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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
FUNÇÕES DA MÚSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL:
UM OLHAR SOBRE CINCO ESCOLAS ESTADUAIS DE PORTO ALEGRE/RS
ÂNGELA BEATRIZ CRIVELLARO SANCHOTENE
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
FUNÇÕES DA MÚSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL:
UM OLHAR SOBRE CINCO ESCOLAS ESTADUAIS DE PORTO ALEGRE/RS
Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção
do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Banca Examinadora:
Profª Drª Analice Dutra Pillar (PPGEDU/UFRGS)
Profª Drª Leda de Albuquerque Maffioletti (FACED/UFRGS)
Prof. Dr. Sérgio Luiz Ferreira de Figueiredo (CEART/UDESC)
Aluna: Ângela Beatriz Crivellaro Sanchotene
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Esther Sulzbacher Wondracek Beyer
Porto Alegre, 2006
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Música, por quê?
(Péricles Cavalcanti)
Eu faço música por amor e por esporte
Música por acaso e pela sorte
Eu faço música pelo som e por vaidade
Música pra vender pela cidade
Eu faço música por que não, por que sim
Música, música, música...
Eu faço música pra pensar e pra comer
Música pra dançar e pra chover
Eu faço música pra driblar a timidez
Música pela sua insensatez
Eu faço música por que não, por que sim
Música, música, música...
Eu faço música como forma de protesto
Música pra mentir, porque eu não presto
Eu faço música por prazer, sem nenhum sim
Música pra você e para mim
Eu faço música por que não, por que sim
Música, música, música...
Ao meu pai, in memoriam
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Dr.ª Esther Beyer, por ter acreditado nesta pesquisa, pela qualidade e rigor
de suas observações, avaliações e esclarecimentos e pela serenidade com que sempre me atendeu.
À Escola Estadual de Ensino Fundamental Leopolda Barnewitz, por ter contribuído com a
pesquisa.
Às minhas filhas, Virgínia e Vitória, que com paciência me aceitaram e me ajudaram sem nada
exigir, durante todos os momentos deste trabalho. Ah! E pelo tempo que ficaram sem MSN e
ORKUT!
Ao Rogério, meu marido, amigo, companheiro, que me incentivou com suas críticas e seus
conhecimentos de pesquisador.
A todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho.
5
SUMÁRIO
Agradecimentos................................................................................................................................ 04
Lista de Tabelas................................................................................................................................. 06
Resumo.............................................................................................................................................. 07
Abstract.............................................................................................................................................. 08
Introdução............................................................................... ......................................................... 09
1. Perspectivas teóricas............................................................................... .................................... 15
2. Metodologia de pesquisa............................................................................................................. 27
2.1 A Seleção das escolas....................................................................................................... 30
2.2 Os entraves iniciais.......................................................................................................... 31
3. O que as escolas fazem................................................................................................................ 35
3.1 As respostas...................................................................................................................... 38
4. Categorizações............................................................................... .............................................. 48
4.1 Atividades musicais em uma escola... Talvez um porquê! ........................................ 60
5. Análise das categorias a partir dos comentários dos sujeitos envolvidos............................ 62
6. Outras funções............................................................................... ............................................. 70
7. Discussão............................................................................... ....................................................... 76
Considerações Finais............................................................................... ........................................ 84
Referências Bibliográficas............................................................................................................... 91
Anexos............................................................................... ............................................................... 95
6
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – DE QUE FORMA A MÚSICA É UTILIZADA NA ESCOLA OU
SALA DE AULA? .......................................................................................................................... 39
TABELA 2 – POR QUE A MÚSICA É UTILIZADA POR VOCÊ?................................. 40
TABELA 3 – QUE MÚSICAS FAZEM PARTE DO REPERTÓRIO PARA SEREM
OUVIDAS OU TRABALHADAS?............................................................................................. 41
TABELA 4 – A MÚSICA É UTILIZADA EM MOMENTOS
ESPECÍFICOS? QUAIS?............................................................................................................... 42
TABELA 5 – VOCÊ ACREDITA QUE A MÚSICA É UM ELEMENTO
OU FATOR IMPORTANTE NA EDUCAÇÃO DOS ALUNOS?
POR QUÊ?........................................................................................................................................ 43
TABELA 6 – QUAIS FUNÇÕES QUE A MÚSICA DESEMPENHA
NA SALA DE AULA OU NA ESCOLA?.................................................................................. 44
TABELA 7 – OS ALUNOS E OS PROFESSORES TRAZEM........................................... 45
TABELA 8 – TODAS AS ESCOLAS POSSUEM.................................................................. 46
TABELA 9 – RELAÇÃO DAS PROFESSORAS COM AS FUNÇÕES
DA MÚSICA NA ESCOLA:........................................................................................................ 63
TABELA 10 – ATIVIDADES COM MÚSICAS UTILIZADAS
PELAS ESCOLAS:......................................................................................................................... 67
TABELA 11 – ATIVIDADES EXTRACLASSES QUE UTILIZAM
MÚSICA NAS ESCOLAS:........................................................................................................... 68
TABELA 12 – ENCONTROS COM AS ESCOLAS. ............................................................ 104
7
RESUMO
A presente pesquisa investigou as funções da música no ensino fundamental: um olhar
sobre cinco escolas estaduais de Porto Alegre/RS. O assunto proposto foi oportunizado a partir
das categorias elencadas por Alan Merriam (1964), etnomusicólogo norte americano.
Participaram desta pesquisa cinco escolas estaduais de ensino fundamental da cidade de
Porto Alegre/RS e dezessete sujeitos que, de forma voluntária, foram o foco de coleta de material
referente ao tema. Os dados para a pesquisa foram obtidos a partir de questionários, observações
e entrevistas semi-estruturadas, desde que utilizassem a música em suas atividades. Estas
atividades perpassaram o segundo semestre de 2005 e o segundo trimestre de 2006.
Verificou-se que as professoras pesquisadas utilizam muito a música em suas atividades,
mas principalmente com a função emocional, tendo como objetivo principal acalmar e
tranqüilizar os alunos, para o bom desempenho da aula e das atividades escolares. A música é
valorizada por seu caráter utilitarista, principalmente como fio condutor que perpassa todas as
tarefas escolares.
Assim, cada escola revela uma maneira diferente de articular e combinar a música em suas
atividades, priorizando o atendimento ao aluno e a imagem da escola ante a comunidade. Com
isto, notei como a influência da teoria das inteligências múltiplas, de Gardner tem grande
penetração no meio educacional, pois a música auxilia na compreensão de outras disciplinas.
Finalizando, destacam-se questões levantadas pela pesquisa e que poderão servir de
sugestões para futuras investigações.
Palavras chaves: educação musical, escola, educação, funções da música.
8
ABSTRACT
The present research has investigated the functions of music in elementary school: a view
of five State schools in Porto Alegre/RS. The proposed subject was made possible through
categories arranged by Alan Merriam (1964), American ethnomusicologist.
Five schools were researched and the research focused on seventeen volunteers as a way
of gathering material regarding the theme. The collected data was obtained through
questionnaires, observations and semi-structured interviews submitted to teachers who make use
of music in their activities. These activities happened throughout the second semester of the year
2005 and the second trimester of the year 2006.
It was observed that the participating teachers make large use of music in their activities,
but mainly with an emotional function, having as their main goal to calm down the students so
they can have a better performance in class and in school activities. Music is valued as a useful
tool particularly used to assist on all sort of school tasks.
Each school finds different ways to articulate and combine music and their activities,
having the student and the image of the school in the community as a priority. I could also notice
how Gardner´s theory of multiple intelligences influences education, as music assists on the
understanding of other subjects.
In the conclusion, questions which were brought up by the research and can be used as
suggestions for future investigations are highlighted.
Key words: music education, school, education, functions of music.
9
INTRODUÇÃO
“Atualmente, professores de todos os cantos do
mundo se preocupam em responder perguntas básicas
que fundamentam sua atividade pedagógica: [...]
Qual a função da arte na sociedade?...”
(PCN/Arte,1997)
A partir de minhas experiências como professora de Educação Artística e, principalmente,
como educadora musical, tenho observado o gosto que os alunos e a escola em geral, têm pela
música, uma vez que ela está presente no dia-a-dia da vida e da prática escolar. Ouve-se música
desde a cozinha até a sala da direção da escola. Mas interessa-me, também, como ela é tratada
pela comunidade escolar, como, por exemplo, se apenas ouvem ou se produzem ou reproduzem
música e por quê.
A música está normalmente presente na vida dos alunos, seja com diskman ou walkman
(quando os deixam usá-los) nas aulas de Educação Física, nas de Educação Artística, nas aulas de
Português e de outras disciplinas das séries finais do Ensino Fundamental. Parece-me que a
música está fortemente vinculada às crianças e aos jovens, principalmente, fazendo parte de suas
características pessoais. Alguns estudantes defendem aquilo que ouvem com paixão e com
convencimento, até porque trazem muitas coisas de seus repertórios e do meio em que vivem.
Mas também me deparo com seu uso nas séries iniciais, essencialmente quando tem alguma festa
10
na escola e quando os alunos devem se apresentar para a comunidade. Acredito que há
professores bem intencionados e interessados em trabalhar com música, mas talvez não saibam
como e o quê fazer com a música em sala de aula.
Noto, no meu contexto escolar, um grande apreço pela música, mas noto também que
muitos professores desejariam saber trabalhar melhor com esta matéria, pois todos ou são
professores generalistas ou são de outras áreas de conhecimento. Nas festas da escola (dia das
mães, dos pais, de Natal) nas cerimônias (semana da Pátria, semana do gaúcho, formaturas), em
algumas aulas ou quando os alunos se reúnem (por vários motivos, entre eles, o recreio ou devido
à falta de professor) a música está presente e todos se envolvem, seja procurando CDs, fazendo
adaptações das letras de canções, ensinando os refrões uns aos outros, ensaiando danças, enfim,
empenhando-se de alguma maneira no “fazer musical”.
A partir de minha experiência empírica surgiu o desejo de observar com mais nitidez o
que acontece dentro das escolas em relação às funções da música e de saber se as escolas
estaduais têm ou não as mesmas características. Noto que as práticas educacionais abrangendo e
utilizando a música estão permeando o ensino público. Mas mesmo a música sendo empregada,
não se sabe, ao certo, como, nem quando, nem porque são trabalhadas e utilizadas.
Desejo registrar que não houve pretensão de minha parte em estabelecer “rótulos” para
determinadas situações que surgiram no decorrer de minha pesquisa, bem como, creio que as
funções estabelecidas por Alan Merriam, etnomusicólogo norte-americano, que servirão de base
para este projeto, permeiem-se, pois, como o próprio autor sugere, as categorias propostas por
ele não são estanques, nem definitivas. O principal ponto de minha pesquisa, portanto, é quais as
funções da música em cinco escolas estaduais de ensino fundamental de Porto Alegre/RS. Pois, a
inserção da música nas várias atividades da escola e os significados que podem decorrer da
interação entre os membros da comunidade constituem a presente pesquisa, pois para os
etnomusicólogos a música é inerente ao ser humano, é parte dele.
11
A Educação Básica abrange a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino
Médio. Isto significa que o Ensino Fundamental compreende desde a 1ª até a 8ª série do ensino,
conforme estabelece a lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu artigo 32 (“O
Ensino Fundamental, com duração mínima de oito anos...”). Quando me refiro às séries iniciais
significa dizer que são as séries de 1ª à 4ª e séries finais se referem às de 5ª à 8ª.
Escolhi as escolas estaduais de Porto Alegre por ser professora da rede estadual de ensino
e assim poder conhecer a realidade onde estou inserida. Porto Alegre é a cidade onde nasci, onde
moro e trabalho, é a capital de um Estado e, por isso, agrega vários tipos e origens de pessoas,
diversidade cultural, racial e étnica, podendo desta forma representar bem a população gaúcha.
Cada escola tem sua realidade própria, pois está inserida num contexto social diferente
das demais, a demanda é específica, os interesses também. A formação continuada dos
professores, sugerida pela SEC/RS varia de instituição para instituição, dando-se ênfase à
problemática do momento. Por isso, as escolas apresentaram funções da música semelhantes em
muitos casos, mas acredito, também, que dependendo do interesse, elas se modificaram. Deve-se
levar em conta que nas escolas públicas os professores das séries finais têm muitas turmas, das
mais variadas formações, tais como turmas com mais ou menos alunos (variando de 20 a 35),
turmas com alunos de classes sociais e econômicas diferentes e idades diversas para uma mesma
série, variando o interesse do aluno e o planejamento do professor.
A escola de ensino fundamental é um local onde se agrupam crianças e jovens a partir dos
seis anos de idade, das mais diferentes etnias e origens, e com uma imensa diversidade cultural.
Esta clientela deverá “ter acesso ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e
reconhecidos como necessários ao exercício da cidadania. [...]”, conforme o PCN/Arte, (1997).
Fiz um levantamento prático das funções da música na escola e o comparei à listagem de
Merriam, podendo ser agregada alguma outra função que porventura não esteja listada. Por
outro lado, algumas categorias podem não ser contempladas e até como sugere o próprio autor,
12
as categorias podem estar permeadas. As funções da música, muitas vezes, interligam-se e
dependem umas das outras para terem uma significação.
Sabe-se que alguns competentes pesquisadores brasileiros [tais como Tourinho (1993),
Freire (1992), Maffioletti (1993)] têm surgido, e, através deles uma série de publicações sobre
música e mídia. Mas a música como objeto de estudo vem ocupando uma posição secundária.
Sobre os efeitos da mídia nos sujeitos sabe-se através destas pesquisas - que inegavelmente nos
são de grande valor – que a música de consumo é amplamente divulgada, suas coreografias, suas
letras confirmadas entre as crianças e adolescentes, e pouca mensagem positiva é transmitida,
bem como a audição e apreciação musical ficam defasadas. Algumas escolas trabalham sobre esta
situação. Mas a música em si, por seu valor e suas funções, ainda não tem sido suficientemente
analisada, nem pesquisada em nosso meio.
É minha intenção apresentar esta pesquisa para poder auxiliar na divulgação das funções
da música, onde sabemos que, pelo já relatado acima, os professores não consigam se preparar
tão bem como gostariam, apelando, muitas vezes, para uma mera repetição de músicas e de tudo
o que a envolve.
Esta pesquisa deverá ser capaz de analisar como a música é utilizada e como ela funciona
dentro da escola, prevendo, por exemplo, a possibilidade de que vários colegas e profissionais da
área da educação possam se apoderar dos dados, produzindo material de fundamental relevância
acadêmica, talvez apresentando várias dimensões possíveis para mesma questão sem saturar o
universo investigado. Para isto, é necessário que este material esteja disposto para todos os
interessados, nas Bibliotecas ou em Bibliotecas Digitais, na Secretaria de Educação do
Estado/RS, nas Escolas e Faculdades, enfim, onde possa suscitar interesse. Basta, para tanto, que
se acredite que esta Dissertação, assim como a pesquisa em geral, foi um processo de construção
social que fiz com persistência e vontade.
13
Por fim, como educadora musical, creio que a finalidade do ensino de música na escola
fundamental é, sobretudo, proporcionar experiências estéticas, desenvolver o gosto pela música e
ampliar o universo musical do educando, além da expressão através da linguagem musical.
Nos capítulos que seguem, primeiramente refiro-me às Perspectivas Teóricas, onde
reporto-me ao principal teórico para a leitura dos dados encontrados na pesquisa, Alan Merriam,
etnomusicólogo norte-americano, que converteu a música em objeto de estudo e teorização
antropológica. Cito, também, outros autores que estudaram este tema, como TOURINHO
(1993), MAFFIOLETTI (1993), FREIRE (1992) e PCN/ARTE (1997).
No capítulo 2 explico a metodologia utilizada, que, de forma qualitativa prevê a aplicação
de questionário, entrevista semi-estruturada e observações com os sujeitos envolvidos. A seleção
das cinco escolas que participaram da pesquisa deu-se de acordo com a localização, em bairro ou
avenida importante da região, por onde passam e convergem muitas pessoas, significando o
contingente populacional daquela parte da cidade. Entrei em contato telefônico com todas as
escolas escolhidas. Chegando aos locais, porém, a prática deu-se de uma maneira não muito
acessível, nem muito fácil. Alguns dos problemas que enfrentei são relatados neste capítulo sob o
subtítulo “Os entraves iniciais”.
Quanto ao terceiro capítulo, intitulado “O que as escolas fazem?” são relatadas as
experiências que presenciei, as entrevistas semi-estruturadas que fiz, as respostas dos
questionários preenchidos, obtendo e relacionando as respostas obtidas com a criação de tabelas
e uma posterior análise.
No capítulo 4, as “Categorizações” encontradas na pesquisa revelam uma unanimidade às
funções emocionais da música, seguida pelas funções de comunicação e de divertimento. Pela
listagem de Merriam, oito das dez categorias foram ratificadas pela pesquisa. Quais são as
confirmações e quais não foram contempladas, estão indicadas e explicadas nesta parte da
14
Dissertação. Assim, no capítulo 5, há uma análise das categorias a partir dos comentários dos
sujeitos envolvidos na presente pesquisa.
Sob o título “Outras funções!”, tem o capítulo 6, que pressupõe a existência de mais duas,
principalmente quanto à educação. São elas, a função escolar da música e função de publicidade
(ou de ‘marketing’) que a escola pode lançar mão, para se divulgar em meio à sua comunidade.
No capítulo 7 há uma “discussão” sobre o tema, envolvendo o que surgiu como dado de
pesquisa, à luz dos teóricos.
E por fim, as “Considerações Finais” resumem toda a pesquisa, referindo-se aos objetivos
iniciais e surgem, a partir daí, novos questionamentos, propondo outras pesquisas na tentativa de
respostas às hipóteses criadas.
15
1. PERSPECTIVAS TEÓRICAS
O referencial teórico para a leitura dos dados encontrados tem como base as categorias
listadas por Alan Merriam (1964) sobre as funções sociais da música. Nesta revisão encontram-se
também outros autores que estudaram este mesmo tema nos contextos nacional e internacional,
tais como Tourinho (1993), Mafioletti (1993) e Freire (1992). Além disso, utilizei os Parâmetros
Curriculares Nacionais de Artes (PCN/ Arte), editado pelo Ministério da Educação, em 1997.
