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abandonaram a produção cômica, pelo contrário,
desenvolveram-na utilizando-se de outros recursos
cômicos, mais apropriados às revistas, às legendas das
caricaturas, ao cinema, aos jornais falados, à música e,
afinal, ao humor radiofônico.
Independente das questões ideológicas da implantação e
desenvolvimento da radiofonia no Brasil, aqui não constantes por não
fazerem parte de nosso recorte, é notória a influência e, dentro de
alguns limites, até mesmo a determinação do rádio
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no
desenvolvimento da linguagem televisiva, mesmo porque muitos de seus
nomes de relevo migraram para a TV, quando esta dava seus passos
iniciais no Brasil. Mas é fundamental notar que a linguagem radiofônica
também foi um constructo, que buscou elementos e modos de
formalização em linguagens que lhe são anteriores:
Enfim, quando o rádio procura uma linguagem
própria, rápida, concisa e colada no dia-a-dia, suscetível
de registrar o efêmero do cotidiano, ele vai encontrar
aquilo que as criações humorísticas já haviam de certa
forma elaborado em estreita ligação com o teatro
musicado, o teatro de revista, e as primeiras gravações
fonográficas, e até mesmo as primeiras produções
cinematográficas: a mistura lingüística, a incorporação
anárquica de ditos e refrões conhecidos por ampla maioria
da população, a concisão, a rapidez, a habilidade dos
trocadilhos e jogos de palavras, a facilidade na criação de
versos prontamente adaptáveis à música, aos ritmos
rápidos da dança e aos anúncios publicitários.
440
Em plena ‘guerra paulista’, nos idos de 1932, segundo relato de
Saliba, Cornélio Pires utilizava-se do rádio e, em programetes, contava
‘causos’ e ‘episódios’ pitorescos da guerra civil que mais tarde aparecem
reunidos em um volume intitulado Chorando e rindo
441
. Como Pires,
muitos são os nomes de humoristas que gravaram discos de humor,
nos quais em forma de versos ou de ‘causos’ praticavam o humor
paródico, e, por que não dizer, ‘ácido’ no sentido de fazer a crítica da
sociedade da época. A língua e sua multiplicidade, já explorada na fala
caipira proposta por Cornélio Pires, vê-se acrescida pela verdadeira
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MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério, p. 71-72.
440
SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da
Belle Époque aos primeiros tempos do rádio, p. 228.
441
SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira: da
Belle Époque aos primeiros tempos do rádio, p. 242.