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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
ABERTURA DE CAPITAL NO BRASIL COMO
INSTRUMENTO DE EXPANSÃO DO CRÉDITO
Danilo Papin Bacarim
Orientador: Prof. Dr. Rubens Fa
SÃO PAULO
2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
ABERTURA DE CAPITAL NO BRASIL COMO
INSTRUMENTO DE EXPANSÃO DO CRÉDITO
Dissertação apresentada à Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da
Pontifícia Universidade Católica deo Paulo
(PUC – SP) para a obtenção do título de Mestre
em Administração pelo Curso de Pós-Graduação
em Administração.
Orientador: Prof. Dr. Rubens Famá
SÃO PAULO
2007
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Bacarim, Danilo Papin
Abertura de capital no Brasil como instrumento de expansão
do crédito. São Paulo, 2007.
140 f
Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo– PUC - SP.
Orientador: Famá, Rubens.
1. Abertura de capital. 2. crédito. 3. empresas brasileiras
iv
TRABALHO APRESENTADO EM BANCA E APROVADO POR:
Banca Examinadora
_________________________
Prof. Dr. Rubens Famá
_________________________
Prof. Dr. Antonio Vico Manas
_________________________
Prof. Dr. Fábio Frezatti
São Paulo, ____ de ____ de 200__
Orientador: Prof. Dr. Rubens Famá
Mestrando: Danilo Papin Bacarim
v
DEDICATÓRIA
Dedico esta dissertação de mestrado à minha
esposa Maria Cristina e aos meus pequenos
filhos Cristiano e Mariana que muito me
apoiaram nos últimos dois anos. Dedico a
dissertação também a pessoas que me apóiam
desde pequeno em meu crescimento acadêmico
e profissional como meus pais, Edna e Gilberto
e minha irmã Renata.
Por fim, dedico esta obra a meus queridos
sogros Maria José e Nilton que de alguma
forma contribuíram para elaboração da mesma
bem como meus cunhados (as) Pompilio, Ana
Paula, Nilton e Roberto e meus sobrinhos
Raphael, Beatriz e Maria Luisa.
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por estar sempre presente na
minha vida e de minha família e pessoas
queridas.
Agradeço ao professor orientador Doutor
Rubens Famá pelas importantes contribuições
dadas ao longo do curso de mestrado e na
elaboração desta dissertação. Aos professores
Doutores Fábio Frezatti e Antonio Vico Manas
faço aqui também meus agradecimentos pelos
fundamentais conselhos recebidos ao longo
deste estudo.
Agradeço à Diretora do Banco BNP Paribas
Brasil Deborah Vieitas e ao Gerente César
Figueiredo pela oportunidade que me foi dada
e pelas importantes discussões, fundamentais
na elaboração desta dissertação.
Finalmente, agradeço a todos que de alguma
forma contribuíram para este trabalho.
vii
"Fazer algo uma única vez 100% melhor não
melhorará o mundo. Fazer 100 coisas 1%
melhores sim."
Rolim Amaro, fundador da TAM
viii
RESUMO
O Brasil apresentou nos últimos anos características macroeconômicas e institucionais
que não favoreceram a expansão do crédito principalmente ao setor privado, dificultando o
desenvolvimento e crescimento de sua economia. Diversoso os estudos abordando que o
crédito é escasso no Brasil e que mais ainda o são as linhas de financiamento a investimentos
de longo prazo. Desde a crião do Novo Mercado em Dezembro de 2001 na Bovespa (Bolsa
de Valores de São Paulo) houve um aumento do número de empresas que, em busca de
recursos para financiarem seus investimentos, abriram o capital (emissão primária), emitiram
novas ações (emissões primárias ou secundárias) ou que simplesmente lançaram no mercado
ações antes detidas somente por seus fundadores, fundos de pensão ou BNDES (emissões
primárias, secundárias e mistas). Esse volume foi o maior visto desde 1996 segundo a CVM
(Comissão de Valores Mobiliários). Do total de 63 empresas que vieram a mercado no
período entre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2005 (4 anos), foram selecionadas 18 emissões,
não sendo consideradas colocações de empresas que já eram abertas e fizeram novamente
emissões primárias ou secundárias de ações. Foi realizada a análise das Demonstrações
Contábeis dessas empresas nos momentos antes e após a abertura do capital para verificar se
houve expansão dos volumes de crédito, financiamentos de longo prazo e redução dos juros
de seus empréstimos. Além disso, foi realizada pesquisa qualitativa com os Departamentos
Financeiros dessas 18 empresas bem como com profissionais do Mercado Financeiro para
identificar se a abertura do capital proporciona mais benefícios que desvantagens às
companhias que optam por fazê-la e se ela não deveria ser utilizada com maior intensidade
como alternativa de financiamento a custos atrativos em um país como o Brasil, onde linhas
de crédito ao setor privado são reduzidas. Os resultados obtidos, evidenciaram a abertura de
capital como importante instrumento para a expansão do volume de crédito e financiamentos
de longo prazo a taxas de juros menores, mesmo quando realizada por empresas de menor
porte.
Palavras-chaves: Abertura de capital, crédito, empresas brasileiras.
ix
ABSTRACT
Brazil presented in the recent past some macroeconomic and institutional
characteristics that many times did not aid credit expansion, specially to the private sector,
creating barriers to its economic growth and development. There are many studies that
discuss that there is a shortage of credit in Brazil as well as long term financing lines. Since
the start of “Novo Mercado” by São Paulo Stock Exchange (BOVESPA) in December 2001,
there was a higher number of companies that, searching for new funds to finance their
investments have opened their capital (primary issuance of stocks), issued new stocks
(primary or secondary issuance) or that simply offered to the market stocks primarily held by
its founders, pension funds and BNDES (primary, secondary or both). Such volume is the
highest since 1996 according to CVM – Comissão de Valores Mobiliários - the equivalent
commission as SEC in the USA. From the 63 companies that issued stocks between January
2002 and December 2005 (4 years), it were selected 18 companies that effectively came to the
market in this period (IPO) and therefore it was not considered new or secondary stock
issuances of companies that were already listed. It was analyzed their Financial Statements
before and after such IPOs to verify if there was an expansion of their credit volumes, long
term financing and reduction of spreads. Furthermore, it was performed a research with the
Investor Relation Departments of these 18 companies as well as with Financial Market
professionals to verify if the capital opening brings more benefits than advantages to
companies and if such source of financing should be more explored in countries like Brazil
where credit lines to private sector are reduced. Results obtained confirmed the relevance of
capital opening as a powerful instrument for the expansion of short and long term credit lines
with lower interest rates, even when utilized by smaller companies.
Key-Words: Capital opening, credit, Brazilian companies.
x
LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS, TABELAS & EQUAÇÕES
FIGURAS
Figura 1 – Visão tradicionalista ........................................................................................ 23
Figura 2 – Proposição II – Custo médio ponderado de capital é constante ........................ 27
Figura 3 – Mercado de crédito ......................................................................................... 66
Figura 4 - Mercado de capitais.......................................................................................... 66
Figura 5 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional ....................................................... 69
Figura 6 - Vantagens e desvantagens apontadas pelas empresas analisadas após a
abertura do capital ...................................................................................... 101
GRÁFICOS
Gráfico 1 - Disparada no volume de ofertas de ações registradas na CVM ......................... 7
Gráfico 2 - Relação de crédito / PIB Brasil........................................................................ 52
Gráfico 3 – Crédito bancário ao setor privado na América Latina ..................................... 70
Gráfico 4 - Crédito bancário ao setor privado em regiões em desenvolvimento ................ 72
Gráfico 5 - Houve um aumento da disponibilidade de crédito e de financiamentos
junto a terceiros com spreads mais baixos após a abertura do capital? .......... 102
Gráfico 6 - Caso a resposta para pergunta anterior seja afirmativa, você acredita que
tal redução nos spreads aconteceria mesmo que o cenário macroecomico
local o tivesse apresentado melhoria nos últimos anos? ............................ 103
Gráfico 7 - Dentre fatores como baixo nível de poupança interna, alto endividamento
público, sistema judiciário ineficiente, qualidade de informações financeiras
ou outros, qual você considera como principal obstáculo a expansão
do crédito local ?......................................................................................... 104
Gráfico 8 - A abertura do capital propiciou a empresa mais vantagens do que desvantagens?
................................................................................................................... 105
Gráfico 9 – Profissionais Mercado Financeiro – principais fatores que ainda inibem um
maior volume de crédito no Brasil .............................................................. 112
xi
TABELAS
Tabela 1 – Emissões primárias de ações no Brasil entre 2002-2005 .................................. 11
Tabela 2 - Emissões secundárias de ações no Brasil entre 2002-2005................................ 12
Tabela 3 - Emissões totais de ões no Brasil entre 2002-2005 ......................................... 12
Tabela 4 – Empresas que emitiram ações na Bovespa entre 2002-2005............................. 13
Tabela 5 – Empresas e demonstrações contábeis consideradas .......................................... 16
Tabela 6 – Estrutura de capitais – fases e autores .............................................................. 44
Tabela 7 – Taxas reais de juros (países emergentes x países desenvolvidos)...................... 51
Tabela 8 – Taxas de juros Selic x TJLP............................................................................. 57
Tabela 9 – PIB, Mercado Financeiro, taxas de juros e emissões primárias no Brasil
nos últimos 10 anos ......................................................................................... 85
Tabela 10 – Empresas e demonstrações contábeis consideradas ....................................... 87
Tabela 11 – Custo do endividamento 1 ............................................................................. 88
Tabela 12 – Custo do endividamento 2 ............................................................................. 89
Tabela 13 – Indicadores financeiros do endividamento 2001-2005.................................... 90
Tabela 14 – Evolução do custo da dívida de terceiros após a abertura do capital ............... 90
Tabela 15 – Evolução do custo estimado da dívida de terceiros após a abertura do capital
desconsiderando-se indexadores .................................................................... 92
Tabela 16 – Betas ............................................................................................................. 94
Tabela 17 – Evolão do custo médio ponderado do capital (CMPC)................................ 94
Tabela 18 - Respostas das empresas analisadas ................................................................ 96
Tabela 19 - Faturamento e porte das empresas analisadas no ano encerrado anterior a
abertura e o exercício encerrado em 31 de dezembro de 2005...................... 100
Tabela 20 - Respostas de profissionais do Mercado Financeiro ...................................... 107
Tabela 21 - Resumo dos resultados da pesquisa ............................................................. 114
Tabela 22 - Emissões totais de ações entre Jan.2006-Set.2006 x peodo 2002-2005 ...... 116
EQUAÇÕES
Equação 1 – Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ............................................... 46
Equação 2 – Ke (Custo Capital Próprio)............................................................................ 47
Equação 3 – Equação de crédito........................................................................................ 53
Equação 4 – Custo do endividamento................................................................................ 89
xii
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ..............................................................................................................1
1.1. Problema ..................................................................................................................... 2
1.2. Objetivo....................................................................................................................... 5
1.3. Justificativa.................................................................................................................. 6
1.4. Metodologia................................................................................................................. 8
1.4.1. Tipo de pesquisa.................................................................................. 10
1.4.2. Etapas do trabalho............................................................................... 15
1.4.3. Coleta de dados . ................................................................................. 15
1.4.4. Plano de análise .................................................................................. 18
1.5. Estrutura da dissertação.............................................................................................. 19
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................................ 21
2.1. Estrutura de capital .................................................................................................... 21
2.1.1. Uma visão geral .................................................................................. 21
2.1.2. Tradicionalistas................................................................................... 23
2.1.3. Incerteza dos fatos............................................................................... 25
2.1.4. Comportamentais ................................................................................ 36
2.1.5. Custo médio ponderado de capital (CMPC)......................................... 45
2.1.6. Modelos de estrutura de capitais e este estudo ..................................... 48
2.2. Crédito, financiamentos de longo prazo e abertura de capital...................................... 49
2.2.1. Crédito e financiamento de longo prazo............................................... 49
2.2.2. Abertura de capital como provável instrumento atrativo à captação de
recursos no Brasil ......................................................................................... 57
2.2.2.1. Abertura de capital deve ser considerada pelas empresas? ....... 58
2.3. Restrições de crédito ao setor privado brasileiro em relação a outros países emergentes
..................................................................................................................... 64
2.3.1. Introdução ao Sistema Financeiro Nacional......................................... 64
xiii
2.3.2. Mercado de crédito no Brasil e na América Latina............................... 70
2.3.3. Prováveis razões das restrições de crédito ao setor privado local ......... 75
2.3.3.1. Nível reduzido de poupaa interna ........................................ 76
2.3.3.2. Instabilidade econômica, endividamento publico e liquidez .... 78
2.3.3.3. Qualidade das informações de crédito ..................................... 80
2.3.3.4. Sistema jurídico ...................................................................... 81
3 - ABERTURA DE CAPITAL NO BRASIL COMO INSTRUMENTO DE EXPANSÃO
DO CRÉDITO - RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS ...........................................85
3.1. Evolução do volume de crédito, prazos e custos de endividamento nas Demonstrações
Contábeis...................................................................................................... 85
3.2. Pesquisas de campo.................................................................................................... 95
3.2.1. Empresas analisadas............................................................................ 95
3.2.2. Profissionais do Mercado Financeiro................................................. 106
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 113
5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS....................................................................... 121
1
1- INTRODUÇÃO
O sistema financeiro brasileiro possui algumas características comuns a todos os
mercados. Ele é conservador, tem visão de curto prazo e normalmente recompensa as
empresas bem sucedidas com uma oferta de financiamento acima da média. Assim, pode-se
dizer que capital atrai mais capital na razão direta do seu tamanho e inversa das suas
necessidades (CRUZ, 2004).
O sistema financeiro está de um modo geral disposto a emprestar para quem não
precisa porque essas empresas atendem a todos os critérios de crédito e de análise ecomico-
financeira. Securato (2002, p.30) divide a categoria bancária em bancos de atacado e bancos
de varejo. Os primeiros trabalham de forma concentrada com um número reduzido de grandes
clientes corporativos. Esta categoria bancária é mais seletiva na concessão do crédito,
priorizando a alise e avaliação de risco de cada cliente, trabalhando com operações de
crédito tradicionais e estruturadas. A categoria dos bancos de varejo trabalha com políticas de
crédito mais flexíveis incluindo clientes de pequeno e médio porte, estabelecendo critérios
genéricos e mesmo setoriais para aceitação preliminar do risco de crédito.
Independentemente do tamanho do cliente (pequeno, médio ou grande porte) e do seu
tipo (Sociedades Anônimas de capital fechado, Sociedades Anônimas de capital aberto,
Sociedades de Responsabilidade Limitada, entre outras), a concessão do crédito por parte de
instituições financeiras será baseada na análise de diversos fatores operacionais e financeiros
relacionados à empresa, ao seu setor, e ao risco potico e econômico do país onde ela está
situada.
Brigham e Weston (2004, p.439) citam, por exemplo, que os clientes têm de seguir
certos padrões mínimos de crédito para obterem recursos junto às instituições financeiras.
Esses padrões de crédito referem-se à força e à confiança que um cliente deve exibir para que
este se qualifique ao crédito. As decisões de crédito baseiam-se tanto na análise individual de
cada empresa como em modelos de classificação de crédito ou Credit-Scoring Systems, nos
2
quais a avaliação de risco de crédito é feita através de sistemas de pontuações de crédito e
comportamentais (SECURATO, 2002, p.30).
A qualidade na análise de crédito de cada cliente passa por cinco áreas que se iniciam
com a letra C, sendo conhecidas com os cinco Cs do crédito (BRIGHAM, WESTON, 2004,
p.441): i) caráter (do tomador, ou seja, a promessa de que este honrará o compromisso
assumido); ii) capacidade (probabilidade de este honrar o compromisso); iii) capital (condição
financeira e dos índices da empresa que assume o compromisso); iv) colateral (garantias reais
ao empréstimo oferecidas pelo tomador); v) condições (tendências macroeconômicas ou do
setor do tomador).
Um “bom tomador” de recursos é a empresa que consegue diferenciar-se das demais
empresas nos quatro primeiros quesitos acima e ainda se beneficiar de condições
macroecomicas e de seu setor favoráveis no momento da captção dos recursos
(correspondente ao último “C” do crédito). Durante momentos de maior volatilidade dos
Mercados Financeiros, os credores e bancos (de atacado ou varejo) podem exigir das
empresas um maior montante de colaterais, ou seja, de garantias reais para o caso de
inadimplência (ZANI, 2005). Sob essa forma de análise, as empresas estabelecidas em setores
industriais estáveis e maduros são as mais propensas a receberem financiamentos e estão
menos sujeitas a crises sistêmicas e externas (BARCELOS, 2002).
1.1. PROBLEMA
A disponibilidade de crédito ao setor privado de um país é importante fator para o
desenvolvimento econômico tanto das empresas como do próprio país. Mais importante ainda
é a disponibilidade de recursos que financie os investimentos das empresas de longo prazo.
(CRUZ, 2004). Muitos dos investimentos relacionados ao estabelecimento ou expansão de
fábricas e maquinário são investimentos de longa maturação, ou seja, a empresa investe hoje
para expandir sua capacidade produtiva atual e tal investimento gerará o retorno esperado
somente no médio e longo prazos. Dessa forma, o crédito em geral e especificamente os
financiamentos de longo prazo a custos atrativos são de extrema importância para o
desenvolvimento do setor privado e redução da necessidade de capital próprio como principal
fonte de financiamento.
3
Diversos são os estudos abordando que o crédito é restrito e escasso no Brasil ou em
países emergentes de características similares e que mais ainda o são as linhas de
financiamento a investimentos de longo prazo ao setor privado. Entre alguns dos estudos que
intensificaram esse tipo de discussão no final dos anos de 1990 feitos por pesquisadores
estrangeiros destacam-se os de La Porta, Lopez-De-Silanes, Shleifer e Vishny (1997, 1998) e
Demirguç-Kunt e Maksimovic (1998). Além deles, entre estudos mais recentes na literatura
internacional sobre esse tema, encontram-se os de Klapper e Love (2002), Titman, Twite e
Fan (2003), Klapper, Laeven e Rajan (2004), Fulghieri e Suomien (2005) e Hausler (2005).
Trabalhos de autores nacionais também intensificaram essas discussões. Estudos
desenvolvidos por Peixe (2003), Terra (2004), Cruz (2004) e Silva (2005), por exemplo,
mencionam em comum fatores macroecomicos, institucionais, jurídicos e as características
das empresas de mercados emergentes como principais obstáculos à expansão do crédito.
Outros autores como Zani (2005) e Moraes (2005) buscam identificar também em seus
trabalhos quais os principais determinantes da estrutura de capital das empresas no Brasil.
Os estudos acima, em linhas gerais, afirmam queo existem de modo significativo
linhas de financiamento em volume e custos satisfatórios, principalmente a longo prazo no
Brasil. Assim, algumas perguntas iniciais surgem. Será que tal afirmação é válida para todas
as empresas locais ou será que ela é válida apenas para micro e pequenas muitas vezes
familiares e de capital nacional fechado já que multinacionais em geral contam com recursos
financeiros a custos atrativos de curto e longo prazo de suas matrizes? As empresas que são
obrigadas a fornecerem informações financeiras e operacionais de qualidade ao Mercado
Financeiro e investidores como as listadas em Bolsa de Valores também não possuem acesso
a financiamentos de prazo mais longo a custos mais baixos?
As empresas multinacionais, no entanto,o serão alvo deste estudo dada a
dificuldade de acesso a informações de ordem financeira (normalmente, tais informações são
divulgadas apenas pelas suas matrizes e de forma consolidada em suas Demonstrações
Contábeis globais). Empresas que abriram o capital no período Jan.2002 a Dez.2005 serão o
foco deste estudo.
4
Assim, o presente trabalho busca investigar a seguinte questão, ante a relevância da
existência de linhas de crédito para o desenvolvimento das empresas e da economia do Brasil:
A abertura de capital constitui um importante instrumento para a expansão do
crédito às empresas brasileiras?
Em relação a essa questão, no entanto, existe vasta literatura “clássica” – como
veremos na seção própria, ao abordar os modelos que poderiam otimizar as estruturas de
capitais das empresas – como existe uma literatural mais recente onde autores locais e
estrangeiros defendem ou não a captação de recursos para financiamento de projetos de
investimento através da abertura do capital. Entre alguns dos estudos que entendem que tal
movimento beneficia as empresas em termos de expansão do crédito principalmente quando
elas estão situadas em países em desenvolvimento – como é o caso do Brasil - estão os de
Dermirguç-Kunt e Maksimovic (2001), Barcelos (2002), Baker e Wurgler (2002), Procianoy e
Schnorrenberger (2004), Eid Junior e Matsuo (2004) e Brito e Lima (2005). Outros autores se
contrapõem à idéia de captação de recursos através da abertura do capital e desenvolvem
discussões sobre as dificuldades desse movimento. Entre eles destacam-se trabalhos de Leal
(2001), Carvalho (2003), Barbosa e Góes (2004), Burlingham (2006)
Desse modo, para complemento das discussões teóricas a cerca de estrutura de capitais
das empresas, dos benefícios da abertura do capital em termos de expansão do crédito bem
como das principais restrições hoje enfrentadas pelas empresas para realizarem essa abertura,
foi desenvolvida pesquisa qualitativa com empresas que recentemente optaram por abrir o
capital no Brasil e com profissionais do Mercado Financeiro.
O período de 4 anos entre Jan.2002-Dez.2005 foi escolhido devido a criação do Novo
Mercado na Bovespa em Dezembro de 2001. No ano de 2006 verificou-se a continuidade
dessa tendência. Nesse sentido, houve um maior números de novas empresas que decidiram
abrir o capital em relação a anos anteriores como 2000 ou 2001, em que as emissões primárias
ocorridas referiram-se basicamente apenas a empresas que já eram listadas na Bolsa segundo
a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2006). Como ilustração, em 31 de Agosto de
2006, 34 empresas (de 387) estavam listadas no Novo Mercado. O estudo contempla, no
entanto, todas as empresas que abriram capital no período citado, e que o necessarimente
fazem parte do Novo Mercado, tendo sido este um dos motivadores para novas aberturas.
5
1.2. OBJETIVO
A escassez de estudos científicos de natureza qualitativa em relação ao problema
levantado foi o principal fator que motivou o desenvolvimento do trabalho sobre esse
estimulante tema e de considerável importância para o desenvolvimento do setor privado
local.
Os objetivos principais deste estudo são o de verificar se um maior volume de crédito
pode estar disponível a empresas locais após abrirem o capital e por que isso ocorreria com
maior facilidade para esse tipo de empresa.
Na busca da resposta à pergunta realizada, procurou-se atingir também os seguintes
objetivos secundários:
a) Verificar se, após a abertura do capital, as empresas obtêm não somente um
maior acesso a linhas de crédito, mas também a financiamentos de prazos mais
longos e a custos mais atrativos do que possuíam anteriormente.
b) Entender, segundo as próprias empresas que abriram o capital no período
analisado bem como através de profissionais do Mercado Financeiro, (ou seja,
profissionais que estão ao lado dos bancos e que decidem sobre a extensão dos
financiamentos) os seguintes pontos:
! Empresas de menor porte também se beneficiariam com a abertura do
capital?
! Existiriam outras possíveis vantagens às empresas após abrirem o
capital além do provável maior acesso a crédito?
! As vantagens da abertura são maiores que as desvantagens a ela
relacionadas?
! Quais as principais restrições a uma maior expansão do crédito no
Brasil?
6
1.3. JUSTIFICATIVA
Em 31 de Agosto de 2006, segundo o site da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo
- www.bovespa.com.br), o Mercado de Capitais brasileiro contava com 387 empresas com
ações listadas em Bolsa de Valores, o que representa menos de 0.5% do total de 4.9 milhões
de empresas existentes no Brasil segundo os últimos dados do IBGE referentes a 2004 e
publicados em Outubro de 2006 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatíticia –
www.ibge.org.br).
Segundo o Boletim Estatísitico de Micro e Pequenas Empresas do 1º semestre de 2005
do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – disponível em
www.sebrae.com.br), do total de 4.900.000 de empresas existentes no Brasil, cerca de
4.600.000 eram micro empresas (receita bruta anual inferior a R$ 433.000 segundo critério do
Sebrae), 276.300 eram empresas de pequeno porte (receita anual bruta até R$ 2.400.000).
Desse modo, existiam no Brasil em 2004 apenas 23.700 empresas de médio e grande porte
que faturavam anualmente mais de R$ 2.400.000. Apesar do número significativamente
inferior, esse setor responde por 43% dos empregos totais formais.
O foco desse trabalho são as médias e grandes empresas. Apenas 387 das 23.700
médias e grandes empresas do Brasil são listadas em Bolsa de Valores, o que representa
menos de 1% do universo total. A defesa aqui é a de que empresas que realizam emissões de
ações e passam a ser listadas em Bolsa de Valores obtenham claros benefícios também em
termos de crédito e custos perante o Mercado Financeiro em relação às empresas que não o
fazem e continuam com o capital fechado.
Desse modo, o Mercado de Capitais atuaria também como importante instrumento
para a expansão do crédito ao setor privado de um país. Emissões recentes de ações primárias
na Bovespa indicariam que o Mercado de Capitais brasileiro abriu-se agora também a
empresas de médio porte, e não somente empresas grandes como em anos passados.
Um estudo sobre esse tema mostra-se, portanto, bastante atual, interessante e
principalmente, oportuno, dado o grande número de ofertas de ações que ocorreram
principalmente a partir de 2004 no Brasil, conforme demonstrado no gráfico abaixo.
7
Gráfico 1 – Disparada no volume de ofertas de ações registradas na CVM
9,2
4,0
6,0
4,6
13,5
5,7
6,1
2,1
9,2
11,0
21,4
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
R$ x bilhão
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Set2006
Fonte: CVM Comissão de Valores Mobiliários, Out, 2006
(inclui ofertas primárias e secundárias)
Segundo Dermiguç-Kunt e Maksimovic (2001), a disponibilidade do crédito impacta
diretamente no volume de investimentos produtivos de um país que podem gerar crescimento
econômico. Além disso, uma maior disponibilidade de financiamentos de longo prazo a
custos atrativos possibilita às empresas adquirirem grande parte de seus ativos fixos sem
sacrificarem seu fluxo de caixa no curto prazo, quando não houve ainda o retorno do
investimento realizado. Para Terra (2004), o capital de terceiros tem fundamental papel para a
expansão das atividades das empresas e conseqüentemente da economia de um país.
Por outro lado, o tema é também controverso e intrigante, uma vez que teorias
financeiras tradicionais relacionadas a estrutura de capitais como o Pecking Order defendem
que as empresas devem recorrer ao Mercado de Capitais apenas como última alternativa para
financiarem seus projetos de investimento. Essas empresas deveriam dar preferência primeiro
a recursos de sua geração de caixa, depois a recursos de terceiros e somente em último lugar a
recursos do Mercado de Capitais para financiarem seus projetos de investimento futuro.
8
Essa teoria será sempre aplicável a todas as empresas onde quer que estejam? Não
haveriam exceções à empresas situadas em países emergentes como o Brasil onde o acesso a
recursos de terceiros é mais excasso que em países ditos desenvolvidos?
1.4. METODOLOGIA
O conhecimento científico é real, sistemático, verificável, falível e aproximadamente
exato. Real porque lida com fatos; sistemático, já que se trata de um saber ordenado,
formando um sistema de idéias; verificável, sendo possível a confirmação de afirmações
propostas; falível por não ser definitivo, absoluto; aproximadamente exato porque permite o
desenvolvimento de novas proposições reformulando o contexto teórico existente.
(LAKATOS, 2004). Ainda segundo essa mesma autora, não há ciência sem o emprego de
métodos científicos.
Assim, fazer pesquisa é um processo de trabalho complexo que envolve teoria,
método, operacionalização e criatividade. É essa atuação metódica e universal que possibilita
a comparação de processos e de resultados que tornou a Ciência a forma de conhecimento
mais legítima da sociedade moderna. O pesquisador precisa estar também integrado ao mundo
uma vez que não existe conhecimento científico acima ou fora da realidade (MINAYO,
2006).
# Pesquisa quantitativa x qualitativa
O uso detodos quantitativos tem como objetivo
(...) trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis ou produzir modelos
teóricos de alta abstração com aplicabilidade prática. As restrições ao quantitativismo
voltado para interpretação de informações sociais não se referem às técnicas que
utiliza uma vez que essas são instrumentos de trabalho indispensáveis. Elas referem-
se principalmente ao reducionismo na avaliação da realidade social. Já o método de
pesquisa qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, crenças e
representações que os humanos fazem de como vivem e pensam. Esse método
propicia a construção de novas abordagens, revisão e crião de novos conceitos e
categorias durante a investigação. (MINAYO, 2006, p.57).
A autora afirma que ambos os métodos podem conduzir a resultados importantes sobre
a realidade não havendo sentido atribuir prioridade de um sobre o outro. O estudo nesse
trabalho desenvolvido baseou-se na metodologia qualitativa. A não empregabilidade do
9
instrumental estatístico como base do processo de análise de um problema é uma das
caracterísiticas desse tipo de pesquisa (FACHIN, 2001).
Segundo Minayo (2006, p.22), as metodologias de pesquisa qualitativa são aquelas
capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos,
às relações e às estruturas sociais. Segundo essa mesma autora, a introdução dessa definição
insere conseqüências tricas e práticas na abordagem do social. A principal delas refere-se
justamente a dificuldade de operacionalização em números dos resultados obtidos. O
significado é o conceito central para a análise sociológica.
A primeira (conseqüência desse tipo de pesquisa) é uma interrogação sobre a possibilidade
de se considerar científico ou não um trabalho de investigação que, ao levar em conta os
níveis mais profundos das relações sociais, não pode operacionalizá-los em números e
variáveis, critérios usualmente aceitos para emitir juízo de verdade no campo intelectual.
Essa questão remete às próprias entranhas do positivismo sociogico que apenas
reconhece como ciência a atividade “objetiva, capaz de traçar as leis e as regulariades que
regem os fenômenos, menosprezando os aspectos chamados “subjetivos”, impossíveis de
serem sintetizados em dados estatísticos. No entanto, o próprio positivismo tenta trabalhar
a qualidade do social. Seja buscando subjetivá-lo em variáveis. Seja por meio do estrutural
funcionalismo, focalizando os produtos da interação social como componentes funcionais
da realidade. Seja tratando-os como entidades passíveis de estudo, independentemente de
sua constituição pelos indivíduos. (Minayo, 2006, p.23)
A construção desse trabalho baseou-se em pesquisa bibliográfica a respeito do tema
proposto e pesquisa de campo junto às empresas que abriram o capital no Brasil entre 2002-
2005 bem como junto a profissionais do Mercado Financeiro.
