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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FLÁVIA LIARA MASSAROTO CESSEL CHAGAS
ESTUDO RETROSPECTIVO DA ANÁLISE DE MARCHA DE PACIENTES COM
PARALISIA CEREBRAL DO TIPO HEMIPARESIA ESPÁSTICA
BRASÍLIA – DF
2007
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ii
FLÁVIA LIARA MASSAROTO CESSEL CHAGAS
ESTUDO RETROSPECTIVO DA ANÁLISE DE MARCHA DE PACIENTES COM
PARALISIA CEREBRAL DO TIPO HEMIPARESIA ESPÁSTICA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
programa de Pós- Graduação em Ciências
Médicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de Brasília, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Ciências Aplicadas em Saúde.
Orientador: Prof. Dr.
BRASÍLIA – DF
2007
Florêncio Figueiredo
Cavalcanti Neto
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iii
TERMO DE APROVAÇÃO
FLÁVIA LIARA MASSAROTO CESSEL CHAGAS
ESTUDO RETROSPECTIVO DA ANÁLISE DE MARCHA DE PACIENTES COM
PARALISIA CEREBRAL DO TIPO HEMIPARESIA ESPÁSTICA
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Aplicadas em Saúde.
Orientador: Prof. Dr. Florêncio Figueiredo Cavalcanti Neto
Faculdade de Medicina
UnB – Universidade de Brasília
Examinador 1: Prof. Dr. Demóstenes Moreira
Faculdade de Ciências da Saúde
UnB – Universidade de Brasília
Examinador 2: Profª Drª Ana Cristina de David
Faculdade de Educação Física
UnB – Universidade de Brasília
BRASÍLIA – DF
2007
iv
Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Movimento da Universidade Estadual
de Goiás (UEG) unidade ESEFFEGO (Escolar de Ensino Superior de Educação Física
e Fisioterapia), sob supervisão da Prof.ª Msc. Flávia Martins Gervásio e orientação do
Prof. Dr. Florêncio Figueiredo Cavalcanti Neto, com apoio financeiro da CAPES.
v
DEDICATÓRIA
Ao meu querido esposo Clever pelo carinho, amor, alegrias, atenção, incentivo e
gotas de coragem para enfrentar mais essa batalha. Sem você eu não teria
chegado aonde cheguei.
À minha amada família: mãe Eni, avó Dusolina e pai-avô Fioravante, pelo amor,
pela dedicação que me foi dada e pelo suor derramado durante minha educação.
“Não desanime! Aprenda a começar e a recomeçar. Não se deixe arrastar pela indiferença: se caiu, levante-se e
recomece. Se errou, erga-se e recomece. Se não consegue dominar-se, firme sua vontade e recomece. Não desanime
jamais! Talvez chegue ao fim da luta cheio de cicatrizes, mas estas se transformarão em luzes, diante do PAI Todo-
Compassivo.” (Carlos Torres Pastorino).
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus pela força maior que habita dentro de todos nós e que não permite que
desanimemos jamais, fazendo com que sigamos sempre em frente; que sempre
esteve comigo nos momentos mais difíceis e decisivos de minha vida, sempre
me amparando e guiando pelo caminho que Ele julgava mais correto. Obrigada
Meu Deus pelo seu amor!
Ao professor Florêncio por permitir que o sonho se tornasse realidade. Ter
ultrapassado barreiras, enfrentado uma experiência nova e ter confiado em mim
para executar este trabalho.
Aos professores da Pós-Graduação que participaram da minha caminhada direta,
ou indiretamente, pelo conhecimento compartilhado.
Aos amigos do LMPDC, por permitirem minha permanência no local durante todo
esse tempo, em especial: Márcia, Prof. Teixeira, etc. Amigos também se fizeram
presentes neste ambiente: Flávia, Carol Bussacos, Dani, Miguel, Marol, Flávio,
Malu, Cássia, Mari, Nadjar, Eliete, Perla, Adriana, Carol, Alessandro, Carlos e
Sérgio.
Ao pessoal do laboratório de movimento da UEG, em especial, à coordenadora,
minha grande amiga e madrinha Prof.ª Msc. Flávia Martins Gervásio, sua ajuda foi
primordial durante todo esse trabalho. Com o tempo percebemos que “alegria
compartilhada é dupla alegria e que dor compartilhada é meia dor”. Obrigada!
Ao Prof. Msc. Clodoaldo Valverde pela ajuda com a estatística e normalização
dos dados.
Aos amigos da catequese, que mesmo indiretamente participaram da realização
desse trabalho, em especial: Neidimar, Júnior, Carmem, César e Hélio.
Às amigas inseparáveis, que na luta do dia-a-dia estão sempre presentes em
meus pensamentos: Aline, Gyelle, Fernanda e Giselle, entre outras.
vii
A todos os amigos que conheci durante essa caminhada e que ajudaram muito
no meu amadurecer.
Ao grande amigo Evandro, pelo carinho e atenção incondicional.
A toda minha família, pelo apoio e paciência durante toda essa jornada. A
distância nos separou apenas fisicamente, mas nossos laços de união são muito
fortes, ultrapassando fronteiras. Ao meu esposo, meus pais, avós, tios, primos,
irmãos, sobrinhos e afilhados, em especial: Shê, Lipe, Gabriel, tia Sid, pai Clóvis,
Lalá e Amanda: amo vocês!!!!!
À família que me adotou com todo carinho: D. Zilda, Seu Jeová e cunhados; em
especial ao Cleverson (Son) amigo para todas as horas e à minha afilhada
Thaissa, com eles eu percebi que alguns instantes de boas gargalhadas fazem a
diferença.
“Para mim, o saber será: saber que conhecer não é saber e que não conhecer é saber. O
verdadeiro homem de compreensão sabe que não conhece nada além de sua ignorância
profunda.” (César Romão).
viii
ÍNDICE
LISTA DE TABELAS x
LISTA DE FIGURAS xi
LISTA DE ABREVIATURAS xiii
LISTA DE SIGLAS E SIÍMBOLOS xv
RESUMO xvi
ABSTRACT xvii
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.1. Marcha Normal.......................................................................................................1
1.1.1. História ..................................................................................... .......................1
1.1.2. Definição e eventos do ciclo da marcha ......................................................... 2
1.1.3. Parâmetros espaço-temporais (ou lineares) ................................................... 4
1.1.4. Normalização das variáveis lineares do andar................................................6
1.2. Análise de marcha..................................................................................................7
1.2.1. Laboratório de análise de marcha.............................. ..................................... 7
1.3. Curvas angulares normais das articulações no plano sagital ..............................10
1.3.1. Pelve ............................................................................................................. 11
1.3.2. Quadril .......................................................................................................... 12
1.3.3. Joelho ........................................................................................................... 13
1.3.4. Tornozelo ...................................................................................................... 14
1.4. Paralisia Cerebral.................................................................................................16
1.4.1. Definição ....................................................................................................... 16
1.4.2. Etiologia ........................................................................................................ 16
1.4.3. Classificação e Epidemiologia da paralisia cerebral (topografia e tônus) ..... 18
1.4.4. Espasticidade ............................................................................................... 18
1.4.5. Paralisia cerebral hemiparética espástica ..................................................... 20
1.5. Classificação segundo WINTERS, GAGE e HICKS (1987).................................21
1.5.1. Características e alterações dos grupos segundo WINTERS, GAGE e
HICKS (1987). ........................................................................................................ 23
1.5.1.1. Grupo I ....................................................................................................... 23
1.5.1.2. Grupo II ...................................................................................................... 23
1.5.1.3. Grupo III ..................................................................................................... 24
1.5.1.4. Grupo IV ................................................................................................. ...24
ix
2. OBJETIVOS .............................................................................................................. 26
2.1. Geral....................................................................................................................26
2.2. Específicos...........................................................................................................26
3. PACIENTE E MÉTODOS.......................................................................................... 27
3.1. Tipo de estudo.....................................................................................................27
3.2. Amostra...............................................................................................................28
3.3. Procedimentos do exame....................................................................................29
3.4. Análise das curvas dos ângulos articulares.........................................................33
3.5. Normalização e análise estatística.......................................................................33
4. RESULTADOS .......................................................................................................... 35
4.1. Grupo I.................................................................................................................35
4.2.Grupo II.................................................................................................................40
4.3. Grupo III...............................................................................................................44
4.4. Grupo IV...............................................................................................................49
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................. 57
6. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 66
ANEXOS
ANEXO 1. Avaliação físico-funcional.
ANEXO 2. Avaliação antropométrica.
APÊNDICES
APÊNDICE 1.Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.
APÊNDICE 2. TERMO DE CONSENTIMENTO DA PESSOA COMO SUJEITO
APÊNDICE 3. Termo de Consentimento da Pessoa como Sujeito
APÊNDICE 4. Curvas angulares das articulações dos 3 pacientes exclusos com
características semelhantes
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. ADM das articulações e porcentagens no ciclo da marcha normal segundo
PERRY (2005) .................................................................................................... ......11
Tabela 2. Classificação dos grupos de WINTERS, GAGE e HICKS (1987). ............ 22
Tabela 3. Porcentagem dos pacientes excluídos da pesquisa. ................................ 28
Tabela 4. Parâmetros lineares absolutos do Grupo I..................................................36
Tabela 5. Média dos parâmetros lineares absolutos referentes aos membros
comprometidos do Grupo I. ...................................................................................... 36
Tabela 6. Normalização dos parâmetros lineares referente aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo I ................................................................ 37
Tabela 7. Parâmetros lineares absolutos do Grupo II. .............................................. 41
Tabela 8. Normalização dos parâmetros lineares referente aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo II. .............................................................. 41
Tabela 9. Parâmetros lineares absolutos do Grupo III. ............................................. 44
Tabela 10. Média dos parâmetros lineares absolutos dos membros comprometidos do
Grupo III. ................................................................................................................... 45
Tabela 11. Normalização dos parâmetros lineares referentes aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo III. ............................................................. 45
Tabela 12. Parâmetros lineares absolutos do Grupo IV. .......................................... 50
Tabela 13. Média dos parâmetros lineares absolutos mos membros comprometidos do
grupo IV. ................................................................................................................... 50
Tabela 14. Normalização dos parâmetros lineares referentes aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo IV. ............................................................. 51
Tabela 15. Médias dos grupos referentes aos parâmetros lineares absolutos. ........ 55
Tabela 16. Comparação entre a idade e velocidade absolutas de nosso estudo e
WINTERS, GAGE e HICKS (1987) ........................................................................... 55
Tabela 17. Classificação da amostra em estudo segundo WINTERS, GAGE e HICKS
(1987) ....................................................................................................................... 56
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Comprimento do passo e da passada.. ....................................................... 2
Figura 2. Fases da marcha ......................................................................................... 3
Figura 3. Porcentagens do ciclo da marcha ................................................................ 4
Figura 4. Sistemas de coordenadas ........................................................................... 9
Figura 5. Representação gráfica do movimento normal da pelve no plano sagital em
marcha livre. ............................................................................................................. 12
Figura 6. Representação gráfica do movimento normal do quadril no plano sagital em
marcha livre .............................................................................................................. 13
Figura 7. Representação gráfica do movimento normal do joelho no plano sagital em
marcha livre .............................................................................................................. 14
Figura 8. Representação gráfica do movimento normal do tornozelo no plano sagital em
marcha livre................................................................................................................15
Figura 9. Diagrama de classificação dos tipos de hemiparesia .................................... 25
Figura 10. Laboratório de Movimento da UEG.......................................................... 27
Figura 11. Paquímetro e fita métrica. ........................................................................ 31
Figura 12. Marcadores refletores. ............................................................................. 31
Figura 13. Disposição anatômica dos marcadores refletores segundo protocolo Peak
Motus
®
. ..................................................................................................................... 32
Figura 14. Curva angular média de ADM da articulação da pelve - grupo I .............. 37
Figura 15. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo I ........... 38
Figura 16. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo I.. ........... 39
Figura 17. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo I ....... 40
Figura 18. Curva angular média de ADM da articulação da pelve - grupo II ............. 42
Figura 19. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo II. ......... 42
Figura 20. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo II. ........... 43
Figura 21. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo II ...... 43
Figura 22. Curva angular média de ADM da articulação de pelve – grupo III ........... 46
Figura 23. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo III ......... 47
Figura 24. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo III ........... 48
Figura 25. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo III ..... 49
Figura 26. Curva angular média de ADM da articulação da pelve – grupo IV .......... 51
Figura 27. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo IV ......... 52
xii
Figura 28. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo IV. ......... 53
Figura 29. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo IV. .... 54
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS
3D: tridimensional;
ADM: amplitude de movimento;
AM: apoio médio;
AS: apoio simples;
AT: apoio terminal;
AVD’s: atividades de vida diária;
AVE: acidente vascular encefálico;
BM: balanço médio;
BT: balanço terminal;
CD: cadência;
CD
ABS
: cadência absoluta;
CD
ND
: cadência não-dimensional;
CD
SD
: cadência semi-dimensional;
CG: centro de gravidade;
CI: contato inicial;
CM: ciclo da marcha;
CP: comprimento do passo;
CP
ABS
: comprimento do passo absoluto;
CPD: comprimento da passada;
CP
ND
: comprimento do passo não-dimensional;
CP
SD
: comprimento do passo semi-dimensional;
D: direito;
DORS: dorsiflexão;
DP: desprendimento do pé;
DPO: desprendimento do pé oposto;
E: esquerdo;
EIAS: espinhas ilíacas ântero-superiores;
EIPS: espinhas ilíacas póstero-superiores;
EXT: extensão;
FLX: flexão;
FRS: força de reação do solo;
xiv
I.M.C: índice de massa corporal;
MMII: membros inferiores;
MMSS: membros superiores;
ND: não-dimensional;
PB: pré-balanço;
PC: paralisia cerebral;
PLNT: flexão plantar;
S.C.C: sistema de coordenadas das câmaras;
S.C.L: sistema de coordenadas do laboratório;
S.C.O: sistema de coordenadas do objeto;
SD: semi-dimensional;
TCE: traumatismo crânio-encefálico;
TP: toque do pé;
UEG: Universidade Estadual de Goiás;
V
ABS
= velocidade absoluta;
VM: velocidade média;
V
ND
= velocidade não-dimensional;
V
SD
= velocidade semi-dimensional;
WGH = WINTERS, GAGE e HICKS.
xv
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS e UNIDADES
dp: desvio padrão;
ESEFFEGO: Escola de Ensino Superior de Educação Física e Fisioterapia de Goiás;
g: aceleração devido à gravidade (9,80 m/s
2
);
gl: graus de liberdade;
H:estatura;
Ho = hipótese de nulidade;
m: metros;
m/s
2
: metros por segundo ao quadrado;
passos/min: passos por minuto;
s
-1
: por segundo;
UEG: Universidade Estadual de Goiás;
UnB: Universidade de Brasília;
p: intervalo de confiança.
xvi
RESUMO
Estudo retrospectivo da análise de marcha de pacientes com paralisia cerebral
do tipo hemiparesia espástica.
O objetivo geral deste estudo foi descrever as principais alterações cinemáticas
da marcha em pacientes portadores de paralisia cerebral (PC) do tipo hemiparesia
espástica segundo a classificação de WINTERS, GAGE e HICKS, (1987). Para isso
foram coletados exames já realizados no laboratório de movimento da Universidade
Estadual de Goiás (UEG) no período de janeiro de 2001 a fevereiro de 2005, sendo a
amostra composta por 27 crianças, de 5 a 15 anos de idade. Neste estudo também
foram analisadas as curvas angulares de amplitude de movimento (ADM) dos
pacientes e avaliamos esses movimentos no plano sagital, além de normalizar os
parâmetros lineares (cadência, velocidade, comprimento do passo e passada). Para
registro desses parâmetros foram utilizados 6 câmeras de infra-vermelho, 1 câmera
VHS e o processamento dos parâmetros foi realizado através do sistema VICON PEAK
MOTUS
®
2000. A análise de variância (ANOVA) foi utilizada para comparar os valores
absolutos e normalizados dos parâmetros lineares entre os grupos. Os pacientes foram
divididos em 4 grupos segundo WINTERS, GAGE e HICKS, (1987). No grupo I,
caracterizado pelo tornozelo em eqüino durante a fase de balanço, foram identificados
11 pacientes; o grupo II, 5 pacientes tinham flexão plantar durante todas as fases de
apoio e balanço. No grupo III, foi enquadrado 6 pacientes, caracterizados pelo pé em
eqüino durante todo o ciclo e joelho em recurvatum, com limitação de flexão; finalmente
no grupo IV, 5 pacientes possuíam as mesmas alterações encontradas no grupo III
com o agravante da diminuição de ADM do quadril. Três pacientes foram excluídos por
não se enquadrarem nessa classificação, contudo possuíam características
semelhantes entre si: joelhos fletidos durante a fase de apoio e tornozelo em flexão
plantar durante a fase de balanço. As médias de idade dos pacientes enquadrados nos
grupos I, II e IV (9,45; 10,6 e 11,4 anos respectivamente) foram correspondentes
estatisticamente (α = 0,05 e gl = 10, 4 e 4 respectivamente) às médias descritas no
estudo de WINTERS, GAGE e HICKS, (1987). Foram encontradas diferenças
significativas (α = 0,05 e gl = 4 e 5) nos grupos II e III quanto à velocidade. Na
normalização observamos que os parâmetros lineares ficaram mais homogêneos e
sem muitas discrepâncias. A análise de variância (ANOVA) não detectou diferença
significativa (α=0,05), entre os grupos (I, II, III, IV) nos parâmetros absolutos e
normalizados de forma não dimensional.
