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GABRIELA LOPES
ESTUDO DA AUDIÇÃO E DA AUTO-PERCEPÇÃO DO
HANDICAP AUDITIVO EM MOTORISTAS DE CAMINHÃO
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2006
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GABRIELA LOPES
ESTUDO DA AUDIÇÃO E DA AUTO-PERCEPÇÃO DO
HANDICAP AUDITIVO EM MOTORISTAS DE CAMINHÃO
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre
em Fonoaudiologia, sob a orientação da
Profª Drª Iêda Chaves Pacheco Russo.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2006
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GABRIELA LOPES
ESTUDO DA AUDIÇÃO E DA AUTO-PERCEPÇÃO DO
HANDICAP AUDITIVO EM MOTORISTAS DE CAMINHÃO
Presidente da Banca Examinadora: Profª Drª __________________________
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª ________________________________________________________
Profª Drª ________________________________________________________
Profª Drª ________________________________________________________
Aprovada em : _____/_____/_____
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução
total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _____________________________São Paulo, _____/_____/_____
“Eu conheço cada palmo desse chão /
é só me mostrar qual é a direção
Quantas idas e vindas
meu Deus quantas voltas /
viajar é preciso é preciso
Com a carroceria sobre as costas /
vou fazendo frete cortando o estradão
Eu conheço todos os sotaques /
Desse povo todas as paisagens
Dessa terra todas as cidades /
das mulheres todas as vontades
Eu conheço as minhas liberdades /
pois a vida não me cobra o frete”.
(Renato Teixeira)
i
Dedicatória
Aos meus queridos avós maternos Isidro Lopes e Odette Areias Lopes,
que por toda a vida lutaram para que eu realizasse os meus sonhos e fosse uma
pessoa feliz e respeitada. Não houve um dia sequer em que eu não pensasse em
vocês, pelos ensinamentos e pelas saudades eternas. Doces lembranças estão
presentes em minha memória. Essa distância que nos separa é diminuída pelo
infinito amor que sinto.
À minha amada mãe Irene Aparecida Lopes, que é meu exemplo,
obrigada pela dedicação e pelo amor dispensados em todos os momentos da
minha vida. Devo este Mestrado inteiramente a você, que jamais me abandonou
um segundo sequer, incentivando-me a prosseguir na concretização deste sonho.
Sempre juntas, vencemos este e outros desafios. Nada tem sentido sem você ao
meu lado! Agradeço a todo instante por ter uma mãe tão especial! Somos
eternamente inseparáveis!
Ao meu querido namorado Rubens Vaz de Oliveira Barros (Rubão), pelo
amor incondicional nestes anos de relacionamento. Cada momento ao seu lado é
único e inesquecível. Somos um casal especial, por haver respeito, carinho e
dedicação mútua. Estamos construindo uma história de plena felicidade, que
perdurará por todos os dias de nossas vidas. Não sei mais viver sem você!
ii
Agradecimentos
À querida Profª Drª Iêda Chaves Pacheco Russo, obrigada pela
dedicação e generosidade durante a orientação deste trabalho. Suas conquistas
pela Fonoaudiologia são admiráveis, o que me faz acreditar e investir em nossa
profissão. Sinto muito orgulho por ter compartilhado momentos de sabedoria e de
companheirismo como sua orientanda. Você é simplesmente encantadora!
Sentirei imensas saudades!
À Profª Drª Ana Claudia Fiorini, com imenso carinho, agradeço por toda a
atenção dispensada a mim e ao meu Mestrado, disponibilizando seu precioso
tempo para me auxiliar em idéias e nas dúvidas surgidas. Você é um exemplo
como pessoa e como fonoaudióloga, demonstrando alegria, simplicidade e
humildade em tudo o que se propõe. Obrigada por participar deste momento tão
especial em minha vida e por me incentivar na área de Saúde do Trabalhador.
À Profª Drª Vera Zaher, por estar sempre presente em momentos tão
importantes da minha carreira profissional. Obrigada pelas suas palavras de
sabedoria e emoção na qualificação e na defesa desta dissertação. Admiro-a
muito.
iii
À Profª Drª Yara Aparecida Bohlsen, por permitir que eu realizasse em
sua disciplina, o Estágio Docência em Fonoaudiologia, assim como, agradeço pela
disponibilidade em compor a Banca Examinadora na qualidade de suplente.
À Profª Drª Teresa Maria Momensohn-Santos, por sempre encontrar em
suas palavras uma mensagem de incentivo, para que eu trilhasse meu caminho
com sucesso, humildade e sabedoria.
À Profª Drª Leslie Piccolotto Ferreira, pela disponibilidade e pelo
interesse demonstrado a cada encontro. Jamais esquecerei do carinhoso apelido
de “Sulinha, a rainha dos caminhoneiros”!
Aos funcionários da Distribuidora (filial Jundiaí-SP), Doriedson, Luciano,
Fábio, Marcelo, Vitalino, Fabiana e Mariana, pelo auxílio na convocação dos
motoristas de caminhão, assim como, pela gentileza no esclarecimento de dúvidas
e na resolução de intercorrências surgidas no desenvolvimento deste trabalho.
Teria sido impossível sem vocês!
Ao funcionário Antonio Rodrigues Santos Neto, integrante da Gerência
de Operações & Logística da Distribuidora (filial Jaraguá-SP), por acreditar na
importância deste trabalho e por permitir a sua realização.
iv
Ao Engenheiro Antônio Henrique Neves, por sempre demonstrar interesse
neste Mestrado, desde o projeto até o seu desenvolvimento, auxiliando
integralmente na viabilização da coleta de dados.
Ao Técnico de Segurança do Trabalho da Distribuidora (filial Cosmópolis-
SP) Waldir Manzan, pelo fornecimento das doses obtidas nos motoristas de
caminhão nos PPRA de 2005 e 2006, como também, pela eficiência e simpatia
constantes nos nossos contatos telefônicos e por e-mail.
Ao Sr. Carlos Rodnei Nogueira, que acreditou desde o início em meu
projeto e o encaminhou para as Distribuidoras ligadas à sua empresa. Obrigada
por seu valioso interesse e seu auxílio nos primeiros contatos com a Distribuidora
selecionada.
Ao funcionário da biblioteca da DERDIC - PUCSP João Matias, pelo
valioso auxílio em encontrar revistas científicas, dissertações e teses.
Aos Motoristas de Caminhão da Distribuidora, que disponibilizaram seu
tempo precioso de trabalho e de descanso para contribuírem com este estudo.
Agradeço pelo acolhimento e interesse demonstrados e, sobretudo, por confiarem
e acreditarem em mim. Permanece a minha reflexão de que ainda há muito para
ser estudado e aplicado nesta classe profissional.
v
Agradecimentos Especiais
Aos meus grandes amigos de infância Rafaela, Mariana, Viviane, Sérgio,
Martin, Oliver, Ricardo (Toddy), Marcos Paulo (Batata) e Guilherme, pela
lealdade e companheirismo presentes em mais de 15 anos de sincera amizade.
Obrigada pelo apoio e por compreenderem minha momentânea ausência em suas
vidas!
Ao meu grande amigo Oliver Auster, por suas palavras de incentivo e
força, sempre serenas e especiais em minha vida. Obrigada por estar
constantemente presente!
Aos amigos René, Janaína, Daniela, Ana Paula, Bruna, Celso e
Fernando, que transformaram meus fins-de-semana em momentos especiais,
com muita diversão e alegria. Obrigada por me distraírem, me fazerem rir e por me
ouvirem muito!
Ao meu amigo de infância Rodrigo Matsubara e à sua namorada Nídia
Oliveira, por sempre serem fiéis e companheiros. Obrigada pelas nossas
conversas e pelos nossos encontros!
À amiga Carla Bíscaro, que sempre me animou e me fez rir muito, mesmo
nos momentos desesperadores do Mestrado.
vi
À amiga Michelle Barna Guzman, por sonharmos e acreditarmos juntas na
concretização de nossos trabalhos. Vencemos os obstáculos surgidos sempre
com alegria, esperança e principalmente, com a nossa grande amizade. Conte
sempre comigo.
À Florinda Chieregatti (Flóris), amiga tão especial, que me anima e torna
todos os Congressos Científicos da área de Fonoaudiologia mais prazerosos.
Obrigada por transmitir tanta energia.
Aos meus queridos Tio Isidro e Tia Renata, pela coragem, tranqüilidade e
carinho transmitidos em todos os momentos em que estivemos juntos. Obrigada
por sempre demonstrarem interesse deste o início do meu Mestrado!
À Tia Lourdes e aos meus familiares maternos, que estiveram ao meu
lado por toda a vida, em momentos alegres e difíceis, nos quais jamais me
abandonaram. Agradeço a Deus pelo privilégio de ter uma família tão maravilhosa
como esta.
Ao Reynaldo Vaz de Oliveira Barros, que acreditou muito no meu projeto,
indicando-o na sua empresa e, indiretamente, encaminhando-o à Distribuidora.
Não tenho palavras para agradecê-lo pelo empenho na concretização deste
trabalho, além de ser sempre uma pessoa carinhosa e atenciosa comigo.
Obrigada cunhadinho!
vii
À Tia Ruth e ao Tio Reynaldo, por me acolherem como minha segunda
família, torcendo por mim e me incentivando a cada etapa. Obrigada pelo enorme
carinho.
À fonoaudióloga Deborah de Freitas Manguino, por acreditar sempre em
meu potencial profissional. Sua vibração e carisma me contagiaram em todos os
nossos encontros, fazendo com que eu trilhasse meu Mestrado com
determinação.
À fonoaudióloga Mestre Mônica de Cillo Martins, da Clínica SEAF –
Serviços Especializados e Audiologia e Fonoaudiologia, agradeço pela constante
preocupação com meu Mestrado e por me incentivar na carreira profissional. Sua
simplicidade e sua bondade são cativantes.
À gerente da Clínica Lili Medicina do Trabalho, Elaine Destro, pelo
empréstimo da cabina audiométrica para a realização da coleta de dados, além de
ser atenciosa e compreender plenamente às minhas ausências.
Às fonoaudiólogas Andrea Emygdio Auriema e Alessandra Juvêncio da
Silva, da Clínica Lili Medicina do Trabalho, por prontamente me substituírem no
trabalho durante o Mestrado. Obrigada pelo interesse e disponibilidade.
Aos funcionários da Clínica Lili Medicina do Trabalho, agradeço pela
atenção e pelo interesse em minha atuação como fonoaudióloga.
viii
Ao Médico do Trabalho Dr. Takeru e às Auxiliares de Enfermagem do
Trabalho D. Conceição e Creuza, da Sansuy S.A. Indústria de Plásticos, por
respeitarem às minhas ausências e por constantemente demonstrarem interesse
neste Mestrado.
Às amigas do Mestrado em Fonoaudiologia da PUC-SP, pela força e
acolhimento constantes durante o curso. Apesar das saudades, o laço de amizade
estará constantemente presente.
Ao Prof. Dalton Maia Delpintor, pela disposição em traduzir parte do
resumo deste trabalho para a língua inglesa.
À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior
(CAPES), agradeço pela concessão da bolsa de Mestrado, imprescindível para a
elaboração e desenvolvimento deste trabalho.
À todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a
realização deste trabalho, muito obrigada!
ix
Resumo
Lopes G. Estudo da Audição e da Auto-percepção do Handicap Auditivo em
Motoristas de Caminhão [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP; 2006.
Introdução: Toda sociedade depende direta ou indiretamente da eficiência do
transporte rodoviário, que é executado principalmente pelos motoristas de
caminhão. No desempenho de sua função, estes profissionais podem apresentar
diversos problemas de saúde e dentre eles, a deficiência auditiva. Objetivo: Este
trabalho visou estudar a audição e a auto-percepção do handicap auditivo de
motoristas de caminhão. Método: Foram avaliados 75 motoristas de caminhão, do
sexo masculino, com idades entre 27 a 61 anos e com tempo de profissão entre
cinco e 40 anos. Os sujeitos responderam a uma anamnese, realizaram avaliação
audiométrica e preencheram um questionário de auto-percepção do handicap
auditivo - Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA). A Perda Auditiva Induzida
por Ruído (PAIR) foi classificada segundo o critério de Grupos utilizado por Fiorini
(1994). A avaliação audiométrica também foi classificada de acordo com Parrado-
Moran, Fiorini (2003), considerando os resultados de ambas as orelhas
separadamente. Resultados: Do total, 50 (66,7%) apresentaram resultados
dentro dos padrões de normalidade (Grupo 1) e 20 (26,7%) foram classificados
como sugestivos de PAIR (Grupo 2) e cinco como Outros (6,6%). Dentre os 50
audiogramas do Grupo 1 (71,4%), 31 foram dentro dos padrões de normalidade,
com entalhe bilateral (62,0%) e dos 20 audiogramas do Grupo 2 (28,6%), 16
(80,0%) foram sugestivos de PAIR bilateral. O maior comprometimento foi
encontrado na faixa de freqüências de 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz. As variáveis
qualitativas: anos de profissão (p=0,049) e idade (p=0,007) influenciaram
estatisticamente os resultados da avaliação audiométrica. Do total de 50
motoristas de caminhão (71,4%) que apresentaram audição dentro dos padrões
de normalidade (Grupo 1), 43 sujeitos (86,0%) não apresentaram auto-percepção
do handicap auditivo, seis (12,0%) apresentaram auto-percepção leve/moderada
do handicap auditivo e um (2,0%) demonstrou auto-percepção severa/significativa
do handicap auditivo. Dos 20 motoristas (28,6%) que apresentaram perdas
auditivas sugestivas de PAIR (Grupo 2), 16 sujeitos (80,0%) não apresentaram
auto-percepção do handicap auditivo, três (15,0%) apresentaram auto-percepção
leve/moderada do handicap auditivo e um (5,0%) demonstrou auto-percepção
severa/significativa do handicap auditivo. Com isso, foi observado que nem todos
os sujeitos com alterações auditivas sugestivas de PAIR demonstraram auto-
percepção do handicap auditivo, porém, aqueles com audição dentro dos padrões
de normalidade puderam apresentá-la. Conclusões: A prevalência de alterações
auditivas na população estudada foi de 28,6%. Além disso, não houve associação
entre os resultados da avaliação audiométrica e a auto-percepção do
handicap
auditivo.
Palavras chave: Perda Auditiva Induzida por Ruído, Saúde Ocupacional, Ruído
Ocupacional, Audiometria, Audiologia.
x
Abstract
Lopes G. Study of hearing and self-perception of the hearing handicap in truck
drivers. [Master’s Dissertation]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo – PUC-SP; 2006.
Introduction: Every society depends directly or indirectly on the road transport
efficiency, which is mainly executed by truck drivers. On duty of this function, these
professionals can show several health problems such as hearing impairment.
Objective: This assignment has studied the hearing and the self-perception of the
hearing handicap in truck drivers. Method: It was evaluated 75 truck drivers, male
gender and ages between 27 to 61 years old, with professional experience
between five to 40 years. It was accomplished: anamnesis, audiometric evaluation
and also was applied a questionnaire, the Hearing Handicap Inventory for Adults
(HHIA). Noise Induced Hearing Loss (NIHL) was classified according to the Group
criterion used by Fiorini (1994). Audiometric evaluation also was classified
according to Parrado-Moran, Fiorini (2003), taking into consideration the results for
both ears separately. Results: 50 out of 75 (66.7%) have shown results within
normal standards (Group 1), 20 out of 75 (26.7%) have been classified as
suggestive of noise induced hearing loss (NIHL) (Group 2) and 5 out of 75 like the
others (6.6%). Out of 50 Group 1 audiograms (71.4%), 31 were normal with
bilateral notch (62.0%) and out of 20 Group 2 audiograms (28.6%), 16 (80.0%)
were suggestive of bilateral NIHL. The greatest compromise was found in the
frequency range of 4 kHz, 6 kHz and 8 kHz. Qualitative variables: years of duty
profession (p=0.049) and age (p=0.049) have statistically influenced the
audiometric evaluation results. Out of 50 truck drivers (71.4%) who presented
normal hearing thresholds (Group 1), 43 subjects (86.0%) did not have a perceived
hearing handicap, 6 (12.0%) had a mild/moderate perception and 1(2.0%) a
severe/significant hearing handicap perception. Out of 20 truck drivers (28.6%)
who presented suggestive NIHL (Group 2), 16 subjects (80.0%) did not show any
degree of hearing handicap, 3 (15.0%) have presented it mild/moderate and one
(5.0%) severe/significant. The largest compromise was found in the frequencies of
4 kHz, 6 kHz and 8 kHz. In relation to self-perception of the hearing handicap, 7
drivers (14%) from Group 1 and 4 (20.0%) from Group 2 have shown self-
perception of the hearing handicap. However, 43 drivers (86.0%) of Group 1 and
16 (80.0%) of Group 2 did not show any perception. With this, it was noticed that
not even all the drivers with suggestive NIHL showed a hearing handicap self-
perception and those within normal hearing standards have presented it.
Conclusion: The prevalence of hearing disorders on the analyzed population was
28.6%. Besides the years of duty profession and the age determined statistically
the results of this audiometric evaluation and it did not have any connection with
the results of the self-perceived hearing handicap.
Keywords: Noise Induced Hearing Loss, Occupational Health, Noise
Occupational, Audiometry, Audiology.
xi
Lista de Abreviaturas
AASI - Aparelho de Amplificação Sonora Individual
ACOEM - American College of Occupational and Environmental Medicine
ANSI - American National Standards Institute
APHAB - Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit
ASO - Atestado de Saúde Ocupacional
CCE - Células Ciliadas Externas
CCI - Células Ciliadas Internas
dB (A) – decibel Escala de Compensação A
DBI - Driver Behaviour Inventory
dBNA – decibel Nível de Audição
HDHS - Hearing Disability and Handicap Scale
HHIA - Hearing Handicap Inventory for Adults
HHIE - Hearing Handicap Inventory for the Elderly
HMS - Hearing Measurement Scale
kHz – kiloHertz
ICF - International Classification of Functioning, Disability and Health
IRF – Índice de Reconhecimento de Fala
ISO - International Organization for Standardization
Leq – Nível Sonoro Equivalente
LRF - Limiar de Reconhecimento de Fala
NPS – Nível de Pressão Sonora
xii
NR - Norma Regulamentadora
OMS – Organização Mundial de Saúde
PAIR – Perda Auditiva Induzida por Ruído
PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PEATE - Potenciais Auditivos Evocados do Tronco Encefálico
PPPA - Programa de Prevenção de Perdas Auditivas
PPRA - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
ROS - Reactive Oxygen Species
SDS - Bureau of Labor Statistics’ Supplementary Data System
SESMT - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em
Medicina do Trabalho
SNAC - Sistema Nervoso Auditivo Central
TEOAE - Emissões Otoacústicas Evocadas por Transiente
TSM - Trucker Strain Monitor
VCI – Vibração de Corpo Inteiro
WHO - World Health Organization
xiii
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Distribuição do critério utilizado por Fiorini (1994), em porcentagem (%),
classificando em Grupos os resultados da avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão (N = 75)...........................................................60
Tabela 2 - Distribuição do critério utilizado por Fiorini (1994), em porcentagem (%),
classificando em Grupos 1 e 2 os resultados da avaliação audiométrica
dos motoristas de caminhão (N = 70) ....................................................62
Tabela 3 – Distribuição das 140 orelhas de acordo com os diferentes limiares
audiométricos (dBNA) nas oito freqüências (f) testadas (kHz) ............63
Tabela 4 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) somente na freqüência de
4 kHz, nas cinco orelhas .......................................................................64
Tabela 5 – Distribuição do limiar tonal (dBNA) somente na freqüência de
6 kHz, em uma orelha ...........................................................................64
Tabela 6 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
4 kHz e 6kHz, em três orelhas ..............................................................65
Tabela 7 – Distribuição do limiar tonal (dBNA) nas freqüências de
4 kHz e 8 kHz, em uma orelha .............................................................65
Tabela 8 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
3 kHz, 4 kHz e 6 kHz , nas duas orelhas ..............................................65
Tabela 9 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas 10 orelhas ..................................................66
xiv
Tabela 10 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
2 kHz, 3 kHz, 4 kHz e 6 kHz, nas duas orelhas ..................................66
Tabela 11 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas seis orelhas ...................................67
Tabela 12 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas seis orelhas ........................68
Tabela 13 – Distribuição da variável qualitativa:
Exposição Ocupacional Anterior ao Ruído,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................69
Tabela 14 – Distribuição da variável qualitativa:
Tempo de Exposição Ocupacional Anterior ao Ruído,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................69
Tabela 15 – Distribuição da variável qualitativa:
Escala de Turnos de Trabalho,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................70
xv
Tabela 16 – Distribuição da variável qualitativa:
Incômodo ao Ruído, durante a jornada de trabalho,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70)...................................................70
Tabela 17 – Distribuição da variável qualitativa: Anos de Profissão,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................71
Tabela 18 – Distribuição da variável qualitativa: Idade,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................72
Tabela 19 – Distribuição da variável qualitativa: Tabagismo,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................73
Tabela 20 – Distribuição da variável qualitativa: Etilismo,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................73
xvi
Tabela 21 – Distribuição da variável qualitativa:
Uso do Rádio AM/FM durante a jornada de trabalho,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................74
Tabela 22 – Distribuição da variável qualitativa:
Atividades de Lazer, por mais de uma vez por semana,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..................................................74
Tabela 23 – Distribuição dos motoristas de caminhão, segundo o percentual
de auto-percepção do handicap auditivo apresentado no HHIA .....76
Tabela 24: Distribuição dos motoristas de caminhão quanto à
presença/ausência de auto-percepção do handicap auditivo,
expressa em porcentagem (%), constatada na aplicação do
protocolo HHIA (N = 70) .......................................................................77
Tabela 25: Distribuição dos motoristas de caminhão quanto ao
índice de auto-percepção do handicap auditivo,
expressa em porcentagem (%), segundo o critério
proposto por Newman et al. (1990) (N = 70) ...........................77
Tabela 26: Distribuição dos motoristas de caminhão com
auto-percepção do handicap auditivo,
expressa em porcentagem (%), segundo o critério
proposto por Newman et al. (1990) (N = 12) ...........................78
xvii
Tabela 27 – Distribuição dos motoristas de caminhão, baseada na
avaliação audiométrica classificada por grupos e empregada
por Fiorini (1994), segundo o índice de auto-percepção do
handicap auditivo (N = 70) ..................................................................79
Tabela 28 – Distribuição dos motoristas de caminhão, divididos em subgrupos,
segundo a avaliação audiométrica classificada por grupos e
empregada por Fiorini (1994) e o índice de auto-percepção do
handicap auditivo (N = 70)...................................................................81
Tabela 29 – Distribuição da variável qualitativa auto-percepção do
handicap auditivo, considerando os resultados obtidos na avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão, através da categorização
nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70) ..............................82
xviii
Lista de Quadros
Quadro 1 - Avaliação do nível de exposição diária ao ruído pelos
motoristas de caminhão constatada em 2005 no PPRA ......................45
Quadro 2 - Avaliação do nível de exposição diária ao ruído pelos
motoristas de caminhão constatada em 2006 no PPRA ......................46
Quadro 3 - Classificação quanto ao índice de
auto-percepção do handicap auditivo ..................................................57
xix
Sumário
Dedicatória ................................................................................................................i
Agradecimentos .......................................................................................................ii
Agradecimentos Especiais ......................................................................................v
Resumo ..................................................................................................................ix
Abstract ...................................................................................................................x
Lista de Abreviaturas ..............................................................................................xi
Lista de Tabelas ...................................................................................................xiii
Lista de Quadros ................................................................................................xviii
1. Introdução .........................................................................................................1
1.1. Objetivo Geral ...........................................................................................5
1.2. Objetivos específicos ................................................................................5
2. Revisão de Literatura ........................................................................................6
2.1. O efeito do ruído na audição .....................................................................6
2.2. A saúde auditiva de motoristas de caminhão ..........................................18
2.3. Efeitos do ruído na saúde auditiva de motoristas de caminhão ..............20
2.4. Estudos sobre alterações na saúde em motoristas de caminhão ...........25
2.5. Desenvolvimento e Aplicação do Hearing Handicap Inventory for
Adults – HHIA na avaliação da auto-percepção do handicap auditivo....30
3. Método ............................................................................................................42
3.1. Estrutura da Empresa .............................................................................42
3.2. Caracterização dos sujeitos ....................................................................47
3.3. Considerações Éticas ..............................................................................47
3.4. Procedimentos ........................................................................................48
3.5. Critérios de análise dos instrumentos .....................................................53
3.5.1. Avaliação Audiométrica .......................................................................53
3.5.2. Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA ...................................56
3.6. Análise Estatística ...................................................................................58
4. Resultados ......................................................................................................60
4.1. Avaliação Audiométrica ...........................................................................60
4.2. Descrição do protocolo HHIA ..................................................................75
4.2.1. Avaliação da auto-percepção do handicap auditivo ............................75
4.2.2. Avaliação Audiométrica e da auto-percepção do handicap auditivo ...78
5. Discussão .......................................................................................................83
5.1. Discussão dos resultados referentes à Avaliação Audiométrica .............87
5.2. Discussão dos resultados referentes à Avaliação da auto-percepção
do handicap auditivo ................................................................................97
6. Conclusões ...................................................................................................101
7. Referências Bibliográficas ............................................................................102
8. Fontes Consultadas ......................................................................................110
9. Anexos
1
O transporte rodoviário é o meio mais importante para suprir as
necessidades dos brasileiros, movimentando a economia em todo o território
nacional. Por este esforço e necessidade em percorrer milhões de quilômetros,
os motoristas de caminhão, conseqüentemente, desenvolvem problemas de
saúde, que são passageiros ou com marcas definitivas.