Com o seu livro “The Anthropology of Music”, de 1964, o antropólogo norte-americano
Alan Merriam formulou a “teoria da etnomusicologia”, na qual reforçou a necessidade da
integração dos métodos musicológicos e antropológicos. Música é definida por Merriam como
um meio de interação social, produzida por pessoas para outras pessoas; o fazer musical é um
comportamento aprendido, através do qual sons são organizados, possibilitando uma forma
simbólica de comunicação na inter-relação entre indivíduo e grupo.
Merriam lembra que, no passado, a musicologia concentrava o seu esforço quase que
exclusivamente na investigação de estruturas de som e de configurações musicais, deixando de
lado, o contexto antropológico e cultural. Para entender a música como produto e estrutura
construída seria necessário, de acordo com ele, aprender a entender conceitos culturais, que
16
fossem responsáveis pela produção destas estruturas. Caracterizou, então, a pesquisa
etnomusicológica como o estudo da música na cultura: “the study of music in culture”, isto é, a
música inserida no seu contexto cultural ou a música enquanto cultura.
Merriam foi incansável em seu empenho de converter a música – tanto como sistema
sonoro, produto cultural, processo social e experiência humana -, em objeto de estudo e
teorização antropológicas tão digno e necessário como qualquer outra forma de ação social. A
partir desse autor, têm-se listadas as categorias das funções sociais da música.
Os usos e funções da música representam uma das situações mais importantes quando se
trata do estudo do comportamento humano, não apenas a respeito da música, mas
principalmente pelo seu significado. Nisto, em especial, reside o estudo de Merriam. O
significado de usos e funções, duas expressões utilizadas por ele, são complementares.
Nesta pesquisa, procurarei apontar as funções da música na escola fundamental, isto é,
conhecer a realidade através de uma compreensão mais profunda e da importância deste
fenômeno. As funções dizem respeito às razões do emprego da música e, particularmente o
sentido mais amplo no qual ela está inserida. Segundo o Dicionário Aurélio (1998), funções
referem-se “à ação própria ou natural de um órgão [...] cargo [...], prática ou exercício, serviço [...],
utilidade, serventia, posição, papel”. Para Merriam:
[...] função é a contribuição que uma atividade parcial faz à atividade total da qual faz parte. A
função de uma prática social particular é a contribuição que ela faz à vida social total, como
funcionamento do sistema total. Tal aspecto deduz que um sistema social ... tem um certo tipo de
unidade, que podemos falar a partir de uma unidade funcional. Podemos defini-la como uma
condição na qual todas as partes do sistema social trabalham juntas com um grau suficiente de
harmonia ou consistência interna, isto é, sem produzir conflitos persistentes que não podem ser
solucionados nem regulados. (p. 211)
As funções da música são referentes às razões do emprego da música e às finalidades a
que esse emprego serve. Ou seja, diferentemente de usar a música na Escola, que pode ser apenas
ouvi-la, funções significam qual o papel que a música desempenha dentro da Escola e como pode
ser útil para a vida fora dela.
17
Creio que a música não é entendida apenas a partir de seus elementos estéticos, mas, em
primeiro lugar, como uma forma de comunicação que possui seus próprios códigos. Música é
manifestação de crenças, de identidades e importante em qualquer sociedade em vários
momentos nas vidas das pessoas, nos calendários festivos e religiosos, que se insere nas
manifestações tradicionais, representando também, um produto de altíssimo valor comercial,
quando veiculada pelas mídias. Todos esses aspectos fazem da música um assunto complexo e
rico em possibilidades.
Notei, empiricamente ao longo dos anos, que se os alunos se limitam ao que já conhecem,
não ampliam seus conhecimentos, nem se aproximam do imenso patrimônio musical que a
humanidade construiu e constrói ao longo dos tempos, como a música folclórica, a popular e a
erudita. Esta situação é muito comum ao reproduzirem com exatidão gestos, entonações,
coreografias e músicas que estão na mídia diariamente, muitas vezes os professores nem se
preocupam com o conteúdo ou com a mensagem incluída. Mas, de qualquer forma, o que
importa é saber utilizar a mídia como recurso pedagógico para não ficarmos à mercê
exclusivamente de seus produtos no processo educacional.
A música é vinculada a outras atividades, devendo-se, desta maneira, observá-la dentro do
contexto a que pertence. Como salienta Freire,
Merriam considera música como comportamento humano e parte funcional da cultura humana,
sendo parte integrante de sua totalidade e refletindo a organização da sociedade em que se insere.
Embora considere que o som musical e o resultado de processos de comportamento humano que
são modelados por valores, atitudes e crenças das pessoas de uma cultura particular, Merriam
buscou, através da comparação de diversas sociedades, chegar a funções sociais da música, por ele
consideradas como "universais culturais", ou seja, encontráveis em todas as culturas.(FREIRE,
1992, p. 20)
Assim, Merriam estabelece as funções da música:
FUNÇÃO DE EXPRESSÃO EMOCIONAL expressões de idéias e emoções não reveladas
no discurso comum. São expressões emocionais, de sentimentos que se extravasam através da
música. Exemplos: liberação de idéias e pensamentos não expressáveis de outra maneira; o
18
desabafo de conflitos sociais; a criatividade em si mesma; evocação de estados de tranqüilidade;
nostalgia; sentimentos; patriotismo; exaltação do ego; através de demonstração de virtuosismo ou
em cantos de glória.
FUNÇÃO DE PRAZER ESTÉTICO – trata a questão da estética, tanto do ponto de vista do
criador, como do contemplador. Merriam considera que a música e estética estão associadas na
cultural ocidental e em algumas da oriental, como nos seguintes países, por exemplo: Índia, Japão,
Coréia, Arábia, entre outros. De qualquer forma, investiga-se o prazer, sentimentos e emoções,
bem como o aspecto material, como volume, harmonia, sons...
FUNÇÃO DE DIVERTIMENTO – Em todas as sociedades pesquisadas por Merriam, a
música exerce a função de divertimento, de entretenimento nas diferentes situações, como, por
exemplo, posso citar o carnaval, bailes e festas da comunidade, shows e concertos, festivais de
música, reunindo principalmente jovens de todas as camadas sociais. Deve-se ter em mente que a
forma de entretenimento “puro”, como cantar e tocar algum instrumento, parece ser uma
característica da sociedade ocidental, em outras sociedades, esta função será sempre combinada
com outras, como a de comunicação ou de prazer estético, por exemplo.
FUNÇÃO DE COMUNICAÇÃO – Embora não estejamos certos quanto ao quê, como e para
quem, Merriam diz que a música comunica alguma coisa. Conforme o pesquisador,
A música não é uma linguagem universal, mas sim é formada de acordo com a cultura da qual é
parte. Os textos empregados comunicam diretamente a quem entende tal linguagem em cada
contexto. Eles transmitem emoção [...] para apenas quem entende tal idioma. O fato de que a
música é compartilhada como uma atividade humana por todos os povos pode significar que ela
comunica uma determinada compreensão simplesmente por sua existência. (p. 223) (tradução da
autora)
19
Talvez a comunicação se processe através de significados simbólicos que são tacitamente
aceitos pela comunidade, daí a música comunicar em uma dada comunidade. Considero, também,
que a música tenha sempre esta função, mas expressa de outra forma que não a comunicação
verbal a que estejamos acostumados. Ela comunica através de ritmos, timbres, melodias e outras
formas que a constituem, embora muitas vezes não possamos traduzir tal sentimento em
palavras, daí o fato de ser comunicação musical e não comunicação verbal.
FUNÇÃO DE REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA – é uma representação simbólica de
coisas, idéias e comportamentos, presentes em melodias, ritmos ou letras de música. Simbologia
em música pode ser considerada em quatro níveis, segundo Freire (1992):
significação ou simbolização existente nos textos de canções;
representação simbólica de significados afetivos ou culturais;
representação de outros comportamentos e valores culturais;
simbolismo profundo de considerados princípios universais.
Ainda, Freire acrescenta que a representação simbólica ganha nova característica, quando
representa o mercado capitalista, pelo avanço dos meios de comunicação e um novo tipo de
música: a “descartável”.
FUNÇÃO DE REAÇÃO FÍSICA - são emoções que despertam em determinadas músicas
ocidentais e que talvez nada estimulam indivíduos de outras culturas, ou estes mesmos indivíduos
não sintam nada ao ouvir a música ocidental. Exemplos citados por Merriam: possessão religiosa,
excitação e canalização de comportamento da multidão, encorajamento de reações físicas do
guerreiro e do caçador, estímulo à dança.
20
Também a reação física pode ser moldada por convenções sociais. Maffioletti faz uma
crítica a esta função na escola, pois muitas vezes é usada, para exercitar habilidades motoras “na
crença de que essa atividade pode, devido ao seu dinamismo, garantir as aprendizagens”.(1993, p.
25)
FUNÇÃO DE IMPOR CONFORMIDADE A NORMAS SOCIAIS - como canções usadas
em cerimônias de iniciação, canções cujo texto refletem mecanismos psicológicos individuais e
coletivos e atitudes e valores da cultura, bem como mitos, lendas e história. Músicas para controle
social estão presentes em várias culturas. Esta talvez seja uma das principais funções da música,
segundo o próprio autor.
FUNÇÃO DE VALIDAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E DOS RITUAIS
RELIGIOSOS - Para Merriam esta função deve ser melhor estudada, pois há pouca informação
para se saber até onde a música realmente valida instituições sociais e rituais religiosos. Alguns
exemplos apresentados: preservação da ordem e cerimoniais através de canções, transmissão de
potência mágica através de encantamentos, validação de sistemas religiosos, como no folclore,
recitando mitos e lendas, nas religiões e igrejas que surgem no dia-a-dia, onde a música ou récitas
ritmadas fazem com que os fiéis, muitas vezes entrem em transe e depois acabam se esquecendo
do que fizeram ou sentiram.
FUNÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PARA A CONTINUIDADE E ESTABILIDADE DA
CULTURA - talvez seja uma decorrência ou uma soma de todas as funções, pois Merriam
considera que se a música permite todas as funções anteriores, é claro que contribui para a
continuidade e estabilidade da cultura. Exemplos: veículo da história, mitos e lendas, educação,
21
enculturação de indivíduos (processo pelo qual o homem aprende sua cultura), transmissão de
visões de mundo do grupo, como ser participante de um grupo. Para ele, música é:
[...] uma atividade de expressão de valores, um caminho por onde o coração de uma cultura é
exposto sem os mecanismos de defesa que cercam outras atividades culturais que dividem suas
funções com a música. [...] ela controla o que é certo para a continuidade da cultura. (p. 225)
FUNÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE - os
membros de uma sociedade se congregam, integrando-a e integrando-se através da música. A
música é um ponto de união em torno do qual os membros da sociedade se encontram para
dedicarem-se a atividades que requerem cooperação e coordenação do grupo em ocasiões
marcadas pela reunião das pessoas. Todas as sociedades têm músicas e situações em que de uma
forma ou outra todos participam. Maffioletti afirma que “[...] eventos [...] congregam muitos
alunos. Compartilhar dos mesmos valores, promover sentimentos de harmonia e cooperação
grupais é, neste momento, uma das funções da música a nível escolar”.(1993, p. 26)
Em geral esta listagem abrange as funções da música, resumindo o papel da música na
sociedade, podendo ser estendida e/ou inter-relacionada, conforme o entendimento de cada
sujeito.
Em 1972, com a edição da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, criou-se a área de
Educação Artística, unificando o ensino de artes plásticas, música e teatro. Essa, certamente, foi
uma das grandes causas do atual cenário de abandono do ensino de música nas escolas públicas.
Pois professores generalistas em termos de artes, talvez entendam apenas o suficiente para si (em
termos gerais), contribuindo pouco, portanto para a disciplina. Ou, ainda, cada professor é
especialista em uma determinada área, ensinando o que lhe é mais favorável em termos
pedagógicos. Esta prática disseminou-se de uma forma tal, que até hoje perpetua-se em muitas
22
escolas, tanto particulares como estaduais, sobretudo. Também se tem a questão da visualidade,
tão difundida hoje em dia: sente-se um domínio da cultura visiva sobre a cultura auditiva.
Não se compreende o mundo que não se vê, que se sente; que não se lê, que se escuta.
Esquecemos que a vida faz barulho, faz sons e rumores, como sons do trabalho, sons dos
homens e sons dos animais. Nada de essencial vem sem que o som esteja presente. O mundo – e
a escola tem papel importante – precisa aprender a entender uma sociedade com seus sons.
Com o surgimento de uma nova Lei, a LDB, nº 9394/96, surge a garantia do ensino de
Arte como componente curricular obrigatório da Educação Básica representado por várias
linguagens – música, dança, teatro e artes visuais –, raramente a música é abordada, talvez pela
prática do supra citado, seja pela falta de especialistas da área nas escolas, seja pelo despreparo do
professor ou seja pela ‘desorganização’ que gera no ambiente escolar.
Assim, as aulas de Educação Artística, cujo caráter “menos formal” poderiam possibilitar
uma maior movimentação e interação das crianças em sala de aula, tendem a priorizar os
trabalhos em artes visuais, cujas atividades o aluno acaba tendo de permanecer sentado.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais - ARTE - vol. 6, publicado pelo Ministério da
Educação em 1997, para auxiliar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, propõem as funções
de comunicação, de prazer estético, de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura,
de contribuição para a integração da sociedade e representação simbólica.
Os estudantes gostam e admiram música tanto quanto os professores, mas, se eles não
ampliarem os universos de referência, nem se aproximarem do patrimônio musical que a
humanidade construiu e constrói, como já citado, através de música folclórica, popular e erudita,
“vivenciando um processo de expressão individual ou grupal, dentro e fora da escola” (PCN,
1997, pg.78), a função de comunicação não se concretizará plenamente. Construindo sua
competência artística nessa linguagem, sabendo comunicar-se e expressar-se musicalmente, o
aluno poderá desenvolver o poético, a dimensão sensível que a música traz ao ser humano,
através da fantasia, da imaginação e da criação.
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A estética questiona sobre o belo, o feio, o gosto, os estilos, a criação e a percepção
artística. No senso comum, estética é entendida como sinônimo de beleza. Experimenta-se,
diariamente, uma série de apelos à estética. Na maior parte das vezes, as pessoas não percebem
isto, limitam-se ao “Gostei! Não gostei!” Viver uma experiência estética vai além: implica em
acionar os sentidos quase que involuntariamente; em seguida, o objeto artístico poderá ser visto
de uma outra forma. Mas a Estética não se restringe apenas ao “Belo” do imaginário popular. De
acordo com Hutchenson (1694/1764, apud ALMEIDA, 1990, p. 35),a Beleza reina onde quer
que a percepção aprenda coisas agradáveis”, dizendo-nos que a Estética é intelectiva e sensitiva.
Complementa-se a esta idéia o filósofo Schiller (Hutchenson op.cit.apud ALMEIDA), que “via
no ser humano, além do impulso natural ligado à matéria e do impulso superior ligado ao
pensamento, um outro ligado à criação – o impulso lúdico”. Para Meira (1999, p. 127), em seu
artigo “Educação estética, arte e cultura do cotidiano”, a Estética “[...] é que sustenta o jogo das
aparências, os usos e costumes, as paixões, os afetos, o desejo coletivo”.
Viver uma experiência estética é entrar no mundo da obra de arte, é ficar disponível para
a conversa, é deixar aparecerem os seus sentidos. A vivência de uma experiência estética permite
o processo de conhecimento através das relações que começaM a se estabelecer a partir da
percepção das qualidades dos sons, dos ritmos, das texturas, da melodia e das significações que
ela nos traz.
Como funções de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura, bem como
de representação simbólica, a música, como arte, oferece-se aos sentidos, à audição. Mas ela é,
também, um dado de cultura, uma visão de mundo de diferentes criadores, que têm uma
linguagem própria e que, apesar de diferente, influencia a própria linguagem verbal. Portanto, a
música é uma interpretação simbólica do mundo, a organização de uma forma que transformou o
que foi vivido por alguém em objeto de conhecimento, como “traduções simbólicas de realidades
interiores e emocionais por meio da música”. (PCN/Arte, p. 79)
24
Ainda com base no PCN de Artes, a música é tratada como “produto cultural e histórico”
e acrescentaria ainda, é um produto social. É um produto cultural/histórico porque fala de
“movimentos musicais e obras de diferentes épocas e culturas, associados a outras linguagens
artísticas no contexto histórico, social e geográfico, observados na sua diversidade.” Trata,
também, de “músicos como agentes sociais: vidas, épocas e produções”, por isso, a inclusão do
termo produto social, devido à importância dada à música “na sociedade e na vida dos
indivíduos”. (p. 80/81).
[...] a escola pode contribuir para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores
talentosos ou músicos profissionais [...] para uma apreciação rica e ampla onde o aluno
aprenda a valorizar os momentos importantes em que a música se inscreve no tempo e na
história.(PCN/Arte p. 77)
Assim, a música é uma da formas artísticas que relaciona o homem com a sociedade. Para
Blacking (1976, apud GROSSI, 1990), a música
[...] é uma síntese dos processos cognitivos que estão presentes na cultura e nos seres
humanos: a forma que ela toma e os efeitos dela sobre as pessoas são produtos de
experiências sociais.(p. 50)
É importante que os alunos compreendam o sentido do fazer artístico. Ou seja, entendam
que suas experiências de desenhar, cantar, dançar, filmar, gravar ou dramatizar são atividades que
não deveriam ser justificadas, em função da “seriedade” das outras áreas, mas representam uma
produção específica. Segundo Lazzarin (2005, p 14), “a música, por não pertencer à
instrumentalidade das áreas técnicas (como, por exemplo, matemática e português), precisa se
justificar a cada momento”. Sabe-se que, ao fazer e conhecer arte, os estudantes percorrem
trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos diversos sobre sua relação com o
mundo. Além disso, desenvolvem potencialidades importantes para a vida adulta, tais como
percepção, observação, imaginação e sensibilidade. Esses são valores que podem contribuir tanto
para a consciência de seu lugar no mundo como para a compreensão de conteúdos das demais
25
disciplinas do currículo. A música deve desempenha, o papel de desenvolver a cultura musical do
aluno.
