 de agosto de 2003, selando
o compromisso de investimentos de R$ 13.000.000,00 em tratamento de esgotos até agosto de
2004; o atraso desta re-pactuação se deu em função da mudança de governo do estado em
130
abril de 2002 (que não assinou a alteração contratual), e novamente em janeiro de 2003,
requerendo enorme esforço do Consórcio em explicar todo o processo para novas equipes que
assumiam as secretarias de meio ambiente e saneamento na ocasião.
Apesar de re-pactuado o contrato a Concessionária Prolagos, embora tenha iniciado,
não conseguiu entregar as obras previstas para dezembro de 2002, o que fez com que o
Consórcio recorresse ao Ministério Público, que acabou por propor ação pública contra a
Concessionária, resultando em sentença judicial obrigando a concessionária a concluir todas
as obras previstas em seis meses.
10.1.3 AS BASES PARA DEFINIR A FORMA DE PAGAMENTO DO SERVIÇO
Desde 2002, as comissões de saneamento do Consórcio e da Câmara de Saneamento
da ASEP vêm realizando constantes reuniões (registradas em atas) e visitas para o
acompanhamento e verificação das obras. O GELA, hoje Sub-comitê da Bacia da Lagoa de
Araruama e Rio Una, vem avaliando os progressos e os atrasos, sempre buscando encontrar
caminhos e saídas para obstáculos, que não são poucos, à saber:
Atrasos nas decisões da ASEP tanto sobre questões complexas, bem como nas
reivindicações mais simples.
Atraso nas licenças dos órgãos ambientais, no caso FEEMA e SERLA.
Demora nas autorizações do DER para passagem de tubulações.
Solicitação de prefeituras para não realização de serviços em épocas de verão e
feriados, quando as cidades ficam cheias de turistas.
Autuações por órgãos de fiscalização pela falta de licenças.
Falta de registro de imóveis em terrenos adquiridos para construção de ETE’s e
EE’s.
Obras mal feitas, ou com materiais que dão defeito, acarretando o não
funcionamento de algumas linhas de coleta e recalque de esgotos.
Apesar de todos os atrasos e problemas enfrentados, os sistemas forma entrando em
carga até dezembro de 2004. Foi quando eclodiu um problema já esperado por todos, mas até
então latente, que era como remunerar o serviço das concessionárias.
131
Pagar a tarifa prevista em contrato, de um para um, ou seja: quem pagava R$ 40,00
reais de água, passar a pagar mais R$ 40,00 de esgoto, seria injusto, já que o sistema ainda
não estava completo; por outro lado, não existe precedente no país sobre um pagamento
parcial de tarifa. Não pagar nada significaria a impossibilidade de entrada em funcionamento
do sistema, já que a operação deste implica custos significativos de energia elétrica,
funcionários e outros mais.
O acordo se baseou nas seguintes premissas, conforme constam no Termo de
Ajustamento de Conduta assinado com o Ministério Público:
O sistema de esgotamento sanitário implantado neste momento pelas
Compromitentes atende o preconizado no respectivo Edital de Licitação, tendo em
vista as alterações determinadas pela Deliberação ASEP-RJ 203/02 e pelo 2º Termo
Aditivo ao Contrato de Concessão da Águas de Juturnaíba e as necessidades
emergenciais dos corpos hídricos da região compreendida em ambas áreas de
concessão;
A antecipação de obras de esgotamento sanitário, determinada na Deliberação
ASEP-RJ 203/02 e no 2º Termo Aditivo ao Contrato de Concessão da Águas de
Juturnaíba partiu da premissa de se captar os efluentes hoje já lançados no sistema
de drenagem pluvial existente nos municípios integrantes do respectivo Poder
Concedente "captação em tempo seco";
O sistema de “captação em tempo seco” foi implantado em obediência às regras
fixadas pela ASEP – Agência Reguladora dos Serviços Públicos Concedidos do
Estado do Rio de Janeiro, conforme Deliberação ASEP-RJ 203/02 e 2º Termo
Aditivo ao Contrato de Concessão da Águas de Juturnaíba, e por solicitação de
demandas da sociedade, órgãos ambientais e do Poder Concedente, como sendo o
sistema mais adequado para as respectivas áreas de concessão neste primeiro
momento;
A utilização dos sistemas de drenagem municipal para livre captação dos esgotos
pela Prolagos foi autorizada através de convênio com os municípios integrantes do
Poder Concedente, firmado em 14 de janeiro de 2004, e pela Águas de Juturnaíba
através do 2º Termo Aditivo ao Contrato de Concessão firmado em 01 de agosto de
2003, com o fim de possibilitar a operação do sistema de coleta e tratamento de
132
esgotos em tempo seco, porém sem implicar em qualquer transferência ou cessão de
bens, direitos e ônus a tais sistemas referentes, que permanecem sob a titularidade e
responsabilidade dos respectivos municípios, visto que ainda não fazem parte do
sistema definitivo;
O tratamento de esgoto sanitário é um imperativo político-social de extrema
relevância com repercussões imediatas na qualidade de vida das populações, na
própria saúde pública, na melhoria do meio ambiente e no fomento da atividade
econômica pela via do turismo,
Pelo sistema de coleta de esgoto mediante o uso da rede de drenagem pluvial
existente nos municípios integrantes do Poder Concedente, acabam por ser
atendidos de forma difusa, todos os casos de lançamento de efluentes, quer por
residências sem dispositivos (fossas, filtros e sumidouros), ou com dispositivos mal
dimensionados, ou com dispositivos sem manutenção ou, ainda, decorrente do
extravaso de dispositivos para o sistema pluvial, diante da falta de absorção do solo,
característica da região objeto das concessões, onde o lençol freático é muito
aflorado;
O tratamento dos esgotos, na forma das implantações efetivadas, beneficia toda a
população existente nas áreas de concessão, haja vista que repercutem na
despoluição da Lagoa de Araruama, e representam vetor estratégico de
desenvolvimento sustentado da região, já que determinam melhoria das condições
ambientais da população regional e flutuante e na minimização dos passivos
ambientais;
O custeio das obras e operação dos sistemas, das concessões outorgadas à Prolagos
e Águas de Juturnaíba decorrem dos recursos arrecadados com a cobrança das
tarifas de todos os clientes e que essas obras, quando vinculadas ao objeto da
concessão, serão revertidas ao respectivo Poder Concedente no término da
concessão;
Cabe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, dos direitos e interesses
difusos, especialmente do meio ambiente, nos termos dos artigos 127 e 129 da
Constituição Federal e pelo disposto na Lei Federal nº 8.625/93, é celebrado o
presente ajustamento.