A Confederação Nacional do Transporte (CNT), em seu boletim rodoviário
de dezembro de 2005, revelou que existem no Brasil 110.942 transportadoras e
618.409 motoristas de caminhão autônomos. O volume total transportado no
país, em toneladas, foi de 46,8% somente nas rodovias. Mesmo não obtendo um
número oficial total desta categoria profissional (autônomos e contratados), as
pesquisas científicas realizadas com ela teriam uma grande abrangência e
importância, já que atingiriam uma população carente de valorização, de atenção
e de estudos.
Toda a sociedade depende direta ou indiretamente da eficiência do
transporte rodoviário, portanto, necessitamos do empenho, da responsabilidade e
dos serviços prestados pelos motoristas de caminhão para sermos abastecidos,
seja por produtos químicos, alimentícios, agrícolas, pecuários, industriais ou
fabris, enfim, para darmos prosseguimento à rotina em nossas vidas. Entretanto,
se nos oferecem tantas vantagens com o seu serviço, os profissionais do volante
estão sujeitos a pressões simultâneas e variadas, das quais estão isentos muitos
outros trabalhadores.
O elevado valor do veículo, as vidas sob sua responsabilidade, as cargas
valiosas e tóxicas, a sinalização deficiente das vias e estradas igualmente
defeituosas, caracterizam desafios que o motorista de caminhão é obrigado a
2
enfrentar em sua jornada de trabalho. O excesso de ruído, o calor que desprende
de dentro da cabine, a conformação da poltrona nem sempre anatomicamente
correta e a permanência quase imóvel em seu posto de trabalho, demandam
desses profissionais uma intensa atividade física e mental. Essa demanda não é
somente para a realização do trabalho em si, como também, diante da
complexidade do tráfego rodoviário urbano e das estradas, que os submetem a
uma permanente concentração, à fixação da atenção e a responsabilidade pelo
patrimônio sob sua guarda rotineiramente. Todos esses fatores promovem
situações de fadiga nestes motoristas (Sarra et al., 1998).
Os motoristas de caminhão, às vezes, apresentam sintomas como
hipertensão arterial, taquicardia, cefaléia, gastrite, vertigem e tontura, além de
alterações psicológicas, como insônia, irritabilidade, apatia, falta de concentração
e atenção, não relacionando estes sintomas com a exposição ao ruído em seu
trabalho. Os fatores endógenos do sujeito, como a idade, a temperatura corporal,
o estresse, a sensibilidade, as condições médicas e os fatores psicológicos,
determinam o grau de suscetibilidade para ser afetado pelos fatores exógenos,
como a poluição ambiental e sonora, a vibração, o tabagismo, o etilismo, as
drogas e os medicamentos.
A audição é um dos sentidos decisivos para a boa execução da tarefa a
ser realizada pelos motoristas. A compreensão da informação via rádio, celular ou
conversa formal no trabalho sobre trajetos, prazos, periculosidade da carga e
orientações gerais sobre o transporte, são decisivos e podem estar
comprometidos devido a uma alteração da audição, que poderia ser monitorada e
acompanhada periodicamente. Fatores emocionais também podem resultar em
3
maior suscetibilidade para o sujeito desenvolver problemas de saúde - incluindo a
perda auditiva, prejudicando o exercício da atividade ocupacional.
A perda auditiva pode trazer limitações funcionais e handicap, ou seja,
limitações psico-sociais (dependendo de idade, sexo, fatores sociais e culturais)
como, por exemplo, esforço e fadiga, isolamento, auto-imagem negativa,
dificuldades nas relações familiares etc. A diminuição da audição, das habilidades
comunicativas, bem como, as suas conseqüências são vivenciadas no local de
trabalho, nas atividades de lazer, no envolvimento social, as quais refletem na
sensação de bem-estar e na auto-estima.
A prática fonoaudiológica no contexto da audiologia tem sido ampliada,
não se restringindo à aplicação de uma bateria de exames audiométricos, mas
voltando-se para a escuta do sujeito acerca dos problemas decorrentes da perda
auditiva. Embora existam pesquisas nacionais que avaliaram a auto-percepção
do handicap auditivo em adultos e idosos, há uma escassez de trabalhos
científicos sobre os efeitos do ruído na audição de motoristas de caminhão, não
tendo ainda sido descrito o perfil audiométrico desta categoria profissional. Com
relação à auto-percepção do handicap auditivo, igualmente não há estudos que
avaliem as implicações psicossociais da perda auditiva especificamente nesta
população.
Diante desta realidade, surgem as hipóteses deste trabalho, ou seja, os
hábitos de lazer, incômodo ao ruído e vícios poderiam desencadear ou agravar
as possíveis alterações na audição. Caso existam perdas auditivas nos
motoristas de caminhão, estas poderiam gerar a auto-percepção do handicap
auditivo.
4
Torna-se indispensável valorizar um profissional que percorre centenas de
quilômetros para transportar a matéria e a qualidade à sociedade, mesmo que
nesta trajetória seus aspectos orgânicos e emocionais sofram decréscimos
significativos, pois sem o trabalho dos motoristas de caminhão, todos os setores
estagnam suas atividades.
5
1.1. Objetivo Geral
Este trabalho visou estudar a audição e a auto-percepção do handicap
auditivo em motoristas de caminhão.
1.2. Objetivos específicos
Identificar a prevalência de alterações auditivas na população
estudada.
Verificar a relação entre os resultados da avaliação audiométrica e
hábitos de lazer, incômodo ao ruído e vícios.
Verificar a associação entre os resultados da avaliação
audiométrica e a auto-percepção do handicap auditivo.
6
2.1. O efeito do ruído na audição
Fiorini (1994) acompanhou a audição de 80 trabalhadores de uma indústria
metalúrgica, por um período de três anos. Através da proposta de classificação
audiométrica, segundo um critério clínico, a autora dividiu os resultados dos
audiogramas em Grupo 1 (Normalidade), Grupo 2 (sugestivo de Perda Auditiva
Induzida por Ruído - PAIR) e Grupo 3 (Outros). Observou que 23,75% dos
sujeitos adquiriram PAIR nos anos analisados. Propôs uma estratégia de
monitoramento audiométrico, observando a aquisição ou a progressão de PAIR,
oferecendo subsídios para os fonoaudiólogos desenvolverem um efetivo
Programa de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA).
Henderson, Salvi (1998) estudaram os mecanismos neurais responsáveis
pelos déficits associados à Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), baseados
na neurofisiologia e na anatomofisiologia do Sistema Auditivo Periférico. A PAIR
englobou uma ampla variedade de déficits auditivos, provocando mudanças
fundamentais nos códigos neurais, os quais são enviados ao Sistema Nervoso
Auditivo Central (SNAC). Os déficits auditivos referidos foram: o recrutamento da
loudness, o zumbido, a pobre seletividade de freqüência, o comprometimento no
processamento temporal, a alteração da curva de sintonia e a dificuldade na
percepção de fala. A exposição da cóclea ao ruído comprometeu a plasticidade
do SNAC e provocou profundas modificações no processamento da informação,
além do dano perilinfático.
Attanasio et al. (1999) estudaram 16 cobaias implantadas com elétrodos
permanentes, a fim de registrar a ação do potencial coclear. Oito animais foram
7
expostos a um ruído pulsátil de 2 a 3 kHz a 125 dB(A) (decibel escala de
compensação A), em uma taxa de quatro excitações por segundos por 1.8 horas.
Previamente à exposição ao ruído intenso, quatro cobaias foram tratadas com
uma dose de allopurinol. Os outros oito animais foram usados como controle.
Nenhuma diferença significante foi encontrada, tanto entre as variações dos
limiares auditivos e a concentração do composto nos animais tratados com
allopurinol, quanto entre o grupo exposto ao ruído intenso e o grupo controle. O
exame eletrofisiológico e os resultados bioquímicos demonstraram que a
administração preventiva do allopurinol pode fornecer uma valiosa proteção
contra o dano coclear, decorrente da exposição ao ruído intenso.
Menslin (2001) levantou o perfil audiométrico de 192 trabalhadores, do
sexo masculino, com idades entre 18 a 59 anos, de uma indústria de construção
civil do município de São Paulo. A ocorrência de curvas audiométricas sugestivas
de PAIR foi de 14,6%. O entalhe audiométrico em sujeitos com limiares tonais
dentro dos padrões de normalidade ocorreu em 55,2% dos casos e apenas 5,2%
apresentaram curvas audiométricas não relacionadas à exposição ao ruído. Não
houve diferença significante entre as perdas nas orelhas direita e esquerda. A
variável tempo de trabalho foi estatisticamente significante em relação aos
sujeitos portadores de curvas audiométricas sugestivas de PAIR.
McFadden et al. (2002) afirmaram que o superóxido, o peróxido de
hidrogênio e os radicais de hidróxido são espécies de oxigênio reativo (reactive
oxygen species - ROS), os quais têm suas produções aumentadas, quando a
cóclea está exposta ao ruído. As ROS podem causar danos oxidativos em
diversos componentes celulares, tais como: nas membranas, nas proteínas e no
8
DNA, caso não sejam neutralizados por antioxidantes de defesa. Duas enzimas
importantes do sistema de defesa coclear são: dismutase citosólica do
superóxido de cobre/zinco (cytosolic copper/zinc superoxide dismutase - SoD1) e
peroxidase do glutathiona de selênio-dependente (selenium-dependente
glutathione peroxidase - GPx1). Estes antioxidantes trabalham conjuntamente
para regular a produção das ROS e são importantes para limitarem os danos
cocleares, associados ao envelhecimento e à exposição ao ruído intenso.
Experiências com ratos estudaram os mecanismos celulares subjacentes a PAIR,
analisando as cócleas e os respectivos genes alvejados de Sod1 ou de Gpx1. Os
resultados de Sod1 e de Gpx1 nas cócleas dos ratos forneceram uma ligação
entre os níveis endógenos de enzimas antioxidantes e a suscetibilidade individual
para a PAIR.
Haupt, Scheibe (2002) examinaram o efeito protetor do suplemento de
Magnésio oral sobre o fluxo sanguíneo coclear (cochlear blood flow - CoBF) e a
pressão parcial do oxigênio (oxygen partial pressure - pO2) perilinfático, após
exposição ao ruído intenso. Dois grupos de cobaias foram privados ou mantidos
em dieta de Magnésio. A função auditiva foi medida através do Potencial Auditivo
do Tronco Encefálico. Os animais foram expostos ao ruído de impulso de
167 dB(A), de um segundo cada, por 38 minutos. No grupo com dieta reduzida de
Magnésio, a exposição ao ruído resultou em uma diminuição média do CoBF e da
pO2 perilinfático de 10 e 35% do valor inicial, respectivamente. Em contrapartida,
no grupo com dieta rica em Magnésio, nenhum parâmetro exibiu diminuição do
CoBF e da pO2 perilinfático. O Magnésio também reduziu a perda auditiva
significativamente, de 10 a 35 dBNA (decibel Nível de Audição) nas altas
9
freqüências (de 2 a 16 kiloHertz - kHz). Tanto o CoBF quanto a pO2 perilinfático
foram achados correlatos com o Magnésio do soro sanguíneo. Os autores
demonstraram que o suplemento de Magnésio utilizado em dieta preventiva em
cobaias protegeria a orelha interna contra a redução do fluxo sanguíneo e falta de
oxigenação, ambos desencadeados por exposição ao ruído intenso, que
poderiam ser parcialmente responsáveis pela PAIR.
Hu et al. (2002) estudaram o envolvimento da apoptose na morte das
células ciliadas externas (CCE) de chinchilas, expostas a um ruído de banda
estreita de 4 kHz, a 110 dB(A) por uma hora. Exames morfológicos dos núcleos
das CCE revelaram a condensação e a fragmentação nuclear, características da
apoptose. A apoptose das CCE se desenvolveu assimetricamente em direção ao
ápice e às porções basais das cócleas, após a exposição ao ruído intenso. Dois
dias após esta exposição, ainda existiam alterações nas CCE ativas, com núcleos
condensados e fragmentados na porção basal das cócleas. A descoberta da
ativação do caspase-3, um marcador intracelular para apoptose, demonstrou
claramente o espaço entre o núcleo apoptótico e o caspase-3 ativado. Os autores
concluíram que, após a exposição da cóclea ao ruído intenso, a morte das CCE
ocorreu de forma programada.
Em 2003, o American College of Occupational and Environmental Medicine
(ACOEM) relatou que o primeiro sinal da PAIR seria o entalhe no audiograma,
nas freqüências de 3 kHz, 4 kHz e/ou 6 kHz, com recuperação em 8 kHz. A exata
localização do entalhe audiométrico dependeria de múltiplos fatores, como a
freqüência do ruído e o comprimento do meato acústico externo. No entanto, no
10
início da instalação da PAIR, a média dos limiares tonais nas freqüências de
0.5 kHz, 1 kHz e 2 kHz seria melhor do que a média apresentada em 3 kHz,
4 kHz e 6 kHz, sendo que o limiar tonal em 8 kHz seria freqüentemente igual ou
melhor do que o valor obtido na pior freqüência presente no entalhe. A entidade
recomendou a realização de pesquisas que abordassem diversos aspectos da
audição, como por exemplo:
PAIR relacionada à exposição aos solventes, aos metais, à
vibração, ao monóxido de carbono ou ao calor.
Uso da combinação de antioxidantes na prevenção e recuperação
dos danos cocleares, ocorridos devido à exposição ao ruído intenso.
Suscetibilidade individual no desencadeamento da PAIR, a partir de
estudos de base molecular e genética.
Franze et al. (2003) expuseram que a PAIR estaria relacionada à atividade
da espécie de oxigênio reativo (reactive oxygen species - ROS). Algumas
substâncias protegeriam a cóclea, eliminando ou impedindo a formação da ROS.
Cobaias tratadas com allopurinol foram expostas a um ruído branco de 120 dB(A)
ou a um ruído de impulso de 114 dB(A), por duas a cinco horas. O efeito protetor
do allopurinol foi confirmado, porém, somente presente após duas horas de
exposição ao ruído. Os autores concluíram que o allopurinol não influenciou na
instalação da PAIR, agindo com fator de proteção.
Takemoto et al. (2004) investigaram o efeito do radical livre Edaravone na
cóclea de cobaias expostas ao ruído. Avaliaram os Potenciais Auditivos
Evocados do Tronco Encefálico (PEATE) para verificar a função coclear, como
11
também, observaram o epitélio sensório-neural. Após a exposição das cobaias ao
ruído intenso de 130 dB(A), por três horas, observaram que as respostas do
PEATE nas orelhas tratadas com Edaravone eram significativamente menos
afetadas do que naquelas que não receberam tratamento. Os resultados
sugeriram que o Edaravone protegeu a cóclea do ruído intenso.
Yang et al. (2004) compararam a prevalência da apoptose e da necrose
como formas de morte das células ciliadas externas (CCE), considerando a
variável tempo, após a exposição aos diferentes níveis sonoros. As chinchilas
foram expostas por uma hora ao ruído de banda estreita de 104 dB(A). ou de
108 dB(A). Os autores realizaram a análise das CCE em três períodos de tempo,
sendo no primeiro, no quarto e no trigésimo dia após a exposição ao ruído
intenso. O número de mortes celulares por apoptose ou por necrose foi
identificado e documentado, por intermédio da aplicação de uma combinação de
enzimas como o TUNEL, a caspase-3 e o iodado de propídio (propidium iodide).
Os autores examinaram as cócleas das cobaias no primeiro e no quarto
dia após a exposição a 108 dB(A), que demonstraram significativamente mais
apoptose do que necrose das CCE. No trigésimo dia, a apoptose e a necrose das
CCE continuaram, embora em menor escala, sem diferença significante em
relação à quantidade nos dois tipos de morte celular. As chinchilas expostas ao
ruído de 104 dB(A) mostraram uma diferença significante no número de
apoptoses e necroses das CCE, no primeiro dia após a exposição ao ruído.
Contudo, esta diferença não foi considerada estatisticamente significante no
quarto e no trigésimo dias. Os resultados indicaram que a primeira expansão da
lesão coclear seria atribuída principalmente à apoptose, e a fase mais tardia da
12
expansão da lesão seria provavelmente decorrente da contribuição igualitária da
apoptose e da necrose.
Kopke et al. (2005) investigaram os efeitos oto-protetores de dois
antioxidantes, sendo o acetil-L-carnitina (acetyl-L-carnitine - ALCAR) e
N-L-acetilcisteína (N-L-acetylcysteine - NAC), em 18 chinchilas expostas ao ruído.
Analisaram se o pré e o pós-tratamento com estes antioxidantes melhorariam os
efeitos da PAIR, quando comparados a um grupo controle, no qual foi utilizada
uma solução salinizada. As cobaias foram divididas em três grupos (ALCAR, NAC
e controle) e expostas 150 vezes a um ruído de 155 dB(A). O ALCAR ou o NAC
foi administrado duas vezes, diariamente, por dois dias, sendo uma hora antes e
uma hora depois da exposição ao ruído. Em relação ao grupo controle, a solução
salinizada foi injetada, respeitando os mesmos dias e horários dos grupos
experimentais. Os Potenciais Evocados Auditivos do Tronco Encefálico - PEATE
foram registrados.
Os autores observaram que, nas três semanas após a exposição ao ruído,
a alteração permanente do limiar auditivo para o grupo experimental foi
significativamente reduzida para 10 a 30 dBNA, quando comparados os valores
obtidos no grupo controle. Uma redução da morte das células ciliadas externas foi
mais observada no grupo ALCAR e no NAC do que no grupo controle. Os
antioxidantes ALCAR e NAC exerceram um efeito protetor contra danos
cocleares, ocasionados pela exposição ao ruído intenso. Assim, uma combinação
destes antioxidantes deveria ser viabilizada clinicamente para proteger a orelha
interna dos possíveis danos.
