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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
CELSO SUCKOW DA FONSECA - CEFET/RJ
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE
CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
DISSERTAÇÃO
A FÍSICA E A SOCIEDADE NA TV
Sidnei Percia da Penha
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA.
Deise Miranda Vianna, D.C.
Orientadora
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
DEZEMBRO / 2006
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ii
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
I- UMA ORIENTAÇÃO FILOSÓFICA PARA O ENSINO DA FÍSICA............ 5
I.1- O indutivismo............................................................................................. 5
I.2- O problema da indução............................................................................. 6
I.3- A dependência que a experimentação tem da teoria................................ 8
I.4- O falsificacionismo de Karl Popper........................................................... 9
I.5- A crítica ao falsificacionismo..................................................................... 11
I.5- Os Paradigmas de Thomas Kuhn............................................................. 11
II- A BUSCA DE UM REFERENCIAL HISTÓRICO.......................................... 14
II.1- A utilização da história no ensino de ciências............................................ 14
II.2- A opção metodologia para inserção de uma abordagem histórica............ 17
III- O REFERENCIAL PEDAGÓGICO......................................................... 19
III.1- As diferentes correntes teóricas para concepção do desenvolvimento.. 19
III.1.1- A Concepção Inatista........................................................................... 19
III.1.2- A Concepção Ambientalista................................................................. 21
III.1.3- A Concepção Interacionista................................................................. 23
III.2- O Desenvolvimento e a Aprendizagem em uma perspectiva
Vygotskyana - A Zona de desenvolvimento Proximal e o papel da
escola.................................................................................................... 26
IV- REFERENCIAL METODOLÓGICO PARA DESENVOLVIMENTO DE
ATIVIDADES INVESTIVATIVAS E EXPERIMENTAIS................................ 30
IV.1- Atividades investigativas e experimentais no cotidiano da sala de aula... 30
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iii
IV.2- O problema do laboratório tradicional..................................................... 33
IV.3- A Busca de uma metodologia de abordagem teórico-experimental....... 34
IV.4- A opção por uma abordagem centrada em atividades investigativas..... 36
IV.5- A atuação do professor em atividades investigativas............................. 37
IV.6- As formas de inserção de atividades investigativas............................... 38
V- REFERENCIAL METODOLÓGICO PARA UMA ABORDAGEM CTS......... 43
V.1- O enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).................................. 43
V.2- O surgimento da proposta CTS............................................................... 45
V.3- O enfoque CTS na elaboração de um produto educacional.................... 46
VI- CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRODUTO EDUCACIONAL..................... 50
VI.1- Da motivação para elaboração deste produto........................................ 51
VI.2- A opção de utilizar a TV como tema organizador................................... 53
VI.3- Da importância histórica, social e científica deste tema......................... 56
VI.4- A Criação do Fórum Nacional da TV...................................................... 58
VI.5- As principais etapas para o desenvolvimento do Produto
Educacional............................................................................................. 59
VII- ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DO PRODUTO EM SALA DE AULA...... 64
VII.1- Aula 01: Apresentação do tema e motivação para desenvolvimento
da controvérsia................................................................................... 65
VII.2- Aula 02: Abertura do Fórum e levantamento de questões que os
grupos deverão dar sua posição no fórum......................................... 71
VII.3- Aula 03: Oficina 1................................................................................... 73
VII.4- Aula 04: Oficina 2................................................................................... 76
VII.5 - Aula 05: Mesa-Redonda 1.................................................................... 78
VII.6- Aula 06: Conferência 1.......................................................................... 80
VII.7- Aula 07: Mesa-Redonda 2..................................................................... 84
VII.8- Aula 08: Avaliação do trabalho.............................................................. 84
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 86
iv
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.................................................................. 88
APÊNDICE 1: O PRODUTO EDUCACIONAL (TEXTO PARA OS
ESTUDANTES). A1
1. A tecnologia da televisão construindo e transformando nossa
sociedade........................................................................................... A3
2. O domínio da tecnologia da transmissão de imagem, um marco
para a sociedade contemporânea...................................................... A4
3. Atividade proposta para desenvolvimento em grupo: A participação
em uma controvérsia sobre a TV....................................................... A7
4. As atividades a serem desenvolvidas durante a realização do
Fórum Nacional sobre a TV............................................................... A16
Oficina 1: A formação da imagem na TV e sua inserção no
complexo sistema de Telecomunicações........................................... A17
Oficina 2: O módulo das forças magnéticas que atuam em
partículas carregadas em movimento no interior de campos
magnéticos......................................................................................... A29
Conferência 1: O conflito de interpretação sob a natureza dos
raios catódicos e a descoberta do elétron.......................................... A39
Mesa-Redonda 1: Reserva de mercado e benefícios fiscais para
produção dos equipamentos eletrônicos necessários para a
mudança do sistema para TV digital.................................................. A50
Mesa-Redonda 2: Controle de qualidade de imagem e da
programação das redes de TV abertas.............................................. A51
APÊNDICE 2: Ficha para identificação dos grupos........................................... A52
ANEXO I: Decreto presidencial n
o
5.820 de 29 de junho de 2006................... A54
ANEXO II: Documentos para dar suporte aos grupos participantes da mesa-
redonda 1......................................................................................... A58
v
Documento 1 : Critério técnico adia negócios de R$ 100 bilhões
de TV digital - DCI - São Paulo,SP,Brazil........................................ A60
Documento 2 : O fato consumado da TV Digital............................ A62
Documento 3 : TV digital dá vida nova ao pólo industrial de
Santa Rita do Sapucaí..................................................................... A65
ANEXO III: Documentos para dar suporte aos grupos participantes da mesa
redonda 2......................................................................................... A69
Documento 4 : A necessidade do controle público da televisão.... A71
Documento 5 : CENSURA / TV...................................................... A74
Documento 6 : A tesoura da família............................................... A76
ANEXO IV: Mídia em DVD - Vídeos
vi
P399 Penha, Sidnei Percia
A física e a sociedade na tv/Sidnei Percia da Penha. 2006.
xi, 89f. +anexos: il. color., grafs., tabs.; enc.
Dissertação (Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca, 2006.
Bibliografia: f. 88-89
1.Ensino médio 2.Física-
Estudo e ensino 3.Eletromagnetismo (Ensino
médio) 4.Ciência , tecnologia e sociedade 5.Televisão e sociedade I. Título
CDD 373
vii
Dedico este trabalho aos milhares de professores de nosso país, que
apesar das adversidades enfrentadas diariamente no exercício de sua profissão,
continuam acreditando no poder revolucionário da educação.
Agradecimentos:
- A memória de minha mãe Izabel, por quem continuo apaixonado...
-A meu pai Walter, e meus irmãos Vanderlei, Valéria e Marcelo.
-Ao meu sempre companheiro Adriano.
_ Ao meu mestre Alaor.
-A minha orientadora Deise Miranda Vianna.
-A CAPES, pelo apoio financeiro.
-A todos os amigos, familiares, professores e estudantes que se fizeram presentes me
ajudando a escrever mais esta página da história de minha vida.
Meu muito obrigado.
ix
Diante desse mundo globalizado, que apresenta múltiplos desafios para o homem, a
educação surge como uma utopia necessária e indispensável `a humanidade na sua
construção da paz, da liberdade e da justiça social”.
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Ministério da Educação, 1999.
x
Resumo da dissertação submetida ao PPECM/CEFET-RJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de mestre em Matemática ou Física.
A FÍSICA E A SOCIEDADE NA TV
Sidnei Percia da Penha
Dezembro de 2006
Orientadora: Deise Miranda Vianna, D.Sc.
Programa: PPECM
Nesta dissertação de mestrado, apresentaremos e analisaremos as principais
características de um Produto Educacional, estruturado no formato de uma Unidade Didática
destinada ao estudo do eletromagnetismo para o ensino médio. Utilizando a TV como tema
organizador, propomos criar uma abordagem interdisciplinar dos diferentes aspectos da
inserção deste aparato tecnológico em nossa sociedade. Nos capítulos iniciais desta
dissertação, faremos uma revisão bibliográfica dos referenciais históricos, filosóficos e
pedagógicos, que utilizamos para a elaboração deste Produto. Em seguida, analisaremos os
pressupostos metodológicos sobre a utilização de “atividades investigativas” e os aspectos de
uma abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que também adotamos na confecção
deste material. Posteriormente apresentaremos as principais características deste produto
educacional, sua relevância para a sociedade e o detalhamento de sua estrutura. Elaboramos
também um roteiro destinado aos professores do ensino médio, contendo as principais
estratégias desenvolvidas com a finalidade de inseri-las no cotidiano de nossa sala de aula.
Este produto educacional pretende ser uma contribuição no formato da apresentação de temas
com elevado grau de especificidade e de difícil abordagem no ensino médio, como é o caso do
estudo de forças em cargas elétricas no interior de campos magnéticos. No apêndice desta
dissertação é apresentada a integra deste produto educacional, que foi idealizado tendo como
motivador a criação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T). Propomos, neste
material, a criação de um “Fórum Nacional da TV”, onde serão levantadas controvérsias sobre
a forma de utilização e produção desta nova tecnologia em nossa sociedade. Este fórum será
composto de mesas redondas, oficinas e conferências com o objetivo de instrumentalizar os
estudantes na tomada de decisão das controvérsias que serão levantadas. Os conceitos físicos
nascerão como conseqüência da necessidade do entendimento do funcionamento deste
aparato tecnológico.
Palavras-chave: Ensino de Física, Abordagem CTS, Atividades Investigativas, Força no campo
magnético.
xi
Abstract of dissertation submitted to PPECM/CEFET-RJ as partial fulfillment of the
requirements for the degree of master in science and mathematics teaching.
PHYSICS AND SOCIETY ON TV
Sidnei Percia da Penha
December/2006
Supervisor: Deise Miranda Vianna, D.Sc.
Program: PPECM
We present and analyse the main features of an Educational Product with the structure
of a Didactic Unit aiming the study of high school electromagnetism. Using the TV as
organizing theme, we propose the creation of an interdisciplinary approach to the different
aspects of the insertion of this technological device in our society. In the initial chapters of this
dissertation we go through a review of the historical, philosophical and pedagogical bibliography
that we used as a reference for the elaboration of this Product. Following it, we analyse the
methodological presuppositions about the use of “research-like activities” and the aspects of a
STS (Science, Technology and Society) approach, which we also used in the making of this
material. In the sequence we present the main features of this educational product, its relevance
to society and the detailing of its structure. We also elaborate a handout for the high school
teacher containing the most important strategies developed to insert it in the classroom routine.
This educational product intends to be a contribution to the way certain topics with a high
degree of specificity or of difficult approach are usually presented in high school, as it is the
case with the study of forces in electric charges within magnetic fields. The educational product
in its full form is presented in the Appendix; the motivating factor behind the format being the
recent creation of the Brazilian Terrestrial Digital System (SBTVD-T, in the acronym in
Portuguese). We propose in this material the creation of a “TV National Forum”, where
controversies could be raised about the use and production of this new technology. This forum
would be composed of roundtables, workshops and conferences that would prepare the
students to the decision-making process that would follow the controversies raised. The
physical concepts would come up as a consequence of the need for understanding the
operation of this technological apparatus.
Keywords: Physics Teaching, STS Approach, Research-like Activities, Force in
magnetic field.
1
INTRODUÇÃO:
Nestes quase 40 anos vividos na escola, primeiro como aluno e depois como professor,
pude vivenciar as transformações pelas quais passaram a sociedade e conseqüentemente a
escola no final do século passado e início deste. Os avanços tecnológicos resultantes do
desenvolvimento técnico e científico transformaram e continuam transformando nossa
sociedade e, como efeito nossa escola.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, publicados em 1999, apontam
que fatores econômicos como os avanços da micro-eletrônica, a partir da década de 80,
associada à denominada “revolução da informática”, devem promover uma mudança
educacional maior do que a obtida em muitas décadas, e “passam a determinar a urgência em
se repensar os parâmetros curriculares para este nível de ensino(BRASIL, 1999, p.15)
Neste novo mundo globalizado e informatizado, a escola deixou de ser o espaço
privilegiado de acesso ao conhecimento. Ressalvadas algumas críticas, a rede mundial de
computadores e os meios de comunicação em geral passaram a contribuir significativamente
com a divulgação de informação e começaram a ocupar um espaço que antes era reservado
apenas ao ensino formal escolar.
Qual deverá então ser o papel ocupado pela escola desta nova sociedade que se
desenha atualmente? Que papel estará reservado para nós, professores de ciência, nesta nova
escola? Enfim, quais serão os novos paradigmas da educação desta nova sociedade que se
está construindo?
Responder a estas perturbadoras questões certamente não se constitui tarefa fácil. De
fato, se restringirmos o papel da escola e dos professores em meros transmissores de
informação, eles perderão seu valor quando comparados a outros sistemas que, de alguma
forma, se mostrem mais eficazes nesta tarefa.
Mas será que realmente é este o papel fundamental que a escola deverá desempenhar
nesta nova sociedade contemporânea?
Em uma perspectiva sócio-interacionista, a escola é também o local onde, distante da
proteção de nossas famílias, iniciamos nossa inserção social. Estendemos nossos laços
sociais, antes restritos basicamente ao ambiente familiar, e aprendemos a conviver, respeitar e
a depender de outros. Enfim, é na escola que se processará o exercício do que significa uma
vivência social. Nela, dividiremos espaços, criaremos regras de convívio e estabeleceremos
códigos de lealdade com os nossos pares, que serão lentamente construídos ao longo dos
2
anos. Será esta riqueza proporcionada pela convivência social que nos transformará em
cidadãos. É da escola, então, a função de preparar os estudantes para que possam exercer a
plenitude de sua cidadania, inserindo-os no mundo das idéias, das técnicas e do trabalho,
enfim preparando-os para a vida.
No entanto, apontam os PCNs + que as transformações de caráter econômico, social ou
cultural, no Brasil e no mundo, não levaram a uma transformação efetiva da nossa escola.
Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar
símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas
transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se
comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer
natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de
elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de
permanente aprendizado. Uma formação com tal ambição exige métodos de
aprendizado compatíveis, ou seja, condições efetivas para que os alunos
possam comunicar-se e argumentar, deparar-se com problemas, compreendê-
los e enfrentá-los, participar de um convívio social que lhes dêem
oportunidade de se realizar como cidadãos, fazer escolhas e proposições,
tomar gosto pelo conhecimento, aprender a aprender. (BRASIL, 2002, p.3)
Assim, diante desta necessidade da modificação dos objetivos escolares, o
desenvolvimento das diretrizes de atuação de um programa escolar deve preocupar-se não
apenas com os conteúdos a serem estudados nas diferentes disciplinas, mas na forma efetiva
da apresentação e do desenvolvimento deste conteúdo.
No ensino de física, por exemplo, a seleção dos conteúdos é na maioria das vezes
apresentado de tal forma como se esta etapa do ensino médio fosse apenas uma preparação
para um aprofundamento posterior que se processará na universidade. Para esta nova escola
que se quer construir, o conhecimento de Física não deve constituir-se em um objetivo em si
mesmo, mas deve ser compreendido como um instrumento para a compreensão do mundo.
Não se trata de apresentar ao jovem a Física para que ele simplesmente seja
informado de sua existência, mas para que esse conhecimento transforme-se
em uma ferramenta a mais em suas formas de pensar e agir. (BRASIL, 2002,
p.3)
3
Assim, com o desenvolvimento deste trabalho pretendemos contribuir com estas atuais
diretrizes do ensino de física, desenvolvendo um produto educacional que possa constituir-se
em um modo alternativo de apresentação de conceitos do eletromagnetismo que estão
relacionados com as evoluções tecnológicas que transformam nossa sociedade e com a
instrumentalização dos estudantes para sua inserção social e no mundo do trabalho. Utilizamos
a TV e sua incluão no sistema de telecomunicação, nos moldes dos temas “estruturantes”
apontados nas diretrizes dos PCNs +. Pretendemos mostrar que a utilização da televisão
poderá propiciar um importante trabalho interdisciplinar onde as diferentes áreas do
conhecimento possam dialogar. Assim entendemos que este trabalho possa ser ricamente
complementado se aplicado em parceria com professores das áreas da Linguagem e das
Ciências Humanas.
Enfim, pretendemos, nesta dissertação, apresentar as principais características de um
Produto Educacional destinado aos estudantes do ensino médio, que esteja respaldado por um
referencial teórico e que seja destinado ao trabalho educacional realizado no cotidiano de uma
sala de aula , na qual acreditamos poder dar nossas melhores contribuições.
Nos primeiros capítulos desta dissertação, realizamos uma revisão bibliográfica, que
utilizamos como referencial para confecção do produto educacional. Tentaremos evidenciar as
diretrizes filosóficas, históricas e pedagógicas que nortearam nosso trabalho. Apresentaremos
também uma metodologia de utilização de atividades investigativas relacionadas a estes
referenciais adotados e as principais características de uma abordagem CTS (Ciência,
Tecnologia e Sociedade), que adotamos na estruturação e apresentação do produto
educacional que produzimos.
Nos capítulos seguintes detalharemos as principais características deste produto
educacional, apresentando a motivação para a sua confecção, a sua relevância para a
sociedade atual e o detalhamento das principais etapas para o seu desenvolvimento.
Proporemos também um roteiro para aplicação deste produto educacional em nossas escolas,
onde apresentaremos as estratégias que serão utilizadas para sua inserção no cotidiano de
nossa sala de aula.
No Apêndice 1 desta monografia, apresentamos o produto educacional propriamente
dito que consistirá em um texto destinado aos alunos do ensino médio contendo uma estratégia
de abordagem de conceitos de eletromagnetismo, mais especificamente do tema relacionado
ao estudo de forças que atuam em partículas em movimento no interior de campos magnéticos.
Neste produto procuramos imprimir uma abordagem onde os conceitos físicos pudessem surgir
como conseqüência da necessidade de interpretarmos como se processa o funcionamento de
4
uma aparelho de TV no complexo sistema de telecomunicação. Tendo como motivação a
criação do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T) em nosso país, propomos criar
um Fórum Nacional da TV onde nossos estudantes assumiriam os papéis de “atores sociais”
com interesses específicos nas controvérsias que seriam simuladas para a inclusão desta
tecnologia em nossa sociedade.
Acreditamos que a inserção deste produto educacional no cotidiano de nossa sala de
aula venha a ser uma alternativa viável e não mais uma das inúmeras pesquisas feitas e
consumidas pela academia, conforme defende Mortimer, ao tentar estabelecer uma agenda
para a pesquisa em educação em ciências. “Eu considero que fazer os resultados da pesquisa
chegarem a sala de aula é um compromisso importante na nossa área.” (MOTIMER, 2002a,
p.25).
Enfim, este trabalho pretende ser uma abordagem alternativa para instrumentalização
dos professores de ensino de física nesta busca por novas formas de estruturação do ensino
de ciências frente às modificações dos nossos paradigmas educacionais.
5
I- UMA ORIENTAÇÃO FILOSÓFICA PARA O ENSINO DA FÍSICA
Em nossa sociedade, o chamado “conhecimento científico” é popularmente entendido,
de um modo geral, como sinônimo de conhecimento confiável. Acredita-se que as informações
ditas “científicas” estão envoltas em uma certa “atmosfera de confiança”. É comum nos
deparamos com defensores das mais diferentes teorias, que buscam justificar suas teses
lançando mão do argumento científico.
“_Isto está comprovado cientificamente.”
Poderemos encontrar desde profetas apocalípticos até vendedores de produtos
miraculosos, utilizando-se da “confiabilidade da ciência” para defender suas teses e produtos.
Mas, de fato, o que significa dizer: “Isto está comprovado cientificamente.”? Por que razão este
dito “conhecimento científico” possui tanto respaldo social? E já que este tipo de conhecimento
exerce tanto fascínio social, por que razão as disciplinas de ciências são, por vezes, tão
odiadas pelos estudantes?
São questões deste tipo que trazem para nós, professores de ciências, uma constante
reflexão, sobre como, o quê e por que ensinar ciência.
Sem desejar esgotar o assunto, fazeremos um levantamento, à luz das modernas
teorias epistemológicas, das diferentes correntes filosóficas que tentam dar conta de explicar o
“conhecimento cientifico”, para posteriormente tentarmos construir estratégias que possam nos
auxiliar em nosso ofício de professores de ciências.
