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LUCIANE SOUZA SOARES
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem - LAEL
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
2007
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LUCIANE SOUZA SOARES
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em
Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem, sob a orientação da
Profª. Drª. Maria Cecília Camargo
Magalhães.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
2007
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Banca Examinadora
___________________________________
___________________________________
___________________________________
Dedico esta dissertação aos meus pais,
Ieda Souza Soares e Pedro Soares e
ao meu irmão Anderson Souza Soares
pelo amor, carinho e apoio.
Amo vocês, obrigada!
À Professora Dra. Maria Cecília Camargo Magalhães,
pela orientação, incentivo e por me possibilitar a oportunidade de
refletir sobre as questões históricas e culturais que se ligam ao ofício
de ser professor.
AGRADECIMENTOS
Nestes últimos 2 anos, e em todo este tempo de desenvolvimento e pesquisas, muitos fatos
aconteceram e muitas pessoas passaram por minha vida e impactaram, de alguma forma, meu dia-
a-dia e, conseqüentemente, este trabalho. Tanta coisa a dizer...Por onde começar???
Agradeço a Ivone Bezerra, a pessoa que me "achou" no meio de tantos. Aos professores do LAEL,
a Maria Lucia e Márcia, que sanaram todas as minhas dúvidas sobre os cursos, sempre com muita
paciência ...
A EMEI Vereador Alex Freua Netto (minha escola!!!) e aos meus queridos alunos. Sem vocês nada
teria acontecido!!!
A Neide Poppov, Diretora da EMEI, que ofereceu o espaço necessário para que eu pudesse
desenvolver as atividades e suportar esta dissertão, dando-me todo o suporte.
A Julia, professora participante, que aceitou a empreitada de desenvolvimento desta pesquisa, se
expôs como profissional, prontificando-se na ajuda de constrão deste sonho. Mesmo após minha
saída da escola, deu continuidade, junto aos outros professores da unidade escolar, ao plano que
desenvolvemos, mostrando que a aplicação deste conteúdo é possível.
A Coordenadoria da Educação da Freguesia/Brasilândia, especialmente a Maria Antonieta
Carneiro - Tiêta, pelo convite, por acreditar em meu potencial, em meu trabalho, por me incentivar
a percorrer este caminho.
As minhas amigas da Coordenadoria : Fernanda, Maria Isabel, Sonia, Denise, Rose e Bruna, pelo
apoio e incentivo nas horas de angústia e aflição... Ao Paulo, por me incentivar profissionalmente,
com seus ouvidos sempre prontos a escutar minhas histórias...
Aos meus amigos do LAEL: Cristina, Adriana, Fernando (Bibo), João, Ermelinda, Daniela (BH),
Belinha (PR), Adriana (Jundiaí), por serem meus interlocutores, pela troca de informações, pelas
conversas de bar e, principalmente, pela alegria de estarmos juntos!!! Muito Obrigada!!!
A Otília, por ter participado da Banca de qualificação, ajudando-me a finalizar este trabalho.
A Vanessa e Paula Eugenie, por acreditarem em meu trabalho, pela fidelidade e amizade
incondicionais!!!
A Carol, por me ajudar na tradução do resumo em inglês.
As minhas grandes amigas Daniela e Ana Lia ( Kekinha ), que me ajudaram a ser uma nova mulher
(muito mais moderna!!!!) em um momento de transição tão complicado em minha vida. Obrigada
pelas viagens, pelas visitas a Vila Madalena (Viva os encontros no Gesio em tantos domingos à
tarde!!!), pelas compras, pela troca de experiências, por me mostrarem um lado da vida
desconhecido e suuuuuuuper divertido. Muito Obrigada pela companhia!!! Amo vocês!!! "A vida
pode ser do jeito que a gente quiser "...
Ao Professor Dr. Frederic Saujat, muito obrigada pelo interesse e valorização do trabalho do
professor. Graças à sua visita na EMEI Vereador Alex Freua Netto, o trabalho se tornou visível e
tudo aconteceu...
Gostaria de agradecer especialmente à Professora Dra. Anna Rachel Machado e ao Professor Dr.
Rosalvo Gonçalves Pinto. Vocês são essenciais em minha vida! Me ensinaram o verdadeiro
sentido da importância do outro no processo de ensino/aprendizagem. Vocês me fizeram entender
que o sujeito se constitui a partir do outro.
A Cássia e Marina, fofíssimas!!! Pelos momentos de brincadeiras e pelo amor...
Agradeço aos meus pais Ieda e Pedro, meu irmão Anderson e ao meu primo Leandro, pela
estrutura familiar, pelos valores sólidos que me fizeram ser quem eu sou...
Agradeço a tantas outras pessoas que não estão citadas neste texto, mas que também me
ajudaram na realização deste sonho...
Se tivesse que resumir e agradecer em poucas palavras, certamente diria: Obrigado Deus!!!! Pelas
oportunidades e por viver dias incríveis nestes meus 28 anos!!!
Que venha o doutorado !!!
RESUMO
Esta pesquisa, fruto de um trabalho voluntário que investiga o
desenvolvimento de um processo colaborativo entre duas professoras de uma
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), visa à construção colaborativa e
reflexiva de sentidos sobre os significados relativos ao trabalho profissional,
voltado para a preparação de tarefas com os alunos, em contextos que propiciem
a compreensão das ões, inseão de transformações e a construção
colaborativa do conhecimento.
O estudo foi realizado na perspectiva da teoria da atividade sócio-
histórico-culural (Vygotsky, 1934/1996, 1934/2002, 1930/2002; Leontiev,
1977/2003, 1959/1998; Engeström, 2003, 2002, 1999, 1987). O discurso foi
abordado através do dinamismo dessa perspectiva, inserido em um sistema de
atividade coletiva, no qual os sujeitos atribuem sentidos aos significados relativos
ao ofício de ser professor de uma EMEI e assumem diferentes papéis nas práticas
mediadas pela linguagem. Esta pesquisa considera como pressupostos teóricos
os estudos de Brookfield (1987), Freire (1970), Giroux (1997), Morales (1998) que
discutem formas de ensinar e de desenvolver o pensamento crítico, tendo as
perguntas como instrumento de mediação semiótica na formação do profissional
crítico. Este estudo é de cunho colaborativa (Magalhães, 1998/2002; Liberali,
1999/2002), pois se trata de um processo investigativo que objetiva a observação,
intervenção e análise de transformações (ou não) nas práticas pedagógicas das
participantes. A discussão dos dados, pauta-se a teoria da atividade, com foco na
descrição dos sistemas e na análise do discurso, com base em Kerbrat-Orecchioni
(1996), que contempla os princípios que regem o sistema de turnos em uma
conversação, as relações horizontais e verticais e a noção de polidez.
A discussão dos resultados revelou que o
trabalho reflexivo realizado
nas oito sessões programadas, aqui apresentadas, desencadeou a transformação
da concepção de ensino-aprendizagem da professora, que tinha, a princípio,
receio e dificuldades em trabalhar com as reais potencialidades das crianças,
limitando suas atividades à mera cópia de letras, famílias silábicas e palavras.
Após o término deste estudo, percebeu-se uma mudança na atitude da professora
no sentido de tornar-se capaz de trabalhar com textos, valorizar a bagagem
cultural do grupo/classe e, principalmente, identificar seu papel como um elemento
mediador e possibilitador das interações entre os alunos e destes com os objetivos
de conhecimento. Os resultados apontam, também, para a transformação
relacionada à percepção de que o ofício da professora é mais amplo do que a
mera repetição. Sua intenção é a de ampliar o repertório de cada criança,
permitindo a troca de informações e experiências entre elas e, ainda, propiciando
o contato com a arte produzida pelos homens ao longo de sua história.
ABSTRACT
This research, which comes from a voluntary project that investigates the
development of a cooperative process between two teachers at a kindergarten
public school (Escola Municipal de Educação Infantil EMEI), wishes the
cooperative and reflexive construction of the senses about the meanings related to
professional work, focusing on the preparation of chores with students, in contexts
that make them comprehend their actions, inserting transformations and the
cooperative building of knowledge.
The research was based on the perspective of the socio-historical and
cultural activity theory (Vygotsky, 1934/1936, 1934/2002, 19830/2002; Leontiev,
1977/2003, 1959/1998; Enfeström, 2003, 2002, 1999, 1987). The speech was
prepared through the dynamism of this perspective, inserted on a collective activity
system, in which the subjects attribute senses to the meanings related to the fact of
been a teacher at a public school (EMEI) and taking different places in uses of the
language. This study is based on theorist presupposes of Brookfield (1987), Freire
(1970), Giroux (1997), Morales (1998) that discuss ways of teaching and
developing the critical thinking, having the questions as an instrument of semiotic
meditation in the development of a critic professional. This study is cooperative-
based (Magalhães, 1998/2002; Liberali, 1999/2002), due to the fact that this is an
investigative process that aims the observation, intervention, and analysis of
transformations (or not) in the pedagogical practice of the participants. The
discussion of the data is based on the theory of the activity, focusing on the
description of the systems and the analysis of the speech, with basis on Kerbrat-
Orecchioni (1996), which admires the principles that react to the system of
conversation turns, the horizontal and vertical relations in the notion of politeness.
The discussion of the results revealed that the reflexive job
accomplished in eight programmed sessions, presented here, created the
transformation of the teaching-learning conception of the teacher, that was, at first,
afraid of and had difficulties in working with real potential of the kids, limiting their
activities to the mere copy of letters, syllables and words. After the end of this
study, it was realized a change in the teachers behavior, in the sense of been able
to work with texts, valuing the cultural knowledge of the group/ class and, specially,
identifying its job as a mediate element and an interactive maker among the
students and the latter with aims of knowledge.
The results point, also, to the transformation related to the perception
that the importance of the teacher is to create another transformation that deals
with respect to the perception that the teacher’s aim is wider than a simple
repetition. The teacher’s intention is to broaden the repertory of each child,
allowing the trade of information and experiences among them and, furthermore,
allowing the contact with art made by men throughout history.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 01
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 07
1.1. – Teoria da Atividade 08
1.1.1. – História 11
1.1.2. – Sistema de Atividade e o Ciclo Expansivo de Aprendizagem
– Implicações Metodológicas 18
1.1.3. – Constituição do Sujeito 22
1.1.4. – Instrumentos de Mediação Semtica e a Linguagem 24
1.1.5. – Sentidos e Significados 27
1.1.6. – Definindo Cultura e Contexto 30
1.1.7. – Zona Proximal de Desenvolvimento e as Oportunidades de
Aprendizagem 31
1.1.8. – Contradições e Conflitos no Sistema de Atividade 39
1.2. – Reflexão 45
1.2.1. – O Processo Reflexivo na Formação de Professores 46
1.2.2. – Sessão Reflexiva como Espaço para Formação do Professor
Crítico 48
1.2.3. – Discussão e Formação Crítica 51
1.3. – Pressupostos Teóricos para Análise dos Dados 56
1.3.1. – As Práticas Comunicativas 57
1.3.2. – O Sistema de Turnos 58
1.3.3. – As Relações Interpessoais 60
1.3.4. – Perguntas como Instrumento de Mediação Semiótica 63
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA 65
2.1.– Pesquisa Ctica de Colaboração 65
2.2. – Contexto e Local de Pesquisa 66
2.3. – Participantes 67
2.3.1. – Professora-pesquisadora 68
2.3.2. – Professora Participante 69
2.4. – Procedimento de Coleta de Dados 69
2.4.1. – Sessões Reflexivas 69
2.5. – Procedimento de Análise de Dados 73
2.5.1. – Análise Descritiva dos Sistemas de Atividade 74
2.5.2. – Análise do Discurso 77
2.6. – Aspectos Éticos na Pesquisa 78
2.7. – Questões de Confiabilidade 79
CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 80
3.1. – Sentidos Revelados pelas Professoras sobre seu Trabalho 80
3.1.1. – Sessões Reflexivas Iniciais 82
3.1.2. – Sessões Reflexivas Intermediárias 86
3.1.3. – Sessões Reflexivas Finais 89
3.2. – Regras e Divisão de Trabalho 93
3.2.1. – Sessões Reflexivas Iniciais 94
3.2.2. – Sessões Reflexivas Intermediárias 99
3.2.3. – Sessões Reflexivas Finais 103
3.3. – As Sessões Reflexivas como espaço para Formação de professores
Críticos 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS 118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125
ANEXOS 133
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo do Primeiro Momento da Teoria da Atividade 12
Figura 2 – A estrutura da Atividade de Leontiev 14
Figura 3 – Modelo do Segundo Momento da Teoria da Atividade 15
Figura 4 – Modelo do Terceiro Momento da Teoria da Atividade 17
Figura 5 – Ciclo Expansivo de Aprendizagem 20
Figura 6 – Sessões Reflexivas 76
Figura 7 – Sistema de Atividade – Sessão Reflexiva 23/11/2005 109
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Princípios da Teoria da Atividade 10
Quadro 2 –
Zona Proximal de Desenvolvimento nas Diferentes Pesquisas
38
Quadro 3 – Conflitos e Contradições nos Sistemas de Atividade 44
Quadro 4 – Os Tipos de Reflexão 48
Quadro 5 – Os Tipos de Perguntas 55
Quadro 6 – Quadro de Análise 74
Quadro 7 – Quadro de Análise do Discurso 78
Quadro 8 – Sentidos iniciais, intermediários e finais da Professora 93
Quadro 9 – Ação 111
Quadro 10 – Ação 113
LUCIANE SOUZA SOARES
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem - LAEL
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
2007
LUCIANE SOUZA SOARES
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para
obtenção do título de Mestre em
Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem, sob a orientação da
Profª. Drª. Maria Cecília Camargo
Magalhães.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
2007
Banca Examinadora
___________________________________
___________________________________
___________________________________
Dedico esta dissertação aos meus pais,
Ieda Souza Soares e Pedro Soares e
ao meu irmão Anderson Souza Soares
pelo amor, carinho e apoio.
Amo vocês, obrigada!
À Professora Dra. Maria Cecília Camargo Magalhães,
pela orientação, incentivo e por me possibilitar a oportunidade de
refletir sobre as questões históricas e culturais que se ligam ao ofício
de ser professor.
AGRADECIMENTOS
Nestes últimos 2 anos, e em todo este tempo de desenvolvimento e pesquisas, muitos fatos
aconteceram e muitas pessoas passaram por minha vida e impactaram, de alguma forma, meu dia-
a-dia e, conseqüentemente, este trabalho. Tanta coisa a dizer...Por onde começar???
Agradeço a Ivone Bezerra, a pessoa que me "achou" no meio de tantos. Aos professores do LAEL,
a Maria Lucia e Márcia, que sanaram todas as minhas dúvidas sobre os cursos, sempre com muita
paciência ...
A EMEI Vereador Alex Freua Netto (minha escola!!!) e aos meus queridos alunos. Sem vocês nada
teria acontecido!!!
A Neide Poppov, Diretora da EMEI, que ofereceu o espaço necessário para que eu pudesse
desenvolver as atividades e suportar esta dissertão, dando-me todo o suporte.
A Julia, professora participante, que aceitou a empreitada de desenvolvimento desta pesquisa, se
expôs como profissional, prontificando-se na ajuda de constrão deste sonho. Mesmo após minha
saída da escola, deu continuidade, junto aos outros professores da unidade escolar, ao plano que
desenvolvemos, mostrando que a aplicação deste conteúdo é possível.
A Coordenadoria da Educação da Freguesia/Brasilândia, especialmente a Maria Antonieta
Carneiro - Tiêta, pelo convite, por acreditar em meu potencial, em meu trabalho, por me incentivar
a percorrer este caminho.
As minhas amigas da Coordenadoria : Fernanda, Maria Isabel, Sonia, Denise, Rose e Bruna, pelo
apoio e incentivo nas horas de angústia e aflição... Ao Paulo, por me incentivar profissionalmente,
com seus ouvidos sempre prontos a escutar minhas histórias...
Aos meus amigos do LAEL: Cristina, Adriana, Fernando (Bibo), João, Ermelinda, Daniela (BH),
Belinha (PR), Adriana (Jundiaí), por serem meus interlocutores, pela troca de informações, pelas
conversas de bar e, principalmente, pela alegria de estarmos juntos!!! Muito Obrigada!!!
A Otília, por ter participado da Banca de qualificação, ajudando-me a finalizar este trabalho.
A Vanessa e Paula Eugenie, por acreditarem em meu trabalho, pela fidelidade e amizade
incondicionais!!!
A Carol, por me ajudar na tradução do resumo em inglês.
As minhas grandes amigas Daniela e Ana Lia ( Kekinha ), que me ajudaram a ser uma nova mulher
(muito mais moderna!!!!) em um momento de transição tão complicado em minha vida. Obrigada
pelas viagens, pelas visitas a Vila Madalena (Viva os encontros no Gesio em tantos domingos à
tarde!!!), pelas compras, pela troca de experiências, por me mostrarem um lado da vida
desconhecido e suuuuuuuper divertido. Muito Obrigada pela companhia!!! Amo vocês!!! "A vida
pode ser do jeito que a gente quiser "...
Ao Professor Dr. Frederic Saujat, muito obrigada pelo interesse e valorização do trabalho do
professor. Graças à sua visita na EMEI Vereador Alex Freua Netto, o trabalho se tornou visível e
tudo aconteceu...
Gostaria de agradecer especialmente à Professora Dra. Anna Rachel Machado e ao Professor Dr.
Rosalvo Gonçalves Pinto. Vocês são essenciais em minha vida! Me ensinaram o verdadeiro
sentido da importância do outro no processo de ensino/aprendizagem. Vocês me fizeram entender
que o sujeito se constitui a partir do outro.
A Cássia e Marina, fofíssimas!!! Pelos momentos de brincadeiras e pelo amor...
Agradeço aos meus pais Ieda e Pedro, meu irmão Anderson e ao meu primo Leandro, pela
estrutura familiar, pelos valores sólidos que me fizeram ser quem eu sou...
Agradeço a tantas outras pessoas que não estão citadas neste texto, mas que também me
ajudaram na realização deste sonho...
Se tivesse que resumir e agradecer em poucas palavras, certamente diria: Obrigado Deus!!!! Pelas
oportunidades e por viver dias incríveis nestes meus 28 anos!!!
Que venha o doutorado !!!
RESUMO
Esta pesquisa, fruto de um trabalho voluntário que investiga o
desenvolvimento de um processo colaborativo entre duas professoras de uma
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), visa à construção colaborativa e
reflexiva de sentidos sobre os significados relativos ao trabalho profissional,
voltado para a preparação de tarefas com os alunos, em contextos que propiciem
a compreensão das ões, inseão de transformações e a construção
colaborativa do conhecimento.
O estudo foi realizado na perspectiva da teoria da atividade sócio-
histórico-culural (Vygotsky, 1934/1996, 1934/2002, 1930/2002; Leontiev,
1977/2003, 1959/1998; Engeström, 2003, 2002, 1999, 1987). O discurso foi
abordado através do dinamismo dessa perspectiva, inserido em um sistema de
atividade coletiva, no qual os sujeitos atribuem sentidos aos significados relativos
ao ofício de ser professor de uma EMEI e assumem diferentes papéis nas práticas
mediadas pela linguagem. Esta pesquisa considera como pressupostos teóricos
os estudos de Brookfield (1987), Freire (1970), Giroux (1997), Morales (1998) que
discutem formas de ensinar e de desenvolver o pensamento crítico, tendo as
perguntas como instrumento de mediação semiótica na formação do profissional
crítico. Este estudo é de cunho colaborativa (Magalhães, 1998/2002; Liberali,
1999/2002), pois se trata de um processo investigativo que objetiva a observação,
intervenção e análise de transformações (ou não) nas práticas pedagógicas das
participantes. A discussão dos dados, pauta-se a teoria da atividade, com foco na
descrição dos sistemas e na análise do discurso, com base em Kerbrat-Orecchioni
(1996), que contempla os princípios que regem o sistema de turnos em uma
conversação, as relações horizontais e verticais e a noção de polidez.
A discussão dos resultados revelou que o
trabalho reflexivo realizado
nas oito sessões programadas, aqui apresentadas, desencadeou a transformação
da concepção de ensino-aprendizagem da professora, que tinha, a princípio,
receio e dificuldades em trabalhar com as reais potencialidades das crianças,
limitando suas atividades à mera cópia de letras, famílias silábicas e palavras.
Após o término deste estudo, percebeu-se uma mudança na atitude da professora
no sentido de tornar-se capaz de trabalhar com textos, valorizar a bagagem
cultural do grupo/classe e, principalmente, identificar seu papel como um elemento
mediador e possibilitador das interações entre os alunos e destes com os objetivos
de conhecimento. Os resultados apontam, também, para a transformação
relacionada à percepção de que o ofício da professora é mais amplo do que a
mera repetição. Sua intenção é a de ampliar o repertório de cada criança,
permitindo a troca de informações e experiências entre elas e, ainda, propiciando
o contato com a arte produzida pelos homens ao longo de sua história.
ABSTRACT
This research, which comes from a voluntary project that investigates the
development of a cooperative process between two teachers at a kindergarten
public school (Escola Municipal de Educação Infantil EMEI), wishes the
cooperative and reflexive construction of the senses about the meanings related to
professional work, focusing on the preparation of chores with students, in contexts
that make them comprehend their actions, inserting transformations and the
cooperative building of knowledge.
The research was based on the perspective of the socio-historical and
cultural activity theory (Vygotsky, 1934/1936, 1934/2002, 19830/2002; Leontiev,
1977/2003, 1959/1998; Enfeström, 2003, 2002, 1999, 1987). The speech was
prepared through the dynamism of this perspective, inserted on a collective activity
system, in which the subjects attribute senses to the meanings related to the fact of
been a teacher at a public school (EMEI) and taking different places in uses of the
language. This study is based on theorist presupposes of Brookfield (1987), Freire
(1970), Giroux (1997), Morales (1998) that discuss ways of teaching and
developing the critical thinking, having the questions as an instrument of semiotic
meditation in the development of a critic professional. This study is cooperative-
based (Magalhães, 1998/2002; Liberali, 1999/2002), due to the fact that this is an
investigative process that aims the observation, intervention, and analysis of
transformations (or not) in the pedagogical practice of the participants. The
discussion of the data is based on the theory of the activity, focusing on the
description of the systems and the analysis of the speech, with basis on Kerbrat-
Orecchioni (1996), which admires the principles that react to the system of
conversation turns, the horizontal and vertical relations in the notion of politeness.
The discussion of the results revealed that the reflexive job
accomplished in eight programmed sessions, presented here, created the
transformation of the teaching-learning conception of the teacher, that was, at first,
afraid of and had difficulties in working with real potential of the kids, limiting their
activities to the mere copy of letters, syllables and words. After the end of this
study, it was realized a change in the teachers behavior, in the sense of been able
to work with texts, valuing the cultural knowledge of the group/ class and, specially,
identifying its job as a mediate element and an interactive maker among the
students and the latter with aims of knowledge.
The results point, also, to the transformation related to the perception
that the importance of the teacher is to create another transformation that deals
with respect to the perception that the teacher’s aim is wider than a simple
repetition. The teacher’s intention is to broaden the repertory of each child,
allowing the trade of information and experiences among them and, furthermore,
allowing the contact with art made by men throughout history.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 01
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 07
1.1. – Teoria da Atividade 08
1.1.1. – História 11
1.1.2. – Sistema de Atividade e o Ciclo Expansivo de Aprendizagem
– Implicações Metodológicas 18
1.1.3. – Constituição do Sujeito 22
1.1.4. – Instrumentos de Mediação Semtica e a Linguagem 24
1.1.5. – Sentidos e Significados 27
1.1.6. – Definindo Cultura e Contexto 30
1.1.7. – Zona Proximal de Desenvolvimento e as Oportunidades de
Aprendizagem 31
1.1.8. – Contradições e Conflitos no Sistema de Atividade 39
1.2. – Reflexão 45
1.2.1. – O Processo Reflexivo na Formação de Professores 46
1.2.2. – Sessão Reflexiva como Espaço para Formação do Professor
Crítico 48
1.2.3. – Discussão e Formação Crítica 51
1.3. – Pressupostos Teóricos para Análise dos Dados 56
1.3.1. – As Práticas Comunicativas 57
1.3.2. – O Sistema de Turnos 58
1.3.3. – As Relações Interpessoais 60
1.3.4. – Perguntas como Instrumento de Mediação Semiótica 63
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA 65
2.1.– Pesquisa Ctica de Colaboração 65
2.2. – Contexto e Local de Pesquisa 66
2.3. – Participantes 67
2.3.1. – Professora-pesquisadora 68
2.3.2. – Professora Participante 69
2.4. – Procedimento de Coleta de Dados 69
2.4.1. – Sessões Reflexivas 69
2.5. – Procedimento de Análise de Dados 73
2.5.1. – Análise Descritiva dos Sistemas de Atividade 74
2.5.2. – Análise do Discurso 77
2.6. – Aspectos Éticos na Pesquisa 78
2.7. – Questões de Confiabilidade 79
CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 80
3.1. – Sentidos Revelados pelas Professoras sobre seu Trabalho 80
3.1.1. – Sessões Reflexivas Iniciais 82
3.1.2. – Sessões Reflexivas Intermediárias 86
3.1.3. – Sessões Reflexivas Finais 89
3.2. – Regras e Divisão de Trabalho 93
3.2.1. – Sessões Reflexivas Iniciais 94
3.2.2. – Sessões Reflexivas Intermediárias 99
3.2.3. – Sessões Reflexivas Finais 103
3.3. – As Sessões Reflexivas como espaço para Formação de professores
Críticos 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS 118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 125
ANEXOS 133
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo do Primeiro Momento da Teoria da Atividade 12
Figura 2 – A estrutura da Atividade de Leontiev 14
Figura 3 – Modelo do Segundo Momento da Teoria da Atividade 15
Figura 4 – Modelo do Terceiro Momento da Teoria da Atividade 17
Figura 5 – Ciclo Expansivo de Aprendizagem 20
Figura 6 – Sessões Reflexivas 76
Figura 7 – Sistema de Atividade – Sessão Reflexiva 23/11/2005 109
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Princípios da Teoria da Atividade 10
Quadro 2 –
Zona Proximal de Desenvolvimento nas Diferentes Pesquisas
38
Quadro 3 – Conflitos e Contradições nos Sistemas de Atividade 44
Quadro 4 – Os Tipos de Reflexão 48
Quadro 5 – Os Tipos de Perguntas 55
Quadro 6 – Quadro de Análise 74
Quadro 7 – Quadro de Análise do Discurso 78
Quadro 8 – Sentidos iniciais, intermediários e finais da Professora 93
Quadro 9 – Ação 111
Quadro 10 – Ação 113
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
1
INTRODUÇÃO
Este pesquisa, fruto de um trabalho voluntário que investiga o
desenvolvimento de um processo colaborativo entre duas professoras de uma
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), visa à construção colaborativa e
reflexiva de sentidos sobre os significados relativos ao trabalho profissional,
voltado para a preparação de tarefas com os alunos, em contextos que
propiciem a compreensão das ações, inserção de transformações e a
construção colaborativa do conhecimento.
O processo de desenvolvimento profissional das professoras é
apresentado e discutido por meio de múltiplas vozes: a voz da professora
participante que conta suas experiências de aprendizagem, suas histórias de
vida, seu modo de ver e interpretar o mundo; a voz da professora-pesquisadora
que expõe seus medos e os sentidos atribuídos ao processo de formação
contínua de professores e, por fim, a voz de autores diversos, expressa
através da fundamentação teórica do trabalho, os quais discutem questões
sobre a formação crítica e reflexiva de professores e pelos quais se procura
encontrar, nesse coro de vozes, o fio condutor do trabalho.
Esta seção se organiza em cinco partes: na primeira, descreve-se a
motivação inicial deste trabalho, a segunda, apresenta as questões teóricas, a
terceira, o objetivo (a pergunta de pesquisa), a quarta, a relevância da mesma
e a quinta, a estruturação da dissertação.
Tudo começou quando ...
O marco inicial desse projeto foi o ano de 2005, quando iniciei o
mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem no LAEL (PUC
SP). Nesta época tinha como objetivo realizar uma pesquisa sobre a pedagogia
social, a fim de dar continuidade ao trabalho de conclusão de curso da
graduação. Estava bastante empolgada com os conteúdos aprendidos nas
disciplinas que estava cursando e fazia questão de compartilhar conhecimentos
tão importantes com a coordenadora pedagógica da escola em que trabalhava,
assim como com minhas colegas de JEI (Jornada Especial Integral).
A coordenadora pedagógica começou a se envolver com as teorias
comentadas por mim e me propôs a realização de um projeto de formação com
as professoras. Sua proposta era estudarmos juntas as teorias de ensino-
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
2
aprendizagem para que ela, nas reuniões pedagógicas, pudesse trabalhar com
o grupo de professores e agentes escolares. Aceitei o desafio, reorganizei o
projeto de pesquisa e iniciei o trabalho com a coordenadora. Visualizava a
possibilidade de desenvolver uma pesquisa, de fato, colaborativa, pois a
demanda adveio da Unidade Educacional.
Após a reorganização do projeto de pesquisa, marcamos a primeira
sessão reflexiva, na escola, em sua sala a sala da coordenação que durou
pouco mais de quinze minutos. Ali, percebi a tensão e o constrangimento da
coordenadora pedagógica em falar sobre sua prática. Conseguimos realizar
três sessões reflexivas e, na última, a coordenadora apresentou-se bastante
nervosa, começou a chorar e dizia repetidas vezes, que estava com vergonha.
Na semana seguinte ela entrou de licença médica, na qual permaneceu até
abril de 2006.
Quando percebi que havia perdido” meu sujeito de pesquisa, uma
sensação de medo me invadiu, pois, teria que modificar o objetivo de pesquisa,
iniciar novas investigações de outros conhecimentos com outros participantes
e, assim, realizar novas adequações. A Júlia (professora que acompanhou toda
minha trajetória na prefeitura e o processo de seleção do mestrado),
percebendo minha angústia, se propôs realizar o trabalho e sistematizar o que
já fazíamos um ano, porém, sem planificar nossas ações e aprofundá-las
teoricamente.
A partir daí, reorganizei novamente o projeto de pesquisa e iniciamos
as sessões reflexivas. Assim, surgiu a idéia de se transformar esta experiência
em um estudo sistemático que investigasse os sentidos que atribuímos ao
processo de ensino-aprendizagem, às visões de professor e de aluno, uma vez
que essas são culturalmente construídas e se instalam em nossas mentes,
podendo distorcer nossa visão de mundo e criar barreiras que, muitas vezes,
impedem ou restringem nossa ação.
O medo e ansiedade que eu, assim como a Júlia (professora
participante) demonstramos ter do diferente, daquilo que desconhecemos ou
pouco sabemos, bem como o foco nas dificuldades, nas limitações, restrições,
incapacidades, nos obstáculos, e não no potencial a ser desenvolvido, na
criatividade, nas possibilidades, acabam contribuindo para aumentar o fosso da
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
3
exclusão social e escolar, afetando a auto-estima e o processo de ensino-
aprendizagem tanto dos alunos como das professoras.
Questões teóricas
A questão de pesquisa pôde ser relacionada e compreendida com a
ajuda da teoria da atividade (Engeström e Cole, 1997; Engeström, 1999;
Russell, 2002; Kozulin, 1998; Daniels, 2003; Sellman, 2001; Steiner, 1996) que
me forneceu a sustentação teórica e evidenciou, para esta dissertação, a
importância da historicidade, da multiplicidade de vozes e dos instrumentos
mediadores, questões discutidas por Vygotsky e Leontiev, além de oferecer
o instrumental de análise e organização de dados.
Neste trabalho, o conjunto de sessões reflexivas é, então,
considerado como um sistema de atividade, cujos sujeitos são a professora-
pesquisadora e a professora participante (Júlia), e cujo objeto é a preparação
dos professores frente aos desafios apresentados na sala de aula e na
sociedade em contextos específicos de ensino-aprendizagem, objeto este que
passa por um processo de transformação, do foco na competência
comunicativa para o foco também na formação de professores críticos e
reflexivos.
Nesse quadro, são discutidos a constituição do sujeito (Vygotsky,
1982; Daniels, 2003; Wertsch, 1985, Wells, 2000), os sentidos e significados
(Vygotsky, 1982; Smolka, 2004; Gonzalez Rey, 2004), cultura e contexto (Cole,
1996; Bronfenbrenner, 1979; Valsiner, 1998), destacando-se tamm os
conceitos de mediação e zona proximal de desenvolvimento (Lantolf, 2000;
Cole, 1996; Daniels, 2003; Van der Veer e Valsiner, 1998; Moll, 1996;
Vygotsky, 1934/1998; Wertsch, 1985; Lee e Smagorinsky, 2000; Hedegaard,
2002; Putney et al, 2000; Wells, 2000; Hassan, 2002). Esses conceitos me
permitiram compreender a sessão reflexiva e o processo de ensino-
aprendizagem das participantes. Juntam-se a esses tópicos a discussão sobre
a formação do professor (Magalhães, 2002; Celani, 2001) e a formação do
professor crítico e reflexivo (Giroux, 1997; Brookfield, 1987; Freire, 1996;
Magalhães, 1996).
O trabalho que desenvolvo com a professora participante nas
sessões reflexivas tem, portanto, o objetivo de investigar o desenvolvimento de
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
4
um processo colaborativo entre as professoras de uma Escola Municipal de
Educação Infantil (EMEI), visa à construção colaborativa e reflexiva de sentidos
sobre os significados relativos ao trabalho profissional voltado para a
preparação de tarefas com os alunos em contextos que propiciem a
compreensão das ações, inserção de transformações e a construção
colaborativa do conhecimento.
Discuto os posicionamentos, pontos de vista e ações das
participantes e como cada um deles pode operar para reverter o quadro em
que elas atuam, contribuindo, assim, para a formação de cidadãos, professores
críticos e reflexivos e agentes transformadores, perante seus pares e perante a
sociedade, na difícil e complexa tarefa de possibilitar que a transformação
escolar possa ser realidade.
Objetivo e pergunta de pesquisa
Levando-se em consideração as questões complexas apontadas
acima, as quais foram, gradativamente, vindo para a cena, esta dissertação
objetiva, então, investigar o desenvolvimento de um processo colaborativo
entre duas professoras de uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI),
visa à construção colaborativa e reflexiva de sentidos sobre os significados
relativos ao trabalho profissional voltado para a preparação de tarefas com os
alunos em contextos que propiciem a compreensão das ações, inserção de
transformações e a construção colaborativa do conhecimento.
Para isso, faz-se necessário conhecer, por um lado, os sentidos que
as professoras atribuem às concepções de professor, de aluno e de ensino-
aprendizagem e, por outro, como se a constituição dos sujeitos (no caso, as
participantes), bem como as ações que viabilizam a formação de professores
críticos e reflexivos, nas sessões reflexivas. Procuro responder, assim, à
pergunta fundamental de pesquisa:
Como a linguagem organiza a formação colaborativa do
professor?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Relevância da pesquisa
Dessa forma, por abordar tanto o processo de ensino-aprendizagem
das professoras nas sessões reflexivas, como a constituição de sujeitos críticos
e reflexivos, na perspectiva da teoria da atividade, esta dissertação pode se
constituir numa contribuição para a área de ensino-aprendizagem e formação
de professores.
Diversos são os pesquisadores que estudam e trabalham com a
questão da formação de professores e/ou trabalho do professor no Programa
de Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem da PUC SP, LAEL. Entre
outros, destaco Celani (2001), Magalhães (2004, 2000, 1998, 1996, 1994),
Machado (2004, 1998), Liberali (2004, 2000, 1998, 1996, 1994), Romero
(1998), Estefogo (2001), Ninin(2002), Pepe (2003), Ramos (2003), Damionovic
(2004) e Motta (2004), entre outros.
Além do tema e dos tópicos que o discutidos, esta dissertação
pretende inovar por tratar-se de uma pesquisa entre duas professoras que
lecionam na mesma Unidade Educacional e que, sozinhas e por iniciativa
própria, iniciam um trabalho de desenvolvimento profissional e, a partir daí,
elaboram atividades para seus alunos em sala de aula.
Estrutura da dissertação
Esta dissertação se organiza em três partes. A primeira parte
compreende um capítulo teórico que se desdobra em quatro seções distintas,
iniciando-se com a discussão sobre a teoria da atividade, a qual fornece
subsídios e direcionamento para a discussão dos demais itens, permitindo o
entendimento do sistema de atividade que é aqui investigado: as sessões
reflexivas. Em seguida, a fundamentação teórica discute e apresenta as
questões referentes à formação de professores reflexivos e críticos. Finalizo o
capítulo da fundamentação teórica discutindo a teoria da análise, da qual fazem
parte a teoria da atividade e a análise do discurso com base em Kerbrat-
Orecchioni (1996).
O segundo capítulo refere-se à metodologia e discute o contexto da
pesquisa, os participantes, os procedimentos de coleta e de análise dos dados,
incluindo aqui o entendimento dos sistemas de atividade e as ferramentas
discursivas, tais como o levantamento dos conteúdos temáticos e das
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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modalizações. As perguntas, assumidas como instrumentos de mediação
semiótica, também são usadas como procedimento de análise.
O terceiro capítulo discute os dados e os resultados da pesquisa.
Conclui-se o trabalho no capítulo quarto, explorando-se as
possibilidades de sua futura expansão e avaliando o processo de
aprendizagem-desenvolvimento das participantes.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Capítulo 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem por objetivo apresentar e discutir os fundamentos
teóricos que dão sustentação ao trabalho e que me permitirão responder às
perguntas de pesquisa, fornecendo suporte necessário para a discussão dos
resultados. A importância da discussão teórica está em permitir que o
pesquisador amplie o seu olhar e trave um diálogo constante com seus dados.
Nesse projeto, a discussão teórica possibilitou-me tecer ligações, trouxe
sentido e voz para as minhas histórias e para os relatos da professora
participante, para nossas aulas e para os sentidos que eu e a professora
atribuíamos e atribuímos ao ensino-aprendizagem-desenvolvimento.
Para isto, este capítulo divide-se, então, em quatro partes. Na
primeira, discuto a teoria da atividade, apresentando seu histórico e
características, para em seguida discutir os conceitos que me permitirão
entender os componentes do triângulo, representação gráfica da atividade ou
sistema de atividade, como: a constituição do sujeito, os instrumentos de
mediação semtica, objeto e resultado, divisão de trabalho, regras e
comunidade e a relação entre eles que pode resultar em contradições ou
conflitos. Nesse momento são discutidos tamm a linguagem como
instrumento de mediação semiótica, assim, como significado e sentido,
contexto e cultura.
A segunda parte objetiva discutir o conceito de dialogia bakhtiniana,
pois é nessa prática que eu e a professora manifestamos nossos sentidos.
A terceira parte investiga questões referentes à formação contínua e
reflexiva dos profissionais da educação e aos conceitos de reflexão e de
colaboração.
Finalmente, na última parte, apresento a base teórica de análise de
dados, que inclui Kerbrat-Orecchioni (1996), especificando os princípios que
regem o sistema de turnos em uma conversação, as relações horizontais e
verticais e a noção de polidez.
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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1.1. Teoria da Atividade
Inicio esta seção definindo a teoria da atividade (TA) e explicando a
relevância dessa abordagem para esta dissertação, para, em seguida, traçar
um histórico, desde o surgimento, começando com as discussões de Vygotsky
(1982) sobre a consciência e chegando até as concepções de Engeström.
A teoria da atividade é definida por Russell (2002) como uma
abordagem filosófica e heurística, que permite estudar as diferentes formas da
ação humana, mediadas por instrumentos, levando sempre em consideração
fatores históricos e culturais. Esta teoria enfatiza a mediação semiótica, a
importância do uso de instrumentos ou artefatos no processo de aprendizagem.
A aprendizagem não é apenas uma simples internalização da informação, mas
um movimento expansivo que envolve transformação no uso de instrumentos e
na forma como os indivíduos usam estes instrumentos para ensinar e aprender,
para transformar e serem transformados.
Sobre esse aspecto, Lantolf (2000) argumenta que, para Vygotsky,
os seres humanos não agem diretamente sobre o mundo sico, precisando
fazer uso de ferramentas que permitam, então, que ajam no mundo, no modo
de viver e na natureza das relações humanas. Essas ferramentas são os
instrumentos ou artefatos físicos e psicológicos, os quais são criados pela
cultura e são passados para as outras gerações com algum tipo de
transformação. Cada geração transforma sua herança cultural de acordo com
suas necessidades.
Como características da teoria da atividade, Cole (1996) aponta a
ação sempre mediada pelo contexto sócio-histórico, a idéia da mente como
algo que surge na atividade mediada conjunta das pessoas, sendo então co-
construída; aponta tamm os indivíduos como agentes ativos em seu próprio
desenvolvimento, embora o ajam em cenários de sua própria escolha e, por
último, mostra a ligação com outras áreas do conhecimento como as ciências
sociais e biológicas.
São cinco os princípios, que segundo Engeström (1999), resumem a
teoria da atividade:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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1. o sistema de atividade é coletivo, mediado por artefatos e
orientado para um objeto, com as ações e operações geradas neste
sistema fazendo com que ele se realize e se reproduza a si mesmo;
2. há uma multiplicidade de vozes presentes nos sistemas devido a
múltiplos pontos de vista, interesses e tradições de seus
participantes, que trazem para os sistemas dos quais participam suas
histórias e experiências;
3. os sistemas de atividade são transformados ao longo do tempo e
podem ser compreendidos em toda a sua complexidade, se sua
história puder ser estudada;
4. as contradições são fontes de mudança e de desenvolvimento,
gerando perturbações e conflitos, mas possibilitando mudanças na
atividade. Nessa teoria, as atividades coletivas são culturalmente
mediadas e orientadas por um objeto e motivo comuns. Entretanto,
como nem todos os sujeitos envolvidos na mesma atividade
compartilham o mesmo objeto, isso ocasiona, na maioria das vezes,
um conflito entre o individual e o coletivo, entre o que é internalizado
e o que é externalizado. As contradições ocorrem, também, entre os
participantes da atividade, que trazem para a mesma histórias e
práticas distintas, entre sujeito e instrumento, entre regras e sujeito,
divisão de trabalho e outros elementos no sistema. Como
instrumento de análise, a teoria da atividade possibilita identificar
tanto o conflito, como a fonte geradora de contradições e tensões
que, possivelmente, poderão se transformar em conflitos.
5. Estas possíveis transformações geram um ciclo expansivo, que
pode ser compreendido como um trabalho na zona proximal de
desenvolvimento. Pesquisadores como Sellman (2001), Engestm
(1999) e Cole (1996) têm desenvolvido pesquisas sobre as
contradições internas em um sistema de atividade, como forças
dinamizadoras para mudança e desenvolvimento, interessando-se
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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tamm por esse movimento na atividade e em descrever como os
sistemas interagem e expandem.
O quadro abaixo sistematiza esses princípios e os relaciona com a
situação estudada:
Quadro 1 – Princípios da Teoria da Atividade
Teoria da Atividade
Síntese dos princípios Realização nesta pesquisa
1. Sistema de atividade coletivo é a
unidade de análise
-coletivo e mediado por artefatos e orientado
para o objeto;
- se realiza pelas ações e operações;
- ações individuais e do grupo são entendidas
como parte do sistema
O conjunto de sessões reflexivas realizadas é
um sistema de atividade coletivo, do qual
participamos eu e a professora. O objetivo
desse sistema é o desenvolvimento das
participantes e o resultado é a aprendizagem
do aluno.
2. Multiplicidade de vozes no sistema
- múltiplos pontos de vista;
- múltiplos interesses e tradições;
- a divisão de trabalho cria posições
diferentes para os participantes;
- os participantes têm histórias distintas;
- múltiplas camadas em seus artefatos e
regras;
- os sistemas interagem;
- o sistema é fonte de questionamento e
inovação
São os textos trazidos pelas participantes -e a
voz de seus autores - para leitura e estudo,
o tamm as vozes das outras profissionais
que trabalham na Unidade Educacional e as
prescrições das instituições que regem a
Unidade (Coordenadoria da Educação,
Secretaria Municipal da Educação).
3. Historicidade
- os participantes têm sua história e estão
inseridos em contextos diversos;
- os sistemas o transformados ao longo do
tempo;
- a história da atividade, seu objeto,
instrumentos e idéias teóricas precisa ser
estudada.
As histórias e experiências das participantes
o determinantes para entender a função
que as participantes exercem (contexto sócio-
histórico-cultural) e a posição dos sujeitos no
sistema.
4. Contradições
- fontes de mudança e desenvolvimento;
- geram perturbações e conflitos, mas
também renovam tentativas de mudar a
atividade
As contradições observadas nesse sistema,
como, por exemplo, a visão de aluno e de
professor e a concepção ensino-
aprendizagem geraram contradições no
mesmo.
5. Transformações expansivas
- as contradições e possíveis transformações
geram um ciclo expansivo, que pode ser
compreendido como um trabalho na zona
proximal de desenvolvimento.
São os questionamentos das tarefas
organizadas pelas participantes, com
possibilidades de análise e refacção das
estratégias.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
11
Nesta dissertação, como apontei, a sessão reflexiva é entendida
como um sistema de atividade coletivo, do qual participam eu e a professora. O
objeto desse sistema é o desenvolvimento dos participantes e o resultado a ser
alcançado é a aprendizagem do aluno. Existe nele uma multiplicidade de vozes
trazidas pelos participantes, a minha e a da professora, além de suas histórias
e experiências, e da herança cultural de suas comunidades. A teoria da
atividade mostrou-se adequada para entender a complexidade deste contexto,
no qual estão presentes questões sociais, culturais e históricas, permitindo-me
tecer a ligação entre a teoria e a prática e apontando para a necessidade de
investigar historicamente os sujeitos e os sistemas nos quais participam.
Passo, a seguir, a discutir o histórico da teoria da atividade.
1.1.1. Histórico
A teoria da atividade tem raízes históricas oriundas de três vertentes:
a filosofia clássica alemã de Kant e Hegel, os escritos de Marx e Engels e a
psicologia soviética fundada por Vygotsky, Luria e Leontiev. O termo surgiu na
década de 20, na escola histórico-cultural soviética de psicologia, emergindo
dos estudos de Vygotsky sobre a consciência. O conceito representa a
essência da psicologia soviética e vem passando por transformações desde
sua elaboração.