Assim sendo, o acordo configurou-se nos seguintes termos:
133
As Compromitentes fizeram e estão fazendo maciços investimentos na implantação
dos sistemas de esgotamento sanitário nas respectivas áreas de concessão e devem
ser remuneradas pelos mesmos, bem como pela operação desses sistemas a fim de
prosseguir com o cumprimento dos respectivos contratos de concessão, em especial
dos PDEs (Planos Diretores de Esgotamento Sanitário), observando-se o equilíbrio
econômico-financeiro inicial ali estabelecido.
A utilização dos sistemas de drenagem pluviais existentes nos municípios
integrantes do Poder Concedente, atende à demanda emergencial prevista nos
respectivos Editais, devendo ser cumprido o cronograma de obras aprovado pela
ASEP.
A ASEP, no âmbito de suas atribuições, avaliará a forma e estabelecerá a tarifa
devida a Prolagos e a Águas de Juturnaíba, em processos específicos, para que
possam ser arrecadados recursos suficientes para pagamento dos investimentos
referentes às obras já realizadas e a realizar, e dos custos necessários à operação da
coleta e tratamento de esgoto, com a consideração de ser una a concessão de águas
e esgotos, e para recomposição do equilíbrio econômico-financeiro inicial da
respectiva concessão;
O presente TAC terá a validade enquanto perdurar a utilização dos sistemas de
drenagem pluviais existentes nos municípios integrantes das respectivas áreas de
concessão.
Com base no TAC, a ASEP teria meios então para deliberar, com base no princípio
da forma difusa de atendimento, bem como o benefício geral da população, e ainda em face da
necessidade imediata de início da operação dos sistemas, que a remuneração dos serviços se
daria através de re-equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, conforme definidos pela
ASEP.
134
11. ANEXOS
135
11.1 DELIBERAÇÃO DE CRIAÇÃO DO GELA, GELSA E GERSA
CONSÓRCIO AMBIENTAL LAGOS SÃO JOÃO
Deliberação n. 001/2001
Cria Grupos Executivos de Trabalho – GET
Considerando que o Consórcio Ambiental Lagos São João tem entre as suas metas propor e
executar ações recuperação e melhoria ambiental, na área que compreende as bacias
hidrográficas das lagoas de Jaconé, Saquarema e Araruama e dos rios Una, São João e das
Ostras e zona costeira adjacente,
Considerando que o Consórcio como instrumento de gestão de política ambiental e de recurso
hídrico, deve fomentar a discussão destas políticas com a participação de todos os usuários e
beneficiários diretos e indiretos dos recursos naturais da bacia e das instituições civis,
empresas, órgãos de pesquisa e esferas de governo,
Considerando que estes grupos funcionarão como embriões dos futuros “Comitês de Bacias” e
“Conselhos Gestores das Lagoas”, que por certo haverão de ser criados com a
regulamentação das políticas estadual, e federal de recursos hídricos,
Considerando que grupos de trabalho, foram implementados, após a realização dos encontros
das três bacias, e que estes estão direcionado as prioridades dos trabalhos do Consórcio;
DELIBERA:
1 - Oficializar a instituição dos Grupos Executivos de Trabalho (GET) a saber:
- Grupo Executivo Lagoa de Araruama e Bacia Contribuinte – GELA;
- Grupo Executivo das Lagoas de Saquarema e Jaconé e Bacia Contribuinte – GELSA;
- Grupo Executivo das Bacias dos Rios São João, Una e das Ostras – GERSA;
2 – Os GET’s serão vinculados à Secretaria Executiva do Consórcio, e poderão ser
coordenados diretamente por esta, ou por um coordenador escolhido dentro do Grupo;
3 – Aos GET’s cabe a definição de metas, e usos múltiplos (dos recursos naturais) pretendidos;
4 - Para cumprimento das metas deverão ser elaborados de Planos de Trabalho (bi-anual), que
deverão descrever e hierarquizar as atividades e projetos a serem desencadeadas no âmbito das
áreas de abrangências. A Secretaria Executiva fará a supervisão geral, encaminhando
posteriormente para referendo do Conselho de Sócios;
5 – Deverão ser convidados a participar dos GET’s, todos os usuários e beneficiários diretos e
indiretos dos recursos naturais da bacia, entre eles, instituições civis, empresas, órgãos de
pesquisa e esferas de governo;
Araruama, 06 de fevereiro de 2001
136
11.2 REPORTAGENS E MATÉRIAS DE JORNAIS SOBRE ALGUNS DOS TEMAS
PESQUISADOS
Matéria de dezembro de 1999, Jornal Marola, noticiando a criação do Consórcio;
137
Matéria de fevereiro de 2000, Jornal Marola, noticiando o 1º Seminário do Consórcio –
Bacia contribuinte a Lagoa de Saquarema e Jaconé;
138
Matéria de março de 2000, Jornal Salineiro, noticiando o 2º Seminário do Consórcio
– Bacia contribuinte ao rio São João e Ostras;
Matéria de abril de 2000, Jornal Principal, noticiando o 3º Seminário do Consórcio