Neste primeiro capítulo, apresentaremos o referencial filosófico adotado na confecção
deste nosso trabalho. Primeiramente, desmistificaremos a idéia da “comprovação científica”,
criticando o chamado “método científico”, a visão indutivista da construção da ciência bem
como as idéias da construção linear da ciência. A seguir, apresentaremos a tese
falsificacionista de Popper para solapar as idéias indutivistas de construção da ciência e por fim
adotaremos os paradigmas de Kuhn como referencial filosófico norteador de todo nosso
trabalho.
I.1- O INDUTIVISMO
Thomas Kuhn, físico e filósofo da ciência, assim como Popper, Lakatos, Bachelard, é
mais um dos críticos do chamado “positivismo lógico”, que defende a “lógica indutivista” como
base para o conhecimento científico. Esta lógica indutivista privilegia a observação
6
experimental, colocando-a como base do conhecimento científico. O conhecimento começaria
com uma observação neutra, a princípio sem o respaldo de qualquer formulação teórica, livre
de idéias pré-concebidas. Utilizando-se de um raciocínio indutivista, podemos, observando um
número finito de observações singulares, conceber uma Lei Universal. Este tipo de raciocínio
que nos leva de afirmações particulares para o todo é chamado de raciocínio indutivo.
Chalmers (1993), em seu livro intitulado “O que é a ciência afinal?” procura fazer uma
abordagem didática das diferentes formas de concepção do que denominamos conhecimento
científico. Apresenta a tese indutivista sobre o “método científico”, que classifica como
indutivista ingênuo. Propõe refutações e críticas a este método, que culminam com a
apresentação das idéias defendidas por Popper e Kuhn sobre a epistemologia da ciência.
Para resumir a posição “indutivista ingênua”, Chalmers enuncia o “princípio da indução”.
Este é o princípio básico em que se fundamenta a ciência, se for aceita a posição indutivista,
que se classifica a princípio de “indutivista ingênuo”:
Se um grande número de As foi observado sob uma ampla variedade
de condições, e se todos esses As observados possuíam sem exceção a
propriedade B, então todos os As têm a propriedade B. (CHALMERS, 1993, p.
27)
Quanto maior o número de observações, maior será o número de leis e teorias que
poderão ser induzidas destes dados. Portanto, para os indutivistas, a ciência terá um
crescimento contínuo, quanto maior o número de observações que se possa utilizar como base
para indução de novas leis. Tendo como base estas leis e teorias, poderemos, então,
utilizando-se do raciocino lógico, “deduzir” explicações e/ou previsões, que é uma outra
importante característica da ciência.
I.2- O PROBLEMA DA INDUÇÃO
No entanto, caberia o seguinte questionamento: como será possível, tendo realizado
um número finito de observações, inferir uma “verdade universal”; ou seja, “por que o raciocínio
indutivo conduz a um conhecimento científico confiável e talvez mesmo
verdadeiro?”(CHALMERS, 1993, p.36). Que argumentação poderia ser usada para justificar o
princípio da indução?
7
Chalmers evidencia a existência de dois tipos de abordagens na tentativa de responder
a esta questão: o apelo à lógica e à experiência.
Segundo ele, a indução não pode ser justificada puramente em bases lógicas, pois
mesmo depois de observado um “grande número de proposições” sobre uma “ampla
variedade” de circunstâncias, não podemos concluir logicamente que esta proposição será
verificada. Cita o exemplo do “peru indutivista” de Bertand Russel, que depois de observar que
era alimentado às 9 horas da manhã sobre uma grande variedade de circunstâncias, (em dias
quentes, frios, chuvosos, secos) conclui: eu sou alimentado sempre às 9 horas da manhã. A
conclusão demonstrou-se falsa, pois o peru foi degolado na véspera do Natal.
Uma segunda tentativa seria justificar que o princípio da indução pode ser derivado da
experimentação. Como podemos comprovar que a indução funcionou bem em diversas
ocasiões na física, como por exemplo, nas previsões fornecidas pelas leis da mecânica
derivadas da observação do movimento dos planetas; no funcionamento de inúmeros
instrumentos ópticos cujas leis foram obtidas pela indução dos resultados experimentais de
laboratório; então a eficácia de sua utilização estaria justificada. Segundo David Hume, o
argumento proposto para justificar a indução é circular, pois emprega o próprio argumento
indutivo para validar o princípio da indução. (Já que a indução foi bem sucedida na mecânica,
na óptica, etc..; então ela será sempre bem sucedida).
Esta dificuldade, associada à justificação da indução, tem sido tradicionalmente
chamada de “o problema da indução”.
Na defesa da tese indutivista, pode-se adotar também um argumento probabilístico.
Tendo em vista que as induções legítimas não podem ser garantidas como perfeitamente
verdadeiras, elas são provavelmente verdadeiras. (Depois de abandonarmos uma pedra em
diversas situações e verificarmos que ela sempre cai, podemos chegar à conclusão de que
uma pedra abandonada provavelmente cairá). A versão probabilística do princípio da indução
seria então algo como:
Se um grande número de As foi observado sob uma ampla variedade
de condições, e se todos esses As observados, sem exceção, possuíam a
propriedade B, então todos os As provavelmente possuem a propriedade B.
(CHALMERS, 1993, p.41)
8
Esta modificação, no entanto, não supera o problema da indução: este princípio ainda é
uma afirmação universal, implicando que observações de um número limitado de eventos
levarão a conclusões provavelmente verdadeiras.
I.3- A DEPENDÊNCIA QUE A EXPERIMENTAÇÃO TEM DA TEORIA
Outro ponto levantado por Chalmers diz respeito à dependência que a observação tem
da teoria. A simples observação visual de um determinado experimento ou objeto poderá trazer
a dois observadores distintos que observam um mesmo fenômeno ou objeto, do mesmo local,
informações e impressões diferentes. O ato de “ver” um objeto ou um fenômeno não é
determinado somente pelos raios luminosos que atingem nossos olhos e formam uma imagem
em nossa retina.
A figura a baixo mostra para a maioria dos observadores uma escada com a superfície
superior dos degraus visível. Ao nos fixarmos na figura poderemos ver também
involuntariamente uma escada construída no teto. (Girando a folha poderemos verificar com
maior facilidade este forma de visualização ).
Figura I.1 Visões diferentes de um mesmo objeto.
(Retirada de CHALMERS 1993, p. 48)
A experiência com membros de tribos africanas que não possuem o costume de
representar objetos tridimensionais indicou que os membros da tribo não tinham visto a figura
I.1 como uma escada, mas como uma arranjo bidimensional de linhas.
Para Chalmers:
O que o observador vê, isto é, a experiência visual que o observador
tem ao ver um objeto, depende em parte de sua experiência passada, de seu
conhecimento e de suas expectativas.(CHALMERS., 1993, p. 49)
9
De acordo com o “indutivista ingênuo”, o conhecimento científico é obtido com
observações feitas por um observador “não preconceituoso e imparcial”. No entanto, sabemos
que historicamente diversas pesquisas e descobertas são validações de teorias que nasceram
aprioristicamente e cujo papel da experimentação consiste em verificar e validar estas teorias,
como, por exemplo, a produção de ondas eletromagnéticas por Hertz, que ocorreu depois do
surgimento da teoria eletromagnética de Maxwell.
Ao desenvolvermos uma pesquisa e/ou experimentação, selecionamos nossa estratégia
de ação e as variáveis que desejamos observar de acordo com as idéias e teorias que fazem
parte de nossa cultura acadêmica. Portanto, as teorias precedem a observação no
conhecimento científico.
Os indutivistas mais modernos concebem que novas teorias podem surgir de diferentes
caminhos, inclusive como o resultado de um acidente, como foi o caso da descoberta do raio X
por Roentgen, que observou o escurecimento das chapas fotográficas colocadas nas
imediações de seu tubo de descarga. De acordo com estes indutivistas mais sofisticados, as
descobertas mais geniais desafiam nossa análise lógica.
I.4- O FALSIFICACIONISMO DE KARL POPPER
Embora não se possa chegar a leis e a teorias universais de deduções advindas de
proposições de observação singulares, é possível, no entanto, realizar deduções lógicas
partindo destas proposições como premissas para chegar à falsidade de leis e às teorias
universais.
Por exemplo, se nos é dada a afirmação: Um corvo, que não era
preto, foi observado no local x em um momento m. Poderemos concluir
logicamente que: Nem todos os corvos são pretos. Esta é uma dedução
logicamente válida.? (CHALMERS., 1993, p. 6)
A falsidade de afirmações universais pode ser deduzida de afirmações singulares. Os
falsificacionistas exploram ao máximo esta particularidade.
Segundo Papineau (2003), para Popper a ciência não se constrói com bases
indutivistas. Popper nega que os cientistas começam com observações e inferem depois uma
10
teoria geral. Em vez disso, primeiro propõem uma teoria e depois comparam as suas previsões
com observações para ver se ela resiste aos testes. Se esses testes se mostrarem negativos,
então a teoria será experimentalmente falsificada, e os cientistas irão procurar uma nova
alternativa. Se, pelo contrário, os testes estiverem de acordo com a teoria, então os cientistas
continuarão a mantê-la não como uma verdade provada, mas ainda como uma conjectura não
refutada.
Uma boa teoria científica será tanto melhor quanto mais genérica, quanto maior o
número de afirmações puder fazer a respeito do mundo, e, sendo por isso, altamente
falsificável, puder resistir a esta falsificação toda vez que for testada. Portanto, o
empreendimento científico consiste em propor teorias e hipótese altamente falsificáveis, e
posteriormente tentar falseá-las.
Assim, segundo Popper, a ciência é uma seqüência de conjecturas.
As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por
novas hipóteses quando são falsificadas. No entanto, esta maneira de ver a
ciência suscita uma questão óbvia: se as teorias científicas são sempre
conjecturas, então o que torna a ciência melhor do que a astrologia, a
adoração de espíritos ou qualquer outra forma de superstição sem
fundamento? Qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença?
(PAPINEAU, 2003)
Para Popper, a resposta para este tipo de questionamento está no falsificacionismo a
que se pode submeter uma teoria científica. As teorias científicas devem estar pautadas em
termos precisos como, por exemplo, as leis de Newton, das quais poderemos fazer previsões
de posições de astros e corpos celestes fora da Terra e de movimentos de projéteis lançados
em nosso planeta. Se tais previsões fracassarem, poderemos pôr em xeque esta teoria. Em
sentido oposto, as crenças e adivinhações astrológicas se apresentam com previsões vagas,
contendo dubialidade de interpretações, sendo impossível falseá-lo ou mostrar que estão
claramente errados. A previsão de que no ano vindouro acontecerá um cataclismo atmosférico
que irá tirar a vida de várias pessoas, apresenta-se em termos tão imprecisos que se torna
impossível ser falseado.
11
I.5- A CRÍTICA AO FALSIFICACIONISMO
Segundo os falsificacionistas, uma boa teoria deve resistir às tentativas de falseá-las
tendo como base diferentes proposições de observações. No entanto, como vimos
anteriormente, uma proposição de observação pode estar errada. Portanto, no confronto entre
uma teoria estabelecida e uma proposição de observação, não necessariamente teremos que
descartar a teoria. Uma teoria pode ser mantida quando confrontada com uma proposição de
observação incorreta. Assim, como as teorias não podem ser conclusivamente falsificadas,
pois as proposições de observação são falíveis, não poderá existir uma falsificação conclusiva
perfeitamente segura.
Historicamente na evolução do conhecimento científico, sobretudo na física,
encontraremos teorias que seriam falseadas ainda no momento do seu nascimento, visto que
seus autores não teriam bases para refutar as falsificações propostas. Poderíamos citar o
exemplo de Copérnico com seu sistema heliocêntrico, teoria que vinha de encontro ao
geocentrismo defendido pela física Aristotélica, explicação até então dominante na ciência
daquela época. Em sua época, Copérnico não tinha argumentos para defender seu sistema: Se
a Terra gira, corpos atirados para cima deveriam ser “deixados para trás” pelo movimento do
nosso planeta. Se a Terra gira ao redor do Sol, por que não deixa a lua para trás? Argumentos
deste tipo colocaram a teoria Copernicana em sérias dificuldades uma vez que o próprio
Copérnico estava, segundo Chalmers (1993, p.102), profundamente imerso na metafísica
aristotélica e não tinha respostas adquadas para elas”. Mesmo diante de refutações
contundentes, Copérnico não abandonou seu modelo, e vários outros filósofos naturais foram
atraídos pelo seu sistema. Como sabemos, a defesa mais contundente desta teoria só seria
dada quase 150 nos depois, com a publicação dos “Princípia” de Newton. Neste período, vários
cientistas, notadamente Kepler e Galileu, se empenhavam em esforços e contribuíram com
significativos avanços na defesa desta teoria, que se estabeleceu como base que levaria
Newton a propor sua síntese sobre o movimento dos corpos.
A evolução das concepções sobre o movimento e o sistema solar, desde Copérnico até
Newton, parece então não encontrar respaldo nem na teoria indutivista, visto que os novos
conceitos de força e inércia não surgiram como resultados experimentais cuidadosos, nem na
teoria falsificacionista, pois tampouco surgiram através de falsificações de situações propostas
e substituição de uma teoria por outra. Para Chalmers, “nenhuma explicação da ciência pode
ser aceita como suficiente, a menos que possa acomodar fatores como estes”.
12
I.6- OS PARADIGMAS DE THOMAS KUHN
Thomas Kuhn (1922-1996) inicia sua carreira como físico e posteriormente dedica-se à
história da ciência. Com base em seus estudos sobre a evolução histórica dos conceitos
científicos, verifica que tanto a interpretação indutivista como a concepção falsificacionista não
dão conta de explicar a evolução da ciência, como exemplificado anteriormente no caso da
revolução copernicana. Contrário à idéia de uma evolução contínua e gradual, Kuhn afirma que
a evolução da ciência se dá por revoluções, que é a substituição de uma determinada
estrutura teórica hegemônica por outra que a princípio será incompatível com a anterior. Para
Kuhn, haverá então uma mudança nos “paradigmas” desta ciência, sendo entendido paradigma
das ciências como o conjunto de leis e teorias adotadas e aceitas por uma determinada
comunidade científica.
Para Kuhn, uma ciência será madura quando governada por um único paradigma. No
que chamou de “tempo de ciência normal”, o trabalho de um cientista será o de adequar as leis
do paradigma ao mundo real.
A ciência normal seria uma atividade de resolução de problemas
teóricos e práticos pelas regras de um paradigma. Um eventual fracasso em
resolver um problema será visto como um fracasso do cientista e não como
uma falta de adequação do paradigma. Problemas que resistem a uma
solução são vistos mais como anomalias do que como falsificação de um
paradigma. (CHALMERS, 1993, p. 127)
A existência de eventuais problemas não resolvidos não representa uma crise para o
paradigma dominante. Em qualquer paradigma adotado, encontraremos problemas não
resolvidos. No entanto, quando um problema persistir atacando as bases do paradigma e
continuar insolúvel, mesmo depois de várias tentativas de membros da comunidade científica
em solucioná-lo, se estabelecerá neste paradigma um período de “crise”. Nestes tempos de
crise, quando um problema passa a ameaçar a validade do paradigma atual, surge na
comunidade científica uma acentuada insegurança profissional” (KUHN, 1970 apud
CHALMERS, 1993, p.130). As tentativas de resolução do problema se radicalizam e as regras
dos paradigmas passam a ser mais “maleáveis”.
A seriedade de uma crise aprofunda-se quando surge um paradigma rival, que será
muito diferente e até incompatível com o anterior, uma vez que a transição de um paradigma
para outro não é um processo cumulativo, mas uma reconstrução do campo de investigação a
13
partir de novos fundamentos: a tradição científica normal que surge de uma revolução científica
é incompatível com as que existiam anteriormente.
A mudança de adesão de parte de cientistas de um paradigma para
outro é, segundo Kuhn, como uma “conversão religiosa”, visto que não haverá
argumento puramente lógico em que se mostre a superioridade de um
paradigma sobre o outro. (CHALMERS, 1993, p .131,132)
A esta transição de um paradigma enfraquecido para outro, que se estabelece depois
de um período de crise, chamamos de período de “Revolução Científica”.
A primeira vista poderá parecer que Kuhn se limita a dar uma
explicação puramente descritiva da natureza das ciências o que, a meu ver,
não é verdade, uma vez que Kuhn estabelece as funções da ciência normal e
da revolução. Se a ciência normal tem como função fornecer aos cientistas a
oportunidade de desenvolverem detalhadamente uma teoria, aplicando toda a
sua energia e todo o seu esforço, Kuhn adianta que se permanecesse neste
período normal, a ciência não progrediria. Se a ciência progride é porque ela
contém em si os meios mediante os quais o paradigma "racha", permitindo o
salto para um outro sendo esta, justamente, a função da revolução. O que
Kuhn propõe é, precisamente, um progresso que se faz mediante a revolução.
(MAIA, 1997)
14
II- A BUSCA DE UM REFERENCIAL HISTÓRICO
Pretendemos mostrar neste capítulo, que a abordagem histórica que utilizamos no
desenvolvimento de um produto educacional deverá estar relacionada à concepção filosófica
adotada. Procuraremos mostrar os principais argumentos contra e a favor da utilização de uma
abordagem histórica da ciência, analisando a argumentação de seus defensores e detratores.
Por fim, faremos opção pela perspectiva de utilização da história como elemento auxiliar na
compreensão dos conteúdos específicos.
II.1- A UTILIZAÇÃO DA HISTÓRIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS
A opção por uma metodologia específica de abordagem histórica, associada ao ensino
de ciências, mais especificamente ao ensino de física, terá uma relação inevitável, consciente
ou não, com a filosofia da ciência que se deseja adotar. “A história da ciência sem a filosofia da
ciência é cega”(LAKATOS, 1989 apud PEDUZZI, 2005, p.155)
Peduzzi (2005), em seu artigo intitulado “Sobre a utilização didática da História da
ciência”, destaca as contribuições de Kuhn em sua obra “A função do dogma na investigação
científica”. Faz uma primeira análise mostrando a importância dos manuais científicos
difundindo o paradigma vigente entre os estudantes em tempos de “ciência normal”. Descreve
que tais manuais são utilizados como “veículos pedagógicos” para difundir e perpetuar a
ciência normal. Os conteúdos são selecionados a partir dos fatos e acontecimentos que foram
significativos para construção deste novo paradigma.
De certo modo estes manuais não permitem a nossos estudantes a percepção de que
os problemas a eles apresentados são inerentes ao atual paradigma e que outros estudiosos,
em outros tempos, se ocuparam de outros problemas referentes ao paradigma por eles vivido.
Peduzzi (2005) afirma que, segundo Kuhn, encorajar os estudantes a lerem os clássicos
históricos de ciência poderia propiciar uma nova maneira de olhar seus problemas discutidos
nos seus livros de texto; no entanto, encontrariam problemas e padrões de solução que há
muito tempo foram descartadas e substituídas. Assim conclui que a exposição à história
poderia abalar suas convicções no paradigma vigente. De acordo com a visão de
desenvolvimento kuhniana , segundo Peduzzi, a estabilidade da ciência em período de ciência
normal contrasta com as incertezas dos períodos de crise e revolução. Poderíamos então nos
15
questionar: por que submeter novamente o estudante, futuro cientista, ao resgate de
concepções que os melhores e mais persistentes esforços da ciência tornaram possível
descartar?(KUHN, 1987 apud PEDUZZI, 2005, p.153)
Deste modo, Peduzzi (2005, p.153), citando Kuhn, afirma que se poderia então justificar
a utilização de estratégias que não fazem uso da História da Ciência, ou até mesmo, que
propositalmente a distorcem para cumprir com celeridade o objetivo fundamental da educação
científica, que é o de transmitir ao estudante o paradigma vigente. Afirma ainda que é
justamente a pouca presença da história da ciência nos manuais escolares e seu uso distorcido
no sentido de promover uma reconstrução de idéias que parecem fluir naturalmente em direção
a teorias atualmente aceitas de construção da ciência. Assim, corremos o risco de contribuir
com que o estudante tenha da ciência uma idéia distorcida, levando-o a concluir que as
contribuições científicas do passado caminharam linear e inexoravelmente para o desencadear
da ciência atual.
Peduzzi (2005, p.153) identifica ainda que uma outra vertente contrária à utilização da
história da ciência no ensino é a que defende que a caminhada do cientista na busca do
conhecimento é uma complexidade sem limites. Sendo assim, a discussão históricodidática
de concepções científicas seria incompleta e, por esta razão, suscetível a fortes objeções.
