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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA/DOUTORADO
FLÁVIO RODRIGUES DO NASCIMENTO
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO:
o contexto da bacia hidrográfica do rio Acaraú - Ceará
NITERÓI
2006
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ii
FLÁVIO RODRIGUES DO NASCIMENTO
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO:
O contexto da Bacia do Rio Acaraú - Ceará
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Doutor. Área de
Concentração: Ordenamento Territorial. Linha
de Pesquisa Ordenamento Territorial Ambiental.
Orientadora: Profa. Dra. Sandra Baptista da Cunha
Co-orientadora: Dra. Morsyleide de Freitas Rosa
Embrapa Agroindustrial Tropical - Fortaleza
Niterói
2006
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iii
FLÁVIO RODRIGUES DO NASCIMENTO
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE BRASILEIRO:
O Contexto da Bacia do rio Acaraú - Ceará
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Geografia da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Doutor em Geografia.
Área de Concentração: Ordenamento Territorial
Aprovada em 19 de abril de 2006
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Sandra Baptista da Cunha - Orientadora
Universidade Federal Fluminense
Pesquisadora Dra. Morsyleide de Freitas Rosa – Co-orientadora
Embrapa Agroindustrial Tropical - Fortaleza
Prof. Dr. Marcos José Nogueira de Souza
Universidade Estadual do Ceará
Prof. Dr Reiner Olibano Rosa
Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr Jacob Binsztok
Universidade Federal Fluminense
Niterói
2006
iv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA VII
AGRADECIMENTOS VIII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS X
LISTA DE FIGURAS XI
LISTA DE TABELAS XII
LISTA DE QUADROS XIII
RESUMO XIV
ABSTRACT XV
INTRODUÇÃO 1
1 -PRINCÍPIOS, CONCEITOS E MÉTODOS 7
1.1
- ESTUDOS AMBIENTAIS E GEOGRAFIA 7
1.2
- BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADES FÍSICO-TERRITORIAIS PARA OS ESTUDOS
SOBRE DEGRADADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO 10
1.2.1
– Pressupostos Ambientais e Marcos da Legislação 10
1.3
– GESTÃO TERRITORIAL, USO, OCUPAÇÃO DA TERRA E MUDANÇAS SOCIOAMBIENTAIS
18
1.3.1
- A PROBLEMÁTICA DA DESERTIFICAÇÃO E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO 21
1.4
MÉTODOS E TÉCNICAS OPERACIONAIS 28
1.4.1
– OPERAÇÕES SISTEMATIZADAS - DELIMITAÇÃO DA BACIA DE ESTUDO E PRODUÇÃO
CARTOGRÁFICA 28
1.4.2
- PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA 30
1.5
– O ENFOQUE PARA ALCANCE DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS 36
2 - DESERTIFICAÇÃO E DESERTOS: CONCEITOS, MITOS E REALIDADE 48
2.1
– DESERTIFICAÇÃO: HISTÓRICO, CONCEITOS E AMBIGÜIDADES 48
2.2
- DESERTIFICAÇÃO E DESERTO: UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA? 65
2.3
- DEGRADAÇÃO AMBIENTAL, DESERTIFICAÇÃO NO MUNDO E IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS 70
2.3.1
– MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO 75
2.3.2
– ABORDAGENS TÉCNICO-CIENTÍFICAS PARA O COMBATE À DESERTIFICAÇÃO 85
2.3.3
- Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-
BRASIL) 97
v
3 – COMPLEXIDADE AMBIENTAL DO NORDESTE BRASILEIRO E
DESERTIFICAÇÃO 107
3.1
- OS TRÓPICOS E O NORDESTE SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO 109
3.2
-NORDESTE: CLASSIFICAÇÕES OFICIAIS DE INTERESSE À DESERTIFICAÇÃO 120
3.2.1
– BACIAS INTERMITENTES SAZONAIS: A BACIA DO ATLÂNTICO NORDESTE ORIENTAL
121
3.2.2
- O BIOMA CAATINGA E SUAS ECORREGIÕES 127
3.2.3
- ÁREAS SUSCEPTÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO (ASD) 131
3.3
- CONVIVÊNCIA COM O FENÔMENO DA SECA 134
3.3.1
- PROPOSIÇÕES INTERINSTITUCIONAIS DE CONVIVÊNCIA COM A SECA E O PARADIGMA
DA SUSTENTABILIDADE 140
4 – O AMBIENTE BIOFÍSICO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARAÚ 144
4.1
-EVENTOS PALEOCLIMÁTICOS E PALEOGEOGRÁFICOS PLIOQUATERNÁRIOS 144
4.2
– BASES GEOLÓGICAS 149
4.3
- DOMÍNIOS GEOMORFOLÓGICOS E SUBCOMPARTIMENTAÇÃO REGIONAL DO RELEVO
151
4.3.1
- DOMÍNIO DOS DEPÓSITOS SEDIMENTARES CENOZÓICOS: PLANÍCIES DE
ACUMULAÇÃO E GLACIS DE DEPOSIÇÃO PRÉ-LITORÂNEOS 151
4.3.2
- DOMÍNIO DAS BACIAS SEDIMENTARES PALEOMESOZÓICAS 157
4.3.3
- O DOMÍNIO DOS ESCUDOS E MACIÇOS ANTIGOS: MACIÇOS RESIDUAIS E DEPRESSÃO
SERTANEJA 159
4.4
- ASPECTOS CLIMÁTICOS E HIDROAMBIENTAIS 166
4.4.1
- CONDIÇÕES CLIMÁTICAS 166
4.4.2
- POTENCIALIDADES HIDROAMBIENTAIS DE SUPERFÍCIE E HIDROGEOLÓGICA 180
4.5
- SOLOS, DOMÍNIOS MORFOPEDOLÓGICOS E UNIDADES FITOECOLÓGICAS 195
4.5.1
– CLASSES PREDOMINANTES DE SOLOS E MORFOPEDOLOGIA 195
4.5.2
– UNIDADES FITOECOLÓGICAS E BIODIVERSIDADE 202
4.6
– SISTEMAS AMBIENTAIS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO 214
5 – DESERTIFICAÇÃO COMO CONSEQÜÊNCIA DA DEGRADAÇÃO NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ACARAÚ 223
5.1
- À GUISA DA OCUPAÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA 223
5.2
-PANORAMA SOCIOECONÔMICO ATUAL 229
5.3
- AGENTES ORGANIZADORES DO ESPAÇO, TIPOLOGIAS DE USO E OCUPAÇÃO DA
TERRA E A DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO 244
5.3.1
- OCUPAÇÃO URBANA E INDUSTRIAL: NEGLIGÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS 246
5.3.1.1
– Industrialização, economia-ecológica e externalidades geoambientais 251
5.3.2
- USO DOS RECURSOS HÍDRICOS E DOS AMBIENTES HIDROMÓRFICOS 255
5.3.2.1
- Alterações na higidez dos recursos hídricos: pontos de poluição, mudanças hidrológicas e
diminuição da resiliência espaciotemporal 261
5.3.3
- TIPOLOGIA DOS RECURSOS AGROSSOCIOECONÔMICOS e a desertificação 269
5.3.3.1
- Problemas emergentes da agropecuária e do uso dos enclaves de vegetação 274
5.3.3.2
- Estado de conservação da vegetação e dos solos: evidências de desertificação 278
5.3.3.3
- Manejo de irrigação nos agropolos e capacidade de suporte 287
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES 294
vi
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 308
vii
DEDICATÓRIA
À extensão de minha vida, meus familiares. Por me ensinam, a cada dia, a
mais nobre de todas as tarefas: a verdadeira amplitude da dimensão humana.
Francisco Cileneide do Nascimento (Pai);
Mariá Rodrigues do Nascimento (Mãe);
Francisco Fábio Rodrigues do Nascimento (Irmão);
Fabiano Rodrigues do Nascimento (Irmão);
Vanúsia Paiva Pinheiro (Namorada).
Com amor e carinho.
viii
AGRADECIMENTOS
Mais um projeto de vida conquistado. Coletividade, amizade, tolerância e
profissionalismo caminharam mais uma vez como um uno. de se dar os créditos e
socializar as conquistas durante essa empreitada.
Meus sinceros agradecimentos aos professores e funcionários do Programa de Pós-
Graduação em Geografia dessa instituição, que não mencionaram esforços para o
desenvolvimento de nosso doutoramento. Obrigado especial aos professores Jacob
Binsztok, Ruy Moreira, Reiner Olibano e Márcio Piñon. Congratulo-me, ainda, com Ana
Paula Serrano e Daniel Machado, funcionários dedicados e prestativos.
Do quadro dessa instituição, destaco Sandra Baptista da Cunha. Muito mais que
orientadora, amiga incondicional, que me acolheu no momento certo e na hora certa! Sua
confiança, sensatez, competência, simplicidade e estímulos foram sinceros. Minhas
honrarias e gratidões.
Meu muito obrigado à EMBRAPA Agroindústria Tropical (Fortaleza), pelo
imprescindível apoio e confiança. Não há palavras para expressar meus agradecimentos
aos amigos conquistados nessa empresa. São eles Alex Miranda, Alexandre Costa, Lucinha
Araújo, Cezar Filho, Cléa Figueiredo, a amável e fiel Lea Bessa (espetacular). Nesta turma,
destaca-se uma pessoa inigualável: Morsyleide de Freitas Rosa. Acolhedora e maravilhosa,
com quem compartilhei dificuldades e medos, porém sempre respondido e acolhido pelos
seus feitos de justiça e ética, parcimônia e destreza diante ao trabalho e da vida.
Sinto-me eternamente penhorado e felicitado pela inestimável contribuição do grande
mestre Marcos José Nogueira de Souza. Profissional exemplar, com refinada e inigualável
Geografia e ética, com enorme respeito ao ser humano no que diz e no que faz. Através
dele estendo meus agradecimentos aos demais professores das Universidades Estadual e
Federal do Ceará, que acreditaram em nosso trabalho: Lúcia Brito, Zenilde Baima, Denise
Elias, Luiz Cruz e Levi Furtado.
Muitíssimo grato ao amigo Jader Santos, supercompanheiro de todas as horas. E
menção honrosa aos grandes amigos de Niterói, que ajudaram, ensinaram e compartilharam
comigo, nos momentos mais complicados. São eles, Charles da França, Mônica Cox, Penha
Caetano e Valter do Carmo; como também à família que compuseram: Bira Gonçalves,
Viviane Sussumo, Gilmar Avelar, Júlio Ribeiro e, especialmente, Amelinha Cristina (pessoa
incrível) e Manoel Fernandes, formidável como sempre.
E como agradecer aos meus maiores amores e pilares, os familiares. Resposta,
talvez, irrefutável. Amá-los-ei, então, como sempre me amaram: na paciência e humildade!
Pai, mãe, irmãos, namorada e demais parentes, tudo de maravilhoso e muitíssimo obrigado.
Agradeço a todos, que, em maior ou menor grau, contribuíram para esse
doutoramento. Eis, então, mais uma conquista registrada em nossas memórias e histórias
de vida. Valeu muito a pena!
ix
Ontem, ansiedade e esperança.
Hoje, realidade e alegria!
Amanhã, perspectiva e otimismo.
Com a simplicidade de sempre, é hora de (re) começar...
Flávio Rodrigues do Nascimento
x
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CODEVASF - Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
COGERH – Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(CONAMA) - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONSLAD - Conferência Nacional da Desertificação
CNUMAD - Conferência das Nações Unidades Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
DSG - Diretoria do Serviço Geográfico do Exército
EUA – Estados Unidos da América
FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations/Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação
FGEB - Fundação Grupo Esquel Brasil
FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
GPS - Sistema de Posicionamento por Satélite
GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IICA -Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
ICASALS - International Centre for Arid and Semi-Arid Land Studies
ICID - Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável
no Semi-árido
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
IOCS - Instituto de Obras Contra as Secas
ISRC - Internation Soil Reference and Information Centre
MMA – Ministério do Meio Ambiente
ONG’S - Organizações não governamentais
ONU - Organização das Nações Unidas
PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
PACD - Plano de Ação de Combate à Desertificação
PNCD - Plano Nacional de Combate à Desertificação
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SEMACE - Superintendência do Meio Ambiente do Ceará
SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste.
UNCOD – Conferência das Organizações das Nações Unidas sobre a Desertificação.
UNEP- United Nations Environment Programme
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização da bacia do rio Acaraú 4
Figura 2 – Roteiro Metodológico 31
Figura 3 -Áreas de risco de desertificação. Conferência sobre Desertificação das Nações
Unidas (1977). 60
Figura 4 - Abordagens de tratamento da desertificação 92
Figura 5 – Nordeste Semi-árido com limites do Polígono das Secas, original e final, e do
Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste 114
Figura 6– Áreas de ocorrência de secas no Nordeste 116
Figura 7- Projeto São Francisco 128
Figura 8- Canal da Integração, Ceará 128
Figura 9 – Bioma Caatinga e Ecorregiões Componentes 130
Figura 10 - Áreas Susceptíveis à Desertificação 131
Figura 11- Médias mensais de chuvas (1974-2004) 172
Figura 12 – Montantes de Evaporação (1961-1990). 175
Figura 13 - Índices de Nebulosidade (1961-1990). 175
Figura 14 - Médias mensais de evaporação (mm) e umidade relariva do ar (%) 177
Figura 15 – Balanço Hídrico segundo Thorthwaite e Mather. 179
Figura 16 – Aspectos biofísicos da bacia do rio Acaraú 215
Figura 17 – Perfis transversal e longitudinal da bacia do rio Acaraú 219
Figura 18 - Mapa de ecodinâmica das paisagens e zoneamento ecológico-econômico 222
Figura 19 – Mineração clandestina no canal dos rios Groaíras, Jacurutu e olaria para
fabricação de artefatos de cerâmica. 253
Figura 20 - Indústria mineral e circuito de produção 254
Figura 21 – Algumas possibilidades e maneiras de acesso a água na bacia do Acaraú 260
Figura 22 - Sítio urbano de Sobral e carcinicultura em Acaraú e Cruz 264
Figura 23 – Condições de saneamento ambiental 268
Figura 24 – Poder de resiliência da caatinga 281
Figura 25 - Estado de conservação da vegetação e a degradação/desertificação 282
Figura 26 - Aspectos da degradação ambiental na bacia do rio Acaraú 285
Figura 27 - Distribuição dos pontos de coleta na bacia do Acaraú, conforme 290
Mesquita (2005) 290
Figura 28 - Restrição de uso das águas da bacia do Acaraú para irrigação em relação à
salinidade, conforme Mesquita (2005). 291
Figura 29 - Risco de problema de infiltração ao longo da bacia do Acaraú promovido pela
sodicidade da água, segundo Mesquita (2005) 291
Figura 30 - Indicadores hidrológicos de desertificação 292
Figura 31 – Uso/ocupação da terra e alterações ambientais 293
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Terras secas do Globo e sua distribuição geográfica, em termos absolutos
(milhões de km²) e relativos (%) 72
Tabela 2 - Áreas afetadas pela Desertificação no Mundo e causas associadas 74
Tabela 3 – Cenário para os desvios de temperatura, precipitação e umidade do solo no
Nordeste brasileiro em função do efeito estufa 82
Tabela 4 – Principais Características dos Núcleos de Desertificação 87
Tabela 5 – Área (km²) afetada pela desertificação segundo diferentes autores 90
Tabela 6 – Municípios afetados pelos Areais no Rio Grande do Sul 95
Tabela 7– Número de Municípios das Áreas Susceptíveis à Desertificação, por Estado 100
Tabela 8 - Relações entre população, área e produto Interno Bruto do Nordeste da SUDENE
e do Nordeste Semi-árido 113
Tabela 9 - Potencialidades, disponibilidade e demanda 122
Tabela 10 – Principais dados hidrológicos das bacias hidrográficas brasileiras, período de
1961 a 1990 123
Tabela 11 – Divisão Hidrográfica Nacional Atual 124
Tabela 12 – População Total, urbana e rural do Bioma Caatinga, 2000 130
Tabela 13 – Relação do número de Municípios, por Estado, nas Áreas Susceptíveis à
Desertificação 132
Tabela 14 - Área, população e número de mnicípios em Diferentes Delimitações do semi-
árido Susceptível à Desertificação 133
Tabela 15 – Cronologia das Secas entre os Séculos XVI a XX (1583-1923) 136
Tabela 16– Médias mensais de precipitação na bacia do Acaraú, período 1974-2004. 171
Tabela 17 - Médias das temperaturas mínimas e máximas 177
Tabela 18 – Balanço Hídrico, segundo Thornthwaite & Mather. 179
Sobral-CE 179
Tabela 19– Maiores açudes da bacia do Acaraú: situação em 1997, 2003 e 2005 189
Tabela 20 - Poços por tipo de aqüíferos 191
Tablela 21 – Estimativa da disponibilidade instalada atual e potencial das rochas cristalinas
em Sobral 192
Tabela 22 - População total dos Municípios 230
Tabela 23- População residente de 5 anos ou mais de idade, alfabetizada. 232
Tabela 24- Domicílios por forma de abastecimento de água 233
Tabela 25- Domicílios por existência de banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento 233
Tabela 26 - Principais indicadores de Saúde 234
Tabela 27 - Produtividade agrícola dos principais cultivos 236
Tabela 28 - Usos, funções e utilizadores do produto água associados a aspectos de
imprescindibilidade, possibilidade de substituição e feitos a jusante na bacia 267
xiii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Subsídios dos Grupos de Trabalho, questões decisivas e necessidades das
regiões semi-áridas 55
Quadro 2 - Desertificação: fatores e efeitos 57
Quadro 3 – Principais causas da desertificação no mundo 58
Quadro 4 - Antecedentes Históricos de eventos relacionados ao combate à Desertificação 62
Quadro 5 - Conceitos sobre a desertificação entre diversos autores 66
Nacionais e Internacionais 66
Quadro 6 – Classificações de Desertos 69
Quadro 7 – Conceitos e principais características de deserto e do fenômeno desertificação
71
Quadro 8 – Fontes dos principais gases de Efeito Estufa 77
Quadro 9 – Principais efeitos previsíveis do aumento da temperatura no Globo 82
Quadro 10 - Causas de mudanças climáticas e indicadores de climas passados 83
Quadro 11 - Áreas Prioritárias para o Estudo da Desertificação 87
Quadro 12 – Indicadores relevantes conforme a escala de monitoramento 90
Quadro 13 - Indicadores de Desertificação Consensuados 93
Quadro14 - Instituições participantes do PAN-BRASIL 98
Quadro 15 – Esboço geral dos problemas geoambientais do Nordeste seco 115
Quadro 16 – Aspectos genéricos das condições pluviométricas do Nordeste seco 116
Quadro 17 - Comparação entre aspectos hidrológicos no Mundo, Brasil e Nordeste seco 121
Quadro 18 – Proposições importantes para convivência com o semi-árido e a seca, no
combate à Desertificação 142
Quadro 19 - Aspectos Geológicos e Geomorfológicos da bacia do rio Acaraú 166
Quadro 20 – Ambiente biofísico: atributos geoambientais incidente sobre os recursos
hídricos superficiais 185
Quadro 21 – Características qualitativas da bacia de drenagem do Acaraú 187
Quadro 22 - Características naturais dos vales fluviais 188
Quadro 23 – Aqüíferos e suas características 193
Quadro 24 – Principais características das classes de solos, morfopedologia e exploração
agrícola 203
Quadro 25 - Características morfoclimáticas do Domínio das caatingas semi-áridas 212
Quadro 26– Caracterização dos atributos geoambientais da bacia do rio Acaraú 220
Quadro 27 – Capacidade de suporte, problemas ambientais e diretrizes de ocupação dos
sistemas ambientais em face da desertificação 221
Quadro 28 – Funções do sistema da gestão de água e demais sistemas, consideradas no
Plano de Recursos Hídricos do Ceará em 1992 256
Quadro 29 - Características e problemas na retificação do canal do riacho Mucambinho 265
Quadro 30 – Unidades fitoecológicas, sistema geoambiental de ocorrência e estado de
conservação 280
Quadro 31 - Principais aspectos de ajustes ecológicos das caatingas 284
xiv
RESUMO
Este trabalho aborda a problemática da desertificação no âmbito da degradação
ambiental, em suas escalas mundial, regional e local. Nesse contexto, o Nordeste brasileiro
e, especialmente, a bacia do rio Acaraú (Estado do Ceará), foi concebida como unidade da
gestão e planejamento territorial, em face da degradação dos recursos naturais e da
desertificação.
O diagnóstico socioambiental que ensejou as discussões teve como
pressupostos teórico-metodológicos a análise geoambiental integrada, balizada por
questões históricas e conceituais sobre o fenômeno da desertificação. Nessa trajetória, o
Nordeste brasileiro foi considerado em sua complexidade ambiental, sobretudo, no que se
refere a sua porção semi-árida, sublinhando-se o Programa Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação aos Efeitos das Secas (PAN-BRASIL).
A bacia estudada tem caráter intermitente-sazonal e localiza-se, especificamente,
no centro-norte cearense, ocupando 14.560 km². Cerca de 71,7% de seu território é de
domínio semi-árido, sobressaindo-se na compartimentação geoambiental os sertões como
paisagens predominantes. Mostra desenvolvimento econômico pífio, com primazia do setor
primário. No geral apresenta tecnologia rudimentar, que produz baixos rendimentos e
reflexos socioambientais drásticos e alarmantes em meio à pobreza reinante.
Esse panorama socioeconômico contribui para debilitar a sustentabilidade
ambiental e fazer crescer a vulnerabilidade geoambiental em face da desertificação. Esta
apresenta-se como desdobramento da degradação ambiental, imbricada ao processo
histórico de ocupação da bacia; fato notório impresso nas diferentes paisagens sob
influências dos agentes organizadores do espaço, com reflexos na conservação dos
recursos naturais renováveis, sobretudo, dos solos e das vegetações, em uma relação
conflituosa entre sociedade e natureza.
O estudo destacou, também, estratégias integradas de combate à desertificação,
considerando a capacidade-suporte dos ativos ambientais, onde foram consideradas, dentre
outras propostas, diretrizes pautadas na perspectiva de um zoneamento ecológico-
econômico.
Palavras-chaves: Nordeste brasileiro, degradação/desertificação; bacia hidrográfica ,
semi-árido.
xv
ABSTRACT
The present paper approaches desertification within the scope of environmental
degradation, in its worldwide, regional and local scales. In this context, Brazilian
Northeastern region, specially the Acarau River Basin (Ceara State), was conceived as a
territorial unit of territorial management and planning, face natural resources degradation and
desertification.
The socio-environmental diagnosis which generated discussions here had as
theoretical-methodological presuppositions the integrated geoenvironmental analysis,
scaffolded by historical and conceptual issues on the desertification phenomenon. In this
trajectory, Brazilian Northeast was considered in its environmental complexity, above all, in
which refers to its semi-arid portion, being enhanced the National Program of Combat
against Desertification and Mitigation of Droughts‘ Effects (Programa Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação aos Efeitos das Secas/PAN-BRASIL).
The basin in study has the intermittent-seasonal feature and it is placed,
specifically, in Center-North of Ceara, occupying a 14.560 Km
2
area. About 71,7% of its
territory belongs to a semi-arid domain, standing out, within geoenvironmental partitioning,
the hinterlands as predominant landscapes. It presents unimportant economic development,
with overlapping primary sector. In general, it presents rudimentary technology, which
produces low incomes as well as drastic and alarming socio-environmental reflexes among
the reigning poverty.
This socioeconomic overview contributes to weaken environmental sustainability
and it magnifies geoenvironmental vulnerability face the desertification. Desertification
consists in an unfolding of environmental degradation, engaged to the historical process of
basin`s occupation. It is a remarkable fact impressed on different landscapes under
influences of space organizers, with reflexes on the conservation of renewable natural
resources, specially, of soils and vegetations, in a conflicted relationship of society x nature.
The study also stood out the engaged strategies of contest against desertification,
by considering the capacity-support of environmental actives, where were considered,
among other purposes, guidelines based on the purpose of geoenvironmental zoning.
Key-Words: Brazilian Northeast; degradation/desertification; River Basin; Semi-arid.
1
INTRODUÇÃO
No processo histórico da humanidade foi sempre marcante a relação homem versus
natureza. A demanda pelos recursos naturais intensifica-se progressivamente à proporção
que as sociedades humanas desenvolvem novas tecnologias, e, principalmente, a partir da
sua sedentarização, com o conseqüente agrupamento social. Isso condicionou a pressão
sobre os recursos naturais, ocasionando problemas ambientais, uma vez que grande parte
da humanidade apresenta uma relação exploratória e degradadora sobre esta dotação de
recursos.
Dentre os recursos explorados, os hídricos e biológicos foram os mais procurados
pelas sociedades, sendo exauridos, poluídos e consumidos inadequadamente.
Como tentativa de minorar a degradação do meio físico, nas últimas décadas, foram
iniciadas discussões sobre a temática ambiental, encerrando diagnósticos e estudos
ambientais voltados a sua sustentação natural e social. No trato do desenvolvimento e meio
ambiente destaque para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em
Estocolmo 1972, e Conferência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento (Rio-92).
E neste domínio que a preocupação ambiental detém destaque, e, em particular, os
recursos naturais sobretudo os renováveis - como água, solo e vegetação, sob os riscos
de ações localizadas que provoquem degradações com ressonâncias regional e global,
deflagradas por deseconomias ambientais sobre a explotação desses recursos essenciais, à
luz de sistemas socioambientais complexos. O definhamento de mananciais e afluentes em
bacias hidrográficas, por exemplo, compromete as disponibilidades mínimas por água pelo
mundo afora, principalmente nas regiões com exigüidade de recursos hídricos, como as
zonas áridas e semi-áridas. Neste tocante, vis-à-vis, os fatores de exploração biológica são
aviltados, potencializando a propalada poluição da pobreza.
Em regiões semi-áridas, como no Nordeste brasileiro (NEB), estes problemas são
agravados por conta de seu quadro geoambiental vulnerável, onde, principalmente os
recursos de água, solo e geobotânico, são consumidos e exauridos vorazmente, aumentado
assim a susceptibilidade às contingências climáticas, sobretudo termopluviométricas. A
redução da biodiversidade, a erosão dos solos e a diminuição espaciotemporal e
qualiquantitativa das águas interiores, dos recursos de solo e vegetação, para citar os
mais prejudicados, dão sinais de profunda degradação ambiental na região fisiográfica dos
sertões, onde sobressai a problemática da degradação/desertificação.
Com uma vocação histórica agropastoril desde os primórdios da colonização do Brasil,
aliada às condições climáticas desfavoráveis, com as consecutivas e cíclicas secas, um
agravamento dos problemas de degradação ambiental nas paisagens sertanejas, sobretudo
nas áreas de bacias hidrográficas semi-áridas, onde a sustentabilidade dos recursos
2
naturais é baixa, a partir de uma ecodinâmica instável e níveis de criticidade drica
comprometedores.
Os problemas relacionados à degradação ambiental, todavia, estão entre os mais
preocupantes. A desertificação, como uma de suas conseqüências, merece atenção
especial. Este processo ocorre em cerca de 70% de todas as terras áridas ou 3,6 bilhões
de hectares, representando 25% das terras do Planeta (UNEP, 1995).
A Conferência de Estocolmo (1972) representa o primeiro momento de discussão
mundial sobre a desertificação. Esta discussão foi aprofundada cinco anos depois, no
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNUMA (Nairobi, Quênia). Nesta
perspectiva, a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação (UNCOD) reconheceu a
desertificação como um problema ambiental desencadeador de severos custos para a
sociedade. Entrementes, 20 anos depois, incorporada e discutida a problemática da
desertificação na Rio-92, a definição oficial deste fenômeno foi registrado na elaboração da
Agenda 21, que em seu Capítulo 12.2 o define da seguinte forma: é a “degradação da terra
nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas, resultantes de vários fatores, entre eles
as variações climáticas e as atividades humanas”. Nesta oportunidade, foi ratificada a
indicação na Conferência de Nairobi que a desertificação é um problema de primeira
magnitude.
No Brasil, os primeiros estudos foram desenvolvidos por Vasconcelos Sobrinho (1976).
Além deste, vários outros estudiosos se dedicaram ao assunto a partir de então, sobretudo
em relação à desertificação no Nordeste brasileiro (NEB). Desde esses primórdios até a
elaboração do Programa Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos
da seca PAN-BRASIL, em 2004, a Região Nordeste sempre foi destacada como foco
para intervenções políticas e econômicas no tratamento da desertificação vinculada à seca,
principal no semi-árido. Assim, tem-se o desenvolvimento de uma macropolítica de trato da
desertificação, com o escopo de atuar no combate à esta problemática nas Áreas Semi-
áridas e Subúmidas Secas, Áreas de Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas
que ocorrem em algumas áreas do norte mineiro e capixaba, no Maranhão e principalmente
no Nordeste seco: as denominadas Áreas Susceptíveis a Desertificação (ASD’s).
Ressalte-se que esse fenômeno é um problema de cunho socioambiental, a despeito
das estiagens na região. Os impactos de ordem socioeconômica ou os provenientes da
própria dinâmica natural dos sertões, ou mesmo os dois fatores agindo concomitantemente,
podem, sinergeticamente, operar para o agravamento dos problemas ambientais,
provocando degradações percebidas em ulcerações, concentradas ou difusas, nas
paisagens sertanejas alhures e algures. Dentre os fatores sociais que podem desencadear a
desertificação há: sistema de propriedade da terra; racionalidade dos agentes e atores
sociais envolvidos; intensa pressão humana sobre os sistemas naturais; tecnologia
3
inadequada prevalecente; carência de infra-estrutura ambiental e social; insuficiente
integração regional (RODRIGUEZ & SILVA, 2001).
O envoltório geoambiental, com destaque para as condições termopluviométricas,
opera decisivamente sobre o quadro geoecológico. Em regiões localizadas em baixas
latitudes, os efeitos dos inputs solares se fazem sentir mais forte e seletivamente sobre a
fisiologia da paisagem. Desta forma, a degradação socioambiental, aliada às vicissitudes
climáticas no semi-árido, comprometem a auto-organização e a capacidade-suporte da
biosfera, influenciando nos processos morfodinâmicos em bacias hidrográficas.
Quanto à desertificação no mundo, os principais países atingidos são: Portugal,
Namíbia, China e Brasil. Em nosso País, o processo de desertificação evidencia-se na
região semi-árida do Nordeste, em uma área aproximada de 788.064 km² ou 48% da região.
Deste montante, o Ceará detém 136.328 km² de áreas semi-áridas susceptíveis ao
desencadeamento da desertificação. Esse Estado da Federação tem a maior área
proporcional do Nordeste seco, ou cerca de 92,1% de seu território distribuído no perímetro
da semi-áridez. Esse território possui características climáticas que podem evidenciar a
degradação do ambiente, que, juntamente com as atividades humanas e as secas eventuais,
podem provocar o surgimento de áreas desertificadas.
Neste contexto, a degradação ambiental causa desequilíbrios, provocando perda da
capacidade produtiva dos ecossistemas, salinização e ablação dos solos, assoreamento dos
cursos fluviais e retiradas da cobertura vegetal, dentre outros problemas.
Via de regra, os estudos sistemáticos sobre recursos naturais na região Nordeste,
especificamente destacando-se o semi-árido, são operados em termos exploratório e/ou de
reconhecimento, quando não em escala ao milionésimo, considerando grandes extensões
territoriais com aspectos genéricos sem detalhes. Nesse panorama, a materialização deste
trabalho pode conduzir formas adequadas de utilização de ambientes semi-áridos, em
especial ao disciplinamento de uso e ocupação do solo, onde a bacia hidrográfica do rio
Acaraú, com 14.560,1 km² (Figura 1), no centro-norte cearense, é evidenciada como
unidade de estudo e planejamento geoambiental, em face da degradação/desertificação.
Em razão do exposto, necessidades imediatas de ampliação de pesquisas sobre
análises ambientais para avaliação dos potenciais e limitações naturais de suas áreas de
drenagem no âmbito de seus domínios sub-regionais, por meio dos diagnósticos integrados
que forneçam informações concretas ao ordenamento territorial regional e ambiental.
Desta feita, a proposta de pesquisa Degradação ambiental e desertificação no
Nordeste brasileiro: o contexto da bacia do rio Acaraú-Ceará” com bases físico-
geográficas contribuirá com maior conhecimento das condições geoambientais e
socioeconômicas para propor sugestões na adequação socioespacial e conservação da
natureza ante a vulnerabilidade às secas e ao desencadeamento da desertificação.
Ressalte-se que este trabalho é parte integrante do projeto Gestão racional de bacias
4
hidrográficas na região de caatinga de modo a manter seu uso sustentável na
agricultura irrigada”, coordenado pela EMBRAPA – Agroindústria Tropical, Fortaleza-CE.
Figura 1 – Localização da bacia do rio Acaraú
O desenvolvimento de ações proativas à reativas para a gestão e proteção ambiental
anteciparia o tratamento nas áreas em vias de degradação, o que contribuirá no
estabelecimento de programas de ação integrada econômico, social e ambiental - como
forma de fixação do produtor rural no campo, compatível com as necessidades de eqüidade
social intertemporal. Convém relatar que, mesmo quando entendida como uma unidade de
planejamento, a bacia jamais poderá finalizar o planejamento e a gestão como um axioma
para resolução dos problemas de degradação/desertificação, ao tempo em que a atividade
econômica, sem parametrização definida, freqüentemente não respeita os limites dos
divisores de água.
Por estes fatores, a bacia hidrográfica do rio Acaraú foi considerada a unidade natural
mais adequada para a gestão dos recursos naturais, no entanto, sua administração não é
uma tarefa simples. Apenas um detalhe neste domínio: além de unidades naturais, ela ainda
5
sofre injunções enquanto unidade político-administrativa. O desenvolvimento racional dessa
bacia deve constar como pauta prioritária na agenda de discussões e decisões políticas dos
administradores/planejadores públicos e tomadores de decisões políticas, buscando-se
parcerias com os setores privados da economia, valorizando-se as populações habitantes e
contíguas de suas áreas de drenagem, de vez que as ofertas geoambientais, com destaque
para os recursos de água, solo e vegetação, sejam considerados como insumos produtivos
e, principalmente, concebidos como indispensáveis para a automanutenção geoecológica
das paisagens sertanejas e da própria sobrevivência humana. Tudo isto sem esquecer que
ações localizadas e desarticuladas entre as três esferas do Governo – municipal, estadual e
federal-, não promovem uma mudança estrutural na gestão dos recursos naturais e no
combate ào fenômeno da desertificação. Somente será obtido êxito neste destaque em se
articulando todos os segmentos da sociedade, convocando a contribuição dos agentes
políticos, econômicos, sociais, ambientais e, sem dúvida, os usuários diretos do pacote de
recursos naturais beneficiários primordiais da sustentabilidade que se pretende, com
base numa adequada política da gestão ambiental.
Com uma perspectiva de subsidiar a ordenação do território, mediante de uma
avaliação geoambiental com estudos interdisciplinares, destacando aspectos físico-
conservacionistas, sociais e econômicos, para que seja apresentado um zoneamento
ecológico-econômico como uma das diretrizes ante as incidências de
degradação/desertificação, é que surge esta proposta de trabalho. Outrossim, este
conceberá os limites dos sistemas naturais em precisão compatível com a escala de
mapeamento de 1:250.000, uma vez que lacunas em trabalhos conservacionistas em
escalas maiores do que 1:500.000 que dirijam a ordenação do território ante a sua
pluralidade espaciotemporal. A escolha da bacia hidrográfica em estudo deu-se a partir de
sua importância como a segunda maior do Ceará, além de apresentar todo o seu domínio
em Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD’S). setores, miúde, têm setores
enquadrados nas áreas degradadas susceptíveis aos processos de desertificação no Estado
do Ceará e evidênciam manchas perceptíveis em imagens de satélite TM-Landsat 7 (1999)
com profunda degradação ambiental.
Em sua essência, o trabalho almeja, como escopo pesquisar a degradação dos
recursos naturais, destacando as áreas degradadas susceptíveis aos processos de
desertificação, indicando a mencionada bacia como unidade de planejamento geoambiental,
considerando-se os fatores ambientais (físicos e humanos), bem como suas causas e
conseqüências no Centro-Norte do Estado do Ceará.
Nesta trajetória, os objetivos específicos estão arrolados a seguir:
1. discutir questões teórico-conceituais, bem como metodológicas sobre a
problemática da desertificação;
6
2. identificar e caracterizar os sistemas físico-bióticos, com base em proposta
metodológica geossistêmica, considerando as principais variáveis ambientais
relativas ao suporte físico (condições geológicas e geomorfológicas), ao envoltório
(condições hidroclimáticas) e à cobertura (solos e recobrimento vegetal) que
compõem a bacia, para subsidiar a compartimentação geoambiental;
3. levantar as áreas degradadas e/ou em vias de desertificação, considerando o
estado de conservação da vegetação e a ecodinâmica das paisagens, tendo como
condicionante o uso descontrolado dos recursos naturais;
4. diagnosticar e avaliar as principais causas e conseqüências ambientais e
socioeconômicas dos processos de degradação que podem desencadear a
desertificação; e
5. elaborar propostas de manejo dos recursos naturais para melhoria da
qualidade ambiental, através de um Zoneamento ecológico-econômico conforme as
condições de potencialidades e de limitações de uso e ocupação das unidades de
paisagem, com fins de deter e/ou recuperar as áreas vulneráveis ou degradadas, ou
mesmo em decurso de desertificação.
7
1 -PRINCÍPIOS, CONCEITOS E MÉTODOS
1.1 - ESTUDOS AMBIENTAIS E GEOGRAFIA
A compreensão tradicional das relações entre sociedade e natureza, marcantes no
século XIX, atreladas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a
natureza como pólos excludentes, concebendo a natureza como objeto, fonte de recursos
ilimitados à demanda socioeconômica crescente, no geral mais ou menos até a década de
1970 (BERNARDES e FERREIRA, 2003). Por isto foram desenvolvidas práticas e atitudes
através de processos históricospolíticos, permeados pela industrialização –, responsável
pelo crescimento da complexidade social, impulsionando a urbanização, criação de infra-
estrutura e a divisão social do trabalho. Isto sob propostas de acumulação que se realizaria
pela exploração intensiva dos recursos naturais, com efeitos ruins tanto para natureza como
para os homens, até que tais recursos fossem aceitos como exauríveis e finitos.
Concordamos com Cunha e Guerra (2003), baseados em uma concepção marxista de
natureza não dualista, que o homem foi inserido na história da natureza no Pleistoceno, daí
o estudo do Quaternário ser o mais importante à Geografia; sendo que o espaço sofre
como processo histórico de ocupação e transformação, em uma dada época e sociedade
conforme cada civilização- promovendo um caráter dinâmico no ambiente e nas heranças
de paisagens, de vez que as atividades dos grupos humanos alteram o ambiente e a
magnitude dessa mudança de um espaço a outro, avaliada pelos seus diferentes modos de
produção, bem como pelos diversos estádios de desenvolvimento tecnológico.
A Geografia por estudar o conjunto de fenômenos e formas de organizações num
determinado espaço da superfície terrestre, a partir de uma interação espacial, entre
sociedade e natureza, marca e define paisagens (RODRIGUES e OTAVIANO, 2001), ao
mesmo tempo físicas e culturais (SAUER, 1998), através de relações históricas
desencadeadas pela dialética dos homens (RANDOLPH e BESSA, 1993), pois a paisagem
é uma marca, por expressar uma civilização, como também uma matriz porque participa dos
esquemas de percepção, de concepção e de ação (CORREA e ROSENDAHL, 1998).
Perseguindo esta perspectiva, estudos sobre a questão ambiental devem se apoiar
num conceito de ambiente próximo ao de espaço geográfico, pois as instâncias natural e
socioeconômica ensejam níveis de preservação e/ou degradação inerentes à própria forma
de organização da sociedade no território (FIGUEREDO, 1990). Adicionalmente, cabe
registrar que os recursos naturais valorizam o espaço, construído pelo trabalho, mediatizado
e potencializado pela técnica das práticas desenvolvidas.
É necessário especificar, como ratificou Raffestin (1993), que os materiais terrestres
não são recursos. Só serão como resultado de um processo de produção, para suplantar as
8
propriedades inertes da matéria. Por isto, um recurso é produto de uma relação. Sem estas
premissas, não recurso natural, materiais naturais, que possibilitam a transformação
em recursos. Trata-se de uma concepção histórica da relação com a matéria-prima, o que
cria a natureza sóciopolítica e socioeconômica dos recursos naturais.
Holisticamente, se infere que o meio ambiente ou ambiente é construído social e
historicamente na interação contínua de uma sociedade vivaz e um espaço físico passivo e
ativo, concomitantemente. Nesta trajetória, são produzidas riquezas a partir da explotação
dos recursos naturais, como também impactos socioambientais das mais variadas etiologias
e escalas.
Neste contexto, os usos simétricos dos recursos naturais estão para sua gestão em
uma concepção geográfica (RAFESTTIN, op cit.), assim como o uso ótimo desses recursos
está para a Economia Ecológica (MARGULIS et al.1996). Algumas diferenças residem na
escala temporal: para a primeira proposta, “todo recurso consumido hoje está perdido para
sempre” (p.233); por seu turno, a segunda reza que a dissipação e o desperdício de matéria
e energia, e mais a esgotabilidade, são função de novas descobertas tecnológicas.
O ambiente não representa um fragmento mecânico, mas um grande sistema
interconectado em rede e em dinâmica (CAMARGO, 2003). Portanto, como meio global,
imbricando três elementos básicos, “o entorno natural, os objetos e artefatos das civilizações
humanas, e o conjunto de todos os fenômenos sociais e culturais que configuram e
transformam os indivíduos e os grupos humanos” (RODRIGUEZ & SILVA, 2001:2).
Neste sentido esta entidade é suporte geofísico condicionante de transformação da
vida social em ciclos renovados e de reconstrução natural e social, ou seja, no seio da
relação sociedade e natureza, em suas mais variadas dimensões socioculturais, políticas, e
espaços-ambientais. Sem dúvidas, o ambiente é parte integrante do processo de construção
social da realidade das expressões sócio-histórica e territorial dos fatores históricos
(RANDOLPH e BESSA 1993), sem esquecer que ele também é físico, químico e biológico,
devendo ser entendido como processo e não só como produto, tal como os impactos
socioambientais (COELHO, 2001; PÁDUA, 2001).
A bem da verdade, o ambiente (natural e social) passa por transformações ao longo da
história. Em função de interesses econômicos e políticos, com uma idéia dualista da
natureza, a degradação ambiental, no século XX, foi acentuada. Isto contribuiu para a
diminuição na qualidade de vida e aumento da preocupação mundial em cessar tal situação.
Atualmente, com o novo século, as necessidades humanas por recursos naturais
(insumos e energia) afetam afetando o poder de resiliência destes ante as crescentes
demandas socioeconômicas que estão sendo ampliadas espaciotemporalmente. O mundo
hodierno globalmente interligado e desigual passa por problemas inter-relacionados e
sistêmicos que afetam perigosamente a segurança ambiental. Para Nascimento (2003),
estas questões são frutos de um conjunto de problemas que compõem a primeira crise
9
mundial na história da humanidade, a chamada crise da modernidade, permeada pelo
Estado, razão-instrumental e mrcado.
Ratifica Nascimento, o fato de que, nas últimas três décadas, foram processadas
alterações no Planeta, sem precedentes, tanto em escala quanto em magnitude. Algumas
destas mudanças se dão em escala global, como a redução das florestas, as chuvas
ácidas, poluição do ar, degradação das águas (oceanos, bacias hidrográficas etc.) e dos
solos —, para citar alguns exemplos. Essas alterações foram transformadas em
deseconomias ambientais efeito estufa, redução da biodiversidade, poluição da miséria
(proliferação de endemias e epidemias), exaustão de mananciais, ressecamento dos solos e
agravamento das secas, com destaque para a degradação dos recursos naturais e a
desertificação, como conseqüências de ações contingentes em diversas regiões do
Planeta.
O atendimento crescente de informações, porém, a melhoria tecnológica estão
gerando maior conscientização sobre a crise ambiental e a problemática sobre os limites
dos recursos naturais sobretudo no que tange ao limite do ambiente, como provedor de
fatores de produção, geração de amenidades e de equilíbrio ecológico. Desta forma, o
planejamento da utilização dos recursos naturais apresenta-se como condição sine qua non
para que se alcance a sustentabilidade do desenvolvimento, extrapolando uma discussão
técnica e polarizada, discutindo ampla e coletivamente a categoria sustentabilidade de
processos ecossistêmicos e geoambientais.
Em termos de estudos ambientais e Geografia (MENDONÇA, 1991), em face desta
realidade, o ordenamento territorial/ambiental pode ser destacado como importante
instrumento de contribuição para minimização dos problemas socioambientais,
marcadamente em países pobres, e em especial nas regiões semi-áridas subdesenvolvidas.
Deve-se partir da visão de formação socioespacial, concebendo a Geografia como ciência
socionatural (MAMIGONIAM, 1999), com fins ao aproveitamento conforme dos recursos
naturais e o desenvolvimento de um bem-estar ambiental, como no caso do Nordeste
brasileiro, em especial no seu domínio semi-árido.
Preliminarmente é importante registrar que a concretude e as possibilidades analíticas
do conceito de bacia hidrográfica, considerando-a como unidade de planejamento e gestão,
contribuem sobremaneira ao ordenamento territorial/ambiental. Dá subsídios ao manejo
geoambiental, à luz dos recursos naturais e o desenvolvimento sustentável (NASCIMENTO
e CARVALHO, 2003c). A esta atenção, e em especial as implicações socioambientais sobre
o destaque semi-árido nordestino e desertificação, algumas linhas de atuação da
Geografia são salutares, sobretudo, para construção de uma multidisciplinaridade
destaque para a Geografia Física. E, mais do que isto, de uma interdisciplinaridade de
conhecimento científico diante da complexidade do tema aqui discutido. E, claro, como disse
Casseti (2003) valorizando a disciplinaridade, sem perder a visão de totalidade geográfica;
10
totalidade esta perseguida pelo recorte espacial da bacia hidrográfica do Acaraú. Ademais,
cabe à Geografia Física, diz Casseti (1995), epistemologicamente discutir a questão
ambiental.
Neste sentido, uma discussão sobre degradação/desertificação em bacia hidrográfica
semi-áridas demanda melhor apuração de suas condições geoambientais e
socioeconômicas, as quais poderão subsidiar diagnósticos socioambientais, bem como
recomendar algumas sugestões na adequação espacial e conservação da natureza em
termos de vulnerabilidade e sustentabilidade ambiental. A representação espacial dessas
unidades funcionais de planejamento resguarda paisagens, onde ocorrem interações
socioambientais, colaborando para que sejam eleitas unidades de planejamento
territorial/ambiental adequadas para extrapolar a simples gestão dos recursos hídricos. Uma
bacia hidrográfica denota características geoambientais, formando uma unidade natural
indissociável e interatuante, podendo facilitar o ordenamento territorial/ambiental,
contribuindo para um melhor aproveitamento da capacidade de suporte dos recursos
naturais.
Ratifique-se, segundo Gondolo (2000), que essa unidade é um sistema complexo
dado o número de elementos e variáveis-, interligados por meio de ciclos de transformação,
auto-ajuste, dissipação e novamente auto-organização com produção de entropia. As
relações mútuas entre seus elementos possibilitam a análise integrada do ambiente,
auxiliando em uma acurada avaliação dos aspectos físicos, econômicos e sociais à luz da
degradação/desertificação. Ademais, como bem disse Tavares (1988: 03), além dos
atributos naturais de um sistema físico, ao geógrafo cabe verificar as interferências humanas
pela organização do espaço na administração desses sistemas.
1.2 - BACIAS HIDROGRÁFICAS COMO UNIDADES FÍSICO-TERRITORIAIS
PARA OS ESTUDOS SOBRE DEGRADADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO
1.2.1 – PRESSUPOSTOS AMBIENTAIS E MARCOS DA LEGISLAÇÃO
Na problemática da degradação ambiental e desertificação, a Geografia Física detém
importante papel na compreensão espacial das relações sociedade/natureza, demandando
avaliações holísticas de tais condições, sob preceitos físico-geográficos. Neste percurso,
emerge a discussão do caráter geoambiental do Nordeste brasileiro, onde se podem
destacar no domínio semi-árido paisagens sertanejas entrecortadas e drenadas por bacias
hidrográficas. No contexto mundial, a bacia hidrográfica foi destacada pela Organização das
Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) no combate à desertificação,
assinalando a articulação das comunidades, isto é, através do princípio da consertação,
que:
11
(...) Envolve a participação das pessoas, desde o nível local, na tomada de
decisões, sendo expresso por diversas formas de entendimento (...)” como (...) a
consertação entre as comunidades que se faz necessária quando elas pertencem à
mesma bacia hidrográfica ou usam o mesmo espaço ou as mesmas fontes de
recursos; (...) (BRASIL, 2004c: 30).
Neste prisma, a água, por ser o bem mais valioso neste século, de importância para
todos os países, onde se destaca o Brasil, detentor do maior volume de águas doces do
Planeta, mantém uma importante relação com o par seca e degradação/desertificação.
Por isto, foram consideradas a questão dos recursos dricos e as degradações
socioambientais, abordada sob a trama da consideração da bacia hidrográfica como
unidade físico-territorial à gestão e planejamento ambiental. Cabe observar as contribuições
de Benevides & Coimbra (1992), Beltrame (1994), Filho et al. (1994), Fleischfresser (1996),
Ganzeli (1995), Pires & Santos (1996), Rebouças (1997, 2002), MMA/PNMA (1997), Soares
(1997), Filisetti (2000), Hirata (2003), Vieira & Cunha (2001), Guerra e Botelho (2001),
Cunha (2001), Campos et al. (2002), Souza et al. (2002); Campos (2003), COGERH (2003),
Cunha e Guerra (2003), Tundisi (2003a,b), Vieira (2002), Cunha e Coelho (2003);
Nascimento (2003); Karmann (2003); Riccomini et al. (2003), Lima (2004), MMA/SRH (2004)
Brasil (2004b) e outros discutidos doravante.
Em termos da dinâmica ambiental, no âmbito de bacias hidrográficas, seja em
qualquer ecozona climática, seus elementos mantêm mútuas relações dinâmico-instáveis,
sob a perspectiva de sistemas entrópicos (Segunda Lei da Termodinâmica, Lei da Entropia),
e abertos, em termos de componentes físicos, biogeoquímicos e socioeconômicos. Resulta
daí uma inter-relação e interdependência intrínseca de suas partes, dispares entre si pelas
funções que executam no universo do sistema, onde sua morfologia, estrutura, dinâmica e
exploração biológica promovem diferenciações em seus subsistemas.
Os limites de grandeza, porém baseados na classificação espacial de bacia
hidrográfica, corriqueiramente são arbitrários. São estabelecidos em função das
possibilidades de análise e disponibilidade de informação, muitas vezes em detrimento do
significado físico e dinâmico. No geral, as pequenas bacias compreendem áreas inferiores a
100km²; como médias, são classificadas aquelas entre 100 e 1000 km² e como grandes as
que têm mais de 1.000 km² (CHRISTOFOLETTI, 1999).
Bacias contíguas de qualquer hierarquia são interligadas pelos divisores topográficos,
constituindo uma rede onde cada uma delas drena água, materiais dissolvidos ou sólido
para uma saída comum, ou ponto terminal, quer seja outro rio de hierarquia equivalente ou
maior, ou outras coleções hídricas (como lagoas, reservatórios, oceano etc.). Como
sistemas abertos, recebem energia proveniente da dinâmica climática e das tectônicas
locais, eliminando fluxos de energia pela saída d’água, sedimentos e solúveis. Dada a
dinâmica de entradas e saídas, em seu interior, ocorrem ajustes nos elementos das formas
e processos associados (CHORLEY, 1971).
12
Em detalhe, os fundos de vales coletores transferem estes materiais transportados das
encostas para jusante e, a partir de fluxos concentrados nos canais ligam-se com outros
sistemas coletores de drenagem (NETTO, 2001). De fato, o regime das águas e a produção
de sedimentos ocorrem em função das ações combinadas das condições naturais e das
atividades humanas. Do primeiro conjunto, as características físicas (topografia, geologia,
solo e clima) colaboram para erosão potencial, enquanto as interferências socioeconômicas
se dão pelo uso e ocupação da terra (CUNHA, 2001).
Por isso, fortes mudanças a jusante, em qualquer hidrográfica, podem ocasionar
alterações e efeitos nos fluxos energéticos de saída e de entrada de descargas sólidas e
dissolvidas. A depender da escala e magnitude das mudanças deflagradas, os leitos e
canais de drenagem podem ser alterados (CUNHA e GUERRA, 2003, e CUNHA 2003). Isto
quer dizer que efeitos hidrológicos e geomorfológicos, naturais ou induzidos, refletirão num
determinado ponto de saída, podendo se propagar a jusante por meio de bacias de
drenagem adjacentes (NETTO, Ibid) ou contribuintes. Ademais, complementa Netto, uma
bacia representa um sistema hidrogeomorfológico, com os cursos d’água sendo importantes
modeladores da paisagem, influenciando na evolução do relevo.
De fato, como unidade físico-territorial, tem como elemento integrador os canais
fluviais ou canais de drenagem naturais, onde os recursos dricos são o referencial.
Embora constituída de um sistema natural complexo, não é um sistema ambiental único.
Portanto, é preciso considerar as questões socioeconômicas regionais que, na maioria dos
casos, não respeitam os limites dos divisores de água (ROSS & PRETTE, 1998).
Uma bacia hidrográfica deve ser estuda não do ponto de vista de sua rede de
drenagem, mas sim de forma mais holística, conforme sua complexidade fisiográfica,
socioeconômica e cultural. Sob esta égide, os recursos naturais ganham destaque, ao
tempo que são explotados, consumidos, exauridos ou conservados. Tais recursos foram
aqui entendidos como: qualquer componente abiótico ou biótico da natureza que seja
importante à manutenção dos seres vivos, seu crescimento e reprodução (GRISI, 2000) que
sejam utilizado pelas sociedades humanas em seu desenvolvimento socioeconômico e
cultural.
Ratificando esta questão, Souza et al. (2002) dizem que especificamente a delimitação
de bacias, enquanto unidades de análise para estudos de planejamento, justificam-se não
pelo reconhecimento da importância dos recursos hídricos, como também pela riqueza
de variáveis a serem destacadas na pesquisa, como relevo, solo, vegetação, interferências
humanas etc. Além do mais, bacias de tamanhos diferentes articulam-se através dos
divisores de drenagem principais em direção a um canal, tronco ou coletor principal,
constituindo um sistema de drenagem hierarquicamente organizado. Como bacias
hidrográficas compreendem-se aquelas compostas basicamente de um conjunto de
13
superfícies vertentes e de uma rede de drenagem, composta por cursos hídricos confluentes,
formando único leito (OLIVEIRA e FERREIRA, 2001).
Desta feita, a bacia do Acaraú representa uma base territorial/ambiental para gestão
dos recursos hídricos, bem como possibilita diagnósticos do meio físico como instrumento
de preservação e conservação dos recursos naturais (BELTRAME, 1994), como proposição
metodológica na perspectiva de zoneamento (MENDONÇA, 1999) em face da degradação
ambiental (CUNHA e GUERRA, op cit.) e da emergente problemática da desertificação nos
sertões do Nordeste seco, sobretudo no semi-árido (NASCIMENTO et al. 2004).
Conforme Lamonica (2004), as bacias hidrográficas constituem unidade territorial,
quando configuram uma apropriação de uma parcela do espaço para um dado fim, como
para o desenvolvimento de uma determinada política da gestão territorial e/ou ambiental.
Expressamente como unidade territorial, por meio do Estado, com políticas práticas
provocando reflexo no espaço, por isto dotando-o de um ordenamento, como por meio da
gestão ambiental. Com efeito, destaca ainda, que a amplitude de sua unidade ambiental
existe a partir de seus divisores diante dàquilo que a qualifica como unidade; todavia, mais
do que uma unidade ambiental, por meio do desenvolvimento de novas formas gestoras de
qualquer recurso no seu âmbito, paulatinamente agregará um novo valor, o de unidade
territorial. Decerto, a diversidade da bacia hidrográfica em tela torna-se unidade em seu
conceito, validando-se, significativamente, quando este unifica a diversidade, entendida
como fusão de aspectos ambiental e territorial, envolvidos na inter-relação de vários
(f)atores e (f)atos.
Assim, um planejamento integrado com a comunidade envolvida com uma bacia
hidrográfica, trabalhando a relação homem-natureza no cotidiano do cidadão, não fragmenta
as próprias relações homem/homem, resultando numa ação integrada e dinâmica, onde as
questões ambientais envolvidas se dão em meio a: compatibilização de um zoneamento em
função da poluição hídrica; proposta de uma descentralização política e administrativa sobre
problemas ambientais, para promoção da participação comunitária no manejo e
planejamento ambiental (PIRES, 2000).
Pensando relacionalmente, concebendo os fatores de degradação ambiental em bacia
de drenagem em estudo, faz-se necessário enfocar os intervenientes modificadores da
qualidade ambiental, conectados aos agentes organizadores do espaço regional, derivando
os aspectos socioeconômicos provenientes das tipologias de uso e ocupação do solo; pois,
como ratificado por Paula et al. (1997), a unidade bacia hidrográfica é um sistema terrestre e
aquático geograficamente definido, composto por sistemas físicos, econômicos e sociais,
onde se conjugam questões ambientais.
Por oferecer noção de conjunto dos atributos naturais e socioeconômicos, além de ser
formada por diversas unidades ecológicas, comporta unidades político-administrativas,
correspondendo, por exemplo, a municípios e distritos.
14
A bem da verdade, embora se restrinja aos espaços delimitados pelas trajetórias dos
cursos d’água, seus limites territoriais, ou de seus subsistemas (microbacias), nem sempre
as bacias coincidem com as delimitações territoriais-oficiais, por isso uma mesma bacia
pode ser compartilhada por diversas unidades administrativas, como, por exemplo,
diferentes municípios, criando complicadores para a gestão ambiental (CUNHA e COELHO,
2003). Portanto, além de unidades naturais, elas ainda são objeto de injunções como
unidades político-administrativas, sob diferentes jurisdições e modelos de governabilidade.
Engloba, também, a bacia relações de causa-efeito e de políticas externas (como a de
preços, por exemplo) por isso deve ser considerada como sistema “multicomposto” que
inclui desde a água aos elementos do potencial geoecológico, sobrepostos, dialeticamente,
por aspectos sociopolíticos e econômicos, que, sem parametrização definida,
freqüentemente não respeitam os limites dos divisores de água.
Por isso, a administração de bacia não é tarefa simplesl. A bacia em exemplo tem suas
áreas com superposição jurídica de variados níveis e esferas políticas, compreendendo 30
governos municipais, com municípios totalmente (10), parcialmente (15) ou mesmo uma
pequena parte inseridos (5) em suas áreas de drenagens; além de tangenciar outros
municípios no corpo jurisdicional do próprio Estado cearense onde atuam diversos atores
sociais como produtores rurais, empresários e sociedade civil em geral. Portanto, é
inquestionável que qualquer uso dispersivo da água afeta o equilíbrio hidrológico da própria
bacia. Com efeito, a vocação econômica, os aspectos geoecológicos e o uso cultural de
cada bacia a tornam singular. Conseqüentemente, os conflitos sobre a ocupação e uso dos
recursos naturais é uma realidade.
Para tanto, vigoram alguns artigos da Carta Magna de 1988 com fins a otimização dos
usos múltiplos da água, destacando que: todos os corpos d’água passaram a ser de domínio
público; rios e lagos que banham mais de uma unidade federativa são de domínio da União;
são bens dos Estados, as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em
depósito, ressalvadas as decorrentes de obra da União. A Constituição ainda reza que a
bacia hidrográfica deve ser gerenciada de maneira integrada, descentralizada, participativa
e independente, associado ao Sistema Ambiental.
Neste domínio, o Capítulo III da referida Lei 9.433, reza sobre os comitês de bacias
como fundamentais para a gestão das bacias de drenagem, destacando sua área de
atuação, competências, possibilidade de recurso ao Conselho Nacional ou aos conselhos
estaduais de recursos hídricos, conforme sua esfera de atribuições, seus componentes e
direção. Estes comitês têm como escopo integrar institucionalmente os diversos interesses
mediando os conflitos, arbitrando em primeira instância, instigando acordos que explorem
harmonicamente os recursos hídricos (CUNHA, 2001), como também os demais recursos
naturais no contexto de uma bacia hidrográfica.
15
Por isto permite melhor manejo, a participação dinâmica e efetiva da comunidade nas
decisões, através de atuação espacialmente mais localizada, auxiliando no tratamento de
problemas econômicos, sociais e ecológicos comuns a uma determinada comunidade
(BORDALO, 2002). Assim é que se ratifica o Comitê da bacia do Acaraú como principal
instituição a gerenciar a bacia em tese.
Isto porque, segundo Cunha e Guerra (2003), a degradação ambiental nesta unidade
funcional de planejamento deve ser entendida de forma global, integrada e holística,
considerando-se as relações entre a degradação ambiental e as sociedades causadoras
dessa dilapidação, que concomitantemente sofrem os efeitos e procuram solucionar,
recuperar e reconstituir as áreas alvejadas.
Parafraseando Gondolo (2000), o essencial nesta questão é não simplesmente
identificar os fatores corroboradores dessa degradação e quem são os responsáveis, porém
saber quais os processos que submetem a bacia hidrográfica, e sobre quais estruturas
estão assentados a degradação e os fatores que a alimentam é o mais importante.
Desta forma, os comitês podem assumir e decidir sobre as conseqüências positivas e
negativas resultantes da gestão dos recursos naturais, preferencialmente os hídricos, ao
passo que agregam custos inevitáveis ao acesso à água. Segundo Dantas (1999), isto tem
enorme capacidade educativa, porque a população aos poucos entende suas relações e
limitações em relação ao ambiente que integra.
Diga-se de passagem que, a partir dos usos múltiplos dos recursos hídricos da área
em discussão, a prioridade deve ser dada à satisfação das necessidades básicas e de
proteção da capacidade de suporte dos ecossistemas. Posteriormente, tais recursos
assumem as características básicas de insumo ao desenvolvimento econômico, tarifando o
uso da água para evitar a situação de dumping ambiental, conforme destaca Rebouças
(1997).
A gestão pública das águas remonta ao início do século XX, por meio dos discursos
em torno da problemática do Nordeste (sobretudo o das secas) e nos debates sobre o
direito de propriedade e usos dos cursos fluviais, culminando com a criação, em 1909, da
Inspetoria Federal de Obras contra as Secas (IFOCS). Em 1936, passou a ser chamada de
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A instituição em 1934 do
Código de Águas soma-se a este fato. Este instrumento é o marco legal da gestão pública
da água no Brasil. Centraliza o poder sobre as águas em geral e suas propriedades, a partir
do aproveitamento das águas públicas, comuns e particulares, bem como as forças
hidráulicas e a regularização da indústria hidroelétrica (LACORTE, 1994; CUNHA, 2001).
De todo modo, o ponto de partida técnico e jurídico na apropriação e conservação dos
recursos hídricos do Brasil foi o Decreto Federal 24.643, de 1934. Instituiu o Código das
Águas, regulamentando a classificação e utilização das coleções hídricas, destacando seu
uso hidroelétrico, alimentação e satisfação dos povos ribeirinhos, navegação, irrigação,
16
proteção contra cheias, conservação e livre circulação da ictiofauna, escoamento e rejeição
das águas (art. 143). Além do mais, salienta (BORDALO, 2004), preocupações posteriores
sobre estes temas ocorreram em inúmeras ações públicas implementadas, como: Código
Nacional de Saúde (1961), Código Florestal (1965), Política Nacional de Saneamento (1967),
Comitê Especial de Estudos Integrados das bacias hidrográficas CEEIBH (1978) - que
fortaleceu, pioneiramente, a necessidade da gestão das bacias hidrográficas brasileiras
(CUNHA e GUERRA, 2003) - e o Programa Nacional de Microbacias hidrográficas PNMH
de 1987.
A adoção dessa discussão foi feita também pela Agenda 21 brasileira, de maneira
mais ampla, no eixo Gestão dos Recursos Naturais. Em seu Capítulo 18 - Seção III -, além
de ressaltar os aspectos sociais e políticos, em termos ambientais, reza sobre a
necessidade de se levantar, mapear, quantificar e proteger os recursos hídricos doces para
o uso e melhoria de sua qualidade hídrica.
Coaduna-se a estas questões a Política de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Lei
Federal sobre recursos hídricos, 9.433/97), regu lamentada no inciso XIX do art. 21 da
Constituição Federal e altera o art. 1° da Lei 8.00 1, de 13 de março de 1990. Nesta
oportunidade, as bacias hidrográficas foram reconhecidas como unidades físico-territoriais
da gestão no plano público e de abrangência nacional. Serve, portanto, como base legal
para a implementação dos planos estaduais de recursos hídricos.
Adicionalmente é importante destacar os seus princípios: adoção da bacia hidrográfica
como unidade de planejamento; estabelecimento do critério de uso múltiplo da água (bem
finito e vulnerável); reconhecimento do valor econômico da água; e adoção da gestão
descentralizada e participativa.
O Ministério do Meio Ambiente (MMA), como órgão central do Sistema Nacional de
Meio Ambiente (SISNAMA), responsável pela operacionalização da Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA), normatiza os destinos e formas de gerenciamento das águas
superficiais e subterrâneas, por meio da Lei das Águas, que instituiu a Política Nacional dos
Recursos Hídricos. O objetivo de implantar esta política, assinalando a valorização e
cobrança pelo uso da água, outorga de uso e sua classificação qualitativa, foi alvitrado com
a criação da Agência Nacional das Águas (ANA), em julho de 2000 (CARVALHO, 2002).
Desta feita, dando ensejo ao tratamento das secas e degradações ambientais, o
Estado do Ceará conta com o seu Plano Estadual de Recursos Hídricos elaborado em
1992. À luz desse plano, o “Programa Águas do Ceará” destacou um elenco de projetos e
programas voltados à política de águas. Por exemplo: O PROURB –CE - Projeto de
Desenvolvimento Urbano e Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará; PROÁGUA
Programa de Desenvolvimento Sustentável do Semi-árido Brasileiro; PROGERIRH –
Programa de Gerenciamento e Integração dos Recursos Hídricos; PROASIS - Programa de
17
Águas Subterrâneas; e PRODHAM – Programa de Desenvolvimento Hidrogeoambiental das
Bacias, que trata mais proximamente da desertificação.
Nesta luz, para o combate à Desertificação, o Plano Nacional de Recursos Hídricos
(MMA/SRH, 2004) considera a bacia do Acaraú como área especial de planejamento, onde
ações prioritárias devem ser desenvolvidas.
Outrora, Filho et al. (1994) baseados no Plano de Aproveitamento Integrado dos
Recursos Hídricos do Nordeste do Brasil (PLIRHINE) de 1980, promovido pela SUDENE,
consideraram no Nordeste do Brasil 24 unidades hidrográficas de Planejamento,
correspondentes a uma bacia ou a um conjunto de bacias, como forma de tratamento das
secas, da desertificação e para o desenvolvimento regional. Dentre as bacias compostas
pelos rios intermitentes sazonais, consideraram as bacias do Acaraú e Coreaú, no Ceará,
como única Unidade de Planejamento, somadas a partir de uma área total de 30.500 km² e
com mapeamentos em pequena escala de trabalho, de 1:9.000.000. Além de outras no
Estado, como a bacia do Jaguaribe, e no Nordeste, a bacia do rio São Francisco.
A rigor, a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos SINGREH, como um conjunto de leis (Projeto Lei
2249), propõem o uso da bacia hidrográfica como unidade da gestão, criando três regiões
hidrográfica: Amazônica, Nordestina e Centro-Sul (CUNHA e GUERRA, 2003).
Ademais, a partir do SINGREH, foi criado o Conselho Nacional de Recursos Hídricos,
atribuindo à Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) a função de sua Secretaria Executiva,
estabelecendo a tutela do MMA para a presidência do Conselho.
Em 2001, Cunha (2001) destaca que o Departamento Nacional de Águas e Energia
Elétrica (DNAEE) classifica o Brasil em 8 bacias hidrográficas: Amazônica; Tocantins;
Atlântico Sul, trecho Norte/Nordeste; São Francisco; Atlântico Sul, trecho Leste;
Paraguai/Paraná; Uruguai e Atlântico Sul, trecho Sudeste.
Em raão das às particularidades de cada bacia, em função das características
ambientais dominantes - como a distribuição espaciotemporal das precipitações, fatores
estruturais que refletem na importância e características de drenagem e dissecação do
Planalto Brasileiro (um importante dispersor de drenagem), tipo de solo e as formas de uso
e ocupação -, aquela autora as reclassificou a partir de 10 unidades. Dentre estas, pode ser
destacada a bacia do Atlântico Nordeste, comportando regimes fluviais temporários e
intermitentes (semi-áridos), apresentado uma área de 953.000 km², - compreendendo a
área-teste -, e que vertem para o Oceano Atlântico.
Atualmente o Governo Federal, com uma necessidade de implantar uma base de
dados, destacada por bacias, no plano nacional, com fins a integração de informações em
recursos hídricos, considera 12 regiões hidrográficas conforme a Resolução 30, de
11/12/2002 - como espaços do Território nacional compreendido por uma bacia, grupo de
bacias ou bacias hidrográficas contíguas com características naturais e socioeconômicas
18
homogêneas ou similares. Isto serve de base para orientação do planejamento e
gerenciamento dos recursos hídricos, conforme a Resolução do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH) N° 32, de 25/06/2003.
Dentre estas regiões, dada a setorização das bacias em estudo, assinala-se a região
hidrográfica do Atlântico Nordeste Ocidental, constituída pelas bacias que deságuam no
Atlântico – trecho Nordeste -, limitado ao oeste pela região hidrográfica do Parnaíba e ao sul
pela do São Francisco (BRASIL, 2004b; MMA/SRH, 2004).
Como unidade ambiental de avaliação adequada aos estudos integrados de Geografia,
que respalde a temática em questão, uma bacia hidrográfica pode, portanto, ser estudada
através de uma metodologia sistêmico-holística-interdisciplinar, capaz de promover uma
análise de suas paisagens componentes, identificando os impactos socioambientais
resultantes das ações socioespaciais. Oferece, assim, subsídios ao manejo geoambiental,
com ênfase sobre os recursos naturais e desenvolvimento sustentável (NASCIMENTO,
2003), no enfretamento da temática em discussão.
É importante acrescentar que, conforme os objetivos, propósitos e funções dos
subsistemas, entre homogeneidades e heterogeneidades, coadunam-se para,
espacialmente, imprimir diferentes feições na paisagem. Geralmente, estes mosaicos
representam diferentes estádios de sua evolução correspondendo às unidades e
subunidades de paisagens, em termos de geossistemas/geofácies (CEARÁ, 1994; SOUZA,
2000).
1.3 GESTÃO TERRITORIAL, USO, OCUPAÇÃO DA TERRA E MUDANÇAS
SOCIOAMBIENTAIS
É exercício da competência geográfica partir do conhecimento de que a “concepção
externalizada da natureza legitima a apropriação privada dos meios de produção” e, nesta
lógica, atrelado ao processo produtivista, incentiva o espontaneísmo que desencadeia
efeitos e impactos ambientais. Isto pode ser agravado pela gestão do território que não mais
se baseia na preservação da soberania, mas sim na competitividade, fortalecendo as
estruturas em face das necessidades do mercado (CASSETI, 2003).
Ao longo da história nacional, a concepção de ordenamento territorial como política
indutora, respondeu diretamente pela forma de uso e ocupação do espaço, afligindo
diretamente o ambiente. Em nome do desenvolvimento, a maneira de condução dessa
política da gestão ainda provoca uma apropriação do espaço, legitimando os interesses
econômicos, incorrendo em mudanças diversas pela privatização da natureza e sua
“ideologização” como legitimação, justificando a estiolação ambiental em nome do progresso
- ressalta aquele autor.
19
Considerando que a dinâmica da natureza se organiza no contexto nível de
ecossistema e geossistema (CHRISTOFOLETTI, 1999), com a ocupação e trato da terra, a
sociedade modifica os aspectos ambientais, influenciando nas características de fluxo de
matéria e energia, alterando o equilíbrio organizativo da biosfera nestas unidades da
paisagem. Assim, direta ou indiretamente, advertida ou inadvertidamente, são produzidas
mudanças socioambientais. As atividades humanas e sua espacialização compõem
importante elemento na análise da degradação ambiental, e devem ser observadas de
maneira crítica, em causas e conseqüências sociais, no processo de (re) produção do
espaço; sem esquecer da conseqüente identificação e compreensão dos processos sociais
desenvolvidos da degradação em foco, isto é, a derivação humana (MENDONÇA, 1999).
As informações fornecidas pelo uso e ocupação da terra sobre o grau de conservação,
preservação ou artificialização de uma dada porção da superfície terrestre, no entanto, estão
relacionadas aos modelos de exploração dos recursos naturais em razão do seu valor de
uso ou de troca em termos econômico, social e natural e às atividades exercidas em
determinadas áreas. Estes fluxos, em sua maioria, são determinados pelas ligações criadas
entre o local e o global, e promovem mudanças socioambientais, notadamente com a
degradação ambiental, donde sobressai a desertificação, em especial na bacia do Acaraú.
Nesse espectro merece destaque a tipologia de usos e ocupação da terra relacionada
aos segmentos dos recursos agrossocioeconômicos, mais comum nessa bacia. Silva et al.
(1993) atestam que a agrossocioeconomia fornece informações importantes ao Zoneamento
ecológico-econômico para melhor aproveitar os recursos naturais, à luz da situação atual de
ocupação do espaço, e dos objetivos e das estratégias dos agentes sociais em duas bases,
o sistema agrário e a situação de produção.
Um segmento que mereceu destaque nesse arranjo de uso/ocupação foi o da
agricultura irrigada. Embora não se saiba ao certo os impactos ambientais provocados pela
irrigação (PIMENTEL et al. 2003), advoga-se que a salinidade e a sodicidade provocam
esterelização dos solos, conformando uma das conseqüências ambientais mais danosas
provocada pela qualidade da água de irrigação que leve a desertificação.
A rigor, segundo Magnanini (1990), a degradação é alguma coisa que desceu de
degrau ou simplesmente que caiu de nível. Na escala ecológica evolutiva natural, todas as
áreas sobem por um processo sucessório que se direciona do mais simples para o mais
complexo, do mais instável para o mais equilibrado. Esta sucessão ecológica é um
fenômeno generalizado no Planeta, onde se desenvolve a partir das águas e dos solos, sob
influência do intemperismo local e das condições mesoclimáticas, abrangendo inter-relações
com os vegetais e animais, ao longo do tempo.
Não se deve esquecer de que os geoambientes detêm poderes de resiliência na
cadeia evolutiva da vida. Eles conseguem se regenerar e se readaptar, como o domínio das
caatingas. As ações técnicas-humanas sobre o território podem retardar ou acelerar a
20
naturalidade desse processo e, mesmo, artificializá-lo. Por isto, as mudanças ambientais
produzem impactos complexos. Eles podem ser positivos, negativos, diretos, indiretos,
imediatos ou aparecer no curto prazo, desaparecer em seguida e, posteriormente, se
manifestar em conjunto. Podem, também, produzir um efeito resultante, que é diferente da
soma das contribuições de cada fator isolado – sinergismo - (MARGULIS et al. 1996).
Sua análise extrapola a visão de sistemas dinâmicos, estendendo a noção de sistemas
complexos, não lineares e distantes do equilíbrio dinâmico steady state (COELHO, 2001;
NASCIMENTO, 2001). Eles devem ser tratados não somente pelo viés técnico, como
resultante ou efeito, pois “as imensas transformações observadas nas sociedades
contemporâneas ultrapassam o nível apenas natural, atingindo os modos de vida individuais
e coletivos no sentido de sua progressiva deterioração”. (RANDOLPH e BESSA, 1993)
Devem ser vistos como processos e não numa relação simplória e mecânica de causa
e efeito, porém derivada de aspirações e desejos, práticas e atitudes, conseqüentes da idéia
de psicoesfera e tecnoesfera, sucessivamente (SANTOS, 1993). Além do mais, o conteúdo,
produção e as relações sociais de produção e as funções do território concorrem para
aceleração dos problemas ambientais, pois espelham o modelo de desenvolvimento
econômico e padrões de ocupação do espaço, acertados em macro escala, porém com
repercussão local (NUNES, 2002).
Portanto, não só as causas naturais provocam degradação ambiental, como também o
manejo inadequado do solo associado às condições de riscos ambientais pode acelerar a
degradação, maximizando e/ou transformando os processos geomorfológicos atuantes. Sem
dúvidas, foi a partir da intervenção humana no ambiente que os processos naturais
tenderam a ocorrer em intensidades maiores, as quais podem ser desastrosas para a
sociedade (CUNHA e GUERRA, 2003), como no caso da desertificação. Por isto a
consideração de causas sociais nos problemas ambientais deve ser uma realidade para
resolução dos problemas da degradação ambiental. Ratificando esta tese, Coelho (2001:25)
afirma ser muito difícil separar impacto biofísico de impacto social, pois,
(...) Na produção dos impactos ambientais, as condições ecológicas alteram as
condições culturais, sociais e históricas e são por elas transformadas. Como um
processo em movimento permanente, o impacto ambiental é, ao mesmo tempo,
produto e produtor de novos impactos
.
Daí por que saber que quem se apropria dos benefícios e ativos ambientais no
contexto das atividades econômicas externaliza os custos com a sociedade em geral,
produzindo as chamadas externalidades ambientais com toda sorte de conseqüências de
toda sorte (CARVALHO, 1996).
O contexto de todo este processo tem em seu conteúdo político o Estado como
ordenador, regulador e implementador de políticas públicas, (re) estruturando social e
21
temporalmente o espaço geográfico, constituindo como um dos principais dinamizadores
das relações entre processos sociais e ecológicos (COELHO, op cit).
1.3.1 - A PROBLEMÁTICA DA DESERTIFICAÇÃO E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-
ECONÔMICO
Dentre importantes contribuições aos estudos sobre a problemática da degradação e
desertificação pelo mundo citamos Gomes et al. (1995), os quais pesquisaram sobre os
riscos de desertificação na bacia hidrográfica do rio Adra, na Almeria, Espanha. Na África,
descatam-se os trabalhos de Seely (1998), com estudos sobre a Namíbia, e de Rooyen
(1998) sobre a desertificação no sul do Kalahari. Na América Latina, registre-se a
contribuição de Escobar (1997) e, para o Caribe, os trabalhos do Grupo de Trabalho
Interministerial da República Dominicana (2004).
No geral citam-se as contribuições de Rozanov (1982), Zonn e Orlovski (1987),
Mensching (1987), Here (1992), UNEP (1995), Moreira (1994), Batchelor & Wallace (1995),
Dregne (1995), Dresch (1987 e 1995), Stiles (1995), Rosa (1995), Rubio (1995a,c), Ruiz
(1995), Vinogradov (1995), ROBERT JUNIOR (1995), Ffoliott (1998), Norton (1998), Rooyen
(1998), Sharma (1998), Steele (1998), Pádua (2001), Verdum et al. (2002), Conti (2002) e
Ecoambiental (2003). Além do mais, o Capitulo 3 deste trabalho aborda as pluralidades e
ambigüidades da desertificação, em seus antecedentes históricos, conceitos e perspectivas
de abordagem ao tempo em que se “dialoga” com esses autores e trabalhos.
Em termos de interferência humana no meio físico dos sertões nordestino, com ruptura
da dinâmica geoecológica, a degradação das terras começa com a destruição ou diminuição
da cobertura vegetal por conta do pastoreio excessivo, cultivo do solo, mineração,
construção de estradas, irrigação, urbanização, atividades turísticas desregradas e outras
atividades que violem as condições naturais. Todas são derivadas de modelos inadequados
de desenvolvimento socioeconômico, sob a lógica da acumulação do capital. De pronto,
efeitos morfodinâmicos, forçosamente, através da erosão eólica e hídrica, agem acelerando
a degradação das terras que logo são abandonadas e buscadas outras para serem
incorporadas em um sistema de produção historicamente rudimentar.
Desta feita, Ab’Saber (1977b) diz que os processos parciais de desertificação ocorrem
de forma pontual ou areolar, sob degradações radicais e irreversíveis da paisagem e dos
tecidos ecológicos por predisposição ao quadro de vulnerabilidade geoambiental a partir das
interferências humanas. Neste prisma, o Brasil tem notáveis e sutis variações ecológicas,
que por vezes já mostram tais problemas em um grau irreversível de ulcerações dos
recursos naturais perceptíveis na paisagem. Destacou que principalmente nas faixas de
transição entre regiões úmidas e secas do Nordeste (ecótonos), seus ambientes sofrem
mais com a problemática do que as caatingas adaptadas às rusticidades do semi-árido.
22
Em adição a estes fatos, sutis variações de padrões de paisagens e ecologias
intertropicais no domínio morfoclimático e fitogeográfico das caatingas semi-áridas, ainda
ocorrem em estruturas primárias das paisagens e ecologias das baixas latitudes, pelo
menos como heranças pliopleistocênicas, com presença de core área (AB’SABER, 2003),
onde as paisagens são impressas como ecossistemas e geossistemas.
Para a degradação ambiental uma reabilitação natural no trópico semi-árido
brasileiro. Ocorrem recuperações do meio após o simples abandono da terra, sendo os
processos de reabilitação distintos em função das características edáficas das áreas. Por
exemplo, a vegetação de caatinga tem alto poder de auto-regeneração e de adaptação, e
tais características são otimizadas com técnicas simples de proteção ambiental (SÁ et al.
1994). Para Dregne (1987), entretanto, as condições de degradação/desertificação podem-
se tornarem irreversíveis para a recuperação da fertilidade antiga do solo.
A já mencionada Agenda 21 ratifica em seu Capítulo 12.2, que é necessário promover
o Manejo de Ecossistemas Frágeis: a luta contra a desertificação e a seca, ao tempo
que a define como: degradação da terra nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas,
resultantes de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as atividades
humanas”, sendo que o conteúdo deste documento explicita tal fenômeno a partir de dois
níveis:
1. Concernente às variações climáticas, a seca é um fenômeno típico das regiões semi-
áridas. um nível de temporalidade de curto e médio prazo em relação às variações
climáticas.
2. Em relação às ações de degradação da terra induzidas pelo homem, no longo prazo,
é entendido pelo menos mediante de cinco aspectos, segundo proposto pela Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO):
a) degradação bióptica ou perda da biodiversidade de vastas áreas semi-áridas por causa
da caça e extrativismo lenhoso;
b) degradação do solo, ocasionado por fatores físicos (erosão drica ou eólica e
compactação pela mecanização pesada) ou químicos (sodificação/sodicidade ou
salinização), analogamente associada à contaminação e atuações humanas diversas a uma
possível mudança climática (RUBIO, 1995b). O problema de concentração excessiva de
sais e minerais influencia na estabilidade de agregados e estrutura dos solos, ao tempo que
obstruem os espaços porosos, reduzindo a infiltração. Isso pode provocar redução na
disponibilidade de água disponível para os vegetais, formando crostas superficiais e
originando problemas de germinação a destruição da estrutura pedológica. Ademais, a
dispersão dos solos e a destruição de sua estrutura, ocorrem quando o teor de sódio é
superior ao de cálcio, em proporção superior a 3:1 (AYERS e WESTCOT, 1991). O excesso
de sódio reduz a distribuição de água no perfil, produzindo inundações e dificultando o
manejo dos solos;
23
c) degradação hidrológica superficial devido à perda da cobertura vegetal;
d) degradação das águas subterrâneas por alteração das modificações nas condições de
recarga.
e) degradação da infra-estrutura econômica e da qualidade de vida dos assentamentos
humanos.
Destacamos que esta definição foi constituída para designar a problemática de
ressecamento dos solos e avanço do deserto do Saara na região do Sahel, África, sendo
que, atualmente, seu uso ocorre quase que indistintamente por diversos estudiosos,
políticos, sociedade civil, como também pela mídia técnica e informacional. Portanto, se faz
oportuno diferenciar desertização e desertificação.
Tomando por base Rubio (1995b), é possível diferenciar desertização da idéia de
desertificação. O primeiro termo deve ser usado para designar a formação ou expansão de
biomas naturais desérticos, através das eras geológicas. De outro lado, desertificação foi o
termo concebido para designar os processos de degradação das terras induzidos pelo
homem. Daí por que, optar por esta alcunha e, de quando em quando se usar a expressão
degradação/desertificação para melhor referenciar a discussão em pauta, evitando jargões,
clichês e generalizações sem maiores critérios.
Por isso, é importante não aceitar a desertificação pelo senso comum, ou mesmo
cientificamente elaborada como um conceito raso, que genericamente responde pelas
variadas formas de expansão de desertos naturais ou degradações ambientais, como em
algumas áreas no Brasil, especialmente na Região Nordeste.
Do ponto de vista dos sistemas ambientais, entretanto, no Brasil, a análise dos
fenômenos de desertificação representa evento esporádico, inserido no estudo dos eventos
raros, de alta magnitude e baixa freqüência (NASCIMENTO, 2001). Este quadro pode ser
magnificado ao tempo que a ação social interfere no sistema de degradação do meio
ambiente, conforme destacado por Tricart (1977). De uma forma geral, além de considerar o
norte do Estado de Minas Gerais, seria no Nordeste seco onde ocorreriam os riscos de
degradação/desertificação em seu conceito oficial. Para Sales (2002), a consolidação do
conceito de desertificação pela ONU possibilita abordar os problemas ambientais dos
sertões nordestinos na perspectiva da desertificação.
O espaço objeto de atuação do PAN-BRASIL documento básico para elaboração do
trabalho que se inicia -, foi definido, contudo, como sendo as Áreas Susceptíveis à
Desertificação (ASD), enquanto espaços semi-áridos e subúmidos secos, abrangendo terras
de todos os estados da Região Nordeste e norte de Minas, descritos como: Núcleos de
Desertificação; Áreas Semi-Áridas e Subúmidas Secas; Áreas do Entorno das Áreas
Semi-Áridas e Subúmidas Secas; e Novas Áreas Sujeitas ao Processo de
Desertificação. Estas últimas áreas encontram-se no Maranhão (Áreas Subúmidas secas e
de Entorno das ASD) e no Espírito Santo (Áreas de Entorno das ASD), onde, segundo
24
aquele Programa, as características de degradação ambiental podem propiciar processo de
desertificação, caso não se mitiguem os impactos ambientais.
Em especial o CNRBC (2003), documento-guia para a elaboração do PAN-BRASIL,
destaca objetivos do Cenário Desejável para o Bioma Caatinga, e uma Agenda de
Desenvolvimento Sustentável, em suas dimensões, objetivos e linhas de ação. Dentre estas,
podemos assinalar a dimensão ambiental, em seu objetivo 3, que reza sobre a conservação,
preservação e recomposição ambiental, principalmente por meio do combate à
desertificação; da recuperação, revitalização e conservação de bacias hidrográficas, por
exemplo.
Para esta região, ao longo dessa pesquisa, com maior ênfase no segundo capítulo,
foram considerados alguns trabalhos que trataram sobre a desertificação, dente os quais
citamos: Ab’Saber (1977b), Nimer (1980, 1988), Ferreira et al. (1994), Luna (1995), MMA
(1997, 1998, 2003), MMA/FUNDHAM/SUDENE (1999), et al. (1994); Souza et al. (1994),
Vasconcelos (1976); Gomes (1995); Heitor Júnior (1997), Pernambuco (2001), Ferreira et al.
(2002), Magalhães (2002), Sales (2002); Redesert (2003) dentre outros.
No que diz respeito ao Território cearense, foram registrados os estudos de Martins et
al. (1994), Moreira (2001), Quaresma (2001), Rodriguez e Silva (2002), Nascimento e Cunha
(2003), dentre outros. Especialmente com menções acerca da degradação/desertificação
em bacia hidrográfica, sobressaem Leite et al. (1993) e Souza & Oliveira (2003), além de
trabalhos mais específicos que elegeram como objeto de estudo esta temática em bacias
hidrográficas, como Pinheiro (2003), e especificamente em subunidades funcionais do
Acaraú (NASCIMENTO et al. 2004), bem como dessa bacia como unidade de planejamento
à desertificação (NASCIMENTO et al. 2005).
Segundo o conceito oficial de desertificação é através do índice de aridez
(precipitação/evapotranspiração), que se pode enquadrar as áreas susceptíveis à
desertificação em área hiper-árida, semi-árida, subúmida seca, desta forma: hiper-áridas
<0,03; áridas de 0,03 0,2; semi-áridas de 0,21 0,50; subúmidas secas de 0,51 0,65 e
subúmidas > 0,65. (UNEP, 1995; REDESERT, 1995 e MMA 1998).
A degradação ambiental pode levar à falência total dos ecossistemas e, conforme Leite
et al. (1993), podendo culminar, potencialmente, nas áreas de climas áridos, semi-áridos e
subúmidos secos, ocasionando processos de desertificação. Na constatação deste fato,
estes pesquisadores definiram áreas susceptíveis aos processos de desertificação no
Estado do Ceará, com base em isolinhas e no decapeamento vegetal perceptíveis em
imagens de satélites, as quais representaram uma superfície de 15.128,5 km², ou pouco
mais de 10% de seu território.
De acordo com alguns estudos, indicadores de desertificação, podem nortear a
classificação de áreas no âmbito da problemática. Em grande parte, eles traduzem as
características ambientais intimamente correlacionadas com os geossistemas e podem ser
25
agrupados em três categorias: física, (agro) biológica e social. Os indicadores físicos, grosso
modo, referem-se à erosão do solo, salinização, nível do lençol freático, quantidade de
matéria orgânica do solo, presença ou ausência de camadas impermeáveis na superfície do
solo, regime pluviométrico, só para citar os mais importantes.
A par destas questões, foram estudadas as contribuições de Dregne (1987)
destacando os indicadores como diretos e indiretos -, Rosa (1995) - que destaca a
vulnerabilidade ou a sustentabilidade dos riscos de degradação sobre possíveis indicadores
de desertificação -, e dos Cenários para o Bioma Caatinga (2004), que contextualiza os
indicadores ambientais a partir da capacidade de resistência e resiliência dos ecossistemas.
A Agenda 21 brasileira sugestões para o uso de indicadores em países problemáticos; e
no contexto de América Latina, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
(IICA) tenta elaborar uma matriz de indicadores que sirvam a países latino-americanos.
Nada obstante, Moaut et al. (1993) e Ferreira et al. (op. cit) basearam-se em matrizes
construídas com indicadores que mostram as prováveis causas e conseqüências de
presença ou ausência da desertificação, onde se destacam: os indicadores biológicos e o
empobrecimento de seus múltiplos níveis, particularmente, incluem a diversidade das
espécies, a produtividade, a cobertura vegetal, a absorção da radiação fotossintética ativa; e
os indicadores socioeconômicos são aqueles relacionados com as populações humanas das
áreas afetadas, incluídos: formas de uso da terra e água, padrões de povoamento,
parâmetros biológicos, humanos e de processos sociais.
Vasconcelos (1982) diz que a identificação de indicadores proporciona melhor
conhecimento do desencadeamento do processo de desertificação, já que permite: avaliar a
vulnerabilidade da área à desertificação, prever o começo da desertificação antes que ela se
inicie, monitorar o processo nas áreas com tendência à desertificação ou que sofrem tal
processo, avaliar as conseqüências do processo e combatê-lo.
Por seu turno, Gomes (1995) critica as metodologias estimativas e indicadores
produzidos a partir de trabalhos sem maior rigor técnico e melhor apropriação teórica sobre
o tema. Nesta luz, Rubio & Bochet (1998) acreditam que os indicadores podem
simplificadamente forjar definições, propostas e características da desertificação. Isto
porque se constituem como informações sintéticas sobre o estado e tendência da
complexidade do processo, podendo subsidiar erroneamente as diretrizes e tomadas de
decisões para combatê-lo, como também leva a mitos e exageros, favorecendo preconceitos
sobre a desertificação. Quem irá investir em desertos? - indagam Saito & Graebner (2002).
Como formas de superar relações simplistas de causa e efeito da averiguação da
problemática, Rubio & Buchet (op cit), elaboraram um esboço com critérios identificadores
resultantes do relacionamento e intercruzamento de três matrizes iniciais, que foram
seqüencialmente: matriz final de critérios para escolha de indicadores; matriz metodológica
de aproximação para seleção, avaliação e aplicação de indicadores e matriz de fatores,
26
processos e parâmetros potenciais. Acreditam, contudo, que os indicadores genericamente
devem ser: confiáveis à ciência; biológica, social e politicamente relevantes; mensuráveis;
sensíveis a estresse ambiental; provocadores de prejuízos efetivos; objetivem nivelar e
avaliar o status atual do problema; estabeleçam prognósticos; sejam interpretáveis,
explicáveis; possam ser avaliados como enquanto dados; e adaptados às condições locais.
O diagnóstico de critérios, todavia, demanda consideração especial para o trato do
problema. Seria bem melhor apurar estimativas de como os indicadores e variáveis dos
processos de degradação ambiental contribuem para os riscos de desertificação, porém, no
geral, as sugestões ora descritas como um conjunto potencial de indicadores de
desertificação contribuem para facilitar e melhorar a investigação sobre tal problema.
Entrementes, para Luna (1995) e Moreira (2001), dentre alguns dos principais
indicadores da desertificação aqueles que melhor permitem avaliar o seu processo em
termos de estado geoambiental, são a cobertura e a degradação do solo, a geomorfologia e
os recursos hídricos.
Como uma dinâmica, a desertificação, para Rozanov e Zoon (1982), deve ser
verificada e avaliada através destes indicadores em análises comparativas, da seguinte
forma: (a) comparação de uma área em diferentes épocas; (2) comparação das condições
em duas áreas distintas na mesma época. Na etapa (a), a presença de desertificação pode
ser verificada se o intervalo de tempo for suficientemente longo para a ocorrência do
processo. A segunda etapa se apega à análise geográfica comparativa, baseada na
hipótese de uma ocorrência ou similitude entre a seqüência geográfica do fenômeno e sua
seqüência genética, embora a proporção dos processos não possa ser determinada.
Para Vasconcelos (op. cit) e Souza (2000) no combate à desertificação, é necessário
estabelecer o destino do uso do solo, propondo áreas específicas da seguinte maneira: 1)
áreas para implantação de unidades de conservação e/ou reservas para silvicultura; 2)
áreas para uso agrícola e pastoril, com a prática de rodízio ou descanso do solo; articulação
de obras para armazenamento de águas residuais; aproveitamento integral da água. De
forma geral, é fundamental promover o aproveitamento agroecológico dos recursos naturais
por meio de sua capacidade de suporte à degradação (ROSA, 1995).
A partir desta linha de raciocínio, acreditamos que a elaboração de um Zoneamento
ecológico-econômico reunirá as informações e questões pertinentes ao problema da
desertificação em suas múltiplas faces - ecológica, ambiental, socioeconômica e cultural -,
servindo como diretrizes para seu trato, até porque possibilita mais do que o manejo
adequado de binômios, como: solo-água, planta-solo, planta-água, agricultura-pecuária.
Constitui-se como um instrumento para elaboração de prognósticos para melhor gestão no
aproveitamento dos recursos naturais (SILVA et al. 1993).
Neste tocante, o zoneamento urge como laboração de formas sustentadas de uso e
ocupação do solo sob respeito ambiental, como destacaram diversos trabalhos no Brasil e,
27
especialmente, no Ceará: Silva et al. (1993), Cavalcanti et al. (1997), Souza e Oliveira et al.
(2003), Gross (1995), Almeida e Guerra (2001), Soares (1998), Christofoletti (1992) e MMA
(1998), Souza et al. (1994), Ceará (1994), Souza (2000), Cunha e Coelho (2003).
É válido mencionar que o zoneamento de uma bacia hidrográfica impedirá que a
propriedade individual seja manejada unicamente pelo proprietário, garantindo as funções
normativas da administração pública, solicitadas pelo planejamento ambiental no
discernimento entre as tipologias de usos dos recursos permissíveis para cada área de seu
território, conforme os critérios ecológicos e econômicos de um gerenciamento.
Portanto, seria possível controlar e fiscalizar o uso do solo na bacia, através da
utilização racional dos recursos naturais e impedindo os efeitos nefastos do
desenvolvimento desordenado. Isto proque se pode dizer que esse instrumento legal
contribuirá na indicação e proposição orientadas para a solução de problemas territoriais,
como o desenvolvimento de novas áreas, resguardo ambiental e reorganização do meio
rural. Apenas mais um detalhe neste domínio: o uso regrado do território, como um
procedimento sensato e são ante os problemas de degradação ambiental e ulceração das
paisagens, agiria profilaticamente contra a desertificação.
A melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem em áreas de bacias
hidrográficas, registre-se, deve passar por uma reestruturação espacial, considerando as
condições simbólicas que a sociedade possui com a natureza, cujas estão registradas nas
atitudes e comportamentos manifestados com relação ao seu ambiente (PIRES, 2000).
O problema de uso dos recursos naturais, no entanto, não reside simplesmente na
explotação de seus pacotes endógenos, mas sim nas razões e motivações de sua
exploração (Por quê, para quem e por quanto tempo?), correlacionado aos preceitos da
sustentabilidade do desenvolvimento, conforme norteia Baroni (1992). E, mesmo para não
instrumentalizar a expressão desenvolvimento sustentável de única perspectiva, a discussão
coletiva e dialógica sobre o conceito de sustentabilidade deve ser socialmente posta em
pauta.
Com esta realidade, considerar a bacia semi-árida do rio Acaraú como unidade
territorial/ambiental de planejamento é urgente para revisão dos paradigmas de
desenvolvimento regional que, atrelados ao nacional e ao internacional, perante a
globalização, determinam padrões de manejo. Ademais, as culturas locais são mais
facilmente adaptadas à realidade nacional do que às tecnologias “de ponta” estas
pressupondo estratégias local-desenvolvimentistas, conforme proposto por Nascimento
(2003). Portanto, a essência do conceito de sustentabilidade deve ser perseguida pelos
mais diversos atores sociais – governos e políticos, empresários, sociedade civil etc.
28
1.4 MÉTODOS E TÉCNICAS OPERACIONAIS
1.4.1 OPERAÇÕES SISTEMATIZADAS - DELIMITAÇÃO DA BACIA DE ESTUDO E
PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA
Deram suporte ao desenvolvimento desta pesquisa aspectos relacionados às ciências
naturais e sociais - básicas e aplicadas fundamentados na Teoria Geral dos Sistemas
(BERTALANFFY, 1975), a qual, dentro da temática ambiental sob o crivo geográfico, visa
principalmente à integração dos elementos que compõem os geossistemas. Neste trajeto,
os estudos interdisciplinares, multivariados e geoambientais integrados deram respaldo ao
escopo almejado.
Igualmente, foram considerados os estudos de Tricart (1960) que fala sobre a
ecodinâmica das paisagens; Sotchava (1974, 1977), Monteiro (2000), Ribeiro (2004)
Nascimento (2001) e Souza (1985 e 1988), que discutem a teoria geossistêmica e sua
aplicação; Drew (1986) e Gonçalves (2001), que tratam da relação sociedade e natureza, e
Duque (1980), que discute esse assunto especialmente no Nordeste semi-árido, dentre
outros, para que fosse possível melhor se confrontar com a face hermética da desertificação,
desvendando aspectos socioambientais inerentes a sua compreensão.
O trabalho desenvolvido aponta para correlações e investigações da diversidade e
complexidade de questões socioambientais, que orientem uma visão ampla e holística do
ambiente em suas múltiplas dimensões. Este caminho é necessário para culminar com
enfoque integrado das discussões no domínio da degradação ambiental, no âmbito da bacia
hidrográfica do rio Acaraú, como objeto de estudo, analisando a problemática da
desertificação.
A análise de sistemas foi considerada como o domínio de aplicabilidade e da
operacionalização, em busca da compreensão do sistema bacia hidrográfica, enquanto a
Teoria Geral dos Sistemas foi concebida no plano genérico e teórico-conceitual. Para tanto,
a linha teórico-metodológica proposta está fundamentada na abordagem sistêmica e visão
holística, compreendida na Geografia por meio da análise geossistêmica (BERTRAND,
1968). Tal perspectiva corresponde à análise Geoambiental Integrada (SOUZA e OLIVEIRA,
2003), respaldada nos estudos sociais e da natureza-, através do entendimento das inter-
relações dos sistemas ambientais no plano de unidades de paisagens, assim como em
estudos testados e aprovados, análises e mapeamentos previamente procedidos de
pesquisas puras e aplicadas, como mostra o roteiro metodológico da pesquisa na Figura 2.
Incorremos, inerentemente, em investigações dos fatores ambientais (físicos e
humanos), como o suporte físico (geologia e geomorfologia), o envoltório (aspectos
hidroclimatológicos), fatores de estabilização do meio físico (solos e vegetação) e as formas
de uso e ocupação da terra, conflitos resultantes e impactos emergentes no contexto das
necessidades humanas, e do quadro qualitativo e homeostático dos geoambientes. Esta
29
análise permite compartimentar o espaço em unidades de paisagens, conforme escala-
hierárquica em unidades superiores (zona, domínio, região natural) e unidades inferiores
(geossistemas, geofácies e geótopos).
Os procedimentos adotados foram fundamentais para atingir os objetivos e finalidades
almejadas na proposta de investigação. A visão holística integra fatores e processos
sistêmicos, em detrimento de uma visão apriorística de estudos setoriais. Foi considerada
avaliação multitemática foram, eliminadas as barreiras formais entre os temas, superadas as
dualidades e eleita a abordagem multicomposta e sintética para promoção de uma síntese
das paisagens na unidade funcional considerada – a bacia hidrográfica do rio Acaraú.
Em linhas gerais, foi obedecida uma seqüência sistemática em 3 fases fundamentais,
conforme Souza (2000), Moreira (2001) Souza e Oliveira et al. (2003):
(1) analítica - delimitação da bacia- com a elaboração do mapa de localização,
considerando os aspectos ligados às inter-relações e interdependência dos componentes
relacionados ao potencial geoecológico, especialmente as drenagens e divisores
topográficos.
(2) Fase de agregação e síntese, que consiste em selecionar determinados
parâmetros, daqueles elaborados na fase anterior. Fizemos sua associação,
caracterizando os sistemas espaciais de uso e ocupação da terra, considerando os agentes
organizadores do espaço: obtivemos os mapas que exibem as tipologias de uso/ocupação
da terra e alterações ambientais e o estado de conservação da vegetação e a
degradação/desertificação.
(3) Fase de Integração dialógica das informações - em que onde foram integrados
vários parâmetros de forma sistêmica e holística. Como produto, resulta o mapa de
ecodinâmica das paisagens e zoneamento ecológico-econômico.
As técnicas de sensoriamento remoto foram utilizadas nas três primeiras fases,
mediante a técnica de interpretação visual e digital de imagem de satélite, por meio dos
softwares Autocad Map, Arcview GIS 3x, Spring v.4, Global Maper, para concentração e
descentralização de informações. Tais técnicas, aliadas ao uso de Sistemas de Informações
Geográficas (SIG’s), são potencialmente úteis na identificação e monitoramento das
mudanças processadas nos recursos naturais e nos efeitos ambientais e ecológicos
correspondentes. Possibilitam observações sistemáticas em várias escalas, visão sinóptica
e integração de dados diversos, como cartográficos, bibliográficos, imagens de sensores
diferentes etc. (LUNA, 1995; VINOGRADOV, 1995).
Em termos, o material utilizado pode ser elencado a partir do material de gabinete e
material de campo. Em gabinete, fizemos o levantamento e o estudo de material
bibliográfico, estatístico e cartográfico, sobretudo, a respeito da fundamentação teórica.
Foram levantados produtos que mostrem aspectos sistemáticos dos recursos naturais.
Entre mapas, imagens e fotos aéreas cruzamos os seguintes títulos: regiões hidrográficas
30
(Brasil, 2004a) X iInfra-estrutura drica do Estado do Ceará. 1:600.000 (COGERH
/Secretaria de Recursos dricos do Ceará. 2003) X folhas do Ministério do Exército-DSG-
Ministério do Interior/SUDENE, 1:100.000, 1974 x pontos d’água, na escala de 1:100.000 da
CPRM – Serviços Geológicos do Brasil. (1998) x rede de açudagem e de leitos perenizados
do Estado do Ceará 1:700.000- COGERH; Projeto RADAMBRASIL cartas temáticas, folhas
Fortaleza SA/24 e Jaguaribe-Natal SB/25, 1:1000.000, 1981 x Mapas temáticos do Instituto
de Planejamento do Ceará (IPLANCE) de 1997; mapa de solos do Instituto de
desenvolvimento agrário do Ceará (IDACE, 1:200.00) x redimensionamento da região semi-
árida pela FUNCEME (1994 e 2005) x Solos do Estado do Ceará Zoneamento Agrícola
(1:800.000, 1988) x índice de aridez precipitação/evaporação potencial (P/ETP) do CEARÁ
(1:600.000), da FUNCEME (1993); dentre outros.
No armazenamento de dados, além dos softwares já mencionados, utilizamos outros
para o gerenciamento, manipulação, edição e manutenção, tais como: Microsoft Word 2000,
Coreldraw 8 e Microsoft Excel.
Os equipamentos e materiais para os trabalhos empíricos forneceram dados básicos,
auxiliando nos mapeamentos, localização de áreas e georreferenciamento de dados, bem
como em melhor apreensão da realidade ambiental do objeto de estudo, a destacar os
principais: automóvel tracionado; câmera fotográfica digital Sony, modelo DSC P72; Sistema
de Posicionamento por Satélite – GPS (Garmini 12CX).
Os trabalhos de sensoriamento remoto forneceram requisitos imprescindíveis para
qualificar os atributos naturais, em termos de potencialidades e limitações, para a ordenação
do espaço geográfico, identificando e delimitando as unidades da paisagem no plano de
unidade geoambiental, cartograficamente. Esses sensores favoreceram a mitigação das
mudanças sobre o ambiente por meio de análise retrospectiva e estudo da evolução
temporal. Isto se refere ao diagnóstico da evolução paisagística, às análises dos problemas
socioeconômicos e à degradação do espaço geográfico, sobretudo, identificando os tipos de
uso e ocupação do solo e as evidências de manchas de degradação/desertificação.
1.4.2 - PRODUÇÃO CARTOGRÁFICA
A produção cartográfica foi indispensável para o desenvolvimento do trabalho. Os
equipamentos essencialmente usados para operação e agilidade sistemática de dados na
representação dos componentes geoambientais, ante a grande leva de informações
apreendidas foram: CPU Ceprom 2.4 GHZ, 256 mb RAM, 80G HD; Impressora HP 840;
Scanner TCÊ S440 e Ploter Jet 450C.
Figura 2 - Roteiro Metodológico. 1ª ordem , 2ª ordem .
LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE MATERIAL:
bibliográfico, estatístico, cartográfico e produtos de
sensoriamento remoto; controle de campo;
geoprocessamento (mapas temáticos e mapa síntese);
fotos.
BACIA EM ESTUDO:
Componentes geoambientais e sua compartimentação:
Flutuações e evidências de climas passados; meio abiótico e biótico; condições
socioeconômicas (aspectos históricos, demográficos, econômicos e sociais).
Geologia
Crono-litoestratigrafia
Geomorfologia
Compartimentação do
relevo e feições
geomorfológicas
Hidroclimatologia: Termo-
pluviométria; balanço
hídrico; águas superficiais
e subterrâneas; Bacias
hidrográficas
Solos
Principais propriedades
das classes de solos;
morfopedologia; uso
agrícola.
Vegetação e Fauna
Unidades fitoecológicas;
omposição faunística e
biodiversidade.
Uso e Ocupação d Terra
Fatores e agentes de
organização espacial e
transformação da
paisagem; situação
conjuntural; atores sociais
ANÁLISE INTEGRADA DOS COMPONENTES GEOAMBIENTAIS E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS
DINÂMICA GEOAMBIENTAL DOS GEOSSISTEMAS
Classificação Ecodinâmica, Condições de Sustentabilidade e
Vulnerabilidade ambiental dos tecidos ecológicos em face da
p
roblemática de
g
rada
ç
ão desertifica
ç
ão.
DIAGNÓSTICO SÓCIOAMBIENTAL Qualidade dos recursos hídricos
superficiais; impactos socioambientais; potencialidades e limitações
Estratégias Integradas de Combate à Degradação/Desertificação na Bacia
do rio Acaraú
OBJETIVO: Identificar e caracterizar os sistemas físico-bióticos, com base em proposta metodológica geossistêmica considerando as
principais variáveis ambientais relativas ao suporte físico (condições geológicas e geomorfológicas), ao envoltório (condições
hidroclimáticas
)
e à cobertura
(
solos e recobrimento ve
g
etal
)
q
ue com
p
õem as Bacias do Jacurutú e do Groaíras.
Compartimentação Geoambiental
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: Trópico Semi-Árido, Teoria
Geossistêmica, técnicas integrativas, ecodinâmica,
ecologia, paisagem, degradação ambiental, desertificação,
bacia hidrográfica.
32
Os procedimentos metodológicos e operacionais para geração de produtos com dados
georreferenciados tiveram como base os Land Systems na geração de produtos analíticos
sintéticos, pelo geoprocessamento e interpretação automática e visual de imagens de
satélite, bem como os produtos de levantamentos sistemáticos sobre recursos naturais
referenciados. Tomamos como base as feições geomorfológicas, padrões de drenagem e
unidades de paisagem, para compilar o grande volume de informações sobre o território
pesquisado, conforme orienta Ross (2001).
A compilação de material cartográfico existente para geração de base cartográfica,
para armazenar e atualizar informações em banco de dados digital foi a operação básica.
Convertemos as cartas analógicas para digital, através de vetorização em programas
específicos, acrescentando as informações para a elaboração dos mapas temáticos, depois
de feitas sobreposições com “overlay”, para posterior digitalização dos dados. Em linhas
gerais, foram desencadeados as seguintes etapas: 1) edição e interpretação analógica
(mapas) e digitais (imagens); 2) análises e sobreposições; 4) produção cartográfica; 5)
plotagens e; 6) divulgação dos resultados.
Em especial, foi criado um SIG com a integração das informações gráficas (mapas e
imagens), com as informações literais (dados). Para isso, utilizamos o aporte de tecnologias
da informação. Por conseguinte, fizemos a modelagem dos dados do sistema, com definição
dos objetivos e metas a alcançar no ambiente de SIG. A partir de então, foram definidas as
feições que compõem o sistema. Os atributos relativos a cada feição compuseram o banco
de dados do sistema, para posterior processamento.
A modelagem do sistema criou banco de dados geográfico em ambiente de SIG,
utilizando o Spring versão (4.0) para isto. Os dados foram estruturados seguindo o modelo
de dados do software, mediante categorias e Planos de Informação (PI), que são mapas e
imagens. Posteriormente esses dados foram migrados para o software ArcView GIS 3x, que
possui melhores opções de manipulação, editoração e consulta dos mapas. Tais funções
utilizaram-se da base de dados geográficos armazenados e constituíram a função mais
salutar do SIG.
Com a integração das informações setorizadas contidas no banco de dados,
realizamos análises e diagnósticos geoambientais que serviram de base para o zoneamento
ecológico-econômico proposto. O modelamento dos dados foi feito por análise multicritério,
examinando-se cada tema individualmente, quando suas variáveis foram classificadas
segundo critérios que interfiram na estabilidade e vulnerabilidade ambiental. Posteriormente,
os temas foram processados e integrados, através de combinação numérica e técnica de
álgebra de mapas.
Técnicas de sensoriamento remoto, com o processamento digital de imagens de
satélite, possibilitaram a análise de uma cena em diversas regiões do espectro
eletromagnético, ao passo que integrou vários dados georreferenciados. Os estudos
33
integrados de informações setorizadas, por meio de banco de dados, viabilizaram a
realização das análises e diagnósticos ambientais, os quais serviram de instrumentos
norteadores para as propostas da gestão territorial.
Nesta pesquisa foram utilizadas as cenas 217/63, 218/62, 218/63 dos satélites (TM)
LANDSAT-5 e (ETM+) LANDSAT-7, na escala de 1:250.000 + aerofotografias na escala de
1:20.000 da década de 1952 e 1970, pertencentes ao Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA). O primeiro sensor apresenta 6 bandas espectrais com resolução
espacial de 30 metros. Já o sensor ETM+ possui mais duas bandas, uma termal com
resolução espacial de 60 metros e outra pancromática, com 15 metros de resolução.
