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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PEDIATRIA
CONSUMO DE FARINÁCEOS FORTIFICADOS E DE
ALIMENTOS RICOS EM
FOLATOS POR MULHERES
EM IDADE FÉRTIL DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL.
ANA FLÁVIA STEIN FERREIRA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Porto Alegre, Brasil, 2005.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS: PEDIATRIA
CONSUMO DE FARINÁCEOS FORTIFICADOS E DE
ALIMENTOS RICOS EM
FOLATOS POR MULHERES
EM IDADE FÉRTIL DE PORTO ALEGRE, RS, BRASIL.
ANA FLÁVIA STEIN FERREIRA
Orientador: Prof. Dr. Roberto Giugliani
A apresentação desta dissertação de mestrado é exigência do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas: Pediatria, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, para obtenção do título de Mestre.
Porto Alegre, Brasil, 2005
.
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F383c Ferreira, Ana Flávia Stein
Consumo de farináceos fortificados e de alimentos ricos em folatos por mulheres em idade
fértil de Porto Alegre, RS, Brasil / Ana Flávia Stein Ferreira ; orient. Roberto Giugliani. – 2005.
88 f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina.
Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: Pediatria. Porto Alegre, BR-RS, 2005.
1. Alimentos fortificados 2. Anormalidades : Prevenção 3. Consumo de alimentos 4. Mulher 5.
Ácido fólico 6. Farinha 7. Porto Alegre (RS) I. Giugliani, Roberto II.Título.
NLM: QU 145.5
Catalogação Biblioteca FAMED/HCPA
Este trabalho é dedicado
Aos meus pais, Flavio e Nina, pelo carinho,
incentivo e exemplo de que devemos sempre ir
em busca do nosso sonho.
À minha avó Maria Emília (Vó Mimi), amiga,
companheira e colega de profissão, a quem sou
grata pelos seus ensinamentos e sabedoria.
Ao José Maurício, em quem encontrei, neste meio
tempo, um grande amigo, um companheiro
generoso, que soube entender e respeitar meus
momentos de angústia e cansaço e com quem
compartilho momentos de intensa alegria e
felicidade.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade.
Ao professor Dr. Roberto Giugliani, orientador deste trabalho, pela generosidade e
incentivo ao longo deste estudo.
Ao Dr. Julio Loguercio Leite, sempre prestativo, pelas horas de dedicação e paciência
em solucionar dúvidas e aflições.
À Dra. Nina Rodrigues Stein, grande amiga, pelo incentivo à pesquisa científica, pelo
carinho e dedicação nas horas de incertezas e reflexões sobre a pesquisa.
À nutricionista Luciana Dias de Oliveira, colega e amiga, por ter me trazido para o
mundo da pesquisa científica pelo carinho, amizade e cumplicidade ao longo desses dias.
Às colegas nutricionistas Ana Cristina Camargo e Flávia Cousinho, por participarem
desta pesquisa, auxiliando-me na execução do trabalho de campo.
Às colegas de profissão: Carla Rosane Silveira, pelo exemplo de humildade,
dignidade, dedicação e pelos seus ensinamentos na área de nutrição infantil; Cristina Toscani
Leal Dornelles, nutricionista pediátrica e colega de pós-graduação, pela amizade ao longo
desses anos e Fabiane Asmmann, também colega de profissão e de pós-graduação pela sua
força de vontade em sempre saber mais e ajudar nas horas de “aperto”.
Aos meus familiares e amigos, em especial ao meu irmão João Paulo, que, de forma
direta ou indireta, me incentivaram para que eu não desistisse, quando via pela frente
obstáculos enormes, passando-me segurança, incentivo e paciência para chegar com a
sensação de dever cumprido.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: Pediatria, ao coordenador do
programa, Dr. Marcelo Goldani, à Dra. Newra Rotta, pela oportunidade de estudar neste
conceituado Curso de Pós-Graduação e à secretária, Rosane Blanguer, muito prestativa em
solucionar dúvidas sobre o programa.
À Ceres de Oliveira, pela dedicação e disponibilidade na análise estatística.
À CAPES, pelas diversas formas de incentivo à pesquisa neste país e, particularmente,
por ter sido contemplada como bolsista por um ano.
“Não é o desafio com que nos deparamos que
determina quem somos e o que estamos nos
tornando, mas a maneira com que
respondemos ao desafio. Somos combatentes,
idealistas, mas plenamente conscientes, porque
o ter consciência não nos obriga a ter teoria
sobre as coisas: só nos obriga a sermos
conscientes. Problemas para vencer, a
liberdade para provar. E, enquanto
acreditarmos nos nossos sonhos, nada é por
acaso”.
Henfil
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................13
3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO........................................................................................23
4 OBJETIVOS........................................................................................................................25
4.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................................26
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................26
5 MATERIAL E MÉTODOS................................................................................................27
5.1 DELINEAMENTO...........................................................................................................28
5.2 POPULAÇÃO EM ESTUDO..........................................................................................28
5.3 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO...........................................................................................28
5.4 TAMANHO DA AMOSTRA...........................................................................................28
5.5 VARIÁVEIS EM ESTUDO.............................................................................................29
5.6 PACIENTES E MÉTODOS............................................................................................30
5.6.1 Desenvolvimento do questionário dietético.................................................................30
5.6.2 Teste do Questionário....................................................................................................30
5.6.3 Aplicação do questionário.............................................................................................31
5.6.4 Análise dos dados...........................................................................................................33
5.6.5 Análise estatística...........................................................................................................33
5.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS .........................................................................................34
5.7.1 Autorização para pesquisa............................................................................................34
5.7.2 Consentimento Informado Livre e Esclarecido..........................................................34
6 RESULTADOS....................................................................................................................35
7 DISCUSSÃO........................................................................................................................41
CONCLUSÕES.......................................................................................................................49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................51
OBRAS CONSULTADAS.....................................................................................................55
ANEXOS .................................................................................................................................58
APÊNDICE ............................................................................................................................62
ARTIGO..................................................................................................................................64
LISTA DE ABREVIATURAS
B9 – ÁCIDO FÓLICO
CDC – CENTERS FOR DISEASE CONTROL
DTN – DEFEITO DO FECHAMENTO DO TUBO NEURAL
DTNs – DEFEITO DO FECHAMENTO DO TUBO NEURAL
DNA –ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO
FDA – FOOD AND DRUG ADMINISTRATION
QFA – QUESTIONÁRIO DE FREQÜÊNCIA ALIMENTAR
RDA –RECOMMENDED DIETARY ALLOWENCES
RNA – ÁCIDO RIBONUCLEICO
USPHS – U.S. PUBLIC HEALTH SERVICE
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1: Classificação sócio-econômica utilizada..............................................................30
Tabela 2: Caracterização da amostra (N = 400)..................................................................36
Tabela 3: Consumo médio dos alimentos conforme a classe econômica dos entrevistados.
..................................................................................................................................................37
Tabela 4: Correlações entre algumas variáveis e grupo de alimentos em estudo.............38
Tabela 5: Ingestão conjunta de alimento-fonte com farináceos conforme a escolaridade
das mulheres amostradas.......................................................................................................39
Tabela 6: Relação de algumas variáveis com o grupo de alimentos em estudo................39
Figura 1 .Formação Incompleta da medula Espinhal – Defeito do Tubo Neural ............16
Gráfico 1. Média do Consumo dos Alimentos Estudados ..................................................37
RESUMO
Objetivo: Avaliar o consumo de farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico em uma
amostra de mulheres em idade fértil da cidade de Porto Alegre-Brasil.
Métodos: Foi realizado um estudo de prevalência com base populacional, com uma amostra
de conveniência. Foi aplicado um questionário de freqüência quantitativa contendo questões
relativas à classificação sócio-econômica e ao consumo de farináceos e alimentos-fonte em
folato. Foram incluídas no estudo 400 mulheres entre 15 e 45 anos. Todas as participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados: O consumo diário de folatos nesta população foi em média de 220,1 µg. A
quantidade consumida de farináceos foi de 176 g por mulher. A ingestão conjunta de
alimentos-fonte de folato e de farináceos fortificados (farinha de trigo e/ou milho) foi de
404,7 µg por pessoa.
Conclusões
: Como o consumo de ácido fólico preconizado pela RDA é de 400µg/dia,
incluindo tanto o folato proveniente de alimentos-fonte quanto os suplementados, a adição do
ácido fólico na farinha de trigo está permitindo que o limite inferior recomendado seja
atingido, não havendo, no entanto, uma garantia que esse valor se mantenha se forem
computadas as perdas decorrentes do cozimento e da ação da luz UV, não consideradas neste
trabalho.
Palavras-chave: Fortificação Alimentar. Ácido Fólico. Defeitos Congênitos. Defeitos do Tubo
Neural. Prevenção Primária.
SUMMARY
Objective: To evaluate consumption of farinaceous and folic acid-rich foods in a sample of
women at childbearing age from the city of Porto Alegre, south of Brazil.
Methods: A questionnaire was applied to 400 women at childbearing age (15 to 45 years old),
including questions about socio-economic status and consumption of farinaceous and folate
food sources. All women taking part in the study signed an Informed Consent form.
Results: The daily intake of folate among this population was, on average, 220.1 µg. The
amount of farinaceous foods was 176 g per woman. The combined intake of folate-rich and
fortified farinaceous foods (wheat and/or corn flour) was 404.7 µg per person.
Conclusion: Since the recommended daily allowance (RDA) of folic acid is 400 µg/day,
including both folate from food sources and supplements, the addition of folic acid to wheat
flour was essential to ensure the intake of the minimum recommended amount. However,
there is no guarantee that this amount is maintained when losses resulting from cooking or
UV light (not considered on this work) are computed.
Keywords: Food Fortification, Folic Acid, Birth Defects, Neural Tube Defects, Primary
Prevention.
INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Há mais de 50 anos que a fortificação alimentar tem sido usada como recurso para
melhorar o estado nutricional de populações suscetíveis a carências nutricionais. Essa é uma
alternativa que está sendo usada, com excelentes resultados, por muitos países. Quando se faz
uma escolha de alimentos a serem fortificados, deve-se lembrar que os alimentos deverão ser
de fácil acesso, custo acessível e pertencentes à dieta habitual da região. Além disso, eles não
deverão ter seu paladar ou aspecto alterado e compostos com boa disponibilidade deverão ser
utilizados.
Uma dessas formas de fortificação alimentar é a que utiliza o ácido fólico na farinha
de trigo e milho. Ela já vem sendo usada, por um bom tempo, em alguns países, como o
Canadá, Estados Unidos, Finlândia, Chile e, agora, Brasil. Conforme algumas pesquisas, os
resultados se mostraram muito promissores.
No Brasil, a fortificação do ácido fólico na farinha de trigo e milho foi recentemente
regulamentada e seus benefícios ainda necessitam ser comprovados. Conforme a última
pesquisa realizada pelo IBGE (POF/2002-2003), a região Sul do Brasil vem aumentando o
consumo de produtos de padaria. Essa pesquisa foi idealizada para analisar o consumo de
alimentos-fonte de folato e a quantidade de alimentos do grupo dos farináceos que a
população consome, em particular na cidade de Porto Alegre, para verificar se a quantidade
consumida pela população está nos níveis recomendados pelo Ministério da Saúde.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O ácido fólico (folato) é uma vitamina hidrossolúvel, do complexo B, essencial para as
reações metabólicas específicas no meio celular e vital para o funcionamento e crescimento
normal do organismo (Vannucchi, Jordão,1998).