Élido mencionar também que o modelo de pesquisa inicial baseava-se em um
questionário de 5 páginas mais detalhado sobre o tema, mas não foi adiante. Foi feito um pré-
teste desse questionário inicial no mês de Março de 2006, tendo sido enviado a 10 empresas
que abriram o capital antes de 2002, período anterior a análise. Dessas empresas, apenas uma
o retornou. Com base nesse retorno, foram então enviados questionários por e-mail e correio
às 18 empresas foco do estudo. Como novamente houve o retorno de apenas um questionário
até Maio de 2006, adotou-se um novo critério. O questionamento direto por telefone ao
departamento de Relações com Investidores dessas mesmas 18 empresas em Maio e Junho de
2006, tendo sido nesse caso obtido retorno de 14 empresas. Foram feitas nesse caso,
entrevistas qualitativas estruturadas e objetivas contendo 4 questões centrais do tema estudado
como detalhado mais adiante. O mesmo procedimento, só que durante os meses de agosto e
setembro de 2006, foi realizado com 14 profissionais do Mercado Financeiro em posições
gerenciais, com o objetivo de verificar a visão do lado de quem concede o crédito.
10
1.4.1. Tipos de Pesquisa
Pesquisa é um procedimento intelectual para adquirir conhecimentos pela investigação de
uma realidade e busca de novas verdades sobre um fato (objeto, problema). Com base em
métodos adequados e técnicas apropriadas, o pesquisador busca conhecimentos
específicos, respostas e solução ao problema estudado (FACHIN, 2001, p.123).
Em uma oposição frontal ao positivismo, Minayo (2006) defende que a sociologia
compreensiva da pesquisa qualitativa proe a subjetividade como fundante de sentido
defendendo-a como fator que constiui o social e é inerente a compreensão do objetivo. Essa
corrente de pensamento não se preocupa com processos de quantificação, mas sim com a
explicação das relações sociais que são a essência e resultado da atividade humana criadora,
afetiva e racional.
Ainda segundo essa mesma autora, o universo das investigações qualitativas é o cotidiano
e as experiências de senso comum, interpretadas e re-interpretadas pelos sujeitos que as
vivenciam. Assim, pode-se dizer que a sociedade e os indiduos têm consciência histórica, ou
seja, o é apenas o investigador que dá sentido ao seu trabalho intelectual, mas também os seres
humanos e a sociedade que dão significado e intencionalidade, interpretando suas ações e
construções (MINAYO, 2006, p.40).
O desenvolvimento dessa pesquisa ocorreu através de: 1) pesquisa bibliográfica; 2)
levantamento dos registros de emissões de ações entre 1 de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de
2005 (4 anos) registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) bem como análise das
Demonstrações Contábeis das empresas selecionadas que promoveram essa abertura até o último
trimestre disponível na data da realização deste trabalho, ou seja, 30 de Junho de 2006; 3)
pesquisa de campo - questionamento direto por telefone baseado em um roteiro de entrevista aos
departamentos de Relão com Investidores das empresas analisadas bem como a profissionais do
Mercado Financeiro com perguntas pré-determinadas sobre o tema.
# Pesquisa bibliográfica
A bibliografia como técnica tem como objetivo a descrição e a classificação dos livros
e documentos similares, segundo critérios como autor, gênero literário, conteúdo, etc. A
fundamentação teórica do presente trabalho foi construída através de pesquisa bibliográfica de
literatura especializada nacional e internacional, incluindo monografias, dissertações e teses
11
bem como artigos científicos sobre o tema. A pesquisa bibliográfica incluiu conceitos e
fundamentos sobre estrutura de capitais, crédito e financiamentos a longo prazo.
# Levantamento dos registros de emissões na CVM
Em complemento à fundamentação teórica suportada por pesquisa bibliográfica, um
estudo foi desenvolvido focalizando empresas que abriram o capital (emissão primária),
emitiram novas ações (emissões primárias ou secundárias) ou que simplesmente levaram a
mercado, ações antes detidas somente por seus fundadores e fundos de pensão ou BNDES
(primárias, secundárias e mistas) no período Jan.2002-Dez.2005.
Não foram incluídas na base do estudo novas emissões de ações de empresas já
listadas que, por exemplo, migraram para o Novo Mercado como Sabesp, nem mesmo novas
emissões primárias ou secundárias que ocorreram no período de empresas já estabelecidas na
Bovespa há vários anos como foi o caso de Tam, Paranapanema, Cesp, CSN, Vale do Rio
Doce, entre outras.
Desde a criação do Novo Mercado pela Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo
em Dezembro de 2001, houve uma expansão do número de aberturas de capital e de emises
secundárias de ações na Bovespa em relação a anos anteriores (CVM, Comissão de Valores
Mobiliários 2006) quando as emissões concentraram-se basicamente em empresas que já eram
listadas na Bovespa e que realizaram novas ofertas apenas para captar recursos adicionais
(PEIXE, 2003). Essa foi a principal razão para a escolha do período de análise enunciado.
O critério de escolha dos nomes para realização do estudo baseou-se em listagens
obtidas na CVM disponíveis em seu site (www.cvm.gov.br) para o período de Jan.2002-
Dez.2005.
Tabela 1 - Emissões pririas de ações entre Jan.2002-Dez.2005
Ações: Primarias Volume (R$ x milhão)
2005 13 4.364
2004 9 4.469
2003 2 230
2002 4 1.050
Total 28
10.113
Fonte: CVM, 2006
12
Tabela 2 - Emissões secundárias de ações entre Jan.2002-Dez.2005
Ações: Secundárias Volume (R$ x milhão)
2005 15 6.634
2004 12 4.682
2003 6 1.856
2002 2 5.096
Total 35
18,268
Fonte: CVM, 2006
Tabela 3 - Emissões totais de ações entre Jan.2002-Dez.2005
Número de ofertas Volume total – R$ x milhão
2005 28 10.998
2004 21 9.151
2003 8 2.086
2002 6 6.146
Total 63 28.381
Fonte: CVM, 2006
As emissões primárias ou secundárias consideradas foram, portanto, as relativas a
primeira abertura de capital a investidores não qualificados, ou seja, a todos os tipos de
investidores do Mercado de Capitais brasileiro (por investidores qualificados entende-se
fundos de pensão e institucionais).
Dessa forma, entre Jan.2002-Dez.2005, foram selecionados para análise as
Demonstrações Contábeis das 21 empresas abaixo listadas de 11 diferentes setores que
abriram o capital.
13
Tabela 4 - Empresas selecionadas que ofertaram ações entre Jan.2002-Dez.2005
Ano da emissão Empresa Oferta foco da pesquisa Setor
2002-2003 CCR - Cia Concessões Rodovrias
Epilife Participações
Rossi Residencial
TOTAL
Primária
Primária
Primária
3 ofertas
Transporte
Holding/ turismo
Construção
2004 Natura SA
Gol Transportesreos Inteligentes
ALL – América Latina Logística
Dasa – Laboratórios da América
Porto Seguro SA
Grendene SA
CPFL Energia SA
TOTAL
Secundária
Primária
Primária
Primária
Primária
Secundária
Primária
7 ofertas
Consumo
Transporte
Logística
Varejo
Varejo
Consumo
Energia
2005 Renar Maças SA
Submarino SA
Localiza SA
La Fonte Participações SA
OHL-Obrascon Huarte Lain Brasil SA
Banco Nossa Caixa
Cosan SA
UOL SA
Lojas Renner
EDP Energias do Brasil SA
Brazil Realty
TOTAL
Primária
Primária
Secundária
Primária
Primária
Secundária
Primária
Primária
Secundária
Primária
Primária
11 ofertas
Agrícola
Internet
Varejo
Holding/shopping
Logística
Bancos
Agrícola
Internet
Varejo
Energia
Construção
TOTAL GERAL
21 ofertas
Fonte: CVM, 2006
Dessa amostra, no entanto, foram descartadas 3 empresas: 2 holdings (Epilife e La
Fonte) cujas as informações financeiras não estavam sendo disponibilizadas de modo
adequado e contínuo aos investidores e 1 banco (Nossa Caixa) por se tratar do único desta
modalidade na amostra.
# Pesquisa de campo
Minayo (2006, p.201) entende porcampo da pesquisa qualitativa” o recorte espacial
que diz respeito à abrangência, em termos empíricos, do recorte teórico correspondente ao
14
objeto da investigação, sendo o trabalho de campo etapa essencial a pesquisa qualitativa. Os
sujeitos e objetos de investigação são primeiramente construídos teoricamente enquanto
componentes do objeto de estudo. No campo, eles fazem parte de uma relação de
intersubjetividade, de interação social com o pesquisador, resultando em um produto
compreensivo que não é a realidade concreta e sim uma descoberta constrda pelo
investigador que se confronta com seu objeto de estudo diretamente.
Para essa autora, o que torna o trabalho interacional um instrumento privilegiado de
coleta de informações é a possibilidade que tem a fala em ser reveladora de condições
estruturais, de sistemas de valores e normas transmitindo através de um porta-voz as
representações grupais em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.
Desse modo, para desenvolvimento dos dados levantados por meio de pesquisa
bibliográfica e registros de emissões de ações na CVM, foi feito um questionamento direto
baseado em um roteiro de entrevista sobre o tema aos 18 departamentos de Relações com
Investidores das empresas da amostra consideradas bem como a 14 profissionais do Mercado
Financeiro em posições seniors ou gerenciais. Para Minayo (2006, p.208), a
representatividade do grupo (empresas ou instituições financeiras) na fala do indivíduo ocorre
porque tanto o comportamento social como o individual obedece a modelos culturais
interiorizados, ainda que as expressões pessoais apresentem sempre variações em conflito
com as tradições. A consiência coletiva só existe nas consciências individuais, embora não
seja a soma delas.
15
1.4.2. Etapas do trabalho
O questionamento estruturado e qualitativo sobre o tema foi realizado após a
identificação do problema de investigação. Esse questionamento buscou respostas para o
objetivo principal e aos objetivos secundários que nortearam a dissertação, dando uma ordem
lógica ao trabalho.
# Inicialmente foi desenvolvida uma pesquisa baseada em dados secundários e
revisão bibliográfica;
# Na sequência, foi feito um questionamento objetivo e direto sobre o tema, via
telefone e e-mail, às empresas estudadas e profissionais do Mercado
Financeiro.
1.4.3. Coleta dos dados
A coleta de dados utilizada na elaboração deste estudo foi realizada a partir de dois
instrumentos: o levantamento de dados secundários e o questionamento direto sobre o tema.
O levantamento de dados secundários foi o instrumento utilizado na pesquisa
descritiva inicial, formando o referencial trico. Para este fim, foram analisados os
Demonstrativos Contábeis das 18 empresas em questão nos seguintes momentos do tempo:
# ano encerrado anterior à abertura do capital
# no trimestre anterior à abertura do capital
# no trimestre posterior a esta abertura
# 31 de Dezembro de 2005 (último exercício encerrado disponível).
# 31 de Março de 2006
# 30 de Junho de 2006 (Demonstração Contábil mais atualizada até Outubro de
2006).
As Demonstrações Contábeis das empresas anteriores a sua abertura no Mercado
foram obtidos através do memorando de IPO (Initial Public Offering ou de Oferta Pública
Inicial) de cada uma delas no instante em que estas empresas anunciaram a emissão de ações
ao Mercado. As Demonstrações Contábeis de períodos posteriores foram obtidos no site da
CVM (Comissão de Valores Mobiliários – www.cvm.gov.br) uma vez que, após a abertura,
16
tais empresas são obrigadas a informar resultados trimestralmente. Os custos de
endividamento foram obtidos nas notas explicativas de cada um destas Demonstrações
Contábeis. Em resumo, foram analisados os perfis do endividamento, vencimento final e
custos de endividamento das seguintes empresas nos seguintes momentos:
Tabela 5 - Empresas e Demonstrações Contábeis consideradas
Empresa Data do
IPO
Exercício
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
Ano
2005
1T 2006 2 T 2006
1) CCR 30/01/2002 4T00 4T01 1T02 4T05 1T06 2T06
2) Rossi 19/02/2003 4T01 4T02 1T03 4T05 1T06 2T06
3) Natura 25/05/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
4) ALL 24/06/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
5) Gol 24/06/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
6) CPFL Energia 29/09/2004 4T03 2T04 3T04 4T05 1T06 2T06
7) Grendene 28/10/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
8) DASA 18/11/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
9) Porto Seguro 19/11/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
10) Renar 24/01/2005 4T03 4T04 1T05 4T05 1T06 2T06
11) Submarino 30/03/2005 4T03 4T04 1T05 4T05 1T06 2T06
12) Localiza 20/05/2005 4T04 1T05 2T05 4T05 1T06 2T06
13) Renner 30/06/2005 4T04 1T05 2T05 4T05 1T06 2T06
14) OHL 13/07/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
15) Energias 14/07/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
16) Br Realty 21/09/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
17) Cosan 17/11/2005 4T04 3T05 4T05 4T05 1T06 2T06
18) UOL 15/12/2005 4T04 3T05 4T05 4T05 1T06 2T06
A entrevista é a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo (MINAYO,
2006, p.261). Ela é acima de tudo uma conversa a dois, realizada por iniciativa do
entrevistador, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa.
Segundo a autora, as pesquisas podem ser classificadas de 3 modos, segundo sua forma de
organização:
! Estruturadas – a escolha do entrevistado está condicionada a dar respostas a
perguntas (abertas ou fechadas) formuladas pelo entrevistador.
17
! Semi-estruturadas – o entrevistado é convidado a falar livremente sobre um
tema. Quando surgem perguntas do entrevistador, elas têm o propósito apenas
de dar maior profundidade às reflexões.
! Não estruturadas – utilizam-se de dispositivos visuais como filmes, pinturas,
vídeos e constituem um convite ao entrevistado para discorrer livremente sobre
o que vê ou lê.
Assim, a análise dos dados da tabela anterior foi complementada com indagações
feitas de modo estruturado e objetivo por telefone durante os meses de Maio e Junho de
2006 aos departamentos de Relações com Investidores dessas empresas. Conforme técnicas
de pesquisa qualitativas enunciadas por Minayo (2006, p.263), as perguntas – tanto às
empresas como aos profissionais do Mercado Financeiro – foram antecedidas pelos seguintes
aspectos que diziam respeito à introdução do entrevistador:
! Apresentação do entrevistador e credencial institucional
! Menção do interesse da pesquisa
! Explicação dos motivos (e relencia) da pesquisa
Feita essa introdução, foram indagadas as seguintes questões aos departamentos de
Relação com Investidores das 18 empresas estudadas:
1) Houve um aumento da disponibilidade de crédito e de financiamentos de
prazos mais longos com redução dos spreads logo após a abertura do capital?
2) Caso a resposta para pergunta anterior seja afirmativa, você acredita que tal
redução nos spreads aconteceria mesmo que o cenário macroecomico local
não tivesse apresentado melhoria nos últimos anos? (ou seja, tal melhoria
aconteceria de qualquer forma só que talvez com menor intensidade?)
3) Dentre fatores como baixo nível de poupança interna, alto endividamento
público, sistema judiciário ineficiente, qualidade de informações financeiras ou
outros, qual você considera como principal obstáculo a expansão do crédito
local?
4) De modo geral, a abertura do capital propiciou a empresa maiores vantagens do
que desvantagens?
18
Para confirmação dos resultados obtidos através da análise dos Demonstrativos
Contábeis e da pesquisa qualitativa com as empresas acima, foi realizada a posteriori uma
segunda pesquisa qualitativa estruturada agora colhendo opiniões a cerca do tema de
profissionais do Mercado Financeiro, ou seja, de quem concede o crédito.
Com esse objetivo foram colhidas através de 4 perguntas enviadas por e-mail nos
meses de Agosto e Setembro de 2006 respostas de 14 profissionais que atuam ou atuaram
principalmente em posições gerenciais ou de direção nos principais bancos brasileiros. As
respostas foram obtidas tanto via e-mail como por entrevista por telefone.
As perguntas realizadas foram as seguintes:
1) Empresas de capital aberto possuem maior disponibilidade de linhas de
crédito, com prazos maiores e spreads menores?
2) Principais fatores que ainda inibem maior volume de crédito no Brasil.
3) Empresas de menor porte que decidem abrir o capital também se beneficiam
(são vistas pelo mercado financeiro de forma diferenciada)?
4) Em termos gerais, a abertura do capital proporciona mais vantagens do que
desvantagens?
1.4.4. Plano de análise
A análise de dados consiste em examinar, categorizar, classificar em tabelas ou, do
contrário, recombinar as evidências com as proposições iniciais de um estudo. Dessa forma,
as informações coletadas foram analisadas de forma distinta. Os dados secundários foram
analisados a partir de uma análise documental e a pergunta por meio de uma análise de
conteúdo. Tal proposição justifica-se porque a análise documental visa à compreensão dos
femenos registrados nos documentos e das idéias elaboradas a partir deles, e a alise de
conteúdo visa à descrição objetiva e sistemática do conteúdo de mensagens que infiram
conhecimentos sobre o objeto em estudo (LAKATOS, 2004, p.66).
19
A análise de conteúdo se desenvolve em três fases organizadas cronologicamente: pré-
análise, análise do material, tratamento dos resultados (RICHARDSON, 1999).
A fase de pré-análise é a que visa à organização, isto é, à operacionalização e à
sistematização das iias, elaborando um esquema preciso de desenvolvimento do trabalho.
A análise do material é a fase em que ocorre a análise de conteúdo propriamente dita.
Nessa fase o pesquisador procura codificar, categorizar e quantificar as informações.
O tratamento dos resultados é a fase em o que pesquisador, após formulados os
objetivos e escolhidos os documentos, está em condições de dar uma resposta bastante
precisa às perguntas "por quê" e "o que" analisar (RICHARDSON, 1999).
Assim, foi feita uma pré-análise das entrevistas, juntamente com os objetivos
propostos na pesquisa, buscando organizar as idéias por meio de um esquema preciso de
desenvolvimento do trabalho. Buscou-se nessa fase identificar os pontos comuns e díspares
entre as respostas coletadas.
Na fase final, que é o tratamento dos resultados, a partir dos quadros elaborados,
resumindo o conteúdo das entrevistas, foi possível a comparação dos dados.
1.5. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Além desta introdução, a presente dissertação está estruturada em outras quatro seções,
sendo a primeira conceitual, a segunda destinada à análise dos resultados do estudo com as
empresas brasileiras que abriram o capital entre 2002-2005, a terceira sobre as considerações
finais sobre o estudo e a quarta sobre referenciais bibliográficos.
A Seção 1 referiu-se, portanto, à introdução.
Na Seção 2, relativa a fundamentação teórica, são abordadas inicialmente as teorias
sobre estrutura de capitais e conceitos relativos a financiamentos de longo prazo. Nesse ponto,
analisam-se se teorias tradicionais de estrutura de capitais com o Pecking Order são sempre
20
válidas e aplicáveis a quaisquer mercados e empresas, mesmo que as últimas estejam situadas
em países como o Brasil, onde ainda existe uma escassez de recursos ao setor privado. Na
sequência, foram confrontadas literaturas relacionadas aos objetivos secundários desse estudo.
Pensamentos de autores - favoráveis e contra - questionando se a abertura do capital
proporciona mais vantagens que desvantagens às empresas, bem como as possíveis causas que
restringem um maiormero de empresas do setor privado brasileiro a abrirem o capital
foram discutidos. Por fim, um panorama dos Mercados de Crédito e de Capitais e uma visão
geral do setor de crédito brasileiro nos últimos anos quando comparado a outros países
emergentes também foram abordados nessa seção.
Na Seção 3 seguinte, é realizada a análise dos resultados do estudo, verificando se a
abertura do capital é uma ferramenta importante para a expansão dos volumes de linhas de
crédito disponíveis às empresas privadas que o fazem.
A Seção 4 rne as considerações finais sobre o estudo e alguns pontos para eventual
continuidade e desenvolvimento do mesmo. A Seção 5 conta com as referências
bibliográficas desse trabalho.
21
2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Investir significa a realização de um desembolso de caixa no presente esperando-se o
retorno deste investimento e mais uma remuneração do mesmo através de uma série de fluxos
de caixa no futuro. Um dos principais riscos de um investimento está relacionado à
probabilidade de se obter um retorno menor do que o inicialmente esperado (BRIGHAM,
WESTON, 2004).
O tomador deve ter claramente em mente o tempo de maturação de cada um de seus
investimentos para que utilize fontes de recursos com prazos adequados para o financiamento
desses investimentos. Projetos de longa maturação devem, pois, serem desenvolvidos com
recursos de longo prazo e não de curto (por exemplo: se uma nova planta está sendo
constrda hoje e gerará resultados positivos somente em 3 anos, o tomador deve buscar
utilizar recursos próprios ou financiamentos de terceiros que tenham no mínimo esse mesmo
perfil, não financiando o investimento com recursos de curto prazo). A disponibilidade de
recursos a prazos maiores e a custos atrativos constitui importante alavanca para o
desenvolvimento de um país (TERRA, 2004).
Verificamos, a seguir, os principais conceitos em relação aos temas chaves deste
estudo.
2.1. ESTRUTURA DE CAPITAL
2.1.1. Uma visão geral
Estrutura de capitais é a combinação de financiamento composta por dívida e capital
próprio. Brigham e Weston (2004, p.658) mencionam que estrutura de capital é o “mix de
endividamento e ações com os quais a empresa planeja financiar seus investimentos”.
22
A potica de estrutura de capitais envolve um balanceamento entre risco e retorno,
uma vez que a utilização de maior endividamento eleva o fator de risco da corrente de ganhos
da empresa, mas por outro lado também leva a uma taxa de retorno dos financiamentos mais
alta. Para os autores Brigham e Weston (2004), quatro são os fatores que influenciam as
decisões sobre estrutura de capital: 1) risco empresarial; 2) posição tributária/ dedutibilidade
dos juros; 3) flexibilidade financeira para levantar recursos em condições adversas; 4)
conservadorismo ou agressividade administrativa. Brigham, Gapenski e Ehrhardt (1999, p.
590) apontaram vantagens e desvantagens em relação ao endividamento das empresas. Entre
elas destacamos:
Vantagens do endividamento:
1-os juros são dedutíveis dos impostos
2-os credores têm um rendimento fixo e não compartilham do lucro da empresa
3-os credores não têm direito a voto nas Assembléias de Acionistas e não têm poder de
decisão no dia-a-dia da empresa
Desvantagens do endividamento:
1-quanto maior o endividamento, maior são os riscos envolvidos e maiores são as
taxas de juros ao tomador do empréstimo
2-quando o lucro operacional é insuficiente para cobrir os juros, aumenta o risco da
inadimplência
Em artigo publicado por Famá e Grava (2000), o estudo histórico da estrutura de
capital pode ser dividido em três grandes fases descritas abaixo. Utilizar-se-á esse mesmo
critério nas discussões a cerca do tema.
1-Fase dos tradicionalistas (início dos estudos de Finanças até o final da década de
1950): existia apenas uma noção intuitiva de risco. A falta de estrutura teórica não
permitia estabelecer uma relação efetiva entre risco e custo de capital.
2-Fase da incerteza dos fatos (inicia-se durante a década de 1950): início do estudo
clássico. Markowitz (1952) e Modigliani e Miller (1958) abriram caminho para
questionar não meramente a incerteza dos eventos relativos das empresas, mas para
23
questionar a forma como os agentes se comportam e a informação disponível ao
investidor para avaliá-los. Harry Markowitz publicou o artigo Portfolio Selection em
1952 abordando pela primeira vez a questão do risco e retorno de um investimento.
Modigliani e Miller em 1958 publicam o artigo The cost of capital, corporate
finance, and the theory of investment, no qual defenderam que o valor da empresa
não se alterava com composições diferentes de sua estrutura de capitais.
3-Fase comportamental (ocorre simultaneamente à incerteza dos fatos): questões
como assimetria de informações, sinalização de informações ao Mercado Financeiro
ou preferência das empresas por financiamento por meio de endividamento ao invés
de emissões de ações dentre outras, complementam e discutem os preceitos iniciais a
respeito do tema estrutura de capitais.
2.1.2. Tradicionalistas
Essa corrente defendia que uma combinação ótima de capital de terceiros e de recursos
próprios deveria ser buscada para maximizar o valor da empresa. Desse modo, menores custos
de endividamento levariam a maximização do valor de mercado da empresa. Entre os
trabalhos que se destacam dessa corrente estão principalmente os de David Durand,
elaborados em 1952 e em 1959.
Pela visão tradicionalista, a percepção era de que a reação dos mercados ao risco era
pequena, mas intensificava-se quando o risco da insolvência se tornava mais evidente. De
início, a crescente alavancagem financeira produz uma redução no custo de capital. A partir
de um certo ponto, esse custo se eleva acentuadamente. A redução inicial de custo, seguida de
uma posterior elevação, determinava uma proporção ótima entre endividamento e capital
próprio, em que o custo de capital da empresa era mínimo. Existia uma percepção de que era
possível criar valor por meio da estrutura de capital.
No estudo inicial de Durand (1952), o pensamento era de que caso os credores
concordassem com um método de precificação da empresa baseado em seu fluxo de caixa
presente, seria possível aumentar o valor dessa empresa através da redução da taxa de
desconto, ou seja, do custo total de capital de sua estrutura. O autor, no entanto, menciona que
24
não necessariamente seria possível diminuir o custo de capital através de mudanças na
estrutura de capital da empresa.
Embora não existisse um instrumental analítico adequado à época relacionado ao
estudo do risco e retorno, era aceita intuitivamente a iia de que o aumento de
endividamento de empresas que já se encontram com um alto grau de alavancagem
aumentaria de forma significatica seus riscos de falência e consequentemente o valor das
taxas de novos empréstimos. O risco de tal inadimplência contribuiria também para elevação
do custo de capital próprio. A figura abaixo faz uma adaptação do pensamento tradicionalista.
O aumento do endividamento de terceiros (kd) leva inicialmente a uma redução do custo total
do endividamento (k), levando a uma estrutura ótima de endividamento. No entanto, a partir
de um certo ponto, o aumento dessa alavancagem (kd) eleva o custo total desse mesmo
endividamento (k).
FIGURA 1 – Visão tradicionalista
Fonte: FAMÁ, GRAVA, 2000, p.28.
Durand (1952) defende as idéias da corrente Tradicionalista segundo a qual o custo de
capital de terceiros permanece constante para níveis moderados de alavancagem, ou seja,
níveis de endividamento que não comprometam a capacidade de repagamento da empresa. O
mesmo vale para o custo de capital próprio, desde que mediante variações aceitáveis na
alavancagem da empresa.
25
Assim, limitações analíticas e do processamento de informações restringiam a
realização de testes empíricos e os estudos eram, portanto, guiados pelo “bom senso”
(GRAVA, FAMÁ, 2000).
Durand (1959) estende e complementa, como veremos a seguir, essas discussões em
relação ao custo do capital, questionando o primeiro artigo dos autores Franco Modigliani e
Merton Miller sobre o tema e que deu início a fase histórica seguinte, a da “Incerteza dos
Fatos”.
2.1.3. Incerteza dos Fatos
Markowitz (1952) tratou pela primeira vez do risco e como o risco e o retorno se
comportavam em uma carteira diversificada. A contribuição imediata do trabalho de
Markowitz não estava ligada à estrutura de capitais e sim aos Mercados Financeiros. No
entanto, essa teoria possibilitou que as empresas fossem tratadas como um portfolio de ativos,
independentemente de como eram financiadas. Estudos de Sharpe em 1963, Linter em 1965,
Mossim em 1966, Douglas em 1968, Miller e Sholles em 1972 e Roll e Ross de 1984 entre
outros (BRIGHAM, GAPENSKI, EHRHARDT, 1999) deram continuidade e aprimoraram a
teoria relacionada a risco e retorno, mas que não será foco desse estudo.
Com base nos estudos iniciais de Markowitz de 1952 sobre risco e retorno, Franco
Modigliani e Merton Miller, em 1958, em seu estudo “The cost of capital, corporation
finance, and the theory of investment”, foram os precursores no desenvolvimento da primeira
teoria relativa a estrutura de capitais propriamente dita. Segundo a visão geral dos autores, a
empresa é constituída por um conjunto de ativos com capacidade de gerarem receita, a um
determinado risco (ou custo de capital). Eles consideravam que o comportamento dos ativos
não alterava o valor da empresa uma vez que esse risco não era influenciado pelas fontes de
financiamento da empresa.
A teoria desenvolvida por esses dois autores em 1958 baseava-se em três proposições
sobre estrutura de capitais e sua influência sobre o valor da empresa e estrutura de capitais em
relação às decisões de investimento da empresa. A Proposição I dizia:
26
The market value of any firm is independent of its capital structure and is given by
capitalizing its expected return at the rate of “pk appropriate to its class
(MODIGLIANI, MILLER, 1958, p.263)
Assim, segundo a Proposição I, a estrutura de capital não interfere no valor da
empresa. A abordagem de Modilgini e Miller era que o custo do endividamento é mais baixo
que o custo do capital e que ambos aumentam com o crescimento da alavancagem financeira.
Entretanto, os dois efeitos se compensam em um dado momento, e as fontes se tornam mais
caras de forma a fazer com que o custo de capital final da empresa se mantenha inalterado.
Essa Proposição I considerava que:
- o endividamento é livre de risco
- não há custos de transação;
- existência de mercados perfeitos, sem custos de corretagem e indivíduos conseguem
captar recursos no mesmo nível de taxas das empresas.
Para entender o conceito de “mercado perfeito” ou de “eficiência de mercado”, é
preciso observar que o objetivo do mercado de capitais é transferir fundos entre poupadores e
tomadores de forma eficiente. De acordo com a conceituação de eficiência de mercado,
desenvolvida por Eugene Fama (1970, p.383), um mercado é eficiente quando todos os preços
refletem, de forma rápida e completa, toda a informação disponível, o que significa que,
quando um ativo é comercializado, seu preço é um sinal preciso para a alocação de capital.
Esse conceito, no entanto, não é realista como discutiremos mais adiante.
A Proposição II de Modigliani e Miller nesse mesmo estudo de 1958 torna explícito o
mecanismo por meio do qual o custo médio ponderado do capital continua constante. Essa
Proposição II opõe-se ao modelo tradicionalista onde uma alavancagem moderada com
endividamento de terceiros levaria a uma redução do custo médio ponderado do capital
(MODIGLIANI, MILLER, 1958).
27
FIGURA 2 – Proposição II - Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) é
constante
Fonte: FAMÁ, BARROS, SILVEIRA, 2001, p.76.
Pela Proposão II qualquer aumento da alavancagem por meio de um maior custo de
endividamento de terceiros (id) eleva a percepção de risco da empresa aumentando o custo do
capital próprio (is) dos acionistas. “D” é o valor de mercado do endividamento da empresa,
“S” o valor de suas ações e “p” corresponde ao Custo Médio Ponderado de Capital da
empresa (CMPC), ou seja, a taxa que compensa todos os investidores ao risco que estão
expostos.
