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GILENO ANTONIO ARAÚJO XAVIER
ASPECTOS CLÍNICOS E DE MANEJO DE PREGUIÇA-DE-GARGANTA-
MARROM Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825) DE VIDA LIVRE NA
MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL.
Recife – PE
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA VETERINÁRIA
ASPECTOS CLÍNICOS E DE MANEJO DE PREGUIÇA-DE-GARGANTA-
MARROM Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825) DE VIDA LIVRE NA
MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, como
requisito final para obtenção do grau de Doutor em
Ciência Veterinária.
Orientado: Gileno Antonio Araújo Xavier
Orientador: Prof. Dr. Rinaldo Aparecido Mota.
Co-orientadora:
Profª Drª Maria Adélia B. de Oliveira.
Recife – PE
2006
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Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
CDD 636. 089 6
1. Bradypus variegatus
2. Marcação ungueal
3. Hematologia
4. Proteinograma
5. Microsporum canis
6. Microsporum gypseum
7. Dermatófitos
8. Albinismo
9. Recife (PE)
I. Mota, Rinaldo Aparecido
II. Título
X3a Xavier, Gileno Antonio Araújo
Aspectos clínicos e de manejo de preguiça-de-garganta-
marron Bradypus variegatus (Schinz, 1825) de vida livre na
Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil /
Gileno Antonio Araújo Xavier. -- 2006.
69 f. : il.
Orientador : Rinaldo Aparecido Mota
Tese (Doutorado em Ciência Veterinária) - Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Departamento de Medicina
Veterinária.
Inclui bibliografia
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA VETERINÁRIA
ASPECTOS CLÍNICOS E DE MANEJO DE PREGUIÇA-DE-GARGANTA-
MARROM Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825) DE VIDA LIVRE NA
MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL.
GILENO ANTONIO ARAÚJO XAVIER
TESE DEFENDIDA E APROVADA PELA BANCA EXAMINADORA
ORIENTADOR: ______________________________
Prof. Dr. Rinaldo Aparecido Mota (UFRPE)
EXAMINADORES: ______________________________
Profª Drª Maria de Fátima Arruda de Miranda (UFRN)
______________________________
Profª Drª Maria Adélia Borstelmann de Oliveira (UFRPE)
______________________________
Profª Drª Silvana Suely de Assis Rabelo (UFRPE)
______________________________
Prof. Dr. Jean Carlos Ramos da Silva (UFRPE)
______________________________
Prof. Dr. Leonildo Bento Galiza da Silva (UFRPE)
RECIFE
2006
RECIFE - PE
2006
Senhor!
Com a benção de tua luz
conheço a carga das imperfeições que carrego...
Entretanto, com o amparo de tua bondade,
sou agora o que sou.
Ainda assim, Senhor,
rogo-te não me deixe entregue
aos meus próprios caprichos.
Guia-me, por misericórdia,
em tua vontade e sabedoria,
Para que eu venha a ser
o que queres que eu seja.
Emmanuel.
DEDICATÓRIA
“Toda alegria que o mundo contém
Vem de querer a felicidade para os outros.
Todo o sofrimento que o mundo contém
Vem de querer a felicidade para si mesmo.”
Shantideva.
Ao Amigo e Orientador,
Que sempre se mostrou uma pessoa com uma capacidade inigualável para conduzir
seus próprios passos, estando estes sempre atentos e cuidadosos para com os passos
daqueles que mesmo momentaneamente possam estar ao seu redor.
DEDICATÓRIA
Um dos animais mais intrigantes da fauna brasileira apresenta, diferentemente da
maioria dos mamíferos, baixo metabolismo orgânico, o que implica que nesta criatura
ocorrem processos funcionais notadamente lentos, como a digestão, a respiração, a
reprodução, a locomoção etc. Trata-se daquele que foi denominado pelos portugueses de
bicho-preguiça como é conhecido até os dias atuais. Esta denominação nos conduz a pensar
em um animal que parece não querer nada com a vida, sem disposição para agir ou até mesmo
para viver como se sempre estivesse indiferente ao mundo que o rodeia. Devido ao seu
metabolismo singular, poderíamos denominá-lo vulgarmente de bicho-lento.
Contrariamente ao que se julga, tal lentidão nada mais é do que uma estratégia
adaptativa que permite a sobrevivência das seis espécies de bichos-preguiça existentes. Uma
lenta locomoção pelo interior da copa das árvores permite reduzir enormemente a
possibilidade de serem predados por seus inimigos naturais (onças, jibóias e aves de rapina de
grande porte). Essas adaptações que foram detalhadamente elaboradas e postas em prática
milhares de anos em prol da sobrevivência, estão correndo risco de serem descartadas do
grande laboratório Terra. Sendo estas espécies arborícolas, o desmatamento desenfreado é a
maior razão para que se concretize paulatinamente este descarte.
Não o desmatamento vem retirando o direito dos animais silvestres de viverem em
seus respectivos habitats. O comércio ilegal também é responsável pelo desaparecimento de
milhões de animais por ano. As formas de captura na natureza, transporte e a própria
manutenção dos indivíduos durante todo o processo são fatores que conduzem a uma
elevadíssima taxa de mortalidade. Para cada animal que é comprado, inúmeros outros que não
suportam as condições precárias, morrem no transcurso.
Todos os seres vivos desempenham determinadas funções específicas na grande cadeia
vital nos diversos tipos de ecossistemas. Ao levar a cabo o capricho de possuir um ou mais
animais silvestres em casa, provoca-se um enorme desequilíbrio nesta cadeia, causando
conseqüências desastrosas com repercussões a longo prazo. Comprar animais silvestres é,
simplesmente, ajudar a matá-los. Na grande maioria das vezes, os próprios animais
comercializados sucumbem devido à falta de cuidados específicos (manejos inadequados,
estresse, isolamentos genéticos, etc.), promovendo um verdadeiro ciclo vicioso de reposição
de indivíduos condenados ao infame cativeiro.
Mesmo com os esforços de diversas organizações ou grupos ambientalistas e projetos
de conservação, muito se tem por fazer a favor da preservação de inúmeras espécies, caso
contrário, elas poderão ser lembradas e vistas em ilustrações de enciclopédias ou
preservadas em coleções biológicas de poucos museus do mundo. As atitudes que possam
impedir tais crimes contra a natureza devem ser caracterizadas pela determinação,
perseverança e, quando necessário, precocidade, uma vez que as espécies em risco de
extinção se diferenciam enormemente entre si quanto aos processos biológicos de recuperação
e reintrodução na natureza. A extinção é para sempre.
Aos Bichos-lentos
Gileno A. A. Xavier.
AGRADECIMENTOS
Pela Vida!
A Deus
DeusDeus
Deus, Nosso Pai
PaiPai
Pai Criador.
Pela Oportunidade Ímpar!
Ao Programa de Pós
Programa de PósPrograma de Pós
Programa de Pós-
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-graduação em Ciência Veterinária
graduação em Ciência Veterináriagraduação em Ciência Veterinária
graduação em Ciência Veterinária da UFRPE.
Pela Orientação, Paciência, Hombridade e por possuir a Sabedoria dos Verdadeiros
Orientadores!
Ao Prof. Dr. Rinaldo
Rinaldo Rinaldo
Rinaldo Aparecido
Aparecido Aparecido
Aparecido Mota
MotaMota
Mota, um Grande Amigo de Ontem e Sempre.
Pela Orientação repleta de Serenidade e Elegância!
À Prof.
a
Dr.
a
Maria
MariaMaria
Maria Adélia
AdéliaAdélia
Adélia B. de Oliveira
B. de Oliveira B. de Oliveira
B. de Oliveira, a Amigatrix
trixtrix
trix do Brady
BradyBrady
Bradyamigo.
Pelo Aceite ao Convite, a Honra da Presença e pelas Colocações Pertinentes!
Aos Professores Examinadores
Professores ExaminadoresProfessores Examinadores
Professores Examinadores.
Pelo Incentivo e Compreensão durante a Oportunidade de Aperfeiçoamento!
Ao Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, em especial aos Colegas
da Área de Anatomia.
Área de Anatomia.Área de Anatomia.
Área de Anatomia.
Pelo Grandioso Apoio Técnico e Consideração!
Ao Laboratório de Doenças Infecto-contagiosas: aos Médicos Veterinários José
José José
José
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Wilton JuniorWilton Junior
Wilton Junior, Sérgio Alcântara
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Sérgio Alcântara, Mariana Calado
Mariana CaladoMariana Calado
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Graduandos de Medicina Veterinária Gileno Lino
Gileno LinoGileno Lino
Gileno Lino e Rodolfo Pereira
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Especialmente ao Prof. Dr. Leonildo
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GalizaGaliza
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Ao Laboratório de Patologia Clínica Veterinária, especialmente à Profª Drª
Miriam Nogueira Teixeira
Miriam Nogueira TeixeiraMiriam Nogueira Teixeira
Miriam Nogueira Teixeira, à Medica Veterinária, Simonne Raquel
Simonne RaquelSimonne Raquel
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Graduanda de Medicina Veterinária, Rafael
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Waldetrudes P. JansenWaldetrudes P. Jansen
Waldetrudes P. Jansen.
Pelo Grandioso Apoio para Realização deste Trabalho!
À Agência Pernambucana do Meio Ambiente
Agência Pernambucana do Meio AmbienteAgência Pernambucana do Meio Ambiente
Agência Pernambucana do Meio Ambiente – CPRH.
Pela Calorosa Receptividade, Generoso Apoio e Incentivos Constantes!
À Coordenadora da ESEC-CAETÉS, Minha Amiga Sandra
SandraSandra
Sandra Cavalcanti
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Cavalcanti, mulher
regida e guiada editificantemente pela primitiva tribo indígena, cujo nome foi
emprestado à Estação.
Por Todos os Dias lá Aterrizados!
À Estação Ecológica de Caetés
Estação Ecológica de CaetésEstação Ecológica de Caetés
Estação Ecológica de Caetés, ESEC-CAETÉS, Meu “Planeta Preguiça” e os
Amigos que por lá eu fiz.
Pela Segurança, Apoio nos Trabalhos de Campo e nas Amizades!
À Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente
Companhia Independente de Policiamento do Meio AmbienteCompanhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente
Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente – CIPOMA.
Pela Colaboração em nos informar da presença de preguiças em suas casas ou nas ruas!
Às C
CC
Comunidades de Caetés
omunidades de Caetésomunidades de Caetés
omunidades de Caetés I, II e III
I, II e IIII, II e III
I, II e III, Abreu e Lima, PE.
Pelas Co-responsabilidades na Formação do Meu Ser Humano!
À Dona Áurea
ÁureaÁurea
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XavierXavier
Xavier, Mainha e Doutor Gileno Xavier
Gileno XavierGileno Xavier
Gileno Xavier, Papai. Deus e eu vos
abençoaremos sempre!
Pela Carinhosa Ajuda ao ficar cuidando dos meus felinos no nosso “Planeta Gatos”!
Ao Meu Pote de Mel, Minha “Sobrilha” (sobrinha e filha), Scheilla Xavier
Scheilla XavierScheilla Xavier
Scheilla Xavier.
Pelo Carinho e Incentivos de Sempre!
Aos Meus Irmãos
Meus IrmãosMeus Irmãos
Meus Irmãos e Sobrinhos
SobrinhosSobrinhos
Sobrinhos.
Pela Companhia e Incentivo Constantes!
Aos todos “Filhos e Filhas
Filhos e FilhasFilhos e Filhas
Filhos e Filhas” do “Pai”.
Pela Excêntrica Forma de Ser e de Viver!
Aos Bichos
BichosBichos
Bichos-
--
-Preguiça,
Preguiça, Preguiça,
Preguiça, que desde os 12 dias do mês de junho do ano de 1995 meu
respeito e admiração para com eles aumentam a medida em que os conheço
cada vez mais!