Palavras-chave: Análise de marcha; classificação da marcha; paralisia cerebral;
hemiparesia espástica.
xvii
ABSTRACT
Retrospective study in gait analysis the patients with cerebral palsy spastic
hemiparetic
The objective of this study was to describe the main kinematics alterations of the
gait in patients with spastic hemiparesia cerebral palsy to the according classification of
WINTERS, GAGE & HICKS, (1987). For this, examinations already carried in laboratory
of movement of University Statue of Goiás (UEG) were collected from January 2005 to
February 2005. The sample was composed for 27 children’s with 5 to 15 years old. In
this study, we also analyzed the angler’s curves amplitude of patients and also
evaluated these movements in the sagittal plan, beyond to normalizing the linear
parameters (cadence, speed, length of step and the stride). To register these
parameters 6 infra-red ray cameras had been used and 1 VHS camera; the processing
of the parameters was made through VICON PEAK MOTUS
®
2000 system. The
variance analysis (ANOVA) was used to compare the absolute and normalized linear
parameters between the groups. The patients were divided in 4 groups according to
WINTERS, GAGE e HICKS, (1987). In the group I, characterized for the ankle in equine
during swing phase, 11 patients, had been identified; the group II had 5 patients with
plantar flexion during all phases of stance and swing; the group III induded 6 patients,
characterized for having equine foot during the gait cycle and knee in recurvatum with
flexion limitation; finally in the group IV, 5 patients had the same alterations found in
group III with aggravation of movement amplitude reduction of hip. Three patients had
been excluded because they didn’t fit in this classification although, these patients
possessed similar characteristics: knees flexion during the stance phase and plantar
flexion during swing phase. The age average of patients fit in group I, II and IV (9,45;
10,6 and 11,4 years old respectively) had been statistically corresponded (α=0,05 and
lg=10; 4 and 4 respectively) to age average described in study of WINTERS, GAGE e
HICKS, (1987). It was found significant differences (α=0,05 and lg=4 and 5) in groups II
and III in relation to the speed. In the normalization, it was not found that linear
parameters had been more homogeneous and without discrepancies. The variance
analysis (ANOVA) did not detect significant difference, between the groups (I, II, III and
IV), in the absolute and normalized parameters of non dimensional forms
Key words: Gait analysis; gait classification; cerebral palsy; spastic hemiplegic.
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. Marcha Normal
1.1.1. História
A biomecânica e fisiologia da marcha humana tem sido objeto de estudo
desde os primórdios da história humana. Aristóteles (384-322 aC) descreveu teorias
sobre métodos de avaliação da marcha e escreveu “O homem, sozinho entre todos
os seres vivos, anda ereto porque sua natureza e seu ser são Divinos” (SELBER,
1998).
No século XVII, Galileu Galilei (1564-1642) e Isaac Newton (1642-1727)
descreveram as leis da dinâmica, massa, momento e força, e tais princípios foram
utilizados para a explicação dos eventos e fenômenos encontrados na marcha
humana e de outros animais (SELBER, 1998).
Contudo, James R. Gage, em Saint Paul, Minessota, é sem dúvida o grande
defensor do conceito de que a análise de marcha deve ser utilizada sempre que
possível para compreendermos melhor os mecanismos empregados durante a
marcha, utilizando estes conhecimentos para melhor tratar pacientes com distúrbios
motores. Desde então, vários estudos foram realizados para analisar e entender os
mecanismos da marcha tanto em pessoas “normais” quanto em pacientes com as
mais diversas patologias relacionadas ao movimento. Gage relatou em seu livro
“Gait Analysis in Cerebral Palsy”, “Análise de Marcha na Paralisia Cerebral” (1991)
que, no final dos anos 70, então locado no “Newington Children’s Hospital,
Connecticut”, permanecia inconformado com os resultados conseguidos com os
tratamentos ortopédicos propostos na época para crianças com paralisia cerebral
(PC). Em 1978, após ouvir os ensinamentos de Mercer Rang e Eugene Bleck,
decidiu, antes de continuar a tratar as crianças com PC, visitar vários centros de
tratamento que incluíram os doutores Sutherland, Bleck e Perry na Califórnia. Nesta
sabatina, Gage percebeu a importância da compreensão dos mecanismos de
marcha normal com o objetivo de tratar distúrbios da marcha patológica e o papel
fundamental da análise de marcha neste contexto. Quando retornou a Connecticut,
não descansou até montar, com a ajuda da “United Technologies, Inc.”, o primeiro
Laboratório de Marcha completamente computadorizado com aplicações clínicas
(SELBER, 1998).
2
1.1.2. Definição e eventos do ciclo da marcha
A marcha é um meio natural do corpo para se deslocar de um lugar para
outro, sendo o meio mais conveniente para se percorrer curtas distâncias.
Manifesta-se por uma série de eventos sendo repetida pelos dois membros
inferiores até o indivíduo atingir o seu destino desejado. É denominado ciclo de
marcha (CM) uma seqüência única dessas funções por um membro (PERRY,2005).
O ciclo da marcha (CM) também tem sido identificado pelo termo descritivo de
passada. Passada é o equivalente a um ciclo de marcha e sua duração é o intervalo
entre dois contatos iniciais (CI) seqüenciais entre o solo e o mesmo membro, ou
seja, CI do pé direito e o próximo CI desse mesmo pé. O passo refere-se ao
intervalo entre os dois membros, estando presente dois passos em cada passada
(figura 1) (PERRY, 2005).
Figura 1. Comprimento do passo e da passada (adaptado de PERRY, 2005).
Observe que as medidas dos comprimentos do passo e da passada são feitas
ao longo da linha de progressão, ou seja, a direção na qual o sujeito está andando.
Em adultos jovens saudáveis, caminhando com sua velocidade média de livre
escolha, auto-selecionada, o comprimento da passada mede cerca de 1,4m com um
comprimento do passo de 0,7m (WALL, 2001).
Cada CM é dividido em duas fases: apoio e balanço. O termo apoio designa
todo o período em que o pé está em contato com o solo e corresponde a 60% do
CM. O balanço é designado ao tempo de avanço do membro, em que o pé está no
ar, sem contato com a superfície, correspondendo a 40% do CM (PERRY, 2005).
Atualmente, por convenção comumente aceita, descreve-se o ciclo em termos de
porcentagem, em vez de tempo corrido, pois se observou que os eventos ocorrem
Passo
Passada
3
em seqüências bastante similares e são independentes do tempo, permitindo assim,
a normalização dos dados para inúmeros indivíduos (ROSE & GAMBLE, 1998).
A fase de apoio subdivide-se em três períodos: 1) duplo apoio inicial,
momento no qual, ambos os pés estão no solo depois do CI (toque do pé –
desprendimento do pé oposto); 2) apoio simples, quando o pé oposto é elevado para
o balanço (desprendimento do pé – toque do pé contralateral); e 3) segundo duplo
apoio (ou duplo apoio terminal), contato entre o solo e o outro pé (CI contralateral) e
continua até o momento em que o membro original do apoio é elevado para o
balanço (desprendimento dos dedos ipsilateral – toque do pé contralateral –
desprendimento do pé). Ao final do apoio encontramos uma fase de transição para o
balanço que se denomina fase de pré-balanço (PERRY, 2005).
A fase de balanço também pode ser subdividida em 3 períodos: 1) balanço
inicial (desprendimento do pé até a passagem do pé à frente); 2) balanço médio
(passagem do pé até a perna vertical – quando a tíbia está perpendicular ao solo); 3)
balanço terminal (desaceleração do membro) (ROSE & GAMBLE, 1998).
Para observar melhor as fases e porcentagens do ciclo da marcha, ilustramos
logo abaixo um indivíduo deambulando no plano sagital. Note que o ciclo refere-se
ao membro inferior direito, membro hachurado (figura 2) e na figura 3 podemos
observar um pequeno diagrama com as porcentagens do ciclo, correlacionadas com
as fases e eventos que ocorrem em determinado momento.
Figura 2. Fases da marcha (adaptado de ROSE & GAMBLE, 1998).
Contato Inicial Resposta
de Carga
Médio
Apoio
Apoio
Terminal
Pré-Balanço
Balanço
Inicial
Balanço
Médio
Balanço
Terminal
Apoio
Balanço
Contato Inicial Resposta
de Carga
Médio
Apoio
Apoio
Terminal
Pré-Balanço
Balanço
Inicial
Balanço
Médio
Balanço
Terminal
Contato Inicial Resposta
de Carga
Médio
Apoio
Apoio
Terminal
Pré-Balanço
Balanço
Inicial
Balanço
Médio
Balanço
Terminal
Apoio
Balanço
Apoio
Balanço
4
Figura 3. Porcentagens do ciclo da marcha (adaptado de ROSE & GAMBLE, 1998).
1.1.3. Parâmetros espaço-temporais (ou lineares)
As medidas de como a posição do corpo ou segmentos corporais mudam com
o tempo são conhecidas como parâmetros espaço-temporais. Estes parâmetros
referem-se mais freqüentemente à posição relativa dos pés durante a marcha,
embora possam incluir também outros segmentos corporais (WALL, 2001).
Desta forma, foi desenvolvida uma terminologia para descrever as medidas
lineares do ciclo da marcha: (ROSE & GAMBLE, 1998).
a) Cadência – definida como o número de passos em intervalo de tempo
(passos/min). SUTHERLAND (1988) definiu como valor normal para crianças, de 1 a
7 anos de idade, 144 passos/min);
b) Comprimento do passo – definido pela distância, em centímetros, entre os
mesmos pontos de referência em cada pé durante o duplo apoio. Em geral, a
distância entre os calcanhares no instante do toque do calcâneo no solo; segundo
WINTER (1991) o valor normal seria de 0,48m;
c) Comprimento da passada – definido pela distância, em centímetros,
percorrida durante o tempo de dois toques sucessivos do mesmo pé. Portanto, cada
passada é composta por um comprimento de passo direito e um esquerdo, medidos
em centímetros; de acordo com WINTER (1991), esse valor seria de 0,96m;
Balanço, 38% do ciclo
Evento Fase Período % do ciclo da Marcha
Toque do pé
Desprendimento do pé
Liberação do pé
Tíbia vertical
Segundo toque do pé
Desprendimento do pé oposto
Toque do pé oposto
100
0
12
50
62
85
75
Duplo apoio inicial
Apoio simples
Segundo duplo apoio
Balanço inicial
Balanço médio
Balanço terminal
Apoio, 62% do ciclo
5
d) Velocidade de marcha – velocidade média atingida depois de
aproximadamente três passos (estágio rítmico) expressa em distância/tempo
(cm/seg.; m/min; ou m/s); o valor normal apresentado por WINTER (1991) foi de
0,97m/s.
A mais básica dessas medidas é o tempo que uma pessoa leva para
caminhar uma distância determinada, ou seja, a velocidade de marcha. Do ponto de
vista clínico talvez esta seja a medida objetiva isolada mais importante da
mobilidade funcional, comportando-se como um indicador global de capacidade, ou,
mais importante, incapacidade, já que está afetada em virtualmente todos os
pacientes com anormalidades da marcha. Em geral, quanto mais severo o prejuízo,
mais lentamente o paciente andará. A outra razão pela qual esta medida é tão
importante é que quase todas as outras mensurações de marcha são dependentes
da velocidade – por exemplo, quando a velocidade aumenta, a variação de
movimento do quadril aumenta (WALL, 2001).
O movimento linear do corpo, ou seja, deslocamento do corpo de um lugar
para outro, é efetuado principalmente através de deslocamentos angulares das
articulações dos membros inferiores. Estas articulações podem realizar movimentos
em todos os planos durante a marcha, mas as maiores excursões ocorrem no plano
sagital. Os gráficos que representam movimentos angulares das articulações são
comumente denominados goniogramas (WALL, 2001).
Percebemos através desses deslocamentos angulares a maturidade da
marcha, sendo que o padrão na dinâmica das variações angulares das articulações
é bem estabelecido entre três e quatro anos de idade. Nas crianças com idade entre
um e sete anos existe uma relação linear entre o comprimento do passo e o
comprimento do membro inferior e entre a idade e a velocidade da marcha, contudo,
essa linearidade muda por volta dos quatro anos, devido a uma alteração na razão
de crescimento. Mesmo que o padrão de maturidade da marcha esteja bem
estabelecido entre os três e os quatro anos de idade, as mudanças do crescimento
continuam até a puberdade. O aumento da estatura do corpo continua a influenciar
nas medidas lineares: o comprimento do passo aumenta, a velocidade da marcha
aumenta e a cadência diminui, estabilizando-se aos vinte anos de idade e
mantendo-se constantes durante a vida adulta (ROSE & GAMBLE, 1998).
A marcha tem papel importante nas atividades da vida diária (AVD’s), pois a
capacidade de ficar ereto e mover-se sobre os dois pés constitui um pré-requisito
6
para a realização de muitas outras tarefas. Se considerarmos as limitações impostas
por uma cadeira de rodas, é mais fácil compreender o quanto à capacidade de andar
independentemente é importante nas tarefas cotidianas, para uma vida auto-
suficiente, ocupação ou recreação. Assim, não é surpreendente que fisioterapeutas
e outros profissionais da área da saúde envolvidos na reabilitação de pacientes com
incapacidades locomotoras concentrem tanto sua atenção em conseguir
deambulação independente (WALL, 2001).
1.1.4. Normalização das variáveis lineares do andar
A normalização é uma tentativa de cancelar todas as diferenças morfológicas
presentes na marcha de um grupo, comparando, assim, informações entre
indivíduos de estatura e peso corporal diferentes e tem sido realizada utilizando-se a
estatura ou comprimento dos membros inferiores (MMII), não havendo um consenso
na literatura (DAVID, 2000).
Alguns autores, como KIRTLEY, WHITTLE e JEFFERSON (1996), não
concordam que deva haver normalização dos parâmetros lineares da marcha. E em
seu estudo citam três razões do porquê não realizá-la: são introduzidas unidades
obscuras, não há uma convenção do método utilizado para se normalizar e as
diferenças obtidas pela normalização são pequenas quando se compara a marcha
normal com a patológica. ZIJLSTRA, PROKOP e BERGER (1996), no entanto,
concordam que a normalização é importante, pois pequenas discrepâncias corporais
contidas em um grupo podem levar à alterações nos valores absolutos encontrados
nos parâmetros lineares.
A normalização do comprimento do passo e cadência em crianças foi
realizada por O’MALLEY (1996) com relação à idade e estatura, não se descartando
a utilização de outras técnicas, o importante é a compreensão das suposições
fundamentais e a aplicação correta das técnicas. O autor ainda afirma que, quando
se analisa a marcha de indivíduos de estaturas diferentes, principalmente quando se
trata de crianças, torna-se imprescindível a normalização dos parâmetros lineares,
pois grandes variações podem estar relacionadas apenas com a idade, reduzindo
assim a variância dos dados normalizados à zero.
Utiliza-se na normalização do comprimento do passo em crianças, a estatura
ou comprimento do membro inferior (STANSFIELD e cols. 2001). Porém, não há
uma razão específica para a escolha de um desses parâmetros. O que é mais
7
correto de se pensar é que quanto maior o comprimento do membro inferior, maior
será o comprimento do passo, daí a escolha pelo método de normalização.
1.2. Análise de marcha
A análise de marcha computadorizada fornece dados de cinemetria,
dinamometria, antropometria e eletromiografia de tronco, pelve, quadris, joelhos,
tornozelos e pés, observados nos três planos: coronal, sagital e transverso, que
proporcionam evidências das alterações de marcha que não são observáveis
apenas com o exame clínico. Cinemetria, cinemática, é o termo utilizado para
descrever o movimento espacial do corpo, não considerando as forças que causam
esse movimento. Incluem deslocamentos linear e angular, velocidade e aceleração.
Dinamometria, cinética, é o termo usado para descrever a medida e análise de
forças, potência e energia do movimento. As variáveis cinéticas incluem força de
reação do solo (FRS), momento de força, potência e trabalho mecânicos da
articulação e energia de segmentos corporais. A antropometria obtém valores
geométricos de massas corporais, como comprimento dos membros e volume
muscular, que irão auxiliar na construção de um “boneco” do corpo humano, ou seja,
um modelo, para o sistema de análise computadorizada. A eletromiografia registra a
atividade elétrica a partir de contrações musculares (BAUMANN, 1995; ROSE &
GAMBLE, 1998).
1.2.1. Laboratório de análise de marcha
Um dos recursos tecnológicos que tem proporcionado maior exatidão em
análise de marcha na atualidade é o Laboratório de Marcha ou Laboratório de
Análise/Estudo do Movimento Humano. Este sistema baseia-se em câmeras de
vídeo, de duas a seis, que registram o deslocamento de marcadores, tanto refletores
quanto emissores de luz, acoplados na pele do paciente; plataformas de força,
sistema óptico eletrônico, para captação da cinemática e eletromiógrafo por
telemetria ou cabo. As informações obtidas destes instrumentos são reunidas em um
sistema integrado de hardware e sistema para análises cinemáticas e cinéticas,
incluindo aquisição e processamento de sinais analógicos (GERVÁSIO, 2005).
