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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO
EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DA FERTILIDADE E SUA PERCEPÇÃO COMO
UMA PROPRIEDADE EMERGENTE DO SISTEMA SOLO
Margarete Nicolodi
(Tese de doutorado)
Porto Alegre, 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE AGRONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DO SOLO
EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DA FERTILIDADE E SUA PERCEPÇÃO COMO
UMA PROPRIEDADE EMERGENTE DO SISTEMA SOLO
MARGARETE NICOLODI
Engenheira Agrônoma (UNICRUZ)
Mestre em Ciência do Solo (UFRGS)
Tese apresentada como
um dos requisitos à obtenção do
Grau de Doutor em Ciência do Solo
Porto Alegre (RS) Brasil
Abril de 2007
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iii
iv
Aos meus amores dedico essa conquista.
v
AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ao Dipartimento di
Energetica na Università Politécnica delle Marche (UnivPM) e à CAPES pela
oportunidade e pelo suporte para o meu aperfeiçoamento.
Ao Prof. Ibanor Anghinoni pela orientação, pela amizade, pela
confiança, por aceitar que eu trabalhasse num assunto totalmente novo,
inclusive para ele, e pelo apoio financeiro para suprir as demandas da tese.
Ao Prof. Clésio Gianello pela orientação, pela amizade, pela
cumplicidade, pelo estímulo para melhorar o entendimento e a avaliação da
fertilidade do solo, sem medo do desconhecido e pela disponibilidade em ajudar
no trabalho, principalmente, na construção da tese — grazie mille, siamo finiti!
Ao Prof. Jacques Marré pela orientação, pelo incentivo e pela
dedicação para melhorarmos o entendimento da fertilidade e do solo — sua
ajuda foi muito valiosa para a minha formação e para a tese.
Aos Professores Davide Neri e Franco Zucconi pela confiança, pela
amizade e pela orientação durante o estágio na UnivPM em Ancona, na Itália.
Aos Professores João Mielniczuk (UFRGS), Otávio Antônio de
Camargo (IAC), Luiz Renato D’Agostini (UFSC) e Sandro Luiz Schlindwein
(UFSC) pelo estímulo e pelas contribuições para a elaboração da tese.
Por permitir avaliar os experimentos, pela ajuda no campo e na
coleta dos resultados determinados anteriormente na COTRISA, em Santo
Ângelo, aos Engenheiros Agrônomos Amando Dalla Rosa e João Becker e ao
Técnico Agrícola Giordani Desordi; na EMBRAPA – Trigo, em Passo Fundo,
aos Doutores José Eloir Denardin e Rainoldo Alberto Kochhann; na Estação
Experimental Agronômica da UFRGS, em Eldorado do Sul, aos Professores
João Mielniczuk e Cimélio Bayer.
Aos colegas de Pós-Graduação pela amizade, em especial, na
UFRGS, a Adriana Kleinschmitt, Analu Mantovani, Carlos Gustavo Tornquist,
Cláudio Kray, Elisandra Oliveira, Leandro Bortolon, Maria Cândida Nunes e
Rafael Borges, na UnivPM, ao Enrico Lodolini e ao Gianlucca Savini.
A Rosane, a Nira, a Daiane e à equipe do LAR pelo carinho e proteção.
Aos meus familiares pelo incentivo.
vi
À MÃE (Maria Neusa), generosa, consolo nas horas difíceis; ao PAI
(Neri), ao DECO (Vanderlei) e ao BATISTA (Marcos Batista), muito mais do
que irmãos, amigos do coração, meu profundo agradecimento pela proteção,
pela preocupação, pelo apoio financeiro, pela cumplicidade, pelo estímulo e
pelo amor.
A Deus pela vida, pela saúde, pela minha família, pelas inúmeras
oportunidades concedidas — entre elas a de estudar —, pela proteção, por
renovar minhas esperanças, por me dar força para superar as dificuldades,
pelas pessoas maravilhosas que pôs no meu caminho e por transformar meus
sonhos em realidade.
Muito obrigada.
vii
EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DA FERTILIDADE E SUA PERCEPÇÃO COMO
UMA PROPRIEDADE EMERGENTE DO SISTEMA SOLO
1/
Autora: Margarete Nicolodi
Orientador: Prof. Ibanor Anghinoni
RESUMO
O homem já havia associado produção de alimentos a solo fértil
antes de praticar a agricultura e desenvolveu, assim, um conceito de fertilidade
muito antes do conceito de solo. Muitos eventos contribuíram para a mudança
na noção de fertilidade desde a primeira teoria de Columella (século I) até a
mineralista (século XIX). Segundo esta, a fertilidade depende dos nutrientes
solúveis no solo. Apesar do extraordinário progresso na agricultura promovido
por sua aplicação, ainda no final daquele século muitos não concordavam com
esse conceito, restrito às condições químicas do solo. No século XX, surgiram
novas percepções de fertilidade solo, mais claras, porém o conceito tradicional
continuou sendo amplamente utilizado no mundo. Apesar dos benefícios de
sua aplicação no aumento da fertilidade dos solos e na produtividade das
culturas, se verifica tanto em lavouras como em experimentos de campo, que a
avaliação e, conseqüentemente, o conceito tradicional nem sempre expressam
adequadamente a fertilidade do solo percebida pelas plantas. Isso pôde ser
verificado principalmente pelas avaliações feitas nos solos cultivados por longo
tempo no sistema plantio direto. A insuficiência percebida na teoria, desde o
final de século XIX, e na prática, desde o início do século XXI, evidencia ser
este um momento propício à mudança na noção da fertilidade do solo,
evoluindo para um novo conceito e, conseqüentemente, uma nova avaliação e
recomendação de outras práticas para melhorá-la, além da adubação e
correção do solo. Há a expectativa de que a fertilidade seja percebida de
maneira ampla e conceituada como uma propriedade emergente do
funcionamento do sistema solo, isto é, a expressão da interação entre todas as
condições dadas por ele para o desenvolvimento e a produtividade das plantas.
1
Tese de Doutorado em Ciência do Solo. Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo,
Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. (140 p.)
Abril, 2007. Trabalho realizado com apoio financeiro da CAPES.
viii
EVOLUTION OF SOIL FERTILITY CONCEPT AND ITS PERCEPTION AS AN
EMMERGENT PROPERTY OF THE SOIL SYSTEM
1/
Author: Margarete Nicolodi
Adviser: Prof. Ibanor Anghinoni
ABSTRACT
Man kind had already associated fertile soil and food production
even before practicing agriculture, and developed, in this way, a soil fertility
concept much earlier than the proper soil concept. Several events had
contributed for changing the soil fertility concept since the first Columella theory
(First Century) up to the mineralist theory (XIX Century). According to this
theory, soil fertility depends upon soluble mineral salts (nutrients) in the soil. In
spite of the extraordinary progress in agriculture due to the application of this
concept, there was no unanimity about such concept, restricted to soil chemical
conditions, even at the end of XIX Century. Even with the new perceptions
about soil fertility that arose in the XX Century, the traditional concept was still
commonly used around the world. In spite of the increase in soil fertility and
crop yield due to the application of such concept, it can be observed that its
evaluation and, consequently, the traditional concept does not always express
the soil fertility noted by plants in both, farm fields or field experiments. This can
be verified mainly in evaluations done in long term no-tilled soils. The limitations
in such theory, since the end of XIX Century, and in the day-to-day experience
since the beginning of XX Century, indicate this as the most likely moment for a
change in the perception of the soil fertility. As a consequence, a new concept
would be derived and, consequently, new evaluation methodologies, and
recommendations of practices, other than just fertilizing and liming. It is
expected that the fertility would be perceived and conceptualized as an
emergent property of the soil as a system; this is the expression of all conditions
given by the soil for plant development and productivity. It is possible that the
new concept, a wider one, could express the fertility of the soil system better
than the one being used, which restricts soil fertility to soil chemistry.
1
Doctoral thesis in Soil Science – Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo, Faculdade
de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. (140 p.) April, 2007.
ix
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 01
2. A AGRICULTURA E A NOÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO.......... 03
2.1 A agricultura e sua evolução...................................................... 03
2.2 A noção da fertilidade do solo.................................................... 05
2.2.1 Evolução da noção da fertilidade do solo: uma visão geral.... 06
2.2.1.1 Na Antigüidade .................................................................... 07
2.2.1.2 Na Idade Média.................................................................... 09
2.2.1.3 Da Idade Moderna à Contemporânea ................................. 10
2.2.2 Evolução do conceito da fertilidade do solo no Brasil............. 20
3. APLICAÇÃO DO CONCEITO TRADICIONAL E A SUA
INSUFICIÊNCIA PARA EXPRESSAR A FERTILIDADE DO SOLO
PERCEBIDA PELAS PLANTAS ...................................................... 23
3.1 Aplicação do conceito tradicional da fertilidade do solo no Rio
Grande do Sul............................................................................ 23
3.1.1 Evolução do uso agrícola dos solos no Rio Grande do Sul..... 26
3.1.2 Evolução da fertilidade em solos do Planalto do Rio Grande
do Sul...................................................................................... 33
3.2 A insuficiência do conceito tradicional para expressar a
fertilidade do solo percebida pelas plantas............................... 41
3.2.1 Relações clássicas da fertilidade do solo................................ 45
3.2.2 “Ruído” nas etapas do processo de avaliação da fertilidade
nos solos cultivados no sistema plantio direto........................ 50
3.2.3 Tentativas para diminuir o ruído” na avaliação da fertilidade:
interpretar seus indicadores de outros modos....................... 60
3.2.3.1 Evolução da relação entre os indicadores de fertilidade do
solo e a produtividade das culturas...................................... 60
3.2.3.2 Sensibilidade dos indicadores de fertilidade para expressar
a mudança do sistema de cultivo.......................................... 66
3.2.3.3 Aplicação da técnica da normalização aos resultados de
indicadores para identificar níveis de fertilidade nos solos.. 71
3.2.4 Insuficiência da avaliação e do conceito tradicional para
expressar a fertilidade do solo percebida pelas plantas........ 78
4. ANALOGIA DA EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DA FERTILIDADE DO
SOLO E DA SUA PERCEPÇÃO NESTE MOMENTO À DOS
SISTEMAS ABERTOS......................................................................... 80
4.1 Analogia da evolução da noção da fertilidade à dos sistemas
abertos ...................................................................................... 81
4.2 Análise da noção da fertilidade no momento atual.................... 86
5. FERTILIDADE COMO PROPRIEDADE EMERGENTE E O SOLO
COMO SISTEMA SEDE...................................................................... 88
5.1 Solo: um sistema aberto............................................................. 99
5.2 Formação do sistema solo e da sua fertilidade.......................... 92
5.3 Funcionamento e funções do sistema solo................................ 93
5.4 Fertilidade: uma propriedade emergente do sistema solo.......... 96
x
6. POSSÍVEIS AÇÕES PARA MELHORAR A AVALIAÇÃO E A
FERTILIDADE DO SOLO................................................................... 100
6.1 A noção da fertilidade do solo no futuro..................................... 100
6.2 Práticas para aumentar e manter a fertilidade do sistema solo.. 102
6.3 A fertilidade do sistema solo e a sustentabilidade na agricultura. 104
7. CONCLUSÕES..................................................................................... 105
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 106
9. APÊNDICES......................................................................................... 116
xi
RELAÇÃO DE TABELAS
Página
01. Distribuição percentual dos teores de matéria orgânica e de
fósforo nos solos de dez regiões fisiográficas do RS em faixas
de fertilidade (ASCAR, 1969)...............................................
29
02. Perdas médias de solo por erosão sob chuva natural de
quatro anos agrícolas
1
, em diferentes sistemas de cultivo e
manejo da palha, com rotação trigo/soja, em Passo Fundo
(Wünche & Denardin, 1980)....................................................... 31
03. Valores médios de indicadores de fertilidade avaliados nos
municípios de Santa Rosa e de Ibirubá, nas regiões do Alto
Vale do Uruguai e do Planalto Médio e no Estado do RS
[Adaptado de Associação (1967) e de Porto (1970)]................. 37
04. Evolução dos principais indicadores de fertilidade do solo
avaliados em experimentos com diferentes históricos de
cultivo em Eldorado do Sul entre 1985 e 2005 (PVd: 0-10 cm). 61
05. Valores mínimos e máximos reais dos indicadores de
fertilidade utilizados na normalização dos dados avaliados em
Eldorado do Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo (Apêndice 7).... 73
06. Valores mínimos e máximos normalmente encontrados dos
indicadores de fertilidade utilizados na normalização dos
dados de solo avaliados em Eldorado do Sul, Passo Fundo e
Santo Ângelo e bases de cálculo do rendimento relativo de
grãos em cada local................................................................... 73
xii
RELAÇÃO DE FIGURAS
Página
01. Regiões agroecológicas do Estado do RS e as Colônias Velhas e
Novas (Secretaria da Agricultura e Abastecimento do RS, 1994).. 27
02. Expansão do cultivo da soja em áreas de mata, em Santa Rosa e
Ibirubá, e de campo natural, em Cruz Alta, no Planalto Médio do
RS entre 1955 e 1980 (EMATER, 2007) ........................................ 28
03. Mudança do sistema de cultivo do solo no Planalto Médio (a) e
na área cultivada no SPD com milho na rotação de culturas em
Cruz Alta (b) [(a): Mielniczuk et al., 2000; (b): CAT de Cruz Alta –
dados não publicados].................................................................... 32
04. Evolução do rendimento de grãos da soja em Santa Rosa,
Ibirubá, Cruz Alta e no RS e da área cultivada com soja no RS e
relações com os principais programas de melhoria da fertilidade
e conservação do solo (Adaptado de EMATER, 2007).................. 34
05. Evolução das faixas dos indicadores de fertilidade do solo — pH
em água (a), matéria orgânica (b) e fósforo disponível (c e d) —
nas regiões do Planalto Médio (PM) e do Alto Vale do Uruguai
(AVU) e no Estado do Rio Grande do Sul (RS) (nos
levantamentos de 1981 e 1988, a região do PM foi considerada a
do Alto do Jacuí e a região do AVU a Colonial de Santa Rosa; de
1988 e de 1997 a 1999, faixas de pH correspondem a <4,9; 5,0-
5,4 e >5,5).......................................................................................
36
06. Evolução das faixas dos indicadores de fertilidade do solo — pH
em água (a), matéria orgânica (b) e fósforo (c) e potássio
disponíveis (d) — em Santa Rosa e em Ibirubá nas últimas
quatro décadas................................................................................ 38
07. Evolução dos valores e dos teores médios dos indicadores de
fertilidade do solo — pH em água (a), matéria orgânica (b) e
fósforo (c) e potássio disponíveis (d) — em Santa Rosa e Ibirubá
[(a) e (c): Mielniczuk & Anghinoni (1976); (d) Porto (1970)]............ 39
08. Rendimento relativo de grãos de trigo, soja e milho obtidos em
2003 no RS comparados àqueles de 1960 (Adaptado de
EMATER, 2007).............................................................................. 40
09. Mudança relativa de indicadores das condições biológicas do
solo no SPD em relação ao SC em Londrina [avaliação feita aos
16 anos do experimento (LRd: 0-10 cm); adaptado de Balota et
al. (1998)]........................................................................................ 42
10. Distribuição das classes de diâmetros de agregados, na camada
de 0-10 cm, em solo com diferentes históricos de cultivo em
Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm) (a) e em Santo Ângelo (b) (LVdf:
0-10 cm) [avaliações feitas em experimentos conduzidos há mais
de 20 anos; (b) Conceição (2006)] ................................................. 43
xiii
11. Mudança nos valores dos indicadores de fertilidade — fósforo (a)
e potássio (b) disponíveis, alumínio trocável (c) e matéria
orgânica (d) — em solos cultivados no SC e no SPD, com
diferentes rotações de culturas em vários locais (avaliações feitas
em experimentos conduzidos há mais de 20 anos; milho com
adubação nitrogenada)................................................................... 44
12. Relações clássicas entre indicadores de fertilidade — pH em
água e alumínio trocável (a) e saturação por bases (b), alumínio
trocável e saturação por alumínio (c), matéria orgânica e alumínio
trocável (d), pH em água e CTC efetiva (e) e matéria orgânica e
CTC efetiva (f) — em experimentos com diferentes históricos de
cultivo, conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado do Sul
(PVd: 0-10 cm)................................................................................ 46
13. Relações entre nitrogênio total e mineral (a) e entre matéria
orgânica e nitrogênio total (b) no solo em experimentos
conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm) 48
14. Relações entre o teor de fósforo (a) e potássio disponíveis (b)
no solo e sua concentração no tecido vegetal e entre essas e o
rendimento relativo de grãos de soja (c) e (d) em lavouras
cultivadas
no SPD no Planalto Médio
[LVd: 0-10 cm; (c) pH > 5,5;
V > 65% e K > 60 mg dm
-3
; (d) pH > 5,5; V > 65% e P > 6 mg dm
-3
].... 49
15. Relações entre indicadores da fertilidade do solo e rendimento
relativo de grãos de soja em lavouras cultivadas no SPD no
Planalto Médio do RS (LVd: 0-10 e 0-20 cm).................................. 51
16. Curvas de calibração para fósforo extraível pelo método Carolina
do Norte no solo cultivado no SC (Mielniczuk et al., 1969)............. 54
17. Curvas de calibração para fósforo disponível — Mehlich 1 (a) e
resina (b) — em solos cultivados no SPD [Adaptado de
Schlindwein (2003) com as faixas de interpretação adotadas pela
CQFS RS/SC (2004)]...................................................................... 56
18. Relações entre os principais indicadores da fertilidade do solo e
o rendimento de grãos de milho avaliados em experimentos com
diferentes históricos de cultivo, conduzidos há mais de 20 anos
em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm)................................................ 58
19. Relações entre outros indicadores da fertilidade do solo e o
rendimento de grãos de milho avaliados em experimentos com
diferentes históricos de cultivo, conduzidos há mais de 20 anos
em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm)................................................ 59
20. Evolução do rendimento de grãos de milho cultivado em solo
com diferentes históricos de cultivo em Eldorado do Sul entre
1985 e 2005 [resultados de 1985 a 2003: Zanatta (2006)] ............ 62
21. Evolução dos principais indicadores da fertilidade de solo e do
rendimento de grãos de soja cultivada no SC T/S (a), no SPD
T/S (b) e no SPD T/S/A+Tv/M/Cz/S (c) em Santo Ângelo entre
1979 e 2004 (LVdf: 0-10 cm)........................................................... 63
xiv
22. Evolução dos principais indicadores da fertilidade e do
rendimento de grãos de soja cultivada no SC (a), no CM (b) e no
SPD (c), com a rotação S/Cv/S/V/Sg/Ab, em Passo Fundo entre
1985 e 2005 (LVd: 0-20 cm)............................................................ 64
23. Evolução do rendimento de grãos de soja em diferentes sistemas
de cultivo e da precipitação pluvial anual em Passo Fundo entre
1985 e 2005 (Denardin & Kochhann, 2006 – comunicação pessoal). 65
24. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho
com os primeiros indicadores da fertilidade de solo utilizados no
RS — pH em água, fósforo e potássio disponíveis e matéria
orgânica — avaliados em experimentos com diferentes históricos
de cultivo [(a) 0 e (b) 180 kg ha
-1
de N], conduzidos há mais de
20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm; referência: 100% =
SC A/M)........................................................................................... 67
25. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho
com os indicadores da fertilidade do solo agregados aos
primeiros utilizados no RS — alumínio, cálcio e magnésio
trocáveis, saturação por bases e por alumínio e CTC efetiva — em
experimentos com diferentes históricos de cultivo [(a) 0 e (b) 180
kg ha
-1
de N], conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado do Sul
(PVd: 0-10 cm; referência: 100% = SC A/M; *m/5 e Al/25; **m/4 e Al/4) 68
26. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho
com os indicadores da fertilidade do solo mais sensíveis —
fósforo disponível, magnésio trocável, nitrogênio total, matéria
orgânica, CTC efetiva e umidade — em expressar a mudança no
sistema de cultivo em experimentos conduzidos há mais de 20
anos em Eldorado do Sul [(a) 0 e (b) 180 kg ha
-1
de N; PVd: 0-10
cm; referência: 100% = SC A/M]..................................................... 70
27. Representação integrada (%) dos indicadores da fertilidade do
solo — fósforo disponível, magnésio trocável, nitrogênio total,
matéria orgânica, CTC efetiva e umidade — para expressar o
rendimento de grãos de milho em experimentos conduzidos há
mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm; referência:
100% = SC A/M sem N; *rend./4; **P/2)......................................... 71
28. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria
orgânica, saturação por bases e por alumínio — e o rendimento
de grãos das culturas normalizados conforme as condições
avaliadas em cada local, Eldorado do Sul (a), Passo Fundo (b) e
Santo Ângelo (c) [Al e m invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm]. 74
29. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria
orgânica, saturação por bases e por alumínio — normalizados e
rendimento relativo de grãos calculado conforme as condições
avaliadas em cada local, Eldorado do Sul (a), Passo Fundo (b) e
Santo Ângelo (c) [Al e m invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm]. 76
xv
30. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria
orgânica, saturação por bases e por alumínio — e o rendimento
de grãos normalizados [Teste 1: (a)] e com os indicadores
normalizados com padrões semelhantes e rendimento relativo de
grãos [Teste 2: (b)], em Eldorado do Sul, Passo Fundo e Santo
Ângelo juntos [Al e m invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm]..
77
31. Principais noções da fertilidade do solo e análise da noção atual,
interpretados de maneira análoga à evolução dos sistemas
abertos [idéias defendidas por grupos que discutem a noção:
“e
1
“: mineralista; “e
2
“: dúvidas; “e
3
“: divide a fertilidade; “e
4
“: nova;
adaptado de Prigogine (1996)]........................................................ 82
32. Principais sistemas e subsistemas que interagem com o sistema solo 91
33. Relação entre o aumento do grau de complexidade do solo
formado e da sua fertilidade pelas interações entre o clima, a
rocha matriz e a vida no tempo....................................................... 93
34. Fertilidade: uma propriedade emergente da interação entre os
subsistemas estrutural e renovável do sistema solo....................... 97
35. Produtividade: uma propriedade emergente da interação entre o
subsistema planta, o sistema vida e um ambiente específico........ 98
36. Principais interações que possibilitam a continuidade da agricultura. 99
37. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho
com indicadores das condições químicas, físicas e biológicas do
sistema solo avaliados aos 15 anos do experimento conduzido
em Eldorado do Sul, nas parcelas com 180 kg ha
-1
de N [PVd:
umidade, COT e CO: 0-10 cm; CO
2
e EA: 0-7,5 cm; C microbiano
e C-CO
2
: 0-5 cm; referência: 100% = SC A/M sem N; adaptado
de Conceição (2002)]...................................................................... 101
38. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho
com indicadores biológicos do sistema solo no SPD com
diferentes rotações de culturas, avaliados aos 19 anos do
experimento conduzido em Eldorado do Sul, nas parcelas com
180 kg ha
-1
de N [PVd: 0-10 cm; referência: 100% = R; adaptado
de Schmitz (2003)].......................................................................... 101
xvi
RELAÇÃO DE ABREVIATURAS
Abreviaturas Sistemas de cultivo, espécies cultivadas e
indicadores tradicionais de fertilidade do solo
Sistemas de cultivo
R Repouso ou pousio
SC Sistema convencional
SPD Sistema plantio direto
CM Cultivo mínimo
Espécies cultivadas
Nome comum Nome científico
A Aveia preta
Avena strigosa
Ab Aveia branca
Avena sativa
Az Azevém
Lolium multiflorum
C Caupi
Vigna unguiculata
Cv Cevada
Hordeum vulgare
Cz Colza ou canola
Brassica napus
V Ervilhaca ou vica
Vicia sativa
G Guandu
Cajanus cajan
L Lablab
Lablab purpureus
M Milho
Zea mays
N Nabo
Raphanus sativus
S Soja
Glycine max
Sg Sorgo
Sorghum vulgare
Tç Tremoço
Lupinus albus (br)
Lupinus sativus (verm)
Tv Trevo
Trifolium subterraneum
T Trigo
Triticum aestivum
P Pangola
Digitaria decumbens
Indicadores de fertilidade do solo
Al Alumínio
Ca Cálcio
P Fósforo
Mg Magnésio
MO Matéria orgânica
N Nitrogênio
K Potássio
m Saturação por alumínio
V Saturação por bases
xvii
RELAÇÃO DE APÊNDICES
Página
01. Evolução da fertilidade em solos do Planalto do RS (Material e
métodos) .................................................................................... 117
02. Avaliações feitas nos experimentos de coberturas e de
preparos de solo na Estação Experimental Agronômica da
UFRGS em Eldorado do Sul (Material e métodos).................... 119
03. Avaliação da fertilidade do solo, da concentração de
nutrientes no tecido de plantas e do rendimento de grãos da
soja em lavouras conduzidas no SPD no Planalto Médio do
RS (Material e métodos)............................................................. 124
04. Avaliações feitas no experimento de uso e manejo e
conservação do solo na COTRISA em Santo Ângelo (Material
e métodos).................................................................................. 127
05. Avaliações feitas no experimento de sistemas de preparo de
solo na EMBRAPA - Trigo em Passo Fundo (Material e
métodos)..................................................................................... 129
06. Valores do rendimento de grãos e dos indicadores de
fertilidade do solo relativos ao SC A/M avaliados na safra
2005/06 em experimentos de Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm). 131
07. Resultados dos experimentos de Eldorado do Sul, Passo
Fundo e Santo Ângelo utilizados para testar capacidade da
técnica de normalização para expressar níveis da fertilidade
nos solos.................................................................................... 132
08. Principais contribuições para a compreensão dos sistemas
abertos........................................................................................
136
1. INTRODUÇÃO
O homem percebeu, na Antiguidade, antes de inventar a agricultura,
que a produção de alimentos dependia da fertilidade do solo. Por isso, pode ter
desenvolvido uma noção de fertilidade do solo muito antes do conceito de solo.
As principais contribuições relativas à história da noção da fertilidade são
apresentadas neste trabalho da primeira teoria da fertilidade proposta por
Columella (42 d.C.), que sintetizou e aprimorou o conhecimento construído na
Antigüidade, à teoria mineralista, construída por Liebig (1842) sob os
fundamentos da nutrição mineral propostos por Saussure (1804). Com base na
teoria mineralista, em que os elementos minerais (nutrientes) solúveis são o
alimento das plantas, formou-se, no século XIX, o conceito de fertilidade do
solo amplamente utilizado no mundo. Menos de meio século após a euforia,
gerada pelas conseqüências da aplicação desse conceito — promoveu
extraordinário progresso na agricultura e aumento na produção de alimentos —
muitos pesquisadores começaram a manifestar sua insatisfação com ele, por
ser restrito apenas às condições químicas do solo. No século XX, a
insatisfação aumentou e surgiram percepções mais claras sobre a fertilidade,
porém, o conceito tradicional — fornecer nutrientes e manter a ausência de
elementos tóxicos às plantas — continua sendo amplamente utilizado, inclusive
no Brasil. Com base nesse conceito, a fertilidade é avaliada pela determinação
de indicadores químicos em amostras de solo, e fertilizantes, adubos (minerais
ou orgânicos) e corretivos (de acidez ou de alcalinidade) são recomendados
para a sua melhoria. Apesar dos benefícios da aplicação desse conceito no
aumento da fertilidade dos solos e na produtividade das culturas, se verifica, na
prática, que a avaliação e, conseqüentemente, o conceito tradicional podem
não ser suficientes para expressar a fertilidade do solo percebida pelas plantas,
principalmente nos solos cultivados por longo tempo no sistema plantio direto.
A insuficiência desse conceito, percebida na teoria desde o final de século XIX
e, na prática, no início do século XXI, indica ser este um momento de mudança
na percepção da fertilidade do solo, da qual, provavelmente, resultará um novo
2
conceito dessa propriedade do solo, essencial para a vida das plantas. É
provável que o novo conceito não se restrinja à química do solo, mas a
expresse como uma propriedade emergente da interação entre todas as
condições dadas pelo sistema solo para o desenvolvimento e a produtividade
das plantas. Com o novo conceito, deverá ser definido um novo processo de
avaliação e deverão ser recomendadas outras práticas, além da aplicação de
adubos e corretivos, para aumentar e manter a fertilidade do sistema solo.
A hipótese da tese é que o conceito mineralista, tradicional e
amplamente utilizado e, conseqüentemente, a sua avaliação, restrita ao
aspecto químico, são insuficientes para expressar a fertilidade do solo
percebida pelas plantas; por isso o momento atual é propício ao surgimento de
uma nova noção da fertilidade do solo, com um novo conceito e avaliação. Os
objetivos são: 1) conhecer como evoluiu a noção da fertilidade do solo até a
formação do conceito atual; 2) avaliar os efeitos da aplicação desse conceito
tradicional na mudança da fertilidade e na evolução do uso agrícola dos solos
do Planalto do Rio Grande do Sul; 3) avaliar a capacidade do conceito
tradicional em expressar a fertilidade do solo percebida pelas plantas, pela
comparação dos resultados obtidos na sua avaliação tradicional, com a
produtividade das culturas em solos com diferentes históricos de cultivo, e pela
magnitude do “ruído” nas etapas do processo de avaliação; 4) identificar se
existem elementos suficientes para promover a mudança no conceito da
fertilidade do solo, pela interpretação das percepções que marcaram a
evolução da noção de fertilidade e pela análise do momento atual segundo à
evolução dos sistemas abertos; 5) refletir sobre como seria o novo conceito, se
o solo fosse considerado um sistema aberto e a fertilidade uma propriedade
emergente do funcionamento do sistema solo.
2. A AGRICULTURA E A NOÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO
O início da percepção da fertilidade do solo pelo homem ocorreu
quando a abundância de frutos começou a diminuir e esse procurou, na
mudança de local, terra sempre mais adequada a maiores colheitas. Essa
percepção foi aprimorada com o início, a prática e a própria evolução da
agricultura. O homem se empenhou em conferir ao solo características ade-
quadas para a maior e melhor produção de alimentos e formou um conceito de
fertilidade muito antes de um conceito de solo. Assim, a evolução da agricultura
e das civilizações tornou-se inseparável da noção de fertilidade do solo. Desde
a primeira teoria da fertilidade do solo, proposta por Columella em 42 d.C., até
os dias de hoje, houve mudanças importantes na sua noção, na sua avaliação
e nas práticas utilizadas para regenerá-la. Uma visão geral das principais
contribuições que construíram essa história é apresentada a seguir. Inicia-se
com a noção ampla de fertilidade na Antigüidade e percorre-se o tempo até
chegar àquela restrita à química, da atualidade (Idade Contemporânea). São
também abordadas a evolução do conceito no Brasil e a insatisfação com este
conceito tradicional usado para expressar a fertilidade do solo; essa insatis-
fação, que começou a surgir no final do século XIX, tornou-se mais intensa no
século XX e é percebida inclusive no Brasil.
2.1 A agricultura e sua evolução
Os produtos espontâneos da terra eram suficientes para a
alimentação do animal e do homem selvagem, mas não o são para o homem
civilizado, que satisfaz suas necessidades básicas com os produtos que obtém
da terra com inteligência e trabalho (Scarponi, 1949). Assim se identificavam
civilização e agricultura; esta, à época romana, definida por Varrone como
ciência e arte (Saltini, 1984a). Atualmente, a agricultura é definida como a arte
de cultivar plantas; a pecuária como a arte de criar animais no campo; e a
agropecuária, o desenvolvimento conjunto dessas atividades (Wikipédia, 2006).
4
A humanidade e a agricultura evoluíram juntas. Nos períodos
Paleolítico e Mesolítico, o homem era nômade e vivia da caça, da pesca e da
coleta de frutos e de raízes; no Neolítico, começou a cultivar plantas e a criar
animais, evitando assim as buscas freqüentes e perigosas por alimentos.
Nesse período, há 12 mil anos, surgiu a agricultura, pela primeira vez, com os
sumérios na Mesopotâmia, localizada na “meia-lua fértil” do Antigo Oriente, na
parte alta dos rios Tigre e Eufrates. No início, a agricultura era praticada pelas
mulheres; só depois de muito tempo os homens, responsáveis pela caça e o
pastoreio itinerante, se dedicaram ao cultivo do solo nas margens dos rios. A
agricultura mudou a vida das pessoas, e o homem, com a abundância de
alimentos, fixou-se ao local com a construção de casas, de celeiros, de
ferramentas, como arados e ceifadeiras, e passou a trabalhar com cerâmica e
tecelagem. Assim, formaram-se as primeiras aldeias (Rodrigues, 2005).
À medida que a agricultura se expandiu, houve a procura por terras
férteis, caracterizando a revolução agrícola e o Neolítico. O excesso de
alimentos produzidos pela agricultura irrigada, permitiu que o homem desenvol-
vesse outras necessidades. Isso fez com que a economia das Civilizações
Egípcia, Grega e Romana fosse baseada principalmente na agricultura.
Entretanto, sua evolução praticamente se estagnou na Idade Média, pois
continuavam a utilizar técnicas rudimentares e a obter baixas produtividades.
Na Idade Moderna, voltou a se desenvolver, impulsionada pelas novas desco-
bertas científicas, com melhoria das técnicas de cultivo, aumento de produtivi-
dade e maior variedade de espécies cultivadas. Na Idade Contemporânea, a
agricultura se desenvolveu mais ainda com o aumento na produção de
alimentos, especialmente após as guerras mundiais (Saltini, 1984a).
Na América, a agricultura surgiu de forma independente. No período
Paleoíndio, os povos eram caçadores, nômades e alimentavam-se da coleta de
frutos e raízes; no Arcaico, intensificaram a exploração dos recursos aquáticos
e começaram a adotar formas sistemáticas de coleta das plantas e a cultivá-
las. Os Maias iniciaram a agricultura cultivando abóbora, milho e feijão. Mais
tarde, passaram a cultivar batata, cacau, mandioca e girassol e a utilizar
técnicas como irrigação, cultivo em terraços escalonados e adubação do solo.
A agricultura dos Incas, na Cordilheira dos Andes, era muito desenvolvida com
o cultivo de feijão, milho e batata em terraços, utilizando canais de irrigação. No
5
período Clássico, a população vivia fora dos grandes centros, em aldeias
dedicadas quase exclusivamente à agricultura (Pons, 1998).
A agricultura antiga é caracterizada pelo uso intensivo da força
humana e animal, por técnicas e utensílios agrícolas rudimentares, como
enxada, arado de tração animal, queimadas e obtenção de colheitas irregu-
lares. A agricultura moderna é amparada pelo desenvolvimento do conhe-
cimento científico, pelo uso de novos tratos culturais, de tratores, de
colhedoras, de semeadoras e de outros implementos agrícolas, que resultaram
em aumento da produtividade agrícola e maior regularidade das colheitas. A
agricultura contemporânea é baseada em tecnologia e busca o equilíbrio entre
a produção eficiente de alimentos saudáveis em menor área disponível com
menor deterioração do ambiente (Mazoyer & Roudart, 2001).
Múltiplos equilíbrios se estabelecem no mundo da agricultura entre
os homens e a terra, com a mudança das espécies cultivadas, das condições
geográficas e climáticas, da situação econômica, da cultura e do conhecimento
científico à disposição da sociedade, nas diferentes épocas. Cada atividade
agrícola é resultante das relações entre forças naturais e elementos das
civilizações em cada fase evolutiva. A construção do conhecimento é o “centro
vital” da Ciência Agronômica. Na sua evolução, destaca-se a contraposição
entre o conhecimento pré-científico ou mitológico e o científico ou experimental.
Os hábitos antigos, que permanecem entre as práticas agrícolas, permitem
tratar a agricultura como uma arte velha e ao mesmo tempo uma ciência nova,
fundamentada sobre os preceitos dos antigos geopônicos
1
, que começaram a
construir a Ciência Agronômica (Saltini, 1984a).
2.2 A noção da fertilidade do solo
A história da noção da fertilidade do solo, a seguir apresentada, foi
elaborada com base, principalmente, na obra “História das Ciências Agrícolas”,
que descreve as principais mudanças que interferiram na agricultura desde a
Antigüidade até 1900, publicada em quatro volumes por Saltini, em 1984
(Saltini 1984a, 1984b, 1984c e 1984d). Por isso, sempre que as informações
aqui relatadas forem baseadas na obra de Saltini, a fonte não será citada e
quando for de outros autores, as referências serão incluídas no texto.
1
Pessoas que escreviam sobre a agricultura.
6
Na Antigüidade, os geopônicos e os geórgicos
2
já escreviam sobre a
“fertilidade da terra”, mas somente depois do ano 1000 d.C. são encontradas
referências à “fertilidade do solo”. As palavras “solo” e “terra” eram usadas,
muitas vezes, como sinônimos, na China, há aproximadamente 4.000 anos,
significavam meio de suporte e nutrimento para o desenvolvimento das plantas
e para a produção de alimentos. A palavra “terra” (português; latim: terrae) tem
origem, dos quatro elementos de Aristóteles, do vocábulo grego geo. Mais
tarde, foi criado vocábulo grego ped ou pedon para expressar terra onde se
pisa. Para diferenciar geo de sentido amplo, Teofrasto criou o vocábulo
edaphos (grego; latim: solum; português: solo) para expressar, em sentido
restrito, a camada superficial da terra dotada de humore (grego: “sangue” que
flui na terra; latim: humus; português: húmus) que nutre as raízes das plantas.
Neste trabalho, será preservada a terminologia usada pelos escritores das
noções de fertilidade no texto consultado, assim os termos “fertilidade da terra”
e “fertilidade do solo” serão considerados sinônimos.
O vocábulo humus (latim) também era utilizado para expressar terra
cultivada, aquela que transformou o homem selvagem em civilizado. Por isso, o
vocábulo humanitas (latim; português: humanidade) expressava o conjunto de
pensamentos, de ações, de sabedoria e de amor, que possibilitou alterar e
manter a transformação que mudou o destino dos humanus (latim; português:
humanos) (Enciclopédia Agrária Italiana, 1952). A vida é sustentada
fundamentalmente pelo requisito da fertilidade, idêntica à feracidade e à
fecundidade da terra. Devido a isso, a evolução da agricultura e das
civilizações é inseparável do conhecimento da fertilidade do solo nas diferentes
fases históricas (Scarponi, 1949).
2.2.1 Evolução da noção da fertilidade do solo: uma visão geral
O interesse do homem pela fertilidade da terra sempre foi movido,
primeiro, pela necessidade de se alimentar para se manter vivo e, segundo,
pela ânsia de prosperar com o lucro obtido com os produtos agrícolas. Por isso,
iniciou o cultivo e se empenhou em conferir ao solo características adequadas
para maior e melhor produção de alimentos formando e alterando aos poucos o
conceito de fertilidade (Oliva, 1939).
2
Pessoas que trabalhavam com agricultura. Georgófilos: pessoas que gostavam da agricultura,
cultores dos estudos agrícolas.