RESUMO
Objetivou-se com este trabalho realizar alguns estudos relacionados ao manejo, fisiologia e
aspectos sanitários em uma população de preguiças-de-garganta-marrom (Bradypus
variegatus) de vida livre na Estação Ecológica de Caetés, Mesorregião Metropolitana do
Recife, PE, Brasil. O estudo foi realizado em duas etapas distintas. A primeira consistiu na
elaboração e avaliação de uma técnica de marcação temporária e sua aplicabilidade para
estudo etológico e populacional. Na segunda etapa realizou-se a coleta de material biológico
como sangue, pêlos e crostas que foram submetidos a procedimentos laboratoriais para o
estabelecimento dos parâmetros hematológicos e bioquímicos, além do relato da etiologia de
quadros clínicos de dermatoses. A marcação ungueal consistiu em pintar as faces dorsais e
laterais das garras dos membros torácicos de 46 animais com o auxílio de esmalte de unha de
cores variadas. O monitoramento foi realizado através de observações com auxílio de
binóculo, fichas individuais de monitoramento e recapturas. A técnica não determinou
nenhum efeito adverso nos hábitos natural e social dos indivíduos e não comprometeu a saúde
de suas garras, sendo possível constatar durante a execução deste estudo que as marcas
permaneceram por um período de até nove meses e variou entre indivíduos. Esta técnica de
marcação se mostrou bastante satisfatória para a identificação de animais de vida livre e pode
ser indicada também para estudos com preguiças em cativeiro e semicativeiro. Para o estudo
hematológico e bioquímico foram coletadas amostras de sangue de 25 preguiças clinicamente
sadias de sexo e faixa etária variadas. As técnicas utilizadas para determinação das variáveis
do hemograma e proteinograma foram similares às recomendadas para cães e gatos. Os
resultados deste estudo podem servir de referência para avaliar alterações fisiológicas e
patológicas em preguiças-de-garganta-marrom de vida livre e de cativeiro. Para relatar a
etiologia das dermatoses, foram estudados três casos clínicos onde os animais apresentavam
áreas de alopecia nos membros pélvicos e torácicos, além da presença de crostas. Amostras de
pêlos e crostas foram submetidos ao exame direto com KOH a 30% e cultivo em Ágar
Mycosel. Ao exame direto foram observados artrosporos nos pêlos e após o cultivo foram
observadas colônias sugestivas do gênero Microsporum, confirmadas através da observação
da estrutura dos macroconídeos. Relata-se a primeira ocorrência de dermatofitose por
Microsporum canis e por Microsporum gypseum em preguiças-de-garganta-marrom de vida
livre no estado de Pernambuco. Os resultados obtidos neste estudo permitem avançar no
conhecimento de algumas técnicas de manejo que podem auxiliar na realização de outros
trabalhos com populações de preguiças de vida livre. Por outro lado, o estabelecimento dos
parâmetros hematológicos e bioquímicos assim como o estudo da etiologia das dermatoses
são de grande importância para a compreensão das alterações clínico-patológicas que
envolvem esta espécie. Relata-se a primeira ocorrência de albinismo total em Bradypus
variegatus no Estado de Pernambuco.
ABSTRACT
The aim of this study was to look into some ways of management, physiology and sanitary
aspects in a population of free living throated-brown three-toed sloths (Bradypus variegatus)
at the Ecological Station of Caetés, Metropolitan Mesoregion of Recife, Pernambuco, Brazil.
The study was carried out in two distinct phases. The first phase was the development, testing
and evaluation of a temporary marking technique and its applicability in ethological and
population study. The second phase was the collection of biological material, such as blood,
skin and scab samples, which were sent to respective laboratories in an effort to establish
hematological and biochemical parameters, and also, reporting on the etiology of the state of
the clinical dermatosis. The ungeal marking consisted of painting the dorsal and lateral areas
of the thoracic claws of 46 animals using nail polish of differents colours. Monitoring was
carried out by observing the animals with the use of a binocular, individual checksheets and
recapture. The technique did not seem to have any adverse effect on the natural and social
habits of the individuals and did not compromise the health of the claws. The markings
remained legible for a period of up to 9 months, with some variation between animals. This
marking technique was shown to be very satisfactory for the identification of free living
animals and thus could be recommended for use in studies on sloths in captivity and semi
captivity. For the hematological and biochemical studies blood samples were collected from
25 clinically healthy sloths of differents sexes and ages. The techniques used in the
determination of the hemograms and proteinograms were similar to those recommended for
cats and dogs. These results could be used to evaluate any physiological and pathological
alteration in free living and captive brown throat sloth. For the report on the etiology of
dermatosis, three clinical cases were studied. The animals had areas of alopecia on the pelvic
and thoracic members with the presence of scab. Skin and scab samples were examined
directly with a 30% KOH and cultivated on Myocel Agar. By direct examination arthrospores
were observed on the skin. In the culture, colonies suggestive of the genera Microsporum
were seen confirmed by the presence of macroconidia. This is the first reported case of the
occurrence of dermatophytosis caused by Microsporum canis and Microsporum gypseum in
free living brown throat sloth in the State of Pernambuco. The establishing of hematological
and biochemical parameters together with the study of the etiology of dermatosis are of great
importance in understanding some clinical and pathological process in the specie. The first
occurrence of total albinism in Bradypus variegatus in the State of Pernambuco is also told.
LISTA DE TABELAS
EXPERIMENTO II
Tabela 1.
Média e desvio padrão para as variáveis hematológicas de Bradypus
variegatus de vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife,
Pernambuco, Brasil.
43
Tabela 2.
Contagem diferencial dos leucócitos de Bradypus variegatus de vida livre
na Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil.
44
Tabela 3.
Média e desvio padrão para as variáveis do proteinograma sérico de
Bradypus variegatus de vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife,
PE, Brasil.
44
LISTA DE FIGURAS
EXPERIMENTO I
Figura 1.
Quadro representativo do agrupamento de duplas de acordo com a cor do
esmalte utilizada na marcação ungueal. Os desenhos esquemáticos
mostram as marcas nas faces mediais das garras (modificados de Pocock,
1924).
30
Figura 2.
Ilustração que permite diferenciar a coloração natural (membro direito, na
vertical) e a marcação com esmalte, em branco (membro esquerdo, na
horizontal) das garras de Bradypus variegatus.
31
Figura 3.
Marcação ungueal em uma fêmea de B. variegatus. 32
EXPERIMENTO III
Figura 1
Dermatofitose em B. variegatus: área circunscrita de alopecia e
descamação no membro pélvico.
55
Figura 2.
Aspecto macroscópico das colônias de M. canis isoladas de B. variegatus. 57
Figura 3.
Aspecto macroscópico das colônias de M. gypseum isoladas de B.
variegatus.
57
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
Figura 1.
Preguiça macho jovem com albinismo total da espécie Bradypus variegatus.
Observar a pelagem bege e coloração rosada da pele do focinho e olhos.
66
Figura 2.
Preguiça fêmea jovem normal da espécie Bradypus variegatus. Observar a
coloração escura dos pêlos e a pele enegrecida do focinho.
66
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1
2 OBJETIVOS
4
2.1 Geral 4
2.2 Específicos 4
3 REVISÃO DE LITERATURA
5
3.1 Bradypus variegatus 5
3.2 Marcação 10
3.3 Hematologia 13
3.4 Dermatoses em Preguiças 16
REFERÊNCIAS
18
EXPERIMENTO I
26
4 MARCAÇÃO UNGUEAL EM PREGUIÇAS-DE-GARGANTA-MARROM
Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825) DE VIDA LIVRE NA ESTAÇÃO
ECOLÓGICA DE CAETÉS, PAULISTA-PE, BRASIL.
27
4.1 INTRODUÇÃO 28
4.2 MATERIAL E MÉTODOS 29
4.3 RESULTADOS 31
4.4 DISCUSSÃO 32
4.5 CONCLUSÃO 34
REFERÊNCIAS 35
EXPERIMENTO II
38
5 PERFIL HEMATOLÓGICO E PROTEINOGRAMA DE PREGUIÇAS-DE-
GARGANTA-MARROM (Bradypus variegatus, SCHINZ, 1825) DE VIDA
LIVRE NA MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE,
PERNAMBUCO, BRASIL.
39
5.1 INTRODUÇÃO 40
5.2 MATERIAL E MÉTODOS 41
5.3 RESULTADOS 42
5.4 DISCUSSÃO 43
5.5 CONCLUSÃO 46
REFERÊNCIAS 47
EXPERIMENTO III
51
6 DERMATOFITOSE POR Microsporum canis E Microsporum gypseum EM
Bradypus variegatus (SCHIZ, 1825) DE VIDA LIVRE NO ESTADO DE
PERNAMBUCO, BRASIL: RELATO DE CASO.
52
6.1 INTRODUÇÃO 53
6.2 DESCRIÇÃO DOS CASOS 55
6.3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 58
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
61
7 ALBINISMO TOTAL EM Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825)
(XENARTHRA: BRADYPODIDAE) NO ESTADO DE PERNAMBUCO,
BRASIL.
62
7.1 INTRODUÇÃO 62
7.2 DESCRIÇÃO DO CASO 63
REFERÊNCIAS 66
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
69
1
1 INTRODUÇÃO
A floresta atlântica brasileira é uma das prioridades mundiais para conservação,
pois apresenta uma região com elevado nível de endemismo (Thomaz et al., 1998). Um
dos componentes é o centro de endemismo Pernambuco (Prace, 1987), uma faixa de
vegetação que abriga diferentes grupos vegetais e animais. O Estado de Pernambuco
mantém 2,0% da área originalmente coberta pela floresta atlântica (CIMA, 1991).
Destes fragmentos florestais, 48% são menores que 10 ha e apenas 7% maiores que 100
ha, isolados entre si e submetidos à severa pressão antrópica (Ranta et al., 1998; Silva e
Tabarelli, 2000).
A fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma grande e contínua área é
reduzida ou dividida em dois ou mais fragmentos (Wilcove et al., 1986; Shafer, 1990).
Estes fragmentos são freqüentemente isolados uns dos outros por uma paisagem
altamente modificada ou degradada. Esta situação pode ser descrita pelo modelo de
biogeografia de ilhas, com fragmentos funcionando como ilhas de habitat em um “mar”
ou matriz inóspita dominada pelo homem (Schonewald Cox e Buechner, 1992).
Lovejoy et al. (1984) afirmaram que, dentre outros efeitos físicos e biológicos, a
fragmentação causa a interrupção dos padrões de dispersão e de migração, redução do
tamanho de populações, alterações de entradas e saídas do ecossistema devido a
modificações de áreas adjacentes e acesso de certas espécies a habitats anteriormente
isolados. Os efeitos danosos decorrentes da exploração antrópica somam-se aos
decorrentes da fragmentação (Terborg, 1992). A fragmentação do habitat pode também
precipitar a extinção e o declínio de uma população ao dividi-la em duas ou mais
subpopulações (Primack e Rodrigues, 2001).
A Estação Ecológica de Caetés, um remanescente da Floresta Atlântica, localiza-
se no Município do Paulista, Região Metropolitana do Recife, Estado de Pernambuco, na
2
região nordeste do Brasil. Situa-se entre 55’15” e 7º56’30” de latitude Sul e 34º55’15”
e 34º56’30” de longitude Oeste de Greenwich. Ocupa uma área de 157ha,
correspondendo a 1,54% da área do município. Quanto ao domínio fitogeográfico
encontra-se na Província Atlântica, subprovíncia astro-oriental. Esta formação
vegetacional é típica de locais de alta precipitação, uniformemente distribuída durante o
ano inteiro, sendo caracterizada pela presença de fanerófitos, mesofanerófitos e epífitas.
No que se refere ao enquadramento morfoclimático, a região em que está inserida a
Estação corresponde ao Domínio Tropical Atlântico, formada por planícies de inundação
predominantemente meândricas e solos superpostos, fortíssima decomposição de rochas
e intensa mamelonização (CPRH, 2006).