Os marcadores passivos ou refletores são dispositivos fixados na pele do
paciente e alinhados com determinados marcos de segmentos ósseos que auxiliam
na identificação das articulações durante os movimentos realizados na marcha e
8
ajudam a definir os eixos de rotação para os segmentos avaliados. O
posicionamento destes respeitam um criterioso processo de posicionamento, uma
vez que a confiabilidade dos resultados depende da repetição dos padrões de
movimentos obtidos a partir da identificação dos marcadores durante a análise de
marcha. Após a calibração, a posição das câmeras deve ser mantida para que a
documentação das alterações dos padrões de movimento seja válida; e a cada nova
captura de análise deverá ser realizada uma nova calibração (MORAES, 2000).
Associado a isso, no momento da calibração, os marcadores devem ser
identificados, por no mínimo, duas ou mais câmeras em diferentes posições para
que ocorra a reconstrução tridimensional (3D) e esta, seja calculada através de uma
aproximação fotogramétrica. Para tanto, existem equações matemáticas que utilizam
o princípio da colinearidade, relacionando o marcador ao objeto e à sua imagem, e
coplanaridade, condição em que cada marcador do corpo deve estar no mesmo
plano formado pelas posições de suas imagens correspondentes ao centro focal de
cada câmera que o visualiza. Ainda assim, outros cálculos devem ser considerados,
como: equações de rotação, translação, constantes das câmeras, entre outros.
(MORAES, 2000). Com isso o sistema gera gráficos de curvas angulares, que
podem ser visualizados de acordo com a porcentagem do CM. Cabe ao observador,
portanto, entender os padrões normais de movimento para compará-los aos
patológicos.
Ao final, a obtenção da imagem tridimensional correta para o estudo do
movimento depende da interação de três sistemas de coordenadas: o sistema de
coordenadas do laboratório (SCL), sistema de coordenadas das câmeras (SCC) e
do corpo em movimento, denominado sistema de coordenadas do objeto (SCO)
(GERVÁSIO, 2005) (figura 4).
9
Figura 4. Sistemas de coordenadas (adaptado de PERRY, 2005).
O SCL é definido durante a instalação do sistema. O SCC é determinado
através do processo de calibração, que correlaciona o SCL e o sistema de
coordenadas de cada câmera, permitindo a criação de um volume espacial para
aquisição da imagem pelo sistema, ou seja, um espaço dentro do qual qualquer
movimento do objeto é reconhecido e reconstruído pelo sistema, pois identifica a
localização simultânea entre os planos frontal, sagital e transverso. Uma vez as
câmeras calibradas segundo o sistema de orientação espacial do laboratório, é
possível determinar a posição de cada marcador, nas coordenadas referentes ao
laboratório, possibilitando a reconstrução das trajetórias de movimentos dos
pacientes a partir desses marcadores (MORAES, 2000; KERRIGAN e cols., 1998;
BAUMANN, 1991). As plataformas de força também auxiliam nesse processo e
medem as forças triaxiais de reação ao solo através de um sinal elétrico
proporcional à força aplicada, transmitindo estes sinais ao sistema.
A partir da determinação das coordenadas do laboratório, das câmeras e de
cada marcador no corpo do paciente, juntamente com os sinais gerados pelas
plataformas de força, o programa, instalado em um computador, recebe todas as
informações e processa os cálculos necessários para obtenção das variações
angulares, momentos e forças nos três planos de movimento. A linguagem técnica
utilizada para interpretação dos resultados obtidos é adotada igualmente entre todos
que estudam a análise do movimento, ou seja, é uma linguagem internacional, o que
permite um intercâmbio de conhecimentos (DUHAMEL e cols, 2004; SCHWARTZ,
TROST e WERVEY, 2004; APKARIAN, NAUMANN e CAIRNS, 1989; ISACSON,
GRANSBERG e KNUTSSON, 1986).
SCL
SCO
SCC
SCL
SCO
SCC
10
Exemplos deste tipo de sistema de avaliação de movimento comercializados
na atualidade são: Vicon Peak Motus (Vicon Motion Systems Inc. California, EUA);
Optotrack (Northern Digital Inc.); Motion Analysis Systems (Motion Analysis
Corporation, Santa Rosa, California); Elite (Bioengineering Technology Systems,
Milan, Italia) e Ariel Dynamics Mediam Library (Ariel Dynamics Inc. by Gideon Ariel &
Associates).
Atualmente, o estudo da marcha a partir de um sistema óptico tridimensional
de análise do movimento, é utilizado como uma medida objetiva e quantitativa da
função física para decidir melhor sobre a intervenção terapêutica, com auxílio ainda
para documentar a progressão de uma doença. Além disso, tem a vantagem de
fornecer dados que não dependem da impressão e julgamento subjetivos do
observador clínico (BAUMANN, 1991; GAGE, RENSHAW & DeLUCA, 1995;
SUTHERLAND, 2002).
PERRY (2005), afirmou que para diagnosticar desvios de marcha é
necessário: entender o que é normal, compreender quais são os elementos
osteomioarticulares e/ou neurológicos que podem ser a causa da disfunção de
marcha, e, sempre que possível, finalizar este processo de avaliação através de
equipamentos de uma análise computadorizada, para então, aplicar todo este saber
no plano de tratamento.
A interpretação das curvas angulares de amplitude de movimento (ADM)
normal das articulações de pelve, quadril, joelho e tornozelo, no plano sagital, são
descritas a seguir.
1.3. Curvas angulares normais das articulações no plano sagital
As medidas no plano sagital são as mais estudadas e compreensíveis, por
serem reproduzidas com maior precisão; de fato, nesse plano as articulações têm
maior progressão, ou seja, maior ADM das principais articulações dos membros
inferiores (pelve, quadril, joelho e tornozelo) (SUTHERLAND, KAUFMAN e
MOITOZA, 1998). Através destas medidas podemos analisar os movimentos de
flexão e extensão das articulações de joelho e quadril, anteversão (flexão anterior) e
retroversão pélvica e flexão plantar e dorsiflexão do tornozelo.
11
Para melhor compreensão e visualização das curvas angulares a seguir
apresentamos na tabela 1 os valores indicados como normais apresentados por
PERRY (2005).
Tabela 1. ADM das articulações e porcentagens no ciclo da marcha normal segundo
PERRY (2005)
Quadril Joelho Tornozelo
0% Æ 30° flexão (FLX) 15% Æ 18° flexão 12% Æ 7° plantiflexão (PLN)
50% Æ 10° extensão (EXT) 40% Æ 5º extensão 48% Æ 10° dorsiflexão (DOR)
85% Æ 35º flexão 70% Æ 65° flexão 62% Æ 20° plantiflexão
___ 97% Æ 2° extensão 100% Æ dorsiflexão para neutro
1.3.1. Pelve
Os movimentos sagitais da pelve são controlados pela gravidade, pela inércia
e pela ação dos músculos flexores e extensores do quadril. A pelve é inclinada para
frente, anteversão, ou flexionada, com dois picos e duas depressões (figura 5).
Horizontaliza-se no desprendimento do pé e no desprendimento do pé oposto, com
flexão máxima, inclinação para frente, anteversão, na metade até o final do apoio e
no balanço terminal. A inclinação pélvica diminui, retroversão, durante o primeiro
duplo apoio, período de resposta à carga, e, a seguir, aumenta quando o centro de
gravidade (CG) do corpo passa sobre o pé fixo no solo. A inclinação começa a se
aplanar novamente, quando o centro de massa (CM) do corpo desacelera durante o
final do apoio simples (AS) tardio, após o desprendimento do calcâneo
(SUTHERLAND, KAUFMAN e MOITOZA, 1998).
12
Figura 5. Representação gráfica do movimento normal da pelve no plano sagital em
marcha livre (adaptado de SELBER, 1998).
Onde: DP = desprendimento do pé; AT = apoio terminal; DPO = desprendimento do pé oposto; BT =
balanço terminal; ANT = anterior, correspondendo à anteversão pélvica e POST = posterior,
correspondendo à retroversão pélvica. A linha inteira mostra a anteversão pélvica normal.
1.3.2. Quadril
O quadril realiza um movimento muito simples no plano sagital, sendo
observado como uma curva sinusóide (figura 6). A flexão máxima ocorre na fase de
balanço terminal (BT), seguida por ligeira extensão imediatamente anterior ao toque
do pé no solo. Os músculos extensores do quadril desaceleram a coxa e diminuem a
flexão do quadril na preparação para a transferência de peso. A extensão máxima
ocorre no momento do toque do pé oposto. Logo que o pé oposto toca o solo, o
peso é transferido para o membro que está à frente. O membro inferior, que está
atrás, inicia a flexão do joelho e do quadril, enquanto faz pivô sobre o antepé.
DP
DPOAT BT
60%
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
DP
DPOAT BT
60%
DP
DPOAT BT
60%
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
13
Figura 6. Representação gráfica do movimento normal do quadril no plano sagital em
marcha livre (PERRY, 2005).
Onde: TP = toque do pé; AT = apoio terminal; BM = balanço médio. Linha cheia = média; linha
pontilhada = desvio padrão.
1.3.3. Joelho
A curva do movimento do joelho no plano sagital é dividida em ondas de
flexão, sendo que ambas começam com uma extensão relativa e progridem para
flexão e, a seguir, voltam novamente para o ponto de partida, em extensão (figura
7). A primeira onda de flexão do joelho, na fase de apoio, a 10% do CM, ocorre
como absorção do choque, auxiliando a transferência de peso, encurtando
efetivamente o comprimento do membro. O pico dessa curva ocorre no duplo apoio
inicial, no momento do desprendimento do pé oposto. Para que isso ocorra, o
quadríceps da coxa realiza contração excêntrica e permanece ativo até que o vetor
força de reação do solo passe à frente do joelho, o que cria uma força de extensão e
leva a articulação do joelho de volta à extensão, na fase de apoio médio (AM),
podendo ocorrer sem uma forte contração excêntrica dos flexores plantares que
restringem a perna em sua rotação progressiva para frente. A segunda onda de
flexão é necessária para liberar a passagem do pé na fase de balanço inicial (BI). A
flexão de joelho começa realmente no término da fase de pré-balanço (PB), quando
o calcanhar começa a se elevar do chão, e precede o início da flexão de quadril, que
ocorre no toque do pé oposto. A flexão do joelho ocorre rapidamente, começando
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
14
logo após o desprendimento do calcâneo e atinge a flexão máxima na fase de
balanço médio, quando o pé em balanço ultrapassa o pé oposto. Essa flexão
encurta efetivamente o membro, permitindo a liberação do pé do membro em
balanço, para evitar seu arrasto. A articulação do joelho é, então, estendida
rapidamente por uma combinação de forças inerciais e pela atividade dos músculos
glúteo máximo, posteriores de coxa (bíceps, semitendinoso e semimembranoso) e
do quadríceps. Imediatamente antes do toque do pé, é atingida a extensão quase
total.
Figura 7. Representação gráfica do movimento normal do joelho no plano sagital em
marcha livre (PERRY, 2005).
Onde: AS = apoio simples; AT = apoio terminal; BM = balanço médio. Linha cheia = média; linha
pontilhada = desvio padrão.
1.3.4. Tornozelo
A curva do tornozelo é a mais complexa do plano sagital e pode ser dividida
em quatro segmentos funcionais (figura 8).
O primeiro segmento ocorre entre o toque do pé e o desprendimento do pé
oposto. Quando ocorre o toque do pé, o tornozelo está em posição neutra e o
momento de força em flexão plantar gerado pela força de reação do solo (FRS)
realiza a flexão plantar até atingir o contato total do pé, antes do desprendimento do
pé oposto. Essa parte da curva é conhecida como primeiro rolamento, sinalizado
pelo toque do calcanhar no solo.
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
AT
BM
AS
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
AT
BM
AS
15
O segundo segmento ocorre durante a fase de apoio simples (AS). É
representado pela convexidade superior da curva, representando a passagem do
corpo sobre o pé em apoio total denominado de segundo rolamento, que representa
o avanço da tíbia sobre o pé fixo, em um movimento de dorsiflexão. Ao final do AS,
aproximadamente 40% do ciclo da marcha (CM), o calcanhar começa a se elevar à
medida que os flexores plantares aumentam a força de contração muscular, atuando
de forma concêntrica, conhecido por terceiro rolamento, movimento de rolar sobre a
cabeça dos metatarsos, na fase de apoio terminal.
O terceiro segmento é a continuidade do toque do pé oposto, terminando com
o desprendimento do pé. Ocorre uma rápida flexão plantar de 20 – 25 graus, no
máximo, quando o pé é elevado do solo. Este período é confundido com o de
aceleração do tornozelo, devido à ação concêntrica dos flexores plantares.
O quarto segmento é uma flexão dorsal (dorsiflexão) rápida do tornozelo. Este
movimento coincide com o esforço máximo para a liberação do pé e com a segunda
onda de flexão do joelho. Portanto, este segmento é conectado funcionalmente à
liberação do pé. O tornozelo é mantido em posição neutra pela contração isométrica
dos músculos do compartimento anterior da perna, até que o pé toque o solo. Esses
músculos são novamente recrutados, agora excentricamente, para desacelerar a
flexão plantar que irá se repetir no primeiro segmento do CM.
Figura 8. Representação gráfica do movimento normal do tornozelo no plano
sagital em marcha livre (PERRY, 2005).
Onde: DPO = desprendimento do pé oposto; AT = apoio terminal; BM = balanço médio; BT
= balanço terminal. Linha cheia = média; linha pontilhada = desvio padrão.
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
DPO
AT
BM
BT
Porcentagem do ciclo
Graus de movimento
DPO
AT
BM
BT
16
1.4. Paralisia Cerebral
1.4.1. Definição
Paralisia Cerebral (PC) é um termo abrangente que compreende uma grande
variedade de fatores, dentre eles, distúrbios da função motora, que são secundários
a uma patologia no cérebro ainda em desenvolvimento. A Comissão Mundial de
Paralisia Cerebral, em 1988, definiu-a como: “distúrbio de postura e movimento
persistente, porém não imutável, causado por lesão no sistema nervoso em
desenvolvimento, antes ou durante o nascimento ou nos primeiros meses de
lactância” (Comissão Mundial de Paralisia Cerebral). Na literatura atual, a paralisia
cerebral tem sido apresentada como Encefalopatia Crônica Não-evolutiva da
Infância (DIAMENT, 1996; ROTTA, 2001 e 2002; LEITE & PRADO, 2004).
Esta encefalopatia possui uma condição não progressiva; porém, isto não
significa uma semiologia permanente e imutável. Ao contrário, o distúrbio funcional
desse paciente vai se estruturando com o passar do tempo e manifestando-se
evolutivamente (LEITÃO, 1983). Ou seja, a lesão cerebral não se modificará, mas os
padrões de movimento desse paciente, se não tratado, poderá evoluir para
contraturas e deformidades ósseas, entre outros problemas. Isso porque as células
nervosas lesadas não se recuperam e, portanto, a criança não apresentará
cinestesia, isto é, percepção do movimento à área correspondente à lesão. Ainda
que o distúrbio do cérebro seja estacionário, observa-se o comprometimento
psicomotor de forma progressiva quando não se faz tratamento adequado
(FISCHIMGER, 1984).
Desta forma, a criança portadora de PC se desenvolve, num ritmo anormal,
mais lento e desordenado, atingindo seus marcos de desenvolvimento
neuropsicomotor tardiamente quando comparada às crianças saudáveis. Isto
representa um desvio no desenvolvimento normal, observado pelo aparecimento de
atividades motoras alteradas. Essa alteração do desenvolvimento é percebida
quando a criança se torna mais ativa, como ao tentar se sentar, usar as mãos e
membros superiores, empurrar-se para levantar, ou quando tenta andar.
1.4.2. Etiologia
A etiologia de PC é diversa e multifatorial. As causas podem ser congênitas,
genéticas, inflamatórias, infecciosas, por eventos anóxicos, traumáticos e
17
metabólicos, sendo que esse dano no cérebro pode ser pré, peri ou pós-natal. Entre
75% a 80% dos casos ocorrem devido a danos pré-natais e menos de 10%
começam devido trauma no nascimento ou asfixia. O mais importante fator de risco
observado pode ser a prematuridade e o baixo peso ao nascer. O risco também
aumenta com a diminuição da idade gestacional (SANKAR & MUNDKUR, 2005).
A pluralidade também é fator de risco, pois casos de PC aumentam quando
vários fetos são gerados ao mesmo tempo, pois mais de um feto no útero dificulta
um desenvolvimento total, devido à diminuição do espaço. Acredita-se também que
isto seja devido à possibilidade do parto ser antecipado, levando a uma tendência de
gestação curta, diminuindo com isso o crescimento intra-uterino (BLAIR & WATSON,
2005).
Recentemente, KUBAN & LEVITON (2001) definiram e resumiram os fatores
de risco associados a PC:
Antes da Gestação: História materna de abortos espontâneos prévios e/ou
natimortos; ciclos menstruais longos e irregulares; intervalo muito curto (menor que
três meses) ou muito longo (maior que três anos) da gestação anterior e história
familiar de PC, doença genética ou mal formativa.