7
Uma noção ou um conceito de fertilidade do solo, em determinada
época, é formado pela interação dos mecanismos do sistema neuronal do
homem com os mecanismos do solo e é influenciado pela cultura, pelo
conhecimento e pela tecnologia disponível. Quanto mais intensa essa
interação, mais real é o conceito. Assim, a fertilidade que emerge daquele solo,
influenciada pelas práticas agrícolas derivadas da noção do homem mais
evoluída da fertilidade, torna-se cada vez mais alta. Por isso, a história da
noção da fertilidade é a expressão da interação entre a consciência do homem
e o solo, ou seja, seu entendimento de solo e a resposta deste às suas ações,
nas diferentes épocas. A formação de um conceito de fertilidade ocorre quando
o homem pensa, gera uma atividade mental sobre a fertilidade e sobre o
funcionamento do solo e associa a relação entre ambos com as plantas.
Embora seja uma propriedade do solo que se manifesta em função das plantas
cultivadas, é a atitude do homem em relação a ela que desencadeia o grau de
expressão da fertilidade.
2.2.1.1 Na Antigüidade
Na Antigüidade, a sobrevivência do homem era dependente dos
produtos da terra, por isso o cultivo das plantas, à medida que a escassez de
alimentos aumentou, passou a ser a razão da sua vida. Ao observar que as
plantas se nutriam da terra, o homem atribuiu a esta a “função de nutrimento”
das plantas, comparando-a à mãe que precisa se nutrir para melhor desem-
penhar a sua função. Por isso, passou a nutri-la com estercos e a cultivá-la
com plantas a ela benéficas (Scarponi, 1949). Essa primeira concepção da
fertilidade foi encontrada nos escritos dos filósofos e geórgicos gregos
(Aristóteles e Teofrasto) e nos escritores e poetas latinos (Catone, Varrone,
Virgílio, Lucrécio, Columella e Plínio); estes inspirados na obra do pai da
Ciência Agronômica, o cartaginês Magone (IV ao III século a.C.). Por ser a
agricultura considerada a única atividade manual digna de um homem livre
naquela época (Sócrates, 470 a 399 a.C.), era fundamental entender e
melhorar a fertilidade da terra. Surgiram então importantes indicações para se
obter colheitas abundantes, muitas dessas utilizadas ainda hoje. Dentre as
práticas agrícolas, destacavam-se a necessidade de arar bem (Hesíodo no VII
século a.C.; Catone, 234 a 149 a.C.) e adubar a terra (Xenofonte, 430 a 354
8
a.C.; Aristóteles, 384 a 322 a.C.; Catone, 234 a 149 a.C.); o modo de prepará-
la e a semeadura dos cereais (Teofrasto, 378 a 287 a.C.); e intercalar períodos
de repouso da terra (Bíblia) ou fazer rotação com legumes no cultivo do trigo
(Lucrécio, 98 a 55 a.C.).
As recomendações para melhorar a fertilidade da terra resultaram da
constatação de que as plantas, quando cultivadas no mesmo solo por muito
tempo, produziam cada vez menos. Portanto, quatro práticas dentre aquelas
recomendadas solucionavam ou diminuíam o problema observado. Como a
agricultura mais avançada na época era desenvolvida em clima temperado, o
ato de arar o solo era, possivelmente, o primeiro e o mais importante.
Estimulava o aquecimento do solo, aumentava a aeração, facilitava a
semeadura, armazenava mais água e controlava as plantas concorrentes. A
outra prática, muito comum por longo período na história da agricultura, foi o
repouso. Como a única alternativa era colocar esterco e essa prática dependia
da existência deste, a solução era deixar o solo em repouso. Na agricultura
mais avançada, possivelmente, esse mesmo solo era cultivado com legumes.
As percepções sobre a agricultura de antes da era Cristã (a.C.)
foram aprimoradas e deram forma à primeira teoria da fertilidade da terra
proposta por Columella, publicada na “A arte da agricultura” (42 d.C.). Esta
obra representa a maturidade da Ciência Agronômica da Antigüidade. Em suas
observações, verificou que a diminuição na produção dos alimentos não era
devido ao envelhecimento ou cansaço da terra, mas sim à exploração
excessiva da fertilidade. Retirava-se muito (hoje identificados como nutrientes)
e repunha-se pouco. Columella conceituou a fertilidade como uma capacidade
continuamente renovável, garantida pelo cultivo da terra com técnicas
apropriadas e adubação abundante. Esse conceito, válido atualmente, é a base
do sistema de recomendação de fertilizantes. Além da adubação, instrumento
fundamental para regenerar a fertilidade, destacou, na sua teoria, a importância
de arar bem e defendeu o cultivo de plantas à beneficio da terra (atualmente
denominada adubação verde), quando feito com leguminosas, enriquece a
terra. Por essas práticas constata-se que a química, a física e a biologia do
solo eram consideradas no seu conceito de fertilidade. A percepção de
Columella sobre a fertilidade era muito evoluída e serviu de base para as
pessoas tirarem seu sustento da terra por quase dois milênios.
9
Columella percebia que a fertilidade era diferente de uma terra para
outra, por isso, deveria ser avaliada para verificar se continha um suco natural,
uma gordura e um fermento. A consistência e o sabor da terra e o tipo de
vegetação espontânea na área também deveriam ser analisados. Desde a
Antigüidade, as pessoas relacionavam a cor do solo com a produtividade das
plantas. Para Columella, no entanto, a cor não era indicador de fertilidade. A
percepção dele era correta, pois solos mais escuros podem ter mais matéria
orgânica, mas podem também ser menos drenados o que lhes confere cor
mais escura se houver muito ferro. Além disso, é possível solos terem
coloração escura, devido à matéria orgânica, mas serem de baixa
produtividade devido à alta acidez ou outro fator.
2.2.1.2 Na idade Média
Após a publicação de Columella, a obra mais importante foi
publicada somente no século XII por um árabe, Ibn al Awam, também centrada
na fertilidade do solo. Segundo ele, o solo se forma pelo intemperismo das
rochas promovido pela ação dos agentes meteorológicos. Somente depois da
ação do intemperismo, o solo passa a ter fertilidade, ou seja, os compostos
minerais tornam-se aptos para nutrir as plantas. As propriedades da fertilidade
— permeabilidade, capacidade de retenção de água e tenacidade —
dependem da proporção das partículas de areia, silte e argila na composição
do solo (textura). Trata-se de uma noção decorrente da percepção da ação do
intemperismo em relação à química, mas que enfatiza também a face física da
fertilidade. O árabe destacou também que era importante conhecer as
afinidades e as incompatibilidades entre o tipo de solo e as plantas cultivadas.
Esse conhecimento continua válido, pois um solo é fértil para uma determinada
espécie e pode não ser para outra. A noção de Ibn al Awam, que re-propôs o
conceito de fertilidade de Columella, é semelhante à atual. Nela, subentende-
se a necessidade de uma ação externa (intemperismo) para solubilizar os
minerais e tornar o solo fértil, ou seja, somente os minerais numa forma
disponível nutrem ou possibilitam o desenvolvimento das plantas, embora não
se referisse especificamente a nutrientes.
10
2.2.1.3 Da Idade Moderna à Contemporânea
O estímulo ao início da ciência experimental moderna e à renovação
da Ciência Agronômica foi dado por Herrera (1513), depois por Gallo (entre
1550 e 1572) e por Serres (1600). Nesse período, era premente o aumento da
produção de alimentos. Segundo Gallo, o aumento da produção só era possível
com o estabelecimento da agricultura intensiva; por isso, era necessário
diminuir os períodos de repouso e aumentar a fertilidade do solo alternando, na
rotação, espécies melhoradoras e exploradoras. É possível perceber que, à
época, havia poucas alternativas para aumentar a fertilidade do solo.
Nessa mesma época, Tarello (1567) difundiu um sistema de rotação
de culturas que, no entender dele, transformaria a terra quase estéril em fértil e
tornaria a fértil, repousada, adubada e bem trabalhada, em muito mais fértil a
cada dia. Nesse sistema, uma parte da área cultivada com trigo seria cultivada
com trevo para a pastagem dos animais. Assim, a produção de esterco
aumentaria e possibilitaria aplicar quantidades maiores de esterco na cultura do
trigo. Isso aumentaria a sua produtividade, permitindo o uso de parte da área
para a produção de carne e enriquecimento do solo com nitrogênio através da
cultura trevo. Esses aspectos, talvez não fossem do conhecimento de Tarello.
No século XVI, a fertilidade continuava sendo entendida como o
“nutrimento que as plantas pegam da terra”. No entanto, foi a partir dessa
época que a investigação mudou de foco, do entendimento da fertilidade e das
práticas para regenerá-la, para o detalhamento do nutrimento, do alimento ou
da substância vital para as plantas. Nessa época, a técnica experimental
marcou o limite entre o modo empírico de investigação e o indutivo. Essa
técnica possibilitou aos pesquisadores separar e identificar compostos, desen-
volver equipamentos e gerar tecnologias que foram fundamentais para a
renovação do conhecimento agronômico e para o progresso da agricultura.
A busca por uma substância, que sozinha fosse responsável pela
vida das plantas, durou do século XVI ao século XVIII. Entre alguns resultados
interessantes, está a afirmação de Bacon (1561 a 1626) e van Helmont (1577 a
1644) de que as plantas retiravam um suco da terra e a água era o principal
alimento delas. Em seguida, Weston (1650) identificou, entre os fatores de ferti-
lidade, os sais nítricos como fundamentais na nutrição das plantas, enquanto
Glauber (1656) afirmava ser o salitre o alimento das plantas, podendo,
11
inclusive, substituir o esterco para recuperar a fertilidade do solo. Contempo-
râneo desses, Boyle (1661) insistia na água como alimento principal associada
ao ar, embora percebesse pequena contribuição dos sais solúveis.
Somente após os experimentos de Woodward (1699), a água deixou
de ser entendida como o alimento das plantas. Com base na relação entre a
impureza da água e o vigor das plantas, esse pesquisador concluiu que eram
as minúsculas partículas de terra, transportadas pela água, o alimento delas.
Essa idéia continuou sendo defendida por Tull (1731), por Duhamel (1750) e
por Home (1757); este acrescentou ser necessário um princípio ativo para elas
agirem, pois constituíam a menor parte das plantas. Evidentemente, à época,
essa afirmação não parecia um despropósito. Hoje, ultrapassaria os limites do
ridículo, por afirmar que as plantas, literalmente, ingeriam partículas de solo.
Em 1757 a análise química do solo foi utilizada, pela primeira vez, por Home,
para entender a nutrição das plantas; isto melhorou o entendimento da fertilidade.
A teoria humista da fertilidade teve origem nas observações de
Wallerius (1761), que identificou o húmus como o alimento das plantas. A
fertilidade era diretamente dependente do seu conteúdo na terra. Isso, de fato,
era o retorno às noções da Antigüidade, já combatidas por Columella (42 d.C.),
que defendia não haver relação direta entre a produtividade e a cor do solo
(representada à época pelo maior conteúdo de húmus).
No período compreendido entre o final do século XVIII e o início do
século XIX, pouco se avançou em termos de um conceito claro sobre a
fertilidade, mas havia discussão sobre as práticas para regenerá-la. Tull (1731),
por exemplo, defendia que a rotação de culturas não era necessária, já Rozier
(1781) insistia nela, com a inclusão de algumas espécies com capacidade de
explorar o solo em maior profundidade, e na adubação natural que resultava de
seus resíduos na superfície, como técnicas para melhorar a fertilidade do solo.
A alternativa de recuperar a fertilidade pelo repouso do solo (Young, 1784) já
não se sustentava mais devido à necessidade cada vez maior de alimentos.
Nesse período, há a coincidência do início da, assim chamada, revolução
industrial na Inglaterra. No final do século, Mitterparcher (1794) explicou que os
instrumentos para a regeneração da fertilidade eram a adubação e a rotação
de culturas e não o repouso. Este degrada a terra ao invés de melhorá-la, pois
ela não reabsorve do ar os sais e os sucos consumidos e exportados das
12
plantas. Não só pela insistência de Mitterparcher, mas também, obviamente,
por outros fatores (sendo o mais importante, a necessidade de alimentos
devido ao crescimento exponencial da população), o repouso deixou de ser
utilizado como prática para recuperar a fertilidade do solo.
É no século XIX que os estudos em solo e fertilidade se
desenvolvem com maior intensidade. A percepção por Thaer (1812), de que a
fertilidade é uma grandeza essencial para estimar a capacidade produtiva do
solo, permitiu o desenvolvimento de um método para a avaliação da evolução
da fertilidade residual ao final de um ciclo de rotação. Provavelmente esse foi
um dos primeiros métodos de avaliação da fertilidade, após o de Columella;
proposto com base na análise das proporções entre a fertilidade exportada —
dependia da espécie cultivada e sua produção — e a fertilidade restituída ao
solo, pela aplicação de adubos e de corretivos e pelo cultivo de espécies
melhoradoras. Por ser defensor da teoria humista e por não conhecer o
trabalho de Saussure (1804), Thaer (1812), assim como Davy (1813), não
propôs metodologia com identificação de substâncias químicas para avaliá-la.
Nessa época, Davy (1813) conceituou o solo, pela primeira vez,
como uma mistura de elementos químicos e físicos diversos, constituído
principalmente por substância mineral derivada da decomposição das rochas.
Esse conceito se assemelha à percepção do solo e da fertilidade de Ibn al
Awam. É possível que este concluísse da mesma forma, se tivesse disponível,
no século XII, as ferramentas científico-tecnológicas do início do século XIX.
Enquanto Davy indicava que, pela composição do solo, havia a probabilidade
de as plantas se alimentarem de diversos elementos, Carradori (1814)
retornava à Antigüidade, conceituando a fertilidade como a capacidade da terra
em nutrir as plantas em abundância para um bom nutrimento.
Os princípios fundamentais da nutrição mineral das plantas foram
enunciados, pela primeira vez, por Saussure (1804). Em seus experimentos,
comprovou que o alimento das plantas não era o húmus em si, mas os sais
minerais solúveis contidos nele e detalhou a absorção dos nutrientes pelas
plantas. Assim, deu forma ao conceito moderno em que a fertilidade depende
da disponibilidade dos elementos solúveis no solo e pode ser regenerada com
a adição desses mesmos elementos ou de substâncias capazes de liberá-los
na forma solúvel. Esse conceito é uma versão detalhada da noção de
13
Columella, re-proposta por Ibn al Awam (século XII), Gallo (1550-1572), Serres
(1600) e Carradori (1814). A ação e os efeitos dos elementos que Saussure
identificou são os mesmos da época de Columella. A principal diferença é que,
na época de Saussure, havia instrumentos que tornaram possível delinear
experimentos com rigor científico para testar a sua intuição. De posse de um
conhecimento mais detalhado, foi também possível a Saussure recomendar a
adição de substâncias solúveis para regenerar a fertilidade, que deveriam
restituir ao solo o que as colheitas exportavam.
A obra de Saussure era muito avançada para a sua época, por isso
permaneceu esquecida por quase 40 anos. Foi Liebig (1842) quem transformou
duas enunciações de Saussure, “o alimento das plantas são os sais solúveis
liberados pelo húmus” e “a necessidade de restituir ao solo os elementos
exportados pelas colheitas”, em postulados de extraordinária importância
científica na sua teoria mineralista. Na essência, a teoria mineralista diferia da
humista, ao preconizar que os nutrientes solúveis eram o alimento das plantas
e não o húmus. Embora ambas considerassem a fertilidade como nutrimento
das plantas, o novo foco era o alimento das plantas. Esses postulados serviram
de base para o desenvolvimento da Ciência Agronômica moderna. O princípio
da restituição, o segundo postulado de Saussure, é o fundamento lógico da
adubação na Idade Contemporânea. Assim, a teoria mineralista da fertilidade
de Liebig se estabeleceu. Além de reforçar as descobertas de Saussure,
demonstrou que alguns nutrientes eram essenciais para o desenvolvimento,
mas a proporção dependia da espécie cultivada. Foi a partir dessa época, que
a fertilidade passou a ser mensurada, pois concomitantemente se intensificou o
desenvolvimento de equipamentos de laboratório. A lei do mínimo — o
elemento que estiver presente em menor proporção em relação aos demais
deve ser reintegrado por primeiro ao solo — também é atribuída a Liebig.
Liebig transformou a noção de que “a fertilidade é o efeito da riqueza
do solo em elementos minerais solúveis” em meta da pesquisa agronômica e a
teoria mineralista promoveu o maior progresso na agricultura da humanidade.
Como, na época, o revolvimento do solo era uma prática rotineira, assim como
a rotação de culturas na agricultura, as faces física e biológica da fertilidade
deixaram de ser enfatizadas e a fertilidade passou a ser tratada, com a teoria
mineralista, quase exclusivamente sob seu aspecto químico.
14
Na metade do século XIX, o nome mais conhecido e prestigiado no
meio acadêmico-científico-agrário era o de Liebig, contudo outros pesqui-
sadores também contribuíram para o desenvolvimento em Ciência do Solo e,
entre eles, especificamente em fertilidade e nutrição de plantas, estão os
nomes de Lawes, Gilbert, Boussingault, Gasparin, Ridolfi e Ville. Lawes (1842)
patenteou o processo de fabricação de superfosfato simples, fundou a estação
experimental de Rothamsted (1843) e, com Gilbert, verificou que a aplicação de
nitrogênio condicionava a eficácia das práticas agrícolas na produtividade das
plantas. Contudo, Liebig defendia que a sua aplicação não era necessária e
que o fósforo era o primeiro elemento que deveria ser reintegrado ao solo.
As principais contribuições de Boussingault (1843) foram: o início da
experimentação a campo para estudar a fertilidade e o desenvolvimento de
metodologias de laboratório para análise química do solo, dos adubos e das
plantas, permitindo, assim, quantificar os constituintes fundamentais da
produção agrícola para o balanço da fertilidade. Gasparin, entre 1843 e 1863,
conceituou a fertilidade em relação ao grau de solubilidade dos elementos
nutritivos presentes no solo, que as plantas conseguem assimilar (fertilidade
potencial em relação aos elementos na forma insolúvel e a atual aos na forma
solúvel). Gasparin também aprimorou a metodologia para a quantificação de
elementos nas formas solúvel e insolúvel e do nitrogênio e utilizou-a no balanço
da fertilidade e na dedução da necessidade de adubação. O trabalho dele
possibilitou identificar os elementos essenciais para as plantas e em que
proporções deveriam ser utilizados para compor os adubos (Ville, entre 1860 e
1890) e as soluções nutritivas (Sachs e Knop, 1865).
Ridolfi, entre 1843 e 1865, mesmo propondo na sua teoria da
fertilidade a aplicação do conhecimento da nutrição das plantas da época e
ciente da essencialidade dos nutrientes solúveis na fertilidade, deu a ela um
conceito amplo: “é a admirável atitude do solo em produzir”. Ridolfi defendeu a
alternância de espécies melhoradoras com exploradoras na rotação de culturas
para manter a fertilidade. Estas quando cultivadas em benefício do solo se
tornariam melhoradoras da fertilidade em diferentes graus, sendo as
verdadeiras aquelas que assimilassem muito do ar e pouco do solo, como a
alfafa. Sabe-se hoje que as leguminosas têm a capacidade de fixar nitrogênio
atmosférico, mas não necessariamente são melhoradoras da fertilidade.
15
Enquanto Pichat (1865) compartilhava da noção de Ridolfi, Ottavi
(1865) anunciou uma percepção inovadora sobre a fertilidade, diferente da
expressa por Columella, pelos humistas e pelos mineralistas. Ele identificou, na
complexidade, a chave para responder as antigas questões sobre a natureza
da fertilidade ao afirmar que as plantas necessitam da complexidade de
elementos, tanto no solo quanto nos adubos. Deve ter usado o termo
complexidade para se referir à discussão da época sobre o elemento mais
importante para a produtividade das plantas e enfatizar que vários nutrientes e
em diferentes proporções eram necessários às plantas. Na mesma época,
Cantoni (1874) restringiu o conceito da fertilidade à química do solo ao
expressar que essa é a capacidade do solo de reter, como filtro eficaz, a maior
quantidade de compostos nutritivos em solução. Em 1896, a percepção de que
a fertilidade era uma medida relativa, dependente das produções pretendidas
do solo nos diferentes locais e que deveria ser avaliada de modo comparativo
pela produtividade, foi expressa por Lawes e Gilbert. Eles também re-
propuseram o princípio da regeneração da fertilidade de Columella, colocando-
o como central na revolução agrícola moderna.
A partir da metade do século XIX, a ciência do solo começou a se
desenvolver intensamente também na América do Norte, influenciada pelas
novas idéias na Europa. Ruffin, entre 1825 e 1845 (Tisdale et al., 1993) foi,
provavelmente, o primeiro a usar calcário em solos de regiões úmidas com o
objetivo de repor nutrientes removidos pelas plantas e pela lixiviação. Foi na
segunda metade do século que iniciaram as estações experimentais ameri-
canas e a fabricação de fertilizantes sintéticos, principalmente do superfosfato.
No final desse século, dois pesquisadores em Ciência do Solo defendiam duas
idéias opostas em fertilidade. Para Whitney, o suprimento de nutrientes do solo
era inexaurível e o fator que influenciava o desenvolvimento da planta era a
taxa de reposição dos nutrientes para a solução, enquanto Hopkins alegava
que isso levaria ao empobrecimento dos solos e ao declínio da produção das
culturas. Sua recomendação para o estado de Illiniois (USA), após exaustivos
estudos, foi a aplicação de calcário e fósforo como a única necessidade dos
solos daquele estado (Tisdale et al., 1993).
No século XIX, a agricultura teve um progresso extraordinário
estimulado pela mecanização, pelos adubos minerais e pelas novas
16
tecnologias geradas nas outras ciências. Entretanto a diversidade de opiniões
sobre a fertilidade, observada na segunda metade daquele século, demonstra
que, mesmo com o sucesso da aplicação da teoria mineralista, nem todos
estavam satisfeitos com as noções expressas. Nessa época, na Ciência,
surgiram discussões sobre a insuficiência do modelo mecanicista ou cartesiano
para entender os fenômenos biológicos. A declaração de Casali (1896), de que
um solo é fértil somente se possui na sua constituição determinada quantidade
de húmus em relação aos minerais, evidencia a tendência, à época, de reduzir
a fertilidade do solo à reposição ou adição de elementos essenciais às plantas.
Atualmente, esta noção é muito utilizada, uma teoria humomineralista em vez
da mineralista, conforme concebida por Liebig. É uma percepção química da
fertilidade, centrada na identificação dos alimentos das plantas, sem considerar
as condições físicas e biológicas do solo, que também são fundamentais para o
desenvolvimento e produtividade delas.
A incapacidade de explicar a fertilidade dos solos com a noção
estabelecida no final do século XIX estimulou os pesquisadores a desenvolver
outros conceitos, na primeira metade do século XX. Nesses, percebe-se o
retorno à visão de uma fertilidade “inteira”, não restrita ao conteúdo mineral do
solo. Nessa época, um modelo sistêmico
3
começou a ser adotado para
compreender os organismos vivos, principalmente na biologia e na química.
Talvez por isso, Cillis (1942) enfatizou que à fertilidade é preciso dar o
significado integral de complexo de todas as condições que no solo influenciam
a vida e a produtividade das plantas. Para Oliva (1939), a fertilidade é a síntese
entre a terra, a atmosfera e as plantas cultivadas, isto é, a harmonia de
elementos em cada grau, infinitamente pequeno e infinitamente grande, na vida
universal. Embora pretendessem dar à fertilidade um conceito integral, amplo,
na prática, quando se depararam com sua complexidade dividiram-na em
várias fertilidades para a avaliação. É o caso de Oliva (1939), para quem a
fertilidade agronômica ou integral era composta pela inicial e pela caloria, e a
fertilidade atual composta pela fertilidade inicial ou natural, pela caloria ou velha
e pela anual ou dinâmica (elementos que circulam no solo durante o ano).
Nesse caso, se os mineralistas da segunda metade do século XIX exageraram
ao reduzir a fertilidade a elementos químicos, o mesmo fez esse ao dividi-la.
3
Estabelecimento da natureza das relações de um sistema dentro de um contexto (Capra, 1996).
17
As noções de fertilidade, expressas por alguns cientistas do solo na
metade do século XX, indicam uma mudança mais radical na sua percepção,
considerando o solo como um sistema
4
e a fertilidade como uma propriedade
desse. Segundo Scarponi (1949), esta é resultante de um sistema de forças
múltiplas (biofisiológicas do vegetal, químicas, químico-físicas, pedológicas,
hidrológicas, microbiológicas, naturais ou induzidas do solo e as climáticas) em
equilíbrio instável num contínuo dinamismo inserido na natureza. Haussmann
(1950) complementa o conceito, ao dizer que é uma propriedade dinâmica,
resultante de múltiplos processos evolutivos ligados à gênese do solo e é a
causa da produtividade das plantas que reside de modo específico no solo.
Porém, esses conceitos não prosperaram e o conceito mais mineralista que
humomineralista continuou sendo o mais utilizado.
Quatro décadas após Oliva, Casalicchio (1978) conceituou
novamente a fertilidade agronômica ou integral como a produtividade de um
solo, que reflete a influência combinada de todos os fatores que agem,
diretamente ou indiretamente, sobre o crescimento das plantas. Tornou a dividi-
la, agora em fertilidades física, biológica e química destacando que a fertilidade
química é a capacidade do solo de suprir elementos nutritivos às necessidades
das plantas, logo, apenas um aspecto da produtividade do solo. Para Hillel
(1980), fertilidade química se refere à quantidade e à variedade das subs-
tâncias necessárias para a nutrição das plantas, em formas disponíveis no
solo, não excessivamente ácido ou alcalino e livre de agentes tóxicos. Esses
conceitos de fertilidade química são semelhantes ao conceito de fertilidade de
Foth (1978) — qualidade que permite ao solo prover os elementos em
quantidades e proporções adequadas para o crescimento de plantas especí-
ficas, quando os outros fatores de crescimento são favoráveis. O conceito
adotado pela Soil Science Society of America (1987) de que a fertilidade é a
habilidade do solo para fornecer nutrientes essenciais, em quantidades e
proporções adequadas, para o crescimento das plantas é a expressão sucinta
do conceito químico defendido pelos autores anteriormente citados.
4
Um sistema é um todo integrado cujas propriedades essenciais surgem das relações entre as
suas partes (Capra, 1996). Um sistema é gerado por um grupo de elementos que interagem
sobre um modelo ou padrão de organização para obter uma emergência, qualidade ou
propriedade não acessível às partes isoladas.
18
A maior parte dos pesquisadores conceitua fertilidade para as
culturas no geral. No entanto, Sequi (1989), “... garantir para certo grupo de
plantas e no limite apenas uma...”, indica que para outros grupos de plantas, a
mesma condição de fertilidade não se sustenta, e elas podem não ter seu ciclo
biológico completado. Observa-se que o autor inclui a planta, ou um grupo de
plantas, no conceito tornando-o não universal. Esse fato indica que a planta,
que é parte da interação que possibilita a manifestação da fertilidade, também
influencia a sua expressão no tempo. Essa percepção, que a planta também
participa da formação da fertilidade do solo e/ou que esta é específica à cultura
ou a um grupo de culturas, está no conceito de Mazzali (1994), “conjunto das
características físicas, químicas e biológicas de um solo capaz de garantir o
desenvolvimento da maior parte das culturas...”.
No final do século XX, a falta de clareza e de consenso sobre o que
é a fertilidade do solo continua, e a busca do entendimento dela em palavras e
em atitudes práticas é evidente pelas noções expressas por alguns autores.
Por exemplo, Zucconi (1996), assim como fizeram Casalicchio, Oliva e até
Gasparin, pela dificuldade de expressar uma única fertilidade, defendeu que no
solo há várias fertilidades: a física, a química, a biológica e a ecofisiológica.
Logo a seguir, Sims (1999) afirmou que a fertilidade integra os princípios
básicos da biologia, da química e da física do solo para desenvolver as práticas
necessárias para o manejo dos nutrientes, objetivando a lucratividade e a
preservação do ambiente. Se, por um lado, parece mais amplo e não divide a
fertilidade, por outro, também este conceito ainda está focado nos nutrientes e
não nas condições para o bom desenvolvimento das plantas.
O entendimento da fertilidade do solo no sentido exclusivo da teoria
mineralista, há 150 anos, favoreceu a ilusória convicção que o seu pleno
potencial é alcançado com adubação química (Rotini, 1984), mesmo se há dois
mil anos Columella já considerava as faces física, química e biológica
integradas na sua noção de fertilidade. Atualmente, como uma conseqüência
do domínio da teoria mineralista, a fertilidade é entendida em sentido exclusiva-
mente químico. Devido à fragmentação da Ciência do Solo em química, física,
microbiologia, biologia e bioquímica, estudam-se os temas em solo isola-
damente e, a partir do seu entendimento, atribui-se maior ou menor importância
de uma determinada área do conhecimento no funcionamento do solo e na
19
produtividade das plantas. Em razão disso, no caso do tema fertilidade do solo,
surgiram muitos adjetivos ou “denominações”, sempre definidos ou atribuídos
com base no interesse do pesquisador. Na literatura internacional, podem ser
encontradas inúmeras “denominações” para a fertilidade do solo: geral,
agronômica, integral, atual, velha, dinâmica, física, química, biológica, mineral,
orgânica, ecofisiológica etc. Isso confunde e afasta cada vez mais as pessoas
do sentido da verdadeira e única fertilidade do solo. Também se observa
confusão entre a fertilidade do solo e a nutrição de plantas (estas podem ser
nutridas no solo ou na água).
Na época de Columella, o conceito de fertilidade contemplava todas
as condições do solo para o nutrimento das plantas. A nutrição — elementos
essenciais às plantas — foi enfatizada depois de Saussure e Liebig, e atual-
mente a fertilidade é a disponibilidade de nutrientes e a ausência de elementos
tóxicos no solo. Tem-se a impressão de que quanto mais a fertilidade é
detalhada, e maior é a tecnologia aplicada para avaliá-la, mais se afasta da
essência; perde-se a noção do todo; por isso, maior é a discrepância entre o
conceito da fertilidade elaborado pelos homens e a fertilidade do solo percebida
pelas plantas. Um conceito claro e satisfatório a todos os interessados nessa
fertilidade deve ser construído com a integração das diversas áreas do
conhecimento em Ciência do Solo, entendendo o solo como um sistema aberto
e a fertilidade como uma propriedade de todo o sistema solo.
Por tudo isso, o que escreveu Oliva (1939) — “se tudo é parte e tudo
retorna à terra, a fertilidade é um anel do ciclo da vida; o solo, que há 12 mil
anos produz alimentos à população crescente, é um problema científico e o
enigma da fertilidade, mesmo depois de extraordinários progressos científicos,
continua em aberto” — continua verdadeiro e atual depois do ano 2000 d.C.
Essa falta de clareza sobre a fertilidade do solo e de coerência do conceito com
a metodologia de avaliação verificada na literatura internacional também é
observada no Brasil, com a diferença de que neste país o estudo da fertilidade
e da Ciência do Solo é muito recente e só foi intensificado a partir da metade
do século XX. Embora atualmente não haja consenso sobre o conceito de
fertilidade do solo, este passou de uma percepção ampla para uma restrita à
química do solo que é o conceito tradicional utilizado praticamente por todos,
tanto no solo cultivado no sistema convencional como no sistema plantio direto.
20
2.2.2 Evolução do conceito da fertilidade do solo no Brasil
O conceito mais antigo de fertilidade de solo encontrado na literatura
agronômica brasileira foi publicado somente depois da metade do século XX.
Provavelmente, uma conseqüência da recente dedicação dos brasileiros à
Ciência em geral e, mais recente ainda, à Ciência do Solo. O estímulo à
Ciência do Solo no Brasil teve início com a fundação do Instituto Agronômico
em Campinas em 1887, e a pesquisa em solos se intensificou a partir da
década de 1960 devido à implantação dos primeiros Cursos de Pós-Graduação
em Ciência do Solo, em Viçosa (UFV, 1961), em Piracicaba (ESALQ, 1964) e
em Porto Alegre (UFRGS, 1965) (Malavolta, 1981).
Principalmente na primeira metade do século XX, nas escolas de
agronomia e nos institutos de pesquisa na região sul do Brasil era muito
freqüente a referência à fertilidade do solo como “bom senso e aplicação de
esterco” (Tedesco, 2007 — comunicação pessoal). Provavelmente, o primeiro
conceito em fertilidade do solo publicado no Brasil foi o de Catani et al. (1955).
Segundo os autores, “fertilidade é a capacidade do solo em fornecer elementos
nutritivos, água e ar em quantidades suficientes para o desenvolvimento de
diversas culturas, dentro das limitações impostas pelo clima e por outros
fatores”. Esse é, provavelmente, dos conceitos de fertilidade elaborados no
século XX o mais abrangente por incluir a água e o ar. Quase duas décadas
mais tarde, Coelho (1973) repete parte do conceito, ao afirmar que “fertilidade é
a capacidade de um solo fornecer nutrientes às plantas em quantidades
adequadas e proporções convenientes”. Evidentemente, sempre que a palavra
capacidade é incluída no conceito indica que a fertilidade é resultante das
interações físico-químico-biológicas que ocorrem no solo. Quando avaliada, no
entanto, esta concepção de fertilidade se limita à face química da fertilidade do
solo, pois somente a reatividade e o teor de nutrientes são determinados.
A re-escrita ou a própria cópia de um enunciado em fertilidade do
solo escancara a dificuldade de discernimento no assunto. É o que se constata
na enunciação de Freire et al. (1988), ao definir fertilidade como o conjunto das
características químicas, físicas e biológicas do solo, adequadas para a planta
expressar seu potencial máximo de produtividade. Na verdade, ela é o
resultado da interação do conjunto de características e não o conjunto em si.
Em seqüência, os autores definem solo fértil como aquele que apresenta
21
quantidades suficientes e balanceadas de todos os nutrientes essenciais, em
condições de serem absorvidos pelas plantas. Isso, em parte, contradiz a
definição de fertilidade anterior, pois aquela é ampla e esta de solo fértil,
restrita à disponibilidade de nutrientes. A Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo (Cury et al., 1993), assim como fez a americana (SSSA, 1987), apenas
confirma o conceito mineralista de fertilidade do solo — estado de um solo com
respeito a sua capacidade de suprir os nutrientes essenciais às plantas. Por
estas percepções, nota-se que, no Brasil e na literatura internacional, a
fertilidade do solo é entendida como a fertilidade química, diferente dos
conceitos de fertilidade publicados na metade do século XX (Scarponi, 1949;
Haussmann, 1950; e Catani et al., 1955), que expressam muito melhor a real
fertilidade dos solos, ou seja, a percebida pelas plantas.
A necessidade de uma reflexão mais ampla e profunda sobre o que
é a fertilidade do solo, e a percepção de que o seu conceito químico é
insuficiente, também é evidenciada na contradição entre as noções publicadas
no início do século XXI. A noção expressa por Mielniczuk et al. (2000) — a
fertilidade é a capacidade do solo de propiciar condições para que as plantas
expressem o seu potencial produtivo, com adequado fornecimento de energia
solar, temperatura e umidade — é ampla, semelhante à de Catani et al. (1955) e
a de fertilidade agronômica de Casalicchio (1978). No mesmo ano, uma restrita
foi escrita por Kaminski & Rheinheimer (2000) — depende do sincronismo entre
a capacidade do solo de fornecer os nutrientes em quantidades e taxas
suficientes e a habilidade das plantas de absorvê-los. Esses conceitos, até
certo ponto incoerentes e discordantes, indicam, em parte, a mudança de
sistema de manejo do solo, principalmente na região sul do Brasil. Por muito
tempo, na verdade desde Liebig, o conceito mineralista se relacionou bem com
produtividade. Mas nesse período, todo o conhecimento foi produzido essen-
cialmente no sistema convencional, no qual o ato de lavrar a terra era tido (e
continua sendo) como intrínseco ao processo de fazer agricultura.
A revisão feita sobre o assunto, no Brasil, indica que não há
consenso sobre o que é fertilidade do solo. A esta, no entanto, no país, não são
atribuídas “denominações”, sendo entendida como única, embora com base na
teoria mineralista e considerando somente a face química da fertilidade.
Possivelmente, para o solo cultivado no sistema convencional, o conceito de
22
Lopes et al. (2004) de que a fertilidade é a qualidade do solo que o torna capaz
ou não de fornecer nutrientes em quantidades e proporções adequadas para o
crescimento das plantas, quando os outros fatores forem favoráveis, ou o
conceito de solo fértil de Tedesco (1995), seja suficiente. Porém, para os solos
cultivados no sistema plantio direto, percebe-se que essa noção química nem
sempre expressa a fertilidade do solo percebida pelas plantas.
O entendimento da fertilidade precisa ser ampliado para além da
química do solo (Nicolodi et al., 2004b; D’Agostini, 2006; Schlindwein, 2006).
Em 2004, a fertilidade foi conceituada como uma propriedade emergente
5
do
processo de auto-organização do sistema solo, resultante da interação entre as
suas condições químicas, físicas e biológicas, que possibilita o desenvolvi-
mento e a produtividade das plantas (Nicolodi et al, 2004a). O desafio que se
impõe agora é aprender a lidar com a fertilidade como uma propriedade
sistêmica, ampliando os limites das práticas para além dos aspectos químicos
(Schlindwein, 2006). A decisão de tratar efetivamente a fertilidade do solo como
propriedade emergente representa(ria), de fato, importante esforço em Ciência
do Solo, na busca contínua por mais coerência (D’Agostini, 2006).
Obviamente que, independentemente do conceito, o avanço em
Ciência do Solo, e no entendimento da fertilidade, foi grande nos últimos 150
anos no mundo e nos últimos 50 anos no Brasil. Principalmente neste país, que
possui solos ácidos e pobres em nutrientes, a aplicação do conhecimento da
fertilidade, pela recomendação de adubação e calagem com base nas análises
químicas do solo, contribuiu muito para o progresso da agricultura.
As percepções tradicionais de fertilidade do solo são sintetizadas no
fornecimento de nutrientes essenciais, em quantidades e proporções ade-
quadas, e na manutenção da ausência de elementos tóxicos para o desenvol-
vimento das plantas. Esse conceito, amplamente utilizado no Brasil, será consi-
derado neste trabalho como “conceito tradicional da fertilidade do solo”. Com
base neste, será avaliada a aplicação do seu conhecimento na fertilidade e no
uso agrícola dos solos do Rio Grande do Sul e avaliada a necessidade de
mudança no conceito para expressar a fertilidade, principalmente nos solos
cultivados no sistema plantio direto.
5
Emergentes são as propriedades do todo, não são redutíveis à soma dos efeitos dos
elementos isolados, não estão presentes no nível inferior, não podem ser explicadas e nem
reduzidas aos elementos que interagiram para gerá-la (Odum, 1983).