Na ausência de alavancagem financeira (valor do endividamento é zero, ou D=0), o
custo do capital próprio é igual ao custo médio do endividamento, ou “is” = p. O custo do
capital próprio “is” crescerá então linearmente com o aumento de D/S fazendo com que o
CMPC fique constante (FAMÁ, BARROS, SILVEIRA, 2001, p.76). Assim, os dois efeitos do
aumento do endividamento e do aumento do custo do capital próprio se anulam como
demonstrado na Figura 2.
A Proposição III de Modigliani e Miller (1958) era uma conseqüência das
proposições anteriores e mostrava que a potica de investimentos da empresa independia do
tipo de financiamento usado. O que importaria então como critério de avaliação de
investimentos era a verificação se a rentabilidade era maior que a taxa de retorno da firma.
Essa última proposição juntamente com as demais formavam o postulado da independência
das poticas de investimento e financiamento. Essas poticas são vistas por Modigliani e
28
Miller como independentes entre si, no sentido de que podem ser implementadas em
separado.
Modigliani e Miller afirmam que suas proposições desse estudo de 1958 apenas
serviam para mostrar que o tipo de instrumento utilizado para financiar os investimentos é
irrelevante para se aprovar um projeto. As discussões em relação às proposições iniciais de
Modigliani e Miller de 1958 intensificam-se um ano após com o tradicionalista David
Durand.
Durand (1959) levantou uma série de contrapontos às proposições iniciais do artigo de
1958 de Modigliani e Miller. Sua posição inicial era de que as proposições estavam corretas,
mas adicionando que “in their own properly limited theoretical context” (DURAND 1959, p.
640), ou seja, em seu contexto teórico que era (bastante) limitado. Sua principal discrepância
referia-se às premissas adotadas na Proposição I desses autores. Segundo comentário de
Durand (1959, p.644) “those of us who doubt about the existence of equlibrium”, ele
demonstrava-se cético em relação ao equilíbrio existente entre aumentos do custo do
endividamento que levavam a aumentos similares do custo do capital próprio proposto pelo
modelo de Modigliani e Miller em 1958. Durand (1959) argumentava que tais resultados
alcançados não eram relevantes já que foram baseados em premissas irrealistas.
Modigliani e Miller (1959, p.655) em seu artigo “The cost of capital, corporation
finance, and the theory of investment: reply” fazem uma reflexão sobre os pontos fortes e
fracos de suas proposições de 1958 e das críticas a elas feitas em 1959 por Durand. Os autores
reconhecem que uma elaboração adicional de seu modelo e enfoque aos problemas empíricos
levantados poderia servir a um propósito útil.
We do not propose to go over Durand´s comment point by point partially for reasons
of space, and partially because on many issues we have little to add (or retract from)
what we have originally wrote. There are, however, issues where Durand comments
(plus correspondence we have had with many others) have led us to believe that some
further elaboration of our model and our approach to the empirical problems might
serve a useful purpose (MODIGLIANI, MILLER, 1959, p.655).
No entanto, os autores Modigliani e Miller reforçam que houve pelo menos dois
pontos de concordância entre o que eles pregavam e o que Durand pregava. Apesar de seu
tom crítico, Durand concordava que as conclusões de Modigliani e Miller eram válidas para o
contexto em que foram criadasambiente de mercado perfeito - e que a inflncia de
29
alavancagem sobre o estudo do custo de capital tinha até então sido muito tênue. Modigliani e
Miller escreveram em 1959:
(1) that our conclusions, which contradict “widely accepted beliefs” can be regarded
as valid at least “in their own properly limited theoretical context” and (2) that for
all the attention that leverage has received in the literature of finance the influence, if
any, of leverage on the cost of capital has so far escaped detection (MODIGLIANI,
MILLER, 1959, p.655)
As críticas levantadas por Durand em 1959 são mais tarde reforçadas por Brigham,
Gapenski, Ehrhardt (1999, p.622). Segundo esses autores, o modelo apresentado em 1958 por
Modigliani e Miller baseava-se nos seguintes pressupostos limitados:
- custos de insolvência/ falênciao existem
- auncia de impostos
- oferta de recursos é elástica
- simetria das informações
- fluxos de caixa são perpétuos
- existência de mercados perfeitos, sem custos de corretagem e indivíduos conseguem
captar recursos no mesmo nível de taxas das empresas.
- administradores sempre buscam a maximização da riqueza para os acionistas
Após cinco anos, Modigliani e Miller (1963) publicaram um novo trabalho,
incorporando a existência dos impostos sobre a renda das empresas, que foi uma das
principais críticas ao trabalho de 1958. Nesse novo estudo, se o lucro da firma é tributado, o
endividamento apresenta uma vantagem fiscal, ou seja, a dedutibilidade dos juros favorece o
uso de financiamento uma vez que sobre um lucro menor há uma menor incidência de
impostos e, portanto, era mais interessante para a empresa utilizar somente dívida para
financiar-se. Nesse modelo, a dedutibilidade dos juros torna a dívida mais barata que o capital
próprio com o governo “pagando” parte do custo de capital davida. No mundo real, no
entanto, praticamente não existem empresas com nível de endividamento de 100%
(BARBOSA, GOÉS, 2004). Em seu novo artigo, Modigliani e Miller reconhecem que as
vantagens relacionadas ao imposto quando se usa endividamento de terceiros são maiores do
que eles originalmente acreditavam.
(…) arbitrage will make values within any class a function not only of expected after-
tax returns, but of the tax rate and degree of leverage. This means, among other
things that the tax advantages of debt financing are somewhat greater than we
originally suggested (…) (MODIGLIANI, MILLER, 1963, p.434)
30
Desse modo, em um mundo real, com a incidência de impostos, o endividamento junto
a terceiros trazia um ganho para a empresa através de um maior volume de despesa financeira
e que reduz o lucro tributável e consequentemente o volume de impostos a serem pagos.
Assim, volta a prevalecer uma visão próxima à visão tradicionalista de que o endividamento
poderia ser utilizado para auxílio da maximização do valor da empresa para o acionista, mas
com uma diferença: no modelo de 1963 de Modigliani Miller, defendia-se que quanto maior o
endividamento, maior seria o ganho fiscal, diferentemente do modelo tradicional, em que a
criação de valor ocorreria apenas para alavancagens moderadas (FAMÁ, GRAVA, 2000,
p.30).
Estudos emricos relacionados aos modelos iniciais de Modigliani e Miller foram
publicados nas décadas de 1960 e 1970, dando continuidade ao trabalho deles e adicionando
custos de falência (pelo critério adotado nesse estudo, “fase de transição”: STIGLITZ, 1969;
PAPPAS, HAUGEN, 1971; RUBINSTEIN, 1973, MILLER, 1977; BECKER, 1978;
DEANGELO, MARSULIS, 1980; MODIGLIANI, 1982: ALTMAN, 1984: WEISS, 1990,
entre outros) ou incluindo novas variáveis que deram icio a chamada fase comportamental
(DONALDSON, 1961; JENSEN, MECKLING, 1976; ROSS, 1977; MYERS, 1977;
LELAND, PYLE 1977; MYERS, MAJLUF, 1984; MYERS, 1984; JENSEN, 1986;
TITMAN, WESSELS, 1988; STULTZ, 1990; HARRIS, RAVIV, 1991; TITMAN, 2001;
DERMIRGUÇ-KUNT, MAKSIMOVIK, 2001, entre outros). Essa terceira fase, no entanto,
ocorre inicialmente de modo simultâneo a segunda e será examinada mais adiante.
Assim, apesar dos pressupostos dos modelos de Modigliani e Miller de 1958 e 1963
serem ainda bastante irrealistas como já questionados por Durand (1959), o relaxamento de
alguns desses pressupostos não alterava de modo significativo os resultados finais obtidos
conforme estudo de Mark E. Rubinstein (1973). Esse estudo concorda com as Proposições I e
II de Modigliani e Miller.
It is now possible to treat security valuation, asset expansion decision rules, and
capital structure policies as derivatives of market equilibrium models under
uncertainty. Additionally, these models provide benchmarks for measuring the
efficiency of markets and investment performance. (...) several results will not be
found in the published literature: (…) (3) proof of the Modigliani-Miller Proposition I
with risky corporate debt and corporate taxation; (4) proof of the Modigliani-Miller
Proposition II revised for risky corporate debt; (RUBINSTEIN, 1973, p.167)
31
Becker (1978) em seus estudos re-afirmou as proposições de Modigliani e Miller uma
vez que ele entende que a ratificação de tais proposições já havia ocorrido por meio do
Teorema Fundamental de Parâmetro-Preferência desenvolvido por Rubinstein anos antes.
The proof of Modigliani-Miller famous propositions concerning the valuation of the
firm and the cost of capital does not require the usual risk-class or arbitrage
assumptions; the proof depends only on the Fundamental Theorem of Parameter-
preference (developed by Rubinstein). The results of this proof were anticipated by
Stiglitz (1969, p.790) who argued that givenportfolio separation and the existence of
a single safe asset the thorem of Modigliani Miller will be true even with bankrupcy.
(BECKER, 1978, p.65 )
Em 1977, Merton Miller aperfeiçoou o modelo original introduzindo, além dos
impostos sobre as empresas, os impostos incidentes sobre os rendimentos dostulos da dívida
e das ações para pessoa física, sob a forma de capital de terceiros ou capital próprio. Nesse
novo estudo, Miller entendia que os ganhos fiscais pelo uso da dívida podem ser muito
menores do que se pensava. O autor, no entanto, reafirmava descobertas anteriores como a de
que o valor da firma, em um mercado em equilíbrio (ou perfeito) seria ainda independente de
sua estrutura de capital.
I will agree that even in a world in which interest payments are fully deductible in
computing corporate taxes, the value of the firm, in equilibrium, will be independent
of its capital structure. (MILLER, 1977, p.262)
Por outro lado, ele questiona a premissa de seu modelo de 1963 com Modigliani, no
qual defendiam que a empresa devia adotar o máximo de alavancagem através do
endividamento de terceiros já que esta maximizava os benefícios relacionados aos impostos
pagos. Empiricamente, uma alavancagem de 100% com endividamento de terceiros não era
possível, uma vez que ela aumentava os custos de falência da empresa. Miller foi assim um
dos precursores do modelo de Trade-off, que adiciona a variável custos de falência nas
discussões. Assim, o aumento dos custos de falência poderia explicar porque as empresas não
tiravam vantagem maior de benefícios em relação aos impostos através do aumento adicional
de seu endividamento.
O questionamento relativo ao modelo de Trade-off, aprofundado por outros autores
como Deangelo e Marsulis (1980), coloca esses dois últimos autores e os estudos de Miller de
1977 em um momento de “transição” com a fase comportamental. Essa classificação vai de
encontro com a classificação utilizada no estudo de Famá e Grava (2000).
32
Existe um ponto ótimo de compensação entre o benefio fiscal esperado e o custo
esperado da possibilidade de insolvência. Com isso, o resultado da economia fiscal que
aumentaria o valor da empresa somado ao aumento do risco de insolvência (custo do
endividamento tornava-se maior) não levaria a um valor da empresa constante em relação a
seu endividamento como defendido por Miller em 1977 ou crescente como mais tarde
defendido por Modigliani em 1982. Na verdade, até certo nível de endividamento, o efeito
positivo dos impostos sobre o valor da empresa seria predominante, mas, a partir de um certo
ponto, esse efeito seria superado pelo risco de falência, negativo ao valor da empresa
(DEANGELO, MARSULIS, 1980).
Mais adiante, Modigliani (1982), ao contrário da posição mais recente de Merton
Miller de 1977, reafirmou que a estrutura de capital de fato incluía benefício fiscal com o uso
de endividamento de terceiros. Independente da discussão levantada, o ponto que chama a
atenção é que mesmo esses dois autores, base da teoria que revolucionou o estudo da estrutura
de capitais em finanças, já não pensavam mais da mesma forma.
# Transição: O modelo de Trade-off
Como visto anteriormente, pesquisas do final de década de 1970 conduzidas pelo
próprio Merton Miller (1977) e Deangelo e Marsulis (1980) deram origem ao Modelo do
Contrabalanço (Trade-off) ou Estático. Apesar de Miller ser claramente um autor de
características clássicas em relação ao tema sobre estrutura de capitais, seu trabalho de 1977
já inclui aspectos controversos. Dessa forma, alguns autores já poderiam classificar trabalhos
dessa fase como comportamentais. No entanto, o critério utilizado nesse estudo é que apesar
da adição da variável “custos de falência”, essa fase ainda possui bastantes pontos em comum
com as teorias iniciais de Modigliani e Miller. Assim, optou-se por considerá-la como um
momento de transição.
Barcelos (2002) aponta que a adição de insolvência financeira e custos de agência ao
modelo de Modigliani e Miller (1958; 1963) resulta no modelo de Trade-off de estrutura de
capital.
No modelo de Trade-off, a estrutura ótima de capital é obtida quando os benefícios
fiscais do endividamento equilibram os diversos custos relativos ao uso de alavancagem
33
financeira: taxas de juros mais altas e o custo de fancia (diretos:custos judiciais, legais;
indiretos: perda de clientes e de valor da empresa, imagem, etc) são considerados.
O modelo de Trade-off possui suporte empírico inicialmente em estudos publicados
no Journal of Finance como os de James Pappas e Robert Haugen (1971) e Stiglitz (1969).
Empresas que possuem mais ativos tangíveis apresentam um grau de endividamento maior do
que empresas cujo valor se baseia mais em seus ativos intangíveis.
In this paper we attempt to fully integrate current theory of investor behavior toward
risk and the theory of corporate finance. (It was) observed the effects of financing
through nonequity instruments on the risk characteristics of firm´s equity, the effects
of debt financing on the return and, hence, the value of equity capital. (PAPPAS,
HAUGEN, 1971, p.943)
O estudo de Joseph Stiglitz (1969) concorda em grande parte com os resultados dos
modelos de Modigliani Miller de 1958 e 1963, mas aprofunda as discussões utilizando uma
abordagem diferente. O foco das discussões se concentra em dois pontos principais que ele
não concorda: (a) indivíduos podem tomar recursos à mesma taxa de juros das empresas e (b)
a não existência de falência de empresas (e que para o autor ocorrem custos relacionados a
esse evento).
(...) we show in the context of general equilibrium state preference model that the M-
M theorem holds under much more general conditions than those assumed in their
origina study. The validity of the model does not depend on the competitiveness of the
capital market, or on the agreement of individuals about the probability distribution
of outcomes. The two assumptions which do appear to be important for our proof are
(a) individuals can borrow at the same market rate of firms and (b) there is no
banckrupcy; (STIGLITZ, 1969, p.784)
Esse modelo tem um apelo intuitivo, pois ele leva a conclusão que tanto os cenários de
dívida total” ou o de “sem dívida” são ruins para as empresas, enquanto um cenário de
endividamento “moderado” é bom. Segundo essa teoria, a empresa toma dinheiro emprestado
ao ponto no qual os benefícios fiscais de uma unidade monetária adicional de
endividamento são iguais ao custo adicional decorrente do aumento da probabilidade de
dificuldades financeiras. Assim, o ganho proveniente do benefício fiscal é anulado pelo custo
de dificuldades financeiras (ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 2002).
Apesar do modelo de Trade-Off não poder ser usado para especificar a estrutura ótima,
ele possibilita realizar três proposições acerca do endividamento:
34
1) empresas com maiores riscos de negócios devem buscar menor nível de
endividamento do que aquelas com menores riscos e que atuem em
mercados e ambientes maduros e constantes uma vez que, quanto maiores
os riscos da atividade, maior a possibilidade de insolvência em qualquer
nível de endividamento acarretando em maiores riscos de insolvência.
2) empresas com ativos com valor de mercado podem usar maior
endividamento do que aquelas cujo valor é derivado principalmente de
ativoso tangíveis. Tais ativos em um cerio de stress podem perder
valor rapidamente.
3) empresas com maior carga tributária deveriam utilizar maior
endividamento.
Entre outros estudos que testaram empiricamente a relevância dos custos da
inadimplência e falência, está o de Edward Altman (1984) que constatou a importância desses
custos na decisão de otimização do nível de alavancagem.
The relevance of bankruptcy costs remains as one of the major unresolved issued of
financial theory.(…) If bankrubcy costs are relatively significant then it may be
argued that at some point, the expected value of those costs outweights the tax benefit
derived from increasing leverage and the firm will have reached its optimum capital
structure point. An alternative view is that bankruptcy costs are relatively trivial and
can not explain capital structure decisions (…) This strudy assumes that the expected
bankruptcy cost issue is relevant and that firms do not recognize the probability of
bankruptcy as an important ingredient when making operating and financial
decisions(…). (ALTMAN, 1984, p.1067)
Em seu estudo sobre custos diretos e indiretos de falência de empresas industriais e de
varejo que faliram nos EUA, esse autor defendia também que empresas que possuíssem maior
quantidade de ativos tangíveis (ao invés de intangíveis como marcas, patentes, etc) poderiam
usar maior endividamento de terceiros, pois se beneficiariam de uma maior liquidez na venda
de seus ativos fixos. O autor defende que empresas sujeitas a pagamento de um volume maior
de impostos deveriam usar maior endividamento. O risco de fancia está associado com
níveis altos de endividamento, ao passo que o risco financeiro está associado a qualquer nível
de endividamento.
35
Lawrence Weiss (1990) também desenvolveu estudo a cerca desse tema de custos de
falência analisando 37 casos de empresas listadas em Bolsa de Valores nos Estados Unidos
que foram a falência entre novembro de 1979 e Dezembro de 1986. A pesquisa inclui em suas
conclusões resultados similares às anteriores, onde os custos esperados de falência aumentam
com a alavancagem restringindo o benefício fiscal e a combinação ótima de capital próprio e
de terceiros. Em seus resultados, ele também concluiu que a maior parte das reclamações
advindas da falência vinha dos acionistas e de credores subordinados.
I present new evidence on the direct costs of bankruptcy and violation of priority of
claims. In a sample of 37 New York and American Stock Exchange firms that filed for
bankruptcy between November 1979 and December 1986, direct costs average 3.1%
of the book value of debt plus the market value of equity, and priority of claims is
violated in 29 cases. The breakdown in priority of claims occur primarily among the
unsecured creditors and between the unsecured creditors and equity holders. Secured
creditors' contracts are generally upheld (WEISS, 1990, p.285).
O modelo de Trade-off foi testado mais recentemente no Brasil e nos EUA com a
análise de empresas entre 1998-2001 por Kayo (2002). Nesse estudo, Kayo chega a conclusão
que o grau de endividamento é significativamente menor nas empresas com alto nível de
ativos intangíveis.
No entanto, os autores Brigham, Gapenski e Ehrhardt (1999, p.639) sugerem que o
suporte empírico para os modelos de Trade-off é incompleto, o que significa que outros
fatores não incorporados a esses modelos são também essenciais para alise. Para eles, entre
diversos outros fatores, os índices de grau de endividamento variam significativamente entre
empresas de mesma indústria enquanto o modelo sugere que elas deveriam ser do mesmo
nível.
Se o custo do capital de terceiros é inferior ao custo do capital próprio, a estrutura de
capital ideal requer um nível de endividamento maior que zero por parte das empresas.
Repasses externos, linhas do BNDES entre outros possuem um custo de crédito menor que o
retorno da Selic ou CDI (taxas básicas de juros da economia brasileira), o que faz com que
provavelmente o nível de endividamento de longo prazo das empresas não seja zero. Assim,
pressupõe-se que a auncia ou escassez de empréstimos a longo prazo nas Demonstrações
Contábeis de empresas brasileiras deve-se a restrições de crédito.
36
2.1.4. Comportamentais: Evolução do modelo original de Modigliani e Miller
# Modelo dos Custos de Agência.
Pode-se enunciar que essa nova fase iniciou-se com os autores Michael Jensen e
Willian Meckling em 1976 através do artigo intitulado “Theory of the firm: managerial
behavior, agency costs and ownership structure”. Assim, enquanto os benecios dos
impostos e riscos do endividamento eram ainda discutidos, esses dois autores trouxeram uma
nova abordagem que envolvia os custos de agência para a obtenção de uma estrutura ótima de
capital. Os autores definem a relação de agência da seguinte forma
We define an agency relationship as a contract under which one or more persons (the
principal) engage another person (the agent) to perform some service on their behalf
which involves delegating some decision making authority to the agent. If both parties
to the relationship are utility maximizers, there is good reason to believe that the
agent will not always act in the best interest of the principal. The principal can limit
divergencies from his interest by establishing appropriate incentives for the agent and
by incurring monitoring costs designed to limit the aberrant activities of the agent.
() However, it is generally impossible for the principal or the agent at zero cost to
ensure that the agent will make optimal decisions from the principal´s point of view.
In most of the agency relationships the principal and the agent will incur monitoring
and bonding costs and in addition there will be some divergence between the agent´s
decisions and the ones which would maximize the welfare of the principal. (JENSEN,
MECKLING, 1976, p.310)
Em outras palavras, a essência do modelo é o relacionamento entre o Principal e o
Agente e do fato de que inevitavelmente surgirão decisões que não atendem aos melhores
interesses dos acionistas e que provocarão reduções no valor da empresa (a qual pode ser
denominada “custo de agência”).
O Principal contrata o Agente para execução de algum serviço (JENSEN,
MECKLING, 1976). Se cada uma das partes busca maximizar sua utilidade, as ações do
Agente nem sempre atendem ao interesse do Principal, o que acaba gerando custos de
agência. Isso significa que quando o investimento for bem sucedido, os acionistas podem se
beneficiar apropriando todos os recursos obtidos em excesso após pagamento do
endividamento, mas quando o negócio vai mal, os credores correm o risco de perder tudo. A
escolha de gestores com reputação permite à empresa contrair maior endividamento, pois
diminui o conflito entre acionistas e credores. Esses autores mencionam que os custos de
37
agência são a soma de três fatores: os custos de monitoramento do principal; 2) as despesas
com a remuneração do agente; 3) perdas residuais do processo;
We define agency costs as the sum of 1) the monitoring expenditures of the principal;
2) the bonding expenditures by the agent; 3) the residual loss; (JENSEN,
MECKLING, 1976, p.311)
Assim, os conflitos podem ocorrer entre acionistas e gestores de uma empresa, entre
os acionistas e os credores e também, como complementado por Leal (2001), entre acionistas
minoririos e majoririos.
Entre outros trabalhos que também contribram para o desenvolvimento do tema
destacaram-se os de Myers (1977), Jensen (1986) e Stultz (1990).
Em seu artigo Determinants of corporate borrowing”, Myers (1977) faz uma crítica
logo no início de que existe um vazio importante ainda em Finanças relacionado ao problema
da potica de endividamento das empresas. O autor desenvolve o artigo com base nas
premissas já defendidas por Jensen e Meckling (1976) focando em particular nos custos de
negociação, monitoramento e de cumprimento dos contratos jurídicos (legal enforcement):
(...) this paper is like Jensen and Meckling (1976) analysis of agency costs and
optimal capital structure. The suboptimal investment policy is an agency cost induced
by risky debt. However this particular cost was not stressed by Jensen and Meckling
(MYERS, 1977, p.149).
O autor descreve que o endividamento altera as escolhas dos administradores da
empresa em certas circunstâncias criando situações nas quais o Agente (administrador) pode
atender aos interesses do principal (acionistas) somente fazendo decisões que reduzem o valor
da empresa e a riqueza dos acionistas. O autor questiona então porque não eliminar esse
problema de decisões não ótimas através da adão de cláusulas contratuais em relação ao
endividamento. Esse só ocorreria nos casos de projetos futuros que agregassem valor a
empresa, ou seja, projetos de valor presente líquido positivo.
The heart of the matter is that the existence of debt changes the firm´s actions in
some circunstances. It creates situations ex post in which management can serve
shareholders interests only by making sub-optimal decisions. This reduces the value
of the firm and reduces shareholders weath. Why not eliminate this problem by
adding a clause to the debt contract? That is, the contract could include a spcific
requirement that the firm take on each investmentproject in all states where its net
present value is positive. (MYERS, 1977, p.156)
O modelo de Agência defende ainda que, empresas deveriam operar com um alto grau
de alavancagem, pois o nível elevado de endividamento acarreta um maior volume de
38
despesas financeiras e amortização do principal do endividamento, o que reduz o fluxo de
caixa livre ou excessivo da empresa e impede que os gestores consumam esses recursos com
investimentos pouco rentáveis ou em benefício próprio na forma de maiores dividendos pagos
(JENSEN, 1986). Stultz (1990) também desenvolve abordagem semelhante dizendo que os
custos de agência (ou “Costs of Managerial Discretion”) surgem dos administradores
(agentes) tentando realizar investimentos abaixo do custo de capital da empresa ou perdendo
esses recursos em ineficncias operacionais ao invés de distribuí-los aos proprietários do
capital (principal).
Stultz (1990, p.3-27) diz que o modelo de Agência ajuda na definição da estrutura de
capital ideal em cada uma das fases de crescimento da empresa. O fluxo de caixa livre tende a
ser maior em empresas maduras e, por isso, o endividamento de terceiros tende a ser mais
recomendado nessas situações.
Esse mesmo autor desenvolve o pensamento inicial de Myers (1977, p.159) com o
qual, de acordo com a fase de vida da empresa, dois problemas podem surgir. O primeiro
refere-se a problemas advindos do sobre-investimento e o segundo, do sub-investimento. O
sobre-investimento surge em empresas maduras porque a administração faz investimentos
acima dos necessários e que não geram valor presente quido positivo. Já o segundo acontece
em casos de empresas em desenvolvimento e ocorre porque estas não possuem recursos
internos suficientes para financiar todos seus projetos de valor presente positivos.
O modelo de Agência questiona a premissa de Modigliani e Miller, a qual afirma que
as decisões de investimento são independentes da estrutura de capital. Pelo modelo de
Agência, é possível obter um nível ótimo de endividamento a partir do equilíbrio entre os
custos de agência gerados por conflitos entre os diversos grupos de interesse dentro da
empresa (empregados, acionistas e credores).
O custo de agência total é a soma do custo de agência do capital próprio (gerado por
conflitos entre acionistas e administradores) e o custo de agência da dívida (intensificado pelo
aumento do uso de capital de terceiros) como veremos a seguir.
Custos de Agência do capital próprio: Os custos de agência nascem dessa separação
entre administração e controle, denominado de “perda residual”. Como os lucros são
39
limitados à sua participação, o administrador busca outras formas para aumentar sua riqueza
pessoal. Com a falta de incentivo financeiro diminui o interesse de buscar empreendimentos
lucrativos. Os custos de agência guardam estreita relação com o fluxo de caixa livre (o que
excede após o financiamento de todos os projetos lucrativos).
Quanto maior o fluxo de caixa livre, mais discricionário é o comportamento do
administrador. A providência mais adequada é contrair dívidas, pois reduzindo este fluxo,
diminui seu uso perdulário. Outra forma é aumentar a participação dos administradores ou
aumentar a distribuição de dividendos (BRIGHAM, WESTON, 2004).
Custos de Agência do endividamento: O aumento do nível de endividamento pode
levar a empresa a enfrentar outro custo. Trata-se do custo de agência da dívida gerado pelo
conflito entre acionistas e credores, podendo limitar o endividamento. Três razões podem
levar os administradores a usar capital de terceiros para financiar seus projetos:
a)prêmio ao assumirem riscos: opção pelos projetos de maiores retornos mesmo com
riscos maiores. Se derem certo, os acionistas recebem a maior parte. Se derem
errado, o maior custo fica para os credores.
b)incentivo ao sub-investimento: os acionistas prevendo falência diminuem seus
investimentos. Isso porque pode beneficiar os possíveis credores, valorizando os
bens a serem tomados.
c) redução intensa e rápida dos ativos da empresa: pagamentos extras de dividendos
antes da falência em benecio de uma minoria.
As discussões relacionadas ao tema e a utilização de endividamento de terceiros ou
capital próprio são extensas e continuam ao longo desse estudo. Entre outros trabalhos de
caráter empírico desenvolvidos nessa linha sobre custos de agência encontram-se os de
Cantillo e Wright (2000), Denis e Mihov (2003), Cronqvist e Nilsson (2003) e no Brasil, na
pesquisa de Aldrighi e Mazzer Neto (2005) sobre 602 empresas de capital aberto em 2001.
# Modelo da Sinalização ou Informações Assimétricas
O modelo denominado Sinalização ou modelo das Informações Assimétricas
(BRIGHAM, GAPENSKI, EHRHARDT, 1999 e BRIGHAM, WESTON, 2004) surge um ano
mais tarde ao modelo de Jensen e Meckling através de Ross (1977) e refere-se a quando os
40
administradores têm melhores informações do que os investidores externos. Isso é chamado
de informão assimétrica e exerce importante efeito sobre a estrutura de capital. Apesar do
modelo inicial do autor estar relacionado ao fator comportamento ele tem outro enfoque agora
relacionado ao estudo da informação.
The Modigliani-Miller theorem on the irrelevancy of financial structure implicitly
assumes that the market possesses full information about the activities of firms. If
managers possess inside information, however, then the choice of a managerial
incentive schedule and of a financial structure signals information to the market, and
in competitive equilibrium the inferences drawn from the signals will be validated.
One empirical implication of this theory is that in a cross section, the values of firms
will rise with leverage, since increasing leverage increases the market's perception of
value (ROSS, 1977, p.23)
Assim, segunto o autor acima, esse modelo contraria a idéia inicial de mercado
perfeito sobre o qual foi contruído o modelo de Modigliani e Miller em 1958, em que todos os
componentes do mercado gozam do mesmo nível de informação sobre a atividade das
empresas. O autor concluiu ainda que o valor da empresa aumenta com a alavancagem
financeira.
Além do trabalho de Ross (1977), destacam-se nessa linha os trabalhos de Lelend e
Pyle (1977), Myers e Majluf (1984) e Myers (1984). Os dois últimos tiveram destaque
diferenciado, já que responsáveis pelo desenvolvimento do modelo do Pecking Order, o qual,
como se verá a seguir, continua essa linha de pesquisa.
Resumidamente, o modelo de Assimetria de Informações baseia-se em 3 proposições:
1) as empresas com bons projetos de rentabilidade futura preferem financiar-se com
endividamento de terceiros, pois assim não teo de partilhar os lucros futuros
advindos de novos projetos rentáveis com outros acionistas.
2) empresas com projetos de baixa rentabilidade futura preferem financiar-se com
ações.
3) as empresas devem manter uma reserva de capacidade para tomar empréstimo, caso
surja alguma oportunidade boa de investimento. Isso significa que as empresas
deveriam, em ocasiões normais, utilizar menos endividamento.