O folato está amplamente distribuído na natureza, sendo sua principal fonte o levedo
de cerveja. Ele se encontra nos vegetais de folhas, como o espinafre, o aspargo, o repolho e o
brócolis; em frutas, como laranja e banana; e em outros alimentos, como vísceras, carnes,
ovos e feijão. Apesar de sua grande presença na alimentação, é relativamente fácil a
ocorrência de deficiência dessa vitamina. Quando cozido por um período prolongado, o ácido
fólico pode ser destruído em até 90%. Além de ser termo-sensível, é pouco resistente ao
contato com a luz e com o oxigênio (Layrisse et al, 1988; Vannucchi, Jordão,1998; Kaluski et
al, 2002).
Os folatos participam de dois processos biológicos importantes, ou seja, atuam como
co-fatores para as enzimas implicadas na biossíntese de RNA e DNA e como co-fatores na
formação da metionina (Czeizel, 1996).
Eles também agem na formação de produtos intermediários do metabolismo, sendo
sua função bioquímica principal transferir uma unidade de carbono a vários compostos
durante a síntese de purinas e pirimidinas, assim como nos processos de inconversão de
aminoácidos em diferentes rotas metabólicas, promovendo a formação de aminoácidos
(Franco,1997).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
15
Os folatos constituem um grupo de compostos heterocíclicos no qual o ácido pteróico
está conjugado com um ou diversos resíduos de ácido L-glutâmico (Czeizel, 1996). Sua
estrutura apresenta um núcleo pteridina ligado a uma molécula de ácido paraminobenzóico e a
uma de ácido glutâmico (C19H19N7O6), originando o nome de ácido pteroilglutâmico
(Guilland, Lequeu,1995).
O ácido fólico demonstrou exercer certo grau de proteção contra substâncias de ação
teratogênica, como a piritiamina. A forma ativa mais importante do ácido fólico é o ácido-5-
formil-5,6,7,8-tetraidrofólico (acido folínico). Ele é necessário à produção normal das
hemáceas, incluindo a maturação dos megaloblastos em normoblastos (Franco, 1997).
A absorção do folato alimentar em concentrações fisiológicas no homem é feita,
principalmente, no primeiro terço do intestino delgado, por processo ativo saturável
dependente de ph e de sódio, apesar de ocorrer também em toda a extensão do mesmo
(Guilland, Lequeu, 1995; Herbert, 1999; O´Leary, Sheehy, 2001).
O ácido fólico encontra-se no plasma distribuído em três frações: o folato livre e os
folatos ligados aos transportadores de baixa e de alta afinidade, que são responsáveis pelo seu
transporte para as células da medula, reticulócitos, fígado, fluido cerebroespinhal e células
tubulares renais. Supõe-se que esse transporte seja ativo e mediado por um carreador, uma vez
que ocorre contra uma gradiente de concentração (Herbert, 1999).
As reservas normais de ácido fólico no organismo variam de 5 a 10 mg, sendo a
metade armazenada no fígado, na forma de poliglutamato (Vannucchi , Jordão, 1998). Essa
reserva é suficiente por pouco tempo, de modo que a deficiência de folato pode
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
16
aparecer em aproximadamente quatro meses, quando a dieta é pobre na vitamina. O fígado
pode manter uma concentração próxima de 4mg/L durante um mês, em caso de carência da
oferta. A excreção do folato pelo organismo é feita pelas vias urinárias e biliares nas formas
metabolicamente ativa e inativa (Guilland , Lequeu, 1995; Herbert, 1999).
Além disso, a ingestão inadequada de folato no período periconcepcional parece estar
associada a uma maior incidência de defeitos de tubo neural, como a espinha bífida ou
anencefalia na infância (Boushey et al, 2001).
Essas malformações do sistema nervoso central são causadas por erro no
desenvolvimento em etapas precoces da embriogênese durante a terceira ou quarta semana de
gestação (Pérez-Escamilla, 1995). Mais precisamente, o defeito do tubo neural (DTN) ocorre
por um fechamento incompleto da crista neural durante a neurulação. O defeito pode ocorrer
desde a fronte até a espinha sacra, sempre na linha média. O mais comum é ocorrer um
defeito do tipo meningomielocele na altura da coluna lombar. A maioria desses defeitos
resulta na exposição de uma porção do tubo neural (Müller, 1999).
Figura 1. Formação Incompleta da Medula Espinhal – Defeito do Tubo Neural.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
17
Assim, toda mulher em idade fértil (usualmente 15-45 anos) deveria ter uma
alimentação adequadamente rica em alimentos-fonte de ácido fólico e suplementada em 400
µg/dia, conforme a RDA, principalmente antes da concepção e no início da gravidez. A razão
para a administração antes da gestação se deve ao fato de o tubo neural se formar entre o 25º e
27º dia após a concepção, antes que a maioria das mulheres saiba que está grávida.
Considerando que 50% das gestações não são planejadas, a responsabilidade das
mulheres em adotar medidas preventivas, como a suplementação do ácido fólico na dieta para
evitar os defeitos do tubo neural (DTN), é muito maior (Neuhouser , Beresford, 2001; Wald et
al, 2001). A ingestão de ácido fólico deveria iniciar, pelo menos, um mês antes da gestação e
se manter até dois meses após a concepção (Castilla et al, 2000; Honein et al, 2001; Nazer et
al, 2001; CDC,1991; Wald et al, 2001; Boushey et al, 2001).
Mesmo assim, a placenta possui altas concentrações de folato, oferecendo, assim,
grandes quantidades dessa vitamina para o feto. Isso é possível porque a proteína ligada ao
folato participa do mecanismo de concentração no organismo. De qualquer maneira, há uma
correlação positiva entre os níveis de folato sérico da mãe, do recém-nascido e da placenta.
(Giugliani et al, 1985).
Estudos mostram que, apesar de 13,9% das mulheres declararem conhecer os
benefícios do ácido fólico, apenas 2,2% foram capazes de mencionar uma correta lista de
alimentos ricos em folato (Castilla et al, 2000).
Segundo Castilla et al (2000), a suplementação periconcepcional de ácido fólico e a
vacinação da rubéola são consideradas medidas muito eficientes para prevenir a
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
18
malformação em recém-nascidos. Esse trabalho afirma que há três estratégias para aumentar
os níveis de prevenção de defeitos do tubo neural (DTN): dieta, suplementação com
polivitamínicos e fortificação de alimentos.
O suplemento alimentar tem como objetivo adicionar ou acrescentar alguma
substância específica à dieta do indivíduo. Em 1994, foi promulgado, nos EUA, após
aprovação pelo senado, o “Dietary Supplements Health and Education Act”, o qual estabelece
o conceito de suplemento alimentar como o produto (com exceção de tabaco) utilizado com o
objetivo de suplementar a dieta e que contenha um ou mais dos seguintes ingredientes:
vitamina, mineral, erva ou outro tipo de planta, aminoácido, substância dietética capaz de
aumentar o conteúdo calórico total da dieta, ou concentrado, metabólico, constituinte, extrato,
ou a combinação desses nutrientes. O produto pode ser feito para ser ingerido na forma de
pílulas, cápsulas, tabletes ou como líquido.
A fortificação é definida como a adição de um ou mais nutrientes aos alimentos, sendo
uma maneira de corrigir uma deficiência de nutriente, balancear o perfil nutricional de um
alimento, ou restaurar os nutrientes perdidos no processamento e, assim, suprir deficiências
nutricionais de uma população ou de grupos específicos da mesma.
Estudos epidemiológicos demonstram que o ácido fólico, quando ingerido
adequadamente, pode prevenir de 50% a 70% os defeitos de tubo neural. Desde 1992, o U.S.
Public Health Service (USPHS) recomenda que todas as mulheres em idade fértil devam
consumir 400µg de ácido fólico para ajudar a prevenir os defeitos congênitos anteriormente
mencionados (Than et al, 2002; Kaluski et al, 2002).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
19
A prevenção se classifica em três formas: 1) a prevenção primária é fundamentalmente
periconcepcional e procura evitar a ocorrência de defeitos congênitos; 2) a prevenção
secundária é pré-natal e visa a evitar o nascimento de um embrião defeituoso; 3) a prevenção
terciária é fundamentalmente pós-natal e busca evitar as complicações de defeitos congênitos,
melhorando as possibilidades de sobrevida, assim como sua qualidade de vida (Castilla ,
Lopez-Camelo, 1996).
Em 1998, a Food and Drug Administration (FDA) exigiu a fortificação e o
enriquecimento dos cereais e de todas as farinhas com o ácido fólico nos níveis de 140µg/100
gramas de farinha de trigo. Esse nível de fortificação foi calculado para possibilitar que
mulheres em idade reprodutiva atingissem o consumo do ácido fólico em 100µg/ dia
(Erickson, 2002; Mathews et al, 2002).
Nos Estados Unidos, a fortificação de ácido fólico foi primeiramente autorizada em
1996, mas consolidada apenas em 1998. No Chile, o Ministério da Saúde regulamentou a
fortificação do ácido fólico nas farinhas em 2000 (Neuhouser , Beresford, 2001; Nazer et al,
2001).
Na Grã-Bretanha, o Ministério da Saúde recomenda a fortificação de ácido fólico na
farinha de trigo com níveis de 240 µg/100g de farinha. Atualmente, as mulheres que desejam
engravidar são orientadas para a ingestão de tabletes de ácido fólico na dosagem de 0,4
mg/dia, que podem auxiliar na redução do risco para defeitos congênitos de 36% a
46%.(Wald et al, 2001).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
20
Nos Estados Unidos, a taxa de declínio dos defeitos do tubo neural após a introdução
da farinha enriquecida com ácido fólico foi de 20% a 30%, o que foi atribuído à fortificação
alimentar. (Erickson,2002).
Já Honein et all (2001) afirmam que, nos Estados Unidos, a prevalência de nascidos
vivos com defeitos do tubo neural teve uma redução de 37,8/100.000 nascimentos antes da
fortificação para 30,5/100.000 nascidos após a suplementação do ácido fólico, representando
19% de declínio.
Um estudo randomizado, realizado nos Estados Unidos, mostrou que a suplementação
de ácido fólico antes da concepção e durante o primeiro trimestre levou a uma redução na
recorrência de DTN de 72% em mulheres que tiveram filho anterior com este problema
(Honein et al, 2001).
Nesse sentido, o “Centers for Disease Control ”(CDC), dos Estados Unidos,
recomendou, em 1991, a suplementação com altas doses de ácido fólico (4mg/dia) para todas
as mulheres com gestação prévia com DTN que estejam planejando engravidar (Pérez-
Escamilla, 1995).