23
3. APLICAÇÃO DO CONCEITO TRADICIONAL
E A SUA INSUFICIÊNCIA PARA EXPRESSAR A
FERTILIDADE DO SOLO PERCEBIDA PELAS PLANTAS
Na Antigüidade, os homens percebiam a fertilidade como nutrimento
que as plantas retiravam da terra, por isso, consideravam integradas suas
faces física, química e biológica do solo. Desde a Idade Moderna, o enfoque
passou para o alimento das plantas, ou seja, identificar e suprir os nutrientes e
eliminar os elementos tóxicos para elas. Por isso foram consideradas, a partir
dessa época, somente as propriedades químicas no desenvolvimento e
produtividade das culturas. Assim, em 12 mil anos de agricultura, a noção de
fertilidade do solo passou de ampla para restrita — à adição de nutrientes e à
correção da acidez ou alcalinidade do solo. O conceito tradicional de fertilidade
é amplamente utilizado no mundo há mais de um século e meio. No item a
seguir avalia-se esse conceito através dos efeitos das práticas recomendadas
para a sua melhoria (adubação e calagem) no uso agrícola e na fertilidade dos
solos na região produtora de grãos do Rio Grande do Sul, nos últimos 40 anos,
e a sua capacidade de expressar a fertilidade percebida pelas plantas nos
solos com diferentes sistemas de cultivo e rotações de culturas.
3.1 Aplicação do conceito tradicional de fertilidade do solo no
Rio Grande do Sul
A principal aplicação do conhecimento de fertilidade do solo é
potencializar o rendimento das culturas por meio da nutrição das plantas via
recomendação e aplicação de adubos (minerais ou orgânicos) e de corretivos
(de acidez ou de alcalinidade). A melhoria da fertilidade dos solos é uma
preocupação no RS pelo menos desde o início do século XX. Uchoa (1926)
destacou que a água capilar é o grande fator regulador da fertilidade do solo e
deveria ser mantida a todo o custo. Mohr (1960) relatou que desde 1920 eram
conduzidos estudos sobre a acidez do solo e enfatizou que a sua correção
deve ser acompanhada das adubações verde e química. Tedesco (2007 —
24
comunicação pessoal) explicou que naquela época a farinha de osso e o
esterco eram as principais fontes de nutrientes aplicadas ao solo.
O conhecimento da fertilidade — com base no conceito tradicional —
é aplicado de modo muito semelhante em todo o Brasil. São poucas as dife-
renças nos métodos analíticos ou nos valores dos indicadores de fertilidade e
as recomendações variam conforme a região, o sistema de cultivo e as espé-
cies cultivadas. As tabelas de recomendação de nutrientes são elaboradas a
partir das curvas de calibração em que são definidos o teor crítico e as faixas
de interpretação dos teores no solo. Pela comparação dos valores obtidos pela
análise da amostra de solo com aqueles das faixas de teores, se atribui o grau
de fertilidade e, para cada cultura, se estabelece a quantidade de nutrientes a
aplicar. Por exemplo, para os Estados do Rio Grande do Sul (RS) e Santa
Catarina (SC), as faixas de teores para fósforo e potássio são “Muito baixo”,
“Baixo”, “Médio”, “Alto” e “Muito alto” (CQFS RS/SC, 2004).
As primeiras tabelas de recomendação foram elaboradas em 1967,
para atender à demanda criada pela “Operação Tatu” e pela expansão da área
cultivada especialmente com espécies graníferas. As recomendações de
adubação e de calagem foram revisadas e aperfeiçoadas pela Rede Oficial dos
Laboratórios de Análises de Solos e de Tecido Vegetal (ROLAS) até 1981 e
pela Seção de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas do Núcleo Regional
Sul da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (NRS/SBCS) desde 1989
(Anghinoni, 2005). Com o aprimoramento das recomendações, foram sendo
agregadas determinações de outros indicadores para melhorar a avaliação da
fertilidade. Nas primeiras tabelas os indicadores eram pH em água (pH), índice
SMP, fósforo (P) e potássio (K) disponíveis e matéria orgânica (MO); em
seguida agregou-se a determinação de argila para a interpretação do P
(Mehlich 1); depois a de alumínio (Al), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) trocáveis.
Com o uso de sistemas informatizados, foram incluídos os cálculos de CTC e
das saturações por bases da CTC
pH7,0
(V) e por alumínio da CTC
efetiva
(m). Por
último, foram adicionadas as determinações de enxofre e micronutrientes.
Em 1967, a recomendação de adubação consistia na correção
elevar os teores de P e K ao nível de suficiência no primeiro cultivo e na
manutenção por cultura adição de nutriente para atender a necessidade da
planta; a de calagem era feita para elevar o pH do solo a 6,0 (Volkweiss &
25
Klamt, 1969). As recomendações foram revisadas em 1969, 1971, 1973, 1975,
1981 e as maiores alterações feitas em 1987, 1995 e em 2004. Em 1987,
houve a introdução da correção gradual dos nutrientes do solo para atingir os
níveis de suficiência em três cultivos ou anos agrícolas. As recomendações
para as culturas de grãos foram sempre elaboradas para o cultivo no sistema
convencional (SC); somente a partir de 1995 foram incluídas algumas
recomendações específicas para o sistema plantio direto (SPD). Em 2004,
foram feitas inúmeras alterações nas recomendações. Este conjunto de
informações técnicas, com o objetivo de aumentar ou manter a fertilidade do
solo, é denominado “Manual de Adubação e de Calagem para os Estados do
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina” (CQFS RS/SC, 2004).
Atualmente, a recomendação de adubação tem como princípio ou
meta elevar e manter a reserva do nutriente no solo numa faixa adequada ao
desenvolvimento da maioria das culturas (faixa “Alto”). Portanto, conforme a
faixa de interpretação do nutriente no solo, a adubação pode ser de correção,
de manutenção ou de reposição. A adubação de correção é feita sempre que
as faixas de P e K são interpretadas como “Muito baixo”, “Baixo” e “Médio”.
Nesse caso, a quantidade total de adubo aplicada é proporcional às faixas e
deve corrigir a concentração de nutriente até aproximadamente o teor crítico.
Junto com essa, sempre é necessário fazer a adubação de manutenção, que
consiste na reposição do nutriente exportado pelos grãos ou matéria seca,
conforme a expectativa de rendimento, mais as perdas do sistema de cultivo
(faixa “Alto”). Na adubação de reposição (faixa “Muito alto”), a quantidade de
adubo aplicada ao solo visa repor os nutrientes exportados pelos grãos ou
matéria seca conforme a expectativa de rendimento da cultura. A
recomendação de adubação nitrogenada é feita de acordo com as faixas de
MO no solo, a cultura antecessora e sua produção de matéria seca e a produti-
vidade esperada da cultura. No caso do P, devido ser o método influenciado
pelo teor de argila, esta é considerada na interpretação dos resultados. Para a
interpretação das faixas de teor de K é utilizada a CTC
pH 7,0
do solo. A
recomendação de corretivos de acidez é feita conforme a sensibilidade das
culturas e o sistema de cultivo do solo utilizando-se um conjunto de indicadores
(pH, V, m e P) (CQFS RS/CS, 2004).
26
3.1.1 Evolução do uso agrícola dos solos no Rio Grande do Sul
Os solos do RS eram predominantemente ácidos e pobres em
nutrientes (BRASIL, 1973). Provavelmente, por isso, o uso agrícola desses
solos e a expansão da agricultura foram, em grande parte, influenciados pela
aplicação do conhecimento da fertilidade. No Estado, originalmente sustentado
pela pecuária, a agricultura foi intensificada somente no século XX, em virtude
do assentamento no século XIX de imigrantes alemães e italianos na Encosta
Inferior e na Serra do Nordeste (Figura 1), onde predominam Chernossolos e
Neossolos de maior fertilidade (Mielniczuk, 1999; Anghinoni, 2005). Os descen-
dentes dos imigrantes deslocaram-se, a partir de 1890, em razão do
empobrecimento da fertilidade desses solos e do aumento da população, para
áreas de mata nas regiões do Planalto Médio, Missionária e Alto Vale do
Uruguai (Figura 1), onde predominavam Latossolos e Neossolos, formando as
chamadas Colônias Novas em contraposição aos locais de origem denomi-
nados Colônias Velhas. Na época, a agricultura era familiar e de subsistência,
o preparo do solo e a semeadura eram feitos com implementos de tração
animal e eram cultivados principalmente trigo, milho, feijão e olerícolas.
O cultivo de arroz para fins comerciais foi intensificado a partir de
1920; de trigo, no final da década de 1940; e de soja, no início da década de
1970. No início da década de 1950, incentivos do Governo conduziram ao
monocultivo de trigo; porém, as freqüentes frustrações de safras dessa cultura
tornaram o cultivo da soja, em sucessão ao trigo, a principal fonte de lucro da
agricultura. No final dessa década, o cultivo da soja começou a se expandir
também para as áreas de campo (Figura 2), em solos pobres em nutrientes e
ácidos. Na década de 1960, enquanto muitos agricultores das Colônias Novas
abandonavam suas lavouras por serem improdutivas e imigravam para outros
estados (Mielniczuk, 1999), nas regiões do Planalto Médio e Missionária, a
agricultura mecanizada se expandia nas áreas de campo, estimulada pela soja,
com intensificação do cultivo do solo. Assim, surgiu uma agricultura com
características e exigências bem diferentes da lavoura colonial (Bonetti, 1987).
Em 1941 foram cultivados 640 hectares de soja, em 1961 mais de 220.000, em
1971 mais de 1.100.000 e em 2004 mais de 4.000.000 de hectares no Estado
(EMATER, 2007).
27
Figura 1. Regiões agroecológicas do RS e as Colônias Velhas e Novas
(Secretaria da Agricultura e Abastecimento do RS, 1994).
A fertilidade do solo no RS passou a ser objeto de interesse quando
a produtividade das plantas diminuiu, em conseqüência da diminuição das
reservas de nutrientes dos Neossolos e Chernossolos e pela expansão da área
cultivada com trigo e soja em Latossolos mais ácidos e pobres em nutrientes.
Naquela época, havia pouca informação de pesquisa à disposição para atender
essa demanda e as recomendações de corretivos e de adubos eram feitas com
pouca base de pesquisa local, o preparo do solo era convencional (SC), com
Legenda: regiões e sub-regiões agroecológicas e Colônias Velhas e Novas
1. Depressão Central
(1a: Grande Porto Alegre; 1b: Rio Pardo -Taquari; 1c: Santa Maria)
2. Litoral (2a: Litoral Norte, 2b: Litoral Médio, 2c: Litoral Sul)
3. Planalto Superior (3a: Bom Jesus - São Francisco de Paula; 3b: Vacaria - Lagoa Vermelha)
4. Serra do Nordeste (4a: Caxias do Sul - Bento Gonçalves; 4b: Veranópolis - Guaporé)
5. Planalto Médio (5a: Passo Fundo; 5b: Erechim; 5c: Palmeira das Missões; 5d: Bacia do Jacuí; 5e: Cruz Alta)
6. Encosta Inferior da Serra do Nordeste (6a: Vale do Caí; 6b: Santa Cruz)
7. Alto Vale do Uruguai (7a: Três Passos; 7b: Nonoai - Marcelino Ramos; 7c: Santa Rosa - Seberi)
8. Missionária de Santo Ângelo - São Luiz Gonzaga
9. São Borja - Itaqui
10.Campanha
(10a: Uruguaiana - São Gabriel; 10b: Fronteira Uruguaia)
11.Serra do Sudeste
12.Região das Grandes Lagoas
(12a: Patos; 12b: Mirim)
Colônias Velhas (sub-regiões: 4a, 4b, 6a, 6b)
Colônias Novas (sub-regiões: 5a, 5d, 7a, 8)
Santa Rosa
Santo Ângelo
Passo Fundo
Ibirubá
Porto Alegre
Eldorado do Sul
Legenda: regiões e sub-regiões agroecológicas e Colônias Velhas e Novas
1. Depressão Central
(1a: Grande Porto Alegre; 1b: Rio Pardo -Taquari; 1c: Santa Maria)
2. Litoral (2a: Litoral Norte, 2b: Litoral Médio, 2c: Litoral Sul)
3. Planalto Superior (3a: Bom Jesus - São Francisco de Paula; 3b: Vacaria - Lagoa Vermelha)
4. Serra do Nordeste (4a: Caxias do Sul - Bento Gonçalves; 4b: Veranópolis - Guaporé)
5. Planalto Médio (5a: Passo Fundo; 5b: Erechim; 5c: Palmeira das Missões; 5d: Bacia do Jacuí; 5e: Cruz Alta)
6. Encosta Inferior da Serra do Nordeste (6a: Vale do Caí; 6b: Santa Cruz)
7. Alto Vale do Uruguai (7a: Três Passos; 7b: Nonoai - Marcelino Ramos; 7c: Santa Rosa - Seberi)
8. Missionária de Santo Ângelo - São Luiz Gonzaga
9. São Borja - Itaqui
10.Campanha
(10a: Uruguaiana - São Gabriel; 10b: Fronteira Uruguaia)
11.Serra do Sudeste
12.Região das Grandes Lagoas
(12a: Patos; 12b: Mirim)
Colônias Velhas (sub-regiões: 4a, 4b, 6a, 6b)
Colônias Novas (sub-regiões: 5a, 5d, 7a, 8)
Santa Rosa
Santo Ângelo
Passo Fundo
Ibirubá
Porto Alegre
Eldorado do Sul
28
arado de disco e grade, duas vezes por ano e com queima da palha (resíduos
das culturas), e o terraceamento e semeadura em contorno eram as principais
práticas de conservação do solo (Mielniczuk, 1999).
Somente a partir de 1965, com a criação do Curso de Pós-
Graduação em Agronomia, com Área de Concentração em Solos, na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram intensificadas as
pesquisas no campo para identificar as causas da baixa produtividade dos
solos do RS (Wiethölter, 2000). Os resultados de pesquisa confirmaram que a
baixa produção agrícola era causada, principalmente, pelos baixos teores de P
e K, alta acidez e manejo inadequado dos solos e das plantas. Entusiasmados
com a possibilidade de até quadruplicar a produtividade das culturas,
pesquisadores da UFRGS, da Secretaria da Agricultura do RS (SARGS) e do
Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuárias do Sul (IPEAS), junto
com os técnicos da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (ASCAR)
promoveram um Programa de Extensão Rural para aumentar a fertilidade do
solo (Volkweiss & Klamt, 1969). O Programa, que ficou conhecido como
“Operação Tatu”, consistia em motivar os agricultores a adicionarem ao solo
quantidades de calcário e de adubos de acordo com os resultados da análise
química do solo (Rioja & Nolla, 1969).
0
25.000
50.000
75.000
100.000
125.000
55/56 58/59 61/62 64/65 67/68 70/71 73/74 76/77 79/80
Ano agrícola
Área cultivada com soja
(ha)
Áreas de mata: Santa Rosa
Áreas de mata: Ibirubá
Áreas de campo: Cruz Alta
Figura 2. Expansão do cultivo da soja em áreas de mata, em Santa Rosa e
Ibirubá, e de campo natural, em Cruz Alta, no Planalto Médio do RS
entre 1955 e 1980 (EMATER, 2007).
29
A “Operação Tatu” teve início em Ibirubá, em 1966, e em Santa
Rosa, em 1967, com a amostragem do solo para conhecer o nível da fertilidade
e com a instalação de lavouras demonstrativas (Noskoski, 1971). Em Ibirubá, o
seu sucesso foi limitado pela falta de crédito agrícola para investimento em
correção do solo (Mielniczuk, 1999). No ano seguinte a implantação da
“Operação Tatu” em Ibirubá, foi liberada uma linha de crédito de investimento
pelo Banco Central para financiar a correção do solo para atender o Projeto de
Melhoramento da Fertilidade do Solo de Santa Rosa, apresentado ao Banco do
Brasil (Kappel, 1967). Essa linha de crédito foi determinante para o sucesso
das “Operações Tatu” e possibilitou a aplicação das quantidades de adubo e de
calcário necessárias para corrigir a acidez e aumentar os teores de P e K dos
solos. Nessas, foram envolvidas quase todas as instituições que atuavam no
meio rural que resultou, em 1969, no Plano Estadual de Melhoramento de
Fertilidade do Solo (ASCAR, 1969; Volkweiss & Klamt, 1969). O Plano foi
delineado com base nos resultados do levantamento da fertilidade de 1967
(Tabela 1), que mostrou estar o teor de P (94% das amostras) e de MO (74%
das amostras) dos solos avaliados no RS nas faixas “Muito baixo” e “Baixo”, e
executado em dez “Operações Tatu” contemplando 70 municípios entre 1966 e
1969 (ASCAR, 1969; Noskoski, 1971).
A adoção da filosofia da “Operação Tatu” possibilitou um
considerável aumento na produtividade das culturas no ano da aplicação e
T
abela 1. Distribuição percentual dos teores de matéria orgânica e de fósforo
nos solos de dez regiões fisiográficas do RS em faixas de fertilidade
(ASCAR, 1969)
Matéria orgânica (%) Fósforo disponível (mg dm
-3
)
Muito
baixo
Baixo Médio Bom
Muito
baixo
Baixo Médio Bom
Região fisiográfica
<2 2,1-3,5 3,6-5 >5,1 <3,4 3,5-6,4 6,5-8,9 >9
Planalto Médio 8 75 15 2 76 8 5 11
Alto Vale do Uruguai 11 63 22 4 91 7 1 1
Missionária 14 56 29 1 92 7 0 1
Encosta superior NE 6 40 46 8 66 16 4 14
Campos de Cima da Serra 2 17 76 5 69 17 7 7
Encosta inferior NE 32 66 2 0 50 13 16 21
Depressão Central 55 40 4 1 75 14 3 8
Encosta do Sudeste 52 38 5 5 53 24 0 23
Serra do Sudeste 14 72 11 3 67 16 3 14
Campanha 21 52 15 12 67 12 0 21
Média no RS 22 52 23 4 71 13 4 12
30
efeito residual por vários anos (Mielniczuk & Anghinoni, 1976). A análise de
solos se consolidou como meio de avaliação da fertilidade e de recomendação
de fertilizantes (Tedesco et al., 1984). As “Operações Tatu” geraram grande
entusiasmo e esperança de dias melhores entre as pessoas ligadas à
agricultura no RS (Volkweiss & Klamt, 1969) e as Colônias iniciaram uma nova
fase de progresso sem precedentes (Mielniczuk, 1999). A filosofia da
“Operação Tatu”, de que altas produtividades eram obtidas somente com alta
fertilidade, foi difundida em todo o país, em contraposição à agricultura pobre
de baixa aplicação de insumos (Freire et al., 2006). É importante observar que
a aplicação do conceito da fertilidade consistia em corrigir a acidez e aplicar
nutrientes P e K para elevar o teor no solo ao teor crítico para qualquer sistema
de cultivo. Na época, o SPD não era utilizado, portanto, a aplicação do
conceito, como feito, em solos cultivados no SC, proporcionou bons resultados
para a agricultura do país.
Na década de 1970, a agricultura mecanizada se expandiu muito,
assim como a soja, muitas vezes em solos impróprios para a mecanização e
para a agricultura (Mielniczuk, 1999). O cultivo da rotação trigo/soja gerou, num
primeiro momento, a sensação de um negócio muito lucrativo e depois se
transformou na principal causa da degradação dos solos. A situação ficou mais
grave ainda quando o trigo passou a ser substituído pelo repouso (pousio) do
solo, o que culminou com o monocultivo da soja (Denardin, 1998). Em 1979, o
entusiasmo dos agricultores com a soja começou a diminuir pela coincidência
da maior expansão da área cultivada e de frustração de safra devido às
condições climáticas adversas, que resultou em baixa produtividade (Bonetti,
1987).
Desde o início da agricultura intensiva, os solos, originalmente sob
mata ou campo, eram preparados de maneira convencional (SC), seguindo as
tradições da agricultura européia e americana. O excesso de revolvimento do
solo e sua exposição periódica aos raios solares, vento e chuva (Jaster et al,
1993) resultou em erosão hídrica com danos irreversíveis à fertilidade dos
solos, eliminando as camadas superficiais as mais férteis do solo (Tabela 2)
e reduzindo a capacidade produtiva dos solos especialmente no Planalto
Riograndense (Cassol, 1986).
31
A crescente mecanização e o cultivo intensivo dos solos no SC,
associados à alta intensidade das chuvas nos períodos de solo descoberto,
fizeram com que a erosão e a degradação dos solos chegassem a um estágio
de calamidade (Wünche et al., 1980), colocando em risco o futuro da
agricultura no RS (Mielniczuk, 1999). Junto a essa degradação física, houve a
diminuição da fertilidade e a estagnação da produtividade das culturas, uma
vez que os benefícios da correção da acidez e da adição dos nutrientes no solo
não eram mais observados. A fim de transferir a tecnologia existente para
conter a erosão e melhorar o manejo e a conservação do solo no RS, teve
início em 1979 o Projeto Integrado de Uso e Conservação do Solo (PIUCS).
Como conseqüência da adoção do manejo recomendado pelo PIUCS, os
agricultores mudaram suas atitudes em relação aos cuidados com o solo: o
terraço deixou de ser sinônimo de conservação do solo, a queima da palha
diminuiu, o cultivo de espécies de cobertura (adubação verde) aumentou e a
mobilização do solo foi substancialmente reduzida (Mielniczuk et al., 1983).
Dentre outras ações de manejo do solo desenvolvidas depois do PIUCS,
destacam-se o Projeto Saraquá, a partir de 1980, o Programa Estadual de
Microbacias Hidrográficas, a partir de 1984, o Projeto de Viabilização e Difusão
do Sistema Plantio Direto no Rio Grande do Sul (METAS) a partir de 1992
(Mielniczuk, 1999) e, ainda, a formação de grupos de pessoas para trocas de
experiências na agricultura, a partir da década de 1980. Destes, destacam-se
os Clubes Amigos da Terra (CAT’s), responsáveis pelas principais
mobilizações a favor do SPD (Denardin, 1998).
O sucesso do SPD é, em grande parte, determinado pela percepção,
na década de 1980, de que, para ser viabilizado técnica e economicamente, ele
deveria ser entendido como um sistema de exploração agropecuário
diversificado, fundamentado no uso de diferentes espécies, na rotação de
Tabela 2. Perdas médias de solo por erosão sob chuva natural de quatro anos
agrícolas
1
, em diferentes sistemas de cultivo e manejo da palha, com
rotação trigo/soja, em Passo Fundo (Wünche & Denardin, 1980)
Sistemas de cultivo e manejo da palha Perda de solo (t ha
-1
)
SC com queima da palha 12,8
SC com incorporação da palha 3,7
SPD com palha mantida na superfície 1,1
1
1976/1977; 1977/1978; 1978/1979; 1979/1980
32
culturas, na mobilização do solo exclusivamente na linha de semeadura e na
manutenção permanente da cobertura do solo. Em 1992, constatou-se que,
embora a maioria dos agricultores estivesse consciente da necessidade, havia
dificuldades na adoção desse sistema. Para superá-las, teve início, em 1993, o
projeto METAS, que gerou, adaptou e disponibilizou conhecimentos que
garantiram a implantação e a continuidade do SPD em escala de lavoura
(Denardin et al., 2006). Portanto, devido ao trabalho desenvolvido com esse
projeto e pelos CAT’s, a agricultura gaúcha progrediu muito com a mudança de
cultivo do solo do SC para o SPD com diversificação de culturas (Figura 3), em
que, além de trigo e soja, foram incluídas a aveia, o milho, o nabo forrageiro, a
ervilhaca, a cevada, o triticale, o tremoço, a colza e o girassol, entre outras.
Figura 3. Mudança do sistema de cultivo do solo no Planalto Médio (a) e na
área cultivada no SPD com milho na rotação de culturas em Cruz
Alta (b) [(a): Mielniczuk et al., 2000; (b): CAT de Cruz Alta – dados
não publicados].
A mudança do cultivo do solo no SC para o SPD altera
drasticamente a taxa de revolvimento, priorizando a manutenção do solo
coberto por plantas o ano todo. A diversidade de espécies na rotação permite a
melhor conservação do solo e o aumento da fertilidade e da produtividade das
culturas. Os benefícios do SPD ao solo aumentam com o tempo da sua
adoção. As condições físicas, químicas e biológicas melhoram a partir da
superfície do solo, formando gradientes. Entre as melhorias verificadas, estão a
diminuição da oscilação de temperatura, o aumento dos teores de MO, a maior
a)
0
20
40
60
80
100
1979 1994 2000
Ano
Área cultivada
(%)
SC
CM
SPD
b)
0
20000
40000
60000
80000
100000
86/87 88/89 90/91 92/93 94/95 96/97
Ano agrícola
Área cultivada
(ha))
Total
SPD
Soja
Milho
a)
0
20
40
60
80
100
1979 1994 2000
Ano
Área cultivada
(%)
SC
CM
SPD
b)
0
20000
40000
60000
80000
100000
86/87 88/89 90/91 92/93 94/95 96/97
Ano agrícola
Área cultivada
(ha))
Total
SPD
Soja
Milho
33
ciclagem de nutrientes, a diminuição da toxidez por Al, a maior estruturação do
solo e, conseqüente, o aumento da capacidade de retenção de água e o
aumento da fertilidade dos solos (Bayer & Mielniczuk, 1997; Anghinoni & Salet,
1998; Sá, 1999; Ciotta et al., 2002).
Nos últimos 50 anos, houve importantes mudanças que determi-
naram o progresso da agricultura no Planalto do RS e resultaram no aumento
da produtividade das culturas (Figura 4). As principais ocorreram no uso
(Figura 2) e na fertilidade do solo (“Operações Tatu” e nas recomendações), na
mecanização, na área cultivada (Figuras 2 e 4), na degradação (Tabela 2) e na
conservação do solo (PIUCS), na mudança do sistema de cultivo (CAT’s e
METAS) (Figura 3a), na utilização de agroquímicos, no melhoramento genético
das plantas e na adoção da rotação e diversificação das espécies cultivadas
(Figura 3b).
3.1.2 Evolução da fertilidade em solos do Planalto do Rio
Grande do Sul
As principais mudanças ocorridas na agricultura nos últimos 50
anos, conforme visto anteriormente, que influenciaram a fertilidade do solo no
Planalto região produtora de grãos do RS foram: 1) crescimento da área
cultivada em solos impróprios para a agricultura e/ou para a mecanização; 2)
intensificação do uso do solo cultivado no SC, primeiro com monocultivo de
trigo e queima da palha após a colheita, depois com rotação trigo/soja e, por
último, com monocultivo de soja, que culminou na degradação do solo causada
principalmente pela erosão hídrica; 3) uso de quantidades de adubos e
corretivos de acordo com a situação de cada solo (“Operações Tatu”); 4)
modernização da mecanização agrícola facilitando o transporte e a distribuição
dos fertilizantes; e 5) adoção do SPD e da rotação de culturas, com uso de
adubos verdes e diversificação das espécies cultivadas, para manter o solo
coberto por plantas a maior parte do ano e deixar grande quantidade de palha
sobre o solo. Os dois primeiros eventos foram responsáveis pela diminuição da
fertilidade dos solos, que em muitos casos já era baixa, e os últimos três
contribuíram para o aumento da fertilidade. Com a intensificação do cultivo do
solo no SPD e com o tempo e o tipo de rotação de culturas adotada nesse
sistema, a ciclagem e o acúmulo de MO e de nutrientes aumentaram muito.
Figura 4. Evolução do rendimento de grãos da soja em Santa Rosa, Ibirubá, Cruz Alta e no RS e da área cultivada com
soja no RS e relações com os principais programas de melhoria da fertilidade e conservação do solo (Adaptado
de EMATER, 2007).
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
54/55 59/60 64/65 69/70 74/75 79/80 84/85 89/90 94/95 99/00 04/05
Ano agrícola
Rendimento de grãos de soja
(Kg ha
-1
)
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
4.500.000
Área cultivada com soja
(ha)
Rend.: Santa Rosa
Rend.: Ibirubá
Rend.: Cruz Alta
Rend.: Rio Grande do Sul
Área: Rio Grande do Sul
“Operações
Tatu”
PIUCS
METAS
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
54/55 59/60 64/65 69/70 74/75 79/80 84/85 89/90 94/95 99/00 04/05
Ano agrícola
Rendimento de grãos de soja
(Kg ha
-1
)
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
4.500.000
Área cultivada com soja
(ha)
Rend.: Santa Rosa
Rend.: Ibirubá
Rend.: Cruz Alta
Rend.: Rio Grande do Sul
Área: Rio Grande do Sul
“Operações
Tatu”
PIUCS
METAS
35
Uma análise detalhada da magnitude da mudança da fertilidade nos
solos da região produtora de grãos, devido à implantação desses programas
que influenciaram a fertilidade e se refletiram no grande progresso da
agricultura (Figura 4), é fundamental para conhecer melhor os benefícios da
aplicação do seu conceito tradicional nos solos do RS. A evolução da fertilidade
dos solos no Planalto do RS nos últimos 40 anos foi avaliada pela comparação
dos resultados das análises dos seus principais indicadores em levantamentos
gerais, feitos com amostras enviadas aos laboratórios (1968: Porto, 1970;
1981: Tedesco et al., 1984; 1988; Drescher et al., 1995; 1997 a 1999:
Rheinheimer et al., 2001), e específicos, feitos em Ibirubá e Santa Rosa
(Material e métodos: Apêndice 1). Assim, a avaliação conjunta dos
levantamentos gerais mostra uma importante melhoria na fertilidade dos solos,
com base nos valores dos indicadores pH em água, MO e P disponível, nas
regiões do Planalto Médio (PM) e do Alto Vale do Uruguai (AVU) e no RS de
1968 para 1999 (Figura 5).
Os resultados desses levantamentos são de grande importância,
pois indicam que a fertilidade melhorou nesses solos no período avaliado. No
entanto, têm aplicabilidade limitada e são insuficientes para serem utilizados
para avaliar a magnitude da mudança da fertilidade. Esta limitação é
conseqüência das alterações nas faixas de interpretação dos indicadores de
fertilidade, das técnicas de amostragem, da variação no número de amostras
por local, da época na coleta e das regiões utilizadas nos diversos
levantamentos. Por isso tudo, devem ser interpretados com prudência.
Os valores de pH dos solos (Figura 5a) aumentaram muito; em
1968, apenas 25% dos resultados das análises de solo no RS 8% no PM e
30% no AVU tinham valor de pH menor do que 5,5, enquanto em 1988,
aproximadamente 60% dos solos da região do PM, e no período de 1997 a
1999 80% dos solos do AVU, o valor de pH era maior que 5,5. O teor de MO
(Figura 5b) também aumentou no período avaliado, sendo que mais de 80%
dos solos do RS possuíam teor maior do que 2,6% no período de 1997 a 1999.
Tendência semelhante foi observada para o P disponível (Figuras 5c e 5d). Em
1968, mais de 80% dos solos do RS 90% no PM e no AVU tinham menos
de 4 mg dm
-3
desse nutriente. Duas décadas mais tarde, o teor de P era menor
do que 6 mg dm
-3
em apenas 30% das análises no RS 15% no PM e 10%
36
no AVU. Porém, depois dessa avaliação se observa, por esses levantamentos,
uma tendência de diminuição nos teores de P nos solos.
Figura 5. Evolução das faixas dos indicadores de fertilidade do solo — pH em
água (a), matéria orgânica (b) e fósforo disponível (c e d) — nas
regiões do Planalto Médio (PM) e do Alto Vale do Uruguai (AVU) e no
Estado do Rio Grande do Sul (RS) (nos levantamentos de 1981 e
1988, a região do PM foi considerada a do Alto do Jacuí e a região
do AVU a Colonial de Santa Rosa; de 1988 e de 1997 a 1999, as
faixas de pH correspondem a <4,9; 5,0-5,4 e >5,5).
0
20
40
60
80
100
3,0 3,1-6,0 6,1-12,0 > 12
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
80
100
4,0 4,1-8,0 8,1-12,0 > 12,0
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
Freqüência
(%)
0
20
40
60
80
100
2,5 2,6-5,0 > 5,0
Faixas de matéria orgânica
(%)
0
20
40
60
80
100
5,0 5,1-5,5 5,6
Faixas de pH
Freqüência
(%)
a)
b)
d)
c)
PM
AVU
RS
1968
1981
1988
1997-99
0
20
40
60
80
100
3,0 3,1-6,0 6,1-12,0 > 12
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
80
100
4,0 4,1-8,0 8,1-12,0 > 12,0
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
Freqüência
(%)
0
20
40
60
80
100
2,5 2,6-5,0 > 5,0
Faixas de matéria orgânica
(%)
0
20
40
60
80
100
5,0 5,1-5,5 5,6
Faixas de pH
Freqüência
(%)
a)
b)
d)
c)
a)
b)
d)
c)
PM
AVU
RS
1968
1981
1988
1997-99
PM
AVU
RS
1968
1981
1988
1997-99
37
Quando são comparados os resultados dos levantamentos feitos em
1967, das regiões fisiográficas do RS (Tabela 1) e de Santa Rosa, no início da
“Operação Tatu”, com o feito em 1968 (Tabela 3), percebe-se que, naquela
época, a fertilidade dos solos nas regiões PM e AVU e nos municípios de
Ibirubá e de Santa Rosa era baixa e muito semelhante. O pH médio era menor
ou igual a 5,0; a MO próxima de 2,5% em pelo menos 70% das amostras; o P
menor que 3,4 mg dm
-3
em 74%; e os valores médios de K entre 48 e 92 mg
dm
-3
. Em função da semelhança do nível da fertilidade nos solos dos dois
municípios no início das “Operações Tatu”, 1966 e 1967, e dos resultados do
levantamento feito em Ibirubá em 1966 não terem sido encontrados, serão
utilizados os de Santa Rosa para a avaliação da evolução da fertilidade. A
região do PM será representada por Ibirubá e a do AVU por Santa Rosa.
A melhoria na fertilidade do solo expressa nos levantamentos gerais
(Figura 5) também é percebida nas avaliações feitas em Santa Rosa e em
Ibirubá (Figura 6). Nestes municípios, se observa que os indicadores pH
(Figura 6a), MO (Figura 6b), P e K disponíveis (Figuras 6c e 6d) aumentaram
gradualmente no tempo, pelos principais eventos relatados anteriormente, que
influenciaram a fertilidade dos solos na região produtora de grãos, nos últimos
40 anos. Em 1967, mais de 65% das lavouras avaliadas tinham valores de pH
do solo menor que 5,0; em 1984, a maior proporção tinha pH na faixa 5,1-5,5;
e em 2004, pH maior que 6,0, sendo que em mais de 95% das lavouras, os
valores de pH eram maiores que 5,6 (Figura 6a). Em 1967, em Santa Rosa,
mais de 60% dos solos avaliados tinham teor de MO menor que 2,5% e em
2004, maior que 3,6% (Figura 6b). Nesse mesmo ano, em Ibirubá, mais de
85% dos solos apresentaram teor de MO maior que esse valor.
Tabela 3. Valores médios de indicadores de fertilidade avaliados nos
municípios de Santa Rosa e de Ibirubá, nas regiões do Alto Vale
do Uruguai e do Planalto Médio e no Estado do RS [Adaptado de
Associação (1967) e de Porto (1970)]
Indicadores de fertilidade
MO P K
Municípios e regiões
Número
de
amostras
Ano da
análise
do solo
Fonte
pH
% mg dm
-3
Santa Rosa 2300 1967 Associação (1967) 4,7 2,5 1,0 58
Ibirubá 375 4,9 2,5 1,8 48
Alto Vale do Uruguai 7053 5,0 2,7 1,7 92
Planalto Médio 7756 4,7 2,5 1,9 75
RS 27814
1968 Porto (1970)
4,6 2,3 1,9 75
38
0
20
40
60
80
100
2,5 2,6-3,5 3,6-5,0 > 5,0
Faixas de matéria orgânica
(%)
0
20
40
60
80
100
5,0 5,1-5,5 5,6-6,0 > 6,0
Faixas de pH
Freqüência
(%)
1967 Santa Rosa
1984 Ibirubá
2004 Ibirubá
2004 Santa Rosa
0
20
40
60
80
100
<40 41-80 81-120 >120
Faixas de possio
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
80
100
3,0 3,1-6,0 6,1-12,0 >12,0
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
Freqüência
(%)
a)
b)
d)
c)
0
20
40
60
80
100
2,5 2,6-3,5 3,6-5,0 > 5,0
Faixas de matéria orgânica
(%)
0
20
40
60
80
100
5,0 5,1-5,5 5,6-6,0 > 6,0
Faixas de pH
Freqüência
(%)
1967 Santa Rosa
1984 Ibirubá
2004 Ibirubá
2004 Santa Rosa
0
20
40
60
80
100
<40 41-80 81-120 >120
Faixas de possio
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
80
100
3,0 3,1-6,0 6,1-12,0 >12,0
Faixas de fósforo
(mg dm
-3
)
Freqüência
(%)
a)
b)
d)
c)
a)
b)
d)
c)
Figura 6. Evolução das faixas dos indicadores de fertilidade do solo — pH em
água (a), matéria orgânica (b) e fósforo (c) e potássio disponíveis (d)
— em Santa Rosa e em Ibirubá nas últimas quatro décadas.
O aumento nos teores de P disponível nos solos desses municípios
também foi muito grande (Figura 6c). Em 1967, aproximadamente 90% dos
solos avaliados tinham menos que 3 mg dm
-3
de P; em 1984, apenas 20% das
lavouras avaliadas em Ibirubá tinham teor menor que 3 mg dm
-3
; em 2004,
mais de 95% dos solos avaliados tinham teores de P disponível maior de 6 mg
dm
-3
e em 65% deles o teor era maior que 12 mg dm
-3
, ou seja, acima da faixa
39
considerada adequada para os solos daquela região (teor de argila > 60%). Os
teores de K disponível no solo não eram baixos como os de P (Figuras 6c e
6d). Em 1967, em quase 50% das lavouras avaliadas, o teor era menor que 40
mg dm
-3
; em 1984, em apenas 20% delas. Em 2004 somente em 5% dos solos
o teor de K disponível era menor que 120 mg dm
-3
(Figura 6d). A melhoria da
fertilidade do solo nos últimos 40 anos também é expressa pelo aumento dos
valores e dos teores médios destes indicadores (Figura 7).
Figura 7. Evolução dos valores e dos teores médios dos indicadores de
fertilidade do solo — pH em água (a), matéria orgânica (b) e fósforo
(c) e potássio disponíveis (d) — em Santa Rosa e Ibirubá [(a) e (c):
Mielniczuk & Anghinoni (1976); (d) Porto (1970)].
0
50
100
150
200
250
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Teor médio de potássio
(mg dm
-3
)
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Valordio de pH
Santa Rosa
Ibirubá
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
1967 -
a
1967 -
b
1968 -
d
1984 -
b
2004 -
e
Teor médio de matéria orgânica
(%)
0
5
10
15
20
25
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Teor médio de fósforo
(mg dm
-3
)
a)
b)
d)
c)
a: mata
b, c, d, e: lavouras
Levantamentos de fertilidade do solo em diferentes épocas
0
50
100
150
200
250
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Teor médio de potássio
(mg dm
-3
)
4,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Valordio de pH
Santa Rosa
Ibirubá
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
5,5
1967 -
a
1967 -
b
1968 -
d
1984 -
b
2004 -
e
Teor médio de matéria orgânica
(%)
0
5
10
15
20
25
1967
- a
1967
- b
1967
- c
1968
- d
1975
- c
1984
- b
2004
- e
Teor médio de fósforo
(mg dm
-3
)
a)
b)
d)
c)
a: mata
b, c, d, e: lavouras
a: mata
b, c, d, e: lavouras
Levantamentos de fertilidade do solo em diferentes épocas
40
O valor médio do pH dos solos em Santa Rosa aumentou de 4,7,
em 1967, para 6,2, em 2004 (Figura 7a); a MO aumentou em, pelo menos,
50% no período avaliado, chegando a 4,2%, em média, em Ibirubá (Figura 7b).