41
# Modelo do Pecking Order
Do modelo anterior advém o modelo do Pecking Order, proposto por Myers (1984,
p.575-592), ditando que a estrutura de capital seria estabelecida em função do desejo de
financiar novos projetos, inicialmente através de recursos próprios (retenção de dividendos)
depois, com títulos de dívida e finalmente com emissão de ações. Esse modelo procura
minimizar os riscos e maximizar os lucros.
No entanto, o próprio Myers afirma que o modelo do Pecking Order proposto por ele
não é realmente “novo”: “The Pecking Order hypotesis is hardly new” (Myers, 1984, p.10).
Em seu trabalho o autor menciona que parte de suas idéias relativas ao Pecking Order
derivaram e aprimoraram o trabalho de outro autor, Donaldson (1961), no estudo “Corporate
debt capacity: a study of corporate debt policy and the determination of corporate debt
capacity” que examinou práticas financeiras de uma amostra de grandes empresas nos EUA.
Donaldson observou que
Management strongly favored internal generation as a source of new funds even to
the exclusion of external funds, except for occasional unavoiadable “bulges” in the
need for funds (DONALDSON, 1961, p.67).
Myers (1984) em seu estudoThe capital structure puzzle” não conseque chegar a
uma conclusão única e confiável à pergunta por ele mesmo levantada de como as empresas
escolhem suas estruturas de capital. No trabalho, o autor divide a estrutura de capital em duas
correntes: i ) balanceamento estático (Static Trade-off), em que a empresa possui uma meta de
endividamento, a qual era estabelecida em função do balanceamento entre o custo e o
benefício do endividamento (custos de fancia x benefícios fiscais) e ii) Pecking Order, em
que toda a empresa segue uma seqüência lógica ao estabelecer sua estrtura de capital.
Ao contrário da teoria de Modigliani e Miller, a oferta de recursos no caso do modelo
do Pecking Order de Myers é determinante. Segundo Myers (1984, p.576) as empresas
preferem financiar seus projetos com recursos internos de seu fluxo de caixa do que
endividamento, e preferem como segunda opção o endividamento a novas emissões deões.
O motivo dessa ordem de prioridades baseava-se no seguinte ponto. Financiamentos
externos (obtidos tanto por endividamento como por emissão de ações) demandam que os
administradores expliquem o projeto de investimento que está sendo realizado para os
42
credores ou para investidores, expondo esses gerentes a um monitoramento por parte desses
credores e investidores. E os gerentes não gostam desse processo.
Desse modo, somente caso os recursos internos não fossem suficientes para financiar
todos seus projetos de investimento, as empresas recorreriam ao endividamento de bancos
para cobrir suas necessidades, optando somente em último caso, pela emissão de novas ações.
O modelo do Pecking Order de Myers (1984) não defendia a emissão de ações, pois elas
envolviam maiores riscos para a empresa:
Advantages of debt over equity issues: If the firm does seek external funds, it is better
off issuing debt than equity securities. The general rule is “Issue safe securities
before risky ones (MYERS, 1984, p.14).
Estudo nessa mesma linha de Myers e Majluf (1984) sustentava que empresas mais
lucrativas possuem endividamento menor já que elas podem financiar mais facilmente seus
projetos com sua própria geração de caixa sem ter que se endividar ou emitir ações.
Um dos principais argumentos apontados nos estudos de Myers (1984) e Myers e
Majluf (1984) para as empresas realizarem a emissão de ações como última opção para
financiarem seus projetos referia-se aos riscos de subprecificação pelo mercado das novas
ações emitidas. Myers e Majluf (1984) apontam que a sub-precificação seria devida a menor
informação detida pelos investidores em relação aos executivos da empresa sobre os fluxos de
caixa gerados pela empresa (tanto atuais como os provenientes de novos investimentos).
Cientes de possuírem menor grau de informação, os investidores infeririam que os executivos
emitiriam ações apenas quando o preço dessas estivesse superavailiado e consequentemente o
preço das ações seria estabelecido pelo mercado com um desconto.
Como pontos fracos do modelo apontados por Myers (1984, p.576), destaca-se o fato
dele não informar qual seria o nível ótimo de endividamento. O endividamento muda
constantemente de acordo com desequilíbrios dos fluxos de caixa internos e as oportunidades
de investimento. Essas mudanças no nível de endividamento relacionam-se a maior
necessidade de recursos de terceiros e não permitem que se alcance uma estrutura ótima de
capital.
43
# Outras contribuições e financiamentos de curto e longo prazo
Estudos posteriores sobre estrutura de capital das empresas mostraram que existem
diferentes papéis relacionados aos financiamentos de curto e longo prazos. Essa literatura
enfatiza que o endividamento de curto prazo permite que os empréstimos sejam reprecificados
mais rapidamente para refletirem novas informações. Além disso, aumentam a eficncia
(uma vez que possibilitam que projetos não rentáveis seja finalizados antecipadamente). O
endividamento de modo geral possibilita aos gerentes e proprietários das empresas obterem
incentivos financeiros (despesas financeiras sobre empréstimos) reduzindo o lucro tributável.
Já o endividamento de longo prazo possibilita a empresa se proteger em momentos de
instabilidade da liquidação financeira e previne que credores oportunistas façam ameaças
relacionadas a uma posvel liquidação ou falência da empresa em peodos turbulentos
apenas com o propósito de se beneficiarem de seus lucros (BRIGHAM, WESTOM, 2004).
Titman e Wessels (1988) testaram algumas variáveis como composição dos ativos,
oportunidades de crescimento, diferenciação dos produtos, segmento industrial, tamanho,
volatilidade dos lucros entre outros para verificarem a influência desses sobre a estrutura de
capital das empresas. Os testes empíricos do trabalho desses autores mostraram que as
empresas norte-americanas pesquisadas que apresentavam maior grau de singularidade e
empresas que eram mais lucrativas tinham menor propensão ao endividamento tanto de curto
como de longo prazo. Além disso, empresas menores tiveram maior dificuldade em captar
endividamento de longo prazo. Estudos semelhantes só que sobre 165 empresas localizadas
no Brasil no período entre 1995 e 2000 (PEROBELLI, FAMÁ, 2002) e no México, Argentina
e Chile no período entre 1995 e 2000 (PEROBELLI, 2003) que buscaram verificar quais
seriam os fatores indutores do endividamento das empresas chegaram a resultados
semelhantes aos de Titman e Wessels (1988). O mesmo ocorre com estudo recente de Titman
(2001).
Harris e Raviv (1991) defendem que a fase comportamental poderia ser sub-dividida
em quatro grandes correntes (custos de agência, assimetria de informações, mercados de
insumo produto onde a estrutura de capital da empresa é escolhida como parte de sua
estratégia mercadológica ou em função de seus produtos e insumos e, por último, teorias de
controle corporativo).
44
Para Dermirguç-Kunt e Caprio (1997), que intensificaram estudos a cerca do tema nos
anos 1990, uma estrutura ótima de capital entre empréstimos de curto e longo prazo poderia
ser determinada por uma série de parâmetros que incluem a qualidade de crédito da empresa
(como seu credit rating), seu portfolio de futuros projetos de investimentos e oportunidades
de crescimento, a rentabilidade dos projetos, a habilidade de financiar estes projetos com
recursos próprios, o valor de liquidação (desinvestimento) de seus ativos fixos (tangíveis ou
intangíveis), a precisão e qualidade das informações financeiras e de mercado sobre a empresa
disponíveis, o tamanho e idade da empresa e por fim, a quantidade de competição bancária no
mercado onde a empresa atua. Estudos posteriores de Dermirguç-Kunt e Maksimovic (1998,
2001) também identificaram que empresas de maior porte e que possuem projetos de maior
retorno conseguem linhas de financiamento de longo prazo mais facilmente.
De modo geral, o quadro abaixo resume de forma simplista alguns dos principais
autores das três correntes de pensamento relacionadas à Teoria de Estrutura de Capital em
finanças. Optou-se por seguir o mesmo critério adotado por Famá e Grava (2000) aos
trabalhos de Miller (1977) e Deangelo e Marsulis (1980), classificando-os como fase de
incerteza dos fatos, mas já com características de transição. Isso porque os trabalhos desses
autores ainda tinham mais pontos em comum com o pensamento de Modigliani e Miller
(1958; 1963) do que com os trabalhos da corrente comportamental.
Tabela 6 – Estrutura de capital: fases e autores
Tradicionalista Incerteza dos Fatos Comportamental
Durand (1952) Modigliani e Miller (1958) Donaldson (1961)
Durand (1959) Modigliani e Miller (1963) Jensen e Meckling (1976)
Stiglitz (1969) Ross (1977)
Pappas e Haugen (1971) Leland e Pyle (1977)
Rubinstein (1973) Myers e Majluf (1984)
Miller (1977) Myers (1984)
Becker (1978) Jensen (1986)
Deangelo e Marsulis (1980) Titman e Wessels (1988)
Modigliani (1982) Stultz (1990)
Altman (1984) Harris, Raviv (1991)
Weiss (1990) Dermirguç-Kunt e Caprio (1997)
Titman (2001)
Dermirguç-Kunt e Maksimovik (2001)
45
Outros estudos mais recentes continuaram as discussões sobre a otimização das
estruturas de capital das empresas. Autores como Perobelli e Fa (2002), Brito e Silva
(2005), Zani (2005) e Moraes (2005) buscam identificar através de seus estudos empíricos,
quais os principais determinantes da estrutura de capital das empresas no Brasil. De um modo
geral, suas pesquisas baseadas em conceitos clássicos de estrutura de capitais como os
modelos do Pecking Order e Trade-off analisam em empresas brasileiras fatores como
tangibilidade dos ativos, lucratividade e tamanho comparados aos níveis de seus
endividamentos. Zani (2005) adiciona a esses fatores em sua pesquisa, por exemplo, que a
existência de colateral (garantia) nos empréstimos no Brasil é importante instrumento de
auxílio na concessão do crédito.
Na literatura internacional, as discussões mais recentes entre qual dos modelos –
Pecking Order ou Trade-off – seria melhor aplicável às empresas continuam com os estudos
de Fama e French (2000), Watson e Wilson (2002), Lemmon e Zender (2003), Frank e Goyal
(2005), Leary e Roberts (2006). A conclusão, de modo geral, mostra que os autores ainda não
chegaram a um concenso em relação ao tema de qual modelo melhor otimizaria a estrutura de
capitais das empresas. O tema continua controverso em finanças e mesmo modelos como os
do Pecking Order que aparentemente demonstram uma maior aplicabilidade à realidade das
empresas nem sempre podem ser confirmados, principalmente em países como o Brasil onde
a abertura do capital possivelmente traz benefícios em termos de expansão de crédito às
empresas que não possuem grande disponibilidade de linhas de financimento por parte das
instituições financeiras dependendo quase que exclusivamente do BNDES para
financiamentos de longo prazo.
2.1.5. Custo de Capital e WACC (ou CMPC)
Como já discutido, para a avaliação da adequada estrutura de capital de uma empresa,
deve-se levar em conta seu custo de capital, uma vez que o mesmo diverge significativamente
de tipo, tamanho, e localização geográfica de cada empresa. O custo de capital é importante
variável no processo de avaliação de ativos. Copeland e Weston (1992, p.439) entendem que,
a minimização do custo de capital através de uma combinação de recursos próprios e terceiros
faz com que as decisões de financiamento ajudem na otimização do valor das empresas.
46
O custo de capital é formado por dois elementos:
- custo de capital próprio
- custo de capital de terceiros
Assaf Neto (2002, p.115) afirma que o custo de capital é a média ponderada dos custos
dos diversos componentes de financiamento, incluindo dívida, patrimônio quido e títulos,
utilizados por uma empresa para financiar suas atividades financeiras. O custo médio
ponderado do capital (CMPC ou WACC, Weighted Average Cost of Capital) é obtido pelo
custo de cada variável de capital ponderado vezes sua respectiva participação na estrutura de
financiamento, sendo definido de modo simplificado pelo autor acima (2002, p.124) como:
CMPC = W1 x Ki + W2 x Ke
Equação1
onde,
W1, W2 = proporção de fundos de terceiros e próprios na estrutura de capital
Ki = custo do capital de terceiros
Ke = custo do capital próprio
Assaf Neto (1998) ainda define Ki e Ke. O custo de capital de terceiros (Ki) é uma
taxa obtida pela relação entre as despesas financeiras (juros) e os passivos onerosos geradores
destes encargos.
Já o custo de capital próprio (Ke) reflete o custo de oportunidade dos proprietários, ou
seja, a melhor taxa de retorno de risco semelhante a que o investidor renunciou para aplicar
seus recursos no capital das empresas. Essa taxa varia de acordo com o setor da economia
onde a empresa se insere – e o país onde se encontra – devendo oferecer maior rentabilidade
em função destas duas variáveis. Brigham, Gapenski e Ehrhardt (1999, p.379) descrevem o
modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) como forma de medição de Ke.
Como visto, a Teoria de Equilíbrio de Mercado que permite calcular o custo do capital
próprio só surgiu anos depois da Teoria de Estrutura de Capitais de Modiglini e Miller (1958).
O modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) começa a ser desenvolvidopor Sharpe em
1963, Linter em 1965 e Mossin 1966, sendo esses autores os precursores (KAYO, 2002). Pelo
CAPM, o custo de capital próprio (ou retorno esperado das ações) de uma empresa é formado
pela soma da taxa livre de risco e do prêmio pelo risco de se aplicar em determinado ativo ou
47
empresa. O prêmio pelo risco representa a diferença entre o retorno oferecido pelo mercado e
a taxa livre de risco, sendo o resultado multiplicado por um fator Beta de risco.
O custo de capital equivale aos retornos exigidos pelos credores da empresa
(instituições financeiras, debenturistas, etc) e por seus proprietários e significa o retorno que a
empresa deve auferir em seus investimentos para que a mesma remunere adequadamente as
fontes de financiamento. A fórmula do modelo é dada a seguir:
Ke definido como (modelo CAPM)
Ke = Krf + (Km – Krf) x B
Equação 2
onde,
Krf = taxa livre de risco
Km = taxa de retorno do mercado acionário
(Km – Krf) = Prêmio pelo risco de mercado
B = coeficiente Beta alavancado da empresa, que mede seu risco em relação ao
mercado.
A pesquisa realizada neste trabalho inclui uma seção de análise relativa a evolução do
Custo Médio Ponderado de Capital (CAPM) de cada uma das empresas estudadas. Nesse
cálculo, foi verificado qual o comportamento desse custo para cada uma das empresas após
essas terem optado pela abertura de seus capitais.
Brigham, Gapenski, Ehrhardt (1999) comentam, no entanto, que o modelo acima é
baseado em premissas irrealistas e não pode ser empiricamente verificado. Entre as premissas
questionadas estavam: i) todos os investidores podem emprestar ou tomar emprestado uma
quantidade ilimitada de recursos livres de risco; ii) todos os investidores tem estimativas
idênticas de valores esperados, variâncias e covariâncias de retornos entre todos os ativos; iii)
todos ativos são divisíveis e perfeitamente quidos; iv) não existem custos de transação nem
impostos, entre outras. No entanto, devido ao seu apelo gico, o CAPM é bastante utilizado
no processo de estimação de custo de capital.
As críticas de Brigham, Gapenski, Ehrhardt (1999) sobre o CAPM, no entanto,
baseiam-se em críticas inicialmente levantadas por Roll (1977) e Fama e French (1992; 2004).
48
Roll (1977) questionou se era possível conceitualmente testar o modelo CAPM. O
trabalho de Roll no entantoo desaprovou o CAPM mas mostrou que era impossível provar
que os investidores se comportam de acordo com as previsões do modelo.
Por outro lado, Fama e French (1992) desafiam com maior propriedade o modelo.
Através do exame do relacionamento dos betas e retornos de milhares deões nos últimos 50
anos nos Estados Unidos. De acordo com o CAPM, ações com betas altos deveriam prover
aos investidores retornos maiores do que ações de betas menores. No entanto, o estudo desses
autores revelou que não havia relacionamento entre betas históricos e retornos históricos das
ações.
Two easily measured variables, size and book-to-market equity, combine to capture
the cross-sectional variation in average stock returns associated with market beta,
size, leverage, book-to-market equity, and earnings-price ratios. Moreover, when the
tests allow for variation in beta that is unrelated to size, the relation between market
beta and average return is flat, even when beta is the only explanatory variable.
(FAMA, FRENCH, 1992, p. 427)
Em outro estudo mais tarde, os autores continuam a questionar o modelo.
The attraction of the CAPM is its powerfully simple logic and intuitively pleasing
predictions about how to measure risk and about the relation between expected return
and risk. Unfortunately, perhaps because of its simplicity, the empirical record of the
model is poor - poor enough to invalidate the way it is used in applications. The
model's empirical problems may reflect true failings. (It is, after all, just a model.)
But they may also be due to shortcomings of the empirical tests, most notably, poor
proxies for the market portfolio of invested wealth, which plays a central role in the
model's predictions. We argue, however, that if the market proxy problem invalidates
tests of the model, it also invalidates most applications, which typically borrow the
market proxies used in empirical tests. (FAMA, FRENCH, 2004, p. 25)
2.1.6. Modelos de estrutura de capital e aplicação ao presente estudo
A teoria da estrutura de capital sugere que cada empresa tem uma estrutura de capital
ótima que maximiza seu valor de mercado e minimiza seu custo de capital total (ROSS,
WESTERFIELD, JAFFE, 2002).
No entanto, pelas diversas correntes de pensamento sobre o tema anteriormente
discutidas, foi possível perceber que a estrutura ótima de capital é ainda assunto controverso
em finanças, e que mesmo os principais autores que escreveram sobre o assunto não
49
conseguiram estabelecer um modelo que obtivesse a estrutura ótima de capital de uma
empresa de modo satisfatório e que fosse sempre possível aplicá-lo a todas empresas.
Desse modo, os administradores devem aplicar julgamento qualitativo as análises
quantitativas que esses fazem para determinação da estrutura ótima de capital de suas
empresas. Segundo estudos de Titman, Fan e Twite (2003), Zani (2005) e Moraes (2005), o
que pode ser observado é que, em geral, os administradores concentram-se mais em
estabelecer um nível “prudente” de endividamento e alavancagem financeira do que com o
estabelecimento de um nível ótimo.
Estudaram-se anteriormente também, correntes de pensamento sobre estrutura de
capitais que assumem posturas contrárias a utilização de emissões de ações como forma de
captação de recursos para financiamento de projetos pelas empresas. Nessa linha, destacam-se
os modelos de Sinalização (ou Informações Assimétricas) e, principalmente, o do Pecking
Order.
No entanto, questiona-se nesse trabalho se esses modelos são válidos sempre. O caso
do Brasil é um exemplo de um ambiente macroeconômico onde, os custos do capital próprio
são relativamente altos e mais altos ainda são os custos de endividamento de terceiros. Nesse
contexto, não seria a captação de recursos através da emissão de ações o instrumento mais
barato e apropriado para o financiamento de projetos? A discussão sobre crédito,
financiamento de longo prazo e abertura de capital no Brasil ocorre a seguir.
2.2. CRÉDITO, FINANCIAMENTOS DE LONGO PRAZO E ABERTURA
DE CAPITAL
2.2.1. Crédito e financiamento em longo prazo
As diversas tentativas frustradas de controle à inflação na década de 1980 e início
de 1990 (Planos econômicos Cruzado, Cruzado Novo, Bresser, Collor, etc) o advento do
Plano Real durante o governo Itamar Franco pelo então ministro da Fazenda Fernando
Henrique Cardoso iniciou com sucesso o processo de estabilização econômica em 1994 o qual
perdura até os dias atuais.
50
Se por um lado, segundo Goldfajn, Hennings e Mori (2003), as freqüentes
intervenções pelo Banco Central do Brasil em instituições financeiras com problemas de
solvência logo no início do período de estabilização econômica permitiram que a economia
brasileira superasse a situação de turbulência e altas taxas de inflação vivenciadas, por outro
lado, o não controle de déficits fiscais governamentais acabou por determinar uma política
monetária extremamente restritiva. A segunda metade da década de 1990 foi caracterizada por
taxas de juros básicas em torno de 20% aa (NAKANE, MUINHOS, 2006), o que
conseqüentemente acarretou inadimplência no mercado e trouxe as taxas de juros bancárias
(spreads) para altos níveis. As taxas reais de juros praticadas pelo Brasil nesse período
perderam para Rússia , conforme tabela abaixo.
51
Tabela 7 - Taxas Reais de Juros
País/ Peodo 1990-94 (%) 1995-99 (%) 2000-2004 (%)
Desenvolvidos: G7
- Alemanha 4.3 2.1 2.3
- Canadá 4.1 2.9 2.8
- EUA 2.5 3.0 2.5
- França 6.1 2.8 -
- Itália 5.8 3.8 1.8
- Japão 2.8 0.1 0.9
- Reino Unido 4.3 3.2 3.5
Países Emergentes
- Argentina 31.5 7.1 9.5
- Brasil 13.1 20.5 9.3
- Colômbia - 6.2 0.9
- México 6.6 5.5 4.5
- Uruguai 3.4 3.2 -
- África do Suk 1.7 7.1 3.7
- Índia 4.7 1.7 -
- Polônia 7.9 5.5 7.4
- Russia - 23.9 3.3
Fonte: Nakane, Muinhos, 2006
A conseqüência desses fatores (altas taxas de juros e altos spreads) é a baixa eficiência
do sistema quanto à concessão de crédito, que deveria ser a principal atividade dos
intermediários financeiros. Silva (2005) aponta que, apesar do sistema brasileiro ser grande
relativamente a de outros países emergentes em termos de ativos totais, o volume de créditos
concedidos ainda é baixo, exemplificando que em 2000 enquanto o percentual de operações
de crédito em relão ao PIB era de 70% no Chile, 45% nos EUA e 104% na zona do Euro,
no Brasil era de apenas 25%. Para que o crescimento da economia brasileira seja sustentável é
necessário, dentre outros fatores, uma elevação da relação crédito/ PIB. Em outros países
emergentes como Coréia do Sul e Malásia, essa relação já ultrapassa os 100% (FAHRI, 2003).
É válido salientar que, houve melhorias deste percentual nos últimos anos mas que o
mesmo ainda continua abaixo a média internacional que chega a ser de 80% segundo dados da
Associão Nacional de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento de Maio de
2006. Ao final de 2005, as operações de crédito do sistema financeiro atingiram R$ 607
52
bilhões equivalendo a 31% do PIB brasileiro, segundo relatório de “Potica Monetária e
Operações de Crédito” divulgado pelo Banco Central do Brasil em Março de 2006.
Entre os fatores que alavancaram esse crescimento estão a expansão do emprego nos
últimos anos, a recuperação da renda e o crescimento – ainda que em níveis modestos – do
PIB que promoveu o aumento da confiança dos consumidores e dos empresários em novos
investimentos. Esse crescimento em 2005, no entanto, aconteceu muito mais através do
aumento de crédito ao consumidor (+35%) do que no segmento de pessoa jurídica (+10%). As
prováveis razões para a fraca expansão do crédito e principalmente de financiamentos a
longo prazo no segmento de pessoa jurídica serão mais tarde discutidas neste trabalho e nos
resultados pesquisa realizada.
Gráfico 2 - Crédito/ PIB - Brasil
Relação de crédito/ PIB - Brasil
24%
26%
27%
31%
33%
80%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
200
2
2003
2004
2005
2
0
06
*
Média I
n
t
e
r
n
acion
a
l 200 5
* Projão
Fonte: Febraban (Federação Brasileira dos Bancos, Mar.2006)
# Conceitos de Crédito
Os recursos disponibilizados por terceiros ou crédito constituem o sacrifício de alguém
em não consumir algo no presente para que outros o façam. Para que isso aconteça, os
indiduos que abrem mão de consumir hoje cobram um custo pelos recursos disponibilizados
ao longo do tempo para terceiros. Assim Securato (2002, p.17) menciona que toda operação
53
de crédito é sempre uma forma de empréstimo e terá um custo na forma de juros. Schrickel
(2000) define que operação de crédito
é todo ato de vontade ou disposição de alguém destacar ou ceder temporariamente
parte de seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte à
sua posse integralmente após decorrer o tempo estipulado. (SCHRICKEL, 2000,
p.25)
Securato (2002, p.18) define crédito como sendo “uma operação de empréstimo que
sempre pode ser considerada dinheiro sobre a qual incide uma remuneração denominada
juros”. As operações de crédito são entendidas também como empréstimos já que os recursos
estão imediatamente disponíveis ao tomador, realizando este último uma operação à vista e
assumindo o compromisso de quitar a operação contrda pelo prazo e juros contratados. Já
para Santos (2003, p.15) “é a troca de um valor presente por uma promessa de reembolso
futuro, não necessariamente certa em razão do fator risco”.
Para Silva (2005), a oferta de crédito é função de 3 fatores sendo h uma função linear:
Crédito = h(taxas de retorno; requerimentos de capital; ajuste da oferta à
demanda)
Equação 3
As taxas de retorno definem a rentabilidade da operação, considerando inclusive seu
custo de oportunidade. O banco deve optar pela maximização de seus lucros através da
alocação de seus recursos tanto em operações de crédito como em títulos públicos. A primeira
oferece maiores retornos mas também maiores riscos e menor liquidez.
Os requerimentos de capital por sua vez, determinam os custos de regulão. O
Acordo da Basiléia em 1988 foi o marco na definição de requerimentos de capital aos quais os
bancos estão sujeitos e que visava a estabilidade do sistema financeiro internacional e à
redução de desigualdades em termos de competitividade entre bancos de diferentes países. O
Acordo previu que os bancos deveriam deter níveis de capital compatíveis com o risco dos
ativos em que aplicam e uma folga deste capital absorveria perdas inesperadas, minimizando
a probabilidade de quebra de um banco. O Acordo implementou orequerimento de capital
baseado no risco” e foi implementado no Brasil pela Resolução n.2099/94 do Conselho
Monetário Nacional. Por este fator de requerimentos de capital, um banco cujo capital se
aproxime do nível mínimo dado por este requerimento está sujeito a custos crescentes, ou
seja, pode ser pressionado por fiscalizadores (Banco Central) a restrições de suas atividades e
54
aumento de provies de crédito (SILVA, 2005). Dessa forma, eventuais aumentos nas taxas
de retorno das operações de crédito que poderiam acarretar no aumento da oferta de crédito
seriam atenuados pelo aumento dos custos de regulação e o resultado seria um menor
aumento desta oferta de crédito.
Para autores como Saunders e Schumacher bem como para Gambacorta e Mistrulli
(apud SILVA, 2005), existe uma relação positiva entre os índices de capitalização e a oferta
de crédito. Para esses quatro autores, os bancos freqüentemente escolhem manter níveis de
capital maiores que os necessários como prevenção a choques em seus patrimônios gerados
por riscos de inadimpncia. Assim, de maneira ótima se absteriam em conceder novos
financiamentos visando o risco de apresentarem redução do capital no futuro.
Já o ajuste da oferta à demanda associa-se ao custo gerado por uma modificação na
oferta de crédito não decorrente de uma alteração na demanda. Segundo Sharpe (1990), como
cada banco possui um melhor conhecimento de seus clientes do que outras instituições ele é
capaz de oferecer a esse cliente uma melhor taxa de empréstimo estabelecendo com este
contratos implícitos onde o banco sempre oferece a menor taxa a seu cliente que por sua vez
tomaria preferencialmente empréstimos com esse banco. Uma quebra deste contrato
acarretaria ao banco redução de lucros através de perda de rentabilidade com este cliente e da
dificuldade de conseguir novos clientes. Assim se este opte em oferecer crédito inferior à
demanda, estaria quebrando esse acordo e prejudicando relacionamento com clientes,
perdendo vantagem de custo e rentabilidade.
No outro extremo, caso o banco busque expandir sua carteira de crédito quando a
demanda é baixa, estaria ele enfrentando novos custos uma vez que teria de baixar a qualidade
de seus tomadores e aumentando riscos de inadimplência. Neste caso, segundo Costa (2003),
o custo de ajuste da oferta à demanda é mínimo quando a oferta de crédito cresce em taxa
idêntica à demanda (empréstimos a maior decorrentes de uma maior demanda não trazem
custos mas alterações na oferta de crédito sim).
Securato (2002, p. 25) enumera as operações de crédito abaixo como sendo as
principais disponibilizadas pelas instituições financeiras ao mercado brasileiro. A
classificação delas entre curto, médio e longo prazos é deste estudo:
- curto prazo (<1 ano): desconto de duplicatas, hot money
55
- médio prazo (entre 1 ano e 2): capital de giro (em alguns casos pode ser ainda maior
que 2 anos), conta garantida, vendor, Adiantamento de Contratos de Câmbio e de
Exportação (ACCs e ACEs), Resolão 63 (agora 2770), Lei 4.131.
- longo prazo (maior que 2 anos): export notes, Finame (BNDES), Resolução 63
(agora 2770),
Ainda poderiam ser destacadas operações de ECA Financing (Export Credit Agencies
ou Agências de Crédito a Exportões como Ex-Im-Bank dos EUA, Coface da França, JBIC
do Japão entre outros) que fornecem linhas de financiamento de longo prazo até 10 anos e
leasing. Em momentos de extrema liquidez do mercado como verificado em 2006, linhas de
exportação e de importação podem também chegar a prazos de 5 a 7 anos. Além disso,
operações do mercado de capitais como a abertura do capital, emissões de notas promisrias,
dentures, Bonds entre outras também consistem fontes de recursos de longo prazo.
Brigham e Westom (2004, p.785) definem empréstimos a prazo – ou financiamentos
de longo prazo – como sendo “empréstimos obtidos em um banco ou companhia de seguros
com período de vencimento superior a um ano”. As maiorias desses empréstimos a prazo são
amortizados, ou seja, costumam ser liquidados no decorrer da vida do empréstimos. Existem
também empréstimos cuja amortização se dá uma única vez (bullet) ao final dos contratos.
Tais empréstimos, no entanto, são preferencialmente evitados pelos bancos pois concentram
grande risco de crédito uma vez que a empresa tomadora pode ter outros vencimentos
coincidindo com o ano desta amortização e não ser capaz de honrar todos eles.
Apesar dos dois autores acima mencionarem que a vida de empréstimos de longo
prazo varia de 2 a 30 anos nos EUA, no Brasil tais financiamentos ao setor privado – ou
empréstimos externos para empresas brasileiras -, mesmo em momentos de intensa liquidez
como o vivenciado em 2006 costumam ter prazo máximo de 7 a 10 anos para empresas de
primeira linha, sendo os mais comuns até 5 anos. Brigham, Gapenski e Ehrhardt (1999, p.542)
citam como principais instrumentos de financiamento a longo prazo empréstimos a prazo com
taxas de juros fixas ou variáveis (capital de giro, exportação, importação, sindicalizações, etc),
tulos (ou bonds: Eurobonds, Commercial Papers, High Yield Bonds) e debêntures.
