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ALICE DA CONCEIÇÃO ALVES
A IMPRENSA E A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES: Diadema 1983-1988.
MESTRADO EM HISTÓRIA SOCIAL
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO- 2007
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
A IMPRENSA E A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES: Diadema 1983-1988.
ALICE DA CONCEIÇÃO ALVES
SÃO PAULO
2007
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A IMPRENSA E A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES: Diadema 1983-1988.
ALICE DA CONCEIÇÃO ALVES
Dissertação apresentada à Coordenação de Programa de Estudos de Pós-Graduação em
História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e à Banca Examinadora,
como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em História Social, sob a
orientação da Prof.ª Dr.ª Olga Brites.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
__________________________________
__________________________________
SÃO PAULO
2007
Com muito carinho e gratidão, dedico
este trabalho aos amigos e familiares
pela confiança e apoio.
AGRADECIMENTOS
Contei com a colaboração e estímulo de muitas pessoas que, de forma
direta ou indireta, acompanharam a trajetória de pesquisa. Aqui tenho a
oportunidade de especialmente agradecer alguns amigos que foram
fundamentais para a realização deste trabalho.
Primeiramente, à Professora Olga Brites pela compreensão, carinho,
amizade, paciência durante a orientação e pelo agradável convívio durante
esses anos. Sua dedicação profissional é um grande exemplo para mim.
Aos membros da banca de qualificação: professoras Heloísa Faria Cruz
e Maria do Rosário Cunha Peixoto, pelas observações e sugestões que
enriqueceram o trabalho.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro, fundamental para a realização desta
pesquisa.
Aos funcionários das instituições nas quais realizei a pesquisa,
especialmente, aos colegas do Centro de Memória de Diadema, que muito
contribuíram, sempre me recebendo com muito carinho. À Regina, da
Secretaria de Cultura de Diadema, que muito me auxiliou no contato com
diversas pessoas.
Aos colegas do programa de pós-graduação da PUC-SP, cuja
convivência foi enriquecedora, especialmente ao Alan Modesto, Emília
Carnevali, Terezinha e Fernanda Galve, pelo apoio nos momentos difíceis.
À professora Yvone Dias Avelino, aos colegas do doutorado Leandro
Paschoarelli e Brás Ciro Galotta, que gentilmente fizeram a leitura do trabalho
no curso de Pesquisa Histórica, e muito contribuíram com observações e
sugestões.
À Betinha, secretária do Programa de Pós-Graduação, pelo carinho,
paciência e solicitude.
Aos amigos das escolas da Prefeitura do Município de São Paulo, onde
trabalhei, e da E.T. E. Martin Luther King, pelo incentivo ao trabalho, com quem
dividi minhas angústias, mesmo no período em que estive afastada das
atividades profissionais.
À amiga Maria Ângela Expósito, pela constante disposição em me ouvir,
pelo carinho e pelo auxílio na elaboração do abstract deste trabalho.
À jornalista Laís Fagundes Oreb, muito prestativa e atenciosa, que
possibilitou o acesso a informações e materiais preciosos para o
desenvolvimento desta pesquisa.
Pelo trabalho de revisão, agradeço à Marília Adamy, pela paciência e
dedicação, sempre disposta a oferecer uma palavra de incentivo e carinho.
A toda minha família, que sempre me apoiou especialmente à minha
mãe, exemplo de luta e determinação, às minhas irmãs, pela amizade, carinho
e incentivo. À Amanda, Luana e Thaís, que me fazem acreditar e a ter forças
para lutar por um mundo melhor.
Ao Marcelo, que pacientemente me acompanhou em mais esta
caminhada, dentre tantas outras.
Ao meu pai, que infelizmente partiu, mas que durante toda sua vida
carinhosamente muito me apoiou.
RESUMO
A pesquisa tem como proposta estudar como a grande imprensa
paulistana, através do jornal O Estado de São Paulo, da Folha de São Paulo,
do Jornal da Tarde, do periódico local intitulado Diadema Jornal e do
Informativo Municipal, principal veículo de divulgação das ações da
administração pública da cidade, noticiaram e analisaram a primeira
administração do Partido dos Trabalhadores do Estado de São Paulo, na
cidade de Diadema, de 1983 a 1988, que elegeu como prefeito Gilson Correa
de Menezes, líder sindical metalúrgico do ABCD paulista.
O trabalho está contextualizado no processo de abertura política no
Brasil, no final dos anos 70 e início da cada de 80, em que diversos
movimentos sociais buscaram novas estratégias de luta. Nesse processo,
ocorreu a fundação do Partido dos Trabalhadores, que procurava marcar sua
identidade enquanto partido de base, apontando a necessidade de mudança
nos procedimentos de se fazer política, fundamentado na transparência e na
participação popular, buscando novas formas de relacionamento entre a
população e os governantes.
Diadema foi alvo de curiosidade da grande imprensa nesse período,
fazendo parte do noticiário nacional e tornando-se referência, por ser a primeira
administração do PT em todo o Estado de São Paulo. Esta representava a
oportunidade de analisar a viabilidade de suas propostas partidárias ou uma
forma de contribuir com as críticas dos adversários políticos, preocupados com
o fato de um partido com novas propostas e ligado aos movimentos sociais,
passar a ocupar espaços de representatividade política no poderes Legislativo
e Executivo, a partir de 1982.
PALAVRAS CHAVES: imprensa, ideologia, movimentos sociais, participação
popular, Partido dos Trabalhadores.
ABSTRACT
The present research supposes to study how the great São Paulo city’s
press, through the newspaper “O Estado de São Paulo”, Folha de São
Paulo”, “Jornal da Tarde”, and the local newspaper called “Diadema Jornal” and
“Informativo Municipal”, main mean of making public the actions taken by the
Government administration of the city, reported about and analyzed the first
administration of “Partido dos Trabalhadores” in Diadema city from 1983 to
1988, which elected as mayor Mr. Gilson Correa de Menezes, who was a
metallurgic sindical leader in the region of ABCD paulista.
The work is contextualized in the process of the politics opening in Brazil,
in the end of the 70’s and the beginning of the 80’s, when several social
movements looked for new fighting strategies. During this process, happened
the foundation of “Partido dos Trabalhadores” which sought to mark its identity
as a basis party, aiming to the necessity if changing in the way of doing politics,
based on the transparency and on the popular participation, searching new
ways of relation between people and government.
Diadema was the target of the curiosity of the great press in this period, it
made part of the national newspapers and becoming reference, because of
being the first PT’s administration in whole São Paulo State. It represented the
opportunity of analyzing the workability of the party’s proposes or a way of
contributing through criticism of the opponent parties, who were worried about
the fact of a party, with new proposes and connected to social movements,
starting to take places in the politics representation in the Legislative and
Executive Powers since 1982.
KEY WORDS: press, ideology, social movements, popular participation, Partido
dos Trabalhadores.
SUMÁRIO
Siglas ...............................................................................................................10
Introdução ...................................................................................................12
Capítulo I - "Diadema, a cidade - laboratório do PT”.......................................30
Capítulo II – Imprensa- Diadema-Desafios Locais........................................... 88
Capítulo III - Gilson Menezes na Imprensa e a Questão da Nicarágua .........128
Considerações Finais......................................................................................156
Fontes..............................................................................................................166
Bibliografia ..................................................................................................... 168
10
SIGLAS
ABCD - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e
Diadema
ABCDRM - Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul,
Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Mauá
ACID - Associação Comercial e Industrial de Diadema
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
CEB´ s - Comunidades Eclesiais de Base
CP - Conselho Popular
CUT - Central Única dos Trabalhadores
DJ - Diadema Jornal
DM - Diretório Municipal
DR - Diretório Regional
FSLN - Frente Sandinista de Libertação Nacional
FSP - Folha de São Paulo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia Estatística
ICM - Imposto sobre Circulação de Mercadorias
ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
ISS - Imposto sobre Serviços
JT - Jornal da Tarde
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil
OP – Orçamento Participativo
OESP - O Estado de São Paulo
PCB - Partido Comunista Brasileiro
11
PDS - Partido Democrático Social
PDT - Partido Democrático Trabalhista
PMD - Prefeitura do Município de Diadema
PMDB - Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PT - Partido dos Trabalhadores
SAB’s - Sociedade Amigos de Bairro
SUNAB – Superintendência Nacional do Abastecimento
12
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem por objetivo analisar como os jornais da grande
imprensa paulistana, mais especificamente O Estado de São Paulo, o Jornal da
Tarde e a Folha de São Paulo, e também a imprensa local através do Diadema
Jornal e dos Informativos Municipais, posicionaram-se em relação ao primeiro
governo petista do Estado de São Paulo na cidade de Diadema de 1983 a
1988, que elegeu como prefeito Gilson Correia de Menezes, líder sindical
metalúrgico.
O interesse por este tema surgiu devido ao meu trabalho como agente
cultural na Prefeitura do Município de Diadema, durante os anos de 1991 e
1992, e iniciei o levantamento histórico de alguns bairros, colhendo
depoimentos e documentos de moradores, bem como da administração. A
imagem que eu tinha do município antes desse trabalho era de violência e
desordem, pois era o que comumente transmitiam os meios de comunicação.
Conhecendo a cidade, o que mais me chamou a atenção foi a organização dos
moradores, na luta por suas reivindicações.
Outro ponto a ser considerado na escolha do tema foi o fato de esta ter
sido a primeira experiência administrativa do Partido dos Trabalhadores em
São Paulo, no processo de abertura política . O PT tinha acabado de se
consolidar e buscava marcar sua identidade enquanto partido de base,
apontando para a necessidade de mudança nos procedimentos de “fazer
política”.
É importante lembrarmos que o PT surgiu da organização do movimento
sindical que teve como base o ABC paulista, no final da década de 70, num
momento em que os movimentos populares buscavam novas estratégias de
luta e novas reivindicações.
Pesquisar este tema no atual momento, final do primeiro mandato do
presidente Luís Inácio Lula da Silva, onde denúncias não cessam contra o
Legislativo e o Executivo Federal, enfatizando o Partido dos Trabalhadores na
cena política, é um grande desafio. que se ter cuidado com o bombardeio
de informações que procuram, com raras exceções, levar-nos ao senso comum
13
de que “todos os políticos o iguais”, que estão preocupados com seus
próprios interesses, que não existe e nunca existiu projeto de transformação
social, como se tudo fosse uma ilusão, algo sem sentido, que os ingênuos
poderiam acreditar.
Realizar esta pesquisa me fez refletir sobre os significados das diversas
organizações da sociedade na década de 80 e sobre a minha própria trajetória,
enquanto estudante e participante do sindicato dos bancários na década de 80
e, posteriormente, dos diversos sindicatos do magistério público e particular. O
final da década de 70 e a década de 80 foram extremamente ricos do ponto de
vista de mobilização e transformação social, com a reorganização do
movimento sindical e estudantil, com a luta pela anistia, “ampla, geral e
irrestrita”, a campanha das Diretas Já, os movimentos de bairro, a atuação das
Comunidades Eclesiais de Base e os movimentos das chamadas minorias
(negros, índios, mulheres), enfim, uma época de efervescência social e política.
De acordo com Eder Sader, as greves metalúrgicas do ABC paulista de
1978 podem ser consideradas um marco no surgimento de novas formas de
organização social e no sentido dos trabalhadores falarem por si mesmos,
rompendo a subordinação ao Estado, herança do período getulista.
Conforme indicam Paoli, Sader e Telles, os trabalhadores “Vistos
tradicionalmente como personagens subordinados ao Estado e incapazes de
impulsão própria e, após 1964, silenciados e atomizados politicamente pelo
regime militar, eles irrompem na cena política de 1978 falando por boca própria
e revelando a existência de formas de organização social que haviam tecido à
margem dos mecanismos tradicionais montados para representá-los e que
serviam para sua cooptação, enquadramento e controle. Grupos de fábrica,
clubes de mães, comunidades de base e as mais diversas organizações de
diferentes setores sociais a partir de diferentes temas, tomaram a sociabilidade
própria entre seus membros como premissa para formas autônomas de
organização e expressão que alteraram o próprio campo da política no país”.
1
A partir do novo sindicalismo, tiveram início as discussões sobre a
formação de um partido político dos trabalhadores, que representasse a
14
multiplicidade das experiências de diversos grupos sociais, segundo Amaral,
“juntamente com as lideranças do novo sindicalismo participaram da gestação
do PT líderes comunitários, em especial aqueles ligados às Comunidades
Eclesiais de Base (CEB´s), intelectuais, parlamentares do Movimento
Democrático Brasileiro (MDB) e membros de organização de esquerda”.
2
Na
atuação do PT os cleos de base tinham lugar privilegiado aos quais
“competia ligar o partido à sociedade, servir como local de educação política e
de permanente atividade de militância”.
3
De acordo com Francisco César Fonseca, “foram, portanto, o PT e a
CUT que desse período em diante, hegemonizaram no âmbito do universo da
força de trabalho a luta dos segmentos organizados que representavam.
Atuando nos parlamentos (paulatinamente também nos executivos), mas
principalmente nos movimentos popular, social e sindical, os `novos
personagens` traduziam a disposição política de parte significativa dos
trabalhadores em inserir-se à cidadania. Esta, necessariamente entendida em
sentido amplo, significou a busca de maior participação tanto nos recursos
econômicos quanto políticos, modelada, tal participação, pela idéia de justiça e
direitos”.
4
No final da década de 70 e no decorrer da década de 80, a produção
historiográfica deu um novo enfoque aos movimentos operários e sociais, em
parte devido a um abrandamento da repressão e censura imposta pelo regime
militar e pelas novas formas de resistência e atuação dos trabalhadores. No
Brasil, essa mudança de enfoque está presente em obras que buscam
destacar as diversas formas de resistência dos operários, indo além do
discurso oficial dos sindicatos. Situada no período em que abrange esta
pesquisa, a obra de Eder Sader “Quando Novos Personagens Entraram em
Cena”, contribui para análise do sujeito coletivo, levando em conta a
heterogeneidade dos movimentos estudados e a compreensão do espaço
público enquanto ambiente de troca de experiências, buscando sempre o fazer-
1
Maria Célia PAOLI, Eder SADER, Vera da Silva TELLES. Pensando a classe operária: os
trabalhadores sujeitos ao Imaginário Coletivo. In: Revista Brasileira de História, nº. 6.p.130.
2
Oswaldo E. AMARAL. A Estrela não é mais vermelha - as mudanças no programa petista nos anos 90,
p. 31.
3
Ibid, p.38
4
Francisco César P. da FONSECA. A Imprensa Liberal na Transição Democrática (1984-1987), p.17.
15
se do movimento, ou seja, a priori, nada está definido. A diversidade de fontes
utilizadas pelo autor, indo além da imprensa e fontes impressas, trabalhando
principalmente com a história oral, nos outra dimensão dos movimentos
populares, na medida em que traz à tona, vozes até então reprimidas.
Na primeira administração de Diadema, o PT enfrentava dois tipos de
desafios: como indica Raquel Rolnik, primeiro “a construção da cidade em seu
sentido físico territorial”
5
, que a infra-estrutura e serviços básicos eram
insuficientes e em alguns bairros inexistiam. Havia grandes problemas, como a
falta de saneamento básico, a necessidade de urbanização das favelas, entre
outros. O segundo desafio era a construção do governo da cidade “no sentido
de constituição do pacto básico que define uma esfera pública a relação dos
cidadãos entre si e com o seu governo. Também nessa dimensão tratava-se de
uma construção totalmente nova, já que a experiência coletiva da maior parte
dos moradores, quando existia, era ligada à organização sindical, religiosa (as
comunidades de base da Igreja Católica) ou aos movimentos populares,
espaços coletivos com lógicas de estruturação muito diferentes do Estado”
6
.
Esses dois desafios são apontados pelas fontes analisadas, tanto a
grande imprensa, como a imprensa local e os informativos municipais,
enfatizando a falta de infra-estrutura do município, mas as ações da
administração pública no sentido de solucioná-las merecem um tratamento
diferenciado. Com freqüência, a imprensa diária paulistana destacava a
incompetência do Governo Municipal para resolver questões essenciais no
atendimento à população. O Diadema Jornal destacava a ação do Governo
Estadual através das diversas secretarias, no atendimento aos problemas
básicos de Diadema, e os Informativos Municipais ressaltavam a importância
da participação da população na tomada de decisões junto com a
administração, seja através dos movimentos organizados ou do Conselho
Popular, constituindo-se na marca de um novo modo de governar.
Podemos situar Diadema no período estudado, como um local em que
os trabalhadores atuavam politicamente além dos espaços instituídos pelo
5
Raquel ROLNIK (prefácio) . In: Jeanne BISILLIAT, Lá Onde os Rios Refluem - Diadema-20 anos de
democracia e poder local, p.11.
6
Ibid, p.12.
16
Estado, no caso os sindicatos, e passaram a atuar como sujeitos sociais,
buscando modificar as condições não apenas de trabalho, mas também de
moradia, de atendimento à saúde, educação, entre outras reivindicações,
buscando novas formas de participação política, questionando as esferas de
poder, inclusive o poder local e redimensionando a relação entre Governo e
população. No caso de Diadema, podemos citar a organização dos Conselhos
Populares, que surgiram como proposta durante a campanha eleitoral, como
forma de democratizar o poder municipal.
Inicialmente, de acordo com a administração, os Conselhos seriam
formados por moradores de cada bairro, independente de ligações partidárias,
para discutir os problemas e prioridades locais, servindo como interlocutores
junto ao poder público municipal, na busca de decisões que atendessem às
suas reivindicações. Posteriormente, os Conselhos Populares foram alvo de
disputa entre o Diretório do PT local e a administração.
7
Ao estudar a primeira administração de Gilson Menezes, procuro
analisar a memória construída pela grande imprensa sobre a atuação do
Partido dos Trabalhadores, que chegou ao poder em um município industrial de
São Paulo, e também analisar como a administração petista registrou essa
atuação e como lidou com as imagens construídas pela imprensa paulistana e
a imprensa local.
A grande imprensa constrói uma representação do real e não podemos
dissociar o real de sua representação. Nesse sentido, é fundamental a
pesquisa sobre como se deu o diálogo entre a administração pública e os
jornais, pensando a imprensa “como um ingrediente do acontecimento”, como
“força ativa na História”
8
, ou seja, tratando-a não apenas como registro dos
fatos, mas compreendendo sua importância política na consolidação de valores
e na defesa de interesses.
7
“A direção do PT em Diadema defendia uma versão adaptada dos soviets. Segundo essa visão, os conselhos: a)
deveriam ser formados, inicialmente, a partir dos núcleos de base do PT; b) estariam abertos somente à participação
dos ‘trabalhadores’e demais camadas exploradas’; c) não se limitariam às funções reivindicativas, mas deliberariam
posicionamentos gerais sobre determinados temas políticos que deveriam ser seguidos pela administração municipal.
a cúpula do PT, os técnicos petistas “de fora” e o prefeito defendiam a criação de conselhos de caráter
“comunitário”(...) que adotassem mecanismos de funcionamento semelhantes aos dos movimentos populares’’. Julio
Assis SIMÔES, “ O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso” , p. 138 -139.
8
Robert DARNTON, A Revolução Impressa: A Imprensa na França, 1775-1800, p. 15.
17
As fontes utilizadas são artigos de jornais da Folha de São Paulo, O
Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, em que procurarei identificar quais
foram os temas e os problemas priorizados, analisando também o periódico
local Diadema Jornal e os Informativos Municipais, elaborados pela assessoria
de imprensa da PMD. Quanto à imprensa local, o ABCD Jornal, tinha uma
linha editorial diferenciada, servindo como meio de discussão sobre a
organização do PT, mas deixou de existir antes da administração Gilson
Menezes. Circulou em Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do
Sul e Diadema, entre 1975 e 1980, ganhando importância devido à cobertura
das greves de 1978 e 1979. O Diário do Grande ABC, editado em Santo André,
cobria a região do ABCDRM. Numa sondagem sobre alguns assuntos
estudados neste trabalho, pude observar que este seguia a pauta da chamada
grande imprensa, mas, devido ao tempo exíguo, não aprofundei a análise
desse periódico, preferindo ater-me ao Diadema Jornal, pelo fato de focalizar
mais detalhadamente os diversos grupos políticos e sociais do município,
dando espaço aos partidos políticos atuantes na cidade: PT, PMDB, PTB e
PDS, às Sociedades Amigos de Bairro, à Associação de Comerciantes e
Industriais de Diadema e aos moradores, principalmente através da publicação
das cartas dos leitores.
Trabalhei com o depoimento de Lais Fagundes Oreb, assessora de
imprensa na gestão estudada, procurando analisar como se deu a relação
entre o poder público, a imprensa local e a diária, e quais foram as formas de
resistência encontradas pela administração para fazer frente às matérias que
desmoralizavam a cidade, trazendo a imagem de “incompetência
administrativa”, “desorganização” e “violência”. Procurei também discutir a
importância dos informativos municipais como principal meio de comunicação
entre governo e população.
A partir das questões levantadas pelos artigos, discuto as estratégias
construídas pela imprensa, sua intencionalidade e as relações de poder que ela
evoca. Assim, problematizo a pesquisa com as seguintes perguntas: Quais
foram as principais críticas e elogios em relação ao Governo Municipal? Até
que ponto a análise da cidade e da administração de Diadema serviram como
referência para avaliar a proposta e a atuação do Partido dos Trabalhadores
18
não apenas no âmbito municipal, mas nacionalmente?Como a imprensa
contribuiu para valorizar ou desvalorizar a atuação do PT? Quais foram os
sujeitos sociais que tiveram maior visibilidade nas diferentes fontes analisadas?
Em que contexto a gestão de Diadema foi criticada e/ou elogiada pela
imprensa? Quais os acontecimentos e características enfatizados na história e
na trajetória política de Gilson Menezes e nos componentes da Administração
Municipal? A quem interessavam as notícias publicadas sobre Diadema?
Um fato importante a ser ressaltado é que o número de notícias
veiculadas pelos jornais nesse período histórico é maior, se comparado aos
períodos anteriores e posteriores à primeira administração petista. Cabe
lembrar que em 1988, o PT ganhou as eleições na capital paulista e em outras
cidades do ABCD, inclusive em Diadema, que de forma contextualizada,
perdeu a importância e visibilidade que tinha no período em questão.
Na análise da imprensa, alguns autores foram referências fundamentais
como Nelson Werneck Sodao afirmar que “um grande jornal, hoje, é uma
empresa capitalista de grandes proporções”
9
, o controle da informação está
intrinsecamente relacionado ao controle do poder. De acordo com Fonseca,
“Tal imprensa congrega pessoas, grupos, partidos e instituições representantes
das classes sociais detentoras, gestoras e agregadas do capital”
10
. Ao
trabalhar com as fontes e atenta a estas particularidades e especificidades,
identifico e analiso quais os valores e estruturas sociais foram priorizadas,
procurando o ter uma visão reducionista da grande imprensa, ou seja, não a
tratando apenas como instrumento de dominação ideológica de determinados
grupos sociais, organizados em torno de princípios liberais, pelo fato de
estarem estruturados como empresas capitalistas. Cabe lembrar que com o fim
da censura do Estado, ao final da década de 70, o espaço ocupado pela
imprensa alternativa foi, em parte, transferido para a grande imprensa. Embora
existisse a censura empresarial, é importante analisarmos as estratégias
utilizadas na abordagem de temas e posicionamentos políticos que nem
sempre estavam em sintonia com o sistema vigente.
9
Nelson Werneck SODRÉ, História da Imprensa no Brasil, p. XI.
10
Francisco César P. da FONSECA. A Imprensa Liberal na Transição Democrática (1984-1987), p.25.
19
Em seu livro “O Jornalismo Canalha”, José Arbex destaca que “a mídia
não é um muro compacto é perpassada por muitas contradições e embates
ideológicos mesmo porque a opinião blica não é uma massa de argila que
pode sempre ser moldada ao gosto dos meios de comunicação de massa. A
mídia é muitas vezes obrigada a publicar notícias que contrariam os interesses
imediatos de seus proprietários, ou mesmo a manter em seus quadros
jornalistas que destoam da linha política geral adotada pelo jornal”
11
.
Segundo Silvana Goulart, Dentre as funções sociais básicas dos meios
de comunicação ainda se destaca a atribuição de status a pessoas,
organizações e movimentos sociais conferindo-lhes prestígio. Tal função
insere-se no âmbito da ação legitimadora de políticas, pessoas e grupos...
12
Neste sentido, analiso qual a importância dispensada aos diferentes sujeitos e
movimentos sociais, identificando os aspectos que buscaram influenciar a
opinião pública a respeito da administração de Diadema.
A imprensa escrita é uma das formas de estudar historicamente certas
questões, mas é necessário criticá-la internamente, como sugere Renée
Zicman: “devemos lembrar que na imprensa a apresentação da notícia não é
uma mera repetição de ocorrências e registros, mas antes uma causa direta
dos acontecimentos, onde as informações não são dadas ao azar mas ao
contrário denotam as atitudes próprias de cada veículo de informação, todo
jornal organiza os acontecimentos e informações segundo seu próprio ‘filtro’.”
13
Portanto procuro enfatizar nesta pesquisa, a interpretação que a imprensa fez
dos fatos, observando formas de construí-los. Na análise dos jornais, estarei
atenta à organização dos cadernos, ao diálogo entre textos e imagens e ao uso
de recursos, como manchetes e fotografias. Pretendo observar quais
problemas da cidade foram mais enfatizados, observando as ambigüidades da
imprensa, procurando dar maior visibilidade às matérias que ganharam força
nos jornais.
Com o intuito de conhecer a experiência de sujeitos que viveram
diretamente as ações da Administração Pública e que trouxeram outros
11
José ARBEX, O Jornalismo Canalha, p.190.
12
Silvana GOULART, Sob a Verdade Oficial - Ideologia, propaganda e censura no Estado Novo, p.12.
13
Renée Barata ZICMAN, História Através da Imprensa algumas considerações metodológicas.In:
Projeto História, 4, p.90.
20
elementos sobre a experiência do PT em Diadema, foram analisadas oito
entrevistas de moradores que fizeram parte de diversos movimentos da cidade
(saúde, habitação, moradia entre outros), participando também de movimentos
como as Comunidades Eclesiais de Base e principalmente os Sindicatos. As
entrevistas foram realizadas por pesquisadores do Centro de Memória de
Diadema entre os anos de 1994 e 1997, mas o início e desenvolvimento dos
movimentos ocorreram na cada de 80. Por essa razão, os depoentes
fizeram uma avaliação dos mesmos, muitas vezes mostrando grande
satisfação por sentirem-se sujeitos históricos responsáveis por mudanças
significativas na cidade, não apenas do ponto de vista de conquistas materiais
(luz, asfalto, entre outras), mas também na construção de novas relações
sociais entre os moradores e, principalmente, com o poder público. Noutros
casos, percebemos certa frustração e até decepção, por compreenderem que
os movimentos poderiam ter avançado, buscando maior democratização nas
relações políticas, econômicas e sociais, o que na avaliação de alguns
depoentes, gerou um refluxo na década de 90.
Nas entrevistas, foram abordadas a trajetória de vida das pessoas, sua
origem, a chegada ao município e a participação nos diversos movimentos.
Alguns depoentes contextualizaram sua participação nos movimentos em
Diadema com o ressurgimento do movimento sindical e na organização das
Comunidades Eclesiais de Base, não apenas no ABC paulista, mas também na
cidade de São Paulo. Muitos atuavam na Igreja, nos sindicatos e no Partido
dos Trabalhadores, na década de 80. Situaram o crescimento populacional de
Diadema com o processo de industrialização do ABC paulista, enfatizando a
falta de estrutura da cidade nas cadas de 60 e 70, quando ocorreu o grande
crescimento populacional e das favelas. Alguns iniciaram a luta nos
movimentos antes da chegada do PT à Prefeitura do município.
Estas entrevistas servem como referência para compreender a relação
da imprensa escrita local e da grande imprensa com esses movimentos sociais,
observando se os agentes desses movimentos tiveram voz nesses órgãos.
A pesquisa foi realizada no Banco de Dados da Folha de São Paulo, que
possui um acervo com vários jornais da grande imprensa como: O Estado de
São Paulo, Folha da Tarde, Jornal da Tarde e Jornal do Brasil. Optei por
21
trabalhar com a FSP, Jornal da Tarde e OESP, por terem uma cobertura
regional, nacional e internacional. Posteriormente, recorri ao Arquivo do
Estado de São Paulo, pois a forma como estão organizadas as reportagens no
Banco de Dados da FSP dificultava a análise, impossibilitando saber se havia
ou não chamada na primeira página, com muitas fotos recortadas, restando
apenas o texto. Também observei qual o espaço que os artigos ocupavam no
jornal, em que caderno ou seção estavam organizados, enfim, questões
essenciais para a pesquisa.
Os informativos municipais foram pesquisados no Centro de Memória de
Diadema. Apesar da boa vontade dos funcionários que trabalham, este local
apresentou uma série de dificuldades para a realização da pesquisa, pelo fato
de ter passado por um incêndio no ano de 2003. Desta forma, alguns
informativos foram obtidos no Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores,
que também não possuía todas as publicações. O acesso à totalidade do
material publicado foi possível através do acervo da jornalista Lais Oreb,
responsável pela assessoria de imprensa no período estudado.
Os informativos não tinham uma publicação regular. O primeiro foi
editado em agosto de 1983, ou seja, seis meses após a administração tomar
posse, mas constitui importante fonte de diálogo com a grande imprensa, por
ser uma forma de divulgação das realizações da PMD. Nestes informativos,
podemos identificar as prioridades da administração e também as citações
referentes à grande imprensa, seja no sentido de defender-se de algumas
denúncias ou utilizando os artigos para reforçar algumas medidas tomadas
pela administração.
O Diadema Jornal, único periódico publicado no município, foi fundado
em 1963, tendo Alicio Capel como jornalista responsável. Não tive acesso a
todas as publicações do período, mas analisei os anos de 1984 no Arquivo do
Estado de São Paulo, 1985 e 1986, no Centro de Memória de Diadema. Os
periódicos dos anos de 1983, 1987 e 1988 foram destruídos no incêndio
ocorrido em 2003 e o Diadema Jornal não mais possuía os exemplares, pois os
havia doado à Prefeitura.
22
Analisando o Diadema Jornal constatei que servia como importante fonte
de diálogo com a grande imprensa e os informativos municipais, uma vez que
procurava dar ênfase à atuação da oposição ao poder executivo no município,
principalmente o PMDB, ao mesmo tempo em que fazia a propaganda da
atuação das secretarias estaduais em relação à Diadema. Um segundo fator é
que esse periódico circulava apenas no município e era direcionado mais à
classe média, principalmente aos comerciantes e profissionais liberais, que
eram seus principais anunciantes, portanto, tinha uma circulação mais restrita
do que a chamada “grande imprensa”, mostrando mais detalhadamente os
diferentes interesses e posicionamentos político-partidários na cidade. Os
informativos municipais davam maior destaque à atuação do poder público
local junto à população mais pobre; o DJ indicava, principalmente através
das cartas dos leitores, como a atuação da PMD era avaliada por diferentes
segmentos sociais.
Para a realização deste trabalho algumas leituras foram fundamentais,
entre elas, destaco a “História da Imprensa no Brasil”, de Nelson Werneck
Sodré, que faz uma análise da evolução da grande imprensa, vinculando-a com
a história política do Brasil, desde o seu surgimento, no século XVIII, até os
anos 1960. Esta foi uma leitura fundamental, por relacionar a história da
imprensa com a história do desenvolvimento do capitalismo no Brasil,
contribuindo para a análise teórica e também metodológica, ao utilizar uma
documentação extremamente rica, trabalhando a legislação, os anais e os
processos jurídicos envolvendo jornalistas. Ela me auxiliou a compreender
quem o os grupos produtores da chamada grande imprensa, imprensa local
e Informativos Municipais e de que forma estavam relacionados aos grupos
políticos predominantes no período.
14
O autor analisa a Imprensa no Brasil,
mapeando os periódicos e estudando as relações destes com as campanhas
políticas nos diversos momentos históricos, contribuindo significativamente
para a pesquisa histórica que tem a imprensa como fonte básica. O autor
também se preocupa em estudar o papel ocupado pela publicidade nos
14
As considerações sobre Nelson Werneck Sodré foram fruto das reflexões desenvolvidas pela Professora
Doutora Heloísa Faria Cruz, no Seminário Temático “História, Memória e Imprensa”, ministrado na
PUC/SP, primeiro semestre de 2006, e no texto por ela escrito, intitulado” História da Imprensa no
Brasil”, ainda não publicado.
23
periódicos, a importância da difusão e circulação dos jornais, bem como a
análise do público a que se dirigem as publicações. No capítulo “O pensamento
de Nelson Werneck Sodré sobre a imprensa e os meios de comunicação de
massa no Brasil, nos últimos anos”, escrito especialmente para a última edição,
de 1999, é analisada a relação entre a grande imprensa e o neoliberalismo nas
décadas de 80 e 90, contribuindo para o aprofundamento teórico da pesquisa.
Eder Sader é outra referência teórica importante, na medida em que nos
ajuda a refletir sobre um período histórico em que há grande mobilização
política de trabalhadores de diferentes setores, estudantes, movimentos de
bairro, liderados em grande parte por donas de casa, contra a carestia, a luta
por creches, entre outras reivindicações, tendo como ponto comum a oposição
ao regime político opressor.
A obra de Sader, “Quando Novos Personagens Entraram em Cena”,
possibilita o conhecimento e compreensão dos movimentos sociais nas
décadas de 70 e 80, e o papel que tiveram na luta pela democracia. Este
trabalho tem como ponto central de análise as experiências do que o autor
chama de “sujeito coletivo”
15
que buscou novos discursos e práticas na sua
atuação.
São analisadas as novas formas de relacionamento desse sujeito
coletivo com as instituições existentes como a Igreja, os sindicatos e os
partidos de esquerda. O chamado “novo sindicalismo”, compreendido como
corrente renovadora que começou a questionar a organização sindical
existente, segundo o autor “na origem, pois, dessa corrente, encontramos o
impulso de um grupo de dirigentes sindicais no sentido de superar uma
situação de esvaziamento e perda da representatividade de suas entidades e
assumir as lutas reivindicativas de seus representados”
16
, ganhou espaço
valorizando práticas concretas de atuação, denunciando a situação social
vigente. As greves deflagradas no ABC paulista, a partir de 1978, ganharam
repercussão na política nacional, mobilizando não apenas trabalhadores, mas
diversas outras entidades da sociedade como a OAB, a Comissão de Justiça e
15
Para o autor, o sujeito coletivo indica “uma coletividade onde se elabora uma identidade e se organizam
práticas através das quais seus membros pretendem defender interesses e expressar suas vontades,
constituindo-se nessas lutas”.
16
Eder SADER. Quando Novos Personagens Entraram em Cena, p.180.
24
Paz, as entidades estudantis, os movimentos de bairro, entre outros. A leitura
desse livro foi de importância fundamental para compreender as origens da
administração petista em Diadema, visto que grande parte de suas lideranças
surgiu dos diversos movimentos que se organizaram nas décadas de 70 e 80,
principalmente do sindicalismo do ABCD paulista. Muitos dos objetivos e ações
da administração municipal estavam relacionados aos objetivos e princípios
defendidos por esses movimentos, como por exemplo, a luta pela participação
popular e a democratização das relações de poder entre população e
administração pública, que observamos na experiência da formação dos
Conselhos Populares de Diadema, a organização dos movimentos (habitação,
saúde, entre outros), bem como as formas de comunicação com a população,
principalmente através dos informativos municipais, que procuravam dar maior
transparência às realizações do poder público local.