As imagens foram tratadas no software ENVI v.3.6 e pelo módulo de sensoriamento
remoto do Spring. As imagens foram georreferenciadas, utilizando pontos de controle
retirados das cartas do Exército/SUDENE (1:100.000), como também adquiridas e
retificadas ou ratificadas por GPS. Com a finalidade de obter melhoria na qualidade visual
das imagens, forma efetivadas técnicas de realce e transformações de imagens que
facilitaram o processo de interpretação e classificação. Basicamente, se consistiu de
técnicas de contraste, composições e transformação RGB para IHS (ou RGB HSV) entre
outras.
A percepção da simultaneidade pelas imagens de satélite, dos aspectos naturais e
tecnológicos no território, foram importantes para o reconhecimento do real, conforme
ratifica Santos (1991); contudo, consideramos algumas técnicas de geoprocessamento
como acessórias, não finalistas de per se; isto para uma investigação não limitada à análise
de geotecnologias, dando melhor atenção aos tensores e processos de mudanças
ambientais, onde interagem os diferentes padrões espaciais dos elementos da paisagem e
os seus fatores componentes (WATRIN, 2003).
O uso integrado de tecnologias de sensoriamento remoto e geoprocessamento
constituem, a partir de uma visão sinóptica, instrumentos relevantes para o levantamento e
monitoramento dos recursos naturais e da desertificação (GOMES et al.1995).
Após interpretações necessárias dos produtos de sensoriamento remoto, foram
escolhidos os trajetos a serem percorridos em função das dúvidas das interpretações
posteriormente procedidas, bem como de pontos-chave eleitos para a checagem de campo.
Nas demais jornadas empíricas, escolhermos informantes para registro de entrevistas e, em
gabinete, houve decodificação destas, com seus estudos e análises.
Com essa perspectiva, foi possível quantificar aproximadamente as áreas das
unidades geoambientais, além da produção dos mapeamentos. Tal quantificação foi
procedida no AutoCad Map, com meta a elaboração das diretrizes para enfrentamento da
desertificação. A partir daí, foram preparadas as legendas dos produtos cartográficos, isto é,
o mapa de localização e os temáticos: estado de conservação da vegetação e
degradação/desertificação, uso/ocupação da terra e alterações ambientais e o de
34
ecodinâmica das paisagens e zoneamento ecológico-econômico. Tratam das compilações
sobre informações e discussões consideradas ao longo do trabalho e são de suma
importância para melhor apreensão da problemática em foco, mostrando a síntese do que
foi trabalhado.
Estes produtos indicam, dentre outros fatores, os agrupamentos de áreas específicas
quanto às mútuas relações do potencial geoecológico, formas de ocupação e, sobretudo, a
identificação das áreas degradadas e em processo de desertificação; como também a
capacidade-suporte dos sistemas ambientais. Neste particular, o mapa de zoneamento, que
traz a compartimentação ambiental e diretrizes de ocupação, representa a síntese,
concretização do objetivo básico do estudo, no que se refere às intervenções efetivas para o
tratamento da desertificação.
Assim enunciado, foram desenvolvidos produtos geocartográficos. Por questões de
praticidade operacional, a escala de base de dados, ou seja, aquela que ensejou as
discussões, foi compilada em 1:250.000. E a escala de apresentação gráfica, quer dizer, de
plotagem, foi de 1:850.000 no mapa de uso/ocupação e alterações ambientais e 1:700.000
no mapa de zoneamento.
O mapa que deu subsídios para a elaboração de todos os outros mapas foi o de
localização da Bacia. Este foi elaborado a partir de overlay baseado em imagens de satélite,
sobreposto às folhas editadas pela DSGE/SUDENE (1:100.000). A análise visual em papel,
a rigor, subsidiou a confecção de overlay, através de reprodução em papel estável e
transparente agregado à imagem em papel, dos temas de interesse, para que fosse
elaborado o mapa em apreço, como orientaram Martins et al. (1994). Para sua elaboração,
consideramos: altimetria e pontos cotados, drenagens, açudes construídos e propostos,
sedes municipais e distritais, limites dos divisores de água e político-administrativos dos
municípios e rodovias. Essas informações foram plotadas apenas nos mapas temáticos, que
inclusive demandam a inclusão de informações específicas.
A partir do mapa de localização, foi-se gerando novo arquivo, incluindo as manchas
diversas dos arranjos de uso e ocupação, orientando-se ainda pela análise circunstânciada
dos recursos naturais onde o crivo foi as unidades morfopedológicas. Produzimos, assim, o
mapa de uso/ocupação da terra e alterações ambientais. Neste mapa, para cada
compartimento morfopedológico (feições do modelado e solos), foram identificadas as
principais atividades produtivas e as alterações ambientais em face das mudanças
emergentes nos arranjos de uso/ocupação identificados.
Com as informações dispostas por este mapa, foi gerado um banco de dados, para
que, finalmente, essas informações fossem superpostas às imagens analógicas em
transparência de sensores remotos, associados às aerofotografias.
35
Foi produzida uma classificação semi-supervisionada mostrando matizes que
representam os diversos estados de conservação da vegetação, associados aos solos, e
que mostram conseqüências em termos de degradação/desertificação.
Por conseguinte, criamos um modelo digital do terreno para que se construíssem perfis
transversais e longitudinais, por meio do programa Global Maper. Tais transectos foram
úteis ao diagnostico da capacidade de uso da unidade em estudo e exibição da disposição
dos geoambientes no espaço da bacia.
Cruzando-se os mapas e os perfis supracitados, com destaque a geomorfologia, foram
delimitadas as subunidades de paisagens (geossistemas e geofácies) e acrescentadas
informações sobre a ecodinâmica. A delimitação das unidades de paisagem originou uma
compartimentação geoambiental, que aglutina as informações dos fatores sobre o potencial
ecológico (geologia, geomorfologia, clima e relevo)/exploração biológica (fauna e flora)/uso e
ocupação da terra, dotadas de condições específicas.
As paisagens, pelo fato de representarem resultados da combinação dinâmica de
elementos bióticos, abióticos e humanos, reagindo dialeticamente em relação mútua,
constituem um conjunto uno e indissociável (BERTRAND, 1968). A definição e delimitação
de paisagens representam a compartimentação geoambiental. Esta teve como pressuposto
básico as características biofísicas concernentes às condições do suporte físico (litologia,
geomorfologia e topografia), ao envoltório (climato-hidrológicos, recursos hídricos), à
cobertura (solos e recobrimento vegetal) e às condições de uso e ocupação da terra.
Seguindo a teoria de Bertrand (1968), essas paisagens foram sintetizadas e mapeadas
conforme a escala de grandeza espacial de cada conjunto. Foram priorizadas as unidades
inferiores, isto é, geossistemas e geofácies. Assim, para cada unidade geoambiental, foram
propostas zonas compatíveis conforme o uso e a vulnerabilidade ambiental para que fossem
cartografadas. Produzimos assim o mapa-síntese, com diretrizes à ocupação, ou seja, o
mapa de ecodinâmica das paisagens e zoneamento ecológico-econômico.
O esboço de zoneamento ecológico-econômico proposto, contudo, fundamentou-se no
referencial sistêmico, em que os componentes geoecológicos e socioeconômicos mantêm
mútuas relações, funcionando de forma constante, multicomposta e dialética. O zoneamento
enfatizou a variável ambiental a par do balanço ecodinâmico, dirimindo as diretrizes
propostas para o uso regrado do território.
Na preparação da legenda desse mapa, selecionamos as principais características
inter-relacionadas dos atributos ambientais. Esse mapa fornece informações indispensáveis
para definição da qualidade dos atributos naturais em termos de potencialidades e
limitações. Ademais, a atualização da base cartográfica foi feita através das imagens dos
sensores remotos e trabalhos de campo, apoiados por pontos de controle obtidos por
receptores do sistema GPS. No que se refere ao método de rastreio, utilizamos o
posicionamento absoluto e relativo.
36
Após os trabalhos de geoprocessamento, exibindo cartograficamente a expressão
espacial (qualiquantitativa) das áreas interpretadas, foram produzidos quadros e tabelas,
como forma de compilar didaticamente informações-mestras, para cada contexto.
Essa sistemática operacional subsidiou o alcance do escopo geral e assinalou as
principais questões referentes aos procedimentos e técnicas a serem considerados sob a
perspectiva geoambiental. As informações levantadas foram em termos de conjunto,
denotando, dentre outros aspectos, sua tradução espacial mediante de mapas e perfis das
formações superficiais, da fisiologia das paisagens e, por conseqüência, dos aspectos da
biosfera. Para o alcance dos objetivos específicos, foram perseguidas as perspectivas
arroladas em seguida.
1.5 – O ENFOQUE PARA ALCANCE DOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para discutir conceitos e teorias sobre a desertificação (objetivo específico 1)
Fizemos revisão e estudos da literatura. Os estudos bibliográficos, a rigor, permearam
toda a produção do trabalho, do seu início ao fim. Foram destacados tópicos especiais,
como: trópico semi-árido, teoria geossistêmica, técnicas integrativas, relação
sociedade/natureza, ecodinâmica, ecologia, caracterização e avaliação geodinâmica e
produtividade de geoambientes, paisagem, degradação ambiental, desertificação, bacia
hidrográfica , zoneamento ecológico-econômico, dentre outros temas. Esses estudos foram
completados com leituras ligadas aos recursos naturais e ambientais, economia ecológica,
aspectos históricos, socioeconômicos, demográficos e de infra-estrutura, para citar os
mais importantes.
Foram, assim, dadas bases para análises teóricas e aplicadas sobre a desertificação,
em seus conceitos, mitos e realidade, no mundo e no Brasil. O Nordeste seco foi o crivo da
análise, destacando a bacia do rio Acaraú como exemplo.
Para identificar e caracterizar os sistemas físico-bióticos, com base em proposta
metodológica geossistêmica (objetivo específico 2) foi necessário analisar os componentes
geoambientais de per se, para posterior análise integrada. Em seguida, procedemos à
compartimentação geoambiental, para destacar a dinâmica das paisagens, conforme
pressupostos de Bertrand (1968). A elaboração de cartografia temática, descrita
anteriormente, foi privilegiada para demonstração destes aspectos.
Por assim pensar, as informações básicas e compiladas sobre as características e
critérios dos aspectos biofísicos passaram por uma análise circunstanciada com vistas ao
diagnóstico do potencial geoambiental e elaboração de estratégias socioambientais para
sustentabilidade dos tecidos ecológicos. Inicialmente, foram considerados alguns fatores
paleoclimáticos e suas implicações ambientais no que concerne a problemas
morfogenéticos e ao Quaternário. Depois foram denotados os seguintes temas: geologia-
37
geomorfologia; aspectos climáticos e recursos hídricos; solos e vegetação; geodinâmica e
produtividades geoambientais; uso e ocupação do solo e mudanças ambientais.
Para a análise geológica-geomorfológica, foram estudadas as unidades
cronolitoestratigráficas a partir dos principais litotipos, que jazem na bacia, ao lume da
geocronologia, características geomorfológicas das rochas, planialtimetria, sub-
compartimentação do relevo, feições do modelado e suas áreas (km²/%), as superfícies de
aplainamento e a sua datação relativa; fisiologia das paisagens; características
morfogenéticas e morfodinâmicas, preferencialmente, derivando a ecodinâmica das
unidades geossistêmicas. Estes estudos foram norteados pela delimitação da bacia.
Em termos climato-hidrológicos, foram considerados alguns fatores genéticos e,
principalmente, empíricos do clima e do tempo, baseado nos controles climáticos; quais os
casos dos principais sistemas dinâmico-sinópticos atuantes no Ceará, com enfoque sobre a
baciaem causa, as condições termopluviométricas em lapso de 30 anos (1974-2004), além
do balanço hídrico conforme Thorthwaite e Mather, 1955. Registramos o fato de que esses
autores, assim como Ayoade (2002), propõem classificação genérica-empírica do clima,
mais especializados. Baseiam-se nos próprios elementos climáticos observados ou em seus
efeitos sobre outros fenômenos e fatores, como a vegetação e o homem, na aferição de
tipologias climáticas.
Investigamos as médias sobre precipitação (1974-2004), temperatura e nebulosidade,
no período de 1961 a 1990. Averiguamos anomalias metereológicas como intensidades e
escassez de chuvas, dias e meses chuvosos no contexto anual do quadro hídrico total, sem
esquecer de confrontar estes montantes com a evaporação (1961-1990).
Sobre as condições dos recursos hídricos, foram levantados os potenciais de águas
superficiais e subsuperficiais numa caracterização hidrológica, destacando a classificação
genética dos rios, os padrões de drenagens - identificada pelos trabalhos de sensoriamento
remoto e os problemas de poluição. Em grande porção, as drenagens foram restituídas e
ratificadas por meio dos mapas da SUDENE (1981) e os corpos hídricos foram identificados,
sob perspectiva da gestão integrada no domínio sistêmico da bacia hidrográfica . Neste
âmbito, consideramos o Plano Estadual de Recursos Hídricos do Ceará, de 1992, e outros
estudos técnico-científicos que consideraram baciahidrografia como unidade. Para o
diagnóstico sobre a água subterrânea aproveitada, foram consideradas as informações
sobre os poços perfurados, conforme orientações e cadastro na CPRM.
No que tange aos aspectos pedológicos, estudamos as principais características das
classes de solos, as quais compõem associações homônimas, a partir do Levantamento
Exploratório-Reconhecimento de Solos do Ceará (1973), Mapa de Zoneamento Agrícola do
Ceará (1988), correlacionado aos mapas de solos do Instituto de Desenvolvimento Agrário
do Ceará (IDACE, 1:200.000), Redimensionamento da região semi-árida pela FUNCEME
(1994 e 2005) e do IPLANCE (1997), além de vários autores: Souza (1981), Ceará (1994),
38
Brandão et al. (2003) e Guerra e Botelho (2001). As nomeclaturas dos solos foram
atualizadas com base na EMBRAPA (1999). Quando preciso, fizemos adaptações.
As condições morfopedológicas foram destacadas, para que em seguida fossem
ressaltados o grau e as formas de potencial e usufruto dos recursos naturais, assim como a
exploração atual dos recursos pedológicos.
Completando os fatores de cobertura das paisagens, a vegetação foi entendida como
componente fundamental para os recursos biológicos e para a biodiversidade. Destacam-se
as respostas geobotânicas às condições hidroclimáticas, concebendo a vegetação em favor
das unidades fitoecológicas (BEZERRA, et. al., 2003), sob critérios fisionômicos e florísticos,
conforme classificação de Fernandes (2000). Foram associadas às unidades geoambientais
de ocorrência, considerados os nomes científicos e a terminologia comum. Para
entendimento, pelo menos mínimos, da composição do quadro de biodiversidade regional,
foram destacados alguns aspectos genéricos da fauna regional, por exemplo, listando as
principais espécies.
O enquadramento da baciaem análise em domínio morfocliamático predominante (no
caso o das Caatingas semi-áridas) põe em relevo, conforme Jatobá (2001), as influências
diretas e indiretas exercidas pelas condições climáticas atuais e pretéritas, por três motivos
importantes de serem analisados: investigação da morfogênese e da exploração biológica e
a comparação de um domínio a outro.
Infelizmente, não temos informações mais precisas sobre perdas do patrimônio
faunístico da bacia. Para compreensão nima dessa questão, fizemos levantamentos
bibliográficos (CEARÁ, 1994; SOUZA, 1998; CNRBC, 2004; MAJOR et al. 2004,
MMA/PROBIO, 2004), observações em campo e entrevistas como as populações locais.
Em meio a essas etapas, foi procedido trabalho de campo preliminar, para
reconhecimento da baciae delimitação das áreas de drenagens. A propósito disto, Cunha e
Guerra (2003) dizem que conhecimento empírico dos processos de degradação ambiental
em bacia hidrográfica pode ser tão ou mais importante quanto dados conseguidos em outros
estudos, como o próprio monitoramento da degradação.
Como exposto, a avaliação dos recursos naturais ocorreu em termos de relação-
integração a partir de concepção global do ambiente com basedo no conjunto dos
componentes biofísicos. A reunião dos dados básicos levantados possibilitou síntese e
análise na óptica da compartimentação e dinâmica ambiental, delineando sistemas
geoambientais.
Considerando esta perspectiva para a análise da dinâmica da paisagem, cumpre
destacar: mesmo que as técnicas de interpretação visual de sensores remotos sejam
complementares, como já assinalado, elas foram importantes para a compartimentação
geoambiental.
39
A delimitação das unidades de paisagem, deveras, deriva dos trabalhos de
sensoriamento remoto, dos levantamentos sistemáticos citados e de jornadas de campo. Tal
delimitação pressupôs inter-relacionamento do potencial ecológico com a exploração
biológica em consonância às formas, estruturas e expressões socioespaciais das atividades
socioeconômicas; visto que a paisagem pode mostrar evidências de
degradação/desertificação, resultantes do sinergismo das vicissitudes dos climas e
atividades humanas, exibindo formas e estádios de degradação ambiental em diferentes
escalas (PUIGDEFÁBREGAS e MENDIZABAL, 1998).
Com efeito, foram oferecidos requisitos imprescindíveis para qualificar, holisticamente,
os atributos naturais em termos de capacidade-suporte para a ordenação do espaço
geográfico, identificando e delimitando os macrocompartimentos geomorfológicos no plano
de unidade geoambiental (região natural, geossistema e geofácie).
De fato, os geoambientes são formados pela integração dos fatores clima, litologia,
estrutura, relevo, vegetação e dos recursos hídricos, interagindo de forma multivariada,
configurando paisagens específicas para cada combinação, que formam os aspectos
visíveis para o sensoriamento remoto, ou seja, os geossistemas e geofácies. O conjunto das
unidades identificadas demonstra, sinteticamente, a dimensão areal do espaço em
consideração.
Nessas condições, a concepção de paisagem é relevante para delimitação de
subunidades, em razão de padrões uniformes. Assim é que, destacando as diversidades
internas dos geossistemas, observamos a existência de unidades homogêneas como
unidades elementares, isto é, os geofácies.
Seguindo as orientações de Ceará (1994) e Souza (2000) para delimitação das
unidades de paisagens, a compartimentação geoambiental foi procedida com fins ao
zoneamento, por isso privilegiamos a subcompartimentação geomorfológica. Esta é mais
facilmente identificada, delimitada e interpretada, além de resultar da evolução dialética dos
geoambientes, pelo menos Tercioquaternária; cada compartimento denotando padrões
próprios de drenagem superficial, tipos de solos, características peculiares de fitofisionomia,
dinâmica dos padrões de ocupação e as atividades socioeconômicas.
Como orientam Martins et al. (1994), a denominação das unidades ambientais foram
de origem locacional e toponímica de dados geomorfológicos-hidrológicos.
Para levantar as áreas degradadas e/ou em processo de desertificação (objetivo
específico 03), efetuamos análise de sensores remotos, considerando o mapa de
localização e de uso/ocupação da terra.
Pela interpretação automática das imagens de satélite, procedemos a classificações
digitais semi-supervisionadas, especificamente indicando as áreas degradadas susceptíveis
à desertificação, as quais foram verificadas em campo. Mediante o processamento digital
das imagens, foi possível sobrepor as informações temáticas e ajustar os mapas pré-
40
existentes através de vetorização em tela, tomando-se como referência o estado de
conservação da vegetação que se encontra imbricado ao estado de conservação pedológica.
As manchas degradadas foram correlacionadas com as unidades geoambientais de
ocorrência, bem como flagrando a sua localização por município. Porquanto, foram
identificadas e delimitadas áreas com escassez ou ausência de vegetação que se
apresentavam em processo de degradação. Somaram-se as condições dos componentes
ambientais e sua compartimentação, com evidências de ulcerações dos tecidos ecológicos,
a partir da presença da seguinte conformação, como orientam Leite et al. (1993): vegetação
predominantemente arbustiva e esparsa e sinais evidentes de erosão laminar e/ou em
sulcos e/ou em voçorocas, geralmente com presença em superfície de cactáceas e capim-
panasco, com ocorrência de afloramentos rochosos de maior ou menor expressão e
checagens de campo.
Ainda conforme Leite et al. (1993), a chave para essa fase é a identificação de áreas
alteradas por degradação, que se deu por interpretação visual e automática das imagens de
satélite. Foi destacada a interpretação do grau de reflectância das áreas e a redução da
biomassa perceptível em áreas decapeadas, observando-se a forma e dimensão das
manchas. A verificação do mapa do índice de aridez (precipitação/evapotranspiração),
desses autores, guiou o enquadramento das áreas degradadas, na isolinha de valor abaixo
de 0,65. O índice de aridez favoreceu a caracterização da bacia em função dos fatores
climáticos, considerando seus fatores sistêmicos, oferecendo indicações caras de ordem
biológica.
Perseguindo análise geográfica, entretanto, este índice foi tomado como complementar,
pois os fatores socioambientais constituíram o fulcro dos estudos analíticos, adquirindo,
conseqüentemente, lugar de destaque na espacialização dos fenômenos.
Os trabalhos de sensoriamento remoto foram usados simplificadamente nos SIG para
determinação espacial da extensão da distribuição geográfica das áreas degradadas,
relacionando as causas das ações humanas com as condições e efeitos ambientais,
conforme norteiam Rubio e Bochet (1998). Desta feita, foi produzido o mapa de estado de
conservação da vegetação e degradação/desertificação.
Esse mapa apresenta as mudanças ambientais e as supostas manchas com
evidências de degradação/desertificação. Considera vários estádios de degradação da
vegetação que influenciam na conservação do solo (ou por esta é influenciada). Conforme
nomeclatura estabelecia, pode variar de conservada, parcialmente degradada,
degradada, fortemente degradada e solo exposto.
Foram considerados os problemas concernentes ao recobrimento de nuvens, que
atrapalham as interpretações, sobretudo, durante a quadra chuvosa; isto para que os
trabalhos e dados não fossem superestimados.
41
Ademais, a comparação de fotografia aérea com imagens de sensoriamento remoto
pode mostrar o perigo da dinâmica da desertificação em face da degradação dos
ecossistemas, além de permitir a montagem de modelos prognosticadores de cenários
futuros de desertificação (VINOGRADOV, 1995).
Estes fatores estão relacionados com a capacidade de suporte dos recursos naturais,
em razão do uso descontrolado dos recursos naturais, que provoquem
degradação/desertificação. Neste caso, coube referência também a um arranjo
agrossocioeconômico bem específico, que é irrigação em agropolos. Essa atividade pode
provocar degradação físico-química e biológica, com sérias conseqüências sociais.
Neste contexto, foram referenciados os estudos de Mesquita (2005), que coletou
diversas amostras de água em diferentes pontos (11 no total) e analisou pH, condutividade
elétrica, cátions (Na
+
, Ca
++
, Mg
++
, K
+
) e ânions (Cl
-
, HCO
3
-
). Averigou qualidade da água de
irrigação na bacia que possa provocar salinização e sodicificação, portanto, degradação
físico-química dos solos e, por conseqüência, das lavouras e outros vegetais. Foram
consideradas informações sobre estrutura nica (ANDRADE et al. 2005), classificação
(ANDRADE al., 2004) e caracterização da qualidade das águas empregadas nos distritos
irrigados (MESQUITA, 2005). Daí derivaram os principais problemas da água de irrigação
(salinidade, infiltração de água, toxidade de íons específicos e outros problemas) nos
agropolos. Como um todo, a irrigação foi discutida a respeito da degradação, real ou
potencial, dos recursos naturais provenientes de efeitos químicos, sobretudo de sais, com
destaque para a sodicidade do solo e da água.
Dentre os agropolos, foram escolhidos os principais, ou seja, os Perímetros Irrigados
Araras Norte e do baixo Acaraú, para averiguação de suas situações ambientais e político-
econômicas.
Para complementação das informações, foram derivadas as características
ecofisiográficas da bacia. Consideramos as condições ecodinâmicas das paisagens,
indicadoras de riscos ambientais sobre o balanço morfogênese x pedogênese, em meios
estáveis, de transição ou intergrades, instáveis (TRICART, 1977), e fortemente instáveis,
conforme adaptações descritas por Souza (2000) para o Estado do Ceará. Portanto, para a
os meios ecodinâmicos apresentam o seguinte:
a) Ambientes Estáveis - apresentam fraco potencial erosivo decorrente da estabilidade
morfogenética. O balanço morfogênese x pedogênese favorece a pedogênese; a cobertura
vegetal protege bem os solos contra os efeitos morfogenéticos e de dissecação e erosão
moderada, pois está pouco degradada ou tendendo a fitoestabilização.
b) Ambientes de Transição ou Intergrades - ação concomitantemente dos processos
morfo e pedogenéticos; a dinâmica atual do ambiente pode favorecer uma ou a outra
condição: com a instabilidade incipiente, a morfogênese predomina através de aspectos de
toda ordem para os meios instáveis. Caso contrário, tende aos meios estáveis.
42
c) Ambientes Instáveis - a deterioração ambiental é evidente e a capacidade produtiva
dos recursos naturais está comprometida em razão da intensa atividade do potencial erosivo
que diminui a densidade vegetacional, formando processos morfogenéticos mais atuantes,
provocando a ablação dos solos; a geodinâmica atual comanda o balanço morfogênese x
pedogênese, favorecendo a morfogênese, com ocasionais rupturas do equilíbrio
ecodinâmico; os recursos paisagísticos estão comprometidos.
d) Ambientes Fortemente Instáveis - paroxismos acentuados ou instabilidade ambiental
agravada pelo sinergismo dos impactos.
Foram seguidas também as correlações das categorias ecodinâmicas às categorias de
sustentabilidade e vulnerabilidade ambiental, descritas por Souza (2000). Conforme as
características biofísicas preponderantes nas relações dialéticas dos geossistemas,
considerando as principais limitações de uso e estado de conservação dos recursos naturais,
foram, portanto, enfocadas, qualitativamente, quatro categorias de sustentabilidade. Desta
filogênese, associando o potencial atual dos recursos naturais e suas principais limitações
de uso, nos respectivos estados de conservação, vulnerabilidade às secas e vulnerabilidade
futura, foram consideradas as categorias de vulnerabilidade. Quais sejam:
a) Sustentabilidade alta - boa capacidade produtiva dos recursos naturais e com
limitações mitigáveis com o uso de técnicas simples. Potencial hídrico satisfatório
considerando o escoamento fluvial; potencial hídrico superficial e subterrâneo com boa
quantidade de água acumulada. Clima úmido; chuvas bem distribuídas. Solos
moderadamente profundos com média a alta fertilidade natural, pouco susceptíveis à erosão
em razão da conservação vegetal. Ecodinâmica de ambientes estáveis, com vulnerabilidade
nula ou muito baixa.
b) Sustentabilidade moderada - razoável capacidade produtiva dos recursos naturais,
incluindo-se condições satisfatórias dos recursos hídricos e possibilidades de uso das
reservas paisagísticas. Clima subúmido a semi-árido. Chuvas moderadas e distribuição
temporoespacial regular. Moderado potencial edafoclimático, bom estado de conservação
pela vegetação primária ou pela sucessão ecológica com tendência a
fitoestabilização/clímax. Ecodinâmica de Ambientes de transição ou intergrades, com
vulnerabilidade moderada.
c) Sustentabilidade Baixa: sérios problemas quanto à capacidade produtiva dos
recursos naturais renováveis, apresentando: baixo potencial de recursos hídricos;
irregularidade climática; deficiência hídrica anual; solos rasos, muito erodidos, com
afloramentos rochosos e baixa fertilidade natural. Ambientes de Ecodinâmica Instáveis com
Vulnerabilidade Alta ou Forte.
d) Sustentabilidade muito baixa - capacidade produtiva dos recursos naturais mínima;
degradação ambiental praticamente irreversível. Ecodinâmica apresenta ambientes
fortemente instáveis. Vulnerabilidade alta ou muito forte.
43
Para diagnosticar e avaliar as principais causas e conseqüências da
degradação/desertificação (objetivo específico 04) abordamos o panorama socioeconômico
hodierno, tecendo consideração do local ao global, ou, parafraseando Ribeiro (1992): do
lugar ao mundo ao mundo no lugar. Correlacionamos os espaços e os tempos diferentes
(social e biofísico) para questionamentos condutores de reinterpretação da (re)produção do
espaço. Demos margem à investigação de como os processos locais de explotação dos
recursos naturais estão imbricados a macroprocessos - em escala estadual, regional e
internacional -, sob os auspícios da globalização.
Em razão da grande dimensão da bacia (14.560km²), foram considerados os
municípios que mais bem se articulam com ela, por questões culturais, ambientais,
socioeconômicas ou políticas e administrativas, em um total de 26 municípios estudados. A
bacia drena territórios ermos de mais 5 municípios que foram consideradas, tão-somente, na
discussão do contexto regional, mas não na delimitação das drenagens, por não serem
representativos socioeconômica e ambientalmente ao escopo do trabalho.
O tamanho da amostra utilizada, contudo, foi aleatório simples, considerando para
cada aspecto investigado um mero mínimo de municípios para retratamento das
condições socioeconômicas. Neste sentido, os dados agropecuários foram os mais
importantes, porque representara a principal atividade econômica regional.
A análise socioeconômica foi apresentada por meio de dados estatísticos, por análises
tabular e descritiva, aglutinando e confrontando os dados amostrados. Mesmo que as
estatísticas não leiam as entre linhas da realidade econômico-financeira, aglutinam
informações importantes, permitindo análises e correlações meticulosas.
A investigação dos aspectos econômicos e sociais teve como objetivo, portanto,
observar como tais setores se apresentam em relação às condições ambientais
prevalecentes e, sua colaboração histórico-política com a degradação/desertificação dos
recursos naturais. Destacaram-se, ainda, indicadores de desenvolvimento econômico,
estrutura fundiária e agropecuária, perspectiva política dos planejadores, com implicações
do global ao local, com fins de melhor compreender a ordenação territorial/ambiental.
Estes estudos basearam-se em informações secundárias e primárias. Pelo fato de a
bacia não obedecer a injunções político-administrativas, a obtenção de dados primários foi
indispensável. Foram obtidos a partir do diagnóstico ambiental, com trabalhos de campo,
conforme objetivos específicos anteriormente descritos. E, também, junto a produtores rurais,
comunidade civil, agentes de saúde, organizadores comunitários, técnicos, sindicalistas
rurais, pesquisadores e professores, empresários, planejadores políticos e tomadores de
decisão que trabalham na região.
Para entrevistas, utilizamos a técnica da observação participante para melhor
apreensão da dinâmica das comunidades (FILHO et al. 2004), com as conversações e
anotações sobre depoimentos de entrevistados. Buscaramos mais bem apreender a história
44
de ocupação do território, aspectos da memória ambiental, dentre outras questões passíveis
de transmissão pela história oral.
O recolhimento e tratamento dos dados primários e secundários somente foram
possíveis mediante o apoio e os recursos do Projeto Gestão Racional de Bacias
hidrográficas da Região de Caatinga de Modo a Manter seu Uso Sustentável na
Agricultura Irrigada. É financiado pelo Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de
Tecnologias Agropecuárias para o Brasil (PRODETAB, 016-01/01), Banco Mundial e
executado pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias Agroindústria Tropical
Fortaleza/CE. Com os resultados, foi possível avaliar as mudanças socioambientais
observadas e propor ações, de forma a eliminar ou reduzir o uso de práticas degradadoras
que influenciam e potencializam a susceptibilidade à desertificação.
As informações secundárias foram obtidas junto a fontes públicas e privadas,a citar:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Banco do Nordeste (BN),
universidades públicas (UFC, UECE, UVA, UFF), EMBRAPA, Secretaria de Agricultura do
Estado do Ceará, Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), Companhia de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (COGEHR), Companhia de Água e Esgoto do Ceará
(CAGECE), Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto (SAEE), diversas prefeituras
municipais etc. Essas informações foram referidas a algumas variáveis sociais, tais como:
população, emprego e renda, educação, saneamento básico (lixo, água e esgoto),
indicadores de saúde, produtividade agroextrativista e principais cultivos, estrutura fundiária,
indústrias, comércio e serviços.
Para compilação e análise dos dados sobre mudanças socioambientais que produzam
impactos, foi utilizada análise tabular. Destacaramos os tensores artificiais e naturais
responsáveis por mudanças ambientais, apresentando os compartimentos representativos
dos sistemas geoambientais que mais influenciam na identificação do problema. Foram
sucintamente relacionados a essas informações aspectos sobre uso dos recursos naturais
(principalmente água, solo e vegetação), para facilitar o entendimento da degradação
ambiental/desertificação.
A recuperação da memória evolutiva na região integradora da bacia foi importante para
levantamento do processo histórico de sua ocupação. Remontomos aos seus aspectos
ulteriores em termos ambientais e socioeconômicos e culturais, além de sistematicamente,
concebermos um quadro comparativo as condições conjunturais atuais em suas áreas
contíguas. A história de ocupação do território, atrelada ao conhecimento de alguns
indicadores das condições socioeconômicas, facilitaram a apreensão da dialética da relação
natureza e sociedade.
Com isto, diagnosticaramos as tipologias de uso/ocupação da terra, as quais foram
definidas, preferencialmente, por meio da averiguação dos estádios de exploração histórica
45
e conjuntural dos recursos naturais e das atividades socioeconômicas desenvolvidas nos
geossistemas, à luz das políticas e dos agentes organizadores do espaço.
Para aferição dovel dos modos de aproveitamento dos recursos naturais e da
qualidade ambiental, foram inventariados os equipamentos urbanos, industriais e rurais, de
infra-estrutura disponível, demográfica, situação populacional e dos efeitos resultantes das
ações socioespaciais, sem esquecer dos conflitos emergentes.
As análises sobre as formas de uso/ocupação da terra e os problemas da degradação
ambiental, com base em informações primárias e secundárias, ensejaram produção do
mapa de uso/ocupação da terra e alterações ambientais. Este traz a caracterização e
espacialização dos aspectos socioeconômicos, identificando as alterações impingidas à
paisagem, conforme as atividades da população. Essa aplicação tem como base Mendonça
(1999), Nascimento e Carvalho (2003c), na perspectiva do zoneamento, planejamento e
gestão ambiental (CHRISTOFOLETTI, 1992).
O destaque maior foi dado à tipologia de uso e ocupação referente aos segmentos
agrossocioeconômicos, com base no zoneamento agroecológico do Nordeste (SILVA et al.,
1993) e no Perfil Básico de todos os municípios com sedes e principais comunidades na
bacia (IPLANCE, 2000), de vez que esses segmentos constituem campos cultivados com
desenvolvimento agropastoril. Envolvem o sistema agrário, aglutinador de similitudes e das
maiores características das unidades geoambientais; e o sistema de produção, próximo ao
conceito de unidade de produção, com identificação das diferentes estruturas de produção
de base. Diferenciáramos as diversas estruturas de produção de base, através de: relações
sociais de produção peculiares; posse do meio social de produção (a terra); sistemas
técnicos; plantações tradicionais, empresas rurais e agroindústrias e problemas correlatos,
só para exemplificar.
Ademais, consideramos a análise histórica do espaço rural e de sua evolução, o
movimento de modernização da agricultura regional foram agregados dados qualitativos
referentes às principais produções e atividades, densidade demográfica e estrutura fundiária.
O mapa de uso/ocupação da terra mostra os espaços ocupados à luz de questões
socioeconômicas e biofísicas, localizadas conforme as preferências e necessidades de
exploração dos recursos naturais, a fim de verificarmos a expansão das formas de uso e
ocupação da terra, associadas à degradação dos tecidos ecológicos nos últimos anos.
Buscamos compreender as formas de organização do espaço pelos diversos atores
sociais que atuam direta ou indiretamente na bacia em exemplo, com destaque para o
Estado. Isto quer dizer, como eles implementam e modificam o território pelas ações
políticas, com influências diretas nas conjunturas econômica, social e ambiental. As formas
de ocupação da terra foram concebidas em seus afeitos ambientais, inclusive
georreferenciando os principais pontos de poluição, provocadores de mudanças que
46
produtoras de sinergismos que deteriorem a qualidade ambiental e alimentem os problemas
de degradação/desertificação.
Aspectos relativos ao estado de degradação dos recursos dricos, sobretudo os
superficiais, mereceram destaque, porque os cursos fluviais correspondem aos principais
receptores e exportadores de matéria e energia do sistema hidrográfico. Conforme
Mendonça (1999), a qualidade da água dos rios indica, do mesmo modo que o sangue no
corpo humano, a gênese e localização dos agentes de degradação. Portanto, aplicamos
questionários com os usuários dos recursos hídricos para investigação e visitação aos
principais pontos de poluição na bacia, em 24 municípios, com questões pertinentes às
condições de saneamento ambiental: manancial de abastecido, saneamento básico, pontos
potenciais de poluição, sistema de tratamento d’água, disposição de resíduos sólidos etc.
Para averiguação de dados sobre coleta de lixo, abastecimento d’água, produção
agropecuária, categoria de imóveis, arrecadação de Imposto de Circulação de Mercadoria e
Serviços (ICMS), saúde, educação e unidades industriais, utilizamos a técnica da
amostragem simples e aleatória, considerando sempre municípios de setores diferentes da
bacia entre os 26 municípios estudados. As fontes dos dados reunidos foram do INPLANCE
e IBGE.
Sobral e Santa Quitéria foram os municípios mais amostrados, pelo fato de serem os
principais da Bacia, assim como outros de maior envergadura que também foram
considerados em praticamente todo o inventário; contudo, todos os municípios estudados,
com maior ou menor repetição, foram considerados no arcabouço socioeconômico, para que
fosse efetivada maior proximidade com a realidade econômica e social.
Para elaboração de propostas mitigadoras no combate à desertificação (objetivo
específico 05), tomamos como base todos os aspectos discutidos até então, principalmente
a capacidade de suporte geoambiental, em termos de potencialidades e limitações dos
recursos naturais, ante os riscos emergentes.
A identificação das unidades ambientais funcionou como elemento básico do
parcelamento espacial, estabelecida com base em sistema integrado pelo conjunto de
elementos bióticos e abióticos, imbricados nas condições de uso da terra. Foi necessário
também investigar as ações humanas negativas sobre os subespaços, que vêm a
comprometer o estado ambiental dos recursos naturais ao nível de domínio paisagísticos,
com base em estudos de Souza (1999) e Nascimento et al. (2005).
Foram consideras informações sobre a capacidade de suporte dos recursos naturais, e
traçados perfis transversais e longitudinais -, que mostrassem características
geoambientais importantes à proposta de zoneamento. Destacam-se, nesse espectro, as
concepções metodológicas ratificadas em trabalhos ligados aos diagnósticos e
zoneamentos ambientais (CHRISTOFOLETTI, 1992; ROSA, 1995; CAVALCANTI et al.
1997; MMA/PNMA (1997), MMA, 1998) no Nordeste brasileiro (SILVA et al. 1993) e, em seu
47
âmbito, no território cearense (OLIVEIRA et al. 2003; SOUZA, 2000), especialmente, em
bacias hidrográficas (SOARES, 1998; NASCIMENTO, 2003), que servem de base para a
elaboração de estratégias integradas de tratamento da degradação ambiental/desertificação.
Executamos o zoneamento ecológico-econômico com base em estudos, realizados,
tendo como pressuposto básico a concepção holística do ambiente. Ponderamos um plano
da gestão ambiental que fosse capaz de colocar termo à ocupação da terra e ao uso dos
recursos naturais, com ênfase na degradação/desertificação. Conforme as condições de
potencialidades e de limitações de uso e ocupação das unidades de paisagem, destacando
os ecossistemas frágeis mais vulneráveis, foram estabelecidas zonas para ocupação do
território da bacia.
Cruzamos os dados do índice de aridez com a compartimentação geoambiental,
observando as áreas críticas, guiaramos a proposta de zoneamento. Como produto final foi
elaborado um mapa de ecodinâmica das paisagens e zoneamento ecológico-econômico.
Para melhor caracterização das unidades geoambientais, elaboramos duas matrizes,
uma contendo as características geoambientais, concernentes a litologia, geomorfologia e
topografia, declividade, recursos hídricos, solos, vegetação e ocupação, ecodinâmica. Outra,
a partir da primeira, define e fundamenta a legenda do mapa de ecodinâmica das paisagens
e zoneamento ecológico-econômico: (1) unidade geoambiental; (2) potencial geoambiental e
limitações de uso dos recursos naturais; características naturais dominantes (3) mudanças
ambientais e riscos de ocupação; (4) cenário tendencial; e, (5) zonas propostas conforme
uso compatível e sustentabilidade.
Cabe ratificar o fato de que o conhecimento do cenário atual está para o diagnóstico
ambiental, assim como o cenário desejado, as diretrizes locacionais para os setores
produtivos e a proteção ambiental estão para o zoneamento ecológico-econômico. Tal
zoneamento considerou as seguintes delimitações: a) Zona de Protenção ambiertal, Zona
de recuperação ambiental, Zona de uso sustentável, Zona de proeção paisagística.
Essa proposta, portanto, fundamenta-se na metodologia geossistêmica,
compartimentando, hierarquicamente, as unidades de paisagem, em relação ao potencial de
ofertas ecológicas. Por isto indicamos intervenções adequadas para utilização econômica
das terras, com a manutenção da sua capacidade produtiva.
Foi elaborado um documento final, versando sobre: princípios que conduzam à
otimização do uso dos recursos; caracterização dos condicionantes ao desenvolvimento
regional; conhecimento das potencialidades de desenvolvimento das regiões estudadas e
das unidades geoambientais mapeadas.
48
2 - DESERTIFICAÇÃO E DESERTOS: CONCEITOS, MITOS E REALIDADE
2.1 – DESERTIFICAÇÃO: HISTÓRICO, CONCEITOS E AMBIGÜIDADES
Na literatura investigada, foram constatadas cerca de 59 conceituações sobre
desertificação. Algumas concordantes outras discordantes, além das ambíguas e
generalistas, sem esquecer, é claro, daquelas que consideram a definição oficial da
Organização das Nações Unidas (ONU); sendo que, em todas, é consenso que os aspectos
de degradação dos recursos naturais, notadamente com o ressecamento dos solos e
degradação da cobertura vegetal, variam de ecozonas climáticas áridas a subúmidas secas.
Para Rubio (1995b), entre a complexidade do fenômeno, o conceito biológico de
deserto, bem como pelas características multifuncionais dos processos envolvidos na
desertificação, mais de uma centena de definições sobre tal processo. Nessa linha, para
Verdum (2004), não há dicotomia, mas sim, uma centena de conceitos, em relação à
compreensão e construção do conceito de desertificação, como também o que seria feito
nas áreas atingidas.
Inicialmente cabe, a título de análise, tecer um retrospecto histórico dos caminhos da
evolução do debate mundial a respeito do fenômeno, expressando algumas contradições
conceituais, destacando sua definição atual, como também fazendo ressalva a algumas
políticas de combates desenvolvidas até o presente momento. Nesta trajetória, foram
discutidos alguns aspectos deste fenômeno no mundo e no Brasil, para que sejam dadas
bases compreensivas dessa problemática no Ceará, e especificamente na bacia em estudos.
Historicamente a problemática da desertificação é um fenômeno antigo, embora
somente no último século tenha ganhado destaque. Relatos históricos dão conta desse
problema em pelo menos três regiões no mundo, que milhares de anos incorreram em
processos de degradação e desertificação, quer dizer Mediterrâneo, Mesopotâmia e Loess
Chineses (DREGNE, 1987). Na Mesopotâmia ocorram salinização, sodificação/sodicidade e
esgotamento dos solos a partir do desenvolvimento pioneiro da irrigação no mundo, nos
cursos inferiores dos rios Tigre e Eufrates, pelo menos 2400 a.C. Os problemas de
ressecamento dos solos e improdutividade dos fatores de estabilidade da biosfera foram os
maiores prejudicados. O Iraque atual, outrora território mesopotâmico passa por
contingências ambientais. É uma região que se apresenta exaurida em recursos naturais
renováveis, árida e improdutiva, ou seja, um deserto produzido pelas atividades
socioeconômicas. Assim registrou Conti (1994), ratificado por Merico (1996).
Outra região afetada é Mediterrâneo Oriental, a partir da retirada excessiva de madeira
pelos fenícios para o uso na construção civil e naval, como combustível na fusão do ferro,
49
assim como para liberação de terras para agricultura, abastecer o mercado egípcio com
madeira para construção de habitações e templos, há cerca de 2.600 Antes de Cristo (A.C).
Tem-se referências sobre a formação de áreas estéreis no código do imperador
Teodósio (438 d.c), com várias referências aos agri desertiou zonas abandonadas pela
escassa produtividade ano a ano, ou pela conseqüência de campanhas militares que
promoviam degradação dos solos (RUBIO, 1995a). Rubio (op cit: 04) relata que no século
XIX Chateaubrian (1768-1848), fazendo menção a problemática do esgotamento do
potencial pedológico em áreas da Península Ibérica, proclamou a seguinte frase: antes da
civilização, a floresta, mais tarde o deserto”.
A rigor, o termo desertificação foi cunhado por Albert Abreuville, um botânico e ecológo
francês estudioso do meio natural (DREGNE, 1987). Em 1949, designou áreas degradadas
de florestas equatoriais em ex-colônias africanas em face da transferência cultural,
instrumental, técnica e de conhecimento científico europeu no mau uso dos recursos
naturais com resistasia desenvolvida a partir do desmatamento, provocando intensificação
dos processos erosivos e do ressecamento dos solos, de desertificação.
Embora tenha sido pioneiro no trato da desertificação no mundo, não deu uma
definição exata e completa do fenômeno, apenas a conceituou como sendo a conversão de
terras férteis em deserto por conseqüência da erosão dos solos, vinculada às atividades
humanas. Estudou áreas tropicais úmidas e moderadamente úmidas, observando processos
de desmatamento, uso irracional do fogo e o cultivo excessivo, sobre um histórico de
ocupação de 100 a 150 anos.
Vale ressaltar, ainda, de acordo com Rubio, que, mesmo antes de Abreuville, diversos
autores, principalmente ingleses e franceses, escreveram sobre sérios problemas
ecológicos na África, Estados Unidos, Europa e Austrália, e que foram divulgados
expressivos títulos, os quais hoje podem ser considerados como contribuições ao estudo da
desertificação, dentre os quais: Homem produz desertos”, de Lowdermilk, em 1935; nesse
mesmo ano “Deserto em Marcha”, por Seers; A violação da terra”, com Jacks e Whyte
(1939);” Estrada para investigação”, de Vogt, 1948. E a célebre menção de H.H.Benett, em
1939, a respeito da expressão “The Dust Bowl’, ou seja, nuvens de poeira.
A problemática da desertificação, porém, assumiu proporções mundiais com o pós-II
Grande Guerra, notadamente através do movimento ambientalista na conservação da
natureza. Para enriquecer a discussão, em 1951, a ONU lançou na Argélia o programa das
Organizações das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) sobre
zonas áridas. Um ano depois patrocinou novas convenções sobre a temática, o que
propiciou a formulação, em vinte tomos, do documento Arid Zonas Series, um precioso título
que reunia informações sobre as ecozonas áridas do globo.
Pegando um gancho, a Comunidade Geográfica Internacional, na ocasião do XVIII
Congresso Internacional de Geografia, realizado no Rio de Janeiro em 1956, desenvolveu
50
estudos pioneiros sobre a problemática da desertificação e das terras áridas. Isto aconteu
deu a partir de três temas: aproveitamento do deserto do Negev, o clima de montanha do
Saara Central e o das depressões secas da África do Norte.
Sem dúvidas, porém, foram as expressivas secas de 1934 a 1936, associadas com
degradações ambientais, que, produzindo intensa degradação dos solos em uma área de
cerca de 380.000 km² nos Estados de Oklahoma, Kansas, Movo México e Colorado no
meio-oeste americano, provocaram o fenômeno, referenciado, Dust Bowl. A partir desse
episódio foram inauguradas pesquisas sobre os impactos socioeconômicos em
ecossistemas marcados pela seca ou escassez hídrica. De fato, foi uma das linhas mestras
na discussão da desertificação como marco comparativo para sua ocorrência até os dias
atuais.
Aliado a este fato, outro problema ambiental grave no plano mundial foi o
ressecamento dos solos na região de Sahel, na África, após uma seca severa entre 1967 e
1973, que acometeu os vulneráveis e, sobreplorados ecossistemas regionais, provocando
a morte de milhares de animais e cerca de 200 mil pessoas. A degradação ambiental
ocorreu para atender as demandas de colonizadores e dos mercados europeus,
potencializando os problemas socioambientais nessa região. Destaque o fato de ambos os
fenômenos foram chamados de desertificação.
Realmente, o maior problema de Sahel não foram as secas ocorridas entre os anos de
1968-1973 (MENSCHING, 1987). Esta apenas agravou os contingentes degradacionais dos
recursos biológicos por conta da sobreexploração dos recursos de terra e água,
historicamente mantenedora das sedes das colônias africanas na Europa. Daí um claro
aviltamento dos recursos naturais no processo de colonização européia sobre a África,
trazendo à tona profundos problemas de degradação histórica dos recursos naturais, que
culminaram com processos de desertificação. Segundo Rubio (1995b), a desertificação em
Sahel provocou conflitos sociais e políticos, cuja base está no violento aumento da pressão
demográfica sobre o uso da terra.
E, absurdamente, durante os anos marcados pelas secas, muitos africanos, sobretudo
crianças, morreram em condições de miserabilidade higiênica e alimentícia, ao tempo em
que se assistia ao desenvolvimento de sociedades consumistas norte-americanas e
européias, balizadas na propriedade e bem-estar individuais, em detrimento de um estado
de vida socialmente igualitária (MENDONÇA, 1993).
Nas últimas três décadas do século XX, contudo, as discussões sobre a degradação
ambiental que provoca a transformação dos recursos naturais renováveis em não
renováveis, como no caso o ressecamento dos solos em zonas áridas, semi-áridas e
subúmidas secas, ocorrem de forma genérica sob o prisma da problemática da
desertificação.
51
Até aquela época, os trabalhos sobre desertificação foram marcados pelos casos dos
EUA e Sahel, e sempre tiveram conotações ecológicas, sendo sobremaneira destacados na
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente em Estocolmo, 1972. Na
oportunidade, reuniram-se 113 países, tratando-se de importante acontecimento histórico
em prol de soluções para os problemas ambientais que se apresentavam em todo o mundo
(SEABRA, 2003), representando o primeiro momento de discussão mundial sobre a
desertificação.
De suas reuniões resultou o relatório Estudo do Impacto Humano no Clima” o qual
serviu de base para a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA), com o objetivo de fomentar a discussão sobre a desertificação no globo. A partir
desta conjuntura, o ambientalismo tomou corpo e veio a se desenvolver no mundo.
Ainda naquele ano, o Congresso Internacional de Geografia, em Montreal promoveu
um grupo de trabalho sobre desertificação, para: compilar uma bibliografia a respeito do
tema; estimular os estudos de caso e promover estudos temáticos. No encontro seguinte da
União Geográfica Internacional, em Moscou (1976), foi organizado um simpósio sobre
Desertificação em Terras Áridas, realizado em Ashkhabad, então República Soviética do
Turquimenistão.
Embora toda esta preocupação seja relevante, a desertificação só começou a ser mais
criteriosamente discutida no Conselho Social e Econômico da ONU em 1974, com vistas à
realização de um congresso mundial que debatesse interdisciplinarmente este fenômeno em
Nairobi, no Quênia três anos depois. Foi um lugar estrategicamente escolhido, em razão de
seus problemas de ressecamento profundo dos solos por conta de secas entre os anos de
1950-1970 e super-exploração dos demais recursos naturais.
Em reuniões preparatórias para tal evento, coordenadas por Mustafá Tolba, foram
considerados não os problemas de ressecamento dos solos no Saara, como também em
diversos países com áreas de clima seco ou subúmido, tirando cada vez mais a
responsabilidade das contingências climáticas como a causa maior do problema. Assim,
expressões como expansão do deserto ou avanço do deserto, que ainda resistiam para
designar o problema de degradação dos solos em algumas regiões da terra, foram
compilados a partir do termo desertificação.
Foi produzido também um texto dividindo o temário desertificação sob uma perspectiva
global em quatro eixos, com especialistas coordenando cada um, de modo que
proporcionasse aos participantes do evento maior concisão e melhor organização para os
debates, quais sejam: Clima e Desertificação, sob responsabilidade de Here, F. K;
Mudanças ecológicas com Warren, A. e Marzeis, J.K.; População, sociedade e
desertificação, por Kates, R.W., Johnson, D., L. e Haring, K.J; e Tecnologia e Desertificação,
para os cuidados de Garduño, M. A. (HERE et al. 1992).
52
Com um reforço progressivo da necessidade de se debater a problemática da
desertificação, no plano mundial, organizações internacionais, através da ONU, passaram a
criar fóruns, congressos e convenções para institucionalizar o combate à desertificação. O
Brasil teve participação em vários eventos internacionais, inclusive junto ao Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com o propósito de elaborar um Plano de
Ação Mundial para Combater a Desertificação, conforme resolução 3377 (XXIX) da
Assembléia Geral de 17/12/1974 realizada em Nova York, até que resolveu realizar, em
agosto-setembro de 1977, a Conferência das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(UNCOD), em Nairobi.
Realmente, foi a partir deste momento que a desertificação assumiu, pela primeira vez,
um caráter mundial e interdisciplinar, inclusive com o PNUMA reconhecendo que este
fenômeno é um problema ambiental que ameaça a biosfera e desencadeia severos custos
para a sociedade (RUBIO, 1995b). Também foi aceito o seguinte conceito, como um dos
possíveis sobre desertificação: os ecossistemas áridos ou subúmidos são empobrecidos em
razão da sinergia associativa das atividades humanas e da seca, e tais mudanças podem
ser mensuradas pelo declínio da produtividade, da diversidade biológica, do esgotamento
crescente dos solos, como também dos riscos conduzidos pelos contingentes populacionais,
ou seja, é a diminuição ou destruição do potencial ecológico da terra que poderá culminar,
definitivamente, em condições desérticas.
A Secretaria do PNUMA incentivou os congressistas de Nairobi a elaborarem
documentos ilustrados sobre os conhecimentos acumulados, considerando as últimas
informações sobre os processos de desertificação, suas conseqüências aos homens e à
natureza, bem como formas de combater tais processos, denotando, inclusive,
possibilidades de revertê-los.
Os documentos derivados contemplaram questões diversas, desde físico ecológicas a
sócio tecnológicas, onde foram ponderados os aspectos climáticos e sobre a própria
desertificação, alteração ecológica, aspectos demográficos e socioeconômicos, como ainda
sobre tecnologia de intervenção em zonas áridas e semi-áridas. Foi até mesmo aprovada
uma moção que destacava: “Desertificação-zero até o ano 2000”.
Como resultado, foi criado o Plano de Ação de Combate à Desertificação (PACD), para
o desenvolvimento de ações em âmbito mundial, com adesão voluntária dos países que
participaram da UNCOD. O PACD, embora reconhecesse que o processo podia ocorrer em
qualquer área tropical, subtropical e temperada sob déficit hídrico, o objetivo geográfico do
plano para a Conferência de Nairobi enfocava as margens de todos os desertos quentes
mundiais, abrangendo áreas onde houvesse expansão de desertos (entendida como
desertificação), áreas onde esta poderia ocorrer, incluindo as terras semi-áridas e
subúmidas.
53
Sob estes preceitos, foram referenciados os desertos das Américas do Sul e do Norte,
do Oriente Médio, Irã, Israel, Paquistão, Índia, Ásia Central e China. Para verificação da
ocorrência de tais zonas fisiográficas, foi elaborado um mapa mundial com a localização dos
desertos e das áreas sob risco de desertificação. Este mapa representou o primeiro
momento de valorização do problema, de forma homogênea e com uma perspectiva global.
No geral, foi considerada como deserto qualquer área de vegetação esparsa ou
ausente; e desertificação como expansão ou intensificação de tais condições. Outrora, a
própria Assembléia Geral da ONU usava a expressão expansão e intensificação das
condições de deserto. O PACD enfocou, ainda, os problemas humanos que influem na
desertificação, mesmo porque as atividades socioeconômicas inadequadas contribuem
fundamentalmente para a gênese e agravamento do processo.
Na década de 1980, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
(CMMAD) publicou o relatório “Nosso Futuro Comum”, alertando para o fato de que 6
milhões de hectares de terras produtivas sofriam anualmente com o processo de
desertificação no mundo, sendo que a maior perda de solo se concentrava na África, o
continente mais pobre do mundo (BERNARDES e FERREIRA, 2003).
Na verdade, desde que o crescimento da desertificação foi reconhecido como uma
ameaça à espécie humana, a perícia científica é o principal componente para tentar reduzir
ou reverter os impactos associados. Como resultados, foram gerados conhecimentos sobre
suas causas primárias. Embora o foco inicial de discussão tenha ocorrido na África, foi na
América Latina que as discussões tomaram eco, registrado em vários congressos e
convenções.
Um fato marcante após a UNCOD em 1977, que merece destaque, foi a realização da
Conferência Internacional sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável no
Semi-árido (ICID) em Fortaleza-CE (1992). A desertificação foi considerada de forma
holística, associada ou não às mudanças climáticas, e, pela primeira vez no mundo, um
evento enfocou as zonas áridas e semi-áridas. Para o Brasil foi um marco que instigou, por
exemplo, as Diretrizes para a Política Nacional de Controle da Desertificação. Projeto
BRA 93/036. Plano Nacional de Combate à Desertificação". Deveras, o escopo geral do
evento foi discutir o desenvolvimento sustentável dos países pobres ou em desenvolvimento,
e especialmente nas regiões semi-áridas da faixa tropical, incluindo os Andes latino-
americanos, o Nordeste brasileiro, o Sahel africano, bem como as regiões centrais da Índia
e da China.
O evento foi apoiado por 18 instituições públicas e privadas, além de governos
internacionais como o francês, holandês e americano, dentre outros. Contou com a
participação de 45 países, representados por cerca de mil participantes, incluindo membros
da comunidade científica, técnicos, políticos, representantes de organizações diversas,
54
incluindo organizações não-governamentais (ONG’s) ligadas às questões ambientais, assim
como tomadores de decisões políticas.
Como resultados da ICID, foram formuladas, dentre outras contribuições quatro que
podem ser consideradas as mais significativas: A Carta de Fortaleza; Subsídios dos Grupos
de Trabalhos e a Declaração dos Secretários de Agricultura dos Estados do Nordeste
brasileiro (Quadro 1). A última, e mais importante, colabora com as discussões sobre a
problemática de degradação ambiental e variações climáticas das regiões semi-áridas, para
respaldar e legalizar suas demandas através da estratégia de, primeiramente levar os seus
resultados para Nova Iorque, onde seria realizada em março de 1992 a última reunião
preparatória para a Rio-92.
Atingido este objetivo, as formulações derradeiras construídas nos Estados Unidos
foram finalmente levadas como propostas sobre discussões a respeito da degradação e
desertificação; e daí tal temática foi incluída como pauta de debate. De fato, foi a ICID que
realmente propiciou a entrada do tema em tela na Rio-92, e daí no âmbito de investimentos
implementados na resolução desse problema no mundo.
Isto porque, acima de ser um encontro científico e mesmo para intercâmbio de idéias,
a Rio-92 foi uma conferência de Estados, por isto, política e diplomaticamente permeada por
interesses econômicos dos estados-nacionais. Sua agenda estava fortemente influenciada
pelos países industrializados, com discussões voltadas para os temas globais próprios de
regiões úmidas, como a Amazônia, sendo os problemas de ressecamento de solos fora
dessas zonas fisiográficas relegados a plano secundário.
Realmente, este evento deu preferência ao aquecimento global, diminuição da camada
de ozônio e à proteção da biodiversidade, mas refletia com menor intensidade os temas
mais centrais para os países pobres, bem como para aqueles em desenvolvimento com
evidências ou desenvolvimento de processos de degradação profunda dos recursos naturais,
que culminassem com a desertificação.
O próprio relatório da Comissão Interministerial Brasileira para Preparação da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CIMA), embora
tratasse da degradação dos solos, desmatamentos generalizados, queimadas,
assoreamento dos corpos hídricos, mineração, dentre outros problemas ambientais, não
abordava expressamente a problemática da desertificação; no entanto, podemos dizer que o
Brasil foi protagonista, com participação popular, na Convenção das Nações Unidas para o
Combate à Desertificação nos Países que sofrem com a Seca grave e/ou Desertificação,
particularmente na África (UNCCD), ou simplificadamente CCD, realizada em Paris, em
17/06/1994, ratificada por 196 países, inclusive pelo Brasil (1997). Dentre outras
importâncias, essa Convenção serviu de marco para a instituição do dia Mundial de
Combate à Desertificação.
55
Nada obstante, dando continuidade às discussões da ICID e da CNUMAD sobre
desertificação, foi realizada em Fortaleza em 1994 a Conferência Nacional e Seminário
Latino-Americano da Desertificação (CONSLAD). Teve como objetivo contribuir para um
melhor posicionamento político dos países latino-americanos em esforço conjunto para
ocupar espaços nas negociações sobre desertificação, no que tange à obtenção de recursos,
além de pôr em anexo o norte do Mediterrâneo e da Ásia, para não se privilegiar somente o
Continente Africano.
Quadro 1 - Subsídios dos Grupos de Trabalho, questões decisivas e necessidades
das regiões semi-áridas
Grupos de trabalho Destaques
Variações e mudanças climáticas -
Impactos sociais -
Impactos econômicos
Investimento em infra-estrutura de desenvolvimento insuficiente.
Baixo valor da produção. Falta de especialização no setor produtivo,
etc. Tais características tornam a economia das regiões semi-áridas
altamente vulnerável às variações climáticas.
Impactos ambientais
Destaca a desertificação e outras formas de degradação da terra,
resultante de causas naturais ou humanas.
Estratégias de adaptação sustentável
O sucesso das respostas humanas são determinadas pela
interligação entre fatores climáticos, socioeconômicos e políticos.
Outra lição que devemos apreender está relacionada a busca de
compreensão das estratégias de convivência do sertanejo no semi-
árido. A última lição deve ser entendida pelos pesquisadores que vêm
de fora da região, para não aplicarem estruturas impróprias de
pesquisa à realidade local e regional. Daí, um motivo forte para o
diálogo com a população local.
As regiões semi-áridas e a poluição
atmosférica
Embora tais regiões não contribuam com grandes quantidades
poluentes na atmosfera, é preciso ter maior cautela com: a queima de
biomassa e de combustível fóssil, pecuária, produção industrial,
mineração e urbanização.
Necessidades de pesquisa
Estudos sobre os impactos sociais e as estratégias a serem adotadas
frente a fenômenos climáticos extremos nas regiões semi-áridas. A
elaboração de políticas e desenvolvimento institucional em regiões
semi-áridas devem ser objeto de estudo. Especial atenção com as
políticas agrícolas e de recursos hídricos.
Cooperação e formação de redes
As regiões semi-áridas mundo afora, compartilham problemas
comuns, a despeito das diferenças locais. Por isso, justifica-se a
criação de redes, e fortalecimento das existentes, para tratar tais
problemas. Assim, se poderia atender duas necessidades básicas:
trocar informações entre pesquisadores e especialistas, discutir
metodologias, etc. As redes poderiam proporcionar treinamentos e
intercâmbios, fóruns de diálogo.
Declaração dos Secretários de Agricultura dos Estados do Nordeste
Considerações Destaques.
Encaminhar as propostas da ICID para
o Fórum Nacional de Secretário de
Agricultura (realizado em fevereiro de
1992 em Salvador, Bahia),
Para servirem de referência básica para o planejamento
Fonte: Magalhães (1992)
O resultado maior dos trabalhos da CONSLAD - podemos indubitavelmente afirmar -
foi o desenvolvimento do projeto de preparação do Plano Nacional de Combate à
Desertificação (PNCD). Baseaou-se na Conferência de Nairobi, que se deu a partir de uma
comissão provisória de entidades representativas e organizações não governamentais
56
(Central Única dos Trabalhadores, Comissão Pastoral da Terra, Projeto Caatinga, Núcleo
Desert, Movimento Sociedade Alternativa e Fundação Esquel Brasil etc.).
Parafraseando, a ICID está para o mundo assim como a CONSLAD está para América
Latina e Caribe. Realmente, aquela Conferência foi decisiva, trazendo novos paradigmas
com ressonâncias globais.
Incorporada e discutida a problemática da desertificação na Rio-92, a definição oficial
deste fenômeno foi registrada na elaboração da Agenda 21, em seu Capítulo 12.2 (já
destacado), dando prioridade à prevenção para terras degradadas ou levemente
degradadas, não negligenciando as seriamente degradadas, incentivando a participação das
comunidades locais, rurais e governos (nacionais e regionais) e das ONG’s. Assim, na
década de 1990, foi ratificada a indicação da Conferência de Nairobi de que a desertificação
é um problema de primeira magnitude e os preceitos dessa Agenda foram incorporados pela
Convenção de Combate à Desertificação.
Esta Agenda, a Convenção de Luta Contra a Desertificação da ONU, de 1994
desdobramento das discussões de Nairobi, 1977 -, bem como a Resolução 238/97, do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), relacionam a desertificação aos dados
climáticos. A prevenção, correção e regeneração de áreas desertificadas é função de
investimento em (re) florestamento. A participação da população também é considerada
indispensável, sobretudo, para apropriação dos conhecimentos locais para criação de
bancos genéticos para incremento da biodiversidade. Nesta trama, diferentes correntes de
opinião questionam a ocorrência concreta do processo de desertificação. Formalmente,
entretanto, por meio daquele documento e da Convenção de Combate à Desertificação
(CCD), os países componentes da ONU com a idéia de que a desertificação é um problema
de degradação nas terras secas.
Questão importante é a diferenciação feita entre desertificação e seca. A UNCOD
define seca como um fenômeno natural deflagrado quando a precipitação é reduzida
significativamente em relação à precipitação normal, causando sérios desequilíbrios
hidrológicos, impactando negativamente os sistemas produtivos das terras secas. Neste
âmbito, insere-se a polêmica questão do efeito estufa e suas conseqüências, sobretudo em
relação às mudanças climáticas. Desta sorte, os efeitos de longo prazo da desertificação
são diferentes dos efeitos das secas, até certo ponto passageiros.
A CCD considera como Áreas Semi-Áridas e Áreas Subúmidas Secas todas aquelas,
com exceção das polares e subpolares, com Índice de aridez entre 0,05 e 0,65. Por zonas
afetadas, aquelas áridas e/ou subúmidas secas afetadas ou ameaçadas pela desertificação
(BRASIL, 2004c). No que tange às causas e complexidades de abordagem da desertificação,
é preciso destacar alguns trabalhos que cruzem informações a este respeito.
Em termos de fatores genéticos e efeitos oriundos da desertificação, correlacionados
sistemicamente a fatores climáticos globais, regionais e locais, Drew (1986) propõe alguns
57
que estão classificados no próximo quadro. Uma das grandes dificuldades nos estudos de
desertificação é que este fenômeno resulta da ação simultânea de variados processos
causais em uma área particular, em diferentes escalas espaço-temporais. A questão da
escala é importante para diferenciar os processos atuantes no plano local, como a erosão
do solo, a salinização e o encrostamento do solo, bem como a diminuição de sua matéria
orgânica.
Quadro 2 - Desertificação: fatores e efeitos
Grau e Fator afetado Direção da
mudança
Efeitos imediatos Efeitos subseqüentes e de
realimentação
Levemente afetado:
Radiação solar
Menos
Poeira
Esfriamento da
superfície
Esfriamento atmosférico, menos
convecção, menos chuva, menos
vegetação, albedo – esfriamento maior
(realimentação positiva)
Moderadamente
afetado:
Albedo
Fluxo de subsuperfície
Percolação da água
subterrânea
Maior
Menor
Menor
Esfriamento da
superfície menos água
para as fontes
Abaixamento do lençol
freático; poços secam
Retro alimentação positiva com
despovoamento menor tensão (retro
alimentação negativa) diminuem a
população, o gado e pastoreio; mais
vegetação, melhoria do solo, mais
infiltração (retro alimentação negativa)
Severamente afetado:
Vegetação
Evaporação
Infiltração
Escoamento superficial
Menor
Maior
Menor
Maior
Erosão, despovoamento
Declínio da vegetação
Idem
Erosão
Retro alimentação negativa e/ou
esfriamento-intensificação da seca (retro
alimentação positiva)
Idem
Idem
Menos água subterrânea, alteração das
formas de relevo, menos vegetação etc.
Fonte: Drew (1986)
enorme complexidade no entendimento sobre as causas da desertificação,
podendo ocorrer por efeitos climáticos ou humanos, que podem variar desde os rigores
climáticos relacionados à precipitação, ao padrão de vida e pressão das populações
humanas, passando pelo nível de desenvolvimento das nações e suas políticas de
prevenção à degradação e às secas. Isso torna tal conceito ainda mais escorregadio e
provocador de vertigens.
Para efeito de comparação intercontinental, Dregne (1987) acredita que os fatores de
propensão à desertificação na África têm praticamente a mesma freqüência relativamente à
aceleração da erosão verificada na Ásia e América Latina, e podem ser aglutinadas em três
grupos: crescimento populacional e aumento do número de cabeças de gado; problemas de
saneamento básico; e técnicas irracionais de agricultura. Em particular, o extrativismo
vegetal e mineral, o sobrepastoreio das pastagens nativas ou cultivadas e o uso agrícola por
culturas podem ser as principais causas em áreas não irrigadas. A salinização dos solos é o
principal agente nas áreas com agricultura irrigada (CNRBC, 2004).
Zoon e Orlovski (1987) dizem que a alcalinização e a salinização secundária, ou seja,
aquela ocasionada por irrigação, está registrada na história como fatores antropogênicos da
desertificação; além da contaminação química proveniente da agricultura, com intensificação
58
da produção por meio de adubos, inseticidas, herbicidas e outros produtos químicos, que
inclusive podem contaminar animais e homens.
De acordo com Pernambuco (2001), em última análise, as causas da desertificação
estão associadas a dois grandes conjuntos de problemas. Os relativos à agropecuária
tradicional, descapitalizada e com baixo nível tecnológico, e outro pela agricultura irrigada,
intensa em capital, mas mal manejada. Em ambos os casos, o norte dessa deterioração
ambiental é a crescente pressão de mercado que acomete essas áreas. Os fatores
estruturais, contudo, como concentração de renda, alta densidade demográfica, renda e
inadequações de algumas atividades econômicas às condições ambientais, dificultam o
combate à desertificação e magnificam os efeitos das referidas causas, conforme salienta a
Política Pernambucana de Combate à Desertificação.
Considerando, todavia, uma multiplicidade de causas da desertificação, foram
destacados alguns trabalhos, com atenção especial sobre as principais causas deste
problema no mundo, os quais foram apresentados no Quadro 3.
Quadro 3 – Principais causas da desertificação no mundo
Zonn e
Orlovski
Rubio Rubio e
Bochet
Redesert Pan Causas
X X
Mudanças de padrões da organização socio-espacial,
conseqüentes da intensificação na produção em resposta
a processos de integração de mercados no plano regional,
nacional ou internacional, face à conjuntura atual de
globalização. Integração de mercados, índices de
desenvolvimento tecnológico, distribuição fundiária,
expansão urbana desordenada, destruição da vegetação,
intensidade e manejo de uso dos recursos naturais,
práticas agrícolas e pecuárias inapropriadas e efeitos
socioeconômicos da variabilidade climática.
X X
Características culturais e o grau de desenvolvimento
econômico das populações. As áreas pobres são mais
vulneráveis. Em grande parte, desertificação é em função
da pobreza, provocando insegurança alimentar, associada
a variações do ciclo hidrológico, como secas e enchentes
X X
Não articulação produtiva entre agricultura e pecuária,
cultivo e pastoreio intensivo, desmatamento, mineração e
práticas de irrigação inadequadas.
X X X
Destruição dos fatores de exploração biológica pela
construção de estradas, indústrias, mineração, exploração
geológica, obras de irrigação.
X
Crescimento de desertos salinos em bacias endorréicas
X X X X
Degradação biológica, sobretudo da cobertura vegetal
com redução da matéria orgânica. Degradação física com
mudanças adversas nas propriedades do solo, em sua
porosidade, volume da densidade, estabilidade estrutural e
permeabilidade. Somam-se a salinização, acidificação,
contaminação, lixiviação salinização, alcalinização e
inundação de terras irrigáveis ou circundantes
Fonte: Zonn e Orlovski 1987, Rubio1995, Rubio & Bochet (1998), Redesert (2003) e Brasil (2004C).
Em termos qualitativos, o International Centre for Arid And Semi-Arid Land Studies
ICASALS, da Universidade do Texas, afirma que a degradação das terras é da ordem de
69,0% de todas as terras do mundo, de vez que inclui, analiticamente, áreas que
59
resguardam qualquer tipo de degradação vegetacional, mesmo que os solos não estejam
degradados.
Pegando o ensejo do ICASALS, o PNUMA considerou, a partir da definição oficial de
desertificação, as áreas susceptíveis ao problema, a partir de classificação zonal e de
classes climáticas auferidas pelo índice de aridez. A rigor, a definição de aridez baseada na
razão entre a precipitação e a evapotranspiração potencial (P/ETP) foi estabelecida, em
1977, pelo Plano de Ação de Combate à Desertificação das Nações Unidas, publicado no
trabalho Map of the Word Distribution of Arid Regions, pela UNESCO, em 1979. Considera
como áreas susceptíveis à desertificação as de clima árido, semi-árido e subúmido seco.
Hoje, o índice de aridez é mais conhecido como fórmula de Thornthwaite, a partir da
qual o PNUMA elaborou o Atlas Mundial de Desertificação (Figura 4), com o
estabelecimento das áreas de risco, servindo de parâmetro mundial, através do
estabelecimento das seguintes classes climáticas: Hiper-árido: < 0,03; Árido: 0,03 0,2;
Semi-árido: 0,21 0,50; Subúmido seco: 0,51 0,65; Subúmido úmido: > 0,65, ou seja,
apresenta ausência de aridez. Em termos de grau das áreas susceptíveis através deste
índice, o enquadramento segue esta ordem: 0,05 a 0,20 Susceptibilidade Muito Alta; 0,21
a 0,50 – Alta; e 0,51 a 0,65 Moderada. Isto significa que quanto mais seca for a área, grosso
modo, mais susceptível ela é à desertificação (BRASIL, 2004c).
Aprofundando a questão, as zonas áridas, semi-áridas e subúmidas secas
correspondem àquelas zonas nas quais a proporção entre a precipitação média/ano e a ETP
é superior ou igual a 0,05 ou inferior a 0,65 e a temperatura média anual excede zero graus
Celsius.
O grau de aridez de uma região, por assim classificar, depende da quantidade de água
provinda das chuvas (P) e da perda hídrica máxima através da evaporação e transpiração
ou evapotranspiração (ETP). É importante ressaltar que o índice de aridez foi alterado na
sua última classe: de subúmido (0,50-0,75) para subúmido seco (0,51-0,65), porque as
áreas subúmidas detêm maior biodiversidade do que a sua derivação seca. A concepção de
desertificação como diminuição do potencial biológico da terra foi, então, ratificada e
especificada pela Organização Mundial de Meteorologia, através do índice de aridez.
A partir deste índice, a definição oficial de desertificação exclui as regiões hiper-áridas
do mundo, como no caso dos desertos de Atacama e do Saara, mas avança no sentido de
romper com uma visão puramente climática, considerando a degradação ambiental não
como erosão dos solos, como também um problema social e sublinhando a delimitação de
ecozonas susceptíveis para aplicação da CCD. Por outro lado, como fica evidente, este
enquadramento climatológico restringe-se às regiões semi-áridas e subúmidas secas do
mundo, privilegiando os países africanos. Outras áreas que porventura evidenciam indícios
de degradação ambiental profunda, mas que estejam fora deste enquadramento - como, por
60
exemplo, Alegrete, no Rio Grande do Sul, que tem um índice acima de 1,0, mas que vem
sofrendo forte degradação ambiental com ressecamento dos solos -, não são consideradas.
O mais importante foi que o PNUMA reconheceu, antes mesmo da Reunião de Nairobi,
que a degradação/desertificação pode se manifestar em qualquer região tropical, subtropical
e temperada - em áreas de clima semi-árido e subúmido seco -, independentemente de
modificações climáticas regionais. As questões acerca dos aspectos socioeconômicos,
demográficos além das alterações ecológicas ganharam, portanto, destaque na UNCOD-
1977. É bom certificar que o índice de aridez sempre deve ser contextualizado com os
fatores que podem causar a desertificação, para se evitar reducionismos e determinismos
climáticos.
Figura 3 -Áreas de risco de desertificação. Conferência sobre Desertificação das
Nações Unidas (1977).
Fonte: Suertegaray et al. (2004).
Não obstante, Mainguet (1994) referenciado por Verdum et al. (2002) e Verdum (2004),
estabeleceu cinco fases para melhor definir as variações conceituais acerca da problemática
em destaque, em suas diferentes escalas espaços-temporais:
1) Fase da conscientização - atividades humanas como principais causas
desencadeadora do processo, em termos de deterioração do solo e da vegetação.
Abreuville em 1949, precursor dessa conscientização, apontou o surgimento de
“verdadeiros” desertos nas ex-colônias européias no norte africano, onde as precipitações
variam de 700-1500 mm/ano. As alterações técnicas-agrícolas européias aplicadas na África
desencadearam tais processos denominados desertificação.
2) A fase da percepção exagerada sobre o processo - ocorreu a partir dos anos de
1970, com a necessidade da elaboração de um único conceito internacionalmente aceito
que através dos trabalhos de sensoriamento remoto e de dados climáticos espacializasse o
61
fenômeno em escala planetária. Tem como marco a UNCOD enquanto ápice do
reconhecimento científico do processo.
3) A dúvida sobre o processo - ocorre no final da década de 1980, situando os
problemas na caracterização da desertificação devido à: sua extensão, causas e soluções,
irreversibilidade ou não, e dinâmica complexa dos areais em relação aos centros
irradiadores com concentração populacional. Somam-se as dúvidas sobre a rentabilidade
das tecnologias aplicadas.
4) Mito do crescimento do deserto - registra a generalização de que os deserto estariam
aumentando, bem como os corpos dunares nesses ambientes. A desertificação
caracterizou-se, sobretudo, na degradação ambiental no entorno dos vilarejos, isto é, de
forma pontual, do que no aumento linear das margens dos grandes desertos.
5) Novo realismo sobre a desertificação - considera insuficiente o conhecimento a
despeito da dinâmica climática capaz de indicar as causas da escassez pluviométrica, e
conseqüentemente, hidrológicas, sobretudo no Sahel entre 1968 e 1985. Esta idéia, de certa
forma, perdura até hoje.
Em certas ecozonas, porém, como as subúmidas secas, ressalta a visão errônea em
relação ao espaço geográfico degradado ou regenerado, com intervenções humanas ou não.
Além do mais, no senso comum, ainda grassa o ceticismo sobre o crescimento dos desertos,
com suporte nos trabalhos de sensoriamento remoto, para averiguar a extensão dessa
degradação e a capacidade regenerativa do meio natural.
Para uma “cenarização” geral dos eventos históricos no mundo, destacando o Brasil,
que contribuíram com a CCD, bem como perseguindo uma síntese do que foi tratado no
momento inicial deste capítulo, o Quadro 4 mostra os Antecedentes Históricos de Eventos
Relacionados ao Combate à Desertificação, onde o Brasil pode ser destacado.
A desertificação, destarte, passa a ser compreendida como processo singular
combinatório de variáveis locais e não mais como um processo generalizado das ecozonas
degradadas. É imperativo, portanto, estudar suas causas, processos e efeitos, na busca da
determinação das combinações de variáveis atuantes, evitando-se as generalizações,
jargões, clichês e usos indistintos do termo desertificação. Os meios de comunicação
constituem veículos potenciais para isto. Embora divulguem a problemática, o fazem de
forma que a população tenha uma leitura simplista do fenômeno, pois o termo desertificação
aplica-se a qualquer zona de qualquer âmbito geográfico em processo declinante do meio
biológico produtivo (RUBIO, 1995b).
Conti, em trabalho da década de 1980, reeditado em 2002 e ratificado (CONTI, 2003),
diz que a desertificação está em função de duas modalidades: natural (ou climática) e
antrópica (ou ecológica). E, ainda, chama de desertização a “extensão de paisagens e
formas tipicamente desérticas, em áreas semi-áridas ou subúmidas, como conseqüência da
ação humana”. Para ele, é um termo de significado impreciso e sem consenso entre
62
estudiosos, sendo seu emprego cada vez menos freqüente, além de terem sido propostos
outros termos, como “sahelização”, “estepização” e “sudanização”, correspondentes a
diferentes estádios de desaparecimento do capeamento arbóreo; e “aridização” ou
“aridificação”, para indicar uma evolução natural em direção a um clima mais seco. A
ocorrência inversa, isto é, de recuo dos desertos, é chamada de antidesertificação.
Quadro 4 - Antecedentes Históricos de eventos relacionados ao combate à
Desertificação
Fato Data/Período Local
Severa e extensa seca assola os EUA Anos 30, do século
passado
Estados
Unidos
Seca na África, agravada pela devastação ambiental que impactou a produção e a
produtividade agrícola, levando ao empobrecimento das populações, aumento das taxas de
mortalidade infantil, epidemias etc. fome e guerra provocaram comoção internacional, em
função da migração de uma legião de refugiados.
Anos 60, e
sobretudo a partir
dos anos 70 do
século XX
África
Subsaha-
riana
Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente Humano, promovido pela ONU
discussão de inúmeros temas pertinentes ao meio ambiente, incluindo a catástrofe africana,
representada pela grande seca do Sahel (67-73)
1972 Estocolm
o, Suécia
Cria-se o Comitê Permanente Interministerial de Luta Contra a Seca no Sahel (CLISS).
Contou com a participação de representantes da Região de Sahel.
Setembro de 1973 África
Brasil inicia os preparativos para o Relatório Nacional a ser apresentado na Conferência
sobre Desertificação convocada pela ONU, em 1977.
1974 Recife,
Brasil
Publicado o Livro “O Grande Deserto Brasileiro”, de Vasconcelos Sobrinho e criação do
conceito de “Núcleo de Desertificação”, adotado, oficialmente até hoje.
Anos1974 Recife,
Brasil
Conferencia da ONU sobre Desertificação, onde o problema da desertificação foi
reconhecido mundialmente. O Brasil apresentou ao mundo sua situação com respeito a este
problema que até então só era reconhecido como grave na África
Agosto/Setembro
de 1977
Nairobi,
Quênia
A EMBRAPA (CPATSA), a Fundação Joaquim Nabuco, a UFRPE, a SUDENE, e o Núcleo
Desert da UFPI desenvolvem estudos e trabalhos relativos ao tema do semi-árido brasileiro.
Anos 80 Brasil
O PNUMA avaliou as ações empreendidas, constatando o fraco desempenho das ações da
1ª Conferência. Com estes resultados, vários países com problemas de desertificação,
especialmente a África, decidiram propor uma Convenção sobre o tema.
1991 Nairobi
Realização do único evento mundial dedicado às regiões Áridas e Semi-áridas do Planeta,
preparatório para a CNUMAD (ECO 92 ou Rio-92), a ICID. Foram reunidos representantes
de mais de 70 países dos 4 continentes. A partir de então, os países afetados pela
desertificação consolidaram suas bases técnicas e políticas para reivindicar a celebração de
uma Convenção específica para estas áreas.
Janeiro-Fevereiro
de 1992
Fortaleza,
Brasil
CNUMAD (RIO-92). O Brasil se destaca nas discussões sobre desertificação, que resultaram
na negociação de uma Convenção de Combate à Desertificação, proposta pelos países
africanos em atendimento ao que preconiza o Capítulo 12 da Agenda 21 Global, lançada e
aprovada nesta Conferência. ONG’s dos cinco continentes, reunidas no Fórum Paralelo a
Eco-92, elaboraram 46 “Tratados” dentre eles o “Tratado sobre as Zonas Áridas e Semi-
Áridas”.
Junho de 1992 Rio de
Janeiro,
Brasil
Cria-se o Painel Intergovernamental de Negociação do texto da Convenção Junho de 1992 Nova
Iorque,
EUA
Reunião para discussão do texto preliminar da Convenção. Brasil e América Latina tiveram a
participação de representantes do governo e da sociedade civil.
Agosto de 1993 Brasília
(DF),
Brasil
CONSLAD, onde representantes governamentais e da sociedade civil da América Latina
formulam e negociam o texto final do Anexo “Regional da América Latina”.
Fevereiro de 1994 Fortaleza,
Brasil
Anexo Regional da América Latina é aprovado pelo Painel Intergovernamental de
Negociações. Texto original deste documento serve de base para as negociações ao Anexo
Regionais da Ásia e do Norte do Mediterrâneo.
Março de 1994 Gene-bra,
Suí-ça
Conclusão das negociações da UNCCD, ou simplesmente CCD. A data de 17 de junho se
consagrou como o Dia Mundial de Luta Contra a Desertificação.
17 de junho de
1994
Paris,
França
Adesão do Brasil à CCD em ato formal de seu governo 15 de outubro de
1994
Brasília,
Brasil
Convênio do Governo Federal com o PNUD e a FAO, visando elaborar o Programa Nacional
de Combate à Desertificação, PAN-BRASIL.
1994 a 1998 Brasília,
Brasil
A Convenção passa a vigorar após a ratificação de 50 países
26 de dezembro de
1996.
Nova
Iorque,
EUA
O Congresso Nacional Brasileiro ratifica a CCD 25 de junho de
1997
Brasília,
Brasil
A CCD passa a vigorar no Brasil 24 de setembro de
1997
Brasília,
Brasil
63
Quadro 4 – Continuação...
Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(COP) 1: Atenção às questões burocráticas e financeiras relativas ao funcionamento da
CCD. Estabeleceu as normas de funcionamento das COP’s e regulamentou as funções do
Mecanismo Mundial, responsável pelo financiamento da Convenção.
Setembro de 1997 Roma,
Itália
COP 2: priorizou-se diferentes aspectos técnicos, como indicadores de Desertificação; saber
tradicional; rede de informações. Realização da primeira reunião de Parlamento sobre
Desertificação.
Novembro de 1998 Dakar,
Senegal
COP3: elaboração de metas de médio prazo a serem cumpridas pela CCD e definição de
formas de operação e atividades de mecanismo mundial.
Novembro de 1999 Recife,
Brasil
Elaboração da “Declaração do Semi-árido”, durante a COP3, por meio de um Fórum paralelo
promovido pela sociedade civil. Consolidação da ASA – Articulação no Semi-árido Brasileiro,
maior organização da sociedade civil brasileira para a convivência com o semi-árido.
Novembro de 1999 Recife,
Brasil
COP 4: adoção de um anexo relativo a adesão de paises da Europa Central e Oriental,
prevendo que no decênio 2001-2010 o potencial de execução das atividades de Combate à
Desertificação e mitigação dos efeitos da seca.
Dezembro de 2000 Bonn,
Alema-
nha
COP 5: destaque ao Comitê de Ciência e Tecnologia que definiu os parâmetros e índices
para os sistemas de alerta de Combate à Desertificação. Estabelecimento de um Grupo de
Especialistas para apoiar o exame técnico das questões relativas a Desertificação e criação
do Comitê de Revisão da Aplicação da Convenção (CRIC).
Outubro de 2001 Gene-bra,
Suíça
Criação de Grupo de Trabalho de Combate à Desertificação da ASA GTCD/ASA para
articular as ações da sociedade civil na temática da Desertificação.
Abril de 2002 Recife,
Brasil
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Nesta oportunidade, os governos
fizeram um apelo ao Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) no sentido que este se
tornasse um mecanismo de financiamento da CCD.
Agosto/ setembro
de 2002
Recife,
Brasil
Convênio firmado entre a Fundação Grupo Esquel/Brasil, o IICA, Banco Interamericano para
o Desenvolvimento (BID) e o Fundo Especial do Governo do Japão, para execução do
Programa de Combate á Desertificação e Mitigação da Sena na América do Sul, envolvendo
a Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador e Peru.
Setembro de 2002 Brasília,
Brasil
Primeira reunião do Comitê de Revisão da Implementação da Convenção (CRIC). Assinado
o Termo de Adesão dos países partícipes do Convênio BID-IICA-FGEB.
Novembro de 2002 Roma,
itálico
Encontro Nacional de Desertificação do Semi-árido Brasileiro, onde pela primeira vez,
representantes de entidades da sociedade civil, dos núcleos de desertificação, reuniram-se
para debater sobre o tema.
Junho de 2003 Salguei-
ro, Per-
nambu-co
Brasil
IX Reunião Regional da CCD, onde o Brasil é eleito como representante do Cone Sul para o
Comitê Executivo Regional, que visa colabora na coordenação de atividades de aplicação da
CCD na América da Latina e Caribe. Nesta mesma reunião foi reimplantada a Rede Regional
de Desertificação e Seca na América Latina e Região do Caribe – DESELAC.
Junho de 2003 Bogotá,
Colôm-
bia.
COP 6: definição do GEF como mecanismo financeiro da Convenção. Aumento do
orçamento do Mecanismo Mundial, instrumento de financiamento da Convenção.
Agosto/setembro
de 2003
Havana,
Cuba
Processo de elaboração participativa do PAN-BRASIL Junho de 2003 a
junho de 2004
Brasil
Lançamento do PAN-BRASIL na Conferência Sul-Americana sobre o Combate à
Desertificação. Maior marco institucional sobre o tema no país.
3 a 6 de Agosto de
2003
Fortale-
za, Brasil
Fonte: Adaptado de Brasil (2004c).
Neste contexto, Nimer (1988) diz que um deserto é função de extrema aridez climática,
independentemente da ação humana. Quando a desertificação for tida como um processo
em evolução em direção de um dado deserto, ou a partir dele, considera tal expressão para
os casos que não tenham uma relação de causa e efeito com alterações climáticas regionais
o que ainda não pôde ser comprovado-, à semelhança do que ocorre nas adjacências de
Sahel, de emprego equivocado. Para estes casos sugere o termo semidesertificação.
Contrariando Conti, Rubio (1995b) reserva o vocábulo desertização exclusivamente
para designar os processos naturais de formação de desertos, os chamados desertos físico-
ecológicos, ou seja, aqueles processos de expansão e contração de áreas desérticas a
escalas geológicas de tempo”. Por seu turno, o termo desertificação foi concebido para
designar os processos de degradação das terras induzidos pelo homem. Esta diferença foi
adotada neste trabalho, mais precisamente chamada de degradação
ambiental/desertificação. Le Houvérou (1989) in Suertagaray (2003) diz ser inadequado o
64
uso do termo “desertização” na Europa, pois não existem desertos neste continente, com a
exceção do sudeste Espanhol e do Vale Médio do Ebro. E que, contrariamente, em todo o
continente, nos últimos 300 anos, houve um aumento do reflorestamento.
duas escalas de tempo distintos, geológica e humana, o que reflete a variabilidade
de fatores e escalas na geração da desertificação em sua compreensão pelo mundo
científico, o que (re) produz essa variabilidade em detrimento do consenso em relação ao
conceito, conforme (VERDUM, 2004). Até mesmo, proclama esse autor, que a
desertificação não seja concebida exclusivamente como um processo global, como também
deve ser considerado através de suas especificidades locais.
Apenas mais um detalhe neste domínio, assim como o conceito de desenvolvimento
sustentável usado por agendas políticas, científicas-técnicas, sociais, econômicas e
ambientalistas indistintamente (RATNER, 1999; GALANO, 2002; NASCIMENTO, 2003;
CARVALHO e NASCIMENTO, 2004), a desertificação, como conceito, incorre no mesmo
termo. A necessidade para melhor elucidação de entraves e lacunas na operacionalização
do primeiro conceito está para o segundo, como uma forma de evitar jargões, clichês e
generalizações no uso indistinto sobre muitos dos problemas ambientais sobre esgotamento
da capacidade produtiva dos solos, conforme sua definição oficial. Segundo Verdum (2004),
no exemplo do Uruguai, a degradação dos solos considerada como desertificação serve de
argumento para a capitalização de recursos, o que demonstra haver abertura de um campo
de possibilidades amplo.
O surgimento de desertificação físico-ecológica, genericamente associada às
veiculações da mídia e outros setores da sociedade, não ocorre no Brasil; contudo, as
implicações de inabitabilidade, impactos emergentes, podem ser semelhantes, sobretudo no
que tange ao ressecamento dos solos e definhamento dos recursos hídricos.
Cumpre registrar o fato de que, passadas quase três décadas, o PNUMA, avaliando o
PACD, concluiu que os resultados obtidos foram modestos, uma vez que as ações nacionais
dos países com graves problemas ambientais, bem como a capacitação humana para
otimização de recursos humanos não foram desenvolvidas pelo mundo.
Sobre a diversidade e distorções na compreensão do processo de desertificação,
Verdum et al. (op cit), acreditam que, a partir da proposta de combatê-la, refletindo sobre o
temário, controvérsias na discussão da escala (temporal e espacial), onde são
considerados, além dos aspectos climático, botânico e pedológico, os sociais, para citar
os mais relevantes. Suertegaray (2003) defende o argumento de que, por conta da
complexidade das causas do fenômeno, seu conceito é controvertido. Tentando esboçar
algumas das diferenças em meio à complexidade de conceitos da desertificação, o Quadro
5 foi apresentado a seguir. Com este quadro, tem-se uma idéia da complexidade da
temática. Neste domínio, é imprescindível distinguir alguns conceitos que não correspondem
65
à questão de semântica do termo desertificação, mas sim perspectivas de abordagens
metodológicas para sua qualificação e trato diferenciadas.
Ademais, a efervescência da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento CNUMAD -, realizada em Johanesburgo na África do Sul em 2002, o
maior encontro ecopolítico mundial dos últimos anos, não deu a devida importância à
discussão da desertificação.
2.2 - DESERTIFICAÇÃO E DESERTO: UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA?
Quer seja por influência natural ou socioeconômica, a degradação/desertificação tem
como tônica a degradação e ressecamento do solo, podendo culminar com a exaustão
ambiental. Como destacou a UNEP (1984) in Nimer (1988:16), a desertificação é o
"ressecamento ambiental, produzido pelo impacto decorrente das atividades antrópicas que
causam a degradação das terras antes produtivas".
Sem esgotar a bateria dissonante da diversidade de abordagens e compreensões
genéricas sobre desertificação, no âmbito estritamente climatológico, ela somente ocorreria
em uma área consideravelmente grande, se houvesse a transformação de macroclima
úmido ou semi-árido em macroclima de deserto ou semideserto; ou seja, a origem de um
deserto está ligada a uma alteração profunda de equilíbrio termodinâmico da atmosfera, a
qual envolve todo ou parcialmente o Planeta (NIMER, 1988; BATCHELOR e WALLACE
1995).
A desertificação como ressecamento crescente do meio físico, pode ser conseqüente
de mudanças do clima regional ou de uso inadequado dos solos, ou mesmo dos dois casos
simultaneamente, como já mencionado. Somente a degradação da natureza, porém, é
incapaz de desencadear um ressecamento típico dos fenômenos de formação de desertos,
ou semelhante a estes.
Independentemente de qual seja o deserto, ele é determinado basicamente pelo
macroclima regional e este por constância da célula de alta pressão atmosférica sobre a
região. É, portanto, um fenômeno natural, independe da intervenção humana. Esta
perspectiva desencontra-se do conceito oficial de desertificação. Neste contexto, Nimer (op.
cit) define desertificação como um conjunto de fenômenos que conduz determinadas áreas
a se transformarem em desertos ou a eles se assemelharem. São resultantes de mudanças
climáticas sob influências naturais, socioeconômicas pressão sobre ecossistemas frágeis-,
onde as periferias dos desertos (ou áreas transicionais) são de risco maior, em face do débil
equilíbrio ambiental.
Cavalcanti (2003) fala que a palavra desertificação vem conduzindo a interpretações e
equívocos, principalmente, quando associada a um processo de criação de desertos. É
66
Quadro 5 - Conceitos sobre a desertificação entre diversos autores Nacionais e Internacionais
Critérios Conceitos Escalas Temporal e Espacial Conseqüências Autores
Antrópico Degradação da cobertura vegetal para o desenvolvimento de campos cultivados e partiçais. Humana; ambientes áridos e
semi-áridos.
Degradação ambiental contínua com ressecamento dos solos e decapeamento vegetal Abreuvile 1949
Antrópico
Climático
A desertificação é provocada pela ação humana ou por mudanças climáticas–desertificação. Humana/geológica; árido e
semi-árido.
Difusão das condições de ambientes desérticos nas regiões áridas ou semi-áridas Rapp
1974
Antrópico Diminuição e destruição do potencial biológico da Terra Tempo presente; áridas, semi-
áridas e subúmidas secas.
Conduz a um deserto (entendido como ressecamento climático). Quênia 1977
Antrópico Degradação de vários tipos de vegetação e áreas com precipitações médias/ano entre 50 e 300mm. Do passado recente ao tempo
presente; Margem dos desertos
e florestas úmidas.
Degradação de vários tipos de vegetação. Le Houérou 1977
Antrópico Desertificação em geótopos semi-áridos, subúmidos secos em seus ecotónos e a problemática da
savanização no Brasil intertropical.
Humana; Nacional: Brasil. Degradação dos tecidos ecológicos e decréscimo dos fatores de exploração biológica. Ab’Saber 1977
Antrópico Condicionada pela instabilidade do equilíbrio ecológico, conseqüente do regime pluviométrico com
baixos índices e irregulares, solos rasos com baixa capacidade de retenção d’água, amplo fotoperíodo e
ventos secos e quentes desidratantes.
Apresenta bioindicadores que mostram a variação dos elementos do clima e condições
socioeconômicas. É um processo de fragilidade dos ecossistemas das terras secas no geral, que em
função da pressão antrópica, ou às vezes pela fauna nativa, perdem a capacidade produtiva e de
recuperação.
Humana; Nacional: Brasil. Áreas degradadas com debilitação acentuadas sob condições de irreversibilidade da
cobertura vegetal e do solo, apresentando-se como pequenos desertos implantados,
ocorrendo a Formação de núcleos de desertificação.
Vasconce-los
Sobrinho 1978
Antrópico/
Climático
Processo de deterioração ambiental; mudanças e vicissitudes climáticas e uso inadequado do solo.
Havendo mudança climática (global ou regional) o processo tende a desertificação. Não havendo tal
mudança, e ação antrópica sendo decisiva, tende a semidesertificação.
Humana; Domínios subúmidos e
semi-árido nas regiões quentes
do mundo.
Progressiva deficiência de chuvas, mudanças do clima macrorregional, transformação
gradativa de áreas florestais em áreas desérticas expresso no ressecamento dos solos.
Nimer
1980 e 1988
Antrópico/
Climático
Relação da densidade populacional em 1980, de uma pessoa para 10 ha de área seca, promove
sintomas de saarização.
Humana/Geológica; ambientes
áridos e semi-áridos.
Progressivo rompimento do equilíbrio entre associações vegetativas, o ciclo da água, a
produção agrícola, a economia e o aspecto social. A falta de planos conservacionista
no luso da terra intensifica a destruição e aumenta o deserto. De pronto, este
panorama exige muito conhecimento, trabalho e cooperação para evitar a formação de
deserto.
Duque
1980
Antrópico Esgotamento dos ecossistemas terrestres como resultado de atividade humana. Humana/Geológica regiões
áridos e semi-áridos
Redução da produtividade agrícola, da biomassa, da micro e macro fauna e flora,
degradação do solo e aumento do risco de degradação para as terras cultivadas.
Dregne,
1987
Atrópico/
Climático
Ocorre por ação humana ou natural, sendo que sempre culmina com a formação de desertos Geológica e socioeconômica Aridização e diminuição da atividade produtiva. Destruição do potencial da biosfera,
culmina com um deserto.
Rozanov 1993
Antrópico Degradação do “capital ecológico” Humana; zona saheliana e
sahelosudanesa.
Diminuição da quantidade e da capacidade produtiva dos recursos em água, solo,
vegetação e fauna.
Rochette 1989
Antrópico
Climático
Criação de condições semelhantes às dos desertos, desertificação antrópica (ecológica); deficiência de
água no sistema natural, desertificação natural (climática). Ou ainda ambos, simultaneamente
Humana ou geológica; domínios
subúmidos e semi-áridos nas
regiões quentes do mundo.
Natural: Desregulação do ciclo hidrológico, redução das precipitações e umidade
relativa do ar, oscilações quaternárias dos cinturões áridos tropicais; antrópica: perda
progressiva da produtividade dos ecossistemas, erosão do manto superficial, elevação
do albedo, invasão de areias, pontos de desertificação no Paraná e no Rio Grande do
Sul.
Conti
2002
Antrópico
Climático
Questionamento sobre a redução dos totais pluviométricos anuais a partir das atividades sociais Geológica/humana; terras áridas
e semi-áridas.
Alteração na biomassa, erosão acelerada do solo, excesso da monocultura,
superpastoreio, desmatamento e salinização.
Goudie 1990
Climático e,
sobretudo
antrópico
Degradação das terras secas conseqüentes, sobretudo dos impactos antropogenéticos. Humana; terras áridas, semi-
áridas e subáridas.
Degradação da capacidade bioprodutiva. PNUMA 1991
Antrópico
Climático
Mudanças climáticas globais, artificialmente provocadas, que afetam, principalmente as regiões semi-
áridas, que já são as mais pobres do planeta e com ecossistemas de alta vulnerabilidade ambiental
Humana; domínios subúmidos e
semi-áridos nas regiões quentes
do mundo.
Perda crescente da capacidade de produtiva dos ecossistemas; possível
irreversibilidade do processo; grandes e drásticas conseqüências sociais.
ICID
1992
Antrópico Destruição do potencial biológico de terras áridas e semi-áridas Tempo presente; áridas, semi-
áridas e subúmidas secas.
Deterioração da vida, interface na frágil relação homem/clima/solo/vegetação. Rio’92
Antrópico/
Climático
Consideração do índice de aridez da UNEP e uso de indicadores de desertificação Humana Áreas susceptíveis a desertificação se dão no Nordeste brasileiro. Valdemar
Rodrigues et al.,
1992
Antrópico A interferência humana no meio físico provoca rupturas da dinâmica geoecológica, onde a degradação
das terras pode ser irreversível
Humano: passado recente até
hoje
Pode ocorrer praticamente em qualquer zona climática. Dregne 1987,
1993
Antrópico/
climático
Há generalizações, interpretações confusas e equivocadas no conceito de desertificação. Humana ou geológica Profundos e grandes prejuízos ambientais e socioeconômicos Rubio 1995a,b
Antrópico Irreversibilidade Humana temporal (25 anos);
áreas áridas, semi-áridas e
subúmidas secas
Destruição do potencial biológico das terras e da capacidade para suportar populações Mainguet 1995
Fonte: Adaptado de Ab’Saber (1977b); Nimer (1980 e 1988); Magalhães (1992); Dregne (1987); Conti (1994); Rubio (1995a,b) e Verdum et al., (2002).
67
preciso fazer a ressalva de que desertos são ecossistemas específicos, com gênese e
dinâmica próprias.
A rigor, o conceito de deserto não pode ser confundido com o de desertificação,
muito menos se devem equiparar os processos de degradação ambiental nas terras secas
ao surgimento de um bioma desértico. É necessário conceituar deserto e elencar as
diferenças entre este e desertificação, como também apreender as respectivas causas e
conseqüências de cada processo.
Mesmo que as palavras deserto e desertificação tenham a mesma etiologia, acabam
relacionando fenômenos diferenciados. Estritamente, desertificação provém do latim
deserta facere”, que seria algo como “fazer ou fabricar um deserto”. Genericamente, entre
os idiomas oficiais das Nações Unidas, independentemente das variações da palavra
deserto, todos têm uma idéia comum - a de que os desertos são lugares estranhos, sem
vida, desabrigados ou mesmo vazios. Nimer (1980) exemplifica: em chinês deserto significa
pouca água ou coisa estranha. Nas línguas russa e a árabe, deserto e vazio têm a mesma
origem. Em português, espanhol, francês e inglês, a raiz latina da palavra desertus significa
abandono, despovoado.
Conforme Ricklefs (1996), os desertos são formados por condições climáticas. Massas
de ar secas atingem a superfície nas latitudes subtropicais, espalhando-se para o norte e
para o sul, depois de condensadas nas áreas intertropicais com diminuição de sua
capacidade de evaporar e reter água, aumentando à medida que descem e são aquecidas.
Desta feita, passam a retirar vapor da terra, provocando aridez climática centrada nas
latitudes próximas de 30° norte e sul do equador. É exatamente nestas faixas onde se
desenvolvem os grandes desertos quentes. Para exemplificar: Kalahari, Namíbia, Árabe e
Saara da África; Sonoran, Chihuahuan, Mohave na América do Norte; Atacama, da América
do Sul; e o Australiano.
Exceções a esta dinâmica se dão por conta das barreiras orográficas que provocam
resfriamento e perda de vapor d’água sob precipitação a barlavento. Opositiva, a vertente
protegida pelo vento, ou em direção para onde o vento vai chamada sotavento-, com ar
descendente, vai ter com o continente adentro, ressecando-o, destituindo-o de umidade,
para criar ambientes áridos chamados de sombra de chuva. O movimento ascendente do ar
influenciado pela montanha esfria-se e seu vapor é condensado, provocando precipitações,
conferindo mais umidade nesta vertente, ocasionando rigores climáticos condicionadores da
formação de desertos naturais em sombras de chuvas, de grandes extensões montanhosas.
Qual o caso do deserto da Grande Bacia Americana (EUA) e o Gobi asiático.
Excetuando o sudeste asiático e o nordeste australiano, em que o sistema de monções
perturba a circulação atmosférica, no geral as latitudes compreendidas entre 20° e 30° são
vulneráveis às instalações de condições desérticas, sendo que os desertos naturais,
68
comumente, conforme Zonn e Orlovski (1987), ocorrem em zonas subtropicais de alta
pressão atmosférica, entre 15° e 25° de latitude no rte e sul.
Nas áreas continentais com estabilidade atmosférica onde a reposição de água é
insuficiente para restabelecer o equilíbrio hídrico, nas latitudes entre 20° e 35°,
possibilidades de surgimento de desertos. Neste contexto, os trópicos ficam a 23°27’ de
latitude norte e sul do equador imaginário, onde pode ser assinalado o Nordeste brasileiro.
São áreas de alta pressão, onde os ventos sopram destas latitudes para latitudes menores,
ou seja, em direção à linha do Equador. Assim, o ar desce do alto da atmosfera, tornando-se
mais quente e seco.
Com efeito, a partir de aspectos climáticos, morfológicos, biológicos, paleogeográficos
(aterros continentais, enquadramento de montanhas e afundamento de suas bases etc.),
assim como geográficos, é possível classificar os desertos. Sendo assim, as seguintes
propostas de classificação destes biomas podem ser observadas no Quadro 6; entretanto,
deserto quente e seco, a rigor, é uma região natural onde chove até 250 mm/ano, ou passa
cerca de 50 anos ou mais sem chover. Podem ser de dois tipos: os ergs grandes mantos
de areia; ou hamadá, “ou deserto de pedra,” imensos depósitos de rochas desmontadas,
destacando-se os arenitos, podendo se decompor rapidamente, facilitando a infiltração da
água. Grosso modo ambas as paisagens abrigam poucas formas de vida, quase não
existindo formações vegetais (ANTUNES, 1995).
Essas regiões desérticas apresentam as maiores amplitudes térmicas diárias de todo o
Planeta. As chuvas são concentradas praticamente em um mês ou mesmo poucos dias. Nos
desertos quentes, o balanço hídrico é equilibrado no curto período de chuva, ficando de
10 a 11 meses, ou mais, com acentuado déficit em relação à necessidade biológica de água
pluvial; sem esquecer de que a evapotranspiração real é quase todo o ano menor do que a
evaporação potencial.
As características climáticas gerais apresentam secas, amplitude térmica e agitação do
ar. Esta tem expressiva dinâmica e extrema energia, com deslocamento e movimento de
poeira fina que pode atingir os 2 km de altura e deslocam-se a centenas de quilômetros. Os
loess do norte chinês, que são áreas de acumulação de depósitos finíssimos, transportados
pela ação eólica, situadas à margem de antigas áreas de geleiras ou na periferia de
desertos, advém da Alta Ásia Central, conforme apontou Pouquet (1962). Apresentam um
capeamento de até 100m com as superfícies dos barrancos medindo cerca de 26 mil k e,
a superfície total dos solos da ordem de 600 mil k (DREGNE, 1987). Esta dinâmica
aconteceu em decorrência de massas de ar anticiclonais e digressionarias de ordem
planetária, além de variações termométricas que influenciam nas pressões barométricas.
Ocorrem loess também no sul da Rússia, na parte central dos E.U.A e no leste
argentino. Em linhas gerais, ocorrem também altas temperaturas, grandes amplitudes
dionoturnas e até mesmo anuais, em alguns casos.
69
Quadro 6 – Classificações de Desertos
Propostas Tipologias
Em 1942 E.F
Gautier, Emanuel
De Martone,
Aufrère e Kachka-
ra, classificaram
desertos mundiais
conforme aspectos
geográficos
Desertos quentes:
- Tipos absolutos ou clássicos: Saara Central e Atlântico, Atacama, Líbia, e talvez a
Austrália Central; desertos do litoral chileno, peruano e sul-africano- Namíbia -, associados a
correntes frias.
- tipos atenuados: grande Chaco, Calaari, Mauritânia, Austrália Ocidental, maciços
montanhosos do Saara.
Desertos frios:
- Desertos temperados, cujo único representante é do tipo atenuado, como o norte da
Patagônia, Siankiang, Ásia Média, Planaltos Iranianos, Deserto da Síria e a Grande Bacia
Americana.
- Desertos frios, principalmente em altitude, com exemplos suficientes em Gobi e no Tibet.
1947- De Martone,
classificação cli-
mática das regiões
desérticas mun-
diais.
-Desertos rigorosos: tipos saariano e chileno, do sul da África e da Ilha de Madagascar, por
exemplo.
-Desertos atenuados: desertos de inverno rigoroso e frio de altitude da: Ásia Centro-norte,
Patagônia, oeste e sudeste norte-americano.
-Semidesertos: degradação estépica do clima temperado e do clima mediterrâneo, onde sua
gênese não está correlacionada com a teoria de semidesertificação de Nimer (1988): centro-
oeste americano, sul do Brasil e pampas argentinos, margens dos desertos atenuados da
Ásia.
Desertos sob influência de Monção (Saara): enclave.
Anos de 1990
Steele, classifi-
cação geográfica e
climática.
- Desertos continentais: são aqueles que se formam no centro de grandes extensões de
terras, e se localizam em latitudes mais altas. Podem ser frios e apresentar invernos
gelados. Ainda são secos porque os ventos úmidos oceânicos chegam secos no centro dos
continentes.
- Desertos que se formaram ao longo de regiões costeiras: as correntes frias oceânicas
encontraram um continente muito quente. O calor retira a umidade das nuvens formadas
sobre o oceano, provocando a permanente secura pedológica. Assim são os desertos da
Namíbia e Atacama. Estes dois exemplos de desertos, ainda, podem ser de origem
sotavento. Por exemplo, desertos do Vale da Morte, na fronteira da Califórnia com o Estado
de Nevada, no oeste dos EUA, localizado no nordeste do deserto de Majave e a oeste do
Deserto de Amargosa.
-Desertos congelados cujos recebem pouquíssimas chuvas, e embora resguardem grandes
volumes de água, encontram-se congeladas.
Fonte: Pouquet (1962), Rubio (1995a), Steele (1998) e Conti, (2003).
Podemos, ainda, afiançar que o regime pluviométrico é muito irregular, tanto na forma
quanto na periodicidade, com anos consecutivos de precipitações insignificantes (como no
deserto da Austrália) ou mesmo inexistente (no núcleo saariano), embora em sua maioria as
chuvas sejam torrenciais, ocasionado o escoamento em lençol (sheet-flood). Há, ainda,
manifestações de precipitação em forma de fracas e duradouras chuvas.