Vannucchi (1996, p.24) aponta que, a partir de 1970, em um simpósio realizado no MIT
(Massachusetts Institute of Techonology), a utilidade da história da ciência na educação
científica foi questionada. Iniciou-se então um grande debate que seria travado nesta década.
Martin Klein (apud VANNUCCHI 1996, p.24) alegava, neste simpósio, que a única
história possível seria a pseudo-história, visto que a boa história reflete a complexidade do
passado. Ficaria a cargo dos professores fazerem uma abordagem seletiva e parcial da
História da Ciência, dependendo dos objetivos pedagógicos a que estariam ligados e aos
objetivos científicos contemporâneos relacionados ao tema. Para Klein, este tipo de abordagem
seria inevitavelmente uma má história. Portanto, se esta “pseudo-história” é a única possível,
ela deve ser evitada. Afirma ainda que:
[...]um dos motivos que torna difícil fazer história da física útil às
necessidades do ensino de física diz respeito à diferença essencial das
perspectivas do físico e do historiador[...]é tão difícil imaginar a combinação
entre a complexidade dos fatos, a qual busca o historiador, e o insight simples
e preciso que os físicos procuram (KLEIN, apud VANNUCCHI, 1996, p.25)
16
Vannucchi (1996, p.25), citando Matthews, identifica nesta abordagem uma “aparente
confusão” entre escrever história e utilizá-la em sala de aula. Adverte que a boa história pode
ficar comprometida quando escrita com propósitos específicos. Seja qual for o critério utilizado
à produção da boa história, o professor de Ciência utiliza com propósitos pedagógicos, e deve,
portanto, ser avaliado com critérios distintos daqueles utilizados para historiadores, já que as
duas atividades são completamente diferentes.
Matthews (apud VANNUCCHI, 1996, p.25) levanta ainda: será que a presença de duas
perspectivas antagônicas é, de fato, prejudicial ao ensino? A não ser pela limitação de tempo,
acredita-se, em geral, que um bom currículo deva encorajar uma gama de perspectivas para se
apreciar uma questão. De fato, além dos cursos Ciência-TecnologiaSociedade, o Bristish
National Curriculum e o Project 2061, entre outros programas curriculares importantes,
prevêem que o estudante de Ciência deva ser capaz de examinar um tema sob diversos pontos
de vista. Além disso, questiona Matthews (apud VANNUCCHI, 1996, p.25), seria a diferença
entre as abordagens científica e histórica tão grande quanto se advoga? “A caracterização da
história como busca da complexidade, não se deixando nada de lado, conforme anuncia Klein,
é incorreta, impraticável: todo tratado histórico é necessariamente seletivo. O historiador não é
um arquivista.”(MATTHEWS, 1994 apud VANNUCCI, 1996, p.25)
O físico substitui uma bola por uma massa puntual, deixando de
lado cor, textura e composição. Da mesma forma, o historiador restringe a
riqueza dos episódios, delimitando-os de acordo com a história que se deseja
contar. A História da Ciência está necessariamente vinculada à concepção
filosófica do historiador, a partir do qual são, por exemplo, selecionados os
episódios históricos. (VANNUCCHI, 1996, p. 25)
As críticas de Klein são novamente levantadas em 1979 por Whitaker (apud
VANNUCCHI 1996, p.25). Para Whitaker não apenas a qualidade da História da Ciência é
preocupante. Ele condena também a construção de uma História que estaria subordinada à
ideologia dos cientista. Embora a análise de dados deva estar sujeita à posição filosófica do
historiador, isto não pode ter como conseqüência a distorção dos dados históricos. Whitaker
identifica que o processo de conversão de uma comunidade científica é em geral lento e que a
história é escrita de forma a encaixar-se passo a passo com a evolução da física. Esta história,
a qual denomina de quase-history”, não seria necessariamente resultado consciente para
respaldar sua visão de ciência, mas por preocupações pedagógicas:
17
Não suponho que autores da quase-history tenham, necessariamente,
qualquer intenção filosófica, mesmo que inconsciente. Encaro a quase-history,
de modo geral , como simplesmente resultado de certo desejo por ordem e
lógica, conforme conveniente para o papel do ensino-aprendizagem.
(WHITAKER, 1979, apud VANNUCCHI 1996, p.27)
Vannucchi (1996, p27) observa, no entanto, que embora a objeção apresentada por
Whitaker seja procedente, a produção da quase-history pode ser minimizada pelo trabalho
conjunto de professores, historiadores e filósofos da Ciência e deve ser avaliada segundo
critérios da atividade educativa. Citando Matthews, afirma: “A arte pedagógica constitui-se na
simplificação da história de tal forma que a distorção inevitável seja educacionalmente
favorável e não perniciosa.”(MATTHEWS, 1994, apud VANNUCCHI 1996, p.27)
Vannucchi destaca ainda que, além de preocupações pedagógicas, outro fator que pode
vir a ocasionar distorções da História da Ciência diz respeito a fatores externos da ciência,
como a ideologia política e religiosa de professores e historiadores. Neste sentido, temos visto,
nestes últimos anos, a consolidação de uma corrente política relacionada a determinadas
orientações religiosas que vêm ganhando espaços e influenciando significativamente, inclusive
na seleção de conteúdos das disciplinas de ciências, principalmente aqueles relacionas às
teorias sobre o surgimento do universo e sua evolução.Como exemplo, poderíamos citar a
decisão da Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro de que o criacionismo passará
a ser discutido em sala de aula. (VOGT, 2005).
II.2- A OPÇÃO METODOLÓGICA PARA INSERÇÃO DE UMA ABORDAGEM
HISTÓRICA
Vannucchi (1996, p.10) destaca que, ao não inserirmos as discussões histórico-
filosóficas no currículo, deixamos de apresentar aos estudantes toda uma perspectiva
importante na qual eles tomariam consciência da diversidade de opiniões possíveis. Não serão
solicitados a comparar os próprios pontos de vista aos diferentes, e, portanto, não estão
preparados para aprender com eles.
18
Ignorar as dimensões histórica e filosófica da ciência favorece visão
distorcida da atividade científica, baseada em concepções empírico-
indutivistas a Ciência como composta de verdades incontestáveis. A rigidez
e intolerância desta perspectiva subestimam a criatividade do trabalho
científico e criam obstáculo intransponível para o ensino de Ciências, pois
além de pretensiosa e reducionista, a ponto de atribuir à Ciência
características inapropriadas, tal perspectiva acaba moldando o
comportamento do estudante a esta imagem - o pensamento divergente e
opiniões conflitantes não são tidos como importantes, sendo até por vezes
considerados como negativos. (GIL-PÉREZ, 1958, apud VANNUCCHI,1996,
p.10)
Percebemos ainda que, embora pareça consenso nos tempos atuais que “a inclusão da
História e da Filosofia da Ciência é um fator intrínseco à boa educação científica” (MATTEWS
apud VENNUCCHI,1996, p14), este consenso se desfaz quando se tentam estabelecer os
processos e métodos que devem ser adotados para se efetivar esta inserção no cotidiano de
nossa sala de aula.
De acordo com Bastos (1998, p.43), temos acompanhado na atualidade duas
tendências para efetivação desta abordagem histórica:
(a) como conteúdo de ensino em si mesma;
(b) como fonte de inspiração para a definição de conteúdos e para a proposição de
estratégias de ensino.
Segundo Laranjeiras (apud Vannucchi, 1996, p21), enquanto na primeira abordagem a
História e a Filosofia da Ciência são entendidas como elementos constituintes da própria
ciência, implicando, portanto, que uma compreensão bem fundamentada de ciência é
necessariamente histórica, na segunda abordagem se entende a História e a Filosofia da
Ciência enquanto elementos auxiliares à compreensão conceitual das teorias científicas, por
sua eficiência na apresentação de conceitos e teorias.
Na confecção desta nossa proposta educacional que constará da elaboração de um
“produto educacional”, faremos a opção de encaminhar a elaboração de nosso trabalho dentro
da perspectiva de utilização da História da Ciência como elemento auxiliar à compreensão dos
conteúdos específicos e adotando, sempre que possível, a inserção das chamadas atividades
investigativas como importante instrumento para desencadear a análise histórica e filosófica do
tema a ser estudado.
19
III- UM REFERENCIAL PEDAGÓGICO
Neste capítulo, estabeleceremos as bases de um referencial didático pedagógico, e
apresentaremos as principais características das diferentes correntes teóricas sobre a
concepção do desenvolvimento: o inatismo, o ambientalismo e o interacionismo.
Evidenciaremos as concepções filosóficas que fundamentam cada uma destas correntes bem
como as principais críticas que enfrentam. Apresentaremos o sócio-interacionismo, explorando
o conceito de “Zona de Desenvolvimento Proximal”, como justificativa para uma proposta de
ensino que seja desafiadora e construída socialmente.
III.1- AS DIFERENTES CORRENTES TEÓRICAS PARA CONCEPÇÕES DO
DESENVOLVIMENTO
III.1.1- A Concepção Inatista
Segundo Davis e Oliveira (1994, p.27), o papel da educação para o desenvolvimento do
sujeito torna-se bastante limitado, uma vez que nesta concepção as qualidades e capacidades
básicas de cada ser humano (sua personalidade, seus valores, sua forma de pensar, etc..) já
se encontram basicamente prontas e em sua forma final por ocasião do nascimento, sofrendo
pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo da existência.
Chauí (2000) aponta que, enquanto corrente filosófica, o inatismo tem sua origem em
Platão (séc IV a.C.). Segundo ele, “conhecer é recordar a verdade que já existe em nós; é
despertar a razão para que ela se exerça por si mesma”. Mais tarde o filósofo francês
Descartes (século XVII) irá discutir as idéias inatas em diversas obras. Para ele, tais idéias são
inteiramente racionais e só podem existir porque já nascemos com elas. Elas são “a assinatura
do Criador” no espírito das criaturas racionais. É esta luz natural inata que nos permite
conhecer a verdade e é colocada no nosso espírito pelo Criador. A mais famosa das idéias
inatas cartesianas é o “penso logo existo”. Estas idéias serão, para ele, o ponto de partida da
indução e da dedução racional.
Uma justificativa biológica desta corrente estaria relacionada, segundo as autoras Davis
e Oliveira (1998, p.28), a um entendimento equivocado da teoria evolucionista de Darwin, da
embriologia e da genética. Como, para Darwin, o ambiente determina apenas que tipos de
20
espécies estão mais aptas a sobreviver em um determinado local, a evolução se dará então
como resultado de mudanças graduais e cumulativas oriundas de herança genética,
transmitidas das espécies capazes de sobreviver nestes ambientes a seus descendentes. No
entanto, as autoras observam que, ao servir de base para a posição inatista, não se levou em
conta que o ambiente tem um impacto decisivo sobre o ciclo de vida dos membros de cada
espécie, muito embora não possa produzir neles alterações que venham a ser transmitidas a
futuras gerações.
A teoria darwiniana acabou, assim, sendo erroneamente entendida
como postulando aquilo que nunca pretendeu: que os fatores ambientais eram
incapazes de exercer um efeito direto tanto na espécie quanto no organismo.
(DAVIS e OLIVEIRA, 1994, p.28)
Portanto, neste tipo de abordagem, o papel da escola e dos processos educacionais é
limitado, visto que o estudante já traz consigo estas determinadas capacidades que lhe são
inatas.
O processo educativo fica assim na dependência de traços
comportamentais ou cognitivos inerentes ao aluno. Desse modo, essa
perspectiva acaba gerando um certo imobilismo e resignação provocados pela
convicção de que as diferenças não serão superáveis pela educação.
(REGO, 1996).
Nesta concepção, o sucesso da criança na escola estará relacionado às qualidades e
aptidões do educando como: inteligência, esforço, atenção, interesse, etc. Retira-se, portanto,
da escola a responsabilidade pelo desempenho dos estudantes.
Podemos identificar o mesmo descrédito no papel da educação[...]
entre aqueles que descartam a hipótese de que as características individuais
estão completamente definidas no ato do nascimento mas que admitem que
estas se desenvolverão "naturalmente", em etapas sucessivas, ao longo do
tempo, independente da aprendizagem. Neste caso, entende-se que o
processo de desenvolvimento psíquico da criança se realiza segundo leis
próprias, é portanto, um processo endógeno que independe de
conhecimentos, da sua experiência e de sua cultura. (REGO, 1996)
21
Nesta perspectiva o sujeito em si é o responsável pelo seu desenvolvimento. O sucesso
escolar do estudante estará relacionado às suas qualidades pessoais. Assim, será o processo
de maturação biológica alcançada pela criança juntamente com sua herança genética que
definirá as possibilidades educacionais. Portanto, o processo educacional relacionado a esta
concepção deverá centrar sua atenção no sujeito. A responsabilidade do processo educacional
está centrado no estudante e não na sua relação social nem na estrutura pedagógica escolar.
III.1.2- A Concepção Ambientalista
Nesta Concepção, também chamada de Comportamentalista ou Behaviorista, se
destaca o imenso poder que o ambiente exerce no desenvolvimento humano. Segundo
Mizukami (1986, p.2), nesta abordagem o conhecimento é uma descoberta de algo que já se
encontra pronto no meio exterior. O homem é concebido como um organismo extremamente
plástico que será moldado de acordo com os estímulos e características do meio onde se
encontra. Diferentemente do inatismo, nesta concepção a escola desempenhará um papel
fundamental no desenvolvimento do sujeito; no entanto, as causas das dificuldades dos alunos
são atribuídas aos problemas sociais como pobreza, desnutrição, a desestrutura familiar do
ambiente em que vive, a violência, etc... Para Rego, (1996), tanto para os inatistas como para
os ambientalistas, a escola se isenta de uma avaliação interna e não se vê como promotora do
fracasso escolar.
Esta concepção encontra sua fundamentação no empirismo, corrente filosófica que se
opõe ao inatismo e que possui seus maiores expoentes no chamado empirismo inglês, dos
séculos XVI ao XVIII ( Francis Bacon, John Locke, David Hume e outros). Para eles, nosso
conhecimento se inicia com a experiência dos sentidos, isto é, com as sensações. As
sensações se reúnem e formam uma percepção.
A experiência escreve e grava em nosso espírito as idéias, e a razão
irá associá-las ou separá-las, formando todos os nossos pensamentos. Por
isso, David Hume dirá que a razão é o hábito de associar idéias, seja por
semelhança, seja por diferença. (CHAUÍ, 2000)
Conforme procuramos mostrar em nosso referencial filosófico, embora este tipo de
concepção epistemológica tenha sido amplamente criticado, sua fundamentação persistiu até
nossos dias com trabalhos mais elaborados principalmente de Bertrand Russell.
22
Mizukami (1986, p.19) entende que, para os comportamentalistas, a ciência consistirá
então em uma tentativa de descobrir a ordem na natureza e nos eventos. Tanto a ciência
quanto o comportamento são considerados como uma forma de conhecer os eventos, o que
torna possível sua utilização e seu controle.
Um grande defensor da proposta ambientalista é B. F. Skinner, que partindo de uma
concepção indutivista, se propõe a explicar os comportamentos observáveis do sujeito.
Segundo Davis e Oliveira (1994, p.31), Skinner não leva em consideração outros aspectos da
conduta humana como seu raciocínio e os seus sentimentos. Partindo então desta concepção
de ciência, que defende a necessidade de medir, comparar, testar, experimentar, prever e
controlar eventos de modo a explicar o objeto de investigação, Skinner se propõe a construir
uma ciência do comportamento.
Os modelos são desenvolvidos a partir da análise dos processos por
meio dos quais o comportamento humano é modelado e reforçado. Implicam
recompensa e controle, assim como o planejamento cuidadoso das
contingências de aprendizagem, das seqüências de atividades de
aprendizagem, e a modelagem do comportamento humano, a partir da
manipulação de reforços, desprezando os elementos não observáveis ou
subjacentes a este comportamento. (MIZUKAMI, 1986, p.20).
Na visão ambientalista, a ênfase está em propiciar novas aprendizagens, por meio de
manipulação dos estímulos que antecedem e sucedem o comportamento. Para tanto, é preciso
uma análise rigorosa da forma como os indivíduos atuam em seu ambiente, identificando os
estímulos que provocam o aparecimento do comportamento-alvo e as conseqüências que o
mantêm.
Uma da maiores críticas que se podem fazer à abordagem comportamentalista para a
educação está relacionada à forma como ela concebe o homem.
A pressuposição é de um indivíduo passivo frente às pressões do
meio, que tem seu comportamento moldado, manipulado, controlado e
determinado pelas definições do ambiente em que vive. Portanto, sua
capacidade de se modificar ou interferir no contexto social e político, no
sentido de transformá-lo, e inová-lo é residual, pois apenas reproduz as
características do seu ambiente. (REGO, 1996)
23
A importância de teorias ambientalistas na sala de aula teve o mérito de chamar a
atenção dos educadores para a importância do planejamento do ensino. No entanto, aponta
Davis e Oliveira (1994, p.33-34), nesta concepção parece não haver lugar para criação. Não
nesta teoria a preocupação em explicar os processos através dos quais a criança raciocina e
que estariam presentes na forma como ela se apropria de conhecimentos.
Desta forma, segundo Rego (1996), os postulados ambientalistas/empiristas acabam
gerando posições paradoxais: num extremo justifica um grande ceticismo e desconfiança do
papel da educação, no outro, uma espécie de onipotência das instituições educativas.
III.1.3- A Concepção Interacionista
Nesta Concepção, também chamada de Cognitivista, o conhecimento é construído pelo
indivíduo em sua interação com o meio. Nesta interação, fatores internos e externos se inter-
relacionam continuamente, formando uma complexa combinação de influências. Desta forma,
os interacionistas discordam das teorias inatistas, por desprezarem o papel do ambiente e das
concepções ambientalistas porque ignoram fatores maturacionais. “Os interacionistas
destacam que o organismo e o meio exercem ação recíproca. Um influencia o outro, e essa
interação acarreta mudanças sobre o indivíduo.” (DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p.36).
A corrente interacionista estabelece que o conhecimento é obtido na interação entre o
homem e o mundo , ou seja, entre o sujeito e o objeto. Nesta abordagem não se enfatizará
nem o sujeito e nem o objeto, mas o processo de interação entre os dois; ou seja, o
desenvolvimento se processará nas formas de interação entre o organismo e o meio. Será
então um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida.
Um dos principais pilares da teoria interacionista é Jean Piaget (1896-1980), biólogo e
filósofo, que se dedicou a investigar cientificamente como se desenvolve o conhecimento nos
seres humanos. Como resultado de seus estudos, cria uma “epistemologia genética”, ou seja,
uma teoria que tenta explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos.
Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo será conseqüência de sucessivos
desequilíbrios e equilibrações provocadas pelo meio e que acarretará o rompimento de
estruturas de harmonia que existiam entre o organismo e o meio.
Dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de
equilíbrio. O primeiro recebe o nome de assimilação. Através dele o organismo
sem alterar suas estruturas desenvolve ações destinadas a atribuir
24
significações, a partir da sua experiência anterior, aos elementos do ambiente
com os quais interage. O outro mecanismo, através do qual o organismo tenta
restabelecer um equilíbrio superior com o meio ambiente, é chamado de
acomodação. Agora, entretanto, o organismo é impelido a se modificar, a se
transformar para se ajustar às demandas impostas pelo ambiente. (DAVIS e
OLIVEIRA, 1994, p.38)
Em sua obra, Piaget mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento
se estiver preparado para recebê-lo, ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento
para inseri-lo em seu sistema de relações. Segundo Bello(1998), não existe para Piaget um
novo conhecimento sem que o organismo já tenha um conhecimento anterior para poder
assimilá-lo e transformá-lo, o que implica nestes dois pólos da atividade inteligente: assimilação
e acomodação.
Assim, para Piaget, o desenvolvimento do indivíduo é um processo de construção
contínua de novas estruturas. A passagem de um estado de desenvolvimento para o seguinte é
caracterizada por formação de novas estruturas que não existiam anteriormente no indivíduo.
Desta forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos
oferecidos pelo meio que os cerca. As estruturas mentais ou orgânicas são para Piaget produto
de uma construção, devido às perturbações do meio e à capacidade do organismo de ser
perturbado e responder a esta perturbação.
Outro importante teórico interacionista é Lev Seminovitch Vygotsky (1896-1934).
Nascido na Rússia e que se tornou o principal teórico marxista entre os psicólogos soviéticos.
Segundo Rego (1995, p.15), em sua curta vida de 37 anos, escreveu uma ampla e importante
obra, cujo alcance é praticamente impossível definir. Em sua visão, o “desenvolvimento é
baseado na concepção de um organismo ativo, cujo pensamento é construído paulatinamente
num ambiente que é histórico e, em essência, social.” (DAVIS e OLIVEIRA, 1994, p.49).