Em seus primeiros estudos sobre a consciência, Vygotsky (1982)
sugere que a atividade socialmente significativa pode ser considerada como
geradora de consciência por meio da relação com os outros. Nenhuma outra
teoria tinha conseguido explicar, anteriormente, o funcionamento da
consciência e a origem dos processos psicológicos superiores, que são
produtos da atividade mediada. Nesse estudo, ele conseguiu romper o círculo
vicioso da explicação da consciência pela consciência, do comportamento pelo
comportamento, quando traçou, segundo Kozulin (1998), uma delimitação entre
o objeto de estudo e o princípio explanatório
1
. Para Vygotsky, o comportamento
1
Foi essencial para o trabalho de Vygotsky a especificação para a psicologia do princípio marxista
sociometodológico da transformação do indivíduo e da espécie por meio do uso de instrumentos. A
atividade prático-crítica transforma a totalidade do que existe; é esta atividade revolucionária que,
segundo Newman e Holzman (1993/2002), é essencial e especificamente humana. Tal atividade
“derruba” a pseudonão superdeterminante empirista, idealista e materialista vulgar de “atividade”
particular o que, na realidade, isto é, na sociedade, é comportamento. A distinção ente mudar
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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e a mente humanos devem ser considerados como ações intencionais, ao
invés de serem apenas respostas biológicas e adaptativas. A atividade ocupa,
então, o lugar do traço na fórmula behaviorista, do estímulo e resposta:
E – R
transformando-se em:
objeto atividade sujeito,
fórmula na qual tanto o sujeito como o objeto são historicamente e
culturalmente construídos. O papel das ferramentas psicológicas como
mediadoras entre a ação e o objeto da ação é fundamental para a
transformação das funções mentais elementares em superiores. O conceito de
mediação pode ser, dessa forma, entendido como um processo de intervenção
de um elemento intermediário, entre o sujeito e o objeto e estende-se para a
interação homem-ambiente pelo uso de instrumentos e de signos. Para
Vygotsky, o uso de instrumentos ou artefatos modifica fundamentalmente todas
as operações psicológicas. Com essa discussão sobre mediação,
instrumentos, funções psicológicas superiores, processos intermentais e
intramentais, internalização, etc., Vygotsky elabora o conceito de atividade,
sem ter, no entanto, usado esta terminologia. No modelo triangular o foco
estava na interação entre o sujeito e o objeto, mediada pelo artefato
cultural/instrumento.
Figura 1 – Modelo do primeiro momento da teoria da atividade
particularidades e mudar totalidades é vital para se entender a metodologia instrumento-e-resultado e,
portanto, a atividade revolucionária.
Meios
\
Mediacionais (instrumentos)
Sujeito (s) Objeto
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Engeströn (1999) explica que a limitação desse primeiro momento da
teoria da atividade está na unidade de análise que é direcionada para o
indivíduo.
Leontiev expressou a mesma preocupação de Vygotsky, ao explicar
os aspectos específicos que diferenciam o homem do animal, formulando o
conceito de atividade, caracterizando os motivos humanos e a consciência
como algo cultural e historicamente construídos e, por isso, diferente dos
motivos dos animais. Ele considerou a atividade como um processo coletivo,
composto por ações orientadas para um objetivo e operações, consideradas
como funções psíquicas, condicionadas pelas condições materiais e pelos
instrumentos disponíveis.
O conceito de atividade é, então, ampliado por Leontiev (1978), que
explica a diferença crucial entre uma ação individual e uma ação coletiva. A
distinção entre atividade, ação e operação foi a base do seu modelo da
atividade de três níveis. Leontiev considera que as atividades humanas,
dirigidas por objetos a serem alcançados, o orientadas por ações
intencionais. Enquanto uma atividade é orientada para o objeto e por um
motivo, as ações são orientadas por metas e as operações por condições. A
ação é planejada antes de sua execução, executada sem um planejamento
prévio, bastando apenas uma análise das condições atuais para a realização.
Quando uma ação é repetida várias vezes e alcança um vel de maturidade
para que possa ser executada sem um planejamento prévio, ela passa para o
nível da operação. Dessa forma, a operação é uma ação que se tornou comum
no contexto de uma atividade. Leontiev o chegou, entretanto, a expandir
graficamente o triângulo de Vygotsky.
Leontiev (1977) destaca que o motivo é coletivo, ao contrário das
metas, que são individuais, explorando a idéia de metas parciais e globais,
idéia que viria a ser estendida, no futuro, por Engeström.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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ATIVIDADE OBJETO/MOTIVO
AÇÃO META
OPERAÇÃO CONDIÇÕES
Figura2 – A estrutura da atividade de Leontiev
Somente no final dos anos 70, o conceito de atividade voltou à
discussão com a publicação de: “The Concept of Activity in Soviet Psychology”,
por James Wertsch. Desde então, tem havido um interesse crescente pelo
tema, com destaque para Engeström, ue reestrutura o modelo inicial da teoria
de Vygotsky e de Leontiev, acrescentando a esse modelo outras estruturas,
como regras e divisão de trabalho, dando origem à um segundo momento da
teoria. A comunidade é formada pelos sujeitos que compartilham o mesmo
objeto e as regras e divisão de trabalho são consideradas novas formas de
mediação. As regras são normas implícitas ou explícitas, estabelecidas por
convenções e relações sociais na comunidade. A divisão de trabalho, por sua
vez, refere-se à forma de organização da comunidade para alcançar um
resultado. Todas essas formas de mediação possuem um desenvolvimento
histórico próprio com características particulares relacionadas ao contexto em
que foram desenvolvidas.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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INSTRUMENTO
OBJETO/MOTIVO
SUJEITO SENTIDO RESULTADO
SIGNIFICADO
REGRAS COMUNIDADE DIVISÃO DE TRABALHO
Figura 3 – Modelo do segundo momento da teoria da atividade
Engeström expandiu a representação triangular usada por Leontiev
para focalizar as inter-relações entre sujeito individual e a sua comunidade,
além de enfatizar a importância das contradições na atividade como a força
motriz para a mudança e, conseqüentemente, para o desenvolvimento. As
mudanças e movimentos são processos contínuos em uma atividade,
decorrentes de crises, contradições e rupturas, que provocam, por sua vez,
conflitos que motivam as transformações e inovações no sistema coletivo. Essa
sua preocupação com o movimento, as transformações e inovações nos
sistemas de atividades, levaram-no a elaborar um ciclo expansivo, marcado
pelos conceitos de interiorização e exteriorização. Como apontado por
Vygotsky (1982), a interiorização está ligada à reprodução da cultura e a
exteriorização à criação de artefatos que possam ser usados para transformar
a cultura. uma ênfase maior na exteriorização como uma agência ativa na
aprendizagem e no desenvolvimento.
Tanto a internalização como a externalização são processos sicos
de atividades humanas, sendo que a primeira refere-se à reprodução da
cultura, uma vez que o ser humano internaliza conhecimentos, conceitos,
valores e significados, reproduzindo-os em suas relações sociais, enquanto a
segunda refere-se à criação de novos artefatos que vão possibilitar a
transformação. Ambos os processos estão intimamente ligados, com uma
relação dialógica entre continuidade e mudança, reprodução e transformação,
que se constitui no maior desafio da pesquisa sobre a atividade, cujas
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
16
mudanças, resistências à mudança, transformação e estagnação serão
analisadas à luz da historicidade.
Dessa forma, a atividade não é somente a soma dos elementos que
a compõem, mas constitui-se em um sistema próprio, de atividade coletiva,
com instrumentos, regras, papéis e estrutura. São indivíduos ou grupos de
indivíduos que interagem, fazendo uso de instrumentos, para a transformação
de um objeto, com um motivo compartilhado para alcançar determinado
resultado, e o essas interações que poderão ser consideradas como um
sistema de atividade. Podem ser considerados, então, como um sistema de
atividade, a escola, a família, um clube, uma instituição, uma sala de aula, uma
disciplina, uma companhia. O mundo não é dividido, organizadamente, em
sistemas de atividade, conforme discutido por Russell (2000). Cabe ao
pesquisador definir o sistema de atividade, com base nos objetivos de sua
pesquisa e fazendo uso da lente que a teoria da atividade fornece para a
investigação e observação do sistema.
O sistema de atividade como unidade de análise envolve a
compreensão do sistema e do sujeito. O pesquisador constrói o sistema de
atividade como se estivesse olhando de cima, conseguindo, assim, ter uma
visão do todo. O estudo de um sistema de atividades se transforma, então, em
uma construção coletiva e de múltiplas vozes, no qual os conceitos
vygotskianos como zona proximal de desenvolvimento, mediação semiótica,
instrumentos, internalização e externalização passam do abstrato para o
concreto, podendo ser visualizados na atividade.
Com o reconhecimento internacional da teoria da atividade, questões
referentes à multiplicidade de perspectivas, às múltiplas vozes dos sistemas e
às redes interagentes de sistemas vieram à tona, fazendo com que Engeström
expandisse o modelo anterior, levando esses fatores em consideração. Além
desses aspectos, ele tamm deu prosseguimento às discussões sobre a
aprendizagem escolar e sobre a que transcende os limites institucionais da
escola e passou a questionar o compartilhamento do objeto, dando origem ao
terceiro momento da teoria da atividade. Isso porque os sujeitos da atividade,
muitas vezes, não compartilham o mesmo objeto.
Nessa direção, Engeström (1999:35) afirma que a atividade divide-se
em múltiplas ações e, por estarem associadas às ões, as metas não se
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
17
vinculam à atividade vista globalmente. Para ele, “a atividade é alcançada pela
negociação, pela orquestração e pela luta constantes entre as diferentes metas
e perspectivas de seus participantes. A construção de objetos mediada por
artefatos é, então, um processo colaborativo e dialógico, em que diferentes
perspectivas e vozes se encontram, colidem e fundem.”
O terceiro momento da teoria da atividade promove, então, um
entendimento mais amplo dos sistemas de atividade e também da formação de
redes de sistemas. Nas redes de sistemas, ou seja, na interação de dois ou
mais sistemas de atividade, podem ocorrer contradições e tensões na definição
do motivo e do objeto, dando origem, então a um novo sistema, com o
desdobramento do objeto. O desenho abaixo ilustra esta possibilidade e retrata
uma situação na qual os sujeitos da atividade têm objetos diferentes,
construindo conjuntamente um terceiro, formando, assim, um outro sistema.
Essa possibilidade de construção e redefinição do objeto constitui-se no grande
potencial criativo da atividade.
Figura 4 – Modelo do terceiro momento da teoria da atividade
Artefato
Mediador
Objeto 1 –
desenvolver a
compreensão
do profº sobre
as tarefas
realizadas em
sala de aula.
Divisão de Trabalho
(sessão reflexiva A)
Objeto 2
Objeto 2
Objeto 3 –
desenvolver
tarefas ou
estratégias de
ensino na
compreensão
do processo de
E-A do aluno e
na
transformação
do pro
.
Artefato
Mediador
Objeto 2 –
desenvolver
a
compreensão
do pro
sobre como
os alunos
aprendem
Divisão de Trabalho
(sessão reflexiva B)
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
18
A unidade de análise da teoria da atividade é a ação, mas quando
nos referimos a um sistema de atividade, o foco de análise pode estar tanto no
grupo de pessoas que compartilham, ou não, do mesmo objeto e motivo, como
nos instrumentos que o usados e em quais instrumentos o usados para
mediar a trajetória dos sujeitos em direção ao objeto. O sistema de atividade é,
por isso, uma unidade de análise flexível, que permite a busca de respostas
para questionamentos. Segundo Russell (1997), o sistema de atividade é
construído e reconstruído pelos participantes que fazem uso de instrumentos,
incluindo os instrumentos discursivos. Discuto a seguir, o sistema de atividade
e o ciclo expansivo de aprendizagem e suas implicações metodológicas.
1.1.2. Sistema de atividade e o ciclo expansivo de aprendizagem
implicações metodológicas
Esta seção objetiva complementar a discussão sobre a teoria da
atividade, apresentando o ciclo expansivo de aprendizagem, um instrumento
que permite ao pesquisador, que usa a teoria da atividade como
fundamentação teórica e como base de análise, observar e investigar a
atividade como um sistema em movimento, sendo considerado como um
instrumento metodológico e de análise. Como tal, ele é utilizado na pesquisa de
trabalho desenvolvimental, tipo de pesquisa que se associa à teoria da
atividade, a qual será, tamm, discutida nesta seção.
Como já mencionado anteriormente, com a projeção internacional da
teoria da atividade, ampliaram-se as discussões a respeito dessa abordagem, o
que levou Engeström a sistematizar o movimento observado nos sistemas,
provocado pelas contradições e conflitos, criando assim o ciclo expansivo de
aprendizagem. Segundo Engeström (1999), o ciclo expansivo é uma contínua
construção e resolução de tensões e contradições em um sistema de atividade
que envolve objeto, ferramentas mediadoras e as perspectivas dos
participantes envolvidos. Nele uma preocupação com o levantamento das
raízes históricas da atividade, iniciando-se com um questionamento da prática
e com a constatação das contradições. Esse ciclo revela a dimensão da
atividade, como algo que está em constante movimento e que é coletiva.
Além de revelar o constante movimento e a historicidade no sistema,
o ciclo expansivo tem importância crucial para o entendimento dos processos
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
19
de internalização e externalização no sistema de atividade. Steiner (2000)
enfatiza a tensão entre internalização e externalização, tensão essa que
contribui para a construção do novo. A internalização promove sistematização
e reorganização para uns, conflito para outros, fazendo com que o
conhecimento seja construído, reconstruído e transformado, o que Steiner
chama de síntese dialético-criativa. Cada um internaliza o conhecimento de
uma forma diferente, processando-o e transformando-o com base na sua
realidade e sócio-história. A externalização, por sua vez, está ligada à
capacidade criativa do ser humano e é devida, principalmente, ao uso que ele
faz dos instrumentos. Ambos os processos estão ligados à reprodução e
transformação da cultura.
Engeström (1999) confirma, então, que um sistema de atividade é
uma formação de múltiplas vozes e que o ciclo expansivo é uma re-
orquestração dessas vozes, de diferentes pontos de vista e abordagens dos
participantes. Esse ciclo é composto por diversas etapas, iniciando- se com:
questionamento sobre a prática devido a possíveis
contradições, tensões e conflitos;
análise da situação, buscando as raízes históricas e
empíricas;
modelo da nova estrutura da atividade que oferece soluções
para as contradições encontradas na primeira etapa;
exame da nova estrutura, experimentando-a, afim de observar
e aprender suas limitações, potencial e dinâmica;
implementação da nova estrutura, com aplicação prática,
melhorias e expansão conceitual;
reflexão e avaliação do processo;
consolidação da nova prática.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
20
O desenho abaixo sistematiza as etapas do ciclo expansivo de
aprendizagem
Figura 5 – Ciclo expansivo de aprendizagem
Neste trabalho, o ciclo expansivo de aprendizagem foi importante na
medida em que me possibilitou entender o movimento e transformação dos
sistemas de atividade analisados, no caso as sessões reflexivas. Compreendo
que essas etapas fazem parte de investigações que objetivam intervenção e
transformação. Entretanto o ciclo expansivo inova por enfatizar a historicidade
no sistema e por propiciar um olhar mais dirigido aos elementos (sujeito, objeto,
regras, instrumentos, divisão de trabalho, comunidade), as relações entre eles
Questionar
* Então Ju, como foi atividade? O que
você sentiu da sala?
* E como você fez?
* E aí, depois da leitura vopropôs o
que?
* Sentiu dificuldade em
realizar
atividade?
*
Qual foi o ponto alto da
atividade?
Consolidar
Analisar
Então, Ju, o que eu tinha pensado pra gente estar
fazendo é trabalhar com
texto.
Modelar
Do D, Então, poderíamos trabalhar primeiro
com um texto maior que tenham palavras com D,
desse texto a gente tira uma frase principal e
que tenha palavras com D e, depois a gente vai
para a palavra com o D, depois para as sílabas
família silábica e depois pra letra.
Examinar
Implementar
Passei o texto na
lousa, li duas vezes
primeiro, depois eu
lia e eles repetiam,
perguntei se algum
deles queria ler,
todos levantaram
as mãos!
Refletir
Acho que é a leitura mesmo, eu lendo, eles
lendo, eles querendo ler, se envolvendo na
atividade, toda hora eles queriam ler,
levantavam
a mãozinha.
Mesmo não
sabendo, lógico que eles não sabem, de
estar olhando e repetindo, acho que isso foi
o melhor!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
21
e as possíveis contradições e conflitos que podem ocorrer ou que já estão
instaladas no sistema.
O tipo de pesquisa que faz uso desse instrumento metodológico,
conforme já apontado anteriormente, é a pesquisa de trabalho
desenvolvimental, que objetiva investigar contextos sociais diversos, os quais
estão em constante transformação. Ela começou a ser estudada por
Engeström, na segunda metade dos anos 90. É multidisciplinar e utiliza-se dos
conceitos vygotskianos no quadro da teoria da atividade e acrescenta à
pesquisa etnográfica algumas outras características como a historicidade, a
intervenção, observação e possível transformação dos sistemas de atividade. A
sociedade é vista muito mais como uma rede de sistemas de atividade
interligados e menos como uma pirâmide de estruturas fixas.
O pesquisador tem a possibilidade de entender o ambiente e as
relações no trabalho, na escola e em outros contextos, levando em
consideração as contradições, a historicidade e a natureza coletiva dessas
relações. Além disso, pode interferir no sistema de atividade, propondo novos
modelos de ação e fornecendo novos instrumentos para os participantes,
permitindo, dessa forma, a expansão e transformação do sistema.
No formato desta dissertação não foi utilizado o modelo da “pesquisa
de trabalho desenvolvimental”. Quando tomei conhecimento dele, minha
pesquisa estava em andamento, com a coleta de dados já finalizada.
Entretanto, julgo necessário destacar sua relevância e a contribuição dada ao
desenvolvimento do meu trabalho, tanto para a fase de seleção e organização
da fundamentação teórica, com ênfase na historicidade, quanto para a adoção
das perspectivas da multiplicidade de vozes e do uso de instrumentos
mediadores, bem como, ainda, para a organização dos dados e o
encaminhamento da análise.
Depois de ter apresentado a teoria da atividade, com sua definição,
histórico e implicações metodológicas, passo a discutir a questão da
constituição do sujeito, o que me possibilitará compreender a posição dos
sujeitos participantes da minha pesquisa no sistema de atividade, naquilo que
trazem para o sistema, de onde vêm e como são constituídos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
22
1.1.3. Constituição do sujeito
. Esta seção objetiva, portanto, discutir a constituição do sujeito com
base na teoria vygotskiana. No quadro sócio-histórico e cultural, o ser humano,
diferentemente do animal, constitui-se como resultado de experiências
históricas, que são transmitidas pelas gerações anteriores, de experiências
sociais e processos biológicos, como o crescimento e a maturação orgânica.
Vygotsky, com base em Spinosa, afirma que o desenvolvimento biológico e o
desenvolvimento cultural formam uma unidade, o que explica o
desenvolvimento psicológico e da consciência. Ele fala, então de um sujeito
ativo e histórico, com uma consciência construída a partir de mediações
sociais, incluindo aqui também a afetividade.
Para a compreensão do sujeito, é necessário que se entenda, em
primeiro lugar, as relações sociais presentes na vida e no ambiente onde está
inserido. Este ambiente está em constante mutação e, com o aponta Wells
(2000), entre outros, há a necessidade de se estudar não somente a história do
sujeito, como tamm a história do grupo social ao qual pertence.
Assim, como bastante discutido por Wertsch, Daniels e outros
seguidores de Vygotsky, o desenvolvimento ontogenético, ou seja, o
desenvolvimento do próprio ser, não pode ser visto como uma trajetória
isolada, mas sim, como relacionado aos eventos sociais com os quais este
indivíduo está envolvido (microgenética); às instituições como a família, o
trabalho, a escola, ou seja, os lugares onde estes eventos acontecem; ao pano
de fundo sociocultural em que essas instituições se situam (sócio-história) e,
finalmente, à espécie (filogenética).
Dessa forma, a vida do indivíduo, o trabalho e o comportamento
baseiam-se na utilização ampla das gerações anteriores, o que Vygotsky
chama de experiência histórica. A isso se junta o relacionamento com outras
pessoas ou experiência social, o que permite que estabeleçamos relações e
conexões com fatos, lugares e experiências e conhecimentos que foram
vivenciados por outros. As relações sociais são, dessa forma, consideradas
como fundamentais, não nos primeiros anos de vida, mas ao longo de toda
a vida. Desde o início, as relações são construídas na interação, por meio de
ações que são compartilhadas e que se estabelecem nos processos dialógicos.
Segundo Rossetti-Ferreira (2004), ao agirem, as pessoas transformam seus
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
23
parceiros de interação e são transformadas por eles, alterando tamm os
sistemas nos quais participam. O ser humano constitui-se, então, na relação
com o outro e com o mundo e as características pessoais vão sendo
construídas na história interacional de cada um.
Na teoria da atividade, o sujeito é coletivo, pois mesmo quando nos
referimos a um indivíduo, ele é socialmente construído e faz parte de um grupo.
Esse sujeito traz para o sistema de atividade uma série de experiências e
histórias pessoais, habilidades cognitivas, características de personalidade e
traços de caráter que foram definidos culturalmente e traduzem a comunidade
ou o meio a qual pertencem. A relação entre sujeito e objeto é mediada pelas
ferramentas, as quais podem tanto permitir como restringir a ação.
Neste trabalho, com foco no desenvolvimento profissional das
participantes, discutirei a constituição do sujeito professor, apresentando
questões históricas e discursivas que determinam a sua constituição e influem
no seu processo de aprendizagem e desenvolvimento (ofício). Discuto,
tamm, o sujeito professor, focalizando os sentidos e significados atribuídos à
visão de professor, visão de aluno e concepção de ensino-aprendizagem.
Além disto, por considerar a formação contínua na sessão reflexiva
como um sistema de atividade, espaço de negociação e de formação das
participantes, com base em Freire (1996), Giroux (1997) e Brookfield (1987),
faz-se necessário definir a constituição da atividade crítica, no caso, do
professor. Por professor crítico entendo o professor que tem a liberdade de se
expor e trazer a sua realidade, o seu conhecimento cotidiano para a cena,
ligando-o ao conhecimento científico, aquele que é trabalhado na sessão
reflexiva. É também aquele que, através de uma educação problematizadora,
tem a possibilidade de enxergar o mundo por uma outra perspectiva, podendo,
então, transformá-lo. Entender isso foi relevante para a transformação do meu
ensinar, o que será retomado na seção sobre a discussão e o uso de perguntas
como instrumentos de mediação semiótica na formação das participantes como
profissionais críticos.
Discuto, a seguir, os instrumentos de mediação semiótica, dentre
eles a linguagem, que é produzida social e historicamente e é o instrumento
fundamental no processo de constituição do sujeito.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
24
1.1.4. Instrumento de mediação semiótica e linguagem
Esta seção objetiva discutir os instrumentos de mediação semiótica
com ênfase na linguagem, o mais importante instrumento de mediação
semiótica, como apontado por Vygotsky. Ele propõe que o comportamento
humano pode ser entendido na história de cada indivíduo e que as forças
sociais, culturais e históricas desempenham papel fundamental para o
desenvolvimento do ser humano. Na tentativa de diferenciar o ser humano do
animal, ele se interessou por essa incrível capacidade humana de construir e
usar instrumentos.
Os instrumentos mediadores servem, assim, como meios pelos quais
o indivíduo age sobre fatores sociais, culturais e históricos, sofrendo, ao
mesmo tempo, a ação deles. A idéia de mediação traz consigo uma rie de
implicações acerca do controle, feito por meio de forças externas e internas.
Vygotsky (1934/1998) afirma que os seres humanos controlam a si mesmos
“de fora para dentro” por meio de sistemas simbólicos e culturais. Com o auxílio
dos signos, o ser humano pode controlar voluntariamente sua atividade
psicológica e ampliar sua capacidade de atenção, memória, retenção de
informações, através do anotar, da escrita de diário, do fazer associações, e
pode, dessa forma, exercer influência no seu meio através desses instrumentos
abstratos, os quais têm o poder de transformar a atividade humana, criando
novos processos psicológicos.
Ao mostrar que os instrumentos ocupam lugar de destaque no
quadro sociocultural, Vygotsky (1934/1999) diz que os seres humanos, além
dos instrumentos físicos, fazem uso de instrumentos semióticos que medeiam
a atividade intelectual. O conhecimento acadêmico, por exemplo, pode ser
considerado como instrumento cultural, permitindo que sucessivas gerações
tenham acesso a ele, modificando-o e adaptando-o para a solução de novos
problemas, conforme discute Wells (1998).
Considerando o sistema de atividade, a forma como os sujeitos usam
os instrumentos (Newman & Holzman, 2002; Russell, 2002 e Wells, 2000) pode
transformar a atividade, à medida que esses sujeitos criam novos instrumentos
ou novos usos para o mesmo instrumento. Wells (1998) afirma também que,
quando os instrumentos são usados para que o sujeito consiga alcançar o
objetivo de uma ação, esse uso pode ser considerado como uma operação,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
25
através da qual a ação é realizada. Um exemplo disso é o uso do dicionário
para a compreensão de palavras em um texto. Entretanto, quando o indivíduo
ainda está aprendendo a fazer uso do instrumento, isso se mantém no nível da
ação, pois ela exige ainda atenção consciente.
A discussão sobre instrumentos semióticos ficaria incompleta,
entretanto, sem se enfatizar a importância da linguagem, considerada como o
maior instrumento de mediação semtica. Segundo Vygotsky (1934/1999), a
linguagem é o sistema simbólico fundamental que organiza os signos em
estruturas complexas. Ela permite lidar com objetos do mundo exterior, mesmo
quando estão ausentes, promove a abstração, a generalização a partir de uma
idéia inicial; ordena o real em categorias conceituais; é usada para
comunicação e permite a transmissão e assimilação de informações e
experiências acumuladas. Tem, então, um papel fundamental de organizadora
do pensamento e das funções psicológicas superiores e a sua função
primordial é a comunicação.
Como, tamm apontado por Vygotsky, em relação ao processo de
desenvolvimento da consciência infantil, quando a criança começa a conhecer
o que a rodeia, com a ajuda da fala torna-se possível a produção de novas
relações com o ambiente, além de nova organização do comportamento. Toda
a fala é social, incluindo a fala interna ou egocêntrica, que pode ser
considerada como um instrumento do pensamento que ajuda a criança a criar
soluções para possíveis problemas ou vidas. Mesmo mais tarde, na fase
escolar, a fala egocêntrica continua como organizadora do pensamento.
Dessa forma, segundo Vygotsky, a linguagem imprime três
mudanças essenciais para as funções psicológicas superiores:
possibilidade de lidar com os objetos do mundo exterior,
mesmo quando eles estão ausentes;
generalização, abstração e análise de conceitos;
comunicação, o que possibilita a preservação, transmissão e
assimilação de informações e experiências acumuladas pela
humanidade, ao longo da história.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
26
O trabalho de Vygotsky sobre a mediação semiótica não chega,
entretanto, a tratar do discurso, da importância do falante (para quem, de
quem, o que, de onde e porque fala), nem de como o discurso é estruturado.
Wertsch (1985) sugere que esta lacuna poderia ser preenchida com a teoria de
Bakhtin sobre os neros do discurso. Hassan (2002) aponta que a análise do
discurso poderia contribuir para um olhar mais detalhado para a mediação
semiótica, enfatizando que além da ação, objeto, motivo e resultado, essa
análise poderia contribuir para a compreensão das transformações propostas
pela teoria da atividade.
Também Wells (1998) salienta que o discurso lingüístico
desempenha um papel mediador vital, tanto na negociação dos objetivos a
serem alcançados, como nos meios utilizados para alcançá-los. O discurso
tamm permite que os aprendizes percebam a importância do que aprendem
e para que aprendem, possibilitando tanto a internalização como a
externalização da informação.
Neste trabalho, a discussão sobre a linguagem como um instrumento
de mediação semtica é fundamental, pois fazendo uso desse instrumento, as
professoras poderão alterar a sua posição na comunidade escolar em que
atuam, fazendo esse processo avançar no microcosmo da sessão reflexiva.
O uso das perguntas como instrumento de mediação semiótica para
a formação e desenvolvimento da professora nas sessões reflexivas é outro
aspecto que será discutido na base teórica de análise de dados, ligando-se,
portanto, a esse tópico e destacando a importância dos instrumentos.
Trato, a seguir, das questões de sentido e significado, que, segundo
Moita Lopes (2002), são construídos quando agimos no mundo social e são
definidores da realidade social à nossa volta e de nós mesmos. Esses
significados e sentidos construídos nas práticas discursivas, segundo ele,
revelam como os indivíduos compreendem o mundo, a si mesmos e aos
outros. Os indivíduos têm, portanto, suas identidades sociais construídas nas
interações sociais das quais participam, tendo o discurso um papel central
como força mediadora dos processos de construção das identidades sociais,
como o confirma Moita Lopes:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
27
“Nossa diferença consiste no fato de que nossas faces estão viradas
uma para a outra; podemos ler em cada ser humano uma história composta em um
mundo social, e podemos lê-la somente porque somos membros de tal mundo.”
(Backhurst e Sypnowich, 1995, apud Moita Lopes, 2002:198)
Moita Lopes acrescenta que nossas identidades são multifacetadas e
não são fixas, considerando que mostramos a face social a partir do que o
outro representa para nós e, tamm, em quem é o outro, podendo ser
contraditórias, o que é revelado no discurso.
1.1.5. Sentido e significado
O significado da palavra é um fenômeno do pensamento para
Vygotsky (1934/1999), já que o pensamento se concretiza pela fala. Em sua
opinião, os significados das palavras não se referem apenas a associações do
som a determinados objetos, mas são formações dinâmicas, um processo que
passa por transformações e variações. No seu livro “Pensamento e linguagem”,
ele diz que o significado da palavra é sempre uma generalização ou um
conceito. Além disto, o significado da palavra evolui em função da mudança da
consciência.
“O significado de uma palavra representa um amálgama tão estreito do
pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se se trata de um fenômeno da
fala ou de um fenômeno do pensamento. Uma palavra sem significado é um som
vazio; o significado, portanto, é um critério da palavra, seu componente
indispensável” (Vygotsky, 1934/1999:150)
O sentido, por sua vez, é a soma de todos os eventos psicológicos
que a palavra desperta na consciência dos agentes. É todo complexo, fluido e
dinâmico. O significado é uma das zonas do sentido, mais estável e precisa.
Uma palavra, segundo Vygotsky, adquire o seu sentido no contexto em que
surge, e contextos diferentes podem alterar o sentido. Ele discute o papel do
contexto para a construção do sentido, explicando que uma palavra inserida
em um contexto pode ter um sentido diferente, sendo este mutável e complexo.
A palavra está inserida em uma sentença que, por conseguinte, se insere em
um parágrafo, este no livro e o livro na série de obras do autor.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
28
Nesse quadro, a unidade lingüística de análise é a palavra,
considerada como a unidade do pensamento, a qual não se refere a algo
concreto, mas a uma generalização. Dessa forma o significado de uma palavra
une tanto o pensamento, como a linguagem. Uma palavra sem pensamento é,
então, algo morto e um pensamento que não é verbalizado em palavras
permanece como uma sombra. As palavras têm, assim, uma importância
fundamental tanto para o desenvolvimento do pensamento como para o
desenvolvimento histórico da consciência.
Segundo Smolka (2004), as crianças nascem e vivem em um mundo
cheio de significados e, logo, começam a fazer sentido das práticas, vivendo,
sentindo e sofrendo as relações com os outros e com o mundo. Os significados
e a construção dos sentidos fazem parte da vida humana, segundo a autora, e
são diversas as áreas do conhecimento, da Filosofia e Antropologia à
Lingüística Aplicada, que problematizam essa questão. Para iniciar essa
discussão, faz-se necessário, ainda segundo Smolka (2004), definir signo, de
onde vem a palavra significar, “chamamos de signos a tudo o que significa
algo, e entre estes, encontramos tamm as palavras...Toda palavra é signo,
mas nem todo signo é palavra...” Para Vygotsky, o signo é um instrumento
psicológico que tem a função de auxiliar o indivíduo nas suas atividades
psíquicas, fazendo com que ele amplie sua capacidade de atenção, memória e
acúmulo de informações, por exemplo, destacando sua característica
mediadora.
A construção do sentido se faz na relação com o outro em um
contexto particular e é com o outro que nos apropriamos do mundo. A realidade
será percebida, diferentemente, por cada sujeito, principalmente, devido aos
sentidos que este sujeito atribui à realidade. Segundo González Rey (2004), o
sentido é sempre o resultado de um processo de subjetivação associado a um
contexto concreto e imerso no sistema de sentidos subjetivos que caracterizam
a vida do sujeito. O sentido é, então, uma ntese subjetiva de dimensões
culturais, sociais e históricas, que estão implicadas nas ações do sujeito. Para
esse autor, o sentido mescla-se, tamm, com as emoções e outros elementos
da vida psíquica, o que contribui para a configuração de novos sistemas de
sentidos, os quais vão além dos significados já construídos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
29
Com base no monismo de Spinosa, Vygotsky abordava em sua
obra a preocupação com a integração dos aspectos cognitivos e afetivos do
funcionamento psicológico humano, demonstrando ser o homem um ser que
pensa, raciocina, deduz e abstrai, mas tamm um ser que sente, se
emociona, deseja, imagina e se sensibiliza. Biologia, intelecto e afeto se unem
e formam um sistema dimico de significados. Os sujeitos têm, então, uma
possibilidade diferenciada de produção de sentido, devido aos diferentes
fatores históricos, culturais, sociais e emocionais. Assim, a produção de sentido
de uma família, por exemplo, está associada, segundo González Rey (2004),
aos processos simbólicos e emocionais produzidos nas histórias vivas e
diferenciadas entre os membros da família. O sentido é, portanto, inseparável
do sujeito e dos fatores históricos, culturais e sociais que o acompanham.
Neste trabalho, essa discussão é relevante por possibilitar-me tecer
ligações entre os sentidos que as participantes atribuem à concepção de
ensino-aprendizagem, visão de professor e de aluno e os fatores históricos,
como a escolha do ofício de ser professor por cada uma das participantes. Em
função disto, a posição dos sujeitos se altera nos sistemas de atividade.
No sistema de atividade, os sujeitos assumem papéis e
posicionamentos, atribuem novos sentidos às suas práticas e ações nas
interações, provocando um movimento de transformação pessoal e coletivo.
Sofrem essas contínuas transformações discursivas e ideológicas, experiências
passadas, percepções presentes e expectativas futuras, e pelo uso que fazem
dos instrumentos. De fato, um dos desafios dos teóricos neo-vygotskianos é
tentar entender esse movimento constante nos sistemas, provocado pela
relação sujeito e contexto, na qual estão presentes possibilidades e limitações,
que fazem parte do processo de desenvolvimento.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
30
1.1.6. Definindo cultura e contexto
Contexto e cultura são dois conceitos empregados nos trabalhos com
base sociocultural e histórica. Entretanto, conforme discutido por Valsiner
(1998), ainda existem problemas tanto na conceituação, como na forma em
que contexto e cultura são trabalhados teórica e metodologicamente.
A cultura é entendida por Valsiner (1998) como uma organização
sistêmica dos processos semióticos e históricos e de suas diferentes
manifestações. Cole (1995) completa essa definição, acrescentando que a
cultura é a história no presente é a acumulação de experiências sociais da
humanidade. Moll (2000) afirma que a definição mais comum de cultura é
aquela ligada à diferenciação de grupos de pessoas de determinados países, o
que os mexicanos ou os britânicos fazem, por exemplo, com base na história
das sociedades.
No quadro sociocultural, a cultura é compreendida, portanto, como
algo que fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de interpretação da
realidade, um processo de recriação e reinterpretação de informações,
conceitos e significações. Inclui, segundo Ratner (1997), conceitos sociais,
valores, instituições, princípios de comportamento, divisão de trabalho, formas
de controle de poder e distribuição de oportunidades.
Em Vygotsky (1934/1999), cultura e contexto o fundamentais,
principalmente quando considera que as funções psicológicas superiores
originam-se das relações entre indivíduos, em ambientes culturalmente
organizados, tendo como base as operações com os signos. Ele afirma, então,
que os processos de funcionamento mental do homem são fornecidos pela
cultura, através da mediação. A cultura não é pensada por ele como algo
pronto, mas como uma espécie de “palco de negociações” (Rego, 1995:55), no
qual os indivíduos estão em um constante movimento de recriação e
reinterpretação de conceitos e de significados. A relação do indivíduo com o
meio não é uma relação direta, mas mediada pelos instrumentos e signos,
fornecidos pela cultura, como já mencionei anteriormente.
Ao discorrer sobre contexto, Cole (1996) faz uma distinção entre os
dois conceitos, o que circunda e o que entrelaça o indivíduo, com base em
Bronfenbrenner (1979), que discute o desenvolvimento humano na perspectiva
ecológica. Bronfenbrenner concebe o contexto como camadas dispostas em
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
31
círculos concêntricos, sendo o meio composto por diversos contextos sociais e
culturais, como casa, escola e trabalho. A contribuição mais importante do seu
trabalho refere-se ao estudo das relações entre os múltiplos contextos, dos
quais as crianças e suas famílias participam. Cole (1996) expande a discussão
de Bronfenbrenner, enfatizando as conexões ente as camadas do contexto e
acrescentando que essas camadas podem ser transformadas, reformadas e
apagadas, além de interferirem umas nas outras.
A imagem de contexto representada por círculos concêntricos corre o
risco de expressar algo que está contido em, como no exemplo de um grupo de
alunos que é parte de uma sala de aula, que é parte da escola, que, por sua
vez, é parte da sociedade, enfatizando uma idéia unilateral e determinista. Os
círculos concêntricos precisam ser interpretados sob uma terceira dimensão,
tendo múltiplas relações, em movimentos de fora para dentro e de dentro para
fora, de um lado para outro, e assim por diante, para enfatizar a importância
dos fatores históricos e culturais, do uso dos instrumentos, da consciência e do
objeto para a transformação de cada círculo.
Neste texto, a discussão sobre a cultura e contexto possibilitou-me
expandir e tecer as ligações entre as raízes da escolha de um ofício ser
professor – e as atitudes das participantes nas sessões reflexivas, assim como,
seus posicionamentos como sujeitos e aprendizes em busca do
desenvolvimento profissional. O quadro da pesquisa sociocultural, segundo
Cole (1996), permite-nos juntar mente e ação, indivíduo e grupo, contextos
macro e micro e historicidade, de forma que possamos perceber como os
indivíduos são posicionados no sistema da atividade, quais são as
possibilidades para ação e o que eles podem fazer com elas.
1.1.7. Zona proximal de desenvolvimento e as oportunidades de
aprendizagem
Nesta seção abordo a questão da zona proximal de desenvolvimento
(ZPD), conceito criado por Vygotsky como uma metáfora, conforme lembra
Steiner (1996), para ajudar a explicar como ocorre a aprendizagem social e
participativa. Para esta pesquisa, que investiga o desenvolvimento de um
trabalho colaborativo entre duas professoras de uma Escola Municipal de
Educação Infantil (EMEI) visando à construção colaborativa e reflexiva de
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
32
sentidos sobre os significados relativos ao trabalho profissional, voltado para a
preparação de atividades com os alunos em contextos que propiciem a
compreensão das ações, inserção de transformações e a construção
colaborativa do conhecimento, a discussão sobre a zona proximal de
desenvolvimento é importante na medida em que permite investigar a
aprendizagem e o desenvolvimento como uma construção social.
Na concepção vygotskiana de zona proximal de desenvolvimento,
aquele que sabe mais ou é considerado o par mais competente, segundo Lee e
Smagorinsky (2000), precisa entender e estar atento em como o outro
compreende a tarefa e quais são os recursos cognitivos que ele traz para a
mesma. A interação entre os pares, daquele que tem mais conhecimento com
aquele que é considerado menos experiente e que, portanto, tem menos
conhecimento sobre determinado assunto, é negociada através da linguagem e
do uso de instrumentos.
Wells (2000) também enfatiza o papel da linguagem como
instrumento de mediação na zona proximal de desenvolvimento. Além de
funcionar como mediadora do conhecimento e experiência dos participantes da
interação, a linguagem é um meio de construir e refletir sobre as ações do
presente, passado e futuro, sobre as pessoas e instrumentos envolvidos e a
relação entre eles.
O conceito de zona proximal de desenvolvimento teve e tem, até
hoje, bastante repercussão na área educacional, tendo sido apropriado por
diferentes vozes, com interpretações diversas, principalmente porque Vygotsky
não teve tempo, devido à sua morte prematura, de desenvolver melhor e
expandir esse conceito. São duas as interpretações que ele dá a esse conceito
em sua obra.
A primeira interpretação pode ser encontrada em “A formação social
da mentee é caracterizada como a distância entre o nível de desenvolvimento
real que é determinado pelas habilidades na solução de problemas exibidas por
um indivíduo quando ele está só, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado pelas habilidades desse indivíduo quando ele tem a colaboração
de um par ou de pares mais competentes. A partir dessa conceituação
vygotskiana inicial de zona proximal de desenvolvimento, Bruner (1977)
introduziu a noção de andaime (“scaffolding”), referindo-se à assistência do par
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
33
mais desenvolvido para o menos desenvolvido. Cazden (1979, apud Daniels,
2003) expandiu essa noção de andaime, categorizando diferentes tipos de
assistência.
Essa interpretação tem sido amplamente divulgada na escola e
pedagogicamente utilizada como o oferecimento do suporte inicial, o qual se
retirado mais tarde. Tamm outros autores, como Wood (1976), já tinham
definido a construção de andaime como uma forma de assistência do adulto ou
do par mais experiente que possibilita à criança ou ao novato solucionar um
problema, que estaria longe de seu alcance sem essa assistência, a ênfase
aqui exposta acima, afirmando que a colocação de andaime se concentra mais
na distribuição entre pessoas do que no uso de artefatos. Para ele, a colocação
do andaime implica em simplificar o papel do aprendiz e não da tarefa.
A maneira como essa ajuda é distribuída e conceituada varia de
autor para autor. Engeström e Cole (1997), por exemplo, usam o termo
“distribuição cognitiva” para se referir ao trabalho de colocação de andaime,
ligando-o a uma imagem do ensino que se estende através de outras coisas e
pessoas. O mais importante nessa discussão, porém, é que a zona proximal de
desenvolvimento ligada à colocação de andaimes levanta questões específicas
sobre como a cultura é interiorizada pela mediação dos outros, sobre o grau de
assistência exigido pelo aprendiz, a ajuda oferecida pelo outro, no caso da
aprendizagem escolar, o professor ou o par mais experiente, e o nível de
controle dessa ajuda.
Segundo Wood (1978, apud Daniels, 2003), o nível de controle é
dependente do progresso do aprendiz no entendimento da tarefa e também no
quanto ele necessita ou não da ajuda para prosseguir na execução da mesma.
Day e Cordon (1993) fizeram estudos comparativos entre a instrução com e
sem andaimes e concluíram que os alunos tiveram resultados melhores de
aprendizagem na instrução com andaimes.
Essa versão, entretanto, pode se referir a um processo de mão
única, em que aquele que coloca o andaime também o constrói e o apresenta
ao outro, apontando para uma visão simplista e unilateral da ação do outro,
sem levar em consideração o lugar da aprendizagem no mundo social. Tal
versão tem sido, por esse motivo, essencialmente unidirecional e específica,
alvo de críticas (por exemplo, Magalhães, 1996). A internalização é, nessa
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
34
visão, considerada como uma aquisição individual de conhecimento. A questão
precisa ser examinada com cuidado, levando-se em consideração a ajuda sim,
a qual poderá ser negociada colaborativamente.
A segunda interpretação de zona proximal de desenvolvimento é a
“cultural” e define a zona proximal de desenvolvimento como a distância entre o
conhecimento científico fornecido pela escola e o conhecimento cotidiano do
aluno, afirmando que a junção desses dois conhecimentos produz o
conhecimento verdadeiro. Esta versão é encontrada na última grande obra de
Vygotsky, “Pensamento e Linguagem (1934/1987), na qual ele estuda o
desenvolvimento dos conceitos científicos na infância.
Essa ligação entre o conhecimento científico e espontâneo é,
tamm, discutida por Hedegaard (2002) em seus trabalhos, mostrando a
necessidade de o professor combinar os conhecimento e as habilidades que a
criança já traz para a escola, com aquilo que a escola pretende ensinar. Ela
comenta que o bom ensino é aquele que consegue relacionar experiências
com a parte teórica, com a contribuição de todos. A ligação entre os conceitos
espontâneos, que surgem da experiência prática, e os conceitos científicos,
que são ensinados e aprendidos na escola, é vista como ponto crucial do
trabalho na zona proximal de desenvolvimento e é chamado por ela de
movimento duplo do ensinar e do aprender, um movimento do concreto para o
abstrato.
Nessa abordagem, o professor trabalha as atividades considerando
não somente o conhecimento científico, específico de determinada área, mas
tamm, com o objetivo de poder contar com a participação e engajamento dos
alunos, ele propõe a solução de problemas que são significativos para o
estágio de desenvolvimento em que se encontram os alunos e o contexto
social no qual eles se inserem. Isso, segundo Hedegaard (2002), favorece a
colaboração entre professor e aluno e entre alunos na tentativa de resolver
problemas em uma determinada área do conhecimento.
Schneuwly (1992) também considera a zona proximal de
desenvolvimento como a distância entre o conhecimento científico e o cotidiano
e associa essa zona a uma zona de tensão e conflito, entre esses dois tipos de
conhecimento. Ele propõe uma zona de tensão entre fatores internos
(pessoais) e os fatores externos (situação e condições sócio-culturais). Para
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
35
ele, o ensino cria a zona proximal de desenvolvimento, que provoca conflito
entre o novo e o que é sabido. Ao tentar solucionar um conflito, o indivíduo tem
a oportunidade de se desenvolver, dando a origem a novas formas de
funcionamento psicológico. O ensino novas ferramentas para que o
indivíduo construa as funções psicológicas superiores, além de promover a
fusão dos conceitos cotidianos ou espontâneos com os científicos.