– Bacia contribuinte a Lagoa de Araruama e rio Una;
139
Matéria de março de 2000, Jornal da Região, noticiando as primeiras ações como exames de
água, estudos hidrodinâmicos e a decisão de rever os contratos da concessionárias;
140
Matéria de abril de 2000, Jornal da Região, divulgando manifesto da Plenária de ONGs do
Consórcio;
141
Matéria de novembro de 2000, Jornal de Sábado, noticiando a denuncia dos contratos de
concessão e o firme propósito de revê-los;
142
Matéria de dezembro de 2000, Jornal Principal, noticiando a pressão por alterações nos
contratos de concessão;
143
Matéria de março de 2001, Jornal O Globo, noticiando o protesto dos prefeitos contra os
poucos investimentos previstos para saneamento;
144
Matéria de agosto de 2002, Jornal Marola, noticiando a indignição com a demora da
votação pela ASEP, do processo de repactuação do contrato de Águas de Juturnaíba;
145
Matéria de agosto de 2002, Jornal da Região, noticiando o trabalho de dragagem no Canal
de Itajurú entre outros assuntos;
146
Matéria de maio de 2004, Jornal O Globo, noticiando a revolta devido ao enbargo das obras
de desassoreamento do Canal de Itajurú;
147
Matéria de agosto de 2004, Jornal O Globo, noticiando a demora da ASEP em votar a forma
de cobrança pelos serviços de saneamento na região;
148
11.3 NOTÍCIAS EXTRAÍDAS DOS BOLETINS DO CONSÓRCIO
8/maio/03
Gestão integrada do CILSJ recebe destaque em publicação da rede WWF que será lançada
em agosto
O WWF-Brasil escolheu a gestão integrada do CILSJ como uma das melhores práticas de gestão
de bacias hidrográficas ao redor do mundo.
O modelo de gestão e as estratégias de conservação adotadas na Bacia do Rio São João pelo
Consórcio e Associação Mico Leão Dourado receberão destaque na publicação que a rede WWF
estará lançando em agosto.
Leia abaixo a notícia publicada no informativo Água para a Vida do WWF.
São João escolhido como exemplo de bom manejo
O modelo de gestão desenvolvido na Bacia do Rio São João, no Rio de
Janeiro, foi escolhido para integrar uma publicação da rede WWF com as
melhores práticas de gestão de bacias hidrográficas ao redor do mundo.
Estarão em
destaque as estratégias de conservação adotadas. "O trabalho que
vem sendo desenvolvido no Brasil merece destaque pela qualidade", disse
Jamie Pittock, diretor do programa de água doce da rede WWF, Living Waters.
A gestão integrada é um dos pontos fortes da Bacia do São João. "Isso traz
o reconhecimento do nosso referencial, que é a participação efetiva da
sociedade" disse o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Lagos São
João, Luiz Firmino Pereira. O Consórcio e a Associação Mico Leão Dourado
são parceiros do WWF-Brasil no projeto. A publicação estará pronta em
agosto.
Fonte: Informativo "Água para a Vida" do WWF - NºIII - Março a Maio de 2003
www.wwf.org.br
Assessoria de Comunicação do CILSJ
Após 39 meses de espera, CILSJ comemora a assinatura da repactuação do contrato da
Águas de Juturnaíba
Foi assinado pela governadora Rosinha Matheus, no dia 01 de
agosto, a repactuação do contrato da concessionária Águas de
Juturnaíba. A tão aguardada repactuação de contrato, consiste n
antecipação de 12 milhões de investimentos da empresa em
obras de esgotamento sanitário nas cidades de Araruama,
Saquarema e Silva Jardim em troca da outorga que a empresa
pagaria ao governo do Estado.
a
149
A assinatura da repactuação foi realizada no auditório da
Universidade Cândido Mendes, em Araruama, num evento
assistido por cerca de 300 pessoas. A mesa foi composta pela
governadora Rosinha Matheus; pelo prefeito de Araruama,
Francisco Ribeiro; pela vice-prefeita de Araruama, Stella
Romanos; pelo presidente do CILSJ, Paulo Lobo; pelo presidente
da SERLA, Ícaro Moreno; pelo presidente da ASEP, João Paulo
Dutra; pelo presidente da Águas de Juturnaíba, Cláudio Abduche;
pelo pró-reitor da Cândido Mendes, Alexandre Gazé; pelo
deputado estadual, Paulo Melo; pelo deputado federal, Bernardo
Ariston entre outras autoridades e políticos da região.
Ícaro Moreno, presidente da SERLA (Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas)
falou sobre a importância desta repactuação de contrato para a
revitalização da Lagoa de
Araruama
, lembrando que, com estas obras e as que estão sendo realizadas pela outra empresa
concessionária, a Prolagos, a lagoa deixará de receber cerca de 80 % de todo o esgoto das
cidades que a margeiam. Ícaro ainda esclareceu aos presentes
que, além da construção das estações de tratamento (ETE's) que
estarão tratando o esgoto que é despejado na lagoa, a dragagem
do canal do Itajurú e de outros pontos críticos também está s
de fundamental importância para a revitalização da mesma
endo
.