56
Brigham e Westom (2004, p.786) defendem que os empréstimos obtidos junto a
terceiros no Mercado Financeiro possuem três grandes vantagens sobre a oferta pública de
ações:
1) Rapidez
2) Flexibilidade para eventuais mudanças de valor, taxas de juros, etc
3) baixos custos de emissão, uma vez queo negociados diretamente entre quem
empresta e toma emprestado, reduzindo documentação necessária e evitando
processos de registro pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
Tais aspectos, no entanto, não refletem a realidade da maioria das empresas locais. A
qualidade de informações por essas disponibilizadas é bastante deficitária o que já de início
inibe que empréstimos a prazo maiores que um ano sejam facilmente disponibilizados a
grande maioria das empresas brasileiras (PEIXE, 2003). Emissões de bonds ou debêntures
também não estão disponíveis a empresas de capital fechado do tipo Ltda (responsabilidade
limitada), exceções feitas a subsidiárias de multinacionais que por causa de suas matrizes
internacionais conseguem acessar alguns mercados de títulos (mas não debêntures locais) ou
SAs (Sociedades Anônimas) de capital fechado (que neste caso conseguem eventualmente
acessar o mercado de debêntures local).
Dessa forma, as linhas de crédito do BNDES (incluem Finame) são ainda hoje a
grande fonte de financiamento de longo prazo (PEIXE, 2003). A tabela a seguir mostra a
diferença entre as taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras (Taxa Selic é a
referência da taxa básica de juros) e a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) utilizada nas
operações de BNDES. Sobre a TJLP, normalmente existe um spread sobre a operação de
0.5% a 5% dividido entre o BNDES e o banco originador da operação. Mesmo neste caso, o
custo das operações com recursos fornecidos pelo BNDES ainda são bem abaixo ao dos
empréstimos bancários baseados na Selic ou CDI.
57
Tabela 8 - Taxas de Juros Selic x TJLP
Ano Selic (% - final) TJLP (% - final)
2001 18.1% 10.0%
2002 25.0% 10.0%
2003 16.5% 11.0%
2004 17.8% 9.8%
2005 18.0% 9.8%
2006 (até Junho) 14.8% 8.2%
Fontes: Banco BNP Paribas SA, 2006; BNDES, 2006
2.2.2. Abertura de capital como instrumento atrativo à captação de
recursos no Brasil
Como visto anteriormente, estudos de Leland e Pyle (1977), Ross (1977), Myers
(1984), Myers e Majluf (1984) entre outros, em relação aos modelos de Assimetria de
Informações e Pecking Order defendem a premissa de que o endividamento de terceiros
advindo de bancos e instituições financeiras é mais eficiente do que a emissão de ações.
Assim, os banqueiros teriam maior facilidade em monitorar as atividades dos administradores
das empresas para as quais eles emprestam do que investidores que compram ações. Assim,
empresas com bons projetos futuros tomariam dívida, enquanto empresas com projetos
futuros ruins (de baixo valor presente quido) prefeririam emitir ações.
No entanto, como visto, em um mercado de crédito restrito como o brasileiro e de
altos custos do capital próprio e de terceiros, a abertura do capital por empresas locais poderia
consistir um importante instrumento de captação de recursos baratos e em volumes maiores.
Dessa forma, o que é defendido aqui é que esse instrumento não pode ser descartado
facilmente no mercado brasileiro como sugere o modelo do Pecking Order, teoricamente
aplicável a quaisquer mercados.
A pesquisa discutida mais adiante mostra que empresas brasileiras que recentemente
adotaram estratégias claras de internacionalização de atividades para outros países teriam
limitado consideravelmente suas fontes de financiamento e conseqüentemente seus
crescimentos e planos de expansão caso não tivessem aberto o capital em Bolsa de Valores
recentemente. Entre essas empresas, destacam-se Gol Transportes Aéreos (companhia aérea
de baixo custo), Renar (comércio de maçãs), Natura (cosméticos) e Localiza (aluguéis de
veículos).
58
2.2.2.1. Abertura de capital deve ser considerada pelas empresas brasileiras?
Leal (2001), Carvalho (2003), Peixe (2003), Barbosa e Góes (2004) expandem a
discussão teórica em relação à emissão de ações como importante forma de financiamento dos
projetos de investimentos das empresas e desenvolveram estudos sobre a dificuldade da
abertura de capital das empresas brasileiras.
Entre esses desafios que ainda inibem uma maior quantidade de aberturas de capital,
os dois primeiros autores, Leal (2001) e Carvalho (2003), citam a falta de proteção aos
acionistas minoritários e os custos indiretos de emissão de ações além do alto custo do capital
próprio das empresas locais (um prêmio de risco de mercado é adicionado ao custo de
endividamento da empresa. Assim, o custo de capital alto leva a menores preços de mercado
de suas ações, ou seja, menor o valor de mercado da empresa). Além disso, a aversão ao risco
do empresariado brasileiro típico expressado através da empresa familiar fechada bem como a
concorrência desigual com títulos de renda fixa do próprio governo come o cenário.
No entanto, um dos principais riscos listados por Leal (2001) e Carvalho (2003)
pode ser contra-argumentado. A falta de proteção ao acionista minoritário que levava esses
investidores a depreciarem o preço das ações em emissões primárias aumentando o retorno
exigido pelas ações e até eventualmente inibindo novas emissões já pode ser amenizado em
parte com o advento do Novo Mercado de ações criado na Bovespa em Dezembro de 2001.
As empresas que desse mercado fazem parte só negociam ações ordinárias e possuem
altíssimo grau de comprometimento com investidores em termos de transparência em relação
a suas informações financeiras e operacionais. A adoção de tal postura objetiva justamente
eliminar esse tipo risco.
Leal (2001) cita ainda que os retornos iniciais das emises públicas para abertura de
capital no Brasil são ainda muito elevados, com o retorno mediano entre o pro de emiso e
a cotação de fechamento da ação no primeiro dia de pregão sendo superior a 35% em um dia.
Ou seja, o mercado ainda exige um prêmio para adquirir asões no momento de sua emissão
inicial, no momento do underwriting. Quem recebe esse retorno não é a empresa emissora e
sim os investidores que adquiriram as ações ao preço de emissão no mercado primário e as
revenderam na Bolsa no primeiro dia de negócios.
59
Peixe (2003) acredita que o alto nível de exigências e normas às empresas que se
interessam em abrir o capital associado ao fato do mercado de ações ser ainda incipiente no
Brasil o que significa que as ações que estão sendo hoje emitidas podem não possuir todos os
dias liquidez para serem negociadas em Bolsa de Valores constitui um outro obstáculo.
Barbosa e Góes (2004) complementam essa análise lembrando que a falta de confiança e a
não compreensão plena do funcionamento da Bolsa de Valores por grande parte do
empresariado brasileiro é outro fator que inibe que um maior número de empresas locais
promova uma maior expansão do mercado de ações.
Outros autores como Charchat (2000) e Burlingham (2006), em uma situação mais
extrema, defendem que a abertura do capital não deve ser utilizada. Charchat (2000) realizou
um estudo entre 1986-1996 sobre o comportamento de 24 empresas que abriram o capital na
Bovespa. Da amostra por ele pesquisada, 25% das empresas eram do setor de informática,
18% de agroindústria, 13% têxtil e o restante de diversos setores. Ao final de 10 anos, apenas
8 empresas mantinham o capital aberto.
O autor cita a ineficiência do mercado de capitais brasileiro diante de informações
assimétricas entre as empresas emissoras e investidores, entre os underwriters e investidores e
entre os participantes do mercado primário de emissões e os que adquirem ações somente no
mercado secundário como alguns dos fatores que prejudicaram um maior desenvolvimento
deste mercado. Para ele, projeções de crescimento excessivamente otimistas, desrespeito ao
acionista minoritário, não divulgação de informações relevantes ao mercado sobre passivos
ocultos na empresa além da concentração do mercado primário de emissão nas mãos de
poucos bancos de investimento come outros dos motivos para que as emissões das ações
não sejam vantajosas.
Burlingham (2006) em um estudo recente com 14 empresas norte-americanas de
sucesso de capital fechado defende que empresas fechadas que priorizam outros objetivos que
não seu crescimento e expansão de atividades recebem em troca controle e tempo e que a
combinação destes dois itens proporciona a estas empresas maior liberdade em suas decisões.
Estas empresas recusaram-se a buscar dinheiro externo para financiar sua ampliação e assim
escapam de dar satisfação a investidores compromissados apenas com resultados financeiros.
O autor menciona que as 14 empresas estudadas geram lucros satisfatórios e contam com alto
grau de satisfação e lealdade de empregados.
60
Em complementação a algumas das principais dificuldades enunciadas anteriormente
em relação à abertura de capital (custo de capital, prejuízo de minoritários e custos de
underwriting) poderíamos ainda acrescentar:
! A maior lentidão no processo de tomada de decisão
! O maior grau de transparência de informações beneficia competidores
! Os custos envolvidos na abertura e manutenção da empresa listada no mercado
! Pressão de investidores por resultados no curto prazo
Assim, a primeira grande transformação em uma empresa fechada é a multiplicação
dos donos. Uma empresa fechada atende aos princípios e estratégias de seus fundadores. O
poder de tomada de decisões de maneira rápida está inegavelmente entre uma das grandes
vantagens de ser uma empresa fechada. Isso porque o fundador (ou bloco de fundadores) não
precisa aprovar sua estratégia com ninguém mais da companhia. Ele simplesmente a adota e
implementa não tendo a necessidade de aprovar a mesma perante outros acionistas da
empresa.
Outra desvantagem em se abrir o capital que poderia ser levantada é que os
concorrentes passam a ter muito mais acesso a informações da empresa que promoveu tal
abertura e, conseqüentemente, esta pode perder parte de sua vantagem competitiva.
A empresa Gol Transportes Aéreos, por exemplo, perdeu grande parte de sua
vantagem competitiva em relação à Tam desde que abriu seu capital em 2004 e começou a
expor em suas Demonstrações Contábeis de onde vinham suas vantagens competitivas em
termos de custos. Entre 2004 e 2006, a diferença de custos entre as duas empresas caiu de
30% para menos de 15%.
Por fim, os custos em um ano para que uma empresa seja mantida aberta podem
superar USD 1 milhão (custos com auditores, um departamento de Relações com
Investidores, divulgações trimestrais demeros financeiros, etc). Este ponto associado a uma
maior pressão dos investidores por resultados no curto prazo que pode afetar de modo
negativo as estratégias da empresa no longo prazo são outras duas desvantagens para que seja
promovida uma abertura do capital (Leal, 2001).
61
# Visão do presente estudo
O pensamento neste trabalho defendido, no entanto, questiona a aplicabilidade em
todas as situações dos modelos de Sinalização e, principalmente, Pecking Order em relação à
não emissão de ações como forma de financiar projetos futuros, estando em linha com o
pensamento de outros autores que acreditam que a abertura do capital pode sim trazer
benefícios às empresas locais. Entre alguns dos estudos estão os de Diamond (1991), Cantilo
e Wright (2000), Dermirguç-Kunt e Kunt (2001), Barcelos (2002), Baker e Wurgler (2002),
Procianoy e Schnorrenberger (2004), Eid Junior e Matsuo (2004) e Brito e Lima (2005).
O benefício mais visível estaria relacionado ao aumento do volume do crédito e
redução dos custos de endividamento de modo geral. No entanto, outros benefícios foram
apontados pelas empresas pesquisadas e estão na seção III deste estudo
Diamond (1991) defende que não há uma relação entre o nível de qualidade da
empresa e sua fonte de financiamento (conforme defendido por Leland e Pyle (1977) em seu
estudo sobre Sinalização). Assim, empresas de maior qualidade tendem a acesar os mercados
de ações (Bolsas de Valores), uma vez que esses mercados possibilitam a essas empresas uma
série de vantagens em paralelo (apontadas mais adiante), enquanto empresas de média
qualidade tendem a buscar recursos junto a bancos para financiarem seus projetos. O autor
ainda cita que, em períodos de altas taxas de juros ou de baixa rentabilidade futura, empresas
com ratings ruins de agência externas (exemplo: Standard & Poors, Moody´s, Ficth, etc)
tendem a tomar empréstimos de bancos.
Cantilo e Wright (2000) desenvolvendo estudo na mesma linha examinaram os
determinantes da estrutura de capital em relação ao endividamento de terceiros versus
emissão de ações para o financiamento de projetos. Os resultados da pesquisa desses autores
adicionam um outro ponto, o de que empresas não só de maior qualidade mas também de
maior tamanho tem preferência por emitirem ações como forma de captação de recursos. Os
autores defendem que bancos e outros credores exercem influência e pressão muito maiores
sobre os administradores do que os investidores que detêm ações. Dessa forma,
administradores que possuem baixa participação na empresa onde trabalham evitarão esse
conflito através da obtenção de recursos pela emissão de ações. Por outro lado,
administradores que detenham a maior parte do controle acionário da empresa estarão mais
62
propensos a obter endividamento banrio, pois não teo de dividir os lucros dos projetos
com outros “sócios”, remunerando os credores a uma taxa fixa.
Outro estudo com conclusões semelhantes foi o de Procianoy e Schnorrenberger
(2004). Em seu estudo empírico com empresas brasileiras listadas na Bovespa entre 1995 a
2000, os autores concluíram que existe uma influência estatisticamente significativa da
estrutura de controle acionário sobre as decisões de estrutura de capital bem como a variáveis
como lucratividade, tamanho, entre outros, confirmando os resultados de Cantilo e Wright.
Dermirguç-Kunt e Kunt (2001) defendem que a abertura de capital é uma das
ferramentas mais importantes para obtenção de recursos no longo prazo a custos competitivos
em mercados emergentes. Os autores defendem que através dos preços das ações das
empresas que possuem o capital listado em Bolsa de Valores, os investidores e instituições
financeiras conseguem ter maior percepção dos riscos e vantagens de um determinado
negócio e indústria, fazendo com que empresas listadas possuam menor risco em relação às
empresas fechadas.
Dessa forma, uma percepção menor do risco provém a estas empresas uma maior
variedade de tipos e prazos de financiamentos bem como spreads mais baixos do que a
empresas onde as informações não são claras ou transparentes. Em seu estudo analisando os
índices de empresas de dívida/ patrimônio líquido em 30 países diferentes, os autores
concluíram que a existência de Mercados de Capitais ativos aumentam significativamente a
habilidade das empresas em tomarem empréstimos junto a terceiros especialmente em países
emergentes. E estes empréstimos estão na sua maioria alocados no longo prazo.
Baker e Wurgler (2002) compartilham em parte do mesmo pensamento dos autores
acima, mas adicionam o fator “momento de mercado” como condicionante para a empresa
acessar o Mercado de Capitais. Para esses autores, a escolha do momento correto de mercado
tem papel fundamental na estrutura de capitais das empresas. As empresas tenderiam a emitir
ações em momentos de alta nos mercados e a buscar endividamento junto a terceiros em
momentos desfavoráveis. Algumas das empresas analisadas na pesquisa ratificam esse ponto.
Estudo que condiz com esse pensamento de “momento de mercadofoi também
desenvolvido por Eid Junior e Matsuo (2004). Esses autores entendem que as emissões de
63
ações constituem importante alternativa para captação de recursos pelas empresas brasileiras,
mas citam que as condições e contexto macroeconômico no momento em que a oferta pública
é realizada podem causar impacto no sucesso de tal colocação. Em seu estudo sobre emissões
primárias no mercado local entre 1994 e 2003, os autores concluem que a estabilização
econômica após a implementação do Plano Real em 1994 permitiu que as empresas se
planejassem em longo prazo e conseqüentemente captassem recursos para financiarem seus
investimentos.
Barcelos (2002) verificou ainda que as empresas de capital aberto possuem maior
acesso ao crédito devido a maior transparência de informações. Tamanho e tangibilidade dos
ativos que estas empresas possuem também auxiliam no maior acesso ao crédito. Estudo de
Brito e Lima (2005) sobre empresas brasileiras que aborda também o aspecto tangibilidade
dos ativos conclui também que empresas com essas características conseguem mais
facilmente captar recursos de longo prazo, acessando também com maior facilidade o
mercado de ações.
De modo geral, o principal motivo defendido pelos autores como pontos favoráveis a
abertura de capital referem-se tanto ao acesso a recursos mais abundantes e baratos
relacionados à emissão como a recursos do mercado financeiro em geral. As instituições
financeiras passam a considerar a empresa aberta de forma diferenciada em relação às de
capital fechado davido ao maior acesso às informações. O nível da qualidade dessas
informações prestadas também é mais alto. Conseqüentemente, o acesso a crédito também é
ampliado. No entanto, como mencionado, outros benefícios relevantes foram apontados
pelas empresas pesquisadas e estão na seção III do trabalho.
64
2.3. RESTRIÇÕES DE CRÉDITO AO SETOR PRIVADO BRASILEIRO
EM RELAÇÃO A OUTROS PAÍSES EMERGENTES
2.3.1. Introdução ao Sistema Financeiro Nacional
O Sistema Financeiro ou Mercado Financeiro compreende o conjunto de instituições e
instrumentos que possibilitam o fluxo de recursos entre ofertadores e tomadores, poupadores e
investidores, criando-se condições que dão liquidez ao mercado (SIQUEIRA LIMA, 1999).
Todas essas instituições formam, portanto, um sistema. Desse modo, mesmo no estudo do
Mercado Financeiro, reaparece a iia de sistemas, constantemente presente nas disciplinas de
Administração de Empresas. Ainda segundo Siqueira Lima (1999, p.3), o Mercado Financeiro
é onde o dinheiro circula, é intermediado, oferecido e procurado por meio de canais de
comunicação que se entrelaçam na formação de sistemas”. Vejamos rapidamente do que trata
a Teoria dos Sistemas para mais tarde abordarmos a estrutura de todo o Mercado Financeiro.
A Teoria dos Sistemas surgiu após o final da Segunda Guerra Mundial em 1950 com
os trabalhos de Ludwig Von Bertalanffy onde foi divulgado o conceito de sistemas abertos em
diversas disciplinas. Em Teoria das Organizações, alguns autores vinham desenvolvendo
trabalhos relacionados a essa matéria. Entre esses autores destacam-se Burns e Stalker, Emery
e Trist, Wodward e Lawrence e Lorsh. Todos eles trabalhavam com o pressuposto de que a
organização é um sistema aberto que deve se adaptar ao seu meio ambiente (MOTTA,
VASCONCELOS, 2002). O foco deste estudo, no entanto, não explorará aspectos dessa
Teoria.
O que se deve manter em mente é que autoridades monetárias, autoridades de apoio e
instituições financeiras interagem entre si constantemente e todas fazem parte de um amplo
sistema denominado Mercado Financeiro Nacional. Siqueira Lima (1999) bem como Brigham
e Weston (2004, p.93) dividem o Mercado Financeiro em duas categorias:
- Mercado de Crédito ou Monetário, que envolve principalmente instituições que
possibilitem transações em geral de curto, médio e longo prazos, funcionando sob
normas contratuais que estabelecem o custo, prazo, valor e garantias eventuais das
operações.
65
- Mercado de Capitais, que também é composto por instituições e instrumentos
destinados a viabilizar operações de médio e longo prazo (títulos de dívida bem
como ações).
# O Sistema: instituições financeiras e os mercados de crédito e capitais.
Por instituições financeiras entendem-se as sociedades de crédito, financiamento e
investimento, sociedades distribuidoras, sociedades corretoras, agentes autônomos de
investimento, sociedades arrendadoras (leasing), sociedades de investimento, bancos
comerciais, bancos de investimento, bem como bancos múltiplos. Ao final de 2005, essas
instituições totalizavam 636 entidades no Brasil de acordo com o Banco Central do Brasil.
As instituições financeiras participam ativamente do mercado de crédito e do mercado
de capitais, tanto como provedoras como tomadoras de recursos. Os indivíduos, empresas ou
governos que demandam ou provém fundos podem ser nacionais ou estrangeiros. (PEIXE,
2003)
No mercado de crédito, os bancos centralizam a oferta e procura de capitais e
correspondem a um dos componentes da intermediação entre tomadores e investidores.
(PEIXE, 2003). No entanto, ele não é um simples intermediador pois assume os riscos de
crédito envolvidos no sistema. Dessa forma, assumindo-se o risco, o banco ou instituição
financeira cobra uma taxa de juros do tomador superior à taxa contratada na captação, a fim
de se precaver contra o risco envolvido do tomador não repagá-lo. A diferença entre o custo
de captação e o valor do empréstimo aos tomadores representa o spread bancário, ou seja, da
remuneração exigida pela instituição financeira para que ela assuma determinados riscos em
uma operação de crédito.
Securato (2002, p. 327) menciona que as operações no mercado de crédito consistem
basicamente na troca de recursos monetários entre os poupadores (agentes econômicos
superavitários) e os tomadores (agentes econômicos deficitários) através de um banco
intermediando.
66
Figura 3 – Mercado de Crédito
Fonte: Siqueira Lima, 1999, p.4
Por outro lado, no mercado de capitais, as operações ocorrem diretamente entre
poupadores e empresas tomadoras de recursos. A espinha dorsal deste mercado é formada por
Bolsas de Valores e assim, as instituições financeiras não atuam como parte nas operações
mas sim, como intermediárias das mesmas. Este mercado é, portanto, caracterizado pela não
intermediação financeira abrangendo operações com valores mobiliários como ações,
debêntures, bônus de subscrição etc. As operações nestes mercados ocorrem em Bolsas e
mercados organizados, tendo como principais participantes os investidores institucionais e
empresas (SIQUEIRA LIMA, 1999).
Figura 4 – Mercado de Capitais
Fonte: Siqueira Lima, 1999, p.5
Em um mercado de capitais, embora transferências diretas de recursos entre
investidores e tomadores existam, é geralmente mais eficiente para uma empresa que está
tomando os recursos utilizar os serviços de um banco de investimento ou banco comercial
para vender seus papéis no mercado. O papel econômico mais importante destas instituições é
o de justamente criar liquidez nestes mercados (BREALEY, MYERS, 2003).
Independentemente do mercado (de crédito ou de capitais), o capital em uma
economia acaba sendo alocado em função do preço. A taxa de juros representa o preço pago
pelo tomador de recursos em um mercado de crédito enquanto que, em um mercado de
Investidor
Instituição
Financeira
Tomador
$
$ +
j
uro
Investidor
Instituição
Financeira
Tomador
$ $
$ +
j
uro$ +
j
uro
67
capitais, o que os investidores esperam é receber dividendos ou ter ganhos de capitais na
compra de determinados títulos (ações, debêntures, etc) do tomador. Neste segundo caso, a
remuneração dos investidores é incerta e volátil, podendo inclusive representar perdas do
principal investido mas como envolve-se um maior risco, as possibilidades de retorno também
são maiores do que a de uma operação fixa em um mercado de crédito.
# O Mercado de Capitais: mercado primário x secundário x intermediação
A grande diversidade entre poupadores e investidores em uma economia é dividida em
4 unidades econômicas: 1) famílias e sociedades que podem ser do tipo de Responsabilidade
Limitada; 2) instituições sem fim lucrativos; 3) Corporates (Sociedades Anônimas ou SAs);
4) Instituições do Governo. (SIQUEIRA LIMA, 1999). Estas são subseqüentemente divididas
em outros dois grupos no que diz respeito ao processo de poupança e investimento:
- unidades econômicas superavitárias: recursos são abundantes e o pretendem investir
uma quantidade menor de recursos do que possuem em poupança
- unidades econômicas deficitárias: necessitam de recursos e querem investir mais do
que possuem em poupança.
O Mercado Financeiro desta forma existe para dar liquidez a estas unidades
econômicas com recursos em excesso e em falta. Algumas entidades poupam mais do que
investem e outras pelo contrário, querem investir mais do que poupam sendo então necessário
um meio de transferência destes recursos entre elas para que se possa alcançar uma maior
otimização dos recursos disponíveis na economia bem como uma maior satisfação dos
agentes envolvidos (PEIXE, 2003).
No mercado de capitais, os agentes atuam apenas como intermediadores, não
assumindo nenhum risco. São exemplos destes intermediadores sociedades corretoras e
distribuidoras de títulos e valores mobiliários bem como Bancos de Investimento (que apenas
auxiliam as empresas a lançarem seus títulos, ações etc nos mercados, ganhando uma
remuneração por este auxílio, mas não incorrendo no risco de tais títulos).
Em um mercado primário, negocia-se a subscrição ou venda de títulos de forma direta
(tomador-investidor) ou indireta (por meio de um intermediário financeiro). A oferta pode ser
privada (colocação dos valores mobiliários sem a necessidade de registro na CVM junto a um
68
grupo restrito de indivíduos ou instituições) ou pública (oferta ao público com registro da
mesma junto a um órgão regulador). O mercado primário é onde ocorre a primeira negociação
também como conhecida como visto no início desse trabalho de IPO ou Initial Public
Offering (SIQUEIRA LIMA, 1999). No entanto, com o contato direto com o mercado, existe
a desvantagem ainda em relação a opções mais adequadas como prazos, custos e riscos,
especialmente para os pequenos lançamentos, pois os agentes intermediadores limitam-se a
oferecer recursos em condições semelhantes a dos ofertantes.
Assim, o mercado secundário é importante para suprir essa deficiência do mercado
primário, uma vez que engloba as transferências de títulos entre investidores ou instituições
após já ter ocorrido a primeira negociação. Não envolve novos recursos, mas fornece liquidez
a quem já havia adquirido títulos no momento da emissão inicial (SIQUEIRA LIMA, 1999).
Algumas empresas que fizeram emissões secundárias uma vez que a oferta inicial delas no
mercado primário havia sido privada foram, portanto, também alvo da pesquisa. Entre elas
destacam-se a Localiza (locadora de veículos), Natura (cosméticos), Grendene (calçados) e
Lojas Renner (varejo).
# Regulamentação do Mercado de Capitais brasileiro
O mercado acionário brasileiro foi regulamentado pela Lei # 6.385/ 1976 que criou a
CVM (Comissão de Valores Mobiliários) responsável pela fiscalização e normatização do
Mercado de Valores Mobiliários e pela Lei # 6.404 / 1976 que dispõe sobre as sociedades por
ações (SAs - e que foi posteriormente alterada e complementada pelas Leis # 9.457/ 1997, #
10.303/ 2001 e # 10.411/ 2002).
Conforme Iran Siqueira Lima (1999, p. 112), até a criação da Lei 6.385 de 7 de
Dezembro de 1976 que estabeleceu a CVM, o Mercado de Capitais brasileiro era disciplinado
pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e fiscalizado pelo Banco Central, segundo a Lei #
4728/ 1965. Até aquele momento, entendia-se que o Mercado de Capitais era ainda incipiente
e, portanto não havia necessidade de criar um órgão especializado para sua fiscalização.
Entretanto, com o desenvolvimento deste mercado, verificou-se que não convinha acumular
no Banco Central esta função juntamente com suas outras funções de gestor de moeda,
crédito, dívida pública e balanço de pagamentos. Para isto, essa nova Lei 6.385/ 1976 criou
um novo órgão federal – a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – autarquia vinculada ao
Ministério da Fazenda com amplos poderes para disciplinar e estabelecer medidas de atuação
69
no Mercado de Valores Mobiliários tendo sido institda nos mesmos moldes da SEC
americana (Securities Exchange Commission).
Mais de 10 anos se passaram desde a criação da CVM até que uma nova Lei que
tratasse sobre as Sociedades por Ações entrasse em vigor. Em 15 de Dezembro de 1976, o
Decreto lei 2.627/1940 que tratava do assunto (até então com amplo foco em empresas
familiares o que não possibilitava a democratização do capital) foi substituído pela Lei 6.404,
mais sofisticada por abranger determinadas situações praticamente desconhecidas em 1940
como, por exemplo, o Conselho de Administrão das empresas, o voto múltiplo e os bônus
de Subscrição. Essa Lei já foi também atualizada em anos mais recentes, mas seu conteúdo
principal continua o mesmo.
A estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SIQUEIRA LIMA, 1999) é formada por:
- Sistema Normativo (Autoridades Normatizadoras, Fiscalizadoras e Monetárias):
Conselho Monetário Nacional (CMN) e Banco Central do Brasil (BACEN ou BC).
- Agentes Financeiros compostos por:
- Autoridades Financeiras de Apoio (Banco do Brasil, Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico - BNDES – banco de fomento voltado ao financiamento do
investimento de longo prazo), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Caixa Ecomica
Federal (Caixa)
- Instituições Financeiras. Estas atuam na intermediação financeira.
Figura 5 – Estrutura do Sistema Financeiro Nacional
Fonte: Banco Central do Brasil, 2005
Sistema
Financeiro
Nacional
Agentes
Financeiros
Autoridades
Monetárias,
Fiscalizadoras
Instituições
Financeiras (inclui
Bolsas de Valores)
CMN, BACEN,
CVM, outras
Agentes Financeiros
Auxiliares: BB,
BNDES, Caixa
70
2.3.2. Mercado de Crédito no Brasil e na América Latina
O setor banrio tem um papel significativo nas economias tanto em termos de
incentivo de acumulação de recursos e criação de poupança bem como no financiamento de
atividades e projetos de investimento. No Brasil e América Latina, os bancos representam a
principal fonte de financiamento para o setor privado, am é claro, do auto financiamento
deste setor por sua própria geração de caixa (PEIXE, 2003). Na verdade, os mercados de
capitais nestes países são ainda pouco desenvolvidos não sendo suficientemente maduros
(MORAES, 2005).
Na América Latina, o crédito bancário ao setor privado representou somente 30% do
PIB (Produto Interno Bruto) da região durante os anos de 2004 e 2005, uma média regional
muito abaixo de outras regiões emergentes como Ásia-Pacífico (73%), e Europa Central
(34%), segundo dados do Fundo Monetário Internacional de Dezembro de 2005. A
demonstração de escassez de crédito para região pode ser atestada pelo fato de que o Brasil e
a América Latina possuem a maior taxa de juros para empréstimos do mundo.
Gráfico 3 - Crédito Bancário ao Setor Privado na América Latina
Crédito bancário ao setor privado e crescimento do PIB médio no
período 1990-2004
0,0%
1,0%
2,0%
3,0%
4,0%
5,0%
6,0%
V
e
n
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Mexico
Brasil
Uruguai
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PIB Real Médi
o
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
Crédito Banrio ao Seto
r
Privado em % do PIB
PIB Real Médio
Crédito ao setor bancário
(% do PIB)
Fonte: HAUSLER, 2005
71
A restrição de financiamento bancário e a falta de fontes alternativas de financiamento
afetam principalmente as empresas de médio e pequeno porte que, além da escassez das linhas
ficam sujeitas também a altas taxas de juros (ROCCA, 2001, apud PEIXE, 2003). Durante o
final de 2004 e boa parte do ano de 2005, o Brasil possuiu uma das maiores taxas reais de
juros mundiais em função dos esforços do governo Lula em combater a inflação. Neste
período, o Brasil chegou a praticar taxas reais de juros de mais de 14% ao ano. Barbosa e
es (2004) definem taxa de juros real como a taxa que “cria um equilíbrio entre o
fornecimento de poupança e a demanda por fundos de investimento em um mundo perfeito,
sem inflação, onde os fornecedores e tomadores de fundos não têm preferência por liquidez e
todos resultados são certos”.