Os mamíferos se constituem em um grupo de extrema importância no equilíbrio
dos ecossistemas (Robinson e Redford, 1986) devido à sua grande biomassa, às taxas
metabólicas e às ricas e intrincadas interações ecológicas. Segundo Monteiro da Cruz &
Barreto Campelo (1990) os grupos de mamíferos, considerados os mais evoluídos da
classe Vertebrata, possuem muitos representantes que estão posicionados próximos ou
no topo das cadeias tróficas e alimentares, podendo assim servirem como espécies bio-
indicadoras. Seu levantamento constitui um excelente meio de aferição do grau de
fragilidade dos ecossistemas onde vivem naturalmente, pois sua presença indica, via de
regra, a existência dos outros elos dessa cadeia.
A preguiça, assim como o tatu e o tamanduá, são mamíferos pertencentes à
Ordem Xenarthra, que apresentam formas exteriores e hábitos de vida muitos
diversificados. Sãos animais que se restringem zoogeograficamente ao Hemisfério
Ocidental. Através de uma análise cladística a ordem reúne as famílias dos cingulados e
dos pilosos. Os tatus fazem parte dos cingulados e os tamanduás e preguiças dos pilosos
(Engelmann, 1985).
3
As preguiças, assim como alguns outros mamíferos da fauna brasileira, não têm
sido alvo da devida atenção por parte dos pesquisadores brasileiros, pois ainda são
poucas as pesquisas desenvolvidas nas diferentes regiões do país. Por essas e outras
razões, nota-se a necessidade de intensificar estudos de campo em ambientes naturais e
em cativeiro.
4
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Estudar aspectos clínicos e de manejo em preguiças-de garganta-marrom
Bradypus variegatus (Schinz, 1825) de vida livre na Mesorregião Metropolitana do
Recife, PE.
2.2 Específicos
Elaborar e monitorar uma cnica de marcação temporária com fins de
identificação individual para preguiças-de-garganta-marrom de vida livre na
Estação Ecológica de Caetés, Paulista, Pernambuco.
Reunir dados de referência para os parâmetros hematológicos e do
proteinograma sérico de preguiça-de-garganta-marrom (Bradypus variegatus) de
vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife.
Relatar a ocorrência de dermatofitoses em preguiças-de-garganta-marrom de
vida livre no estado de Pernambuco.
Registrar um caso de albinismo total em preguiça-de-garganta-marrom de vida
livre no estado de Pernambuco.
5
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Bradypus variegatus
São descritos dois gêneros de preguiças existentes, distantes entre si, o
Choloepus (preguiça de dois dedos) e o Bradypus (preguiça de três dedos). Em muitas
de suas áreas de ocorrência, uma espécie de Choloepus e uma espécie de Bradypus
ocorrem juntas no mesmo habitat, exibindo simpatria biótica (= sintropia, Sunquist &
Montgomery 1973; Wetzel 1985; Taube et al., 1999). Os dois gêneros se diferenciam
facilmente pelo número de dígitos com garras em seus membros torácicos (Naples 1982
e Wetzel, 1985), sendo observadas diferenças genéticas aparentemente grandes entre os
dois gêneros (Jong et al., 1985).
A família Bradipodidae, representada pelo gênero Bradypus, era constituída por
três espécies: B. tridactylus (Linnaeus, 1758), B. torquatus (Illiger, 1811) e B.
variegatus (Schinz, 1825). Uma nova espécie de Bradypus foi descrita recentemente na
Ilha Escudo, Panamá, por Anderson e Handley (2001), elevando para quatro o número
de espécies conhecidas no nero (Wetzel e Avila-Pires, 1980; Wetzel, 1985; Anderson
e Handley, 2001). Esta nova espécie, B. pygmaeus é estreitamente correlacionada com
B. variegatus que é encontrada tanto na América Central quanto na América do Sul. As
outras duas espécies do gênero são restritas à América do Sul (Anderson e Handley,
2002).
A preguiça de três dedos e garganta marrom do Brasil foi descrita por Schinz em
1825. Bradypus variegatus é o nome mais recente para a preguiça-de-garganta-marrom
que anteriormente era conhecida como Bradypus infuscatus descrita por Wagle em
1831(Wetzel e Kock, 1973).
6
Apresenta uma pelagem marrom contínua nos ombros, pescoço, garganta e
laterais da face, distinguindo-se da espécie B. tridactylus, cuja garganta é clara ou
amarelada, contínua com a coloração clara da fronte. Ambas as espécies têm ombros e
membros marrons e apresentam considerável variação no padrão das pintas ou manchas
de cor mais claras sobre o dorso (Wetzel e Kock, 1973). Os adultos machos dessas duas
espécies possuem também uma grande mancha (espéculo) alaranjada no dorso. B.
variegatus também possue uma listra facial não presente em B. tridactylus (Anderson e
Handley, 2001).
A distribuição geográfica de B. variegatus vai do leste de Honduras até a
América do Sul, da costa do Equador, pela Colômbia e Venezuela (exceto pelo Delta do
Orinoco, Llanos e Planalto das Guianas), continuando a leste dos Andes pelas florestas
do Equador, Peru e Bolívia até o norte da Argentina (Wetzel, 1985) e, de acordo com
Cabrera (1958), também Formosa, Chaco e Misiones; florestas do Brasil (exceto
Amapá) até o Paraná e Rio Grande do Sul.
O estômago dos bradipodídeos é grande e complexo, diferente dos estômagos
relativamente simples dos membros insetívoros dos Xenarthras. O estômago repleto
representa de 20-30% do corpo do animal (Britton, 1941) e a similaridade a um rúmen
tem sido notada por vários autores (Buffon, 1765; Daubenton, 1765; Grassé, 1955).
Possuem uma dieta folívora, preferencialmente brotos, folhas jovens, flores e
frutos. São arborícolas, sendo encontradas próximo ao topo das árvores, ocultas entre
lianas. Alimentam-se de pelo menos 31 espécies de plantas e provavelmente outras
adicionais. Nenhum mamífero está tão bem adaptado para viver em árvores e se
alimentar delas como as preguiças. É de tamanho médio e considerado o mais
importante vertebrado consumidor primário da copa das florestas neotropicais
7
(Montgomery e Sunquist, 1975). Estes autores demonstraram que as preguiças tendem a
escolher árvores de espécies diferentes em uma mesma área, para evitar a competição.
As áreas de uso das preguiças são, em média, inferiores a 2 ha, e são utilizadas
anualmente até 40 árvores de 25 espécies por cada indivíduo. Elas regulam o
espaçamento de suas áreas domiciliares através de pistas olfativas e auditivas. Na
natureza, as preguiças, enquanto espécie, foram consideradas generalistas e, enquanto
indivíduos, foram consideradas especialistas, utilizando pequeno número de espécies
vegetais (Montgomery e Sunquist, 1975).
De qualquer modo, não obstante serem as preguiças consideradas pastadoras,
baseado nas características de seu estômago, ou folívoras porque se alimentam
principalmente de folhas, deve-se esperar que muitos dos efeitos que as preguiças
exercem sobre os processos das florestas tropicais sejam comparáveis aos efeitos que
exercem os mamíferos terrestres pastadores e folívoros nas pradarias e savanas (Hofman
e Stewart, 1972).
As interações sociais são sutis, sendo a corte direta e breve (Beebe, 1926).
Krumbiegel e Krieg citados por Goffart (1971) sugerem que as preguiças são animais
solitários e territoriais e de acordo com Eisenberg (1981), elas não são exatamente
solitárias, e sim, animais com estrutura social não-coesiva, uma vez que existem
anualmente dois tipos de associação entre preguiças: a associação macho-fêmea durante
o acasalamento e a associação mãe-filhote.
As interações sociais ocorridas durante o período de reprodução destes animais
não são restritas ao momento da cópula, estando associadas a um maior período de
contato macho-fêmea durante o qual os animais permanecem na mesma área, chegando
a compartilhar a árvore de repouso e alimentação (Lara-Ruiz e Srber-Araújo, 2006).
8
Os filhotes são criados por cerca de seis meses, período em que as es os
ensinam quais as árvores a serem usadas dentro de sua própria área de uso, dando
preferência pelo alimento que ela come. Ao fim deste período a mãe força o desmame,
usando outras áreas adjacentes (Montgomery e Sunquist, 1983). Assim, cada
“genealogia” possui árvores de preferência e cada animal possui árvores “modais” onde
concentra suas atividades e onde são freqüentemente encontradas (Montgomery e
Sunquist, 1975).
Sobre preguiças da espécie Bradypus variegatus, Queiroz (1995) concluiu que
elas utilizaram 82,1% de seu tempo repousando. As preguiças apresentaram-se ativas
das 6:00 às 22:00 h. Um indivíduo pode estar no seu período ativo em uma dada manhã
e, em poucos dias, este período ativo pode ser realizado em plena madrugada. O
deslocamento diário médio das preguiças foi de 23,3m, mas as médias mensais variaram
de 5 a 50 metros por dia ao longo do ano.
Nas observações a campo realizadas com B. variegatus, Silva (1999) relatou que
o acompanhamento dos animais a campo mostrou-se difícil, mesmo com a utilização do
equipamento de rastreamento e que isso ocorre porque os animais se escondem muito
bem e, mesmo quando ele localizava a árvore onde o animal estava, muitas vezes foi
extremamente difícil visualizá-los. Concluiu que, as preguiças em liberdade são animais
cujo comportamento é marcado pelo repouso que pode ocorrer em rios padrões; que
devem ser realizados mais estudos comportamentais e fisiológicos que contemplem
simultaneamente muitos animais de uma mesma área, para que se esclareçam as
relações temporais existentes entre as preguiças e seu meio; e que o padrão de atividade
exibido e as características peculiares da história de vida das preguiças indicam a
possibilidade de existir desvio de nicho temporal por competição intraespecífica nesses
animais.
9
As preguiças do gênero Bradypus não se adaptam facilmente à vida em
cativeiro, pois são pouco resistentes. Quando removidas do seu habitat natural,
sobrevivem por poucos meses (Crandall, 1964). Contudo, as razões de sua difícil
adaptação ao cativeiro ainda não são suficientemente conhecidas e, provavelmente, esta
dificuldade não seja somente uma resposta a esta situação, mas também um reflexo de
requerimentos nutricionais específicos (Montgomery e Sunquist, 1975). Quando
isoladas em cativeiro, elas se caracterizam como animais noturnos, iniciando sua
atividade no final da tarde e estendendo ao longo da noite (Silva, 1999).
10
3.2 Marcação
Inventários de mamíferos e projetos de monitoramento freqüentemente requerem
a marcação de pelo menos alguns indivíduos em uma população. O objetivo de marcar é
facilitar a identificação de animais na recaptura ou à distância (Rudran, 1996).
Os marcadores utilizados em mamíferos podem ser agrupados em três grandes
categorias: permanentes, semipermanentes e temporários. Marcas naturais e tatuagens
são exemplos de marcadores permanentes. Etiquetas ou anéis nas orelhas são
considerados semipermanentes, uma vez que podem ou não permanecer no animal por
toda sua vida. Pinturas e tinturas para o pêlo são consideradas marcas temporárias (Day
et al., 1987).
Atualmente os animais capturados são marcados de alguma maneira para
facilitar sua futura identificação, sendo de grande auxílio nos trabalhos em diversos
campos de estudos que abordam populações. A apropriada aplicação das diferentes
formas de marcação por parte de quem trabalha com animais silvestres, é essencial para
a obtenção de bons resultados (Day et al., 1987). Algumas questões de estudo requerem
o reconhecimento individual dos animais. Este problema pode ser superado por captura
e marcação (Thorington et al., 1979).
