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LOURENIA MENDONÇA CASSOLI
Acidente ocupacional com material biológico:
adesão ao seguimento ambulatorial segundo as
características do acidente e do acidentado
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo para
obtenção do título de Mestre em Ciências
Área de concentração: Doenças Infecciosas e Parasitárias
Orientadora: Profa. Dra. Marta Heloísa Lopes
São Paulo
2006
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Dedicatória
À minha mãe Leninha e meu irmão Wagner, sempre presentes em todos os
momentos da minha vida, pelo apoio incondicional. Amo vocês.
Ao meu pai Jones (in memoriam), que sempre teve orgulho e incentivou meu
progresso.
Agradecimentos
À Dra. Marta Heloísa Lopes, minha orientadora, pela confiança, sabedoria e
incansável paciência com que me conduziu na elaboração desta dissertação.
À Dra. Eliana Battaggia Gutierrez, pela elaboração e preenchimento
parcial do banco de dados e pelas orientações que enriqueceram o conteúdo
deste trabalho.
Aos componentes da banca de qualificação, Dra. Fátima Mitiko Tengan,
Dr. Ronaldo Gryschek e Dra. Eliana Battaggia Gutierrez pelas sugestões
valiosas.
À Dra. Vera Aparecida dos Santos, médica chefe do serviço de Imunologia
da divisão de Laboratório Central do HC FMUSP, pela sua disposição e boa
vontade em me ensinar, contribuindo com informações fundamentais.
À Rose e Roseli, secretárias da pós-graduação do Programa de Doenças
Infecciosas e Parasitárias da FMUSP, sempre com um sorriso amigo, prontas
para ajudar. Pela responsabilidade e firmeza nas orientações.
Aos médicos assistentes, que atenderam aos profissionais acidentados.
Aos profissionais acidentados, dos quais foram originados os prontuários,
meu agradecimento especial.
À minha família, sempre me incentivando.
A todos os amigos que deram seu apoio neste momento tão singular em
minha vida, pela constante torcida.
A todos aqueles que colaboraram de alguma forma para que este estudo
pudesse ser realizado.
Normalização:
Esta tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta
publicação:
Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors
(Vancouver)
Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Serviço de Biblioteca e
Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias.
Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F.
Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 2ª
ed. São Paulo. Serviço de Biblioteca e Documentação; 2005.
Abreviatura dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in
Index Medicus.
Sumário
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Resumo
Summary
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1
1.1 Características da população acidentada e dos acidentes com material
biológico .........................................................................................................
8
1.2 Medidas de Prevenção .................................................................................... 21
1.3 Adesão às Medidas de Prevenção ................................................................... 26
1.4 Profilaxia após exposição ocupacional ........................................................... 33
1.5 Adesão ao seguimento ambulatorial após exposição ocupacional ................. 37
1.6 Programa de Atendimento aos Acidentados com Material Biológico do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo ...............................................................................................................
41
2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 44
2.1 Objetivo Principal ........................................................................................... 45
2.2 Objetivos Secundários .................................................................................... 45
3 MÉTODOS ........................................................................................................ 46
3.1 Casuística ........................................................................................................ 47
3.1.1 Fluxograma seguido no “Programa de Atendimento aos Acidentados com
Material Biológico”, da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e
Parasitárias do HCFMUSP ..........................................................................
47
3.2 Desenho do Estudo ......................................................................................... 49
3.3 Metodologia .................................................................................................... 50
3.3.1 Critérios de adesão ao programa .................................................................. 51
3.4 Descrição dos casos de soroconversão detectados ......................................... 53
3.5 Análise Estatística ........................................................................................... 53
4 RESULTADOS ................................................................................................. 55
4.1 Descrição dos casos de soroconversão detectados.......................................... 68
5 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 73
6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 90
7 ANEXOS ........................................................................................................... 93
7.1 Anexo A .......................................................................................................... 94
7.2 Anexo B .......................................................................................................... 95
7.3 Anexo C .......................................................................................................... 104
8 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 107
Listas
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Características, segundo o gênero, dos profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ............................................
56
Tabela 2 -
Características, segundo a idade, dos profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ............................................
57
Tabela 3 -
Características, segundo a categoria profissional, dos profissionais de
saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
58
Tabela 4 -
Distribuição, segundo o local de ocorrência dos acidentes, dos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com
material biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e
01/08/2005 ................................................................................................
58
Tabela 5 -
Características, segundo material envolvido, dos profissionais de saúde
do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
59
Tabela 6 -
Características dos acidentes, segundo o instrumento envolvido, dos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com
material biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e
01/08/2005 ................................................................................................
60
Tabela 7 -
Características, segundo a região do corpo acometida, dos profissionais
de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
60
Tabela 8 -
Distribuição do perfil sorológico, no momento do acidente, dos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com
material biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e
01/08/2005 ................................................................................................
61
Tabela 9 -
Distribuição do perfil sorológico dos casos fonte conhecidos no
momento do acidente com material biológico de profissionais de saúde
do HC FMUSP entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ........................................
62
Tabela 10 -
Condutas adotadas no primeiro atendimento aos profissionais de saúde
do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
62
Tabela 11 -
Distribuição dos esquemas antiretrovirais prescritos no primeiro
atendimento aos profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de
acidentes com material biológico acompanhados no ambulatório, entre
01/08/1998 e 01/08/2005 ..........................................................................
63
Tabela 12 -
Adesão ao seguimento ambulatorial segundo o gênero dos profissionais
de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
63
Tabela 13 -
Adesão ao seguimento ambulatorial segundo categoria profissional dos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com
material biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e
01/08/2005 ................................................................................................
64
Tabela 14 -
Relação entre adesão ao acompanhamento ambulatorial e situação
conhecida ou não do caso fonte nos profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ............................................
65
Tabela 15 - Relação entre adesão ao acompanhamento ambulatorial e perfil
sorológico do
caso fonte nos profissionais de saúde do HC FMUSP
vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ............................................
66
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Adesão à terapêutica antiretroviral (TARV) entre os profissionais de
saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005 ..............
67
Figura 2 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde
(número 1) do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico,
do momento do acidente até 55 meses após ..............................................
69
Figura 3 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde
(número 2) do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico,
do momento do acidente até 26 meses após ..............................................
70
Figura 4 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde
(número 3) do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico,
do momento do acidente até 7 meses após ................................................
72
Resumo
Cassoli LM. Acidente ocupacional com material biológico: adesão ao seguimento
ambulatorial segundo as características do acidente e do acidentado [dissertação].
São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2006. 119 p.
INTRODUÇÃO: Os profissionais de saúde estão constantemente sob risco de
sofrerem acidentes ocupacionais, através de exposição percutânea ou mucosa,
envolvendo material biológico. Consequentemente ficam expostos a agentes
veiculados pelo sangue, como os vírus das hepatites B e C (VHB e VHC), vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e o Trypanosoma cruzi, agente da doença de
Chagas. MÉTODOS: Estudo descritivo, retrospectivo, de análise de prontuários. Foi
utilizado um banco de dados, com base no seguimento ambulatorial de profissionais
de saúde acidentados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (HC FMUSP), no período de agosto de 1998 a agosto de
2005. O banco de dados foi construído e alimentado no programa EpiInfo 6.0 e
posteriormente transferido para o Excel, a partir do qual foi realizada análise dos
dados. As variáveis qualitativas foram representadas por freqüência absoluta e
relativa (%) e as quantitativas por média, desvio padrão (dp), mediana, valores
mínimo e máximo. A presença de associação entre as variáveis qualitativas foi
avaliada pelo teste do Qui-quadrado. RESULTADOS: Foram analisados 1091 casos.
1) 76,5% dos acidentados eram do gênero feminino; 2) a média de idade foi de 33,3
anos e mediana de 30 anos; 3) principais categorias profissionais acidentadas:
auxiliares de enfermagem (42,3%), médicos residentes (11,5%), funcionários da
limpeza (11,1%); 4) acidentes percutâneos com agulhas com lúmen, envolvendo
sangue, foram os mais freqüentes; 5) a mediana do intervalo de tempo entre o
acidente e procura pelo atendimento foi de 30 minutos; 6) 60% dos acidentados tinha
pesquisa de anti-HBs positiva no momento do acidente; 7) 2,7% dos acidentados
tinha sorologia positiva pra VHC no momento do acidente; 8) A maior procura por
atendimento ocorreu entre acidentados cuja fonte era conhecida e positiva para HIV
e VHC; 9) adesão completa ao seguimento ambulatorial após exposição a material
biológico foi de 70%, sendo mais freqüente em acidentados do gênero feminino, cuja
fonte era conhecida e tinha perfil sorológico totalmente negativo para os patógenos
avaliados; 10) dos profissionais que receberam antiretrovirais apenas 45,2%
completaram o tratamento; 11) não ocorreu soroconversão para HIV, VHB e Doença
de Chagas; 12) foram observados três possíveis casos de soroconversão para VHC.
CONCLUSÕES: A alta taxa de abandono do seguimento é motivo de preocupação.
Considerando-se que sabidamente nem todos os profissionais de saúde acidentados
procuram atendimento, e dos que o fazem, cerca de 30% não o completam, estima-se
que haja importante parcela de profissionais acidentados não investigados. Embora a
maior procura por atendimento tenha sido de acidentados com fontes suspeitas ou
positivas para VHC e HIV, a adesão ao seguimento foi menor nestes casos. Adesão à
terapêutica antiretroviral também foi baixa.
Descritores: 1.Exposição ocupacional 2. Pessoal de saúde 3. Acidentes e eventos
biológicos 4. Ferimentos penetrantes produzidos por agulha 5. Assistência
ambulatorial
Summary
Cassoli LM. Occupational accident with biological material: compliance to the
ambulatory follow-up according to the characteristics of the accident and the victim
[dissertation]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”;
2006. 119 p.
INTRODUCTION: Healthcare professionals are constantly under risk of suffering
occupational accidents, due to percutaneous or mucosa exposure, involving
biological material. They are consequently exposed to agents diffused into blood,
such as hepatitis B and C virus (HBV and HCV), human immunodeficiency virus
(HIV) and the Trypanosoma cruzi, agent of the Chagas disease. METHODS:
Descriptive, retrospective study of promptuary analysis. A data base was used, based
on the ambulatory follow-up of health professional victims in the Clinics’ Hospital
from the Medicine School of the University of São Paulo (HC FMUSP), from
August, 1998 until August, 2005. The data base was built and fed in the EpiInfo 6.0
program and afterwards it was transferred to Excel, where the data analysis was
executed. The qualitative variables were represented by absolute and relative
frequency (%) and the quantitative by average, standard deviation (sd), median,
minimum and maximum values. The presence of association among the qualitative
variables was evaluated by the Chi-square test (x
2
). RESULTS: 1091 cases were
analyzed. 1) 76.5% of the victims were women; 2) the age average was 33.3 years
old and the median 30 years old; 3) main professional categories: nursing assistants
(42.3%), resident doctors (11.5%), cleaning employees (11.1%); 4) percutaneous
accidents with needles with lumen, involving blood, were the most frequent; 5) the
median of the time interval between accident and search for assistance was 30
minutes; 6) 60% of the victims had a positive anti-HBs search at the moment of the
accident; 7) 2.7% of the victims had positive serology for HCV at the moment of the
accident; 8) the highest search for assistance happened among victims which source
was known and positive for HIV and HCV; 9) complete compliance to the
ambulatory follow-up after the exposure to biological material was of 70%, being
more frequent in female victims, which source was known and had a serologic
profile totally negative for the evaluated pathogens; 10) from the professionals who
received antiretroviral, only 45.2% completed the treatment; 11) there wasn’t
seroconversion for HIV, HBV and Chagas Disease; 12) three possible
seroconversion cases for VHC were observed. CONCLUSIONS: The high
abandonment tax of the segment is a reason for concerning. Considering that not all
of the health professional victims search for assistance, and from the ones that do,
around 30% don’t complete it, it is estimated that there is an important parcel of
professional victims not investigated. Although the higher search for assistance has
been from victims with suspicious sources or positive for HCV and HIV, the
compliance to follow-up was lower in these cases. Compliance to antiretrovirals was
also low.
Describers: 1.Occupational exposure 2. Health personnel 3. Biological accidents
and events 4. Penetrating wounds caused by needle 5. Ambulatory assistance
1 Introdução
Introdução
2
Os profissionais de saúde estão constantemente sob risco de sofrerem
acidentes ocupacionais, através de exposição percutânea ou mucosa e,
conseqüentemente, ficam expostos aos agentes veiculados pelo sangue, como o vírus
da imunodeficiência humana (HIV) e os vírus das hepatites B e C (VHB e VHC)
1,2,3
.
Segundo definição do manual de condutas após exposição ocupacional do
Centers for Disease Control and Prevention (CDC)
2,3
, de Atlanta, Estados Unidos da
América (EUA), o termo profissional de saúde se refere a indivíduos, profissionais
ou não, que têm risco potencial de se expor a materiais infectados (sangue, tecidos e
líquidos corporais específicos e equipamentos ou superfícies ambientais
contaminados com estas substâncias). Compreende, assim, estudantes, médicos,
enfermagem em geral, técnicos, funcionários dos setores de emergência, odontologia,
laboratório, patologia e autópsia, farmácia ou pessoas que não têm contato direto
com o paciente, mas que têm potencial de se expor aos materiais biológicos
contaminados, como o pessoal da limpeza, nutrição, religiosos e voluntários
2,3
.
As exposições são injúrias percutâneas (acidente com agulhas ou corte com
instrumento pérfuro-cortante), ou contato do material biológico com membrana
mucosa ou pele não íntegra (pele com dermatite, abrasões ou cortes)
2,3
. Qualquer
contato direto (ausência de proteção mecânica) com solução concentrada de vírus de
material de laboratório é também considerado uma exposição e requer avaliação
clínica. Já em caso de mordeduras humanas, a avaliação clínica deve considerar tanto
Introdução
3
a pessoa que a proferiu assim como a vítima do acidente, pois ambas se expuseram a
material biológico
2
.
O risco médio de infecção por HIV após exposição percutânea a sangue é
aproximadamente 0,3% e após exposição mucosa 0,09%
1,2,3
. Embora episódios de
transmissão do HIV após contato de sangue infectado com pele não intacta já tenham
sido documentados, o risco de transmissão por esta via não foi precisamente
quantificado, mas estima-se que seja menor que o risco de transmissão pela via
mucosa
2,3
. O risco de infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) está relacionado ao
grau de exposição ao sangue no ambiente de trabalho e a presença do antígeno “e” do
VHB (AgHBe) no paciente fonte. Após exposições percutâneas envolvendo sangue
sabidamente infectado pelo VHB e com AgHBe, o risco de hepatite clínica varia
entre 22 e 31% e o de infecção, caracterizada por soroconversão, de 37 a 62%.
Quando o paciente fonte apresenta somente o antígeno de superfície do VHB
(AgHBs) com AgHBe negativo, o risco de hepatite clínica varia entre 1 e 6% e a
soroconversão de 23 a 37%. O vírus da hepatite C só é transmitido eficientemente
pelo sangue e o risco médio de soroconversão após exposição percutânea é de 1,8%,
variando de 0 a 7%. A transmissão do VHC após exposição mucosa é extremamente
rara
1,2
. Líquidos corporais como líquor e líquidos pleural, peritoneal, sinovial,
pericárdico e amniótico também são considerados potencialmente infecciosos para
HIV, VHB e VHC, porém o risco de transmissão é desconhecido, estimando-se que
seja menor que o do sangue (não foram realizados estudos epidemiológicos em
profissionais da saúde). Fezes, secreção nasal, saliva, escarro, suor, lágrimas, urina e
vômito não são considerados potencialmente infecciosos, ao menos que estejam
Introdução
4
visivelmente contaminados com sangue. O risco de transmissão dos patógenos
veiculados pelo sangue por estes materiais é muito baixo.
O risco de transmissão das hepatites B e C e HIV está relacionado à
freqüência e modo de exposição, à prevalência destas doenças na população fonte e à
efetividade do manejo pós-exposição
4
. O risco de infecção por HIV transmitido por
sangue também está relacionado à quantidade de sangue envolvido no acidente, à
carga viral do HIV no sangue do paciente fonte e à implementação ou não das
medidas de profilaxia pós-exposição
5
.
Transmissão ocupacional de HIV é dividida em casos definidos e casos
prováveis. Os casos definidos são aqueles cuja transmissão ocupacional foi
confirmada. Casos prováveis são aqueles nos quais, embora não haja confirmação,
nenhum outro fator de risco, exceto o acidente ocupacional, foi identificado
6
.
Já foram relatados nos EUA 56 casos definidos e 138 casos prováveis de
infecção por HIV após acidentes ocupacionais, até dezembro de 2000. No restante do
mundo existem relatos de 94 casos definidos de transmissão ocupacional de HIV,
sendo 35 na Europa e, dentre estes, 5 na Inglaterra
6
. Há também 170 casos prováveis
de transmissão ocupacional do HIV no mundo
7
, sendo 68 na Europa, e destes, 8 na
Inglaterra
6
.
Segundo Raparini
8
, em revisão sistemática da literatura, há relato de quatro
casos de transmissão ocupacional do HIV no Brasil. O primeiro caso, em 2002, foi
relatado por Santos et al.
9
, e os outros três, não foram publicados em revista
científica.
8
Todos os quatro casos envolveram exposição percutânea e em um dos
casos, houve exposição a agulha de sutura, sem lúmen. Segundo a autora
8
, este é o
Introdução
5
primeiro caso brasileiro de transmissão ocupacional de HIV por acidente envolvendo
agulha sem lúmen. Em um dos casos houve transmissão concomitante do VHC. Dois
dos quatro acidentados com soroconversão receberam profilaxia antiretroviral pós-
exposição. Os quatro profissionais negaram qualquer comportamento de risco
(sexual ou uso de drogas) ou transfusão de sangue e todos relataram exposição
ocupacional. Entretanto, segundo Raparini
8
, a transmissão não ocupacional não pode
ser descartada.
Santos et al.
9
relataram em 2002, o caso de um profissional de saúde
acidentado com fonte HIV positiva enquanto auxiliava outro profissional durante
punção venosa. O acidentado não recebeu nenhuma medida de profilaxia pós-
exposição, pois ainda não havia esta recomendação no país. Após um mês do
acidente o profissional apresentou febre e linfadenopatia, mas não foi feito
diagnóstico de infecção neste momento. Dois meses após o acidente a sorologia anti-
HIV persistia negativa. O diagnóstico sorológico foi realizado após onze meses, e
dois anos após o acidente o profissional desenvolveu quadro clínico e laboratorial
compatível com Aids. O acidentado negou qualquer outra possível fonte de infecção,
portanto, a exposição ocupacional foi considerada como tal.