O trabalho de Heloisa de Faria Cruz, “São Paulo em Papel e Tinta-
periodismo e vida urbana 1890-1915”, também foi extremamente importante,
na medida em que desvendou a imprensa como campo de luta na constituição
da vida pública da cidade, e também como espaço de gestação e manifestação
de projetos sociais. Este ponto ficou muito claro no desenvolvimento da minha
pesquisa, em que pude observar a posição de confronto da grande imprensa,
principalmente no OESP E JT, com o Partido dos Trabalhadores, sendo
claramente assumida ao relacionar as práticas e idéias do Partido associadas
ora ao “totalitarismo”, ora ao “banditismo”. Várias outras questões discutidas na
obra da autora acima citada foram fundamentais como: a análise da circulação
tanto dos jornais da grande imprensa, da imprensa local, como dos
Informativos Municipais; a importância da propaganda na imprensa, embora
neste trabalho eu o tenha analisado o que representou em termos de
renovação de linguagem, centrando a análise do que representava a
propaganda em termos de sustentação dos periódicos, principalmente no
Diadema Jornal.
O texto de Laura Antunes Maciel, “Produzindo Notícias e Histórias:
algumas questões em torno da relação telégrafo e imprensa 1880-1920”,
trouxe importantes contribuições na medida em que chama a atenção para a
problematização da imprensa enquanto fonte histórica, uma vez que a autora a
25
compreende como “Uma prática social constituinte da realidade social, que
modela formas de pensar e agir, define papéis sociais, generaliza posições e
interpretações que se pretendem compartilhadas e universais”. Salienta a
necessidade de investigação dos silêncios e omissões da imprensa, como os
jornais narram o acontecido, necessidade de avaliação da freqüência com que
sujeitos e assuntos aparecem nos jornais.
A obra de lio Assis Simões, “O Dilema da Participação Popular A
etnografia de um caso”, também contribuiu teoricamente para esta pesquisa.
Fundamentada no período entre 1983 e 1988, no município de Diadema, situa
a administração Gilson Menezes no quadro político-ideológico do Brasil,
analisando as particularidades do PT enquanto partido surgido dos movimentos
populares, gerando grande expectativa nos diversos segmentos sociais, uma
vez que se propunha um governo “popular, transparente e democrático”, num
contexto histórico ainda marcado pelo autoritarismo do regime militar.
O autor analisa as lideranças do município e as disputas políticas com a
oposição e mesmo as lutas internas do PT, entre diretório municipal e entre os
diversos setores do governo, que nos permitem melhor compreender as
diferentes políticas adotadas no sentido de garantir a “participação popular” nas
decisões administrativas. Descreve a história política do município, o que muito
auxiliou na compreensão das relações existentes entre poder local e poderes
estadual e federal. Também analisa o processo de ocupação urbana de 1950
até a década de 80, situando os principais problemas enfrentados pelo prefeito
Gilson Menezes, principalmente no que se refere à urbanização de favelas.
A análise da formação do PT em Diadema e o estudo da trajetória
política de membros da administração pública municipal possibilitaram melhor
compreensão das ações e objetivos da primeira gestão Gilson Menezes, bem
como os embates travados principalmente no que se refere às formas de
mobilização da população através dos conselhos, comissões e outras
organizações já existentes antes do governo petista, como as Sociedades
Amigos de Bairro, a serem analisados no decorrer dos capítulos que
desenvolvo.
26
Marilena Chauí é outra referência importante, quando se discute sobre
PT e a imprensa da década de 80, até o momento de conclusão deste trabalho,
em 2006. No artigo publicado na Folha de São Paulo em 16 de maio de 1983,
analisou o papel da chamada “grande imprensa” frente à eleição de Gilson
Menezes em Diadema, muitas vezes, “minimizando” o ocorrido ou tratando-o
com certa “comicidade”, pelo fato de um operário aventurar-se a administrar
uma cidade. Nesse artigo, Chauí chama a atenção para programas e ações do
governo, que segundo sua ótica, caracterizaram “um governo de trabalhadores
com trabalhadores”, que o mereceram destaque por parte dos jornais da
imprensa paulistana. Vinte anos depois, diante das constantes denúncias ao
Governo Luís Inácio Lula da Silva (2002-2006), intensificadas nos dois últimos
anos do Governo, a filósofa aponta para o discurso utilizado pela mídia, que
reforça a idéia “do tudo igual”, principalmente no que se refere à corrupção e a
construção da “crise”, que segundo a mídia assola o Governo.
17
No capítulo 1, “Diadema, a cidade-laboratório do PT
18
, selecionei as
matérias da grande imprensa que analisaram a administração de Diadema,
tendo como foco o significado do PT no poder, uma vez que o partido trazia a
concepção de uma nova forma de governar, buscando a participação popular.
Procuro identificar quais foram as posições das diferentes fontes frente a um
governo que se propunha a democratizar as relações de poder, identificando
quais foram os sujeitos sociais que tiveram visibilidade.
A formação da assessoria de imprensa e a publicação dos Informativos
Municipais foram analisadas no primeiro capítulo, por constituírem importante
fonte de diálogo com a grande imprensa paulistana e o Diadema Jornal, sendo
também um espaço de contestação das matérias que eram veiculadas pelos
jornais paulistanos de circulação nacional, no caso o OESP, a FSP e o JT.
Priorizei os dois primeiros anos da gestão, em que havia uma grande
expectativa de como seria a primeira experiência administrativa do Partido dos
Trabalhadores, no sentido de verificar se realmente seria coerente com suas
propostas de transparência, honestidade e governo participativo. O ano de
17
Marilena CHAUÍ. A Crise é um produto da mídia. Revista Caros Amigos, p. 30-37.
18
A expressão “Diadema, cidade laboratório do PT” foi utilizada como título de uma matéria publicada
pelo OESP em 22 de maio de 1983, segundo a qual o Partido dos Trabalhadores tentava implantar em
Diadema um governo de participação popular que servisse de modelo para o Brasil.
27
1986, em que ocorreram eleições para governador, também foi enfatizado.
Devido ao fato de Diadema voltar a ser destaque na imprensa paulistana,
procurei relacionar as notícias publicadas sobre a cidade com os editoriais dos
jornais e com notícias do PT que foram publicadas nesse período, verificando
se os problemas eram referentes apenas à cidade de Diadema ou se o alvo a
ser atingido era o Partido dos Trabalhadores, uma vez que crescia nas
intenções de voto para o governo do Estado de São Paulo.
Procuro discutir o papel da imprensa escrita em relação a um governo
ligado aos movimentos sociais no período da abertura política,
contextualizando a administração Gilson Menezes dentro do processo de
reorganização da sociedade civil. Esse momento histórico é significativo na
medida em que ganha força a ação direta da população, nesse contexto
conforme afirma Eder Sader, com a “participação popular” fazendo parte do
discurso dos partidos e movimentos de oposição ao governo, com a idéia de
participação engajada à causa da justiça social. A eleição de Gilson Menezes
em Diadema, em 1982, é de suma importância nesse contexto histórico, pois
era um líder sindical, cassado no período da ditadura militar durante a direção
do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo - Diadema e, portanto,
representante das lutas populares. Essa vitória eleitoral estava ligada aos
movimentos que foram um dos elementos da transição política ocorrida entre
1978 e 1985. Eles expressaram tendências profundas na sociedade que
assinalavam a perda de sustentação do sistema político instituído(...). Havia
neles a promessa de uma radical renovação da vida política.”
19
Alguns representantes da administração municipal e representantes do
Partido dos Trabalhadores, em seus depoimentos citados nos artigos de
jornais, deixam claro essa vivência e crença no movimento social, como
observamos no trecho a seguir, que expõe a opinião de Luis Inácio Lula da
Silva, então presidente do PT, sobre a nomeação dos secretários de Diadema:
“Não medimos a capacidade de um homem pelo diploma
que ele tem. O prefeito tem o direito de escolher pessoas de sua
confiança independentemente de possuir ou não um curso superior,
28
mas levando em consideração seu compromisso com a luta da
população”.
20
Este argumento de Lula indica um debate presente no social sobre o
perfil dos dirigentes políticos onde a ênfase recai sobre a formação escolar
como parâmetro para avaliar lideranças políticas. Os que não possuem
formação universitária são freqüentemente julgados como incapazes para o
exercício da vida pública, como afirma Heloísa de Faria Cruz “O domínio dos
códigos letrados, ‘habilidade fornecida pelos bancos acadêmicos’ permeia o
‘discurso competente’ das elites e articula argumentos preconceituosos de
desqualificação das elites populares”.
21
É um momento de enfrentar
preconceitos e enfatizar a importância das lideranças que saem dos
movimentos.
Para a realização desse trabalho, é fundamental analisarmos a posição
dos jornais frente aos movimentos políticos e sociais que atuaram no processo
de abertura política, mas temos que compreender, conforme nos aponta Laura
Antunes Maciel, que afirma que a imprensa "assimila interesses e projetos de
diferentes forças sociais que se opõe em uma dada sociedade e conjuntura,
mas os articula segundo a ótica e lógica dos interesses de seus proprietários,
financiadores, leitores e grupos sociais que representa”.
22
No capítulo 2, Imprensa- Diadema - Desafios Locais, analiso quais
problemas da cidade foram priorizados pela grande imprensa, merecendo
destaque a existência do grande número de favelas, constituindo
aproximadamente 1/3 das habitações e o problema da violência, estudando
como as diferentes fontes posicionaram-se no que se refere à atuação da
administração diante dessas questões.
Procuro analisar qual a importância atribuída pela grande imprensa, pela
imprensa local e pelos informativos municipais, no que se refere à atuação dos
governos estadual e federal em Diadema, tendo em vista que representavam
projetos políticos diferenciados. Outro ponto fundamental do segundo capítulo
19
Eder SADER. Quando Novos Personagens Entraram em Cena, p. 313.
20
O Estado de São Paulo, 31/03/1983.
21
Heloisa de Faria CRUZ, São Paulo em Papel e Tinta – periodismo e vida urbana – 1890-1915, p. 17.
29
é a análise da visibilidade e o espaço que encontravam as Sociedades Amigos
de Bairro, os Conselhos Populares e os movimentos populares nas diferentes
fontes.
É fundamental analisarmos como se estruturou a cidade nesse período,
que espaços e sujeitos sociais foram privilegiados pela imprensa, tendo sempre
em vista, como nos aponta Laura A. Maciel, que "a leitura cotidiana, e crítica,
dos jornais exige um exercício para desvendar e cotejar seus múltiplos textos,
para estabelecer relações e nexos entre notícias apresentadas de forma tão
fragmentada e hierarquizada, para buscar descobrir o que não é dito ou o que
é apenas insinuado nas entrelinhas, esmiuçar significados em títulos e
destaques que, às vezes, invertem ou até desautorizam o conteúdo das
matérias; enfim para elaborar uma opinião e a crítica sobre a realidade em
meio ao poder e à universalidade das representações elaboradas diariamente
pelos jornais, precisamos realizar um trabalho árduo e uma intervenção ativa
para lidar com uma narrativa sobre os acontecimentos que se apresenta como
o próprio acontecimento, reivindicando uma condição de lugar de verdade na
produção do entendimento sobre a realidade social”
23
.
No capítulo 3, Gilson Menezes na Imprensa e a Questão da Nicarágua,
analiso a construção da imagem de Gilson Menezes pela grande imprensa,
pela imprensa local e pelos informativos municipais. A relação da
administração com os ideais e governos socialistas é realizada através do
estudo de artigos sobre o apoio da Prefeitura de Diadema ao Governo
Sandinista, analisando o posicionamento das diferentes fontes frente a essa
questão.
Este trabalho tem como objetivo contribuir na discussão das
transformações pelas quais passou a cidade nos últimos 20 anos, abordando a
ótica da imprensa. Muitos estudos foram feitos sobre Diadema, privilegiando
as diversas áreas de políticas públicas, onde a imprensa é citada, mas não
constitui a principal fonte de estudo, como aqui será apresentada.
22
Laura Antunes MACIEL, “ Produzindo Notícias e Histórias: algumas questões em torno da relação
telégrafo e imprensa – 1880/1920. In Déa Ribeiro FENELON et al. (Orgs.). Muitas Memórias, Outras
Histórias , p.15
30
Capítulo 1
“DIADEMA, A CIDADE LABORATÓRIO DO PT ”
Neste capítulo, procuro analisar os artigos que avaliaram o projeto
político do Partido dos Trabalhadores, tendo como ponto de partida a cidade de
Diadema, na primeira experiência administrativa do PT, no Executivo Municipal,
no Estado de São Paulo, em 1983 e 1984. Nesse momento, havia muita
expectativa da grande imprensa e dos movimentos populares frente a um
governo que se propunha popular e democrático. Em 1986, no contexto das
eleições estaduais, essa experiência administrativa era vista como uma vitrine
do PT. Utilizei como fontes os jornais: Folha de São Paulo, O Estado de São
Paulo e o Jornal da Tarde, o Diadema Jornal e os Informativos Municipais.
O estudo da formação da assessoria de imprensa e a caracterização dos
Informativos Municipais foram desenvolvidos neste capítulo, por constituírem o
principal meio de comunicação entre a administração e a população, sendo
também importante fonte de diálogo com a “grande imprensa” e o Diadema
Jornal, dando visibilidade às realizações do poder público municipal em
diversas áreas de atuação.
A primeira administração petista esteve inserida no contexto nacional
dos governos João Baptista Figueiredo (1979-1985) e José Sarney (1985-
1990), período marcado pela abertura política e pelo fortalecimento dos
movimentos populares, onde campanhas nacionais se consolidaram, como por
23
Laura Antunes Maciel, “Produzindo Notícias e Histórias: algumas questões em torno da relação
telégrafo e imprensa – 1880/1920. In Déa Ribeiro Fenelon et al. (Orgs.). Muitas Memórias, Outras
Histórias, p. 14-15.
31
exemplo, a luta pela Anistia em 1979, a Campanha pelas Diretas Já, que
culminou em 1984, e a convocação de uma nova Assembléia Nacional
Constituinte para 1986, aprovada em outubro de 1985, através da Emenda
Sarney. Essas lutas uniram diferentes partidos políticos, apesar das
divergências político-ideológicas já existentes.
De acordo com Maria Helena Moreira Alves, a política de abertura do
Governo João Baptista Figueiredo era definida “de modo a limitar a
participação de setores da população até então excluídos e permitir que o
Estado determine qual é a oposição aceitável, e qual é intolerável. Grupos
ligados aos movimentos sociais de trabalhadores e camponeses, fossem
seculares ou vinculados à Igreja, enfrentaram repressão contínua e
sistemática”
24
.
A partir da revogação do Ato Institucional . 5
25
, os movimentos
populares e as organizações de base se reestruturaram, ocorrendo alianças
entre as Comunidades Eclesiais de Base e o “novo movimento sindical” na luta
pela democratização do governo. O Partido dos Trabalhadores surgiu da
organização desses movimentos de base e do novo sindicalismo.
Em sua obra “Estado e Oposição no Brasil”, Maria Helena Moreira Alves
ressalta que “O Partido dos Trabalhadores (PT) cumpriu as exigências legais,
em 1980, em 20% dos municípios de 12 Estados. No final do ano seguinte o
partido atingira ovel mínimo de organização em um quinto dos Municípios de
19 Estados, com cerca de meio milhão de filiados. Era, portanto, o terceiro
maior partido de oposição. O PT nasceu das greves de 1978, 1979, 1980, em
estreita ligação com os movimentos de base rurais e urbanos e com a ação
social dos católicos progressistas. (...) Partido mais nitidamente de classe, o PT
congregou uma série de movimentos sociais, membros de associações de
moradores, comunidades de base, ativistas camponeses e sindicais. Contava
também com o apoio de intelectuais oposicionistas e de parte do movimento
estudantil. Por influência talvez dos animadores católicos, o PT adotou uma
forma de organização muito semelhante à das comunidades de base.
24
Maria Helena Moreira ALVES, Estado e Oposição no Brasil – 1964-1984, p.273.
25
O AI 5 foi instituído em 1968 e dava ao Presidente da República poderes para suspender direitos
políticos, cassar mandatos; intervir em municípios e Estados, fechar provisoriamente o Congresso
Nacional e demitir funcionários públicos.
32
Compunha-se de células organizadas ao nível das bases os núcleos-,
encarregados da organização e administração do partido” .
26
No período de 1983 a 1988, a grande imprensa deu visibilidade ao
município de Diadema. Havia na cidade e fora dela muita expectativa, uma vez
que pela sua origem e concepção de poder, o PT diferenciava-se dos demais
partidos, por manter uma relação mais estreita com os movimentos de base,
principalmente com o movimento operário, participando ativamente das lutas
sociais, não ficando restrito às disputas eleitorais e parlamentares. Durante a
década de 90, as reportagens sobre a administração municipal diminuíram
consideravelmente, pelo fato do Partido dos Trabalhadores ter vencido as
eleições em diversas cidades, inclusive São Paulo.
Os artigos publicados pela Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo
e o Jornal da Tarde durante a gestão Gilson Menezes, abordavam uma série
de questões sobre a administração, que muitas vezes ultrapassavam os limites
da cidade de Diadema e referiam-se às propostas do projeto político do PT.
Neste capítulo, analiso o diálogo que estabeleceram com a imprensa local e os
Informativos Municipais.
Inicialmente, os artigos da grande imprensa paulistana ressaltavam que
Diadema testaria a primeira administração petista do Brasil. Além desse
município o PT venceu em Santa Quitéria, uma pequena cidade do Maranhão.
A “incapacidade administrativa”, segundo a grande imprensa, era
enfatizada por vários artigos publicados principalmente pelo OESP e JT,
ressaltando o clima de terror existente em Diadema com aqueles que não
concordavam com as idéias do Partido dos Trabalhadores. Esses periódicos
priorizavam a questão dos escândalos envolvendo a gestão pública, com o
favorecimento de alguns membros do governo municipal e do Partido. Os
conflitos entre a administração e os servidores também mostravam, segundo
os jornais citados, a “incoerência e contradição” do PT enquanto governo e
como oposição, pelo fato do Partido ter surgido do movimento sindical, mas
enquanto administração entrava em confronto com o movimento dos
funcionários municipais, que reivindicavam seus direitos.
26
Maria Helena Moreira ALVES, Estado e Oposição no Brasil – 1964-1984, p. 330-331.
33
Houve a necessidade da organização de uma assessoria de imprensa
do Governo Municipal para acompanhar, contestar e pedir esclarecimentos
sobre as publicações jornalísticas e também para divulgar as realizações da
Prefeitura, prestar contas e esclarecimentos à população, através de um meio
próprio de comunicação. O principal veículo para esse fim foi o Informativo
Municipal, que se constituiu num importante material para compreendermos o
momento de redemocratização do país, em que novos sujeitos políticos
atuavam em novos espaços políticos, ultrapassando os limites da democracia
representativa.
Além de se conhecer os problemas existentes no município, através dos
informativos municipais, percebe-se a preocupação em chamar a atenção da
população para o debate de temas fundamentais para a sociedade brasileira,
como a Campanha das Diretas e a participação na Constituinte, ou seja, a
prefeitura não apenas administrava a cidade, mas estava engajada nas lutas
pela democratização do país, dentro de um projeto que visava uma sociedade
igualitária e participativa não nacionalmente, mas também com as lutas
internacionais, como a Campanha de Solidariedade à Nicarágua.
Os Informativos Municipais tinham como principal objetivo divulgar as
ações da PMD, ressaltando a atuação e os projetos dos diversos
departamentos, salientando os Conselhos Populares, marca da gestão
administrativa baseada na participação popular. Sua circulação era restrita ao
município e procurava atingir os diversos segmentos sociais, através de uma
linguagem e composição gráfica de fácil acesso e distribuição gratuita nos
equipamentos da prefeitura, diferindo da grande imprensa e imprensa local,
comercializadas nas bancas.
Para analisar os Informativos, empreendi uma árdua busca pelo Centro
de Memória de Diadema, no Diretório Nacional do PT e, finalmente, com a
jornalista Laís Oreb, responsável pela assessoria de imprensa no período em
questão, com quem tive acesso a todos os números publicados de 1983 a
1988. O depoimento de Laís foi fundamental para reconstituir a trajetória da
estruturação da assessoria, os principais objetivos do trabalho desenvolvido
junto à população, além das dificuldades encontradas com relação à imprensa
local e, principalmente, quanto à “grande imprensa”. O depoimento de Gilson
34
Menezes também foi muito importante, embora não tenha sido gravado por
razões técnicas, mas mesmo assim, trouxe elementos que mostraram a
importância da experiência sindical no trabalho da assessoria de imprensa.
No início da administração municipal não havia canais de comunicação
com a população, como boletins ou jornais. O primeiro Boletim Informativo foi
publicado em 15 de agosto de 1983, ou seja, seis meses após a posse de
Gilson Menezes, e trazia os principais objetivos da gestão:
“A Prefeitura resolveu fazer um boletim informativo para que
a população saiba o que a Administração Gilson Menezes anda
fazendo. Em cada número vamos contar o que esacontecendo nos
vários Departamentos e o que a Prefeitura está oferecendo à
comunidade. Diadema é um município com sérios problemas de
longos anos e a atual Administração está resolvendo alguns, mas
para isso, precisa da ajuda da população que deve organizar-se e
reivindicar melhorias não só para si, mas para todos
27
.
Esse documento ressalta a posição da Administração frente à
necessidade de organização da população, ou seja, chama os moradores a
reivindicarem melhores condições de vida no município, não para resolverem
os problemas individualmente, mas salientando sempre o caráter coletivo da
luta e das reivindicações. Essa “matriz discursiva”
28
está presente tanto nas
Comunidades Eclesiais de Base como no novo sindicalismo dos anos 70, na
medida em que existia uma convocação para a luta através da comunidade, de
grupos solidários em busca de decisões conjuntas.
A década de 80 foi marcada pelo surgimento do novo sindicalismo e
também pela ligação que existia entre os diversos sindicatos que começaram a
se reorganizar na busca de interesses que tinham como objetivo a
27
Boletim Informativo n°1, 15/08/1983.
28
Eder SADER, no capítulo 3 do livro Quando Novos Personagens Entraram em Cena” , identifica
três matrizes discursivas que reelaboram a ótica das lutas populares: a matriz da Teologia da Libertação,
presentes nas CEB’s, a matriz sindicalista e a matriz dos grupos de esquerda. As duas primeiras possuem
o reconhecimento imediato por estarem próximas ao cotidiano popular e compreendendo-o como local de
resistência.
35
redemocratização do país. A estruturação da assessoria de imprensa da
Prefeitura de Diadema é um bom exemplo.
Ao ganhar a eleição, Gilson Menezes solicitou a Davi de Moraes, então
presidente do sindicato dos jornalistas de São Paulo, que indicasse alguns
nomes para a assessoria de imprensa do município de Diadema. A jornalista
Lais Fagundes Oreb foi convidada para ser responsável por esse setor,
conforme depoimento dado pela mesma. Antes do governo petista, o assessor
de imprensa do prefeito Lauro Michels, que antecedeu essa gestão, era
também o proprietário do Diário do Grande ABC, importante jornal regional. A
principal função desse assessor era ser porta-voz do prefeito, não existindo
uma estrutura que possibilitasse a cobertura de todas as ações da prefeitura.
É importante indicarmos as principais lideranças políticas da cidade
antes da eleição de Gilson Menezes, para melhor compreendermos o
significado da administração petista.
29
A emancipação política de o Bernardo do Campo ocorreu em 24 de
dezembro de 1958, através de um plebiscito, e em 1960, foi realizada a
primeira eleição municipal. Desde essa data até a administração do Partido dos
Trabalhadores ,em 1983 , Diadema passou por cinco administrações. Julio
Assis Simões analisa que a criação de novos municípios e distritos fez parte,
inicialmente da estratégia de liberalização política conduzida por Getúlio
Vargas, a fim de rearticular alianças no plano local com vistas à restauração da
competição eleitoral (suprimida pela ditadura estadonovista). No período
democrático, a criação de municípios permaneceu um importante instrumento
nas transações efetuadas por lideranças estaduais e federais para
reestabelecer bases de apoio locais”.
30
O primeiro prefeito de Diadema foi o professor e contador Evandro
Esquível, um dos emancipadores mais ativos do município. Exerceu seu
primeiro mandato de 1960 a 1964, eleito pelo PTN (Partido Trabalhista
Nacional), segundo Julio de Assis Simões “um dos braços do janismo”.
29
As informações sobre os prefeitos de Diadema e suas respectivas administrações foram obtidas no livro
“Diadema: sua História”, escrito por Sylvia Ramos Esquível, ex-primeira-dama do município, na obra
“O Dilema da Participação Popular” de Julio de Assis Simões e também no livro” De Menor a
Cidadão”, que analisa as políticas assistenciais em Diadema, de autoria de João Clemente de Souza Neto.
30
Julio Assis SIMÕES. O dilema da participação popular- a etnografia de um caso, p.50.
36
Esquível tinha grande influência junto aos sitiantes e comerciantes de Vila
Conceição, um dos bairros que compunham Diadema. Tinha grande rede de
contatos na cidade e fora dela, principalmente devido a atividades relacionadas
a transações comerciais de terras na região. Antes de ser prefeito exerceu o
mandato de vereador em São Bernardo do Campo em 1947. Aumentou seu
prestígio por ter implantado um curso de alfabetização de adultos na Vila
Conceição, por ter sido o responsável pela construção da Casa Paroquial e do
cartório, na década de 50. Desde esse período, lutou pela emancipação de
Diadema.
Na primeira eleição em 1960, concorreu com o adhemarista Lauro
Michels, do PSP (Partido Social Progressista), que durante os anos 60 e 70,
tornou-se um importante político local, além de ser pecuarista e empreendedor
imobiliário. Vencendo por uma pequena diferença de votos, na sua primeira
gestão Esquível concedeu isenção de impostos para empresas que se
instalassem na cidade por um período de até seis anos, medida que acarretou
um crescimento industrial e urbano.
Esquível e Michels consolidaram-se como importantes políticos e
disputaram o poder a a década de 70, procurando o apoio de lideranças
locais e dando grande estímulo à formação de associações de moradores, que
serviam como base eleitoral.
Lauro Michels exerceu a segunda gestão de Diadema no período de
1964 a 1968, também estimulando o desenvolvimento industrial do município,
atraindo indústrias de pequeno e médio porte, voltadas a complementar as
montadoras de automóveis que se estabeleceram em São Bernardo do
Campo. O Governo Municipal facilitava a aquisição de terrenos e se
comprometia a providenciar infra-estrutura urbana.
De 1969 a 1973, Evandro Esquível assumiu novamente a Prefeitura,
desta vez pela ARENA, sendo conivente com o regime militar. Nesse período,
houve o desenvolvimento de microindústrias no ABCD paulista, o que causou
graves problemas, de acordo com Simões: “empurraram os loteamentos
populares para reservas de terra barata, nas proximidades do Parque do
37
Estado, ao norte do município e, sobretudo da represa Billings ao sul”.
31
Os
primeiros gestores deram maior atenção aos incentivos fiscais para a
instalação de indústrias do que para a regulamentação do uso do solo urbano,
o que fez com que os problemas se agravassem dado o grande afluxo de
pessoas que chegavam aos municípios, atraídos pela industrialização.
Ricardo Putz, com o apoio de Michels, foi eleito prefeito e governou de
1973 a 1977 De acordo com Julio Assis Simões, “surgiu como representante de
lideranças de camadas médias professores, funcionários públicos, pequenos
industriais e comerciantes em ascensão no município empunhando a
bandeira da ‘renovação’”.
32
Elaborou o plano diretor de zoneamento, concluiu a
construção do Paço Municipal e pressionou o Governo Estadual para ampliar o
número de escolas no município. Em sua gestão, iniciou um programa de apoio
à moradia econômica, assessorando projetos de auto-construção. Ao enfrentar
algumas restrições, por ser considerado prefeito da oposição, Putz aderiu à
ARENA, o que causou reações do MDB local.
Em 1976, Lauro Michels foi novamente eleito pelo MDB, governando de
1977 a 1983. No seu mandato, priorizou projetos de urbanização nas áreas
centrais, onde se localizava grande parte do comércio. Iniciou o saneamento
básico da cidade e construiu o prédio da divisão de cultura, composto de
biblioteca e teatro, além do ginásio esportivo. Essas construções localizavam-
se no centro do município, contrastando com a pobreza das regiões periféricas.
Assim como Putz, Michels também se desligou do PMDB e aproximou-
se do governo Maluf, eleito pela ARENA, para obter financiamento para obras
por ele consideradas sociais, como a construção de postos de puericultura. De
acordo com Simões ao final do governo, em 1982, Diadema já possuía 300.000
habitantes, sendo que um terço morava em favelas: “A crise econômica
nacional do início dos anos 80, repercutiu imediatamente em Diadema, com o
fechamento de pequenas indústrias e o aumento do desemprego. Foi com este
quadro pouco promissor que a gestão Gilson Menezes teve de se defrontar de
saída”
33
.
31
Julio de Assis SIMÕES – O dilema da participação popular - a etnografia de um caso, p. 60.
32
Julio de Assis SIMÕES. O dilema da participação popular – a etnografia de um caso, p. 61.
33
Ibid, p.65.
38
Os problemas de Diadema eram inúmeros no início da década de 80.
Segundo o documento “PT Diadema 21 anos com você”, para que o Partido
dos Trabalhadores pudesse concorrer às eleições municipais, era necessária a
filiação de 600 pessoas. Em junho de 1981, 775 pessoas filiadas ao Partido
realizaram a Convenção Municipal, que indicou Gilson Menezes para prefeito.
Pela legislação eleitoral do período o mesmo partido podia inscrever mais de
um candidato, vencendo o mais votado dentro da legenda com maior número
de votos. Com isso muitos partidos inscreveram até três candidatos, como
podemos observar:
Resultados da votação para prefeito de Diadema, em 1982
34
Candidatos/Partidos Nº Absoluto de
Votos
%
Gilson Menezes
PT
23.310
23.310
27,80
Romeu C .Pereira
Orlando Annibal
Francisco Guillen
PMDB
11.411
6.525
4.696
22.632
13,61
7,78
5,60
26,99
Marion Magali
Jorge Ferreira
Ricardo Putz
PTB
14.155
4.680
3.108
21.943
16,88
5,58
3,71
26,17
PDS
(Eiziro Okasaki)
4.277 5,10
PDT
100 0,12
Brancos
Nulos
3.610 4,30
TOTAL
83.838 100,00
Fonte: Tribunal Regional Eleitoral
34
Julio Assis SIMÕES. O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso, p.92.
39
As administrações anteriores a Gilson Menezes adotaram políticas de
expansão industrial e priorizaram o investimento nas áreas centrais do
município, sendo que a rápida expansão urbana não foi acompanhada com
obras de infra-estrutura.
Assumindo o poder municipal em 1983, Gilson enfrentou sérios
problemas principalmente nas regiões periféricas, como por exemplo, a falta de
saneamento básico e a necessidade de urbanização das favelas. Para resolver
esses problemas, era necessário criar canais de comunicação com a
população, buscando maior participação na definição de prioridades. O
primeiro passo para essa aproximação entre poder público e munícipes foi a
formação da assessoria de imprensa.
Na entrevista de Laís Oreb, responsável pela assessoria de imprensa,
ela deixa claro que seu papel não era de porta-voz do governo, mas sim a de
facilitar o acesso da imprensa ao governo e vice-versa.
“Quando eu fui para então o que existia era uma sala, uma
máquina de escrever elétrica e duas escrivaninhas, (...). me
arrumaram uma secretária e era uma secretária para atender
telefone, ela começou ao mesmo tempo a recortar jornal, a fazer um
arquivo de jornais, que é imprescindível numa assessoria de
imprensa não só arquivar, como fazer um caderninho, que a gente
chamava de caderninho. Nós fazíamos um caderninho diário de todas
as matérias que tinham saído de Diadema, ou então de alguma coisa
assim muito importante a nível político tanto nacional como estadual e
mandava xerocar e aí mandava para o prefeito e depois para os
secretários. Na época não eram secretarias, eram departamentos,
mas os então na época secretários também começaram a pedir os
nossos caderninhos, então essa menina que era secretária todo dia
de manhã ele chegava recortava tudo que tinha saído sobre
Diadema, mandava xerocar, fazia os caderninhos, mandava entregar
nos departamentos e deixava para o prefeito ler.
Nesse depoimento, fica evidente que a preocupação inicial era levantar
e analisar o que estava sendo publicado sobre Diadema na imprensa local e
nacional para análise da administração. As publicações eram realizadas
40
através de um esforço individual e posteriormente da equipe, para estruturar
esse departamento.
“O primeiro informativo fui eu que fiz na máquina elétrica ,
inclusive eu fiz num final de semana, porque como a confusão era
muito grande, então eu fui num sábado e levei meu filho para poder
fazer o boletim tranqüila (...)”.
Boletim Informativo nº. 1 publicado em 15 de agosto de 1983.
Através desse informativo, constata-se que a Prefeitura buscava criar
canais de comunicação que facilitassem e consolidassem a relação entre o
41
Poder Público e a população. O próprio documento indicava que os pontos de
distribuição eram fundamentalmente o transporte coletivo e os equipamentos
públicos, freqüentados pela maior parte da população (escolas, postos de
saúde, entre outros), ou seja, a administração criava mecanismos de
distribuição para veicular as informações, o que também era feito pela
imprensa sindical e movimentos populares, no final da década de 70 e nos
anos 80.
Os informativos valorizavam a participação política da população, para
que o poder pudesse ser compartilhado com a administração. O primeiro passo
para essa interação era cumprir o dever de informar a sociedade sobre as
ações realizadas pelo Governo Municipal.
Analisando esse material, observei que as primeiras publicações
lembravam muito os informativos sindicais, apresentando uma linguagem
simples e direta, como por exemplo, a mensagem “Leia e passe adiante”, que
como o próprio Gilson Menezes destacou era uma herança do movimento
sindical do qual ele próprio foi uma das lideranças.
De agosto a novembro de 1983, os boletins informativos eram
quinzenais, em tamanho ofício e com duas páginas, passando a ser mensais
dessa data até agosto de 1984. Entre 1985 e 1988, não houve uma
periodicidade constante entre os informativos, pelo fato da assessoria passar a
investir mais na publicação dos números especiais, editados normalmente em
fevereiro ou março, que consistiam na prestação de contas da ação da PMD
nas diversas áreas, editados em tamanho tablóide, com 16 páginas em média.
Além dessas publicações anuais da administração, havia edições
especiais dos informativos, mobilizando a população para campanhas
nacionais, como foi o caso das Diretas e mesmo internacionais, como a
Solidariedade à Nicarágua, ou discutindo questões do município, como a usina
de reciclagem de lixo e a municipalização dos transportes coletivos.
A partir de 1984, a assessoria de imprensa passou a ter um setor
fotográfico, que priorizava as realizações da prefeitura e a organização dos
movimentos, sempre mantendo uma linguagem simples e direta, muitas vezes
acompanhada de desenhos explicativos , que facilitavam a compreensão do
42
texto escrito . A importância dos informativos para esclarecimento dos pontos
negativos levantados pela grande imprensa sobre a administração petista ficou
clara na fala da jornalista responsável pela assessoria de imprensa e, para que
esse objetivo fosse levado adiante, era necessária a formação de uma equipe.
“quando chegou no final de 83, em dezembro de 83, eu fiquei
doente, fiquei com úlcera , tive que tirar uma licença (...) aí quando eu
voltei eu fui falar com o Gilson que eu sozinha não tinha condições
de tocar a assessoria e que eu queria implantar um outro esquema,
eu queria mais um jornalista para trabalhar comigo, porque eu queria
dividir as funções, por exemplo um jornalista que cobrisse obras,
cultura, educação, uma outra pessoa para cobrir saúde, para a gente
acompanhar e ter noticiário de todos esses setores, então foi assim
que eu chamei . Veio a Iara para trabalhar comigo, ela trabalhava no
Diadema Jornal, eu conhecia o trabalho dela e ai eu chamei a Iara
para trabalhar comigo e , depois de um tempo também trabalhava
no Diadema Jornal a Sueli. Eu chamei a Sueli para trabalhar
comigo, ela saiu do Diadema Jornal e veio para a assessoria.
“Ao mesmo tempo a gente também começou a fazer os
informativos. Para fazer o primeiro informativo municipal, não eu
como a própria diretoria, as pessoas reclamavam muito que os jornais
não divulgavam as coisas boas que a administração tava fazendo,
uma série de novos projetos, discussão do orçamento com a
população, urbanização de favelas, então a gente resolveu fazer
informativos, então o primeiro informativo que eu fiz, eu fiz na
máquina elétrica, mas eu achei que tava muito primário, precisava
melhorar.”