Segundo o Banco Central do Brasil (BACEN), a taxa de juros real é a taxa de juros
nominal menos a inflação (no Brasil, considera-se o índice oficial de inflação adotado pelo
governo que é o IPCA). Já a taxa de juros nominais é definida pela Selic estabelecida
mensalmente em uma quarta-feira do mês pelo COPOM – Comitê de Potica Monetária do
Banco Central –que estabelece a taxa básica paga pelo governo brasileiro por seus títulos
públicos que estão no mercado e cujo principal propósito é o financiamento e rolagem da
dívida pública. A criação do COPOM ocorrida em 1996 buscou proporcionar maior
transparência e ritual adequado ao processo decisório das taxas de juros básicas da economia,
a exemplo do que já era adotado pelo Federal Open Market Committee (FOMC) do Banco
Central dos Estados Unidos (SILVA, 2005).
72
Gráfico 4 - Crédito Bancário ao Setor Privado em Regiões de Desenvolvimento (2004)
Crédito bancário ao setor privado em 2004 (% do PIB)
0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% 140% 160%
Indonésia
Filipinas
India
Coréia do Sul
China
Média para Ásia
Polonia
Eslováquia
Rep. Checa
Hungria
Média para Leste Europeu
Argentina
Venezuela
Mexico
Colombia
Brasil
Uruguai
Costa Rica
Chile
Panama
Média para América Latina
30%
34%
73%
Fonte: HAUSLER, 2005
As taxas de juros reais dependem tanto no custo de refinanciamento dos bancos (que
depende de fundamentos macroecomicos tais como finanças públicas e poticas
monetárias) bem como das margens bancárias de intermediação financeira (spreads”). Os
spreads são determinados pelos custos operacionais dos bancos, impostos e pelo nível de
competição no mercado bancário, somados ainda aos riscos de crédito (por exemplo, riscos de
crédito de não pagamento padrões dos tomadores daquele mercado) bem como riscos macro-
financeiros e institucionais do país onde eles operam.
73
Países que possuem baixas taxas de juro reais são aqueles que têm fundamentos
macroecomicos melhores como baixo endividamento público, baixa inflação, bem como
sistemas bancários eficientes, operando em um ambiente de baixos riscos sistêmicos. Durante
2004, por exemplo, a taxa real de juros de empréstimos praticada em países como Chile e
México foi de apenas 4,0% e 2,5% respectivamente (TERRA, 2004). Por outro lado, o crédito
mais caro e restrito é encontrado em países como o Brasil com fundamentos
macroeconômicos ainda não consolidados (alto endividamento público, inflação persistente) e
onde os bancos ainda enfrentam custos operacionais elevados, alta carga tributária e ambiente
Legal não favorável.
É verdade, no entanto, que muitas melhorias têm ocorrido desde os anos 90 com uma
maior fiscalização do Banco Central em relação aos bancos, envolvendo inclusive o
fechamento de diversas instituições e o enxugamento do setor bancário. No âmbito Legal, o
Novo Código Civil que entrou em vigor ao final do primeiro semestre de 2005 deverá
contribuir de forma significativa para a redução do spread bancário.
O alto nível de endividamento público é outro fator que agrava a racionalização do
crédito bancário ao setor privado. No Brasil, por exemplo, o endividamento do setor público
chegou a representar 57.2% do PIB em 2003, caiu para 51.6% do PIB em 2004, e manteve-se
neste mesmo patamar em 2005. Os empréstimos públicos reduzem o volume de recursos
disponíveis que os credores poderiam emprestar para o setor privado além de influenciar
sobre o nível dos spreads a serem praticados. Quanto maior o endividamento público, maior é
a parcela da dívida financiada pelo governo com bancos e maiores são os spreads e
conseqüentemente as taxas de juros praticadas no mercado. A taxa de juros ou retorno
requerido representa o custo dos fundos que um tomador deve pagar a um investidor. Quando
os fundos são emprestados, o custo mínimo de tomá-los é a taxa de juros. A esta, é somado
um spread que é justamente a margem que não só cobre os custos operacionais de quem
empresta, mas também constitui sua remuneração por um risco assumido. Assim, quanto
maior a percepção do risco assumido pelo emprestador, maior será a taxa de retorno esperada
no empréstimo e maior será seu spread (BRIGHAM, GAPENSKI, EHRHARDT, 1999).
O crédito ao setor privado foi também afetado por diversas crises durante as últimas
décadas que afetaram os Sistemas Financeiros dos países de toda a América Latina. No
período 1974-2003, o Banco Interamericano de Desenvolvimento estimou uma média de 1,25
74
crises por país na região contra 0,38 na Ásia e 0,89 no Leste Europeu. Durante os anos 1990
concentraram-se as principais crises. Brasil, xico, Bolívia,Venezuela, Argentina e Paraguai
foram os países afetados por crises sistêmicas de seus sistemas financeiros entre 1993-1995.
No caso do Brasil, o que se sobresaiu da crise foi o Proex, programa de ajuda aos bancos para
evitar uma crise de todo o Sistema Financeiro Nacional bastante criticado na época
(BARBACHAN, FONSECA, 2004).
Com a globalização dos mercados, outras grandes crises afetaram o sistema financeiro
e a economia brasileira. Crises ecomicas e financeiras do México (1995), Ásia (1997) e
Rússia (1998) impactaram de modo negativo todo o mercado financeiro local. Em
conseqüência das principais crises dos anos 90 aos sistemas bancários na América Latina,
houve uma total reestruturação e reformulação destes (TERRA, 2004). O setor público dos
diversos países da América Latina sempre pagou um alto preço por tais reorganizações. O
Fundo Monetário Internacional (IMF) estimou um custo de 9% do PIB no caso do Brasil,
18% do PIB no caso da Venezuela, 20% no caso do México e 20% no caso do Uruguai.
Os governos fecharam, fundiram ou recapitalizaram bancos privados, aumentaram os
poderes de seus Bancos Centrais e autoridades monetárias, especialmente a fim de
solucionarem problemas de falta de liquidez e insolvência de bancos, aumentando a
supervisão em operações on-shore e off-shore. Em alguns mercados da América Latina,
durante a reestruturação de seus sistemas bancários houve também uma grande abertura a
participação de instituições estrangeiras. Entre 1995 e 2004, por exemplo, no Brasil, a
participação de instituições estrangeiras em relação ao total de ativos bancários subiu de 10%
para 20%, no México, de 7% para 85% e na Argentina, inicialmente de 19% a 58% mas com
uma subseqüente redução para 23% em 2004 após a crise local de 2001-2002 (HAUSLER,
2005).
Nos países da região, as Reformas trouxeram o fortalecimento de seus sistemas
financeiros. Somente no Brasil, entre 1994 e 2000, apõs a instituição do Proer, nome dado ao
programa de reestruturação dos bancos locais, foram liquidadas ou reorganizadas mais de 50
instituições financeiras. Os bancos, no entanto, continuam vulneráveis as deteriorões do
risco econômico (ousovereign risk”) dos países onde se situam bem como as flutuações do
câmbio. De certa forma, a atividade destes países continua sendo impactada pelos efeitos de
75
ambientes sujeitos durante longos peodos de tempo a instabilidades macroeconômicas
(SILVA, 2005).
Diante deste cenário que agrava os riscos de crédito, a tendência dos bancos nesses
países é a de optarem pela maior liquidez de seus ativos em detrimento a expansão maior dos
mesmos através do aumento do volume de crédito. Como resultado, o que acaba sempre
ocorrendo é a maior concentração dos recursos destes não só no setor público (aplicações em
tulos governamentais teoricamente livres ou de baixo de risco), mas também em operações
de empréstimo de curto prazo (mais líquidas), em detrimento das que financiam os
investimentos de longo prazo ao setor privado (TERRA, 2004).
Por fim, vale ressaltar que, se por um lado as crises interromperam a expansão do
crédito bancário, as reestruturações dos sistemas financeiros nacionais na América Latina
durante principalmente a segunda metade dos anos de 1990 obtiveram sucesso no
fortalecimento destes sistemas, criando bancos melhores supervisionados e regulados, mais
capitalizados e menos vulneráveis a choques externos internos.
Dessa forma, teoricamente, tornaram-se os bancos remanescentes mais aptos de
promoverem no médio prazo a expansão do crédito ao setor privado. Entretanto, alguns
fatores continuam inibindo uma maior expansão do crédito em países como o Brasil.
2.3.3. Prováveis razões das restrições de crédito ao setor privado local
Algumas causas de restrição ao crédito no Brasil são apontadas com maior freqüência
por autores nacionais e estrangeiros e, de um modo geral, podem ser válidas também para a
escassez de recursos para outros países emergentes.
Entre os estudos de autores estrangeiros que intensificaram discuses sobre os
principais fatores a interferirem na disponibilidade de crédito ao setor privado desses países
destacam-se os trabalhos no final dos anos de 1990 de La Porta, Lopez-De-Silanes, Shleifer e
Vishny (1997, 1998). Entre estudos mais recentes na literatura internacional com empresas
em países emergentes encontram-se os de Klapper, Love (2002), Titman, Twite e Fan (2003),
Fulghieri e Suomien (2005) e Hausler (2005). Adicionalmente, entre os trabalhos de autores
76
nacionais que também intensificaram discussões nessa mesma linha mas apontando o Sistema
Jurídico como grande entrave a disponibilidade de crédito local aparecem os de Pinheiro
(1996) e Pinheiro e Cabral (1998). Estudos mais recentes locais relacionados ao Sistema
Jurídico como grande entrave ao crédito incluem os de Brito e Lima (2005), Zani (2005).
Além desses estudos, alguns trabalhos nacionais apontam também outras prováveis
razões para escassez de crédito ao setor privado local. Dentre eles destacam-se os de Peixe
(2003), Terra (2004), Cruz (2004) e Silva (2005) que mencionam em comum fatores
macroeconômicos, institucionais e as características das empresas de mercados emergentes
como principais obstáculos à expansão do crédito.
Fazendo um resumo de todos os estudos acima citados, esses apontam as seguintes
causas como principais limitadores à expansão do crédito:
! Nível reduzido ou mesmo falta de poupança interna
! Endividamento público: Bancos preferem liquidez e menores riscos em
economias voláteis emprestando para o governo
! Crédito/ qualidade de informações: Faltam informações financeiras, gerenciais
e setoriais de qualidade da maioria das empresas
! Institucionais: Sistema jurídico e recuperação judicial ineficientes
Cada um desses prováveis limitadores são discutidos a seguir e, mais adiante,
analisados através da pesquisa empírica com as empresas e profissionais do mercado
financeiro, foco desse estudo. Analisam-se também quais são efetivamente os maiores
obstáculos à expansão do crédito ao setor privado local.
2.3.3.1. Nível reduzido de poupança interna
O volume de financiamento e linhas de crédito disponíveis ao setor privado depende
do volume de poupança existente em um país. Essa relação pode ser verificada em livros de
Macroeconomia onde a poupança é igual ao investimento. Dornbush e Fischer (1991, p.59)
mencionam que, um consumo das famílias a um nível menor que seus rendimentos gera
poupança e esse excesso é direcionado na forma de empréstimo e financiamentos às
empresas que possuem projetos de investimento atrativos mas não tem geração de caixa
suficiente para realizá-los sem o auxílio de recursos de terceiros. Os componentes da
poupança de um país são a poupança privada, a pública e a externa.
77
Na América Latina, a taxa da poupança nacional está geralmente entre 10% a 20% do
PIB de cada país (HAUSLER, 2005). A taxa média da poupança da região entre 1995-2004
foi de apenas 18%, um baixo percentual quando comparado a outras regiões de países
emergentes como Ásia (32%) e Leste Europeu (22%). A população de modo geral não tem o
costume de criar poupança a longo prazo, diferentemente da disciplina de populações de
países asiáticos ou desenvolvidos.
O Brasil por outro lado é um dos poucos países da região que tem feito grandes
esforços para estimular a poupança de longo prazo. No estudo de Cruz (2004) foi identificado
que medidas como o incentivo de poupança em planos de previdência e aposentadoria
privados com benefícios de deferimento fiscal (PGBLs) criados no início dos anos 2000 e que
agora contam também com opções de alíquotas de Imposto de Renda decrescentes
contribuíram para que o país elevasse seu nível de poupança de 19% do PIB em 2002 para
23% em 2005. Esse volume ainda é muito baixo quando comparado a países como Estados
Unidos (95% do PIB), Holanda (106%) ou Austrália (73%). Além disso, apenas 43% dos
brasileiros possuíam conta em bancos em 2004 (HAUSLER, 2005).
Para Cruz (2004),
Na auncia de uma mobilidade perfeita de capitais, a redução na poupança nacional
implica em insuficiência de fundos para financiar investimentos dadas as taxas de
juros e de câmbio existentes. Esse desbalanceamento pressiona as taxas de juro para
cima devido à competição das firmas por uma quantidade limitada de fundos para
financiar investimentos
Outros autores apontam que a elevação da poupança nacional precede a elevação do
nível de investimentos. Solow (1956) teve o trabalho pioneiro neste sentido tendo sido mais
tarde questionado pelo trabalho de Carroll e Weil (1993). Para esses dois últimos
A literatura recente sobre crescimento econômico tem explicado tipicamente a
correlação positiva entre poupança e crescimento como o resultado de uma poupança
elevada que produz um crescimento elevado através da acumulação de capital. Nossos
resultados empíricos, entretanto, sugerem que o aumento da taxa de crescimento
precede o aumento da poupança (...) no limite, poderíamos argumentar que a tão
propalada conclusão de que aumentar a taxa de poupança do país é uma boa forma de
ter um crescimento maior está simplesmente errada. Nós não acreditamos nisto.
Porém, a endogeneidade da poupança em relação ao crescimento sugere que os
supostos efeitos da poupança sobre o crescimento podem estar superestimados
(Carroll, Weil, 1993, p.63).
78
Como resultado atual, o baixo nível de depósitos bancários e conseqüentemente da
poupança da população – não só brasileira mas de toda a América Latina – representam uma
alta restrição a oferta de crédito a toda a região já que os bancos deixam de ter a poupança de
longo prazo como lastro ou fonte de recursos para financiamentos no longo prazo ao setor
privado (PEIXE, 2003). Assim, pode-se concluir que o nível de disponibilidade de crédito
existente em uma economia é diretamente derivado do nível de poupança da mesma.
2.3.3.2. Instabilidade econômica e endividamento público: bancos preferem liquidez e
menores riscos em economias voláteis
As incertezas e os riscos de crédito ligados a instabilidades macroeconômicas são
outro fator restritivo a intermediação financeira entre poupança e investimento, pois reduzem
a propensão dos bancos a emprestarem ao setor privado e aumentam o custo dos
financiamentos. Elas também limitam a capacidade de transformação dos sistemas bancários,
ou seja, de utilizarem, por exemplo, depósitos de curto prazo para custearem financiamentos
de médio ou até mesmo longo prazos devido a incertezas de ordem de liquidez pelos bancos.
Esses últimos ao emprestarem recursos a terceiros enfrentam diversos tipos de riscos, que
incluem riscos de crédito, de liquidez, de juros e de câmbio (taxas ou moedas). A fim de
limitarem esses riscos, os bancos são naturalmente prudentes e conservadores e, serão ainda
mais se os ambientes onde operam aumentam todos estes riscos (CRUZ, 2004).
Os principais ativos em um balanço patrimonial de um banco são os empréstimos ao
setor privado (e que o também os que envolvem maior risco e menor liquidez), os títulos do
governo, financiamentos ao setorblico e reservas com o Banco Central (menor risco e
maior liquidez). Em um mundo de economias cada vez mais voláteis, os bancos têm uma forte
preferência por ativos de curtíssimos prazos com menores riscos (SILVA, 2005). Dessa
forma, quanto maior o endividamento público de um governo, maior será sua necessidade de
refinanciá-lo e maior será a propensão e conseqüente alocação de recursos dos bancos para o
financiamento destes títulos públicos que além de apresentarem menores riscos, possuem
maior liquidez (LA PORTA, LOPEZ-DE-SILANES, SHLEIFER, VISHNY , 1997).
Além disso, se o governo, como no caso brasileiro, controla a inflação principalmente
através da chamada âncora fiscal”, os bancos preferem emprestar seus recursos para o
governo, que é reconhecido como tomador de menor risco na economia e que paga taxas de
79
juros satisfatórias ao Mercado. O governo como tomador de recursos pasa a concorrer
diretamente com o setor privado.
No Brasil, o nível de endividamento do Estado medido pela relação dívida/ PIB
cresceu significativamente nos últimos anos a passou a apresentar melhorias apenas a partir de
2004. Segundo dados do Banco Central do Brasil de 2005, em 1994 a dívida líquida do setor
público era de 30% do PIB e em 2003, atingiu 57,2% (tendo reduzido para níveis em torno de
52% em 2004/ 2005 mas ainda assim encontrando-se relativamente bastante elevada). O
crescimento da dívida ocorreu por dois motivos: o alto nível da taxa de juros real no período
aumentou os juros pagos e o principal da dívida em uma maior velocidade do que o
crescimento do PIB e segundo porque o governo federal apresentou no até 1998 déficits
nominais endividando-se para pagar investimentos e despesas. A situação apresenta melhora a
partir de 1999 com superávits primários por parte do governo.
Como resultado desta política, sobram menos recursos de financiamento ao setor
privado e as empresas desse setor ficam sujeitas a criteriosas análises de crédito por parte dos
bancos para obtenção de financiamentos.
Esse processo fez com que os bancos desde a década de 1990 desenvolvessem
ferramentas cada vez mais complexas de medição de riscos e controle da carteira de ativos.
Em seu livro Crédito – Análise e avaliação do risco, Securato (2002, p.30) enuncia que as
formas de avaliar o risco de crédito podem ser divididas em 3 classes de modelos: sistemas
especialistas, sistemas de rating e sistemas de escore de crédito. Nos sistemas especialistas,
as decisões de crédito têm seu julgamento baseado em 5 fatores: caráter, capital, capacidade,
colateral e condições de repagamento de cada cliente.
Os sistemas de rating foram estabelecidos pela Resolução do Bacen 2682/2000 que
estabeleceu um grid de classificação de crédito que vai de AA, A até H onde a provisão de
devedores duvidosos deve ser revista mensalmente por empréstimo a cada cliente. Por fim, os
sistemas de score de crédito também têm como idéia central a identificação da probabilidade
de ocorrer default (não pagamento) de um empréstimo. Neste terceiro, surgem os modelos
baseados em alises discriminantes estatísticas ltiplas como Modelo Escore-Z de Altman
(1984), para empresas de capital fechado e não fabris.
80
Se por um lado tais medidas têm principalmente a partir do final da década de 90
reduzido significativamente os riscos dos bancos, elas têm por outro lado diminuído também
de modo significativo a base potencial de tomadores de empréstimos destas instituições já que
muitas das pequenas e médias empresas brasileiras não conseguem se qualificar para serem
tomadoras destes financiamentos nestes modelos (SILVA, 2005).
Cruz (2004) aponta que a fim de compensar pelo menos parcialmente a situação de
restrição de recursos, os governos acabam tendo de utilizar seus bancos de desenvolvimento
econômico e social para poder fornecer alternativas de financiamento de longo prazo. No caso
brasileiro, por exemplo, o maior provedor de recursos para investimentos de longo prazo dos
diversos tipos e tamanhos de empresas privadas ainda é o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social) que em 2004/2005 correspondeu por cerca de 35%
dos empréstimos bancários no Brasil.
2.3.3.3. Qualidade das informações de crédito: faltam informações financeiras,
gerenciais e setoriais confiáveis da maioria das empresas
La Porta, Lopez-De-Silanes, Shleifer, Vishny (1997, 1998), Peixe (2003), Terra (2004)
e Fulghieri e Suomien (2005) mencionam em comum que para os investidores externos e
instituições financeiras, a transparência das informações bem como a qualidade das mesmas
o condições imprescindíveis para as empresas obterem maiores volumes de financiamentos.
Assim, linhas de crédito só estarão disponíveis após uma avaliação de diversos itens de
crédito destas empresas. Securato (2002, p.203) enumera 3 etapas essenciais na mensuração
do risco de crédito:
- Análise do risco do tomador do crédito (risco da empresa)
- Risco da operação
- Risco da concentração da carteira da instituição em um único cliente ou tipo de
operação
Uma instituição financeira não providencia um financiamento sem ter, após uma
análise de crédito, a convicção de que se trata de uma “boa” empresa tomadora de recursos e
que esta terá condições de reembolsar seu empréstimo com o banco na data de vencimento, ou
pelo menos, que será possível a recuperação dos recursos emprestados por este banco pela
execução de garantias reais contra esta tomadora. A instituição procura ainda estudar qual a
81
finalidade da operação solicitada e se não haverá concentrações em sua carteira de
empréstimos.
Assim, quanto menos informações financeiras e gerenciais estiverem disponíveis sobre
a empresa, sua atividade, seu histórico de pagamentos, garantias reais disponíveis e seu setor
de atividade, menores serão as chances de o banco emprestar recursos a esta tomadora e mais
altos seo os spreads praticados para minimizarem os riscos maiores envolvidos (LA
PORTA, LOPEZ-DE-SILANES, SHLEIFER, VISHNY, 1997). Um ano mais tarde, esses
mesmos autores desenvolveram estudo sobre o Brasil (LA PORTA, LOPEZ-DE-SILANES,
SHLEIFER, VISHNY, 1998) analisando o sistema jurídico e a qualidade das informações
disponibilizadas pelas empresas em relação ao volume de crédito a elas disponível. A
conclusão foi que, empresas que tinham uma maior participação de acionistas estrangeiros em
seu capital significavam que elas disponibilizavam ao Mercado um nível superior de
informações e que também respeitavam os direitos de propriedade (tema discutido a seguir).
Assim, a boa reputação da empresa e de seus administradores tem peso decisivo na obtenção
de financiamentos (BARCELOS, 2002).
Essa situação de falta de informações de qualidade está presente em mais de 99% das
empresas locais segundo dados do Serasa de Maio de 2006. Acesso a informações de
qualidade de empresas de responsabilidade limitada (Ltda´s”), por exemplo, são bastante
escassas quando não inexistentes. Isso gera uma aversão dos bancos por esse tipo de cliente
ou de todo um segmento de mercado, reduzindo significativamente linhas de crédito a estas
empresas no Brasil. O nível reduzido de transparência e qualidade das informações dos
tomadores de recursos acarreta no aumento das taxas de juros envolvidas (FULGHIERI,
SUOMIEN, 2005).
2.3.3.4. Institucional: Sistema Jurídico ineficiente
Dentre os fatores anteriormente mencionados, a ineficncia do Sistema Jurídico do
país é apontada na maioria dos estudos científicos como empecilho a maior volume de
crédito. Intensificada a partir do estudo de La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, Vishny
(1997), surge uma literatura recente que relaciona o desenvolvimento das instituições de
financiamento à eficncia do Sistema Jurídico do país.
82
Segundo La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, Vishny (1997), em países onde o
investidor externo à empresa é pouco protegido pelas instituições de direito contra
expropriação pelo controlador, as fontes de financiamentos externos e essas devem ser mais
onerosas e escassas. La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, Vishny (1998) um ano mais tarde,
caracterizaram o Brasil como país onde o investidor externo da empresa é pouco protegido em
termos legais para padrões internacionais.
No Brasil, Pinheiro (1996, p.3) foi um dos primeiros autores a abordar tal
problemática, enunciando que as instituições são fatores determinantes da atividade
econômica. O respeito aos contratos em tempo hábil e de maneira consistente reduz os custos
de transação, diminui a distorção nos sistema de preços e estimula os agentes ecomicos a
ampliarem suas atividades financeiras com maior alocação dos recursos. Assim, países onde
as leis garantem um alto nível de respeito contra rompimento de contratos, onde os credores
são amplamente aparados pelas leis e onde o andamento processual é rápido beneficiam-se de
recursos mais baratos e fartos (ZANI, 2005).
Países que não protegem adequadamente os credores têm menores mercados de crédito
(BRITO, LIMA, 2005). Isso porque a existência de problemas de assimetria de informão
possibilita brechas para que os contratos sejam adequadamente cumpridos gerando um
comportamento oportunista e inibindo concessão de créditos as empresas (PINHEIRO,
CABRAL, 1998). Adicionalmente, o estudo de Brito e Lima (2005) sobre a escolha da
estrutura de capital em um ambiente sob fraca garantia legal que englobou 110 empresas de
capital aberto entre 1995 e 2001 conclui que maiores custos e menor disponibilidade de
crédito no Brasil são conseqüência, entre outros fatores, da fraca garantia legal a que os
bancos estão sujeitos em relação aos empréstimos concedidos.
No Brasil, o ambiente de negócios sempre foi marcado por baixa proteção aos direitos
de propriedade, lentidão dos processos na justiça, difícil cumprimento dos contratos e uma
rígida legislação trabalhista (PINHEIRO, 1996). Todos estes fatores historicamente
encorajaram a atividade informal e retardaram um maior desenvolvimento do mercado de
crédito inibindo inclusive a obtenção de garantias pelos bancos de seus tomadores uma vez
que, em caso de não pagamento dos empréstimos, a retomada destas garantias é lenta e
praticamente ineficiente. Em sua pesquisa conduzida durante o ano 2000, Aith (apud CRUZ,
2004) apontou que, uma ação de cobrança movida por instituições financeira leva entre 8 a 10
83
anos para ser executada. Assim, os acordos tem sido prática comum no encerramento de
litígios.
Em linha com os estudo acima, os resultados da pesquisa de Titman, Twite e Fan
(2003) sobre 1524 empresas do setor químico localizadas em 39 diferentes países concluiu
que os Sistemas Fiscal e Legal desses países claramente afetam as escolhas de estrutura de
cpaital por parte das empresas. Concluem ainda que existe uma correlação negativa entre
nível de alavancagem e a consistência do Sistema Jurídico do país. Outra pesquisa conduzida
por Klapper e Love (2002) em 14 países emergentes concluiu que países com Sistemas
Jurídicos fracos e ineficientes possui a maioria das empresas com baixo nível de transparência
e qualidade de informações que acarretam em um menor volume de crédito a todo o setor
privado.
Zani (2005) cita que sem segurança de que os contratos serão respeitados e cumpridos,
os agente privados não se predispõe a participar de investimentos (especialmente a longo
prazo) reduzindo o volume de investimentos e, principalmente, maiores volumes de crédito.
Esse mesmo autor conclui ainda que, em mercados com alto grau de assimetria informacional
– como o caso do Brasil – a disponibilidade de crédito maior está sujeita a disponibilidade de
colateral como garantia aos empréstimos por parte das empresas.
Por outro lado, é justo também aqui uma defesa ao Judiciário no Brasil, cujo grande
número de processos de diversas naturezas acumulam-se exorbitantemente nas Varas
dispostas em todo o terririo nacional. A legislação em vigor é muito complexa e dúbia e
possibilita às partes uma infinidade de recursos que faz com que cada processo demore muito
para ter uma decisão final. A Lei de Falências no Brasil em vigor até Junho de 2005 datava de
1945, sendo por ela necessários na prática mais de 10 anos para a finalização de uma falência
corporativa.
Cerca de apenas 0.2% do valor assegurado por uma garantia conseguia ser retomado
por uma instituição financeira após a falência, por exemplo, do seu tomador de recursos, o
que desencoraja uma maior intermediação bancária e maiores volumes de empréstimos no
Brasil (HAUSLER, 2005). Além disso, os processos judiciais sempre foram um grande
complicador para retomada de recursos emprestados não só pela sua lentidão e custos
envolvidos mas também pelas complicações que envolvem (sucessão de inúmeros recursos e
84
apelações, peculiaridades de legislações regionais, e por que também os credores de impostos
(governos) e salários (trabalhadores) tinham sempre preferência de recuperação dos ativos da
massa falida estando diante dos bancos. Assim, nada sobrava praticamente a ser recuperado
pelas instituições financeiras. Os Tribunais de modo geral sempre tendem também a
favorecerem suas decisões em relação aos tomadores de recursos (partes fragilizadas) e não
aos bancos (HAUSLER, 2005).
Os processos judiciais envolvidos para a retomada de recursos acabam desencorajando
os bancos a ampliarem a oferta de crédito e faz com que eles procurem nunca utilizarem o
Judiciário para reaverem seus recursos o que faz na prática com que as taxas de juros sejam
aumentadas de forma significativa afim de que possam cobrir o risoc das estaticamente
calculadas perdas esperadas”. Essa percepção de aumento de risco representa 45% da
composição dos spreads bancários no Brasil de acordo com o Banco Central do Brasil (2005).
No entanto, desde Junho de 2005 entrou em vigor a nova Lei de Falências no Brasil.
Essa nova Lei vem atender a estes anseios pleiteados pelos credores há tempos. Na prática ela
buscará agilizar os processos no Judiciário. Entre as principais mudanças estão o fato de que
as empresas terão não mais a possibilidade de entrarem com pedidos de concordata mas sim,
em um prazo de até 6 meses, apresentarem um plano de reestruturação do repagamento de
seus endividamentos. No caso da falência, haverá agora uma aceleração na liquidação dos
ativos, a fim de que estes fiquem anos e anos sendo deteriorados ou furtados dos locais onde
se encontram. Outra novidade foi a preferência agora dada aos credores na retomada de seus
créditos em caso de falência, em detrimento a impostos. Assim, trabalhadores continuam
tendo a preferência no resgate de recursos da massa falida mas agora são seguidos pelos
bancos e, em terceiro lugar, pelos impostos devidos aos órgãos governamentais. Esta nova
Lei, se efetivamente comprovar seu sucesso, trará grandes benefícios ao setor privado no
médio prazo com a provável redução dos spreads bancários praticados.