No Brasil, além dos patógenos considerados, há também a preocupação da
transmissão do Trypanosoma cruzi, agente causador da Doença de Chagas. O T.
cruzi é encontrado no sangue periférico de pacientes com Doença de Chagas aguda, e
ocasionalmente no sangue periférico de pacientes com Doença de Chagas crônica.
Uma vez que pode ser encontrado no sangue periférico também pode ser transmitido
aos profissionais de saúde através de exposição percutânea ou mucosa a material
Introdução
6
biológico, embora a transmissão acidental mais freqüentemente relatada seja por
exposição percutânea a material de laboratório.
Ainda não está definido o risco de infecção por este agente após exposição
ocupacional. Herwaldt
10
relata resumidamente 65 casos de infecção por
Trypanosoma cruzi adquirida em laboratório. Embora em muitos destes relatos não
haja informações completas disponíveis, a maioria ocorreu por exposição parenteral
durante manipulação de cepas de T. cruzi em laboratório. O primeiro caso foi
descrito em 1938. De 20 casos, nos quais a via de transmissão era conhecida ou
suspeita, 11 (55%) foram atribuídos à exposição parenteral a cepas de T. cruzi.
Herwaldt
10
relata também, que cerca de 37 pessoas, em sete instituições
brasileiras, tiveram acidentes de laboratório entre 1984 e 1999 que não resultaram em
infecção. Ressalta, entretanto, que é prática comum no Brasil o tratamento presuntivo
com benzonidazol durante 10 ou mais dias pós-acidentes com agulhas, ou outros com
risco relativamente alto, o que poderia ter contribuído para a ausência de infecção
após o acidente.
Shikanai-Yasuda et al.
11
relataram caso de profissional de 28 anos que se
acidentou com pipeta Pasteur contendo 10
7
tripomastigotas/mL da cepa Y do T.
cruzi. Após a exposição o profissional recebeu 10 dias de benzonidazol. No nono dia
de tratamento notou vesículas em mãos e pés. Catorze dias após o acidente notou
febre de 39º C, acompanhada de cefaléia. Ao exame físico apresentava-se em bom
estado geral, subfebril (37,5º C) e com discreta adenomegalia submandibular. O
fígado era palpável ao nível do rebordo costal direito e o baço era percutível. No
hemograma apresentava linfocitose relativa; o eletrocardiograma e a radiografia do
tórax eram normais. A pesquisa direta de T. cruzi no creme leucocitário foi negativa.
Introdução
7
Inoculação de sangue infectado em camundongo foi positiva no 22º dia após o
acidente. A reação sorológica para doença de Chagas, por imunofluorescência
indireta, com antígenos de epimastigotas foi positiva para IgG e IgM no 28º dia após
o acidente. A partir desta data, o profissional recebeu benzonidazol 300mg/dia
durante 80 dias, sem efeitos colaterais. O paciente persistia com sorologia positiva
até dois anos após o acidente.
Almeida et al.
12
relatam cinco acidentes com agulhas, nos anos de 1993 e
1994, atendidos no ambulatório de Doença de Chagas da UNICAMP, em Campinas,
SP. Todos os acidentes ocorreram em laboratório no manejo de culturas de T. cruzi,
cepa Y. Os acidentes foram em conseqüência a descuido, uma vez que os
acidentados eram indivíduos experientes no manejo de culturas de T. cruzi e no
repique em animais. Em três casos houve inoculação do conteúdo da seringa, sendo
que dois destes apresentaram Doença de Chagas aguda, evidenciada por esfregaço de
sangue positivo para T. cruzi, mas sem manifestações clínicas. O terceiro caso
recebeu benzonidazol imediatamente após o contágio, por 10 dias, e não apresentou
evidências de Doença de Chagas aguda. Nos dois casos restantes, o acidente foi
decorrente de escoriações nas mãos por agulha. Foram tratados com benzonidazol
por 10 dias e também não houve evidência de contaminação.
O tipo de acidente mais freqüente é perfuração acidental por agulha utilizada
para infectar animais. Entretanto acidentes que não envolvem agulhas também têm
sido relatados. Infecção por T. cruzi foi documentada em pesquisador, após
mordedura de camundongo de laboratório infectado
10
.
Herwaldt
10
também cita outras
vias de contaminação por acidente laboratorial: - caso de microbiologista que
desenvolveu Doença de Chagas após exposição de pele lesada a solução de
Introdução
8
tripomastigotas (cepa Tulahuen); - infecção resultante de exposição de mucosa
ocular a fezes de triatomínios infectados confirmada por xenodiagnóstico.
Nem sempre o modo de exposição é identificado. Há relatos de profissionais
de laboratório que manipulam materiais ou animais infectados por T. cruzi que se
infectaram, porém não se recordam de terem sofrido algum acidente
10
.
A Organização Mundial da Saúde (OMS)
13
estimava em 2002, que dentre os
35 milhões de profissionais de saúde em todo o mundo, ocorriam em torno de 3
milhões de acidentes ocupacionais por ano, com exposição à aproximadamente 2
milhões de casos de hepatite B, 900.000 de hepatite C e 300.000 casos com
soropositividade para o HIV. Desse montante, podem resultar em torno de 66.000
casos de hepatite B, 16.000 casos de hepatite C, e 1000 infecções por HIV. Mais de
90% destas exposições ocorriam nos países em desenvolvimento e a maioria era
prevenível. Segundo a OMS, os acidentes com lesões percutâneas são a principal
fonte de infecção por VHC entre profissionais de saúde, contribuindo com
aproximadamente 40% das infecções por VHC nesse grupo, 37% das infecções por
VHB e 4,4% das infecções por HIV
13
.
1.1 Características da população acidentada e dos acidentes com
material biológico
Infecção por HIV adquirida ocupacionalmente foi relatada inicialmente em
1984, e desde então, o risco de transmissão do HIV e dos vírus das hepatites B e C
tem sido ressaltado e estratégias para prevenção de exposição têm sido
Introdução
9
implementadas
14,15
. Uma das primeiras medidas para traçar estratégias é caracterizar
o perfil da população de risco, o que tem sido investigado em vários estudos em
diferentes localidades. A vigilância da exposição a patógenos veiculados pelo sangue
é uma das maneiras de tentar diminuir a exposição e identificar os profissionais,
procedimentos, áreas e instrumentos associados a um maior risco de acidente
16
.
Em 2000, um estudo americano analisou 150 profissionais que haviam
sofrido acidente ocupacional e que responderam a um questionário
14
. Destes, 68%
eram mulheres, 29% enfermeiras e 39% médicos, com média de idade de 35 anos.
Acidentes com agulhas foram a maioria (56%). Grande parte dos profissionais (63%)
relatou que esse não foi o primeiro acidente sofrido por eles e o que o segundo
acidente tinha características diferentes do primeiro (por exemplo: se o primeiro foi
percutâneo, o segundo foi exposição mucosa). O tempo de atendimento após o
acidente foi de 15 minutos em 63% dos casos, 45 minutos em 31%, 2 horas em 2% e
mais de duas horas em 4%
14
.
Dement et al.
16
observaram que o índice de acidentes é maior em
profissionais que trabalham em centro cirúrgico e em unidades de pediatria.
Diferentemente do que foi observado em vários outros estudos, observaram que
existe um risco maior de acidente ocupacional entre os profissionais do sexo
masculino com idade menor que 45 anos e tempo de serviço menor que quatro anos.
Puro et al.
17
analisaram 14.349 acidentes ocupacionais, sendo 10.988
acidentes percutâneos e 3.361 exposições mucosas. As enfermeiras predominaram,
seguidas pelos médicos e cirurgiões. Dos acidentes percutâneos, 65,3% envolveram
agulhas com lúmen, 34,7% agulhas sem lúmen ou instrumentos cortantes. Seringas
ou agulhas descartadas inadequadamente contribuíram para 48,1% dos acidentes;
Introdução
10
28,2% eram scalps e 9,5% cateteres endovenosos. O descarte inadequado de
materiais contribuiu para aumentar o risco de exposição dos profissionais da limpeza.
Os acidentes percutâneos ocorreram na maioria dos casos durante inserção ou
manipulação de cateteres vasculares periféricos (32,5%), administração de injeção
(25,8%) e coleta de sangue (21,9%). Das exposições mucosas, 50% resultaram de
exposição direta ao sangue ou ao líquido corporal do paciente, 17,2% envolveram
líquidos em equipamentos de infusão e 16,3% resultaram da quebra de equipamento
com sangue. Em 5,8% desses acidentes as fontes eram HIV positivas.
Dados do Canadian Needle Stick Surveillance Network (CNSSN)
18
,
publicados em 2003, mostraram o perfil dos profissionais de saúde acidentados com
material biológico que ocorreram em 12 hospitais durante o período de primeiro de
abril de 2000 a 31 de março de 2002. Foram notificados 2621 acidentes. Os acidentes
causados por agulhas contribuíram para 65,7% do total, os com exposição mucosa
por 13,7%, os com objetos cortantes 8,6%, perfurações que não por agulha 7,2%,
arranhões 1,9% e mordeduras 1,2%. Sangue estava envolvido em 82,5% dos casos e
saliva contaminada com sangue em 3%. Enfermeiras, médicos e técnicos de
laboratório sofreram exposição em 52,6%, 12,6% e 9,4% dos casos, respectivamente.
A maior taxa de exposição percutânea foi observada entre os médicos (10,4%),
técnicos de medicina nuclear (8,1%) e atendentes do setor de esterilização (8,1%). Já
as exposições mucosas foram mais freqüentes nos profissionais que administravam
medicamento inalatório (1,5%), estudantes de medicina (1,4%) e outros técnicos
(1,1%). Dos acidentes percutâneos, dois terços foram causados por agulhas
hipodérmicas, de sutura, scalps, agulhas de cateteres venosos e agulhas para coleta de
sangue. As agulhas com lúmen representaram maior risco de transmissão de
Introdução
11
patógenos quando comparadas com as agulhas hipodérmicas e de sutura. Os
acidentes perfurantes totalizaram 78,1%. Quase metade dos acidentes ocorreu após o
uso das agulhas; 24,2% ocorreram após o uso, porém antes do descarte; 12% estavam
relacionados ao recolhimento de materiais e 9% estavam relacionados ao descarte.
Sobre as exposições mucosas, 70,5% ocorreram nas membranas mucosas, enquanto
22,3% foram contato com pele não íntegra. A fonte era conhecida em 85,3% dos
casos, e o perfil sorológico era positivo para VHC, VHB e HIV em 7,6%, 2,6% e
1,8% respectivamente. Dos profissionais acidentados, 97% eram previamente
vacinados contra hepatite B e 2,3% eram positivos para anticorpos anti-VHC.
Nenhuma soroconversão foi documentada.
Baldo et al.
19
, na Itália, relataram em 2002 o resultado de um programa de
vigilância dos acidentes ocupacionais ocorridos na região do Veneto, num período de
cinco anos. Foram identificadas 245 exposições, dentre as quais 63,7% ocorreram em
mulheres, com média de idade de 37 anos. Destes acidentes, 70,2% foram causados
por agulha. No momento do acidente, somente um profissional era positivo para
AgHBs (0,4%) e dois para RNA do VHC (0,8%). O perfil sorológico dos pacientes
fonte era o seguinte: 27,8% positivos para VHC, 11,4% para VHB e 2,4% para HIV.
Tarantola et al.
20
fizeram um estudo prospectivo na França, envolvendo 65
hospitais da região de Paris e nordeste do país. Durante quatro anos, de forma
contínua, todos os profissionais da área de saúde ou não, relatavam voluntariamente
a ocorrência de um acidente ocupacional. Foram relatados 7649 acidentes
ocupacionais. A maioria envolveu profissionais da enfermagem (60%), e foi causado
por agulhas utilizadas durante passagem de acesso intravascular ou coleta de sangue.
Uma pequena proporção dos acidentes foi relatada por cirurgiões (6%). Os autores
Introdução
12
comentam que embora os cirurgiões sejam os profissionais médicos com maior
chance de sofrerem ferimentos pérfuro-cortantes, eles são conhecidos pelo baixo
índice de notificação. Os autores também salientam que aproximadamente 50% dos
acidentes seriam evitáveis pelo uso das precauções universais e locais seguros de
descarte de material pérfuro-cortante. Durante os quatro anos do estudo, a proporção
de acidentes pérfuro-cortantes não diminuiu significativamente, porém a proporção
de acidentes evitáveis pelo uso das precauções universais diminuiu em torno de
10,1% (p=0,04). O índice de ferimentos percutâneos, relacionados à coleta de
sangue, diminuiu substancialmente durante o período do estudo em comparação com
os relacionados à passagem de acesso venoso.
Em artigo de revisão, Trim e Elliott
6
, mostram dados europeus publicados por
Public Health Laboratory Service (PHLS) sobre profissionais de saúde que sofreram
acidentes com material biológico, onde 91% dos profissionais acidentados eram
enfermeiras, 6% médicos e 3% profissionais coletores de sangue. Segundo estes
autores existe um consenso de que o número maior de acidentes com enfermeiras em
relação ao de médicos, se deve ao maior número de profissionais da enfermagem e à
resistência dos médicos em relatar uma exposição ocupacional. Ainda neste estudo, o
paciente fonte era portador de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) em
18 casos (56%). A maioria dos acidentes ocorreu durante punção venosa (38%), o re-
encape de agulhas contribuiu para 13% dos casos e o manejo de cateteres venosos
periféricos para 6%. Somente um quarto dos acidentados recebeu profilaxia pós-
exposição. A maioria dos profissionais que adquiriu HIV estava trabalhando em
países com alta prevalência dessa infecção, como os da África.
Introdução
13
Wnuk
5
, em 2003, escreveu o resultado de um estudo de vigilância realizado
na Polônia em quatro hospitais e ambulatórios entre fevereiro de 1995 e maio de
2001 sobre a exposição de profissionais de saúde ao HIV. Neste período foram
identificados 28 acidentes cuja fonte era positiva para HIV. Destes 24 eram do sexo
feminino e quatro do masculino, a média de idade era 34,7 anos; exposição
percutânea foi maioria (22 casos, 78,6%). Os principais mecanismos que levaram à
injúria foram: movimento inesperado do paciente, re-encape e descarte inadequado
das agulhas. Em mais de um terço dos casos, os profissionais não utilizavam
equipamentos de proteção individual.
Trapé-Cardoso e Schenck
7
, em 2004, analisando dados obtidos do National
Surveillance System for Hospital Health Care Workers (NaSH), EUA, de 870
acidentes ocorridos no período de 1997 a 2002, identificaram três grupos de
profissionais com maior risco de sofrerem acidentes ocupacionais percutâneos. Estes
grupos eram: residentes, estudantes de medicina e odontologia e profissionais da
enfermagem, que contribuíram com 80% dos casos de acidentes registrados pelo
NaSH neste período. Do total de acidentes, 82,5% foram exposições percutâneas,
16,5% exposições da pele ou mucosa e 1% dos casos foram de mordedura humana.
A maioria dos profissionais era do sexo feminino (59%), a média de idade era de
36,7 anos (19 a 70 anos).
Watterson
21
, em 2004, divulgou os dados do programa de vigilância de
acidentes ocupacionais (EpiNet) da Inglaterra, colhidos no período de 1 de janeiro a
31 de dezembro de 2002, de 15 hospitais onde 1445 acidentes foram relatados. A
maioria dos casos foi de lesão percutânea superficial (52,6%), e o paciente fonte era
conhecido em 82% dos casos. As enfermeiras sofreram 42,1% dos acidentes. Em
Introdução
14
56,4% dos casos, o acidentado estava utilizando o objeto pérfuro-cortante. A maioria
dos acidentes ocorreu durante o uso do objeto (15%) ou após o uso e antes do
descarte (21%). Injeções intramusculares ou subcutâneas foram as atividades mais
freqüentemente relacionadas aos acidentes. Foi evidenciado um grande número de
acidentes relacionados à má prática de descarte de materiais. Objetos pérfuro-
cortantes envolvidos no acidente, muitas vezes foram encontrados abandonados em
locais inadequados, geralmente próximos ao local de descarte. Grande parte das
exposições ocorreu no quarto do paciente (40,3%), salas de cirurgia (20,6%), salas de
medicação (10,1%) e setor de emergência (6,5%).
Azap et al.
22
, em 2005, publicaram um estudo baseado na entrevista de 988
profissionais de saúde sobre a ocorrência de acidentes nos seis meses anteriores à
pesquisa realizado em dois hospitais universitários na Turquia. Dos 988
entrevistados, 214 tinham sofrido pelo menos um acidente neste período. Foi
observado que a maioria dos acidentes pérfuro-cortantes ocorreu no ambiente
cirúrgico (não na sala de cirurgia), quando comparado aos setores clínicos (30% x
16%, p<0,001). A causa mais freqüente de acidente foi o re-encape de agulhas
(45%). Dos profissionais acidentados, 28% não estavam usando equipamento de
proteção individual (EPI) e a razão mais freqüentemente citada foi pressa (63%),
além de: indisponibilidade dos equipamentos (17%), sensação de desconforto ao
utilizá-los (10%) e negligência (4%). Em torno de 67% dos 214 profissionais
acidentados procuraram assistência médica. Os motivos pelos quais o restante dos
profissionais não procurou atendimento foram: desinformação sobre eficácia das
medidas pós-exposição (40%), não considerar o acidente um evento importante
Introdução
15
(40%), falta de tempo (8%) e não encontrar o médico, apesar de procurá-lo (5%). A
fonte de informação foi dos próprios colegas de trabalho em 71%.
Sencan et al.
23
, na Turquia, estudou o perfil dos profissionais acidentados
entre outubro de 2001 e outubro de 2002. Dos 415 profissionais para os quais foi
dado o questionário, 67% responderam. Dos 57% que se acidentaram com objetos
cortantes, a maioria era enfermeira, enquanto os 36% que sofreram exposição
mucosa, eram médicos. A maioria dos acidentes ocorreu no centro cirúrgico e a
freqüência de lesões pérfuro-cortantes foi maior em profissionais do sexo feminino
(60%). Abrasões foram encontradas em 51% dos 278 profissionais e destes, 45% não
haviam reconhecido abrasões em suas mãos. Dos profissionais com abrasões, 60%
do total eram mulheres e 62% enfermeiras. Segundo este autor, o hábito de não usar
luvas durante serviços domésticos pelas mulheres e maior exposição a detergentes,
aumenta o número de dermatites. Embora abrasões não reconhecidas nas mãos
possam representar uma forma potencial de disseminação horizontal de patógenos
veiculados pelo sangue em profissionais de saúde, ainda são necessários mais
estudos para confirmar esta hipótese.