Durante a gestação (pré-natal): Classe social e cultural inferior; má formação
congênita; retardo no crescimento fetal; gestação múltipla, principalmente em
monozigóticos; apresentação fetal anômala; doença crônica materna. SANKAR &
MUNDKUR (2005) cita ainda infecções intra-uterinas, complicações placentárias e
condições maternas como: retardo mental, ataques epilépticos ou hipertiroidismo.
Durante o período perinatal: a detecção de corionite associada com
prematuridade e amnionite tem sido considerada de alto risco para PC; além de
descolamento prévio da placenta; encefalopatia hipóxico-isquêmica, lesão vascular
cerebral no território da artéria cerebral média. Esta última tem sido identificada
como causa provável para PC hemiplégica em muitos nascidos. Também são
fatores apresentados por SANKAR & MUNDKUR (2005): quadros infecciosos como
toxoplasmose congênita, rubéola, citomegalovírus, herpes simples, sífilis, entre
outros. Hipoglicemia, hiperbilirrubinemia e significativa asfixia ao nascimento,
também estão entre as causas.
As causas pós-natais incluem aquelas lesões adquiridas enquanto o cérebro
está em desenvolvimento. Geralmente o quadro clínico resultante das seqüelas é
mais grave, como no caso de traumatismo cranioencefálico (TCE), acidente vascular
18
encefálico (AVE), meningoencefalites adquiridas e lesões por afogamento (TEIVE,
ZONTA e KUMAGAI, 1998).
As causas de lesões no SNC supracitadas originam espasticidade da
musculatura anti-gravitacional, ou seja, musculatura flexora nos membros superiores
(MMSS) e extensora nos membros inferiores (MMII) (MASINI, 2000).
1.4.3. Classificação e Epidemiologia da paralisia cerebral (topografia e tônus)
O fato da PC ser uma lesão no cérebro ainda em desenvolvimento representa
uma série de dificuldades no estabelecimento de seus critérios diagnósticos. Além
disso, por não ter uma notificação compulsória é difícil determinar com precisão a
sua incidência. Essa dificuldade ocorre tanto nos países mais desenvolvidos quanto
nos países subdesenvolvidos como o Brasil (LIANZA, 2001). Com isso, o número de
casos de PC é definido pela presença de anormalidade cerebral, não podendo assim
ser estimado. Contudo, somente a prevalência de crianças mais velhas que
sobrevivem com PC pode ser confiavelmente identificada (BLAIR & WATSON,
2005).
Apesar disso, dados apontam que a incidência da PC tem se mantido a
mesma nos últimos anos. As formas moderadas e severas estão entre 1,5 e 2,5 a
cada 1000 nascidos vivos nos países desenvolvidos; contudo, há relatos de
incidência geral, considerando todos os veis de comprometimento de até 7/1000
(SOUZA & FERRARETO, 1998). No Brasil não há estudos conclusivos a respeito da
incidência; esta, portanto, depende do critério de diagnóstico de cada objeto de
estudo, presume-se assim que o Brasil possua uma incidência elevada, devido ao
precário sistema de saúde relacionado às mães gestantes (LEITE & PRADO, 2004).
Os casos de PC são classificados de acordo com o déficit neuromuscular em:
espástica; discinética, incluindo coreoatetóide e distônica; atáxica; hipotônica e
mista. A forma espástica é a mais comum e acomete de 70-75% de todos os casos,
discinética de 10 a 15% e a atáxica está presente em menos de 5% dos casos
(SANKAR & MUNDKUR, 2005). Já GONZÁLEZ & SEPÚLVEDA (2002) encontraram
em 88% dos casos, pacientes espásticos.
1.4.4. Espasticidade
A espasticidade, principal característica dos pacientes com PC, é um fator
incapacitante resultante de uma lesão do SNC, mais especificamente da via
19
piramidal com sinais de comprometimento do motoneurônio superior e em especial
da via córtico-retículo-bulbo-espinal, caracterizada principalmente por hipertonia
muscular ao movimento passivo, especialmente na flexão e extensão, fraqueza
muscular, clônus, sinal de Babinski positivo, hiperreflexia tendinosa, movimentos
desarmônicos dos músculos e co-contração agonista-antagonista com conseqüente
enrijecimento e lentidão de movimento do membro espástico devido basicamente à
exaltação funcional das atividades reflexas monossinápticas miotáticas (CASALIS,
1990).
Os sinais clínicos da espasticidade se caracterizam pelo aumento do tônus
que, segundo o grau de acometimento neurológico, irão da paresia à plegia total da
musculatura hipertônica, padrões de movimentos estereotipados e limitados,
diminuição da amplitude de movimento ativa e passiva, tendência a desenvolver
contraturas e deformidades, persistência dos reflexos tônicos e primitivos, e
desenvolvimento pobre do mecanismo de postura (CASALIS, 1990; CAMPBELL,
1991).
A PC do tipo espástica pode ser dividida topograficamente nas formas:
quadriparética, na qual o prejuízo motor dos membros inferiores é igual ou menor do
que nos membros superiores; hemiparéticas, em que apenas um hemicorpo é
comprometido; diparéticas, na qual o prejuízo motor dos membros inferiores é maior
do que nos membros superiores (SELBER,1998). Essa classificação ainda inclui a
monoparesia e a triparesia, relativamente raras (SANKAR & MUNDKUR, 2005).
A quadriparesia espástica é a forma mais severa e envolve os quatro
membros (superiores e inferiores) e o tronco, sendo que os MMSS são mais
severamente envolvidos do que os MMII; está associada com asfixia intra-parto e
hipóxia aguda, podendo ocorrer ainda, segundo LEITE & PRADO (2004),
microcefalia, deficiência mental e epilepsia.
A diparesia está associada com a prematuridade e o baixo peso ao
nascimento. Quase todos os nascidos pré-termo com diparesia espástica exibem
cistos de leucomalácia periventricular na neuroimagem. Leucomalácia periventricular
é a isquemia mais comum no cérebro de crianças prematuras. Essa isquemia ocorre
na borda da zona final da distribuição arterial vascular, adjacente ao ventrículo
lateral (SANKAR & MUNDKUR, 2005). Acomete de 10 a 30% dos pacientes. Os
MMII são mais comprometidos que os MMSS, evidenciado pela hipertonia
acentuada dos músculos adutores de quadril.
20
A hemiparesia espástica é a manifestação mais freqüente, com paresia
unilateral, sendo que os MMSS são mais severamente afetados do que os MMII.
Observada em 56% dos nascidos a termo e 17% nos nascimentos prematuros, com
patogênese multifatorial (STOKES, 2000).
Por essa pesquisa se tratar da análise de marcha de pacientes com PC do
tipo hemiparesia, vamos realizar uma abordagem pormenorizada.
1.4.5. Paralisia cerebral hemiparética espástica
A PC hemiparética espástica é a primeira mais comum observada em
lactentes pré-termo e a termo. Nos lactentes pré-termo não têm associação
específica com problemas ao nascimento, enquanto a hemiparesia nos lactentes a
termo, resulta, freqüentemente, de eventos que ocorreram no início do terceiro
trimestre de gestação, e que comprometeram a irrigação sangüínea. Malformações
e infarto da região encefálica perfundida pela artéria cerebral média também são
encontradas (STOKES, 2000).
A PC espástica hemiparética, segundo CAMPBELL (1991), possui algumas
características marcantes: (a) tônus muscular e movimentos anormais em apenas
um lado do corpo; (b) envolvimento total do lado afetado, incluindo muitas vezes
face, pescoço e tronco, assim como as extremidades, sendo o membro superior
significativamente mais comprometido; (c) problemas associados, tais como:
estrabismo, disfunção motora oral, disfunção somato-sensorial e desordens
perceptuais e de aprendizagem; (d) presença de deficiência sensorial prejudicando
tanto a função quanto a espasticidade e o déficit motor; (e) negligência do hemicorpo
envolvido e uso apenas do lado não afetado nas atividades.
A hemiparesia é precocemente identificada, devido à assimetria óbvia da
postura e movimentos da criança. Algumas crianças são indicadas para o tratamento
com 5 meses de idade. No entanto, mais freqüentemente, são diagnosticadas aos 8
ou 9 meses de idade, quando se nota que não podem se sentar e usam somente
uma das mãos para apanhar e segurar objetos (BOBATH & BOBATH, 1989).
Os MMSS são mais afetados sendo que neles, os pacientes encontram
dificuldades em realizar movimentos de pinça com o polegar, extensão de punho e
supinação de antebraço. Nos MMII a dorsiflexão do tornozelo e eversão do pé são
os movimentos mais comprometidos; isso porque com o aumento do tônus flexor na
postura hemiparética podemos observar: flexão de cotovelo e punho, polegar
21
aduzido, flexão de quadril, joelho estendido e pé em eqüino. É comum a presença
de anormalidades sensoriais nos membros e comprometimento de esterognosia,
discriminação deficitária de sensibilidade e posição de dois pontos. Ataques
epilépticos ocorrem em mais de 50% das crianças (SANKAR & MUNDKUR, 2005).
O padrão típico de espasticidade presente no membro superior da criança
com PC espástica hemiparética corresponde à retração e depressão da escápula,
rotação interna do ombro, flexão do cotovelo com o antebraço em pronação, desvio
ulnar, flexão de punho, adução e flexão do polegar, e diminuição do primeiro espaço
interdigital (STOKES, 2000). Em relação ao membro inferior, os padrões patológicos
freqüentemente observados são eqüinismo dinâmico, ou seja, o paciente tem o pé
em eqüino, mas isso não se trata de uma deformidade instalada/estática, pois é
capaz de realizar movimento ou flexão plantar excessiva do tornozelo durante a fase
de apoio da marcha; flexão excessiva ou hiperextensão do joelho; flexão, adução e
rotação interna do quadril e inclinação anterior da pelve durante a fase de apoio
(RADTKA e cols, 1997).
As crianças hemiparéticas constituem um grupo capaz e auto-suficiente, que
atinge a posição ortostática e a marcha o mais tardar aos 2-3 anos de idade.
Tendem a rejeitar o lado afetado e a eleger e inclinar-se para o não-afetado. Se não
receberem atendimento contínuo e adequado desde cedo, a assimetria persiste e
pode resultar em limitação do movimento; desconforto, devido a contraturas
musculares e deformidade óssea quando alcançar a idade adulta (STOKES, 2000).
1.5. Classificação segundo WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
As alterações de marcha na PC são objetos de estudo e tratamento há
tempos. Neste sentido, a necessidade de se agrupar padrões de alterações de
movimento nestes pacientes é constante, pois facilita o entendimento clínico e as
tomadas de decisões nos tratamentos, sejam elas cirúrgicas ou não.
Os padrões de marcha advindos da interferência da espasticidade sobre o
controle motor têm sido descritos por diversos autores, como podemos observar em
uma revisão sistemática realizada por DOBSON e cols, (2007), em que os autores
analisam várias classificações de marcha em crianças com PC. Entre as
classificações analisadas, podemos citar alguns autores como: KADABA e cols,
(1990) com classificação da marcha diparética espástica; RODDA & GRAHAM
(2001), também classificando diparéticos, entre outros.
22
No estudo realizado por WINTERS, GAGE e HICKS em 1987, foram
analisados 46 indivíduos com hemiparesia espástica, conseqüente a três desordens
neurológicas: Paralisia Cerebral (PC), Acidente Vascular Encefálico (AVE) e
Traumatismo Cranioencefálico (TCE), com média de idade de 11,2 (3,4 a 30,5)
anos, 33 do sexo masculino e 13 do sexo feminino, sendo que foram selecionados
exames que possuíam dados com menor variabilidade entre si. Destes 46
indivíduos, 38 tinham PC e nenhum paciente havia realizado cirurgia ou faziam uso
de órteses e outros dispositivos auxiliares para a marcha, como bengalas e/ou
andadores. Em suas análises utilizou-se o sistema 3D, com 3 canais de câmera
VHS, 2 plataformas de força e eletromiografia, observando-se apenas o plano
sagital. Durante a avaliação todos os pacientes deambularam com velocidade auto-
selecionada, ou seja, de acordo com sua deambulação normal, sem se definir uma
velocidade padrão para obtenção de dados passíveis de comparações com a
filmagem. A eletromiografia foi utilizada para classificar pacientes que não puderam
ser agrupados apenas pelos dados cinemáticos. Assim, os pacientes foram
classificados em 4 grupos diferentes. O grupo I, com 19 pacientes, caracterizava-se
melhor pelo tornozelo em eqüino presente durante a fase de balanço. O grupo II, 11
pacientes, mantinha o tornozelo em eqüino durante todas as fases (apoio e
balanço), e o joelho realizava hiperextensão, devido à espasticidade presente nos
gastrocnêmios. O grupo III, 2 pacientes, possuía marcha espástica com passos
curtos e limitação da flexão de joelho durante a fase de balanço; observou-se o
comprometimento nas articulações mais proximais e deformidade em eqüino do
tornozelo. O grupo IV, com 6 pacientes, possuía ADM diminuída no plano sagital
com aumento da inclinação pélvica anteriormente (anteversão), tornozelo em eqüino
durante todo o ciclo e joelho e quadril fletidos. Na tabela 2 podemos observar um
resumo da amostra dos pacientes classificados por WINTERS, GAGE e HICKS em
1987.
Tabela 2. Classificação dos grupos de WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Nº. de pacientes
com PC
Idade
(anos)
Velocidade
(cm/s)
Grupo I 19 9,5 97,3
Grupo II 11 10,2 90
Grupo III 2 14,5 79,7
Grupo IV 6 12,2 84,4
23
1.5.1. Características e alterações dos grupos segundo WINTERS, GAGE e
HICKS (1987).
1.5.1.1. Grupo I
Na classificação descrita por WINTERS, GAGE e HICKS (1987) o padrão de
marcha do Grupo I apresenta o menor grau de comprometimento osteomioarticular,
e foi mais bem caracterizado pela flexão plantar do tornozelo na fase de balanço,
resultando numa deformidade em eqüino no contato inicial, porém permite uma
dorsiflexão adequada a partir da fase de apoio médio (AM). Freqüentemente
ocorrem compensações, como: aumento da flexão de joelho, no choque do pé com
o solo, e do quadril, no intuito de manter o corpo numa posição centrada acima do
pé, ajudando o membro contralateral a desenvolver um balanço adequado. Há
inclinação pélvica anterior aumentada, observada pelo aumento da lordose lombar
durante o ciclo da marcha (CM) (WINTERS, GAGE e HICKS, 1987).
Em resumo, esse paciente apresenta contratura dinâmica do gastrocnêmio
durante a fase de apoio. A cinemática do tornozelo no plano sagital nestes pacientes
revela contato inicial (CI) do pé em eqüino, entretanto, durante a fase de apoio, a
dorsiflexão é adequada (SELBER, 1998).
1.5.1.2. Grupo II
O Grupo II possui contraturas estáticas e dinâmicas dos músculos
gastrocnêmio e sóleo que resultam na persistência da flexão plantar do tornozelo
durante as fases de apoio e balanço (WINTERS, GAGE e HICKS, 1987). Em adição,
o avanço do tronco foi limitado e o comprimento do passo oposto, diminuído. Para
manter o centro de gravidade (CG) acima do pé, a flexão do quadril e a lordose
lombar são aumentadas. Segundo SELBER (1998), o grupo II apresenta contratura
definitiva do gastrocnêmio durante as fases de apoio e balanço. O CI foi em eqüino e
em nenhuma fase da marcha ocorre dorsiflexão adequada. Aqui, como no tipo I, não
há deformidades importantes do joelho e quadril do lado comprometido.
PERRY (2005) estabeleceu que uma amplitude de 15° de flexão plantar do
tornozelo posiciona o tronco atrás do pé a menos que o joelho faça uma
hiperextensão, o quadril seja fletido ou o calcanhar seja elevado por um suporte
externo. Quando o tornozelo está fixo em flexão plantar, a tíbia e o pé funcionam
juntos como uma longa alavanca que não permitirá os rolamentos usuais da tíbia
24
sobre o pé. Isto força o joelho em hiperextensão nas fases de apoio médio (AM) e
terminal (AT).
1.5.1.3. Grupo III
A musculatura proximal das extremidades inferiores dos pacientes do grupo III
está mais envolvida do que naqueles dos Grupos I ou II. O reflexo extensor
remanescente no quadril e no joelho resiste ao impulso flexor; devido ao tônus
extensor, que é ressaltado quando assumimos a postura de pé. A lesão central
dispara o reflexo plantar do tornozelo da sua inibição, o que resulta em um joelho
rígido com passos curtos. Na fase de balanço, os músculos quadríceps e
isquiotibiais contraem-se simultaneamente dificultando a flexão do joelho. Acredita-
se que a perda da contração coordenada destes músculos é a causa primária do
decréscimo da flexão do joelho que ocorre durante a fase de balanço (WINTERS,
GAGE e HICKS, 1987).
SELBER (1998) acrescenta que o grupo III apresenta achados do grupo II,
além de anormalidades do joelho que tendem a diminuir o arco de movimento. Na
fase de apoio também é observada a hiperextensão do joelho, uma compensação
devido muito mais a uma fraqueza muscular do que a espasticidade da musculatura
flexora plantar.