85
3 – ABERTURA DE CAPITAL NO BRASIL COMO
INSTRUMENTO DE EXPANSÃO DO CRÉDITO–
RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS
3.1. Evolução do volume de crédito, prazos e custos de endividamento nas
Demonstrações Contábeis
Tabela 9– PIB, Mercado Financeiro, Taxas de Juros e Emises Primárias no Brasil nos
últimos 10 anos
Ano PIB
(R$ x bi)
Empréstimos do
sistema
financeiro ao
setor privado
(R$ x bi)
% do
PIB
Selic
(% -
final
ano)
Emissões
primárias
deões
(R$ x
milhão)
1996 778 206,2 26,5% 23,8% 9.172
1997 870 233,5 26,8% 42,1% 3.909
1998 914 253,9 27,8% 32,1% 4.112
1999 973 268,3 27,6% 20,9% 2.749
2000 1.101 307,5 27,9% 15,4% 1.410
2001 1.200 322,5 26,9% 18,1% 1.353
2002 1.321 364,8 27,6% 25,0% 1.050
2003 1,526 399,8 26,2% 16,5% 230
2004 1.767 477,1 27,0% 17,8% 4.469
2005 1.938 596,9 30,8% 18,0% 4.364
Fontes: Banco Central do Brasil, Banco BNP Paribas, BNDES, Ibovespa, Revista Suma Econômica e Febraban,
Maio de 2006
Na última década, observou-se o incremento do volume de empréstimos do sistema
financeiro ao setor privado brasileiro a uma taxa percentual maior que a da taxa de aumento
do PIB (Produto Interno Produto). Enquanto o PIB brasileiro aumentou de R$ 778 bilhões em
1996 para R$ 1.938 bilhões em 2005 (ou + 149%), o volume de empréstimos ao setor privado
cresceu de R$ 206 milhões para R$ 597 milhões, ou + 190%, deixando de representar pouco
mais de 26% do PIB em 1996 e atingindo a marca de quase 31% em 2005.
86
Por outro lado, o volume de emissões primárias de ações no mercado acionário local
demonstrou-se aquecido entre 1996-1998, reduziu-se significativamente após 1999 e voltou a
demonstrar aquecimento após 2004 (CRUZ, 2004). Condições macroeconômicas locais e
externas mais estáveis e a conseqüente queda da Selic a partir de 2003 estão entre os diversos
fatores que propiciaram um ambiente mais favorável para o aumento de emissões pririas
de ações.
A taxa Selic, apurada no “Sistema Especial de Liquidação e Custódia”, é obtida
mediante olculo da taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por
um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras
de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas, ou seja,
venda de títulos com compromisso de recompra assumido pelo vendedor, concomitante com
compromisso de revenda, assumido pelo comprador, para liquidação no dia útil seguinte. São
aptas a efetuar este tipo de operação as instituições financeiras habilitadas, tais como bancos,
caixas ecomicas, sociedades corretoras de tulos e valores mobiliários, sociedades
distribuidoras de títulos e sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários. A taxa
Selic serve de referência ao bancos como a taxa mínima de juros básica praticada na
economia.
Em 31 de Agosto de 2006, segundo o site da Bovespa (www.bovespa.com.br), o
Mercado de Capitais brasileiro contava com 387 empresas com ações listadas na Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa) cujo valor bursátil era de R$ 1.268 bilhões sendo 34 delas
listadas no Novo Mercado. Esse número de empresas é ainda irririo e representa menos de
0,5% das 4.9 milhões de empresas existentes no Brasil em 2005 segundo dados do IBGE
publicados em Outubro de 2006 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatíticia –
www.ibge.org.br).
Elaboração dos dados da pesquisa realizada
Por IPO (Initial Public Offering) entende-se a oferta inicial das ações de uma
determinada empresa no Mercado. Conforme mencionado na introdução deste trabalho, o
levantamento dos Demonstrativos Contábeis das 18 empresas em análise ocorreu nos
seguintes momentos do tempo:
# ano encerrado anterior a abertura do capital
# no trimestre anterior a abertura do capital
87
# no trimestre posterior a esta abertura
# 31 de Dezembro de 2005 (último exercício encerrado disponível).
# 31 de Março de 2006
# 30 de Junho de 2006 (Balanço Patrimonial mais atual até o momento
disponível).
Dessa forma, as Demonstrações Contábeis consideradas neste estudo foram os
encerrados nos trimestres (“T”) detalhados a seguir:
Tabela 10 - Empresas e Demonstrações Contábeis consideradas
Empresa Data do
IPO
Exercício
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
Ano
2005
1T 2006 2 T 2006
1) CCR 30/01/2002 4T00 4T01 1T02 4T05 1T06 2T06
2) Rossi 19/02/2003 4T01 4T02 1T03 4T05 1T06 2T06
3) Natura 25/05/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
4) ALL 24/06/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
5) Gol 24/06/2004 4T03 1T04 2T04 4T05 1T06 2T06
6) CPFL Energia 29/09/2004 4T03 2T04 3T04 4T05 1T06 2T06
7) Grendene 28/10/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
8) DASA 18/11/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
9) Porto Seguro 19/11/2004 4T03 3T04 4T04 4T05 1T06 2T06
10) Renar 24/01/2005 4T03 4T04 1T05 4T05 1T06 2T06
11) Submarino 30/03/2005 4T03 4T04 1T05 4T05 1T06 2T06
12) Localiza 20/05/2005 4T04 1T05 2T05 4T05 1T06 2T06
13) Renner 30/06/2005 4T04 1T05 2T05 4T05 1T06 2T06
14) OHL 13/07/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
15) Energias 14/07/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
16) Br Realty 21/09/2005 4T04 2T05 3T05 4T05 1T06 2T06
17) Cosan 17/11/2005 4T04 3T05 4T05 4T05 1T06 2T06
18) UOL 15/12/2005 4T04 3T05 4T05 4T05 1T06 2T06
As Demonstrações Contábeis das empresas anteriores a sua abertura no mercado
foram obtidos através dos memorandos de IPO (Initial Public Offering books ou livros de
Oferta Pública Inicial de Ações) de cada uma delas no instante em que estas empresas
anunciaram a emissão de ações ao mercado. As Demonstrações Contábeis de períodos
posteriores foram obtidos no site da internet da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) ou
88
nos sites da internet de cada uma dessas empresas uma vez que, após a abertura, tais
empresas são obrigadas a informar resultados trimestralmente.
Para uniformização dos dados, foram consideradas as Demonstrações Contábeis
consolidadas de cada uma destas companhias no mencionado exercício.
Os custos de endividamento foram obtidos nas notas explicativas de cada uma destas
Demonstrações Contábeis. Algumas poucas empresas providenciam o custoall-in” (custo
total) de seu endividamento em moeda local e em moeda estrangeira. Esse foi o caso, por
exemplo, das Lojas Renner que informou os seguintes custos para seu endividamento no
período analisado:
Tabela 11 - Custo do endividamento
Empresa Data do
IPO
Exercício
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
Ano
2005
1 T 2006 2 T 2006
Lojas Renner 30/06/2005 18,8% 19,2% 19,0% 18,8% 18,0% 16,5%
Fonte: Demonstrações Contábeis
A grande maioria das empresas analisadas, no entanto, apenas fornecem a abertura de
seu endividamento, as taxas médias praticadas, o montante da dívida em moeda local e em
estrangeira bem como o repagamento futuro do endividamento do longo prazo.
Dessa forma, para calcular o custo médio do endividamento de terceiros, foi adotado o
seguinte critério:
# cálculo da média ponderada em cada período, por:
o tipo de endividamento e
o tipo de moeda
Como exemplo pode-se enunciar o cálculo da dívida junto a terceiros da OHL,
empresa de concessões rodoviárias que administra rodovias do interior do estado de São
Paulo.
89
Tabela 12 - Custo do endividamento
Empresa Data do
IPO
Exercício
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
Ano
2005
1T 2006 2T 2006
OHL 13/07/2005 16,0% 15,9% 15,7% 15,7% 15,5% 15,0%
Fonte: Demonstrações Contábeis
O cálculo do custo médio ponderado de 15,9% do endividamento da empresa no
trimestre anterior a abertura de seu capital foi obtido através da seguinte fórmula calculada
com os índices financeiros (TJLP, Libor, etc) informados em notas explicativas de cada
empresa:
Custo do endividamento
=(((9,8%)+5,5%)*53%*F238+((9,8%)+5,8%)*37%*F238+((18%)+1,9%)*10%*F238)/(F23
8*100%)
Equação 4
Onde:
# F238 é alula que representa o total do endividamento da empresa junto a
terceiros em um dado trimestre
# As taxas entre parênteses de 9,8% e de 18% referem-se as taxas Selic e TJLP
no peodo analisado
# Os percentuais 53%, 37% e 10% refletem a composição do endividamento para
cada tipo de dívida (BNDES, bancos, etc)
# Os montantes de 5,5%, 5,8% e 1,9% referem-se aos spreads cobrados pelos
bancos acima da TJLP e Selic (exemplo: a sub-equação
((18%)+1,9%)*10%*F238 significa que 10% do total da dívida naquele
momento era de BNDES cuja taxa de juros era de Selic (18%) mais um spread
de 1.9%)
Para cada um dos períodos analisados de cada uma das empresas foi seguido este
mesmo critério no cálculo do custo de sua dívida com terceiros. Os resultados obtidos usaram
como referência as seguintes taxas básicas de referência de juros abaixo, praticadas pelo
mercado, em cada um dos períodos analisados:
90
Tabela 13 - Indicadores financeiros do endividamento – 2001-2006
Ano Selic (%
-
ano)
Poupança
(% ano)
TJLP (%
ano)
Ibovespa
dio (%
ano)
Libor (%
ref. ano)
2001 18,1% 8,2% 10,0% -11,0% 2,5%
2002 25,0% 8,8% 10,0% -17,0% 1,4%
2003 16,5% 10,6% 11,0% 97,1% 1,2%
2004 17,8% 8,1% 9,8% 17,7% 2,8%
2005 18,0% 9,2% 9,8% 27,1% 4,7%
Jun.2006 14,75% 8,4%* 8,2% 16,4%* 5,2%
Fontes: Banco Central do Brasil, Banco BNP Paribas, BNDES, Ibovespa, Revista Suma Economica e Febraban,
Maio de 2006; * referem-se a índices acumulados dos últimos 12 meses
Os resultados de média simples obtidos das Demonstrações Contábeis das empresas
analisadas foram os seguintes:
Tabela 14 - Evolução do custo da dívida de terceiros após abertura do capital
RESUMO
Ano
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
2005 1T2006 2T2006
capital próprio
46% 54% 62% 68% 71% 73%
- endividamento CP 37% 43% 37% 36% 34% 36%
- endividamento LP 63% 57% 63% 64% 66% 64%
capital de terceiros
54% 46% 38% 32% 29% 27%
Total
100% 100% 100% 100% 100% 100%
custo da dívida terceiros 18,3% 17,1% 16,3% 16,2% 15,9% 14,5%
1-2 anos 44% 38% 33% 46% 43% 40%
3 anos 13% 15% 14% 17% 18% 15%
4 anos 16% 18% 21% 13% 12% 11%
5 anos 10% 12% 14% 10% 12% 13%
+ 5 anos 15%
16% 18% 14% 15% 21%
TOTAL 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Dentre as conclusões que podem ser evidenciadas na tabela acima temos:
91
# As a abertura do capital, as empresas tenderam a se financiar com menor
volume de capital de terceiros e maior volume de capital próprio. Apesar do
custo do capital próprio ser superior ao custo de capital de terceiros em
condições macroeconômicas de estabilidade e de equilíbrio uma vez que os
proprietários da empresa são os últimos a recolherem os recursos residuais em
caso de falência, foi verificado que nos casos estudados, as empresas optaram
por reduzir o volume do endividamento junto a terceiros.
# Um menor endividamento com terceiros ocorre pois as empresas entendem que
os recursos obtidos com a emissão das ações são mais atraentes e baratos que
os recursos de terceiros. Os recursos advindos da emissão são em grande parte
utilizados para quitar dívidas mais onerosas com terceiros existentes.
# A análise do alongamento do endividamento é inconclusiva somente pela
análise dos Demonstrativos Contábeis uma vez que até um trimestre após a
abertura houve evidências de que os repagamentos da dívida concentrados nos
primeiro e segundo anos caem em termos percentuais de 44% para 33%
concentrando-se mais em períodos superiores a 4 anos mas em períodos mais
recentes eles aumentam e voltam a ter um padrão similar ao do ano anterior a
abertura.
# Por fim, o custo do endividamento junto a terceiros (ou “custo da dívida
terceiros”) antes e após a abertura do capital apresenta redução nos períodos
analisados. Ele caiu de 18,3% para 14,5% pela média simples dos custos das
18 empresas analisadas em cada um dos períodos.
Como esse custo, no entanto, foi calculado com base nos spreads praticados em cada
um dos períodos mais seus respectivos indexadores (TJLP, Libor, etc) que oscilaram em cada
um dos momentos analisados, foi feito também um segundo exercício onde foi verificado a
variação somente dos spreads praticados antes e depois da abertura do capital,
desconsiderando-se os efeitos destes indexadores no custo do capital de terceiros a fim de
ratificarmos os resultados anteriormente alcaçados, ou seja, empresas que abriram o capital
tiveram acesso a dívidas com custos ou spreads mais atraentes. A tabela abaixo confirma tais
resultados.
92
Tabela 15 - Evolução do custo da dívida de terceiros após abertura do capital
desconsiderando indexadores
RESUMO
Ano
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
2005 1T2006 2T2006
custo da dívida terceiros 6,3% 5,9% 5,3% 4,6% 4,3% 3,9%
Custo Médio Ponderado do Capital (CMPC)
Em complementação ao estudo realizado, foi calculado o custo médio ponderado do
capital para verificarmos se a abertura também beneficia na redução do custo do capital como
um todo.
Como abordado anteriormente, o custo de capital – ou custo médio de capital da
empresa - corresponde à média ponderada entre o custo de capital de terceiros e o custo de
capital próprio. O custo de capital de terceiros é o custo de captações marginais de
financiamentos, ou seja, é o preço do dinheiro a ser emprestado à empresa por entidades
financiadoras ou por investidores que adquiram seus títulos de dívida.
O modelo de precificação de ativos financeiros (capital assets pricing model ou
CAPM), criado pelos professores Henry Markowitz e William Sharpe, ganhadores do Prêmio
Nobel de Economia em 1990, é a ferramenta mais utilizada para projetar o custo de capital
próprio, superior ao custo de capital de terceiros em condições macroeconômicas de
estabilidade e de equilíbrio de políticas econômicas, pois os proprietários da empresa serão os
últimos a recolherem recursos residuais em caso de falência da empresa (Receita Federal,
empregados, fornecedores e credores têm direito de receberem fundos residuais primeiro). O
CAPM tem sofrido inúmeras críticas e diversos pesquisadores têm questionado sua validade
como visto anteriormente. Entretanto, a verdade é que os centros de pesquisa e os mercados
de capitais ainda não conseguiram produzir um modelo alternativo com maior robustez,
apesar dos problemas de sua aplicação.
Assim, o custo de capital próprio deve corresponder a uma taxa de juro livre de risco -
93
associada ao ativo com menor risco do mercado financeiro, adicionada de um prêmio de risco
consistente com a empresa que se considera (SANTOS, 2003). Ou seja, por correr o risco de
investir na empresa, o proprietário merece um prêmio acima da taxa de juro correspondente
ao ativo de menor risco do mercado (lembrando que na visão de investidores globais,
mercados emergentes ainda requerem um prêmio adicional para compensar o chamado risco-
país). Esse prêmio, por sua vez, é diretamente proporcional ao rendimento do mercado de
ações medido, por exemplo, por meio do Ibovespa, e a um fator denominado beta, que
funciona como um medidor do risco de mercado da empresa.
O beta de uma dada empresa é obtido por meio da correlação linear entre o
rendimento da ação da empresa e o rendimento do mercado, medido pelo Ibovespa, por
coerência com o exposto acima. Assim, uma ação com beta superior a 1,0 é mais arriscada do
que o Ibovespa, cujo beta próprio, por definição, é igual a 1,0 (BRIGHAM, GAPENSKI,
EHRHARDT, 1999). Exemplificando: se a empresa apresenta um beta de 1,2, isso significa
que a cada aumento ou redução de 1% na cotação do Ibovespa, obtém-se, em média, um
aumento ou redução de 1,2% na cotação da ação da empresa.
No presente estudo, visando a utilização de betas de um mesmo período de tempo para
cada uma das empresas, adotou-se como critério utilizar o período compreendido entre 31 de
dezembro de 2005 (instante posterior a última abertura de capital das 18 empresas analisadas)
e 30 de junho de 2006, data dos últimos Demonstrativos Contábeis analisados, ou seja, 6
meses. Os betas utilizados nolculo foram os seguintes.
94
Tabela 16 - Betas: 6 meses (31/Dez/05 – 30/Jun/06)
Empresa Beta
CCR 1,02
Rossi 1,15
ALL 0,77
Gol 0,64
CPFL 0,56
DASA 0,81
Porto Seguro 0,81
Natura 0,68
Grendene 0,65
Renar 0,15
Submarino 1,03
Renner 0,86
OHL 0,56
Energias 0,64
Brasil Realty 1,28
Cosan 1,39
UOL 1,02
Localiza 0,93
Média Simples 0,83
Fonte: Boomberg, 2006
Tabela 17 - Evolução do Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC)
RESUMO
Ano
anterior
Trimestre
anterior
Trimestre
posterior
2005 1T2006 2T2006
We= capital próprio
46% 54% 62% 68% 71% 73%
- endividamento CP 37% 43% 37% 36% 34% 36%
- endividamento LP 63% 57% 63% 64% 66% 72%
Wi =capital de terceiros
54% 46% 38% 32% 29% 27%
Total
100% 100% 100% 100% 100% 100%
ki =custo davida terceiros
18,3% 17,1% 16,3% 16,2% 16,0% 14,5%
ke= Krf+(Km-Krf) x B
43,1% 17,6% 22,9% 24,1% 15,0% 15,0%
krf (poupança) 9,3% 8,6% 8,8% 9,2% 8,4% 8,4%
km (ibovespa médio) 50,0% 19,4% 25,8% 27,1% 16,4% 16,4%
(km-krf) 40,8% 10,8% 17,0% 17,9% 8,0% 8,0%
CMPC = Wi*Ki + We*Ke 29,7% 17,3% 20,5% 21,5% 15,3% 14,9%
Assim, com base no CMPC, foram obtidas conclues próximas as anteriormente
discutidas em relação a redução do custo da dívida de terceiros principalmente quando
comparado o ano anterior a abertura do capital com períodos mais recentes.
95
O CMPC é altamente influenciado por peodos que apresentam o índice de retorno do
Ibovespa médio maior que faz com que a queda do CMPC não seja uniforme como quando
analisada a redução somente do endividamento junto a terceiros para o mesmo período.
3.2. Pesquisas de Campo
Para confirmação dos resultados obtidos através da análise dos Demonstrativos
Contábeis das empresas foram realizadas duas pesquisas qualitativas. A primeira com as
empresas estudadas e a segunda com profissionais do Mercado Financeiro que atuam ou
atuaram em posições Seniors, Gerenciais ou de Direção nos 20 principais bancos privados
brasileiros e cujo objetivo foi identificar qual o posicionamento deles em relação a concessão
de crédito às empresas no Brasil.
3.2.1. Pesquisa de campo: empresas analisadas
Em um primeiro momento, foi enviado por e-mail e correio ao departamento de
Relações com Investidores das 18 empresas analisadas um questionário detalhado sobre o
tema. No entanto, devido ao baixo retorno de respostas, foi adotado o critério de contatar
diretamente por telefone esses departamentos sendo feitas as seguintes perguntas diretas e
objetivas:
- Houve um aumento da disponibilidade de crédito e de financiamentos de prazos
mais longos com redão dos spreads logo após a abertura do capital ?
- Caso a resposta para pergunta anterior seja afirmativa, você acredita que tal
redução nos spreads aconteceria mesmo que o cenário macroecomico local
não tivesse apresentado melhoria nos últimos anos? (ou seja, tal melhoria
aconteceria de qualquer forma só que talvez com menor intensidade ?)
- Dentre fatores como baixo nível de poupança interna, alto endividamento
público, sistema judiciário ineficiente, qualidade de informações financeiras ou
outros, qual você considera como principal obstáculo a expansão do crédito
local?
96
- De modo geral, a abertura do capital propiciou a empresa mais vantagens do que
desvantagens?
Dos 18 contatos realizados, 14 empresas se dispuseram a responder às perguntas
imediatamente e outras 4 ficaram de analisá-las e enviar respostas mais tarde por escrito. As
que não responderam por telefone solicitaram que as perguntas fossem – novamente –
enviadas por e-mail ao departamento de Relações com Investidores. O procedimento foi
repetido como no caso do questiorio só que agora, de modo sumarizado (somente as 4
perguntas anteriormente listadas foram feitas). As respostas, no entanto, não foram obtidas
novamente até o término desse estudo.
Desse modo, foram obtidas respostas de cerca de 80% das empresas analisadas. Os
resultados foram tabulados abaixo:
Tabela 18 - Respostas das empresas analisadas
Empresa /
Pergunta
1) Houve aumento
do crédito, linhas de
Longo Prazo e
queda de spreads ?
2) Se sim,
ocorreriam mesmo
com ambiente
macro desfavorável?
3) Principal
obsculo à
expansão do
crédito local
4) As vantagens
superam as
desvantagens na
abertura ?
1. ALL
Sim Talvez não, uma vez
que o cenário
favorável constituiu
janela de
oportunidade à
emissão realizada
Sistema judicial
(apesar de
considerar que é
uma combinação
dos 3 primeiros)
Sim, sem dúvida
2. Brazil Realty
Sim, mas no caso
deles,
especificamente em
termos de spreads
que já possuiam
linhas mais longas
para o setor
imobiliário
Sim Baixo nível de
poupança interna
(mas considera
também como
sendo uma
combinação dos 3
primeiros)
Sim mas considera
que divulgação de
informações
estratégicas ao
mercado é uma
grande
desvantagem
97
Tabela 18 - Respostas das empresas analisadas (continuação)
Empresa /
Pergunta
1) Houve aumento
do crédito, linhas de
Longo Prazo e
queda de spreads ?
2) Se sim,
ocorreriam mesmo
com ambiente
macro desfavorável?
3) Principal
obsculo à
expansão do
crédito local
4) As vantagens
superam as
desvantagens na
abertura ?
3. Dasa
Sim. Fizeram
emissão de títulos a
5 anos logo após
abertura e obtiveram
redução de spreads de
111% da Selic para
103.6%
Sim. Qualidade das
informações
financeiras
Sim, mais
vantagens até pelo
aumento do valor
da empresa no
mercado
4. Natura
Sim Sim Sistema judicial Sim, principalmente
a empresas com
estratégias claras de
internacionalização
5. Porto Seguro
Sim. No entanto, no
caso deles, abertura
ocorreu por desejo do
fundador aliado ao
desejo da filha em
alienar parte de suas
ações no mercado
Sim, independe do
cenário
Alto endividamento
público seguido
pelo baixo nível de
poupança
Sim sem dúvida.
Mercado inputs
de informações e
novas idéias aos
administradores e
força-os a pensar
6. Submarino
Sim, principalmente
em termos do número
de bancos querendo
trabalhar com eles e
redução de spreads
Sim Alto endividamento
público (linhas do
BNDES disponíveis
são pequenas)
Sim. Após emissão
reduziu
endividamento e
possui recursos em
caixa para
estratégia de
aquisição de novas
empresas
7. Renar
Maças
Sim, principalmente
outros bancos. Os
prazos mesmo junto
ao BNDES também
se extenderam logo
após a abertura
Sim, uma vez que o
cenário agrícola tanto
em 2005 como em
2006 está ruim mas
mesmo assim a
empresa continuou
tendo benefícios
Alto endividamento
público seguido
pela poupança
interna baixa
Sim. Mercados
externos passaram a
ser acessíveis.
Mercado inputs
de informações e
novas idéias aos
administradores
98
Tabela 18 - Respostas das empresas analisadas (continuação)
Empresa /
Pergunta
1) Houve aumento
do crédito, linhas de
Longo Prazo e
queda de spreads ?
2) Se sim,
ocorreriam mesmo
com ambiente
macro desfavorável?
3) Principal
obsculo à
expansão do
crédito local
4) As vantagens
superam as
desvantagens na
abertura ?
8. OHL
Sim. Acesso a
mercados
internacionais.
Sim Alto endividamento
público
Sim, mais
vantagens
9. CCR
Sim, principalmente
acessando mercados
internacionais.
Sim Baixo nível de
poupança interna
Sim
10.CPFL
Sim Sim, até porque a
abertura ocorreu no
Novo Mercado e
simultaneamente em
Nova Iorque (ADRs)
Alto endividamento
público seguido
pelo baixo nível de
poupança
Sim
11. Localiza
Sim. Ocorreu redução
dos spreads em até
100 bps (1%) logo
após abertura e linhas
de longo prazo
superiores a 5 anos
Sim Alto endividamento
público seguido
pelo baixo nível de
poupança
Sim, principalmente
a empresas com
estratégias de
internacionalização
para acesso de
recursos em outros
mercados
12. Gol
Sim. Disponibilidade
de linhas de
financiamento
aumentou de R$ 97
mi antes da abertura
para R$ 200 mi logo
após e mais de R$
400 mi atualmente
Sim Alto endividamento
público
Sim, principalmente
a empresas com
estratégias de
internacionalização
para acesso de
recursos em outros
mercados
13. Renner
Sim Sim Alto endividamento
público
Sim
14. Cosan
Sim Não Baixo nível de
poupança interna
seguida pela falta
de qualidade das
informações
Sim. Pode
possibilitar
principalmente
aumento do valor
de mercado da
companhia
99
Dos resultados obtidos, podemos enunciar as seguintes conclues:
# Unanimidade de respostas afirmando que houve aumento da oferta de crédito
por terceiros inclusive a prazos mais longos e a custos menores logo após a
abertura do capital.
# 85% das empresas afirmando que mesmo em um cenário macroeconômico
desfavorável, a abertura propiciaria sim benefícios de queda de spreads e
maior volume de crédito em relação a quando a empresa era fechada, mas
talvez, com menor intensidade.
# A concorrência com títulos do Governo como principal entrave a maior
expansão do crédito no país e
# A também unanimidade pelas empresas que responderam o questionário em
relação ao fato de que a abertura propicia mais vantagens do que desvantagens
principalmente as instituições com estratégias claras de internacionalização de
atividades (como foi o caso de Gol, Localiza e Natura) ou empresas que
precisam de uma “alavancagem” adicional de recursos no caixa para aquisição
de novos negócios (como é o caso da Submarino que recentemente adquiriu
outras empresas de internet nas áreas de ingressos para cinema, teatro ou
viagens, complementando seu negócio principal que é o varejo eletrônico)
Um outro ponto bastante interessante é o de que se percebe claramente que o porte das
empresas que vieram a mercado nestes anos mais recentes entre 2002-2005 e foco desta
pesquisa é muito menor do que empresas tradicionais listadas há muitos anos na Bovespa
como Embraer, Petrobrás, Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Sadia, Ambev, Telemar,
dentre tantas outras.
Assim, a tabela abaixo faz uma comparação entre o faturamento e porte das 18
empresas analisadas que fizeram oferta pública de ações na Bovespa entre 2002 e 2005 e
algumas das empresas “tradicionais” do Mercado acionário brasileiro.
100
Tabela 19 - Faturamento e porte em 31 de Dezembro de 2005 de algumas das
empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) há mais de 5 anos
comparados ao das empresas analisadas na pesquisa
Empresa/ R$ x milhão Faturamento Líquido Patrimônio líquido Ativo total
Empresas “tradicionais”
1) Petrobras 136,605 78,785 183,521
2) CVRD 33,993 24,052 53,594
3) Telemar 16,747 6,083 28,923
4) Ambev 15,959 19,990 33,493
5) Embraer 9,133 4,864 16,983
6) Sadia 7,318 2,223 6,522
Empresas analisadas
1) CCR 1,954 1,373 3,424
2) Rossi 404 292 793
3) Natura 2,282 523 1,191
4) ALL 1,087 934 2,665
5) Gol 2,660 991 2,255
6) CPFL Energia 7,738 4,796 13,651
7) Grendene 1,069 851 1,159
8) DASA 528 266 593
9) Porto Seguro 3,418 1,095 4,582
10) Renar 49 34 61
11) Submarino 420 188 328
12) Localiza 855 334 1,084
13) Renner 1,136 517 1,057
14) OHL 389 601 1,145
15) Energias 4,323 3,509 8,955
16) Br Realty 688 1,018 1,775
17) Cosan 1,900 762 2,722
18) UOL 444 438 687
Fonte: Demonstrativos Conbeis das empresas, 2005
Exceções feitas às empresas CPFL, Energias EDP e Porto Seguro que apresentam
maior porte, as demais 15 empresas analisadas que recentemente abriram o capital possuem
faturamento e total de ativos iguais ou inferiores a R$ 3 bilhões. Esse é um ponto que
claramente demonstra que empresas de menor porte obtiveram a partir da abertura de seu
capital claros benefícios em relação a um maior volume de crédito, maiores prazos, e custos
101
mais atrativos. Essas condições mais atrativas estavam antes restritas apenas às grandes
empresas listadas em Bolsa de Valores.
Embora as empresas foram unânimes em apontar que as vantagens são superiores às
desvantagens na abertura do capital, 11 delas complementaram a resposta citando quais as
principais vantagens e quais as principais desvantagens desse procedimento. Dessa forma, o
quadro abaixo resume as principais vantagens e desvantagens mencionadas pelas empresas.
Como já mencionado, segundo as empresas, as vantagens superam as desvantagens.
Figura 6 - Vantagens e desvantagens espontaneamente apontadas pelas
empresas analisadas após a abertura do capital
No entanto, o interessante foi constatar que todas foram unânimes em apontar outras
vantagens advindas da abertura do capital além do simples maior acesso a crédito. Duas
empresas – Porto Seguro e Renar Maçãs – apontaram ainda que o Mercado Financeiro em
seus constantes questionamentos sobre o desempenho operacional dessas empresas passou a
fornecer valiosos inputs de informações aos administradores forçando-os a pensar se
# VANTAGENS ?
Acesso a um número maior de fontes de
recursos e volume de crédito
Acesso a financiamentos de prazos mais
longos
Acesso a spreads menores
Mercado financeiro em geral tem uma
vio mais positiva da empresa
Executivos da empresa acompanham
mais de perto e no curto prazo
indicadores de desempenho
Troca de informações com o mercado
auxilia no processo de elaboração de
estratégias
Contribui para aumento do valor de
mercado da companhia
# DESVANTAGENS ?
Custos de abertura/ manutenção de
um departamento de RI/ emissão de
relatórios trimestrais e fatos
relevantes são altos
Maior acesso a informações
estratégicas por parte de
competidores
Maior lentidão no processo de tomada
de decisão
Divisão dos lucros com outros
acionistas
Pressão de investidores por resultados
de curto prazo
Desrespeito aos acionistas
minoritários (não se enquadra aqui
ações no Novo Mercado)
102
determinadas estratégias que estavam sendo adotadas faziam sentido no longo prazo e sobre o
que poderia ser feito para melhoria do desempenho. A Dasa (Diagnósticos da América SA,
proprietária dos laboratórios Auriemo e Lavousier) bem como a Cosan (empresa do setor de
usinas de álcool/ açúcar) apontaram que a abertura pode favorecer empresas com consistentes
programas de investimento no longo prazo a aumentarem seu valor de mercado
significativamente, fato ocorrido com eles.