A mesma tendência é observada nos teores de P disponível (Figura 7c) em
Santa Rosa, que passou de 1,3 mg dm
-3
, em 1967, para 20,6 mg dm
-3
em
2004; e de K (Figura 7d), que era pouco maior que 50 mg dm
-3
, em 1967, e
passou para 230 mg dm
-3
, em média, nos dois municípios em 2004.
A melhoria da fertilidade foi influenciada principalmente pelo
conhecimento gerado e difundido pelas “Operações Tatu”, pelo projeto PIUCS,
pelos CAT’s e pelo projeto METAS. A ação direta dos agricultores com a
adubação e a correção da acidez do solo e a adoção de técnicas
conservacionistas do solo, como o SPD com diversificação de espécies via
rotação de culturas, resultou na melhoria da fertilidade e maior produtividade
das culturas nos últimos 40 anos no RS (Figuras 4 e 8). Embora a melhoria da
fertilidade do solo tenha sido verificada com a aplicação do conceito tradicional
de fertilidade, esse conceito talvez não seja suficiente para expressar a
fertilidade percebida pelas plantas, quando cultivadas após longo período sem
revolvimento do solo e com rotação de culturas.
0
50
100
150
200
250
Trigo Soja Milho
Espécies cultivadas
Rendimento relativo de grãos
(%)
1960
2003
Figura 8. Rendimento relativo de grãos de trigo, soja e milho obtidos em 2003
no RS comparados àqueles de 1960 (Adaptado de EMATER, 2007).
41
3.2 A insuficiência do conceito tradicional para expressar a
fertilidade do solo percebida pelas plantas
A partir da percepção que se tem de “algo” é definida a metodologia
para a sua avaliação, que deve expressar com alto grau de confiabilidade essa
percepção. A avaliação da fertilidade, definida com base no seu conceito
tradicional (teoria mineralista), é feita pela interpretação de resultados de
determinações químicas em amostras de solo. A partir dessa avaliação, são
recomendados adubos e corretivos para corrigir, aumentar ou manter a
fertilidade dos solos e, conseqüentemente, aumentar ou manter a produtividade
das culturas. No RS, principalmente na região produtora de grãos, em que o
solo é cultivado predominantemente no SPD há mais de 15 anos, verificou-se
um importante aumento na fertilidade (Figuras 5, 6 e 7) e na produtividade das
culturas (Figuras 4 e 8), com o tempo de cultivo desses solos. Contudo, é
possível que o conceito tradicional e, conseqüentemente, sua avaliação sejam
insuficientes para expressar a fertilidade percebida pelas plantas nesses solos.
Provavelmente, essa avaliação seja adequada para expressar a
fertilidade do solo no SC, embora inclusive para este, haja necessidade de
aprimoramento para expressar melhor a fertilidade do solo percebida pelas
plantas. A sua adequabilidade para avaliação no SC deve estar muito
relacionada aos efeitos do revolvimento do solo, destrói grande parte dos
agregados, à queima da palha (resteva ou resíduos) das culturas, degrada
rapidamente a MO e elimina parte dos organismos e microrganismos do solo, e
ao repouso ou cultivo de trigo no inverno e de soja no verão, não adiciona
palha suficiente para proteger o solo da erosão hídrica e manter ou aumentar
sua MO. Por isso, no SC em que as condições físicas e biológicas do solo se
alteram pouco no tempo, as culturas respondem bem à melhoria das condições
químicas, especialmente às que são alteradas pela adição de nutrientes e pela
correção da acidez.
Com a mudança do sistema de cultivo, do SC para o SPD, quatro
variáveis se tornaram importantes: o próprio sistema de cultivo, a rotação de
culturas adotada, o tempo contínuo de cultivo no sistema e o tipo de clima.
Este, para a região produtora de grãos do RS, classificado como temperado
úmido (Köeppen: “Cfa”), possibilita o cultivo de um grande número de espécies
durante o ano, distribuídas em diferentes tipos de rotação de culturas. O SPD
42
preconiza o revolvimento do solo exclusivamente na linha de semeadura, a
diversificação de espécies via rotação de culturas e a manutenção do solo
permanentemente coberto, por palha (resíduos das culturas em decomposição)
e/ou por plantas. Com o tempo de cultivo no SPD, são melhoradas as
condições biológicas (Figura 9), físicas (Figura 10) e químicas (Figura 11) do
solo.
0
50
100
150
200
250
300
Microartrópodos C biomassa N biomassa Respiração
basal
Indicadores das condições biológicas do solo
Aumento relativo
(%)
SC SPD
Figura 9. Mudança relativa de indicadores das condições biológicas do solo no
SPD em relação ao SC em Londrina [avaliação feita aos 16 anos do
experimento (LRd: 0-10 cm); adaptado de Balota et al. (1998)].
Verifica-se, principalmente no SPD, um aumento do erro —
doravante chamado de “ruído”
6
— nas diversas etapas de avaliação da
fertilidade. O “ruído” diminui a confiabilidade na avaliação da fertilidade e
restringe o seu uso, principalmente, nas lavouras melhor conduzidas, isto é,
nos solos de maior fertilidade, esta entendida em sentido amplo. Isso conduz à
reflexão sobre a validade da avaliação da fertilidade do solo e, conseqüen-
temente, sobre o seu conceito, principalmente, para solos cultivados no SPD.
6
Ruído, termo utilizado neste trabalho em substituição ao termo erro, por não ser exatamente
um erro o que ocorre na avaliação da fertilidade, mas uma dificuldade em avaliar a expressão
de um sistema de cultivo ao longo do tempo na produtividade das culturas.
43
Figura 10. Distribuição das classes de diâmetros de agregados, na camada de
0-10 cm, em solo com diferentes históricos de cultivo em Eldorado
do Sul (PVd: 0-10 cm) (a) e em Santo Ângelo (b) (LVdf: 0-10 cm)
[avaliações feitas em experimentos conduzidos há mais de 20 anos;
(b) Conceição (2006)].
b)
0
5
10
15
20
25
30
<0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,00-4,76 >4,76
Classes de diâmetros de agregados
(mm)
Peso de agregados
(g)
SC T/S
SC A/M
SPD T/S
SPD A/M
Mata
a)
0
5
10
15
20
25
30
<0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,00-4,76 >4,76
Peso de agregados
(g)
Repouso
SC A/M
SC A+V/M+C
SPD A/M
SPD A+V/M+C
Pangola
b)
0
5
10
15
20
25
30
<0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,00-4,76 >4,76
Classes de diâmetros de agregados
(mm)
Peso de agregados
(g)
SC T/S
SC A/M
SPD T/S
SPD A/M
Mata
a)
0
5
10
15
20
25
30
<0,053 0,053-0,25 0,25-2,00 2,00-4,76 >4,76
Peso de agregados
(g)
Repouso
SC A/M
SC A+V/M+C
SPD A/M
SPD A+V/M+C
Pangola
44
Figura 11. Mudança nos valores dos indicadores de fertilidade — fósforo (a) e
potássio (b) disponíveis, alumínio trocável (c) e matéria orgânica (d)
— em solos cultivados no SC e no SPD, com diferentes rotações de
culturas em vários locais (avaliações feitas em experimentos
conduzidos há mais de 20 anos; milho com adubação nitrogenada).
Fósforo
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
a)
0-10 cm
10-20 cm
Potássio
(mg dm
-3
)
0
100
200
300
400
500
b)
Alunio
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
c)
Matéria orgânica
(%)
0
1
2
3
4
5
d)
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
Sistemas de cultivo, rotação de culturas e local
Fósforo
(mg dm
-3
)
0
20
40
60
a)
0-10 cm
10-20 cm
0-10 cm
10-20 cm
Potássio
(mg dm
-3
)
0
100
200
300
400
500
b)
Alunio
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
c)
Matéria orgânica
(%)
0
1
2
3
4
5
d)
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
SC
SPD
SC
SPD
SC
SPD SC
SPD
SC
SPD
T/S A/M A/M A+V/M+C
S/Cv/S/V/Sg/Ab
Santo Ângelo
Eldorado do Sul
Passo Fundo
Sistemas de cultivo, rotação de culturas e local
45
3.2.1 Relações clássicas da fertilidade do solo
As tendências centrais de algumas das relações clássicas entre os
indicadores de fertilidade praticamente não foram alteradas com a mudança do
SC para o SPD. Em experimentos conduzidos há mais de 20 anos em
Eldorado do Sul (Figura 12; Material e métodos: Apêndice 2), à medida que o
pH do solo aumentou o teor de Al trocável diminuiu (Figuras 12a). Entretanto
observa-se que os resultados obtidos na camada de zero a 10 cm das parcelas
no SC se distribuem mais a direita da figura, enquanto os obtidos em parcelas
no SPD formam uma faixa ampla, distribuídos mais a esquerda do gráfico.
Essa distribuição deve ser provavelmente inerente ou estar relacionada ao
manejo do solo. Isso indica que, em um mesmo solo, para valores iguais de pH
o teor de Al trocável pode ser diferente dependendo do sistema de cultivo e da
rotação de culturas adotados. Na relação entre o pH e a V (Figura 12b) essas
diferenças devidas aos sistemas de cultivo são menos evidentes e, na relação
entre o Al trocável e m não são percebidas (Figura 12c). Nesses experimentos o
rendimento médio do milho não diminuiu com o aumento de Al trocável e nem
com a diminuição do pH (Figura 12a). Nas parcelas em que o pH era < 4,6 e o Al
trocável > 1,2 cmol
c
dm
-3
(na figura 12a, circulado em vermelho) o rendimento
médio de grãos de milho foi de 7,2 t ha
-1
; com pH < 5,1 e Al trocável > 0,6 cmol
c
dm
-3
(na figura 12a, circulado em azul) foi de 6,4 t ha
-1
; com pH < 5,3 e Al trocável
> 0,3 cmol
c
dm
-3
(na figura 12a, circulado em verde) foi de 7,1 t ha
-1
. A menor
produtividade foi obtida com pH > 5,5 e zero de Al trocável (na figura 12a,
circulado em rosa), média de 4,7 t ha
-1
. Resultados semelhantes em SPD com
freqüência são reportados na literatura (Salet & Anghinoni, 1998; Vieira, 2007).
Recentemente, inúmeros pesquisadores (Salet, 1998; Diekow, 2003;
Zanatta, 2006; entre outros) relatam que a MO tem a capacidade de complexar
o Al trocável, reduzindo a sua atividade na solução do solo e,
conseqüentemente, sua toxidez para as plantas. Isso indica que no SPD
poderia haver uma relação inversa entre teor de MO e Al trocável, entretanto
nenhuma tendência clara foi observada nesses experimentos (Figura 12d).
Nesses, conduzidos em argissolo (PVd), o teor de MO nas parcelas no SC é
baixo (< 2%) (Figura 12d). No entanto, no SPD, o seu teor é maior e
dependente do tipo de rotação de culturas e da adubação nitrogenada feita no
milho. A aplicação de nitrogênio (N) resulta em aumento da produtividade de
46
Figura 12. Relações clássicas entre indicadores de fertilidade — pH em água e
alumínio trocável (a) e saturação por bases (b), alumínio trocável e
saturação por alumínio (c), matéria orgânica e alumínio trocável (d),
pH em água e CTC efetiva (e) e matéria orgânica e CTC efetiva (f) —
em experimentos com diferentes históricos de cultivo, conduzidos há
mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm).
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
CTC efetiva
(cmol
c
dm
-3
)
0
4
6
8
e)
Alumínio trocável (cmol
c
dm
-3
)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Saturação por alumínio
(%)
0
10
20
30
40
50
c)
Matéria orgânica (%)
012345
CTC efetiva
(cmol
c
dm
-
3
)
0
4
6
8
f)
Matéria orgânica (%)
012345
Alumínio trocável
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
d)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Alumínio trocável
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
a)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Saturação por bases
(%)
0
20
40
60
80
b)
SPD:
0 Kg de N
SC:
0 Kg de N
SC:
180 Kg de N
SPD:
60 Kg de N
SPD:
120 Kg de N
SPD:
180 Kg de N
SPD
SC
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
CTC efetiva
(cmol
c
dm
-3
)
0
4
6
8
e)
Alumínio trocável (cmol
c
dm
-3
)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
Saturação por alumínio
(%)
0
10
20
30
40
50
c)
Matéria orgânica (%)
012345
CTC efetiva
(cmol
c
dm
-
3
)
0
4
6
8
f)
Matéria orgânica (%)
012345
Alumínio trocável
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
d)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Alumínio trocável
(cmol
c
dm
-3
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
a)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
Saturação por bases
(%)
0
20
40
60
80
b)
SPD:
0 Kg de N
SC:
0 Kg de N
SC:
180 Kg de N
SPD:
60 Kg de N
SPD:
120 Kg de N
SPD:
180 Kg de N
SPD
SC
SPD:
0 Kg de N
SC:
0 Kg de N
SC:
180 Kg de N
SPD:
60 Kg de N
SPD:
120 Kg de N
SPD:
180 Kg de N
SPD
SC
47
milho e em maior quantidade de carbono (C) incorporado ao sistema. Em
alguns tratamentos o teor de C duplicou em 20 anos de SPD. Também é
possível observar que o grupo de pontos com teor de Al trocável maior (Figura
12a) não é o que tem teor menor de MO (Figura 12d). A maior produtividade
média de milho (7,2 t ha
-1
; na Figura 12a, circulado em vermelho), obtida com o
maior teor médio de Al trocável, indica que no SPD, a importância de um
componente isolado pode ser menor. Nesse caso, o efeito da rotação no
aumento e no tipo de MO inibe ou diminui a ação do Al sobre as plantas.
As relações entre pH e CTC efetiva e entre esta e a MO são também
influenciadas pelo teor de argila dos solos. Mas num mesmo tipo de solo, com
teor de argila entre 26 e 40%, é possível separar a CTC efetiva em dois
conjuntos de pontos para a mesma faixa de pH (Figura 12e). O conjunto de
pontos com o maior valor médio de CTC efetiva (6,7 cmol
c
dm
-3
; na Figura 12e,
circulado em rosa) tem sua posição deslocada para a direita devido ao maior
teor de MO (na Figura 12f, circulado em rosa). Os menores valores médios de
CTC efetiva são observados no SC (4,5 cmol
c
dm
-3
), cujos teores de MO são
baixos (na Figura 12f, circulado em preto).
A alta relação observada entre os teores de N total e mineral do solo
nesses experimentos (Figura 13a) foi influenciada pelo sistema de cultivo, pela
rotação de culturas e pela adubação nitrogenada no cultivo do milho. Em geral,
isso não ocorre com freqüência. A causa pode ter sido a pouca precipitação no
período de cultivo, em que o N mineral, mesmo com irrigação, deve ter
permanecido na zona de absorção das raízes. Ao analisar somente os pontos
dos tratamentos no SC, parece não haver relação entre N total e N mineral.
Porém, há uma alta relação entre os teores de MO e os de N total no solo
(Figura 13b), o que é sempre esperado devido à relação C:N da MO. Contudo,
nesses experimentos o grau de associação é maior, por ser somente um tipo
de solo com grande amplitude nos teores, devido às quantidades de N
aplicadas ao milho, as diferentes espécies na rotação e ao tempo de cultivo.
Nas relações entre teor de P ou K disponíveis no solo e
concentração destes no tecido de plantas há, em geral, um elevado grau de
associação dos valores. Isso não é verdadeiro, quando os teores no solo estão
acima do teor crítico. Acima deste teor, a concentração no tecido depende de
inúmeros outros fatores que influenciam na capacidade absortiva das raízes.
48
Assim, para o conjunto de pontos correspondente a solos com teor de argila
maior que 55%, o teor crítico de P (Mehlich 1) é 6,0 mg/dm
3
(Figura 14a),
avaliados em seis lavouras conduzidas há mais de cinco anos no SPD
(Material e métodos: Apêndice 3). Em apenas um dos pontos avaliados, o teor
de P estava abaixo do valor crítico. Observa-se que para solos com esses
teores, a concentração de P no tecido da soja é maior que 0,25%, dentro da
faixa de concentração considerada adequada ao seu pleno desenvolvimento
(Malavolta et al., 1997). Houve, no entanto, um aumento na concentração à
medida que aumentou o teor de P disponível no solo. Comportamento
semelhante não foi observado em solos com teor de argila entre 40-55%
(Figura 14a). Nesse caso, o teor de P no tecido da soja é inferior a 0,25%,
mesmo com teores maiores que o valor crítico estabelecido para esses solos
(9,0 mg/dm
3
– Mehlich 1).
Em geral, conforme a teoria mineralista de Liebig, a produtividade de
uma planta é proporcional ao nutriente que se encontra em quantidade mínima
no solo. Nas Figuras 14a e 14b, foram utilizados somente os pontos cujos
fatores que compõem a avaliação de fertilidade, além de P e K, estivessem em
condições adequadas para as plantas, nesses locais o rendimento de soja
obtido variou de 70 a 100%. Observa-se, também, que para o mesmo teor de P
ou K no solo é possível ter 70 ou 100% de rendimento. Nessa faixa, a
Nitrogênio total (%)
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25
Nitrogênio mineral
(mg kg
-1
)
0
5
10
15
20
25
a)
Matéria orgânica (%)
012345
Nitrogênio total
(%)
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
b)
SPD:
0 kg de N
SC:
0 kg de N
SC:
180 kg de N
SPD:
60 kg de N
SPD:
120 kg de N
SPD:
180 kg de N
SPD:
0 kg de N
SC:
0 kg de N
SC:
180 kg de N
SPD:
60 kg de N
SPD:
120 kg de N
SPD:
180 kg de N
Figura 13. Relações entre nitrogênio total e mineral (a) e entre matéria
orgânica e nitrogênio total (b) no solo em experimentos
conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm).
49
produtividade de soja foi influenciada, provavelmente, por outro fator ou
conjunto de fatores. É possível que o efeito do manejo e das condições físicas
e/ou biológicas do solo e do tempo de cultivo no SPD, tenha influenciado mais
que os indicadores utilizados para avaliar a fertilidade do solo. Esse é um
exemplo da aplicação do conceito mineralista de fertilidade, isto é, a
capacidade de um solo fornecer nutrientes em quantidades e proporção
adequadas às plantas quando os outros fatores não são limitantes.
Fósforo no solo
(mg dm
-3
)
0 10203040
Fósforo no tecido vegetal de soja
(%)
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
a)
0 50 100 150 200 250 300
Potássio no tecido vegetal de soja
(%)
0,0
1,2
1,5
1,8
2,1
2,4
2,7
b)
Potássio no solo
(mg dm
-3
)
Fósforo no solo
(mg dm
-3
)
0 10203040
Rendimento relativo de grãos de soja
(%)
0
20
40
60
80
100
Fósforo no tecido vegetal
(%)
0,00,1 0,2 0,3 0,4 0,5
c)
Potássio no solo
(mg dm
-3
)
0 50 100 150 200 250 300
Rendimento relativo de grãos de soja
(%)
0
20
40
60
80
100
Potássio no tecido vegetal
(%)
0,0 1,2 1,5 1,8 2,1 2,4 2,7
d)
Figura 14. Relações entre o teor de fósforo (a) e potássio disponíveis (b) no
solo e sua concentração no tecido vegetal e entre essas e o
rendimento relativo de grãos de soja (c) e (d) em lavouras
cultivadas no SPD no Planalto Médio [LVd: 0-10 cm; (c) pH > 5,5; V
>
65% e K > 60 mg dm
-3
; (d) pH > 5,5; V > 65% e P > 6 mg dm
-3
].
No SC de cultivo, é muito raro se observar altos rendimentos quando
os indicadores tradicionais de fertilidade (pH, P, K e MO) são baixos ou quando
Tecido vegetal
SPD - solo: argila 40-55%
SPD - solo: argila >55%
Tecido vegetal
SPD - solo: argila 40-55%
SPD - solo: argila >55%
50
o teor de Al trocável é alto. No entanto, nos últimos anos, inúmeros
experimentos e resultados de lavoura têm mostrado isso no SPD. Embora
muitos dos pesquisadores em fertilidade do solo atribuam isso a casualidades,
prefere-se, neste trabalho, atribuir às modificações que ocorrem no solo com o
tempo de cultivo no SPD. Nos dados, avaliados em seis lavouras conduzidas
no SPD há mais de cinco anos no Planalto Médio do RS, apresentados na
Figura 15 (Material e métodos: Apêndice 3), selecionaram-se três pontos para
representar o que foi descrito. Num dos pontos (na Figura 15, destacado com
quadrado vermelho), o pH é próximo de 6,0, o valor V próximo a 80%, o teor de
MO maior que 2,5% e os teores de P e K disponíveis são altos. Por esta
interpretação, esse solo seria considerado adequado ao desenvolvimento da
maior parte das culturas e, não havendo impedimentos devido a outros fatores
(falta de umidade, ataque de moléstias, intempéries), a cultura poderia
expressar ao máximo seu potencial genético. Verifica-se, no entanto, que o
rendimento de soja correspondente a esse ponto foi aproximadamente 75% do
máximo obtido naquelas condições, isto é, fertilidade alta correspondeu a
rendimento baixo. Em contraponto, para o mesmo tipo de solo e condições
climáticas, o rendimento foi máximo em um ponto com teor menor de MO, teor
de K disponível abaixo do teor considerado crítico pela CQFS RS/SC (2004),
pH menor que 5 e m de 5% (na Figura 15, destacado com círculo vermelho),
isto é, fertilidade baixa correspondeu a rendimento alto. Este, pelo conceito
mineralista de fertilidade do solo, deveria ter a acidez corrigida e o teor de K
elevado até o valor crítico. Entretanto, também são encontradas as situações
esperadas: fertilidade alta e rendimento alto (na Figura 15, destacado com
quadrilátero vermelho). É possível que a avaliação tradicional seja menos
eficiente para avaliar a fertilidade dos solos cultivados no SPD. Isso pode ser
percebido pelo aumento do “ruído”, em relação ao SC, nas suas etapas.
3.2.2. “Ruído” nas etapas do processo de avaliação da
fertilidade nos solos cultivados no sistema plantio direto
As mudanças verificadas principalmente nas relações entre os
indicadores de fertilidade do solo e o rendimento das culturas e o aumento do
“ruído” nas etapas do processo de avaliação de fertilidade são causados pelos
mesmos fatores. Atualmente, a avaliação da fertilidade dos solos cultivados no
51
Figura 15. Relações entre indicadores da fertilidade do solo e rendimento
relativo de grãos de soja em lavouras cultivadas no SPD no
Planalto Médio do RS (LVd: 0-10 e 0-20 cm).
Saturação por bases (%)
0 20406080100
0
20
40
60
80
100
f)
Matéria orgânica (%)
01234
0
20
40
60
80
100
e)
Potássio disponível (mg dm
-3
)
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
80
100
d)
Fósforo disponível (mg dm
-3
)
0 10203040
0
20
40
60
80
100
c)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5
0
20
40
60
80
100
a)
Saturação por alumínio (%)
0 1020304050
0
20
40
60
80
100
b)
Rendimento relativo de grãos de soja (%)
Fertilidade alta – rendimento alto
Fertilidade alta – rendimento baixo
Fertilidade baixa – rendimento alto
0-20 cm
0-10 cm
Camada de solo
Saturação por bases (%)
0 20406080100
0
20
40
60
80
100
f)
Matéria orgânica (%)
01234
0
20
40
60
80
100
e)
Potássio disponível (mg dm
-3
)
0 50 100 150 200 250 300
0
20
40
60
80
100
d)
Fósforo disponível (mg dm
-3
)
0 10203040
0
20
40
60
80
100
c)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5
0
20
40
60
80
100
a)
Saturação por alumínio (%)
0 1020304050
0
20
40
60
80
100
b)
Rendimento relativo de grãos de soja (%)
Fertilidade alta – rendimento alto
Fertilidade alta – rendimento baixo
Fertilidade baixa – rendimento alto
0-20 cm
0-10 cm
Camada de solo
Fertilidade alta – rendimento alto
Fertilidade alta – rendimento baixo
Fertilidade baixa – rendimento alto
0-20 cm
0-10 cm
Camada de solo
52
SPD é feita com base num sistema construído para o SC. Neste, as práticas de
manejo que interferem na fertilidade se referem ao grau e à freqüência do
revolvimento do solo e ao manejo dos resíduos das culturas. Recomenda-se,
neste sistema, o revolvimento da camada 0-20 cm de solo; na região do
Planalto do RS, em geral, é realizado duas vezes ao ano e, com freqüência é
queimada a palha. No SPD, o revolvimento ocorre somente na linha de
semeadura, a palha é mantida na superfície e a rotação de culturas é
indispensável. Ao comparar esses dois sistemas, se observa que no caso do
SC, o solo retorna ao mesmo estado a cada seis meses (se forem feitos dois
cultivos por ano). No tempo, as condições físicas e biológicas permanecem
muito semelhantes, sendo alteradas somente as químicas pela adubação e
pela calagem. No SPD, as mudanças nas condições físicas, biológicas e
químicas, pela ausência de perturbações, evoluem normalmente melhorando
com os anos de cultivo do solo nesse sistema (Figuras 9, 10 e 11).
O “ruído” na avaliação da fertilidade sempre existiu, porém a sua
magnitude aumentou no SPD devido a inúmeros fatores isolados ou por efeito
em cascata em que a alteração de um fator influencia uma série deles,
geralmente não considerados na sua avaliação. Entre os principais fatores,
talvez o mais importante por desencadear uma série de eventos, está o não
revolvimento do solo, ou melhor, o revolvimento apenas na linha de
semeadura. Por essa prática, há a manutenção da palha na superfície, a
aplicação de fertilizantes é feita na linha de semeadura e o calcário aplicado na
superfície não é incorporado ao solo. Assim, o não revolvimento propicia
alteração significativa na estrutura e nos gradientes dos indicadores químicos e
biológicos do solo. Isso altera o tipo de relação e o seu efeito sobre o
desenvolvimento e a produtividade das plantas. É bem possível que os
benefícios desse sistema, tanto para o solo como para o desenvolvimento das
plantas, não sejam contemplados pela avaliação química tradicional da
fertilidade sendo percebidos como “ruídos” e não como benefícios (Figura 15).
O aumento do “ruído” ocorre na amostragem de solo e nas
determinações químicas, na calibração e na interpretação dos resultados das
análises. É importante a noção exata do grau da interferência do aumento do
“ruído” na avaliação, para saber se é suficiente adaptá-la ou se é necessário
53
desenvolver uma nova metodologia de avaliação, a partir de outro conceito da
fertilidade para o cultivo do solo no SPD.
Na etapa da amostragem o “ruído” da avaliação pode ser corrigido
ou diminuído. Para esta, já foram desenvolvidos procedimentos que podem
solucionar, em parte, o problema, porém são muito laboriosos. Nas
determinações químicas, a solução é tanto mais complicada quanto melhor for
a agregação do solo. Esta é uma das vantagens do SPD (Figura 10) bem
conduzido, mas é anulada na avaliação. Um solo em repouso ou cultivado no
SC tem menor proporção de agregados nas classes de diâmetro maior (2,00-
4,76 e >4,76 mm) do que um no SPD, com mata ou com pastagem (Figura 10).
Quanto maior o número de espécies utilizadas na rotação de culturas e a
quantidade e a qualidade do material orgânico adicionado ao solo melhor será
a sua agregação para um mesmo sistema de cultivo. Embora esta melhore o
ambiente para a vida das plantas (disponibilidade e acesso aos nutrientes,
retenção de água etc.), aumenta o “ruído”, porque o sistema de avaliação da
fertilidade foi desenvolvido para avaliar o solo revolvido, totalmente desagregado.
Nas determinações químicas, a condição básica é o destorroamento
da amostra por moagem mecânica do solo. A análise se processa sempre em
amostras moídas e tamisadas em peneiras com malha de 2 mm de diâmetro.
Por isso, num solo com maior porosidade e melhor estruturado, há menos
massa sólida num mesmo volume no campo do que depois de moído e
tamisado no laboratório. Por conseqüência, nessa condição, terá um valor
maior de nutriente, o que não corresponde à realidade no campo. Para a
planta, o maior espaço poroso é vantajoso para o seu desenvolvimento e
absorção dos nutrientes disponíveis no solo. Assim, o mesmo valor de um
indicador, determinado quimicamente num solo melhor estruturado e com
maior atividade biológica, tem efeito diferente sobre as plantas do que num solo
compactado, cuja atividade biológica é provavelmente baixa. O aumento do
“ruído” nessa etapa da avaliação prejudica diretamente a interpretação dos
resultados e diminui a confiabilidade nas recomendações para melhorar a
fertilidade do solo. Não existe, ainda, uma solução para o problema, nem
tampouco estão sendo conduzidos estudos relacionados a esse tópico. Isso
também implicará em mudanças na metodologia de amostragem e de
manuseio do solo e no desenvolvimento de outro tipo de calibração.
54
Na etapa da calibração, são definidos os teores críticos e os limites
das faixas de interpretação dos indicadores de fertilidade com base na
dispersão natural dos pontos que representam os locais avaliados. No caso da
calibração de P, o “ruído” verificado, há mais de 30 anos, mesmo após a
separação dos pontos em grupos conforme o teor de argila (argilosos e
arenosos) (Figura 16), era alto.
Observa-se, pela dispersão dos pontos, que
para um teor de 5
mg dm
-3
de P nos solos argilosos,
por exemplo,
foram
obtidos rendimentos relativos muito diferentes, próximos a 40%, a 65% e a
80% (na Figura 16, destacados com quadrados vermelhos) do rendimento
máximo. A esse “ruído básico” da calibração — características específicas de
cada solo, entre elas MO, das condições ambientais e das variedades
utilizadas nas safras avaliadas — nos solos cultivados no SPD, somam-se,
principalmente, as influências das diferentes rotações de culturas adotadas e
das relações estabelecidas com o tempo de cultivo, que interferem nas
relações entre o rendimento relativo e o teor dos nutrientes determinados
quimicamente nas amostras de solo. Entretanto, no estabelecimento do teor
crítico e na distribuição das faixas de interpretação adotadas pela Comissão de
Química e Fertilidade do Solo para as recomendações de adubação (CQFS
RS/SC, 2004), esses fatores não foram considerados, uma vez que a
calibração atualmente utilizada foi feita no SC.
Figura 16. Curvas de calibração para fósforo extraível pelo método Carolina do
Norte no solo cultivado no SC (Mielniczuk et al., 1969).
0 5 10 15 20
0
20
40
60
80
100
Solos argilosos
Solos arenosos
Fósforo extraível no solo
(mg dm
-3
) – Carolina do Norte
Rendimento relativo das culturas (%)
0 5 10 15 20
0
20
40
60
80
100
Solos argilosos
Solos arenosos
Fósforo extraível no solo
(mg dm
-3
) – Carolina do Norte
Rendimento relativo das culturas (%)
0 5 10 15 20
0
20
40
60
80
100
Solos argilosos
Solos arenosos
0 5 10 15 20
0
20
40
60
80
100
Solos argilosos
Solos arenosos
Fósforo extraível no solo
(mg dm
-3
) – Carolina do Norte
Rendimento relativo das culturas (%)
55
Na curva de calibração de P em solos cultivados no SPD (Figura
17), a dispersão dos pontos demonstra ainda um grande “ruído” nesta etapa do
processo de avaliação da fertilidade do solo, independentemente do método de
determinação utilizado, Mehlich 1 (Figura 17a) ou resina (Figura 17b) ou
separação por classe textural. Entretanto, verifica-se o aumento no valor do
teor crítico de P no solo, determinado pelo Mehlich 1, de 6,0 para
aproximadamente 12 mg dm
-3
para a classe I e de 9 e 12 para 30 mg dm
-3
para
as classes de argila II e III, respectivamente, que são maiores do que os
adotados no Manual de Adubação e de Calagem (CQFS RS/SC, 2004). Isso
pode ser observado pelas faixas de interpretação adotadas no Manual para a
Classe I sobrepostas aos resultados obtidos na calibração feita por Schlindwein
(2003) (Figura 17a). Este mesmo comportamento é verificado na calibração do
método da resina trocadora de íons (Figura 17b). Este conjunto de pontos
indica que o rendimento relativo máximo está relacionado a um determinado
teor de nutriente no solo, porém, o “ruído” é muito alto e gera incerteza na
definição do teor crítico, no estabelecimento das faixas de interpretação dos
resultados para as análises de solo e, conseqüentemente, na avaliação da
fertilidade dos solos cultivados no SPD.
O “ruído” na etapa de interpretação dos resultados também é
conseqüência das etapas anteriores. Este foi verificado nos resultados obtidos
em lavouras (Figura 15) e em experimentos. Nos experimentos conduzidos em
há mais de 20 anos em Eldorado do Sul (Figura 18), é possível observar com
maior intensidade o “ruído” em inúmeras combinações de sistemas de cultivo e
de rotações de culturas. Os resultados desses indicam que as diferenças no
rendimento de grãos do milho são devidas mais ao histórico do cultivo, ou seja,
sistemas de cultivo, rotação, adubação e à interação destes do que aos
indicadores das condições químicas de solo. Nas relações entre os indicadores
tradicionais da fertilidade e o rendimento de grãos (Figura 18), pode-se observar a
inadequabilidade de alguns indicadores, considerados imprescindíveis no SC,
para avaliar a fertilidade do solo no SPD. Por exemplo, um solo de fertilidade
alta (argila = 21 - 40%; pH = 5,4; Al trocável = 0,2 cmol
c
dm
-3
; m = 4%; V =
57%; MO = 1,8%; P = 15 mg dm
-3
; K = 176 mg dm
-3
na Figura 18, destacado
com quadrado rosa), cultivado no SC com rotação A/M e adubação nitrogenada
(180 kg ha
-1
de N), deveria produzir pelo menos 90% do rendimento máximo
56
Figura 17. Curvas de calibração para fósforo disponível — Mehlich 1 (a) e
resina (b) — em solos cultivados no SPD [Adaptado de Schlindwein
(2003) com as faixas de interpretação adotadas pela CQFS RS/SC
(2004)].
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) - Resina
03 6 912
0
20
40
60
80
100
0 6 12 18 24
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
b)
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) Mehlich 1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
0
20
40
60
80
100
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
Muito
Baixo
Baixo
Médio
Alto
Muito Alto
Teor crítico
Trigo
Classes de argila
Soja
Milho
I II III
Schlindwein (2003)
CQFS RS/SC (2004)
a)
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) - Resina
03 6 912
0
20
40
60
80
100
0 6 12 18 24
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
b)
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) - Resina
03 6 912
0
20
40
60
80
100
0 6 12 18 24
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
b)
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) Mehlich 1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
0
20
40
60
80
100
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
Muito
Baixo
Baixo
Médio
Alto
Muito Alto
Teor crítico
Trigo
Classes de argila
Soja
Milho
I II III
Schlindwein (2003)
CQFS RS/SC (2004)
a)
Classes II e III
Classe I
Fósforo disponível no solo (mg dm
-3
) Mehlich 1
0 2 4 6 8 10 12 14 16
0
20
40
60
80
100
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Rendimento relativo das culturas (%)
Teor crítico
Muito
Baixo
Baixo
Médio
Alto
Muito Alto
Teor crítico
Trigo
Classes de argila
Soja
Milho
I II III
Trigo
Classes de argila
Soja
Milho
I II III
Schlindwein (2003)
CQFS RS/SC (2004)
a)
57
(correspondente a 10 t ha
-1
de grãos de milho nesses experimentos). No
entanto, esse solo produziu menos de 6 t ha
-1
de grãos de milho, isto é, à
fertilidade alta correspondeu produtividade baixa. No mesmo solo, com
fertilidade semelhante ao anterior (pH = 5,4; Al trovel = 0,2 cmol
c
dm
-3
; m = 4%;
V = 58%; MO = 2,3%; P = 30 mg dm
-3
; K = 136 mg dm
-3
na Figura 18,
destacado com quadrado azul), mesma rotação e adubação, porém cultivado
no SPD, produziu quase 10 t ha
-1
de milho, isto é, fertilidade alta correspondeu
à produtividade alta. Também são verificadas situações de fertilidade do solo
baixa, em que é obtida produtividade alta, como pode ser observado no SPD
A+V/M+C com adubação nitrogenada (pH = 4,5; Al trocável = 1,2 cmol
c
dm
-3
; m =
27%; V = 28%; MO = 2,8%; P = 18 mg dm
-3
; K = 207 mg dm
-3
na Figura 18,
destacado com triângulo azul), que produziu mais de 8 t ha
-1
de milho. O
mesmo comportamento foi verificado no SPD G/M sem adubação nitrogenada
(pH = 4,6; Al trocável = 0,7 cmol
c
dm
-3
; m = 11%; V = 42%; MO = 4,5%; P = 38 mg
dm
-3
; K = 217 mg dm
-3
na Figura 18, destacado com quadrilátero laranja) e
com adubação nitrogenada (pH = 4,6; Al trovel = 0,8 cmol
c
dm
-3
; m = 13%; V =
39%; MO = 4,4%; P = 33 mg dm
-3
; K = 241 mg dm
-3
na Figura 18, destacado
com quadrilátero azul), que produziram 9,2 e 8,8 t ha
-1
, respectivamente.
Os indicadores tradicionais nem sempre expressam a fertilidade do
solo percebida pelas plantas com a mudança de sistema de cultivo. Isso pode
ser visto comparando a rotação A/V com 180 kg ha
-1
de N cultivada no SC e no
SPD. Cultivado no SC, com fertilidade do solo baixa (pH = 4,8; Al trocável = 1,2
cmol
c
dm
-3
; m = 28%; V = 36%; MO = 2,0%; P = 11 mg dm
-3
; K = 139 mg dm
-3
na
Figura 18, destacado com círculo rosa), o rendimento foi de 6,9 t ha
-1
; e no SPD
(pH = 4,8; Al trocável = 1,0 cmol
c
dm
-3
; m = 24%; V = 36%; MO = 2,7%; P = 21 mg
dm
-3
; K = 168 mg dm
-3
na Figura 18, destacado com círculo azul) 9,4 t ha
-1
.
Nos exemplos mostrados, verifica-se que o histórico e o sistema de
cultivo são mais importantes na definição da produtividade das culturas do que
os valores dos indicadores de fertilidade, tradicionalmente avaliados. A inclusão
de outros indicadores possíveis de serem determinados não melhorou a
avaliação da fertilidade do solo (Figura 19). Por isso, a noção mineralista da
fertilidade, amplamente utilizada para solos cultivados no SC, pode não ser
válida para solos cultivados há muitos anos no SPD e nem para todas as
rotações de culturas utilizadas no RS (Figuras 15, 17, 18 e 19).