“Conversando com o Gilson, a gente acabou montando, já
existia uma gráfica, mas ela estava praticamente destruída. Ela foi
renovada, ai tinha uma equipe, algumas pessoas que trabalhavam no
departamento de planejamento que entendiam de artes gráficas,
então vieram também para ajudar na assessoria de imprensa, então a
gente arrumou um diagramador, um ilustrador e eram todos
funcionários da prefeitura, então a gente começou a fazer os boletins
informativos com essa pequena infra. Foi ampliando, a gráfica se
modernizando e a gente, os meninos que faziam ilustração,
diagramação, também foram melhorando o departamento e a gente
43
acabou imprimindo e fazendo não os informativos, como convites,
festas de inauguração(...)
·35
.
Na entrevista de Laís, observamos que um dos motivos que levou a
administração à criação dos informativos foi o fato da grande imprensa não
noticiar as realizações da gestão, portanto, esta foi a forma encontrada de
divulgar as ações da prefeitura para a população do município. Segundo
Liedtke , “a mídia influencia a política (tanto a sociedade como o governo), pois
nutre o povo diariamente com informações que ao mesmo tempo orientam o
poder público para determinadas ações vinculadas aos interesses midiáticos. O
governo também depende disto para dar visibilidade à sua gestão, para
fundamentar seus discursos, para formar sua imagem governamental, enfim
para disputar a hegemonia”
36
. Em Diadema constatamos a necessidade
urgente de buscar canais próprios de comunicação, uma vez que a grande
imprensa salientava a “incompetência administrativa” e as “contradições” da
administração petista.
O aparelhamento da gráfica foi noticiado no Informativo de agosto de
1984, tendo a preocupação de justificar que essa melhoria não era apenas
para imprimir os Informativos Municipais. O artigo teve o cuidado de mostrar
que a gráfica era importante para todos os departamentos da PMD, visando o
melhor atendimento dos serviços prestados à comunidade. Essa explicação
parecia mais direcionada à oposição, que poderia questionar os Informativos
como propaganda política paga com dinheiro público.
“Até novembro do ano passado os impressos
municipais eram feitos por firmas particulares e isso acarretava
grandes gastos para os cofres públicos. Por isso, neste período, a
Prefeitura adquiriu a impressora mais moderna e todo o material
passou a ser confeccionado com mão-de-obra própria, diminuindo as
despesas do setor. (...)
35
Entrevista de Lais Oreb à pesquisadora, 30/01/2006.
36
Paulo Fernando LIEDTKE. A esquerda presta contas – comunicação e democracia nas cidades, p. 76 e
77.
44
“Com oito funcionários, a Gráfica Municipal roda por
mês de 370 a 400 mil papéis dos 180 modelos diferentes existentes
na Prefeitura. Esses modelos são impressos fiscais, guias de
recolhimento, controles internos, alvarás de alinhamento de obras,
termos de regularização, guias de encaminhamento médico, processo
e empenhos de compras, receituários, passes gratuitos para os
ônibus, pastas de processo, etc., além de folhetos e esse Informativo
Municipal. ”
37
A proposta da administração era utilizar os recursos tanto humanos
quanto materiais, existentes no município. Mesmo as jornalistas que foram
convidadas a fazer parte da assessoria não pertenciam ao quadro de
funcionários, mas trabalhavam no jornal local e tinham afinidades políticas com
a proposta da administração pública local. A divulgação do material produzido
pela assessoria de imprensa era realizada através da utilização dos
equipamentos da Prefeitura, como as escolas, postos de saúde, ônibus, enfim,
locais de fácil acesso popular. A distribuição também era realizada por
funcionários da PMD, como podemos analisar no depoimento abaixo:
Quando a gente começou a fazer a campanha da usina de
compostagem de lixo, a gente usava os próprios caminhões que
recolhiam lixo, a gente usava o próprio pessoal para distribuir os
folhetos nas casas.
A gente mandou fazer umas caixinhas de madeira, na
própria marcenaria da prefeitura e a gente colocou essas caixinhas
nas Unidades Básicas de Saúde, nas escolas e colocava os
informativos dentro pra pessoas pegarem, além de distribuir em
feiras, mas nesses locais de grande acesso do público e ai colocava
os informativos para as pessoas pegarem, foi indo, foi
caminhando
38
.
Essas práticas utilizadas mostram que a Prefeitura não contava com
apoio dos grandes meios de comunicação e não possuía muitos recursos
37
Entrevista de Lais Oreb à pesquisadora, 30/01/2006.
38
Entrevista de Lais Oreb à pesquisadora, 30/01/2006.
45
financeiros para fazer a divulgação de suas obras e ações, utilizando assim
práticas dos movimentos sindicais e de bairro. O retorno da população às
chamadas dos informativos pode ser avaliado pela participação nos Conselhos
Populares e nos movimentos que se organizavam reivindicando melhorias para
a cidade, já que esta era uma ação valorizada nos Informativos Municipais.
A pauta dos informativos era discutida nas reuniões de Diretoria,
conforme depoimento de Lais Oreb:
“Em geral , a pauta a gente fazia, como eu participava de
todas as reuniões de Diretoria, praticamente a gente acabava
definindo a pauta do que era prioritário sair no jornal, era discutido
pelos diretores todos e praticamente eles designavam a pauta. É
lógico que a gente também sugeria alguns assuntos, às vezes era um
assunto que a gente achava que não dava uma pauta, então não digo
que havia uma discussão específica sobre do que sair no boletim,
mas a própria reunião acabava fornecendo os assuntos.”
“Depois quando a gente fazia o boletim eu levava sempre
para o Gilson. Tinha isso, eu achava que o prefeito era a autoridade
máxima, era ele que responderia pela Prefeitura, ele teria todo direito
de ler o que ia sair no informativo, então levava para ele ver, ele via e
olha... que eu lembre dificilmente a gente teve alguma coisa que
tivesse que ser mudado, ou que não tenha gostado e mesmo nesse
apoio á Nicarágua, mesmo nas questões políticas até maiores que
saiam da esfera de Diadema também eram discutidas em reuniões de
Diretoria e ai o Gilson, às vezes, chamava e pedia que fizesse
material a respeito e daí a gente fazia essa matéria. Agora a última
palavra era sempre dele, afinal de contas se desse algum problema
era ele que tinha que responder então nada mais justo do que ele ver
(...)”
39
.
Além de a assessoria ter uma grande preocupação com os Boletins
Informativos de prestação de contas, que eram balanços anuais da gestão, em
1987 foi criada a TV Diadema, julgando ser um meio mais eficaz de atingir a
população, esclarecendo sobre os serviços prestados pela Prefeitura.
39
Entrevista de Lais Oreb à pesquisadora, 30/01/2006.
46
Infelizmente o material produzido em vídeo não foi preservado pela gestão que
sucedeu Gilson Menezes e a equipe que o produziu não possui mais cópias do
material.
“Todo ano mais ou menos em fevereiro, o Gilson fazia um
comício de balanço, isso foi feito durante toda a administração. Em
todos os anos, em fevereiro, se via um local, às vezes a Praça da
Moça, às vezes em algum bairro, e nós fazíamos um boletim. No
último foi até um jornal de balanço da administração, contando tudo o
que tinha acontecido naquele ano, como a prefeitura tinha trabalhado
durante aquele ano. Isso foi nós que fizemos durante a administração
do Gilson.
Em 87, a gente achou que só o informativo,a parte escrita
atingia a população, mas a gente achou que a imagem sempre
atingiria bem mais, então a gente resolveu criar a TV Diadema, ai pra
isso foi uma pessoa contratada pela Prefeitura, o Paulo Santiago, ele
entendia de vídeo, ele deu um curso para funcionários da Prefeitura e
ai acabou se formando uma equipe pra televisão e acabou se
comprando uma ilha de edição pra poder editar os vídeos lá e o
equipamento todo. Ai a gente trabalhava em conjunto, a assessoria
de imprensa fazia a parte de levantamento, escrita de tudo que
ocorria e a televisão fazia a imagem e assim a gente começou a
produzir vídeos em Diadema sobre o que a Prefeitura fazia.
Se chegou, inclusive, a ter uma Kombi com uma televisão em
cima da Kombi que ia para os bairros e mostrava , falava. Se era
uma escola, como foi construída, se contava um pequeno histórico e
se fez um jornal e chegou até se fazer a TV na Praça, que era um
telão, que a gente passava uma espécie de um jornal, que eram as
coisas que a Prefeitura tava fazendo e depois projetava filmes da
época, que interessassem à população, filmes do circuito comercial,
mas que a população gostaria de assistir, e assim a TV Diadema foi
implantada e continuou pelas administrações que vieram.”
40
.
A preocupação em atingir a sociedade era evidente, sempre como uma
via alternativa, uma vez que não havia o apoio dos meios de comunicação. As
formas de motivar a população eram variadas. O chamariz poderia ser o filme
do circuito comercial, mas havia um objetivo maior que era informar as
47
realizações da Prefeitura, estabelecendo novos canais de informação, no caso
a TV Diadema.
Na imprensa local, no caso o Diadema Jornal, prevaleceram os temas
da chamada “grande imprensa”, que eram abordados mas de forma
diferenciada. A desqualificação da administração e do Partido dos
Trabalhadores era menos contundente, uma vez que parte do jornal era
ocupada por matérias pagas do poder municipal. Existia maior espaço para a
oposição que não era homogênea, sendo formada por diversos partidos:
PMDB, PDS e PTB. A população também se manifestava no periódico através
das diversas organizações que a representavam, como por exemplo, as
Sociedades Amigos de Bairros ou as lideranças dos movimentos.
O Diadema Jornal foi fundado em 1963, tendo Alicio Capel como
jornalista responsável. Circulava às quartas-feiras e sábados, tendo oito
páginas em 1984, e, a partir de 1985, doze páginas. Era composto, em grande
parte, por propagandas e classificados do comércio e prestação de serviços do
município. Cobria os acontecimentos nacionais, seguindo normalmente a pauta
da grande imprensa e trazia informações dos acontecimentos locais,
enfatizando a atuação das Sociedades de Amigos de Bairros e dos vereadores
ligados ao PMDB, que atuavam junto ao Governo Estadual, na época,
administrado inicialmente por Franco Montoro e, posteriormente por Orestes
Quércia, para conseguirem melhorias necessárias ao município. Notícias
esportivas, culturais e policiais também compunham o periódico.
O DJ se constitui numa importante fonte de diálogo com os Informativos
Municipais e com a chamada “grande imprensa”, por abordar de forma mais
pormenorizada os embates políticos do município, principalmente entre
Executivo e Legislativo, e por destinar espaços a leitores de vários segmentos
sociais, possibilitando analisar as diferentes visões acerca da atuação do poder
público local.
A posição do Diadema Jornal frente às grandes questões nacionais do
período, como o Movimento das Diretas Já, a Constituinte e a luta contra a
inflação, seguiam a pauta da imprensa diária paulistana, que valorizava esses
40
Entrevista de LAÍS Oreb à pesquisadora, 30/01/2006.
48
temas, embora de forma diferenciada, na medida em que o objetivo da grande
imprensa era analisar o posicionamento do PT nacionalmente. a imprensa
local discutia essas temáticas focalizando a ação da administração Gilson
Menezes.
A atuação de Gilson Menezes foi muitas vezes analisada abordando o
contexto nacional, como na matéria publicada em 13 de junho de 1984, cuja
chamada na primeira página tinha o seguinte título “Gilson em Osasco fala das
dívidas e das Diretas Já”. Além da presença do prefeito, era ressaltada a
participação do senador Fernando Henrique Cardoso, na época uma das
principais lideranças do PMDB, “que pronunciou uma palestra sobre
Administrações Municipais e partidos políticos, enfatizando a necessidade da
mobilização popular em torno das Diretas Já”.
Como o movimento pelas eleições diretas envolveu vários partidos
políticos, o periódico destacava não a importância dessa luta, como também
a ação do prefeito de Diadema, que nesse momento estava em consonância
com o PMDB e demais partidos envolvidos na Campanha. A mesma situação
percebemos com os programas voltados à atenuação da miséria, como por
exemplo, a distribuição de leite à população pobre, que mereceram destaque
da imprensa nacional e local bem como o Plano Cruzado, que confluiu os
interesses da imprensa. É importante lembrar que o período referente à
pesquisa foi marcado pela inflação alta, recessão, desemprego e a questão do
congelamento de preços e salários. As ações governamentais nesse âmbito
foram destacadas com freqüência em diversos artigos. Na questão do Plano
Cruzado e do tabelamento de preços, o DJ se empenhou em garantir os
objetivos do Governo Federal, como mostram as matérias abaixo:
Na edição de 8 a 11 de março de 1986, a principal manchete era:
Prefeitura e Câmara entram em guerra contra a Inflação”. O destaque é para a
economia nacional e a principal preocupação é com a inflação, com a charge
de um dragão representando a mesma. Na edição desse jornal, havia uma
“Tabela de Preços grátis para Você”, demonstrando o momento histórico de
combate a inflação no governo Sarney. O jornal local sempre destacava ações
conjuntas, que ultrapassavam o município para atingir um determinado
objetivo, como ocorreu em 1984, em que foi dada grande ênfase ao movimento
49
das “Diretas Já”. Também em 1986, na “guerra contra a inflação” do Governo
Sarney, com o tabelamento de preços na campanha “Fiscais do Sarney”, não
havia a priorização de um ou outro partido, mas sim a valorização da ação
conjunta no combate à inflação.
Ainda nesse tema, outros artigos foram escritos na edição de 9 a 11 de
abril de 1986 gina 3: “Fiscais da Prefeitura serão credenciados pela
SUNAB”. Na página 4: Atacadista de Diadema acusado de praticar
remarcação”, trazendo para o município a questão nacional da luta contra a
inflação.
Na edição de 9 a 11 de abril de 1986, a página 10 inteira trazia: “SUNAB
autua Lojas Brasileiras por desrespeitar tabelamento”, levando novamente o
tema nacional para a realidade local. Na edição de 12 a 15 de abril de 1986, na
página 3, temos: “Diadema organiza cruzada cívica contra a remarcação”,
percebendo-se que a campanha do governo federal foi encampada pela
imprensa local, mostrando também o engajamento do leitor nessa “cruzada
contra a remarcação”. Na coluna “O Leitor Escreve” temos: Denúncias de um
morador contra os comerciantes”, ou seja, este leitor via no jornal, uma forma
de ser ouvido, de buscar soluções ao problema da remarcação. O DJ seguia a
linha da imprensa diária paulistana trazendo as tabelas de preços, que no
período estudado foi responsável pelo aumento das vendas do jornal, ou seja,
uniam a função pública da imprensa com os objetivos comerciais da empresa.
Os informativos municipais trabalhavam esses temas nacionais, através
de um material direcionado à população, com grande preocupação didática,
trazendo explicações sobre a origem das lutas, a importância da participação
popular, sempre acompanhada das concepções e direcionamentos do Partido
dos Trabalhadores nos seus encontros e congressos. Esses informativos
procuravam responder as críticas da grande imprensa à administração petista,
e principalmente, noticiavam as realizações da administração nos diversos
setores.
Em alguns momentos, os informativos municipais deixavam de noticiar
apenas as ações desenvolvidas na cidade e abordavam questões nacionais e
mesmo internacionais, como por exemplo, os informativos que convocavam a
50
população a participar da Campanha das Diretas, que foi encampada pelo
Partido dos Trabalhadores que não dissociava a redemocratização das
instituições, das reivindicações de justiça social e econômica. Conforme
podemos analisar nas resoluções de Encontros e Congressos do PT , “lutamos
para que os trabalhadores derrubem a Ditadura Militar e coloquem por terra
não só suas falsas leis e sua falsa justiça, mas também a base econômica que
a sustenta”
41
.
No informativo municipal nº. 7 (2ª quinzena de janeiro/ 84), a matéria
sobre as eleições diretas ocupou a primeira página do informativo, deixando
claras as resoluções do Partido: “não basta apenas eleições diretas, o basta
votar em nome, é necessário votar em programas que tenham por base o
anseio do povo, como a revogação da Lei de Segurança Nacional, liberdade
sindical, pelo direito de greve e pelo fim das intervenções nos sindicatos (...)”.
Chama-nos a atenção o caráter didático dos informativos, principalmente
os que tratavam de questões de âmbito nacional e internacional, que tinham
como características as matérias curtas com linguagem simples,
acompanhadas por ilustrações, que auxiliavam na compreensão do texto
escrito, comum também na imprensa sindical dos metalúrgicos do ABCD.
42
No
informativo referente às eleições diretas temos:
“(...) Agora, fala-se em Colégio Eleitoral para, através
dele, ser escolhido o novo presidente do país. Mas, o que vem a ser o
Colégio Eleitoral? É a reunião de todos os deputados federais, mais 6
deputados das Assembléias Estaduais e senadores para designarem
o futuro presidente. Você eleitor, quando votou em 1982, sabia que
estava passando procuração para que deputados e senadores
votassem por você? Certamente a resposta é não.
43
41
Jorge ALMEIDA et al. (Orgs), Resoluções de Encontros e Congressos do Partido dos Trabalhadores
(1979-1998), p. 125.
42
Sobre as publicações do Sindicato dos Metalúrgicos a obra de Kátia Rodrigues Paranhos , Era Uma Vez
São Bernardo o discurso sindical dos metalúrgicos- 1971/1982, traz importantes contribuições para a
análise do período.
43
Informativo Municipal nº. 12, 2ª quinzena julho/ 1984.
51
Percebemos não o objetivo de chamar a população para participar do
movimento, mas também a preocupação em explicar o que era o Colégio
Eleitoral e sua função.
O posicionamento favorável da PMD frente às eleições diretas seguia o
direcionamento das diretrizes do PT. Como indica Amaral, “A idéia de realizar
uma grande mobilização popular em torno das eleições diretas ganhou força no
partido em agosto de 1983, quando foi apontada em pré-convenções
estaduais, como uma das prioridades do PT, decisão reiterada pela executiva
nacional em janeiro de 1984. Esta última também indicou os coordenadores
nacionais da campanha, cuja orientação era formar uma comissão
suprapartidária para um movimento amplo de efetivação de uma política de
colaboração em uma frente única com outros partidos, o que pela primeira vez
aconteceria em sua história”.
44
Seguindo essa orientação partidária, o Informativo Municipal n° 7
publicou:
“A Administração Gilson Menezes também está apoiando o
grande comício pelas diretas a ser realizado dia 25 próximo, às 16
horas, na Praça da Sé, com a participação de governadores,
prefeitos, representantes de sindicatos, jovens, associações de
bairros, movimentos de mulheres e toda a sociedade civil. Em
Diadema, foi constituída uma Comissão Interpartidária, responsável
pela campanha das diretas junto à população”
45
.
Ao mesmo tempo em que tinha esse caráter mais explicativo,
característica presente na imprensa sindical e nas publicações dos movimentos
de bairro, os Informativos Municipais traziam também as chamadas para a
continuidade do movimento, mostrando que Diadema participava ativamente de
questões gerais discutidas pelo Partido.
“Durante as passeatas e comícios realizados pela
eleição direta, todos os oradores dos partidos de oposição eram
contrários ao Colégio Eleitoral e como é que as oposições agora, o
44
Oswaldo AMARAL. A Estrela não é mais vermelha, p. 46.
52
defendê-lo. Afinal, ainda existe uma chance para o povo brasileiro
conseguir eleger seu presidente: é a emenda do deputado Teodoro
Mendes, que poderá ser votada no início de agosto, instituindo
eleições diretas em dois turnos. Em função dessa emenda a
mobilização popular deve continuar mostrando ao Governo Federal,
mais uma vez, que o povo está cansado dessa política econômica
que só faz elevar a inflação e o desemprego”.
46
Acima, percebemos que a administração municipal assumiu o discurso
do Partido dos Trabalhadores, contrapondo-se à “grande imprensa”, que
centrou suas atenções na emenda Dante de Oliveira, que uma vez derrotada
no dia 25 de abril de 1984, deu lugar às matérias sobre os acordos políticos no
Colégio Eleitoral, levando Tancredo Neves à presidência.
A Prefeitura de Diadema também se engajou no Comitê Pró-
Participação Popular na Constituinte, onde o foram editados informativos
especiais sobre a Constituinte, mas foram impressos convites e amesmo o
cartão de Natal enviado pelo Prefeito, com ilustração de Henfil, no final de
1986. Este cartão fazia referência à Constituinte mostrando, como nos aponta
Maria Victoria Benevides que, “a sociedade se organiza com tal nível de
participação no plano nacional, estadual e municipal em torno de questões
até então consideradas tarefas exclusivas’ dos juristas, dos políticos, dos
governos. A criação de plenários, comitês e movimentos pró-participação
popular na Constituinte é o melhor exemplo dessa nova fase.”
47
A utilização da ilustração do cartunista Henfil é significativa, pois ele teve
grande participação política no país, engajando-se na luta contra a ditadura
militar, pela democracia e na defesa do movimento das Diretas Já. Podemos
dizer que sua atuação vinha de encontro às propostas defendidas pelo Partido
dos Trabalhadores, pois no desenho abaixo percebemos que pessoas comuns
são responsáveis pela construção de um novo país sendo que a Constituinte
merecia lugar de destaque ao invés do lema positivista “ordem e progresso”.
Um novo país que estava surgindo e não havia como não participar. Henfil
45
Informativo Municipal n° 7, 2ª quinzena de janeiro/1984.
46
Informativo Municipal nº. 12, 2ª quinzena julho/ 1984.
47
Maria Victoria de Mesquita BENEVIDES, A Cidadania Ativa - referendo, plebiscito e iniciativa
popular, p. 123.
53
também colaborou com publicações no Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e Diadema no final da década de 70.
Na ilustração seguinte, plantar árvores na bandeira a idéia de
trabalho árduo para gerar frutos. A bandeira está sendo construída por homens
comuns, através do trabalho cotidiano, simbolizando a nação brasileira que na
década de 80 lutava pela Constituinte, como o texto abaixo do desenho reforça,
visando importantes mudanças para grande parte da população que estava
destituída dos direitos sociais e políticos.
“Convite
Preocupados com o momento político que o país
atravessa, diversas entidades representativas de Diadema, por
iniciativa da Câmara e apoio da Prefeitura Municipal, buscam a
participação popular através de um Comitê Pró Constituinte, onde
diversos temas de interesse nacional e local sejam discutidos.
A utilização da ilustração de Henfil corresponde à proposta do Partido
dos Trabalhadores no que se refere à participação da sociedade na construção
de um “novo” país, através da Constituinte. Além da representação da
bandeira marcada pela presença de sujeitos que trabalham, podemos também
54
perceber uma alusão à estrela do PT, que está fazendo o Brasil sem
abandonar seus símbolos.
O convite acima corresponde às diretrizes do Partido, expressa no
Encontro Nacional realizado em 1986, “Tendo em vista que as discussões de
uma proposta final sobre Constituinte não foram aprofundadas nas instâncias,
propomos que o Diretório Nacional eleito neste Encontro assuma esta questão
como prioritária e crie: a) um Comitê Constituinte Coordenador, em nível
nacional; b) Comitês Constituintes em todos os DR, DM, distritais e núcleos
proporcionado-se a ampliação dos debates e propostas.”
48
Embora no convite o haja uma referência ao Partido dos
Trabalhadores, ele segue as orientações da Executiva Nacional.
Além dos informativos desenvolvidos pela assessoria de imprensa os
departamentos tinham autonomia para confeccionar materiais direcionados à
população. O Departamento de Saúde produzia cartilhas que não passavam
pela assessoria de imprensa e apresentavam nitidamente um caráter de
mobilização da população, com uma linguagem ainda mais simples e pouco
cuidado com a qualidade gráfica, se comparadas aos Informativos Municipais.
A preocupação com a conscientização e organização popular fica
evidente em algumas publicações da PMD, como por exemplo, os Cadernos de
Saúde. Em seu primeiro número na primeira página, percebemos referências
diretas às necessidades básicas da população: moradia, alimentação, lazer,
transporte, trabalho, dinheiro e no centro de tudo a participação popular no
levantamento das prioridades.
48
Jorge ALMEIDA et al. (Orgs.), Partido dos Trabalhadores: resoluções de encontros e congressos 1979-
1998, p.297.
55
Caderno de Saúde nº. 1, sem data de publicação.
Era uma prática comum a publicação do material do Departamento de
Saúde em forma de cartilhas populares, material também muito utilizado pelos
movimentos sindicais e de bairros no início dos anos 80. Nos textos,
constatamos a utilização de uma linguagem simples e direta, tendo a
preocupação com a organização da população, como vemos no trecho a
seguir:
“Mas como melhorar a nossa saúde?
Para ter SAÚDE, o povo está se organizando e ficando cada
dia mais forte para poder exigir os seus direitos.
Uma das maneiras de se organizar é formando uma
COMISSÃO DE SAÚDE do bairro. Todas as pessoas podem fazer
parte da comissão, basta acompanhar as reuniões e estar
interessado em melhorar as condições de saúde do seu bairro.
Como funciona a Comissão de Saúde?
As reuniões da COMISSÃO são marcadas pelas pessoas que
estão participando, e a reunião pode ser feita na casa de uma das
pessoas, no quintal, na garagem, ou em algum salão.
Nas reuniões, as pessoas discutem os problemas de saúde
do seu bairro, e procuram a melhor forma de resolvê-los.
56
estão sendo formadas as Comissões de Saúde em vários
bairros e a participação é muito simples: basta acompanhar as
reuniões e estar interessado em melhorar as condições de saúde de
seu bairro. Participe. Forme uma comissão. Entre em contato com o
Departamento de Saúde e Higiene (...)
49
.
No trecho acima, fica clara a idéia de formação de novos sujeitos
políticos, a necessidade de construir formas de estratégias contra a dominação,
a busca de melhorias coletivas e a construção de novos espaços de ação,
que vão além dos espaços instituídos pelo Estado ou por lugares definidos
como sendo de luta, como por exemplo, os sindicatos. Todos os locais são
espaços de discussão e de mobilização. A organização bairro a bairro ocorrida
em Diadema era uma forma de atender interesses específicos da população,
de forma mais descentralizada.
Nas publicações da PMD, tanto os Informativos como as cartilhas dos
departamentos apresentavam questões cruciais a serem enfrentadas pela
administração, merecendo destaque os problemas da saúde, infra-estrutura,
transporte, entre outros.
No caso de Diadema alguns departamentos da administração municipal,
especialmente Saúde e Planejamento, assumiram o discurso dos movimentos
da época e se colocaram no comando desse processo de organização,
apontando para a necessidade da verificação da existência de autonomia dos
movimentos, formados a partir desse processo em relação à Prefeitura.
“Participe você também: faça a política do povo unido;
somente assim você e seus companheiros é que vão sair ganhando”.
Essa é a proposta da nova administração de Diadema”
50
.
No caso específico do material produzido pelo Departamento de Saúde
percebemos que a preocupação ia além das questões relativas à saúde,
estendendo-se a uma luta mais ampla por melhores condições de vida.
49
Caderno de Saúde nº. 1, sem data de publicação.
50
Folheto As 3 Políticas Departamento de Saúde e Higiene – PMD, s.d.
57
Também o podemos descartar o caráter político eleitoral uma vez que José
Augusto da Silva Ramos, então responsável pelo Departamento de Saúde foi
posteriormente o candidato lançado pelo Partido dos Trabalhadores para
suceder Gilson Menezes. De acordo com Simões: “A adoção de diferentes
modos de promover a ‘participação’ resulta de uma série complexa de
interações, conflitos e negociações situacionais que, expressando distintas
concepções de poder, autoridade, papel do partido, do governo, das
associações populares, exibe a todo o momento a luta por posições de mando
e influência ”
51
.
A proposta da Administração era a organização popular. A cidade não
era vista como imutável, mas sim construída pelos diferentes sujeitos sociais
que a compunham, a partir da luta cotidiana, das reivindicações, dos projetos e
dos sonhos, ou seja, a cidade sempre está em processo de construção não
apenas no sentido físico, mas principalmente nas relações sociais,
privilegiando a solidariedade, as decisões conjuntas e a construção de uma
nova cidade. No decorrer da gestão, a capacidade de responder de forma
eficiente e competente às reivindicações da população tornou-se tão
importante quanto a organização dos movimentos populares. O grande desafio
da administração era como garantir um “novo modo de governar” e ser eficaz
nas ações e decisões a serem tomadas.
Percebemos que o Departamento de Saúde, dirigido por JoAugusto
da Silva Ramos, militante no movimento de saúde na capital paulista, e o
Departamento de Planejamento, dirigido por Amir Khair, filiado ao Partido dos
Trabalhadores em São Paulo e integrante do grupo de economistas do PT,
destacaram-se na busca de uma maior participação e organização popular,
evidente no primeiro Informativo Municipal:
“(...) estão sendo formadas as Comissões de Saúde em
vários bairros e a participação é muito simples: basta acompanhar as
reuniões e estar interessado em melhorar as condições de saúde de
seu bairro. Participe. Forme uma comissão. Entre em contato com o
Departamento de Saúde e Higiene”. (...)
51
Julio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular - A etnografia de um caso, p.136.
58
“Se você quer ter luz, água e esgoto na sua favela participe
das reuniões realizadas todos os sábados, no Anfiteatro da
Prefeitura, às 19:30 horas. Junto com a Comissão Municipal de
Favelas você vai saber qual o caminho certo para conseguir esses
melhoramentos.”
Nas chamadas acima, os Departamentos de Planejamento e Saúde
mostram sua preocupação em organizar a população na luta por seus direitos,
fator fundamental para que existisse uma real participação, marca de uma nova
forma de governar, o que nos leva ao questionamento sobre a relação entre
população e Administração.
Até que ponto os movimentos sociais conseguiriam de fato manter
independência em relação ao poder público, uma vez que este se via e
pensava como parte dos movimentos. Essa preocupação com as organizações
populares estava explícita nos documentos pré - PT, de 1979: “O PT entende,
por outro lado, que sua existência responde à necessidade que os
trabalhadores sentem de um partido que se construa intimamente ligado com o
processo de organização popular, nos locais de trabalho e moradia (...)
aprofundar a organização das massas exploradas”.
52
A partir de 1984, os informativos municipais assumiram mais um caráter
de prestação de contas à população e deixaram de ter como no primeiro
exemplar, a preocupação de convocar a população a participar das comissões
existentes nos departamentos. O setor de Planejamento, responsável pela
maior parte das chamadas à população para que participassem das reuniões,
passou por uma total reformulação em maio de 1984 , quando o diretor Amir
Khair e a maioria dos seus assessores demitiram-se, assumindo o cargo
Sydnei Barnabé, engenheiro e funcionário municipal não pertencente aos
quadros partidários do PT. A reurbanização das favelas, principal programa do
Departamento de Planejamento, passou para o Departamento de Promoção
Humana.
52
Jorge ALMEIDA et al. (Orgs.). Partido dos Trabalhadores-Resoluções de Encontros e Congressos, p.
53.
59
Segundo Julio de Assis Simões, em seu livro “O Dilema da Participação
Popular”, a divergência entre o Prefeito e a diretoria do Planejamento ocorreu
devido ao descompasso existente entre a proposta desse departamento em
priorizar a independência da organização popular, diluindo as relações de
poder entre Administração e população, além da necessidade de solucionar
problemas urgentes que atingiam os moradores, principalmente no que se
refere a infra-estrutura do município, demonstrando que o fazer-se governo
pressupõe tensões e divergências.
Mesmo com a mudança no Departamento de Planejamento, a
preocupação em informar a população e convocá-la para a luta, continuava. A
utilização de uma linguagem acessível estava presente em todos os
informativos e também nas publicações do movimento de favelas, conforme
podemos notar na explicação sobre o Projeto de Lei nº. 238, de 5 de junho de
1985, que dispõe sobre a concessão de direito real de uso para os atuais
moradores de favelas nas áreas públicas municipais. Essa cartilha não trazia
referência à impressão na gráfica da PMD, como os informativos municipais,
mas no verso da publicação encontramos nomes de pessoas que colaboraram
na elaboração do documento que pertenciam à administração ou à Câmara de
Vereadores, como é o caso de Miguel Reis Afonso, diretor do Departamento
Jurídico da PMD e Arquimedes Andrade, vereador do PT.
“O Movimento de Favelas de Diadema elaborou este
documento com a colaboração dos companheiros: Miguel Reis
Afonso; Marco Antonio Plácido, Emílio C. Machio Font; Arquimedes
Andrade, que é o resumo do projeto encaminhado pelo Prefeito
Companheiro Gilson Meneses à mara dos Vereadores de
Diadema.”
Aqui fica muito clara a proximidade do Movimento com a Administração,
chegando mesmo a confundir-se, seja pela participação dos integrantes da
PMD na elaboração do documento, seja pelas palavras com que se dirigem a
Gilson Menezes -“Prefeito Companheiro”, remetendo à linguagem própria
utilizada entre os militantes do PT.
60
Os demais departamentos não apresentavam essa chamada para a
organização dos movimentos, o que nos leva a entender que não era uma
diretriz geral da Administração, embora essa inicialmente não impusesse
restrições à atuação dos departamentos, demonstrando certa autonomia dos
diretores em relação ao Executivo, na condução dos trabalhos com a
população.
A relação existente entre a administração pública e a população não se
restringia aos Informativos Municipais e ao material publicado pelos
departamentos, mas foi também pauta da grande imprensa. A Folha de São
Paulo publicou três artigos no início de 1983, que reforçavam a imagem do
Governo de Diadema como vitrine do Partido dos Trabalhadores, enfatizando a
preocupação da administração municipal em organizar a mobilização popular.
A manchete na primeira página demonstra a curiosidade em relação ao
governo petista.
“Único prefeito do PT é alvo de curiosidade”.
“Gilson Menezes se prepara para assumir a prefeitura de
Diadema no dia 31 de janeiro, consciente que sua administração será
alvo de curiosidade. Ele é o único candidato do Partido dos
Trabalhadores, em todo o Estado de São Paulo, eleito para o
exercício municipal.
Menezes prevê que se acertar receberá o aplauso blico e
demonstrará na prática a viabilidade das propostas do PT. Caso
contrário, a seu ver, contribuirá para fomentar as críticas dos
adversários do Partido.
Além da falta de recursos para este ano, o futuro prefeito de
Diadema terá de enfrentar o grande problema das favelas onde
moram 100 mil pessoas, cerca de um terço da população local
53
.
Acima da matéria, uma foto, segunda em destaque na página, que
mostra o prefeito visitando uma das favelas da cidade constatando os
problemas, apontando para a falta de saneamento sico, reforçando a idéia
das precárias condições físicas estruturais do município. Gilson Menezes
aparece como um homem simples, que se confunde com os moradores.
53
Folha de São Paulo, 10/01/1983.
61
Folha de São Paulo: edição de 10 de janeiro de 1983.
A FSP era composta de 1983 a 1988, pelos seguintes cadernos:
editorial, política nacional, exterior, local, polícia, interior, educação, economia,
esporte, classificados e ilustrada (caderno cultural). Devido à importância do PT
no cenário do país no período da abertura política, a imprensa dedicou grande
espaço à administração de Gilson Menezes, no município de Diadema. A maior
parte das notícias sobre o município encontrava-se no caderno de política
nacional, enquanto notícias de outras cidades localizavam-se no caderno local
ou interior, o que demonstrava maior atenção com o município por ser o único
administrado pelo PT, no estado de São Paulo. Este interesse se dava pelo
fato do partido ser considerado de esquerda na época, adquirindo maior
relevância no quadro de valores político-ideológicos, uma vez que havia
expectativa de renovação na forma de governar.
Na reportagem publicada em 10/01/1983, citada anteriormente, os
artigos sobre Diadema situavam-se no caderno de política nacional, as
reportagens ocupavam 1/3 da página e tinham como abertura da matéria outra
foto de Gilson visitando uma favela. Na reportagem Erradicar favelas o maior
desafio”, aqui o título escolhido era bastante claro quanto ao problema das
favelas, mas o artigo ressaltava a preocupação da Administração em
“conscientizar” a população.