Como reflexo bioecológico do quadro hidrológico, apresentam apenas uma tênue
vegetação, de predominância herbácea, com as condições edáficas do substrato
minimamente favoráveis à fenologia de vegetais mais complexos. Tem grande capacidade
de evitar murchamento, mantém-se latente por longos períodos, além de aumentar a
eficácia econômica da transpiração. Isto equivale a dizer que a proporção da matéria seca
produzida em relação à água transpirada é maior do que as plantas que não são de
desertos (NIMER, 1980).
Para evitar competição, os mecanismos naturais de controle populacional são fortes. A
título de exemplo, o espaçamento vegetacional com exposição de grandes extensões de
solo desnudo, com fitocenose de pouca diversidade de espécies, onde as dominantes são
relativamente abundantes, comprovam a existência deste tipo de relação ecológica.
70
Em termos demográficos, cerca de 1/3 da população mundial habita as zonas áridas
ou semi-áridas. E, para efeito sintético de comparação, o Quadro 7 demonstra alguns
aspectos relacionados com os desertos, bem como sobre desertificação.
De fato, nos últimos 1000 a 2000 anos, a desertificação existe em razão das atividades
humanas. Durante um período bem maior, os desertos, por seu turno, apareceram por conta
de flutuações climáticas, como no exemplo do Saara (DREGNE, 1987). Consciente destas
questões, diz-se que a desertificação é mais bem entendida como degradação do meio
físico, ocorrendo em terras secas. É um enclave de processo que pode variar, com períodos
de regeneração, sendo reversível economicamente nos estádios de sua metade final. Suas
origens e conseqüências são particulares a cada situação relativa às variáveis
ecossistêmicas e história do uso da terra. É lento como processo, sendo possível de
constatação não simplesmente em anos, mas em décadas de observação (STILES, 1995).
Enquanto isso, a contenção de um deserto natural, ou seja, físico-ecológico, seria
impraticável.
2.3 - DEGRADAÇÃO AMBIENTAL, DESERTIFICAÇÃO NO MUNDO E IMPACTOS
SOCIOAMBIENTAIS
300 anos, as áreas florestadas correspondiam a quase 2/3 de nosso Planeta. O
desmatamento foi tão intensivo que hoje as formações vegetacionais cobrem menos de 1/3
dos continentes. Desde 1980, estima-se que as zonas áridas cresceram no mundo em torno
de 15% (STEELE, 1998).
Na realidade, desde o nascimento da macroeconomia, com a Revolução Industrial, no
século XIX, que subjugou os países das baixas latitudes aos fornecedores de matéria-prima
e produtos primários, associados à expansão geral de uma cultura materialista e de
atividades produtivas em escala foi inaugurada nova relação entre o homem e a natureza,
dilapidando muito mais do que preservando (CONTI, 2002).
Sem esquecer, ainda nas palavras de Conti, que os elementos do meio físico nos
trópicos possuem, via de regra, fragilidades em seu equilíbrio, qualquer forma de
desestabilização no meio ambiente pode provocar e/ou acentuar o intemperismo, lixiviação
dos solos, instabilidade das encostas e degradação generalizada.
A desertificação incide sobre 33% da superfície da terra, onde vivem aproximadamente
2.6 bilhões de pessoas, ou 42% da população mundial. São agravados na região
subsaariana, com mais de 200 milhões de habitantes, representando 20 a 50% das terras
degradas. Não obstante, na Ásia também e na América Latina, por exemplo, a degradação
dos solos é severa (BRASIL, 2004c).
De fato, o Planeta Terra tem uma superfície de 510.110.934 hm², donde os continentes
ocupam cerca de quase 140 milhões de km². As terras secas, segundo o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (United Nations Environment Programme UNEP)
71
1995, correspondem a cerca de 47,2% de todas as terras emersas do globo, assim
distribuídas nas ecozonas climáticas: hiper-árida – 7,5%; árida – 12,1%; semi-árida 17,7%
e subúmido seco – 9,9% (In BATCHELOR e WALLACE, 1995). As terras semi-áridas,
existem em todas as latitudes, mas é nos países tropicais em desenvolvimento que se
localizam as áreas mais problemáticas em termos de perda da capacidade bioprodutiva do
ambiente.
Nestas áreas habitam populações paupérrimas, com qualidade de vida calamitosa:
com baixo nível de renda, de padrão tecnológico e de escolaridade e ingestão de proteínas
abaixo dos níveis aceitáveis da Organização Mundial da Saúde (OMS); porém aquele
processo de deterioração ambiental tem evolução específica em cada lugar, a partir de
dinâmicas próprias (CAVALCANTI, 2003).
Quadro 7 – Conceitos e principais características de deserto e do fenômeno
desertificação
Conceitos Principais características
Deserto:
Toda área em que a
precipitação seja igual ou
inferior a 250 mm-ano.
Aridez condicionada por: a) semipermanência de altas pressões de
anticiclone tropical ou subtropical no lugar; b) posicionamento a sotavento
de um sistema orográfico, com altitude o suficiente para barrar total ou
parcialmente os mecanismos de chuva; c) altas altitudes, acima do nível de
condensação do vapor d’água; d) proximidade de correntes oceânicas de
água fria reduzindo drasticamente a evaporação e a umidade do ar e, por
extensão, as chuvas das áreas circunvizinhas. Remete a idéia de tipo
climático, com adaptação do sistema natural, com identidade e limites
espaciais definidos. A miúde é uma região árida com a relação evaporação
potencial maior que a precipitação anual, com fraco desenvolvimento da
biosfera. As precipitações são irregulares interanualmente. Solos rasos,
baixo potencial edafoclimático e tendem a concentrar sais. Vegetação
esparsa, com xerófilas e fauna adaptadas. Processos erosivos
comandados, principalmente pelos ventos (simum, harmattan etc.). Chuvas
raras e torrenciais, com turbulências. Geralmente a área central tem severa
aridez e uma periferia menos seca e de transição para áreas subúmidas. A
vida nos desertos é regulada pela disposição de água que influencia na
qualidade dos solos e a presença ou abundância de plantas, e estas
governam a presença dos animais.
Desertificação: enquanto
substantivação da palavra
deserto indica um fenômeno
de dinâmica contínua com
sua evolução ambiental
dirigindo-se para um
deserto, ou a ele se
assemelhando.
Tem processo e dinamismo associado a períodos secos prolongados, da
ordem de décadas. É um fenômeno de desequilíbrio natural, caracterizado,
principalmente, por um crescente ressecamento de seu ambiente
determinado por mudanças do clima regional e ou desregrado dos solos,
ou ambos, concomitantemente. Ressalte-se que a degradação do meio
ambiente é incapaz de mudar o clima regional a ponto de provocar um
ressecamento característico de um processo genético de formação natural
de deserto físico-ecológico
Fonte: Elaborado a partir de Pouquet (1962), Nimer (1988) e Conti (1994).
Considerando os índices relacionados há pouco, as áreas secas podem ser expressas
em milhões de hectares, mostrando o total de terras no Planeta e suas respectivas áreas
climáticas, aproximadamente da maneira apresentada na Tabela 1.
Vale lembrar que as terras hiper-áridas, por serem consideradas improdutivas, exceto
aquelas com pouquíssimos rendimentos, não são consideradas na mensuração da
desertificação, como também o continente Antártico que, mesmo tendo 13.340.000 km², não
apresenta terras secas. Porquanto, abstrai-se do quadro a noção de que a África apresenta
72
a mais expressiva área em domínios de ecozonas climáticas secas, com 19.590.000 km²;
logo seguida pela Ásia com 100.000 km² a menos, isto é, 31.8%. Do total global de
61.500.000 km², a América do Sul contém 5.430.000 km², ou 8% de seu total das terras
secas, ficando em penúltimo lugar, perdendo somente para a Europa, com os mínimos de
3.000.000 de km², ou 5% do total. Em especial, a América do Sul têm 260.000 e 45.000 k
de terras hiper-áridas e áridas, representadas pelo deserto do Atacama, e 2.650.000 de km²
de semi-árido, onde se insere o Nordeste brasileiro.
A VI Reunião da América e Caribe realizada em San Salvador (outubro de 2000) com
a participação de 33 países, apontara que aproximadamente 170 milhões de hectares
foram degradados na América do Sul, em decorrência do desmatamento e superpastagem.
No Caribe, por sua vez, a urbanização acelerada e mal planejada ocasionou perdas de
terras para a agricultura, proteção de bacias hidrográficas e conservação da biodiversidade,
o que contribui para o avanço do fenômeno, além de 63 milhões de hectares estarem
comprometidos no México e América Central.
Na América Latina, os países mais problemáticos são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Equador e Peru. Eles têm buscado unificação junto à questão, não através de políticas
públicas, mas também por meio de toda uma articulação em prol da questão. Em especial,
os países do Cone Sul Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai -, buscam articulação para
combater a desertificação, sendo que a questão dos recursos hídricos é a mais relevante, o
que ajuda na integração entre eles, onde as bacias hidrográficas são as unidades de estudo.
E, cabe salientar, a sinergia entre as convenções do tema desertificação propicia a
integração destas nações. Também, no âmbito regional é expresso o Grande Chaco
americano, envolvendo áreas argentinas, bolivianas e paraguaias, em 1 milhão de km² com
um universo populacional superior a 4 milhões de pessoas, que vem destacando essa
problemática em um programa de ação sub-regional.
Tabela 1 – Terras secas do Globo e sua distribuição geográfica, em termos absolutos
(milhões de km²) e relativos (%)
Tipologia
Climáticas
África Ásia Austrália Europa
América do
do Norte
América
do Sul
Total
Hiper Árido 6.720
2.770
0
0
30.000
260
9.780
Árido 5.040
6.260
3.030
110
820
450
15.710
Semi-árido 5.140
6.930
3.090
1.050
4.190
2.650
23.050
Subúmido
Seco
2.690
3.530
510
1.840
2.320
2.070
12.960
Área total 19.590
19.490
6.630
3.000
7.360
5.430
136.224
Área relativa
(%)
32
31.8
11
5
12
8
100
Área total
do
Continente
30.335
43.508
8.923
10.498
25.498
17.611
61.500
Fonte: Stiles (1995)
Destacando a Argentina – para somente falar especificamente do Brasil mais adiante -,
Escobar (1997) alertou para o fato de que 60 milhões de hectares sofrem diferentes tipos de
73
erosão; anualmente 650.000 hectares são degradados e 26% das populações viviam no
semi-árido ou em zonas áridas. Com este quadro, há severas perdas econômicas na
Província de Chubut, com baixa de cerca de 1200 postos de trabalhos permanentes, e cerca
de 120.000 frentes de trabalho temporários por ano.
Na Europa, os países mais afetados são Grécia, Itália, Portugal, França, Albânia,
Turquia e Bulgária, entretanto, o mais preocupante, segundo Rubio (1995c), deve-se aos
60% do território espanhol afetado pelo problema.
O principal ícone da desertificação no Planeta fica setorizado, sem dúvidas, na África
Ocidental, margeando a extremidade sul do Saara, abrangendo 37 países, estendendo-se
numa zona que vai do oceano Atlântico ao Índico, como ecótono Saara-Savana. É formada
pelos países do Senegal, no Atlântico, Etiópia e Somália, no Índico, além de outros países
como Mali, Níger e Burkina Faso para citar alguns dos mais problemáticos afetados pelo
ressecamento dos solos; mas, os onze países mais afetados foram: Angola, Burkina Faso,
Chade, Gana, Mauritânia, Monçambique, Níger e Zimbábue.
Na metade dos anos de 1980, esta região sofreu novamente uma seca terrível, cujas
conseqüências agravaram sobremaneira as mazelas da desertificação. Somente na Etiópia,
cerca de 7 milhões de pessoas foram afetadas pelas estiagens, quando muitas populações
migraram.
Na Ásia, os países mais atingidos são China e Índia. E vale lembrar que, embora as
vicissitudes climáticas, comumente, não sejam tão relevantes nos países desenvolvidos,
suas economias e meio ambiente chegam a amargar prejuízos nas regiões semi-áridas;
assim como, por exemplo, na grande planície americana e canadense, bem como na
Austrália Central.
Considerando a tipologia de áreas susceptíveis à desertificação aceita
internacionalmente, destacada pelo PNUMA, e as informações reunidas na Tabela 1,
podemos dizer que as áreas afetadas pela desertificação no mundo e suas causas
correlatas podem assim ser arrumadas conforme a tabela seguinte. Segundo a
Ecoambiental (2003), grande parte destas áreas coincide com os maiores bolsões de
pobreza dos países não desenvolvidos. Agravando o problema, a desertificação até o final
da última década indispunha cerca de 6 milhões de ha (60.000 km²) por ano, onde o
sobrepastoreio, salinização dos solos por irrigação e processos de uso intensivo e sem
manejo agrícola agravam a situação.
Os números sobre a população (1/6 da população mundial) e a área atingidas pela
desertificação são de grandeza absoluta e espacial, respectivamente, exagerada, mas é a
dimensão que subsidia os estudos e serve de base para questionamentos sobre o problema
(VERDUM, 2004).
Em especial sobre a salinização dos solos, Furriela (2002) fala que este tipo de
impacto provoca mortandade de plantas, por conta do comprometimento da estrutura e da
74
toxicidade, aumentando a vulnerabilidade da erosão hídrica e eólica, e que, em escala
global, atinge cerca de 20% dos solos irrigados. Extrapolando estes números de 25% a 30%,
Brasil (2004c) destaca que 274 milhões de ha irrigados no mundo apresentam problemas de
salinização e de saturação do solo, por entre outros problemas, em razão de um insuficiente
trato entre irrigação e drenagem no uso do solo.
Tabela 2 - Áreas afetadas pela Desertificação no Mundo e causas associadas
Tipos Km² % do total de áreas secas
1- Áreas degradadas por Irrigação 430.000 0.8
2- Áreas degradadas por agricultura de sequeiro 2.160.000 4.1
3-Áreas degradadas por pecuária 7.570.000 14.6
4-Áreas secas com degradação de solos (1+2+3) 10.160.00 19.5
5-Degradação das terras de pastoreio 25.760.000 50.0
6-Total das áreas secas degradadas (4+5) 35.920.000 69.0
Fonte: Adaptado de REDESERT (2003).
Não consenso, porém, entre números precisos sobre a questão, pois seus
conceitos, perspectivas de abordagens e indicadores são múltiplos e variados.
Trazendo mais detalhes para esta questão, Dregne (1987) diz que o principal fator de
desertificação para as terras de pasto é a destruição da vegetação; e que para as terras
com agricultura de sequeiro é a erosão do solo a principal degradação. Na agricultura
irrigada a salinização é um dos grandes vilões. A erosão, encrostamento do solo e sua
compactação são fatores secundários da desertificação em áreas de pastagem. Além
destes aspectos, na agricultura de sequeiro entre os fatores secundários está a diminuição
da fertilidade.
Em uma visão de economia-ecologia, a erosão dos solos, salinização e desertificação
constituem aspectos negligenciados nos processos de desenvolvimento, e por isto afetam
diretamente a sustentabilidade da economia. Acredita Conti (2003) que o avanço da
desertificação está diretamente atrelado ao grau de desenvolvimento. Ressalta estimativas
do PNUMA, de que 86% das terras secas produtivas da África são afetas por esse
fenômeno. Nessa proporção estão alguns dos países mais pobres, como muitos africanos,
enquanto na Austrália, país rico, apenas 22% de suas terras produtivas são atingidas pela
desertificação. Como cerca de 97% de nossos alimentos são provenientes das terras
emersas, é preocupante o fato de que os solos agricultáveis no Planeta se encontrem
com níveis elevados de degradação (MERICO, 1996). Esse autor, ainda, considera a
desertificação um fenômeno irreversível em uma escala de tempo interessante para a
humanidade, quando há mais de 1 bilhão de pessoas famintas no mundo.
No plano internacional, ainda, vale destacar a realização do último grande evento
sobre a desertificação no mundo, o Simpósio Internacional sobre Degradação da Terra e
Desertificaçãos realizado em Uberlândia, Minas Geral, no período de 16 a 20/05/2005,
como iniciativa da União Geográfica Internacional (UGI), Universidade Federal de
75
Uberlândia, União da Geomorfologia Brasileira (UGB) e Comissão sobre Degradação da
Terra e Desertificação (COMLAND) - parte integrante da UGI.
Foi o maior de todos os eventos realizado pela COMLAND (avaliou sua diretoria),
desde 1972, início das discussões mundiais sobre desertificação. Tratou sobre a
degradação e desertificação a partir de 8 eixos de atividades, quando foram apresentados
trabalhos de todos os continentes, inclusive do Nordeste brasileiro, em especial sobre a
bacia hidrográfica do rio Acaraú, por Nascimento et al. (2005). Tais eixos foram: 1 Erosão
de solos e possibilidades de recuperação; 2 – Rios, Sistemas fluviais e degradação da terra;
3- Desflorestamento e suas conseqüências sobre o solo e a paisagem; 4- Desenvolvimento
sustentável e políticas de gerenciamento; 5- Sensoriamento remoto, GIS e suas aplicações
em estudos da degradação da paisagem; 6- Ecoturismo, Turismo Rural e suas implicações;
7- Urbanização e degradação da terra; e, 8- Desertificação e Degradação em terras secas.
Contudo, Comissão sobre Degradação da Terra e Desertificação já iniciou a organização do
próximo evento no Vietnã, porém a data não foi definida.
De forma geral, busca-se, no planol mundial, maior cooperação entre os países do
hemisfério sul. Neste prisma, destacam-se a Agência Alemã de Cooperação Técnica
(Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit, gtz) com o financiamento cerca de
180 projetos em diversos países afetados, o Serviço Alemão de Cooperação Técnica e
Social (DED) e a Fundação Konrad Adenauer para aprimoramento de estudos e combate à
degradação, que pode culminar com a desertificação. Além do mais, necessidade de
melhor compreensão da complexidade da relação entre desertificação e mudanças
climáticas. Como já apontado, a origem da degradação ambiental, que leve a desertificação,
pode estar vinculada a possíveis mudanças climáticas globais, expressas, sobretudo, numa
crescente deficiência pluviométrica e na ação humana. Entrementes, podem atuar
simultaneamente.
2.3.1 – MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO
Foge ao escopo deste trabalho avaliar pormenorizadamente aspectos sobre
modelagens de mudanças climáticas globais, além de que se trata de um tema controvertido
e de parametrização difícil; sem esquecer, destaca Ceará (1994) - que, na maioria dos
trabalhos produzidos, as informações geoambientais são pouco utilizadas, as técnicas
usadas geralmente não permitem um prognóstico confiável no plano interanual. Durante os
meses antecedentes ou coincidentes com a estação chuvosa, por exemplo, é praticamente
impossível demonstrar a variabilidade pluviométrica interanual da precipitação durante longo
prazo. Por isto, estes resultados demandam interpretações cautelosas e específicas. Cabe
ao momento, pelo menos, trazer algumas questões gerais no âmbito das mudanças
climáticas e desertificação.
76
O aquecimento global, para diversos autores, pode estar vinculado a questões
humanas ou simplesmente naturais, ou as duas faces constituem uma mesma moeda. A
propósito disto, Veríssimo (2003) diz que ao se responsabilizar aos fatores humanos as
emissões de gases de efeito estufa na atmosfera seriam os fatores que produzem
alterações nas características dessa importante camada para o equilíbrio climático da Terra,
ocasionando mudanças climáticas. Por outro lado, do ponto de vista dos fenômenos naturais,
caberia aos movimentos terrestres e atividades cíclicas do Sol, afetando diretamente o
quantum energético solar no sistema Terra-Atmosfera, o desencadeador de mudanças
climáticas.
Para Furriela (2002), o fenômeno da mudança climática no Planeta constitui o maior
problema ambiental na atualidade. O advento da Revolução Industrial - marco fundamental
na história, com o consumo de carvão mineral e, depois, petróleo em larga escala, que veio
afetar a dinâmica climática global -, proporcionou a concentração de gases-estufa na
atmosfera, os quais vêm aumentando, por conta da crescente atividade agrícola, industrial e
de transporte, sobretudo pelo uso de combustível fóssil, como o gás carbônico.
Neste sentido, com o aumento da complexidade dos impactos humanos sobre o
ambiente foram agravados os problemas ambientais e destacada a importância cumulativa
dos impactos de onde emerge a discussão sobre mudanças climáticas globais e seus
efeitos.
Santos (1994) afirma que, atualmente, com a globalização e a redescoberta da
natureza, há um incremento da temperatura da terra, por mudanças climáticas globais, dada
a emissão de gases fósseis e estufas como resíduos das demandas das atividades
econômicas crescentes. Conseqüentemente, ocorre importante mudança na interação do
homem com o meio ambiente. Mudanças que poderiam ocorrer em milhões de anos, agora
podem ocorrer em poucos anos ou em décadas. É certo que o aumento da concentração de
dióxido de carbono (CO²) na atmosfera e seu aquecimento anormal, o desencadeamento do
efeito estufa, bem como o aumento de áreas desérticas, estão entre as principais
conseqüências (CEARÁ, 1994).
Além da emissão de gases-estufa (Quadro 8), muitos mecanismos estão vinculados às
possíveis mudanças climáticas: poluição térmica, mudanças no albedo, extensão das terras
irrigadas, alteração das correntes marinhas e desvio de águas doces para o oceano. Com
efeito, a variabilidade climática pode estar ligada a mecanismos de circulação de grande
escala da atmosfera e dos oceanos tropicais, e apresentar grande impacto socioeconômico
nos trópicos.
Os países mais ricos historicamente foram, e são, os principais colaboradores para
essas emissões de gases poluentes. Em ordem crescente têm-se: Estados Unidos da
América (EUA), Japão e Alemanha. Entrementes, os Novos Países Industrializados (NIP’s),
apesar de mais pobres e de industrialização tardia, pós-II Guerra, perdem apenas em um
77
item para os países ricos e centrais, nesse tipo de poluição, que é a emissão de gases-
estufa resultante da queima de biomassa. Destacam-se Brasil, China, México e Índia,
possuidores de reservas florestais significativas, integrando o restrito grupo de paises
megadiversos (RIBEIRO, 2002).
Uma aceleração geométrica do desflorestamento, sobretudo tropical, concorre para
diminuição no volume de microparticulas vegetais (núcleo biogênicos) em suspensão na
atmosfera reduzindo perigosamente e influenciando na coalescência das gotículas, ao
tempo que pode aumentar o albedo em até 3 vezes, provocando perda energética incidente
e redução da temperatura da superfície. Isto enfraquece as correntes convectivas
ascendentes, descompensando a formação de nuvens e de chuvas. Assim o ciclo
hidrológico, sobretudo, com a reciclagem do vapor d’água, é perturbado na
evapotranspiração (CONTI, 2002).
A Conferência sobre Florestas, em Bancoc Tailândia, e a Conferência do
Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC - Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas), realizada na Universidade de São Paulo, em 1991, assim como a 6ª.
Conferência das partes signatárias da Convenção Sobre Mudanças Climáticas (2001),
recomendaram a todos os países que não reduzissem o patrimônio ecológico da Terra
(FURRIELA, 2002; NUNES, 2002; RIBEIRO 2002). É importante lembrar que o
reflorestamento, servindo como sumidouro e seqüestrador do carbono, excluindo o
tratamento industrial de CO², que a tecnologia ainda não resolveu completamente, é o único
meio de redução da quantidade de carbono produzida pela combustão (MAGALHÃES,
1992), para uma possível amenização dos efeitos climáticos adversos.
Quadro 8 – Fontes dos principais gases de Efeito Estufa
Gás Fontes Naturais Fontes derivadas das atividades humanas
Dióxido de
Carbono
Biosfera terrestre
Oceanos
Usos de combustíveis fósseis
Produção de cimento
Alteração do uso da terra
Metano
Áreas úmidas naturais
Térmitas (cupins)
Oceanos e coleções d’água doce
Combustíveis fósseis
Fermentação de resíduos animais
Plantios inundados de arroz
Queima de biomassa
Aterros
Esgotos domésticos
Óxido Nitroso
Oceanos
Solos de regiões tropicais e
temperadas
Fertilizantes a base de nitrogênio
Indústria
Alterações no uso da terra
Pecuária intensiva
Clorofluorcarbono
(CFC)
Não há Espumas rígidas e flexíveis
Propalantes de aerossóis
Polímeros de teflon
Solventes industriais
Fonte: Bensunsan (2002)
Este Painel apresentou relatório afirmando que ocorrem alterações climáticas por
conta das atividades humanas (FURRIELA, op. cit), embora essas causas não sejam
esclarecidas (RIBEIRO, op cit.). Esta discordância acentua a complexidade da problemática
78
mudanças climáticas e suas implicações na desertificação, em face de múltiplas incertezas,
de vez que “Não há consenso geral e absoluto a respeito das conseqüências desses
fenômenos. A matéria é objeto de preocupação de políticos, cientistas e executivos públicos
e privados. A maioria dos pesquisadores de organismos governamentais e não-
governamentais tende a admitir que nos próximos anos haverá um aquecimento da
temperatura média da terra”. (BRASIL, 2004c: 63)
Conforme Ribeiro (2002), para muitos pesquisadores, o que ocorre é um ciclo longo de
variação de temperatura no mundo, sendo o aquecimento natural e inevitável. Outros
cientistas concordam que isto ocorra, mas através de uma intensidade nunca registrada nas
últimas décadas, levando a crer que a emissão antropogenética de gases-estufa
potencialize o fenômeno. O que leva muitos autores, dentre eles Faragó (1992), a afirmarem
que ainda pairam dúvidas sobre o fenômeno estufa na mudança climática. E, por assim
pensar, na desertificação.
Segundo Ceará (1994), um dos primeiros relatórios do IPCC aponta que até o ano
2030 a concentração de CO² seria o dobro do atual. O relatório do IPCC de 2001 (terceiro
documento), ainda confirma que um aumento da temperatura média do Planeta
decorrente das atividades humanas. Isto implica dizer que a concentração desse gás
aumentará o aquecimento global entre C a 3,5°C pa ra os próximos 100 (cem) anos, por
ser duas vezes maior que na fase pré-industrial (FURRIELA, 2002).
Segundo Furriela (op cit.), evidências que comprovam alterações climáticas no
último século, o que reforçaria a necessidade do desenvolvimento dos princípios pouco
arrolados: aumento na concentração de gases como dióxido de carbono (CO²), metano
(CH
4
) e óxido nitroso (N
2
O), que, entre 1750 e 1992, foram elevados de 15% até 145%;
crescimento entre 0,3°C e 0,6°C na temperatura médi a global em superfície, sobretudo nas
áreas continentais de médias latitudes; e aumento global do nível do mar, entre 10 cm a 25
cm nos últimos 100 (cem) anos.
Para muitos cientistas, todavia, uma redução de apenas 5% na emissão de gases-
estufa não seria o suficiente para barrar o processo de aquecimento global, como proposto
em Kyoto em 1997. Conforme Ribeiro (2002), estes argumentos são suficientes para que se
adotem, pelo menos, três posicionamentos para o embate da questão na tentativa de se
evitar a eclosão de conflitos entre povos e nações por conta das conseqüências das
mudanças climáticas: (1) o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada:
baseado na história de cada país, considerando o desenvolvimento econômico e uso de
combustível fóssil; (2) a ética global do devir, para que se alcance a (3) segurança ambiental
internacional.
Para Sachs (1993: 45), o segundo posicionamento destacado por Ribeiro, corresponde,
dentro de uma “Estratégia de Transição para o Século XXI”, as “metas convergentes,
79
obrigações diversificadas”. Advoga que os países ricos e industrializados arcariam com a
maior parte dos recursos.
A apesar do relatório do IPCC ser criticadíssimo, entretanto, a ONU o respalda. Tanto
é que ratifica os dois únicos tratados para contenção dos efeitos do aquecimento global: um
é a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (1992), que
estabelece um compromisso geral da redução da emissão de gases-estufa, além de
reconhecer a ligação entre equilíbrio climático e a conservação da biodiversidade. O outro é
o Protocolo de Kyoto, o qual advoga que os países desenvolvidos são obrigados a reduzir
suas emissões coletivas de gases-estufa em pelo menos 5%, em comparação aos índices
de 1990, para o quadriênio 2008 a 2012. O passo decisivo para vigorar esse protocolo foi
sua ratificação, em outubro de 2004, na Câmara de Deputados russa, o que, porém,
somente veio a vigorar em 16/02/2005, quando os países considerados industrializados, em
número de 36 dos 141 signatários, passaram a ter responsabilidade de reduzir suas
emissões combinadas de gases-estufa.
Os países em desenvolvimento, com industrialização tardia, como Índia e Brasil, que
estão entre os 6 mais poluentes do mundo, e China segundo maior emissor de gás
carbônico do mundo -, não estão comprometidos com a redução de emissões e foram,
temporariamente, poupados deste acordo porque têm prioridades ao desenvolvimento social.
No caso do Brasil, a responsabilidade atual fica por conta do combate ào desmatamento,
para se reduzir lançamentos de gases poluentes.
De outro lado, grandes poluidores mundiais, como os EUA e a Austrália, não são
signatários e ainda têm políticas compensatórias, pois os países ricos podem pagar aos
países pobres por índices de gases poluentes que estes não liberam na atmosfera. Isto
ocorre por meio dos mecanismos de desenvolvimentos limpos (MDLs), o que possibilita aos
países desenvolvidos cumprirem suas metas para redução de emissões gasosas através de
financiamento de projetos em países em desenvolvimento. Trata-se de mais um instrumento
de comando e controle, ligado ao princípio poluidor-pagador!
Os EEUU, destarte, são os maiores poluidores mundiais e seu Governo argumenta
que uma redução nos índices de poluição impactaria fortemente a economia nacional, a qual
deixaria de crescer, no entanto, as populações mais vulneráveis ao aquecimento global
seriam as mais pobres do Planeta, ou seja, os habitantes das regiões áridas e/ou semi-
áridas seriam as mais acometidas, como a do Nordeste seco e, em especial, no Acaraú.
Este protocolo, porém, estabeleceu muitas propostas, dentre as quais a de criação da
Convenção de Mudanças Climáticas e as condições para implementá-la.
A título de exemplo sobre mudanças bioclimáticas, simulatórias, através de modelos
de circulação geral da atmosfera, pesquisas do National Meteorological Center (EUA) para o
intervalo de dez anos (1990-2000) mostraram que um aumento das áreas desérticas no
globo provocaria um resfriamento da troposfera nos trópicos e subtrópicos com um rápido
80
enfraquecimento no gradiente térmico horizontal entre o equador e os pólos. Haveria uma
redução no total de precipitação sobre os desertos, sendo que, na África, esta redução
ocorreria por volta de 50%; no sudeste da Ásia e Austrália, a diminuição seria moderada
(CEARÁ, 1994).
Com o crescimento de áreas desérticas no globo, aumentaria a precipitação no
sudoeste da América do Norte, África Equatorial, no Atlântico Tropical, no oceano Índico e
nos oceanos ao oeste e sudoeste das áreas desérticas do hemisfério sul (CEARÁ, op cit.).
Apesar dos inter-relacionamentos das mudanças climáticas, variabilidades climáticas,
desertificação e perdas econômicas ainda não terem a devida repercussão internacional
(MAGALHÃES, 1992), no domínio de mudanças climáticas global e sua influência na
desertificação e formação de desertos, Williams e Robert Junior (1995) destacam a
ocorrência destas variações em diferentes áreas pelo mundo. Citaram o oeste americano,
sul da América do Sul, sul africano e regiões secas australianas, no centro dos desertos
asiáticos, sudoeste dos EUA e, principalmente, na região saheliana, onde são verificadas
mudanças significativas na redução dos índices pluviométricos desde 1950. Em decorrência
destas mudanças, haveria conseqüências benéficas ou maléficas (NUNES, 2002).
aqueles que defendem números mais arrojados, da magnitude de 1,5°C a 4,5° até 2030,
como é o caso de Legget (1992, citado por VERÍSSIMO, 2003).
Conforme mencionado por Veríssimo, como conseqüência de um possível aumento na
temperatura mundial, ocorreriam impactos diretos e indiretos. Os primeiros problemas
relacionam-se aos excessos ou escassez de precipitações, derretimentos das calotas
polares, subida do nível médio dos oceanos e alterações térmicas na estratosfera. Enquanto
isso, por extensão, ocorreriam empobrecimento da biota, com extinção de algumas espécies
vegetais e animais, aumento da aridez do solo etc.
Com este panorama, variações climáticas seriam bastante críticas em regiões com
déficits hídricos, como nas semi-áridas, influenciado os ajustes ecológicos e sociais que se
diferirão em escala temporal e espacial, no nível e grau das mudanças (FARAGÓ, 1992).
Para incrementar as discussões sobre mudanças de temperatura global, Conti (2003)
diz que na lógica dos desmatamentos dos países tropicais na economia global, o Brasil está
entre os 12 países com maior índice de desmatamento, destacando-se como o primeiro da
América do Sul e contribuindo com a redução de 40% das florestas tropicais do mundo.
Assim, os desmatamentos nas faixas latitudinais entre N e S, provocariam elevação do
albedo e redução de 0,2°C a 0,3 na temperatura média global. Isso acarretaria reduções de
até 10% na intensidade da evaporação e da precipitação nessa latitude.
De todo modo, tais eventos podem estar ocorrendo em algumas regiões do mundo,
dificultando a vida de sociedades despreparadas e não amparadas pelos governos
negligentes dessas possibilidades. Para o Brasil, em particular para a Região Nordeste,
81
com vulnerabilidades geoambientais potencializadas pela semi-aridez, os prejuízos
socioeconômicos, culturais e ecológicos podem ser ainda mais nefastos (BRASIL, 2004c).
Em Análises Climáticas e Cenários para o Nordeste brasileiro, por Gertengarbe e
Werner (2003), com as comparações e projeções entre os períodos de 1921/80 e 2041/50,
foram especulados diminuições nos índices pluviométricos no Ceará e no Piauí em torno de
0 a 400 mm. Associado a isto, haveria aumento e intensidade de períodos secos (de 165 a
225 dias), dada a concentração de gases na atmosfera, agravada nos próximos 50 anos,
com variações climáticas das áreas afetadas.
O Quadro 9 mostra alguns dos efeitos especulados sobre um possível aumento da
temperatura no Planeta no século passado e para este século, destacando os principais
impactos no ciclo hidrológico, geoeconômico, sobre a saúde humana, biodiversidade e
biomas.
Ceará (1994) avisa que na precipitação média no Nordeste brasileiro haveria um
decréscimo em torno de 120 mm para o quadrimestre mais chuvoso (fevereiro a maio) e
valores proporcionais para os anos de 2000 o que ainda não se apresentou, com
agravamento entre os anos de 2010 e 2020. Mudanças climáticas na região afetarão o
projeto, a construção e a operação de seus sistemas de abastecimento de água. Assim
destacam Filho et al. (1994), dizendo também que indicações de que as chuvas nas
faixas tropicais se tornarão mais intensas e episódicas, interferindo na quantidade dos
recursos hídricos, umidade do solo, nas inundações, dentre outros problemas
socioambientais (Tabela 3).
Sem esgotar a bateria dissonante de especulações sobre a questão, conforme Araújo
(2002), o desenvolvimento de dois modelos de estudos sobre variações climáticas na região,
pelo projeto WAVES (Water Availability and Vulnerability of Ecossystems and Society in
Northeast Brazil), mostra discrepâncias acentuadas. Um indica estabilidade com pequena
tendência de aumento da precipitação, outro prevê decréscimo na precipitação média até
2050. As tendências relativas são semelhantes, ou seja, as regiões que sofrerão menos
redução coincidem com as regiões que terão acréscimo de precipitação.
Os parâmetros do aquecimento, discutidos anteriormente, contudo, estão consistentes
com as expectativas feitas sobre o fenômeno estufa crescente e com as previsões de
modelos climáticos, no entanto, também está dentro dos limites de variação climática natural
(FARAGÓ, 1992), o que induz a mais contradições nesta discussão.
Para exemplificar, especificamente em Sahel, a redução progressiva das chuvas,
segundo muitos autores, decorre do ressecamento natural dos solos. Outros até acreditam
que essa mudança ambiental tenha ocorrido no último milênio. Como aqueles que
responsabilizam, ou não, a desertificação pelo aumento das temperaturas mundiais
(SUERTEGARAY, 2003), em um feedback, existem até os climatologistas que afirmam
82
estarmos passando por um período interglacial, com duração desconhecida, como aponta
Ayoade (2002).
Quadro 9 – Principais efeitos previsíveis do aumento da temperatura no Globo
Ciclo hidrológico:
Regimes regionais de chuvas e padrões de vento podem mudar: regiões podem ficar mais chuvosas, outras mais
secas. O ciclo hidrológico pode ser afetado.
Geoeconômicos:
Os países em desenvolvimento ou menos desenvolvidos não terão recursos suficientes para se precaver contra
os impactos ou minimizar seus efeitos, produzindo problemas socioeconômicos. Redução do potencial de
produção alimentícia, gerando mais fome e miséria. Problemas de salinização e perda de pastos. Esgotamento de
aqüíferos e um incremento da salinidade nas áreas irrigadas, provocando o envenenamento da população,
sobretudo a rural. Pressão econômica sobre o setor agrícola em áreas semi-áridas, dentre outras áreas
produtivas, exigindo anualmente altas cifras para a recuperação de áreas degradadas, em torno de U$$ 10
milhões e U$$ 4 bilhões para compensar as perdas econômicas. Contrariamente, países como Rússia e Canadá
teriam suas temperaturas aumentadas, podendo expandir suas fronteiras agrícolas mais ao norte, com grandes
vantagens econômicas. Nas regiões semi-áridas concentradoras dos mais graves problemas ambientais e sociais,
os azares da população vulnerável às condições climáticas aumentariam, por conta das alteração na freqüência e
de intensidade das secas.
Saúde Humana:
Doenças tropicais se alastrariam para outras regiões por conta de novas condições de temperatura e umidade,
através de agentes patogênicos e animas vetores. A exemplo do dengue e da malária, que poderiam ter sua
incidência magnificada.
Biodiversidade:
Alterações nos padrões de chuvas, temperatura e evapotranspiração, além do aumento de incêndios e
tempestades, afetarão os ecossistemas florestais, ocasionando eventuais desaparecimentos de algumas
formações florestais e impactando a fauna autóctone. Podem ocorrer, também, distúrbios e alterações na
estrutura e metabolismo dos ecossistemas, instigando a competitividade e influencia na produção da biomassa.
As comunidades vegetais terão modificadas suas áreas de desenvolvimento se houver variações nas condições
climáticas e, por conseqüência, nas características de solos que as sustentam. Isto afetaria os fluxos de energia
que alimentam cada sistema, modificando seu equilíbrio e induzindo a certo dinamismo em seu funcionamento.
Biomas:
Regiões semi-áridas seriam transformadas em áridas, e úmidas em subúmidas secas. Pelo menos as secas
aumentariam em 50% no século XXI. Derretimentos de geleiras e a dilatação térmica dos oceanos ocasionariam a
elevação dos seus níveis, ameaçando zonas costeiras de baixa altitude e ilhas. Boa parte das áreas úmidas
poderiam ser extintas. No contexto regional, a distribuição espacial dos biomas poderia ser modificada em sua
organização espacial.
Fonte: Elaborado a partir de Magalhães (1992), Ruiz (1995),
Christofoletti (1999), Furriela (2002), Nunes
(2002) e Brasil (2004c).
Tabela 3 – Cenário para os desvios de temperatura, precipitação e umidade do solo no
Nordeste brasileiro em função do efeito estufa
ANO
VARIÁVEL 2000 2010 2020
Temperatura (°C) -0,6 1,7 2,9
Umidade do solo (mm) -3,4 -10,3 -17,1
Precipitação (%) -2,1 -6,4 -10,7
Fonte: Filho et al.(1994)
Nesta complexidade e ocorrência de discordâncias, alguns aspectos climatológicos
sobre a naturalidade de mudanças climáticas globais e regionais foram discutidos por
Ayoade. A bem da verdade, é que no clima não existem simples processos unidirecionais de
causa e efeito, mas sim um feedback em termos de sistema interno (Terra-Atmosfera) ou
externo (fatores extraterrestres). flutuações e variações no próprio clima, que podem
seguir tendências ou ciclos e, em um longo período, essas flutuações podem provocar uma
mudança climática.
83
Uma tendência supostamente climática pode realmente pertencer a um ciclo climático.
E as tendências climáticas locais, os ciclos, ou mesmo as mudanças, podem ser
dessimétricas ao padrão global, regional ou continental de flutuações climáticas, sem
esquecer que a complexidade dos diversos termos usados na descrição das variações
climáticas (variabilidade climática, flutuações climáticas, tendências climáticas, ciclos
climáticos e mudanças climáticas) refere-se às escalas apropriadas de tempo, que validam.
Assim, por exemplo, uma variabilidade climática pode incluir flutuações no clima em
períodos de até 35 anos, portanto, muito rápidas, não podendo ser consideradas como
mudança climática. Também ainda mudanças seculares ou instrumentais (100 a 150
anos), variações de milhares de anos ou variações na escala de tempo profundo, com
durações em milhões de anos, completa Ayoade (2002).
Acredita, ainda, que estudos sobre mudanças climáticas devem ser cautelosos e reunir
o maior mero de evidências teóricas possíveis, que tenham sido as responsáveis no
tempo geológico da Terra, desde o período Pré-Cambriano até a época atual por variações
climáticas no Planeta, bem como a investigação de indicadores de climas passados,
conforme mostra o Quadro 10. Vale ressaltar que as condições de exigüidade dos recursos
hídricos, cada vez mais irregulares, com aumento da intermitência sazonal da rede de
drenagem, rebaixamento do nível superior do lençol d’água, nascentes d’água com
descarga anual e tempo de emissão pós-estação, são cada vez menores, principalmente
associando estas transformações a um decréscimo de precipitação pluviométrica, sem
comprovações climatológicas. Mesmo que fossem correlacionados, não haveria proporções
suficientes para dizer que, pelo menos no Nordeste brasileiro, o clima regional é
crescentemente mais seco (NIMER, 1980).
Quadro 10 - Causas de mudanças climáticas e indicadores de climas passados
Teorias das Causas Indicadores
Causas terrestres: migração polar e deriva
continental; mudanças na topografia da Terra;
variações na composição atmosférica e na
distribuição das superfícies continentais e hídricas,
assim como na cobertura de neve e gelo.
Indicadores biológicos: fosseis, polens e os anéis
de árvores.
Causas astronômicas: mudanças na excentricidade
da órbita terrestre, na precessão dos equinócios,
como também na obliqüidade do plano de eclíptica.
Indicadores litogenéticos: camadas anuais de
aluviões lacustres (varvitos), evaporitos, processos
intempericos, particularmente a laterização, e seus
produtos.
Causas extraterrestres: variações na quantidade de
radiação solar (output solar) e na absorção da
radiação solar exterior à atmosfera terrestre.
Indicadores morfológicos: formas residuais de
relevo (inselbergs, antigas praia, dunas e relevos
glaciais como as morenas e eskrs) e terraços
fluviais.
Fonte: Ayoade, 2002.
Muito embora não ocorram mudanças climáticas regionais que tenham implicações
sobre a problemática da desertificação, alertam Ceará (1994) e Filho et al. (op. cit: 97) que,
em pelos menos em 20 anos mais, algumas conseqüências das intervenções humanas na
84
agricultura e indústria poderão afetar o comprometimento dos fatores de estabilização do
meio físico, assolando diretamente a disposição espacial e temporal das águas.
Especificamente, os sistemas de abastecimento d’água para os usos múltiplos poderão ser
afetados. E ainda ocorrer:
aumento da demanda d’água para irrigação, por conta da diminuição da umidade no
solo e à elevação da evapotranspiração vegetal;
provável diminuição da disponibilidade de água dos reservatórios regionais,
provocada pelo aumento das sangrias por conta de maior intensidade das precipitações e a
redução do total anual de chuvas, pelo aumento da evaporação dos espelhos d’água
decorrentes do aumento da temperatura do ar à superfície; e
aumento do coeficiente de escoamento superficial (runn off) conseqüente do
aumento da intensidade das precipitações.
Assim enunciado, o definhamento dos recursos hídricos, as secas e a degradação dos
demais recursos naturais, em bacias hidrográficas, podem ter ligações diretas com a gênese
e desenvolvimento da desertificação. Em certos casos os efeitos antropogenéticos chegam
a interferir no mecanismo de regulação superfície-atmosfera, com repercussão no sistema
hidrológico.
Como visto, as teorias sobre mudanças climáticas para o Nordeste brasileiro e em seu
contexto a bacia do Acaraú, são diversificadas e contraditórias, o que aporta à a idéia de
Sales et al. (2003), acreditando que os processos de degradação/desertificação promoem
mudanças microclimáticas de áreas afetadas com alteração do sistema ecológico,
degradando sua capacidade de resiliência.
Além do mais, a discussão sobre mudança climática global no Brasil ainda é incipiente.
Mais precisamente no campo científico e no arcabouço jurídico-institucional, é que foram
desenvolvidas algumas pesquisas, como o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (Dec.
3.515 de 21/06/2000), regulamentado pelos decretos de 28 e 29/08/2000 pelo então
Presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo como objetivo conscientizar e mobilizar a
sociedade para discussão e tomada de decisão sobre o problema (FURRIELA, 2002).
Mesmo que globalmente não ocorra mudança climática, regionalmente pode haver
variabilidade que não chegue a impactar o clima mundial o suficiente para ser perceptível
em análises globais, ou, como afirmara Ab’Saber (2003: 16), o domínio morfoclimático das
caatingas não sofreu, porém, como muitos imaginam, grandes mudanças climáticas de
âmbito regional”. Para melhor aferição de estudos desta envergadura devem ser feitas
análises em escala anual/interanual ou decenal (FARAGÓ, 1992), com ênfase regional.
Portanto, se faz urgente monitorar e avaliar métodos que revejam ou laborem estratégias
mais eficientes da gestão ambiental, preferencialmente focando aspectos hidroclimáticos e
matrizes energéticas alternativas no contexto das mudanças climáticas e desertificação.
85
No geral, os fatores que se juntam para desencadear ou potencializar a problemática
da degradação/desertificação provocam a dilapidação dos recursos naturais como
expressão material de uma dízima social; e estão associados à conjuntura internacional
adversa, com recessão, desvalorização de preços dos produtos primários e programas de
restrições a investimentos sem retorno pronto ao mercado (REDESERT, 2003). Ainda
Redesert enfatiza que essa situação é mais grave nos países de terceiro mundo, porque
eles têm desvantagens adicionais importantes, como: constantes ajustes econômicos para
enfrentar as crises e os períodos de recessão, a degradação profunda do ambiente; a não-
existência de políticas sérias e continuadas para a proteção das terras susceptíveis, e a falta
de recursos públicos e privados para investimentos na conservação e recuperação de áreas
degradadas.
2.3.2 ABORDAGENS TÉCNICO-CIENTÍFICAS PARA O COMBATE À
DESERTIFICAÇÃO
A experiência de organismos internacionais (FAO, UNEP, UNESCO), através do
desenvolvimento de novas metodologias, indica a instalação de processo de combate à
degradação/desertificação nas terras secas do globo, alhures e algures.
Dentre esses e outros aspectos da degradação/desertificação, o uso dos recursos
naturais se constitui como um dos focos principais de muitos programas de seu combate
que, por sua vez, representam desdobramentos nos planos nacional, regional e/ou local de
aplicação do Plano Mundial de Combate à Desertificação. Senão, vejamos alguns exemplos.
Como estratégia geopolítica, atualmente a UNEP conta com 6 escritórios regionais
distribuídos estrategicamente pelos “quatro cantos do mundo”, da seguinte forma: América
Central e Caribe - México (Distrito Federal)/México; América do Norte - Nova Iorque/EUA;
Europa - Genebra/Suíça; África: Nairobi/Quênia escritório-sede; Oeste asiático:
Manama/Barém; Ásia e Pacífico - Bangkoc/Tailândia (UNEP, 1995).
Destarte, Rubio (1995b), experimentando a irreversibilidade da desertificação, afirmou
que, em experimentos em áreas abandonadas pelo menos 50 anos, houve uma
recomposição da comunidade vegetal. Durante o passar das décadas, foi observada uma
secessão ecológica de herbáceas a arbóreas, nos Pirineus Centrais, na Estação
Experimental “Valle de Aísa”.
Suertegaray (2003) destaca o fato de que projetos contempladores da vegetação local
com gramíneas e frutíferas, reconstituição do solo com adubação orgânica, como ocorre nos
areais do Rio Grande do Sul, estão sendo desenvolvidos em outras áreas como na China e
em Sahel. E por falar no nosso País, cabe neste momento seu destaque.
No Brasil, até a criação da SUDENE, 1959, não havia referência acadêmica, política
nem empírica registrada sobre a desertificação. Pelo menos esta instituição passou a criticar
86
a ideologia determinística do clima como causa exclusiva da seca, denunciando uma
relação superficial de causa e efeito.
Foi com a Convocação para a Conferência de Nairobi de 1977, que estimulou a
formação de uma equipe brasileira que desenvolvesse trabalhos diagnosticadores do
problema em tela, no plano nacional. À frente da coordenação das atividades estava João
Vasconcelos Sobrinho que, em 1974, destacou o Nordeste brasileiro (NEB) no âmbito da
desertificação, no livro O Grande Deserto Brasileiro, inaugurando os estudos sobre esse
tema no plano nacional. A partir daí, outros estudiosos passaram a se dedicar ao assunto.
A tese inicialmente desenvolvida era de que estava se formando um grande deserto a
partir de determinados núcleos da caatinga, que se estenderia pelos cerrados do Centro-
Oeste em direção à fronteira com o Paraguai. A partir da construção de Brasília, com seus
efeitos e ações antropogenéticas, a degradação ambiental seria potencializada. Isto
influenciaria núcleos de degradação profunda no semi-árido e no cerrado que, ao crescerem,
ulcerariam o planalto central até dividir o País em duas partes.
Como ação combativa, Vasconcelos Sobrinho e equipe indicavam como alternativa à
contenção do problema o isolamento dos núcleos dispersores do processo, para evitar
intervenções humanas sobre as áreas já degradadas.
Nada obstante, o próprio Mapa das Áreas de Risco de Desertificação (Figura 3)
produzido como resultado da Conferência sobre Desertificação das Nações Unidas, 1977,
classifica o Nordeste brasileiro como sendo de risco muito alto à desertificação. Ainda nos
anos de 1978, Dregne produziu um mapa mundial, onde classificou a desertificação nas
zonas áridas do mundo, considerando que o Nordeste brasileiro se apresenta como zona de
desertificação moderada (DREGNE, 1987).
No seio da Geografia, Ab’Saber (1977b) foi o pioneiro nos estudos sobre desertificação
no Brasil. Enfatizou a relevância desse problema, que poderia ser ativado, direto ou
indiretamente, pelas formas de manejos inadequados das terras no semi-árido nordestino.
Indicou nove geótopos áridos como “miolos” desta degradação, como predisposição da
fisiologia das paisagens.
Ainda na década de 1970, foram escolhidas áreas-piloto por Vasconcelos Sobrino para
mapeamento da desertificação (Quadro 11). Destacou seis áreas para essa investigação,
consideradas de alto risco, por constituir mancha de degradações profundas dos solos e
vegetações, ora se caracterizando como o efeito máximo da degradação ambiental, ora
representando seu indicador mais importante. Ocorrendo isoladamente, designou-os de
núcleos de desertificação solitários, como resultado direto da ação humana pelo cultivo
intenso e contínuo, além de terras tomadas de empréstimo para construção de rodovias.
Dessas áreas, as 4 que estão sublinhadas foram destacadas como Núcleos de
Desertificação, pois eram as mais problemáticas e potenciais à desertificação, sob a óptica
daquele autor. Ratificando este fato, o estudo Cenários para o Bioma Caatinga (2004)
87
destaca que as análises dos impactos da desertificação dá preferência a tais núcleos,
segundo suas principais características reunidas na Tabela 4.
Quadro 11 - Áreas Prioritárias para o Estudo da Desertificação
Áreas Piloto
selecionadas
por Estado
Regiões naturais
e/ou microrregiões
homogêneas
Municípios
01. Piauí Caatinga e Cerrado
Gilbúes, Simplício Mendes, Cristino Castro, Ribeiro Gonçalves,
Correntes, Bom Jesus e municípios vizinhos
02. Ceará Inhamuns e
Sertões do Centro-
Norte
Tauá, Arneiroz, Mombaça, Aiuaba, Catarina, Saboeiro, Irauçuba
e municípios vizinhos
03. Rio Grande
do Norte
Seridó Currais novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaúba dos Dantas,
Caicó e Jardim de Seridó
04. Paraíba Cariris Velhos Juazeirinho, São João do Cariri, Serra Branca, Cabaceiras,
Camalaú, Picuí e Municípios vizinhos
05. Pernambuco
Sertão Central Salgueiro, Parnamirim, Cabrobó, Itacuruba, Belém do São
Francisco, Petrolina, Afrânio, Ouricuri, Araripina e municípios
vinhos
06. Bahia Sertão do o
Francisco
Uauá, Macururé, Chorrochó, Abaré, Rodelas, Curaçá, Glória,
Jeremoabo, Juazeiro e Municípios vizinhos
Fonte: Vasconcelos Sobrino (2002) in BRASIL (2004C).
Assim, deduz-se que a forte e indevida interferência humana nessas áreas,
naturalmente fragilizadas pelas características pedológicas e de condições climáticas, influiu
sobre a formação de tais núcleos. Com efeito, algumas causas humanas são comuns a
todos, enquanto outras estão em função de atividades específicas desenvolvidas nos
municípios abrangidos por elas, de per se, por exemplo: no Seridó, as olarias, com sua
demanda por lenha; em Gilbués a mineração de diamantes; Cabrobó, mesmo sem constituir
como principal causa, diferencia-se das demais pela salinização conseqüente da irrigação; e,
em Irauçuba, o desmatamento para o uso energético da lenha, associada à agropecuária
extensiva, são as ênfases.
Tabela 4 – Principais Características dos Núcleos de Desertificação
Núcleo Área
(km²)
População Solos
(1)
Vegetação Precipitação
Média Anual
(mm)
Causas
Seridó: centro-sul do RN
e centro-norte da PB.
2.861 91.673 T, NL,S Caatinga
Hiperxerófila
500 Desmatamento,
sobrepastoreio,
agricultura e
mineração
Irauçuba: noroeste do
Ceará. Municípios de
Irauçuba, Forquilha e
Sobral
4.045 192.234 T, NL,S Caatinga
Hiperxerófila
700 Desmatamento,
sobrepastoreio e
agricultura
Gilbués: envolve os
municípios Piauienses de
Gilbués e Monte Alegre
5.739 20.459 L, NQ,
A
Campo-
cerrado
1100 Mineração, so-
brepastoreio,
desmatamento e
agricultura
Cabrobó: abrange, em
Pernambuco, os municí-
pios de Cabrobó, Belém
do São Francisco e
Floresta
7.133 71.678 T, NL,S Caatinga
Hiperxerófila
480 Desmatamento,
sobrepastoreio,
agricultura e
salinização
Total 19.778 376.134 - - - -
Fonte: Adaptado de CNRBC (2004). (1): T - luvissolos, NL - neossolos litólicos, S planossolos; NQ
neossolos quartzarênicos e A - argissolos
88
Os resultados da ICID (1992) mostram que, com maior intensidade, a partir de vários
níveis de degradação dos solos, vegetação e recursos hídricos, esse processo acontece em
aproximadamente 18.743,5 km² distribuídos em núcleos de desertificação. Em termos
financeiros, o Nordeste deixa de ganhar cerca de U$$ 300 milhões por ano em razão do
problema. Para recuperar essas áreas degradas, os orçamentos estão perto em torno de
U$$ 1,7 bilhão para um intervalo de vinte anos (MAGALHÃES, 1992).
O Núcleo Redesert (2003) afirmava que, aproximadamente, 55% (mais de 52 mil k)
da região estejam prejudicados pela desertificação. Grosso modo, as áreas nordestinas,
com pluviometria inferior a 500 mm, teriam 21,9% de sua região comprometida, e mostram
que, na Bahia, 47,2% das suas áreas são susceptíveis ao desencadeamento do fenômeno.
Deste montante, 8% estão gravemente atingidos e 38% moderadamente. Ainda, de 1994 a
1998, a degradação ambiental provocou perdas da ordem de 3,5% na produtividade rural
média do Nordeste, afetando principalmente a agricultura de subsistência. A propósito disto,
Saito & Graebner (2002), em estudos feitos no submédio São Francisco sobre uso do solo,
concluíram que não foi observada degradação acentuada dos recursos naturais que
pudessem enquadrar a região em estudo, Cabrobó PE, como em processo de
desertificação.
Por isso foram sugeridos estudos detalhados e inspeções no campo, para verificação
de núcleos de desertificação e sua real extensão, para evitar generalizações acerca do
problema de degradação ambiental, porque o MMA, tomando por base os trabalhos de
Vasconcelos, vincula no plano internacional a ocorrência de Núcleos de Desertificação sem
uma metodologia apropriada para tal comprovação. Acreditam Saito & Graebner (op cit) que
isto pode construir uma imagem negativa e discriminadora do semi-árido que venha a
contribuir com sua estagnação econômica, em vez de promover seu desenvolvimento.
Na realidade, com o fim da Conferência de Nairobi, o fervor das discussões se
abrandou mundo afora, como mencionado antes. Poucos e isolados pesquisadores
insistiram em investigações destes processos, ocorrendo, inclusive, uma estagnação
institucional na abordagem da questão. Até que um ex-pesquisador da equipe de
Vasconcelos Sobrinho retomou a discussão sobre desertificação, mais efetivamente através
da Universidade Federal do Piauí, com a criação do Núcleo Desert, em 1987, o qual passou
a estudar pequenas porções do sul piauiense, como destacou Heitor Júnior (1997).
Sete anos depois, o desenvolvimento do Projeto Áridas, que teve como berço a ICID,
envolveu 500 especialistas para discutir o Nordeste, através de 55 trabalhos - sendo 53
relatórios de Grupos de Discussão e equipes consultoras, 1 relatório executivo e 1 livro -,
síntese sob a perspectiva de uma sustentabilidade regional. Isto deu novo fôlego ao
planejamento estatal, até então se esvaecendo no País, destacando principalmente a
desertificação como um problema, no geral, nacional e, em particular, nordestino.
89
Vários são os estudos e perspectivas de abordagem desse tema polêmico e
contraditório, que ordienamente é discutido com base em indicadores diversos. Como pode
ser visto no próximo quadro, a busca de indicadores de desertificação é marcante na
orientação de trabalhos diversos, que exibem as diferenças quanto aos números, tipos e nos
critérios de classificação das áreas potenciais susceptíveis.
Corroborando as idéias destes trabalhos, et al. (1994) indicam como causas mais
freqüentes da questão: sobrepastoreio, irrigação inadequada, desmatamento, mineração e
cultivos excessivos. Especialmente, em termos de impactos que intensificam os processos
morfodinâmicos, Martins et al. (1994) destacam alguns fatores que contribuem para a
problemática da degradação ambiental nos sertões, dentre eles: a baixa progressiva da
produção rural, diminuição da biomassa afetando a flora e a fauna; degradação dos solos e
a conseqüente aceleração do escoamento superficial que provocam a diminuição da
reposição de água nos aqüíferos; e, em conjunto com a pressão demográfica, sobre o já
debilitado quadro geoambiental, a degradação/desertificação é potencializada.
Conti (2002), por sua vez, a partir da metodologia estatística das séries temporais,
objetivando identificar “ciclicidade” e variabilidade interanual, apontou quatro manchas
áridas com situação crítica na Região Nordeste, isto é, manchas que seriam sinalizadoras
de indícios de desertificação em 50,3% das séries (237 séries distribuídas pelo semi-árido)
com tendência estável ou decrescente.
A primeira identificada foi a Diagonal Árida do Ceará. A segunda área, com a
concentração de pontos com tendência pluviométrica negativa, ocorre na depressão do
médio São Francisco, a jusante de Paulo Afonso, em um polígono de 20.000 km², com
vértices em Santana de Ipanema (AL), Canudos (BA), Itabaiana e Propriá (SE). O fato é que,
em seu interior, ocorrem mais quatro localidades com tendência negativa, inclusive com os
maiores valores médios de duração seca do semi-árido, 7 a 10 meses, quais sejam:
Curralinho e Mocambo em Sergipe, Traipu e Pão de Açúcar em Alagoas.
O Médio São Francisco, a montante de Juazeiro, corresponde à terceira parte e a
quarta abrange o rio de Contas, na região de Jequié, Estado da Bahia.
Discrepâncias sobre a temática, são acentuadas também em função de abordagens
diferentes em relação à eleição de indicadores de desertificação (Quadro 12).
Para Ferreira et al. (1994) interessou acompanhar a complexidade de indicadores
relacionados a fatores populacionais, econômicos, bioecológicos e de tecnificação
agropecuária. A EMBRAPA (1994) assinala aspectos sobre ocupação, erosão
morfopedológica e precipitação, ao tempo em que o MMA (1998), genericamente, porém
não menos importante, enfatiza a relação entre precipitação e evapotranspiração, associada
ao antropismo. Por conta disto, ocorrem diferenças nas áreas ou no grau de ocorrência da
desertificação (Tabela 5). Por exemplo, o PNCD (1997) defende a idéia de que 181.000 km²
das áreas nordestinas são problemáticas, podendo ser consideradas de muito grave a
90
grave; ou, considerando as classes no intervalo entre muito grave a moderada, a
desertificação pode variar de 172.124 km² até máximos 574.361 km², espacializada de
acordo com a Figura 4. Essa ainda mostra as Áreas de Atenção Especial e a
susceptibilidade à desertificação.
Quadro 12 – Indicadores relevantes conforme a escala de monitoramento
Trabalhos Indicadores
Ferreira el at. (1994)
Densidade demográfica, sistema fundiário, mineração, qualidade da água, salinização,
tempo de ocupação, mecanização, estagnação econômica, pecuarização, erosão,
perda de fertilidade, área de preservação, defensivos agrícolas, área agrícola,
bovinocultura, caprinocultura, ovinocultura, evolução demográfica, susceptibilidade a
desertificação.
EMBRAPA (1994)
Precipitação, classe de solo, relevo, sensibilidade à erosão e tempo de ocupação.
Sá et al. (1994)
Propriedades do solo relacionadas com isoietas pluviométricas de 500mm/ano
marcando as áreas mais secas do Nordeste. Destaque ao vel de degradação
pedológica, relevo, erosão, tempo de ocupação.
Lemos (1995)
Evolução da cobertura de vegetação, evolução da produtividade do feijão e do milho,
evolução da capacidade de suporte das pastagens, cobertura vegetal em 1985
MMA (1998)
Índice de aridez e antropismo
Fonte: Sá et. al, (1994), MMA (1998) e (CNRBC, 2004)
No plano da observação, uma tentativa de uniformização de indicadores para estudos
de monitoramento da desertificação no Nordeste brasileiro, o Instituto Interamericano de
Cooperação para a Agricultura (IICA, 2003) organizou uma relação de indicadores, os quais
constam no Quadro 13.
Tabela 5 – Área (km²) afetada pela desertificação segundo diferentes autores
Degradação Ferreira el at. (1994) EMBRAPA (1994) MMA (1998)
Muito grave 52.425 118.667 98.595
Grave 247.831 31.616 81.869
Moderada 365.285 21.841 393.897
Total 665.543 172.124 574.361
Fonte: (CNRBC, 2004).
Muito embora a degradação/desertificação possa ser, por diversas concepções,
considerada um processo irreversível, experimentos em áreas com processo de
desertificação em Gilbués Piauí, em 18 hectares, divididos em 8 parcelas com agricultura
de subsistência, plantio com espécies nativas e outra parcela ficando em pousio,
demonstraram que após três anos a vegetação vinha se recuperando, sobretudo na parcela
que ficou isolada; mas; em última observação, é certo que, ao longo do processo
degenerativo do meio físico, ocorrem profundas mudanças sociais, tecnológicas e dos
padrões de uso da terra, atuando como um feedback e/ou como forma de adaptações das
populações às condições progressivamente adversas. Através da migração, urbanização
acelerada, ampliação dos investimentos públicos em infra-estrutura física e social, assim
como a intensificação dos padrões de consumo dos recursos naturais, sobretudo, água e
vegetação, os padrões de uso e ocupação do solo são alterados e efeitos ambientais são
deflagrados, como adverte Brasil (2004c).
91
Destarte, os fortes impactos socioambientais ao meio ambiente vulnerável parecem
resguardar a maior responsabilidade pelos processos de degradação/desertificação,
sobretudo na substituição da erosão natural pela erosão acelerada, potencializada pelas
enxurradas de verão. Seria mais confiável afirmar que o problema de agravamento de
degradação ambiental e ressecamento dos solos, que pode culminar com a desertificação, e,
conseqüente dos desmatamentos e da não-conservação dos solos, mais do que de uma
possível diminuição da chuva por mudanças climáticas, mesmo que em escala regional.
Na realidade, desconsiderando a formação de desertos climáticos e ecológicos, e
considerando a ação humana no que tange à crescente perda da capacidade produtiva dos
ecossistemas e ulcerações nas paisagens áridas, semi-áridas e subúmidas secas, além de
diferenciar desertização de desertificação, é bem provável que processos de
degradação/desertificação atuem no Brasil, especificamente no semi-árido nordestino; isto a
partir de uma relação estreita entre seca e degradação ambiental. No geral, como destacou
CNRBC (2004), este problema atinge esta região, e o bioma caatinga em particular.
E, ainda, não de esquecer de que uma revisão da literatura sob uma perspectiva
epistemológica de construção do conceito de desertificação demonstra que o mesmo foi
forjado para retratar os problemas de ressecamento dos solos e expansão de desertos em
Sahel, generalizando ocorrências semelhantes ao restante do Planeta para desertificação.
Isto demanda, minimante, estudos regionais e locais, em busca de melhor conhecimento
dos problemas socioambientais de áreas afetadas por este problema.
No campo institucional, o Governo brasileiro acha que a falta de decisão política e de
consenso da comunidade científica incentivou disputas conceituais e metodológicas que
provocaram dispersão de esforços”, inviabilizando a constituição de linhas de pesquisa de
áreas de estudo (MMA, 1997).
No concerto internacional, a partir da ICID (1992), negociou-se nas Nações Unidas a
Convenção Internacional de Combate à Desertificação e à Seca, entre o período de 1993 a
1994, da qual o Brasil se tornou signatário. A agência implementadora no país foi a
Fundação Grupo Esquel Brasil (FGEB), posteriormente apoiada pela FAO e pelo PNUMA.
O conceito oficial de desertificação, deveras, já foi aprovado como lei, sancionada pelo
Presidente da República, ficando difícil incluir áreas que estejam fora dessas rubricas
taxativas. Além do mais, internacionalmente foi promulgada em mais de 80 países, quando
o mínimo necessário para ser convalidada seria somente de 50 Estado-Nações. Por isto, é
válida nacional e internacionalmente (MMA, 1999).
92
Desertificação no Brasil conforme a Embrapa, 1994
Desertificação no Brasil, segundo MMA 2002
Susceptibilidade à desertificação no Brasil, de acordo com MMA (1997)
Figura 4 - Abordagens de tratamento da desertificação
93
Quadro 13 - Indicadores de Desertificação Consensuados
Indicadores de Desertificação Importância Abrangência Como Medir
Indicadores Ambientais
Cobertura vegetal 1 N % Área cobertura/área total
Biomassa da caatinga 1 L Massa foliar tonelada
Biodiversidade vegetal 1 N Inventário florístico (espécie/ha)
Desmatamento 1 N Variação da cobertura
Presença de espécie indicadoras 1 L Inventário florístico (espécie/ha)
Consumo produtos vegetais - lenha/consumo 1 N Tonelada/ha/ano
Consumo produtos vegetais – consumo/oferta 1 N Tonelada/ha/ano
Fauna (diversidade, densidade, distribuição) 2 L Inventário faunístico
Uso do solo 1 N Área/classe de uso
Grau de erosão 1 N Tipo de classe/há
Grau de salinização 1 L Classe
Área salinizada 1 L Área salinizada/total irrigada
Sobrepastoreio 1 N (carga animal/ha)/capacidade de
suporte
Albedo de superfície 2 N I/R classe área
Indicadores Hidrológicos
Uso das águas superficiais e subterrâneas
- -
Oferta/demanda
Oferta/demanda – Stress hídrico – IPH 1 N Vazão (m³/s)
hab/ano (classe)
Água armazenada à céu aberto 1 N Estimativa volume (área/ha)
Qualidade da água 1 L Índice de qualidade da água (IQA
9 parâmetros)
Assoreamento/sedimentação 1 L Descarga sólida/ descarga líquida
Mananciais superficiais (vazão/tempo) 1 L m³/s – (vazão rios)
Poços (vazão/tempo) 2
L
Teste de bombeamento (m³/h)
DNPM
Indicadores Socioeconômicos
Densidade demográfica 1 N Hab/km²
Taxa de migração 2 N TM= (M/((E+R)*n)*100
Taxa média de crescimento populacional anual 2 N (Pt2 – Pt1) – 1
Estrutura da idade 1 N P(0-19 anos)/Pt*100
PEA/gênero 1 N P(20 – 59 anos)Pt*100
P(60 – 59 anos)Pt*100
% de mulheres chefes de família 1 N Mulheres chefes de família
Renda agrícola das famílias/renda total por famílias 1 N ($ agrícola família/$família)
Incidência de pobreza 1 L IDH Índice de Pobreza
Enfermidades maior incidência (vinculação hídrica) 1 N de atendimento SUS
Saneamento (serviços sanitários) 1 N % de residências rurais que
possuem sanitários
Mortalidade infantil 1 L Mortos até 5anos/100
Escolaridade 1 L Média de anos na escola
Estrutura fundiária
1 L Distribuição de classes de
propriedades
Quantos proprietários
Índice de GINI
Indicadores Institucionais
Controle estatal/Fiscalização - - -
Plano diretor - - -
Capacitação - - -
Associação de municípios - - -
ONG’s/OSCIP - - -
Conselhos - - -
Recursos orçamentários - - -
Marcos legais - - -
Integração de Programas - - -
Institucionalização - - -
Indicadores Climáticos
Índice de aridez - - -
Índice de Precipitação Padronizado - - -
Fonte: Adaptado de Brasil (2004c). Nota: N-Escala Nacional; L – Escala Local
94
Mesmo carecendo de uma revisão do que foi discutido até hoje sobre a desertificação,
diversos autores especulam que ocorram outras áreas muito problemáticas no País com
profundos problemas de degradação ambiental, com perda da capacidade bioprodutiva dos
recursos naturais, que podem ser, segundo critérios diversos, consideradas como afetadas
pela desertificação, mesmo em ecozonas climáticas úmidas. Para exemplificar, Ab’Saber
(1977b) considera que, desde o Maranhão ao sudeste da Amazônia, até o Rio Grande do
Sul, podem ser encontrados pontos com evidências de desertificação. Reconhece profundas
feições de degradação ambiental no domínio dos cerrados e mares de morros, sendo que,
para o sul amazônico, chamou o processo de “savanização”, com alterações na fisiologia da
paisagem, com desperenização dos mananciais.
Em 1990, Mendonça, citado por Suertegaray (2003), disse que o norte/noroeste do
Paraná apresenta degradação ambiental generalizada. À época, considerou que este
processo possa se desenvolver em áreas que não sejam secas. Observou-o como processo
de desertificação ecológica, com aumento das temperaturas médias, concentração de
precipitação, rebaixamento do lençol freático e erosão de áreas.
Em caráter oficial, no mais, o Governo reconhece áreas com profunda degradação
ambiental que carecem de estudos mais pormenorizados, sendo consideradas Áreas de
Atenção Especial (Figura 5b). São os processos de arenização no sul do País e
ressecamento progressivo do solo na região Centro-Oeste, respectivamente na Campanha
Gaúcha (Rio Grande do Sul) e no Jalapão (Tocantins), que não se enquadram na definição
oficial de desertificação.
Realmente, um profundo processo de degradação corrente na região sudeste do
Rio Grande do Sul, também chamada de Zona das Coxilhas e Região das Campinas
Meridionais. É uma região com uma história econômica degradadora e um ambiente
vulnerável, com uma geologia representada por um substrato basáltico-arenítico não
consolidado (formações superficiais), com vegetação autóctone de gramíneas acometidas
pela intensificação do processo de escoamento concentrado, habitual em clima úmido atual.
Os solos onde se desenvolve a vegetação apresentam textura arenosa, sobressaindo as
nesossolos quartzarênicos, argissolos vermelho-amarelos e latossolos vermelho-Escuros
com textura média, os quais sofrem fortes processos erosivos a partir de ações eólicas e
pluviais (KLAMT 1994 in GUERRA e BOTELHO, 2001).
Formam areais e, em termos paisagísticos, correspondem ao retrabalhamento de
processo do clima úmido atual sobre as formações superficiais características de clima
semi-árido e semi-úmido de um passado recente (SUERTEGARAY, 2003).
retrabalhamento de depósitos areníticos ou arenosos, pouco ou não consolidados, portanto,
provocando degradação litológica, provavelmente do Quaternário, que dificultam, nestas
áreas, a fixação da vegetação, dada a intensa mobilidade dos sedimentos expostos,
transportados e depositados pela ação das águas (sobretudo com escoamento concentrado
95
do tipo ravina ou voçoroca) e dos ventos. Embora esta erosão seja intensa, não constitui de
desertificação. É um fenômeno ocorrente sob precipitações oscilantes em torno de 1.400
mm/ano, sem haver evidências de aridez. Portanto, ocorre sob clima úmido, com índice de
aridez na casa de 0,65, em que a redução do potencial ecológico não define condições
tipicamente desérticas. Pelo contrario, é a abundância de água, associada aos processos
eólicos, que dita a dinâmica dos processos correlatos à erosão dos solos. Mesmo que
documentos de 1810 registrassem os areais, ao longo da história as formas de uso da
terra vêm intensificando esse processo (SUERTEGARAY, 1994).
Assim, nessas condições climáticas, a paisagem é dissecação, corroborada pelo
desmatamento e ocupação indistinta das encostas, com pecuária e agricultura
potencializando a formação de ravinas e voçorocas (GUERRA e BOTELHO, op cit).
Pelos argumentos apontados, o Rio Grande do Sul não apresenta região afetada pela
desertificação (SUERTEGARAY et al. 2004). Suertegaray (2003) prefere chamar esta
degradação de arenização ou formações de areais, constituídos, principalmente, por
arenitos eolicamente retrabalhados, de gênese natural. Seu aumento, porém, ocorre a razão
do devido ao uso irregular da terra pela pecuária, com superpastoreio, expansão e
mecanização do plantio de soja, principalmente nos Municípios de Maçambará, Manuel
Viana, São Francisco de Assis e Alegrete.
Os areais representam cerca de 3,67 km
2
(3663,00 ha). Os autores ainda
acrescentaram 1600 ha de áreas denominadas focos de arenização. No conjunto, as áreas
degradadas, respondendo por estes processos, representam 0,26% da área total da região
sudoeste daquele Estado. A tabela 6 demonstra a área dos municípios afetados pela
arenização e a porcentagem de areais por município.
Tabela 6 – Municípios afetados pelos Areais no Rio Grande do Sul
Município Área (km²) Área de areais (km²)
% de areais por
município
Alegrete 7.891,92
13,21
0,1675
Cacequi 2.353,52
0,14
0,0061
Itaqui 3.291,99
0,18
0,0056
Maçambará 1.668,83
4,62
0,2773
Manuel Viana 1.667,75
5,48
0,327
Quaraí 3.255,60
2,99
0,092
Rosário do Sul 4.404,61
1,12
0,0255
São Borja 3.525,65
2,77
0,0435
São Francisco de Assis 2.171,14
5,88
0,2712
Unistalda 641,47
0,24
0,038
Total 30.872,48
3,67
1,2537
Fonte: Suertegaray et al. (2004)
No norte brasileiro, no Estado de Tocantins, profunda degradação ambiental ocorre no
Jalapão, região que compreende a capital estadual Palmas-, e cidades adjascentes de
Novo Acordo, Natividade e Dianápolis. A capacidade produtiva dos geoambientes é
reduzida, vulnerabilizada por fatores ambientais, com uma geologia representada pela
unidade estratigráfica da Formação Urucuaia, do Cretáceo Superior, de seqüência basal de
96
conglomerado, siltitos, argilitos e folhelhos oriundos de sedimentação eólica e lacustre,
ocorrendo, ainda, estratificações cruzadas ou planoparalelas. A geomorfologia apresenta
planos e chapadões aplainados, com serras do tipo mesa e morros testemunhos com
bordas ruiniformes. A cobertura vegetacional ocorre por conta, basicamente, de resquícios
de cerrados e campos, com ocorrência de matas ciliares (ARRUDA, 2003).
Para salvaguardar um mínimo de patrimônio ambiental, assim como recuperar as
áreas degradadas, existem unidades de conservação, como o caso da Área de Proteção
Ambiental da Serra de Tabatinga (APA) e Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins,
ambas federais. Reguladas pelo Estado, apresentam-se a APA e o Parque Estadual do
Jalapão.
Em prol de uma efetivação no combate à desertificação, uma compilação documental
de suma importância adotada no Brasil junto à Convenção de Combate à Desertificação
(CCD), foi consubstanciada no documento "Diretrizes para a Política Nacional de
Controle da Desertificação. Projeto BRA 93/036. Plano Nacional de Combate à
Desertificação", aprovado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Constituí
um marco político para a elaboração do Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-BRASIL), lançado na semana de 3
a 6 de agosto de 2004, em Fortaleza-CE. Tais diretrizes foram aprovadas na 49ª Reunião
Ordinária do CONAMA, e entrou em vigor a partir da publicação da Resolução N° 238, de 22
de dezembro de 1997, com o objetivo básico de alcançar o "desenvolvimento sustentável
nas regiões sujeitas à desertificação e à seca (...)". E (...) “contribuir para o fortalecimento
dos municípios afetados com vistas ao desenvolvimento de estratégias locais de controle da
desertificação”, (MMA, 1997:02), sendo que a participação popular deveria estar presente
em todas suas etapas para promover ações de controle da desertificação.
Assim, a desertificação, como processo-síntese de muitos instrumentos convergentes
de política de recursos dricos, gestão ambiental e combate àos efeitos da seca, elegendo
espaços a serem objetos de identificação de demandas e de implementação das políticas
locais, para o MMA (op cit.), privilegiou a elaboração de alguns componentes de uma
estratégia nacional de controle desse fenômeno, quais sejam: fortalecimento e interação
institucional; fortalecimento da comunicação e fluxo de informação sobre a desertificação;
capacitação gerencial e técnica de pessoal em gestão de recursos naturais em áreas
sujeitas à desertificação; conscientização, sensibilização e mobilização dos atores do
desenvolvimento sustentável em áreas sujeitas a riscos de desertificação; criação de uma
capacidade operacional de controle da desertificação no plano local; elaboração de
estratégias de monitoramento, prevenção e recuperação das áreas em processo de
desertificação; e definição de projetos e ações prioritárias.
Entrementes, os resultados com tal plano não foram a contento por problemas
financeiros e por haver um desconhecimento nacional por parte da opinião pública sobre a
97
problemática da desertificação, somada a um desconhecimento no âmbito de algumas áreas
do conhecimento científico, que direta e indiretamente para a escassez ou inexistência de
programas de pesquisa e formação de recursos humanos direcionados ao problema, para
oficialmente serem formuladas as bases sólidas norteadoras para o tratamento da questão
(HEITOR JÚNIOR, 1997).
De fato, foi somente com uma portaria publicada no Diário Oficial da União em
24/06/03, pela Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, criando grupos de trabalho
formados com representantes da sociedade civil, ONG’s, universidades e centros de
pesquisa e, além do próprio Ministério, que um programa oficial para o tratamento da
desertificação começou a tomar corpo, tendo sido materializado, legal e teoricamente,
denominado, simplificadamente, de Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-BRASIL).
2.3.3 - PROGRAMA DE AÇÃO NACIONAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E
MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA (PAN-BRASIL)
O Governo Brasileiro trata o problema da desertificação em uma perspectiva
socioambiental, contextualizado no combate à pobreza, através da consolidação do PAN.
Além de propor avaliações das ações desenvolvidas para o aperfeiçoamento dos objetivos
da UNCOD, trata-se de um programa voltado à inserção dessa temática no planejamento
global do País, assim como busca pactos sociais e institucionais e é orientado pelas
diretrizes de convenções, declarações, conferências e planos governamentais, a saber:
Convenção de Combate à Desertificação (CCD), na ordem do cumprimento das
responsabilidades brasileiras; Agenda 21; Declaração do Semi-árido de 1999, escrita em
Recife, enquanto resultados da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas
de Combate à Desertificação (COP3); Conferência Nacional do Meio Ambiente (2003) e
pelas estratégias do Planejamento Plurianual (PPA 2004 - 2007) do Governo Federal.
Do PPA derivaram eixos temáticos que orientaram a construção do PAN, quais sejam:
1) Combate à Pobreza e à Desigualdade; 2) Ampliação Sustentável da Capacidade
Produtiva; 3) Preservação, Conservação e Manejo Sustentável dos Recursos Naturais; e 4)
Gestão Democrática e Fortalecimento Institucional. Ainda houve contribuições técnica e
financeira por meio de cooperações internacionais da CCD, Governo Alemão - por
intermédio da Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (gtz) e do Deustscher
Entwcklungsdienst (DED) -, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) e do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
Sem dúvidas, o PAN constitui-se como o principal e mais importante documento
elaborado sobre a temática no âmbito nacional. Por isso, é imperativo que qualquer
discussão, convenção e trabalho técnico ou científico que trate do tema em relevo deva
analisá-lo. Esta tarefa não foge ao domínio de, pelo menos, um tratamento aproximativo por
98
parte desta tese. Seu processo de elaboração considerou aspectos técnico-científicos e
outros conhecimentos acumulados pela população local, buscando integrar ações e
programas dos vários Ministérios, sob pressupostos da democracia participativa. Isto como
um marco na ratificação do Governo brasileiro no cumprimento de seus compromissos
frente à CCD, no âmbito das políticas públicas de desenvolvimento sustentável na busca da
erradicação da pobreza e da desigualdade.
Brasil (2004c) valoriza, ainda mais, afirmando que, embora tenha sido coordenado
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), a implementação desse Programa envolve todos
os governos dos estados nordestinos, além dos de Espírito Santo e Minas Gerais, sem
esquecer de vários outros ministérios e órgãos públicos, como: Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Integração Nacional, Ministério do
Planejamento e Orçamento (MPO), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Ministério do Desenvolvimento Social,
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF),
Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), Banco do Nordeste brasileiro
(BNB) etc (Quadro 14).
Quadro14 - Instituições participantes do PAN-BRASIL
Ministérios Instituições Parceiros
Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA),
Agência Nacional de Água (ANA) PNUD
Ministério da Integração Nacional
(MDA)
Associação Maranhense par aa Conservação da
Natura (ASPAN/ASA/RIO)
Mecanismo Global da
UNCCD
Ministério do Planejamento e
Orçamento (MPO),
Banco do Nordeste do Brasil (BNB) Agência de
Cooperação Técnica
Alemã
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (MAPA),
Comissão Econômica para América Latina
(CEPAL)
Instituto interamericano
de Cooperação para
Agricultura
Ministério da Ciência e Tecnologia
(MCT),
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e Parnaíba (CODAVASF)
Articulação do Semi-
árido Brasileiro (ASA)
Ministério do Desenvolvimento
Social
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DENOCS)
-
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA)
-
Ministério da Educação (MEC) Fundação Grupo Esquel Brasil (FGEB) -
Ministério da Previdência Social Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) -
Ministério da Saúde Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) -
Ministério das Cidades Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)
-
Ministério de Minas e Energia Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA)
-
Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome
Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA)
-
Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) -
Ministério dos Transportes Instituto Regional de Pequena Agropecuária
Apropriada (IRPAA)
-
Rede de Educadores do Semi-árido Brasileiro
(RESAB)
-
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São
Francisco e Parnaíba (CODEVASF)
-
Fonte: Brasil (2004c)
99
Este Programa tem caráter prioritário para o Governo federal, demandando ações
proativas na redução da desertificação, bem como da pobreza, haja vista que, diferente do
PPA de 1998-2002, Programa Avança Brasil, o PPA 2004-2007 atenção especial àquela
degradação socioambiental.
Em ntese, o documento apresenta sete capítulos, sendo que no primeiro são
destacados conceitos sobre a semi-aridez, desertificação e alterações climáticas, para que
fossem definidas as Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD). No capítulo subseqüente,
foi feito um historicismo das ações desenvolvidas no Brasil, pertinente ao combate à
desertificação.
O terceiro capítulo relata os principais momentos de construção do PAN. E, no próximo,
foram delineados os marcos estratégicos e os eixos centrais do Programa. Prosseguindo, o
quinto capítulo mostrou as ações centrais a serem desenvolvidas nos eixos temáticos
destacados no PPA, para no penúltimo capítulo demonstradar estrutura gestora envolvente
das estruturas estratégicas, táticas e operacionais. No derradeiro, foi destacada a
importância da promoção do sinergismo das convenções de combate à desertificação,
mudanças climáticas e diversidade biológica.
Por tudo isto, delimitou Áreas Susceptíveis à Desertificação com base nos
pressupostos da Convenção de Combate à Desertificação (CCD), que considera a
classificação climática de Thornthwaite de 1941, como referência. A precipitação
pluviométrica foi calcula com base em séries históricas de 1.255 estações pluviométricas.
Para a estimativa de evapotranspiração potencial, foram considerados dados de
temperatura, umidade relativa, velocidade do vento e insolação de 91 estações
meteorológicas.
Nas definições da Convenção de Combate à Desertificação (CCD), aplicadas ao Brasil,
as Áreas Susceptíveis à Desertificação ocorrem no Nordeste, em seus espaços semi-áridos
e subúmidos secos. Além de áreas do Sudeste, nos Estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, periodicamente afetadas pela seca, correspondem às Áreas Semi-áridas, Subúmidas
Secas e Áreas de Entorno, conforme mais bem destacado no Capítulo 4 Nordeste e sua
Complexidade Ambiental.
As Áreas Susceptíveis à Desertificação representam 1.338.076 km² (15,72% do
Território nacional), abrigando uma população de 31.663.671 milhões de habitantes,
(18,65% da população do Brasil). Cerca de 62,19% vivem em áreas urbanas (19.692.480) e
37,81% (11.971.191) no meio rural, a partir de uma densidade demográfica de 23,66
hab./km², taxa de urbanização de 62,19%, em 1.482 municípios (Tabela 7).
Neste contexto, toda a bacia do Acaraú está incluída nas ASD’s da seguinte maneira,
conforme Brasil (2004c):
Áreas Semi-Áridas: Ararendá, Canindé, Cariré, Hidrolândia, Ipu, Ipueiras, Monsenhor
Tabosa, Nova Russas, Santa Quitéria, Sobral e Tamboril. Totaliza 11 municípios, ou seja,
100
10,4% dos 105 municípios cearenses e 1,3%, dos 804 municípios nordestinos nesse
ecodomínio.
Tabela 7– Número de Municípios das Áreas Susceptíveis à Desertificação, por Estado
Número de Municípios das ASD Estado
Áreas Semi-Áridas Áreas Subúmidas
Secas
Áreas de Entorno Total das ASD
Maranhão - 1 26 27
Piauí 96 48 71 215
Ceará 105 41 38 184
Rio Grande do Norte
143 12 3 158
Paraíba 150 47 11 208
Pernambuco 90 39 6 135
Alagoas 33 13 7 53
Sergipe 6 28 14 48
Bahia 159 107 23 289
Minas Gerais 22 61 59 142
Espírito Santo - - 23 23
Total 804 397 281 1.482
Fonte: BRASIL (2004C).
Áreas subúmidas Secas: Acaraú, Cariré, Forquilha, Groaíras, Marco, Massapê,
Meruoca, Pires Ferreira, Reriutaba, Santa do Acaraú, Morrinhos e Varjota. Totaliza 12
municípios, isto é, 29,2%, dos 41 municípios cearenses e 3% dos 397 nordestinos.
Áreas de Entorno: Alcântaras, Bela Cruz, Cruz, Graça, Ibiapina, Mucambo, Pacujá,
São Benedito. No total 8, quer dizer, 21% dos 38 municípios estaduais e 2,8% dos 281
regional.
Embora as ASD’s tenham pluviometria, em termos relativos, superior a outras regiões
semelhantes do Planeta, abriga a maior densidade humana das ecozonas semi-áridas
mundiais, sem se esquecer de que resguarda um bioma único no mundo, que é a caatinga
(CNRBC, 2004). As Áreas Susceptíveis à Desertificação, muitas vezes, são vistas como
“áreas-problemas” ou “deprimidas”. Felizmente, pelo menos no campo ideológico, o PAN
aspira a uma nova perspectiva vendo estas áreas como capazes, de eficaz e eficientemente,
contribuir para o desenvolvimento do país.
Além do mais, a Agenda 21 brasileira destaca o combate à desertificação através de
planejamento estratégico, participativo, com abordagem multissetorial e de parcerias no
trabalho sobre o meio ambiente, economia, sociedade e instituições, que deve ser
conduzida pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável. É importante
referenciar que será a partir das Áreas Susceptíveis à Desertificação que a
degradação/desertificação será trabalhada daqui por diante, para o alcance do escopo
pretendido. E, é claro, dirimida a semântica entre desertificação e desertização!
Por fim, em relação à situação atual de políticas dos Estados nordestinos no Combate
ào problema em epígrafe, encontram-se com agendas definidas ou em processo discussão,
respectivamente, Bahia, Paraíba e Pernambuco, e Ceará e Piauí.
O Estado do Ceará, do ponto de vista fisiográfico e ecológico, apresenta
características arrimas das diversificadas expressões entre os seus componentes de
101
potencial ecológico, exploração biológica e organização socioespacial de seus quadros sub-
regionais historicamente forjados. De acordo com Martins et al. (1994), com uma área total
de 148.016 km², este Estado apresenta cerca de 92,1% de suas terras em domínio semi-
árido (cerca de 136.335 km²), isto é, a maior área semi-árida proporcional, por estado, do
Nordeste brasileiro.
Em termos de rusticidades climáticas, 85% de seu território está inserido na isoieta
abaixo de 800 mm/ano (LEITE et al. 1993), o que contribui para acentuar a fragilidade dos
geossistemas das terras secas, que promove baixa sustentabilidade ambiental e alta
vulnerabilidade à degradação/desertificação.
Não obstante, até o final da década de 1990, a despeito do Brasil, os projetos que
tratavam da desertificação no Ceará estavam à míngua. Com a falta de investimentos
governamentais e a escassez de recursos, as propostas de monitoramento da exploração
de atividades econômicas, considerando-se desde os incêndios a inundações, estavam
praticamente estagnadas, como oportunamente denunciou o Jornal Diário do Nordeste, em
1997. Outro problema é que os estudos sobre desertificação neste Estado eram
considerados divergentes e antigos. Isto porque diferentes trabalhos utilizaram aspectos
investigativos distintos; de um lado, considerava-se apenas a redução da capacidade
produtiva da terra, o deterioramento do patrimônio do agricultor, a erosão dos mananciais e
agravamento dos efeitos da seca. Noutro extremo, eram consideradas as situações das
pastagens, o antropismo e a educação da população, bem como outros problemas
socioeconômicos das regiões afetadas.
Como exemplo de degradação ambiental, acreditam Martins et al. (1994) que o Ceará
tinha, em 1994, cerca de 108.822,6 km² ou 73,5% de sua área com alteração da cobertura
vegetal. No que tange aos recursos biológicos, com a degradação dos solos, et al.
(1994) concluíram que 77.085 km², ou cerca de 52,3%, dos solos estaduais estavam em
processo de degradação variando de uma escala de moderado a muito forte. Noutro pólo,
apenas 26.5% do total foram consideradas áreas que resguardavam algum tipo de
adensamento da cobertura vegetacional. O processo de degradação ambiental no Ceará,
contudo, ocorre mais pelas intervenções socioeconômicas e culturais do que pelos fatores
ambientais e sua dinâmica natural (SOUZA, 1998). A não-observância de formas
conservacionistas no uso e ocupação da terra tende a produzir sérios problemas de
deterioração ambiental, pondo em risco a capacidade produtiva dos solos e a qualidade
ambiental, em face da dinâmica econômica hodierna.
Na realidade, a degradação/desertificação se trata de uma dívida social, porque o ônus
ambiental historicamente arrolado no país contribuiu para uma contingência de impactos,
dentre os quais a problemática em tela é uma das mais representativas do débito, que se
manifesta no Nordeste, assinalando o Ceará.
102
Segundo Martins et al. (op cit.), desta forma, as maiores evidências de degradação
ambiental com indícios de desertificação apresentam-se emergentes, pois um
empobrecimento ou depredação dos ecossistemas subúmidos, áridos e semi-áridos sob a
ação combinada das deficiências hídricas e das atividades socioeconômicas. Destacaram
os autores as áreas mais afetadas no Ceará como sendo as de maciços úmidos e
subúmidos, sertões dos Inhamus, médio Jaguaribe e alto–médio Acaraú. Completam,
dizendo que os impactos ambientais são agravados pela “baixa rentabilidade e
vulnerabilidade dos empreendimentos rurais e pelo despreparo estrutural e inadequado das
tecnologias empregadas”. (p. 20)
Rodriguez e Silva (2002) ao elaborar mapa de paisagens e vulnerabilidade à
desertificação no Ceará, por fatores biofísicos (clima, relevo e litologia) e humanos (uso da
terra) e discutir seus resultados, atestam que aproximadamente 70% desse Estado seja
susceptível a alterações por degradação. 25% desse montante encontram-se como
paisagens em situação altamente delicada, sobretudo, nas áreas semi-áridas e subúmidas
secas, incluídas aí porções do território da bacia do rio Acaraú.
Esses autores enquadraram a bacia do Acaraú da seguinte maneira: em seu baixo
curso, a vulnerabilidade é de leve a moderada; no médio curso, de moderada ,passando a
forte e muito forte; e, no alto curso é forte, muito forte e apresenta núcleo de desertificação,
o fato é que as atividades socioeconômicas que provocam a desertificação e a redução da
biodiversidade andam de mãos dadas”, avançando gradual e ininterruptamente, estando o
último fator refletido no primeiro na vulnerabilidade ambiental do Ceará (CEARÁ, 1994) e,
nessa linha, na bacia em estudo.
Um dos mais importantes trabalhos sobre a desertificação no Ceará se deu por conta
dos estudos de Leite et al (1993), citados anteriormente. Produziram um mapa de isolinhas,
com escala de 1:800.000, mostrando que 74.651,2 km² ou 50,4% do Estado se encontram
no semi-árido (no intervalo 0,21 a 0,50 do índice de aridez). Destes, 11.459,4 km² ou 7,7%
do Estado situa-se na classe considerada mais crítica, ou seja, entre as isolinhas de 0,30
0,40. Associado a esse mapa, construíram outro sobre áreas degradadas susceptíveis aos
processos de desertificação, concluindo que, aproximadamente, 15.130 km² ou 10,2% das
terras cearenses estão envolvidas nesse problema, onde a presença de atividades
socioeconômicas é costumeira em todas as áreas, sendo que:
a região do médio Jaguaribe tem a maior mancha com incidência de desertificação.
O Município de Jaguaribe lidera o índice de degradação ambiental/desertificação, com cerca
de ¼ de suas terras atingidas (23,54%). Enquanto isso degradações de 17,59% e 11,34%,
respectivamente, atingem Jaguaretama e Jaguaribara área hoje quase totalmente
inundada pelo maior açude do Estado, o Castanhão. Manchas menores foram observadas
em Morada Nova, Alto Santo, São João do Jaguaribe, Iracema, Potiretama e Icó.
103
Em síntese, além das áreas destacadas, outras mais vulneráveis foram mapeadas,
como:
Inhamus/Sertão de Crateús, com destaque para os Municípios de Tamboril
(pertencente a bacia do Acaraú), Crateús, Independência, Tauá, Arneiroz e Aiuaba.
Irauçuba, Município do Norte estadual, limítrofe a Bacia do rio Acaraú, apresentou-se
quase todo encravado em áreas susceptíveis à desertificação. Piorando a situação,
enquadra-se dentro do menor intervalo do índice de semi-aridez (0,30 0,40). Portanto, é
considerado o Município mais crítico do Ceará no contexto da degradação/desertificação,
além de ser considerado pelo MMA como Núcleo de Desertificação, juntamente com Sobral
e Forquilha.
Para a bacia do Acaraú, assinalam-se os seguintes casos:
1- índice de aridez (P/ETP) = 0,41 0,45 medianamente crítico. Atribui-se às áreas
do médio Acaraú, compreendendo porções dos Municípios de Santa do Acaraú, Massapê,
Sobral e Forquilha, e alto Acaraú, Tamboril; 2- índice de aridez (P/ETP) = 0,46 0,50
menos crítico. Áreas dos Municípios mencionados acima, nos setores do médio-alto Acaraú,
sobressaem, Catunda, Hidrolândia, Tamboril, Monsenhor Tabosa e Nova Russas. No baixo
Acaraú, Bela Cruz; 3 – índice de aridez (P/ETP) = 0,30 – 0,40 – mais crítico: Sobral
(pequena porção no sudoeste).
A degradação física e biológica, tomando por base o grau de reflectância das áreas e a
redução da biomassa perceptíveis nas áreas decapeadas, havendo coincidência ou não
com os parâmetros do índice de aridez, estabelecem-se que as áreas susceptíveis à
desertificação na bacia são porções dos Municípios de Santa Quitéria, Catunda, Tamboril,
Forquilha, Sobral, Massapê e Santa do Acaraú. E as áreas perceptíveis nas imagens de
satélite com profundas degradações ambientais abrangem pequenas porções no noroeste
de Cariré, Pacujá, Groaíras, Santa Quitéria, Hidrolândia, Santa do Acaraú, Morrinhos, Marco
e Acaraú.
Convém destacar o célebre trabalho de Ab’Saber (1977b). Dentre os nove geótopos
áridos considerados nesse trabalho, isto é, altos pelados, salões, vales e costas secas,
lagedos, mares de pedras e campos de inselbergs, paleodunas quaternárias, topografias
ruiniformes, revolvimento anômalo da estrutura superficial da paisagem, malhadas e áreas
degradas pelas raspagens, pelos menos sete são marcantes na bacia. Cabe salientar, a
título de fundamentação, aqueles que indicam feições de desertificação:
altos pelados - serras secas e subúmidas secas, além das vertentes e platôs que
exibem adelgaçamento dos solos, solos litólicos e afloramentos rochosos.
Os salões - zonas de acentuada incidência de salinização local em planícies de
fundo de estuários colmatados e várzeas salinas. Podem ser acrescentadas áreas de
irrigação nos agropolos do Baixo Acaraú e Araras Norte.
104
Vales e encostas secas: setores revestidos por caatingas espaçadas, onde os
déficits hídricos são expressivos, sobretudo, em encostas de maciços a sotavento.
Exemplos são encontrados, respectivamente, nos sertões e vertentes da serra das Matas e
vertentes ocidentais da Serra do Machado e outros pequenos maciços dispersos.
Lagedos - mares de pedras e campos de inselbergs. Os lajedos são reduzidos em
tamanho e encontram-se dispersos por toda a depressão periférica da Ibiapaba e do centro
norte cearense, drenada pela bacia. Os mares de pedras representam os matacões,
comuns nas bases das encostas secas das cristas e maciços residuais, além daqueles
observados no Município de Graça, nas proximidades da serra da Ibiapaba. Os inselbergs
pronunciam-se nos sertões de Santa Quitéria e do rio Groaíras, mas não chegam a
constituir um campo, a despeito do que ocorre em Quixadá (bacia do Banabuiú). No mais,
conformam um conjunto de residuais erosivos, que, de quando em quando, emergem dos
níveis interplanálticos.
Revolvimento anômalo da estrutura superficial da paisagem - são áreas mineradas,
como a grande mina da Grandestone, em Santa Quitéria.
Malhadas - são áreas de luvissolos e argissolos que apresentam pavimentos
desérticos, principalmente de quartzos, como observado entre a divisa dos Municípios de
Sobral, Cariré e Groaíras.
Chãos pedregosos e áreas degradadas pela raspagem - conseqüentes da liberação
de fragmentos de quartzo dos diques ácidos e veios ou desagregam-se dos cascalheiros,
sem esquecer de manchas de expressivas ablações de solos. São fatores mais comuns em
toda a bacia, mormente nos sertões, sendo que a degradação dos solos ocorre, quase que,
generalizadamente, em função dos agentes organizadores do espaço, nas políticas e
técnicas de uso/ocupação da terra.
Nada obstante, o Grupo de Trabalho sobre recursos naturais e meio ambiente, do
Projeto Áridas (CEARÁ, 1994), considerou diversos temas interessantes à desertificação no
Ceará, tais como: clima e secas; manejo, aptidão agrícola e vulnerabilidade geoambiental;
uso atual; condições ecodinâmicas; políticas de combate àos efeitos das secas; degradação
e desertificação. A persistirem outros fatores (desmatamento, uso de agrotóxico,
uso/ocupação, caça e pesca indiscriminados, mineração e irrigação) para o agravamento
desse problema, defende Grupo de Trabalho a idéia de que, em médio prazo, poderá haver
irreversibilidade em áreas contingentes dos Inhamuns e Irauçuba.
O Programa de Conservação Hidroambiental, executado pela parceria entre Secretaria
de Recursos Hídricos (SRH) e Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos dricos
(FUNECEME), estão desenvolvendo pesquisas sobre desertificação em áreas dos
Municípios de Canindé e Aratuba.
Confrontando os dados retromencionados, estudiosos da Universidade Federal do
Ceará atestaram que a degradação ambiental sob evidências de desertificação abrange
105
17,7% do Estado, assolando uma população acima de 5% do total demográfico (JORNAL
DIÁRIO DO NORDESTE, 1995; JORNAL O POVO, 1996; ECOAMBIENTAL, 2003).
Afluíndo ao estudo de Leite et al. (op. cit), embora com uma metodologia diferente,
Conti (2002 e 2003) destacou a Diagonal Árida do Ceará, coincidente com áreas destacadas
por aqueles autores, no caso, ocorrendo desde Itapaje, a sotavento do maciço de
Uruburetama, no norte, até Campos Sales, no sopé da chapada do Araripe (sul do Ceará).
Ademais, indicaram pontos com tendência negativa nessa reta, nos Municípios de
Independência, Tauá e Arneiroz, além de Quixadá e Mombaça, na bacia do Banabuiu,
afluente do Jaguaribe, além de Monsenhor Tabosa, nas nascentes da do rio Acaraú, com
coeficientes de variabilidade interanual de 45%.
Sem esgotar as discordâncias estudos da desertificação no Ceará, Rodriguez e Silva
(2002), concebendo tal fenômeno como um complexo de processos de degradação
ambiental por fatores físicos e humanos, determinaram a vulnerabilidade das paisagens
naturais do Ceará à desertificação, através dos fatores clima, relevo, litologia, uso do solo e
da vegetação. Estabeleceram tipologias de vulnerabilidade à desertificação impingidas nas
tipologias de paisagens desse Estado, nos níveis leve, moderado, forte, muito forte e núcleo
de desertificação (paisagens mais susceptíveis a começar o processo de degradação).
Em 1988, a Superintendência do Meio Ambiente do Ceará (SEMACE) passou a
coordenar a execução de um plano estadual para reverter a degradação. A meta era
diagnosticar a realidade local das populações atingidas e monitorar as áreas degradadas.
Tal plano foi dividido em 9 programas e 20 projetos derivados, com metas a serem seguidas
entre 1998 a 2002. Dentre eles está, o de Sistema de Monitoramento Ambiental. Além deste,
os demais eixos de intervenção foram arrolados a seguir, mostrando as áreas e temas
estratégicos de intervenção das três esferas governamentais federal, estadual e
municipais -, da ciência e tecnologia, além das comunidades locais para tratamento da
desertificação no Ceará.
Uma consultoria contratada pelo Governo do Ceará, analisou este documento e
concluiu que, embora contivesse questões importantes, se encontrava desarticulado
institucionalmente, contrariando proposta de integração. Esse fato foi o bastante para que
fosse sugerida a execução de novo plano, o qual se encontra em desenvolvimento desde
março de 2004. Desta feita, este plano tenta envolver as três dimensões do governo,
sociedade civil organizada, universidades e técnicos de diversas áreas, sendo que foi
escolhida uma área-teste para o desenvolvimento do projeto piloto, uma microbacia
hidrográfica no Município de Independência.
Outras experiências empíricas foram ou vêm sendo desenvolvidas no Estado, dentre
as quais se podem destacar áreas demarcadas em Irauçuba, em cinco hectares de terras
que foram altamente degradadas no início da década passada, como tentativa de
reflorestamento e monitoramento da capacidade de regeneração daquele ambiente, e que
106
servisse, ao mesmo tempo, como pastagem ao gado. Investiu-se no reflorestamento com
espécies da caatinga, além de vegetais exóticas e leguminosas, bem como manejos silvi-
pastoris.
Passados dez anos, foi observado que algumas vegetações herbáceas cresceram,
juntamente com arbustivas e algumas árvores, melhorando a porosidade superficial do solo,
com ressurgimento da microfauna, com destaque às minhocas (SCT – CE, 2003). Isto
demonstra que a degradação/desertificação não é um fim, que este processo pode ser
contido, pois ele não é a campa do meio ambiente, como popularmente se apregoa.
107
3 COMPLEXIDADE AMBIENTAL DO NORDESTE BRASILEIRO E
DESERTIFICAÇÃO
O Nordeste brasileiro é complexo, podendo dentre outras abordagens, ser investigado
em seu aspecto espacial (socialmente produzido), regional (diferenciação), do regionalismo
(ideologia) e do Estado (organização e dominação) criando um mélange difícil de
abordagens em perspectiva rígida (CASTRO, 1992). Isso pode, ainda, ser magnificado na
busca da compreensão de suas características ambientais.
Bernardes (1999), deslumbrado com a região, afirmou que: “É, sem dúvida, a fonte
mais rica de tradições e costumes folclóricos em todo o Brasil”. Pensar o Nordeste, contudo,
é debruçar-se sobre à macrorregião mais complexa do Brasil, por conta dos mais fortes
contrastes sociais, econômicos, culturais e ecológicos (BELARMINO, 2001). Esgotar tal
temática é tarefa irrealizável, portanto, foge às pretensões adiante.
O Nordeste têm 1.554.257,004 km², em superfície distribuída a partir de 9 estados,
correspondendo a aproximadamente 18,25% do Território nacional. Equivale a quase três
vezes o território da França. Ratifique-se, desde já, que o crivo aqui é o Nordeste semi-árido,
embora se conceba a região como um todo para essa particularização.
Até fins do século XIX, essa região foi a mais povoada do País, sobretudo, por causa
do ciclo da cana-de-açúcar, que a transformou no maior centro econômico, político e cultural.
Em 1872, o Nordeste concentrava 47% da população nacional e o Sudeste 40%. No século
passado, esta situação inverteu-se, a partir dos fluxos migratórios, principalmente nos anos
de 1940, com trabalhadores, mais e mais, buscando a sede do parque industrial brasileiro
localizado no Sudeste, com maior aporte empregatício, comercial e de serviços (LEITÃO,
1997).
A partir de distintos ciclos econômicos do período colonial, com ouro branco” através
da cana-de-açúcar, binômio gado-algodão, couro e o cacau, que, historicamente,
compuseram o principal esteio econômico regional em suas respectivas fases, houve um
movimento migratório dos sertões, paulatinamente.
Entrementes, na formação territorial do Brasil, com a expansão do Capital comercial,
houve necessidades de formação e organização de fluxos da escravidão, negra e indígena,
para acompanhar a dinâmica de ocupação do litoral no primeiro período colonial (séc XVI),
da costa potiguar até São Vicente. Nesta fase, ocorreu a dizimação da organização político-
social dos povos negros e indígenas, em regra, sob astúcias de um genocídio! De fato, a
colonização ocorreu somente com a divisão do território em capitanias hereditárias. Daí teve
início o desenvolvimento da civilização latifundiária, monocultora e escravocrata (ANDRADE,
1995).
Destaca Andrade que, até 1930, o Brasil era como uma colônia dependente
inteiramente do mercado externo, exportando produtos primários e importando produtos
108
industrializados. Na Era Vargas (1930-1945), com a criação do Instituto Brasileiro de
Geografia Estatística (IBGE), é que começaram a ser elaborados trabalhos para melhor
conduzir os problemas reconhecidos no Brasil, e no Nordeste.
Mesmo nos anos de 1950 exemplifica Andrade (1995)-, o Nordeste era uma região
culturalmente diversificada, mas do ponto de vista do transporte e comunicação, não se
constituía como região, sem se esquecer de que os grupos dominantes, de bases
oligárquicas agrárias, tradicionais ou emergentes, vendiam (e vedem) a imagem do
subdesenvolvimento para obter mais recursos públicos. Isto, na realidade, contribui para
mantê-los no poder.
Historicamente o Nordeste foi visto como região-problema, sendo objeto de programas
emergenciais públicos, sujeitos a projetos sociais ou de emergência, funcionando mais
como sorvedouros de recursos públicos (VASCONCELOS, 2002) do que instrumento para a
emancipação regional.
Para alguns atores, como Correâ (1997), o Nordeste pode ser definido como a região
das perdas, principalmente econômicas e demográficas, e, em última análise, do poder
político. Tais perdas ocorreram por problemas e carências nas atividades produtivas, pela
deficiente infra-estrutura regional, por conta de índices de renda pífios etc., responsáveis por
perda do controle das suas atividades regionais mais dinâmicas; pequeno grau de
articulação interna e pequena divisão intra-regional do trabalho; infra-estrutura de
transportes deficitária; baixo nível de renda da maioria da população regional; e pela menor
variedade e densidade das formas espaciais.
Como macrorregião, na condução de um projeto de desenvolvimento regional, o
Nordeste tende a perder capacidade operacional, atingindo a base política de sustentação e
identidade (CNRBC, 2004). Abordagens genéricas sobre essa região não dariam conta de
especificidades e diversidades internas. Para isso, minimamente, necessita de recortes
territoriais menores, para melhor apreensão da situação dos subespaços, em suas
potencialidades e desafios.
Ante essa tarefa hercúlea, foi buscado, tão-somente, abordar os quadros ambientais,
que, de per se, ao tempo que muito indicam da região, lançam qualquer investigação de
suas nuances a um sem-fim de questões. Sendo assim, considerar a complexidade
ambiental do Nordeste seco é estudar os atributos geográficos, onde podem ser ressaltadas
suas limitações e as capacidades dos seus espaços ecológicos. É mais do que isso,
acredita Ab’Saber (1999), é como se fosse um exercício de brasilidade; e em nossa óptica,
um ofício de geógrafo.
Muito embora a complexidade histórica regional seja importante para melhor entender
a desertificação, a opção foi enfocar as bases físico-ambientais, contexto dos trópicos.
Nesta linha, restou assinalado seu contexto no mundo tropical e em termos da mancha
109
semi-árida, como também outros desdobramentos dessa questão, como exposto nos
próximos subcapítulos.
3.1 - OS TRÓPICOS E O NORDESTE SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
O mundo Tropical constitui uma complexa área (AYOADE, 2002), localizada segundo
Conti e Furlan (1995), entre a 23°27’ de latitude norte e sul do equador imaginário.
Apresenta estações definidas, basicamente, considerando-se a precipitação e a umidade
relativa do ar. Conforme os totais de precipitação anual, os trópicos podem ser subdivididos
em dois grupos: trópicos úmidos, com precipitação maior do que 600mm/ano; e trópicos
secos, onde as precipitações não ultrapassam estes limiares. Estas zonas climáticas
correspondem a cerca de 40% da superfície da terra, compreendendo grande parte dos
países pobres, agrícolas e com baixa renda per capita, completa Ayoade (ibid).
A ecozona tropical é dotada de excedente energético significativo comparado ao
restante do Planeta, em virtude de sua posição privilegiada no recebimento de radiação
solar acumulada, correspondente, pelo menos, cinco vezes mais do que as zonas de
latitudes altas, bem como as situadas além dos 60°, provocando evaporação até 20 vezes
maior que o volume das latitudes médias. Essas informações constituem-se como dados
preliminares para o entendimento da natureza tropical, tornando os processos naturais mais
agressivos e de difícil convivência difícil. Estes fatores corroboraram para haja grande
variedade de ambientes tropicais, ocorrendo áreas superúmidas a hiperáridas (CONTI, 2002
e 2003).