Os marcadores e as marcas pobremente desenhados ou aplicados incorretamente
podem produzir irritações, mudanças de comportamento ou mau funcionamento dos
membros envolvidos e, eventualmente, até a morte do animal. Por exemplo, é difícil e
embaraçoso ter que explicar às pessoas como um cervo enganchou sua pata em um colar
de marcação que se lhe havia colocado. Muitas destas situações podem ser evitadas
quando as marcas e os marcadores são testados cuidadosamente antes de serem usados
em animais que vivem em liberdade. O treinamento do profissional em métodos e
11
técnicas apropriados para cumprir esta tarefa é muito importante para o êxito de
qualquer estudo populacional (Day et al., 1987).
São numerosas as variantes das técnicas de marcação e recaptura para avaliação
da densidade das populações e dados sobre natalidade e mortalidade, entre outros
(Rabinovich, 1978).
Os estudos demográficos ocupam-se de indivíduos conhecidos de uma
população para determinar suas taxas de crescimento, reprodução e sobrevivência.
Indivíduos de todas as idades e tamanhos devem ser incluídos em tais estudos. No
estudo de uma população completa, todos os indivíduos são contados, e quando
possível, têm sua idade determinada, são medidos, identificados por sexo e recebem
uma etiqueta ou são marcados para futura identificação. As técnicas usadas para fazer
um estudo de população variam dependendo das características da espécie e do objetivo
do estudo (Primarck e Rodrigues, 2001).
Segundo Cheney et al. (1987), os observadores de chimpanzés e gorilas podem
individualizá-los muito facilmente, usando traços faciais e outros aspectos, após um ou
dois dias de observação. O dimorfismo sexual na coloração da pelagem, em espécies de
primatas neotropicais como Alouatta caraya e Pithecia pithecia, ajuda o
reconhecimento. Contudo, marcas naturais como corte nas orelhas, cicatrizes de bernes
e outras feridas, narizes deformados e outras anomalias são mais comumente relatadas
como determinantes da individualização dos animais. A capacidade de diferenciar
indivíduos varia entre pesquisadores e, como em outras atividades, melhora com a
prática (Setz, 1991).
Em muitas espécies, os indivíduos podem ser identificados através de marcas da
pelagem, por exemplo, em tigres, leões, hienas, cachorros selvagens, girafas e zebras,
por características raciais e padrões de pêlos da cabeça, por exemplo, em várias espécies
12
de primatas, ou por chifres, cicatrizes e outras características, como visto em antílopes
africanos. A viabilidade do uso de marcadores naturais pode ser avaliada por
observações cuidadosas dos animais-alvo e tais observações devem ser conduzidas antes
de se lançar um programa de captura e marcação abrangente (Rudran, 1996).
Em suas observações sobre a migração das preguiças, Beebe (1926) marcou um
macho barbeando duas partes da pele na área das costas, na borda da marca dorsal
laranja e fixou uma etiqueta de metal em uma perna. O animal foi recapturado após 48
dias, ainda com a etiqueta metálica. O autor observou que a distância total percorrida
por este animal foi de 6 km e 436 m através da mata e 1 km e 604 m através do rio.
Para Queiroz (1995) a identificação individual de B. variegatus é possível pelo
conhecimento da área de vivência de cada animal, pelo sexo (o dimorfismo sexual é
bem marcado e o macho possui um conspícuo sinal no seu dorso), por marcas
particulares na pelagem e pelo tamanho.
Silva (1999) obteve bons resultados em estudo de comportamento da B.
variegatus em semicativeiro, utilizando animais marcados com barras de tinta preta
fosca, no dorso e braços.
A seleção de uma técnica de marcação e também o tipo de marca mais
apropriado para um estudo depende de fatores como: distância à qual a marca deve ser
visível; necessidade para identificação individual; tamanho, forma e hábitos das
espécies alvo; número de animais que devem ser marcados; período na qual a marca
deve ser funcional; efeito da marca na sobrevivência, comportamento e reprodução do
animal marcado; e objetivos do estudo (Rudran, 1996).
13
3.3 Hematologia
A hematologia de animais selvagens, especialmente aqueles da fauna brasileira,
ainda é um campo de trabalho científico pouquíssimo explorado, sendo necessários
estudos exaustivos para que se possa chegar a um nível adequado de compreensão de
suas particularidades. Ao contrário do que ocorrem com animais domésticos, diversos
fatores influenciam os valores hematológicos ditos “normais” para os animais
selvagens. O estresse “agudo”, relacionado à liberação de catecolaminas durante a
realização de tais procedimentos, é capaz de alterar substancialmente os valores
hematológicos. Atua da mesma forma o estresse “crônico”, devido ao cativeiro
prolongado, sob condições inadequadas de manejo, no qual ocorre hipercortisolemia
crônica (Garcia-Navarro e Pachaly, 1994).
Além do estresse, muitos outros fatores podem influenciar os parâmetros
hematológicos, induzindo variações que podem ser de forma, tamanho e contagem
numérica das diversas células sangüíneas, e que ocorrem de maneira intensa entre as
diversas espécies de um mesmo gênero, e também entre os indivíduos de uma mesma
espécie. O uso da palavra normal, portanto, está condicionado à necessidade de
emprego e interpretação que se a tais valores. A importância do estabelecimento de
valores “normais” para animais em suas condições ambientais naturais deve,
evidentemente, ser enfatizada. Entretanto, em termos práticos, isto geralmente não é
possível, sendo os estudos geralmente realizados em animais de cativeiro (Garcia-
Navarro e Pachaly, 1994).
Quando se refere ao estudo hematológico e bioquímico em preguiças, registra-se
na literatura mundial, alguns trabalhos que relataram parâmetros para algumas variáveis
do sangue de preguiças de dois dedos Choloepus spp. (Britton et al., 1939; Marvin e
14
Shook, 1963; Toole, 1972; Bush e Gilroy, 1979; Meritt, 1985; Wallace e Oppenheim,
1996; Vogel et al., 1999).
Outros estudos realizados no Brasil e em outros países registraram valores para
os parâmetros hematológicos e bioquímicos para preguiças de três dedos Bradypus spp.
(Oria, 1929; Britton et al., 1939; Hoehne e Rosenfeld, 1954; Johansen et al., 1966;
Toole, 1972), contudo são raros os trabalhos desta natureza realizados com Bradypus
variegatus, destacando-se os estudos realizados com exemplares desta espécie no
Estado do Rio de Janeiro (Ferrer, 1999 e 2004; Neves Júnior et al., 2002).
Quando estudou os elementos figurados do sangue dos Xenarthras brasileiros,
Oria (1928) encontrou os seguintes valores para os bradipodídeos: Eritrócitos 2.000.000
mm
3
; Leucócitos, 7.500 mm
3
; neutrófilos quase sempre acima de 50%, variando de 35 a
85%; eosinófilos, 10 a 12,3%; basófilos, 0%; linfócitos, 3,3 a 48%; monócitos, 6 a 19%.
Hoehne e Ronsenfeld (1954) estudaram dois animais da espécie Bradypus
tridactylus e registraram as seguintes médias: Hemácias, 3,3 milhões/mm
3
;
Hemoglobina, 10,4g/%; Hemoglobina Corpuscular Média, 31,2 yy; Hematócritos, 39%;
Volume Corpuscular Médio de 116µ
3
; Conteúdo Corpuscular Médio de Hemoglobina,
31,2 µg. Leucócitos 5.262/mm
3
, com 38% de neutrófilos segmentados, 13% de
bastonetes, 0,5% de neutrófilos jovens, 4% de eosinófilos, 0% de basófilos, 37% de
linfócitos e 7,5% de monócitos.
Em três espécimes de Bradypus tridactylus, Johansen et al. (1966) encontraram
valores para hemoglobina de 12,3-15,0g/100mL e hematócritos variando de 37-46%.
Toole (1972) encontrou valor para proteína total de 7,8 g/100ml em um
exemplar de B. tridactylus.
Ferrer (1999) utilizou trinta e um animais procedentes da Fundação Rio-Zoo,
Rio de Janeiro-RJ para estabelecer padrões hematológicos para a espécie B. variegatus e
15
os valores hematológicos médios obtidos foram: Hematimetria, 3,37 x 10-6/mm
3
;
Hemoglobina, 10,27 g/100ml; Volume Globular, 33,42%; Volume Globular Médio,
100,53 fl; Hemoglobina Globular Média, 30,70 pg; Concentração de Hemoglobina
Globular Média, 30,70%; Leucometria Global: 6,80 x 10
3
/mm
3
; basófilo, 0,06%
(4,06mm
3
); eosinófilo, 3 % (211,16 mm3); bastões neutrófilos, 3% (185,76 mm
3
);
segmentados neutrófilos, 37% (2.543,13 mm
3
); linfócitos, 52% (3.545,26 mm
3
) e
monócitos, 5% (348,94 mm
3
).
Com o objetivo de estabelecer um padrão de valores bioquímicos normais para
um grupo isolado de 13 preguiças (B. variegatus), residentes no “Jardim de Baixo”,
município de Valença, RJ, Neves Júnior et al. (2002) encontraram as seguintes médias:
Proteínas totais, 5,4g/dl; albumina, 2,8 g/dl; globulinas, 1,9 g/dl e relação
albumina/globulina, 1,47.
Estudando novamente os parâmetros hematológicos em preguiça da mesma
espécie, Ferrer (2004) utilizou desta vez cinqüenta e dois animais, sendo incluídos neste
número, os valores hematológicos de trinta e um animais obtidos de Ferrer (1999) e
outros vinte e um obtidos de animais procedentes da Fundação Rio-Zoo e do Parque
Municipal Chico Mendes. Os valores hematológicos médios foram: Hematimetria, 3,13
x 10
6
/mm
3
; Hemoglobina, 10,77 g/100ml; Volume Globular, 34,21%; Volume Globular
Médio, 112,73 fl; Hemoglobina Globular Média, 35,56 pg; Concentração de
Hemoglobina Globular Média, 31,55%; Leucometria Global, 7,01 x 103/mm
3
;
basófilos, 0%; eosinófilos, 2,88% (151,88 mm
3
); bastões neutrófilos, 4,06% (296,19
mm
3
); segmentados neutrófilos, 40,02% (2.826,13 mm
3
); linfócitos, 49,60% (3.453,98
mm
3
); monócitos, 4,35% (302,31 mm
3
).
16
3.4 Dermatoses em preguiças
De acordo com Diniz et al. (1997), os processos dermatológicos em animais
silvestres assumem particular importância dentre as alterações observadas em
zoológicos e coleções particulares, uma vez que seu diagnóstico e tratamento são
variáveis de acordo com a etiologia. Costa et al. (1995) relataram que os processos
dermatológicos causados por bactérias, determinam processo inflamatório exacerbado
com lesões úmidas e pruriginosas, enquanto que as produzidas por dermatófitos são
secas, descamativas e, na maioria das vezes não pruriginosas. Fowler (1986) cita que as
principais causas de problemas dermatológicos em animais silvestres em cativeiro
referem-se à carência nutricional, observada em animais recém doados, além das causas
traumáticas.
Os ectoparasitos, fungos e bactérias são pouco relatados em animais silvestres,
havendo citação que os fungos saprofíticos podem tornar-se patogênicos e se disseminar
de animal para animal ou até mesmo para o homem (Bohm, 1968), destacando-se o
aspecto zoonótico relacionado aos dermatófitos e ectoparasitos devido a sua grande
infectividade (Kaminski, 1983).
A literatura nacional também conta com poucos estudos sobre os processos
dermatológicos em animais silvestres, destacando-se o trabalho realizado por Costa et
al. (1995) sobre zoodermatoses em mamíferos em cativeiro.