62
“A principal preocupação tanto de Gilson Menezes quanto
seu futuro secretário de Recursos Humanos é conscientizar a
população mais carente no sentido de se unir para obter benefícios”.
(...) O prefeito eleito, por sua vez, que continua a percorrer as favelas
da região juntamente com as equipes de transição que montou para
fazer levantamentos da situação e necessidades locais, insiste em
que as populações periféricas devem manter sua luta por melhores
condições de vida (...)
Na busca de conscientização’, dos moradores da periferia
para a luta por melhores condições de vida, Menezes pretende utilizar
como instrumento os ‘Conselhos Popularesque numa primeira fase
não terão uma estrutura orgânica e funcionarão com incentivo da
própria Prefeitura”.
Essa preocupação com a conscientização e a organização popular
estava inserida no contexto histórico da redemocratização, da reorganização
dos movimentos sociais, mas aqui a novidade era que a administração
colocava-se como propulsora dessa organização, explicada pela origem
sindical dos membros que a compunham, no momento em que a luta sindical
dos metalúrgicos do ABC paulista tornava-se referência para a atuação de
outros movimentos.
Na construção do artigo a ênfase na organização da população se
sobressai em relação às ações administrativas, fazendo referência ao
secretário de Recursos Humanos Jorge Flores, que “pretende, sobretudo
demonstrar ao favelado que ele próprio, organizado e com uma pequena ajuda
da municipalidade, pode melhorar suas condições de moradia”. Aqui nos
parece que as ações da Prefeitura, enquanto órgão executor estava em
segundo plano, lembrando que Diadema era tida como uma experiência do PT
que poderia ser levada a outros municípios e estados. O jornal mostrava que
a administração de Diadema colocava a “conscientizaçãoacima da rapidez
em solucionar os problemas , o que nos faz questionar sobre o papel e as
funções da administração pública. De acordo com a matéria publicada, o
governo petista privilegiava a organização e a conscientização da população
ficando a eficiência administrativa, marcada pela agilidade dos governantes em
resolver os problemas da cidade em segundo plano.
63
O fato de a FSP dar espaço a uma administração ligada aos movimentos
populares, embora em muitos artigos enfatizasse as contradições do Partido
dos Trabalhadores através da administração da cidade de Diadema, pode ser
explicado, como nos aponta Carlos A.F. Melo, em razão de que “no contexto
dos movimentos sociais, a democracia deixou de ser uma idéia vaga para
transformar-se num desejo. Simultaneamente, a notícia sobre a democracia
tornou-se mercadoria editorial (...) O fim da censura prévia a alguns jornais,
tornou a imprensa uma das poucas arenas possíveis de debate e reflexão
política mais ampla (...) Tiveram abrigo nos periódicos os liberais desiludidos
com o regime que ajudaram a erguer, os segmentos de classe média
insatisfeitos com o exíguo espaço político que possuíam e com o terror que
lhes assombrava, como também os setores populares mais reivindicativos e
menos ideológicos”.
54
Vale lembrar que esse momento é de “reordenamento das instituições e
das relações sociais, autoritariamente modeladas pelo regime militar”
55
e o
papel da imprensa nesse contexto era fundamental, fosse para garantir o
modelo institucional fosse para modificá-lo.
No início da década de 80, havia espaços em alguns jornais da grande
imprensa para opiniões diferentes da linha editorial. Um exemplo disso era a
seção “Opinião”, da Folha de São Paulo, que se caracterizava pelas
manifestações de diversas tendências. A filósofa Marilena Chauí, reconhecida
por seu trabalho intelectual e por sua atuação como militante do Partido dos
Trabalhadores, fez uma crítica à grande imprensa escrevendo nessa seção do
periódico um artigo intitulado “ O Enigma da Participação Popular”:
“Quando o PT elegeu um prefeito para a cidade operária de
Diadema, os meios de comunicação ou minimizaram o fato, alegando
tratar-se de local sem importância, ou tentaram colori-lo de certa
comicidade o coitado do operário Gilson Menezes desconhecendo os
segredos do saber administrativo”.
56
54
Carlos Alberto Furtado de MELO, Imprensa e Democracia: a transformação da Folha de São Paulo e
a criação do Partido dos Trabalhadores, p. 149-150.
55
Francisco César P. da FONSECA, A Imprensa Liberal na Transição Democrática (1984-1987), p.28.
56
Folha de São Paulo, 16/05/1983.
64
Nesse artigo, a autora fez uma análise de quatro projetos que deveriam
merecer maior atenção da opinião pública quanto ao modo de governar: a
revogação da lei “Cartão Residência”, de autoria do prefeito anterior Lauro
Michels, que diminuía ou isentava de impostos as empresas que empregassem
trabalhadores de Diadema, fazendo com que crescessem as favelas e a
disputa entre os trabalhadores; o aumento escalonado do funcionalismo, que
recuperou o atraso dos reajustes das administrações anteriores; a redução das
tarifas de transporte e a criação em vários bairros dos Conselhos Populares em
vários bairros, “destinados a propor e reivindicar medidas das condições de
moradia, urbanização, saúde, creches e educação”. Quando a autora citou
alguns dos projetos em andamento, criticou os meios de comunicação que não
noticiaram esses aspectos e enfatizaram a “incompetência administrativa” e o
fato de membros da equipe não possuírem qualificação universitária.
A Folha de São Paulo começou a abrir espaços, embora restritos, para
emitir opiniões e tendências diferenciadas. Isso começou a ocorrer na década
de 80, devido ao fim da censura exercida diretamente pelo Estado e,
conseqüentemente, pelo esvaziamento da imprensa alternativa, que de certa
forma foi exercendo sua atuação nos jornais partidários, sindicais ou mesmo na
atuação de jornalistas dentro da “grande imprensa”. Essa diversidade de
opiniões foi uma exigência dos leitores frente ao processo de democratização,
cujo projeto editorial apresentava um espaço de debate nas páginas 2 e 3. A
página “Opinião” foi criada em 1975, contando com a participação de políticos e
intelectuais e a reformulação do projeto editorial ganhou força em 1978,quando
o Conselho Editorial, formado por jornalistas que buscavam discutir questões
relacionadas à sociedade civil, entre eles Alberto Dines e Samuel Wainer,
criaram esse espaço na FSP. Para Mota e Capelato, a “Inovação significativa
foi a criação da página 3 (Tendências e Debates), que se prende a essa
estratégia de ampliação do espectro de opiniões da ‘nova sociedade civil’.”
57
O jornal trazia sempre a seguinte observação: “Os artigos publicados
com assinatura de autores não traduzem necessariamente a opinião do jornal.
Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas
65
brasileiros e mundiais e refletir sobre as diversas tendências do pensamento
contemporâneo”, ou seja, o jornal abria o espaço para o debate nas páginas 2
e 3, mas não abria para a discussão das demais notícias da edição.
No início da década de 80, a FSP através dos editoriais e das notícias
nacionais, ressaltou a importância da democratização do país, elogiando o
processo pela “abertura democrática” em curso no Governo Figueiredo, mas
privilegiando os limites da democracia representativa, dando pouco espaço aos
movimentos sociais ou aos governos que buscavam ir além desses limites,
como era o caso de Diadema, com a formação dos Conselhos Populares. A
partir de 1983, as matérias sobre as eleições diretas foram inúmeras, mas
sempre ressaltando a organização e o posicionamento dos partidos políticos.
Nesse período, também observamos que a alta da inflação, a crise
econômica e o conseqüente desemprego foram temas correntes na imprensa
diária, embora, ao tratarem de Diadema, não contextualizassem os problemas
do município no quadro mais amplo da conjuntura do país.
Comparados à Folha de São Paulo, os periódicos “O Estado de São
Paulo” e o “Jornal da Tarde” eram mais contundentes em suas críticas sobre o
governo municipal de Diadema, desqualificavam a administração petista em
vários artigos. Como exemplo, temos a chamada para a reportagem na
primeira página do OESP com o seguinte título:
“O Governo do PT ainda pior”.
“Criar empregos para favorecer os amigos, perseguir
funcionários, usar equipamentos públicos pra fazer obras particulares
e permitir o constante aumento das passagens de ônibus. São
acusações feitas pela população a políticos de uma cidade da grande
São Paulo, contra seu prefeito.
Mas desta vez não se dirigem a uma administração do PDS.
O descontentamento é dos moradores de Diadema, contra Gilson
Menezes, o único prefeito do PT em todo o Estado, que conseguiu
problemas desde que assumiu o mandato
58
.
57
Carlos Guilherme MOTA e Maria Helena CAPELATO, História da Folha de São Paulo, p.236.
58
O Estado de São Paulo, 16/09/1984.
66
A expressão “ainda pior” reforçava a idéia da crescente decadência da
administração. A chamada na primeira gina, enfatizava as contradições
existentes entre o discurso do PT como oposição e a atuação enquanto
Governo, não para atingir a gestão municipal de Diadema, mas o Partido dos
Trabalhadores.
O Jornal da Tarde e OESP trabalhavam com generalizações, ou seja,
para eles o PT, que surgiu dos movimentos sociais no final da década de 70 e
início dos anos 80, não se diferenciava do PDS, partido originário da Aliança
Renovadora Nacional, que sustentou o regime militar no Brasil. Esses
periódicos não trabalhavam com as diferenças, por exemplo, na ênfase dada
aos mecanismos de participação popular, visando uma gestão mais
democrática na cidade de Diadema ou a prioridade da administração petista
em relação aos investimentos em obras de infra-estrutura e equipamentos
sociais na periferia. Manipulava a notícia de forma ostensiva, passando a idéia
de que os governos eram todos iguais.
Na edição do OESP, não havia divisão por cadernos. A numeração era
contínua e no índice, as notícias eram classificadas pelos seguintes itens:
artes, roteiro, variedades, cidade, classificados, diplomacia, economia,
editoriais, educação, esportes, exterior, falecimentos, igreja, interior, polícia,
política, saúde, tempo/ temperatura/ trabalho e tribunais. Assim como ocorria
na FSP, a maior parte dos artigos sobre Diadema fazia parte das notícias de
política nacional.
O Jornal da Tarde pertencente, ao mesmo grupo editorial do OESP,
trazia uma série de matérias que visavam desqualificar a gestão petista,
ressaltando a “incompetência administrativa” e a “incoerência” do Partido
enquanto oposição e como governo. Esse periódico apresentava uma
composição diferente da FSP e do OESP, trazendo poucas manchetes na
primeira página, utilizando mais o recurso da foto como chamariz,
apresentando a seguinte divisão: editorial, política nacional e internacional,
política econômica, investimentos, o Brasil e o mundo, caderno cultural
(Divirta-se), esporte e classificados. A linguagem utilizada por esse periódico
era mais direta, de fácil compreensão se comparada ao OESP.
67
A matéria publicada em 11 de agosto de 1986 reforçava a imagem do
município marcado pela violência, abandono, incompetência administrativa e
beirando o caos, trazendo uma série de repercussões que merecem ser
analisadas. Essa matéria era a principal manchete da publicação, como
podemos observar:
Edição de 11 de agosto de 1986
A notícia “O Tráfico na Cidade” não está relacionada à cidade de
Diadema, embora assim pareça. Refere-se à cidade de São Paulo, mostrando
que o tráfico era cada vez mais intenso em diversos pontos da cidade,
relatando as operações que partiam da Bolívia e chegavam a São Paulo por
68
avião, correio e estrada. A disposição das duas manchetes levava à
interpretação de que o PT no poder estava relacionado ao tráfico, não havendo
referência à cidade de São Paulo. Essa informação estava disponível no
desenvolvimento da notícia sobre o tráfico, na última página.
“O PT no poder
- A cúpula do partido está satisfeita. E Diadema?
Os moradores reclamam que a cidade foi transformada numa
enorme favela; a arrecadação caiu; as empresas fogem; os imóveis
valem menos
59
.
Os artigos sobre Diadema ocupavam duas páginas do periódico, tendo
como abertura fotos que mostravam o suposto “abandono da cidade”, com
prédios no centro que ninguém queria alugar, caminhões e maquinários
atuando em áreas particulares, trazendo uma visão caótica do município. O JT
culpava diretamente a administração petista pelo “agravamento dos
problemas”. Na segunda página com o título “Aqui é Diadema. Veja o que o PT
fez dela”, o jornal assim descreveu a cidade:
Jornal da Tarde: edição de 11 de agosto de 1986.
“O PT transformou Diadema num barril de pólvora social,
político e econômico. Incentivado pelas mensagens sindicalistas dos
novos comandantes da prefeitura, Diadema foi invadida por uma
população favelada que é quase metade dos 400 mil habitantes.
Isso tem gerado problemas sociais cada vez mais preocupantes, com
59
Jornal da Tarde, 11/08/1986.
69
o índice de violência atingindo números idênticos aos da Baixada
Fluminense e com o conflito de classes sociais se manifestando
nas palavras dos mais antigos moradores inconformados com os
privilégios aos favelados. O esvaziamento econômico de Diadema,
identificado pela estagnação industrial e comercial, é uma
combinação de tática do prefeito do PT a ação sindical da CUT, que
concentra ali suas baterias
60
.
Além dos problemas sociais citados no artigo, o discurso sindicalista é
visto pelo jornal como um dos principais ingredientes da convulsão social que
tomava conta da cidade, responsabilizando o PT e a CUT pelos problemas da
região. Não foi analisado o processo de industrialização, que atraiu grande
número de migrantes para o trabalho industrial, mas não absorveu todo esse
contingente, gerando a exclusão social. Os problemas existentes em Diadema
faziam parte das dificuldades geradas pelo desemprego na década de 80 em
todo o país.
O artigo criticava o PT enquanto partido, na medida em que incitava a
violência e também associava as favelas diretamente com a criminalidade.
uma clara demonstração de preconceito em relação aos que moravam nas
favelas e uma explícita identificação com os profissionais liberais do município.
“O advogado Jorge Suguita, assessor da Câmara, identifica o
prefeito como agente discricionário: ‘A administração municipal
privilegia os operários em detrimento dos demais trabalhadores. Os
profissionais liberais, então, nem se fala. A linha sindicalista e da
igreja está no âmago da questão de Diadema. Moro a 11 anos em
Diadema e sinto desejo latente da classe média mudar-se. Isso é
natural. É a lei da sobrevivência”.
A FSP, OESP e JT relacionavam o PT ao “caos” presente no município.
Se Diadema era considerada pela própria imprensa “a cidade-laboratório do
PT”, servindo de modelo para o resto do país, ficava evidente que,
principalmente segundo o OESP e o JT, tal experiência jamais deveria ser
60
Jornal da Tarde, 11/08/1986.
70
difundida. Segundo Weffort, “jornais são empresas e, portanto, posições de
classe. Posições que às vezes se sentem ameaçadas e que se defendem
como podem”
61
. O governo municipal petista foi concebido como
antidemocrático, uma vez que privilegiava parte da população, no caso os
“favelados”, em relação aos demais. A classe média, segundo o artigo, estava
desamparada. A “desorganização” existente em Diadema poderia ser
estendida a outros locais, portanto era necessário pensar muito antes de votar
no PT. A afirmação de que o Município estava condenado ao caos mostrava-
se presente em todo o artigo, onde ficava evidente a preocupação com o
processo eleitoral: “Se o PT voltar a ganhar as eleições aqui, Diadema
simplesmente vai explodir”. Na verdade, o que pretendia esse artigo era alertar
os eleitores sobre o grande perigo que significava o PT, na tentativa de evitar
que o Partido ganhasse espaço político e se projetasse institucionalmente para
todo o Brasil.
Cabe lembrar que a cidade foi governada de 1982 a 1996 pelo Partido
dos Trabalhadores, de 1997 a 2000 foi novamente governada por Gilson
Menezes, pertencente nesse período ao Partido Socialista Brasileiro e de 2001
até o presente ano de 2006, continua sendo governada pelo PT, merecendo
destaque em diversos projetos sociais como na habitação e nos últimos anos
na diminuição da violência.
Sobre essa matéria do Jornal da Tarde de 11 de agosto de 1986, segue
o depoimento da jornalista Laís Oreb, responsável pela assessoria de
imprensa:
“(...) Eu me lembro que o JT fez uma matéria “Isto é Diadema,
veja o que o PT fez dela”. Eu não esqueço esse título, por causa
dessa matéria eu tive a minha segunda úlcera, foi uma matéria que
eu fiquei arrasada, porque o repórter que foi fazer essa matéria a
gente levou, eu andei com ele pra tudo quanto foi lado, mostrando
tudo que tava acontecendo e ele visitou todos os locais, ele viu tudo e
aí depois sai uma matéria. A matéria saiu e até as pessoas que eram
da oposição reclamaram da matéria.
Eu sei que o Gilson falou com o pessoal do Partido,
mandaram a gente fazer uma resposta. Eu fiz inclusive, eu fiz uma
61
Francisco WEFFORT, Os jornais são partidos? in: Lua Nova, vol. 1, nº. 2, Jul./Set –1984. p 37 a 40.
71
resposta explicando ponto por ponto da matéria, explicando que não
era aquilo o que acontecia com dados e tudo e eu até coloquei no
título da matéria Isto é Diadema, veja o que o JT fez dela” e
entregamos. O Gilson entregou para o Partido e aí disseram que um
advogado ia ver o direito de resposta, que depois o se soube o
que aconteceu. Eu quase morri com essa matéria. Foi uma tragédia,
você que eu lembro até hoje da matéria. Foi o Daniel Lima que
escreveu essa matéria.
As pessoas da cidade que não eram favoráveis ao Gilson,
comerciantes, classe média inclusive ficaram revoltados. Acabou com
a cidade, parecia que você tinha que chegar na fronteira de Diadema
e voltar para trás. Se entrasse ia ser uma tragédia (...)”.
É importante contextualizarmos a matéria do JT dentro do processo
eleitoral para governadores em 1986. A publicação dessa matéria ocorreu no
momento em que o candidato ao Governo do Estado de São Paulo pelo PT, o
deputado federal licenciado Eduardo Suplicy, obtinha o lugar nas pesquisas
eleitorais, ultrapassando o candidato pelo PMDB, Orestes Quércia. Em artigo
da Folha de São Paulo, também publicado em 11 de agosto de 1986, Marilena
Chauí comentou a pesquisa Mass - Afinal sobre as intenções de voto:
Candidato ao Governo do Estado de
São Paulo
Intenção de Voto
Antonio Ermírio 21,9%
Paulo Maluf 21,5%
Eduardo Suplicy 13,4%
Orestes Quércia 10,5%
Para Marilena Chauí, o resultado obtido por Suplicy era extremamente
importante, uma vez que a campanha orquestrada contra o PT não mudou
significativamente a intenção de voto do eleitorado.
Na página 4 do caderno de política nacional foi publicada a seguinte
matéria:
“Partido se recupera, diz Suplicy”
72
“(...) Suplicy disse que o crescimento eleitoral do Partido
deveu-se ao término da campanha de calúnias, em função do
episódio de Leme, quando o PT foi acusado por alguns políticos,
como responsável pelas violências ocorridas durante a greve dos
cortadores de cana dessa cidade (...)
62
.
Nos meses que antecederam as eleições estaduais, foram tecidas
severas críticas ao PT, no caso do assalto ao banco de Salvador ocorrido em
11 de abril de 1986, e a greve de trabalhadores rurais em Leme, interior de São
Paulo, onde duas pessoas morreram no dia 11 de junho de 1986, no confronto
entre policiais e trabalhadores. Em ambos os episódios a imprensa relacionava
o Partido aos atos violentos ocorridos.
Vejamos o comentário de Levi Bucalem e Vicente Costa sobre os
casos de Salvador e Leme:
“No primeiro caso, o assalto ao banco, onde militantes do PCBR
Partido Comunista Brasileiro Revolucionário-, filiados ao PT, foram os
responsáveis, comprometeu-se a imagem do partido como um todo. A
suposição de primeira hora de que a violência tivesse o aval de todo o partido,
num momento de intenso apoio popular às medidas econômicas adotadas pelo
governo federal e cujo centro era o Plano Cruzado, colocou o PT sob forte
desaprovação geral. Mesmo a rápida iniciativa da Executiva Nacional de
expulsar aqueles filiados, tentando descaracterizar a sua responsabilidade, não
conseguiu aliviar totalmente o peso negativo que aquele incidente causaria aos
candidatos do PT. Nem bem refeitos desse episódio, outro, o de Leme, traria
novamente o partido às manchetes dos jornais e à televisão, envolvido
diretamente em cenas de violência. O candidato Suplicy assumiu a defesa do
partido, reunindo todos os recursos disponíveis para demonstrar que não fora
os parlamentares e militantes do PT os responsáveis. Ao contrário, segundo
ele, teriam sido vítimas de uma cilada, ou de violência iniciada por policiais. A
imprensa, entretanto, registra o fato de forma a vincular os distúrbios à
62
Folha de São Paulo, 11/08/1986.
73
presença de petistas, e dessa forma, o saldo em termos de imagem foi
negativo (...)”
63
.
A FSP não fez referência à polêmica matéria publicada pelo Jornal da
Tarde sobre Diadema em 11 de agosto, mas na edição de 12 de agosto de
1986 trouxe no seu editorial críticas ao PT por abrigar partidos clandestinos,
relembrando o caso do assalto ao banco em Salvador.
“A Constelação Petista
“Durante muito tempo, o PT foi tido como o mais homogêneo
e ideológico dos partidos brasileiros. O episódio do assalto a um
banco de Salvador, por membros do então desconhecido PCBR,
imersos na legenda petista, teve como efeito demonstrar a vacuidade
dessa avaliação. As dissensões do partido vieram com toda a força a
público, revelando a verdadeira constelação de tendências abrigadas
no PT (...).
Um dos fatores que contribuíram decisivamente para a
estruturação nacional do PT foi a condescendência com as mais
variadas tendências de esquerda. O partido abarcou desde teólogos
da libertação até trotskistas, de reformistas a leninistas, de adeptos
da autogestão a cultores de Fidel Castro, construindo um frágil
mosaico de sustentação. O dilema que agora enfrenta é o de avançar
rumo a uma maior definição ideológica, enxugando seus quadros, ou
manter-se como uma frente amplíssima, digna das mesmas
acusações que os petistas dirigem ao PMDB. A prevalecer esta
última alternativa, estará armada uma verdadeira arapuca eleitoral,
que transmuda o voto petista num perrecista ou pecedebista (...).
64
Na opinião da Folha de São Paulo, o PT não apresentava uma proposta
homogênea, uma vez que era formado por diversos grupos discordantes entre
si e apresentava o grande problema de abrigar “partidos clandestinos”, que
poderiam descaracterizar o voto do eleitor que não tinha clareza em quem
estava votando, portanto o PT representava um perigo porque contemplava a
diversidade e apelava para um centralismo que vigiasse permanentemente a
63
Levi Bucalem FERRARI e Vicente COSTA, Uma Análise da Campanha in Eleições/1986, p. 35.
64
Folha de São Paulo, 12/08/1986.
74
ação de seus membros. Lidava-se com valores da população contra assaltos,
por exemplo, para aproximar o PT da criminalidade. Primeiro noticiava, para
depois averiguar os fatos, como o caso do assalto ocorrido em Salvador, que
era constantemente lembrado pela grande imprensa.
O jornal O Estado de São Paulo trouxe em seu editorial, no dia 12 de
agosto de 1986, uma referência direta sobre a matéria do JT a respeito de
Diadema:
“Uma gestão típica do PT: fascista”
“Uma reportagem que o Jornal da Tarde publicou ontem
sobre a atuação do PT em Diadema (...) suscita importantes
questões, que estão a merecer resposta por parte dos partidos
políticos e também do eleitorado. Algumas delas são comuns a todas
as agremiações e a todos os prefeitos. Outras dizem respeito ao PT e
a seu prefeito Gilson Menezes. (...).
Em sã consciência, não se responsabilizará o PT pelo fato de
haver miséria em Diadema, ou de os serviços públicos não
funcionarem a contento. Miséria e ineficiência existem em quase
todas, senão todas as cidades brasileiras, administradas por quem
quer que seja. O que, porém, é característico da gestão petista é o
fato de a filosofia administrativa do prefeito eleito estar conduzindo a
cidade de Diadema a uma situação sumamente crítica, pois ele
lançou sementes do conflito social (...).
Se a corrupção faz parte da vida política brasileira, não é por
isso que se perdoarão o prefeito petista dos escorregões que deu
durante sua gestão. Pelo contrário, por eles deve ser cobrado com
mais vigor, pois o PT, por sua direção nacional, pretende ser a
encarnação do bem contra o mal simbolizadas pelo governo
‘capitalistae pelo governo ‘militar’. Nesse capítulo, a administração
de Menezes demonstrou que nada se diferencia dos políticos de
pequena envergadura, que usam do poder para fins pessoais, ou o
que é pior partidários. É igual aos demais – e, se é assim, que
diferença existe entre um prefeito do PT e um prefeito de outro
partido?(...).
porém , algo que torna o prefeito petista diferente dos
demais: é a necessidade que sente em transformar sua cidade num
laboratório de crises; o impulso de fazer da administração um leviatã
e impor medo aos cidadãos; a tendência fascista a criar ‘milícias
75
operárias para coagir, para intimidar os adversários. Esta é a
diferença específica entre o prefeito petista e um prefeito não petista
também acusado de corrupção, o primeiro é fascista, o outro adota o
‘jeito brasileiro. ’ (...)
65
”.
O OESP atacou duramente a administração Gilson Menezes em
Diadema, tendo como objetivo atingir o PT nacionalmente, tentando
demonstrar que a gestão petista não apenas apresentava características
semelhantes aos demais partidos, como corrupção, governar em benefício
próprio ou do partido, ineficiência, entre tantos outros problemas, mas era
ainda pior por disseminar o medo entre os cidadãos, coagindo os que
discordavam de suas ações e idéias, ou seja, por que votar no PT? Era melhor
continuar sendo governado por outros partidos, que embora apresentassem
problemas, não reservavam surpresas como, por exemplo, a difusão da
“hostilidade entre as classes sociais”.
Mais uma vez as forças políticas foram niveladas e foi construída a
memória de que os políticos eram todos iguais. A História daqueles que tiveram
a vida pautada por uma conduta política que pretendia diminuir as diferenças
sociais foi destruída.
Analisando as edições de agosto de 1986, observei que o OESP trazia
outros artigos que relacionavam o PT a ações violentas, como por exemplo:
“Sindicalista denuncia ameaça do PT”
66
. Este trazia o pronunciamento do
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba, que declarava
estar sendo ameaçado pelo PT, por apoiar Paulo Maluf nas eleições para
governador. Noutro artigo, cuja manchete era: “PT envolvido na morte de duas
pessoas em São Miguel
67
”, em que duas pessoas desceram de um carro que
tinha cartazes de um candidato do PT e dispararam tiros contra outras que
estavam num bar. Não aprofundei a análise desses fatos, mas observei que na
verdade eram apenas suspeitas, mas, mesmo assim, o jornal articulava essa
relação entre PT e violência em diversos artigos.
65
OESP, 12/08/1986.
66
OESP, 15/08/1986.
67
OESP, 15/08/1986.
76
O Jornal da Tarde não trabalhava com os dados da Prefeitura, mas com
dados obtidos através do PMDB, oposição ao PT. Também na construção da
notícia, o repórter teve a preocupação de buscar informações do PT no
município com vereadores que faziam oposição a Gilson, que criticavam o
funcionamento do Conselho Popular. Na edição de 11 de agosto de 1986,
esses vereadores afirmavam que “na verdade o Conselho é Popular, apenas
de fachada. Há três anos que foi criado, é formado praticamente pelas mesmas
pessoas, todas ligadas ao Paço. É um quadro figurativo nitidamente eleitoral e
que tem participação bastante reduzida no orçamento”. Aqui também notamos
que o jornal privilegiou a oposição político-partidária institucional. O JT
ressaltou os grandes problemas da cidade:
“A violência em Diadema um dos maiores índices de
criminalidade do Brasil, comparado à Baixada Fluminense rivaliza-
se com as carências de saneamento básico e às altas taxas de
mortalidade infantil, evasão escolar e desqualificação profissional”.
Não havia interesse numa análise dos problemas de forma
contextualizada dentro do processo de industrialização e crescente
urbanização do ABCD paulista. Os problemas levantados, como falta de infra-
estrutura, violência, entre outros, eram atribuídos à administração petista. O
jornal se comportava como se todos os problemas tivessem começado no
Governo Gilson Menezes, é como se a cidade não tivesse história acumulada
nos problemas sérios que enfrentava: habitação, saúde, transporte, entre
outros.
No dia 12 de agosto de 1986, o Jornal da Tarde publicou o seguinte
artigo, assinado pelo jornalista Daniel Lima na página 5:
“Mais preocupações para a cúpula do PT”.
“O balanço da administração petista de Gilson Menezes na
Prefeitura de Diadema, cidade da região do ABC paulista, publicado
ontem pelo Jornal da Tarde, vai acelerar a luta política interna do
Partido para a definição de seu programa de atuação. A existência de
77
diversas tendências dentro do PT, evidenciada em Diadema, onde o
prefeito não conta nem com a maioria de sua bancada, será
equalizada em fevereiro do ano que vem, quando for realizada a
convenção nacional, prevista para São Paulo (...).
Suplicy afirmou ontem à tarde que tem procurado manter-se
atualizado sobre a administração Gilson Menezes, inclusive
visitando vários núcleos favelados antes das eleições para prefeito’, e
que não captou nessas andanças ausência de obras para
urbanização. Ele considerou o mencionado aumento de favelados na
cidade, mas não tem meros oficiais. E foi cauteloso sobre a
eventualidade de o PT expurgar os vereadores do Partido que fazem
duras restrições a Gilson Menezes.
Suplicy defende a preservação do PT nesse período pré-
eleitoral, que os estilhaços de eventuais deliberações da cúpula
partidária, punindo representantes de segmentos mais extremistas,
seriam desagradáveis”.
Os problemas da administração de Diadema foram estendidos à questão
partidária nacionalmente, mostrando a importância dessa experiência como
afirmação do Partido no poder executivo. A relação com setores que
discordavam da cúpula assumiu importante papel, pois questionou a atuação
do PT como partido e enquanto governo.
No dia 15 de agosto de 1986, encontramos a resposta do PT na página
13 do Jornal da Tarde, sobre a polêmica matéria publicada no dia 11,
apresentando também o rebate do jornalista Daniel Lima à contestação do
Partido.
“O PT E DIADEMA”
“A entrevista que o PT convocou para contestar a matéria do
JT sobre a gestão do prefeito petista Gilson Menezes teve de tudo:
explicações, dados, assessores, mágoa pela ‘perseguição ao partido’.
Também não faltaram contradições e deslizes ideológicos” (...).
“O repórter rebate: O PT foi impreciso e mentiu muito no final
de seu depoimento diz: ‘Infelizmente, para todos que lutam por uma
completa reorganização política do Brasil, dado o sombrio quadro que
78
se vislumbra o pronunciamento do PT ontem na Assembléia possui
todos os vícios que denuncia nos outros partidos. Tentou-se
simplesmente utilizar uma cortina de fumaça de respostas vagas,
imprecisas e mentirosas, para esconder o que este repórter
encontrou no PT de Diadema - o caos absoluto, revelado pelos mais
diversos segmentos de sua sociedade, especialmente vereadores do
próprio Partido dos Trabalhadores’ ”.
Segundo o repórter,
a administração pública Diadema era desastrosa, o
Partido dos Trabalhadores não contava nem com o apoio da própria bancada
no legislativo municipal e não se diferenciava dos outros partidos, cometendo
vícios que tanto criticava. Era uma experiência que não poderia ser repetida.
Por sua vez, o OESP expôs a opinião de Suplicy sobre a matéria do JT,
publicada em 11 de agosto, na página 4 fazendo parte do noticiário nacional.
“Suplicy não gosta da reportagem do JT sobre Diadema”
“O PT pretende processar o Jornal da Tarde, apelando
para a Lei de Imprensa se o jornal não retificar a reportagem
publicada na última segunda-feira sobre a administração petista de
Diadema. Falando em nome do Partido, os deputados federais
Eduardo Suplicy e Djalma Bom consideram a reportagem deturpada e
mentirosa e informam que o partido exigirá o mesmo espaço para sua
resposta.
O deputado Djalma Bom disse que a reportagem do Jornal da
Tarde é ‘um capítulo’ a mais no plano orquestrado a nível nacional
para desgastar o partido perante a opinião pública e jogá-lo na
clandestinidade. O deputado Eduardo Suplicy, candidato ao governo
paulista, atribui essa intenção também ao O Estado, responsável por
‘uma campanha sistemática contra o PT’. Os deputados estavam
acompanhados pelo prefeito de Diadema Gilson Menezes, para quem
foi programado um ato público de desagravo na cidade.
Dificilmente o pensamento dos proprietários dos órgãos de
comunicação, disse Suplicy, coincidiria com o pensamento do PT.
‘Mas tem havido uma campanha sistemática e apaixonada contra o
partido. Achamos que esta crítica não tem mantido o equilíbrio
necessário, impedindo a formação da opinião pública’. A decisão de
79
processar o Jornal da Tarde, segundo Suplicy ‘só será tomada se o
jornal não esclarecer a opinião pública’”.
68
O jornal apresentou a opinião de membros do Partido, mas deixou muito
clara a posição do periódico com relação ao Partido dos Trabalhadores,
endossando a reportagem do Jornal da Tarde. O OESP utilizou outras
estratégias enquanto o JT trabalhou com aspectos do município:
“empreguismo”, “incapacidade administrativa”, “abandono da cidade”, entre
outros. O OESP, além de todos esses fatores, levou a crítica ao âmbito
nacional, acusando o PT de utilizar práticas fascistas. Existia espaço nos
periódicos para que membros do partido se expressassem, mas a montagem
da edição deixava clara a posição político-partidária do jornal.
Observamos que existia certa insistência em igualar a atuação do PT
aos outros partidos, reafirmando o que foi publicado no editorial do Jornal da
Tarde de 13 de agosto de 1986:
“(...) uma vez no poder, mesmo na prefeitura de uma pequena
cidade como Diadema, os políticos do PT também fazem da coisa
pública uma coisa privada, com os seus políticos usando para si e
para ‘a sua clientelaos recursos que os contribuintes puseram sob
sua guarda, eles também usam e abusam dos decretos leis e das
mordomias, eles usam e abusam das mordomias, eles também fazem
tráfico de influência; patrocinam ‘negócios especiais mais que
excusos, praticam o nepotismo e o ‘amiguismo’, e até criam seus
próprios ‘fundos de emergênciapara ‘ajudar povos irmãoscomo o
da Nicarágua”.
O PT era visto como indesejável, incorporando segundo a “grande
imprensa”, todos os cios da política brasileira: clientelismo, autoritarismo,
tráfico de influência, nepotismo. Nesse artigo, também, a ajuda à Nicarágua foi
desqualificada.
O DJ em algumas matérias relaciona o PT às ações violentas em
Diadema, como ocorreu no artigo publicado na página 3, da edição de 13 a 17
de janeiro de 1986:
68
OESP, 15/08/1986.
80
“Sociedade Amigos querem manifestação dos
transportes no Paço Municipal.”
“Surgem denúncias de distúrbios e ação violenta
organizada e, ainda, que o movimento é puramente político-partidário.
(...) Uma grave denúncia veio a tona na primeira
reunião do ano no Plenário das Sociedades Amigos de Bairro de
Diadema, dando conta de que a ala extrema esquerda do Partido dos
Trabalhadores está preparando um ato ‘repreensivo, igual aos
movimentos de direita na época da malfadada Revolução de 1964’,
através de uma manifestação contra o transporte coletivo em
Diadema, visando o emprego de atos violentos.
Palavras de Luiz Carlos Rocha representante da
Sociedade de Amigos do Jardim Promissão”.
O Diadema Jornal não ouviu nem identificou os representantes da
chamada “ala extrema esquerda” do partido para apurar os fatos. Essa notícia
novamente relacionava o PT a ações violentas para atingir objetivos político-
partidários, distanciando-se dos princípios democráticos. O periódico deu
espaço a um representante das SAB’s, criadas no município nos anos 60 e que
estavam ligadas às práticas clientelistas e assistencialistas dos governos
anteriores, como veremos no capítulo 2.