A respeito disto, é apontada a mancha do semi-árido brasileiro. A noção pragmática
dessa ecozona retrata a região onde ocorrem secas prolongadas. A concepção de seca
varia de falta de chuvas, deficiência de umidade no solo agrícola, quebra de produção
agropecuária, até impactos sociais e econômicos negativos, em comum. Isto quer dizer que
identificação de áreas secas em diversos níveis de abrangência, em função de causas e
efeitos, pode variar muito (VIEIRA, 2002).
Para Conti (ibid), o semi-árido se manifesta mais evidente desde o litoral setentrional,
na foz do rio Jaguaribe (Ceará, latitude 04°30’s) a Ponta dos Três Irmãos, em São Bento do
Norte (Rio Grande do Norte, latitude 05°10’s), avançando pelo continente em direção ao
vale do rio São Francisco, até a latitude 12°00’s. É expresso de forma descontínua, com
uma porção nuclear de quase 500 mil km², além de fazer contanto com o oceano Atlântico
ao norte e ao leste. É uma região circundada por áreas subúmidas, como espaços
transicionais.
Sobre o Nordeste semi-árido brasileiro, Ab’Saber (1999) diz constituir-se como um dos
três núcleos de regiões semi-áridas na América do Sul, postos num contexto de uma área
continental predominantemente úmida. Além dessa região, os núcleos de semi-áridez são: a
110
diagonal arréica seca do Cone Sul, que ultrapassa a cadeia andina, estendendo-se em
direção a de latitude sul ao longo da Argentina, Chile e Equador; a região Guajira, na
Venezuela e na Colômbia, em regiões semi-áridas na fachada Caribenha, no extremo
noroeste do bloco continental sul-americano.
A azonalidade do semi-árido nordestino, climaticamente, foi comprovada por Conti em
trabalho de 1995, que foi ratificado em 2003. Demonstrou que os elevados valores dos
coeficientes de variação interanual de precipitação de séries temporais, a exemplo do que
verificou na Diagonal Árida do Ceará, com até 45% de “ciclicidade”, ratificam condições
climáticas transicionais da região. Destarte, o Nordeste seco representa a região semi-árida
mais povoada do mundo, com cerca de 23 milhões de brasileiros (CNRBC, 2004) e, talvez,
aquela que possua a estrutura agrária mais rígida do planeta (REBOUÇAS, 2002a;
Ab’Saber, 2003). Ab’Saber (Ibid) sublinha, ainda, que a região apresenta a mais alta taxa de
fertilidade humana das Américas. É uma região geradora e redistribuidora de pessoas, em
face das pressões das estiagens, da pobreza e da miséria.
As similitudes das regiões semi-áridas, lembra Ab’Saber (op cit.), envolvem sempre
aspectos climáticos, hídricos e fitogeográficos. Isso é verificado através dos: baixos índices
de umidade, escassez de chuvas anuais, irregularidade pluviométrica ao longo dos anos;
longos períodos de carência hídrica; solos com problemas físicos e químicos, como os
parcialmente salinos ou carbonáticos; e ausência de perenidade fluvial, principalmente em
relação às drenagens autóctones. Uma condição comum às regiões semi-áridas é uma
amplitude térmica dionoturna expressiva. Embora as diferenças entre nimas e máximas
sejam modestas, os resultados tornam-se expressivos, quando comparados com valores
máximos e mínimos médios anuais.
Algumas teorias ainda não comprovadas tentam justificar a azonalidade da semi-áridez
no Nordeste por aspectos genéricos, como destacam Conti (2002) e Nimer (1977). Para o
primeiro autor, uma das teorias diz que a existência do planalto da Borborema produziria
efeito a sotavento dos sertões. Isto é questionável, dado que sua altitude raramente
ultrapassa os 800m, além de não produzir efeito algum em áreas de sertões meridionais,
principalmente baianos. Outra teoria advoga sobre a formação de uma célula de alta
pressão sobre a região, possivelmente relacionada à extensão meridional do anticiclone dos
Açores, prejudicando a penetração da massa equatorial continental, da tropical marítima e
da frente polar atlântica, que atuariam na instabilização do tempo. Tais mecanismos,
entretanto, são dissipados pela divergência anticiclônica estacional sobre a região.
Em termos oceânicos, as águas menos quentes do Atlântico sul giram em sentido anti-
horário (anticiclonal) para latitudes mais baixas, o que reduziria as chuvas em regiões sob
sua influência, como em Fernando de Noronha, e no restante do Nordeste. Isso afetaria,
especialmente, o litoral cearense e potiguar. A mancha semi-árida, que se estende por
quase 10° de latitude, poderia também ser de influencia dessa área de baixa pluviometria do
111
Atlântico Sul Tropical, fenômeno também observado no Pacífico, em mais baixas latitudes.
Por isto, esta mancha além de não ser exceção no Nordeste, pode estar relacionada a
causas remotas globais.
Para Nimer (1977), porém, os climas semi-áridos não provêm do contato de massas
de ar com chuvas coincidentes durante o ano todo, pois regiões de contato possuem chuvas,
mais ou menos abundantes durante o ano, como no sul do Brasil e Amazônia. A semi-aridez,
para esse estudioso, está em função de o Nordeste receber durante o ano todo influência do
domínio de uma alta tropical associada ao anticiclone subtropical do Atlântico Sul, ou sob
domínio direto desse grande anticiclone semifixo. Isso torna a região em uma área onde
diversos sistemas de correntes perturbadas se dissipam ao se aproximarem da divergência
anticiclônica que domina a região. Diz ainda que apresenta uma das naturezas
climatológicas mais complexas do mundo e que cerca de 50% do território nordestino
apresenta climas que vão do semi-úmido ao superúmido, com secas reduzindo-se de 5 a 1
mês. Em algumas sub-regiões, sequer há um mês seco.
Esta ecozona, entretanto, é mais bem entendida pelo estereótipo da nação como a
região das secas e calamidades infindáveis, região problema! O fenômeno das secas pode
estar associado ao El Ñino, pois no seu transcurso esses fenômenos são endêmicos no
nosso Nordeste, partes da África e Austrália. Na sobreposição da La Ñina, as secas ocorrem
em outras partes do mundo, como nas América do Norte e do Sul (BRASIL, 2004c).
O Nordeste representa uma região geoeconômica e ambiental complexa e
diversificada no domínio dos trópicos. Dentro de uma Geografia intertropical, resguarda
praticamente todos os tipos de paisagens verificadas no Brasil, donde se destaca o domínio
morfoclimático das caatingas que capeiam os sertões semi-áridos.
O trópico semi-árido, deveras, abrange quase um oitavo (12,5%) do Território nacional.
Com nove estados, somados com a porção norte de Minas Gerais, compõe-se área de
quase 1 milhão de km² (CONTI e FURLAN, 1995).
Apresenta-se como uma das regiões socialmente mais dramáticas das Américas! -
exclama Ab’Saber (1999). É uma das regiões semi-áridas mais povoados do mundo. “Por
esta razão era um espaço que, em função de sua rusticidade, apresentava os maiores
problemas e dramas para o homem-habitante e suas famílias”. É marcada por uma relação
telúrica com a rusticidade ecológica dos sertões, a partir de estrutura agrária perversa.
Profundo conhecedor do Saara e doutras regiões semi-áridas do Planeta, Dresch, em 1956,
ainda comparou esta região com aquele deserto, afirmando que o Nordeste interior não
tinha nada de deserto na sua conjuntura fisiográfica e ecológica”. (FRAGMENTOS DE
LEITURA, 1999)
Os sertões são a zona fisiográfica mais característica da região. A vulnerabilidade
regional em decorrência da instabilidade mesoclimática, com excesso ou escassez,
antecipação ou retardo, ocasionando cheias espasmódicas ou secas calamitosas, origina
112
drásticos problemas socioeconômicos e ambientais, destruindo lavouras, produzindo
desemprego e fome, o que eleva os quadros de incertezas pluviométricas no tempo e no
espaço. Dentre outros problemas, as condições termopluviométricas chegam a engendrar
efeitos de salinização de solos mal drenados, como acontece nos perímetros irrigados no
baixo Jaguaribe (CE), baixo Açu (RN) e Souza (PB) (REBOUÇAS, 1997) e, possivelmente,
na bacia do rio Acaraú – o que precisa ser investigado.
Coaduna-se com esta idéia o fato de a densidade demográfica total e rural do Polígono
das Secas ser maior do que a da média brasileira, assumindo valores bastante baixos no
interior e crescendo em direção ao litoral. No interior, a ocupação mais densa do território
ocorre em torno de alguns centros urbanos e em áreas com agricultura irrigada
(VASCONCELOS, 2002), como em Sobral e no baixo Acaraú, em respectivo.
Desde o período imperial, as discussões a respeito das características fisiográficas e,
principalmente, sobre as contingências climáticas e vulnerabilidade às secas, foram mais
políticas do que ecológicas. Prova disto é que a própria criação da área conhecida como o
Polígono das Secas ocorreu por uma aproximação da área nuclear do domínio
morfoclimático dos sertões secos das caatingas semi-áridas (AB’SABER, 2004c),
genericamente, a partir de isoietas.
Esse Polígono foi delimitado como Área Oficial de Ocorrência de Secas no
Nordeste em 1936, em uma área de 672.281,98km², até 1951, quando foi redelimitado, por
decreto Lei N° 1348, em uma área de 936.993km², que vigorou até 1989. A partir dessa data,
foi auferida nova delimitação ampliando esta dimensão para 1.085.187km² (CONTI 2002,
BRASIL, 2004c).
Conforme orientação da Constituição de 1988 (Lei 7.827 de 27/09/1989) criou-se o
Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste FNE. Daí, aquele Polígono foi
substituído pela Região Semi-Árida do FNE, passando oficialmente a compreender a área
oficial de ocorrência de secas no Nordeste, sob área de atuação da Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), com precipitação média/ano igual ou menor do
que a 800 mm, definida em portaria daquela Autarquia. Houve pressão política para
ampliação desses domínios, para que outros municípios também tivessem acesso a verbas
estatais no discurso oportunista de combate às secas. Ocorreu, assim, um
superdimensionamento!
Por isso, em 2000, a Região Semi-Árida do FNE circunscrevia uma área de
895.254,40 km², composta por 1.031 municípios, com uma população de 19.326,007
habitantes. Aproximadamente 43,5% desse total residem em áreas rurais e 56,5% em áreas
urbanas, com uma densidade demográfica de 21,59 hab./km² (BRASIL, 2004c).
A Área de Atuação da SUDENE, ou Nordeste da SUDENE, passou a produzir
informações para a região semi-árida do FNE, abrangente da área mineira do Polígono das
Secas (200.078,10 km²) e do norte capixaba (46.047,20km²). Esta superintendência cobria
113
até 1998, ainda conforme Brasil (ibid), superfície de 1.662.947 km². Por conta da Lei
9.690, de 15/07/1998, foram acrescidas a essa área mais 134.118 km², cobrindo, assim, o
Nordeste da SUDENE uma superfície de 1.797.939,70 km².
Houve um aumento da área juridicional da SUDENE. Portanto, superação em relação
à superfície da região semi-árida do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
(FNE), que continua a responder por 895.254,40 k. Comprova-se isso observando as
razões dispostas na Tabela 8. A Figura 5 mostra os limites da região semi-árida do FNE
(895.254,40), do Polígono das Secas original (de 1936) e do Polígono das Secas final
(1989). É importante registrar que esse limite é passível de expansão durante uma grande
seca regional, quando municípios não incluídos naquele domínio de isoietas justifiquem a
necessidade de medidas emergenciais para resolução de contingências dos rigores
climáticos. Passados, porém, os efeitos da estiagem, imediatamente os benefícios são
suspensos.
Tabela 8 - Relações entre população, área e produto Interno Bruto do Nordeste da
SUDENE e do Nordeste Semi-árido
Nordeste da SUDENE e Região Semi-Árida do FNE Especificação
1970 1980 1991 2000
Superfície do NE da
SUDENE (km²)
1.662.947 1.662.947 1.662.947 1.797.065,00
Superfície da Região Semi-
árida (RSA) do FNE (km²)
895.254,40 895.254,40 895.254,40 895.254,40
População do NE da
SUDENE (Hab.)
29.115.002 35.974.182 43.751.261 53.434.693
População do RSA – FNE
(Hab.)
11.079.573 13.034.487 17.847.287 19.345.317
PIB do NE da SUDENE
(U$$ 1.00 de 1998 Hab.)
25.524,443,306 64.956,226,188 81.228,378,220 109.345,281,499
PIB do NE RSA FNE
(U$$ 1.00 de 1998 Hab.)
7.252,588,547 16.621,373,469 16.115,473,162 23.574,106,841
Relação entre a superfície
da Região do Semi-árido e
do NE da SUDENE (%)
53,84 53,84 53,84 49,82
Relação entre a população
da RSA FNE e do NE da
SUDENE (%)
38,05 36,23 40,79 36,22
Relação entre o PIB da
RSA FNE e do NE da
SUDENE (%)
28,41 25,59 19,84 21,56
Fonte: Brasil (2004c).
de se considerar o fato de que, proporcionalmente, à medida que estes limites são
ampliados, pode haver aumento do êxodo rural por abranger novas áreas e mais
contingentes populacionais. No que tange a um esboço geral dos problemas geoambientais
encontrados no nordeste semi-árido, no entanto, favorecedores de uma ecodinâmica
instável, baixa sustentabilidade ambiental e, proporcionalmente, alta vulnerabilidade de seus
domínios ecológicos, beneficiadores da degradação/desertificação e válidos para a bacia do
rio Acaraú, podem ser destacados alguns aspectos ecofisiográficos no Quadro 15.
Os espaços semi-áridos apresentam a maior abrangência físico-territorial regional, vis-
à-vis os demais espaços naturais que conformam e estruturam o Nordeste (BRASIL, 2004c).
114
Isto contribuiu para se forjar idéias erradas sobre as dificuldades dos problemas
socioambientais atrelados às secas, associados à dimensão da declamação oficial desse
fenômeno (REBOUÇAS, 1997).
Figura 5 – Nordeste Semi-árido com limites do Polígono das Secas, original e final, e
do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste
Fonte: Carvalho & Egler, 2003, in Brasil, 2004c.
Em grande escala, o clima é quente e relativamente seco, com inverno seco, quase
sem chuva durante cerca de 5 a 8 meses em cada ano. No verão, ocorrem as chuvas de 4 a
7 meses, denotando grandes e fortes instabilidades no tempo e no espaço.
As altas variações interanuais de precipitação comprovam o caráter climaticamente
transicional da região, onde os valores de coeficiente podem ser designados como efeito de
borda, presente nas áreas marginais dos desertos e nos domínios semi-áridos em geral
(CONTI, 2002). Com ênfase nos aspectos pluviométricos gerais, no Quadro 16, conforme
aponta Conti, estão alguns enfoques dignos de registros.
Áreas afetadas pelas secas são as que estão sob domínio da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT), como a da bacia do Acaraú. Em grande parte, apresentam certa
homogeneidade física, sendo destacado o âmago da semi-aridez na Figura 6, onde a
probabilidade de secas é de 81 a 100%. A maior área de incidência de estiagem tem em seu
interior reduções concentradas no Cariri cearense, serra de Triunfo, em Pernambuco, e no
planalto da Borborema. Ao leste, vai reduzindo em direção ao litoral oriental. Ao sul, essa
115
incidência varia no intervalo mínimo de 0-20%, desde o sul baiano para além Nordeste, em
Minas Gerais.
Quadro 15 – Esboço geral dos problemas geoambientais do Nordeste seco
Condições
geoambientais
Fatores de vulnerabilidade geoambiental
Aspectos
termopluvio-
métricos
Considerável extensão da área semi-árida, com isoietas não expressivas 800 mm
média/ano - onde as chuvas são concentradas em poucos meses e, uma irregularidade
no tempo e no espaço. Elevadas temperaturas médias por ano (22°C a 28°C), com pouca
variação entre as áreas e insolação muito alta: cerca de 2.800 horas por ano, considerando
precipitação média/ano igual ou menor a 800 mm. Taxas de evapotranspiração elevadas por
conta dos coeficientes térmicos elevados durante o ano e pequena quantidade de água
disponível para as plantas. Semi-áridez é elemento marcante de caráter azonal, com alta
vulnerabilidade pluviométrica espacial e temporal. Limitações naturais ocorrem mais pela
instabilidade climática, com baixa disponibilidades hídricas comprometedores do sistema
produtivo.
Aspectos
hidrológicos
Pequeno potencial de natureza hidro-energética, em função da larga predominância de rios
intermitentes sazonários. Este regime é caracterizado pelo ciclo hidrológico, variável anual
em razão de eventos como El Ñino e La Ñina, com drásticas conseqüências à agropecuária.
O potencial hidrogeológico é modesto e, restrito a fraturas cristalinas e manchas aluviais. A
degradação de mananciais é progressiva e intensa; pouca atenção a conservação e
condições ambientais adversas. Principais problemas de qualidade hídrica: salinização;
formações cristalinas salinas; elevados níveis de turbidez e assoreamentos; poluição
crescente por esgotos domésticos, matadouros, lixões, fertilizantes químicos e agrotóxicos.
Aspectos do
potencial agrário
Proporção diminuta de terras simultaneamente favorecidas de potencialidades
edafoclimáticas e com limitações de ordem topográfica com relevos montanhosos de serras
cristalinas. Uso e ocupação com atividades hortifrutícolas quase não correm, com exceção
das hortas cultivadas nos maciços residuais. Historicamente há uma estrutura agrária rígida.
Condições
ecodinâmicas e
vulnerabilidade
ambiental em geral
Ambiente de transição com tendência à instabilidade nas áreas mais degradas;
vulnerabilidade moderada a alta; evidências de desertificação em efeitos areolares.
Fonte: Ab’Saber (1977b), Tricart (1977), Jatobá et al. (1996); Banco do Nordeste, Sales (2002) e Vieira
(2002).
Por conseqüência, os rios são caracterizados como de regiões subdesérticas, pois é
extensivamente drenada via redes hidrográficas exorréicas, hierarquizadas por densas e
variadas ordens tributárias, como bem característico no rio Acaraú. Os aspectos fluviais, em
sua grande parte, exibem rios autóctones, como, além do estudado, o rio Parnaíba; ou
mesmo alóctone, no caso o São Francisco, abastecido por áreas de drenagem extra-
regionais, com dinâmica climato-hidrológica distinta daquela verificada no semi-árido.
Nada obstante, os diversos mosaicos naturais do Nordeste, exprimem relações
sociedade e natureza diferenciada também em função das potencialidades e limitações
naturais, pois a natureza constituia um conjunto de elementos ambientais composto pelos
três estados físicos da matéria (sólido - terra, líquido - águas e gasoso ar) e pelos seres
vivos (animais e vegetais), formando o ambiente biofísico.
Com o fim do século XX, Santos (1993) expressa que a aceleração contemporânea
condiciona o meio geográfico, outrora “meio natural”. E, depois, “meio técnico”, como
tendencialmente um meio técnico-científico informacional, é mais presente como psico-
esfera a tecno-esfera, na transformação da natureza.
116
Quadro 16 – Aspectos genéricos das condições pluviométricas do Nordeste seco
A escassez pluviométrica é acentuada nas depressões
sertanejas, sobretudo nas vertestes a sotavento dos maciços
residuais, como Queimada Nova, vertente ocidental da Serra
dos Dois Irmãos (PI) com 398,00mm e nos vales do Pajeú e
Moxotó, em Inajá (394,00), Moxotó (429,9 mm) e Floresta
(501,3 mm). Na depressão san-franciscana a estiagem
estende-se por até 11 meses. Todavia, a localidade mais
seca do semi-árido é Cabaceiras-PB, com 336, 0 mm/ano.
Para o sul, a Chapada Diamantina em sua altitude pouco
superior a 1000 m, divide as chuvas escassas em dois
segmentos na depressão sanfranciscana. Em sua vertente
inferior, a semi-aridez é mercante, como evidenciam os
índices pluviométricos de Morpará (760 mm), Barra (759
mm) e Xique Xique (815,3 mm), prolongando-se até o norte
de Minas Gerais, onde a localidade de Mango expressa
892,6 mm anuais.
No Raso da Catarina, no médio alto Vaza Barris, encontra-se
um dos trechos mais secos do Nordeste, com pluviometria
média de 300 a 400 mm, além de registrar o mais baixo
índice da história, 311 mm/ano, na localidade de Quinjique.
O Semi-árido distribui-se, ainda, como um vasto
compartimento embutido de forma interplanáltica entre
isoietas variantes de 400 a 900mmm. Em seu núcleo, norte
baiano e centro-sul pernambucano, os índices não
ultrapassamos 600 mm anuais, predominan-temente
oscilando entre o intervalo de 400 500 mm. Na porção
norte um modesto acréscimo pluviométrico anual que
não supera os 900 mm, geralmente variando de 650-800
mm. Esta mesma conformação é encontrada nas
depressões periféricas semi-áridas e sul-ocidentais.
A leste, a transição do semi-árido ocorre com o agreste, em
uma faixa subúmida de largura variável (50 a 100 km). Exibe
diagonal úmida composta por planaltos com altitudes de 800
a 1000 m, com chuvas oscilando entre 750 e 1000 mm/ano,
como em Garanhus com 908,6 mm/ano.
As terras rebaixadas intermontanas e interplanálticas são
sujeitas às temperaturas elevadas (22°C a 29°C
média/ano); precipitação de 400 a 600, ou até 700
mm/ano), sendo que a isoieta de 750 mm, generalizando,
coincide com Polígono das Secas
Na vertente Atlântica, as características dessa mancha semi-
árida são mais acentuadas na Bahia, no alto-médio rio de
Contas, em Jequié (por exemplo, 585,8 mm).
Fonte: Conti (ibid).
Figura 6– Áreas de ocorrência de secas no Nordeste
Fonte: Brasil (2004c)
Neste arranjo, o modo de vida de boa parte das sociedades modernas, que tem como
meta o aumento da produção e do ritmo da produtividade a partir do uso intensivo de
recursos naturais, representa uma das causas fundamentais da degradação ambiental
117
(LEONEL, 1998; CUNHA e GUERRA, 2003; GONÇALVES, 2001), onde existem
interconexões complexas, com estruturas sociais políticas, econômicas e ideológicas, se
interpenetradas (WALDMAN, 1992).
De acordo com Conti (2002), a relação natureza e sociedade, em linhas gerais,
corresponde a:
a natureza é uma totalidade e não apenas a soma das partes que a compõem. Deve
ser compreendida a partir de sua própria dinâmica. Sendo o espaço geográfico fruto das
relações que se estabelecem na sociedade ao longo de um processo histórico, contém a
natureza na medida em que o homem a utiliza e dela se apropria. O estudo desse espaço
supõe duas preocupações iniciais: entender a dinâmica da sociedade humana, que produz e
vive neste espaço, e compreender a dinâmica da natureza em transformação pelo homem
ao longo de um processo histórico.
no entendimento da dinâmica própria da natureza, deve-se criticar a ação do homem
sobre ela e, a partir daí, construir os conceitos de equilíbrio e desequilíbrio ecológico e
incentivar a percepção de que as relações homem-natureza, a partir do trabalho, dependem
da forma como a sociedade se organiza e produz, e para produzir se apropria da natureza.
Associando esta questão à valorização dos diversos componentes ambientais,
conforme alguns autores [CAVALCANTI et al. (1997), NASCIMENTO (2003), NASCIMENTO
e CARVALHO (2003a)], argumenta-se que ela é determinada por condicionantes
econômicos, sociais e políticos, em contexto histórico, refletida por fases e características da
ocupação das riquezas e dos sistemas ambientais. Por isto, os valores dos sistemas
ambientais são demandados distintamente em função do caráter da apropriação dos
benefícios. E o caráter das relações econômico-sociais determina o tipo de apropriação.
Além do mais, ratificam Cavalcanti et al. (1997), em uma relação custo benefício do
economicismo, a apropriação dos benefícios e a explotação dos sistemas naturais acontece
em dependência do nível de desenvolvimento das forças produtivas e, sobretudo, da
tecnologia. O acesso a esta implica acesso ao capital que, por si, é uma manifestação da
diversidade na ocupação e apropriação. Realmente, a divisão das benesses depende da
maneira de apropriação dos recursos para um modo de produção e estilo de
desenvolvimento, que em regiões pobres do capitalismo, como o Nordeste, é extremamente
desigual.
Os materiais terrestres, quando transformados em recursos naturais (RAFESTTIN,
1993), devem ser considerados como capital natural e incorporados ao desenvolvimento
econômico, pois a economia interage com a natureza, apropriando-se de seus recursos
naturais, que são transformados em matéria-prima e energia para produção de bens e
serviços. Neste trabalho, emissão de resíduos e produtos que são lançados no meio
ambiente, poluindo-o e provocando degradações ambientais e da qualidade de vida do povo
nordestino, a exemplo.
118
Nesta óptica, o ambiente no Nordeste foi constituído ao longo da história, conforme a
quantidade e qualidade dos recursos naturais nos sistemas ecológicos; nos sistemas
socioeconômicos, pela estrutura de relação homem-homem ao lume da produção; e nos
meios tecnológicos, pelo grau de desenvolvimento das forças produtivas usadas e suas
modalidades, de sorte que a interação destes elementos complexos marca várias fases de
desenvolvimento, desde os modos de uso dos recursos naturais, passando pelos modos de
uso do espaço (rural e urbano), respectivamente, ligados à racionalidade econômica e a
política no uso dos recursos e, como reflexo das relações produtivas, que, inter-relacionados,
no tempo e no espaço, forjaram as diversas formas de modificações ambientais e condições
de qualidade de vida nos diversos geoambientes nordestinos, conforme sua complexidade
ambiental.
A sociedade da região Nordeste organizou-se e produziu, apropriando-se da natureza,
seja com demanda por matéria-prima para indústria ou pela posse da terra, no meio rural
(TAVARES, 1988). Para Castro (1992), isso foi conduzido em fases da história, pelos menos
no século XX, pela elite regional. Daí considerar “O Nordeste como Tema de suas elites”.
Desse modo que ala se aproveitou desde os problemas acarretados ao longo dos tempos
pelas secas, ao projeto de crescimento econômico pautado na lógica de acumulação
capitalista, a partir dos anos de 1970.
Neste contexto, uma questão de destaque regional sempre foi, e ainda é, a estrutura
fundiária. Caracterizada pelo predomínio do latifúndio, são diminutas as opçções da maioria
dos habitantes da zona rural, a não ser com o uso de áreas impróprias, com dificuldades de
acesso a água, com solos rasos e vulneráveis a erosão, concorrendo para agravar os
problemas de degradação ambiental (CONTI, 2002) e desertificação (NASCIMENTO et al.
2003).
Na realidade, desde épocas coloniais, os setores produtivos vêm sofrendo
historicamente com relações telúricas a partir de uma estrutura agrária rígida e
concentradora, associada às vulnerabilidades e contingências climáticas, influenciando
espaciotemporalmente as relações natureza e sociedade, principalmente no aproveitamento
dos recursos naturais. A falta de ações proativas sobre as secas nos últimos anos, provocou
reduções da ordem de 9% na agropecuária regional e de 4,5% no Produto Interno Bruto
nordestino. Da população atingida de quase 12 milhões de pessoas, cerca de 2 milhões de
trabalhadores se inscreveram nas frentes emergenciais de trabalho (CRUZ et al. 2003).
Com exceção de pequenas porções de seu território com potencial hidroclimático e
edafo-morfológico satisfatório (a exemplo de setores de testada superiores conservados de
enclaves úmidos e subúmidos, vales aluviais sertanejos das grandes bacias hidrográficas), o
semi-árido tem, em sua economia rural, problemas ligados à vulnerabilidade dos setores
produtivos (AB’SABER, 1999).
119
Na economia do trópico semi-árido (TSA), um complexo de agricultura de baixa
produtividade e pecuária extensiva. Mesmo que a investida no setor industrial tenha sido a
tônica nas últimas décadas, sua economia tem fortes bases assentadas na exploração de
um sistema produtivo caracterizado pelo algodão-pecuária e culturas de subsistência
incipientes, que em âmbito regional correspondem a uma importante atividade econômica.
Desta feita, além dos riscos climáticos, a pressão socioeconômica é fator
desencadeador de núcleos de regressão edáfica e bióptica. Exclamam et al. (1994), que
as secas periódicas agravam os problemas do meio rural, cujas bases são sustentadas em
uma estrutura fundiária concentrada, impedindo o acesso à renda, comprometendo os
baixos níveis de sobrevivência e, muitas vezes, conduzindo a única opção: a migração
compulsória. Colabora para esta pressão humana sobre a biomassa a intensidade de
retirada da cobertura vegetal, a superpastagem e as atividades mineradoras descontroladas,
ocasionando estresse ambiental (CONTI, 2002) e potencializando a desertificação.
Entre as principais conseqüências de uma conflituosa relação sociedade/natureza,
porém, Conti (2003) destaca a desertificação como modalidade de degradação ambiental.
Deste fato bacia do Acaraú, em sua totalidade, não ficou de fora!
É certo que regiões pobres como o Nordeste ainda exercem a função de supridoras de
matérias-primas ou mesmo de celeiros agrícolas, aparecendo na divisão internacional do
trabalho como abastecedora dos mercados internacionais com produtos primários, tendo na
terra, portanto, o principal meio de (re) produção social.
Por estas questões, associadas à falta de planejamento geoambiental para o território
e à demanda crescente por recursos, ao longo das gerações, houve um autêntico laissez-
faire ecológico. Para um desenvolvimento econômico sustentado, local e regional, se faz
necessário, minimamente, incorporar os conceitos de capital natural, cultural e
socioeconômico dos processos produtivos na relação natureza/sociedade. Ou melhor, como
aventa Gonçalves (2001), desenvolver um novo estilo de desenvolvimento com base
comunitária.
Com a expansão do capitalismo, foi propagandeada a cultura de massa e da
sociedade urbano-industrial como estilo de vida. Assim, como conciliar esse tipo de
sociedade com a dinâmica da natureza, com produção sem destruição? É um forte ponto de
tensão. É mister repensar a relação em aludida a partir de alguns pontos, a citar: técnicas de
produção e exploração para conciliação entre explotação da natureza e manutenção de sua
dinâmica ecológica; recursos naturais e sustentabilidade ambiental; proteção ambiental;
responsabilidades pelas degradações ambientais; restauração da natureza; indiferença em
relação às questões ambientais; modificação ou manutenção do sistema econômico etc.
É importante frisar que, com a industrialização e tecnificação (como nos perímetros
irrigados do Acaraú) em alguns setores do campo, ocorre uma demanda crescente por
120
matérias-primas e insumos, apropriados na natureza. Desta forma, os recursos de água,
solo e ar enfrentam problemas de estiolação ambiental, muitas vezes irreparáveis.
Para o Ceará, Souza (2000) argumenta que as secas, pela irregularidade pluviométrica,
promovem forte fator de vulnerabilidade da economia rural; e diz que os ambientes semi-
aridos se encontram degradados, em vontade da expansão histórica de fronteiras agrícolas
e do extrativismo vegetal. Embora as condições impostas ao aproveitamento dos recursos
sejam relevantes, em regra, são consideradas como desfavoráveis em função do inter-
relacionamento semi-aridez/padrões tecnológicos/esfera política.
Esses fatos fazem do semi-árido nordestino, em geral (AB’SABER, 1999), e de modo
particular o cearense (SOUZA, ibid), permanecerem como um dos maiores bolsões de
miséria latino-americana, concentrando grandes núcleos de pobreza rural e urbana.
A baixa sustentabilidade e a alta vulnerabilidade ambiental dos tecidos ecológicos
sertanejos estão diretamente ligadas a pelo menos dois fatores de ordem maior: os
impactos socioambientais resultantes das ações socioespaciais e as políticas e formas de
convivência como fenômeno da seca.
Nesta acepção, Sales (2002) argumenta que a pressão antrópica sobre os recursos
naturais, com fragilidade natural acentuada, provoca a deterioração ambiental, gerando um
ciclo de pobreza e miséria, tornando o Nordeste cada vez mais vulnerável. Neste contexto, o
fenômeno da degradação/desertificação, antes de constituir um problema ambiental, é
também social, assim como a seca, porque as populações estão proporcionando uma
aceleração na degradação do ambiente, acarretando a expansão do processo em diversas
áreas pelo mundo, onde se destaca o nosso semi-árido (QUARESMA, 2001).
Portanto, o semi-árido, longe de ser homogêneo, se constitui diversificado e complexo.
Como provas disso, registramos importantes estudos que descatam as diversificaçãoes
fisiográficas do semi-árido nacional: Duque, com as zonas fisiográficas (1980); Silva et al.
(1993) a par do zoneamento agroclimático do Nordeste; Ab’Saber, com a
megageomorfologia e domínios de natureza do Brasil (2001, 2003); Banco do Nordeste,
considerando uma redelimitação do Nordeste (2005), dentre outros.
3.2 -NORDESTE: CLASSIFICAÇÕES OFICIAIS DE INTERESSE À
DESERTIFICAÇÃO
Para efeitos de classificações oficiais, o contexto de bacias hidrográficas intermitentes,
o Bioma Caatinga e as Áreas Susceptíveis à Desertificação concorrem para enriquecer
informações e características geoambientais sobre o Nordeste.
121
3.2.1 – BACIAS INTERMITENTES SAZONAIS: A BACIA DO ATLÂNTICO NORDESTE
ORIENTAL
O Brasil tem uma das mais extensas e densas redes hidrográficas do mundo, com
descarga média total da ordem de 5.619 km³/ano, ou seja, aproximadamente 14 % dos
41mil km³/ano de deflúvio dos rios no mundo. Este montante chega a ser reduzido,
proporcionalmente, na região Nordestina seca (CUNHA, 2001), com rios efêmeros e
temporários que nascem no domínio cristalino-aflorante no semi-árido, em uma superfície
aproximada de 400.000km² (REBOUÇAS, 2002a), qual o caso do Acaraú.
Vale ressaltar que, dentre os exemplos nacionais em que os recursos hídricos são
controlados pelas condições naturais, têm-se a bacia Amazônica, a região semi-árida do
Nordeste e a região do pantanal, onde a interação de litosfera, biosfera e atmosfera define o
equilíbrio dinâmico para o ciclo hidrológico, o que influenciará nas características e vazões
das águas. O semi-árido é um típico caso com criticidade de falta de recursos hídricos, onde
a quantidade e a qualidade das águas doces estão em função das condições climáticas e
geológico-geomorfológicas (SALATI, LEMOS e SALATI, 2002).
Para efeitos de “Água Doce no Mundo e no Brasil”, como tentativa de mais bem
dedilhar informações sobre o Nordeste seco, consideramos a partir de Rebouças (2002),
alguns dados relevantes, os quais foram sintetizados a seguir (Quadro 17).
Quadro 17 - Comparação entre aspectos hidrológicos no Mundo, Brasil e Nordeste
seco
Discriminação Características
Escoamento mundial Cerca de 50% do total mundial ocorrem na zona intertropical (22.000 km³/ano),
acrescidos mais 2% (800 km³/ano) das zonas áridas e semi-áridas, dentro daquela
faixa ou não. Com evapotranspiração da ordem de 38.000 mm/ano e 6.20 km³/ano
Fluxo hídrico
subterrâneo
No semi-árido oscila entre 10 a 100 mm/ano.
Déficit hídrico Regiões áridas e semi-áridas precipitação menor que evapotranspiração.
Precipitação e
excedente hídrico
América do Sul apresenta a maior precipitação anual entre os continentes, com 1.600
mm/ano em média, ou 28.400 km³/ano, sendo a evapotranspiração também a maior
com 910 mm/ano/média. Promove o maior excedente hídrico do Planeta, com
690mm/ano, ou 30,9% do total que é de 2.229 mm/ano..
Descargas dos rios No mundo é de 41.000km³/ano, quando as demandas estimadas para o ano 2000
foram de 11%. Na América. do Sul esses montantes representam 10.377 km³/ano ou
3% dos potenciais em uso. Tais valores são relativizados no espaço e tempo, com as
zonas intertropicais úmidas e temperadas detendo 98% das descargas mundiais.
Água per capta Em 1995 a América do Sul era a mais rica neste crivo, enquanto os países africanos
eram os mais pobres. As reservas sociais permitem corrigir a influência das grandes
diferenças de densidade populacionais.
Elaborado a partir de Rebouças (2002a,b)
Sobre esta região, das 24 unidades hidrográficas de planejamento (bacias integradas),
consideradas por Filho et al. (1994), em uma área total de 1.429,900 km², 19 são compostas
por rios intermitentes sazonais, com uma superfície de 837,700 km², ou 58,58% do total.
Dentre as bacias intermitentes, pode ser assinalada a do Acaraú conjugada com a bacia do
Coreaú, em uma superfície de 30.500 km²
.
No caso das bacias intermitentes, a disponibilidade hídrica, ”permanente” ou
duradoura é função da regularização interanual dos deflúvios naturais por volumes
122
constantes provenientes de reservatórios (VIEIRA 2002), como se verifica no Acaraú, com
os açudes Edson Queiroz (250,5 milhões de m³) e Araras Norte (860.9 milhões de m³), por
exemplo. Com base em Filho et al, (1994), respaldado por Vieira (ibid) e Rebouças (1997 e
2002a), foram comparadas as principais características de potencialidades e
disponibilidades das regiões hidrográficas da SUDENE, no geral, e em particular as bacias
dos rios Acaraú e Coreaú (Tabela 9).
No que condiz a disponibilidade hídrica de rios, a maioria dos estados nordestinos
situa-se na classe regular (1000-2000 m³/hab/ano). Com atenção ao Ceará, a relação é de
2.279 m³/hab/ano, com potencial hídrico de 15,5 km³. O Nordeste apresenta 1.657,601
m³/hab/ano, ou 4,6% da disponibilidade hídrica social a partir de um potencial drico de
186,2 km³/ano (REBOUÇAS, 2002a).
Segundo o Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste do
Brasil PLIRHINE - (FILHO et al. 1994), a vulnerabilidade natural, em grande parte, pode
provocar o surgimento de conflitos e calamidades nas áreas econômica e social. As bacias
predispostas a situações críticas no Nordeste são em número de 9, sendo que no Ceará
3 dessas, dentre elas a Unidade de Planejamento Acaraú-Coreaú. Vieira (2002) ratifica o
fato de que a vulnerabilidade natural dessas bacias refere-se à semi-áridez e às secas
periódicas.
Denota que, quando o Índice de Regularidade Fluvial, “IRF”, (vazão
mínima
/vazão
máxima
) é igual a zero e o déficit de evapotranspiração potencial relativo, “DETPR”, for maior
do que 1, a bacia hidrográfica é predisposta a situações críticas. Neste Caso, Acaraú-
Coreaú, em relação a IRF=0 e DETPR> 1,0, apresenta a seguinte equação: IRF=0 e
DETPR= 1,132. Quer dizer, naturalmente vulneráveis com níveis de criticidade.
Tabela 9 - Potencialidades, disponibilidade e demanda
Potencial (hm³/ano) em milhões Disponibilidade (hm³) Unidade de
Planejamento
Área (km²)
Escoam.
Superficial
Escoamento
Subterrâneo
Total
(hm³/
ano) em
milhões
Superficial Subterraneo
Total
(hm³/ano)
Total Nordeste
a SUDENE
1.663.230 148.625 58.405. 207.830 92.929.381 4.372.300 97.301.681
Acaraú-Coreaú 30.500 3.910 1.360. 5.270 579.690 120.400 700.070
Disponibilidades e evolução das demandas hídricas, até o ano 2020, em hm³/ano
1991 2000 2010 2020
Unidade de
Planejamento
Disponibili-
dade
Demananda Disponibili-
dade
Demanda Disponi-
bilidade.
Demanda Disponibili-
dade
Demanda
Total Nordeste
da SUDENE
97.301,68 27.872.914 100.189,71 25.975.308 100.746,35
29.793,203 101.225,61 33.428,527
Acaraú-Coreaú 700,09 207.291 879,00 249.966 973,03 282.416 1.065,02 313.222
Fonte: Filho et al. (1994)
Esse plano ressalta que, na precipitação regional, apenas 12% do volume são
escoados. A média pluviométrica correspondente a uma área de 1.663.200km² é de 1.140
mm (1.730 bilhões m³/ano), distribuídos do seguinte modo: 1,523 bi (88%) evaporam
e/ou evapotranspiram, 149 bi m³ (8,6%) escoam superficialmente e 58 bi m³ (3,4%) infiltram,
fazendo parte do escoamento subterrâneo.
123
Dentro da atualização da divisão hidrográfica do Departamento Nacional de Águas e
Energia Elétrica (DNAEE), considerando as características ambientais dominantes de cada
uma, de acordo com Cunha (2001), é possível assinalar a bacia intermitente do Atlântico
Nordeste, onde se insere a bacia do Acaraú, conforme a Tabela 10.
A bacia do Atlântico Nordeste, administrativamente, drena por completo as áreas dos
estados compreendidos entre o Maranhão e a Paraíba, e parcialmente o Amapá, Pará,
Pernambuco e Alagoas. Destacam-se como drenagem principal os rios Pindaré, Grajaú,
Mearim e Itapecuru, que vão ter com o Golfo Maranhense, e o rio Parnaíba.
Cunha (op cit.) destacou valores de 600mm anuais de chuvas no centro da bacia,
aumentando para suas extremidades. Embora a chuva média seja de 1.328 mm/ano, o
regime fluvial é semi-árido, com vazão média de 5,7 l/s/km². As enchentes ocorrem na
quadra chuvosa de verão-outono, e as vazantes na primavera ou verão. No Maranhão, o
regime tropical austral mostra-se perene, com enchentes no outono e vazante na primavera,
que marcam o regime fluvial.
Tabela 10 – Principais dados hidrológicos das bacias hidrográficas brasileiras,
período de 1961 a 1990
Bacias
hidrográficas
Área (km²)
Chuva Média
(mm/ano)
Vazão Média
(m³/s)
Vazão
Média
Específica
(l/s/km²)
Evapotranspiração
Real (mm/ano)
Produção
Hídrica
(mm³/s)
Amazônica 6.112.000
2.460
209.000
34
1.382
120.000
Atlântico
Nordeste 953.000
1.328
5.390
6
1.150
9.050
Paraná 877.000
1.385
1.290
13
959
12.290
Tocantins 757.000
1.660
11.800
16
1.168
11.800
São Francisco
634.000
916
2.850
5
774
2.850
Atlântico
Leste
551.000
1.062
2.175
8
827
4.350
Paraguai 368.000
1.370
11.000
4
1.259
12.290
Atlântico
Sudeste
224.000
1.394
4.300
19
789
4.300
Uruguai 178.000
1.567
4.150
23
832
4.150
Atlântico
Norte 76.000
2.950
3.360
48
1.431
9.050
Brasil 8.512.000
1.954
257.790
24
1.195
168.770
Fonte: DNAEE, 1994 in Cunha (2001).
Para fins de implementação da gestão compartilhada dos recursos hídricos no plano
federal, encontra-se em elaboração o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), como
documento-guia para orientação das decisões de governo e das instituições que compõem o
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH (Lei 9.433, de
08/01/1997). O PNRH tem como base a Divisão Hidrográfica Nacional, aprovada no
Conselho Nacional de Recursos Hídricos (Resolução 30/11/2002), com orientações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de outras instituições federais, que
definem metodologia de codificação e procedimentos de subdivisões em agrupamentos de
bacias e regiões hidrográficas, a partir de 12 regiões hidrográficas. Estas regiões
hidrográficas servem para implantação de base de dados referenciadas por bacia, com fins
124
a integração de informações sobre recursos hídricos (BRASIL, 2004b). Observamos a
Tabela 11, que mostra a divisão hidrográfica do Brasil.
Tabela 11 – Divisão Hidrográfica Nacional Atual
População e Área Regiões
Hidrográficas
Constituição
Habitantes km²
Amazônica Bacia homônima situada no território nacional constituída também
pelas bacias dos rios existentes na ilha de Marajó, além das bacias
dos rios situados do Amapá que deságuam no atlântico norte.
7.609.424 6.974.410
Tocantins/
Araguaia
bacia hidrográfica do Tocantins até a sua foz no oceanoa atlântico 7.890.714 967.059
Atlântico Nordeste
Ocidental
bacias hidrográficas de rios que deságuam no Atlântico trecho
norte-nordeste, estando limitada a oeste pela região hidrográfica
do Tocantins/Araguaia, e a leste pela r.h do Parnaíba.
4.724.431 254.100
Parnaíba bacia hidrográfica homônima 3.630.431 344.112
Atlântico Nordeste
Oriental
bacias hidrográficas de rios que deságuam no Atlântico trecho
nordeste, estando limitada ao oeste pela bacia do Parnaíba, ao
norte e ao leste pelo Atlântico e ao Sul pela região hidrográfica do
São Francisco.
21.606.881 287.348
São Francisco bacia hidrográfica homônima 12.823.013 638.324
Atlântico Leste bacias de rios que deságuam no Atlântico trecho Leste, estando
limitada ao norte e ao oeste pela bacia do São Francisco e ao Sul
pelas bacias do Jequitinhonha, Mucuri e São Mateus.
13.641.045 374.677
Atlântico Sudeste bacias hidrográficas de rios que deságuam no alântico trecho
sudeste, estando limitada ao norte pela bacia do rio Doce,
inclusive, a oeste pelas regiões hidrográficas do São Francisco e
do Paraná, e ao sul pela Bacia do rio Ribeira.
25.644.396 229.972
Paraná bacia do rio Paraná situada no território nacional. 54.639.523 879.860
Uruguai bacias do rio Uruguai situada no território brasileiro, estando
limitada ao norte pela região hidrográfica do Paraná, a oeste pela
Argentina e ao sul pelo Uruguai.
3.834.654 147.612
Atlântico Sul bacias hidrográficas com rios que deságuam no atlântico –trecho
sul, estando limitada ao note pelas bacias dos rios Ipiranguinha,
Iririaia Mirim, Candapuí, Serra Negra, Tabagaça, e Cacnhoeria,
inclusive, a oeste pelas regiões hidrográficas do Paraná e do
Uruguai e ao sul pelo Uruguai.
11.592.481 185.856
Paraguai bacia hidrográfica do rio Paraguai situada em território nacional. 1.887.401 363.445
Fonte: Brasil, 2004b; MMA/SRH, 2004.
Nesta oportunidade, dada a localização da bacia em teste, assinala-se a região
hidrográfica do atlântico nordeste oriental, que verte suas águas por meio das bacias que
deságuam no oceano atlântico.
Esta região hidrográfica é a 3ª. mais habitada do País, com uma população superior a
21 milhões de habitantes, comportando-se como a 8ª. em área, com 287.348 km². Em seu
contexto, existem cinco importantes capitais do Nordeste (Fortaleza, Natal, João Pessoa e
Recife), dezenas de grandes núcleos urbanos e um representativo parque industrial. Isto
constitui alta demanda hídrica em contraposição à existência de baixa oferta de água (813
m³/s), tratando-se de uma das regiões mais conflitantes pelo uso da água. As vazões variam,
das mais altas às mais baixas, respectivamente, do Coreaú (6,921 l/s.km²) ao rio Trairi (0,63
l/s.km²), ambos no Ceará. Neste contexto, o rio Acaraú surge como o em vazão, com
seus 4,45 l/s.km² , conforme dados do MMA/SRH, (2004).
Em conjunto com outras bacias intermitentes, a unidade em foco drena setores
concentrados e difusos do semi-árido nordestino, marcando entre os interflúvios sertanejos
paisagens que sofrem com as vicissitudes climáticas e com vulnerabilidade às secas,
125
produzindo irregularidades na distribuição espaciotemporal das chuvas, com reflexos nas
águas superficiais, promovendo a formação de rios que cortam durante as estiagens.
Neste tocante, o Estado do Ceará, como um dos mais pobres da Federação, tem nas
contingências do semi-árido, ecozona que perfaz cerca de 92% de seu território, ou pouco
mais de 136.000 km², um forte entrave ao aproveitamento dos recursos naturais, com
destaque aos dricos, associado às políticas não crastinatórias, piegas e pelegas,
historicamente arroladas.
Sobre a desertificação, o MMA/SRH (ibid) considera as bacias hidrográficas à luz das
áreas especiais de planejamento (AEP’s). Estas merecem atenção especial pelo PNRH por
conta de suas características ímpares e da relação com os recursos hídricos. Somadas as
bacias, além dos Núcleos de Desertificação, ocorrem outras AEP’s, como: o aqüífero
Guarani, o sistema elétrico interligado, o Pantanal mato-grossensse, as transposições entre
bacias etc.
Entrementes, segundo Rebouças (1997, 2002a), a crise de água no País, sobretudo
no Nordeste, decorre no geral de: um crescimento rápido e desordenado das demandas;
degradação da qualidade dos mananciais normalmente utilizados em níveis inimagináveis;
pela baixa eficiência dos serviços de saneamento básico; produção de áreas de risco; e
agravamento dos efeitos da seca. Isto é conseqüência da urbanização e da industrialização,
da história rural de aproveitamento extensivo do potencial hídrico do solo; do baixo nível
tecnológico/organizacional, no plano primitivo de uso e ocupação do meio rural,
ocasionando desmatamentos, contribuído para erosão, empobrecimento das pastagens
nativas, redução das reservas de água do solo e conseqüente queda progressiva da sua
produtividade natural. Urge, como necessária, a gestão ambiental de bacias de drenagem
como unidades de planejamento para minorar ou reverter o estado atual de degradação das
paisagens, que reflete, direta ou indiretamente, seus efeitos deletérios na própria qualidade
de vida dos povos.
As potencialidades hidrogeológicas no semi-árido, ordiernamente, reservatórios
subterrâneos diversos, desde zonas fraturadas ou de rochas intemperizadas do substrato
geológico Pré-Cambriano até depósitos quaternários aluviais. Os depósitos de aluviões
apresentam dimensões variadas, geralmente reduzidas, contendo volumes de água
acumulados que podem remontar às origens de suas formações geológicas. Sua
disponibilidade pode ter potencial hídrico ainda não usado pelos homens, podendo as
reservas ser acrescidas, se alguma demanda socioeconômica assim exigir.
A capacidade de armazenamento d’água subterrânea é fornecida por arranjos
estruturais, localizados nos contatos geológicos, por falhas e no manto de alteração. As
fissuras e fraturas, como porosidade secundária, por onde a água circula, apresenta
condutibilidade hidráulica não a partir de porosidade primária das rochas, como no caso de
126
aqüíferos clásticos, mas pelos efeitos dos componentes estruturais alimentados por
precipitação atmosférica, rede hidrográfica e as aluviões (GONÇALVES et al. 1984).
Em regra, as águas subterrâneas do domínio cristalino são limitadas. A vazão média
em poços tubulares é ínfima, da ordem de 5 /h, e salinidade média da ordem de 2 mil
mg/L, o que pode comprometer sua potabilidade. Dada a falta de fiscalização das atividades
de perfuração e uso de poços, estima-se que no Nordeste existem aproximadamente 50 mil,
sendo que pouco mais de 20 mil estão em operação por motivos técnicos e/ou políticos
(REBOUÇAS, 2002b). Na região hidrográfica Atlântico nordeste oriental, a vazão média é
menor ainda, com 2m³/h.
Com índices de evaporação críticos na região favorecedores de balanço hídrico
deficitário, as águas subterrâneas se encontram mais bem protegidas, com uma parcela de
perda hídrica consideravelmente menor do que aquela perdida por mananciais de superfície.
Portanto, comportam-se como reservas hídricas que podem ser importantes principalmente
durante as estiagens, para o aproveitamento prioritário humano, dessedentação de animais
e outros. Por isso, desde já, as demandas para tal fim devem ser garantidas, em qualquer
cenário considerável, conservando e distribuindo equilibradamente aportes deste recurso
vital, em quantidades e qualidades mínimas.
Cabe ressalva, contudo, o fato de que muito do que se debate hoje sobre o
abastecimento de água no Nordeste, mormente nos Estados setentrionais do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, concentra-se na conveniência, ou não, de
promover a transposição no São Francisco (CNRBC, 2004).
Essa questão remonta à metade do século XIX (1847), porém, até os anos de 1980,
era um projeto tido como inviável em razão da falta de energia para o bombeamento
demandado. Nesse período, dentre outras propostas, foi elaborado o primeiro projeto de
transposição para vazão de 300mm³/s. O projeto atual prevê vazão média de 64 m³/s, para
abastecimento rural, consumo humano e usos agrícolas difusos, abastecimento urbano e
industrial e estímulo ao desenvolvimento de agricultura irrigada de alto valor agregado.
Com isto, segundo o CNRBC (op cit.), as áreas irrigadas seriam ampliadas, a
agroindústria e a indústria mínero-metalúrgica seriam dinamizadas e outros serviços
modernos restariam fortalecidos. Tecnicamente, esse projeto propõe uma sucessão de
canais, túneis, reservatórios e aquedutos que terão origem em 2 tomadas d’água a jusante
da barragem Sobradinho. Com ramificações de aproximadamente 700 km de extensão, há 2
conjuntos de eixos, com duas fontes de captações d’água: uma tomada para o eixo norte,
com instalação nas proximidades de Cabrobó-PE; outra para o eixo leste, saindo do
reservatório de Itaparica; prevê dois eixos, a partir de Sobradinho, partindo para oeste
(Piauí) e para Sul (Bahia, indo para Sergipe através do rio Vaza Barris), conforme se
observa na Figura 7.
127
Costa (2003) considera que, apesar de insignificância na proporção de vazão média do
rio nos pontos de derivação, além da complexidade inerente de um projeto de transposição
em termos técnicos e político, são conflitantes outros interesses dos 10 estados envolvidos.
Ganham, portanto, efervescência temas envoltos em: negociação e solução de conflitos,
abordagens econômico-financeiras, propostas para elaboração do projeto, aspectos
institucionais, questões ambientais e sociais.
Para o Ceará, a agroindústria para exportação, a siderurgia no Porto do Pecém e a
Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) serão os beneficiários diretos da transposição,
que terá como coletor o seguinte sistema: captação em Cabrobó (PE) – açude Atalho, no rio
Cuncas, em Brejo Santo, Ceará – rio Salgado e Jaguaribe (VERÍSSIMO, 2005), até o açude
Castanhão, e como um dos distribuidores, o Canal da Integração (Figura 8). Além desses
setores econômicos e porções do território beneficiados, a transposição mostra-se seletiva e
excludente. Privilegia o grande capital e a RMF, em detrimento dos pequenos produtores,
pequenas e médias cidades sertanejas.
Pouco se sabe a respeito dos impactos sobre a desertificação, além dos riscos de
salinização por irrigação e o possível agravamento de conflitos pela terra e usos d’água. A
bacia do rio Acaraú não está inclusa no projeto. No mais, essa bacia poderá sofrer, como de
resto outras regiões do Ceará, efeitos proeminentes da não-tecnificação do território e
alocação de recursos em áreas não consideradas estratégicas para o setor empresarial e
industrial, conforme perspectiva estadual.
3.2.2 - O BIOMA CAATINGA E SUAS ECORREGIÕES
As caatingas respondem por uma unidade fitogeográfica endêmica que ocorre no
Nordeste. Ocupam cerca de 12,14% do Território nacional, abrangendo em parte o território
nordestino, mais a porção norte de Minas Gerais. Por conta da importância de dados
geobotânicos, esse domínio fitoecológico é referenciado como um ícone regional.
Infelizmente, assim como o cerrado, entretanto, apresentam grandes problemas de
decapeamento vegetal. Quando comparados com a Mata Atlântica e a Amazônia, por
exemplo, chegam a amargar preconceitos, sendo considerada como de baixa biodiversidade
e com poucas prioridades de conservação e manejo para sua valorização.
A resposta biológica mais fidedigna às condições de evolução biofísica ao longo do
Quaternário, como herança natural, é representada pelas caatingas. Desenvolvem-se em
morfoestruturas do embasamento cristalino, bacias intracratônicas e bacia sedimentar do
Parnaíba, por exemplo. Capeiam áreas de pediplanação rebaixadas e embutidas em relevos
residuais sedimentares e cristalinos, portanto, em ambiente interplanáltico. Os
remanescentes de caatingas, porém, em sua maioria, não passam de sucessões ecológicas
da vegetação primária.
128
Figura 7- Projeto São Francisco
Fonte: CNRNC (2004)
Figura 8- Canal da Integração, Ceará
Fonte: COGERH (2005)
Canal da Integração
Açude Castanhão
Canal da Integração
129
O CNRBC (2004) destaca que o Nordeste semi-árido, o Polígono das Secas, o semi-
árido do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e o Bioma Caatinga são
categorias com a mesma sinonímia, por tratarem das secas e da fragilidade econômica dos
espaços e subespaços do Nordeste. As diferenciações ocorrem com ênfase no manejo
controlado dos recursos naturais, estimadas nos critérios de delimitação de suas
classificações internas.
Na oportunidade, ecorregião corresponde à unidade relativamente grande de terra e
água, delimitada por fatores bióticos e abióticos, que regula a estrutura e função das
comunidades naturais que coexistem. Quer dizer, trata-se de um espaço que engloba
diversos sistemas biológicos. Assim, reportam às divisões internas das variações de
caatingas, as quais incluem a caatinga arbustiva ou arbórea, mata seca ou úmida, carrasco,
formações abertas (predominando as cactáceas e bromeliáceas), etc., a partir de 8
ecorregiões. A destacar: Campo Maior (41.420 km²); Ibiapaba-Araripe (65.510 km²) e
depressão Sertaneja Setentrional (206.700 km²), setorização da bacia em estudo; Planalto
da Borborema (41.904 km²); depressão Sertaneja Meridional (373.900 km²); dunas do São
Francisco (36.170 km²); Chapada Diamantina (50.610 km²); e Raso da Catarina (30.800
km²), como mostra a Figura 9.
No que concerne a áreas legalmente conservadas, 82,02% das ecorregiões do Bioma
Caatinga estão protegidos em 33 unidades de conservação, com 851.050 km²,
correspondendo a 4,96% da área da Região Nordeste e a cerca de 6 unidades de
conservação estão no Ceará, totalizando, aproximadamente, 146,999 ha.
Considerando essas ecorregiões, com seus aspectos de flora, fauna e solo, e toda a
área dos municípios onde ocorrem as caatingas, delineia-se a área do Bioma Caatinga, com
1.037.517,80 km², população superior a 28 milhões de habitantes, em 1.280 municípios. Isto
denota uma nova proposta de classificação em que cada Estado colabora com as seguintes
dimensões absolutas (km²) e relativas em relação ao Bioma Caatinga: 1 - Maranhão -
38.062,50 (3,76%); 2 - Piauí -173.176,80 (16,69%); 3 - Ceará – 145.712,30 (14,04%), 4 - Rio
Grande do Nordeste - 51.770,70 (4,995); 5- Paraíba -
52.634,50 (5,07%)
; 6 - Pernambuco,
incluindo Fernando de Noronha, - 85.362,90 (8,23%); 7 - Alagoas - 16.349,70 (1,58%); 8 -
Sergipe - 14.920,30 (1,44%); 9 - Bahia - 392.208,90 (37,8%); e 10 - Norte de Minas Gerais –
66.319,20 (6,39%).
Ao tempo que a tabela seguinte apresenta aspectos sobre área e população do Bioma,
enfocando o Estado do Ceará em seus indicadores demográficos, com uma população
superior a 28 milhões de habitantes, nesse Bioma pode ser assinalado o Estado do Ceará,
com o mais representativo contingente populacional (7.430.661 hab.), equivalente a 26,45%
daquele total. Tem a maior população urbana (30,39%) e a segunda maior população rural
(19,94%), ficando atrás somente da Bahia, com seus 28,6%.
130
Figura 9 – Bioma Caatinga e Ecorregiões Componentes
Fonte: CNRBC (2004).
Tabela 12 – População Total, urbana e rural do Bioma Caatinga, 2000
Estado
População
Total 2000 %
População
urbana %
População
rural %
1 645.793 2,3 310.676 1,78 335.117 3,16
2 2.581.978 9,19 1.637,41 9,36 944.573 8,9
3 7.430.661 26,45 5.315.318 30,39 2.115.343 19,94
4 2.680.347 9,54 1.981.062 11,33 699.285 6,59
5 2.392.760 8,52 1.492.191 8,53 900.569 8,49
6 3.240.664 11,53 1.900.519 10,87 1.340.145 12,63
7 1.105.993 0,94 566.020 3,24 539.973 5,09
8 711.366 2,53 366.384 2,09 344.982 3,25
9 6.282.721 22,36 3.248.750 18,58 3.033.971 28,6
10 1.026,04 3,65 671.452 3,84 354.586 3,34
Bioma
Caatinga 28.098,321 100 17.489.777 100 10.608.544 100
Fonte: CNRBC (ibid).
Embora a legislação ambiental brasileira esteja entre as mais modernas e amplas do
mundo, sua baixa eficiência e ínfima aplicação colaboram para prosseguimento da
degradação de muitos biomas, comprometendo a representatividade da heterogeneidade
original, sobretudo em riqueza e diversidade biológica de amplas comunidades biópticas
reconhecias no plano geográfico (MANTOVANI, 2003), como o Bioma Caatinga.
A mais atualizada classificação do Nordeste no bojo da desertificação, contudo,
destacando no âmbito aspectos ambientais, preferencialmente, a vulnerabilidade as secas,
foi considerada pelo Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação
dos Efeitos da Seca (PAN-BRASIL). Nesta questão, foram aglutinadas Áreas Susceptíveis
à Desertificação (ASD), as quais merecem enfoque indispensável.
131
3.2.3 - ÁREAS SUSCEPTÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO (ASD)
O “Cenários para o Bioma Caatinga” subsidiou a elaboração do PAN-BRASIL, de sorte
que esse Programa necessitaria de bases atualizadas para prover formas de combate à
desertificação.
Além dos Núcleos de Desertificação destacados no Capítulo 2, as Áreas Semi-áridas e
Subúmidas Secas, as Áreas de Entorno das Áreas Semi-áridas e Subúmidas Secas e as
Novas Áreas Sujeitas ao Processo de Desertificação são denominadas pelo PAN-BRASIL
como Áreas Susceptíveis à Desertificação. Assinala que espaços áridos no Nordeste são
exíguos, apenas localizados no Seridó (RN), em 1.200 km². Por isto, este Programa optou
por trabalhar somente com categorias de áreas semi-áridas e subúmidas secas.
Essas áreas compreendem porções territoriais de todos os Estados nordestinos,
incluídos o norte mineiro, em uma superfície de 1.138.076,0 km² (Figura 10), sendo que
62,4% correspondem ao semi-árido (710.437,30 km²) e 36,9% as áreas subúmidas secas
(420.258,80 km²). Em 2000, residiam 31.663,671 milhões de habitantes, com 14.235,815
milhões de pessoas em áreas semi-áridas (44,9%) e 8.248,638 milhões em áreas
subúmidas secas (26%).
Figura 10 - Áreas Susceptíveis à Desertificação
Fonte: Brasil (2004c)
132
Nota-se que, dos 1.482 municípios das Áreas Susceptíveis à Desertificação, 804 estão
no semi-árido, com o estado do Ceará (CE) contribuindo com 105 municípios, sendo o total
acrescido pelos demais estados na seguinte ordem: Sergipe (SE) 06, Minas Gerais (MG) 22,
Alagoas (AL) 33, Pernambuco (PE) 90, Piauí (PI) 96, Rio Grande do Norte (RN) 143,
Paraíba (PB) 150 e Bahia (BA) com 159 municípios. Os municípios das Áreas Subúmidas
Secas das Áreas Susceptíveis à Desertificação são em número de 397. O Maranhão
colabora apenas com o mínimo (com o Município de Barão de Grajaú) e a Bahia com o
máximo, isto é, 107 municípios. Neste contexto, o Ceará ocupa a 4ª. ordem, com 41
Municípios (Tabela 13).
Tabela 13 – Relação do número de Municípios, por Estado, nas Áreas Susceptíveis à
Desertificação
Número de Municípios das ASD Estado
Áreas Semi-
Áridas
Áreas Subúmidas
Secas
Áreas de Entorno Total das ASD’s
Maranhão - 1 26 27
Piauí 96 48 71 215
Ceará 105 41 38 184
Rio Grande do Norte 143 12 3 158
Paraíba 150 47 11 208
Pernambuco 90 39 6 135
Alagoas 33 13 7 53
Sergipe 6 28 14 48
Bahia 159 107 23 289
Minas Gerais 22 61 59 142
Espírito Santo - - 23 23
Total 804 397 281 1.482
Fonte: Brasil, 2004c.
Os municípios de entorno, atendidos pelos programas da SUDENE ou que façam parte
do Bioma Caatinga, em 2003 e 2004, (bem como aqueles incluídos na área de atuação
dessa Superintendência (Lei N° 9.690, de 15/07/1998 ) ccomo alguns no Espírito Santo
passaram a integrar, na categoria de Áreas do Entorno das Áreas Semi-Áridas e das Áreas
Subúmidas Secas, espaços das Áreas Susceptíveis à Desertificação), compreendem mais
281 municípios, com superfície de 207.340 km² e população de 9.179.218 habitantes,
distribuídos por Estado da seguinte maneira: Rio Grande do Norte 03, Alagoas 07,
Pernambuco 06, Paraíba 11, Sergipe 14, Bahia 23, Espírito Santo 23, Minas Gerais 26,
Ceará 38 e Piauí 71.
No Espírito Santo, as Áreas de Entorno das Áreas Susceptíveis à Desertificação
apresentam como principais problemas ambientais, em primeiro plano, a destruição da
vegetação natural, substituída pela monocultura de eucalipto, como demanda da indústria
de papel e celulose. Por conseguinte, há uma substituição por pastagens e a implantação de
extensas áreas com a monocultura de mamão e maracujá; em segundo lugar, a ocupação
de extensas áreas de matas pela cultura cafeeira, sem medidas conservacionistas no uso
dos solos e controle da erosão. Por fim, a mineração de granito ocorre sem cuidados com a
133
proteção e recuperação do ambiente (BRASIL, 2004c), que serve ao mesmo tempo como
fonte de recursos e depósito de rejeitos das áreas mineradas (NASCIMENTO, 2003).
Por seu turno, em Minas Gerais, as áreas suscetíveis são aquelas situadas nas Áreas
de Entorno das Áreas Sem-Áridas e das Áreas Subúmidas Secas, compreendendo 59
municípios, localizados, sobretudo, no Vale do Jequitinhonha e no Norte do Estado (área
mineira do Polígono das Secas).
Os principais problemas enfrentados, considerados por Brasil (ibid), são: a acentuada
variabilidade climática, intensa exploração e degradação da vegetação, que está sendo
substituída por pastagens exópticas, que, em função da baixa fertilidade natural dos solos,
topografia acentuada, ao que se alia o superpastejo, diminuem a capacidade-suporte das
pastagens e acentuam os processos erosivos. Daí resultarem feições de paisagens
degradadas, conhecidas localmente como “peladores”, fonte importante de sedimentos que
alimentam o assoreamento potamográfico. Ocorrem também plantações em maciços,
principalmente com eucaliptos, áreas com monocultura de soja, no âmbito da mineração -
exploração de ouro por garimpos tradicionais -, assim como mineração tecnificada de
turmalina, ardósia, quartzo e diamante.
As Áreas de Entorno no Maranhão enfrentam problemas ambientais agravados pela
expansão de monoculturas, como soja e eucalipto além da substituição de pastagens.
O PAN-BRASIL reforça a problemática da desertificação, destacando, no universo das
Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD), Novas Áreas Sujeitas ao processo de
Desertificação. A bem da verdade, são áreas que estão inclusas como ASD’s. A ênfase,
no entanto, serve para ratificação do problema, muito mais do que como inclusão de novas
áreas, pois são áreas com degradação ambiental intensa, verificada em nível exploratório,
originada por fatores naturais (clima e solo), como pelas atividades socioeconômicas, ou
ambas, simultaneamente. Ocorrem na Bahia, Paraíba, em áreas circunvizinhas a Gilbués
(PI), além das já referidas Áreas de Entorno das ASD em Minas e no Maranhão.
No total, as ASD têm mais de 1.338 milhões de km² e população superior a 31 milhões
de habitantes (Tabela 14). Desta feita, variáveis como área, população e número de
municípios expostos na próxima tabela, aliados à Figura 11, podem completar informações
sobre a complexidade ambiental do Nordeste, ao se cruzar informações sobre o Polígono
das Secas, Região Semi-árida do FNE, Bioma Caatinga, Nordeste da SUDENE e ASD.
Tabela 14 - Área, população e número de mnicípios em Diferentes Delimitações do
semi-árido Susceptível à Desertificação
Especificação
Área (km²
)
População Total
(hab.)
de Municípios
Polígono das Secas 958.819,60 27.863.392 1.264
Região Semi-Árida do FNE 895.254,40 19.326.007 1.031
Bioma Caatinga 1.037.517,80 28.098.321 1.280
Nordeste da SUDENE 1.797.065,00 53.434.693 2.029
ASD (Áreas Semi-áridas, subúmidas
secas e de entorno das Áreas Semi-
áridas e subúmidas secas)
1.338.076,00 31.663.671 1.482
Fonte: CNRBC (2004) e PAN-BRASIL (2004).
134
3.3 - CONVIVÊNCIA COM O FENÔMENO DA SECA
Ao considerar a etimologia da palavra Ceará, Leitão (1997) traz a interpretação de
alguns pesquisadores, o que é digno de uma consideração. Vejamos.
Excetuando a interpretação romântica alencarina da palavra Ceará, que, em idioma
autóctone, seria o “canto da jandaia”, sobre a maior parte das interpretações etimológicas
das origens do nome deste Estado, ocorre uma expressiva carga negativa, denotando uma
terra tida como hostil, um temeroso deserto, uma região doentia e de clima subhumano.
Este fato, como estigma, acompanha a história estadual desde sua colonização com Martins
Soares Moreno em 1618. Esse colonizador afirmava que a partir do Rio Grande do Norte
não havia terras povoáveis e nem que desse mantimento de nenhuma forma; tudo eram
areais deserticos. A Província do Ceará chegou até a ser considerada a mais áspera e inútil
do País, abundante, apenas em salinas, pau-violeta e âmbar-gris.
Leitão (op cit), ao estudar o verbete Saara, este relaciona o nome Ceará com os
ventos do grande deserto africano. O árabe çahra, em si, significa deserto. Çahara é o plural.
Isto pode explicar a indecisão entre Sara, singular, e Saara, baseada no plural arábico. A
forma oxítona Sahará, provavelmente fora influenciada pela pronúncia francesa. O gênero,
originalmente, era feminino, a despeito do árabe, a partir de onde vários escritos
portugueses fizeram uso da palavra. A mudança para o masculino possivelmente decorre da
palavra deserto, que se antepõe pleonasticamente ao topônimo. O oxítono Sahará lança
para admissão da hipótese de que o nome Ceará vem dele. Assim, seria somente uma
questão de dissimulação vocálica: Saara Ceará. Nas entrelinhas, diz-se que na costa
cearense continuam os areiais africanos. E mais, nas estiagens, todo o Ceará é um areal
árido e quente! Admira-se Júlio Nogueira.
Outra interpretação etimológica do nome Ceará vem de João M. Júnior. Acentua as
duras condições climáticas que caracterizam este Estado, entendendo que a palavra
CEARA finaliza a idéia de seca periódica e a de moléstia ou febre ocasionado pelo calor, e
decompõe em CE e ARAA; CE com a significação de costume, exprimindo o modo e estar
ou ser e, ARAA composta de ARA “tempo” e A “cair”, significando enfermidade de quentura,
representando moléstias de calor ou da seca. CIARA pode também ser decomposto em: CI-
IE-ARRA, significando “fica-se doente”. Refere ao fato daquela região ser doentia.
Por essas etimologias, percebe-se que, na convivência com as secas, desde os
primórdios do Ceará, havia preocupações com território complicado para o desenvolvimento
humano, considerando os padrões da época.
Realmente, fenômeno comum tanto aos desertos como nas áreas em processo de
desertificação é a seca. Essa pode ser entendida como falta de chuvas, estiagem, ou
mesmo como um período em que a ausência prolongada de chuvas acarreta graves
problemas sociais e econômicos, que pode se estender por dois ou três anos, repetindo-se
135
em intervalos cíclicos aproximadamente de 12 em 12 anos. Entre estes intervalos de tempo,
ocorrem secas de menores intensidades sem uma regra espacial. Tais fenômenos
comprometem o aproveitamento dos recursos naturais, em face das rusticidades das
técnicas e manuseios dos meios de produção, empobrecendo a qualidade de vida e
ambiental dos sertanejos. Atrelado a isto, atores políticos oportunistas implementam a
“indústria das secas”.
Historicamente, a fuga de índios de estiagens para fazendas de brancos ou para o
litoral corresponde aos primeiros registros de secas regionais, entre os séculos XVI e XVII,
mais precisamente a partir de 1583, registrados pelo padre Jesuíta Fernão Cardim.
Como tentativa de minorar a escassez d’água, em 1831, na Regência Trina, foi
iniciada abertura de fontes artesianas profundas. E em 1856 foi criada a Primeira Comissão
Científica de Exploração, chefiada pelo Barão de Capanema. Conforme Nascimento et al.
(2001), Comissão chefiada por Freyre Allemão que estudou os recursos naturais dos
sertões no século XIX, declarou que as secas eram traumáticas ao desenvolvimento social,
inaugurando os estudos sobre o levantamento dos recursos naturais.
Entretanto, foi somente a partir das grandes secas de 1877 a 1879, entretanto que,
realmente, a Coroa portuguesa deu inicio à realização de estudos com exploradores
estrangeiros para se combater a seca.
Considerando as grandes secas ocorridas no Nordeste, especificamente de 1900 a
1996, ocorrerem 25 secas, com periodicidade de 3,8 anos, com maior duração entre 1979 e
1983 (SOUZA, 1998). E a título de ilustração, a Tabela 15 registra as maiores secas
regionais, mostrando que uma cadência rara-perturbada intercalada por intervalos pouco
dispares no desenvolvimento das estiagens, dando subsídios à previsão deste fenômeno.
São cerca de 76 anos de secas ao longo de quase 5 séculos de ocupação do território do
Nordeste seco.
É importante notar que o século de maior número de secas foi o XVIII, com 30,
registrando consecutivamente até 7 anos de seca prolongada. Enquanto o século que
menos teve freqüência de chuvas foi o XVI, apenas 2, em 1583 e 1587. Neste espectro, as
secas de 1825 a 1827 a de 1830 marcaram o pioneirismo da açudagem no Nordeste,
quando, para melhor articulação, foi criada a Inspetoria Federal de Obras contra as Secas
(IFOCS), em 1909. Esta instituição posteriormente foi denominada de Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), o qual constituiu o referenciado Polígono
das Secas. Conforme Vieira (2002), este feito representa um marco inicial na implantação
da infra-estrutura hídrica para o desenvolvimento hidro-agrícola, bem como na procura de
conhecimentos científicos sobre os recursos naturais regionais.
Após esta tragédia, em fins do Império e início da República, o imperador Pedro II
criou uma comissão de inquérito com o intuito de melhorar os meios de transporte e
construir açudes - barramentos. Nesta trajetória, o Brasil seguiu o modelo americano de
136
açudagem que se baseava em investigações fisiográficas, geológicas e hidrológicas de
regiões áridas e semi-áridas. Os engenheiros americanos apontavam o represamento como
principal estratégia de combater a seca.
O açude Cedro, em Quixadá CE, foi um dos três primeiros construídos. Iniciado em
1884 e concluído 22 anos depois, em 1906, o mesmo é concebido como um ícone da
inoperância e do desperdício no combate à seca. Precisamente, a partir da segunda década
do século passando, várias sub-bacias passaram a ser alvo de intervenções para a
construção de barragens. Em 1919 a investida em poços também foi significativa, e cinco
anos depois se registravam 1.029 perfurações em busca do lençol freático (REBOUÇAS,
1997).
Projetos hidráulicos de maior monta foram implementados a partir de 1920, com plano
de construção de infra-estrutura, a partir da construção de estradas, canais para irrigação,
usinas elétricas, pequenos aeroportos e instalações de estações de rádio. Para se ter uma
idéia. De 1906 a 1959 foram construídos 190 açudes, além de centenas de pequenos
reservatórios em cooperação com os proprietários de terras (MAGALHÃES, 1992). Órgãos
públicos como o IFOCS, SUDENE e PETROBRÁS, construíram vários poços em
propriedades privadas em regime de cooperação, nas depressões sertanejas com rochas
cristalofilianas pouco decompostas e nos terraços fluviais mais baixos, com profundidade de
20m a 40m, de baixa vazão, 1000 a 3000m³/s; e nas chapadas - água salobra -, com
perfuração de poços profundos 200m a 600m. De 1909 a 1950, foram perfurados 5.124
poços, comumente em terrenos particulares (AB’SABER, 1999).
Tabela 15 – Cronologia das Secas entre os Séculos XVI a XX (1583-1923)
Décadas Século XVI Século XVII culo XVIII Século XIX Século XX
00 1603 1707 1804 1900
1608 1808/1809 1903
10 1614 1710/1711 1814 1915
1919
20 1721/1722 1824/1825
1723/1724 1829
1725/1726
1727 1829
30 1730
1736/1737
40 1645 1744/1745 1844/1845 1942
1746/1747
50 1652 1751 1951/1952
1754 1953
1958
60 1760 1962
1766 1966
70 1771/1772 1870 1970
1777/1778 1877/1878 1976
1879 1979
80 1583 1783/1784 1888/1889 1980/1981
1587 1982/1983
90 1692 1791/1792 1898 1990/1991
1793 1992/1993
Total 2 6 30 16 22
Fonte: adaptado de Áridas (1995) in Vieira (2002).
137
Insistindo na perspectiva de se combater a vulnerabilidade regional das secas, o
Governo Federal instituiu, em 1948, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco (CODEVASF). A intenção era a de promoção hidro-agrícola do vale do “Velho
Chico”, como também para implantação do programa de aproveitamento hidro-energético do
mesmo rio. Nos anos de 1980, foi constituído o Plano de Aproveitamento Integrado dos
Recursos Hídricos do Nordeste do Brasil (PLIRHINE), primeiro diagnóstico da situação dos
recursos hídricos regionais (FILHO et al. 1994).
Mais tarde, em 1952, foi criado o Banco do Nordeste do Brasil, para incremento das
relações comerciais e de fomento. Com a perspectiva de incorporar o Nordeste, como um
todo, ao mercado nacional e integrá-lo inter-regionalmente com infra-estrutura e acesso, nos
anos de 1950, foi criado o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN).
Objetivava criar a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o que
ocorreu em 1959. Com abordagem técnica-econômica, em contrapartida, a solução
hidráulica tentada desde a fase colonial tinha uma visão desenvolvimentista incorporadora
das dimensões socioeconômicas, sobretudo, para a irrigação pública.
A SUDENE passou a ajudar na condução do incremento das atividades produtivas e
inserção da região de vez no mercando nacional. Por isso foi preciso modernizar a estrutura
produtiva e tecnológica que, conseqüentemente, não se realizou sem modificações na
estrutura agrária. Vale salientar que em função do quadro problemático das chuvas, a
irrigação é tida como possibilidade tecnológica indispensável à agricultura moderna; contudo,
a região é uma das mais populosas do mundo com a menor proporção de área irrigada em
relação à área total (FILHO, 1996).
Destaca Vieira (2002) que outras instituições federais, como o Departamento Nacional
de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), Departamento Nacional de Obras e Saneamento,
(DNOS) e Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), trabalham na questão
dos recursos hídricos no combate às secas, no entanto, com a Carta Magna de 1988 e as
constituições estaduais de 1989, todos as unidades da federação passaram a ter mais
cuidado com o gerenciamento dos recursos hídricos de suas bacias hidrográficas. Algumas
destas unidades elaboram planos estaduais de recursos hídricos, a exemplo do Ceará, em
1992, ao tempo que a Secretaria Estadual deste domínio cria a Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (COGEHR), em 1994.
Embora o armazenamento d’água tenha saído conforme planejado, seguida por uma
razoável implantação de sistema de transporte, contrariamente à irrigação, as pesquisas
agroindustriais e a psicultura não compensaram. Somam-se aos problemas de planejamento
público denúncias de desvios de verbas, escândalos com a corrupção em folhas de
pagamento, irregularidades na distribuição de mantimentos e influência política nas escolhas
de projetos nas secas de 1951 e 1958, por exemplo. As controvérsias grandes reservatórios/
pequenos reservatório e água de superfície/água subterrânea passaram a ser objeto de
138
fortes críticas. A matriz de tratamento da seca, no entanto, mantinha-se inconteste, isto é, a
açudagem (MAGALHÃES, 1994). Essa fase hídrica, segundo Elias (2005), serviu como
moeda de negociação entre a elite local e o Governo Federal, muito mais do que como
propulsora para mudanças das condições socioeconômicas vigentes. Preservou a estrutura
fundiária regional concentrada, a base técnica arcaica da produção, não tocando nas forças
político-oligárquicas agrárias da indústria da seca.
Realmente, no semi-árido os reservatórios sempre foram os principais equipamentos
de transformação e adaptação das potencialidades às demandas. Em 1994, a título de
exemplo, havia 295 açudes públicos construídos pelo DNOCS, com capacidade de
acumulação 16,540 bilhões de m³. Em regime de cooperação com particulares e prefeitos,
foram mais 676 açudes, com capacidade de acumular 1,431 bilhões de m³. no Ceará
foram construídos 76 açudes e em cooperação 463 outros equipamentos, pelo menos até
1994, segundo Filho (1994); sem esquecer do Castanhão, maior açude deste Estado, com
capacidade de 6.7 bilhões de m³, e do açude Araras Norte, o maior da bacia do Acaraú, com
capacidade total de 860.9 milhões m³.
Com um poder centralizado e conservado nas mãos dos fazendeiros das elites locais,
as resistências e os conflitos foram rotineiros. Desta feita, a tentativa de explorar quali-
quantitativamente os recursos naturais regionais através de novas matrizes metodológicas
ocorreu de maneira rarefeita e desigual.
Acreditamos que os impactos sobre os recursos naturais, no semi-árido,
principalmente, ocorreram e, até hoje se dão, em última análise, pelo fato de que a
explotação dos recursos naturais para atender as demandas de mercado não foi
acompanhada, vis-à-vis, pelos níveis tecnológicos de obtenção dos recursos (HEITOR
JÚNIOR, 1997) e pelo fato de a dimensão comunitária não ser privilegiada a contento. E o
planejamento estatal é forte definidor de projetos e incentivos econômicos de abrangência
desigual e desconforme, no que tange a programas favorecedores das oligarquias e
burguesias. Forja-se, desta forma, o Estado como o principal agente organizador do espaço
regional, seguido pelo setor empresarial, proclamando combate à seca em detrimento da
convivência com o fenômeno, de vez que se trata de um evento natural intransponível.
A maior parte do capital alocado para o Nordeste brasileiro, contraditoriamente, foi
materializada, ao longo de décadas, na faixa costeira e suas adjacências, contrastando com
a pobreza regional, mormente sertaneja. É naquela zona onde ocorrem razoável
hierarquização urbana e boa infra-estrutura de estradas, fornecimento de água e energia
elétrica, dentre outros equipamentos e os serviços. Os maiores investimentos no sertão
ainda ocorrem nas capitais regionais, como em Mossoró-RN, Campina Grande-PB, Feira de
Santana-BA, Petrolina-PE e Sobral-CE, onde o comércio e os serviços são mais
diversificados.
139
À mingua de políticas eficazes no desenvolvimento de estratégias e tecnologias para a
convivência com as secas, as sociedades obrigatoriamente sentem dificuldades de se
adaptarem às condições naturais, pois as políticas as modificam ou as ignoram. O
empiricismo dos sertanejos desenvolveu uma intuição apurada sobre as forças telúricas, ao
longo dos tempos, com base no lugar de cada um.
Para Filho (1994), contudo, o tratamento histórico das secas caracteriza-se por
intervenções isoladas e desarticuladas, sem prioridade governamental para seu
planejamento global, não guardando correlação com os programas de desenvolvimento,
dificultando a execução de obras permanentes, em termos de quantidade, localizações e
usos adequados das populações, dos rebanhos e setores produtivos.
Enquanto nas regiões áridas os povos nômades vivem uma espécie de sobriedade
alimentar, tentando reduzir a evaporação e o consumo de líquido (POUQUET, 1962), no
semi-árido nordestino, ocorre uma espécie de “alienação alimentar”, pois os níveis da dieta
diária no período das secas são mínimos ou, mesmo, insuficientes. O regime alimentar dos
sertanejos muitas vezes permanece aquém da segurança vital, por isso passam a consumir
todas as coisas desdenhadas em tempos normais, como a palma forrageira, lagartos etc.
Para Duque (1980), eles precisam, a despeito de outras comunidades conservadoras
de ambientes similares aos sertões, conservar os alimentos e desenvolver uma previdência
sistemática, conjugando esforços. Mesmo no ano de boas chuvas e colheitas, o produtor
não pode esquecer das secas; é necessário conservar o excedente.
Desta forma, a convivência com as secas em suas mais diversas faces, associadas
aos efeitos ambientais que produzem degradação ambiental, estão entre os principais
fatores históricos que acarretam sinergismos de impactos que culminam com a
desertificação e a migração compulsória. Sendo assim, argumenta Araújo (1996), o
fenômeno da desertificação esconde sua face social, em que a partir da análise do discurso
oficial e de empresários, nota-se que um transvestimento da realidade socioambiental,
através de determinismo ambiental das secas.
Com efeito, considera Araújo (1996), acobertamentos do âmago social das secas no
Ceará eram exercitados muito tempo. Para ilustrar, na grande seca de 1915, mais
conhecida como “Seca do 15”, deram a alcunha de retirantes aos fugitivos da seca que, em
busca de alimentos no litoral, como que em movimento transumante, saíam do sertão na
seca e para lá voltavam quando as chuvas se precipitavam, levando suas reses.
A partir desta seca que surgia mais uma adjetivação fascista para os retirantes das
contingências climáticas e degradacionais dos sertões: os flagelados Mais tarde, em 1951,
os então retirantes ou flagelados, agora foram chamados de deslocados. Entre as grandes
secas de 1989 e 1997, os trabalhadores rurais, também sem direito, como que em um jogo
de palavras, foram denominados mendigos sazonais. De retirantes a sem-terras, como
lamenta Araújo (op cit), já se foi quase um século de lutas.
140
Entretanto, como visto no capítulo anterior, entretanto, com a crescente preocupação
em torno da tríade semi-árido/seca/desertificação, a realização da Conferência Internacional
sobre Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável no Semi-árido (ICID), em 1992,
foi fundamental para incrementar a discussão sobre este tema. Os resultados deste evento
estão registrados na história como imprescindíveis, no entanto, se preocupou muito com o
combate à desertificação e à seca, em detrimento a convivência com o semi-árido, que
somente vem ganhando corpo nesta década.
Pouco depois, com a elaboração da Agenda 21, o seu Capítulo 12.2 defendea idéia
que, para o manejo de ecossistemas frágeis, como os de regiões semi-áridas, no combate à
desertificação e à seca, podem ocorrer relações problemáticas entre natureza/sociedade.
Como resultado, pode haver degradação da biodiversidade, do solo, dos fatores hidrológicos,
da infra-estrutura econômica e da qualidade de vida dos assentamentos humanos, podendo
culminar com o comprometimento de um vindouro desenvolvimento sustentável (DS) e
desencadeamento da desertificação.
Adicionalmente, uma série de medidas estão sendo tomadas para o tratamento desta
questão por parte dos governos e da sociedade civil, agora sob a perspectiva de
convivência com o semi-árido.
3.3.1 - PROPOSIÇÕES INTERINSTITUCIONAIS DE CONVIVÊNCIA COM A SECA E O
PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE
A Declaração do Semi-árido (DSA) afirma proposições norteadoras de ações das
comunidades organizadas e das ONG’s. Reconhece a importância e valores do semi-árido
brasileiro (SAB) para a implantação do desenvolvimento sustentável (DS), fundado nos
ideais de quebra do monopólio da terra, água e meios de produção; manejo sustentável dos
ecossistemas; atuação da sociedade civil; educação, recuperação da identidade cultural do
SAB; e informação.
Recomenda medidas práticas de políticas públicas consubstanciadas em um
Programa de Convivência com o semi-árido. Esse programa funda-se em dois pilares: a
conservação, o uso sustentável e recomposição ambiental dos recursos naturais; e a quebra
do monopólio de acesso à terra, à água e outros meios de produção.
O CNRBC (2004) destaca os objetivos do cenário desejável e a Agenda de
Desenvolvimento Sustentável para o bioma caatinga sob intervenção estatal. O cenário
desejável preceitua, dentre outros aspectos, a promoção da conservação dos recursos
naturais, combatendo a desertificação; recuperando, revitalizando e conservando as bacias
hidrográficas. Em sua agenda, enfoca as dimensões econômica, sociocultural e ambiental
para o DS, compostas de 20 linhas de ação desdobradas em ações mitigadoras, dentre elas
as de números 11 e 14, do objetivo 3 na dimensão ambiental que trata, respectivamente, da
141
recuperação de áreas em processo de desertificação e, do planejamento ambiental do
território e recuperação, revitalização e conservação de bacias hidrográficas.
As macropolíticas do Plano Plurianual de Investimentos (PPA) do Governo Federal, de
2004-2007, em suas dimensões social, econômica, ambiental, regional e democrática, estão
relacionadas com os eixos estratégias do Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-BRASIL). Os megaobjetivos do PPA
são: inclusão social e redução das desigualdades; crescimento com geração de emprego e
renda, ambientalmente sustentável e redutor das desigualdades regionais; promoção,
expansão da cidadania e fortalecimento da democracia.
Sobre estas bases, o PAN-BRASIL seguiu orientações da Convenção de Combate à
Desertificação (CCD), articulando políticas nacionais que viabilizem modelos de DS. Os
eixos temáticos ligados aos megaobjetivos pouco mencionadso são 4 e estão
relacionados da seguinte maneira: 1 Redução da pobreza e da desigualdade, 2 Ampliação
Sustentável da capacidade produtiva, 3 Conservação, preservação e manejo dos recursos
naturais, 4 Gestão democrática e fortalecimento institucional, sendo que o de número 1 está
relacionado ao Megaobjetivo I do PPA, isto é, Inclusão social e redução das desigualdades
sociais; os de número 2 e 3, ao megaobjetivo II, quer dizer, Crescimento com Geração de
Emprego e Renda, Ambientalmente Sustentável e Redutor das Desigualdades Regionais. O
quarto liga-se ao Megaobjetivo III, ou seja, Promoção e Expansão da Cidadania e
Fortalecimento da Democracia.
Para especificar a intenção de envolvimento destes programas com a convivência com
o semi-árido e a seca, no combate à Desertificação, é interessante registrar as principais
proposições de cada um (Quadro 18).
Ciente das devidas proporções das proposições expostas no quadro, todas elas são
balizadas no conceito de DS como um novo paradigma. Rezam ser possível ordenar a
dinâmica econômica, a salvaguarda ambiental e promoção da eqüidade intertemporal das
gerações humanas. Neste bojo o papel das geociências é fundamental para estudar a
evolução do Planeta e seus processos naturais (CORDANI e TAIOLI, 2003), com destaque
para a Geografia.
Embora seja imprescindível seguir tais orientações, a perspectiva de Desenvolvimento
Sustentável não pode genericamente ser forjada como panacéia para a convivência com a
seca e o combate à desertificação, pois é um conceito técnico e polarizado, usado por
diversas ideologias, sejam elas científicas, técnicas e políticas sobre o gerenciamento dos
recursos naturais. Via de regra, os variados discursos tentam eqüalizar DS com
sustentabilidade ecológica, ou tentam resolver tudo no domínio semântico. Advogam
Carvalho e Nascimento (2004) que, desta forma, a idéia de DS é usada por interesses
diversos, como símbolo de um consenso, ideal inatingível no contexto de um sistema
globalmente desigual e desconforme.
142
Quadro 18 – Proposições importantes para convivência com o semi-árido e a seca, no
combate à Desertificação
Declaração do Semi-
árido (DAS) -
componentes
principais
Plano Plurianual de
Investimentos (PPA) -
Estratégias das Dimensões e
Megaobjetivos
Conselho Nacional da
Reversa da Biosfera da
Caatinga (CNRBC) –
cenário desejável
Programa de Ação
Nacional de Combate à
Desertificação e
Mitigação dos Efeitos
da Seca (PAN-BRASIL)
– subtemas dos eixos
temáticos
Convivência com as
secas
Inclusão social e a
desconcentração da renda
Redução da pobreza e
das desigualdades
sociais
Eixo 1: Reforma Agrária,
Educação e Segurança
Alimentar
Orientação dos
investimentos no
sentido da
sustentabilidade
Crescimento vigoroso do
produto e do emprego
Reestruturação da
produção econômica
Eixo 2: Desenvolvimento
Econômico, Questão
Energética, Recursos
Hídricos e Saneamento
Ambiental e irrigação
Fortalecimento da
sociedade civil
Crescimento ambientalmente
sustentável
Construção da
competitividade regional
-
Inclusão de mulheres e
jovens no processo de
desenvolvimento
Redução das disparidades
regionais
- -
Preservação,
reabilitação e manejo
controlado dos recursos
naturais
Dinamização do mercado de
consumo de massa, por
investimentos e por elevação
da produtividade
- -
Financiamento do
Programa de
Convivência com o
Semi-árido
Redução da vulnerabilidade
externa por meio da expansão
das atividades competitivas que
viabilizam esse crescimento
sustentável
- -
Fortalecimento da cidade e da
democracia
- -
Fonte:
CNRBC
(2004), Brasil (2004).
Sob este espectro, tal expressão termo é usurpada, incorrendo em ambigüidades e
conflitos sociais, econômicos e políticos resultantes do uso dos recursos naturais, em face
de negligências em relação às culturas e costumes locais. No caso do povo sertanejo, o DS
é desenvolvido por diversas esferas dos organizadores do espaço, que se apropriam do
território ao lume de seus interesses no “combate às secas”, em detrimento da convivência
com este fenômeno.
Defende Duque (1980) a noção que as famílias sertanejas precisam de alfabetização,
disciplina, e raciocínio para aprendizagem de melhores métodos de trabalho, praticando a
solidariedade profissional, valendo-se da iniciativa própria, sem pedir tudo à administração
pública. Mesmo por que:
O sucesso de uma civilização depende dos conhecimentos úteis dos
pensamentos sábios e dos sentimentos nobres dos habitantes (...). A nossa
redenção resultará mais da nossa própria ação do que dos planos dos nossos
governos e da perfeição das nossas leis
(DUQUE, 1980: 254-255).
Além da reversão deste paradigma representar um bom início no “combate, sim, à
desertificação” e não à seca, é mister destacar a sustentabilidade como unissonante na
(re) orientação da dinâmica territorial na convivência com a seca, considerando a economia
143
ambiental, a inclusão social e a dinâmica econômica, discutindo dialógica e coletivamente o
conceito desta palavra-chave.
A prática de um desenvolvimento alternativo que extrapole o simples aumento do
consumo e da produção de bens materiais e serviços, portanto, é um desafio para a bacia
de drenagem do Acaraú. A promoção da autonomia de decidir seu próprio futuro é direito
inalienável dos indivíduos e comunidades, em consonância com os governos e a
macroeconomia, respeitando os diversos estilos de vida, culturas, valores tradicionais e
suas necessidades (GALANO, 2002; ANGEL, 2002).
144
4 – O AMBIENTE BIOFÍSICO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACARAÚ
4.1 -EVENTOS PALEOCLIMÁTICOS E PALEOGEOGRÁFICOS
PLIOQUATERNÁRIOS
A natureza na sua quietude construtiva, na sua lentidão de criar e de
transformar, na paz da elaboração clorofiliana, no sossego das reações biológicas e
químicas que demoram séculos, é um exemplo admirável de equilíbrio, de
sincronização de movimentos e de combinação de cores. Os minerais, as
sociedades vegetativas e os animais, formando o triângulo de sustentação da vida
do Universo, se congregam harmonicamente, na cooperação mais íntima e mais
grandiosa conhecida, com o fator clima para atingir o máximo de perfeição funcional,
o sublime da beleza e o mais elevado padrão de utilidade
(DUQUE, 1980: 17).
Com esta frase, percebe-se que é necessário integrar tempo profundo (tempo
geológico) e tempo presente para a compreensão das heranças paisagísticas atuais. Isto
porque, unindo-se a história ambiental e o seu funcionamento ecológico, tem-se o
amálgama para conservação ambiental (CONTI e FURLAN, 1995). Ademais, como advoga
o princípio de Thornbury, uma interpretação comp leta das paisagens atuais não é
possível sem uma apreciação total das múltiplas influências das mudanças naturais
ocorridas no Pleistoceno. Mesmo que essa análise não seja completa, ela se prepõe
aproximativa, interligando Nordeste, Ceará e bacia do rio Acaraú.
Com efeito, ciclos paleoclimáticos associados às características estruturais, litológicas
e tectônicas justificam a macrocompartimentação geomorfológica do Brasil. Portanto,
durante mais de 70 milhões de anos, processos erosivos de fase epirogenética do Cretáceo
ao Cenozóico (Terciário ao Quaternário) promoveram desgastes em ambientes climáticos
quentes e úmidos, alternados com clima árido e semi-árido. Durante o Cenozóico,
diastrofismo/epirogênese (pós-cretácea), quase todo o Território nacional atual foi objeto de
soerguimento epirogenético de forma desigual, com áreas sendo mais rebaixadas do que
outras. Associados aos eventos tectônicos, esse processo soergueu as grandes estruturas
brasileiras crátons, cinturões orogênicos e as bacias sedimentares -, ocasionando um
duradouro e generalizado desgaste erosivo sobre as bacias sedimentares, originando as
depressões periféricas, desniveladas, em relação aos terrenos cristalinos das áreas de
escudos antigas ou áreas cratônicas (ROSS, 1995).
O relevo nordestino, sobretudo o da porção oriental, onde se localiza a bacia-teste,
apresenta superfícies erosivas escalonadas, desenvolvidas por sucessivos ciclos de erosão.
A alternância paleoclimática de climas úmidos e secos deflagrou sistemas erosivos
peculiares, ditos agressivas do ponto de vista morfoclimático, ao tempo que geraram
paroxismos rompedores da dinâmica préexistente, onde a morfogênese mecânica de clima
seco formou superfícies pedimentadas e pediplanadas. Neste ciclo, cada período seco de
elaboração de aplainamento deixa um depósito correlativo e cada fase úmida provoca
145
dissecação, entalhando formas, conforme processos linerares e areolares. Assim, toda
transição climática, que geologicamente pode ser brusca, influi sobremaneira no equilíbrio
da exploração biológica e, conseqüente no equilíbrio das vertentes, na morfopedologia, nas
condições hidrológicas regional, como também na fisiologia da paisagem.
Por sua geocronologia, estas condições paleogeográficas e paleoclimáticas são
analisadas a partir de fases pré-quaternárias, ulteriores às lépidas flutuações climáticas e
eustáticas (AB’SABER, 1958 e 1972). Em última análise, o afeiçoamento macrorregional de
superfícies inclinadas final, formadas pela coalescência ou pedimentação, isto é, pelos
pediplanos interplanálticos, ocorreu em fins do Terciário. Condições paleoclimáticas, porém,
denunciadoras de eventos geomorfológicos do Cenozóico, sobretudo, do Terciário Superior
ao Holoceno, ocorreram através de dinâmicas morfoclimáticas, sem esquecermos de
processos pedogenéticos, mesmo os incipientes, que em dinâmica cíclica com a
fitogeografia (re)modelam os geossistemas e goefácie, ao tempo que a morfodinâmica atual
é acentuada pela interferência humana no meio físico (ROSS, op cit; NASCIMENTO, 2003).
As superfícies interplanálticas das depressões periféricas, expressivas na bacia do
Acaraú, oriundas do período final de afeiçoamento neogênico – ou aplainamento neogênico,
processadas, principalmente, entre o Mioceno e o Plioceno, por vezes culminando com o
Quaternário Inferior-, são caracterizadas genericamente, segundo Ab’Saber (1972) e Jatobá
(2001), como áreas de pediplanação intertropicais. Seu aperfeiçoamento ocorreu em virtude
de fases ativas de pediplanação, intercalados por degradação lenta, a partir de veis de
base gerais pretéritos.
As forças aplainadoras morfoclimáticas incidentes sobre o domínio do clima semi-árido
foram consideravelmente mais agressivas do que as forças erosivas atuantes sobre o
domínio dos climas subtropicais da região Sudeste. Ocorreram episódios denudacionais ao
longo do Terciário, com a provável interferência de processos erosivos bastante agressivos,
correspondentes a fases de clima de transição. Estes eventos foram processados em
condições de “drenagem exorréicas, e, certamente, em períodos tectônicos de soerguimento
epirogênico, não acompanhados de falhas geomorfologicamente contrárias” (AB’SABER,
1972: 20). Correlativamente foi criada uma franja costeira de sedimentos detríticos
inconsolidados, larga e continua, nas últimas fases de afeiçoamento dos pediplanos
sertanejos, formando depósitos correlativos depositados na Formação Barreiras, isto é,
acúmulos de sedimentos empilhados que indicam, estrutural e texturalmente,
prolongamento de fases erosivas, sugerindo paleoformas de relevo veificadas entre o médio
e baixo Acaraú.
Neste contexto, o Ceará, e em detalhe o vale do Acaraú, comporta relevos
desenvolvidos em terrenos do embasamento cristalino e setores de capeamentos
sedimentares de gerações distintas, com destaque para as áreas pré-litorâneas e a Ibiapaba.
A geologia, com a geotectônica e a litologia, desempenham funções centrais na complexa
146
elaboração das formas de relevo, seguidos de fatores paleoclimáticos e morfogenéticos
atuantes. Os processos epígenos com as chuvas, escoamento superficial e ação eólica,
promovendo intemperismo mecânico, predominam nos compartimentos paisagísticos. E os
sedimentos aluvias carreados em direção ao nível de base congregaram, mais
recentemente (Quaternário), formas agradacionais litorâneas e pré-litorâneas. Estes fatores
dão pistas para uma reconstituição paleoambiental.
Com maior estabilidade tectônica, os processos morfoclimáticos e morfodinâmicos
atuais, desde o Quaternário, configuram a morfologia, onde se destacam as superfícies de
aplainamento cenozóico na compartimentação do relevo, que compõem unidades
geomorfológicas. No Plio-Plesitoceno ou Pleistoceno Inferior, os pedimentos com deposição
correlativa foram depositados na faixa pré-litorânea com os sedimentos da Formação
Barreiras. Por conseguinte, certo período úmido foi deflagrado, dissecando o relevo
quimicamente. Em fins do Pleistoceno Médio, novamente um período seco ocorreu,
coalescendo os pedimentos, formando pediplanos com elaboração da Superfície Sertaneja
Nova. Com o Plioceno Superior, se deu a última deposição dos sedimentos da Formação
Barreiras. Precedendo a deposição desse pacote sedimentar, segundo Souza (2000), em
condições de maior umidade com período de chuvas mais regularmente distribuídas, foi
favorecida a alteração de rochas, provavelmente no Pleistoceno Superior ou Médio ao Neo-
Pleistoceno, propiciando a formação de regolitos espessos. Houve uma tendência para
arrumação da rede hidrográfica e abertura dos principais vales que justificam as atuais
condições exorréicas.
O mais importante compartimento geomorfológico do Ceará e da bacia do rio Acaraú
são a Depressão Sertaneja. Para Ceará (1994), representa uma verdadeira superfície de
piso regional, que sugere a atuação de prolongados períodos de resistasia ao longo do
Cenozóico Superior. Sua extensão ocorreu ao ritmo de desmantelamento de uma superfície
que se encontra dissecada e no plano imediato inferior do topo das superfícies de cimeira
das chapadas no caso a Ibiapaba e, dos planaltos residuais cristalinos de maiores
altitudes. Isto sugere a observação ao menos de dois eventos relacionados ao
desenvolvimento da pediplanação:
1) No Plio-Pleistoceno ou Pleistoceno Superior, houve a elaboração da superfície
Sertaneja Velha em função de superfícies de cimeira, a partir de setores de pedimentos
dissecados em forma de colinas rasas. Ela se estende da depressão periférica disseca em
colinas rasas e atestam os níveis elevados de tais depressões. Com o desmonte da
superfície dos planaltos, as depressões sertanejas foram desenvolvidas em condições
resistásicas ao longo do Quaternário. De forma que, o relevo está dissecado em feições
tabulares e em colinas de altitudes modestas, em torno de 130-400m, resvestidas por
caatingas arbóreas em Luvissolos. Alonga-se da base da Ibiapaba, maciços residuais e
inselbergs em contato com a Superfície Sertaneja Nova.
147
2) no Meso ao Neo-pleistoceno foram desenvolvidos pedimentos conservados que
apresentam topografia plana, as custas do desmonte da Superfiice Sertaneja Velha, cuja
coalescência possibilitou a elaboração da Superfície Sertaneja Nova, sendo dissecada
gradativamente pela rede hidrográfica atual em rampas conservadas ou pedimentos
direcionados para os fundos de vales. Apresentam níveis mais rebaixados.
O clima seco no Quaternário corroborou para o alargamento e a coalescência de
pedimentos embutidos na Superfície Sertaneja Velha. para Superfície Sertaneja Nova
ausência desses pedimentos que representam a superfície de piso do Ceará. As
conseqüências foram os truncamentos indistintos das rochas dificultando a identificação dos
efeitos tectônicos. Com topografia esbatida, representa amplitudes insignificantes (5-10m)
entre os fundos de vales e os interflúvios. Ocorre pedimentos capeados por clásticos
grosseiros e áreas aluviais inundáveis a jusante das rampas inclinadas para as planícies
fluviais do Acaraú e outros rios.
É interessante notar que nas áreas de drenagem do Acaraú ocorrem as três
superfícies de aplainamento registrado no Ceará. Além das duas mencionadas acima
ocorrem superfícies de cimeira de planaltos. Essas superfícies perfazem as serras
cristalinas, enquanto plainos de erosão antigos, pliocênicos, setorizados nos altos dos
maciços, que foram desgastados e retrabalhados em relação à sua superfície de origem.
Cabe observar, ainda, que do Plioceno Superior ao Pleistoceno, alternaram-se
quadros de distribuição pedológica e de floras, em períodos com tempo geológico
relativamente curto, sustentados nas bruscas mudanças dos mosaicos climáticos e
ecológicos (AB’SABER, 1972, 1977a, 1979). Desta maneira, com variações climáticas
quaternárias, ocorreram fortes processos morfogenéticos, amplos e radicais, que
genericamente trabalharam as paisagens estabelecidas no Terciário Superior, vindo a
favorecer a expansão das novas formações vegetacionais, bem como de novos tecidos
fisiográficos e ecológicos.
Em condições morfogenéticas subatuais e atuais, com regressão marinha houve
submersão da emborcadura do rio Acaraú à época da transgressão Flandriana e formação
das planícies fluviomarinhas com fixação de manguezais (SOUZA, 2000). Por isso, a
fisiologia atual das paisagens litorâneas e pré-litorâneas na bacia do rio Acaraú tem ligação
com os fluxos interativos e de sedimentação litorânea ligados à dinâmica evolutiva da zona
costeira por fatores morfogenéticos, relativa às flutuações do nível do mar no Quaternário.
Antes da deposição dos sedimentos da Formação Barreiras (Época plio-pleistocênica,
na zona pré-litorânea, os movimentos eustáticos influenciaram sobremaneira a formação da
zona costeira, associados às flutuações dovel do mar nos últimos 7.000 anos. Isso
provocou, principalmente, a migração da linha de costa, imprimindo processos
morfogenéticos no plano de fatores ambientais locais, como comprovam diversos trabalhos,
a exemplo de Martin et al. (1993) e também Morais (2000). De fato, o nível do mar foi
148
superior ao atual durante o Holoceno, atingindo seu máximo aproximadamente 5.100
anos Antes do Presente (A.P). Outro aspecto é que provavelmente ocorreram duas rápidas
oscilações de vários metros de nível relativo do mar após esta data. No transcorrer dessa
dinâmica, os aspectos sedimentológicos, topográficos, morfológicos e o fluxo interativo de
matéria e energia definiram unidades ambientais por meio de depósitos sedimentares
marinhos, continentais e mistos, os quais foram vinculados aos eventos quaternários que
provocaram mudanças climáticas e variações do nível do mar.
A planície costeira,possivelmente,era mais extensa do que hoje, com drenagem fluvial
embutida em terrenos pleistocênicos marinhos. Da mesma forma, a planície de maré se
insere em um contexto morfodinâmico que comprova a ocorrência de movimentos eustáticos
durante o Holoceno (NASCIMENTO, 2003), sobretudo nas áreas mais continentais dos
principais rios cearenses, como o Acaraú.
A montante, nos glacis pré-litorâneos, desenvolveu-dr a vegetação típica dos
tabuleiros pré-litorâneos, sendo que atualmente se observa uma transgressão marinha. Por
isto o nível de base é elevado e a porção terminal do vale do Acaraú é inundada, sobretudo,
durante o fluxo e refluxo das marés, colmatando e ampliando o estuário. A dinâmica
sedimentar, portanto, é modificada. Com os sedimentos que antes eram depositados no
oceano, passaram paulatinamente a serem descarregados na tangência imediata do perfil
longitudinal com o nível de base. Desta feita, há uma tendência natural da desembocadura e
das porções mais interiores dos vales de ser assoreadas e, as planícies aluviais serem
alargadas agradacionalmente, com migração dos locais de deposição a montante do
estuário. Neste contexto, a morfogênese litorânea passa a erodir feições litorâneas,
conforme a mudança da linha costeira, que pró-parte, justifica a redução das faixas de
praias e a ausência de representativo campo de dunas no litoral do Acaraú.
Assim, são observados a abrasão do perfil das faixas de praias e o desmonte de
campo de dunas, quando seus sedimentos são carreados para o mar, passando a constituir
bancos de areia que dificultam a navegação na barra do rio. Com o afogamento do exutório,
hoje é observado paleocanal bifurcado com extensão máxima de 3,85km², que mostra, em
imagens de satélite Land Sat 7/ETM+, a confluência submersa do rio Cacimbas, com seu
paleocanal de 1,17km, com o canal afogado do rio Acaraú.
Finalmente, processos atuais e subatuais promovem morfodinâmica relacionada com a
ação das ondas e marés, deflação eólica, dinâmica estuarina, processos lineares e
interferências socioeconômicas na planície costeira. No mais, elaboração de terraços
baixos que limitam as planícies fluviais; preenchimento das planícies aluviais com detritos de
pequeno calibre a partir da deposição fluvial e da remoção de material pelo escoamento em
superfície, difusamente e em lençol; e pedimentos funcionais com a conseqüente formação
das áreas de acumulações inundáveis. Notório, atualmente, é que processos generalizados
de erosão por meio de resistasia humana em morfodinâmica operam decisivamente através
149
de mudanças ambientais sobre os compontentes morfopedológicos; quer seja por efeitos
diretos ou indiretos, alteram as propriedades das águas e das vegetações.
4.2 – BASES GEOLÓGICAS
A compartimentação regional do relevo atual da bacia do rio Acaraú e, por extensão, a
fisiologia da paisagem, são conseqüentes de fatores morfogenéticos originários e pretéritos.
Os domínios estruturais, desde os elementos geotectônicos e geocronológicos até as
variações de litotipos sob efeitos morfoclimáticos, ajudam a forjar a compartimentação
regional do relevo e as feições correspondentes do modelado. O relevo regional ocorre sob
a forma de domínios morfoestruturais, em terrenos de consolidação muito antigos, isto é,
escudos ou crátons constituídos de rochas ígneas de consolidação intrusivas pré-cambriana,
além de bacia sedimentar pouco deformada, dita intercratônica, e em termos de depósitos
sedimentares cenozóicos.
As manifestações da dinâmica externa processadas pela erosão diferencial,
concernente à morfogênese e pedogênese, indicam que os aspectos crono-lito-
estratigráficos requerem atenção. Para tanto, as unidades lito-estratigráficas e as condições
geotectônicas foram consideradas com base em RADAMBRASIL (1981), Penteado (1983),
Souza (1981, 1988, 2000, 2005), Brandão et al. (2003), IPLANCE (1997), Ross (1999),
Souza et al. (2005) além de outros estudos geológicos e trabalhos de campo.