1.5.1.4. Grupo IV
Assim como no grupo III, o grupo IV, além da diminuição da ADM do joelho e
flexão plantar do tornozelo, apresenta redução do movimento de quadril, diferença
marcante entre os grupos III e IV. O aumento da atividade dos músculos íliopsoas e
adutores de quadril evitam que esta articulação atinja a completa extensão na fase
de apoio terminal (AT). Há um aumento compensatório da inclinação pélvica anterior
para se evitar a excessiva redução do comprimento da passada (WINTERS,GAGE e
HICKS, 1987). Esse grupo apresenta, além do que já existe no grupo III, o
comprometimento do movimento de quadril, que não realiza extensão adequada na
fase de pré-balanço (PB) (SELBER,1998).
De acordo com esses quatro grupos, RODDA & GRAHAM (2001),
conseguiram ilustrá-los com o auxílio de um diagrama de classificação (figura 9).
25
Figura 9. Diagrama de classificação dos tipos de hemiparesia (adaptado de RODDA &
GRAHAM, 2001).
26
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
Descrever as principais alterações cinemáticas da marcha em
pacientes portadores de paralisia cerebral (PC) do tipo hemiparesia espástica
segundo a classificação de WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
2.2. Específicos
Comparar as curvas dos ângulos de movimentos articulares de
pacientes hemiparéticos com a classificação realizada por WINTERS, GAGE e
HICKS (1987);
Avaliar os movimentos realizados no plano sagital, das articulações:
pelve, quadril, joelho e tornozelo, de pacientes com PC hemiparética;
Analisar os parâmetros lineares da marcha (cadência, comprimento do
passo e da passada e velocidade).
27
3. PACIENTE E MÉTODOS
3.1. Tipo de estudo
Foi realizado um estudo retrospectivo, descritivo, transversal, realizado em 27
pacientes portadores de PC do tipo hemiparesia espástica e que ao final foram
divididos em 4 grupos seguindo a classificação de WINTERS, GAGE e HICKS
(1987). Os pacientes foram analisados no Laboratório de Movimento situado na
Clínica Escola de Fisioterapia na Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia
de Goiás (ESEFFEGO) da Universidade Estadual de Goiás - UEG (figura 10), no
período de janeiro de 2001 a fevereiro de 2005 advindas do serviço público de
saúde de Goiânia – GO.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de
Medicina da UnB (CEP-FM/UnB) na 7ª Reunião Ordinária de 2006, realizada no dia
27/09/2006, com o registro de projeto: CEP-FM 041/2006 (apêndice 1).
Figura 10. Laboratório de Movimento da UEG.
Fonte: Laboratório de Movimento – UEG.
Critérios de inclusão: pacientes com diagnóstico de hemiparesia espástica,
crianças e adolescentes deambuladores comunitários, isto é, que conseguem se
locomover de um local para outro independentemente, sem uso de dispositivos
auxiliares de marcha, com idade entre 5 e 15 anos, ambos os sexos.
28
Critérios de exclusão: pacientes que fizeram uso de medicamentos
neurobloqueadores, que interferem diretamente na espasticidade e pacientes
submetidos a qualquer tipo de cirurgia de membros inferiores (MMII).
Os prontuários dos pacientes selecionados pela pesquisadora a partir dos
arquivos de pacientes avaliados no Laboratório de Movimento – UEG no período
citado anteriormente; para isso também foi assinado pela pesquisadora um termo de
compromisso para uso de dados em arquivos (apêndice 2).
3.2. Amostra
No laboratório de movimento da UEG haviam 56 pacientes cadastrados como
portadores de PC hemiparética espástica. Destes, 29 foram excluídos por: cirurgias
não específicas, cirurgia de alongamento do tendão de Aquiles, aplicação de toxina
botulínica do tipo A, conseqüência de outras patologias, nesse caso traumatismo
cranioencefálico (TCE) e poliomielite, idade acima de 15 anos e erros e/ou espículas
no traçado das curvas angulares de pacientes, não se enquadravam na classificação
(tabela 3).
Tabela 3. Porcentagem dos pacientes excluídos da pesquisa.
Critérios de Exclusão Número de pacientes
Porcentagem
(%)
Cirurgias não específicas 1 1,78
Cirurgia de alongamento do tendão de Aquiles 4 7,14
Aplicação de toxina botulínica do tipo A 1 1,78
Conseqüência de outras patologias 2 3,57
Idade acima de 15 anos 9 16,07
Erros e/ou espículas nos traçados gráficos
Não se enquadraram na classificação
5
7
8,92
12,5
Total de pacientes excluídos 29 51,78
Buscamos tornar nossa amostra o mais pura possível, excluindo pacientes
que já haviam feito cirurgias ligadas aos membros inferiores (MMII) ou uso de toxina
botulínica do tipo A (TBA); excluímos também pacientes que ficaram hemiparéticos
devido a outras patologias, como poliomielite (pólio) e TCE; e incluímos pacientes
29
que tinham deambulação independente, sem auxílio de órteses ou outros
dispositivos de auxílio à marcha.
A exclusão de pacientes que já haviam realizado cirurgias ou aplicação de
TBA, é devido ao fato de que qualquer intervenção nos MMII, seja ela cirúrgica ou
não, influencia diretamente na deambulação do indivíduo.
A exclusão de muitos pacientes com idade acima de 15 anos foi devido à
instalação de deformidades ósseas, o que não quer dizer que os pacientes inclusos
não possuíam deformidades, que também geram alterações na marcha, mas com
essa exclusão tentou-se também padronizar uma faixa etária, homogeneizando a
amostra de acordo com a maturação da marcha.
Após a seleção dos pacientes aptos a comporem a amostra da pesquisa,
foram impressos todos os seus resultados gráficos da análise de marcha no plano
sagital de pelve, quadril, joelho e tornozelo. Neste momento foram exclusos da
pesquisa todos os exames que apresentavam erros no traçado das curvas angulares
com presença de espículas ou retificação ao longo do ciclo da marcha; isso porque o
laboratório de movimento enfrentou problemas técnicos no final do ano de 2004 e
início de 2005 e nesses exames ocorreram algumas alterações. Como obtivemos os
exames dos arquivos do laboratório, já coletados e realizados, não tínhamos como
realizá-los novamente, portanto, optamos por excluir qualquer traçado nas curvas
angulares que continha espículas ou curvas que, de acordo com a excursão da
articulação dos pacientes, não condiziam como tal.
Ao final, a amostra foi composta por 27 pacientes, e os resultados das curvas
angulares da análise de marcha selecionados foram, então, classificados segundo
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Todas as avaliações de marcha que obtivemos desses pacientes foram
realizadas no laboratório de movimento – UEG: anamnese, exame físico e
antropométrico, colocação dos marcadores e filmagem da marcha seguiram as
mesmas etapas, aplicadas por avaliadores treinados pela mesma pessoa, descritos
a seguir.
3.3. Procedimentos do exame
Todos os atendimentos realizados no Laboratório de Movimento - UEG
objetivam a possibilidade de estudos posteriores, uma vez que este pertence ao
âmbito público de ensino, pesquisa e extensão. Para tanto, utilizamos os exames em
30
que pais e/ou responsáveis já haviam assinado o termo de consentimento da
participação da pessoa como sujeito, presente nos arquivos (apêndice 3), que
autorizava a realização do exame e o uso dos resultados em pesquisas posteriores,
resguardada a imagem do paciente, contendo duas vias uma para o representante
legal do sujeito e outra para o laboratório.
No momento da avaliação, os participantes passaram por anamnese e exame
físico que incluíam a amplitude de movimento (ADM) ativa, pois assim observamos a
capacidade real que o paciente tem em realizar um movimento independente, já
deduzindo como será sua desenvoltura durante a marcha, presente nas articulações
de pelve, quadril, joelho e tornozelo em suas respectivas liberdades de movimento e
força muscular manual, segundo o protocolo de KENDALL, McCREARY e
PEOVANCE (1995) dos principais músculos dos MMII que influenciam a marcha e
testes específicos de adaptações osteomioarticulares (anexo 1). Dentre as
avaliações, esta é a melhor e mais viável forma de análise funcional.
Para avaliação instrumentada da marcha os pacientes foram submetidos a
uma avaliação antropométrica da pelve e MMII segundo o protocolo de exigência do
sistema Vicon Peak Motus
®
(anexo 2), sendo utilizados os seguintes materiais:
paquímetro (Lafayette Instrument Company
®
modelo 01290), balança Filizola
®
, série
3134 nº. 86713 com divisões de 100g e carga máxima de 150kg e fita métrica de
1,5m (figura 11). Na análise da marcha utilizou-se: 2 plataformas de força AMTI
®
modelo OR6, 6 câmeras de infravermelho Pulnix
®
(modelo TM 6701 NA,
posicionadas a 1.75m de altura e a 4m umas das outras e do centro da passarela),
fita crepe para fixar os 15 marcadores refletores (figura 12), 1 microcomputador
(Processador Pentium II® 400MHz, 128Mb de memória RAM) com o software Vicon
Peak Motus 2000
®
(Vicon Motion Systems Inc. Califórnia, EUA) para coleta e cálculo
de dados, observados na figura 10.
31
Figura 11. Paquímetro e fita métrica.
Fonte: Laboratório de Movimento – UEG.
Figura 12. Marcadores refletores.
Fonte: Laboratório de Movimento – UEG.
Os participantes fizeram uso de roupas de banho, passando pelos processos
de avaliação supracitados. Marcadores refletores foram dispostos sobre seu corpo
segundo seguintes referências anatômicas: espinhas ilíacas ântero-superiores
(EIAS), ponto médio do sacro em relação com as espinhas ilíacas póstero-
superiores (EIPS), côndilos laterais do fêmur, maléolos fibulares, calcanhares e
cabeças dos II metatarsos, sendo fixados à pele com fita crepe. As hastes
intersegmentares foram colocadas no ponto médio do comprimento das coxas e
maior volume muscular de tríceps sural, sendo presa ao corpo com elásticos e
velcros (figura 13).
32
Figura 13. Disposição anatômica dos marcadores refletores segundo protocolo Peak
Motus
®
.
Fonte: Manual Peak Motus® 2000.
Os participantes deambularam pela sala de exame para habituarem-se aos
marcadores sobre a pele. Logo após, foram instruídos verbalmente a percorrerem
descalços, uma pista de 8m de comprimento, em velocidade livre (auto-
selecionada), transpondo as duas plataformas de força, localizadas
aproximadamente na metade da distância total percorrida, tocando alternadamente
os pés sobre cada uma delas, sendo a primeira com o pé direito e a seguir na
próxima plataforma, com o pé esquerdo, o que permitiu delimitar o ciclo de marcha.
Com isso, o programa digitalizava a imagem do paciente no computador e traduz os
valores numéricos de seus ângulos articulares em gráficos. Todos os gráficos da
curvas angulares passaram pela avaliação e interpretação de 3 fisioterapeutas,
baseados na descrição de PERRY (2005) e a classificação se deu pelo consenso.
Foram realizadas duas filmagens de cada paciente. O exame não foi considerado
válido se: ocorresse o contato inadequado dos pés com a plataforma, no caso de
pacientes se ocorresse dois toques do mesmo pé em uma mesma plataforma; se
ocorressem alterações óbvias do passo para entrar em contato com as mesmas, ou
seja, se o paciente alterasse sua marcha para atingir adequadamente a plataforma;
33
ou se a velocidade fosse notadamente alterada, para mais ou para menos durante a
filmagem.
Para evitar os efeitos de distorção naturais da marcha, de aceleração e
desaceleração, a análise iniciou-se após três passos iniciais, durante a fase de
desenvolvimento da marcha (SELBER, 1998).
3.4. Análise das curvas dos ângulos articulares
De acordo com as análises, foi possível dividir os pacientes nos quatro grupos
da classificação realizada por WINTERS, GAGE e HICKS (1987). As curvas
angulares das articulações no plano sagital, descritos a seguir, são referentes à
média dos pacientes dispostos em cada grupo. Em todos os gráficos obtidos
observa-se que o eixo das ordenadas (y) refere-se aos graus de ADM desenvolvido
pelas articulações, sendo que valores acima de zero indicam flexão e abaixo
correspondem à extensão dos movimentos articulares. Este padrão não é
visualizado somente nas curvas angulares de ADM do tornozelo, no qual acima de
zero observa-se a dorsiflexão e abaixo, a flexão plantar. As curvas de cor verde
referem-se à articulação pélvica de cada grupo. As curvas de cor azul representam o
membro inferior direito comprometido de cada grupo e as curvas de cor vermelha,
representam o membro inferior esquerdo comprometido dos pacientes referentes a
cada grupo, sendo que as curvas periféricas representam a variação da média da
ADM das articulações dos pacientes e a curva central representa a média de cada
grupo. Para melhor visualização de nossa comparação e classificação, cada curva
angular está associada a outro pequeno gráfico, cor preta, referente ao estudo
descrito por WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
3.5. Normalização e análise estatística
A normalização não-dimensional dos parâmetros lineares (cadência,
velocidade, comprimento do passo e da passada) foi baseada no estudo realizado
por STANSFIELD e cols. (2003 e 2006), sendo utilizadas as seguintes fórmulas:
34
Velocidade normalizada = V
ND
= V
ABS
H x g
Comprimento do passo normalizado = CP
ND
= CP
ABS,
ou seja, CP
SD
= CP
ND.
H
Cadência normalizada = CD
ND
= CD
ABS
x H
g
Onde: V
ND
= velocidade não-dimensional; V
ABS
= velocidade absoluta (m/s); H = estatura (m); g =
aceleração devido à gravidade (9,80 m/s
2
); CP
ND
= comprimento do passo não-dimensional; CP
ABS
=
comprimento do passo absoluto; CD
ND
= cadência não-dimensional; CD
ABS
= cadência absoluta
(passos/min).
Vale ressaltar que a fórmula para a normalização não-dimensional do
comprimento da passada não foi citada porque seu cálculo é idêntico ao cálculo
realizado no comprimento do passo.
A estatística utilizou a análise de variância (ANOVA) com índice de
significância a 5% entre as variáveis lineares encontradas em nossos pacientes,
com auxílio do programa Microsoft Office Excel 2003.
35
4. RESULTADOS
Ao final da coleta de dados, nossa amostra foi composta por 27 pacientes
com PC hemiparéticos espásticos, sendo que de todos os pacientes analisados
observamos apenas o membro inferior comprometido (MIC)
Os resultados foram baseados no estudo e interpretação das curvas dos
ângulos articulares de pelve, quadril, joelho e tornozelo, no plano sagital, obtidos da
análise de marcha de pacientes com PC. Os dados referentes a essa análise foram
utilizados para classificar os pacientes de acordo com a classificação descrita por
WINTERS, GAGE e HICKS (1987). Nas tabelas referentes aos parâmetros lineares
absolutos, os comprimentos do passo e da passada dos lados comprometidos estão
em destaque.
4.1. Grupo I
O grupo I, pé em eqüino, foi composto por 11 pacientes, 5 do sexo feminino e
6 do sexo masculino, com média de idade de 9,45 (dp= 3,17)anos, 5 com
hemiparesia esquerda e 6 com hemiparesia direita.
Os parâmetros lineares absolutos encontrados neste grupo são apresentados
na tabela 4 e na tabela 5 esses mesmos parâmetros referentes apenas ao membro
inferior comprometido. A normalização não-dimensional é observada na tabela 6.
36
Tabela 4. Parâmetros lineares absolutos do Grupo I.
Onde: CP D = comprimento do passo direito; CP E = comprimento do passo esquerdo; CPD D =
comprimento da passada direita; CPD E = comprimento da passada esquerda; CD = cadência; VM =
velocidade média; DP = desvio padrão.
Tabela 5. Média dos parâmetros lineares absolutos referentes aos membros
comprometidos do Grupo I.
Onde: D = direito; E = esquerdo; MIC = membro inferior comprometido; H = estatura; CP =
comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD = cadência; VM = velocidade média; DP
= desvio padrão.
Pacientes
Idade
(anos)
CP D
(m)
CP E
(m)
CPD
(m)
CPD E
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 8 0,62 0,63 1,04 1,25 104 0,87
2 12 0,57 0,56 1,06 1,12 144 1,32
3 7 0,60 0,54 1,46 1,14 115 1,36
4 5 0,57 0,42 1,13 1,00 92 0,86
5 12 0,53 0,53 1,24 1,06 121 1,25
6 10 0,51 0,55 1,04 1,06 109 0,93
7 7 0,54 0,54 1,08 1,08 115 1,04
8 5
0,49 0,52 1,18 1,01 91 0,89
9 12 0,60
0,59 1,05 1,19 106 0,95
10 12
0,53 0,53 1,08 1,06 108 0,96
11 14 0,75 0,71 1,06 1,46 108 0,97
Média 9,45 0,57 0,56 1,13 1,13 110 1,04
DP 3,17 0,07 0,07 0,13 0,13 14 0,18
Hemiparéticos MIC
H
(m)
CP
(m)
CPD
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 D 1,41 0,57 1,04 104 0,87
2 D 1,54 0,60 1,06 144 1,32
3 E 1,22 0,71 1,46 115 1,36
4 E 1,12 0,56 1,13 92 0,86
5 D 1,50 0,62 1,24 121 1,25
6 D 1,40 0,49 1,04 109 0,93
7 E 1,32 0,55 1,08 115 1,04
8 D 1,35 0,60 1,18 91 0,89
9 E 1,55 0,53 1,05 106 0,95
10 D 1,64 0,51 1,08 108 0,96
11 E 1,75 0,54 1,06 108 0,97
Média
1,44 0,57 1,13 110 1,04
DP
0,18 0,06 0,13 14 0,18
37
DPO DPTPO
TP
DPO DPTPO
TP
Tabela 6. Normalização dos parâmetros lineares referente aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo I
Pacientes
CP
ND
CPD
ND
CD
ND
VM
ND
1
0,40 0,74 0,66 0,23
2
0,39 0,69 0,95 0,34
3
0,58 1,20 0,68 0,39
4
0,50 1,01 0,52 0,26
5
0,41 0,83 0,79 0,33
6
0,35 0,74 0,69 0,25
7
0,42 0,82 0,70 0,29
8
0,44 0,87 0,56 0,24
9
0,34 0,68 0,70 0,24
10
0,31 0,66 0,74 0,24
11
0,31 0,61 0,76 0,23
Média 0,41 0,80 0,70 0,28
DP 0,08 0,17 0,11 0,05
Onde: ND = não-dimensional CP = comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD =
cadência; VM = velocidade média; DP = desvio padrão.