Seguindo a linha de denúncia de autoritarismo partidário, tivemos a
edição do DJ de 16 a 18 de julho de 1986, que trazia como principal manchete
o despejo da favela do bairro Serraria.
“PM desaloja 30 famílias e prende vereador do PT
“A favela de Vila Nova, no bairro de Serraria, foi
desocupada na 2ª feira, através de uma ordem de despejo”. Cerca de
30 famílias abandonaram seus pertences e dormiram ao relento na
noite seguinte a ação, que contou com um aparato de 450 policiais
militares em 6 caminhões e várias viaturas. A Promoção Humana
providenciou alimento aos desalojados, enquanto os advogados da
assistência jurídica gratuita da Prefeitura tentaram impetrar um
mandato de segurança contra a liminar de despejo.
81
Dentre o episódio 4 elementos foram detidos por
resistir à “demolição de um barraco. Dentre eles o vereador Manoel
Boni (PT) e Antonio Geraldo Justino ex-diretor da Educação da
Prefeitura e candidato a deputado estadual do PT e dois militantes
José Barbosa da Silva e Sezinando Rodrigues. Os 4 foram liberados
horas depois da prisão (...)”.
Os políticos e militantes do PT foram identificados como “elementos”,
expressão utilizada pela polícia para se referir a bandidos.
Na página 2, o Editorial criticou duramente os integrantes do PT, que
segundo o jornal, incitavam pessoas a ocuparem áreas, também
desqualificando os que vinham do Norte e Nordeste, reativando preconceitos,
uma vez que foram vistos como pessoas que não tinham vontade e interesses
próprios, sendo facilmente manipulados por grupos políticos. O periódico
chamava a atenção para o fato de que muitos problemas não podiam ser
solucionados no âmbito municipal, pois algumas reformas deviam ser feitas
nacionalmente, como veremos na reportagem seguinte:
“A incitação irresponsável pela ocupação das áreas
(...) “Lamentável foi, também, notar que 90% dos que
ocupavam aquela área eram migrantes recém-chegados do Norte e
Nordeste. Num jogo político muito aquém da almejada justiça social,
estavam num embate determinados politiqueiros que ali trouxeram
aquelas famílias sem terras, sem posses, sem destino. Antes mesmo
de questionar se era justo utilizar-se de uma massa sedenta de
justiça, certos políticos de Diadema, uma minoria, diga-se de
passagem, pretendem fazer uma pseudo reforma urbana e uma
verdadeira “revolução social” nos 24 quilômetros quadrados de nosso
município (...).
É sabido que nossas instituições assistenciais não são
muito confiáveis, como CETREN, FEBEM e outras afins. É sabido
também que o problema de Diadema se porque nosso município é
uma cidade-dormitório, onde predomina uma população flutuante e
marginalizada. Mas daí a induzir esses moradores a ocupar uma área
particular, é um crime contra a integridade física. Esses políticos que
hoje utilizam a imagem de um partido político aproveitam para
82
denegri-lo, não percebem que as autênticas reformas virão a nível
nacional (...).
Diadema, dentro desse contexto, pouco pode suportar de
reformas sociais. O que deveria ter sido feito por esses favelados
despejados seria informá-los de que o Município não pode corrigir os
males do mundo (...)”.
O editorial do DJ desautorizou o governo municipal e apelou para o
Executivo Federal, na época exercido por Jo Sarney, que segundo o
periódico era a instância que de fato deveria executar as reformas sociais.
Os moradores, segundo o Diadema Jornal eram totalmente
manipulados. Embora enunciasse que apenas algumas pessoas do PT eram
responsáveis pelo ato de ocupação, criticou essa prática e assumiu o discurso
também utilizado pelo OESP e JT contra ações violentas, ou seja, houve um
reforço sobre a atuação inconstitucional e agressiva como sendo a marca do
Partido, embora enfatizasse que não eram todos os membros que agiam dessa
forma, assim acabando por não assumir uma postura de confronto direto com a
administração pública.
Vários aspectos da matéria publicada pelo JT em 11 de agosto, foram
posteriormente contestados pelos Informativos Municipais e pelo Diadema
Jornal: “A carga horária é abominada. Os funcionários lembram a CUT e
exigem 40 horas.”
69
. Percebemos a preocupação em abordar as contradições
do Partido dos Trabalhadores, que principalmente através da CUT, teve um
papel reivindicativo importante nesse período e que no poder, o cumpria o
que exigia enquanto representante dos trabalhadores, segundo órgãos da
imprensa. Além da carga horária, o JT chamava a atenção para a falta de
condições de segurança no trabalho, outro ponto muito discutido pelo
sindicalismo. “A situação do Departamento de Obras é preocupante. Faltam
equipamentos de segurança, ferramentas básicas (...) material de
almoxarifado”.
Quanto à arrecadação do ICM, o JT utilizou dados fornecidos por Romeu
da Costa Pereira, presidente do Diretório do PMDB no Município, onde
83
afirmava que “estamos caindo no ranking do ICM. Saímos de um oitavo lugar e
passamos para o 12º. Tudo isso é reflexo da estagnação econômica da
cidade”.
Embora o jornalista Daniel Lima tenha ido à cidade, visitado diversos
locais e obtido dados diretamente da Administração, ele acabou utilizando os
dados fornecidos pela oposição ao Governo Municipal, ou seja, o jornal utilizou
as fontes que melhor lhe convieram para passar a imagem da incompetência
administrativa.
A matéria publicada pelo Jornal da Tarde em 11 de agosto de 1986,
causou repercussão no Diadema Jornal que na edição de 16 a 19 de agosto de
1986, trouxe uma chamada na primeira página sobre a referida matéria:
“PT contesta reportagem e defende Gilson Menezes”
“O Partido dos Trabalhadores convocou a imprensa
paulistana e do ABCD para contestar a reportagem veiculada pelo
Jornal da Tarde de segunda feira, onde o jornalista teceu severas
críticas à administração petista em Diadema. Após Gilson expor sem
número de obras para contestar muitos dos dados publicados na
referente reportagem, o candidato do PT ao governo do Estado
Eduardo Suplicy, questionou a imprensa afirmando que os erros
cometidos pelos petistas eram punidos ao passo que muitos da velha
e nova República estão impunes, mesmo com provas decisivas que
os incriminam
70
.
Na página 2 a matéria foi assim desenvolvida:
“Contestada reportagem sobre administração do PT
O diretório estadual do Partido dos Trabalhadores convocou a
imprensa na 5ª feira, 14, para dar entrevista coletiva na sede da
liderança do Partido na Assembléia Legislativa, refutando a
reportagem do jornalista Daniel Lima, publicada pelo Jornal da Tarde,
69
Jornal da Tarde, 11/08/1986.
84
na edição de feira, 11, onde são tecidas inúmeras críticas à
administração petista em Diadema. Os dirigentes do PT consideram
que a reportagem foi tendenciosa, ‘omitindo vários dados do
Município e distorcendo outros’, considerando-a mais um capítulo da
orquestração que se arma para desgastar o PT e colocá-lo na
ilegalidade’. Os mesmos dirigentes admitiram que o PT poderá
recorrer à Lei de Imprensa para exigir o mesmo espaço no veículo e
anunciaram que o Partido promoverá em Diadema um ato público de
desagravo do Partido, em data a ser marcada (...)
71
O Diadema Jornal embora não tenha manifestado sua opinião sobre a
referida matéria do Jornal da Tarde, garantiu espaço para a administração
pública contestar os dados publicados.
“O prefeito Gilson Menezes citou diversas realizações
procurando contestar o Jornal da Tarde”. Gilson negou que o
Município tenha estagnado. De 1982 para cá, o número de
residências aumentou de 21.718 para 26.074, as casas comerciais
passaram de 2.888 para 4.400 e as unidades industriais aumentaram
de 866 para 1.243, assegurou. Segundo o prefeito, não foi Diadema
que estagnou, mas outros municípios que cresceram. Em 1985
éramos o 13º em arrecadação de ICM e até o final desse ano vamos
para a 11ª colocação.
Outro dado divulgado por Menezes foi o da redução da
mortalidade infantil. Em 1982 a cada 1000 nascimentos, morriam 90
crianças antes de completar um ano de vida. Em 1983 esse índice
baixou para 83 por mil e neste ano estaria nos 62 óbitos a cada mil
nascimentos.
O prefeito negou que tenha elevado o custo da folha de
pagamento de 32% para 52% desde que assumiu. Em 1982, 42% da
folha de pagamento era gasto com o funcionalismo. Hoje está em
53%, mas estamos dando melhores salários e fazendo todas as
obras através da administração direta eliminando as empreiteiras e
economizando em custos para o Município. Disse também que no
70
Diadema Jornal, 16 a 19/08/1986.
71
Diadema Jornal, 16 a 19/08/2006.
85
próximo ano, os funcionários públicos municipais cumprirão jornada
de 40 horas semanais, conforme o PT e a CUT defendem “
72
.
Os informativos municipais utilizavam as informações da chamada
“grande imprensa” e da imprensa local, ora para contestar as informações por
elas fornecidas ora reforçando a imagem positiva da administração, como por
exemplo:
“Apesar das difamações e calúnias dos nossos opositores, a
melhor recompensa para a administração petista de Diadema é o
reconhecimento da população. Esse reconhecimento está
demonstrado em duas recentes pesquisas realizadas por dois jornais
da Região. O “Diadema Jornal”, através de consultas feitas no final de
fevereiro passado, constatou que 22,5% dos diademenses
consideram a gestão municipal excelente, 34,5% muito boa, 19,5%
regular e apenas 14% péssima (...)”.
“O Diário do Grande ABC” em sua edição de 04 de março de
1988, atribuiu nota 6,6 ‘a nossa administração, a maior nota entre
todos os prefeitos da Região- na pesquisa realizada entre a
população do ABCDRM”.
73
Outros artigos dos Informativos Municipais contestaram as matérias
publicadas pela imprensa diária. Não referência no texto escrito, mas
provavelmente o artigo referia-se à reportagem publicada pelo Jornal da Tarde,
em 11 de agosto de 1986. A ilustração que acompanhava a matéria do
Informativo mostrava o prefeito segurando um jornal, que provavelmente era o
Jornal da Tarde.
72
Diadema Jornal, 16 a 19/08/1986.
73
Informativo Municipal-Número Especial – Março/1988.
86
Informativo Municipal: número especial-fevereiro-março/1987.
“Contrariando a opinião emitida por alguns jornais da
chamada ‘grande imprensa de São Paulo’, Diadema não está
passando por esvaziamento econômico, identificado pela estagnação
industrial e comercial. O Município tem crescido na atual
administração petista conforme atestam os seguintes dados: em
1982, antes portanto da presente gestão, a Cidade possuía 21.728
residências cadastradas, em 1986 o número elevou-se a 26.074
representando aumento de 20%. As unidades comerciais de 2.888
em 82 passaram a 4.400 crescendo 92% e as indústrias de 866 para
1.248 com elevação de 44%
74
.
No entanto, a disputa era desigual, uma vez que os jornais da grande
imprensa atingiam todo o país e a imprensa falada muitas vezes legitimava
estes procedimentos. o Diadema Jornal e principalmente os informativos
municipais tinham sua circulação restrita à cidade.
As informações acima, que questionavam os dados publicados pelo JT
sobre Diadema, não chegaram à imprensa diária paulistana e,
conseqüentemente, aos leitores que não moravam no município. A assessoria
buscou o direito de resposta ou de defesa, o que aconteceu como vimos acima,
mas de forma restrita, uma vez que as críticas à administração mereceram
74
Informativo Municipal – Número Especial - Março/1987.
87
lugar de destaque nas publicações, não ocorrendo o mesmo com a resposta do
Partido, contestando os dados divulgados pelo JT.
O interesse da grande imprensa pela administração Gilson Menezes
deve ser considerado dentro do contexto de transição política pelo qual
passava o país, conforme analisa Marcos Napolitano: “Em 1982 as oposições
liberais, aglutinadas em torno do PMDB, venceram as eleições nos principais
estados. Apoiada nestes resultados a ‘grande imprensa’passou a traduzir uma
nova ofensiva liberal na busca da hegemonia no processo de transição. Com a
ameaça, ainda que tímida, do PT, um partido nascido do movimento social,
tratava-se de acelerar a transição para evitar a corrosão da situação sócio-
econômica do país, em situação lastimável, favorecesse uma ruptura mais
profunda. Esta opção, defendida pela esquerda, obviamente, era vista com
desconfiança pelos liberais. Para conseguir a hegemonia naquele contexto,
que assistia ao incremento da participação popular organizada na medida do
próprio enfraquecimento do regime militar, os liberais deveriam superar os
limites do seu discurso, que enfatizava a mudança puramente institucional, de
uma forma ou de outra, incorporar os temas e demandas dos movimentos
sociais (justiça social, participação decisória, liberdade sindical, etc.)”
75
.
O fato de um partido que surgiu dos movimentos sociais passar a ocupar
espaços de representação política no Legislativo e no Executivo a partir de
1982, repercutiu de forma intensa na grande imprensa, pois foi muito além do
caráter reivindicativo dos movimentos sociais e esbarrou na representatividade
da elite. Nos momentos de união partidária, como nas Campanhas das Diretas
Já, as críticas ao PT não foram tão contundentes, mas nos momentos de
disputa eleitoral, como nas eleições para o Governo do Estado em 1986, as
críticas foram acentuadas e a administração petista de Diadema foi ampliada
para o cenário nacional.
88
Capítulo 2
Imprensa- Diadema- Desafios Locais
Neste capítulo, selecionei artigos que fazem um balanço da
administração em diversas áreas, procurando analisar as características gerais
da cidade abordadas nas diferentes fontes, enfatizando os espaços destinados
pela imprensa diária paulistana, imprensa local e informativos municipais aos
diversos sujeitos sociais: governantes e diferentes segmentos da sociedade,
como as Sociedades Amigos de Bairro, os Conselhos Populares, a Câmara
Municipal, a Associação Comercial e Industrial de Diadema, entre outros.
Muitos artigos da grande imprensa ressaltavam os problemas existentes
devido principalmente à falta de infra-estrutura na cidade. Eram também
noticiadas as propostas da administração, anunciando os planos do novo
prefeito em diferentes áreas, enfatizando a reurbanização das favelas. Outro
destaque da grande imprensa e imprensa local foi a questão da violência.
A maior parte dos artigos da grande imprensa sobre a cidade destacava
o grave problema de um terço da população morar em favelas. No artigo
“Diadema faz 24 anos em meio a problemas surgidos com o progresso
76
,
assinado por Antenor Braido e localizado no caderno destinado às notícias
locais e interior, foram enfatizados os problemas de infra-estrutura, o grande
número de favelas e a alta taxa de mortalidade infantil.
“Nos seus 24 Km2 vivem atualmente 315 mil habitantes,
imigrantes japoneses, portugueses, italianos e migrantes nordestinos,
espalhados em 11 bairros. Mas um terço da população , pouco mais
de 100 mil pessoas moram em 132 núcleos de favelas. Além disso,
apenas os bairros centrais são dotados de infra-estrutura necessária
e os demais não tem esgotos nem asfalto.
Essa deficiência de moradia, aliada a outros problemas,
agravou muito a saúde da população e hoje morrem
75
Marcos NAPOLITANO, Cultura e Poder no Brasil Contemporâneo (1977-1984), p.156-157.
89
aproximadamente 100 crianças em cada mil, uma das maiores taxas
de mortalidade infantil do Estado, comparável a algumas regiões do
Nordeste”
77
A foto mostra a região central da cidade em que infra-estrutura, mas
o texto ressalta que são apenas os bairros centrais que possuíam essa
configuração, pois os bairros periféricos não tinham sequer os serviços
essenciais. O jornal não relacionou os problemas do município com o
crescimento desordenado, causado pela industrialização do ABCD paulista.
Folha de São Paulo: edição de 04 de dezembro de 1983.
É importante levantarmos algumas informações sobre o município, para
que possamos compreender sua configuração na década de 1980. Baseado
em dados coletados no material produzido pelo Centro de Memória de
Diadema, verificamos que a cidade localizada entre o litoral – Vila de São
Vicente e o planalto Vila de São Paulo de Piratininga, começou a ser
povoada no século XVIII e era uma via de ligação entre São Bernardo e Santo
Amaro. A região que hoje é tida como Diadema era constituída por quatro
povoados pertencentes a São Bernardo até a década de 40: Piraporinha,
Eldorado, Taboão e Vila Conceição. Dispersos, eles eram ligados apenas por
76
Folha de São Paulo, 04/12/1983.
77
Folha de São Paulo, 4/12/1983.
90
caminhos precários e tinham características próprias. Piraporinha próximo a
São Bernardo; o Taboão, também ligado pela proximidade de São Bernardo e
São Paulo. A Vila Conceição era formada pelas chácaras pertencentes ao
loteamento da Empresa Urbanista Vila Conceição. O Eldorado passou a
despertar o interesse de pessoas que procuravam opções de lazer, com a
criação da Represa Billings, a partir de 1925.
78
Até a década de 50, Diadema não teve grandes transformações, mesmo
ficando apenas a 17 Km da cidade de São Paulo, que passava por um intenso
processo de industrialização. A partir da construção da Rodovia Anchieta,
ocorreram mudanças significativas no que se refere à ocupação do município,
como ressalta Irene Barbosa de Moura, em seu estudo sobre Diadema: “essa
rodovia trouxe para seu entorno, indústrias de São Paulo, atraídas pelo baixo
custo das terras, incentivos fiscais, facilidade de escôo da produção e
inexistência de restrições à poluição. Apesar de localizar-se próxima à divisa de
Diadema com São Bernardo do Campo, a Anchieta produziu modificações na
cidade, na medida que dinamizou novas formas de apropriação do espaço, das
relações sociais e de trabalho. No início da década de 1960, algumas antigas
chácaras foram vendidas e em seu lugar surgiram empresas de pequeno porte,
ocorreu então um adensamento populacional com a introdução do migrante,
sobretudo o nordestino, e esses fatores, consequentemente, influíram nos
modos de vida e de trabalho da comunidade que se constituíra em moldes
rurais”
79
.
De acordo com Julio Assis Simões, “a suburbanização de Diadema
ocorreu em conseqüência da industrialização de São Bernardo do Campo. Nos
anos 50, a Via Anchieta tornou-se o grande eixo de localização da indústria
automobilística (...). A mão -de –obra atraída pelas indústrias intensificou a
demanda de lotes residenciais em todo o município de São Bernardo. As áreas
mais próximas da auto-estrada valorizaram-se rapidamente, levando a
população trabalhadora à procura de terras mais baratas na antiga área rural.
78
Dados obtidos a partir de informações do site www.diadema.sp.gov.br.
79
Irene Barbosa de MOURA, Vila Conceição: práticas sociais na construção da cidade – 1930-1960. p.
22.
91
O distrito de Diadema começou assim, nos anos 50, a receber novos
moradores, principalmente nas localidades mais próximas de São Bernardo”.
80
De 1950 a 1960, a população do município quadruplicou. Diadema
conseguiu a emancipação política de São Bernardo do Campo em 1960. Com
a crescente industrialização dos anos 60 e 70 houve expansão das atividades
de comércio e serviços, sendo adotadas medidas de incentivo fiscal que
facilitaram a instalação de indústrias em Diadema, tornando-se uma das doze
maiores arrecadações municipais do Estado. As indústrias de pequeno e médio
porte principalmente de autopeças e componentes, em sua maioria
complementares às empresas automobilísticas instaladas em São Bernardo do
Campo, predominavam em Diadema.
A mão-de-obra residente no município caracterizava-se por
trabalhadores migrantes e sem especialização, que trabalhavam principalmente
nas indústrias de São Bernardo do Campo. No início da década de 80, com a
crise econômica houve o fechamento de indústrias e o conseqüente aumento
do desemprego. Em 1982, Diadema possuía 300.000 habitantes, sendo que
1/3 morava em favelas, era composto por uma população jovem e carente de
80
Julio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso. p.53.
92
atendimento médico e saneamento básico. Segundo lio Assis Simões, no
início da gestão Gilson Menezes, Diadema caracterizava-se por ser um
município de origem recente, em que houve o desaparecimento da estrutura
agrária, devido ao veloz incremento da urbanização e comunicação. Grande
parte da população não era composta por mão-de-obra qualificada, ou seja,
exercia atividades que exigissem apenas a escolaridade básica e estava
excluída de melhores oportunidades econômicas e sociais.
Nos anos 60, houve grande crescimento populacional e uma
conseqüente expansão de forma desordenada dos loteamentos populares para
terras menos valorizadas comercialmente. Essa crescente ocupação não foi
acompanhada pela expansão da infra-estrutura urbana.
O aumento da população intensificou-se nas duas décadas seguintes,
conforme podemos observar na tabela abaixo:
Tabela 1- Evolução da população residente em Diadema e na Grande São Paulo,
1960/1980:
81
ANO POPULAÇÃO POPULAÇÃO
DIADEMA GRANDE SÃO
PAULO
1960 12.308 4.791.245
1970 78.914 8.139.730
1980 228.660 12.588.725
Fonte: Censos gerais IBGE.
Diadema cresceu em ritmo acelerado desde sua emancipação política.
Esse aumento demográfico está relacionado ao desenvolvimento industrial do
ABCD paulista, que recebeu migrantes de vários estados, principalmente do
Nordeste e Minas Gerais.
Segundo Kayano, “A imagem corrente da cidade no início dos anos 80
era de um grande acampamento, sem as mínimas condições de infra-estrutura,
81
Júlio de Assis SIMÕES. O Dilema da Participação Popular - a etnografia de um caso, p. 67.
93
montado para fornecer mão-de-obra menos qualificada para a indústria da
região: o pessoal especializado era ‘importado’ de outros municípios.”
82
No artigo da Folha de São Paulo, “Diadema faz 24 anos em meio a
problemas surgidos com o progresso”
83
, a falta de infra-estrutura foi citada,
mas também foram ressaltadas as realizações de Gilson Menezes, que
procuravam melhorar as condições de vida da população pobre. As ações do
prefeito nas áreas de saneamento, transporte e saúde mostravam a
preocupação em melhorar as condições de vida da população.
“Os 132 núcleos de favelas, por exemplo, estão dotadas de
luz e água. No setor de transportes, introduziu o passe gratuito para
desempregados, idosos e aposentados. Na área da saúde, além do
novo pronto socorro municipal, as regiões mais carentes, como os
bairros localizados nas proximidades da represa Billings, estão sendo
atendidos por equipes volantes de médicos”.
A necessidade em dotar a cidade de infra-estrutura estava presente
também nos informativos municipais como sendo a principal preocupação
dessa gestão.
“Diadema cresceu muito rápido (...). O centro da cidade
tem todos os seus melhoramentos, mas, desde o início da atual
administração, a preocupação maior tem sido com os bairros. A
própria população através do Conselho Popular, estabeleceu como
prioridade a implantação de guias, sarjetas e pavimentação
84
.
Aqui observamos a preocupação em construir uma imagem de cidade
digna, oferecendo os serviços sicos à população. A grande imprensa
noticiava os problemas existentes nos bairros periféricos e os informativos
municipais ressaltavam os objetivos da prefeitura em priorizar os bairros,
investindo primeiramente em infra-estrutura, ou seja, não mascarava os
82
Jorge KAYANO. Evolução Comparada da Qualidade de Vida nos Município Brasileiros – 1983-1992
Diadema, p. 1.
83
Folha de São Paulo, 04/12/1983.
84
Informativo Municipal – Muro e PasseioVamos mudar a paisagem da cidade, s.d.
94
problemas, mas deixava claro quais medidas estavam sendo tomadas para
saná-los.
No mesmo artigo da FSP, de 04/12/1983, são abordados os conflitos
existentes entre Gilson Menezes e o PT, quanto à forma de governar e quanto
à relação entre a administração e os diferentes setores sociais:
“A administração do prefeito recebe elogios em vários
segmentos sociais. ‘Para nós ele é uma agradável surpresa’, afirma o
presidente da Associação Industrial e Comercial engenheiro Cinésio
Landgraf. ‘Vem administrando para as classes mais pobres, mas não
esqueceu os outros setores’.
No âmbito do próprio Partido dos Trabalhadores, no entanto,
Gilson vem sofrendo grandes restrições. ‘Se a gente colocar o
programa do partido no figurino do que o Gilson vem fazendo, não
certo’, observa o vereador Ivo Ribeiro. Ele está desenvolvendo uma
administração como qualquer outra. Nós entendemos que o processo
administrativo deveria ser conduzido essencialmente pelos
trabalhadores com conteúdo ideológico’”.
Através da fala do vereador do PT, Ivo Ribeiro, a FSP demonstrou
certo sectarismo do Partido dos Trabalhadores, na medida em que discordava
dos métodos administrativos de Gilson Menezes, que estaria governando para
todos os segmentos sociais, por receber elogios do presidente da Associação
Industrial e Comercial, dando a entender que era uma prática isolada dentro do
Partido e até recebendo críticas por não firmar a imagem de uma administração
conduzida por trabalhadores.
O jornal enfatizou a contradição entre o discurso do Partido dos
Trabalhadores e a prática administrativa. Segundo Jeanne Bisilliat, “a vitória
precoce de Diadema ofereceu ao PT a primeira oportunidade de se confrontar
com as dificuldades do exercício do poder, de rever a sua postura dogmática
em relação a alguns temas”,
85
ou seja, o governo apontava para a necessidade
de atender a todos os setores da sociedade, mesmo priorizando os mais
carentes.
95
Houve mudança no discurso de Gilson Menezes durante a campanha,
baseado na idéia de que a administração seria dos trabalhadores, através dos
“conselhos populares”. No decorrer da sua gestão, passou então a adotar
outros lemas: “sou prefeito de toda a população de Diadema” ;a administração
se impõe pelas suas realizações.”
86
Essa mudança de discurso e
posicionamento do prefeito no exercício do poder foi alvo de críticas por parte
do Diretório Municipal do PT e bastante explorado pela imprensa, que na
construção das notícias confundiu governo e partido.
Esse mesmo artigo descrevia a posição do prefeito em relação aos
diversos segmentos sociais da cidade.
“Na realidade, Gilson Menezes resolveu administrar para
‘toda a população ’, o que inclui empresários e comerciantes. não
para fazer de outra forma, afirma, seria uma loucura. Estamos
vivendo num regime capitalista. Temos de saber dar os passos
corretos’. Com isso dos seis vereadores do PT, quatro estão
rompidos com o prefeito e lhe fazem verdadeira oposição.”
A “contradição” entre o discurso do Partido e a prática administrativa foi
explorada em vários artigos, principalmente nos que se referiam à postura do
governo municipal com relação aos funcionários públicos, não atendendo às
reivindicações dos mesmos e muitas vezes agindo de forma repressiva.
Denúncias de corrupção, contratos realizados sem licitação e empreguismo em
diversos órgãos municipais, desgastavam a imagem de um partido que primava
pela honestidade e coerência política. A atitude da grande imprensa era
desqualificar o Partido, julgando e condenando de forma onipotente.
Outra questão apontada pelo artigo da FSP de 4/12/1983, “Diadema faz
24 anos em meio a problemas surgidos com o progresso”, referia-se à questão
da governabilidade da cidade na medida em que o prefeito não contava com o
apoio da própria bancada. Dos seis vereadores, formado “por um grupo de
lideranças jovens (prefeito e vereadores eleitos tinham todos menos de 35
85
Jeanne BISILLIAT, onde os rios refluem – Diadema, 20 anos de democracia e poder local, p.35.
86
Julio Assis SIMÕES, O Dilema Participação Popular-a etnografia de um caso, p.174.
96
anos), operários, de nível de instrução primária ou secundária, sem qualquer
experiência parlamentar, que até então desempenhavam papel subordinado ou
pouco expressivo na vida política local”
87
, ganharam força política devido ao
fortalecimento do movimento sindical no ABC paulista. Quatro deles romperam
com a administração que encontrava resistência da oposição, formada pelo
PMDB, PTB e PDS, totalizando 11 vereadores. Essa resistência por parte dos
vereadores do Partido dos Trabalhadores tinha como principal argumentação o
fato de Gilson se distanciar das bases e se aproximar dos petistas “de fora”,
que passaram a exercer maior atuação política no município.
A imagem de um partido fragmentado, que não conseguia unidade nem
ao menos entre o Poder Executivo Municipal e os seis vereadores petistas,
reforçava a idéia de que jamais teria condições de exercer governos tanto no
âmbito estadual como no federal.
O Diadema Jornal abordava os problemas da cidade, mas dava grande
ênfase aos melhoramentos existentes, valorizando principalmente as ações do
PMDB através da ação do Governo Estadual, exercido por Franco Montoro
(15/03/1983 a 15/03/1987) e posteriormente por Orestes Quércia (15/03/1987 a
15/03/1991), ou de suas lideranças na Câmara Municipal. Priorizava notícias
sobre investimentos na região central, local em que estava concentrado o
comércio e os prestadores de serviços, principais anunciantes do periódico. As
críticas à administração municipal eram comuns em alguns editoriais e,
principalmente, no espaço reservado aos leitores.
O periódico apresentava em suas edições um pretenso apartidarismo,
como por exemplo, o editorial de 29 de agosto de 1984, data dos 21 anos do
Diadema Jornal “eqüidistante politicamente de partidos e ideologias temos
procurado manter a imparcialidade diante dos fatos e, se somos levados como
jornalistas ao ataque ou defesa de certas questões, é porque como disse
alguém não se pode ser neutro entre o crime e a virtude”. Aqui, percebemos
que o jornal se coloca como juiz e quando se manifesta, é porque soube
discernir o que é bom ou ruim para a sociedade, portanto, está prestando um
relevante papel. Quando não pode ser neutro é porque a sociedade precisa ser
orientada.
87
Júlio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso, p.90.
97
Os títulos dos artigos nos mostram que essa neutralidade de fato não
existia. No DJ, na gina 4 dessa mesma edição comemorativa (29/08/1984),
aparecem as seguintes manchetes: “Montoro colocará médicos em todos os
municípios”, ou seja, uma clara enaltação à atitude do governador. O título
não faz menção aos secretários envolvidos ou às reivindicações e lutas da
população para conquistar essas melhorias. Na mesma página, está o seguinte
artigo: Favelados poderão construir com tijolos de solo-cimento”. Na
construção do texto, o jornal cita que a proposta da utilização do solo-cimento
era do prefeito Gilson Menezes, mas seu nome não foi destacado na
manchete, o que faz pensar que as ações do governador eram mérito dele,
mas as ações do prefeito não aparecem de forma tão relevante, pois embora
ele fosse o elaborador da proposta, na manchete não existia referência ao
prefeito.
No mesmo dia, também na primeira página, lê-se a manchete: “Diadema
solicita Cadeia Pública para a região”, com o seguinte desenvolvimento:
“O presidente da Câmara de Diadema, vereador José dos
Santos Rocha, no firme propósito de instalação de uma Cadeia
Pública na Região, encaminhou à Mesa , na última quinta feira,
requerimento nesse sentido solicitando ainda que seja oficiado o
governador do Estado, Franco Montoro, além do secretário de
Segurança Pública Michel Temer.”
O posicionamento do poder executivo municipal não é abordado,
aparecendo apenas como colaborador de algumas ações, como podemos
observar na publicação do dia 11/07/1984:
“Projeto Vida: fim dos acidentes de trânsito.”
“O projeto lançado pela Secretaria da Educação com a
supervisão da Polícia Militar vem obtendo excelentes resultados em
várias cidades, inclusive Bahia e Minas Gerais. As crianças aprendem
e ensinam as regras do trânsito, mães participam, a polícia participa,
a prefeitura colabora (...)”.
98
O artigo valoriza o projeto e avalia a ação da prefeitura apenas como
colaboradora, dando os méritos do projeto para o Governo Estadual.
Era muito comum que a primeira página apresentasse notícias da
atuação do governo do Estado no município, como nos exemplos abaixo:
Governo Estadual expõe andamento do Projeto ABC” (DJ
13/06/1984):
“O Governador Franco Montoro, secretários de Estado e
presidentes de empresas de economia mistas e autarquias reuniram-
se ontem no Palácio dos Bandeirantes, na última semana, com
deputados federais e estaduais, prefeitos e lideranças do PMDB na
área do ABCD, expondo o atendimento de reivindicações da região
encaminhadas ao Governo do Estado em abril último através de
documentos conjuntos dos município .O Projeto “ABC”, como é
denominado o documento, apresenta as seguintes reivindicações de
caráter regional: redução das enchentes do Rio Tamanduateí e
afluentes; recuperação da represa Billings; aumento do efetivo
policial; construção de escolas e obras do sistema viário”.
.
A criação de empregos por parte do Governo Estadual também era
constantemente lembrada, principalmente com a instalação da rede de trolebus
no ABC paulista. Na edição de 13 a 17/01/1985, temos:
”Terminal de trolebus em Diadema irá criar 1800 empregos”.
O Governo Estadual, segundo o Diadema Jornal, além de ser
compromissado com a população mais pobre, ainda estava envolvido na
geração de empregos no município. Analisando a edição de 08 a 10/01/1986,
percebemos que o desemprego constituía um grande problema:
“Associação Comercial critica a proliferação de ambulantes”
“O número de vendedores ambulantes nas cidades do
ABCD paulista aumenta dia-a-dia. Segundo eles ser ambulante foi a
fórmula encontrada para ganhar a vida e driblar a crise do
desemprego (...)
99
‘A proliferação de marreteiros prejudica o comerciante
local afirmou Paes Leme, Secretário da ACID. Segundo ele os
marreteiros deveriam ser confinados em certos locais da cidade.
Leme disse que a entidade sugeriu ao prefeito Gilson Menezes, que
os colocassem na Praça da Moça. “Atualmente, os ambulantes estão
espalhados por toda a Cidade, inclusive com mais intensidade no
centro comercial, diz secretário”.
Esse artigo, além de apontar para a questão do desemprego, nos traz
também os conflitos existentes entre os comerciantes legalmente estabelecidos
e os ambulantes, embora o jornal não afirmasse claramente sua posição
quanto ao fato. Na construção da notícia, percebemos alguns termos que
demonstram certa rejeição aos ambulantes, quando, por exemplo, utilizou o
termo marreteiro ou pelo fato de dar espaço à Associação Comercial e não dar
espaço aos ambulantes para que o leitor pudesse melhor avaliar a situação.
Cabe lembrar que o DJ tinha como principais anunciantes o comércio local.
Abordando as ações conjuntas dos diferentes níveis de poder, temos a
edição de 15 a 18 de março de 1986, cujo destaque era para a visita de Gilson
à Brasília: “Congresso deve aprovar empréstimo à Diadema”, relatando sobre a
verba para a construção de galerias de águas pluviais e sarjetas na periferia de
Diadema, beneficiando 105 mil pessoas.
As ações e relações do governo municipal com os governos estadual e
federal eram enfatizadas, embora as ações do Governo Estadual se
sobrepusessem às demais esferas de poder, sendo normalmente valorizadas,
salvo algumas exceções como a matéria publicada na edição de 19 a 21 de
março, tendo como principal notícia a
SABESP.
“Mesmo sem racionamento falta água em Diadema”.
“(...) vários bairros reclamam do alto preço cobrado nas
contas de água, a forte pressão adquirida quando chega a água faz
com que os relógios disparem, acusando um fornecimento irreal”.
100
Aqui vemos um dos poucos artigos que trazem críticas aos
serviços estaduais no município, pois estes normalmente eram enaltecidos,
como por exemplo, na matéria da página 5 de abril de 1986:
“Eletropaulo instala energia em barracos”.
“A Eletropaulo atendeu nestes, últimos meses mais de 1500
pessoas carentes, através de seus programas sociais de baixa renda,
Pró-Luz e iluminação pública em favelas, criados para assegurar o
conforto e a segurança da energia elétrica à população carente. Com
o programa Baixa Renda, que beneficia consumidores, cuja renda
não ultrapasse três salários mínimos. (...)
através do Programa de Iluminação Pública em
Favelas no mês de janeiro, a regional realizou serviços de
implantação de seis luminárias nas vielas internas de circulação de
diversas favelas localizadas no Município de Diadema, beneficiando
mais de 725 carentes”.