Considerando essas unidades como domínios morfoestruturais, com base em Souza
(1988), temos a ocorrência de: embasamento cristalino que compõe o domínio dos escudos
e maciços antigos, com maciços residuais e a depressão sertaneja, como formas erosivas
ou destrutivas dissecadas e conservadas- em respectivo; áreas de deposição recentes,
como os domínios de depósitos sedimentares Cenozóicos, com planícies fluviais, áreas de
acumulação aluvial e formas litorâneas e tabuleiros, correspondendo a formas de
acumulação; e a bacia sedimentar, como domínio homônimo paleomesozóico, representado
pelo Planalto da Ibiapaba, no que tange as formas estruturais.
Assim, jazem porções do embasamento cristalino, fácies com sedimentos
neoformados e bacias sedimentares. Para melhor caracterização destes conjuntos,
seguimos uma perspectiva geocronológica, com datações que vão desde o Pré-Cambriano,
passando pelo Paleozóico até o Cenozóico.
Pré-Cambriano: compreende complexos rochosos de migmatitos-granítios, gnáissico-
migmatíticos, rochas graníticas básicas e ultrabásicas e grupos do Pré-Cambriano Superior,
de intensa atividade tectônica que produziram largos setores dobrados e falhados no
cristalino, hoje com maior estabilidade crustal. Exibe rochas do grupo Ceará, com filitos e
xitos que predominam, quartzitos, biotitagnaisses e calcários cristalinos (RADAMBRASIL,
1981); rochas deste Grupo, com filitos, xistos e calcários cristalinos, quartzitos, biotita
150
ganisses e leptinitos, distribuem-se desde a escarpa setentrional da Ibiapaba até o contanto
com sedimentos da Formação Barreias, em sentido SSW-NNE.
O complexo migmatítico-granítico corre na área centro-meridional, depressão periférica
ocidental do Ceará, composta pelas rochas pouco alteradas. Os migmatitícos mais
homogêneos ponteiam as superfícies aplainadas sertanejas com knick de inselbergs. Por
seu turno, o complexo gnáissico-migmatítico compreende quartizitos, xistos e calcários
cristalinos que jazem na margem direita do Acaraú, em disposição SW-NE, tangenciando ao
norte litologias do Grupo Ceará, capeado por sedimentos da Formação Barreiras nas áreas
terminais do vale.
Pela margem esquerda, existem rochas do Grupo Jaibaras e stocks graníticos da
Meruoca-Rosário e Mucambo até o contato com o escarpamento estrutural oriental da
Ibiapaba. As rochas graníticas básicas e ultrabásicas são inselbergs que ocorrem a oeste de
Patos, com o topônimo de serra da barriga e ao oeste de Aracatiaçu, ambos distritos de
Sobral.
Paleozóico: compreende inclusões graníticas da Meruoca-Mucambo, depósitos
cambro-ardovicianos do Grupo Jaibaras e siluro-devonianos da Formação Serra Grande.
Paleozóico inferior, hoje com maior estabilidade crustal. Ao longo da rodovia BR-222, a
partir de Sobral, ocorrem quatro unidades litoestratigráficas componentes do Grupo Bambuí,
com arenitos, grauvucas, ardósias, calcários e quatzitos, referentes ao Eo-Cambriano. Os
granitos estão na margem esquerda do Acaraú, ao oeste da sede de Sobral, tangenciando o
Grupo Bambuí e, são representados pelos maciços Meruoca-Rosário e Carnutim.
Os stocks Meruoca-Rosário e Mucambo são seccionados pelas rochas do Grupo
Jaibaras, geneticamente correlacionados com intrusões do Grupo Bambuí, comprovadas
pelas auréolas metamórficas e metassomáticas de contato que não chegam a afetar os
litotipos do Grupo Jaibaras. Estes grupos apresentam granulação de grosseria genérica
oriundas de plútons, apresentando comportamento discordante com essa Formação.
O Grupo Jaibaras têm 4 unidades litoestratigráficas, formando uma bacia de mesmo
nome, alinhada na direção SW-NE em uma extensão de 100 km e largura de pouco mais
que 10km. Estratigraficamente se sobrepõem ao Grupo Bambuí e aos stocks ocidentais de
Sobral.
Cenozóico: constituem depósitos plio-pleistocênicos da Formação Barreiras e pelas
ocorrências holocênicas de dunas praias e aluviões, que têm grande expressão nas áreas
litorâneas e pré-litorâneas.
Os sedimentos da Formação Barreiras são do tipo areno-argilosos, não litificados ou
pouco litificados, com coloração avermelhada, creme ou amarelada, certas vezes
mosqueados. Apresentam-se reunidos por material argiloso caulinítico ou cimento
ferruginoso. A granulometria varia de fina a média, contendo intercepções de níveis
conglomeráticos constituídos de seixos de quartzo, quartzitos, bem arredondados e de
151
rochas diversas, com estratificação indistinta. Manchas dispersas e isoladas ocorrem na
área do embasamento, comprovando que sua dimensão espacial era maior que atual. São
verificados, por exemplo, na margem esquerda do Acaraú entre as cidades de Morrinhos,
Marco e Reriutaba. Representam depósitos correlativos de superfícies de erosão funcional
durante o Cenozóico.
As paleodunas compõem-se, granulometricamente, de sedimentos arenosos com
cores cinza-claras, de grande friabilidade e sem consolidação. Além do que, detritos não
consolidados e mal classificados ocorrem em pequenas depressões intermontanas
conseqüentes da remoção do material de vertentes íngremes. A ocorrência de depósitos
quaternário, atesta a ocorrência de faixas aluvionares estreitas, lindeiras aos principais
cursos d’água.
É oportuno salientar que o princípio de Thronbur y diz que a estrutura geológica é
um fator de controle na evolução das formas de relevo e se reflete nas mesmas. Por isto,
a seguir foram caracterizados os domínios geomorfológicos. Convém salientar que a história
geológica da Terra (iniciada 3,8 bilhões de anos) está registrada nas rochas em todos os
continentes. Os minerais são os principais constituintes das rochas, logo seguidos por
mineralóides, como vidro vulcânico, carvão e outros compostos orgânicos. As rochas são os
elementos essencialmente formadores da crosta terrestre (LEINS, 1998), os quais são
amplamente impregados em atividades produtivas diversas, sobretudo, pela mineração e
indústria de transformação.
4.3 - DOMÍNIOS GEOMORFOLÓGICOS E SUBCOMPARTIMENTAÇÃO
REGIONAL DO RELEVO
Derivadas das macroformas do relevo brasileiro, a compartimentação geomorfológica
do Nordeste e, da bacia em causa, mostra feições do modelado nos três agrupamentos
denominadores (ROSS, 1999) considerados no capítulo 4: planaltos, depressões, planícies
e tabuleiros. Dada a dimensão de 14.560km² da bacia do rio Acaraú, uma discussão
geomorfológica em termos de domínios contribui para melhor compreensão de seus relevos.
Foram identificados 3 domínios geomorfológicos, que compreendem, pelo menos, 12
unidades de relevo. A saber:
4.3.1 - DOMÍNIO DOS DEPÓSITOS SEDIMENTARES CENOZÓICOS: PLANÍCIES DE
ACUMULAÇÃO E GLACIS DE DEPOSIÇÃO PRÉ-LITORÂNEOS
Este domínio é constituído pelas ocorrências de colúvios e aluviões que compõem
feições morfológicas de planícies e terraços fluviais, tabuleiros e formas litorâneas.
152
As planícies de acumulação aluvial, mesmo não passíveis de “cartografação” em
virtude de suas reduzidas dimensões, merecem destaque. Encontram-se dispersas em meio
à Depressão Sertaneja, compreendendo porções deprimidas do terreno, com solos
impermeáveis que são sazonalmente alagados, conforme a quadra chuvosa, chegando a
acumular uma tênue lamina d’água superficial permitindo uma colonização herbácea-
gramínea. A ocorrência de planícies fluviolacustres também não foram mapeadas pela
mesma razão que a unidade geomórfica supracitada. Com exceção das áreas escarpadas e
montanhosas, ocorrem praticamente em toda a bacia, com maior freqüência nos tabuleiros
costeiros com diâmetros variados, estreitas a montante e alargando-se nas proximidades
das coleções hídricas, principalmente de lagoas, que podem ser intermitentes ou perenes
(zonas pré-litorâneas), aparecendo conforme o nível de oscilação do lençol freático. Exibem
vegetação predominatemente herbácea, dobretudo composta por gramíneas, mas também
com tipos arbóreos, comumente em mata galeria. Exemplo disso é o que se verifica na
lagoa do Mato, Município de Bela Cruz.
A planície fluvial do rio Acaraú, juntamente com a do rio Jaguaribe, apresentam as
mais largas planuras fluviais do Estado, alargando-se próximas ao mar. Tanto as planícies
fluviolacustres quanto as planícies fluviais, com destaque para os principais tributários da
bacia, são formas bem características de acumulação por processos fluviais, com melhores
condições edafoclimáticas no semi-árido, entretanto, apresentam solos halomórficos
imperfeitamente drenados e com ocasionais problemas de salinização. Estão dispersamente
distribuídas em superfícies planas, constituindo depósitos aluviais lindeiros às calhas do rio
Acaraú e de seus principais tributários.
A montante, em terrenos cristalinos, o rio Acaraú apresenta planícies menos
expressivas quando relacionadas ao seu baixo curso. Nesse setor, o rio superimpõe e
entalha os glacis pré-litorâneos, ampliando consideravelmente sua área agradacional por
menor competência fluvial. Neste parcuticular, conforme Souza (2000), associando-se a
função de suavização dos gradientes fluviais, ocorre a ampliação da capacidade de
sedimentação fluvial que passa, então, a ser operada principalmente por meio de
sedimentos finos com predomínio das frações arenosas e síltico-argilosas. Nestas
condições, desenvolvem-se neossolos flúvicos, capeados por matas ciliares com eixos
direcionados aos maiores coletores de drenagem.
As larguras dos vales fluviais, em regra, variam de 10 m a 50 m, sendo alargados no
Acaraú e nos principais tributários. A jusante de Sobral, após coletar drenagens dos rios
Jaibaras, Macacos, Jacurutu e Groaíras, especificamente, após a confluência do rio
Madeiras (margem esquerda), a planície tem largura de até 4 km. A montante do Município
de Cruz, essa dimensão é máxima, com até 6,26 km. Os vales têm forma de “U” e com
material de alteração em suas bordas, com talvegues retilíneos, meandrantes e
anastamosados no estuário. Apresentam entalhe mais expressivo a montante, com ações
153
fluviais (hidráulica, corrosão, atrição, transporte e acumulação), produzindo material pouco
trabalhado, portanto de maior calibre. Nos médios cursos, as areias grosseiras, em mistura
com seixos rolados, típico material detrítico, é muito buscado para extração e aplicação na
construção civil. Do meio para o baixo curso do Acaraú, o material fino areno-argiloso indica
a presença de sedimentos da Formação Barreiras, como porção mais característica de
acumulação dos rios com ampliação significativa das planícies, nos Municípios de Bela Cruz,
Cruz e Acaraú. Neste último, com faixas aluvionares marcantes em contato com o estuário,
a drenagem anastamóptica recebe influência das marés. É nesse potamal onde a dinâmica
costeira inicia seus processos com as marés, executando deposições rio acima.
O perfil transversal a partir do talvegue apresenta seqüência nítida de feições de
várzeas, com relevo plano a partir de 5m, aproximadamente, constituídas de sedimentos
clásticos de textura grosseira, embora predominam os sedimentos de textura arenosa.
Chegam a acumular água no substrato e afloramentos do lençol freático em alguns pontos e
deposição de águas superficiais. Quando nestas áreas se encontram solos mais
permoporosos e arenosos, com baixa fertilidade natural, têm-se os ariscos, assim
designados pelos sertanejos. Em termos comparativos, os ariscos estão para os terraços
aluviais ou para as encostas baixas de colinas semi-áridas, como às veredas estão para os
domínios do cerrado, em áreas com baixa sustentabilidade ambiental.
Em especial, Souza (1981) setorizou as várzeas em vazante, várzea baixa, várzea alta
e rampas de interflúvio, a partir das seguintes características. As vazantes são integradas
pelo talvegue e pelo leito maior do rio, delimitadas por diques lindeiros mantidos pela
vegetação arbórea, sendo que sua largura é função do regime fluvial. No baixo cursos têm
de 1-1,3km; a montante, nas proximidades de Sobral, possuem 0,5 a 0,8km. Peculiar a este
setor, os bancos arenosos separam canais de divagação, provocando lentidão ao fluxo
d’água.
As várzeas são típicas das planícies fluviais e são inundadas apenas em tempos de
chuvas expressivas. Por isto, o leito maior é ocupado em seu período seco pela agricultura
de varzante, fato verificado também em seu leito excepcional. Apresenta mata ciliar de
carnaúba (Copernícia cerifera) que é perenifólia, assentada sobre depósitos aluviais areno-
argilosos, chegando a compor a várzea baixa. As várzeas altas são as fácies abrigadas das
inundações, com solos mais desenvolvidos com relações genéticas entre os horizontes,
mantidos por cascalheiros de material quartzoso heterométrico e, em maioria, pouco
arestados. A existência de aluviões, distribuídos ao longo do Acaraú e principais tributários,
espraiando-se no baixo curso do exutório, deduz relevos com litologia composta por areais
finos a grosseiras, às vezes misturados com clástico finos, cascalhos inconsolidados e
blocos, e argila com matéria orgânica em decomposição.
Os tabuleiros costeiros ou pré-litorâneos formam amplas planuras de deposição,
constituindo depósitos correlativos, relacionados à erosão diferencial processada no semi-
154
árido, constituindo típicos glacis de deposição pré-litorâneos. Situam-se à retaguarda do
campo de dunas em contato nãoruptural com as depressões sertanejas em até 40 km a
montante. Geralmente não ultrapassa os 40m em rampas de caimento suave para o litoral,
com declividade entre ordem de a ou retilínea s. Estes depósitos compreendem uma
faixa de terras entre a planície litorânea e a depressão sertaneja, com altimetria variável
entre 20m a 90m. Apresentam leques colúvio-aluviais coalescentes, mostrando que o nível
do mar era mais baixo que do que atual, com camada de sedimentos sotopostos da
Formação Barreiras (NASCIMENTO, 2003).
Em grande parte, são recobertos por areais com espessuras não superiores a 2,0 m,
favorecendo certa uniformidade nos topos. Somente em pequenas porções com maior
percentagem argilosa é que propicia uma fraca dissecação. Sua drenagem é paralelo-
retangular, na qual, possivelmente, um sistema de fraturas do embasamento imponha a
orientação de riachos e córregos. Por isto, os efeitos de lixiviação apresentam-se
favorecidos, a par de solos bem drenados como argissolos e neossolos quartzarênicos
recobertos, originalmente, por vegetação de tabuleiro-, com percolação em detrimento da
erosão, em virtude do escoamento difuso (rill-wash). Este caso somente ocorre em
composições argilosas sotopostas a afloramentos arenosos. Apresentam formas dissecadas
em interflúvios tabulares com fraco entalhe da drenagem, relevo de topo plano a
ligeiramente ondulado.
Segundo estudos geológicos e geofísicos realizados pela PETROBRÁS, o litoral do
Acaraú, ao oeste, e o cabo do Calcanhar-RN, ao leste, serviram de demarcação para a
chamada porção nordeste da plataforma continental brasileira. Neste trecho, a plataforma
continental é estreita e rasa, com menos de 40m de profundidade, desenvolvida em relevo
relativamente plano, alternando com fundos ondulados, campos de ondas de areia e recifes
irregulares. Podem ocorrer, entretanto, maiores profundidades com médias de 70 a 80m
(SILVA, 1998).
A partir desta plataforma, a deriva litorânea, os efeitos da abrasão eólica e
competência de transporte da carga aluvial do rio Acaraú elaboram feições litorâneas, ora
erosivas ou deposicionais, constituintes da planura litorânea. Essa faixa litorânea apresenta
direção E/SE-W/NW com a foz do rio Acaraú ao N. Apresenta retificações morfogenéticas e
morfodinâmicas, configurando características morfológicas de intenso processo de
acumulação estuarina, erosiva-deposicional nas praias e dunas, sendo que essa planície
bordeja o litoral e penetra bem o interior através de 12,5 km. Compreende formas de
acumulação de idade holocênica com altimetria variando de 0 a 30m e classe de declividade
variando de 3 a 45%.
O desenvolvimento de largas planuras depende das cargas aluviais depositadas pelo
rio, mostrando que é no potamal que a dinâmica rio-mar é otimizada para a
geomorformogênese da mencionada planície. Apresenta morfologia ligada à dinâmica
155
costeira com o movimento das marés e outros tipos de ondas, deriva litorânea, ação eólica
com ventos predominantes de E-NE, que mobilizam aportes significativos de sedimentos
arenosos para SW, quase o ano todo, formando as praias, os campos de dunas e a planície
fluviomarinha. Esta dinâmica ambiental atual retifica continuamente as feições
geomorfológicas que compõem a planície litorânea, ou seja: praias, pós-praia, dunas e
planície fluviomarinha.
As praias (foreshore), com destaque para a de Arpueiras, na margem direita da barra
do rio, constituem uma superfície arenosa, essencialmente composta por grãos de quartzo,
sotoposta a Beach rocks recobertas com sedimentos arenoquartzosos de granulação de
média a grossa e restos de matéria orgânica, conchas e minerais pesados de origem
continental, carreados para o litoral através dos cursos fluviais. Localizam-se nos trechos
sujeitos às variações diárias de marés, posicionadas entre a ante-praia (offshore) e pós-
praia, até as áreas onde ocorra uma mudança fisiográfica, com ou sem vegetação
permanente. E a pós-praia, praia alta, berma ou supralitoral, representa uma faixa de
transição de material arenoso de terras ou terraços formados na zona superior da ação do
espraiamento da maré alta, bem como outros ecossistemas, como dunas e manguezal.
Volta-se para o mar com declive acentuado, enquanto na base do cordão de dunas os
aclives são suaves.
São as formas de acumulação evidenciadas pela gênese e retrabalhamento das dunas
pelos ventos, através da disponibilidade de sedimentos e a ausência ou rarefação da
cobertura vegetal, bem como a ação marinha subatual e atual na modelagem litorânea.
Formam face convexa seguida de face côncava, entre uma duna e outra, constituindo, em
certos casos, ângulos de talude ou de equilíbrio entre seus topos, apresentando-se como
móveis, fixas e paleodunas. São compostas de areias esbranquiçadas bem selecionadas,
com granulação de fina a média quartzosa, com grãos foscos e arredondados, certas vezes
com presença de minerais pesados. Nas paleodunas, desenvolvem-se solos
arenoquartzosos, capeados por vegetação arbustiva-arbórea, impedido os efeitos eólicos de
deflação.
Dada a pequena escala de mapeamento geoambiental, não se distinguiu faixas de
praias de campos de dunas. Os depósitos eólicos e as praias apresentam largura média de
5 km na margem esquerda e de 2 km na margem direita. As altitudes das dunas podem
variar de 20 m a 40 m, distribuídos como um cordão contínuo, interrompidas somente pela
barra do Acaraú, paralela à linha de costa, fornecendo sedimentos para a deriva litorânea
por meio de hidrocoría e da ação eólica direta, além de servirem como aqüíferos na
retenção hídrica.
Com exceção de alguns tipos isolados, quando no mais sem cobertura vegetal, as
dunas móveis são erodidas pelos ventos intensos e desidratadas, em superfície, pela alta
insolação, que ocasionam mobilização quase constante de sedimentos, especialmente no
156
segundo semestre. Por seu turno, nas dunas fixas, existem de pequenas manchas de
vegetação pioneira a barlavento, com espécimes herbáceas e reptantes com grande
desenvolvimento radicial que, atenuam a deflação eólica e propiciam o desenvolvimento de
solos com fraca evolução pedológica com perfis de horizontes A-C. Nos topos e nas
vertentes a sotavento é observado um recobrimento vegetal de maior porte, com incipiência
pedogenética.
Têm morfologia em meia lua, barcana formando típicas dunas e cadeias de dunas
transversais com inclinação de 10°-15° (8% - 45%), declive suave a barlavento e a
sotavento com vertente acentuada. Apresentam eixo alinhado seguindo a direção dos
ventos que sopram do quadrante leste, denotando a direção ENE. Com face convexa
voltada para barlavento e face côncava para sotavento, em corte, a primeira face tem
inclinação suave, enquanto a segunda é relativamente íngreme. Para Souza (2000), quase
sempre as dunas fixas são recobertas por outras dunas barcanas, através de uma das mais
intensas ações eólicas de toda a costa cearense com 573 km de extensão longitudinal. Isto
pode indicar que as dunas atuais recobrem indistintamente as antigas linhas de praias,
restingas, paleodunas e tabuleiros, além de formarem pequenas lagoas costeiras durante o
período chuvoso e romper com a tendência perpendicular de tangência do vale em contato
com o mar, tendendo a se tornarem paralelas.
Existem, ainda, dunas e cadeias de dunas longitudinais simétricas, as seifs, formadas
conforme a direção dos ventos. Ocorrem em séries, regularmente espaçadas, alinhadas
conforme a direção dominante dos ventos constantes ou bilaterais alternantes. Observa-se
que, quando as dunas migram, a morfologia do litoral modifica-se, ocorrendo assoreamento
do exutório e soterramentos de porções urbanizadas. Não existem dunas complexas,
conforme classificação de Penteado (1983), quer dizer, dunas que se desviam das formas
transversais e longitudinais, pois dependem de ventos irregulares, muitas vezes se
desenvolvendo em contraventos.
A última unidade geomorfológica a ser considerada é a planície fluviomarinha.
Recebe influência mútua da dinâmica marinha e de processos fluviais, em que a capacidade
de colmatagem venceu os efeitos erosivos, em terrenos de declividade praticamante nula
(0%-3%) de faixas alongadas, estreitas e sinuosas, onde o fluxo fluvial não tem capacidade
de escavar os vales. É promovida através de acumulação de sedimentos lamacentos e
escuros, síltico-argilosos de fino calibre, ricos em argila e matéria orgânica. Nestas
condições, é proporcionado o desenvolvimento do manguezal em ambiente palustre, onde o
balanço das marés específica as condições físico-químicas relacionadas com a temperatura
da água, oxigênio do solo e cunha salina.
Constitui, assim, o ecossistema estuarino, até que a influência da cunha salina se faça
sentir, demarcando o estuário dinâmico. No litoral cearense, segundo Silva (1998),
predominam duas principais formas estuarinas: a) a frente de barreira e b) o vale de rio
157
inundado. O tipo “a” é o mais característico, a exemplo dos rios Pirangi e Coreaú. O tipo “b”,
que constitui outra forma estuarina, é representado pelos estuários dos rios Acaraú e
Timonha. Neste espectro, conforme Mantovani (2003), o estuário é divido em dois
subsistemas, o infralitoral, com substrato, em regra, areno-lodoso, permanentemente
submerso, e o itermareal, cujo substrato é periodicamente alagado pelas marés. Os canais
fluviais apresentam padrões anastomosados, com escoamento lento das águas, com forma
tortuosa, de quando em quando ocorrendo mudanças de alargamento ou estreitamento,
mudança de direção ou mesmo de ângulo dos meandros por onde fluem e refluem,
dionoturnamente, as águas das marés.
Em geral, as superfícies dos leitos dos estuários são irregulares e constituídas por um
substrato argilo-limoso, trazido pelo fluxo das águas e depois retransportado pelo efeito das
marés até as margens das planícies fluviomarinhas. A comunidade fitoecológica dessa
feição morfológica é o mangue, que atua fortemente nos processos de pedogênese e de
estabilização geomorfológica.
As dimensões das planícies fluviomarinhas no litoral cearense, contudo, variam,
proporcionalmente, conforme, o potencial hidrológico de cada bacia hidrográfica. Dentre as
de maior representatividade espacial, além da área em estudo, destacam-se as dos
Timonha, Coreaú e Jaguaribe (SILVA, 1998). As praias e pós-praias, ao contrário do que
ocorre nas outras grandes bacias do Ceará, como a do Jaguaribe, são exíguas em virtude
do estreitamento pronunciado da drenagem no baixo curso do rio Acaraú. O campo de
dunas não é dos mais portentosos e a planície fluviomarinha é reduzida, totalizando
36,79km², ou 0,25% da área total da bacia, que é de 14.560,001km².
4.3.2 - DOMÍNIO DAS BACIAS SEDIMENTARES PALEOMESOZÓICAS
Com relação à Ibiapaba, Ab’Saber (1979) asseverou que, dentre as superfícies
aplainadas nas paisagens nordestinas, essa representa a porção mais nobre de subversão
do planalto brasileiro, em uma trama trivial a todas as margens de escarpas devonianas
brasileiras.
É representada pelo planalto sedimentar tabuliforme e cuestiforme da Ibiapaba.
Oriundo de orogenia, mostra contato entre os relevos sedimentar-cristalino com estrutura
concordante original pericilinal, enquanto uma das três típicas formas estruturais observadas
na geomorfologia cearense, ao lado das Chapadas do Araripe e Apodi, localizadas, nessa
ordem: no sul cearense, divisa com os Estados de Pernambuco e Piauí e Leste, no limite
com o Rio Grande do Norte.
As drenagens da bacia do Acaraú, com destaque para as nascentes do rio Jaibaras,
entrecortam as escarpas desse planalto em seu front central. Se prolongado de S-N em
escarpamento ininterrupto, abrupto e muito festonado por causa da drenagem obseqüente,
158
em função de uma estrutura anaclinal. Seu front apresenta declives entre 25° a 30° (75 %),
mostrando ruptura topográfica abrupta com as depressões circunjascentes, com desníveis
entre a cimeira do planalto e as depressões de aproximadamente 750m. Em especifico
corresponde ao rebordo leste da bacia sedimentar do Parnaíba, limitando o Ceará com o
Piauí, servindo de base para o prolongamento ocidental da Depressão Periférica do Ceará.
Chega a penetrar cerca de 18,5 km nos setões de Ipu-Pires Ferreira. É constituída pela
Formação Serra Grande, composta de arenitos, conglomerados intercalados com siltítos e
folhelhos, com variações de espessuras pronunciados.
A estrutura mergulha paulatinamente para W, seguindo o eixo da bacia sedimentar,
proferindo uma portentosa cuesta (SOUZA, 2005). Os efeitos degradacionais se manifestam
através de vasta depressão monoclinal em rebordos, com declives semelhantes ao Front
externo. Na feição cuestiforme, as condições de umidade são contrastantes com as taxas
reduzidas observados no reverso piauense, bem como no próprio Ceará, ao leste nas
depressões marginais estudadas.
A espessura do arenito da cornija pode ultrapassar 100m, com front de perfil
ligeiramente côncavo. A superfície de cimeira localiza-se pós-escarpa, com nível médio de
750m, com mergulho estratigráfico orientador das características morfológicas. Para oeste,
o caimento topográfico é muito discreto (3°-5°), au mentando a declividade,
progressivamente, adentrando o Piauí. O brejo apresenta disposição S-N, com largura
pouco expressiva, e vem sofrendo com ações humanas indiscriminadas, revertendo
condições biostásicas em resistásicas, onde os babaçuais se adensão oportunamente. Nas
bases da escarpa, encontram-se colúvios, compondo depósitos de tálus com
flanglomerados subatuais.
Sobre esse planalto Souza (2000:70) diz que:
...
o franco caimento topográfico para oeste, em coadunação com o mergulho
estratigráfico, condiciona uma rede de drenagem de padrão paralelo. Resulta então
uma morfologia dissecada em largos interflúvios tabulares, que separam os setores
de planícies fluviais, formadas pela drenagem conseqüente. Os pequeno cursos
d’água que tomam orientação oposta e de natureza obseqüente justificam as
irregularidades do rebordo escarpado da cuesta
.
Com maior umidade na escarpa cearense e chuvas pronunciadas, a vegetação é mais
desenvolvida, caracterizada como sendo de mata úmida e subúmida seca, ostentadas em
predominância de argissolos vermelho-amarelo eutróficos associados à latossolos,
comprovando a incidência da pedogênese sobre a morfogênese. Os aspectos
morfoclimáticos favorecem o intemperísmo químico, que por sua vez, possibilita a
dissecação em interflúvios tabulares em razão de rios conseqüentes. É oportuno considerar
que um testemunho capeado pela Formação Serra Grande, referindo-se à Ibiapaba,
entre as cidades de Santana do Acaraú e Morrinhos, expondo afloramento que preenche um
afundamento tectônico do tipo graben, de 25 km de comprimento por 5 de largura,
159
demonstrando que o nível da cuesta da Ibiapaba era maior do que o atual. Isso é uma
demonstração de evidências estruturais expressas na tectônica plástica ruptural, como
movimentos distróficos antigos.
4.3.3 - O DOMÍNIO DOS ESCUDOS E MACIÇOS ANTIGOS: MACIÇOS RESIDUAIS E
DEPRESSÃO SERTANEJA
Constituem unidades geomorfológicas com litologias do Pré-Cambriano Indiviso
(Plioceno) submetidas a eventos tectônicos-estruturais remotos, relacionando morfologia-
litologia sob heranças de flutuações climáticas do Cenozóico, em escudos antigos ou
crátons. Apresentam superfícies pedimentadas, as quais foram rebaixadas pela erosão que
provocou o recuo das vertentes e aumento da área deprimida, isolando os maciços residuais,
cristas e inselbergs, suprindo de sedimentos as áreas litorâneas e pré-litorâneas, sobretudo
em função de efeitos linerares. É o domínio de maior dimensão espacial na bacia,
sobressaindo-se as depressões periféricas (10.444km²).
Os maciços antigos são porções da crosta terrestre correspondentes ao antigo
assoalho de dobramentos velhos, soerguidos e arrasados pela erosão várias vezes
(PENTEADO, 1983), muito desgastados por processos erosivos ao longo do Terciário.
Exibem vertentes dissecadas, marcando rompimento topográfico em níveis pediplanados,
ou seja, em áreas de sedimentação moderna ou em processo com a depressão sertaneja.
Os maiores maciços interpõem-se entre inselbergs, pequenas serras secas e as planícies
fluviais dos maiores rios, até o contato com a Serra da Ibiapaba. A rigor, dispersam-se ao
leste da escarpa oriental da Ibiapaba pela Depressão Sertaneja como compartimentos
isolados, acentuando o contraste na fisiologia da paisagem do semi-árido, com suas
altitudes dessimétricas, feições dissecadas e unidades ambientais de ocorrências
localizadas, predominantemente, no médio-alto Acaraú.
Merecem destaque os compartimentos topográficos das segunites serras: Mucuripe,
São Joaquim, Panadumba, Machado, Pajé e Matas, além de relevos residuais dispersos na
depressão periférica ocidental.
Segundo Souza (1988), apresentam similitudes quanto à constituição litológica
cristalina, grosso modo, metamorfizados, com exceção do complexo serrano Meruoca-
Rosário, Carnutim e por inselbergs graníticos. O relevo é dissecado em feições convexas
aguçadas, onde os argissolos e neossolos litólicos têm predomínio. A drenagem varia de
dentrítica a subdentrítica e as vertentes são íngremes com declives pronunciados. Do ponto
de vista ecodinâmico, a morfogênsese predomina sobre a pedogênese, sendo que em áreas
de vertentes e platôs dos maciços mais elevados – Meruoca, Matas e Machado -, verifica-se
o inverso, com desenvolvimento dos solos sendo favorecidos Esses maciços distinguem-se
160
entre si pela altimetria, em composição litológica, feições de dissecação e abrangência
espacial.
Nos pequenos maciços, serras secas de baixa altitude e nas vertentes a sotavento
dos maiores maciços, a ocupação humana e a produtividade são desfavorecidas, pois
nestas áreas ocorrem alguns dos piores padrões de caatingas, solos mais rochosos, assim
como espaços menos atrativos a ocupação econômica, onde o relevo é de ondulado a
montanhoso. Apresentam, em maioria, baixa altitude, com pouca influencia da umidade,
compondo tecidos geoambientais e espaços ecológicos com alta vulnerabilidade ambiental.
Nas serras úmidas e subúmidas secas, os processos de dissecação superam os
efeitos da pedimentação, contrastando com a morfogênese da depressão sertaneja, pois o
diapasão é a erosão qmica através da oxidação, hidrólise (decomposição e reação com
água), hidratação, troca de bases, dissolução e quelação (vegetais hidrolisam os minerais).
Portanto, os relevos cristalinos com topos convexados ou em cristas dão conta da paisagem,
que apresenta em sua geomofologia fluvial padrão de drenagem subdentrítico sob forte
poder de erosão linear, formando vales bem encaixados. Em seus perfis transversais,
apresentam maior capacidade energética dos rios, em função do perfil longitudinal
demonstrar declividade acentuada. Quando se dão pontos de suavização dos perfis, ocorre
deposição de sedimentos transportados, conformando planícies alveolares.
Para melhor entendimento fisiográfico destas elevações, propõe-se uma
subclassificação por conjuntos altimétricos. De um lado, ocorrem os relevos com altimetrias
entre 600 a pouco mais de 1000m e, doutro, entre 400-600m, com classes de declividade
diferenciadas.
As serras de relevo mais portentoso são representadas pelas serras do Mucuripe,
Meruoca, Machado, das Matas e outras, formadas der rochas graníticas/granodioríticas.
Como um todo, estão intensamente dissecadas em colinas, cristas e esporões,
apresentando vales superimpostos, bem encaixados, em forma de “V”, em regra, com
disposição paralela e orientadas desta maneira: Meruoca/Rosário N/S E; Mururipe N/S;
Machado N/S-W; Matas NE/SW. As planícies alveolares somente foram perceptíveis nos
trabalhos de campo. Em certos locais, esses vales se alargam e possibilitam a deposição de
sedimentos, formando tais planícies. Tratam-se de formas semicirculares em pequenos
níveis embutidos, colmatadas por alúvios e colúvios finos oriundos de vertentes íngremes de
cristas e colinas, como verificado nas margens do açude Frecheirinha (barrando o riacho
Bom Jesus), na Meruoca.
Neste prisma, baixios designam planícies alveolares e pequenas calhas aluviais, com
satisfatória fertilidade dos solos. Geralmente, localizam-se perto de serras, encostas ou
escarpas da Ibiapaba e maciços residuais, como que planícies de pés-de-serra no interior
das colinas sertanejas. A ocorrência de leques coluviais formados por terraços
abandonados, além de indicarem atividade cíclica de processos fluviais em tempos
161
pretéritos, podem estar associados aos alvéolos, formados pela deposição correlacionada
com sedimentos aluvionares e coluvionares embutidos nas vertentes das serras. Estes
leques propiciam a genênese de minérios procurados pelo mercado, como o urânio, e
dariam indicações ou não da representatividade de possível leque aluvial. Isso mostraria a
correlação com a mina de urânio Itataia, em Santa Quitéria, pelo menos como mostram os
indícios verificados em sensores remotos, a despeito de drenagens que parecem conformar
tal leque.
O complexo Meuroca-Rosário localiza-se nas proximidades de Massapê e Sobral, ao
oeste do rio Acaraú. Estruturalmente, é constituído de litotipos graníticos de coloração
avermelhada e granulação grosseira. É o maior maciço residual do médio-baixo Acaraú.
São verificados regimes de precipitações mais elevados e bem distribuídos na vertente
a barlavento, nas encostas oriental da Meruoca-Rosário, além de seu topo (850m),
compondo condições úmidas e subúmidas para o desenvolvimento de um brejo de cimeira
típico, com floresta primária tropical de altitude. Neste ambiente, o inteperísmo químico
provoca dissecação, esculpindo topos convexos e aguçados e as incisões lineares, através
de uma drenagem de capacidade energética considerável, que mostram a incidência de
processos aerolares. Ao contrário do que foi explanado, em lado de sombra de chuva, a
porção conhecida como Serra do Rosário, contrasta-se pela reduzida incidência
ploviométrica, com solos rasos, afloramentos rochosos e enormes matacões áreas de
granitos recortados por diaclases múltiplas. Em seus interstícios instalam-se facheiros entre
as caatingas.
Com desmonte, em parte, dos níveis suspensos, a paisagem encontra-se dissecada
em cristas com declives superiores a 20-25%, onde a morfogênese é favorecida. Na base
das vertentes, tem-se a gênese de pequenas depressões intermontanas análogas aos
cones detríticos coalescentes, com material-cobertor heterogêneo, granulométrica e
morfocospicamente, mostrando a pequena capacidade seletiva das correntes de
escoamento torrencial (SOUZA, 2005).
A Serra das Matas representa um bloco elevado de altitudes, que vão de 650m a
pouco mais de 1.118m, em cristas sobre o platô (localidades de Serras do Açudinho,
Balança, Berimbau e Camará), com rochas migmáticas sob evidências de tectonismo
plástico e ruptural. Comporta as nascentes do rio Acaraú, o que, pró-parte, motiva a não-
existência de brejos. Os interflúvios têm topos convexos ou tabulares e o relevo é menos
acidentado no setor central e sul-oriental. O manto de intemperísmo em argissolos
apresenta espessura superior a 1,0 ou 2,0m e a flora mostra-se adensada e com espécimes
arbóreas. Ao leste, as estruturas são perceptíveis em formas aguçadas orientadas de W-NW,
direção esta também seguida pelos vales. A morfologia se mostra apalacheana, com
predominância de neossolos litólicos, com freqüência acentuada de matacões e de encostas
exumadas, revestidas por vegetação herbácea-arbustiva com indivíduos da caatinga. Estes
162
aspectos comprovam que nestes setores as cristas e vales profundos são as principais
marcas geomorfológicas. Ao centro e sul-oriente, com menores limitações edafoclimáticas e
topográficas, o uso agrícola chega a ser intensivo.
A Serra do Machado, grande maciço com extensão longitudinal de 64,4km no sentido
N-S, largura máxima de 25 km de W-NW e altitude máxima de 920m, funciona como divisor
de águas entre as bacias do Acaraú, Curu e Banabuiú. Em especial, comporta as nascentes
do rio Groaíras, a maior sub-bacia do Acaraú. A dissecação produziu relevos de cristas
(hog-backs), colinas rasas e entrecortadas de declives superiores a 15° (45 a 75%). Certos
setores de dobramentos antigos mostram influências por meio da existência de cristas e
vales alinhados, paralelamente, dispostos a despeito de relevos apalacheanos. Mostra seu
lado ocidental com clima de subúmido seco a seco, sob condições de sotavento, onde os
rigores climáticos são acentuados pela baixa umidade, condicionando o intemperísmo
mecânico como o mais eficiente modelador das paisagens.
Os solos rasos com afloramentos rochosos, no limite, permitem o desenvolvimento de
vegetação seca e menos densa, isto é, a mata seca. Na vertente a barlavento, pelo menos
as chuvas orográficas amenizam as temperaturas, onde se pronuncia uma vegetação mais
verde e frondosa, entre mata seca e vegetação úmida e/ou subúmida. O maciço de
Mucuripe encontra-se integralmente inserido na bacia, portanto apresenta as duas vertentes,
uma subúmida e outra seca. Sua disposião longilínea é de 17,25 km, e lateralmente, de SE-
SW, é de 8,5km.
Os pequenos maciços sertanejos, como a denominação sugere, assim são
chamados porque os níveis altimétricos dificilmente ultrapassam a razão 300-350m, o que
concorre para diminuição de chuvas orográficas. São observados em maior número entre o
setor setentrional da Ibiapaba e a Serra da Meruoca e, no alto curso do Acaraú ao
nordeste e norte da Serra das Matas. Um exemplo típico é encontrado nas proximidades do
distrito de Lisieux (Santa Quitéria), com a lendária Serra do Pajé, além de outras serras e
serrotes, tais como: São Tomé (Pacujá), Saraiva, Serrinha, Tucano, Carnutim e Olho d’água
Grande (Graça), Muniz (Reriutaba). São conseqüentes da erosão diferencial, que acabou
por formar nas bases e nos compartimentos mais elevados a dissecação que isola
interflúvios de feições colinosas, tabuliformes ou lombadas constituintes dos níveis elevados.
Nas Serras do Machado, Meruoca e das Matas, as superfícies de cimeira são bastante
dissecadas em cristas e feições semi-mamelonizadas. Sobre isto, Souza (2000) declara que,
com certa facilidade, é provável reconstituir os níveis suspensos de pedimentação de cuja
coalescência resultou a superfície pediplanada.
Dignos de registro, os fatores orográficos residentes promovem - a depender da
expressão altimétrica dos maciços -, topodiferenciações climáticas que constituem refúgios
ecológicos distintos e complementares nos espaços ecológicos semi-áridos.
163
As litologias estão por conta das resistentes rochas do Complexo Nordestino
(RADAMBRASIL, 1981), com acentuadas variações, truncadas indistintamente pela
morfogênese física, que altera as rochas para pequenas profundidades, produzindo
afloramentos rochosos e chãos pedregosos, as chamadas malhadas (AB’SABER,1977), ou
seja, geofácies predispostos à desertificação. Mesmo assim, a erosão funcional chega a
arrasar litologias mais resistentes, como nos inselbergs e cristas residuais, rebaixando ou
dissecando o relevo.
Com as cristas residuais e inselbergs compartimentos de relevo de menor
altitude em relação aos maciços. São formados nos setores de maior resistência litológica,
destacando-se no contexto aplainado das superfícies de pedimentação. Os inselbergs
(monte ilha) pronunciam-se na paisagem como relevos residuais ou formas isoladas sobre
pediplanos, em formas dissecadas com topos mais convexados, formando morros e
pequenos agrupamentos de serras desnudas ou semi-desnudas isoladas, compostas por
lentes de quartizitos resistentes, litoltipos graníticos homogêneos, espaçadamente
fraturados e migmatíticos, metamorfizados. Os processos de morfogênese química são
exíguos, restringindo-se aos locais de acúmulo d’água, formando marmitas e, principalmente,
caneluras que “arranham” as encostas dos inselbergs, cristas residuais e maciços.
Tanto nas cristas, quanto nos inselbergs, os solos são rasos e a vegetação é do tipo
caatinga e rupestre. Diferentes destas formas de relevo, aquelas são alongadas e estreitas
com cristas aguçadas, em maioria isoladas e compostas por quartzitos. Em grande parte,
distribuem-se nos sertões de Santa Quitéria, nos interflúvios das Bacias dos rios Jacurutu e
Groaíras. Traçando um paralelo, os inselbergs guardam genealogias com os pães-de-
açúcar dos mares de Morro do Brasil do sudeste tropical atlântico. Nas áreas hoje mais
úmidas no Brasil de Sudeste, com pães-de-açúcar, quando o clima regional outrora era seco,
essas unidades do relevo foram inselbergs. Em períodos antes úmidos, em fins do Terciário,
no Nordeste, alguns dos inselbergs encontrados atualmente no semi-árido podem ter sido
pães-de-açucar (AB’SABER, 1999). Dessa maneira, os inselbergs estão para as paisagens
semi-áridas assim como os pães-de-açúcar estão encravados em paisagens de mares de
morros, dotados de rochas decompostas e vegetação florestal.
As depressões sertanejas representam a mais portentosa unidade geomorfológica do
Acaraú. No contexto cearense compõem, pró-parte, a Depressão Ocidental, que se estende
do Front central da Ibiapaba, perpassando por maciços residuais, knicks de inselbergs, se
inclinado, discretamente, em pediplanação em busca dos fundos de vales,
predominantemente pelo Norte, até o contato com os glacis de deposição pré-litorâneos.
Neste percurso, mostra-se como um vasto compartimento rebaixado de média altimétrica
entre 130-400m, denotando topografias em superfície aplainadas e dissecadas, com as
superfícies sertanejas Nova e Velha (Município de Forquilha), apresentado feições em forma
de cristas e lombadas. Nos setores mais deprimidos, evidencia-se a formação de depósitos
164
sedimentares cenozóicos proferidos pelas áreas de acumulação inundáveis, distribuídas
dispersamente.
Sua superfície de aplainamento foi desenvolvida sob rochas cristalinas, suítes
magmáticas, deformadas por movimentos diastróficos pretéritos e truncadas por processos
erosivos - superfícies de aplainamento/pediplanação - de seus litotipos durante o
Quaternário (Pleistoceno). Esses litotipos pertencem ao Complexo Nordestino do Pré-
Cambriano Indiviso, notadamente do Inferior a Médio, e são compostos por quartzito
ferruginoso, gnaisses variegados, migmatismos heterogêneos e homogêneos, zonas de
forte migmatização com núcleos granitóides. Brandão et al (2003) dizem que a monotonia
das formas planas e suavemente onduladas somente é interrompida por uma forte ruptura
de declive com as serras e morros residuais. Elevam-se como relevos contrastantes na
fisiologia da paisagem, promovendo variações ecológicas, implicando significativas
diferenças no uso solo (AB’SABER, 1999).
Tais relevos são provenientes de processos de erosão diferencial, que rebaixou as
áreas circundantes de constituição litológica (gnáissica) menos resistentes. Parte do
material erodido foi carreando, fluvialmente, para as áreas mais rebaixadas da bacia. Em
busca do nível de base, ajudou a compor os sedimentos constituintes da Formação
Barreiras, no pré-litoral e, os sedimentos de praias e dunas.
Pertencem ao domínio dos escudos antigos, pelo fato de representarem a porção mais
rígida da crosta terrestre, compostas de rochas primárias intrusivas datadas do Pré-
Cambriano. São terrenos antigos alvo de vários processos de arrasamento, dobramentos e
falhas durante o tempo profundo, configurando, como característica mais marcante, a
predominância espacial das depressões sertanejas. Ademais, mostram evidências de
flutuações paleoclimáticas e tectônicas do Cenozóico, como referido anteriormente.
As depressões interplanálticas não somente são as principais áreas do Acaraú e do
Ceará, mas, como afirmou Ab’Saber (1972), do Nordeste seco. São paleoespaços,
resultantes de longa história fisiografia, facilmente observáveis na compartimentação
regional do relevo, como remanescentes de uma vasta, complexa e agressiva rede de
planícies de erosão, imprimidas por mecanismos de arrasamento pedológico e aplainações
laterais (efeitos areolares), sob as propriedades geomorfológicas das rochas, provocando
erosão diferencial (AB’SABER, 1958,1977a, 1979). Esses compartimentos, conforme as
feições do modelo, a interação dos demais fatores do potencial ecológico com a exploração
biológica, em condições morfoestruturais e morfoclimáticas sob dados toponímicos
constituem os sertões - de Nova Russas/Ipueiras, de Santa Quitéria, do rio Groaíras, de
Sobral/Forquilha/Massapê, do baixo Acaraú, do rio Jaibaras e, de Ipu/Pires Ferreira -, na
compartimentação geoambiental tratada em seguida.
No que se refere ao clima atual, isto é, semi-árido, as deficiências hídricas produzem
situações inóspitas, afetadas pela quantidade e distribuição pluviométrica. Como resultado,
165
à exceção de trechos perenizados, a rede potamográfica, embora apresente grande
densidade de correntes, tem capacidade de incisão linear pífia, sob intermitência sazonal
pronunciada, produzindo uma quase que imperceptível amplitude altimétrica entre os
interflúvios e os fundos de vales. De resto, o entalhe varia de 2,0 a 4,0m em cursos de e
ordem e, 15 a 20m para o Acaraú e principais tri butários (SOUZA, 2005). A jusante das
rampas pedimentadas, aquelas suavizadas e coalescentes, que constituem as
depressões marginais. Com efeito, os agentes intempéricos externos que agem
mecanicamente aplainam os topos de alguns relevos. Em maioria, exibem pequena
dissecação que aguça feições em cristas.
Os mantos de alterações são delgados, não superiores a 1,0m (0,50-0,70m) (SOUZA,
op. cit), com predominância de solos esqueléticos. No que tange às condições
morfogenéticas, diz-se que estas dificultam o desenvolvimento de uma fitoecologia mais
desenvolvida e, por isto, são colonizadas, majoritariamente, por caatingas arbustivas,
fisionômica e florísticamente, com poucos indivíduos emergentes.
A morfogênese comanda a desagregação mecânica das rochas e o escoamento
superficial depende do rigor da semi-aridez e das características estruturais e litológicas das
rochas, como de resto de suas propriedades geomorfológicas. Como destaca Penteado
(1983), em virtude da coesão, fissuração, permeabilidade, estratificação e dureza física dos
minerais conforme as chuvas torrenciais e amplitude térmica, deflagram-se contração e
expansão diferencial das rochas por alívio de pressão (aquecimento e resfriamento). Isso
possibilita o crescimento de cristais de sais estranhos nos poros ou nos interstícios das
rochas, a partir das características das rochas, das feições do relevo e da ação biológica. A
morfodinâmica atual se por destaque do intemperísmo físico e ações pluvais (meio do
escoamento superficial em lençol, que colabora para abertura de vales em “U” e para a
formação de pedimentos rochosos e detríticos) e ações fluviais. Essa morfodinâmica é
deflagrada com forte incidência em linhas de fraqueza geotectônica e, principalmente, por
atividades humanas que potencializam a erosão do meio físico.
Destarte, eventos tectônicos pretéritos, dinâmica paleoclimática, sistema de erosão,
morfogênese, pedogênese e atuação do clima sobre a vegetação (direta ou indiretamente)
configuram subespaços dignos de individualização. Sob certa homogeneidade,
geossistemas e geofácies são mais bem precisados pela sub-compartimentação do relevo.
Para subsidiar a compartimentação geoambiental, as informações aqui dispotas, estão
sintetizadas no próximo quadro, o qual expõe as principais características geológicas-
geomorfológicas da bacia em prova.
166
Quadro 19 - Aspectos Geológicos e Geomorfológicos da bacia do rio Acaraú
Unidades
estruturais e
depósitos
sedimentares
Dados
geológicos
Sub-
compartimentação
do relevo
Altimetria e
Classe de
declividade
Classificação
das
formas
Feições
geomorfológicas e
modelado
Sedimentos
Cenozóicos de
praias, dunas e
aluviões
Holoceno
(Qa)
Planície litorânea,
planície fluvial,
várzeas e áreas de
acumulação
0-40m, 0 –
45%, relevo
plano a
ondulado
Formas de
acumulação
Praias e dunas,
planícies e terraços
fluviais
Sedimentos da
Formação
Barreiras
Plio/
Pleistoceno
(TQb)
Glacis pré-litorâneo
dissecados em
interflúvios tabulares
20-90m,
0-8%, relevo
plano a
suave
ondulado
Formas
dissecadas com
fraco entalhe de
drenagem
Tabuleiros pré-
litorâneos
Bacia sedimentar
do MA-PI com
litologia da
Formação Serra
Grande
Siluro
Devoniano
(SDsg)
Planalto da Ibiapaba
750m,
45% a > de
75%, relevo
montanhoso
a escarpado
Formas
dissimétricas
com reverso
imediato
estrutural
Front cuestiforme
limitado por escarpa
erosiva
Maciços residuais
400-1118m;
45% a > de
75%, relevo
montanhoso
a escarpado
Formas
residuais
dissecadas
Maciços residuais
dissecados em
feições de colinas e
cristas
Complexo
Nordestino
Pré-
Cambriano
Indiviso
p
Q
q z
Depressão sertaneja
130m -400m;
3%-20%,
relevo plano
a fortemente
ondulado
Formas
deprimidas c/
superfícies
erosivas planas
e ou
ligeiramente
dissecadas
Depressões
periféricas e
interplanálticas
submetidas a
processos de
pedimentação
Fonte: Baseado em IPLANCE (1997)
Nota: A- 0-3%: relevo plano: 0-50m; B- 3-8%: rel. suave-ondulado: 50-100m; C- 8-20%: rel. ondulado; D 20-
45%: rel. forte ondulado: 100-200; E- 45-75%: rel. montanhoso; F- >75%: rel.escarpado.
4.4 - ASPECTOS CLIMÁTICOS E HIDROAMBIENTAIS
4.4.1 - CONDIÇÕES CLIMÁTICAS
A biosfera e seus componentes, para Ricklefs (1996), funcionam como gigantesca
máquina de transformação de calor. As tipologias climáticas são originadas à medida que a
Terra absorve energia da luz solar e os ventos, associados às correntes oceânicas,
redistribuem essa energia ao Planeta sob a forma de calor. Nos biomas dos oceanos e das
geleiras, a capacidade de absorção da luminosidade solar varia e provoca diferenciações de
aquecimento e resfriamento no Planeta. Após a evaporação das águas, em parte, e a
contribuição na dinâmica atmosférica e circulação oceânica, parte da energia térmica
absorvida é re-irradiada para o espaço.
Os padrões globais de temperatura e umidade são conseqüentes da absorção da
radiação solar e da redistribuição de energia térmica por ventos e correntes oceânicas. O
aspecto proeminente dos climas terrestres inclui uma faixa de clima úmido e quente no
equador e zonas de clima seco sobre as latitudes de 30° norte e 30° sul (RICKLEFS, op cit).
Sob este prisma, as zonas semi-áridas do globo cobrem cerca de 17,7% da terra (UNEP,
167
1995; STILES, 1995) e é onde habitam quase 20% da população global (FERREIRA et al.
2002).
Enquanto os fatores dinâmicos detêm influência regional, os fatores estáticos
corroboram na definição das características de uma localidade, principalmente pela posição
geográfica e topografia (CUNHA, 1995).
Determinismos à parte, o reconhecimento dos processos naturais que são
influenciados pelo clima é indispensável para se compreender que a vida humana é
ajustada às condições atmosféricas e climáticas. Nesse sentido, diz Conti (2001), Geografia
e Climatologia estão imbricadas. Principalmente o reconhecimento do regime pluviométrico
e suas implicações, dispõem informações fundamentais para regiões marcadas pela
deficiência hídrica (BRANDÃO et al. 2003), como no caso em estudo.
O clima foi considerado matéria de interesse comum da humanidade pela ONU em
1989. Representa elemento vital do ambiente, é um importante recurso natural à disposição
das civilizações, influencia decisivamente na geoecologia, principalmente nos solos e na
biota (CONTI e FURLAN, 1995), além de ser um dos principais fatores responsáveis pela
repartição humana no globo. Precisa ser mais bem compreendido e considerado nos
programas de desenvolvimento para elevação do padrão e da qualidade de vida da
população como transput insumo que atua ao longo de todo o processo no sistema-,
sobretudo, no mundo tropical (AYOADE, 2002) e, em particular, nesse estudo de caso, ante
as interações da desertificação e o clima (WILLIAMS e ROBERT JUNIOR, 1995).
O clima freqüentemente influencia os processos de desertificação por meio dos
impactos sobre os solos e vegetação, sobre o ciclo hidrológico e sobre o uso da terra;
entretanto, a escala espaciotemporal da magnitude, freqüência e distúrbios provenientes
destes processos precisa de melhor elucidação (WILLIAMS e ROBERT JUNIOR, 1995).
Para Monteiro (1999), desta forma, o clima de um lugar (espaço) é conseqüência do
comportamento dinâmico mais habitual ou recorrente da atmosfera desenvolvido
cronologicamente, sobre um lugar específico, que em seu caráter particular exibe pontos de
relevância na abordagem geográfica do clima.
Neste contexto, regiões semi-áridas, como os sertões nordestinos, estão sob
condições anômalas com períodos longos de secas, atingindo fortemente as atividades
socioeconômicas, implicando queda de produção, êxodo rural, crescimentos da miséria no
meio rural e urbano. A característica mais marcante do clima no domínio morfoclimático das
caatingas (AB’SABER, 1974) é a semi-áridez, com expressão da ordem de 700.00 a 800.00
km².
O Nordeste do Brasil apresenta diversos tipos climáticos cujo principal fator de
diferenciação é a precipitação (GUERRA, 1955). É em função das chuvas, seja pela sua
quantidade ou pelo seu regime, que tais climas são distinguíveis.
168
Conforme subdivisão dos trópicos em úmidos (precipitação >600mm/ano) e seco
(precipitação <600mm/ano), a bacia do Acaraú, localizada no domínio supracitado,
enquandra-se como área de transição, com precipitação < e/ou >600mm/ano. Isto se
justifica, em grande parte, por se localizar entre as baixa latitudes (CONTI e FURLAN, 1995:
101), pelo menos é o que se percebe ao analisar o trópico semi-árido (subcapítulo 4.1).
O Nordeste brasileiro é influenciado pelo anticiclone do Atlântico Sul e pelo máximo de
Açores, provocando, em grande parte do ano, a formação de uma máxima de altas pressões.
Está em conjunção com a ocorrência da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que
influencia, temporariamente, essa região, condicionando os aspectos climáticos
fundamentais na definição da quadra chuvosa. Em particular, a Bacia em estudo é bem
representativa das condições climáticas prevalecentes no Ceará, resguardando as devidas
particularidades, como as azonalidades de altitude, continentalidade, correntes marítimas e
vertentes – barlavento e sotavento - das serras.
Não obstante, as condições climáticas observadas na porção seca dessa região
apresentam-se no cinturão de climas áridos e semi-áridos tropicais e subtropicais das terras.
O clima semi-árido predominante no Ceará está intimamente relacionado aos princípios
básicos de circulação atmosférica no Nordeste. Por se encontrar nos limites da faixa
equatorial e pela não-incidência do anticiclone do Atlântico Sul, está submetido a intenso e
permanente regime térmico ao longo do ano, sendo as variações dionoturnas mais
expressivas (RODRIGUEZ e SILVA, 2001).
Ao longo do ano, a ZCIT se mantém acima da faixa equatorial. Origina-se da
convergência de ventos alísios de nordeste e sudeste. Ocorre durante o verão (outono no
hemisfério sul), constituindo-se como o principal causador de chuvas no Ceará.
Somente a partir de fevereiro esse sistema desloca-se para o Sul, criando condições
adequadas para a quadra chuvosa. Conforme Ceará (1994), na marcha anual da ZCIT,
um deslocamento oscilante N-S, assumindo posições mais ao norte (14°N) entre agosto-
outubro no hemisfério norte e, S durante o verão /outubro do hemisfério sul. Desta forma,
o centro de ação do Atlântico, mantenedor da estabilidade do tempo neste hemisfério, atinge
sua máxima pressão no inverno (julho) e mínima no verão (janeiro). Assume posição
extrema meridional em março, em razão do maior resfriamento do Pólo Ártico. A variação
posicional e a intensidade no Atlântico Equatorial estão diretamente relacionadas com as
condições de temperatura nos oceanos tropicais (Pacífico e Atlântico) e em suas dinâmicas
oceanográficas. Nos episódios chuvosos no Ceará destacam os ventos alísios de NE sobre
os de SE, assim como o aquecimento das águas ao sul do equador e intensificação do
sistema de alta pressão semi-estacional do Atlântico Norte, com posicionamento mais
austral do que nos anos normais.
Pelo contrário, quando a alta pressão semi-estacional do Atlântico Sul está mais
incipiente e mais para o sul, propícia o posicionamento da ZCIT também nesta direção mais
169
do que o normal. Observam-se condições contrárias em anos secos, sem esquecer de
mencionar que, quando ocorre o El Niño – oscilação sul -, a ZCIT apresenta atuação
discreta.
Em tempos de El Niño, um aquecimento acima do normal das águas oceânicas no
setor centro-leste do oceano Pacífico tropical, desde a costa da América do Sul até
aproximadamente a linha da Data Internacional (longitude de 180°). Desta feita ocorre
translação, para o sul de águas quentes equatoriais vindo sobrepor às frias águas da
Corrente de Humboldt. Provoca, além da redução de chuvas, grandes secas aquém das
normais, como a de 1998, quando o Ceará perdeu cerca de 90% de suas lavouras. Isto
pode acarretar grandes rompimentos de comunidades biológicas em escalas regional e
global. Entre seus principais efeitos, citam-se: a diminuição da intensidade dos ventos
alísios; sobre a bacia do Atlântico equatorial, atingindo a bacia em estudo, surge a
predominância de um ramo de ar descendente que inibe a formação de nuvens (CRUZ et al.
2003).
De fevereiro a maio, a ZCIT provoca as chuvas no Nordeste. No restante do ano,
ocorre estiagem razão do domínio do centro de ação do Atlântico, representado pela outra
massa de ar atuante, a massa Equatorial atlântica (mEa). Ela é composta por duas
correntes: uma inferior úmida, com ar polar senil evaporado do oceano, e outra superior,
quente e seca, conseqüente da forte inversão térmica que a separa da superficial.
Por influência do curso latitudinal sazonal da ZCIT, são verificadas duas estações, uma
muito seca, outra moderadamente chuvosa, ou excepcionamente chuvosa, com ritmo sujeito
a drásticas variações. Além da ZCIT, os sistemas atmosféricos atuantes mais importantes
sobre o tempo e o clima nesse Estado são: as frentes frias provindas do Pólo Sul, originadas
das altas e médias latitudes do Hemisfério Sul. Constituem-se como um dos mecanismos
que influencia as precipitações no sul cearense entre novembro e janeiro; os vórtices
ciclônicos de ar superior (VCAS), que após se formarem no Atlântico, entre outubro e março,
vagueiam de leste para oeste, atuando principalmente nas quadras chuvosas.
Em conseqüencia nas condições climáticas, se expressam temperaturas elevadas,
baixas amplitudes térmicas e níveis de nebulosidade, insolação e evaporação elevados,
bem como chuvas irregulares no tempo e no espaço. Com as chuvas irregulares no tempo e
no espaço, pronunciam uma estação seca mais duradoura do que a de precipitação. As
serras, o litoral e os sertões têm precipitações diferenciadas porque recebem influencia
combinada de sistemas atmosféricos e fatores geográficos zonais, azonais e extrazonais
(latitude, compartimentação do relevo, proximidade do mar, altitude, densidade da cobertura
vegetal etc). Do ponto de vista hidrológico, cabe considerar, as chuvas são elementos
climáticos de muita importância na quantificação de água disponível para inflitração,
escoamento superficial e evapotranspiração (CUNHA, 1995).
170
Como demonstrado na Figura 6 Cap.3), sobre probabilidade de ocorrência de secas no
Nordeste, no Ceará, salvo a porção sul e nordeste da Ibiapaba, todo o Estado têm de 81-
100% de probabilidade de ocorrência de secas.
Nesse Estado, embora nas regiões costeiras ou de maciços residuais úmidos, a
quadra chuvosa pode se estender por até 6 meses. No semi-árido, as precipitações são
marcadas por uma sazonalidade de variações espaciotemporais, intra ou extra-anuais. É
verificada estação chuvosa mais curta de 3-4 meses, ou eventualmente se estendendo a 5
meses, em detrimento da quadra seca de 6-8 meses. Essa variação de chuvas distribui-se
nas unidades ambientais diferenciadamente, demonstrando que no litoral e pré-litoral, como
também nas vertentes a barlavento dos mais portentosos maciços residuais, as chuvas são
mais abundantes quando comparadas às depressões intermontanas semi-áridas.
No período seco, existem nuvens esparsas que não chegam a se precipitar em chuvas,
período esse em que os sertões funcionam, certas vezes, como semidesertos nublados
(REBOUÇAS, 2002a).
Conforme Souza (2000), os índices pluviométricos são mais significativos nas serras
úmidas, podendo alcançar os 1.500 mm/ano, com 130 a 145 dias chuvosos. Enquanto isso
no litoral, mais modestamente, se tem de 70 a 90 dias de chuvas. A elevação e o
enfraquecimento da descontinuidade de temperatura entre as correntes provocam sua
ascendência. Assim, uma corrente quase saturada, úmida, resfria-se, conforme o gradiente
adiabático úmido; outra, quente e seca, segue o adiabático seco. Conseqüentemente, a
queda da temperatura em altitude e a forte instabilidade provocam chuvas fortes também no
litoral. Enquanto isso no interior, pode haver estiagem, em pleno inverno, quando o alísio é
constantemente resfriado, ocasionando fortes secas ou o popularmente conhecido “inverno
fraco” (NIMER, 1988: 33-35).
Indício desse fato, é que médias mensais de 30 anos apontam na Serra da Meruoca
os índices máximos de chuvas com 1.549 mm. Enquanto isso no litoral, no Município de
Acaraú, por exemplo, as chuvas médias são em torno de 1.164 mm/ano. Os ventos que
contribuem para os efeitos orográficos atuam com maior umidade e intensidade nas
vertentes a barlavento das grandes serras. As vertentes secas (sotavento) só experimentam
ventos mais úmidos durante o período chuvoso. Fora disso, pequenas influências da
dinâmica adiabática ou formação de ventos catabáticos, principalmente nos pediplanos,
sendo que os ventos regulares sopram de janeiro a maio, de leste para oeste, dos paralelos
ao Equador e, em sua vizinhança. Depois ocorrem os ventos irregulares, sob maior
influência da umidade oceânica.
Como salienta Mendonça (1999), a exposição ou orientação de vertentes implica maior
ou menor fluxo de energia solar na área, que possiblita a identificação de áreas que
recebem
maior ou menor quantidade de calor e luminosidade. A formação de microclimas, a distribuição
vegetacional e mesmo as chuvas orográficas-, resguardando as devidas proporções latitudinais,
171
são influenciadas por essa exposição. As vertentes ao leste e ao oeste das serras na bacia do
Acaraú, nesse contexto, têm papel mais destacável que as de norte e sul, pois as serras e
maciços sofrem com esta variação, tornada complexa com as direções dos ventos, competindo
para denotação de vertentes sotavento e barlavento.
A precipitação na bacia, contudo, aumenta de sul para norte, dos sertões para o litoral. As
indicações de ocorrências de maiores volumes de precipitação mensais ocorrem nas áreas mais
elevadas, nas serras. Sem dúvidas, porém, os decréscimos mais significativos estão por conta
dos índices pluviométricos do domínio semi-árido.
O regime anual da precipitação, a rigor, foi avaliado pelo valor médio da precipitação
mensal, considerando os anos compreendidos entre 1974 a 2004, período tomado como base.
Consideramos os municípios que tenham pluviômetros na bacia, com exceção de Ipueiras e
Pires Ferreira, que apresentam muitas distorções. Para Ipu, somente foram considerados os
dados confiáveis. Desta feita, a média encontrada foi de 1029,5mm/ano. A avaliação dessas
médias comprova forte discrepância interanual, com o mês mais chuvoso sendo o de março,
com 251,76 mm, logo acompanhado por abril, com 217,9mm. O período mais seco é verificado
no segundo semestre de cada ano, entre setembro e outubro, seguido por agosto e novembro,
em respectivo, com 0,6 e 0,7mm, sendo que, para muitos municípios, de agosto a novembro,
não são registradas chuvas (Tabela 16 e Figura 12).
Tabela 16– Médias mensais de precipitação na bacia do Acaraú, período 1974-2004.
Municípios
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Acaraú
108
158
340
291
162
52
23
3
2
2
3
22
Alcântaras
95
121
205
196
61
22
4
0
0
0
5
15
Bela Cruz
91
142
253
208
114
23
11
0
0
0
0
15
Cariré
108
146
259
217
107
42
7
0
0
0
1
15
Catunda
124
99
209
195
66
19
3
2
3
0
1
9
Cruz
84
135
273
228
104
26
12
0
0
0
1
11
Forquilha
88
131
205
216
81
29
5
1
0
0
1
7
Graça
152
139
284
266
100
33
8
2
0
1
18
40
Groaíras
100
129
211
215
85
35
8
1
1
0
1
20
Hidrolândia
93
139
254
186
86
19
4
1
0
0
4
25
Ipu
127.2
168.3
297
221,4
113,8
43,7
19,3
3,6
2.3
0,8
5,3
40,9
Marco
86
161
258
205
103
32
14
0
0
0
1
9
Massapê
119
170
255
208
120
2
10
2
0
0
3
32
M
eruoca
209
258
394
368
165
58
23
6
2
1
9
54
Monsenhor
Tabosa
77
95
167
174
66
40
18
4
3
1
3
26
Morrinhos
102
118
249
204
104
34
17
4
0
2
2
11
Mucambo
136
66
252
231
128
54
15
1
1
5
13
46
Nova
Russas
105
141
251
196
88
15
6
2
1
0
6
23
Pacujá
136
145
277
206
98
41
13
2
0
1
11
45
Reriutaba
109
147
241
222
114
37
12
0
0
0
8
36
S. Quitéria
103
139
240
188
81
17
5
2
1
0
4
21
Santana
do Acaraú
102
135
239
222
108
26
14
2
1
0
1
16
Sobral
102
143
248
221
116
30
10
2
0
0
2
26
Tamboril
79
121
201
165
47
14
1
1
1
1
3
20
Varjota
135
131
232
200
94
27
8
0
0
5
11
24
Total
2.543
3.309
6.294
5.449,4
2.511,8
770,7
270,3
41,6
16
19,8
117,3
608,9
Médias
mensais
91,5 104,9
251.7
217,9
100,4
30,8
10.8
1.6
0.6
0,7
4,6
24.3
Fonte: FUNCEME (2005)
172
91,5
104,9
251,7
217,9
100,4
30,8
10,8
1,6 0,6 0,7
4,6
0
-20
5
30
55
80
105
130
155
180
205
230
255
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
meses do ano
dias mensais
Figura 11- Médias mensais de chuvas (1974-2004)
Fonte: INMET (2005).
Para melhor apuração das irregularidades pluviométricas, a análise da série histórica,
para o mesmo período indicado na tabela anterior, mostra totais anuais de chuvas por
municípios, sob outro ângulo. Observa-se o mínimo de chuvas em Tamboril, com 653,1
mm/ano, um razão percentual entre máximo/mínimo de 57,61%. Isso comprova grande
contraste pluviométrico em função de fatores da circulação atmosférica, condições
oceânicas intertropicais sub-regionais e locais. O Município de Acaraú é o mais chuvoso,
com 1.133,6mm médios, entretanto, apresentou em 1980 o mínimo médio de 346,90mm e,
em 1985, a máxima de 2.886,20mm. Uma dissimetria de 87,9% em 5 anos! Analogamente,
o Município mais seco é Alcântaras, localizado no semi-árido, a sotavento da Meruoca-
Rosário, que apresentou, em 1987, apenas 45mm de chuvas, enquanto em 2000 registrou
1.055,90mm. Um desnível de 95,65%!
Este mesmo raciocínio para Mosenhor Tabosa e Meruoca apresenta a seqüência:
anos mais chuvosos, 1974, 1619,6 mm e, 1985, 2.899mm. Anos mais secos, 1983,
166,20mm e, 1983, 619,8mm. Uma discrepância de 89,74% e 78,63%. No total médio da
bacia, são 804,2mm.
Compartimentamos a bacia a partir de índices pluviométricos em 8 faixas distintas,
determinadas estatísticamente. Foram considerados o número de municípios em cada série,
o valor médio das chuvas e principais características, agrupados desta maneira:
: faixa- 654-729 mm - Tamboril (653,1 mm), Monse nhor Tabosa (674,1 mm) e
Alcântaras (627,68 mm). O primeiro município é tipicamente semi-árido; os demais se
encontram em níveis abrigados da Serra das Matas e Meruoca, em respectivo.
: 729-812 mm - Santa Quitéria (799,4 mm), Hidrol ândia (797,64 mm), Forquilha
(731,99 mm) e Groaíras (806,06 mm). Situados na parte central da depressão sertaneja.
: 812-855 mm - Bela Cruz (828,30 mm), Morrinhos (840 mm) e Nova Russas
(830,8 mm). Localizações contrastantes, mas com pluviometria similar. Os dois primeiros
ficam no baixo vale e o último no alto, respectivamente, na zona pré-litorânea e na
depressão periférica da Ibiapaba.
173
: 855-874 mm - Varjota (854,9 mm), Santana do Acaraú (864,8 mm) e Marco
(865,09 mm). Idem. Acrescente-se a setorização do maior açude da bacia, Araras Norte, em
Varjota.
: 874-902 mm - Cruz (874,96 mm), Cariré (877,91 mm) e Sobral (888 mm). Cruz
recebe mais influências da maritimidade que os demais municípios que ficam no médio-alto
Acaraú.
: 902-950 mm - Reriutaba (925,4 mm) e Massapê ( 930,29 mm). Municípios
tipicamente sertanejos; todavia, Massapê localiza-se próximo ao sopé NE da S. da Meruoca.
: 950-1.043 mm: Graça (1.004,84 mm), Pacujá (974 ,4 mm). No geral, apresentam
melhores condições pluviométricas, em relação a outros municípios sertanejos por se
localizarem no entorno de relevos elevados.
: 1.043-1.560 mm - Mucambo, Meruoca e Acaraú. Mucambo fica próximo a
Ibiapaba; Meruoca fica em elevada altitude (sede 670m), sendo alvo de efeitos orográficos.
Acaraú recebe influências da maritimidade com chuvas pronunciadas.
Estes dados, entretanto, podem ser reduzidos nas sombras de chuvas das maiores
serras e maciços residuais, como no caso da Serra do Machado. Mesmo não tendo dados
pluviométricos, trabalhos de campo e entrevistas concorrem para demarcar os sertões de
Santa Quitéria, preferencialmente na comunidade Saco do Belém, no sopé da Serra do
Machado e, os sertões do rio Groaíras, como algumas das unidades geoambientais mais
ressecadas de toda a bacia. Infere-se que o total de chuvas, em regra, não é o problema,
mas sim seu regime de distribuição, intensidade e principalmente a vulnerabilidade às secas.
A quadra chuvosa ocorre entre fevereiro e maio, sobretudo, entre março e abril. No
transcorrer do ano, os valores vão diminuindo até outubro-novembro. Então, a
distribuição das chuvas acontece intra e extra-anualmente. Uma das explicações para isto é
o fenômeno El Niño, o qual se manifesta aproximadamente em intervalos trianuais ou
qüinqüenais, provocando acentuadas baixas nos regimes pluviométricos.
Por outro lado, uma relação estreita entre aguaceiros pluviométricos, concentrados
espaciotemporalmente e efeitos erosivos podem contribuir com os processos de
desertificação, através do: aumento erosivo dos solos pelas chuvas; afetação da retenção
d’água ao longo das vertentes; aumento do escoamento superficial; diminuição da infiltração
e umidade dos solos; potencialização dos picos de enchentes nos veios fluviais.
Conforme Brandão et al. (2003), uma elevada pluviometria, regularmente distribuída ao
longo do ano, tem poder erosivo bem menor do que uma precipitação anual reduzida, mas
concentrada num período determinado. Essas torrentes, somadas a uma cobertura
vegetacional pouco protetora dos solos, produz efeitos morfodinâmicos comuns na bacia.
Muito embora a degradação ambiental, por si mesma, não determine as cheias ou
secas, uma vez que estes eventos são resultantes de macrocondições meteorológicas,
solos inabilitados e erodidos agravam os picos de cheias. Este último processo, por sinal,
174
potencializa a degradação dos recursos naturais, propiciando o desenvolvimento da
desertificação.
Para Mensching (1987), em regiões com baixa precipitação igual ou menor a 600
mm/ano, e com poucos meses úmidos (cerca de 4 meses), o uso do solo deve ocorrer de
maneira flexível, considerando a quantidade de precipitação atmosférica. Felizmente, por
meio da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos dricos (FUNCEME), a
previsibilidade climática operacional para a quadra chuvosa do Nordeste vem sendo
aplicada no Ceará em tempo real, para servir de meio de divulgação, auxílio em programas
de orientação agrícola e recursos hídricos e defesa civil (CEARÁ, 1994).
Em meio a isto, quando as chuvas caem em quantidades torrenciais, provocam
catástrofes, afetando sobremaneira as populações habitantes e ocupantes das áreas mais
baixas dos vales. Em termos de valores mínimos, pronunciam-se as médias muito baixas
das estiagens, que provocam, indubitavelmente, os mais graves problemas
socioeconômicos. Quando as chuvas ocorrem num período de ainda mais curta estação, no
máximo aproximando seus totais médios da média histórica, ocorre a chamada “seca verde”,
logo é incapaz de prover as necessidades básicas da geodinâmica, principalmente de vicejo
da vegetação, como deflagrado em 1993, e dos setores produtivos já vulneráveis às secas e
fragilizados. Este problema está mais ligado à irregularidade pluviométrica do que a sua falta.
Contribuem para agravar o problema a baixa capacidade de manutenção de umidade no
solo e as elevadas taxas de evaporação e evapotranspiração, sem esquecermos dos
problemas de degradação ambiental ao longo da história de ocupação regional.
As mudanças na rugosidade da epiderme da terra, associadas às mudanças na
composição atmosférica que afetam diretamente as trocas das ondas radiotivas, curtas e
longas, influenciadoras da temperatura, estabilidade vertical e de precipitações, associadas
com a velocidade dos ventos e níveis de turbulência, contribuem para influenciar os níveis
de evaporação. No balaço energético da superfície terrestre e na atmosfera, mudanças no
albedo, com o desmatamento, por exemplo, provocando redução na umidade do solo, bem
como na carga de partículas da atmosfera (WILLIAMS e ROBERT JUNIOR, 1995), com
redução de núcleos higroscópicos, que acabam por perturbar a troca de energia e umidade
no sistema superfície-atmosfera (NASCIMENTO, 2003).
Os rigores da semi-áridez estão ainda condicionados a outros fatores climato-
meteorológicos, como insolação, temperatura, ventos e o balanço hídrico. Segundo Pinheiro
(2003), no sertão cearense a insolação apresenta valores médios representativos,
influenciados pelo e feito da latitude, por situar-se entre latitudes onde os raios solares caem
vertical e intensivamente durante mais de 80 dias initerruptos de solstício, ou
aproximadamente 2.800 horas (IPLANCE, 1997), com fotoperíodo de quase 12 horas e,
também, pelo movimento aparente do sol no Zênite, diminuindo a velocidade em relação ao
equador.
175
Em razão da proximidade latitudinal da bacia à linha equatorial, expressiva
insolação anual. O Instituto Nacional de Meteorologia INMET - (2005) registrou 2.417
horas de insolação - cerca de 27,59 % dos dias do ano, equivalente a 100,7 dias - de
exposição à insolação. Durante o período chuvoso ocorrem os menores valores,
caracterizando maior albedo. Ao longo do ano, a insolação atinge os valores mínimos (143,5
horas/mês), em fevereiro com média de 4,9 horas/dia. No estio, com a máxima registrada
em agosto de 268,2 horas/mês ou 8,6 horas/dia, com a máxima registrada; uma diferença
de 124,7 horas entre o mês de maior e o de menor insolação (Figura 12).
188,1
143,5
155
151,7
189,3
199,5
234,7
268,2
232,2
233,4
221,8
203,2
JAN
MAR
MAI
JUL
SET
NOV
Figura 12 – Montantes de Evaporação (1961-1990).
Fonte: INMET (2005)
A insolação, entratanto, pode ser reduzida pela nebulosidade registrada na troposfera.
A nebulosidade pode variar de uma escala de 0 a 10 décimos, sendo que na bacia se
observa oscilação entre 6 a 7 décimos no período chuvoso. Na estiagem, esses valores
despecam para 3 a 6 décimos, em função de menor cobertura de nuvens (Figura 13).
6
7 7 7
6 6
4
3 3
4
5 5
0
2
4
6
8
10
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
Décimos
Figura 13 - Índices de Nebulosidade (1961-1990).
Fonte: INMET (2005).
O regime térmico da bacia do Acaraú é uniforme e homogêneo. Nas áreas mais
continentais e, portanto, mais distante do oceano (da massa de evaporação de água), bem
como porque a baixa capacidade de armazenamento de calor e mistura vertical da água não
consegue amenizar as flutuações de temperatura, verificam-se influencias na diminuição de
temperatura se comparada aos setores terminais da bacia. Dada a existência de uma
176
grande massa de água restrita à porção terminal da bacia (Oceano Atlântico), não um
amortecimento de calor para amenização diária e sazonal de temperatura. Por outro lado,
em virtude da proximidade da bacia ao equador solar (paralelo latitudinal logo abaixo, na
vertical do sol), as temperaturas médias anuais, em termos de intervalo de variação
médias/mensais em função da latitude, apresentam constância de temperaturas elevadas e,
por derivação, sua baixa variação sazonal das mesmas.
A exemplo do Ceará, a bacia em estudo tem certa regularidade nas médias diárias ao
longo do ano, mas com reduções dionoturnas perceptíveis, bem como durante a
aproximação da ZICIT, portanto, de maior nebulosidade e chuvas. Assim é que a elevação
da temperatura é influenciada, contribuindo para a escassez hídrica, provocando efeitos
socioeconômicos e sobrepotencial bioecológico negativos.
Conforme Souza (2005), em razão das condições semi-áridas, com déficit hídrica
superficial, o desenvolvimento de uma vegetação mais desenvolvida é dificultado, bem
como o acúmulo d’água. Com pouca proteção vegetacional do solo - que chega a ser
exposto -, possui albedo elevado, o que provoca, à noite, redução da temperatura, por conta
da reflectância solar incidente durante o dia. Somente nas áreas próximas aos açudes,
como o Araras, Edson Queiroz, Ayres de Souza e outros e, na costa a partir da massa
d’água do Atlântico-, através do alto calor específico da água, a energia solar recebido
durante o dia é, durante a noite, deslocada por ventos locais, mantendo mais constante a
radiação noturna e, assim, menor variação dia-noite.
Em sua maioria, a temperatura média no Ceará é de 26°, apresentando valores
médios entre 22°C (serras) a 27°C (sertões), com am plitude em torno de C, conforme
IPLANCE (1997). Na bacia do Acaraú, em contraste com o quadro oscilatório pluviométrico,
o de temperatura regional mantém certa regularidade, com altos índices ao longo do ano,
porém discrepantes entre dias e noites.
Por situar-se acima de 24°C, o mesoclima é considerado megatérmico, mas com
grande diversidade de temperaturas por município. A diferença entre o município mais
quente e o mais ameno atinge 13,5°C. O município ma is quente é Tamboril, com médias de
mínimas e máximas, em respectivo de 35°c e 36°C. O município com temperatura mais
amena é Graça (20,5°C). As mínimas de 12°C são regi stradas em Reriutaba e Varjota. No
total, as médias das mínimas ficam em 22,26°C e as médias das máximas em 32,08°C. A
estação com maior amplitude térmica dionoturna é a de Acaraú, com oscilação de até 16°C.
A tabela 17 compila as temperaturas médias de alguns municípios de setores diferentes da
bacia, permintindo interpretações de temperaturas de seu baixo, médio e alto vales.
A exposição de unidades litoestratigráficas predominantemente com rochas
cristalofilianas, com propriedades geomorfológicas peculiares e com clima megatérmico,
favorecedor de altas temperaturas e balaço hídrico deficitário, associado a escassez de
chuvas, colaboram para aumentos das perdas por evaporação, provocando diminuição
177
hídrica substancial das coleções hídricas, principalmente durante as secas. Ocorre no
trimestre março-maio, o período mais úmido, o menor índice - em média de 15,4%, ou
195,9mm de evaporação anual. O trimestre set/out/nov, por outro lado, apresenta os
maiores índices - 34,7%, ou 666 mm. A taxa média de evaporação anual, observada em
tanque tipo classe “A”, está em torno de 1914,7 mm. Com base na estação meteorológica
de Sobral (Lat. S 3°,42’ e Long. W.Grw 40°21’), ela boramos a Figura 14.
Tabela 17 - Médias das temperaturas mínimas e máximas
Temperatura Municípios
Média das máximas Média das mínimas
Média
Acaraú 34,0 18,0 26,0
Alcântaras 30,0 22,0 26,0
Bela Cruz 35,0 30,0 32,5
Cariré 34,0 25,0 29,5
Catunda 32,0 24,0 28,0
Cruz 34,0 18,0 26,0
Forquilha 34,0 22,0 28,0
Graça 26,0 15,0 20,5
Groaíras 34,0 25,0 29,5
Hidrolândia 30,0 25,0 27,5
Ipu 35,0 28,0 31,5
Ipueiras 35,0 23,0 29,0
Marco - - -
Massapê 30,0 22,0 26,0
Meruoca 24,0 18,0 21,0
Monsenhor Tabosa 27,0 18,0 22,5
Morrinhos 38,0 22,0 30,0
Mucambo 33,0 25,0 29,0
Nova Russas 36,0 26,0 31,0
Pacujá 27,0 17,0 22,0
Pires Ferreira 35,0 28,0 31,5
Reriutaba 30,0 12,0 21,0
Santa Quitéria 32,0 24,0 28,0
Santana do Acaraú 30,0 23,0 26,5
Sobral 33,3 22,0 27,7
Tamboril 36,0 35,0 35,5
Varjota 30,0 12,0 21,0
Fonte: IPLANCE, (2000)
60
85
110
135
160
185
210
235
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Meses
Evap
(mm)
UR
(%)
Figura 14 - Médias mensais de evaporação (mm) e umidade relariva do ar (%)
Fonte: INMET (2005)
As perdas por causa da evaporação, pós-chuvas, são maiores do que aquelas
provenientes do escoamento superficial e infiltração, negativizando a reposição hídrica,
conforme balanço hídrico considerado em seguida.
Embora os ventos contribuam para dispersão de sementes e amenização de
microclimas, é elemento atmosférico que se associa à evaporação. Os ventos regulares
178
sopram de janeiro a maio, de leste para oeste, dos paralelos ao equador e em sua
vizinhança. Depois ocorrem os ventos irregulares, sob maior influência da umidade oceânica.
As altas temperaturas, atreladas aos ventos influem na umidade relativa do ar. Essa
umidade representa variação máxima de 30%, referente aos meses de abril (85%) e agosto
(55%). O valor mínimo está abaixo da média mínima registrada para o Ceará,
correspondente aos sertões, com 70%.
No semi-árido, com disponibilidade hídrica problemática e escassa, a caracterização
da água, como bem econômico, é complexa e diferenciada. Dentre os fatores que
colaboram para determinação de seu valor econômico, estão: tipo de uso, qualidade, forma
de local de oferta, nível de garantia, sazonalidade, condições climáticas (VIEIRA, 2002).
Pelo menos no que se relaciona as condições climatérias, a aferição da tipologia climática
pelo balanço hídrico se faz necessária.
O balanço hídrico corresponde à contabilidade de entrada/saída de água no solo,
confrontando as necessidades vitais à fisiologia vegetal e a quantidade de chuvas que
ocorrem em uma região, indicando o melhor período para o planejamento de atividades
agrícolas, indicações de alterações climáticas em razão do desmatamento etc. (CUNHA,
1980, NASCIMENTO, 2003). Mesmo porque o crescimento total da planta em um habitat é
diretamente proporcional ao nível de evapotranspiração. Quando a razão
precipitação/evapotranspiração é maior que um (P/EP >1), um potencial hídrico
disponível às plantas, ao escoamento superficial e à recarga dos aqüíferos. Tais valores são
encontrados apenas nas serras úmidas e subúmidas, nas vertentes a barlavento, enquanto
valores menores que um (P/EP <1) são comuns nos sertões e vertentes a sotavento. O
maior excedente hídrico coincide com a estação chuvosa, e o déficit hídrico com a estação
seca, no segundo semestre, com ênfase entre setembro a novembro, elacionando a
quantidade de água, teoricamente necessária para o desenvolvimento dos vegetais.
O período de deficiência hídrica que se estende por 9 meses não é indicado para o
desenvolvimento de práticas agrícolas temporárias, com exceção daquelas desenvolvidas
nos aluviões ou em perímetros irrigados, sob prejuízo da aptidão agroclimática de algumas
plantações não seriam as ideais (Tabela 18 e Figura 15). Para Nimer (1977), conforme o
regime de umidade com a existência ou não de seca e o período de duração dos períodos
secos, a bacia apresenta-se em dois subdomínios. Um subdomínio semi-árido brando, com
até 6 meses de estiagem - na Ibiapaba, litoral e parte dos tabuleiros costeiros-, e outro semi-
árido mediano, com 7 a 8 meses secos médio e alto cursos -, todos no domínio quente do
tipo tropical Brasil - Central.
Utilizando-se a classificação climática de Thornthwaite e Mather, constata-se que a
tipologia climática auferida é DdA’ a’, quer dizer, D- semi-árido, d - pouco ou nenhum
excesso, A’- Megatérmico e a’-sem variação estacional de temperatura. Apresenta Índice de
aridez (Ia) = 46,4%, equivalente ao intervalo “Semi-árido: 0,21 0,50” do Atlas Mundial de
179
Desertificação (Figura 1, Capítulo 2) e ao grau de Susceptibilidade Muito Alta a
desertificação (BRASIL, 2004c). Aprofundando a questão, as zonas áridas, semi-áridas e
subúmidas secas correspondem àquelas zonas nas quais a proporção entre a precipitação
média/ano e a ETP é superior ou igual a 0,05 ou inferior a 0,65 e a temperatura média anual
excede zero graus centígrados.
Tabela 18 – Balanço Hídrico, segundo Thornthwaite & Mather.
Sobral-CE
Meses P
(mm)
ETP
(mm)
P-ETP
(mm)
NEG.AC
(mm)
ARM
(mm)
ALT
(mm)
ETR
(mm)
DEF
(mm)
EXC
(mm)
Jan 101,6 143,9 -42,3 886,4 1 0 101,6 42,3 0
Fev 129,1 154,8 -25,7 912,1 1 0 129,1 25,7 0
Mar 231,2 130,3 100,9 25 101,9 100,9 130,3 0 0
Abr 218,5 165,8 52,7 0 125 23,1 165,8 0 29,6
Mai 145,9 130,3 19,2 0 125 0 130,3 0 19,2
Jun 59 94,8 -35,8 35,8 93 -32 91 3,8 0
Jul 24,8 135,7 -110,9 146,7 38 -55 79,8 55,9 0
Ago 5,1 157,6 -152,5 299,2 11 -27 32,1 125,5 0
Set 1,7 133 -131,3 430,5 56 -6 7,7 125,3 0
Out 6,2 143,9 -137,7 568,2 4 -1 7,2 136,7 0
Nov 8,8 154,8 -146 714,2 2 -2 10,8 144 0
Dez
28,9 154,8 -129 844,1 1 1 25,9 128,9 0
P= Precipitação; ETP= Evapotranspiração Potencial; C= T emperatura do ar; ARM= Armazenamento; ATL=
Alteração do Armazenamento; ETR= Evapotranspiração Real; DEF= Deficiência hídrica; EXC= Excesso
hídrico. Fonte: VIANA et al. (200?).
-160
-110
-60
-10
40
90
140
190
240
J F M A M J J A S O N D
(mm)
P
ETP
P-ETP
ETR
DEF
EXC
Figura 15 – Balanço Hídrico segundo Thorthwaite e Mather.
Nota: Estação: Sobral. Índice de Umidade (Iu)=2,9; Índice de aridez (Ia)= 46,4%; Índice drico (Im)= -24,9%;
Concentração aproximada dos meses de verão, 21 de dezembro. – 21 março. (TE)= 26,7%.
Fonte: Tabela 18.
Para Nascimento (2003), as condições climáticas têm influencia direta sobre os
recursos hídricos. Visando a integrar a gestão dos recursos hídricos, antevendo os recursos
naturais como subsídios para o desenvolvimento sustentável na compreensão dos
mecanismos básicos de circulação atmosférica atuantes na bacia de drenagem, é mister,
nos estudos hidrológicos, ultrapassar as simples descrições das características do regime
termopluviométrico.
Concorre para o panorama holístico sobre as águas o fato de o clima, também,
influenciar diretamente o potencial hidroambiental na bacia. Isso provoca nuances nos
aspectos mesológicos, que, por sua vez, afetam a pedogênese, formando solos que servem
de substrato, onde raízes das plantas crescem e muitos animais se abrigam, influenciando
na biodiversidade. Além do mais, determina as distribuições de organismos como as plantas
180
de cada região. A rigor, cada tipo de vegetal e animal vinga dentro de uma faixa de
condições ambientais peculiares, conforme as características biogeográficas.
4.4.2 - POTENCIALIDADES HIDROAMBIENTAIS DE SUPERFÍCIE E HIDROGEOLÓGICA
Em sua mais ampla acepção, a vida depende da água. A água é um recurso essencial
como solvente universal, componente bioquímico dos seres vivos – em sua higidez biológica
e funcional; meio de sobrevivência para biodiversidade e dinamização de variações
genéticas; elemento de valores sociais, culturais e estéticos; insumo na produção de bens e
serviços de consumo intermediários e finais, dentre outros atributos.
Trata-se da substância mais abundante na superfície terrestre, participando dos
processos modeladores geomórficos pela dissolução de materiais terrígenos e do transporte
de partículas. Como melhor e mais comum solvente disponível na natureza, sua função no
intemperismo químico é evidenciada pela hidrólise. Em ambientes limnológicos, a água
transporta partículadas, desde a forma iônica (em solução) a cascalhos e blocos,
constituindo-se como meio mais eficiente de erosão da superfície terrestre.
Fundamentalmente, a água mantém a vida sobre o Planeta pela fotossíntese, produzindo
biomassa na reação entre gás carbono (Co
2
) e água (H
2
O) (KARMANN, 2003).
Atualmente, em face da relação usos múltiplos e escassez, a água doce é questão de
geopolítica internacional, onde se destacam propostas para estudos integrados de bacias
hidrográficas (SOUZA et al. 2002), com gerenciamento de recursos hídricos (BENEVIDES e
COIMBRA, 1992) para fins do crescimento econômico e do desenvolvimento sustentável
(FILISETTI, 2000). O Ceará é um dos principais laboratórios brasileiros, das inovações
polítcas sobre a gestão dos recursos hídricos, para gerência da oferta de água, sob controle
estatal. Para este trabalho, em especial, é necessário estudar os recursos dricos como
fator básico de melhoria da qualidade ambiental.
Como curso natural de água doce, com canais definidos e fluxo constante ou sazonal
para o Oceano (RICCOMINI, 2003) Atlântico, o rio Acaraú define uma área de captação da
água de precipitação, demarcada por divisores topográficos, a partir de onde toda a água
captada converge para um ponto em comum de saída, o exutório (KARMANN, 2003),
constituindo a bacia hidrográfica homônima. Os recursos hídricos, ademais, no âmbito de
bacia hidrográfica, potencializam a diversidade biológica e as variações facilógicas de
manchas de solo, pelo arranjamento espaciotemporal das águas, elemento essencial à vida
(NASCIMENTO e CARVALHO, 2003c).
Com esta realidade, concebendo a bacia do Acaraú como unidade territorial de
planejamento, torna-se urgente reler os paradigmas de desenvolvimento regionais que,
atrelados ao nacional e ao internacional, ante à globalização, determinam padrões
degradadores e comprometedores de manejo das atividades produtivas, com destaque para
181
às campesinas. Ademais, as culturas locais são mais facilmente adaptadas à realidade
nacional do que às tecnologias “de ponta” na ambientação de novas culturas, isto
pressupondo estratégias ecologicamente harmônicas.
A bacia estudada pertence ao grupo de bacias do Atlântico Nordeste Oriental.
Apresenta regime fluvial de enchentes durante as chuvas de verão-outono, sendo, a 3ª. em
vazão, com 4,45 l/s/hm² (MMA/SRH, 2004), com vulnerabilidade natural às secas e
criticidade de escassez hídrica, o que pode potencializar os conflitos pela água (FILHO et al.
1994), inferior a 1/5 da vazão específica média nacional que é de 21l/s/km² (ABRH, 1987 in
VIEIRA, 2002). Segundo o Plano Nacional de Recursos dricos, a bacia do Acaraú é parte
integrante da Área Especial de Planejamento no contexto da desertificação.
Essa unidade de gerenciamento integrado dos recursos naturais, sobretudo dos
manancais com fins de seu aproveitamento, coloca os recursos hídricos como elemento
indispensável à vida e como insumo paras as atividades produtivas, pois o uso pelas
populações, para irrigação, indústrias, atividades de lazer, dentre outros empregos múltiplos
dos recursos hídricos, requer fontes em qualidade e quantidade saudáveis e seguras ao
mercado. Com essa necessidade, o Estado do Ceará, que tem como agravante ao
aproveitamento dos recursos naturais a semi-aridez, foi um dos primeiros da Federação a
elaborar plano de recursos hídricos; isso em 1992.
A partir de então, o quadro hidrográfico do Estado individualiza bacias hidrográficas e
conjuntos de bacias, que perfazem o montante de 11 grandes bacias hidrográficas. Dessas,
a bacia do rio Jaguaribe (74.621 km²) foi compartimentada em 5 bacias e a bacia
Metropolitana (15.085 km²) é formada a partir do agrupamento de 16 bacias independentes.
Essas unidades de planejamento, associadas ou não, são: Alto Jaguaribe (24.538 km²), rio
Salgado (12.216 km²), Médio Jaguaribe (10.509 km²), rio Banabuiú (19.810 km²) e Baixo
Jaguaribe (4.970 km²) que são subdivisões da bacia do Jaguaribe; Parnaíba (16.901 km²),
Curu (9.000 km²), Coreaú (10.500 km²) e Acaraú (14.560 km²) que teve sua área atualizada
e principais características abordadas neste trabalho.
A bacia hidrográfica do rio Acaraú é a mais importante das regiões norte e oeste do
Estado, porque banha a principal cidade desses setores, Sobral. O rio Acaraú nasce na
vertente ocidental da Serra das Matas, no Município de Monsenhor Tabosa, na cota de
600m e tem, longitudinalmente, extensão máxima de 307,5 km, considerando 17,5km do
açude Araras Norte. Seu curso tem orientação predominate sul-norte, em disposião
alongada, e a bacia tem forma de pera.
Trabalhos de sensoriamento remoto, à revelia da classificação do Governo Estadual
de apenas 25 municípios, dão conta de que a bacia de drenagem entrecorta 31 municípios,
de maneira integral, parcial ou somente uma pequena parcela de seus territórios. Os
grifados, a seguir, foram os que tomamos como base para esta pesquisa: no baixo curso
tem-se Acaraú, Cruz, Bela Cruz, Marco, Morrinhos, Médio Curso: Santana do Acaraú,
182
Meruoca, Alcantaras, Massapê, Sobral e Forquillha. Finalmente, em seu alto curso:
Groaíras, Cariré, Pacujá, Graça, Reriutaba, Varjota, Mucambo, Santa Quitéria, Catunda,
Hidrolândia, Pires Ferreira, Nova Russas, Ararendá, Canindé, São Benedito, Ibiapina,
Ipueiras, Ipu, Mosenhor Tabosa e Tamboril.
Seus principais tributários destacam-se pelo porte. Na margem esquerda, o rio
Jaibaras, que tem suas nascentes no front central da Ibiapaba, na divisão com a bacia do
Parnaíba, configurando curso d’água conseqüente e os pequeno cursos d’água, que tomam
orientação oposta e de natureza obseqüente, são o destaque. Nos maciços residuais,
encontram-se as nascentes dos outros rios mais importantes. Além do exutório, já
mencionado, na Serra das Matas, divisor de águas com a bacia do Banabuiú, o rio Macacos
tem suas cabeceiras. O principal afluente do Acaraú, o rio Groaíras (2.917,3 km), apresenta
nascentes na Serra do Machado, divisor de águas com a bacia do Curu. Completando os
tributários da margem direita, encontram-se os rios Jacurutu e Madeiras, respectivamente
com nascentes no Serrote das Cobras e em pequenos maciços no Município de Forquilha,
na divisa com a bacia do Litoral.
Com exceção do uso de pequenos botes e canoas nos trechos perenizados, açudes e
na cidade de Sobral, o único trecho navegável é o do estuário, principalmente, do porto de
Acaraú até a foz.
A bacia do Acaraú entrecorta diferentes unidades geomorfológicas, como serras e
maciços residuais, depressões periféricas e tabuleiros pré-litorâneos, entalhando planícies
fluviais, fluviolacustres e a planície litorânea, em busca do nível de base de sul a norte, com
extensão longitudinal de 225 km. Os terrenos cristalinos são relevantes por sua primazia
espacial. Os rios nesse trecho têm padrão dentrítico e retangular (sob forte controle
estrutural, sobretudo nas serras). A partir de seu médio-baixo curso, os terrenos
sedimentares pronunciam-se, com os sedimentos da Formação Barreiras e holocênicos da
planície litorânea. Nesse trecho, a drenagem predominante é de padrão paralelo e de baixa
densidade, chegando a formar meandros nas faixas aluviais. Na planície fluviomarinha, os
rios apresentam padrões de canais anastomosados, a par de baixos gradientes de
declividades.
Nesse caminho das águas, os recursos hídricos apresentam-se ora em superfície, ora
em subsuperfície, todavia, as condições climatéricas, sobretudo as chuvas, são os principais
elementos de renovação das águas, que ainda são diretamente subordinadas pelas morfo-
estruturas, bem como por outros elementos biofísicos, sendo que os açudes públicos
contribuem para minimizar o déficit hídrico com reservas de águas para usos múltiplos.
Nos sertões do Acaraú, com rochas cristalinas, grande freqüência e densidade de
rios e riachos intermitentes com escoamento espamódico. A disponibilidade hídrica, além
das chuvas, está em função de açudes, barragens captadoras de veios fluviais, perenizados
ou não, e de lagoas mantenedoras das águas residuais de forma natural.
183
Nas depressões circunjacentes, o entalhe da drenagem é pouco incisivo, com vales
modestamente escavados, em relevo aplainado e pouco dissecado. Outras características
condizem com: maior deposição linear de matérias para formação de solos; predomínio do
intemperismo físico e ação pluvial; pouca energia da ação fluvial; alta deposição de
sedimentos pelos rios em razão do baixo poder de entalhe e de escavar vales; presença de
cascalheiro que sugere abandono de terraços pelo rio quando esse tinha maior capacidade
em climas úmidos pretéritos. Por isso a capacidade de erosão linerar é baixa, em face de
intermitência sazonal dos cursos hídricos, justificando a pequena amplitude topográfica
entre os interflúvios e os fundos dos vales.
Na planície litorânea, existem lagoas nas proximidades de várzeas e entre os cordões
arenosos. Nos tabuleiros costeiros, encontram-se lagoas nas depressões dos glacis de
acumulação, formando, comumente, planícies fluviolacustres usadas para pesca,
dessedentação, lavagem de animais, plantios de várzeas, com hortaliças, além do
agroextrativismo de frutíferas. Em termos de usos da água das comunidades pré-litorâneas,
desempenham função próxima as dos açudes, verificados os sertões.
Nas serras e maciços as coleções hídricas são exíguas ou inexistentes, restringindo-se
praticamente as planícies alveolares com depósitos colúvio-aluvionares, promovendo
condições mais favoráveis ao uso agrícola, em detrimento as vertentes, de acentuadas
declividades. São ambientes agradacionais que contém rios e riachos que abastecem de
água as comunidades locais e servem para irrigação de frutas e legumes. Qual o caso do
barramento do riacho Bom Jesus, que verte para o manancial de abastecimento da cidade
de Meruoca, o açude Frecheiras, com estética ambiental bem conservada.
As irregularidades pluviométricas agravam os problemas dos rigores climáticos,
ocasionando secas sazonais e diminuição do volume das coleções hídricas em superfície e
de subsuperfície, afetando as atividades nos setores agrossocioeconômicos (campos
cultivados com desenvolvimento agrossilvopastoril) e as atividades pesqueiras. A pobreza
regional é agravada em virtude dos recursos hídricos constituírem forte esteio
socioeconômico e ambiental. Pelo contrário, na época de grandes chuvas, em anos de
máxima precipitação, os cursos fluviais recebem grandes volumes d’água provocando
cheias (elevação do curso d’água em seu leito), seguido de inundações (elevação não
cumum do nível, ocasionado transbordamentos) espamódicas, com picos sucessivos
provocando transtornos no meio rural - perda de lavouras -, e no meio urbano, acometendo
áreas de risco, arrombando reservatórios indistintamente.
Considera Souza (2000), que em termos morfodinâmicos, os interflúvios sertanejos
têm implicações que devem ser consideradas no fluxo hidrológico, pois os sedimentos
provenientes da erosão diferencial são carreados por escoamento difuso (no sentido lateral
e não vertical) e em lençol (sheet flood) para os fundos de vales, agravando as cheias,
prejudicando as vazantes, provocando transtorno para as cidades ribeirinhas.
184
O perfil longitudinal dos rios que drenam as colinas sertanejas é muito raso e
tangencia o perfil de equilíbrio. As chuvas torrenciais podem provocar excessivo aumento do
volume d’água nos canais, pressionando os baixos vales através de transbordamentos
laterais. As águas atingem os terrenos aluviais e hidromórficos do leito maior dos rios, sendo
o problema agravado quanto maior seja a hierarquia da drenagem, ao receberem tributários
de ordens iniciais.
Esses problemas são agravados pelas mudanças diretas e indiretas nos canais de
drenagens, conforme explica Ebisemiju (1989). Contudo, esses aspectos confirmam a
irregularidade pluviométrica que caracteriza o regime hidrológico estudado com rios
intermitentes, onde retardos, antecipações, escassez ou concentrações convectivas das
chuvas.
Dentre outros fatores, o ciclo hidrológico em uma bacia relaciona a pluviometria, a
permanência em superfície, o alcance dos talvegues, o escoamento superficial difuso, o
runnoff, a alimentação hidrogeológica e as perdas por evaporação. O ciclo hidrológico da
bacia em causa, entretanto, é dinâmico e as águas em seus três estados líquido, sólido e
gasoso -, é renovada espaciotemporalmente através de um sistema de circulação global. As
águas precipitadas, em parte evaporam ou evapotranspiram, outro montante escoa pronta e
superficialmente, indo ter com os veios fluviais. Finalmente, a última quantidade d’água se
infiltra nos exíguos aqüíferos, de forma lenta no subsolo, recarregando as águas de
subsuperfície. Segundo Filho (1994), quando os aqüíferos são costeiros as águas atingem o
nível de base; quando são continentais ou interioranos, este movimento forma o
escoamento de base que se acrescenta ao escoamento superficial. No conjunto, formam o
escoamento total dos rios ou escoamento fluvial.
Nos anos de secas o escoamento superficial é cerceado, ficando a perenidade restrita
às áreas onde o regime de armazenamento escoamento é artificialmente controlado. Isto
ocorre nos seguintes leitos perenizados: em Tamboril, com o açude Carão; a jusante do
açude Araras; a jusante do açude Edson Queiroz e com o açude Jaibaras, até a foz do rio.
Neste percurso, do médio ao baixo vale, ocorrem alimentações perenes por outros açudes,
como o Arrebita, o Acaraú-Mirim e o São Vicente.
Conforme Ab’Saber (1974), os rios são intermitentes em razão, quase exclusivamente,
da alimentação das sub-bacias hidrográficas. Ao tempo que essa intermitência dura anos,
com o advento de um ano árido, os rios assumem um comportamento de cursos d’água
esporádicos do tipo ueds flash food, correspondendo a um típico caráter de rios desérticos.
No entanto, a drenagem não chega a conformar um padrão arreíco, o que equivaleria a uma
drenagem sem estruturação, como se verifica nos desertos quentes com a atividade dunária
intensa (CUNHA, 2001). Assim, para geomorfologia fluvial, a bacia apresenta drenagem
organizada, fugindo as características e intensificação da dinâmica sedimentar areolar,
formadora de dunas, com exceção ao litoral.
185
Diz Nascimento (2003) que os cursos d’água desempenham funções específicas
dentro de cada ecossistema, face à semi-aridez climática. Os rios, riachos e lagoas
propiciam a formação de vegetação ribeirinha, diminuindo a requeima foliar e a caduciofolia
através de um feedback de diminuição da evaporação e evapotranspiração e, manuseio da
biodiversidade. Além disso, para o diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas
(BELTRAME, 1994), as condições climáticas, a natureza dos terrenos, os aspectos
morfopedológicos, os geobotânicos e os de uso/ocupação do solo, influenciam diretamente
os recursos hídricos de superfície. O escoamento fluvial e as reservas terrestres implicantes
na dinâmica ecossistêmica (HIRATA, 2000; TUNDISI, 2003a,b) que formam os
geossistemas são, portanto, influenciados (Quadro 20). São alguns dos aspectos ambientais
que necessitam de observação no planejamento dos recursos hídricos (GANZELI, 1995).
Quadro 20 – Ambiente biofísico: atributos geoambientais incidente sobre os recursos
hídricos superficiais
Elementos Implicações
Clima Distribuição espacial do volume de da freqüência de chuvas, renovação das reservas
hídricas, temperaturas e evapotranspiração Influências sobre o balanço hídrico.
Natureza do
terreno e litotipos
Condições geológicas e das formações superficiais, em terrenos impermeáveis,
favorecem o adensamento dos cursos d’água e das depressões lacustres, evaporação.
Com zonas permoporosas, a alimentação do lençol freático é favorecido.
Geologia-
Geomorfologia
Processos de escoamento. Características dos perfis longitudinais e transversais dos
rios e vales. Velocidade do escoamento ou retenção, capacidade de incisão para
escavar vales e competência das condições de transporte de sedimentos e detritos,
estão associados ao relevo, sua topografia e níveis de declividade.
Unidades
Vegetacionais
Papel protetor das formações superficiais. Uma maior ou menor densidade
vegetacional, em seqüência, magnificam ou atenuam o escoamento superficial nos
interflúvios com vegetação densa influenciando o efeito splash e o escoamento. Menor
cobertura vegetacional no meio urbano provoca mudanças microcliáticas.
Uso/ocupação da
terra
Efeitos ambientais, diretos e indiretos, no exutório podem ser assinalados: diretamente
a retificação, a dragagem do rio e os barramentos indevidos alteram as condições
naturais. Concorrem para as mudanças indiretas o desmatamento, a impermeabilização
de superfícies e as mudanças no uso da terra. Áreas impermeabilizadas favorecem o
escoamento. No meio urbano, a lavagem de superfícies carreia poluentes líquidos e
sólidos. No meio rural, os agrotóxicos e o decapeamento vegetal comprometem a
recarga de aqüíferos. Esses fatores em conjunto podem provocar modificações nas
propriedades físicas e estruturais dos solos, na precipitação e temperatura.
Elaborado com base em Ebisemiju (1989), Christofoletti (1979, 1999), Cunha (1995), Nascimento (2003),
Carvalho e Nascimento (2004), Souza (2005).
Como destacaram Cunha (1995) e Cunha e Guerra (2003), mudanças significativas
em qualquer desses elementos, podem ocasionar efeitos e/ou impactos a jusante da bacia,
bem como nos fluxos energéticos de output ou input de sólidos e substâncias dissolvidas,
que em função da escala ou intensidade, dos tipos de leitos e de canais, a morfologia da
drenagem pode ser modificada.
O escoamento fluvial, com alimentação irregular e deficiente, apresenta pequena
capacidade de entalhe. Como conseqüências desse entalhe, ocorrem amplitudes
altimétricas insignificante entre os interflúvios e os fundos de vales. Os rios, em grande parte,
apresentam gradientes pouco inclinados e perfis transversais com vertentes planas ou
ligeiramente côncavas. Sua rede potamográfica é reflexo direto das condições meso-
climáticas. Por isso nas secas os rios “cortam” com exceção dos leitos perenizados dos rios
186
mencionados. O arranjo, em planta, do rio Acaraú e principais tributários, condizem com os
padrões de drenagem com distribuição espacial do seguinte modo: dendrítica ou
arborescente, retangular dendrítica (atribuída aos fenômenos tectônicos), paralela,
anastamosada ou cataclinal. O sistema hidrográfico do Acaraú apresenta características de
drenagem intermitente sazonal exorréica, típica de região semi-árida intertropical.
Nos sertões, o padrão de drenagem dendrítica a subdentrítica de textura aberta, é
fortemente controlado por fatores estruturais sob efeito de fraturamentos, originando modelo
atual de vales com orientação geral SE-NW (Rios Macacos, Jacurutu e Groaíras), SW-NE
(Jaibaras) até desembocaram no exutório. Este, por sua vez segue de S com pequena
inclinação -, para NE-N, encontrando o Atlântico. Nos maciços e cristas residuais a
drenagem é dentrítica e/ou subdentrítica fechada, predominantemente pinada, formando
canais retilíneos e entrelaçados, de quando em quando, originado meandros com
declinação inferior a de declividade (3-8%). A d epender da altitude e expressão arreal
passam a exibir brejos de cimeira em suas vertentes de barlavento. Segundo Souza (2000),
esse padrão de drenagem colabora para a intensificação da dissecação do relevo em
feições colinosas convexas.
No pré-litoral a drenagem tem canais paralelos nos tabuleiros - com declínio discreto
para oeste -, e anastomosada na planície fluviomarinha (litoral). Nas coberturas
sedimentares da Ibiapaba a drenagem é cataclinal, com leve caimento topográfico para
Nordeste.