Estas atitudes implicam valorizar a cultura local e global, além de estabelecer relações
entre a música que é realizada na escola e a que é consumida via mídia. Estas atividades
permitirão “discutir” e “refletir” sobre as preferências musicais e as influências do contexto
sócio-cultural sobre o gosto individual.
Para Maffioletti (1993),
[...] a música não se constitui um valor na educação, pelo simples fato de colocar a criança
em contato com o mundo sonoro. [...] as significações como possibilidade de assimilação
da música enquanto objeto social é que dão sentido às experiências musicais no contexto
escolar. (p. 21/22)
Esta é uma situação que pode acontecer, e, acredito, com certa freqüência, fazer com que
a música seja entregue à criança de qualquer forma, sem estabelecer relações e compreensão.
Segundo a autora, as funções sociais da música na escola são as de Expressão Emocional, Reação
Física (na crença que esta função é usada na escola como exercício para habilidades motoras,
garantindo, assim as aprendizagens dela decorrentes, como já explicitadas acima), Validação das
Instituições sociais, quando imprime valores e orienta rotinas. Em todas as Festas Escolares, por
exemplo, a música se faz presente. Nestes momentos surge a função de Contribuição para a
Integração Social, pois toda a comunidade escolar parece “compartilhar dos mesmos valores,
promover sentimentos de harmonia e cooperação grupais” (Maffiolletii, 1993/p.26). Sem
esquecer, naturalmente, a Função de Divertimento que a música traz à escola. Sobre esta função,
alerta Maffiolleti sobre as músicas descartáveis e ao valor dado à mídia e pela mídia.
Não podemos perder de vista que estamos trabalhando com seres humanos e com
sensibilidades artísticas e que a excelência não é limitá-los ou “treiná-los” em prol de alguma
função que nos pareça mais importante ou que apareça mais aos olhos de quem possa observar.
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É dentro de cada indivíduo que se cria e se constrói a importância de cada função da música. À
escola cabe divulgar e trabalhar as funções sociais da música, pela própria música.
Vanda Freire, em sua tese de Doutorado, republicada em livro sob o título Música e
Sociedade, uma perspectiva histórica e uma reflexão aplicada ao ensino superior de música
(1993), estabelece um questionamento sobre o objeto dos cursos de música, a partir de suas
funções sociais, para poder esboçar novas propostas e novas diretrizes ao conteúdo, currículos e
programas da Escola de Música da UERJ. Diz que cabe à Universidade a busca de um ensino
superior de qualidade voltado para uma significação social, para que os egressos de seus cursos
tenham uma maior visibilidade das funções da música e do educador musical como um todo. A
Universidade precisa “ouvir” mais seu público e prepará-los de acordo com a realidade onde está
inserida, para também cumprir com seu papel social e educacional quando seus alunos entrarem
no mercado de trabalho, muitos deles, justamente no Ensino Fundamental.
Investigar como, quando e porque as atividades musicais na escola podem ser
consideradas educativas, relacionando-se à música como objeto de estudo é uma das
preocupações de Tourinho em seu texto “Usos e funções da Música na escola pública de 1º grau”
(1993). A autora diz que o ensino da música na escola pode estar inserido em várias funções e
pode ser diversamente interpretada. As funções estariam interligadas, assim como menciona
Merriam, pois uma função isoladamente pode não definir “todo o sentido de uma
ação”.(Tourinho, 1993, p. 92)
Além disso, Tourinho cita o fazer musical na Escola Pública de 1º grau através de
execução, criação e audição (atividade de “descrição” como a autora menciona – p. 92).
Preocupa-se com porque estas atividades podem ser consideradas educativas, e como se
relacionam ou se inter-relacionam com outras disciplinas.
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2. METODOLOGIA DE PESQUISA
É muito importante para o investigador fazer algo que tenha valor, que seja lido e aceito,
que ele mesmo se torne um crítico, não somente de sua pesquisa, mas de suas ações como
investigador, como professor. Não devemos esquecer que, como professores, estamos atuando
dentro de locais reais, com situações concretas. As situações que ali surgem sempre deverão ser
respeitadas por nós, e devemos ter, sobretudo a capacidade de ver o que nos interessa, julgando
através de coerência, intuição e utilidade instrumental.
A nossa busca é influenciada pelos instrumentos que temos e que conhecemos. Ao
realizarmos uma investigação, segundo Eisner (1998), esperamos chegar a generalizações úteis
para explicar como elas funcionam. Neste ponto reside minha pesquisa, conseguir informações
úteis a ponto de formular um resultado que explique os itens do problema desta pesquisa: quais
as funções da música no ensino fundamental.
28
A metodologia de pesquisa é qualitativa, utilizando a participação e a observação dos
sujeitos envolvidos nela. A participação dos sujeitos deu-se através de questionários dirigidos às
direções das escolas e aos professores que desejaram participar, desde que utilizassem música em
suas atividades docentes. Também fiz entrevistas semi-estruturadas, sem gravação, para deixá-los
mais à vontade para responderem e assim a conversa fluir mais naturalmente.
Para Carvalho (2002), entende-se por observação quando se utilizam os sentidos na
obtenção de dados de determinados aspectos da realidade. A observação feita por mim foi a
observação sistemática, que tem planejamento, realiza-se em condições controladas para
responder aos propósitos preestabelecidos.
A entrevista é a obtenção de informações de um sujeito, sobre determinado assunto. Ela
pode ser padronizada ou estruturada, quando existe um roteiro previamente estabelecido, e semi-
estruturada, que não existe rigidez no roteiro, conforme ensinam Bogdan & Biklen (1994).
Podem-se explorar mais amplamente algumas questões, ou seja, admitem inclusões e desvios
feitos pelo pesquisador no momento de sua aplicação. Uma entrevista semi-estruturada tem um
roteiro básico elaborado segundo as categorias pesquisadas, mas podem sofrer acréscimos na
hora, baseados nos rumos que toma a entrevista e em decisões do pesquisador. Optei por esta
última.
O questionário é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito
pelo informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar acompanhado de
instruções. Estas devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da
colaboração do informante e facilitar o preenchimento.
Uma das dificuldades para quem utiliza métodos qualitativos de investigação e
desenvolvimento concerne a questões sobre a análise de seu trabalho. Os pesquisadores
qualitativos geralmente tentam que suas descobertas se tornem verídicas (até mesmo porque
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alguns pretendem que se tornem teorias - sendo construída a partir do diálogo com os dados,
surgindo a partir da análise e interpretação dos mesmos).
Mas, segundo Eisner (1998), devemos estar satisfeitos com uma versão entre o que
sabemos e o que acontece, aceitando juízos e interpretações, pois não estamos seguros de termos
encontrado a verdade. Quando isto ocorre, devemos ter bases sólidas em que nos apoiar. Estas
bases vêm da interpretação direta de entrevistas, das análises de materiais utilizados, livros,
projetos e informações quantitativas. Desta forma, dando credibilidade à pesquisa o crítico pode
aludir às múltiplas fontes de dados, garantindo maior confiabilidade a suas interpretações e
valorações.
Para BOGDAN e BIKLEN (1994, p 72):
[...] a pesquisa qualitativa caracteriza-se pela obtenção de dados através da inserção direta do
investigador no meio pesquisado; pelo uso de descrições, que permitem a análise dos dados em
profundidade, em toda a sua riqueza, preservando-se o seu caráter situacional; pelo interesse maior
pelo processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos; pela tendência de analisar os
dados de forma indutiva, sem partir de hipóteses pré-estabelecidas, sendo as abstrações
construídas à
medida que os dados vão sendo analisados; pela importância vital ao significado,
buscando-se a compreensão das perspectivas dos participantes da pesquisa.
Esse enfoque foi considerado adequado para o presente estudo, tendo em vista que é meu
objetivo investigar as funções da música no ensino fundamental.
O principal objetivo de minha pesquisa “Quais as funções da música no Ensino
Fundamental?” é enquadrá-la naquilo que Eisner se refere à adequação, isto é, quando os leitores,
segundo este teórico, são capazes de ver o que estariam perdendo sem aquelas observações.
Assim, espero que minha pesquisa colabore para que a música talvez passe a ter maior
importância.
Todo o material foi confiado a mim, dentro de políticas éticas que não limitaram meu
fazer, mas que tornaram menos expostos os sujeitos, garantindo um trabalho realizável dentro da
proposta, principalmente para a sociedade e para a educação. Portanto, assegurei aos
respondentes, sempre, a confidencialidade dos dados e dos resultados, enquanto dados
individuais ou mesmo coletivos.
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2.1. A SELEÇÃO DAS ESCOLAS
O objetivo é pesquisar as funções da música no ensino fundamental, nas escolas estaduais
de Porto Alegre. As escolas que contêm somente o ensino fundamental na rede estadual de
ensino na capital (sem o ensino médio ou EJA – educação de jovem e adulto) são 122 (cento e
vinte e duas). Com a direção da escola onde leciono, consegui uma lista atualizada dos colégios,
como nome, endereço e telefone.
A pesquisa estava prevista para uma escola de cada região de Porto Alegre (uma escola da
Zona Sul, uma da Zona Leste, uma da Zona Norte, uma da Área Central e uma das Ilhas).
O critério de escolha foi a localização, em bairro ou avenida importante da região, por
onde passam e convergem muitas pessoas, significando o contingente populacional daquela parte
da cidade. Entrei em contato telefônico com todas as escolas escolhidas. No contato telefônico,
a princípio, me receberam bem, e se colocaram à disposição para a pesquisa. Chegando às
escolas, conforme agendamento, a prática se desenvolveu de uma forma não muito acessível,
disponível e prazerosa (posteriormente explanado). Visitei treze (13) escolas para poder ser
recebida por cinco (5). A idéia inicial, de uma escola de cada região, ficou impossibilitada, mas, de
qualquer forma, pesquisei nas cinco (5) escolas, conforme o previsto.
As escolas ficaram distribuídas da seguinte forma:
uma da área central (escola A)
duas da zona sul (escolas B e G).
uma na zona leste (escola C)
uma na zona norte (escola H)
31
Cada escola participante recebeu dois tipos de questionário, um para a direção responder
e outro para o professor que desejasse participar, desde que utilizasse música em suas atividades.
(anexos 1 e 2)
2.2. OS ENTRAVES INICIAIS...
Minha pesquisa de campo iniciou-se em agosto de 2005, quando entrei em contato
telefônico com direções das escolas. Explicando o que pretendia, marquei horário para ser
recebida e poder explanar com mais tranqüilidade sobre a metodologia e os objetivos. Chegando
aos locais, porém, a prática se deu de uma outra maneira, não muito acessível, nem muito fácil.
Alguns dos problemas que enfrentei foram os seguintes, que considero importante relatar:
As direções das escolas nunca me receberam diretamente, sempre passaram-me para
conversar com as supervisoras;
As supervisoras nunca me deixaram conversar diretamente com os professores, nem em
reuniões pedagógicas, onde eu poderia expor o meu projeto, nem na hora do recreio ou
nos períodos vagos dos mesmos;
Elas (as supervisoras) recolheram os questionários e o preenchimento destes, quando se
deu, não foi de forma presencial, como eu previra no meu projeto original;
Após a devolução dos questionários, por parte das escolas para mim, (sempre após a data
marcada), as supervisoras colocaram-se à minha disposição, mas sem que eu pudesse
conversar com os professores ou assistir aula ou qualquer outra atividade relativa à
música no local (com exceção de duas escolas, que coloquei como escola A e escola G).
A escola A quando me recebeu pela primeira vez, também não pareceu muito
compreensiva nem receptiva, pois não me deixou conversar com nenhum professor nem
32
aluno. Contudo, convidou-me para uma festividade, na qual indo, me entrosei com as
professoras e de certa forma com a comunidade escolar.
A disposição, dita pelas professoras supervisoras, foi apenas ‘pro forma’, não era real, como
pude constatar na prática; pois, toda vez que eu marquei horário para conversar com elas,
nunca fui recebida, fiquei esperando, porque:
o a professora havia saído e não retornaria mais, ou
o ela estava atrasada, ou
o estava dando aula, ou
o estava atendendo outra pessoa (pai, mãe ou responsável por algum aluno), ou
o por qualquer outro motivo, não poderia me receber, mesmo o encontro tendo
sido agendado anteriormente;
Com exceção de uma única escola que a professora supervisora sempre estava lá no
horário combinado (escola B), mas de qualquer maneira, não me deixava ir além de sua
sala;
A Supervisora da escola A, que me recebeu e abriu as portas da escola para que eu
assistisse uma festividade, quase nunca estava disponível ou presente. Porém, consegui
conversar com alguns professores, falar com alunos, observar festividades e atividades.
A escola C perdeu os questionários, e eu tive de fazer novamente cópias dos mesmos e
entregar-lhes. Mesmo assim, a escola C não preencheu o questionário relativo à Direção
da escola. A supervisora preencheu o questionário dos professores e somente fui recebida
por ela uma única vez. Todas as vezes que eu retornei à escola C, falei com outras
pessoas: Diretora, Vice-Diretora, que sabiam do assunto, mas não se achavam em
condições de conversar sobre ele comigo, mandando-me retornar novamente em um
outro horário.
As escolas D e E não devolveram os questionários preenchidos, nem me receberam mais.
Simplesmente “nunca estavam presentes na escola”. Também não fui mais lá. Desisti, inclusive,
33
de ir a outros estabelecimentos, porque não se interessaram em participar da pesquisa,
como as escolas I, J, K, L e M.
Outro fato relevante foi sobre a escola F. Esta nem sequer me recebeu dentro de seu
ambiente. A pessoa que abriu a grade da janela da recepção me perguntou o que eu
queria, e quando ficou sabendo, disse que a escola não havia interesse em participar, que
os alunos tinham muitas provas e que os professores estavam muito atarefados. A
Direção deveria ir ao banco naquele momento e a Supervisora estava esperando pais de
alunos para uma reunião. Ela em seguida fechou a janela. Como eu estava na rua, na rua
continuei, insistindo com o encontro, pois como sempre, o havia agendado
anteriormente. Esta escola é toda gradeada, frente, corredores do pátio, janelas, portas.
Tem apenas um caminho, também ladeado por grades para poder se entrar nela. Então, o
visitante toca à campainha, uma portinhola (com grade) é aberta, e a funcionária recebe a
pessoa ali, determinando quem pode ou não entrar no ambiente escolar. Enquanto isto,
espera-se e conversa-se na rua;
A escola G recebeu-me bem, onde pude conversar com os professores e observar o
recreio. Devolveram-me os questionários, mas sempre com atraso, como fizeram as
outras escolas;
A supervisora da escola H preencheu um questionário e riscou o cabeçalho de todos os
demais que lá deixei. Riscou, inclusive o que ela respondeu, para que ficasse totalmente
anônimo, sem nenhuma possível identificação.
Todo este procedimento levou o 2º semestre de 2005. As aulas encerraram-se
aproximadamente dia 20 de dezembro de 2005 e reiniciaram dia 01 de março de 2006. Para eu
retornar às escolas, somente autorizaram-me em torno do dia 20 de março, pois o ano letivo
estava começando e não poderia haver interrupção logo no início das atividades.
34
Assim, à letra fria da redação, parece que tudo transcorreu normalmente, sem frustrações
por parte da pesquisadora, sem expectativas de cumprimento da pesquisa, os custos financeiros
extrapolando a previsão, vendo o tempo para a realização de coleta de dados passar e
concordando, cada vez mais, com o compositor e cantor Cazuza, quando dizia que “o tempo não
pára”.
Esta situação negativa por parte das Escolas, fez-me pensar que as mesmas têm receio de
um visitante, mesmo que seja uma pesquisadora isenta de qualquer juízo de avaliação. Parece-me
que não quiseram se expor ante uma pesquisadora de Mestrado da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e colega da rede estadual de ensino, pois se negaram a colaborar com algo que
poderá beneficiar a todos, envolvidos diretamente ou não.
Às escolas - como um todo -, aos professores, aos alunos e comunidade em geral, foi-lhes
negado uma oportunidade de compartilhar o conhecimento, a pesquisa, a interação e o
envolvimento que a música pode oferecer. Porém, estas situações não são os objetivos iniciais de
minha pesquisa, não cabendo, aqui, uma análise.
35
3. O QUE AS ESCOLAS FAZEM?
Neste capítulo serão relatadas as experiências que pude presenciar, as entrevistas semi-
estruturadas que fiz, as respostas dos questionários preenchidos.
As Escolas A e G fazem um trabalho com música no período escolar e extraclasse, ou
seja, fora do horário normal da aula, ou em turno inverso. Os turnos destas escolas são manhã e
tarde, então, após o encerramento, às 18 horas, os alunos da Escola A, que assim desejarem, se
reúnem para cantar no Coral, ou para participar da Capoeira ou do “Bate-Lata”. No turno da
manhã, os alunos das séries iniciais podem participar de uma Oficina de Música. Nas aulas de
Educação Física das 5ªs e 6ªs séries, forma-se um Grupo de Dança, denominado “Pérola Negra”,
onde as meninas que querem, ensaiam as coreografias. A Escola G tem um grupo de dança,
denominado “Splash”, organizado pelas professoras de História e de Educação Artística e
ensaiam no próprio turno ou em turno inverso e aula de capoeira, atividade extraclasse.
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CORAL
É formado por alunos das séries iniciais da manhã e da tarde, da escola A, e regido
por uma professora, que tem formação musical (anexo 7). É fora do horário da aula e de
participação gratuita, inclusive para a professora, que trabalha como voluntária. Os alunos
apresentam-se em todas as atividades da escola e, eventualmente, são convidados por outras
instituições para cantarem. O repertório é composto de músicas infantis e folclóricas, na sua
maioria. O Coral participou da gravação do CD “a corda criança”.