Na figura 14.a observamos que a pelve dos pacientes hemiparéticos deste
grupo tem ADM dentro dos padrões normais.
Figura 14. a) Curva angular média de ADM da articulação da pelve - grupo I. b)
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP =
desprendimento do pé.
Na figura 15.a, observamos que o quadril direito tem ADM próximo da
normalidade. Inicia o CM com um pequeno aumento de flexão, 37°. Ao longo do
ciclo não realiza extensão completa. E na fase de balanço médio (BM), 89% do CM,
exibe um pequeno aumento da flexão, 40°.
025
10050 75
10
20
30
0
% do ciclo da marcha
graus
025
10050 75
10
20
30
0
025
10050 75
10
20
30
0
% do ciclo da marcha
graus
a)
b)
38
Na figura 15.b observamos que o quadril esquerdo também inicia o ciclo com
pequeno aumento de flexão, 34°; estende a 51% do CM, com 10° e retorna a
flexionar-se a 88%, com 39°; ou seja, uma ADM próximo à normalidade.
Figura 15. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo I. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b)
Comprometimento do membro inferior esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
A figura 16.a apresenta o joelho direito também com ADM normal, com 18° de
flexão no contato inicial (CI) e progride para a 1ª onda de flexão durante a fase de
apoio médio (AM) com 21°, próximo à normalidade. A 41%, na fase de AT, realiza
extensão de 9°, ou seja, não estende completamente. Evolui para a 2ª onda de
flexão no BM e não atinge os 60° de flexão previstos para a normalidade. Finaliza o
CM mantendo o joelho fletido a 20°.
E na figura 16.b, o joelho esquerdo inicia o ciclo com 20° de flexão; à 40% do
CM atinge 4° de extensão, realiza a 2ª onda de flexão a 75% com 61°, observado
como padrões normais.
% do ciclo da marcha
graus
25
10
30
50
50
75
-10
0100
% do ciclo da marcha
graus
25
10
30
50
50
75
-10
0100
DPO
TPO
DP
TP
DPO
TPO
DP
TP
a)
b)
c)
39
Figura 16. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo I. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b)
Comprometimento do membro inferior esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = extensão; EXT = extensão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
Na figura 17.a, o tornozelo direito inicia o CM com 6° de flexão plantar,
considerado normal segundo PERRY (2005). Durante a progressão do CM,
permanece em dorsiflexão durante toda a fase de apoio. A 47% do CM, na fase de
AT, atinge 14° de dorsiflexão. Permanece durante toda a fase de balanço em flexão
plantar, cujo pico se dá tardiamente a 68% do CM e com apenas 10°. No balanço
terminal (BT), o tornozelo que deveria evoluir de dorsiflexão para neutro, se mantém
em flexão plantar de 3°. O grupo foi melhor caracterizado pela flexão plantar do
tornozelo durante a fase de balanço e por uma dorsiflexão adequada a partir da fase
de AM.
A figura 17.b apresenta o tornozelo esquerdo iniciando o CI com apenas 1° de
flexão plantar; a 48% atinge 5° de dorsiflexão e a 72% retorna para 2° de flexão
plantar. Possui uma ADM diminuída, porém, o tornozelo realiza uma pequena
dorsiflexão durante a fase de apoio e permanece em flexão plantar durante a fase de
balanço.
0
50 75 10025
40
70
10
-20
% do ciclo da marcha
graus
0
50 75 10025
40
70
10
-20
% do ciclo da marcha
graus
JOELHO D FLX/EXT
TP
DPO
TPO DP
JOELHO D FLX/EXT
TP
DPO
TPO DP
a)
b)
c)
40
Figura 17. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo I. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b)
Comprometimento do membro inferior esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: DORS = dorsiflexão; PLNT = flexão plantar; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO
= desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
4.2.Grupo II
O grupo II, eqüino verdadeiro com tendência ao recurvatum, foi composto por
5 pacientes, sendo 1 do sexo feminino e 4 do sexo masculino, com média de idade
de 10,6 (dp= 2,88) anos. Todos com hemiparesia direita.
Os parâmetros lineares absolutos encontrados neste grupo são observados
na tabela 7, vale ressaltar que todos os pacientes desse grupo possuem
comprometimento do lado direito. Na tabela 8 apresenta-se esses mesmos
parâmetros normalizados não-dimensionalmente.
0255075100
10
30
-30
-10
% do ciclo da marcha
graus
0255075100
10
30
-30
-10
0255075100
10
30
-30
-10
% do ciclo da marcha
graus
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO
DPTPO
TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO
DPTPO
TP
DPO
TPO
DP
TP
TORNOZELO E DORS/PLNT
DPO
TPO
DP
TP
TORNOZELO E DORS/PLNT
a)
b)
c)
41
Tabela 7. Parâmetros lineares absolutos do Grupo II.
Pacientes
Idade
(anos)
MIC
H
(m)
CP D
(m)
CP E
(m)
CPD D
(m)
CPD E
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 8 D 1,26 0,62 0,52 1,21 1,13 120 1,17
2 7 D 1,25 0,50 0,52 1,10 1,01 78 0,68
3 12 D 1,61
0,64 0,44 0,67 1,08 129 0,93
4 13 D 1,41
0,57 0,44 1,09 1,02 121 1,06
5 13 D 1,65
0,57 0,49 1,19 1,05 115 1,07
Média 10,6 1,44
0,58 0,48 1,05 1,06 113 0,98
DP 2,88 0,19 0,05 0,04 0,22 0,05 20 0,19
Onde: D = direito; MIC = membro inferior comprometido; H = estatura; CP D = comprimento do passo
direito; CP E = comprimento do passo esquerdo; CPD D = comprimento da passada direita; CPD E =
comprimento da passada esquerda; CD = cadência; VM = velocidade média e DP = desvio padrão.
Tabela 8. Normalização dos parâmetros lineares referente aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo II.
Pacientes
CP
ND
CPD
ND
CD
ND
VM
ND
1
0,49 0,96 0,72 0,33
2
0,40 0,88 0,46 0,19
3
0,40 0,42 0,87 0,23
4
0,40 0,77 0,76 0,29
5
0,35 0,72 0,79 0,27
Média 0,41 0,75 0,72 0,26
DP 0,05 0,21 0,15 0,05
Onde: ND = não-dimensional; CP = comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD =
cadência; VM = velocidade média; DP = desvio padrão.
Notamos nesse grupo a flexão plantar do tornozelo durante as fases de apoio
e balanço e hiperextensão de joelho nas fases de AM e AT. Para manter o centro de
gravidade (CG) acima do pé, a flexão de quadril e a lordose lombar são
aumentadas.
Observando-se a média das pelves na figura 18.a, percebemos que
apresentam padrões de normalidade.
42
Figura 18. a) Curva angular média de ADM da articulação da pelve - grupo II. b)
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP =
desprendimento do pé.
Na figura 19.a, o quadril direito inicia o CM com 39° de flexão, evolui a 51%
do CM para uma extensão de 3°, não estendendo completamente; e a 86% do CM,
na fase de BM, realiza uma excessiva flexão, 44°.
Figura 19. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo II. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) WINTERS, GAGE
e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé
oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
A figura 20.a nos mostra uma flexão precoce do joelho direito, 18°;
praticamente não realiza a 1ª onda de flexão, pois a 15% do CM onde isso deveria
acontecer, o joelho possui apenas 10° de flexão. Permanece estendido durante toda
a fase de apoio, tendendo a neutro. Atinge a 2 ª onda de flexão tardiamente, à 75%
do CM, mas não atinge a flexão máxima de 65°, chegando apenas a 56° de flexão.
25 50 750100
graus
10
30
50
-10
% do ciclo da marcha
25 50 750100
graus
10
30
50
-10
% do ciclo da marcha
-30
1005025 75
30
10
-10
0
% do ciclo da marcha
graus
-30
1005025 75
30
10
-10
0
% do ciclo da marcha
graus
DPO
DP
TPO
TP
DPO
DP
TPO
TP
a)
b)
DPO
DP
TPO
TP
DPO
DP
TPO
TP
a)
b)
43
Figura 20. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo II. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) WINTERS, GAGE
e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D =direito; TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé
oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
No CI o tornozelo apresenta 15° de flexão plantar e permanece assim durante
as fases de apoio e balanço. De acordo com a média, o tornozelo direito atinge 30°
de flexão plantar a 59% do CM, o que podemos observar na figura 21.a.
Figura 21. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo II. a)
Média dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) WINTERS,
GAGE e HICKS (1987).
Onde: DORS = dorsiflexão; PLNT = flexão plantar; D = direito; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
0
40
70
10
-20
graus
50 75 10025
% do ciclo da marcha
0
40
70
10
-20
graus
50 75 10025
% do ciclo da marcha
0 25 50 75 100
% do ciclo da marcha
10
30
-30
-10
graus
0 25 50 75 100
% do ciclo da marcha
10
30
-30
-10
graus
DPO DPTPO
TP
DPO DPTPO
TP
a)
b)
DPO DPTPO
TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO DPTPO
TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
a)
b)
44
4.3. Grupo III
O grupo III, eqüino verdadeiro com joelho saltador, foi composto por 6
pacientes, 4 do sexo feminino e 2 do sexo masculino, com média de idade de 8,83
(dp= 2,63)anos, 3 pacientes com hemiparesia esquerda e 3 com hemiparesia direita.
No grupo III ocorre hiperextensão do joelho na fase de apoio e diminuição da
flexão de joelho na fase de balanço. Os parâmetros lineares absolutos estão
elucidados nas tabelas 9 e 10, sendo que nessa última encontramos os valores
relacionados ao membro inferior comprometido; e os dados normalizados são
apresentados na tabela 11.
Tabela 9. Parâmetros lineares absolutos do Grupo III.
Pacientes
Idade
(anos)
CP D
(m)
CP E
(m)
CPD D
(m)
CPD E
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 7 0,54 0,57 1,18 1,18 117 1,12
2 6 0,62 0,43 1,13 1,06 107 0,97
3 8 0,61
0,53 1,16 1,15 100 0,96
4 11
0,52 0,45 0,97 0,97 107 0,86
5 8
0,65 0,54 1,24 1,19 95 0,95
6 13 0,53
0,39 1,12 0,93 103 0,87
Média 8,83 0,58 0,49 1,13 1,07 105 0,96
DP 2,63 0,05 0,07 0,09 0,10 7 0,09
Onde: CP D = comprimento do passo direito; CP E = comprimento do passo esquerdo; CPD D =
comprimento da passada direita; CPD E = comprimento da passada esquerda; CD = cadência; VM =
velocidade média; DP = desvio padrão.
45
Tabela 10. Média dos parâmetros lineares absolutos referentes aos membros
comprometidos do Grupo III.
Hemiparéticos MIC
H
(m)
CP
(m)
CPD
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 D 1,20 0,54 1,18 117 1,12
2 E 1,25 0,43 1,06 107 0,97
3 E 1,21 0,53 1,15 100 0,96
4 D 1,51 0,52 0,98 107 0,86
5 D 1,29 0,65 1,24 95 0,95
6 E 1,54 0,40 0,93 103 0,87
Média 1,33 0,51 1,09 105 0,96
DP 0,15 0,09 0,12 7 0,09
Onde: D = direito; E = esquerdo; MIC = membro inferior comprometido; H =estatura; CP =
Comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD = cadência; VM = velocidade média; DP
= desvio padrão.
Tabela 11. Normalização dos parâmetros lineares referentes aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo III.
Pacientes
CP
ND
CPD
ND
CD
ND
VM
ND
1
0,45 0,98 0,68 0,33
2
0,34 0,85 0,64 0,28
3
0,44 0,95 0,59 0,28
4
0,34 0,65 0,70 0,22
5
0,50 0,96 0,57 0,27
6
0,26 0,60 0,68 0,22
Média 0,39 0,83 0,64 0,27
DP 0,09 0,17 0,05 0,04
Onde: ND = não-dimensional; CP = comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD =
cadência; VM = velocidade média; DP = desvio padrão.
Na figura 22.a, a pelve permanece em excessiva anteversão durante todo o
CM, atingindo mais de 30°.
46
Figura 22. a) Curva angular média de ADM da articulação de pelve – grupo III; b)
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP =
desprendimento do pé.
A figura 23.a nos mostra o quadril direito iniciando o CM com 57° de flexão.
Com a progressão, a 49% do CM, fica praticamente em neutro, não estendendo
completamente; e a 90% do CM, na fase de BM, retorna à posição de flexão, com
53°. Ou seja, o quadril se mantém fletido durante todo o ciclo.
Na figura 23.b, o quadril esquerdo inicia com aumento da flexão, 44°, porém,
menos comprometido quando comparado ao membro inferior direito. Durante a
progressão do ciclo permanece fletido, não estendendo completamente, ou seja, à
54% ainda possui 11° de flexão; e à 93% realiza 47° de flexão, menor do que o
quadril esquerdo, mas também aumentada.
1005025 750
% do ciclo da marcha
-30
30
10
-10
graus
1005025 750
% do ciclo da marcha
-30
30
10
-10
graus
DPO
DPTPO
TP
DPO
DPTPO
TP
a)
b)
47
Figura 23. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo III. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro inferior
esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
No CI o joelho direito encontra-se excessivamente fletido. Observando-se a
figura 24.a, percebemos que a 1ª onda de flexão se dá antecipadamente à
normalidade. A 40% do CM, na fase de AT, realiza uma hiperextensão de 10° e
atinge tardiamente a 2ª onda de flexão, 79% do CM, não alcançando a flexão
máxima esperada no ciclo normal.
Na figura 24.b o joelho esquerdo, no CI, possui 24° de flexão, estende
antecipadamente à 34% com 5°, considerado normal, e realiza a 2ª onda de flexão à
83% com apenas 46°.
% do ciclo da marcha
graus
25
10
30
50
50 75
-10
0
100
% do ciclo da marcha
graus
25
10
30
50
50 75
-10
0
100
DPO DPTPO TPDPO DPTPO TP
DPO
TPO
DP
TP
DPO
TPO
DP
TP
a)
b)
c)
48
Figura 24. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo III. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro inferior
esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé
oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
O tornozelo direito inicia o CM com 19° de flexão plantar, permanecendo
assim durante todas as fases de apoio e balanço, sendo que essa flexão plantar
atinge 30°, a 64% do CM, na fase do balanço inicial (BI), o que podemos constatar
na figura 25.a.
Na figura 25.b observamos que o tornozelo esquerdo possui 3° de flexão
plantar no CI e permanece assim até praticamente o toque do pé oposto (TPO). E a
62% do CM atinge 35° de flexão plantar.
50 75 10025
% do ciclo da marcha
0
40
70
10
-20
graus
50 75 10025
% do ciclo da marcha
0
40
70
10
-20
graus
DPO DPTPO TPDPO DPTPO TP
DPO
TPO
DP
TP
DPO
TPO
DP
TP
a) b)
c)
49
Figura 25. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo III. a)
Média dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro
inferior esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: DORS = dorsiflexão; PLNT = plantiflexão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé oposto; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento.
4.4. Grupo IV
O grupo IV, eqüino com joelho saltador, rotação pélvica, flexão, adução e
rotação interna de quadril, foi composto por 5 pacientes, 2 do sexo feminino e 3 do
sexo masculino, com média de idade de 11,4 (dp= 3,36) anos, com 2 pacientes
hemiparéticos esquerdos e 3 hemiparéticos direitos.
Os parâmetros lineares absolutos dos membros e parâmetros lineares
absolutos apenas do membro comprometido são mostrados nas tabelas 12 e 13,
respectivamente, enquanto que os parâmetros normalizados na forma não-
dimensional são apresentados na tabela 14.
10
30
-30
-10
graus
0 25 50 75 100
% do ciclo da marcha
10
30
-30
-10
graus
0 25 50 75 100
% do ciclo da marcha
TORNOZELO E DORS/PLNT
DPO
TPO
DP
TP
TORNOZELO E DORS/PLNT
DPO
TPO
DP
TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO DPTPO TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO DPTPO TP
a)
b)
c)
50
Tabela 12. Parâmetros lineares absolutos do Grupo IV.
