54
sentem-se inseguros, mesmo antes da tentativa de suicídio. Mara evoca a experiência de
sua família de origem para afirmar a relevância de todos estarem sempre juntos:
“A gente era muito assim, unido, o meu pai era sempre de ta junto com a família. Eu
me lembro até que os bailes que a minha mãe e o meu pai iam, a gente ia junto.
Então, a gente sempre vivia em comunhão, enfim, o que um queria, outro fazia. Daí
se tornou maior quando a minha mãe ficou viúva né, daí sim, foi tudo em função
dela, tudo o que a gente fazia, os cuidados e tudo né. E o meu irmão foi até os
últimos dias da vida dela, sempre juntos, ele tratava ela como se fosse uma criança,
era uma filha pra ele, ele cuidava bem até demais. Tanto é que ele esqueceu até de
ter filho né, foram ter depois que ela faleceu...”
Cláudia vive hoje na companhia de sua mãe, padrasto e irmão. Não conviveu com o
pai, tendo morado até recentemente na companhia apenas da mãe. Esta relação de
exclusividade traz para ambas fortes sentimentos, que “sufocam”. Os limites difusos entre
mãe e filha impedem que Cláudia possa se emancipar: surgem sentimentos de culpa e dor:
Cláudia: “Isso me impressionava, não sei se é a palavra, impressionava eu me
sentia sufocada, eu parecia um bebê de 2 meses, não podia fazer mais nada, tava ela
na minha volta, sabe. Sempre na minha volta, sempre, sempre, sempre.. Eu só acho,
quando ela me liga uma vez ainda vai, o problema é que ela me liga umas três vezes
(Rosane ri). Aí eu me sinto irritada, porque eu, eu não sou criança.”
Rosane: “A Cláudia veio fazer o intensivo em Porto Alegre. Foi a dor maior do
mundo, que eu tive na minha vida, que parece assim....Não tinha caído a ficha que
ela tinha crescido, porque eu tinha só ela, então ela saiu, deu tchau pra ir e eu fiquei
aquela semana toda assim, em prantos...”
Silvia é casada com Carlos e tem três filhos adultos jovens. As crises geradas por
perdas financeiras, concomitantemente a uma maior emancipação dos filhos, são apontadas
como precipitadores da presença do comportamento suicida na família. Ao narrarem suas
histórias, pais e filhos percebem-se atados através de laços que foram inibindo iniciativas
em torno da diferenciação do eu.
Filhos: “Se não era em casa, ela participava de tudo da escola, era a mãe
representante, ia nos passeios com a gente, de vez em quando a gente ficava irritado,
sempre a mãe. Então era sempre envolvida pra gente, não largava.”
Mãe: “Porque no momento em que eles começaram a ser mais independentes e a
tomar os seus rumos, a minha vida ficou um vazio muito grande. Eu era ocupada,
vinte e quatro horas pra eles, vivia pra eles. Os meus filhos eram o preenchimento
da minha vida. Me preenchiam, me ocupavam...”
Filhos: “Empurra, empurra, pressiona. De vez em quando a gente é a cabeça e o pai
é o braço. E eu acho que ta faltando isso lá em casa, né, de ter o pai e a mãe, como
os dois um casal e nós somos os filhos. Principalmente as questões financeiras. Pra