58
Figura 18. Relações entre os principais indicadores da fertilidade do solo e
rendimento de grãos de milho avaliados em diferentes históricos de
cultivo em experimentos, conduzidos mais de há 20 anos em
Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm).
Fósforo disponível (mg dm
-3
)
0 1020304050
0
3
6
9
12
e)
Potássio disponível (mg dm
-3
)
0 100 200 300 400
0
3
6
9
12
f)
Saturação por alumínio (%)
0 1020304050
0
3
6
9
12
c)
Saturação por bases (%)
020406080
0
3
6
9
12
d)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
0
3
6
9
12
a)
Alumínio trocável (cmol
c
dm
-3
)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
0
3
6
9
12
b)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-
1
)
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
Fósforo disponível (mg dm
-3
)
0 1020304050
0
3
6
9
12
e)
Potássio disponível (mg dm
-3
)
0 100 200 300 400
0
3
6
9
12
f)
Saturação por alumínio (%)
0 1020304050
0
3
6
9
12
c)
Saturação por bases (%)
020406080
0
3
6
9
12
d)
pH em água
0,0 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0
0
3
6
9
12
a)
Alumínio trocável (cmol
c
dm
-3
)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
0
3
6
9
12
b)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-
1
)
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
59
Figura 19. Relações entre outros indicadores da fertilidade do solo e o
rendimento de grãos de milho avaliados em experimentos com
diferentes históricos de cultivo, conduzidos há mais de 20 anos em
Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm).
O “ruído” do processo de avaliação da fertilidade, percebido
principalmente nos solos cultivados no SPD, há pelo menos mais de 10 anos,
remete a seguinte questão: até que ponto um conjunto de valores ou faixas de
interpretação de indicadores químicos pode representar, com confiabilidade, a
fertilidade de um solo e garantir a expressão do potencial produtivo de uma
cultura num determinado ambiente? Talvez seja necessária uma interpretação
diferente dos resultados dos indicadores, sem considerá-los de modo isolado,
mas em relação ao histórico de cultivo do solo. Assim, o “ruído” na avaliação da
Nitrogênio mineral (%)
0 5 10 15 20 25
0
3
6
9
12
c)
Umidade (%)
010 15 20 25
0
3
6
9
12
d)
Matéria orgânica (%)
012345
0
3
6
9
12
a)
Nitrogênio total (%)
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25
0
3
6
9
12
b)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-1
)
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
Nitrogênio mineral (%)
0 5 10 15 20 25
0
3
6
9
12
c)
Umidade (%)
010 15 20 25
0
3
6
9
12
d)
Matéria orgânica (%)
012345
0
3
6
9
12
a)
Nitrogênio total (%)
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25
0
3
6
9
12
b)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-1
)
Nitrogênio mineral (%)
0 5 10 15 20 25
0
3
6
9
12
c)
Umidade (%)
010 15 20 25
0
3
6
9
12
d)
Matéria orgânica (%)
012345
0
3
6
9
12
a)
Nitrogênio total (%)
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25
0
3
6
9
12
b)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-1
)
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-1
)
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SC A/M
: 180 kg N
SPD A/M
: 180 kg N
SC V/M
: 180 kg N
SPD V/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SPD A+V/M+C
: 180 kg N
SPD G/M
: 0 kg N
SPD G/M
: 180 kg N
SC
: 0 kg N
SC
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
SPD
: 0 kg N
SPD
: 60 kg N
SPD
: 120 kg N
SPD
: 180 kg N
60
fertilidade poderia ser diminuído, sem haver necessidade de mudança nas
outras etapas do processo, entre elas a amostragem, as determinações
químicas e a calibração; e menos ainda necessidade de mudar o conceito
tradicional, amplamente utilizado no mundo há mais de 150 anos.
3.2.3 Tentativas para diminuir o “ruído” na avaliação da
fertilidade: interpretar seus indicadores de outros modos
As tentativas para melhorar a avaliação da fertilidade, sem alterar
significativamente o processo de avaliação, são muito importantes, principal-
mente se isso for possível em curto prazo e com poucos recursos financeiros.
Talvez isso possa ser feito na etapa da interpretação dos resultados das
análises químicas ou pelo acompanhamento da evolução dos indicadores
tradicionais da fertilidade nos solos e da produtividade das culturas ou, ainda,
pela seleção dos indicadores mais sensíveis, entre os tradicionais, para
expressar a mudança do sistema de cultivo e da rotação no rendimento das
culturas. Poder-se-ia, também, relacionar os teores ou os valores normalizados
desses indicadores com a produtividade, para identificar grupos de pontos que
pudessem caracterizar diferentes níveis de fertilidade do solo.
3.2.3.1 Evolução da relação entre os indicadores de fertilidade
do solo e a produtividade das culturas
A demanda da planta por determinadas condições químicas do solo
é função da espécie cultivada ou, em alguns casos, da própria variedade. Logo,
um solo não é igualmente fértil para todas as culturas. Essa constatação é
muito importante no acompanhamento da evolução da produtividade, pois a
espécie do cultivo anterior pode ter demanda, em termos de fertilidade,
diferente daquela a ser cultivada. Não se trata da quantidade necessária para o
atendimento das necessidades da cultura, mas do nível de fertilidade para a
planta se desenvolver. Isso pode ser observado para certos grupos de culturas
no Manual de Adubação e de Calagem (CQFS RS/SC, 2004). Ao recomendar a
correção do solo para P e K, as doses indicadas, quando o teor está nas faixas
“Muito baixo”, “Baixo” ou “Médio”, não necessariamente são para atingir o teor
crítico recomendado para a maioria das culturas de grãos. Para o grupo das
hortaliças, por exemplo, o teor no solo, após a aplicação dos fertilizantes, será
61
muito maior do que para o grupo das essências florestais. Na verdade, esse é
mais um “ruído” existente na avaliação da fertilidade, em que a calibração
deveria ter sido feita para cada cultura ou grupo específico de culturas.
As gramíneas têm uma demanda por adubação nitrogenada muito
maior que as leguminosas. Talvez este seja o motivo do comportamento
verificado na evolução dos indicadores de fertilidade mais tradicionais (Tabela
4) e no rendimento de grãos de milho (Figura 20) no período de 1985 a 2005
em solo com diferentes históricos de cultivo, em Eldorado do Sul (Apêndice 2).
Neste, o rendimento não foi relacionado aos valores dos indicadores químicos
avaliados, pH, P e K disponíveis e MO e nem as suas alterações no tempo
(Tabela 4). Os fatores determinantes da produtividade foram, em primeiro
lugar, a adubação nitrogenada, em segundo a rotação e em terceiro o sistema
de cultivo (Figura 20). Provavelmente, por ser conduzido sob irrigação, a
diferença no rendimento devido aos sistemas de cultivo foi menor. Na média,
os maiores rendimentos foram obtidos com N, rotação A+V/M+C e cultivo do
solo no SPD. A combinação SPD A+V/M+C, com 180 kg ha
-1
de N, produziu
7,6 t de milho nos 20 anos e 9,1 t ha
-1
nos últimos 10 anos.
1
Adaptado de Freitas (1988);
2
Carballo (2004).
T
abela 4. Evolução dos principais indicadores de fertilidade do solo avaliados
em experimentos com diferentes históricos de cultivo em Eldorado do
Sul entre 1985 e 2005 (PVd: 0-10 cm)
Ano Histórico de cultivo Quantidade N P disponível K disponível pH MO
kg ha
-1
mg dm
-3
mg dm
-3
%
1985
1
Início do experimento 0 9 79 5,3 2,2
1998
2
SC A/M 0 32 202 5,6 1,8
2005 SC A/M 0 17 171 5,8 1,8
1998 SC A/M 180 29 172 5,2 2,1
2005 SC A/M 180 15 176 5,4 1,8
1998 SC A+V/M+C 0 30 262 5,2 2,1
2005 SC A+V/M+C 0 12 168 5,2 2,1
1998 SC A+V/M+C 180 27 153 5,2 2,3
2005 SC A+V/M+C 180 13 172 5,1 2,0
1998 SPD A/M 0 66 174 5,6 2,2
2005 SPD A/M 0 49 181 5,8 2,0
1998 SPD A/M 180 40 177 5,6 2,5
2005 SPD A/M 180 30 136 5,4 2,2
1998 SPD A+V/M+C 0 65 199 5,6 2,7
2005 SPD A+V/M+C 0 24 160 5,2 2,7
1998 SPD A+V/M+C 180 52 167 5,4 3,0
2005 SPD A+V/M+C 180 27 138 4,7 2,8
62
Figura 20. Evolução do rendimento de grãos de milho cultivado em solo com
diferentes históricos de cultivo em Eldorado do Sul entre 1985 e
2005 [resultados de 1985 a 2003: Zanatta (2006)].
Resultados semelhantes aos de Eldorado do Sul foram também
obtidos em experimentos, sem irrigação, em Santo Ângelo (Apêndice 4) e em
Passo Fundo (Apêndice 5), com a cultura da soja. Em Santo Ângelo verifica-se
que com o tempo de cultivo o rendimento de grãos foi maior no SPD (Figuras
21b e 21c) do que no SC (Figura 21a). A tendência da evolução do rendimento
da soja não segue a de nenhum dos indicadores tradicionais de fertilidade
(Figura 21). Os resultados mostram também que a evolução do teor de MO nos
sistemas de cultivo foi muito semelhante. Nas avaliações feitas em Passo
Fundo, com a mesma rotação de culturas em diferentes sistemas de cultivo,
também se verifica a ausência de uma relação direta entre a evolução dos
indicadores de fertilidade no solo e o rendimento (Figura 22). Em relação à
evolução dos indicadores os resultados mostram uma tendência de aumento
dos teores de P disponível e de MO com o tempo de cultivo no SPD (Figura
22c). Neste, o rendimento foi influenciado sobretudo pela precipitação
pluviométrica ocorrida na região de Passo Fundo no período avaliado (Figura
23). Provavelmente, essa foi a causa do baixo rendimento em alguns anos, pois
os indicadores da fertilidade estavam em níveis adequados (Figuras 22 e 23).
Ano agrícola
19851986198719881989199019911992199319941995199619971998199920002001200220032004200520062007
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-
1
)
0
2
4
6
8
10
12
SC AM 0 N
SC AM 180 N
SC AVMC 180N
SPD AM 0N
SPD AM 180N
SPD AVMC 0N
SPD AVMC 180N
1985/86
90/91 95/96
00/01 2005/06
Ano agrícola
19851986198719881989199019911992199319941995199619971998199920002001200220032004200520062007
Rendimento de grãos de milho
(t ha
-
1
)
0
2
4
6
8
10
12
SC AM 0 N
SC AM 180 N
SC AVMC 180N
SPD AM 0N
SPD AM 180N
SPD AVMC 0N
SPD AVMC 180N
1985/86
90/91 95/96
00/01 2005/06
63
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria orgânica
(%)
0,0
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
a) SC T/S
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria orgânica
(%)
0,0
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
b) SPD T/S
Ano
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria orgânica
(%)
0,0
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
c) SPD T/S/A+Tv/M/Cz/S
Figura 21. Evolução dos principais indicadores da fertilidade de solo e do
rendimento de grãos de soja cultivada no SC T/S (a), no SPD T/S
(b) e no SPD T/S/A+Tv/M/Cz/S (c) em Santo Ângelo entre 1979 e
2004 (LVdf: 0-10 cm).
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
64
1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
10
20
30
40
50
60
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria orgânica
(%)
0,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
b) CM
Ano
1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
10
20
30
40
50
60
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria orgânica
(%)
0,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
c) SPD
Figura 22. Evolução dos principais indicadores da fertilidade e do rendimento
de grãos de soja cultivada no SC (a), no CM (b) e no SPD (c), com a
rotação S/Cv/S/V/Sg/Ab, em Passo Fundo entre 1985 e 2005 (LVd:
0-20 cm).
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
1985 1990 1995 2000 2005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Fósforo disponível
(mg dm
-3
)
0
10
20
30
40
50
60
Potássio disponível
(mg dm
-3
)
0
50
100
150
200
250
300
pH em água
0,0
4,5
5,0
5,5
6,0
6,5
Matéria or
g
ânica
(
%
)
0,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
a) SC
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
Rendimento
Fósforo
Potássio
pH
MO
65
Ano agrícola
198519861987198819891990199119921993199419951996199719981999200020012002200320042005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Precipitação pluviométrica anual
(mm)
0
1500
1800
2100
2400
2700
Rend. SC
Rend. CM
Rend. SPD
Precipitação
1985/86
90/91 95/96
00/01
2004/05
Ano agrícola
198519861987198819891990199119921993199419951996199719981999200020012002200320042005
Rendimento de grãos de soja
(t ha
-1
)
0,0
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
Precipitação pluviométrica anual
(mm)
0
1500
1800
2100
2400
2700
Rend. SC
Rend. CM
Rend. SPD
Precipitação
1985/86
90/91 95/96
00/01
2004/05
Figura 23. Evolução do rendimento de grãos de soja em diferentes sistemas de
cultivo e da precipitação pluvial anual em Passo Fundo entre 1985 e
2005 (Denardin & Kochhann, 2006 — comunicação pessoal).
O acompanhamento da evolução dos indicadores de fertilidade no
solo e do rendimento das culturas não parece ser um recurso eficiente para
melhorar a interpretação dos resultados das análises químicas e,
consequentemente, a avaliação da fertilidade (Tabela 4, Figuras 20, 21 e 22).
Ou seja, não é viável a utilização deste recurso como ferramenta única para
avaliar e definir as quantidades de adubos e corretivos que devem ser
adicionadas ao solo. De fato, não houve uma evidência clara de que a
evolução do rendimento de uma cultura fosse majoritariamente explicada pelos
indicadores químicos da fertilidade. Evidentemente que para os casos em que
o valor deles está acima do teor mínimo, essa relação não é esperada. Essa
informação é muito importante, pois sugere que no SPD existem outros
parâmetros de avaliação que se relacionam melhor com o rendimento do que
os tradicionalmente avaliados. O clima no RS é temperado úmido e, mesmo
assim, freqüentemente o rendimento é limitado pela precipitação pluvial. Esse
dano pode ser minimizado com práticas que aumentam a capacidade do solo em
armazenar e disponibilizar água, ou seja, que melhorem as suas condições físicas.
66
3.2.3.2 Sensibilidade dos indicadores de fertilidade para
expressar a mudança do sistema de cultivo
Um indicador de fertilidade é sensível para expressar as alterações
promovidas pela mudança do sistema de cultivo e/ou da rotação de culturas na
fertilidade do solo percebida pelas plantas, quando sua variação é proporcional
à variação no rendimento das culturas. Para os indicadores tradicionais de
fertilidade, essa sensibilidade foi avaliada pelo rendimento de grãos de milho
em experimentos que estão sendo conduzidos há mais de 20 anos em
Eldorado do Sul (Apêndice 2). As alterações nesses atributos e no rendimento
foram avaliadas comparativamente ao tratamento SC A/M, considerado como
referência (= 100%); os valores dos indicadores do solo e do rendimento dos
outros tratamentos foram transformados em percentagem em relação à
referência (Apêndice 6). Assim, é possível observar o comportamento de vários
indicadores em relação ao rendimento em uma mesma figura.
As alterações nos indicadores químicos do solo inicialmente
utilizados para avaliar a fertilidade no RS — pH em água, P e K disponíveis e
MO — foram comparados ao rendimento de grãos (Figura 24). Verifica-se que
os indicadores MO e P disponível foram os que melhor expressaram as
mudanças no sistema de cultivo tanto sem (Figura 24a) como com adubação
nitrogenada (Figura 24b). A MO é fonte importante desse nutriente às culturas
e está associada a outros fatores físicos que promovem o crescimento das
plantas, como agregação e umidade volumétrica do solo. Contudo, esse
procedimento de cálculo não tem sensibilidade para diferenciar valores de pH,
pois estes podem variar no máximo 50% (variaram menos neste exemplo),
enquanto outros indicadores podem variar mais de 200%. Quando os pontos
são colocados no mesmo gráfico os valores de pH tendem a se agrupar. O
comportamento dos outros indicadores, que foram agregados ao sistema de
avaliação da fertilidade no RS/SC — Al, Ca e Mg trocáveis e depois CTC, V e
m — a partir da década de 1980, pode ser observado na Figura 25. Desses
indicadores, a CTC efetiva e o teor de Mg trocável no solo foram os que melhor
expressaram a mudança do sistema de cultivo. Enquanto os indicadores
considerados mais importantes no SC, entre eles o teor de Al trocável (ou m) e
a V, foram os que menos se relacionaram com o rendimento de grãos do milho
(Figura 25).
67
a)
0 kg de N ha
-1
0
200
400
Rendimento de grãos
pH em água
Possio disponívelFósforo disponível
Matéria orgânica
SC A/M
SC V/M
SC A+V/M+C
SPD A/M
SPD V/M
SPD A+V/M+C
b)
180 kg de N ha
-1
0
100
200
Rendimento de gos
pH em água
Potássio disponívelFósforo disponível
Matéria orgânica
Figura 24. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho com
os primeiros indicadores da fertilidade de solo utilizados no RS — pH
em água, fósforo e potássio disponíveis e matéria orgânica —
avaliados em experimentos com diferentes históricos de cultivo [(a) 0
e (b) 180 kg ha
-1
de N], conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado
do Sul (PVd: 0-10 cm; referência: 100% = SC A/M).
68
a)
0 kg de N ha
-1
0
200
400
Rendimento de grãos
Saturação por alumínio*
Alumínio trocável*
Magnésio trocávelCálcio trocável
CTC efetiva
Saturação por bases
SC A/M
SC V/M
SC A+V/M+C
SPD A/M
SPD V/M
SPD A+V/M+C
b)
180 kg de N ha
-1
0
100
200
Rendimento de grãos
Saturação por alumínio*
*
Alumínio trocável**
Magnésio trocávelCálcio trocável
CTC efetiva
Saturação por bases
Figura 25. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho com
os indicadores da fertilidade do solo agregados aos primeiros
utilizados no RS — alumínio, cálcio e magnésio trocáveis, saturação
por bases e por alumínio e CTC efetiva — em experimentos com
diferentes históricos de cultivo [(a) 0 e (b) 180 kg ha
-1
de N],
conduzidos há mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm;
referência: 100% = SC A/M; *m/5 e Al/25; **m/4 e Al/4).
69
Os indicadores mais sensíveis à mudança no sistema de cultivo
(Figura 26) foram selecionados com base nas Figuras 24 e 25. Desses, a MO é
um indicador melhor nos tratamentos que receberam adubação nitrogenada
(Figura 26b) em comparação àqueles que não receberam (Figura 26a).
Constata-se o mesmo para os indicadores N total e umidade, que são
relacionados ao teor de MO do solo. No entanto, tais relações entre esses
fatores e o rendimento não expressaram os efeitos dos sistemas de cultivo e
nem das rotações que se refletem no rendimento das culturas (Figura 26). O
fato de o experimento ter sido conduzido sob irrigação não evitou a influência
da umidade do solo na absorção de nutrientes pelas plantas. Por exemplo, o N
total e a umidade para alguns tratamentos são indicadores tão sensíveis
quanto os outros quatro tradicionalmente avaliados, como P disponível, Mg
trocável, CTC efetiva e MO (Figura 26), quando esses indicadores são
avaliados separadamente em relação a tratamentos com diferentes
quantidades de adubação nitrogenada. Entretanto nenhum deles possui um
alto grau de associação com o rendimento de grãos de milho produzido nos
diferentes sistemas de cultivo, rotações de culturas e adubação nitrogenada
(Figura 26), muito menos quando são comparadas juntas as diferentes
adubações nitrogenadas em relação ao SC A/M sem N (Figura 27). Contudo, o
efeito observado neste trabalho pode não se repetir em outro local e com outra
cultura.
A utilização ou melhoria do uso desses indicadores na avaliação da
fertilidade requer nova calibração para os diferentes sistemas de cultivo e para
cada (ou grupo de) cultura no RS, a fim de definir os teores críticos e as faixas
de interpretação considerando o histórico de cultivo do solo (efeito do tempo e
da diversidade de culturas). Esse ajuste no processo de avaliação demanda
muito recurso financeiro, tempo e trabalho de campo. É muito difícil de ser
desenvolvido, à semelhança do desenvolvimento de nova metodologia de
manuseio de amostras indeformadas de solo. No entanto, pela observação dos
resultados dos indicadores no solo e do rendimento, talvez possa ser possível
perceber o que tem no solo (indicador e proporção) quando as plantas
produzem mais, e ajustar, assim, esse(s) fator(es) para o rendimento
pretendido.
70
a)
0 kg de N ha
-1
0
200
400
Rendimento de grãos
Umidade
CTC efetiva
Matéria orgânicaNitrogênio total
Magnésio trocável
Fósforo disponível
SC A/M
SC V/M
SC A+V/M+C
SPD A/M
SPD V/M
SPD A+V/M+C
b)
180 kg de N ha
-1
0
100
200
Rendimento de grãos
Umidade
CTC efetiva
Matéria orgânicaNitrogênio total
Magnésio trocável
Fósforo disponível
Figura 26. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho com
os indicadores da fertilidade do solo mais sensíveis — fósforo
disponível, magnésio trocável, nitrogênio total, matéria orgânica,
CTC efetiva e umidade — em expressar a mudança no sistema de
cultivo em experimentos conduzidos há mais de 20 anos em
Eldorado do Sul [(a) 0 e (b) 180 kg ha
-1
de N; PVd: 0-10 cm;
referência: 100% = SC A/M].
71
0
200
Rendimento de grãos*
Magnésio trocável
CTC efetiva
UmidadeMatéria orgânica
Nitrogênio total
Fósforo disponível
Figura 27. Representação integrada (%) dos indicadores da fertilidade do solo
— fósforo disponível, magnésio trocável, nitrogênio total, matéria
orgânica, CTC efetiva e umidade — para expressar o rendimento de
grãos de milho em experimentos conduzidos há mais de 20 anos
em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm; referência: 100% = SC A/M sem
N; *rend./4; **P/2).
3.2.3.3 Aplicação da técnica da normalização aos resultados de
indicadores para identificar níveis de fertilidade nos solos
A relação entre indicadores normalizados permite visualizar
agrupamentos ou famílias de pontos de um indicador principal (rendimento das
culturas) em relação aos indicadores de fertilidade que determinam a mudança
no seu comportamento. Devido esta técnica de normalização de dados não ser
comumente utilizada para interpretar resultados em Ciência do Solo, foram
testados dois modos de sua aplicação para verificar se ela detecta as
diferenças de níveis de fertilidade dos solos percebidas pelas plantas. Para
testá-la foram considerados somente os resultados dos indicadores químicos
da fertilidade do solo, independente do sistema de cultivo, da rotação de
SC A/M: 0 N
SC V/M: 0 N
SC A+V/M+C: 0 N
SPD A/M: 0 N**
SPD V/M: 0 N
SPD A+V/M+C: 0 N
SC A/M: 180 N
SC V/M: 180 N
SC A+V/M+C: 180 N
SPD A/M: 180 N
SPD V/M: 180 N
SPD A+V/M+C: 180 N
SC A/M: 0 N
SC V/M: 0 N
SC A+V/M+C: 0 N
SPD A/M: 0 N**
SPD V/M: 0 N
SPD A+V/M+C: 0 N
SC A/M: 180 N
SC V/M: 180 N
SC A+V/M+C: 180 N
SPD A/M: 180 N
SPD V/M: 180 N
SPD A+V/M+C: 180 N
72
culturas ou do tipo de adubação. A técnica foi testada com os resultados das
avaliações feitas durante o período de condução dos experimentos em
Eldorado do Sul, em Passo Fundo e em Santo Ângelo (Apêndice 7). No Teste
1, todos os valores dos indicadores de fertilidade e de rendimento das culturas
foram normalizados (Tabela 5), sendo que ao valor mínimo e máximo reais de
cada indicador, em cada local, foram atribuídos valores zero e 100,
respectivamente. No Teste 2, os indicadores do solo foram normalizados
considerando a amplitude dos indicadores normalmente encontrada nos solos;
os valores mínimos como zero e os valores máximos como 100 (Tabela 6) e
foi utilizado o rendimento relativo ao invés de absoluto, calculado considerando
o mínimo possível como zero (neste caso não real) e o máximo obtido em cada
local como 100%. Para alguns indicadores, o valor máximo corresponde ao
limite superior da faixa “Alto” de acordo com o Manual de Adubação e de
Calagem (CQFS RS/SC, 2004). Nos testes, os valores de Al trocável e de m
normalizados foram invertidos, isto é, diminuídos de 100 (por exemplo: valor
normalizado de 38 corresponde ao valor invertido de 62).
Nas figuras elaboradas utilizando a técnica da normalização dos
resultados separadamente para cada local avaliado (Figura 28), não foi
possível diferenciar “famílias” de pontos que expressassem a resposta das
plantas a determinados níveis de fertilidade dos solos. O esperado era que,
pelo menos, três famílias de pontos fossem identificadas: uma de baixo
rendimento, indicando fertilidade do solo baixa (na Figura 28a, circulada em
preto); outra de valores intermediários (na Figura 28a, circulada em azul) e,
outra de alto rendimento, indicando fertilidade do solo alta (na Figura 28a,
circulada em verde). Entretanto, famílias de pontos assim distribuídas não
foram identificadas (Figura 28). As famílias identificadas indicam que esta
técnica dificilmente expressará diferentes níveis de fertilidade do solo (Figura
28b) ou poderá ser utilizada para melhorar a interpretação dos resultados dos
indicadores na sua avaliação. Pelas famílias identificadas nas avaliações feitas
em Passo Fundo (na Figura 28b, circuladas em vermelho e rosa), verifica-se
que independentemente dos indicadores de fertilidade e dos seus valores (de
zero a 60) tanto pode ser obtido de 20 a 40% como de 60 a 80% do rendimento
de grãos. Por essa avaliação, se verifica que a técnica de normalização não
expressa a relação existente entre fertilidade e a produtividade das plantas.
73
T
abela 5. Valores mínimos e máximos reais dos indicadores de fertilidade
utilizados na normalização dos dados avaliados em Eldorado do
Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo (Apêndice 7)
Valores reais dos indicadores de fertilidade
Valores
equivalentes para
a normalização
1
Rendimento
de grãos
2
pH P K Al MO V m
t ha
-1
--mg dm
-3
-- cmol
c
dm
-3
--------%-------
Eldorado do Sul
Valor mínimo = 0 0,9 4,3 7,7 45 0,0 1,7 27 0,0
Valor máximo = 100 11,5 5,8 75,0 262 2,0 4,5 67 35
Passo Fundo
Valor mínimo = 0 1,0 5,1 15,1 75 0,0 2,4 48 0,9
Valor máximo = 100 4,2 6,2 54,3 281 0,9 4,5 74 7,5
Santo Ângelo
Valor mínimo = 0 1,2 4,9 12,0 47 0,0 3,3 56 0,0
Valor máximo = 100 3,4 6,0 45,0 311 0,7 4,7 85 9,5
1
Fórmula para normalização dos resultados: X (valor normalizado entre zero e 100) = [(valor
real no ponto – valor real mínimo) x 100) / (valor real máximo – valor real mínimo)];
2
avaliado
na cultura do milho em Eldorado do Sul e da soja em Passo Fundo e em Santo Ângelo.
T
abela 6. Valores mínimos e máximos normalmente encontrados dos
indicadores de fertilidade utilizados na normalização dos dados
de solo avaliados em Eldorado do Sul, Passo Fundo e Santo
Ângelo e bases de cálculo do rendimento relativo de grãos em
cada local
Valores reais dos indicadores de fertilidade
Valores
equivalentes para a
normalização
Rendimento
de grãos
pH P K Al MO V m
t ha
-1
--mg dm
-3
-- cmol
c
dm
-3
--------%-------
Eldorado do Sul
Valor mínimo = 0 0 4,5 0 30 0,0 1,5 20 0
Valor máximo = 100 11,5 6,0 24 180 1,5 4,5 75 35
Passo Fundo
Valor mínimo = 0 0 4,5 0 30 0,0 1,5 20 0
Valor máximo = 100 4,2 6,0 18 180 1,5 4,5 75 35
Santo Ângelo
Valor mínimo = 0 0 4,5 0 30 0,0 1,5 20 0
Valor máximo = 100 3,4 6,0 12 180 1,5 4,5 75 35
74
b) Passo Fundo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
m
c) Santo Ângelo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Fertilidade do solo
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
M
Figura 28. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria orgânica,
saturação por bases e por alumínio — e o rendimento de grãos das
culturas normalizados conforme as condições avaliadas em cada
local, Eldorado do Sul (a), Passo Fundo (b) e Santo Ângelo (c) [Al e
m invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm].
a) Eldorado do Sul
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
m
75
A expressão de níveis de fertilidade pela normalização dos dados
não melhorou com a utilização da amplitude geralmente verificada no campo
dos indicadores de solo e do rendimento relativo de grãos (Teste 2, Tabela 6 e
Figura 29). Neste teste, observa-se que os pontos, conseqüentemente as
famílias, se deslocaram da esquerda para a direita. São identificadas duas
famílias: uma nas avaliações feitas em Passo Fundo e outra em Santo Ângelo
(nas Figuras 29b e 29c, circuladas em verde), isto é, grupos de pontos que
poderiam indicar fertilidade alta, porém não correspondem, necessariamente, a
rendimento alto das culturas (nas Figuras 29a e 29b, circulados em vermelho).
A diferenciação dos níveis de fertilidade pela normalização dos
resultados deveria ser melhor expressa quando observadas as avaliações de
cada local numa única figura do que separadas por local (Figura 30). As
associações definidas entre fertilidade do solo e rendimento de grãos
(conforme esperado, na Figura 28a, destacado com círculos) não são
observadas utilizando os pressupostos do Teste 1 (Figura 30a). Entretanto,
utilizando os pressupostos do Teste 2 (Figura 30b) (faixas dos indicadores
normalmente verificadas nos solos e rendimento relativo de grãos), observa-se
uma capacidade maior da técnica de expressar os níveis de fertilidade. No
Teste 1 (Figura 30a), houve uma baixa associação entre a fertilidade avaliada
de modo tradicional e o rendimento das culturas nos diferentes locais com
diferentes históricos de cultivo. Pela Figura 30a (famílias circuladas em
amarelo), constatam-se rendimentos relativos de grãos de 40 ou de 80% com
valores normalizados dos indicadores de fertilidade de 20 a 60%. Na Figura
30b, podem ser visualizadas duas famílias com comportamento esperado, isto
é, o rendimento aumenta com o aumento da fertilidade (uma circulada em azul
na posição média da figura e outra em verde, na posição alta). No entanto,
identifica-se também uma família com fertilidade alta cujo rendimento pode ser
aproximadamente 40% (circulada em vermelho) ou 80% (circulada em verde).
Por isso, verifica-se que a técnica não delimita com precisão as famílias de
pontos para poder utilizá-las na expressão de níveis de fertilidade do solo
(Figuras 28, 29 e 30). Os testes feitos com os resultados normalizados dos
indicadores tradicionais de fertilidade do solo e do rendimento de grãos das
culturas indicam que esta técnica, no momento, não contribui para a melhoria
da interpretação dos indicadores de fertilidade.
76
a) Eldorado do Sul
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
m
b) Passo Fundo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
m
c) Santo Ângelo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Fertilidade do solo
Rendimento de grãos
pH
P
K
Al
MO
V
m
Figura 29. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria orgânica,
saturação por bases e por alumínio — normalizados e rendimento
relativo de grãos calculado conforme as condições avaliadas em
cada local, Eldorado do Sul (a), Passo Fundo (b) e Santo Ângelo (c)
[Al e m invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm].
77
Figura 30. Relações entre indicadores da fertilidade do solo — pH em água,
fósforo e potássio disponíveis, alumínio trocável, matéria orgânica,
saturação por bases e por alumínio — e o rendimento de grãos
normalizados [Teste 1: (a)] e com os indicadores normalizados com
padrões semelhantes e rendimento relativo de grãos [Teste 2: (b)],
em Eldorado do Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo juntos [Al e m
invertidos; (a) e (c): 0-10 cm; (b): 0-20 cm].
Eldorado do Sul
Passo Fundo
Santo Ângelo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH P K Al MO V M
pH P K Al MO V M
pH P K Al MO V M
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Fertilidade do solo
Rendimento relativo de grãos
(%)
a)
b)
m
m
m
Eldorado do Sul
Passo Fundo
Santo Ângelo
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Rendimento de grãos
pH P K Al MO V M
pH P K Al MO V M
pH P K Al MO V M
0
20
40
60
80
100
0 20406080100
Fertilidade do solo
Rendimento relativo de grãos
(%)
a)
b)
m
m
m
78
3.2.4. Insuficiência da avaliação e do conceito tradicional para
expressar a fertilidade do solo percebida pelas plantas
A fertilidade dos solos melhorou nos últimos 40 anos no RS,
especialmente na região produtora de grãos, também pelo uso de adubos e
corretivos de acidez, tendo como base a avaliação química do solo. Os
resultados de experimentos conduzidos em Eldorado do Sul, em Passo
Fundo, em Santo Ângelo e das lavouras no Planalto Médio, mostram que o
“ruído” no processo de avaliação da fertilidade do solo é muito alto e indicam
que essa, principalmente no SPD, é insuficiente para expressar a fertilidade
do solo percebida pelas plantas. Os indicadores químicos nem sempre
detectam a mudança na fertilidade dos solos promovida pelos diferentes
sistemas de cultivo e rotações de culturas e, em geral, apresentam um baixo
grau de associação com o rendimento das plantas. A melhoria da fertilidade
dos solos do RS nos últimos 40 anos, expressa pelo rendimento das
culturas, é maior do que a quantificada pelas determinações químicas dos
indicadores de fertilidade. A mudança do sistema de cultivo, do SC para o
SPD, e os benefícios do tempo de cultivo nesse sistema, proporcionados ao
solo e ao desenvolvimento das plantas, diminuem a importância do uso
isolado de atributos químicos avaliados em amostras de solo.
Melhorar a aplicação do conhecimento significa diminuir o “ruído”
nas diversas etapas da avaliação da fertilidade. Isso requer, necessária-
mente, uma reflexão profunda sobre o conceito da fertilidade do solo. Nesta
reflexão, é importante lembrar que as atitudes do homem junto com a
fertilidade real do solo determinam o sucesso do cultivo das plantas em
determinado ambiente e que a percepção do homem sobre a fertilidade
jamais será igual a tida pela planta. Entretanto, aproximar estas percepções
é um dos caminhos para melhorar o entendimento e contribuir mais com a
melhoria da fertilidade do solo para o bom desenvolvimento das plantas e
para a preservação do ambiente.
O conceito da fertilidade de solo deveria ser reformulado e, a
partir disso ser construído um novo sistema para a sua avaliação.
Considerar o solo como um todo, um sistema aberto, que troca matéria e
energia com outros sistemas, poderia ser uma alternativa. Para isso é
necessário, por primeiro, entender o funcionamento do sistema solo e
79
identificar as principais interações entre ele e outros sistemas de interesse.
Após conhecidas as principais interações, os elementos e as forças que dão
vida aos processos que fazem com que o sistema solo cumpra as suas
funções para com os outros sistemas, é possível estudar e identificar as
suas propriedades emergentes e entender qual a relação entre a magnitude
delas e o estado de organização do sistema solo, a fertilidade e a
produtividade das plantas. A fertilidade do solo não deveria mais ser
pensada como uma propriedade restrita às condições químicas do solo, mas
como produto das interações entre as condições químicas, físicas e
biológicas do sistema solo, que possibilita o desenvolvimento e a
produtividade das plantas.
4. ANALOGIA DA EVOLUÇÃO DA NOÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO E
DA SUA PERCEPÇÃO NESTE MOMENTO À DOS SISTEMAS ABERTOS
Uma noção ou um conceito de fertilidade do solo é formado pela
interação da atividade mental do homem sobre a fertilidade e o solo e pela sua
percepção das respostas do solo e das plantas às suas atitudes (práticas
agrícolas). Esta é influenciada pela cultura, pelo conhecimento e pela
tecnologia disponível. Assim, a história da noção da fertilidade é a expressão
destas interações nas diferentes épocas. Ao longo da evolução, muitas
informações foram sendo agregadas e outras desconsideradas na noção de
fertilidade (item 2.2.1) e se verifica atualmente uma insatisfação com o seu
conceito mineralista (itens 2.2.1.3, 2.2.2 e 3.2).
A evolução dos sistemas abertos (Apêndice 8), que possuem certa
autonomia que caracteriza a capacidade de auto-organização, foi descrita por
Prigogine na “Teoria das Estruturas Dissipativas” (Prigogine & Stengers, 1992;
Prigogine, 1996; Capra, 1996). Na sua evolução, são essenciais os efeitos do
tempo, pois alguns acontecimentos ou eventos podem mudar a trajetória
evolutiva do sistema e gerar novas coerências ou possibilidades de história. A
auto-organização — emergência de novas propriedades e nova organização
que induz o sistema a evoluir e atingir uma nova estabilidade de funcionamento
(nível de ordem) nos pontos de bifurcação e a mudar o seu comportamento de
maneira qualitativa — resulta dos efeitos combinados do não-equilíbrio, da
irreversibilidade, dos laços de realimentação, dos fluxos de matéria e de
energia, da instabilidade e da história do sistema.
A evolução da noção de fertilidade do solo (item 2.1.1), pelos fluxos
de informação e de tecnologia, pela percepção diferente das pessoas nas
diversas épocas, culturas e ambientes do solo e das plantas e da interação
entre eles e das suas repostas às práticas agrícolas, pode ser interpretada de
modo análogo à dos sistemas abertos (Apêndice 8). Por esse modelo, também
é possível entender melhor as características dessa no momento atual.
81
4.1 Analogia da evolução da noção da fertilidade do solo à dos
sistemas abertos
A evolução da noção de fertilidade do solo pode ser interpretada de
modo análogo à dos sistemas abertos, considerando os períodos de
estabilidade e de instabilidade e a geração de propriedades emergentes na
mudança da noção de fertilidade no tempo (Figura 31). Os períodos de
estabilidade (níveis de ordem) são aqueles de maior clareza e sustentam a
noção de fertilidade por um tempo. Nesses, se tem um alto grau de satisfação
com a noção, conseqüentemente com a sua avaliação e com as práticas
recomendadas para aumentar ou manter (regenerar) a fertilidade. Os períodos
de estabilidade são determinados pelos períodos de instabilidade ou pontos de
bifurcação, que por sua vez são promovidos pela agregação de novas
informações e tecnologia, pela trajetória evolutiva da noção da fertilidade e pela
incapacidade das informações utilizadas expressarem a fertilidade. Os
momentos que antecedem a concretização da mudança (surgimento da nova
ordem: nova noção) são caracterizados por percepções contraditórias, por
reflexão sobre os principais assuntos relacionados com a fertilidade e, muitas
vezes, por comparações da abordagem destes assuntos com as inovações
implementadas em outras áreas da Ciência. As mudanças qualitativas na
noção de fertilidade são geradas nos pontos de bifurcação, podendo emergir
além da nova noção ou conceito, modificações na avaliação e nas práticas
recomendadas para regenerá-la. Enquanto esta nova noção ou conceito, que
serve de base para a avaliação e as práticas, for amplamente aceita e utilizada,
caracteriza-se um período de estabilidade, ou seja, uma nova organização do
conhecimento da fertilidade predomina de acordo com a nova noção.