CAPOEIRA
Os alunos da escola A e G, em horário e atividade extraclasse, reúnem-se uma
vez por semana para participarem da capoeira, onde em grupo, cantam as músicas relativas à
atividade e tocam instrumentos de percussão, como o berimbau e o agogô, por exemplo. Os
professores de capoeira da escola A cantam músicas do Mestre Limão e da Capoeira da Angola,
que influenciam a capoeira do Nordeste do Brasil. O professor de capoeira da escola G canta
músicas comuns a todos, sendo as mais conhecidas do estilo de “Marinheiro Só”. Ambos
apresentam-se com seus grupos nas atividades das Escolas, fazendo o “Batizado de Capoeira”
para a comunidade.
Batizado de Capoeira” é uma celebração que tem como objetivo principal a apresentação e
introdução dos “novos capoeiras” no meio capoeirístico. Representa o momento em que os
praticantes recebem a sua primeira graduação pelo grupo. O capoeirista é batizado apenas uma
vez, nas vezes seguintes, eles apenas troca sua graduação. (
www.maniadegingar.com.br)
BATE-LATA – A escola A tem um projeto denominado “Consciência Negra” e dentro das
atividades desenvolvidas existe o “bate-lata”, ou seja, um conjunto formado por alunos das séries
finais, que tocam ritmos afro, como afoxé, batuque e axé, em latas vazias e decoradas, de vários
tamanhos, que originalmente continham tinta, cera, alimento, formando um conjunto de
percussão. É um grupo permanente da escola e ensaiam em horário extraclasse. É disposto pela
professora de História, que é a organizadora do referido projeto, apresentando-se em eventos da
escola.
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OFICINA DE MÚSICA – Uma professora das séries iniciais da Escola A, quando tem
estagiária de um semestre, organiza uma oficina de música para os alunos do turno inverso. Ela
fica “sem turma” e para cumprir sua “carga horária”, ministra tal oficina, que inclui cantos,
ritmos, e “noções elementares de música”. A professora tem formação musical.
GRUPOS DE DANÇA – As Escolas A e G mantêm Grupos de Dança. Na Escola A, faz parte
do projeto de “Consciência Negra”, e é desenvolvido nas aulas das 5ªs e 6ªs séries, nas aulas de
Educação Física, para as meninas que desejarem e o grupo é denominado “Pérola Negra”,
dançando músicas com ritmos de origem afro-brasileiros e apresenta-se em atividades da Escola.
Na Escola G, o grupo de dança, denominado “Splash” (anexo 8) é organizado pelas professoras
de História e de Educação Artística, mas é coreografado pelos próprios alunos, dentro da
proposta oferecida pelas professoras. Isto varia conforme as datas das apresentações: Dia das
Mães, Consciência Negra e Festa de Natal. É um grupo composto por dez meninas e um menino.
Apresenta-se em atividades da Escola e eventualmente o grupo é convidado a dançar em outras
instituições. Os ensaios ocorrem no horário das aulas, com a permissão de todas as outras
professoras e/ou no turno inverso.
38
3.1. AS RESPOSTAS
Além das observações acima relatadas, fiz o levantamento das respostas dos questionários
das cinco (5) Escolas que participaram da pesquisa. As perguntas foram por mim reduzidas, para
facilitar, preliminarmente a leitura, e para posteriormente ser feita a análise das respostas.
Abrangem todas as respostas dadas. Algumas, coincidentemente são repetidas, embora com
sujeitos e locais distintos.
À guiza de informação, todos os respondentes foram do sexo feminino. Cada escola
participante tem 750 (setecentos e cinqüenta) alunos e 35 (trinta e cinco) professores. Todas elas
têm uma direção geral, duas vice-direções e uma supervisora, entre outros setores. Deste
universo, o universo presumível de sujeitos é de três mil e oitocentos e cinqüenta (3.850) alunos
e cento e setenta e cinco (175) entre supervisoras e professoras, tem-se 17 sujeitos que
responderam aos questionários (porém, a todas as profissionais da educação que participaram da
pesquisa, atribui-lhes o substantivo ‘professora’, independentemente de sua formação ou cargo).
Todas as respostas relacionadas são de professoras que trabalham com música em suas atividades
pedagógicas, mesmo sem formação musical.
Nas tabelas abaixo, tem-se referência a todas as respostas obtidas com os questionários.
Sendo os questionários um pouco diferentes entre si, pois um foi feito para as direções da escola
e outro para os professores, a numeração das perguntas modifica-se um pouco. Portanto, quando
as perguntas referirem-se às direções, a identificação será através da sigla QD (questionário da
direção) Quando as perguntas foram feitas aos professores, a identificação será QP (questionário
dos professores).
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TABELA 1
RESPOSTAS À PERGUNTA 1 (QD/QP):
DE QUE FORMA A MÚSICA É UTILIZADA NA ESCOLA OU SALA DE
AULA?
- para complementação de estudos
- para alfabetizar
- para sociabilizar e socializar
- em coral das crianças
- para confraternizar
- no recreio
- pela data
- pela letra, mensagem, ler e interpretar
- para criar letras em músicas já existentes, principalmente sobre o preconceito racial
- em filmes musicais
- para recreação
- em grupo de dança
- em festas e eventos
- como forma integrante da aula
- para tranqüilizar, relaxar e acalmar as crianças
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TABELA 2
RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS 2 E 3 (QP):
POR QUE A MÚSICA É UTILIZADA POR VOCÊ?
para ilustrar a aula
para perceber sons e ritmos
porque a música é uma forma de sociabilizar as crianças
para conhecer outra linguagem
porque faz parte de um projeto ou quando é para uma apresentação e os alunos se envolvem mais
para cantar em grupo, porque a “música é agradável e faz bem para a alma
para integração e incentivar o hábito de escutar, meditar e usar o silêncio
porque através da música as crianças ficam mais calmas e demonstram maior interesse
dentro da História, para comparar períodos, épocas. Exemplo: a ditadura militar do Brasil
trabalhar com mais interesse
para descontrair
integrar o aluno negro na sociedade
para tornar a aula mais tranqüila e agradável
porque ouvindo, dá mais reflexão sobre o fato histórico
porque a música é informativa
porque quando um fato lembra a letra de alguma música cantamos em cumplicidade (quase diariamente)
às vezes, os alunos fazem trabalhos práticos ou de desenhos quando o assunto tratado tem em comum com a música, por
exemplo, na aula de Geografia ouvem ‘Terra, Planeta Água’
para tirar algum proveito do conteúdo trabalhado
uso a música somente em datas festivas
porque a música atende e alcança mais rápido o interesse do aluno
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TABELA 3
RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS 2 (QD) E 4 (QP):
QUE MÚSICAS FAZEM PARTE DO REPERTÓRIO PARA SEREM OUVIDAS
OU TRABALHADAS?
Finalidade Exemplos de músicas
Ouvidas as que os alunos trazem (todas professoras responderam assim)
por causa das letras, com mensagens;
para tranqüilizar
a música é escolhida de acordo com o que vai ser apresentado ou estudado
são variadas - MPB, Clássica, Rock, Folclórica, Músicas Infantis, Roberto
Carlos, Titãs, Legião Urbana, RAP, sons da natureza, sons de água, pássaros
além das músicas alusivas a datas comemorativas e conteúdos, as mais trabalhadas são as
de comerciais de TV, rimas engraçadas e músicas atuais que tocam no rádio
Trabalhadas
a música é escolhida de acordo com um determinado
tema
,
e é
decorada e ensaiada várias vezes” (a respondente sublinhou)
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TABELA 4
RESPOSTAS À PERGUNTA Nº 3 (QD):
A MÚSICA É UTILIZADA EM MOMENTOS ESPECÍFICOS? QUAIS?
Comemorações Cívicas
Dia das Mães
Dia dos Pais
Festa Junina
Dia do Gaúcho ou 20 de setembro
Dia da Criança
Festa de Halloween
Dia de Ação de Graças
Formaturas
Festa de Natal
Quando a escola está envolvida em algum projeto
RESPOSTAS À PERGUNTA Nº 4 (QD):
OS ALUNOS OUVEM MÚSICA NO RECREIO? QUAIS?
Estas respostas foram variadas, incluindo o não (em duas escolas); às vezes (incluindo
uma escola); sim (incluindo uma escola) e uma resposta foi que no próximo ano serão
colocadas caixas de som no pátio para desenvolver este projeto.
Como as músicas são escolhidas pelos alunos em grupos que se alternam, os gêneros
mais ouvidos são Rock, Funk, Pagode, Pop. Hip Hop, Rap.
43
RESPOSTA À PERGUNTA Nº 5 (QD):
QUEM SUGERE AS MÚSICAS DO RECREIO?
Nas escolas (A e G) que utilizam a música no recreio, quem sugere são os alunos.
TABELA 5
RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS Nº 10 (QD) E Nº 5 (QP):
VOCÊ ACREDITA QUE A MÚSICA É UM ELEMENTO OU FATOR
IMPORTANTE NA EDUCAÇÃO DOS ALUNOS? POR QUÊ?
“os alunos aprendem com tanta facilidade que sempre sonhei em transformar os conteúdos em
música, mas não consegui em todos”
“porque eles aprendem mais, prestam mais atenção aos sons e conhecem algo diferente do que já
sabem”
“porque as letras ensinam coisas que não conseguimos e a letra entra na cabeça deles”
“música é lazer e interação, os alunos se comunicam, interagem, fazem amizade. Mas veja, na
realidade o aluno que faz música - Arte em geral - é uma pessoa diferenciada, ele é diferente. Ele
compreende as coisas de outra forma”.
“sim, porque com ela se pode atingir objetivos com mais eficácia do que normalmente se atinge“
“o aluno presta mais atenção, aprende com letras, ilustra o que é ensinado”
“talvez seja, porém, nem os alunos, nem eu como educadora, temos o gosto pela música (em sua
essência). Pois os alunos conhecem e gostam de determinados estilos de música”
“sim, ajuda a desenvolver o raciocínio, a concentração, o silêncio, a memória, tudo, enfim”
“é importante porque dá prazer e nos sentimos mais unidos”
“importante, porque acalma, desenvolve a atenção, o ritmo, a coordenação, disciplina, todos
gostam de cantar, é uma forma prazerosa de aprender”
“sim, porque dependendo do tipo de música, acalma e dependendo da letra, traz mensagens
positivas onde o aluno se inspira para sua vida”
“sim, dá uma dimensão que atravessa vários campos, abrange a cultura geral”
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TABELA 6
RESPOSTAS À PERGUNTA 6 (QP):
QUAIS FUNÇÕES QUE A MÚSICA DESEMPENHA NA SALA DE AULA OU
NA ESCOLA?
auxiliar no conhecimento
facilidade de comunicação
desinibição
musicoterapia
para dar “asas à imaginação
para alegrar, unir
entendimento
atenção
auto-estima
simplesmente para escutar
a música traz um estado de espírito de tranqüilidade e consegue nos levar através do raciocínio a viagens longas.
Nos traz suavidade, leveza e é um hábito maravilhoso, consegue fazer com que o indivíduo fique em alto astral
(zen)
eu uso a música na sala de aula quando é preciso trabalhar algo específico
preparar o ouvido para a percepção de entonações diferentes das sílabas das palavras
eu trabalho com música porque ela auxilia no enfoque de alguns conhecimentos que podem ser desenvolvidos
RESPOSTAS À PERGUNTA 6/QD:
A ESCOLA POSSUI INSTRUMENTOS MUSICAIS? QUAIS?
Nenhuma escola possui instrumentos musicais, mas os alunos quando querem ou precisam,
levam os seus.
RESPOSTAS À PERGUNTA 9/QD:
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EXISTEM GRUPOS QUE UTILIZAM A MÚSICA DE FORMA
PERMANENTE NA ESCOLA? QUAIS E COMO FUNCIONA?
Todos os respondentes riscaram o local para a resposta.
Uma professora, no questionário, indicou nos espaços reservados às observações, o
seguinte comentário, referindo-se a este tema: “não existem grupos que utilizam a música de
forma permanente aqui na escola, mas bem que precisava”. Perguntando-lhe por quê, respondeu-
me que “não sei bem porque, mas seria como um grupo para se apresentar nas festividades e fora
da escola, como uma banda, por exemplo, ou um coral”.(professora 8)
Os professores quando necessário, bem como os alunos, levam, às vezes, material para a
escola.
TABELA 7
RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS 7 E 8 (QP):
OS ALUNOS E OS PROFESSORES TRAZEM...:
Professores: Alunos:
- aparelho de cd player;
- fitas de vídeo ou dvd com assuntos referentes
à música;
- aparelhos de cd player;
- instrumentos musicais;
- fitas de vídeo ou dvd com assuntos referentes
à música;
Além das pessoas levarem seus materiais quando necessário, as escolas também possuem
alguns recursos, tais como os identificados na tabela abaixo.
46
TABELA 8
RESPOSTAS À PERGUNTA 11/QD:
TODAS AS ESCOLAS POSSUEM...:
aparelho de som com cd player aparelho de som sem cd player
cds variados televisão
aparelho vídeo vhs
rádio
aparelho de dvd
caixa de som nas salas de aula e outros
ambientes escolares, como biblioteca,
secretaria, corredores e pátio
Estes materiais, pertencentes às escolas, são comprados pelas direções, com dinheiro
provenientes de rifas e/ou de festas, ou de doações de pessoas da comunidade escolar e
eventualmente são doações governamentais. Uma única escola (G) tem caixas de som nas salas de
aula, nos corredores e no pátio, decorrente de uma vontade do grupo de professores, de alguns
anos atrás, que solicitou à direção da escola na época para que os alunos escutassem música
ambiente durante os períodos de aulas. Porém a experiência não deu certo. A intensidade do som
atrapalhava as explicações das professoras, os alunos falavam mais alto que o som emitido, e as
músicas eram reclamadas por todos: alunos e professoras, que desejavam um repertório mais
atualizado.
Material específico contendo assuntos referentes à música, nenhuma escola apresentou,
como dvds ou fitas vhs de shows, concertos ou musicais, ou revistas especializadas, bem como
instrumentos musicais. Se alguma professora ou aluno souber e quiser tocar, eles levam à escola.
No recreio, às vezes aparece um pandeiro ou um violão ou um cavaquinho, mas nas aulas é
proibido tocar, por causa do barulho que fazem ou da atenção que possam despertar.
Referente a este assunto, sobre o que a música possa suscitar no ambiente escolar,
transponho abaixo uma resposta que considero muito importante, revelando, de alguma forma,
um pensamento legítimo. Legítimo porque através das entrevistas e das observações atentei para
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este fato. Nos espaços reservados a alguma observação que pudesse ser feita no questionário ela
assinalou assim:
Acho que cada professor determina seus objetivos a serem trabalhados com a música, pois quando
utilizada em aula desperta interesse dos alunos. Mas, muitos professores tentam e desistem, porque
são discriminados pelos outros que não fazem nada, escolhem o caminho mais fácil, e mesmo
assim acham que usar a música é para matar o tempo, por isso hoje eu uso pouco.(professora 4)
Todas as respostas relacionadas nas tabelas anteriores são de professoras que trabalham
com música em suas atividades pedagógicas. Nenhuma demonstrou objetivamente que possa
sofrer preconceito ou discriminação (como a professora 4) com tal prática. Porém, notei um
certo desconforto com as demais professoras (as que não utilizam música), e reporto-me ao que
diz LAZZARIN (2005), quando concorda que a música desempenha um papel importante na
vida de todos e que teria lugar garantido nas escolas. Mas, segundo ele ‘para que serve a música
na escola?’ é muito difícil de responder, pois a arte opera diferentemente da área científica, em
sua lógica instrumental, e a música “extrapola as possibilidades compreensivas daquelas.” (p.15)
Os educadores (musicais ou não, no caso da presente pesquisa) precisam esclarecer o que pode
ser uma experiência com música, para poder “justificar sua permanência ou inclusão no currículo
escolar”. (LAZZARIN, op. cit)
Quanto ao tema da pesquisa, ou seja, quais as funções da música no ensino fundamental,
algumas respostas, são indicativas, para poder-se fazer uma categorização. Como por exemplo,
das indicações, tem-se aquelas em que vários professores responderam iguais. Quase como uma
unanimidade.
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4. CATEGORIZAÇÕES
A partir das categorias listadas por Merriam e das respostas e observações obtidas por
mim, no decurso desta pesquisa, pude constatar que falas que aparecem com mais freqüência
sobre as funções da música na escola, são as referentes à tranqüilizar , relaxar e acalmar os alunos.
Neste mesmo patamar de importância, ficou muito bem demonstrado que a data festiva é outro
momento onde se usa a música na escola.
Também, notei grande consideração dada à música, quando ela é parte integrante da aula,
para torná-la mais tranqüila e agradável, além de auxiliar no conteúdo, pois segundo a pesquisa,
os alunos “trabalham com mais interesse”. Portanto, a música auxilia na construção de
conhecimento de outras áreas de ensino. Encontrei nos depoimentos obtidos, aspectos
extramusicais, tais como os ligados às emoções e às questões culturais, mais do que elementos
propriamente ligados à música. Talvez esta situação seja explicada pela ausência de reflexões mais
detalhadas sobre o ensino da música.
49
Por isso, as músicas são trabalhadas a partir das letras e não por seus elementos
constitutivos, pois as músicas com “letras positivas” são as preferidas pelas professoras, que
escolhem, elas mesmas, o repertório a ser ouvido. As mensagens embutidas nas músicas,
inclusive, dizem respeito àquelas que possuem os sons da natureza, como sons de água, de
floresta e de pássaros.
Normalmente a música trabalhada é relacionada a algum evento, como já citado acima,
mas cada professora escolhe sua música, ensaia com os alunos, que muitas vezes se apresentam
cantando com o CD. Registro que uma professora escolhe a música de acordo com um
determinado tema, e é decorada e ensaiada até a exaustão, dela e dos alunos.
Constatei, também, pelos questionários respondidos (no cabeçalho de identificaçção), que
as professoras que mais utilizam a música em suas atividades docentes são as das séries iniciais,
seguidas pelas com formação em História, das séries finais. Outras áreas do conhecimento que
trabalham com música, observadas na pesquisa, são as de Educação Artística, Geografia, Ciências
e Religião.