Diniz et al. (1997), realizaram a avaliação clínica e laboratorial das
dermatopatias de origem parasitária, bacteriana e fúngica em 24 espécies de animais
silvestres pertencentes a zoológicos ou proprietários particulares na cidade de São Paulo
e relataram 204 alterações em 172 animais, destacando-se a presença de Amblyomma sp.
em dois exemplares de preguiça e de fungos dermatófitos (M. canis e M. gypseum) em
carneiro da Argélia, macaco sayás, macaco gibão e jaguatirica.
17
Diniz e Oliveira (1999) realizaram estudo retrospectivo da prevalência de
doenças em 51 preguiças (34 Bradypus sp. e 17 Choloepus sp.) no zoológico da cidade
de São Paulo. Foram detectadas 81 alterações clínicas, incluindo as de origem
nutricional (45,7%), digestiva (12,3%), respiratória (12,3%) e outros problemas (6,1%),
sendo as patologias mais freqüentes em animais jovens (86,7%) quando comparado aos
animais adultos (3,2%).
Silva et al. (2002), realizaram o isolamento de M. canis em alopecia tonsurante
em preguiça-bentinho (Bradypus tridactylus) doada ao Museu Paraense Emílio Goeldi
(Belém-PA), sendo este o primeiro registro da clínica e do agente nesta espécie no
Brasil.
18
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26
EXPERIMENTO I
27
4 MARCAÇÃO UNGUEAL EM PREGUIÇAS-DE-GARGANTA-MARROM
Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825) DE VIDA LIVRE NA ESTAÇÃO
ECOLÓGICA DE CAETÉS, PAULISTA-PE, BRASIL
RESUMO: Objetivou-se com este estudo, elaborar e monitorar uma técnica de
marcação temporária com fins de identificação individual para preguiças-de-garganta-
marrom de vida livre na Estação Ecológica de Caetés, Pernambuco, Brasil. Foram
utilizadas 46 preguiças-de-garganta-marrom, de sexo e faixa etária variados. A
marcação ungueal consistiu em pintar as faces dorsais e laterais das garras dos membros
torácicos com o auxílio de esmalte de unha de cores variadas. O monitoramento foi
realizado através de observações com auxílio de binóculo, fichas individuais e
recapturas. A técnica não determinou nenhum efeito adverso nos hábitos natural e social
dos indivíduos e não comprometeu a saúde de suas garras, sendo possível constatar,
durante a execução deste estudo, que as marcas permaneceram por um período de até
nove meses variando entre indivíduos, sendo que os animais muito jovens permanecem
com as marcas por um período menor de tempo. Esta técnica de marcação se mostrou
bastante satisfatória para a identificação de animais de vida livre e pode ser indicada
também para estudos com preguiças em cativeiro e semicativeiro.
Palavras-Chave: Preguiça-de-garganta-marrom; Bradypus variegatus; marcação
ungueal; garras
ABSTRACT: The object of this study was to elaborate and monitor a technique for
temporary marking for individual identification of free living brown-throated three-toed
sloths at the Ecological Station of Caetés, Pernambuco, Brazil. Forty six sloths of mixed
28
sexes and ages were used. The ungueal marking consisted of painting the dorsal and
lateral areas of the claws of the thorax with nail polish of various colours. Monitoring
was carried out by using binocular, individual tags and recapture. The technique did not
show any adversed effect on the natural and social habits of the individuals and on the
claws. The markings lasted for a period of up to 9 months with variations between
individuals, lasting a shorter time in young animals. This type of marking was shown to
be sufficiently satisfactory for the identification of free living animals and could also be
used in studies with sloths in captivity and semi captivity.
Key Words: Brown-throated three-toed sloth, Bradypus variegatus; ungueal marking,
claws
4.1 INTRODUÇÃO
A preguiça-de-três-dedos de garganta marrom do Brasil (Bradypus variegatus),
ou “Geflecktes Fautthierna língua alemã, foi descrita por Schinz (1825). Apresenta
pelagem marrom na garganta e laterais da face, contínua com a coloração do ombro e
tórax (Wetzel e Ávila-Pires, 1980). São animais de hábito solitário com padrão de
deslocamento lento e silencioso e possuem dieta folívora (Wetzel, 1982).
Identificar preguiças é um problema que extrapola o âmbito individual,
chegando ao nível de espécie. As diferenças mais marcantes entre as espécies Bradypus
tridactylus e B. variegatus adultas de ambos os sexos são as manchas articulares
(Beebe, 1926) e a mancha dorso-medial colorida no macho (Beebe, 1926; Britton, 1941;
Montgomery, 1983; Queiroz, 1995; Silva, 1999), conhecida como “marca de sela”
(Lundy, 1952; Goffart, 1971), também descrita como sendo uma mancha pelada que
funciona como glândula de marcação (Wallach e Boever, 1983). Para quaisquer das
29
espécies muitas são as dificuldades para a determinação do sexo sem que haja um
exame crítico (Pocock, 1924; Britton, 1941; Divers, 1986; Silva, 1999).
Algumas questões de estudo requerem o reconhecimento individual dos animais.
Este problema pode ser superado por captura e marcação (Thorington et al., 1979).
A capacidade de diferenciar indivíduos varia entre pesquisadores (Setz, 1991).
Muitos dos animais capturados são marcados de alguma maneira para facilitar sua
futura identificação, sendo as marcações de grande auxílio nos trabalhos de diversos
campos de estudos (Day et al., 1987). Os marcadores utilizados em mamíferos podem
ser agrupados em três grandes categorias: permanentes, semipermanentes e temporários
(Day et al., 1987 e Rudran, 1996), sendo as tinturas, pinturas e pós, consideradas marcas
temporárias (Rudran, 1996).
Beebe (1926) marcou uma preguiça macho, barbeando duas partes da pele na
área das costas na borda da marca dorsal laranja e fixou uma etiqueta de metal em uma
perna. Silva (1999) realizou observações de B. variegatus em semicativeiro marcando
os animais com tinta no dorso e nos braços.
Objetivou-se com este estudo, elaborar e monitorar uma técnica de marcação
temporária com fins de identificação individual para preguiças-de-garganta-marrom de
vida livre na Estação Ecológica de Caetés, Pernambuco, Brasil.
4.2 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado na Estação Ecológica de Caetés (ESEC-Caetés),
localizada na porção Norte do Município de Paulista, Mesorregião Metropolitana do
Recife, Estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil. A ESEC-Caetés situa-se entre
7º55’15” e 7º56’30” de latitude Sul e 34º55’15” e 34º56’30” de longitude Oeste de
30
Greenwich e ocupa uma área de 157ha, correspondendo a 1,54% da área do Município
(CPRH, 2006).
Foram utilizadas 46 preguiças, sendo 20 meas e 26 machos e 24 jovens e 22
adultos, capturadas manualmente com auxílio ou não de escadas. A contenção física foi
realizada com o uso de sacos de pano. Em todos os animais foi realizada a morfometria
e a sexagem. Nas recapturas, os animais foram submetidos a novos processamentos com
o objetivo de acompanhar o desenvolvimento corporal e da técnica de marcação.
A técnica de marcação ungueal consistiu em pintar as faces dorsais e laterais das
três garras dos membros torácicos com o auxílio de esmalte de unha de diversas cores.
Uma determinada cor foi utilizada para marcar somente quatro indivíduos: uma dupla
era formada por um macho e uma fêmea marcados no antímero direito e a outra dupla
(macho e fêmea) marcada no antímero esquerdo (Figura 1).
Garras Torácicas Direitas em Vermelho Garras Torácicas Esquerdas em Vermelho
A
B
C
D
Figura 1.
Quadro representativo das duplas de acordo com a cor do esmalte utilizada na
marcação ungueal. Os desenhos esquemáticos mostram as marcas nas faces mediais das
garras. Desenho das garras modificado de Pocock (1924)
Optou-se pela marcação das garras dos membros torácicos por serem estes os
mais ativos e visíveis em qualquer tipo de movimento, mesmo quando o animal
encontra-se em repouso o que permite um aumento da probabilidade de visualização e
uma melhor visibilidade da marcação no campo. As cores das marcas, por sua vez,
foram escolhidas baseando-se em dois fatores principais: promover um maior contraste
31
quando comparada à cor natural das garras não marcadas (Figura 2) e permitir uma boa
visualização à distância, com ou sem o uso do binóculo.
Figura 2. Ilustração que permite diferenciar a coloração natural (membro direito,
na vertical) e a marcação com esmalte, em branco (membro esquerdo,
na horizontal) das garras de Bradypus variegatus
O monitoramento foi realizado através de observações sistemáticas com auxílio
de binóculo (8x30 da marca Luxon, Fully Coated Optics), fichas individuais e
recapturas. Tais observações consistiram em avistar ou não os animais marcados e
foram executadas por meio de visitas ao local de estudo em períodos irregulares.
4.3 RESULTADOS
As capturas e marcações ocorreram no período compreendido entre junho de
2005 e outubro de 2006. O primeiro animal marcado foi uma fêmea adulta agrupada no
quarteto vermelho. A mea da dupla esquerda representada por “D” da Figura 1 foi
avistada em julho e em novembro de 2005. Nesta última avistagem estava acompanhada
de filhote quando então foi recapturada. Na sexagem do filhote constatou-se que se
tratava de um macho que também foi processado e marcado. Dos animais marcados, 15
Gileno Antonio Araújo Xavier
32
foram avistados pelo menos uma segunda vez na área de estudo, provavelmente devido
aos grandes deslocamentos realizados no interior da mata e/ou por serem estes animais
altamente crípticos.
No momento das recapturas foi possível averiguar o estado das garras,
submetidas aos constantes processos naturais de crescimento e de desgaste assim como
se observou que a técnica empregada não provocou nenhum comprometimento da saúde
de suas garras. Nenhuma alteração nos hábitos natural e social foi observada nos
indivíduos monitorados e as preguiças submetidas à técnica de marcação ungueal foram
facilmente identificadas, com auxílio do binóculo e das fichas individuais (Figura 3).
Figura 3. Marcação ungueal em uma fêmea de B. variegatus
4.4 DISCUSSÃO
Nas capturas observou-se que entre machos jovens, a mancha dorsal, quando
presente, pode apresentar-se em graus diferenciados de desenvolvimento desde uma
pequena depressão formada por pêlos mais escuros e menores até manchas já formadas
de proporções reduzidas. Estas variações foram observadas independentemente da idade
Gileno Antonio Araújo Xavier
33
e tamanho destes jovens. Para a sexagem dos filhotes e jovens, as características
externas observadas nos animais deste estudo foram insuficientes para uma
determinação conclusiva. Para tal foi realizada a distinção entre os sexos através do
exame da genitália externa (Pocock, 1924; Britton, 1941; Divers, 1986 e Silva, 1999).
Para Queiroz (1995), a identificação individual é possível pelo conhecimento da
área de vivência, pelo seu sexo, por marcas particulares e pelo tamanho de cada animal.
Contrastando com esta afirmação, no presente estudo observou-se que o processo de
identificação não é um procedimento fácil, principalmente quando não são realizados
capturas e exames minuciosos dos indivíduos.
As preguiças apresentam marcas particulares representativas, mas não a ponto de
serem suficientes para as individualizações. Algumas dessas marcas só podem ser
observadas durante o exame físico e são imperceptíveis na naturaza, mesmo com auxílio
de binóculos. Quanto ao conhecimento da área de vivência de cada animal, faz-se
necessário atentar para as possibilidades de sobreposição destas áreas de uso das
preguiças e dos deslocamentos por longas distâncias executados por estes animais.
Não foi possível determinar todos os possíveis fatores que poderiam interferir na
extensão ou no abreviamento do tempo de permanência da marca. Vale ressaltar que
substâncias químicas como é o caso do esmalte se desgastam gradativamente depois da
aplicação, porém durante o monitoramento observou-se que as marcas se mantiveram
observáveis por um período de até nove meses.