Pacientes
Idade
(anos)
CP D
(m)
CP E
(m)
CPD D
(m)
CPD E
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 9 0,65 0,37 1,20 1,02 102 0,94
2 14 0,57 0,63 1,16 1,20 117 1,15
3 7 0,18
0,43 0,65 0,61 109 0,57
4 15
0,64 0,55 1,17 1,19 96 0,94
5 12
0,56 0,50 1,18 1,07 89 0,83
Média 11,4 0,52 0,50 1,07 1,02 103 0,89
DP 3,36 0,19 0,10 0,24 0,24 11 0,21
Onde: CP D = comprimento do passo direito; CP E = comprimento do passo esquerdo; CPD D =
comprimento da passada direita; CPD E = comprimento da passada esquerda; CD = cadência; VM =
velocidade média; DP = desvio padrão.
Tabela 13. Média dos parâmetros lineares absolutos referentes aos membros
comprometidos do grupo IV.
Hemiparético MIC
H
(m)
CP
(m)
CPD
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
1 D 1,29 0,65 1,20 102 0,94
2 E 1,68 0,63 1,20 117 1,15
3 E 1,26 0,44 0,61 109 0,57
4 D 1,74 0,64 1,17 96 0,94
5 D 1,51 0,56 1,19 89 0,83
Média 1,50 0,58 1,07 103 0,89
DP 0,22 0,09 0,26 11 0,21
Onde: D = direito; E = esquerdo; MIC = membro inferior comprometido; H = estatura; CP =
comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD = cadência; VM = velocidade média; DP
= desvio padrão.
51
Tabela 14. Normalização dos parâmetros lineares referentes aos membros
comprometidos dos pacientes do Grupo IV.
Pacientes
CP
ND
CPD
ND
CD
ND
VM
ND
1
0,50 0,93 0,93 0,26
2
0,38 0,71 0,71 0,28
3
0,35 0,48 0,48 0,16
4
0,37 0,67 0,67 0,23
5
0,37 0,79 0,79 0,22
Média 0,39 0,72 0,72 0,23
DP 0,06 0,16 0,16 0,05
Onde: ND = não-dimensional; CP = comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD =
cadência; VM = velocidade média; DP = desvio padrão.
A pelve inicia o CM, figura 26.a, com uma ADM normal e evolui para um
pequeno aumento da anteversão.
Figura 26. a) Curva angular média de ADM da articulação da pelve – grupo IV; b)
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: TP = toque do pé; DPO = desprendimento do pé; TPO = toque do pé oposto; DP =
desprendimento do pé.
Na figura 27.a, notamos que no CI o quadril direito possui aumento da flexão,
39°, realizando a extensão tardiamente, à 52% do CM, com 10°. Evolui para
aumento da flexão a 87% do CM, com 37°.
E na figura 27.b também observamos um aumento da flexão do quadril
esquerdo, 42°. Este estende menos que o quadril direito, ou seja, a 55% do CM
ainda encontra-se com 16° de flexão. A 90% evolui para 46° de flexão.
-30
1005025 750
% do ciclo da marcha
30
10
-10
graus
-30
1005025 750
% do ciclo da marcha
30
10
-10
graus
DPO DP
TPO
TP
DPO DP
TPO
TP
a)
b)
52
Figura 27. Curva angular média de ADM da articulação do quadril - grupo IV. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro inferior
esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
O joelho direito tem aumento da flexão no CI, 24°, e permanece assim até o
AT. A 75% realiza a 2ª onda de flexão com 37° (figura 28.a). O joelho esquerdo
também permanece fletido durante todo o ciclo, como podemos observar na figura
28.b. Inicia com 33° de flexão, e realiza a 2ª onda de flexão a 71% com 51° de
flexão, ou seja, o joelho não estende e a ADM é diminuída, não alcançando a flexão
ideal.
% do ciclo da marcha
gr aus
25
10
30
50
50
75
-10
0100
% do ciclo da marcha
gr aus
25
10
30
50
50
75
-10
0100
DPO
TPO
DP
TP
DPO
TPO
DP
TP
a)
b)
c)
DPO
DP
TPO
TP
DPO
DP
TPO
TP
53
Figura 28. Curva angular média de ADM da articulação do joelho - grupo IV. a) Média
dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro inferior
esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: FLX = flexão; EXT = extensão; D = direito; E = esquerdo; TP = toque do pé; DPO =
desprendimento do pé; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
Na figura 29.a, o tornozelo direito permanece em flexão plantar durante todo o
ciclo, atingindo o máximo de 30° a 62% do CM.
Na figura 29.b o tornozelo esquerdo apresenta 17° de flexão plantar e
permanece assim durante todo o ciclo, atingindo o máximo de 26° à 58% do CM.
0
40
70
10
-20
graus
50 75 10025
% do ciclo da marcha
0
40
70
10
-20
graus
50 75 10025
% do ciclo da marcha
DPO
DP
TPO
TP
DPO
DP
TPO
TP
DPO
TPO
DP
TPDPO
TPO
DP
TP
a)
b)
c)
54
Figura 29. Curva angular média de ADM da articulação do tornozelo - grupo IV. a)
Média dos pacientes com comprometimento do membro inferior direito; b) Membro
inferior esquerdo; c) WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Onde: DORS = dorsiflexão; PLNT = flexão plantar; D = direito; E = esquerdo;
TP = toque do
pé; DPO = desprendimento do pé; TPO = toque do pé oposto; DP = desprendimento do pé.
Na tabela 15, podemos observar as médias dos grupos de nosso estudo de
acordo com os parâmetros lineares dos membros inferiores comprometidos, na
tabela 16, as médias de idade e velocidade absoluta encontradas em nossos grupos
comparando-as com as médias referentes ao estudo de WINTERS, GAGE e HICKS
(1987). A tabela 17 apresenta um resumo da composição da nossa amostra
segundo o estudo citado anteriormente. Foram encontrados 11 pacientes no grupo I,
pé em eqüino; 5 pacientes no grupo II, eqüino verdadeiro e tendência ao joelho
recurvatum; 6 pacientes compuseram o grupo III, eqüino verdadeiro com joelho
saltador; 5 pacientes encontrados no grupo IV, eqüino com joelho saltador, rotação
pélvica, flexão, adução e rotação interna de quadril.
Na análise de variância ANOVA, com índice de significância a 5%, nenhum
dos parâmetros lineares apresentou diferença estatisticamente significativa, tendo
hipótese de nulidade (Ho) aceita.
025 5075100
% do ciclo da marcha
10
30
-30
-10
graus
025 5075100
% do ciclo da marcha
10
30
-30
-10
graus
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO
DP
TPO
TP
TORNOZELO D DORS/PLNT
DPO
DP
TPO
TP
TORNOZELO E DORS/PLNT
DPO
TPO
DP
TP
TORNOZELO E DORS/PLNT
DPO
TPO
DP
TP
a)
b)
c)
55
Tabela 15. Média dos grupos referentes aos parâmetros lineares absolutos.
Grupos
Idade
(anos)
H
(m)
CP
(m)
CPD
(m)
CD
(passos/min)
VM
(m/s)
I 9,45 1,44 0,57 1,13 110 1,04
II 10,60 1,44 0,58 1,05 113 0,98
III 8,83 1,33 0,51 1,09 105 0,96
IV 11,40 1,50 0,58 1,07 103 0,89
Média geral 10,0 1,43 0,56 1,08 107 0,97
DP 1,15 0,07 0,03 0,03 5 0,06
Onde: H = estatura; CP = comprimento do passo; CPD = comprimento da passada; CD = cadência;
VM = velocidade média; DP = desvio padrão. Não houve diferença significativa entre os grupos (α =
0,05).
Tabela 16. Comparação entre idade e velocidade absolutas de nosso estudo com a
classificação WINTERS, GAGE e HICKS (1987)
Classificação
VM
(m/s)
Idade
(anos)
PE WGH PE WGH
Grupo I 1,04** 0,97** 9,45* 9,5*
Grupo II 0,98 0,90 10,6* 10,2*
Grupo III 0,96 0,79 8,83 14,5
Grupo IV 0,89** 0,84** 11,4* 12,2*
* Médias sem diferença estatística (α = 0,05)
** Médias sem diferença estatística (α = 0,05)
Onde: VM = velocidade média; PE = presente estudo; WGH = Classificação de WINTERS, GAGE e
HICKS (1987).
56
Tabela 17. Classificação da amostra em estudo segundo WINTERS, GAGE e HICKS
(1987).
Classificação Número de pacientes Porcentagem (%)
Grupo I 11 40,74
Grupo II 5 18,51
Grupo III 6 22,22
Grupo IV 5 18,51
Total de pacientes 27 100
57
5. DISCUSSÃO
Os resultados obtidos através de uma análise de marcha computadorizada
são importantes porque oferecem informações complementares para auxiliar a
equipe multiprofissional de saúde na decisão sobre a melhor conduta terapêutica
relacionada ao aparelho locomotor, associado a conhecimentos prévios obtidos
durante a análise clínica.
Além disso, a realização da classificação da marcha de pacientes não apenas
hemiparéticos, mas de todos os indivíduos com alguma alteração motora na
deambulação é indispensável para a decisão do tratamento ideal para cada caso.
Isto realmente deve ser realizado antes de qualquer conduta, pois diminui o risco de
erros, tendo-se, portanto, a certeza de qual musculatura está comprometida, se é
apenas uma contratura ou uma deformidade óssea já instalada, entre outros.
COOK e cols. (2003) realizaram um estudo para avaliar o impacto da análise
de marcha no tratamento de 102 pacientes com PC. Na avaliação clínica, 71
pacientes foram indicados a realizar cirurgia e 31 não precisaram; após a avaliação
de marcha 62 pacientes ainda requeriam cirurgia. Foram propostas 215 cirurgias em
71 pacientes de acordo com a avaliação clínica; o número de cirurgias quase não se
alterou após a avaliação da marcha, 213 para 62 pacientes. Ou seja, houve
diminuição apenas do número de pacientes que deveriam ser operados, isso nos
leva a concluir que uma menor quantidade de pacientes requereu intervenção
cirúrgica, mas nessa menor quantidade de pacientes, quando avaliada novamente,
agora em relação à marcha, foi detectado problemas mais específicos,
determinando assim um maior número de cirurgias, clarificando melhor a desordem
motora de cada paciente.
Em um estudo retrospectivo, descritivo, realizado por MASSAROTO e cols.
(2006), em 13 pacientes diparéticos espásticos, ambos os sexos e média de idade
de 9,70 (dp = 3,94) anos, observou-se que, segundo a classificação de GRAHAM e
cols. (2004), a maioria dos pacientes com marcha eqüino aparente (ADM de
tornozelo com variação normal, mas quadril e joelho excessivamente fletidos)
evoluía para marcha agachada (tornozelos excessivamente em dorsiflexão durante a
fase de apoio juntamente com joelho e quadril excessivamente fletidos) devido à
conduta terapêutica incorreta; ou seja, apenas com a análise observacional da
58
marcha concluia-se que o paciente tinha marcha eqüino verdadeiro (tornozelo em
eqüino, joelho estendendo completamente ou entrando em recurvatum moderado e
o quadril estendendo completamente durante a fase de apoio); já com a análise
computadorizada da marcha, constatava-se marcha eqüino aparente. Daí os
cirurgiões alongavam o tendão de Aquiles desses pacientes, que evoluíam para a
marcha agachada, agravando o caso, pois o problema não era na ADM do
tornozelo, e sim, na excessiva flexão de quadril e joelho.
Nossa classificação, assim como a de WINTERS, GAGE e HICKS (1987), foi
baseada apenas nas alterações do plano sagital, pois este é o que nos permite
observar um maior grau de ADM das articulações (GRAHAM & SELBER, 2003).
Contudo, as classificações baseadas apenas no plano sagital podem ter dados
limitados em sua validade e restringe sua aplicação devido a desvios típicos que
ocorrem em outros planos de movimento que não são capturados ou levados em
consideração; esta questão foi levantada por DOBSON e cols. (2007) num estudo de
revisão sistemática, em que os autores abordam diversos tipos de classificação.
Desta forma, desvios nos planos coronal e transverso são importantes para a
decisão de uma melhor conduta clínica para o tratamento de um paciente (GAGE,
1991; ÕUNPUU, DeLUCA e DAVIS, 2000; DOBSON e cols., 2005). DOBSON e cols.
(2005) relataram a incidência de importantes alterações no plano transverso que
influenciam diretamente no desenvolvimento da marcha do paciente, como pé valgo,
rotação interna de quadril e fêmur e rotação pélvica. Essas alterações são
observadas principalmente no grupo IV da classificação proposta por WINTERS,
GAGE e HICKS (1987).
O presente estudo utilizou a classificação descrita por WINTERS, GAGE e
HICKS (1987) para classificar pacientes com PC do tipo hemiparesia espástica que
já haviam sido analisados no Laboratório de Movimento da UEG (ESEFFEGO). Essa
classificação, além de ser específica para pacientes hemiparéticos, é a mais citada
na literatura (mais de 79 citações) e utilizada em muitos laboratórios de movimento,
de acordo com DOBSON e cols (2006). Esses autores realizaram uma investigação
sobre a classificação de WINTERS, GAGE e HICKS (1987) e para isso convidaram
16 clínicos com experiência em laboratório de movimento, sendo 9 fisioterapeutas e
7 cirurgiões ortopedistas, que avaliaram 34 crianças hemiparéticas espásticas, com
média de idade de 10 (dp = 3) anos, 22 do sexo masculino e 12 do sexo feminino.
Eles concluíram que é aceitável a classificação dos padrões de marcha proposta por
59
WINTERS, GAGE e HICKS (1987) e que juntamente com ela, deve-se ter
conhecimento prévio em análise de marcha instrumentada, além de realizar
filmagem de vídeos dos indivíduos para auxiliar na compreensão de possíveis
alterações. Ainda nesse estudo, os avaliadores afirmaram que o maior déficit
encontrado nessa classificação foi a falta da descrição das alterações em todos os
planos de movimento.
Com relação ao nosso estudo, as curvas angulares da articulações
encontradas em nossos pacientes, ao que se refere os grupos I e II, as pelves
apresentam-se em padrões de normalidade. O grupo IV, apesar de apresentar-se
normal, evolui para um pequeno aumento da anteversão; já o grupo III foi o que
obteve uma excessiva anteversão pélvica. WINTERS, GAGE e HICKS (1987)
encontraram aumento da anteversão pélvica em todos os grupos.
Com relação ao quadril, todos os grupos iniciaram o CM com aumento da
flexão, com destaque ao grupo III que inicia o ciclo com 55° de flexão; e em relação
a extensão, o grupo de maior comprometimento foi o grupo IV, assim como em
WINTERS, GAGE e HICKS (1987).
Os joelhos dos pacientes de todos os grupos começam o ciclo com aumento
de flexão, sendo mais evidente no grupo III, o que também foi observado por
WINTERS, GAGE e HICKS (1987). Esse mesmo grupo realiza a maior extensão,
atingindo a posição de recurvatum. O grupo IV é o mais discrepante, pois mantém
uma ADM comportando-se como uma “linha quase sem curvas”, ou seja, inicia o CM
com aumento da flexão e permanece assim durante todo o ciclo.
No grupo I, encontramos um tornozelo com os padrões mais próximos à
normalidade. Nos demais, permanece em flexão plantar (pé em eqüino) durante todo
o ciclo, sendo que o grupo IV encontra-se com maior comprometimento, o que
contradiz WINTERS, GAGE e HICKS (1987), pois ao observarmos os gráficos no
diagrama, percebemos que o grupo mais comprometido, com relação ao tornozelo,
foi o grupo III.
As médias de idade encontradas nos grupos I, II e IV de nosso trabalho, 9,45;
10,6 e 11,4 anos respectivamente, corresponderam às médias dos grupos I, II e IV
encontrada no estudo realizado por WINTERS, GAGE e HICKS (1987), 9,5; 10,2 e
12,2 anos de idade respectivamente, ou seja, são estatisticamente idênticas com p<
0,05, não havendo diferença estatística. Contudo, no grupo III, média de idade de
8,83 (dp = 2,63) anos, houve diferença estatisticamente significativa (p> 0,05),
60
quando comparada com a média de idade do grupo III do estudo referente, 14,5
anos. Isso se deve ao fato de WINTERS, GAGE e HICKS (1987) ter classificado
indivíduos com idade entre 4,5 e 30,5 anos de idade e em nosso trabalho focamos
indivíduos de 5 a 15 anos de idade. O que podemos observar também é que o
comprometimento dos grupos evolui de forma ascendente, ou seja, do tornozelo ao
quadril, e que a média de idade de nossos pacientes também evoluíram conforme o
comprometimento encontrado, o que podemos sugerir é que quanto maior a idade,
maior o comprometimento da marcha, sabendo-se que esses pacientes não
realizaram nenhum tipo de tratamento, incluindo o fisioterapêutico. Portanto, essa
evolução seria um curso normal, desde que o paciente não fosse submetido a
nenhum tipo de intervenção terapêutica.
No que se refere aos parâmetros lineares, WINTERS, GAGE e HICKS (1987)
calcularam apenas a velocidade absoluta. De acordo com nosso trabalho, a
velocidade absoluta correspondente aos grupos I e IV, 1,04 (dp = 0,18)m/s e 0,89
(dp = 0,21)m/s, respectivamente, foram idênticas aos grupos I e IV do estudo
referente (0,97m/s e 0,84m/s), ou seja, não houve diferença estatisticamente
significativa (p< 0,05). Ao contrário dos grupos II e III, com médias de velocidades
absolutas, 0,98 (dp = 0,19)m/s e 0,96 (dp = 0,09)m/s, que divergiram das
velocidades correspondentes ao grupo do estudo referente, 0,90m/s e 0,80m/s
foram estatisticamente diferentes (p> 0,05).