Notamos a valorização dos serviços estaduais caracterizados por
atenderem a população pobre, fazendo parte de um governo compromissado.
Anteriormente a ação da Eletropaulo havia sido elogiada na edição de 8 a 10
de janeiro de 1986, na página 9:
“Tarifa social da Eletropaulo ajuda população favelada”.
“A adoção da tarifa social de energia elétrica, que
deverá ser anunciada em breve pelo Ministério de Minas e Energia,
vem sendo praticada pela Eletropaulo, desde outubro de 1984,
através da fixação de uma taxa mínima, destinada à população
favelada”.
Na edição de 22 a 24 de janeiro de 1986, temos: “Eletropaulo amplia
rede de energia no município”.
Percebemos que há uma comparação da atuação do Governo Federal e
do Governo Estadual, que segundo o jornal, estava muito adiante em termos
de ações sociais, nesse caso exemplificado com a boa atuação da Eletropaulo.
101
Nas diversas fontes pesquisadas, não foram noticiados os embates
diretos entre o governo estadual e o governo municipal, principalmente na
gestão Franco Montoro. Segundo Julio Assis Simões, em seu estudo sobre a
participação popular na gestão petista em Diadema, as relações eram boas
inicialmente pelo fato de alguns intelectuais e cnicos, os chamados ‘petistas
de fora’, ou seja, que tinham uma trajetória política em outras cidades, terem
acesso às secretarias do governo estadual. Outro aspecto citado por esse
autor é o fato de Gilson Menezes fazer parte da Frente Municipalista, “uma
articulação de prefeitos, encabeçada pelo então vice-governador Orestes
Quércia, que se constituiu num instrumento de pressão a favor da liberação de
verbas públicas para o município.”
88
Alguns projetos uniam o PT ao PMDB na
década de 80, na busca de alternativas para redemocratizar o Estado,
primeiramente no Governo João Baptista Figueiredo e mesmo no governo
Sarney, representante de setores que apoiaram o regime militar.
Existiram momentos de maior confronto entre a administração de
Diadema e o Governo Estadual, como por exemplo, na questão da vigilância
das escolas municipais, noticiada apenas pelo Diadema Jornal. Embora o
jornal local não assumisse uma posição de confronto direto com o governo
municipal, muitas vezes essa posição era assumida na coluna reservada aos
leitores.
No DJ existia um espaço denominado “O Leitor Escreve”, publicado na
página 3, mas não havia uma participação constante dos leitores, ou seja, não
era publicada em todas as edições e vinha acompanhada pela seguinte nota da
redação: As cartas para esta coluna só serão publicadas quando vindas com o
nome completo do destinatário, RG, endereços e telefone (se tiver), além de
estar devidamente assinada. O Diadema Jornal, não devolve originais, mesmo
quando não publicados, bem como não se responsabiliza por conceitos ou
opiniões emitidos pelos leitores.” Não menção sobre os critérios para a
publicação ou não das cartas.
Várias cartas dos leitores faziam críticas à administração Gilson
Menezes e muitas vezes mostravam as “contradições” do discurso e da prática
administrativa do PT. No dia 02 de fevereiro de 1985, a carta da leitora Luiza
88
Julio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso, p.110.
102
Margarida Mello Alves, enviada para o secretário estadual da educação, Paulo
Renato de Souza, pedia para que tomassem providências frente à medida
adotada pela PMD, pela retirada dos guardas municipais das escolas
estaduais. Percebemos que a carta acima citada, claramente “anti-PT”, estava
afinada com o jornal que valorizava a ação do Governo Estadual no município
de Diadema. Abaixo, temos um trecho da referida carta:
“Retirada de guardas é atitude anti-criança”.
(...) É profundamente lamentável, Sr. Secretário, que mais
essa adversidade venha recair sobre os trabalhadores deste
Município e seus filhos, já tão carentes em termos de educação e isto
justamente no único município brasileiro regido por um prefeito do
Partido dos Trabalhadores, mas que atingiu com essa medida
sumamente anti-trabalhador, anti-jovem e anti-criança, todos os
munícipes como nenhum outro prefeito anterior que não se dizia
Prefeito dos Trabalhadores”.
Um mês depois (02/03/1985), o jornal retornava ao assunto, mostrando
o acordo que foi feito entre Governo Estadual e Prefeitura para resolver esse
problema.
“Guardas da Prefeitura de voltas às escolas”
“(...) o Governo Estadual vai repassar Cr$ 45 milhões, para
que possa executar serviços de manutenção nos prédios. Espera-se
também uma trégua na luta política entre PT e PMDB em virtude da
solução para este problema
”.
No período da publicação da carta escrita pela leitora, até o acordo entre
Governo do Estado e PMD, uma rie de notícias sobre depredações das
escolas foi noticiada, envolvendo como responsável pelas depredações um
vereador do PMDB. No dia 27 de fevereiro de 1985, Gilson Menezes fez a
seguinte declaração à imprensa: “que suspeita do movimento organizado pelo
103
PMDB para desestabilizar sua administração nas ações de vandalismo
ocorridas nas escolas do município”.
Nesse caso, o DJ procurou ouvir as duas partes envolvidas: tanto a
Prefeitura, como o vereador acusado pelas depredações, mas a carta da leitora
deixava muito claro que o descontentamento era com o prefeito Gilson
Menezes, cobrando coerência do partido que por ser dos trabalhadores, não
poderia tomar medidas que prejudicassem os mesmos, pelo fato do prefeito
retirar a vigilância das Escolas Estaduais. A responsabilidade desse serviço
prestado não foi questionada, ou seja, se as escolas eram estaduais, porque o
município deveria arcar com essa função?
O DJ teve também uma posição diferenciada da grande imprensa e dos
informativos municipais, na medida em que garantia maior espaço às
organizações existentes no município, relacionadas às práticas políticas
dissonantes das idéias do PT, como por exemplo, as Sociedades Amigos de
Bairro, que tinham como características o assistencialismo e o clientelismo. A
grande imprensa não noticiou de forma pormenorizada a atuação das SAB´s e
Conselhos, mesmo porque, como vimos no capítulo 1, sua principal intenção
era trazer o debate sobre Diadema, abordando as contradições e incoerências
do PT, trabalhando com avaliações gerais sobre a cidade. os informativos
municipais valorizavam a ação dos Conselhos Populares.
Segundo Julio Assis Simões, “As SAB’s existiam em Diadema desde os
anos 60 e estavam, de modo geral, integradas à lógica de transações e
barganhas do poder municipal que era condenada no discurso do PT. Houve,
apesar de tudo, esforços isolados de militantes para participar das SAB’s
locais, mas no geral estas ficaram impermeáveis à influência do PT”
89
. Em
contrapartida, pouco espaço foi destinado aos Conselhos Populares,
considerados a grande inovação da administração municipal. Essas lacunas
em relação ao Governo Municipal também nos indicam uma posição do
periódico local, de acordo com Marilena Chauí: “O discurso ideológico é um
discurso feito de espaços em branco, como uma frase que houvesse lacunas.
A coerência desse discurso (...) não é uma coerência nem um poder obtidos
malgrado as lacunas, malgrado os espaços em branco, malgrado o que fica
104
oculto; ao contrário, é graças aos brancos, graças às lacunas entre as suas
partes, que esse discurso se apresenta como coerente”
90
.
O fato do DJ dar mais espaço às SAB’s ligadas aos governos
anteriores, em detrimento dos Conselhos Populares, marca da administração
petista já nos indicam o posicionamento político do periódico.
Na edição de 17 de abril de 1985, o confronto entre os vereadores do PT
e as Sociedades Amigos de Bairro foi abordado na página 5:
“Vereadores rejeitam projetos nas Comissões”
“(...) Por considerar que mais de duas décadas, o
movimento de SAB’s vem desempenhando uma árdua luta
reivindicatória com a população junto aos poderes constituídos,
Moreno (PMDB) propôs uma homenagem às SAB’s (...)”.
Mas os vereadores do PT, Arquimedes de Andrade e Ivo
Ribeiro, que fazem maioria na Comissão de Educação, Cultura e
Assistência Social, consideraram a medida como um privilégio ao
movimento das SABs e rejeitaram o projeto na Comissão Técnica.
(...) não me estranha o posicionamento do PT, que esse
partido tenta boicotar de toda forma esse tipo de organização em
Diadema, em favor de outro (os centros comunitários) onde estes têm
mais influência política (...)”.
A atuação das SAB’s foi abordada na entrevista realizada com a Sra.
Elizabeth Fernandes, primeira presidenta da Sociedade Amigos de Vila Santa
Terezinha, entre os anos de 80 a 85, que fez o seguinte relato:
“A sociedade conquistou várias melhorias para o bairro como:
água, luz, esgoto, telefone, asfalto, guias (...) Atividades como:
campanha do agasalho, distribuição de brinquedos para crianças no
Natal, festa do sorvete. Essas atividades eram organizadas pela SAB
com o objetivo de ajudar os pobres, conseguindo inclusive caminhões
de agasalhos, Kombis com brinquedos para as crianças, vindas do
89
Julio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular, - a etnografia de um caso, p.79.
90
Marilena CHAUI, Cultura e Democracia, p. 21 -22.
105
Governo do Estado que na época era Paulo Maluf, alguns políticos de
Diadema também ajudavam como o Sr. Jorge Ferreira”(...)
91
.
Nessa entrevista fica claro o caráter assistencialista das SAB’s, diferindo
da proposta da organização popular das Comunidades de Bairro ou do
Conselho Popular, como mostra o depoimento de Paulo Barbosa de Oliveira:
“Aqui em Diadema mesmo, eu comecei a participar dos movimentos
populares, aqui no bairro com a administração do PT. Nós tínhamos
acesso ao prefeito e tínhamos como chegar no prefeito e pedir os
interesses da população, melhoria para o bairro e assim fomos
começando a luta. Muitas vezes saia do serviço e ia para a prefeitura,
porque as pessoas do movimento tinham mais acesso ao prefeito.
Nós tínhamos uma eleição para o conselho popular então nós fomos
eleitos pelo povo. Cada região tem o seu conselho popular. Nós
íamos lutar e o pessoal indicava as guias, sarjetas ou qualquer outra
coisa.”
92
Percebemos que a fala é diferente, não o caráter assistencialista,
mas o caráter de representatividade e de luta, o que outra dimensão aos
movimentos. A idéia é de que as pessoas não precisam ser ajudadas, elas
possuem direitos e são capazes de lutar por eles.
O Diadema Jornal priorizava as notícias de caráter político-institucional,
abordando principalmente os embates existentes entre o Legislativo e o
Executivo. As organizações populares, movimentos de bairros e Conselhos
Populares não foram privilegiados por esse órgão de comunicação. As
Sociedades Amigos de Bairro encontraram maior espaço nele, como podemos
observar no artigo de 6/2/85:
91
Entrevista concedida por Elizabeth Fernandes a pesquisador do Centro de Memória de Diadema.
92
Entrevista concedida por Paulo Barbosa de Oliveira a pesquisador do Centro de Memória de Diadema.
106
“SAB’s desejam participar de escolha da Mesa da Câmara”
“O presidente do Plenário da Sociedade Amigos de Bairros,
Vilas e Jardins de Diadema, Jorge Ferreira, manifestou seu desejo de
que na próxima escolha da Mesa da Câmara Municipal, sejam feitas
consultas às entidades representativas da população diademense.
Segundo Jorge Ferreira, em carta dirigida à presidência
e vereadores da Câmara de Diadema, ‘os rumos iniciados com a
participação de todas as camadas sociais do povo brasileiro,
demonstraram que uma nova era se inicia. O anúncio desta nova era
transformou pensamentos, quebrou tabus, encorajou os mais midos
e sobretudo colocou esperança nas mentes dos mais incrédulos tudo
precisa ser melhor avaliado e as mudanças prometidas
concretizadas, para que possamos alcançar a plenitude da
democracia que países do Mundo atual conseguiram e que todos
nós também queremos’- destacou o presidente do Plenário das
Sociedades Amigos de Bairros”.
Esse artigo salienta que as mudanças na sociedade decorrem da luta de
todas as camadas sociais, questionando o discurso dos Informativos
Municipais, que viam na classe trabalhadora a grande propulsora das
mudanças sociais, tendo a luta de classes como fundamento.
O Orçamento Participativo e os Conselhos Populares ocuparam lugar
de destaque na maior parte dos Informativos, buscando a participação da
população, utilizando diversos espaços públicos. Havia a preocupação em
tornar as ações da Prefeitura e a administração do orçamento de forma
transparente, estabelecendo prioridades e dividindo responsabilidades com os
munícipes.
O primeiro Conselho Popular se formou em janeiro de 1983, no
Eldorado, bairro que apresentava sérios problemas, por ter grande parte da
área de mananciais ocupada por loteamentos populares a partir da década de
60. Segundo Julio Assis Simões, essa experiência fracassou devido às divisões
partidárias entre Diretório Municipal do PT e o Executivo Municipal. A
dificuldade estava em se afirmar localmente, uma vez que disputava espaço
com as SAB’s, que representavam diversos segmentos, como os antigos
moradores, camadas médias e moradores de vários loteamentos populares e o
107
fato desse CP manter-se sob influência do diretório municipal do PT. O mesmo
aconteceu com essa experiência em outros bairros.
93
A partir de 1984, a Administração Municipal começou as reuniões por
bairro, com o objetivo de discutir o orçamento. Nos informativos, a divulgação
teve início no número referente ao mês maio de 1984, reforçando o convite e
salientando a importância dessa iniciativa no Informativo de junho de 1984,
sempre trazendo os nomes dos representantes eleitos nos bairros, que serviam
de elo entre o Poder Executivo e a população.
“A elaboração do orçamento do Município para 1985 está
sendo discutida pela população. Tendo como local de reunião as
Escolas Municipais, Estaduais, Postos de Saúde, os moradores de
diversos bairros têm participado das discussões que se realizam nos
fins de semana. Nesses encontros um representante da Prefeitura
explica quais as principais fontes de arrecadação do Município: ICM,
ISS e IPTU. Esclarece também que a Prefeitura tem dívidas
efetuadas nas administrações passadas (...)
Conhecendo os mecanismos de receita e despesa da
Prefeitura, a população pode estabelecer quais os setores prioritários
a serem atendidos com o que sobra e, está constatando que fica
muito pouco para o Município. E, esse pouco, é destinado para os
Departamentos e a Câmara Municipal. Nas reuniões são escolhidos
dois representantes e dois suplentes. Os eleitos terão encontros com
técnicos da Prefeitura para discutir detalhadamente o orçamento de
85 e levar essas discussões para a população, servindo de elo entre
a Administração e a Comunidade”
94
.
No informativo especial, referente à prestação de contas da
administração, publicado em fevereiro de 1985, foi feito um balanço das
reuniões do Orçamento Participativo trazendo um resumo das principais
receitas e despesas do município. É interessante observar que através dessas
discussões, a administração pública chamou a atenção para um debate
nacional que era a Reforma Tributária, publicando material de apoio,
93
Ver a análise de SIMÕES (1992, cap.5).
94
Informativo Municipal nº. 10, 2ª quinzena maio / 84.
108
convocando para a discussão sobre este tema. Percebe-se que a ilustração
seguinte praticamente dispensava o texto escrito sobre a divisão do dinheiro
público entre os governos municipal, estadual e federal. A forma de publicação
dos folhetos e informativos municipais, de certa forma fazia frente às
publicações da imprensa tanto local como diária, que utilizavam uma linguagem
mais formal, muitas vezes inacessível à população. A utilização de charges e
gravuras era muito comum nos informativos, o que facilitava a comunicação,
possibilitando melhor compreensão do texto escrito.
No panfleto sobre a Reforma Tributária, os governantes são facilmente
identificados: no governo federal, o presidente João Baptista Figueiredo, com o
montante maior de dinheiro; no governo estadual, Franco Montoro, com uma
quantia menor e no governo municipal, representado por Gilson Menezes,
recebendo uma quantia desigual e visivelmente preocupado com tal situação. A
fonte dos recursos também era identificada através dos vários impostos. A
publicação mostrava claramente a divisão dos recursos entre as diversas
esferas do governo, ressaltando a difícil situação da prefeitura. Nessa
publicação, as influências de características da imprensa sindical são
perceptíveis, inclusive pela mensagem “leia e passe adiante”, pelos desenhos e
as charges, sempre muito utilizados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e Diadema, facilitando a compreensão do texto escrito.
Essa linguagem utilizada nos panfletos diferenciava-se da grande imprensa e
imprensa local, que utilizavam mais a norma culta e termos técnicos,
dificultando a compreensão de seu conteúdo.
“Da discussão com a população ficou clara a necessidade de
que haja uma Reforma Tributária para que os municípios tenham
condições de fazer frente à inflação elevada e possam cumprir seus
compromissos
95
.
A importância da participação da população nas discussões sobre os
problemas que os afetavam, bem como a tomada de decisões era sempre
ressaltada.
109
Panfleto: Administração Popular de Diadema - reforma tributária (sem data).
No número especial do Informativo Municipal de fevereiro de 1986,
referente à prestação de contas da administração, foi feito um pequeno
histórico do Orçamento Participativo desde 1984 ressaltando a importância da
95
Informativo Municipal, número especial, fevereiro/85.
110
iniciativa inovadora do poder público em Diadema, relatando as ações do
governo e dando ênfase ao processo de estabelecimento das obras prioritárias.
“No final de outubro passado, por volta das nove horas da
manhã, um ônibus saiu do Paço Municipal levando os membros do
Conselho para uma missão inédita: conhecer os pontos mais críticos
dos vários bairros do Município, como um dos critérios pra
estabelecer as obras prioritárias a serem executadas este ano. Desta
forma, os representantes conseguiram ter uma visão geral das
necessidades da Cidade, tendo em vista que cada um, além de
expor, mostrava aos demais a situação da região”.
96
Fonte: informativo municipal de Diadema, fevereiro de 1986.
Percebemos que tanto a foto como o texto têm a preocupação de
mostrar que o Orçamento não era feito apenas no gabinete, mas era discutido
e analisado através do contato imediato com a realidade do município, sendo
uma forma dos representantes terem uma visão geral da cidade e não apenas
do seu bairro, buscando maior solidariedade e responsabilidade na definição
de prioridades.
A cada publicação do balanço anual o número de representantes
aumentava e sempre havia a preocupação de publicar os nomes nos
Informativos.
111
No informativo municipal especial, publicado em março de 1987, a
administração fez um relato do Conselho Popular segundo sua ótica:
“O Conselho Popular surgiu em 1984 como experiência
pioneira para discussão do Orçamento da Cidade”. Nessa edição
existe a preocupação de mostrar as diversas fases de trabalho do
Conselho “O Conselho Popular não se limita apenas a discutir o
orçamento e sua aplicação, ele acompanha a execução das obras,
por meio de visitas de seus membros, às diversas frentes de
trabalho”.
A foto que acompanha a matéria mostra o encontro dos representantes,
sendo que o Prefeito faz parte dessa reunião ouvindo a exposição, ou seja,
existe a valorização do diálogo, passando a imagem de que nada era imposto
pelo Poder Municipal.
Informativo Municipal FEV/ MAR - 1987
Os informativos traziam uma concepção de Conselho que não estava
limitada à filiação partidária, que era defendida pelo diretório municipal do PT.
96
Informativo Municipal, Número Especial – Fevereiro / 1986.
112
Para o prefeito, os Conselhos deveriam ter, como expõe Julio Assis Simões,
“caráter comunitário’, a partir de assembléias nos bairros, com a participação
do maior número possível de moradores interessados”
97
.
O Diadema Jornal dava grande espaço às Sociedades Amigos de
Bairros que atuavam e reivindicavam melhorias estando sempre presentes nas
notícias locais. Por sua vez os Informativos Municipais priorizavam os
Conselhos, por serem considerados pelo Poder Executivo como uma nova
forma de governar baseada na participação popular e que passou a ser marca
da Administração. As outras formas de organização, por estarem vinculadas a
certo caráter elitista, clientelista e assistencialista, não tinham destaque. A
Folha de São Paulo noticiou a formação do Conselho Popular no bairro de
Eldorado, na edição de 24 de janeiro de 1983, citando os objetivos do
Conselho, enfatizando seu caráter fiscalizador em relação à administração,
mas não acompanhou a atuação desse mecanismo de participação no
município.
Embora a discussão do orçamento municipal com os moradores tivesse
sido uma das grandes inovações dessa Administração, não existem estudos ou
relatos do PT sobre essa experiência. Muito se escreveu sobre outros
municípios, principalmente em Porto Alegre, o que nos faz indagar se talvez
isso tenha ocorrido pelo fato de Gilson Menezes ter se desligado do Partido, o
que mesmo assim não justificaria a falta de análise, uma vez que representava
uma gestão mais participativa, cuja experiência deveria ser avaliada e
divulgada.
A jornalista Lais Oreb relata que a convocação para que a população
participasse passou a centrar-se mais nos convites ao Conselho e não às
comissões dos diversos departamentos, visto que tudo era discutido no
Orçamento Participativo. Esse depoimento chama a atenção para as disputas
partidárias, levantando o questionamento do fato do OP ganhar destaque no
caso do Rio Grande do Sul, especialmente em Porto Alegre, enquanto
Diadema, que começou o processo, não teve projeção.
97
Júlio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular – a etnografia de um caso, p. 138.
113
“No primeiro informativo a gente tava chamando as pessoas a
colaborar, depois comecei nas reuniões de diretoria e a imprensa de
um modo geral não tava ajudando muito, não tava falando bem de
Diadema não, muito pelo contrário, então a gente sentiu mais, os
diretores inclusive sentiram isso, mais a vontade de contar o que de
bom tava acontecendo, porque era a única forma que a gente tinha
de dizer olha: tudo bem que tem uma série de coisas ruins que estão
acontecendo, mas em compensação a gente está fazendo isso,
aquilo, aquele outro, então eu acho que foi mais ou menos por aí,
quer dizer ninguém falou olha não chama mais o povo para participar,
não! A gente viu que tinha que fazer material que divulgasse o que
estava acontecendo.
Agora chamamento à população eu acho que a gente fez
mais para o Conselho Popular e esse Conselho apesar de no final da
administração muita gente criticar, que não era bem isso, porque muita gente
era a favor do Prefeito, e não sei que, mas eu acho que foi uma experiência
boa e olha que o pessoal tanto fala do Conselho Popular do Rio Grande do
Sul, mas esquece que o primeiro Conselho começou com Diadema. Tanta
gente reclamou que o Conselho de Diadema, que o povo que ia ao Conselho
era amigo do Prefeito... Ora! O pessoal que tava indo no Conselho desde o
começo da administração e que viu todo trabalho que foi feito, porque que
não poderia ficar a favor do prefeito, tinha que ser contra o prefeito. Veio
muita gente do próprio Partido assistiu essas reuniões, então quando se fez o
Conselho de representantes no Rio Grande do Sul, o pessoal esquece
inclusive o próprio partido esquece que a primeira administração a fazer isso
foi Diadema”.
A valorização do Conselho como forma de participação popular estava
presente nos Informativos Municipais. Havia ênfase na idéia de democratização
do exercício do poder. O Diadema Jornal não ressaltava a atuação do
Conselho Popular, mas em diversos artigos noticiava a organização popular na
luta pela melhoria das condições de vida no município. As ações da prefeitura
e dos moradores foram valorizadas, como por exemplo, na edição de 06 de
julho de 1985, com uma chamada e uma foto na primeira página, com a
seguinte notícia:
114
“Favela do Parque Real
Antes, ratos e esgoto
Agora, união e progresso.
Ratos, lixo espalhado, esgoto correndo a céu aberto, visitas
constantes da polícia. Essa era a rotina do Parque Real. Porém com
o início de sua urbanização, seus moradores se uniram e
descobriram que poderiam mudar aquela situação. Hoje, com a
implantação da rede de esgoto em esquema de mutirão, a imagem da
favela do Parque Real é outra. E seus representantes garantem “já
podemos até sonhar em não sermos chamados de favelado”.
Na página 9 dessa mesma edição, a reportagem completa trazia como
título: “Comunidade favelada se une e conquista suas melhorias”, assinada por
Sueli Auxiliadora dos Santos e a foto (a mesma da primeira página) de
autoria de Celso Luís. Esse artigo tratava não apenas das modificações físicas
do bairro ocorridas com o processo de reurbanização da favela, mas
principalmente das novas relações de convivência a partir desse fato.
“A urbanização de favela, no entender de Francisco
(morador), ‘despertou nossa comunidade para discussões, mais
amplas sobre nossos problemas. ’ As soluções entretanto, não vieram
com facilidade. A primeira proposta da comissão, proibindo a
comercialização de barracos, causou grande polêmica, pois nem
todos eram favoráveis à idéia. Contudo, foi ela que impediu
definitivamente a entrada de pessoas desordeiras na comunidade,
colaborando com a extinção do preconceito que o município tem com
o favelado. (...)
Segundo José Graças do Carmo, outro membro da comissão
da favela, os representantes da favela foram procurar o prefeito
Gilson Menezes. Eles solicitaram a implantação da rede de esgoto na
favela. Devido ao organograma do Executivo estar elaborado, esse
pedido não pôde ser atendido de imediato.
‘Foi que fizemos uma contraproposta: se a Prefeitura
fornecesse o material, nós entraríamos com a mão-de-obra e
construiríamos nossa rede de esgoto’. Gilson aceitou e no mês
passado autorizou o envio de tubos, pedras, areia, cimento e cinco
115
caminhões de terra. Também a, máquina de fazer tijolo de solo-
cimento foi emprestada, a confecção de tijolos servirá inicialmente pra
a construção de caixas coletores. Depois a comunidade pretende
substituir os atuais barracos por casas de alvenaria. (...)
Neusa, moradora da favela há três anos, fala com muito
orgulho do trabalho que está sendo desenvolvido, embora somente
aos sábados e domingos (...) Aqui a cooperação é mútua. Quando
um vizinho está construindo, sempre encontra alguém para ajudá-lo.
Até mesmo mulheres e crianças dão uma forca carregando tijolos (...)
A moradora explicou que, após as mudanças iniciais na
favela, começou a surgir o apoio das Comunidades Eclesiais de Base
(CEB) da Igreja Matriz de Eldorado, do Canhema e da Vila
Conceição. As mulheres ligadas a esse movimento dão aula de tricô,
crochê, pintura em tecido, xilogravura e arte culinária. As aulas são
ministradas na EEPG José Mauro de Vasconcelos, cujo muro faz
divisa com aquele núcleo populacional.
Também o reconhecimento dos demais moradores do
bairro. O proprietário do terreno que faz divisa com a favela pelos
fundos, conforme explicou José do Carmo, permitiu que os
moradores usassem o terreno para o cultivo de hortaliças. (...)
Para as famílias residentes na favela do Parque Real, seu
objetivo será alcançado quando suas casas, de madeira, forem
substituídas por outras de tijolos. Mas o grande sonho do mineiro
José é poder transformar o nome da favela para vila. Assim, talvez a
sociedade não mais o chame de favelado” (...).
O artigo é extremamente significativo, na medida em que nos mostra a
dimensão desses movimentos, ou seja, a questão não é apenas a
reestruturação do espaço físico, mas a forma como as pessoas se organizam
para consegui-lo, como são responsáveis por propostas e encaminhamentos,
como se relacionam com o Poder Público, mostrando a interlocução entre
população e governantes. Enfatiza como os moradores exercem cidadania,
valorizando sua intervenção, capacidade de negociação e dá visibilidade a
movimentos organizados nos bairros, como a atuação das CEB’s.
A construção dessa matéria também é muito interessante, pois o jornal
apresentava depoimentos dos moradores, o que nos faz pensar sobre a
116
amplitude que alcançavam os movimentos de bairro nesse período, passando
a ocupar matérias de página inteira, com manchete na primeira página. A
autora do artigo Sueli Auxiliadora dos Santos posteriormente saiu do Diadema
Jornal e passou a ser redatora dos Informativos Municipais, a convite da
jornalista responsável pela assessoria de imprensa, o que nos mostra a
afinidade da redatora do artigo com as ações desenvolvidas pela PMD.
Na edição seguinte, em 10 de julho de 1985, com chamada na primeira
página, há a indicação da organização de moradores de um outro bairro:
A gora é a comunidade do Jd. ABC que adere ao mutirão.”
Após muitas reivindicações para conseguir a instalação de um Posto
de Puericultura em seu bairro, os moradores do Jardim ABC resolveram
propor à Prefeitura que apenas cedesse material e supervisão técnica,
deixando a mão-de-obra por conta da comunidade local (...)”.
A reportagem tem continuação na gina 2, com a “Proposta levada ao
vereador Washington Mendes, morador do bairro”.
(...) Mendes ostenta nas palavras o exemplo que o Jardim
ABC significará a outras comunidades que tenham reivindicações
semelhantes. A iniciativa do bairro inclusive, foi vista por Gilson
Menezes como uma boa oportunidade de aproximação entre
Prefeitura e população.
(...) Mendes não se assusta com a perspectiva de estar,
dessa maneira se aproximando dos movimentos populares, ‘acho que
essa história da gente dizer que quem é do PT se organiza e faz
as coisas, não existe. ’
Mendes chegou a confessar que não esperava de Gilson uma
receptividade tão grande”.
O vereador Washington Mendes pertencia ao PT, mas tinha a
preocupação de não vincular a organização popular unicamente ao partido. Ao
mesmo tempo, a imprensa local dava maior espaço às reivindicações e
117
lideranças populares, mostrando como certas conquistas mobilizavam vários
sujeitos que estabeleciam novas relações com o poder público, que segundo
as matérias publicadas, se mostrava bastante acessível, salientando a
democratização no exercício do poder.
Não era apenas a organização dos moradores na luta por melhores
condições de vida no município que foram publicadas: a administração
municipal era criticada em diversos artigos, por não atender às reivindicações
da população com a urgência necessária.
Enquanto os Informativos Municipais exaltavam o fato da Prefeitura não
contratar empreiteiras para realizar as obras públicas, alegando que era
economicamente viável para o município, além de empregar a mão-de-obra da
cidade, o Diadema Jornal, no dia 9/02/1985, deu destaque aos problemas
existentes nas obras da Prefeitura:
“Moradores estão revoltados com o desabamento de obras”
“‘Vamos convidar o prefeito para o aniversário de um ano da
ponte sobre o córrego, para ele apagar as velinhas’. Foi o desabafo
da moradora do Jardim São Judas. Como ela, seus vizinhos estão
insatisfeitos com a morosidade das obras públicas, o descaso de
seus responsáveis e a lentidão com que os trabalhadores executam
os serviços. O comércio local foi prejudicado pela dificuldade de
acesso ao bairro. A população local promete reivindicar junto ao
prefeito uma solução rápida, através de passeatas e movimentos
populares ‘que ele encontre meios. Afinal, para onde vai o nosso
dinheiro?’ Lembra Norma.”
Nesse caso o DJ ouviu apenas a população, não buscando as
explicações da Prefeitura. A impressão que temos é que todas as questões que
afligiam os bairros começaram na gestão petista. Assim também acontece
com o exemplo abaixo. Na edição de 17 de abril de 1985, outra reclamação de
morador é publicada na página 5:
118
“Enchentes preocupam moradores da Rua Purus.
Cansado de ver sua casa inundada a cada temporal que cai,
o operário Francisco Antonio da Silva, residente à Rua Purus, 33,
Jardim das Paineiras, não sabe mais a quem apelar. Diz que
conversou com muita gente na Prefeitura, mas ninguém atenção
ao seu problema.”
Não existia tolerância para com a administração, mesmo que
determinados problemas tivessem sido herdados de governos anteriores. A
imprensa local era o espaço encontrado para as reclamações da população
frente aos problemas da cidade.
Um fato que teve grande repercussão no Diadema Jornal, merecendo
destaque na primeira página das edições de fevereiro de 1985, e
principalmente na grande imprensa referia-se à denúncia de que servidores da
Prefeitura do Município de Diadema estavam trabalhando nas obras do
Diretório Nacional do PT, na Vila Mariana, em São Paulo. Arthur Guimarães
Almeida, um dos servidores demitidos por estar envolvido no caso, escreveu na
seção “Carta dos Leitores”, criticando duramente a administração petista no
município (23/02/85):
“(...) Nem nas piores fases da Prefeitura de Diadema em
outras administrações, os serviços públicos chegaram a tal ponto de
estagnação, pois o nepotismo da pula administrativa do PT, além
de desclassificados para o trabalho, atrapalham ou impedem a ação
dos que realmente querem trabalhar.
Na atual Administração, a desorganização hierárquica
da Prefeitura levou ao surgimento de poderes paralelos, emanados
das chefias políticas, orientadas pelo Prefeito, sobrepondo-se as
formas habituais de distribuição para execução dos serviços, o que
acaba sempre resultando em constrangimento para quem possui
posição de liderança além de ver-se envolvido em ações ilegais e
lesivas ao município.
Em conseqüência dessa prática administrativa,
inconcebível principalmente em uma cidade da importância de
Diadema, convêm lembrar citação contida na jurisprudência dos
119
crimes cometidos pelos Prefeitos extraída da Revista dos Tribunais
469/356.
‘Prefeitura Municipal não é casa de comércio, onde seu
proprietário age a seu talento. Como mandatário de uma comunidade,
é necessário que o Administrador fique sob a égide da Lei, não
agindo à sua vontade, e fazendo o que lhe aprouver’.
Gostaríamos de saber quais as providências que o Partido
dos Trabalhadores irá tomar em defesa do contribuinte da cidade de
Diadema, quando em discursos inflamados, costumam criticar de
forma contundente, e propor as mais severas punições aos
responsáveis pelos atos de corrupção ocorridos constantemente
neste País.
Vivemos dias difíceis, Sr. Redator, todavia, pode crer, que o
motivo desta carta não é o de lamentar o emprego perdido, pois
graças ao bem de Deus, saúde e capacidade não me faltam para
trabalhar em qualquer lugar, eletricista que sou, com 20 anos na
profissão.
O que deploro, é ver a cidade de Diadema deteriorar-se em
todos os sentidos (e, ainda por mais 4 longos anos) nas mãos de
homens cujo único ‘mérito’(que não se cansam de festejar) foi
encenar, naturalmente sob as benesses da abertura democrática
conquistada com o sangue e suor dos outros, a postura de
‘protetores dos trabalhadores, sendo que muito tempo se
revelam os piores patrões e administradores medíocres”.
Essa carta chama a atenção por utilizar uma linguagem rebuscada,
incluindo termos jurídicos. Apenas posteriormente, na edição de 20 de julho
de 1985, foi especificado que Arthur Guimarães Almeida era então vice-
presidente do PMDB local, mas na sua publicação não havia nenhuma menção
quanto à ligação partidária do autor, sendo que essa era uma informação
fundamental para a compreensão de alguns questionamentos quanto à
administração do município.
O autor do documento fez críticas contundentes à administração,
utilizando expressões desqualificadoras, ao referir-se aos governantes,
cobrando do Partido dos Trabalhadores coerência, uma vez que em seu
discurso todos os abusos foram duramente criticados, punições foram exigidas
120
e esperava que a postura fosse a mesma na cidade governada pelo Partido.
Embora o jornal não se responsabilizasse por opiniões emitidas pelos leitores,
percebemos que existia certa identificação entre a linha editorial do jornal e as
opiniões que desqualificavam a administração e questionam o PT, cobrando
coerência entre discurso e prática. Essa abordagem da contradição do PT
enquanto Partido e enquanto Governo foi também muito enfatizada pela grande
imprensa.
Na carta de Arthur Guimarães, ele salienta que “é necessário que o
administrador fique sob a égide da Lei”, como se a lei estivesse acima dos
interesses de grupos. Tal posicionamento é questionável, como nos aponta
Marilena Chauí: “na medida em que o Estado Brasileiro foi montado pela classe
dominante, ele é regulado por um conjunto de leis, pareceres, resoluções,
decretos e portarias que é a concepção que essa classe tem da política, do
Estado e do que deve ser um governo”.