Estudo multicêntrico, retrospectivo, transversal foi realizado, entre os anos de
1999 e 2001, em 43 hospitais de diferentes cidades na África a fim de estabelecer as
características dos profissionais de saúde que sofrem acidentes ocupacionais. De
todos os profissionais contatados para a pesquisa, 1241 concordaram em participar e
destes, 45,7% relataram pelo menos um acidente. A média de idade foi de 36,3 anos
e predomínio do sexo masculino (57,3%). Os profissionais mais envolvidos em
acidentes encontravam-se nos seguintes departamentos: clínica médica (36,2%),
ginecologia e obstetrícia (27,9%), cirurgia (18%) e radiologia (9,5%). As enfermeiras
Introdução
16
foram as que mais se acidentaram (23,1%), seguidas dos médicos (19,8%), auxiliares
de enfermagem (13,4%), parteiras (10,8%), cirurgiões (10,6%) e estudantes de
medicina (10,2%). As exposições percutâneas foram a maioria (80,1%), seguida da
exposição mucosa (15,3%). As principais atividades relacionadas aos acidentes
foram: colocação ou retirada de acesso venoso, coleta de sangue e injeção
intramuscular. O paciente fonte tinha sorologia positiva para HIV em 13,1% dos
casos e negativa em 11,5%, desconhecida em 73,4% e não documentada em 2,1%. O
status sorológico para hepatites B e C dos pacientes fonte era em sua maioria
desconhecido (89,4% e 90,7% respectivamente). Em 392 casos o acidente não foi
notificado (69,1%). Dos 567 profissionais avaliados, 39,5% tinham recebido três
doses da vacina contra hepatite B, mas somente 11,2% tinham verificado seu status
sorológico pós – vacinal. Dos 1241 profissionais participantes da pesquisa, 334
profissionais tinham recebido informação e treinamento sobre o uso das precauções
universais
24
.
Estudo prospectivo realizado na Coréia do Sul, de 1 de janeiro de 1991 a 31
de dezembro de 2001, mostrou o perfil epidemiológico dos acidentes ocupacionais
num grande hospital universitário de Seoul. Foram relatados 959 acidentes de 806
profissionais de saúde. Predominou o sexo feminino sobre o masculino (54,4% e
45,6% respectivamente), porém em discordância com vários estudos, a categoria
profissional que mais sofreu acidentes foi a de médico (48,3%), seguida de
estudantes de medicina (74,7%) e enfermeiras (27,4%). As exposições percutâneas
foram as mais comuns (94%), sendo 91,6% causadas por agulhas. Grande parte dos
acidentes ocorreu no quarto do paciente (51,1%), salas de cirurgia (15,1%) e salas de
Introdução
17
emergência (10,1%). O re-encape de agulhas contribuiu para 16,1% dos acidentes
percutâneos
25
.
Talaat et al.
26
publicaram em 2003, estudo realizado no Egito, no qual
entrevistaram 1485 profissionais de saúde, incluindo médicos, dentistas, enfermeiros,
funcionários da limpeza e profissionais vinculados a serviços de saúde públicos ou
privados, de 98 serviços diferentes. De todos os entrevistados, 56,4% eram
profissionais vinculados a hospitais, 31,2% eram de serviços primários de saúde e
12,4% do setor privado. Aproximadamente metade dos que responderam à pesquisa
eram da área de enfermagem (46%); 22,8% médicos, 5,3% dentistas, 6,2% técnicos
de laboratório, 15,4% funcionários da limpeza e 6,2% outros. A média de idade era
37,2 anos (17 a 60 anos). De todos os profissionais participantes, 69,4% relataram
pelo menos uma exposição ocupacional durante toda a vida laborativa e 35,6% nos
últimos três meses. A freqüência de exposição percutânea nesse período não foi
diferente entre os diversos setores de trabalho e entre as categorias profissionais. O
número anual de acidentes percutâneos foi maior entre os técnicos de laboratório,
que relataram 6,3 acidentes por ano. Os procedimentos relacionados ao acidente
foram: manipulação da agulha após o uso em 40% (re-encape com as duas mãos),
movimento repentino do paciente ou do colega de trabalho, coleta do material
pérfuro-cortante e sutura. Aqueles que relataram re-encape de agulhas com as duas
mãos, apresentaram maior risco de sofrerem acidente percutâneo comparados aos
que re-encapavam com apenas uma das mãos (p<0.05). Em relação ao descarte de
pérfuro-cortantes, 64,2% de todos os entrevistados descartavam os materiais em
cesto comum de lixo hospitalar, sendo este comportamento mais freqüente entre os
profissionais de serviço particular (92,9%) quando comparados com os de serviços
Introdução
18
públicos (57,3 a 61,6%). Somente 15,8% dos profissionais eram vacinados contra
hepatite B, estando a maioria entre médicos e dentistas.
Kermode et al.
27
relataram em 2005, o resultado de um estudo feito no norte
da Índia em 2002. A coleta de dados foi feita através de questionários anônimos
aplicados a profissionais de saúde de sete hospitais. As perguntas envolviam
conhecimento sobre os vírus transmitidos pelo sangue, riscos relacionados à
exposição ocupacional e adesão às medidas de precauções universais. Dos 307
questionários distribuídos, 87% foram respondidos. A maioria dos profissionais que
respondeu ao questionário era do sexo feminino (77,9%), com média de idade de
30,5 anos (18 a 62 anos) e enfermeiras (52,3%). Foi observado que os profissionais
que aderiam às medidas de precaução universal sofreram menos acidentes
ocupacionais. Comparativamente aos dados de dois estudos americanos citados neste
trabalho
27
, os achados são discordantes. Um dos estudos mostrou que 24% dos
profissionais de saúde e 34% dos médicos relataram acidente percutâneo no ano
anterior à pesquisa, enquanto neste estudo indiano, 63% dos profissionais de saúde e
69% dos médicos o fizeram. O outro trabalho americano citado
27
também mostrou
resultados discordantes. No último ano de trabalho, 9% das enfermeiras americanas e
72% das indianas relataram acidentes ocupacionais. Acidente em algum momento da
vida profissional foi relatado por 48% das americanas e 90% das indianas. A
proporção de profissionais de saúde que relatou acidentes ocupacionais neste estudo
é compatível com dados encontrados em outros estudos realizados em países em
desenvolvimento, citados por Kermode et al.
27
.
Outro estudo indiano, realizado por Mehta et al.
28
, avaliou 380 casos de
acidentes ocupacionais em profissionais de saúde que ocorreram no período entre
Introdução
19
janeiro de 1998 e dezembro de 2003, em um hospital da cidade de Mumbai. Do total
de acidentes, 45% ocorreram em enfermeiras, 33% em atendentes de enfermagem,
11% em médicos e 11% em técnicos de enfermagem. A fonte era conhecida em
66,8% dos casos. Nenhuma soroconversão foi observada. Dos acidentes com fontes
desconhecidas (33,2%), a maioria ocorreu com objetos pérfuro-cortantes que
estavam em sacos de lixo ou com instrumentos cirúrgicos. Grande parte dos
acidentes pérfuro-cortantes ocorreu devido ao re-encape de agulhas e ao descarte
inapropriado. Scalps e cateteres venosos foram os instrumentos com maior risco de
causar acidente percutâneo.
No Brasil, estudo realizado em Ribeirão Preto, no departamento de
Enfermagem da Universidade de São Paulo, entrevistando alunos de enfermagem do
terceiro e quarto anos do curso de graduação, mostrou que dos 124 alunos, 40%
relataram algum episódio de acidente com material pérfuro-cortante. Destes, 96%
eram mulheres, com média de idade de 20 a 22 anos; 62% tinham se acidentado uma
vez, 38% duas vezes e 6% três vezes. Dos 72 acidentes ocorridos, 17% foram com
material potencialmente contaminado. Em relação à notificação do acidente, sete
alunos não a fizeram. O intervalo de tempo entre o acidente e procura por
atendimento variou de 20 minutos a quatro horas. A região do corpo mais afetada foi
a dos dedos das mãos. As causas relacionadas à ocorrência do acidente foram:
inexperiência, inabilidade técnica, dificuldade em manejar material pérfuro-cortante,
nervosismo ao lidar com pacientes, insegurança e ansiedade
29
.
Em 2004, foi realizado um estudo transversal na Universidade Federal de
Minas Gerais, que envolveu estudantes de medicina do quinto ao 12º semestres do
curso médico. Foi aplicado questionário a 694 alunos; 349 acidentes foram relatados
Introdução
20
e foi observado aumento progressivo de 33,9 a 52,3% no número de acidentes em
alunos do quinto e 11º semestres, respectivamente. A maioria dos acidentes (63%)
envolveu agulhas ou objetos cortantes, 88,3% envolveram sangue e as mãos foram a
região do corpo mais afetada (67%). Os acidentes ocorreram durante a realização dos
seguintes procedimentos: sutura (34,1%), administração de anestesia local (16,6%),
participação em cirurgia como observador (8,9%), punção de veia com agulha
(8,6%), observação de parto (6,3%) e outros (25,9%). De todos os acidentados, 49%
procuraram atendimento e 8% receberam prescrição de antiretrovirais
30
.
Outro estudo brasileiro, realizado em seis hospitais de Brasília, Distrito
Federal, avaliou através de entrevistas, 570 profissionais de saúde. Destes, 39,1%
relataram acidente ocupacional prévio. O sexo feminino foi predominante (75,2%). A
média de idade foi de 38,8 anos e a mediana de 32 anos. O coeficiente de
acidentabilidade (total de acidentados sobre o total de avaliados, multiplicado por
100) foi inversamente proporcional ao porte do hospital, ou seja, quanto menor o
hospital, maior o índice de acidentes ocupacionais. Respectivamente, 32,9%, 39,9%
e 44,1%, para hospitais de grande, médio e pequeno porte. Os cirurgiões-dentistas
foram os que mais sofreram acidentes percutâneos (64,3%), seguidos dos médicos
(47,8%) e técnicos de laboratório (46%). Os profissionais de saúde com maior tempo
de serviço se acidentaram mais, exceto os médicos
31
.
Marino et al.
15
relataram, em 2001, 1300 acidentes ocorridos durante seis
anos no Hospital São Paulo, na cidade de São Paulo, Brasil. Destes, 90% foram
exposições percutâneas, sendo a maioria causada por agulhas, freqüentemente devido
ao descarte inadequado e re-encape. Dos pacientes fonte, 20% eram positivos para
HIV, 10% para VHC e 7,6% para VHB.
Introdução
21
Gutierrez et al.
32
observaram no Brasil, em um grupo de 404 profissionais de
saúde, que 80,7% dos casos de acidente ocupacional tinham fonte conhecida, sangue
estava envolvido em 76,7% dos casos, 24,5% das fontes tinham perfil sorológico
conhecido: 16,2% VHC, 3,8% VHB e 10,9% HIV positivos. De todos os
profissionais, 58,1% dos acidentados eram técnicos de enfermagem e pessoal da
limpeza e 67% completaram o seguimento. Quanto aos locais de ocorrência dos
acidentes 19,4% foram no centro cirúrgico e sala de emergência.
1.2 Medidas de Prevenção
Prevenção de exposição é a estratégia primária para reduzir o risco de
infecção ocupacional por patógenos veiculados pelo sangue. Todos os esforços de
prevenção devem ser feitos para reduzir o risco de exposição ocupacional.
Instituições de saúde devem disponibilizar um sistema prontamente acessível para os
funcionários que inclui programas educacionais, protocolos bem estabelecidos para
relato, avaliação, aconselhamento, profilaxia, tratamento e acompanhamento do
profissional acidentado
33
.
Precauções Universais: O CDC introduziu o conceito de Precauções
Universais em 1987, quando recomendou que todos os profissionais de saúde
utilizassem precauções de barreiras ao entrar em contato com sangue ou outros
líquidos corporais. Em 1989, estas recomendações foram atualizadas, incluindo
precauções a serem utilizadas durante coleta de sangue e lavagem das mãos após
remoção das luvas. A Occupational Safety and Health Administration (OSHA)
Introdução
22
publicou “The Blood-borne Pathogens Rule” em 1991, requerendo treinamento de
todos os profissionais de saúde, vacinação contra hepatite B gratuitamente a todos os
profissionais e implementação de monitoramento da adesão às medidas de
precauções universais. Em 1996, as precauções universais e medidas de isolamento
foram agrupadas em Precauções Padrão
34
.
As Precauções Padrão são recomendadas para reduzir o risco de transmissão
de microrganismos de fontes conhecidas e desconhecidas no ambiente hospitalar,
tanto do paciente para o profissional de saúde, quanto o contrário. As precauções
universais enfatizam a necessidade dos profissionais de saúde considerarem todos os
pacientes como potencialmente infectados pelo HIV, VHC ou VHB e aderirem
rigorosamente às precauções de controle de infecção, a fim de minimizarem o risco
de exposição a sangue e líquidos corporais
35,36
.
As Precauções Universais devem ser aplicadas a todos os líquidos corporais,
como sangue, secreções e excreções (exceto suor, a não ser que esteja visivelmente
contaminado com sangue), pele não íntegra e membranas mucosas. São
recomendadas para diminuir a transmissão de microrganismos, tanto de fontes
conhecidas como de fontes desconhecidas nos hospitais. As medidas utilizadas para
diminuir o risco de transmissão de microorganismos nos hospitais incluem: a
lavagem das mãos imediatamente após contato com material infectante, o uso de
luvas, aventais, máscaras de proteção respiratória e proteção para os olhos, além do
manejo e descarte corretos dos materiais utilizados, alocação adequada e transporte
do paciente infectado
37
.
Introdução
23
A relação entre infecção hospitalar e as mãos dos profissionais de saúde já
está estabelecida há mais de um século. A lavagem das mãos é o método mais
simples e eficaz de prevenção das infecções hospitalares
36
.
A transmissão de patógenos por contato pode ser prevenida pela higiene das
mãos, incluindo lavagem ou uso de álcool gel, uso de luvas e desinfecção de
superfícies. Destas, a higiene das mãos é a mais importante, pois o uso de luvas não é
requerido para todos os tipos de cuidados com o paciente em muitos hospitais. A
apropriada da higiene das mãos mostrou ser eficaz em reduzir taxas de infecção no
ambiente intra-hospitalar, hospital-dia e no domicílio
38
.
O uso de luvas é muito benéfico como medida preventiva à exposição aos
patógenos veiculados pelo sangue e deve ser encorajado entre os profissionais de
saúde
39,40
.
Está bem estabelecido na literatura que para minimizar o risco de transmissão
de patógenos veiculados pelo sangue dos pacientes para os profissionais de saúde,
todos os profissionais devem aderir às medidas de precauções universais como
lavagem das mãos e barreiras de proteção (uso de luvas, óculos, máscaras e
aventais), cuidados no manejo e descarte de agulhas e outros instrumentos pérfuro-
cortantes.
Empregadores devem estabelecer protocolos de notificação por escrito dos
acidentes, avaliação, aconselhamento, tratamento e acompanhamento dos
acidentados
5
.
Medidas Educacionais: “É mais fácil mudar a tecnologia do que o
comportamento das pessoas”
28
. A educação do profissional de saúde é o maior
Introdução
24
componente da prevenção primária e deve incluir estudantes e profissionais recém
admitidos ou não, assim como a atualização periódica dos mesmos
41
.
Todos os profissionais de saúde devem ser informados, educados e treinados
sobre os riscos de infecção pelos agentes veiculados pelo sangue após acidente
ocupacional e as medidas para prevenção de exposição a estes patógenos. Estas
incluem a implementação de Precauções Padrão; a disponibilização de equipamentos
de proteção individual e dispositivos de segurança; a implantação de procedimentos
seguros; a vacinação contra hepatite B; os princípios do manejo pós-exposição e a
importância de procurar atendimento o mais rápido possível após a exposição
ocupacional, assim como certas intervenções que devem ser iniciadas prontamente
para maximizar a eficiência da prevenção das medidas pós-exposição
33
.
Educação e programas de treinamento já mostraram um impacto positivo em
reduzir exposições e aumentar notificação das mesmas. Cursos e treinamentos
direcionados a todos os profissionais de saúde, inclusive internos e estudantes de
enfermagem, podem proporcionar redução do número de acidentes ocupacionais
preveníveis, como os que ocorrem com agulhas descartadas incorretamente ou os que
ocorrem devido à falta do uso de equipamentos de proteção. Assim, o aumento no
número de notificações dos acidentes pode proporcionar oportunidades para
implementação consistente de medidas profiláticas pós-exposição e mudança de
práticas através de aconselhamento
17
.
Vacinação contra Hepatite B: Existem mais de 350 milhões de portadores
do vírus da hepatite B no mundo. Devido à facilidade de transmissão deste vírus por
via parenteral, os profissionais de saúde têm risco aumentado de infecção por causa
de exposições freqüentes a sangue ou outro material biológico de pacientes.
Introdução
25
Estudo brasileiro, realizado em São José do Rio Preto, estado de São Paulo,
observou prevalência de hepatite B entre 1433 profissionais de saúde, 872
profissionais administrativos do Hospital de Base da cidade e 2583 doadores de
sangue. Foi detectada prevalência de 0,8% de infecção pelo vírus da hepatite B entre
profissionais de saúde, significativamente maior que a observada nos doadores de
sangue (0,2%)
42
.
A vacina é o modo mais eficaz de prevenção dessa infecção. Entre os
profissionais vacinados no estudo brasileiro de São José do Rio Preto, São Paulo,
86,4% se tornaram imunes
42
.
No Brasil, uma região de média endemicidade, a vacina é oferecida
gratuitamente a todos os profissionais de saúde
43
. A realização de sorologia para
pesquisa de anticorpos anti-HBs um a dois meses após o término do esquema de
vacinação é recomendada a todos os profissionais e títulos maiores que 10UI/L são
considerados protetores
33
.
O risco de infecção ocupacional em profissionais de saúde pelos vírus
veiculados pelo sangue, em países de baixa renda, é exacerbado por vários fatores
tais como: super-lotação de hospitais, conhecimento limitado dos riscos de exposição
ao sangue, falha na implementação das medidas de precaução universal, necessidade
de manusear agulhas ou outros objetos pérfuro-cortantes que serão reutilizados e
disponibilidade inadequada de equipamentos de segurança como coletor de pérfuro-
cortante, equipamentos de proteção individual e agulhas descartáveis
44
.
