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Professora - Nenhuma. Não existe muito isso aqui. Aqui é tudo muito difícil
acontecer de modo transversal, não só isso. Nada acontece muito. Ninguém
tem disponibilidade, aquela má vontade geral. Tem um projeto pedagógico da
escola que o tema era Rio de Janeiro que era o projeto no papel e que ficou no
papel. Aí na última semana, duas cartolinas em cada turma para dizer que
aconteceu alguma coisa.
Ainda perguntamos aos três representantes como a escola atual deveria abordar
o tema e o que faltaria para isso. Registramos diferentes falas sobre essas questões:
a) O Diretor se posiciona em favor do caráter disciplinar e do discurso da
biologia:
Diretor - Eu gostaria que fosse dentro de Ciências, porque eu estou falando de
aluno de 5ª à 8ª série, deveria ter uma matéria específica.Caráter disciplinar.
Por que hoje em dia você tem que estar muito atento às coisas que acontece.
Então, de caráter disciplinar. Não teria que ter uma carga horária como as
outras matérias, mas pelo menos uma vez por semana para sempre estar
alertando eles dos acontecimentos desagradáveis que traz uma gravidez
indesejada, etc.
b) A Coordenadora Pedagógica disse não pensar nisso, mas ressente-se da falta
de estrutura da organização escolar e de preparo para o professor:
Coordenadora Pedagógica - (silêncio) Eu tô pensando, porque a gente não pára
pra pensar. Olha, acho que dentro da grade seria uma boa idéia, mas não
transformar em matéria. Sem caráter disciplinar. Não sei. Tipo encontros pra
debater, até pra se quebrar o tabu de se discutir sobre isso. Um espaço, mas
que não fosse disciplina, prova, nada disso. Que houvesse um espaço, de
repente, oficina, encontro, até um Professor, de repente, destinado a isso, mas
que fosse cobrado em prova, que se transformasse em “anota no caderno”,
entendeu? Aí perde o sentido e o interesse, aí você vai na contramão.
c) A Professora, mesmo pensando nas dificuldades que apresenta, aponta para a
transversalidade:
Professora - Eu acho interessante essa idéia de ser transversal. Acho que tinha
que estar todo mundo trabalhando isso e ao mesmo tempo acho que tem que
ver o Professor que tem essa disponibilidade porque não é todo mundo que
quer, que se sente confortável em falar sobre isso. Tem gente que não se sente
bem, que não gosta, que não consegue. Eu, por exemplo, tinha muito problema
de trabalhar drogas. Eu pulava, às vezes, o capítulo de Sistema Nervoso,
deixava para o final porque era uma coisa que eu achava complicada. Eu não
queria nunca trabalhar. Depois de fazer muito curso eu aprendi como mexer
nesse assunto sem colocar opinião, ou dizer o que é certo ou errado. Acho que
Orientação Sexual é a mesma coisa. A gente tem que trabalhar com muito
cuidado. Você viu ali, é delicado. Eles ficam o tempo inteiro, até quando eu
estou na parte da Ciência: - “Mas você ficou grávida? Sua filha nasceu como?
De parto normal ou cesariana?” Eles querem muito saber da vida da gente.