Esses conceitos constituem um sistema de relações e
generalizações contido nas palavras e determinado por um processo histórico-
cultural e construções culturais internalizadas durante o processo de
desenvolvimento. Vygotsky distingue os conceitos cotidianos ou espontâneos,
que são construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana das crianças,
dos conceitos científicos que são adquiridos através do ensino sistemático.
No artigo: “Signifying in the zone of proximal development”, Lee
(2000) aborda e sistematiza os conceitos científicos e espontâneos. Para ele os
conceitos espontâneos, que se desenvolvem na comunidade de prática, são
situacionais, empíricos e práticos. os científicos são sistemáticos, relativos
ou generalizáveis, e se distanciam do concreto. As funções mentais
necessárias para a aquisição de conceitos científicos são: atenção deliberada,
memória lógica, abstração, capacidade para comparar e diferenciar e um meio
ambiente desafiador. Lee (2000), em seu estudo sobre “signifying”, gênero oral
de comunicação usado pela comunidade africana nos Estados Unidos, explica
que esse discurso pôde dar suporte aos alunos em uma aula de literatura, na
interpretação de textos literários. Esse discurso foi, então, considerado como
uma ponte que permitiu a ligação entre o conhecimento espontâneo e o
científico na zona proximal de desenvolvimento. Dessa forma, Lee (2000) junta
as duas interpretações de ZPD, andaime e cultural.
Além das duas interpretações acima, de Vytoksky, uma terceira
interpretação, a “coletivista” ou “social” é dada por Engeström (1987), que
define a zona proximal de desenvolvimento como a distância entre as ações
cotidianas dos indivíduos e a forma historicamente nova da atividade social que
pode ser coletivamente gerada. uma ênfase nos processos de
transformação social e na natureza conflituosa da prática social,
potencializando a influência do social, principalmente devido ao conflito que é
gerado no grupo. Essa visão está ligada à teoria da atividade, na qual a zona
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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proximal de desenvolvimento pode ser compreendida como um espaço de
transformação e reorganização do sistema de atividade.
Essa visão social de zona proximal de desenvolvimento é
compartilhada por Putney et al. (2000), que, entretanto, preferem usar o termo
“oportunidades de aprendizagem’, focalizando no modo como o criadas
essas oportunidades. À medida que o indivíduo interage com o outro, no
contexto escolar, ele adquire o conhecimento e, tamm, o modo como
aprender. O desenvolvimento o é linear, previsível, mas é cultural, histórico,
dinâmico e interativo, tanto para o indivíduo como para o grupo. A
aprendizagem, segundo eles, é uma construção social, na qual o indivíduo se
forma e ajuda na formação do grupo, em um processo contínuo de interação, o
qual promove sistematização e reorganização para uns e conflito para outros.
O conhecimento é, então, construído, reconstruído e transformado, com base
na sócio-história de cada indivíduo.
Também Lave e Wenger (1991), com seu conceito de “comunidades
de prática”, elaboraram uma definição de zona proximal de desenvolvimento
que se encaixa nessa terceira interpretação. Eles estendem o conceito de
aprendizagem para além do contexto escolar, levando em consideração a
natureza conflituosa da prática social, na relação dos novatos com os mais
experientes. A aprendizagem não é somente um processo de transferência ou
assimilação, mas envolve tamm transformação.
Neste trabalho, a zona proximal de desenvolvimento de ser
entendida, em primeiro lugar, na elaboração da dissertação, como um processo
gerador de conflitos mediado pela ação do outro. Aponto o conflito provocado
pela orientadora, pela banca de qualificação e outros pares de leitores do
trabalho, o conflito provocado pela exposição aos fundamentos teóricos e pela
necessidade de achar as ligações entre o discutido teoricamente e os dados e
as perguntas de pesquisa e, por último, o conflito gerado na elaboração escrita
do trabalho, tendo em mente os leitores críticos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
37
Em segundo lugar, como zona de construção, pelo trabalho que eu
juntamente com a professora realizávamos para ser desenvolvido com os
alunos durante o ano letivo de 2006. Esse trabalho esteve sempre apoiado na
colaboração e ajuda mútua, não apenas nas sessões que realizávamos
quinzenalmente, mas, tamm, no cotidiano escolar e nos conflitos que
surgiam durante as aulas.
E, por último, tomo a zona proximal de desenvolvimento como uma
zona de negociação, percebida nas discussões das sessões reflexivas sobre a
visão de professor, de aluno e das concepções de ensino-aprendizagem.
Concluo esta seção enfatizando a importância do conceito de zona
proximal de desenvolvimento para o ensino-aprendizagem-desenvolvimento
das participantes e ressaltando a relevância do mesmo para a reflexão e
mudança do meu ensinar e do ensinar da professora participante e para a nova
forma como passamos a olhar o processo de ensino-aprendizagem de nossos
alunos. Os conceitos teóricos, segundo Davydov (1988 apud Engeström,
1997), promovem a formação de funções metacognitivas de alto nível, como
reflexão, análise e planejamento. E foi, realmente, a partir do acesso a esses
conceitos, que o refletir sobre a sala de aula e sobre o processo de ensino-
aprendizagem pôde propiciar transformações no meu ensinar e no ensinar da
professora participante, fazendo com que nossas salas de aula passassem a
ser um espaço de negociação, como conseqüência das sessões reflexivas.
O quadro a seguir resume as diversas interpretações da zona
proximal de desenvolvimento, organizando os teóricos e suas definições, além
de indicar como esse conceito foi considerado nesta dissertação.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
38
Quadro 2 – Interpretações de ZPD
ZONA PROXIMAL DE DESENVOLVIMENTO NAS DIFERENTES PESQUISAS
Andaime Cultural Social
Vygotsky Vygotsky Engeström
Distância entre o que o indivíduo
faz sozinho e o que secapaz
de fazer com suporte de um par
mais capaz.
A distância ente o conhecimento
científico fornecido pela escola e
o conhecimento cotidiano do
aluno, afirmando que a junção
destes dois conhecimentos
produz o conhecimento
verdadeiro
A distância ente as ações
cotidianas dos indivíduos e a
forma historicamente nova da
atividade social que pode ser
coletivamente gerada.
Wood Hedegaard Putney et al
Progresso do aprendiz,
entendimento da tarefa e
também no quanto ele necessita
ou não da ajuda para prosseguir
na execução da mesma.
A ligação entre os conceitos
espontâneos e os conceitos
científicos é vista como o ponto
crucial do trabalho na ZPD e é
chamado, por ela, de movimento
duplo do ensinar e aprender, um
movimento do concreto para o
abstrato.
Oportunidade de aprendizagem.
Aprendizagem como construção
social e transformação, com
base na sócio-história de cada
indivíduo.
Engeström e Cole Schneuwly Lave e Wenger
Distribuição cognitiva ou como o
sistema de ensino se estende.
A distância entre o conhecimento
científico e o cotidiano e associa
essa zona a uma zona de tensão
e conflito, ente estes dois tipos
de conhecimentos.
Comunidades de prática,
levando em consideração a
natureza conflituosa da prática
social, na relação dos novatos
com os mais experientes.
Daniels Lee Russell
A colocação de andaime se
concentra mais na distribuição
ente pessoas do que no uso de
artefatos, implica em simplificar o
papel do aprendiz e não da
tarefa
O “signifying”, gênero oral de
comunicação usado pela
comunidade africana nos
Estados Unidos, serviu como um
suporte na interpretação de
textos literários.
Os sistemas de atividades são
dinâmicos e apresentam
constantemente oportunidades
de aprendizagem e
transformação.
Zona Proximal de desenvolvimento nesta dissertação
Como o conhecimento espontâneo é
trabalhado nas sessões reflexivas,
servindo de base para o
conhecimento científico.
Como construção: trabalho que eu
juntamente com a professora
realizava para ser desenvolvidos
com os alunos durante o ano letivo
de 2006. Trabalho esse que esteve
apoiado na colaboração e ajuda
mútua, não apenas nas sessões que
realizávamos quinzenalmente, mas,
também, no cotidiano escolar e nos
conflitos que surgiam durante as
aulas.
ZPD como zona de conflito e
negociação, promovendo
oportunidades de aprendizagem.
ZPD no sistema de atividade como
espaço para movimento e
transformação.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
39
Depois de ter trabalhado os conceitos relevantes para o
entendimento dos sistemas de atividade, tais como: constituição do sujeito,
instrumentos de mediação semtica, sentido e significado, cultura e contexto e
zona proximal de desenvolvimento, passo para a última seção da primeira
parte da fundamentação teórica, referente à discussão sobre a teoria da
atividade, abordando as contradições e conflitos no sistema de atividade.
1.1.8. Contradições e conflitos no sistema de atividade
Contradições e conflitos são inevitáveis nos sistemas de atividade.
Eles são como molas propulsoras de movimento e transformação. Por essa
razão, considero importante abordar, nesta seção, a definição de conflito, para
em seguida olhar mais detidamente para ele no sistema de atividade.
A palavra conflito é derivada do latim, “confligere”, que significa bater
ou lutar, degladiar com o outro, dando margem a duas definições. A primeira
afirma que conflito é uma luta, uma batalha que se estabelece entre duas
forças opostas, em razão de crenças e idéias, podendo resultar em um atrito
físico. A segunda definição afirma que essa situação tamm pode acontecer
psicologicamente, como uma tortura, uma ansiedade, uma incompatibilidade
entre os desejos da própria pessoa. Assim, tendo a palavra uma significação
psicológica e material, o conflito pode ser tanto externo como interno. Há,
portanto, um dualismo na concepção da palavra e o conceito é,
inevitavelmente, produto da atividade humana.
A teoria sobre conflito sofreu a influência das visões mecanicista e
organicista de mundo, ou seja, de como os indivíduos são controlados ou
manipulados pela sociedade, em um movimento de fora para dentro; ou de
como são orientados nas suas ações por eles mesmos, em um movimento de
dentro para fora. Dahrendorf (1959, apud Sellman, 2001) identifica quatro
modelos de conflito:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
40
de negociação, com foco nas ações das duas partes que
querem chegar a um acordo;
cognitivo, com foco na tentativa de uma parte influenciar a
outra;
modelo de aprendizagem, com foco na interação como
processo de aprendizagem;
modelo de processos de reação, com foco na descrição da
ação em resposta à última ação.
Mesmo nos modelos acima, ainda é possível verificar a dicotomia
entre interno e o externo, entre o conceitual e o comportamental, ente o
indivíduo e o grupo. Os modelos de conflito que focalizam somente um dos
aspectos apresentam uma visão reducionista de conflito. Por isso, um modelo
mais adequado de conflito deveria compreender tanto a relação do indivíduo
como do grupo ao qual pertence, quanto a influência das forças internas e
externas e, além disso, o histórico do conflito e a sua resolução, para abranger
a origem, o ponto de ruptura e a resolução.
A teoria da atividade, considerando o que foi discutido acima,
consegue compreender e analisar o conflito, já que leva em conta tanto o
indivíduo como a ação coletiva, mediados por instrumentos ou artefatos
culturais, e oferece uma visão de mundo dialética como uma alternativa para a
dicotomia entre as visões mecanicista e a organicista de conflito. As atividades
coletivas são culturalmente mediadas e orientadas por um objeto comum.
Entretanto, como já mencionei, nem todos os sujeitos envolvidos na mesma
atividade compartilham o mesmo objeto, o que ocasiona, na maioria das vezes,
um conflito entre o individual e o coletivo, entre o que é internalizado e o que é
externalizado por cada um dos participantes. Como instrumento de análise, a
teoria da atividade possibilita identificar tanto o conflito, como a fonte geradora
de contradições e tensões que, possivelmente, poderão se transformar em
conflitos, os quais, segundo Sellman (2001), podem ser:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
41
burocráticos: na organização vertical da atividade coletiva, ou
seja, na hierarquia que governa uma série de sistemas, como
por exemplo, políticas educacionais, escola, sala de aula,
família;
de interesses: pessoas com objetos diferentes;
sistêmicos: organização lateral da atividade coletiva, ou seja, a
relação de um sistema com sistemas vizinhos.
Engeström (1999) refere-se a quatro tipos de contradições que
podem afetar um sistema de atividade. Uma contradição não é um conflito, mas
uma variação ou diferença de práticas e princípios. A contradição pode causar
um conflito, que poderia ser uma discordância, um choque de opiniões e uma
falta de aceitação do outro. As contradições são, assim, canais potenciais que
conduzem ao conflito. Ele as classifica as em:
contradição interna primária - no sistema de atividade e a
atividade que o produziu. Engeström exemplifica esse tipo de
contradição citando, no contexto médico, a variedade de
remédios. Eles não são apenas drogas que objetivam a cura
das enfermidades, mas tamm são “commodities” com
preços, fabricadas para um mercado, anunciadas e vendidas
para obter lucro. Os médicos, em geral, enfrentam esse tipo
de contradição no seu dia-a-dia, quando têm que optar por
uma ou outra. Neste trabalho, as contradições primárias são,
principalmente, causadas entre instrumentos, objeto e sujeito.
Por exemplo: a professora participante não consegue, num
primeiro momento, ensinar, sem a utilização da cópia;
contradição secundária - entre os elementos do sistema de
atividade e algo novo. Como as atividades são sistemas
abertos, a introdução de um novo elemento, como por
exemplo, uma nova tecnologia ou um novo objeto, pode
provocar contradições no sistema. As contradições, por
conseguinte geram conflitos, os quais podem mudar a
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
42
atividade. A contradição secundária no trabalho acontece
quando a professora participante precisa utilizar outros
instrumentos para suas aulas, como o texto, a necessidade de
interagir mais com o grupo/classe;
contradição terciária - entre as possíveis ações que formam
o objeto coletivo, principalmente entre algo que é proposto e
algo que é um padrão dominante. Novos procedimentos
podem ser formalmente implementados, mas, provavelmente,
haverá alguma resistência dos participantes que podem insistir
nas práticas antigas. Entre o objeto: o ensino a partir da cópia
desconectada do contexto do grupo/classe, por exemplo.
Também as experiências anteriores de ensino e de
aprendizagem podem ter influência no sistema de atividade da
sessão reflexiva e, conseqüentemente, na sala de aula, e
contradição quaternária - entre o sistema de atividade e
outros sistemas interligados. No trabalho esse tipo de
contradição pode ser percebido pela forma como um sistema
interfere no outro. O que a professora participante traz de seu
contexto, do sistema de atividade familiar e de sua história de
vida para o sistema de atividade das sessões reflexivas.
Neste trabalho, como já mencionado acima, as contradições são
geradas, principalmente, em razão dos sentidos que construímos sobre visão
de professor, visão de aluno e concepção de ensino-aprendizagem. O que
sabemos e fazemos, os procedimentos que são parte integrante de nossa
prática, passam do nível da operação, automatizados, para o vel da ação,
quando passamos a repensá-los. Isso gera uma contradição, que pode ou não
levar ao conflito, dependendo de como o professor encara o novo ou teme a
mudança. São causadas também pelo uso que os sujeitos fazem ou o dos
instrumentos, pelas regras e pela introdução de algo novo, que pode ser tanto
uma regra como um instrumento ou uma nova divisão de trabalho.
Em suma, as contradições são inevitáveis no sistema de atividades,
fazendo com que novos estágios qualitativos e formas de atividades possam
emergir como solução para as contradições do estágio anterior. Isto, na
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
43
realidade, é o que sempre acontece quando algo que, a princípio, era uma
exceção à regra, se transforma, mais tarde, em um fenômeno universal. Assim,
qualquer melhoria, qualquer alteração na forma de trabalhar, por exemplo,
aparece primeiro como um desvio, uma exceção e, na medida em que é aceita
pelos outros participantes do grupo, se transforma em uma norma. São,
portanto, formas que possibilitam o desenvolvimento expansivo da atividade. O
quadro abaixo sistematiza os tipos de conflitos e contradições que podem
ocorrer nos sistemas de atividade e também os que podem acontecer neste
trabalho.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
44
Quadro 3 – Conflitos e contradições nos sistemas de atividade
Conflitos
Burocráticos De interesse Sistêmicos
Organização vertical do grupo
Pessoas com objetos
diferentes
Organização lateral da
atividade coletiva
Conflitos nos sistemas de atividade do trabalho
Apesar de existir,
formalmente, um espaço para
o desenvolvimento
profissional na Unidade
Educacional (JEI), este não é
utilizado para este fim.
As professoras com objetos
diferentes dentro do mesmo
sistema de atividade. A
professora pesquisadora
tinha como objeto o
desenvolvimento profissional
das participantes e a
professora participante tinha
como objeto reproduzir as
atividades realizadas por mim
(professora-pesquisadora).
A forma como um sistema
interfere no outro. O que a
professora participante traz
do seu contexto, do sistema
de atividade familiar para o
sistema de atividade das
sessões reflexivas.
Contradições
Primárias Secundárias Terciárias Quaternárias
Entre cada elemento
do sistema de
atividade
Entre os elementos
do sistema de
atividade e algo novo
Entre as possíveis
ações que formam o
objeto coletivo,
principalmente entre
algo que proposto e
algo que já é um
padrão dominante.
Entre o sistema de
atividade e outros
sistemas interligados
Contradições nos sistemas de atividade nesta dissertação
Entre instrumentos,
por exemplo:
Instrumento
mediação/sala = cópia;
Instrumento
mediação/sessões
reflexivas = discute-se
sobre a utilização de
textos/ outras
estratégias a serem
utilizadas com os
alunos.
Entre o uso de um
instrumento novo e o
sujeito, como por
exemplo, quando a
professora
participante precisa
utilizar outros
instrumentos para
suas aulas, como o
texto, a necessidade
de interagir mais com
o grupo/classe e, por
vários momentos, em
seus relatos sobre
sua aulas, acaba
utilizando a cópia e,
com isso, não
interage com o
grupo/classe.
Entre o objeto:
ensinar os alunos a
partir da cópia
desconectada do
contexto do
grupo/classe, por
exemplo. Também as
experiências
anteriores de ensino
e de aprendizagem
podem ter influência
no sistema de
atividade da sessão
reflexiva e,
conseqüentemente,
da sala de aula.
O que a professora
participante traz de
seu contexto, do
sistema de atividade
familiar e de sua
história de vida para
o sistema de
atividade das
sessões reflexivas.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
45
Finalizo a primeira parte da fundamentação teórica enfatizando a
relevância da teoria da atividade para o meu trabalho, primeiro por orientar a
direção da discussão teórica e, segundo, por possibilitar organizar a atividades
de investigação, análise e apresentação dos resultados em torno dos sistemas
de atividade, o que contribuiu para trazer uma nova perspectiva para a
dissertação. Passo, em seguida para a discussão de reflexão.
1.2. Reflexão
Esta seção tem como finalidade discutir o processo reflexivo na
formação do professor, a sessão reflexiva como espaço para formação do
professor crítico e a importância da discussão na formação crítica.
1.2.1. O processo reflexivo na formação de professores
Frente a todas as mudanças de informação, comportamentais e a
atual crise de valores por que o mundo passa, é com ansiedade e preocupação
que eu e a professora participante buscamos alternativas para nosso trabalho.
Como a linguagem, assumida como mediadora das práticas
discursivas, constitui-se num dos enfoques básicos desta pesquisa, é pelo
diálogo entre mim e a professora, num contexto de reflexão crítica, que
procuramos promover a percepção de nossos problemas no cotidiano escolar
e, tentarmos, juntas, traçar caminhos para solucioná-los. Como bem lembra
Amaral (apud Alarcão, 1996:99), “uma prática reflexiva leva à (re)construção de
saberes, atenua a separação entre teoria e prática e assenta na construção de
uma circularidade em que a teoria ilumina a prática e a prática questiona a
teoria”.
Entretanto, como alerta Libâneo (2000:85), é necessário usar de
cautela quanto à valorização do pensamento e do saber de experiência do
professor sem critérios, pois poderíamos cair num
“populismo pedagógico em que se quer descobrir uma ‘essência’ de
professor, na sua cotidianeidade, na sua experiência, na sua ingenuidade,
insegurança, infelicidade ... sem ajudá-lo a tomar consciência de suas práticas
(muitas delas são inadequadas) e a desenvolver as competências necessárias
para o desempenho profissional. é que se destaca o papel da teoria, não como
direção da prática, mas como apoio à reflexão sobre a prática.”
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
46
Libâneo (2000) defende uma reflexão da prática pelo próprio
professor, na qual ele é ajudado a compreender o seu próprio pensamento e a
refletir de modo crítico sobre a sua prática. Sabendo da importância de os
alunos aprenderem a pensar, serem críticos, resolverem problemas, é preciso
que esses aspectos sejam inicialmente desenvolvidos com os professores. Não
é apenas aprender a pensar, mas um pensar epistêmico (Libâneo, 2000:87),
que alie as capacidade básicas de pensamento com elementos conceituais que
ajudem o indivíduo a entender o momento histórico e reagir a ele.
Para Perrenoud (2002:43), as pessoas refletem espontaneamente
sobre suas práticas, porém, “se esse questionamento não for metódico nem
regular, não vai conduzir necessariamente a tomadas de consciência nem
mudanças”.
Com base em Lineo (2000) e Perrenoud (2002), podemos dizer
que reflexão é um pensamento determinado, direcionado a uma ação (esteja
ela realizada ou em planejamento, ou mesmo acontecendo) que sofre a análise
do sujeito pensante. Essa análise traz consigo um histórico desse sujeito. Um
histórico formado de suas experiências socioculturais, de suas crenças e
valores subjetivos que influenciam a direção e profundidade dessa reflexão.
Autores como Nóvoa (1997), Placco (2000), Alarcão (1996, 2002),
Magalhães (1994, 1996, 1998) e Marin (2000) defendem a idéia de que os
professores devem ser parceiros na organização de projetos, grupos de
estudos e busca de soluções para as dificuldades do cotidiano escolar. Assim,
os professores tornam-se reflexivos, pois o processo colaborativo entre eles
permite (Magalhães, 1996) uma construção conjunta de discussões críticas
sobre valores, sentidos, teorias de ensino-aprendizagem e questões práticas
encontradas no contexto escolar.
De acordo com Conterás (2002:91), a formação de professores pode
ser fundamentada em três concepções, com base epistemológica: o
especialista técnico, o profissional reflexivo e o intelectual crítico. A concepção
que interessa a esta pesquisa é a da formão do profissional reflexivo crítico,
pois acredito que seja a forma de trabalho que ajuda o professor a abordar as
situações problemáticas da prática, rever seus posicionamentos e situar-se
num contexto histórico.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
47
Dewey foi um dos precursores da discussão sobre a reflexão nas
atividades educativas, fazendo um contraste entre ação reflexiva e ação
rotineira. Para Dewey (1959:14), a reflexão “não é simplesmente uma
seqüência, mas uma conseqüência uma ordem de tal modo consecutiva que
cada idéia engendra a seguinte como seu efeito natural e, ao mesmo tempo,
apóia-se na antecessora ou a esta se refere”. De acordo com Dewey (1959),
seriam necessárias três atitudes pessoais para desenvolver o processo de
reflexão:
espírito aberto: desarmar-se de resistência para ouvir os
outros e tentar compreender seus posicionamentos, não como
avaliação, mas como colaboração;
responsabilidade: ser capaz de ponderar suas ações e
demonstrar sua preocupação em relação às conseqüências
que podem ter tais ações (nos níveis: pessoal, social, político
e ético) e
empenho: predisposição para romper com situações de rotina
e enfrentar situações de desafio e conflito em suas práticas.
Aliadas a essas três atitudes que permeiam as ações dos
professores envolvidos no processo reflexivo, há outras características de
reflexão percebidas nas atuações dos professores em suas práticas
pedagógicas. Van Manen (1977) indica essas características nos três níveis de
reflexão que estão embasadas nos três tipos de interesses habermasianos. O
quadro abaixo foi organizado com base em Liberali (1998;2000) e Romero
(1998).
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Quadro 4 – Os tipos de Reflexão
Tipos Características
Técnica
Este tipo de reflexão permite ao educador previsão e controle de eventos,
visando a eficiência e eficácia dos meios para atingir determinados fins. O
educador estaria preocupado em alcançar objetivos pré-estabelecidos e
decididos por outros, apoiando-se em descobertas através de estudos,
seminários, conferências, manuais de livros, palestras com sugestões. Muitas
vezes esse tipo de reflexão reprime, impede o brotar da criatividade e o poder de
decisão, habilidades tão necessárias aos professores.
Prática
Este tipo de reflexão faz o educador partir de uma tentativa de encontrar soluções
para a prática na prática. Refere-se aos problemas da ação que não são
passíveis de serem resolvidos de forma instrumental. O interesse está no
conhecimento que facilita o entendimento com os outros. Com esse tipo de
reflexão, o educador relaciona os seus objetivos a alcançar e os problemas da
ação ao seu fazer pedagógico, baseando-se no senso-comum.
Crítica
Este tipo de reflexão engloba as duas anteriores e valoriza critérios morais que
embasam a ação do sujeito. Seus objetivos estariam relacionados à
compreensão de suas ações e implicações de ordem ética e moral para si próprio
e para seus alunos. O educador ocupa-se das implicações éticas e morais de
suas ações e com as implicações nas instituições das quais faz parte. As ações
pessoais são analisadas em contextos histórico-sociais mais amplos e seu
interesse é buscar uma direção para proporcionar maior autonomia e
emancipação aos participantes envolvidos.
Tomando por base Liberali (1994), para quem refletir é um ato
consciente que leva a revisar crítica e racionalmente aquilo que se faz, com o
objetivo de reformular a ação, posso entender que a participação nas sessões
reflexivas possibilita um exercício de autoquestionamento que propicia um
distanciamento das ações para conhecê-las, compreendê-las e reorientá-las.
Mas não apenas refletir para avaliar e se ausentar do compromisso de
transformação. É refletir para repensar em novas atitudes e posicionamentos.
Ao realizar as sessões reflexivas, é importante promover momentos de reflexão
crítica pois, para (Kemmis, 1987), isso implica num processo de auto-avaliação
que coloca os participantes na ação, na história da situação, participando da
atividade social e, acima de tudo, tendo uma determinada postura diante dos
problemas.
1.2.2. Sessão reflexiva como espaço para formação do professor crítico
Nesta seção apresento a sessão reflexiva como espaço para a
formação e desenvolvimento de professores críticos, que possam interferir
positivamente em sua sala de aula e, por conseguinte, em sua unidade escolar,
sendo a língua considerada como uma força libertadora, tanto em termos
culturais, como profissionais, como pensava Freire (1996).
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Na abordagem sociocultural de ensino-aprendizagem alteram-se os
papéis do professor, do aluno e do conteúdo. uma preocupação em trazer
para o espaço de aprendizagem o conhecimento de mundo e o conhecimento
cotidiano, ouvir e levar em consideração o que o outro sabe e o que pensa
sobre os temas e assuntos a serem explorados, ligando-os àqueles que estão
previstos a serem abordados.
A sessão reflexiva transforma-se, então, em um espaço de
negociação e de construção colaborativa. O conhecimento torna-se significativo
na medida em que é possível relacioná-lo ao contexto e aos aspectos
socioculturais. O coordenador da sessão - a professora-pesquisadora, no caso
deste trabalho -, é parte integrante do grupo, servindo como mediador entre o
conhecimentos cotidiano e o científico, fornecendo instrumentos para que a
participante consiga superar suas dificuldades e consiga se movimentar no
processo de aprendizagem e desenvolvimento. A visão de educação como
transmissão de conhecimento cede espaço para a aprendizagem como uma
produção colaborativa, em que os participantes envolvidos no processo
compartilham múltiplas fontes de informação, incluindo seus conhecimentos
prévios.
Nessa mesma perspectiva, Wells (2000) também defende a idéia de
aprendizagem como um processo construtivo e colaborativo. Faz, entretanto,
uma crítica à forma tradicional como a aprendizagem vem sendo trabalhada
nas escolas, principalmente devido ao currículo extenso que precisa ser
cumprido, aos testes que exigem a memorização dos conteúdos e à falta de
suporte pedagógico das escolas, em geral, para seus professores. As escolas,
segundo ele, ainda enfatizam a transmissão do conhecimento e habilidades,
através da “entrega” que precisam fazer do conteúdo programático de um
currículo desenhado, independentemente das necessidades e aspirações dos
alunos, impedindo a aprendizagem, ao invés de possibilitá-la. Além disso, por
considerar a aprendizagem como um resultado do ensino e como um processo
de transmissão de conhecimentos, eles acabam criando alunos que evitam se
expor ao inesperado, ao não previsível, e que são bem sucedidos, pois
obedecem a regras e se encaixam no modelo do bom aluno. Infelizmente,
podemos transpor esse exemplo para a formação dos professores e por essa
razão que abordo esse assunto.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
50
A educação, conforme comentada acima, constitui um sistema de
atividade, que deixa de promover alguma mudança na sociedade, pelos
problemas apontados. As mudanças acontecem nos sistemas de atividade,
salas de aula, escolas e sociedade, quando os participantes percebem-se
como agentes transformadores, podendo, então, transformar os sistemas dos
quais participam. Para isso, a sessão reflexiva, para este trabalho, precisa ser
um espaço de colaboração, de investigação e de formação de professores
críticos, havendo, então, a necessidade de negociar as atividades que
desafiem os participantes e que sejam, acima de tudo, significativas. Em
síntese, conforme discutido por Wells (2000), a sala de aula/ sessão reflexiva
deve:
ser uma comunidade colaborativa, na qual os participantes
compartilhem objetivos comuns, sendo a colaboração
determinante para se alcançar este objetivos;
ter atividades significativas que possam envolver os
participantes e não apenas habilidades isoladas;
ter atividades que consigam motivar participantes diferentes,
que trazem para este contexto suas histórias e experiências;
ter um currículo que seja um meio e não um fim, para realizar
atividades que tenham significação pessoal e social.
A preocupação com o transcender tanto a sessão reflexiva como a
sala de aula, para que professores e alunos sejam capazes de interferir
positivamente na construção de uma sociedade mais justa, menos
preconceituosa e que saiba lidar com a diversidade, encaixa-se, portanto,
dentro de um quadro sociocultural de ensino-aprendizagem, o qual pressupõe
um diálogo constante ente os participantes da interação, fazendo com que a
sessões reflexiva sejam um espaço colaborativo e de formação de sujeitos
críticos.
Concluo a seção, enfatizando que as sessões reflexivas
transformaram-se nesse espaço, onde as participantes, através da língua,
aprendem a se colocar, a repensar o seu papel, a ter voz para colocar suas
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
51
posições e pontos de vista, contribuindo para a construção de um espaço mais
democrático e significativo.
A seguir, apresento a discussão como instrumento de mediação
semiótica para a formação do professor crítico.
1.2.3. Discussão e formação crítica
Nesta seção, defino a discussão como forma de ensinar e de
desenvolver o pensamento crítico, e as perguntas como instrumento de
mediação semiótica na formação do profissional crítico, com base em
Brookfield (1987), Freire (1970) e Giroux (1997). Freire (1970), afirma que as
perguntas são importantes na formação da consciência crítica e do
conhecimento verdadeiro. Para ele, o mundo pode e precisa ser mais justo,
mais bonito e mais democrático e a educação é o caminho para a libertação.
Ela pode resgatar a condição humana, atuando contra os efeitos da opressão,
contribuindo para a humanização.
Em sua obra Pedagogia do Oprimido”, ele argumenta que vale a
pena lutar pela democracia, que a educação crítica é um elemento básico para
a mudança social e que a ideologia política é inseparável de nossa
compreensão do mundo, do poder e da vida moral que aspiramos ter. A sua
grande inspiração, nesta obra, foi a elaboração de uma teoria de mudança
social e compromisso, para que os cidadãos pudessem se tornar sujeitos da
história e agentes cticos de seu próprio destino.
Nessa mesma linha, Brookfield (1987) comenta que, para os sujeitos
desenvolverem o pensamento crítico, é necessário, em primeiro lugar, que haja
um espaço, onde eles se sintam livres para se colocar, para expressar suas
idéias e seus pontos de vista. Cada sujeito traz para este espaço as suas
experiências e suas histórias, que são socialmente construídas e que passam a
fazer parte do mesmo. Portanto, no caso das sessões reflexivas, o
coordenador, precisa encorajar os participantes a falar de suas experiências
que demonstram como foram constituídos, como pensam e agem. Entretanto,
essas experiências precisam ser problematizadas para que possam ser
instrumentos de aprendizagem e desenvolvimento, para que haja um
movimento na zona proximal de desenvolvimento da atividade.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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A discussão na sessão reflexiva é, então, uma forma de viabilizar o
processo de desenvolvimento do pensamento crítico, revelando a diversidade
de opiniões sobre assuntos complexos e permitindo que o conhecimento
cotidiano seja parte integrante da sessão reflexiva. A discussão é, assim, um
processo democrático, do qual todos podem participar e se expressar,
argumentar e contra-argumentar, respeitar a opinião do outro, etc. Assim, a
sessão reflexiva pode ser um lugar onde os participantes aprendem a se
colocar, a discutir idéias. Por isso, quando os participantes percebem que suas
opiniões têm valor e são levadas em consideração, não como prever as
diferentes perspectivas que podem aparecer na sessão reflexiva. Para que isso
aconteça, Giroux (1997) enfatiza ser necessário que o professor/coordenador
da sessão reflexiva:
esteja consciente de seu papel, fazendo perguntas para dar
prosseguimento ao assunto, parafraseando quando a opinião
não está clara e fazendo a ligação de uma idéia com outra;
e os participantes prestem atenção no que o outro diz, que
muitas vezes o professor/coordenador o tem paciência para
ouvir a opinião dos participantes, levando-a em consideração,
por sentir-se ainda como detentor do saber;
e os participantes tenham humildade para perceber que
sempre aprendemos uns com os outros;
e os participantes se preocupem com o desenvolvimento de
cada um. A sessão reflexiva/sala de aula colaborativa é
aquela na qual participantes e professor/coordenador se
responsabilizam pela aprendizagem do outro e
e participantes tenham boa vontade para discutir, trazendo
para a cena evidências, dados, argumentos e contra-
argumentos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Além do processo democrático, a discussão é crítica, conforme
comentado por Giroux (1997), quando os participantes tomam parte com
mentes abertas e dispõem-se a argumentar e contra-argumentar, quando a voz
é dada a eles, para que possam falar de suas experiências sociais, falar das
diferenças e discutir tópicos que fortaleçam a cidadania. Ser ouvido é ser
respeitado. Quando falamos e o somos ouvidos, sentimos que não temos
voz, que estamos sendo ignorados e desrespeitados.
A educação problematizadora com base nas perguntas, tamm é
defendida por Freire (1970), que afirma ser esta capaz de levar o aprendiz a
adquirir as habilidades de tomada de decisão necessárias para se tornar um
participante ativo, um agente criticamente consciente na vida da comunidade.
Para ele, o educador democrático é aquele que sabe ouvir os representantes
de minorias, que são basicamente oprimidas. Se não aprendermos como ouvir
essas vozes, não aprenderemos como falar. É preciso saber ouvir as vozes
silenciadas, para procurar formas que poderão propiciar o processo de leitura
do mundo silencioso que está em íntima relação com o mundo dos
participantes. Isso significa que o coordenador da sessão/professor deve estar
imerso na experiência histórica e concreta dos participantes, não de forma
paternalista, para falar por eles, mas para verdadeiramente ouvi-los.
Além de ser um processo crítico e democrático, Brookfield e Preskill
(1999) definem a discussão como um processo que envolve reciprocidade e
movimento, troca e questionamento, colaboração e cooperação, formalidade e
informalidade, e apontam como principais benefícios desse processo:
ajudar os participantes a ter um entendimento crítico sobre o
tópico e a explorar diversas perspectivas;
aumentar a consciência e a tolerância para com a
ambigüidade e expor os participantes à diversidade de
opiniões;
encorajar os participantes a ouvir e demonstrar respeito pela
opinião do outro;
aumentar a agilidade intelectual e desenvolver a capacidade
de comunicação de idéias e significados;
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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desenvolver a aprendizagem colaborativa e
ajudar a desenvolver capacidade de síntese.
Para viabilizar, então, a discussão na sessão reflexiva, faz-se
necessário analisar os tipos de perguntas e como elas podem ser instrumentos
de mediação semtica para a formação de sujeitos críticos. Lucioli (2003)
trabalha em sua dissertação de mestrado com diversos tipos de perguntas que
fazem parte da sala de aula de inglês. Ela cita autores que pesquisam o
assunto: Fernandes (1992), Coracini (1995), Feuerstein (2002) e Marins (2003),
ente outros. Os tipos de perguntas propostos por Brookfield e Preskill incluem
as que pedem mais evidência e informação sobre os fatos, perguntas que
permitem ligar a opinião de um participante com a do outro e as que permitem
colocar-se no lugar do outro.
Morales (1998) propõe as perguntas para verificar o progresso
dos participantes, consolidar o que foi aprendido, diagnosticar problemas de
aprendizagem e tamm para estimular o pensamento crítico e criativo.
Nesta pesquisa, as perguntas como instrumento de mediação
semiótica objetivam possibilitar:
a reflexão sobre a visão de professor e aluno e
concepções de ensino-aprendizagem;
a reflexão sobre experiências e histórias pessoais
que se ligam ao tópico em pauta;
a percepção de aprendizagem-desenvolvimento;
desenvolvimento do pensamento crítico.
O quadro abaixo sistematiza os tipos de perguntas discutidos nessa
seção e os que serão investigados nesta dissertação.
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Quadro 5 – Tipos de perguntas
Autores Tipos de perguntas
Brookfield e Preskill
(1999)
- que pedem mais evidência e informação;
- que pedem explicação ou esclarecimento
- abertas com como e por que;
- que possibilitam ligar a opinião de um participante com
outro;
- hipotéticas que permitem o colocar-se no lugar do outro.
Morales (1998)
Perguntas que possibilitem:
- verificar o progresso do grupo;
- consolidar o que foi aprendido;
- diagnosticar problemas do aprendizado;
- estimular o pensamento crítico e criativo.
Soares (2007)
a ligação do conhecimento cotidiano com o científico;
- que possibilitem a reflexão sobre a visão de professor,
aluno e concepção de ensino-aprendizagem;
- que possibilitem aos participantes trazer suas
experiências e histórias para a cena;
- que possibilitem aos participantes perceber o que
aprenderam;
- aos participantes o desenvolvimento do pensamento
crítico.
Concluo esta seção retomando Freire (1970), segundo o qual, para
que o professor seja realmente um educador, ele precisa desafiar a liberdade
criativa de seus alunos, para que eles se tornem donos de sua própria história.
Assim, os professores precisam transcender sua tarefa meramente instrutiva e
assumir a postura ética de um educador, que acredita na autonomia, liberdade
e desenvolvimento daqueles que educa. O desafio, segundo ele, é não tentar
salvar este mundo, romantizando-o, mantendo o oprimido como que
acorrentado a essas condições românticas e o educador em sua posição de
servir o oprimido, encarando-o como herói romântico. O que ele propõe é um
profundo respeito pela identidade cultural, pela linguagem, pela capacidade,
cor e gênero do outro. Em suma, que os alunos (as professoras, em nossa
dissertação) possam ter nas salas de aula/sessão reflexiva o espaço onde
aprendam a se constituírem como cidadãos críticos.
Esta seção, que apresentou a discussão como uma forma de
viabilizar a formação do pensamento crítico nas sessões reflexivas, finaliza a
terceira parte da fundamentação teórica, que objetivou discutir a reflexão,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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abordando a sessão reflexiva como espaço para a constituição do professor
crítico. Faço, a seguir, a apresentação da base teórica para a análise de dados.
1.3. Pressupostos teóricos para Análise dos Dados
Nesta seção, apresento a base teórica para análise dos dados, da
qual fazem parte a teoria da atividade, com análise descritiva dos sistemas, e a
análise do discurso. A teoria da atividade oferece, para o pesquisador, além da
base para discussão teórica, uma base de análise não reducionista, que
permite compreender os dados, ajudando a estruturá-los, sem, entretanto,
prescrever o que deve ser procurado, indicando a necessidade de levarmos em
consideração a importância do contexto e da historicidade dos elementos da
atividade.
Nessa abordagem, portanto, a atividade o é uma simples ação,
mas uma ação coletiva, culturalmente e historicamente mediada. Segundo
Engeström (1987), os trabalhos que utilizam a teoria da atividade como
sustentação teórica devem orientar a análise para os componentes do sistema
de atividade, o qual é composto pelos seguintes elementos:
os participantes da atividade;
os instrumentos de mediação semiótica que são usados no
trabalho;
as regras que orientam como eles trabalham;
o objeto para o qual os membros dessa comunidade dirigem
seu trabalho;
a comunidade de onde vêm os participantes;
a forma como o trabalho é dividido;
os resultados esperados dessa atividade.
Assim, neste trabalho, os eventos organizam-se como sistemas de
atividade, no qual são descritos e analisados os elementos, a relação entre
eles, os sistemas que os sujeitos trazem para os sistemas e os conflitos e
movimentos que promovem transformações, uma análise que tem um base
descritiva.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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A análise descritiva dos sistemas permite uma melhor compreensão
desses eventos e a busca dos sentidos que os sujeitos expressam sobre as
coisas do mundo, nesse caso específico, os sentidos que eles atribuem às
visões de professor e de aluno e às concepções de ensino-aprendizagem,
análise esta que passa pela subjetividade do próprio pesquisador.
Além da análise dos sistemas, faço, também, neste trabalho, a
discussão dos princípios que regem o sistema de turnos em uma conversação,
as relações horizontais e verticais e a noção de polidez, com base em Kerbrat-
Orecchioni (1996). Analiso, também, os tipos de perguntas que permitem a
reflexão crítica das participantes.
1.3.1. As práticas comunicativas
Para Kerbrat-Orecchioni (1996), todas as práticas comunicativas são
procedimentos ordenados que obedecem a esquemas preestabelecidos
segundo certas regras funcionais. As regras que regem as interações verbais
são de natureza diversa e podem distinguir-se em três grandes categorias, as
quais operam níveis distintos:
a) regras que permitem a gestão da alternância de turnos, ou seja, a
construção dessas unidades formais que são os turnos;
b) regras que intervêm no vel das relações interpessoais. É um
sistema de direitos e deveres que podem ou o ser satisfeitos pelos
interagentes. Quando as regras conversacionais são infringidas, precisam ser
compensadas para que não ocasionem efeitos negativos no andamento da
interação e
c) regras que regem a organização estrutural da interação e se
referem aos princípios de coerência interna. Uma conversação é uma
organização que obedece a regras de encadeamento sintático, semântico e
pragmático.
Neste trabalho serão abordados os dois primeiros itens que servirão
como base para a discussão dos dados.
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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1.3.2. O sistema de turnos
Para Kerbrat-Orecchioni (1996), o diálogo em uma conversação
pressupõe a presença de minimamente dois interlocutores que falem cada um
de uma vez. Dessa forma, em um primeiro nível de análise, toda interação se
apresenta como uma sucessão de turnos verbais em que os agentes se
sujeitam a um sistema de direitos e deveres em que:
o locutor (L1) tem o direito de usar a palavra por um certo
tempo, mas tamm deve passá-la a outro em um dado
momento e
seu sucessor (L2) precisa deixar L1 falar e tamm deve
escutá-lo enquanto usa a palavra. Cumpre-lhe, tamm,
devolver a palavra a quem lhe havia cedido.
Portanto, a atividade dialogal tem por fundamento o princípio da
alternância de turnos, que estabelece que numa conversa a função locutora
deve ser ocupada sucessivamente por diferentes locutores. Acrescente-se que
uma conversação é caracterizada idealmente por um equilíbrio:
relativo de turnos e
relativo à focalização do discurso que deve centrar-se em L1 e
L2, lutando contra não somente aquele que monopoliza a
palavra, mas tamm contra que mantém um discurso
exclusivamente autocentrado.
A atividade dialogal requer que fale uma pessoa de cada vez, por
isso a mudança de turno pode ser feita de várias maneiras. Às vezes ela ocorre
obedecendo a certos papéis institucionais, em que um agente é incumbido
dessa função, como um moderador em um debate ou um presidente de uma
sessão. No entanto, na maioria das vezes, as mudanças de turnos são
acertadas pelos pprios participantes de modo que assim que L1 termine o
seu turno, passe para L2. Isso pode suscitar problemas, como saber o
momento de efetuar a operação de troca de turnos ou estabelecer quem terá a
vez.
Normalmente o final de um turno é assinalado pela estrutura verbal
que manifesta a completude sintático-semântica do enunciado, pelos sinais
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
59
prosódicos que se referem ao abrandamento da fala, pela diminuição da
intensidade da voz e pelos sinais gestuais, que são explicitados pelo olhar fixo
no interlocutor, pelo remate da gesticulação iniciada, a que se segue o
relaxamento da tensão muscular.
Finalmente, quando L1 manifesta o desejo de passar a palavra,
surge o problema de estabelecer a quem ela deverá ser passada, em se
tratando de mais de dois participantes.
O sucessor pode ser escolhido mediante procedimentos verbais, isto
é, indicação explícita contida na conversa, ou não verbais, isto é, orientação do
corpo e direção do olhar de L1. Quando L1 não escolhe seu sucessor, a troca
de turno ocorre por auto-seleção. Nesse caso, pode acontecer superposição de
vozes, quando se apresentam muitos candidatos ao mesmo tempo para ocupar
o turno. Embora ele seja freqüente, o deve ocorrer demasiadamente e
tampouco prolongar-se muito. Logo, deve acontecer uma negociação entre os
manifestantes para que apenas um prevaleça. Essa negociação pode ser
realizada de forma agressiva ou cortês, implícita ou explícita. Ao contrário,
pode ocorrer o caso de nenhum candidato se apresentar para o preenchimento
do turno ocasionando um silêncio mais ou menos prolongado, que tamm
deve ser evitado, mas que pode acontecer devido ao não entendimento dos
sinais de encerramento de turno de L1 ou pela falta de desejo ou meios de
assegurar a continuidade conversacional requerida pelos sucessores
potenciais.