Na Antigüidade, os homens perceberam que havia algo de diferente
entre os solos de tal modo que uns produziam mais que outros. A diferença
mais perceptível aos da época era a coloração escura que alguns solos
possuíam em relação a outros. Exatamente nesses, a produção era maior.
Assim, a cor do solo passou a ser o indicador da primeira noção da fertilidade:
“nutrimento das plantas” (na Figura 31, identificada como “a”). É possível
considerar que, à época, a fertilidade era percebida sob duas faces. No início,
não era possível, embora o homem primitivo tivesse tentado, cultivar sem arar
a terra. Se a semente fosse espalhada e deixada à superfície do terreno,
82
apenas parte germinava. Isso implicava em rendimento baixo. Se, por outro
lado, a terra fosse revolvida e a semente espalhada superficialmente e coberta
por pequena camada de terra, a germinação era muito maior. Passou-se então
a associar o "arar" com fertilidade, pois o resultado era a maior produtividade.
Pode-se relacionar essa percepção com a face física da fertilidade.
Evidentemente que esse processo repetido por centenas de vezes conduzia ao
empobrecimento do solo. Abandonava-se, então, o terreno e cultivava-se
noutro. Surgiu, assim, a noção do repouso como restaurador da fertilidade do
solo. O repouso, no entanto, poderia ser entendido como face física, se a
degradação fosse devido à erosão. Contudo, é mais provável que ocorresse a
degradação química, pelo empobrecimento do solo, e essa podia ser
recuperada pelo repouso. Nada mais era do que a ação de intemperismo e, em
parte, alguma fixação de N da atmosfera. Portanto, essa seria a face química
da fertilidade. Percebeu-se, evidentemente, que a adição de estercos tinha
efeito muito mais rápido e maior que o repouso. Na época, também eram
cultivadas espécies e incorporadas ao solo para seu benefício (adubação
verde). Esta noção predominou por, pelo menos, 10.000 anos.
Figura 31. Principais noções da fertilidade do solo e análise da noção atual,
interpretados de maneira análoga à evolução dos sistemas abertos
[idéias defendidas por grupos que discutem a noção: “e
1
“:
mineralista; “e
2
“: dúvidas; “e
3
“: divide a fertilidade; “e
4
“: nova;
adaptado de Prigogine (1996)].
Tempo
Noção da fertilidade do solo
Momento atual
a
b
d
c
Ö
Ö
Ö
e
4
e
2
e
1
Noções predominantes: a, b, c e d
Futura noção: e
1
, e
2
, e
3
,
e
4
Pontos de bifurcação
Propriedades emergentes:
conceito, avaliação e práticas
Ö
e
3
e
2
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Tempo
Noção da fertilidade do solo
Momento atual
a
b
d
c
Ö
Ö
Ö
e
4
e
2
e
1
Noções predominantes: a, b, c e d
Futura noção: e
1
, e
2
, e
3
,
e
4
Pontos de bifurcação
Propriedades emergentes:
conceito, avaliação e práticas
Ö
e
3
e
2
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
Ö
83
O principal fator que gerou insatisfação com esta noção “a” foi a
redução na produção de alimentos causada pela diminuição da fertilidade
devido às técnicas utilizadas e à exploração excessiva do solo. Esse também
foi o motivo da revisão e/ou aprimoramento dos conhecimentos sobre a
fertilidade na Antigüidade por Columella (42 d.C.). Em seu trabalho, consolidou
a percepção anterior da fertilidade como “nutrimento das plantas”, mas
acrescentou que ela é uma capacidade do solo continuamente renovável
sugerindo, então, algumas mudanças na sua avaliação e nas práticas utilizadas
para a sua regeneração (na Figura 31, identificada como “b”). Na avaliação da
fertilidade substituiu a cor da terra por indicadores como “suco natural”,
“gordura”, “fermento”, “consistência e o sabor da terra” e pelo “tipo de
vegetação espontânea presente na área”. A principal prática recomendada por
Columella para regenerar a fertilidade era a adubação, feita com estercos,
marga etc., e o cultivo de espécies que serviam para adubar (leguminosas)
quando incorporadas à terra (adubação verde). Ele também recomendava arar
bem, mas não o repouso da terra. Além das faces química e física, como na
noção anterior, nesta a face biológica da fertilidade também era considerada.
A essa noção, Ibn al Awam (século XII) acrescentou a percepção de
que as plantas se nutrem de compostos minerais, estes aptos a nutri-las
somente após a ação dos agentes meteorológicos sobre as rochas, e que a
fertilidade de um solo adequada para uma espécie, pode não ser para outras.
Gallo e Tarello (no século XVI) em nada alteraram a noção de fertilidade,
apenas se referiram às práticas para regenerá-la. A diminuição dos períodos de
repouso do solo e a compensação da fertilidade com alternância de espécies
melhoradoras com exploradoras na rotação eram necessárias para intensificar
a agricultura. Na rotação de culturas, parte da área cultivada com trigo deveria
ser cultivada com trevo para pastagem dos animais, a fim de aumentar a
produção de esterco e com isso aumentar a adubação e a produtividade do
trigo. A noção de Columella (“b”) predominou por, pelo menos, 1.700 anos.
O surgimento das noções seguintes da fertilidade (na Figura 31,
identificadas como “c” e “d”, respectivamente) foi estimulado, principalmente,
pela técnica da experimentação (a partir do século XVII). Com esta, foram
intensificados os estudos sobre a identificação do nutrimento ou do alimento
das plantas. Assim, o alimento das plantas foi identificado nos sais nítricos, no
84
salitre, na água, na água e no ar e depois nas minúsculas partículas de terra. O
uso da análise química do solo para entender a nutrição das plantas (Home,
1757) também contribuiu para entender melhor a fertilidade.
Uma nova noção de fertilidade surgiu quando o húmus foi
identificado como o alimento das plantas (Wallerius, 1761). Logo, a fertilidade
dependia exclusivamente da quantidade de húmus no solo (na Figura 31,
identificada como “c”). Surgiu assim, a teoria humista da fertilidade do solo. No
período em que esta noção de fertilidade prevaleceu, Thaer desenvolveu uma
nova avaliação e Mitterparcher abordou as práticas para regenerá-la. No
processo de avaliação de Thaer (1812), consideravam-se as proporções entre
a fertilidade exportada e a restituída. Mitterparcher (1794) recomendou a não
utilização do repouso por entender que degradava a terra. Provavelmente,
verificou isso pela comparação dos efeitos do repouso e do cultivo com adição
de esterco (o que era disponível na época) ou de nitrato de potássio. Nesse
caso, o repouso é muito inferior na melhoria da fertilidade. É possível verificar
nessa noção humista que a falta de conhecimento pode levar à formação de
conceito errôneo ou incompleto. Há, sim, uma relação entre a fertilidade (essa
expressa em produtividade) e o teor de húmus, mas a utilização do conteúdo
isoladamente não indica fertilidade, pois um solo com alto teor de matéria
orgânica pode ser de alto potencial produtivo, mas de baixa produtividade
devido à presença de outros fatores. Provavelmente, a avaliação e as práticas
para regenerar a fertilidade da noção “b” continuaram sendo utilizadas por, pelo
menos, 100 anos, período em que a noção humista “c” predominou.
A técnica da experimentação também foi fundamental no surgimento
da nova noção da fertilidade depois da humista. Com o progresso nas outras
ciências (física, química etc.) no século XVIII, muito conhecimento novo foi
transformado em tecnologia. A experimentação, com a tecnologia disponível
para as determinações químicas, permitiu um progresso muito grande na
identificação do(s) alimento(s) das plantas e o surgimento da noção mineralista
da fertilidade. A última mudança concreta na noção de fertilidade foi
determinada pelos trabalhos de Saussure (1804) e de Liebig (1842). Saussure
demonstrou que não era o húmus, mas os sais minerais contidos no húmus e
no solo o alimento das plantas e identificou os principais elementos minerais
que deveriam ser restituídos ao solo pela adubação (adição de substâncias
85
capazes de liberá-los em formas solúveis ao solo). A teoria mineralista (na
Figura 31, identificada como “d”) — a fertilidade é a riqueza do solo em
elementos minerais — foi construída por Liebig com base no trabalho de
Saussure. Assim, a base da noção de fertilidade passou a ser os sais solúveis
presentes no solo em vez do húmus, a teoria mineralista em vez da humista.
A nova noção mineralista da fertilidade determinou o surgimento de
novas metodologias de avaliação e mudanças nas práticas para sua
regeneração. Liebig, quando identificou e determinou os nutrientes essenciais
para a capacidade produtiva do solo pela análise química, quantificando
fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre etc., estabeleceu a avaliação para
a nova noção de fertilidade. Assim, a avaliação da fertilidade passou a ser feita
pela análise química em amostras de solo em laboratório; a da noção de
Columella, definitivamente, deixou de ser utilizada, inclusive o método das
proporções de Thaer. A noção mineralista remodelou as práticas para
regenerar a fertilidade; a adubação passou a ser a única prática recomendada
como capaz de restituir os minerais exportados pelas colheitas. Isso
determinou a diminuição do uso do repouso, da adubação verde, da adubação
com estercos e da rotação de culturas. Nesta noção, as faces física e biológica
deixaram de ser consideradas, embora a prática de arar o solo fosse utilizada
sempre na época, a avaliação continuou a ser feita somente da sua face
química. Outra contribuição importante à essa noção foi a de Gasparin ao
considerar a fertilidade em relação ao grau de solubilidade dos elementos que
as plantas assimilam do solo. Com essa percepção aprimorou a metodologia
de avaliação e, com os resultados obtidos, calculou a necessidade de
adubação. A identificação de muitos nutrientes essenciais às plantas e das
proporções dos elementos para compor os adubos também reforçou essa
noção.
A noção mineralista “d” predomina há um século e meio. Esta é a
base do conceito tradicional de fertilidade do solo — fornecer nutrientes e
manter a ausência de elementos tóxicos às plantas. Ainda no final do século
XIX, essa noção ou conceito para expressar a fertilidade do solo percebida
pelas plantas não satisfazia a muitos. Essa insatisfação aumentou no século
XX, contudo, a noção mineralista continua predominando e sendo amplamente
utilizada. Nesse, a avaliação da fertilidade foi aprimorada e o número de
86
indicadores químicos utilizados para avaliação, assim como a oferta e a
eficiência dos adubos minerais e de corretivos de acidez e de alcalinidade do
solo aumentaram. No século XX a noção de fertilidade utilizada não foi
exatamente a mineralista conforme concebida por Liebig, mas “quase” a
humomineralista, decorrente da percepção de Casali (1896) — um solo é fértil
somente se possui na sua constituição determinada quantidade de húmus em
relação aos minerais. Nesta concepção, além dos minerais, o teor de matéria
orgânica do solo também é avaliado, assim se manteve a tendência de reduzir
a fertilidade do solo apenas à reposição ou adição de elementos essenciais às
plantas, ou seja, às condições químicas do solo.
4.2 Análise da noção da fertilidade do solo no momento atual
A partir do final do século XIX surgiram inúmeras percepções de
fertilidade, diferentes da atual e entre si, porém nenhuma se impôs como uma
nova noção, ou seja, nenhuma foi amplamente utilizada em substituição à
mineralista. Entretanto, é evidente que o momento atual é propício à mudança
da noção de fertilidade do solo, mas não é claro ainda e nem é possível prever
exatamente qual será a nova noção. Essa evidência é sustentada na teoria
pelas discussões surgidas há mais de um século no mundo (Item 2.2.1.3) e
também no Brasil (Item 2.2.2), e na prática, pelos resultados que confirmam a
insuficiência da noção tradicional para expressar a fertilidade percebida pelas
plantas, principalmente em solos cultivados no SPD por muito tempo (Item 3.2).
No momento atual podem ser distinguidos principalmente quatro
grupos de pensadores a defender noções de fertilidade. O primeiro grupo —
Foth (1978); Hillel (1980); Coelho (1973); Soil Science Society of America
(1993); Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Cury et al., 1993); Tedesco
(1995); Rheinheimer & Kaminski (2004); Lopes et al. (2004) — continua
defendendo a noção mineralista, química ou tradicional da fertilidade (na Figura
31, identificada como “e
1
”). O segundo grupo — Oliva (1939); Freire et al.
(1988); Sims (1991); Mazzali (1994) — somente expressa dúvidas quanto ao
conceito e, dependendo do momento defende a química e/ou a necessidade de
uma nova noção (na Figura 31, identificada como “e
2
”). O terceiro grupo —
Oliva (1939); Casalicchio (1978); Hillel (1980); Zucconi (1996) — divide a
fertilidade em várias e atribui a ela “denominações” conforme a área de
87
interesse, sem a preocupação de encontrar ou definir uma nova noção, assim
não defende a noção mineralista e evita a reflexão sobre o assunto (na Figura
31, identificada como “e
3
”). Os integrantes do quarto grupo — Cillis (1936);
Scarponi (1949); Haussmann (1950); Catani et al. (1955); Mielniczuk et al.
(2004); Nicolodi et al (2004a); D’Agostini (2006); Nicolodi (2006); Schlindwein
(2006) — buscam um novo entendimento, isto é, defendem a necessidade de
uma nova noção capaz de expressar melhor a única fertilidade do solo (na
Figura 31, identificada como “e
4
”).
As diversas percepções, as vezes contraditórias, confirmam a insufi-
ciência da noção mineralista para expressar a fertilidade de alguns solos e
evidenciam que esse é um momento propício ao surgimento de uma nova
noção de fertilidade “e”, que poderá ocorrer em breve. Em relação a esta, é
possível somente especular de onde pode surgir, o que ela pode contemplar,
mas não prever qual e quando será amplamente utilizada, nem como será
avaliada. Contra a opinião dos que sustentam a noção mineralista “e
1
“ existem,
na prática, os resultados que comprovam a insuficiência desta noção (item 3.2)
e, na teoria, a permanência dos outros grupos insatisfeitos (e
2
, e
3
e e
4
) com ela.
A nova noção dificilmente surgirá dos grupos “e
2
“ e “e
3
“, nem estes voltarão a
se satisfazer com a noção mineralista. É provável que surja no grupo “e
4
“, isso
porque os componentes deste já perceberam e defendem a mudança na noção
ou de um novo conceito para expressar melhor a fertilidade do solo percebida
pelas plantas. Esse já superou a fase das dúvidas, refletiu mais sobre a
fertilidade, sobre o solo e sobre a interação entre estes, o ambiente e às
práticas agrícolas. Sabe-se, no entanto, que fertilidade deverá ser entendida de
modo amplo, como resultado das interações entre as faces ou condições
físicas, químicas e biológicas do sistema solo, ou seja, talvez como uma
propriedade emergente do sistema solo. Entretanto, embora a avaliação possa
ser diferente, às práticas comumente utilizadas para aumentá-la ou mantê-la
adubação mineral e orgânica (estercos e verde), correção da acidez ou
alcalinidade deverão ser acrescentadas a rotação e diversificação de
culturas, o menor revolvimento do solo e a eliminação dos períodos de
repouso. A aplicação do novo conceito deve aumentar e manter a fertilidade
dos solos, assim como aumentar a produção de alimentos e de matéria-prima
para o bem estar da humanidade e a preservar o ambiente.
5. FERTILIDADE COMO PROPRIEDADE EMERGENTE
E SOLO COMO SISTEMA SEDE
O solo é um sistema aberto e tem seu funcionamento determinado
pela interação entre os seus subsistemas e os sistemas do entorno. Essa
interação é influenciada pelos fluxos que o permeiam. Assim, o sistema solo se
mantém afastado do equilíbrio termodinâmico e está em constante evolução. O
sistema solo é formado somente a partir da ação do sistema vida sobre o
regolito ou da interação do sistema vida com a rocha matriz e com o clima. A
partir da ação da pedogênese sobre o regolito, este transforma-se em solo e
passa a ser dotado de fertilidade. Com a intensificação da interação entre os
sistemas vida e solo, emerge a propriedade fertilidade. A percepção de que
esta propriedade muda conforme o tipo de solo foi de grande importância,
principalmente nos primeiros milênios de atividade agrícola (Saltini, 1984a).
O sistema solo tem seu funcionamento alterado pelas condições
iniciais, pela magnitude dos fluxos de matéria e de energia e pelas interações
entre seus subsistemas e os sistemas vida — composto pelos subsistemas
planta, animal e homem — e clima. Conforme seu funcionamento, o sistema
solo se auto-organiza em diferentes níveis de ordem e gera propriedades
emergentes que o capacitam a exercer suas funções. Seu funcionamento pode
ser entendido a partir da identificação das suas principais funções para com os
sistemas e subsistemas e da interação com estes. As funções essenciais do
sistema solo para o subsistema planta são: dar suporte físico para o
desenvolvimento e para as trocas e armazenar e disponibilizar nutrientes, água
e oxigênio. Estas funções são cumpridas pelos seus subsistemas estrutural e
renovável, respectivamente. A interação entre estes subsistemas do sistema
solo permite a emergência de inúmeras propriedades, entre elas a fertilidade,
ou seja, desta interação emerge a fertilidade do sistema solo.
89
5.1. Solo, um sistema aberto
A percepção do solo, expressa no seu conceito, mostra que o seu
entendimento foi aprimorado com a termodinâmica clássica ou do equilíbrio —
adequada para o estudo dos sistemas fechados — mas o foi principalmente
com a termodinâmica do não-equilíbrio — desenvolvida para compreender o
funcionamento dos sistemas abertos — e com o modelo sistêmico.
No final do século XIX, o solo foi conceituado como depósito
superficial de formação mineral e orgânica, mais ou menos colorido de húmus,
resultado da ação mútua dos organismos vivos ou mortos (plantas e animais),
do clima e do relevo (Dokuchaev, 1879). Até o século XX, prevaleceu o
conceito de solo como meio para o crescimento das plantas (Saltini, 1984d);
nesse, as raízes das plantas podem se apoiar, buscar nutrimento e outras
condições para se desenvolver (Hilgard, 1914). Na década de 1930, a
percepção do solo começou a mudar com o uso da termodinâmica clássica
para aprimorar o seu entendimento. O solo foi entendido, então, como um
corpo natural, não consolidado (Joffe, 1936); dinâmico, em equilíbrio com o
ambiente (Kellogg, 1936); um organismo vivo (Pfeifer, 1938); e também como
um sistema, em que seus componentes da fase sólida estão física e
quimicamente em equilíbrio dinâmico com os das fases líquida e gasosa
(Camargo & Vageler, 1938).
Entretanto, o entendimento do solo como um sistema aberto foi
proposto pela primeira vez por Jenny (1941), resultado das interações entre o
clima, os organismos, o relevo, a rocha matriz e o tempo de formação. Faz
parte dos muitos grandes sistemas de que é composta a parte superior da
litosfera, a inferior da atmosfera e uma considerável parte da biosfera, e
substâncias podem ser adicionadas e removidas dele. Dez anos mais tarde,
Denbigh (1951), trabalhando com sistemas, concluiu que o conceito de
equilíbrio da termodinâmica clássica não era válido para sistemas abertos
como o solo. Em 1973, Runge (1973) considerou em seus estudos o solo como
um sistema aberto, e Chesworth (1973) usou a termodinâmica do não-equilíbrio
para entendê-lo.
O sistema solo tem uma organização hierárquica muito complexa e é
formado por uma rede de relações (Rozanov, 1975) entre seus subsistemas
(Dijkerman, 1974). Os fluxos de matéria e de energia através dos subsistemas
90
(“skeletron”, “solution” e “plasma”) do sistema solo interferem na sua
pedogênese (Hugget, 1976). Essa dinâmica é alterada com o tempo, por isso a
sua formação é um processo irreversível (Yallon, 1975). Segundo Chatelin et
al. (1982), isso mostra a importância da dedicação, principalmente dos
pedólogos, para entender o solo com base na Teoria Geral dos Sistemas de
Bertalanffy. Porém, com a aplicação desta teoria ao seu estudo, este não pode
mais ser analisado pela ação de um fator isolado. Nos sistemas de maior
complexidade, como é o solo, os elementos são interligados de tal modo que a
mudança de um fator tem um efeito imediato na mudança dos outros fatores
(Rozanov, 1982). Assim, o sistema solo deve ser entendido com base na
termodinâmica que trata das condições de não-equilíbrio e dos processos
irreversíveis (Neil et al., 1983). Segundo Phillips (1993), o seu funcionamento
deve ser estudado numa concepção sistêmica ou holística, devido às suas
relações serem não-lineares e dinâmicas. No Brasil, Almeida et al. (1988)
descreveram o solo como um sistema complexo, vivo e dinâmico que serve
também de suporte para o desenvolvimento das plantas, as quais fornecem
alimentos e matérias-primas para a atividade e o bem estar da humanidade.
Addiscott (1995), baseado na Teoria Geral dos Sistemas e na
termodinâmica do não-equilíbrio de Prigogine (Apêndice 8), propôs que o solo
seja entendido como um sistema aberto, que troca energia e matéria com o
ambiente, se mantém afastado do equilíbrio termodinâmico e é caracterizado
por produção mínima de entropia, pela predominância de processos de
ordenação sobre os de dissipação ao longo do tempo. Mielniczuk et al. (2000)
conceituaram o solo como um sistema aberto e complexo, composto por uma
intrincada rede de relações entre os subsistemas mineral, plantas e
organismos. O subsistema mineral é a conseqüência do intemperismo na
acidez e na disponibilidade de nutrientes no solo; o subsistema plantas é o
cultivo de plantas no solo, com a conseqüente adição de material orgânico,
energia e ciclagem de nutrientes; e o subsistema organismos é a atividade da
fauna e dos microrganismos do solo (Vezzani, 2001).
Assim, há pelo menos seis décadas, o solo é entendido como um
sistema aberto, em função dos fluxos de matéria e de energia que influenciam
o seu funcionamento e a sua evolução. É um sistema gerado pela interação
entre a rocha matriz, o clima e a vida prolongada no tempo, tem espessura
91
variável e ocupa a maior parte do manto superficial da extensão continental do
planeta terra, que tem seu funcionamento determinado pela interação entre os
seus subsistemas, influenciada pelos fluxos que o permeiam. Entretanto, a
idéia e a nomenclatura dos subsistemas adotados neste trabalho são diferentes
das utilizadas anteriormente (“skeletron”, “solution” e “plasma”) por Hugget
(1976) e (vegetal, organismos e matéria mineral) por Mielniczuk et al. (2000),
Vezzani (2001), Conceição (2002) e Schmitz (2003).
No sistema solo, a parte sólida (mineral e orgânica) determina as
propriedades e características físicas e químicas e a vida existente no solo, que
também são influenciadas pelas partes líquida e gasosa, e as reações (trocas
de energia e de matéria) no solo ocorrem em função da vida, tanto animal
(organismos e microrganismos) como vegetal (plantas). Neste trabalho, são
tratadas as principais interações com o sistema solo — formado pelos
subsistemas planta, animal
7
e homem — que se estabelecem entre este e os
sistemas clima e vida (Figura 32).
Figura 32. Principais sistemas e subsistemas que interagem com o sistema
solo.
7
Neste trabalho, são componentes do subsistema animal todos os seres vivos que não
pertencem aos subsistemas planta ou homem.
Sistema Solo
Sistema Clima
Subsistema
Planta
Subsistema
Animal
Sistema Vida
Subsistema
Homem
Sistema Solo
Sistema Clima
Subsistema
Planta
Subsistema
Animal
Sistema Vida
Subsistema
Homem
92
5.2. Formação do sistema solo e da sua fertilidade
O sistema solo é formado indiretamente da interação entre o regolito
ou saprólito, resultante da ação do clima sobre a rocha matriz, e a vida ou
diretamente da interação entre a rocha matriz, o clima e a vida. Nesse
processo, o regolito é estéril, depende da presença de água e de elementos
nutritivos para ter fertilidade e tornar-se adequado à vida das plantas
superiores. O acúmulo destes fatores, que diferenciam o regolito e o solo,
depende dos processos de erosão e da pedogênese. O primeiro conduz à
aquisição da água e termina na fase de regolito. O segundo submete as
substâncias nutritivas no solo aos ciclos geológico (liberação dos elementos
minerais) e biológico (síntese e destruição da substância orgânica). No ciclo
biológico, o desenvolvimento da fertilidade é determinado pela sucessão das
associações vegetais, relevo e rocha matriz num determinado ambiente. Para
que o regolito se torne fértil, ou seja, se transforme em solo, são necessárias
modificações qualitativas promovidas pelo processo de humificação. Somente
depois da ação da vida sobre o regolito, este pode se transformar em solo. O
solo, por definição, é um corpo natural caracterizado por determinado grau de
fertilidade. Esta é uma propriedade dinâmica resultante de múltiplos processos
evolutivos ligados à gênese do solo, possibilita o acesso continuo dos fatores
terrestres de crescimento como a água e os elementos nutritivos às plantas e é
a causa da produtividade das plantas que reside de maneira específica no solo
(Haussmann, 1950).
Com o passar do tempo, a intensidade das interações entre a rocha
matriz, o clima e a vida (planta, animal e homem) aumenta e acelera o
processo de formação do solo. A mudança na intensidade das interações se
reflete no grau de complexidade e tipo do solo formado (Figura 33). De acordo
com as características do clima, da rocha matriz e, principalmente, da vida, que
promove a transformação do regolito em solo, se forma um ambiente do qual
emerge determinada fertilidade. Com a intensificação da interação entre a vida
e o solo formado, emerge a propriedade fertilidade melhor que capacita o solo
a dar as condições para o bom desenvolvimento a um número maior de
espécies de plantas. A partir da percepção de que os solos têm diferentes
fertilidades, o homem começou a utilizar essa informação na seleção dos solos
para a agricultura e para a pecuária.
93
Figura 33. Relação entre o aumento do grau de complexidade do solo formado
e da sua fertilidade pelas interações entre o clima, a rocha matriz e a
vida no tempo.
5.3. Funcionamento e funções do sistema solo
Funcionamento se refere à manutenção do padrão de organização
entre os elementos que compõe e mantêm a “unidade” do sistema, ao
cumprimento das funções do sistema de interesse e ao seu desempenho no
cumprimento destas para com os principais sistemas e subsistemas que ele
interage. O funcionamento do sistema é influenciado pelas ações e reações
dos sistemas e subsistemas com os quais interage. Por isso, percebeu-se que
o funcionamento do sistema do solo pode ser entendido a partir da
identificação das suas principais funções ou propósitos para com os sistemas e
subsistemas que ele interage e destes para com ele. Conseqüentemente, para
entender o seu funcionamento, é importante conhecer os principais elementos,
forças e interações que estimulam os processos que possibilitam ao sistema
solo o cumprimento das suas funções.
O sistema solo tem o funcionamento alterado pelas condições
iniciais (tipo de solo), pela magnitude dos fluxos de matéria e de energia
(espécies e intensidade de cultivo) e pelas interações entre seus subsistemas.
Conforme o seu funcionamento, o sistema solo se auto-organiza em diferentes
níveis de ordem e gera propriedades emergentes que o capacitam a exercer
0,0
2,5
5,0
7,5
10,0
12345678910
Tempo
Grau de complexidade
Clima
Rocha matriz
Vida
Solo
(planta, animal, homem)
Fertilidade
Animal
Planta
Homem
0,0
2,5
5,0
7,5
10,0
12345678910
Tempo
Grau de complexidade
Clima
Rocha matriz
Vida
Solo
(planta, animal, homem)
FertilidadeFertilidade
Animal
Planta
Homem
94
suas funções (Vezzani, 2001; Conceição, 2002; Schmitz, 2003). Alterando-se o
funcionamento, muda-se também a sua trajetória evolutiva no tempo. Em
conseqüência do funcionamento e da trajetória evolutiva do solo,
constantemente em formação pela ação da vida sobre o regolito ou sobre a
rocha matriz, emerge uma fertilidade, pior ou melhor.
As funções do solo são estudadas por ser ele um sistema resultante
da coexistência de múltiplos componentes (químicos, físicos e biológicos), que
determina a sua fertilidade e influencia profundamente a vida das plantas
(Bonciarelli, 1980). Estas e os animais são as principais fontes de alimentos do
homem. Assim, a partir da década de 1990, as funções começaram a ser
identificadas, principalmente em pesquisas sobre qualidade
8
do solo, embora
raramente na literatura seja mencionado como são cumpridas (Larson &
Pierce, 1991; Doran & Parkin, 1994; Larson & Pierce, 1994; Biswas &
Mukherjee, 1995; Brady & Weil, 2002; Gregorich, 2002). As funções do sistema
solo identificadas por esses autores são:
1) Servir como meio para o crescimento das plantas:
1.1. Ancorar as raízes;
1.2. Receber, reter e liberar nutrientes; e
1.3. Receber, reter e liberar água;
2) Servir de habitat para os organismos do solo;
3) Servir como meio para obras de engenharia humana;
4) Regular os fluxos de água, de gases e de energia no ambiente;
5) Reciclar os materiais in natura e os produtos de descarte;
6) Responder ao seu manejo e resistir à sua degradação;
7) Sustentar a produtividade biológica;
8) Promover a saúde do homem, das plantas e dos animais;
9) Sustentar a vida de todas as criaturas.
A partir da revisão das funções, identificadas por esses autores, se
conclui que para entender melhor o objeto de estudo, no caso o solo, as
funções foram atribuídas de acordo com o entendimento e necessidade de
cada autor. Isso não significa que o objeto realmente tenha essas funções;
trata-se de um artifício útil para entender melhor como interagem outros objetos
com o objeto de interesse. Como a fertilidade do sistema solo é essencial para
95
o desenvolvimento e a produtividade das plantas, que são fundamentais para a
alimentação dos animais e dos homens, as funções do solo apresentadas a
seguir são “atribuídas”, neste trabalho, para o sistema vida, separadamente
para os seus subsistemas planta (1), animal (2) e homem (3).
1) Funções essenciais do sistema solo para o subsistema planta:
1.1. Dar suporte físico para o desenvolvimento e para as trocas;
1.2. Armazenar e disponibilizar nutrientes, água e oxigênio.
2) Funções essenciais do sistema solo para o subsistema animal:
2.1. Dar suporte físico para viverem sobre ou no interior do solo;
2.2. Servir de meio para produzir alimentos (cumprir a função 1).
3) Funções essenciais do sistema solo para o subsistema homem:
3.1. Dar suporte físico para viverem sobre o solo (cumprir a função 2.1.);
3.2. Servir de meio para produzir alimentos (cumprir a função 2.2.);
3.3. Purificar a água (cumprir a função 1.2.);
3.4. Tamponar a temperatura (cumprir a função 1.1.).
Devido ao interesse nas condições do sistema solo que possibilitam
o desenvolvimento e a produtividade das plantas, é dada ênfase, neste
trabalho, às funções do sistema solo para com o subsistema plantas, que são
cumpridas pelos seus subsistemas estrutural e renovável. O subsistema
estrutural representa as condições que permitem às raízes das plantas
crescerem e, ao mesmo tempo, dá espaço e ancoragem. O subsistema
estrutural cumpre a função de dar suporte físico para o desenvolvimento e para
as trocas para o subsistema planta. O renovável representa as condições que
possibilitam às plantas, através das suas raízes, absorverem no solo o que for
necessário para formarem a sua estrutura, crescerem e se reproduzirem. O
subsistema renovável cumpre, portanto, a segunda função do sistema solo de
armazenar e disponibilizar nutrientes, água e oxigênio para o subsistema
planta. O subsistema estrutural é mais estável que o renovável; este é mais
dinâmico sendo o estrutural, principalmente de controle endógeno e o
renovável, exógeno.
A função do subsistema estrutural para o planta é cumprida pela
interação entre as partículas do solo (areia, silte e argila), os ligantes químicos
8
Qualidade é o grau de ajustamento de um solo para um uso específico, ou seja, sua
habilidade ou capacidade de servir a uma função específica (Gregorich, 2002).
96
(CTC e CTA) ou orgânicos (exudatos e matéria orgânica) e a força (trabalho),
gerada pelo crescimento das raízes e pelo movimento dos animais e da água
no processo de agregação do solo. Os principais indicadores do seu
cumprimento são: crescimento das raízes, capacidade de infiltração de água,
proporção de agregados de dimensões diversas e resistência do solo à
deformação. A função do subsistema renovável para o planta é cumprida pela
interação entre a presença de água, de nutrientes, de oxigênio, de superfície
reativa (CTC e CTA), e da fauna e dos microrganismos, por um processo
químico, de equilíbrio elétrico entre a fase sólida e a solução do solo, e por
outro químico-biológico, de transformação dos nutrientes em formas
assimiláveis pelas plantas (ciclagem de nutrientes estimulada pelos organismos
vivos). Os principais indicadores do cumprimento desta função do solo são:
água disponível, CTC e CTA, atividade de comunidades biológicas específicas,
reserva e disponibilidade de nutrientes.
A função de servir como meio para produzir alimentos para os
subsistemas animal e homem é cumprida pela interação entre os subsistemas
estrutural e renovável. Essa interação determina as condições dadas pelo
sistema solo para o desenvolvimento e a produtividade das plantas. Logo, o
sistema solo, com seus subsistemas estrutural e renovável, cumpre as suas
principais funções para o sistema vida que são: 1) dar suporte físico; 2)
armazenar e disponibilizar nutrientes, água e oxigênio; 3) servir como meio
para produzir alimentos; 4) purificar a água; e 5) tamponar temperatura.
5.4. Fertilidade: uma propriedade emergente do sistema solo
A interação entre os subsistemas estrutural e renovável do sistema
solo permite a emergência de inúmeras propriedades, entre elas a fertilidade
(Figura 34). A fertilidade é a propriedade emergente
9
do sistema solo que
proporciona as condições necessárias para o sustento da vida das plantas
(desenvolvimento e produção em abundância); logo, ela só se manifesta na
presença delas. Como conseqüência, o sistema solo cumpre a sua função de
produzir alimentos para os subsistemas animal e homem e também matérias
primas para satisfazer as necessidades humanas.
9
Nas figuras representadas pelo símbolo estrela.
97
Figura 34. Fertilidade: uma propriedade emergente da interação entre os
subsistemas estrutural e renovável do sistema solo.
Fertilidade é um termo utilizado em Ciência do Solo para expressar o
resultado da ação dos fatores de produção no rendimento (grão, matéria seca,
teor de óleo etc.) de uma cultura. Não é constituinte do solo e não se pode
atribuir a ela uma medida direta. É uma propriedade projetada pelo homem
para entender melhor “o algo real” existente no solo, percebido e necessário
para a produtividade da planta. Assim, para avaliá-la, estimam-se outros
parâmetros e, pela grandeza destes, se determina o grau de fertilidade de um
solo. Isso, no entanto, é relativo, pois a expressão da fertilidade não depende
só dos fatores de solo, mas também do clima e, principalmente, da espécie
cultivada — pode ser adequada a um tipo de planta, mas não a outro.
A interação entre o clima e as características topográficas de uma
superfície (topocaracterística) determina diferentes topoclimas. As condições
meteorológicas se referem às pequenas mudanças no clima durante o ciclo da
cultura, que afetam o seu ciclo, mas são insuficientes para alterar o topoclima.
O desenvolvimento e a produtividade das plantas, freqüentemente
caracterizados como potencial do solo, são determinados pela interação entre
o subsistema planta (particularidades da espécie cultivada) e o ambiente
específico, formado pela fertilidade do sistema solo, pelo sistema vida e pelas
condições meteorológicas (Nicolodi, 2006; Figura 35).
Sistema Solo
Dar suporte físico para o
desenvolvimento e para as trocas
Armazenar e disponibilizar
nutrientes, água e oxigênio
Fertilidade
Ö
Subsistema estrutural
Subsistema renovável
Subsistema planta
Sistema Solo
Dar suporte físico para o
desenvolvimento e para as trocas
Armazenar e disponibilizar
nutrientes, água e oxigênio
Fertilidade
Ö
Subsistema estrutural
Subsistema renovável
Subsistema planta
98
Figura 35. Produtividade: uma propriedade emergente da interação entre o
subsistema planta, o sistema vida e um ambiente específico.
A agricultura é caracterizada pelo uso de um ambiente específico
pelo homem, componente do sistema vida (Figura 36). A agricultura gera
basicamente dois produtos: um chamado de produtividade (alimentos, grãos,
matéria seca etc.: produto primário); e outro de resíduo (raízes e parte aérea:
produto secundário). A quantidade e a qualidade do produto primário e
secundário dependem da interação entre o ambiente específico e o subsistema
planta. A conseqüência disso é, ou deveria ser, a realimentação ou a
regeneração dos subsistemas renovável e estrutural pelos resíduos das plantas
e pela adição de fertilizantes (adubos e corretivos). Assim, nesse ciclo, se
constrói a fertilidade que emergirá a cada cultivo do sistema solo. Os produtos
da agricultura servem principalmente para alimentar e satisfazer outras
necessidades dos subsistemas homem e animal. Esses interferem nos
subsistemas que concorrem para a sua geração. O produto primário é a
principal fonte de lucro da agricultura, e o secundário serve de alimento para os
organismos que vivem no solo e para a proteção do mesmo. Para o homem,
em geral gestor do ambiente, conhecer as principais interações entre o sistema
solo, o sistema vida — através de seus subsistemas planta, animal e homem
— e o topoclima, assim como as que influenciam a geração da fertilidade é
fundamental para a sua melhoria ou manutenção, bem como do sistema solo,
para a sustentabilidade na agricultura e para a melhoria e preservação do
ambiente.
Fertilidade
do sistema solo
Ambiente específico
Condições
meteorológicas
Subsistema planta
Produtividade
Ö
Sistema
vida
Fertilidade
do sistema solo
Ambiente específico
Condições
meteorológicas
Subsistema planta
Produtividade
Ö
Sistema
vida
99
Figura 36. Principais interações que possibilitam a continuidade da agricultura.