Tourinho (op. cit), alerta para que uma das funções da música na escola é a de ocupar o
“tempo” e o “espaço” na atividade da educação escolar. Pode-se, desta forma, notar que a música
é um elemento de organização da rotina escolar, tornando-se um procedimento didático, para
despertar o interesse do aluno em várias disciplinas e momentos. É considerada como uma
estratégia pedagógica.
Assim, a partir do relatado acima, dizem respeito às funções de expressão emocional, de
divertimento, de comunicação, de reação física, de impor conformidade a normas sociais,
contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura e integração da sociedade.
Os fatos, relatos, falas e observações que nos remetem à listagem de Merriam são os que
seguem. Utilizei números (1, 2, 3, 4, 5, ...) quando faço referências às professoras, preservando
suas identidades.
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FUNÇÃO DE EXPRESSÃO EMOCIONAL
a música traz um estado de espírito de tranqüilidade e consegue nos levar através do raciocínio a
viagens longas. Nos traz suavidade, leveza e é um hábito maravilhoso, consegue fazer com que o
indivíduo fique em alto astral (zen).(professora 1)
[...] dependendo do tipo de música, acalma e dependendo da letra, traz mensagens positivas onde o
aluno se inspira para sua vida.(professora 2)
Esta prática é difundida nas cinco escolas pesquisadas, promovendo a tranqüilidade
necessária ao bom desempenho escolar. Observei na escola B (zona leste), em especial, que
crianças na 1ª série, logo no início das atividades, ouvem música erudita, que varia o repertório,
conforme o gosto da professora, mas normalmente a audição é de Mozart. Ela justifica esta
prática dizendo que é para as crianças ficarem mais calmas, pois elas moram na periferia, numa
grande vila popular da região e de Porto Alegre, onde a violência é muito grande.
Esta função, de expressão emocional é sempre referida quando se fala da importância da
música nas mais variadas situações. As situações são referidas através de falas como a música
serve de musicoterapia (reprodução da forma como as professoras se referiram ao que fazem),
porque faz bem para a alma, para meditar, usar o silêncio. Nas formaturas que presenciei, por
exemplo, cada aluno que se dirigia ao palco para buscar o certificado de conclusão do ensino
fundamental, tinha uma música característica, escolhida por ele. A música emocionava os
presentes, incluindo os professores e os pais, pois dependendo, havia um murmúrio ou risos. Em
uma observação que fiz, de uma aula, as crianças das séries iniciais desenhavam ouvindo música,
desenvolvendo, segundo a professora, a sua criatividade.
Tal visão tem como decorrência, práticas musicais de caráter "terapêutico" – para acalmar,
concentrar, relaxar, tornar a aula mais agradável e como fundo musical para dinâmicas de
relacionamento e convivência.
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FUNÇÃO DE DIVERTIMENTO
a música é usada para descontrair, divertir, dar prazer e nos sentimos mais unidos.Com
tudo isso, ela serve para alegrar (professora 3)
Esta fala nos mostra o quão importante a música é na atividade desta professora. Ela
mesma é autora de outra frase, que diz:
além das músicas alusivas a datas comemorativas e conteúdos, as mais trabalhadas são as
de comerciais de TV, rimas engraçadas e músicas atuais que tocam no rádio
Rimas engraçadas são atividades que divertem e fazem aprender sem o aluno perceber.
Esta é a intenção nitidamente percebida e explicada por ela. A mesma professora, ainda nos
“ensina”:
preparar o ouvido para a percepção de entonações diferentes das sílabas das palavras;
Mas não é apenas uma professora que vê como uma das funções da música a do
divertimento. Quatro (4) escolas pesquisadas têm esta função como uma das mais importantes,
principalmente quando em eventos coletivos, pois a comunidade toda se envolve, participando,
assistindo e se animando com as apresentações que utilizam música.
Nos eventos, como apresentações públicas, por exemplo, acontecem festas com danças,
espetáculos, chás, onde todos se entretêm. É comum a valorização das artes pelo seu resultado.
Senti que as pessoas prezam muito as apresentações. Aliás, esta é uma das funções da música, a
função lúdica,
Não é somente em apresentações, porém que a música tem esta função. Na aula os
alunos acham graça, conforme o relato, de rimas diferentes e engraçadas, que aparecem nas
músicas. Ao mesmo tempo que diverte, a música une as pessoas em torno de uma situação
interessante para elas. Como Merriam nos diz, as categorias interligam-se, e esta é uma categoria
que está normalmente associada a outras.
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FUNÇÃO DE COMUNICAÇÃO
a música é utilizada na escola pela letra,mensagem, para ler e interpretar (professora 1)
a música é um meio de facilitar a comunicação. (professora 4)
os alunos acabam conhecendo outra linguagem. (professora 5)
os alunos acabam percebendo sons e ritmos que nunca tinham ouvido. (professora 5)
eu uso música na aula porque ela é informativa. (professora 6)
Esta função também aparece em todas as escolas, no momento em que informam através
da música, relacionando-se através dos sons. Notei, nos recreios que pude participar, bem como
nos eventos da escola A, que os alunos que ouvem música conjuntamente, comunicam-se de uma
outra forma, que não apenas a verbal, pois a música é uma outra linguagem a ser aprendida e eles,
empiricamente percebem isto. No batizado de capoeira, por exemplo, todos os presentes batiam
palmas, ao ritmo dos instrumentos musicais, intercomunicando-se com os capoeiristas, os
instrutores e os músicos. Porém, esta é uma atividade extraclasse, fora do currículo escolar, mas
de qualquer forma, integrante do contexto, pois alunos das escolas que possuem aula de capoeira,
participam desta.
Esta comunicação se dá através de quem se compreende, dentro de cada contexto,
simplesmente por sua existência. Quando as professoras falam sobre entender melhor um
conteúdo através da música ou que a música é parte integrante da aula, falam explicitamente desta
função, de comunicação.
FUNÇÃO DE REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA
porque quando um fato lembra a letra de alguma música cantamos em cumplicidade
(quase diariamente) (professora 4)
os alunos aprendem com tanta facilidade que sempre sonhei em transformar os
conteúdos em música, mas não consegui em todos (professora 9)
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Esta função é expressa através de idéias e comportamentos presentes em melodias, ritmos
e letras de músicas.
As experiências e o conhecimento se manifestam na representação simbólica,
que é resultado das articulações do pensamento, do conhecimento e do significado. É possível
reconhecer os processos de representação e de interpretação, a emoção e a razão (do sentir e do
pensar), desencadeando o novo, que revela uma nova interpretação do mundo. Os textos das
canções trabalhadas em História, para os alunos aprenderem melhor sobre a ditadura militar do
Brasil por exemplo, ou as letras que eles fazem para músicas pré-existentes sobre o pré-conceito
racial, estão repletas de significação, integrando e incluindo todos num contexto.
Os valores culturais nas escolas que observei, são preservados, como a história do negro
no Brasil, o gaúcho na sociedade brasileira e como personagem histórico, nas danças do grupo
‘Splash’, quando representam a década de 60 para o Dia das Mães, etc.
Se para Freire (op. cit.) a representação simbólica ganha uma nova característica, como a
‘descartável’, para as professoras da presente pesquisa a mídia não tem uma grande importância, e
a música para elas, na escola, são as consideradas tradicionais e ‘boas’ como os clássicos do
Roberto Carlos, dos Titãs, do Legião Urbana, do pop rock em geral e quase sempre em
português e não as da “moda”.
FUNÇÃO DE REAÇÃO FÍSICA.
ontem era dia de torneio na escola. Quem não queria participar, ficava ouvindo música e
dançando. (professora 7)
A reação física entende-se aqui como a dança e movimentos corporais articulados ao
compasso de uma música. Notei esta função nas escolas A e G, onde têm um grupo de danças, já
explanado em outro capítulo e também através dos grupos de capoeira existentes nelas. Além
54
disto, existem atividades em que os alunos que não desejam participar ficam ouvindo música e
dançando, como o citado acima.
Conforme Stein (2006), a música deveria ser estudada no contexto em que é produzida
pelos sujeitos e suas redes de relação, e como prática expressiva também é elaborada como
performance, que envolve outros elementos expressivos além do estritamente sonoro, como por
exemplo, a dança, o movimento, adereços, etc.
As professoras participantes da pesquisa dificilmente se referiram à dança como uma
função da música. Porém, quando observei o recreio, por exemplo, notei crianças que ouviam
músicas e dançavam, outras cantavam músicas do repertório do folclore infantil e dançavam,
brincavam de roda e de palmas (bate-bate). Com a capoeira existente nas duas escolas já citadas,
as crianças movimentam-se ao ritmo dos instrumentos de percussão existentes, nitidamente
respondendo à uma reação física que a música lhes impõe. As pessoas da comunidade escolar,
quando assistem às atividades que são promovidas para o público, também respondem, muitas
vezes às músicas apresentadas com batidas de palmas, de pés, acompanham juntas o que está
acontecendo, de forma ritmada.
Portanto, não é somente com a dança que se observa esta função da música, mas com
outras formas de reação física, como as citadas, batendo palmas, pés, enfim o movimento.
FUNÇÃO DE IMPOR CONFORMIDADE A NORMAS SOCIAIS
As professoras de História, normalmente, em sua falas, refletem o que Merriam nos
explica. Segundo ele as canções refletem mecanismos psicológicos individuais e coletivos bem
como atitudes e valores da cultura, da história.
com a música pode-se atingir objetivos com mais eficácia do que normalmente se atinge.
(professora 7)
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E ainda acrescenta:
a música dá uma dimensão que atravessa vários campos, abrange a cultura geral, dentro da
História, por exemplo, para comparar períodos, épocas. Exemplo: a ditadura militar do Brasil.
(professora 7)
os alunos criam letras em músicas já pré-existentes, principalmente sobre o preconceito racial.
(professora 8)
Observei em duas escolas (A e G), um grande empenho em desenvolver na prática a lei nº
10.639/2003, que incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, para a comemoração do
Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre
História e Cultura Afro-Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas temas
relativos ao assunto. Por isso aparece tantas vezes o termo “consciência negra” e “inserir o aluno
negro no contexto escolar e na sociedade”. A escola A, como já foi explicado anteriormente,
mantém um grupo de dança, denominado “Pérola Negra”, onde dançam músicas de origem afro
e, conjuntamente, um projeto que percorre o ano letivo, sobre a consciência negra. A professora
8, inclusive, acredita que os negros tenham mais musicalidade que os brancos. Como não é este o
objetivo da presente pesquisa, não caberia analisar tal afirmativa.
Também sobre esta função, vale lembrar que as letras de certas músicas, principalmente
nas séries iniciais, ‘usam’ a letra para orientar rotinas e valores, tais como algumas músicas
infantis, que falam de lavar as mãos, de guardar os brinquedos, de ir em fila para lanchar. Por
exemplo, as músicas “Meu lanchinho” e “Meus brinquedos vou guardar”, identificam estas
situações.
FUNÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PARA A CONTINUIDADE E ESTABILIDADE DA
CULTURA
Quanto à explicitação do papel que a música deve exercer na escola, de maneira geral
aparece a função cultural, ou seja, ampliar os conhecimentos através da
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audição de diferentes tipos de músicas, da relação com as outras disciplinas e da contextualização.
Nesse sentido, as professoras demonstraram preocupação com a inserção dos alunos na cultura
através de propostas pedagógicas ou de práticas de sala-de-aula:
às vezes, os alunos fazem trabalhos práticos ou de desenhos quando o assunto tratado
tem em comum com a música, por exemplo, na aula de Geografia ouvem ”Terra, Planeta
Água.(professora 9)
uso a música somente em datas festivas. (professora 10)
Percebe-se, nestas falas, a integração nas atividades da escola, tanto em atividades da
própria sala-de-aula, como no exemplo da professora de Geografia, quanto em datas festivas. A
professora 10 somente usa a música para festas. Esta professora lembra o que TOURINHO (op.
cit.) diz, quanto à questão do ‘barulho’ produzido pelos sons das aulas de música, que podem
perturbar o bom desempenho organizacional da escola. De qualquer forma ela participa da
função descrita por Merriam como contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura.
FUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE
música é lazer e interação, os alunos se comunicam, interagem, fazem amizade. Mas veja, na
realidade o aluno que faz música - Arte em geral - é uma pessoa diferenciada, ele é diferente. Ele
compreende as coisas de outra forma. (professora 11)
Todas as outras funções, através da fala das professoras e das observações feitas por mim
no decurso desta pesquisa, apontam para a integração da sociedade. Integram-se os alunos com
as professoras que utilizam música em suas atividades e vice-versa, integra-se a escola com a
comunidade da qual faz parte, com atividades que envolvem música. Estas atividades podem ser
as datas cívicas e as datas festivas. Podem, igualmente ser os projetos pedagógicos ou o recreio
escolar. A fala que para mim sintetiza esta função, advem da supervisora da escola A,
denominada aqui como professora 11.
57
Esta função na escola significa que a música fornece um ponto de convergência na qual
os membros da comunidade se reúnem para participar de atividades que exigem cooperação e
coordenação do grupo.
A música integra todos que dela participam ativa ou passivamente. Ressaltando aqui que
as professoras pesquisadas acreditam que a participação musical se dê de forma ativa, porque o
aluno se integra à aula e compreende melhor determinado conteúdo (além da expressão
emocional, muito citada, como observado).
As funções de PRAZER ESTÉTICO e de VALIDAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
SOCIAIS E DOS RITUAIS RELIGIOSOS, não foram encontradas na pesquisa. A música não é
trabalhada como objeto de arte, portanto não lhe é dado valor estético. O conhecimento musical
deveria ultrapassar a relação de prazer, decorrendo a idéia de comportamento, do contexto, da
história e da própria organização musical. Da forma como é tratada, perde-se a capacidade de
conhecer, fruir, imaginar e participar.
A função de validação das instituições sociais e dos rituais religiosos também não foi
contemplada na pesquisa. O termo inicial da função – instituições sociais - foi incluído por mim em
outras funções que tratam da sociedade como um todo, que podem ser:
- função de impor conformidade a normas sociais, e função de contribuição para a integração da
sociedade.
Alan Merriam propõe, inclusive, que se estude e se aprofunde mais esta questão, a qual
ele mesmo não tem certeza quanto à sua funcionalidade.
Porém, a questão referente aos rituais religiosos, não foi atribuída nenhum valor, porque
não foi dada nenhuma resposta que garantisse esta característica. Isto em parte deve-se porque as
escolas públicas têm a disciplina de Ensino Religioso, mas nela não se tratam sobre dogmas, nem
doutrinas religiosas. As professoras desta disciplina usam a música, mas, como as outras colegas,
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mais para acalmar os alunos e os fazerem relaxar e refletirem do que como objeto direto na aula
propriamente dita. O ensino religioso trata sobre valores e comportamentos, tais como amizade,
ética, honestidade, gravidez na adolescência, diferenças, enfim, na prática são tratados os temas
transversais: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural e trabalho e
consumo.
Os temas transversais encontram-se nos PCN, de 1997, e foi uma forma encontrada pelos
estudiosos, à época, de organizar o trabalho didático
abrindo espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a
sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. (p. 30)
Conforme relato das professoras pesquisadas, ainda não há profissionais na rede estadual
com formação em Educação Religiosa, tendo apenas quem se disponha a trabalhar com tal
disciplina. Por isto, dentro do que se possa definir como religião encontra-se muitas crenças e
filosofias diferentes. As diversas religiões do mundo são de fato muito diferentes entre si. Mas é
fato que toda religião possui um sistema de crenças no sobrenatural, geralmente envolvendo
divindades ou deuses. Talvez aqui as escolas se encontrem - dispensando a idéia de divindades e
focalizando os papéis de desenvolvimento de valores morais, códigos de conduta e senso
cooperativo em uma comunidade.
As funções da música, conforme Merriam observa, não são categorias separadas, nem
independentes. Pelo contrário. Interligam-se. Por isso é difícil categorizar as respostas pura e
simplesmente. Todas as respostas e observações feitas por mim interdependiam-se.
Todas as professoras responderam que a música é muito importante, principalmente
porque acalma, mas também por uma gama infinita de sentimentos, que podem modificar,
inclusive, o comportamento dos alunos em certas situações. O entretenimento aparece em muitas
respostas, principalmente em festas, datas e simplesmente para divertimento ‘puro’. O
entretenimento, além do já relatado, também pode enaltecer algum personagem histórico, como
59
no dia 20 de setembro, dia do gaúcho. Aliás, em datas cívicas, as atividades são variadas e todas
incluem música, de uma forma ou outra, através do coral mantido pela escola A, ou por corais
improvisados, onde os alunos ensaiam um repertório previamente e apresentam-se com CD. Em
eventos como o dia das Mães e o Natal, também há danças, apresentações de grupos folclóricos
convidados, de músicos profissionais ou amadores da comunidade, de teatros com sonoplastia
preparada pelos alunos. Estes eventos atraem um grande público e sempre há muita emoção,
conforme o relato das professoras.
Em parte isto é explicado porque as escolas pesquisadas são somente de ensino
fundamental. Os alunos são crianças e adolescentes até, em média 15 anos. São ligados à família,
gostam de atividades extraclasses, apreciam mostrar seus conhecimentos e habilidades para todos,
em especial para os pais. Os pais entram em contato seguidamente com os professores, pois
levam e buscam as crianças diariamente, participam das atividades, vendem rifas, buscam
avaliações, prestigiam os eventos com suas presenças.
A música nas escolas, portanto, é um elemento articulador e integrador das atividades,
tanto por parte das direções, das professoras, dos alunos e da própria comunidade. Até mesmo
quando funciona apenas como meio para acalmar os alunos, colocando em segundo plano a
atividade de educação musical.
60
4.1 ATIVIDADES MUSICAIS EM UMA ESCOLA... TALVEZ UM
PORQUÊ!
