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Buarque de Holanda, o Grupo Hombu, de Silvia Aderne e Beto Combra, o Teatro
Quintal, de Bia Bedran e o Grupo de Teatro Vento Forte, de Ilo Krugli.
Também, no mesmo período, nasce a Casa de Ensaio, de Sylvia Orthof,
montando produções infantis a partir de textos de sua autoria e com
características absolutamente originais. Para Regina Zilberman,
No meio do caminho, sem se preocupar, de um lado, com o tema,
nem, de outro, buscar apoio na tradição popular, está Sylvia Orthof,
que depende sobretudo da capacidade de invenção, como
exemplifica Eu Chovo, tu Choves, ele Chove, um de seus primeiros
textos para teatro, premiado em 1976 em concurso realizado no
Paraná. Seu propósito desafiador patenteia-se desde o título, que
conjuga o verbo chover em primeira, segunda e terceira pessoa,
quando, na gramática, é considerado forma impessoal. Por sua vez,
lidando com seres do mundo aquático, a maioria deles inanimados,
como o Chuveiro ou a Nuvem, a autora desafia os limites da
imaginação. (ZILBERMAN, 2005, p. 153)
Sylvia Orthof consegue a façanha de dar coerência ao absurdo, ao mesmo
tempo em que constrói histórias em que os mais fracos são bem sucedidos, ao
suplantar os obstáculos e resolver os problemas mais complicados. No decorrer
da peça, o humor corre solto, enquanto a ação dramática vai transformando
situações e personagens por onde passa. Quando a peça termina, nada nem
ninguém se parece com o que havia sido apresentado na situação inicial.
Zilberman comenta isso, ao observar que
Na peça de Sylvia Orthof, o humor associa-se ao absurdo e,
sobretudo, às metamorfoses experimentadas pelos figurantes,
produzidas muitas vezes pelo processo de associação de idéias. Por
isso, a mencionada tromba-d’água pode se transformar no Elefante, e
o Chuveiro dar ordens ao Pingo, subalterno e herói da trama. O
nonsense, por sua vez, não rompe com o universo infantil, pois,
partindo dos elementos do cotidiano, recorre ao imaginário na forma
como atua a criança, capaz de conferir vida a seres inanimados,
quando deseja brincar e se divertir. (ZILBERMAN, 2005, p. 154)
Concluímos este capítulo, destacando que, com textos como os de Maria
Clara Machado, Sylvia Orthof e outros autores, a dramaturgia brasileira apresenta
tradição com excelente qualidade literária e com conteúdos que vão além da