Além dos silêncios e das superposições, o sistema de troca de turnos
pode tamm ser passível de interrupções, que consistem na tomada da
palavra por L2 antes que L1 tenha terminado o seu turno. As interrupções são,
normalmente, manifestações de invasão de território e ameaça à face, mas às
vezes são cooperativas e lisonjeiras e podem ser interpretadas diferentemente,
de acordo com a cultura dos interlocutores. Podem tamm ocorrer em um
momento de pausa interna no turno, que L2 interpreta como pausa final, mas,
na maioria das vezes, provocam superposição vocal.
Outra falha no sistema de turnos é a intromissão que se caracteriza
pela tomada de turno por uma pessoa que não foi eleita como sucessora, ou
mesmo uma pessoa não autorizada a usar a palavra como uma criança ou um
subalterno.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Portanto, a organização dos turnos de fala consiste na aplicação de
certas regras, as quais são pouco coercitivas, visto que as transgressões são
normalmente bem toleradas. No entanto, se as infrações excederem um certo
limite de tolerância, podem provocar efeitos catastróficos para a interação.
1.3.3. As relações interpessoais
Segundo Kerbrat-Orecchioni (1996), as relações interpessoais
referem-se à distância horizontal ou vertical que se instaura entre os
interagentes durante a interação. Discutirei cada uma delas a seguir:
Relação Horizontal esta dimensão da relação remete ao fato de
que na interação os parceiros podem estar mais ou menos próximos ou, ao
contrário, afastados. Ela depende, ao mesmo tempo, das características
externas e internas da situação de interação, segundo um princípio que é
válido em todas as formas que a relação interpessoal pode assumir.
Toda a relação se desenvolve num quadro específico e implica a
presença de determinadas pessoas dotadas de atributos apropriados e que
mantêm um certo tipo de vínculo afetivo (dados externos). Nesse quadro
ocorrerá um certo número de eventos e será permutado um certo número de
sinais – mentais, paraverbais e não verbais, (dados internos).
Os procedimentos produzidos na interação são determinados, em
grande parte, pelos dados externos, mas as pressões contextuais deixam
espaço para que a interação seja negociável entre os participantes.
A distância e a familiaridade entre os participantes pode se
manifestar por marcadores verbais e não verbais.
Marcadores Não Verbais – a distância (psicossocial) é marcada
inicialmente pelo espaço físico entre os interagentes. Também os gestos
constituem excelentes indicadores do estado da relação, particularmente os
gestos de toque. A postura manifesta o grau de intimidade, seja pela orientação
do corpo, pelo caráter mais ou menos displicente das atitudes, pela duração e
intensidade dos contatos oculares. A intimidade ou a distância tamm podem
ser manifestadas pelos dados paraverbais, como a intensidade articulatória e o
timbre de voz.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
61
Marcadores Verbais manifestam a familiaridade e a intimidade, ou
não, entre o locutor e seus interlocutores através dos termos de
endereçamento de que fazem uso. Também os temas que são abordados na
interação estão relacionados com o grau de intimidade entre os interlocutores
(os temas que tratamos com desconhecidos não são os mesmos que tratamos
com amigos).
Portanto, numerosas maneiras que um locutor pode usar para
explicitar a distância que deseja imprimir na relação. Ele pode se afastar ou se
aproximar fisicamente, elevar ou suavizar a voz, usar vocabulário mais popular
ou mais formal. Nas sociedades ocidentais, as regras que regem os
marcadores da distância ou da intimidade são provavelmente débeis, ou seja,
sua aplicação não é automaticamente determinada pela situação comunicativa.
Convém assinalar que a distância interpessoal geralmente evolui no
transcurso de uma interação no sentido de uma aproximação. Outro aspecto
que vale a pena mencionar é que, contrariamente à relação vertical que
veremos a seguir, a horizontal é por natureza simétrica, isto é, os participantes
revelam a mesma atitude: proximidade ou distância, sendo raro ocorrer
assimetria.
Relação Vertical esta dimensão da relação entre os interagentes
durante a interação refere-se ao fato de que eles não se acham em de
igualdade uns com os outros. Um agente pode se encontrar em uma posição
de poder, dominação, e o outro em posição de dominado. A distância vertical,
diferentemente da horizontal, é assimétrica, o que se reflete no nível de seus
marcadores verbais, por exemplo, pela utilização dos pronomes de tratamento.
Em certos tipos de interações chamadas de inegualitárias, como, por
exemplo, entre adulto e criança, professor e aluno, médico e enfermeiro, etc., a
desigualdade entre os participantes decorre do contexto; repousa sobre fatores
como idade, sexo, status e papel interacional. No entanto, o sistema de
posições não se reduz apenas aos dados contextuais, mas tamm ao que
fazem os interagentes e ao que se passa ao longo da interação.
Marcadores Não Verbais a posição entre os participantes é
marcada por diversos fatores, como: aparência física dos participantes, seus
trajes, a disposão dos assentos, a postura imponente ou humilde, o jogo de
olhares.
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Marcadores Verbais – a posição hierárquica entre os participantes é
marcada por vários aspectos verbais, tais como a forma de endereçamento
(pronomes de tratamento, emprego de título), os aspectos quantitativos no uso
dos turnos (quem fala mais e por mais tempo), a interrupção ou intromissão
(normalmente característica participantes de posição elevada), a organização
estrutural da interação (abertura ou fechamento das principais unidades
conversacionais caracteriza, tamm, posição elevada).
Além disso, L1 se coloca em posição elevada em relação a L2
quando executa um ato potencialmente ameaçador para seu território ou para
sua face (ordem, crítica, recriminação). De outro lado, L1 é posto em posição
inferior quando é vítima de tal ato ou ele próprio ocasiona um ato ameaçador a
sua face (confissão, autocrítica), o que analiso a seguir nos aspectos
referentes à polidez.
Polidez é impossível descrever eficazmente o que se passa nas
trocas comunicativas sem levar em consideração certos princípios da polidez,
na medida em que tais princípios exercem pressões muito fortes sobre os
enunciados.
Segundo o sistema de Brown e Levinson (1987), a noção de polidez
é entendida no seu sentido mais amplo, abrangendo todos os aspectos do
discurso regido por regras e cuja função é preservar o caráter harmonioso da
relação interpessoal. Ela ultrapassa as conhecidas rmulas contidas nos
manuais do saber viver, que se preocupam basicamente em descrever os
comportamentos à mesa, o uso de vestimentas e a arte da conversação. De
fato, a polidez se aplica aos comportamentos verbais e não verbais, mas
tratarei aqui exclusivamente da polidez lingüística.
Segundo Brown e Levinson, todo o indivíduo possui duas faces, a
saber:
Face Negativa diz respeito aos territórios do eu (território corporal,
espacial, temporal, bens materiais, segredos);
Face Positiva diz respeito ao conjunto de imagens valorizantes
que os interlocutores constroem e tentam impor por iniciativa própria na
interação.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
63
Assim, em toda a interação entre dois participantes, quatro faces
que se confrontam. Ao longo da interação, os locutores são levados a realizar
um certo mero de atos, verbais e não verbais, que, muitas vezes, constituem
ameaças potenciais para uma das faces; atos de ameaça à face (FTA).
Nessa perspectiva, os atos de linguagem podem ser classificados em
quatro categorias em relação aos FTA:
a) Atos Ameaçadores para a Face Negativa daquele que os Comete.
É, por exemplo, o caso de oferecimento ou de promessa que alguém propõe
efetuar e que pode, no futuro, lesar seu próprio território;
b) Atos Ameaçadores para a Face Positiva de quem os Comete. É,
por exemplo, o caso de uma confissão, uma desculpa, uma autocrítica e outros
comportamentos autodegradantes;
c) Atos Ameaçadores para a Face Negativa de quem os Sofre. São
violações territoriais de natureza não verbal, como contatos corporais,
agressões visuais, sonoras, olfativas ou de natureza verbal como a ordem,
solicitação, conselho e
d) Atos Ameaçadores para a Face Positiva de quem os Sofre. São
todos aqueles atos capazes de pôr em perigo o narcisismo de outrem, como a
crítica, o insulto, a gozação ou o sarcasmo.
As duas primeiras categorias dizem respeito aos atos auto-
ameaçantes e as duas últimas à polidez como uma atitude do locutor em
relação a seus interlocutores.
Finalizando, a perda da face é uma derrota simbólica que se tenta,
na medida do possível, evitar que ocorra a si mesmo e aos outros, objetivando
a preservação da face.
1.3.4. Perguntas como instrumento de mediação semiótica
Conforme já mancionado anteriormente, as perguntas são
instrumentos que podem possibilitar a formação do pensamento crítico (Giroux,
Freire e Brookfield). Nesta dissertação, elas fazem parte dos procedimentos de
análise, na investigação da sessão reflexiva como espaço de formação de
professores críticos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
64
Também Kerbrat-Orecchioni (1992) entende as perguntas como
instrumentos mediadores entre os participantes em uma interação. Para ela, as
perguntas permitem o agir sobre o outro, provocando uma reação. A pergunta
é, dessa forma, um ato iniciativo da conversação que exige do interlocutor uma
reação, estabelecendo-se uma relação mútua ente enunciador e interlocutor.
Ao analisar os tipos de perguntas, é importante que seja tamm
observada a distribuição dos turnos, ou seja, quem toma a iniciativa de
introduzir e de encerrar os temas e com que objetivos. Kerbrat-Orecchioni
refere-se a isso, como mencionei anteriormente, como análise dos turnos da
fala, os quais marcam a interação verbal. Segundo ela, todas as práticas
comunicativas são procedimentos ordenados, que obedecem a esquemas
preestabelecidos, segundo regras funcionais. Essas regras permitem a
alternância de turnos, a organização da interação e das relações interpessoais.
Para que haja um diálogo, é necessário que os interlocutores
participem da interação em turnos. Assim, toda interação se apresenta como
uma sucessão de turnos de fala, com alternância da tomada da palavra pelos
participantes da interação. A atividade dialógica tem, então, por fundamento
esse princípio da alternância, como comentado anteriormente. Entretanto,
em uma sessão reflexiva, essa interação é caracterizada, geralmente, pelo
número maior de tomadas de turno pelo pesquisador ou coordenador da
sessão, que tem por objetivos iniciar e expor o tema, organizar a discussão,
propiciar a participação de todos, tentar fazer a ligação do conhecimento
cotidiano com o científico e propiciar a formação do pensamento crítico.
Entretanto, isto não ocorreu dessa forma nesta pesquisa e, eu, como
pesquisadora, tive o mero menor de turno e palavras na interação, como
será analisado e discutido no próximo capítulo.
Nesta dissertação, tanto os tipos de pergunta, como quem inicia os
temas, retoma ou introduz outro, serão aspectos a serem abordados na análise
e discussão dos resultados.
No primeiro capítulo apresentei, portanto, os fundamentos teóricos
que dão sustentação a esta dissertação, abordando a teoria da atividade, a
dialogia de Bakhtin, a reflexão e a teoria para a análise e discussão dos dados.
No segundo capítulo apresento os procedimentos metodológicos a serem
adotados na análise dos dados.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
65
Capítulo 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA
Apresento, neste capítulo, as questões referentes à metodologia de
pesquisa, dentre elas: a escolha, definição e justificativa da metodologia
adotada; a descrição do contexto em que ela foi realizada; a caracterização dos
sujeitos participantes; os procedimentos de coleta de dados; os procedimentos
de análise dos resultados; os aspectos éticos e as questões de confiabilidade.
2.1. Pesquisa crítica de colaboração
Este trabalho é uma pesquisa crítica de colaboração, conforme
discutida por Magalhães (1998, 2002, 2004) e Liberali (1999, 2002). É crítica
por ser um processo investigativo que objetiva a observação, análise e
transformação de ações, nas sessões reflexivas. Neste contexto, a sessão
reflexiva é considerada como um espaço de formação de sujeitos críticos,
onde, tanto a pesquisadora como a professora participante, poderão colaborar
para abrir novos caminhos, tentando transformar a sala de aula e a escola.
É colaborativa, por pressupor que tanto professora, quanto
pesquisadora, aprendam a ter voz para falar de suas experiências e sobre os
sentidos que imprimem a essas experiências. É colaborativa por objetivar e
propor transformação, por intervir na ação de aula e no próprio
desenvolvimento profissional das participantes. É colaborativa e é crítica, por
possibilitar transformação para a professora e para a pesquisadora. Colaborar,
segundo Magalhães (2004:74), significa agir:
agir no sentido de possibilitar que os agentes participantes tornem
seus processos mentais claros, expliquem, demonstrem, com o objetivo de criar,
para os outros participantes, possibilidades de questionar, expandir, recolocar o
que foi posto em negociação. Implica, assim, conflitos e questionamentos que
propiciem oportunidades de estranhamentos e de compreensão crítica aos
interagentes.
Embora esta pesquisa utilize a teoria da atividade, como base teórica
e como instrumento metodológico e de análise, ela não tem o formato de uma
pesquisa de trabalho desenvolvimental tal como o tipo de pesquisa que vem
sendo utilizado pelos teóricos que trabalham com a teoria da atividade,
conforme já discutido anteriormente, no capítulo 1. O pesquisador deve, então,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
66
formatar a pesquisa dentro de um ciclo expansivo de aprendizagem, o que
implica em uma organização que contempla discussão teórica, coleta de
dados, análise de dados, nova proposta para a ação, implementação e revisão
da ação proposta.
Nessa perspectiva, altera-se a forma de olhar para os dados,
buscando-se organizá-los em sistemas de atividade, os quais permitem
entender a relação entre, de um lado, os elementos, as contradições e os
conflitos e, de outro, a transformação presentes nos mesmos. Além disso, tais
sistemas permitiram que as experiências vivenciadas pela pesquisadora e pela
professora participante tivessem uma outra dimensão, ou seja, fossem
consideradas como sistemas de atividades nos quais estão implicados o uso
que elas fazem dos instrumentos, os sentidos que imprimem às suas ações e
ao ensino-aprendizagem, a maneira como elas se constituem como sujeitos e o
modo como essas posições de sujeito podem ser alteradas.
Dessa forma, a presente pesquisa pode ser considerada como uma
pesquisa crítica de colaboração com base na teoria da atividade. Apresento a
seguir, o contexto e local da pesquisa.
2.2. Contexto e local da pesquisa
Os dados para esta discussão foram coletados por mim, professora-
pesquisadora. A pesquisa que desenvolvo tem como objetivo gerar discussões
entre professoras (professora-pesquisadora e professora de Escola Municipal
de Educação Infantil - EMEI) para a construção colaborativa e reflexiva de
sentidos sobre os significados relativos ao ofício de ser professor de uma
EMEI. Portanto, o foco está na relação da professora-pesquisadora com a
professora de Educação Infantil para a preparação de seu trabalho em
contextos que propiciem compreensão das ações, inserção de transformações
e a construção colaborativa do conhecimento.
Os dados foram coletados entre o final de 2005 e início do ano de
2006 através de Sessões Reflexivas marcadas a partir dos horários de
formação (JEI Jornada Especial Integral). Essas sessões tiveram duração de
1 hora, sendo gravadas em áudio. Foram realizadas dentro de uma EMEI
situada em um bairro da periferia da cidade de São Paulo, o qual se encontra
em crescente expansão e, por isso, é carente de serviços eficientes de saúde,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
67
habitação e educação. Os alunos da EMEI envolvida pertencem a uma camada
economicamente desfavorecida. Ao lado da EMEI existe um terreno baldio
utilizado como ponto de tráfico e consumo de drogas.
A escola recebe diariamente cerca de 850 crianças de 4 à 6 anos de
idade, distribuídas em três períodos: manhã (7:00 às 11:00 horas),
intermediário (11:10 às 15:10 horas) e vespertino (15:20 às 19:20 horas).
Trabalham na escola 18 professores, um coordenador pedagógico, um diretor,
um assistente de direção, um assistente administrativo, um inspetor de alunos,
8 agentes escolares e 2 vigias. O edifício tem uma disposição retangular das
salas de aula. No andar superior do edifício localizam-se as oito salas de aula e
os oito banheiros, quatro masculinos e quatro femininos. No térreo encontram-
se: secretaria, que inclui a sala da direção e da assistente de direção; a sala
dos professores, que inclui a sala da coordenadora pedagógica; os banheiros
da direção, dos professores e dos agentes escolares, o refeitório e a cozinha.
No exterior da escola existe um parque de areia com pedras e brinquedos de
concreto e madeira. A escola serve uma refeição por período, sendo um lanche
nos períodos da manhã e vespertino e um almoço no período intermediário. Os
salários dos professores da Rede Pública de Ensino oscilam em torno de R$
1.100,00 por mês, sendo que nesta Unidade Educacional treze dos dezoito
professores trabalham em dois turnos. Dos treze professores que exercem
dupla jornada, sete lecionam em outras escolas próximas, enquanto os
restantes (seis professores) trabalham os dois períodos na mesma escola.
Essa jornada excessiva acarreta cansaço e lhes deixa pouco tempo para
investir na formação contínua.
2.3. Participantes
Faço a seguir a apresentação das participantes da pesquisa com um
sucinto biodata de ambas.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
68
2.3.1. Professora – Pesquisadora
A professora-pesquisadora é formada em Pedagogia pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie, na qual tamm fez sua especialização
na mesma área. Vem atuando dois anos na área de educação infantil na
Rede Municipal de Ensino da Prefeitura de São Paulo, atendendo a crianças de
cinco a seis anos, no período vespertino.
Anteriormente, em 1999, havia iniciado um trabalho no Programa
“Andrezinho Cidadão”, na cidade de Santo André. Esse Programa tinha como
objetivo atender crianças e adolescentes de/na rua, com foco em seu retorno
ao núcleo familiar ou às casas-abrigo. Nesse mesmo período, através da Força
Sindical, lecionou informática em rios sindicatos de São Paulo, Santo André
e São Bernardo. Conjuntamente com a informática, esse trabalho tinha por
objetivo desenvolver a cidadania a partir de discussões sobre esse tema. Com
base no registro dessas discussões foi confeccionada uma revista contendo o
resultado dos trabalho desenvolvidos durante o curso.
Posteriormente, no período de 2000 a 2003, atuou no SENAC/SP, na
coordenação de dois grupos de alunos no Programa “Educação para o
Trabalho”, que atendia adolescentes economicamente desfavorecidos na faixa
etária de quinze a dezoito anos.
No ano de 2005 a professora-pesquisadora ingressou no Mestrado
de Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem na PUC-SP, tendo a
oportunidade de começar a participar de discussões sobre questões teórico-
práticas consideradas fundamentais para o ofício docente. Sentindo
necessidade de compartilhar essa experiência acadêmica e os
questionamentos por ela suscitados com sua companheira de trabalho, tomou
a iniciativa de pedir autorização à direção e à coordenação da Unidade
Educacional para organizar e desenvolver um estudo com a professora Júlia.
Inicialmente, ambas se dedicaram a discussões sobre os sentidos atribuídos ao
ofício de ser professor e as dificuldades a ele inerentes. Essa discussão
conduziu naturalmente à leitura de teóricos e especialistas sobre o assunto e,
no ano seguinte, à organização de um plano de curso para o trabalho com a
leitura e a escrita.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
69
2.3.2. Professora - Participante
A professora-participante Júlia é casada dezoito anos, tem três
filhos (um menino de onze anos, uma menina de seis e outra de um ano de
idade). Fez curso de Magistério em uma escola estadual, lecionou durante sete
anos e, seis anos atrás formou-se em Pedagogia pela Faculdade
Mozarteum. Iniciou sua carreira na Prefeitura Municipal de São Paulo em
janeiro de 2003. Neste ano, lecionou para o estágio (crianças de 6 à 7 anos
de idade) e, nos últimos dois anos, assumiu o estágio, iniciando parceria
com a professora-pesquisadora.
As participantes trabalham juntas desde 2004 nas atividades no
parque, nas datas comemorativas e na realização da JEI (Jornada Especial
Integral), discutem informalmente questões sobre educação e sobre a situação
da escola onde estão lotadas, procurando sempre melhorar o atendimento aos
pais e aos alunos. Antes da proposta deste estudo, as participantes nunca
haviam discutido questões mais sistematizadas sobre a educação infantil e a
prática em sala de aula.
2.4. Procedimentos de Coleta de Dados
Os dados foram coletados na própria Unidade Escolar onde as
participantes lecionam, no período de outubro de 2005 a fevereiro de 2006 e,
no período de férias, ocorreram na casa da professora. O dados das Sessões
Reflexivas foram coletados através de gravações em áudio. A professora foi
consultada sobre a possibilidade de ser parceira de uma pesquisa acadêmica e
ficou animada em participar da mesma.
2.4.1. SESSÕES REFLEXIVAS
Sessão – 03/11/2005
Esta sessão aconteceu no dia 03/11 na escola onde trabalham as
participantes, no refeitório dos professores. Os participantes estavam dispostos
numa mesa redonda um ao lado do outro, havendo na interação um bom
contato visual e físico.
Nesta sessão, a professora-pesquisadora procurou não interferir na
fala da professora, para que esta pudesse se sentir mais confiante e
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
70
confortável para falar sobre suas ansiedades e angústias em relação à sua
própria profissão e formação. O objetivo dessa sessão foi proporcionar à
professora a oportunidade de levantar os sentidos atribuídos ao ofício de ser
professor e, na medida do possível, relacionar a teoria a ser estudada (sócio-
interacionismo) à sua prática.
Sessão – 23/11/2005
Esta segunda sessão ocorreu com o intuito de continuar a discussão
precedente, objetivando mudar, acrescentar ou esclarecer questões da sessão
realizada em 23/11.
A discussão foi organizada em torno de algumas lacunas deixadas
na sessão anterior, cuja transcrição estava à disposição das participantes. Vale
a pena ressaltar que, nesta sessão a professora Júlia estava bastante ansiosa
em conseguir alternativas para seu trabalho com o grupo de alunos pois, o ano
letivo estava terminando e algumas crianças iriam para o Ensino Fundamental
por determinação da Lei Federal. Ocorreram mais intervenções por parte da
professora-pesquisadora. As participantes terminaram a sessão com o
propósito de trabalhar com a leitura, escrita e organização abstrata de
pequenos textos. Ao final da jornada de trabalho, realizaram o fechamento da
sessão com o feedback das atividades desenvolvidas pela professora Júlia.
Esta avaliou o trabalho positivamente, percebendo a facilidade e interesse dos
alunos por esta nova atividade e condução do trabalho.
Sessão – 13/12/2005
Esta sessão ocorreu também na escola. As participantes discutiram a
atividade “boi da cara preta”, tendo a professora Júlia descrito como trabalhou
com a mesma com os alunos em sala de aula. Junto com as crianças, a
professora cantou a canção, depois explicou o que era canção de ninar e, em
seguida, iniciou a atividade de leitura propriamente dita do texto. Relatou como
os alunos realizaram as atividades de interpretação do texto e avaliou
positivamente o trabalho a partir de textos, pois, a classe permaneceu mais
atenta e interessada.
Iniciou um planejamento para o trabalho em 2006 com crianças do 3º
Estágio e, nesse processo, descreveu a mudança de postura que sentiu ao
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
71
modificar o instrumento de seu trabalho: de letras e sílabas para trabalhar com
textos e interpretação.
Sessão – 03/01/2006
As participantes realizaram esta sessão na cozinha casa da
professora Júlia. Estavam envolvidas por um clima muito amigável e um
entusiasmo grandioso, a ponto de não conseguirem se organizar direito, pois,
as duas queriam falar o que haviam pensado! Iniciaram a sessão discutindo os
textos “Aquisição da linguagem escrita”, “As relações entre pensamento e
linguageme a “Interação entre aprendizado e o desenvolvimento: ZDP”, do
livro da Teresa Cristina Rego, previamente lidos.
Discutiram sobre a forma mecânica de leitura e a importância de o
aluno atribuir significado ao que está lendo/escrevendo e, atrelado a isso, o
sentido da cópia nas atividades propostas para os alunos.
Sessão – 16/01/2006
Esta sessão foi realizada tamm na residência da professora. O
entusiasmo era tanto que, tiveram que priorizar o que iriam realizar: a
discussão dos textos ou das atividades elaboradas. Priorizaram a discussão
das atividades e iniciaram com a atividade “diário da Clara”. Assinalaram a
relevância do texto descritivo e da importância da autobiografia de Clara, pois
no início do ano as crianças estão se conhecendo, conhecendo a escola, seus
funcionários, a professora, o entorno da escola e, através dessa atividade,
poderiam estabelecer maior contato com elas e suas famílias através de
pesquisa enviada para casa com a participação dos pais e/ou responsáveis.
Nessa atividade, perceberam que ofereceriam maiores possibilidades às
crianças de falarem, interagirem e, principalmente, de se sentirem
protagonistas de seu próprio processo de ensino-aprendizagem.
As professoras conseguiam perceber a diferença de seus trabalhos
anteriores com o que estavam elaborando para o início de ano (2006),
identificavam nas atividades elaboradas os conceitos discutidos através dos
textos da Teresa Cristina Rego e a sua importância no processo de ensino-
aprendizagem das crianças.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
72
Sessão – 25/01/2006
A professora Júlia iniciou a sessão, explicando a atividade que
elaborou “meu nome é Luceli”, salientou a importância da atividade por se
tratar de um texto descritivo, em que Luceli relata e descreve onde mora, do
que gosta, do que tem medo, ela fala sobre a escola, sua idade, nome,
animais. A professora Júlia descreveu todo o procedimento de trabalho com
essa atividade leitura, escrita, construção de textos, palavras a
possibilidade em resgatar brincadeiras de roda, o trabalho com numerais,
higiene, entre outros.
Aqui é importante relatar a valorização que a professora atribuiu à
participação e à opinião do aluno e, principalmente, ao trabalho coletivo.
Sessão – 09/02/2006
A professora-pesquisadora iniciou a sessão propondo a leitura e
discussão dos textos O papel da construção do conhecimento” e “O papel do
professor mediador na dinâmica das relações interpessoais” do livro da Teresa
Cristina Rego, para discutirem o problema do ensino-aprendizagem.
Perceberam através dos textos lidos que a proposta que estavam construindo
para o ano de 2006 atrelava-se à concepção sócio-interacionista, e que essa
mudança não seria cil na prática, porém, possível. Discutiram a importância
da heterogeneidade e da oportunidade que os alunos terão de trabalhar e
conviver com todos os outros alunos sem que isso fosse avaliado como
indisciplina mas sim, como aprendizado. Finalizaram a discussão planejando
outras atividades, pontos importantes a serem desenvolvidos.
Sessão – 24/02/2006
As participantes realizaram a avaliação do trabalho. A professora
Júlia salientou a mudança de sua postura e que, de fato, sentia necessidade de
mudança, porém, não sabia como e de quê maneira iniciar esse processo de
transformação.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
73
2.5. Procedimentos de análise de dados
Esta seção objetiva apresentar os procedimentos utilizados para
análise dos dados, dentre eles: análise do discurso com o levantamento dos
conteúdos temáticos, das escolhas lexicais, das modalizações, além das
perguntas como instrumentos de mediação semiótica.
O objetivo dessa pesquisa é desenvolver um trabalho colaborativo
entre esta professora-pesquisadora e uma professora de uma Escola Municipal
de Educação Infantil (EMEI), tendo em vista a construção colaborativa e
reflexiva de sentidos sobre os significados relativos ao ofício de ser professor
de uma EMEI, para a organização de espaços colaborativos de reflexão, e,
para isto, faz-se necessário conhecer os sentidos que as professoras têm
sobre seu trabalho; quais são as regras e a divisão de trabalho que organiza a
atividade de formação profissional e, por fim, como se constitui essa atividade
entre as professoras. A análise organiza-se, então, em torno de temas
relacionados à pergunta de pesquisa:
Como a linguagem organiza a formação colaborativa do
professor?
Foram analisadas oito sessões reflexivas. O quadro abaixo
apresenta e relaciona os procedimentos de coleta, os temas e os
procedimentos de análise.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
74
Quadro 6 – Quadro de análise
Procedimentos de
Coleta
Temas Procedimentos de
Análise
Sessões Reflexivas Sentidos iniciais e finais
das professoras sobre
seu trabalho.
Análise do discurso:
conteúdo temático,
modalizações e escolhas
lexicais.
Sessões Reflexivas Regras e divisão do
trabalho que organiza
essa atividade e sua
transformação no
andamento do trabalho.
Análise do discurso:
conteúdo temático,
polidez, análise de
turnos e tipo de
perguntas.
Sessões Reflexivas Constituição da atividade
de formação profissional
de duas professoras.
Análise do discurso:
conteúdo temático,
modalizações e escolhas
lexicais.
A seção seguinte demonstra como é feita a análise descritiva dos
sistemas de atividade, apresentando e descrevendo o seu funcionamento nas
sessões reflexivas.
2.5.1. Análise descritiva dos sistemas de atividade
A análise descritiva dos sistemas de atividade objetiva observar e
descrever os elementos desses sistemas, as relações que se estabelecem
entre eles e as ações que deles fazem parte, ações essas mediadas pelo
discurso.
Conforme discutido no capítulo 1, que discute a base teórica de
análise de dados, os trabalhos que utilizam a teoria da atividade como
sustentação teórica, ferramenta metodológica e de análise, devem orientar a
análise para os componentes do sistema de atividade, o qual é composto pelos
seguintes elementos:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
75
- os participantes da atividade;
- os instrumentos de mediação semiótica que são usados no
trabalho;
- as regras que orientam como os participantes trabalham;
- o objeto para o qual os membros da comunidade dirigem seu
trabalho;
- a comunidade de onde vêm os participantes;
- a forma como o trabalho é dividido;
- os resultados esperados desta atividade;
- as possíveis contradições e conflitos presentes no sistema.
Dessa forma, neste trabalho, no qual investigo o desenvolvimento
de um trabalho colaborativo entre duas professoras de uma Escola Municipal
de Educação Infantil (EMEI) que visa à construção colaborativa e reflexiva de
sentidos sobre os significados relativos ao trabalho profissional voltado para a
preparação do trabalho com os alunos em contextos que propiciem a
compreensão das ações, inserção de transformações e a construção
colaborativa do conhecimento; os eventos organizam-se como sistemas de
atividade. A figura abaixo representa o sistema de atividade da sessão
reflexiva, o qual é analisado descritivamente, em seguida.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
76
Figura 6 – Sessões Reflexivas
Neste sistema, que representa a atividade de formação na sessão
reflexiva, os sujeitos são as professoras.
Dessa forma, o objeto de atividade da pesquisadora é a formação e
o desenvolvimento profissional do professor crítico que faz uso da língua como
instrumento de comunicação semiótica para aprender a ser e formar cidadãos
críticos que possam interferir positivamente na sociedade, possibilitando a
mudança nas atitudes.
Para a professora participante o objeto da atividade de aprender e
desenvolver tamm é um objeto em transformação, sendo que, ela percebe
com as ações nas sessões reflexivas a importância da interação, do papel do
outro no processo de ensino-aprendizagem-desenvolvimento e o uso da língua
para aprender e ensinar a ser crítica e cidadã, fazendo com que sua voz e a
dos alunos sejam ouvidas.
Os instrumentos que utilizo nas sessões reflexivas o os
procedimentos de perguntas, os textos pedagógicos, o planejamento de
atividades para os alunos e as transcrições das sessões reflexivas.
A comunidade a qual pertencem a professora-pesquisadora e a
professora-participante inclui a escola, na qual ambas trabalham há dois anos,
espaço importante para a construção de sua identidade de professoras de
Instrumentos de mediação:
textos, tarefas, transcrição,
sessão reflexiva
Sujeito:
professora
pesquisadora e
professora participante
Regras:
normas e
padrões que regulam a
sessão reflexiva, como
por exemplo,
anotações, elaboração
de atividades para os
alunos.
Comunidade:
escola,
direção, universidade.
Divisão de trabalho:
o
que faço como
pesquisadora e o papel da
professora participante nas
sessões reflexivas
Objeto:
desenvolvimento
das professoras
participantes
Resultado:
Profº com alto
nível de
conscientização
sobre seu papel
social;
Aprendizagem do
aluno;
Transformação da
escola
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
77
Educação Infantil. A universidade, na qual a professora-pesquisadora faz seu
mestrado, é igualmente parte da comunidade, pois, a possibilitou fazer uso de
outros instrumentos como o suporte teórico para a sua prática, enfatizando aqui
o conhecimento sobre a formação de professores críticos e reflexivos, a teoria
sociocultural e a teoria da atividade.
As regras, por sua vez, referem-se às normas que professora
participante e pesquisadora seguem nas sessões reflexivas como, por
exemplo, o seu planejamento, a elaboração de suas tarefas, a forma como
participam nessas sessões e o que nelas utilizam ou podem utilizar. A divisão
de trabalho, nesse caso, refere-se aos papéis, o papel da pesquisadora que
prepara as sessões reflexivas, seu material, dá instruções, promove interação,
bem como e o papel da professora participante, que através de seu
engajamento, formula perguntas, responde aos questionamentos, interage,
elabora atividades, realiza a leitura de textos e trabalha em parceria.
A próxima seção trata da análise do discurso, outro procedimento
de análise.
2.5.2. Análise do Discurso
Para o procedimento análise do discurso” são utilizadas as
seguintes ferramentas discursivas: levantamento dos conteúdos temáticos com
as escolhas lexicais e as modalizações. Além disto, analiso o tipo de pergunta
que são feitas nas sessões reflexivas, considerando-as como instrumentos de
mediação semtica para a formação e desenvolvimento de profissionais
críticos. A análise do tipo de pergunta inclui tamm a distribuição dos turnos,
ou seja, quem toma a iniciativa de introduzir e de encerrar os temas e com que
objetivos.
O quadro abaixo relaciona os temas com as ferramentas discursivas
que serão usadas na análise do discurso.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
78
Quadro 7 – Quadro de Análise do Discurso
Temas Procedimentos de Análise
Sentidos iniciais e finais das
professoras sobre seu trabalho.
Levantamento dos conteúdos
temáticos, modalizações e escolhas
lexicais.
Regras e divisão do trabalho que
organiza essa atividade e sua
transformação no andamento do
trabalho.
Levantamento dos conteúdos
temáticos, polidez, análise de turnos e
tipo de perguntas.
Constituição da atividade de formação
profissional de duas professoras.
Levantamento dos conteúdos
temáticos, modalizações e escolhas
lexicais.
Esta seção tratou da apresentação dos procedimentos de análise
de dados e a próxima discute os aspectos éticos da pesquisa.
2.6. Aspectos Éticos na Pesquisa
Esta seção objetiva apresentar alguns procedimentos que
garantiram o respeito e a observância de aspectos éticos da pesquisa da área
educacional e social. Dentre eles, destaco:
carta de consentimento que foi assinada pela professora, dando
permissão para que os dados coletados fossem utilizados pela
pesquisadora;
a informação dada à professora de que a sessão reflexiva estava
sendo gravada, possibilitando-lhe a escuta de algumas sessões.
As transcrições de algumas sessões também foram lidas pela
mesma;
a Unidade Escolar, onde os dados foram coletados, foi
comunicada, oficialmente, sobre o projeto, seus objetivos e
procedimentos de coleta de dados.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
79
A pesquisa não objetivou apenas a investigação sobre o processo de
formação de professores, mas buscou colaborar, de alguma forma, com a
melhoria das relações sociais, pois através do diálogo entre as participantes,
foram sendo criados espaços para que todos pensassem sobre sua atuação
em sala de aula e, coletiva e colaborativamente, construíssem de forma
reflexiva os sentidos sobre os significados relativos ao ofício de ser professor
de uma EMEI. A seção seguinte apresenta as questões de confiabilidade.
2.7. Questões de Confiabilidade
Nesta seção, apresento os procedimentos que garantem a
veracidade e a confiabilidade da pesquisa, que neste trabalho foram os
seguintes:
os dados gerados estão guardados em fitas e em arquivos de
word, com as devidas transcrições que estão igualmente
anexadas no final deste trabalho;
as apresentações do trabalho em congressos e seminários, ao
longo de todo o período de mestrado;
o exame de qualificação, prestado em 09/10/2006, no Programa
de Pós-graduandos em Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem – LAEL/PUC – SP. Nesse exame foi apresentada
grande parte do trabalho de análise, quando importantes críticas
e sugestões redirecionaram parte do mesmo, o que representou
um momento especial de discussão e reflexão sobre os conceitos
construídos, no sentido de garantir ainda mais o rigor necessário
para nossas conclusões.
Neste capítulo foram apresentadas as questões referentes à
metodologia, como o tipo de pesquisa, os procedimentos de coleta e de análise
de dados, os aspectos éticos e de confiabilidade. O capítulo seguinte refere-se
à discussão dos resultados da pesquisa
.
.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
80
Capítulo 3 – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo objetiva apresentar e discutir os resultados da
pesquisa, interpretando-os à luz dos fundamentos teóricos que dão
sustentação à esta dissertação, com base nos quais pretendeu-se responder à
pergunta de pesquisa:
Como a linguagem organiza a formação colaborativa do
professor?
O capítulo divide-se em três partes, referindo-se aos três temas
abaixo, relacionados à pergunta de pesquisa:
Sentidos revelados pelas professoras sobre seu trabalho;
Regras e divisão de trabalho que organizam a atividade de
formação e sua transformão no andamento da
pesquisa;
As sessões reflexivas como espaço de formação de
professores críticos.
Na próxima seção discutem-se os resultados da pesquisa que respondem à
pergunta acima citada.
3.1. Sentidos revelados pelas professoras sobre seu trabalho
Esta seção objetiva apresentar e discutir os sentidos iniciais,
intermediários e finais das professoras sobre os papéis de professor, de aluno
e de ensino-aprendizagem, a partir das sessões reflexivas.
Para iniciar esta discussão, saliento que um professor não é somente
um profissional técnico que transmite conhecimentos produzidos por outros, um
sujeito determinado por mecanismos sociais, mas um agente que assume sua
prática a partir dos sentidos que atribui a seu papel com base em sentidos
sobre ensinar-aprender, que possui conhecimentos e um saber-fazer
provenientes do contexto cio-histórico-cultural de sua atividade, com base no
qual organiza regras e divisão de trabalho na sala de aula. Portanto, o
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
81
professor, consciente ou não, organiza sua prática com base em sua vivência,
sua história de vida, sua afetividade e seus valores. Seus saberes estão
enraizados em sua história de vida e em sua experiência do ofício de professor.
Assim, os sentidos atribuídos a seu papel não o somente representações
cognitivas, mas possuem também dimensões afetivas, normativas e
existenciais. Tais sentidos agem, muitas vezes, como crenças e certezas
pessoais a partir das quais o professor filtra e organiza sua prática. Esse
processo liga-se à constituição do sujeito, que conforme discutido por Vygotsky
(1982/1999), Smolka (2004) e González Rey (2004), é resultado de
experiências históricas, sociais e culturais que nos são transmitidas pelas
gerações anteriores. Os sentidos que atribuímos à escola e ao papel do
professor são inseparáveis da nossa própria constituição como sujeitos e de
nossas experiências históricas e culturais, como apontado, no exemplo abaixo:
... É! (risos), é!, porque, então você vê, é aquela questão: como eu
aprendi assim, tipo, tipo decoreba mesmo, como eu decorei tudo, então pra
mim foi fácil!, decorei! Então, eu fico tentando imaginar eles assim também,
dando aquela decorada para depois eles irem aprendendo, né? (Sessão
Reflexiva 23/11/2005)
A citação acima permite observar os sentidos que a professora Júlia
construiu do ofício de ser professor (transmissor de conhecimentos). Ela
expressa o que pensa sobre como os alunos devem aprender (decorando os
conhecimentos transmitidos pelo professor) e, conseqüentemente, sobre sua
concepção de ensino-aprendizagem (concepção tradicional de ensino).
Assim como se viu nesse exemplo, os dados revelaram sentidos
construídos ao longo da caminhada profissional das professoras. Optei por
organizá-los a partir das sessões reflexivas, considerando-os em três
momentos: as sessões reflexivas iniciais que se caracterizaram por narrativas
de experiências pessoais e profissionais; as sessões reflexivas intermediárias,
caracterizadas por interações a partir de leituras teóricas e relação teoria-
prática e as sessões reflexivas finais, caracterizadas por planejamentos e
discussões de tarefas com base nos estudos realizados.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
82
3.1.1. Sessões reflexivas iniciais
Esta sessão revela os sentidos iniciais produzidos pela professora
participante sobre sua compreensão dos papéis do professor e dos alunos nas
práticas de sala de aula e do ensino-aprendizagem, tal como foi se revelando
nas conversas sobre as práticas didáticas e nas discussões de textos teóricos
em sua relação com essas práticas. A professora traz, então, para a sessão
reflexiva, os sentidos que construiu ao longo de sua vida, com suas
experiências anteriores de aprendizagem, sobre o papel do aluno
(decorar/depósito) e do professor (transmissor de conhecimentos).
Várias citações mostram que, nesse início de trabalho uma
concepção de ensino tradicional embasava o trabalho da professora Júlia,
como por exemplo, a grande valorização dada à cópia. É importante observar
que, como descrito na contextualização de Júlia, a cópia fez parte de sua vida
escolar:
...Então, eu vou te falar, não, não, não é fácil, viu! Apesar que, ééé,
como eu gosto do ensino fundamental, eu sou agitada, então, ‘Vamos
gente!Vamos! Vamos! fizeram?’ (risos), então, eles pegaram aquele ritmo
de fazerem, eu estou dando a lição, eles estão me entregando, né? Então
quer dizer, eles fazem rápido, ééé, então as crianças copiam, a maioria, copia
bem, mas entender que é que tá! Não são todos que compreendem (...) então
copiar eles copiam muito bem, o entendimento ..., sabe aquela, eu tenho ainda
comigo na cabeça, ééé, a quantidade, então eu vou dando, eu quero dar é o
alfabeto! (Sessão Reflexiva 03/11/2005)
Considera-se aqui uma abordagem do processo ensino-
aprendizagem que se fundamenta numa prática educativa e na sua
transmissão através dos anos de escolarização. O ensino, nessa concepção,
está centrado no professor, portanto, volta-se para o que é externo ao aluno:
o conteúdo (“(...) a quantidade, então eu vou dando (...)”). O aluno apenas
executa prescrições que lhe são fixadas (“(...) eu vou dando a lição, eles
estão me entregando (...)”), portanto, é considerado como inserido num mundo
que irá conhecer através das informações que lhe serão fornecidas e que se
decidiu serem as mais importantes e úteis para ele. É um receptor passivo a
que, repleto de informações necessárias, pode repeti-las a outros que ainda
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
83
não a possuam (“(...) como eu decorei tudo (...) imaginar eles assim também,
dando aquela decorada para depois eles irem aprendendo, né?”). Para a
professora, o papel do aluno é acumular e armazenar informações. Quando a
professora diz “(...) eu quero dar é o alfabeto!”, ela sublinha, ainda mais a
concepção de educação como um produto, já que os modelos a serem
alcançados estão pré-estabelecidos: decorar o alfabeto, daí a ausência de
ênfase no processo. Trata-se, pois, da transmissão de idéias selecionadas e
organizadas logicamente pela professora.
Nesse quadro, a reprodução dos conteúdos feita pelo aluno, na
maioria das vezes, de forma automática e sem variações, é considerada como
um poderoso e suficiente indicador de que o produto está assegurado
(“(...)então, as crianças copiam, a maioria, copia bem (...)).
Sua didática se resume em dar lição”, (“(...) eu estou dando a lição,
eles já estão me entregando (...)”). Percebe-se aqui, a utilização freqüente, pela
professora, do método expositivo, como forma de transmissão de conteúdo,
concebendo assim, o magistério como a arte centrada na figura da professora,
como aponta, tamm, o recorte abaixo:
...Então, ser professor é o ensinar mesmo né, não o ensinar a
ler e a escrever, é o ensinar praticamente tudo! Por que as nossas crianças do
jeito que elas vem pra cá, elas vem sem saber muitas coisas...” (Sessão
Reflexiva 03/11/2005)
Aqui pode-se notar que o trabalho intelectual do aluno se
propriamente iniciado, propriamente, após a exposição da professora. A escola
é vista, a partir do recorte acima, como local da apropriação do conhecimento,
por meio da transmissão de conteúdos e confrontação com modelos e
demonstrações. A ênfase, portanto, não é colocada no aluno, mas na atuação
da professora (que precisa ensinar praticamente tudo), para que a aquisição do
patrimônio cultural seja garantida. O aluno nada mais é do que um ser passivo,
um receptáculo de conhecimentos escolhidos e elaborados por outros para que
ele deles se aproprie (Freire, 1970).
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
84
Entretanto, no decorrer do trabalho de formação, Júlia começa a
questionar sua atuação. Não apenas questiona, mas descreve a situação de
sala de aula e toma a decisão de não mudar, como, por exemplo, na sessão
reflexiva de 03/11/2005:
...Então quer dizer, o problema escomigo?(...) Sabe, fica aquela
questão, com esta sala (...) não dá, não dá! Com esta sala eu não consigo!
Então, sou eu que não consigo levar esta sala? De repente, de repente, eu
não consegui levar esta sala!?! Então, é complicado! (...), vou me desgastar
tanto, vou gritar tanto que vou ficar sem voz! Então, acho que, às vezes, não
vale a pena! Então, eu prefiro dar a lição no caderno mesmo, pelo menos eu
vou dar, eles vão fazer, faz uma atrás da outra, vai fazendo, fazendo, fazendo
sabe? (Sessão Reflexiva 03/11/2005)
As contradições, que ocorrem no sistema de atividade, provocaram
um movimento, criando um ciclo expansivo de aprendizagem (Engeström,
1999), que é uma contínua construção e resolução de tensões e contradições
que envolvem o objeto, instrumento de mediação e os sentidos construídos
pelos sujeitos envolvidos. A professora, ao falar sobre a possibilidade de
trabalho com seu grupo/classe, pôde expressar sentidos (com esta sala não
consigo trabalhar) e, apesar de se questionar, ela se justifica e, transfere para
os alunos a responsabilidade pela indisciplina quando afirma: “(...) vou me
desgastar tanto, vou gritar tanto que vou ficar sem voz!(...)”. Surgem, aqui, as
desculpas no que se refere ao atendimento dos alunos quando se precisa
individualizar, pois o restante do grupo/classe fica isolado quando se atende a
um dos alunos particularmente. É difícil para a professora identificar as
necessidades dos alunos, uma vez que usualmente quem fala é ela ppria.