13
Harris et al. (2005) compararam três drogas potencialmente protetoras que
evitariam a instalação da PAIR, baseadas na proteína Src tirosina kinase (Src
tyrosine kinase - PTK), as quais foram: KX1-004, KX1-005 e KX1-174. Cerca de
30 gotas de uma das drogas foram colocadas ao redor da janela vestibular de
chinchilas anestesiadas e outra substância salinizada (placebo) foi colocada na
outra orelha. Após a aplicação da droga, as orelhas médias dos animais foram
protegidas e, posteriormente, expostas ao ruído intenso. A audição foi mensurada
antes e diversas vezes após a exposição ao ruído, sendo evocadas as respostas
da cóclea. No vigésimo dia após a exposição, os animais foram anestesiados,
suas cócleas foram extraídas e suas respostas cocleares foram analisadas.
Verificaram que as três drogas derivadas da proteína Src PTK forneceram
proteção de quatro horas, em 4 kHz, durante a exposição ao ruído de 106 dB(A).
A droga mais efetiva foi a KX1-004. Os resultados sugeriram um papel importante
da proteína Src PTK durante a exposição ao ruído intenso, evitando a instalação
da PAIR e oferecendo uma nova abordagem para o seu tratamento.
Ferrite, Santana (2005) verificaram se o fumo, o ruído intenso e o
envelhecimento afetam conjuntamente a saúde auditiva. Em um estudo
transversal, analisaram as audiometrias e os questionários aplicados a 535
trabalhadores adultos, do sexo masculino. Verificaram que a exposição ao ruído
intenso e a idade foram separadamente, associações para a perda auditiva.
Contudo, a combinação dos três fatores que desencadeariam a perda auditiva
(fumo, ruído e idade) foi mais alta do que a soma dos efeitos de cada variável
isolada, especialmente do fumo e do ruído intenso, entre os sujeitos com idades
entre 20 a 40 anos, assim como, do fumo e do envelhecimento para aqueles não
14
expostos ao ruído intenso. Os autores concluíram que o efeito sinérgico do fumo,
da exposição ao ruído e da idade, em relação à perda auditiva, foi consistente.
Além disso, seria possível que substâncias ototóxicas presentes na composição
química da fumaça do cigarro poderiam sinergicamente afetar a audição, quando
combinadas à exposição ao ruído intenso.
Yildirim et al. (2006) investigaram o efeito benéfico do Magnésio na
prevenção de danos cocleares decorrentes da exposição ao ruído intenso. Para
tanto, 39 cobaias com reflexo cócleopalpebral normal, foram distribuídas em um
grupo controle (N=20) e um experimental (N=19). Todos os animais foram
submetidos a uma faixa de ruído padronizada de 98+/-2 dB(A) por 16 horas/dia,
por 10 dias, em cabina acústica. Os animais receberam 39 mmol/l de Cloreto de
Magnésio (MgCl2), nos 15 dias prévios à exposição ao ruído intenso. O exame
otomicroscópico, os Potenciais Evocados Auditivos do Tronco Encefálico
(PEATE) e as Emissões Otoacústicas Evocadas por transiente (TEOAE) foram
realizados anteriormente e posteriormente à exposição ao ruído. Embora as
respostas das TEOAE e os valores de reprodutibilidade mostrassem reduções
significantes após a exposição ao ruído no grupo controle, não afetaram
significativamente os animais tratados com Magnésio. Os valores do PEATE
foram significantemente alterados em ambos os grupos, porém, observaram que
os níveis de audição foram mais preservados no grupo experimental. Os autores
sugeriram que a dose de Magnésio oral pode ser benéfica na prevenção do dano
coclear induzido por ruído intenso.
15
Sergi et al. (2006) investigaram a atividade do antioxidante Idebenone na
recuperação da lesão coclear. A PAIR foi induzida em cobaias por exposição a
um tom puro contínuo intenso e o Idebenone foi injetado intraperitonealmente nas
cócleas, uma hora antes da exposição ao ruído, por três dias. As cobaias tratadas
com Idebenone demonstraram menores mudanças nos limiares auditivos do que
naquelas do grupo controle, verificadas pelo PEATE. As cobaias protegidas pelo
antioxidante apresentaram menor ativação das células apoptóticas, como
também, reduzida morte das células ciliadas do órgão de Corti. Os autores
sugeriram que a função do antioxidante Idebenone é um fator de proteção contra
a PAIR, e deveria ser explorada como estratégia terapêutica em seres humanos.
Henderson et al. (2006) criaram um diagrama esquemático dispondo as
opções possíveis para que o ruído causasse o aumento da ROS e,
conseqüentemente, desencadeasse lesões cocleares e perda auditiva (Figura 1).
16
Figura 1 – Variedade de alternativas patológicas e as conseqüentes
lesões cocleares devido à exposição ao ruído.
Ruído
Super-
estimulação
da Mitocôndria
Excitotoxidade Isquemia/
Reperfusão
Aumento da
ROS
Danos
no DNA e
na Proteína
Peroxidação
do
Lipídio
Morte Celular
por Apoptose
Morte Celular
por Necrose
Lesão na
Célula Ciliada
Perda Auditiva
17
De acordo com os autores, o ruído estressaria a cóclea metabolicamente e
mecanicamente em diversos pontos, conduzindo a diferentes formas de danos.
Nas células ciliadas, o ruído induziria à super-estimulação da mitocôndria, a
excitotoxicidade nas ligações entre as células ciliadas internas (CCI) e as fibras
nervosas auditivas aferentes, além do efeito de isquemia e reperfusão no
abastecimento sanguíneo da cóclea. Estas ações provocariam o aumento da
ROS, a qual danificaria o DNA e a membrana celular, atuando com um suposto
eliciador de apoptose. O resultado seria a morte celular, devido à combinação da
necrose e de apoptose, causando a PAIR.
18
2.2. A saúde auditiva de motoristas de caminhão
Em 1990, a National Institute of Health Consensus Development
Conference on Noise and Hearing verificou que a perda auditiva acometeu cerca
de 28 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Aproximadamente 10 milhões
destas perdas auditivas eram parcialmente atribuídas à exposição a elevados
níveis sonoros. Mais de 20 milhões de americanos eram expostos a ruídos
intensos, o que poderia resultar em danos irreversíveis à audição. A exposição ao
ruído ocupacional era a principal causa da Perda Auditiva Induzida por Ruído
(PAIR), a qual ameaçava a audição de bombeiros, oficiais da polícia, militares,
trabalhadores da construção civil, metalúrgicos, músicos, fazendeiros, motoristas
de caminhão, entre outros. Contudo, a música em intensidade elevada, os
veículos recreativos, os aviões, os cortadores de grama, as ferramentas de
marcenaria e alguns eletrodomésticos eram exemplos de fontes de ruído não
ocupacionais potencialmente desencadeadoras da PAIR.
Amorim (2000) ressaltou que é comum encontrarmos trabalhadores que
detenham uma jornada de trabalho exaustiva, acima de oito horas, sendo que
muitos deles já se dedicaram a atividades profissionais bastante ruidosas. A
autora salientou, portanto, que esses sujeitos expostos a níveis de pressão
sonora elevados, acima de 85 dB(A) por oito horas/dia, estariam susceptíveis a
seqüelas irreparáveis em sua audição e, conseqüentemente, no andamento de
suas atividades cotidianas.
19
A exposição ao ruído intenso não seria a única causa determinante da
perda auditiva. De acordo com Fiorini, Nascimento (2001), as perdas auditivas
adquiridas no ambiente de trabalho poderiam também ser ocasionadas pela
exposição a outros fatores de risco presentes no ambiente de trabalho, como
determinados produtos químicos: solventes aromáticos (tolueno, xileno,
tricloroetileno, benzeno, álcool etílico e outros), metais (chumbo, arsênico e
mercúrio) e alguns asfixiantes (monóxido de carbono, cianido e nitrato de butila).
Além disso, os autores consideram que a vibração também poderia representar
um risco para o sistema auditivo.
20
2.3. Efeitos do ruído na saúde auditiva de motoristas de caminhão
Van den Heever, Roets (1996) investigaram na África do Sul, os Níveis de
Pressão Sonora (NPS) elevados a que motoristas de caminhão estavam
expostos, realizando uma comparação entre os níveis de ruído obtidos nas
cabinas de duas marcas diferentes de caminhões. Ambas as marcas eram
fabricadas com motores idênticos. As medições realizadas foram: Nível Sonoro
Equivalente (Leq), Nível Máximo de Pressão Sonora e dosimetria. Nenhuma
diferença significante relativa à exposição ao ruído foi encontrada entre os
motoristas de caminhão. Contudo, os autores concluíram que a exposição desses
motoristas ao Nível de Pressão Sonora elevado caracterizava-se como um risco
potencial para danos à audição.
Seshagiri (1998) realizou mais de 400 medições no Canadá para avaliar o
ruído a que os motoristas de caminhão estavam expostos, em oito horas de
trabalho. Observou que, dirigindo com as janelas fechadas e rádio desligado,
foram encontrados os mais reduzidos níveis sonoros de exposição ao ruído. O
Nível Sonoro Equivalente encontrado nos motoristas durante suas atividades foi
de 78 a 89 dB(A) com um valor médio de 82,7 dB(A); com o rádio ligado
aumentou o valor médio em 2,8 dB(A); dirigindo com a janela lateral aberta do
motorista, aumentou a exposição média em 1,3 dB(A) e dirigindo com a janela
aberta e com o rádio ligado, resultou em um aumento do valor médio em
3,9 dB(A). Os caminhões-cegonha foram mais silenciosos do que os caminhões-
baú em cerca de 2,6 dB(A). As operações em estradas de quatro pistas foram
1,6 dB(A) mais ruidosas do que nas estradas de duas pistas, provavelmente
21
resultante de maior velocidade nas primeiras. As operações de reboque
realizadas pelos caminhões em terreno montanhoso foram mais silenciosas do
que as em terreno plano em cerca de 2,2 dB(A), novamente indicando o efeito
exercido pelo excesso de velocidade. A exposição que os motoristas sofreram
excedeu o valor limite permitido por lei para garantir a saúde auditiva, ou seja,
85 dB(A) por oito horas, quando dirigiram com o rádio ligado e a janela lateral
aberta.
Marques (1998) afirmou que, muitas vezes, o desinteresse dos
empresários de transportes coletivos e de cargas em renovarem sua frota de
veículos, com modelos mais modernos e silenciosos, a desinformação e o
cansaço dos motoristas, submetidos à intensa jornada de trabalho em contato
com ruído gerariam efeitos desastrosos para a saúde destes trabalhadores.
Portanto, em certas profissões como a dos motoristas, qualquer distúrbio na
saúde como, por exemplo, uma deficiência visual ou auditiva, acarretaria
prejuízos não somente à sua integridade física, mas também à dos pedestres que
circulam pelas ruas.
Koda et al. (2000) investigaram os fatores de risco ocupacional para
problemas de saúde em 333 motoristas de caminhão, por meio da aplicação de
um questionário que verificava as condições e o conteúdo de trabalho, os
sintomas subjetivos e as enfermidades. Os resultados revelaram que os turnos
irregulares de trabalho, o ambiente, a postura no trabalho, os materiais de
manipulação pesada, a tensão ocupacional devido à sobrecarga e o longo
período de trabalho, com um tempo limitado para o descanso, foram os principais
responsáveis pelos problemas de saúde nesta população. Os resultados
22
revelaram que os motoristas apresentaram zumbidos nas orelhas, dores no
pescoço e dores na coluna lombar; hipertensão, úlceras no trato digestivo e
hemorróidas. A conclusão revelou que as condições e as cargas de trabalho
poderiam ser melhoradas, prevenindo futuros danos à saúde e ao bem-estar dos
trabalhadores.
Clark (2000) supôs que os limiares auditivos dos motoristas de caminhão
estariam reduzidos na orelha esquerda, ou seja, a exposta diretamente ao ruído
da janela aberta do veículo. Segundo o autor, não é provável que o vento que
atinge a orelha esquerda cause perda auditiva assimétrica em relação à orelha
direita, a qual erroneamente não estaria diretamente exposta ao ruído. Em geral,
os pesquisadores ignoram a suscetibilidade auditiva individual, como também, a
necessidade de realização da dosimetria em cada orelha dos motoristas de
caminhão, a fim de verificar os valores aproximados da exposição ao ruído.
O autor salientou outros mitos acerca das perdas auditivas assimétricas.
Na maioria dos ambientes profissionais, ambas as orelhas estariam expostas ao
ruído simultaneamente. É comum o sujeito acreditar que o ruído ocorreu
excessivamente perto de uma orelha, por conta do decréscimo em sua audição.
A exposição dos motoristas de caminhão seria normalmente simétrica, devido ao
contato com fontes de ruído contínuo. A combinação do ambiente reverberante e
do movimento de cabeça do sujeito produziria exposições que raramente
difeririam mais do que 2 dB(A). Durante o trabalho, o motorista move a sua
cabeça continuamente, devido à necessidade de verificar o tráfego, de olhar seus
espelhos e de ajustar o rádio, o que resultaria, portanto, em exposição
23
semelhante para ambas orelhas. Com isso, para o autor, exposições ao ruído
contínuo não produziriam assimetria.
Cepinho, Corrêa, Bernardi (2003) estudaram a ocorrência de perda
auditiva em 111 motoristas de ônibus e 157 de caminhão com, no mínimo, dois
anos de exposição ao ruído e à vibração de corpo inteiro (VCI), no período
equivalente a três anos, nesta mesma função. O objetivo era relacionar os efeitos
do ruído e da vibração na audição destes profissionais. Efetuaram a dosimetria,
aplicaram um questionário sobre as queixas ocupacionais e não ocupacionais,
bem como, realizaram a inspeção do meato acústico externo e o exame
audiométrico. Os resultados apontaram uma prevalência de 4,5% e 11,5% de
audiogramas sugestivos de perdas auditivas ocupacionais em motoristas de
ônibus (Grupo I) e caminhões (Grupo II), respectivamente. Em contrapartida, foi
significante a prevalência de audiogramas sugestivos de perdas auditivas
neurossensoriais não ocupacionais, sendo de 18,0% no Grupo I e 15,9% no
Grupo II. A dose de exposição diária ao ruído para o Grupo I foi de 80,3 dB(A) e
para o Grupo II foi de 87 dB(A). O nível elevado de ruído observado no grupo de
motoristas de caminhão foi decorrente da vinheta musical que o anunciava, na
entrega do produto que transportava (gás).
As mesmas autoras também observaram que os motoristas com perda
auditiva à direita dirigiam mais freqüentemente veículos com motores internos,
assim como, aqueles que apresentaram perda auditiva à esquerda dirigiam
veículos com motores externos. As perdas auditivas neurossensoriais
ocupacionais e não ocupacionais apresentaram maior prevalência à esquerda e
bilateralmente, ou seja, 19,1% para ambos. Concluíram que a grande ocorrência
24
de audiogramas classificados como sugestivos e não sugestivos de perdas
auditivas ocupacionais, sugeriria que a associação entre ruído e vibração poderia
gerar um tipo de perda auditiva diferenciada.
Lacerda (2005) estudou 8.600 trabalhadores expostos ao monóxido de
carbono e ao ruído intenso, durante a jornada de trabalho. As profissões foram
selecionadas por apresentarem ambos os riscos, as quais foram: motoristas de
caminhão, soldadores, bombeiros, mecânicos automotivos, operadores de
retroescavadeiras e mineradores. A autora comparou a audição dos
trabalhadores expostos a níveis de ruído abaixo de 90 dB(A) por oito horas, aos
limiares auditivos dos trabalhadores expostos a ruído acima de 90 dB(A). Em
ambos os grupos, uma amostra também estava exposta ao monóxido de
carbono. Apontou que os trabalhadores em contato com o monóxido de carbono
e com o ruído intenso acima de 90 dB(A) apresentaram limiares auditivos
alterados nas freqüências médias/altas, de 3kHz a 6kHz.
A autora sugeriu que perda auditiva seria causada pelos reduzidos níveis
de oxigênio no fluxo sangüíneo, o que aceleraria a deterioração das células
sensoriais da orelha interna, sofrendo anoxia. Outra suposição seria de que o
monóxido de carbono e o ruído produziriam radicais livres, que atacariam as
ligações das reações químicas, danificando as células ciliadas. Destacou os
motoristas de caminhão como pertencentes a uma profissão de risco à saúde, por
conviverem direta e diariamente com o monóxido de carbono e com o ruído
intenso durante sua jornada de trabalho.
25
2.4. Estudos sobre alterações na saúde em motoristas de caminhão.
Hartley, El Hassani (1994) investigaram, na Austrália Ocidental, as fontes
de tensão entre os motoristas de carro e caminhão, usando uma versão
estendida do Inventário de Comportamento do Motorista (Driver Behaviour
Inventory - DBI). As associações entre tensão e registro de acidentes ou violação
de trânsito desses motoristas também foram examinadas. O DBI foi realizado em
quatro grupos de 500 motoristas cada, sendo divididos em dois grupos de
motoristas de caminhão e em dois de carro. O estresse presente nos motoristas
de caminhão estava relacionado com a demanda profissional, já a tensão dos
motoristas de carro estava relacionada com a saúde psicológica, idade,
experiência e agressão. Tais fatores corresponderam 30 a 40% da variação em
acidentes ou na violação de trânsito nesta população.
Brown (1997) constatou uma privação significante do sono nos motoristas
de caminhão, com média menor do que cinco horas de descanso entre os turnos
de trabalho. Realizou o monitoramento eletrofisiológico, bem como, a gravação
em vídeo da jornada de trabalho de 80 motoristas de caminhão, pelo período de
uma semana, em cada um deles. Mais da metade dos motoristas gravados em
vídeo durante suas atividades tiveram fechamento das pálpebras e inclinação de
cabeça por cerca de seis minutos. Além disso, dois condutores canadenses
apresentaram resultados do eletroencefalograma interpretados como dentro do
primeiro estágio de sono.
Por isso, o mesmo autor salientou a necessidade dos governos do EUA e
Canadá examinarem uma nova regulamentação das horas trabalhadas para a
26
profissão. Os motoristas de caminhão nos EUA trabalham cerca de dez horas/dia,
sendo que, no Canadá, são permitidas até 13 horas. O número total de horas de
trabalho dos motoristas não foi o único responsável pela sonolência: o período de
trabalho – matutino, vespertino ou noturno, foi um fator considerável. Encontrou
diferenças significantes de sonolência ao longo da jornada de trabalho, pois os
motoristas tiveram maior dificuldade para ficar acordados no final das noites e no
início das manhãs. Não foi observada diferença significante entre os motoristas
canadenses e americanos, apesar das horas de trabalho excedentes dos
primeiros. O autor alertou sobre a importância do treinamento dos motoristas,
assim como, de um programa de horários de trabalho que privilegiasse o sono
adequado, evitando os perigos decorrentes da fadiga.
Leigh, Miller (1998) descreveram as doenças relacionadas ao trabalho e as
ocupações associadas, no período de 1985 a 1986. O método incluiu a seleção e
a análise das doenças ocupacionais, bem como, as descrições sobre as
profissões, apresentadas na Agência de Sistema de Dados Adicionais de
Estatística de Trabalho (Bureau of Labor Statistics’ Supplementary Data System -
SDS). As indenizações dos trabalhadores foram divididas de acordo com os
danos provocados à saúde: morte, incapacidade permanente total, incapacidade
permanente parcial, incapacidade temporária total e incapacidade temporária
parcial. A perda auditiva foi incluída na categoria de incapacidade permanente
parcial, sendo associada a mais de 300 ocupações. Diversas profissões sofreram
mortes por ataques cardíacos, como por exemplo, os motoristas de caminhão. Os
dados valiosos obtidos pelo SDS propiciaram uma análise da extensa variedade
de doenças profissionais e das ocupações relacionadas.
27
De Croon et al. (2001) desenvolveram e validaram o questionário Trucker
Strain Monitor (TSM), que avalia a tensão psicológica no trabalho de motoristas
de caminhão. Estudaram o critério de validação do TSM em 2000 sujeitos, dos
quais 1111 (63%) participaram. A sensibilidade e a especificidade foram
avaliadas pela habilidade do TSM em identificar doenças pré-existentes no último
ano, decorrentes de fatores psicológicos. Itens referentes à escala de fadiga no
trabalho e ao distúrbio de sono foram relacionados com uma alta carga
psicológica interna. A fadiga relacionada ao trabalho, o distúrbio do sono e a
combinação de ambos teve uma sensibilidade de 80%, 71% e 83%,
respectivamente, em identificar motoristas de caminhão com ausência de
doenças prévias devido aos fatores psicológicos. Os valores da especificidade
foram de 73%, 72% e 72%, respectivamente. Os autores concluíram que o TSM
foi um indicador confiável e válido em relação à tensão psicológica no trabalho. A
fadiga relacionada ao trabalho identificou motoristas de caminhão com
absenteísmo anterior, devido aos fatores psicológicos.
Drummer et al. (2004) avaliaram o efeito do álcool e das drogas, como
sendo prováveis culpados pelos acidentes. Pesquisaram 3398 motoristas
fatalmente feridos, utilizando um método de análise de responsabilidade. A
probabilidade dos motoristas usuários de drogas serem culpados foi
significativamente maior do que a dos não usuários. A relação de chance para os
usuários de drogas cometerem acidentes foi maior do que para motoristas com
alta concentração de álcool no sangue. Uma associação significantemente forte e
positiva para culpabilidade ocorreu para motoristas com concentração de álcool e
drogas no sangue, quando comparados aqueles apenas com concentração de
28
álcool.