Não se conhece o mecanismo pelo qual o folato evita os DTNs, mas se supõe que esta
vitamina tenha a capacidade de modificar a expressão de um gene relacionado a esses defeitos
(Picciano, 1997). Algumas investigações indicam que a mutação 677CT do gene da
metileno tetrahidrofolato redutase, fundamental para a metilação da homocisteína em
metionina, possa estar relacionada com os defeitos do tubo neural (Krishnaswamy , Nair,
2001; Nissenkorn et al, 2001).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
21
A incidência mundial de DTNs varia entre 1/1000 e 8/1000 nascidos vivos em regiões
de alta prevalência, sendo de 1,6/1000 a incidência estimada de DTN no Brasil (Nissenkorn
et al, 2001).
Em consonância com outros países, o governo brasileiro, pela Resolução RDC 344, de
13 de dezembro de 2002, obrigou todos os fabricantes de farinhas de trigo e milho a
adicionarem ferro e ácido fólico ao produto e deu um prazo até junho de 2004 para essa
medida ser implementada.
A resolução prevê que os fabricantes sejam obrigados a adicionar, a cada 100g de
farinha, no mínimo 150 microgramas (mcg) de ácido fólico. Nos rótulos dos produtos, deve
constar a expressão: enriquecido, fortificado ou rico em ácido fólico. A legislação exclui, por
limitações de processamento tecnológico, a farinha de biju (ou farinha de milho obtida por
maceração), o flocão, a farinha de trigo integral e a farinha de trigo durum.
Estudos mostram que, na Finlândia, o consumo de vegetais, pão de centeio, frutas e
batatas contribui com 33% do folato na dieta. Na Holanda, em 33-36%, o folato é derivado da
batata, vegetais e frutas e, em 18-20%, do pão (Kaluski et al, 2002).
O folato sintético, que é acrescido aos alimentos, possui uma biodisponibilidade de 85
a 100%, enquanto o folato dos alimentos tem uma biodisponibilidade de 50% (Trumbo et al,
2003).
A biodisponibilidade do folato sintético é 1,7 vezes maior do que a do folato natural
encontrado nos alimentos. Comparando o folato sintético com ácido fólico oxidado, verifica-
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
22
se que a forma natural é mais suscetível à destruição no cozimento ou no preparo (Kaluski et
al, 2002).
JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
3 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
Existem poucos estudos que indiquem se há deficiência nutricional de ácido fólico na
população brasileira, principalmente nas mulheres de idade fértil, bem como não existem
dados relativos à quantidade de farináceos consumida pela população. Esse dado é importante
para se verificar se a fortificação introduzida no Brasil é eficiente para aumentar a ingesta de
folato. Uma estimativa da quantidade de farináceos e alimentos ricos em ácido fólico
consumidos pela população é necessária para se poder estimar a quantidade de ácido fólico
efetivamente ingerida a cada dia.
OBJETIVOS
4 OBJETIVOS
4.1 OBJETIVO GERAL
Verificar o consumo de farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico numa
amostra de mulheres em idade fértil para estimar a quantidade de folato ingerido e
avaliar seu potencial em relação à prevenção primária de defeitos congênitos.
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estimar a quantidade média de ácido fólico diário ingerido pela amostra estudada.
Considerando a ingesta de 400µg/dia como adequada, calcular a diferença entre a
ingesta encontrada e a ingesta adequada.
Calcular se o valor definido para a suplementação de ácido fólico nas farinhas de
trigo e milho, no Brasil, é adequado para fins de prevenção de defeitos de tubo
neural.
Identificar possíveis associações entre classe social e idade com o consumo de
farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico.
MATERIAL E MÉTODOS
5 MATERIAL E MÉTODOS
5.1 DELINEAMENTO
Estudo de prevalência em amostra de conveniência.
5.2 POPULAÇÃO EM ESTUDO
Mulheres em idade fértil, entre 15 e 45 anos, da cidade de Porto Alegre.
5.3 CRITÉRIO DE EXCLUSÃO
Será considerado critério de exclusão o fato de gestantes e nutrizes terem sido
previamente orientadas pelo médico para a utilização de suplementos de alimentos ricos em
ácido fólico.
5.4 TAMANHO DA AMOSTRA
Uma vez que não se tem idéia da prevalência de consumo de ácido fólico em mulheres
em idade fértil, utilizou-se a maior variabilidade, considerando uma prevalência de 50% no
consumo de ácido fólico. Com um intervalo de confiança de 95% e um erro amostral de 5%,
foi estimada uma amostra mínima de 384 mulheres e efetivamente avaliada uma amostra de
400 mulheres.
MATERIAL E MÉTODO
29
5.5 VARIÁVEIS EM ESTUDO
Foram avaliadas características demográficas sociais e aspectos relacionados com a
gestação e alimentação das mulheres entrevistadas. As seguintes variáveis foram
questionadas:
idade
renda familiar
escolaridade do responsável pela casa e do entrevistado
profissão
trabalho nos últimos 6 meses
número de filhos
número de banheiros na casa
número de automóveis
filho(a) que apresenta algum defeito congênito
orientação de suplementação de ácido fólico enquanto gestante
consumo de alimentos-fonte de ácido fólico (µg/dia)
consumo de farináceos (g/dia)
consumo de farináceos e alimentos-fonte (µg/dia)
classe econômica
Com o intuito de poder melhor identificar o consumo nas diferentes classes
econômicas, fez-se uma subdivisão dos grupos econômicos, utilizando o Critério de
Classificação Econômica da ANEP (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa), ficando
a distribuição indicada na tabela 1:
MATERIAL E MÉTODO
30
Tabela 1 - Classificação sócio-econômica utilizada
Classificação sócio-
econômica
Renda familiar mensal (R$)**
A1 R$ 5.555,00 ou mais
A2 R$ 2.944,00 a R$ 5.554,00
B1 R$ 1.771,00 a R$ 2.943,00
B2 R$ 1.065,00 a R$ 1.770,00
C R$ 497,00 a R$ 1.064,00
D R$ 263,00 a R$ 496,00
E Até R$262,00
* *Moeda Corrente Brasileira (reais) – Valores para o ano de 2004.
* ANEP (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa)
5.6 PACIENTES E MÉTODOS
5.6.1 Desenvolvimento do questionário dietético
Em função de não haver um questionário sobre a Freqüência Alimentar específico para
ácido fólico e alimentos que contenham farinha de trigo e/ou milho em nível nacional, houve
necessidade de se criar um questionário adaptado à realidade da população brasileira, em
especial, da região Sul do país, respeitando alguns hábitos regionais de alimentação, como o
consumo de pães variados, feijão preto, batata-inglesa, farinha de trigo e carne vermelha. Foi
elaborado um questionário de freqüência quantitativa contendo questões sobre o consumo de
farináceos e alimentos ricos em folato para a classificação sócio–econômica. (IBGE-
POF/2003).
5.6.2 Teste do Questionário
O questionário desenvolvido foi previamente testado em um subgrupo de 16 mulheres
de 15 a 45 anos no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
MATERIAL E MÉTODO
31
5.6.3 Aplicação do questionário
Com o intuito de abranger ao máximo as camadas sociais no estrato urbano, este
questionário foi aplicado em locais públicos de Porto Alegre, como centros comerciais,
parques, praças e área comercial do centro da cidade em diferentes turnos e dias. Houve coleta
de dados por meio da distribuição de questionários nos seguintes locais: centro, com 65,25%
(261 questionários); praças/parques com 13,5% (54 questionários) e centros comerciais com
21,25% (85 questionários).
Para elaborar o questionário, precisou-se levar em conta que embora se encontrem, na
literatura, muitas tabelas com composição dos alimentos com referências a alimentos comuns
no estrangeiro, principalmente nos Estados Unidos e Europa, o clima, as condições agrícolas e
de cultivo da terra desses países são diferentes em relação à realidade do Brasil. Com isso,
alguns valores de macronutrientes e micronutrientes dos alimentos podem sofrer variações
quando comparados com os alimentos nacionais. Embora o Programa de Nutrição da Escola
Paulista de Medicina versão 2.5 também apresente como referência tabelas estrangeiras, o
mesmo foi utilizado para auxiliar no cálculo da quantidade de ácido fólico encontrado nos
alimentos-fonte. No programa de informática utilizado não foi computada a perda de folato
através do cozimento. Em relação aos farináceos, foi utilizado o relatório enviado pelas
indústrias informando os valores de farinha trigo e/ou milho indicados na elaboração de seus
produtos. Através disso, foi possível calcular a quantidade de ácido fólico presente em cada
produto, conforme a Resolução RDC 344, de 13 de dezembro de 2002.
A maioria dos alimentos que representam o grupo dos farináceos incluídos no
questionário possui uma medida caseira padrão, por exemplo, pão de forma (22g), pão francês
MATERIAL E MÉTODO
32
(50g), pão minifrancês (30g), reduzindo possíveis fatores de complicação em relação à
quantidade ingerida. Já naqueles alimentos em que não há essa medida padrão, buscou-se
entrar em detalhes sobre a quantidade relatada a fim de buscar uma medida que fosse o mais
fiel possível. O mesmo ocorreu com os alimentos ricos em ácido fólico, tendo sido sempre
verificada a porção relatada pela medida caseira mais adequada.
O questionário alimentar que foi desenvolvido para este estudo incluiu 47 alimentos,
sendo que 28 deles continham farinha de trigo e/ou milho, e os restantes 19 eram alimentos
ricos em ácido fólico. Em relação aos alimentos ricos em ácido fólico, foram computados
somente alimentos que continham entre 6,43µg e 770µg/100g desse nutriente. Foram
consideradas algumas frutas, verduras e outros alimentos (por exemplo: leguminosas, fígado
de galinha, carne bovina, ovo de galinha e amendoim). Ainda sobre os alimentos incluídos
neste questionário, procurou-se acrescentar os alimentos mais consumidos pela população
conforme o hábito cultural. Em relação à freqüência alimentar, foram computados apenas
aqueles alimentos ingeridos uma ou mais vezes por semana.
O questionário foi aplicado pela autora e por duas nutricionistas previamente
treinadas. As respostas não foram induzidas nem questionadas. As entrevistadoras, após
abordarem as mulheres, explicavam o objetivo do trabalho, os critérios de inclusão e o tipo e
instrumento que seria aplicado. Após as entrevistadas assinarem o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, as entrevistadoras perguntavam que alimentos freqüentemente eram
ingeridos nas refeições (desjejum, lanche da manhã, almoço, lanche tarde, janta, ceia e algum
outro intervalo). Quando a entrevistada revelava algum alimento do grupo dos farináceos ou
ricos em ácido fólico que havia na listagem de alimentos do questionário, era questionada a
freqüência alimentar (número de vezes por semana e a quantidade ingerida em medida
MATERIAL E MÉTODO
33
caseira). As mulheres entrevistadas não tinham acesso à tabela de alimentos usada na pesquisa
com o intuito de não haver indução ou alteração na resposta. O tempo gasto com a aplicação
de cada questionário foi de 5 a 10 minutos.