Em estudo realizado no Egito, a taxa de descarte de material pérfuro-cortante
em locais não apropriados e o re-encape de agulhas com as duas mãos contribuiu
Introdução
26
para um alto índice de acidentes (64,2% e 40% respectivamente). Isto mostra que
muitos acidentes ocupacionais podem ser prevenidos apenas com medidas corretas
de manejo e descarte de material pérfuro-cortante
26
.
Mehta et al.
28
observaram em um hospital na Índia que o número de acidentes
ocupacionais percutâneos que ocorriam com agulhas descartadas em locais
inadequados diminuíram, ao comparar as taxas dos anos de 1998 e 2003. Os
acidentes diminuíram de 22 (46%) para 13 (27%), respectivamente, mostrando que a
simples coleta adequada de material pérfuro-cortante contribui para a diminuição dos
índices de acidentes ocupacionais. Adicionalmente, a falta de acesso à vacinação
contra hepatite B e profilaxia pós-exposição contra HIV aumenta a chance de ocorrer
infecção ocupacional
42
.
Embora essas medidas, incluindo as Precauções Universais, venham sendo
implementadas desde 1980, estudos continuam a mostrar menos de 100% de adesão
a elas entre os profissionais de saúde
39
.
1.3 Adesão às Medidas de Prevenção
A adesão aos manuais de Precaução Universal diminui as chances de contrair
os vírus transmitidos pelo sangue, porém nem todos os profissionais aderem a estas
medidas preconizadas. Os dados de auto-relato de adesão às medidas de precaução
universal podem ser superestimados em relação aos dados observados por terceiros
45
.
McCoy et al.
34
fizeram um estudo no estado de Iowa, Estados Unidos, de
avaliação da adesão dos profissionais de saúde às medidas de Precaução Universal,
Introdução
27
através de questionários enviados a profissionais de controle de infecção. Ambiente
seguro, vigilância dos profissionais por supervisores ou colegas de trabalho e
freqüência de educação continuada exerceram um importante papel na adesão às
medidas de precaução universal. Grupos ocupacionais devem ser considerados
independentemente quando estratégias são desenvolvidas para aumentar a adesão.
Estudo feito por Stein et al.
46
na Inglaterra, avaliou o conhecimento de
médicos e enfermeiras sobre controle de infecção, através de questionários, em três
hospitais universitários. Do total de 231 questionários, 73 médicos e 143 enfermeiras
responderam. O conhecimento sobre a transmissão dos patógenos veiculados pelo
sangue foi baixo: 40% para hepatite B, 38,1% para hepatite C e 54,6 % para HIV.
Diferença significante foi encontrada entre médicos e enfermeiras sobre estimativa
de risco para hepatite B (p=0.006) e HIV (p<0.001). A maioria das enfermeiras
(86%) informou que cuidava de cada paciente como se ele portasse um dos vírus,
comparado com 41% dos médicos. Houve uma diferença estatisticamente
significante entre médicos e enfermeiras sobre adesão a lavagem das mãos antes e
após a manipulação do paciente e uso de luvas ao manipular sangue. Os médicos
subestimaram a importância destas precauções e relataram baixa adesão às
precauções universais, além da maior prevalência do re-encape de agulhas em
relação às enfermeiras. Cerca de 37% dos profissionais relataram acidentes
percutâneos, sendo os médicos a maioria.
Sonya Osborne
39
publicou um artigo sobre a adesão de enfermeiras que
trabalham no centro cirúrgico às Precauções Universais, na Austrália. O estudo foi
direcionado para o uso de duas luvas e máscara de proteção para os olhos. Foram
analisados 227 questionários e foi observado que a taxa de adesão foi menor que
Introdução
28
100%, com média de 72% para as variáveis estudadas. Enfermeiras mais jovens e
com tempo de trabalho menor que dois anos, aderiam com maior freqüência às
medidas. A média de adesão ao uso de duas luvas foi de 55,6% e 92% para o uso de
proteção adequada para os olhos. Motivos relatados para não aderirem às medidas
foram: a falta de tempo, a percepção de que o paciente não oferece risco, a
interferência no cuidado com o paciente pelo uso de equipamentos de proteção e a
indisponibilidade de equipamentos de proteção individual.
Fergusson et al.
47
, em Iowa, Estados Unidos, realizaram um estudo
envolvendo 2982 profissionais de saúde sobre adesão ao uso das Precauções
Universais. Através de questionários os seguintes dados foram obtidos: 22% dos
profissionais pensavam que se não utilizassem as medidas de precaução universal,
estariam colocando a vida do paciente em risco; 20% achavam que o uso destas
medidas poderia interferir com a prática no cuidado do paciente, diminuindo sua
habilidade; 14% achavam que não eram necessárias em determinadas situações; 14%
não sabiam do potencial de risco da exposição; 11% dos profissionais relataram
pressa como justificativa para o não uso das medidas de prevenção; em 7% os
equipamentos de proteção individual não estavam disponíveis; 6% se esqueceram de
utilizá-las; 4% estimaram que o paciente não oferecia risco; e 3% avaliaram que o
equipamento não oferecia a proteção necessária. Em termos gerais, 44% usaram
luvas enquanto que 61% lavaram as mãos em menos de 100% das vezes. Dos
profissionais que responderam ao questionário, 34% relataram uma exposição
percutânea e 42% uma exposição mucosa, nos últimos três meses. Doebbeling et
al.
45
, observaram no mesmo estudo que as enfermeiras aderiam mais à lavagem das
mãos (32 e 54%) e evitavam o re-encape de agulhas (29 a 70%).
Introdução
29
Vaughn et al.
48
analisaram dados de questionários enviados a todos os
hospitais terciários do estado de Iowa nos Estados Unidos, exceto um, sobre fatores
que promovem a adesão dos profissionais de saúde às medidas de Precaução
Universal. Os fatores positivos foram: profissional do controle de infecção hospitalar
presente em tempo integral no serviço, programas freqüentes de educação a respeito
das Precauções Universais, presença dos equipamentos de proteção e uso de
equipamentos endovenosos desprovidos de agulhas. Os fatores negativos foram
representados pelo uso da categoria de isolamento “precauções para sangue e fluidos
corporais” e alta demanda de trabalho.
Em 2004, Jayne Cutter e Jordan
49
, na Inglaterra, relataram que os
profissionais aderiam às medidas quando desconfiavam que determinado paciente
poderia ter alguns dos vírus veiculados por sangue: HIV, VHB, VHC.
Shikomura et al.
38
conduziram um estudo sobre o uso de equipamentos de
proteção individual e higiene das mãos por profissionais que trabalhavam no setor de
hemodiálise de 45 instituições nos EUA. Verificaram que 36% dos profissionais
aderiam às práticas de uso de luvas e lavagem das mãos antes e após o manejo de
cada paciente e que 35% sabiam que os pacientes poderiam ter risco de transmitir
algum patógeno veiculado pelo sangue. O principal fator que contribuiu para a
adesão às práticas de higiene das mãos foi o fato de que os profissionais acreditavam
que o uso destas medidas os protegeria de contrair alguma infecção de patógeno
veiculado pelo sangue.
Gemert-Pijnen et al.
50
avaliaram percepção de risco, familiaridade com
protocolos, motivação e comportamento de profissionais de saúde, em cinco
hospitais na Holanda, através de questionários, testes práticos e entrevistas. Setenta
Introdução
30
questionários foram elaborados para quatro categorias profissionais (médicos,
enfermeiros, técnicos de laboratório e funcionários da limpeza) que trabalhavam em
setores nos quais tinham maior probabilidade de sofrerem um acidente pérfuro-
cortante (centro cirúrgico, sala de emergência, laboratório e unidade de tratamento
intensivo). Foi observado que a adesão às medidas de prevenção e uso de
equipamentos de proteção individual estão relacionados à percepção do risco de
infecção pelos patógenos veiculados pelo sangue após exposição percutânea. Os
profissionais que já haviam sofrido acidentes anteriormente reconheciam mais o
risco e adotavam até precaução excessiva. A maioria dos profissionais não sabia
estimar os riscos de uma exposição e esta insegurança fazia com que eles tomassem
precauções muitas vezes desnecessárias. As enfermeiras pareceram ser as mais
motivadas a aderir às precauções, enquanto os funcionários da limpeza eram os
menos motivados. Os médicos eram os mais descrentes quanto à efetividade das
precauções. Técnicos de laboratório consideravam o uso de equipamentos de
proteção individual inútil. Este estudo notou que a falta de adesão não parece estar
relacionada à falta de tempo ou recursos, mas sim ao grau da percepção do risco da
exposição aos patógenos. A participação do profissional de saúde na elaboração dos
protocolos, treinamentos, adequação de informações a cada categoria profissional e
supervisão direta são sugeridos para incorporar estas medidas à prática diária do
profissional.
Um estudo na Índia, feito por Kermode
44
, avaliou a adesão dos profissionais
de saúde às medidas de Precaução Universal e observou que somente 11% dos
profissionais eram totalmente aderentes a estas medidas. A adesão a estas medidas
estava significativamente associada ao maior tempo de trabalho do profissional, ao
Introdução
31
conhecimento dos patógenos veiculados pelo sangue, ao conhecimento das medidas
de precaução universal, à disponibilidade de equipamentos de proteção e percepção
de segurança.
Um estudo chinês avaliou a adesão de profissionais da área de ginecologia e
obstetrícia às medidas de Precaução Universal, através de entrevista de 137
profissionais. A taxa de não adesão ao uso de luvas foi de 61% e à lavagem das mãos
de 40% e a ambos 67%. Os motivos relatados para justificar a não adesão ao uso de
luvas e lavagem das mãos foram respectivamente: procedimentos desnecessários
(47% e 40%), procedimentos inconvenientes (19% e 31%) e falta de material (luvas
e água) (18% e 22%). As justificativas “desnecessários” e “inconvenientes” foram
atribuídas à baixa ou falta de percepção de risco. Surpreendentemente, os
profissionais que tinham melhor percepção de risco aderiam menos às medidas que
os profissionais que não tinham o conhecimento adequado
36
.
Manso et al.
43
realizaram estudo em Goiás, Brasil, sobre a adesão à vacinação
contra hepatite B dos profissionais de saúde que trabalham em Unidades de
Tratamento Intensivo (UTI). Observaram que 95,5% dos profissionais entrevistados
já haviam sido vacinados; 80,2% completaram o esquema de três doses, 15,2%
estavam em processo de vacinação e 4,1% não se lembravam de quantas doses
haviam recebido. Os funcionários da limpeza eram os que menos haviam sido
vacinados.
Outra investigação brasileira realizada em Brasília, Brasil, diferentemente do
observado em outros estudos, não houve influência do conhecimento das medidas de
biossegurança sobre o número de acidentes. Estes ocorreram em maior número nos
profissionais que conheciam o conceito; 50% x 37,5% que não o conheciam. O fato
Introdução
32
de os profissionais terem ou não conhecimento sobre os riscos de transmissão do
HIV não interferiu no coeficiente de acidentabilidade de trabalho, sendo este
coeficiente maior nos que conheciam o risco. Quanto ao uso dos equipamentos de
proteção individual, não houve influência na adesão ao uso dos mesmos e diminuição
do índice de acidentes. A realização de treinamentos sobre biossegurança não
interferiu positivamente na redução de acidentes
31
.
Além dos problemas referidos em relação a adesão às medidas de precaução,
assinala-se também que os dados sobre freqüência dos acidentes ocupacionais
permanecem incertos, devido ao alto índice de sub-notificação. Enquanto os
profissionais de saúde não se conscientizarem da importância da notificação do
acidente, a dimensão real do problema não poderá ser determinada. Trim e Elliot
6
relataram que em 1983 Hamory publicou índice de sub-notificação de acidentes
ocupacionais da ordem de 40% em um hospital universitário. A seguir, outros
estudos relataram uma taxa variável entre 26 e 85%
6
. Observaram, durante seis
meses, que 37% de todos os médicos não relataram seus acidentes. Segundo estes
autores, os médicos têm uma certa resistência em notificar o acidente percutâneo,
devido à preocupação de contrair uma doença infecciosa e isso poder prejudicá-lo no
trabalho, caso este fato se torne conhecido
6,40
. Também foi observado, por Jayne
Cutter e Jordan
49
, em 2004, que entre os cirurgiões era menor o índice de notificação
do acidente com material biológico.
Outro estudo observou através de 3223 questionários respondidos por
profissionais de saúde acidentados, que cerca de um terço dos acidentes não era
notificado ou não era documentado formalmente. A maioria dos profissionais que
não notificaram o acidente era médica (62%)
45
.
Introdução
33
1.4 Profilaxia após exposição ocupacional (PEP – Post-Exposure
Prophylaxis)
Uma vez ocorrido o acidente, existem algumas condutas preconizadas para
profilaxia pós-exposição.
O CDC
2
e o Ministério da Saúde do Brasil
1
preconizam medidas para
profilaxia em relação ao VHB, VHC e HIV. O Ministério da Saúde do Brasil
54
preconiza também medidas profiláticas para Doença de Chagas pós-exposição do
profissional de saúde acidentado.
Hepatite B: Para a prevenção da transmissão da infecção pelo vírus da
hepatite B após acidente ocupacional a presença de AgHBs na fonte e no acidentado
deve ser levada em consideração, assim como o estado vacinal e presença de
anticorpos antiHBs no profissional acidentado. Em qualquer tipo de exposição do
profissional não vacinado a sangue ou fluido corporal contaminado, com fonte
conhecida ou desconhecida, deve-se indicar início imediato da vacinação. Se o
paciente fonte for positivo para AgHBs, a imunoglobulina também está indicada. A
eficácia da administração conjunta da imunoglobulina com a vacina é superior à da
imunoglobulina isoladamente (85-95% x 75% respectivamente), tomando como base
estudos realizados em recém-nascidos de mães portadoras de hepatite B).
2
Em caso
de pessoas vacinadas, porém com perfil sorológico pós-vacinação desconhecido,
deve-se testar o antiHBs no soro, para depois decidir a conduta mais pertinente a
cada caso. Em profissionais vacinados e com sorologia positiva (antiHBs >10 UI/L),
nenhuma conduta específica para VHB deve ser tomada
1,2
.
Introdução
34
Hepatite C: O manejo pós-exposição para VHC inclui somente teste para
dosagem de anticorpos contra VHC do paciente fonte e do profissional acidentado,
junto com dosagem de aspartato alanina transferase (ALT), imediatamente após o
acidente, e a seguir, dosagem de anticorpos contra VHC e dosagem da ALT quatro e
seis meses após o acidente. Para se fazer o diagnóstico precoce de infecção por VHC,
pode-se identificar o RNA do vírus no soro do profissional quatro a seis semanas
após o acidente
1,2
.
HIV: Para a prevenção da infecção pelo HIV após acidentes ocupacionais, a
estratificação da gravidade da exposição e a presença de HIV resistente no paciente
fonte devem ser consideradas antes da prescrição da PEP. Cardo et al.
51
em estudo
caso-controle de soroconversão para o HIV, em profissionais de saúde que sofreram
exposição percutânea, mostraram que a PEP com AZT diminuiu a probabilidade de
infecção por HIV em 81% (CI 95%, 48-94%).
Na maioria dos casos, dois antiretrovirais serão suficientes para a prevenção
da transmissão da infecção e habitualmente dois análogos nucleosídeos inibidores da
transcriptase reversa (NRTI), ou um NRTI associado a um análogo nucleotídeo
inibidor da transcriptase reversa (NtRTI). As combinações possíveis são: AZT
(zidovudina) com 3TC (lamivudina) ou FTC (entricitabina); D4T (estavudina) com
3TC ou FTC; TDF (tenofovir) com 3TC ou FTC. A adição de uma terceira ou quarta
droga deve ser considerada em exposições que implicam num grande risco de
transmissão do HIV ou que envolvem uma fonte com HIV já resistente a alguns
antiretrovirais. É recomendada a adição de um inibidor de protease (IP) ao esquema
da PEP, incluindo lopinavir/ritonavir, atazanavir, fosamprenavir, indinavir/ritonavir,
saquinavir/ritonavir ou nelfinavir. Os antiretrovirais abacavir, delavirdina, DDC
Introdução
35
(zalcitabina), combinação D4T com DDI (didanosina) e nevirapina devem ser
evitados. Diminuir os efeitos colaterais e aumentar a adesão ao esquema e ao tempo
de tratamento é o principal objetivo da profilaxia pós-exposição
2
.
Estudo brasileiro demonstrou que é comum a presença de mutações que
conferem resistência às drogas antiretrovirais comumente recomendadas pelo
Ministério da Saúde aos profissionais de saúde acidentados, no HIV do paciente
fonte. Este estudo detectou a presença de mutações que conferem resistência em 89%
dos casos fonte estudados. Segundo esses autores é recomendável investigar a
história de uso prévio de antiretrovirais pelo paciente fonte antes de prescrever o
esquema de profilaxia pós-exposição, embora esta medida nem sempre seja factível
na prática
52
.
O uso da PEP com antiretrovirais, após acidentes ocupacionais, ainda é
motivo de muitas dúvidas quanto ao emprego de regime de duas ou três drogas.
Basset et al.
53
,
com base em revisão de literatura e aplicação dos dados obtidos num
modelo matemático, observaram que os acidentados para os quais foram prescritas
duas drogas completaram o tempo total de tratamento profilático com maior
freqüência em relação aos que usaram três drogas. Concluíram que o beneficio de
completar o tempo indicado para profilaxia com o uso de duas drogas excede o
benefício de adicionar uma terceira droga ao regime, já que esta adição está
associada a alto índice de abandono por toxicidade e efeitos colaterais. O objetivo
principal da PEP é completar o tempo de uso, uma vez que o uso por tempo
insuficiente é semelhante, em eficácia, ao não uso da mesma.
Doença de Chagas: A profilaxia pós-exposição contra o Trypanosoma cruzi
é recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil
54
, baseada na opinião de
Introdução
36
especialistas. A eficácia e duração ideal da terapia presuntiva contra T. cruzi não foi
estabelecida em ensaios clínicos controlados. Os acidentes caracterizados como de
risco elevado são acidentes pérfuro-cortantes ou contato com mucosas, durante
manipulação de material contendo parasitos vivos, tais como amostras para cultivo,
vetores e animais de laboratório infectados, amostras de pacientes suspeitos de
elevada parasitemia e material de necrópsia. A recomendação é para o uso de
benzonidazol (7-10mg/Kg/dia) durante 10 dias após a exposição
54
.