Vygotsky defende a idéia de que, partindo de estruturas orgânicas elementares, determinadas
basicamente pela maturação, formam-se novas e mais complexas funções mentais, que irão
depender essencialmente das experiências sociais a que as crianças se acham expostas.
Em sua tese de mestrado: ATIVIDADES EXPERIMENTAIS DE DEMONSTRAÇÃO EM
SALA DE AULA Uma análise segundo a teoria de Vygotsky (2002), Isabel Cristina de Castro
Monteiro procura mostrar como estas atividades demonstrativas podem estar respaldadas na
teoria sobre o desenvolvimento de Vygotsky. A autora destaca que, em 1920, havia poucos
trabalhos que associavam o desenvolvimento da criança e sua linguagem. Vygotsky
considerava que a criança era um ser social que, desde pequena, orientava sua atividade para
25
a comunicação com o adulto. Piaget, ao contrário, afirmava que a fala da criança é, desde seu
começo, egocêntrica, não dirigida para o adulto. Segundo a autora, a experiência mostrava
que:
A linguagem egocêntrica da criança é, na verdade, a expressão verbal
de seus pensamentos. Ela ajuda a criança a refletir durante as suas
atividades, a avaliar cada situação, analisando-a primeiro e planejando sua
ação futura. Esta fala representa uma transição da fala para os outros à fala
para si mesmo. Já tem a função da fala interior, mas sua expressão exterior
continua semelhante à fala social. (MONTEIRO, 2002, p.41-42)
Vygotsky irá então defender que, nos primeiros meses de vida, a linguagem e o
pensamento não têm nenhuma relação, mas que no desenvolvimento que se processa a seguir
o pensamento se converterá em linguagem e a linguagem em pensamento. A relação entre fala
e pensamento irá então modificar-se ao longo do desenvolvimento. Davis e Oliveira (1994,
p.51) apontam que, segundo Vygotsky, até por volta de três anos de idade, a fala acompanha o
comportamento infantil. Destacam que é comum a criança de dois anos agir e descrever o que
faz, ao mesmo tempo. A partir de então se observa que a fala começa a preceder o
comportamento: o menino ou a menina anuncia o que irá fazer a seguir. A fala irá adquirir uma
nova função, que é característica do pensamento complexo: a de planejar a ação, de guiar as
atividades da criança. Isto pode ser verificado quando se observa a modificação do “falar em
voz alta”, típico dos menores. As autoras apontam ainda que após a idade de seis anos,
Vygotsky notou que o falar em voz alta para si mesmo é substituído por sussurros e começa a
desaparecer, tornando-se uma fala interna. Contudo, sempre que há confronto com situações-
problemas de difícil solução, a fala externa volta a aparecer, auxiliando a atividade cognitiva.
A forma como a fala é utilizada na interação social com adultos e
colegas mais velhos desempenha um papel importante na formação e
organização do pensamento complexo e abstrato individual. O pensamento
infantil, amplamente guiado pela fala e pelo comportamento dos mais
experientes, gradativamente adquire a capacidade de se auto-regular. (DAVIS
E OLIVEIRA, 1994, p.49)
No entanto, as mesmas autoras apontam que este processo de interiorização da
orientação vindo do meio não é apenas um processo passivo e linear, onde o sujeito seria
26
apenas espelho do seu meio social (determinismo social do indivíduo). Ao contrário, este é um
processo ativo, no qual o sujeito apropria-se do social de uma forma particular. Esta
interiorização e transformação interagem constantemente, de forma que o sujeito, ao mesmo
tempo em que se integra ao social, é capaz de posicionar-se frente a ele, ser seu crítico e seu
agente transformador. As autoras apontam ainda que através da própria fala, o ambiente físico
e social pode ser mais bem apreendido e equacionado: a fala modifica, assim, a qualidade do
conhecimento e o pensamento que se tem do mundo em que se encontra.
Segundo Vygotsky, a aquisição de um sistema lingüístico reorganiza,
pois, todos os processos mentais infantis. A palavra dá forma ao pensamento,
criando novas modalidades de atenção, memória e imaginação. Ela indica um
objeto do mundo externo e especifica suas características. Ela sistematiza a
experiência direta da criança e serve para orientar o seu comportamento.
(DAVIS E OLIVEIRA,, 1994, p.51)
Embora Vigotsky admita a existência de áreas do pensamento que não têm relação
direta com a linguagem, ele dá uma importância tão grande ao pensamento verbal que chega a
afirmar que as estruturas de linguagem dominadas pelas crianças passam a construir as
estruturas básicas de sua forma de pensar.
Com sua identificação da diversidade de situações histórico-sociais ao qual o indivíduo
pode estar submetido, Vygotsky irá então discordar de Piaget, que propõe uma seqüência de
estágios cognitivos. Para ele, “os fatores biológicos preponderam sobre os sociais apenas no
início da vida das crianças, e as possibilidades que se abrem para cada uma delas são muitas
e variadas, adquirindo destaque em sua teoria, as formas pelas quais as condições e as
interações humanas afetam o pensamento e o raciocínio.” (DAVIS e OLIVEIRA, 1994, p.51)
III.2- O DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM EM UMA PERSPECTIVA
VYGOTSKYANA - A ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL E O PAPEL DA
ESCOLA
Segundo Rego (1995), Vygotsky não ignora as definições biológicas da espécie
humana, no entanto atribui enorme importância à dimensão social, que acaba por fornecer as
formas de como agir sobre o mundo.
27
Portanto, o desenvolvimento pleno do ser humano dependerá do
aprendizado que realiza num determinado grupo cultural, a partir da interação
com indivíduos de sua espécie. Por exemplo, uma criança só aprenderá a falar
se pertencer a uma comunidade de falantes, ou seja, as condições orgânicas
de possuir um aparelho fonador, embora necessárias, não são suficientes para
que um indivíduo adquira a linguagem. (REGO, 1995, p 74).
Nesta perspectiva é o aprendizado que possibilita o processo de desenvolvimento: “O
aprendizado pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as
crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam.” (VYGOTSKY, 1984 apud
REGO, 1995, p.71).
Consideremos então as principais teorias que discutem a relação entre desenvolvimento
e aprendizagem, para Davis e Oliveira ( 1994, p.52).
a)Para Piaget, desenvolvimento é encarado como um processo maturacional que ocorre
antes da aprendizagem, criando condições para que esta se dê. É necessário haver um
determinado nível de desenvolvimento para que certos tipos de aprendizagens sejam
possíveis.
b)Para teóricos comportamentalistas ou behavioristas, a aprendizagem é entendida
como acúmulo de respostas apreendidas. Nesta concepção o desenvolvimento ocorre
simultaneamente à aprendizagem, ao invés de precedê-la.
Para Vygotsky, nenhuma das propostas acima é satisfatória.
Esta relação entre desenvolvimento e aprendizagem ocupa lugar de destaque em sua
obra. Ele identifica dois níveis de desenvolvimento: um se refere às conquistas já efetivadas
pelo sujeito, que chama de Nível de Desenvolvimento Real ou Efetivo, e o outro, o Nível de
Desenvolvimento Potencial, que se relaciona às capacidades em vias de serem construídas.
Rego (1995, pág 72) conceitua de modo claro e objetivo os níveis de desenvolvimento
propostos na teoria vygotskyana.
O Nível de Desenvolvimento Real, segundo ela, pode ser entendido como referente
àquelas conquistas que estão consolidadas no indivíduo, aquelas funções ou capacidades que
ela já aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinho sem assistência de ninguém. Este
nível indica os processos mentais que já se estabeleceram ou ciclos de desenvolvimento que já
se completaram. Quando estamos nos referindo às atividades e tarefas que o indivíduo já sabe
fazer de forma independente, como, por exemplo, cortar com tesoura, andar de bicicleta ou
resolver uma equação do 2
o
grau, estamos tratando do Nível de Desenvolvimento Real.
28
O Nível de Desenvolvimento Potencial também se refere àquilo que o indivíduo é capaz
de fazer, só que mediante a ajuda de outra pessoa. Neste caso, o sujeito realiza tarefas e
soluciona problemas através do diálogo, da colaboração, da experiência compartilhada e das
pistas que lhe são fornecidas.
Segundo a autora, a "distância" entre aquilo que o sujeito pode fazer de forma
autônoma (Nível de Desenvolvimento Real) e aquilo que pode realizar em colaboração com
outros elementos do seu grupo social (Nível de Desenvolvimento Potencial) caracteriza aquilo
que Vygotsky chamou de "Zona de Desenvolvimento Proximal" ou "Zona de Desenvolvimento
Potencial".
A "Zona de Desenvolvimento Proximal” define aquelas funções que
ainda não amadureceram, funções que estão em processo de maturação,
funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário.
Estas funções poderiam ser chamadas de brotos ou flores do desenvolvimento
ao invés de "frutos" do desenvolvimento. (VYGOTSKY, 1984, apud REGO,
1995, p 74).
O aprendizado é o responsável por criar a Zona de Desenvolvimento Proximal, na
medida que, em interação com outras pessoas, o sujeito é capaz de colocar em movimento
vários processos de desenvolvimento, que sem ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer.
Estes processos se internalizam e passam a fazer parte das aquisições do seu
desenvolvimento individual. É por isso que Vigotsky afirma que "aquilo que é Zona de
Desenvolvimento Proximal hoje será o Nível de Desenvolvimento Real amanhã." (VYGOTSKY,
1984, apud REGO, 1995, p 74).
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal é, para a autora, de extrema
importância para as pesquisas do desenvolvimento do indivíduo e para elaboração de um plano
educacional, justamente porque permite a compreensão da dinâmica interna do
desenvolvimento do sujeito.
Para Vygotsky, o aprendizado de modo geral e o aprendizado escolar em particular não
só possibilitam como orientam e estimulam processos de desenvolvimento.
Um ensino orientado até uma etapa de desenvolvimento já realizado é
ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento geral da criança, não é capaz
de dirigir o processo de desenvolvimento, mas vai atrás dele. A teoria do
âmbito de desenvolvimento potencial origina uma fórmula que contradiz
29
exatamente a orientação tradicional: o único bom ensino é aquele que se
adianta ao desenvolvimento.(...) A característica essencial da aprendizagem é
que engendra a área de desenvolvimento potencial, ou seja, que faz nascer,
estimula e ativa na criança um grupo de processos internos de
desenvolvimento [...] e se convertem em aquisições internas da criança.
(VYGOTSKY, 1988, apud REGO, 1995, p 128).
Nesta perspectiva, segundo a autora, o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-
relacionados desde o nascimento da criança. Segundo ela, para explicar o papel da escola no
processo de desenvolvimento do indivíduo, Vygotsky faz uma importante distinção entre os
conhecimentos construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana que ele chamou
conceitos cotidianos e aqueles elaborados na sala de aula, adquiridos por meio de ensino
sistemático, que chamou de conceitos científicos. O processo de formação de conceitos,
fundamental ao desenvolvimento, é longo e complexo. Para ela um conceito não é apreendido
por meio de um treinamento mecânico, nem tampouco pode ser meramente transmitido pelo
professor ao aluno:
[...]o ensino direto de conceitos é impossível e infrutífero. Um
professor que tenta fazer isso geralmente não obtém qualquer resultado,
exceto o verbalismo vazio, uma repetição de palavras pela criança,
semelhante a um papagaio, que simula um conhecimento dos conceitos
correspondentes, mas que na realidade oculta um vácuo (VYGOTSKY,1993.
p.72)
Vigotsky afirma, segundo a autora, que “se o meio ambiente não desafiar, exigir e
estimular o intelecto do adolescente, esse processo poderá se atrasar ou mesmo não se
completar, isto é, poderá não chegar a conquistar estágios mais elevados de
raciocínio.”(REGO, 1995, p.79). Ela conclui então que o bom ensino é aquele que se adianta ao
desenvolvimento, ou seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se
completarem. A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que partindo daquilo que
a criança já sabe, ela for capaz de ampliar e desafiar a construção de novos conhecimentos, na
linguagem vigotskyana, incidir na Zona de Desenvolvimento Proximal dos educandos. Desta
forma poderá estimular processos internos que acabarão por se efetivar, passando a construir
a base para novas aprendizagens.
30
IV- REFERENCIAL METODOLÓGICO PARA DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES
INVESTIVATIVAS E EXPERIMENTAIS
Neste capítulo, tentaremos apontar as principais linhas metodológicas que utilizamos na
confecção de nosso produto educacional. Como conseqüência dos referenciais filosófico,
histórico e pedagógico, que adotados, faremos a opção por uma metodologia de abordagem
experimental centrada em atividades investigativas. Tentaremos evidenciar alguns problemas
vinculados à aplicação das idéias do laboratório tradicional, mostrando que elas estão muitas
vezes relacionada a uma visão equivocada de construção da ciência. Evidenciaremos a
importância das teorias construídas socialmente pelo grupo de estudantes e seu professor
como fator primordial para dar significação à atividade experimental. Mostraremos que a opção
pela adoção de uma proposta investigativa, com proposição de questões abertas, faz com que
o estudante possa ter uma postura mais ativa no desenvolvimento das atividades, as quais
passam a adquirir características semelhantes às de um trabalho de investigação científica.
IV.1- ATIVIDADES INVESTIGATIVAS E EXPERIMENTAIS NO COTIDIANO DA
SALA DE AULA
Virou quase um “lugar comum” em uma comunidade escolar a reivindicação dos alunos,
professores e pais, de que a inserção de aulas práticas de ciências melhorariam
significativamente a qualidade do ensino de ciência e, conseqüentemente, o desempenho dos
estudantes nesta disciplina. Deste modo, a inserção de aulas práticas seria a grande solução
para os sérios problemas de aprendizagem que vemos com freqüência associados à nossa
disciplina. O laboratório científico é idealizado como complemento das aulas teóricas, no qual
os alunos se dedicam à função de “fazer” ciência e não apenas o de “estudá-la passivamente”,
como ocorrem nas aulas ditas teóricas. Será então do laboratório a função quase que utópica,
de transformação das aulas de ciência da escola, e a sua ausência justificaria o desinteresse
dos estudantes por esta disciplina.
Não nos detendo em problemas operacionais que comumente são apresentados como
falta de espaço privilegiado e materiais para as atividades, inclusive material humano,
pretendemos analisar neste trabalho as questões de cunho pedagógico.
31
Será que de fato bastaria a inserção de um laboratório científico e um programa de
aulas práticas para modificar a qualidade do ensino de ciências?
A visão deturpada de ciência por parte da comunidade escolar e as concepções
epistemológicas dos professores, mesmo que inconscientes, projetam na atividade prática a
esperança da redenção do ensino de ciência. A visão empiricista-indutivista de ciência,
conforme mostramos em o nosso referencial filosófico, estabelece que o “método científico” nos
garante que a verdade sobre a natureza vem da cuidadosa observação experimental.
Não obstante, vemos também uma interpretação equivocada dada ao construtivismo
Piagetiano, na qual a apropriação do conhecimento pelo estudante se daria exclusivamente na
relação entre o sujeito e o objeto, sendo, portanto, imprescindível às aulas práticas, onde os
alunos pudessem interagir com os diferentes objetos, alvo de estudo da ciência.
Usualmente, os métodos ativos de ensino-aprendizagem
são entendidos como se defendessem a idéia de que os estudantes
aprendem melhor por experiência direta. Embora verdadeiro em
algumas situações, esse entendimento é uma simplificação grosseira,
como apontam os trabalhos baseados nas idéias de Dewey, Piaget e
Vigotsky, entre outros. O importante não é a manipulação de objetos e
artefatos concretos, e sim o envolvimento comprometido com a busca
de respostas/soluções bem articuladas para as questões colocadas,
em atividades que podem ser puramente de pensamento. (BORGES,
2002, p.12)
Parece-nos importante então fazer uma profunda avaliação do papel que os laboratórios
ou aulas práticas desempenham dentro de uma proposta educacional. Qual o seu real valor?
Que contribuições poderá implementar na relação ensino-aprendizagem? Quais as estratégias
que devem ser adotadas para sua implementação? Quais as concepções histórico-filosóficas
de ciência estarão alicerçando o modelo de proposta que estaremos adotando?
Conforme procuramos descrever no nosso referencial filosófico, a imagem popular da
ciência está relacionada à idéia de que o conhecimento científico é o conhecimento
comprovado, principalmente por intermédio de observações empíricas. Quer seja nos livros,
entre professores do 1
o
, 2
o
e 3
o
graus, ou mesmo entre cientistas e profissionais com formação
científica, a idéia quase que intuitiva é que a ciência se inicia com a observação neutra, a
princípio sem o respaldo de qualquer formulação teórica, livre de idéias pré-concebidas. É
32
através da investigação experimental cuidadosa que a natureza se deixa revelar da forma tal
como ela é. Nesta perspectiva, um cientista será então como um detetive que busca, através
da experiência, desvendar os segredos escondidos, que vão revelar as leis, que em seu seio
encontram-se escondidas.
Como vimos anteriormente, esta idéia tradicional de ciência verificacionista-indutivista
foi amplamente criticada desde o final do século XVII por Hume e posteriormente Popper e
Kuhn, entre outros. Popper evidenciou, como mostramos, o que chamou do problema da
indução, no qual a realização de um número finito de observações não nos permite induzir uma
lei universal. Kuhn verificou historicamente que as grandes transformações e idéias que
impulsionaram o desenvolvimento do pensamento científico não ocorreram por descobertas
empíricas. As leis de Newton, por exemplo, só foram comprovadas experimentalmente muito
depois de sua morte.
Quando a teoria foi enunciada em finais do século XVII somente a
3
a
lei podia ser diretamente investigada pela experimentação. As
primeiras demonstrações da 2
a
lei só começaram a ser feitas depois do
desenvolvimento da máquina de Atwood, um século depois do Princípia
de Newton. Investigações quantitativas diretas da leis de atração
gravitacional só foram feitas a partir de 1798 por Cavendish. (KUHN,
1961 apud ARRUDA e LABURÚ, 1998, p.57-58).
Na orientação filosófica que apresentamos em nosso trabalho, evidenciamos que a teoria
precede a experimentação. Ao realizar uma experiência, um cientista utiliza o conjunto de seus
conhecimentos teóricos para montar as estratégias de observação e coleta de informações das
variáveis que julgou relevantes num determinado sistema a ser investigado. Por isso, a idéia do
cientista como “tábula rasa” sem idéias pré-concebidas, que busca a verdade que se mostrará
unicamente na experiência, é um postura epistemológica que, depois de severamente criticada
em nosso referencial filosófico, julgamos ultrapassada. O estudante que se deseja inserir na
comunidade científica é um sujeito que se construiu em uma sociedade, e que, portanto, possui
uma determinada escala de valores e uma visão de mundo à qual não temos acesso direto.
Este aluno terá, portanto, uma concepção própria de ciência, da sua importância e da forma
como se relaciona com o mundo. É então importante verificarmos que, longe de ser uma
“tábula rasa” na qual podemos imprimir novos valores e conceitos, ele já é de certa forma um
cientista que foi desenvolvendo ao longo dos anos o seu próprio método de investigação,
33
realizou descobertas e montou seu modelo pessoal de valores e verdades. Enfim, este aluno
possui seu próprio referencial teórico que foi construído como resultado de suas diversas
interações ao longo dos anos em uma complexa relação com os diferentes objetos do seu
mundo e com uma sociedade na qual está inserido, que possui determinados padrões de
valores e de comportamento.
Ao pensarmos uma atividade prática, não necessariamente uma experimentação,
devemos ter em mente que nossos estudantes poderão confirmar, ampliar e modificar seu
próprio referencial teórico.
Atividades de resolução de problemas, modelamento e
representações com simulação em computador, desenhos, pinturas,
colagens ou simplesmente atividades de encenação e teatro, cumprem
esse papel de mobilizar o envolvimento do aprendiz. Essas atividades
apresentam, muitas vezes, vantagens claras sobre o laboratório usual,
uma vez que não requerem a simples manipulação, às vezes repetitiva
e irrefletida, de objetos concretos, mas de idéias e representações, com
o propósito de comunicar outras idéias e percepções. (BORGES, 2002,
p.12)
IV.2- O PROBLEMA DO LABORATÓRIO TRADICIONAL
Segundo Borges (2002, p.13), para um país onde a maior parte dos estudantes nunca
teve a oportunidade de entrar em um laboratório de ciências, pois na quase totalidade das
escolas eles não existem, pode parecer um contra-senso questionar a validade de aulas
práticas. Entretanto, salienta que, mesmo em países onde a tradição de ensino experimental
está bem sedimentada, a função que o laboratório pode, e deve ter, bem como sua eficácia em
promover as aprendizagens desejadas, tem sido objeto de questionamento.