A Escola A, que tem uma atividade musical mais específica, tanto no período de aulas,
como no extraclasse, merece um certo destaque, em meio às outras. Ela está inserida na área
central, mais especificamente no bairro Cidade Baixa. É próximo do centro da capital,
confundindo-se, muitas vezes, com ele. É um bairro que possui muitas escolas, tanto estaduais
como particulares - de educação infantil, ensino fundamental e médio. Tem um grande
contingente populacional e é um dos bairros mais antigos da cidade. Em suas cercanias funciona
o Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul e outras autarquias municipais,
estaduais e federais, bem como o Poder Judiciário do Estado. Este bairro é reconhecido em
Porto Alegre como boêmio, pois existem muitos bares, restaurantes e boates. Além disso, o nível
sócio-econômico da Cidade Baixa é classificado, pela direção da escola como C e D. Existem
muitas etnias integrantes da região, tais como descendentes de italianos, portugueses, espanhóis e
negros.
Estes fatos caracterizam um pouco a escola, quanto à sua clientela. Significa dizer que
muitos alunos são filhos de funcionários públicos, moradores de várias regiões da cidade, que,
quando os pais vão trabalhar, levam os filhos para esta escola. Também são “filhos” da região,
que gostam de festa, de música, de shows dos mais variados, vão a comícios políticos e a feiras
livres, traços peculiares e diferentes de outras partes da capital.
A professora de História desta escola crê que o gosto pela música sucede-se por isto.
Inclusive os professores da escola são moradores do bairro e, como característica principal, duas
professoras que trabalham com música, têm formação musical. Uma rege o coral e outra ministra
a oficina de música.
61
Outro fato que merece atenção é o assunto referente à cultura negra (anexo 4), presente
em todas as escolas, principalmente nas escolas A e G. Como já explanei anteriormente, elas têm
grande interesse em colocar em prática a legislação vigente.
A lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário
escolar, para a comemoração do Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também
tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Com isso, professores
devem inserir em seus programas temas referentes à História da África e dos africanos, luta dos
negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. É
prevista para todas as disciplinas, mas em especial para Educação Artística, Literatura e História.
Para preservar a memória, deverá ser estudada de maneira formal. No dia 20 de novembro, há 32
anos, se comemora o "Dia Nacional da Consciência Negra". Nessa data, em 1695, foi assassinado
Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se transformou em um grande
ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade.
Então, comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de
homenagear e manter viva na memória essa figura histórica. Não somente a imagem do líder,
como também sua importância na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888. Assim,
as escolas inserindo em seus currículos este estudo, o fazem, principalmente, através da música,
que parece ter uma grande importância e, através da pesquisa, uma grande relação com os negros,
por meio da dança, da capoeira e do ‘bate-lata’.
62
5. ANÁLISE DAS CATEGORIAS A PARTIR DAS ENTREVISTAS E
OBSERVAÇÕES DOS SUJEITOS ENVOLVIDOS
As professoras crêem que as atividades que utilizam música na escola servem para
desenvolver alguma forma de emoção e, também como fator socializante. Além disto, a categoria
de divertimento que se origina da música é muito importante. Obtive este dado analisando as
respostas dos questionários, entrevistas e observações feitas no decorrer da pesquisa e
comparando-as à listagem proposta por Merriam. Para poder-se visualizar as funções da música
com relação às professoras participantes da pesquisa, tem-se a seguinte tabela (indicando as
professoras numeradas de 1 a 17):
63
TABELA 9
RELAÇÃO DAS PROFESSORAS COM AS FUNÇÕES DA MÚSICA NA ESCOLA:
PROFESSORAS
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17
1.Emocional x x x x x x x x x x x x x x x x x
2.Estética
3.Divertimento x x x x x x x x x x x x x x x x
4.Comunicação x x x x x x x x x x x x x x x
5.Simbólica x x x x x x x x x x x x x x x
6.Reação
Física
x x x x x x
7.Social x x x x x x x x x x x x x x x x
8.Religiosa
9.Cultural x x x x x x x x x
FUNÇÕES
10.Integração
x x x x x x x x x x x x
LEGENDA: 1.Função de expressão emocional; 2.Função de prazer estético; 3.Função de divertimento; 4.Função de
comunicação; 5.Função de representação simbólica; 6.Função de reação física; 7.Função de impor conformidade a
normas sociais; 8.Função de validação das instituições sociais e dos rituais religiosos; 9.Função de contribuição para a
continuidade e estabilidade da cultura; 10.Função de contribuição para a integração da sociedade.
Estas respostas foram marcadas na tabela, embasadas, principalmente, nos questionários,
por facilitar a tabulação e por ser mais fiel ao indicado. O que me foi confiado como
entrevistadora poderia sofrer, de alguma forma, interpretação subjetiva, o que não era o meu
interesse. As ilustrações das situações, porém, são objetos de observações.
Os objetivos funcionais da música aparecem nas respostas das professoras. As funções de
expressão emocional, de divertimento, de comunicação, cultura e social são apontadas como
64
realizadas pela utilização da música na escola. Todas as professoras pesquisadas entendem que as
atividades musicais servem para acalmar e tranqüilizar os alunos, sendo esta uma função
importante, servindo como base de socialização dos mesmos.
Preliminarmente, a função da música que foi indicada de forma unânime, é a de
EXPRESSÃO EMOCIONAL. Através dela tem-se principalmente a fala de que a música acalma
e tranqüiliza as crianças. O próprio teórico Alan Merriam diz que esta é uma importante função,
por sua grande variedade de expressões, desde “resolver conflitos sociais ou servir para explosão
de criatividade” (p. 223).
Anteriormente, quando escreve que a expressão emocional é uma das
mais presentes na sociedade:
[...] é a oportunidade que ela dá para uma variedade de expressões emocionais – a descarga de
pensamentos e idéias não expressadas, a correlação de uma ampla variedade de emoções e
músicas, [...] e, talvez, a resolução de conflitos sociais, a manifestação da criatividade e a expressão
de hostilidades. (p. 222)
As professoras responderam que a expressão das emoções é a mais importante, sempre
trazendo sentimentos como exemplos.
Em segundo lugar, observa-se a função de DIVERTIMENTO e a função de IMPOR
CONFORMIDADE A NORMAS SOCIAIS. Apenas uma professora em cada categoria, não a
assinala como importante. Para várias professoras a música tem a função de divertir os alunos, a
escola e a comunidade escolar. Ela alegra a todos.
É incontestável que a música exerce a função de satisfação e alegria para todas.
Normalmente é esta satisfação que motiva sua procura, impelindo homem à música. Porém, o
conhecimento musical ultrapassa a função de divertimento, onde deverá estar sempre presente a
idéia do compositor, o contexto histórico-social, a própria construção musical.
Segundo Tourinho, a música é um elemento de organização do dia-a-dia da escola,
transformando o cotidiano escolar. Essa função de estruturação do espaço escolar pode ser uma
forma de controle imposto pela instituição
65
Depois, indicada por 15 professoras, tem-se a função de COMUNICAÇÃO e a de
REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA
.
Com doze (12) professoras indicando esta como prática de suas atividades ou da escola,
tem-se a função de CONTRIBUIÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO DA SOCIEDADE. As
escolas investigadas parecem valorizar muito as atividades onde há apresentações musicais
coletivas, principalmente em datas comemorativas. A música é sentida, então, como articuladora
da sociedade no que diz respeito à cultura. Através dela, as normas sociais são reforçadas, a
cultura valorizada e a sociedade integrada, que pode ser até através da seleção de repertório dos
grupos. Segundo Tourinho,
Além do ‘conteúdo’ afetivo sensivelmente aprendido em experiências com música, o ouvir e/ou
produzir música em grupo pode provocar uma forma especial de prazer que tanto serve para
integrar os participantes como para marcá-los em suas especificidades de idade, função e mesmo
gênero. (TOURINHO, 1993, p 69)
O que significa que esta função está diretamente ligada a que vem logo a seguir nas idéias
das professoras: a estabilidade da cultura.
Com oito (8) professoras indicando esta função como importante, tem-se a função de
CONTINUIDADE E ESTABILIDADE DA CULTURA
Apenas seis (6) professoras indicam a REAÇÃO FÍSICA como integrante das funções
sociais da música. Quanto à esta função, embora fortemente percebida no cotidiano, fazendo
parte das atividades de lazer das crianças e jovens, ela foi relativamente pouco contemplada, com
cerca de 40% das respostas. Notei, inclusive durante os recreios observados, como já relatado e
em outras atividades espontâneas. As professoras apenas consideram como função o que elas
praticam ou fazem na sala de aula.
Embora a música não ocupe o mesmo patamar das matérias tradicionais, a tendência de
trabalhá-las nas escolas estaduais se revela de uma maneira bem forte. Entre as razões para
música ocupar um espaço maior nas atividades escolares, encontra-se uma demanda da própria
66
sociedade, em que a música toma como aspecto fundamental da formação do indivíduo.
É fato
que está demonstrado, através da presente pesquisa, que a música também serve de estímulo ao
estudo das mais diversas disciplinas.
Assim, as atividades que são permeadas pela música, principalmente em apresentações à
comunidade, onde todos os professores devem fazer parte, são as relacionadas na tabela abaixo,
respondidas nos questionários:
67
TABELA 10
ATIVIDADES COM MÚSICAS UTILIZADAS PELAS ESCOLAS:
ESCOLAS
A B C G H
comemorações cívicas x x x x x
dia das mães x x x x x
dia dos pais x x x x
festa junina x x x x x
dia do gaúcho (20 setembro) x x x x x
dia da criança x x x x x
festa de halloween (31 de outubro) x
dia de ação de graças x
formaturas x x x x x
festa de Natal x x x x x
ATIVIDADES
dia da consciência negra x x
A única escola que apresenta várias atividades musicais é a escola G, embora ela não
mantenha coral, nem bate-lata, nem oficina de música. Esta escola não tem nenhuma professora
com formação musical, mas aprecia imensamente as artes de uma forma geral. Pela tabela
percebe-se que a instituição tem mais eventos que as demais. Esta escola, segundo relatos, é
muito bem conceituada na Secretaria de Educação/RS, o que a faz, de uma certa forma, sempre
se superar em suas práticas pedagógicas, incluindo aí, apresentações, limpeza, segurança,
merenda, biblioteca referência da região (inclusive quando os alunos saem deste colégio,
ingressando no ensino médio, retornam à sua biblioteca para pesquisar).
Logo após, mas também em todas as suas atividades apresentam-se com música, é a
escola A. Em outro capítulo desta dissertação já foram descritas suas atividades musicais e sua
inserção num bairro extremamente envolvido com a música e com as artes.
68
As demais escolas também apreciam música em suas ações, mas têm menos exposições,
inclusive ainda não colocaram em prática a lei sobre a consciência negra, onde, pelo que pude
observar, é desenvolvido com muita atividade musical.
As atividades extraclasses em que a música apresenta-se de forma constante e
permanente, segundo relatos, são descritas na tabela a seguir:
TABELA 11
ATIVIDADES EXTRACLASSES QUE UTILIZAM MÚSICA NAS ESCOLAS:
ESCOLAS
A B C G H
Dança x x
Capoeira x x
Coral x
ATIVIDADES
Bate-lata x
Percebe-se, conforme o já relatado anteriormente, que as escolas que mais utilizam a
música em suas atividades, incluindo aí, as extraclasses, são as escolas A e G. As demais escolas
não têm nenhuma outra atividade, além daquelas já descritas, não porque não queiram trabalhar
com esta arte, mas porque isto demanda esforço e doação pessoal. As professoras estaduais não
recebem hora-extra, para ficarem na escola fora de seus horários habituais, devem ficar esperando
a atividade terminar, porque elas têm as chaves das portas e dos portões, a segurança não é tão
eficaz, principalmente quando anoitece, e os bairros envolvidos são violentos.
69
Isto, certamente contribui para uma não valorização do professor estadual e
conseqüentemente para a não construção da música, como educação valendo, quem sabe,
simplesmente como atividade.
70
6. Outras Funções!
Merriam em sua obra, sempre deixou claro que as categorias sobre as funções sociais da
música não se esgotam naquelas elencadas por ele. Nem mesmo que elas seriam independentes e
estanques.
Após a realização da pesquisa, percebi que as funções da música nas escolas de ensino
fundamental são válidas por elas mesmas, ou seja, por ser uma FUNÇÃO ESCOLAR.
Também, a partir das entrevistas semi-estruturadas e principalmente através das
observações, distingui que as escolas valorizam muito as atividades. Como as já citadas e por tudo
que possam valer – união, coesão da escola, desenvolvimento de um projeto, alegria,
divertimento, emoção, etc – creio que mais uma função possa se desenvolver, ou seja, a
FUNÇÃO DE PUBLICIDADE, do ‘marketing’, que de uma forma positiva, divulga à
comunidade o que a escola produz, desenvolve e apresenta. Como uma forma de prestação de
contas do que é realizado lá dentro.
71
A educação musical, assim como a educação geral acontece assistematicamente na
sociedade, através, principalmente, dos meios de comunicação e da família. Todos, mais ou
menos, têm uma educação musical e ela faz parte do cotidiano do indivíduo. Cada pessoa leva
consigo suas experiências, por onde quer que ande. Na escola não seria diferente. Os alunos, os
professores, a direção, os funcionários e a comunidade em geral têm o senso comum de que a
música serve, principalmente par acalmar e como auxiliar em outros campos do conhecimento
integrando a música às outras disciplinas e ao cotidiano. Assim sendo, a função escolar se
desenvolve: o trabalho com a música atravessou as fronteiras do conhecimento por áreas
estanques e reforçou a atividade interdisciplinar integrada a outros objetivos da educação.
Pressupõe, desta forma, uma pedagogia dinâmica que transforma a sala de aula num espaço de
aprendizagens enriquecedoras na qual o aluno participa ativamente na construção do seu
conhecimento. Implica um currículo integrado e não mais fragmentado, norteado pelos
princípios pedagógicos da transposição didática, interdisciplinaridade e contextualização.
Talvez seja embasada nas preocupações com a formação mais ampla dos alunos, que,
entre outras tendências pedagógicas, surge a Teoria das Inteligências Múltiplas, desenvolvida por
Howard Gardner, neurocientista e psicólogo da Universidade de Harvard. Esta teoria encontrou
bastante força no meio escolar. Nos cursos de formação continuada promovidas pelas escolas,
segundo orientação da Secretaria de Educação e as professoras com quem mantive contato crêem
que as crianças desenvolvem várias inteligências e que elas têm mais facilidade para alguma área
específica do que para outra. A música, neste caso, colaboraria com a compreensão de diversas
disciplinas.
Esta teoria contribuiu para mostrar que uma inteligência específica pode abrir diferentes
caminhos para o aprendizado. Da música, pode-se chegar à história, por exemplo, aprendendo
sobre vários períodos e momentos da humanidade, desde o Renascimento até a Ditadura Militar
no Brasil.
72
Howard Gardner (1994) definiu sete (7) inteligências a partir do conceito que o ser
humano possui um conjunto de diferentes capacidades. São elas:
LÓGICO-MATEMÁTICA – está associada diretamente ao pensamento científico ao raciocínio
lógico e dedutivo.
LINGÜISTICA – está associada à habilidade de se expressar através da linguagem verbal, escrita
e oral.
ESPACIAL – está associada ao sentimento de direção, à capacidade de formar um modelo
mental e utilizá-lo para se orientar.
CORPORAL-CINESTÉSICA – está associada aos movimentos do corpo que pode ser um
instrumento de expressão.
INTERPESSOAL – está associada à capacidade de se relacionar com as pessoas. De entender as
intenções e os desejos dos outros e, conseqüentemente, de se relacionar bem com eles.
INTRAPESSOAL – está associada à capacidade de se estar bem consigo mesmo, de conseguir
administrar os próprios sentimentos, de se conhecer e de usar essas informações para alcançar
objetivos pessoais.
MUSICAL – está associada à capacidade de se expressar por meio da música, ou seja, dos sons
organizando-os de forma criativa a partir dos tons e timbres.
73
Posteriormente, criou mais estas duas capacidades:
NATURALISTA – que está associada à capacidade humana de reconhecer objetos na natureza e
a sua relação com a vida humana.
EXISTENCIAL – que está ligada ao entendimento além do corpóreo, o transcendente, o
entendimento sobre a vida, a morte, o universo.
O fundamental não é quantas inteligências temos, mas o desenvolvimento de todas elas
segundo nossas aptidões. Nílson José Machado, professor da USP (in REVISTA NOVA
ESCOLA, 2001), acredita que Gardner não aprofundou seus estudos.
Houve apenas um espraiamento horizontal. A escola deve considerar as pessoas inteiras e
valorizar outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos
lingüístico e lógico-matemático.
Mesmo assim, neste modelo educacional, observei que os alunos são considerados como
sujeitos que possuem outras inteligências além da lingüística e da lógica-matemática.
Então, a escola propõe o estudo de mais de uma maneira, facilitando a construção do
conhecimento por aqueles que têm mais facilidade em determinadas áreas. Para isto, utiliza-se de
vários aspectos da inteligência que não somente os que normalmente são os enfocados e
valorizados nas escolas. Desta forma, a função escolar da música se desenvolve, abrangendo
todas as demais funções ratificadas pela presente pesquisa, reforçando a praticidade e a
consideração que todos têm por ela na educação escolar.
A função de publicidade funciona a partir de um “marketing”, que seria fazer o melhor
todo dia em cada detalhe e mostrar para a comunidade escolar os valores da instituição
educacional, a qualidade de seus profissionais e a alegria de estudar naquela escola. Percebi, nas
escolas A e G, em especial, esta preocupação, com cartazes convidando todos a comparecerem
nas apresentações e festas, tais como festa de Natal, batizado de capoeira, dia das mães. Assim, a
74
escola apresenta-se utilizando bastante música, cantos e danças, divulgando o quão interessante é
estudar nela. Isto me faz pensar que possam surgir alguns novos modelos e propostas com alguns
diferenciais de atração, sem esquecer, naturalmente, de sua proposta pedagógica e educacional.
Quando os alunos estão satisfeitos, as famílias estão acreditando na escola, surgirão os
comentários favoráveis.
A imagem da escola é uma preocupação de todos os envolvidos -
direção, professores e funcionários. A atenção de todos quando o aluno chega à escola, as
atitudes da secretaria, a segurança no portão, feita, muitas vezes, por pais voluntários, por
exemplo, são ações de promover e melhorar a imagem da escola. O próprio relacionamento
interpessoal, também, é uma forma de mostrar a boa imagem da escola, uma vez que isso é um
fator de percepção dos alunos no dia-a-dia. Pelo que observado em minha pesquisa, existem
muitas maneiras de divulgar uma escola. Mas a principal é através das atividades que utilizam
música, tais como as relatadas anteriormente: apresentações em datas festivas, danças, corais,
batizado de capoeira, teatros...