Porém, em casos de acidentes com alta carga parasitária, os profissionais
devem ser tratados por no mínimo 30 dias e submetidos à monitorização clínica e
sorológica
54
.
Em situações de mínimo risco, como por exemplo, contato com sangue de
paciente crônico, a profilaxia medicamentosa não está indicada, recomendando-se a
monitorização sorológica
54
.
Segundo Herwaldt
10
, o efeito da terapia de curto prazo poderia suprimir a
parasitemia e mascarar os indicadores da infecção parcialmente tratada. Por outro
lado, prolongar o tempo do tratamento presuntivo pode estar associado a vários
efeitos adversos, como hematológicos, dermatológicos e neurológicos.
Já foram relatados casos de falha da profilaxia após exposição
ocupacional
10,11
. Em um caso relatado no Brasil, o profissional fez uso de
benzonidazol pós-exposição e contraiu Doença de Chagas
10,11
.
Após exposições acidentais a T. cruzi, os acidentados devem ser monitorados
clínica e laboratorialmente em busca de evidências de infecção, independente do uso
de terapia presuntiva
54
.
Introdução
37
1.5 Adesão ao seguimento ambulatorial após exposição ocupacional
Os acidentes ocupacionais com sangue ou outros fluidos potencialmente
contaminados devem ser tratados como emergência médica. A precocidade da
introdução das medidas profiláticas pode diminuir o risco da infecção e aumentar a
eficácia da PEP
1,2
. O tratamento eficaz para qualquer acidente ocupacional, depende
primariamente do profissional ter condições de procurar atendimento imediatamente
após a exposição e aderir ao seguimento ambulatorial
55
.
As conseqüências da exposição ocupacional vão além das preocupações com
a transmissão da doença, incluindo também outros aspectos da vida do profissional
acidentado, como emocional, social e financeiro
56
. Profissionais da saúde que sofrem
acidente ocupacional com potenciais agentes infecciosos veiculados pelo sangue
experimentam profunda ansiedade, pois se preocupam com sua própria saúde, assim
como de seus parceiros, crianças e segurança no trabalho
55
. A ansiedade do
profissional acidentado está relacionada à percepção do risco do acidente e a
expectativa da reação das outras pessoas, entre os quais colegas de trabalho, família e
amigos. Freqüentemente o profissional experimenta pensamentos introspectivos,
problemas de concentração, de sono, raiva e diminuição na libido. Embora os vírus
das hepatites sejam mais transmissíveis, o medo da infecção por HIV é a principal
causa de estresse e ansiedade
4,28
. Os prejuízos a longo prazo, para o próprio
profissional de saúde ainda não foram determinados. Além da ansiedade, há o
impacto pessoal, pior desempenho no trabalho e o preconceito
28
.
Introdução
38
Gershon et al.
14
relataram, numa série de 150 casos de acidentes
ocupacionais, freqüência de 53% de ansiedade, 18% de insônia, 13% de depressão,
10% de perda de apetite, 10% de sonolência e 10% de choro freqüente ao se lembrar
do incidente.
A adesão do profissional de saúde ao acompanhamento ambulatorial após
exposição ocupacional faz parte do sucesso na prevenção da transmissão de infecção
pelos vírus do HIV e VHB, e permite o diagnóstico e tratamento precoce da hepatite
C caso haja transmissão. Dados sobre adesão ao seguimento ambulatorial do
profissional da saúde após exposição ocupacional são escassos e sugerem que a
adesão freqüentemente não é ideal
55
. Behrman et al.
55
, em 2001, fizeram um estudo
comparativo entre dois grupos de profissionais de saúde que se acidentaram entre
1987 - 1988 e 1996 – 1997, num total de 258 no primeiro grupo e 217 no segundo, a
fim de avaliar os tipos de exposição aos patógenos veiculados pelo sangue, a adesão
do profissional a esquemas de vacinação para hepatite B, testes diagnósticos e adesão
ao seguimento. Durante o intervalo de tempo entre os grupos avaliados, várias
medidas foram adotadas para facilitar a adesão: 1. educação continuada dos
profissionais de saúde em relação ao controle de infecção, profilaxia pós-exposição,
necessidade de relato imediato do acidente e coleta de sorologia imediatamente após
a exposição; 2. criação de protocolos de atendimento ao profissional acidentado; 3.
disponibilidade 24 horas de profissionais habilitados a atender o profissional
acidentado e disponibilidade imediata de comprimidos antiretrovirais, para os três
primeiros dias após o acidente, a fim de minimizar o tempo para início do tratamento
após a exposição; 4. educação do profissional que atende o acidentado em
aconselhamento sorológico para os patógenos pertinentes, imediatamente após o
Introdução
39
acidente, assim como a realização da sorologia do paciente fonte; 5. disponibilidade
de testes rápidos para HIV e VHC; 6. disponibilidade de protocolos para lembrar o
profissional acidentado de retornar à consulta. Foi observado no grupo 2 um aumento
da taxa de adesão ao seguimento pós-exposição. Houve um aumento de 92% na
coleta de sorologia do paciente fonte e do profissional acidentado, o que foi
importante para aumentar a adesão à profilaxia pós-exposição e seguimento
sorológico do profissional de saúde, além de ser vital para diminuir a ansiedade do
mesmo. Houve um aumento do número de pacientes fonte com sorologia positiva
para VHC no grupo 2, porém a adesão ao seguimento ambulatorial do profissional
acidentado com fonte VHC positiva ou fonte desconhecida foi menor em relação a
dos profissionais acidentados com fontes HIV positivas. Isto pode ser devido mais à
falta de conhecimento e preocupação com a infecção pelo VHC do que pelo receio
de se expor no ambiente de trabalho. Foram formuladas hipóteses para a não adesão
ao seguimento pelo profissional acidentado: inconveniência, negação, medo de
perder o emprego e medo da estigmatização em decorrência de qualquer falha na
confidencialidade. Além disso, profissionais muito ocupados simplesmente não
encontraram tempo para o cuidado com sua própria saúde; outros profissionais
podem ter mudado para outro trabalho; alguns podem ter passado a acompanhar com
seu médico particular ou em locais que realizem exames de forma anônima. O
seguimento na rede privada permite que os profissionais de saúde tenham tratamento
adequado sem exposição ao risco de tornarem sua condição pública, mas leva à perda
de dados epidemiológicos.
Em 2000, na 13
ª
conferência da International AIDS Society (IAS) realizada
na África do Sul, Debab et al.
57
mostraram dados sobre a influência do modo de
Introdução
40
exposição na adesão e tolerância aos procedimentos após exposição ao HIV. Foram
analisados 248 casos, sendo 63,6% de exposição ocupacional, 8% de não
ocupacional e 28,4% de sexual. Adesão completa para o tempo prescrito da PEP foi
81,9% (82%, 76,9% e 82% respectivamente). A presença de efeitos colaterais foi de
58,9%, 53% e 21,4% respectivamente. A conclusão foi que o modo de exposição
influenciou na tolerância da PEP, mas não influenciou na adesão ao seguimento.
Em 2005, estudo argentino conduzido por Miceli et al.
58
observou que,
somente a existência de um programa de acompanhamento de acidente ocupacional,
pós-exposição a material biológico, não é suficiente para garantir comportamento
adequado do profissional de saúde, tais como a adesão às medidas de Precaução
Universal, uso de equipamentos de proteção individual e seguimento ambulatorial.
Outras intervenções e educação continuada são necessárias, assim como
identificação de estratégias para aumentar a adesão. Observou também que o
conhecimento do perfil sorológico do paciente fonte não interferiu com a adesão ao
seguimento ambulatorial pós-exposição.
Patel et al.
59
, na Inglaterra, analisaram e compararam o manejo do
acompanhamento pós-acidente ocupacional, em profissionais de saúde que foram
atendidos pelo serviço especializado em acidentes ocupacionais e os que foram
atendidos pelo serviço de emergência de hospital universitário. Foram relatados 177
acidentes, dentre os quais, 109 (61,58%) foram atendidos pelo serviço especializado
e 68 (38,42%) no setor de emergências. Entre os que foram atendidos no setor de
emergência somente 21 (30,88%) retornaram para seguimento ambulatorial no
departamento de saúde ocupacional. Dos 11 indivíduos, para os quais foi prescrito
PEP contra hepatite B e HIV, todos atendidos no serviço de emergência, somente três
Introdução
41
retornaram para o acompanhamento ambulatorial. Nos três casos, a profilaxia pós-
exposição foi suspensa, pois, ou o paciente fonte era negativo para HIV, ou o
acidente era de baixo risco. Concluíram que os profissionais especializados que
faziam o atendimento eram mais capacitados para o manejo das exposições a
material biológico.
Gershon et al.
14
mostraram adesão ao acompanhamento ambulatorial de 60%
dentre 150 profissionais acidentados. Os que não compareceram relataram que a
razão pela falta foi devido ao fato de não terem sido lembrados da consulta. Quase
todos os profissionais entrevistados relataram que é fundamental a lembrança da
consulta por parte da clínica.
Entretanto há pelo menos um estudo mostrando boa adesão. Mehta et al.
28
, na
Índia, mostraram que em 380 acidentes ocorridos, somente dois profissionais não
terminaram o acompanhamento, pois foram transferidos de serviço.
1.6 Programa de Atendimento aos Acidentados com Material
Biológico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (HC FMUSP)
Em primeiro de agosto de 1998, foi criado pela Diretoria Executiva do
Instituto Central do HC FMUSP, o Programa de Atenção aos Profissionais de Saúde
Vítimas de Acidentes com Material Biológico, em princípio composto pelos
seguintes Serviços:
Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias;
Introdução
42
Divisão de Enfermagem;
Divisão de Farmácia;
Divisão de Laboratório Central;
Divisão de Arquivo Médico.
Por exigência do Sistema de Vigilância da Secretaria de Estado da Saúde de
São Paulo, a partir de 2001, os acidentes passaram a ser notificados através do
Núcleo de Informações em Saúde (NIS) do HC FMUSP, que também se incorporou
ao Programa.
Atualmente o Programa de Atenção aos Profissionais de Saúde Vítimas de
Acidentes com Material Biológico do HC FMUSP, que funciona vinte e quatro horas
ininterruptamente, obedece a seguinte dinâmica: a Divisão de Clínica de Moléstias
Infecciosas e Parasitárias é responsável pelo atendimento de emergência e
seguimento ambulatorial dos indivíduos que sofrem acidentes com exposição a
material biológico, nas seguintes dependências do Complexo Hospital das
Clínicas/Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo:
Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC);
Instituto de Radiologia (INRAD);
Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT);
Instituto de Psiquiatria (IPQ);
Laboratórios de Investigação Médica (LIMs);
Funcionários da empresa Centro Limpadora, lotados nas dependências
destes Institutos;
Introdução
43
Todos os alunos de graduação e todos os médicos residentes do Hospital
das Clínicas.
Na Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias a professora
Maria Aparecida Shikanai Yasuda nomeou uma equipe responsável pelo
atendimento, que vem sendo coordenada pela Dra. Marta Heloísa Lopes e já contou
com a colaboração dos seguintes médicos: Eduardo Alexandrino Sérvolo de
Medeiros, Eliana Bataggia Gutierrez, Fátima Mitiko Tengan, Lourenia Mendonça
Cassoli e Max Igor Banks.
Dados deste programa já foram preliminarmente publicados, em 2004, pela
Dra. Eliana Battaggia Gutierrez e colaboradores; os dados foram coletados desde o
início do programa até 31 de janeiro de 2002
32
.
Esta investigação visa dar continuidade ao citado relato e identificar os
fatores que influenciaram na adesão ou não do acidentado ao seguimento
ambulatorial pós-acidente ocupacional.
2 Objetivos
Objetivos
45
2.1 Objetivo Principal
Correlacionar as características do acidente e do acidentado com o perfil
de adesão dos profissionais de saúde ao seguimento ambulatorial após
exposição ocupacional a material biológico.
2.2 Objetivos Secundários
Caracterizar o profissional de saúde acidentado.
Caracterizar o acidente ocupacional com material biológico quanto a:
o Tipo de exposição
o Características da fonte
Descrever os casos de soroconversão detectados.
3 Métodos
Métodos
47
3.1 Casuística
Foram analisados retrospectivamente prontuários de profissionais de saúde do
complexo HCFMUSP que sofreram acidente com material biológico e foram
atendidos e retornaram ao ambulatório no “Programa de Atendimento aos
Acidentados com Material Biológico”, da Divisão de Clínica de Moléstias
Infecciosas e Parasitárias do HCFMUSP, no período de 01/08/1998 a 01/08/2005.
Este projeto foi aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de
Pesquisa - CAPPesq da Diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, sob número 252/06 (ANEXO A).
Atendendo aos preceitos éticos da pesquisa em humanos, foi mantido
rigorosamente o sigilo e a confidencialidade relativa às informações do sujeito desta
pesquisa.
3.1.1 Fluxograma seguido no “Programa de Atendimento aos
Acidentados com Material Biológico”, da Divisão de Clínica de
Moléstias Infecciosas e Parasitárias do HCFMUSP.
Os profissionais de saúde, estudantes, e estagiários que sofrem acidente com
exposição a material biológico (sangue, urina, escarro e líquidos corporais em geral)
Métodos
48
devem comunicar seu superior imediato logo após a ocorrência, que os encaminha
para a enfermagem dos respectivos Institutos. O acidentado chegando à Divisão de
Enfermagem é atendido por um enfermeiro-diretor ou assistente para caracterização
do tipo de acidente e envolvimento ou não com material biológico. Não havendo
presença de material biológico é orientado para fazer o comunicado de acidente de
trabalho (CAT). Havendo presença de material biológico, além da orientação para
fazer o CAT, o enfermeiro preenche o impresso de acidente com material biológico.
Após serem cadastrados e atendidos pela enfermagem os acidentados são
encaminhados para o Pronto Atendimento (PA) da Divisão de Clínica de Moléstias
Infecciosas e Parasitárias (MI) do Instituto Central do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICHC-FMUSP).
Este atendimento imediato ao acidente compreende anamnese, exame físico,
prescrição de conduta profilática e agendamento de retorno para seguimento no
ambulatório específico de acidentes com materiais biológicos, na Clínica de
Moléstias Infecciosas e Parasitárias.
Após o atendimento o médico orienta o acidentado a retornar à Divisão de
Enfermagem do Instituto onde ocorreu o acidente. A enfermagem orienta a coleta de
sangue do acidentado e do caso fonte, quando pertinente, para a realização das
sorologias pós acidente, o local de retirada dos medicamentos a serem tomados por
via oral, fornecidos pela Farmácia, e a administração dos medicamentos parenterais
(vacinas e imunoglobulinas), que são administrados pela enfermagem do Centro de
Imunizações (ACIM) nos dias úteis, no horário das 7 às 16 horas e pela Equipe do
Serviço de Enfermagem da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e
Parasitárias, a partir das 16 horas, nos dias úteis e nos finais de semana e feriados.
Métodos
49
As condutas, tanto no primeiro atendimento quanto durante seguimento
ambulatorial, são adotadas de acordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da
Saúde
1,54
. Os exames realizados nos profissionais acidentados e nos pacientes fonte
incluem, além das sorologias preconizadas pelo Ministério da Saúde (HIV, VHB e
VHC), a pesquisa de anticorpos contra Doença de Chagas.
Para o seguimento ambulatorial existe um questionário padrão que é
preenchido em todas as consultas pelo médico que atende o profissional acidentado
(Anexo B).
Em caso de fonte com perfil sorológico negativo para todos os testes
realizados (HIV, VHB, VHC e Doença de Chagas), o acidentado recebe alta na
primeira consulta ambulatorial. Em caso de fonte desconhecida ou positiva para
qualquer uma destas doenças, recomenda-se acompanhamento ambulatorial de seis
meses; em caso de fonte co-infectada para HIV e VHC o acompanhamento
ambulatorial é de doze meses.
Ao final do acompanhamento o acidentado que não apresenta soroconversão
recebe alta e o acidentado que apresentar soroconversão para qualquer um dos
agentes analisados é encaminhado para ambulatório especializado.
3.2 Desenho do Estudo
Estudo descritivo, retrospectivo, de análise de prontuários.
Métodos
50
3.3 Metodologia
Para a análise dos dados do “Programa de Atendimento aos Acidentados com
Material Biológico”, da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do
HCFMUSP, foi construído, pela Dra. Eliana B. Gutierrez, um banco de dados no
sistema EpiInfo 6.0 (Anexo C), tomando como base o questionário utilizado durante
o seguimento do acidentado no ambulatório de atendimentos a acidentados com
material biológico (Anexo B).
A partir do banco de dados, a investigadora executante analisou os seguintes
aspectos dos acidentes ocupacionais ocorridos no HCFMUSP no período de
01/08/1998 a 01/08/2005:
Características do acidente ocupacional:
Tipo de exposição
Intervalo de tempo entre o acidente e o atendimento
Conduta adotada no atendimento inicial
Características da fonte
Desconhecida.
Conhecida.
Se conhecida: perfil sorológico do caso fonte para HIV, VHB,
VHC e doença de Chagas.
Métodos
51
Características dos profissionais acidentados
Dados demográficos
Categoria profissional
Perfil sorológico do acidentado, em relação ao HIV, VHC, VHB e
Doença de Chagas, no momento do acidente e ao final do
acompanhamento.
3.3.1 Critérios de adesão ao programa
Seguimento ambulatorial completo após exposição a material biológico:
O profissional acidentado que realizou os exames sorológicos de seguimento pós-
acidente e compareceu às consultas agendadas, durante o período preconizado, foi
considerado como tendo completado o seguimento ambulatorial.
O profissional acidentado que realizou os exames sorológicos de seguimento
pós-acidente, durante o período preconizado, porém não compareceu às consultas
agendadas, também foi considerado como tendo completado o seguimento
ambulatorial, uma vez que o acompanhamento laboratorial estava completo.
Abandono de seguimento: O profissional acidentado que não realizou todos
os exames sorológicos de seguimento pós-acidente e não retornou às consultas
ambulatoriais, foi considerado como abandono de seguimento.