Este tempo variou de indivíduo para indivíduo. Animais muito jovens
apresentaram um grau maior de desenvolvimento dos anexos cutâneos, no caso as
garras, se comparados aos animais adultos, que apresentam um tempo de permanência
do esmalte maior. Um filhote lactante foi capturado com a mãe e marcado em novembro
de 2005. Sua primeira recaptura juntamente com a mãe ocorreu em fevereiro de 2006.
34
Sinais de crescimento de suas garras foram evidenciados pela presença de um pequeno
segmento de aproximadamente 0,8cm de tecido ungueal novo não pintado. Na segunda
recaptura, em março de 2006, este mesmo segmento media 1,6 cm.
Além da faixa etária, outros fatores também devem ser considerados com relação
ao tempo de retenção (visibilidade) das pinturas, tais como a atividade individual, o
estado nutricional, o período do ano, qualidade e quantidade do marcador, entre outros
como foi discutido por Melchior e Iwen (1965).
Neste trabalho os animais de vida livre foram marcados empregando a técnica de
marcação ungueal que permitiu identificação para fins de individualização que serão
utilizados em trabalhos posteriores a serem desenvolvidos na ESEC-Caetés, referentes
ao comportamento, ecologia populacional, entre outros. Conclui-se que a técnica poderá
ser empregada também para estudos de outras espécies de preguiças em cativeiro e em
semicativeiro.
Quanto à sua aplicabilidade em estudos de campo com outros mamíferos, aves e
répteis, faz-se necessário conhecer o comportamento do animal a ser estudado. Para
aqueles que utilizam as garras para determinadas atividades, como os escavadores, a
técnica pode não ser a mais indicada, uma vez que a pintura utilizada na marcação teria
um período de duração bastante abreviada pelo maior desgaste promovido por tal
atividade (tamanduás, tatus etc). Entretanto, indubitavelmente a técnica mostrou-se útil
e poderá ser aplicada com êxito em estudos em cativeiro onde os animais são privados
de manifestar muitos comportamentos naturais.
4.5 CONCLUSÃO
A marcação ungueal é uma técnica simples, prática e econômica e não promove
alteração nas funções das garras marcadas ou mudanças comportamentais dos
35
indivíduos, sendo adequada para animais de vida livre, em cativeiro ou semicativeiro.
Considerando certas semelhanças de comportamentos entre os diferentes neros de
preguiças, o método de marcação permite sua aplicação também em estudos que
envolvam as outras espécies.
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38
EXPERIMENTO II
39
5 PERFIL HEMATOLÓGICO E PROTEINOGRAMA DE PREGUIÇAS-DE-
GARGANTA-MARROM (Bradypus variegatus, SCHINZ, 1825) DE VIDA
LIVRE NA MESORREGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE,
PERNAMBUCO, BRASIL
RESUMO: Foram determinados valores de referência para os parâmetros
hematológicos e do proteinograma sérico de preguiças-de-garganta-marrom de vida
livre na Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil. Coletaram-se
amostras de sangue de 25 animais clinicamente sadios, de sexo e faixa etária variadas.
As técnicas utilizadas para determinação das variáveis do hemograma e proteinograma
foram similares às recomendadas para cães e gatos. Os resultados obtidos referentes aos
parâmetros hematológicos e do proteinograma sérico podem ser utilizados para avaliar
as alterações fisiológicas e patológicas em preguiças-de-garganta-marrom de vida livre
e de cativeiro.
Palavras-chave: Preguiça-de-garganta-marrom, Bradypus variegatus, hematologia,
proteinograma.
ABSTRACT: The reference values for hematology and serum proteinogram of free
living brown-throated three-toed sloth found in the Mesoregion of Recife, Pernambuco,
Brazil was determined. Blood samples were collected from 25 clinically healthy sloths
of differents sexes and ages. The method used for determining the variables of the
hemogram and proteinogram were similar to those recommended for cats and dogs. The
results obtained refers to the hematological and serum proteinogram parameters which
40
can be use to evaluate physiological and pathological variations in free living brown-
throated three-toed sloth and those in captivity.
Key words: Brown-throated three- toed sloth, Bradypus variegatus, hematology,
proteinogram.
5.1 INTRODUÇÃO
São reconhecidos dois gêneros distantes de preguiças, o Choloepus (preguiça-
de-dois-dedos) e o Bradypus (preguiça-de-três-dedos), distinguidos facilmente pelo
número de dígitos com garras em seus membros dianteiros (Naples 1982; Wetzel,
1985). As diferenças genéticas observadas são aparentemente grandes entre eles (Jong
et al., 1985). As preguiças do gênero Choloepus se adaptam facilmente à vida em
cativeiro, as do nero Bradypus são pouco resistentes. Quando removidas de seu
habitat natural sobrevivem por poucos meses (Crandall, 1964). Contudo, as razões de
sua difícil adaptação ao cativeiro ainda não são suficientemente conhecidas
(Montgomery e Sunquist, 1975). O gênero Choloepus compreende duas espécies e o
Bradypus passou recentemente para quatro (Anderson e Handley, 2001).
A hematologia de animais selvagens, especialmente aqueles da fauna brasileira,
ainda é um campo de trabalho científico pouco explorado, sendo necessários estudos
exaustivos para que se possa chegar a um nível adequado de compreensão de suas
particularidades (Garcia-Navarro e Pachaly, 1994).
Trabalhos realizados em outros países registraram valores hematológicos e da
bioquímica sérica de preguiças-de-dois-dedos Choloepus spp. (Britton et al., 1939;
Marvin e Shook, 1963; Toole, 1972; Bush e Gilroy, 1979; Meritt, 1985; Wallace e
Oppenheim 1996; Vogel et al., 1999).
41
Outros estudos relataram valores para os parâmetros hematológicos e
bioquímicos para o gênero Bradypus spp. (Oria, 1928; Britton et al., 1939; Hoehne e
Rosenfeld, 1954; Johansen et al., 1966; Toole, 1972). Contudo, são raros os trabalhos
desta natureza realizados com a espécie B. variegatus, destacando-se os estudos
realizados no Estado do Rio de Janeiro (Ferrer, 1999; Ferrer, 2004; Neves Júnior et al.,
2002).
Considerando a carência de dados na literatura nacional que possam contribuir
para tema em apreço para a espécie, objetivou-se com este estudo reunir dados de
referência para os parâmetros hematológicos e do proteinograma rico de preguiça-de-
garganta-marrom Bradypus variegatus de vida livre na Mesorregião Metropolitana do
Recife.
5.2 MATERIAL E MÉTODOS
As amostras foram coletadas no período de setembro de 2005 a fevereiro de
2006, compreendendo 25 preguiças-de-garganta-marrom de sexo e faixa etária variados,
sendo 09 animais procedentes da Estação Ecológica de Caetés, que compreende uma
área de 157ha, um remanescente de Mata Atlântica, situada no Município do Paulista,
Pernambuco, Brasil; e 16 capturados em outras localidades da Mesorregião
Metropolitana do Recife pela equipe de soldados da Companhia Independente de
Policiamento do Meio Ambiente (CIPOMA).
Os animais foram transportados da Estação Ecológica de Caetés ao Laboratório
de Doenças Infecciosas da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em caixas para
transporte de cães e gatos, adaptadas para as preguiças. Traves de madeira fixadas no
interior dessas caixas permitiram uma maior comodidade para as preguiças, uma vez
que se sentiam mais seguras quando permaneciam agarradas a substratos. No
42
laboratório, para tranqüilizá-las da viagem, permaneciam nas caixas por
aproximadamente 30 minutos antes do início das coletas de sangue.
Para coleta procedeu-se à contenção física não rigorosa sem o emprego de
anestésicos. Realizou-se a tricotomia e antissepsia da região axilar e as amostras
sangüíneas foram obtidas por venopunção da veia cefálica com auxílio de seringas de
3ml e agulhas de 25x7mm descartáveis. As técnicas laboratoriais empregadas para os
exames hematológicos e do proteinograma foram similares às recomendadas para cães e
gatos (Gillespie; Fowler, 1993). Foram estudados um total de 13 parâmetros
hematológicos e 5 do proteinograma sérico.
Para analisar os resultados, utilizou-se técnica de estatística descritiva onde se
calculou as freqüências absoluta e relativa para as diferentes variáveis do hemograma e
proteinograma (Sampaio, 2002).
5.3 RESULTADOS
As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam os valores da média e do desvio padrão para as
variáveis do hemograma e proteinograma para as 25 preguiças amostradas.
Tabela 1 Média e desvio padrão para as variáveis hematológicas de Bradypus
variegatus de vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil,
2006
Variáveis
Média ± Desvio padrão
Hemácias (x10
6
/µl)
3,20 ± 0,53
Hemoglobina (g%)
11,31 ± 1,48
Hematócrito (%)
35,60 ± 3,24
VCM (fl)
113,90 ± 21,28
HCM (pg)
35,50 ± 7,82
CHCM (%)
32,03 ± 3,60
Plaquetas (10
3
/µl)
235,82 ± 127,55
Leucócitos (10
3
/µl)
12,96 ± 6,12
VCM= Volume Corpuscular Médio; HCM= Hemoglobina Corpuscular Média; CHCM= Concentração de Hemoglobina Corpuscular
Média.
43
Tabela 2 Contagem diferencial dos leucócitos de Bradypus variegatus de vida livre
na Mesorregião Metropolitana do Recife, Pernambuco, Brasil, 2006
Média ± Desvio padrão
Média ± Desvio padrão
Variáveis
VA (10
3
/µl) ± VA (10
3
/ µl) VR (%) ± VR (%)
Eosinófilos
0,35 ± 0,23 3,22 ± 2,24
Linfócitos típicos
6,80 ± 3,83 55,88 ± 25,09
Monócitos
0,22 ± 0,20 2,11 ± 1,94
Neutrófilos Bastonetes
1,09 ± 0,94 9,17 ± 6,88
Neutrófilos Segmentados
2,92 ± 1,86 24,46 ± 12,33
VA = Valor Absoluto; VR = Valor Relativo.
Tabela 3 Média e desvio padrão para as variáveis do proteinograma sérico de
Bradypus variegatus de vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife, PE, Brasil,
2006
Variáveis Média ± Desvio padrão
PPT (g/dl) 8,40 ± 0,40
Fibrinogênio (mg/dl) 640,00 ± 184,70
Albumina 3,80 ± 0,70
Globulina 4,80 ± 0,70
Relação Albumina/Globulina 0,80 ± 0,30
PPT = Proteína Plasmática Total.
5.4 DISCUSSÃO
A literatura consultada ressalta a importância do estabelecimento de valores
“normais” para animais em suas condições ambientais naturais. Entretanto, em termos
práticos, isto geralmente não é possível, pois os estudos geralmente são realizados em
animais de cativeiro, sendo difícil a realização de tais trabalhos em espécies livres
devido ao limitado mero de animais disponíveis (Garcia-Navarro e Pachaly, 1994;
Vogel et al., 1999). Entendemos que o número de animais de uma determinada espécie
de vida livre possa limitar as possibilidades de captura para obtenção de amostras para
estudos desta natureza. Contudo, devem-se empreender esforços para amostrar animais
de vida livre, pois estes refletem com mais fidelidade os resultados em condições
44
naturais. Nestas condições, algumas variáveis que podem interferir nos valores
hematológicos, tais como alguns fatores ambientais, dieta e estresse podem ser
minimizados.
Por outro lado, outros fatores que poderiam influenciar na determinação das
variáveis hematológicas e no proteinograma sérico de animais de vida livre, como
algumas infecções, podem ser minimizados em populações homogêneas em cativeiro
que experimentam pressões mais uniformes. Desta forma observa-se maior variação nos
resultados das variáveis estudadas em animais de vida livre, registrando-se maiores
desvios-padrão como observado por Vogel et al. (1999) e também registrado no
presente estudo.