A definição de laboratório tradicional é, para ele, a realização de atividades práticas por
pequenos grupos de alunos (grupos de 3 ou 4 alunos), as quais são orientadas quase que
sempre por um roteiro preestabelecido. O objetivo destas atividades pode ser o de testar uma
lei científica, ilustrar idéias e conceitos apreendidos nas aulas teóricas, descobrir ou formular
uma lei acerca de um fenômeno específico, “ver na prática” o que acontece na teoria ou
aprender a utilizar algum instrumento ou técnica de laboratório específica. Borges observa
34
ainda que não podemos deixar de reconhecer alguns méritos deste tipo de atividade, como por
exemplo: o trabalho em grupo, possibilitando a oportunidade de interagir com montagens e
instrumentos específicos, de dialogar com os demais componentes, dividindo
responsabilidades e idéias sobre o que devem fazer e como fazer e a possibilidade de interagir
em um ambiente mais informal que os da sala de aula tradicional.
Dentre as principais críticas que são apresentadas a este tipo de atividades destaca-se
que em geral elas não se relacionam à obtenção de um conceito físico e que muitas não são
relevantes para os estudantes, pois tanto o problema quanto o procedimento para resolvê-lo
estão previamente determinados em um roteiro experimental. As operações envolvendo a
montagem experimental, a coleta de dados e os cálculos envolvidos consomem quase que a
totalidade do tempo de aula, “restando aos estudantes pouco tempo à análise e interpretação
dos resultados e do próprio significado da atividade realizada”. (BORGES, 2002, p.14).
Borges destaca também que, ao aceitar estas críticas a este tipo de abordagem
experimental, não implica, no entanto, em admitir que as atividades prático-experimentais são
“supérfluas” e que podem ser descartadas de um projeto pedagógico sem maiores
conseqüências para a comunidade escolar.
IV.3- A BUSCA DE UMA METODOLOGIA DE ABORDAGEM TEÓRICO
EXPERIMENTAL
Em minha dissertação de especialização intitulada “Um modelo alternativo de
proposição de questões/desafios dentro de uma perspectiva Vygotskyana - UFF-2004”
(PENHA, 2004), tivemos a oportunidade de mostrar que a inserção de uma abordagem
experimental nas escolas é dificultada pela suposição errônea de que tais atividades devam ser
realizadas diretamente pelos alunos, que terão que apresentar um relatório final. Esta
concepção pressupõe erroneamente que o aprendizado se verifica única e exclusivamente na
interação entre o sujeito (aluno) e o objeto (atividade experimental), ignora, no entanto, que
esta relação está contida em um ambiente social (o ambiente escolar onde os alunos estão em
constante interação com outros alunos e professores) e mediada pela linguagem do aluno
consigo mesmo e com os indivíduos do seu meio, conforme mostramos em nossos
pressuposto da teoria sócio-interacionista de Vygotsky.
Acreditamos que a experimentação deverá estar sempre presente como uma
possibilidade nos diferentes contextos, que poderão surgir no cotidiano da sala de aula. Ela é
35
um importante instrumento na abordagem interacionista, no entanto não o único. A realização
de uma experiência por um estudante não lhe garante um respectivo desenvolvimento ou
aprendizagem. Ela, por si só, pode nada representar para um estudante. Será sua
predisposição, construída socialmente com o professor e seus colegas, que poderá atribuir a
verdadeira significação que este aluno dará para esta experiência. O aluno aprende em suas
interações socialmente contextualizadas, sejam elas puramente teóricas ou experimentais.
Portanto, não é somente a observação ou realização de uma experimentação que fará
ocorrer uma aprendizagem. Aprendemos com nossos pares, com nossos professores, na
formulação das diferentes idéias que surgem para explicação dos fenômenos que observamos
e de outros que nos são socialmente transmitidos como herança cultural e científica da
sociedade na qual estamos envolvidos.
Não é nosso objetivo desqualificar o papel da experimentação na relação de ensino-
aprendizagem; muito pelo contrário, pretendemos criar condições para que esteja sempre
presente na sala de aula. Diminuindo nossas expectativas quanto à transformação que uma
determinada experiência pode provocar em um estudante, diminuiremos também a frustração
de perceber que nem todos os estudantes deram àquela experiência a significação que
desejávamos. Não sendo dela a função exclusiva de proporcionar a aprendizagem, talvez
perca seu caráter de exigir lugar adequado, momento previamente planejado e todos os outros
empecilhos que a fazem não ser amplamente utilizada nas salas de aula. Talvez seja
necessário “banalizarmos” um pouco sua eficácia para desmitificarmos sua utilização como
mais um instrumento de aprendizagem que pode e deve ser utilizado no cotidiano de nossa
sala de aula das mais variadas formas:
a) provocando situações de desequilíbrio ao contestar determinadas teorias elaboradas por
nosso senso comum;
b) servindo para confirmação de hipóteses construídas coletivamente com os alunos durante
uma abordagem teórica;
c) verificando experimentalmente quando possível, as idéias propostas pelos alunos no
decorrer de um determinado assunto;
d) remontando uma abordagem histórica que envolvam experiências que podemos reconstruir
na sala de aula com nossos alunos, discutindo as diferentes interpretações dadas aos
fenômenos observados;
e) servindo como motivação e para realização de atividade de fixação de determinado tema;
f) como proposição de atividade experimental que tenta criar situações para elaboração de
teses por parte dos alunos.
36
IV.4- A opção por uma abordagem centrada em atividades investigativas
Maria Cristina P. Stella Azevedo (2004) indica, em seu artigo sobre ensino por
investigação, que as pesquisas recentes parecem mostrar que, deixando como atividades
separadas a resolução de problemas, a teoria e as aulas práticas, os alunos acabam com uma
visão deformada do que é ciência.
Pode-se pensar, pois, em abraçar as práticas de laboratório e a
resolução de problemas de lápis e papel como variantes de uma
mesma atividade: o tratamento de situações problemáticas abertas,
com uma orientação próxima do que constitui o trabalho científico. (GIL
et al. 1999 apud AZEVEDO, 2004. p.20).
Nosso objetivo, enquanto educadores, é o de proporcionar aos nossos alunos
atividades nas quais possam pensar, debater, justificar suas idéias, modificar e ampliar seus
conhecimentos em diferentes situações. Segundo Azevedo (2004), uma atividade investigativa,
(não necessariamente de laboratório) é sem dúvida uma importante estratégia no ensino de
Física e de Ciências em geral.
É preciso que sejam realizadas diferentes atividades, que
devam estar acompanhadas de situações problematizadoras,
questionadoras e de diálogo, envolvendo a resolução de problemas e
levando à introdução de conceitos para que os alunos possam construir
seu conhecimento. (CARVALHO et al., apud AZEVEDO, 2004. p.20).
Para que uma atividade possa ser considerada uma atividade investigação,
destaca a autora, a ação do aluno não deve se limitar apenas ao trabalho de manipulação ou
observação, ela deve também conter características de um trabalho científico: o aluno deve
refletir, discutir, explicar, relatar, o que dará ao seu trabalho as características de uma
investigação científica.
A colocação de uma questão ou problema aberto como início de uma investigação é um
aspecto fundamental para a criação de um novo conhecimento. Para Bachelard : “Todo
conhecimento é resposta a uma questão.” (BACHELARD, 1996 apud AZEVEDO 2004, p.21).
37
A experimentação baseada na resolução de problemas não é
suficiente para a descoberta de uma lei física, tampouco achamos
necessário que o aluno passe por todas as etapas do processo de
resolução de maneira autônoma, mas que, com base nos
conhecimentos que os alunos já possuem do seu contato cotidiano com
o mundo, o problema proposto e a atividade de ensino criada a partir
dele venham despertar o interesse do aluno, estimular sua
participação, apresentar uma questão que possa ser o ponto de partida
para a construção do conhecimento, gerar discussões e levar o aluno a
participar das etapas do processo de resolução do problema.
(AZEVEDO, 2004, p.22).
O processo de pensar do aluno, como resultado de uma atividade investigativa, faz
com que ele comece a construir sua autonomia. Azevedo (2004, p.22), citando Carvalho
(1992), defende a experimentação como instrumento de criação de conflitos cognitivos, no qual
o aluno aprenderá se suas concepções espontâneas foram colocadas em confronto com os
fenômenos ou resultados experimentais.
Esta opção pela utilização de um laboratório aberto leva vantagens sobre o
modelo do laboratório tradicional apresentado anteriormente, onde este aluno deve seguir
instruções preestabalecidas pelos manuais ou roteiros experimentais, não sendo facultado a
ele o poder de decisão de que caminho adotar nem da estruturação das etapas a serem
adotadas. Como vimos, a idéia do “método científico” como um modelo fechado, com uma
seqüência lógica dos passos a serem adotados, dissemina a idéia errônea de que a ciência é
construída, a partir somente da observação experimental.
IV.5- A ATUAÇÃO DO PROFESSOR EM ATIVIDADES INVESTIGATIVAS
Dentro desta perspectiva, fica evidente que também o professor deve modificar sua
postura pedagógica. Em uma proposta de ensino investigativo, este deixa de ter a função de
transmissor de conhecimentos e passa a atuar como um orientador e fomentador de
estratégias investigativas, não se excluindo, no entanto, de participar ativamente da construção
destas estratégias, quando se fizer necessário.
38
Como o aluno nesta proposta deixa de ter a posição passiva de assistir às aulas e
passa a influenciar na sua estruturação, delineando caminhos, estratégias de atuação,
questionando, perguntando, caberá ao professor ser ao mesmo tempo incentivador e
fomentador destas propostas como também o elemento aglutinador das diferentes idéias para
estruturar o caminho a ser seguido. Nesta sua função de análise das estratégias definidas
pelos estudantes, o professor deverá ter o cuidado de jamais ridicularizar quaisquer dúvidas ou
perguntas que possam surgir, por mais elementares que possam parecer, sobre pena de
destruir a relação de confiança que deve permear todo o trabalho. Caberá ao professor,
sempre que possível, vincular aos diferentes estudantes ou grupos de estudantes as boas
idéias surgidas, destacando-as para a turma e referindo-se ao estudante ou grupo sempre que
utilizar tal idéia. Enfim, caberá ao professor as palavras de incentivo e motivação, procurando
sempre que possível enaltecer o esforço e o empenho dos estudantes no tratamento de
determinado tema.
Azevedo (2004, p.25) salienta que mais que saber a matéria a qual está ensinando, o
professor deve ser um questionador, que argumente e saiba conduzir perguntas, propor
desafios, ou seja, deve deixar de ser um expositor de conteúdos e passar a ser um orientador
do processo de ensino.
É o professor que propõe problemas a serem resolvidos,
que irão gerar idéias que, sendo discutidas, permitirão a ampliação dos
conhecimentos prévios; promove oportunidade para a reflexão, indo
além das atividades puramente práticas; estabelece métodos de
trabalho colaborativo e um ambiente na sala de aula em que todas as
idéias são respeitadas. (CARVALHO, 1998 apud AZEVEDO,2004 .
p.25).
IV.6- AS FORMAS DE INSERÇÃO DE ATIVIDADES INVESTIGATIVAS
Borges (2002) discute o papel da atividade prática no ensino de ciências, apresentando
uma alternativa que consiste em estruturar as atividades de laboratório como um processo de
investigação ou problemas práticos mais abertos que os alunos devam resolver sem a direção
imposta por um roteiro fortemente estruturado ou por instruções verbais do professor. Segundo
ele, para que um estudante ou grupo de estudantes possam resolver estes problemas ou
39
desafios, necessitarão mais do que simplesmente lembrar de uma fórmula ou de uma situação
similar que conseguiram resolver.
O autor identifica diferentes níveis para estes problemas que vão desde problemas
“fechados”, onde os procedimentos e recursos são apresentados pelo professor sob a forma de
um roteiro, até os problemas ditos “abertos”, onde aos alunos caberá toda a solução inclusive
na montagem de estratégias e procedimentos. Na tabela mostrada abaixo, o autor procura
ressaltar as diferenças entre uma atividade investigativa e um laboratório tradicional
contrastando-os segundo 3 aspectos: o grau de abertura, o objetivo da atividade e a atitude do
estudante em relação a ela.
Tabela IV.1 Contínuo problema exercícios.
( do Artigo:Rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino
de Física, v.19 , n.3 ,dez. 2002)
Aspectos Laboratório Tradicional Atividades investigativas
Quanto ao grau
de abertura.
Roteiro pré-definido
Restrito grau de abertura
Variado grau de abertura
Liberdade total de planejamento
Objetivos da
atividade.
Comprovar leis
Explorar fenômenos
Atitude do
estudante.
Compromisso com o resultado
Responsabilidade na investigação
Na tabela IV.1, quanto ao aspecto “grau de abertura”, que indica o quanto o professor
ou o roteiro especifica a tarefa, é sugerido um contínuo cujas extremidades são exercícios
tradicionais de um lado e os problemas completamente abertos do outro. Entre estes extremos
haveria diferentes situações de variados graus de liberdade.
Uma outra forma de identificar o grau de liberdade da atividade investigativa foi proposto
por Tamir (1991 apud BORGES 2002). Ele propõe a categorização das atividades em quatro
níveis, como mostrado na tabela 2. Nesta tabela os Níveis de investigação variam de Nível 0
(ZERO), que poderia ser considerado como problemas fechados até Nível 3, onde estão os
problemas totalmente abertos.
40
Tabela IV.2 Níveis de investigação no laboratório de ciências.
( do Artigo:Rumos para o laboratório escolar de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino
de Física, v.19 , n.3 ,dez. 2002)
Nível de Investigação Problemas Procedimentos Conclusão
Nível 0
Dados Dados Dados
Nível 1
Dados Dados Em abeto
Nível 2
Dados Em aberto Em aberto
Nível 3
Em aberto Em aberto Em aberto
Borges ressalta que o entendimento e formulação de um problema são as atividades
que mais exigem dos alunos e que por vezes só conseguem entender o que fazer e formular o
problema, de maneira mais ou menos clara , depois de passar várias vezes pelas mesmas
etapas.
Durante as etapas de resolução do problema, há ciclos de
realimentação para as etapas anteriores, vindas da percepção da
necessidade de mudanças no planejamento, na formulação do
problema ou nas técnicas utilizadas. Nossos estudos anteriores com
alunos conduzindo atividades investigativas produziram evidências de
que estas etapas não ocorreram seqüencialmente e
independentemente umas das outras, mas que, ao contrário,
acontecem concomitantemente e de forma recursiva. Isto nos alerta
para o fato de que, ao investigar como os alunos resolvem problemas e
desafios, não devemos esperar reconhecer estas etapas nitidamente,
nem observar progressos rápidos e espetaculares em seu desempenho
e em sua autonomia. (BORGES, 2002. p.24-25)
Por outro lado, Azevedo (2002, p.27-31) tenta categorizar e identificar estratégias de
inserção destas atividades investigativas na sala de aula. Identifica quatro modos diferentes de
utilização destas estratégias, que classifica de demonstrações investigativas; laboratório
aberto; questões abertas e problemas abertos. Na tabela 3 apresentamos um resumo das
principais características apresentadas pela autora relacionadas a cada uma destas
estratégias.
41
Tabela IV.3 Categorização, Identificação e Características das Atividades Investigativas.
(Tabela construída como resumo das proposições de Azevedo 2004, p.25-31)
Atividades Investigativas Características:
Demonstrações Investigativas
Atividades experimentais que visam ilustrar uma teoria
ou comprovar uma determinada teoria já estudada ou
em estudo.
Este tipo de demonstração poderia se iniciar com o
professor propondo um problema à classe. A
realização da experimentação é conduzida como se
buscássemos respostas a uma pergunta prévia. Nos
desdobramentos das discussões, o professor deverá
conduzir a colocação das questões na tentativa de
verificar quais as concepções intuitivas dos
estudantes sobre este assunto.
O professor deve ser também mais um elemento na
sala de aula na procura de evidenciar e estruturar o
pensamento consensual dos estudantes, destacando
inclusive conceitos equivocados que possam surgir.
Durante a realização da expe
rimentação, o professor
deverá estar preocupado com aquilo que seus alunos
viram
e chamar a atenção de outros aspectos da
experimentação que por ventura possam ter passado
despercebidos.
Seria aconselhável que no momento da análise
teórica do fenômeno est
udado, o professor pudesse
levantar aspectos de uma abordagem histórico-
filosófica mostrando como tais conhecimentos se
mostraram relevantes na sociedade, que problemas
tinham os homens e a sociedade na qual este
problema se mostrou pertinente, em quais pa
radigmas
trabalhavam os homens de ciência daquela época.
1
o
) Proposta do
problema.
Proposição pelo professor de pergunta ou questão
que pudesse gerar uma ampla discussão. A busca de
resposta a esta questão seria o objetivo principal do
experimento.
2
o
)
Levantamento
de hipóteses.
Os alunos levantariam as hipóteses para possíveis
soluções do problema em meio a decisão entre eles e
mediados pelo professor.
3
o
) Elaboração
do Plano de
trabalho.
Montagem por parte dos estudan
tes de plano de
trabalho, levantamento do material necessário para a
montagem do arranjo experimental, forma de coleta e
análise dos dados.
Laboratório
Aberto
4
o
)Montagem
experimental e
coleta de
dados.
Etapa onde os alunos efetuariam as manipulações de
material necessár
io para confecção do arranjo
experimental bem como para a coleta de dados. Os
alunos deverão ser estimulados a identificar possíveis
imperfeições que poderão conduzi-
los a resultados
imprecisos, no entanto não invalidando sua pesquisa.
42
5
o
) Análise dos
dados.
Para a análise dos dados pode-
se exigir do estudante
a construção de gráficos, obtenção de equações e
testes de hipóteses. Poderão ser utilizados materiais
específicos como papel milimetrado ou programas
computacionais como Excel. Cabe ao professor
mostrar que esta é a parte fundamental do trabalho
científico e que a utilização da linguagem matemática
ajuda a generalização do trabalho.
6
o
) Conclusão
Onde os alunos devem formalizar uma resposta ao
problema inicial.
Questões abertas
Questões que
relacionariam fatos do cotidiano e
conceitos já construídos na sala de aula. Podem ser
respondidas em pequenos grupos ou propostas como
desafio para toda a classe. Tornar-
se importante, no
entanto, que os alunos tenham sempre um registro
escrito de respos
tas para que se vá construindo uma
“memória dos fatos” e discussões da classe.
Problemas abertos
Diferem das questões abertas, pois, além da
abordagem conceitual, sua solução exige a
matematização dos resultados. Os alunos devem
elaborar hipóteses, es
tabelecer relações quantitativas,
estimar valores desconhecidos e verificar a coerência
do modelo e das respostas obtidas. Estas situações
devem ser interessantes para os alunos e de
preferência envolver a relação Ciência, Tecnologia e
Sociedade.
Em nosso “Produto Educacional” que é apresentado no APÊNDICE 1 desta dissertação,
procuramos utilizar diferentes atividades que são apresentadas neste formato de “atividades
investigativas”. Foram desenvolvidas Oficinas onde utilizamos a televisão e, principalmente o
seu tubo de raios catódicos, em diferentes atividades que se desenvolvem no formato de
“Demonstrações Investigativas” e de “Laboratório Aberto”. Neste nosso produto, organizamos
também uma conferência sobre a chamada “descoberta do elétron”, na qual implementamos
elementos de uma abordagem nos moldes das “Questões Abertas” e dos “Problemas Abertos”.
Nesta conferência, fizemos uma reconstituição histórica dos principais conflitos vividos pelos
homens de ciência na interpretação do que seriam os chamados “raios catódicos”, e que
culminaram com a determinação por J.J.Thomson da relação entre a carga e a massa dos
elétrons.
43
V- REFERENCIAL METODOLÓGICO PARA UMA ABORDAGEM CTS
Neste capítulo, apresentaremos os principais elementos de uma abordagem que
prioriza a relação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). Primeiramente procuraremos
rechaçar a idéia de tecnologia como aplicação do conhecimento científico e levantar algumas
questões éticas nas relações CTS. Contextualizaremos o surgimento deste tipo de abordagem
principalmente nos Estados Unidos e por fim analisaremos a utilização deste enfoque na
elaboração de um produto educacional nos moldes da denominada Aprendizagem Centrada
em Eventos (ACE), que vem sendo desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Ensino de Física
da UFSC.