Dessa forma, a tendência a se tratar a todos igualmente, todos deverão
seguir o mesmo ritmo de trabalho, repetir as mesmas coisas, adquirir, pois, os
mesmos conhecimentos (“(...) Não vale a pena! Então, eu prefiro dar a lição no
caderno mesmo,(...), eles vão fazer, faz uma atrás da outra(...)”). Assim, o
problema passa a ser a indisciplina dos alunos, e não a concepção de ensino-
aprendizagem revelada pela metodologia/ didática usada pela professora.
Portanto, ao invés de fazer as crianças se responsabilizarem sobre a ação,
Júlia quer transmitir conhecimentos e o modo como as crianças devem realizar
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
85
tal tarefa. Isso ocorre porque ela entende o processo de ensino-aprendizagem
a partir de uma concepção tradicional, de que ela deve transmitir o
conhecimento sem a participação e colaboração dos alunos.
Júlia percebeu sua limitação por não conseguir interagir com os
alunos, chamar sua atenção e, conseqüentemente, poder ensinar-lhes algo.
Chama atenção, no discurso de Júlia, o número de negativas que ela
emprega nesse curto recorte da sessão reflexiva, o que revela o quão difícil foi
a aceitação de seu papel enquanto professora, o quanto o seu discurso é
impeditivo e como ela percebeu toda a limitação no ambiente e nos alunos.
... com esta sala não, não dá ...
... com esta sala eu não consigo!...
... sou eu que não consigo levar esta sala?...
... não vale a pena!...
Júlia fala de suas dificuldades na sala de aula, causadas pela falta de
atenção e indisciplina dos alunos. Seu discurso indica mágoa com as crianças
que não mantém a disciplina.
A presença da modalização apreciativa (“... às vezes, não vale a
pena!...”) reforça o discutido acima e indica a avaliação de Júlia sobre o que
acontece em suas aulas.
De fato, muitos professores têm dificuldades de refletir sobre a sua
prática, o que possibilitaria transformar a sua ação, em função das
necessidades de seus alunos, conforme discutido por Magalhães (2002) e
outros formadores de professores. Os professores, em geral, transformam-se
em meros aplicadores de técnicas, sem levar em consideração o contexto e as
experiências de seus alunos.
No início do trabalho de pesquisa, a professora Júlia subestimava a
capacidade dos alunos em aprender sem a utilização da cópia como
instrumento de ensino-aprendizagem:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
86
...É, vamos ver se a minha sala consegue, né?
“Ah, porque eles não se prendem muito aaa, não se prendem muito
a nada. É aquela meia dúzia que se interessa e muitos ficam dispersos,
conversando, brincando, né? (Sessão Reflexiva 23/11/2005)
Mais uma vez, os excertos revelam que a professora entende o
ensino-aprendizagem como instrumento-para-resultado que, segundo Newman
e Holzmam (1993:51), marxistas de todas as tendências reconhecem que o
uso do instrumento tem impacto sobre as categorias de cognição.
Instrumentos-para-resultados tanto são análogos a (bem como produtores de)
equipamentos cognitivos quanto os produz (por exemplo, conceitos, idéias,
crenças, atitudes, emoções, intenções, pensamento e linguagem) que são
completos e utilizáveis para um fim particular. Portanto, Júlia cria uma zona de
desenvolvimento para resultado e não uma zona revolucionária que, segundo
os mesmos autores (1993:55), tem por objetivo a transformação de totalidades.
Assim, pude concluir que a professora o visualiza a ZDP como instrumento-
e-resultado.
3.1.2. Sessões reflexivas intermediárias
Conforme estudávamos, discutíamos e elaborávamos as atividades e
as realizávamos em sala de aula com os alunos, o sentido da professora sobre
o papel de aluno, a interação e o papel do professor foi gradualmente sofrendo
alterações, porém, com muita resistência, principalmente em relação aos
aspectos relacionados à cópia.
...Achei excelente porque, eu passei mais tempo trabalhando com
eles e, percebi que eles ficaram mais entusiasmados. Trabalhamos com
música, com palavras fáceis, no caso BOI que é fácil, com cópia (...) eu acho que
essa atividade foi ótima (Sessão Reflexiva 13/12/2005)
O entusiasmo da professora demonstrado com a presença da
modalização apreciativa (“Achei excelente ...”), com as novas descobertas em
sala de aula, fica evidenciado pelos comentários, marcados pelas escolhas
lexicais, no recorte acima como: “(...) passei mais tempo trabalhando com eles
(...), (...) eles ficaram mais entusiasmados (...)”. Isso demonstra a construção
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
87
de um novo sentido para o ensino-aprendizagem dos alunos: eles são capazes
de se envolver com as atividades propostas e aprender. Aparece aqui o
movimento do objeto/ do sistema de atividade, a professora inicia a tomada de
uma nova ação, porém, sua prática continua atrelada à cópia. O trabalho
docente pode ser abordado e analisado neste momento das sessões reflexivas
em função da experiência da professora (Vygotsky, 1982/1999), quer dizer, do
trabalho e do modo como é vivenciado e recebe significado por ele e para ele.
Aqui, a experiência prática pode ser vista como um processo de aprendizagem
espontânea que permite à professora adquirir certezas quanto ao modo de
controlar fatos e situações do trabalho, atribuindo-lhes sentidos como o que se
observa em relação à cópia. Essas certezas correspondem a crenças e hábitos
cuja permanência vem da repetição de situações e de fatos. Podemos observar
isto, no excerto comentado da sessão reflexiva de 23/11/2005, em que a
professora afirma que aprendeu por meio da repetição/ memorização e acredita
que seus alunos poderão aprender da mesma forma. Assim, sua prática se
pauta em métodos que privilegiam a repetição e memorização, por mais que
nesse momento (sessão reflexiva de 13/12/2005) ela demonstre acreditar na
capacidade dos alunos e no papel das ações mediadas por ela. Essa
característica pode ser observada tamm, no excerto abaixo:
...Então, eu acho que assim, é o texto assim rodado pra eles fica
bom, fica mais organizado e a criança se prende mais, porque, eles não estão
só copiando da lousa porque, no caso, se torna cansativo, eles copiam
muitas vezes e não gravam . Aqui, eles não precisam estar copiando todo o
texto, é mais fácil, acho que eles gravam melhor a letra (...) então percebi que
eles ficam mais centrados na lição e como têm várias folhas é, posso estar
ficando mais tempo com eles, dando maior atenção para cada mesa (Sessão
Reflexiva 13/12/2005)
Aqui já existe a percepção da professora de que existiu um
planejamento para as ações desenvolvidas em sala de aula e isso se reflete no
comportamento dos alunos, “(...) mais centrados(...)” e na própria interação
estabelecida entre a professora e os alunos, “(...) posso estar ficando mais
tempo com eles, dando maior atenção para cada mesa.”.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
88
As sessões reflexivas são, então um sistema de atividade, cujo
objeto está se transformando (Engeström, 1999), à medida que os sujeitos
agem e interagem, usando o discurso como instrumento de mediação
semiótica. Este espaço pode colaborar na transformação de identidades,
conforme discutido por Moita Lopes (2002), e pode propiciar a constituição de
um novo professor, mais seguro de seu potencial, que pode repensar o seu
papel de cidadão e a sua ação na sociedade.
Aos poucos, Júlia passou a estabelecer relações entre os textos
pedagógicos que estudávamos com sua prática, conforme observação do
trecho da sessão reflexiva de 03/01/2006:
... No texto quando ela fala assim: ‘... enfatiza-se de tal forma a
mecânica de ler e que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem escrita
como tal’, assim, no caso, isso é o que acabo fazendo, quando dou a família,
por exemplo, a família do B BA BE BI BO BU, no caderno eles assim,
mecanicamente eles estão copiando mais isso não significa que foi gravado, eles
não raciocinam assim, pra ter a compreensão de que aquilo é o B (Sessão
Reflexiva 03/01/2006)
Júlia começa a atribuir sentido ao planejamento, à importância da
interação e, conseqüentemente, percebe o aumento de interesse dos alunos.
Eee, da gente estar trabalhando mais tempo, eu fico mais tempo
conversando com eles, e é o que propicia os alunos estarem se organizando
mais, e organizando mesmo, mentalmente o que está se passando quando a
gente o texto e quando trabalhamos item por item, né, todo mundo junto, não
como eu fazia, que eu passava caderno por caderno, uma letra qualquer (...). e
aqueles, também, que estavam copiando, realmente, eles estavam apenas
copiando, aquilo não estava sendo gravado, aprendido, não tinha significado (...).
(Sessão Reflexiva 03/01/2006)
No trecho acima, a professora deixa claro que os alunos tiveram a
oportunidade de discutir o tema, expressar suas idéias. Isso confirma a
importância de trazer, para a sala de aula, experiências dos alunos,
informações e histórias, que precisam ligar-se ao texto trabalhado, para dar
vida e significado a ele. Portanto, Júlia começa a possibilitar que outras vozes
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
89
se coloquem durante a aula (Bakhtim/Voloshinov, 1929/1995). Entretanto,
essas experiências precisam ser problematizadas para que possam ser
instrumentos de aprendizagem, para que haja um movimento na zona de
desenvolvimento proximal (ZDP).
É, esmiuçar o texto, né? Então, a gente, o professor, tem que estar
junto com eles, com os alunos, ééé, então, ta entrando e atuando na ZDP, né?
(...) Então, o professor tem que estar atuando diretamente, senão, não tem como
eles estarem aprendendo, além do que corre-se o risco de eu cair no mesmo
problema do ano passado, cópia, cópia, cópia sem sentido para o aluno e, não
proporcionar aprendizagem de fato, como pressupõe Vygotsky. (Sessão Reflexiva
16/01/2006)
A professora percebe que a concepção de Vygotsky sobre as
relações entre desenvolvimento e aprendizado, e particularmente sobre a ZDP,
estabelece forte ligação entre o processo de desenvolvimento e a relação do
aluno com seu ambiente sócio-cultural e com sua situação de sujeito que não
se desenvolve plenamente sem o suporte do outro. É na ZDP que sua
interferência enquanto professora, juntamente com a de outros, é mais
transformadora. A implicação dessa concepção vygotskiana para o ensino
escolar é imediata. Se o aprendizado impulsiona o desenvolvimento, então a
escola, na figura do professor, tem um papel essencial na construção do ser
psicológico do aluno. A professora coma a perceber que tem o papel
explícito de interferir na ZDP dos alunos, provocando avanços que não
ocorreriam espontaneamente.
3.1.3. Sessões reflexivas finais
O recorte abaixo parece indicar que a professora considera o dar voz
aos alunos como importante para o ensino-aprendizagem e como uma
possibilidade de formar alunos críticos. Nota-se que, neste momento da
pesquisa (sessão reflexiva 09/02/2006), uma preocupação de introduzir as
atividades, escutando, em primeiro lugar, a opinião dos alunos. A professora
expressa tamm outro sentido para ZDP, que se liga à visão cultural de ZDP,
definida como a distância entre o conhecimento científico fornecido pela escola
e o conhecimento cotidiano do aluno. É a ligação dos dois que produz o
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
90
conhecimento verdadeiro, conforme discutido por Vygotsky (1934/1987). Júlia
começa a entender que essa ligação entre os conhecimentos espontâneos,
que surgem da experiência prática, e os conceitos científicos, que são
ensinados e aprendidos na escola, é vista, por Vygotsky, como ponto crucial do
trabalho de ZDP.
En
tão, é, através dos textos tem mais a ver com, com esse texto aqui
“o papel do outro na constituição do conhecimento”, ele tem mais a ver com que a
gente está trabalhando, com texto, que vai, realmente estar fazendo este papel
de mediador e, isso era o que o acontecia antes, que era só uma cópia, uma
coisa jogada, então, a gente não estava assim, ééé, praticamente não estava
assim, ouvindo mesmo o aluno, a gente não sabia o que o aluno sabia, a
gente não estabelecia aquela troca. Agora, com os textos, eu acho que fica mais
fácil pra gente trabalhar, a gente vai estar sempre em contato com eles, a gente vai
estar o tempo todo, através das questões (...) (Sessão Reflexiva 09/02/2006)
Saber escutar o aluno não significa concordar com sua leitura de
mundo e se acomodar. Respeitar e escutar sua opinião é, antes de tudo,
procurar ser simpático a ela. É a maneira com a qual o professor com o aluno e
não sobre ele, tenta a superação de uma maneira ingênua por uma outra mais
crítica de se colocar e entender o mundo que o cerca. No fundo, o professor
que respeita e escuta seu aluno, reconhece a história real do saber, o caráter
histórico do processo de ensino-aprendizagem, assumindo, dessa forma, a
humildade crítica própria de seu papel mediador.
Na penúltima sessão reflexiva (09/02/2006), a professora já tem
consciência do seu papel e da transformação ocorrida:
... através desses textos, a gente vai, igual ao que você falou,
redefinir nossa função, né, porque não tem como estar chegando na classe/na
criança se a gente não mudar nosso papel, né? (...) Eu tinha aquela
preocupação da sala muito heterogênea, não conseguia trabalhar né, mais agora,
vejo que o importante é que ela seja mesmo assim, heterogênea, porque através
da diferença que a gente vai conseguindo que uma criança ajude a outra, eles vão
ter a oportunidade de trabalhar com todos da sala, (...). Então, através dessa
minha transformação e mudança de atitude, de postura comecei a perceber
também que muitas vezes, quando as crianças estavam conversando que,
normalmente, a gente não deixa eles abrirem a boca, que através dessas
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
91
conversas eles estão se conhecendo, descobrindo várias coisas juntos e, o
mais importante que aprendi, é que a gente também pode estar aprendendo,
conhecendo eles (alunos) e descobrindo com cada um deles, dos alunos(...)
(Sessão Reflexiva 09/02/2006
)
O excerto acima, sessão reflexiva 09/02/2006, indica tamm a
importância da interação no processo de aprendizagem e o papel do outro
(Vygotsky, 1934/1987). Isto parece evidenciar o sentido que Júlia atribui à
interação, à aprendizagem e ao trabalho na ZDP, ao outro, o par mais
competente para mediar a ação na ZDP. Nesse excerto a visão de ZDP da
professora parece ser a visão reducionista que privilegia a participação e o
nível de ajuda daquele que “sabe o conteúdo”, considerando-o, sempre, como
o par mais competente. Realmente, a princípio, essa pode ter sido sua visão do
papel daquele que “sabe mais” como o par mais desenvolvido. Entretanto, logo
a professora pôde perceber que no trabalho na ZDP ocorrem imeras outras
formas, muitas vezes o previsíveis, levando-se em consideração o que cada
um traz para o processo de aprendizagem.
Ao enfatizar a importância do outro no processo de aprendizagem, o
que pode ser percebido no excerto acima, é que a professora expressa outros
sentidos construídos sobre a ZDP, como uma zona de construção, onde alunos
aprendem com os outros, assim como ela, também, participa desse processo,
construindo novos conhecimentos (“(...) eles estão se conhecendo,
descobrindo várias coisas juntos e, o mais importante que aprendi, é que a
gente também pode estar aprendendo, conhecendo eles (alunos) e
descobrindo com cada um deles, dos alunos (...)”). Isso é fundamental e esse
processo contínuo de interação promove sistematização, reorganização de
conhecimentos para uns e a construção de novo conhecimento para outros,
conforme discutido por Lee e Smagorinsky (2000) e apontado no capítulo 1. O
papel do outro na aprendizagem é fundamental, não na visão unilateral,
somente do mais competente para o menos competente, mas como algo
recíproco, uma relação dinâmica, que conforme já mencionado, promove uma
contínua construção e reorganização do conhecimento.
A interação, nesse caso, conforme exemplificado no excerto acima, é
fundamental e permite que um aluno ajude o outro a compreender a tarefa, a
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
92
organizar e a trazer para a cena aquilo que sabe ou que ainda não percebeu
que sabe, sendo a linguagem o instrumento de mediação semtica que
viabiliza esse processo. Isso possibilita troca, ampliação e organização de
vocabulário para que os alunos possam ter mais opções para expressarem
suas opiniões sobre si mesmos e sobre os outros. Esse trabalho pode ser
entendido como um movimento na ZDP, como discutido por Steiner (1996), Lee
e Smagorinsky (2000), Putney et al (2000) que consideram a aprendizagem
como social e participativa.
Isso me remete à discussão sobre a formação cidadã (Gentili, 2001),
que o se limita a direitos e deveres, mas à possibilidade de transformar a
sala de aula em um espaço, no qual os alunos possam questionar e refletir
sobre a forma de agir e como isso interfere no comportamento do outro (o que
tamm ocorre nas sessões reflexivas).
A discussão em sala de aula e nas sessões reflexivas (Giroux, 1997;
Freire, 1970; Brookfield e Preskill, 1999) permite o desenvolvimento do
pensamento crítico, principalmente quando os participantes têm a oportunidade
de expressar suas opiniões sobre assuntos complexos, o que envolve regras
de participação como o saber ouvir, tomar o turno, concordar ou discordar,
completar o pensamento do outro. Cabe ao professor ou coordenador da
sessão sistematizar essas regras, fazendo com que os participantes percebam
que aquele espaço é um microcosmo onde eles podem ensaiar a participação
efetiva na comunidade.
Isso liga-se à discussão de Hedegaard (2002) sobre o bom ensino,
aquele que consegue combinar conhecimentos e habilidades que o aluno traz
para a escola, com aquilo que a escola pretende ensinar, ou seja, uma
relação das experiências com a parte teórica, para a qual todos podem
contribuir.
Finalizo essa seção, com um quadro que sintetiza os sentidos da
professora, tanto os que atribuía e os desconstruiu, como aos novos que
construiu sobre os papéis de professor, aluno e concepção de ensino-
aprendizagem.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
93
Quadro 8 - Sentidos iniciais, intermediários e finais da
professora
Sentidos
Temas
Iniciais Intermediários Finais
Papel de
Professor
Professor é visto
como transmissor
do conhecimento.
Valorização da
mediação (ZDP) e
interação.
Importância do
papel mediador
do professor.
Papel de Aluno
Alunos
repetidores;
Decoram e
copiam o
conteúdo
transmitido;
Alunos
desinteressados,
bagunceiros.
Os alunos
aprendem melhor
quando interagem
com o outro
(professor/aluno).
Interação gera
desenvolvimento;
Os alunos são
capazes de
aprenderem sem
cópia.
Concepção de
ensino-
aprendizagem
Concepção
tradicional de
ensino, pautado
na transmissão do
conhecimento e
na valorização da
cópia.
Valorização:
- do
planejamento;
- das atividades
significativas para
os alunos;
- do trabalho com
diferentes tipos de
textos.
Valorização da
construção
significativa do
conhecimento.
3.2. Regras e divisão de trabalho
Nesta seção, discuto as regras e a divisão de trabalho que
organizaram a atividade de formação nas sessões reflexivas e seu papel na
transformação dos sentidos sobre ensinar e aprender na EMEI.
Para discutir as ações da professora e as minhas nas oito sessões
reflexivas, essa seção foi organizada em três momentos, conforme
semelhanças e diferenças nas ações das participantes e, dessa forma, as
regras que dirigiram o trabalho de formação. As sessões diferiam quantos aos
seus objetivos e isso contribuiu para que fossem mudadas as regras e a
divisão de trabalho.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
94
3.2.1. Sessões iniciais – 03/11/2005 e 23/11/2005
Este primeiro momento (03/11/2005 e 23/11/2005) teve como
objetivo proporcionar à professora a oportunidade de analisar os sentidos
atribuídos ao ofício de ser professor de uma EMEI.
Durante as sessões, procurei não interferir na fala da professora,
para que ela pudesse se sentir mais confiante e confortável ao se expressar
sobre suas ansiedades e angústias em relação à sua formação e profissão.
Isso pode ser visto no excerto abaixo, no qual a professora discorre sobre sua
formação, como resposta a nossa conversa, anterior à gravação em áudio, de
que para a pesquisa seria importante conhecer como se deu a sua formação
profissional:
...Então, porque foi assim. Não foi assim, eeuuu optei em fazer ooo
magistério. Né? Foi uma coisa praticamente imposta, né? Porque na época era o
que tinha à tarde, não tinha mais o ensino médio na escola à tarde, e, então foi o
que sobrou, porque não podia estudar à noite, sobrou o magistério. Então, foi
assim né? Pratica... imposto. Aí, eu comecei. Mais assim, não era o que eu
pensava, não era o que eu queria, né? A minha formação no magistério, eu fui
me adaptando né? Também não era aquela coisa “Eu não quero!”, eu vou me
adaptando. Aí, eu fui me adaptando, e a professora era muito tradicional, ?
Então, a gente, sabe, a gente, a gente viu no caso, Piaget muito, muito o pouco
que estava no livro, foi aquilo. Ela nunca entrou em detalhe e nada, porque o que
ela passava para a gente, era você fazer aquela pastiiinha, sabe?, fazer os
“exercíciozinhos” de motricidade, coordenação, sabe, era o que ela dava. E ela era
bem nova na época, ela tinha 26 anos, ela era bem nova, né. EEE, o Vygotsky, a
gente nunca nem ouviu faalaarr, só na faculdade, sabe. Então, foi um negócio que
passou em brancas nuvens. Então, quando eu me formei mesmo, você não, a
gente não tinha aquela base, não posso falar nem em base, mas a gente tinha
aquela pasta, né? EEE, a gente não fazia estágio, nosso estágio o que era? Você
dar flooor para a criança, você dar lanche para a criança, porque não tinha
funcionário na escola, sabe, então foi uma formação assim, né? Não foi formação.
Então, eu fui pegar os alunos e ter contato, quando eu entrei mesmo na, no
Estado. Aí, comecei como estagiária, então como estagiária, eu ia e pegava a sala
quando o professor faltava e, dava aquela continuação do, continuação não, não
era nem continuação, ooo, muitas vezes o professor passava alguma coisa para
você dar dando, outras vezes você olhava o que tinha no caderno e ia passando, e
era de primeira à quarta série, né? (Sessão Reflexiva 03/11/2005)
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
95
Como coordenadora das sessões, essa postura de não intervir em
seus primeiros momentos mostra que meu principal objetivo era criar um
espaço colaborativo para a avaliação dos sentidos e uma posterior discussão.
Isso se caracteriza como uma constituição de ZDP de instrumento-para-
resultado (Newman e Holzman, 1993), pois não ocorre intervenção de minha
parte. Minhas ações estão pautadas em uma fundamentação teórico-
metodológica voltada ao desenvolvimento profissional apoiado em teorias
críticas e em discussões vygotskianas de relação dialética entre a
aprendizagem e desenvolvimento (Newman e Holzman, 1993). Isto é, a
transformação do professor (desenvolvimento) é conseguida pela reflexão
crítica dos sentidos, pela compreensão dos significados epistemológicos,
políticos e éticos das ações e dos relacionamentos entre discussões e a prática
teórica em ações de sala de aula. Assim, a construção do novo conhecimento e
o escapar da alienação (Leontiev, 1978) são dependentes desse processo
reflexivo crítico (Gitlin, 2005).
Nesta primeira sessão, participo pouco (com 28 “turnos” e 476
palavras) demonstrando atenção, curiosidade e empatia em relação às
histórias de vida e profissional da professora. Utilizo meus turnos para dar boas
vindas, explicar o trabalho de pesquisa que será realizado e intervir com
pequenos comentários e perguntas. Apesar de ter poucos turnos, todos os
temas dessa sessão foram introduzidos por mim. Outro fator determinante para
esta minha postura foi o cuidado para não perder o sujeito de pesquisa. Como
dito anteriormente, quis proporcionar um espaço de colaboração e confiança
em que ela pudesse se sentir à vontade, sem se sentir julgada ou
desvalorizada.
Essas interpretações me permitem entender que a regra que
organizou os papéis nessa sessão propiciou uma clara divisão de papéis:
professora-pesquisadora pergunta e entende a professora Júlia, que, por sua
vez, fala e é entendida pela professora-pesquisadora. Embora Júlia relatasse
sua experiência, exemplificando este relato, não houve questionamentos que
pudessem criar conflitos, a fim de que a construção de conhecimento se desse
com o novo em contato com o velho, o externo com o interno. Não houve
colaboração nem no questionamento das colocações da professora nem na
construção de significados.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
96
A segunda sessão reflexiva (23/11/2005) apresenta poucas
novidades em relação à anterior. O objetivo desse segundo momento foi
retomar e continuar a discussão precedente, proporcionar reflexões acerca das
concepções de aluno, ensino-aprendizagem e iniciar um trabalho diferenciado
tendo como foco o uso de textos e não mais de palavras isoladas.
Inicialmente, começo a sessão propondo um trabalho pautado em
texto, pois, durante a sessão anterior, a professora relatou a importância que
ela atribuía à cópia. Aqui, tento fazer uma contraposição entre a cópia e o
trabalho com base em textos. Pergunto o que irá trabalhar com as crianças e
continuo explicando como vamos conduzir a atividade, conforme mostra o
excerto abaixo:
Pesq.:...Então Ju, o que eu tinha pensado pra gente estar fazendo é
trabalhar com texto. Hoje você vai trabalhar o que com as crianças?
Ju: Bom, hoje vou trabalhar a família silábica do D.
Pesq.: Do D, então,
poderíamos trabalhar primeiro com um texto maior que tenham palavras com D,
desse texto a gente tira uma frase principal e que tenha palavras com D, desse
texto a gente vai para a palavra com o D, depois para as sílabas – família silábica e
depois pra letra.
Ju: Certo!
Pesq.: No texto, a gente primeiro uma vez para eles, com o texto na
lousa marcando com o dedo, depois, a gente pede para que eles leiam junto
com a gente, depois vai passando por cada mesinha, na verdade eles passam a
decorar o texto e, depois ver: “Alguém quer ler?”, e deixar alguém se prontificar a
ler o texto. E aí, o que você acha? (Sessão Reflexiva 23/11/2005)
Nesse momento, meu papel como formadora foi direcionar o que
Júlia iria realizar em sala de aula. Meu objetivo era que ela experienciasse uma
situação de ensino-aprendizagem diferente daquela que ela utilizava. Então,
proponho um novo trabalho com base em textos; entretanto, o explico o
porquê dessa proposta e assim, meu papel passa a ser de imposição e
autoritário. Dessa forma, minha ação nesse momento não deixa de ser
diferente do que a professora faz com o aluno.
Em resposta à pergunta acima, a professora começa a subestimar a
capacidade dos alunos em realizarem esta atividade sem o artifício da cópia e
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
97
a se queixar do comportamento e da falta de interesse de cada criança, como
já discutido na seção anterior. Neste momento, questiono o resultado da cópia:
Pesq.: Mas a cópia está dando resultado significativo? Eles estão
aprendendo de fato com a cópia? (Sessão Reflexiva 23/11/2005)
Assim, tento criar um conflito em relação à concepção metodológica
da professora a fim de resgatar as oportunidades que perdi na primeira sessão,
provocando um trabalho que criasse conflitos e, isso pôde ser observado após
a aula, quando avaliamos a atividade desenvolvida junto aos alunos:
Pesq.: Então Ju, como foi a atividade? O que você sentiu da Sala?
Ju: Foi assim, foi bom! Eles participaram né, teve essa participação do
grupo, todos se interessaram em querer ler! Se eu fosse deixar todos lerem,
iríamos ler até o final da aula! (...)
Pesq.: Qual foi o ponto alto da atividade?
Ju: Acho que é a leitura mesmo, eu lendo, eles lendo, eles querendo
ler, se envolvendo na atividade, toda hora eles queriam ler, levantavam a
mãozinha. Mesmo não sabendo, lógico que eles não sabem, só de estar olhando e
repetindo, acho que isso foi o melhor! (Sessão Reflexiva 23/11/2005)
Neste segundo momento, minha participação como coordenadora da
atividade de formação é maior: intervenho mais, questiono. Entretanto, isso não
inibiu a participação da professora.
As regras de participação nessa sessão reflexiva permitiram a divisão
de trabalho com mais eqüidade. As participantes entraram na discussão com
seus argumentos da prática vivida e conseguiram concretizar um pouco mais a
relação entre teoria e prática.
De acordo com Magalhães (1998), a colaboração pressupõe uma
atitude solidária entre agentes que buscam atribuir significados às suas
práticas através do questionamento de seus valores, escolhas e sentidos. Isso
pode ter acontecido nos excertos anteriores, pois a exposição das participantes
as levou a questionarem as metodologias. Nós não reconstruímos uma prática
de fato, apenas confrontamos (Smyth, 1992) valores com a realidade que
enfrentamos e tentamos iniciar um processo de transformação.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
98
Todavia, mesmo utilizando-se dessas estratégias que, sem vida,
estabelecem uma relação de proximidade (Kerbrat-Orecchioni, 1996) entre mim
e a professora, observam-se intervenções que deixam claro o meu poder. No
primeiro excerto apresentado nesta subseção, assumo esse poder, configuro,
planifico todos os passos do trabalho a ser desenvolvido com o texto para a
professora, deixando pouca margem para relativizações. Por outro lado, ao
utilizar ...[nós] poderíamos
trabalhar primeiro com um texto maior que tenham
palavras com D, desse texto a gente tira uma frase principal e que tenha palavras
com D, aí desse texto a gente vai para a palavra com o D, depois para as sílabas
família silábica e depois pra letra.
...”, a pesquisadora assume a responsabilidade
enunciativa da solicitação feita à professora participante. Isso pôde revelar que
a pesquisadora procura horizontalizar a relação ali estabelecida (Kerbrat-
Otrcchioni, 1996).
Com relação à professora, no tocante ao funcionamento da polidez
(Kerbrat-Orecchioni, 1996), o excerto demonstra um claro engajamento no
tema proposto por mim (Acho ótimo!) após a exposição da proposta de
trabalho com texto.
Conforme a discussão realizada na fundamentação teórica que
tem como base Kerbrat-Orecchioni (1996), as estratégias de polidez
utilizadas pela professora revelam o seu grande grau de consciência
quanto a sua posição na interação: assume a posição inferior que lhe
cabe, ora engajando-se no tema proposto pela professora-pesquisadora,
ora concordando com ela, ora numa demonstração de modéstia,
colocando-se como uma pessoa que não domina completamente o
conhecimento.
No entanto, percebe-se, na interação, que essas estratégias,
mais do que situar a professora em posição inferior, permitem-lhe disputar
uma posição superior com a professora-pesquisadora, pois, por meio de
tais estratégias, a professora impõe à professora-pesquisadora o dever de
tamm realizar o trabalho de proteção de face, evitando ameaças à
imagem das participantes da interação
.
Nessa breve análise de polidez, o instrumental oferecido por Kerbrat-
Orecchioni indica caminhos mais seguros na análise das relações de poder que
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
99
permeiam as interações face-a-face. Assim, escapa-se do risco de utilizar
análises unilaterais que consideram um único detentor do poder, tendo em
vista sua posição hierárquica na interação. A proposta de Orecchioni auxilia na
compreensão da conversação como um movimento que pode ser dinamizado
por qualquer um dos seus participantes, e por isso mesmo, não pode ser
completamente antecipado por aquele que, em princípio, ocupa a posição alta.
Entendo nessas interpretações que a regra que se estabeleceu nessa
sessão foi de transmissão (coordenadora da sessão/professora-pesquisadora),
porém com menos passividade da professora. Ao questionar sobre a cópia (e
acredito que isso ocorreu também na primeira sessão reflexiva), dou-lhe a voz
e passo a ouvi-la e, nesse momento, a professora participa mais ativamente,
expondo seu ponto de vista. Assim, percebo maior participação no discurso e
na dinamicidade da atividade. A divisão de trabalho parece estar mais
equilibrada.
3.2.2. Sessões Intermediárias – 13/12/2005, 03/01/2006 e 16/01/2006
Este segundo momento (13/12/2005, 03/01/2006 e 16/01/2006) tinha
como objetivo promover a discussão sobre o trabalho com texto e a
conseqüente interação com o grupo/classe, incentivando uma maior
participação dos alunos, bem como examinar o papel mediador do professor e
planejar atividades mais interativas. Tinha como objetivo, tamm, a discussão
dos textos: Aquisição da linguagem e escrita”, “As relações entre pensamento
e linguageme a “Interação entre aprendizado e desenvolvimento: ZPD”, do
livro de Teresa Cristina Rego.
A base da nossa discussão, nessas sessões, foi a forma mecânica
de leitura e a importância de o aluno atribuir significado para o que está
lendo/escrevendo e, correlato com esse tema, o sentido da cópia nas
atividades propostas para os alunos.
A professora é quem inicia a sessão de 13/12/2005 descrevendo,
detalhadamente, a atividade realizada com os alunos denominada “Boi da cara
preta”. Ao longo do seu relato, eu fazia algumas perguntas que visavam a
incentivar o estabelecimento da relação entre as teorias e a atividade
elaborada, como se pode ver no excerto abaixo:
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Pesq.: Qual a diferença que você desse trabalho que desde que a
gente começou a estudar você ta tendo e do trabalho que você teve antes?
Ju: Então, eu acho assim, é o texto assim rodado pra eles fica bom,
fica mais organizado e a criança se prende mais, porque, eles não estão só
copiando da lousa porque, no caso, se torna cansativo, eles copiam mais muitas
vezes eles não gravam né. Aqui, eles não precisam estar copiando todo o texto, é
mais fácil, acho que eles gravam melhor a letra porque, a letra está mais bonita,
impressa. Então, percebi que eles ficam mais centrados na lição e como tem várias
folhas é, posso estar ficando mais tempo com eles, dando maior atenção para
cada mesa.Antes eu passava na lousa e, eu perco tempo, faço a linha na lousa,
até copiar todo o texto pra eles já passou muito tempo. Aqui como está tudo pronto
eu ganho mais tempo! E pra eles é melhor também, né? Valeu mais a pena!!!
Certo?! (Sessão Reflexiva 13/12/2005)
Percebo pelos dados, que a professora inicia nosso encontro com a
descrição de uma atividade planejada por ela, fato que demonstra uma
descentralização nas orientações que, até então, partiam de mim. Isso permite
que a professora além do que planejei, ocorrendo o surgimento de
momentos de conflito e reflexão crítica.
Esse momento apresenta maior participação e envolvimento das
participantes, com discussões e comentários sobre a atividade elaborada pela
professora. Com essa atitude das participantes, iniciamos o planejamento para
o trabalho em 2006 para crianças do estágio da pré-escola (5 a 6 anos de
idade). Aqui a professora teve a possibilidade de explicitar e descrever a
transformação que sentia ao modificar o instrumento de trabalho de letras e
sílabas soltas para o trabalho com textos e interpretação.
Nas sessões de 03/01/2006 e 16/01/2006 percebo a professora
mais engajada e criando oportunidades de se posicionar, o que provoca
maiores possibilidades de criação de conflitos. A professora tem
conhecimento desses conceitos de alfabetização e metodologias, devido aos
cursos de formação e consegue discuti-los bem e, no excerto abaixo, vê-se que
ela consegue relacionar o texto lido com o trabalho que realiza em sala de aula.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
101
Ju: No texto quando ele fala assim: “...enfatiza de tal forma a mecânica
de ler o que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem escrita como
tal...”, assim, no caso, isso é o que acabo fazendo na sala de aula, quando eu dou
a família, por exemplo, a família do B, BA, BE, BI, BO, BU no caderno eles
assim, mecanicamente eles estão copiando mais isso não significa que foi
gravado, eles não raciocinam assim, pra ter a compreensão de que aquilo é o B...
(Sessão Reflexiva 03/01/2006)
Iniciamos a sessão com a elaboração e discussão da atividade
“Diário da Clara”. Ressaltamos a importância do texto descritivo e da
autobiografia de Clara, pois, no início do ano letivo as crianças estão se
conhecendo, conhecendo a escola, seus funcionários, a professora, o entorno
da Unidade Escolar e, através dessa atividade, poderíamos estabelecer maior
contato com elas e suas famílias por meio de pesquisa enviada para casa com
a participação dos pais e/ou responsáveis. Nessa atividade privilegiamos as
possibilidades para as crianças falarem, interagirem e, principalmente, se
sentirem protagonistas de seu próprio processo de ensino-aprendizagem.
Neste momento, a professora conseguia perceber a diferença entre
seu trabalho anterior e o que agora estava elaborando. era capaz de
identificar nas atividades construídas os conceitos discutidos através dos textos
da Teresa Cristina Rego e a sua importância no processo de ensino-
aprendizagem das crianças, como nos demonstra o excerto abaixo:
Ju: é, esmiuçar o texto, né? Então, a gente, o professor, tem que estar
junto com eles, com os alunos, ééé, então, ta entrando mesmo nessa ZDP,
atuando né?, assim, mediando, fazendo aquela mediação, né, por que senão,
sozinhos não tem como eles estarem fazendo os exercícios né. A gente pode
estar lendo, lendo, lendo mas, temos que estar passando o nome na lousa para
eles estarem copiando, em um primeiro momento né, estar destacando este
nome no texto para que eles possam comparar com a escrita da lousa. Para
que eles possam, também, perceber através da lista dos nomes da sala que
podem ter o nome de alguma amiga – Clara que outros nomes iniciam com a letra
C, que outras letras aparecem em lugares diferentes em nomes distintos, e assim,
vai! Então, o professor tem que estar atuando diretamente, senão, não tem
como eles estarem fazendo, além do que corre-se o risco de eu cair no
mesmo problema do ano passado, cópia, cópia, cópia sem sentido para o
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
102
aluno e, não proporcionar aprendizagem de fato, como pressupõe Vygotsky,
né? (Sessão Reflexiva 16/01/2006)
Acredito que os momentos de conflito surgem quando há implicação
do eu na fala, quando ela traz a experiência e essas experiências e opiniões se
relacionam com o que foi lido no texto, fato que percebo durante todas as
sessões e não apenas nessa.
No excerto acima, a Júlia relaciona a teoria com a prática quando
exemplifica o conceito de ZDP. Assim, ela provoca sua própria ZDP (Vygotsky,
1934/2003) buscando em sua exemplificação relacionar o conhecimento
científico ao cotidiano. Esse momento provoca reflexão pois, a professora revê
suas atitudes, de acordo com Liberali (1994:11), como forma de conhecimento;
a reflexão pode ser vista como um ato criador que parte do conhecimento e
entendimento da ação para a posterior transformação dela.
No recorte abaixo, é possível observar o posicionamento enunciativo
da professora. A princípio Júlia refere-se às duas professoras, a ela e à
professora-pesquisadora, (“... a gente...”), depois fala com o uso da voz social,
(“...Então, o professor...”). Finaliza essa fala com a implicação do eu (“...corre-
se o risco de eu cair no mesmo problema do ano passado,...”), conseguindo,
nesse momento, relacionar a teoria com a prática.
J
u: é, esmiuçar o texto, né? Então, a gente, o professor, tem que estar
junto com eles, com os alunos, ééé, então, tá entrando mesmo nessa ZDP,
atuando né?, assim, mediando, fazendo aquela mediação, né, porque senão,
sozinhos não tem como eles estarem fazendo os exercícios né. A gente pode
estar lendo, lendo, lendo mas, temos que estar passando o nome na lousa para
eles estarem copiando, em um primeiro momento né, estar destacando este nome
no texto para que eles possam comparar com a escrita da lousa. Para que eles
possam, também, perceber através da lista dos nomes da sala que podem ter o
nome de alguma amiga Clara que outros nomes iniciam com a letra C, que
outras letras aparecem em lugares diferentes em nomes distintos, e assim, vai!
Então, o professor tem que estar atuando diretamente, senão, não tem como eles
estarem fazendo, além do que corre-se o risco de eu cair no mesmo problema do
ano passado, cópia, cópia, cópia sem sentido para o aluno e, o proporcionar
aprendizagem de fato, como pressupõe Vygotsky, né? (Sessão Reflexiva
16/01/2006)
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
103
Neste momento intermediário, posso entender que as regras que se
estabeleceram nesses encontros foram além da transmissão, mas houve
atuação e iniciativa da professora. Houve questionamento que provocou um
trabalho criando conflitos e promovendo a construção de conhecimento novo,
permitindo, dessa forma, seu contato com o velho (Schneuwly, 1994). Houve
uma avaliação, iniciada por mim, reforçando uma divisão de trabalho,
distinguindo-se o da professora do meu, que, na maioria das vezes, encerro as
sessões reflexivas. As regras de participação estão mais claras e o clima de
confiança entre as participantes promove mais discussões. Alguns
questionamentos da questão teoria-prática surgem, o que mostra a intervenção
da professora na condução das sessões, evidenciando que a divisão do
trabalho permite a inclusão de suas dúvidas, propostas e questionamentos.
3.2.3. Sessões Finais – 25/01/2006, 09/02/2006 e 24/02/2006
Estes momentos (25/01/2006, 09/02/2006 e 24/02/2006) tiveram
como objetivo elaborar e discutir a atividade “Meu nome é Luceli”. Este texto é
descritivo, e nele Luceli relata e descreve onde mora, do que gosta, do que tem
medo, fala sobre sua escola, sua idade, nome, animais. A professora lia
descreveu todo procedimento de trabalho com essa atividade leitura, escrita,
construção de textos, palavras, a possibilidade em resgatar brincadeiras de
roda, o trabalho com numerais, higiene, entre outros. Além da elaboração
dessa atividade, realizamos a leitura e discussão dos textos “O papel da
construção do conhecimento” e “O papel do professor mediador na dinâmica
das relações interpessoais” do livro da Teresa Cristina Rego, a fim de debater
sobre os processos de ensino-aprendizagem. Percebemos através dos textos
lidos que a proposta que estávamos construindo para o ano de 2006 estava em
sintonia com a concepção cio-interacionista, e que, além disso, essa
mudança não seria fácil, porém, possível.
Discutimos, tamm, a importância da heterogeneidade e da
oportunidade que os alunos terão em trabalhar e conviver com todos os outros
alunos sem que isso fosse avaliado como indisciplina, mas sim, como
aprendizado. Finalizamos a discussão planejando outras atividades pontos
importantes a serem discutidos e desenvolvidos para o ano de 2006.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
104
Neste instante, é importante relatar a valorização que a professora
expressou em relação à participação e à opinião dos alunos e, principalmente,
ao trabalho coletivo, como mostram os excertos abaixo:
Ju: Então, aí, eu, esse texto aí que é, o texto de uma aluna mesmo que
montou, achei interessante tá trabalhando com ele, porque ele fala sobre, posso
ler? “MEU NOME É LUCIELI.
EU TENHO 9 ANOS E MORO NA CHÁCARA SANTA MARIA.
A MINHA CASA FICA PERTO DO POMAR. EU ADORO COMER
GOIABA NO PÉ. AO LADO DA MINHA CASA PASSA UM RIO. EU ADORO
NADAR NO RIO.
AQUI TEM MUITOS ANIMAIS. EU GOSTO DOS CACHORROS E
TENHO MEDO DE COBRAS.
EU ESTUDO NA ESCOLA PALMIRA. EU GOSTO DE LER E DE
JOGAR QUEIMADA.
EU GOSTO MUITO DE MORAR NA CHÁCARA, PORQUE MORO
PERTO DA NATUREZA”. Achei interessante o texto porque é o texto de uma
criança, ela descreve o lugar onde mora, de que gosta, do que tem medo, da
escola, ela fala bastante coisa sobre ela e, achei interessante estar passando para
eles. (Sessão Reflexiva 25/01/2006)
Ju: Uma atividade que a gente pode fazer, a gente pode fazer uma
lista de brinquedos preferidos da classe, posso estar colocando 10 itens e eles
escolherem 6 nomes de que mais gostam. E, assim, um estar ajudando o outro na,
na mesinha para estar escolhendo, né. (Sessão Reflexiva 25/01/2006)
Neste excerto percebo o reflexo da nossa discussão sobre ensino-
aprendizagem, à luz da teoria sócio-histórico-cultural. A Júlia escolheu um texto
de uma aluna para ser trabalhado com o grupo/classe, demonstrando, a partir
dessa escolha, a valorização da produção infantil. Esse texto traz temas
importantes para a faixa etária das crianças com as quais estamos trabalhando
e, principalmente, lia desenvolve tarefas, a partir do texto, que contemplam o
conceito de ZDP, da importância do outro, conforme discutido por Vygotsky (
(...) E, assim, um estar ajudando o outro na, na mesinha para estar
escolhendo, né.).
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
105
As regras estabelecidas nessa sessão, que vem se realizando como
normas, respeito mútuo, liberdade de participação e conhecimento do que
estamos falando, possibilitam um discurso polifônico (Bakhtim, 1929/1995),
pois há um diálogo cumulativo entre o eu e o outro, no qual as diferentes vozes
entram em contato através da enunciação. A divisão de trabalho não se realiza
numa situação de eqüidade completa, pois o predomínio da voz da
pesquisadora ao abrir e fechar discussões e retomar os turnos das sessões
anteriores.
O objetivo da última sessão reflexiva (24/02/2006) foi avaliar as
sessões, além de encerrar as atividades de pesquisa.
Ao realizar essa avaliação, tive um objetivo: saber em que aspectos
as sessões ajudaram a professora participante. Para isso, acreditei que a
orientação poderia ajudá-la a pensar no assunto (orientação esta que ocorreu
antes de iniciarmos a gravação da sessão).
Inicio a sessão explicando como ela seria realizada. Em seguida,
faço perguntas referentes aos aspectos tratados nos encontros que poderiam
ter ajudado na sua prática em sala de aula.
Nessa última sessão, a professora apresenta sua avaliação sobre as
sessões: em que aspectos as sessões foram aproveitadas e a importância
delas para a formação contínua de professores. Isso demonstra que o
processo reflexivo vivenciado através das sessões por mim e pela professora
fez repensarmos nossa prática, embora, por vezes, o se conseguisse uma
atitude crítica consistente para mudanças como, por exemplo, em relação à
questão da cópia. Apesar de ter diminuído seu uso e de a professora ter
atribuído outro sentido à mesma no decorrer do processo, analisando global e
atentamente as sessões, observamos que ela continua sendo, ainda, uma
prática usual, porém, não sistemática e central.
