sabe-se que muitas dessas crianças foram retiradas de seus pais para serem
educadas como cristãs pelos jesuítas. Na verdade, seus pais continuavam vivendo
em suas aldeias, sem ter como manter contato sistemático com seus filhos.
Há na entrada um belo pátio ladeado por linhas de frondosas mangueiras que
transformam o ar que passa em brisa suave e deliciosa de uma frescura
indescritível. Em meu primeiro dia de Utiariti, nem consegui dormir de
emoção. Passei a noite debaixo de uma daquelas mangueiras. Não fazia frio.
A noite toda foi agradável e alguns cochilos foram o suficiente para um sono
reparador.
Do lado esquerdo há um caminho que conduz ao rio Buriti, próximo à aldeia
dos Nambikwara, seguindo o mesmo caminho da linha telegráfica.
Do lado direito, após a travessia do rio Papagaio, encontra-se a casa dos
padres e alojamento dos meninos, tendo um pouco abaixo os banheiros e
próximo ao rio Papagaio uma pequena choça com um tabuleiro e próximo
para jogar-se ao rio e tomar banho. Segue uma trilha à esquerda que conduz
ao local onde é torrada a farinha de mandioca. Passa-se por construção de
dois pavimentos, onde estava a máquina de descascar arroz. À frente há
oficina mecânica, marcenaria e serraria. Seguindo um pouco à frente há uma
trilha ladeada por um canal aberto na margem esquerda do rio Papagaio, que
conduz a água para a usina hidrelétrica localizada na margem esquerda do
mesmo rio, cerca da 150ms distante do salto de Utiariti. Este canal tem
800ms, executado a partir de instrumentos rudimentares como pá, enxada e
picareta. Na metade dessa trilha, que conduz à usina, encontra-se uma
digressão que conduz ao local onde se pode observar a imensa queda d’água
de 80ms de altura – o salto de Utiariti, tido por Roosevelt como o mais belo da
América, exceto o Niágara. É um portento de espuma branca e água que
despenca abruptamente provocando um barulho assustador. É um estrondo,
que faz o solo tremer esmigalha a imaginação do vidente e o põe diante deu
sua pequenez, perante esse portento, se considerada a natureza da região,
que é povoada de saltos. Observa-se tremendo de pavor e olhos a brilharem
de satisfação a paisagem quebrada por pedras imensas que constituem uma
garganta estrita por onde se derramam abruptamente os vagalhões,
empurrando-se uns ao outros para um abismo rumo ao desconhecido em que
só se vê mata verde para acalmar o olhar atônito do expectador. Daí as
águas rumam por corredeiras em borbulhos imensos até o Juruena.
Espetáculo de águas tão assombroso, jamais vira vista em toda esta
Amazônia em sua face meridional e adjacências.
Retornando deste ponto pela esquerda encontra-se o cemitério – símbolo que
oculta a vida dos que se foram, levando consigo seus sonhos, suas
experiências e esperanças.
Há cerca de 200ms mais além, está o apiário e mais para cá, perto do pátio
há um campo de futebol.
Em frente à casa dos voluntários austríacos (professores técnicos em
marcenaria, mecânica), está a escola Zanakwa e o Patronato Santo Antonio.
Segue-se um grande conjunto que inclui, casa das irmãs, alojamento de
meninas, refeitório, sala de costura e artes, fabricação de redes e
artesanatos. Um pouco abaixo está o galinheiro e na seqüência um grande e
belo pomar, regado pela água constante que é captada no rio Papagaio por
um canal de 600ms, donde também é tirada água potável, que é empurrada
nas caixas das construções através de um carneiro hidráulico, que recalca
água à medida que a recebe. A válvula de recalque dá uma batida, um pouco
mais sonora que o grito de uma araponga, mas que marca a gente pela
constância simétrica dos ruídos, durante o dia e a noite. Esta mesma água
antes de regar a horta e o pomar, passa por dentro de uma imensa
lavanderia, onde as jovens índias lavavam a roupa de todos capitaneadas
pelas freiras. (PIVETTA, 1993: 110-112).