Subsistema
estrutural
Subsistema
renovável
Sistema
solo
Fertilidade
Subsistema
animal
Subsistema
planta
Sistema
vida
Subsistema
homem
Condições
meteorológicas
Resíduo
Topoclima
Ambiente
espefico
Produtividade
Agricultura
Para construir a agricultura
Produtos da agricultura
Para realimentar a agricultura
Subsistema
estrutural
Subsistema
renovável
Sistema
solo
Fertilidade
Subsistema
animal
Subsistema
planta
Sistema
vida
Subsistema
homem
Condições
meteorológicas
Resíduo
Topoclima
Ambiente
espefico
Produtividade
Agricultura
Para construir a agricultura
Produtos da agricultura
Para realimentar a agricultura
6. POSSÍVEIS AÇÕES PARA MELHORAR A AVALIAÇÃO E A
FERTILIDADE DO SOLO
6.1. A noção da fertilidade do solo no futuro
A reflexão sobre a evolução da noção e sobre a insuficiência do
conceito tradicionalmente utilizado indica que o momento atual é propício à
importante mudança na noção de fertilidade. Pela revisão histórica e pela
inquietação que, com freqüência, surge em relação à fertilidade do solo, um
novo conceito para esta deverá ser construído em breve, com alterações
também na sua avaliação e nas práticas para aumentá-la e mantê-la. Talvez
coexistam mais de um conceito de fertilidade numa mesma época, o tradicional
para solos cultivados no SC e um novo construído principalmente para os solos
cultivados no SPD com diversificação de espécies na rotação de culturas.
Afinal, um conceito não é algo imutável.
Com base nesse novo conceito, a fertilidade dos solos cultivados no
SPD não será avaliada somente por indicadores químicos e estes não serão
necessariamente os mesmos utilizados no SC; se forem os mesmos,
provavelmente, os teores críticos serão alterados. Além disso, é necessário
avaliar as condições biológicas e físicas do sistema solo, ou seja, os
indicadores da fertilidade devem expressar o funcionamento dos seus
subsistemas renovável e estrutural. Entre os indicadores do subsistema
renovável poderiam estar o fósforo disponível, o nitrogênio total, a CTC efetiva,
teor e taxa de decomposição da matéria orgânica e/ou umidade do solo.
Embora estes tenham sido os mais sensíveis em expressar as alterações do
sistema de cultivo não o foram para o rendimento de grãos, que é o principal
indicador da fertilidade do sistema solo (Figuras 26 e 27). Também poderiam
ser utilizados como indicadores deste subsistema o CO na fração do solo <53
µm
(Figura 37) ou a atividade de enzimas para avaliações específicas (Figura
38). Como indicadores do subsistema estrutural poderiam ser avaliados a
capacidade de retenção de umidade (Figuras 26, 27 e 37) e a distribuição dos
diâmetros dos agregados em classes (Figura 10).
101
0
250
Rendimento de grãos
Umidade
COT
CO > 53µm
CO < 53µmC microbiano
C-CO
CO
Estabilidade de
agregados
SC A/M
SPD A/M
SPD A+V/M+C
Figura 37. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho com
indicadores das condições químicas, físicas e biológicas do sistema
solo avaliados aos 15 anos do experimento conduzido em Eldorado
do Sul, nas parcelas com 180 kg ha
-1
de N [PVd: umidade, COT e
CO: 0-10 cm; CO
2
e EA: 0-7,5 cm; C microbiano e C-CO
2
: 0-5 cm;
referência: 100% = SC A/M sem N; adaptado de Conceição (2002)].
0
200
400
Rendimento de grãos
Respiração microbiana
Fosfatase ácida
Bglucosidase
Amidase
Urease
Arilsulfatase
Biomassa microbiana
Repouso
SPD A/M
SPD G/M
SPD A+V/M+C
Figura 38. Representação integrada (%) do rendimento de grãos de milho com
indicadores biológicos do sistema solo no SPD com diferentes
rotações de culturas, avaliados aos 19 anos do experimento
conduzido em Eldorado do Sul, nas parcelas com 180 kg ha
-1
de N
[PVd: 0-10 cm; referência: 100% = R; adaptado de Schmitz (2003)].
2
2
102
Um sistema de avaliação de fertilidade, com base no cumprimento
das funções pelos subsistemas estrutural e renovável do solo, poderia,
eventualmente, também ser considerado. Assim, um solo não tem fertilidade se
um ou ambos os subsistemas não cumprem com sua função para o subsistema
plantas. É rara essa situação, pois nada cresceria no solo. Por outro lado, um
solo tem fertilidade se os dois subsistemas cumprem com as suas funções para
as plantas. Nesse caso, a fertilidade é baixa quando esse cumprimento é feito
com dificuldade ou é alta se é feito com facilidade. Ao cumprir adequadamente
a função de sustentação e nutrimento para o subsistema planta, através dos
subsistemas estrutural e renovável, o sistema solo também cumpre a função
para os subsistemas animal e homem, através do subsistema planta, de
produzir alimentos, ou seja, o sistema vida depende do funcionamento dos
subsistemas estrutural e renovável do sistema solo.
6.2. Práticas para aumentar e manter a fertilidade do sistema
solo
As principais práticas agrícolas promovidas pelo homem que
influenciam o funcionamento do sistema solo e, conseqüentemente, a sua
fertilidade são: a diversidade de vida presente nele durante o ano, o sistema de
cultivo, o manejo dos resíduos das plantas, a taxa de revolvimento e a correção
dos teores dos nutrientes e da acidez ou alcalinidade do solo. Para melhorar a
capacidade de cumprir as suas funções, ou seja, para um bom funcionamento
do sistema solo, deve-se estimular a contínua interação entre ele e os
subsistemas planta, animal e homem conforme o topoclima. Isto pode ser feito
através de interferência nos sistemas solo e vida.
O funcionamento do sistema solo pode ser melhorado interferindo
nos seus subsistemas estrutural e renovável. As principais práticas para um
bom funcionamento do subsistema estrutural são: 1) estimular a diversidade de
vida (plantas e microrganismos); 2) manter sempre o solo cultivado; e 3) evitar
o revolvimento do solo e o uso de máquinas agrícolas com solo muito úmido.
Com estas práticas, é possível aumentar a superfície reativa e intensificar a
força mecânica que promove a agregação do solo e assim permitir ao solo
cumprir adequadamente a primeira função para o subsistema planta. Para que
haja um bom funcionamento do subsistema renovável, além dos três itens
103
mencionados anteriormente, é necessário manter alto o nível de disponibilidade
de nutrientes no solo. Essas práticas estimulam a ciclagem e a reserva de
nutrientes, aumentam a superfície reativa, melhoram a agregação do solo
(continuidade de poros, infiltração e circulação de água e trocas gasosas) e
facilitam o cumprimento da segunda função do sistema solo para o subsistema
planta, que é a armazenagem e disponibilidade de nutrientes, água e oxigênio.
As principais práticas para bom funcionamento do sistema solo são:
estimular o bom funcionamento dos subsistemas estrutural e renovável através
da diversidade de vida (plantas e microrganismos); corrigir o solo (nutrientes e
acidez ou alcalinidade); e manter o solo sempre cultivado com espécies de
diferentes sistemas radiculares que adicionem alta quantidade, e qualidade, de
material orgânico ao solo. Assim, estimula-se também a emergência de uma
fertilidade de magnitude
10
maior, pois a magnitude da fertilidade resulta da
interação entre os subsistemas do sistema solo. Para a agricultura (produção
de grãos), as práticas para bom funcionamento do sistema solo — com a
geração de fertilidade melhor — são o cultivo intensivo do solo no SPD com
diversificação de espécies na rotação de culturas, ausência de elementos
tóxicos e a alta disponibilidade de nutrientes para as plantas.
O funcionamento do sistema solo pode também ser potencializado
através do funcionamento do sistema vida. Este pode ser melhorado pela
diversidade de espécies utilizadas para o desenvolvimento e produtividade de
todos os seres vivos e pela seleção de espécies e cuidados no
estabelecimento das culturas (qualidade da semente, época de semeadura,
sistema de cultivo, rotação, controle de ervas daninhas, patógenos, parasitas e
fornecimento de nutrientes). Assim, é possível manter o equilíbrio entre
diversidade de vida num topoclima para obter qualidade de vida para todos.
6.3. A fertilidade do sistema solo e a sustentabilidade na
agricultura
Não existe agricultura sem fertilidade do solo; a agricultura só é
sustentável num solo com alta fertilidade. Os indicadores de fertilidade esta
uma propriedade emergente do funcionamento do solo como um todo são
10
As propriedades emergentes não são previsíveis como certezas de valor, mas como
tendência de comportamento (melhor, no caso da fertilidade maior, ou pior, no caso menor).
104
os mesmos da sustentabilidade da agricultura. A fertilidade, dizia Columella em
42 d.C., é uma capacidade do solo continuamente renovável pelas práticas
agrícolas adequadas e adubação abundante. A “função” do subsistema homem
é estimular esta renovação ou regeneração continuamente, assim a agricultura
será sustentável, evitando a escassez de alimentos e o aumento das aéreas
degradadas e/ou desérticas. O estímulo à regeneração da fertilidade deve ser
feito com base na diversificação de culturas, utilizando as práticas agrícolas
adequadas não somente às espécies cultivadas, mas também ao topoclima, a
fim de que a produtividade aumente, e o ambiente não se degrade.
7. CONCLUSÕES
No estudo da evolução da noção da fertilidade do solo, são
evidentes duas percepções: uma ampla denominada de “nutrimento das
plantas”, que integra as condições físicas, químicas e biológicas do solo, da
Antigüidade ao fim da Idade Média, e outra limitada “ao alimento (elementos)
das plantas”, restrita às condições químicas do solo, da Idade Moderna à
Contemporânea.
O conceito da fertilidade do solo que surgiu no século XIX —
fornecimento de nutrientes e ausência de elementos tóxicos para as plantas —
aumentou a fertilidade dos solos, principalmente dos ácidos e pobres em
nutrientes e, conseqüentemente, a produtividade das culturas — isso foi
verificado também no Planalto do Rio Grande do Sul nos últimos 40 anos —
sendo responsável pelo maior progresso da Humanidade em agricultura.
A capacidade dessa noção em expressar a fertilidade do solo
percebida pelas plantas vem sendo questionada na teoria desde o final século
XIX. Os resultados de campo deste trabalho confirmaram, na prática, a
insuficiência do conceito mineralista da fertilidade do solo ao não relacionar
adequadamente os indicadores tradicionais da fertilidade com o rendimento
das culturas, principalmente nos solos cultivados no sistema plantio direto por
longo período de tempo.
A análise dos dados obtidos na literatura e neste trabalho permite
concluir que o momento atual tem elementos teóricos e práticos suficientes —
a noção atual mineralista é insuficiente para expressar a fertilidade percebida
pelas plantas — para promover mudança na noção da fertilidade do solo.
A fim de expressar melhor a fertilidade percebida pelas plantas
principalmente nos solos cultivados no sistema plantio direto, um novo conceito
deve ser construído considerando o solo como um sistema aberto, que
funciona afastado do equilíbrio termodinâmico e se auto-organiza em novos
estados de ordem, sendo a fertilidade uma propriedade emergente, cuja
magnitude é função do nível de ordem do sistema solo.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Science, Oxford, v.46, n.2, p.161-168, 1995.
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o Estado do Rio de Janeiro. 2ed. Itaguaí: Ed. Universidade Rural, 1988. 179p.
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Recife: SBCS, 2005. CD ROM.
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YALLON, D.H. Conceptual models in pedogenesis: can soil-forming functions
be solved? Geoderma, Amsterdam, v.14, p.189-205, 1975.
ZANATTA, J.A. Estoque e labilidade do carbono em frações da matéria
orgânica de um Argissolo afetados por sistemas de manejo de solo. 2006.
113f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciência do
Solo, Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2006.
ZUCCONI, F. Declinio del suolo e stanchezza del terreno. Padova: Spazio
Verde, 1996. 291p.
9. APÊNDICES
117
Apêndice 1: Evolução da fertilidade em solos do Planalto do RS (Material
e métodos)
A evolução da fertilidade é avaliada pela comparação das
freqüências das faixas de interpretação e pelos valores médios dos seus
indicadores em levantamentos com abrangência determinada pelo objetivo de
cada estudo. Os levantamentos podem ser feitos a partir de resultados de
análises de amostras de solo enviadas pelos agricultores aos laboratórios da
Rede Oficial de Laboratórios de Análises de Solos RS/SC - ROLAS ou de
resultados de análises de amostras coletadas especificamente para avaliar a
fertilidade dos solos de um município ou de uma região.
Nos últimos 40 anos, foram feitos quatro grandes levantamentos de
fertilidade baseados nas amostras de solos enviadas aos laboratórios da
ROLAS: o primeiro, em 1968 com 27.814 análises (Porto, 1970), o segundo,
em 1981, com 41.226 análises (Tedesco et al., 1984), o terceiro, em 1988, com
58.528 análises (Drescher et al., 1995) e o último de 1997 a 1999 com 168.200
análises (Rheinheimer et al., 2001). Antes desses, levantamentos específicos
foram feitos para conhecer a fertilidade dos solos por município com as
“Operações Tatu”: em 1966, com 3.050 amostras de solo coletadas em Ibirubá
(Noskoski, 1971) e, em 1967, com 2.300 amostras de solo em Santa Rosa
(Carpenedo, 1967); e por região, em 1967 em dez regiões fisiográficas do RS,
cujos resultados foram utilizados no Plano Estadual de Melhoramento da
Fertilidade do Solo (ASCAR, 1969). Outros levantamentos específicos foram
feitos, em 1975, para avaliar os resultados da “Operação Tatu” em 20 lavouras
nos municípios de Espumoso, Tapera e Santa Rosa (Mielniczuk & Anghinoni,
1976), e em 1984, em 100 lavouras em Ibirubá pela EMATER (dados não
publicados). Os resultados desses levantamentos foram encontrados, exceto
os de Ibirubá feito em 1966, e utilizados nesta avaliação da evolução da
fertilidade nos solos da região produtora de grãos do Planalto do RS.
A principal ação desenvolvida no RS com objetivo estritamente
relacionado à fertilidade dos solos foram as “Operações Tatu”, que iniciaram
em Ibirubá e em Santa Rosa. Por isso e pela história agrícola desses
municípios, eles podem representar com a precisão desejada a região
produtora de grãos e também pela disponibilidade de informações da década
de 1960 sobre a fertilidade de seus solos, esses municípios tiveram a sua
118
fertilidade avaliada neste trabalho. Assim, é possível comparar os resultados
dos levantamentos feitos pelos laboratórios com os levantamentos específicos
por município e aumentar o grau de confiabilidade nas informações na
evolução da fertilidade nos solos do Planalto.
Em Ibirubá, como não foram encontrados os resultados do
levantamento feito em 1966, foram avaliadas lavouras distribuídas em seis
localidades no município. Em Santa Rosa, foram disponibilizados 100 laudos
de análises das amostras de solo coletadas em 1967, o que possibilitou
selecionar, dentro do grupo de agricultores identificados naqueles laudos de 37
lavouras que foram novamente avaliadas. A coleta das amostras dessas
lavouras foi feita em novembro de 2004, com amostragem em 40 lavouras em
Ibirubá e em 37 em Santa Rosa, na camada de 0 a 10 cm de profundidade do
solo. Esta camada de solo foi avaliada para contemplar os principais benefícios
do SPD ao solo, mais intensos a partir da superfície. Nas amostras de solo,
foram determinadas o pH, teor de matéria orgânica e de fósforo e potássio
disponíveis, conforme metodologia utilizada pelos laboratórios da ROLAS,
descrita em Tedesco et al., (1995). O rendimento de grãos não foi avaliado em
função dos danos provocados pela estiagem ocorrida na safra de verão
2004/2005 no RS.
119
Apêndice 2: Avaliações feitas nos experimentos de coberturas e de
preparos de solo na Estação Experimental Agronômica da
UFRGS em Eldorado do Sul (Material e métodos)
Em Eldorado do Sul, na Estação Experimental Agronômica da
UFRGS, foram avaliados dois experimentos: “Cobertura vegetal como
alternativa de conservação do solo” (Experimento 1) e “Preparos de solo e
cobertura vegetal como alternativa de conservação do solo” (Experimento 2)
(Figura A2.1), instalados em 1983 e 1985, respectivamente. Os mesmos foram
instalados pelo Prof. João Mielniczuk e atualmente são conduzidos por ele e
pelo Prof. Cimélio Bayer, do Departamento de Solos da Faculdade de
Agronomia da UFRGS, que foram disponibilizados para o presente trabalho.
Nos experimentos foram avaliadas amostras de solo, coletadas para
determinar os indicadores de fertilidade e agregação do solo, massa seca dos
resíduos das culturas de inverno (2005) e massa seca e rendimento de grãos
do milho (safra 2005/2006). Todos os tratamentos dos dois experimentos foram
cultivados com milho para possibilitar, neste trabalho, a avaliação dos efeitos
dos diferentes sistemas de cultivo, rotações de culturas e adubação
nitrogenada no desenvolvimento e rendimento de grãos de milho, usado como
indicador da fertilidade do solo. Assim, as avaliações foram feitas aos 22 e aos
20 anos da instalação dos experimentos de “Cobertura” e de “Preparos”,
respectivamente.
O solo dos experimentos é classificado como Argissolo Vermelho
distrófico (PVd) pela Classificação Brasileira de Solos (EMBRAPA, 1999).
Desde 1969 até a instalação dos experimentos a área foi cultivada no SC, por
isso na implantação era alta a degradação das características físicas, químicas
e biológicas do solo. Maiores detalhes da condução dos experimentos de
“Coberturas” em Pillon (2000) e Diekow (2003) e de “Preparos” Lovato (2001),
Conceição (2006), Zanatta (2006).
O delineamento do Experimento 1, “Cobertura Vegetal como
Alternativa de Conservação do Solo” (Figura A2.1), segue o delineamento
experimental blocos casualizados, os tratamentos estão distribuídos em
parcelas sub-subdivididas com três repetições. As duas parcelas principais são
uma descompactada e outra não descompactada (16 x 50 m), as dez rotações
de culturas constituem as subparcelas (5 x 16 m), desde o início duas doses de
120
adubação nitrogenada (0 e 120 até 1994 e após 0 e 180 kg ha
-1
de N)
constituem as sub-subparcelas (5 x 8 m) aplicadas no cultivo do milho. No
cultivo de milho avaliado neste estudo, safra 2005/06, por não se observar mais
efeito de descompactação, as subparcelas (5 x 16 m) foram consideradas
parcelas e as sub-subparcelas, subparcelas (5 x 8 m). Estas foram sub-
subdivididas (5 x 4 m) e nas sub-subparcelas 0 de N foram aplicadas doses 0 e
60 kg ha
-1
e nas 180 kg ha
-1
de N (antes de 1994, 120 kg ha
-1
de N) foram
aplicadas doses de 120 e 180 kg ha
-1
de N. Na instalação do experimento, foi
feita a adubação corretiva e a calagem, incorporadas ao solo com lavra a 20
cm de profundidade em toda a área. As espécies cultivadas eram manejadas
de acordo com as suas particularidades, com o solo revolvido somente na linha
no momento da semeadura e os resíduos mantidos na superfície do solo.
O delineamento experimental do Experimento 2, “Preparos de Solo e
Cobertura Vegetal como Alternativa da Conservação do Solo” (Figura A2.1) é
de blocos casualizados, com os tratamentos distribuídos em parcelas sub-
subdivididas com três repetições. Os sistemas de preparo ou cultivo do solo
constituem as parcelas principais (15 x 20 m), as três rotações de culturas as
subparcelas (5 x 20 m) e desde o início duas doses de adubação nitrogenada
(0 e 120 até 1994 e após 0 e 180 kg ha
-1
de N aplicadas no cultivo do milho
constituem as sub-subparcelas (5 x 10 m). No cultivo de milho avaliado neste
estudo, safra 2005/2006, as sub-subparcelas com as duas doses de N foram
divididas em duas (5 x 5 m), nas que eram 0 de N foram aplicadas doses 0 e
60 kg ha
-1
e nas 180 kg ha
-1
de N (antes de 1994, 120 kg ha
-1
de N) foram
aplicadas doses de 120 e 180 kg ha
-1
de N. Na instalação do experimento, em
1985, foi feita a adubação corretiva e a calagem (1 t ha
-1
calcário dolomítico),
incorporadas ao solo com lavra a 20 cm de profundidade em toda a área. Foi
feita calagem novamente no experimento em 1988, em 1992 e em 1996 (2 t ha
-1
calcário dolomítico). O manejo das culturas no inverno é feito com rolo faca,
sendo depois preparado o solo para a semeadura do milho no caso do SC e do
CM. O preparo e a incorporação do resíduo ao solo no SC é feita com uma
aração e duas gradagens, no CM com escarificador de hastes e, no SPD o solo
é revolvido somente na linha no momento da semeadura e os resíduos são
mantidos na superfície do solo.
Figura A2.1. Representação esquemática da localização do Experimento 1 “Cobertura vegetal como alternativa de conservação do
solo” e Experimento 2 “Preparos de solo e cobertura vegetal como alternativa de conservação do solo”, com a
distribuição dos tratamentos avaliados, conduzidos na Estação Experimental Agronômica da UFRGS em Eldorado do
Sul, em 2005/2006.
Experimento 2: Preparos e Cobertura Vegetal / Experimento 1: Cobertura Vegetal
Compactado
Descompactado
Kg N ha
-1
2005/06
A+V/M
P
G+L
A/M
A+V/M+C
A+V/M
G/M
R/M
R
L/M
A+V/M
G/M
A/M
R/M
A+V/M
L/M
R
P
G+L
A+V/M+C
R/M
P
L/M
A/M
A+V/M+C
G/M
R
A+V/M
G+L
A+V/M
180 60 120 0
180 60 120 0180 60 120 0
120 180 60 0
120 180 60 0 120 180 60 0
A+V/M+C
A/M
V/M
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
180 kg N ha
-1
0 Kg N ha
-1
SC CM SPD
Estrada vicinal
Galpão
BR 290 - Porto Alegre
Portão
Norte
como Alternativas de Conservação do Solo
Experimento 2: Preparos e Cobertura Vegetal / Experimento 1: Cobertura Vegetal
Compactado
Descompactado
Kg N ha
-1
2005/06
A+V/M
P
G+L
A/M
A+V/M+C
A+V/M
G/M
R/M
R
L/M
A+V/M
G/M
A/M
R/M
A+V/M
L/M
R
P
G+L
A+V/M+C
R/M
P
L/M
A/M
A+V/M+C
G/M
R
A+V/M
G+L
A+V/M
180 60 120 0
180 60 120 0180 60 120 0
120 180 60 0
120 180 60 0 120 180 60 0
A+V/M+C
A/M
V/M
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
180 kg N ha
-1
0 Kg N ha
-1
SC CM SPD
Compactado
Descompactado
Compactado
Descompactado
Kg N ha
-1
2005/06
A+V/M
P
G+L
A/M
A+V/M+C
A+V/M
G/M
R/M
R
L/M
A+V/M
G/M
A/M
R/M
A+V/M
L/M
R
P
G+L
A+V/M+C
R/M
P
L/M
A/M
A+V/M+C
G/M
R
A+V/M
G+L
A+V/M
180 60 120 0
180 60 120 0180 60 120 0
A+V/M
P
G+L
A/M
A+V/M+C
A+V/M
G/M
R/M
R
L/M
A+V/M
G/M
A/M
R/M
A+V/M
L/M
R
P
G+L
A+V/M+C
R/M
P
L/M
A/M
A+V/M+C
G/M
R
A+V/M
G+L
A+V/M
A+V/M
P
G+L
A/M
A+V/M+C
A+V/M
G/M
R/M
R
L/M
A+V/M
G/M
A/M
R/M
A+V/M
L/M
R
P
G+L
A+V/M+C
R/M
P
L/M
A/M
A+V/M+C
G/M
R
A+V/M
G+L
A+V/M
180 60 120 0
180 60 120 0 180 60 120 0180 60 120 0180 60 120 0180 60 120 0
120 180 60 0
120 180 60 0 120 180 60 0
A+V/M+C
A/M
V/M
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
120 180 60 0120 180 60 0
120 180 60 0120 180 60 0 120 180 60 0120 180 60 0
A+V/M+C
A/M
V/M
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
A+V/M+C
V/M
A/M
V/M
A+V/M+C
A/M
A/M
V/M
A+V/M+C
V/M
A+V/M+C
A/M
180 kg N ha
-1
0 Kg N ha
-1
180 kg N ha
-1
0 Kg N ha
-1
SC CM SPD SC CM SPD
Estrada vicinal
Galpão
BR 290 - Porto Alegre
Portão
Norte
como Alternativas de Conservação do Solo
122
Nos dois experimentos, o milho, híbrido Pioneer 32R21, foi semeado
na primeira quinzena de novembro, com adubação de base equivalente a 250
kg 00-20-20 (N-P
2
O
5
-K
2
O) por hectare em todos os tratamentos, com 90 cm de
espaçamento entre linhas entre 55 e 60.000 plantas por hectare. A adubação
nitrogenada, aplicação de N mineral, na forma de uréia, em cobertura no milho
foi feita no estágio fenológico V4, com 1/3 da dose, e no V6, com 2/3 da dose.
As amostras de solo foram coletadas na segunda quinzena de
outubro de 2005, antecedendo o cultivo do milho. Para as determinações
químicas foram coletadas amostras, compostas por duas subamostras, nas
camadas de 0-10 e 0-20 cm, coletadas numa faixa transversal a linha de
semeadura do milho cultivado na safra anterior. As amostras na camada 0-10
cm foram coletadas com espátula, cada subamostra correspondeu a uma fatia
de solo de 5 cm de espessura e 10 cm de largura, e de 10-20 cm com trado
calador (diâmetro de 2,5 cm), com quatro pontos por cada subamostra. Para
determinação de N mineral (nitrato + amônio) foram coletados 20 mL de solo,
colocados em frascos de vidro contendo 100 mL de solução 1M de KCl e
imediatamente. Em seguida, os frascos foram transportados ao laboratório e
mantidos a 4º C até a determinação. Também foram coletadas amostras de
solo para a determinação da umidade. Para análise de agregados, foram
coletadas com espátula duas amostras indeformadas de 10 cm x 10 cm na
camada de 0-10 cm por parcela, para cada tratamento avaliado.
Nas amostras de solo, foram determinados o pH em água, o índice
SMP e os teores de cálcio, de magnésio e de alumínio trocáveis, de matéria
orgânica, de potássio e de fósforo disponíveis (Mehlich 1), de nitrogênio
mineral e total e de umidade (Tedesco et al., 1995); o valor da acidez potencial
(H+Al) foi estimado pelo índice SMP utilizando-se a equação de Kaminski et al.
(2001) e a saturação por bases e por alumínio e CTC efetiva por cálculo.
A avaliação da distribuição de agregados estáveis em água foi feita
pela metodologia proposta por Carpenedo & Mielniczuk (1990) e utilizada por
Vezzani (2001). As amostras indeformadas de solo, na condição friável, foram
manualmente desagregadas até toda a amostra passar em peneira de 9,51 mm
de diâmetro. Os agregados foram secos à sombra por 72 horas. As amostras
com 50 gramas de solo seco ao ar foram umedecidas por capilaridade em
papel filtro. Após 16 horas de umedecimento, foram transferidas para tubos
123
plásticos de 1 L, com diâmetro de 9,5 cm e altura de 21 cm, contendo 0,5 L de
água e colocadas em agitador rotativo por 2 minutos a 16 rpm. A seguir, as
amostras foram transferidas para um conjunto de peneiras de 4,76; 2,00; 1,00;
0,50 e 0,25 mm de diâmetro de malha, acoplado em agitador vertical e inserido
em balde, contendo água em nível suficiente para cobrir a metade da parede
da peneira de 4,76 mm, quando na posição mais alta do processo de agitação.
As amostras foram agitadas verticalmente por 15 minutos com 42 oscilações
por minuto. Os agregados e as partículas de tamanho menor que 0,053 mm
foram obtidos adicionando à água do balde, 25 mL de alúmem de potássio a
5%, a fim de precipitá-los. Após 16 horas de sedimentação estes foram
coletados. Os agregados retidos em cada peneira e estes precipitados foram
secos por 24 horas a 105º C. Após seco, o material de cada peneira foi pesado
(Vezzani, 2001). Com os valores expressos em gramas, em cada peneira para
cada amostra, foi calculada a percentagem de agregados para cada classe [%
agregados = (massa de agregados na peneira “a” / somatório da massa dos
agregados em todas as peneiras) *100].
A massa seca dos resíduos das culturas de inverno foi avaliada
numa área de 0,5 x 0,5 m, com duas repetições por parcela. As amostras foram
secas a 75º C em estufa até peso constante, depois foram pesadas e o valor
transformado para hectare. Para avaliação da massa seca da cultura, foram
coletadas cinco plantas inteiras de milho por parcela. As amostras foram secas
a 75º C em estufa até peso constante, depois foram pesadas e o valor
transformado para hectare. A produtividade de grãos foi avaliada em área de
5,4 m
2
e 7,2 m
2
por tratamento nos experimentos um e dois, respectivamente.
A umidade dos grãos foi de 14%, mas os dados apresentados neste trabalho
não tiveram a umidade corrigida.
Todas as determinações foram feitas em todos os tratamentos dos
dois experimentos, exceto a agregação, que foi feita somente nos tratamentos:
SC: A/M; SC: V/M; SC: A+V/M+C; SPD: A/M; SPD: V/M; SPD: A+V/M+C; SPD:
P; R, sem adubação nitrogenada.
124
Apêndice 3. Avaliação da fertilidade do solo, da concentração de
nutrientes no tecido de plantas e do rendimento de grãos
da soja em lavouras conduzidas no SPD no Planalto Médio
do RS (Material e métodos)
As seis lavouras utilizadas para avaliação da fertilidade neste estudo
foram selecionadas pela alta variabilidade dos seus indicadores químicos para
bem representar às condições de campo, das lavouras cultivadas no SPD há
pelo menos cinco anos (consolidado). Elas foram selecionadas na região
produtora de grãos, isto é, no Planalto do RS, onde predomina o solo Latossolo
Vermelho distrófico (LVd), em três municípios: lavouras 1, 2 e 3 em Cruz Alta; 4
em Não-Me-Toque; 5 e 6 em Ibirubá. A área das lavouras, cultivadas com soja
(Glycine max), variou de 5 a 20 hectares. Os tratos culturais e a adubação (na
linha de semeadura) foram feitos conforme as Indicações Técnicas da Soja
RS/SC (2001) (Tabela A3.1). Embora a soja tenha sido manejada de modo
semelhante, era diferente a amplitude dos indicadores de fertilidade (Tabela
A4.3.) e o histórico de uso das lavouras (Tabela A3.2.) tradicional sobre campo
natural, é relativamente recente, especialmente a partir da década de 1990,
enquanto em Ibirubá e em Não-Me-Toque, a agricultura é praticada desde a
década de 1960 no SC e a partir do início da década de 1990 no SPD, por isso
nestes, a fertilidade do solo foi corrigida há mais tempo.
Foram avaliados 20 locais (1,0 x 1,2 m) em cada lavoura, exceto na
lavoura 3 que foram 14, distribuídos de modo a contemplar a heterogeneidade
do solo. Em cada local foi avaliado a concentração de nutrientes no tecido
vegetal e o rendimento de grãos da soja e os indicadores de fertilidade do solo.
O tecido vegetal foi coletado no estágio de pleno florescimento, coletando-se,
manualmente, 30 folhas no terço superior das plantas em cada local. Os locais
dentro de cada lavoura foram selecionados para contemplar as diferenças
visuais observadas no desenvolvimento das plantas. No momento da coleta do
tecido, os locais foram demarcados (identificados) para que os mesmos fossem
encontrados e avaliados após a maturação da soja. Após o final do ciclo da
soja (safra 2001/02) foi avaliado o rendimento de grãos nas plantas cortadas
manualmente com foice nos locais antes identificados, sendo processadas em
trilhadeira mecânica estacionária. O solo foi amostrado o solo nesses mesmos
locais, nas camadas de 0 a 10 e 10 a 20 cm de profundidade. Cada amostra foi
125
composta por três subamostras (de uma fatia de solo de 5 cm de espessura
por 40 cm de largura, centralizada na linha de semeadura), que foram
coletadas com pá-de-corte.
As plantas foram trilhadas, os grãos pesados e determinada a sua
umidade, que foi corrigida para 13% para o cálculo do rendimento. As amostras
de tecido vegetal foram secas em estufa na temperatura de 60
o
C, moídas, e
digeridas, a seco (EMBRAPA, 1997). Foi utilizada, como solução digestora de
HCl 1 mol L
-1
substituindo HNO
3
. Os teores de fósforo e potássio foram
determinados por colorimetria e fotometria de chama, respectivamente; o cálcio
e o magnésio, utilizando solução de Sr 0,3 % substituindo a solução de La 0,1
%, foram determinados por espectrofotometria de absorção atômica. Nas
amostras de solo, foram determinados o pH em água, o índice SMP, os teores
de cálcio, de magnésio e de alumínio trocáveis, de matéria orgânica, de
potássio e de fósforo disponíveis (Mehlich 1) (Tedesco et al., 1995); o valor da
acidez potencial (H+Al) foi estimado pelo índice SMP utilizando-se a equação
de Kaminski et al. (2001) e a saturação por bases e por alumínio por cálculo.
Os valores dos indicadores de fertilidade na camada de 0-20 cm
correspondem às médias das amostras de 0-10 e 10-20 cm, em cada local.
Para análise conjunta dos resultados das seis lavouras foi calculado o
rendimento relativo de grãos de soja atribuindo o valor de 100 ao rendimento
máximo em cada lavoura, e os demais valores proporcionais a esse. Foi
descartado um local dos avaliados em cada lavoura, aquele com resultados
mais incoerentes entre os indicadores de fertilidade e o rendimento de grãos.
Tabela A3.1. Amplitude dos valores de indicadores de fertilidade do solo nas
lavouras avaliadas no Planalto Médio do RS (Nicolodi, 2003)
Amplitude dos valores e teores dos indicadores de fertilidade do solo
Lavouras
Argila pH Alumínio Fósforo Potássio
Matéria
orgânica
Sat.
bases
0-20 cm ------------------------------------------0-10 cm----------------------------------------
%
cmol
c
dm
-3
mg dm
-3
mg dm
-3
% %
1. Cruz Alta 34 – 46 4,4 – 5,4 0,1– 1,1 5,1 – 30,4 67 – 204 2,0 - 3,4 24 – 75
2. Cruz Alta 34 – 35 4,8 – 5,6 0,1 – 1,1 3,0 – 15,6 50 – 176 2,1 - 2,9 40 – 68
3. Cruz Alta 40 – 44 4,3 – 5,2 0,2 – 2,0 2,3 – 28,0 13 – 156 2,4 - 2,7 19 – 63
4. Não-Me-Toque 70 – 75 5,0 – 6,2 0,0 – 0,3 6,7 – 36,6 35 – 290 3,6 - 3,9 57 – 81
5. Ibirubá 58 – 65 5,1 – 6,2 0,0 – 0,6 8,2 – 32,3 65 - 158 2,5 - 3,4 62 – 85
6. Ibirubá 62 – 64 4,9 – 6,6 0,0 – 0,2 3,2 – 25,7 55 - 231 3,3 - 3,8 50 – 91
Amplitude total 34 –75 4,3 – 6,6 0,0 – 2,0 2,3 – 36,6 13 – 290 2,0 - 3,9 19 – 91
126
Tabela A3.2. Tempo de cultivo do solo no SPD, amplitude e média do
rendimento de grãos de soja (safra 2001/02) e ultima adubação
e calagem nas lavouras avaliadas no Planalto Médio (Nicolodi, 2003)
Rendimento de grãos
Lavouras
Tempo
de SPD
Amplitude Média
Adubação
(N-P
2
O
5
-K
2
O)
Última aplicação de
calcário
anos - - - - - t ha
-1
- - - - - kg ha
-1
ano, t ha
-1
e modo
1. Cruz Alta 5 1,8 – 6,0 2,94 280 (02-20-30) 1998, 4, incorporado
2. Cruz Alta 9 2,7 – 4,2 2,48 250 (00-20-30) 1998, 2,7, superficial
3. Cruz Alta 8 0,3 – 3,4 2,10 280 (00-12-30) 1993, 4, incorporado
4. Não-Me-Toque 6 2,3 – 4,4 3,00 200 (00-20-30) 1995, 3, incorporado
5. Ibirubá 5 2,8 – 4,2 3,06 200 (00-20-30) 2000, 2,5, superficial
6. Ibirubá 9 2,1 – 3,0 3,00 200 (00-20-30) 1999, 2,3, superficial
Tabela A3.3. Histórico de cultivo da safra de verão 1998/99 a de inverno de
2001 das lavouras avaliadas no Planalto Médio (Nicolodi, 2003)
Verão 1998/99 Inverno 1999
Cultura Adubação
1
Rend. grãos Cultura Adubação
1
Rend. grãos
Lavouras
kg ha
-1
t ha
-1
kg ha
-1
t ha
-1
1. Cruz Alta soja
250
02-20-30
1,62*
aveia
preta
200
P natural
-
2. Cruz Alta milho
200
00-20-30
2,05* trigo
250
08-18-28
+ 200 uréia
1,64
3. Cruz Alta milho
175
02-20-20
1,56*
aveia +
azevém
- -
4. Não-Me-Toque milho
300
05-25-25
+ 100 uréia
5,10 cevada
250
05-25-25
2,28
5. Ibirubá soja
200
02-20-30
2,70 trigo
200
05-20-30
1,98
6. Ibirubá soja
200
02-20-30
2,70 trigo
200
05-20-30
2,10
Verão 1999/2000 Inverno 2000
1. Cruz Alta soja
250
02-20-30
1,80* trigo
200
05-20-30
2,10
2. Cruz Alta soja
200
00-20-30
1,68*
aveia +
azevém
- -
3. Cruz Alta soja 100 KCl 1,50*
aveia +
azevém
- -
4. Não-Me-Toque soja
200
00-20-30
2,40* trigo
230
05-25-25
2,10
5. Ibirubá soja
200
02-20-30
2,10* cevada
250
05-20-30
1,20
6. Ibirubá soja
200
02-20-30
2,88* trigo
200
05-20-30
1,80
Verão 2000/2001 Inverno 2001
1. Cruz Alta soja
250
02-20-30
3,12 trigo
200
05-20-30
1,80
2. Cruz Alta soja
200
00-20-30
2,52
aveia +
azevém
- -
3. Cruz Alta soja
200
00-20-30
1,98
aveia +
azevém
- -
4. Não-Me-Toque soja
200
00-20-30
3,48 trigo
230
08-18-28
2,88
5. Ibirubá soja
220
02-20-30
3,30 trigo
200
05-20-30
1,80
6. Ibirubá soja
190
02-20-30
3,18 cevada
200
05-20-30
1,92
1
N-P
2
O
5
-K
2
O ; * Prejudicado por precipitação pluviométrica abaixo da normal.
127
Apêndice 4: Avaliações feitas no experimento de uso e manejo e
conservação do solo na COTRISA em Santo Ângelo
(Material e métodos)
Em Santo Ângelo, no Centro de Atividades Agrícolas e Florestais da
Cooperativa Tritícola de Santo Ângelo – COTRISA, foi avaliado o experimento
“Uso e manejo e conservação do solo” (Figura A4.1.), instalado em 1979 por
Amando Dalla Rosa e conduzido por ele, João Becker e Giordani Desordi. No
experimento, foram avaliadas amostras de solo coletadas em outubro de 2004,
para determinar os indicadores de fertilidade do solo, e o rendimento de grãos
de soja (safra 2004/2005), aos 25 anos da instalação do experimento. Antes da
instalação do experimento, a área foi cultivada com trigo/soja por 15 anos e
estava em avançado processo de degradação física. O solo dos experimentos
é classificado como Latossolo Vermelho distroférrico (LVdf) pela Classificação
Brasileira de Solos (EMBRAPA, 1999). Maiores detalhes da condução do
experimento em Dalla Rosa (1981); Merten (1988) e Conceição (2006).