5.6.4 Análise dos dados
A análise dos dados foi realizada de duas maneiras: foi utilizado o programa de
nutrição do Centro de Informática em Saúde da Escola Paulista de Medicina – Universidade
de São Paulo, software “Programa de Apoio à Nutrição” versão 2.5, para retirar as medidas
caseiras e a quantidade de ácido fólico dos alimentos-fonte. Esse programa possui uma lista
de 600 alimentos com o controle de 64 nutrientes e permite calcular as quantidades com mais
exatidão. Também foram utilizados dados fornecidos por empresas alimentícias do Brasil com
referências sobre a quantidade de farinha de trigo e/ou milho encontrada em seus produtos,
tornando possível calcular a quantidade diária de ácido fólico consumida pela amostra em
estudo.
5.6.5 Análise estatística
Para avaliar uma possível correlação entre a idade, renda, número de filhos e o
consumo de ácido fólico, foi utilizada a correlação de Spearman. Para avaliar possíveis
diferenças entre as classes sociais e escolaridade em relação ao consumo de ácido fólico, foi
utilizado o teste de Kruskal-Wallis. Complementando a análise, o Teste de Dunn foi aplicado.
Para verificar se houve diferença no consumo de alimentos em relação às variáveis
dicotômicas, utilizou-se o teste de Mann-Whitney. O teste estatístico não paramétrico
Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para verificar a normalidade dos dados, indicando que as
MATERIAL E MÉTODO
34
variáveis quantitativas possuíam distribuição não normal. O banco de dados foi elaborado em
programa Excel 98, e a análise estatística realizada com o programa SPSS (Statistical Package
for Social Sciences) versão 10.0.
5.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
5.7.1 Autorização para pesquisa
O projeto foi previamente aprovado pela Comissão Científica e Ética do HCPA pelo
Protocolo nº 2004262.
5.7.2 Consentimento Informado Livre e Esclarecido
Foi fornecido aos participantes do estudo o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido com dados sobre a pesquisa. Quando houve concordância em participar, foi
solicitada a assinatura da entrevistada. Para as mulheres entre 15 e 18 anos, foi solicitada a
assinatura do responsável legal.
RESULTADOS
RESULTADOS
36
6 RESULTADOS
Participaram deste estudo 400 mulheres em idade fértil, entre 15 e 45 anos, residentes
da cidade de Porto Alegre. Conforme mostra a tabela 2, sobre a caracterização da amostra, a
média de idade das mulheres foi de 28,1 anos (dp=7,6). Em relação à renda, 279 mulheres
(69,8%) relataram que tinham alguma fonte de renda. A média da renda foi de R$1581,10
(dp=1747,5). Quando questionadas sobre o número de filhos, 231 (57,8%) informaram a
quantidade de filhos, sendo a média de 2,1 (dp=1,4) por mulher. Em relação ao grau de
escolaridade, 143 (46,4%) das mulheres haviam completado o 2º grau.
Tabela 2 - Caracterização da amostra (n = 400)
Características
Tamanho da amostra
Resultados
n=400
DP %
Idade – Média 28,1 anos 7,6 anos -
Mulheres com Renda – n 279 - 69,8
Renda mensal – Média R$ 1581,1 1.747,50 -
Mulheres com filhos - n 231 - 57,8
Nº de filhos por mulher – Média 2,1 filhos 1,4 filhos -
II grau completo – n (%) 143 (46,4) - 46,4
* Categorizadas em sim e não
Na Figura 2 a seguir, observa-se que o consumo de alimentos ricos em folato foi, em
média, de 220,1 µg/dia. Pela amostra, a quantidade de alimentos ingeridos que contêm farinha
de trigo e/ou milho, foi, em média, de 176,0 g por mulher/dia. A ingestão conjunta de
alimentos-fonte de ácido fólico e de alimentos que contêm farinha de trigo e/ou milho
(fortificação), levou ao consumo médio de 404,7 µg por pessoa/dia.
RESULTADOS
37
Gráfico 1 - Média do consumo dos alimentos estudados
Na tabela 3, observa-se que o consumo médio dos alimentos em relação à classe
econômica mostra que quanto mais baixa a classe econômica, maior o consumo de alimentos-
fonte de ácido fólico (p=0,036). Com isso, pode-se constatar que as classes econômicas mais
baixas consomem alimentos-fonte de ácido fólico somado aos alimentos que contêm farinha
de trigo e/ou milho em quantidades satisfatórias (p=0,002)
Tabela 3 - Consumo médio dos alimentos conforme a classe econômica dos entrevistados
Classe Econômica *
Renda (R$)
Acido Fólico (µg)
Média DP
Farináceos (g)
Média DP
Total AF/ F (µg)
Média DP
A1 (n = 14)
143,5 (97,5) 149,1 (73,1) 302,6 (128,6)
A2 (n = 49)
181,7 (140,8) 164,4 (81,2) 347,0 (156,9)
B1 (n = 45)
207,7 (132,1) 160,8 (79,6) 377,1 (171,11)
B2 (n = 59)
228,0 (122,8) 173,0 (102,1) 403,6 (148,1)
C (n = 148)
236,9 (152,4) 178,5 (103,5) 426,2 (179,9)
D (n = 45)
209,0 (122,7) 212,1 (131,5) 430,9 (190,2)
E (n= 24)
270,1 (176,7) 190,7 (131,3) 485,2 (221,2)
p* 0,036 0,545 0,002
* Valor obtido pelo Teste de Kruskall-Wallis
220,1 (
µ
g )
404,7 (
µ
g
)
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
Alimento Fonte Ácido
Fólico(em
µ
g)
Fortificação + Fonte de
Ácido F
ólico (em
µ
g )
Recomendação
Mínima conforme
RDA – 400 µg/ dia
RESULTADOS
38
Devido à alta variabilidade encontrada, complementou-se a análise com a mediana e
os percentis 25 e 75. A mediana foi de R$ 975,00 e os percentis 25 e 75, respectivamente, R$
527,50 e R$2000,00. De acordo com o P75, nota-se que 25% dos entrevistados ganham igual
a ou mais do que R$ 2.000,00, o que demonstra que a amostra foi composta por mulheres
pertencentes à classe A1, A2 e B1. Em relação à amostra em estudo, observamos um maior
predomínio de mulheres pertencentes à classe econômica C.
Conforme pode ser visto na tabela 4, observou-se uma correlação significativa entre a
idade, ingestão de alimentos-fonte de ácido fólico (r=0,161; p=0,001) e consumo de
farináceos (r= -0 214; p<0,001). Quanto maior a idade, maior será a ingestão de alimentos-
fonte de ácido fólico e menor será a ingestão de farináceos. Em relação à renda, houve uma
correlação significativa entre a fortificação com alimentos ricos em ácido fólico (r =-0,215;
p<0,001) e alimentos-fonte (r =- 0,149; p=0,003). Como o coeficiente de correlação é
negativo, quanto maior a renda, menor será o consumo desses alimentos.
Tabela 4 - Correlações entre algumas variáveis e grupo de alimentos em estudo
Variáveis Grupo de Alimentos
Fortif + B9 (µg) Alimentos-fonte (µg)
Farináceos (g)
r* (P) r* (P) r* (P)
Idade -0,036 (0,475) 0,161 (0,001) -0,214 (<0,001)
Renda -0,215 (<0,001) -0,149 (0,003) -0,065 (0,206)
Nº de filhos 0,118 (0,073) 0,122 (0,064) 0,046 (0,488)
* Coeficiente de Correlação de Spearman
O teste Kruskal-Wallis, tabela 5, mostra que há uma relação significativa entre a
ingestão conjunta de alimentos-fonte e farináceos em relação à escolaridade (p=0,001). As
mulheres com nível de escolaridade mais alta (superior e pós-graduação) consomem menos
alimentos-fonte e farináceos, quando comparadas com as demais.
RESULTADOS
39
Tabela 5 -Ingestão conjunta de alimento-fonte com farináceos conforme a escolaridade
das mulheres amostradas
Alimento-fonte (µg) + Farináceos ( µg)
Escolaridade n %
Mediana (P25 – P75)
Analfabeto 02 0,6 437,27 280,20 – 526,57
1º grau incompleto 83 26,9 409,73 315,99 – 501,04
1º grau completo 58 18,8 384,85 283,25 – 457,42
2º grau incompleto 07 2,3 324,02 313,98 – 374,18
2º grau completo 143 46,4 389,21 282,06 – 523,22
Superior 12 3,9 300,08 241,22 – 401,50
Pós-Graduação 03 1,0 268,33 80,91 – 410,51
* P=0,001 (Teste de Kruskal-Wallis)
Já a tabela 6 mostra que as mulheres que estavam trabalhando nos últimos seis meses
tiveram uma ingestão menor da soma dos farináceos com alimento-fonte de ácido fólico
(p=0,002). Com relação às mulheres que relataram no estudo que tinham filhos, houve uma
maior ingestão de alimentos ricos em ácido fólico (p<0,001) e dos farináceos somados com o
alimento-fonte. (p=0,003)
Das 400 mulheres em idade fértil pesquisadas, 22 (9,5%) relataram ter filhos com
algum tipo de defeito congênito. Neste estudo, não foi detectada uma possível associação
entre esses defeitos e o consumo de ácido fólico.
Tabela 6 - Relação de algumas variáveis com o grupo de alimentos em estudo
Variáveis Grupo de Alimentos
Fort. + B9 (µg) Alimentos-fonte (µg)
Farináceos (g)
Mediana (P25 – P75) Mediana (P25 – P75) Mediana (P25 – P75)
6 meses trab.
Sim 345,6 (259,1 – 466,7) 170,8 (111,3 – 294,9) 150,0 (100,0 – 206,0)
Não 409,4 (309,4 – 516,0) 195,9 (133,4 – 295,4) 166,0 (100,0 – 250,0)
(P=0,002) (P=0,077) (P=0,069)
Defeito Congênito
Sim 453,5 (317,2 – 553,9) 223,4 (145,9 – 288,2) 158,0 (100,0 – 254,0)
Não 400,1 (283,9 – 502,5) 217,1 (142,7 – 335,8) 144,0 (100,0 – 217,5)
(P=0,292) (P=0,960) (P=0,680)
Filhos
Sim 402,3 (285,5 – 511,7) 217,1 (142,8 – 335,2) 144,0 (100,0 – 220,0)
Não 352,1 (258,2 – 444,6) 154,4 (92,3 – 220,1) 164,5 (101,0 – 238,0)
(P=0,003) (P<0,001) (P=0,088)
* Teste de Mann-Whitney
RESULTADOS
40
Neste estudo, ficou constatado que mais da metade da população pesquisada (55,3%)
consome menos que 400µg de ácido fólico e farináceos/dia e que 88% das mulheres ingerem
menos de 400 µg/dia de alimentos-fonte em ácido fólico. Das 223 mulheres pesquisadas,
55,8% consumem menos de 200 µg de ácido fólico/dia.
Verificou-se, também, que ainda há pouca informação dada pelos profissionais que
realizam o pré-natal, em relação à orientação das mulheres em idade fértil e gestantes para
aumentar o consumo desta vitamina como forma de prevenção. Apenas 19% das entrevistadas
receberam esse esclarecimento durante o pré-natal e, dessas, 9,1% não seguiram a
recomendação médica de utilizar o suplemento nutricional.