Os encontros permitiram às participantes tomarem decisões e se
conscientizarem dos limites das próprias posturas. Essa discussão me remete
ao conceito de ZDP proposto por Schneuwly, pois na zona de conflito
considerou-se a relação entre o desenvolvimento e os conflitos do próprio
indivíduo, das suas relações com o meio social e com os demais indivíduos. As
sessões proporcionaram a mim, enquanto professora-pesquisadora, repensar
minhas ações junto às crianças, meu papel social e profissional na criação e
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
106
desenvolvimento de um espaço de discussão com os pares. Em outras
palavras, essa zona de conflito envolveu o resultado da intersecção entre duas
gicas, a da educação (sessões reflexivas) e a do desenvolvimento individual
(das participantes).
Constatamos tamm que as vozes das participantes realizaram
toda a sessão. As regras estabelecidas para a realização da avaliação
tornaram-se normas explícitas estabelecidas nas relações daquele momento.
Até essa última sessão estiveram sob meu comando as regras e a divisão de
trabalho, pois eu, na maioria das vezes, iniciava e finalizava o encontro.
Ao interpretar esses momentos das sessões reflexivas, posso
perceber que as professoras participam nos encontros com seus
posicionamentos, fazendo perguntas, ajudando uma à outra nas respostas,
procurando estabelecer relações da teoria com a prática de sala de aula..
Nas sessões, percebe-se no discurso das participantes a descritiva
de ações, aspecto que está relacionado a um tipo de reflexão que envolve
teoria e prática. Como exposto, a teoria, tomada como ponto de partida de
discussão com a prática, é a base da qual se parte para a compreensão do
conhecimento científico que permite a crítica da própria ação.
Observei, tamm, que nas interações dialogais analisadas, as
participantes estabeleceram uma interação com bastante contato visual e
físico, a linguagem é informal e os termos de endereçamento são relativos à
segunda pessoa do discurso. Assim sendo, parece haver uma diminuição da
relação desigual, embora nenhum status tenha sido alterado. É por isso que a
professora detém maior quantidade de turnos e palavras. São atribuições de
seu papel como sujeito da formação contínua explicar sua formação,
concepção de ensino-aprendizagem, de aluno/criança, de educação infantil,
explicar como organiza e administra as aulas planejadas junto à professora-
pesquisadora, enquanto esta gerencia as atividades, introduzindo-as,
explicando-as e finalizando-as. Seu papel em uma concepção de ensino sócio-
interacionista inclui, além de dirigir as atividades de formação contínua, ajudar
a professora a desenvolver posturas que sejam mais eficientes quanto ao seu
objetivo no aprendizado de seu ofício. Na verdade a professora-pesquisadora
procura desenvolver atividades metacognitivas, que envolvem as capacidades
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
107
de estabelecer objetivos, de selecionar e adaptar as habilidades apropriadas a
determinado contexto. As perguntas e intervenções da professora-
pesquisadora têm como objetivo levar a professora a pensar como conseguir
melhorar sua atuação como alfabetizadora, estimulando sua capacidade de
refletir sobre seu processo enquanto professor. O uso que a professora-
pesquisadora faz de seus turnos propicia contextos para o autodirecionamento
da professora. Assim, um primeiro passo para a mudança nos processos
educacionais seria conscientizar os educadores sobre a necessidade de
ouvirem o que os estudantes têm a dizer sobre seus próprios processos
educativos, no intuito de ampliar sua compreensão sobre a educação e isso
ocorre em qualquer instância de formação, inclusive na de formação em
serviço. Desse modo, as atividades reflexivas propiciam espaço para que a
professora se expresse e a professora-pesquisadora entenda suas
representações sobre seu ofício.
Retomando toda a análise, pode-se concluir que o trabalho reflexivo
realizado nas oito sessões programadas e aqui apresentadas ajudou a iniciar a
transformação de concepção de ensino-aprendizagem da professora que, nas
primeiras sessões, tinha receio e dificuldades em trabalhar com as reais
potencialidades das crianças limitando suas atividades à mera cópia de letras,
famílias silábicas e palavras. Na penúltima sessão reflexiva percebe-se uma
mudança de atitude no sentido de ela ser capaz de trabalhar com textos,
valorizar a bagagem cultural do grupo/classe e, principalmente, identificar seu
papel enquanto um elemento mediador e possibilitador das interações entre os
alunos e destes com os objetos de conhecimento. Enfim, outra mudança de
atitude verificada diz respeito à percepção de que seu ofício é mais amplo do
que a mera repetição, sua intenção deve ser a de ampliar o repertório de cada
criança, permitindo a troca de informações e experiências entre os colegas e,
ainda, propiciando o seu contato com a arte produzida pelos homens ao longo
de sua história.
Finalmente, através do diálogo entre as participantes, foram sendo
criados espaços para que ambas pensassem sobre sua atuação em sala de
aula e, coletiva e colaborativamente, construíssem de forma reflexiva os
sentidos sobre os significados relativos ao ofício de ser professor de uma
EMEI.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
108
3.3. As sessões reflexivas como espaço para formação de professores
críticos
Esta seção objetiva discutir as sessões reflexivas como um espaço
de formação de professores críticos, com foco nas perguntas como
instrumentos de mediação semiótica. Para isso apresento e discuto uma
sessão, ocorrida no dia 23 de novembro de 2005, a qual constituiu-se em um
evento marcante e representativo do trabalho que foi realizado neste período
de formação. O procedimento de coleta foi a gravação da sessão em áudio. Os
procedimentos de análise incluem o levantamento dos conteúdos temáticos, os
tipos de perguntas e a distribuição dos turnos, ou seja, quem toma a iniciativa
de introduzir os temas e com que objetivos, conforme relacionado abaixo:
análise do sistema de atividade;
levantamento dos conteúdos temáticos da sessão reflexiva, com
as escolhas lexicais em negrito;
análise dos tipos de perguntas.
Apresento abaixo o sistema de atividade, representativo dessa
sessão reflexiva, para, em seguida, analisá-lo.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
109
Figura 7 – sistema de atividade – sessão reflexiva 23/11/2005
Neste sistema os sujeitos são a professora-pesquisadora e a
professora participante. As professoras trazem para o mesmo suas
experiências, os sentidos que atribuem aos papéis de professor, aluno e
concepção de ensino-aprendizagem e a sua própria constituição de sujeito, que
faz de cada uma, um ser único e complexo, uma mistura de cultura, história e
herança psicológica. Todos esses fatores, mais o uso que fazem ou o dos
instrumentos disponíveis nas sessões reflexivas e, particularmente, em suas
classes, têm uma influência direta na posição que ocupam no sistema.
A professora-pesquisadora, como aquela que desenvolve seu
trabalho de pesquisa, está imersa em assuntos teóricos, dentre eles a
constituição do sujeito, a sessão reflexiva como espaço de formação de
professores críticos, a relação do conhecimento científico com o cotidiano, o
que ela tenta trazer para a sessão reflexiva, para que a sua prática possa
exprimir aquilo em que acredita e o que discute teoricamente.
Textos, tarefas, transcrições e a própria sessão reflexiva são
utilizados como instrumentos. Dessa forma, o objeto desse sistema de
Instrumentos de mediação:
textos, tarefas, transcrição,
sessão reflexiva.
Sujeito:
professora
pesquisadora e
professora
participante.
Regras:
participação
em uma discussão:
quem fala, como fala,
tomada de turno,
respeito à opinião do
outro.
Comunidade:
escola,
direção, universidade.
Divisão de trabalho:
professora pesquisadora
faz perguntas e tenta
expandir o conhecimento
ligado à realidade da
professora participante;
Professora participante dá
exemplos de histórias
vivenciadas por ela.
Objeto:
competência
comunicativa e
reflexão sobre os
papéis de
professor, aluno e
concepção de
ensino-
aprendizagem.
Resultado:
Percepção de
aprendizagem
para
fortalecimento da
auto-estima e
formação de
professores
críticos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
110
atividade é desenvolver a competência comunicativa das participantes, dando a
elas a oportunidade de perceberem o quanto aprenderam até essa data e
tamm de refletir sobre os papéis de professor, aluno e concepção de ensino-
aprendizagem. O resultado esperado seria, então, a percepção da
aprendizagem com o fortalecimento da auto-estima e a formação de
professores críticos que sejam capazes de refletir sobre a construção de sua
identidade profissional e sobre o processo de ensino-aprendizagem de seus
alunos.
Outros instrumentos utilizados nesse sistema foram as perguntas e
as histórias das participantes, o que propiciou oportunidades de aprendizagem
e uma expansão do conhecimento, provocando movimento no sistema. As
regras referem-se ao como participar de uma discussão e de trabalho em
grupo, como saber ouvir, dar opinião, respeitar a opinião do outro e emitir a sua
própria.
Na divisão de trabalho, a professora-pesquisadora assume o papel
de intermediária da discussão, fazendo perguntas para que a professora
participante tenha a oportunidade de expressar suas opiniões, objetivando
propiciar a reflexão e o pensamento crítico. A professora Júlia participa fazendo
perguntas, respondendo e interagindo com a professora-pesquisadora seja
para tirar dúvidas, seja para trocar informações. Neste trabalho, é enfatizada a
troca, o colaborar com o outro, propiciando assim oportunidades de aprender e
reorganizar a informação, destacando o trabalho na ZDP, como uma
construção social.
Os quadros abaixo apresentam as ações que compuseram essa
sessão reflexiva, apontando os objetivos e os instrumentos utilizados. Além
disso, os quadros apresentam os conteúdos temáticos e tamm os tipos de
perguntas.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
111
Quadro 9 – Ação
Sistema de atividade – sessão reflexiva 23/11/2005
Conteúdos temáticos Exemplos
Concepção de ensino-aprendizagem
para a professora Júlia
Introduzido pela professora-
pesquisadora.
Objetivo: discorrer sobre suas
dificuldades como professora e sobre sua
visão de ensino-aprendizagem.
“Então Júlia, o que eu tinha pensado pra
gente estar fazendo é trabalhar com
texto. Hoje você vai trabalhar o que
com as crianças?
Importância da cópia para a professora
Júlia
Introduzido pela professora-
pesquisadora.
Objetivo: explicar quais os resultados da
cópia em sala de aula.
Júlia: Acho ótimo! É, vamos ver se a
minha sala consegue né? (...) Ah, por
que eles não se prendem muito a nada. É
aquela meia dúzia que se interessa e
muitos ficam dispersos, ficam
conversando, brincando, né? O que eu
passo na lousa, é, eles copiam, fazem
, a maioria faz, mas não tem aquele
interesse.
Pesq.:Mas a cópia está dando
resultado significativo? Eles estão
aprendendo de fato com a cópia?”.
Papel do aluno para a professora Júlia
Introduzido pela professora-
pesquisadora.
Objetivo: explicar porque a professora
Júlia acha que os alunos não conseguem
realizar a tarefa.
“No texto, a gente uma vez para eles,
com o texto na lousa, marcando com o
dedo, aí depois, a gente pede para que
eles leiam junto com a gente, depois vai
passando por cada mesinha.(...) e deixar
alguém se prontificar a ler o texto. E aí, o
que vo acha?(...)Por que você acha
que eles não conseguem?
Perguntas Tipo de perguntas
“Hoje você vai trabalhar o quê com as
crianças?”
Pergunta inicial para introduzir o tópico.
Mas a cópia está dando resultado
significativo? Eles estão aprendendo de
fato com a cópia?”
Pergunta é objetiva (sim ou não) mas
pode ser considerada desencadeadora de
reflexão.
“E , o que você acha?”; “Por que você
acha que eles não conseguem?”
Pergunta para provocar reflexão.
A ação acima descrita objetivou apresentar o tópico e discutir sobre a
visão do papel do aluno e da concepção de ensino-aprendizagem. O tema foi
introduzido pela professora-pesquisadora e houve interesse da professora
Júlia, principalmente porque ela pôde contribuir com suas histórias e
experiências. A professora-pesquisadora perguntava, solicitava a participação
da professora Júlia e escutava as respostas. Júlia, apesar de concordar com a
utilização de textos em seu trabalho, realiza um comentário que subestima a
capacidade de seus alunos para a realização de tal tarefa (“
Acho ótimo! É,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
112
vamos ver se a minha sala consegue né?”). Seu comentário traduz o sentido que ela
atribui à visão que ela tem de seu aluno.
A professora-pesquisadora, então, faz uma pergunta com o objetivo de
possibilitar a reflexão sobre o ocorrido e pede a opinião de Júlia (“Mas a pia está
dando resultado significativo? Eles estão aprendendo de fato com a cópia?”).
A discussão durante a sessão reflexiva, como discutida por Freire (1970),
Giroux (1997) e Brookfield (1987), pode promover o pensamento crítico, se os
professores tiverem a liberdade para expor seus pontos de vista e se o coordenador
da sessão estiver preparado para levar em consideração o que é trazido para a cena,
respeitando e fazendo com que os professores aprendam a ouvir e argumentar. As
perguntas que a professora-pesquisadora faz, no decorrer do excerto acima, objetivam
em, primeiro lugar, introduzir o tópico para, em seguida, permitir que a professora
participante, seus exemplos e mostre suas experiências, o que colabora para um
melhor entendimento dos sentidos que vão aparecendo a partir do relato da professora
Júlia e do tópico que está sendo tratado. Esse procedimento aponta, assim, para um
trabalho na ZDP, como construção social, (Ptney, Engeström, Lave e Wenger), na qual
o conhecimento é construído, reconstruído e transformado, com base na sócio-história
de cada indivíduo.
A professora-pesquisadora parece concordar com Wells (2000), que
considera a aprendizagem como um processo construtivo e colaborativo, no qual a
professora Júlia participa ativamente, trazendo suas histórias e experiências para a
sessão reflexiva, as quais passam a fazer parte do conteúdo da sessão.
O acima discutido relaciona-se tamm à discussão de Vygotsky, com base
no monismo de Spinosa, sobre a constituição do sujeito, que é uma fusão de aspectos
cognitivos, psicológicos, afetivos e emocionais. O sentir-se bem e capaz influi no
processo de aprendizagem e faz com que o sujeito atribua novos sentidos à
aprendizagem.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
113
Quadro 10 – Ação
Sistema de atividade – sessão reflexiva 23/11/2005
Conteúdos temáticos Exemplos
Avaliação da proposta de trabalho com
textos.
Introduzido pela professora-
pesquisadora.
Objetivo: avaliar a proposta apresentada
pela professora-pesquisadora.
“Então Júlia, como foi a atividade? O
que você sentiu da sala?
Relato sobre a disciplina dos alunos.
Introduzido pela professora.
Objetivo: avaliar o impacto da proposta
realizada no comportamento dos alunos
Júlia:“Eu lia e eles liam em cima. Eles não
leram sozinhos, né? Então, eu lia e eles
repetiam, repetiam o que eu ia lendo, né?
Eles queriam ir na frente, colocar o
dedo embaixo das palavras. Mas tem
um porém, faltaram 11 alunos então, fica
mais cil trabalhar! Menos alunos é bem
mais fácil! Eles não tinham tempo de ficar
um cutucando o outro, a sala ficou mais
arejada, mais fácil trabalhar!
Pesq.: E aí, depois da leitura você
propôs o que?(...)Você sentiu
dificuldade em realizar a atividade
Perguntas Tipo de perguntas
“Então Júlia, como foi a atividade? O que
você sentiu da sala?”; “Você sentiu
dificuldade em realizar a atividade
Pergunta inicial para introduzir o tópico.
“E aí, depois da leitura você propôs o
que?”
Pergunta organizadora para saber se a
professora entendeu a proposta de
trabalho e levantar suas dificuldades.
Concluo, a partir do excerto acima, que à medida que as
participantes interagem, elas m a possibilidade de rever, reorganizar e
sistematizar o conhecimento, transformando-o, o que provoca um movimento
constante na ZDP de cada indivíduo e da atividade. Dessa forma, a
aprendizagem é considerada um processo de construção social, no qual o
indivíduo se forma e ajuda na formação do outro.
O comentado acima me remete ao que Brookfield e Preskill (1999)
destacam como aspectos fundamentais em uma discussão: como ajudar o
outro a ter um entendimento crítico sobre o que está sendo discutido,
examinando outras possibilidades e aumentando a agilidade intelectual e a
compreensão dos significados e sentidos de determinadas situações, fazendo
com que o sujeito atribua novos sentido para outras práticas e ações. No caso
das sessões reflexivas isso fica ainda mais evidenciado, já que estas são um
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
114
lugar privilegiado para se falar, explorando o que as professoras fazem em sala
de aula através do discurso, conforme apontado por Moita Lopes (2002).
Entretanto, muitas vezes, o coordenador da sessão não se sente
preparado para fazer a mediação entre o conteúdo explorado e a prática em
sala de aula. Celani (2001) e Magalhães (2002) estudam a formação desse
profissional e enfatizam a necessidade de uma formação reflexiva e crítica que
permita a ele repensar a sua ação, levando em consideração quem são os
professores do grupo que coordena, como se constituíram, quais suas
experiências de aprendizagem e de que forma o que aprendem pode contribuir
para que eles sejam profissionais e cidadãos melhores.
Para a professora-pesquisadora, esse tem sido um aprendizado
constante. O fato de estar envolvida com discussões teóricas sobre cidadania e
formação crítica permite que ela repense sua ação nas sessões reflexivas e em
suas próprias aulas e tente formar alunos cticos e cidadãos.
A interação, neste caso, é fundamental e permite que as
participantes se ajudem mutuamente a compreender a tarefa, a organizar e a
trazer para a cena aquilo que sabem ou que ainda não perceberam que sabem,
utilizando a linguagem como instrumento de mediação semiótica que viabiliza
esse processo. Esse trabalho pode ser entendido como um movimento na
ZDP, como discutida por Steiner (1996), Lee Smagorinsky (2000), Putney et al.
(2000), que consideram a aprendizagem como social e participativa.
Além disso, os fatores culturais e o contexto no qual esses
professores se inserem são determinantes. A cultura, na concepção
vygotskiana, é algo que fornece ao indivíduo instrumentos simbólicos para que
ele compreenda a realidade, em um constante movimento de recriação e de
reinterpretação de conceitos e significados. O contexto, por sua vez, ou seja,
todos os sistemas de atividade nos quais esses indivíduos tomam parte,
entrelaça-se com os aspectos sociais e culturais e exerce influência na própria
constituição do indivíduo. Isso se relaciona à discussão de Cole (1996), que
expande o conceito de Bronfenbrenner (1979) sobre contexto, definindo-o
como camadas dispostas em círculos concêntricos, enfatizando que essas
camadas interferem umas nas outras, provocando transformações. De fato,
pelo que pôde ser observado nos dados das oito sessões reflexivas, a posição
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
115
do sujeito pode ser alterada, conforme a influência dos contextos nos quais
participa.
Por isso, para compreender o sujeito, é necessário entender suas
relações com os outros, seu ambiente e a forma como se insere no mundo,
investigando não somente a sua história, mas a história do grupo social ao qual
pertence (Vygotsky, 1982; Wells, 2000; Daniels, 2003; Wertsch, 2000). Daí a
relevância de investigar os outros sistemas, dos quais os professores
participam e as possibilidades que são oferecidas a eles nesses sistemas para
poder entender a sua constituição como sujeitos e como aprendizes.
A sessão reflexiva é finalizada com a conversa/avaliação da
atividade proposta pela professora-pesquisadora. As perguntas que a
professora-pesquisadora usa, nesse excerto, objetivam a percepção da
aprendizagem e o desenvolvimento do pensamento crítico. Percebe-se que a
professora-pesquisadora pede para que Júlia explique suas impressões, o que,
posteriormente, na terceira sessão reflexiva, promoverá um repensar e a busca
de argumentos para convencer o outro, movimento fundamental na construção
do pensamento crítico.
A professora-pesquisadora demonstra saber ouvir a voz da
professora Júlia, abrindo um espaço para que ela pudesse ter um
entendimento crítico sobre o tópico discutido, aumentando a tolerância para a
diversidade de opiniões e encorajando-a a falar de suas experiências
(Brookfield e Preskill, 1999).
Finalizo esta seção, sistematizando os resultados da discussão dos
dados, que objetivaram responder à seguinte pergunta de pesquisa:
Como a linguagem organiza a formação colaborativa do
professor?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
116
A sessão reflexiva se organiza, como um espaço para a formação de
professores críticos, quando:
- as professoras têm a possibilidade de manifestar suas opiniões,
ouvem e são ouvidas, aprendem a argumentar, a tentar convencer o outro, a
tomar o turno, a concordar ou discordar e, conseqüentemente, a interagir com
respeito pelo outro;
- a preocupação de fazer a relação entre o conhecimento
científico com o cotidiano, evidenciando um trabalho na ZDP, na concepção
cultural, o que possibilita o engajamento maior das professoras, que trazem
para a sessão reflexiva suas experiências e histórias, as quais podem ser
compartilhadas e problematizadas;
- as professoras conseguem perceber o que aprenderam e como
aprenderam, cabendo à professora-pesquisadora propiciar esses momentos,
colaborando para aumentar a auto-estima da professora, principalmente pelo
fato de se descobrir capaz de agir e interagir;
- as múltiplas vozes conseguem vir para a cena da reflexão;
- movimento expansivo e transformação no sistema de
aprendizagem;
- há a preocupação de conhecer quem são os sujeitos que participam
do sistema de atividade, de onde vêm, como se constituem como aprendizes e
quais foram suas experiências anteriores de aprendizagem;
ou ainda, quando a ênfase é dada:
- nos instrumentos de mediação semtica, por se reconhecer a
importância disso para criar novas zonas de desenvolvimento;
- na aprendizagem como um processo de construção social, no qual
o papel do outro é fundamental e a interação é um processo contínuo que
promove sistematização e reorganização do conhecimento, com base na sócio-
história de cada um;
- na sessão reflexiva como espaço de formação de professores
críticos;
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
117
- no uso de perguntas como instrumentos de mediação semiótica na
formação do professor crítico;
- e, finalmente, no ser possível.
Nesse capítulo pretendeu-se responder à pergunta de pesquisa, que
abrange tanto os sentidos que as professoras atribuíram e atribuem aos papéis
de professor, aluno e concepção de ensino-aprendizagem, como tamm à
constituição do professor e a sessão reflexiva como espaço de formação de
professores críticos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao chegar ao final deste trabalho e examinar o processo de
construção do mesmo, tenho clareza o bastante para perceber o que significou
para mim e para a Júlia. Um ciclo expansivo de aprendizagem que me
fortaleceu e que me impulsiona para seguir caminhos que apontam para outras
direções e para uma certeza: os que trabalham na área de formação de
professores não podem esperar mudanças em sua atuação junto a seus
alunos, se o mudarem a sua forma de atuar junto ao próprio professor. Para
que se possa ajudá-los na tarefa de construção de novos conhecimentos
(incidir na sua “zona de desenvolvimento proximal ZDP) é preciso partir
daquilo que ele sabe. Essa terá sido uma das importantes lições deste
trabalho. Nesse sentido, entendo que o pensamento de Vygotsky, que tem
inspirado tantas reflexões no que diz respeito às questões relativas ao
desenvolvimento psicológico e à linguagem, as inspira também no que se
refere à questão da formação dos professores. Para Júlia, as sessões
reflexivas se transformaram em um momento de troca e negociação. Um
espaço onde pôde se fortalecer como sujeito crítico, para poder expressar sua
voz.
Investiguei o movimento causado pelas contradições entre os
sentidos construídos e os novos, o peso da sócio-história, o uso dos
instrumentos e as limitações ou possibilidades impostas por eles e pelo meio.
Meu processo...
No início desse percurso, difícil foi conseguir conter meu entusiasmo
com as muitas descobertas de possibilidades de transformar minha atuação
enquanto professora, colaborar com a professora Júlia e, conseqüentemente,
com a escola. Difícil foi escrever tudo isso, priorizar, planificar, focalizar e
organizar todas as informações. O trabalho para realizar as leituras e para
construir uma fundamentação teórica, que desse sustentação para tudo o que
estava vivenciando durante as sessões reflexivas, foi intenso, prazeroso e
gratificante, mas ao mesmo tempo conflituoso, que me levava para outras
leituras e discussões. Sem dúvida, tudo isso constituiu-se numa ampliação do
campo de pesquisa, mas com um grande risco de perder-me pelo caminho.
Tudo era interessante, tudo merecia seu espaço nessa dissertação, mas como
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
119
fazer? Foi um árduo e demorado percurso, mas, finalmente, pude compreender
que esse trabalho configurou-se num ponto de partida e não num final de um
processo. Concluo, portanto, que a partir desse momento inicia-se um novo
caminhar!
Os dois anos de mestrado marcaram e mudaram minha vida e meus
objetivos profissionais. Esse tempo foi sentido como tempo de aprendizagem
intensa, das muitas descobertas e da possibilidade de unir a teoria à prática.
Nesse período, pude cursar disciplinas, encontrar pessoas e com
elas compartilhar as alegrias, angústias e tristezas da vida acadêmica,
profissional e pessoal. Alegria por compartilhar e aprender com essas pessoas
a ser uma leitora crítica, preocupada em dar sugestões pertinentes para a
melhoria dos projetos e, principalmente, aprender com elas a ouvir e
internalizar críticas sobre o meu projeto. Angústia com a pressão da
orientadora, a querida Ciça, por temer a censura castradora dos acadêmicos,
por ter medo de não encontrar o fio da meada. Angústia por me envolver em
coisas demais, ser convidada a trabalhar na Coordenadoria de Educação
Freguesia/Brasilândia e não poder estar presente em todos os eventos
familiares.
As pilhas de livros e de textos que se amontoavam por todos os
cômodos de minha casa foram companhias permanentes neste percurso. Além
deles, a participação em simpósios, cursos e congressos foi marcante para
meu desenvolvimento e, com eles, os contatos e as trocas de informações
foram se ampliando, a visibilidade do projeto foi crescendo.
As qualificações as informais e a formal foram etapas que
trouxeram novos rumos para a dissertação. As informais realizadas pela
Adriana, Cristina, Ermelinda e João, todos colaborando com sugestões e
questionamentos que me fizeram repensar, afinar, trocar a ordem, tirar
algumas coisas e acrescentar tantas outras. Já na qualificação formal, pude me
valer das orientações apresentadas pela Professora Drª. Anna Rachel
Machado e, pela hoje doutora, Otília Ninin.
Os dias que antecederam a qualificação (momento em que escrevo
essa conclusão), me faziam acordar no meio da noite preocupada, pensando
na dissertação e tentando achar um rascunho e caneta para registrar os
pensamentos desenvolvidos pela insônia. Assim, pude entender estes dois
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
120
anos de LAEL, perceber o processo de escrita da dissertação como um
processo de gestação e de nascimento, que exige força, paciência, que mexe
com meu ser e faz com que, no processo do entendimento que acontece aos
poucos, sinto a presença de Deus e, emocionada, agradeço! Penso nas
bênçãos derramadas, no sofrimento que gera aprendizagem e
desenvolvimento, recordo todas as pessoas envolvidas no processo e choro.
Finalmente, nasceu!
Com a elaboração desta dissertação, aprendi que essa visão de
ensino-aprendizagem, na perspectiva sócio-histórico-cultural, pode colaborar
para transformar a escola em um lugar onde o formadas pessoas críticas,
para poderem atuar na sociedade e, por conseguinte, transforma-la. Percebi o
incrível poder e a pesada responsabilidade que nós, professores temos em
nossas mãos e aprendi que ações simples podem ter um efeito grande na
constituição do sujeito e na transformação de sistemas de atividade dos quais
participamos.
Aprendi que o mais importante é conseguir relacionar o conceito
cotidiano, do senso comum, ou seja, aquilo que cada um traz para a sessão
reflexiva da sua experiência e história, com o conceito científico, aquilo que é
ensinado e aprendido. A junção desses dois tipos de conhecimento produz o
conhecimento verdadeiro e é o ponto crucial do trabalho que acontece na zona
de desenvolvimento proximal, conforme discutido por Vygotsky e pelos neo-
vygotskianos. É um conhecimento que implica problematizar, é fazer uso de
perguntas como instrumentos de mediação semiótica, as quais possibilitam a
formação do pensamento crítico.
Além da visão cultural de ZPD, entendi que a aprendizagem e
desenvolvimento são um processo de construção social, mediado pela ação do
outro, no qual uma fusão de experiências históricas e culturais e os sujeitos
estão em constante formação e ajudam na formação de outros sujeitos.
A investigação sobre os sentidos, que entendia (e entendo) fazer
parte do processo de ensino-aprendizagem dos alunos e das participantes da
pesquisa, foi determinante para perceber que não adianta iniciarmos um
trabalho de preparação para a escola, sem termos a oportunidade de refletir
sobre as questões históricas e culturais que se ligam ao ofício de ser professor.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
121
A educação na visão sociocultural e a formação crítica m muito a
colaborar para revelar a situação acima apontada. Portanto, tanto a
preparação do professor, como a prática de sala de aula precisam ser
reavaliadas. Em que medida damos aos nossos alunos a oportunidade de fazer
ligações do conhecimento científico com o conhecimento espontâneo? De que
forma enfatizamos a aula como um modo de ser no mundo, como uma forma
de fazer com que nossa voz seja ouvida e respeitada? Como fazer uso de
novos instrumentos ou mesmo usar, de formas diferentes, alguns que fazem
parte da nossa prática? Como trazer para a sala as experiências e histórias dos
alunos e professores, de modo que elas passem a fazer parte integrante do
currículo? Como podemos formar professores e alunos críticos que possam
interferir positivamente na sociedade, como cidadãos? Essas constituíram as
questões importantes que foram suscitadas e discutidas ao longo deste
trabalho e que podem colaborar para um melhor entendimento e atuação em
contextos de formação de professores.
Dessa forma, esse trabalho aponta para a necessidade de formação
do professor para trabalhar na escola. Entretanto, não basta o conhecimento
sobre a necessidade dos alunos. O professor precisa ser formado como um
educador crítico e cidadão que possa valorizar o espaço da sala de aula como
decisivo para a formação de alunos críticos e cidadãos. poderemos
transformar o nosso discurso cidadão em prática efetiva, se tivermos
oportunidade de vivenciar esse discurso na sala de aula, viabilizando-o em
ações.
Cabe a nós, estudiosos dedicados à lingüística aplicada, que
acreditamos no poder da linguagem como instrumento de mediação semiótica,
que estudamos e trabalhamos com a teoria sociocultural e que nos propomos
analisar os discursos humanos, dar início a este processo de mudança e
transformação, começando pelo nosso próprio discurso e ação, nos sistemas
de atividade dos quais participamos. Estaremos, assim, contribuindo para que
os professores desconstruam os sentidos negativos que geralmente atribuem
ao ensino-aprendizagem dos alunos.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
122
Para onde vamos...
“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um
pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de
águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração
própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de
um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
- Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
- De fato disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha.
Ela o é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar
das asas de quase três metros de extensão.
-Não retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois
tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
-Não, não insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voa
como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia,
ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
-Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não
á terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava
distraidamente ao redor. Viu as galinhas embaixo, ciscando grãos. E pulou
para junto delas.
O camponês comentou:
-Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
-Não tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia
será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa.
Sussurrou-lhe:
-Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão,
pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
-Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
123
-Não respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá
sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez.
Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo.
Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos
homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das
montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
-Águia, que voé uma águia, que você pertence ao céu e o
à terra, abra suas asas e voe!
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida.
Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do
sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão
do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou o típico kau-
kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a
voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou ... voou ...até confundir-
se com o azul do firmamento...” (Boff, 1997: 27-34).
Ao finalizar esta dissertação, penso em asas, no o dos pássaros e
o quanto e como essas metáforas estão presentes no meu trabalho de
professora. Hoje, vem viva, na mente e na ponta do lápis, a imagem, a
metáfora do pássaro, das asas. E penso nos meus alunos, na exclusão social,
no preconceito. Penso nos meus encontros com a lia e, penso no ser
possível. Na discussão, nas sessões reflexivas, nos sentidos construídos e
atribuídos, na liberdade de se expressar, no fortalecimento das asas, na
percepção da força que cada um pode descobrir em si. Na responsabilidade de
ser um multiplicador do ser possível.
O professor tem, sim, esse poder, de dar asas, de motivar e
incentivar o vôo. Eu aprendi a criar espaços de discussão e reflexão com a
Júlia e aprendi que posso, que ela pode, que cada um pode transformar os
sistemas de atividade, nos quais participamos, como o ser possível. O vencer o
limite com o ser possível, usando, para isto, instrumentos que podem ser novos
ou velhos, não importa. Importa, sim, o novo olhar, o que fazer e com o que
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fazer para o ser possível. E a sociedade pode ser muito melhor com o ser
possível. As asas estão prontas e fortalecidas. E vou voar em direção a um
sonho que começou a ser sonhado desde o início do trabalho com a formação
de professores – formá-los para trabalhar com a heterogeneidade, com a
história de cada aluno, respeitando-a e valorizando-a.
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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ANEXOS
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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Sessão Reflexiva – Lu – 03/11/2005
Pesq.: Me fala um pouquinho sobre a sua formação.
Lu: Silêncio.
Pesq.: Desde quando você entrou no magistério
Lu: Então, por que foi assim. Não foi assim,
eeuuu optei em fazer ooo magistério. Né? Foi uma coisa praticamente imposta, né?
Por que na época era o que tinha à tarde, não tinha mais o ensino médio na escola à
tarde, e, então foi o que sobrou, por que não podia estudar à noite, sobrou o
magistério. Então, foi assim né? Pratica... imposto. Aí, eu comecei. Mais assim, não
era o que eu pensava, não era o que eu queria, né? A minha formação no magistério,
aí eu fui me adaptando né? Também não era aquela coisa “Eu não quero!”, eu vou me
adaptando. Aí, eu fui me adaptando, e a professora era muito tradicional, né? Então, a
gente, sabe, a gente, a gente viu no caso, Piaget muito, muito o pouco que estava no
livro, foi aquilo. Ela nunca entrou em detalhe e nada, por que o que ela passava para a
gente, era você fazer aquela pastiiinha, sabe?, fazer os “exercíciozinhos” de
motricidade, coordenação, sabe, era o que ela dava. E ela era bem nova na época, ela
tinha 26 anos, ela era bem nova, né. EEE, o Vygotsky, a gente nunca nem ouviu
faalaarr, na faculdade, sabe. Então, foi um negócio que passou em brancas
nuvens. Então, quando eu me formei mesmo, vonão, a gente não tinha aquela
base, não posso falar nem em base, mas a gente tinha aquela pasta, né? EEE, a
gente não fazia estágio, nosso estágio o que era? Você dar flooor para a criança, você
dar lanche para a criança, por que não tinha funcionário na escola, sabe, então foi
uma formação assim, né? Não foi formação. Então, eu fui pegar os alunos e ter
contato, quando eu entrei mesmo na, no Estado. Aí, comecei como estagiária, então
como estagiária, eu ia e pegava a sala quando o professor faltava e, dava aquela
continuação do, continuação não, não era nem continuação, ooo, muitas vezes o
professor passava alguma coisa para você dar dando, outras vezes você olhava o que
tinha no caderno e ia passando, e era de primeira à quarta série, né?
Pesq.: Esse estágio era referente ao magistério?
Lu: É, assim. Não, não era referente ao magistério. tinha terminado o magistério, e
então para você poder começar, antes de você prestar algum concurso, você podia
entrar como estagiária. Tinha essa opção, né, eee, você ia até a delegacia de ensino,
preenchia um cadastro e, eles iam chamando. Tinha escola que estava precisando,
você escolhia as escolas. Era até fácil assim, depois de algum tempo tiraram essa
fu7nção do estagiário, era bom, era bom, né? Então, eu fui aprender aí, que eu fui
aprendendo mesmo, mais aquela, primeira à quarta série, nada deeee, deee educação
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infantil, né, nada de educação infantil. Então, aí, quando surgiu uma sala, aaa vice-
diretora, ela, ela perguntou se eu queria, né, pegar uma sala que estava vaga. E ela
tinha, eu podia ta pegando, por que como estagiário a gente ficava dois anos só, né, aí
como eu peguei a sala, aí, eu já, já peguei a sala e, ficava como estagiário de manhã e
ficava à tarde como ACT.
Pesq.: O que significa ACT?
Lu: Aí, não sei a sigla viu, eu sei que “Fulano é ACT, ACT”, tem o que significa
mais, eu nunca procurei saber, por que, aí que coisa ridícula né (risos), mais eu nunca
procurei saber o que era ACT, o que não era grande coisa também não, por que, a
assim, aqueles professores mais velhos eles vêem a gente assim, “Você não passou
no concurso !’, então ACT está abaixo, abaixo do abaixo do lixo acho (risos). Então,
eu tinha amizade com uma professora lá, uma é que vinha, conversava,
emprestava material, então as outras, nossa, ACT não vale muita coisa não sabe?
Não é que nem aqui, a gente tem as meninas que o adjunto né, que é praticamente
o que a gente fazia, eu to dando aula a mesma coisa, né, e a gente tem uma amizade
normal. não, sabe, tinha aquela separação, mais tudo bem! eu dei aula no
Estado, fiquei 7 anos e oito meses, aí de repente eu saí, não quis mais o Estado,
assim, saí, larguei mesmo, não quis saber, e quando surgiu a, o concurso para a
prefeitura eu, sim, eu fiz a faculdade, estava fazendo a faculdade, é outra
coisa, por que você vê outras coisas...
Pesq.: Aí você, mais aí você
entrou na faculdade de pedagogia porquê?
Lu: Por que eu ia perder o magistério, eu ia perder o magistério se eu não fizesse até
2007, quem, né, a gente perde o magistério. Aí, eu falei “Não, vou fazer”, por que
que eu estava, né, na, não é que, eu comecei a dar aula comecei gostar, né, eu vi que
tinha alguma, alguma coisa a ver comigo, né, não tudo a ver, mais alguma coisa
(risos) a ver. Era bom, é legal ,né, eu passei por muitas escolas, conheci muitas
pessoas boas assim, né. Uma escola é diferente da outra, tudo é diferente. Os
professores são diferentes, a direção é diferente, cada lugar é um lugar, então, é muito
legal, né. Então, aí eu comecei na, fiz a faculdade e, como o concurso já ia sair já logo
no final do ano, eu tava terminando a faculdade, foi tudo assim, mais cil né, prestei,
passei eee, vim para cá, escolhi aqui mesmo e, aqui que eu comecei com
educação infantil. Apesar de já ter na formação no magistério, o último ano era
educação infantil, mas eu não me lembro de ter visto nada de educação infantil, nada,
sabe, nada, nada, nada, nada. Era a continuação daquela pastinha ...
Pesq.: Isso já na faculdade?
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Lu: Não, não, não, no magistério que você tem o último ano é educação infantil, mais
muito assim, muito sabe? Uma coisa muito fraca. Por que a minha sala de magistério
foi a segunda a se formar, então era assim, os professores muitos não sabiam nem a
matéria direito que davam dando, por que eu tive ô, no último ano, tive histórias
infantis, era uma matéria, a professora veio era de língua portuguesa e ela falou assim
“ô gente, é, essa, educação infantil, essa matéria assim de histórias infntis, eu não sei
nem como vou dar dando para vocês! Então, a gente tinha um caderno, aquele
caderno que parece uma ata , então nesse caderno era escrito todo o livro de, de,
não vou lembrar o nome da matéria, de, mais uma matéria específica do magistério, e
que era transcrito lá, e no final, você tinha essa parte de, durante os três anos o livro
foi passado para este caderno, e no final tinha essas histórias infantis. Então, éééé,
ela contava tudo que ela pesquisou, ela vinha contar para a gente, sabe assim, o
fundamento da, da história infantil de uma ou outra né, por que nem ela sabia. Então
aquela coisa bem “dada nas coxas”mesmo sabe.
Pesq.: E aí na pedagogia você viu alguma coisa de educação infantil?
Lu: Então, sim, na Pedagogia eu vi alguma coisa, não muito também por que,
tinha uma professora que dava aula, ela dava duas matérias que agora eu não me
lembro, então, a matéria dela era dado no magistério. A gente trabalhava com coisas
assim, trabalho manuais, o que eu tinha que ter feito lá, alguma coisa no magistério,
ela repetiu, tangran, blocos lógicos, material concreto para você trabalhar com a
criança assim, éééé, grosso, fino, áspero, liso, e, como a gente dava muito seminário,
né, a gente trabalhava muito com seminário né, a gente procurava dar dando essas
aulas de educação infantil também, e no final, a gente sempre dava um brincadeira
para estar trabalhando com a criançada né. Nessa matéria específica a gente viu
alguma coisa de educação infantil né, mais aquele negócio, quando eu vim para a
educação infantil, a minha idéia ainda, ainda é toda de ensino fundamental, então, por
exemplo, eu estou com as crianças, eles são pequenos, mais na minha cabeça, eu
vejo eles maiores, eu vejo eles assim, como se eles estivessem com 7/ 8 anos não
consigo eles pequenos, eu consigo enxergar eles pequenos quando estão perto
dos pais, aí eu vejo que eles são pequenos, éééé, estranho né, então, eu converso
com eles como se eles tivessem 7 anos, éééé, então quando eu vou dar, a matéria
mesmo que eu vou estar trabalhando com eles éééé, então na minha cabeça, eles
estão entendendo, eu sei que não é, , eu explico, explico e depois fica, sabe, eu
sinto aquela falha como, não foi bem expli8cado porque eles são pequenos, sabe,
então é difícil assim, para eu ta saindo do ensino fundamental e estar aqui com eles,
sabe. Então, no primeiro ano, meu primeiro ano que eu entrei aqui na escola com o
terceiro estágio, era um pouco mais cil por que eles tinham uma base, então eu
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trabalhava como primeira série, né, agora, o ano passado quando peguei segundo
estágio, eu fiquei meio perdida, e esse ano então vicheeeeeeeee, esse ano, eu
peguei a sala da outra professora né, eu ano acho que foi pior, então, eles, como eu
queria, assim, ah, eu quero pegar, não escrevendo, mas sabe, eles copiando, eles
sabendo pelo menos o nome, que é o que eu pegava na primeira série mesmo,
entendeu? E pegando eles assim, cru, ééééé, difícil, né? E quando eu peguei agora,
no meio do ano, então eles não sabiam nem usar o caderno, não sabiam usar a linha,
sabe? Então, tive que começar do zero, e até hoje quando aluno vai escrever, ele não
pega uma linha para escrever, ele pega duas, três linhas, aquela letrona sabe?, então,
é aquela coisa que tinha que ser trabalhada no começo e que não foi!, o que teria
que ter sido feito e não foi! Não é que eu culpo a menina, a Renee, no caso né?, ela
trabalha a educação infantil que eu acho certo, eu quero trabalhar ensino
fundamental.
Pesq.: Qual é a educação infantil que você acha certa?
Lu: Então, que é trabalhar assim, igual éééé, as brincadeiras mesmo, as musiquinhas,
trabalhar bastante com sucata, com brinquedos mesmo. Por que quando eu dou
brinquedos para eles, eu fico louca com eles brincando, por que eles fazem aquele
auê! Eu não quero que saia nada fora, sabe? Então tipo, fulano esnaquela mesa, o
fulano tem que ficar naquela mesa, não tem que ficar saindo, misturando os
brinquedos, eu não gosto nem que misture os brinquedos. É, e isso é horrível, por que
eu vejo assim, né, exemplo em casa, minhas crianças quando brincam com os
brinquedos eu faço separar tudo, “ah, casinha, isso aqui é casinha é aqui, é bloquinho
de montar é aqui, é maquiagem é aqui, é carrinho é aqui”, eu faço eles separarem
tudo, não gosto de ver aquela muntueira! Nossa, sabe, eu me sinto mal! Então,
quando eles misturam, nossa, eu falo “Vamos gente! Vamos gente! Vamos separar!
Separar!”, hoje em dia eles não misturam tanto os brinquedos! Ce vê, e é ruim isso!
Eu não consigo trabalhar! Se vejo aquela coisa misturada, eu não consigo trabalhar!
Não consigo pegar aquele monte de brinquedo e vou dando tudo misturado. as
crianças ficam “Professora, e a fazendinha?”, quer dizer a fazendinha era, por que
um cavalo ta aqui, um boi está ali, então né?, então eu falei, “Não, vamos separar
tudo!” As meninas brincam com as panelinhas, as bonecas, tudo separadinho, os
meninos tive que comprar a fazendinha, eles gostam de carrinho, tudo separado!
Então, ééééé, difícil!! Entendeu, ta separando, ainda, na minha cabeça ainda é
complicado por que, eu não fiquei muitos anos dando aula, sete anos e meio, não
são tantos anos. Mais na minha cabeça está tão sedimentado que agora é difícil parar!
É difícil parar! Então, eu acho, muitas falhas assim, quando eu estou trabalhando.
To dando letra maiúscula, eu trabalho como na primeira série,né? Eeee, eu não
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deveria ser assim, deveria ta trabalhando, éééé, bem assim, bem para a idade deles,
pegar a letrinha pendurar no pescoço, várias crianças com aquela letrinha no pescoço,
ah, mais eu o tenho essa paciência, sabe, de estar fazendo, aí tem meia dúzia
berrando, gritando, correndo, né? Aí, se eu começo alguma coisa assim eu
desanimo, por que eu to vendo aquele povo que não está interessado, que tem
aqueles que qbrincar, tenho o Mateus que é bem bebê, que agora está na minha
mesa, sabe? Então, eu tenho que dar atenção para ele, e tenho que trabalhar
diferente com coisas bem de bebê, sabe? Então, ééé ....
Pesq.: que é um estágio a menos .....