O uso de estimulantes apresentou fortes tendências, particularmente em
motoristas de caminhão. Diferenças quanto à idade foram estatisticamente
significantes: a maior taxa de culpabilidade estava nos motoristas com idades
abaixo de 25 anos ou acima de 65 anos.
Solomon et al. (2004) realizaram um estudo transversal com 521
motoristas de caminhão, para avaliar o acesso aos serviços de saúde. O
questionário foi aplicado em 16 postos de parada de caminhões em 14 estados
americanos, no período de Julho a Agosto de 2002. Do total de motoristas
pesquisados, 47% relataram dificuldade de acesso aos centros de saúde; 20%
reclamaram da falta de quartos de emergência e de prontos-socorros; 32% não
receberam atendimento quando necessitaram, no último ano e 56% tiveram
dificuldade em utilizar o serviço de atendimento à saúde em casa. Os sujeitos que
não portavam seguro de saúde (31%) tiveram maior dificuldade de acesso aos
serviços de saúde do que aqueles assegurados. Os autores verificaram que os
motoristas de caminhão estão sob risco de desenvolverem problemas de saúde
por terem dificuldades constantes em acessar os serviços de saúde.
De acordo com Friedman (2005), as causas mais comuns de acidentes
envolvendo caminhões estariam ligadas às questões mecânicas e de
manutenção do veículo, à velocidade acima do limite ou além das condições da
estrada, às colisões entre os veículos, à falta de treinamento dos motoristas de
caminhão, ao cansaço, à sonolência ou à fadiga do motorista por dirigir por
29
longas distâncias ou por horas seguidas sem descanso e à ingestão de álcool e
drogas durante o trabalho.
30
2.5. Desenvolvimento e Aplicação do Hearing Handicap Inventory for
Adults – HHIA na avaliação da auto-percepção do handicap auditivo
Em 1980, a World Health Organization – WHO (Organização Mundial de
Saúde – OMS), desenvolveu um documento com o objetivo de adaptar e definir
os termos deficiência, incapacidade e handicap, a fim de padronizar o uso destas
terminologias, assim como, delimitar sua abrangência. As definições foram as
seguintes:
Impairment ou Deficiência: perda, defeito ou problema, funcional ou
anatômico.
Disability ou Incapacidade: restrição ou falta de habilidade,
conseqüente da deficiência, em executar qualquer atividade que
pudesse ser desempenhada por um sujeito normal.
Desvantagem ou Handicap: desvantagem para o sujeito, em
conseqüência da deficiência ou da incapacidade, que o limitaria ou
o impediria de desempenhar atividades consideradas normais para
a idade, sexo, fatores culturais e sociais. Portanto, seriam os efeitos
da perda auditiva na vida do sujeito, como o isolamento social, a
irritabilidade e a baixa auto-estima.
Em 2001, a OMS publicou uma nova classificação que significou uma
modificação na forma de abordagem da saúde, preconizando a utilização dos
termos funcionamento, incapacidade e saúde, na International Classification of
31
Functioning, Disability and Health – ICF. O objetivo desta classificação foi
proporcionar bases científicas para a compreensão e o estudo da saúde e dos
estados relacionados à saúde. A ICF forneceu uma descrição de situações
relacionadas ao funcionamento humano e suas restrições, envolvendo questões
sobre o corpo (funções e estruturas corporais – body functions and structures) e
atividades e participação (activities and participation), relacionados às ações tanto
individuais quanto coletivas. Estes termos substituíram os usados anteriormente,
os quais eram deficiência, incapacidade e desvantagem (impairment, disability
and handicap).
Ventry, Weinstein (1982) desenvolveram e padronizaram um questionário
para avaliar os efeitos psicossociais da deficiência auditiva em sujeitos idosos. O
questionário Hearing Handicap Inventory for the Elderly – HHIE é constituído por
25 questões divididas em duas escalas, sendo a Social/Situacional e a
Emocional. A escala Social/Situacional é composta de 12 questões que visam
identificar as situações causadoras de dificuldades e determinar se o problema
auditivo afeta o comportamento do sujeito diante destas situações. A escala
Emocional é composta por 13 questões e avalia a atitude e a resposta emocional
do sujeito ao déficit auditivo.
Os autores avaliaram 100 sujeitos idosos, sendo 48 do sexo masculino e
52 do sexo feminino, com idades entre 65 a 92 anos. A maioria era portadora de
deficiência auditiva neurossensorial bilateral. Os resultados apontaram que,
enquanto alguns idosos com perda auditiva de grau leve demonstraram uma
percepção severa/significativa do handicap, outros, com uma perda auditiva
32
severa, apresentaram uma percepção bastante leve de seu handicap auditivo. A
correlação entre a deficiência auditiva e o handicap auditivo demonstrou que a
diminuição da audição explicou apenas 37% da variação dos resultados do HHIE.
Com isso, a noção de handicap auditivo, como é medida pelo HHIE, não pode ser
justificada totalmente pelos limiares audiométricos. Concluíram que o HHIE é um
instrumento importante para a identificação de problemas emocionais e
situacionais específicos, podendo ser utilizado: no processo de reabilitação
auditiva e aconselhamento, para determinar se a intervenção audiológica
realizada reduziria a auto-percepção do handicap auditivo; para auxiliar na
decisão quanto à necessidade da amplificação e da terapia de reabilitação
auditiva e como instrumento complementar na triagem audiométrica.
Weinstein, Ventry (1983) realizaram a avaliação audiológica e aplicaram
um questionário de handicap auditivo (Hearing Measurement Scale - HMS) em 80
sujeitos. Concluíram que o resultado da audiometria tonal não é capaz de prover
uma noção do handicap auditivo vivenciado pelo deficiente auditivo nas
diferentes situações de comunicação da vida diária.
Newman et al. (1990) modificaram o HHIE para que este pudesse ser
utilizado em sujeitos mais jovens, com idades inferiores a 65 anos. Modificaram o
enfoque de algumas questões, para observarem os efeitos da deficiência auditiva
no ambiente de trabalho. O questionário Hearing Handicap Inventory for Adults
(HHIA) possui os mesmos 25 itens divididos em duas escalas: Social/Situacional
e Emocional. Apenas três perguntas do HHIE foram substituídas: duas delas
focalizaram os efeitos ocupacionais da perda auditiva e uma estava relacionada
33
com atividades de lazer. O HHIA foi aplicado em 67 adultos, com idades entre 18
a 64 anos, de ambos os sexos, com audição dentro dos padrões de normalidade
e com perda auditiva, sendo que nenhum sujeito havia usado Aparelho de
Amplificação Sonora Individual (AASI) anteriormente.
Os resultados do HHIA evidenciaram que a correlação entre os limiares
tonais da melhor orelha e os resultados do questionário foi fraca, embora fosse
estatisticamente significante. O fato dos limiares tonais e do Índice de
Reconhecimento de Fala (IRF) não explicarem a grande variabilidade de
respostas à deficiência auditiva, reforçaria a importância de explorar as reações
dos sujeitos diante da perda auditiva, por mais leve que elas pudessem ser. Os
autores concluíram que o HHIA é eficiente para descrever as reações dos adultos
mais jovens com relação à deficiência auditiva. Além disso, sugeriram que o
HHIA fosse utilizado para: justificar as queixas auditivas que não ficam
normalmente aparentes nos resultados da avaliação audiométrica; facilitar na
decisão quanto ao uso do AASI; auxiliar no aconselhamento do sujeito e
evidenciar dificuldades psicossociais resultantes da deficiência auditiva.
Stephens, Hétu (1991), com base no modelo proposto pela OMS,
descreveram na literatura audiológica as dimensões da disfunção auditiva. O
termo desordem auditiva referir-se-ia a qualquer anormalidade anatômica ou
doença, que poderia ou não resultar em uma alteração na função dos órgãos da
audição. Já a deficiência auditiva, seria o funcionamento anormal do sistema
auditivo, podendo existir e não ser percebida pelo sujeito. A incapacidade auditiva
refletiria o efeito da deficiência na habilidade auditiva diária e na performance de
34
comunicação. A severidade da incapacidade auditiva dependeria da natureza e
da magnitude da perda auditiva, mas também, da extensão da dificuldade
experienciada pelo sujeito. O handicap auditivo seria a desvantagem imposta
pela deficiência ou pela incapacidade auditiva, que limitaria a função psicossocial
do sujeito. Representaria as manifestações sociais e emocionais resultantes da
deficiência ou da incapacidade auditiva, que afetariam o estilo de vida do sujeito,
sua família, sua situação social e seu trabalho.
Gordon-Salant, Lantz, Fitzgibbons (1994) investigaram a influência da
idade na auto-percepção do handicap auditivo entre dois grupos de sujeitos:
jovens (de 18 a 40 anos) e idosos (de 65 a 75 anos). Cada um dos grupos foi
sub-dividido em dois, sendo um composto por sujeitos com audição dentro dos
padrões de normalidade e o outro, por portadores de perda auditiva
neurossensorial, de grau leve a moderado, com curva descendente. No grupo de
jovens foi aplicado o HHIA e no grupo de idosos o HHIE. Observaram que os
sujeitos deficientes auditivos demonstraram um maior índice de efeitos
psicossociais da deficiência auditiva do que aqueles com audição dentro dos
padrões de normalidade. Os autores se surpreenderam pelo fato dos sujeitos
jovens com perda auditiva de grau leve a moderado apresentarem maiores
efeitos psicossociais do que os idosos com deficiência auditiva. Portanto,
concluíram que o handicap auditivo não foi atribuído às diferenças audiométricas
entre os sujeitos jovens e idosos com deficiência auditiva.
De acordo com Garstecki, Erler (1996), os questionários de auto-
percepção de handicap auditivo são utilizados para analisar as reações subjetivas
35
da perda auditiva e associá-las aos problemas de comunicação. Além de
eficientes, curtos e simples, são uma forma de identificar, durante os processos
de avaliação e intervenção, as dificuldades auditivas dos sujeitos com perda
auditiva.
Primeau (1997) estudou 233 adultos deficientes auditivos, com o objetivo
de: avaliar o benefício obtido com o uso do AASI, utilizando o HHIA e comparar
os resultados com aqueles obtidos pelo HHIE em idosos; determinar a influência
do tipo de perda auditiva, tipo de adaptação, estilo de AASI e a experiência do
usuário no beneficio utilizado e, finalmente, verificar se o benefício medido por
meio do HHIA e pelo HHIE poderia ser incrementado pelo aconselhamento e
modificações no controle do AASI. Após seis semanas de uso do AASI, cada
sujeito completou ambos os questionários, para determinar sua eficácia em curto
prazo do tratamento.
Dos 233 sujeitos, 181 (77,7%) demonstraram uma redução significante na
auto-percepção do handicap auditivo apenas com o uso do AASI. Os 52 sujeitos
restantes participaram do programa de reabilitação auditiva, que consistiu na
orientação quanto ao uso, operação e manutenção dos AASI, bem como, no
emprego de estratégias para melhorar a comunicação oral. Após algumas
sessões de reabilitação e de novos ajustes nas próteses auditivas, 41 (78,8%)
dos 52 sujeitos experimentaram redução significante no handicap auditivo, de
acordo com os índices do HHIA e HHIE. O autor concluiu que a eficácia da
adaptação das próteses auditivas poderia ser demonstrada por meio de medidas
de Qualidade de vida, psicometricamente testadas com o HHIA e o HHIE, uma
36
vez que 88% dos sujeitos experimentaram redução significante tanto do handicap
auditivo quanto das dificuldades de comunicação com o uso dos AASI e/ou
aconselhamento.
No Brasil, desde o final da década de 80, foram encontrados diversos
trabalhos que utilizaram questionários de avaliação da auto-percepção do
handicap auditivo. Exemplos destes estudos foram os de Wielseberg (1997);
Almeida (1998); Oliveira, Blasca (1999); Souza (2002); Sestren et al. (2002);
Buzo et al. (2004); e Pinzan-Faria, Iorio (2004), que constituem uma pequena
amostra da utilização de tais instrumentos. Em sua grande maioria, os autores
concluíram que os questionários são instrumentos efetivos para avaliar os
aspectos psicossociais da perda auditiva.
Wieselberg (1997) adaptou o questionário HHIE, originalmente escrito na
língua inglesa, para a língua portuguesa. Estudou a auto-percepção do handicap
auditivo em uma população de 70 sujeitos idosos deficientes auditivos, a fim de
verificar se as respostas do questionário HHIE diferiam em função do sexo, faixa
etária e grau de perda auditiva. Avaliou 34 idosos do sexo feminino e 36 do sexo
masculino, com idades entre 62 a 86 anos. Todos os sujeitos eram portadores de
deficiência auditiva do tipo neurossensorial adquirida após o período da aquisição
da linguagem. Os resultados demonstraram que, do total dos idosos estudados,
89% apresentaram algum grau de auto-percepção do handicap auditivo e que
sua percepção independeria do sexo, faixa etária e grau da perda auditiva. Tais
achados foram consistentes com as expectativas de que os sujeitos reagem de
formas diferentes e particulares frente à deficiência auditiva. Concluiu que o
37
questionário HHIE mostrou sua efetividade em avaliar o handicap auditivo
percebido pelos idosos deficientes auditivos na realidade brasileira.
Almeida (1998) observou que a extensão da incapacidade e do handicap
que o sujeito experimenta não poderia ser prevista apenas a partir dos limiares
auditivos que este possui. Tanto a incapacidade quanto o handicap poderiam e
deveriam ser quantificados, uma vez que tais medidas visariam traduzir a
dimensão do impacto que a deficiência auditiva acarretaria sobre a Qualidade de
vida do sujeito. Portanto, todas as dimensões da função auditiva deveriam ser
avaliadas e incluiriam: a deficiência, a incapacidade e o handicap.
A autora avaliou, por meio de procedimentos objetivos e subjetivos, o
benefício derivado do uso de próteses auditivas, analisando comparativamente os
resultados, como também, analisou as relações existentes entre as medidas
subjetivas e objetivas do benefício. A casuística foi constituída por 34 indivíduos
adultos, usuários de próteses auditivas, dos sexos feminino e masculino, na faixa
etária de 19 a 83 anos. Os sujeitos foram reunidos em dois grupos, de acordo
com a experiência prévia com o uso da amplificação, tendo sido submetidos
antes e após a adaptação da prótese auditiva, aos procedimentos objetivos
(ganho funcional, índice percentual de reconhecimento de fala, limiar de
reconhecimento de sentenças no silêncio e no ruído) e subjetivos, com a
aplicação de dois questionários de auto-avaliação do handicap auditivo: o
Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit - APHAB e o HHIE/A.
Os resultados revelaram que houve diferenças estatisticamente
significantes entre as condições sem e com prótese auditiva, indicando melhor
38
desempenho em todos os procedimentos com o uso da amplificação.
Recomendou a utilização destes procedimentos para a avaliação do benefício no
processo de seleção e adaptação das próteses auditivas em sujeitos adultos.
Oliveira, Blasca (1999) verificaram a auto-percepção do handicap auditivo
por meio da aplicação do questionário HHIE, em uma população de 28 idosos
deficientes auditivos, considerando o sexo, a faixa etária e o grau da deficiência
auditiva. Do total da amostra, 13 eram do sexo masculino e 15 do sexo feminino,
na faixa etária de 61 a 99 anos. Esses sujeitos eram portadores de deficiência
auditiva do tipo neurossensorial, adquirida após a aquisição da linguagem, com
graus variando de leve a moderada à moderadamente severa. Os resultados
demonstraram que 86% dos sujeitos apresentaram algum grau de percepção do
handicap auditivo e que esta percepção independeria do sexo e faixa etária, mas
seria influenciada pelo grau da deficiência auditiva. Os achados também
mostraram que, apesar de serem influenciados pelo grau da deficiência auditiva,
os sujeitos reagiram de forma diferente e particular frente à perda de audição.
Concluíram que o HHIE mostrou-se efetivo na avaliação do handicap percebido
pelo idoso deficiente auditivo.
Souza (2002) ressaltou que a avaliação do handicap auditivo deveria
utilizar três tipos de análise, ou seja, a audiometria tonal liminar por via aérea e
por via óssea, as medidas supraliminares e os questionários de auto-avaliação.
Estes últimos seriam introduzidos como proposta de um novo método para
adquirir informações sobre a audição do sujeito, como forma de complementar os
dados audiométricos. Nestes procedimentos, seriam avaliados aspectos
39
emocionais da comunicação, opiniões e comportamentos, os quais seriam
fundamentais no processo de reabilitação.
De acordo com suas colocações, a autora elaborou e aplicou uma
proposta de trabalho educativo-terapêutico de reabilitação auditiva em
trabalhadores com dificuldades de comunicação, decorrente da PAIR. Foi
realizada a avaliação audiológica completa e a anamnese em 106 trabalhadores,
sendo que 80 responderam ao HHIA. Desses 80 trabalhadores, foram
selecionados 37 com perda auditiva e auto-percepção do handicap auditivo,
sendo convidados a integrarem os grupos de reabilitação. Os grupos realizaram
três encontros, com a duração de uma hora, tendo a participação de 33
trabalhadores. A análise dos grupos foi feita a partir da reaplicação do HHIA.
Os resultados indicaram que houve um aumento da auto-percepção do
handicap auditivo, o que sugeriu a eficácia do grupo. Observou a existência da
auto-percepção do handicap auditivo tanto nos sujeitos com audição dentro dos
padrões de normalidade (46,7 %), quanto nos portadores de PAIR (74 %).
Ressaltou que houve uma limitação da avaliação audiológica na análise dos
efeitos do ruído, sendo necessária a sua adequação, por exemplo, através de um
instrumento de avaliação do handicap auditivo.
Sestren et al. (2002) analisaram a auto-percepção do handicap auditivo
por meio do HHIE em 40 idosos, com idades entre 60 a 79 anos. O Grupo I era
composto por 26 mulheres e o Grupo II por 14 homens. A análise dos resultados
considerou o grau de perda auditiva, obtido pela média dos limiares auditivos das
freqüências de 0.5 kHz, 1 kHz e 2 kHz. Os resultados indicaram que a percepção
do handicap auditivo ocorreu independentemente da severidade da perda
40
auditiva. Uma porcentagem maior das participantes do sexo feminino (58%)
revelou auto-percepção do handicap auditivo, em comparação a 43% dos
participantes do sexo masculino. Concluíram que os procedimentos diagnósticos
e terapêuticos utilizados rotineiramente na clínica fonoaudiológica, voltados ao
atendimento do sujeito com perda auditiva, deveriam incluir as escalas para a
investigação do grau de handicap auditivo.
Buzo et al. (2004) descreveram e analisaram como as medidas de auto-
percepção do handicap auditivo e da percepção dos sons de fala se modificaram
ao longo do processo inicial de indicação do AASI. Estudaram 12 sujeitos adultos,
com perda auditiva neurossensorial bilateral e de grau moderado a/ou severo e
com idades entre 20 e 70 anos. Para avaliarem a auto-percepção do handicap
auditivo usaram o questionário HHIA. Para medir a percepção dos sons de fala,
utilizaram os testes de Reconhecimento de Fala com Contagem Fonêmica e o
Rastreamento de Fala. Encontraram uma melhora significativa em todos os
procedimentos aplicados com o uso do AASI, após o período de seis semanas.
Em relação à aplicação do HHIA, a média inicial do handicap auditivo foi de
76,50%. Após a adaptação da prótese auditiva e passadas seis semanas, a
média encontrada foi de 12,17%, demonstrando uma redução na auto-pecepção
do handicap auditivo, refletindo o benefício fornecido pela prótese auditiva.
Pinzan-Faria, Iorio (2004) investigaram a existência da correlação entre a
sensibilidade auditiva e o grau de auto-percepção do handicap auditivo em 112
idosos, como idades a partir de 65 anos. Os idosos responderam ao questionário
Hearing Handicap Inventory for Elderly – Screening Version – HHIE – S e depois,
foram submetidos a audiometria tonal liminar. Os idosos do sexo masculino
41
apresentaram perda auditiva mais acentuada e maior percepção do handicap
auditivo (59%) em relação aos do sexo feminino (41,1%). Observaram que 92,5%
dos idosos que referiram não ter percepção do handicap auditivo apresentaram
limiares auditivos nas freqüências da fala dentro dos padrões de normalidade,
enquanto 51,7% e 81,5% que tiveram pontuação de handicap auditivo
leve/moderada e severa/significativa, respectivamente, apresentaram algum grau
de perda auditiva. A correlação entre a sensibilidade auditiva e o grau de
handicap auditivo mostrou-se estatisticamente significante.
42
Neste trabalho, foi realizado um estudo epidemiológico do tipo transversal
de inquérito, a partir da avaliação audiométrica e do protocolo de auto-percepção
do handicap auditivo, aplicados nos motoristas de caminhão de uma Distribuidora
internacional.
3.1. Estrutura da Empresa
A Distribuidora selecionada atua há 55 anos no mercado de transporte e
logística, no Brasil e na América do Sul. Os projetos são desenvolvidos sob
medida por profissionais que trabalham em parceria com o cliente: aprendem
sobre suas necessidades, desenvolvem estudos e executam o planejamento.
Uma frota própria, moderna, composta por mais de 1000 caminhões e
equipamentos com idade média de dois anos, está à disposição para a
movimentação de diversos tipos de carga.
A Distribuidora tem seu escritório central situado na cidade de São Paulo e
comporta mais 22 filiais no Brasil e uma na Argentina. Apresenta um Médico do
Trabalho, coordenador do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional -
PCMSO (Norma Regulamentadora – NR 7). Este é contratado pela Distribuidora
e trabalha por dois períodos em uma das filiais da cidade São Paulo, obedecendo
à exigência da NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho (SESMT), a qual determina o número de médicos do
trabalho necessários em proporção ao de funcionários. De acordo com as
determinações da NR 4, a empresa não necessita de um Enfermeiro do Trabalho
ou de um Auxiliar de Enfermagem do Trabalho em seu quadro de funcionários.