Inicialmente, o experimento contemplava quatro métodos de preparo
do solo (SC com arado de discos e duas gradagens; SC com arado “pé-de-
pato” e uma gradagem, CM: com escarificador e SPD) e cultivo continuo em
trigo/soja. No SPD eram avaliadas sete rotações de culturas. Todos esses
tratamentos foram conduzidos com e sem a descompactação mecânica do
solo. No decorrer dos anos foram feitas algumas modificações no experimento.
em 1985, foram eliminados o tratamento de compactação e o SC com “pé-de-
pato” e introduzido o cultivo do milho e os tratamentos com nitrogênio. Em 1999
todo o experimento passou a ser cultivado com uma única rotação de culturas,
mantendo os sistemas de preparo e a adubação nitrogenada (Tabela A4.1).
O delineamento do experimento segue o de blocos casualizados,
com quatro repetições. Os sistemas de preparo de solo constituem as parcelas
principais (5 x 10 m). Nas subparcelas estão as culturas (rotação T/S e A/M),
nas subsubparcelas as doses com e sem nitrogênio. No SPD tem-se também
três rotações de culturas e três leguminosas antecedendo a cultura do milho.
Foi adicionado calcário na implantação do experimento (4,7 t ha
-1
), em 1985 (2
t ha
-1
+ 1 t ha
-1
de gesso agrícola), e em 1992 (4 t ha
-1
). A adubação das
espécies cultivadas é feita conforme as recomendações da Comissão de
Química e Fertilidade do Solo (CQFS RS/SC, 2004).
128
Tabela A4.1. Resumo da seqüência de culturas utilizadas ao longo da
condução do experimento na COTRISA (Conceição, 2006)
Sistemas de cultivo
Período
SC SPD
1979-1985 T/S T/S Rotação
1
1986-1999 T/S A/M T/S A/M Rotação
1999/2000 T/S T/S
2000/2001 T/M T/M
2001/2002 A/S A/S
2002/2003 N/M N/M
2003/2004 T/S T/S
2004 N N
1
SPD - rotação de culturas: T (1979), S (1979/1980), Tç (1980), M (1980/1981), Cz (1981), Sg
(1981/1982), T (1982), S (1982/1983), Tç (1983), M (1983/1984), T (1985), S (1985/1986), Tç
(1986), S (1986/1987), Tç (1987), M (1987/1988), Cz (1988), S (1988/1989), Cz (1989), S
(1989/1990), T (1990), S (1990/1991), A+Tv (1991), M (1991/1992), Cz (1992), S (1992/1993),
T (1993), S (1993/1994), A+Tv (1994), M (1994/1995), Cz (1995), S (1995/1996), T (1996), S
(1996/1997), A+Tv (1997), M (1997,1998), Cz (1998), S (1998/1999).
Para este trabalho foram amostradas o solo nas parcelas dos
tratamentos destacados em negrito na Figura A6.1. As amostras de solo, nas
camadas de 0-2,5; 2,5-5,0; 5,0-7,5; 7,5-10,0 e 10-20 cm, foram coletadas em
outubro de 2004. As amostras foram coletadas com pá-de-corte, compostas
por três subamostras, de 5 cm de espessura por 20 de largura centralizadas na
linha de semeadura da cultura de inverno. Nas amostras de solo, foram
determinados o pH em água, o índice SMP, os teores de cálcio, de magnésio e
de alumínio trocáveis, de matéria orgânica, de potássio e de fósforo disponíveis
(Mehlich 1) (Tedesco et al., 1995); o valor da acidez potencial (H+Al) foi
estimado pelo índice SMP utilizando-se a equação de Kaminski et al. (2001) e
a saturação por bases e por alumínio e CTC efetiva por cálculo.
Figura A4.1. Representação esquemática dos tratamentos no experimento de
sistemas de cultivo de 1999 a 2004 conduzido na COTRISA em
Santo Ângelo (em negrito os tratamentos avaliados)
C/N
S/N
C/N
S/N
C/N
S/N
SPD rotação
SPD rotação
SPD rotaçã
o
SPD rotação
SC T/S
SC T/S
SPD rotação
SPD rotação
SPD rotaçã
o
SPD rotação
SC A/M
SC A/M
SPD rotação
SPD rotação CM T/S CM T/S
SPD T/S
SPD T/S
SPD rotação
SPD rotação CM A/M CM A/M
SPD A/M
SPD A/M
Terraço
SPD rotação
SPD rotação
SPD rotaçã
o
SPD rotação
SC T/S
SC T/S
SPD rotação
SPD rotação
SPD rotaçã
o
SPD rotação
SC A/M
SC A/M
SPD rotação
SPD rotação CM T/S CM T/S
SPD T/S
SPD T/S
SPD rotação
SPD rotação CM A/M CM A/M
SPD A/M
SPD A/M
129
Apêndice 5: Avaliações feitas no experimento de “Sistemas de preparo de
solo” na EMBRAPA Trigo, em Passo Fundo (Material e
Métodos)
Em Passo Fundo, na EMBRAPA – Trigo foi avaliado um
experimento: “Alternativas de diferentes sistemas de preparo do solo no rendi-
mento da cevada”, instalado em 1983 e conduzido pelos pesquisadores
Rainoldo Alberto Kochhann e José Eloir Denardin. No experimento foram
avaliadas amostras de solo coletadas em outubro, 2004, para determinar os
indicadores de fertilidade e rendimento de grãos de soja (safra 2004/2005), aos
21 anos da instalação do experimento.
O solo dos experimentos é classificado como Latossolo Vermelho
distrófico (LVd) pela Classificação Brasileira de Solos (EMBRAPA, 1999). O
delineamento do experimento segue o de blocos casualizados, com quatro
repetições (Figura A5.1). Os sistemas de preparo de solo (SC: uma aração e
duas gradagens antecedendo a implantação das culturas; CM: escarificação e
uma gradagem; SPD: revolvimento somente na linha no momento da
semeadura e manutenção dos resíduos na superfície do solo) constituem as
parcelas principais (5 x 10 m), e as rotações de culturas alternadas no tempo
(Tabela A5.1) as subparcelas. Em 1989 foram incorporadas 7 t ha
-1
de calcário
em todas as parcelas. A adubação de cada espécie cultivada no experimento é
feita na linha de semeadura conforme as recomendações da Comissão de
Química e Fertilidade do Solo (CQFS RS/SC, 2004).
As amostras de solo foram coletadas nas camadas de 0-5; 5-10 e
10-20 cm, com pá-de-corte, compostas por três subamostras, de 5 cm de
espessura por 20 de largura centralizadas na linha de semeadura da cultura de
inverno. Nas amostras de solo, foram determinados o pH em água, o índice
SMP, os teores de cálcio, de magnésio e de alumínio trocáveis, de matéria
orgânica e de potássio e de fósforo disponíveis (Mehlich 1) (Tedesco et al.,
1995); o valor da acidez potencial (H+Al) foi estimado pelo índice SMP
utilizando-se a equação de Kaminski et al. (2001) e a saturação por bases e
por alumínio e CTC efetiva por cálculo. A produtividade de grãos da soja é
avaliada numa área de 12,8 m
2
por tratamento, determinada a umidade dos
grãos e corrigida para 13% e a área para hectare.
130
Figura A5.1. Representação esquemática dos tratamentos com rotação
S/Cv/S/V/Sg/Ab alternada no experimento de sistemas de
cultivo, conduzido na EMBRAPA Trigo em Passo Fundo
Tabela A5.1. Espécies cultivadas na rotação de culturas nos três sistemas de
cultivo no experimento na EMBRAPA Trigo em Passo Fundo
Espécies cultivadas
1
Safra / ano
Bloco I Bloco II Bloco III
Inverno 1990 V Ap Cv
Verão 1990/1991 M S S
Inverno 1991 Ap Cv V
Verão 1991/1992 S S M
Inverno 1992 Cv V Ap
Verão 1992/1993 S M S
Inverno 1993 V Ap Cv
Verão 1993/1994 M S S
Inverno 1994 Ab Cv V
Verão 1994/1995 S S S
Inverno 1995 Cv V Ab
Verão 1995/1996 S Sg S
Inverno 1996 V Ab Cv
Verão 1996/1997 Sg S S
Inverno 1997 Ab Cv V
Verão 1997/1998 S S Sg
Inverno 1998 Cv V Ab
Verão 1998/1999 S Sg S
Inverno 1999 V Ab Cv
Verão 1999/2000 Sg S S
Inverno 2000 Ab Cv V
Verão 2000/2001 S S Sg
Inverno 2001 Cv V Ab
Verão 2001/2002 S Sg S
Inverno 2002 V Ab Cv
Verão 2002/2003 Sg S S
Inverno 2003 Ab Cv V
Verão 2003/2004 S S Sg
Inverno 2004 Cv V Ab
Verão 2004/2005 S Sg S
1
S: soja; M: milho; Cv: cevada; Ap: aveia preta; Ab: aveia branca; Sg: sorgo; V: vica/ervilhaca.
Bloco I Bloco II Bloco III
SC11 SPD31 CM21 SPD31 CM21 SC11 SPD31 SC12 CM23 SPD34
SPD32 CM22 SC12 CM22 SC12 SPD32 SC11 SPD32 SC13 CM24
CM23 SC13 SPD33 SC13 SPD33 CM23
SPD34 CM24 SC14 SPD34 CM24 SC14
CM21 CM22 SPD33 SC14
131
Apêndice 6. Valores do rendimento de grãos e dos indicadores de
fertilidade do solo relativos (%) ao SC A/M (= 100%)
avaliados na safra 2005/06 em experimentos conduzidos há
mais de 20 anos em Eldorado do Sul (PVd: 0-10 cm)
P K Al
1
Ca Mg
Históricos de
cultivo
Rend.
pH
água
disponíveis
trocáveis
CTC
efetiva
MO
N
total
V m
1
Umi-
dade
Adubação nitrogenada no milho: 0 kg de N por hectare
SC A/M = 100% 100 100 4 100 4 100 100 100 100 100 100 20 100
SC V/M 208 87 329 83 329 75 76 93 111 112 73 360 112
SC A+V/M+C 162 89 169 98 169 81 82 92 118 125 84 186 112
SPD A/M 168 101 0 106 0 113 116 113 114 130 104 0 102
SPD V/M 349 89 164 91 164 86 104 101 139 148 80 166 113
SPD A+V/M+C 342 90 129 94 129 104 113 113 158 159 86 116 124
Adubação nitrogenada no milho: 180 kg de N por hectare
SC A/M = 100% 100 100 25 100 25 100 100 100 100 100 100 25 100
SC V/M 121 88 188 79 188 69 79 97 108 107 64 194 102
SC A+V/M+C 111 93 93 98 93 83 93 98 111 111 87 95 109
SPD A/M 165 99 32 77 32 102 122 106 125 121 102 31 110
SPD V/M 164 88 168 95 168 71 99 103 146 148 64 163 116
SPD A+V/M+C 136 87 139 78 139 88 107 109 156 160 69 128 127
Tratamentos com e sem adubação nitrogenada no milho: 0 e 180 kg de N por hectare
Rend. Rend./4
P
disponível
MO
Mg
trocável
CTC
efetiva
N total Umidade
SC A/M: 0 = 100% 100 25 100 100 100 100 100 100
SC V/M: 0 208 52 85 111 76 93 112 112
SC A+V/M+C: 0 162 40 71 118 82 92 125 112
SPD A/M: 0 168 42 291 114 116 113 130 102
SPD V/M: 0 349 87 142 139 104 101 148 113
SPD A+V/M+C: 0 342 85 139 158 113 113 159 124
SC A/M: 180 416 104 89 104 80 88 108 101
SC V/M: 180 505 126 66 113 63 85 116 103
SC A+V/M+C: 180 463 116 75 116 75 86 120 111
SPD A/M: 180 686 172 174 130 98 93 131 111
SPD V/M: 180 685 171 122 152 79 90 161 117
SPD A+V/M+C: 180 565 141 159 162 86 96 174 129
1
Nos tratamentos sem N: Al/25 e m/5, nos com 180 kg de N Al/4 e m/4.
132
Apêndice 7. Resultados dos experimentos de Eldorado do Sul, Passo
Fundo e Santo Ângelo utilizados para testar capacidade da
técnica de normalização para expressar níveis da fertilidade
Foram utilizados os resultados dos indicadores da fertilidade do solo
e rendimento de grãos das culturas dos experimentos conduzidos em Eldorado
do Sul (Apêndice 2), em Passo Fundo (Apêndice 5) e em Santo Ângelo
(Apêndice 4), avaliados em diferentes épocas, independentemente do sistema
de cultivo, da rotação de culturas ou do tipo de adubação, para testar a
capacidade da técnica da normalização em expressar diferentes níveis de
fertilidade do solo.
Os resultados reais das avaliações feitas em Eldorado do Sul
(Tabela A7.1.), em Passo Fundo (Tabela A7.2.) e em Santo Ângelo (Tabela
A7.3.) foram normalizados, ou seja, aos valores mínimo e máximo reais de
cada indicador, em cada local, foram atribuídos valores zero e 100,
respectivamente. A fórmula para normalização dos resultados foi: X (valor
normalizado entre zero e 100) = ((valor real no ponto – valor real mínimo) x
100) / (valor real máximo – valor real mínimo). Em alguns testes, para o
rendimento de grãos, foram utilizados calculados e utilizados os valores
relativos (mínimo possível = zero e o máximo obtido em cada local como 100%)
ao invés dos absolutos. Também os indicadores do solo foram normalizados
considerando a amplitude dos indicadores normalmente encontrada nos solos;
os valores mínimos como zero e os valores máximos como 100.
Tabela A7.1. Valores e teores dos indicadores de fertilidade do solo, na
camada de 0-10 cm e do rendimento de grãos de milho
avaliados desde o início da condução dos experimentos de
“Cobertura” (1983) e de “Preparos” (1985) do solo até 2006 em
Eldorado do Sul, utilizados para avaliação da técnica da
normalização para expressar níveis de fertilidade dos solos
Ano* Sistema de cultivo Rend. pH P K Al MO V m
t ha
-1
-----mg dm
-3
-----
cmol
c
dm
-3
------------%-------------
SC A/M c/N 4,7 5,3 9 79 2,2
SC A/M s/N 3,4 5,3 9 79 2,2
SC A+V/M+C c/N 2,9 5,3 9 79 2,2
SC A+V/M+C s/N 2,2 5,3 9 79 2,2
SPD A/M c/N 4,6 5,3 9 79 2,2
SPD A/M s/N 2,3 5,3 9 79 2,2
SPD A+V/M+C c/N 2,9 5,3 9 79 2,2
1985
1
SPD A+V/M+C s/N 1,9 5,3 9 79 2,2
SPD A+V/M+C s/N 3,3 2,8
SPD G/M s/N 3,6 3,3
1986
2
SPD R/M s/N 0,9 2,2
133
SPD A+V/M+C s/N 2,0 5,4 34 173 3,4
1987
3
P s/N 6,1 5,6 28 171 3,2
SPD A+V/M+C s/N 4,7 5,5 64 247 2,5 53
SPD G/M s/N 6,2 5,4 64 241 3,1 54
SPD R/M s/N 2,3 5,3 48 167 2,0 52
P s/N 2,5 5,6 2,3 58
1988
4
R s/N 1,9 5,3 1,9 51
SC A/M s/N 2,9 5,1 82 200 2,9
SC A+V/M+C s/N 3,9 5,1 66 135 2,9
SPD A/M s/N 2,4 5,0 100 161 3,3
1990
5
SPD A+V/M+C s/N 3,2 5,0 130 135 3,7
SPD A+V/M+C s/N 3,8 2,6
SPD G/M s/N 4,6 3,3
1991
6
SPD R/M s/N 2,4 2,3
SPD A+V/M+C s/N 6,4 5,1 112 2,7 47
SPD G/M s/N 6,2 5,1 201 3,4 54
SPD R/M s/N 2,2 5,3 160 2,0 55
P s/N 1,3 5,6 126 0,2 2,6 58 6
1993
7
R s/N 2,0 5,4 110 0,1 1,9 51 3
SPD A+V/M+C c/N 6,2 0,4 11
SPD A+V/M+C s/N 3,3 2,5
SPD R/M s/N 2,0 1,9
SC A/M s/N 1,7 2,7
SC A+V/M+C s/N 4,4 3,1
SPD A/M s/N 2,1 3,2
1994
8
SPD A+V/M+C s/N 3,8 4,4
SPD A+V/M+C s/N 6,8 5,1 72 73 1,2 2,4
SPD G/M s/N 6,8 5,3 74 61 0,4 3,0
SC A/M s/N 1,5 5,7 75 81 0,0
SC A+V/M+C s/N 6,0 5,1 61 45 0,9
SPD A/M s/N 2,0 5,8 62 90 0,2
1997
9
SPD A+V/M+C s/N 4,9 5,5 70 82 0,5
SC A/M c/N 5,2 5,2 29 172 0,3 2,1 60 3,2
SC A/M s/N 1,3 5,6 32 202 0,1 1,7 65 0,8
SC A+V/M+C c/N 11,5 5,2 27 153 0,6 2,2 51 9,2
SC A+V/M+C s/N 5,2 5,2 30 262 0,3 2,1 58 4,2
SPD A/M c/N 9,9 5,6 40 177 0,2 2,4 63 3,5
SPD A/M s/N 2,0 5,6 66 174 0,1 2,2 63 2,5
SPD A+V/M+C c/N 9,8 5,4 52 167 0,3 2,9 58 4,4
1998
10
SPD A+V/M+C s/N 5,9 5,6 65 199 0,2 2,7 59 3,1
SPD A+V/M+C s/N 5,7 5,0 2,7
1999
11
SPD R/M s/N 2,6 5,4 2,2
SPD A+V/M+C s/N 4,1 4,6 33 138 0,4 2,5 52 4
SPD G/M s/N 7,8 4,8 36 229 0,2 3,0 64 1,6
SPD R/M s/N 2,6 5,0 41 163 0,1 1,8 64 1,3
SC A/M c/N 10,5 2,3
SC A/M s/N 1,6 1,8
SPD A/M c/N 10,5 2,5
2000
12
SPD A+V/M+C c/N 11,4 3,0
SPD A+V/M+C s/N 4,0 4,7 45,7 262 1,6 2,6 29 26
SPD G/M s/N 4,4 4,6 46,7 231 1,1 2,9 36 17
SPD R/M c/N 7,4 4,6 34,1 220 2,1 2,2 27 35
2002
13
SPD R/M s/N 1,3 4,9 58,7 236 1,0 2,0 43 15
SC A/M c/N 9,8 4,9 31,3 0,3 2,1
SC A/M s/N 2,9 4,9 21,3 0,2 2,0
SC A+V/M+C c/N 10,4 4,8 14,6 0,6 2,5
SC A+V/M+C s/N 4,6 4,5 18,1 0,4
SPD A/M c/N 9,2 5,1 44,6 0,3 2,9
SPD A/M s/N 2,0 5,3 63,9 0,2 2,5
SPD A+V/M+C c/N 11,0 4,5 49,2 0,6 3,6
2003
14
SPD A+V/M+C s/N 6,8 4,3 43,5 0,3 3,3
134
SPD A+V/M+C c/N 8,3 4,5 18,5 207 1,2 2,8 27 27
SPD A+V/M+C s/N 4,3 4,8 21,6 214 0,9 2,6 38 21
SPD G/M c/N 8,8 4,6 32,6 241 0,8 4,5 39 13
SPD G/M s/N 9,2 4,6 38,1 217 0,7 4,4 42 11
SPD R/M c/N 10,0 5,0 24,4 241 0,5 2,3 47 11
SPD R/M s/N 3,7 5,2 39,5 235 0,4 1,9 49 9
P s/N 3,6 5,6 7,7 194 0,0 2,7 57 1
R s/N 3,0 4,9 9,3 128 0,9 1,8 40 23
SC A/M c/N 5,7 5,4 15 176 0,2 1,8 57 4
SC A/M s/N 1,4 5,8 17 171 0,0 1,7 64 0
SC A+V/M+C c/N 6,4 5,1 13 172 0,6 2,0 49 14
SC A+V/M+C s/N 2,2 5,2 12 168 0,4 2,1 54 9
SPD A/M c/N 9,4 5,4 30 136 0,2 2,3 58 4
SPD A/M s/N 2,3 5,8 49 181 0,0 2,0 67 0
SPD A+V/M+C c/N 7,8 4,7 27 138 0,9 2,8 39 18
2005
SPD A+V/M+C s/N 4,7 5,2 24 160 0,3 2,7 55 6
*Valores adaptados de:
1
Freitas (1988);
2
Teixeira (1988);
3
Cattelan (1989);
4
Testa (1989);
5
Bayer (1992);
6
Pavinato (1993);
7
Burle (1995);
8
Bayer (1996);
9
Rheinheimer (2000);
10
Carballo
(2004);
11
Pillon (2000);
12
Conceição (2002);
13
Vieira (2007);
14
Zanatta (2006).
Tabela A7.2. Valores e teores dos indicadores de fertilidade do solo, na
camada de 0-20 cm, e do rendimento de grãos de soja avaliados
no experimento desde 1985 até 2004 em Passo Fundo,
utilizados para avaliação da técnica da normalização para
expressar níveis de fertilidade dos solos (rotação
S/Cv/S/V/Sg/Ab alternada nos três sistemas de cultivo)
Ano* Sistema de cultivo Rend. pH P K Al MO V m
t ha
-1
-----mg dm
-3
-----
cmol
c
dm
-3
------------%-------------
SC 1,9 5,2 18 82 0,5 3,8
CM 1,9 5,2 22 82 0,5 3,6
1985
SPD 1,7 5,1 17 75 0,6 3,6
SC 1,8 5,6 22 96 0,2 3,0
CM 1,8 5,6 25 96 0,3 3,0
1986
SPD 1,8 5,6 19 89 0,3 3,0
SC 1,9 5,2 30 131 0,6 3,6
CM 1,8 5,2 32 132 0,6 3,4
1987
SPD 1,8 5,1 29 125 0,7 3,2
SC 1,4 5,1 29 131 0,9 3,5
CM 1,3 5,3 33 146 0,5 3,6
1988
SPD 1,3 5,2 29 128 0,5 3,3
SC 2,7 5,1 29 143 0,8 3,5
CM 2,7 5,2 32 148 0,6 3,5
1989
SPD 2,6 5,2 28 138 0,6 3,3
SC 2,1 5,8 20 167 0,0 4,4
CM 1,9 5,8 20 161 0,0 4,5
1990
SPD 2,0 5,8 22 166 0,0 4,4
SC 1,8 5,8 20 157 0,0 4,2
CM 1,7 5,8 21 154 0,0 4,4
1991
SPD 1,4 5,7 21 137 0,1 4,4
SC 3,1 5,6 22 170 0,1 3,1
CM 3,1 5,7 21 176 0,1 3,3
1992
SPD 2,9 5,6 24 160 0,1 3,2
SC 4,2 6,2 21 145 0,0 2,4
CM 4,2 6,1 25 145 0,0 2,5
1993
SPD 4,1 6,0 23 149 0,0 2,5
SC 3,2 5,9 23 172 0,0 2,6
CM 3,3 5,8 27 160 0,0 2,6
1994
SPD 3,5 5,7 27 163 0,1 2,5
1995 SC 3,4 5,8 22 150 0,0 2,8
135
CM 3,1 5,8 24 137 0,0 2,9
SPD 3,3 5,8 27 126 0,1 2,8
SC 2,1 5,7 15 123 0,1 2,8
CM 2,2 5,9 22 123 0,0 3,4
1996
SPD 2,4 5,8 24 142 0,1 2,8
SC 2,5 5,7 15 163 0,1 2,8 73 2
CM 2,6 5,8 27 176 0,1 2,6 74 1
1998
SPD 2,4 5,8 28 185 0,2 2,6 73 2
SC 2,2 5,6 21 195 0,1 2,4 70 2
CM 2,0 5,6 28 200 0,1 2,5 72 2
1999
SPD 1,9 5,4 28 176 0,1 2,5 68 3
SC 3,3 5,5 19 169 0,1 3,0 68 4
CM 3,3 5,7 26 162 0,1 3,0 73 2
2000
SPD 3,5 5,6 28 188 0,1 3,1 71 3
SC 3,6 5,5 21 161 0,1 2,6 68 4
CM 3,5 5,6 29 173 0,1 2,7 68 2
2001
SPD 3,6 5,6 38 171 0,1 2,9 67 4
SC 2,7 5,8 23 248 0,1 2,9 57 4
CM 2,7 5,7 43 205 0,1 2,9 58 4
2002
SPD 2,7 5,7 51 218 0,1 2,8 59 4
SC 3,4 5,6 20 196 0,1 2,7 56 4
CM 3,4 5,6 33 240 0,1 2,8 57 4
2003
SPD 3,7 5,6 44 232 0,1 3,0 57 4
SC 1,6 5,6 26 256 0,1 3,3 55 4
CM 1,9 5,5 35 245 0,1 3,1 53 4
2004
SPD 2,1 5,4 54 281 0,1 3,7 53 3
*Todos os resultados fornecidos por Denardin & Kocchann em 2005 (dados não publicados).
Tabela A7.3. Valores e teores dos indicadores de fertilidade do solo, na
camada de 0-10 cm, e do rendimento de grãos de soja avaliados
no experimento desde 1979 até 2004 em Santo Ângelo,
utilizados para avaliação da técnica da normalização para
expressar níveis de fertilidade dos solos (tratamentos c/N)
Ano* Sistema de cultivo Rend. pH P K Al MO V m
t ha
-1
-----mg dm
-3
-----
cmol
c
dm
-3
------------%-------------
SC T/S 1,4 4,9 28 131 4,1
1979
1
SPD T/S 1,2 4,9 28 131 4,1
SC T/S 2,4 5,4 37 75 4,1
SPD T/S 2,5 5,1 37 89 3,7
Ba = SPD rotação 2,4 5,1 38 88 4,2
Ca = SPD rotação 2,8 5,4 23 47 3,8
1985
2
Da = SPD rotação 2,5 5,5 34 56 4,0
SC T/S 3,0 5,4 30 122 0,1 4,1 83 2
SPD T/S 3,4 5,4 31 137 0,3 4,1 82 3
Ca = SPD rotação 3,3 5,4 24 173 0,2 4,2 85 2
1991
3
Da = SPD rotação 3,2 5,2 45 169 0,2 4,5 81 2
SC T/S 2,2 6,0 24 134 0,0 3,3 79 0
SPD T/S 3,3 5,8 28 153 0,1 3,3 76 2
Ca = SPD rotação 3,3 5,8 24 163 0,1 3,5 77 1
1995
3
Da = SPD rotação 3,0 5,5 33 168 0,1 3,3 68 1
Aa
1
= SC T/S 2,1 5,2 12 238 0,5 4,2 64 5
Fa = SPD T/S 2,8 5,3 19 271 0,2 4,7 67 2
Ba = SPD rotação 2,6 5,1 18 172 0,7 3,8 57 9
Ca = SPD rotação 2,7 5,3 15 311 0,2 4,4 69 2
2004
Da = SPD rotação 3,0 5,2 15 200 0,3 4,0 63 4
*Valores adaptados de:
1
Dalla Rosa (1981);
2
Merten (1988);
3
*Resultados fornecidos por
Giordani em 2005 (dados não publicados).
136
Apêndice 8. Principais contribuições para a compreensão dos sistemas
abertos
As principais contribuições para a compreensão dos sistemas
abertos foram dadas por Bogdanov, Bertalanffy e Prigogine. Por causa das
percepções e das idéias defendidas por eles, atualmente têm-se uma noção
clara de como funciona e evolui um sistema aberto, inclusive os sistemas vivos.
Os sistemas abertos são mantidos pelas trocas de energia e de matéria com o
ambiente, afastados do equilíbrio termodinâmico. A evolução desses sistemas
por meio dos laços de realimentação e das instabilidades nos pontos de
bifurcação, gerando propriedades emergentes e mudando de estados de
ordem, é um fenômeno irreversível. Os sistemas abertos se auto-organizam no
tempo. Nesse processo, a entropia interna do sistema diminui e a sua ordem e
complexidade aumentam.
A obra “Tectologia” foi elaborada por Alexander Bogdanov, publicada
entre 1912 e 1917, com o objetivo de esclarecer e generalizar os princípios de
organização de todas as estruturas vivas e não-vivas. Bogdanov escreveu que
os sistemas vivos são sistemas abertos que operam afastados do equilíbrio,
distinguindo três tipos de sistemas: complexos neutros (atividade organizadora
e desorganizadora se anula), complexos desorganizados (o todo é menor que
a soma de suas partes) e complexos organizados (o todo é maior que a soma
de suas partes). Explicou que a estabilidade e o desenvolvimento dos sistemas
podem ser entendidos por dois mecanismos organizacionais básicos: formação
e regulação ou auto-regulação. Para a formação, é fundamental a tensão entre
crise organizacional e transformação. A crise é a manifestação da ruptura do
equilíbrio sistêmico existente e, ao mesmo tempo, expressa a transição
organizacional para um novo estado de equilíbrio. A obra Tectologia permaneceu
por muito tempo desconhecida fora da Rússia (Capra, 1996).
Ludwig von Bertalanffy acreditava que os fundamentos mecanicistas
eram inadequados para entender os fenômenos biológicos e que, para
entendê-los, era necessária um novo modo de pensar. Isso era compartilhado
pela percepção dos biólogos evolucionistas do século XIX: o universo evolui da
desordem para a ordem, em direção a estados de complexidade crescente e
não para a desordem, como afirmava a termodinâmica clássica (Capra, 1996).
Na sua “Teoria Geral dos Sistemas”, em 1945, Bertalanffy reconheceu que os
137
organismos vivos são sistemas abertos (reconhecido na Tectologia) e que não
podem ser descritos pela termodinâmica clássica; assim, deu um passo
fundamental para resolver o dilema entre um mundo de desordem crescente e
um mundo vivo de ordem crescente. Esse autor explicou as diferenças entre os
sistemas fechados e os abertos e que a expressão “o todo é mais que a soma
das partes” significa que as características constitutivas do sistema não são
explicáveis a partir das suas partes isoladas, mas a partir do conhecimento
dessas e das suas relações. Os sistemas fechados trocam energia com o
ambiente, tendem para a máxima desordem e se mantêm em equilíbrio
químico e termodinâmico. Os sistemas abertos trocam matéria e energia com o
ambiente, são mantidos pelo fluxo contínuo dessas e pela construção e a
decomposição de componentes enquanto vivos e afastados do equilíbrio num
estado estacionário. Com a concepção de sistema aberto, a aparente
contradição entre a entropia
11
(desordem) e a evolução (crescimento de ordem)
desaparece. Nos processos irreversíveis, o aumento da entropia é
compensado pela importação de entropia, que pode ser entropia negativa
(ordem ou organização). Assim, a entropia interna do sistema pode diminuir e
os sistemas vivos, além de evitar o aumento da entropia podem se desenvolver
em sentido de ordem e organização crescentes (Bertalanffy, 1977).
A termodinâmica clássica atribui às leis da natureza caráter
reversível, ou seja, nega radicalmente os efeitos do tempo. Isso não era aceito
por Ilya Prigogine, pois para ele “nenhum esquema conceitual havia
estabelecido a equivalência entre uma planta que cresce, floresce e morre e
uma planta que revive, se torna jovem outra vez e retorna às suas sementes”, e
passado e futuro desempenham papéis diferentes na maioria dos fenômenos
(Prigogine & Stengers, 1992). Em 1947, Prigogine propôs a auto-organização
dos sistemas abertos associada ao afastamento do equilíbrio num artigo sobre
a termodinâmica do não-equilíbrio. As suas primeiras pesquisas mostraram um
quadro contraditório devido a dois erros fundamentais da física clássica:
estudar condições de equilíbrio e ignorar que muitos fenômenos são não-
lineares. O gigantesco desafio de remediar esses erros foi uma das mais
extraordinárias conquistas culturais atuais, cumprida por Prigogine entre os
11
Entropia é a medida da quantidade da desordem de um sistema. A entropia permanece
constante nos processos reversíveis e aumenta nos irreversíveis. Nos sistemas abertos o
aumento de entropia implica no aumento da desordem e diminuição no aumento da ordem.
138
anos 50 e 70. Para demonstrar o primeiro, ele propôs a termodinâmica do não-
equilíbrio ou dos processos irreversíveis, em que considerou o efeito do tempo,
que caracteriza a criatividade e a evolução dos seres vivos, essencial; e para o
segundo, utilizou a sofisticada matemática dos sistemas não-lineares
(Prigogine, 2003). Com esses dois instrumentos, estudou a evolução dos
sistemas abertos e descreveu a auto-organização destes na sua “Teoria das
Estruturas Dissipativas”, recebendo por esta o prêmio Nobel em Química em
1977. Na teoria, as principais características das formas vivas estão ligadas ao
arcabouço conceitual e matemático coerente e acarretam uma mudança de
percepção da estabilidade para a instabilidade, da desordem para a ordem, do
equilíbrio para o não-equilíbrio, do ser para o vir-a-ser. Com essa teoria,
Prigogine resolveu o quebra-cabeça da coexistência entre estrutura e
mudança, entre ordem e dissipação, e foi muito além da concepção de
sistemas abertos ao incluir nela a idéia de pontos de instabilidades nos quais
novas estruturas e formas de ordem podem emergir (Capra, 1996).
Segundo Prigogine & Stengers (1992), as exigências mínimas para
pensar na evolução dos sistemas abertos são: 1) a condição de
irreversibilidade, ou seja, introduzir a quebra da simetria temporal; 2) dar
sentido à noção de acontecimento ou evento com uma descrição probabilista,
3) compreender que certos acontecimentos são capazes de transformar o
sentido da evolução e que esta dá sentido ao acontecimento e de gerar novas
coerências ou possibilidades de história. Assim, compreender uma história é
compreender ao mesmo tempo coerências e acontecimentos.
Prigogine verificou que próximo do equilíbrio, um sistema é estável e
que longe do equilíbrio, um sistema é instável e os processos irreversíveis são
fontes de coerência. Longe do equilíbrio, se estabelecem correlações de longo
alcance que geram atividade coerente da matéria ou novas estruturas,
chamadas de estruturas dissipativas. Com esta denominação, ele enfatizou a
estreita associação entre estrutura e ordem, de um lado, e de dissipação, de
outro, e expressou uma forma de organização supermolecular que reflete a
situação global de não-equilíbrio que lhe deu origem. Longe do equilíbrio, é
possível reconhecer certa autonomia que permite falar das estruturas do
equilíbrio como processo de auto-organização. A atividade do sistema se
organiza a partir de um “vínculo”, que pode ser o fluxo de matéria ou de energia
139
que o mantém afastado do equilíbrio, tornando-o sensível e capacitando-o a
criar novas estruturas. A sensibilidade do sistema (a si mesmo) está associada
à sua instabilidade, às flutuações de sua própria atividade. A alta sensibilidade
do sistema e a sua instabilidade definem a singularidade dos pontos de
bifurcação. Nestes pontos, o sistema se torna instável e pode evoluir na
direção de vários regimes estáveis de funcionamento. À medida que um
sistema se afasta do equilíbrio, a força termodinâmica imposta ao mesmo
atinge valores suficientemente elevados para passar do regime linear para o
não-linear, pode atingir um regime caótico e atravessa áreas de instabilidade
nas quais seu comportamento muda de modo qualitativo (Prigogine & Stengers, 1992).
O não-equilíbrio é uma fonte de ordem. Nos pontos de instabilidade,
a ordem emerge espontaneamente. Num processo auto-organizador, existem
laços de realimentação que promovem a emergência de estruturas de ordem
crescente em sucessivos pontos de bifurcação. Um ponto de bifurcação é um
limiar de estabilidade no qual a estrutura dissipativa pode se decompor ou
então emergir num dentre vários novos estados de ordem. O comportamento
de uma estrutura dissipativa afastada do equilíbrio não segue uma lei universal,
é específico do sistema. A existência de pontos de bifurcação que permitem ao
sistema “escolher” dentro de vários caminhos possíveis implica na
indeterminação do estado seguinte. Esta “escolha” depende da história do
sistema e das condições externas, inclusive neste ponto o sistema é muito
sensível às suas pequenas flutuações, conduz à emergência de novas formas
de ordem, ou seja, “ordem por meio de flutuações”. Numa sucessão de
bifurcações (Figura A8.1.) coexistem zonas deterministas (entre as bifurcações)
e pontos de comportamento probabilista (os pontos de bifurcação). A evolução
de um sistema que se afasta progressivamente do equilíbrio ao longo do tempo
tem um elemento histórico, ex.: um sistema que está no estado d2 significa que
ele atravessou os estados b1 e c1. Por causa da indeterminação nos pontos de
bifurcação e da imprevisibilidade pela não-linearidade devido às iterações
repetidas, o comportamento da estruturas dissipativas só pode ser previsto
num curto lapso de tempo. Em função dessa indeterminação, os processos
irreversíveis desempenham um papel construtivo e indispensável à
irreversibilidade, que é o mecanismo que produz ordem a partir do caos
(Capra, 1996).
140
Figura A8.1. Diagrama de bifurcações sucessivas num sistema longe do
equilíbrio (Prigogine & Stengers, 1992).
Nos sistemas dinâmicos instáveis, devido à sensibilidade às
condições iniciais, uma pequena modificação na condição inicial promove
divergência exponencial nas trajetórias ao longo do tempo. Eles levam ao
indeterminismo, conseqüência natural da instabilidade e do caos, dá significado
fundamental à flecha do tempo e permite compreender as duas características
essenciais da natureza: unidade e diversidade. Este modelo expressa o que se
percebe no mundo: flutuações em todos os níveis, bifurcações e instabilidades.
Para que um sistema atinja o estado de estrutura dissipativa (se manter
organizado imerso na desordem) e possa evoluir, é necessário o afastamento
do equilíbrio pelos fluxos de matéria e de energia que o alimentam e a geração
de instabilidade, integrados num funcionamento auto-organizativo no tempo.
Nos momentos de instabilidade, nos pontos de bifurcação, emergem novas
propriedades e surge nova organização que induz o sistema a evoluir e atingir
uma nova estabilidade — um novo nível de ordem (Prigogine, 1996).
Na “Teoria das Estruturas Dissipativas”, a auto-organização, a
emergência espontânea da ordem, resulta dos efeitos combinados do não-
equilíbrio, da irreversibilidade dos laços de realimentação e da instabilidade. A
natureza radical da visão do Prigogine é evidente, muitas das características
chaves das estruturas dissipativas são novas concepções revolucionárias na
ciência clássica e são estruturas básicas de todos os seres vivos, isto é dos
sistemas abertos (Capra, 1996).
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