Lu: isso a menos! Por que o Mateuszinho era para estar
no primeiro estágio, então, eu dô, assim, pego uma lição para ele separado, então o
que eu faço, “Ô, esse é um quadrado!”, aí eu desenho um quadrado para ele, “Pega o
lápis vermelho!, ele não sabe qual é, daí eu dou o lápis para ele. “Pinta dentro!”, aí ele
fica pintando dentro, então fica. Antes eu tinha que ficar em cima, por que a gente não
via nem a cor do lápis, lápis de cera né? Agora ele consegue pintar um pouco mais
forte! “Ô, agora é o círculo!”, faço o círculo para ele, “Pinta dentro com lápis amarelo!”,
então, trabalho as cores primárias primeiro com ele né?, eee, não saí disso ainda, das
cores primárias, por que ele não sabe! E as formas né? E as formas, e colagem que
eu dei para ele, “Cola o barbante no quadrado!, agora ele consegue já,
devagarzinho. Ele faz certinho, ele está conseguindo, né? No círculo, no quadrado
e, eu acho que no retângulo também. Mais, assim, eu tenho que fazer um trabalho
com ele separado, né? Ainda com vinte pulando né, pulando, gritando, correndo, e,
mesmo assim, eu tento dar aquela atenção para ele. Então, eu vou te falar, não, não,
não é fácil viu! Apesar que ééé, como eu gosto do ensino fundamental, eu sou agitada,
então “Vamos gente! Vamos! Vamos! Vamos! fizeram?” (risos), então, eles já
pegaram aquele ritmo de fazerem, eu estou dando a lição eles estão me
entregando, né? Então quer dizer, eles fazem muito rápido, ééé, então, as crianças
copiar eles copiam, a maioria, copia bem, mas entender que é que ta! Não são todos
que compreendem, “Essa é a letra A. Essa é a letra B”, sabe, então copiar eles copiam
muito bem, o entendimento..., sabe aquela, eu tenho ainda comigo na cabeça, ééé, a
quantidade, então eu vou dando, eu quero dar é o alfabeto! Sabe, eles tem que estar
copiando, copiando o nome, ta copiando o alfabeto! Éééé, eles vão saber as letras? Aí
é que ta! Eles vão saber! Então, é um ou outro que sabe, né! Então, para estar
trabalhando esse entendimento deles eu ainda não consigo, estar trabalhando de um
jeito que eles vão estar identificando bem as letras, sabe, aí, aí, eu não consigo, não
consigo chegar ainda aí, essa aula acho que faltei!!!
Pesq.: Éééé, o que você acha de ser professora? E qual é a função do professor?
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Lu: Então, ser professor é o ensinar mesmo né, não é o ensinar a ler e escrever, é
o ensinar praticamente tudo! Por que as nossas crianças do jeito que elas vem pra cá,
elas vem sem saber muita coisa, por que, em casa a família deveria estar ensinando e
eles não sabem, então, ser professor é você estar ensinando tudo, né, tudo! Eu acho
assim, como a gente tem muita criança na sala eu não consigo chegar em todas, eu
acho que não dá para chegar em todos! Então tem aqueles que você vê que são mais
espertos que você vai ensinando e eles vão aprendendo, mais tem aqueles que você
tem que dar uma atenção maior, então, eu vejo que eu sinto essa falha em mim! Né?
O Wesley Santos, vai para a primeira série e não consegue copiar o nome! Consegue
copiar assim, eu ponho em baixo da folha e ele passa por cima, assim! A Tacila
também, vai para a primeira rie e não sabe nada! Nada! Nada! Do mundo!, sabe?,
nada coitada, e vai para a primeira série. Aí, eu tinha que ter mais tempo com esses
alunos, estar trabalhando várias coisas como, cores, então quer dizer, é uma outra
fase, em cima do Mateus, né, estão numa fase superior a do Mateus, eles entendem
um pouco mais, só que, tem algumas falhas neles também! Sabe, eu acho que vem, é
de família! Sabe, é difícil falar né, é difícil, eu to falando um negócio que eu também
não entendo!!! É só o que eu acho,né? Igual, a mãe da Tacila, ela não pode ajudar por
que é analfabeta, então, a menina perdeu muita coisa por que os alunos que você
dá a lição e a mãe trabalha em casa, nossa!, Eles estão indo muito, eles estão
progredindo né?, Por exemplo, a Gabriele, ela não, ela tem problema de linguagem,
ela não fala nada direito, , eles não conseguem entender nada o que ela fala! Ela
não escrevia nada, agora!, ela consegue copiar, , já, consegue fazer o nome,
então, a mãe mandou o caderno! Além da lição que eu mando, aquelas lições que são
soltas, a mãe mandou o caderno, então além das folhas, ela vai fazendo as lições que
eu vou mandando né?, Ela está entendendo? Entender mesmo, ela não está
entendendo! Ela não sabe o que é A, B, ela não sabe! Mais o nome dela ela
consegue copiar por que, ela não conseguia fazer nada, né?, Se você pedir: “Circule
essa letra”, ela não sabe o que é circular, ela sai circulando tudo! Ela não sabe o que é
o A, então, sei lá, é algum outro probleminha que ela também têm. Eu tinha que ter
mais tempo com ela? Tinha, mais...não dá! Sabe, na minha sala eu fico muito tempo
assim, “Fulano, senta!’, “Beltrano, não corre!”, “Fulano, onde ce ta?”, ta lá no banheiro,
vamos buscar o menino, vamos lá, vamos lá, e o Fulano es se molhando, sabe,
então eu perco muito tempo com isso! Olhando esses que estão bagunçando!
“Professora, fulano me bateu!”, “Professora, fulano me arranhou!”, “Professora, tem
gente chorando!”, aí, então, é fogo né? São as falhas né?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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Pesq.: Eeee, essas falhas você, ééé, você que estas falhas são problemas da
função do professor? Ou você acha que tem mais problemas da função de ser
professor?
Lu: É, se a gente for entrar e ver todos os problemas, no caso, o professor né, o que a
gente enfrenta, a gente não daria aula! Eu tiro por mim, por exemplo, éééé, eu estou
aqui, dou aula tudo né, mais a minha cabeça, muitas vezes, está em casa! Por causa
das crianças, então, esse é um problema? Eu acho, que esse é um problema para
mim, muitas vezes, eu não consigo separar ....
Pesq.: Mais você acha que todo o problema da função do professor parte de você?
Lu: Não! Não de mim, eu citei um problema né? Citei um problema. Outro
problema, eu teria que ter mais tempo para estar trabalhando as aulas, quer dizer, nós
fazemos a JEI, então, tudo bem, a gente lê os livros, discute ...
Pesq.: A gente discute na JEI?
Lu: NNNão!, não, não mais seria o que? A gente deveria estar discutindo o livro, o que
a gente faz né?, Éééé, tudo bem, a gente não faz , mais eu poderia estar fazendo
outra coisa, eu acho, não estar lendo os livros, eles são até bons mais, eu poderia
estar éééé, éééé, montando a minha aula para estar trabalhando com eles. Eu poderia
estar montando três aulas diferentes por que, eu tenho tantos problemas na sala, eu
tinha que montar três aulas diferentes, que é o que eu queria, então, eu não posso
fazer, não tem como sabe, não tem como, em casa eu tenho as crianças, entendeu?,
não tem como!, por mais que eu queira né?. Eu acho assim, a JEI ela tinha, um dia
nós discutiríamos um livro, um texto ou alguma coisa referente, sabe, mais nos outros
dias eu queria estar montando aula para os meus alunos,né! Então, a gente os
livros, tudo bem são livros ótimos mais, a gente não discute eles né?, e, e, eu não faço
as minhas aulas. Então, quando eu entro nas minhas aulas às vezes eu não sei o que
eu vou dar!! Né, por que em casa não deu para eu montar, aqui também não!, então,
então, é mais um problema! É mais um problema! Ééé, algum outro problema? Ás
vezes, os próprios pais! Eles acham que é o professor que tem que estar dando tudo
mesmo, educando, né?, estar ensinando, então tem muitos pais que não cooperam
né? Não ajudam! Então, por exemplo, manda a lição de casa, tem aluno que não traz
a lição de casa desde três semanas atrás, então, a mãe não está vendo isso! Puxa!
Não olha a mochila pelo menos uma vez na semana! “Fulano, você fez a lição?”, “Ah,
não fez, vamos dar uma olhadinha!, sabe rapidinho. Tenho aluno que faz sozinho,
então quer dizer, ele não leu o, não sabe ler, não sabe o que esta pedindo o texto
então, ele pinta! A mãe não podia estar, pelo menos, dando uma olhadinha! Sabe,
à noite correndo, por que, eu faço isso em casa, to fazendo a janta o Caio vem com o
material dele e, é ali, na hora! Sabe, eu to fazendo comida vou olhando, olhando a
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
141
Júlia, vendo o que a Priscila fez à tarde, essa correria, sabe?, então, acho que falta um
pouquinho de interesse dos pais, entendeu? Acha que a criança só está pintando, não
lê nem o enunciado do que está pedindo, acha que é só pintar! Então, esse é um outro
problema que vejo, os pais que não cooperam! Só!
Pesq.: Só não, mais tudo isso!!! Se a gente for ver é muitas coisa!
Lu: UHUHU!
Basicamente é isso. Se a gente for procurar vamos encontrar mais. Basicamente é
isso!
Pesq.: E isso te incomoda!
Lu: Ééééé, UHUHUH!!!
Pesq.: Quais são seus objetivos como professora?
Lu: (silêncio) Oobbjetivos?! Não sei, ai, se eu tenho algum objetivo! Por que a minha
vontade assim, é uma vontade que eu tenho, ééé, no caso, de estar melhorando.
que eu estou na Educação Infantil, eu queria me infiltrar mesmo na Educação Infantil!
Então, algum objetivo de eu ta assim, estudando mais, assim, eu pretendo mais,
como eu tenho a Júlia pequenininha, então, eu nem penso nas coisas que eu tenho
vontade de fazer, eu nem penso, por que eu preciso estar cuidando dela, então, eu,
eu, eu não quero misturar isso, as vontades que eu tenho. Então, quando ela crescer
mais eu começo a pensar em ter vontade (risos). Sabe, igual quando aconteceu com a
Priscila, ela nasceu, eu parei de trabalhar, não dei mais aula, quando ela começou a
crescer então, “Ta bom, agora eu vou fazer a faculdade, e eu vou dar aula!”, daí ela
não estava tão dependente, aí eu podia ter vontade! Eu não gosto muito de misturar
assim....
Pesq.: Mais assim, mesmo você ééé, nas conversas que
tivemos nestes dois anos, uma coisa que você quer muito fazer é a pós...
Lu: Isso!!! (sorriso) É eu quero muito!
Pesq.: Mais tirando isso, tirando esta questão da
pós, qual é o seu objetivo como professora, aqui, na EMEI? Essa vontade de fazer a
pós vovai deixar um pouquinho mais para frente, como professora o ano que vem,
não que esse ano não dê, mesmo porque, nada está perdido! Então, vamos melhorar,
até o final do ano qual é o seu objetivo?
Lu: Aí! É! Ô! Se fosse até o final do ano o meu objetivo, a minha vontade, é que eu
consiga, pelo menos, é ah, não a classe inteira, lógico que isso eu não vou conseguir
mas, uma pequena quantidade deles que conheçam as letras ou metade do alfabeto,
isso não é pedir demais né? Ah, eu não sei! Essa era uma vontade que eu tinha! Era
uma vontade mais....Ce vê, isso é difícil! Agora, por exemplo, para o ano que vem, que
eu vou estar com a classe desde o início, eu vou estar fazendo tudo do meu jeito! Vou
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estar iniciando com o caderninho desde o começo, eles vão estar sabendo usar a
linha, então, eu quero estar fazendo um trabalho assim, diferente mesmo né, seguir
algum livro, sabe, para eu não me perder. Fazer como você faz!, Eu achava se eu
seguisse o livro eu, ééé, ia me perder, por que o livro não segue o alfabeto, eu queria
aquela coisa assim, como chama, ce vê, não perdi as raízes do tradicional, seguir o
bendito do alfabeto. Eu achava se eu não desse na ordem, eu iria me perder! Apesar
que agora eu acho que não é tanto assim, mais antes eu achava que se eu não
seguisse eu iria me perder. Sei lá, coisa boba né, mais.......
Pesq.: Não, não é boba! Isso é importante para você!
Lu: É né? Mais o ano que vem eu tiro, nas
férias, alguns dias para estar fazendo um projeto de como eu vou trabalhar durante o
ano inteiro, como você faz! Que é o que eu não consegui fazer! Nunca consegui fazer
esse projeto. Que é para eu estar seguindo, seguindo, mesmo para eu não me perder.
Que é o que acontece muito. Eu me perco, vou pegando o que as outras meninas vão
me .... Por que quando eu entrei aqui, eu trabalhava como, as meninas iam me dando
os materiais e eu ia passando, então, o que elas davam eu dava, então, quer dizer, eu
ia atrás delas! As crianças já vieram do segundo mesmo, eram delas, então foi aquele
seguimento que eu dei. Agora, como eu peguei o segundo o ano passado, aí eu me
perdi né? Aí, eu ia estar dando o início, eu ia estar dando o início, eeee, eu is estar
dando o início, assim, errei muito, acho que errei muito, em não estar iniciando, é
melhor pegar o terceiro que está meio caminho andado, você continua, agora no
segundo, você inicia, é difícil, sabe, é difícil.....
Pesq.: Principalmente quando a gente não tem experiência!
Lu: Então, aí é que está! Como,
como é que eu vou iniciar? O que eu posso estar dando? Então, o certo é estar
fazendo o projetinho e ir seguindo, que é o que eu vou fazer o ano que vem para eu
não me perder. Então, uma outra questão é que a escola poderia estar trabalhando
né. Foi falado nas reuniões mais assim, é, é, é um trabalho né, trabalhoso entendeu, é
trabalhar com os pais, sabe, do pai estar vindo um dia, da gente estar trabalhando
desde o cuidar do nenê até como arrumar uma casa. Eu acho que tem tantas falhas
aí, era uma coisa que eu acho que eu gostaria de fazer, sabe. Tudo bem, a gente
trabalha com as crianças tudo, isso aí é algo que você vai ver na frente não é, e
os pais muitas coisas não foram trabalhadas com eles né? Muitos vieram lá do
Nordeste, eles não tem, eles não sabem como se cuida de uma criança, não sabe dar
banho mesmo, aquela coisa que, são matérias que deveriam ter na escola e que não
tem, sabe puericultura? Que tinha a muitos anos atrás e eu acho que deveria voltar,
por que a mulherada que está não sabe éééé, não sabe criar filho, não sabe cuidar,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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larga vai para a escola, larga na creche depois larga na EMEI e, vai largando nas
escolas, por que o Estado cuida, a prefeitura cuida, o CEU cuida e, elas mesmas não
cuidam, sabe? Então, é onde a gente pega muitas das nossas crianças assim com
muita falta de tudo ,né. Falta de tudo, educação, carinho, de tudo, você vê, até de
conversa, a própria fala, na minha sala mesmo, muitos, tem muito problema de fala na
sala. O ano passado não tinha tanto, no outro ano também não tinha já, este ano,
sabe, sabe, vocomo está o negócio! Então, para você estar trabalhando com a
criança que não sabe nem falar!!!! É muito complicado!
Pesq.: Ééééé, eu comecei a pesquisa com a Cris, com a Coordenadora da Escola,
mais por problemas pessoais a gente teve que, eu tive que prosseguir com a pesquisa
com vo e, eu gostaria que você falasse mesmo por que voaceitou participar
desse trabalho de pesquisa?
Lu: É legal a gente estar, se vê, eu to falando, eu acho que é interessante essa
análise. Pó que você vai fazer uma análise né, de tudo que eu estou falando, né?
Pesq.: É mais ou menos. Por que a gente vai construir juntas. Iremos começar um
processo de construção do ofício de professor que antes, sistematicamente, a gente
não tinha, eram conversas informais
Lu: é, entre nós! Então, eu acho
ótimo isso assim, por que, você vai ver que, mesmo eu me formando atrás, que
quanta coisa, quantas falhas tiveram, e que, então, quer dizer, não é comigo, né.
Então, é um geralzão né. O professor é muito mal formado? É, o professor é muito mal
formando, então, os anos que foram vindo o professor foi se deteriorando, foi se
deteriorando né, então, foi se deteriorando, o que se aprendia há vinte anos atrás, hoje
em dia, a gente não se, não se aprende. A formação do professor, ficou muito, muito,
muito assim desgastada, ééé, tiveram muitas falhas, é um negócio que precisava ser
revisto mesmo. O magistério agora é ensino superior então, ele tinha que ser muito
revisto, muito, em todas as matérias, não é só, principalmente, principalmente, o
básico este tinha que ser muito revisto!
Pesq.: Quais as necessidades que você espera que este trabalho de pesquisa que
estamos começando hoje venha suprir? O que você gostaria que a gente discutisse,
que a gente visse. Quais as necessidades que você tem e que você vê que é
importante pra gente, não ficar também no falatório mas agir. O que voespera
que a gente discuta, veja ?
Lu: Olha, assim, eu acho interessante estar vendo outras falas assim, de outros
professores. É, para ver se eles sentem também essa dificuldade, que eu sinto, no
caso, eu sou nova na Educação Infantil, ééé, o pessoal que está a mais tempo né,
que sabe lidar mais, ééé, seria interessante estar vendo outras falas. Eu também
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
144
gostaria de estar vendo estas outras falas para eu poder eééé, me achar né! Meu pé
está lá no ensino fundamental. As meninas mais velhas né, a gente nunca sentou para
estar conversando mesmo, então, né? A maneira como elas trabalham é interessante
estar vendo outras maneiras de você trabalhar, . Por exemplo, matemática, então,
de repente, eu não sei trabalhar matemática na Educação Infantil. Sabe, tudo aquilo
de pegar os palitinhos, sabe, tentei mais, eu sinto esta dificuldade. Era interessante
estar vendo outras maneiras de, outros tipos de trabalho, no caso pra mim né? Agora
para você eu não sei (risos)
Pesq.: Eu acho interessante a gente sentar. O nosso problema aqui é a gente
conseguir um espaço comum.
Lu: É verdade, a gente não tem, é verdade! Nesse horário
só nós mesmo!
Pesq.: E aí, só com a gente como vamos fazer?
Lu: UUUU, deixa eu ver? Então, a gente poderia estar trabalhando e, trazendo livros
mesmo sobre Educação Infantil. Eu tava lendo, alguns da Marlene? Marlene? Marlene
Freire?
Pesq.: Madalena Freire.
Lu: Madalena Freire, e ela fala muito sobre creche, educação infantil. Então, quando
eu li para o concurso, li muito rápido né, para pegar o enfoque dela né, éé, não li muito
a fundo, ela fala bastante sobre educação infantil então, eu acho interessante.
Gostaria que a gente pegasse alguns autores que fale sobre educação infantil. Tem
muitos que escrevem maneiras de estar trabalhando, brincando, educação física que
trabalha com jogos. Eu até tenho em casa, alguma apostila, brincadeiras com jogos
que ta lá mais, eu não consigo nem pegar! No nosso horário de parque, a gente podia
estar trabalhando com eles de outro lado, pegar 70 alunos para brincar também é
complicado, ! Mais assim, enquanto uma turma brinca no parque a outra poderia
estar fazendo outra coisa, ta separando mesmo, né! Eu tenho as brincadeiras mais eu
não ouso pegar! Na verdade, eu preciso estar vestindo a camisa da Educação Infantil,
que é uma coisa que eu ainda não fiz!
Pesq.: Só pra gente fechar, ééé, como você vê seus alunos, principalmente, da
Educação Infantil? Você olha para eles e você os vê de que forma?
Lu: Ai, eu olho para eles assim, ai, eu vejo que eles éééé, aí, não sei, eles vão ser tão
mal formados, sabe? Por que, os que vão para primeira série não deveriam ir.
Então, na primeira série éééé, a professora vai sentir esta dificuldade, vai estar
trabalhando com educação infantil, então ela vai ter que dividir a sala. Trabalhar como
educação infantil com eles que tem este problema. Então, eles vão ser muito mal
formados. Vão ser passados para a segunda sem saber nada, e para terceira e quarta
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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e assim sucessivamente, sabe, então, eles vão aprender quando, para a quarta
série, quinta sabe-se Deus quando?! Uma sala de quarenta alunos então, o que eu
vejo é que eles serão mal formados!
Pesq.: O que é educação infantil para vocÊ?
Lu: Educação Infantil é o brincar, a hora da música mesmo, trabalhar com fantoche,
que eu acho legal, eu gosto disso, trabalhar com fantoche, mais éééé, o problema que
eu sinto na sala, o dia que eu levei o fantoche nossa!!! A sala pegou fogo, eu não
conseguia falar, eles pareciam que estavam vendo coisa de outro mundo, ficaram tudo
nossa!!! Eles adoraram, adoraram, mais eu não conseguia nem, nem, falar com eles.
Deixei eles pegarem os fantoches, brincaram, mais, eu sinto que se eu fosse dar um
peça com fantoche, nossa!!!! Ia, não dá! A sala não obedece! Na hora que é para ficar
quietos eles não ficam! Você vê na hora do filme né, são poucos aqueles que se
concentram, sabe, eles não tem aquele interesse de assistir o desenho, o filme. Eles
tem uma falta de concentração, nada, nada, nada segura eles ali! Não é a sala inteira,
mas tem aquela meia dúzia que eles tiram todo mundo do sério! Sabe, então, acho
que em casa eles não sentam para assistir uma televisão, eles não ficam quietos, não
prestam atenção! Acho que a mãe fala “Vai brincar, ficam pulando ! Vai para a
rua!”, aí, fica aquela criança agitada, agitada que até dormindo não fica quieto! Se eu
for dar um teatrinho, por que eu tinha vontade de dar um teatrinho e tudo, ééé, a
história não sai. Por exemplo, quando eu vou ler uma história, eu vou ler a história,
então fica aquela, aquele monte de pergunta assim, fora do livro né, coisa, sabe, coisa
que não tem nada a ver! Estou contando a história e eles ficam perguntando,
perguntando, perguntando, e a história fica ali parada. É difícil eu conseguir ler uma
historinha até o final né, por que um pergunta né, eu sei que é idiota coitado! Mais,
sabe, não tem como você terminar a história, “Fulano, espera!”, “Posso terminar a
história? Depois você faz a pergunta!”, as hist’rias são pequenas, cinco páginas eeee,
se eu paro, como tentei fazer quando vou contar a história, o que vocês estão
achando?”, aí vira aquela zona ahhhh, aí, não consigo voltar, já fico nervosa e fecho o
livro!!! Então quer dizer, o problema está comigo? Eu não sei contar história? Sabe,
fica aquela questão, com esta sala........ não dá, não dá! Com esta sala eu não
consigo! Então, sou eu que não consigo levar esta sala? De repente........, de repente
eu não consegui levar esta sala!?! Então é complicado! Tem coisas que eu quero dar
eu falo assim “Aí, eu não vou dar por que......”, ai, eu vou me desgastar tanto, vou
gritar tanto que vou ficar sem voz!!!!! Então, acho que às vezes não vale a pena! Então
eu prefiro dar a lição no caderno mesmo, pelo menos eu vou dar eles vão fazer, faz
uma atrás da outra, vai fazendo, fazendo, fazendo sabe? Então, ta vendo, às vezes eu
quero até dar alguma coisa nova mais não...... eu vou ficar tão desgastada que eu
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
146
prefiro não dar! Eu acho que na sala deveria ter uma pessoa para auxiliar, enquanto
eu to preparando tem uma pessoa que ta “Ô, senta!”, “XIIIIIII!”, que ficaria
controlando, controlando mesmo esses alunos por que ,né, eles não param! Então, eu
tinha até vontade sabe, mais desanima, eu vou te falar a verdade! aquele
desânimo! Não é cil né? (risos).
Pesq.: Ah, então ta bom, Lu! Então, a gente continua na próxima sessão. Vamos ver
algo que nos anime e nos alimente porque, não é fácil,não!!!
Lu: Né? Vou desmaiar!!!!!!!! (risos) – Prontinho!
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CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Sessão Reflexiva – Lu - 23/11/2005
Pesq.: Então Lu, o que eu tinha pensado pra gente estar fazendo é trabalhar com
texto. Hoje você vai trabalhar o que com as crianças?
Lu: Bom, hoje vou trabalhar a família silábica do D.
Pesq.: Do D, Então, poderíamos trabalhar
primeiro com um texto maior que tenham palavras com D, desse texto a gente tira
uma frase principal e que tenha palavras com D e, depois a gente vai para a palavra
com o D, depois para as sílabas – família silábica e depois pra letra.
Lu: Certo!
Pesq.: No texto, a gente primeiro uma vez para eles, com o texto na lousa
marcando com o dedo, aí depois, a gente pede para que eles leiam junto com a gente,
depois vai passando por cada mesinha, na verdade eles passam a decorar o texto e,
depois ver: “Alguém quer lê?”, e deixar alguém se prontificar a o texto. E aí, o que
você acha?
Lu: Acho ótimo! É, vamos ver se a minha sala consegue, né?
Pesq.: Por que você acha que eles não conseguem?
Lu: Ah, por que eles não se prendem muito aaa, não se prendem muito a nada. É
aquela meia dúzia que se interessam e muitos ficam dispersos, ficam conversando,
brincando né? O que eu passo assim na lousa, é, eles copiam, fazem né, a maioria
faz, mas não tem aquele interesse.
Pesq.: Mas a cópia está dando resultado significativo? Eles estão aprendendo de fato
com a cópia?
Lu: Então, o que eu vejo, veja bem, a questão da cópia! A questão da cópia, num
primeiro momento é assim, pra voestar sabendo utilizar o caderno, . Eu acredito
na cópia nesse sentido. Saber utilizar o caderno, saber utilizar a linha, por que eu
comecei o caderno,, no meio do ano. Então, até hoje tem aluno que não consegue.
Na hora da cópia eles fazem antes da linha, antes da demarcação da linha, escrevem
antes da demarcação da linha né, então tem isso. ÈÈÈÈÈ, não tem ainda, enquanto
uns terminaram, aaa,aaaa, a lousa toda, né, tem uns que ainda estão na primeira
linha ainda, então, aluno que vai para a primeira série e não tem ainda assim, como
vou dizer, raappiiddeezzzz na escrita certo! Então, essa questão de a cópia ta dando
resultado de gravar né, como se diz ......
Pesq.: aprender....
Lu: éééé, aprender, não! Por que eu perguntei pra, pra Daniele: “ Daniele me mostra o
A.” - mostrou o A; “Cadê o B?”, “Aí, eu esqueci!”. Isso por que eu tinha trabalhado um
dia antes com a letra B, família silábica, dei um texto, porém não li com eles, só pedi
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para circular a letra B e ela não gravou! Isso por que eu venho trabalhando sempre,
eu vou e volto com as palavras né.
Pesq.: Mais, a letra sozinha, o alfabeto sozinho, ele não tem significado, na verdade,
ele é uma coisa abstrata.
Lu: É!
Pesq.: Então, ele sozinho ......né?
Lu: É! (risos), é!, por que, então, cê vê, é aquela questão: como eu aprendi assim, tipo,
tipo “decoreba” mesmo, como eu decorei tudo, então pra mim foi fácil!, decorei! Então,
eu fico tentando imaginar eles assim também, dando aquela decorada para depois
eles irem aprendendo,né? vê, é muito complicado né, eu não consigo, aquele
objetivo mesmo que eu tenho, realmente eu não consigo. Mas é o que eu penso, no 3º
estágio é onde vai ser dada a continuidade e eles vão estar absorvendo melhor, não
é? Eu queria assim, como nós estamos no é aquele momento mesmo de copiar a
letra, entendeu?
Pesq.: Mas você acha que eles não tem condições de aprender?
Lu: Não! Eles tem condições de aprender.........
Pesq.: aprender assim, ......
Lu: tem, tem, tem, .........
Pesq.: aprender a ler
mesmo!
Lu: isso,
tem, eu aprendi a ler eu tinha 5 anos, entendeu, mas, éééé. Eu teria que ta
trabalhando, também de outra forma, sabe, trabalhar com o concreto mesmo, sabe.
Mas, sinceramente, eu me sinto completamente desanimada! Quando eu começo a
explicar que eu vejo aquele, aquela turma que não está nem aí,
aaaaaaaaaaa,ohohohohohoh, eu prefiro dar alguma coisa para eles copiarem,
estarem fazendo do que. Eu fico, na hora que eu estou explicando eu tenho que gritar
na sala, sabe, eu tenho que gritar, eu tenho que pedir silêncio, tenho que ficar falando,
aí, eu estou explicando vem um “Professora, posso ir ao banheiro?”, “Professora,
fulano me bateu!”, sabe, eu to parecendo um palhaço lá na frente, sei lá, eu fico louca
com isso! Então, eu vou desanimando, sabe, eu vou desanimando. Não é como a
minha turma do ano passado que eu não precisava ficar berrando tanto, chamava
atenção, falava, tal mas, não era assim, olha, esse ano....sinceramente.....tipo assim,
eu “larguei de mão”, é bem isso mesmo! Fora esses que vão para a primeira série,
muitos, eu tenho os que vão para a primeira série que é os que menos se interessam,
menos se interessam, sabe, é os que menos se interessam! Eu mando a lição de
casa, que nem o Tiago: “Tiago, você fez a lição de casa?”, “Ah, meu irmão pegou!”, ele
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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não traz nem o estojo! “Tiago, cadê o seu lápis?”, “Ah, meu irmão quebrou!”, eu já não
tenho mais, agora eu não tenho mais lápis, não tenho mais! Então, sabe, aquela
falta de material. O Gustavo é outro que vai para a primeira série, não traz um lápis,
antes quando eu tinha eu dava, “Ah, meu filho, pega o lápis de cor para vofazer,
pede emprestado!”, aí, ele ficou ontem o tempo todo ele fez o que? Uma linha! Ele
copiou o BA BE BI BO BU, só! Isso por que eu tinha feito aa letra T né, fiz a
família silábica até o T, maaaassssss, como eu te falei, eu faço isso mais para segurar
eles na,na,na,na mesa mesmo né? EEEEE, tem aqueles que são rápidos mesmo, eles
copiam, são rápidos, que é um ou outro que vai para a primeirarie que está bom!
Pesq.; E aí, o que você acha desta proposta?
Lu: Eu acho jóia! Vamos fazer isso! Eu acho, né, vamos procurar, né, eu vou fazer
assim, vou estar separando alguns alunos né, ontem eu fiz isso, eee, para tentar fazer
o trabalho, né, eu vou separar e aí vamos ver!!!
Pesq.: E aí, a proposta é a seguinte, é a gente fazer isso e, logo depois da aula ter
encerrado, a gente escreve rapidinho como foi?, como sentimos?, o que fizemos?, pra
na próxima vez que a gente conversar, a gente parte daí.
Lu: Ótimo!
Pesq.: Né, e ver o que a gente precisa mudar, o que a gente ...
Lu: Posso falar do Samuel? O Samuel ele, você vê ele senta sozinho pra tentar copiar,
então eu estou explicando, Professora, posso ir ao banheiro?”, “Vai,vai”, ele volta,
“Professora vou pegar o papel, ta”, aí volta, “Professora, posso fazer xixi?”, Puxa!!!,
acabou de vir do banheiro, então quer dizer, ele não fez nada, ele não foi no banheiro,
ficou brincando fora, ele pede para beber água, sabe, então ele faz o que? Uma
linha!!! Copia uma linha e só!!!
Pesq.: E se você conversar com ele e disser: “Olha, na hora que a professora estiver
explicando ...”
Lu: Isso, “...Não pode pedir para ir ao banheiro, nem beber água...”, fiz
isso! Não adianta! Sabe, entra por um ouvido e sair pelo outro? Sempre explico, daqui
um segundo vem “Professora, posso beber água?”, sabe, gente é incrível como não
entra ...sabe, (Silêncio), é incrível, ahahahahahah, olha! Ah! É aquela questão,
quando trabalhei com fundamental, sabe?, Eles vem com essas idéias assim, sabe, é
você falar e não conseguir chegar assim, no cérebro deles! “Gente, silêncio agora,
presta atenção!”, “Gente, não é para ir ao banheiro agora! e o menino vir “Professora,
posso ir ao banheiro?”, “Professora, posso tomar água?”, não dá!, não ! Ahahahah,
não! Vou te falar! (silêncio) Ah, aí, você vai estar na sala, ou não?
Pesq.: Não, não, se você quiser? Se
você achar melhor eu ficar na sala?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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Lu: Não, não precisa! Se você quiser dar uma olhada para ver como vai ser? Mas você
vai ver, ahahahah, o que que é isso! (silêncio) Sabe, não dá! É um que bate, é um que
vem, sabe, ah, não tem jeito!
Pesq.: Lu, o que é essencial é a gente estará desenvolvendo o raciocínio abstrato, por
que quando a gente vira e fala assim: “Então, como foi a aula ontem?” , retomar a aula
de ontem...
Lu: Então, essa questão, voveja bem, oh, como eu tinha, tinha passado para eles
circular a letra, ooo, a família, aí, não foi mais a letra foi a família do B, aí, ontem
quando pedi para que copiassem, eles queriam circular tamm! “Gente, hoje não é
para circular, hoje é para copiar!”, toda hora vinha um “Professora, qual é para
circular? É para circular qual?, “Gente, hoje não é para circular, hoje é para copiar!”,
então, ta vendo, alguma coisa até gravou né? É mais é aquela coisa, não são todos! É
o que são mais interessados! Muitos querem só brincar, brincar, brincar!
Pesq.: Vamos tentar?
Lu: Vamos, vamos!
As a aula...
Pesq.: Então Lu, como foi atividade? O que você sentiu da sala?
Lu: Foi assim, foi bom,! Eles participaram né, teve essa participação do grupo, todos
se interessaram em querer ler! Se eu fosse deixar todos lerem, iríamos ler até o final
da aula!
Pesq.: E como você fez?
Lu: Passei o texto na lousa, li duas vezes primeiro, depois eu lia e eles repetiam,
perguntei se algum deles queria ler, todos levantaram as mãos!
Pesq.: E quem leu?
Lu: Então, assim, ler sozinhos eles não, não conseguiram decorar!
Pesq.: E aí, como você fez?
Lu: Eu lia e eles liam em cima. Eles não leram sozinhos, né? Então, eu lia e eles
repetiam, repetiam o que eu ia lendo, né? Eles queriam ir na frente, colocar o dedo
em baixo das palavras. Mas tem um porém, faltaram 11 alunos então, fica mais fácil
trabalhar! Menos alunos é bem mais fácil! Eles não tinham tempo de ficar um
“cutucando” o outro, a sala ficou mais arejada, mais fácil trabalhar!
Pesq.: E aí, depois da leitura você propôs o que?
Lu: Então, eles fizeram a cópia, fizeram a cópia. Destaquei uma palavra que foi DEDO,
escrevi DEDO na lousa e desenhei, aí, em baixo, eu falei para eles: “Gente, eu vou
destacar uma palavra aqui DEDO depois que vocês copiarem a gente vai , vocês
vão copiar esta palavra sozinhos em baixo, e depois, vamos colocar a família”, aí, eu
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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coloquei DA DE DI DO DU, eu mostrei que juntando o DE com o DO forma a
palavra DEDO. Isso por que nós tivemos uma hora só, por que tivemos que vir ensaiar
para a formatura e, por isso, não foram todos que terminaram a cópia, assim, de
copiar,né.
Pesq.: E o que vosentiu conforme eles iam copiando, você sentiu alguma reação
diferente?
Lu: Não, eles estão se acostumando a copiar, né. Eu dou muitas palavras, dou muitas
palavras então, copiar eles copiam bem mas, eu fiz assim, que eu trabalhei com o
D, fui chamando na frente e perguntava, por exemplo, umas letras do alfabeto e
qual letra tinha sido trabalhada, então, aí a decepção né, “Me mostra o A”, que é o que
eles sabem mais né, “Com que letra s trabalhamos hoje?”, “Ah, esqueci!”, sabe,
depois de ler, de ler, de ler muitas vezes, muitas vezes mesmo a criança consegue
esquecer o que acabou de fazer!
Pesq.: Você sentiu dificuldade em realizar atividade?
Lu: Não! Não! Foi bastante tranqüilo, eu deveria ter começado desse jeito desde o
começo. É que assim, se eu tivesse começado desde o início é talvez eles não... A
minha preocupação é que eles utilizem o caderno direito, da maneira adequada. Eu
sempre faço isso no começo do ano esse ano não deu, comecei na metade do
ano então, não tive tempo pra fazer alguma coisa mais elaborada. Mas foi ótimo!
Pesq.: Qual foi o ponto alto da atividade?
Lu: Acho que é a leitura mesmo, eu lendo, eles lendo, eles querendo ler, se
envolvendo na atividade, toda hora eles queriam ler, levantavam a mãozinha. Mesmo
não sabendo, gico que eles não sabem, de estar olhando e repetindo, acho que
isso foi o melhor!
Pesq.: Ah, que bom!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
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Sessão Reflexiva – Lu - 23/11/2005
Pesq.: Então Lu, o que eu tinha pensado pra gente estar fazendo é trabalhar com
texto. Hoje você vai trabalhar o que com as crianças?
Lu: Bom, hoje vou trabalhar a família silábica do D.
Pesq.: Do D, Então, poderíamos trabalhar
primeiro com um texto maior que tenham palavras com D, desse texto a gente tira
uma frase principal e que tenha palavras com D e, depois a gente vai para a palavra
com o D, depois para as sílabas – família silábica e depois pra letra.
Lu: Certo!
Pesq.: No texto, a gente primeiro uma vez para eles, com o texto na lousa
marcando com o dedo, aí depois, a gente pede para que eles leiam junto com a gente,
depois vai passando por cada mesinha, na verdade eles passam a decorar o texto e,
depois ver: “Alguém quer lê?”, e deixar alguém se prontificar a o texto. E aí, o que
você acha?
Lu: Acho ótimo! É, vamos ver se a minha sala consegue, né?
Pesq.: Por que você acha que eles não conseguem?
Lu: Ah, por que eles não se prendem muito aaa, não se prendem muito a nada. É
aquela meia dúzia que se interessam e muitos ficam dispersos, ficam conversando,
brincando né? O que eu passo assim na lousa, é, eles copiam, fazem né, a maioria
faz, mas não tem aquele interesse.
Pesq.: Mas a cópia está dando resultado significativo? Eles estão aprendendo de fato
com a cópia?
Lu: Então, o que eu vejo, veja bem, a questão da cópia! A questão da cópia, num
primeiro momento é assim, pra voestar sabendo utilizar o caderno, . Eu acredito
na cópia nesse sentido. Saber utilizar o caderno, saber utilizar a linha, por que eu
comecei o caderno,, no meio do ano. Então, até hoje tem aluno que não consegue.
Na hora da cópia eles fazem antes da linha, antes da demarcação da linha, escrevem
antes da demarcação da linha né, então tem isso. ÈÈÈÈÈ, não tem ainda, enquanto
uns terminaram, aaa,aaaa, a lousa toda, né, tem uns que ainda estão na primeira
linha ainda, então, aluno que vai para a primeira série e não tem ainda assim, como
vou dizer, raappiiddeezzzz na escrita certo! Então, essa questão de a cópia ta dando
resultado de gravar né, como se diz ......
Pesq.: aprender....
Lu: éééé, aprender, não! Por que eu perguntei pra, pra Daniele: “ Daniele me mostra o
A.” - mostrou o A; “Cadê o B?”, “Aí, eu esqueci!”. Isso por que eu tinha trabalhado um
dia antes com a letra B, família silábica, dei um texto, porém não li com eles, só pedi
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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para circular a letra B e ela não gravou! Isso por que eu venho trabalhando sempre,
eu vou e volto com as palavras né.
Pesq.: Mais, a letra sozinha, o alfabeto sozinho, ele não tem significado, na verdade,
ele é uma coisa abstrata.
Lu: É!
Pesq.: Então, ele sozinho ......né?
Lu: É! (risos), é!, por que, então, cê vê, é aquela questão: como eu aprendi assim, tipo,
tipo “decoreba” mesmo, como eu decorei tudo, então pra mim foi fácil!, decorei! Então,
eu fico tentando imaginar eles assim também, dando aquela decorada para depois
eles irem aprendendo,né? vê, é muito complicado né, eu não consigo, aquele
objetivo mesmo que eu tenho, realmente eu não consigo. Mas é o que eu penso, no 3º
estágio é onde vai ser dada a continuidade e eles vão estar absorvendo melhor, não
é? Eu queria assim, como nós estamos no é aquele momento mesmo de copiar a
letra, entendeu?
Pesq.: Mas você acha que eles não tem condições de aprender?
Lu: Não! Eles tem condições de aprender.........
Pesq.: aprender assim, ......
Lu: tem, tem, tem, .........
Pesq.: aprender a ler
mesmo!
Lu: isso,
tem, eu aprendi a ler eu tinha 5 anos, entendeu, mas, éééé. Eu teria que ta
trabalhando, também de outra forma, sabe, trabalhar com o concreto mesmo, sabe.
Mas, sinceramente, eu me sinto completamente desanimada! Quando eu começo a
explicar que eu vejo aquele, aquela turma que não está nem aí,
aaaaaaaaaaa,ohohohohohoh, eu prefiro dar alguma coisa para eles copiarem,
estarem fazendo do que. Eu fico, na hora que eu estou explicando eu tenho que gritar
na sala, sabe, eu tenho que gritar, eu tenho que pedir silêncio, tenho que ficar falando,
aí, eu estou explicando vem um “Professora, posso ir ao banheiro?”, “Professora,
fulano me bateu!”, sabe, eu to parecendo um palhaço lá na frente, sei lá, eu fico louca
com isso! Então, eu vou desanimando, sabe, eu vou desanimando. Não é como a
minha turma do ano passado que eu não precisava ficar berrando tanto, chamava
atenção, falava, tal mas, não era assim, olha, esse ano....sinceramente.....tipo assim,
eu “larguei de mão”, é bem isso mesmo! Fora esses que vão para a primeira série,
muitos, eu tenho os que vão para a primeira série que é os que menos se interessam,
menos se interessam, sabe, é os que menos se interessam! Eu mando a lição de
casa, que nem o Tiago: “Tiago, você fez a lição de casa?”, “Ah, meu irmão pegou!”, ele
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
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não traz nem o estojo! “Tiago, cadê o seu lápis?”, “Ah, meu irmão quebrou!”, eu já não
tenho mais, agora eu não tenho mais lápis, não tenho mais! Então, sabe, aquela
falta de material. O Gustavo é outro que vai para a primeira série, não traz um lápis,
antes quando eu tinha eu dava, “Ah, meu filho, pega o lápis de cor para vofazer,
pede emprestado!”, aí, ele ficou ontem o tempo todo ele fez o que? Uma linha! Ele
copiou o BA BE BI BO BU, só! Isso por que eu tinha feito aa letra T né, fiz a
família silábica até o T, maaaassssss, como eu te falei, eu faço isso mais para segurar
eles na,na,na,na mesa mesmo né? EEEEE, tem aqueles que são rápidos mesmo, eles
copiam, são rápidos, que é um ou outro que vai para a primeirarie que está bom!
Pesq.; E aí, o que você acha desta proposta?
Lu: Eu acho jóia! Vamos fazer isso! Eu acho, né, vamos procurar, né, eu vou fazer
assim, vou estar separando alguns alunos né, ontem eu fiz isso, eee, para tentar fazer
o trabalho, né, eu vou separar e aí vamos ver!!!
Pesq.: E aí, a proposta é a seguinte, é a gente fazer isso e, logo depois da aula ter
encerrado, a gente escreve rapidinho como foi?, como sentimos?, o que fizemos?, pra
na próxima vez que a gente conversar, a gente parte daí.
Lu: Ótimo!
Pesq.: Né, e ver o que a gente precisa mudar, o que a gente ...
Lu: Posso falar do Samuel? O Samuel ele, você vê ele senta sozinho pra tentar copiar,
então eu estou explicando, Professora, posso ir ao banheiro?”, “Vai,vai”, ele volta,
“Professora vou pegar o papel, ta”, aí volta, “Professora, posso fazer xixi?”, Puxa!!!,
acabou de vir do banheiro, então quer dizer, ele não fez nada, ele não foi no banheiro,
ficou brincando fora, ele pede para beber água, sabe, então ele faz o que? Uma
linha!!! Copia uma linha e só!!!
Pesq.: E se você conversar com ele e disser: “Olha, na hora que a professora estiver
explicando ...”
Lu: Isso, “...Não pode pedir para ir ao banheiro, nem beber água...”, fiz
isso! Não adianta! Sabe, entra por um ouvido e sair pelo outro? Sempre explico, daqui
um segundo vem “Professora, posso beber água?”, sabe, gente é incrível como não
entra ...sabe, (Silêncio), é incrível, ahahahahahah, olha! Ah! É aquela questão,
quando trabalhei com fundamental, sabe?, Eles vem com essas idéias assim, sabe, é
você falar e não conseguir chegar assim, no cérebro deles! “Gente, silêncio agora,
presta atenção!”, “Gente, não é para ir ao banheiro agora! e o menino vir “Professora,
posso ir ao banheiro?”, “Professora, posso tomar água?”, não dá!, não ! Ahahahah,
não! Vou te falar! (silêncio) Ah, aí, você vai estar na sala, ou não?
Pesq.: Não, não, se você quiser? Se
você achar melhor eu ficar na sala?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
155
Lu: Não, não precisa! Se você quiser dar uma olhada para ver como vai ser? Mas você
vai ver, ahahahah, o que que é isso! (silêncio) Sabe, não dá! É um que bate, é um que
vem, sabe, ah, não tem jeito!
Pesq.: Lu, o que é essencial é a gente estará desenvolvendo o raciocínio abstrato, por
que quando a gente vira e fala assim: “Então, como foi a aula ontem?” , retomar a aula
de ontem...
Lu: Então, essa questão, voveja bem, oh, como eu tinha, tinha passado para eles
circular a letra, ooo, a família, aí, não foi mais a letra foi a família do B, aí, ontem
quando pedi para que copiassem, eles queriam circular tamm! “Gente, hoje não é
para circular, hoje é para copiar!”, toda hora vinha um “Professora, qual é para
circular? É para circular qual?, “Gente, hoje não é para circular, hoje é para copiar!”,
então, ta vendo, alguma coisa até gravou né? É mais é aquela coisa, não são todos! É
o que são mais interessados! Muitos querem só brincar, brincar, brincar!
Pesq.: Vamos tentar?
Lu: Vamos, vamos!
As a aula...
