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constituído por diversas vozes. Assim, o sujeito, para Bakhtin (2000), é um sujeito histórico,
ideológico, dialógico e polifônico.
Nesse sentido, Novaes Pinto, fundamentada em Bakhtin afirma que,
toda vez que me expresso usando signos lingüísticos, eles não são meus, são
também de outros. Portanto, toda a expressão lingüística é de natureza dialógica.
A heterogeneidade do sujeito, constituída por múltiplas vozes, faz com que
muitos estudiosos postulem o seu assujeitamento. Apesar de ser a linguagem
polifônica e heterogênea, em Bakhtin, a noção de sujeito assujeitado não
procede, pois a heterogeneidade é uma característica não só da constituição
do “eu”, mas também do “outro”. O “outro” também é constituído por vários
“outros”, e assim sucessivamente, numa cadeia infinita de elos de “outros”.
Mesmo constituído dessa forma, o sujeito se diferencia dos demais pelo
conjunto de suas contra-palavras, que tem origens sempre diversas entre os
indivíduos. Esse fato possibilita sempre uma nova interpretação do já dito,
possibilita uma nova significação para uma mesma forma. Cada novo enunciado
tem as marcas individuais dos sujeitos (NOVAES PINTO, 1999, p.168-169).
Bakhtin (2000, p. 290) afirma que, na lingüística, persistem funções tais como o
“ouvinte” e o “receptor”. Para ele, tais funções dão uma imagem totalmente distorcida do complexo
da comunicação verbal, e, são ainda, consideradas como “ficção científica”. A esse respeito
Bakhtin (2000) explica que toda compreensão de um enunciado é sempre uma atitude responsiva
ativa, pois “toda compreensão é prenhe de resposta”.
Na atitude responsiva ativa, o ouvinte
(...) concorda ou discorda (total ou parcialmente), completa, adapta, apronta-se
para executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante durante
todo o processo de audição e de compreensão desde o início do discurso, às vezes
já nas primeiras palavras emitidas pelo locutor (...) (BAKHTIN, 2000, p.290).
(...) a compreensão responsiva ativa do que foi ouvido (por exemplo, no caso
de uma ordem dada) pode realizar-se diretamente com um ato (a execução da
ordem compreendida e acatada), pode permanecer, por certo lapso de tempo,
compreensão responsiva muda (certos gêneros do discurso fundamentam-se
apenas nesse tipo de compreensão, como, por exemplo, os gêneros líricos),
mas, neste caso, trata-se, poderíamos dizer, de uma compreensão responsiva
de ação retardada: cedo ou tarde, o que foi ouvido e compreendido de modo
ativo encontrará um eco no discurso ou no comportamento subseqüente do
ouvinte (...) (BAKHTIN, 2000, p.291).