43
Em cada cidade do Brasil, onde há uma ou mais filiais da Distribuidora,
existem clínicas de Medicina do Trabalho credenciadas para realizarem os
exames admissionais, periódicos, demissionais, de mudança de função ou de
retorno ao trabalho, cumprindo a exigência da NR 7. O Médico do Trabalho
Coordenador pode encarregar a emissão do Atestado de Saúde Ocupacional
(ASO) a outros médicos familiarizados com as principais doenças ocupacionais e
suas causas, bem como, com o ambiente, condições de trabalho e riscos a que
está ou será exposto cada trabalhador da empresa a ser examinado. Os Médicos
do Trabalho examinadores emitem o ASO de cada funcionário, o qual
posteriormente, é enviado e verificado pelo Médico do Trabalho Coordenador. As
audiometrias são realizadas por Fonoaudiólogas, nestas clínicas credenciadas e
seguem as orientações sugeridas, bem como, a periodicidade exigida pelo Anexo
I – Quadro II da NR 7.
A Distribuidora apresenta oito Técnicos de Segurança do Trabalho e um
Engenheiro de Segurança do Trabalho, os quais trabalham em uma das filiais da
cidade de São Paulo, sendo ambos responsáveis pelo cumprimento da NR 9 -
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA. Este serviço também
pode ser terceirizado por clínicas de Medicina do Trabalho, credenciadas nas
cidades onde há filiais nos 12 Estados do Brasil. Os PPRA são desenvolvidos na
matriz e nas filiais da Distribuidora, bem como, em alguns locais onde
operacionaliza os produtos de seus clientes. Uma via do PPRA é retida em uma
das filiais da cidade de São Paulo, onde trabalha a equipe de Segurança e
Higiene do Trabalho; já uma outra é enviada ao local de origem das informações.
44
Foi selecionado um dos clientes desta Distribuidora para a realização da
pesquisa. Seus motoristas de caminhão e seus veículos atuam nas etapas da
cadeia logística deste cliente, efetuando a distribuição de bebidas dentro do
Estado de São Paulo. O início das operações neste cliente foi em meados de
Agosto de 1998, atuando com 15 caminhões. No mês de Dezembro do mesmo
ano, a frota já compreendia 50 caminhões. Atualmente, no ano de 2006, operam
com 30 carretas (Scania 124 Potência 330 e Scania 124 Potência 420), as quais
transportam 26 pallets de produtos e 12 Rodotrens (Iveco Frota 6501), que
transportam 44 pallets de produtos. O pallet é uma plataforma destinada a
suportar cargas, permitindo a movimentação mecanizada da mesma por
empilhadeiras. Sua utilização permite a adoção do sistema vertical de estocagem,
propiciando um melhor aproveitamento no espaço físico disponível.
O quadro de funcionários da unidade estudada compreende oito sujeitos,
sendo quatro do setor administrativo e quatro, são controladores de tráfego. As
atribuições de um controlador de tráfego são:
Garantir que os caminhões regressem à fábrica dentro dos horários
solicitados pelo cliente.
Supervisionar se o carregamento está sendo bem realizado, assim
como, se estão sendo cumpridas as normas estabelecidas pelo
cliente.
Dar suporte ao motorista em todo o percurso da viagem, recebendo
e passando informações necessárias para a realização da entrega,
da melhor forma e no menor tempo possível.
45
Ser o intermediário entre os motoristas e o cliente, nas ocorrências
das entregas.
Controlar as necessidades de manutenções e coordenar a parada
destes caminhões para a manutenção, sem que haja prejuízos das
entregas.
Garantir que a documentação que o motorista leva nas entregas
retorne de forma correta, ou seja, devidamente preenchida.
Efetuar semanalmente troca de discos dos tacógrafos e verificar a
documentação legal necessária para dirigir nas estradas.
Os valores das doses de ruído diárias, apresentados no PPRA do ano de
2005 do cliente selecionado, referentes aos modelos de caminhões Scania 124
Potência 330 e Scania 124 Potência 420, podem ser encontrados no Quadro 1.
Quadro 1 - Avaliação do nível de exposição diária ao ruído pelos motoristas
de caminhão constatada em 2005 no PPRA.
Modelo do Caminhão Leq
(em dB(A))
Dose
(em %)
Scania 124 Potência 330
76,1 29%
Scania 124 Potência 420
76,9 47%
46
Os valores das doses de ruído diárias, apresentados no PPRA do ano de
2006 do cliente selecionado, referentes aos modelos de caminhões Scania 124
Potência 330, Scania 124 Potência 420 e Iveco Frota 6501, podem ser
encontrados no Quadro 2.
Quadro 2 - Avaliação do nível de exposição diária ao ruído pelos motoristas
de caminhão constatada em 2006 no PPRA.
O dosímetro utilizado em ambos os PPRA foi da marca Audio Dosímetro
Digital, Modelo DOS 500, fabricado pela Instrutherme.
Conforme demonstrado nos Quadros 1 e 2, a exposição ao ruído foi
medida por meio de dose (em % e em dB(A)) e os resultados estavam abaixo dos
Limites de Tolerância propostos pela Norma Regulamentadora (NR) 15 –
Atividades e Operações Insalubres, Anexo I (85 dB(A) por oito horas). Porém, os
valores referentes à esta exposição estiveram acima do Nível de Ação (80 dB(A)
por oito horas), preconizado na NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais – PPRA.
Modelo do Caminhão Leq
(em dB(A))
Dose
(em %)
Scania 124 Potência 330
Scania 124 Potência 420
81,9 65%
Iveco Frota 6501
74,3 22%
47
3.2. Caracterização dos sujeitos
O universo de motoristas de caminhão desta empresa compreende 81
funcionários, tendo sido todos convidados a participar da pesquisa, porém, 75
destes compuseram a amostra. Deste total, seis sujeitos foram excluídos porque
não compareceram ao local, por estarem de férias ou por não obedecerem aos
critérios de inclusão.
Todos os 75 motoristas de caminhão eram do sexo masculino, com idades
entre 27 a 61 anos e com tempo de profissão variando entre 5 a 40 anos, cuja
seleção obedeceu aos seguintes critérios:
Trabalho atual exclusivamente como motorista de caminhão.
Tempo mínimo de cinco anos na atividade.
Carga horária média diária igual ou superior a oito horas.
3.3. Considerações Éticas
Alguns cuidados éticos para pesquisa foram tomados em relação ao sigilo,
confidencialidade, isenção em relação à empresa, privacidade, cuidados com os
dados obtidos de cada sujeito estudado e respeito à sua individualidade.
Um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido foi elaborado, sendo lido
e devidamente assinado pelos sujeitos antes do atendimento (Anexo 1).
Todos os sujeitos foram devidamente informados de que não existiam
riscos à saúde associados a este estudo, bem como, pouco ou nenhum
48
desconforto durante a coleta de dados. Portanto, houve interrupções quantas
vezes fossem necessárias durante a sessão de atendimento, garantindo um
maior conforto e tranqüilidade ao sujeito. Foi explicado que não haveria
ressarcimento das despesas decorrentes de sua participação, assim como,
indenização financeira.
O participante teve o direito de retirar o seu consentimento e deixar de
participar a qualquer momento, sem que seu emprego fosse prejudicado.
Os resultados foram analisados em conjunto, não sendo revelados os
dados de identificação dos sujeitos isoladamente. Conseqüentemente, foram
informados que a pesquisa seria publicada em revista científica, ligada à área de
Saúde Ocupacional e/ou Fonoaudiologia.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Fonoaudiologia da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PEPG em Fonoaudiologia – PUCSP), sob parecer de número 0002/2005
(Anexo 2).
3.4. Procedimentos
A convocação dos motoristas de caminhão foi realizada, no período de
Setembro a Dezembro do ano de 2005. A coleta dos dados foi efetuada no
próprio local de trabalho dos sujeitos, neste caso, no cliente (Jundiaí – SP), onde
a pesquisa foi iniciada, bem como, em uma das filiais da Distribuidora (São Paulo
– Jaraguá - SP). Os dias da semana selecionados em ambos os locais foram às
quartas-feiras, sábados e domingos, nos quais havia um maior número de
49
motoristas assumindo os seus postos de trabalho. Os horários dos turnos de
trabalhos se iniciavam às 18 horas, nas quartas-feiras, às 8 horas e às 18 horas
aos sábados, e às 22 horas, aos domingos.
Inicialmente, foi realizado um contato com os controladores de tráfego,
devido a uma exigência e a uma solução dada pela própria Distribuidora. Estes
profissionais relacionavam-se diretamente com os motoristas de caminhão, nos
horários em que iniciavam suas jornadas de trabalho. Tal medida sobre este
primeiro contato foi adotada, pois a Fonoaudióloga não poderia estar sempre
presente devido à distância em relação à cidade do interior do Estado de São
Paulo e das diferentes escalas de trabalho existentes. Portanto, foi explicado o
objetivo e o procedimento da pesquisa por meio de contato telefônico e carta
informativa, enviada por e-mail (Anexo 3). A Fonoaudióloga revisou as
orientações e esclareceu as possíveis dúvidas, novamente por telefone e por
e-mail.
Foi solicitado aos controladores de tráfego que convidassem todos os
motoristas de caminhão a participarem da pesquisa, expondo oralmente as
informações previamente fornecidas pela Fonoaudióloga. Cada controlador se
responsabilizou por convocar os motoristas de caminhão que se encontravam
nos seus respectivos turnos de trabalho. Após repassarem as informações
básicas referentes à pesquisa, agendavam os dias e horários em que a
Fonoaudióloga estaria na Distribuidora, a fim de que ela os conhecesse e
pudesse novamente expor o procedimento, para que assim, decidissem sobre
sua efetiva participação no estudo. Os controladores também salientaram que a
50
colaboração deveria ser voluntária, não havendo qualquer prejuízo em relação ao
seu emprego.
Nos respectivos dias e horários, previamente agendados pelos
controladores de tráfego, foi solicitado aos motoristas que chegassem cerca de
duas horas antes do início de seu expediente, para preencherem todos os
instrumentos propostos pela pesquisa, caso desejassem participar. Foram
agendados de 3 a 13 motoristas por período.
No dia e horário determinado, a Fonoaudióloga explicou novamente o
objetivo e o procedimento da pesquisa de forma oral e esclareceu possíveis
dúvidas, cabendo aos sujeitos, portanto, decidirem sobre a sua participação. Com
isso, caso aceitassem compor a amostra, seria lido o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, previamente à execução de qualquer procedimento.
Tanto na sede do cliente em Jundiaí-SP, quanto em uma das filiais da
Distribuidora, na cidade de São Paulo, foi escolhida uma sala silenciosa
(destinada a reuniões) para a realização do procedimento da pesquisa. Consistia
no preenchimento da anamnese pela Fonoaudióloga junto a cada motorista de
caminhão, na avaliação audiométrica e no preenchimento do instrumento de
auto-percepção do handicap auditivo - Hearing Handicap Inventory for Adults
(HHIA) (anexo 4). Em ambos os locais, havia uma ante-sala igualmente
silenciosa, com mesas e cadeiras, para que os sujeitos pudessem preencher o
referido questionário.
Todo o procedimento foi realizado em um único dia, para que fosse
garantida a atenção necessária ao sujeito individualmente, bem como, sua
privacidade e o repouso auditivo necessário à avaliação audiométrica.
51
Primeiramente, a Fonoaudióloga conduziu verbalmente e preencheu a
anamnese com cada motorista de caminhão, precedendo a avaliação
audiométrica (Anexo 5). A anamnese foi utilizada para investigar a história clínica
e ocupacional, a fim de caracterizar o tipo de segmento e o trabalhador estudado.
Questões relativas à descrição da função desta categoria profissional foram
abordadas, a fim de compreender os eventos e as conseqüências que envolvem
a atividade laborativa (posição da janela do caminhão, uso do circulador de ar ou
do ar-condicionado, irritabilidade a sons intensos, habilidade auditiva para falarem
ao celular, único meio de comunicação utilizado com a central de comando). A
exposição ao ruído extra-ocupacional foi abordada, a qual foi considerada
afirmativa caso o sujeito freqüentasse ambientes ruidosos mais do que uma vez
por semana (Jorge Jr., 1993). Estes dados foram obtidos a fim de criar condições
para a categorização de situações mais favoráveis ou menos favoráveis em
relação à descrição da função, ou seja, variáveis combinadas que elevassem ou
reduzissem o Nível de Pressão Sonora ao qual o sujeito estaria exposto, durante
sua jornada de trabalho.
As avaliações audiométricas foram realizadas, anteriormente à jornada de
trabalho, respeitando o repouso auditivo de 14 horas. Este repouso auditivo foi
garantido por terem chegado antecipadamente ao turno de trabalho, como
também, por perguntas efetuadas pela Fonoaudióloga sobre atividades de lazer,
hobbies ou acontecimentos que pudessem ter ocorrido antes de se submeterem
ao exame.
Todas as avaliações audiométricas foram efetuadas em cabina acústica
móvel, da marca Acústica São Luiz, modelo leve, devidamente calibrada de
52
acordo com a American National Standards Institute (ANSI) S3:1, deslocada para
ambos os locais selecionados para a coleta de dados. Previamente à avaliação
audiométrica, foi realizada a Inspeção visual do Meato Acústico Externo, a fim de
se verificar alguma impossibilidade para a execução do exame, como cerume
parcial ou total. Para tanto, foi utilizado o otoscópio Heine mini 2000.
Posteriormente, foi realizada a audiometria tonal liminar, tanto por via
aérea, nas freqüências de 0.25 kHz, 0.5 kHz, 1 kHz, 2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e
8 kHz, quanto por via óssea, se necessário. Foi efetuada a logoaudiometria, com
o emprego da pesquisa do Limiar de Reconhecimento de Fala (LRF) e do Índice
de Reconhecimento de Fala (IRF). Para a execução destes exames, foi usado o
audiômetro da marca Maico, modelo MA41, calibrado anualmente, segundo a
norma International Organization for Standardization (ISO) 8253-1 (1989),
obedecendo aos critérios propostos por Momensohn-Santos et al. (2005).
Imediatamente após a avaliação audiométrica, o resultado foi explicado a cada
motorista de caminhão.
Por meio do questionário Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA)
(anexo 4), foi avaliada a auto-percepção do handicap auditivo dos motoristas de
caminhão. As primeiras duas perguntas do questionário foram lidas e efetuadas
oralmente pela examinadora, a fim de garantir a sua compreensão pelo sujeito.
As respostas foram anotadas pela pesquisadora no questionário do próprio
motorista, para que observasse como deveria ser a marcação correta a ser
seguida. A demais questões foram auto-administradas pelos motoristas, sob a
supervisão da Fonoaudióloga. A aplicação do HHIA durou cerca de 10 minutos.
53
Houve a necessidade de se realizar um rodízio para a execução do
procedimento proposto: enquanto um sujeito realizava a avaliação audiométrica,
outros preenchiam o instrumento HHIA. O procedimento não precisou obedecer a
uma mesma seqüência, por questão de operacionalização e pelos instrumentos
não demandarem uma ordem para os seus resultados serem fidedignos.
Cada motorista dispensou, em média, uma hora para realizar todas as
etapas propostas pela pesquisa.
3.5. Critérios de análise dos instrumentos
3.5.1. Avaliação Audiométrica
A sugestão de classificação empregada por Fiorini (1994), em sua
Dissertação de Mestrado, foi utilizada para classificar os audiogramas em três
grandes Grupos, considerando os resultados de ambas as orelhas
conjuntamente:
Grupo 1 (audiogramas sugestivos de audição dentro dos padrões de
normalidade): sujeitos que apresentaram todos os limiares obtidos bilateralmente
em valores iguais ou menores a 25 dBNA.
Grupo 2 (audiogramas sugestivos de Perda Auditiva Induzida por Ruído):
sujeitos que apresentaram configuração de perda audiométrica (limiares maiores
que 25 dBNA) nas altas freqüências (3 kHz e/ou 4 kHz e/ou 6 kHz).
54
Grupo 3 (audiogramas com outras classificações): sujeitos que
apresentaram perda auditiva (limiares maiores que 25 dBNA), cuja configuração
audiométrica não foi compatível com as estabelecidas nos Grupos 1 e 2.
De acordo com a autora, esta classificação não apresentava objetivo
diagnóstico e para facilitar a apresentação dos resultados, estes Grupos
passaram a ser chamados de:
- Grupo 1: Normalidade
- Grupo 2: Sugestivo de PAIR (Perda Auditiva Induzida por Ruído)
- Grupo 3: Outros
Desta forma, o Grupo Normalidade subdividiu-se em:
- Normalidade bilateral: Todos os limiares auditivos, tanto na
orelha direita quanto na orelha esquerda, eram iguais ou inferiores a
25dBNA;
- Normalidade com entalhe unilateral: Idem ao Normalidade
bilateral, porém apresentando entalhe audiométrico em apenas uma
orelha (rebaixamento dentro da normalidade nas freqüências de
3 kHz, 4 kHz ou 6 kHz, sendo considerado quando havia diferença
de pelo menos 10 dBNA da freqüência anterior ou posterior);
- Normalidade com entalhe bilateral: Idem ao Normalidade
bilateral, porém apresentando entalhe audiométrico em ambas as
orelhas.
O Grupo Sugestivo de PAIR subdividiu-se em:
- PAIR bilateral: traçado audiométrico sugestivo de Perda Auditiva
Induzida por Ruído em ambas orelhas;
55
- PAIR unilateral: uma orelha com traçado audiométrico sugestivo
de PAIR, com a outra apresentando todos os limiares dentro dos
padrões de normalidade (iguais ou inferiores a 25 dB NA);
- PAIR unilateral com entalhe na outra orelha: traçado
audiométrico sugestivo de PAIR em uma orelha e traçado dentro
dos padrões de normalidade com entalhe audiométrico na outra
orelha.
O Grupo Outros apresentou traçados audiométricos sugestivos de perda
descendente (maior rebaixamento em 8 kHz), bilateralmente ou com uma das
orelhas dentro dos padrões de normalidade.
A avaliação audiométrica também foi classificada de acordo com Parrado-
Moran, Fiorini (2003), considerando os resultados de ambas as orelhas
separadamente. A audiometria foi analisada por freqüência e pelo grau da perda,
a saber:
Grupo I: de 0 a 25 dBNA
Grupo II: de 30 a 40 dBNA
Grupo III: de 45 a 55 dBNA
Grupo IV: de 60 a 70 dBNA
Grupo V: de 75 a 80 dBNA
Posteriormente, para ser observado o comportamento da audiometria das
freqüências presentes no Grupo 2 (sugestivo de PAIR), foram criadas categorias
a fim de analisá-las isoladamente ou conjuntamente. As categorias foram
56
baseadas em Parrado-Moran, Fiorini (2003), porém, foram escolhidas a partir da
ocorrência de perda auditiva demonstrada no audiograma deste estudo, a saber:
Perda Auditiva somente em uma freqüência, como 4kHz e 6kHz.
Perda Auditiva em duas freqüências, como 4kHz e 6kHz ou 4kHz e
8 kHz.
Perda Auditiva em três freqüências, como 3kHz, 4kHz e 6kHz ou
4kHz, 6 kHz e 8 kHz.
Perda Auditiva em quatro freqüências, como 3 kHz, 4 kHz, 6kHz e
8 kHz ou 2 kHz, 3 kHz, 4 kHz e 6 kHz.
Perda Auditiva em cinco freqüências, como 2 kHz, 3 kHz, 4kHz,
6 kHz e 8 kHz.
3.5.2. Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA
O Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA), adaptado por Newman et
al. (1990) e traduzido para a língua portuguesa por Almeida (1998), visou
determinar o grau de auto-percepção do handicap auditivo do entrevistado. O
questionário consiste em 25 questões, sendo 12 com enfoque social e 13 com
enfoque emocional. O entrevistado deve assinalar a resposta que melhor lhe
convier para cada pergunta.
A pontuação é dada de acordo com a resposta correspondente em três
opções: “sim” = 4 pontos; “não” = 0 ponto e “às vezes” = 2 pontos. Contudo, por
ter havido equívoco na tradução do Inglês para o Português brasileiro do
57
questionário, o termo “às vezes” foi descrito concomitantemente a duas variáveis
que representam presença e ausência de um fenômeno. O termo “às vezes” é
uma resposta indicativa de freqüência, portanto, foi utilizado termos diferentes
para a coleta dos dados, a fim de ser mantida a coerência: “sempre” para o termo
“sim”, “às vezes” para “às vezes” e “nunca” para “não”.
O valor da pontuação total pode variar em índices percentuais de 0
(sugerindo que não há auto-percepção de handicap auditivo) até 100 (sugerindo
a auto-percepção significativa de handicap auditivo). Quanto maior for o índice,
maior é a auto-percepção que o sujeito tem de seu handicap, ou seja, das
dificuldades auditivas e não auditivas geradas pela perda de audição. A
classificação quanto ao índice de auto-percepção do handicap auditivo pode ser
encontrada no Quadro 3.
Quadro 3 - Classificação quanto ao índice de auto-percepção do handicap
auditivo.
Grupo Índice de
auto-percepção do
handicap auditivo(%)
Não há auto-percepção do handicap auditivo De 0 a 16 %
Auto-percepção leve/moderada do handicap auditivo De 18 a 42 %
Auto-percepção severa/significativa do handicap auditivo Acima de 42 %
58
3.6. Análise Estatística
Um banco de dados foi criado para a verificação da consistência das
respostas, para posteriormente, ser procedida a análise estatística.