De maneira resumida, os gráficos abaixo demonstram os resultados tabulados da
pesquisa qualitativa anteriormente respondida por 14 das 18 empresas analisadas:
Gráfico 5 - Houve um aumento da disponibilidade de crédito e de financiamentos de prazos
mais longos com redão dos spreads logo após a abertura do capital ?
sim
100%
não
0%
A empresa Gol, por exemplo, menciona que o montante de linhas de crédito a ela
disponíveis centradas principalmente no curto prazo no 1T04 (ou seja, antes de sua abertura
de capital que ocorreu em Junho de 2004) era de R$ 97 milhões, foi ampliado para mais de R$
200 milhões logo após a abertura do capital e que, após Junho de 2006, tal montante
superava os R$ 400 milhões. Já a Localiza cita que um dos principais benefícios foi a
expansão dos prazos médios disponíveis de endividamento para 5 anos (fato também citado
por Dasa e Renar Maçãs) e reduções nos spreads de até 100 bps (1%) logo após a abertura.
103
Gráfico 6 - Caso a resposta para pergunta anterior seja afirmativa, você acredita que
tal redução nos spreads aconteceria mesmo que o cenário macroeconômico local não
tivesse apresentado melhoria nos últimos anos?
sim
85%
não
15%
Essa pergunta buscava entender se essa possível melhoria aconteceria de qualquer
forma só que talvez com menor intensidade em um cenário desfavorável.
Desse modo, em relação a essa pergunta, duas empresas – ALL e Cosan –
responderam que não pois caso o cenário macroeconômico não estivesse favorável, elas
possivelmente não teriam aproveitado a “janela de oportunidade” para emissão de ações,
tendo esperado um momento mais oportuno para fazê-lo.
104
Gráfico 7 - Dentre fatores como baixo nível de poupança interna, alto endividamento
público, sistema judiciário ineficiente, qualidade de informações financeiras ou outros,
qual você considera como principal obstáculo à expansão do crédito local ?
57%
21%
14
%
7%
0%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
e
n
d
i
v
i
d
a
m
e
n
t
o
p
u
b
l
i
c
o
p
o
u
p
a
n
c
a
i
n
t
e
r
n
a
s
i
s
t
e
m
a
j
u
d
i
c
i
a
l
q
u
a
l
i
d
a
d
e
i
n
f
o
r
m
a
ç
õ
e
s
o
u
t
r
o
s
Essa outra pergunta teve um enfoque mais macro, ou seja, tratou da disponibilidade de
crédito no Brasil de modo geral. Nas respostas, 57% (ou 8 das 14 empresas que responderam
às perguntas) entendem que o maior obstáculo à expansão do crédito local é ainda o Governo.
O alto grau de endividamento público acaba tomando do setor privado grande parte dos
recursos, ou seja, os bancos têm preferência em adquirirem títulos do governo – que
financiam a dívida pública – ao invés de emprestarem recursos às empresas uma vez que a
percepção para os bancos dos riscos envolvidos em relão aos títulos públicoso mais
baixos que empréstimos ao setor privado e oferecem remuneração relativamente alta (atrelada
a indexadores como CDI, Selic, etc).
Um ponto interessante relaciona-se ao fato de que, apesar da pergunta requisitar
apenas “qual o principal obstáculo à expansão do crédito”, quatro das empresas que
responderam ser o Governo citaram espontaneamente que o baixo nível de poupança é o
segundo fator que mais inibe tal expansão. Desse fato podemos entender que o baixo nível de
poupança (ou baixo nível de aplicações no longo prazo) citado como primeiro fator apenas
por 3 das 14 empresas na verdade contribui de modo significativo como segundo fator para
105
que haja em contrapartida a falta de disponibilidade de linhas de financiamento para
emprestar no longo prazo.
O Sistema Judiciário ineficiente foi citado por 2 empresas como entrave a maior
expansão do crédito no país citando que os processos e Leis vigentes são muito morosos e
ineficazes. Por último, a qualidade das informações disponibilizada pelas empresas em geral
no Brasil aos bancos foi apontada apenas por uma empresa como principal obstáculo a
expansão do crédito. No entanto, é válido salientar que tanto o Sistema Judicial como baixa
qualidade de informações foram fatores lembrados também por outras 3 das 14 empresas que
responderam às perguntas.
Gráfico 8 - De modo geral, a abertura do capital propiciou a empresa mais vantagens
do que desvantagens?
sim
100%
não
0%
Por fim, no entendimento unânime de todas as 14 empresas do total de 18 analisadas
que responderam ao questionário, as vantagens da abertura de capital superam com certeza as
desvantagens, confirmando as premissas defendidas nesse estudo, ou seja, a abertura do
capital é importante em termos de aumento do volume de crédito em países de baixa
disponibilidade de crédito ao setor privado como o Brasil. E nesse aspecto, mesmo algumas
delas citando que a divulgação de informações estratégicas aos competidores é um ponto
negativo bastante forte, as vantagens da abertura para essas empresas ainda foram mais
representativas conforme listadas anteriormente.
106
3.2.2. Pesquisa de campo: Profissionais do mercado financeiro
Para confirmação dos resultados obtidos através da análise dos Demonstrativos
Contábeis e da pesquisa qualitativa com as empresas cujos resultados foram anteriormente
discutidos, foi realizada uma segunda pesquisa qualitativa agora colhendo opiniões a cerca do
tema de profissionais do Mercado Financeiro.
Foram colhidas através de 4 perguntas enviadas por e-mail nos meses de Agosto e
Setembro de 2006 respostas de 14 profissionais que atuam ou atuaram principalmente em
posições Gerenciais ou de Direção nos principais bancos brasileiros. Segundo o ranking de
bancos da revista da editora Abril “500 Maiores Empresas de 2005” do mês de Jun/2006, as
instituições dos profissionais entrevistados atuam ou atuaram nos 20 maiores bancos privados
locais pelo critério de tamanho do Patrimônio Líquido.
As respostas obtidas refletem a opinião pessoal desses profissionais e não a visão
institucional dos bancos onde exercem suas funções uma vez que o processo de
autorização interna de cada banco para liberação de tais respostas seria muito longo e
prejudicial ao andamento do estudo.
No entanto, as opiniões pessoais atenderam ao propósito da pesquisa uma vez que
o objetivo foi atingido, ou seja, compreender qual o pensamento a cerca do tema
estudado de quem toma as decisões pelas instituições que emprestam os recursos para os
tomadores após os últimos abrirem o capital.
As perguntas realizadas foram as seguintes:
1) Empresas de capital aberto possuem maior disponibilidade de linhas de
crédito, com prazos maiores e spreads menores ?
2) Principais fatores que ainda inibem maior volume de crédito no Brasil
3) Empresas de menor porte que decidem abrir o capital também se beneficiam
(são vistas pelo mercado financeiro de forma diferenciada)?
4) Em termos gerais, a abertura do capital proporciona mais vantagens do que
desvantagens?
107
As respostas obtidas foram tabuladas abaixo:
Tabela 20 - Opiniões pessoais (não institucionais) de profissionais do Mercado
Financeiro em relação à abertura de capital de empresas locais como instrumento de
acesso ao crédito
Profissional Posições
ocupadas/
Instituições
financeiras
1) Empresas de
capital aberto
possuem mais
crédito, linhas
de Lon
g
o Prazo
e spreads
menores?
2) Principais
obsculos à
expansão do
crédito local
3) Empresas de
menor porte que
abrem o capital
também se
beneficiam?
4)
Vantagens
superam as
desvanta-
gens na
abertura ?
1.Andrea
Amorim
Seniors /
ABN-Amro,
BNP
Sim. Qualidade
das informações
superior impacta
favoravelmente
na análise de
crédito
1) Go ver n o
2) Câmbio
3) Qualidade
informação
Sim. Empresas
familiares
principalmente são
vistas de melhor
forma após
abertura
Sim.
2.César
Figueiredo
Direção/
BNP, HSBC
Sim,
principalmente
em um ambiente
volátil como o
brasileiro
1) Go ver n o
2) Ambien te
Legal
3) Qualidade
Informação
Sim Sim
3. Diana Jabra
Gerência/
BNP, ING
Sim 1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3)Conjuntura
macroeco-
nômica
Sim. Benefícios
são maiores do que
as de capital
fechado mas
menores do que de
as grandes de
capital aberto
Sim
108
Tabela 20 - Opiniões pessoais (não institucionais) de profissionais do Mercado
Financeiro em relação à abertura de capital de empresas locais como instrumento de
acesso ao crédito (continuação)
Profissional Posições
ocupadas/
Instituições
financeiras
1) Empresas de
capital aberto
possuem mais
crédito, linhas
de Lon
g
o Prazo
e spreads
menores?
2) Principais
obsculos à
expansão do
crédito local
3) Empresas de
menor porte que
abrem o capital
também se
beneficiam?
4)
Vantagens
superam as
desvanta-
gens na
abertura ?
4. Fabio Jacob
Direção/
BNP, CCF
Sim, devido a
maior
transparência de
informações ao
Mercado
1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3)Conjuntura
macroeco-
nômica
Sim, desde que
possuam um bom
planejamento
futuro pois custos
da abertura são
altos
Sim
5.Gustavo
Cunha
Gerência/
Santander,
Sudameris
Sim, sendo que a
própria abertura
já inicia esse
processo
1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3) Poupança
Sim. Inclusive as
aberturas tem sido
feitas por empresas
de menor porte
não?
Sim
6.Henrique
Faria
Direção/
Itaú
Sim 1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Qualidade
informação
3) Poupa nça
Sim Sim
7.Henrique
Sperandio
Gerência/
Unibanco/
BNP
Sim pois as de
capital fechado
o são em geral
transparentes
diminuindo o
“apetite’ dos
bancos
1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3) Qualidade
Informação
Sim Sim, desde
que haja um
projeto claro
de cresci-
mento
109
Tabela 20 - Opiniões pessoais (não institucionais) de profissionais do Mercado
Financeiro em relação à abertura de capital de empresas locais como instrumento de
acesso ao crédito (continuação)
Profissional Posições
ocupadas/
Instituições
financeiras
1) Empresas de
capital aberto
possuem mais
crédito, linhas
de Lon
g
o Prazo
e spreads
menores?
2) Principais
obsculos à
expansão do
crédito local
3) Empresas de
menor porte que
abrem o capital
também se
beneficiam?
4)
Vantagens
superam as
desvanta-
gens na
abertura ?
8.Marcelo
Rezende
Gerência/
HSBC
Não sempre, mas
as chances de
occorem são
maiores.
Multinacionais
fechadas também
têm benefício
1) Ambien te
Legal
2) Qualidade
informação
3) Go ver n o
Sim, pois passam a
ser mais
transparentes
Sim
9.Raquel
Pereto
Seniors/
HSBC
Sim. Informações
auditadas e de
qualidade são
bem vistas.
Menores são os
riscos e menores
os spreads
1) Poupa nça
2) Go ver n o
3) Qualidade
Informação
Sim Sim
10.Roberto
Barbuti
Direção/
UBS-Pactual
Sim. Maior
transparência trás
maior conforto
dos bancos com
os números
1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3) Qualidade
Informação
Sim. Mercado
abaixou a barreira
para montantes
mínimos de
emissão para entre
USD 150 – 200
milhões
Sim
11.Roberto
Martinelli
Gerência/
Citibank,
Bank Boston
Não
necessariamente
se consideradas
multinacionais
fechadas. Do
contrário, sim.
1) Qualidade
informação
2) Ambien te
Legal
3) Go ver n o
Sim Sim
110
Tabela 20 - Opiniões pessoais (não institucionais) de profissionais do Mercado
Financeiro em relação à abertura de capital de empresas locais como instrumento de
acesso ao crédito (continuação)
Profissional Posições
ocupadas/
Instituições
financeiras
1) Empresas de
capital aberto
possuem mais
crédito, linhas
de Lon
g
o Prazo
e spreads
menores?
2) Principais
obsculos à
expansão do
crédito local
3) Empresas de
menor porte que
abrem o capital
também se
beneficiam?
4)
Vantagens
superam as
desvanta-
gens na
abertura ?
12.Roberto
Vidal
Direção/
ING-
Sulamerica
Sim 1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3) Burocr acia
para obter
linhas
Sim. No entanto, o
Mercado deve se
tornar mais seletivo
em momentos de
menor liquidez.
Empresas de menor
porte podem sim se
beneficiar desde
que tenham bons
fundamentos
Sim, sem
dúvida
13.Rodrigo
Menck
Gerência/
BNP, Citibank
Sim. Percepção
de maior
confiabilidade
passa a existir.
Visão melhor da
estratégia no
longo prazo
reflete-se em
prazos maiores e
menores custos
1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Ambien te
Legal
3) Conjuntura
macroeco-
nômica
Não
necessariamente.
Momento atual é
favorável a elas
mas em períodos
instáveis
investidores e
bancos buscam
“blue chips
(empresas
tradicionais)
Potencial-
mente sim.
14.Sinara
Figueiredo
Direção/
Santander,
BankBoston
Sim. 1) Alta taxa de
juros e
Governo
2) Conjuntura
macroeco-
nômica
3) Ambien te
Legal
Sim Sim.
111
Resumidamente em relação às respostas acima, foi constatado o seguinte:
# Apesar da maioria dos entrevistados ter afirmado que existe um aumento da
oferta de crédito por terceiros inclusive a prazos mais longos e a custos
menores às empresas logo após suas aberturas do capital, não houve
unanimidade de respostas a esse respeito. Cerca de 20% dos entrevistados
entendem que empresas fechadas como multinacionais, por exemplo,
beneficiam-se de taxas e prazos tão atrativos quanto os disponíveis às empresas
de capital aberto.
# Novamente, a concorrência com títulos do Governo (e o consequente alto nível
de taxas de juros a esses títulos atrelada) foi considerada pela maioria (11 dos
14 entrevistados ou 79%) como principal entrave a maior expansão do crédito
no país. Sistema judicial deficiente e falta de qualidade das informações
prestadas foram os outros 2 fatores mais citados.
# Um aspecto interessante é que os profissionais do Mercado Financeiro
defenderam de forma unânime que, mesmo que de menor porte, empresas que
fazem esse movimento de abertura são claramente vistas de modo muito mais
positivo pelo Mercado e se beneficiam com maior disponibilidade de crédito,
menores spreads e prazos mais longos. O Mercado já aceita emissões primárias
bem menores (entre USD 150 milhões a USD 200 milhões) e não possui
restrições quanto a um setor industrial específico. A maior preocupação é que a
empresa tenha bons elidos projetos futuros de crescimento e rentabilidade,
independentemente de seu tamanho.
# Por fim, outra unamidade ocorreu. Para esses profissionais, as vantagens de se
abrir o capital são bem maiores que as desvantagens.
Como nesse caso os entrevistados citaram mais de um fator como principal
obstáculo à expansão do crédito uma vez que a pergunta foi mais aberta em relação a pergunta
similar feita às empresas (principais ao invés de principal fator) foi adotado o critério de
média ponderada das citações para verificarmos em termos percentuais quais os fatores foram
mais vezes mencionados. Assim, o primeiro fator citado pelo entrevistado teve peso 3, o
segundo 2 e o terceiro 1. O resultado pode ser veficado a seguir.
112
Gráfico 9 - Principais fatores que ainda inibem maior volume de crédito no Brasil
44%
26%
14%
10%
6%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
endividamento
publico
sistema judicial qualidade
informações
outros poupanca interna
O que pode ser constado do gráfico acima é que, ao contrário da visão das
empresas que entendem que o baixo nível de poupança interna é o segundo principal fator
para um menor volume de cdito, os profissionais do Mercado apontam que fatores como
dificuldade de recuperação dos créditos emprestados devido a um Sistema Judicial ruim bem
como a qualidade questionável e muitas vezes precária das informações operacionais e
financeiras que a eles são disponibilizadas pelas empresas dificultam bastante a aprovação de
maiores linhas a custos mais atrativos a essas empresas durante os comitês de crédito internos
dos bancos. Para esses profissionais, outros fatores como ambiente macroecomico instável
por exemplo, são mais relevantes para escassez do crédito do que o baixo nível de poupança.
As considerações, de modo consolidado, sobre todos resultados acima obtidos
pelas pesquisas realizadas com as empresas e os profissionais do mercado financeiro foram
sumarizadas na próxima seção.
113
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da análise das Demonstrações Contábeis das 18 empresas enunciadas e de
informações adicionais com elas obtidas por telefone bem como opiniões de profissionais do
Mercado Financeiro, verificamos que, de modo geral, a abertura do capital dessas empresas
levou não só a uma redução do nível do custo dos financiamentos cobrados por terceiros mas
também a uma expansão da disponibilidade de recursos.
O custo médio ponderado do capital dessas empresas também torna-se menor quando
comparado ao ano anterior as aberturas. Independentemente da melhoria macroeconômica que
ocorre durante o período de análise das empresas, o entendimento majoritário das companhias
analisadas é que, somente o fato delas terem se lançado no mercado, ou seja, aberto o capital e
emitido ações, já as beneficiaria de qualquer forma, mesmo que o cenário macroeconômico
não tivesse sido favorável.
Profissionais do Mercado Financeiro tiveram entendimento semelhante quando
indagados sobre o tema já que a maior transparência de informações e estratégias demandadas
às empresas listadas em Bolsa de Valores já provêem aos bancos maior conforto no momento
da concessão de empréstimos. As empresas pesquisadas defenderam na totalidade que, as
vantagens de tal movimento superaram as desvantagens.
A análise somente das Demonstrações Contábeis no entanto, foi inconclusiva em
relação à expansão dos prazos de pagamento de endividamento após a abertura de capital. Isso
porque muitas das empresas que o fizeram entenderam que os recursos eram mais baratos do
que os do endividamento bancário que possuíam optando por quitar grande parte do volume
desse endividamento existente mantendo-o apenas no curto prazo para necessidades de fluxo
de caixa diárias.
Por outro lado, a totalidade das empresas contatadas por telefone confirmou que após a
abertura do capital, houve uma expansão dos prazos médios de financiamento. Além disso,
114
85% delas ainda entendem que tal expansão ocorreria mesmo se não tivesse havido uma
sensível melhoria do setor macroecomico, o que mitiga questionamentos nesta linha, ou
seja, que relacionem a expansão do crédito somente a uma melhora de condições
macroeconômicas de um país. Essa mesma percepção das empresas analisadas foi confirmada
por profissionais do Mercado Financeiro entrevistados.
A tabela abaixo resume os resultados de alguns dos principais pontos abordados ao
longo do trabalho e verificados junto às empresas e seus Demonstrativos Contábeis bem como
com profissionais do Mercado Financeiro.
Tabela 21 - Resumo dos resultados da pesquisa
Questão levantada/
Resultado majoritário
Demonstrativos
Contábeis
Empresas
questionadas
Profissionais
Mercado
Financeiro
questionados
Ocorre redução de spreads
e expano do crédito após
abertura?
SIM SIM SIM
Ocorre aumento de linhas
de longo prazo?
NÃO SIM SIM
Principal obstáculo a
expansão do crédito
N/D GOVERNO GOVERNO
Vantagens superam as
desvantagens após a
abertura ?
APARENTEMENTE
SIM
SIM SIM
Empresas de menor porte
que abriram (abrem) o
capital também se
beneficiaram (ou
beneficiam)?
SIM (das empresas que
abriram o capital no
período analisado, a
maioria possui porte
inferior às já
tradicionalmente
listadas)
SIM SIM
Como já mencionado, segundo as empresas e profissionais pesquisados, as vantagens
superam as desvantagens o que mostra que no Brasil, um país com ambientes ecomico e
potico relativamente ainda instáveis, Teorias tradicionais de estrutura de capitais nem
sempre são automaticamente 100% aplicáveis. O mercado de capitais é portanto um
115
importante instrumento de acesso não só a recursos menos onerosos e fartos mas também ao
mercado de crédito.
Empresas como o Submarino, por exemplo, apesar de praticamente não possuir mais
nenhum endividamento em seus Demonstrativos Contábeis recentes confirmou que, o volume
de linhas bem como os prazos disponíveis de financiamento são significativamente maiores
hoje do que anteriormente a abertura. A estratégia da empresa foi a de quitar o endividamento
bancário existente utilizando recursos financeiros mais baratos obtidos com a oferta pública
inicial deões (IPO- Initial Public Offering).
A Gol, por exemplo, chega a quantificar tal expansão em 4 vezes entre o trimestre
anterior a abertura e seu último Demonstrativo Contábil disponível. Além disso, a empresa
conseguiu redução significativa do seu custo de endividamento no 2 trimestre de 2006
quando, após 2 anos após sua abertura de capital conseguiu realizar uma emissão de USD 200
milhões de dívida na forma de bônus perpétuo (equivalente agora a quase 70% de seu
financiamento bancário excluindo leasing de aeronaves). Desse modo, seu custo total de
endividamento reduziu-se significativamente e passou a ser inferior a 10% a.a. A Cosan,
empresa do setor agrícola (açúcar/ álcool) fez movimento semelhante e em 10 de fevereiro de
2006 emitiu bônus perpétuos no mercado internacional no montante de USD 450 milhões a
juros de 8,25% aa, fazendo com que seu custo de endividamento total caísse para menos de
12% aa.
Um dos pontos de maior questionamento do estudo apresentado poderia ser o
relacionado ao da condição macroeconômica favorável tanto externa como local que pode ter
beneficado a redução dos custos de financiamento e possibilitado maior oferta de crédito
verificados através da análise dos Demonstrativos Contábeis dessas empresas entre 2002-
2005. Esse é um fato que, no entanto, é parcialmente verdade.
Como primeiro contraponto a essa premissa, constatou-se a convicção em sua maioria
tanto das empresas como dos profissionais do Mercado Financeiro pesquisados de que tais
melhorias ocorreriam sim após a abertura do capital, mesmo que de um modo menos intenso.
A opinão de que informações de maior qualidade e transparentes prestadas de forma confiável
abordando o posicionamento estratégico futuro da empresa listada reflete automaticamente
116
em um maior conforto dos bancos na conceso de cditos a esses tomadores, ampliando não
só o volume de linhas mas prazos de pagamentos e redução de custos.
O segundo e relevante contraponto observado refere-se a uma das 18 empresas
analisadas: a Renar Maçãs, comercializadora de maçãs. A empresa que foi a menor das
empresas analisadas a abrir o capital no período (faturamento líquido de R$ 49 milhões e
ativos totais de R$ 62 milhões em 2005) atestou que, mesmo com o cenário de seu setor de
atuação (agronegócio) totalmente desfavorável no período de sua abertura de capital ela
obteve claros benefícios tanto em termos de ampliação das linhas de crédito como
alongamento das mesmas associados a reduzidos spreads.
Esses fatores demonstram que mesmo empresas de menor porte tendem a se beneficiar
também após a abertura do capital. Esse movimento continua intenso. Segundo dados da
CVM (Comissão de Valores Mobiliários) até 30 de Setembro de 2006, aconteceu um volume
expressivo de emissões primárias e secundárias de ações no Mercado brasileiro. A tabela
abaixo demonstra essa evolução:
Tabela 22 - Emissões totais de ações entre Jan.2006-Set.2006 x período 2002-2005
Número de ofertas Volume total – R$ x milhão
2002-2005 63 28.381
2006 (até Set) 44 21.442
Total 107 49.823
Fonte: CVM, 2006
As emissões primárias e secundárias do período Jan.2006-Set-2006 já representam
mais de 70% do número de ofertas bem como volume total de emissões das emissões
ocorridas nos últimos 4 anos (Jan.2002-Dez.2005). Além disso, o movimento de empresas de
menor porte que tem buscado esse Mercado ratifica de modo geral as idéias defendidas nessse
estudo.
Entre as empresas que fizeram ofertas públicas iniciais de ações no ano de 2006
estavam a construtora Gafisa (oferta inicial de R$ 480 milhões), a empresa de TV a Cabo
TOTVS (oferta inicial de R$ 284 miles), livraria Saraiva (oferta inicial de R$ 66 milhões),
117
construtora Abyara (oferta inical R$ 188 milhões), empresa de planos de saúde Medial Saúde
(oferta inicial de BRL 474 milhões), entre outros.
Dessa forma, mesmo empresas de menor porte como a livraria Saraiva com
faturamento líquido em torno de R$ 450 milhões e ativos totais de R$ 300 milhões acessaram
com sucesso o mercado de capitais e possivelmente devem ter se beneficiado em
contrapartida como nos casos estudados nessa pesquisa de maior volume de crédito, prazos de
pagamento mais extensos e redução de spreads.
Como discutido ao longo do trabalho, as restrições de crédito das instituições
financeiras aos setores privados brasileiro e de outros países de economias dito emergentes
são resultado de diversas fraquezas e volatilidades macroeconômicas dos países da região,
tendo sido as principais delas apontadas, analisadas e ratificadas pelas empresas e
profissionais do Mercado Financeiro pesquisados.
É importante ressaltarmos no entanto que o Brasil realizou progressos significativos
nos últimos anos. As reformas financeiras realizadas durante os anos de 1990 introduziram
maior estabilidade e confiabilidade ao Sistema Financeiro Nacional melhorando a qualidade
dos bancos cujo número de instituições foi reduzido significativamente. Nesse aspecto, ao
menos no Brasil, a qualidade das instituições financeiras remanescentes não deve representar
mais um obstáculo ao crescimento da intermediação financeira.
As melhorias ecomicas implementadas no Brasil nos últimos anos (disciplina fiscal,
inflação controlada) têm também contribuído na redução dos spreads dos empréstimos
(indexadores básicos como TJLP, CDI tem diminuído desde 2003). O setor público, no
entanto, continua tendo um papel de suma importância no processo de expansão do crédito ao
setor privado. A eliminação de déficits fiscais orçamentários (hoje bastante reduzidos mas
ainda próximos a 3% do PIB) já seria o primeiro passo para que recursos de instituições
financeiras fossem direcionados ao setor privado e não a compra de títulos públicos.
Adicionalmente, o encorajamento da população a formação de poupança a longo prazo
é um dos principais instrumentos para a contrapartida de linhas de financiamento também de
longo prazo a serem oferecidas pelos bancos. A criação dos planos de aposentadoria PGBL e
118
VGBL após 2002 têm contribuído nesse sentido para que a população comece a realizar
poupança no longo prazo. Evoluções também verificadas após 2005 com a nova Lei de
Falências que possibilita aos credores a recuperação judicial de seus créditos de modo mais
ágil também deve ser outro importante ponto a contribuir para uma melhoria na
disponibilidade de crédito ao setor privado. Por fim, uma revisão das regras atuais em relação
ao tipo de Demonstrativo Contábil e informações nimas operacionais que devessem ser
elaboradas por empresas não listadas em Bolsa de Valores colaborariam muito para um maior
conforto das instituições financeiras na concessão de crédito ao setor privado de modo geral.
Dessa forma, foi constado ao longo do estudo que a abertura do capital no Brasil
serve também como valioso instrumento de maior acesso ao mercado de crédito
possibilitando empresas que o fazem – mesmo que essas empresas tenham um porte
reduzido – a se beneficiarem de linhas de financiamento de prazos maiores a custos
reduzidos quando comparadas a empresas similares de capital fechado.
Esse fato demonstra que modelos tradicionais de estrutura de capitais em finanças
como o do Pecking Order que defende que as empresas devem buscar o mercado de capitais
apenas como última alternativa para financiarem seus investimentos não são necessariamente
sempre válidos a todos os mercados e empresas, principalmente em países emergentes como o
Brasil onde os custos de captação de recursos obtidos pela emissão de ações e posteriormente
de linhas de financiamento no mercado de crédito são bastante atrativos.
No estudo foi verificado quase que de maneira unânime também entre empresas e
profissionais do Mercado Financeiro que as vantagens da abertura de capital são muito
maiores que as desvantagens e que tal movimento deveria ser adotado por um maior número
de empresas.
Assim, com base nos elementos colocados ao longo do trabalho e resultados obtidos,
espera-se que outras empresas, mesmo que de menor porte, busquem cada vez mais, através
da abertura de seu capital, os benefícios advindos desse fato, não só diretos (expansão de
linhas de crédito disponíveis, redução dos spreads, valorização do valor da empresa, entre
outros citados) mas tamm indiretos como, por exemplo, o maior reconhecimento da
qualidade da empresa por parte de investidores e mercado financeiro em geral (bancos,
credores).
119
A criação de um mercado de capitais maior e mais forte com certeza traria claros
benefícios às empresas e ao país onde elas se situam, acirrando a competição entre
investidores e instituições financeiras (mercado de crédito em geral) na concessão de maior
volume de recursos a custos atrativos competindo com os recursos obtidos no mercado de
capitais, consolidando por fim, ambos os mercados.
O movimento de abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo intensificado
principalmente a partir do ano de 2004 como verificamos na introdução desse estudo pode,
portanto, estar relacionado também a uma nova visão do empresariado local determinado a
expandir não só os mercados consumidores dos produtos e serviços de suas empresas mas
tamm como uma forma de expansão dos volumes de crédito dessas companhias a custos
muito mais atrativos uma vez que, através desse movimento, esses tomadores de recursos
passam a disponibilizar um maior número de informações de qualidade ao Mercado,
incluindo estratégia futura, e como contrapartida, passam a ser melhores vistos e
analisados pelos investidores de modo geral.
Esses pontos foram ratificados pelas pesquisas no estudo desenvolvidas.
Entre algumas outras linhas de pesquisa que poderiam dar continuidade ao presente
trabalho podem-se enunciar as seguintes:
! uma pesquisa comparativa a essa que abordasse a evolução do custo de capital,
expansão do crédito e de linhas de longo prazo de empresas fechadas neste
mesmo peodo. Nesse caso o maior desafio seria o de obter as Demonstrões
Contábeis dessas empresas.
! A continuidade desse mesmo estudo buscando identificar se outras vantagens
após a abertura de capital como o possível aumento do valor de mercado das
companhias realmente ocorrem. Além disso, quais trocas de informações entre
adminstradores e Mercado Financeiro beneficiam o planejamento dessas
empresas. Isso realmente ocorre ?
! Outra alternativa de continuidade para a presente pesquisa seria a análise do
custo médio ponderado do capital das empresas aqui analisadas em relação a
120
rentabilidade de suas atividades e se estas estão criando ou destruindo valor
nos anos logo após a abertura de seus capitais segundo o conceito de EVA (ou
Economic Value Added) criado pela Stern Stewart & Co. na década de 1990.
Ela é uma medida de desempenho operacional que difere em relação a outras,
pois, os acionistas cobram seus lucros e rentabilidade em cima do custo de todo
o capital empregado por uma determinada empresa, incluindo capital próprio e
de terceiros.
121
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