98
Mesmo apontando para os problemas da cidade e da administração, o
Diadema Jornal não tinha a intenção de relacionar o município ao “caos
absoluto”, a um local que os moradores fugiam e percebemos isso
principalmente pelo material fotográfico publicado, que priorizava o centro da
cidade: local dotado de infra-estrutura e que abrigava o comércio e prestadores
de serviço, grandes responsáveis por parte dos anúncios do periódico.
A questão da segurança em Diadema começou a ser noticiada com
muito mais ênfase a partir de 1987, relacionando Diadema ao estigma da
cidade mais violenta de São Paulo, que também foi muito explorada pela
grande imprensa.
O artigo do OESP com o título Saque leva medo à Diadema”,
ressaltando a imagem de uma cidade violenta, localizava-se no campo de
notícias sobre cidades, ocupando 2/3 da página, acompanhada por fotos que
demonstravam as precauções tomadas pelos comerciantes frente à onda de
saques que acontecia na cidade. Sobre as possíveis causas dos saques,
descreve o periódico:
98
Marilena CHAUI, “É preciso democratizar o Estado”. In: Revista Fórum, São Paulo. Publisher Brasil.
Nº. 42 – set/2006. p. 9.
121
“Não é difícil entender porque Diadema vive em sobressalto.
Todos os ingredientes de um barril de pólvora social estão ali, prontos
para a explosão. São perto de 400 mil habitantes, quase metade
morando em mais de cem favelas, e outra parcela em habitações
modestas. Classe média praticamente inexiste nessa cidade erguida
nos últimos 15 anos. Diadema é o escoadouro de migrantes de todas
as partes do País”.
99
Os aspectos negativos da cidade foram ressaltados, o que nos faz
questionar sobre o fato das políticas consideradas inovadoras pela
administração e mesmo pelo Diadema Jornal, como por exemplo, as ações no
campo da habitação, transporte e a formação dos Conselhos Populares não
serem noticiadas pelo OESP e Jornal da Tarde. Considerando que a
administração petista tinha grande importância no contexto da
redemocratização do país, indo além dos moldes político-institucionais da
democracia representativa, talvez possamos melhor compreender a ênfase nos
aspectos negativos. Segundo o artigo, o problema da violência tinha como
causa a pobreza e a migração, reforçando o tom elitista e preconceituoso com
relação ao migrante e aos moradores das favelas, destacando que a classe
média fugia de Diadema e que a violência era a marca do município.
“As leis de Diadema são flexíveis em conceituação,
especialmente nos núcleos de favelas. (...) ‘Aqui se mata por
qualquer motivo. Discussão til em boteco de favela, por causa de
mulher, de futebol, de picuinhas familiares. Aqui se mata a pedrada, a
paulada’, conta o delegado”.
O artigo passa a imagem de um município totalmente abandonado,
marcado por uma administração incompetente, em que a classe média quando
não deixava a cidade, protegia-se como podia, sem contar com o apoio das
autoridades. Era a terra de ninguém. O estigma da violência foi ganhando força
não apenas na imprensa escrita, como também no rádio e na TV, no decorrer
das décadas de 80 e 90. As políticas públicas, visando a melhoria das
99
O Estado de São Paulo, 18/07/1987.
122
condições básicas da população, que foram implementadas na primeira
administração petista do município, não foram destacadas e muitas vezes nem
foram abordadas pela imprensa. A insistência nas notícias negativas poderia
estar relacionada às finalidades ideológicas, visando talvez relacionar o Partido
dos Trabalhadores ao estigma da incompetência.
Ao confrontarmos as matérias veiculadas pela imprensa diária com os
dados de avaliação do Governo publicados pelo Datafolha no final da gestão,
temos a impressão de que estamos analisando administrações diferentes. Esse
fato fica evidente nas tabelas abaixo:
Tabela 2 Avaliação do desempenho de Gilson Menezes na Prefeitura
de Diadema em abril de 1988, em relação à renda familiar mensal.
100
CATEGORIAS Até
5PNS*
De 5 a
10 PNS
Mais
de 10 PNS
Ótimo/Bom 58 54 43
Regular 26 28 35
Ruim/Péssimo 9 13 19
Não sabe 7 5 3
Total 100 100 100
Nº. de
entrevistas
604 245 119
Fonte: Datafolha
*PNS: Piso Nacional de Salário
Tabela 3 Respostas à pergunta: “Se houvesse eleições hoje em
Diadema, você votaria num candidato do PT”? (em 1.005 entrevistados, abril
de 1988):
101
Categorias Total
(%)
Sim 68
100
Júlio Assis SIMÕES, O Dilema da Participação Popular - a etnografia de um caso, p.131.
101
Ibid., p.133.
123
Não 20
Outras
Respostas
12
Total 100
Fonte: Datafolha
Existem algumas matérias que procuravam salientar as políticas
públicas do município, mas foram escritas por pessoas vinculadas ao PT, que
trabalhavam na grande imprensa. Como exemplo, temos a matéria publicada
em 13 de dezembro de 1987, no Jornal do Brasil, editado no Rio de Janeiro,
assinada por Ricardo Kotscho, jornalista que foi assessor de Luis Inácio Lula
da Silva nas eleições de 1984, que elogiava a atuação do poder público de
Diadema que, segundo o repórter, priorizou as regiões mais carentes, em
matéria intitulada “Diadema ainda é feia mas os bairros pobres mudaram”. As
dificuldades existentes no município foram relatadas, salientando que as
melhorias mais visíveis estão nos bairros mais pobres, devido à reurbanização
das favelas. O repórter salienta que:
“Apesar do fogo cerrado da mara e da imprensa, dos
problemas que enfrenta dentro e fora do PT, da marginalização a que
Diadema foi relegada pelos governos peemedebistas nos planos
estadual e federal, Gilson Meneses é hoje um dos raros chefes do
Executivo no país que pode andar tranqüilamente pelas ruas da
cidade que governa, sem a proteção de guarda-costas e sendo
saudado por onde passa.
Uma pesquisa promovida pelo Ibope no ano passado,
ouvindo 500 moradores de cinco regiões diferentes de Diadema,
revela que isso é possível: 64% dos entrevistados consideram Gilson
um bom administrador (18% responderam não e 18% não souberam
responder); 67% responderam que sua administração favorece os
trabalhadores (12% de não e 21% de não sei) e 16 % declararam que
participam ou participaram das comissões de bairros que
reivindicam melhoramentos públicos
102
.
124
Nesse artigo, o jornalista critica a própria imprensa que apresentava,
segundo ele, uma posição de “fogo cerrado” em relação à administração
pública de Diadema, durante a gestão petista. Essa posição ficou evidente, na
medida em que a maior parte das matérias mostrava apenas aspectos
negativos do governo municipal.
Anteriormente, o Diadema Jornal enfatizava a violência como sendo
um dos principais problemas da cidade. Na edição de 01 a 07 de janeiro de
1986, temos: “Diadema lidera número de invasões escolares no ABCD.” A
matéria vinha acompanhada de foto, mostrando vidros quebrados na escola,
enfatizando a depredação. Assim como na grande imprensa, o DJ relacionava
a violência à pobreza.
“O ano que acaba de se encerrar não foi bom para a educação. As
escolas foram saqueadas, depredadas, roubadas e invadidas em
Diadema. Infelizmente o município lidera essas ocorrências em todo o
ABCD, onde dos 160 casos registrados, 62 foram praticados em
nossos estabelecimentos de ensino, o que representa 40% do
número total. Os atos de vandalismo foram muitos, sendo o mês de
janeiro o mais violento, com 25 casos, devido às férias escolares. As
autoridades apontam a pobreza do Município e o alto índice de
criminalidade como os principais causadores desses problemas.
Na edição de 08 a 10 de janeiro de 1986, o DJ enfatizava a violência,
mostrando a seguinte manchete na primeira página:
“O [feliz] Ano Novo em Diadema
“(...) Mais de cem ocorrências e seis mortes na Cidade
(...) e ainda rumores da existência de matadores profissionais em
ação”. (...)
102
Jornal do Brasil, 13 de dezembro de 1987.
125
“O ano começou da forma como terminou em 85, ou
seja, violento”. (...)
Várias formas de violência foram noticiadas pelo Diadema Jornal, desde
a depredação do patrimônio público até os assassinatos ocorridos na cidade,
mas diferentemente da grande imprensa, que atribuía a maior causa à
incompetência administrativa, esse periódico relacionava o problema à questão
social.
Mesmo apontando para os problemas da cidade e da administração, o
Diadema Jornal não tinha a intenção de relacionar o município ao caos
absoluto, a um local que os moradores fugissem e percebemos isso
principalmente pelo material fotográfico publicado.
Uma das poucas manchetes do Diadema Jornal que abordavam a
questão das favelas estava na edição de 25 de julho de 1984, e embora trate
da concessão de terrenos aos favelados, a foto apresentada é apenas de um
barraco, que é reproduzida em diversos números do periódico. Como podemos
observar abaixo, grande parte da publicação do DJ era composta por
anunciantes locais. De acordo com Nelson Werneck Sodré, “a publicidade
atende a um conjunto de interesses a que o jornal ou revista se incorpora”
103
.
As fotos publicadas pelo Diadema Jornal sobre o município
diferenciavam-se das fotos publicadas pela grande imprensa. Enquanto esta
enfatizava a existência das favelas e o aumento da violência na cidade, o
Diadema Jornal dava preferência a fotos do comércio local, mostrando um
município que dispunha de prestação de serviços, restaurantes, escolas
particulares, concessionárias de veículos, bares e lojas, indicando a existência
de infra-estrutura. Em sua maioria as fotos do DJ restringiam-se ao centro da
cidade, cujas legendas afirmavam o desenvolvimento econômico da cidade.
Por exemplo: “Diadel (concessionária de veículos) acredita em Diadema e no
Brasil” (30/01/1985).
O fato dos anunciantes do Diadema Jornal serem os comerciantes e
prestadores de serviço locais nos possibilitam compreender a construção da
103
Nelson Werneck SODRÉ. História da Imprensa no Brasil, pág. XIV.
126
imagem da cidade que prosperava, que valia a pena conhecer e investir.
Poucas são as fotos sobre a reurbanização das favelas, pois esse é um tema
que não interessava ao comércio local, por se preocupar mais em atrair
consumidores para o centro da cidade, que era o local privilegiado do
consumo.
Fonte: Diadema Jornal 25 de julho de 1984.
As fotos dos informativos municipais mostravam mais a atuação da
Prefeitura na periferia, principalmente na reurbanização de favelas, principal
programa da Administração Municipal. Através das fontes estudadas - grande
imprensa, imprensa local e publicações oficiais - temos a construção da
imagem de três cidades diferenciadas: a cidade abandonada e
administrada; a cidade em que existia desenvolvimento econômico e
127
apresentava opções de lazer e a cidade que se organizava para melhorar as
condições de vida da população, principalmente nos bairros periféricos.
Capítulo 3
Gilson Menezes na Imprensa e a Questão da Nicarágua
128
Neste capítulo, pretendo trabalhar com as imagens criadas pela grande
imprensa, pelo Diadema Jornal e pelos Informativos Municipais sobre o prefeito
de Diadema, no período de 1983 a 1988, como representante do PT no poder,
e a relação de Gilson Menezes com os ideais socialistas, uma vez que o apoio
ao governo sandinista da Nicarágua mereceu grande destaque tanto no
Diadema Jornal, como nos jornais da imprensa diária, além de ser duramente
criticado pelos opositores da administração municipal.
Para compreendermos melhor o posicionamento das diversas fontes
estudadas frente ao governo petista, é importante indicarmos a trajetória
política do prefeito eleito.
Gilson Luiz Correia de Menezes, natural da cidade de Miguel Calmon,
Bahia, nasceu em 6 de julho de 1949. Mudou-se para São Paulo em 1960,
acompanhando sua mãe e irmãos, vindo ao encontro de seu pai, que já morava
na cidade. Antes de atuar na Scania, como operário, trabalhou em uma fábrica
de bicicletas no bairro do Ipiranga, além de ajudar seu pai num pequeno
comércio.
A trajetória pessoal de Gilson representa a de milhares de migrantes
nordestinos que vieram para São Paulo na década de 60, incentivados pela
industrialização que se expandia principalmente no ABCD paulista. Seu
percurso pessoal e político lembra a trajetória do atual presidente Luís Inácio
Lula da Silva, referência do movimento sindical nacionalmente. Ambos
migrantes nordestinos, vieram para São Paulo trabalhar nas indústrias que aqui
se instalavam , atuando ativamente no Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo e Diadema, além de também terem sido presos pelo
governo ditatorial e fundarem o Partido dos Trabalhadores, em 1980.
Eleito, Gilson Menezes, no início da década de 80, significava a primeira
experiência de um representante do chamado “novo sindicalismo”
104
no
104
Segundo Eder Sader, na obra Quando Novos Personagens Entraram em Cena, muitos dirigentes
sindicais acomodaram-se à estrutura dos sindicatos criada no Estado Novo (1937-1945), calcada no
gerenciamento da burocracia e no desempenho de funções assistenciais. Durante os anos 70, houve o
fortalecimento de uma corrente que passou a questionar a organização sindical, tendo como principal
objetivo assumir as reivindicações da classe que representavam. No capítulo 3, intitulado “Matrizes
Discursivas”, o autor faz um levantamento dos principais sindicatos e lideranças representantes do “novo
129
Executivo Municipal. Iniciou sua luta política no sindicato dos metalúrgicos de
São Bernardo e Diadema, no qual fez parte da diretoria a partir de 1978. Nesse
período, trabalhava na Scania como ferramenteiro e foi líder dos movimentos
grevistas no ABCD paulista. Com a fundação do PT em 1980, concorreu ao
cargo de Prefeito de Diadema em 1982. Nessas eleições, o Partido dos
Trabalhadores elegeu oito deputados federais e dois prefeitos no Brasil: Gilson
Menezes e o lavrador Manoel da Silva Costa, eleito em Santa Quitéria,
pequena cidade do estado do Maranhão. Em 1985, com a implantação das
eleições diretas nas capitais e nas cidades consideradas de segurança
nacional, Maria Luiza Fontenelle foi eleita prefeita de Fortaleza.
Em 1988, o prefeito de Diadema foi derrotado nas prévias do Partido,
que não indicou para sucedê-lo o candidato de sua preferência, Cláudio Rosa,
ex-sindicalista, na época diretor do Gabinete. O candidato José Augusto da
Silva Ramos, diretor da Saúde saiu vitorioso; por essa razão Gilson Menezes
saiu do PT e filiou-se ao PSB, concorrendo em 1990 ao cargo de deputado
estadual, sendo eleito com o expressivo número de 46.300 votos.
A relação do prefeito de Diadema e lideranças petistas com os ideais e
governos socialistas era sempre ressaltada pelos jornais da grande imprensa,
portanto selecionei os artigos de apoio ao governo sandinista da Nicarágua,
analisando qual foi o posicionamento das diferentes fontes estudadas frente a
esse fato.
É fundamental abordarmos a importância da Revolução Sandinista, no
final da década de 70. Não tenho a intenção de analisar detalhadamente todo o
processo revolucionário, mas buscar o significado dessa luta no contexto do
processo de redemocratização que ocorria nos países da América Latina. De
acordo com Lygia Rodrigues, a Nicarágua viveu sob a ditadura, que se iniciou
com Anastasio Somoza Gárcia, dos anos 30 até a revolução de 1979. Durante
este período prevaleceram o clientelismo, o paternalismo, a corrupção, a
miséria, a violência, a repressão e a submissão ao capitalismo norte-
americano. Em 1961, foi formada a Frente Sandinista de Libertação Nacional,
sindicalismo”, que teve início no Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e
de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema, com a diretoria de Paulo Vidal (1969-1975),
substituído por Luis Inácio da Silva, a partir de 1975.
130
que segundo Rodrigues, representava um “projeto ideológico e de prática
revolucionária que amadureceu no percurso da luta contra o regime somozista,
a partir dos anos 60 e conquistou o poder em 19 de julho de 1979. Quando nos
detemos na análise desse processo, dois pontos ganham relevância de
imediato: a extrema personificação do inimigo na figura de Somoza,
identificado pelo sandinismo como porta-voz do império norte-americano na
Nicarágua, e a convocação de um amplo espectro de forças sociais para
liquidar o opressor”.
105
Após o terremoto de 1972, em Manágua, a situação do governo tornou-
se insustentável, devido à desestabilização econômica e à instabilidade do
governo de Anastásio Somoza Debayle. Em meados da década de 70, a crise
do petróleo agravou ainda mais a situação econômica deste país e mesmo com
todos esses problemas, Somoza Debayle impôs sua reeleição, de 1974 a 1978.
A FSNL estava centrada nas aspirações populares, mas abrangia outros
segmentos sociais, inclusive advindos das classes dominantes, descontentes
com o somozismo, uma vez que também estavam alijados das decisões
políticas.
De acordo com Lygia Rodrigues, “o teor popular não dissipou o apoio de
outros grupos sociais que, apesar de comprometidos com bandeiras díspares
às defendidas pelo sandinismo, reconheceram-no como única força política
virtualmente capaz de derrotar a ditadura naquela ocasião. De sua parte,
atenta à importância dessas alianças, a direção da FSLN elaborou uma
plataforma programática ampla e flexível que, sem descaracterizar o sujeito
das transformações, buscava conciliar os antagonismos de classe, sintetizando
as causas comuns do processo de libertação nacional”
106
.
Em julho de 1979, após a fuga de Somoza, os sandinistas assumiram o
poder, instalando uma Junta de Governo, que permaneceu no poder até 1984,
quando foram realizadas eleições, vencendo Daniel Ortega que governou até
1990. Desde o início do governo, os sandinistas enfrentaram rios problemas
no campo interno, na medida em que era difícil agrupar classes antagônicas e
também devido à desmobilização popular, fruto de meio século de governo
105
Lygia RODRIGUES. A Revolução Sandinista e a Questão Nacional na Nicarágua, p.66.
106
Ibid., p.121.
131
ditatorial. No plano externo, os problemas aumentaram de 1980 a 1988,
período em que Ronald Reagan assumiu a presidência dos EUA, entrando em
embate direto com o sandinismo, através do apoio a grupos armados contra
revolucionários e também através do embargo comercial a partir de 1985, além
da ameaça de uma intervenção militar direta.
No terceiro Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, realizado
em 1984, em São Bernardo do Campo, no item referente às questões
internacionais, a Nicarágua mereceu destaque. “Como partido político que
aspira ao socialismo, o PT deve defender uma política internacional em favor
dos interesses dos povos que lutam por sua libertação. Devemos recusar todas
as formas de submissão do País à dominação imperialista, como as que
impõem restrições nas relações internacionais. Uma política externa
independente implica, hoje, a ampliação das relações comerciais e
diplomáticas com os países socialistas e do Terceiro Mundo. A luta do povo
brasileiro é inseparável das lutas dos outros povos latino-americanos, que têm
hoje, como pontos principais a Nicarágua, El Salvador e Cuba”
107
.
Assim, a Prefeitura do Município de Diadema levou adiante as
determinações do Partido dos Trabalhadores, manifestando-se solidária à
Nicarágua.
Os informativos municipais justificaram a posição da Prefeitura em
prestar apoio à Nicarágua; a grande imprensa se manifestou sobre a postura
do PT enquanto partido, frente a essa questão e o Diadema Jornal foi utilizado
pelos partidos de oposição da Câmara de Vereadores para explicar os
posicionamentos contrários a essa ação.
Em 23/03/85, o DJ noticiou:
“Gilson e Lula receberam Ortega em São Bernardo
“(...) Ortega mostrou-se emocionado pela tônica dos
discursos de Dom Cláudio Hummes e Lula, pois demonstravam apoio
e solidariedade ao povo da Nicarágua em face da possível invasão
norte-americana.”
107
Jorge ALMEIDA et al. (Orgs). Partido dos Trabalhadores. Resoluções de Encontros e Congressos –
1979-1998, p. 149.
132
O Diadema Jornal veiculou a opinião dos vereadores de oposição
quanto ao veto da decisão de Gilson Menezes em oferecer apoio financeiro à
Nicarágua. os Informativos Municipais trouxeram a argumentação do poder
público sobre a importância dessa ajuda.
Na edição de 12 a 14 de março de 1986 do Diadema Jornal, a principal
manchete era: “Prefeito quer doar Cz$ 25 mil cruzados à Nicarágua”.
“O prefeito Gilson Menezes quer doar 25 mil cruzados
à Nicarágua, que será aplicado na compra de bombas e motores a
serem remetidos pelo Sindicato dos Metalúrgicos de o Bernardo e
Diadema, uma vez que a legislação proíbe tal doação através do
Município. O projeto está caminhando na Câmara Municipal e deverá
ser aprovado pelos vereadores para poder ser efetivado (...) _ Em
São Bernardo do Campo, medida semelhante tramita na Câmara
Municipal, onde o prefeito Aron Galante quer doar um trator à
Nicarágua, atendendo ao pedido de uma camponesa que visitou o
Município”.
No desenrolar da matéria na página 8 da edição, observamos que não
havia críticas à atuação do prefeito. Também podemos compreender esse fato
pelo que representou a Revolução Sandinista na década de 80, no processo de
lutas pelo fim das ditaduras na América Latina. Além do PT, que deixou clara
sua posição nas atas de resoluções e congressos sobre o apoio às causas
internacionais no processo de lutas pela libertação e pelo fim das ditaduras,
outros partidos simpatizavam com a causa, como o PCB. O Diadema Jornal
não se contrapôs de forma contundente às ações do prefeito Gilson Menezes,
no sentido de prestar ajuda à Nicarágua.
Na edição de 16 a 18 de abril de 1986, o DJ voltou a noticiar a questão
da doação à Nicarágua: “Câmara aprova doação de equipamentos à
Nicarágua”, demonstrando a divergência de opiniões dos vereadores:
“Em sessão tumultuada os vereadores locais
aprovaram na última 6ª feira a abertura de um crédito de 25 mil
cruzados para compra de equipamentos a serem doados à
133
Nicarágua”. Toda a bancada petista e mais os vereadores Aloísio
Coelho (ex PDS), Carlos Ribeiro, Severino de Oliveira e José Rocha
(PCB) foram favoráveis.
Agora, o PMDB local pretende convencer esses
vereadores sobre o absurdo desse projeto’, segundo seu
presidente, Romeu da Costa Pereira. Caso o consiga fazer com
que os parlamentares mudem de idéia, Romeu garante que entrará
com uma ação popular contra a Prefeitura ”(...).
Na mesma edição, havia continuidade da notícia na página três,
ocupando a página inteira com a seguinte manchete: “Câmara aprova doação
de equipamentos à Nicarágua”.
Nesse artigo o jornal trazia justificativas da doação à Nicarágua,
enfatizando a questão da solidariedade.
“(...) O representante da Coordenação Paulista de
Solidariedade à Nicarágua e América Latina, Carlos Antunes, disse
que a doação aprovada pelos parlamentares de Diadema representa
que o povo brasileiro tem consciência de que a luta por melhores
condições de vida é uma questão global que envolve toda a América
Latina. Segundo ele, o que está em jogo na questão da Nicarágua é a
autodeterminação de um povo. É importante que os vereadores dos
partidos percebam que essa doação não está partindo de uma
pessoa ligada ao PT, mas sim uma questão do povo brasileiro
solidário com a questão da Nicarágua”.
Já o artigo da edição de 19 a 25 de abril de 1986 do DJ, com a
manchete “Vereadores mudam de voto e não ajudam a Nicarágua”, mostrava a
mudança de posicionamento dos vereadores e, de forma indireta, criticava a
posição do prefeito Gilson Menezes, apresentado pelo periódico como omisso,
por não ter se posicionado frente às denúncias referentes ao assalto ao Banco
do Brasil, em Salvador, ter sido planejado no Teatro Clara Nunes, em Diadema.
134
“O projeto de lei que instituía a doação de
equipamentos a Nicarágua foi reprovado ontem durante os trabalhos
do Legislativo. A margem de votação foi ínfima e dois vereadores
Aloísio Coelho e Severino Oliveira resolveram rejeitar a matéria após
tê-la aprovado no último dia 11”(...).
A questão da Nicarágua foi abordada na mesma edição do periódico,
relacionando o Partido dos Trabalhadores ao assalto ocorrido em Salvador,
apresentando diferentes posicionamentos sobre o fato:
“Assalto dos petistas gera controvérsias
“Estamos estranhando que isso tenha sido articulado pelo PT
nas dependências do Teatro Clara Nunes. Essa foi a reação do
PMDB local, Romeu da Costa Pereira, ao saber do envolvimento de 5
militantes do PT em assalto a uma agência do Banco do Brasil em
Salvador, na última feira. O prefeito Gilson Menezes não foi
localizado para falar a respeito do assunto.
Segundo ele, ‘sabemos que o PT tem usado o
patrimônio público para fins políticos’, justificando os elementos
detidos em Salvador, informaram que a idéia do assalto surgiu
durante um encontro petista em Diadema, mais precisamente no
Teatro Clara Nunes.
Na ocasião em que foram detidos, os assaltantes
informaram ainda que o produto do roubo seria doado à Nicarágua
pois foi a forma que eles encontraram para seguir a orientação do
partido que prevê ajuda àquele país. Entretanto, os assaltantes
fizeram questão de acusar a direção do PT como autora intelectual do
assalto.
Contrapropaganda
Sr. Romeu afirma que o assalto foi fruto de
deliberações tomadas em Diadema, o vereador Ivo Ribeiro (PT) diz
exatamente o contrário (...) justificando que há preocupação do
governo federal com a ascensão da candidatura Suplicy ao governo
do Estado (...)”.
108
108
Diadema Jornal, 19 a 25/04/1986.
135
O artigo acima chama a atenção por relacionar o PT ao assalto,
exatamente num momento de disputa eleitoral para o governo do Estado.
Vale lembrar que a grande imprensa dedicou importante espaço ao
assalto ocorrido em Salvador, como vimos no capítulo 1, relacionando o PT à
violência, utilizando todos os meios para atingir os objetivos políticos eleitorais.
O DJ levantou as suspeitas de que a ação do assalto tivesse sido planejada em
Diadema, ou seja, a cidade governada pelo Partido dos Trabalhadores
abrigava e articulava ações violentas e antidemocráticas e portanto a
administração pública local deveria ser responsabilizada.
O Diadema Jornal cobriu o debate existente nos poderes Legislativo e
Executivo locais acerca da ajuda à Nicarágua. os Informativos Municipais
tinham preocupação de noticiar a atuação do prefeito Gilson Menezes, como
no Informativo nº. 16 de abril de 1985:
“Gilson conversa com Ortega”.
“Em sua recente visita ao Brasil, o presidente da Nicarágua,
Daniel Ortega, eleito através de eleições diretas, manteve contato
com a classe trabalhadora no Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo e Diadema. Na ocasião, o prefeito Gilson Menezes
conversou com o presidente nicaragüense e aproveitou a
oportunidade para convidá-lo a visitar Diadema. O convite não foi
aceito porque Ortega deixaria o Brasil no dia seguinte. Para Gilson a
visita foi de grande importância e demonstra que o isolacionismo não
é bom e a Nicarágua, diante as constantes ameaças de invasão pelos
Estados Unidos, vem procurando todos os países fortalecendo o
movimento de solidariedade em torno de sua autonomia e
democracia”.
O informativo municipal teve a preocupação de salientar que Ortega foi
eleito através do voto direto, ou seja, não era um governo imposto à população
nicaragüense, e que a solidariedade a esse povo era fundamental para a
autonomia e democracia dos países da América Latina, não sendo esta uma
luta isolada.
136
Informativo Municipal nº. 16 – abril/1985
Na foto, observamos Gilson junto aos representantes sindicais do ABCD
paulista que se destacaram na década de 80, Luis Inácio Lula da Silva, Jair
Meneguelli ao lado dos líderes da revolução sandinista, Daniel Ortega e
Miguel D Escotto, chanceler sandinista. Gilson Menezes, de acordo com o
informativo, continuava representando o novo sindicalismo, sua presença
nesse encontro era significativa, pois embora não mais pertencesse à diretoria
do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, ao
assumir a administração do executivo municipal continuava defendendo os
princípios do PT no que se referia às questões internacionais.
A construção da imagem do político comprometido com os princípios do
partido que o elegeu era ressaltada pelos informativos municipais, afirmando a
posição de solidariedade e comprometimento do prefeito com as lutas
internacionais pela busca da autonomia, contra o intervencionismo norte-
americano, sem abandonar o compromisso político com a organização dos
trabalhadores, através do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e
Diadema, no qual foi importante liderança.
O informativo municipal especial editado em maio de 1986, apresentava
um caráter didático, explicando à população o histórico da Nicarágua, que
passou por 40 anos de ditadura, pela intervenção norte-americana e as
conseqüências dessa ação, justificando o posicionamento do prefeito Gilson
Menezes em prestar ajuda a este país. Lembrava que em alguns momentos,
137
Diadema também recebeu ajuda de outros países, mostrando a solidariedade
como um valor que deveria ser cultivado contra o egoísmo.
“Sabemos que Diadema ainda é um Município que precisa de
muita coisa, mas lembramos também que nossa cidade foi alvo da
solidariedade internacional quando recebeu, em fevereiro deste ano,
equipamentos cirúrgicos e odontológicos doados pelo governo sueco,
através do Centro Internacional do Movimento de Trabalhadores da
Suécia, entidade que presta solidariedade aos trabalhadores do 3º
Mundo. Por outro lado, só no pagamento das desapropriações feitas
nas administrações passadas, nas negociações entre Prefeitura e os
expropriados, já foram economizados 30 milhões de cruzados.
Portanto, os 25 mil cruzados que seriam revertidos em
equipamentos agrícolas para ajudar a sobrevivência do povo da
Nicarágua representariam uma pequena parcela da solidariedade dos
diademenses que também querem viver em um país livre, sem
guerras ou boicotes econômicos impostos pelo governo Reagan,
como acontece agora com aquele sofrido país. A solidariedade, tão
esquecida nos dias de hoje, deve ser lembrada e posta em prática
não a nível internacional como no presente caso, mas também no
nosso dia-a-dia, em conjunto com as pessoas que nos cercam”.
Nesse informativo, percebemos que havia uma preocupação que ia além
da exposição da situação da Nicarágua, mas que tinha como objetivo maior a
sensibilização da população em apoiar a doação da PMD ao referido país. O
argumento utilizado pela oposição de que Diadema tinha muitos problemas,
que deveriam ser resolvidos, ao invés de prestar ajuda a outros países foi
rebatido, ao afirmar que o município tinha sim muitos problemas, o que não o
impedia de ser solidário, uma vez que a luta da Nicarágua era por um país
livre, objetivo também de outros países. Havia um apelo à solidariedade,
discurso muito utilizado pela CEB´s e pelos movimentos populares do período.
138
Fonte: Informativo Municipal, n°. especial, maio de 1986.
A foto do informativo também era curiosa, pois não sabemos se
mostrava uma cena em Diadema ou Nicarágua, utilizando a imagem de
crianças para sensibilizar e reforçar a idéia de que seja aonde for, a
solidariedade é necessária. No texto, foi salientada a preocupação de Gilson
em prestar apoio à Nicarágua, que respeitando os trâmites constitucionais,
enviou projeto de lei à Câmara autorizando a ajuda ao referido país, através do
“envio de bombas d’água e motores monofásicos”, ou seja, existia a
preocupação em mostrar que o prefeito não agia de forma autoritária e
inconstitucional, que respeitava os trâmites legais, considerando legítima a
atuação dos vereadores, o que não o impedia de buscar o apoio da população
através do apelo de solidariedade aos nicaragüenses, que segundo o
139
Informativoalém de lutar contra o imperialismo norte-americano, sofrem o
bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos”.
Essa publicação da PMD, em maio de 1986, contestava a “grande
imprensa”, que vinculava a administração municipal de Diadema a atos
violentos e ilícitos, como o assalto ao Banco do Brasil, em Salvador, ocorrido
em abril de 1986.
Mesmo a Câmara vetando a ajuda financeira à Nicarágua, foram
encontradas formas alternativas de auxílio, sendo a chamada para os atos de
apoio noticiadas no Diadema Jornal e também em panfletos impressos na
gráfica da Prefeitura. Embora vários partidos políticos e entidades
promovessem o ato, como poderia ser visto no verso do folheto constando
PMDB, PCB, PTB, PT, além de entidades populares e comitês de solidariedade
à Nicarágua do ABC e de São Paulo, o apoio institucional da PMD sobressaia-
se uma vez que era o único que aparecia na chamada principal. Aqui
percebemos que a atuação da administração confundia-se com a atuação do
Partido.
No panfleto, a seguir, observamos a chamada para o ato político de
apoio à Nicarágua em busca da paz, como sugere o desenho da pomba, com
atividades culturais, prática que era muito utilizada pelos movimentos sindicais
na década de 80. A participação política não estava dissociada das práticas e
atividades culturais, havendo atuação constante de grupos artísticos, na busca
de uma sociedade mais justa e democrática. A participação da administração
foi ressaltada da seguinte forma:
140
Panfleto: Administração Popular – Gilson Menezes (sem data).
A grande imprensa também salientou o apoio do PT, especialmente do
governo municipal de Diadema ao regime sandinista, na edição de 11de abril
de 1986 o Jornal da Tarde noticiou na página oito:
“O fascínio de um partido pela Nicarágua”.
“O regime sandinista sempre atraiu a simpatia dos grupos
políticos de esquerda, mas o PT aprofundou especialmente suas
relações com a Nicarágua logo depois da visita do presidente daquele
país ao Brasil. Entre os vários atos de solidariedade e propostas de
cooperação com os sandinistas, ontem mesmo o PT promoveu mais
um: Gilson Menezes, o único prefeito petista deo Paulo, pediu aos
vereadores de Diadema a aprovação de um crédito para a compra de
máquinas agrícolas a serem doadas aos nicaragüenses”.
141
O JT publicou a seguinte manchete na primeira página da edição de 12
de abril de 1986:
“Grupo do PT assalta banco para ajudar a Nicarágua
(militantes aplicam na prática lições de Havana)
“Os cinco militantes, de vários Estados, planejaram o assalto
durante o encontro do partido em Diadema.
Escolheram um banco de Salvador, onde não seriam
reconhecidos, mas acabaram cercados trocando tiros com a polícia.
Queriam dinheiro para o governo da Nicarágua. Assustada a direção
do PT pretende expulsá-los e já teme prejuízos na campanha
eleitoral”.
Nas páginas 7 e 8 aparecia o desenvolvimento da matéria em que os
assaltantes diziam que a direção do PT nada sabia, mas que o assalto foi
planejado em Diadema.
Na página 8, havia um artigo sobre a reação de Lula:
“A posição do PT com relação à Nicarágua todo mundo conhece é
de solidariedade total em todos os aspectos. Agora, se algum imbecil quis
assaltar um banco pensando que ia ajudar, se enganou e prejudicou a
Nicarágua.”
A grande preocupação do Jornal da Tarde era denunciar as ações
violentas e ilegais referentes ao Partido dos Trabalhadores, mostrando que a
ação foi planejada em Diadema, passando a idéia de que a administração
municipal não apenas empreendeu ações junto à Câmara Municipal a fim de
obter dinheiro para enviar máquinas agrícolas à Nicarágua, como esteve
também envolvida na facilitação da organização do assalto. O prefeito,
segundo o jornal, não se pronunciou, nem se posicionou frente às denúncias.
Como vimos no capítulo 1, as notícias bombásticas que relacionavam o
PT a ações como atentados, assaltos e seqüestros eram divulgadas no período
eleitoral.
142
No editorial de 14 de abril de 1986, na gina 4, o Jornal da Tarde fez
duras críticas ao PT:
”Os verdadeiros culpados do episódio em Salvador
“Quando o Sr. Lula da Silva e outros dirigentes do PT afirmam
com ar de indignação que o PT não tem nada a ver com o assalto a
uma agência do BB em Salvador, praticados por pessoas filiadas ao
partido, eles estão dizendo uma meia verdade (...)
Desde a sua criação, o Partido Totalitário sempre impressionou
políticos, jornalistas e eleitores pelo seu grande aparato de segurança
agressivamente presente em todos os comícios que organizava ou
dos quais participava”.