DISCUSSÃO
7 DISCUSSÃO
A Food and Drug Administration obriga todos os fabricantes de farinha de trigo dos
Estados Unidos a acrescentarem 140 µg de ácido fólico/100 g de farinha desde 1996.
(O’Leary et al, 2001; Boushey et al, 2001; Neuhouser et al, 2001; Krishnaswamy et al, 2001;
Erickson et al, 2002; Kaluski et al, 2002; Choumenkovitch et al, 2002; Waller et al, 2003;
Yen et al, 2003; Holmes et al, 2003; Shaw et al, 2003; Lin et al. 2004). Ao longo dos últimos
anos, muitos países também aderiram à fortificação da farinha. No Chile, o Ministério da
Saúde estipulou a fortificação de 220 µg de ácido fólico em 100 g de farinha de trigo (Nazer
et al. 2001). O Brasil, desde 2002, vem obrigando seus fabricantes de farinha de trigo e milho
a adicionarem 150 µg de ácido fólico a cada 100 g de farinha. A quantia estipulada para a
fortificação da vitamina pelo Brasil é levemente maior comparada com a preconizada pela
Food and Drug Administration. Essa medida também é adotada por alguns países que já
fortificam a farinha com o ácido fólico. Acredita-se que essa leve alteração se deva ao baixo
consumo de alimentos ricos em ácido fólico no país.
O Questionário de Freqüência Alimentar (QFA) é fácil e simples de aplicar e facilita a
avaliação dietética em muitos estudos epidemiológicos. Quando apenas um nutriente é
medido, é possível se construir um Questionário de Freqüência Alimentar efetivo que
concentra maiores informações sobre o nutriente. É especialmente apropriado quando a
origem do nutriente é limitada e quando se quer avaliar seu consumo (Pufulete et al, 2002).
Com base nessa afirmação e na falta de um Questionário de Freqüência Alimentar adequado
para o presente estudo, elaborou-se o QFA que foi aplicado neste projeto.
DISCUSSÃO
43
No presente estudo, o Questionário de Freqüência Alimentar foi aplicado com as
mulheres de 15 a 45 anos, em centros comerciais, parques, praças e no centro da cidade de
Porto Alegre, numa tentativa de atingir todos os grupos sócio-econômicos. Em torno de 65%
dos questionários foram aplicados no centro da cidade em diferentes turnos e horários. A
amostra foi de conveniência. Mesmo tendo essa preocupação no estudo, a renda média das
mulheres foi de R$ 1.581,10 (dp =1747,5). Essa variável foi muito significativa quando
relacionada com o consumo de farináceos e a ingestão conjunta de alimentos-fonte de ácido
fólico e os acrescidos de farinha de trigo e/ou milho.
Achados similares foram constatados no trabalho de Bacardí-Gascón (2003) com a
dieta mexicana, em que o grupo de classe média teve uma ingestão de folato de 17,5% através
do consumo de feijão e ovos. Já o grupo de classe baixa consumiu 59% de alimentos ricos em
folato (incluindo tortilhas de milho, feijão, tortilhas com farinhas e ovos). Nesta pesquisa,
também se observou um consumo maior de alimentos-fonte em ácido fólico no grupo de
classe mais baixa, levando a um consumo adequado quando somado aos alimentos
fortificados com a farinha de trigo e/ou milho.
Uma das limitações do trabalho referente aos dados sócio-econômicos levantados no
questionário foi em relação à imprecisão da informação sobre a renda. Verificou-se, na análise
desses questionários, que, muitas vezes, a renda da família informada pela entrevistada era
incompatível com os dados das outras respostas referentes aos aspectos sócio-econômicos.
A pesquisa de orçamento familiar (IBGE/2003) mostrou que, na região Sul, na área
urbana, o consumo de alimentos do grupo dos panificados, em particular o pão francês, teve
um aumento significativo, comparado com os outros censos realizados. Isso gera um efeito
DISCUSSÃO
44
positivo neste levantamento, uma vez que o consumo de ácido fólico aumenta pela
fortificação na farinha de trigo.
No estudo, constatou-se que o consumo de alimentos ricos em folato foi de 220,1 µg.
Muitos foram os trabalhos que tiveram achados similares, como de Bacardí-Gascón et al
(2003), que obteve a média de folato ingerido, no Questionário de Freqüência Alimentar, de
223µg/dia. No estudo de Yen et al (2003), a ingestão de folato consumido pelas mulheres
anterior à fortificação teve a mediana de 250 µg/dia. Pufulete (2002) verificou, através do
Questionário de Freqüência Alimentar, que a média do consumo total de alimentos ricos em
folato, em mulheres, foi de 329µg/dia. Choumenkovitch et al (2002) relatam terem
encontrado a média de consumo de ácido fólico de 190 µg/dia. No trabalho de Boushey et al
(2001), foi encontrado o consumo de alimentos ricos em folato de 320 µg. Na realização deste
projeto, a mediana encontrada foi de 185,18 µg/ dia e a média de 220,1 µg/dia, o que indica
que a amostra consome uma quantidade muito menor de alimentos ricos em ácido fólico em
comparação com os dados da literatura analisada. Krishnaswamy et al (2001) relatam que, em
diferentes países, o consumo de alimentos ricos em folato varia entre 100 e 300 µg/dia.
Na amostra, foi revelado que 88% (número =352) das mulheres ingeriram menos de
400 µg/dia de alimentos ricos em folato e que 55,8 % (n = 223) consumiram menos de 200
µg/dia de alimentos ricos em folato. Bacardí-Gascón et al (2003) relatam, em seu estudo, que
50% dos participantes ingeriram menos de 200 µg/dia de alimentos ricos em folato, sendo
68% de mulheres da classe média e 44% das mulheres da classe baixa. Achados similares
foram verificados, no Mexican Nutrition Survey, numa pesquisa, em 1998, com 9.000
mulheres mexicanas, quando foi observado que 69% das participantes tinham ingerido menos
de 200 µg/dia (Bacardi-Gascón et al, 2003). Comparando com a literatura, fica bem
DISCUSSÃO
45
evidenciado que a amostra desta pesquisa ingere uma quantidade muito abaixo da
recomendada pela RDA para alimentos ricos em folato, de modo que, mesmo acrescido com
os farináceos, a quantidade permanece na recomendação mínima, de 400 µg/ dia.
Em relação à quantidade de alimentos ricos em folato e à fortificação das farinhas de
trigo e milho, foi encontrado, neste estudo, um consumo médio de 404,7 µg/dia. Boushey et al
(2001) encontraram, em seu estudo, 357,64 µg/dia de alimentos ricos em folato, mais a
fortificação. Já nos estudos de Yen et al (2003), que obtiveram, através do Questionário de
Freqüência Alimentar, a média de 458,50µg/dia (dp = 221,5), a média de alimentos ricos em
folato relatada foi de 373,50 µg/dia. Acredita-se que essa diferença encontrada na literatura
em relação ao alto consumo de alimentos ricos em folato e da fortificação se deva aos hábitos
alimentares arraigados na cultura local.
Os valores nutricionais do folato sintético e a ocorrência natural de folato variam
porque a diferença de biodisponibilidade ocorre de duas formas. A biodisponibilidade do
folato acrescida aos alimentos é de 85 a 100%, enquanto a biodisponibilidade do folato dos
alimentos é cerca de 50% de folato sintético. Com isso, a adição ao alimento é 1,7 (85/50)
vezes mais acessível do que o folato dos alimentos (Boushey et al, 2001; Choumenkovitch et
al, 2002; Siega-Riz et al, 2002; Trumbo et al, 2003). Nesta pesquisa, o valor de consumo
médio de alimentos ricos em folato somado ao da fortificação das farinhas de trigo e milho foi
de 404,7 µg/dia, mas, em nenhum momento do estudo, foi computada a perda do ácido fólico
pelo cozimento e pela oxidação pela luz ultravioleta (Krishnaswamy et al. 2001). Deve-se
refletir sobre o valor encontrado, considerando que a RDA preconiza o consumo médio de
400 µg/ dia. Comparando o valor preconizado com o valor encontrado, não se constata
DISCUSSÃO
46
nenhuma margem de segurança que garanta um consumo efetivo, uma vez que não estão
consideradas as perdas.
Nazer et al (2001) relatam que, no Chile, em 2000, o Ministério da Saúde fortificou a
farinha de trigo usada na fabricação do pão em 220 µg de ácido fólico para cada 100g de
farinha com o objetivo de prevenir a ocorrência e recorrência de DTN na população. Como há
83g de farinha em cada 100g de pão e o consumo médio de pão no Chile é menos de 200g por
pessoa/dia, essa concentração resultaria em uma suplementação de 364 µg de ácido fólico,
que se aproxima, em muito, dos 400µg dia, recomendados para a prevenção de DTN.
Comparando com o Brasil, o Ministério da Saúde preconizou 150 µg/100g de farinha de trigo
e/ou milho. Como há, em cada pão francês, 68g de farinha de trigo e o consumo médio de
farináceos é de 176g por mulher, essa fortificação resultaria em 306 µg de ácido fólico sem
considerar o consumo de outros alimentos.
Com os níveis de fortificação, esperou-se acrescentar aproximadamente 100 µg de
ácido fólico por dia, em média, à dieta das pessoas, com o objetivo de resultar, para
aproximadamente 50% de todas as mulheres em idade reprodutiva, no recebimento de 100 µg
de folato proveniente de todas as fontes (Honein et al, 2001; Boushey et al, 2001; Neuhouser
et al, 2001). Bouskey et al (2001) estimam que a fortificação aumente o consumo de ácido
fólico em 170 µg/dia, dado muito próximo ao do presente estudo, no qual se estima um
aumento de 184,60 µg/dia de ácido fólico através da fortificação.
DISCUSSÃO
47
Sobre o consumo de suplementos, muitas vezes, as entrevistadas relatavam estar com
anemia no início da gestação, recebendo a orientação do médico para ingerir polivitamínicos,
que contêm em sua composição, além de outras vitaminas e minerais, ácido fólico. Assim,
com o intuito de recuperar a anemia, o tratamento auxiliou na melhora da ingesta de ácido
fólico.
Alguns estudos relatam a escolaridade da amostra estudada. Boushey et al (2001)
verificaram que 17,6 % de mulheres freqüentaram até 2ª grau e Than et al (2002) encontraram
34,2% com 2º grau completo. Já nesta pesquisa, observou-se que 95,1 % das mulheres
entrevistadas tinham até o 2º grau e, dessas, 46,4 % possuíam o 2º grau completo. Com isso,
verificou-se que a amostra possui uma escolaridade mais alta que a descrita na bibliografia.
Não foi encontrado, na literatura, nenhum estudo que relacionasse a escolaridade com o
consumo de ácido fólico para que pudesse ser feita uma comparação com a presente amostra.