Adesão às medidas terapêuticas propostas: As medidas terapêuticas
prescritas após acidentes com material biológico preconizadas pelo Ministério da
Métodos
52
Saúde englobam: vacina e imunoglobulina contra hepatite B, medicamentos
antiretrovirais para profilaxia de HIV e benzonidazol para profilaxia de infecção pelo
T. cruzi. Não existem medidas eficazes de prevenção contra hepatite C.
A vacina e imunoglobulina contra hepatite B são administradas durante o
primeiro atendimento ao profissional acidentado, portanto a adesão a estas medidas é
facilmente avaliada.
Os medicamentos antiretrovirais, por sua vez, devem ser tomados durante 28
dias após o acidente e o esquema pode ser constituído por duas ou três drogas, de
acordo com o tipo e gravidade do acidente. Conforme dito anteriormente, estas
medicações podem provocar inúmeros efeitos colaterais que podem levar ao
abandono da terapia. Neste estudo a avaliação da adesão à terapêutica foi
considerada em relação aos medicamentos anti-retrovirais, da seguinte maneira:
Adesão à terapêutica: profissionais que completaram o tempo proposto
(28 dias) de tratamento com anti-retrovirais.
Não adesão à terapêutica: profissionais que não completaram o tempo
de tratamento proposto (28 dias) com os antiretrovirais, porém retornaram
às consultas ambulatoriais e profissionais em uso de antiretrovirais, que
não retornaram mais às consultas ambulatoriais e que, portanto, não se
tem informação se completaram ou não o tempo de tratamento proposto.
Estes profissionais também foram caracterizados anteriormente como
abandono de seguimento.
Métodos
53
3.4 Descrição dos casos de soroconversão detectados
Elaborada a partir da análise dos prontuários dos casos identificados.
3.5 Análise Estatística
Ao final do período estudado, o banco de dados EpiInfo 6.0 foi transferido
para o um banco de dados do programa Excel e a seguir analisado.
Foram analisadas as seguintes variáveis:
quantitativas: idade dos profissionais e intervalo de tempo entre o
acidente e o primeiro atendimento.
qualitativas: gênero do acidentado, categoria profissional, local do
acidente, material envolvido, instrumento, região do corpo, perfil
sorológico do acidentado e da fonte, condutas adotadas no primeiro
atendimento e adesão às condutas prescritas e ao seguimento
ambulatorial.
As variáveis qualitativas foram representadas por freqüência absoluta e
relativa (%) e as quantitativas por média, desvio padrão (dp), mediana, valores
mínimo e máximo.
Métodos
54
A presença de associação entre as variáveis qualitativas foi avaliada pelo teste
do Qui-quadrado. A incidência de soroconversão foi calculada e acompanhada de um
intervalo com 95% de confiança (IC95%). Adotou-se o nível de significância de 0,05
(α=5%) e níveis descritivos (p) inferiores a esse valor foram considerados
significantes.
4 Resultados
Resultados
56
No HC FMUSP ocorrem em média 40 acidentes ocupacionais com material
biológico por mês. No período de 01 de agosto de 1998 a 01 de agosto de 2005
foram acompanhados no ambulatório da Divisão de Clínica de Moléstias Infecciosas
e Parasitárias no Programa de Atendimento aos Acidentados com Material Biológico
1091 profissionais de saúde acidentados.
O gênero e a idade dos profissionais acidentados constam das tabelas 1 e 2,
respectivamente.
Tabela 1 - Características, segundo o gênero, dos profissionais de saúde do HC FMUSP
vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no ambulatório, entre
01/08/1998 e 01/08/2005
Gênero
n° de profissionais acidentados
n (%)
Feminino 824 (76,5)
Masculino 267 (24,5)
TOTAL 1091 (100)
Resultados
57
Tabela 2 - Características, segundo a idade, dos profissionais de saúde do HC FMUSP
vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no ambulatório, entre
01/08/1998 e 01/08/2005
Faixa etária
n° de profissionais acidentados
n (%)
21 a 30 anos 497 (45,5)
31 a 40 anos 249 (22,8)
41 a 50 anos 193 (17,7)
51 a 60 anos 70 (6,4)
< 20 anos 24 (2,2)
> 60 anos 5 (0,4)
Sem informação 53 (4,9)
TOTAL 1091 (100)
A média de idade dos acidentados foi de 33,3 anos e a mediana de 30 anos.
A distribuição da categoria profissional dos profissionais de saúde
acidentados acompanhados no ambulatório e o local de ocorrência dos acidentes
constam das tabelas 3 e 4, respectivamente.
Resultados
58
Tabela 3 - Características, segundo a categoria profissional, dos profissionais de saúde do
HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Categoria Profissional
n° de profissionais acidentados
n (%)
Auxiliar de enfermagem 462 (42,3)
Residentes 125 (11,5)
Funcionários da limpeza 121 (11,1)
Internos 91 (8,3)
Enfermeiro 68 (6,2)
Médico 55 (5,0)
Dentista 53 (4,9)
Técnico de laboratório 22 (2,0)
Atendente de enfermagem 10 (0,9)
Biólogo 7 (0,6)
Farmacêutico 1 (0,1)
Outros 71 (6,5)
TOTAL 1091 (100)
Tabela 4 - Distribuição, segundo o local de ocorrência dos acidentes, dos profissionais de
saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Local de ocorrência dos acidentes
n° de profissionais acidentados
n (%)
Ambiente cirúrgico (ambulatório, enfermaria e centro
cirúrgico)
289 (26,5)
Clinica médica (ambulatório e enfermaria) 291 (26,6)
UTIs 155 (14,2)
Pronto socorro 112 (10,3)
Laboratório 48 (4,4)
Odontologia 31 (2,8)
Berçário 16 (1,5)
Lixo hospitalar/ centro de coleta 6 (0,5)
Outros 143 (13,1)
TOTAL 1091 (100)
Resultados
59
A distribuição dos materiais biológicos envolvidos nos acidentes consta da
tabela 5.
Tabela 5 - Características, segundo material envolvido, dos profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Material envolvido nos acidentes
n° de profissionais acidentados
n (%)
Sangue 863 (79,1)
Líquor 9 (0,8)
Tecidos orgânicos 5 (0,5)
Sêmen 4 (0,4)
Líquido sinovial 1 (0,1)
Líquido amniótico 3 (0,3)
Outros 96 (18,0)
Sem informação 10 (0,9)
TOTAL 1091 (100)
Os tipos de acidentes segundo os instrumentos envolvidos nos acidentes com
material biológico estão discriminados na tabela 6.
Resultados
60
Tabela 6 - Características dos acidentes, segundo o instrumento envolvido, dos profissionais
de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico
acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Tipo do acidente Instrumento
nº de profissionais acidentados
n (%)
Agulha com lúmen 450 (41,2)
Agulha sem lúmen 295 (27)
Lanceta de Dextro 28 (2,6)
Bisturi 53 (4,9)
Lâmina / Tubo de ensaio 49 (4,5)
Percutâneo
Subtotal 875 (80,2)
Exposição de Mucosa Respingos 158 (14,5)
Outros
52 (4,8)
Sem informação
6 (0,5)
TOTAL
1091 (100)
A distribuição das regiões do corpo acometidas nos acidentes com material
biológico está disposta na tabela 7.
Tabela 7 - Características, segundo a região do corpo acometida, dos profissionais de saúde
do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Região do corpo atingida
nº de profissionais acidentados
n (%)
Membros superiores 878 (80,5)
Mucosas 158 (14,5)
Membros inferiores 32 (2,9)
Outros 15 (1,4)
Sem informação 8 (0,7)
TOTAL 1091 (100)
Resultados
61
O intervalo de tempo entre o acidente e o atendimento foi de 8,9 ± 49,6 horas,
com mediana de 30 minutos, sendo o tempo mínimo de 5 minutos e o máximo de
744 horas.
O perfil sorológico dos acidentados está descrito na tabela 8.
Tabela 8 - Distribuição do perfil sorológico, no momento do acidente, dos profissionais de
saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados
no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Perfil sorológico
dos Acidentados
no momento do
acidente
nº de acidentados
com sorologia
positiva
n (%)
nº de acidentados
com sorologia
negativa
n (%)
nº de acidentados
com sorologia
desconhecida
n (%)
TOTAL
n (%)
AgHBs 8 (0,7) 831 (76,2) 252 (23,1) 1091 (100)
AntiHBc 65 (6,0) 826 (75,7) 200 (18,3) 1091 (100)
AntiHBs 656 (60,1) 256 (23,5) 179 (16,4) 1091 (100)
VHC 29 (2,7) 981 (89,9) 81 (7,4) 1091 (100)
HIV 4 (0,4) 1045 (95,8) 42 (3,8) 1091 (100)
Chagas 13 (1,2) 773 (70,9) 305 (27,9) 1091 (100)
Em relação aos casos fonte dos acidentes com material biológico, estes eram,
em sua maioria, conhecidos (875 / 1091) correspondendo a 80,2% e em 19,8% dos
casos eram desconhecidos (216/1091).
O perfil sorológico dos casos fonte conhecidos está descrito na tabela 9.
Resultados
62
Tabela 9 - Distribuição do perfil sorológico dos casos fonte conhecidos no momento do
acidente com material biológico de profissionais de saúde do HC FMUSP entre
01/08/1998 e 01/08/2005
Perfil
sorológico dos
casos fonte
conhecidos
nºde casos fonte
com sorologia
positiva
n (%)
nº de casos fonte
com sorologia
negativa
n (%)
nº de casos fonte
com sorologia
desconhecida
n (%)
TOTAL
n (%)
AGHBs 29 (3,3) 552 (63,1) 294 (33,6) 875 (100)
AntiHBc 125 (14,3) 433 (49,5) 317 (36,2) 875 (100)
AntiHBs 156 (17,8) 579 (66,2) 140 (16) 875 (100)
VHC 127 (14,5) 682 (77,9) 66 (7,6) 875 (100)
HIV 114 (13) 736 (84,1) 25 (2,9) 875 (100)
Chagas 24 (2,7) 609 (69,6) 242 (27,7) 875 (100)
As condutas adotadas no primeiro atendimento ao acidentado constam das
tabelas 10 e 11.
Tabela 10 - Condutas adotadas no primeiro atendimento aos profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Condutas adotadas no
Primeiro Atendimento
Sim
n (%)
Não
n (%)
Sem
informação
n (%)
TOTAL
(n (%)
Vacina contra Hepatite B 419 (38,4) 668 (61,2) 4 (0,4) 1091 (100)
Imunoglobulina contra
Hepatite B (HBIG)
119 (10,9) 969 (88,8) 3 (0,3) 1091 (100)
Antiretrovirais 177 (16,2) 913 (83,7) 1 (0,1) 1091 (100)
Resultados
63
Tabela 11 - Distribuição dos esquemas antiretrovirais prescritos no primeiro atendimento aos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material
biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Antiretrovirais prescritos no primeiro atendimento n (%)
Terapia dupla
(AZT +3TC)
93 (52,5)
Terapia tripla
(AZT + 3TC + IDV ou NFV)
84 (47,5)
TOTAL 177 (100)
Um profissional recebeu profilaxia para Doença de Chagas com benzonidazol
pós-acidente percutâneo com agulha contaminada com sangue de paciente
transplantado renal, com Doença de Chagas aguda.
Foi encontrada associação estatisticamente significante entre o gênero do
acidentado e adesão ao seguimento. No grupo de acidentados mulheres, 71,2%
completou o seguimento enquanto no grupo de acidentados homens essa proporção
foi significantemente menor, 63,3% (p = 0,014). (tabela 12)
Tabela 12 - Adesão ao seguimento ambulatorial segundo o gênero dos profissionais de saúde
do HC FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Seguimento Ambulatorial
Completo após exposição a
material biológico
Sexo Feminino
n (%)
Sexo Masculino
n (%)
Sim 587 (71,2) 169 (63,3)
Não 237 (28,8) 98 (36,7)
TOTAL 824 (100) 267 (100)
Resultados
64
Devido à baixa representatividade de algumas categorias profissionais, não
foi possível correlacionar esta variável com adesão ao seguimento (tabela 13).
Tabela 13 - Adesão ao seguimento ambulatorial segundo categoria profissional dos
profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes com material
biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Categoria Profissional
Profissional de
saúde que
completou
o seguimento
n (%)
Profissional de
saúde que
não completou
o seguimento
n (%)
TOTAL
n (%)
Biólogo 7 (100) 0 (0,0) 7 (100)
Farmacêutico 1 (100) 0 (0,0) 1 (100)
Atendente de enfermagem 8 (80) 2 (20) 10 (100)
Auxiliar de enfermagem 358 (77,5) 104 (22,5) 462 (100)
Dentista 41 (77,4) 12 (22,6) 53 (100)
Internos 66 (72,5) 25 (27,5) 91 (100)
Enfermeiro 49 (72,1) 19 (27,9) 68 (100)
Médico 33 (60) 22 (40) 55 (100)
Residentes 74 (59,2) 51 (40,8) 125 (100)
Técnico de laboratório 12 (54,5) 10 (45,5) 22 (100)
Funcionários da limpeza 51 (42,1) 70 (57,9) 121 (100)
Outros 51 (71,8) 20 (28,2) 71 (100)
Sem informação 5 (100) 0 (0) 5 (100)
TOTAL 756 (69,3) 335 (30,7) 1091 (100)
Resultados
65
O número de profissionais que se acidentou com fonte conhecida e com fonte
desconhecida e que terminou o acompanhamento ambulatorial, consta da tabela 14.
O número de acidentados que completou o acompanhamento ambulatorial foi
significantemente maior entre os profissionais que se acidentaram com fonte
conhecida, em relação aos que se acidentaram com fonte desconhecida (p<0.001).
Tabela 14 - Relação entre adesão ao acompanhamento ambulatorial e situação conhecida ou
não do caso fonte nos profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de acidentes
com material biológico acompanhados no ambulatório, entre 01/08/1998 e
01/08/2005
Seguimento
ambulatorial
completo
Número de profissionais
acidentados com
fonte conhecida
n (%)
Número de profissionais
acidentados com
fonte desconhecida
n (%)
TOTAL
n (%)
Sim 672 (76,8) 84 (38,9) 756 (69,3)
Não 203 (23,2) 132 (61,1) 335 (30,7)
TOTAL 875 (100) 216 (100) 1091 (100)
Entre os 335 acidentados que abandonaram o seguimento (tabela 14) 167
(50%) se acidentaram com fonte conhecida (tabela 15). Não houve associação
estatisticamente significante entre os acidentados que abandonaram o seguimento,
quer o caso fonte fosse conhecido ou desconhecido.
A adesão ao seguimento ambulatorial relacionada ao perfil sorológico do caso
fonte está descrita na tabela 15.
Resultados
66
Tabela 15 - Relação entre adesão ao acompanhamento ambulatorial e perfil
sorológico do caso fonte nos profissionais de saúde do HC FMUSP vítimas de
acidentes com material biológico acompanhados no ambulatório, entre
01/08/1998 e 01/08/2005
Nº de profissionais acidentados de acordo com o seguimento
ambulatorial
Perfil sorológico do
caso fonte
Completo
n (%)
Incompleto
n (%)
TOTAL
n (%)
HIV positivo 44 (38,6) 70 (61,4) 114 (100)
VHC positivo 57 (44,9) 70 (55,1) 127 (100)
AgHBs positivo 15 (51,7) 14 (48,3) 29 (100)
Chagas positivo 11 (45,8) 13 (54,2) 24 (100)
TOTAL 127 (100) 167 (100) 294 (100)
Dos 1091 acidentados analisados, 177 (16,2%) tiveram indicação de
medicação antiretroviral. Nestes profissionais foi avaliada a adesão à esta medida
terapêutica proposta. Destes 177 profissionais, 80 (45,2%) completaram o tempo de
terapêutica antiretroviral (TARV) proposto; dos 97 (54,8%) que não aderiram à
TARV, 35 (36,1%) continuaram o seguimento ambulatorial. Os outros 62 (63,9%)
abandonaram o seguimento ambulatorial. Dos 35 que não completaram a TARV,
mas continuaram o seguimento ambulatorial, 18 (51,4%) relataram efeitos colaterais,
7 (20%) não os relataram e em 10 (28,6%) não há informações (figura 1).
Resultados
67
Figura 1 - Adesão à terapêutica antiretroviral (TARV) entre os profissionais de saúde do HC
FMUSP vítimas de acidentes com material biológico acompanhados no
ambulatório, entre 01/08/1998 e 01/08/2005
Acidentados que tomaram ARV
177 (16,2%)
Completaram TARV
80 (45,2%)
Não completaram TARV
97 (54,8%)
Abandonaram
seguimento ambulatorial
62 (63,9%)
Completaram
seguimento ambulatorial
35 (36,1%)
Efeitos colaterais aos ARV
18 (51,4%)
Sem efeitos colaterais aos ARV
7 (20%)
Sem informação
10 (28,6%)
Resultados
68
4.1 Descrição dos casos de soroconversão detectados
Entre os acidentados que completaram o seguimento ambulatorial não foi
documentado nenhum caso de soroconversão para hepatite B, HIV e Doença de
Chagas.
Em relação à infecção pelo VHC, observamos três situações que geraram
dúvidas quanto à soroconversão para hepatite C.
Profissional número 1: Acidentada, 53 anos, sexo feminino, sofreu
ferimento pérfuro-cortante, na região do antebraço esquerdo, com agulha de "scalp",
ao puncionar veia de paciente. Após 1 hora e 30 minutos do acidente foi atendida no
"Programa de Atendimento aos Acidentados com Material Biológico”. A sorologia
colhida imediatamente após o acidente revelou que a acidentada era negativa para
HIV (ELISA). A pesquisa de marcador sorológico para infecção por VHC não foi
realizada no momento do acidente por falta de reagente. Entretanto a acidentada
tinha sorologia negativa anti-VHC realizada dois anos antes do acidente (uma
amostra cuja pesquisa foi realizada por ELISA – índice s/co=0,9 (valor de referência
< 1,0)) e um ano e seis meses antes do acidente pesquisa anti-HBs positiva =
162UI/L. Além disso, a acidentada era sabidamente portadora de Doença de Chagas.
O paciente fonte foi submetido, no momento do acidente, à pesquisa de marcadores
sorológicos para infecção pelo VHB (anti-HBc total - ELISA), HIV (ELISA) e
Doença de Chagas (ELISA), sendo todas negativas. No paciente fonte a pesquisa de
anticorpos anti-VHC, pela técnica de ELISA, também não foi realizada. Entretanto, a
Resultados
69
sorologia para VHC deste paciente realizada após dois meses do acidente resultou
positiva (duas amostras pelo método de ELISA). O seguimento sorológico da
acidentada está descrito na figura 1.