Em sua apresentação o presidente da SERLA indicou que os
tia
Cláudio Abduche, presidente da Águas de Juturnaíba, garantiu que as obras serão iniciadas
O presidente do CILSJ, Paulo Lobo; o ex-presidente do CILSJ e
o da
ia
,
e
A governadora Rosinha Matheus disse que a recuperação da lagoa será de grande importância
A repactuação dos contratos das concessionárias de serviços de abastecimento e esgotamento
agoa,
Clique e saiba mais sobre o que está sendo feito para a revitalização da Lagoa Araruama.
investimentos de 55 milhões da Prolagos somados aos 12
milhões da Águas de Juturnaíba, representam a maior quan
investida no Estado do Rio em obras de tratamento de esgoto.
imediatamente e que, até 2006, estarão concluídas.
prefeito de Araruama, Francisco Ribeiro e os deputados Paulo
Melo e Bernardo Ariston no uso da palavra, agradeceram à
governadora ressaltando a grande importância da despoluiçã
lagoa para a Região dos Lagos que é uma região basicamente
turística. Francisco Ribeiro agradeceu veementemente ao
secretário executivo do CILSJ, Luiz Firmino pela persistênc
frente aos trabalhos realizados pelo consórcio ressaltando que
sem ele, como elo de integração das 12 prefeituras, órgãos do
Estado, empresas e Ong's da região, não seria possível o alcanc
o meio ambiente.
de todas as conquistas a favor d
para o Estado e citou diversos outras atuações do governo estadual na região.
sanitário só foi possível pelo incansável trabalho conjunto e articulado do consórcio que, há 39
meses, percebeu que os prazos para o início das obras de saneamento assinados com as
concessionárias eram muito grandes. Visto que isto comprometeria em muito a "saúde" da l
começou a articular o adiantamento das obras de saneamento, que somente seria possível a partir
da repactuação dos contratos agora concluída.
150
Maio/04
Dragagem do Itajuru é paralisada pelo IBAMA
A dragagem do canal do Itajuru continua parada desde o dia 18 de maio quando o IBAMA
embargou os seus trabalhos alegando que a área em questão é de jurisdição federal tendo
necessariamente que possuir sua autorização, informando que a SERLA - Superintendência
Estadual de Rios e Lagoas, órgão que estaria autorizando a dragagem, não tem competência
para isso.
Por ser a dragagem, junto com o tratamento do esgoto, cruciais para o trabalho de
recuperação da Lagoa, sua parada teve uma grande repercussão na mídia regional e estadual.
Com isso, no dia 21/5, o IBAMA (através da gerência executiva do Rio de Janeiro), informou
que, após reunião com a SERLA, estaria cancelando o embargo e a multa aplicada,
reconhecendo que o Estado poderia continuar a obra. Ficou determinado, então, que no dia
23/05 o IBAMA faria uma notificação com este cancelamento, documento este que até a
presente data (31/05) ainda não foi expedido impedindo assim que os trabalhos fossem
reiniciados.
No dia 27/05 o Consórcio enviou um ofício ao IBAMA questionando toda esta situação e
solicitando que o mesmo se pronuncie por escrito esclarecendo de vez a situação, "de forma
que possamos proceder à mobilização dos diversos atores envolvidos, já que esta obra, apesar
de sua importância e porque não grandiosidade, não conta com qualquer dotação orçamentária,
quer Estadual ou Federal, dependendo, portanto, de um grande esforço de parcerias capaz de
realizá-la, o que explica em parte várias das dificuldades enfrentadas."
Tanto a secretaria executiva do consórcio quanto os ambientalistas acham lamentável que uma
obra desta importância, que só está trazendo resultados positivos para a Lagoa, fique a mercê
da discussão de quem a compete a ponto de comprometer sua continuidade.
Assessoria de Comunicação do CILSJ
Julho/04
Construção da nova Ponte do Ambrósio é destaque na reunião do GELA
No dia 18 de junho foi a realizada reunião do GELA nas dependências da FERLAGOS em Cabo
Frio.
Entre os presentes estiveram o Dr. Henrique, presidente do DER; o Sr. Altamirando, Vice-
presidente da SERLA além do promotor público, Dr. Vitor, o Prefeito Paulo Lobo, secretários,
ambientalistas, empresas e instituições das cidades banhadas pela Lagoa de Araruama.
O presidente do DER participou da reunião apresentando os projetos de duplicação da RJ 106,
RJ 140 e da nova Ponte do Ambrósio, que faz a ligação de São Pedro da Aldeia a Cabo Frio. A
construção desta nova ponte é um pleito do consórcio ao DER, feito há 3 anos, quando estudos
da Coope indicaram a necessidade de se alargar o vão do canal do Itajuru de 30 para 300
metros. A construção de uma nova ponte representará uma grande melhora na circulação da
água do mar para o interior da lagoa.
Com a presença do Dr. Henrique na reunião, os integrantes e usuários da bacia da Lagoa de
Araruama puderam apresentar e discutir alguns detalhes, como os requisitos mínimos para a
construção da Ponte do Ambrósio, colocando inclusive, a necessidade da retirada da tubulação
da antiga adutora.
O presidente do DER mostrou-se satisfeito por poder participar da reunião e discutir sobre estes
projetos com os integrantes da bacia antes do início do processo de licitação para as obras, o que
já está autorizado pela governadora. Na ocasião o Dr. Henrique pôde perceber ainda o grande
transtorno que a falta das autorizações do DER, aguardadas pela Prolagos, estão causando na
151
região para dar continuidade as obras de saneamento nas cidades de Iguaba e São Pedro, e
prometeu resolver o mais rápido possível. As autorizações aguardadas são para a colocação das
tubulações de esgoto que passarão paralelamente a RJ 106.