Foram utilizados basicamente testes não paramétricos, pois as condições
mínimas para a utilização de testes paramétricos, como a normalidade da
distribuição e a homocedasticidade (homogeneidade das variâncias), não foram
consideradas satisfatórias. Portanto, o teste Qui-Quadrado para Independência
foi aplicado na análise estatística das variáveis selecionadas.
O nível de significância proposto foi de 5% (p < 0,05), conforme sugerido
para estudos biológicos. Todos os intervalos de confiança foram construídos com
95% de confiança estatística.
A variável dependente deste estudo foi a Perda Auditiva Induzida por
Ruído em Motoristas de Caminhão. Sendo assim, suas variáveis independentes
foram:
Exposição Ocupacional Anterior ao Ruído.
Tempo de Exposição Ocupacional Anterior ao Ruído.
Escala de Turnos de Trabalho.
Incômodo ao ruído, durante a jornada de trabalho.
Tempo de Profissão.
Idade.
Etilismo.
Tabagismo.
59
Uso de Rádio AM/FM, durante a jornada de trabalho.
Atividades de Lazer, por mais de uma vez por semana.
Auto-percepção do handicap auditivo.
60
Neste capítulo, será apresentada a análise descritiva, bem como, a análise
estatística referente à avaliação audiométrica e ao protocolo de auto-percepção
do handicap auditivo, aplicados nos motoristas de caminhão.
4.1. Avaliação Audiométrica
Na tabela 1 foi apresentada a divisão das avaliações audiométricas nos
grupos propostos por Fiorini (1994), considerando o resultado da pior orelha para
a classificação.
Tabela 1 - Distribuição do critério utilizado por Fiorini (1994), em
porcentagem (%), classificando em Grupos os resultados da avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão (N = 75).
Grupos N (%)
Grupo 1 – Normal
50 66,7
Grupo 2 – Sugestivo de PAIR
20 26,7
Grupo 3 – Outros
5 6,6
Total
75 100,0
Em relação aos 75 audiogramas estudados, 50 sujeitos (66,7%)
apresentaram audiogramas dentro dos padrões de normalidade (Grupo 1) e 25
sujeitos (33,3%) apresentaram audiogramas com alterações (Grupo 2 e 3).
61
Dentre os 50 audiogramas do Grupo 1 (100,0%), 14 (28,0%) foram
classificados como dentro dos padrões de normalidade, com entalhe unilateral,
31 (62,0%) foram classificados como dentro dos padrões de normalidade, com
entalhe bilateral e cinco (10,0%) apresentaram audiogramas dentro dos padrões
de normalidade, porém, sem entalhe.
Dos 25 audiogramas alterados (100,0%), 20 (80,0%) foram classificados
como sugestivos de PAIR (Grupo 2) e 5 (20,0%) foram sugestivos de outras
causas (Grupo 3). Dentre os 20 audiogramas do Grupo 2 (100,0%), 16 (80,0%)
foram sugestivos de PAIR bilateral e quatro (20,0%) foram sugestivos de PAIR
unilateral, sendo que as orelhas contralaterais apresentaram audição dentro dos
padrões de normalidade, com entalhe. Dos audiogramas presentes no Grupo 3 –
Outros (100,0%), um sujeito (20,0%) apresentou Perda Auditiva Condutiva
unilateral, um (20,0%) apresentou Perda Auditiva Mista unilateral e três (60%)
resultaram em Perdas Auditivas Neurossensoriais, sendo duas (66,7%) bilateriais
e uma (33,3%) unilateral.
Neste estudo, foram analisados 70 (93,3%) sujeitos dos 75 (100%)
testados. Foram excluídos os cinco sujeitos (6,6%) pertencentes ao Grupo
Outros, pois não apresentavam audiogramas classificados como sugestivos de
PAIR. Na tabela 2, foi observado que dos 70 (100%) sujeitos analisados, 50
(71,4%) apresentaram resultados dentro dos padrões de normalidade
bilateralmente, pertencendo ao Grupo 1 – Normalidade e 20 (28,6%) foram
classificados no Grupo 2 – Sugestivo de PAIR, em pelo menos uma orelha.
62
Tabela 2 - Distribuição do critério utilizado por Fiorini (1994), em
porcentagem (%), classificando em Grupos 1 e 2 os resultados da avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão (N = 70).
Grupos N (%)
Grupo 1 – Normal
50 71,4
Grupo 2 – Sugestivo de PAIR
20 28,6
Total
70 100,0
A tabela 3 apresentou a classificação da avaliação audiométrica (por
freqüência e pelo grau da perda) baseada em Parrado-Moran, Fiorini (2003),
considerando os resultados de ambas as orelhas pertencentes ao Grupo 2 –
Sugestivo de PAIR.
63
Tabela 3 – Distribuição das 140 orelhas de acordo com os diferentes
limiares audiométricos (dBNA) nas oito freqüências (f) testadas (kHz).
Grupo
f (kHz)
0 – 25
dBNA
30 – 40
dBNA
45 – 55
dBNA
60 – 70
dBNA
75 – 85
dBNA
Total
0.25 kHz
140 - - - - 140
0.50 kHz
140 - - - - 140
1 kHz
140 - - - - 140
2 kHz
132 7 1 - - 140
3 kHz
124 10 5 1 - 140
4 kHz
105 15 13 6 1 140
6 kHz
110 13 8 6 3 140
8 kHz
117 8 10 4 1 140
Posteriormente, nas tabelas 4 a 12, foram observadas as categorias
criadas para analisar as freqüências presentes no Grupo 2 (sugestivo de PAIR),
de forma isolada ou combinada. As categorias foram baseadas em Parrado-
Moran, Fiorini (2003).
64
Tabela 4 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) somente na freqüência
de 4 kHz, nas cinco orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
4 kHz (dBNA) (N = 5) (%)
30 1 20,0
35 1 20,0
40 3 60,0
Total
5 100,0
Tabela 5 – Distribuição do limiar tonal (dBNA) somente na freqüência de
6 kHz, em uma orelha.
Limiar Tonal Orelhas
6 kHz (dBNA) (N = 1) (%)
30 1 100,0
Total
1 100,0
65
Tabela 6 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de 4 kHz
e 6kHz, em três orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
4 kHz (dBNA) 6 kHz (dBNA) (N = 3) (%)
35 30 1 33,3
40 35 1 33,3
45 45 1 33,3
Total
3 100,0
Tabela 7 – Distribuição do limiar tonal (dBNA) nas freqüências de 4 kHz e
8 kHz, em uma orelha.
Limiar Tonal Orelhas
4 kHz (dBNA) 8 kHz (dBNA) (N = 1) (%)
30 30 1 100,0
Total
1 100,0
Tabela 8 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
3 kHz, 4 kHz e 6 kHz , nas duas orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
3 kHz (dBNA) 4 kHz (dBNA) 6 kHz (dBNA) (N = 2) (%)
35 50 65 1 50,0
40 40 40 1 50,0
Total
2 100,0
66
Tabela 9 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas 10 orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
4 kHz (dBNA) 6 kHz (dBNA) 8 kHz (dBNA) (N = 10) (%)
30 35 35 1 10,0
30 55 40 1 10,0
40 50 50 1 10,0
40 60 50 1 10,0
45 40 30 1 10,0
45 65 45 1 10,0
45 75 60 1 10,0
50 30 35 1 10,0
50 40 35 1 10,0
60 75 70 1 10,0
Total
10 100,0
Tabela 10 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
2 kHz, 3 kHz, 4 kHz e 6 kHz, nas duas orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
2 kHz(dBNA) 3 kHz (dBNA) 4 kHz (dBNA) 6 kHz (dBNA) (N = 2) (%)
30 30 35 35 1 50,0
30 30 35 40 1 50,0
Total
2 100,0
67
Tabela 11 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas seis orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
3 kHz(dBNA) 4 kHz (dBNA) 6 kHz (dBNA) 8 kHz (dBNA) (N = 6) (%)
30 45 40 45 1 16,7
30 70 85 85 1 16,7
40 50 55 45 1 16,7
40 65 50 55 1 16,7
45 45 50 40 1 16,7
55 70 65 45 1 16,7
Total
6 100,0
68
Tabela 12 – Distribuição dos limiares tonais (dBNA) nas freqüências de
2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz, nas seis orelhas.
Limiares Tonais Orelhas
2 kHz
(dBNA)
3 kHz
(dBNA)
4 kHz
(dBNA)
6 kHz
(dBNA)
8 kHz
(dBNA)
(N = 6) (%)
30 35 55 35 40 1 16,7
35 40 50 55 55 1 16,7
35 45 55 40 45 1 16,7
40 50 60 70 65 1 16,7
40 70 85 70 70 1 16,7
45 55 70 55 45 1 16,7
Total
6 100,0
Nas tabelas 13 a 22, foi analisada a existência de alguma relação e/ou
associação entre os resultados qualitativos e os Grupo 1 (Normalidade) e o
Grupo 2 (Sugestivo de PAIR), utilizados por Fiorini (1994). Foram categorizadas
as variáveis quantitativas contínuas em qualitativas, a fim de fornecer maior
fidedignidade e compreensão dos resultados.
69
Tabela 13 – Distribuição da variável qualitativa: Exposição Ocupacional
Anterior ao Ruído, considerando os resultados obtidos na avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão, através da categorização nos
Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Exposição Ocupacional
Anterior ao Ruído
Não Sim
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
21 42,0% 29 58,0% 50 100,0%
Grupo 2
9 45,0% 11 55,0% 20 100,0%
Total
30 42,9% 40 57,1% 70 100,0%
* p-valor = 0,819
Tabela 14 – Distribuição da variável qualitativa: Tempo de Exposição
Ocupacional Anterior ao Ruído, considerando os resultados obtidos na
avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão, através da
categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Tempo de Exposição Ocupacional Anterior ao Ruído
Sem
Exposição
6 meses e
4 anos
> 4 anos
e 9 anos
9 anos
Total
Grupos
N % N % N % N % N %
Grupo 1
21 42,0% 13 26,0% 10 20,0% 6 12,0% 50 100,0%
Grupo 2
9 45,0% 3 15,0% 4 20,0% 4 20,0% 20 100,0%
Total
30 42,9% 16 22,9% 14 20,0% 10 14,3% 70 100,0%
*p-valor = 0,699
70
Tabela 15 – Distribuição da variável qualitativa: Escala de Turnos de
Trabalho, considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica
dos motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos
utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Escala de Turnos de Trabalho
12/12 h 24/24 h 72/72 h 21/7 dias
Total
Grupos
N % N % N % N % N %
Grupo 1
13 26,0% 17 34,0% 13 26,0% 7 14,0% 50 100,0%
Grupo 2
8 40,0% 4 20,0% 6 30,0% 2 10,0% 20 100,0%
Total
21 30,0% 21 30,0% 19 27,1% 9 12,9% 70 100,0%
* p-valor = 0,546
Tabela 16 – Distribuição da variável qualitativa: Incômodo ao Ruído, durante
a jornada de trabalho, considerando os resultados obtidos na avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão, através da categorização nos
Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Incômodo ao Ruído
Sim Não
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
23 46,0% 27 54,0% 50 100,0%
Grupo 2
11 55,0% 9 45,0% 20 100,0%
Total
34 48,6% 36 51,4% 70 100,0%
* p-valor = 0,496
71
Tabela 17 – Distribuição da variável qualitativa: Anos de Profissão,
considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos utilizados
por Fiorini (1994) (N = 70).
Anos de Profissão
15 anos >15 anos
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
28 56,0%* 22 44,0% 50 100,0%
Grupo 2
6 30,0% 14 70,0%* 20 100,0%
Total
34 48,6% 36 51,4% 70 100,0%
* p-valor = 0,049*
Foi verificado na Tabela 17 a existência de uma associação e/ou
dependência entre os resultados obtidos na avaliação audiométrica, por meio da
categorização utilizada por Fiorini (1994) (Grupos 1 e 2) e a variável qualitativa
Anos de Profissão. Portanto, o sujeito com maior tempo de profissão como
motorista de caminhão pertenceu ao Grupo 2 – Sugestivo de PAIR e àquele com
menor tempo na carreira pertenceu ao Grupo 1 - Normalidade.
72
Tabela 18 – Distribuição da variável qualitativa: Idade, considerando os
resultados obtidos na avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão,
através da categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Idade
45 anos > 45 anos
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
37 74,0%* 13 26,0% 50 100,0%
Grupo 2
8 40,0% 12 60,0%* 20 100,0%
Total
45 64,3% 25 35,7% 70 100,0%
* p-valor = 0,007*
Foi observada na Tabela 18 a existência de uma associação e/ou
dependência entre os resultados obtidos na avaliação audiométrica, por meio da
categorização utilizada por Fiorini (1994) (Grupos 1 e 2) e a variável qualitativa
Idade. Portanto, o sujeito mais velho pertenceu ao Grupo 2 – Sugestivo de PAIR
e o mais novo, ao Grupo 1 - Normalidade.
73
Tabela 19 – Distribuição da variável qualitativa: Tabagismo, considerando
os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos motoristas de
caminhão, através da categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994)
(N = 70).
Tabagismo
Sempre Às vezes Nunca
Total
Grupos
N % N % N % N %
Grupo 1
13 26,0% 2 4,0% 35 70,0% 50 100,0%
Grupo 2
3 15,0% 2 10,0% 15 75,0% 20 100,0%
Total
16 22,9% 4 5,7% 50 71,4% 70 100,0%
* p-valor = 0,426
Tabela 20 – Distribuição da variável qualitativa: Etilismo, considerando os
resultados obtidos na avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão,
através da categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Etilismo
Sempre Às vezes Nunca
Total
Grupos
N % N % N % N %
Grupo 1
2 4,0% 29 58,0% 19 38,0% 50 100,0%
Grupo 2
1 5,0% 9 45,0% 10 50,0% 20 100,0%
Total
3 4,3% 38 54,3% 29 41,4% 70 100,0%
* p-valor = 0,614
74
Tabela 21 – Distribuição da variável qualitativa: Uso do Rádio AM/FM
durante a jornada de trabalho, considerando os resultados obtidos na
avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão, através da
categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Rádio AM/FM
Sempre Às vezes Nunca
Total
Grupos
N % N % N % N %
Grupo 1
33 66,0% 14 28,0% 3 6,0% 50 100,0%
Grupo 2
8 40,0% 11 55,0% 1 5,0% 20 100,0%
Total
41 58,6% 25 35,7% 4 5,7% 70 100,0%
* p-valor = 0,101
Tabela 22 – Distribuição da variável qualitativa: Atividades de Lazer, por
mais de uma vez por semana, considerando os resultados obtidos na
avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão, através da
categorização nos Grupos utilizados por Fiorini (1994) (N = 70).
Atividades de Lazer
Sim Não
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
1 2,0% 49 98,0% 50 100,0%
Grupo 2
1 5,0% 19 95,0% 20 100,0%
Total
2 2,9% 68 97,1% 70 100,0%
* p-valor = 0,496
75
4.2. Descrição do protocolo HHIA
4.2.1. Avaliação da auto-percepção do handicap auditivo
Baseadas em Souza (2002), as tabelas 23 a 26 indicaram a classificação
quanto ao índice de auto-percepção do handicap auditivo, por percentual isolado
ou por grau de severidade (independente da situação auditiva), de acordo com o
critério proposto por Newman et al. (1990), obtido nos motoristas de caminhão.
76
Tabela 23 – Distribuição dos motoristas de caminhão, segundo o percentual
de auto-percepção do handicap auditivo apresentado no HHIA.
% de auto-percepção do
handicap auditivo (HHIA)
N %
0
34 48,6
2
9 12,9
4
5 7,1
6
3 4,3
8
4 5,7
10
2 2,9
12
2 2,9
18
1 1,4
22
3 4,3
24
1 1,4
26
2 2,9
34
1 1,4
42
1 1,4
52
1 1,4
86
1 1,4
Total
70 100,0
77
Na tabela 23, o índice de auto-percepção do handicap auditivo isolado que
apresentou maior freqüência de resposta foi o de 2% (12,9%), seguido pelo de
4% (7,1%).
Tabela 24: Distribuição dos motoristas de caminhão quanto à
presença/ausência de auto-percepção do handicap auditivo, expressa em
porcentagem (%), constatada na aplicação do protocolo HHIA (N = 70).
Presença /ausência de auto-percepção do handicap
auditivo
N (%)
Ausência de auto-percepção do handicap auditivo (0 – 16%) 59 84,3
Presença de auto-percepção do handicap auditivo ( 18%) 11 15,7
Total
70 100,0
Tabela 25: Distribuição dos motoristas de caminhão quanto ao índice de
auto-percepção do handicap auditivo, expressa em porcentagem (%),
segundo o critério proposto por Newman et al. (1990) (N = 70).
Índice de auto-percepção do handicap auditivo N (%)
Não há auto-percepção do handicap auditivo (0 – 16%) 59 84,3
Auto-percepção leve/moderada do handicap auditivo (18 – 42 %) 9 12,9
Auto-percepção severa/significativa do handicap auditivo (> 42%) 2 2,8
Total
70 100,0
78
Tabela 26: Distribuição dos motoristas de caminhão com auto-percepção do
handicap auditivo, expressa em porcentagem (%), segundo o critério
proposto por Newman et al. (1990) (N =12 ).
Índice de auto-percepção do handicap auditivo N (%)
Auto-percepção leve/moderada do handicap auditivo (18 – 42 %) 9 81,8
Auto-percepção severa/significativa do handicap auditivo (> 42%) 2 18,2
Total
11 100,0
Nas tabelas de 24 a 25, do total dos 70 motoristas de caminhão avaliados,
59 sujeitos (84,3%) não demonstraram auto-percepção do handicap auditivo e 11
sujeitos (15,7%) demonstraram auto-percepção do handicap auditivo.
Em relação aos 11 motoristas de caminhão (100,0%) que manifestaram
uma auto-percepção do handicap auditivo, referente à tabela 26, 9 (81,8%)
expressaram handicap auditivo de leve a moderado e 2 (18,2%) expressaram
handicap auditivo severo a significativo.
4.2.2. Avaliação Audiométrica e da auto-percepção do handicap
auditivo
As variáveis avaliação audiométrica, classificada por Grupos e empregada
por Fiorini (1994) e a auto-percepção do handicap auditivo, ambas baseadas em
Souza (2002), foram relacionadas e seus resultados foram demonstrados nas
tabelas 27 e 28.
79
Tabela 27 – Distribuição dos motoristas de caminhão, baseada na avaliação
audiométrica classificada por Grupos e empregada por Fiorini (1994),
segundo o índice de auto-percepção do handicap auditivo (N = 70).
Avaliação Audiométrica
classificada por Grupos
Índice de auto-percepção do
handicap auditivo
N %
Grupo 1
Não há auto-percepção do
handicap auditivo
43 86,0
Auto-percepção leve/moderada do
handicap auditivo
6 12,0
Auto-percepção severa/significativa do
handicap auditivo
1 2,0
Total
50 100,0
Grupo 2
Não há auto-percepção do
handicap auditivo
16 80,0
Auto-percepção leve/moderada do
handicap auditivo
3 15,0
Auto-percepção severa/significativa do
handicap auditivo
1 5,0
Total
20 100,0
A tabela 27 demonstrou que ocorreu a auto-percepção do handicap
auditivo em 14,0% dos motoristas de caminhão. Com isso, mesmo os sujeitos
com audição dentro dos padrões de normalidade (Grupo 1) apresentaram auto-
80
percepção do handicap auditivo, distribuída em 12,0% de grau leve/moderado e
2,0% de grau severo/significativo. Em relação ao Grupo 2 – Sugestivo de PAIR,
20% apresentou algum grau de auto-percepção de handicap auditivo, distribuído
em 15,0% de grau leve/moderado e 5,0% de grau severo/significativo.
Os motoristas de caminhão foram divididos, para análise, em subgrupos,
de acordo com a avaliação audiométrica classificada por Grupos e empregada
por Fiorini (1994) e o índice de auto-percepção do handicap auditivo (HHIA)
(N=70), sendo:
Avaliação Audiométrica Normal e HHIA = 0: incluiria os sujeitos do
Grupo 1 e sem auto-percepção do handicap auditivo.
Avaliação Audiométrica Normal e HHIA 0: incluiria os sujeitos do
Grupo 1 e com auto-percepção do handicap auditivo em qualquer
grau de severidade.
Sugestivo de PAIR e HHIA = 0: incluiria os sujeitos do Grupo 2 em
qualquer grau de severidade e sem auto-percepção do handicap
auditivo.
Sugestivo de PAIR e HHIA 0: incluiria os sujeitos do Grupo 2 e
com auto-percepção do handicap auditivo em qualquer grau de
severidade.
81
Tabela 28 – Distribuição dos motoristas de caminhão, divididos em
subgrupos, segundo a avaliação audiométrica classificada por Grupos e
empregada por Fiorini (1994) e o índice de auto-percepção do handicap
auditivo (N = 70).
Subgrupos N %
Avaliação Audiométrica Normal e HHIA = 0
43 86,0
Avaliação Audiométrica Normal e HHIA 0
7 14,0
Sugestivo de PAIR e HHIA = 0
16 80,0
Sugestivo de PAIR e HHIA 0
4 20,0
Total
70 100,0
A tabela 28 apresentou a distribuição dos motoristas de caminhão,
divididos nestes subgrupos demonstrados, baseados na avaliação audiométrica
classificada por Grupos e empregada por Fiorini (1994) e no índice de auto-
percepção do handicap auditivo (HHIA).