Muitos estudos têm evidenciado a importância de iniciativas na área de saúde pública
em relação à fortificação de alimentos com o intuito de prevenir deficiências de
micronutrientes relacionadas a doenças crônicas, assim como a redução de sua suplementação
em condições deficitárias, como idade vulnerável, gênero, grupo étnico e grupos sócio-
econômicos. Essa atitude beneficiaria tanto o indivíduo como a saúde da comunidade
(Tulchinsky et al, 2004).
É necessário que os programas de saúde pública no Brasil revejam sua atuação na
sociedade e que elaborem ações que eduquem e conscientizem a população, tanto a carente
como de classe média, a ter uma alimentação mais saudável e que contemple a ingestão de
micronutrientes. A elaboração de estratégias de mudança de comportamento relacionado ao
DISCUSSÃO
48
consumo de ácido fólico será bem pertinente, se considerar três focos principais: 1-mudança
de comportamento com vistas ao aumento do consumo de frutas e verduras na dieta; 2-
educação alimentar para promover o uso de ácido fólico - incluindo suplementos alimentares,
se necessário; 3 - programa para aumentar o consumo de ácido fólico em geral pela
alimentação. (Neuhouser et al, 2001)
Através desse programa de educação alimentar para promover o uso do ácido fólico,
será importante mostrar à população os benefícios desta vitamina como uma ótima alternativa
a longo prazo para mulheres com ingestão inadequada de ácido fólico aprenderem a escolher
alimentos que tenham mais folato, beneficiando seu estado nutricional, o que parece ser
especialmente importante na idade fértil.
CONCLUSÕES
CONCLUSÕES
Constatou-se, na pesquisa, que a quantidade média de ácido fólico ingerida via
alimentos-fonte é de 220,09 µg/dia, sendo o preconizado pela RDA de 400µg/dia, e que o
consumo médio de farináceos é de 176g/dia. Assim a fortificação (farináceos e alimentos-
fonte) resulta em 404,69 µg/dia, sendo também preconizados 400 µg/dia pela RDA. Dessa
forma, verificou-se que a fortificação das farinhas de trigo e milho está de acordo com os
protocolos de nutrição, em específico a RDA.
Este um dos primeiros trabalhos realizados com uma amostra da população da cidade
de Porto Alegre sobre o consumo de farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico, trazendo
informações sobre a situação nutricional aplicáveis à população brasileira e importante no
âmbito da saúde pública. Espera-se, com isso, que os dados aqui apresentados sejam úteis
para que os órgãos ligados à saúde considerem as normas que regulam a fortificação da
farinha de trigo e/ou milho, com vistas à melhoria do estado nutricional das mulheres em
idade fértil e, paralelamente, à prevenção de defeitos congênitos. É fundamental que essas
medidas de fortificação da farinha com o ácido fólico sejam divulgadas tanto para a
população, quanto para os profissionais da área de saúde através de programas educativos que
visem a conscientizar a população sobre o assunto.
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ANEXOS
ANEXO A
TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
ANEXO B
ARTIGO A SER ENCAMINADO
10. TERMO DE CONSENTIMENTO (Anexo 1 )
Prezada Senhora:
O objetivo deste trabalho de pesquisa é definir a quantidade de farinha de trigo e
milho e alimentos ricos em ácido fólico (tipo de vitamina) consumidos pela população da
cidade metropolitana de Porto Alegre.
Uma vez que o Ministério da Saúde aprovou a Lei nº 344, de 13 de dezembro de 2002,
adicionando o ácido fólico às farinhas de trigo e milho, este trabalho é muito importante para
saber se a quantidade de farinha que a população consome está de acordo com essa
recomendação do Ministério da Saúde.
Esta pesquisa está voltada para mulheres em idade fértil de 15 a 45 anos.
Solicitamos sua autorização para a participação do estudo, que inclui um questionário
com perguntas abertas e fechadas sobre a ingestão de alimentos com farinha de trigo, milho e
ácido fólico. Essas informações serão utilizadas para estudos posteriores.
Não será necessário realizar nenhum exame e não haverá dano físico
É conferido o pleno direito de recusar a participação no estudo. Caso queira participar,
assine este documento. Se você tiver entre 15 e 18 anos, seu responsável legal deverá assinar
esse documento. As informações desta pesquisa serão mantidas em sigilo, sendo utilizadas
apenas, de forma científica e anônima, em relatos especializados.
Em caso de qualquer dúvida, entre em contato com Ana Flávia Stein Ferreira pelo
telefone indicado abaixo.
__________________________________________________________________
Nome e assinatura do(a) responsável
__________________________________________________________________
Nome e assinatura da entrevistada
__________________________________________________________________
Nome e assinatura do(a) entrevistador(a)
__________________________________________________________________
Nome e assinatura da pesquisadora Nome e assinatura do orientador
Responsáveis:
Nutrª Ana Flávia Stein Ferreira Fone para contato: 9956 5388
Dr. Roberto Giugliani
Local e data:
APÊNDICE
APÊNDICE A
.QUESTIONÁRIO APLICADO NA PESQUISA
ARTIGO
CONSUMO DE FARINÁCEOS FORTIFICADOS E DE ALIMENTOS RICOS EM
FOLATO POR MULHERES EM IDADE FÉRTIL NA CIDADE DE PORTO ALEGRE
Consumption of fortified farianaceous foods and folate-rich foods among women of
childbearing age in the city of Porto Alegre
Ana Flávia S. Ferreiraª e Roberto Giugliani ª
,b
ª Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: Pediatria da UFRGS;
a,b
Departamento de Genética da UFRGS e Serviço de Genética Médica do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, RS, Brasil
Título Abreviado: Consumo de ácido fólico por mulheres em idade fértil no Brasil.
Endereço de correspondência e contato:
Ana Flávia Stein Ferreira
Rua Prof. Cristiano Fischer, 2062/612 – CEP: 90410-000 - Porto Alegre - RS – Brasil
Fone: (51) 33844092 / 99565388 – E-mail: [email protected]
66
RESUMO
Objetivo: Avaliar o consumo de farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico em uma
amostra de mulheres em idade fértil da cidade de Porto Alegre-Brasil. Métodos: Foi realizado
um estudo de prevalência com base populacional. Foi aplicado um questionário de freqüência
quantitativa contendo questões relativas à classificação sócio-econômica e ao consumo de
farináceos e alimentos-fonte em folato. Foram incluídas no estudo 400 mulheres entre 15 e 45
anos. Todas as participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Resultados:
O consumo diário de folatos nesta população foi em média de 220,1 µg. A
quantidade consumida de farináceos foi de 176 g por mulher. A ingestão conjunta de
alimentos-fonte de folato e de farináceos fortificados (farinha de trigo e/ou milho) foi de
404,7 µg por pessoa. Conclusão
: Como o consumo de ácido fólico preconizado pela RDA é
de 400µg/dia, incluindo tanto o folato proveniente de alimentos-fonte quanto os
suplementados, a adição do ácido fólico na farinha de trigo está permitindo que o limite
inferior recomendado seja atingido, não havendo, no entanto, uma garantia que esse valor se
mantenha se forem computadas as perdas decorrentes do cozimento e da ação da luz UV, não
consideradas neste trabalho..
Palavras-chave: Fortificação Alimentar, Ácido Fólico, Defeitos Congênitos, Defeitos de Tubo
Neural, Prevenção Primária.
67
INTRODUÇÃO
O ácido fólico (folato) é uma vitamina hidrossolúvel, pertencente ao complexo B,
essencial para as reações metabólicas específicas no meio celular e vital para o funcionamento
e crescimento normal do organismo [1]. A fonte dietética principal do folato é o levedo de
cerveja, mas encontram-se também, nos vegetais de folhas como o espinafre, o aspargo, o
repolho e o brócolis, em frutas como laranja e banana, e em outros alimentos como vísceras,
carnes, ovos e feijão.
A ingestão inadequada de folato no período periconcepcional parece estar associada a
uma maior incidência de defeitos de tubo neural (DTN), como a espinha bifida e a anencefalia
[2]. Esses defeitos congênitos do sistema nervoso central são causados por erros em etapas
precoces da embriogênese, ainda na terceira ou quarta semana de gestação [3]. Mais
precisamente, o DTN ocorre por um fechamento incompleto da crista neural durante a
neurulação. O defeito pode ocorrer desde a fronte até a espinha sacra, sempre na linha média.
O mais comum é ocorrer um defeito do tipo meningomielocele, na altura da coluna lombar. A
maioria destes defeitos resulta na exposição de uma porção do tubo neural [4].
Assim, toda a mulher em idade fértil (15-45 anos) deveria ter uma alimentação
adequada, rica em alimentos fontes de ácido fólico e suplementada em 400 µg/dia, conforme a
RDA, preferencialmente antes da concepção. A razão para a administração precoce se deve ao
fato de o tubo neural se formar entre o 25º e 27º dia após a concepção, antes que a maioria das
mulheres saiba que está grávida. Considerando que 50% das gestações não são planejadas, a
responsabilidade das mulheres em adotar medidas preventivas como a suplementação do
ácido fólico na dieta, para evitar os defeitos do tubo neural (DTN) se torna ainda maior [5,6].
68
Assim, o recomendado é que a ingestão de ácido fólico deva iniciar pelo menos um mês antes
da gestação e se manter até dois meses após a concepção [7,8,9,10,6,2].
A fortificação é definida como a adição de um ou mais nutrientes aos alimentos, sendo
uma maneira de corrigir uma deficiência de nutriente, balancear o perfil nutricional de um
alimento, ou restaurar os nutrientes perdidos no processamento e assim suprir deficiências
nutricionais de uma população ou de grupos específicos da mesma.
Estudos epidemiológicos demonstraram que o ácido fólico, quando ingerido
adequadamente, pode prevenir uma proporção significativa de defeitos de tubo neural. Desde
1992, o “U.S. Public Health Service (USPHS)” recomenda que todas as mulheres em idade
fértil consumam pelo menos 400µg/dia de ácido fólico para ajudar a prevenir esses defeitos
[11].
Em 1998, a Food and Drug Administration exigiu a fortificação e o enriquecimento
dos cereais e de todas as farinhas com o ácido fólico nos níveis de 140µg/100 gramas de
farinha de trigo. Este nível de fortificação foi calculado para possibilitar que mulheres em
idade reprodutiva adicionassem ao consumo de ácido fólico um valor de pelo menos 100µg/
dia [12,13].
A taxa de declínio dos defeitos do tubo neural observada após a introdução da farinha
enriquecida com ácido fólico, nas regiões que introduziram essa prática, foi de 20%-30%, a
qual foi atribuída ao aumento do consumo de ácido fólico a partir dos alimentos fortificados
[12].
69
No Brasil, uma resolução do Ministério da Saúde de dezembro de 2002 obrigou todos
os fabricantes de farinhas de trigo e de milho a adicionar ferro e ácido fólico a esses produtos.
A resolução prevê que os fabricantes sejam obrigados a adicionar a cada 100g desses
alimentos no mínimo 150 microgramas (µg) de ácido fólico [14].
Cabe ressaltar que o folato sintético, que é acrescido nos alimentos, possui uma
biodisponibilidade de 85 a 100%, enquanto que o folato dos alimentos tem uma
biodisponibilidade de 50% [15].
