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Estado, no caso os sindicatos, e passaram a atuar como sujeitos sociais,
buscando modificar as condições não apenas de trabalho, mas também de
moradia, de atendimento à saúde, educação, entre outras reivindicações,
buscando novas formas de participação política, questionando as esferas de
poder, inclusive o poder local e redimensionando a relação entre Governo e
população. No caso de Diadema, podemos citar a organização dos Conselhos
Populares, que surgiram como proposta durante a campanha eleitoral, como
forma de democratizar o poder municipal.
Inicialmente, de acordo com a administração, os Conselhos seriam
formados por moradores de cada bairro, independente de ligações partidárias,
para discutir os problemas e prioridades locais, servindo como interlocutores
junto ao poder público municipal, na busca de decisões que atendessem às
suas reivindicações. Posteriormente, os Conselhos Populares foram alvo de
disputa entre o Diretório do PT local e a administração.
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Ao estudar a primeira administração de Gilson Menezes, procuro
analisar a memória construída pela grande imprensa sobre a atuação do
Partido dos Trabalhadores, que chegou ao poder em um município industrial de
São Paulo, e também analisar como a administração petista registrou essa
atuação e como lidou com as imagens construídas pela imprensa paulistana e
a imprensa local.
A grande imprensa constrói uma representação do real e não podemos
dissociar o real de sua representação. Nesse sentido, é fundamental a
pesquisa sobre como se deu o diálogo entre a administração pública e os
jornais, pensando a imprensa “como um ingrediente do acontecimento”, como
“força ativa na História”
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, ou seja, tratando-a não apenas como registro dos
fatos, mas compreendendo sua importância política na consolidação de valores
e na defesa de interesses.
7
“A direção do PT em Diadema defendia uma versão adaptada dos soviets. Segundo essa visão, os conselhos: a)
deveriam ser formados, inicialmente, a partir dos núcleos de base do PT; b) estariam abertos somente à participação
dos ‘trabalhadores’e demais camadas exploradas’; c) não se limitariam às funções reivindicativas, mas deliberariam
posicionamentos gerais sobre determinados temas políticos que deveriam ser seguidos pela administração municipal.
Já a cúpula do PT, os técnicos petistas “de fora” e o prefeito defendiam a criação de conselhos de caráter
“comunitário”(...) que adotassem mecanismos de funcionamento semelhantes aos dos movimentos populares’’. Julio
Assis SIMÔES, “ O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso” , p. 138 -139.
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Robert DARNTON, A Revolução Impressa: A Imprensa na França, 1775-1800, p. 15.