Na tabela 29, foi analisada a existência de alguma relação e/ou associação
entre a avaliação da auto-percepção do handicap auditivo e os resultados obtidos
no Grupo 1 (Normalidade) e no Grupo 2 (Sugestivo de PAIR), utilizados por
Fiorini (1994).
82
Tabela 29 – Distribuição da variável qualitativa auto-percepção do handicap
auditivo, considerando os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos
motoristas de caminhão, através da categorização nos Grupos utilizados
por Fiorini (1994) (N = 70).
Auto-percepção do handicap auditivo
Sim Não
Total
Grupos
N % N % N %
Grupo 1
7 14,0% 43 86,0% 50 100,0%
Grupo 2
4 20,0% 16 80,0% 20 100,0%
Total
11 15,7% 59 84,3% 70 100,0%
* p-valor = 0,533
83
Neste capítulo, será apresentada a discussão dos resultados obtidos na
avaliação audiométrica e na aplicação do questionário HHIA nos 70 sujeitos
selecionados, comparando-os com os da Literatura consultada.
Antes de serem efetuados os comentários sobre os resultados do presente
estudo, será realizada uma breve resenha a respeito do referencial teórico.
A dissertação teve como variável dependente analisar a PAIR em
motoristas de caminhão, observando sua relação com hábitos de lazer, incômodo
ao ruído e vícios, bem como, sua associação com a auto-percepção do handicap
auditivo. A partir da Revisão de Literatura selecionada, foi verificado que a PAIR
não seria somente um problema periférico, havendo intercorrências centrais
fundamentais e importantes, como: o recrutamento da loudness, o zumbido, a
pobre seletividade de freqüências, o comprometimento no processamento
temporal, a alteração da curva de sintonia e a dificuldade na percepção de fala
(Henderson, Salvi, 1998). É importante ressaltar o valor de se estudar a
fisiopatologia coclear, os radicais livres presentes após a exposição ao ruído,
suas conseqüências, bem como, os avanços tecnológicos para a proteção contra
o dano. Por exemplo, um sujeito poderia ainda não ter desenvolvido uma PAIR,
porém, já apresentaria o dano coclear, ou seja, um entalhe audiométrico dentro
dos padrões de normalidade. Com isso, continuaria exposto ao ruído em seu
ambiente de trabalho, podendo desenvolver uma PAIR a qualquer momento. O
mesmo valeria ao handicap auditivo: o sujeito ainda não o apresentaria, mas
poderia demonstrá-lo tão logo sua perda auditiva começasse a comprometer a
sua vida cotidiana. Portanto, seria necessário criar meios para evitar o
desencadeamento ou agravamento da PAIR.
84
No item sobre o efeito do ruído na audição, foi verificada a presença de
níveis aumentados da espécie de oxigênio reativo (Reactive Oxygen Species
ROS) e dos radicais livres na cóclea, em decorrência de sua exposição ao ruído
intenso. Eles seriam capazes de danificar o DNA, romper os lipídios e as
moléculas de proteína, bem como, disparar a lesão ou a morte das células
ciliadas. Com isso, a ROS poderia danificar o tecido coclear, através da apoptose
ou da necrose celular. As células ciliadas são insubstituíveis na cóclea e sua
morte poderia ser evitada através de medidas, como: o uso de antioxidantes, a
fim de eliminar a ROS prejudicial; as intervenções farmacológicas para limitar o
dano coclear resultante da ROS e a aplicação de novas técnicas para interromper
a apoptose e necrose bioquímica. Portanto, a administração de antioxidantes
como: dismutase cistólica do superóxido de cobre/zinco (SoD1), peroxidase do
glutathiona de selênio-dependente (GPx1), allopurinol, Edaravone, acetil-L-
carnitina (ALCAR), N-L-acetilcisteína (NAC), Src tyrosina kinase (PTK),
Idebenone e Magnésio Oral poderiam ser benéficos na prevenção do dano
coclear ou de seu desencadeamento induzido por ruído intenso (Attanasio et al.,
1999; McFadden et al., 2002; Haupt, Scheibe, 2002; Hu et al. 2002; Franze et al.,
2003; Takemoto et al. 2004; Yang et al., 2004; Kopke et al., 2005; Harris et al.,
2005; Yildirim et al., 2006; Sergi et al., 2006; Henderson et al., 2006).
A espécie de oxigênio reativo e os radicais livres exercem uma toxicidade
sobre a cóclea. No item sobre a saúde auditiva de motoristas de caminhão, foi
observado que os avanços sobre o conhecimento dos danos cocleares causados
pela exposição ao ruído, vibração e/ou por produtos químicos têm sido
significantemente explorados, com o objetivo de intervir na preservação da
85
anatomia e da função das células ciliadas, visando garantir a integridade da
audição e a comunicação social dos seres humanos. Com isso, a perda auditiva
nos motoristas de caminhão afetaria profundamente sua Qualidade de vida,
podendo comprometer também a segurança no ambiente e no desempenho do
trabalho (Amorim, 2000; Fiorini, Nascimento, 2001).
No Brasil, a saúde auditiva dos motoristas de caminhão ainda não foi
valorizada e insistentemente explorada pelos pesquisadores, como demonstrado
no item sobre os efeitos do ruído na saúde auditiva de motoristas de caminhão.
Ao se preocuparem com esta questão, diversos trabalhos internacionais
apontaram as doses e os Níveis Sonoros Equivalentes a que os motoristas
estariam expostos, os sintomas objetivos e subjetivos da perda auditiva e os
efeitos combinados do ruído e vibração ou produtos químicos (monóxido de
carbono) sobre sua audição. A avaliação audiométrica não deveria indicar
somente a prevalência anual de alterações auditivas, porém, a partir da
implementação de um padrão rígido para a obtenção dos resultados, possibilitaria
garantir um panorama sobre a incidência de problemas auditivos ao longo dos
anos. Além disso, estes motoristas deveriam participar de um Programa de
Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA), o qual primordialmente promove ações
para evitar o desencadeamento ou o agravamento de perdas auditivas, bem
como, os efeitos extra-auditivos causados pela exposição ao ruído intenso ou aos
outros agentes de risco à audição (Van den Heever, Roets, 1996; Seshagiri,
1998; Marques, 1998; Koda et al., 2000; Cepinho, Corrêa, Bernardi, 2003;
Lacerda, 2005).
86
A Qualidade de vida é um dos pilares das políticas sociais das empresas,
sendo uma busca constante pelo equilíbrio psíquico, físico e social dos sujeitos
dentro da organização. A excelência dos produtos e serviços, assim como, suas
inovações contínuas, somente se tornam possíveis se cada funcionário desfrutar
de boa saúde, condições de trabalho, incentivos, turnos de trabalho regulares e
jornada de trabalho adequada. Como foi verificado no item sobre os estudos
sobre alterações na saúde em motoristas de caminhão, o ruído acarreta
alterações auditivas, extra-auditivas, além de problemas na saúde física e mental,
tais como: distúrbios de sono, transtorno cardiovascular, uso de álcool e drogas,
estresse, fadiga e tensão psicológica. Conseqüentemente, as colisões
envolvendo caminhões e os afastamentos dos motoristas por auxílio doença ou
por acidente de trabalho seriam, muitas vezes, decorrentes das escassas ações
de proteção à saúde desta categoria profissional (Hartley, El Hassani, 1994;
Brown, 1997; Leigh, Miller, 1998; De Croon et al., 2001; Drummer et al., 2004;
Solomon et al., 2004; Friedman, 2005).
Conforme mencionado no item sobre o desenvolvimento e aplicação do
Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA, na avaliação da auto-percepção
do handicap auditivo, o questionário HHIA determinaria se o problema auditivo
afetaria o comportamento do sujeito diante de situações cotidianas, bem como, a
atitude e a resposta emocional frente ao déficit auditivo. Cada sujeito reagiria de
forma diferente diante de sua perda auditiva: mesmo sendo leve/moderada, o
sujeito poderia apresentar maiores efeitos psicossociais do que aquele com
alteração auditiva semelhante ou de maior grau. Sujeitos portadores de audição
dentro dos padrões de normalidade também demonstraram handicap auditivo.
87
Portanto, a análise isolada dos limiares tonais não determinaria a extensão do
handicap auditivo, tampouco, o impacto que a perda auditiva acarretaria sobre o
cotidiano das pessoas (OMS, 1980; Ventry, Weinstein, 1982; Weinstein, Ventry,
1983; Newman et al., 1990; Stephens, Hétu, 1991; Gordon-Salant, Lantz,
Fitzgibbons, 1994; Garstecki, Erler, 1996; Primeau, 1997; Wieselberg, 1997;
Almeida, 1998; Oliveira, Blasca, 1999; OMS, 2001; Souza, 2002; Sestren et al.,
2002; Buzo et al., 2004; Pinzan-Faria, Iorio, 2004).
Nos comentários a serem efetuados a seguir, será mantida a mesma
divisão didática, observada no capítulo de Resultados.
5.1. Discussão dos resultados referentes à Avaliação Audiométrica
Os motoristas de caminhão apresentaram audiogramas simétricos. Dentre
os 50 audiogramas do Grupo 1 (71,4%), 31 foram dentro dos padrões de
normalidade, com entalhe bilateral (62,0%) e dos 20 audiogramas do Grupo 2
(28,6%), 16 (80,0%) foram sugestivos de PAIR bilateral (Tabela 1 e 2). Este
resultado corroborou com as colocações de Clark (2000), o qual salientou que a
combinação do ambiente reverberante e do contínuo movimento de cabeça do
sujeito durante o trabalho resultariam em exposição semelhante para ambas
orelhas. Portanto, exposições ao ruído contínuo não produziriam assimetria, o
que foi verificado na maior parte dos audiogramas analisados.
Outro fator inesperado e alarmante foi a prevalência de perdas auditivas
sugestivas de PAIR (28,6%) encontradas nesta classe profissional. Este dado
88
seria equivalente ou superior ao encontrado em muitos estudos sobre o perfil
audiométrico de trabalhadores em indústrias. Fiorini (1994) e Menslin (2001)
observaram que, respectivamente, 23,7% e 14,6% dos trabalhadores de
indústrias (metalúrgica e de construção civil) apresentaram audiogramas
sugestivos de PAIR. Esta prevalência também foi maior do que a encontrada por
Cepinho, Corrêa, Bernardi (2003), as quais encontraram 11,5% de audiogramas
sugestivos de PAIR em motoristas de caminhão. Os déficits auditivos decorrentes
da PAIR provocariam o recrutamento da loudness, o zumbido, a pobre
seletividade de freqüência, o comprometimento no processamento temporal, a
alteração da curva de sintonia e a dificuldade na percepção de fala,
desencadeando mudanças no processamento da informação, o que corroborou
com Henderson, Salvi (1998). Por isso, a implantação de um PPPA nas
Distribuidoras seria necessária, a fim de garantir o monitoramento auditivo, bem
como, o treinamento sobre a saúde auditiva aos motoristas de caminhão.
Nas tabelas de 3 a 12, foi realizada a distribuição dos limiares tonais em
relação a uma freqüência isolada ou em grupos, proposta por Parrado-Moran,
Fiorini (2003). Foi observado que o maior comprometimento em freqüência
isolada foi a de 4 kHz, com cinco orelhas acometidas (Tabela 4). Em relação aos
grupos de freqüências, o maior comprometimento foi encontrado na tabela 9
(4 kHz, 6 kHz e 8 kHz). Foram obtidas 10 orelhas com perda auditiva de 30 a
75 dB(A), sendo a freqüência mais acometida a de 6 kHz. Os outros dois grupos
de freqüência comprometidos igualmente foram os da tabela 11 (3 kHz, 4 kHz,
6 kHz e 8 kHz) e 12 (2 kHz, 3 kHz, 4 kHz, 6 kHz e 8 kHz), revelando seis orelhas
com perda auditiva. Nas tabelas 11 e 12, os limiares tonais variaram de 30 a
89
85 dB(A), porém na tabela 11, as freqüências de 4 kHz e 6 kHz foram igualmente
comprometidas e, na tabela 12, foi a de 4 kHz.
Estes resultados concordaram com o American College of Occupational
and Environmental Medicine (2003), ao relatar que o primeiro sinal da PAIR seria
o entalhe no audiograma nas freqüências de 3 kHz, 4 kHz e/ou 6 kHz, sendo que
o limiar em 8 kHz seria equivalente ou melhor do que o valor obtido na pior
freqüência presente no entalhe. Por isso, é imprescindível investigar os efeitos
que o ruído acarreta à audição. Os experimentos internacionais realizados em
cobaias verificaram que, após a exposição ao ruído intenso, os radicais livres de
oxigênio na cóclea causariam severos danos à audição. Os principais
mecanismos subjacentes à lesão coclear seriam o fenômeno da apoptose e o da
necrose celular. Portanto, a proteção seria a abordagem mais efetiva contra estes
danos cocleares. As cobaias obtiveram êxito ao utilizarem antioxidantes
anteriormente à exposição ao ruído intenso, não demonstrando variação nas
respostas auditivas, através do PEATE ou das TEOAE. Nos seres humanos
ainda não pôde ser realizada nenhuma pesquisa para comprovar o efeito
otoprotetor destas substâncias na cóclea. Contudo, se futuramente for
comprovada a efetividade quanto ao uso de antioxidantes, poderiam ser
explorados como estratégia terapêutica, evitando a instalação ou o agravamento
das alterações auditivas decorrentes do ruído (Attanasio et al., 1999; McFadden
et al., 2002; Haupt, Scheibe, 2002; Hu et al. 2002; Franze et al., 2003; Takemoto
et al. 2004; Yang et al., 2004; Kopke et al., 2005; Harris et al., 2005; Yildirim et al.,
2006; Sergi et al., 2006; Henderson et al., 2006).
90
Nos PPRA dos anos de 2005 e de 2006 da Distribuidora, os valores
obtidos quanto ao Leq e à dose estiveram abaixo dos Limites de Tolerância
propostos pela NR 15 Anexo I (85 dB(A) por oito horas). Porém, mesmo as
medições do Leq e das doses não estando aquém do permitido, estas excederam
o recomendado pela NR 9, a qual propõe que os valores de exposição ao ruído
acima do Nível de Ação (80 dB(A) por oito horas) já seriam prejudiciais à saúde
auditiva. Portanto, a partir destes valores obtidos já poderiam ser adotadas
medidas preventivas em relação ao desencadeamento ou agravamento de
alterações auditivas. Seria impossível negar que existem outros agentes físicos
prejudiciais, além dos químicos e da vibração, envolvidos na profissão de
motorista de caminhão.
A exposição ocupacional anterior ao ruído, seja nesta ou em outra
profissão, poderia ser um risco potencial para o desencadeamento ou
agravamento das alterações auditivas, como apontaram Van den Heever, Rots
(1996) Amorim (2000) e Lacerda (2005). Na tabela 13 e 14, não houve diferenças
estatisticamente significantes quanto à variável Exposição Ocupacional Anterior
ao Ruído (p=0,819), tampouco quanto ao Tempo desta exposição (p=0,699), em
relação aos resultados obtidos na avaliação audiométrica dos Grupos 1 e 2.
Na tabela 13, foi observado que 40 sujeitos (57,1%) declararam exposição
ocupacional anterior ao ruído e 30 sujeitos (42,9%) negaram esta exposição. Em
ambas categorias, a distribuição conjunta dos valores dos Grupos 1 e 2 em
relação às categorias foi equivalente.
Na tabela 14, não foi verificada maior porcentagem de perdas auditivas
(Grupo 2) ou mesmo de normalidade (Grupo 1) em determinada categoria
91
referente ao Tempo de Exposição Ocupacional ao Ruído. Porém, seria
importante destacar que, no Grupo 2, houve um predomínio maior de alterações
auditivas na categoria acima dos quatro anos de exposição ocupacional anterior
ao ruído (oito sujeitos - 40,0%). Este resultado estaria coerente com a hipótese
de que quanto maior a exposição do sujeito ao ruído elevado (na presente função
ou nas anteriores), tanto maior seria sua possibilidade de desenvolver um
problema auditivo decorrente deste agente físico, associado ou não aos demais.
Porém, esta hipótese foi desprezada, porque os resultados de ambas as tabelas
não foram estatisticamente significantes, mesmo sendo considerado o Nível de
Ação.
Os motoristas de caminhão pertencem a uma profissão de risco à saúde
física, como a perda auditiva, o distúrbio de sono, problema cardiovascular e
lombalgia, bem como, à saúde mental (tensão, fadiga e estresse), por conviverem
direta e diariamente com o ruído intenso, a vibração e os asfixiantes (Hartley, El
Hassani, 1994; Brown, 1997; Leigh, Miller, 1998; Marques, 1998; De Croon et al.,
2001; Fiorini, Nascimento, 2001; Lacerda, 2005). Muitas vezes, esses problemas
de saúde são iniciados ou agravados pelos longos turnos de trabalho, pelo tempo
reduzido de descanso e pelos turnos irregulares de trabalho (Koda et al., 2000).
Na tabela 15, não foi observada diferença estatisticamente significante em
relação à escala de turnos de trabalho e os Grupos 1 e 2 (p=0,546). Portanto, não
houve uma maior prevalência de perdas auditivas sugestivas de PAIR em uma
escala específica. Mesmo não havendo diferença entre os Grupos 1 e 2, seria
importante ressaltar que os quatro turnos de trabalho são díspares em relação às
horas trabalhadas, fazendo com que o motorista seja obrigado a adaptar seu
92
ritmo biológico à escala. Portanto, sua susceptibilidade individual poderia ser
afetada, sendo necessário um acompanhamento e monitoramento de sua saúde
(Solomon et al., 2004).
As observações referentes à tabela 15 seriam equivalentes às da tabela
16, em relação à variável Incômodo ao Ruído.
O Incômodo ao Ruído do rádio AM/FM, do tráfego ou do caminhão foi
questionado na anamnese aos motoristas de caminhão. Caso respondessem
afirmativamente a pelo menos uma das alternativas, o incômodo estaria
caracterizado. Porém, a variável não foi estatisticamente significante em relação
aos resultados das avaliações audiométricas dos motoristas de caminhão
(p=0,496). Em ambos os Grupos, as porcentagens foram equivalentes nas
categorias presença/ausência de incômodo ao ruído. Foi verificado que 23
sujeitos (46,0%) do Grupo 1 referiram incômodo ao ruído em pelo menos uma
alternativa. Em contrapartida, 27 sujeitos (54,0%) não relataram qualquer
incômodo. Semelhante ao ocorrido no Grupo 1, o Grupo 2 foi composto por 11
motoristas (55,0%) que relataram incômodo ao ruído em pelo menos uma
alternativa. Porém, 9 sujeitos (45,0%) não manifestaram qualquer incômodo. O
incômodo ao ruído acomete indiscriminadamente sujeitos com audição dentro
dos padrões de normalidade ou com perdas auditivas. Portanto, ao serem
analisados os motoristas de caminhão que detém uma jornada de trabalho
sobrecarregada, com conseqüências na saúde física e mental (estresse e fadiga
psicológica), seria esperado que apresentassem incômodo ao ruído,
independente de ocuparem o Grupo 1 ou o Grupo 2, fato que não ocorreu após a
análise estatística.
93
A Tabela 17 revelou que existiu uma associação e/ou dependência
estatística entre os resultados audiométricos presentes no Grupo 1 e 2 e os Anos
de Profissão (p=0,049). Com isso, 28 motoristas (56,0%) com tempo de profissão
inferior a 15 anos apresentaram audiogramas dentro dos padrões de
normalidade, porém, 14 sujeitos (70,0%) com anos de profissão superiores a 15
anos apresentaram alterações auditivas sugestivas de PAIR.
Na tabela 18, a variável qualitativa Idade foi estatisticamente significante,
quando comparada aos resultados audiométricos presentes no Grupo 1 e 2
(p=0,007). Com isso, o motorista de caminhão que apresentou audiograma com
alteração auditiva era mais velho em relação aos que demonstraram
audiogramas dentro dos padrões de normalidade. Foi observado que 12 sujeitos
(60,0%) apresentaram idades superiores a 45 anos e perda auditiva sugestiva de
PAIR. Em contrapartida, foi verificado que 37 sujeitos (74,0%) apresentaram
idades inferiores a 45 anos e audição dentro dos padrões de normalidade.
Os achados das tabelas 17 e 18 foram esperados e poderiam ser
interpretados conjuntamente. Os resultados apontaram que, quanto maior a Idade
e o Tempo de Profissão como motorista de caminhão, tanto maior é a sua
alteração auditiva, principalmente devido à exposição ao ruído elevado durante
jornada de trabalho. Os dados concordaram com Seshagiri (1998), que
demonstrou o quanto o ruído intenso no ambiente de trabalho pode ser prejudicial
para a saúde auditiva dos motoristas de caminhão. Portanto, o elevado NPS
associado aos anos de profissão e/ou à idade podem comprometer o bem-estar e
a audição dos motoristas de caminhão.
94
Na tabela 19 não foi verificada uma diferença estatisticamente significante
entre a freqüência da variável qualitativa Tabagismo e os achados audiométricos
nos Grupos 1 e 2 (p=0,426). Os dados desta tabela, associados aos da anterior
referente à idade (tabela 18) corroboraram com os encontrados por Ferrite,
Santana (2005), os quais salientaram que a combinação do tabagismo, do ruído
intenso e da idade provocaria um efeito sinérgico consistente para afetar a
audição dos trabalhadores. Porém, o efeito isolado da variável tabagismo não
desencadeou uma perda auditiva na população analisada pelos autores,
concordando também com os achados do presente estudo.
A ingestão de álcool, medicamentos e o uso de drogas podem
comprometer o desempenho profissional dos motoristas de caminhão, bem como,
seu bem–estar físico e mental (Drummer et al., 2004). Na tabela 20, não foi
observada diferença estatisticamente significante entre a freqüência da variável
qualitativa Etilismo e os achados audiométricos nos Grupos 1 e 2 (p=0,614).