Mesmo sendo escolas estaduais, ou seja, escolas públicas, há uma concorrência entre as
instituições vizinhas. No mesmo bairro existem várias escolas, mas algumas, segundo relatos, são
mais procuradas, com menos vagas ociosas, porque o ensino é de melhor qualidade (entre outros
atributos). Inclui-se neste ‘ensino de melhor qualidade’ apresentações que são permeadas com a
música e atividades extraclasses, que também giram em torno da música, como nos casos
observados, a dança, a capoeira e o coral.
Outro fator relevante a ser observado é o caso do ‘marketing’ interno, cujos sujeitos
envolvidos, no caso as professoras das mais diferentes áreas do conhecimento, querem ser
reconhecidas. É a forma como se mostram à comunidade, pois sabem lidar com os alunos, são
criativas em seus projetos, são interessadas pelos assuntos educacionais. No caso das professoras
das séries finais, isto funciona mais ou menos como um prêmio a ser ganho pelos alunos
pequenos, que, em sendo aprovados, um dia estudarão com aquela professora e participarão do
que ela faz.
75
No caso de um sujeito, colocado em minhas observações como a professora oito (8), que
leciona a disciplina de História e organiza várias apresentações permeadas pela música, como caso
já citado do grupo de dança “Splash”. Este grupo se apresenta sistematicamente em todas as
situações da escola, tanto em dias festivos, datas cívicas ou sendo convidados por outras escolas e
entidades com outros fins, que não pedagógicos. Este “marketing” faz da professora muito
popular e querida pelos alunos e esperada, segundo pude notar, pelas crianças das séries iniciais.
Notei, através de entrevista, que o aluno após ser convidado por ela para participar, não pode
desistir do compromisso, sentindo-se lisonjeado pela preferência.
Mas isto também é notado em outras escolas e com outras professoras. Os alunos da
professora nove (9), de Ciências, da escola B, por exemplo, apreciam muito quando os conteúdos
são ensinados com música. Isto é uma estratégia de aproximar-se da criança e deixar a disciplina
menos ‘áspera’, segundo seus relatos. Ela mesma diz que “gostaria de transformar todos os
conteúdos em música”.
Assim, estas novas categorias foram observadas nas minhas pesquisas e permeiam o
ensino público estadual em Porto Alegre. As funções ESCOLAR e de PUBLICIDADE, como
nos ensina Merriam, também podem ser tratadas separadamente ou, combinando-se com as
demais, pois elas não mostram-se, necessariamente, puras e isoladas.
76
7.
DISCUSSÃO
A partir dos dados coletados nas escolas estaduais, tem-se a ratificação de muitas funções
listadas por Merriam, oito (8), para ser precisa, mais duas que considero importante, ante o
pesquisado. São as de função da escola (poderia ser chamada de função escolar) e função de
publicidade. As atividades que acontecem nas escolas têm a música como fio condutor, sendo
auxiliar na aprendizagem e na apresentação de outros conteúdos.
O que se evidencia de modo geral é a utilização da música como "pretexto" para outras
atividades em diferentes disciplinas e não como um conhecimento em si. Talvez seja por falta de
formação específica ou por considerarem o ensino da arte em geral como secundária em relação
aos outros "conteúdos escolares".
Embora isto, paralelamente às atividades curriculares, existem as realizadas como
atividades extraclasses, tendo a música como elemento presente no decorrer de suas realizações:
bate-lata, grupos de dança, coral, grupos de dança.
77
Considero que a escola como um todo ainda não refletiu sobre as funções da música
embasada num referencial teórico. Este fato poderia acarretar equívocos em relação ao ensino da
música, no sentido de suas funções e do tipo de profissionais que necessitam de condições para
trabalhar nas escolas. Porém o que observei é que a música não é ensinada por seus elementos
constitutivos nem como área de conhecimento e sim como elemento integrador de outros
componentes curriculares. Confirmando esta idéia, MAFFIOLETTI (1993, p. 27) diz que
A conscientização destas funções é que parece ser fundamental na formação de
educadores, ou de programas educacionais, para que se dissolva a ingenuidade de se estar
educando musicalmente, quando na verdade existe o predomínio de uma função que não
compromete a escola com a sistematização do saber musical.
A música está presente no dia-a-dia de todas as sociedades e exerce várias funções,
dependendo da situação em que estiver inserida, independente de uma educação musical.
Pelo observado, as professoras acreditam que a música como pano de fundo ou como
meio interdisciplinar pode ser considerada como ensino da música propriamente dito,
aparecendo como ilustração, como parte integrante da aula, como as professoras várias vezes
disseram. Também aparece como motivação ou recurso para outras áreas do conhecimento como
história, ciências, religião, educação artística ou nas séries iniciais. A música, também, em muitos
casos funciona como recurso para acalmar ou doutrinar as crianças, colocando em segundo plano
o trabalho específico com os elementos musicais.
Reforçando o que foi dito acima, na concepção das entrevistadas, os aspectos
emocionais evocados pela música aparecem como objetivos fundamentais, pois as falas são
seguidas e constantes: desenvolver a emoção, a sensibilidade, a afetividade entre professor e
aluno, a criatividade, a expressão, a espontaneidade, a concentração, a disciplina, a reflexão, "fazer
pensar na vida", "formar o caráter".
78
Segundo as opiniões, verifica-se, então que a música na escola é muito importante, mas
não pareceu ser indispensável no currículo escolar. Talvez porque a maioria das professoras não
tenha conhecimento específico sobre música, sendo suas opiniões embasadas no senso comum.
Tourinho (1993) destaca a importância de se refletir sobre os significados e funções da
educação e da música na escola. Para ela
[...] essas reflexões, que deveriam acontecer constantemente em cada escola, tomariam
como base a natureza hipotética de qualquer reflexão,e, portanto, a necessidade de
permanente construção de significados tanto para o ensino de música como para as
funções deste ensino no contexto institucionalizado da educação. ( p.77)
De maneira geral todos apontam para a importância da música, não como linguagem,
nem tanto como conteúdo em si, muito menos como um conhecimento específico que supõe
planejamento, trabalho técnico e avaliação. Mas sim como um fator de aporte da cultura na escola
e como elemento importante na "melhoria das relações”. Assim ela acaba assumindo um caráter
de "música de fundo".
Embora a música esteja presente o tempo todo no cotidiano escolar, em geral a escutam
de forma passiva, enquanto fazem ou se preocupam com outras atividades ou outros fins que não
a educação musical.
Vários depoimentos em relação à música são voltados a um pensamento utilitarista. A
música aparece, sempre, como pano de fundo, como fio condutor, como já foi dito, mas
certamente a música está presente nas escolas: seja a serviço de outras disciplinas, para acalmar ou
como meio de divertimento. São elementos que apareceram nas falas de professores.
A música, portanto, pode contribuir para a formação geral do aluno, desenvolvendo a
capacidade de expressar-se, através de uma outra linguagem.
Um outro fato interessante que aparece nos dados é no que diz respeito à formação dos
profissionais envolvidos com as atividades musicais nas escolas, tanto nas atividades curriculares
79
como extraclasse. Dentre as pesquisadas, apenas duas (2) professoras têm formação em música,
justamente as que ministram a oficina e a que rege o coral, ambas da escola A.
As demais professoras têm as mais variadas formações. Apenas em comum, têm o gosto
pela música, como elas mesmas relatam. A falta de profissionais com formação em música,
porém, não exclui as atividades musicais da escola. Elas acontecem em vários momentos, quando
das apresentações, e durante as aulas, quando as professoras consideram necessárias. Inclusive
uma professora diz que ouve música sempre que ela mesma tem vontade.
Segundo a definição pioneira de
Edward Burnett Tylor, citado por Merriam (pg. 153), a
cultura seria “o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras
aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade.” Portanto corresponde,
às formas de organização de um povo, seus costumes e tradições transmitidas de geração para
geração que, a partir de uma vivência e tradição comum, se apresentam como a identidade desse
povo.
Como se processa a aquisição cultural na vida dos indivíduos, Merriam sugere pensar no
termo enculturação para designar o processo global pelo qual o homem aprende sua cultura. Este
procedimento é contínuo. Assim, Merriam fala em socialização para a aprendizagem social que
ocorre na primeira infância; em educação para definir a aprendizagem formal e informal que
acontece nos primeiros anos e na adolescência; em escolarização para ensino e aprendizagem em
lugares específicos fora a casa, por períodos definidos e por pessoas especialmente treinadas para
este propósito.
Neste processo de enculturação, ensina-nos Meerriam, encontra-se uma informação
musical oral, na maioria das vezes inconsciente, adquirida pelo contato social e pela escolarização,
que deveria formalizar-se através do acesso à educação musical e do aprendizado de um
instrumento. Este é o processo onde se encontram as escolas pesquisadas, com uma informação
80
musical inconsciente, uma vez que as professoras, em sua grande parte, não possuem prévios
conhecimentos musicais, nem pretendem que seus trabalhos com música sejam uma educação
musical. A música deveria servir de ponte a outras músicas e a outros conhecimentos. A música
(e as artes em geral) tem um papel central, que permeia as outras disciplinas. O fato demonstrado
é que a música serve de estímulo ao estudo das mais diversas disciplinas
Nesta linha de pensamento, surge Gardner (1994), que diz haver uma correspondência
equivalente entre pontos fortes intelectuais e papéis sociais. Para começar, o indivíduo com
capacidade impressionante em uma forma de inteligência pode usá-la para muitas finalidades.
Assim, o indivíduo em nossa sociedade com habilidades espaciais bem desenvolvidas poderia
terminar como engenheiro ou arquiteto ou, igualmente, como artista ou escultor. Igualmente, um
indivíduo com habilidades interpessoais bem desenvolvidas poderia terminar como um professor
ou assistente social, ministro ou mágico.
Uma força intelectual abre possibilidades; uma combinação de forças intelectuais gera uma
multiplicidade de possibilidades. (GARDNER. 1994, p. 243)
A escola como um todo traz exemplos de como a música pode motivar o aprendizado de
biologia, geografia, português, matemática e outras matérias. Esta teoria parte dos estudos do
cérebro para afirmar que os seres humanos têm pelo menos nove diferentes inteligências. Entre
elas, figura a inteligência musical. É importante que o professor favoreça essas múltiplas
inteligências.
Na escola estadual existe o professor de educação artística, que tem a função de ministrar
aulas tanto de teatro quanto de artes plásticas e música.
Porém, ao graduar-se em licenciatura com habilitação em artes cênicas, artes plásticas ou música,
esse professor fica automaticamente habilitado para atuar em qualquer uma dessas áreas, mesmo
sem ter o preparo específico de cada uma”.(REQUIÃO, 1997, p. 12)
Estes talvez sejam os motivos pelos quais o ensino das artes nas nossas escolas não é, de
uma forma geral, encarado como assunto de interesse e com conteúdos específicos e importantes
81
para a formação cultural do indivíduo. Ao contrário disso, eles são tratados como uma espécie de
recreação ou apoio a outras atividades e estudos. O auxílio das artes na compreensão de outras
matérias é, de uma certa maneira, extremamente válido. Porém a arte em si, e no caso desta
pesquisa - a música, tem uma finalidade e uma especificidade, e precisa ser encarada de uma outra
forma.
Assinalo, pelo pesquisado, uma falta de compreensão do papel das artes, em especial da
música, na escola e em conseqüência na formação do indivíduo e sua função na sociedade.
Segundo os PCN/ARTE (1997), a educação musical tem como objetivos alcançar
progressivo desenvolvimento musical, rítmico, melódico, harmônico, tímbrico, nos processos de
improvisar, compor, interpretar e apreciar. Também desenvolver a percepção auditiva e a
memória musical, criando, interpretando e apreciando músicas.
Isto seria o desenvolvimento de várias formas de comunicação, além de se aprender a cuidar da
voz como meio de expressão e comunicação. A interpretação e apreciação de músicas do próprio
meio sociocultural e as nacionais e internacionais, que fazem parte do conhecimento musical
construído pela humanidade no decorrer de sua história estabelecendo inter-relações com as
outras modalidades artísticas e as demais áreas do conhecimento.
Sob uma ótica que revela usos e funções diferentes na cultura, da qual está inserida,
investiguei nas escolas estaduais, músicas para dançar, para cantar em conjunto, para comover-se
(como nos hinos nacionais numa copa do mundo, por exemplo), para relaxar, relacionando a
música com a sociedade a que pertence.
Sônia Albano de Lima (1998), fala da questão estética, um das funções não contempladas
na pesquisa. Explica preliminarmente falando dos países periféricos, como no caso o Brasil
posteriormente expondo as causas da possível ausência de uma apreciação estética das artes em
geral:
Os países periféricos, nos últimos anos, têm atropelado seus programas sociais, para
atender as necessidades econômicas dos países centrais a que estão subordinados. Ainda
82
que a globalização tenha contribuído para um certo avanço desses países periféricos, na
maioria das vezes, ela também provocou uma desestabilização de vários setores básicos
dessas sociedades. A educação artística é um dos exemplos. [...] Nos países periféricos,
esse modelo de ensino pragmático freqüentemente induz a uma produção artística muito
voltada aos interesses econômicos e não traz ao indivíduo uma satisfação pessoal plena
[...] Assim, ela perde sua importância estética. (LIMA, 1998, p.69).
A formação do homem brasileiro sob a ótica da diversidade das manifestações culturais,
entre elas a religiosa, foi contemplada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), segundo a
qual a instrução religiosa é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, contanto que seja assegurado o
respeito à diversidade cultural e religiosa, vedadas quaisquer formas de doutrinação. Certamente
por isto, as aulas de ensino religioso em nosso estado, em especial na nossa cidade de Porto
Alegre, contemplo apenas os temas transversais, editados pelos PCN/1977. Assim sendo, a
função de religiosidade não foi ratificada pela pesquisa, bem como o de prazer estético. A
transversalidade, por sua vez, diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa,
uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a
realidade) e as questões da vida real e de sua transformação.
Por tudo que observei e pesquisei constatei que a prática pedagógica, referindo-se à
música como auxiliar de outros campos do conhecimento, há a interdisciplinaridade e
transversalidade que se alimentam mutuamente. Não seria possível fazer um trabalho pautado
desta maneira pedagógica, tomando-se uma perspectiva disciplinar rígida. Com a música como
auxiliar e como fio condutor de várias atividades da e na escola, a compreensão abrange os
diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção do sujeito na sua produção. Por essa
mesma via, a transversalidade e a interdisciplinaridade abrem espaço para a inclusão de saberes
extra-escolares (a música, talvez?), possibilitando a referência a sistemas de significado
construídos na realidade dos alunos, conforme prevêem e esperam os PCN (1977/p. 30).
83
Esta reflexão a respeito das funções da música na escola dirige-se à compreensão da
cidadania, com atitudes de cooperação e respeito ao outro, principalmente porque a escola não
está preocupada, pelo que se denota da pesquisa realizada, com a educação musical de seu aluno.
Ela desenvolve, isto sim, uma atividade musical. Com ela; desenvolve a noção de identidade;
valoriza a pluralidade do patrimônio sócio-cultural; integra-se como atividade transformadora do
ambiente. São atividades que contemplam entre outras, os objetivos gerais do ensino fundamental
expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
É certo, porém, que a música desenvolve a função nas atividades de da escola, sendo um
elemento integrador de outros componentes curriculares. Por isto, talvez, a função de expressão
emocional é referida pelo senso comum sempre que se abre a questão da importância da música
nas mais variadas situações.
Onde se lê arte, poder-se-ia ler música, e é uma citação de Meira (op. cit.), como se
resumisse meus sentimentos sobre as funções da música nesta pesquisa:
A arte também trabalha com o impessoal, a abstração e os conceitos, mas num plano de
intensidade afetiva inclusiva e não excludente quanto às emoções e às interações
subjetivas. Ela os converte em forma, em forma de ação. A experiência envolve ciência,
arte e filosofia, para converte-se num acontecimento singular, marcar uma história de
saber com uma aprendizagem de fazer, produzir metáforas e imagens potentes para
inventar uma nova vida, uma vida melhor. (2003/p.83).
Por fim, o que faz a música? Para que serve? É uma das questões mais antigas do homem
que atravessa séculos, milênios de civilização. Para isto Merriam sustenta que é errado dizer que a
música das sociedades iletradas é mais funcional que a nossa: com isso deve-se somente entender
que a música pode haver mais usos a respeito daqueles que nós a atribuímos, mas funções
existem desde que haja música.
Há um caminho a ser trilhado na vivência de um conhecimento musical significativo no
interior da escola tanto para os professores quanto para os alunos.
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa investiguei as funções da música em cinco (5) escolas estaduais de ensino
fundamental, na cidade de Porto Alegre/RS, através da listagem de Allan Merriam, desvelando
algumas das práticas pedagógicas que são permeadas pela música, dentro destas instituições.
A partir das falas das professoras e das observações feitas por mim, foi possível
reconhecer na prática, como a música interage dentro das escolas, através de sua utilização e
funções.
Falar sobre os conhecimentos práticos das escolas, mantendo no texto o caráter
dinâmico, a complexidade e a tentativa de neutralidade quanto às respostas, que caracterizam
esses conhecimentos, não foi tarefa fácil. Isso porque no decorrer da pesquisa, tive muitos
entraves, fazendo com que eu refletisse sobre o tema e a pesquisa proposta. Porém, com
perseverança e acreditando, sobretudo, na importância deste tema, consegui reverter a situação.
Um dos autores mais citados quando o assunto é música e cultura, Alan Merriam, coloca-
se fortemente neste modelo. A experiência da música é sempre integrada a um contexto cultural,
segundo nos ensina. Por sua parte Alan Merriam a definiu com o estudo da música na cultura, ou
seja, o estudo dos sistemas musicais do mundo sem distinção entre música culta ou popular e a
85
considera dentro do campo da antropologia, destacando a necessidade do estudo do contexto. A
etnomusicologia é entender que a música é parte do ser humano, algo inerente ao mesmo. Os
usos e funções da música representam uma das situações mais importantes quando se trata do
estudo do comportamento humano, não apenas a respeito da música, mas principalmente pelo
significado da música. Nisto, em especial, reside o estudo de Merriam (1964). O significado de
usos e funções, duas expressões utilizadas por ele, são complementares.