É difícil se obter poucos milímetros de sangue especialmente de preguiças
tridáctilas, a menos que uma veia calibrosa seja encontrada (Britton, 1941). Esse fato
não foi constatado neste estudo. O procedimento de coleta utilizado neste estudo que
incluiu a tricotomia da região axilar, seguida da realização do garrote por meio de
compressão digital, promoveu o fácil acesso da veia cefálica. Sua punção permitiu a
coleta das amostras sem maiores problemas, em quantidades adequadas e sem maior
imposição de estresse ao animal. Ao contrário das informações relatadas por Irving et
al. (1942) e Johansen et al. (1966) que preferiram a punção das artérias radial ou umeral
à punção da veia cefálica, manobra adotada neste estudo, possibilitou a obtenção de
resultados satisfatórios.
Os resultados obtidos neste estudo quanto às variáveis hematológicas analisadas
confirmaram os valores anteriormente obtidos para a espécie B. tridactylus por Hoehne
e Rosenfeld (1954) e Oria (1928) e para Bradypus sp. (Wallach e Boever, 1983), com
exceção para as variáveis neutrófilos e linfócitos que se observou uma inversão nos
percentuais obtidos neste estudo quando comparados aos resultados encontrados nesses
45
trabalhos anteriores. Outros parâmetros que sofreram variações foram o número total de
leucócitos e o valor relativo e absoluto de monócitos.
Vale ressaltar que nos trabalhos realizados pelos autores supracitados para B.
tridactylus foram utilizados apenas dois exemplares, dificultando desta forma uma
maior discussão dos resultados. Uma explicação plausível para o aumento do número de
linfócitos em relação aos neutrófilos pode estar relacionado ao fato dos animais deste
estudo terem sido capturados e transportados e terem sido submetidos provavelmente à
algum grau de estresse. De acordo com Loomis et al. (1980) o estresse pode causar uma
leucocitose e linfocitose. Por outro lado, os valores obtidos neste estudo para as
variáveis linfócitos e neutrófilos encontram-se muito próximas daqueles relatados por
Ferrer (1999) que observou médias para neutrófilos segmentados de 37% e para
linfócitos de 52%; e Ferrer (2004) que obteve médias para neutrófilos segmentados de
40,02% e para linfócitos de 49,60%. Contudo, os dados referentes à contagem de
leucócitos mostraram-se diferentes quando comparados aos resultados obtidos neste
estudo com àqueles realizados por Ferrer (1999; 2004) que relataram valores mais
baixos para esta variável. Uma possível explicação seria o fato desses estudos prévios
terem sido realizados com animais de cativeiro cujas pressões consideradas mais
homogêneas podem ter minimizado alguns fatores que interferem na contagem, como
discutido anteriormente. Ressalta-se ainda que estes trabalhos foram as únicas
referências encontradas na literatura sobre parâmetros hematológicos para B.
variegatus, dificultando assim uma comparação mais adequada.
Quanto às variáveis do proteinograma sérico não foi possível estabelecer uma
comparação com os resultados obtidos em outros trabalhos anteriores, pois são escassos
os estudos abordando este aspecto bioquímico do sangue de preguiças desta espécie.
Uma única referência sobre este assunto foi feita por Neves Júnior et al. (2002), que
46
apresentaram dados sobre algumas variáveis bioquímicas para B. trydactilus residentes
em semicativeiro no município de Valença, RJ. Os valores encontrados neste estudo
para as variáveis do proteinograma encontram-se ligeiramente acima daqueles relatados
por estes autores, contudo a média para proteínas plasmática total encontra-se muito
próxima daquela citada por Toole (1972) e Wallach e Boever (1983) para a espécie B.
trydactilus.
Quanto ao aspecto morfotintorial das células sangüíneas, verificou-se ligeira
anisocitose que de acordo com Oria (1928) é um achado fisiológico para os
bradipodídeos, além de normocromia e macrocitose quando comparado às células de
alguns mamíferos domésticos. Observou-se, também, a presença de reticulócitos em
pequeno mero. Em relação aos leucócitos, observou-se que estas células na espécie
estudada se apresentaram sob forma característica para os leucócitos do sangue de
outros mamíferos domésticos, registrando-se a presença dos granulócitos neutrófilos,
eosinófilos, além dos agranulócitos linfócitos e monócitos.
5.5 CONCLUSÃO
Os valores de referência para parâmetros hematológicos e do proteinograma
sérico encontrados neste estudo podem vir a ser utilizados para avaliar alterações
fisiológicas e patológicas em preguiças-de-garganta-marrom de vida livre e de cativeiro.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a colaboração da equipe do Laboratório de Patologia Clínica da
UFRPE pelo grandioso apoio técnico.
47
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51
EXPERIMENTO III
52
6 DERMATOFITOSE POR Microsporum canis E Microsporum gypseum EM
Bradypus variegatus (SCHIZ, 1825) DE VIDA LIVRE NO ESTADO DE
PERNAMBUCO, BRASIL: RELATO DE CASO
RESUMO: Foram estudados três casos de dermatofitose em preguiças-de-garganta-
marrom (Bradypus variegatus) de vida livre na Zona da Mata Norte do Estado de
Pernambuco. Os animais apresentavam áreas de alopecia nos membros pélvicos e
torácicos no primeiro e terceiro casos e apenas no membro pélvico no segundo, além da
presença de crostas em ambos os casos. As amostras de pêlos e crostas foram
submetidos ao exame direto com KOH a 30% e cultivo em Ágar Mycosel. Ao exame
direto foram observados artrosporos nos pêlos e sete dias após o cultivo foram
observadas colônias sugestivas do gênero Microsporum, confirmadas através da
observação da estrutura dos macroconídeos. Relata-se a primeira ocorrência de
dermatofitose por Microsporum canis e por Microsporum gypseum em preguiças de
vida livre no estado de Pernambuco.
Palavras-Chave: Microsporum canis; Microsporum gypseum; Bradypus variegatus;
dermatófitos; preguiças.
ABSTRACT: Three cases of dermatophytosis in free living brown-throated three-toed
sloth (Bradypus variegatus) in the Zona Mata North of Pernambuco State were studied.
The animals had areas of alopecia on the pelvic members and thorax in the first and
third cases and only on the pelvic member in the second case. The presence of scab was
found in all cases. Skin samples and scab were directly examined with a 30 % KOH and
cultivated in Mycosel Agar. In the direct examination arthrospores were found on the
53
skin and 7 days after cultivation colonies were present suggesting Microsporum, which
was later confirmed by the presence and structure of the macroconidia. This is the first
observation of dermatophtosis caused by Microsporum canis and Microsporum
gypseum in free living sloths in the State of Pernambuco.
Key Words: Microsporum canis; Microsporum gypseum; Bradypus variegatus;
dermatophytosis; sloths.
6.1 INTRODUÇÃO
Os microrganismos presentes no ambiente selvagem, seguindo uma evolução de
milhares de anos, tornaram-se adaptados ao habitat e raramente constituem uma ameaça
à população animal. Nestas condições os agentes infecciosos podem ser considerados
como componentes de integração normais e essenciais ao ambiente, e deste modo
devem ser conservados junto com os demais elementos do ecossistema (Jones, 1982; De
Vos, 1991). Portanto, na ausência de alterações ambientais, o envolvimento de doenças
como fator limitante das populações nativas é provavelmente pouco significativo
(Jones, 1982).
Nos anos recentes, a expansão da população humana e da criação de animais
domésticos tem provido uma via direta de organismos infectantes incomuns ao meio
selvagem (Jones, 1982). Na discussão da transmissão de infecções entre várias espécies,
entretanto, é conveniente considerar três grupos: a) fauna selvagem; b) fauna doméstica
e; c) população humana. Há neste contexto, portanto, o evidente envolvimento de
questões conservacionistas, econômicas e de saúde pública (Heenderson, 1982).
As preguiças são mamíferos arborícolas que vivem, alimentam-se e reproduzem-
se na copa das árvores e elas acumulam fezes e urina por aproximadamente uma
54
semana. Descem das árvores para eliminar as fezes em uma depressão escavada no chão
da mata com auxílio da cauda, urinam em cima e cobrem com folhas com um
movimento estereotipado de pernas para subir na árvore. Todo o processo de descida,
defecação e retorno leva em torno de 30 minutos (Montgomery, 1983).
As dermatoses são muito freqüentes entre os animais e o diagnóstico, tratamento
e orientação profilática são variáveis de acordo com a etiologia do processo (Costa et
al., 1995).
A dermatofitose é uma infecção dos tecidos queratinizados, unhas, pêlo e estrato
córneo, causada por diferentes espécies dos gêneros Microsporum, Trichophyton ou
Epidermophyton. Esses dermatófitos são os únicos fungos capazes de invadir e
manterem-se nos tecidos queratinizados. São transmitidos por contato com pêlo e caspa
infectados ou com elementos fúngicos nos animais, no ambiente ou em fômites. Os
dermatófitos geofílicos, como o M. gypseum, normalmente habitam o solo, onde se
decompõem em debris ceratinosos. Os zoofílicos, como o M. canis, tornaram-se
adaptados aos animais e apenas raramente são encontrados no solo (Scott et al., 1996).
O Microsporum canis é o agente etiológico mais freqüente da dermatofitose dos
cães e gatos. Apresenta distribuição mundial em várias espécies. É bastante comum no
homem que se infecta através do contato com animais. foi também isolado de muitas
outras espécies como ruminantes, eqüino, suíno, primatas, grandes felinos, entre outras,
sendo a patogenicidade deste agente considerada alta para canídeos, roedores e
mustelídeos (Cruz, 1985; Van Cutsem e Rochette, 1991). No Brasil, um único relato da
infecção por este agente em preguiça B. tridactylus foi relatado em Belém, PA por Silva
et al. (2002).
O M. gpyseum produz lesões geralmente crostosas e quase sempre isoladas. É
isolado de cães, gatos, cavalo, boi, porco, coelho e animais silvestres (Cruz, 1985).
55
Devido à carência de estudos envolvendo os aspectos de sanidade em preguiças
(Bradypus variegatus) de vida livre no Brasil, objetivou-se com este estudo relatar a
ocorrência de dermatofitose por M. canis e M. gypseum nesta espécie no estado de
Pernambuco, Brasil.
6.2 DESCRIÇÃO DOS CASOS
Foram examinadas três preguiças machos, adultos, da espécie B. variegatus,
procedentes dos municípios de Itamaracá e Abreu e Lima-PE, nos meses de agosto de
2005, julho e setembro de 2006, respectivamente. Os três animais apresentavam lesões
com pêlos quebradiços, alopecia e crostas espessas nos membros pélvicos e face interna
da coxa de tamanhos variados e destes, apenas dois com lesões nos membros torácicos
de aproximadamente 5,0cm de diâmetro em torno da extremidade distal. O aspecto
macroscópico das lesões foi semelhante nos três casos (Figura 1).
Figura 3.
Dermatofitose em B. variegatus: área circunscrita de alopecia e
descamação no membro pélvico
Gileno Antonio Araújo Xavier
56
Os animais foram contidos fisicamente e com o auxílio de lâmina de bisturi
foram coletados pêlos e crostas por meio de raspado cutâneo. Uma parte do material
biológico foi utilizado para a realização do exame direto utilizando-se a clarificação
com hidróxido de potássio a 30% em lâmina de vidro. Posteriormente, este material foi
examinado em microscópio óptico (40x) para a pesquisa de estruturas fúngicas
(artrosporos). Outra porção foi cultivada em Ágar Mycosel e incubada a temperatura
ambiente durante duas semanas. Para o diagnóstico, considerou-se o tipo de lesão
encontrada, o exame direto e o isolamento do fungo, com a observação do tipo de
crescimento e morfologia microscópica dos conídeos (macro e microconídeos) de
acordo com metodologia recomendada por Cruz (1985).