A relação entre a perda auditiva, o tabagismo e/ou etilismo é controversa,
uma vez que é muito difícil determinar a freqüência, a dosagem e/ou a
quantidade de fumo e/ou álcool que um ser humano utiliza em seu cotidiano, seja
por falta de precisão numérica ou por constrangimento em revelar o fato (tabelas
19 e 20). Em decorrência disso, as distribuidoras deveriam propor campanhas de
saúde voltadas a esta temática e desenvolver regulamentos internos rígidos em
relação ao uso de álcool e/ou drogas, durante a jornada de trabalho. Estas
colocações concordaram com as de Friedman (2005), visando garantir a
segurança do motorista de caminhão, dos outros condutores, dos pedestres e da
carga transportada.
95
A variável qualitativa: Uso do Rádio AM/FM durante a jornada de trabalho
não foi estatisticamente significante, em relação aos resultados obtidos na
avaliação audiométrica dos motoristas de caminhão (p=0,101) (Tabela 21). O uso
constante do rádio AM/FM (freqüência - sempre) foi relatado por 33 sujeitos do
Grupo 1 (66,0%) e por oito do Grupo 2 (40,0%), resultando em 41 sujeitos
(58,6%) do total de 70 motoristas de caminhão. A utilização esporádica do rádio
AM/FM (freqüência – às vezes) foi relatada por 14 sujeitos do Grupo 1 (28,0%) e
por 11 do Grupo 2 (55,0%), resultando em 25 sujeitos (35,7%) do total de 70
motoristas. A não utilização do rádio AM/FM (freqüência - nunca) foi observada
em três sujeitos do Grupo 1 (6,0%) e em um do Grupo 2 (5,0%), sendo quatro
sujeitos (5,7%) do total de 70 motoristas. Foi observado que a distribuição
conjunta (valores de cada Grupo em relação às categorias) não foi diferente em
comparação à distribuição marginal (valor total dos motoristas dividido em cada
categoria analisada). Estes dados concordaram parcialmente com Clark (2000), o
qual relatou que o motorista movimenta sua cabeça continuamente durante a
jornada de trabalho, seja ajustando o rádio, verificando o tráfego ou olhando os
espelhos, o que resultaria em exposição simétrica em ambas orelhas. Porém, o
autor não revelou a freqüência da utilização do rádio (AM/FM ou comunicador),
tampouco, as avaliações audiométricas dos motoristas analisados.
Na tabela 22, foi investigado o quanto às atividades de lazer, por mais de
uma vez por semana, interfeririam nos resultados obtidos na avaliação
audiométrica dos motoristas de caminhão. Foi verificado que não houve uma
diferença estatisticamente significante entre estes dados (p=0,496), pois a
maioria dos sujeitos estudados não realizava atividades de lazer, nas condições
96
estipuladas por este estudo. O Grupo 1 foi composto por um sujeito (2,0%) que
realizava atividades de lazer mais de uma vez por semana e por 49 sujeitos
(98,0%) que não freqüentavam programas de lazer, sob estas condições. Em
contrapartida, o Grupo 2 apresentou igualmente um motorista (5,0%) que
realizava atividades de lazer, sob as condições determinadas e 19 sujeitos
(95,0%) que não as realizavam. Talvez esta variável não tenha sido
estatisticamente significante porque enquanto respondiam à anamnese,
informalmente, os motoristas relataram não terem tempo disponível para o lazer,
seja sozinho ou em companhia de familiares e amigos.
Os achados das tabelas 21 e 22 corroboraram com a National Institute
Consensus Development Conference on Noise and Hearing (1990), a qual
apontou o quanto as fontes de ruído não ocupacionais (música em intensidade
elevada, eletrodomésticos, ferramentas de marcenaria e veículos recreativos)
poderiam ser potencialmente desencadeadoras da PAIR. Portanto, é necessário
promover e efetuar campanhas sobre os riscos decorrentes do ruído de lazer
elevado que, aparentemente inofensivo, pode provocar danos irreversíveis à
audição tanto quanto o ruído ocupacional.
97
5.2. Discussão dos resultados referentes à Avaliação da auto-
percepção do handicap auditivo
Nas tabelas 23 e 24, os resultados do questionário HHIA demonstraram
que 59 motoristas (84,3%) não apresentaram auto-percepção do handicap
auditivo, enquanto 11 (15,7%) apresentaram-na. Os índices de auto-percepção
do handicap auditivo isolados que apresentaram maior freqüência de resposta
foram os de 2% (12,9%) para os motoristas sem auto-percepção do handicap
auditivo e de 22% (4,3%) para aqueles que a apresentaram. Os resultados
concordaram com Garstecki, Erler (1996), os quais expuseram que os
questionários de auto-percepção do handicap auditivo são extensamente
utilizados para analisar as reações subjetivas da audição, principalmente, da
perda auditiva, além de serem rápidos, simples e objetivos.
Nas tabelas 25 e 26, foram claramente observados os índices de auto-
percepção do handicap auditivo apresentados pelos sujeitos. Dos 11 motoristas
de caminhão (100,0%) que demonstraram auto-percepção do handicap auditivo,
9 sujeitos (81,8%) apresentaram auto-percepção leve/moderada do handicap
auditivo e 2 sujeitos (18,2%) apresentaram auto-percepção severa/significativa.
Seria importante ressaltar que o questionário HHIA, apesar de não ter sido
desenvolvido especificamente para trabalhadores, apresentou seu conteúdo
semelhante aos questionários criados para esta população. O HHIA demonstrou
simplicidade nas questões, nas alternativas de respostas e na forma de avaliação
do resultado. Entretanto, seria importante pesquisar outras alternativas de
instrumentos para a avaliação das dificuldades de comunicação originadas pela
98
PAIR, pois o resultado da aplicação do HHIA demonstrou que alguns
trabalhadores apresentaram auto-percepção do handicap auditivo, mesmo tendo
audição dentro dos padrões de normalidade (71,4%) e outros com perdas
auditivas (28,6%) não o demonstraram. Alguns questionários internacionais como
o Hearing Measurement Scale (HMS) ou o Hearing Disability and Handicap Scale
(HDHS), foram traduzidos para a língua portuguesa e aplicados nos
trabalhadores, porém, não retrataram a realidade brasileira quanto aos hábitos e
costumes. Por isso, conforme observado nas tabelas 23 a 26, seria essencial que
novos questionários de auto-percepção do handicap auditivo fossem traduzidos
e/ou desenvolvidos no Brasil, a fim de suprirem a necessidade de estudos junto a
população de trabalhadores (Newman et al, 1990; Primeau, 1997; Souza, 2002).
As tabelas 27 e 28 constataram que dos 50 motoristas de caminhão
(71,4%) que apresentaram audição dentro dos padrões de normalidade
(Grupo 1), 43 sujeitos (86,0%) não apresentaram auto-percepção do handicap
auditivo, seis (12,0%) apresentaram auto-percepção leve/moderada do handicap
auditivo e um (2,0%) demonstrou auto-percepção severa/significativa do handicap
auditivo. Dos 20 motoristas (28,6%) que apresentaram perdas auditivas
sugestivas de PAIR (Grupo 2), 16 sujeitos (80,0%) não apresentaram auto-
percepção do handicap auditivo, três (15,0%) apresentaram auto-percepção
leve/moderada do handicap auditivo e um (5,0%) demonstrou auto-percepção
severa/significativa do handicap auditivo.
Com isso, principalmente na tabela 28, foi observado que nem todos os
sujeitos com alterações auditivas sugestivas de PAIR (Grupo 2) demonstraram
auto-percepção do handicap auditivo e que àqueles com audição dentro dos
99
padrões de normalidade (Grupo 1) apresentaram índices de auto-percepção do
handicap auditivo.
Estes resultados concordaram com os obtidos por Souza (2002), por meio
da aplicação do HHIA. A autora observou a existência da auto-percepção do
handicap auditivo tanto nos sujeitos com audição dentro dos padrões de
normalidade (46,7%), quanto naqueles com alterações auditivas sugestivas de
PAIR (74,0%). Portanto, estes dados apresentaram uma porcentagem maior,
porém, igualmente condizentes com os do presente estudo.
Os limiares tonais e os índices de reconhecimento de fala podem fornecer
informações úteis relacionadas às habilidades auditivas básicas. No entanto,
fazer inferência destes dados com o objetivo de prever os efeitos da perda
auditiva, nas situações de vida diária dos sujeitos, representa um grande desafio.
Na experiência clínica, é muito comum, sujeitos com perfis audiométricos
parecidos, relatarem uma grande variedade de dificuldades auditivas. Por isso, os
resultados concordaram com Weinstein, Ventry (1983) os quais relataram que,
nem sempre a constatação de uma perda auditiva na audiometria tonal liminar
promoveria uma noção do handicap auditivo vivenciado pelo sujeito nas suas
diferentes atividades de comunicação cotidianas.
A associação entre a variável qualitativa auto-percepção do handicap
auditivo e os resultados obtidos na avaliação audiométrica dos motoristas de
caminhão não foi estatisticamente significante (p=0,533). A tabela 29 revelou que,
a distribuição das porcentagens das categorias ausência ou presença de
handicap auditivo mostrou-se semelhante, em relação aos Grupos 1 e 2.
Portanto, sete motoristas (14,0%) do Grupo 1 e quatro (20,0%) do Grupo 2
100
demonstraram auto-percepção do handicap auditivo. Contudo, 43 sujeitos
(86,0%) do Grupo 1 e 16 (80,0%) do Grupo 2 não a apresentaram.
Portanto, dos 20 motoristas de caminhão que apresentaram perdas
auditivas sugestivas de PAIR, somente 4 (20,0%) demonstraram auto-percepção
do handicap auditivo e os outros 16 (80,0%) não a apresentaram. Este dado
concordou com Almeida (1998), que salientou que o handicap auditivo não
poderia ser previsto apenas a partir dos limiares tonais que o sujeito possui.
Porém, mensurá-lo seria importante para avaliar o impacto que a perda auditiva
acarretaria sobre a Qualidade de vida do sujeito.
101
Diante dos resultados do presente estudo que teve como objetivo
estudar a Audição e a Auto-percepção do Handicap Auditivo em Motoristas
de Caminhão, foram obtidas às seguintes conclusões:
A prevalência de alterações auditivas na população estudada foi de
28,6%.
Não houve diferença estatisticamente significante entre os
resultados da avaliação audiométrica e hábitos de lazer, incômodo
ao ruído e vícios.
Os Anos de Profissão e a Idade influenciaram estatisticamente os
resultados da avaliação audiométrica.
Não houve associação entre os resultados da avaliação
audiométrica e a auto-percepção do handicap auditivo.
102
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Vieira S. Bio Estatística Tópicos Avançados. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Campus;
2004.
ANEXO 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
para a participação em Pesquisa Científica
O Sr. está sendo convidado a participar da pesquisa que se intitula “Estudo
da Audição e da Auto-Percepção do Handicap Auditivo em Motoristas de
Caminhão”.
O objetivo é estudar a audição e a auto-percepção do handicap auditivo em
motoristas de caminhão, verificando a relação entre os resultados de ambas as
avaliações, assim como, a prevalência de alterações auditivas nesta população
selecionada.
Caso aceite participar como sujeito desta pesquisa, o (a) Sr. (a) terá sua
audição avaliada por meio do teste de audiometria tonal liminar e vocal e
responderá a um questionário sobre sua audição e descrição da sua atividade
laborativa, como também, outro sobre as limitações psico-sociais decorrentes de
alterações auditivas.
Não existem benefícios diretos para o sujeito deste estudo. Entretanto, seus
resultados pretendem ajudar a pesquisadora a entender melhor a audição e o
handicap auditivo dos motoristas de caminhão.
Os procedimentos não apresentam riscos, incômodo ou dores durante a
avaliação das orelhas neste projeto, embora o Sr. possa experimentar alguma
fadiga e/ou estresse durante o teste de audição e ao responder os questionários.
O Sr. receberá tantas interrupções quanto necessárias durante a sessão de teste.
Fica claro que sua participação é voluntária, não sendo obrigado a realizar
o exame ou a responder os questionários se não quiser, mesmo que já tenha
assinado o consentimento de participação. Se desejar, poderá retirar seu
consentimento a qualquer momento e isto não trará nenhum prejuízo ao seu
atendimento.
Os pesquisadores não pagarão nenhum valor em dinheiro ou qualquer
outro bem pela sua participação, assim como o Sr. não terá nenhum custo
adicional.
Os seus dados serão mantidos em sigilo. Serão analisados em conjunto
com os de outros colegas e não serão divulgados dados de nenhum sujeito
isoladamente. Compreendo que os resultados deste estudo poderão ser
publicados em jornais profissionais ou apresentados em congressos. O Sr. poderá
esclarecer suas dúvidas durante toda a pesquisa com a fonoaudióloga Gabriela
Lopes Leite da Silva pelo telefone (11) 8122 2121.
A pesquisadora responsável, Gabriela Lopes Leite da Silva, comprometeu-
me a utilizar os dados coletados somente para esta pesquisa.
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que
li, descrevendo a pesquisa “Estudo da Audição e da Auto-Percepção do Handicap
Auditivo em Motoristas de Caminhão”.
Eu discuti com a fonoaudióloga Gabriela Lopes Leite da Silva sobre a minha
decisão em participar do estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos
do estudo, os procedimentos a serem realizados, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que
minha participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar
deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou
durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo no meu atendimento.
___________________________________
Nome do trabalhador
____________________________________ ____/____/______
Assinatura do trabalhador Data
Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento
Livre e Esclarecido deste paciente para a participação neste estudo.
___________________________________ ____/____/______
Gabriela Lopes Leite da Silva Data
Fonoaudióloga
CRFa.: 12046/SP
ANEXO 2
Parecer do Comitê de Ética
ANEXO 3
Programa de Estudos-Pós-Graduados em Fonoaudiologia da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PEPG em Fonoaudiologia – PUCSP).
CARTA INFORMATIVA
Prezados Srs. Controladores de Tráfego,
O Programa de Estudos-Pós-Graduados em Fonoaudiologia da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PEPG em Fonoaudiologia – PUCSP), por
intermédio da Fonoaudióloga Gabriela Lopes Leite da Silva, está realizando uma
pesquisa com motoristas de caminhão, a qual se destina a estudar a relação entre
a atividade profissional e a saúde do trabalhador.
A avaliação fonoaudiológica consistirá na realização de um exame de
audição (audiometria), a fim de averiguar os limiares auditivos de cada sujeito,
bem como, o preenchimento de um questionário de múltipla escolha sobre as
limitações sociais e alterações de comportamento que uma perda auditiva pode
proporcionar.
Em seus respectivos turnos de trabalho, os senhores explicarão aos
motoristas de caminhão o objetivo e o procedimento da pesquisa. Convocarão
aqueles interessados em participar da pesquisa para que, em dia e horário
agendados (a ser combinado com a Distribuidora), a fonoaudióloga possa explicar
sua pesquisa detalhadamente ao grupo. E importante salientar que a colaboração
dos motoristas deverá ser voluntária, ou seja, para àqueles que não desejarem
participar do estudo não haverá qualquer prejuízo em relação ao emprego.
Os motoristas de caminhão que se oferecerem para compor a coleta de
dados deverão chegar antecipadamente ao trabalho, pois para a realização da
audiometria, é necessário que o sujeito não se exponha a ruído intenso por mais
de 14 horas, de acordo com o Ministério do Trabalho. Por isso, é preciso alertá-los
para que não trabalhem, realizem atividades de lazer ou hobbies ruidosos antes
de se submeterem ao exame.
Além disso, o funcionário também deverá responder a algumas perguntas
sobre sua audição e seu trabalho à fonoaudióloga, preencher o questionário
proposto sobre as limitações psico-sociais decorrente de alterações auditivas e
assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, permitindo que utilizemos
seus dados sem revelar sua identidade, sob qualquer circunstância.
Este procedimento será realizado em um único dia, por cerca de uma hora,
no próprio local de trabalho do motorista, em sala a ser determinada pela
Distribuidora.
Colocamo-nos a disposição para esclarecimentos, através do telefone
(11) 8122 2121 ou por e-mail [email protected]
Agradecemos sua colaboração! Sua participação é imprescindível!
Gabriela Lopes Leite da Silva
Fonoaudióloga
CRFa: 12046/SP
Anexo 4
HHIA -The Hearing Handicap Inventory for Adults
Newman et al., 1990
Instruções:
O questionário a seguir contém 25 perguntas. Você deverá escolher apenas
uma resposta para cada pergunta, assinalando um (X) naquela que julgar
adequada. Algumas perguntas são parecidas, mas na realidade têm pequenas
diferenças que permitem uma melhor avaliação das respostas. Não há resposta
certa ou errada. Você deverá marcar aquela que você julgar ser a mais adequada
ao seu caso ou situação.
Obrigada pela sua participação!
SEMPRE ÀS VEZES NUNCA
S-1. A dificuldade em ouvir faz você usar o telefone
menos vezes do que gostaria?
E-2. A dificuldade em ouvir faz você se sentir
constrangido ou sem jeito quando é apresentado a
pessoas desconhecidas?
S-3. A dificuldade em ouvir faz você evitar grupos
de pessoas?
E-4. A dificuldade em ouvir deixa você irritado?
E-5. A dificuldade em ouvir faz você se sentir
frustrado ou insatisfeito quando conversa com
pessoas de sua família?
S-6.A diminuição da audição causa dificuldades
quando você vai a uma festa ou reunião social?
E-7. A dificuldade em ouvir faz você se sentir
frustrado ao conversar com os colegas de trabalho?
S-8. Você sente dificuldade em ouvir quando vai ao
cinema ou ao teatro?
E-9. Você se sente prejudicado ou diminuído devido
a sua dificuldade em ouvir?
S-10. A diminuição da audição lhe causa
dificuldades quando visita amigos, parentes ou
vizinhos?
S-11. A dificuldade em ouvir faz com que você
tenha problemas para ouvir/entender os colegas de
trabalho?
E-12. A dificuldade em ouvir faz você ficar nervoso?
S-13. A dificuldade em ouvir faz você visitar
amigos, parentes ou vizinhos menos vezes do que
gostaria?
SEMPRE ÀS VEZES NUNCA
E-14. A dificuldade em ouvir faz você ter
discussões ou brigas com sua família?
S-15. A diminuição da audição lhe causa
dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio?
S-16. A dificuldade em ouvir faz com que você saia
para fazer compras menos vezes do que gostaria?
E-17. A dificuldade em ouvir deixa você de alguma
maneira chateado ou aborrecido?
E-18. A dificuldade em ouvir faz você preferir ficar
sozinho?
S-19. A dificuldade em ouvir faz você querer
conversar menos com as pessoas da família?
E-20. Você acha que a dificuldade em ouvir limita
de alguma forma sua vida pessoal ou social?
S-21. A diminuição da audição lhe causa
dificuldades quando você está num restaurante
com familiares ou amigos?
E-22. A dificuldade em ouvir faz você se sentir triste
ou deprimido?
S-23. A dificuldade em ouvir faz você assistir TV ou
ouvir rádio menos vezes do que gostaria?
E-24. A dificuldade em ouvir faz você se sentir
constrangido ou menos à vontade quando conversa
com amigos?
E-25. A dificuldade em ouvir faz você se sentir
isolado ou “deixado de lado” em um grupo de
pessoas?
Somente para uso clínico
Resultado:
Total: ______________
Subtotal E:__________
Subtotal S: __________
Anexo 5
Anamnese - Motoristas de Caminhão
1. Há quantos anos o Sr. é motorista de caminhão?
Tempo de profissão: ______ anos
2. Qual modelo de caminhão o Sr. dirige na empresa?
Scania 330 ( ) Scania 420 ( ) Rodotrem ( )
3. Trabalhou anteriormente em outra profissão que o expusesse a ruídos
fortes?
Sim ( )
Qual (is)?____________
Não ( )
Tempo:........ (meses ou anos)
4. O Sr. dirige o caminhão, na maioria das vezes, com as janelas:
Abertas ( ) Meio Abertas ( ) Fechadas ( )
5. O Sr. costuma dirigir o caminhão com o ar condicionado/circulador de ar:
Ligado ( ) Desligado ( )
6. Com que freqüência o Sr. costuma dirigir com o rádio ligado ou walkman?
Sempre ( ) Nunca ( )
7. Com que freqüência sente alguma dificuldade para entender o celular?
Sempre ( ) Nunca ( )
8. Qual é a sua escala de trabalho na empresa (horas trabalhadas/descanso)?
12/12h ( ) 24/24h ( ) 72/72h ( ) 21/7dias ( )
9. O Sr. fuma?
Sim ( ) Não ( )
10. O Sr. freqüentemente ingere bebida alcoólica ?
Sim ( ) Não ( )
11. Em relação ao seu trabalho, o Sr. se incomoda com o ruído presente no(a):
Ruído
Sim Não
Tráfego
Celular
Rádio (AM/FM)
Caminhão
Outros (Ex.:___________)
12. Se alguma das respostas foi afirmativa, assinale o quanto este ruído o
incomoda:
Ruído Muito Mais ou Menos Pouco
Tráfego
Celular
Rádio (AM/FM)
Caminhão
Outros (Ex.:_______)
13. O Sr. realiza alguma atividade de lazer que o exponha a ruídos fortes?
Sim ( ) Não ( )
14. Se a resposta for afirmativa, cite-a(s):
Atividade Freqüência (dias/mês)
15. O Sr. realiza o ajuste do (a):
Ajuste Sim Não
Banco
Direção
Espelho
Livros Grátis
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