Outro assunto em pauta na reunião do GELA foi a atual situação do desassoreamento do Canal
do Itajuru. Durante a reunião foi anunciada a deliberação de nº 4456 da CECA, publicada no dia
15 de junho no Diário Oficial, autorizando a dragagem emergencial do canal do Itajuru por um
prazo de 90 dias, podendo ser prorrogada por mais 90. A deliberação coloca ainda que, durante
este período, a FEEMA deverá analisar a documentação com vistas a emissão de uma licença
definitiva. Apesar desta autorização permitir o reinício imediato da dragagem, a mesma só foi
retomada no final de junho.
Vale lembrar que a dragagem não conta com nenhuma dotação orçamentária estadual ou federal,
recebendo apoio financeiro e operacional da Álcalis, que teve que desmontar todo o esquema
anterior devido a paralisação, e agora está se organizando novamente para a retomada dos
trabalhos.
A situação atual das obras de saneamento também foi assunto da reunião. Clique e veja.
Assessoria de Comunicação do CILSJ
Outubro/04
Presença da plenária de ONG's na ASEP facilita a definição quanto à cobrança de esgoto
No dia 14 de setembro, representantes da plenária de ONG's do CILSJ, principalmente do setor
de pesca, estiveram presentes na seção da ASEP com cartazes e faixas reivindicando uma
solução para a questão da cobrança do esgoto.
Como vem acontecendo nas últimas seções regulatórias da ASEP, a seção foi aberta, os
assuntos retirados de pauta e dada por encerrada.
152
Apesar da seção ter sido dada como encerrada a
manifestação dos representantes da plenária, e as
seguidas matérias divulgadas na mídia nacional na
semana anterior, fizeram com que os conselheiros se
reunissem por cerca de 2 horas, para tomar uma
decisão sobre para a questão, e em seguida, abriram
o plenário aos presentes informando que foi e
um relator para o processo: o conselheiro João Carlo
Loureiro, que ficou encarregado do assunto, e
assumiu perante os presentes o compromiss
prazo de 2 meses dar como equacionada esta
situação.
scolhido
s
o de no
Neste mesmo dia o conselheiro marcou com o
Secretário Executivo do CILSJ, Luiz Firmino, sua
vinda a região para uma reunião com os prefeitos da
área de concessão e o Ministério Público. Esta
reunião aconteceu no dia 23 de setembro onde foram
discutidos os detalhes necessários para a definição
da cobrança.
Outubro/04
Sancionado Decreto que cria o Comitê de Bacia Lagos São João
Após quatro anos de intenso trabalho, foi finalmente assinado no último dia 30 de setembro,
o Decreto de criação do Comitê de Bacia Lagos São João. O anúncio foi feito durante
reunião do CERH.
Objetivo intensamente perseguido pelo Consórcio, o Comitê de Bacia representa a
consolidação da política de recursos hídricos em nossa região, e não substitui a existência
ou a ação do Consórcio. Na verdade o Consórcio já praticava a gestão descentralizada e
participativa, através das reuniões dos Grupos Executivos de Trabalho das
Bacias
Hidrográficas da Lagoa de Araruama e Rio Una (GELA)
, da Lagoa de Saquarema (GELSA)
e
do Rio São João e Ostras (GERSA), que funcionaram como pré comitês, e agora vão
ganhar roupagem nova e de caráter oficial, já que o comitê é deliberativo.
Os próximos passos serão a implantação do Comitê, em ato formal da Secretária Executiva
do CERH e a aprovação do regimento interno e do Plano de Bacia, que já se encontram
minutados, permitindo assim a aplicação dos recursos da Cobrança pelo uso da água, que
já começaram em nossa região através da Lei estadual 4247/03, e que segundo a SERLA
dispõe inclusive de recursos na conta específica da Bacia do Fundo Estadual de Recursos
Hídricos.
Assessoria de Comunicação do CILSJ
Fevereiro/05
Região já possui seu Comitê de Bacia Hidrográfica
Tinoco presidirá o comitê e Paulo Lobo o consórcio
153
Em reunião realizada no dia 23 de fevereiro
com a presença do Vice–Governador e
Secretário de Estado de Meio Ambiente, Dr. L
Paulo Conde; do presidente da SERLA, Ícaro
Moreno; dos prefeitos das cidades da área de
atuação do CILSJ; de representantes das
empresas, secretaria executiva e ong's que
integram o consórcio, do Ministério Público e
das concessionárias de água e esgoto da
região, foi eleita a nova diretoria do CILSJ para a
gestão 2005-2006 e instalado o Comitê das
Bacias Hidrográficas das Lagoas de Araruama,
Saquarema e dos Rios São João, Una e Ostras -
o Comitê Lagos São João - 3º Comitê de Bacia do Estado do Rio de Janeiro e responsável
pelo gerenciamento dos recursos hídricos em nossa região.
uiz
A reunião foi aberta pelo presidente do CILSJ
- Paulo Lobo fazendo uma retrospectiva geral
do biênio 2003-2004 e pela apresentação do
Secretário Executivo - Luiz Firmino, sobre os
trabalhos neste período desenvolvidos. Logo
após, a chapa única para a eleição do novo
Conselho de Sócios foi apresentada e
aprovada, ficando assim representado:
Presidente do CILSJ: Paulo Roberto Ramos Lobo - Prefeito de São Pedro da Aldeia
Vice-Presidente representante das Prefeituras: Hugo Canellas - Prefeito de Iguaba Grande
Vice-Presidente representante das Ong's: Arnaldo Vila Nova
Vice-Presidente representante das Empresas: Ênio Costa - Álcalis
Secretário Executivo: Luiz Firmino M. Pereira
Juntamente com a escolha dos membros do diretoria do CILSJ foi sugerido, e também
aprovado, o nome do prefeito de Silva Jardim - Augusto Tinoco para presidir o Comitê
Lagos São João.