Aqui o jornal referia-se ao PT como partido totalitário e reafirmava a
imagem “violenta” do Partido, que utilizava métodos “ilícitos” na sua atuação,
fosse para arrecadar dinheiro para a revolução sandinista, fosse na ação
sindicalista, como apresentou em editoriais de abril de 1986 criticando a CUT,
central sindical atrelada ao PT por utilizar os trabalhadores como “massa de
manobra para instituir um Estado exercido por um partido único”.
109
Acusaram
Lula e outros dirigentes petistas (sem citar os nomes), de não terem
compromisso com a verdade, por não assumirem a relação existente, segundo
o jornal, entre o PT e o assalto ao Banco do Brasil, em Salvador.
A imprensa, neste caso o JT, relacionou o Partido à alianças políticas
ligadas a projetos socialistas. Combater o PT era uma forma de destruir um
projeto político que poderia ganhar maior espaço no Brasil.
A imagem de autoritarismo e violência do PT podia ser encontrada em
outras notícias, como verificamos na edição de 9 de abril de 1986, na página 2:
“Os petistas de Fortaleza batendo em estudantes”.
“Quatro estudantes de Fortaleza (...) foram brutalmente
espancados ontem por militantes do PT quando organizavam uma
passeata conta Maria Luiza Fontenelle do PT”.
109
Jornal da Tarde, 7/4/1986.
143
A questão fundamental era reafirmar a memória de violência e
autoritarismo do Partido dos Trabalhadores. A cidade de Diadema não era o
tema principal, mas considerada referência por ser administrada pelo PT,
merecendo destaque pelos jornais da grande imprensa, que alinhavam os
acontecimentos da cidade com as ações do Partido nacionalmente.
Além da identificação de Gilson Menezes com os ideais socialistas,
principalmente com o governo sandinista, a imprensa diária paulistana
construiu a idéia de “incompetência” e “incoerência” do administrador. Em
contrapartida, os Informativos Municipais ressaltavam a imagem do governante
comprometido com a população, que procurava resolver os problemas,
priorizando a periferia. O Diadema Jornal não criticava diretamente o prefeito,
mas pela seleção e disposição das matérias, era possível saber qual o
posicionamento que assumia, priorizando as ações do PMDB no município
através das ações do governo estadual ou através da atuação dos vereadores
pertencentes ao referido Partido.
Analisando a grande imprensa temos o artigo do OESP intitulado
“Diadema está em crise e prefeito do PT isolado”, classificado como política
nacional, o que demonstrava a visibilidade dessa administração, considerada
uma amostra do que seria um governo do PT no âmbito estadual e federal.
Acusado de perseguir o funcionalismo, de criar quase 600
vagas por decretos para favorecer amigos pessoais, fazer obras
de interesse político e de estar renegando a filosofia do Partido dos
Trabalhadores, o prefeito Gilson Menezes (PT), de Diadema, na
região do ABC, é hoje um homem praticamente só. Não tem o apoio
da mara Municipal e a maioria dos vereadores, inclusive os
petistas, estão contra a sua administração. Também a população não
está satisfeita e é comum ouvir líderes comunitários lamentando e
dizendo-se arrependidos por terem votado em Menezes”.
110
110
O Estado de São Paulo, 16 /09/1984.
144
O “favoritismo” e o “governar em benefício próprio” foram consideradas
características da administração pública de Diadema, citadas com freqüência
pela grande imprensa, ressaltando as contradições do Partido dos
Trabalhadores. Segundo o artigo, a base que elegeu Gilson Menezes,
representada pelos líderes comunitários estava decepcionada, ou seja, embora
o PT fosse oriundo dos movimentos populares não mais os representava.
Outro ponto relevante do artigo foi a cisão existente no PT, onde nem mesmo
os vereadores petistas apoiavam o prefeito, demonstrando a desunião do
partido, as tensões internas evidenciadas de forma negativa, no intuito de
desacreditar a popularidade política do Partido . Segundo a grande imprensa, o
governante não tinha habilidade para articular as forças políticas, mesmo
dentro do PT, criando um clima de ingovernabilidade.
O artigo mostrava o isolamento do prefeito, enfatizando a perseguição
ao funcionalismo, ficando clara a intenção de mostrar as contradições do PT,
que nesse momento lutava contra o arrocho salarial nacionalmente, sendo que,
segundo o jornal, a própria prefeitura administrada pelo mesmo partido
arrochava os salários e perseguia funcionários que reivindicavam seus direitos.
O JT ressaltava que os governantes não estavam capacitados para resolver os
problemas da cidade, passando a idéia de um governo ineficiente e isolado.
Fonte: O Estado de São Paulo, edição de 16 de setembro de 1984.
145
A foto sobre a matéria não era do Prefeito Gilson Menezes e não havia
identificação da pessoa fotografada, que na verdade era o vereador José
Rocha (PMDB), que não fazia parte do executivo municipal, reforçando para o
leitor a idéia de um administrador perdido entre documentos e telefonemas,
confirmando a suposta ineficiência da administração. O jornal recorreu a fotos
que procuravam reforçar o texto, enfatizando o “abandono e a incapacidade” da
administração municipal em resolver os problemas da cidade. A disposição das
duas fotos passava a idéia de que o prefeito administrava apenas do gabinete,
ou seja, os problemas existiam, mas ele estava distante, diferentemente dos
Informativos Municipais, onde as fotos sempre mostravam Gilson junto à
população, procurando resolver os problemas de perto, visitando favelas,
participando das reuniões do Orçamento Participativo, mas nunca isolado no
gabinete.
A maioria das fotos publicadas pelos jornais da imprensa diária
reforçava a imagem por eles denominada de “o figurino petista”, mostrando
sempre pessoas que se assemelhavam ao estilo de Lula, normalmente são
fotografadas nas favelas ou acompanhando obras. Muitas vezes, as fotos
tinham como fundo a bandeira do PT ou símbolos ligados ao socialismo.
Os Informativos, principalmente os números especiais referentes aos
aniversários da administração, preocupavam-se em mostrar o prefeito junto à
população na tomada de decisões e sempre trabalhando em diversos campos
de atuação na cidade. As fotos reforçavam a idéia de que ele não governava
sozinho, mas a população era quem definia as prioridades.
Fonte: Informativo Municipal – 1984.
146
O prefeito Gilson Menezes sempre apareceu nos Informativos
Municipais junto à população, numa relação de proximidade, onde o havia
barreiras entre o governante e os munícipes.
O informativo de 1985 não foi possível ser reproduzido devido à
qualidade da cópia, mas trazia a imagem da cidade em obras não tendo a foto
do prefeito, mas sim trabalhadores da construção civil. As fotografias de obras
executadas ou em andamento no município eram muito comuns nos
Informativos, passando a idéia de uma cidade em construção, devido ao fato
desta ser prioridade, uma vez que não havia asfalto em grande parte de
Diadema e a urbanização das favelas era fundamental, que um terço da
população nelas habitavam.
Os Informativos publicados anualmente em edições especiais, traziam
um balanço do governo, mostrando à população as obras e melhoramentos no
município, destacando as ações da administração em diversos setores:
educação, transporte, cultura, esportes, finanças, saúde e obras. Havia a
preocupação em tornar transparente o quanto foi gasto pelo governo. Como
afirma Liedtke “o diferencial não é o investimento publicitário da campanha,
mas a proposta de afirmação de uma marca, de uma identidade, enfim de uma
imagem que difere as prefeituras de esquerda pela sua forma de interação com
a sociedade”
111
As fotos retratando o governante no meio da população tinham
a intenção de mostrar a interação e identificação entre o povo e o prefeito.
111
Paulo Fernando LIEDTKE, A esquerda presta conta – comunicação e democracia nas cidades, p.112.
147
Fonte: Informativo Municipal - 1986
O Diadema Jornal era também um veículo de comunicação da
administração pública com a população, mas através de matérias pagas,
portanto, no terceiro ano da gestão foi feito um convite à população através
dele, na edição de 15 a 18 de fevereiro de 1986:
“Como tem acontecido desde o primeiro ano do
governo petista, o prefeito Gilson Menezes prestará contas de 3 anos
de sua administração, hoje (sábado) a partir das 15 horas, na Praça
da Bíblia (...) com a presença de Lula, parlamentares e sindicalistas.
Haverá também show coma participação de vários
artistas
Compareçam e tragam a família.
Gilson e Lula esperam vocês”.
148
A chamada acima nos a idéia de que a participação ia além dos
limites da democracia representativa, baseada na relação parlamentar-eleitor,
demonstrando a interação entre poder executivo e munícipes.
Nos convites da administração de Diadema para a prestação de contas,
Lula aparecia com freqüência nas chamadas, o que demonstrava o apoio
político, o carisma e a popularidade do líder sindical no município.
A matéria acima foi paga pela administração, mas em suas publicações
o Diadema Jornal sempre salientava a vinda de Lula, devido a sua importância
de líder sindical e presidente nacional do PT. Na mesma edição publicou:
Lula vem a Diadema para o balanço administrativo.
Como vem sendo feito todos os anos a administração
Gilson Menezes, estará prestando hoje contas de seus três anos de
gestão (...) é esperada a presença de vários parlamentares e do
presidente do PT Luis Inácio Lula da Silva”.
Segundo Liedtke, “as campanhas de Prestação de Contas (...) são
exemplos de ações geradas pelo poder público que também servem para
atingir a população através dos informativos institucionais, como também pode
ser entendida como ações governamentais no sentido de gerar novos
espetáculos midiáticos, atingindo o povo através da mediação da imprensa (...)
A Prestação de Contas é um espetáculo valorativo que é absorvido pela
mídia.”
112
. Além de ser matéria paga, a prestação de contas era um ato que
merecia cobertura do jornal por dirigir-se a diversos segmentos político -
sociais.
Nos convites, notamos a preocupação em atrair a população.
Podemos observar que além do show, os parlamentares, sindicalistas e
principalmente Lula, também contavam como “atrativos” para o ato de
prestação de contas. É importante analisarmos a atuação política dos
sindicalistas do ABC paulista em âmbito nacional, desde a Campanha das
Diretas e, posteriormente, na participação da Constituinte. Lula, na época
112
Paulo Fernando LIEDTKE, A Esquerda Presta Contas – comunicação e democracia nas cidades,
p.92-93.
149
presidente do Partido dos Trabalhadores, embora não fizesse parte do governo
municipal, era uma referência na região que foi o berço do “novo sindicalismo”,
tendo uma projeção nacional. Existia também a questão da transparência
administrativa como sendo marca do PT, fazendo com que a prestação de
contas fosse um momento de afirmação de uma nova forma de governar.
Esse tipo de chamada destinada à população local era também utilizada
pelo movimento sindical, que além das assembléias, promovia shows, debates,
filmes, peças teatrais, buscando maior participação dos trabalhadores.
No convite acima, percebemos que a administração pública se colocava
na obrigação de prestar contas ao cidadão, buscando a democratização das
relações entre Estado e sociedade civil. A prestação de contas era considerada
um ato político e educativo, por ser uma forma de participação nos assuntos da
cidade, sendo também um momento de convívio, de constituição de novas
relações que faziam parte da condição cidadã dos participantes de atos
políticos.
Na gina 7 do Diadema Jornal, na edição de 15 a 18 de fevereiro de
1986, através de matéria paga, foi publicado um Informativo Municipal com as
principais realizações do governo, contendo os seguintes tópicos:
“Moradores de favelas têm concessão da terra;
150
Teatro Clara Nunes é um importante pólo cultural;
Conselho de representantes escolhe prioridades
municipais
Diadema ainda precisa de muitas creches;
Prefeitura e munícipes se unem para asfaltar vias;
Favelas reivindicam urbanização urgente;
População participa dos programas de saúde.
Meninos engraxates são apoiados pela Prefeitura.
Oficina de marcenaria tirou crianças da rua;
Cresce o número de vagas nas EMEI’s”.
Mulheres espancadas procuram assistência jurídica
gratuita.
O DJ não fez uma avaliação dos três anos de administração, apenas
publicou o Informativo sem comentá-lo, mas em várias reportagens foram
enfatizadas as s condições do município e o descontentamento da
população. Na edição do dia 05/04/1986, havia na primeira página uma foto
destacando os problemas do município com uma foto de um desabamento com
a seguinte legenda: “Esgoto e água da chuva correm pelos terrenos, onde
existe uma cratera de enormes dimensões. As casas estão ameaçadas à beira
do abismo”.
Na página 4 há continuidade dessa matéria:
“Casas do Inamar estão ameaçadas de desabamento “A
situação perdura 6 anos e segundo os proprietários afetados, a
Prefeitura não tomou providências para sanar o problema”.
Esse artigo trazia depoimentos de moradores que estavam
descontentes com a situação e enfatizavam que a Prefeitura não tomava
providências frente ao problema.
151
Na edição de 12 a 15 de abril de 1986 na página 5, o periódico trouxe os
problemas do município assim descritos: “Diretor explica caso de
desmoronamento no Inamar” e traz também Não coleta de lixo no Parque
Sete de Setembro”.
Diretamente, o jornal não se manifestava contra a administração, mas
mostrava apenas um lado do problema, que era o descontentamento da
população com a infra-estrutura do município, que poderia ser legítima, mas
que não evidenciava a complexidade da relação entre poder público e as
necessidades da população.
Nos Informativos Municipais, existia a preocupação em salientar que a
prioridade da administração era a periferia. As fotos da pavimentação de ruas e
da realização de obras referiam-se às ações consideradas prioritárias pela
população, enquanto que na grande imprensa, esse tipo de foto estava
relacionada ao caos, ao abandono da cidade.
Nas diversas matérias referentes à prestação de contas, o prefeito era
representado como um trabalhador na condução das obras (dirigindo o
caminhão de lixo, operando um trator, trabalhando na construção civil), ou seja,
havia um reforço na imagem do prefeito trabalhador, que abraçava as
reivindicações da população que “colocava a mão na massa”, passando a idéia
de um novo estilo de governar, próximo à população.
Fonte: Informativo Municipal . Número Especial – Fevereiro-Março/ 1987
152
Fonte: Informativo Municipal . Número Especial – Fevereiro-Março /1987
Nas campanhas de Prestação de Contas, Liedtke enfatiza que “o
governo como principal sujeito social, produz estas campanhas como
instrumento de diálogo com a população. Considera seu interlocutor como
cidadão e objeto de suas ações. Ao prestar contas de seus atos, o governo
está mobilizando os cidadãos para que participem ativamente dos fóruns
democráticos, para que sejam co-gestores da administração pública (...) é a
comunicação governamental que vai servir como principal elo de ligação com a
população, legitimando estas propostas de integração e mobilizando a
sociedade para a participação, sensibilizando-a para ser co-gestora do
governo”
113
.
A idéia do governo comprometido com a participação popular estava
presente na prestação de contas dos anos subseqüentes. Em 1987, a idéia do
governante próximo à população permaneceu, mas não eram utilizadas fotos e
sim desenhos em que o prefeito, com a estrela do PT estampada em sua
camiseta, estava abraçado a um operário em primeiro plano e em segundo
plano aparecia a população.
113
Paulo Fernando LIEDTKE, A esquerda presta contas – comunicação e democracia nas cidades,
p.104-105.
153
Fonte: Informativo Municipal – 1987
A capa do Informativo acima nos a idéia de que o prefeito governou
junto à população, fazendo referência ao operário e à mulher, devido à grande
influência do movimento sindical, principalmente dos metalúrgicos do ABC
paulista e também aos movimentos de bairros, liderados muitas vezes por
mulheres, conforme constatei nos depoimentos de moradores colhidos pelos
pesquisadores do Centro de Memória de Diadema. uma clara identificação
com os sujeitos sociais acima especificados.
O Informativo retratava que a população estava satisfeita,
demonstrando alegria nas expressões, dando a idéia de que administração
petista dava certo.
Na primeira gina do último Informativo, em 1988, onde continha o
balanço da administração, o prefeito não aparecia no meio da população,
mas sim sozinho na capa, dirigindo-se provavelmente a várias pessoas, uma
154
vez que aparecia com um microfone, numa posição de comando, com a
seguinte chamada: “5 anos de participação popular”. Não havia fotos da
população e a razão de estar sozinho talvez se deva ao fato da sua saída do
PT, em função da disputa interna pela sucessão na Prefeitura, uma vez que
seu candidato, Cláudio Rosa, também de origem sindical e diretor de Gabinete,
na gestão de Gilson, foi derrotado pelo diretor da Saúde, José Augusto da Silva
Ramos, marcando o rompimento do prefeito com o PT, que não encontrou
apoio no Diretório Municipal e Regional de São Paulo.
A escolha dessa capa o colocava numa posição de der independente
do partido e no depoimento da jornalista Lais Oreb, percebemos que houve
certo desprendimento da assessoria de imprensa no que se refere ao culto à
sua personalidade, uma vez que ele não era candidato, ajudando a fixar a
imagem de liderança daquele que esteve no executivo municipal por seis anos.
“Quem bolava as capas era o menino da ilustração, o
Adriano, então ele bolava uma duas ou três capas e levava para a
gente ver qual ficava melhor, então não tinha assim um critério
político para a escolha de capa, a gente ficava mais assim em relação
ao visual, ao que aparecia mais, agora eu lembro que no último se
pensou em pôr o Gilson na capa. E outra coisa que a gente tinha
certo cuidado, tinha o problema de culto à personalidade, de não ficar
pondo a cara do Gilson para tudo quanto era lado, então a gente
tomava certo cuidado, mas no último, ele não era candidato então
se achou de por a cara do Gilson, mas a escolha da capa era do
ponto de vista do visual.”
155
Informativo Municipal – Março/ 1988.
O Boletim Informativo é um excelente instrumento para percebermos a
ação efetiva do PT de Diadema com relação às suas prioridades, à mobilização
de sujeitos sociais, possibilitando identificar suas ligações políticas nacional e
internacionalmente, uma vez que as lutas e objetivos não se restringiam à
cidade. Permitiu refletir sobre a construção da memória negativa da chamada
grande imprensa, sua tentativa de desestabilizar o Partido e de apostar no seu
fim.
156
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A administração petista em Diadema, no período de 1983 a 1988, gerou
muita expectativa em diversos segmentos sociais, por representar o primeiro
governo municipal de um partido que teve origem nos movimentos sociais,
principalmente no sindicalismo do ABCD paulista no final da década de 70 e
início da década de 80.
A FSP, o OESP e o JT apresentaram a maior parte das matérias sobre
Diadema no noticiário de política nacional, pelo fato da referida administração
ser considerada como espelho do que seria o governo petista nos âmbitos
federal e estadual.
O jornal O Estado de São Paulo e o Jornal da Tarde, em grande parte
das publicações, apresentaram uma série de críticas e “denúncias” referentes
ao “caos” existente na cidade, onde principalmente a classe média sentia-se
abandonada pelo poder público local, devido à “incapacidade administrativa”. A
“corrupção”, as práticas “antidemocráticas” e mesmo “autoritárias” da
administração, procuravam enfatizar as “contradições” de um partido que se
propunha democrático, transparente e ético.
Nos períodos de disputa eleitoral, como nas eleições para os governos
estaduais realizadas em 1986, a grande imprensa relacionou o Partido dos
Trabalhadores às ações criminosas, como por exemplo, o assalto ao Banco do
Brasil em Salvador e enfatizou a incompetência administrativa” do prefeito de
Diadema.
Os informativos municipais e as publicações dos departamentos da PMD
foram extremamente significativos, pois se constituíram no principal canal de
comunicação entre a administração e a população. Através desse material,
constatamos a importância atribuída pelo poder público municipal à
participação popular na efetivação do Orçamento Participativo, com o
levantamento dos principais problemas da cidade e a tomada de decisões.
A prestação de contas realizada através de encontros coletivos e
divulgada através dos Informativos tornou-se a marca deste Governo
157
Municipal, considerada como fundamental no processo de transparência
administrativa.
Estes Informativos eram importantes também, por possibilitarem a
análise dos temas locais, nacionais e internacionais, considerados relevantes
pela administração e também, por indicarem as formas de confecção e
distribuição desse material, remetendo à influência herdada dos movimentos
sindicais e de organizações de bairro, na busca por alternativas que
superassem as dificuldades geradas pela falta de espaço e pelas seguidas
distorções de informação comuns na grande imprensa.
O caráter pedagógico dessas publicações também merece ser
salientado. Eram utilizados diversos recursos, como charges, desenhos
explicativos e linguagem acessível, a fim de tornar o conteúdo compreensível
para grande parte da população, diferindo das publicações da grande imprensa
e imprensa local, que utilizavam uma linguagem mais formal. As publicações
oficiais tinham também um caráter de contestação e questionamento quanto ao
conteúdo apresentado pela grande imprensa, muitas vezes articulada para
desmoralizar a administração.
O Diadema Jornal seguia a pauta da imprensa diária paulistana,
abordando os grandes temas como: Diretas Já, Constituinte, Eleições
Estaduais, Plano Cruzado entre outros. Nesse periódico, não havia a
desqualificação da administração municipal de forma explícita, como ocorria na
maioria das matérias editadas principalmente pelo OESP e JT. A atenção maior
do DJ volta-se para a divulgação das realizações do Governo Estadual,
exercido pelo PMDB, no município de Diadema através da ação direta do
governador e secretários ou através da ação ou intervenção dos vereadores
peemedebistas, o que nos mostra uma evidente partidarização do periódico.
A imprensa local dependia também de matérias pagas pela
administração municipal, o que dificultava as críticas diretas, que muitas vezes
eram feitas através do espaço reservado às cartas dos leitores.
Como podemos observar, tanto a imprensa local como a chamada
“grande imprensa” estavam longe da pretensa imparcialidade e eqüidistância,
158
muitas vezes apregoada nos editoriais, por parte dos responsáveis pelos
jornais.
Estamos nos aproximando do final do ano de 2006, com o término do
primeiro mandato do presidente Luis Inácio Lula da Silva, eleito em 2002.
Estamos distantes da presença de Gilson Menezes como prefeito de Diadema.
Vivemos um novo processo eleitoral em que o Presidente Lula venceu as
eleições para novamente continuar o seu mandato como Presidente da
República, conquistando mais de 60% dos votos contra Geraldo Alckmin.
Apesar de todas as tentativas de desqualificar o PT no período em que Gilson
Menezes foi prefeito de Diadema, o Partido dos Trabalhadores cresceu e foi
conquistando cada vez mais espaço político.
O término desta pesquisa no ano de 2006 é muito significativo, quando
observamos a atuação da imprensa durante o período das eleições para os
poderes executivo e legislativo, tanto estadual como federal. Apresento
algumas manchetes atuais, que provavelmente sejam objeto de novas
pesquisas. A chamada “grande imprensa” repetiu procedimentos anteriores que
reforçam preconceitos e hostilidade em relação ao PT e principalmente ao
presidente, que é visto como “despreparado”, “analfabeto”, “incompetente”,
como se o seu lugar de pobre, operário e nordestino fosse fixo, não podendo
jamais chegar ao cargo que atualmente ocupa. As realizações positivas de seu
governo não foram apresentadas pela imprensa.
Muitos elementos que analisei na década de 80 ainda continuam
presentes, como a disposição das notícias, o diálogo entre o texto e as fotos,
os sujeitos sociais priorizados, entre outros fatores desenvolvidos neste
trabalho. No presente momento, novos dados devem ser levados em
consideração, não apenas as diferenças do contexto histórico, como também a
própria velocidade da informação, a forma e o conteúdo das notícias nos
jornais on line. Como afirmei anteriormente, são apenas indicações de
inúmeras pesquisas para pensarmos nessa relação passado/ presente/futuro.
Para demonstrar esta afirmação, extraí algumas chamadas atuais das edições
on line da Folha de o Paulo, do OESP e do Jornal da Tarde, que apesar do
formato diferente, uma vez que não permitem a visualização total das edições,
159
como nas publicações impressas dos periódicos, fornecem vários elementos
para análise, como as manchetes e as respectivas fotos em destaque.
Alan Marques/Folha Imagem
Raio atinge o Congresso durante chuva em Brasília, a primeira no mês de
agosto, período de seca na região
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT)
consolidou seu
favoritismo e seria
reeleito hoje no primeiro
turno com 56% dos
votos válidos, de acordo
com uma nova pesquisa
Datafolha. O fato
coincide com a melhora
da avaliação positiva da
gestão Lula, que subiu
sete pontos e atingiu o
recorde de 52%. Desde
1987, a maior aprovação
era de Fernando
Henrique Cardoso:
47%.
Fonte: Folha de São Paulo – On Line, 23 de agosto de 2006.
114
Apesar da foto acima referir-se às condições climáticas de Brasília, não
podemos dissociá-la do favoritismo de Lula, no final do mês de agosto, nas
eleições que se realizariam no início de outubro, indicando já a vitória no
primeiro turno. A foto nos remete ao mau agouro, como presságio de “maus
tempos” vindouros.
Na edição de 26 de setembro do OESP, a manchete em que Lula chama
de “aloprados” pessoas muito próximas a ele, como o presidente do Partido
dos Trabalhadores e outros supostos envolvidos na compra de um dossiê
envolvendo a família Vedoin
115
. A utilização de um vocabulário não adequado à
norma culta, reforçava a idéia de incompetência e despreparo do presidente. A
foto na primeira página do jornal, mostrava os candidatos à presidência e ao
governo de estado de São Paulo, respectivamente Geraldo Alckmin e José
114
Folha On Line, 23ago. 2006. Disponível em: <http://www.1.folha.uol.com.br/fsp> Acesso em: 01
nov.2006.
115
O dossiê trazia informações de um suposto envolvimento de JoSerra, candidato ao governo do
Estado de São Paulo no ano de 2006, com a “máfia dos sanguessugas”, referente à compra de
ambulâncias superfaturadas comercializadas pela empresa Planam, de propriedade dos Vedoin, no
período de 2000 a 2004, com propinas para os políticos, que estariam vendendo informações para fins
eleitoreiros.
160
Serra, representando uma possível vitória, o havendo na primeira página
nenhuma referência ao conteúdo da notícia sobre o referido dossiê, apenas a
manchete condenando a compra. A foto também é muito significativa, a cinco
dias do primeiro turno das eleições como prenúncio do resultado.
Terça-feira, 26 setembro de 2006.
Lula culpa Berzoini e ´aloprados´ por dossiê
Presidente disse que ´quem cometeu essa barbárie vai ter de pagar´
Elogiado na semana passada, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi
responsabilizado ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por envolver
petistas no caso do dossiê contra candidatos do PSDB
Evelson de Freitas/AE
FHC reage: ´Não é Cristo, é o demônio´
Origem do dinheiro só após eleição
Coaf informou à Polícia Federal que até aqui só identificou procedência de R$
25 mil do total
Vampiros: Costa e Delúbio são denunciados
Procuradoria da República no Distrito Federal acusa mais 11 pessoas por fraudes
Capa do dia
161
Fonte: O Estado de São Paulo On Line – 26 de setembro de 2006
116
.
Mesmo com as denúncias sobre a compra do dossiê Vedoin, a
vantagem de Lula sobre Alckmin foi significativa. No dia 28 de setembro de
2006, a imprensa publicou uma pesquisa do Ibope que indicava a vitória de
Luis Inácio Lula da Silva já no primeiro turno. Dois dias depois, 30 de setembro,
os jornais da “grande imprensa” e também a imprensa televisiva exibiram
imagens mostrando o dinheiro que deveria ser pago pelo dossiê. De sua parte,
o Jornal da Tarde trouxe como manchete o acidente aéreo ocorrido entre um
Boeing da Gol e o jato executivo da Empresa Legacy, em que “desapareceram”
155 pessoas. Até essa data, o se sabia se os tripulantes haviam ou não
morrido, mas a principal foto da edição referia-se ao dinheiro da suposta
compra do dossiê. Para a imprensa escrita e televisiva, o grande destaque foi
dado à compra do dossiê, em detrimento do seu conteúdo.
A grande imprensa deu maior relevância às denúncias com relação ao
Governo, numa espécie de cobrança moral, não dando a mesma ênfase às
realizações, como se não houvesse aspectos positivos que merecessem ser
publicados pela imprensa no Governo Lula na reta final da sucessão
presidencial.
116
O Estado de São Paulo On Line, 26 set. 2006. Disponível em
http://www.estado.com.br/editorias/2006/09/30.acesso em: 01 nov.2006.
162
Estado de S.Paulo
Quinta-feira, 28 setembro de 2006
A 4 dias da eleição, Lula mantém vitória no 1º turno
Diferença de Lula para a soma dos demais candidatos subiu de 3 para 5 pontos no Ibope
Faltando 4 dias para a eleição presidencial, pesquisa do Ibope divulgada pela Rede Globo mostra que o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva seria reeleito no primeiro turno. A vantagem de Lula para todos os demais candidatos subiu de 3 para 5 pontos porcentuais em
relação à pesquisa divulgada sábado. Lula subiu de 47% para 48%, enquanto o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, passou de 33%
para 32%. Demais candidatos somam 11% das intenções de voto.
f
Tráfico faz Heloísa reduzir visita a favela
Traficante no Parque Esperança: carreata de Heloísa mudou roteiro nas favelas, para evitar encontros perigosos.
163
Capa do dia
Fonte: O Estado de São Paulo – 28 de setembro de 2006.
117
117
O Estado de São Paulo On Line, 28 set. 2006. Disponível em
<http:www.estado.com.br/editorias/2006/09/28.>. Acesso em 01 nov.2006.
164
Sábado, 30 setembro de 2006
PT tenta vetar fotos do dinheiro e quer impugnação de Alckmin
O R$ 1,16 milhão foi fotografado durante perícia da Polícia Federal
Avião da Gol some no MT com 155 pessoas
Asa de jato pode ter cortado boeing
Radioamador avisou polícia sobre o acidente
165
Capa do dia
Fonte: O Estado de São Paulo On Line– 30 de setembro de 2006
118
Fonte: Jornal da Tarde – 30
de setembro de 2006
119
118
OESP On Line, 30 set. 2006. Disponível em <http. //www.estado.com.br/editorias/2006/09/30>.
Acesso em: 01 nov.2006.
119
Jornal da Tarde On Line, 30 set. 2006. Disponível em
<http.estado.com.br/editorias/2006/09/30>.Acesso em 01.nov.2006.
166
SÁBADO, 30 DE SETEMBRO DE 2006
DIRETOR DE REDAÇÃO: OTAVIO FRIAS FILHO
ANO 86 Nº 28.304
EDIÇÃO SÃO PAULO/DF, CONCLUÍDA ÀS 0H45
Avião da Gol se choca no ar e desaparece
Esboços do Rio feitos por Debret no século 19 são reunidos em livro
Folha Online
Folha de S.Paulo
167
Reprodução
Imagem do R$ 1,16 milhão em cédulas novas e usadas de real
Fotos do R$ 1,7 milhão que seria utilizado para pagar um dossiê contra candidatos do PSDB foram
divulgadas ontem em São Paulo. Uma pessoa ligada ao caso e que pediu para não ser identificada
distribuiu a jornalistas, em frente à sede da PF, o CD com 23 fotos. O dinheiro foi apreendido com
dois petistas no último dia 15, mas as imagens das cédulas eram mantidas em sigilo pela PF.
Fonte: Folha de São Paulo On Line – 30 de setembro de 2006.
120
Podemos observar vários pontos em comum entre a atuação da
imprensa na primeira gestão petista em Diadema (1983-1988) e a atuação da
imprensa na eleição para o governo federal em 2006. Mesmo afirmando
isenção no processo eleitoral, muitos veículos demonstraram suas preferências
por um dos candidatos. Por outro lado, observamos que a imprensa não tem
todo o poder que apregoa. Se assim o fosse, não poderíamos compreender a
sucessão petista na cidade de Diadema, desde a primeira administração em
1983, até hoje, sendo governada pelo PSB no período de 1997 a 2000, as
demais administrações foram do Partido dos Trabalhadores.
Diadema é hoje referência quanto à participação de moradores na
elaboração e implantação de políticas blicas, atualmente existem
reconhecidos avanços, principalmente na área de segurança, devido à grande
redução dos índices de criminalidade, que o pode ser explicada apenas pela
Lei de Fechamento dos bares às 23 horas, tão enfatizada pela grande
imprensa. Houve significativa melhora na qualidade de vida no município em
diversas áreas, de acordo com pesquisadores do Instituto Fernando Braudel:
“Hoje Diadema tem 13 bibliotecas públicas, um centro cultural em cada um dos
onze bairros, programa de esportes para idosos, um centro de referência para
mulheres vítimas de violência, dois hospitais (municipal e estadual), 22 centros
de saúde, nove campos de futebol, seis ginásios e mais de 40 quadras
esportivas. Tem uma casa do HIP-Hop, uma Companhia de Dança, A Banda
168
Jazz Sinfônica e a um Observatório Astronômico Municipal. Esses
instrumentos de política cultural criaram novas alternativas de diversão e
desenvolvimento para os jovens (...)”.
121
Existem ainda diversos problemas no
município, mas não como negar as melhorias para grande parte da
população, quando comparamos com os problemas enfrentados no início da
década de 80.
O discurso hegemônico da grande mídia está sendo questionado, por
vozes discordantes que hoje encontram maior espaço, principalmente na
Internet, como por exemplo, nas matérias veiculadas pelo Observatório da
Imprensa e Agência Carta Maior, ampliando a análise e discussão dos meios
de comunicação. Levando em conta a realidade brasileira, em que milhões de
pessoas não têm acesso a essas inúmeras informações, devemos considerar a
análise de Nelson Werneck Sodré, que ressalta que “existe um profundo
divórcio entre o que o público pensa e acredita e necessita e aquilo que a
imprensa veicula”.
122
Talvez, através dessa análise, possamos compreender
melhor os resultados eleitorais tanto na década de 80 em Diadema, como nas
eleições brasileiras em 2006.
A ”grande imprensa” não manifestou sua preferência por determinados
candidatos em editorial assinado, mas a montagem das edições procuram
induzir o leitor a relacionar apenas o PT à “corrupção”, “incompetência” e
“ineficiência administrativa”. Segundo Arbex, “a mídia pode muito, mas não é
onipotente. Os limites de sua capacidade de manipulação são determinados
pela conjuntura política e, sobretudo, pela capacidade de ação, resistência e
articulação das organizações populares”
123
.
As problemáticas e reflexões abordadas nesta dissertação permitem
analisar o papel exercido pela “grande imprensa paulistana”, imprensa local e
imprensa oficial do município de Diadema, no período de 1983 a 1988,
procurando compreender o papel que desempenharam no exercício de projetos
120
Folha de São Paulo On Line, 30 set.2006. Disponível em http:www1.folha.uol.com.br/fsp.Acesso em:
01 nov.2006.
121
Norman GALL, Lula e Mefistófeles e outros ensaios políticos, p.84-85.
122
Nelson Werneck Sodré, História da Imprensa no Brasil, p. XVI.
123
José ARBEX Jr., O Jornalismo Canalhaa promíscua relação entre a mídia e o poder, p.147.
169
políticos, bem como relacionarmos com o presente debate existente no cenário
político atual das intrínsecas relações entre mídia e poder.
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– Folha de São Paulo, Janeiro / 1983 a Dezembro /1988.
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-Jornal da Tarde – Janeiro/1983 a Dezembro/1988.
2. Jornal Local
2.1. – Diadema Jornal, Janeiro/ 1983 a dezembro/1986.
170
3 - Informativos Municipais
- Números 1 (agosto/1983) a 28 (agosto /1988)
4. Entrevistas
4.1. Entrevistas realizadas pela autora
- Gilson Menezes (08/08/2005)
- Lais Oreb (30/01/2006)
4.2. Entrevistas realizadas por pesquisadores do Centro de
Memória de Diadema
- Maria Iram Rodrigues de Freitas (14/03/1995)
- Elizabeth Fernandes e João Fernandes dos Santos (10/08/1990)
- Edgard Della Paschoa (16/01/1995)
- Francisca Edileuza de Almeida (04/11/1994)
- Antonio Justino (Tonhão) 27/11/1997
- Adalberto Florêncio Freitas (21/03/1995)
- Manoel Boni (18/09/1996)
- José Antonio Saraiva (24/04/1995)
5. Internet
http://www.diadema.sp.gov.br
http:www1.folha.uol.com.br/fsp
http://www.estado.com.br/editorias
171
http://www.jt.com.br/editorias
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