V.1- O ENFOQUE CTS (CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE)
Como tentamos mostrar em nosso referencial filosófico, estamos inseridos em uma
sociedade, que costuma associar às “verdades científicas” um valor inquestionável. De certa
forma, esta supervalorização estaria relacionada à concepção de ciência como verdade que se
revela ao homem pelo “método científico”. Nesta mesma linha, os avanços tecnológicos são
vistos como uma conseqüência da aplicação de um conhecimento científico que foi
desenvolvido anteriormente.
O ponto de vista mais amplamente aceito sobre a relação ciência
tecnologia é o que conceitua a tecnologia como ciência aplicada, sendo,
portanto, a tecnologia redutível à ciência. Este ponto de vista é subjacente ao
modelo linear de desenvolvimento que tem influenciado políticas públicas de
ciência e tecnologia até tempos recentes. (BAZZO, LISINGEN e PEREIRA,
2003 pág. 40)
Mortimer (2002b, p.01), aponta que, por vivermos em um mundo automatizado, as
sociedades modernas passaram a confiar na ciência e na tecnologia como se confiassem em
uma divindade. Afirma ainda que esta supervalorização da ciência gerou o mito da salvação da
humanidade, ao considerar que todos os problemas humanos podem ser resolvidos
cientificamente. Segundo ele, o mito do cientificismo é uma falácia. Citando Fourez (1995) e
44
Japiassu (1999), afirma que não existe a neutralidade científica nem a ciência é eficaz para
resolver as grandes questões éticas e sócio-politicas da humanidade. Afirma ainda que:
[...]a ciência e a tecnologia tem interferido no ambiente e suas
aplicações têm sido objeto de muitos debates éticos, que tornam inconcebível
a idéia de uma ciência pela ciência, sem consideração de seus efeitos e
aplicação. (MORTIMER, 2002b, p.02)
Caberia então uma questão: qual seria então uma relação aceitável entre ciência e
tecnologia?
Bazzo, Lisingen e Pereira (2003), no segundo capítulo de sua obra, apresentam os
diferentes conceitos de tecnologia que surgiram na história da humanidade desde o domínio do
fogo até os nossos dias. Pelas diferentes técnicas que teve que desenvolver ao longo de sua
existência (domínio do fogo , cozimento de alimentos , agricultura, o tear, a cerâmica, a
construção de moradias, a fundição de metais, etc...) é amplamente aceito segundo os autores
que “o ser humano antes de tudo é um homo faber, e mais (e talvez antes que) um homo
sapiens.
Apresentam assim que a tecnologia contemporânea mantém uma ampla e diversificada
relação com a ciência:
Esta relação vai além daquela geralmente reconhecida ao se
conceituar tecnologia como ciência aplicada. Não só o conhecimento
científico, mas também o “saber como”, materializado em habilidades, técnicas
teóricas, observacionais e experimentais, assim como resultados científicos
objetivados em produtos, materiais e instrumentos, formam parte do fluxo que
vai da ciência à tecnologia. No entanto, e ao contrário do que comumente se
supõe, não existe uma incorporação automática dos diversos produtos
científicos na tecnologia, sendo necessária a intervenção de outros fatores.
(BAZZO, LISINGEN e PEREIRA, 2003 pág. 45)
Outro importante desafio que a sociedade terá que enfrentar diz respeitos às questões
éticas que permeiam a relação entre ciência, tecnologia e sociedade. Diversas questões de
origem científico-tecnológicas têm provocado acaloradas discussões no meio social, político e
religioso. Questões sobre: a utilização de energia nuclear, as possibilidades de modificação da
matriz energética, utilização de sementes modificadas geneticamente, produção de clones,
45
pesquisa com células tronco, etc... Estes temas vêm ganhando espaço para diversas
discussões de até onde o cientista poderá ter controle de seu objeto de pesquisa e até onde a
sociedade é quem deverá impor estes limites.
O núcleo da questão não é impor limites a priori ao
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, nem estabelecer alguma classe
de controle político ou social do que fazem os cientistas e engenheiros, mas
sim renegociar as relações entre ciência e sociedade: estabelecer quem
deveria determinar objetivos políticos em ciência e tecnologia e quem deveria
supervisionar seu cumprimento. (BAZZO, LISINGEN e PEREIRA, 2003 pág.
135)
V.2- O SURGIMENTO DA PROPOSTA CTS
Mortimer (2002b, p.03) destaca que os problemas ambientais pós-guerra, a tomada de
consciência de muitos intelectuais com relação às questões éticas, a qualidade de vida da
sociedade industrializada, a necessidade da participação popular nas decisões públicas e
principalmente o medo e a frustração decorrentes dos excessos tecnológicos teriam propiciado
o surgimento da proposta CTS.
A abordagem CTS surge, assim, como uma necessidade de formação dos cidadãos em
ciência e tecnologia. Esta proposta teve berço nos países industrializados, principalmente nos
países da Europa e Estados Unidos.
Sônia Maria S. C. de Souza Cruz e Arden Zylbersztajn, (2001, p.175-189) descrevem
em seu artigo a evolução histórica do surgimento da proposta CTS nos Estados Unidos e
Inglaterra. Relatam que os Estados Unidos foram palco de uma ampla reforma curricular na
área de ciência e cujos efeitos foram sentidos em outros países, inclusive no Brasil. Novos
materiais curriculares foram desenvolvidos, com maciços investimentos financeiros e material
humano de prestígio; no entanto, cerca de 15 anos mais tarde o descontentamento permeava o
cenário educacional americano.
[...]havia, ao mesmo tempo, uma pressão e um envolvimento da
comunidade científica preocupada com o crescente distanciamento entre os
avanços ocorridos na “ciência real” e a estagnação da ciência escolar. O
movimento ganhou impulso com o lançamento pioneiro do Sputinik soviético,
quando o sentimento de que os americanos haviam sido ultrapassados pela
46
URSS, na corrida espacial [...] Exemplos diretos de resultados foram os
projetos PSSC(Física), CBA(Química), BSCS(Biologia) e
SMSG(Matemática)[...] (CRUZ e ZYLBERSZTAJN, 2001, p.175)
Apesar deste alto investimento, o uso destes projetos não ocorreu no nível esperado.
Os autores apontam que uma das razões que explicam este fato é que tais projetos seriam
direcionados somente para alunos academicamente mais preparados. A visão predominante
desses projetos era que a ciência fosse apresentada na forma como é conhecida pelos
cientistas. A tentativa era de introduzir os estudantes no mundo visto, conhecido e
experimentado pelos cientistas. A resposta deste descontentamento pode ser entendida na
década de 80 pelo relatório do “Project Syntheses”, que irá se constituir uma das principais
razões para o destaque de CTS nos Estados Unidos.
[...]um novo desafio emerge para o Ensino de Ciência. A questão
é essa: Podemos mudar nossos objetivos , programas, e práticas da ênfase
total na preparação acadêmica de carreiras científicas para uns poucos
estudantes para uma ênfase na preparação de todos estudantes a lidarem
com sucesso com ciência e tecnologia nas suas próprias vidas cotidianas,
como também a participarem com conhecimento nas importantes decisões
relacionadas que nosso país terá que tomar no futuro? (HARMS, 1981 apud
CRUZ e ZYLBERSZTAJN, 2001, p.174).
V.3- O ENFOQUE CTS NA ELABORAÇÃO DE UM PRODUTO EDUCACIONAL
Dentro de uma perspectiva CTS, a proposta educacional metodológica é a de deslocar-
se o foco principal do conteúdo para uma abordagem que dê ao estudante uma certa
autonomia para se posicionar frente aos conflitos sociais que virão a surgir quando das
diferentes aplicações científico-tecnológicas.
Segundo uma perspectiva educacional abrangente, o papel mais
importante a ser cumprido pela educação formal é o de habilitar o aluno a
compreender a realidade (tanto do ponto de vista dos fenômenos naturais
quanto sociais) ao seu redor, de modo que ele possa participar, de forma
crítica e consciente, de debates e decisões que permeiam a sociedade na qual
se encontra inserido. (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2001, p.171).
47
Em seu artigo, os autores anteriormente citados destacam que o ensino de ciências
tradicional se divide basicamente em três componentes: Física, Química e Biologia. Apontam
ainda que, mesmo existindo no ensino fundamental uma disciplina chamada de Ciências, o seu
estudo é na prática dividido também nestas componentes. Além disso, relatam os autores que
as ciências “são geralmente ensinadas com escassas referências a respeito das suas
aplicações à vida real e de sua relevância à vida dos alunos.” (CRUZ; ZYLBERSZTAJN, 2001,
p.171-172)
Esta forma tradicional de abordagem da ciência apresenta aos estudantes um
conhecimento compartimentalizado e de certo modo dissociado do seu mundo, e tem recebido
severas críticas de setores que defendem um ensino de ciências que esteja inserido em nossa
sociedade atual.
Quando se considera a forma cada vez mais poderosa através
da qual a ciência e a tecnologia influenciam a vida cotidiana, torna-se clara a
necessidade de uma educação científica que permita o envolvimento com
temas decorrentes dessa influência, possibilite julgamentos, sugira ações
práticas e aplicações locais e que seja mais rica em valores. (CRUZ;
ZYLBERSZTAJN, 2001, p.172).
A construção de um produto educacional, que se proponha a desenvolver uma
abordagem contemplando esta interação entre Ciência, Tecnologia e Sociedade, deverá conter
elementos que, além da apresentação de conteúdos específicos científicos, possa
“...desenvolver a capacidade dos alunos de assumirem posições face a problemas
controvertidos e agirem no sentido de resolvê-los.” (KRASILCHIK, 1985 apud CRUZ;
ZYLBERSZTAJN, 2001, p.173).
Nas diferentes alternativas de ensino que são propostas para o desenvolvimento
de uma abordagem CTS, existe um certo consenso sobre a importância de se criarem
estratégias que possam trabalhar os temas científicos dando a eles um caráter mais
interdisciplinar.
Nos cursos de CTS, várias estratégias de ensino têm sido
utilizadas. Elas vão além das práticas atuais de palestras, demonstrações,
sessões de questionamento, solução de problemas e experimentos no
48
laboratório. O ensino de CTS inclui jogos de simulação e desempenho de
papéis, fóruns de debates, projetos individuais e de grupo, redação de cartas
para autoridades, pesquisa no campo de trabalho, palestrantes convidados e
ação comunitária. Geralmente, a mudança nas estratégias muda o papel do
professor para o administrador da classe, gerenciando o tempo, os recursos
humanos e o ambiente emocional da classe, além do papel do responsável
pela sala de aula. (HOFSTEIN et al. 1988 apud CRUZ; ZYLBERSZTAJN,
2001, p.189).
O grupo de pesquisa em Ensino de Física da UFSC tem desenvolvido alguns trabalhos
dentro deste enfoque CTS. Segundo os autores Cruz e Zylbersztajn (2001), uma das
preocupações deste grupo tem sido o de investigar as possibilidades didáticas de uma
abordagem denominada Aprendizagem Centrada em Eventos (ACE). Busca-se trabalhar com
eventos que apresentem diferentes oportunidades curriculares, ou seja, aqueles eventos em
que um número maior de assuntos podem ser trabalhados. Este evento poderá ser um
incidente ou episódio que seja motivador , “rico em interesse humano capaz de estimular a
discussão e o debate”.
A idéia básica que fundamenta tal abordagem é a de que tanto os
aspectos científicos como as implicações sociais de um produto tecnológico
podem ser melhor explorados; se a aprendizagem dos mesmos for centrada
em eventos que tenham a potencialidade de capturar a atenção dos alunos.
Isto porque o evento pode funcionar como um pólo de integração para o
tratamento da tríade Ciência-Tecnologia-Sociedade. (CRUZ; ZYLBERSZTAJN,
2001, p.190).
Nesta abordagem a ênfase está na resolução de problemas reais, que sejam derivados
deste evento. Ao contrário de abordagens tradicionais em que se ensinam primeiro os
conteúdos científicos para depois efetuar a abordagem de algum aparato tecnológico no qual
se aplique este conteúdo, na ACE é o evento que se apresenta no centro da experiência de
onde derivamos os demais elementos.
Uma outra premissa é a de que o conhecimento dos alunos é
organizado de forma a servir para o entendimento de novas experiências. O
conteúdo e o planejamento dos módulos são concebidos de modo a levar em
conta a possibilidade de que os alunos apresentem concepções alternativas
49
sobre as novas idéias que irão estudar. A ACE apresenta-se como uma forma
apropriada para favorecer o aparecimento de tais concepções, e para a sua
exploração em uma atmosfera de discussão não ameaçadora e sim
construtiva. (CRUZ, e ZYLBERSZTAJN, 2001, p.190).
No APÊNDICE 1 deste trabalho apresentamos nosso Produto Educacional, que foi
desenvolvido com uma abordagem nos moldes ACE. Tendo como motivador a implantação do
Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), propomos aos nossos alunos a criação de um
Fórum Nacional da TV” nos moldes do Fórum criado pelo Decreto Presidencial N
o
5.820, de
29 de junho de 2006, que dispõe sobre a implantação da TV digital, conforme apresentamos
em Anexo 1. Este Fórum será o evento desencadeador de uma série de análises sobre a
inserção da TV em nossa sociedade e os conseqüentes desdobramentos que diferentes atores
sociais teriam em relação à implantação deste novo sistema de TV digital. Os conteúdos
curriculares abordados por diferentes disciplinas como Física, Geografia, Língua Portuguesa e
História, surgiriam como uma necessidade de instrumentação dos participantes deste fórum na
tomada de decisão frente aos debates que serão travados.
50
VI- CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRODUTO EDUCACIONAL
Respaldados pelos pressupostos teóricos e metodológicos apresentados anteriormente,
pretendemos descrever neste capítulo as principais características do produto educacional,
cuja íntegra se encontra no APENDICE 1 desta monografia. Esperamos que este Produto
Educacional seja uma contribuição principalmente na criação de formas alternativas para
abordagem dos temas que vemos freqüentemente relacionados com o ensino de Física.
Esperamos, também, que esta metodologia que desenvolvemos possa ser um facilitador da
proposta de trabalho interdisciplinar no qual professores das diferentes áreas do conhecimento
possam realizar análises sobre um mesmo tema, conforme propostas apresentadas pelos
PCN+.
De forma consciente e clara, disciplinas da área de linguagens e códigos
devem também tratar de temáticas científicas e humanísticas, assim como
disciplinas da área científica e matemática, ou da humanista, devem também
desenvolver o domínio de linguagens. Explicitamente, disciplinas da área de
linguagens e códigos e da área de ciências da natureza e matemática devem
também tratar de aspectos histórico-geográficos e culturais, ingredientes da
área humanista, e, vice-versa, as ciências humanas devem também tratar de
aspectos científico-tecnológicos e das linguagens. (BRASIL, 2002, p.16)
No entanto, temos verificado que diversos assuntos abordados no ensino médio,
embora sejam apresentados como fundamentais para entendimento dos avanços tecnológicos
de nossa sociedade, são estudados unicamente sob o ponto de vista de seu formalismo
matemático. São ignorados aspectos históricos, filosóficos e sociais na abordagem destes
conteúdos, bem como sua relação com o desenvolvimento de novas tecnologias que
transformarão o mundo do trabalho e as relações de poder nesta sociedade.
Um exemplo de assunto, geralmente abordado do ponto de vista deste formalismo
matemático, desvinculado de sua inserção social e tecnológica, é o eletromagnetismo, último
tópico do programa do ensino médio, em uma abordagem tradicional. Embora sejam
incontáveis os avanços tecnológicos e as conseqüentes transformações sociais, inclusive no
mundo do trabalho, que tiveram sua origem com o desenvolvimento de conceitos relacionados
ao eletromagnetismo, este tema continua parecendo aos olhos dos estudantes como uma
51
especificidade que se relaciona unicamente com o interesse de alguns poucos alunos que
devem prosseguir seus estudos na área das ciências ditas exatas.
Para confecção deste produto, utilizamos uma abordagem CTS para criar uma forma
alternativa de apresentação de conceitos que estão relacionados ao estudo do
eletromagnetismo, mais especificamente aos conceitos de força magnética que atua em
partículas em movimento no interior de campos magnéticos. Esperamos que esta forma da
abordagem interdisciplinar contemple uma análise histórica, filosófica, científica, técnica e
social, e que traga aos estudantes elementos que possam contribuir de forma ativa na sua vida
pessoal, profissional e social, preparando-os para o exercício pleno da cidadania.
[...]isso significa preparar para a vida, qualificar para a cidadania e
capacitar para o aprendizado permanente, em eventual prosseguimento dos
estudos ou diretamente no mundo do trabalho. (BRASIL, 2002, p.16)
VI.1- DA MOTIVAÇÃO PARA ELABORAÇÃO DESTE PRODUTO
o incontáveis os avanços tecnológicos e as conseqüentes transformações sociais,
inclusive no mundo do trabalho, que tiveram sua origem com o desenvolvimento de conceitos
relacionados ao eletromagnetismo. Desde a facilitação das comunicações com o surgimento do
telégrafo, passando pela confecção de motores e geradores que servem para suprir de energia
as nossas cidades, estes conteúdos serviram para transformar nossa sociedade. Modificaram,
como dito anteriormente, nossas relações sociais e o mundo do trabalho.
É da aplicação dos conceitos da força magnética atuando nos tubos de raios catódicos
que Thomson encontra em 1897 a relação carga/massa dos elétrons, dando os primeiros
passos para a construção da teoria atômica da matéria. É refletindo sobre a validade das leis
do eletromagnetismo que Einstein lançará, no início do séc XX, as bases epistemológicas da
física moderna, quebrando os antigos paradigmas da física newtoniana.
É certo que, de posse dos conteúdos cunhados pelo homem acerca dos fenômenos
chamados eletromagnéticos até o final do séc XIX , o mundo sofreu uma grande revolução
social, epistemológica e técnica. No entanto, a maioria dos cursos ministrados em nossas
escolas parecem não conseguir que os estudantes associem tais revoluções aos conceitos de
eletromagnetismo estudados no ensino médio.
52
No caso específico da abordagem sobre o tema “força em partículas carregadas em
movimento no interior de campos magnéticos”, temos verificado que mesmo autores
defensores de uma abordagem comprometida com a construção do conhecimento enfrentam
grandes dificuldades na apresentação deste tema. É grande o esforço destes autores para não
transformar este assunto em um complexo receituário de utilização de regras e fórmulas. No
entanto, a maioria das abordagens comumente apresentadas para este assunto específico
parecem dissociadas do mundo do estudante, em nada se relacionando com a construção do
seu conhecimento, sua realidade social, suas preocupações com o mundo do trabalho nem
mesmo com os avanços tecnológicos e científicos, que são derivados destes conteúdos dos
quais a sociedade faz uso constante.
Alguns professores questionam sobre a necessidade da abordagem deste assunto aos
estudantes do ensino médio que não pretendem prosseguir seus estudos nesta área de
conhecimento. Será que não seria melhor apresentar estes conteúdos tão específico somente
a alunos que pretendam continuar seus estudos na área das ciências ditas exatas?
É fundamental que nós, professores e pesquisadores de ensino de física, estejamos
sempre prontos a refletir sobre questionamentos como estes. A determinação, de quais
conteúdos é relevante para a formação pessoal de um indivíduo, e, para que ele possa
participar de forma ativa da vida social, não se constitui em tarefa fácil. Os PCN+ indicam que:
Quando “o que ensinar” é definido pela lógica da Física, corre-se o risco
de apresentar algo abstrato e distante da realidade, quase sempre supondo
implicitamente que se esteja preparando o jovem para uma etapa posterior. Ao
contrário, quando se toma como referência o “para que” ensinar Física, supõe-
se que se esteja preparando o jovem para ser capaz de lidar com situações
reais, crises de energia, problemas ambientais,[...] e assim por diante.
(BRASIL, 2002, p.61)
Portanto, seria importante definirmos “para que” ensinar estes conteúdos, quais seriam
nossos objetivos aos apresentarmos aos estudantes um estudo sobre “forças que atuam em
partículas em movimento no inteiro de campos magnéticos”. Além de respondermos a esta
questão, julgamos de grande relevância nos preocuparmos também com a forma de “como
abordaríamos este determinado conteúdo.