Existem poucos estudos que indiquem se há deficiência nutricional de ácido fólico na
população brasileira, principalmente nas mulheres de idade fértil, e não existem dados
relativos à quantidade de farináceos consumida pela população. O objetivo desse trabalho foi
o de avaliar o consumo de farináceos e de alimentos ricos em ácido fólico para determinar o
potencial da suplementação do folato em relação à prevenção primária de defeitos congênitos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi realizada uma pesquisa com 400 mulheres em idade fértil de 15 a 45 anos da
cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Foram considerados como critério de
exclusão gestantes e nutrizes, por elas poderem ter sido previamente orientadas pelo médico
para a utilização de suplementos e de alimentos ricos em ácido fólico.
Foi aplicado um questionário de freqüência quantitativa contendo questões relativas à
classificação sócio-econômica e ao consumo de farináceos fortificados e de alimentos-fonte
70
em folato. Todas as mulheres participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
O Questionário de Freqüência Alimentar foi aplicado em centros públicos comerciais,
parques, praças e no centro da cidade de Porto Alegre, numa tentativa de atingir todos os
grupos sócio-econômicos da população. Em torno de 65% dos questionários foram aplicados
no centro da cidade, em diferentes turnos e horários. Nossa amostra foi de conveniência.
As variáveis estatísticas foram características demográficas sociais e aspectos
relacionados com a gestação e alimentação das mulheres entrevistadas. Sobre análise
estatística para avaliar uma possível correlação entre a idade, renda, número de filhos e o
consumo de ácido fólico, foi utilizada a correlação de Spearman. Para avaliar possíveis
diferenças entre as classes sociais e a escolaridade foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis.
Complementando essa análise, o Teste de Dunn foi também aplicado. Já para verificar se
houve diferença no consumo de alimentos em relação às variáveis dicotômicas utilizou-se o
teste de Mann-Whitney.
Uma vez que não se tem idéia da prevalência de consumo de ácido fólico em mulheres
em idade fértil, utilizou-se a maior variabilidade, considerando uma prevalência de 50% no
consumo de ácido fólico. Com um intervalo de confiança de 95% e um erro amostral de 5%,
foi estimada uma amostra mínima de 384 mulheres e efetivamente avaliada uma amostra de
400 mulheres. Esta pesquisa foi aprovada pela Comissão Científica e Ética do HCPA.
71
RESULTADOS
Conforme mostra a tabela 1, sobre a caracterização da amostra, a média de idade das
mulheres foi de 28,1 anos (dp=7,6). Em relação à renda, 279 mulheres (69,8%) relataram que
tinham alguma fonte de renda. A média da renda foi de R$1.581,10 (dp=1747,5). Essa
variável foi muito significativa quando relacionada com o consumo de farináceos e com a
ingestão conjunta de alimentos-fonte de ácido fólico e os acrescidos de farinha de trigo e/ou
milho. Devido à alta variabilidade encontrada, complementou-se a análise com a mediana e os
percentis 25 e 75. A mediana foi de R$ 975,00 e os percentis 25 e 75, respectivamente, R$
527,50 e R$2.000,00. De acordo com o P75, nota-se que 25 % dos entrevistados tinham renda
igual ou maior que R$2.000,00, o que demonstra que a amostra foi composta por mulheres
pertencentes às classes A1, A2 e B1.
Quando questionadas sobre o número de filhos, 231 (57,8%) informaram a quantidade
de dependentes, sendo a média de 2,1 (dp=1,4) por mulher. Em relação ao grau de
escolaridade, 143 (46,4%) das mulheres tinham o 2º grau completo.
O questionário alimentar que foi validado para este estudo incluiu 47 alimentos, sendo
que 28 destes continham farinha de trigo e/ou milho, e os restantes 19 eram alimentos ricos
em ácido fólico. Em relação aos alimentos ricos em ácido fólico, foram computados somente
os que continham entre 6,43µg e 770µg/100µg deste nutriente. Foram considerados algumas
frutas, verduras e outros alimentos (p ex. leguminosas, fígado de galinha, carne bovina, ovo
de galinha e amendoim). Ainda sobre os alimentos incluídos neste questionário, procurou-se
acrescentar aqueles mais consumidos pela população conforme o hábito cultural. Em relação à
72
freqüência alimentar, foram computados apenas aqueles alimentos ingeridos uma ou mais
vezes por semana.
Conforme apresentado na Figura 1, apresentada posteriormente, observamos que o
consumo de alimentos ricos em folato foi em média de 220,1 µg/dia. A quantidade de
alimentos que continham farinha de trigo e/ou milho ingeridos pela amostra foi em média de
176,0 g por mulher/dia. A ingestão conjunta de alimentos-fonte de ácido fólico e de alimentos
que continham farinha de trigo e/ou milho (fortificação) levou ao consumo médio de 404,7 µg
de folato por pessoa/dia.
Na tabela 2 pode-se verificar o consumo médio dos alimentos em relação à classe
econômica, indicando que quanto mais baixa a classe econômica maior o consumo de
alimentos-fonte de ácido fólico (p=0,036). Com isso, podemos observar que as classes
econômicas mais baixas consomem alimentos-fonte de ácido fólico contido nas farinhas de
trigo e/ou milho em quantidade satisfatórias (p=0,002)
Conforme observado na tabela 3, observou-se uma correlação significativa entre a
idade, a ingestão de alimentos-fonte de ácido fólico (r=0,161; p=0,001) e o consumo de
farináceos (r= -0 214; p<0,001). Quanto maior a idade, maior a ingestão de alimentos fonte de
ácido fólico e menor a ingestão de farináceos. Em relação à renda, houve uma correlação
negativa significativa entre a fortificação (r=-0,215; p<0,001) e alimentos-fonte (r =- 0,149;
p=0,003) (quanto maior a renda, menor o consumo desses alimentos).
O teste Kruskal-Wallis (tabela 4) mostra que há uma relação significativa negativa
entre a ingestão conjunta de alimentos-fonte e de farináceos e a escolaridade (p=0,001). As
73
mulheres com escolaridade mais alta (superior e pós-graduação) consomem menos alimentos-
fonte e farináceos quando comparadas com as demais.
Conforme observamos na tabela 5, as mulheres que estavam trabalhando nos últimos
seis meses tiveram uma ingestão menor da soma dos farináceos com alimentos-fonte de ácido
fólico (p=0,002). Com relação às mulheres que relataram já ter filhos, houve uma maior
ingestão de alimentos ricos em ácido fólico (p<0,001) e da soma dos farináceos com o
alimento-fonte (p=0,003). Das 400 mulheres em idade fértil pesquisadas, 22 (9,5%) relataram
ter filhos com algum tipo de defeito congênito. Neste estudo, não foi detectada uma
associação entre a presença dessa variável e o consumo de ácido fólico.
Neste estudo, observou-se que mais da metade da população pesquisada (55,3%)
consome menos que 400µg de ácido fólico e farináceos/ dia, e que 88% das mulheres ingerem
menos de 400 µg/dia de alimentos-fonte em ácido fólico. Uma proporção de 55,8% (223
mulheres) consume menos de 200 µg de ácido fólico/dia.
Observou-se também que houve pouca orientação por parte dos profissionais que
realizam o pré-natal em relação à necessidade das mulheres aumentarem o consumo de ácido
fólico no período periconcepcional como forma de prevenção. Apenas 19% das entrevistadas
receberam esta orientação durante o pré-natal e, dessas, 9,1% não seguiram a recomendação
médica de utilizar o suplemento nutricional.
74
DISCUSSÃO
A “Food and Drug Administration” dos Estados Unidos obriga todos os fabricantes de
farinha de trigo daquele país a acrescentar 140 µg de ácido fólico a cada 100 g de farinha,
desde 1996 [16, 2, 5, 17, 12, 18, 19, 20, 21, 22, 23]. Ao longo dos últimos anos, outros países
também aderiram à fortificação da farinha. No Chile, o Ministério da Saúde estipulou a adição
de 220 µg de ácido fólico a cada 100 g de farinha de trigo [9]. O Brasil desde 2002 vem
obrigando seus fabricantes de farinha de trigo e milho a acrescentarem 150 µg de ácido fólico
a cada 100 g de farinha [14]. A quantia estipulada para a fortificação da vitamina no Brasil é
levemente maior à preconizada pela “Food and Drug Administration”, que é adotada por
alguns países. Talvez isso se deva ao baixo consumo de alimentos ricos em ácido fólico pela
população brasileira.
Em relação à quantidade de alimentos ricos em folato e à fortificação nas farinhas de
trigo e milho foi encontrado, em nosso estudo, um consumo médio de 404,7 µg/dia. Boushey
et al (2001)[2] encontraram em seu estudo 357,6 µg/dia de alimentos ricos em folato, além da
fortificação. Já Yen et al (2003)[20] verificaram uma média de consumo de 458,5 µg/dia (dp=
221,5), com uma ingestão média a partir de alimentos ricos em folato de 373,5 µg/dia.
Acreditamos que essa diferença encontrada na literatura em relação ao consumo de alimentos
ricos em folato e de alimentos fortificados se deva aos hábitos alimentares de cada grupo
populacional.
O trabalho de Bacardí-Gascón (2003) na população mexicana indica que o grupo de
classe média teve uma ingestão de folato de 17,5%, através do consumo de feijões e ovos,
enquanto que o grupo de classe baixa ingeriu 59% de alimentos ricos em folato (incluindo
75
tortilhas de milho, feijões, tortilhas com farinhas e ovos). Em nosso trabalho também
observamos um consumo maior de alimentos-fonte em ácido fólico no grupo de classe mais
baixa, levando a um consumo adequado quando somado aos alimentos fortificados com a
farinha de trigo e/ou milho [24].
Muitos foram os trabalhos que também tiveram achados similares aos nossos, como o
de Bacardí-Gascón et al (2003) [24], que calcularam a média de folato ingerido como de
223µg/dia no México. No estudo de Yen et al (2003) [20], a ingestão de folato pelas mulheres
antes da fortificação teve uma mediana de 250 µg/dia. Pufulete (2002) [26] concluiu que a
média do consumo total de alimentos ricos em folato, em mulheres foi de 329 µg/dia.
Choumenkovitch et al (2002)[18] relatam terem encontrado uma média de consumo de ácido
fólico de 190 µg/dia. No trabalho de Boushey et al (2001) [2] foi verificado um consumo de
alimentos ricos em folato de 320 µg. Em nosso trabalho, a mediana foi de 185,2 µg/ dia e a
média 220,1 µg/dia, o que indica que a nossa amostra consome uma quantidade menor de
alimentos ricos em ácido fólico, em comparação com o relatado na literatura. Krishnaswamy
et al (2001) [17] relatam que, entre diferentes países, o consumo de alimentos ricos em folato
varia entre 100 a 300 µg/dia.