Pesq.: Então Lu, como foi atividade? O que você sentiu da sala?
Lu: Foi assim, foi bom,! Eles participaram né, teve essa participação do grupo, todos
se interessaram em querer ler! Se eu fosse deixar todos lerem, iríamos ler até o final
da aula!
Pesq.: E como você fez?
Lu: Passei o texto na lousa, li duas vezes primeiro, depois eu lia e eles repetiam,
perguntei se algum deles queria ler, todos levantaram as mãos!
Pesq.: E quem leu?
Lu: Então, assim, ler sozinhos eles não, não conseguiram decorar!
Pesq.: E aí, como você fez?
Lu: Eu lia e eles liam em cima. Eles não leram sozinhos, né? Então, eu lia e eles
repetiam, repetiam o que eu ia lendo, né? Eles queriam ir na frente, colocar o dedo
em baixo das palavras. Mas tem um porém, faltaram 11 alunos então, fica mais fácil
trabalhar! Menos alunos é bem mais fácil! Eles não tinham tempo de ficar um
“cutucando” o outro, a sala ficou mais arejada, mais fácil trabalhar!
Pesq.: E aí, depois da leitura você propôs o que?
Lu: Então, eles fizeram a cópia, fizeram a cópia. Destaquei uma palavra que foi DEDO,
escrevi DEDO na lousa e desenhei, aí, em baixo, eu falei para eles: “Gente, eu vou
destacar uma palavra aqui DEDO depois que vocês copiarem a gente vai , vocês
vão copiar esta palavra sozinhos em baixo, e depois, vamos colocar a família”, aí, eu
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
156
coloquei DA DE DI DO DU, eu mostrei que juntando o DE com o DO forma a
palavra DEDO. Isso por que nós tivemos uma hora só, por que tivemos que vir ensaiar
para a formatura e, por isso, não foram todos que terminaram a cópia, assim, de
copiar,né.
Pesq.: E o que vosentiu conforme eles iam copiando, você sentiu alguma reação
diferente?
Lu: Não, eles estão se acostumando a copiar, né. Eu dou muitas palavras, dou muitas
palavras então, copiar eles copiam bem mas, eu fiz assim, que eu trabalhei com o
D, fui chamando na frente e perguntava, por exemplo, umas letras do alfabeto e
qual letra tinha sido trabalhada, então, aí a decepção né, “Me mostra o A”, que é o que
eles sabem mais né, “Com que letra s trabalhamos hoje?”, “Ah, esqueci!”, sabe,
depois de ler, de ler, de ler muitas vezes, muitas vezes mesmo a criança consegue
esquecer o que acabou de fazer!
Pesq.: Você sentiu dificuldade em realizar atividade?
Lu: Não! Não! Foi bastante tranqüilo, eu deveria ter começado desse jeito desde o
começo. É que assim, se eu tivesse começado desde o início é talvez eles não... A
minha preocupação é que eles utilizem o caderno direito, da maneira adequada. Eu
sempre faço isso no começo do ano esse ano não deu, comecei na metade do
ano então, não tive tempo pra fazer alguma coisa mais elaborada. Mas foi ótimo!
Pesq.: Qual foi o ponto alto da atividade?
Lu: Acho que é a leitura mesmo, eu lendo, eles lendo, eles querendo ler, se
envolvendo na atividade, toda hora eles queriam ler, levantavam a mãozinha. Mesmo
não sabendo, gico que eles não sabem, de estar olhando e repetindo, acho que
isso foi o melhor!
Pesq.: Ah, que bom!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
157
Sessão Reflexiva – Lu – 03/01/06
Pesq.: Então, eu trouxe o livro da Teresa Cristina Rego do Vygotsky e a gente vai
estudar a parte da “Aquisição da linguagem escrita”, e vai tentar ta fazendo uma
relação entre os exemplo, o dia-a-dia da sala de aula e o que o texto nos diz, a teoria,
até, em relação ao que a gente ta conversando no que diz respeito a linguagem oral e
escrita, ta bom? Vamos lá!
Lu: No texto quando ele fala assim: “... enfatiza-se de tal forma a mecânica de ler o
que está escrito que se acaba obscurecendo a linguagem escrita como tal ...”, assim,
no caso, isso é o que acabo fazendo na sala de aula, quando eu dou a família, por
exemplo, a família do B, BA BE BI BO BU no caderno eles assim, mecanicamente
eles estão copiando mais isso não significa que foi gravado, eles não raciocinam
assim, pra ter a compreensão de que aquilo é o B ....
Pesq.: eles não atribuem um
sentido ...
Lu: sentido pra aquela letra, pra aquilo. No caso, quando eu dei o texto do
BOI DA CARA PRETA, como é uma música, eu acho, eu acho não, ééé, teve mais
sentido, por que a gente trabalha com música e isso faz com que a criança acabe
compreendendo melhor. Então, aquela palavra BOI ficou bem marcado.
Pesq.: e a própria letra em si, né? Por que no exercício é a gente explorou todas as
possibilidades do texto, então eles entenderam não só o que era cantiga de ninar, mas
a letra “do que que a menina tem medo? É de careta!”, o por que o BOI da cara preta
poderia ter várias outras caras, assim como a menina poderia ter medo de rias
outras coisas...
Lu: a gente fez uma análise do texto, pra eles ficou mais claro do que eu ir dando
as letras e palavras pra eles copiarem e não estar trabalhando mais a fundo. O texto
do BOI DA CARA PRETA foi trabalhado, desenhado, discutido, eu ouvi mais o que
eles tinham a dizer sobre as coisas, lemos cantamos, então teve várias...
Pesq,: várias formas de expor a
atividade.
Lu: Quando o texto fala: “... o domínio desse sistema complexo de signos fornece novo
instrumento de pensamento, na medida, em que aumenta a capacidade de memória,
registro de informações etc, propicia diferentes formas de organização e permite um
outro tipo de acesso ao patrimônio da cultura humana que se encontra registrado nos
livros e outros portadores de texto. Enfim, promove modos diferentes e ainda mais
abstratos de pensar e se relacionar como mundo, com as pessoas e com o
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
158
conhecimento.”, da maneira como eu estava trabalhando, passando as famílias ou
letras do alfabeto para eles estarem copiando, não conseguia chegar nessa, ééé, os
signos para eles não significavam nada. Eram os signos mais não tinham os
significados,né! Eu trabalhando com o texto, ééé, a gente cantando a música, lendo o
texto pra eles é mais evidente, eles entendem mais, tem um significado. Quando, por
exemplo, eu quero trabalhar com a palavra BOI, eu a trabalhei dentro de um texto,
dentro de uma música então, para eles ficou mais fácil pra eles estarem
compreendendo né? Eee, da gente estar trabalhando mais tempo, eu fico mais tempo
conversando com eles, e é o que propicia eles estarem organizando mais a,
organizando mesmo, mentalmente o que está se passando quando a gente lê o texto
e quando eu venho trabalhando item por item, né, todo mundo junto, não como eu
fazia, que eu passava caderno por caderno uma letra qualquer ou uma família
qualquer, enquanto os que eu passei primeiro estavam terminando tinha uns que não
tinha nem passado ainda a lição, então, ele estava disperso, conversando brigando,
bagunçando. E aqueles, também, que estavam copiando, realmente, eles estavam
apenas copiando, aquilo não estava sendo gravado, aprendido, não tinha significado
pra ele, por que eles estava de olho no colega que estava bagunçando. Aí, por
exemplo, se eu desse a família do B BA BE BI BO BU – então, pra ir bem rápido, eles
copiavam o que, bbbbbbbbbbbbbb, aaaaaaaaaaa, bbbbbbbbbbbbb,eeeeeeeee, e por
vai (risos) pra que/ Para acabar logo pra continuar brincando e, trabalhando com o
texto assim, isso não acontece, eles não tem tempo de conversar, o que eles forem
conversar, vão conversar comigo sobre o texto.
Pesq.: Então, você percebe que eles não conversam por que eles estão gostando de
fazer a lição ou é por que você está mais em cima?
Lu: Risos aí, ééé, eu acho que são os dois! Por que eu estando mais junto assim,
né, trabalhando mais junto, eles prestam mais atenção e acabam gostando e se
interessando mais na atividade, certo? É, então como diz no texto “... o aprendizado
da escrita, este produto cultural, construído ao longo da história da humanidade, é
entendido por Vygotsky como um processo bastante complexo que é iniciado pela
criança muito antes da primeira vez que o professor coloca um lápis em sua o e
mostra como formar letras.”, então, na minha sala a única criança que conseguiu
atingir este processo foi a Rayssa, ela consegue escrever algumas palavras. Quando
fazíamos listagem de palavras de uma determinada letra, ela trazia rias palavras
dela mesma...
Pesq.: Ela conseguia identificar o som da consoante com a vogal ....
Lu: isso ela consegue, o
nome de familiares, bichos, formava pequenas frases, ela é alfabética.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
159
Pesq.: E aí, assim, uma coisa que eu acho interessante a gente distinguir aqui é, não é
por que a criança copia que ela conseguiu entender...
Lu: É isso é verdade! É a questão da sondagem, você aquele emaranhado de
lição, o alfabeto inteiro, pro aluno chegar eee, Qual é a letra A?”, “Não sei!” não
sabe identificar a letra A, ou sabe identificar e não sabe a letra, né? Não sei viu, é
complicado!
Pesq./Lu: Ele sabe falar mais não sabe escrever... (risos)
Lu: Resumindo né, não sabem!!! Então, todo aquele trabalho né, que eu tive durante o
ano com o alfabeto, famílias silábicas de cópia, eu posso dizer que, no finalzinho, se
resumiu a pequenas, pequenos fragmentos???
Pesq.: Não, eu acho assim, é a gente conforme vai estudando, adquirindo experiência
dando aula, a gente vai percebendo o que dá certo o que dá errado...
Lu: é verdade!
Pesq.: se a gente for ver, você ta dando aula pra Educação
Infantil há 3 anos, então é algo novo pra você também, e que agora você ta
conseguindo perceber algumas coisas que antes você não percebia e, aí, a gente vai
mudando. Agora, se não tivesse uma experiência que incomodasse não teria o
avanço...
Lu: é verdade!
Pesq.: então, a gente perceber, olhar,
vê que não deu certo e tentar fazer de outro jeito, isso é bacana!
Lu: É, então, o ano que vem eu quero trabalhar tudo assim, é interessante estar
fazendo o planejamento já tudo assim, tudo em cima né?
Pesq.:é, agora é começar a trabalhar e estudar,certo?
Lu: Ta certo! (risos)
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
160
Sessão Reflexiva – Lu – 16/01/06
Pesq.: Então Lu, hoje a gente vai começar a fazer um outro exercício baseado
naqueles textos é, da Tereza Cristina Rego do livro do Vygotsky, ee, até agora a gente
leu “Aquisição da linguagem escrita”, “As relações entre pensamento e linguagem” e a
Interação entre aprendizado e desenvolvimento: ZDP” e, a partir desses conceitos a
gente vai ta elaborando a nossa atividade, ta bom?
Lu: Ta bom!!!
Pesq.: Então, vamos lá!!!
Lu: Ééééé, então, esssseeee, esse. Bom, a gente pode ta iniciando então com a letra,
no caso, com a letra D, então, esse texto achei bonitinho “O diário da Clara” e, então
eu vou ta lendo, vou ta lendo pra gente poder tirar algumas atividades, ta? “DIÁRIO
DA CLARA
EU NASCI NO DIA 6 DE JULHO.
EU ADORAVA MEUS URSOS DE PELÚCIA.
AOS 6 ANOS, EU ADORAVA DANÇAR BALÉ.
AOS 7 ANOS EU GOSTAVA DE ESTAR JUNTO COM AS MINHAS AMIGAS DA
ESCOLA.”. Então, você , ele é bem curtinho e, então, eu acho interessante ta, a
gente pode estar iniciando, como a gente fez o B, a gente pode estar dando o D, não
tem problema não estar seguindo o alfabeto, não ter aquela seqüência, né? Éééé....
Pesq.: Agora, por que você
achou interessante iniciar com este texto logo no primeiro mês de aula?
Lu: Ah, então, por que o texto vai falar do menino, de uma criança, é, no caso, “nasci
dia 6 mês de julho”, “ aos 6 anos”, é a idade em que eles vão estar, então eu acho que
tem a ver com eles.
Pesq.: Além da possibilidade da gente trabalhar com nome, com a escrita, conhecê-los
um pouco melhor ....
Lu: Isso, é quando a gente , no início
trabalha com o nome é fundamental né, agora no início para eles estarem se
conhecendo né?
Pesq.: Certo!!!
Lu: Então, aí ééé, ....
Pesq.: Então essa parte seria o item que a gente estabeleceu na outra
atividade como “EU LEIO O TEXTO” ...
Lu: É, a gente o texto com eles, como vai falar de diário, a gente explica primeiro o
que é um diário, né, e, a maioria não vai saber mesmo o que é um diário, o que é feito
com o diário. Eles não sabem que o diário você escreve sobre seu dia-a-dia. Então,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
161
lido o texto, a gente podia estar tirando questões relacionadas ao entendimento do
texto, né?
Pesq.: Que a gente denominou “EU CONVERSO SOBRE O TEXTO”.
Lu: Isso!!! Então, eu tinha pensado assim, primeiro, perguntar quem escreveu o diário?
No caso, é a Clara. Eles vão estar falando a Clara aí, a gente escreve na lousa o
nome Clara e eles copiam, né? Posso, também, estar destacando o nome Clara, eee,
antes da gente estar trabalhando com este texto eu quero estar colocando o nome
deles assim, bem em evidência lá, fazer aquela listagem com os nomes para estar
trabalhando mesmo assim, com os nomes (silêncio) com os nomes próprios! E, aí,
depois, uma segunda questão, sobre o texto né, a gente pode ta falando sobre os
acontecimentos, assim, como os acontecimentos se dão, no caso né, seria assim, na
mesma época? Eles vão estar analisando né, por que, no caso, ela vai contar sobre
vários dias da vida dela né, então, são de épocas diferentes. Completando, eles tem
que perceber no texto que os acontecimentos eles se dão em épocas diferentes:
nascimento, que aos seis anos ela gostava de dançar, aos sete ela gostava de estar
com as amigas dela da escola, então, para eles perceberem esta cronologia né? Essa
linha do tempo aí!
Pesq.: Isso!!!
Lu: Então, aí, a gente pode estar explicando para eles, se eles viram algum diário,
se eles conhecem, já viram algum álbum de fotografia...
Pesq.: ta levando...
Lu: ta levando, isso, então, podia estar levando um álbum de
fotografia né. Por que, normalmente, os álbuns contam a história né? A criança
pequenininha, depois ela faz um aninho, tem toda uma história né! Quando vai à praia,
é toda uma história mesmo de vida da pessoa. Então, eu achei legal ta colocando isso
também, para eles estarem analisando,né?
Pesq.: Aí, eu acho que de interpretação fica bacana né?
Lu: Três questões já ta bom!!!
Pesq.: Aí, o item “EU ENTENDO MELHOR O TEXTO”, este é extremamente
necessário, aí, eu gostaria de saber de você, se vo acha necessário mesmo, o
porque você acha necessário?
Lu: Ah, então, ééé, depois que a gente for ler o texto, depois que eles já tiverem
completado este entendimento do texto, ahahahah, deixa eu ver, ahahahah, fazer uma
análise mais, pegar eééé,
Pesq.: esmiuçar o texto
Lu: é, esmiuçar o texto, né? Então, a gente, o professor, tem que estar junto com eles,
com os alunos, ééé, então, ta entrando mesmo nessa ZPD, atuando né?, assim,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
162
mediando, fazendo aquela mediação, né, por que senão, sozinhos não tem como eles
estarem fazendo os exercícios né. A gente pode estar lendo, lendo, lendo mas, temos
que estar passando o nome na lousa para eles estarem copiando, em um primeiro
momento né, estar destacando este nome no texto para que eles possam comparar
com a escrita da lousa. Para que eles possam, também, perceber através da lista dos
nomes da sala que podem ter o nome de alguma amiga Clara, que outros nomes
iniciam com a letra C, que as outras letras aparecem em lugares diferentes em nomes
distintos, e assim, vai! Então, o professor tem que estar atuando diretamente, senão,
não tem como eles estarem fazendo, além do que corre-se o risco de eu cair no
mesmo problema do ano passado, copia, copia, copia sem sentido para o aluno e, não
proporcionar aprendizagem de fato, como pressupõe Vygotsky, né? Então, dentro do
“EU ENTENDO MELHOR O TEXTO” podia ta pegando assim, ééé, qual o nome da
menina que escreveu o diário?, Quando que ela faz aniversário? Para que eles
possam perceber o dia e o mês, a gente tem que estar trabalhando sempre dia e mês
senão, não gravam, eles se perdem, ainda não é formado a seqüência de tempo, de
dia, ainda não tem. Eles poderiam procurar no texto, o nome preferido do brinquedo
dela e escrever, grifar ou pintar o nome no próprio texto, a gente tem que estar
explorando muito o texto, tudo que tiver!
Pesq.: E aí, eu acho que deu! A gente já fez uma interpretação do texto geral e um
pouco mais específica, a gente poderia entrar no item que nós definimos como “EU
ESCREVO O TEXTO”, e aí, aqui eu acho importante eles começarem a estar
escrevendo e, estar se apropriando de coisas deles próprios, né? Então, o nome, o dia
em que nasceu, a idade, mais aí, tudo a gente vai ter que estar muito próximo deles
ajudando bastante. E, aí, para e3les fazerem esta relação de uma maneira mais
confortável, o que a gente faz? O que você acha de a gente deve fazer?
Lu: Éééé, então, aí no caso, ééé, a gente podia estar fazendo uma ficha né, uma ficha
de dados, no caso assim, eles colocassem o nome, que normalmente a maioria
sabem do ano passado, se colocar a data do nascimento ééé, como a gente tem a
ficha dos alunos do início do ano com as datas do nascimento, a gente pode ta
completando a data de nascimento no crachá de mesa, o nome na frente e, atrás a
gente pode estar colocando a data do nascimento, que é muito importante, por que,
normalmente eles não sabem mesmo né, é um ou outro que avisa no dia do
aniversário. A idade , faria, então esta ficha. Eeee, no caso assim, eles estarem
desenhando, assim, desenhando eles, por que sempre no início do ano a gente
família, dá auto-retrato, a gente poderia estar mandando para casa também, para eles
estarem fazendo este auto-retrato primeiro, aí, eles poderiam estar trazendo, por que
dentro desse auto-retrato, a gente podia estar colocando outras questões também, no
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
163
caso, a cor dos olhos, a cor dos cabelos, e como o os cabelos, o número de quanto
eles calçam, né, ta pedindo para a mãe estar mandando e na sala de aula pode
também estar olhando né, olhando os meros, eee, falar quantos dentes eles
perderam, a gente pode estar contando né?, para que a gente possa trabalhar
conjuntamente com numerais, também!
Pesq.: E aí entrar no que eles gostam ou não gostam de fazer, né? Brinquedo favorito,
animais de que mais gosta, comida que mais gosta, então, eles pintam, desenham e,
em seguida, escrevem os nomes do que desenharam.
Lu: esta atividade eles fazem sozinhos né, o professor não precisa estar interferindo,
né?
Pesq.: Aonde você acha que o professor pode estar interferindo aqui?
Lu: Então, no caso, dessa questão do brinquedo e tudo, o aluno faz sozinho, o
professor não precisa estar interferindo, né
Pesq.: Eu acho que, melhor,
aonde o professor pode estar interferindo aqui, ou você acha que o professor não
precisa interferir?
Lu: Acho que é só, no caso, por exemplo, no meu brinquedo favorito, no nome do
brinquedo, por que de repente eles não vão estar sabendo escrever o nome do
brinquedo: bola, boneca pipa, aí, no caso só o nome. Então, eles estarão desenhando
e a gente verificando os desenhos e colocar na lousa os nomes. “Então, crianças!
Quem escolheu boneca, copia aqui BONECA. Quem escolheu a bola, copia, BOLA”,
assim, e ver o que eles gostam mais mesmo né? Como se fosse uma pesquisa.
Pesq.: Lu, a gente está trabalhando com estágio, você acha que eles não
poderiam, por exemplo, nesses exercícios, que tem preferência, eles poderiam estar
fazendo sozinhos? Mesmo escrevendo da maneira deles, como eles acham...
Lu: Sozinhos? (silêncio). Da maneira deles? (silêncio). Ééééé, (silêncio), podem?! A
gente pode estar dando, eles podem estar escrevendo da maneira deles
Pesq.: Você acha que eles são capazes?
Lu: Por exemplo, uma palavra como CACHORRO, eu acho difícil. Agora, se eles
escolherem BOLA, BONECA, é fácil! Mais, algumas palavras são difíceis. Mas pode-
se tentar!!!
Pesq.: Não, mais e aí, ....
Lu: cada um escreve do seu jeito
Pesq.: depois
Lu: e, aí,
mostra na lousa e depois, eles podem estar comparando e escrevendo ao lado do que
eles escreveram, para eles fazerem uma comparação
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
164
Pesq.: Muito bom!
Lu: , do que eles acham
Pesq.: do que eles pensaram
Lu; do que eles pensaram em
relação ao que é!
Pesq.: Muito bom!
Lu: Estou pensando que neste item tudo o que eles levantarem como coisas favoritas
a gente, poderia estar fazendo uma listagem na lousa para ampliar o repertório deles!
Pesq.: Aí, a gente pode passar para o outro item que é “EU APRENDO A LER E A
ESCREVER”. de novo, ou a gente volta ou a gente continua, no caso, com as
questões deles. O que você acha que devemos colocar?
Lu: Ta trabalhando com o nome, né?
Pesq.: Aí, já começa a trabalhar com nome deles?
Lu: Isso, deles. Tanto é que, estaremos com a lista pronta com os nomes da classe
para ficar bem evidente, . Então, pode colocar, né, eles escrevem o nome, contam
quantas letras tem no nome, qual é a primeira letra do nome, qual é a última, se
existem letras que se repetem. Poderíamos estar trabalhando com alfabeto móvel, põe
o alfabeto na mesinha, eles ficam montando a, o nome, aí, conforme eles vão
montando os nomes, eles vão copiando na folha. A gente pode estar pegando vários
nomes da classe e eles estarem colocando a primeira letra de cada nome,
identificando, né?
Pesq.: Por que você acha que é importante destacar a primeira letra do nome?
Lu: Éééé, eles gravam tudo mais fácil se, estabelecem relação de outras palavras com
a primeira letra de seu próprio nome, o nome da mãe, do pai, do irmão,ah, eles
reconhecem e gravam melhor as letras identificando-as em outras palavras depois.
Pesq.: Agora, a gente poderia pensar em uma atividade que eles pudessem realizar
em grupo, apesar que todas as propostas anteriormente, a troca de opinião e o
contato com os outros coleguinhas torna-se essencial a interação entre eles, mas, o
que estou falando, é de uma atividade que privilegie ainda mais este contato, esta
interação. O que você sugere?
Lu: Eles poderiam estar escrevendo os nomes dos amiguinhos da mesinha, um ajuda
o outro, utilizariam o crachá dos colegas, não é? Em cima dos nomes dos colegas eles
poderiam estar circulando de azul o nome que tem mais letras, de amarelo o que tem
menos letras. Poderiam estar contando o número de letras de cada nome e colocando
o algarismo ao lado do nome.
Pesq.: Nestas atividades sempre estaríamos trabalhando a primeira letra das
palavras?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
165
Lu: Acho bom! É bom estar trabalhando a primeira, né?
Pesq.: Por que?
Lu: Tem que ter um início de destaque, acho que a primeira sempre é interessante,
tanto é, que você faz aquela listagem sempre a primeira letra do nome a gente
destaca, acho que é mais fácil para eles.
Pesq.: Aí, você trabalha dessa forma só com nome?
Lu: Não, aí a gente pode estar colocando outras palavras, para depois, eles poderem
relaciona-las. Poderíamos pegar outras palavras para que eles pudessem
desmembra-las, por exemplo, a palavra PÃO, desmembra nos quadrinhos o P, o A, e
o O colocando-os nos quadrinhos e, desta forma a gente pode fazer com outras
palavras maiores, BOLO que tem 4 letras, LEITE que tem 5 letras, BANANA que
tem 6.
Pesq.: Aí, no item “EU CONHEÇO UM POUCO MAIS a gente poderia fazer qual
atividade? Pensando nos textos que a gente leu, no que a gente está estudando?
Lu: No início do ano a gente trabalha bastante com falia , que a gente deu o
auto-retrato, dar a família é bom, por que eles podem estar trazendo de casa o nome
do pai, da mãe pra ta completando mesmo dentro dessa, nessa atividade.
Pesq.: Certo! Então, na sua opinião, esta atividade foi baseada em que conceito que a
gente estudou do Vygostsky? E, por que você achou importante que fosse baseada
nesse conceito?
Lu: Essa atividade é pra gente ta trabalhando mesmo na ZDP, o professor tem que
estar atuando ali né, por que é onde o aluno vai poder estar aprendendo, vai estar
entendendo, se não tiver essa mediação ééé, fica difícil do aluno aprender, chega no
final do ano com a sensação de que eles, como posso dizer, estão fracos, por que , a
gente não atuou como deveríamos atuar.
Pesq.: Legal!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
166
Sessão Reflexiva – Lu – 25/01/06
Pesq.: Vamos lá?
Lu: Então, aí, eu , esse texto aí que é, o texto de uma aluna mesmo que montou, achei
interessante ta trabalhando com ele, por que ele fala sobre, posso ler? MEU NOME É
LUCIELI.
EU TENHO 9 ANOS E MORO NA CHÁCARA SANTA MARIA.
A MINHA CASA FICA PERTO DO POMAR. EU ADORO COMER GOIABA NO PÉ.
AO LADO DA MINHA CASA PASSA UM RIO. EU ADORO NADAR NO RIO.
AQUI TEM MUITOS ANIMAIS. EU GOSTO DOS CACHORROS E TENHO MEDO
DE COBRAS.
EU ESTUDO NA ESCOLA PALMIRA. EU GOSTO DE LER E DE JOGAR
QUEIMADA.
EU GOSTO MUITO DE MORAR NA CHÁCARA, PORQUE MORO PERTO DA
NATUREZA. Achei interessante o texto por que é o texto de uma criança, ela descreve
o lugar onde mora, do que gosta, do que tem medo, da escola, ela fala bastante coisa
sobre ela e, achei interessante estar passando para eles.
Pesq.: Até por que ta no começo do ano e, em cima desse texto, a gente pode fazer
algumas atividades para eles se conhecerem, né.
Lu: Então, esse texto da pra tirar muitas coisas, nome, idade, ôôô, animais.
Pesq.: Aí, o que você pensou em estar fazendo com este texto?
Lu: Então, né, num primeiro momento a gente vai falar sobre o texto, discutir sobre ele,
perguntar sobre o nome da menina, onde ela mora, que lugar é esse, o que é uma
chácara, o que é pomar, por que normalmente, a criança num sabe o que é, né? Não
sabe nem que a goiaba vem do pé, ela na feira, então não sabe o que é! A
menina do texto fala que gosta de nadar, aqui a gente já pode estar falando sobre
esportes. Ela ainda fala sobre animais, podemos explorar animais domésticos e
selvagens. Ela diz a escola em que estuda, a gente pode explorar também o nome da
nossa escola, por que eles não sabem.
Pesq.: Ela fala sobre queimada, na hora do pátio podemos brincar de queimada!
Lu: é, explicar o jogo e brincar. Podemos trabalhar com as seguintes perguntas: Quem
escreveu o texto? Onde ela vive? Ela gosta desse lugar? Por que?
Pesq.: Aí, a gente pode desmembrar o nome da menina, eles separarem letra por letra
nos quadrinhos, contar quantas letras tem o nome, qual é a primeira e a última letra, o
que mais podemos trabalhar?
Lu: Qual é o animal preferido dela? Desenhar o cachorro e colocar o nome ao lado do
desenho, e o mesmo faria com o animal que ela tem medo. E, pode estar tirando
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
167
frases para eles estarem completando no texto. Eno, olha o texto e completa a
atividade com palavras do texto. Aqui eles estarão comparando para ver que palavra
está faltando.
Pesq.: E até, estar trabalhando com as palavras e conceitos principais do texto, né?
LU: Isso, uhuhuhuh!
Pesq.: Legal! No item “EU ESCREVO TEXTOS”, o que você sugere?
Lu: Então, ééé, a gente poderia estar pedindo para eles desenharem alguma coisa de
que eles gostam né, uma coisa que eles gostam de estar fazendo, eee, depois estar
escrevendo o que eles gostam de fazer, então: “Ah, eu gosto de brincar de bola!,
então, eles vão estar pintando eles brincando de bola e, em seguida escreve a frase.
Pesq.: Mais aí, vovai trabalhar com o que a maioria gosta ou o que cada criança
gosta mesmo de fazer? Como você vai trabalhar?
Lu: Então, aí, a gente tem que ver, péra aí, ééé, no caso, teria que ser um por um.
Pesq.: e aí aqui você, na hora da escrita eles não poderiam estar escrevendo sozinhos
e fazer daquele jeito que fizemos na semana passada?
Lu; Poderia estar colocando assim EU GOSTO DE ..........., e cada um colocaria do
que gosta e assim por diante! E depois faço a correção de um por um, junto com eles.
Poderíamos colocar também, alguma coisa que me deixa feliz, triste, alguma coisa
que dá medo. Aí, como o texto a menina faz um relato sobre a vida dela, a gente pode
estar trabalhando ééé, para eles estarem relatando coisas sobre a vida deles também
né?
Pesq.: interessante por que você no, na outra sessão você tinha trabalhado
com a questão do diário, do álbum de fotografias então, este texto complementa,
também, um outro gênero de falar sobre si, né?
Lu: é verdade, de falar sobre eles. Então, assim, ô, é o nome, o que eles gostam,
então o mesmo desenho que fizeram vão escrever aqui, tudo que desenharam o
escrever aqui, como se fosse uma fichinha, né? Na parte “EU APRENDO A LER E
ESCREVER”, a gente pode estar trabalhando ééé, por exemplo, se a gente for estar
trabalhando com a letra A, a gente dá uma frase para que eles circulem todas as letras
A da frase. A gente pode estar dando rias palavras para eles pintarem a primeira
letra, e colocarem os nomes com os desenhos para eles estarem ligando, né, e assim,
a gente deve fazer junto mesmo, mediando a atividade. E, para complementar esta
atividade, como dei o exemplo anteriormente do A, nessa atividade eles teriam que
pintar todas as letrinhas A das palavras para perceberem que ela pode aparecer em
qualquer lugar da palavra. Poderíamos fazer uma atividade com conjuntos de palavras
que começassem com a mesma letra, por exemplo, PANELA, PAVÃO, PATO eles
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
168
podem estar escolhendo a palavra , juntamente com o desenho, né, e pode estar
copiando no quadrinho. E isso, pode ser feito com uns 3 ou 4 conjuntos de palavras.
Pesq.: E aí, uma atividade, por que assim, a gente não pode esquecer que o Vygotsky
privilegia a interação, a aprendizagem com o outro. Então, que atividade a gente pode
fazer para priorizar ainda mais essa interação?
Lu: Uma atividade que a gente pode fazer, a gente pode fazer uma lista de brinquedos
preferidos da classe, posso estar colocando 10 itens e lês escolherem 6 nomes de que
mais gostam. E, assim, um estar ajudando o outro na, na mesinha para estar
escolhendo,né. Acho que tipo uma votação dos brinquedos que eles mais gostam. A
gente também, poderia estar trabalhando sílabas, né, eu adoro sílabas (risos)! Então,
a gente poderia pegar assim, dar as palavrinhas em sílabas e eles pintariam as
sílabas iguais.
Pesq.: O objetivo seria eles identificarem em várias palavras as sílabas iguais?
Lu: é, eu teria que estar falando, né?
Pesq.: Você acha que eles não conseguem identificar as sílabas iguais sozinhos?
Lu: Não!, as sílabas iguais sim, mas, por exemplo, eles não sabem que o BO é BO,
que o LA é LA, eles não sabem o nome da sílaba. Depois, pegar as palavras e
separar em letras mesmo, então, cada letra em um quadrinho diferente, para trabalhar
somente a letra.
Pesq.: Aí, a gente pode no “EU CONHEÇO UM POUCO MAIS”, estar dando um outro
texto, assim como a gente fez no Diário da Clara que foi a atividade da Sessão
passada né?
Lu; é a gente pode estar dando um texto de entrevista, tenho este que foi feito com a
Renata, ô. “QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?
EU TENHO SEIS ANOS.
QUANDO VOCÊ COMEÇOU A JOGAR FUTEBOL?
AOS CINCO ANOS.
POR QUE VOCÊ ESCOLHEU O FUTEBOL?
PORQUE MEU IRMÃO E MEU PAI GOSTAM MUITO E EU JOGO COM ELES.
VOCÊ JÁ GANHOU ALGUMA MEDALHA?
SIM. GANHEI UMA MEDALHA NO CAMPEONATO DA ESCOLA E OUTRA NO
CLUBE”. É interessante por que é um relato de uma menina e se encaixa com os
outros textos que estamos já discutindo! A gente pode estar abordando o tema esporte
e, qual é o que a turminha gosta de fazer, é interessante. Ainda, a gente pode fazer
uma listagem de esportes preferidos, colocar 10 esportes e estar tirando assim, 4 os
que são mais votados.
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
169
Pesq.: Certo! E aí, nesta atividade qual é a relação que você faz com o que estamos
estudando, lendo e conversando e com o que você fazia antes?
Lu:! Eu acho assim, ééé, não tem nada a ver com o que fazia no ano passado. Agora,
parece que estou mais envolvida e posso prever o que irá acontecer, estou mais
planejada, mais segura
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
170
Sessão Reflexiva – Lu - 09/02/06
Pesq.: Hoje, a gente leu e vai discutir o papel do outro na construção do
conhecimento” e “o papel do professor mediador na dinâmica das relações
interpessoais” dentro da escola, da sala de aula. Então, a gente começa a discutir
sobre o papel do outro”. E aí, o que você achou? Acrescentou ou não? Quais as
relações você estabeleceu?
Lu: Então, é, através dos textos tem mais a ver com, com esse texto aqui “o papel do
outro na construção do conhecimento”, ele tem mais a ver com que a gente está
trabalhando, com texto, que vai, realmente estar fazendo este papel de mediador e,
isso era o que não acontecia antes, que era uma cópia, uma coisa jogada, então, a
gente não estava assim, eéé, praticamente não estava assim, ouvindo mesmo o aluno,
a gente não sabia o que o aluno já sabia, a gente não estabelecia aquela troca. Agora,
com os textos eu acho que fica mais fácil pra gente estar trabalhando, a gente vai
estar sempre em contato com eles, a gente vai estar o tempo todo, a través das
questões, a gente vai estar sabendo ta tirando deles o conhecimento mesmo, né? A
gente vai estar tentando chegar neles mesmo, através do texto, se eles
internalizam, era coisa que não acontecia antes, por que as coisas eram jogadas, as
letras eram jogadas...
Pesq.: a gente vai estar trabalhando com algo que é significativo pra eles, com uma
história, né, não é algo isolado, que não tem significado nenhum, né? A gente vai
estar mais perto, conversando mais e, principalmente, atuando mais, que antes, eu
acho que a gente ééé não conseguia. E não é que não conseguia porque a gente não
fazia, é por que eu acho que a gente ééé, não tinha parado para pensar nessas
questões que, agora, a gente ta parando para estudar, analisar, né? Pra redefinir
nossa atuação.
Lu: É, então, através desses novos textos, a gente vai, igual ao que você falou,
redefinir a nossa função mesmo né, por que não tem como estar chegando na classe/
na criança se a gente não mudar nosso papel,né?
Pesq.: E essa mudança de papel você vê como?
Lu: Ah! Então, agora eu acho que vai ficar mais fácil né, de estar trabalhando, eu acho
que vou conseguir atingir o meu propósito sempre deles estar aprendendo, mais
sempre concluía que a maioria deles não aprendia, né? Eu acho, que agora, eles vão
aprender melhor com essa maneira de trabalhar, vai ser mais cil! Eu tinha aquela
preocupação da sala, como a sal era sempre heterogênea, não conseguia trabalhar
né, mais agora, eu estou vendo que o importante é que ela seja mesmo assim,
heterogênea, por que através das diferenças que a gente vai estar conseguindo que
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
171
uma criança ajude a outra, eles vão ter a oportunidade de trabalhar com todos da
classe, porque, a gente tinha sempre aquela questão, sempre a mesma mesinha,
sempre as mesmas crianças, quem sabia, sabia, quem não sabia continuava sem
saber, de lado e, trabalhando nesta perspectiva, com a heterogeneidade, é melhor por
que um vai ajudar o outro, quem sabe mais vai auxiliar aquele que não está sabendo.
E, o legal é estar trocando eles né, para que possibilite mesmo esta troca de
informação. Então, através dessa minha mudança de atitude, de postura eu comecei a
perceber também que muitas vezes quando as crianças estavam conversando, que
normalmente, a gente não deixa eles abrirem a boca, que através dessas conversas
eles estão se conhecendo, eles estão descobrindo várias coisas juntos e, o mais
importante que aprendi, é que a gente também pode estar conhecendo eles e
descobrindo cada um dos alunos, não mais ficar podando as conversas entre eles mas
que, o professor esteja participando e, então, através dos textos a gente pode sempre
estar dando essa possibilidade, entrega o texto, conversa sobre o assunto, deixa eles
também conversarem sobre o assunto assim, a gente vai estar sempre atuando junto
com eles oferecendo várias opções dentro do texto, das questões trabalhadas, eles
poderão estar discutindo, rediscutindo pra ta chegando a um objetivo comum entre a
gente e, estar propiciando através dos textos informações sobre várias outras
situações que os deixem curiosos, incentivadas a aprender. Esses textos que você
trouxe e que a gente discutiu foi extremamente importante e que deveria ser na JEI
(Jornada Especial Integral) por que, através dessa discussão teórica deu para refletir
sobre as prática e perceber algumas coisas em que estava equivocada e, assim,
consegui enxergar e transformar minha prática. Eu percebi, que a gente deixa de
estudar e vai trabalhar sempre com aquela mesmice e a gente acaba caindo, como
vou dizer, nesse marasmo e as crianças acabam ficando... uma ou outra que pega,
que aprende e os outros ficam assim a deus dará e, se eu tivesse talvez, lido os textos
antes, quer dizer, se a gente tivesse conversado antes tudo, a gente poderia ter feito
um outro trabalho no ano passado, ter trabalhado diferente.
Então, esse texto, “o papel da imitação no aprendizado”, eu acho que tem muito a ver
com a Julia, né, normalmente, ela imita não a descida do sofá, muitas coisas que
eu faço ela acaba imitando sabe, é engraçadinho, né? Ele fala aqui do desenho, ele
tem razão, muitas vezes a gente dá mesmo o desenho pronto pra eles só pintarem né,
eles acabam não tendo o trabalho de elaborar e, algumas vezes eu trabalhei a
questão de dar o quadro de algum artista para eles estarem reproduzindo foram
pouquíssimas vezes, normalmente dava-se tudo pronto mesmo pra eles pintarem,
então, uma questão interessante que gosto de dar é quando eles assistem o desenho
e depois reproduzem a parte que mais gostou do filme, que mais significou para eles,
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
172
isso eu acho bom, por que eles tem que pensar sobre o que eles mais gostaram, como
vão fazer para representar essa personagem ou esse trecho do filme e, isso acho
bacana. Agora, com relação a brincadeira e sua importância e, a gente, normalmente
não deixa né? Trinta e tantas crianças, a gente tem medo que algo acontece, a sala de
aula é pequena, a linha do tempo e o período do parque é pouco.
Pesq.: Vamos pensar na nossa linha do tempo, que não mudou, ainda mais agora que
você mudou de período e tem que dar almoço e sua duração é ainda maior do que os
lanches, e aí, você pensa em possibilitar esse espaço da brincadeira como a autora
fala: início, meio e o fim, finalizar a brincadeira, né, como você pensa em fazer, qual o
horário que você acha adequado, você vai separar um dia, enfim, como voirá se
organizar?
Lu: O que eu pensei assim, por exemplo, o horário do parque, se esse horário for 40
min. Eu posso ta dando um dia de parque livre, no outro dia posso estar dando uma
brincadeira dirigida né, eles não tem que necessariamente que ficar dentro do parque
onde a gente poderá brincar de roda, então, eu quero estar utilizando aqueles cds de
cantigas pra ta trabalhando mesmo com a brincadeira dirigida. E, pensei em um
terceiro dia, em pegar aqueles brinquedos de sala de aula e leva-los para baixo,
eles dividem e, assim, tempo deles brincarem, juntarem e guardarem nos 40 mins.
Aí, eu não vou ter aquela bagunça que tinha em sala de aula, eles muito exprimidos,
né, pra brincar e,não dá mesmo para brincar de carrinho, as meninas querem fazer
uma cozinha não dá, fica tudo muito apertado.
Pesq.: Quando vofor trabalhar com brincadeira de roda, você poderá leva-la e dar
continuidade na sala de aula por exemplo, as normas, você estabelece as normas da
brincadeira, se tiver a cantiga como normalmente tem, então, o trabalho de texto será
com a cantiga, você vai estabelecer um vinculo entre o que aconteceu no parque
com o que acontecerá em sala de aula.
Lu: É verdade, pensei em utilizar essas cantigas em textos mesmo né, a gente pode
estar trabalhando o texto da cantiga e depois estar brincando né?
Pesq.: Outra coisa que eu pensei e gostaria de discutir com você ééé, você gosta de
mexer com tinta, montar brinquedo, então poderia trabalhar um texto que ensinasse a
montar um brinquedo, e aí, no parque você faria isso. A gente poderia elaborar
atividades nesse sentido tamm?
Lu: Eu acho ótimo, é ta promovendo a brincadeira mais, por que a gente deixava a
brincadeira muito de lado não é não?
Pesq.: A gente não explorava o que poderíamos explorar e, aí, se a gente for pensar
em tudo que a gente ta fazendo a gente vai ter, em uma primeira parte, da história da
própria criança, história de outras crianças, a gente vai ter uma segunda parte, que é a
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
173
parte de cantigas e, a gente pode ter uma terceira parte que são de brincadeiras,
brinquedos, etc. e, a gente pode explorar isso nas atividades com texto em sala de
aula. Então, por exemplo, como que se faz um bilboquê, então a gente faz a atividade
nesse mesmo sistema que a gente vem trabalhando e desenvolvendo com os textos
aí, depois faz o bilboquê com as crianças.
Lu: Então, isso é muito legal!
Pesq.: Então, faz a brincadeira de roda e depois a gente explora esta brincadeira em
sala de aula, como a gente fez com “O boi da cara preta” que é uma brincadeira que
as meninas fazem, brincam bastante. A gente também pode fazer uma outra parte,
mais aí, eu já não sei como podemos viabilizar isso, e a gente precisa pensar se isso é
de fato viável, né, uma parte de receitas e, aí faz ...
Lu: Existem coisas que dá pra levar e fazer na sala né? Coisas secas, né?
Pesq.: Tentar ééé trabalhar com isso, além do que com isso a gente vai mostrando os
tipos de textos, que é o que a gente ta trabalhando, a partir do momento que a gente
trabalha a cantiga de ninar, que a gente pega uma carta, um auto-retrato, um
brinquedo, uma receita, então, a gente ta trabalhando com vários tipos de textos e
mostrando a função de cada um, a função da escrita e, se a gente for pensar, às
vezes, a gente deixa de lado a função da escrita, o porquê é importante a gente saber
escrever? O porquê que a gente escreve as coisas? Então, a gente pode trabalhar
com estes diferentes tipos de textos, o que você acha?
Lu: Eu acho ótimo!
Pesq.: Vamos pensar melhor nisso, então!
Sessão Reflexiva – Lu - 24/02/06
Pesq.: Esta é a nossa última Sessão eu queria que a gente fizesse um apanhado geral
de como foram estas oito Sessões, o que foi bom, ruim, quais as mudanças que você
percebeu durante esse processo de estudo, ta bom?
Lu: Ta! Achei que teve uma mudança radical da maneira como eu trabalhava e como
eu pretendo agora estar trabalhando, então, foi uma mudança assim, gritante, então
eu estou mudando toda minha maneira de agir, essa mania de estar trabalhando
somente com o alfabeto, com sílabas soltas, agora vamos trabalhar com textos, dar
um significado com a questão das palavras, então, dentro do texto vão ter várias
palavras, então, não vou mais trabalhar com as palavras soltas. Então, tudo isso é
uma grande mudança e achei que valeu super a pena. A maneira que eu via antes
precisava ser mudado.
Pesq.: Por que que você viu a necessidade de mudar?
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
174
Lu: Assim, ééé, eu ficava naquela mesmice de sempre né, eu via que não tinha
resultado no final do ano, tudo que eu tinha dado não sutiã efeito! Objetivo eu tinha
mas não conseguia alcançar! E, isso, fazia não dar resultado nenhum. Agora não, com
o trabalho com o texto vou estar direcionando o trabalho, vou estar mais perto das
crianças, conhece-las melhor, falar com elas, estabelecer uma relação! Outro ponto
importante, é do planejamento, normalmente, eu não trabalhava o planejamento, eu
não montava um planejamento para mim. Lógico que tinha aquelas metas sicas do
que eu tinha que fazer durante o ano, mais nunca havia pensado com seriedade sobre
o assunto. Com o estudo, nós elaboramos um planejamento anual, é isso está me
dando mais segurança e, sei que se for necessário poderei modifica-lo conforme a
realidade dos meus alunos mais, agora, sei como fazer e desenvolver isso!
Gostaria muito de agradecer a possibilidade em estar com você estudando sobre
Vygotsky, de você estar compartilhando tudo o que você está aprendendo no
mestrado ah, e agora que você nos deixou (risos) desejar toda a sorte do mundo na
Coordenadoria de Educação você merece, obrigada!
Pesq.: Eu que tenho que agradecer você ter se disponibilizado em participar desse
trabalho, Valeu!
FORMAÇÃO CONTÍNUA:
CAMINHOS E DESCAMINHOS
175
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