Longe de ser um assunto que será utilizado apenas nos laboratórios de física, temos
verificado que a abordagem deste tema está intimamente relacionada com o nosso mundo
cotidiano. Nossa sociedade está inundada de tubos de raios catódicos que utilizamos
53
diariamente nas diferentes tarefas que realizamos. Vivemos em um mundo repleto de
computadores, televisores, jogos eletrônicos, equipamentos hospitalares, aeroportos, etc...
Grande parte da tecnologia utilizada hoje no mundo do trabalho, do entretenimento, da
informação e da pesquisa tem como principal elemento de fabricação um tubo de raios
catódicos. Na quase totalidade das casas de nossa sociedade, mesmo as mais pobres, existe
pelo menos um aparelho de TV, e dentre em pouco existirá também um computador.
Temos verificado em nossa atuação no cotidiano da sala de aula que, à medida que
estruturamos as informações sobre este tema como se fôssemos desvendar o que está por trás
do funcionamento dos aparelhos do nosso cotidiano, como a TV e o computador, este assunto
naturalmente se torna mais atraente, mesmo para os alunos mais resistentes. Quando abrimos
um espaço em nosso curso para analisarmos as transformações causadas na sociedade pela
inserção da TV, promovemos um rico debate interdisciplinar onde abordagens filosóficas,
históricas, sociológicas e religiosas se relacionam intrinsecamente com o desenvolvimento da
física e da ciência como um todo.
De fato, se a abordagem deste conteúdo estiver associada somente à utilização de um
receituário de fórmulas e regras para resolução de exercícios dissociados do mundo dos
estudantes, não se justifica sua apresentação a todos os alunos do ensino médio. Mas se, pelo
contrário, associarmos a este tema uma abordagem ligando a Ciência, a Tecnologia e a
Sociedade, fazendo com que o estudante possa entender que o domínio destes conceitos é
indispensável à compreensão dos aparatos tecnológicos que permeiam e transformam nossa
sociedade e conseqüentemente sua vida, creio que se torna imprescindível à abordagem
destes conteúdos aos estudantes do ensino médio. Portanto, acreditamos que a inserção deste
assunto estaria plenamente justificado, se dentro de nossos objetivos educacionais estiver
presente a formação de um cidadão crítico, que possa participar de forma autônoma das
decisões de sua sociedade e da busca pela construção de nossa autonomia tecnológica.
VI.2- A OPÇÃO DE UTILIZAR A TV COMO TEMA ORGANIZADOR
A idéia da interdisciplinaridade no tratamento dos conteúdos escolares, trazidos
principalmente pelos Parâmetros Curriculares Nacionais do ensino médio, supõe a existência
de um “eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação,
um plano de intervenção.”(BRASIL, 1999, p.88)
54
Acreditamos que a televisão possa se constituir como este tema organizador, em torno
do qual estabeleceríamos um plano de ação para que se possam efetivar as análises
pretendidas.
Em nosso produto educacional criamos estratégias que possam lançar sobre este
aparato tecnológico, diferentes olhares de forma a propiciar o surgimento de um diálogo entre
os diversos campos do conhecimento, evidenciando: as diferentes formas de linguagem por ela
utilizadas em sua inserção social, as transformações sociais que o uso desta tecnologia
provoca em nossa sociedade e mais especificamente o domínio das técnicas que propiciaram o
surgimento deste aparelho.
VI.2.1 O nascimento da idéia
Ao longo de nossa atividade docente, a idéia de utilização da TV surgiu como
instrumento para demonstração aos estudantes, do desvio de partículas quando submetidas a
ação de campos magnéticos. Esta idéia nos ocorreu quando ainda professor recém-contratado
para lecionar física no colégio de Aplicação da Universidade Católica de Petrópolis. Na
ocasião, lembramos das dificuldades enfrentadas, quando ainda estudante universitário, com
um pequeno e velho televisor preto e branco. Verificávamos, por vezes, que a imagem da TV
se reduzia a um minúsculo ponto luminoso no centro da tela e concluímos corretamente que
neste caso o feixe de elétrons não era desviado pela bobina defletora (chamada YOKE).
Percebemos então que, se retirássemos do pescoço do televisor sua bobina defletora,
verificaríamos a formação de um ponto luminoso no centro da tela, que era produzido pelo
impacto dos elétrons no material foto-luminescente, que recobre a tela do tubo de imagens.
Aproximando-se do pescoço do tubo um imã, poderemos visualizar facilmente o deslocamento
deste ponto na tela. Este deslocamento evidencia a forma de atuação da força magnética que
atua nesta partícula. Em nosso Produto Educacional, serão realizadas duas OFICINAS, nas
quais os estudantes poderão visualizar esta situação e onde apresentamos com maior
detalhamento esta forma de utilização do tubo de imagens da TV como importante aparato
experimental na construção dos conceitos sobre forças que atuam em partículas carregadas
em movimento no interior de campos magnéticos, nos moldes das atividades investigativas
descritas em nosso referencial teórico.
Pudemos verificar, com a inserção destas atividades no cotidiano da sala de aula, que a
televisão poderia ser um grande e poderoso aliado como elemento motivador no estudo do
eletromagnetismo, pois embora seja um equipamento caro e de elevado grau de complexidade,
pode ser facilmente encontrado nos domicílios nacionais. Para o desenvolvimento de nossas
55
pesquisas, obtive facilmente este material gratuitamente, como sucata de oficina de TV. Hoje
costumamos utilizar o tubo de imagens de computador, que também pode ser obtido facilmente
em material de sucata de oficina de informática e possui a vantagem de ser mais leve,
facilitando seu transporte e manuseio em sala de aula.
VI.2.2 A primeira estruturação desta metodologia
Durante os anos de 1996 e 1997, participamos como professor bolsista do grupo de
pesquisa em ensino de física da UFF, elaborando um projeto destinado à inserção de tópicos
de física moderna e contemporânea na sala de aula. Tivemos a oportunidade de, atuando com
a professora Regina de Cássia M. de Almeida, elaborarmos um material intitulado “A Física da
TV”, onde apresentávamos o estudo da TV como pano de fundo para um estudo de forças no
campo magnético. Durante o ano de 1997 ministramos vários cursos no interior do estado nas
cidades de Petrópolis, Macaé, Bom Jesus do Itabapoana, Volta Redonda e Niterói, os quais
tinham como público alvo professores de Física e Ciências destas cidades e adjacências.
Neste trabalho, a descoberta do elétron era apresentada como sendo o “Prenúncio da Física
Moderna”.
Pudemos então, pela primeira vez, elaborar estratégias para estruturação de um curso
onde o conhecimento técnico seria o ponto de partida para o estudo cientifico. Neste período
tivemos o apoio do Engenheiro Eletrônico Gustavo Henrique de Oliveira Fernandes, que nos
auxiliava no estudo e nas adaptações que foram necessárias para utilização do aparelho de TV
como instrumento a ser utilizado no interior da sala de aula.
VI.2.3 A elaboração de uma nova abordagem
Percebemos então a necessidade de reformularmos e ampliarmos este tipo de
abordagem. Assim, a utilização de elementos de uma abordagem CTS, associados aos
diferentes modos de utilização das Atividades Investigativas no cotidiano de nossa sala de aula
puderam trazer uma rica complementação e ampliação a esta idéia inicial.
Portanto, pretendemos que esta nova abordagem nos moldes ACE, previamente
definida em nosso referencial teórico, além de servir de base para os estudos relacionados
diretamente aos conceitos físicos, possa colocar a TV no foco dos diferentes conflitos que
surgem na sua utilização em nossa sociedade. Além de explorarmos estes aspectos científicos
e tecnológicos deste aparato, pretendemos também neste trabalho explorar as várias
controvérsias que estão associadas à utilização da televisão, como: elemento de disseminação
cultural versus elemento de aniquilamento das culturas populares; acesso à informação versus
56
a disseminação da violência; liberdade de imprensa versus a manipulação da informação;
etc...
VI.3- DA IMPORTÂNCIA HISTÓRICA, SOCIAL E CIENTÍFICA DESTE TEMA
Conforme procuramos definir nos capítulos anteriores, se, ao apresentarmos um novo
conteúdo aos nossos estudantes, ignorarmos a dimensão histórica e filosófica desta atividade
científica, contribuiremos com a formação de uma visão distorcida desta atividade. Assim,
conforme mostramos na construção de nosso referencial histórico, será necessário que
apresentemos os desdobramentos sobre as principais dificuldades que tiveram que enfrentar
os homens de ciência para construção destes novos conceitos. Será indispensável, então,
apresentarmos uma dimensão histórica, filosófica e social, fazendo um resgate que possibilite
ao estudante a compreensão da ciência como uma construção humana.
Neste sentido, em nosso produto educacional, procuramos mostrar aos estudantes que,
desde os primórdios das pesquisas que envolveram a construção dos tubos de raios catódicos,
temos visto a ciência e a tecnologia se revezarem nos papéis de causa e conseqüência de sua
própria evolução histórica.
O domínio da técnica de obtenção do vácuo (com o desenvolvimento e a confecção de
vidros com coeficientes de dilatação parecido com o dos metais utilizados nas ampolas de alto-
vácuo) foi fundamental e determinante para as pesquisas que culminaram com a descoberta do
elétron. É do manuseio destas ampolas que vimos surgirem os raios “X” que, por sua vez,
revolucionariam as técnicas utilizadas na Medicina e nos dias atuais na conservação dos
alimentos. Foi após a descoberta do elétron que Bohr propõe seu modelo para explicação do
átomo e que mais tarde servirá de objeto de contestação para o surgimento da mecânica
quântica, que, por sua vez, será imprescindível para a revolução tecnológica provocada pela
indústria eletrônica atual.
De fato, podemos afirmar que as evoluções da ciência e da tecnologia atuais passaram,
em dado momento histórico, pela construção dos chamados tubos de raios catódicos. As
diferentes pesquisas realizadas com estes tubos foram determinantes no desencadear deste
longo e complexo sistema evolutivo, que transformou e transforma a cada momento nossa
sociedade, modificando nosso modo de produção e conseqüentemente as relações no mundo
do trabalho. A aplicação desta nova tecnologia em nossa sociedade “democratizou” o acesso à
57
informação, derrubando barreiras antes intransponíveis, aproximando os povos, fazendo-os
refletir sob sua história e seus valores, modificando sua forma de viver, pensar e agir.
É fundamental mostrarmos aos estudantes que a escola precisa também ser um espaço
de acesso e de democratização destes códigos sociais.
O contexto do trabalho é também imprescindível para a compreensão
dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos [...] Por sua
própria natureza de conhecimento aplicado, as tecnologias, sejam elas das
linguagens e comunicações, da informação, do planejamento e gestão, ou as
mais tradicionais nascidas no âmbito das Ciências da Natureza, só podem ser
entendidas de forma significativa se contextualizadas no trabalho. (Brasil,
1999, p.93)
Teremos maiores chances no mundo do trabalho, se conseguirmos nos apropriar de um
instrumental que nos possibilite um diálogo com os diferentes campos do conhecimento.
A centralidade do conhecimento nos processos de produção e
organização da vida social rompe com o paradigma segundo o qual a
educação seria um instrumento de “conformação” do futuro profissional ao
mundo do trabalho. (Brasil, 1999, p.23)
Na sociedade atual, as oportunidades de inserção no mundo do trabalho estão
relacionadas com o domínio da informação e da técnica. Se a nossa escola desconsiderar em
seus programas educacionais esta nova ordem social, crescerá ainda mais a distância entre a
parcela da sociedade que de alguma forma teve acesso a estes códigos e a população mais
carente, que, sem estas informações, será utilizada como mão-de-obra desqualificada. Da
mesma forma, esta escola, descompromissada com o mundo da técnica, poderá estar
contribuindo, em âmbito mundial, para um aumento ainda maior do abismo social e tecnológico
entre os povos detentores do conhecimento e desta técnica, e os povos que dela se utilizam
como usuários consumidores. Será a escola então o espaço para a crítica e o enfrentamento
desta nova ordem social, e serão principalmente os professores de ciências os grandes
responsáveis por montarem estratégias de democratização do acesso à informação e de criar
estímulos que possam mostrar ao jovem estudante a importância e a relevância de, na escola,
estudarmos temas como este.
58
VI.4- A CRIAÇÃO DO “FÓRUM NACIONAL DA TV”
Têm sido amplamente divulgadas nos meios de comunicação informações sobre a
implantação da TV digital. O chamado Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD-T),
criado pelo Decreto Presidencial N
o
5.820, de 29 de junho de 2006, estabelece as bases para a
implantação da TV Digital em nosso país. Este documento cria um período de transição de dez
anos no qual haverá veiculação simultânea da programação em tecnologia digital e analógica.
Em ANEXO 1 apresentamos a íntegra deste decreto.
Mesmo antes de sua implantação, este sistema dividia opiniões entre os diferentes
setores da sociedade que serão afetados. Neste período de 10 anos, para que os televisores
possam receber este novo sinal digital, será necessária a utilização de um adaptador (chamado
de set top Box). As Geradoras e Retransmissoras de TV terão que adquirir novos
transmissores. Para pesquisa e produção de adaptadores e transmissores para cerca de 80
milhões de televisores e 8500 geradoras de sinais existentes em território nacional, estima-se
que o mercado de produtos eletroeletrônicos deva movimentar, nos próximos 20 anos, cerca de
R$ 100 bilhões, conforme notícias divulgadas em ANEXO 2.
Este mesmo decreto estabelece ainda em seu artigo 5
o
a criação de um Fórum do
SBTVD-T,para assessorá-lo acerca de políticas e assuntos técnicos referentes à aprovação
de inovações tecnológicas, especificações, desenvolvimento e implantação do SBTVD-T.”
(BRASIL, 2006)
Tendo estes fatores como motivadores e utilizando-se de uma abordagem nos moldes
CTS, propomos a criação de um “Fórum Nacional da TV”. O desenvolvimento desta proposta
está respaldado nas Atividades Centradas em Eventos (ACE), já também caracterizadas
anteriormente.
Embora contendo algumas atividades semelhantes ao fórum estabelecidas pelo Decreto
de criação do SBTVD-T, este nosso “Fórum Nacional da TV” terá suas funções ampliadas.
Nele, além de discutirmos aspectos da implantação do Sistema de TV digital Brasileiro, serão
levantados outros pontos polêmicos apontados por grupos ligados à defesa da criação de uma
legislação que possa promover a inclusão social , a diversidade cultural e a democratização da
informação.
Pretendemos então promover um debate entre os diferentes “atores sociais” que terão
interesses específicos nesta controvérsia. Os alunos, depois de divididos em grupos,
assumirão os papéis destes atores, buscando argumentos na defesa de suas posições.
59
Neste fórum serão apresentadas CONFERÊNCIAS e OFICINAS que terão como
finalidade instrumentalizar os alunos para participação neste debate e na tomada de posição
em relação aos temas que serão discutidos. Serão também organizadas “MESAS-
REDONDAS”, nas quais os grupos de estudantes, devidamente caracterizados como atores da
controvérsia, apresentarão propostas e argumentos na defesa de suas posições.
Com este tipo de atividade, pretendemos que nossos estudantes possam exercitar a
atividade de observar um problema pelo olhar do outro. Desta forma queremos mostrar aos
estudantes que a defesa das idéias e o modo de pensar e agir dos diferentes grupos sociais
são determinados principalmente pelas suas necessidades, concepções filosófico-religiosas e
pela forma de interação econômica destes grupos nesta sociedade.
Acreditamos que esta proposta será ricamente complementada, se tratarmos este
assunto como um tema interdisciplinar. Assim, este Fórum Brasileiro da TV” poderá
constituir-se como tema motivador para o estudo das disciplinas das áreas das linguagens e
das ciências humanas. Acreditamos então que professores de História, Geografia, Português,
entre outros, deveriam ser convidados previamente a se engajarem neste trabalho. Em nossa
proposta aos professores, deixamos sugestões de como poderemos atuar conjuntamente,
propondo outras conferências que seriam ministradas pelos professores destas outras áreas,
como:
Globalização e Reserva de Mercado, para professores de Geografia;
As novas formas de Censura do mundo Globalizado, para professores de história
A produção e estruturação de textos para as diversas etapas da realização deste
fórum, para professores de Língua Portuguesa.
No desenvolvimento do tópico seguintes, detalharemos melhor como será a atuação
dos estudantes neste Fórum, o formato de sua organização bem como os objetivos esperados
em cada uma destas atividades.
VI.5- AS PRINCIPAIS ETAPAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO
EDUCACIONAL
Tendo como base as diretrizes de nosso referencial teórico, apresentadas nesta
dissertação, reunimos as idéias citadas anteriormente, na elaboração de um Produto
Educacional”, que é basicamente uma estratégia de abordagem, que deve ser inserida no
cotidiano da sala de aula do ensino médio. Para a confecção deste produto, entendemos que
60
seria necessária a elaboração de um material teórico-didático destinado aos estudantes, ou
seja, um Texto para os estudantes, que é apresentado no APÊNDICE 1, bem como uma
proposta metodológica, contendo as estratégias para sua aplicação, destinada aos professores
que irão aplicar este material na sala de aula, que será apresentado no próximo capítulo desta
dissertação.
Este formato metodológico que será desenvolvido para aplicação deste produto
pretende ser apenas uma sugestão para aplicação na sala de aula. Evidentemente esta
proposta poderá e deverá ser adaptada levando-se em consideração as especificidades do
contexto no qual este material for adotado. Assim, como dito anteriormente, se a este trabalho
conseguirmos agregar a atuação de outros professores de diferentes áreas, poderemos
aumentar o número de atividades deste “Fórum Nacional da TV” ou criar outras formas de
abordagens que possam ser inseridas nesta idéia central.
No próximo capítulo, apresentaremos todas as estratégias que foram detalhadamente
desenvolvidas para a abordagem deste tema. A seguir, apresentaremos, apenas as linhas
gerais da aplicação desta metodologia, com o objetivo de proporcionar uma visão de totalidade
das diferentes etapas que desenvolvemos na confecção deste produto educacional.
Com a finalidade de contextualizar a inserção social da TV e despertar nos estudantes o
interesse neste tema, propomos iniciar nossa primeira aula exibindo um vídeo mostrando as
imagens da chegada do homem à Lua, que foi vista ao vivo por milhares de pessoas em suas
casas aqui no planeta Terra. Após contextualização do tema pelo professor, apresentando aos
estudantes características dos tempos da “Guerra Fria” que motivaram a chamada “corrida
espacial”, pretendemos apresentar outros vídeos, cujas estratégias serão descritas
posteriormente. Desta forma pretendemos lançar as bases para utilização da televisão como
tema organizador, colocando-a no foco de nossa atenção e sobre a qual efetuaremos
diferentes análises, buscando evidenciar o domínio das técnicas e teorias que alicerçam seu
funcionamento e contextualizar sua importância na transformação e construção de nossa
sociedade.
Depois de analisarmos nesta primeira aula aspectos positivos e negativos da inserção
da TV em nossa sociedade, o professor apresentará a notícia e os documentos oficiais que
regulamentam a criação do SBTVD-T. Nesta ocasião apresentará também, em linhas gerais, os
conflitos que vêm surgindo pela adoção desta nova tecnologia em nossa sociedade.
Proporemos então aos estudantes a realização do “Fórum Nacional da TV”, que se
constituirá como um conjunto de atividades que nos propiciarão analisar e discutir diferentes
controvérsias que surgem nas transformações que serão necessárias para implantação da TV
61
digital em território nacional. A princípio, este Fórum será composto por duas oficinas e uma
conferência, que serão todas ministradas pelo professor e duas mesas-redondas, que
constituirão o momento do debate entre os grupos de estudantes. Em nossa proposta
interdisciplinar, sugerimos a inserção de mais duas conferências, caso consigamos
desenvolver estes materiais em colaboração com professores das áreas das ciências sociais.
Observamos que também seria desejável que as atividades de produção de textos e vídeos
como produto das mesas-redondas, fossem analisadas com a colaboração de professores das
áreas de linguagem.
Seria interessante também reservarmos uma aula para pesquisa do material que possa
dar sustentação ao posicionamento de cada um dos atores sociais que atuarão nas diferentes
controvérsias. Esta aula poderia ser desenvolvida no laboratório de informática, caso exista um
na escola.
A fundamentação teórica e a estruturação metodológica das OFICINAS que iremos
desenvolver neste Fórum estão respaldadas nos moldes do Laboratório Aberto, cujas
características estão descritas anteriormente.