As chuvas, atingido a superfície, tendem a escoar e se infiltrarem. Ao escoar, como
nos terrenos impermeáveis ou de pouca porosidade dos sertões, alimentam o escoamento e
vão ter com os talvegues. Assim, a hierarquia das drenagens é adensada em ordens de
grandeza. Em parte, a água que não escoa e não evapora ou evapotranspira, retém-se no
solo ou percola, alimentando o lençol freático conforme as variações faciológicas dos solos.
Os rios do Nordeste, em determinadas épocas do ano, atingem o mar tratando-se de
um dos fatores de originalidade dos sistemas hidrográficos e hidrológicos regionais, que ao
contrário de outras regiões semi-áridas do mundo, onde drenagens convergem para
depressões fechadas, os rios dessa região vão ter com o Atlântico (REBOUÇAS, 2002a).
Por isto, na região da bacia em exemplo, os rios são de caráter intermitente, com drenagem
exorréica, que em grande escala não permite a formação de solos originalmente salinos,
principalmente nas vertentes e interflúvios. Os sais dissolvidos da litologia cristalina,
predominante na meso-estrutura, e aqueles provenientes das chuvas carregadas de águas
evaporadas do oceano, vão ter com o nível de base após arraste pelo fluxo hídrico das
torrentes.
Pela capacidade de erosão, transporte e deposição, ademais, os rios são os principais
agentes transformadores da paisagem, modelando o relevo (RICOMINI, 2003). Neste
contexto, processos fluviais como processos aluviais, compreendendo a erosão, transporte
187
e sedimentação em leques aluviais e rios, ajudam a explicar a ocorrência de minérios como
o urânio. Os depósitos aluviais podem hospedar este minério, pois formam os leques
aluviais que são “sistemas fluviais distributários espraiados por dispersão radial no assoalho
de uma bacia a partir dos locais de saída de drenagem, confinadas em regiões
montanhosas” (RICCOMINI, 2003: 192), sendo que, o depósito mineral é uma função da
evolução geológica da área na qual ele se dá. Assim, a sedimentação, intemperismo,
metamorfismo, vulcanismo e plutonismo são os processos geológicos mais comuns na
origem de um depósito mineral (BITTENCOURT, 2003).
Em termos qualitativos, as características da rede de drenagem, segundo Oliveria e
Ferreira (2001), podem ser definidas através de particularidades chamadas características
fundamentais ou qualitativas (Quadro 21). Observamos, dentre outros aspectos, relevo
acidentado pela assimetria das vertentes, influências tectônicas-rupturais na orientação da
drenagem e forte intergração dos canais de drenagem, conlaborando para um desenho, em
planta, da rede de drenagem de muitas ramificações.
Quadro 21 – Características qualitativas da bacia de drenagem do Acaraú
Características
Qualitativas
Descrição Respostas qualitativas da rede de
drenagem
Grau de integração Caminho dos canais entre dois pontos.
Quanto mais curto o caminho maior a
integração
Não integrada – os canais não se ligam ( )
Pouco integrada – poucos canais se ligam ( )
Integrada – todos os canis se ligam ( X )
Grau de uniformização Repetição das formas da rede de
drenagem num curto espaço
Não uniforme ( )
Pouco uniforme ( )
Uniforme ( X )
Orientação Direção predominante dos drenos Não orientada ( )
Pouco orientada ( )
Fortemente orientada ( X )
Grau de controle Fatores que alteram o sentido da
drenagem
Não controlada ( )
Controlada ( X )
Altamente controlada ( )
Angularidade Mudança na direção dos leitos Baixa ( X )
Média ( )
Alta angularidade ( )
Ângulos de juntura Ângulo formado na foz de um tributário
com seu receptor
Reto ( X )
Agudo ( )
Muito Agudo ( )
Simetria das vertentes Correspondência em grandeza, forma e
orientação relativa
Simétrica ( )
Assimétrica ( X )
Fonte: Adaptado com base em Oliveria e Ferreira (2001)
Desta feita, o quadro na sequência generaliza as características naturais dos vales
fluviais da bacia do Acaraú.
Uma caracterização hidrológica mais rica passa por apreciação genérica da
geomorfologia fluvial regional, em termos de características naturais dos rios e canais. Neste
sentido, além dos tipos de padrão de drenagem, escoamento e sua gênese na bacia, o vale
fluvial pode ser entendido à luz dos tipos de leitos e dos tipos de canais, como orienta
(CUNHA, 2003). De vez que cada uma dessas fisionomias apresenta uma dinâmica peculiar
das águas correntes, associadas a uma geometria hidráulica específica, originada pelos
processos erosivos, de transporte hidrossedimentológico e agradacionais.
188
Quadro 22 - Características naturais dos vales fluviais
Tipo de padrão de drenagem Bacias de
drenagem
Tipo de leito Tipo de canais
Em função do
Escoamento
Em função da
Gênese
Em função
da
Geometria
Bacia
do
Acaraú
Leito menor,
de varzante,
maior excep-
cional
Meandrante,
anastomosado
na planície
fluviomarinha
Exorréica Conseqüente,
obseqüente,
subseqüente.
Dendrítica e sub-
dendrítica (médio e alto
curso), paralelo (baixo
curso)
Prinicipais Sub-
bacias: Macacos,
Groaíras, Jacurutu
e Jai-baras
Leitos menor,
de varzante, e
maior
excepcional
Retilíneo
parealelo e
meandrante
irregular
Endorréica Conseqüente,
obseqüente,
subseqüente
inseqüente
Dendrítica, Sub-
dendrítica.
Fonte: Elaborado a partir de Cunha (2003)
Os elementos qualitativos e as características naturais dos vales fluviais,
demonstrados, em respectivo, nos últimos quadros, são importantes na gestão dos recursos
hídricos. Com o açodamento das necessidades humanas, há, progressivamente,
substituição de bens e serviços por suprimentos da mesma ordem, exigindo grandes
quantidades de água, mas com nova tecnologia e demanda crescente por energia,
aumentado o denominado consumo de Produção Primária Líquida (PPL) recurso
alimentar básico a todos os seres que não realizam fotossíntese (MERICO, 1996). Dessa
forma, a pressão sobre os recursos naturais é aumentada, ao tempo que serve de insumo
as atividades produtivas.
Como discutido no Capitulo 3, a açudagem no Nordeste, historicamente, é estacada
como bordão, dentre as melhores saídas ante as vicissitudes semi-áridas. Pelo sim, que não,
a eficiência de reservatórios, sobretudo dos grandes, é questionável. Em média, uma
eficiência hidrológica pífia, com 1/5 ou 20% do uso ótimo dos açudes, que são assolados
pela elevada evaporação e balanço hídrico deficitário, concorrendo para um quadro de não-
incentivo aos usos múltiplos da água (CRUZ et al. 2003 e REBOUÇAS 1997).
O Programa de Gerenciamento de águas Territorias, da Companhia de Gestão dos
Recursos dricos do Ceará (COGERH), monitora os maiores açudes públicos do Ceará
(estaduais e federais), que são em número de 126, com capacidade de armazenamento de
17.787.469,6 bilhões de m³. Neste contexto, na bacia do Acaraú, repleta de pequenos e
médios açudes, sobressaem os 12 maiores reservatórios hídricos, com capacidade de
armazenamento toral de 1.440.263.000 m³, tendo com principal corpo hídrico o açude
Araras, com capacidade de armazenagem de 891.000.000 . Na próxima Tabela 19,
observa-se que no período de escassez de chuvas o uso ótimo dos açudes é
significativamente reduzido, e que esses equipamentos armazenam, aproximadamente,
19,3% da capacidade total de reservas hídricas do Estado.
É importante realizar cadastramento dos maiores açudes públicos e privados dessa
bacia, gerando banco de dados qualitativo e, não quantitativo, como fez a COGEHR
(2003) para o Estado do Ceará. Estes corpos hídricos, a exemplo dos leitos fluviais, que
189
também os alimentam, têm nas chuvas seus principais renovadores. As irregularidades das
chuvas influenciam as cotas dos açudes e a capacidade de armazenamento das lagoas.
Tabela 19– Maiores açudes da bacia do Acaraú: situação em 1997, 2003 e 2005
Volume em milhões m³/% do total Açude Município Capacidade
Total
m³ milhões
11/1997
10/2003
07/2005
Acaraú Mirim Massapê 52.000
41.618/80
46.460/89,3
51.471,988/99
Araras Norte Varjota 860.900
619.841/70
760.970/85,4
690.082,432/77,5
Arrebita Forquilha 19.600
12.497/64
12.290/62,7
8.587.996/43,8
Ayres de Souza Sobral 104.430
81.010/78
87.780/84
85.417,472/81,8
Bonito Ipu 6.000
2.382/40
3.070/51,1
4.175,000/73,7
Carão Tamboril 26.229.9
15.893/61
4.010/15,2
16.649,744/63,5
Carmina Catunda 13.628.1
- 800/50,8
9.878.424/72,5
Edson Queiroz* Santa Quitéria 250.500
171.900/69
153.880/61,4
197.481.312/77,7
Farias de Sousa Nova Russas 12.230
3.825/31
1.920/15,6
5.170.000/42,3
Forquilha Forquilha 50.130
21.301/42
37.690/75,1
26.763.802/53,4
São Vicente Santana do
Acaraú
9.840
5.569/57
7.110/72,2
7.660.004/77,8
Sobral Sobral 4.675
2.481/63
3.760 / 80,4
3.744.402/80,1
Total 12 1.440.263
978.317/69
1.119.740/77,7
1.107.329,579/76,7
Fonte: SOUZA (1998) e COGERH (2005). *Açude com capacidade retificada para 254 milhões de m³.
Principalmente nos sertões, onde os suprimentos de água são limitados e, como
resultado, baixa produtividade de recursos naturais, a intermitência dos cursos d’água
provoca recessão e descarga nula durante os meses de estio que se prolongam ao longo do
ano. Por isso, é importante a gestão da vazão hídrica dos reservatórios e dos rios durante o
ano, principalmente na estação chuvosa em consonância com a redução de conflitos pelos
usos múltiplos da água e acesso à terra. Para Ffolliott et al. (1998), é importante considerar
a manipulação da natureza, da agricultura e dos recursos humanos, para atingir objetivos
específicos, considerando os fatores social, econômico e institucional dentro de uma bacia
hidrográfica ou quaisquer outras regiões relevantes.
Muitos açudes do Ceará têm baixa eficiência, variando de 1,6% a 39,4%, e a média de
eficiência está perto de 22,4%, quando deveria alcançar os 90%. Por isso, “(...) pagamos,
efetivamente, à natureza, um alto ‘preço’ pela acumulação de água em reservatório de
superfície” (VIEIRA, 2002:513). Por seu turno, o Plano Estadual de Recursos Hídricos diz
que sobre o rendimento médio dos açudes estaduais “R+25%”, quer dizer, volume
regularizado anual correspondendo a ¼ da capacidade dos reservatórios, não estudo
específico (FILHO et al. 1994). Os açudes podem, ainda, funcionar mais como
“evaporímetros”, do que como reservatórios seguros de água, por problemas ou falta de
critérios hidrológicos no dimensionamento do barramento.
Infelizmente, esses corpos hídricos são poluídos por sólidos e líquidos onde a cor,
cheiro, turbidez e a presença de macrófitas dão sinais empíricos de alterações nas
propriedades estéticas, físico-químicas e biológicas das águas acumuladas.
Em condições de carência de saneamento básico, com poluição das águas, estações
de tratamento de água (ETA’S), os aquíferos subterrâneos podem se constituir como
alternativa ao uso e consumo humano por se encontrarem mais bem protegidos de agentes
190
poluidores, porque as camadas litológicas, que as comportam, podem funcionar como filtro
natural.
A água é um dos maiores fatores limitantes da produção e de determinação de áreas
secas. Sua falta e desperdício são causas fundamentais de muitos problemas de
degradação ambiental e desertificação. Por isso, as considerações hidrológicas são
importantes na determinação da magnitude e sinais de desertificação (SHARMA, 1998).
O potencial hidrogeológico, em grande parcela, constitui reservatórios subterrâneos,
com dimensões variadas, geralmente não grandes, contendo volumes de água acumulada
que podem remontar às origens de suas formações geológicas. Sua disponibilidade tem o
potencial – montante hídrico não usado pelos homens-, podendo as reservas ser acrescidas,
se alguma demanda socioeconômica exigir. Desse modo é que outra opção para obter água
para usos múltiplos, preferencialmente o humano, além dos açudes, encontra-se na oferta
do potencial hidrogeológico, conforme a permoporosidade e arranjos estruturais dos
terrenos e depósitos. Diversos fatores podem favorecer o potencial hidrogeológico dos
terrenos, como taxas pluviométricas, solos espessos, cobertura vegetal densa, relevo
favorável e padrões de uso e ocupação do solo.
De fundamental importância, as águas dos rios e aquíferos, bem como seus volumes
estocados, naturais ou artificiais, formam as reservas móveis de água, ao tempo que podem
ser utilizados fora dos locais onde caíram as chuvas que os originam (REBOUÇAS, 1997).
A par de balanço hídrico desfavorável, as águas subterrâneas encontram-se mais bem
protegidas, com uma parcela de perda hídrica consideravelmente menor do que aquela
perdida por mananciais de superfície. Os poços (cacimbas) representam fontes de
complemento no abastecimento doméstico, industrial ou agrícola, sobretudo em face das
conseqüências da desertificação. Estrategicamente, servem como reservas nos períodos
críticos de estiagem ou por motivos de segurança. Um melhor aproveitamento da açudagem
ocorreria a partir da interação com poços e cisternas para abastecimento d’água, como
ainda melhoria dos padrões de qualidade hídrica.
Os investimentos para captação d’água subterrânea é parcelável. Isto é, ao passo que
a demanda aumenta, o usuário vai construído as obras captadoras, adequando os poços ao
volume d’água requerido. Deste jeito, é possível trabalhar com um parcelamento de custos e
investimento com uma margem de segurança no concernente à procura por água. Para o
meio rural, além das cisternas de placas, o uso de poços se mostra como a alternativa ao
abastecimento de sua população. Mencionamos o fato de que a irrigação é a atividade mais
consumidora do recurso água, conforme alerta Filho (1994), nos cenários atual ou projetado,
pelo menos para as próximas décadas.
Com área superficial de influência pequena, no que tange ao impacto ambiental, a
perfuração de poços tubulares não provoca maiores modificações no meio físico. Os
191
maiores problemas residem na não-obediência aos padrões técnicos de alocação e
manutenção recomendados para implantação e operação deles.
Ocorrem três tipos de aqüíferos, segundo as características geológicas do terreno,
com 1756 poços perfurados, onde predominam os do tipo fissural, pela primazia espacial do
substrato cristalino: aluvionar (10%), sedimentar (24%) e fissural (66%) (Tabela 20). Os
aquíferos mais porosos e mais representativos ocorrem em setores onde as rochas
apresentam maior capacidade de armazenamento d’água nos espaços intergranulares. São
exemplos, as coberturas sedimentares das dunas, aluviões, sedimentos da Formação
Barreiras e na Ibiapaba.
Tabela 20 - Poços por tipo de aqüíferos
Municípios Aluvionar Fissural Sedimentar Total
Acaraú - - 171 171
Alcântaras - 31 - 31
Bela Cruz - - 34 34
Cariré 2 76 - 78
Catunda - 1 65 66
Cruz - - 53 53
Forquilha - 41 - 41
Graça 2 30 2 34
Groaíras 1 30 - 31
Hidrolândia 2 72 - 74
Ipu 3 30 11 44
Ipueiras 11 55 10 76
Marco - - 39 39
Massapê - 96 - 96
Meruoca - 23 - 23
Monsenhor Tabosa 50 47 - 97
Morrinhos 17 1 36 54
Mucambo 6 11 - 17
Nova Russas 4 58 - 62
Pacujá - 28 - 28
Pires Ferreira - 31 - 31
Reriutaba - 19 - 19
Santa Quitéria 16 144 - 160
Santana do Acaraú 16 44 - 60
Sobral 4 202 - 206
Tamboril 40 91 - 131
Total 174 1.161 421 1756
Fonte: CPRM, 1998.
Para efeito de gerenciamento de recursos hídricos num contexto emergencial, como é
o caso das secas, merece destaque o grau de utilização das fontes de abastecimento de
água subterrânea, pois esse recurso torna-se significativo no suprimento drico da
população e dos rebanhos. É de conhecimento geral o fato de que grande quantidade de
captações de água subterrânea no semi-árido, sobretudo em rochas cristalinas, encontra-se
desativada e/ou abandonada a partir de problemas diversos. Uma parcela poderia voltar a
funcionar e aumentar a oferta de água a partir de pequenas ações corretivas (CPRM, 1998).
Como sabido, grande parte da bacia stá sobre embasamento cristalino, cujas suas águas
subterrâneas são alimentadas pelas chuvas ou pelos rios, que em função de uma
permoporosidade insignificante, têm as taxas ínfimas. Ademais, a deficiente alimentação e a
falta de exutórios importantes tornam as condições hidrogeológicas mais exíguas.
192
O município com o maior número de poços é Sobral (206), ou 11,73% e o com menor
número é Varjota com 14,79%. Apenas Graça, Morrinhos, Ipu e Ipueiras detêm poços nas
três variações de terrenos encontrados, em respectivo com 34, 54, 44 e 76 perfurações.
Alcântaras apresenta a menor variação, com 1 poço perfurado somente em terreno fissural.
Em Sobral, a CPRM (1998) calculou apenas a vazão média do domínio das rochas
cristalinas, que compreendem 90% das captações de água subterrânea, considerando que
vazão média de 1,7 m
3
/h (Tabela 21), resultado de uma análise estatística de mais de
3.000 poços no cristalino.
Tablela 21 – Estimativa da disponibilidade instalada atual e potencial das rochas
cristalinas em Sobral
Estimativa da
Disponibilidade Instalada
Atual
Estimativa da
Disponibilidade Instalada
Potencial
Poços
Tubulares
Em Uso Q
e
unit.
(m
3
/h)
Q
e
Total
(m
3
/h)
Desativados/
Não Instalados
Q
e
unit.
(m
3
/h)
Q
e
Total
(m
3
/h)
% de aumento da
disponibilidade atual
Públicos 21 1,7 35,7 32 1,7 54,4 28
Privados 94 1,7 159,8 39 1,7 66,3 34
Total
115 - 195,5 71 - 120,7 62
Q
e
= Vazão de explotação
Fonte: CPRM (1998)
Sobre a estimatativa de disponibilidade hidrogeológicos a próxima tabela considera
115 poços tubulares em uso no cristalino, com uma produção atual da ordem de 195,5 m
3
/h,
sendo 35,7 m
3
/h provenientes de poços públicos e 159,8 m
3
/h, de poços privados. Segundo
a CPRM (op cit), caso fosse implantada política de recuperação e/ou instalação dos poços
atualmente sem uso, estima-se um aumento da ordem de 62% (120,7 m
3
/h) relacionado à
atual oferta d´água subterrânea. Deste montante, cerca de 54,5 m
3
/h (28%) seriam
provenientes de poços públicos. Conforme Souza et al (2005), o nível hidrostático do
exutório tem profundidade aproximada de 5m ou menos, possibilitando a exploração do
lençol freático por cacimbas e poços durante as secas. Este nível, todavia, poderá estar
sendo rebaixado em função do decapeamento vegetal e ablação de solos, barramentos
indevidos e outras mudanças ambientais.
Quando se perfura uma zona cisalhada ou alterada em contato com aluviões, pode
haver reservas produtivas aluviais, certo é que a alimentação de lençóis é mais efetiva à
media que haja coincidência com fraturas ou falhas com o encaixe fluvial, demonstrando,
neste caso, drenagem controlada por marcas tectônicas, levando a concluir que a
alimentação dos aqüíferos fraturados esta imbricada aos eixos da drenagem superficial
(SOUZA, 2000).
Com tudo isto, o Polígono das Secas, que tem 70% do seu substrato constituído de
rochas cristalinas, tem um quadro de águas subterrâneas desfavorável, quer seja em
quantidade, quanto em qualidade (BRANDÃO et al. 2003). De forma em geral, as águas
subterrâneas do domínio cristalino são limitadas, restringindo-se às zonas fraturadas e
manchas aluviais. A vazão média em poços tubulares no cristalino fraturado é ínfima, com 5
193
m³/h, e salinidade média da ordem de 2 mil mg/l. Dada a falta de fiscalização das atividades
de perfuração e uso de poços, estima-se que no Nordeste brasileiro existem
aproximadamente 50 mil, sendo que pouco mais de 20 mil estão em operação por motivos
técnicos e/ou políticos (REBOUÇAS, 1997).
A capacidade de armazenamento d’água subterrânea é fornecida por arranjos
estruturais, localizados nos contatos geológicos (por falhas e no manto de alteração). As
fissuras e fraturas, como porosidade secundária, por onde a água circula apresentam
condutibilidade hidráulica não a partir de porosidade primária das rochas, como no caso de
aqüíferos clásticos, mas pelos efeitos dos componentes estruturais alimentados por
precipitação atmosférica, rede hidrográfica e as aluviões (GONÇALVES et al. 1984). O
Quadro 23, contudo, destaca as principais características dos aqüíferos na bacia m estudo.
No domínio do Complexo Nordestino, as exceções, portanto, estão associadas às
zonas de alterações e fraturadas. Nesse caso, o intemperismo físico não é um possibilitador
adequado para o pleno desenvolvimento de mantos de alteração, enquanto as condições
mais exeqüíveis estão em áreas submetidas a tectonimismo, podendo armazenar água nas
zonas fissuradas em contato com a rocha-mãe. Tais fissuras ainda são submetidas a
processos constantes de colmatagem, sendo obstruídas, sobretudo, por conta da remoção
de detritos intemperizados, o que, também, contribui para tornar as reservas inexpressívas
(SOUZA, 2000), no entanto, a alimentação é irregular, o que pode ser comprovado
piezometricamente.
Embora os terrenos cristalinos tenham baixa capacidade de armazenamento, é neste
domínio onde se concentra o maior número de poços, dada a sua maior dimensão espacial,
com 1.126 unidades ou 66% do total. Sobral tem o maior número de perfurações (202),
seguido por Santa Quitéria (144) e Massapê com (96). Acaraú, Bela Cruz, Cruz e Marco não
apresentam terrenos cristalinos, por isto, não registram a ocorrência de poços fissurais.
Os depósitos aluvionares, em maioria, constituem boa alternativa como manancial
porque têm alta potencialidade hidrogeológica. Encontram-se restritos às planícies fluviais e
são constituídos por sedimentos areno-argilosos cenozóicos, com pequena espessura e
com capacidade em função da alta permeabilidade litológica. Correspondem apenas a 10%
dos poços perfurados, em total de 174. Monsenhor Tabosa se destaca em quantidade
desses poços (50), seguido por Tamboril (40), mas municípios que não os apresentam, a
exemplo de Acaraú, Meruoca e Reriutaba. Os alúvios representam recursos tanto mais
importantes, quanto mais eficazes for a gestão dos reservatórios. Malgrado a função de
regularização das aluviões deve indubitavelmente ser considerada (REBOUÇAS, 1997). As
águas subterrâneas nesses setores devem ser buscadas e utilizadas desde que as
condições naturais estejam isentas de organismos patógenos e sem maiores alterações,
turbidez, cor, cheiro e sabor.
Quadro 23 – Aqüíferos e suas Características
194
Aqüífero Potencialidade Limitações Ocorrências
A
l
u
v
i
o
n
a
r
Bons aspectos quali-quantitavos
das águas. Facilidade de recarga
com elevada taxa de renovação.
Normalmente, a alta permeabilidade
dos termos arenosos compensa as
pequenas espessuras, produzindo
vazões significativas Águas de fácil
captação, com boa distribuição e
freqüência no cristalino. Observação
de condições sanitárias adequadas
para o suprimento de demandas,
sobretudo, nas áreas sotopostas ao
cristalino.
Pequena espessura das aluviões,
com ocorrência limitada aos leitos
fluviais. Em grande parte um
pequeno número de poços
funcionando adequadamente.
Várzeas dos grandes
cursos d’água municípios
de:
Cariré, Graça Groaíras,
Hidrolândia, Monsenhor
Tabosa, Morrinhos,
Mucambo, Nova Russas,
Santa Quitéria, Santana
do Acaraú, Sobral, Ipu,
Iipueiras, Tamboril,
Varjota.
S
e
d
i
m
e
n
t
a
r
Bom potencial com forte indicação
ao suprimento da demanda,
principalmente para o semi-árido.
As águas geralmente apresentam
boa qualidade, com recarga
facilitada. Com áreas extensas,
implica numa maior capacidade de
armazenamento.
Os sedimentos da Formação Serra
Grande são constituídos
principalmente por arenitos grossos
a conglomeráticos que,
normalmente, apresentam potencial
quantitativo e qualitativo méido
Espessura significativa das
formações, que às vezes indica
grande profundidade dos poços,
onerando a captação. Restritos às
áreas sedimentares que são bem
menos expressivas que as áreas
cristalinas. A quantidade de poços
instalados não corresponde ao
número daqueles em
funcionamento. Variações facioló-
gicas com intercalações de níveis
mais e menos permeáveis,
induzem potencialidades dife-
renciadas. As coberturas se-
dimentares coluviais com-
preendemmanchas isoladas de
sedimentos detríticos que, em
função das espessuras bastantes
reduzidas, têm pouca expressão
como manaciais.
Tabuleiros pré-litorâneos
da Formação Barreiras e
Formação Serra Grande
no Planalto da Ibiapaba.
Abrange os Municípios de
Morrinhos, Marco, Graça,
Cruz, Bela Cruz e Acaraú.
Catunda, Cariré, Ipu,
Iipueiras.
F
i
s
s
u
r
a
l
Cobrem a maior parte do território
estadual e da bacia. Reservas
estratégicas para a região semi-
árida, como. Imporntante alternativa
de abastecimento em casos de
pequenas comunidades ou como
reserva estratégica em períodos
prolongados de estiagem.
Não existe porosidade primária,
ocorrência de água condicionada
por porosidade secundária (fraturas
e fendas). Reservatórios aleatórios,
descontínuos e de pequena
extensão. Vazões pequenas e a
água, em função da falta de
circulação e dos efeitos do clima
semi-árido é, na maior parte das
vezes, salinizada. Baixo potencial,
com fortes limitações para suprir a
demanda existente.
Terrenos do embasa-
mento cristalino, dep.
sertaneja e Maciços
residuais. Verificados em
Alcântaras, Cariré, Ca-
tunda, Forquilha, Gro-
aíras, Graça, Hidrolândia,
Massapê, Meruoca,
Monsenhor Tabosa, Mor-
rinhos, Mucambo, Nova
Russas, Pacujá, Reriu-
taba, Santa Quitéria,
Santana do Acaraú,
Sobral, Tamboril, Varjota,
Ipu, Ipueiras e Pires
Ferreira.
Fonte:CPRM (1998).
Historicamente, ao longo dos vales com seus depósitos aluvionares, ocorrem as
maiores ocupações urbanas, como Santa Quitéria, Sobral e Acaraú. Com permeabilidade
elevada dos sedimentos arenosos das aluviões, possibilidades de se conseguir vazões
expressivas em captações de poços rasos e de baixo custo, para instalação urbana e
implantação de irrigação. Sem dúvidas é nos terrenos sedimentares onde maior
produtividade de água subterrânea. A porosidade das rochas originárias e a permeabilidade
do terreno foram alguns dos atrativos para se perfurarem 421 poços, cuja maior quantidade,
representando 23,9%, está em Acaraú (171). Em seguida vem Catunda, com 65 poços.
Pari-passo, quantidade e qualidade das reservas são mais comprometidas por conta
da demanda por água e, principalmente, pela ocupação desordenada do ambiente biofísico,
195
ou pela construção de poços sem critérios técnicos com alocação. A retirada do substrato do
leito e das margens fluviais, os desmatamentos para o uso agrícola, o extrativismo lenhoso,
o barramento de córregos e o lixo em decomposição em seções dos rios principalmente
nas proximidades das cidades, diminuem o volume dos veios fluviais e assoreiam os corpos
hídricos.
Para Nascimento (2003), sobre as doenças provocadas pelos problemas de
saneamento ambiental, a relação entre água e saúde pública é estreita. Quando as águas
em quantidades são insuficientes para higiene pessoal e/ou estão contaminadas, podem
provocar doenças. Este panorama é agravado durante a época das férias e festas culturais
ou religiosas, feriados prolongados e finais de semana, quando os lugares turísticos como
Acaraú, Meruoca, Sobral e Santa Quitéria recebem uma quantidade de visitantes superior a
sua capacidade de fornecimento de água. Isso magnifica os problemas de esgotamento
sanitário.
A obtenção quali-quantitativa de água para o atendimento das necessidades básicas
da humanidade e, por extensão de seus usos múltiplos, é um dos principais problemas a
partir da virada deste milênio. A missão é mais complexa quando essa abordagem ocorre
em regiões semi-áridas, com suas intempéries ambientais. Embora a gestão dos recursos
hídricos não seja tarefa das mais simples, nesse contexto, uma otimização no uso, obtenção
e armazenamento d’água é indispensável.
Como o abastecimento d’água para as necessidades humanas é prioritário, desde
as demandas para tal fim devem ser garantidas, em qualquer cenário considerado,
conservando e distribuindo equilibradamente aportes destes recursos vitais, em quantidades
e qualidades mínimas.
4.5 - SOLOS, DOMÍNIOS MORFOPEDOLÓGICOS E UNIDADES
FITOECOLÓGICAS
4.5.1 – CLASSES PREDOMINANTES DE SOLOS E MORFOPEDOLOGIA
A ecofisiografia da bacia, com ambientes litorâneos, pré-litorâneos, limnológicos,
serranos e sertanejos, possibilita o desenvolvimento de feições de deposição/acumulação e
de erosão, concorrendo para a formação ou manutenção de solos com variadas
profundidades. À proporção que os fatores de formação do sistema pedológico variam, as
classes de solos também se modificam.
As condições ambientais da bacia estão em razão de arranjos entre os fatores naturais
e as condições socioeconômicas. Perfis de solos que levam centenas de anos estão sendo
esgotados em poucas décadas pelas transformações no uso e ocupação da terra e
atividades produtivas. Assim, o reconhecimento dos solos, para Brandão et al. (2003), é
primordial para os programas de zoneamento e planejamento territorial. Mediante destes
196
estudos é que se torna possível a aplicação de ações voltadas para projetos que visem ao
crescimento da produtividade agrícola, irrigação e implementação de técnicas de
manejo/conservação do solo.
De forma em geral, os solos verificados apresentam baixa umidade e pouca
capacidade de armazenamento de águas subterrâneas, contribuíndo para formar fácies
descontínuas e variegadas, incluindo afloramentos rochosos e chãos pedregosos, porque o
nível de decomposição geoquímica dos litotipos é reduzido, à exceção de latossolos,
denunciando propriedades típicas do ambiente semi-árido das caatingas. Este aspecto
contrasta com a pedogênese nas outras regiões do País onde o calor, a umidade e o
balanço agem concomitantemente para exibir as formações superficiais. também, no
entanto, manchas de solos com média a alta fertilidade natural possibilitando, sem maiores
correções, o uso agrícola, a exemplo dos neossolos flúvicos.
A pesar da existência espacializada de solos verdadeiramente salinos, que ocorrem
mais por uma exceção do que por qualquer regra - com exceção dos neossolos
quartzarênicos-, como os halomórficos e planossolos, a drenagem fluvial extensivamente
aberta e exorréica, carreia os materiais terrígenos auxiliados pelas concentrações de chuvas
para os vales fluviais e canais em direção ao mar.
É importante dizer que o manejo ótimo dos solos deve respeitar sua sustentação
indefinida, onde a taxa média de perda superficial por erosão não exceda a taxa média de
formação ou renovação superficial pelos agentes intempéricos.
Em decorrência a grande dimensão da bacia e sua dinâmica ambiental, ocorrem cerca
de 12 classes de solos que compõem associações. As classes dominantes são os luvissolos,
seguidos pelos argissolos. As características primordiais de todas as classes foram
apresentadas em seguida. Por conseguinte, foram cosiderados os domínios
morfopedológicos.
Na nova classificação de solos da EMBRAPA (de 1999), os neossolos
quartzarênicos compreende os solos anteriormente designados pelas classes areias
quartzosas distróficas (AQd) e areias quartzosas marinhas distróficas (AMd), n entanto, na
bacia do rio Acaraú, verifica-se a ocorrência deste agrupamento pedológico em unidades
geoambientais distintas. As AQd’s ocorrem tanto na Ibiapaba quanto nos tabuleiros
costeiros arenosos, sendo que as AMD’s somente verificadas no litoral. A favor de melhor
entendimento deste conjunto, é mister descrevê-los a parte, mas sem perder a noção do
todo, ou seja, dos neossolos quartzarênicos.
Os primeiros são solos de profundos a muito profundos, com horizonate A fraco e
seqüência de horizontes A-C, excessivamente drenados, fortemente ácidos, com baixos
teores de argilas (menos de 15%) com coloração variando de vermelha a branca, ou mesmo
amarelada. Apresentam fortes limitações para atividades agrícolas, servindo a culturas de
subsistência, como mandioca, caju, coco. as AMd’s representam solos arenoquartzosos
197
não hidromórficos e não consolidados. Dispõem-se sobre a faixa praial e o campo de dunas
na planície litorânea. São solos profundos, excessivamente drenados, com seqüência de
horizonte A-C e distróficos de forte a fracamente ácidos (
P
H variando de 4,5 a 5,5). Seu
horizonte A é fracamente desenvolvido, apresentando coloração de cinza-escura a muito
escura, podendo ser ausente quando a deflação eólica é acentuada. O horizonte C, em
geral, apresenta grande espessura, coloração variada, entre clara, cinza-claro e bruno-claro.
Ambos apresentam alta fragilidade ambiental.
Os luvissolos estão normalmente associados aos neossolos litólicos e argissolos
vermelho-amarelho, em áreas de relevo plano a suavemente ondulado na depressão
sertaneja, sob litotipos anfibolitos e gnáissico-migamatíticos. Por isto são considerados solos
minerais com material parental composto por saprolitos de rochas pré-cambrianas. Não são
hidromórficos, com horizonte B textural, argila de alta atividade, provocando fendilhamentos
durante as secas. Tem seqüência de horizontes A-Bt-C ou A-E-Bt-C, com mudança textural
abrupta ente A e Bt. Apresentam elevados teores de minerais primários facilmente
decomponíveis e, é freqüente a presença de calhaus e matacões recobrindo a superfície ou
fazendo parte da massa pedológica, conformando um pavimento desértico (detritos em
superfície). São rasos, ou profundos, moderadamente drenados, de pH ácido a praticamente
neutro, com argilas de alta atividade, apresentando-se com textura de média a argilosa, com
boas quantidades de minerais primários. Sua fertilidade natural é de média a alta.
Seu horizonte A é fraco, de textura arenosa ou média de coloração bruna e o horizonte
B possui estrutura de moderada a forte, textura de argilosa a média e coloração
avermelhada. Apresenta, ainda, uma variedade (vertico) com teores elevados de minerais
de argila do tipo montmorilonita, estrutura prismática e grau de consistência de muito duro a
seco.
Os argissolos vermelho–amarelos são solos minerais não hidromórficos, com
horizonte A ou E contíguos ao B textural não plíntico, argila de alta ou baixa atividade e
teores de ferro inferiores a 11%. São encontrados em todos os tipos de relevo, desde o
plano até o montanhoso. Desenvolvem-se a partir de sedimentos da Formação Barreiras e
rochas do Pré-Cambriano. Eventualmente, podem ocorrer fragmentos rochosos. Sua
coloração predominante é vermelho-amarelado, podendo ocorrer tons bruno-avermelhados
e em menor expressão, na margem direita do baixo Acaraú, bruno acinzentado, com baixa
saturação com alumínio e menor acidez, os denominados argissolos vermelho–amarelos
acinzentados álicos. Em termos de fertilidade natural, apresentam-se com média a alta
fertilidade (euróficos) ou média a baixa (distróficos). Predominam os da classe eutróficos
com valores de saturação de bases superior a 50% e pequena presença de minerais
primários facilmente decomponíveis. Em linhas gerais, além dos Argissolos Vermelho–
amarelos acinzentados álicos, ocorrem duas variações de argissolos: argissolos vermelho–
amarelos eutróficos e argissolos vermelho–amarelos (álicos/distróficos).
198
Os argissolos vermelho–amarelos eutróficos predominam com manchas expressivas
no alto Acaraú ocupando, sobretudo, áreas montanhosas e onduladas. Variam de profundos
a moderadamente profundos, raramente são rasos e têm textura de média a argilosa,
comumente bem drenados, permoporosos e com matizes variando entre vermelho-amarelo,
amarelo e vermelho. Ocorrem variações cascalhentas, abrúptica, plítica e fase pedregosa.
Apresentam horizonte A, Bt e C. O primeiro horizonte geralmente é moderado, com textura
de arenosa a franco-argilo-arenosa e cor bruno-acinzentada. A transição para o horizonte B
é abrupta ou gradual, que é argiloso, de cerosidade variável, com argila de atividade baixa
(Tb) e saturação de bases de média a alta.
Quanto aos argissolos álicos distróficos, diz-se que apresentam fertilidade natural
baixa, são exigentes em corretivos para reduzir sua acidez trocável, na inibição dos efeitos
tóxicos dos alumínios às plantas.
Os neossolos litólicos distribuem-se pelas áreas dissecadas, em encostas de relevo
suave-ondulados, montanhosas e até escarpados. Podem, até mesmo, ocupar áreas com
relevo praticamente plano. São de rasos a muito rasos, não hidromórficos, pouco
desenvolvidos, bem drenados, pedregosos e rochosos em superfícies. Seu horizonte A é
assentado sobre a rocha ou sobre o horizonte C de pequena espessura. Apresenta grande
quantidade de minerais primários, por isso bioclimaticamente são solos pouco
desenvolvidos (jovem), de textura de arenosa a siltosa, de moderadamente ácidos a
praticamente neutros. Ocorrem, também, associados aos argissolos e luvissolos.
Os neossolos flúvicos são derivados de sedimentação fluvial recente (Holoceno) e
poucos desenvolvidos, provenientes de deposição fluvial, apresentando seqüencia de
horizontes A-C, mas somente horizonte A diferenciado, acompanhado de camadas
estratificadas sem relação pedogenética entre si. Este horizonte normalmente é fraco, mas
também ocorre moderado e chernozênico (com maiores teores de carbonato de cálcio).
os horizontes subjascentes ao A variam muito em composição granulométria distintas e sem
disposição preferencial, sendo mosqueados quando imperfeitamente drenados. Estão
distribuídos ao longo das planícies do rio Acaraú e principais contribuintes, às vezes
associados aos planossolos, como na transição médio-baixo curso.
São de mediamente profundos a muito profundos, de textura variando de arenosa a
argilosa, moderada a imperfeitamente drenados. Do ponto de vista químico, tem saturação e
soma de bases trocáveis altas, com teores de fósforo assimiláveis de médio a alto e com pH
variando de ácido a levemente alcalino. São ricos em constituintes primários facilmente
decomponíveis, essenciais ao desenvolvimento vegetacional. O horizonte A ou Ap é
normalmente de fraco a moderado, por vezes chernozênico, com textura de arenosa a
argilosa e cores brunadas, sendo mosqueados nos solos argilosos de drenagem imperfeita.
Os gleissolos sálicos são solos minerais hidromórficos, com seqüência de horizonte
A-Cg, desenvolvidos a partir de sedimentos recentes holocênicos, em áreas de várzeas e
199
sob influência de lençol freático elevado. Representam solos Indiscriminados de mangue,
associados às outras classes, anteriormente designadas de solonchaks e thiomórficos. Não
constituem manchas simples, pois são halomórficos indiscriminados, alagados, de mal a
muito mal drenados, salinos, contendo altos teores de matéria orgânica e compostos de
enxofre, denotando ambiente de redução. São pouco desenvolvidos, apresentando
horizontes nas áreas marginais, e possuem textura que varia de argilosa até arenosa.
Encontram-se na planície fluviomarinha, a partir de onde a influência das marés se faz
presente, em relevo plano, o que possibilita a diminuição da velocidade das correntes,
contribuindo para a sedimentação de material muito fino. O alto teor de salinidade decorre
da preamar e da presença de detritos orgânicos oriundos da decomposição de plantas do
mangue e à intensa atividade biológica, mormente, dos microorganismos e caranguejos.
Oferecem grandes limitações à agricultura, em virtude de problemas de salinidade e
inundações periódicas. São, no entanto, propícios à rizicultura. São ideais para proteção
compulsória da biodiversidade e dinâmica paisagísitica.
Os neossolos regolíticos têm como material originário saprolito do granito e arenito
feldspático do Cretáceco, além de gnaisses e migmatitos do Pré-Cambriano. São
normalmente arenosos, imaturos, não hidromórficos, com horizontes A-C ou A-Cr. São
moderadamente profundos, porosos, de moderados a excessivamente drenados.
Distribuem-se em relevos planos e suave-ondulados, e têm textura arenosa predominante,
cascalhenta ou não; bastante susceptíveis a erosão. Seu horizonte A normalmente é fraco,
com espessura entre 10 a 30 cm. O C, por sua vez, tem espessura variada, entre 60 150 cm,
ou mais que 200 cm em solos sem fragipam, normalmente com coloração clara. Tem baixos
teores de azoto e fósforo, demandando correções para o uso agrícola e são indicados para
culturas de ciclo temporário.
Os planossolos são originários de rochas do Pré-Cambriano ou provenientes de
sedimentos argilosos e siltosos pertencentes ao Holoceno, como ocorre nas várzeas e
terraços e, também, com argilitos e siltitos da Formação Jaibaras. Apresentam B textural
com argila de atividade alta e perfil apresentando seqüência de horizontes A-Bt-C ou A-E-Bt-
C, de transição abrupta ou clara entre o horizonte superficial e o Bt. Apresenta cores de
redução e/ou mosqueado resultante da drenagem reduzida, com matizes variando de bruno-
claro-acinzentado a bruno-escuro.
Por serem relativamente rasos e com baixa permeabilidade, nos períodos de chuvas
são encharcados, chegando a fendilhar nas épocas secas. São de moderadamente
profundos a rasos, comumente entre 35 a 120 cm, em regra, com horizonte A fraco e
dificilmente moderado. Apresentam estrutura forte ou moderada, prismática ou colunar, de
consistência extremamente dura quando seco. Em detalhe, o horizonte A é
predominantemente fraco certas vezes é moderado e com textura arenosa; e o Bt, em
200
maioria, tem textura média ou argilosa, apresentando baixa permeabilidade, sendo alvos de
encharcamentos temporários durante a quadra chuvosa ou fendilhamento no período seco.
Quimicamente apresentam altos valores de saturação e soma de bases trocáveis,
além de boa quantidade de minerais primários facilmente decomponíveis. Geralmente, são
de reação moderada ou praticamente neutra e, raramente, de reação alcalina. Ocorrem em
setores dispersos por quase toda a bacia, seguindo condições de relevo plano das
superfícies pediplanadas dos sertões. Estão associados a solos halomórficos, anteriormente
designado de solonetz solodizados.
Os latossolos têm material parental de rochas sedimentares. São solos minerais não
hodromórficos com horizontes Bw latossólicos, com avançados estádios de intemperização.
São constituídos com quantidades variáveis de óxidos de ferro e alumínio, minerais de argila
do Grupo 1.1, quartzo e minerais resistentes à morfogênese. São de profundos ou muito
profundos, com Horizonte A fraco ou moderado, mas, podendo ocorrer o tipo proeminente
ou húmico, com horizonte subsuperficial (Bw) com poucas diferenciações entre as camadas.
O Horizonte Bw tem textura média e argilosa, com baixos teores de silte; de bem a
fortemente drenados e com boa permeabilidade. No relevo mais movimentado, a coloração
varia de vermelho ao amarelo, ou variações destas. Podem ser eutróficos ou distróficos.
Apresenta boas características físicas, pois são profundos, leves e porosos, porém
apresentam fertilidade natural baixa, exigentes em corretivos para reduzir sua acidez
trocável, para inibir os efeitos tóxicos dos alumínios as plantas.
Os afloramentos de rochas estão mais para material original do que formações
pedológicas, não sendo classificáveis como classes de solo. Isto decorre do fato de
representarem tipos de terrenos com exposições de rochas diferentes, sejam elas brandas
ou duras, nuas ou com diminutas porções de materiais detríticos grosseiros, não
consolidadas, heterogêneos, originários de sedimentos terrígenos e fragmentos rochosos.
Dificilmente ocorrem em climas úmidos, mas nas depressões sertanejas surge como simples
inclusões nas diversas classes de solos, em áreas planas e montanhosas. Não apresentam
possibilidades para o implemento agrícola, mas sim para mineração. Em seus mosaicos,
apenas conseguem se desenvolver vegetais rupestres.
Naturalmente, os solos de regiões secas, em grande parte, contêm menos matéria
orgânica do que os solos de regiões úmidas, bem como são mais freqüentemente salinos ou
alcalinos e vulneráveis a erosão. Em razão destes e outros problemas, comumente os solos
são adubados. Minerais, orgânicos e corretivos (calcário e gesso) em uso podem conter
elementos poluentes, como nitrato, metais pesados e que podem se associar aos sais do
ambiente. Com o uso desses produtos, pode haver aumento no teor desses elementos no
solo e na água, passando à planta e, dessa, como forragem ou alimento, ao animal e ao
homem. Deste modo, para efeitos de fertilizantes e impactos ambientais, os riscos de
contaminação do solo e do ambiente ocorrem em locais de deposição de rejeitos industriais
201
e urbanos, extração e processamento de minérios e em casos particulares de eutrofização
das águas superficiais.
As distribuições das principais classes de solos nas unidades de paisagem, contudo,
mantêm estreita relação com a geomorfologia regional. As combinações relevo-solo-litologia,
em conformidade com as variações do clima e vegetação, permitem distinguir arranjos
morfopedológicos com características particulares (SOUZA, 1998). Assim, as classes de
solos referidas compõem associações de solos, elaborando mosaicos pedológicos nas
unidades geoambientais pelas respostas às interações do potencial ecológico refletidas na
exploração biológica. É com base nesse recurso natural que a atividade econômica mais
comum na bacia, a agropecuária, se evidencia.
Faz-se necessário, mesmo que sumariamente, registrar esses domínios, pois o seu
reconhecimento pode subsidiar planos de controles preventivos de uso e ocupação do
espaço e dos solos, para o (re) equilíbrio ambiental. Retratam produtos da inter-relação do
substrato geológico e dos solos, resguardando, principalmente, intimidade com os
compartimentos do relevo e feições do modelado, constituindo unidades espaciotemporais
nas unidades geoambientais em médias e grandes escalas (CASTRO e SALOMÃO, 2000;
SOUZA, 2000). A par de critérios geomorfológicas, eis os domínios:
associação de solos da planície litorânea - neossolo quartzarênico + planossolo +
gleissolo sálico + neossolo flúvico.
associação de solos da planície fluvial - neossolos flúvicos + planossolos + neossolos
quartzarênicos.
associação de solos dos tabuleiros costeiros e interiores - argissolos vermelho-
amarelos (álico/distrófico) + nessolos quartzarêncios + argissolos acinzentados álicos +
planossolos + latossolos.
associação de solos dos maciços residuais das serras - argissolos vermelho-
amarelos eutróficos + nessolos litólicos + afloramentos rochosos.
associação de solos do planalto da Ibiapaba - latossolos + neossolos quartzarênicos
+ neossolos litólicos + luvissolos.
associação de solos dos sertões da depressão periférica da Ibiapaba e do centro-
norte cearense - apresenta a maior complexidade de associações na bacia, representada
por argissolos vermelho-amarelos eutróficos e álicos/distróficos + afloramentos rochosos +
neossolos litólicos + planossolos + luviossolos + neossolo regolítico + neossolos flúvicos +
neossolos quartarênicos.
O Quadro 24 apresenta uma sinopse dos solos e dos domínios morfopedológicos,
demonstrando as unidades geoambientais de ocorrência, as características dominantes,
acrescentando as principais limitações de uso e a exploração atual.
202
4.5.2 – UNIDADES FITOECOLÓGICAS E BIODIVERSIDADE
Os recursos biológicos e a biodiversidade, com destaque para a flora e a fauna,
representam fonte potencial de riquezas materiais ainda não exploradas, seja sob a forma
de alimentos, medicamentos ou bem-estar. São também a base dos ecossistemas e ajudam
na retenção de umidade e manutenção de bancos genéticos. Além disso, podem
disponibilizar produtos, serviços e benefícios sociais.
No caso dos domínios fitoecológicos, estes derivam de fatores históricos e ecológicos,
espaciotemporais e modeladores das paisagens, por meio da geoecologia e atividades
sociais. Os fatores climáticos, edafológicos e bióticos se relacionam, influenciando na
distribuição vegetacional em uma dada época. Os vegetais são, pois, a base para a vida
animal e, portanto, fundamental para própria existência humana. A vegetação, ainda,
protege e cria parcialmente o solo. Ao agirem conjuntamente, tornam-se agentes
estabilizadores dos geoambientes. Possibilitam o acúmulo e a distribuição da água e
influenciam nas condições climáticas; resguardam o meio ambiente contra os eventos
extremos de enchentes ou de secas (NASCIMENTO, 2003).
A par destas reflexões, defendemos o argumento de que a vegetação tem reflexos e
responde pelas condições ambientais vigentes. Em primeira magnitude, denuncia o estado
de conservação ambiental, mostrando variações de áreas mais degradadas a mais
conservadas. Quando estes processos e fatores ocorrem dinamicamente em áreas
drenadas por bacias hidrográficas, o sinergismo das relações entre biodiversidade e
complexos vegetacionais é potencializado. Ademais, podem contrastar com as formas de
explotação dos recursos naturais e as formas derivadas do uso e ocupação da terra
(NASCIMENTO e CARVALHO, 2003b), como se verifica no Acaraú.
Concordamos com Souza (2000), ao perceber que as formações vegetais no Ceará
têm uma distribuição que segue uma zonalidade. Percebe-se que na bacia em voga, da
zona costeira para montante, as unidades fitoecológicas distribuem-se em faixas sucessivas
e alongadas, na direção predominante no sentido dos paralelos. Tanto nesse Estado,
quanto na bacia do rio Acaraú as unidades fitoecológicas e seu estado de conservação
encontram-se em razão de maritimidade, ventos, altimetria, diferenças litológicas, edáficas,
hidroclimáticas e da relação natureza/sociedade, sendo que a coberta vegetal influencia
decisivamente na estabilidade ambiental e a interação destes aspectos promove a dinâmica
ambiental.
Quadro 24 – Principais características das classes de solos, morfopedologia e exploração agrícola
Classes de solos, potencialidades e limitações Feições do Relevo Exploração Agrícola
Neossolos Quartzarênicos: muito profundos, excessivamente drenados, ácidos, suscetibilidade à
erosão, baixa retenção de umidade e fertilidade natural muito baixa.
Planície Litorânea e Tabuleiros Pré-
Litorâneos
Cultivados com mandioca, bata-doce, cajucultura,
coqueirais. As Dunas e praias não oferecem potenciais à
agricultura, se não de côco. São muito procurados pela
especulação imobiliária.
Luvissolos: Rasos a moderadamente profundos, textura média ou argilosa, moderadamente drenados
e fertilidade natural alta. Apresentam alta suscetibilidade à erosão, pedregosidade, pavimentos
detríticos e impedimentos à mecanização.
Depressões Sertanejas fracas a
moderadamente dissecadas.
Instalação de núcleos urbanos e projetos de irrigação,
agropecuária de subsistência.
Planossolos: rasos a moderadamente profundos, mal drenados, textura indiscriminada, fertilidade
natural média a baixa com problemas de sais – altos teores de sódio. Deficiência ou excesso de água,
drenagem imperfeita e suscetibilidade à erosão.
Depressões Sertanejas aplainadas,
Planícies Fluviais e áreas de
inundação sazonal.
Pastagens para pecuária extensiva, algodão, arroz,
leguminosas, culturas de subsistência. Agroextrativismo da
carnaúba, carcinicultura.
Argissolo Vermelho Amarelo Distrófico: rasos a moderadamente profundos, moderadamente ou
imperfeitamente drenados, textura média, fertilidade natural média a baixa. Relevo moderado a
fortemente dissecado, impedimentos à mecanização.
Maciços Residuais e Tabuleiros Pré-
Litorâneos.
Culturas de subsistência – milho, feijão, mandioca etc.-,
caju, outras fruticulturas, com destaque a instalação do
projeto de irrigação Baixo Acaraú.
Argissolo Vermelho Amarelo Eutrófico: rasos a moderadamente profundos, bem drenados, textura
argilosa, fertilidade natural média a alta. Relevo dissecado, impedimentos à mecanização. Fase
pedregosa e/ou rochosa e transição abrupta entre os horizontes A e Bt que favorecem os processos
erosivos.
Depressão Sertaneja, Maciços
Residuais das Serras das Matas,
Meruoca, Mucuripe, Pajé, das Cobras
e pequenos níveis serranos; Planalto
da Ibiapaba.
Culturas de subsistência, algodão e pecuária. Nos sertões
desenvolvem-se perímetros irrigados Araras Norte.
Retomada do cultivo da mamona nas serras.
Neossolo Regolítico: Solos profundos a moderadamente profundos, textura arenosa, excessivamente
drenados e fertilidade natural baixa. Baixa retenção de umidade e suscetibilidade à erosão.
Depressões Sertanejas. Agricultura de subsistência (mandioca, milho e feijão)
algodão, cajueiro e agropecuária extensiva com caprinos e
bonivos.
Neossolos Flúvicos: Solos profundos, mal drenados (riscos de inundações), textura indiscriminada e
fertilidade natural média a alta. Médio a alto teor de sódio e suscetibilidade à erosão.
Planícies Fluviais e flúvio-lacustres. Culturas de subsistência, arroz, algodão, horticultura e
pastagens, vazantes, olericultura, agroextrativismo. Nas
áreas secas há necessidades de irrigação e de drenagem, que
devem ser conduzidas adequadamente para evitar
salinização. Carcinicultura. Fruticultura nos perímetros
irrigados.
Gleissolos Sálicos: Solos orgânicos e salinos, mal drenados, eventuais problemas de salinização,
muito ácidos e parcialmente submersos.
Planície Flúvio-Marinha do rio
Acaraú.
Não agricultáveis e são Áreas de Preservação Permanentes
(APP’s), extrativismo de ostras, mexilhões e crustáceos.
Muito procurados para instalação de fazendas de camarão
para carcinicultura. Propiciam a rizicultura.
Neossolos Litólicos: Solos rasos/pequenas espessuras, textura indiscriminada, fertilidade natural
média, alta suscetibilidade à erosão, com fases pedregosas.
Depressões Sertanejas, Maciços
Residuais e Planalto da Ibiapaba.
Lavouras de ciclo curto, como milho e feijão. Mamona na
serra das matas
Latossolos: Solos profundos, textura arenosa, excessivamente drenados, pequena capacidade de
retenção de água e fertilidade natural baixa.
Planalto da Ibiapaba. Culturas de subsistência, com milho, feijão e mandioca.
Olericultura.
204
Na bacia do Acaraú, estes fatores ambientais são potencializados, ao tempo que
desenvolvem espécies vegetacionais em diversidades geobotânicas ou fitogeográficas, em
face de elementos mesológicos, história de distribuição da vegetaçãso e seu quadro atual.
Os ecossistemas aquáticos possuem taxa maior de família e ordens do que os terrestres.
Por sua vez, os ecossistemas terrestres têm grande diversidade de insetos e plantas com
flores, o que proporciona maior riqueza de espécies.
O complexo vegetal da planície litorânea é composto pelas seguintes unidades
fitoecológicas: vegetação pioneira da faixa de praia, vegetação costeira arbustiva de dunas,
mangue e vegetação de planície fluvial e mata ciliar. Observamos que nesse complexo
ocorrem ambientes continentais, fluviais e marinhos promovendo interfaces.
Assim, fatores de geomorfogênese, morfodinâmica, pedogênese e fitogênese passam
a conformar, nas unidades de paisagens, mosaicos ambientais com um sem-número de
funções ecossistêmicas. Por conseqüência, possibilitam múltiplas formas de explotação dos
recursos naturais, mormente no que concerne aos recursos de solo, vegetação e água.
A vegetação pioneira da faixa de praia (herbeto campesinato) distribui-se na planície
litorânea, desde as praias até a vertente barlavento das dunas, recebendo influencia da
maritimidade. Compõe-se de único estrato gramíneo-herbáceo, apresentando espécies
pioneiras (halomitrofilas, gramíneas, arbustos e árvores pequenas) e de outros grupos
taxonômicos adaptados à alta salinidade, aos ventos e ao distrofísmo dos neossolos
quatzarênicos. Depende mais das condições do terreno do que das climáticas, embora sua
fitofisionomia recebe influência da maritimidade.
Outro grupo vegetacional corresponde ao arboreto edáfico, o qual compreende
formações do complexo vegetacional litorâneo: vegetação de dunas costeiras, mangues das
planícies fluviomarinhas e matas ciliares. Trata-se de um conjunto geobotânico limitado por
fatores mesológicos, climáticos e edafológicos, produzindo variações no substrato.
A vegetação costeira arbustiva de dunas (arboreto edáfico marino-arenoso) é
formada pela vegetação a barlavento das dunas expostas aos ventos e à radiação solar,
desenvolvidas em setores onde ocorre pedogênese incipiente. As espécimes suportam os
ventos intensos, salinidade edáfica e atmosférica e a maior profundidade do lenço freático.
O estrato herbáceo é raquítico e espaçado, a partir de cactáceas no alto das dunas. Nas
encostas a sotavento, quando ocorre contato com o manguezal, o estrato arbóreo é mais
significativo em razão das condições adequadas ao seu desenvolvimento.
As dunas fixas, de gerações mais antigas, são colonizadas por espécies arbóreas
chegando a fazer contato, para o interior, com os tabuleiros costeiros. No ecótono,
sotavento de dunas tabuleiros costeiros podem ocorrer espécimes típicas das serras
úmidas, subúmidas e das catingas. Citamos, porém, como principais espécies o murici
(Byrsonima crassifólia) e o cajueiro-bravo (Curatella americana). Esta vegetação auxilia na
bio-estabilização e desenvolvimento de processos pedogenéticos e aumento do teor de
205
matéria orgânica no solo, possibilitando o processo de colonização vegetal. Seu manejo
requer respeito à fenologia e à forma de desenvolvimento das espécies.
Dentre as principais superfícies de vegetação de mangue de todo o litoral cearense,
estão as áreas estuarinas dos rios Timonha, Coreaú, Jaguaribe e Acaraú (SILVA, 1998). O
Mangue (arboreto edáfico marino-limoso) do estuário da baica em consideração apresenta
rica biodiversidade, ocupando a planície fluviomarinha, com plantas inundadas sob
variações dionoturnas das marés, recebendo influência duceaqüícola e terrestre. Sua
variação fisionômica e florística constituem o ecossistema manguezal onde elevadas
temperaturas e taxas de umidade do ar expressivas. As condições de ambiente
agradacional ocorrem pela colmatagem de sedimentos compostos por pequeno calibre,
como silte e argila, bem hidratados, condicionando a formação de ambiente palustre ou
limoso, rico em matéria orgânica, proveniente, sobretudo, da vegetação de mangue. Essa
comunidade fitoecológica atua, fortemente, nos processos de pedogênese e de
estabilização geomorfológica.
São encontradas no estuário três famílias de mangues, ou seja, Combretaceae,
Rhizophoraceae e Verbenaceae, representadas por quatro espécies que se distribuem em
zonas, possivelmente por conta da exigência das espécies quanto a salinidade, imersão,
drenagem, propriedades físico-químicas dos gleissolos sálicos, topografia, dentre outros
aspectos. Assim, tem-se: pertencente à primeira família, o mangue-botão ou ratinho
(Conocarpus erecta), de porte herbáceo-arbustivo, que se localiza nas partes mais elevadas
com solo arenoso. Da Mesma família, o mangue-rajadinho ou branco (Laguncularia
racemosa) substitui gradativamente o mangue-sapateiro ou mangue verdadeiro, também
chamado de vermelho, pertencente à segunda família retromencionada, que ocupa as
margens próximas da desembocadura. Nas camboas, o mangue-canoé ou preto (Avicennia
germinans, Avicennia schaueriana), corresponde à última família citada. Setoriza-se nas
partes mais interiores do estuário.
Das espécies arbóreas crescem raízes adventícias pelos troncos e ramos para melhor
sustentação nos solos lodosos e pouco arejados. Para este caso, emitem raízes
respiratórias, que emergem negativamente-, dos solos indiscriminados. As folhas,
comumente são pequenas, espessas, verdejantes e brilhosas e coriáceas. O manguezal
abriga, ainda, variedades de epífitas, como bromélias, samambaias e orquídeas, bem como
líquens e musgos fixados nas copas das árvores, compondo o estrato superior desse
ecossistema.
No infralitoral, ademais, com substrato permantentemente submerso, podem ser
encontradas algas (azuis, pardas, verdes e vermelhas), enquanto na zona intermareal a
vegetação herbácea, com espécies perenes, é sujeita a dessecação e inundações
irregulares. As espécies são adaptadas anatômica, fisiológica e bioquimicamente, ajudando
na estabilização do substrato.
206
Esta vegetação no mundo, em particular na bacia considerada, apresenta grande
importância ecológica e socioeconômica, seja para reprodução e alimentação de espécies
marinhas, terrestres e de aves migratórias importantes ao equilíbrio ambiental -, além de
potencializarem a caça, piscicultura e o extrativismo. Não é por acaso que os mangues são
considerados um elo básico da cadeia bioprodutiva e alimentar.
Dentre os serviços ambientais que produz, destacam-se a capacidade de manter
águas abrigadas, diminuindo a requeira foliar e o desenvolvimento de necroses,
fornecimento de nutrientes, além de suprir aportes de sedimentos para a deriva litorânea,
mantendo a função reguladora do fluxo da maré e protegendo a linha de costa contra a
erosão marinha, resguarda as calhas fluviais do rio Acaraú, influencia nas condições
climáticas locais, favorece a diminuição da evaporação da água e suas raízes contribuem
para reduzir a mecânica hidráulica.
Apesar de complexo, no entanto, tem ecodinâmica instável e alta vulnerabilidade
ambiental. Quando ocupado e explorado inadvertidamente, pode entrar em colapso
geoecológico. Todo o cuidado pode ser mínimo, como em relação a uma das atividades
emergentes nos últimos anos que corre no estuário - a carcinicultura. Os manguezais estão
sendo devastados em detrimento desta atividade. O capital econômico não pode subjugar o
capital natural, para se evitar problemas ambientais. Neste ambiente, essa máxima deve ser
exponenciada, mesmo porque contra lei natural não existe lei positiva.
A vegetação da planície fluvial, mata ciliar (arboreto edáfico fluvial) aproveita o
potencial drico dos rios ou o potencial aluvial em solos aquosos ou de drenagem
imperfeita, como neossolos flúvicos e planossolos. Neste caso, os recursos hídricos
influenciam diretamente os micro e macronutrientes, alterando a Lei do Mínimo (Lei de Libig)
ou mesmo os fatores de tolerância vegetacional. Destacamos a densidade de carnaúba
(Copernicia prunifera) - espécie endêmica do Nordeste brasileiro, que é muito importante
para a economia regional -, sobretudo, nas várzeas, associada ao mulungu (Erythrina
velutina), oiticica (Licania rigida) e juazeiro ou bonome (Zizyphus joazeiro), dentre outras,
além de espécies arbustivas e trepadeiras.
Em áreas fitoecológicas tropicais, a título de comparação, os carnaubais estão para as
áreas inundáveis sertanejas, assim como os buritizais estão para as baixadas de campo-
cerrado.
A mata ciliar ou galeria se prolonga longitudinalmente nas calhas fluviais do rio Acaraú
e principais tributários, onde há condições dricas satisfatórias, com transbordamentos
sazonais das águas das cheias e os solos de bom potencial edáfico. A mata de várzea
ocorre muitas vezes como única vegetação ciliar. Em grande parte, localiza-se nas planícies
fluviais, alagadiços e nas margens de algumas lagoas sobre solos hidromórficos, com altos
teores de sais em superfície, pH alcalino e com abundância de matéria orgânica. As
207
espécies encontradas são adaptadas ao meio, pois as condições edáficas e as inundações
periódicas podem ser fatores limitantes para algumas espécies.
As áreas de acumulação sazonal e as áreas em contato com espelhos d’água natural
ou artificial também propiciam a instalação de uma vegetação arbórea e de um estrato
rasterio, formando por gramíneas.
A vegetação dos tabuleiros (fruticeto estacional semicaducifólio Esclero-
mesomórfico) exibe espécies de porte arbóreo-arbustivo, recobrindo os tabuleiros pré-
litorâneos. Seus indivíduos apresentam caules retilíneos e adensamento (3 a 6 m de altura),
formando uma vegetação densa nas áreas mais conservadas. Perdem cerca de 50% das
folhas nas secas, além de apresentarem cactáceas e lianas. A partir do contanto com a
planície litorânea adentra para montante até o contanto com as caatingas, entrecortando
áreas dos Municípios de Acaraú, Cruz, Bela Cruz, Morrinhos e Marcos.
Não é homogênea e tem plantas lenhosas subperenifólia e caducifólia. As do primeiro
quadro fisionômico são em maioria arbustivas ou arbóreas/arbustivas, recobrindo argissolos,
neossolos quartzarênicos. Enquanto isso as de maiores feições caducas desenvolvem-se à
proporção que os sedimentos da Formação Barreiras contactam com as alterações
superficiais nas depressões sertanejas. As principais espécies encontradas são: sabiá
(Mimosa caesalpiniifoliga), mororó (Bauhinia cheilanta Stend), cajueiro (Anarcadium
ocidentale), jatobá (Hymenaea courbaril) etc.
É oportuno salientar, segundo Tricart (1977) e Souza et al. (1994), a partir das
condições fitoecológicas, que se retrata melhor expressão do clima e de outros fatores
geoambientais e ecodinâmicos representados pelo relevo, solos, litologias e recursos
hídricos de superfície e subsuperfície. No caso do semi-árido, a principal resposta em
termos de domínios vegetacionais se expressa pelas caatingas e por suas áreas
indiferenciadas de contato com outros domínios geobotânicos.
As caatingas das depressões sertanejas são vegetações predominantes na bacia. A
etimologia da palavra caatinga, significa: caa, mata e tinga, clara. É uma designação Tupi-
guarani a essa formação vegetacional que domina os sertões. Para Major et al. (2004),
apresentam biodiversidade heterogênea, com flora e fauna ricas e encontram-se bastante
degradadaos. Em comparação com biomas semi-áridos que apresentam as mesmas
características climáticas e geográficas no mundo, possivelmente é o de maior
biodiversidade, além de ser único.
Com a combinação dos fatores geoambientais, os padrões fitogeográficos na bacia do
Acaraú, em termos de resposta ecomesológica à semi-áridez, com padrões complexos de
variações genéticas, fisionômicas e florísticas peculiares, ainda, expõem variações de
caatingas (hipoxerófitos, mais chuvosos, e hiperxerófilos, menos chuvosos). Na
compreensão de Fernandes (2002), isso ocorre com uma diversidade fitológica
correspondente às consequências climáticas elaboradoras das paisagens atuais.
208
Tais variações ocorrem mediante o contato litoestratigráfico entre os sedimentos da
formação barreiras - rochas dos terrenos cristalinos – sedimentos silurodenovianos da
Ibiapaba, chegando a se estabelecer de fato em meio aos sertões. Em maior dimensão,
capeiam terrenos cristalinos dos sertões com variações litológicas, edáficas,
mofopedológicas e drenagem intermitente, a par de um balanço drico deficiente, com
acentuadas deficiências hídricas, solos imaturos, ordinariamente revestidos por seixos ou
pavimentos detríticos.
No geral, as plantas têm aspectos morfofuncionais relativos às adaptações das
contingências climáticas. Entrementes, as variações florísticas e fisionômicas deste bioma
são conseqüentes da integração planta-clima-solo. Por exemplo, a fisionomia, a
envergadura das plantas, a freqüência e composição florística, até mesmo a caducifólia e a
requeima foliar estão a depender de fatores mesológicos, dentre os quais os principais são
as disponibilidades hídricas de superfície e subsuperfície da área.
O xerofilísmo da vegetação, segundo Fernandes (2002), apresenta elementos
florísticos que denotam uma morfologia, uma anatomia e um mecanismo fisiológico
adaptados a ambiente xérico. Realmente, a flora da caatinga ajusta-se
comportamentalmente a partir de mecanismos de natureza fisiológica, com manifestação
ecológica pouco visível. Do ponto de vista genético, os processos adaptativos tornaram a
flora compatível com as condições severas do ambiente e, segundo et al. (1994), têm
grande poder de resiliência. Todas desenvolvem um mecanismo de sobrevivência (morte
latente ou aparente), alterando sua morfofisionomia apática para se tornar verdejante logo
com as primeiras chuvas.
Semelhante ao que ocorre em desertos, a caatinga é rica em cactáceas arbóreas, com
folhas reduzidas a espinhos, como xique-xique (Cereus gounelli), facheiro (Philosocereus
piauhyensis) e mandacaru (Cerus jamacaru) e espécies Euphorbiaceae urticantes, como a
favela (Cnidoscolus phyllacanthys), cansanção (Cnidoscolus urens) e pinhão (Jathropa
curcas). Tais espécies estão no imaginário coletivo como as espécies mais características
das caatingas, porém ocorrem também espécies arbóreas e arbustivas, caducas na
estiagem, espinhentas densas ou abertas.
Assim, apresentam um padrão florístico diversificado por meio de espécies com
destacado valor biológico. A variedade fisionômica e florística são grandes ao ponto de
distinção entre variações de caatingas. Em primeira análise, a percepção inicial é de
uniformidade vegetacional, mas adentrando-se a vegetação, as diferenças vão se
pronunciando, em áreas mais e mais reduzidas. Infelizmente, entre os grandes biomas
nacionais, a caatinga nordestina ainda é um dos mais desconhecidos, emobra o
conhecimento dessa vegetação venha aumentado nos últimos anos (RONDAL, 2002).
A rigor, segundo Bernardes (1999), a variedade fisionômica e florística do conjunto
vegetacional da caatinga é tão grande que a forma apropriada de referenciar suas espécies
209
componentes seria chamá-las de as caatingas. Essas podem se diferenciar, no geral, a
partir de dois aspectos: freqüência de determinadas plantas e disposição e arranjo variáveis
no espaço dos indivíduos vegetacionais. Em linhas gerais, fitogeograficamente, são do tipo
hipoxerófila, mas, segundo Souza e Oliveira (2003), as variações de fisionomia, porte,
densidade, freqüência, estratificação ou composição associam-se à semi-aridez, bem como
a espessura, condições edafológicas e físico-química dos solos e a topografia, onde a
morfopedologia exibe extensivamente variações fisionômicas e florísticas das caatingas.
Indivíduos de caatinga arbórea, aqui e acolá, ocorrem isoladamente, caracterizando
um atavismo fitoecológico de tempos passados. Constitui-se, portanto, com testemunho de
um quadro geobotânico mais portentoso.
A bem da verdade, o porte arbóreo sobressai-se apenas em condições de moderada
semi-áridez e em solos com melhores condições edafológicas. Em situações mesológicas
mais limitativas, a feição de caatinga arbustiva densa ou aberta passa a vigorar. Para todo
caso em que a caatinga arbustiva densa é degradada, o padrão fisionômico de caatinga
arbustiva aberta torna-se comum (SOUZA, 2000), bem como outras espécies oportunistas.
Indivíduos mais bem desenvolvidos, todavia, são encontrados, geralmente, nas áreas
de exceção climática, formando enclaves de matas nas serras úmidas e subúmidas secas,
bem como nas matas ribeirinhas das planícies fluviais e em manchas aluviais. Em grande
parte, predominam espécies dotadas de sistemas de adaptação às condições retrocitadas.
É possível distinguir alguns conjuntos vegetacionais com fitocenose apresentando
sinúsias arbórea, arbustiva e herbácea, isto é, as três formas possíveis de estrato vegetal, a
saber:
A caatinga arbustiva (frutíceto estacional-caducifólio-xeromórfico) é o tipo mais
comum entre as diversidades de caatingas. Fisionomicamente mostra pequeno porte das
espécies que ainda são espassas ou fechadas. Ocupam áreas dos sertões de Nova
Russas/Ipueíras e Ipu/Pires Ferreira, no alto Acaraú, até os sertões do baixo Acaraú.
A caatinga arbórea ou alta (arboreto climático-estacional-caducifólio-
xeromórfico/espinhoso) reveste, sobretudo, as superfícies pediplanadas, chegando a
ascender nas serras e cristas residuais, bem como no planalto da Ibiapaba,
aproximadamente até a cota de 500m. Comumente é xerofílica, com indivíduos de porte
predominantemente arbóreo, distribuídas em condições semi-áridas moderadas, com solos
dotados de melhor fertilidade. Suas espécies são cada vez mais raras, em virtude de uma
relação conflituosa entre sociedade e natureza, sobretudo, segundo Souza et al. (1998), em
relação ao uso florestal como dendroenergia.
Dentre as principais espécies ocorrentes, na caatinga arbustiva como na arbórea,
citamos: angico (Piptadenia macrocarpa), pereiro (Aspidosperma pirifolium Mart.), aroreira
(Astronium urundeuva Engl.), Catingueira (Blutaparon portulacoides –St. Hil- News)
mandacaru (Cereus jamacaru DC.), catingueira (Caesalpinai pyramidalis) marmeleiro
210
(Croton sonderianus M. Arg.), Maria Preta (Cordia salzmanni DC), Algodão Mocó
(Gossypium sp.), Anil (Indigofera suffruticosa Mill.) etc.
A mata seca (Arboreto climático-estacional-caducifólio-mesomórfico/nãoespinhoso)
espacialmente ocupa as encostas altas das serras e cristas residuais, bem como parte do
front central da Ibiapaba, em cotas superiores a 500m. Tem distribuição espacial restrita aos
setores mais úmidos, formando um ecótono, arcando as áreas mais secas e as mais úmidas.
Por uma caracterização de natureza mesomórfica, sua flora é inconfundível e suas espécies
mais características nunca ocorrem na caatinga arbórea (FERNANDES, 2000).
Destarte, como que um alento às condições de palidez das caatingas secas, ocorrem
áreas de exceção onde a vegetação se apresenta verdejante o ano todo. Em grande parte,
correspondem a espaços rurais úmido, subúmido e alguns semi-áridos, apresentando
aspectos ecológicos e/ou agroecológicos privilegiados, marcados nos elevados potenciais
dos agroecossistemas (sistemas agrários), sobretudo no aproveitamento policultor
diversificado, que pode ser real ou potencial. Isso refere às áreas serranas com seus brejos,
areias, faixas de transição; áreas de fundos de vales: colúvios, perímetros irrigados,
margens ribeirinhas, faixa de periferia das represas; e as áreas de chapadas (NETTO et al.
1992).
No momento, cabe considerar os enclaves de matas úmidas que concentram o
arboreto climático perenifólio ou floresta pluvial, porque na bacia em voga representam as
maiores dimensões de exceção vegetacional em meio à semi-aridez. Ocorrem nas serras
úmidas (vertentes a barlavento e platôs) e no planalto sedimentar da Ibiapaba, comumente,
a partir da cota de 600m. As chuvas orográficas são favorecedoras do desenvolvimento
dessa vegetação, com composição florística de árvores com até 30m, onde algumas
espécies conservam de 75% a 100% das folhas anualmente.
espécies ecologicamente ajustadas ao ambiente com maior pluviometria e
nebulosidade. Apresentam comunidades perenifólias e subperenifólias, representando
fisionomia de clímax biogeográfico. Ocorrem, ainda, quens, musgos e lianas como sub-
bosque. Sobressaem as espécies maçaranduba (Manilikara rufula), pau-d’arco (Tatebuia
serratifolia), barriguda (Bombax cearensis), mororó (Bauhinia cheilanta Stend), frei jorge
(Cordia trichotoma), dentre outras.
Em razão de sua fragilidade ambiental, a vegetação de dunas, dos mangues e das
planícies fluvais são áreas de preservação permanente (APP’s), assim como são as matas
úmidas - por estarem em declividade superior a 45%.
Com destaque à desertificação, o quadro geobotânico é o mais interessante de ser
analisado em razão da alta vulnerabilidade e baixa sustentabilidade ambiental. Com efeito,
concorrendo para melhor análise das questões ora conferidas, as caatingas em perspectiva
macro-escalar, são consideradas como Domínio Morfoclimático Semi-áridos e Província
211
Fitoecológica do Brasil, conforme idealizado e atualizado por Ab’Saber (1974 e 2003) e
reconsiderados, por diversos outros trabalhos, como por Bigarella et al. (1994).
Na realidade, tal proposta corresponde, em linhas gerais, ao conceito de bioma
empregado pelos geógrafos norte-americanos (JATOBÁ, 2001). Este domínio, a despeito
dos demais, foi estabelecido a partir da reunião de fatores diversos, como vegetação, clima,
relevo e solos.
O domínio em destaque, assim como os demais, apresenta uma área nuclear,
ecossistemicamente mais homogênea. Entre o mesmo marginalmente ecótonos que
mostram vis-à-vis às características dos biomas adjacentes, bastante vulneráveis à
desertificação, como apregoa Ab’Saber (1977b).
Foge ao objetivo deste trabalho uma caracterização exaustiva do domínio
morfoclimático das caatingas semi-áridas, ao tempo que uma sinopse sobre seus reflexos
na bacia em estudo se apresenta a contento no Quadro 25, que levou em consideração
pressupostos discutidos no capítulo 3. Isto porque, a vegetação influencia nos sistemas
morfoclimáticos e, por isto no sistema de erosão. O balanço morfogênese e pedogênese
ajuda a compor a dinâmica bioecológica, à medida que as interferências humanas, ao
degradar os solos e a vegetação, acionam e/ou potencializam os efeitos epígenos e a
resistasia, sobretudo, nas porções mais secas do território, favorecendo a instabilidade
ecodinâmica e a desertificação.
Como visto sobre o estado de conservação, especialmente neste domínio, uma
redução de habitas (efeito de área) que pode influenciar negativamente as comunidades,
provocando declínio na reprodução e, mesmo, extinção de fitodiversidade nas caatingas.
Assim, estamos ciente de que o estado de conservação da vegetação afeta o meio
ambiente como o todo, e em particular as atividades produtivas e a própria biodiversidade.
Em face do exposto, o conhecimento dos principais aspectos da biodiverdade é
indispensável ao planejamento geoambiental da área, para manutenção dos recursos
naturais e melhoria de suas condições socioambientais, ante a desertificação.
Proporcional às diversificadas funções da vegetação, a fauna da bacia também é
diversificada. Conforme o grau de degradação ambiental, a existência de animais é cada
vez mais rarefeita. A observação da biodiversidade serve de bioindicação da qualidade
ambiental, porque a fauna mantém uma relação de sobrevivência com a flora, dela retirando
a alimentação e ao mesmo tempo auxiliando no seu desenvolvimento e manutenção. Se a
flora está degradada, a fauna está afetada! Para a Ab’Saber (1977b), a fauna do Nordeste
semi-árido é basicametne parte da grande diagonal de formações abertas da América do
Sul, que inclui desde o Chaco até os cerrados do Brasil central. Saliente-se que a riqueza da
família das plantas às vezes serve como predição da taxa da riqueza de espécies da fauna.
Pode-se dizer que a biodiversidade vegetal, a produção em biomassa e os mananciais são
responsáveis pela riqueza faunística.
212
Quadro 25 - Características morfoclimáticas do Domínio das caatingas semi-áridas
Principais aspectos do Domínio Morfoclimático das Caatingas
- influências diretas e indiretas exercidas pelas condições climáticas atuais e pretéritas; conjugação da vegetação,
termo-pluviometria, relevo e formações superficiais.
- Extensão da ordem de 30.445.7 mil km², dos 850 mil km² do domínio regional ou 1,2% do total, com clima semi-
árido do tipo megatérmico e uma vegetação predominantemente xerófila (caatinga);
- As depressões semi-áridas dão o tom deste domínio, enquato baixadas de clima seco, extensas e onduladas,
com inselbergs e cristas residuais, sendo que de quando em quando, se pronunciam vales e canais fluviais.
- A unidade de paisagem que se destaca, em termos de região natural, é a depressão sertaneja, enquanto área
interplanáltica semi-árida no bojo da sub-compartimentação geomorfológica, com precipitações médias mensais
em 30 anos de 1029,5 mm. Trata-se de área deprimida e arrasada por erosão diferencial, correspondendo a
superfícies de erosão que se desenvolveu principalmente sobre rochas cristalinas, cristalofilianas e,
eventualmente, sedimentares.
- Evidências de pediplanos neogênicos, como também de intemperismo mecânico pronunciado desde os períodos
de afeiçoamento dos pediplanos. Há resquícios de pavimentos detríticos.
- A presença de inselbergs e a drenagem é intermitente sazonal.
Síntese dos processos morfogênéticos ou Sistema de Erosão
Processos areolares/trabalhamento dos interflúvios
Processos lineares/Esculturação de vales
Intemperismo físico predominante sobre o químico,
conseqüente das severidades climáticas e derivações
termo-pluviométricas, sendo comprovado pelas formas
erosivas, como nos afloramentos conseqüentes da
erosão diferencial (efeitos exógenos) que atuou sobre
rochas quatzíticas.
Exigüidade dos recursos hídricos, com efemeridade dos
rios e riachos, logo, pouca competência para incisão;
drenagem com padrão dentrítico preferencialmente nas
áreas do embasamento cristalino.
Pedogênese semi-árida com formação de solos
rasos .ou esqueléticos
Sedimentos fluviais mal trabalhados, por isso
grosseiros, que matem os níveis de terraços fluviais.
Apresenta afloramentos rochosos e chãos pedregosos Vales usualmente bem encaixados em forma de “V”,
embora, geralmente, rasos.
Agressividade no escoamento superficial, quer seja
difuso, quer seja em lençol, provocando o surgimentos
de caneluras, sulcos de erosão, ravinamentos,
voçoraca e torrentes.
Espraiamento de extensas planícies fluviais nos baixos
cursos d’água, sobretudo, nas regiões potamares.
Predominância de morfogênese mecânica na
elaboração de superfícies de erosão, provocando
pedimentos que coalescem para formarem pediplanos.
Os efeitos morfodinâmicos por meio de ações
hidráulicas propiciam a corrasão, atrição, transporte e
acumulação em setores agradacionais.
Resultantes morfoclimáticos com destaque a geomorfologia
Superfícies aplainadas, apresentando feições de cristas e lombadas, relevo dissecado e suavemente ondulado.
Elaborado por: Flávio R. do Nascimento
Assim como a flora, a fauna também passou por adaptações na superação da
escassez alimentícia, por falta periódica ou prolongada de chuvas. A avifauna, por exemplo,
adaptou-se para consumir os alimentos locais disponíveis, como sementes, frutos e
artrópodes. Quando estes alimentos se tornam escassos, sazonalmente os animais podem
migrar para os enclaves úmidos (MAJOR, et a., 2004).
As diversas maneiras de degradação ambiental. Estes fatores, no contexto das
conseqüências que a problemática da desertificação traria para a fauna seriam várias. A
começar pela escassez de alimentos, desequilíbrios na cadeia alimentar, aumento da
competição, migração de espécies, multiplicação de pestes e epidemias, além da extinção
de espécies, eventualmente poderiam caracterizar um eventual caos ambiental.
Em caráter universal, a conservação da biodiversidade (patrimônio público) é de
responsabilidade humana. A fauna tem função polinizadora, insetívora e “germinadora” em
face de reciclagem de matéria orgânica e constância dos fluxos biogeoquímicos que
garantem a sustentabilidade da vida, pois compreendem estádios da dinâmica de matéria,
energia e informação no interior das cadeias tróficas.
213
Especialmente nas caatingas nordestinas, hoje é sabido que espécies endêmicas e
que representam um patrimônio biológico de valor incalculável. Segundo o PROBIO (2004),
932 espécies vegetais foram catalogadas, somadas a 148 espécies de mamíferos, 348 de
aves, 107 de répteis e 47 de anfíbios. Entre espécies de aves endêmicas ou não, Major et al.
(2004) catalogaram 242 espécies. Considerando que a diminuição da biodiversidade pode
estar associada à desertificação, em virtude da redução da capacidade bioprodutiva do
ambiente (HERE 1992, CEARÁ, 1994, RUBIO e BOCHET, 1998; MMA 1998 e 2003,
PERNAMBUCO 2001, BRASIL, 2004a,c, CAVALCANTI 2003, NASCIMENTO et al. 2004,
etc.), alguns elementos sobre a fauna da bacia foram colocados. Destacamos a ictiofauna, a
avifauna, os mamíferos e répteis.
Convém assinalar os animais domesticados, que, embora estejam fora de seus
habitats primitivos, influem modestamente nos ecossistemas, como alguns peixes, aves e
eqüinos. No caso do jumento, asinino comum na região, ao que parece, como animal de
transporte de cargas e de pessoas está para os sertões assim como o lhama está para os
Andes, o carneiro para o Tibé, os cães para os índios americanos ou os camelos e os
dromedários para os desertos secos.
A ictiofauna se distribui conforme oscilações da cunha salina, relacionadas com as
marés e os períodos de chuvas ou de seca. Sobressaem as espécies peixe-galo (Vomer
setapinnis), camurim (Centropomus ensiferu). bagre (Tachysurus sp), lanceta (Opisthonema
spp), sardinha (Acanthurus bahianus), dourado (Coryphaena hippurus) etc.
Avifauna é forte indicador de degradação ambiental. É composta por espécies
migratórias e permanentes, com indivídos arbícolps, granívoros, nectarívoros e insetívoros.
Dentre as transitórias, que se fixam na região, encontram-se: martim-pescador (Ceryle
torquata), garça-branca-grande (Casmerodisu albus), pernilongo (Himantopus himantopu),
maçarico-solitário (Tringa solitaria) e tetéu (Vanelus chilensis). Dentre aves locais mais
comumente encontradas estão rolinha-da-praia (Columbina talpacoti), anum preto
(Crotophaga ani), viuvinha (Fluvicola nengeta), gavião-do-mangue (Mivalgo chimachima),
periquito-do-sertão (Aratinga cactorum Spix), galo-de-campina (Gallinago undulata), bem-te-
vi (Pitangus sulphuratus), asa-branca (Busarellus nigricollis), avaonte ou arribaçã (Zenaida
auriculata), gavião (Gyalophylax hellmayri), carcará (Poyborus plancus), seriema
(Tachyphonus critatus), corujas (Otus choliba decussatus, Rhinoptynx clamator, Glaucidium
brasiliannum, Tyto alba), beija-flores (Chlorostilbon aureoventris, Chrysolampis mosquitus,
Amazilia fimbraita, Phaethornis pretrei, Phaethornis gounellei, Amazilia leucogaster), dentre
outros.
No estuário, conforme o habitat de localização, identificamos alguns grupos distintos
de crustáceos que são apreciados na dieta humana. Os camarões (Pennaeus schmittii,
Macrobrachium acanthurus e Macrobachium sp.), inclusive com criação em cativeiro, e siris
(Callinectes affinis, Callinectes danae e Callinectes bocurte) estão nas camboas dos
214
manguezais, além de cultivo em cativeiro (Litopenaeus vannamei). Os caranguejos ocupam
o substrato, raízes e copas das árvores do mangue, onde os aratus (Goniopsis cruentata e
Aratus pisonis), cicié (Uca lepdactila, Uca rapax, Uca thayeri e Uca maracoani) e guaiamum
(Cardisoma guanhumi) são comuns.
Entre as mais significativas espécies de répteis, estão as de cobras: cobra-preta
(Cleria sp.), jibóia (Boa Constrictor), cobra-verde (Philodryas sp.), papa-ovos (Chironius
carinatus), cobra-coral (Micrurus ibiboca) e jararaca (Bothrops erythomelas). Em relação aos
lagartos, citam-se: camaleão (Iguana iguana), teju (Tupinambis teguixim) e tijibu (Iguana
iguana).
Os mamíferos têm valor cinergético para aproveitamento de sua carne ou pele, evitar
ataques de rebanhos, ou mesmo procurados por “desportistas” (!) ficando cada vez mais
raros. Ainda podem ser encontrados: a raposa (Cardocyon sp), o guaxinim (Procyon
cancrivorus cancrivorus), o sagüi ou soím (Callitrix jacchus), preá (Cavea aperea) e os cada
vez mais raros tatu-peba (Eupharactus sexcintus), veado (Mazama americana) e gato
maracajá (Leopardus wiedii). Ainda que surpreendentemente, em trabalho de campo, foi
registrada possivel pegada de onça parda, sussuarana (Felis concolor) na bica de Pires
Ferreira, sopé dos contra-fortes da Ibiapaba. Mamífero de topo da cadeia trófica na bacia, a
onça, em conjunto com outros mamíferos, aves e répteis, somam cerca de 17 espécies
encontradas na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
(Portaria IBAMA n° 1522, 19/12/89).
Enfim na Figura 16, motramos aspectos relacionados aos diversos ambientes
biofísiocs da bacia do rio Acaraú.
4.6 – SISTEMAS AMBIENTAIS E ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
Para Nascimento (2003), apenas por meio da formulação de políticas de uso do solo,
coerentes com a capacidade do ambiente em produzir bens e serviços ambientais, poder-se-á
atingir um padrão de sustentabilidade aceitável para as diversas classes sociais, da geração
atual e futura. Nesta busca, a identificação das condições naturais fornece indicações aos tipos
viáveis de uso e ocupação da terra e exploração dos recursos naturais, proporcionais ao balanço
entre ofertas e limitações dos recursos naturais, sobretudo os renováveis.
As limitações estão relacionadas aos fatores que comprometem o desenvolvimento das
atividades socioeconômicas, que podem levar a ultrapassar a capacidade de suporte dos
recursos naturais sob mudanças físicas, químicas, biológicas e/ou socioeconômicas. Estão,
ainda, relacionadas a legislação ambiental e são identificadas conforme a vulnerabilidade,
deficiências de potencial produtivo e estado de conservação ambiental. Isto pode acentuar as
condições de instabilidades ecodinâmicas, diminuindo a sustentabildade geoambiental.
215
Figura 16 – Aspectos biofísicos da bacia do rio Acaraú
Vista aérea da planície litorânea do rio Acaraú
Platô da serra das Matas (1.118 m) e depressão
sertaneja ao fundo. Tamboril.
Sertões de Santa Quitéria e Serra do Machado
Tabuleiros pré
-
litorâneos em argissolos.
Município de Marco
Sertões de Ipu/Pires Ferreira e Planalto da Ibiapaba
Front
da Cuesta da Ibiapaba exibindo cornija
arenítica
216
Neste esquema, um possível ambiente em condições de estabilidade dominância da
pedogênese sobre a morfogênese – pode mudar para um ambiente fortemente instável com
mudança do sistema morfogenético. Por isso e em função da degradação da cobertura
vegetal, todos os demais recursos naturais são afetados e os solos podem ser fortemente
impactados ou destruídos, como na Ibiapaba e tabuleiros.
Por seu turno, as ofertas ou potencialidades das unidades identificadas e
compartimentadas relacionam-se às formas de usos/ocupações que os geoambientais
suportam. Foram inventariadas de acordo com os usos compatíveis à capacidade de
suporte, no que se refere ao uso sustentável em face da desertificação. Mostram as
exeqüibilidades que podem ser praticadas para o desenvolvimento de atividades ou de infra-
estruturas.
Nesta égide, o enquadramento das unidades de paisagens em categorias
ecodinâmicas propicia detectar o grau de vulnerabilidade do ambiente e sua
sustentabilidade futura, tendencial e requerida, posto que, cada categoria do meio está
atrelada ao comportamento e à vulnerabilidade geoambiental em razão dos processos
degradacionais.
A compartimentação geoambiental retrata a distribuição geográfica dos sistemas
ambientais naturais oriundos da relação entre o potencial ecológico e a exploração biológica.
Assim, para o reconhecimento da dinâmica geoambiental da bacia hidrográfica do rio
Acaraú, essa compartimentação representa um passo indispensável para enfatizar a
perspectiva de integração e delimitação dos espaços territoriais modificados, ou não, pelos
fatores econômicos e sociais.
Por meio da característica analítica e de sensores remotos desses elementos, foi
possível melhor representar os limites para definição das unidades geoambientais que
ajudam a compor a caracterização do ambiente biofísico. Portanto, o que mais importou na
compartimentação geoambiental foi o mapeamento desses atributos, em escala compatível
com as condições socioeconômicas, isto é, os geossistemas e os geofácies.
Com efeito, a hierarquização das unidades geoambientais na bacia em foco, seguiram
a ordem de grandeza areal de Bertrand (1968), da maior unidade para a menor, nesta
seqüência: região natural, geossistema e geofácie. A compartimentação geoambiental
mostra o agrupamento das unidades geoambientais, a partir da análise das variáveis
biofísicas analisadas e das relações mútuas entre elas. As unidades de paisagem somam
14.560,01 km² e representam a dimensão total da bacia do rio Acaraú.
Neste contexto, observa-se a evidente primazia espacial (10.445,7 km²) e o maior
número de subunidades de paisagens (7 geofácies) da Região Natural dos Sertões,
correspondendo a 71,7% de toda área da bacia. Seus geofácies componentes, isto é, os
subsistemas são: sertões de Nova Russas/Ipueiras (2.285km²/15,6%), de Santa Quitéria
(3.053,7km²/20.9%), do rio Groaíras (2.129,6km²/14,6%), de Sobral/Forquilha/Massapê
217
(1.225km²/8,4%), do baixo Acaraú (103,3km²/0,7%), do rio Jaibaras (729,1km²/5,0%) e de
Ipu/Pires Ferreira (920/6²,2%). Ao tempo que a menor unidade de paisagem está por conta
da Planície Litorânea com 36,80km², 0,26% da bacia, embora compreenda as praias, dunas
e planície fluviomarinha. As serras ocupam 2.133,9km² (14,70%) e são compostas pelos
geofácies: Platô da Serra das Matas (77,7km²/0,53%), Vertentes da Serra das Matas
(702,8km²/4,8%), Vertente Ocidental da Serra do Machado (669,7km²/4,59%), Serra da
Meruoca (344,8km²/2,3%), Cristas Residuais e Inselbergs (338,9km²/2,3%). Os Tabuleiros
Pré-Litorâneos representam 968,2 km² ou 6,64% da bacia. O Planalto da Ibiapaba,
especialmente, seu front central ocupa 524,4km² (3,6%). E os vales perfazem 451,2km² ou
3,10% do território.
As características geoambientais associadas à ecodinâmica ajudam a evidenciar as
conexões e dinâmicas ambientais. Desta maneira, com o cruzamento dessas informações,
são arbitradas as características dos principais atributos ambientais, para que se tratasse da
capacidade de suporte dos recursos como enquanto subsídio para o zoneamento ecológico-
econômico.
O zoneamento serve no combate à desertificação e mitigação aos efeitos das secas,
como base aos governos, como elemento orientador para as ações do setor privado e das
parcerias entre os agentes sociais e econômicos, públicos e privados (BRASIL, 2004c). Com
este pensamento, propondo usos e manejos compatíveis com as ofertas dos recursos
naturais, foram estabelecidas zonas para guiar o zoneamento ecológico-econômico
proposto:
a) Zona de Proteção ambiertal - compreende uso, ocupação e acesso restrito para
conservação da biodiversidade, do solo, da água e dinâmica ambiental, bem como para
controle de áreas críticas. Detém ambientes instáveis muito vulneráveis ao uso e ocupação
portanto, com sustentabilidade baixa -, e imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio
ambiental; incluídos ecossistemas que, ao lado de grande número de funções, mostram
produtividade bioecológica e fornecimento de produtos e serviços às sociedades humanas.
b) Zona de recuperação ambiental - compreende unidades de uso restrito para a
conservação e recuperação da capacidade produtiva e vulnerabilidade ambiental. Apresenta
compreendem ambientes de transição que podem tender a meios instáveis, devido às
condições geoecológicas e ao uso e ocupação atual. Basta lembrar a retirada desordenada
da coberta vegetal, cuja conseqüência é uma dinâmica regressiva, como a erosão dos solos.
É aconselhável o desenvolvimento de atividades socioeconômicas sob restrições legais, de
modo a não colocar em risco o equilíbrio ambiental.
c) Zona de uso sustentável - apresenta unidades de uso controlado para combate
àos efeitos das secas e desertificação, que devem ser privadas de determinados tipos de
usos que causam desequilíbrios e paroxismos, a fim de evidenciar ou potencializar
218
características dos meios fortemente instáveis com dinâmica regressiva e esgotamento das
potencialidades dos recursos naturais que conduzam à desertificação.
d) Zona de proteção paisagística - abarca unidades de uso e acesso livre sob
preceitos conservacionistas, pois resguardam meios de transição com tendência à
instabilidade em função da expansão urbana, desmatamento e contaminação química e
ordenamento das atividades produtivas. Além da legislação pertinente para algumas áreas,
devem ser seguidas diretrizes de uso e ocupação, preferencialmente seguindo orientações
do Comitê da Bacia do Acaraú.
O conjunto geoambiental foi esquematizado pelos perfis transversais e longitudinais
representados na Figura 17. A seção A B representa um corte suoeste-noroeste; e o
trecho C-D, um corte norte-sul.
Os Quadros 26 e 27 mostram, respectivamente, a sinopse dos atributos naturais dos
geoambientes com a ecodinâmica das paisagens e a capacidade-suporte vinculada a
problemas de ocupação do território.
A proposta de zoneamento e a ecodinâmica das paisagens para as unidades
compartimentadas, contudo, estão esboçadas na Figura 18. Temos, então, as bases para
indicação das condições potenciais ou limitativas, quanto às possibilidades de uso dos
recursos naturais e das reservas ambientais, em face da problemática da desertificação.
219
Figura 17 – Perfis transversal e longitudinal da bacia do rio Acaraú
A
Rio
Rio
Rio
1
2
3
4
Rio Acaraú
Rio
Rio
3
2
Regiões Naturais:
1 – Ibiapaba
2 – Sertões de Ipu - Pires Ferreira
3 – Sertões do rio Jaibaras
4 – Sertões do rio Groaíras
1.1
Ibi
2 GEOSSI
STEMAS
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
DA VEGETAÇÃO
3 ASSOCIAÇÃO DE SOLOS
1 – Planície litorânea Conservada à fortemente
degradada
Neossolos quartzarênicos + planossolos + gleissolo sálico
+ neossolo flúvico
2 – Maciços e cristas
residuais
Parcialmente degradada à
exibição de solo exposto
Argilosos vermelho/amarelados eutróficos + nosolos litólicos
+ afloramentos rochoso
3 – Tabuleiros costeiros Degradada a solo exposto Argissolos vermelho-amarelos (álico/distrófico), neossolos
quartzarênicos, argissolos acinzentados álicos,
planossolos + latossolos
4 – Sertões do rio Groaíras Degradada a solo exposto Argissolos eutróficos e álicos/distróficos + afloramentos rochosos
+ neossolos litólicos + neossolos quatzarênicos + latossolos
5 – Sertões de Sobral,
Forquilha e Massapê
Degradada a solo exposto Argissolos eutróficos e álicos/distróficos + afloramentos rochosos
+ neossolos litólicos + neossolos quatzarênicos + latossolos
6 – Sertões de Santa Quitéria Degradada a solo exposto Argissolos eutróficos e álicos/distróficos + afloramentos rochosos
+ Neossolos litólicos + neossolos quatzarênicos + latossolos
7
Sertões de Nova Russas
Degradada a solo exposto
Argissolos eutróficos e álicos/distró
ficos + afloramentos rochosos
D
Rio
Sobr
7
1
2
2
4
5
2
5
6
2
3
C
5
3
5
2
6
7
Rio
Sobral
4
Quadro 26 – Caracterização dos atributos geoambientais da Bacia do rio Acaraú
Região
Natural
Geossistema Geofácie
Litologia, geomorfologia topografia e
declividade
Recursos hídricos Solos, vegetação e ocupação Ecodinâmica
Litoral
Planície litorânea
Faixa praial, terraço marinho
e campo de dunas. Planície
fluviomarinha.
Sedimentos do Quaternário. Faixa de acumulação
marinha sob influência das marés. Deposição de
sedimentos, ricos em matéria orgânica, pela ação
eólica, fluvial e das marés na planície
fluviomarinha. 0-30m, 0 45%, relevo plano a
ondulado.
As praias e dunas são feições com
escoamento difuso e terrenos
permoporosos. Recebem influência
da maré, principalmente a planície
fluviomarinha. Muito bom potencial
hidrogeológico nos campos de dunas
Neossolos quartzarênicos (vegetação de
praias e dunas); gleissolos sálicos
(manguezais). Segundas residências,
hotéis, turismo/lazer, residências,
carcinicultura, fruticultura, loteamentos.
Agroextrativimos.
Meios de transição sob equilíbrio
ambiental. Nas áreas degradadas
meios instáveis a fortemente
instáveis. Nas porções mais
conservadas o meio é estável.
Vales
Planície fluvial
Planície do rio Acaraú,
Groaíras, Macacos, Jaibaras,
Jacurutú, Jatobá e outros
tributários
Sedimentos de neoformação do Quaternário;
Planícies de acumulação aluvial. 0 (relevo plano a
suave ondulado) a > de 75%, (relevo montanhoso a
escarpado) *.
Drenagem densa e de fraco
gradiente fluvial. Potencial
hidrogeológico explotável.
Neossolos flúvicos, neossolos regolíticos e
planossolos capeados por mata ciliar c/
predominância florística da carnaúba. A
conservação vegetacional é imprescindível
p/ o equilíbrio ambiental. Pesca, agro-
extrativismo, mineração, usos dos recursos
hídricos e das áreas inundáveis.
Represamentos e açudagens.
Meios de transição que tendem a
instabilidade em função da
degradação ambiental. E com
tendência a estabilidade, nas
porções mais ermas do território.
Sustentabilidade e vulnerabilidade
moderadas.
Tabuleiros
Tabuleiros pré-litorâneos
Tabuleiros pré-litorâneos e
interiores areno-argilosos
Sedimentos areno-argilosos plio-pleistocênicos
inconsolidados da Formação Barreiras; Interflúvios
tabulares entre o rio Acaraú e principais tributários,
com leve inclinação para o mar. 20-90m, 0-8%,
relevo plano a suave ondulado. Fácies interiores
são coluviais-eluviais, formando interflúvios nos
sertões, na Bacia do rio Jaibaras e tributários.
Escoamento lento e intermitente,
padrão paralelo. Aqüitardos.
Neossolos quartzarênicos, argissolos
vermelho-amarelos e neossolos regolíticos,
recobertos por mata de tabuleiro de
moderada a altamente degrada pelo uso
atual. Expansão urbana e industrial, sítios e
chácaras, agro-extrativismo.
Meios de transição tendendo a
estabilidade em áreas com
ecodinâmica progressiva.
Serras altas e
baixas cristas
Maciços residuais das
serras das Matas,
Meruoca, Machado,
Mucuripe outras
Platô da serra das Matas
Vertentes da serra das Matas
Vertente Ocidental da Serra
do Machado
Serra da Meruoca
cristas residuais e inselbergs
Litotipos variegados do complexo cristalino, Pré-
Cambriano, deformados por tectonismo e
conseqüentes de erosão diferencial. Formam
superfícies serrana s ou encostas à barlavento ou
sotavento, dissecadas em feições de cristas,
colinas, lombadas, morros e esporões,
entrecortadas por vales abertos (“U”) ou bem
encaixados (“V”). 400-1100m;
45% a > de 75%, relevo montanhoso a escarpado.
Nascentes de rios e riachos, com
águas acumuladas em superfície nos
alvéolos. Potencial hidrogeológico
utilizável atual reduzido a fissuras
Argissolo Vermelho Amarelo, Neossolos
litólicos, Luvissolos capeados por caatinga
arbustiva-arbórea, matas de exceção e
vegetação rupestre. Mineração, agro-
extrativismo, sitos, ocupação urbana.
Meios de transição tendendo a
instabilidade, de moderada a baixa
sustentabilidade e alta
vulnerabilidade, com dinâmica
regressiva intensificando-se em
função do desmatamento e
ablação de solos.
Planalto
Sedimentar
Planalto da Ibiapaba
“Front” Central do Planalto da
Ibiapaba:
Formação Serra Grande, Siluro-Devoniano,
composta por arenitos grosseiros, conglomeráticos,
siltitos e folhelhos. Estratificação cruzada. Relevo
de cuesta, em parte, coincidente com a estrutura
subhorizontalizada, limitada por escarpas
estruturais erosivas, festonadas e dissecadas em
cristas, colinas esporões e meseta. 750m, 45% a >
de 75%, relevo montanhoso a escarpado.
Escoamento superficial no reverso
com rios de padrões paralelos e
escoamento semi-perene a
intermintente, rios conseqüentes e
inseq6uentes formam cascatas e/ou
cachoeiras que originam ou
alimentam rios e riachos.
Latossolos, afloramentos rochosos,
neossolos litólicos e argissolo eutrófico.
Ocupação urbana, exploração de água
mineral, agroextrativismo, turismo e lazer.
Meio estável, porém locais com
ecodinâmica regressiva por conta
da degradação, tendendo a
instabilidade.
Sertões
Semi-Áridos
Nordestinos
Sertões da Depressão
Periférica da Ibiapaba e
do Centro-Norte do
Ceará
Sertões de Nova
Russa/Ipueiras; Sertões de
Santa Quitéria, Sertões do rio
Groaíras, Sertões de
Sobral/Forquilha/Massapé;
Sertões do baixo Acaraú,
Sertões do rio Jaibaras e
Sertões de Ipu/Pires Ferreira
Rochas pré-cambrianas, cristalinas variadas,
predominantes do Complexo Nordestino; suítes
magmáticas deformadas por diastrofísmo e
truncadas por superfícies de erosão, aplainamento,
pediplanação.
130m-400m; 3%-20%, relevo plano a fortemente
ondulado
Escoamento superficial com rios de
padrões dendríticos retangulares e
escoamento periodicamente
Intermintente.
Luvissolos, neossolos flúvicos, planossolos,
Neossolo Regolítico, Neossolos Litólicos.
São recobertos por caatingas. Ocupação
urbana-industrial.
Agroextrativismo,mineração, uso das áreas
de inundações sazonais.
Meios instáveis à fortemente
instáveis (dissecados) e de
transição (aplainados) com
tendência à instabilidade nos
sertões de Santa Quitéria.
Nas áreas mais conservadas estão
os meios de transição, como nos
sertões de Ipu/Pires Ferreira.
*considerando que os vales entrecortam as demais unidades geoambientais
Quadro 27 – Capacidade de suporte, problemas ambientais e diretrizes de ocupação dos sistemas ambientais em face da desertificação
Geossistemas Características naturais dominantes Potencial geoambiental e limitações de uso dos
recursos naturais
Mudanças ambientais e riscos de ocupação Cenário Tendencial Zonas propostas conforme
uso compatível e
sustentabilidade ambiental
Planície
litorânea
Faixas de praias com larguras variadas e campos de
dunas móveis, fixas e paleodunas. Áreas complexas,
periódica e permanentemente inundáveis, com
sedimentos mal selecionados e ricos em matéria
orgânica de origem continental e acréscimos marinhos;
gleissolos revestidos por manguezais parcialmente
degradados.
Interface com o mar; beleza cênica, balneabilidade, (eco)
turismo, abrigo de embarcações, pesca e maricultura;
patrimônio paisagístico; extrativismo sustentável; ed.
ambiental, pesquisa científica e proteção compulsória;
restrições legais; complexa biodiversidade; potencial
hidrogeológico. Porem, alta fragilidade ambiental, solos
salinos e ácidos, restrições à ocupação.
Diminuição da produtividade psícola e da
biodiversidade em função da degradação dos
manguezais; contaminação dos recursos hídricos;
aterramentos e instalação degradadora de
carcinicultura. Especulação imobiliária e degradação
ambiental; ocupação de APP’s.
Degradação generalizada, mudanças
microclimáticas e do ciclo hidrológico;
contaminação dos recursos hídricos;
redução significativa da pesca,
maricultura e outras atividades
produtivas, como o ecoturismo.
Zona de proteção ambiental
para conservação da
biodiversidade, do solo, da
água e dinâmica litorânea, bem
como para controle de áreas
críticas. Especificamente uso
controlado nas praias e restrito
nas dunas para manutenção
de sustentabilidade moderada
a alta.
Planície fluvial
Áreas planas resultantes de acumulação fluvial, sujeitas
a inundações periódicas, com neossolos flúvicos
revestidos por mata ciliar degradada e com ocupação
agrícola extensiva, inclusive com perímetros irrigados
como o Araras Norte e Baixo Acaraú.
Potenciais edafoclimático e topográfico aproveitáveis
para as atividades agropecuárias e agroextrativismo da
carnaúba; potencial explotável dos recursos hídricos
superficiais e subterrâneos; patrimônio paisagístico;
pesca artesanal; favorece o ecoturismo e educação
ambiental. Apresentam problemas de salinização e de
drenagem; limitações à ocupação devido às enchentes
eventuais e poluição hídrica.
Degradação da mata ciliar; poluição dos solos e dos
recursos hídricos; barramentos indevidos;
salinização e sodicidade dos solos e das águas;
mineração ordinária descontrolada; contaminação
hídrica pela carência de saneamento e uso
indiscriminado de agroquímicos; ampliação de áreas
inundáveis e de risco.
Aumento da degradação das matas
ciliares e das de interflúvios, associado
erosão e assoreamento dos leitos
fluviais agravando problemas das
cheias; comprometimento da qualidade
e quantidade das águas; aumento da
demanda por recursos hídricos;
concentração de moradias ribeirinhas;
intensificação da mineração ordinária,
intensificando a desertificação.
Zona de uso sustentável para
combate aos efeitos das secas
e da desertificação.
Tabuleiros
Superfície com caimento topográfico suave na direção da
linha de costa, com drenagem de padrão paralelo, rios
intermitentes sazonais, neossolos quartzarênicos,
plintossolos e argissolos revestidos por vegetação de
tabuleiros, descaracterizada pelo uso agrícola, pecuária e
agroextrativismo.
Silvicultura, reflorestamento, agropecuária; instalação
urbana, viária e industrial; potencial hidrogeológico
aproveitável; solos de pouco a moderadamente
vulnerável à erosão, passíveis de lixiviação; diminuição
da oferta hídrica na estiagem irregularidades
pluviométricas.
Salinização e sodicidade dos solos e das águas pela
agricultura irrigada; instalação indiscriminada de
lixões.
Degradação dos solos e das águas;
aumento do desmatamento e expansão
urbana não controlada; aumento dos
problemas de saneamento.
Zona de proteção paisagística
para uso/ocupação sob
preceitos conservacionistas
Maciços
residuais
Platô das matas: relevos com declividades mais suaves
no platô da serra que juntamente com a vertente norte-
oriental era ocupada por matas úmidas revestindo
Argissolos espessos;
Vertente ocidental da Serra do Rosário fortemente
degradada com freqüência acentuada de encostas
rochosas e exposição de matacões.
Cristas residuais com fortes declives nas encostas e
topos aguçados associados a morros isolados em rochas
do embasamento cristalino, com solos rasos ou
afloramentos rochosos revestidos por vegetação
rupestre.
Vertente da s. do Machado: Relevos dissecados nas
vertentes íngremes da Serra do Machado, apresentando
uso agrícola de subsistência em áreas moderadamente
degradadas.
Propícios a silvicultura e apicultura, proteção ambiental,
pesquisas científicas, ecoturismo, esportes radicais e de
aventura; mineração ordenada e controlada; Restrições
devido à erosão, deficiência hídrica, declividades
acentuadas, solos rasos ou litólicos.
Remoção do escasso revestimento vegetal
existente; erosão das vertentes em função do
desmatamento; definhamento de nascentes fluviais;
redução da biodiversidade; agricultura inadequada
as condições topográficas; descaraterização da
paisagem.
Intensificação de ações erosivas nas
vertentes.
Zona de recuperação
ambiental para a conservação
e recuperação da capacidade
produtiva e vulnerabilidade
ambiental
Planalto
sedimentar da
Ibiapaba
Frente do planalto cuestiforme da Ibiapaba, com relevos
dissecados em cristas, colinas e escarpas, solos rasos
(espessos no platô) e condições climáticas subúmidas;
agroextrativismo.