Após a eleição do Consórcio, o Vice–Governador e Secretário de Estado de Meio Ambiente,
Dr. Luiz Paulo Conde e o presidente da Serla, Ícaro Moreno, deram posse aos Membros do
154
Comitê - representantes dos diversos segmentos da sociedade que participarão das
decisões tomadas pelo Comitê. Em seu pronunciamento, Conde parabenizou a todos pelo
esforço que culminou com a criação do comitê, ressaltando a importância das atividades de
policiamento, fiscalização e educação ambiental para o sucesso dos trabalhos. Conde
também sugeriu que: o tratamento de esgotos, a dragagem do canal do Itajuru e a
construção da nova Ponte do Ambrósio fossem ações-chave dentre as diversas ações do
novo comitê, que já nasce forte e com muita energia para dar continuidade aos trabalhos já
iniciados pelo CILSJ.
O Presidente da Plenária de Ong's, Arnaldo Vila Nova entregou uma carta ao presidente do
CILSJ e um Manifesto da Sociedade pela Lagoa de Araruama, solicitando apoio ao
desassoreamento, proteção de APA's e novas obras de saneamento ao Vice–Governador e
Secretário de Estado de Meio Ambiente. Luiz Paulo Conde, disse ter gostado da
intervenção e se comprometeu a trabalhar para
a solução das reivindicações apresentadas.
Depois do almoço, o recém eleito presidente do
Comitê Lagos São João - Augusto Tinoco e os
membros empossados pela manhã, realizaram a
primeira reunião técnica do Comitê de Bacia.
Marilene e Ícaro Moreno (Serla) explicaram
alguns pontos da Política Estadual de Recursos
Hídricos relacionados aos Comitês de Bacias
Hidrográficas e o grupo, na seqüência, aprovou
o regimento, elegeu a diretoria e aprovou a
primeira deliberação.
Para que as discussões e tomadas de decisões
sejam facilitadas, o Comitê Lagos São João deliberou a instituição de 3 sub-comitês e o
CILSJ como sua Secretaria Executiva.
O grupo definiu os representantes do colegiado que serão:
Presidente do Colegiado: Prefeito de Silva Jardim - Augusto Tinoco
Diretoria do Colegiado:
Secretária Executiva:Consórcio Intermunicipal Lagos São João
Sub-Comitê da Lagoa de Araruama e Una: Secretaria de Meio Ambiente de Cabo Frio e
Ong Viva Lagoa
Sub-Comitê do Rio São João e Ostras: CEDAE (Rio Bonito) e Ong OADS
Sub-Comitê da Lagoa de Saquarema: Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Associação de Moradores do Boqueirão
Também foram criadas 2 Câmaras Técnicas, uma de instrumentos de gestão, para análise
do Plano de Bacia e revisão do Regimento Interno e outra sobre Educação Ambiental.
>> Consulte os documentos sobre a criação do Comitê disponíveis no site do consórcio
>> Leia a carta da plenária de ONG's ao presidente do CILSJ
>> Conheça o manifesto da plenária de ONG's entregue ao Vice–Governador e Secretário
de Estado de Meio Ambiente, Dr. Luiz Paulo Conde
Assessoria de Comunicação do CILSJ
11.4 AGENDA 21 GLOBAL
Resumo do Documento Agenda 21 da Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CAPÍTULO 1 Preâmbulo
155
Seção I - DIMENSÕES SOCIAIS E ECONÔMICAS
CAPÍTULO 2 Cooperação internacional para acelerar o desenvolvimento sustentável dos
países em desenvolvimento e políticas internas correlatadas
Promoção do Desenvolvimento Sustentável por meio do comércio
Estabelecimento de um apoio recíproco entre comércio e meio
ambiente
Oferta de recursos financeiros suficientes aos países em
desenvolvimento
Estímulo a políticas econômicas favoráveis ao Desenvolvimento
Sustentável.
CAPÍTULO 3 Combate à pobreza
Capacitação dos pobres para a obtenção de meios de subsistência
sustentáveis.
CAPÍTULO 4 Mudança dos padrões de consumo
Exame dos padrões insustentáveis de produção e consumo
Desenvolvimento de políticas e estratégias nacionais para estimular
mudanças nos padrões insustentáveis de consumo.
CAPÍTULO 5 Dinâmica demográfica e sustentabilidade
Desenvolvimento e difusão de conhecimentos sobre os vínculos entre
tendências e fatores demográficos e Desenvolvimento Sustentável.
Formulação de políticas nacionais integradas para meio ambiente e
desenvolvimento, levando em conta tendências e fatores
demográficos.
Implementação de programas integrados de meio ambiente e
desenvolvimento no plano local, levando em conta tendências e
fatores demográficos.
CAPÍTULO 6 Proteção e promoção das condições da saúde humana
Satisfação das necessidades de atendimento primário da saúde,
especialmente nas zonas rurais.
Controle das moléstias contagiosas.
Proteção dos grupos vulneráveis.
156
O desafio da saúde urbana.
Redução dos riscos para a saúde decorrentes da poluição e dos
perigos ambientais.
CAPÍTULO 7 Promoção do Desenvolvimento Sustentável dos assentamentos humanos
Oferecer a todos habitação adequada
Aperfeiçoar o manejo dos assentamentos humanos
Promover o planejamento e o manejo sustentáveis do uso da terra.
Promover a existência integrada de infra-estrutura ambiental: água,
saneamento, drenagem e manejo de resíduos sólidos.
Promover sistemas sustentáveis de energia e transporte nos
assentamentos humanos.