Figura 2 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde (número 1)
do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico, do momento do
acidente até 55 meses após
Profissional 1
0,9
0,16
0,77
1,21
1,09
0,16
0,91
0,28
1,33
1,23
0,18
1,2
0,99
0,03
0
0,5
1
1,5
Tempo (meses)
Índice DO/CO
1 3 4 5
11
6 8
13
14 16 23 51 53 54 55
PCR -
PCR - PCR - PCR - PCR -
PCR -
PCR -
PCR +
DO/CO = Densidade ótica/ Cutt-Off
Índice DO/CO < 1 = Negativo
Índice DO/CO > 1 = Positivo
Este caso foi considerado, na época do atendimento, soroconversão para
hepatite C após exposição ocupacional e a acidentada foi encaminhada para
ambulatório especializado para acompanhamento da hepatite C.
Resultados
70
Profissional número 2: O segundo caso suspeito de soroconversão para
hepatite C ocorreu em profissional do sexo masculino, com 26 anos de idade. O
profissional sofreu exposição de mucosa a sangue e procurou atendimento 1 hora e
10 minutos após o acidente. O perfil sorológico da vítima, no momento do acidente,
revelou antiHBs positivo, com título de 173UI/L e a pesquisa de marcadores
sorológicos para infecção por VHC, VHB e Doença de Chagas foi negativa. O
acidentado tinha sorologia anti-VHC de dois anos antes do acidente também negativa
(ELISA D0=0,073 (Cutt-Off =0,314)). O paciente fonte apresentava sorologia
positiva para VHC (pesquisa pelo método de ELISA em duas amostras), era antiHBs
positivo, com título de 246,7UI/L e negativo para antiHBc total, HIV e Doença de
Chagas. O seguimento sorológico do acidentado está demonstrado na figura 2.
Figura 3 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde (número
2) do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico, do momento do
acidente até 26 meses após
Profissional 2
0,450,29
1,68
0,49
1,81
2,53
1,88
2,11
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
Tempo (meses)
Índice DO/CO
1
3'
3
6 11 14 14'
26
PCR - PCR -
DO/CO = Densidade ótica/ Cutt-Off
Índice DO/CO < 1 = Negativo
Índice DO/CO > 1 = Positivo
O acidentado optou por fazer seguimento em ambulatório especializado
externo ao Hospital das Clínicas.
Resultados
71
Profissional número 3: Acidente ocorrido em funcionário do sexo
masculino, 31 anos que sofreu perfuração na mão direita por agulha de insulina, de
fonte desconhecida, que estava no lixo de sanitário público do hospital. O acidentado
usava luva de látex no momento do acidente e foi atendido após 1hora e 30 minutos
no Programa de Atendimento aos Acidentados com Material Biológico. A sorologia
colhida imediatamente após o acidente revelou que o acidentado era negativo para
HIV (ELISA), VHC (ELISA – índice s/co=0,30 (valor de referência <1,0)) e Doença
de Chagas e tinha antiHBs positivo, com título de 1000UI/L. Cinco meses antes do
acidente, o profissional tinha também sorologia anti-VHC negativa (ELISA – índice
s/co=0,28 (valor de referência <1,0)). O acidentado havia tomado previamente duas
doses da vacina contra hepatite B, sendo a segunda dose sete dias antes do acidente.
No atendimento pós-exposição, foi indicada terapia dupla com antiretrovirais (AZT e
3TC), levando-se em consideração que foi um acidente de baixo risco, com fonte
desconhecida. O acidentado fez uso da terapia dupla antiretroviral por 30 dias, com
efeitos colaterais, tais como náuseas e tonturas. No seguimento, as dosagens seriadas
de anticorpos anti-VHC foram realizadas como demonstrado na figura 3.
Resultados
72
Figura 4 - Seguimento do perfil sorológico para VHC do profissional de saúde (número 3)
do HC FMUSP vítima de acidente com material biológico, do momento do
acidente até 7 meses após
Profissional 3
2,43
0,5
3,51
0,34
0,3
0
1
2
3
4
Tempo (meses)
Índice DO/CO
2
4 4'
6
7
0
DO/CO = Densidade ótica/ Cutt-Off
PCR -
PCR +
Índice DO/CO < 1 = Negativo
Índice DO/CO > 1 = Positivo
Seis meses após o acidente, mediante resultado positivo para RNA do VHC,
foi diagnosticada soroconversão para VHC e o profissional encaminhado para
ambulatório especializado.
Se considerarmos que nos três casos acima descritos ocorreu soroconversão
para VHC, eles representariam 0,3% do total dos 1091 acidentes estudados (IC95%:
0,06%; 0,80%).
Se considerarmos os 127 casos de acidentes com fontes sabidamente VHC
positivas e os 282 casos de acidentes com fontes conhecidas, mas nos quais não foi
feita sorologia para VHC teríamos 3 soroconversões em 409 casos (0,73% -
IC95%:0,15%; 2,13%).
5 Discussão
Discussão
74
A identificação de fatores que interferem na adesão do profissional de saúde a
um programa de atendimento a acidentes com material biológico pode servir de
substrato para a elaboração de programas educativos que, ao lado de outras medidas
preventivas, contribuem para maior segurança do exercício profissional.
Os dados obtidos neste estudo mostram resultados compatíveis com os
encontrados na literatura como o predomínio dos acidentes em mulheres adultas,
jovens e profissionais de enfermagem. Este resultado pode refletir a composição dos
profissionais desta instituição de saúde, onde as mulheres constituem a maior parte
dos profissionais do corpo de enfermagem e muitos dos profissionais são adultos
jovens, representados por estudantes, residentes e profissionais em treinamento,
contribuindo para a baixa média de idade.
Estes dados se assemelham tanto a resultados de trabalhos realizados nos
países desenvolvidos, quanto aos realizados nos países em desenvolvimento. Puro et
al.
17
observaram em 2001, em estudo realizado na Itália, maior número de acidentes
ocupacionais entre as enfermeiras em relação aos médicos e cirurgiões. O Canadian
Needle Stick Surveillance Network
18
, em 2003, mostrou que o índice de enfermeiras
acidentadas, no Canadá, era maior que o de médicos (52,6% e 12,6%
respectivamente). Tarantola et al.
20
, em 2003, observaram que de 7649 acidentes
avaliados em cinco hospitais na França, 60% ocorreram em profissionais da
enfermagem, enquanto 6% dos acidentes ocorreram em cirurgiões. Em artigo de
revisão de 2003, foi notado por Trim e Elliott
6
que os acidentes ocupacionais
Discussão
75
ocorriam em 91% das enfermeiras e em apenas 6% dos médicos, numa casuística do
PHLS na Europa.
Estudo realizado no Egito observou que 46% dos profissionais acidentados
eram enfermeiras, 22,8% médicos e 5,3% dentistas
26
. Na Índia, Mehta et al.
28
observaram que 78% dos acidentes ocorreram em profissionais da enfermagem e
11% em médicos. Ao contrário dos estudos anteriormente citados, estudo
multicêntrico realizado na África mostrou que a prevalência de acidentes entre
médicos e enfermeiras foi semelhante, 19,8% e 23,1% respectivamente
24
. Na Coréia
do Sul, de 959 acidentes avaliados, os médicos foram a maioria dos acidentados
(48,3%) enquanto as enfermeiras contribuíram para 27,4%
25
.
O baixo número de acidentes ocorridos entre médicos observado em nosso
estudo pode não refletir a realidade. Do total de acidentados avaliados, somente 5%
dos profissionais que procuraram atendimento eram médicos, 11,5% médicos
residentes e 8,3% estudantes de medicina. Chama a atenção o fato de que nesta
casuística o número de acidentados que procuraram atendimento foi
aproximadamente o mesmo entre médicos e dentistas. Entretanto o número de
dentistas nesta instituição é muito menor que o de médicos, podendo refletir o baixo
índice de procura por atendimento após acidente com material biológico pelos
profissionais médicos. Trim e Elliott
6
comentam que existe uma resistência por parte
dos médicos em relatar exposição ocupacional.
Quanto ao local de ocorrência dos acidentes, não houve diferença entre o
número de acidentes ocorridos nos setores clínicos e cirúrgicos. Entretanto, isto pode
refletir o menor índice de procura dos profissionais dos setores cirúrgicos, por
orientação após acidentes. Tarantola et al.
20
, em 2003, observaram um índice de
Discussão
76
notificação de acidentes ocupacionais entre os cirurgiões de apenas 6%, e comentam
que os cirurgiões são conhecidos pelo baixo índice de notificação de acidentes.
Os acidentes percutâneos foram os mais freqüentemente encontrados nesta
casuística. Semelhante ao que já foi observado em estudos anteriormente revisados, a
maior parte dos acidentes ocorreu com instrumentos pérfuro-cortantes (85,5%),
principalmente agulhas (68,2%). Dentre estas, as agulhas com lúmen foram as mais
freqüentes (60,4%). Neste estudo observou-se procedimento inadequado de
realização de testes de glicemia capilar com agulhas com lúmen ao invés de lancetas
apropriadas. Vários trabalhos na literatura mostram que o número de acidentes com
agulhas com lúmen prevalece sobre os ocorridos com outros instrumentos. Dados
semelhantes aos encontrados no nosso estudo foram mostrados também por Puro et
al.
17
em 2001, onde 65,3% dos acidentes envolveram agulhas com lúmen e 34,7%
agulhas sem lúmen ou instrumentos cortantes. Dados do CNSSN
18
de 2003
mostraram acidentes percutâneos com agulhas em 65,7% dos casos avaliados. Estudo
coreano também mostrou maior prevalência de acidentes percutâneos (94%) sendo as
agulhas os instrumentos mais comumente envolvidos (91,6%)
25
.
Sangue foi o material biológico mais freqüentemente envolvido nos acidentes
(79,1%) e as regiões do corpo mais afetadas foram os membros superiores (80,5%).
As taxas de exposição a mucosas (14,5%) encontradas foram semelhantes às
encontradas na literatura. Puro et al.
17
observaram que os acidentes percutâneos
ocorreram em sua maioria durante manipulação de cateteres venosos periféricos,
administração de injeção e coleta de sangue. 50% das exposições mucosas
observadas por eles resultaram de exposição direta ao sangue ou líquido corporal do
Discussão
77
paciente fonte. Segundo dados do CNSSN
18
, em 82,5% dos acidentes analisados
havia envolvimento de sangue, em 65,7% de agulhas e exposição mucosa em 13,7%.
A disponibilidade de um serviço 24 horas para o atendimento do profissional
acidentado contribuiu para o curto intervalo de tempo observado entre o acidente e a
procura pelo atendimento, mediana de 30 minutos. Esta disponibilidade de
atendimento durante 24 horas, permite adotar as condutas pertinentes para cada caso,
o mais rápido possível, minimizando os riscos de transmissão de patógenos como
VHB e HIV, e facilita a identificação da fonte e avaliação de risco imediatamente
após o acidente.
No momento inicial do acidente, foi encontrada uma freqüência de 0,7% de
acidentados já infectados pelo VHB, 2,7% pelo VHC e 0,4% pelo HIV. Segundo o
Ministério da Saúde a prevalência de infecção pelo HIV na população geral no Brasil
é estimada em torno de 0,61% na população entre 15 e 49 anos
60
. A condição de
profissional de saúde não contribuiu, nesta casuística, para maiores índices de
prevalência de infecção pelo HIV em relação à população em geral.
Este estudo revelou uma freqüência de infecção pelo VHC entre os
profissionais de saúde (2,7%) maior que a encontrada na população brasileira.
Segundo o Ministério da Saúde
61
, os dados sobre a prevalência da hepatite C na
população ainda são escassos. Estudos realizados em hemocentros do Brasil em 2002
mostraram que a distribuição do vírus variou entre as regiões do país. Na região
Norte, foi observada prevalência de 0,62%, na região Nordeste 0,55%, Centro-Oeste
0,28%, Sudeste 0,43% e na região Sul 0,46%. Um estudo de base populacional
realizado no país revelou 1,42% de portadores de anti-VHC na cidade de São Paulo e
1,5% em Salvador
61
.
Discussão
78
Estudo canadense de 2003 mostrou prevalência de infecção pelo VHC no
profissional acidentado, no momento do acidente, de 2,3% entre os 2621 casos
avaliados
18
.
Estudo italiano, em 2002, detectou prevalência de 0,8% de infecção pelo
VHC entre 245 profissionais de saúde expostos a material biológico
19
. Na
Dinamarca, Fisker et al.
62
encontrara prevalência de 0,14% de infecção pelo VHC
entre profissionais de saúde. A prevalência de anticorpos anti-VHC em profissionais
de saúde nos EUA, segundo Williams et al.
63
, é similar ou menor quando comparada
com a população geral, mesmo nos profissionais que têm maior risco de se expor, o
que segundo este autor, mostra que a transmissão ocupacional do VHC não é uma
importante fonte de infecção.
O achado do nosso estudo de maior freqüência de infecção pelo VHC nos
profissionais de saúde em relação à população em geral pode apontar para maior
importância da transmissão ocupacional do VHC. Entretanto, salientamos que os
testes sorológicos imunoenzimáticos realizados nos indivíduos acidentados,
analisados neste trabalho, são altamente sensíveis, o que pode aumentar a freqüência
de resultados falso-positivos.
A infecção pelo VHB nos profissionais de saúde deste estudo encontra-se
dentro do esperado para a população geral. Segundo o Ministério da Saúde
61
a
distribuição do vírus da hepatite B é variável no Brasil. As regiões Sul e Sudeste são
consideradas de baixa endemicidade (prevalência abaixo de 2%), exceto região sul
do estado do Espírito Santo e região nordeste de Minas Gerais, que são consideradas
de alta prevalência (maior que 7%). Estudo brasileiro, de São José do Rio Preto, São
Paulo, observou prevalência de infecção pelo VHB entre profissionais de saúde de
0,8%, que foi maior, quando comparada a de doadores de sangue (0,2%)
42
.
Discussão
79
Estudo italiano, em 2002, detectou prevalência de 0,4% de infecção pelo
VHB entre 245 profissionais de saúde expostos a material biológico
19
. Na
Dinamarca, Fisker et al.
62
encontraram uma prevalência de 1,6% de infecção pelo
VHB. Contrário ao observado pelos estudos anteriores, Mehta et al.
28
observaram
maior taxa de infecção pelo VHB entre profissionais de saúde, na Índia, apesar da
vacinação obrigatória para estes profissionais.
Na presente investigação foi observado um índice de 60,1% de proteção
contra hepatite B com anticorpos anti-HBs entre os profissionais, em sua maioria
devido à vacinação, pois a detecção de anticorpos anti-HBc, que indica infecção
prévia, foi de apenas 6%. Embora o índice de 60,1% de proteção sorológica
observado entre os profissionais esteja aquém do desejado, isto pode ser explicado
pela alta rotatividade dos profissionais de saúde nesta instituição, o que interfere na
cobertura vacinal.
Alguns estudos na literatura mostram dados semelhantes aos nossos. Azap et
al.
22
mostraram cobertura vacinal de 68% entre profissionais de saúde na Turquia.
Dados da Coréia do Sul mostram que de 401 profissionais avaliados quanto ao perfil
sorológico para anticorpos anti-HBs, no momento do acidente, 70,3% eram positivos
decorrentes da vacinação
25
. Fisker et al.
62
, em 2004, mostraram que 16% dos
profissionais eram vacinados, na Dinamarca. Porém, este índice baixo de vacinação
entre profissionais da Dinamarca se justifica pela estratégia de vacinação neste país,
onde a vacina só é oferecida apenas aos profissionais que estão sob maior risco de
infecção. No Egito, Talaat et al.
26
observaram que apenas 15,8% dos profissionais
avaliados eram vacinados contra hepatite B, com maior prevalência entre médicos e
dentistas. Entretanto, outros estudos mostram cobertura muito maior. De 245
Discussão
80
profissionais acidentados, avaliados por Baldo et al.
19
na Itália, todos eram
previamente vacinados contra hepatite B. Estudo canadense de 2003 observou que
97% de 2621 acidentados eram vacinados contra hepatite B
18
. Mesmo no Brasil, há
relatos de alta cobertura vacinal entre profissionais de saúde. Estudo realizado em
Goiás demonstrou que 95,5% dos profissionais avaliados eram vacinados contra
hepatite B, sendo que 80,7% tinham sido imunizados com o esquema completo de
três doses, 15,2% estavam em processo de vacinação e 4,1% não sabiam quantas
doses haviam recebido da vacina. Em relação à categoria profissional, os
profissionais da limpeza eram os que apresentavam menor índice de vacinação
(p<0.05)
43
. Ciorlia e Zanetta
42
, em São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil,
observaram uma taxa de proteção contra hepatite B conferida pela vacinação de
86,4% entre profissionais de saúde.
Em relação aos casos fonte dos acidentes, 80,2% eram conhecidos. É
importante ressaltar que a disponibilidade de um serviço de atendimento a acidentes
com material biológico durante 24 horas contribui para a identificação e
caracterização do perfil sorológico da fonte. A freqüência de fontes positivas para
VHC e HIV em um número relativamente alto, pode representar um viés de amostra,
pois os profissionais tendem a procurar mais freqüentemente o atendimento quando
sabem ou suspeitam que a fonte pode ser portadora de alguns destes vírus. Estudo
canadense
18
mostrou freqüência menor destes patógenos entre os casos fonte
avaliados, em comparação com o nosso estudo. Observou 7,6% de infecção pelo
VHC, 2,6% pelo HIV e 1,8% pelo VHB
18
. Porém estudo multicêntrico realizado na
África, observou freqüência de 13,1% de infecção pelo HIV entre os casos fonte
24
.
Este índice pode refletir, entretanto, a alta prevalência de infecção pelo HIV na
Discussão
81
população do continente africano, maior que a observada no nosso meio. Estudo
brasileiro realizado também na cidade de São Paulo observou índices de infecção
pelo HIV e VHB nos pacientes fonte bem maiores que os observados no nosso
estudo, 20% e 7,6% respectivamente, e índices de infecção pelo VHC semelhantes,
em torno de 10%
15
.