Em nossa amostra verificamos que 88 % (n=352) das mulheres ingeriram menos de
400 µg/dia de alimentos ricos em folato e que 55,8 % (n= 223) consumiram menos de 200
µg/dia de alimentos ricos em folato. Bacardí-Gascón et al (2003) [24] relatam em seu estudo
que 50% dos participantes ingeriram menos de 200 µg/dia de alimentos ricos em folato, sendo
68% de mulheres da classe média e 44% das mulheres da classe baixa. Achados similares
foram encontrados no “Mexican Nutrition Survey” em 1998 com 9.000 mulheres mexicanas,
quando foi observado que 69% dos participantes haviam ingerido menos de 200 µg/dia [24].
76
Comparando com a literatura, fica bem evidenciado que nossa amostra ingere uma quantidade
muito abaixo da recomendada pela RDA para alimentos ricos em folato e que, mesmo com o
acréscimo a partir dos farináceos fortificados, a quantidade permanece na recomendação
mínima de 400 µg/ dia.
Os valores nutricionais do folato sintético e a ocorrência natural de folato variam
porque a biodisponibilidade do folato sintético acrescido nos alimentos é de 85 a 100%,
enquanto que a biodisponibilidade do folato natural é de cerca de 50% desse valor. Com isso,
o folato adicionado é 1.7 (85/50) vezes mais acessível do que o folato dos alimentos
[2,18,27,15]. Na nossa pesquisa não foi computada a perda do ácido fólico decorrente do
cozimento e da oxidação pela luz ultravioleta [17].
Nazer et al (2001)[9] relataram que no Chile, em 2000, o Ministério da Saúde
fortificou a farinha de trigo usada na fabricação do pão em 220 µg de ácido fólico para cada
100g de farinha, com o objetivo de prevenir a ocorrência e recorrência de DTN na população.
Como há 83g de farinha em cada 100g de pão, e como o consumo médio de pão no Chile é
menos de 200g por pessoa/dia, esta concentração resultaria em uma suplementação de 364 µg
de ácido fólico, que se aproxima em muito dos 400µg dia, recomendados para a prevenção de
DTN. No Brasil, o Ministério da Saúde preconizou uma fortificação com 150 µg/100g de
farinha de trigo e/ou milho. Como há em cada pão francês 68g de farinha de trigo, e o
consumo médio de farináceos é de 176 g por mulher, esta fortificação resultaria em 306 µg de
ácido fólico, sem considerar o consumo de outros alimentos.
Com os níveis de fortificação espera-se acrescentar aproximadamente um consumo
100 µg de ácido fólico por dia, em média, [8,2,5]. Bouskey et al (2001) [2] estimaram que a
77
fortificação aumente o consumo de ácido fólico em 170 µg/dia, dado muito próximo ao nosso
estudo, no qual calculamos que houve um aumento de 184,6 µg/dia de ácido fólico através da
fortificação.
Cabe ressaltar que muitas vezes as entrevistadas relataram estar com anemia no início
da gestação, tendo por isso recebido orientação médica para ingerir polivitamínicos que
continham em sua composição, além de outras vitaminas e minerais, ácido fólico. Assim,
visando tratar a anemia, esse tratamento levou indiretamente a um incremento na ingesta de
ácido fólico.
Concluindo, a fortificação de farináceos com ácido fólico está permitindo que as
mulheres em idade fértil de uma amostra da população urbana do sul do Brasil estejam
ingerindo a quantidade mínima preconizada, embora não haja nenhuma margem de segurança
que indique que essa quantidade se mantenha caso sejam computadas as perdas decorrentes
do cozimento e da oxidação pela luz UV. Estudos adicionais em outras regiões e que incluam
cálculos relativos a essas perdas são necessários para que se chegue a uma conclusão sobre a
adequação ou não do nível de fortificação.
78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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JS. Ciências Nutricionais. São Paulo; Sarvier; 1998. p.191-207.
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Fortification and Folic-Acid Biovailability for Women. Nutrition 2001; 17: 873-879.
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Bull PAHO 1995; 29: 250-262.
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Pediatria Moderna 1999; 35(10): 815-17.
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Nutrition 2001; 17: 868-872.
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2001; 358:2069-73.
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Periconceptional Folic Acid Supplementation in South America. Community Genetics
2000; 3: 71-76.
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Folic Acid Fortification of the US Food Supply on the Occurrence of Neural Tube
Defects. JAMA June 2001; 285: 23: 2981-2986.
9. Nazer J, López-Camelo J, Castilla E. ECLAMC: Estudio de 30 años de vigilancia
epidemiológica de defectos de tubo neural en Chile y en Latinoamérica. Rev. Méd Chile
2001; 129:531-539.
10. Centers for Disease Control and Prevention: Use of folic acid for prevention of spina
bifida and other neural tube defects. MMWR; 1991: 40: 513-516.
11. Than L C, Watkins M, Daniel KL. Serum Folate Levels Among Women Attending
Family Planning Clinics- Georgia, 2000. MMWR 2002: 51 RR-13.
12. Erickson J D. Folic Acid and Prevention of Spina Bifida and Anencephaly 10 years after
the U.S Public Health Service Recommendation. MMWR 2002: 51 RR-13.
13. Mathews T J, Honein M A, Erickson J D. Spina Bifida and Anencephaly Prevalence –
United States, 1991-2001. MMWR 2002; 51: RR-13.
14. Diário Oficial da União – Brasília - Portaria – MS nº291 de 08 de janeiro de 2002. Inclui
no art. 2ª da Portaria nº14 MS/GM. – www.anvisa.gov.br Data de acesso: 02/02/2002.
15. Trumbo P R, Yates A A, Schlicker-Renfro.S, Suitor.C. Dietary Reference Intakes: revised
nutricional equivalentes for folate, vitamina E and provitamin A carotenoids. Journal of
Food Composition and Analysis 2003; 16: 379-382.
79
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depletion-repletion rat model. British J Nutr 2001; 85: 441-446.
17. Krishnaswamy K, Nair K M. Importance of folate in human nutrition. British J Nutrition
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Nutrition Sciences 2002: 2792-2797.
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02analise.pdf. Acessado em 28-12-04.
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chronic diseases. European Journal of Public Health 2004: 14: 226-228.
80
TABELA 1. Caracterização da amostra estudada
Características
Tamanho da amostra
Resultados
n=400
DP %
Idade – Média 28,1 anos 7,6 anos -
Mulheres com Renda – n 279 - 69,8
Renda mensal – Média R$ 1581,1 1.747,50 -
Mulheres com filhos - n 231 - 57,8
Nº de filhos por mulher – Média 2,1 filhos 1,4 filhos -
II grau completo – n (%) 143 (46,4) - 46,4
81
TABELA 2. Consumo de ácido fólico de acordo com a classe econômica
Classe Econômica *
Renda (R$)
Acido Fólico (µg)
Média DP
Farináceos (g)
Média DP
Total AF/ F (µg)
Média DP
A1 (n = 14)
143,5 (97,5) 149,1 (73,1) 302,6 (128,6)
A2 (n = 49)
181,7 (140,8) 164,4 (81,2) 347,0 (156,9)
B1 (n = 45)
207,7 (132,1) 160,8 (79,6) 377,1 (171,11)
B2 (n = 59)
228,0 (122,8) 173,0 (102,1) 403,6 (148,1)
C (n = 148)
236,9 (152,4) 178,5 (103,5) 426,2 (179,9)
D (n = 45)
209,0 (122,7) 212,1 (131,5) 430,9 (190,2)
E (n= 24)
270,1 (176,7) 190,7 (131,3) 485,2 (221,2)
p* 0,036 0,545 0,002
** Valor obtido pelo teste de Kruskall-Wallis
*Classificação Sócia Econômica -ANEP (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa) - Moeda Corrente
Brasileira (reais) - Valores para o ano de 2004: A1: R$ 5.555,00 ou mais; A2: R$ 2.944,00 a R$ 5.554,00; B1:
R$ 1.771,00 a R$ 2.943,00; B2 R$ 1.065,00 a R$ 1.770,00; C: R$ 497,00 a R$ 1,064,00; D: R$ 263,00 a R$
496,00; E: Até R$ 262,00.
AF: alimentos fonte; F: farináceos.
82
TABELA 3. Coeficientes de correlação da idade, renda e número de fílhos X consumo de
ácido fólico
Variável
Consumo de Ácido Fólico (µg)
Total
A partir de Alimentos-
Fonte (µg)
A partir de
Farináceos (g)
r* (P) r* (P) r* (P)
Idade -0,036 (0,475) 0,161 (0,001) -0,214 (<0,001)
Renda -0,215 (<0,001) -0,149 (0,003) -0,065 (0,206)
Nº de filhos 0,118 (0,073) 0,122 (0,064) 0,046 (0,488)
* Coeficiente de Correlação de Spearman
83
TABELA 4. Ingestão total de ácido fólico (alimentos-fonte + farináceos fortificados) de
acordo com a escolaridade na amostra estudada
Ingestão total de ácido fólico
alimento-fonte (µg) e farináceos (µg)
Escolaridade n %
Mediana (P25 – P75)
Analfabeto 02 0,6 437,27 280,20 – 526,57
1º grau incompleto 83 26,9 409,73 315,99 – 501,04
1º grau completo 58 18,8 384,85 283,25 – 457,42
2º grau incompleto 07 2,3 324,02 313,98 – 374,18
2º grau completo 143 46,4 389,21 282,06 – 523,22
Superior 12 3,9 300,08 241,22 – 401,50
Pós-Graduação 03 1,0 268,33 80,91 – 410,51
* P=0,001 (Teste de Kruskal-Wallis)
84
TABELA 5. Relação de algumas variáveis com o grupo de alimentos em estudo
Variável
Consumo total de ácido
fólico (µg)
Consumo a partir de
alimentos-fonte (µg)
Consumo a partir de
farináceos (g)
Mediana (P25 – P75) Mediana (P25 – P75) Mediana (P25 – P75)
Empregado nos
últimos 6 meses.
Sim 345,6 (259,1 – 466,7) 170,8 (111,3 – 294,9) 150,0 (100,0 – 206,0)
Não 409,4 (309,4 – 516,0) 195,9 (133,4 – 295,4) 166,0 (100,0 – 250,0)
(P=0,002) (P=0,077) (P=0,069)
Defeito Congênito na
prole
Sim 453,5 (317,2 – 553,9) 223,4 (145,9 – 288,2) 158,0 (100,0 – 254,0)
Não 400,1 (283,9 – 502,5) 217,1 (142,7 – 335,8) 144,0 (100,0 – 217,5)
(P=0,292) (P=0,960) (P=0,680)
Filhos anteriores
Sim 402,3 (285,5 – 511,7) 217,1 (142,8 – 335,2) 144,0 (100,0 – 220,0)
Não 352,1 (258,2 – 444,6) 154,4 (92,3 – 220,1) 164,5 (101,0 – 238,0)
(P=0,003) (P<0,001) (P=0,088)
Teste de Mann-Whitney
85
Gráfico 1 - Média do consumo dos alimentos estudados
220,1 (
µ
g )
404,7 (
µ
g
)
0,0
50,0
100,0
150,0
200,0
250,0
300,0
350,0
400,0
450,0
Alimento Fonte Ácido
Fólico (em
µ
g)
Fortificação + Fonte de
Ácido F
ólico (em
µ
g )
Recomendação
Mínima conforme
RDA – 400 µg/ dia
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