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acompanhamos, em maio de 2004, o puxador de samba, Tobias do Vai-Vai,
cantou a canção “Um Abraço Negro”
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, enquanto os presentes eram convidados
a se cumprimentar. A água de cheiro trazida durante o ofertório seria aspergida
ao final pelo padre e por seus companheiros no culto. Ao final da celebração,
como de praxe, uma concorrida feijoada foi servida no salão de festas e
recreação da paróquia.
É interessante observar que a presença de Tobias na celebração marca
também a aproximação entre a escola de samba e a pastoral afro, num gesto de
reconhecimento mútuo, que se dá também de diversas outras formas. A água de
cheiro aspergida durante a missa, também costuma ser levada pelo próprio padre
Toninho à quadra da escola onde é por ele igualmente aspergida. Em
contrapartida, ao final de todos os carnavais integrantes da escola saem da
quadra e caminham com a marcação do surdo em direção à igreja. Uma vez
diante dela, ajoelham-se e rezam em agradecimento.
Durante nossas atividades de campo, porém, o que mais nos chamou a
atenção foi a figura do padre Renato Scano. Filho de pai italiano e mãe negra,
nascido e criado no Bexiga, Scano é quem melhor poderia sintetizar nosso
trabalho. Também membro da congregação dos orionitas, onde ingressou com 14
anos, o padre retornaria ao bairro em duas oportunidades. A primeira, quando da
nomeação de Padre Toninho como pároco da Achiropita, permanecendo ali por
quase uma década. A segunda, já mais recentemente, quando por força da idade
começou paulatinamente a se afastar das atividades mais pesadas. Encontramos o
padre no dia 15 de janeiro de 2005, quando então contava 75 anos, nas
dependências da igreja de Nossa Senhora de Achiropita. Sua lucidez e histórias
familiares, que remontam até a escravidão de alguns membros da família, no
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“Um abraço negro, um sorriso negro, traz felicidade. Negro sem emprego fica sem sossego, negro é a raiz
da liberdade. Negro é uma cor de respeito, negro é a inspiração. Negro é silêncio, é luta, negro é a solução.
Negro que já foi escravo, negro é a voz da verdade. Negro é o destino e amor, negro também é saudade”.