O quadro dermatológico apresentado pelos animais com pêlos quebradiços e
presença de crostas é indicativo de dermatomicose. Ao exame direto foi possível
observar a presença de artrosporos ecto e endotrix, sugestivos de fungos dermatófitos.
No Brasil, são escassos os trabalhos relatando a presença destes fungos
infectando preguiça, ressaltando a descrição feita por Silva et al. (2002) que
descreveram os achados clínicos da alopecia tonsurante causada pelo M.canis na espécie
B. tridactylus onde os autores chamam a atenção para o primeiro registro da clínica e do
agente nesta espécie. Os achados clínicos e microbiológicos observados neste estudo
são semelhantes àqueles relatados por estes autores. Diniz e Oliveira (1999)
estudaram cinqüenta e uma preguiças mantidas no Zoológico de São Paulo em um
estudo retrospectivo no período de vinte anos e relataram a ocorrência de
ectoparasitoses em quatro animais (4,9%), contudo os autores não descreveram os
gêneros de ectoparasitas identificados.
Vale ressaltar ainda que no presente estudo os três animais capturados com
lesões de pele (100%) apresentaram exame positivo para a pesquisa de fungos do
57
gênero Microsporum, destacando-se a importância desses dermatófitos nas
dermatomicoses nessa espécie.
Quanto às culturas, foi observado após sete dias, o crescimento de colônias
algodonosas brancas com área central amarelada e pregas radiais, sendo o reverso das
colônias amarelado (Figura 2), coincidindo com a descrição de Van Cutsem e Rochette
(1991) para o M. canis no primeiro caso e o crescimento de colônias com textura
pulverulenta e coloração variando do marrom-amarelado a marrom-claro, sendo o
reverso das colônias amarelo claro para M. gypseum como descrito por Scott et al.
(1996), no segundo e terceiro casos (Figura 3).
Ao exame microscópico das colônias, realizado pela técnica do azul de algodão,
observou-se macroconídeos equinulados em forma de fuso característicos de M. canis,
no primeiro caso, e no segundo e terceiro casos observaram-se macroconídeos
fusiformes com paredes equinuladas com até seis células, típicos de M. gypseum.
Figura 4. Aspecto macroscópico das colônias
de M. canis isoladas de B. variegatus
Figura 3. Aspecto macroscópico das colônias
de M. gypseum isoladas de B.
variegatus
Nas espécies domésticas, especialmente em gatos, a infecção pelo M. canis
geralmente é autolimitante, atestando a tolerância desta espécie a este tipo de
58
dermatófito, servindo como portador assintomático para outros animais da mesma
espécie ou de outras espécies (Foil apud Greene, 1990).
Já, em outras espécies, este fungo pode provocar lesões em decorrência da pouca
adaptação e também pela produção de metabólitos tóxicos que produzem uma irritação
na pele e alopecia, podendo também ocorrer infecções bacterianas secundárias que
geralmente são acompanhadas de prurido (Cruz, 1985).
Devido ao hábito arborícola destes animais, ainda não se pode afirmar ao certo,
quanto à possível fonte de infecção, mas acredita-se que as preguiças tenham se
infectado a partir do contato com pêlos infectados de outros animais uma vez que o M.
canis é zoofílico e pode permanecer infectante no ambiente por até 18 meses (Carter,
1991; Scott et al., 1996). Outra possibilidade seria a necessidade da preguiça descer das
árvores para defecar e urinar ou locomover-se no solo, ficando assim mais vulnerável ao
contato com o fungo, no caso para M. gypsum que se trata de um dermatófito geofílico
que habita o solo (Scott et al. (1996). Ainda, seria possível o contato da preguiça com
outros animais arborícolas ou com tufos de pêlos contaminados com o dermatófito que
se encontrassem dispersos entre os galhos das árvores.
Relata-se a primeira ocorrência de dermatofitose em preguiças Bradypus
variegatus de vida livre no Estado de Pernambuco, Brasil, salientando que não é
possível diferenciar macroscopicamente as lesões por M. canis e M. gypseum, por serem
bastante semelhantes, sendo nestes casos necessário a realização da cultura dos pêlos e
crostas.
59
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60
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VAN CUTSEM, J.; ROCHETTE, F. Mycoses in domestic animals. Beerse: Janssen
Research Foundation, 1991. 226p.
61
COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
62
7 ALBINISMO TOTAL EM Bradypus variegatus (SCHINZ, 1825)
(XENARTHRA: BRADYPODIDAE) NO ESTADO DE PERNAMBUCO,
BRASIL
RESUMO: Relata-se a ocorrência de um caso de albinismo total em preguiça
(Bradypus variegatus) apreendida na Mesorregião Metropolitana do Recife,
Pernambuco, Brasil.
Palavras-chave: Albinismo total; preguiça-de-garganta-marrom; Bradypus variegatus.
ABSTRACT: A case of total albinism in brown-throated three-toed sloth (Bradypus
variegatus) captured at the Metropolitan Mesoregion of Recife, Pernambuco State,
Brazil is described.
Key words: Total albinism; Brown-throated three-toed sloth; Bradypus variegatus.
7.1 INTODUÇÃO
O albinismo é resultado de uma desordem genética onde ocorre um defeito na
liberação de pigmentos pelos melanócitos (Alberts et al., 2004). Causado pela
homozigoze de alelos recessivos, traduz-se na incapacidade de fabricar melanina, o
pigmento responsável pela coloração negra e marrom dos animais, inclusive em
humanos (Griffiths et al., 1998).
Walter (1938) afirmou que estes genes recessivos são responsáveis pela
intensidade da pigmentação da pele, dos pêlos e olhos. Normalmente os indivíduos com
albinismo verdadeiro ou total possuem tegumento sem pigmentação (claro ou branco),
63
pele rosada e olhos vermelhos. Apenas um em cada 20.000 indivíduos pode apresentar
alguma forma de albinismo. A anomalia já foi registrada em algumas espécies de
peixes, répteis, aves e mamíferos (Uieda, 2000). Segundo Perez-Carpinell et al. (1992)
uma grande proporção destes albinos tem fotofobia, nistagmo pendular, estrabismo,
astigmatismo e miopia elevados, além de pobre acuidade visual. Em espécimes com
albinismo parcial observa-se a pele ou a pelagem com cores claras, não necessariamente
brancas, e zonas pigmentadas em outras regiões do corpo (Herreid II e Davis, 1960;
Constantine, 1957).
Os albinos são mais evidentes aos predadores (Rodrigues et al., 1999). Em
condições naturais, mamíferos albinos são selecionados negativamente em função de
sua conspicuidade no meio ambiente (Parsons e Bonderup-Nielsen, 1995). A
probabilidade de sucesso dos animais albinos na natureza é maior em espécies de hábito
críptico ou noturno ou naqueles que apresentam formas eficientes de defesa (Sazima e
Pombal, 1986; Sazima e Di Bernardo, 1991).
No Brasil, existem alguns relatos para pequenos roedores (Pessoa & Dos-Reis,
1995; Cademartori e Pacheco, 1999;), roedores de médio porte (Veiga, 1994), morcegos
(Moreira et al., 1992; Veiga & Oliveira, 1995; Uieda, 2000; Sodré et al., 2004),
ungulados (Smielowski, 1979; Rodrigues et al., 1999), primatas (Veiga, 1994) e em
preguiça (Manchester & Jorge, 2003).
Objetivou-se com este estudo relatar a ocorrência de albinismo total em preguiça
(Bradypus variegatus) de vida livre na Mesorregião Metropolitana do Recife, PE.
7.2 DESCRIÇÃO DO CASO
Este relato trata da observação da ocorrência de um caso de albinismo total em
uma preguiça apreendida no município de Igarassu, PE pela equipe de soldados da
64
Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente e encaminhada à Estação
Ecológica de Caetés, município do Paulista, PE. Tratava-se de um macho jovem com
aproximadamente um ano de idade que apresentava coloração da pele rósea, incluindo a
pele do focinho e ao redor dos olhos. Os pêlos eram bege claro, contrastando fortemente
com a pelagem de indivíduos normais e revestia todo o corpo com exceção da região
orbital onde se observou coloração esbranquiçada (Figura 1). Na região interescapular,
observou-se uma ligeira depressão dos pêlos indicando a mancha dorsal em
desenvolvimento. Os olhos apresentavam íris despigmentada e movimentos
involuntários oscilatórios, rítmicos e repetitivos
indicativos de nistagmo, conforme
descrito por Perez-Carpinell et al. (1992).
Manchester & Jorge (2003) citaram o nascimento de preguiças albinas no
município de Teófilo Otoni, Minas Gerais em uma população de 25 animais isolados em
uma praça. Os autores atribuíram o albinismo ao acasalamento endogâmico.
Observaram, também, o nascimento de indivíduos com má-formações dos membros e a
morte prematura de filhotes. Contudo, os autores não descreveram detalhadamente se
tratava de albinismo completo ou parcial. No presente estudo o animal apresentava
todas as características de albinismo total de acordo com a descrição feita por Walter
(1938).
A ocorrência de albinismo na natureza é muito rara e, portanto, difícil de ser
observada. Parsons e Bonderup-Nielsen (1995), discutiram que em condições naturais,
os mamíferos albinos são selecionados negativamente em função de sua
susceptibilidade, possível rejeição por parte dos demais da mesma espécie até uma
maior probabilidade de ataques. No caso da preguiça que são animais altamente
crípticos e de hábitos tanto diurno quanto noturno, além do fato de apresentarem poucos
predadores naturais (onças, jibóias e aves de rapina de grande porte), estes animais
65
podem ter maior probabilidade de sobrevivência como comentado por Sazima e Pombal
(1986) e Sazima e Di Bernardo (1991) para peixes e serpentes. Outro aspecto favorável
à espécie em questão é a sua maior permanência na copa das árvores o que promove
maior proteção quando comparado aos albinos de hábitos terrestres.
Figura 1.
Preguiça macho jovem com albinismo total da espécie Bradypus
variegatus. Observar a pelagem bege com exceção da fronte onde é
mais clara e coloração rosada da pele do focinho e olhos
Figura 2.
Preguiça mea jovem normal da espécie Bradypus variegatus.
Observar a coloração escura dos pêlos e pele enegrecida do focinho
Gileno Antonio Araújo Xavier Gileno Antonio Araújo Xavier
66
Após o processo de sexagem e medições, o animal em questão foi solto na
Estação Ecológica.
Relata-se a primeira ocorrência de albinismo total em preguiça da espécie
Bradypus variegatus no Estado de Pernambuco.
REFERÊNCIAS
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69
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo dos aspectos clínicos e de manejo em preguiças-de-garanta-marrom de
vida livre permitiu reunir alguns dados epidemiológicos importantes que contribuirão
certamente para o estudo desta espécie. Algumas informações aqui fornecidas poderão
ser extrapoladas para os demais bradipodídeos ou até mesmo para as espécies do gênero
Choloepus. Ao contrário do que se esperava, a captura e o manejo desses animais para a
coleta de amostras biológicas, constituiu em tarefa relativamente simples e sem
transtornos para os animais capturados.
A técnica de marcação desenvolvida e aplicada neste estudo permitirá a
realização de futuros estudos nas áreas de ecologia, conservação e etologia bem como
outros relacionados ao manejo da espécie quando mantidas em cativeiro ou aqueles que
possam auxiliar na clínica médica dos animais silvestres. As descrições de casos de
dermatofitoses nessa espécie e a dos agentes envolvidos poderão favorecer o tratamento
e controle dessas infecções de pele, principalmente quando não for possível a utilização
de técnicas laboratoriais para o diagnóstico dessas dermatoses. O relato de ocorrência de
albinismo total nessa espécie registra este raro distúrbio de pigmentação, no estado de
Pernambuco.
Por fim, este estudo, reveste-se de importância, pois é o pioneiro em se tratando
de sua abrangência multidisciplinar no estado de Pernambuco e pretende incentivar
mais pesquisas relacionadas a esta espécie.
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