Nesta investigação sobre as funções da música no ensino fundamental, procurei olhar
quais atividades e quais finalidades a música desempenha em cinco (5) escolas e com dezessete
(17) sujeitos diretamente envolvidos, sendo todos do sexo feminino.
Constatei, primeiramente, que todas as escolas promovem eventos com música. Para os
sujeitos pesquisados, a presença da música na escola é importante porque desempenha alguns
papéis bem claros, tais como fazer parte integrante das aulas, divertir e unir as pessoas.
Um aspecto relevante que aparece nos dados coletados é o aspecto emocional, dito pelas
professoras com termos como “tranqüilizar e acalmar os alunos”. As datas comemorativas e
cívicas também têm uma grande valorização.
As escolas realizam projetos que envolvem música, utilizando-a de forma aleatória (não
como linguagem), porém como parte integrante da atividade pedagógica e didática, em datas
cívicas e festas, como dia das mães, dos pais, das crianças, etc.
Tive a oportunidade de presenciar o batizado de capoeira, a festa da consciência negra, a
festa de Natal de duas escolas e a formatura em mais duas, quando do andamento da pesquisa.
Assim, cada escola revela uma maneira diferente de articular e combinar a música em suas
atividades, priorizando o atendimento ao aluno e a imagem da escola ante a comunidade. Com
isto, notei como a influência da teoria das inteligências múltiplas, criada por Gardner tem grande
penetração no meio educacional, pois, segundo ele mesmo, a música auxilia na compreensão de
outras disciplinas.
86
A análise e interpretação dos dados referentes aos questionários sobre as práticas musicais
permitiram que fossem destacados alguns temas das funções da música, que, vistos de forma
articulada, desvelaram a essência de suas atividades que tem a música como o fio condutor.
Pelos casos aqui analisados, as respostas obtidas parecem ser as que podem ser tomadas
como verdades principalmente em relação às concepções sobre as funções da música dentro do
ambiente escolar.
As funções da música, elencadas pelo etnomusicólogo Alan Merriam, foram
contempladas em quase toda sua totalidade por esta pesquisa, bem como foram criadas outra
duas categorias. As funções ratificadas nas escolas são:
de expressão emocional,- através de termos como acalmar, tranqüilizar, leveza, alto astral,
boas mensagens;
de divertimento- através de termos como descontrair, alegrar, datas comemorativas, rimas
engraçadas
de comunicação- através de termos como mensagens, facilitar a comunicação,
conhecimento de outra linguagem;
de representação simbólica- através de termos como algum fato que lembra a letra de
uma música, alunos aprendem com tanta facilidade
de reação física – através da dança;
de impor conformidade a normas sociais- através de termos como atingir objetivos,
abrange a cultura geral, letras sobre ore-conceitos;
de contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura- através de trabalhos
práticos e datas festivas;
de contribuição para a integração da sociedade- através de lazer, interação, comunicação,
amizade.
As funções de prazer estético e de validação dos rituais religiosos não foram observadas.
Pelo tratamento que é dispensado à música, nas escolas, ao meu ver, não ela não é tratada como
87
objeto artístico, pois a arte questiona sobre o belo, o feio, o gosto, os estilos, a criação e a
percepção artística. Ela é tratada de forma prática, é um fio condutor de todas as ações, não
sendo reconhecida como área de conhecimento.
A religião não é tratada como dogma religioso nem é confessional, é trabalhada nas
escolas através dos temas transversais, ditados pelos PCN, 1997, que são: ética, saúde, meio
ambiente, orientação sexual, pluralidade cultural e trabalho e consumo. Portanto a música,
quando utilizada nestas aulas, é somente para acalmar e relaxar os alunos, não fazendo parte
integrante como “conteúdo” e auxiliar da disciplina.
Acrescentei outras duas funções: a função escolar e a função de publicidade. A função
escolar é, por tudo que possa valer, o trabalho que realizado com música atravessou as fronteiras
do conhecimento por áreas estanques e reforçou a atividade interdisciplinar integrada a outros
objetivos da educação.
A função de publicidade funciona a partir de um “marketing”, por parte de todos que
trabalham na escola, fazendo o melhor todo dia para mostrar à comunidade escolar os valores da
instituição educacional, a qualidade de seus profissionais e a alegria de estudar naquela escola.
Constatei que apesar de considerarem a música muito importante, muitas professoras
reconhecendo-a até como área de conhecimento, os sujeitos da pesquisa, através de observações
e entrevistas, a utilizam na escola como auxiliar e não como disciplina. A música é um meio para
se trabalhar outros componentes pedagógicos, para desenvolver a concentração, a calma e como
parte integrante da aula.
A importância das supervisoras é outro fator relevante na pesquisa, pois elas determinam
os horários para as atividades, quem faz o quê, quando se apresentam. Isto no tocante à prática
docente. No decorrer da pesquisa elas também tiveram papel preponderante, pois as supervisoras
liberavam ou não, na prática, o desenvolvimento da mesma, determinando, de alguma maneira,
com quem eu poderia conversar, entrevistar, receber os questionários. São elas que estabelecem
as parcerias e as estruturas administrativas das escolas.
88
Outra consideração da presente investigação refere-se aos professores envolvidos de
alguma maneira com a música. Não existe professor de música nas escolas estaduais - a lei
9394/96 ainda não foi colocada em prática, no que tange a este assunto. Parece que vige, ainda,
na prática, a LDB anterior, a 5692/71, onde o professor de educação artística deveria lecionar
todas as artes (dança, música, artes visuais, teatro). As professoras das séries iniciais são
unidocentes, pois não tendo espaço para um especialista, desempenham, também, a função de
professora de música. Isto se repete nas séries finais, onde as professoras das disciplinas de
Ciências, Religião, História entre outras, também desempenham este papel.
O tema da consciência negra é muito relevante, perpassando todo o ensino em duas
escolas e tendo de ser colocado em prática nas demais. A música é um elo que une todo este
projeto, através de atividades consideradas pelas docentes como pertencentes à cultura negra:
capoeira, danças com ritmos afro e bate-lata.
A metodologia utilizada atendeu às expectativas do projeto original, uma vez que os
dados coletados foram suficientes para realização da pesquisa. Mesmo depois dos qüiproquós
iniciais, acabou atendendo às propostas originais. À medida que realizava as entrevistas, fui
percebendo como que havia outras idéias, além das minhas, outras formas de entender e ver as
funções da música na escola. Nesse sentido, destaco a importância de trabalhos em que as
professoras não sejam somente observadas, mas também que possamos conversar e, sobretudo
ouvi-las, pois as narrativas das professoras sobre as próprias práticas educativas revelam uma
maneira de compreendê-las.
Nenhuma escola pesquisada faz referência a algum fundamento teórico no qual se baseie,
não permitindo uma análise desse aspecto, porém as escolas apresentam uma prática coerente e
estruturada internamente. Pelos seus discursos, parece-me que os referenciais teóricos sobre as
funções da música, sobre a legislação e sobre a teoria das inteligências múltiplas foram
incorporados aos seus conhecimentos práticos,
89
Registro que as respostas redigidas nos questionários são breves, deixando algumas
lacunas que foram preenchidas quando das observações e das entrevistas semi-estruturadas.
Interpretar as respostas, sob uma ótica que não era totalmente a minha (colocando-me no lugar
de cada sujeito) como relatado acima, foi mais uma dificuldade e também um grande desafio para
mim.
Algumas questões surgidas durante a realização desta pesquisa podem servir de referência
para outras investigações na área da educação. Por exemplo:
- Por que a Secretaria de Educação/RS não dispõe de professores especializados como rege a Lei
9394/96?
- A música e a arte em geral são muito apreciadas quando fazem o papel de publicidade da escola,
tanto por parte da área administrativa, pedagógica ou dos próprios alunos. Por quê então como
disciplina não goza do mesmo prestígio?
- Também na educação continuada ou nos cursos de formação, propiciados pela SEC/RS, que se
façam projetos em parceria com as Instituições de Ensino Superior e com entidades da sociedade
organizada que trabalhem com música (faculdades, fundações, associações, escolas de música,
etc.)
- Onde estão atuando os alunos egressos dos Cursos de Licenciatura em Música?
- Partindo do princípio que não se pode contar, pelo menos a curto prazo, com profissionais
especializados nas diferentes linguagens artísticas para dar conta da demanda em todos os
segmentos da escolarização básica estadual, acredito que seja possível trabalhar inserindo, nos
cursos de Pedagogia, módulos de Educação Musical que permitiriam uma vivência de conteúdos
musicais por parte dos professores .
- Nas escolas particulares, municipais e federais de ensino fundamental, bem como no ensino
médio, as funções que a música desempenha são as mesmas apresentadas nesta pesquisa?
90
Com o objetivo de fornecer material para as discussões sobre as funções da música nas
escolas estaduais de ensino fundamental (que poderão ser também particulares, municipais e
federais), esta pesquisa de mestrado deverá ser reproduzida em CD e enviada cópia para as
Bibliotecas das Faculdades de Educação Artística existentes no RS. Também enviarei para as que
possuem cursos de formação de professores, para a Secretaria de Educação/RS e para as
Associações de Educação Musical que assim desejarem. Proporcionando, desta maneira,
subsídios para uma possível reflexão sobre as funções da música nas escolas, contribuindo
também para aproximar escolas e universidades, professores e pesquisadores.
Para isso é necessário, vontade política, empenho das instituições e dos sujeitos
responsáveis pela educação. Caso contrário permanecerá a situação atual em que é possível
constatar a música como presença intensa no cotidiano de todos os envolvidos na presente
pesquisa e, ao mesmo tempo, ausência, enquanto conhecimento formal, sistemático e
significativo, do cotidiano da escola.
Por fim, espero ter conseguido retratar as práticas e os relatos das professoras envolvidas
com seriedade e comprometimento, as mesmas que orientam suas práticas em sala de aula e nas
atividades escolares, e que, também motivaram suas disposições em participar da presente
pesquisa.
91
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95
A N E X O S
96
ANEXO 1
QUESTIONÁRIO PARA A DIREÇÃO DA ESCOLA
Questionário integrante da pesquisa de Ângela B. Crivellaro Sanchotene, aluna de Mestrado em
Educação/UFRGS.
Os dados aqui contidos serão para uso de pesquisa, portanto confidenciais.
É interessante que este questionário seja preenchido por alguém da direção da escola,
independentemente de seu cargo ou função.
NOME DA ESCOLA....................................................................................................
TELEFONE .............................................. E-MAIL.....................................................
NOME.........................................................................................................................
CARGO ......................................................................................................................
1 De que forma a música é utilizada na escola?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
2 Que músicas fazem parte do repertório, para serem ouvidas ou trabalhadas?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
3 A música é utilizada em momentos específicos? Quais momentos e quais músicas?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
4 Os alunos ouvem música no recreio? Que gênero (estilo)?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
97
5 Quem sugere as músicas do recreio?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
6 A escola possui instrumentos musicais? Quais?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
7 Quem os utiliza?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
8 Com que finalidade?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
9 Existem grupos que utilizam a música de forma permanente na escola? Quais e como
funcionam?
............................................................................................................................................................................
......................................................................... ..................... ..................... .....................................................
............................................................................................................................................................................
10 Você acredita que a música é um elemento ou fator importante na educação dos alunos? Por
quê?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
98
11 A ESCOLA POSSUI:
a) ( ) aparelho de som com cd player
b) ( ) aparelho de som sem cd player
c) ( ) cds variados
d) ( ) televisão
e) ( ) vídeo
f) ( ) aparelho de dvd
g) ( ) fitas com assuntos relativos à música
h) ( ) rádio
i) ( ) livros e revistas de música
j) ( ) caixa de som no pátio
k) ( ) caixa de som nas salas de aula
l) ( ) caixa de som em outro lugar ................................................................................
OBSERVAÇÕES:...........................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
99
ANEXO 2
QUESTIONÁRIO PARA O PROFESSOR DA ESCOLA
Questionário integrante da pesquisa de Ângela BC Sanchotene/Mestrado em Educação/UFRGS.
Os dados aqui contidos serão para uso de pesquisa, portanto confidenciais.
É interessante que este questionário seja preenchido pelos professores que empregam a música
em suas atividades de classe ou na Escola, desde a 1ª até a 8ª série (independentemente de suas
formações), desde que trabalhem com música.
- OS ITENS MARCADOS COM * SÃO DE PREENCHIMENTO OBRIGATÓRIO.
*Nome da Escola.............................................................................................................................................
Endereço...........................................................................................................................................................
Telefone............................................... E-mail ............................................................................................
Diretor(a.)..........................................................................................................................................................
*Entrevistado ..................................................................................................................................................
Professor (a) de ...............................................................................................................................................
1 De que forma a música é utilizada em sala de aula ou no colégio, por você?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
2 Quando você a utiliza?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
3 Por que você a utiliza?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
100
4 Que repertórios (músicas) são trabalhados ou utilizados?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
5 Você acredita que a música é um elemento ou fator importante na educação dos alunos? Por
quê?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
6 Qual ou quais funções a música desempenha na sala de aula ou na escola?
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
7 OS ALUNOS TRAZEM:
a) ( ) cd player
b) ( )aparelho de som
c) ( ) instrumentos musicais
d) ( ) fitas de vídeo ou dvd com assuntos referentes à música
e) ( ) quando ...........................................................................................................
8 OS PROFESSORES TRAZEM:
a) ( ) cd player
b) ( )aparelho de som
c) ( ) instrumentos musicais
d) ( ) fitas de vídeo ou dvd com assuntos referentes à música
e) ( ) quando ...........................................................................................................
Outras observações:
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................
101
ANEXO 3
ROTEIRO PARA AS ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS REALIZADAS NA
PESQUISA DE DISSERTAÇÃO: FUNÇÕES DA MÚSICA NO ENSINO
FUNDAMENTAL, DE ÂNGELA BEATRIZ CRIVELLARO SANCHOTENE, 2005/6
Lendo as respostas do seu questionário, notei que você trabalha com música em sala de
aula. Você poderia explicar como você a utiliza?
Em que momentos?
As crianças gostam?
Que disciplina ou série você leciona?
Quantos alunos você tem por turma, mais ou menos?
Que tipos (gêneros) de música são trabalhadas ou ouvidas?
O que você acha da música em sala de aula?
A escola apóia sua atitude?
A música, então, desempenharia quais funções?
Estas são as perguntas que faço para todas as professoras. Após, a conversa começa a fluir e as
perguntas variam para cada uma.
102
ANEXO 4
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
APRESENTAÇÃO
Pela presente, apresento minha orientanda de Mestrado em Educação desta Faculdade, Ângela B.
Crivellaro Sanchotene, para que possa realizar sua pesquisa de Dissertação nessa escola. Sua
pesquisa refere-se às funções da música no ensino fundamental.
Sem mais, subscrevo.
Dra. Esther Beyer
Professora Orientadora
Porto Alegre, 2005
ANEXO 5
103
20 DE NOVEMBRO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Comemoramos no dia 20 de novembro, o "Dia Nacional da
Consciência Negra". Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi,
um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se
transformou em um grande ícone da resistência negra ao
escravismo e da luta pela liberdade.
A ESCOLA XXXX TEM O
PRAZER DE CONVIDÁ-LO
PARA OS FESTEJOS DESTA
DATA TÃO IMPORTANTE
DIA19 DE NOVEMBRO
HORÁRIO 9H às 11H
Consideramos o dia nacional de todos os brasileiros e
brasileiras que lutam por uma sociedade democrática e
igualitária, unindo-nos em uma nação que contemple a
nossa diversidade.
"Somos os herdeiros de um grande e explorado continente chamado África. Somos os herdeiros de um passado de
rapina, fogo e assassinato. Eu, pessoalmente, não estou envergonhado do meu passado. Minha vergonha é por
aqueles que chegaram a ser tão inumanos que puderam submeter-nos a esta tortura". (Martin Luther King)
104
ANEXO 6
TABELA 12
Refere-se aos meus encontros com as escolas.
Evento Data
Escola
Visitada
Duração
aproximada
Contato Telefônico
1º a 12/08/2005 Todas
7 min em cada
ligação
17/08/2005 A 10 min
17/08/2005 B 15 min
19/08/2005 C 25 min
19/08/2005 D 10 min
24/08/2005 E 10 min
26/08/2005 F 15 min
26/08/2005 G 20 min
30/08/2005 H 10 min
30/08/2005 I 10 min
02/09/2005 J 10 min
14/09/2005 K 10 min
14/09/2005 L 10 min
Visita 1
Apresentação da
Pesquisa
e
Entrega dos
Questionários
16/09/2005 M 10 min
30/08/2005 A 20 min
02/09/2005 A e B 20 min (em cada)
14/09/2005 C 15 min
16/09/2005 C 30 min
21/09/2005 G 20 min
24/09/2005 H 20 min
28/09/2005 C 10 min
Visita 2
Busca dos Questionários
30/09/2005 C 20 min
09/11/2005 A 50 min
11/11/2005 C 20 min
18/11/2005 G 60 min
23/11/2005 B 40 min
25/11/2005 H 40 min
30/11/2005 A 50 min
28/03/2006 B 50 min
31/03/2006 C e H 50 min (em cada)
07/04/2006 A 60 min
18/04/2006 A 60 min
25/04/2006 G 50 min
03/05/2006 G 45 min
10/05/2006 A e G 60 min (em cada)
Visita 3
Entrevistas com as
Professoras
24/05/2006 A 60 min
19/11/2005 A e G 2 horas (em cada)
09/12/2005 A 2 horas
16/12/2005 B 2 horas
20/12/2005 C e G 2 horas (em cada)
Visita 4
Apresentações que
presenciei
13/05/2006 G 2 horas
105
ANEXO 7
Coral da Escola A
ANEXO 8
Grupo “Splash”, da Escola G
106
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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