Foi encontrada prevalência de anticorpos contra Trypanossoma cruzi de 1,2%
entre os profissionais de saúde e de 2,2% entre os pacientes fonte. Estes números
refletem a endemicidade desta doença no nosso país. Embora tenha sido alcançada,
no ano de 2006, a eliminação da transmissão da Doença de Chagas pelo Triatoma
infestans em dez estados brasileiros
64
, a população de indivíduos com a doença
adquirida previamente, permanece considerável no Brasil. A soroprevalência na
população rural do país, determinada por inquérito sorológico realizado entre 1975 e
1980 era de 4,2%
54
. Segundo o Ministério da Saúde
64
, a prevalência desta doença
está em torno de 0,13%, de acordo com dados de estudo realizados na população de
faixa etária entre 7 e 14 anos em áreas endêmicas no período de 1989 a 1999. A faixa
etária da população investigada em nosso estudo, em torno de 33 anos, abrange
indivíduos possivelmente infectados em períodos de ainda alta endemicidade.
Em relação às medidas adotadas após o acidente, 10,9% dos acidentados
receberam imunoglobulina humana contra o vírus da hepatite B (HBIG). De acordo
com dados iniciais desta casuística, 404 casos ocorridos de agosto de 1998 a janeiro
de 2002, publicados por Gutierrez et al.
32
em 2005, a imunoglobulina contra hepatite
B foi prescrita para 18,3% dos profissionais acidentados. A partir de 2002 foi notada
uma redução no número de prescrições de HBIG, provavelmente devido ao alerta de
que a prescrição deste imunógeno, em muitos casos, era desnecessária. Comumente o
Discussão
82
médico que atende ao acidentado prescreve a imunoglobulina antes mesmo de saber
o perfil sorológico do acidentado e o resultado da sorologia do paciente fonte.
Segundo o CDC
2
, a HBIG deve ser administrada o mais rápido possível após o
acidente, preferencialmente dentro das primeiras 24 horas. É importante ressaltar que
a administração da HBIG pode ser realizada até 7 dias após a exposição, porém a
eficácia desta medida quando administrada após 7 dias é desconhecida.
Situação semelhante também ocorre com a prescrição da vacina contra
hepatite B, que foi administrada em 419 dos 1091 profissionais acidentados, embora
60% dos profissionais tivessem anticorpos anti-HBs detectáveis e em títulos
protetores no momento do acidente, caracterizando um excesso de prescrição desta
medida profilática pós-exposição. Tal fato pode em parte ser devido à ansiedade do
profissional acidentado que muitas vezes influencia nas condutas adotadas.
Comumente, após o acidente, os profissionais acidentados encontram-se
muito ansiosos e solicitam a prescrição de medicamentos antiretrovirais, se possível
de última geração. A firme orientação dos médicos que conduzem o Programa de
Atendimento aos Acidentados com Material Biológico no HC FMUSP foi
responsável pelo maior número de prescrição da terapia dupla (52,5%). Mesmo
assim observou-se que de todos os acidentados que receberam prescrição de
antiretroviral, apenas 45,2% completaram o tempo de tratamento. Nem sempre o
abandono é devido só aos efeitos colaterais dos medicamentos antiretrovirais. Dos
que abandonaram o tratamento cerca de metade foi devido aos efeitos colaterais das
drogas. Estes dados, tanto de ansiedade quanto de efeitos colaterais dos
medicamentos, devem ser levados em consideração. Segundo o CDC
3
, o principal
objetivo da profilaxia pós-exposição deve ser a prescrição de drogas com menos
Discussão
83
efeitos colaterais e que propiciem aumento da adesão ao esquema e ao tempo de
tratamento propostos. O uso da PEP após acidentes ocupacionais ainda é motivo de
muitas dúvidas quanto ao emprego de regime de duas ou três drogas. Basset et al.
53
relatam
que o beneficio de completar o tempo indicado para profilaxia com o uso de
duas drogas excede o benefício de adicionar uma terceira droga ao regime, já que
esta adição leva a um alto índice de abandono por toxicidade e efeitos colaterais. O
objetivo principal da PEP é completar o tempo de uso, uma vez que o uso por tempo
insuficiente é semelhante, em eficácia, ao não uso da mesma
53
.
A profilaxia para Doença de Chagas pós-exposição foi adotada em um único
caso de um auxiliar de enfermagem após exposição percutânea a sangue com agulha.
O paciente fonte era transplantado renal, cujo doador tinha sorologia positiva para
Doença de Chagas, e manifestou a forma aguda da Doença de Chagas no período
pós-transplante, com formas tripomastigotas detectadas no sangue periférico. Para o
profissional acidentado foi prescrito benzonidazol na dose de 10mg/Kg/dia durante
10 dias. Após sete dias do início da medicação, o acidentado apresentou quadro febril
e adenomegalia cervical. Evoluiu com exantema máculo-papular e prurido discreto.
O diagnóstico de farmacodermia foi comprovado por biópsia da pele. Mesmo assim,
o tratamento foi mantido até completar 10 dias. Durante o período de seis meses após
o acidente, no seguimento ambulatorial, a sorologia para doença de Chagas do
acidentado persistiu negativa. O profissional recebeu alta do acompanhamento
ambulatorial sem soroconversão para doença de Chagas.
A análise estatística, após tratamento para equalizar a diferença numérica
entre os gêneros, mostrou associação estatisticamente significante entre o término do
Discussão
84
acompanhamento ambulatorial e gênero feminino, o que poderia demonstrar maior
preocupação das mulheres em relação ao potencial infectante do acidente.
Em relação às categorias profissionais não foi possível chegar a nenhuma
conclusão em relação ao acompanhamento. Isto porque a representatividade de
algumas destas categorias era pequena e nenhum teste estatístico pode ser aplicado
para calcular a adesão.
Acidentes com fonte conhecida estiveram associados ao maior número de
profissionais que completaram o seguimento. Deve-se levar em consideração o
grande número de profissionais que receberam alta do acompanhamento na primeira
consulta devido ao fato de a fonte conhecida ter perfil sorológico totalmente negativo
para os patógenos avaliados. Isto enfatiza a importância da identificação e
conhecimento do perfil sorológico do caso fonte. Surpreendentemente, houve maior
adesão entre os profissionais expostos a fontes conhecidamente positivas para VHB
(51,7%), seguida de VHC (44,9%) e HIV (38,6%). Em decorrência da extrema
ansiedade do profissional logo após o acidente, quando a fonte é sabidamente HIV
positiva, há grande procura por atendimento. Com o decorrer do tempo e diminuição
da ansiedade muitos abandonam o acompanhamento, explicando os mais baixos
índices de adesão aos profissionais expostos a fontes HIV positivas.
Existem poucos dados disponíveis sobre infecção pelo VHC em profissionais
de saúde após exposição ocupacional.
Trim e Elliot
6
relataram sete casos de transmissão ocupacional do vírus da
hepatite não-A não-B e três casos do vírus da hepatite C, sendo três nos EUA, três na
Itália, três no Japão e um na Alemanha, antes de 1993. Entre julho de 1997 e
Discussão
85
dezembro de 1999, 360 acidentes ocupacionais foram relatados na Inglaterra e no
País de Gales, e somente um caso de soroconversão para o VHC foi observado
6
. No
mesmo período na Escócia, dentre 41 exposições não ocorreu nenhuma
soroconversão
6
.
Yazdanpanah et al.
65
, em estudo multicêntrico, obtiveram informações sobre
profissionais de saúde acidentados a partir de dados de sistema de vigilância nacional
ou regional sobre acidentes ocupacionais em cinco países europeus (França, Itália,
Espanha, Suíça e Reino Unido). Foram identificados 60 profissionais acidentados
que soroconverteram para VHC após exposição percutânea a fonte VHC positiva.
Neste estudo caso-controle, acidentes percutâneos com agulhas com lúmen retiradas
de veia ou artéria e ferimento profundo foram correlacionados com o maior risco de
transmissão da infecção pelo VHC.
No Brasil, Rapparini
8
faz referência a um caso de transmissão simultânea de
HIV e VHC após exposição percutânea.
Há relatos também de soroconversão para o VHC após exposição de mucosas
a material biológico, porém em muito menor número que após exposição percutânea.
Não é incomum a transmissão conjunta do VHC e do HIV. Em 1998, Ippolito et al.
66
relataram um caso de transmissão simultânea de HIV e VHC em um profissional de
saúde que sofreu exposição mucosa a sangue contaminado durante manipulação de
tubo de ensaio em laboratório. Hosoglu et al.
67
também relataram um caso de
exposição mucosa, que resultou em soroconversão, de profissional acidentado com
sangue de paciente em hemodiálise,
infectado pelo VHC.
Discussão
86
No nosso estudo foram observados três casos nos quais se levantou a suspeita
de soroconversão para VHC, embora não tenhamos dados que confirmem esta
hipótese.
Os testes sorológicos observados nestes três casos além de apresentarem
oscilação dos resultados, mostravam níveis próximos ao limite de positividade - Cut
Off (CO). Estudo realizado
68
em nossa instituição com testes ELISA de segunda
geração para pesquisa de anticorpos anti-VHC evidenciou que ao se utilizar somente
um teste ELISA, o resultado era considerado verdadeiro positivo quando a densidade
óptica (DO) era três vezes maior que o CO; mas, ao se utilizar dois testes ELISA
diferentes, o resultado era considerado verdadeiro positivo quando a DO de cada um
era pelo menos duas vezes maior que o CO da reação. Para os testes de terceira
geração utilizados atualmente, ainda não estão estabelecidos estes valores. A
pesquisa de anti-VHC é utilizada em triagem sorológica de doadores em bancos de
sangue e, portanto, padronizada com sensibilidade máxima para evitar que ocorram
resultados falso-negativos. São necessários estudos que avaliem a relação DO/CO
para testes ELISA de terceira geração, que permitam estabelecer com mais segurança
valores verdadeiros positivos. A incerteza atual em relação a interpretação destes
dados gera muita ansiedade tanto nos acidentados quanto nos profissionais que estão
conduzindo o caso.
Dois dos três casos em questão, não apresentaram DO maior que três vezes o
CO em nenhum momento. Somente o profissional número 3 apresentou este valor
em uma das duas amostras realizadas após 4 meses do acidente (DO 3,5 vezes maior
que CO). As oscilações nos resultados dos testes de pesquisa de anticorpos anti-VHC
Discussão
87
e na pesquisa do RNA do VHC, ora sugerem infecção e viremia, que poderia ser
transitória, ou seja, sem soroconversão, ora contradizem esta hipótese.
Os resultados oscilantes tanto do teste ELISA anti-VHC como do PCR
podem ser devido a resultados falso positivos, que são mais freqüentes nestas
metodologias altamente sensíveis. Portanto a confirmação da soroconversão só deve
ser afirmada após criterioso acompanhamento clínico e laboratorial prolongado.
Em vista do que foi discutido anteriormente temos dificuldades em definir o
que ocorreu nos três casos relatados. Há indícios de que possa ter havido infecção,
embora não haja evidências de persistência desta infecção.
Dificuldade semelhante foi relatada por Puro et al.
69
, que alertaram para
indícios de infecção transitória pelo HIV em profissional de saúde exposto a material
biológico HIV positivo. O profissional apresentou duas medidas positivas da carga
viral do HIV pelo método de PCR duas semanas após o acidente. Um mês após a
exposição houve clareamento da carga viral do HIV sem viragem sorológica. Os
autores
10
concluem que são necessárias pesquisas que avaliem especificamente a
freqüência de viremia transitória em pacientes expostos que não se infectam e
questionam a efetividade dos testes de pesquisa direta do vírus, no manejo de
indivíduos expostos ao HIV.
Os resultados encontrados em nossa investigação evidenciam mais uma vez
que os riscos de infecção por agentes veiculados pelo sangue após exposição
ocupacional em profissionais de saúde são baixos. Entretanto, os dados disponíveis
na literatura até o momento não permitem que as medidas de prevenção sejam
subestimadas. Há necessidade de maior divulgação do Programa de Atendimento a
Discussão
88
Profissionais Acidentados com Material Biológico do HC FMUSP entre os médicos
em geral, principalmente entre os cirurgiões, visto que, como ficou evidenciado pelos
dados apresentados, houve uma pequena procura pelo atendimento por parte destes
profissionais. Estes dados mostram também que é necessário programa contínuo de
monitoramento da adesão dos profissionais de saúde às medidas de precauções
universais, baseado nas falhas identificadas. Por exemplo, apesar de treinamento
inicial, o uso inadequado de agulhas com lúmen ao invés de lancetas apropriadas
para a realização de testes de glicemia capilar, foi responsável pela ocorrência de
vários acidentes.
Os profissionais que atendem no Programa de Atendimento a Profissionais
Acidentados com Material Biológico do HC FMUSP também precisam
continuamente participar de programas de reciclagem para melhorar a qualidade das
condutas adotadas. Alerta em relação ao excesso de prescrições desnecessárias
proporcionou, a partir de 2002, redução no número de prescrições de HBIG.
Atualmente, os médicos que atendem no Programa têm prescrito com freqüência
vacina contra hepatite B, embora 60% dos acidentados tenham anticorpos anti-HBs
detectáveis e em títulos protetores no momento do acidente, caracterizando um
excesso de prescrição desta medida profilática pós-exposição. Tal fato, como já
salientado, pode em parte ser devido à ansiedade do profissional acidentado que
muitas vezes influencia nas condutas adotadas.
Entretanto, o aspecto mais preocupante desta investigação é a alta taxa de
abandono do seguimento. Considerando-se que sabidamente nem todos os
profissionais de saúde acidentados procuram atendimento, e dos que o fazem, cerca
de 30% não o completam, estima-se que haja importante parcela de profissionais
Discussão
89
acidentados não investigados. Embora a maior procura por atendimento tenha sido de
acidentados com fontes suspeitas ou positivas para VHC e HIV, a adesão ao
seguimento foi menor nestes casos. Adesão à terapêutica antiretroviral também foi
baixa. Com o decorrer do tempo e diminuição da ansiedade muitos abandonam o
acompanhamento. Faz-se necessário desenvolver estratégias para melhorar a adesão
de profissionais acidentados às medidas terapêuticas e ao seguimento ambulatorial.
Prescrição de medicamentos antiretrovirais com menos efeitos colaterais assim como
busca ativa de pacientes faltosos são algumas das medidas que podem ser adotadas
para melhorar a adesão.
Enfatizamos a importância não só do atendimento de urgência inicial, mas
também do seguimento ambulatorial por no mínimo seis meses, que é a maneira mais
segura de se avaliar o desfecho destes acidentes.
6 Conclusões
Conclusões
91
Este estudo conduzido no HC FMUSP analisando profissionais
acompanhados no ambulatório do “Programa de Atendimento a Profissionais de
Saúde Acidentados com Material Biológico” no período de agosto de 1998 a agosto
de 2005 permite concluir que:
A maioria dos profissionais acidentados era adulta, jovem, do gênero
feminino e auxiliar de enfermagem;
Acidentes percutâneos causados por agulha com lúmen, envolvendo
sangue, foram os mais frequentemente encontrados;
A disponibilidade 24 horas de um programa de atendimento ao
profissional acidentado proporcionou curto intervalo de tempo entre o
acidente e o atendimento;
A maior procura por atendimento ocorreu entre acidentados cuja fonte era
conhecida e positiva para HIV e VHC;
A adesão completa ao seguimento ambulatorial após exposição a material
biológico foi de 70%, sendo mais freqüente em acidentados do gênero
feminino, cuja fonte era conhecida e tinha perfil sorológico totalmente
negativo para os patógenos avaliados;
A adesão à terapêutica antiretroviral foi baixa. Os efeitos colaterais aos
antiretrovirais contribuíram para aproximadamente 50% da taxa de não
adesão à terapêutica;
Conclusões
92
Não foram observadas soroconversões para HIV, VHB e Doença de
Chagas;
Foram observados três casos suspeitos de soroconversão para VHC.
7 Anexos
Anexos
94
ANEXO A
(Aprovação da Comissão de Ética)
Anexos
95
Anexo B
(Ficha de atendimento ambulatorial)
Anexos
96
Anexos
97
Anexos
98
Anexos
99
Anexos
100
Anexos
101
Anexos
102
Anexos
103
Anexos
104
ANEXO C
Banco de Dados
CODIFICAÇÃO BANCO DE DADOS
1. RGHC do acidentado
2. RGHC do acidente
3. Sexo: F e M
4. Idade
5. Data de nascimento
6. Função:
1. Médico
2. Enfermeiro
3. Auxiliar de enfermagem
4. Atendente de enfermagem
5. Biólogo
6. Farmacêutico
7. Técnico de laboratório
8. Internos
9. Residentes
10. Funcionários da limpeza
11. Dentista
12. Outro
7. Setor do acidente
8. Data do acidente
9. Material
1. Sangue
2. Líquor
3. Sêmen
4. Secreção vaginal
5. Líquido sinovial
6. Líquido pericárdico
7. Líquido amniótico
8. Tecidos orgânicos
9. Outros
10. Instrumento
1. Agulha sem lúmen
2. Agulha com lúmen
2.1. Agulha de insulina
2.2. Outras agulhas
3. Bisturi
Anexos
105
4. Lanceta de dextro
5. Lâmina/tubo de ensaio
6. Respingos
7. Outro
11. Região do corpo atingida
1. Mucosas
2. Membros superiores
3. Membros inferiores
4. Outros
12. Exame do acidentado (data)
(1. Sim, 2. Não; 3. Desconhecido)
AgHBs
AntiHBc
AntiHBs
HIV
VHC
Chagas
13. Fonte
1. Conhecida
2. Desconhecida
14. RGHC da fonte
15. Exames da fonte
(1. Sim, 2. Não; 3. Desconhecido)
1. AgHBs
2. AntiHBs
3. AntiHBc
4. VHC
5. HIV
6. Chagas
16. CAT (Comunicado de acidente de trabalho)
1. Sim
2. Não
17. Data do primeiro atendimento na MI
18. Intervalo de atendimento (em horas)
19. Conduta no primeiro atendimento:
(1-Sim; 2-Não; 3. Desconhecido; 9. Não se aplica)
a. Vacina contra hepatite B
b. Imunoglobulina para hepatite B (HBIG)
c. Vacina contra tétano (dupla adulto)
Anexos
106
d. Tetanogama
e. Antiretrovirais
AZT + 3TC
AZT + 3TC + IDV
Outros
Efeitos colaterais
Terminou uso dos ARV
20. Retorno final
1. Sim
2. Não
21. Data dos exames
(1. Sim, 2. Não; 3. Desconhecido)
AgHBs
AntiHBs
AntiHBc
VHC
HIV
Chagas
22. Completou seguimento
(1.Sim, 2. Não)
23. Tempo de acompanhamento (em dias)
24. Soroconversão
(1.Sim, 2. Não)
a) VHB
b) VHC
c) HIV
d) Chagas
8 Referências
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