Promover o planejamento e o manejo dos assentamentos humanos
localizados em áreas sujeitas a desastres.
Promover atividades sustentáveis na indústria da construção.
Promover o desenvolvimento dos recursos humanos e da capacitação
institucional e técnica para o avanço dos assentamentos humanos.
CAPÍTULO 8 Integração entre meio ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões
Integração entre meio ambiente e desenvolvimento nos planos
político, de planejamento e de manejo.
Criação de uma estrutura legal e regulamentadora eficaz.
Utilização eficaz de instrumentos econômicos e de incentivos de
mercado e outros.
Estabelecimento de sistemas de contabilidade ambiental e econômica
integrada.
Seção II - CONSERVAÇÃO E GESTÃO DOS RECURSOS PARA O
DESENVOLVIMENTO
CAPÍTULO 9 Proteção da atmosfera
Consideração das incertezas: aperfeiçoamento da base científica para
a tomada de decisões.
Promoção do Desenvolvimento Sustentável.
Prevenção da destruição do ozônio estratosférico.
Poluição atmosférica transfronteiriça.
CAPÍTULO 10 Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos recursos
terrestres
157
Abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento dos
recursos terrestres.
CAPÍTULO 11 Combate ao desflorestamento
Manutenção dos múltiplos papéis e funções de todos os tipos de
florestas, terras florestais e regiões de mata.
Aumento de proteção, do manejo sustentável a da conservação de
todas as florestas e provisão de cobertura vegetal para as áreas
degradadas por meio de reabilitação, florestamento e reflorestamento,
bem como de outras técnicas de reabilitação.
Promoção de métodos eficazes de aproveitamento e avaliação para
restaurar plenamente o valor dos bens e serviços proporcionados por
florestas, áreas florestais e áreas arborizadas.
Estabelecimento e/ou fortalecimento das capacidades de
planejamento, avaliação e acompanhamento de programas, projetos e
atividades da área florestal, ou conexos, inclusive comércio e
operações comerciais.
CAPÍTULO 12 Manejo de ecossitemas frágeis: a luta contra a desertificação e a seca
Fortalecimento da base de conhecimentos e desenvolvimento de
sistemas de informação e monitoramento para regiões propensas à
desertificação e seca, sem esquecer os aspectos econômicos e sociais
desses ecossistemas.
Combate à degradação do solo por meio, inter. alia, da intensificação
das atividades de conservação do solo, florestamento e
reflorestamento.
Desenvolvimento e fortalecimento de programas de desenvolvimento
integrado para a erradicação da pobreza e a promoção de sistemas
alternativos de subsistência em áreas propensas à desertificação.
Desenvolvimento de programas abrangentes de antidesertificação e
sua integração aos planos nacionais de desenvolvimento e ao
planejamento ambiental nacional.
Desenvolvimento de planos abrangentes de preparação para a seca e
de esquemas para a mitigação dos resultados da seca, que incluam
dispositivos de auto-ajuda para as áreas propensas à seca e preparem
programas voltados para enfrentar o problema dos refugiados
ambientais.
Estímulo e promoção da participação popular e da educação sobre a
questão do meio ambiente centrados no controle da desertificação e
no manejo dos efeitos da seca.
CAPÍTULO 13 Gerenciamento de ecossitemas frágeis: Desenvolvimento Sustentável das
montanhas
158
Geração e fortalecimento dos conhecimentos relativos à ecologia e ao
Desenvolvimento Sustentável dos ecossistemas das montanhas.
Promoção do desenvolvimento integrado das bacias hidrográficas e
de meios alternativos de subsistência.
CAPÍTULO 14 Promoção do desenvolvimento rural e agrícola sustentável
Revisão, planejamento e programação integrada da política agrícola à
luz do aspecto multifuncional da agricultura em especial no que diz
respeito à segurança alimentar e ao Desenvolvimento Sustentável.
Obtenção da participação popular e promoção do desenvolvimento de
recursos humanos para a agricultura sustentável.
Melhora na produção agrícola e dos sistemas de cultivo por meio da
diversificação do emprego não-agrícola e do desenvolvimento da
infra-estrutura.
CAPÍTULO 15 Conservação da Diversidade Biológica
Conservação da diversidade biológica.
CAPÍTULO 16 Manejo ambientalmente saudável da biotecnologia
Aumento da disponibilidade de alimentos, forragens e matérias-
primas renováveis.
Melhoria da saúde humana.
Aumento da proteção do meio ambiente.
Aumento da segurança e desenvolvimento de macanismos de
cooperação internacional.
Estabelecimento de mecanismos de capacitação para o
desenvolvimento e a aplicação ambientalmente saudável de
biotecnologia.
CAPÍTULO 17 Proteção de oceanos, de todos os tipos de mares - inclusive mares fechados e
semifechados - e das zonas costeiras e proteção. Uso racional e
desenvolvimento de seus recursos vivos
Gerenciamento integrado e desenvolvimento sustentável das zonas
costeiras, inclusive zonas econômicas exclusivas.
Proteção do meio ambiente marinho.
Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos de alto
mar.
Uso sustentável e conservação dos recursos marinhos vivos sob
jurisdição nacional.
159
Análise de incertezas críticas para o manejo do meio ambiente
marinho e mudança do clima.
Fortalecimento da cooperação e da coordenação no plano
internacional, inclusive regional.
Desenvolvimento sustentável das pequenas ilhas.
CAPÍTULO 18 Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de
critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos
Desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos.
Avaliação dos recursos hídricos.
Proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos
ecossistemas aquáticos.
Abastecimento de água potável e saneamento.
Água e desenvolvimento urbano sustentável.
Água para produção sustentável de alimentos e desenvolvimento
rural sustentável.
Impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos.
CAPÍTULO 19 Manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas, incluída
a prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos
Expansão e aceleração da avaliação internacional dos riscos
químicos.
Harmonização da classificação e da rotulagem dos produtos
químicos.
Intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos e os
riscos químicos.
Implantação de programas de redução dos riscos.
Fortalecimento das capacidades e potenciais nacionais para o manejo
dos produtos químicos.
Prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e
perigosos.
CAPÍTULO 20 Manejo ambientalmente saudável dos resíduos perigosos. Incluindo a
prevenção do tráfico internacional ilícito de resíduos perigosos
Promoção da prevenção e redução ao mínimo dos resíduos perigosos.
Promoção do fortalecimento da capacidade institucional do manejo
de resíduos perigosos.
Promoção e fortalecimento da cooperação internacional para o
manejo dos movimentos transfronteriços de resíduos perigosos.
Prevenção do tráfico internacional ilícito de resíduos perigosos.
160
CAPÍTULO 21 Manejo ambientalmente saudável dos resíduos sólidos e questões
relacionadas com esgotos
Proteção da qualidade e da oferta dos recursos de água doce (18)
Promoção do desenvolvimento sustentável dos estabelecimentos
humanos (7)
Proteção e promoção da salubridade (6)
Mudança dos padrões de consumo (4)
CAPÍTULO 22 Manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos radioativos
Promoção do manejo seguro e ambientalmente saudável dos resíduos
radioativos.
Seção III - FORTALECIMENTO DO PAPEL DOS GRUPOS PRINCIPAIS
CAPÍTULO 23 Preâmbulo
CAPÍTULO 24 Ação mundial pela mulher, com vistas a um desenvolvimento sustentável
eqüitativo
CAPÍTULO 25 A infância e a juventude no desenvolvimento sustentável
Promoção do papel da juventude e de sua participação ativa na
proteção do meio ambiente e no fomento do desenvolvimento
econômico e social.
A criança no desenvolvimento sustentável.
CAPÍTULO 26 Reconhecimento e fortalecimento do papel das populações indígenas e suas
comunidades
CAPÍTULO 27 Fortalecimento do papel das Organizações Não-Governamentais: parceiros
para um Desenvolvimento Sustentável
CAPÍTULO 28 Iniciativas das autoridades locais em apoio à Agenda 21
CAPÍTULO 29 Fortalecimento do papel dos trabalhadores e de seus sindicatos
CAPÍTULO 30 Fortalecimento do papel do comércio e da indústria
Promoção de uma produção mais limpa.
161
Promoção da responsabilidade empresarial.
CAPÍTULO 31 A comunidade científica e tecnológica
Melhoria da comunicação e cooperação entre a comunidade científica
e tecnológica, os responsáveis por decisões e o público.
Promoção de códigos de conduta e diretrizes relacionados com
ciência e tecnologia.
CAPÍTULO 32 Fortalecimento do papel dos agricultores
Seção IV - MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
CAPÍTULO 33 Recursos e mecanismos de financiamento
CAPÍTULO 34 Transferência de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e
fortalecimento institucional
CAPÍTULO 35 A ciência para o Desenvolvimento Sustentável
Fortalecimento da base científica para o manejo sustentável.
Aumento do conhecimento científico.
Melhora da avaliação científica de longo prazo.
Aumento das capacidades e potenciais científicos.
CAPÍTULO 36 Promoção do ensino, da conscientização e do treinamento
Reorientação do ensino no sentido do Desenvolvimento Sustentável
Aumento da consciência pública.
CAPÍTULO 37 Mecanismos nacionais e cooperação internacional para fortalecimento
institucional nos países em desenvolvimento
CAPÍTULO 38 Arranjos institucionais internacionais
CAPÍTULO 39 Instrumentos e mecanismos jurídicos internacionais
CAPÍTULO 40 Informação para a tomada de decisões
Redução das diferenças em matérias de dados.
162
Aperfeiçoamento da disponibilidade da informação.
11.5 AGENDA 21 BRASILEIRA
Plataforma das 21 ações prioritárias
A economia da poupança na sociedade do conhecimento
Objetivo 1
Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício
Objetivo 2
Ecoeficiência e responsabilidade social das empresas
Objetivo 3
Retomada do planejamento estratégico, infra-estrutura e integração regional
Objetivo 4
Energia renovável e a biomassa
Objetivo 5
Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável
Inclusão social para uma sociedade solidária
Objetivo 6
Educação permanente para o trabalho e a vida
Objetivo 7
Promover a saúde e evitar a doença, democratizando o SUS
Objetivo 8
Inclusão social e distribuição de renda
Objetivo 9
Universalizar o saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde
Estratégia para a sustentabilidade urbana e rural
Objetivo 10
Gestão do espaço urbano e a autoridade metropolitana
Objetivo 11
Desenvolvimento sustentável do Brasil rural
Objetivo 12
Promoção da agricultura sustentável
Objetivo 13
Promover a Agenda 21 Local e o desenvolvimento integrado e sustentável
Objetivo 14
Implantar o transporte de massa e a mobilidade sustentável
Recursos naturais estratégicos: água, biodiversidade e florestas
Objetivo 15
163
Preservar a quantidade e melhorar a qualidade da água nas bacias hidrográficas
Objetivo 16
Política florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade
Governança e ética para a promoção da sustentabilidade
Objetivo 17
Descentralização e o pacto federativo: parcerias, consórcios e o poder local
Objetivo 18
Modernização do Estado: gestão ambiental e instrumentos econômicos
Objetivo 19
Relações internacionais e governança global para o desenvolvimento sustentável
Objetivo 20
Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação
Objetivo 21
Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade
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