Regularidade de chuvas; maior disponibilidade de
recursos hídricos e ambientais em geral; média a alta
fertilidade dos solos; clima ameno, belezas cênicas e
ecoturismo. Restrições quanto a declividade das
encostas; impedimento a mecanização e alta
susceptibilidade a erosão.
Erosão das encostas em proporção ao
desmatamento; empobrecimento dos solos;
degradação de nascentes; desmatamento e redução
da biodiversidade; contaminação de águas e solos
pela lixiviação; descaracterização das paisagens e
diminuição do fluxo turístico.
Aumento da demanda por recursos
hídricos para irrigação; aumento das
superfícies com afloramentos rochosos;
lixiviação dos solos e redução da
biodiversidade; desconfiguração
paisagística.
Zona de uso sustentável para
combate aos efeitos das
secas, como também uso e
acesso livre sob preceitos
conservacionistas
Sertões da
depressão
periférica da
Ibiapaba e do
centro-norte do
Ceará
Superfície pediplanada dos sertões da depressão
periférica da Ibiapaba, com solos rasos, extensivamente
recobertos por caatingas; Agroextrativismo e pecuária
extensiva.
As áreas dissecadas servem à silvicultura,
reflorestamento, mineração. São vulneráveis à erosão,
apresentam solos rasos e potencial de águas é fraco.
Nos sertões aplainados pecuária, agricultura irrigada e de
sequeiro, agroextrativismo e forragicultura podem ser
beneficiadas. Há restrições hídricas, solos rasos de baixa
fertilidade.
Salinização e sodicidade dos solos e das águas pela
agricultura irrigada; uso indiscriminado de
agroquímicos; agricultura rudimentar; falta ou
carência de saneamento básico, desmatamento;
instalação indiscriminada de lixões; queimadas e
incorporação de terras; mineração descontrolada.
Intensificação de processos erosivos
acelerados; redução da biodiversidade;
pastagens degradadas; crescimento
urbano desordenado e aumento dos
problemas de saneamento;
descaracterização das paisagens
sertanejas por processos de
desertificação.
Zona de recuperação
ambiental para a conservação
e recuperação da capacidade
produtiva e vulnerabilidade
ambiental; bem como uso
controlado para combate aos
efeitos das secas e da
desertificação nos meios
ecodinâmicos mais instáveis
223
5 DESERTIFICAÇÃO COMO CONSEQÜÊNCIA DA DEGRADAÇÃO NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO ACARAÚ
5.1 - À GUISA DA OCUPAÇÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA
O Nordeste brasileiro recebeu influências das condições de povoamento e colonização
européia, onde as terras semi-áridas setentrionais foram sempre fatores de vulnerabilidade
econômica regional, ante as contingências da natureza, mesmo sendo exploradas como
valor de troca, ocasionando degradação ambiental. O litoral oriental foi explorado e ocupado,
preferencialmente por canaviais, que se estenderam pelos litorais de Rio Grande do Norte a
Bahia. A cana-de-açúcar era o principal produto da pauta, configurando-se como o primeiro
grande ciclo econômico do País. Desta forma, os senhores de engenho ficaram no topo da
pirâmide econômica e hierárquica do poder conjuntural, sobretudo os da Bahia e
Pernambuco. Paulatinamente, a colonização do território, segundo Heitor Júnior (1997), e o
desenvolvimento de novas atividades produtivas foram obrigatoriamente interiorizadas,
como ocorreu com a pecuária extensiva, a agricultura básica e posteriormente com o plantio
de algodão, mais e mais incorporadores de terras, passando pelo agreste, rumo aos sertões.
Foi nesse contexto que o vale do Acaraú, com a implantação das fazendas de gado,
entrepostos comerciais e o posterior desenvolvimento das culturas comerciais para
exportação, como o algodão (segunda metade do século XIX), fez com que o território da
bacia fosse inicialmente colonizado, orientados pelas necessidades econômicas, fatos que
colaboram para o crescimento das cidades, acompanhando o desenvolvimento econômico
(SOUZA, 2005).
Os sertões setentrionais, onde está setorizada a bacia do Acaraú, foram integrados à
colonização portuguesa por movimentos populacionais originários de Salvador e Olinda
pólos de desenvolvimento da época que comandaram as catas de terras para criação de
gado, para fornecer animais ao trabalho (bois e cavalos) nos engenhos e ao abastecimento
de urbes em desenvolvimento. A partir de 1598, a arremetida pernambucana para noroeste
passou a conquistar os vales do Açu, Apodi, Jaguaribe, Acaraú e bacias contíguas, por meio
da corrente de povoamento denominada “sertão de fora”.
Antes mesmo da colonização dos sertões pelos europeus, os povos indígenas
habitavam a mancha semi-árida com a prática da agricultura primitiva e migratória, com
incorporação de terras (MAMEDE, 2003) não se sabe ao certo se usavam a técnica da
coivara ou não -, até pelo menos, a metade do século XVII. Afugentaram os indígenas,
ocupando os vales mais férteis, dando início, no século XVIII, à Guerra dos Bárbaros, que
duraria dez anos (ANDRADE, 2005; COELHO, 2005).
224
Nada obstante, a história de ocupação do território da bacia do Acaraú remonta à
própria história de ocupação do território cearense, principalmente no que concerne ao
povoamento de Sobral, Acaraú, Santa Quitéria e Ipu, balizada por fragilidades econômicas,
mobilidades populacionais e características repulsivas, como pode ser verificado na
historiografia regional. A prova é que as estiagens, a exigüidade de rios navegáveis e os
índios ariscos dificultaram a ocupação do território cearense a contento em relação aos
demais estados nordestinos. Somente em 1603 é que chegaram as primeiras expedições no
Ceará, provindas de Pernambuco, mas fracassaram. Com o mesmo intuito, outra expedição
a comando de Martins Soares Moreno, em 1611, vingou com a construção do Forte de São
Sebastião na atual capital cearense -, que foi ocupado posteriormente por holandeses,
com a construção do Forte Shooneborck, hoje 10ª. Região Militar. Somente em 1699, os
portugueses retomaram o poder, criando a Vila de Nossa Senhora da Assunção, dando
início à colonização do Ceará, pelo litoral e pré-litoral.
À época, prosperou a agricultura, com destaque para a cana-de-açúcar, sendo que,
nos sertões, como no vale do Acaraú, desenvolviam-se as fazendas de criação. Na
realidade, as estruturas produtivas e agrárias no Acaraú, a despeito de todo o Nordeste,
foram forjadas a partir da política colonial portuguesa de concessões de exploração em
torno de doações de terras por sesmarias. Com as doações da Coroa, o poder se
concentrou com os senhores de terras, que passaram a desenvolver relações econômicas e
sociais legitimadoras dos interesses comerciais elitistas.
A pecuária bovina avançou pelo interior do Nordeste a partir do século XVII,
procurando, preferencialmente, instalações em planícies alveolares e fundos de vales
sertanejos. Os rebanhos foram introduzidos inicialmente ao longo do litoral da Zona da Mata,
acompanhando a cana-de-açúcar. Segundo Mantovani (2003), os rebanhos buscaram os
sertões para compensar as perdas de investimentos com beneficiamento do açúcar, bem
como para atingir novas áreas para explorações. Salientamos que, como desdobramentos
das capitanias hereditárias e depois das sesmarias, os latifúndios improdutivos eram regra,
logo seguidos pelos minifúndios inviáveis, sendo que as planícies fluviais sempre foram
significativas para ocupação do semi-árido, como registrado na bacia do rio Acaraú.
Os “caminhos de gado” pelos sertões foram a marca da ocupação nas terras ao Norte
de Pernambuco. A ocupação com o gado pelos sertões interiores deu-se na articulação com
a necessidade crescente de alimentos no núcleo exportador de açúcar. A fixação
populacional pelos sertões ocorreu em razão do criatório, por isso surgiram aldeamentos e
vilas a partir de fazendas de gado, e, posteriormente, de capelas. Quando o vale do Acaraú
recebeu influxos dos povoamentos via “sertão de dentro” na rota dos rios São Francisco-
Parnaíba-Poti-Acaraú – a bacia em estudo e adjacências encontravam-se tomadas por
fazendas, povoados, arraiais e vilas (GIRÃO 1986, in COELHO, 2005). Houve, então,
sedentarização e adensamento da população sertaneja ao redor dos pontos de apoio
225
representados pelos currais (DIAS, 1998). A militância das missões jesuíticas nos sertões
ajudou a fortalecer localidades, representando vias paralelas aos “caminhos do gado”,
caracterizando, assim, juntamente com tais caminhos e, futuramente, com a policultura
predominante de subsistência e o cultivo do algodão na colonização da Bacia.
Conforme Dean (1997, citado por MANTOVANI, op. cit), havia aproximadamente 1700
fazendas no domínio das caatingas com regime extensivo, dada a cobertura rala de
gramíneas em todos os sertões. Os interflúvios sertanejos eram considerados “terras
comuns”, onde pastavam, extensivamente, compáscuas e misturadas o ano inteiro as rezes,
pois as áreas mais valorizadas e controladas eram aquelas de baixos terraços, próximas
aos leitos fluviais (BERNARDES, 1999). No século XVIII, os currais pernambucanos já
representavam um (...) mundo que se estendia desde Olinda, a leste, até a fronteira do
Maranhão, a oeste com cerca de 800 mil cabeças de gado (ANDRADE, 2005: 186). A
ocupação da bacia do Acaraú para criação de fazendas de gado foi intensificada entre os
séculos XVIII a XIX, pois em fins do século XVIII, grande parte do Ceará estava
colonizada por sesmarias.
Nos testamentos do capitão Félix da Cunha Linhares, em 1723, morador das ribeiras
do Acaraú, constaram mais de 8 mil bovinos, 150 éguas e 50 cavalos.
No século XIX, Sobral despontava como o terceiro maior mercado sertanejo, atrás
de Aracati e Icó, no vale do Jaguaribe, dado o crescimento das fazendas de gado,
charqueadas e indústria do couro, mas ocupava o lugar na exportação de carnes e
couros. O gado cearense, entretanto, principalmente o do Acaraú, ao chegar a Olinda,
estava debilitado e magro, apresentando baixa de preço e tinha aumento de seus custos
pelo transporte.Este fato impulsionou, a partir de 1740, a exportação de gado abatido, em
carne seca salgada (carne do Ceará), e de couro, possibilitando a competitividade do Ceará,
com Paraíba e Rio Grande do Norte. Então, o porto de Acaraú, no séc. XVIII, concentrava o
comércio do principal produto cearense, o charque. Constituía o centro de convergência da
produção regional do norte cearense e alcance do comércio para o interior e exterior da
bacia, ligando Sobral com Acaraú e Camocim (GIRÃO, 2000; SOUZA, 2005).
As primeiras fábricas da bacia em análise foram instaladas próximas a esse porto,
inicialmente denominado de Porto dos Barcos, a 5 km da foz do exutório, onde noutro lugar
com nome de “Outra Banda”, adensaram-se populações, povoando o que se chamou de
Oficina, hoje cidade de Acaraú (GIRÃO, op. cit).
Anos se passavam e as elites locais e regionais se fortaleciam. O litoral, ainda,
abastecedor do mercado internacional prosperava, e o sertão “ilhado” cristalizava suas
relações sociais de produção individualistas, localizadas, regrados pelos grandes
fazendeiros e pelas oligarquias. De fato, comparativamente ao litoral, as zonas interioranas
semi-áridas se agarravam a uma estrutura agrária condicionada ao rigor mesoclimático, com
226
técnicas incipientes e degradantes, estrutura de poder centralizada e com grandes fazendas
de posse da terra.
Nos primeiros anos de colonização do Ceará, Acaraú e Sobral tiveram uma
dinamização de crescimento superior a Fortaleza, por estarem às margens do rio Acaraú e
próximas das principais áreas produtivas (SOUZA, 2005). Assim é que as oficinas de
charque se desenvolveram no rio Acaraú e outros rios importantes do Estado, porém, com a
grande seca de 1791-92, foi dizimado quase que completamente o rebanho estadual,
arruinando as charqueadas. Houve, então, necessidade de diversificar e expandir a
produção agropecuária, incorporando mais terras e usando sempre queimadas e
destocamentos. Iniciou-se a era do couro e do algodão, ou seja, do binômio gado-algodão,
que teve como referenciais as grandes fazendas e as pequenas propriedades adjacentes de
subsistência, que na realidade dependiam dos grandes imóveis rurais.
As fazendas tiveram como ponto de apoio as ribeiras, aproveitadas com o suprimento
d’água, e, quando secavam, os leitos fluviais serviam de caminhos. A população fixada nos
sertões passou a conduzir sua própria dinâmica meio que isoladamente e de forma
tradicional, paternalista e com técnicas rudimentares, explorando tudo o que podiam do
ambiente biofísico, sobretudo o solo e a vegetação. Todo este conjunto, associado à
estrutura vigente, sujeitava os proprietários dos meios de produção, ou seja, os donos de
terra, com seus anseios de acumulação.
Para Andrade (2005), o desenvolvimento da agricultura sertaneja ocorreu à sombra
dos currais e mediocremente, em razão dos altos preços de transporte para lcance da zona
do litoral, muito embora, Souza (2005) assinala que a policultura complementava a
alimentação. Nos sertões em análise, a agricultura restringia-se às culturas de ciclo curto e,
na Ibiapaba e Meruoca, cultivavam-se fruteiras. Embora se cogitasse em 1777 que o
algodão fosse comercializável, apenas no séc. XIX a agricultura se desenvolveu fortemente
com o algodão extensivo, chegando a nivelar-se ao açúcar, sobrepujando-se em 1805 e
impulsionando-se mais do que nunca com a abertura dos portos nacionais às embarcações
inglesas, 1809 (GIRÃO, 2000) e com pouca demanda de escravos e grande
desenvolvimento de trabalho assalariado.
Essa malvácea passou a ser valorizada durante a Guerra de Secessão na América do
Norte, com decadência de seu algodão e aumento de demanda dessa matéria-prima pelo
mercado europeu, o que alavancou a economia estadual, em face das secas do séc. XVII
que prejudicaram a pecuária. Abrir-se-ia com o algodão o ciclo agropecuário do Ceará
(GIRÃO, op. cit: 214).
O algodão arbóreo crioulo ou inteiro (Gossypium brasileiense) e o quebradinho
(Gossypium purpurescens) se restringiam às pequenas propriedades, passando, no século
XIX, a ser cultivados em extensas áreas sertanejas, não só do Ceará, como principalmente
de Pernambuco, pelas condições favoráveis de clima e solo. No século subseqüente, com a
227
alta cotação do algodão para exportação para fábricas têxteis internacionais, esse produto
passa a ser cultivado em todo o Nordeste, quando na bacia em questão é intensificando seu
plantio nos sertões.
No Acaraú destacava-se o Distrito de Meruoca no contexto produtor estadual. E o
porto de Acaraú, em 1810, exportava o maior mont ante do Estado do produto da pauta. A
partir de 1822, todavia, os negócios começaram a se enfraquecer em razaão da qualidade
das sementes, pragas, qualidade do produto e competitividade americana. Novos impulsos
foram dados a parti de 1835 com emprego de máquinas descaroçadeiras e incorporação do
algodão herbáceo (Gossypium hirsutum) nos anos de 1850. Bem depois, no século XX,
para superar a seca de 1915, o plantio do algodão mocó (Gossyupium vitilolioum). Foi até
instalada em 1915 uma estação experimental em Três-Lagoas, próxima a Sobral. Nessas
adaptações as produções oscilaram muito em altas e baixas.
Em fins do século XIX, o Planalto da Ibiapaba e a Serra da Meruoca têm seus solos
bastante parcelados por heranças, para produção de hortifrutes, com atração de mão-de-
obra e adensamento populacional. No séc. XVIII, das doze vilas existentes no Ceará, a
bacia do Acaraú compreendia apenas uma: Sobral, em 1773, antiga fazenda Caiçara,
surgida por volta de 1750, no Arraial de São José. Essa Vila fortalecia-se, vis-à-vis, a
intensificação de trocas de mercadorias e concentrava a produção agropastoril regional,
além de servir de entreposto para o Piauí, Maranhão e encruzilhada de vários caminhos
regionais (CEARÁ, 1999).
Segundo Souza (2005), o incremento da cotonicultura e a implantação da ferrovia
Fortaleza-Sobral até o porto de Camocim modificaram a estrutura urbana das cidades e
dinamizaram o comércio e transporte em fins do século XIX. Sobral afirma-se como empório
de produtos do Sul e da Europa, por sua posição estratégica e de comunicação. As cidades
de Reriutaba, Nova Russas, Ipueiras e Cariré são provas do desenvolvimento em função da
rede ferroviária.
O agroextrativismo apresentava-se como boa alternativa econômica até então. O da
carnaúba sempre fez parte do calendário agrícola do sertão, em sua evolução econômica.
Pela extensão, importância e multiplicidade de ocupação dos produtos da carnaúba surgiu
um complexo cultural, uma civilização carnaubeira com importância econômica, cultural,
antropológica, sociológica e histórica, que demanda investigações. Essa civilização, no
Nordeste, por toda sua importância, se equipararia às outras civilizações, como a do couro,
do ouro, da cana-de-açúcar e do café (ANDRADE, 2005). No transcorrer da década de 1840,
o café passou a ser cultivado na Ibiapaba, com novas relações de trabalho.
Convém registrar o fato de que, após três décadas de chuvas abundantes, ocorreu a
lendária “Seca do Ceará”, em 1870-78, que na realidade assolou sertões compreendidos
desde o Ceará até o território baiano, produzindo contingências socioambientais e
agropecuárias, culminando com a morte de cerca de 1/3 do gado bovino, findando com a
228
indústria saladeiril do Nordeste. Por ocasião, as oficinas do litoral norte (Paraíba, Acaraú,
Aracati etc.) tiveram seus processos produtivos de carne-do-sol ou do Ceará falido, além de
irem a óbito aproximadamente 500 mil pessoas, de fome e sede.
Cabe relevância também ao sistema de transporte épico. Desde o início da
colonização, o sistema de transporte dos sertões eram as montarias pelos leitos secos dos
rios, veredas e primeiros caminhos abertos. Paulatinamente, os produtos passaram a ser
transportados por carros de boi, para escoamento das produções agrícolas de novas áreas
exploradas, como os enclaves úmidos, de onde foram expulsos e subjugados índios, que
usavam esses ambientes para fugir das secas. Em substituição a esse carro de tração
animal, os jegues entrarem em cena. Bem adaptados e resistentes aos serviços dos sertões,
até hoje são utilizados (AB’SABER, 2003).
Neste tocante, a estrada das Boiadas ou dos Inhamuns comunicava-se com a estrada
Geral do Jaguaribe a mais importante da época ligando-se com localidades da Ibiapaba
e com Sobral. A vila de Sobral ligava-se ao litoral, por via terrestre, pela estrada Caiçara.
Com a instalação da nova cadeia pública (1879), da ferrovia Sobral–Camocim em
1882 e da fábrica de tecidos em 1887, durante o ciclo algodoeiro, inaugurou-se nova etapa
de evolução econômica de Sobral e, por polarização, de toda a bacia. Nos idos do século XX,
as primeiras instrias da bacia, com a concentrão naquela cidade, impulsionaram
transformações e expansões urbanas, ensejando atrativos para mão-de-obra proveniente de
outras cidades. Am disso, a bacia passou a ter maior envolvimento com a Capital cearense,
sobretudo, aquelas localidades nas proximidades da rodovia que liga o Cea ao Piauí e
Maranhão, passando pela Serra Grande, isto é, pela antiga estrada Real, posteriormente (1932)
denominada BR-222 (DIAS, 1998; CEARÁ, 1999). Com a investida na rodovia que liga
Fortaleza–Sobral, o intercâmbio Sobral-Camocim-Acaraú é rompido em detrimento da
destinação de mercadorias para a Capital, Fortaleza. Segundo o Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Sobral, a partir de então, cresce a produção agrícola-
industrial durante os anos 1940, com o algodão e oleaginosas, fazendo que muitas
indústrias se instalassem em Sobral, em detrimento dos setores do alto e baixo Acaraú, que
permaneciam estagnados.
Nota-se que a macroeconomia da Revolução industrial, em seus primórdios,
transformou os países das baixas latitudes em fornecedores de matérias-primas e produtos
primários. Que o digam os mais diversos ciclos econômicos operados no Brasil-colônia e a
entrada efetiva da bacia do Acaraú com a cotonicultura, sem esquecer da atual inserção
agrícola nacional da divisão internacional do trabalho. A bem da verdade, nos trópicos
sobras de energia, que abastecem o resto do Planeta (CONTI, 2002), séculos, a
chamada produção primária líquida.
Com o pós-guerra, nos anos de 1950, através uma nova ordem mundial e a
regularização da economia em reação às crises provenientes dos combates, a indústria da
229
Bacia e de todo o Ceará foi objeto de colapso, agravado pela escassez de algodão, oiticica,
mamona e outras matérias-primas. Foi a partir desse momento que a dependência
econômica do Estado se acentuou em relação ao Sudeste e Sul do País (CEARÁ, 1999).
Atualmente, somente Sobral ultrapassa a população de 100 mil habitantes. Os demais
municípios da bacia têm população pouco expressiva, o que, dentre outros fatores, pode
estar atrelado, conforme AB’SABER (2003), ao fato de os sertões, de uma maneira em geral,
passarem a fornecer, histórica e dramaticamente, mão-de-obra barata e pouco exigente,
sendo que, na trama das migrações internas do País, desde meados do século XIX até hoje,
o êxodo de nordestinos para as mais diversas regiões do Brasil tem força de uma diáspora.
A partir dos últimos cinqüenta anos, contudo, vivem-se acelarações na transformação
da natureza, magnitudes e complexidades, marcando um novo momento do capitalismo.
Isso possibilita, dentre outros artifícios, incorporção de métodos científicos para realização
da produção, acelerando a velocidade de renovação das forças produtivas, como nunca
registrado na história. Com a revolução verde, a agricultura passou a se modernizar,
segundo Elias (2005), reestruturando a produção e o território, interferindo fortemente na
natureza e suas relações com as sociedades humanas. A esse fenômeno Santos (1991 e
1994) designou de novo período histórico, chamado de período Técnico-Científico-
Informacional. O cenário socioeconômico atual, deveras, enriquece de elementos a
discussão ora exposta, atualizando dados e informações socioeconômicas da Bacia.
5.2 -PANORAMA SOCIOECONÔMICO ATUAL
No Nordeste, as relações entre elites, ou burguesias, centrais, regionais e locais, têm
ações políticas preservadoras do poder (CASTRO, 1992). Para Leitão (1997), o Ceará
exprime perfeitamente os dilemas da região Nordeste, caricaturado pelas gritantes injustiças
sociais, em face de sucessivas crises políticas, desde o início da República.
O atual processo histórico vivido pelo Ceará e pelo mundo produz mudanças na
relação humana com os produtos extraídos ou produzidos da natureza, enquanto a dialética
do espaço demonstra a ampliação do capital em sua composição interna no território
cearense e abre formas de relações de trabalho e política (SAMPAIO, 2005).
Os reflexos do desempenho da economia nacional têm implicações sobre a economia
do Ceará, de acordo com a interligação do País à economia-mundo e aos efeitos da
dinâmica do quadro operativo das finanças globais que extrapolam o controle dos Estados-
Nações. De acordo com Pádua (2001), as relações norte-sul e a pequena cooperação sul-
sul para a produção e consumo no Brasil apresentam importantes problemas. Neste
contexto, os aspectos sociais e econômicos na Bacia do Acaraú, em meio ao crescimento
desigual e combinado, acompanham as tendências econômicas estadual.
230
Embora essas questões tenham reflexos diretos sobre as condições socioeconômicas
da Bacia, conforme as peculiaridades regionais, as características das atividades produtivas
podem mudar sob influência das características geoambientais, como em relação às
condições climáticas que possibilitam melhor participação da agropecuária (principal
atividade produtiva) na economia, provocando crescimentos ou retardos. Ademais, a
indústria, o serviço e o comércio influenciam e são influenciadores da agropecuária no
contexto socioeconômico.
Sem perder de vista a integralidade que a bacia hidrográfica apresenta, considerando
os municípios a esta lindeiros, tão-somente, para estudos sobre os principais aspectos
econômicos e sociais, em face da desertificação, foi dada ênfase aos 26 municípios que
apresentam suas sedes e principais distritos no perímetro da unidade em estudo, transcritos
no capítulo 5. A par da conformação do território político-administrativo desses municípios, a
próxima tabela ilustra dados sobre a população total, dividia em urbana e rural, além de
relacionar o ano de criação dentre outras informações (Tabela 22).
Tabela 22 - População total dos Municípios
População
Municípios
Total Urbana Rural
Área
(km²)
Densidade
Demográfica
Ano de
Criação
Distância
de
Fortaleza
Acaraú 48.968
24.582
24.386
839,3
54,03
1849
257,6
Alcântaras 9 548
2 762
6.786
687,1
67,95
1957
265,9
Bela Cruz 28.358
11.585
16.773
846,3
32,87
1957
225,1
Cariré 18 617
5 459
13.158
711,2
25,62
1929
266,9
Cruz 19 779
8 218
11.561
329,1
53,83
1985
241,4
Catunda 9 288
4 068
5.220
807,6
11,12
1990
257
Groaíras 8 741
5 588
3.153
156,1
53,51
1957
253,5
Graça 14 813
4 838
9.975
261,3
54,99
1987
300,3
Hidrolândia 17 687
9 122
8.565
978,8
17,27
1957
299,2
Ipu 39 078
22 404
16.674
636
55,49
1842
250,2
Ipueiras 38 219
15 775
15.674
1.131,70
31,55
1883
302,7
Massapê 29 574
19 173
10.401
533,4
47,91
1897
252,4
Marco 20 427
11 687
8.740
583,8
31,63
1951
217,3
Meruoca 11.339
5.627
5.712
155.4
69,3
1885
257,6
Monsenhor
Tabosa 16.344
7.823
8.521
877,7
18,6
1951
303,1
Mucambo 13.811
7.574
6.227
240,2
52,02
1953
278
Morrinhos 17 928
7 746
10.182
404,2
38,97
1957
202,7
Nova Russas 29 347
20 844
8.503
741,4
39,58
1922
300,1
Pacujá 5 663
3 273
2.390
65,8
81,35
1957
289,3
Pires Ferreira 8 643
2 813
5830
247,5
42,25
1987
311
Reriutaba 21 224
9 734
11.490
366
54,96
1935
307,4
Santana do
Acaraú 26 198
12 454
13774
1.017,7
28,07
1862
257,3
Santa Quitéria 42 375
19 455
22.920
4.207,5
9,25
1856
Sobral 155 276
134 508
20.768
2.129,9
65,08
1772
230,2
Tamboril 28 973
12 401
13.572
2.046,6
14,15
1854
285
Varjota 16 593
13 479
3.114
222,60
64,07
1985
295
Total 696.811
402.992
293.819
21.068
33,07
- 248,3*
Fonte: IPLANCE (2000) e Censo Demográfico, IBGE, 2005. *distância total média
Vê-se que o município mais populoso é Sobral, com 155.276 habitantes, com a maior
concentração urbana (134.508 habitantes), logo seguido de Santa Quitéria, 42.375
habitantes. Ao revés, os de menores populações são Pacujá, com 5 663 habitantes
231
(também com os menores registros de população rural, 2.390 habitantes, e área, com 65
km², mas a maior densidade demográfica, de 81,35 hab./km²) e Pires Ferreira, com 8 643
habitantes. Santa Quitéria aparece novamente, desta feita com a maior área territorial, com
4.207,50 km², a segunda maior do Ceará. A maior população rural está em Acaraú, com
24.386 habitantes. Muito embora a área de 21.068 km² ultrapasse em muito a dimensão da
bacia (14.500 km²), essa informação é importante para derivações no contexto do trabalho.
Segundo o recenseamento do IBGE de 2000, a cidade de Sobral é a única da bacia
com população superior a 25 mil habitantes e uma das 24 do gênero do Ceará, com
exceção de cidades da Região Metropolitana. Sobral polariza todos os municípios da bacia,
como também toda a região norte cearense, pelo número e qualificação de seus serviços,
comércio, cultura, lazer e equipamentos urbanos e industriais. Certamente, há problemas de
crescimento vegetativo e migração rural, favelização, tamponamento de áreas férteis pelo
crescimento urbano, falta de empregos, qualificação técnica e educacional, a despeito do
que considera Ab’Saber (2003) sobre as cidades de médio porte dos sertões nordestinos.
Para Ceará (1994), dentro de uma macrovisão da problemática ambiental a diminuição da
biodiversidade, o desenvolvimento de processos contigentes de desertificação, somados à
“favelização”, constituem as questões socioambientais de maior gravidade.
No universo populacional, a educação é imprescindível para emancipação social. Por
exemplo, a média de anos de estudos da população nordestina com idade a partir de 10
anos é de 4,7 anos e para o Ceará é de 4,8 anos. E a taxa de analfabetismo de pessoas
com 15 anos ou mais do Ceará é de 24,85%, sendo de 28,5% para os homens e de 21,5%
para as mulheres que permanecem, em média, até 5,1 anos, ou seja, 7 meses a mais do
que os homens. Quanto maior a idade, maior a defasagem idade/série que entre 7 a 14
anos de idade tem os índices mínimos e máximos de 22,9 e 84,3%, em respectivo, segundo
o IBGE.
Os índices educacionais observados na Bacia variam conforme a participação
municipal nos investimentos educacionais, distribuição e disponibilidade de vagas nas
escolas estaduais, que asseguram o ensino gratuito, assim como umas poucas unidades
privadas de ensino, como algumas escolas tradicionais em Sobral. Convém demonstrar que
os alfabetizados em Tamboril são 12.977 (55,9%) habitantes, proporcionalmente distribuídos
entre os meios urbano (6.756) e rural (6.221). Enquanto isso em Meruoca, registra-se o
percentual máximo de 64,1% de pessoas alfabetizadas em comparação com a sua
população total. Ademais, Cariré tem 10.031 pessoas alfabetizadas (61,1%), Cruz 11.163
(63,8%), Forquilha 9.615 (62,4%) (Tabela 23), contando que a repetência, faixa etária
defasada, abandono, falta de vagas e tempo de curso escolar põem à prova a qualidade
educacional. A capacitação de profissionais de nível médio e superior pelos centros de
ensinos tecnológicos (CENTEC’s) visam a abastecer as necessidades de mão-de-obra para,
preferencialmente, agropecuária seguida da indústria, e serviços (turismo), bem como
232
reduzir os problemas de degradação ambiental, através cursos de curta duração (ELIAS,
2005).
Tabela 23- População residente de 5 anos ou mais de idade, alfabetizada.
População
Municípios
População
Alfabetizada
Urbana Rural
Tamboril 12.977
6.756
6.221
Cariré 10.031
3.235
6.796
Meruoca 6.439
3.455
2.984
Cruz 11.163
4. 970
6.193
Forquilha 9.615
6.886
2.729
Total 50.225
25.302
24.923
Fonte: Senso demográfico, IBGE (2005)
Os levantamentos governamentais dão conta de que no Ceará, 96% dos municípios
dependem do Fundo de Participação dos Municípios, constituindo-se como agravante da
seca social no Estado; sem esquecer que a “semana dos velhos”, como é popularmente
conhecido o início de cada mês com pagamento de pensões e aposentadorias, representa o
período de maior efevercência econômica nas cidades interioranas. Isso demonstra a
fragilidade dos mercados, que, apesar de sua dinâmica, não promovem maiores
rendimentos econômicos ao sofrerem com o baixo poder aquisitivo da população e
implementos estatais ou privados de maior vulto. A propósito disto, as políticas geradoras de
emprego, com destaque ao trabalho rural, o mais comum, são ineficazes, lacunares e
demagógicas como exemplo as frentes de emergências nas secas -, concorrendo para
aumentar as discrepâncias entre as classes sociais, conferindo acentuada pobreza e
miserabilidade e superexploração ambiental. O valor do rendimento nominal médio mensal
das pessoas responsáveis por domicílios permanentes no Ceará é de apenas R$ 448,01.
Na Bacia, a média é menor ainda, com R$ 261,3, defasados 42% em relação ao Estado.
Mesmo que não tenham sido registradas as atualizações salariais de 2001 a 2005, que hoje
ultrapassam os R$ 300, ainda permanecem entre os mais baixos da história. Assim,
sublinhemos os vergonhosos rendimentos municipais na Bacia e suas proporções em
relação ao Ceará: Mucambo R$ 144,21 (32,1%); Marco R$ 308,77 (68,9%); Ipueiras R$
170,32 (38%); Pacujá R$ 239,56 (53,4%) e Sobral, o máximo observado, R$ 445,21 (99,3%).
Alencar (2005a) explica, porém, que as atividades rurais ainda ocasionam as maiores
oportunidades de emprego em todo o Ceará e que as terras até 100ha absorvem a maior
parte da mão-de-obra rural, sobretudo familiar, para reprodução social e do trabalho, e são
atividades que não visam ao lucro.
Como visto, a escassez hídrica é fator básico para o planejamento ambiental e
melhoria das condições de vida. Infelizmente, a média de domicílios com abastecimento
d’água, em 8 municípios anotados, é de apenas 44,2%
. A maior cobertura fica em um dos
menores municípios, Pires Ferreira com 81,3% ou 1.693 abastecimentos, de um total de
233
2.080 canalizações. A menor cobertura é em Massapê, com 54,8% (3.609), de um total de
6.575 domicílios. Foram computados 12.156 domicílios sem qualquer tipo de ligação d’água
pelo Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto (SAEE), Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (CAGECE) e/ou PROJETO SÃO JOSÉ (infra-estrutura rural), ou 31,3% de um total
inventariado de 38.746 domicílios (Tabela 24). O outro lado da moeda do abastecimento
d’água é o esgotamento sanitário. Um retrato das condições de esgotamento demonstra
problemas sérios de saneamento básico na Bacia. A partir de 7 municípios, amostram-se
38.746 domicílios, considerando a rede geral de esgoto ou pluvial, fossas, valas e o
lançamento de efluentes nos corpos hídricos etc. Existem 15.261 domicílios sem banheiro
nem sanitário ou 40,6% do total levantado, além de 2.045 domicílios lançam suas águas
servidas nas coleções hídricas (Tabela 25).
Tabela 24- Domicílios por forma de abastecimento de água
Forma de abastecimento de água
Rede geral
Poço ou nascente (na propriedade)
Outra
Total
Total
Canali-
zada
em pelo
menos
um
como-
do
Canali-
zada só
na
proprie-
dade ou
terreno
Total
Canali-
zada
em pelo
menos
um
como-
do
Canali-
zada só
na
proprie-
dade ou
terreno
Não
canali-
zada
Total
Canaliz
ada em
pelo
menos
um
como-
do
Canaliz
ada só
na
propri-
edade
ou
terreno
Não
canali-
zada
Massapê 6.575
2 989
2. 279
710
1. 025
59
31
935
2 561
101
60
2 400
S. Acaraú 5 444
2 375
2 306
69
1 074
65
18
991
1 995
17
6
1 972
P. Ferreira 2 080
722
487
235
939
100
21
818
419
22
10
387
Catunda 2 135
898
733
165
635
22
5
608
602
11
7
584
Reriutaba 5 165
1 910
1 622
288
2 040
348
78
1 614
1 215
29
15
1 171
S. Quitéria 9 584
3 556
3 363
193
2 950
166
47
2 737
3 078
158
26
2 894
Morrinhos 3 833
1 837
1 799
38
726
31
19
676
1 270
19
14
1 237
Monsenhor
Tabosa
3 930
1 116
949
167
1 296
38
102
1 156
1 518
6
1
1 511
Total 38.746
15403
13538
1865
10685
829
321
9475
12658
363
139
12156
Fonte: IBGE (2005)
Tabela 25- Domicílios por existência de banheiro ou sanitário e tipo de esgotamento
Tinham banheiro ou sanitário
Tipo de esgotamento sanitário
Total
Total
Rede
geral de
esgoto
ou
pluvial
Fossa
séptica
Fossa
rudimentar
Vala
Rio,
lago ou
mar
Outro
escoadouro
Não tinham
banheiro nem
sanitário
Acaraú 10 343
5 263
658
308
4 145
133
1
18
5 080
Alcântaras 2 217
1 158
172 6
969
8
1
2
1 059
Bela Cruz 6 118
3 536
63
63
3 393
11
-
6
2 582
Massapê 6 575
3 036
23
139
2 570
45
35
24
3 539
Varjota 3 780
2 611
29
12
2 352
99
3
16
1 169
Hidrolândia 4 289
2 463
25
157
2 209
17
10
45
1 826
Mosenhor
Tabosa
3 930
1 719
651
1 068
187
9
1 995
14
6
Total 37525
19786
1621
1753
15825
322
2045
125
15261
Fonte: IBGE (2005)
234
Coleta, destino, reciclagem e reúso dos resíduos sólidos mostram-se como um grande
problema de saúde pública e ambiental, complementando junto à água, situação de
saneamento. Segundo dados do IBGE, a quantidade de lixo disposto ou tratado
inadequadamente é superior à operação de coleta e limpeza. Por demais preocupanteo o
fato de é que cerca de 21.089 domicílios levantados, ou 27,8% do total, lançam seus lixos
em terrenos baldios ou logradouros e mesmo próximos a rios/riachos, lagoas ou no mar
(322 domicílios), como ocorre em Acaraú. Os dados são agravados pela ausência de aterros
sanitários, existente somente em Sobral. Nesse Município, um aterro sanitário, no Distrito de
Jordão, está operando há 5 anos, diariamente recebendo 10 a 12 toneladas de lixo da Sede,
assim como do Município de Meruoca. Está em operação a trincheira, cada uma com
40m de largura, 90m de comprimento e drenagem. No total, tem vida útil de 20 anos com
perspectiva de ampliação após construção de usina de reciclagem.
Os usos e acessos aos recursos hídricos, bem como as condições de precariedade de
saneamento estão entre as demandas de solução prioritárias e urgentes, dentre outros
fatores, para se evitar doenças de veiculação hídrica e melhoria da qualidade de vida. Os
índices de mortalidade infantil, vinculados ou não aos problemas de saneamento, é outra
preocupante questão. As taxas neonatal precoce (0 a 6 dias), neonatal tardia (7 a 27 dias) e
pós-neonatal (28 a 364 dias) totais no Nordeste e Ceará, a título de exemplo, são de 43% e
38,1%, em respectivo. Para a Bacia, o índice representativo de 7 municípios apresenta
média superior ao Ceará, isto é, 41,9 % a cada 1.000 nascidos. Qual o caso de Acaraú e
Monsenhor Tabosa - no “topo da lamentação” - com 52,43 e 100,50 crianças por 1.000
nascidas. Os principais indicadores de saúde, porém não se apresentam também
animadores, como mostra a Tabela 26.
Tabela 26 - Principais indicadores de Saúde
Discriminação Acaraú Sobral Catunda Varjota Alcânta-
ras
Nova
Russas
Mor-
rinhos
M.
Tabosa
Ceará
Atendimento
médico/1.000hab
224,68
76,01
311,7
141,32
99,08
211,87
110,47
224,77
267,35
Atendimento
odontológico/
1.000hab.
55,44
23,99
167,30
79,26
19,66
27,93
54,85
67,00
106,99
Nascidos Vivos
(nv)
1.030
2.708
152
285
213
585
277
219
105,67
Óbitos 54
90
5
9
6
22
11
22
3.694
Taxa de
mortalidade
infantil/1.000 (nv)
52,43
33,20
32,9
31,58
28,17
37,60
39,70
100,50
38,1
Leitos 1,72
4,65
1,44
0,41
-
2,48
1,70
2,43
2.41
Unidades de
saúde/1.000
0,33
0,40
0,78
0,34
0,74
0,40
0,31
0,58
0,34
Fonte: IPLANCE (2000) e IBGE (2005).
O acesso aos alimentos e melhoria das condições de saúde, matém relação com a
produção agrícola, que por seu turno, depende muito do acesso à terra, técnicas e políticas
agrárias e agrícolas, que devem estar em consonância com as potencialidades e limitações
dos recursos naturais, sobretudo os renováveis. No Ceará, a estrutura fundiária é
235
concentrada (ALENCAR, 2005a) com baixo grau de utilização da terra, pequena produção
agropecuária, relações sociais de produção atrasadas, conservadoras e de
expropriação/espoliação do homem” (ALENCAR, 2005b). Deste fato, Elais diz que o uso das
terras estaduais tem fins especulativos ou outros menos nobres senão o de seu uso social
(2005).
Na trama de concentração de terras, os municípios com áreas a bacia detêm cerca de
15.811 imóveis rurais, perfazendo uma área de 622.272.1ha. Esse montante está dividido
em minifúndios não classificados, pequenas, médias e grandes propriedades, com destaque
para Santa Quitéria (342.566 e 1.942), Tamboril (160.954,2 e 1.203), Sobral (136.780 e 871)
e Nova Russas (79.195,4 e 1.017) com os maiores em hectares e número de imóveis, em
respectivo. A menor quantidade de imóveis e hectares de terras é observada em Varjota
(125 e 4.766,4) e Pacujá (100 e 6.099,7). De um lado, Santa Quitéria representa 55% de
todos os hectares de imóveis; de outro, Varjota, circunscreve a proporção mínima, que é de
0,76%.
Analisando desagregadamente as categorias de imóveis em Tamboril, Sobral, Santa
Quitéria, Varjota, Pacujá, Meruoca e Monsenhor Tabosa, os minifúndios não classificados
somaram 2.955 imóveis (83.195,4ha), correspondendo à menor quantidade de categoria. As
pequenas propriedades, contêm 1.719 imóveis, sendo mais da metade (55,5%)
considerados improdutivos. Em 214.660,8ha existem 497 propriedades consideradas
médias, com 275 imóveis improdutivos ou 50% dos hectares. As grandes propriedades
embora somem a menor cota de imóveis (128), ocupam a segunda maior área
(227.718,6ha), atrás somente das médias propriedades (241.944,1ha) que tem a maior
produtividade, em 120.891ha (28,1%) do total. As maiores propriedades apresentam a maior
porção de terras improdutivas, com 154.344,6ha ou 27,9% do total amostrado, em 83
imóveis e são, ocasionalmente, pressionados por movimentos de trabalhadores sem terras.
As pequenas propriedades têm o maior número de imóveis não produtivos (886), mas a
menor área dessa categoria (108.329,1ha) e a maior quantidade de imóveis produtivos (756),
também com a menor área (87.857,9ha). Enfim, 2.955 minifúndios não classificados é o
maior número de imóveis dentro dos 7 municípios amostrados.
Trabalhando-se os completos números agrupados por Alencar (2005) sobre
assentamentos no Ceará, vemos que diversos projetos e programas federais de
assentamento rural de famílias foram desenvolvidos desde 1973. 16 municípios apresentam
assentamentos federais e/ou estaduais na Bacia, conseqüentes de reforma agrária ou não,
sobressaindo-se os Municípios de Acaraú, com a maior quantidade de terras ocupadas com
assentamentos (50.186,94ha), seguido de Santa Quitéria (38.717,23ha). O número de
famílias assentadas e a área média das terras desses municípios, em respectivo, são: 490 e
102,4; e 577 e 67,1. A média da maior área por família é de Nova Russas, com 147,30ha,
onde estão assentadas 96 famílias; enquanto isso Santana do Acaraú tem o maior número
236
de famílias assentadas, 638. Alcântaras, Graça, Groaíras, Hidrolândia, Morrinhos, Mucambo,
Pacujá, Pires Ferreira, Reriutaba e Varjota não apresentam assentamentos rurais. Tão-
somente Cruz detém o mínimo de área assentada (342 ha) e famílias beneficiadas (8).
No geral, os assentamentos envolvem 209.961,5ha, com 3.461 famílias. O maior
assentamento é o Saco do Belém, em Santa Quitéria, com 20.010,54 ha, assentando 160
famílias, implementado em terras desapropriadas (23/04/1980) e imissão de posse
(28/08/1980) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA. Junto aos
assentamentos rurais, estão fortes evidências de degradação/desertificação por conta da
falta de políticas agrárias adequadas, assistência à produção bem como cuidados com a
conservação ambiental, que estão entre os principais problemas da Bacia.
Sobre a agricultura, tanto em assentamentos como em outras propriedades, os
principais produtos são aqueles de ciclos curtos, em grande parte culturas de sequeiro, que
também são plantados nas várzeas e outras áreas de acumulações inundáveis associadas
ou não à agropecuária, seguidos pelas fruticulturas que vem sendo incrementadas em razão
dos projetos de irrigação. Calculamos a produção agrícola dos principais produtos da Bacia,
considerando para isso os Municípios de Bela Cruz, Santa Quitéria, Hidrolândia, Meruoca,
Graça, Ipu, Catunda e Tamboril. Particularizando essas informações para os municípios que
tem áreas nos perímetros irrigados - Cariré, Varjota, Reriutaba (Araras Norte) -, Marco
(Baixo Acaraú), Sobral (Jaibaras) e Forquilha (Forquilha), pode-se confrontar na próxima
tabela, grosso modo, dados dos cultivos feitos em sistema de sequeiro (92.68ha) e
agropolos/sequeiro (26.508ha), a partir de um total de 127.244ha. Os cultivos não
produzidos nos perímetros de irrigação não necessariamente também são produzidos em
regime de sequeiro, de vez que alguns poucos produtores possam fazer uso de algum
método de irrigação ou de perímetros irrigados.
Tabela 27 - Produtividade agrícola dos principais cultivos
Feijão (grão) Mandioca Milho Cana-de-
açucar
banana Coco da
baia
Castanha
de caju
Feijão Tipo de
plantio
5.604
37.070
144
1.190
4.433
16.250
36.045
Sequeiro
Área
1.514
14.947
447
242
276
7.893
1.189
Agropolos/
sequeiro
20.664
50.516
8.862
950
25.451
9.674
9.947
Sequeiro
Produção
toneladas (t)
8.752
11.616
9.162
242
1.382
1.959
3.302
Agropolos/
sequeiro
52.500
54.899
185.000
6.395
41.010
2.759
2.001
Sequeiro
rendimento
médio/kg/ha
136.9
7.279
89.000
4.850
18.505
3.216
1.129
Agropolos/
sequeiro
Fonte: Elaborado com base em IPLANCE (2000)
O produto mais plantado nos 15 municípios considerados é o milho, em 33.070ha,
porém o mais produtivo é o coco, com 25.436 toneladas, embora o produto de maior
rendimento médio seja a cana-de-açúcar, com 160.000 kg/ha. O milho, ao lado do feijão,
são os produtos mais populares por fazerem parte da dieta alimentícia básica. O feijão tem
produção máxima em Santa Quitéria, com 2.163 toneladas, seguido de Tamboril, com 1.300
237
toneladas. A produtividade mínima observada foi em Marco, com 511 toneladas - município
que se ocupa muito bem com a castanha-de-caju (1.700 toneladas/ano). Ademais, mesmo
que seletiva e ocupando setores restritos da Bacia, a produção dos perímetros irrigados
eleva a média total das colheitas vertiginosamente, porém concentraram pequena mão-de-
obra. O sorgo, malgrado chamado de planta dos anos maus”, por ser muito resistente as
estiagens, é uma boa alternativa para forragem e alimentação humana, e poderia ajudar na
recuperação da economia agrária da Bacia. Conforme Duque (1981), também ajudaria como
os cultivos xerófilos.
É necessário fortalecer a agricultura familiar, pois uma intrínseca relação entre a
segurança alimentar (quantidade, qualidade e diversidade) e nutricional e o fortalecimento
dessa agricultura. Com todos os seus problemas, esse tipo de agricultura colabora para o
País com 70% do feijão, 84% da mandioca, 58% da produção de suínos, 54% da
bovinocultura de leite, 49% do milho e 40% das aves e ovos.
A produção de algodão vem caindo sensivelmente desde o século XIX, hoje com
2.138ha e rendimento médio de 1.063 kg/ha, nos municípios inventariados. Destaque-se
Santa Quitéria, com 40,6% da área plantada. Por outro lado, a mamona é revitalizada, como
ocorre em plantações de 20ha em Catunda, como alternativa de produção destinada à
fabricação de biodisel e óleos lubrificantes pela PETROBRÁS, em convênio com a
Universidade Federal do Ceará. Além da mamona, outras culturas, como o tomate, estão
em emergência, com destaque para Ipu.
Independentemente do sistema de produção usado, assiste-se à inserção de partes do
semi-árido em uma produção controlada pelo mercado atrelado ao novo padrão de
produção e consumo alimentar, bem como à expansão e chegada de empresas agrícolas e
agroindústrias, nacionais e multinacionais. Isso acirra a divisão territorial do trabalho e os
conflitos no campo, com refuncionalização do espaço agrícola a partir da criação de
sistemas técnicos e normativos associados aos transportes, irrigação, comunicações,
eletrificação e armazenamento, a partir do crédito estatal. Os perímetros irrigados seriam,
então, os espaços vistos com esse potencial hidroagrícola, como porções selecionadas do
território com fluidez para as empresas agrícolas e agroindustriais (ELIAS, 2005).
No Nordeste são 27 perímetros, nove dos quais no Ceará (ELIAS, 2005), e 4 na
bacia, o que ainda não foi suficiente para mudança da pobreza (FREITAS, 2005). A
fruticultura é a regra, com destaque para o melão, mamão, uva, melancia, coco, manga, caju,
graviola, laranja, acerola, coco, dentre outras, maas produção de legumes, como cebola
e tomate, associadas à produção de grãos (milho, feijão, arroz) em alguns perímetros. Com
a reestruturação produtiva, os capitais industriais (máquinas, adubos, sementes etc.),
financeiros (empréstimos) ganham envergadura nos circuitos comerciais, entre outros
produtores. A Secretaria de Agricultura Irrigada (SEAGRI) tenta articular e integrar vertentes
238
do agronegócio com foco na agricultura irrigada da Bacia, principalmente por meio do
Programa Cearense de Agricultura Irrigada e apoio federal.
O Perímetro Irrigado Araras Norte, localizado em Varjota, inaugurado em 1998,
embora mantenha 1.349 empregos diretos (54,10% permanentes), amarga prejuízos em
meio a falta de atenção do DNOCS aos irrigantes, que consomem muita água, podendo
degradar os solos por salinização impactando negativamente a rentabilidade das safras,
podendo provocar problemas que vão desde doenças nas plantas à comercialização dos
produtos. Existem 109 lotes, com capacidade de ampliação para 219. Os principais produtos
e áreas cultivadas, por lote, são a banana (2,8ha e 40 toneladas), o mamão (3,5ha e 125
toneladas) e o coco (2,6ha). O mamão, que é a principal cultura, é atacado por virose, o que
compromete grande parte da produção, que segundo Filho et al. (2004) ao lado do
desperdício de água (70% usam irrigação localizada, para redução do consumo e 30%
usam a aspersão convencional), falta de assistência técnica (produção, comercialização) e a
concentração da (30,27%) com seis colonos constituem os principais problemas.
O perímetro mais desenvolvido da bacia é o Baixo Acaraú, implantado em 1983,
enquanto os serviços de administração, operação e manutenção da infra-estrutura de uso
comum iniciaram-se em 2001 (FREITAS, 2005). Existem 12.407ha irrigáveis, sendo que
3.590,40h estão a implantar e 8.816,61ha encontram-se sistematizados. Todos os colonos
têm a posse da terra e usam hidrômetros para controle da água em planilhas, com fins de
redução do consumo e gastos com eletricidade, porém nem todos seguem.
O Governo Federa, porém reassentou colonos das áreas remanescentes, mas
priorizou um novo tipo de colono, o colono-empresário, criando denominações: lotes
empresariais, lotes para técnicos agrícolas e lotes para os que viviam na área (FILHO et al.
2004). A mão-de-obra assalariada fixa é de 237 pessoas. Outros empregos são ofertados
pela associação de produtores na administração, assistência técnica e no packing house
para limpeza, colheita e seleção de frutas.
Um escritório da SEAGRI no perímetro orienta sobre práticas culturais (adubação,
tratos comerciais, controles de pragas e doenças), mercado consumidor, compra de mudas
de banana e abacaxi selecionadas ou plantação destas no perímetro, para produção. Como
principais produtos, rendendo [conforme Freitas (2005)] lucratividade de até 38,6% têm-se:
melão (variedade rocheado, em 4ha/lote); banana (prata-anã, em 2ha/lote) e abacaxi (smoth
cayanes, 2ha/lote) para exportação.
A bem da verdade, o abastecimento do mercado local é preferido pelos minifúndios,
pequenas e médias propriedades, em regra. Justiça seja feita: a dieta que se leva à mesa é
conseqüência da labuta de trabalhadores rurais mais pobres e muitas vezes desamparados
técnica e financeiramente, que cultivam alimentos em todos os ambientes - aproveitando as
várzeas e margens de açudes - ao contrário do que ocorre nos latifúndios e agropolos
irrigados voltados para exportação, que são incapazes de abastecer os mercados sub-
239
regionais. Atrelam-se a isso a migração crescente, renda da terra e a utilização dos
recursos hídricos. Neste espectro, os sindicados dos trabalhadores rurais, em grande parte,
são os maiores conhecedores das dificuldades dos trabalhadores e são os verdadeiros
apoiadores do desenvolvimento agrário e sustentabilidade das comunidades rurais.
Degradação existe em todos os segmentos agrossocioeconômicos.
O trabalho manual apreendido pela imitação, entretanto, durante gerações, não
proporcionou produção e bem-estar mais apropriado com as crescentes necessidades
materiais dos grupos regionais (DUQUE, 1981). Isso leva o imaginário popular cearense,
mesmo com o bom humor característico de seu povo, às vezes a ter interpretações trágicas
e preconceituosas, como no dito: Quer acabar comigo, me manda pra roça...” Isto significa
uma clara alusão ao atraso, tendo como parâmetro as precárias condições de vida do
campo. Ademais, a ocorrência de longos e clicos períodos de estiagem acentua a
instabilidade do frágil equilíbrio ecológico, sendo que no Ceará conforme Alencar (2005b)
– cerca de um terço da atividade econômica é de lavoura temporária.
Como se não bastasse a política de teor agrário do Brasil está imbricada às
conjunturas internacional e nacional, orientadoras das políticas macroeconômicas, sob a
influência da globalização da economia (em destaque os gestores internacionais) em meio
ao crescimento desigual e combinado do sistema capitalista. Mesmo que a modernização
agrária ocorra tão-somente nos perímetros irrigados da bacia do Acaraú, as políticas
formuladas para o contexto nacional têm ressonância em todo o País, a despeito do que
observou Dias (1997), na região norte do Ceará. Dessa forma, a perda da capacidade
produtiva dos sistemas econômicos reflete-se em perda da identidade cultural, processo de
migração populacional, empobrecimento social (RODRIGUEZ e SILVA, 2002) e
estiolamentos ambientais.
Como um todo, o quadro social da maioria do povo das Áreas Susceptíveis a
Desertificação (ASD’s) é bem mais desfavorável, em média, do que o daqueles que vivem
em outras regiões do Brasil. “Significa dizer que se os mais pobres e com inferior qualidade
de vida do Brasil estão no Nordeste, é no Semi-árido, nas ASD onde se encontram os mais
pobres do Nordeste”. (BRASIL, 2004c: 60)
De tão vulneráveis que são essas comunidades, conforme Souza e Oliveira (2002) têm
com as secas conotações diretas com crises sazonais que afetam a economia agrária da
inadequação de lavouras às condições de potencialidades e limitações dos recursos
naturais disponíveis. A agrossocioeconomia da Bacia envolve o sistema agrário e o sistema
de produção, com atividades agropecuárias diversificadas, compondo diversas formas de
uso/ocupação da terra, via de regra, descapitalizadas e vulneráveis às secas. Neste palco
são encenados os dramas e as tragédias de povos sofridos no campo, ao longo de séculos.
Os trágicos anos de secas prolongadas provocam rupturas e dramas inenarráveis aos
pequenos sitiantes e camponeses safristas das áreas mais afetadas, provocando os mais
240
diversos impactos para economia e comunidades viventes dos sertões, provocando um “...
diabólico drama social que impera nos sertões secos...” (AB’SABER, 2003: 92) e seus
entornos.
Souza, em 1981, destacara que os condicionantes climáticos representam os
principais subordinadores da organização e funcionamento da agropecuária no vale do
Acaraú, com os mais diferentes sistemas de produção, subordinam-se às alternâncias entre
estações de chuva e de seca, processando-se, em respectivo, plantio e colheita. Durante os
anos, a distribuição das chuvas tem vinculação com as condições satisfatórias ou de
colapso agrícola.
Cerca de 33% da matriz energética do Ceará está assentada sobre bases tecnológicas
com extração de madeira de tora, lenha e madeira para carvão vegetal (ELIAS, 2005). Na
bacia, o extrativismo é mais bem representado em ordem de importância pela: lenha
(403.044 m³), madeira para carvão vegetal (121 toneladas/ano), madeira (9.279 t/a) e
carnaúba (cera – 112 t/a, pó 76 t/a e fibra 30 t/a). Os Municípios de Acaraú, Cruz, Bela Cruz,
Sobral, Meruoca, Groaíras, Pacujá, Reriutaba, Ipu, Catunda, Tamboril e Santa Quitéria
foram os levantados. Bela Cruz (19 toneladas/ano) e Sobral (121 t/ano) se destacam no
aproveitamento das potencialidades da carnaúba, com extração de pó, cera e fibra da
palmácea. Sobressaem Santa Quitéria (105.162 t/a e 5.936 m³), Tamboril (40.000 t/a e
1.600m³) e Meruoca (63.826 t/a, m³) com a produção de madeira para carvão vegetal e
lenha. Cruz (21.735 t/a) e Acaraú (64.942 t/a) destacam-se com a extração de madeira para
carvoejamento. Entrementes, a extração de lenha e madeira são seguidas de manejo
incorreto das unidades fitoecológicos, incluindo queimadas, contribuindo e muito com o
desmatamento e a desertificação. Outros produtos também são extraídos, conforme sua
oferta nas unidades geoambientais, como babaçu, em Ipu (8t/a) e Meruoca (143 t/a), e a
casca do angico em Santa Quitéria (9t /a).
O plantel da pecuária, é bem diversificado encontrando-se até 17 tipos animais criados
intensiva ou extensivamente, que, associados a diversos produtos derivados, como leite
(28.785 litros/ano), ovos (1.905 dúzias) e mel (950 kg/ano), constituem junto à agricultura o
setor agropecuário. A primazia da produção é da avicultura, com registro de 360.912
galinhas e 290.975 galos, frangos e pintos, principalmente em Santa Quitéria, que detém
26,82% do total de cabeças/animal. Para aferição desses dados, reunimos informações de
Santa Quitéria, Catunda, Sobral, Tamboril, Acaraú, Marco, Bela Cruz, Acaraú, Graça e
Reriutaba. Desses municípios, assinalaramos os seguintes produtos, em termos de
cabeça/animal: bovinos (199.705), caprinos (157.160), ovinos (155.241), suínos (103.167),
asininos (19.705), eqüinos (7.710), muares (3.855), codornas (965), búfalos (168) e coelhos
(155).
A avicultura, bovinocultura e caprinocultura absorvem a maioria do contingente
empregatício do setor, contribuindo sobremaneira para a arrecadação do Imposto de
241
Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS). A EMBRAPA Caprinos, em Sobral, constitui
importante apoio ao melhoramento dos criatórios caprino e ovino para convivência com o
semi-árido e combate à desertificação. Convém lembrar a criação e produção de asininos
em Santa Quitéria, que é uma das maiores do Nordeste (6.950 cabeças/animal) e está entre
as maiores do País, pois é muito incentivada pela agroindústria voltada à exportação da
carne animal. Os muares e eqüinos servem como força motriz e/ou transporte, além das
melhores raças de cavalos e indivíduos serem usados para correr nas populares festas de
vaquejadas.
Quanto à pesca, o Município de Acaraú, o único com mar na bacia, rendeu no ano de
1998 1.332,9 toneladas de peixes, com a maior quantidade das espécies cavala (274,60 t),
caicó (72,10 t) e serra (65,90 t). A lagosta foi o crustáceo mais procurado, com captura de
65,90 t. Outro crustáceo que está com grande procura no mercado é o camarão, que em
especial vem sendo cultivado em viveiros, com larga produção da espécie Litopenaeus
vannamei, por algumas agroindústrias. As agroindústrias do camarão, como a Artemisa,
Lagoa Azul Sea Food e Biotec, organizam-se como empresas nacionais voltadas ao cultivo
e comercialização de camarão para abastecimento dos mercados nacional e internacional. E
os peixes de água doce são mais procurados nos grandes açudes. Quando não, são criados
em cativeiro, como acontece no açude Ayres de Sousa, no Distrito de Jaibaras, em Sobral.
A estrutura fundiária montada, todavia, em grandes propriedades pecuárias e agrícolas
nos sertões, de um lado, e os minifúndios, como causa da evasão populacional nas serras e
na Ibiapaba, estão entre os principais problemas rurais. Associando-se esses elementos à
crise do algodão, da cera de carnaúba etc., são fatores que, para Souza (2005), contribuem
com o êxodo rural para a capital e maiores cidades.
As indústrias estão relacionadas praticamente aos ramos de extração mineral,
construção civil, utilidade pública e transformação. Este último ramo envolve a maioria dos
estabelecimentos industriais ou agrupamento de indústrias, com destaque para os produtos
minerais não metálicos (com aproveitamento do potencial litológico do complexo cristalino),
o agrupamento de vestuário, artefatos de tecidos, calçados (destaque para a Grendene,
maior fábrica da Bacia), couros, peles e similares e o ramo de produtos alimentares.
Ocorrem, também, indústrias mais sofisticadas, como as de material elétrico-eletrônico de
comunicação.
A respeito dos recursos minerais, convém registrar que são demandados pela indústria
regional, para obtenção de matéria-prima, construção civil, tratamento de água e instalação
de infra-estrutura, para citar os usos mais correntes. Por isso, os impactos ambientais
são diversos, principalmente, pela extração dos considerados agregados da construção civil,
retirados dos vales dos rios e dos granitos, como os explorados pela Granistone, em Santa
Quitéria. Em relação a Santa Quitéria, cabe atenção no cenário internacional a proposta de
reativação da maior mina de urânio do País, a Itataia, pertencente as Industriais Nucleares
242
do Brasil (INB), localizada em Santa Quitéria. Estava prevista para junho de 2005, mas
ainda não foi reativada, com orçamento de investimentos privados e do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), de US$ 80 milhões. A expectativa é de um
faturamento anual do valor do investimento inicial e que ofereça 500 empregos diretos e
2000 indiretos. O Governo do Ceará aposta na idéia de que a região do centro-norte será
beneficiada, bem como todo o Estado (JORNAL DIÁRIO DO NORDESTE, 2005).
Tecnicamente foi expedida a Licença de Instalação pela Secretaria de Meio
Ambiente do Ceará e são aguardadas as licenças do IBAMA e da Comissão Nacional de
Energia Nuclear (CNEN). Com seu funcionamento, as reservas geológicas de 142,5 mil
toneladas de urânio associado ao fosfato serão exploradas, estimando-se produzir
anualmente 120 mil toneladas de fósforo, sob a forma de ácido fosfórico para uso no fabrico
de fertilizantes e vendas nas principais frentes agrícolas nacionais. Este montante será
somado a 760 toneladas/ano de óxido de urânio, utilizável na produção de material radiotivo
de uso medicinal e agrícola. Todos os produtos serão beneficiados em Santa Quitéria, haja
vista a construção de instalações industriais e incremento de vias para escoamento da
produção. Outrossim, o fosfato sal de ácido fosfórico também é usado para produzir
energia elétrica, como combustível para reatores nucleares de potência.
Os estabelecimentos fabris de transformação chegam, por vezes, a representar a
totalidade de unidades de alguns municípios, como no caso de Massapê, Mucambo, Pacujá,
Morrinhos, Pires Ferreira e Monsenhor Tabosa, que têm, respectivamente, 33, 5, 7, 16, 4 e 6
unidades de produção. Em compensação, municípios de onde as indústrias de
transformações são ausentes, como em Meuroca, onde minerais não metálicos, bebidas e
produtos alimentícios e indústria de madeira perfazem 7 unidades de produção. casos
em que não existe registro de indústria, como em Graça, Alcântaras e Pires Ferreira, que
contam apenas, em ordem, com 1 e 2 indústrias de transformação. O maior número de
indústrias concentra-se nos Municípios de Sobral, Ipu, Santa Quitéria, Ipueiras, Nova
Russas, Cruz, Bela Cruz e Marco, totalizando 534 unidades, ou 76,39% em relação ao todo,
que é de 694 unidades industriais, ou 6,76% do total de unidades do Estado. A primazia
industrial é de Sobral, com 261 fábricas, correspondendo a 37,3% das indústrias de toda a
Bacia.
As indústrias têm importante papel na arrecadação de impostos pelos Governos
estadual e municipais quando não são insentas, como a Grendene -, ou pelo menos
produzem alguns empregos. Os maiores investimentos do Governo do Ceará ocorrem no
setor industrial, em detrimento dos demais setores, como a agropecuária, que emprega a
maioria de mão-de-obra. Além do que, quanto mais tecnificadas são as indústrias, maior
poderá ser o desemprego estrutural, sem esquecer de que em todos os ramos a poluição é
fato. Em especial, encontra-se em operação dede agosto de 2004, na localidade de Sabiá
(Santa Quitéria), o polêmico abatedouro de jumentos (asininos) Equus Agroindustrial S/A.
243
Embora não se tenha conseguido maiores informações acerca de sua produção, sondamos,
em trabalho de campo, que em um dia chegam a ser abatidos quase 200 animais, como
ocorrido em 09/09/2004, quando 190 cabeças foram a corte. Segundo marchantes, a carne
é para ser consumida no mercado holandês, por isso é exportada. Os restolhos são
destinados para graxaria, onde são précozidos, moídos e transformados em farinha, para
alimentação de outros animais.
Grosso modo, a Bacia importa manufatura de Fortaleza, outras regiões do País e do
mercado internacional, como alimentos, veículos e derivados, equipamentos
eletroeletrônicos, vestuários etc. Como uma via de mão dupla, a exceção de veículos e
derivados, alguns gêneros desses produtos são exportados, sobretudo, os de caráter
regional e os calçados produzidos pela Grendene. Nesse espectro, o comércio e serviço são
de fundamental importância no circuito econômico, seja no inferior ou superior, para
arrecadação de impostos, geração de emprego e desenvolvimento regional. Validando-se
essas informações para Santa Quitéria, Mucambo, Cariré, Sobral, Acaraú e Nova Russas,
amostramos que o comércio varejista tem ampla predominância sobre o atacadista. Nos três
primeiros municípios, o varejo representa 100% das lojas. Para os demais, respectivamente,
os índices são próximos disso: 97,20%, 99,12% e 98,68%.
As indústrias remanescentes do séc. XIX, ou mesmo aquelas planejadas pela
SUDENE, nos anos de 1960-70, subsistem e concentram-se, principalmente, em Sobral.
Mesmo que cada unidade não ofereça mais do que 200 empregos, são mais importantes
para a economia desse município e, para toda a Bacia, do que a Grendene, que emprega
10.300 trabalhadores. Isto porque as primeiras se articulam e são dependentes do mercado
local, tecendo uma malha muito mais complexa de relações socioeconômicas e espaciais,
com maior capacidade organizacional do que a segunda, que se articula ao mercado
exportador. Embora ocupasse, em 2001, 28% dos trabalhadores registrados em Sobral, as
relações dessa fábrica com a região se detêm na atração de mão-de-obra, com nível de
integração local relativamente baixo e com menor inter-relação na organização espacial
(COELHO, 2005).
O comércio de Sobral é o maior (2.048 estabelecimentos), com seu comércio
atacadista exportando e importando produtos intra-regionais, nacionais e internacionais, ao
lado das indústrias, incrementam as investidas econômicas. O comércio varejista polariza a
região e cresce, ao ritmo da expansão da malha urbana, mais do que do campo. Segundo
Souza (2005), a área de influência de Sobral, centro regional, atinge o litoral de Acaraú-
Camocim, região da Ibiapaba e sertão-centro-norte. Cidades como Santa Quitéria, Nova
Russas e Acaraú sobressaem como centros locais ou subsetoriais no cerne da Bacia, em
seu médio e baixo curso, em respectivo. Coelho (2005) específica a área de influência de
Sobral, advogando que sua polarização atinge cerca de 39 municípios, que vão além das
regiões consideradas acima, denominando esse raio de “área média de influência de Sobral”.
244
Isso no sentido socioeconômico, na demanda por serviços coletivos, onde ficariam de fora
somente os Municípios de Tamboril e Nova Russas no âmbito da bacia do Acaraú, que
estariam sob maior influência de Crateús.
Modelo econômico em franco desenvolvimento na região é o turismo, que é bastante
polarizado pelo litoral de Jericoacoara, limítrofe à bacia, sobressaindo-se como importante
atividade terciária atrelada ao comércio e à indústria. O turismo na costa oeste não é tão
expressivo quanto o na costa leste, muito em função de ínfima intra-estrutura. Tão-somente,
no litoral de reduzidas dimensões da Bacia-teste, vale salientar que as paisagens litorâneas
e pré-litorâneas, em suas condições biofísicas e possibilidades de instalações de infra-
estrutura hoteleira e de entretenimento, são destacadas como mercadoria necessária ao
desenvolvimento turístico de sol e praia. A atividade tida pelos Governos estadual e federal
e alguns municipais como uma das redenções econômicas nos setores potamal da bacia,
soma-se ao ecoturismo na Ibiapaba e Meruoca.
5.3 - AGENTES ORGANIZADORES DO ESPAÇO, TIPOLOGIAS DE USO E
OCUPAÇÃO DA TERRA E A DEGRADAÇÃO/DESERTIFICAÇÃO
As tipologias de uso/ocupação da terra relacionam-se aos modelos de exploração dos
recursos naturais e aos ativos ambientais em razão do seu valor econômico-social e das
atividades exercidas em determinadas áreas - como agricultura, desenvolvimento urbano,
turístico e industrial e implementação de estrutura de base e sofisticada. Esses fluxos, em
maioria, são operados pelas ligações criadas entre o local e o global, incluindo cada vez
mais a bacia na economia globalizada.
Desta feita, a busca pelo valor econômico e social dos recursos naturais é motivada
pela representação os diversos valores da natureza. Para Cavalcanti et al. (1997), esses
valores são: os sistemas de recursos, como energia e matéria-prima a ser utilizada pelos
sistemas econômicos e nas atividades produtivas; o sistema de condições de vida, ou de
habitat, na promoção da comodidade e conforto dos assentamentos humanos; o de fundo
genético para as atividades produtivas; e o de espaço, na localização de objetos e
atividades humanas.
As regiões naturais apresentadas pela Bacia (litoral, vales, tabuleiros costeiros, serras
e cristas residuais, planalto sedimentar da Ibiapaba e sertões) encerram vários
geossistemas, desde a interface com o mar, até suas nascentes, passando por áreas
aplainadas. Do acaso geodinâmico, a Bacia tem seus espaços valorizados, de vez que
resguarda ambientes marinhos, fluviais e continentais, tornando alguns geoambientes mais
privilegiados, onde se configura uma apropriação dos espaços seletiva e degradadora.
Por isso, abriga atividades econômicas características de sua situação ambiental e
inserção na lógica de mercado, através da: pesca, maricultura, turismo e lazer, navegação,
245
agroextrativismo, agropecuária, indústria e agroindústria, urbanização e açudagem, para
citar as mais relevantes.
Os geoambientes costeiros, por serem áreas edafoclimáticas e hidrológicas de
exceção no contexto da semi-aridez, seguidos pelos maciços úmidos e subúmidos (como as
serras das Matas, Machado e Meruoca), com boas a excelentes potencialidades de recursos
naturais, são demandadas pela acumulação capitalista-financeira, sobretudo do circuito
superior da economia. Por meio do agroextrativismo e sistema pífil de desenvolvimento da
agricultura, os sertões apresentam os mais avançados estádios de degradação,
conseqüentes de um nível cultural, econômico e de desenvolvimento societário deficientes.
Tanto os ambientes litorâneos quanto os reservados ao desenvolvimento industrial, via
de regra, além do agroindustrial, são dotados de recursos naturais explotados a partir de um
incremento de infra-estrutura, sobretudo hídrica, ao participarem da lógica de um mercado
cada vez mais globalizado, comprometendo e aviltando a agricultura familiar. As
determinações da dinâmica de reprodução do capitalismo e sua articulação em geral,
principalmente na junção do processo de exploração e acumulação, e nas formas
assumidas espacialmente, acarretam problemas que afetam todas as classes sociais,
cabendo às menos favorecidas a maior fatia das externalidades ambientais.
A organização do espaço, no que tange ao uso e ocupação da terra, odiernamente,
produz efeitos ambientais, traduzidos por problemas de degradação dos recursos naturais,
sobretudo os renováveis, promovendo mudanças socioambientais de toda sorte. A
diminuição da qualidade ambiental, que incide sobre o estado de conservação bioprodutivo,
é uma das causas associadas a essa questão e está vinculada aos seguintes aspectos:
especulação imobiliária; desenvolvimento do turismo e da carcinicultura; crescimento
desordenado dos núcleos populacionais, industrial e agroindústria - manejo de perímetros
irrigados, como Araras Norte, São Vicente, Forquilha e Baixo Acaraú -; incorporação de
terras para agricultura; falta de incentivo aos assentamentos rurais; desmatamento,
queimadas e ablação dos solos.
Porquanto, os tensores desencadeadores de alterações ambientais podem ser de
ordem natural - como movimentos das marés, dos ventos intensos, secas severas, chuvas
torrenciais etc. - e socioeconômicos - provenientes da ocupação e uso desordenado dos
recursos naturais. A depender do grau de modificação do ambiente, da abrangência
espacial da intervenção no uso/ocupação do solo e do sinergismo das ações, são
observadas degradações ambientais que ocasionam ou concorrem para promover a
desertificação.
Entrementes, essas mudanças ambientais mantêm correlações diretas com tipologias
do uso e ocupação da terra, agrupadas pelos seguintes conjuntos: ocupação urbana e
industrial; usos múltiplos dos recursos hídricos e dos ambientes hidromórficos;
recursos agrossocioeconômicos. Por negligências ambientais, essas tipologias, alhures e
246
algures apresentam estádios variados de ulcerações ambientais verificadas em todas as
unidades geoambientais.
Neste contexto, observaramos: expansão urbana desordenada com o concomintante
crescimento desordenado dos núcleos populacionais e concentração de renda; emprego de
técnicas agrossilvopastoris inadequadas; mineração clandestina; desmatamentos e
queimadas; bem como atividades especificamente praticadas no litoral, como a
carcinicultura, seguidos, pela: ocupação de dunas, aterramento do manguezal; turismo;
problemas provenientes da agropecuária e da ocupação dos enclaves de vegetação;
desmatamentos desenfreados e queimados, incluindo a destruição da matar ciliar e ablação
dos solos; redução da biodiversidade; poluição dos recursos hídricos e mudanças
hidrológicas; industrialização/agroindústria.
Tais problemas originam conseqüências na perda da qualidade ambiental -
principalmente dos recursos naturais renováveis e, conseqüentemente, na qualidade de vida
da população.
Frisamos o fato de que, na produção e organização do território cearense, as ações
dos órgãos públicos se destacam na (re) estruturação do espaço, em qualquer momento
histórico, e o planejamento científico-tecnológico serve de instrumento necessário à
produção socioespacial (SAMPAIO, 2005).
5.3.1
- OCUPAÇÃO URBANA E INDUSTRIAL: NEGLIGÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS
Os 26 municípios considerados no estudo da Bacia distribuem-se em 5 regiões
administrativas, compostos por uma população, segundo o IBGE (2000), de 685.098
habitantes, sendo 41% residentes no meio rural. Destaque para Sobral, o mais importante
pólo urbano-industrial. Neste espectro, especulação imobiliária, aumento da favelização e
precariedades infra-estruturais dos núcleos urbanos e desenvolvimento do turismo são os
aspectos mais comuns da ocupação urbano-industriail.
O Estado, como principal agente transformador do espaço e articulador do capital
internacional com as elites locais, prioriza as políticas direcionadas aos setores urbano e
industrial, oferecendo subsídios para (re)ordenação dos espaços, preferencialmente para a
perspectiva de setores privados da economia. Neste percurso, os locais dotados de
melhores condições são privilegiados. Segundo o CNRBC (2004), o Estado regula o
mercado que, de ordinário, prioriza os resultados de curto prazo, favorecendo a
concentração e a centralização do capital e das atividades econômicas e sociais no espaço.
Outros agentes - como os empresários e industriais, seguindo a perspectiva estatal, ou
mesmo a comunidade civil - reproduzem o crescimento desigual e combinado, ou seja,
fragmentado e articulado do espaço intra e extra-regional, no contexto nacional.
247
A ocupação urbana concentra-se, principalmente, nos núcleos populacionais das
principais cidades e seus distritos maiores, com destaque para Sobral (a maior cidade da
zona norte do Ceará), Acaraú e Santa Quitéria, sem esquecer da rede de pequenas cidades
nos sertões. Os núcleos urbanos caracterizam-se pelo uso intensivo do solo com
edificações, infra-estruturas viárias e básicas, localizadas estrategicamente conforme as
características do meio biofísico e vias de acesso, em todos os geossistemas da bacia. O
crescimento das cidades é acompanhado por expansão da ocupação das áreas de baixo
valor ou mesmo sem nenhum valor imobiliário, colaborando para o crescimento de periferias
paupérrimas nos já debilitados centros municipais, denotando ocupação urbana concentrada
e segregadora; entretanto, pela vocação agrária da bacia, comumente, a transição entre
urbano-rural não é nítida.
Por isso, a maioria dos municípios tem seu crescimento urbano vinculado aos recursos
agrossocioeconômicos, enquanto outras cidades, como Sobral, Ipu, Meruoca, Santa Quitéria
e Acaraú, além da relação telúrica na ocupação do solo, despontam com vocação industrial
e/ou turística.
É verdade que o espaço geográfico na Bacia é (re)produzido pelos agentes ao longo
do tempo e se faz de forma distinta, posto que o solo contém valor monetário. Os terrenos
mal localizados são ocupados pelas classes sociais de mais baixa renda. A população que
os compõe, por deter baixo poder de compra, ocupa as áreas de domínio público, de
preservação permanente, terrenos particulares não utilizados ou setores de maior
vulnerabilidade ambiental dos sertões, exatamente as áreas de menor valor imobiliário ou
insalubres. Esses fatos são mais fortemente evidenciados nas cidades sertanejas,
principalmente em Sobral, o maior centro urbano do norte cearense.
Os sertões apresentam a maior densidade de cidades, mas, em sua grande, de
pequeno porte e população que não ultrapassa os 10 mil habitantes, predominantemente de
baixa renda. No litoral e na serra da Meruoca, é que em grande parte ocorre uso/ocupação
do solo urbano por agentes alienígenas às comunidades locais, detentores de alto poder
aquisitivo, por meio de segundas residências, sítios e chácaras. Na Meruoca, por exemplo, o
parcelamento do solo com sítios, chácaras, casas de alto padrão e mansões contrasta com
as residências dos moradores tradicionais com suas casas simples. Um dos maiores
complexos hoteleiros de toda a bacia localiza-se nesse Município, o Ytacaranha Park Hotel,
que oferece, dentre outros serviços, um balneário bastante procurado o ano inteiro por
turistas e excursionistas, principalmente durante as férias e no segundo semestre de cada
ano, exatamente nos peodos de estiagens.
Com precária infra-estrutura de saneamento básico, no entanto, o Município da
Meruoca e a serra homônima enfrentam problemas com as águas servidas e os resíduos
sólidos, fato que pode ser generalizado para as demais cidades da bacia. As águas de
248
esgotamento vão ter com a rede de drenagem e nascentes de contribuintes do rio Acaraú,
usualmente, carreando impurezas.
Muito embora os enclaves úmidos das serras cristalinas e o planalto sedimentar da
Ibiapaba sejam bastante procurados para o incremento do trade turístico, é, sem dúvidas,
através do modelo turístico de sol e praia, estimulado pela especulação imobiliária, que as
formas de uso e ocupação da terra são diversificadas no litoral e pré-litoral. Convém
considerar que, em função do turismo com o modelo de sol e praia, o mar cearense
transformou-se em fronteira de acumulação, produção e circulação dos circuitos mundiais, o
que possibilita aos capitais produtivo, mercantil e financeiro fixarem estruturas orgânicas
fortes, produtoras de conflitos, pela mudança de sentido de uso da natureza, em meio à
acumulação ou sobrevivência (SAMAPIO, 2005).
O desenvolvimento da pesca, lazer, atividades lúdicas e turísticas e a construção de
segundas residências atraem fixos e fluxos dinamizadores das formas produtivas,
associados à infra-estrutura, com lojas, restaurantes, farmácias, padarias e outros comércios
de ramos especializados, tendo como principais eixos de acesso a BR-222, que liga
Fortaleza a Sobral e essa cidade ao Piauí, passando pela Serra da Ibiapaba. Outra rodovia,
a CE- 178, que liga Sobral a Acaraú, acesso à rodovia CE- 085 com destino à praia de
Jericoacoara, internacionalmente conhecida.
Com a construção da rodovia CE-085 nessa década, alguns terrenos localizados nos
Municípios de Acaraú, Cruz e Bela Cruz foram sobremaneira valorizados. A construção
dessa rodovia atrai especuladores imobiliários em busca da instalação de loteamentos
lindeiros, como em outras estradas próximas, em uma dinâmica associada ao turismo como
atividade de destaque sub-regional. Isto pode ser evidenciado no percurso entre Cruz-
Acaraú. O próprio Hotel Municipal de Cruz foi estrategicamente construído na saída da
Cidade em direção a Jericoacoara, seguindo essa rodovia estadual.
Mesmo que não se culpe o turismo como pivô dos problemas ambientais na zona
costeira, é importante perceber, como diz Coriolano (2001), que esse setor econômico no
Ceará tem comprome o ambiente por várias razões. Considerado indústria e com objetivos
puramente econômicos, põe o lucro como prioridade, desencadeando violenta especulação
imobiliária, supervalorização do solo litorâneo com a construção de infra-estrutura de apoio,
que, constumeiramente, desrespeita as normas e as leis ambientais.
Os problemas ambientais oriundos do turismo têm sua gênese na inserção turística
dos 573 km longitudinais do litoral estadual aos mercados doméstico e internacional,
preconizado pelo Programa de Desenvolvimento de Turismo do Nordeste (PRODETUR) e
sua ramificação, Programa de Desenvolvimento de Turismo do Ceará (PRODETUR-CE).
O turismo, como forma de ocupação urbana, desenvolve-se com base em
investimentos no uso e exploração dos recursos naturais, mas sem critérios
conservacionistas. O seu crescimento desordenado produz estiolamentos ambientais, em
249
razão das externalidades econômico-ecológicas, tais como: privatização das áreas de
marinha, falta de saneamento básico, quebra da dinâmica natural e balanço sedimentar,
desmatamento de enclaves úmidos etc.
Destarte, os Municípios sertanejos de Sobral e, Ipu no sopé dos contrafortes da
Ibiapaba -, bem como o serrano de Meruoca, também se destacam entre os principais
atratores turísticos em função de apresentarem objetivos e suportes a essa atividade. Com
exceção de Sobral, centro histórico-cultural, as outras cidades não estão entre os focos de
investimentos do Governo Federal, pois não apresentam litoral. Essa cidade é o centro
cultural e de lazer não da Bacia, mas também de toda a porção norte do Ceará, com
história que remonta à colonização do Ceará. Enquanto Meruoca e Ipu reúnem valores na
constituição do potencial turístico, com relicários de beleza natural.
Meruoca atrai turistas por suas diferenciações fisiográficas típicas de um ambiente
serrano de exceção em face da semi-áridez. Ipu tem funções balneárias e possui fortes
atrativos cênicos ligados a cascatas obseqüentes que descem da Chapada da Ibiapaba,
como exemplo a Bica do Ipu. Por isso é alvo de fortes pressões do empresariado imobiliário.
Notadamente, a especulação imobiliária produz desterritorialidades às comunidades
tradicionais e modificação das relações sociais de produção local, com a venda de lotes sob
pressões e até mesmo grilagens. Os principais efeitos resultantes do não-planejamento
ambiental nessa atividade precisam ser destacados como alerta à reorientação das políticas
de uso/ocupação da terra, porque as áreas preferenciais ao seu desenvolvimento podem ser
de alta fragilidade e vulnerabilidade ambiental. Assim, ocorre uma ocupação desordenada,
pela especulação imobiliária, supervalorizando o solo, desrespeitando as normas/leis e as
teias ambientais, afetando principalmente os recursos naturais. Os espaços públicos, como
os terrenos de marinha e as áreas de preservação permanente (APP’s), são apropriados
para uso privado.
A perda da cultura é uma violenta realidade, que, ao lado de loteamentos, muitas
vezes por grilagem, afetam a história dos povos locais e provocam migrações para os
centros urbanos ou para as áreas mais longínquas dos sertões. A compactação dos
terrenos com os loteamentos e construção de residências fixas ou segundas residências no
litoral, também, impedem a mobilização de sedimentos, reduzem o aporte transportado pelo
rio para o mar, desbalanceando a dinâmica costeira, o que pode afetar o potencial
hidrogeológico dos aqüíferos costeiros, as maiores reservas de águas subterrâneas de toda
a Bacia.
Em porções de tabuleiros costeiros, sobretudo, nas cidades de Cruz e Bela Cruz e
suas vizinhanças, grande parte da cobertura vegetal foi retirada para a instalação de sítios,
ampliação de núcleos urbanos e loteamentos, tencionando mais e mais os ecótonos
tabuleiros-várzea e tabuleiros-planície fluviomarinha. Não propriamente em função da
250
atividade turística, mas sim pelo histórico de economia agroextrativista da carnaúba e da
mata de tabuleiro, para busca de frutas, lenhas e madeiras.
O fato é que atividades ligadas ao meio urbano que têm os recursos naturais como
esteio, para ocupação de dunas, faixas de praia e de várzeas, além do aterramento do
manguezal, por exemplo, produzem novas feições paisagísticas, com desconfiguração e
fragmentação dos geoambientes, interferindo no estado de conservação ambiental.
Desconsideram a lei de crimes ambientais (n° 9.605, de 12/02/1998) e pressionam as Áreas
de preservação permanente (APP).
Os processos de urbanização hodiernos intensificam a ocupação das Áreas de
Preservação Permanente (APP), com residências, segundas residências e implementos
agrícolas e agroindustriais, sobretudo, nos vales fluviais e vertentes com acentuadas
declividades. A ocupação desordenada chega a formar áreas de risco associadas aos
manguezais, como observado na periferia de Acaraú, quando a população de baixa renda
ocupa áreas insalubres e de baixo valor imobiliário, não respeitando a cota de 100m a partir
do leito fluvial. Ademais, a degradação do mangue em Acaraú ocasiona desequilíbrios no
ecossistema estuarino, provocando mortandade da ictiofauna, crustáceos e moluscos,
desequilibrando os sistemas ecológico e socioeconômico, acometendo as populações que
subsistem desses recursos, afetando diretamente a diminuição da pesca e da maricultura.
Muito problemática é a ocupação das planícies fluviais pelos núcleos urbanos que
destroem as florestas e galerias. Além da poluição ambiental que os núcleos urbanos
podem ocasionar quando instaladas nos baixos terraços fluviais ou próximas desses,
seguida de desmatamento e de compactação do solo, na época de grandes chuvas, com
máxima precipitação, os leitos dos rios sofrem elevação do curso d’água, ocasionando
cheias e elevação não comum do nível, provocando transbordamentos. As resultantes são
inundações espamódicas que, além de acometerem o meio urbano, provocando transtornos
materiais ou mesmo mortes humanas, destroem lavouras no campo. Isso denuncia a falta
de planejamento na ocupação do solo, além de negligências ambientais e falta de políticas
habitacionais equivalentes às necessidades do povo.
Não obstante, a degradação das matas ciliares, também consideradas como APP’s,
ocorrem generalizadamente do litoral às nascentes do exutório, passando pelos mais
importantes tributários, acometendo principalmente os sertões, encostas e nascentes das
serras e cristas residuais, bem como o Planalto da Ibiapaba. Indistintamente, essa operação
ocorre no meio urbano como também no meio rural, contrariando as normas do Código
Florestal Brasileiro (Lei n° 4771, 15/09/1965) e suas atualizações.
Cabe ressalva, nesse sentido, à Lei 7.511 (07/07 /1986), item “a”, artigo , que
amplia as dimensões das faixas ribeirinhas de preservação permanente: de 30m para os
rios de menos de 10m de largura; de 50m para os cursos que tenham de 10m a 50m de
251
largura; de 100m para os cursos d´água que meçam entre 50m a 100m de largura; e de
150m para os cursos d´água que possuam entre 100m a 200m de largura.
Além dos mangues, as derradeiras alterações na Lei n° 7.803 (18/07/1989), no seu art.
, passou a considerar também como APP’s as formações vegetais das margens dos rios,
lagoas, lagos ou reservatórios naturais ou artificiais, estipulando largura mínima de 100
metros de mata ciliar, variando conforme a dimensão do corpo d’água, a partir da cota de
cheia máxima.
5.3.1.1 – Industrialização, economia-ecológica e externalidades geoambientais
Existem diversas unidades industriais representadas pelos setores de bebidas,
agroindústria avícola, rações e produtos avícolas, indústria alimentícia com destaque para
o abatimento de asininos -, “cimenteira”, produção de granitos e de cerâmica, “cortumeira” e
calçadista, para citar os principais ramos. A Sede de Sobral se constitui como um caso à
parte no contexto da Bacia, de vez que resguarda o maior contingente populacional e
concentração industrial, como a caçaldista Greendene, a “cimenteira” Poty, a alimentícia
Coelho e a de cortumes Bermas, dentre outras, que estão mais bem enfocadas no item que
trata sobre contaminação dos recursos hídricos.
Na cidade de Santa Quitéria, havia grandes indústrias, todas pertencentes a Canindé
Calçados, que foram fechadas recentemente, comprovando a deficiente e falaciosa política
de incentivo industrial do Governo estadual.
Quanto ao setor industrial, e ao subsetor agroindustrial, sobressaem a mineração e a
carcinicultura, em respectivo.
Sobre o potencial de recursos minerais, vale especificar algumas atividades mineiras
dispersas em praticamente todo o território da Bacia, por se tratar de fato muito preocupante.
Remetemo-nos a mineração de matérias-primas ordinárias, denominadas agregados,
mormente, para produção de cerâmicas e tijolos as quais, por sinal, são sujeitas a licença
ambiental. No geral, a mineração dos agregados constitui-se da extração, lavra e
beneficiamento de substâncias minerais, para as respectivas utilizações: rochas britadas,
areias, cascalhos e saibros - construção civil; argilas - fabricação de cerâmica vermelha,
telhas e ladrilhos; diatomita, rochas e outras - sarjetas, guias, paralelepípedos e mourões.
A argila, por exemplo, tem diversas ocorrências, mas o seu registro é ineficiente. Sabe-
se que sua maior exploração ocorre pelas atividades ceramistas ao longo dos principais rios
com alto consumo de combustível lenhoso. Observam-se grandes explorações em Sobral
(rio Madeiras) e em Groaíras (rios homônimo e Jacurutu). Por ter fácil exploração, as lavras
clandestinas de argilas e de areias são comuns, dificultando o controle e a fiscalização de
sua produção. Mesmo nas áreas com registros, o Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM) e outros órgãos de controle ambiental não conseguem fiscalizar com
252
eficiência. Alvarás de pesquisa e concessão de lavra para areia de fundição ocorrem de ser
pedidos na região de Sobral, mesmo assim não é o suficiente para articulação de
exploração ordenada.
Com exceção de minas de granito em Santa Quitéria e na serra da Meruoca, como
também algumas poucas olarias, via de regra, a mineração é clandestina. O não
licenciamento destas atividades implica maiores danos ambientais, não-pagamento de
encargos sociais aos trabalhadores e a não agregação de receita tributária pelo erário, isto
em razão à incipiente ação fiscal exercida sobre a indústria extrativa e de transformação
mineral. Por se trataram de regimes simplificados, com área máxima requerida de até 50 ha,
essas atividades podem ser exercidas pelo proprietário do solo, ou por quem dele tiver
autorização, para uso imediato na construção civil; isso conforme o Regime de
Licenciamento (Lei 6.567/78). Dependem também de licenciamento e alvará concedidas
pela autoridade municipal e pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e de
licenças ambientais concedida pela Superintendência de Meio Ambiente do Ceará
(SEMACE).
Infelizmente, em razão da falta de infra-estrutura para exercício fiscal, bem como pelas
próprias lacunas deixadas pela fiscalização, associadas a outros fatores econômicos, a
exploração desses minérios ocorre indiscriminadamente entre o descompasso das funções
normativas e fiscais do Estado. Por diversas vezes, foi flagrada a retirada criminosa de
muitos carregamentos de sedimentos dos terraços e, principalmente, dos leitos dos rios no
período de estiagens durante trabalhos de campo, além de ser bastante comum a presença
de olarias que usam a lenha das caatingas como combustível na produção de artefatos de
cerâmica (Figura 19).
Conforme entrevista com trabalhadores envolvidos nesse processo, um caminhão
chega a fazer até 30 viagens para transporte desse material em um dia. As argilas estão
sendo exploradas, indistintamente, nas várzeas e planícies fluviais por cerâmicas e olarias,
de forma clandestina, sem concessão de lavra, dando imprecisão sobre a produção. A
diatomita, também, é explorada clandestinamente, mas só que nas planícies fluviais e
lagoas costeiras.
A mineração de rochas britadas é feita em pedreiras na serra da Meruoca, na
mineração Granistone, em Santa Quitéria, ambas licenciadas e em pequenos pontos
dispersos pelos sertões em maciços residuais. A pedreira Granistone, com uma das maiores
produções de todo a região Nordeste, tem central de britagem de alta tecnologia. Com
respeito ao potencial mineral merece referência o Programa Nuclear Brasileiro (PNB), sob
coordenação da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que quer reativar a
extração e beneficiamento de urânio, em Caitité (Bahia) e itataia, Santa Quitéria (CE).
Em Itataia, o urânio é subproduto do fosfato, tornando obrigatória a exploração
associada dos dois minérios. É estratégico economicamente, porque o Nordeste é pobre em
253
rios para instalação hidroelétrica, além de a região enfrentar problemas com o fornecimento
de gás natural, entretanto, a energia nuclear é de alto risco, podendo provocar danos
iminentes e irreversíveis ao ambiente e à saúde humana (WALDAMAN, 1992). Seria
interessante incentivar a produção de biodiesel da mamona e a instalação de usinas
aerogeradores no litoral como fontes energéticas limpas e de baixo curso.
a b
c
Figura 19 – Mineração clandestina no canal dos rios Groaíras, Jacurutu e olaria para
fabricação de artefatos de cerâmica.
Na interação mineração e meio ambiente, este funciona como fornecedor de matéria-
prima, depósito de resíduos e área de lazer. Essa interdependência demonstra as funções e
o grande número de demandas ambientais registradas na indústria mineral e no circuito de
produção (Figura 20) que provocam, inevitavelmente, alterações socioambientais no uso e
ocupação do solo.
254
Figura 20 - Indústria mineral e circuito de produção
Fonte: Boletim mineralógico (1980) in Carvalho (2001)
Os principais condicionantes técnicos das alterações ambientais são: a topografia,
métodos de extração e beneficiamento empregados, proximidade de centros urbanos e
turísticos, condições climáticas e a proximidade de outros recursos naturais, principalmente
a água. Os condicionantes produzem intensificação dos processos de solifluxão, alteração
da drenagem e desequilíbrio ambiental, assoreamento e modificação da turbidez dos corpos
hídricos, poluição, destruição e fragmentação dos ecossistemas, bem como modificações na
estética da paisagem.
Geralmente, os custos sociais e ambientais não são internalizados no processo
produtivo, provocando as externalidades ambientais. Visto que os bens minerais são partes
integrantes do ecossistema e apresentam rigidez locacional (MARGULIS et al. 1996;
CARVALHO 2001; FILISETTI 2000 e NASCIMENTO, 2003). Os efeitos externalizados ao
meio ambiente ocorrem por: emissão de gases tóxicos, não-tratamento de esgotos, má
disposição dos resíduos sólidos, remoção do substrato das unidades morfopedológicas,
intensificação dos processos de solifluxão, alteração da drenagem, assoreamento, turbidez
das águas, poluição, destruição e fragmentação dos ecossistemas e modificações estéticas
da paisagem.
Para amortização destas externalidades socioambientais, minimamente é necessário
substituir as fontes de energia, aproveitar os resíduos via reciclagem e desenvolver e/ou
utilizar novos materiais.
Seja qual for a alternativa para amortização dos impactos da indústria extrativa mineral,
seus efeitos sobre os ecossistemas, relevo, qualidade das águas e população residente em
torno de áreas mineradas, a sustentabilidade ambiental deve ser uma meta tangível. A
indústria extrativa e de transformação mineral utiliza metais, combustíveis, minerais
industriais e materiais de construção. Esses bens minerais são demandados pela agricultura,
indústria química e farmacêutica, tratamento d’água, geração de energia elétrica, indústria
da construção civil e de infra-estrutura, comunicação e informática, além de tecnologia “de
ponta”. Mesmo porque, em seus objetivos colimados, a Política Nacional do Meio Ambiente
(Art. , Lei 9.960/00) considera sobre essa que stão que deve haver compatibilização do
Setor
Mineral
Industria extrativa mineral
Explotação
Industria de transformação mineral
Operação de
beneficiamento e
tratamento
Consumo e/ou
transformação
intermediária
Reciclagem
Consumo e/ou
transformação final
Pesquisa
geológica
255
desenvolvimento socioeconômico com a proteção da qualidade do ambiente e do equilíbrio
ecológico.
No setor industrial, na especialidade agroindustrial, fato não comum é a localização,
em Santa Quitéria, de abatedouro de jumentos, um dos maiores do País, com carne para
exportação, trabalhada pela empresa Equus Agroindustrial S/A.
Uma das mais importantes e recentes formas de ocupação da terra, todavia, veiculada
pela agroindústria é a carcinicultura produção de camarão em cativeiro. Com a alta da
produção de camarão no mercado mundial, países tropicais, com as condições ambientais
adequadas termopluviométricas, salinidade de estuários etc. -, passam a fazer parte de
um circuito econômico, bancada pela iniciativa privada e estatal, nacional e internacional. A
agroindústria está mais bem abordado no tratamento das tipologias envolvidas na
agrossocioeconomia.
Projetos de irrigação público-estaduais e público-federais, para desenvolvimento da
agricultura, ocorrem em agropolos. Em primeira aproximação, merecem destaque aqueles
setorizados nos perímetros de irrigação Araras Norte e Baixo Acaraú, a partir de uma área
de 11.368 ha. Os Governos estadual e federal incentivam o desenvolvimento econômico de
regiões produtoras através da expansão desses agropolos em perímetros irrigados, contudo,
ainda são desconhecidas as conseqüências ambientais com o incremento desses agropolos
por meio de novas tecnologias, como as voltadas para irrigação, no que se refere à
desertificação. Aventa-se a possibilidade de que eventuais áreas salinizadas nos perímetros
irrigados mantenham relação de causa-efeito com a desertificação.
5.3.2 - USO DOS RECURSOS HÍDRICOS E DOS AMBIENTES HIDROMÓRFICOS
Infelizmente, com a apreensão do ambiente, em grande parte, exterior à existência
humana, os recursos hídricos são apreendidos somente como um recurso natural a ser
explorado, entretanto, há sinais de degradação que ameaçam a segurança hídrica da Bacia,
no que se refere à escassez da água doce, principalmente associada às vicissitudes
climáticas. Isso indica a necessidade de se mudar o padrão de vida de agrupamentos
sociais que beira a exaustão.
Pela necessidade que representa a água - como insumo produtivo, composição da
paisagem terrestre, interferência em processos biogeoquímicos, para vida humana etc-, os
recursos hídricos são utilizados para múltiplos fins. Ocorre desde a retirada de água das
coleções hídricas, promovendo perda entre derivação e o que retorna ao corpo hídrico,
alterando sua quantidade, e perdas de qualidade por causa de finalidades subseqüentes, a
usos não consuntivos, quando não se tem necessidade de retirar as águas de suas
coleções, isto é, o uso in situ. Nesse espectro, a Lei de Recursos Hídricos do Ceará (n°
11.99, de 24/07/1992) prevê alguns instrumentos legais, como outorga de direito de uso dos
256
recursos hídricos, o licenciamento para obras hídricas e a cobrança pelo uso da água bruta.
No prisma de recursos hídricos e convivência com o fenômeno da seca e combate à
desertificação, cabe referenciar a definição e caracterização das principais funções, com as
respectivas subfunções em termos da gestão, oferta e preservação das águas das bacias
hidrográficas cearenses (Quadro 28), com foco na do Acaraú.
Quadro 28 – Funções do sistema da gestão de água e demais sistemas, consideradas
no Plano de Recursos Hídricos do Ceará em 1992
Gestão Planejamento; administração; regulamentação
Oferta Nucleação artificial; represamento; poços; cisternas
Consuntivo Abastecimento, irrigação, abastecimento industrial, aqüicultura, abastecimento
urbano.
U
s
o
Não Consuntivo
Geração hidrelétrica, navegação fluvial, lazer, pesca e piscicultura extensiva,
assimilação de esgotos
Preservação Lazer, turismo, manutenção do ciclo hidrológico e higidez hídrica, recarga de
aqüíferos, manutenção microclimática e da biodiversidade.
Complementares Ciência e tecnologia, meio ambiente, planejamento global, incentivos
econômicos, defesa civil
Fonte: Adaptado de Campos (2001).
Os usos não consuntivos não demandam padrões rígidos de qualidade, embora não
se possa dispensar um mínimo de qualidade e de características estéticas, sobretudo em
relação à sua função paisagística. Assim, estão condicionados a recreação e lazer,
transporte, navegação e diluição de dejetos. Enquanto, isso, os usos consuntivos exigem
melhores padrões de qualidade da água em função de englobarem o abastecimento público
e industrial e agroindustrial (instalação de tanques para carcinicultura, por exemplo),
perímetros irrigados, dessedentação de animais e o mais nobre dos usos da água, o
consumo/abastecimento humano.
Dentre as demandas por água observadas emr Heller e Casseb (1995), conceito no
plano nacional, algumas podem ser constadas como ocorrentes na Bacia, no abastecimento
das populações, setores produtivos e em outras demandas de usos, variando desde os mais
nobres aos menos urgentes. Anotamos que, quanto maiores os núcleos urbanos e a
atividades agrícolas, mais intensos são os consumos d’água. Assim, Sobral e as atividades
agroindustriais demandam os maiores aportes desses recursos e, consequentemente,
ocosionam o maior volume de efluentes, entre eles: esgotos domésticos e industriais, graxas,
águas compostas por defensivos químicos, rações e antibióticos para aqüicultura, partículas
em suspensão, dentre outros poluentes, quais sejam:
público - rega de logradouros, parques e jardins, chafarizes, poços, edifícios públicos,
piscinas públicas e recreação, escolas, hospitais, mercado público, pesca, paisagismo
dentre outros;
doméstico - higiene corporal, descarga de sanitários, preparo de alimentos, bebidas,
lavagem de roupa e automotores, rega de jardins e quintal, limpeza em geral etc;
257
comercial - restaurantes, bares e lanchonetes, lojas, postos de gasolina, frigoríficos,
escolas, salões de beleza, dentre outros;
agrícola e pecuária - irrigação e agropolos, lavagem de currais, instalações de
tanques para clube ”pesque-e-pague”, abastecimento de açudes;
industrial/agroindustrial - água como matéria-prima, consumida no processo, utilizada
para resfriamento e lavagem, necessária para a instalação de sanitários, refeitórios,
enchimento de tanques para carcinicultura.
Especial - combates a incêndios, instalações desportivas, estações rodoviárias e
aeroviária, diluição de dejetos etc.
Não podemos deixar de mencionar as demandas pelas atividades de engenharia com
barragens (açudagem) e perenização de seções dos rios, além daquelas voltadas ao
turismo, ocupações lúdicas e de balneabilidade, pesca, piscicultura, maricultura,
abastecimento animal, abertura de poços, principalmente nos sertões, e as necessidades de
água da própria natureza, como a recarga de aqüíferos. Nestes processos, ocorrem perdas
na adução, no tratamento, na rede de distribuição e nos próprios domicílios, além dos
eventuais desperdícios nos pontos de tratamento.
A pesca, recreação e contato primário, dessedentação de animais, diluição de dejetos,
abastecimento público e irrigação ou uso residencial estão entre as principais modalidades
de exploração dos recursos hídricos. Vale ressaltar que os corpos d’água se constituem
como um grande atrativo cênico, onde se praticam esportes náuticos, e que propiciam a
preservação da comunidade aquática. Os córregos, riachos e açudes são usados para
higiene, lavagem de roupas, irrigação de lavouras de subsistência e para o banho das
comunidades carentes no meio rural, enquanto o meio urbano os poluem com resíduos
sólidos e dejetos. A demanda por água é intensificada nos meses de agosto e setembro,
exatamente quando a evaporação é mais elevada, acarretando a diminuição da quantidade
e qualidade hídrica, piorando as condições de vida destas comunidades e aumentando os
conflitos por água.
Áreas de colúvios, perímetros irrigados, margens ribeirinhas, faixa de periferia das
represas, serras com seus brejos e as áreas de chapadas, conforme Netto et al. (1992),
apresentam melhores condições edafoclimáticas no cerne dos sertões secos como áreas de
exceção. A rigor, os usos dos recursos hídricos podem ser diferenciados ao longo do
espaço da bacia conforme unidades geoambientais, preferencialmente destacando alguns
dos mais importantes ambientes hidromórficos. Quando ocorrem nos sertões, configuram-se
como se fossem oásis dos desertos quentes, que atenuam as contingências
termopluviométricas.
No litoral, a planície fluviomarinha possibilita a pesca artesanal, a maricultura e o
turismo, bem como o desenvolvimento de estudos científicos e a conservação compulsória.
Como visto, esse geofácie sofre problemas de degradação pela mobilização artificial das
258
dunas, desmatamentos, urbanização e, principalmente, pelo definhamento de fontes de
água, a montante da bacia. Com o desenvolvimento da carcinicultura, a demanda por águas
estuarinas é crescente, o que pode diminuir o fluxo fluvial das camboas, interferindo e
desregulando a compensação da salinidade do estuário.
As áreas que outrora foram salinas, naturalmente recolonizadas por apicuns
(vegetação halofítica herbácea), quando o mangue não tenha se regenerado, constituem-se
como áreas alagáveis e descampadas próximas à barra do Acaraú (comunidade de Curral
Velho, por exemplo), que são ocupadas pela pecuária extensiva e extração de crustáceos,
além representar zona de litigio e conflitos entre comunidade tradicional e carcinicultores.
As várzeas, típicas das planícies fluviais, inundadas somente em tempos de chuvas
expressivas, estão presentes em todos os setores da Bacia - com exceção das serras
cristalinas residuais e inselbergs -, comumente formando ecotónos com outros ambientes.
Embora degradadas, são aproveitadas com a agricultura de vazantes e agropecuária
extensiva. Do mesmo modo, em porções mais deprimidas da Depressão Sertaneja,
distribuem-se, dispersamente, pelos sertões as áreas de acumulação inundáveis (baixios),
que acumulam água ao final do período chuvoso, podendo originar pequenas lagoas,
oferecendo-se como fontes opcionais para as comunidades.
As áreas de segurança dos açudes, ou seja, suas margens, forjam ambientes
hidromórficos. Com o período de escassez de chuvas e redução significativa de seu uso
ótimo, como também durante a sangria desses reservatórios, condições edafológicas de
maior umidade são atrativos a mais para o cultivo de policulturas, por pequenos
proprietários e até mesmo por grandes proprietários - que têm áreas de açudes públicos em
suas terras. Em todos os casos, os riscos de contaminação por fertilizantes defensivos
químicos e transporte de sedimentos são potencializados para o interior das coleções
hídricas, principalmente dos 12 maiores, podendo provocar eutrofização.
Ademais, a depender da construção da barragem em relação aos planos de foliação
das rochas ao eixo da estrutura, urgem duas situações. Quando a disposição litológica é
quase paralela, a possibilidade de desestabilização da barragem e de vazamentos é
reduzida. Caso contrário, rochas com disposição perpendicular ao eixo da barragem
aumentam a possibilidade de vazamentos (MORAIS, 1992) e, portanto, formação artificial de
ambientes hidromórficos aproveitáveis com olericulturas, pastagens para caprinos e bovinos
e outros produtos de subsistência.
Em meio às precárias condições de saneamento, algumass áreas de acumulações
inundáveis ou mesmo lagos ou planícies fluviolacustres são contaminadas com águas
servidas em algumas cidades, como Mucambo, Sobral, Groaíras, Santana do Acaraú e Cruz,
formando as popularmente denominadas “capineiras”. Constituem formas alternativas para
criação de pastos para alimentação de gado bovino por pequenos criadores.
259
Os açudes, mesmo com todos os problemas, sobretudo os públicos, as passagens
molhadas - pequenos barramentos que retêm ínfimos volumes d’água temporáriamente -, e
as cisternas de placas são alternativas para o acesso à água das comunidades mais
carentes. Na Figura 21, foram retratadas algumas das principais maneiras de uso e acesso
aos recursos hídricos superficiais na Bacia.
Cabe dizer que os ambientes hidromórficos quanto às formas de uso dos recursos
hídricos, em conjunto, ajudam a compor os arranjos de uso/ocupação agrossocioeconômica
(campos cultivados com desenvolvimento agrossilvopastoril), analisado a frente.
Entrementes, é triste constatar a contaminação dos recursos dricos e as possíveis
mudanças hidrológicas.
260
Figura 21 – Algumas possibilidades e maneiras de acesso a água na bacia do Acaraú
“Passagem molhada” (pequena barragem) sobre o
rio Acaraú, entre Groaíras e Cariré.
Válvula de perenização do rio Groaíras, a partir do
açude
Edson Quei
roz
.
Açude Jaibaras: abastecimento público e pisicultura.
Transporte de pipotes d’água para consumo humano.
Santa Quitéria.
Cisterna para armazenamento de água das chuvas.
Catunda.
Cena clássica entre as planícies fluviais sertanejas:
lavadeiras e recreação em dia de sábado. rio Acaraú,
Sobral.
261
5.3.2.1 - Alterações na higidez dos recursos hídricos: pontos de poluição, mudanças
hidrológicas e diminuição da resiliência espaciotemporal
A água, recurso natural renovável, porém exaurível, é impactada por ações
socioeconômicas que lhe conferem degradabilidade, reduzindo-lhe a higidez utilizável em
intervalos espaciotemporais freqüentemente mais curtos, conforme Darísio (2000). As
formas de utilização da água, ao contrário do que ocorre com a maioria de outros recursos
naturais que desaparecem com o uso, produzem modificações sensíveis em seus aspectos
quali-quantitativos. Desta forma, a contaminação dos recursos dricos compromete a
resiliência das águas e a geodinâmica de toda a Bacia, competido para agravar o estado de
conservação dos recursos naturais e, por extensão, a desertificação.
Os principais tipos de poluição (pontuais ou difusos) estão vinculados a diversos
fatores e vetores, dentre eles a dificuldade de acesso tecnológico, o baixo nível de
consciência humana e a falta ou carência de investimentos em saneamento ambiental.