Não conseguimos classificar 7 (sete) pacientes da amostra, sendo que destes,
3 assemelhavam entre si. A característica marcante entre eles foi os joelhos
permanecerem fletidos durante a fase de apoio e os tornozelos em flexão plantar
durante toda a fase de balanço (apêndice 4). Esses pacientes se enquadrariam no
grupo I, pela ADM de tornozelo, mas isso não acontece porque a ADM das
articulações do quadril e joelho do grupo I estão dentro da normalidade, o que não
acontece com esses pacientes, pois tanto o quadril, quanto o joelho estão
excessivamente fletidos durante a faze de apoio.
Nos parâmetros lineares absolutos foram utilizados apenas os dados
referentes ao membro inferior comprometido (MIC), pois nosso objetivo foi observar
apenas o lado hemiparético. KULAK & SOBANIEC (2004) afirmaram que não ocorre
diferença significativa entre o lado esquerdo e direito, pois a locomoção está afetada
proporcionalmente em ambos.
61
Do ponto de vista clínico, dos parâmetros lineares da marcha, a velocidade é
o principal indicador de incapacidade global, pois está afetada em praticamente
todos os pacientes com marcha anormal. Em geral, quanto mais severo for prejuízo
motor, mais lentamente o paciente deambulará (DURWARD, BAHER e ROWE,
2001).
De acordo com essa afirmativa, percebemos que há uma diminuição
gradativa de acordo com os grupos, ou seja, o grupo I possui velocidade maior que a
do grupo II, que conseqüentemente é maior que a do grupo III e este que a do grupo
IV; isso se deve ao grau de comprometimento dos pacientes, quanto mais
comprometido, menor a velocidade de deambulação.
GORMLEY e cols. (1999) compararam a velocidade de marcha de 11
crianças saudáveis em um laboratório e em um corredor. Os autores encontraram
aumento da velocidade de quase todas as crianças, quando avaliadas em um
laboratório. De acordo com esse estudo, percebemos que nossos pacientes já
sofreram alteração em sua marcha. Isso pode ter influência do próprio ambiente
laboratorial, por ser um ambiente diferente; das câmeras que estarão filmando-a
quando estiver deambulando e da presença dos analisadores (examinadores), como
por exemplo, fisioterapeutas, médicos ortopedistas, etc.
ÖBERG, KARSZNIA e ÖBERG, (1993) examinaram 233 indivíduos
saudáveis, 116 homens e 117 mulheres, de 10 a 79 anos de idade, os quais foram
separados em grupos de acordo com a faixa etária; o grupo que variava de 10 a 14
anos contava com 12 indivíduos. E na análise de marcha, os parâmetros espaço-
temporais foram coletados durante as velocidades lenta, normal e rápida. Com
relação à velocidade normal, os autores obtiveram, no grupo de 10 a 14 anos de
idade, a média de 1,20m/s; esse mesmo valor foi observado por ÕUNPUU, DeLUCA
e DAVIS (1991) em crianças de 5 a 14 anos. Nessa faixa etária nossos pacientes do
grupo I e II não tiveram diferenças estatisticamente significativas (p< 0,05), ou seja,
são estatisticamente idênticos. Contudo, no grupo III, referente à mesma faixa etária,
foi encontrada diferença, com p> 0,05, o que pode ser devido ao maior
comprometimento desses pacientes.
KATOH, MOCHIZUKI e MORIYAMA, (1997) apresentaram valores de 1,10m/s
para indivíduos com idade de 7 – 8 anos; nessa faixa etária, os grupos I, II e III são
estatisticamente idênticos (p< 0,05), ou seja, não foram encontradas diferenças
significativas entre eles.
62
ALENCAR & MARINHO (1999) realizaram um estudo com 9 pacientes
hemiparéticos, média de idade de 51,77 anos, e a análise cinemática da marcha foi
feita através do método “steep-page”, utilizado para quantificar o comprimento do
passo, passada, velocidade, cadência, entre outros. O paciente com idade de 16
anos, obteve-se velocidade de 0,82m/s; 71,33 passos/min de cadência; 0,59m de
comprimento do passo; 1,20m de comprimento de passada; De acordo com nossos
achados, o valor relacionado ao comprimento do passo está praticamente igual; o
comprimento da passada em nosso estudo foi menor e com relação à cadência e
velocidade obtivemos valores bem maiores com relação ao estudo citado acima.
RAIMUNDO (2005) realizou um estudo com crianças saudáveis e
hemiparéticas, com idade entre 4 e 6 anos, comparando velocidades de marcha no
corredor e no laboratório; normalizando os dados posteriormente. De acordo com
nosso trabalho, os grupos II e IV não possuíam nenhum paciente nessa faixa etária
para que pudéssemos comparar, no grupo III, nosso estudo contou com apenas um
paciente com 6 anos de idade. Já no grupo I, encontramos dois pacientes, ambos
com 5 anos de idade, de acordo com esse grupo, a velocidade de crianças
hemiparéticas, tanto absoluta quanto normalizada de forma não-dimensional no
laboratório, foram idênticas à velocidade encontrada por esse autor (p< 0,05).
Com relação à cadência, os valores encontrados em nosso estudo
decresceram do grupo II ao grupo IV, sendo que a média geral da cadência foi de
107passos/min. SUTHERLAND e cols, (1988) encontraram o valor de 144 (dp = 17)
passos/min em crianças com idade de 7 anos. ÕUNPUU, DeLUCA e DAVIS, (1991)
apresentaram 128 (dp = 12) passos/min para crianças na faixa etária de 5 a 14 anos
de idade, sendo que no grupo I, a média de cadência encontrada foi de 110 (dp =
14) passos/min e no grupo IV foi de 103 (dp = 11) passos/min, encontrando,
portanto, diferenças estatisticamente significativas (p> 0,05), sendo nossos valores
menores. STOLZE e cols, (1997) apresentaram valores de 120 (dp = 11) passos/min
para crianças de 6 a 7 anos.
ÖBERG, KARSZNIA e ÖBERG (1993) obtiveram o valor de 158 passos/min.
De acordo com nossos pacientes, os grupos I, II e III são estatisticamente idênticos
(p< 0,05) aos dados relatados anteriormente.
O valor absoluto do comprimento da passada encontrado por DAVID (2000)
para crianças de 6 -7 anos de idade foi 1,09 (dp = 0,13)m; em nosso estudo, na faixa
63
etária equivalente, o grupo III apresentou valores estatisticamente significativos (p<
0,05).
Os valores encontrados para o comprimento da passada absoluta foram
estatisticamente significativos (p< 0,05) de acordo com a literatura abordada, no que
se refere aos grupos II e III.
Com relação ao comprimento do passo, no grupo I, na faixa etária de 6 – 7
anos, apresentou diferença estatisticamente significativa de acordo com os dados
apresentados por DAVID (2000), com p> 0,05, assim como no grupo III. Para essa
mesma faixa etária, nos grupos II e IV, não foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre eles, com p> 0,05.
De acordo com ÖBERG, KARSZNIA e ÖBERG (1993), todos os grupos foram
estatisticamente iguais (p< 0,05) em indivíduos de 10 a 14 anos de idade, ao que se
refere ao comprimento do passo.
Realizamos a normalização desses parâmetros lineares e nas tabelas
relacionadas à normalização não-dimensional, observamos que os valores dos
parâmetros lineares ficam mais homogêneos, sem muitas discrepâncias entre eles.
STANSFIELD e cols, (2001) realizaram um estudo com 26 crianças
saudáveis, de 7 a 12 anos de idade e normalizaram os parâmetros lineares da
marcha dessas crianças. Os valores encontrados pelos autores após a normalização
não-dimensional foram: velocidade = 0,35; cadência = 0,81 e comprimento do passo
= 0,43. De acordo com nossos parâmetros normalizados, essas mesmas variáveis,
em todos os grupos, foram estatisticamente diferentes (p> 0,05), ou seja, nossos
pacientes obtiveram valores menores quando comparados às crianças saudáveis
deste estudo, mostrando que os pacientes hemiparéticos têm um maior
comprometimento no desenvolvimento da marcha.
SUTHERLAND (1997) também utilizou a normalização para evitar diferenças
entre a marcha de crianças de 1 a 7 anos de idade, no que se refere à cadência e
comprimento da passada. Com relação à idade de 7 anos, o autor observou 1,57 de
comprimento de passada e 0,6 de cadência. De acordo com nossos grupos, todos
os pacientes correspondentes à essa faixa etária obtiveram valores menores de
comprimento de passada quando normalizados de forma não-dimensional. Já com
relação aos valores de cadência normalizada, os grupos I e III são idênticos (p<
0,05) aos achados de SUTHERLAND (1997), e os grupos II e IV possuem diferenças
estatisticamente significativas (p> 0,05).
64
A análise de variância ANOVA revelou que não existem diferenças
significativas quando se comparou as médias obtidas nos parâmetros lineares entre
os grupos. Este dado é de grande interesse, pois WINTERS, GAGE e HICKS (1987),
em seu estudo, diferenciaram 4 grupos homogêneos de marcha utilizando dados
cinemáticos apenas no plano sagital. Em vista disso, previa-se a ocorrência de
diferenças nas médias espaço-temporais de cada grupo. Como isso não ocorreu em
nosso estudo, sugerimos que as diferenças encontradas por WINTERS, GAGE e
HICKS (1987) não são suficientes para afetar os parâmetros lineares. Por outro lado,
acreditamos que as diferenças nesses parâmetros seriam conseqüências das
alterações articulares encontradas em cada grupo, sendo desta forma contraditória a
falta de diferenças nos dados lineares. Estes questionamentos levantam a
necessidade de um maior número de estudos comparando as diversas
características apresentadas pelos pacientes.
65
6. CONCLUSÃO
A classificação realizada por WINTERS, GAGE e HICKS (1987) é um
instrumento de avaliação aceitável e que demonstrou aplicabilidade em nosso
estudo. Contudo, faz-se necessário que seja atualizada, revisada e adaptada para a
rotina dos laboratórios de marcha.
Dos 7 pacientes que foram excluídos por não se enquadrarem na
classificação, 3 possuíam características comuns entre eles, sendo interessante
realizar mais análises desses pacientes para confirmar suas marchas. E se a partir
dessa nova análise eles não se enquadrarem realmente, propor uma nova
classificação, mas com estudo com mais pacientes.
As amplitudes de movimento (ADM) das articulações apresentadas nas curvas
angulares de nossa amostra apresentaram-se diminuídas, assemelhando-se às
curvas apresentadas por WINTERS, GAGE e HICKS (1987), no que diz respeito à
execução do movimento normal.
A análise de marcha mostrou ser uma importante aliada na escolha da decisão
terapêutica, seja ela cirúrgica ou não, pois apresenta dados que não foram
observados apenas na avaliação clínica. E juntamente com o conhecimento da
classificação proposta por WINTERS, GAGE e HICKS (1987), obtém-se
características específicas do comprometimento de cada grupo de pacientes,
direcionando assim, a um melhor tratamento.
A velocidade de marcha encontrada em nossos pacientes foram relativamente
menores quando comparadas às crianças saudáveis e decresceram de acordo com
o grau de comprometimento dos grupos, ou seja, G I>G II>G III>G IV. Enquanto que
o comprimento do passo e da passada apresentaram-se dentro da normalidade.
66
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ANEXO 1
Avaliação físico-funcional baseada no roteiro de avaliação do Laboratório de
Análise do Movimento da North West University, Springfield, Illinous, USA.
Anexo A Avaliação físico-funcional baseada no roteiro de avaliação do Laboratório de Análise do
Movimento da North West University, Springfield, Illinous, USA.
AMPLITUDE DE MOVIMENTO E TESTES MUSCULARES MANUAIS
LABORATÓRIO DE MOVIMENTO
Nome: Data:
ESQUERDO DIREITO
V
ALORES NORMAIS
AMPLITUDE DE MOVIMENTO (em graus)
0-45
QUADRIL
FLEXÃO 0-10
EXTENSÃO 0-45
ABDUÇÃO EM EXTENSÃO
ABDUÇÃO EM FLEXÃO 0-15
ADUÇÃO 0-45
ROTAÇÃO INTERNA EM EXTENSÃO 0-30
ROTAÇÃO EXTERNA EM EXTENSÃO NEGATIVO
TRENDELEMBURG NEGATIVO
DUNCAN-ELY NEGATIVO
OBER 0-135
JOELHO
FLEXÃO 0
EXTENSÃO
ÂNGULO POPLÍTEO (quadril a 90º) 0-10
TORNOZELO
DORSIFLEXÃO: JOELHO A Oº
DORSIFLEXÃO: JOELHO A 90º 0-50
FLEXÃO PLANTAR 0-30
INVERSÃO 0-15
EVERSÃO 15-25
ÂNGULO COXA-PÉ
FORÇA MUSCULAR (0 A 5/5) ESQUERDO DIREITO
QUADRIL
FLEXÃO
EXTENSÃO
ABDUÇÃO
ADUÇÃO
SENTADO: ROTAÇÃO INTERNA
SENTADO: ROTAÇÃO EXTERNA
JOELHO
FLEXÃO
EXTENSÃO
TORNOZELO
TIBIAL ANTERIOR
EXTENSOR LONGO DO HÁLUX
EXTENSOR LONGO DOS DEDOS
GASTROCNÊMIO: MANUAL
GASTROCNÊMIO:EM PÉ
TIBIAL POSTERIOR
FIBULARES
FLEXOR DOS DEDOS
ESQUERDO DIREITO
TESTES NEUROLÓGICOS
REFLEXOS TENDÍNEOS
CLÔNUS
PROPRIOCEPÇÃO
BABINSKI
SENSIBILIDADE
OBSERVAÇÕES:
ANEXO 2
Avaliação Antropométrica segundo protocolo Peak Motus
®
LABORATÓRIO DE MOVIMENTO DA ESEFFEGO – UEG
EXAME ANTROPOMÉTRICO (ANTROPOMETRIC MEASUREMENT)
Data:____/____/______ Código LM:
_________________________
Nome_________________________________________________________________
Endereço:_____________________________________________________________
Sexo (Gender) F ( ) M ( ) Telefone:______________________________
Data de Nascimento: ________________________ Idade (Age):_________________
ALTURA (HEIGHT)
PESO (TOTAL BODY MASS)
LARGURA EIAS (ASIS BREADTH)
Direito (R) Esquerdo (L)
COMPRIMENTO DA COXA
(THIGH LENGTH)
CIRCUNFERÊNCIA DA COXA
(MIDTHIGH CIRCUNFERENCE)
COMPRIMENTO DA PERNA
(CALF LENGHT)
CIRCUNFERÊNCIA DA PERNA
(CALF CIRCUNFERENCE)
DIÂMETRO DO JOELHO
(KNEE DIAMETER)
COMPRIMENTO DO PÉ
(FOOT LENGHT)
ALTURA DO MALEOLO
(MALLEOLUS HEIGHT)
LARGURA DOS MALEOLOS
(MALLEOLUS WIDTH)
LARGURA DO PÉ
(FOOT BREADTH)
Obs:__________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
APÊNDICE 1
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UnB
APÊNDICE 2
TERMO DE CONSENTIMENTO DA PESSOA COMO SUJEITO
Eu, _________________________________________, RG nº_____________,
CPF nº ______________________, nº de prontuário _______________, nº de
matrícula______________________, abaixo assinado, concordo em participar do
estudo como sujeito. Fui devidamente informado e esclarecido pelo pesquisador
___________________________________ sobre a pesquisa, os procedimentos nela
envolvidos, assim como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha
participação. Foi-me garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer
momento, sem que isto me leve a qualquer penalidade ou interrupção de meu
acompanhamento/assistência/tratamento.
Local e data: _________________________________________________________
Nome do pai e/ou responsável: ___________________________________________
Assinatura do pai e/ou responsável: _______________________________________
Presenciamos a solicitação de consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e
aceite do sujeito em participar.
Testemunhas (não ligada à equipe de pesquisadores):
Nome:_____________________________Assinatura:_________________________
Nome:_____________________________Assinatura:_________________________
Observações complementares: ____________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
APÊNDICE 3
TERMO DE COMPROMISSO PARA USO DE DADOS EM ARQUIVO
Título do projeto: ________________________________________________________
Pesquisadores: _________________________________________________________
O(s) pesquisador(es) do projeto acima identificado(s) assume(m) o compromisso
de:
1. preservar a privacidade dos pacientes cujos dados serão coletados;
2. que as informações serão utilizadas única e exclusivamente para execução
do projeto em questão;
3. que as informações somente serão divulgadas de forma anônima, não sendo
usadas iniciais ou quaisquer outras indicações que possam identificar o
sujeito da pesquisa.
Brasília, _____ de __________ de _____.
________________________________________
Nome e Assinatura do Pesquisador Responsável
________________________________________
Nome(s) e Assinatura(s) de todos pesquisador(es) participante(s)
APÊNDICE 4
Curvas angulares das articulações dos 3 pacientes exclusos com características
semelhantes
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