Dentre os principais citam-se:
esgotos domésticos e comerciais - principais introdutores de matéria orgânica e
demais compostos biodegradáveis e/ou não-biodegradáveis nos ecossistemas aquáticos,
contribuem para o a depleção de O
2
e favorem processos de eutrofização;
águas servidas dos trabalhos agropecuários e de matadouros - os fertilizantes e
defensivos agrícolas, em geral, podem ser transportados pelas águas da chuva,
favorecendo processos de eutrofização, ou se infiltrarem no subsolo, acumulando nitratos e
nitritos nas águas, deletérios à saúde humana. A lavagem de matadouros e o estouro de
fossas sépticas contribuem para a poluição por matéria orgânica, reduzindo a concentração
de oxigênio dissolvido nos corpos receptores;
os despejos indústriais/agroindustrias e hospitalares - principalmente ocasionados
pelas olarias e indústrias espalhadas pela Bacia, quando são lançados a céu aberto,
incorporam-se à rede de drenagem quando não são diretamente despejados in natura nas
coleções d’água. Podem variar conforme o porte da indústria, em composição e volume. Os
perímetros irrigados podem contaminar as águas subterrâneas com sais. A despesca da
carcinicultura lança aos recursos hídricos grandes cargas de poluentes, incluindo restos de
ração e antibióticos, que podem provocar aumento da turbidez, depleção de O
2
,
comprometimento da biota e eutrofização. As águas servidas dos hospitais são de alto risco
à saúde pública, pois são ricas em substâncias patogênicas que vão ter com as drenagens,
quase sempre sem tratamento;
deficiência na coleta sistemática de lixo e falta de aterros sanitários - parte do lixo
produzido é depositado a céu aberto - por vezes, próximo aos veios fluviais e terrenos mais
permoporosos. A disposição de lixo nos terraços mais baixos facilita a ação do chorume,
induzindo o escoamento e/ou percolação de susbstâncias poluidoras. Um subproduto
262
altamente tóxico que é comum na produção das cerâmicas e olarias é o cádmio. Inexistem
aterros sanitários, com exceção do de Sobral, que recebe também os resíduos sólidos de
Meruoca; e
águas urbanas de escoamento superficial - representam foco de poluição hídrica, no
momento em que são transportados detritos e volumes poluentes de toda sorte pelas águas
e ventos.
Segundo Campos (2000), o ambiente é contaminando com substâncias orgânicas,
inorgânicas e tóxicas (metais pesados, ácidos, pesticidas etc), sais não tóxicos (cloreto de
sódio e sulfato de potássio) e substâncias antiestéticas. Em razão dos problemas sanitários
envolvendo esses poluentes, às temperaturas elevadas e a diminuição da quantidade das
coleções hídricas no segundo semestre de cada ano associando-se à deposição de
dejetos e aos hábitos da população - as chances de surgimento de enfermidades veiculadas
pela água exigem maiores cuidados pelas autoridades competentes.
O maior problema sanitário observado diz respeito às doenças provocadas pelos
esgotos. Quando as águas em quantidade são insuficientes para higiene pessoal e/ou estão
contaminadas podem causar doenças (CARVALHO e NASCIMENTO, 2004). Certamente,
as fontes de poluição podem provocar o aumento de incidência de doenças de veiculação
hídrica, - como a malária, mal-de-Chagas, febre amarela, febre tifóide, tracoma, escabiose,
lepra, conjuntivite, dermatites dentre outras -, tensionando a relação estreita entre água e
saúde pública. Pode, ainda, elevar o teor de matéria orgânica nos lençóis subterrâneos e
coleções d’água de superfície, tornando a qualidade da água imprópria para usos múltiplos.
É importante lembrar que, além dos problemas de saúde humana, a contaminação das
águas afeta a qualidade e a diversidade biológica, enquanto as atividades produtivas ficam
comprometidas. Por isso é que a gestão dos recursos naturais, nesse caso preferencial, os
hídricos, é urgente e - o Comitê de bacia do Acaraú terá papel preponderante para integrar
institucionalmente os diversos interesses, pois seus poderes consultivo e deliberativo, de
instância mais importante de participação e integração do planejamento e das ações
relacionais aos recursos hídricos, são imprescindíveis na mediação dos conflitos, advindos
das políticas econômicas e atividades sociais uso e ocupação do solo (estrutura fundiária,
urbanização etc) demografia, industrialização, impactos ambientais, macroprojetos etc.
Foram visitados diversos pontos potenciais de poluição em 25 municípios,
considerando inclusive as Estações de Tratamento de Água (ETA’s) e Estações de
Tratamento de. Esgoto (ETE’s). De um modo em geral, as estações não apresentam
condições ideais de funiconamento, cabendo às ETE’s os maiores problemas. Neste sentido,
é mister melhorar as ETE’s, porque, conforme Campos (2000), elas representam sistemas
de tratamento econômico e têm potencial para produzir efluentes isentos de helmintos,
protozoários, bactérias e vírus, possíveis de uso para irrigação.
263
O processo de desenvolvimento deflagrado provoca elevação na demanda pelos
recursos naturais, sem proporcionalmente sequer promover melhoria na qualidade de vida
da população residente. As atividades regionais desenvolvidas modificam os usos múltiplos
da água e seus aspectos espaciotemporais, desfigurando as paisagens - amalgama dos
componentes do quadro biofísico da Bacia-, reduzindo sua biodiversidade. Tendo como
referência a complexidade que é a bacia hidrográfica do rio Acaraú, seus canais fluviais e o
escoamento das águas, podemos dizer que ocorrem formas diversificadas e desregradas de
ocupação do solo em seus domínios, de onde emergem conflitos e impactos de variadas
etiologias. Exemplo disto é o que se verifica com as tipologias de uso e ocupação da terra.
Conforme o uso e ocupação do solo, podem ocorrer impactos ambientais diretos e
indiretos no exutório principal (CHRISTOFOLETTI, 2001). Sobre os impactos diretos,
assinalamos: retificação, dragagem do rio e barramentos indevidos. Por outro lado, no que
diz respeitos aos impactos indiretos, é possível encontrar: desmatamento,
impermeabilização de superfícies e mudanças no uso da terra; e, conforme Ebijemisu (1989),
até mesmo ocorrer modificações nas propriedades físicas e estruturais dos solos, na
precipitação e temperatura.
A depender das obras de engenharia e das sucessivas retificações dos rios, os
impactos sobre bacias hidrográficas, principalmente a montante de reservatórios, no
reservatório e em sua periferia, bem como a jusante da barragem podem ser de várias
etiologias: hidrológicos, microclimáticos, geomorfológicos e bióticos (CUNHA, 1995). Em
especial, a canalização, que pode ser observada nos perímetros irrigados e em alguns
centros urbanos como Pacujá, Morrinhos e principalmente em Sobral, representam obras de
engenharia desenvolvidas no sistema fluvial, envolvendo direta modificação da calha do rio
e ocasionando impactos diretos no canal e na planície de inundação, conforme Cunha
(2001).
O sinergismo das atividades socioeconômicas altera o equilíbrio dos canais,
promovendo mudanças no ciclo hidrológico e nos processos fluviais. Ademais, sobre as
características e problemas de canais retificados, pode ser produzido um “arquivo de
informações”, para perspectivas de análises. Como exemplo, o Quadro 29 sumaria esses
aspectos, como reflexo das atividades socioeconômicas e da dinâmica biofísica no riacho
Mucambinho em Sobral, margem esquerda do Acaraú. E a Figura 22 exibe, dentre outros,
panoramas do sítio urbano de Sobral.
264
Bairro Alto do Cristo: vista panorâmica de Sobral ao fundo fábrica de cimento Poty e Serra da Meruoca
Bombeamento d’água do estuário
Aeradores em viveiros na Empresa Lagoa Azul Lançamento de efluentes pela Artemiza no estuário
Viveiros na Empresa Artemiza Tanques de larvicultura
Figura 22 - Sítio urbano de Sobral e carcinicultura em Acaraú e Cruz
265
Quadro 29 - Características e problemas na retificação do canal do riacho
Mucambinho
Aspectos do canal Caracterização
Área ao
redor/ocupação
Estrutura de concreto preservado a pouco deteriorada. Formação de bancos de
areias povoados por vegetação. Lançamento de esgotos.
Margens Ocupação com terrenos e loteamentos, sem erosão aparente. Vegetação herbácea
e arbustiva ao fundo. Pequeno trecho de área permeável. Avenida asfaltada
lindeira ao rio. Fluxo acentuado de veículos e pessoas. Proteção do canal com
paralelepípedos e mureta. Ajardinamento para paisagismo e permeabilização para
urbanização em Sobral.
Sedimentos de fundo Areias e formação de bancos arenosos, blocos de concreto (rejeitos de construção)
seixos.
Morfologia Uniforme, obedecendo a um padrão meandrântico.
Fluxo Uniforme, com soleiras e depressões.
Fonte: Trabalhos de campo.
A mais impressionante intervenção de engenharia no meio urbano da bacia do Acaraú
é o Parque da Cidade, também em Sobral. Trata-se de um centro poliesportivo, de lazer e
cultura na acepção da Prefeitura. Poliesportivo e de lazer sim, mas cultural, somente em
perspectiva urbano-industrial, pois a relação do povo com o rio vem sendo fortemente
influenciada com a construção e inauguração desse equipamento em 2003. Ponto de
encontro e de apresentação de shows voltados à classe média, o Parque da Cidade, que foi
construído na margem esquerda do rio Acaraú, entre as duas Pontes Nova e Velha, que dão
acesso ao leste da Cidade, sobremaneira vem valorizando casas e prédios do entorno;
entretanto, em descompasso gritante, o bairro Dom Expedito, um dois mais pobres e
violentos do Município, contrasta, na margem direita, com o investimento nesse logradouro.
Interferências humanas na geomorfologia fluvial afetam a bacia e seus canais
constituintes, por isto o homem pode ser considerado um agente geomorfológico
influenciador, por exemplo, da morfodinâmica. Os usos múltiplos d’água, com usos
consultivos e não consultivos nas atividades rurais e urbanas alteram as condições naturais
do rio em foco, principalmente da sua dinâmica fluvial, com as conseqüências de causa e
efeito, podendo provocar impactos irreparáveis.
As transformações socioambientais observadas na ocupação da Bacia apontam para
uma crescente pressão social sobre os recursos naturais disponíveis. Os recursos hídricos,
por exemplo, tiveram sua demanda elevada em face da diversificação dos seus usos
múltiplos e do incremento urbano e agroindustrial geralmente resultando em impactos
ambientais que determinam um descenso nos índices de desenvolvimento social.
A compactação dos solos e ablação, desmatamentos, sobretudo da mata ciliar,
compactação de várzeas pela pecuária extensiva, anos de secas, com “corte” do fluxo
hídrico, são agravados pela intermitência da alimentação das sub-bacias hidrográficas. Esse
fato compromete até a perenidade dos leitos dos açudes Carão, Araras, Edson Queiroz,
Jaibaras, Arrebita, Acaraú-Mirim e São Vicente, desestabilizando a geomorfologia fluvial e a
agropecuária nesses trechos. O barramento de cursos d’água rompe a dinâmica dos
sistemas em seqüência - mostrando o relacionamento entre vários subsistemas -
266
modificando o input de água na bacia de drenagem, impulsionadora das interações
sistêmicas, influenciando no balanço de energia e matéria (NASCIMENTO, 2001),
comprometendo a geodinâmica e a renovação hídrica.
Os fatores da exploração biológica são degradados, comprometendo a teia de
relações naturais e o manuseio da biodiversidade. Com efeito, as feições topográficas, os
processos morfogenéticos e morfodinâmicos atuantes precisam ser considerados para o uso
do solo agrícola e/ou urbano; isto em uma atenção mais globalizante, no diagnóstico das
condições ambientais, colaborando para (re)orientar os assentamentos humanos e as
atividades produtivas. O mais grave de tudo isso, e sem respaldo legal, é a privatização das
águas, impedindo o acesso da população a esse, bem público universal e inalienável.
Mesmo porque, não se pode negligenciar que os rios ainda condicionam a vida.
Em termos de geormorfologia fluvial, destacando os cursos d’água, em seus processos
fluviais e formas resultantes dos escoamentos das águas, das principais características que
condicionam o regime hidrológico (CUNHA, 2001), o rio ainda promove certo estádio de
resiliência dos aspectos bióticos e abióticos. Decerto, o poder de autodepuração do rio
Acaraú, bem ou mal, ainda é latente, pela bioprodutividade da vegetação remanescente.
Assim a resiliência espaciotemporal ainda se ajunta a outros fatores, como destacou
Campos (2001): os efeitos dos raios solares, a precipitação de particulados e a reaeração
da água.
Concomitantemente, a poluição e o barramento dos recursos hídricos e as estiolações
dos fatores de exploração biológica magnificam os conflitos decorrentes do uso e ocupação
da terra. Nesse caso, podem desencadear usos potencialmente competitivos pela água,
utilizações complementares, empregos que competem entre si, ditos vinculados e
competitivos, e aplicações concomitantemente complementares dependentes e competitivas
(CHRISTOFIDIS, 2002). Conflitos entre uso doméstico/público e comercial e agropecuário e
industrial/agroindustrial e turismo e lazer e conservação compulsória e especial são
corriqueiros.
As alterações ambientais vêm tornando água que ocorre em diferentes estados e
formas - recurso natural renovável, porém esgotável -, cada vez mais escassa para seus
diversos usos (Figura 23). Em razão de usos consuntivos, não consuntivos e conflitos
emergentes, Christofidis (2002) assinala que a escassez de água produz uma redução de
sua disponibilidade, manifestada tanto na crise atual da saúde quanto no problema de médio
prazo da alimentação básica, agravando os índices de qualidade de vida, de hoje e das
futuras gerações, no contexto regional.
Faz-se mistes, urgentemente, evitar litígios (atuais e futuros) para alcance dos usos
conjuntivos associados aos partilhados dos recursos hídricos, definindo prioridades e
eliminando os riscos de conflitos pelo uso da água. Outrossim, sem adequar o domínio dos
usos e usuários da água, suas funções, categorização e escala de necessidades, não
267
haverá melhoria nos índices de mensuração da qualidade de vida da população local e
contígua. Para tanto, esses fatores podem ser mitigados para a Bacia em estudo e, servir de
base ao Comitê de Bacia do Acaraú para a luta contra a desertificação e manejo dos
recursos agrossoeconômicos (Tabela 28).
Tabela 28 - Usos, funções e utilizadores do produto água associados a aspectos
de imprescindibilidade, possibilidade de substituição e feitos a jusante na bacia
Acaraú
Usos Funções Utilizador final/associado Imprescindibili-
dade
(I)
Possibilidade
de substituição
(S)
Efeito a
jusante
(J)
Bebida e
alimentação
Biológica/
consumo
Homem/entidade conces-
sionária, empresas de águas
minerais,Animal/agropecuarísta;
Fau-na/meio ambiente, Culti-
vos/irrigantes
5,2,5,5 B,B,B,B (-)
Higiene/
Limpeza
Condução/
diluição/solvente
Homem/entidade concessioná-
ria, Animal/agropecuarísta, Ho-
mem/produtor; Industrial/agro-
indústrial
5,5,4 B,B,C (-)
Produtor
industrial/
agroindustrial
Uso da água no
processamento/me
io de produção
Homem/produtor/
industrial/agroindustrial
3 B/C (-)
Navegação Transporte/
turismo
Homem/empresários do turismo 1 B (0)(-)
Refrigeração Temperatura/
conservação
Indústria/agroindústria/comércio 2 B (-)
Sustentação à
vida
Consumo
(biológica)
Biodiversidade/humano 5 B (-)
Lazer e
Desporte
Suporte/estética Homem/clubes/pesque e pague 3 B (-)
Destinação
final (rejeição)
Diluição/solvente Homem/fauna e Flora 5 B (+)(-)
Obs: (I) indica a possibilidade existente com a tecnologia atual de alcançar a mesma finalidade com usos alternativos;
(S) Reflete a existência de outro produto que possa substituir o “produto água”, total ou parcialmente, em algumas de
suas funções. Adotou-se indicar se Existe Possibilidade (A), ou Não Existe (B) ou é Parcialmente substituível por algum
outro produto (C); (J) Decorrentes da retirada de quantidade e/ou lançamento de resíduos, são indicados como Negativo
(-), Positivos (+) ou nulos (0).
Fonte: Adaptado de Frade e Alves (1991) in Christofidis (2002).
268
Figura 23 – Condições de saneamento ambiental
Acomodação incorreta de lixo hospitalar - Hidrolândia
Área de risco na cidade de Sobral
Área de acumulação inundável contaminada em Santa do
Acaraú
Lixão de Acaraú. Note erosão dos sedimentos da Formação
Barreiras e degradação da mata de tabuleiro
Balneário construído dentro do Açude Edson Queiroz,-
Comunidade de São Damião, em Santa Quitéria
269
5.3.3 - TIPOLOGIA DOS RECURSOS AGROSSOCIOECONÔMICOS E A
DESERTIFICAÇÃO
Particularizando esse segmento para área em estudo, observamos sua representação
como o mais autêntico arranjo espacial de uso e ocupação. Suas bases remontam ao
histórico de uso e ocupação do território cearense e, por conseqüência, do vale do Acaraú,
ligado ao binômio gado-algodão, as charqueadas e as funções portuárias da vila de Acaraú.
De per si, constitui tema para abordagem particular, dadas as dimensões que alcançam em
relação à desertificação e que representam no espaço e no tempo. Assim é que a análise do
sistema agrário e da situação de produção (pequena produção, empresas rurais, plantações
tradicionais, agroindústrias, relações sociais de produção etc.) é ponto de partida para
averiguação do segmento agrossocioeconômico, com base em Silva et al. (1993).
Em princípio, consideram-se os sistemas agrários como zonas onde se praticam
atividades agrossilvopastoris, características das unidades geoambientais. Tomando partido
de vários autores (TROPMAIR, 1989; MARGULIS et. al., 1996; SOARES, 1998;
NASCIMENTO, 2003) e as verificações da verdade terrestre, notamos que, pelas relações
com as potencialidades e limitações dos recursos naturais das unidades de paisagem, foram
identificados sistemas agrários, que correspondem a pelo menos 6 subsistemas agrários ou
agroecossistemas (campos cultivados com tendência a se tornarem monoespecíficios).
Nos agroecossistemas, estão incluídos os cultivos anuais, temporários e permanentes,
as áreas em pousio, além do agroextrativismo. São constituídos por pequenas, médias e
grandes propriedades, de sequeiro e/ou irrigadas. Em regra, desenvolve a agricultura de
subsistência e itinerante, com poucos investimentos de capital e com um nível tecnológico
rudimentar. Isso resulta em baixa produção e produtividade da agricultura, bem como no
surgimento de espécies oportunistas e na degradação ambiental. Cabe menção, também, à
agricultura especializada/agroindústria, nos perímetros irrigados.
O sistema agrário da pecuária envolve dois agroecossistemas - o de pecuária, com
ou sem atividades agrícolas limitadas, e de pecuária/agroextrativismo.
A pecuária com ou sem atividades agrícolas limitadas é representada pela
bovinocultura, caprinocultura e ovinocultura extensivas e culturas de subsistências para
abastecimento do mercado local, desenvolvidas em terrenos de morfopedologia com
limitações de fertilidade de solos, pedregosidades e ablações de horizontes superficiais. É
executada em toda a Bacia. Seu sistema de produção tem na posse da terra o proprietário e
a parceria (várias formas de ocupação), para o desenvolvimento de atividades ligadas a
bovino e caprinocultura, feijão, milho, palma, algodão, hortaliças. As relações de trabalho
vão da parceria (e, em certos casos), à meia. Entre os principais problemas encontram-se as
baixas produtividade e rentabilidadede e o estado sanitário do rebanho; que o expresse uma
epidemia de raiva nos rebanhos do Município de Cariré, no primeiro semestre de 2005.
270
Como características predominantes, enfim, há o domínio das grandes propriedades, a
agricultura desenvolvida por moradores e os proprietários com atividades comerciais.
A pecuária/agroextrativismo é marcada pela bovinocultura, culturas de subsistência
e agroextrativismo, com destaque ao para o extrativismo da carnaúba. É a atividade
desenvolvida nos sertões e também nas áreas de acumulação inundáveis e várzeas, nas
planícies fluviais, fluviolacustres e tabuleiros costeiros. O agroextrativismo desenvolve-se
nas dunas fixas, matas de tabuleiro, nas planícies fluviais e fluviolacustres de onde são
extraídos murici, ameixa-brava e puçá para incorporação na dieta alimentícia das
populações carentes. O excedente é vendido como forma de aumento de renda. A carnaúba
é extraída das várzeas (leito maior).
Essas áreas ainda são ocupadas pela agricultura de subsistência, como a batata-doce,
feijão, cana-de-açúcar e capim-elefante. E as áreas de acumulações inundáveis, durante o
período seco, são ocupadas pela pecuária extensiva, sendo que a extração de lenha ocorre
para uso na construção civil, montagem de cercas e mourões, para o uso como combustível
em fogões a lenha e fornos em residências, nas casas de farinhas, cerâmicas e olarias.
Na posse da terra existem as pequenas e médias propriedades, onde as relações de
trabalho ocorrem por meio de vaqueiros, moradores, meia - com direito a extrativismo e/ou
agricultura -, cooperativas e trabalhadores agroextrativistas que labutam para complementar
a renda na colheita e beneficiamento da palha da carnaúba e de produtos derivados do leite.
O sistema técnico é de pouco investimento, por isso entre os principais problemas estão a
baixa produtividade, o estado sanitário do rebanho e as poucas opções perante as
vicissitudes das secas. Por desenvolver agricultura e agroextrativismo sem maiores
preocupações com a melhoria do sistema de produção, as migrações são constantes.
A pesca marítima é paulatinamente diminuída, ano a ano. Os preceitos
consuetudinários enfrentam grandes problemas para se reproduzirem. O porto pesqueiro do
Município de Acaraú, trabalha ao longo do ano sem os devidos incentivos governamentais.
Com o pescado cada vez mais difícil, navega-se em busca da região norte do País em
proveito de maior sorte. Ademais, com a carcinicultura, o pescado artesanal perde
competitividade. Em outros casos, em águas doces de alguns dos maiores açudes, como o
Jaibaras, criação de peixes em gaiolas por empresários, associação de trabalhadores
rurais e de pescadores. Nos veios fluviais, com poucas exceções de trechos do Acaraú e
principais tributários, a pesca é corrente durante as chuvas.
O sistema agrário da policultura/pecuária agrega dois agroecossistemas - o da
pecuária extensiva, semi-extensiva e intensiva e o da pecuária/agricultura tradicional
integradas.
A pecuária extensiva, semi-extensiva e intensiva é trabalhada com a bovinocultura
e caprinocultura de leite, engorda e corte a partir do uso de pastagens cultivadas ou não,
sendo que preocupação com a melhora do rebanho. Por isso, a engorda é associada à
271
agricultura melhorada de milho, feijão, capim, hortifruticultura. É pouco comum, entretanto, e
está restrita a fazendas particulares, sobretudo em vales de rios, com existência de infra-
estrutura hídrica de pequenos e médios açudes, bem como barramentos irregulares e
criminosos. Em seu sistema de produção, a posse de médias e grandes propriedades é
regra. Ocorre de forma a assumir nas relações de trabalho assalariamento, vaqueiros e
moradores, quando excepcionalmente as parcerias. Na realidade, contribuem para aumento
da concentração de terras e para expulsão da pequena produção, intensificando a migração
compulsória. Para os trabalhadores e famílias que não migram, os biscates e empregos
temporários passam a ser as opções de subsistência. No mais, os trabalhadores rurais
tornam-se moradores de propriedades rurais, como forma de subemprego ou implemento de
parcerias nas relações sociais de produção.
A pecuária/agricultura tradicional integradas é o tipo de uso agrossocioeconômico
mais popular. Ocorre em toda a Bacia e é básica nos assentamentos rurais, incluindo as
Serras das Matas e as nascentes de outros tributários, mas ocupa principalmente a
Depressão Sertaneja. A agricultura e/ou pecuária é de subsistência, com baixos rendimento
e produtividade, com sistema incorporação-abandono de terras, mediante nível tecnológico
médio e, predominantemente, baixo, com a educação do produtor, comumente, não
passando do Ensino Fundamental. Majoritariamente, desenvolve-se a agricultura de
sequeiro. Apresenta diversificações em função de tempo de ocupação, potencial pedológico,
pluviometria etc. A mandioca é bastante produzida no litoral e nos tabuleiros, sendo que o
milho (sequeiro) e o feijão representam os principais produtos. Raramente produz arroz,
pastos cultivados e algodão (outra reinante na agricultura).
Em consórcio, pode ocorrer produção de uma fruta ou de outra, sempre aliada aos
produtos de subsistência. E a mamona é retomada e largamente explorada nos sertões e
serras, para produção de biodisel e óleos. Praticamente toda a produção das demais tarefas
serve ao abastecimento do mercado local. Artesanalmente, o leite é beneficiado para
fabricação de queijos, manteigas, doces e outros subprodutos. O couro e as visceras dos
animais de corte são aproveitados. O primeiro é tratado em pequenos curtumes na
fabricação de calçados, chapéus e adornos, selas para animais etc. O segundo subproduto
é precozido e vendido aos mercados e feiras, para feitura de um prato típico bem procurado
dos sertões, a panelada.
No Planalto Sedimentar da Ibiapaba, predomínio da pequena produção, com
grande diversidade de produtos - como milho, feijão mandioca, batata-doce, algodão, sisal,
tomate e frutas - apresenta vocação econômica atrativa, em relação aos sertões,
desempenhando papel imprescindível no abastecimento dos centros urbanos da Bacia,
além da Capital cearense e de outras cidades de médio porte no Estado.
O sistema agrário do tipo agrícola refere-se às culturas perenes comerciais.
272
Sobre o sistema agrário do tipo agrícola, consideramos inicialmente o agroecossistema
de culturas perenes comerciais. Nessa atividade, o nível de intensificação e diversificação
agrícola, em grande parte depende das precipitações para produção de caju nos tabuleiros
costeiros e interiores (boas condições edafológicas) e coco, também produzido nas faixas
de praias. Geralmente a produção é monoespeciífica. O caju é beneficiado para fabricação
de doce, polpa e cajuína, além da castanha, que é precozida e/ou torrada para exportação.
O coco é vendido in natura, para consumo de sua água ou carne, assim como dele se
produz leite derivado, pela empresa Ducoco, no Município de Itapipoca, usado como
condimento. Doces e iguarias desse produto também são beneficiadas, com destaque para
os doces associados com outras frutas.
É comum os proprietários da terra manterem relações de trabalho com parceiros e
meeiros, além de poucos assalariados. Apresenta sistema técnico com médio a fraco nível,
através de poucos investimentos, de quando em quando, com irrigação. Afora alguns
perímetros irrigados, a produtividade e a rentabilidade são baixas, segundo produtores e
moradores locais, por falta de investimentos e apoio governamental, a produção, mormente
de caju, vem decaindo.
Segundo Silva et al. (1993), contudo, a diversificação das produções não impede a
importância econômica mais significativa de um produto, como ocorre também na pecuária
semi-extensiva e intensiva: milho/feijão/mamona na Serra das Matas; pecuária leite e
corte; hortifruticultura. A agricultura é limitada às necessidades das famílias, com
excedentes vendidos nas feiras locais.
O sistema agrário da agricultura especializada relaciona o agroecossistema da
agroindústria/agricultura irrigada. A contento, foram destacadas as principais
características desses agroecossistemas, considerando os respectivos sistemas de
produções.
Quanto à agricultura especializada (os maiores “oásis de prosperidade”!), a
agroindústria/agricultura irrigada. São porções do território estrategicamente escolhidas
em função de infra-estrutura drica, ou possibilidade de instalação dessas. Além de
apresentarem condições de solos e outras características ambientais satisfatórias, ocorrem
com os perímetros irrigados Baixo Acaraú, Araras Norte, Forquilha e São Vicente. No
sistema de produção, a propriedade individual prevalece, porém formam-se consórcios e/ou
grupos econômicos, como no Baixo Acaraú. Assim, forjam nas relações de trabalho o
assalariamento, uso da mão-de-obra familiar e parcerias. Seu sistema técnico envolve de
regular a alto nível de investimentos. Variam conforme mix de tecnologia englobado, com
assessoria técnica, mercadológica e financeira. Contribui para concentração de terras e para
migração compulsória do pequeno produtor.
Convém dizer que os trabalhadores do perímetro de Varjota (Araras Norte) estão
endividados e descapitalizados, não conseguindo produzir o suficiente para o mercado.
273
Plantam ao deus-dará, conforme as novidades, desperdiçando esforços, em face da falta de
planejamento e estudo de viabilidade econômica, com grandes desperdícios de água em
pleno semi-árido. No agrobusiness não lugar para o agricultor analfabeto e
descapitalizado em meio a concentração de terra com efeitos perversos, restando-lhe, tão
somente, desaparecer como pequeno proprietário, absorvida suas terras por grandes
empresas (FILHO et al. 2005).
Um ramo peculiar da agroindústria, como visto, relaciona-se ao abatimento de asininos
pelo Abatedouro Equus Agroindustrial S/A. Segundo marchantes, a carne é para ser
consumida no mercado holandês, por isso é exportada. Os restolhos são destinados para
graxaria, onde são precozidos, moídos e transformados em farinhas, para a alimentação de
outros animais. É uma atividade que provoca muito impacto à cultura local, que teve e tem
no jumento apreço especial por ser de carga e transporte, que muito diz da história local,
principalmente na labuta dos sertanejos, em particular durante as secas.
Tema de debates efervescentes sobre um ramo em expansão da agroindústria
relaciona-se à carcinicultura (ver figura 23- c, d ,e, f). Pela proximidade do mar e o privilégio
em recursos naturais oferecido pelas áreas litorâneas e pré-litorâneas na bacia do Acaraú,
em da detrimento a semi-áridez regional, a carcinicultura foi alocada em benefício de águas
oligo-halinas. Destarte, é uma atividade que provoca profundas alterações ambientais na
Bacia, mormente com respeito aos recursos hídricos, de solo e florestal de zonas estuárias
e de várzeas. Especificamente na comunidade de Imbé, localizada na estrada Cruz-Aranaú,
em Acaraú, a empresa de carcinicultura Lagoa Azul Seafood, recentemente certificada com
o ISO 14.000 (21-22/03/05), implementa junto à comunidade política ambiental com fins ao
desenvolvimento sustentável na óptica agroindustrial. Dentre outros objetivos está o
tratamento dos resíduos sólidos, desenvolvendo coleta seletiva para triagem na única usina
de reciclagem registrada na Bacia, no Município de Cruz.
Interessante é registrar a existência de política direcionada para coleta seletiva e
reciclagem de lixo entre aquela empresa e a Prefeitura Municipal de Cruz. Um depósito
acomoda o lixo recolhido pela Prefeitura na Sede, o qual é tirado e vendido para Fortaleza.
Na comunidade de Imbé, as escolas são parceiras da população na coleta seletiva. Diga-se
de passagem, os lixões estão entre as maiores poluições da Bacia, ao lado dos
esgotamentos.
Muito embora contribua para aumento da pauta de exportação de frutas e camarão, o
fato é que a agricultura especializada concorre para maior concentração de terras e
expulsão do pequeno produtor na seletividade do território, para a reestruturação produtiva,
em detrimento ao apoio à pequena produção, que, bem ou mal, alimenta a população da
Bacia.
Enfim, além dos pontos fracos relatados, como a questão ambiental, a infra-estrutura e
os mercados incipientes, a falta ou a diminuta articulação de políticas de desenvolvimento,
274
pontos fortes para o tratamento geral da agrossocioeconomia, quais sejam:
disponibilidades de terras através de reforma agrária, tecnologia para agricultura tropical,
competitividade por conta dos baixos custos, dentre outras vantagens. A título de exemplo,
sobre o painel tecnológico, destacamos a atuação da EMBRAPA Caprinos, o Centro
Vocacional Tecnológico, a Universidade do Vale do Acaraú, em Sobral, bem como outros
órgãos e instituições do Ceará; sem esquecer, evidentemente, os de diversas organizações
não governamentais (ONG’s), com papel social forte e sério, como a Articulação com o
Semi-árido (ASA).
5.3.3.1 - Problemas emergentes da agropecuária e do uso dos enclaves de vegetação
Nas formas de uso e ocupação da terra, sobretudo, na tipologia agrossocioeconômica,
foram produzidas alterações ambientais de várias etiologias. Neste percurso, os usos
simétricos ou assimétricos da matéria transformada em recursos naturais (RAFESTTIN,
1993), em especial na busca de seu uso ótimo-tecnológico (MARGULIS et al. 1996),
produziram benesses à economia, porém com ressalvas ambientais. Por este ângulo, os
problemas derivados das relações sociais e ecológicas (COELHO, 2001) são uma triste
realidade.
A bem da verdade, o nível cultural e de desenvolvimento das sociedades determina os
meios e as técnicas para se beneficiar ao máximo dos recursos naturais disponíveis, sendo
o problema agravado em regiões subdesenvolvidas, como a destacada. Desta feita, os
campos tendem a se tornar monoespecíficios, aumentando a vulnerabilidade ambiental,
desenvolvendo o subsistema agrário ou agroecossistema (TROPMAIR, 1989; MARGULIS et
al. 1996). Por conta disso, para Moreira (1994), conforme a capacidade de uso e erosão do
solo, a degradação ambiental pode ser magnificada, desvalorizando a terra, incorrendo em
altos investimentos que nem sempre são favoráveis à recuperação dos solos, mas sim à
incorporação de terras.
É indispensável registrar o fato de que a estrutura em que está montada a
agropecuária compromete o uso da terra, que tem na história e na realidade fundiária
cearense a combinação de quatro fatores fundamentais: propriedade privada e concentrada
da terra; pouco ou mau uso do solo; domínio jurídico da posse da terra e as relações sociais
de trabalho no campo. A questão a se destacar é a propriedade privada e concentrada,
porque é sobre o solo que ocorre o desenvolvimento de capital no território rural. Estes
elementos estão associados a outros, como as secas, as privatizações dos recursos
hídricos, uso incorreto dos açudes públicos, transformando o território rural estadual num
estado grávido permanentemente de conflitos, de tensões, de lutas de vários tipos e graus”.
Não fosse o pagamento da renda da terra pelos arrendatários e posseiros, a utilização das
terras seria ainda mais reduzida, além de viabilizarem os restolhos para o gado (ALENCAR,
2005a:115).
275
Como se não bastasse, a vulnerabilidade dos empreendimentos agropecuários
contribui para a pauperização de pequenos produtores, dificultando sua reprodução como
força de trabalho, quase que liquidando sua débil força competitiva nos mercados
econômicos. Dificulta-se até mesmo a sobrevivência da agricultura familiar.
Os assentamentos rurais, por exemplo, que ocupam vastas áreas, em grande parte,
vivem à mingua de assistências e políticas adequadas a (re)produção agropecuária,
extrativista e social. assentamentos que não se justificam, se não por questões políticas.
Piabas, com (5.459,09ha) e 88 famílias vindas do litoral (desapropriação 24/07/96 e imissão
de posse pelo INCRA), ocupou áreas degradadas na sub-bacia do Groaíras e vivem seus
moradores a desdenhar de tudo da terra. O maior de todos os assentamentos, Saco do
Belém (20.010,54 ha), no sopé ocidental da Serra do Machado, ocupa uma das áreas mais
secas do Estado, com registros de 350mm de chuvas (janeiro a outubro de 2003) 100mm
a mais do que a pluviometria de um deserto típico. Esses e a quase totalidade dos
assentamentos, vivem sem condições adequadas de saneamento e infra-estrutura, para
reprodução social e do trabalho, não respeitando a reserva legal (20%), superexplorando os
recursos naturais, por falta de alternativas agrárias e agrícolas. Nesses dois assentamentos
que são limítrofes a muitos outros, evidenciam-se, conseqüentemente, as mais
preocupantes manchas de parcelas de vegetação fortemente degradada e de solos
expostos de toda a Bacia, como discutido adiante.
Ademais, as vantagens econômicas estão acima do equilíbrio ambiental, provocando
degradação dos recursos naturais. E o espaço agrário vem se oligopolizando, com o acesso
a terra e água se tornando cada vez mais difícil. A pequena agricultura se desarticula e as
transformações das relações de trabalho impulsionam a expropriação e o êxodo rural
(ELIAS, 2005). Outros problemas são delineados: acirramento do mercado de terras, com
aumento de preço, confrontando com a reforma agrária; a especialização da produção e
expansão da monocultura e redução da biodiversidade; destruição do saber populacional;
fragmentação do espaço agrário, com seletividade de distribuição das políticas e dos
sistemas de engenharia. Assim, há grande produção de riqueza, cada vez mais concentrada,
paralela à vasta expansão de pobreza, cada vez mais propalada.
No imaginário popular cearense, o bom humor característico de seu povo, às vezes,
tem interpretações trágicas e preconceituosas, mas que de certo modo estão relacionadas à
realidade, como no dito: “Quer acabar comigo, me mande pra roça...” Isto significa uma clara
alusão ao atraso, tendo como parâmetro as precárias condições de vida do campo.
Com os problemas provenientes da produção agropecuária, por uma inadequação ou
inexistência tecnológica, ou uso intensivo do solo sem os devidos cuidados, a biodiversidade
é degradada. O descontrole de pragas e doenças, a perda da qualidade biológica e
contaminação por insumos da agricultura, dos alimentos e do homem, além do próprio
comprometimento da agricultura, comprovando a vulnerabilidade deste setor econômico,
276
vão se tornando corriqueiros. A irrigação usada indiscriminadamente, sobretudo nos
agropolos, incorpora fertilizantes ao lençol freático, cursos fluviais e aos produtos cultivados,
além de alcalinizar (concentrar carbonato ou bicarbonato de sódio) ou salgar solos. Os
desmatamentos desordenados para o desenvolvimento da agropecuária quase sempre são
acompanhados de ablação dos horizontes orgânicos dos solos, empobrecimento bioquímico
e intensificação do assoreamento dos leitos fluviais.
Com fins ao desenvolvimento das atividades agropecuárias, os desmatamentos
desordenados e as queimadas estão entre os fatores de maior preocupação da Bacia. Nas
áreas não compactadas pelo pisoteio animal, desenvolve-se uma vegetação de capoeira
com predomínio de capim-panasco que, em relação à vegetação natural, é mais homogênea,
de menor densidade e altitude e menor complexidade fisionômica e florística.
A biodiversidade depende intrinsecamente do estado de conservação dos fatores de
exploração biológica e da qualidade e distribuição das águas. Com o desmatamento
desenfreado, redução da biodiversidade e definhamento dos recursos hídricos. A
redução de habitats naturais concorre para o desaparecimento de espécies vegetais e
animais, sobretudo de mamíferos, invasão de espécies vegetais de baixo valor comercial e a
homogeneização dos ecossistemas, com quebra da sucessão ecológica. Ademais,
concorrem para magnificação do processo natural de eutrofização, desencadeamento de
processos erosivos e o assoreamento do talvegue dos rios, impedindo as etapas naturais do
ciclo hidrológico, sem se esquecer de que alimentam o risco de inundações das populações
ribeirinhas e das atividades agrícolas, quando as águas atingem seu leito maior.
As relações biocêntricas da biodiversidade, portanto, são comprometidas com os
desmatamentos desordenados para agropecuária. O empobrecimento ecológico, perda dos
mecanismos de autodefesa e aumento da vulnerabilidade aos impactos negativos e às
pragas são incentivados. Por exemplo, a avifauna migratória tem seus ecossistemas de
descanso descaracterizados. E os mamíferos são cada vez mais raros, sejam pelo interesse
cinegético de camponeses e/ou caçadores amadores (para alimentação, retirada de peles,
comercialização ou lazer), destruição de habitats e/ou destruição da vegetação. Felinos
como a onça parda, sussuarana (Felis concolor) e o gato maracajá-mirim (Felis wiedjii), além
de outras espécimes como o tamanduá (Tamandua tetradactyla) e o tatu (Dasypus
novemcinctus) dificilmente são encontradas ou mesmo estão extintas em alguns setores. A
destruição de refúgios, a escassez de alimentos e a pesca predatória, sobretudo em riachos
e lagoas, prejudicam a ictiofauna, porém, no manguezal, a capacidade de suporte do
ecossistema ainda consegue, de algum modo, absorver estes impactos.
Historicamente, os enclaves de vegetação foram desmatados para produção agrícola e,
durante as grandes secas, para ocupação agropecuária. Nesse concurso, hoje resulta que
os maciços residuais das principais serras estão com fortes desmatamentos, principalmente
considerando-se aquelas que apresentam nascentes dos rios. A toponímia de Serra das
277
Matas, no maciço onde se localizam as nascentes do Acaraú, não se justificava. Com
resquícios restritos a áreas de difícil acesso, com forte declividade, infelizmente entre
porções do território mais desmatadas, depois dos sertões, se encontra essa serra. A
despeito das secas, grande parcela da população atingida não participa adequadamente
dos benefícios das políticas de combate às secas, pois fome, miséria, migração forçada,
invasão de cidades mostram a necessidade de ações mais efetivas (SOUZA, 1998), sem se
esquecer de que o paradigma de combate à seca tem fracasso potencial.
Negligência seria não considerar que na produção e comercialização de camarão, que
envolve etapas de larvicultura, engorda e beneficiamento, em diversas empresas, como na
Lagoa Azul Sea Food (120 ha) considerável área de manguezal e carnaubal foi destruída,
produzindo desmatamento, sem se esquecer de que a maior poluição ocorre sobre os
recursos hídricos, contaminando de toda sorte as águas, e mais os solos. Ocorrem, ainda:
despesca com lançamento no estuário de rejeitos que impactam o meio ambiente;
competição pelos usos múltiplos da água e aumento de consumo; processos erosivos;
contaminação físico-química e bacteriológica da água e eutrofização (provocada pela
concentração de fósforo e nitrogênio), com aparecimento de algas filamentosas
desconhecidas, bem como de cianobactérias; salinização do solo e água; escape de
espécies exógenas, dentre outros possíveis problemas, que necessitam de melhor avaliação
para precisão.
Na região, além dessa empresa, existem muitas outras pequenas, grandes e médias
que vivem do mercado carcinicultor. São os casos da Biotec e Artemiza, das maiores do
País, em área de 220 ha, que promove sério e relevante conflito pelo uso da terra com a
comunidade de Curral Velho, em antiga zona salineira. Em grande parte, elas são
responsáveis por problemas de degradação ambiental, principalmente em relação à
poluição de recursos dricos. Não se pode esquecer, porém, de que as condições de
inexistência e/ou precariedade de saneamento ambiental são mais antigas e pifiamente ao
longo da história vêm acompanhando o crescimento das concentrações urbanas e rurais.
De modo geral, tanto a carcinicultura a exemplo da comunidade de Curral Velho -,
quanto o turismo na praia de Arpueiras -, ao lado das áreas ocupadas por latifúndios,
mormente dos sertões, estão entre as formas de ocupação do solo envolvidas nas maiores
questões de conflitos pela posse do meio de produção, a terra. Ambas as atividades
concorrem para mudanças estruturais nas formas de produção e de uso e ocupação da terra,
no mosaico paisagístico, deflagrando processos de desterritorialização da população nativa
e conflitos de uso pelos recursos naturais. Investimentos em capitais fixos sobrepõem o
capital natural dos ecossistemas, depreciando o valor de uso em detrimento do valor de
troca, em prol dos mercados.
278
5.3.3.2 - Estado de conservação da vegetação e dos solos: evidências de
desertificação
Estudos realizados em 1994 (SÁ et al.) assinalavam que no Nordeste os solos mais
degradados foram aqueles mais procurados para exploração de sua média a alta fertilidade
natural, como os luvissolos pela cotonicultura -, argissolos eutróficos e similares-, pelas
culturas de subsistência e comercial (sobretudo a mamona). De média a baixa fertilidade, os
planossolos foram, e ainda são, bastante cultivados através da tração animal, por isso
sofrem compactação. Neste contexto, o Ceará é o segundo estado em degradação de seus
solos. Assim como a Paraíba, tem cerca da metade de seu território com graves problemas
de degradação ambiental, conforme os autores retrocitados.
Segundo Cunha e Guerra (2003), a degradação deste recurso natural pode ocorrer,
também, por sua acidificação em virtude do uso de fertilizantes, fixação biológica de
nitrogênio, remoção de nutrientes pela agricultura, deposição de ácidos atmosféricos, sendo
que sua contaminação por metais pesados, pela da mineração ou processos industriais,
também como de sais pela agricultura, é de recuperação difícil. É fato que o uso
indiscriminado e excessivo dos agroquímicos, o cultivo intensivo (erosão), juntamente com a
perda da vegetação (biodiversidade), ocasiona o desequilíbrio ecológico do solo e outros
efeitos, como a poluição ambiental, a contaminação de alimentos e de matérias-primas
(SILVA, 2001).
Os maiores problemas de degradação dos solos na Bacia, no entanto, ocorrem em
razão do desmatamento indiscriminado, das queimadas e agropecuária. Por isto, uma
recuperação efetiva do potencial pedológico passa inexoravelmente pela conservação do
componente que melhor reflete o quadro biofísico da Bacia - a cobertura vegetacional.
Evidenciamos que as formas de uso e ocupação da terra, indistintamente, produziram
sucessivas maneiras de degradação ambiental, sobretudo nos fatores de exploração
biológica. O mais completo diagnóstico ambiental do Ceará (SOUZA, 1998) comprova isso,
mostrando níveis preocupantes de condições ambientais resistásicas por influência humana
sobre a vulnerabilidade geoambiental, principalmente de solo e vegetação, com evidências
de desertificação.
Seguindo o exemplo da degradação pedológica, as unidades fitoecológicas, em
grande parte, perderam seu caráter primitivo, no entanto, porções onde a originalidade
está salvaguardada ou sob recolonização vegetal - imbricados ao estado de conservação
dos solos -, em detrimento das condições resistásicas. Todos os complexos vegetais,
todavia, mantêm algum estado de degradação nos níveis: conservada, parcialmente
degradada, degradada, fortemente degradada e/ou solo exposto.
A vegetação de Mangue (Arboreto Edáfico Marino-Limoso), a despeito do que ocorre
nas demais unidades fitoecológicas do complexo litorâneo, mostram estado de conservação
delicado. Mesmo tendo relicários conservados, principalmente, após o porto pesqueiro do
279
Acaraú, até a desembocadura do rio. No geral, as vegetações da costa da bacia (pioneira da
faixa de praia, costeira arbustiva de dunas e mangue), apresentam setores parcialmente
degradados, degradados e fortemente degradados.
A vegetação da planície fluvial (mata ciliar) apresenta estado de conservação variando
entre conservada a solo exposto, o que compromete suas funções e atributos naturais,
como auxílio no controle do fluxo de nutrientes e sedimentos, na formação de importantes
corredores para a dispersão de propágulos e movimentação da fauna, permitindo o
intercâmbio genético entre populações. Em simbiose, a microfauna dos solos contém e
controla o fluxo de poluentes e nutrientes para o interior dos corpos hídricos. Os produtos
dessa decomposição são usados pelos vegetais como fonte nutritiva.
A vegetação dos tabuleiros (fruticeto estacional semicaducifólio esclero-
mesomórfico), em razão de condições edafológicas e geomorfológicas favoráveis, em
grande parte, foi substituída pela cajucultura, como ocorreu também nos tabuleiros interiores
(como nos sertões de Ipu/Pires Ferreira). Apresenta estado de conservação relacionado nas
5 classes discriminadas, com predomínio da vegetação degradada.
Lamentavelmente, ao longo do processo de ocupação do solo as caatingas (principais
formações da bacia) são descaracterizadas através da agropecuária, do agroextrativismo,
da incorporação e abandono de terras e pelas secas prolongadas.
A caatinga arbórea, que praticamente não existe, está “cedendo lugar” a espécies
arbustivas e oportunistas, verificando-se o crescimento de capoeiras, típica vegetação
secundária, sem valor econômico e pouco protetora do solo. A caatinga arbustiva (frutíceto
estaciona-caducifólio-xeromórfico), assim como as demais caatingas, apresenta os mais
preocupantes estados de conservação de toda a Bacia, pois está degradada, fortemente
degradada e em solo exposto, tornando a ecodinâmica altamente instável.
Caatinga arbórea ou alta (arboreto climático-estacional-caducifólio-
xeromórfico/espinhoso) tem níveis de degradação entre os mesmos padrões apresentados
pelas caatingas arbustivas, entretanto, apresentam, proporcionalmente, maior grau de
degradação e extinção de espécies.
As imagens de satélites (1999 e 2001) averiguadas exibem níveis alarmantes de
degradação ambiental das matas secas (arboreto climático-estacional-caducifólio-
mesomórfico/não-espinhoso), principalmente, nas Serras das Matas e do Machado e no
front central da Ibiapaba, nos Municípios de Pacujá, Graça e Mucambo.
Os enclaves de matas úmidas e subúmidas apresentam degradações dos
solos,agravadas pelas condições bioclimáticas favoráveis ao uso agrícola da terra, como
nas serras úmidas e subúmidas. Na realidade, as adversidades topográficas, com fortes
declividades que impõem restrições ao uso intensivo dos solos, sob desequilíbrios
pedobioclimáticos (SOUZA, 1998), tornam esses ambientes transicionais,tendendo à
instabilidade ecodinâmica.
280
Esta vegetação não foge à regra do desmatamento generalizado, mesmo que ocorram
manchas de vegetação conservadas nos platôs ou vertentes a barlavento mais íngremes
dos maciços, serras cristalinas e no Planalto da Ibiapaba. Dado seu potencial lenhoso e
dendroenergético, sofre com o desmatamento intensivo, denotando um estado de
conservação chegando a ser pífio, com degradação intensa variando de parcialmente
degradada à exibição de solo exposto. Em nascentes do exutório e dos principais
contribuintes, a retirada da vegetação e a ablação dos solos são acentuadas.
Convém relatar que no geral as caatingas têm extraordinário poder de recolonização,
pois, mesmo quando submetidas a fortes pressões humanas, conseguem manter estratos
vegetacionais, embora ralos e espaçados (Figura 24). Espécies hiperxeróficas como a
jurema-preta (Mimosa Hostilis), marmeleiro (Croton sonderianus), caatingueria verdadeira
(Caesalpinia pyramidalis), capim-panasco (Aristida setifolia) e malva-branca (Herissantia
crispa) se destacam pela forte reabilitação. Há de se observar, conforme Ab’Saber (1999:8),
que nessas vegetações predominam espécies dotadas de sistemas de adaptação às
condições retro-citadas, incapazes de restaurar-se, sob o mesmo padrão de agrupamento,
(após escarificações mecânicas de seu suporte edáfico)”.
Como forma de esboçar as considerações retromencionadas, a Figura 25 apresenta as
áreas degradadas/desertificadas em relação ao estado de conservação da vegetação.
Enquanto que o Quadro 30 relaciona o nome científico, o sistema ambiental de ocorrência e
o estado de degradação conferido pela conservação das formações fitoecológicas
estudadas.
Quadro 30 – Unidades fitoecológicas, sistema geoambiental de ocorrência e estado de
conservação
Unidade Fitoecológica Sistema Ambiental
Ocorrência
Estado de degradação
Herbeto campesinato Faixa de praia, pós-praia e
vertente de barlavento de
dunas
Conservada a fortemente
degradada
Arboreto edáfico marino
arenoso
Campo de dunas Conservada a fortemente
degradada
Complexo
vegetal
da
Planície
Litorânea
Arboreto edáfico marino-
Limoso
Planície fluviomarinha Conservada a fortemente
degradada
Vegetação de
Tabuleiro
Fruticeto estacional
semicaducifólio esclero-
mesomórfico
Tabuleiros pré-litorâneos Conservada a solo exposto
Matas ciliares Arboreto edáfico fluvial Planícies fluviais Conservada a solo exposto
Frutíceto estacional-
caducifólio-xeromórfico
Sertões da depressão
periférica da Ibiapaba e do
centro-norte do Ceará
Degradada a solo exposto
Arboreto climático-estacional-
caducifólio-xeromórfico/
espinhoso
Degradada a exibição de
solo exposto
Caatingas das
depressões
sertanejas
Arboreto climático-estacional-
caducifólio-mesomórfico/
não-espinhosa
Maciços residuais das serras
e do Planalto da Ibiapaba
Parcialmente degradada a
exibição de solo exposto
Enclaves de
matas úmidas e
subúmidas
Arboreto climácico perenifólio
Maciços residuais das serras
mais elevadas e do Planalto
da Ibiapaba
Conserva a degradada
Organização: Flávio Rodrigues do Nascimento
281
Figura 24 – Poder de resiliência da caatinga
Vida latente ou morte aparente da caatinga.
Sertões do rio Groaíras – Município de Varjota. Inselberg
e Planalto
s
edimentar da Ibiapaba
em último plano
Mata ciliar do riacho Cinco Paus (bacia do rio
Jaibaras) em recuperação. Pacujá
.
Açude Ibiapina, periferia de Mucambo, com
vegetação conservada ao fundo.
Ecótono Caatinga Arbórea-Mata Úmida parcialmente
degradado. Município de Mucambo.
Caatinga arbustiva em recomposição.
282
Figura 25 - Estado de conservação da vegetação e a degradação/desertificação
283
Associando-se o estado de conservação vegetacional aos sistemas ambientais, solos
e ao índice de aridez, temos que:
o litoral com vegetação do complexo litorâneo e neossolos quatzarênicos, gleissolos
sálicos, planossolos, neossolos flúvicos e Índice de aridez menos crítica de 51 a > 65
(susceptibilidade moderada), apresenta estado ambiental da vegetação do complexo
litorâneo variando de conservada a fortemente degradada.
As planícies fluviais, que cortam, indistintamente, todas as unidades geoambientais
de montante e jusante, com os mais variados índices de aridez, com matas ciliares e
neossolos flúvicos, variam das classes conservada a solos expostos.
Os tabuleiros com argissolos, neossolos quartzarênicos e acinzentados álicos,
planossolos, latossolos e índice de aridez 46 a 50 (menos crítica/ susceptibilidade alta) de
51 a > 65 (susceptibilidade moderada), apresentam vegetação conservada a solo exposto.
As serras e cristas residuais com neossolos litólicos, argissolos, luvissolos, capeados
por todas as variações fisionômicas e florísticas das caatingas das depressões sertanejas e
índice de aridez 0,41 a 0,45 (medianamente crítica/ susceptibilidade alta) e 46 a 50 (menos
crítica/susceptibilidade alta), apresentam-se com degradação intensa variando de vegetação
de caatingas parcialmente degradadas à exibição de solo exposto. E nas serras úmidas
e subúmidas, em topografia mais acentuada e Índice de aridez 46 a 51 (susceptibilidade
alta) 51 a 65 (Susceptibilidade Moderada), a degradação da vegetação de enclaves úmidos
varia de parcialmente degradada a exibição de solo exposto. Por isto apresenta a maior
variação de classes de degradação.
Planalto sedimentar com latossolos, neossolos quartzarênicos, neossolos litólicos,
luvissolos x índice de aridez 0,51 a >65 (susceptibilidade moderada), apresenta mata úmida
e subúmida conservada à degradada.
Os sertões com Caatingas das depressões sertanejas e luvissolos, argissolos,
planossolos, neossolos litólicos e índice de aridez 0,41 a 0,45 (medianamente
crítica/susceptibilidade alta), estão degradados, apresentando solos expostos.
Contudo, segundo Williams e Robert Junior, (1995), no contexto da desertificação, os
ecossistemas de terras secas têm estratégias de adaptação às severidades climáticas. No
caso das caatingas, são comportamentos naturais miméticos, como mecanismo de defesa
(recursos de sua capacidade-suporte) em virtude do balanço hídrico negativo para ajustes
ecológicos que ocorrem sob aspectos morfológicos, anatômicos e fisiológicos (Quadro 31).
A caducifólia, por exemplo, diminui a evapotranspiração e impede a realização de processos
fotossintéticos, mantendo um equilíbrio latente, vital aos vegetais. E as altas temperaturas
predominantes podem limitar o desenvolvimento da vegetação. Adaptadas às condições
fotoperiódicas, a transpiração vegetal compensa o aquecimento dos tecidos mediante de
perdas pela evaporação.
284
Quadro 31 - Principais aspectos de ajustes ecológicos das caatingas
Aspectos Morfológicos Aspectos Anatômicos Aspectos fisiológicos
-Afilia, total expressão xeromórfi-
ca sem qualquer vitalidade
aparente;
-Órgãos hipógeos tuberizados ou
xilopódios;
- Folhas pequenas ou compostas;
-Plantas espinescentes ou
aculea-das;
- Intumescência caulinar (barrigu-
das);
- Cladódios carnoso-suculentos
(cactáceas)
- Cascas finas e lisas;
-Lignificação precoce e intensa;
- Estrutura radicial destinada à
acumulação de reservas nutritivas
(amido, açúcares etc.);
- Grande número de estômatos
nas folhas, como mecanismo
estrutural ao controle da
transpiração.
- Mecanismo para reduzir a perda de
água (dobramento ou disposição das
folhas para diminuir a transpiração);
- Germinação rápida das sementes;
- Alta velocidade de brotação e de
floração;
- Intensa atividade clorofiliana;
- Funcionamento estomático, regulando
a transpiração;
- Caducifolia na estação seca;
- Geralmente apresenta revestimento
de cera nas folhas.
Fonte: Elaborado com base em Fernandes (2000)
As condições edáficas diferenciam os processos de resiliência. Por outro lado, o
retorno às condições originais, possivelmente, não será atingido em razão do:
desaparecimento das espécies de matas; predação seletiva e constante do homem;
rarefação da fauna, que não regula mais a dispersão e reprodução das espécies vegetais.
Essa degradação, em parte, é impulsionada pelo fato de a matriz energética do Ceará,
durante muitos anos, estar assentada nos recursos florestais (lenha e carvão vegetal). A
exemplo, entre 1981 a 1991, representavam a principal fonte energética do Estado, com
32% do consumo total (SOUZA, 1998).
As rupturas do equilíbrio ambiental nos diferentes geossistemas, que contingenciam a
capacidade de suporte geoambiental, está pautada na degradação dos solos, das águas e
da vegetação (TRICART, 1977).
A degradação dos solos, em grande parcela, é seguida ou antecedida pelo
desmatamento indistinto através do modus operandi impróprios dos pequenos produtores e
assentados rurais, à falta de incentivo à produção agrícola. É justo revelar que muitas vezes
são responsabilizados por toda ordem de degradações ao ambiente, em detrimento do
agronegócio exportador, que também não é menos degradante e não tem nada de
“inocência”. Conti (2003) assenta nesta essa asserção, ao assinalar que as comunidades
que vivem em frágeis estruturas socioeconômicas, embora bem adaptadas ao próprio meio,
são afetadas pelo contato com tecnologias avançadas.
A Figura 26 ilustra a problemática da degradação dos solos e das vegetações, com um
panorama abrangente da bacia, mostrando aspectos de unidades geoambientais diferentes.
Meios e técnicas de proteção ambiental adequados, que busquem, principalmente,
controlar a pressão dos rebanhos, facilitariam a reabilitação dos vegetais próximos ao
clímax (SÁ et al. 1994). Ademais, a instituição e a manutenção de unidades de conservação
seguirão esses princípios.
285
Figura 26 - Aspectos da degradação ambiental na bacia do rio Acaraú
a
-
Solos degradados como afloramentos rochosos
revertidos por resquícios de caatingas arbustivas –
S
anta Quitéria, 2003.
c
-
Preparo da terra para plantio com remoção do
recobrimento vegetal. Catunda, 2005.
e - Oportunismo de capim panasco e resquícios de
caatinga arbórea– Santa Quitéria, 2003.
b
-
Desmatamento da mata ciliar e de tabuleiro
com exposição
de terraço na margem direita do baixo Acaraú,
d
-
Platô da Serra das Matas com devastação
generalizada da Mata Úmida. Observam-se maciços
residuais ao fundo. Monsenhor Tabosa, 2005.
f
-
Desmatamento da mata ciliar e de tabuleiro com
exposição de terraço na margem direita do baixo Acaraú,
2005.
286
Major et al. (2004) advogam que, no ranking dos biomas mais desmatamentos no
Brasil, o da caatinga fica atrás somente da mata Atlântica e do cerrado. Apenas 3% dos 4%
de áreas protegidas de forma integral no Brasil estão nas caatingas, sendo que apenas 1%
(1.084,516 ha) está protegido integralmente em unidades de conservação, que têm objetivos
de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, aos quais se
aplicam garantias adequadas de proteção respaldadas na Lei 9.985, de18/07/2000, que
institui o Sistema Nacional de Unidades de conservação da Natureza - SNUC (SEMACE,
2005).
As unidades de conservação representam importância ecológica, como amostra de um
cenário ambiental passado em termos de biodiversidade (NASCIMENTO, 2003) e que são
imprescindíveis na manutenção da capacidade-suporte e no combate à desertificação. Cabe
expressar que a perda da biodiversidade ou diversidade biológica representa mais do que a
perda do número de espécies em um dado ecossistema. Referencia redução da
variabilidade genética, da diversidade biológica e dos processos ecológicos, ou
respectivamente, da variedade de informação genética dentro de uma espécie, da variedade
dos seres vivos e da variedade de tipos e sua diversidade interna de habitats (HARPER e
HAWKSWORTH, 1994; MYERS, 2000; BENSUNSAN, 2002; NASCIMENTO e CARVALHO,
2003d).
Como forma de resguardar um nimo de patrimônio ambiental, sobretudo para
conservação dos solos, vegetações e das águas, existem 7 unidades de conservação na
bacia do Acaraú em aproximadamente 4.880.56 ha. Na seqüência, foram relacionadas as
áreas legalmente protegidas da bacia e seus principais aspectos, nessa ordem - categoria
de manejo, diploma legal, área, gestão, município de ocorrência e ecossistema protegido
(SEMACE, 2005):
Floresta Nacional de Sobral/uso direto; Decreto. 2.007 de 22/12/67 (alterado pela
Portaria 358 de 27/09/01); federal (IBAMA); 598 h a; Sobral; bacia hidrográfica do açude
Aires de Souza (Jaibaras).
Área de Proteção Ambiental da Bica do Ipu/uso direto; Dec. 25.354 de 26/01/99;
Estadual (SEMACE); 3.485,66 ha; Ipu; serra úmida.
Parque Ecológico de Acaraú/uso indireto; Lei 877 de 06/03/98; Prefeitura
Municipal de Acaraú; área não definida Costeiros/Complexo veg. Litorâneo.
Parque Ecológico da Lagoa da Fazenda/uso indireto Dec. 21.303 de 12/03/91; 19
ha; lacustre.
Reserva Ecológica Particular Cacimba Nova/uso direto; Portaria SEMACE 177/98;
Particular; 670 ha; Santa Quitéria; caatinga.
Reserva Ecológica Particular Fazenda Santa Rosa/uso direto; Portaria SEMACE
176/98; particular; 280 ha; Santa Quitéria; Caatinga.
287
Reserva Ecológica Particular Mata Fresca/uso direto; Portaria SEMACE 92/2004
de 01/10/2004; particular; 107,9 ha; Meruoca; caatinga e mata úmida.
5.3.3.3 - Manejo de irrigação nos agropolos e capacidade de suporte
O manejo de irrigação ao longo da história da humanidade, além de suprir bases
alimentícias, provoca diversos problemas, como a contaminação química do solo e água,
que esgota ou ultrapassa a capacidade de suporte dos recursos naturais renováveis,
produzindo, além de alterações químicas, também físicas e biológicas.
Zoon e Orlovski (1987) dizem que a alcalinização e a salinização secundária, ou seja,
aquela ocasionada por irrigação, está registrada na história como fatores antropogênicos da
desertificação. Provas disso são as condições de solos do atual Iraque (Mesopotâmia, 2.400
a.C). Some-se a contaminação química proveniente da agricultura, a intensificação da
produção por meio de adubos, inseticidas, herbicidas e outros produtos químicos, que
inclusive podem contaminar animais e homens.
A origem do sal é marinha, lítica ou antropogênica, no entanto, a salinidade do solo é
um dos fatores mais preocupantes na agricultura moderna, cujo manejo inadequado da
irrigação é o responsável principal pelo comprometimento da qualidade dos solos
degradados (MESQUITA, 2005), abandono e incorporação de terras. Outros problemas
estão associados às condições de drenagem, nível piezométrico, concentração de sais nos
solos e águas subterrâneas (RICHARDS, 1954; AYERS e WESTCOT, 1991).
Segundo Richards (1954), os solos salinos são mais comuns em regiões semi-áridas e
áridas, sendo praticamente inexistentes em regiões úmidas. No Nordeste semi-árido, são
encontrados solos salinos típicos de regiões semi-áridas e de baixadas, com as
concentrações elevadas de sais, principalmente de cloreto de dio, que é trazido à
superfície na solução do solo e concentram-se pós-evaporação, podendo ser aumentadas
por irrigação (MANTOVANI, 2003). Entre os sais mais comuns nas águas de irrigação estão
os sulfatos, cloretos, carbonatos e bicarbonatos, associados aos elementos sódio, cálcio,
magnésio e potássio.
Na Bacia em estudo, pelas condições climatérias predominantemente semi-áridas, a
vulnerabilidade predominante é de moderada a alta. Apresenta valores médios de elevadas
temperatura máxima (32,2°C), evaporação (1.914,7mm/ ano) e evapotranspiração potencial
(960,8 mm), com índice de aridez de 46,4%, além de apresentar diferenças de
permoporosidades dos terrenos cristalinos e sedimentos, ocasionando concentração de
substâncias químicas. Soma-se a isso a condensação de nuvens formadas sobre o Atlântico
e compostas de sais (REBOUÇAS, 2002a), ao entrarem em contanto com a superfície
terrestre originando condições edafoclimáticas com solos de teores elevados de sais
solúveis e sódio trocável.
288
Em princípio todas as águas e solos contêm sais dissolvidos, estando relacionados às
composições mineralógicas e químicas das rochas, sedimentos e solos, conforme os ciclos
biogeoquímicos (DREW, 1986), havendo um potencial de salinização em condições de
chuvas e/ou drenagem, o que pode ser agravado pelo uso de águas salinas e sódicas para
irrigação (MESQUITA, 2005). Entre os solos mais salinos da bacia estão os neossolos
quatzarênicos, planossolos e gleissolos sálicos, mas a salga de solos não originalmente
halomórficos pode ocorrer nos perímetros irrigados, aumentando a vulnerabilidade
ambiental à desertificação.
Naturalmente, com o escoamento superficial ou percolação, os sais tendem a se
concentrar nas águas superficiais e subterrâneas. Os sais dissolvidos nas águas são
transportados pela irrigação e depositados ou acumulados nos solos e também nas plantas,
onde se acumulam ao ritmo da evaporação ou consumo pelas culturas. Os problemas
derivados mais comuns, que afetam a relação solo-água-planta, segundo Ayres e Westcot
(1991), podendo ultrapassar a capacidade de suporte dos recursos naturais, são:
salinidade - sais do solo e água reduzem a disponibilidade de água afetando os
rendimentos das culturas. A ascensão do lençol freático conduz sais acima da zona
radicular, constituindo fontes adicionais de sais;
infiltração de água - teores relativamente altos de sódio, ou baixos de cálcio no solo e
água, reduzem a velocidade com que a água de irrigação atravessa a superfície do solo.
Essa redução pode alcançar tal magnitude, ao ponto das raízes não receberem água
suficiente entre as irrigações;
toxidade de íons específicos (cálcio - Ca
++
, magnésio - Mg
++
, sódio - Na
+
, potássio -
K
+
, cloreto - Cl
-
, bicarbonato - HCO
3
-
) - certos íons - como sódio, cloreto e boro (B) -,
contidos no solo ou na água, acumulam-se nos vegetais em concentrações altas, podendo
causar danos e reduzir os rendimentos das culturas e plantas sensíveis, ocasionando
distúrbios biológicos, tais como: necrose, maior produção de matéria seca, requeima foliar
etc; e
outros problemas - excesso de nutrientes reduzem os rendimentos das culturas e/ou
sua qualidade. As manchas nas frutas ou na folhagem prejudicam a comercialização dos
produtos. A corrosão excessiva dos equipamentos onera os custos de manutenção e
reparos. Ocorrem distúrbios biológicos nos vegetais e alterações no pH das águas etc.
Para Pimentel et al. (2003), a irrigação incrementa a produção alimentícia, influencia
na ocupação de mão-de-obra, porém, muitas das vezes, seus lucros são acumulados por
grupos empresariais. Além do mais, os impactos das tecnologias empregadas nos agropolos
da bacia do Acaraú ainda não são bem conhecidos.
O uso eficiente da água é um dos maiores desafios agrícolas. Práticas e técnicas
agrícolas inadequadas usadas no plantio podem prejudicar a qualidade dos solos (estrutura
e fertilidade), comprometendo a produtividade e exigindo mais recursos em termos de tempo,
289
capital e energia para produção alimentar (FREITAS, 2005). E, se necessário, prevenção da
desertificação, sem se esquecer de que, comumente, os agroquímicos (fertilizantes e
agrotóxicos) são manuseados sem as devidas medidas de segurança, com o uso de
equipamento e orientação técnica, com reflexos negativos sobre a saúde.
No baixo Acaraú, a máxima eficiência econômico-financeira é seguida de mínima
eficiência de bem-estar social e ecológico, em meio à combinação ótima dos insumos no
processo produtivo, produzindo entropias e rejeitos (FREITAS, 2005) concorrentes para
ultrapassagem da capacidade de suporte geoambiental. Embora haja hidrômetros nesses
agropolos no geral, as técnicas usadas são consideradas agressoras ao ambiente,
principalmente ao solo e à água (FREITAS, 2005).
Uma vez alteradas as condições edafológicas e agroclimáticas, o fato da água no
rendimento das culturas pode influenciar as necessidades hídricas, o suprimento de água e
o rendimento de cada cultura, o calendário de irrigação e a qualidade da produção,
conforme apontam Doorenbos e Kassan (1994). Sem dúvidas, o principal efeito dos sais
sobre os solos e as plantas é a alteração da capacidade de pressão osmóptica dos vegetais,
que é dificultada para captação de água e nutrientes do solo (RICHARDS, 1954; BOHN et al.
1979).
Concentrando altos teores de sais, especialmente de sódio, a distribuição d’água no
perfil dos solos é dificultada, produzindo inundações temporárias. Eles ainda podem se
tornar estéreis em pequenas ou grandes áreas, ocasionando degradação dos recursos
naturais e desertificação. O emprego de água de boa qualidade, que contém ínfimos níveis
de salinidade e risco de sodicidade, não oferece grandes riscos à irrigação (RICHARDS, op
cit.), no entanto, com inadequado balanço de sais, em decorrência de problemas de
drenagens, as áreas irrigadas podem gradativamente aumentar a quantidade de solos
salinizados em diferentes graus (CORDEIRO, 2003 apud MESQUITA, 2005).
A qualidade hidroquímica das águas da bacia, todavia, é que mantêm relação direta
com a salinização e sodicidade/sodificação dos solos. Mesquita (op cit.) afirma que como
um todo, a contribuição quanto ao incremento de salinidade do alto curso da bacia com
relação seu baixo curso foi discreto, não chegando a aumentar os níveis salinos mesmo nos
meses de maior aridez, nas amostras analisadas (Figura 27).
Nas águas da parte baixa da Bacia maior salinidade em decorrência das maiores
concentrações do íon cloreto (78,9%) nas águas oriundas da região semi-árida (cristalina), e
21,1% são bicarbonatadas. Este dados foram ratificados por Andrade et al. (2004 e 2005).
Os níveis de cloretos, contudo, estão bem abaixo dos limites de toxidez para as culturas em
geral, por isso não apresentam restrições de uso para irrigação.
No alto curso, as águas são mistas [(magnesianas, cálcicas, sódicas (Na
+
+K
+
)] em
termos de cátions (Na
+
, Ca
++
, Mg
++
, K
+
) e bicarbonatadas (HCO
3
-
), sulfetadas (SO
4
-
) e
290
300000 350000 400000 450000
300000 350000 400000 450000
9450000
9500000
9550000
9600000
9650000
9700000
9450000
9500000
9550000
9600000
9650000
9700000
#
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##
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p1
p2
p3
p5p6
p7
p8
p9
p10
p11
p12
P19
cloretadas (Cl
-
), em termos de ânions. Predominam o sódio (57,6%), entre os cátions, o
bicarbonato, entre os ânions, pelo emprego do triângulo de Piper (MESQUITA, 2005).
Pontos de coleta aproveitados:
Ponto 1 – Aç. Edson Queiroz
Ponto 2 – Açude Araras
Ponto 5 – Açude Jaibaras
Ponto 6 – Projeto São Vicente
Ponto 7 – Rio Jaibaras
Ponto 8 – Rio Groaíras
Ponto 9 – Projeto Forquilhas
Ponto 10 – Rio Madeira
Ponto 11 – Ac. Acaraú-Mirim
Ponto 12 – Barragem Sta. Rosa.
Ponto 19 – Rio Acaraú
Figura 27 - Distribuição dos pontos de coleta na bacia do Acaraú, conforme
Mesquita (2005)
Mesquita (op cit) interpolou as médias de condutividade elétrica (CE) (Figura 28),
identificando a distribuição da aptidão das águas da bacia do Acaraú para riscos de
salinidade, confrontando CE (Valores médios, a 25
0
C, em decisiems/metro, dS.m
-1
) x RAS
(relação de adsorção de sódio), em quatro classes: 1) sem restrição 0,00 a 0,20; 2) sem
restrição - 0,20 a 0,40; 3) sem restrição - 0,40 a 0,70; 4) ligeira a moderada 0,70 a 0,80.
Assinala que ocorre uniformidade quanto à caracterização da área e sem riscos de
salinização quanto ao uso para irrigação, com exceção do ponto 10 (rio Madeira), com
restrição de ligeira a moderada. E, ainda, dividiu classes que mostram os riscos dos
problemas decorrentes da sodicidade da água (Figura 29), nas seguintes categorias: em
“sem problemas, problemas crescentes e problemas severos”. Verificou que a maior parte
da bacia tem crescentes problemas quanto ao risco de infiltração pela sodicidade da água.
Os pontos 5 a 7 apresentam “problemas severos” de sodicidade na água e o ponto 10
“problemas crescentes”, enquanto os demais estão “sem problemas”.
291
Figura 28 - Restrição de uso das águas da bacia do Acaraú para irrigação em relação
à salinidade, conforme Mesquita (2005).
Figura 29 - Risco de problema de infiltração ao longo da bacia do Acaraú promovido
pela sodicidade da água, segundo Mesquita (2005)
Tanto o risco de salinidade quanto o de sodicidade da água estão diretamente
associados ao solo no sistema agrícola, uma vez que os recursos hídricos são manejados
pela irrigação. Do ponto de vista da análise integrada do ambiente, esses riscos de
292
contaminação química ambiental estão associados à capacidade de suporte dos
geoambientes, em suas potencialidades e limitações.
Averiguações pormenorizadas sobre a degradação hidroquímica dos solos merecem
atenção detida em futuros trabalhos e projetos interdisciplinares sobre a desertificação. Tão-
somente, cabe registro dos indicadores hidrológicos de processos de
degradação/desertificação. A partir de 1958, vários estudos intensivos sobre os aspectos
hidrológicos em zona árida e monitoramento de recursos hídricos foram realizados na Índia
para este fim. Alguns indicadores hidrológicos foram reconhecidos como eficazes no estudo
das águas superficiais e subterrâneas, com efetiva contribuição em outros estudos de caso.
Por exemplo, não somente naquele país, como também em outros que resguardam terras
áridas, semi-áridas (Nordeste brasileiro) e subúmidas secas. A figura seguinte esquematiza
os indicadores em apreço, demonstrando alguns elementos que são interessantes de
analisar em estudos sobre desertificação.
Figura 30 - Indicadores hidrológicos de desertificação
Fonte: Sharma (1998)
Finalmente, as principais formas de uso/ocupação da terra foram mapeadas na Figura
31, que exibe ainda as principais ativides produtivas desenvolvidas nas unidades
morfopedológicas (solos e geomorfologia) e as alterações ambientais no vale do rio Acaraú.
INDICADORES HIDROLÓGICOS
Runoff
Mudanças seqüênciais
no nível de profundidade
d’água
Área coberta e turbidez da
água superficial
Qualidade
Águas subterrâneas
Água de superfície
Infiltração
Carga sedimentar
Cursos d’água
Reservatórios
e lagoas
Mudanças nos cursos d’água
e na água de escoamento
294
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
A desertificação é um problema comprometedor da segurança ambiental global, que
se evidencia na superfície terrestre de maneira diferenciada, em grau e abrangência. As
zonas tropicais compreendem as áreas mais problemáticas nesse sentido, onde se insere o
Brasil.
As bacias hidrográficas subúmidas secas e semi-áridas que compõem a região
Nordeste deste País e, especificamente a bacia hidrográfica do rio Acaraú, no Ceará, estão
sobremaneira envolvidas nesse fenômeno, sendo que a degradação que pode culminar com
a desertificação, a princípio, deriva das atividades humanas inadequadas sobre os mosaicos
ambientais, com baixa sustentabilidade e alta vulnerabilidade ambiental. Dessa forma, as
condições econômicas e sociais podem potencializá-la.
Na realidade, a investigação da bacia hidrográfica do rio Acaraú como unidade natural
e da gestão calcada na questão dos recursos hídricos e degradação ambiental, sob o
prisma de um contexto amplo de planejamento ambiental, permitiu a execução de trabalho
sistêmico e holístico na abordagem sobre a desertificação. Concorrendo para destacarmos
algumas das vantagens da concepção da bacia hidrográfica como unidade de estudo, em
face de degradação/desertificação, verificamos que:
em seu âmbito, é possível subsidiar o desenvolvimento de parcerias e resolução de
conflitos para usos dos recursos naturais, como ainda analisar a degradação ambiental a
partir de sistemas fluviais;
estimula e permite a participação popular, democraticamente, com relação ao poder
público, organizações não governamentais (ONG’s) e entidades privadas; no que
descentraliza os trabalhos de conservação e proteção ambiental, estimulando as
integrações comunitária e institucional;
comporta-se como uma unidade fisiográfica indissociável possível de ser
geocompartimentada em trabalhos geoambientais integrados;
possibilita uma forma racional de organização de banco de dados, além de garantir
opções para o uso dos mananciais e de seus recursos naturais;
evidencia o estado de degradação ambiental pela eutrofização, bem como pelo
assoreamento dos corpos hídricos; e
apresenta um arcabouço jurídico-ambiental bem consubstanciado para o combate à
desertificação.
Assim é que, com a concepção da Bacia estudada como unidade de manejo
geoambiental, contribuimos não para o combate à desertificação, como também para
administração do espaço em tarefa, com maior grau de eficiência para o gestor designado.
295
As dificuldades encontradas, contudo, para se consideramos uma definição
consensual sobre desertificação ainda representam um entrave ao enfrentamento da
problemática no plano global.
A bem da verdade, é que desde as idéias precursoras sobre desertificação ainda na
metade do século passado, até a formulação de sua definição oficial no âmbito da
Conferência das Nações Unidades sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD),
mais conhecida como Conferência do Rio ou Eco’ 92, muitas ambigüidades, críticas,
considerações e desconsiderações sobre a desertificação foram aventadas. Estes aspectos
denotam a dimensão da complexidade do problema em suas faces acadêmica e científica,
política, social, cultural, ambiental, falaciosa e sensacionalista, só para citar as mais comuns.
Algumas considerações responsabilizavam os fatores humanos e climáticos que ao
agirem concomitantemente, desencadeariam a desertificação. Segundo outras, apenas os
fatores socioeconômicos dregradacionais da terra são relevantes. De fato, a expressão
desertificação surgiu para caracterizar as áreas que estavam ficando parecidas com
desertos quentes ou para designar a expansão destes, de uma forma genérica.
Percebemos mediante a busca para entender a da definição oficial de desertificação
pela ONU, que o conceito foi forjado a partir de contradições e ambigüidades, sobretudo,
para designar áreas problemáticas em Sahel - em áreas que foram objeto de forte
degradação ambiental, possibilitando a expansão do Deserto do Saara. Desde então, este
conceito foi generalizado para todo o Globo e propalou o entendimento semântico
equivocado entre desertificação e desertização.
Atualmente, o uso da definição sobre desertificação supracitada, ocorre quase que
indistintamente por diversos estudiosos, políticos, sociedade civil, como também pela mídia
técnica e informacional, fato que faz a desertificação ser bastante permeada por jargões e
clichês, demandando ser mais bem compreendida. Por isto distinguimos desertização de
desertificação, porque esses termos são antinômicos.
Advogamos a idéia de que o primeiro termo trata da formação, expansão ou contração
natural de biomas desérticos quentes, ditos físico-ecológicos, constituídos ao longo de eras
geológicas, independentes da ação humana. Isto não se aplica ao objeto em foco, mas sim
desertificação, no sentido de se designar os processos de degradação das terras, induzidos
pelas atividades socioeconômicas, sem necessariamente haver mudança climática, em
detrimento do seu uso generalizado que se tornou senso comum.
À luz desta questão, sinais de profunda degradação ambiental no Nordeste semi-
árido, amiúde na bacia do Acaraú. Isto foi denunciado ao investigarmos a estreita relação
entre os pares dialéticos seca e degradação ambiental e relação sociedade e natureza, de
vez que ocasionam, em grande parte, redução da biodiversidade, erosão dos solos e
diminuição espaciotemporal e quali-quantitativa das águas interiores.
296
Como se não bastasse, estes problemas também encontram dificuldade de mais
investigação, dadas as imprecisões e discordâncias sobre a delimitação do Nordeste seco,
sem nos esquecer da complexidade ambiental apresentada pela região Nordeste como um
todo. Em associação, a isto, as pressões, oportunismos e tratamentos técnicos equivocados
de políticos e tomadores de decisões, que ao longo da história produziram a “indústria da
seca” e declararam combate a esta, contribuíram, para escape do âmago da questão: a
convivência com o semi-árido.
O Nordeste da SUDENE (1.797.939,7 km²), a região semi-árida do Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE, 895.254,4 km²) e mais recentemente o
Bioma Caatinga (1.037.517,80 km²) e a delimitação da área de atuação do Banco do
Nordeste (1.775.036,3 km²), constituem-se como algumas das tentativas das instituições
regionais para o tratamento das secas e enfrentamento da desertificação. Contudo, a
proposta que se apresenta mais completa para o tratamento da semi-áridez e da
desertificação, no entanto, é a delimitação das Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD’s,
1.138.076,0 km²).
Isto porque esta delimitação baseia-se no Programa de Ação Nacional de Combate à
Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN-BRASIL), o mais completo documento
nacional e um dos mais importantes do mundo no enfrentamento da questão; porém,
passados quase dois anos de seu lançamento, o que se verifica em prol de sua função mais
nobre são resultados pífios.
Neste espectro, independentemente, das classificações, o Ceará se destaca como o
estado da Federação que, proporcionalmente, tem a maior área encravada no semi-árido.
Por isso, do ponto de vista natural, detém gradientes de vulnerabilidade e sustentabilidade
ambientais por demais preocupantes. Pensadas a vulnerabilidade econômica aliada à
vulnerabilidade ambiental, o panorama socioambiental se mostrou aterrorizante.
Como parcela do território cearense, a bacia do rio Acaraú (14.560,1 km²) apresenta
problemas socioambientais semelhantes e contundentes ao Estado todo. Observamos que a
interferência humana no meio biofísico, mais do que as vicissitudes climáticas,
ordienamente, provocam ruptura da dinâmica geoambiental, sobretudo pela degradação dos
elementos da exploração biológica. Fatores estruturais, contudo, como concentração de
renda e inadequações de algumas atividades econômicas às condições ambientais,
dificultam o combate à desertificação e magnificam os efeitos das referidas causas,
comumente em um quadro social onde a miséria é marcante.
Ao relacionar as características biofísicas, incluíndo eventos paleoclimáticos e
paleogeográficos plioquaternários, com as intervenções das atividades humanas
modificadoras dos recursos naturais, foi possível estudar as mudanças dos arranjos
geoambientais em tempo profundo comparando-as à escala socioeconômica, que remonta à
história da Bacia. Percebemos que as condições ambientais resistásicas, principalmente dos
297
sertões - a maior unidade geoambiental (10.445,7 km² ou 71,7% do total) -, são crescentes
durantes os três últimos séculos.
No todo, notamos que os recursos naturais sempre representaram esteios para grande
parte da população desta unidade territorial; e que a maior ou menor oferta de ativos está
relacionada à capacidade de suporte ambiental, em termos de potencialidades e limitações.
As funções e produtividades geoambientais, neste caso, estão a depender da trama de
relações mútuas entre o potencial ecológico, exploração biológica e as atividades
socioeconômicas nos 6 geossistemas identificados, delimitados e compartimentados. O
relevo e as feições do modelado foram mais facilmente identificados e passíveis de
circunscrição minuciosa e precisa para arbitragem sobre a compartimentação geoambiental
e conseqüente o zoneamento proposto. Deste feito, constam as seguintes informações na
subcompartimentação da bacia: planície litorânea (36,80 km², 0,26%), planície fluvial
(451,2km², 3,10%), tabuleiros costeiros (968,2km², 6,64%), maciços e serras residuais
(2.133,9km², 14,70%), planalto sedimentar da Ibiapaba (524,4km², 3,6%) e os retocitados
sertões.
As serras, as planícies e o planalto da Ibiapaba são mais densamente povoados com
parcelamento do solo intenso; os planaltos, além de apresentaremida agrária mais pujante,
mesmo com as restrições impostas pelos neossolos litólicos e os acentuados gradientes de
declividade. No litoral e tabuleiros costeiros, em detrimento as melhorias das condições
climáticas em relação à semi-áridez, os neossolos quartzarênicos e os argissolos
álicos/distróficos apresentam restrições à exploração agrícola. Nos sertões, embora as
geofácies tenham semelhanças fisiográficas, diversidades geocológicas entre os setores
dissecados e aplainados, que induzem as diversas explorações agrossocioeconômicas.
Principalmente os recursos de água, solo e de vegetação são consumidos e exauridos
vorazmente, sob dadas conjunturas políticas, econômicas e ambientais, aumentado assim a
susceptibilidade às contingências climáticas e a vulnerabilidade às secas.
Via de regra, as tipologias de uso/ocupação da terra reunidas pelos recursos
agrossocioeconômicos, urbano-industrial e usos múltiplos dos recursos hídricos e ambientes
hidromórficos, produzem alterações ambientais. Dentre as principais, registramos a
expansão urbana desordenada, como concomitante crescimento desordenado dos núcleos
populacionais; concentração de renda no campo e na cidade; emprego de técnicas
agrossilvopastoris inadequadas; desmatamentos, queimadas, degradação pedológica;
mineração clandestina; carcinicultura; ocupação de áreas de preservação permanente;
problemas oriundos do turismo e da agropecuária; poluição dos recursos hídricos e
mudanças hidrológicas; problemas originários da industrialização e redução da
biodiversidade etc.
Portanto, verificamos que a degradação ambiental é resultado de emprego
indisciplinadodos recursos naturais, contingenciados pelas formas de uso e ocupação da
298
terra, sejam eles renováveis ou não renováveis, ao lume de dadas políticas econômicas e
sociais. As ações indiscriminadas contribuem para tornar recursos renováveis em não
renováveis, provocando, por exemplo, o esgotamento dos solos, em razaão do grau
irreversível das alterações nos geossistemas.
A degradação artificializa e desfiguram geoambientes, produz perdas na qualidade
ambiental, influindo nos desequilíbrios ecológicos e na degradação da qualidade de vida de
boa parte da população. Isto leva à desertificação.
A esse propósito, a bacia do Acaraú apresenta variações de sistemas geoambientais,
conseqüentes das diversidades das condições naturais e das formas de uso e ocupação da
terra. Essas formas, por sua vez, denunciam, comumente, as políticas de organização e
apropriação do espaço regional pelos diversos agentes sociais, sejam eles os tomadores de
decisão política, empresários de setores diversos ou mesmo a comunidade civil. O estudo
sobre os agentes organizadores do espaço, além de mostrar as alterações ambientais por
interferência humana, também aponta opções para os entraves a conservação ecológico-
legal para planejamento território.
Em regiões pobres, como o vale do Acaraú, a diversidade e potencialidade natural, ao
longo da história foram (e são) os fatores basilares para o uso da terra. As estruturas dos
quadros sub-regionais estão atreladas às atividades econômicas e se mantiveram
dependentes dos recursos naturais disponíveis. Quando se trata principalmente das
atividades primárias, os recursos naturais estão marcadamente centrados no processo
produtivo.
Historicamente, a exemplo do que ocorreu em grande parte do Ceará e do Nordeste
setentrional, foram deflagradas fortes pressões sobre os recursos naturais a partir de uma
relação sociedade e natureza conflituosa, ao lume de políticas piegas. Em certos casos, são
visíveis as marcas deste problema no conjunto dos fatores bióticos e abióticos que
compõem as unidades ambientais. Fatores facilmente identificados nos trabalhos de
gabinete e de campo, com destaque ao estado de conservação dos fatores de exploração
biológica.
No que tange ao desenvolvimento econômico atual da bacia, podemos concluir que o
este é aviltante, contraditório e desigual. O setor primário é incipiente e representa a base
da economia, com participação expressiva no acesso à renda. Representa a maior fatia de
emprego, vis-à-vis na bacia, aliado aos programas de assistência social e às aposentadorias
previdenciárias. Algumas atividades econômicas, contudo, detêm apenas peso econômico
local e regional, como maior parte da agropecuária. Outras denotam relações extra-
regionais, como a indústria/agroindústria.
As fruticulturas em alguns perímetros irrigados, como no baixo Acaraú, mantém
relação direta com os mercados globais, no entanto, a salinização e a sodificação induzidas
pelo manejo equivocado da irrigação constituem sério problema que envolve os agropólos.
299
O elevado grau de desperdício dos recursos hídricos e a degradação dos solos na irrigação
compromete a geração de riquezas e bem-estar no campo.
Conforme cada época e ciclo econômico da pauta, o cenário de injustiça social,
degradação ambiental e economia excludente propaga-se ao longo do tempo em todos os
espaços da bacia, acompanhado das contingências impostas pelas limitações naturais.
Notamos que as transformações no campo foram ineficazes, com as estruturas agrárias e
agrícolas pouco ou não se desenvolvendo, tão-somente, consubstanciando reestruturações
produtivas, consolidando ilhas de excelência em certos perímetros irrigados.
Somente alguns produtores dos perímetros irrigados lucram, internalizando suas
receitas provenientes dos capitais natural e especulativo; e externalizam problemas
ambientais e socioeconômicos. Em outros sistemas organizados de produção, como os
assentamentos, no mais, o que é a simples distribuição de terras e subsistência do povo
com exploração definhadora de recursos naturais.
A estrutura fundiária da Bacia, a despeito de todo o Nordeste seco, caracteriza-se pelo
predomínio do latifúndio para pecuária extensiva de gado e caprinos, bem como reserva de
mercado. Enquanto isso, o meio social de produção (a terra) é restrito aos pequenos
produtores, que subsistem do criatório, agricultura de sequeiro e/ou vazantes, com técnicas
rudimentares. Sofrem muito com a falta de apoio estatal, usufruíndo de procedimentos
primitivos e rendimentos e rentabilidades agrícolas ínfimos.
Portanto, no meio agrário da Bacia, concentração de renda e de terras que
provocam mundanças no mundo do trabalho e nas relações sociais de produção, bem como
degradação ambiental, o que leva à desertificação. Em meio à pobreza reinante, entretanto,
além de prosperarem setores selecionados pelo capital na agricultura, sobressaem bairros
elitizados em diversas cidades, notadamente em Sobral e Nova Russas.
Com o advento tecnológico, a ligação entre o mercado local-global intensificou as
relações que a bacia mantém com outros pólos emergentes ou tradicionais. Até o momento,
no entanto, se mostra como mais um episódio da história econômica de insucessos
regionais, que trouxesse reais benefícios para o povo, desde o século XVII, com gado,
depois com o binômio gado-algodão.
A rigor, desde os primórdios de ocupação dos sertões setentrionais nordestino, e em
especial a bacia do Acaraú, as formas de exploração das terras vêm mudando conforme a
lógica de mercados e acumulação do capital, em detrimento do equilíbrio produção-
ambiente. O economicismo sobrepõe o ecológico e o social.
A não-observância de formas de políticas ambientais na ocupação do território e as
políticas de desenvolvimento das atividades produtivas, principalmente da agricultura de
pequeno e médio porte, tendem a produzir sérios problemas de deterioração ambiental,
pondo em risco a capacidade pedobioclimática, a manutenção da vegetação, a higidez dos
recursos hídricos e, portanto, a qualidade ambiental.
300
Na realidade, muitas vezes as intervenções públicas m estreita relação com
degradação ambiental, em meio às negligências com o ambiente, ao incremento de políticas
niilistas, bem como em razão da ausência de planejamento ambiental.
Assim, a análise dos atributos e da dinâmica natural que identificam os sistemas
ambientais teve caráter globalizante e integrativo dos componentes naturais e humanos.
Sua identificação e delimitação resultaram no agrupamento de áreas dotadas de condições
específicas, ou seja, os geossistemas e geofácies. Observamos, ainda, que os tensores
desencadeadores de problemas ambientais são tanto de ordem natural quanto
socioeconômica e são muito bem refletidos no estado de conservação vegetacional.
Ademais, a caracterização dos principais aspectos ambientais forneceu subsídios para
indicar os tipos viáveis de usos dos recursos naturais. Ponderaramos as proporcionalidades
entre potencialidades e limitações e balanço ecodinâmico por meio do zoneamento
compatível com a vulnerabilidade ambiental. Neste espectro foram destacados também o
estado de conservação da vegetação, a morfopedologia e o índice de aridez em termos
quantitativos e qualitativos-, para a melhoria da qualidade ambiental concomitante ao
desenvolvimento econômico.
Verificamos que a auto-organização da biosfera apresenta existência inicial rara,
resultante de efeitos adversos da relação natureza e sociedade, que se traduzem nos
processos de degradação em diferentes veis e até mesmo em condições irreversíveis.
um descompasso da exploração relativametne à degradação dos recursos naturais e sua
capacidade de recuperação, deflagrando uma dinâmica regressiva; bem como entre as
funções normativa e fiscal do Estado no que tange à legislação ambiental.
Isto afeta ecodinâmica, desenvolvendo a primazia da morfogênese sobre a
pedogênese com empobrecimento dos múltiplos níveis dos componentes da biosfera, que
resultam em sinais evidentes de esgotamento dos recursos naturais, sobretudo nos sertões.
Assim, a vulnerabilidade climática tem repercussões diretas nas disponibilidades dos
recursos hídricos, acometendo, principalmente, o setor primário da economia.
Nesse aspecto, a transformação da natureza não pode ser dissociada das ações
humanas. Porquanto, a desertificação, como conseqüência da degradação ambiental, em
maioria, deriva de processos interativos homem-meio ambiente. Esses podem ser
conflitantes, produzindo impactos da desertificação nos trópicos, porém sempre são
heterogêneos e diacrônicos, cada qual com sua própria dinâmica e dimensão.
A degradação dos fatores de exploração biológica, alhures e algures, foi identificada
ao longo do trabalho e culminou com a analise do estado de conservação vegetacional,
associado à degradação dos solos-fulcro da questão. Infelizmente, todos os complexos
vegetais apresentam avançados estádios de degradação ambiental que levam aos
problemas de desertificação, especialmente as variações fisionômicas e florísticas das
301
caatingas; no entanto, em alguns setores, a vegetação ainda contribui na formação de
habitats para espécies animais de répteis, mamíferos e aves.
Agravante é o fato de que diversos outros estudos consideram haver nessa unidade da
gestão e planejamento ocorrência de desertificação em níveis de grave a muito grave em
relação ao contexto brasileiro. Isto em razão de atividades socioeconômicas desregradas,
onde sobressaem o desmatamento indiscriminado e a ablação dos solos; ou mesmo
considerando o índice de aridez, com porções nas classes medianamente críticas (0,41-
0,45) e menos críticas (0,46-0,50).
Com o cruzamento dialético das condições geoambientais, principalmente as
potencialidades e limitações dos solos e vegetação e seu estado de conservação e
tipologias de ocupação e problemas de degradação ambiental, afirmamos que há alterações
ambientais convergentes para estádios resistásicos de desertificação. No geral, predominam
as classes que variam entre vegetação de degradada a fortemente degradada; e, em
particular solo exposto nos sertões. Esses fatores concorrem para que a
degradação/desertificação se mostra como o problema ambiental mais sério da bacia do
Acaraú.
Os sertões semi-áridos, originalmente revestidos pelas caatingas e que foram
historicamente, e por excelência, ocupados pela pecuária extensiva, agricultura de
subsistência e o agroextrativismo, são, deveras, os ambientes mais afetados. As políticas de
não-convivência com esse fenômeno, a pobreza e a falta de incentivo técnico ao produtor
rural, concorrem para dilapidação dos aspectos agrossocioeconômicos.
O uso desregrado do solo na bacia hidrográfica que compromete a capacidade-suporte
dos recursos naturais renováveis precisa ser reavaliado com urgência para a manutenção
dos fatores de estabilidade da natureza e constância e elevação dos aspectos de
diversidade, no sentido amplo, ante as demandas crescentes nos planos local, regional e
global.
Qualquer estratégia, de qualquer área do conhecimento desenvolvida no trato da semi-
áridez, deve considerar a degradação ambiental e a seca como duas faces de uma mesma
moeda: a desertificação. Criticamos o fato de que qualquer efeito combativo ao fenômeno
da seca não passa de tarefa infindável; mero romantismo! de se desenvolver estratégias
de convivência com as vicissitudes climáticas e respeito ao povo e suas ancestralidades,
pois contra a lei natural não existe lei positiva.
Finalmente, que o mundo se renove, como sempre o fez, juntamente com a esperança,
o trabalho, os artifícios e as aspirações cosmopolitas de contanto e acesso à natureza. A
terra, mesmo que presa ao antropocentrismo e às chagas que a acometem, ainda pulsa. A
vida clama por liberdade. A desertificação é parte da alforria. Todos. Curemos a vida pela
vida!
302
Diretrizes e recomendações para o tratramento da desertificação
Para mitigação e operacionalização do zoneamento proposto, apresentamos diretrizes
políticas e técnicas para melhoria da qualidade ambiental, combate à desertificação e
convivência com as secas cíclicas.
No que tange a recomendações políticas, com desdobramentos práticos, sugerimos
acompanhar e aplicar, impreterivelmente, a mais completa lista de indicações no
tratamento holístico da desertificação, que consta no Programa de Ação Nacional de
Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas (PAN-BRASIL). Esse
valiosíssimo documento propõe 5 grandes ações adequadas para a Bacia em estudo e,
mesmo que exista um grande hiato entre teoria e prática, é necessário insistir na: redução
da pobreza e da desigualdade social; ampliação sustentável da capacidade produtiva;
preservação, conservação e manejo dos recursos naturais, gestão democrática e
fortalecimento institucional.
Realmente, o Governo Federal de articular-se com o Estadual na constituição do
PAN cearense, bem como no desenvolvimento do PAN-BRASIL, em face da complexidade
ambiental do Nordeste - o Ceará não foge a esta realidade -, onde o maior desafio dos
governos é efetivar o seu papel nas bases, para maior participação popular. Sob este prisma,
as relações sociedade/natureza e a convivência com o semi-árido devem ser algumas das
tônicas a se perseguir.
Uma das proposições mais legítimas relacionadas à desertificação é a Declaração do
Semi-Árido (DAS), que engloba de 1.020 entidades das sociedades civil e tem 4 idéias-
chaves, que os organizadores do espaço e os tomadores de decisões políticas devem
perseguir para o vale do Acaraú: quebra do monopólio da terra, água e meios de produção;
manejo sustentável dos ecossistemas com conservação e recomposição ambiental;
educação e resgate da identidade cultural do semi-árido; e informação.
No meio rural é preciso, ainda, incentivar o pequeno produtor, fortalecer a infra-
estrutura local e regional e propalar a agroecologia, porque a agroecologia, segundo, o
PAN-BRASIL 2004, é um modelo produtivo da agricultura familiar que deve ser associada
aos recursos hídricos e que tem menor demanda a insumos externos à propriedade. Ainda
aumenta a produção, protege os recursos naturais, além de apresentar menos riscos diante
das secas e mudanças mercadológicas. É uma agricultura barata e rentável, econômica e
comercialmente a agricultura orgânica. Ela pode, dentre outros aspectos, usar plantas em
simbiose com bactérias da fixação biológica de nitrogênio (FBN) e fungos endomicorrízicos.
Nesse sentido, é urgente que o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Irrigada Familiar (PRONAF) disponibilize recursos para que o pequeno produtor invista na
modernização de sua atividade agroextrativista, silviculturistas e de pesca além de incentivar
o associativismo e o cooperativismo, seguidos de um reforma agrária séria como medidas
a médio e longo prazos, investindo e integralizando cotas-partes, a partir do Plano Safra
303
2005/2006, como medida a curto prazo, sob pena de as conjunturas socioeconômicas
perversas e excludentes e ambientais degradantes se perpetuarem no tempo e espaço, com
a desertificação “vindo a galope”.
Diretamente aos habitantes da Bacia é interessante que divulguem os “10
mandamentos para a proteção da natureza” de Padre cero Romão Batista, destacados
por Vasconcelos Sobrinho (1982). Apresentam linguagem bem simples ao povo da Bacia e
de suas áreas contíguas:
1. Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau.
2. Não toque fogo no roçado nem na caatinga.
3. Não cace mais e deixe os bichos viverem.
4. Não crie boi nem bode soltos. Faça cercado e deixe o pasto descansar para se
refazer.
5. Faça uma cisterna no oitão da sua casa para guardar água da chuva.
6. Não plante de serra acima, nem faça roçado em ladeira muito em pé, deixe o mato
protegendo a terra pra que água não se arraste e não se perda a sua riqueza.
7. Represe os riachos de cem em cem metros ainda que seja com pedras soltas.
8. Plante cada dia pelo menos um de algaroba, de caju, de sabiá ou de outra árvore
qualquer até que o sertão seja uma mata só.
9. Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga como a maniçoba, a favela e jurema.
Elas podem ajudar você a conviver com a seca.
10. Se o sertanejo obedecer a estes ensinamentos, a seca vai aos poucos se acabando,
o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer. Mas se não obedecer, dentro de
pouco tempo o sertão vai virar um deserto só.
Tecnicamente, é urgente valorizar as potencialidades para conservação da vegetação
e/ou seu (re) florestamento para se evitar a evapotranspiração excessiva. Associado a isto,
o desenvolvimento de estudos hidrológicos poderão ajudar ainda mais no tratamento da
degradação de terras e convivência com o semi-árido; recomendando medidas,
principalmente, através de quatro focos de estudos, como orientam Batchelor & Wallace
(1995), para o combate à desertificação, é necessário verificar:
efeitos antropogenéticos na ocupação de várzeas e sobre-pastoreio, em termos de
feedback dos fatores hidrológicos e superfície-atmosfera;
melhorar alguns indicadores de degradação, principalmente, com os estudos de
sensoriamento remoto, para certificação da extensão do fenômeno da desertificação;
investigar o crescimento do consumo d’água e seu consumo eficiente pela vegetação
e colheitas. Estes estudos são importantes para melhor compreender a relação água-solo-
planta e o desenvolvimento agrícola em ambientes que sofrem com a aridez. Isto implica
balancear o mínimo hídrico necessário aos vegetais e a otimização da agricultura; e
304
finalmente, associar a gestão dos recursos naturais aos estudos hidrológicos,
agronômicos e de potencial socioeconômico, a partir de uma aproximação holística para
resguardar e, possivelmente, reverter a degradação das terras no semi-árido.
Uma classificação dos corpos hídricos com diretrizes ambientais para o seu
enquadramento, assim como estabelecimento das condições e padrões de lançamento de
efluentes, conforme a Resolução CONAMA 357 (17/0 3/2005), sendo suas outras diretrize,
também necessárias. Por todos esses motivos, é importante se considerar as mudanças no
ambiente fluvial, no espaço e no tempo, desencadeadas pelas interferências humanas e
suas resultantes sobre a desertificação; ao menos, que os agentes organizadores do espaço
ponham em prática os preceitos da Agenda 21, especialmente o Capítulo 18, que trata da
proteção, qualidade e abastecimento dos recursos hídricos, imbricado ao Capítulo 12.2, que
considera o semi-árido e a desertificação.
Esses capítulos advogam o fato de que é mister: integrar medidas de proteção e
conservar mananciais; desenvolver técnicas de partição do público nas decisões; mobilizar
recursos hídricos, em especial nas zonas áridas e semi-áridas; desenvolver ao
abastecimento d’água (dessalinização, reúso e reposição de aqüíferos etc.); e que, no
manejo de ecossistemas frágeis em face da luta contra a desertificação e a seca considere-
se a degradação da exploração biológica associada às atividades socioeconômicas,
incidentes sobre os recursos hídricos, a destacar: a degradação hidrológica superficial, pela
perda da cobertura vegetal e a degradação das águas subterrâneas, por alteração das
modificações nas condições de recarga.
Associado a isto, é urgente realizar um zoneamento agroclimático para aferição da
aptidão agrícola da bacia, para bem se planejar suas prioridades de cultivos orientadas
pelas aptidões agroclimáticas das culturas, conforme suas diversificações climáticas sub-
regionais e locais.
Desta sorte, o desenvolvimento local dinamizaria a economia regional e local,
conforme o aproveitamento ótimo dos recursos naturais, melhorando o bem-estar das
populações e grupos sociais, enquanto compromisso que eleja o espaço como o lugar de
solidariedade ativa, mudando o comportamento e atitude das pessoas. Concordamos com
Ab’Saber (2003) no fato que, mesmo bem adaptados a conviver com seca, e que isto seja
incentivado, os trabalhadores das caatingas não podem conviver com a miséria,
desemprego aviltante, fome e todo o inarrável drama familiar durante as secas prolongadas.
É necessário rever as políticas de irrigação. Enquanto isso, em caráter de urgência na
agricultura irrigada, dada a alta vulnerabilidade ambiental, necessidades de
monitoramento e controle dos sais de uso na irrigação para redução dos riscos de
degradação dos recursos naturais renováveis, com manejo adequado para cada
geoambiente. O método de irrigação e características do solo devem ser analisados
305
integradamente para se evitar os riscos de desertificação por salinização, minimizando,
inclusive, o comprometimento da produção agrícola e a rentabilidade das culturas.
Ententendo a desertificação como um problema ambiental complexo e interativo,
porém, o estabelecimento das diretrizes pari passu para cada unidade de paisagem é
fundamental à manutenção do equilíbrio geoambiental. Destaquemosa capacidade de
suporte e combate à desertificação em suas mais diversas faces.
A planície litorânea exige proteção do patrimônio paisagístico, do manguezal e da
biodiversidade, controle da especulação imobiliária e de efluentes com instalação e
desenvolvimento de saneamento básico. Concomitantemente, devem ser desenvolvidas
atividades educativas e monitoramento costeiro, conforme preceitos do Plano Nacional de
Gerenciamento Costeiro (GERCO).
As planícies fluviais demandam, no contexto da desertificação, planejamento e manejo
integrado das sub-bacias de drenagens. Devem ser seguidos preceitos conforme a
legislação (Lei 9.433/97) pertinente, seguindo a s normas e deliberações do Comitê da
Bacia do Acaraú para proteção de mananciais, desenvolvimento de práticas
conservacionistas no uso e ocupação da terra, manutenção e recuperação da
funcionalidade dos geoambientes; implantação de saneamento básico, conservação,
reflorestamento da mata ciliar e extrativismo regrado.
Nos sertões semi-áridos, onde o problema da desertificação é mais evidente, as
principais diretrizes cabíveis estão relacionadas ao combate à degradação da terra, coma
conservação do solo e reflorestamento para reabilitação dos recursos naturais. É de
fundamental importância elaborar um plano estadual de combate à desertificação e
convivência com as secas, para prevenção ou redução da degradação das terras com
reabilitação de terras parcialmente degradadas, em associação com o desenvolvimento de
medidas educativas. São necessários, ainda, treinamento e desenvolvimento de
agroecologia junto aos produtores rurais, manejo sustentado da caatinga, saneamento
ambiental, em consonância com a socialização e acesso aos recursos hídricos. Todos esses
preceitos, preferencialmente, devem seguir a Agenda 21 e o PAN-BRASIL.
Para os maciços residuais, cristas e inselbergs, é mister o manejo adequado da
biodiversidade em obediência ao Código Florestal, seguido de proteção dos mananciais,
recuperação ambiental de áreas degradadas, bem como o controle da degradação da terra
mediante da conservação dos solos e demais recursos naturais, sem esquecer do controle
da mineração.
O Planalto Sedimentar da Ibiapaba, em face de seu estado geoambiental, requer
cuidados com o manejo adequado da flora e da fauna sob obediência dos preceitos do
Código Florestal e a da Legislação ambiental (n° 9. 605 de 12 de fevereiro de 1998). O
objetivo é a manutenção dos sistemas ambientais e proteção dos mananciais, com o
controle rigoroso da exploração hidrogeológica, seguido do controle de efluentes e da
306
especulação imobiliária. Os pequenos e médios produtores devem receber incentivos ao
plantio e toda a atividade agropecuária deve seguir orientações agroecológicas. O
ecoturismo incentivo para exploração das paisagens de exceção, sob o estabelecimento
de medidas educativas para comunidade local e a visitante. O patrimônio paisagístico deve
ser rigorosamente protegido, com reflorestamento da mata mais exuberante da Bacia, a
mata úmida; manutenção dos ecossistemas ribeirinhos e saneamento ambiental localizado.
No Brasil, porém, e em especial no Acaraú, a prática de um desenvolvimento
alternativo, que extrapole o simples aumento do consumo e da produção de bens materiais
e serviços, é um desafio político, institucional e intelectual, praticamente intransponível.
Mesmo assim, é preciso isso garantir, mediante de um processo que permita aos indivíduos,
comunidades e governos o resgate dos direitos e a autonomia de decidir seu próprio futuro.
Muito embora esse desejo se afigure como “um sonho de uma noite de verão”, a realidade
exige a realização de algo mais nesse sentido.
O conceito de sustentabilidade deve ser ampliado para a proposição de um novo
tratamento entre natureza e cultura, fundando uma nova economia, reorientando as
potencialidades da ciência e da tecnologia, e construindo uma nova cultura política
formulada a partir de uma ética da sustentabilidade. Isso tudo deve ser respaldado em
valores, crenças, sentimentos e saberes locais, os quais renovem os sentidos existenciais,
os modos de vida e as formas de habitar o Planeta conforme indicações de Galano (2002),
para que, de fato, ações proativas e tarefas interdisciplinares sejam desenvolvidas no
tratamento da desertificação.
Que a arrogância humana, sobretudo científica, não produza mais dicotomias entre as
ciências modernas e os conhecimentos ancestrais, mas sim que haja um encontro dos
saberes (ANGEL, 2002). É importante, ainda, ressaltar que, além das idéias
macroeconômicas, deve ser considerado, no processo de desenvolvimento, o locus ou
seja, a área de participação comunitária das populações e grupos sociais.
Não nos deixemos levar, também, por um determinismo ambiental para explicar a
realidade do espaço geográfico muito menos em um determinismo econômico no qual as
forças de mercado são as forjadoras do processo histórico e do momento hodierno com a
poluição da pobreza e a propalada crise ambiental. Contrariamente, devem ser
consideradas as teias de relações entre a natureza e a sociedade como formas, processos e
fenômenos da vida humana, todos partindo do âmago da natureza.
Neste contexto, a desertificação deve ser considerada como um problema
socioambiental complexo, que compromete a capacidade-suporte dos ecossistemas
componentes de geoambientes; que tal abordagem colabore para uma nova compreensão
do mundo ao enfrentamento dos desafios da humanidade, mesmo porque uma abordagem
sobre a desertificação está inserida nos princípios da sustentabilidade do desenvolvimento,
extrapolando a idéia técnica e polarizada do termo. E mais: tal problema deve ser
307
considerado numa perspectiva múltipla e diversificada, destacando sua importância para a
convivência com o fenômeno da seca e a conseqüente melhoria da qualidade de vida da
população.
É imperativo que seja seguido o “Tratado sobre as Zonas Áridas e Semi-Áridas”, um
dos 46 documentos elaborados por ONG’s dos cinco continentes, reunidas no Fórum
Paralelo à Eco-92, pois afirma que: as zonas áridas e semi-áridas são ecossistemas
complexos, com potencial natural suficiente para propiciar uma boa qualidade de vida para
as suas populações, desde que se adote uma concepção de desenvolvimento que seja
socialmente justo, ecologicamente sustentável, culturalmente apropriado.
Por fim, deve ser instigada a discussão sobre a degradação/desertificação para se
chegar a um consenso mais usual acerca de seu conceito e conseqüências, que norteie
políticas e projetos sobre a problemática estudada. É importante que essa perspectiva
implique inverter a máxima do “Pensar globalmente e agir localmente”, para Pensar
localmente e agir globalmente”.
308
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