Para realização da OFICINA 1, os alunos, já divididos em grupos, levarão uma TV(ou
sucata de TV conseguida em oficina de eletrônica) para a sala de aula, que será por eles
aberta. Primeiramente tentaremos localizar a TV no complexo sistema de telecomunicações
para posteriormente identificarmos os principais componentes deste aparelho. Em seguida
apresentaremos em linhas gerais como se dá a transmissão e a reprodução das imagens neste
aparelho. A análise do estudo da força que atua nestas partículas surge como necessidade de
entendermos como se processa a formação da imagem no tubo da TV. Pretendemos mostrar
aos estudantes a necessidade de criação de uma forma de descrever a direção e sentido da
força magnética que atua em partículas carregadas em movimento no interior de campos
magnéticos, provocando desvios nestas partículas. A regra da mão direita surgirá pela
necessidade de prevermos qual será o desvio da trajetória da partícula quando colocamos
ímãs em diferentes posições ao redor do tudo da TV.
Nos trabalhos da OFICINA 2, investigaremos o módulo desta força magnética.
Procuraremos estabelecer uma forma para analisar a dependência que o módulo desta força
tem de diferentes variáveis. Utilizaremos o dispositivo experimental construído na OFICINA 1
para mostrarmos principalmente a dependência que o módulo desta forças tem do ângulo θ
formado entre as linhas de força de campo magnético e a velocidade da partícula. Buscaremos
nesta atividade evidenciar a dependência do módulo da força magnética descrito no produto
vetorial F=q v B senθ.
62
Além da contextualização histórico-filosófica apresentada em nossa fundamentação
teórica, a abordagem desta CONFERÊNCIA 1, na qual analisaremos a chamada “descoberta
do elétron”, será apresentada nos moldes de um Problema Aberto, também apresentado em
nosso referencial teórico, como uma possível forma de Atividade Investigativa. Nesta
CONFERÊNCIA 1, procuraremos contextualizar historicamente a construção do tubo de
imagem (tubo de raios catódicos), discutindo sua evolução história e evidenciando as
dificuldades tecnológicas que estiveram por trás de sua construção. Analisaremos a
controvérsia filosófica sobre a natureza destes raios catódicos: se são ondas, como defendiam
os físicos alemães; ou partículas, como defendiam os físicos ingleses. E, por fim,
reconstruiremos a famosa experiência de J.J.Thomson, que culminou com a determinação
experimental da relação entre a carga e a massa dos elétrons, que mostraram que os tais raios
eram na verdade partículas negativamente carregadas, pondo momentaneamente um ponto
final a esta controvérsia. Mais tarde Millikan, realizando experiências com gotículas de óleo no
interior de campos magnéticos, consegue estabelecer o valor da carga elétrica destas
partículas.
As MESAS-REDONDAS serão na verdade o momento de confronto entre as diferentes
idéias defendidas por todos os atores da controvérsia. Originalmente propomos a realização de
duas mesas redondas com temas já estabelecidos. Em cada uma delas teríamos a participação
de 3 atores sociais diferentes, que defenderiam seus interesses específicos nesta controvérsia.
Os grupos seriam divididos já na primeira aula e teriam como principal atividade durante a
realização deste fórum pesquisar e produzir documentos que possam sustentar seus
argumentos na defesa da proposta do ator social ao qual irão defender. Na MESA REDONDA
1, será tratado o tema referente à fabricação dos adaptadores necessários para os antigos
aparelhos funcionem com o novo sinal Digital. Este tema está gerando polêmica principalmente
entre as fábricas instaladas na “Zona franca de Manaus”, que possuem incentivos fiscais para
produção de equipamentos de áudio e vídeo e outros fabricantes situados em outras regiões do
Brasil, que pretendem definir estes adaptadores como bem de informática e que, sendo assim,
teriam incentivos fiscais previstos pela Lei da Informática para sua fabricação em qualquer
lugar do país. Na MESA-REDONDA 2, pretendemos colocar em discussão a atual “liberdade”
das emissoras para determinação de sua programação. Analisaremos a viabilidade de criação
de dispositivos institucionais (como, por exemplo, a criação de uma nova agência reguladora)
para controle de qualidade da programação exibida pelos meios de comunicação.
Como dito anteriormente, entendemos que, em linhas gerais, a fundamentação teórica
deste Produto Educacional está referenciada na utilização de elementos de uma abordagem
63
CTS e mais especificamente no modelo de Atividade Centrada em Eventos (ACE). Assim
entendemos que a proposta de criação deste “Fórum Nacional da TV”, terá a função, como
descrito em nosso referencial teórico, de ser um pólo de interação para o tratamento da tríade
Ciência-Tecnologia-Sociedade, dos diferentes temas que abordaremos neste Produto
Educacional.
64
VII- ROTEIRO DE APLICAÇÃO D0 PRODUTO EM SALA DE AULA
Neste capítulo apresentaremos um roteiro de aplicação para utilização deste material
didático na sala de aula. Este roteiro é apenas uma sugestão para utilização deste material.
Caberá ao professor adaptá-lo à sua realidade de trabalho acadêmico, fazendo supressão ou
acréscimo de tópicos, dependendo de sua disponibilidade de carga horária e da resposta das
turmas ao desenvolvimento deste trabalho.
Seria aconselhável que antes de verificar as estratégias de abordagens sugeridas neste
capítulo, que o professor tivesse um primeiro contato com o produto educacional cuja integra é
apresentada no APENDICE 1 desta monografia.
Este produto constitui-se em um texto teórico destinado aos estudantes do ensino
médio, no formato de unidade didática destinada ao estudo do eletromagnetismo. Como dito,
este material foi idealizado para inserção na ocasião em que o professor for apresentar o
estudo de forças atuando em partículas no interior de campos magnéticos. Este conteúdo é
geralmente abordado em turmas do 3
o
ano do ensino médio, ao final do curso de eletricidade.
Pressupõe-se um conhecimento prévio dos estudantes sobre temas relacionados ao estudo da
eletricidade (Representação vetorial de campos elétricos e magnéticos por meio de diagrama
de flechas; sentido real e convencional da corrente elétrica) e da mecânica (cinemática do
lançamento de partículas, leis de Newton e forças atuando em movimentos circulares). Caso
as turmas não tenham visto alguns destes tópicos, poderá o professor apresentar apenas os
conceitos que julgar indispensável para uma abordagem mais superficial e menos matemática,
suprimindo principalmente partes referentes à resolução de exercícios voltados para concursos
vestibulares de áreas das ciências exatas.
A seguir estruturamos a aplicação deste produto apresentando uma possível divisão em
tempos de aulas de 50 min de duração. Como dito anteriormente, se conseguirmos que
professores de outras áreas participem deste projeto, poderemos redimensionar o número de
aulas necessárias. Outra sugestão para aplicação deste material seria o de montarmos um
calendário em acordo com os estudantes, no qual algumas atividades sejam desenvolvidas em
horários alternativos fora do horário das aulas de física. Assim, atividades como as pesquisas
na internet para caracterização dos atores da controvérsia, realização das oficinas e
conferências poderiam ser incluídas nestes horários. A realização das mesas-redondas,
também poderiam ocorrer em horários alternativos para que fossem abertas ao público, demais
alunos das escolas ou aos familiares dos estudantes.
65
VII.1- Aula 01: Apresentação do tema e motivação para desenvolvimento da
controvérsia
VII.1.1- As mudanças provocadas pela TV em nossa sociedade
A)Propomos iniciar a aula com a apresentação do VÍDEO N
O
1 em ANEXO IV-DVD, que
apresenta a imagem transmitida da chegada do homem à Lua. Após o vídeo, o professor
procuraria contextualizar as imagens mostradas, apresentando as características da sociedade
daquela época, que vivia o auge da guerra fria, onde parecia haver um risco iminente de um
conflito nuclear entre as duas superpotências. Poderia mencionar também que na corrida
espacial os russos saíram na frente, sendo os primeiros a colocarem um ser vivo em órbita ao
redor de nosso planeta, a cadela Laika, e mais tarde o primeiro astronauta, Yuri Gagarim, o
primeiro homem a ver do espaço nosso planteta. (A cadela Laika não retornou do espaço, pois
a sua missão não tinha como objetivo trazê-la de volta à Terra).
B)Num segundo momento, o professor lança aos alunos os seguintes questionamentos:
o domínio de que tecnologias foram necessárias para transmitir estas imagens da Lua até
nossas casas? (o professor poderá listar no quadro e também ajudar com sugestões para
estimular a participação dos estudantes)
Espera-se que possam surgir diferentes citações como: domínio da eletricidade, da
eletrônica, da confecção de antena, construção de satélites, telefone, telégrafo, rádio,
geradores, televisão, etc...
O professor apresentaria então o VÍDEO N
O
2 em ANEXO IV-DVD, onde selecionamos
alguns comerciais que evidenciam a evolução da linguagem e da imagem pela qual passou a
TV, dede o seu surgimento até os nossos dias. Analisando esta evolução da TV deste os anos
50 quando foi criada, o professor buscaria estabelecer um gancho para falar que nesta época
já existiam exibições em salas de cinema e tentaria mostrar as diferenças de projetores de
imagem em cinemas para a transmissão da imagem pela televisão. Destacaria que, enquanto o
projetor de cinema trabalha com as sucessivas projeções de fotografias tiradas de uma cena,
na TV a imagem captada pela câmara deve ser transformada em sinal elétrico, transmitida sem
fio, capturada pelas antenas de nossos televisores e depois o sinal elétrico deverá novamente
transformar-se em imagem e som, conforme mostra o item 2 do texto do aluno.
Destaca então que para haver a transmissão de uma imagem de televisão, tivemos
antes o desenvolvimento de diferentes tecnologias:
66
A descoberta do selênio, em 1817, elemento químico brilhante e luminoso. Anos mais
tarde, descobriu-se que o selênio poderia transformar energia luminosa em energia
elétrica.
Decobrimento do efeito fotoelétrico, em 1873, por um operador de telégrafo na Irlanda.
O francês Maurice Le Blanc verificou que imagens sucessivas apresentadas em
velocidade davam a impressão de movimento.
Produção das ondas eletromagnéticas em laboratório por Hertz.
Invenção do tubo de raios catódicos e a descoberta do elétron.
Em 1926 o engenheiro escocês John Logie Baird, depois de transmitir contornos de
imagens em movimento, faz uma demonstração para comunidade científica em Londres
e posteriormente assina um contrato com a BBC para transmissões experimentais.
Neste mesmo período o russo Wladimir Zworykin patenteou o “ionoscópio”, invento que
utilizava o tubo de raios catódicos. Mais tarde ele é convidado pela RCA a participar da
equipe que produziria o 1
o
tubo de imagens.
Obs.: A seqüência completa dos fatos mais relevantes bem como as principais idéias que
levaram ao surgimento da TV são apresentadas em nosso produto educacional.
C)Num terceiro momento desta primeira aula, o professor faz um levantamento das
concepções dos estudantes sobre as influências da TV nas transformações de nossa
sociedade:
Primeiramente o professor pede que façam uma listagem do que consideram pontos
positivos e negativos desta influência da TV na sociedade, dando um tempo para que os alunos
possam pensar e dar suas sugestões. O professor poderá dividir o quadro para anotar as
diferentes sugestões dos estudantes. O professor também pode e deve contribuir com esta
listagem.
TABELA VII.1 - Exemplos de pontos que podem ser citados pelos estudantes:
Pontos positivos:
Pontos negativos:
Transmissão de informação e notícias
Divertimento
Transmissão de cultura
Postos de trabalho para profissionais da
arte
Divulgação e movimentação do mercado
Deturpação da informação
Transmissão da violência
Programas de baixa qualidade
Manipulação das massas
Determinação da lógica do mercado de
consumo
67
Depois de confeccionada uma primeira listagem, mostra o VÍDEO 03 em ANEXO IV-
DVD, no qual são apresentadas seqüências de imagens, cenas e situações. O professor pede
aos alunos que tentem identificar o momento histórico que estão relacionados com estas
imagens.
Ao final do vídeo o professor retorna ao quadro de pontos positivos e negativos,
buscando que os alunos possam oferecer novas contribuições.
TABELA VII.2 Seqüência de cenas para análise dos estudantes
Vídeo 3
Fantástico - Poeira das Estrelas
Cenas de um Parto Normal
Chacrinha - TV Tupi - 1978
Hitler em palanque
Imagens da Bomba Atômica
Queda do muro de Berlim
Guerra Tecnológica no Iraque
Imagem da Terra vista do espaço
Ataque de 11 de Setembro
Execução no Vietnã
Ultima volta de Airton Senna
Tsunami
Diretas Já - Dante de Oliveira
Palanque das Diretas Já
Tancredo Neves
Clodovil no Congresso
Gol de Zico na Copa
Guerra no Morro dos Macacos
Cazuza 1988
Mamonas Assassinas
CPM22 - ao vivo
Carnaval do Rio
Poderia ser também inserido neste Vídeo 3, cenas da TV local ou de vídeos caseiros,
contendo questões específicas da comunidade escolar dos estudantes.
O professor volta então ao quadro de sugestões e pergunta se podem acrescentar mais
alguns pontos positivos e negativos da influência da TV em nossa sociedade.
D)Num quarto momento, o professor convida os estudantes a participarem da
controvérsia que teria motivação na implantação da TV digital em nosso país.
Faria então a leitura da notícia sobre a mudança da transmissão no sinal de
transmissão para digital.
Convida então os estudantes para participarem do “Fórum Nacional da TV”, que seria
organizado pelo Ministério das Comunicações para discutirmos temas relacionados a esta
inovação tecnológica.
Como descrito no item 4 do texto para os estudantes (APÊNDICE 1), este fórum seria
composto por diferentes atividades. Em nosso produto elaboramos atividades para duas
oficinas, uma conferência e duas mesas-redondas. Caso o professor consiga a adesão de
68
professores de outras áreas poderia elaborar outras atividades. Deixamos abaixo a sugestão
de inserção neste trabalho de mais 3 atividades:
OFICINA 3, que poderia ser desenvolvida nos moldes das atividades já elaboradas pelo
GREF - Grupo de Reelaboração do Ensino de Física, cuja íntegra do material encontra-se
disponibilizado na internet no endereço http://axpfep1.if.usp.br/~gref/eletromagnetismo.html;
Conferência 2, desenvolvida por trabalho interdisciplinar com professor de história e
Conferência 3, desenvolvida com trabalho interdisciplinar com professor de geografia.
Assim uma sugestão para as propostas de atividades a serem desenvolvidas neste
Fórum Nacional da TV, seriam:
Oficinas:
OFICINA 1: O funcionamento de uma TV e sua inserção no complexo sistema de
Telecomunicações.
OFICINA 2: A descrição das forças magnéticas que atuam em partículas
carregadas no interior de campos magnéticos.
OFICINA 3: A transmissão das ondas eletromagnéticas (Com material nos moldes do
GREF).
Conferências:
Conferência 1: O conflito de interpretação sob a natureza dos raios catódicos e a
descoberta do elétron.
Conferência 2: A globalização e as reservas de mercado. (Apresentado pelo professor
de Geografia)
Conferência 3: As novas censuras do mundo globalizado. (apresentado pelo professor
de História ou prof. Língua Portuguesa)
Mesas-redondas:
Mesa-Redonda 1: Reserva de mercado e incentivos fiscais para produção dos
equipamentos eletrônicos necessários para a mudança do sistema para TV digital.
Mesa-Redonda 2: A criação e as atribuições que teriam uma possível Agência
Reguladora de controle da qualidade da imagem e da programação das redes de TV abertas.
Obs.:No texto para os estudantes (APÊNDICE 1) não foram incluídas as Oficinas 3 e
conferências 2 e 3. Caso o professor faça a opção por desenvolver estas atividades
interdisciplinares deverá ter o cuidado inserí-las no corpo do texto para os estudantes,
acrescentando também estas novas atividades no item 4 onde enumeramos as atividades
deste fórum.
69
VII.1.2- Como vamos atuar nesta controvérsia?
Conforme descrito anteriormente, este fórum será composto de mesas-redondas,
oficinas e conferências. Caberá ao professor realizar uma agenda para que os estudantes
saibam quais as atividades e em que dias estarão sendo desenvolvidas.
As oficinas e conferências serão ministradas pelo professor enquanto as mesas-
redondas serão protagonizadas pelos estudantes.
Serão criadas duas mesas-redondas, a 1
a
de caráter mais técnico e a 2
a
de caráter mais
social. Na 1
a
mesa-redonda serão abordados temas referentes à economia de mercado,
globalização, atividades produtivas, reserva de mercado. Na 2
a
mesa-redonda será
apresentado um tema de caráter mais social que envolverá tomada de posição sobre censura,
liberdade de imprensa, liberdade de comunicação, democratização de acesso à informação,
controle de programação entre outros.
Para a realização desta controvérsia, dividiremos os estudantes da turma em grupos
que passarão a interpretar os papéis de “atores desta controvérsia”. Os grupos terão que
argumentar contra ou a favor da utilização desta tecnologia em nossa sociedade. Estes atores
da controvérsia terão papéis previamente definidos, cabendo aos estudante buscarem
argumentos que possam justificar sua posição e contra-argumentar com outros atores que se
mostram contrários às suas teses.
Conforme defendido no texto para os estudantes (APÊNDICE 1), propomos que
sejam sorteados os atores que cada grupo terá que assumir. Esta estratégia de sortear os
atores de cada grupo, se adotada, deverá ser justificada conforme descreve o texto do aluno.
Sorteando os atores que cada grupo defenderá, pretendemos desenvolver em nossos
estudantes a capacidade de colocar-se com o “olhar do outro” para entender melhor as razões
que os levam a tomar determinadas posições. Assim os estudantes deverão ser divididos em
07 grupos que assumirão os papéis dos 7 atores desta controvérsia. Propomos que os grupos
tenham um número mínimo de 3 e máximo de 5 componentes. O único grupo que fugiria desta
norma seria o 7
o
grupo, responsável pela cobertura jornalística televisiva do evento. Como este
grupo necessita produzir um programa para a TV apresentando as teses defendidas nas duas
mesas-redondas, seria desejável que os estudantes deste grupo tivessem alguma familiaridade
com o manuseio de filmadoras, vídeos e trilhas de edição, caso existam na escola. Propomos
que o professor antes de sortear (ou distribuir) os atores entre os grupos, verifique se algum
grupo em especial gostaria de assumir (ou teria maiores facilidades e habilidade para assumir)
o papel deste 7
o
grupo. Caso haja mais de um grupo interessado, o professor deve agir como
70
mediador, tentando inclusive troca de componente entre grupos. Caso persista o
desentendimento, o professor poderá optar pelo sorteio deste ator entre os grupos
pretendentes.
Atores que participarão da 1
a
mesa-redonda:
1
o
Ator: ABFE- Associação Brasileira de Fabricantes de Eletroeletrônicos
2
o
Ator: Apim - Associação do Pólo Industrial da Manaus
3
o
Ator: Frente Brasileira por uma TV digital democrática
Atores que participarão da 2
a
mesa redonda:
4
o
Ator: APRT- Associação de Proprietários de Rede de Televisão
5
a
Ator: CNDC-Coletivo Nacional pela Democratização da Comunicação
6
a
Ator: Frente Nacional pela defesa da Ética, da Moral e da Família
Equipe Jornalística para cobertura do evento:
7
a
Equipe para cobertura jornalística do Fórum
Após a divisão dos estudantes por grupos de atores, eles deverão em grupo ler a
descrição das características de todos os atores que participarão desta controvérsia, descritas
no item 7 do texto para os estudante (APÊNDICE 1).
Os grupos deverão começar a pontuar as diretrizes de um documento no qual possam
identificar suas características, seus interesses, as idéias que defenderão, bem como a
estratégia de argumentação para apresentação destas idéias.
Deverão montar estratégias de trabalho para obtenção de maiores informações sobre
este ator e buscar documentos que possam justificar suas teses. Programar uma aula com os
estudantes no laboratório de informática, caso exista um na escola, seria importante para que o
professor possa sugerir estratégias de pesquisa na rede de computadores.
O grupo responsável pela cobertura jornalística deverá elaborar uma pauta de trabalhos
para confecção de inserções em “telejornais” apresentando o Fórum Nacional da TV, as idéias
defendidas por cada um dos atores participantes das mesas-redondas, bem como as
estratégias para montagens de entrevistas, filmagens, edição das imagens e montagem dos
programas que iriam ao ar.
71
VII.2- AULA 02: ABERTURA DO FÓRUM E LEVANTAMENTO DE QUESTÕES QUE OS
GRUPOS DEVERÃO DAR SUA POSIÇÃO NO FÓRUM:
Para iniciar esta aula, o professor poderia ler o item 6 do texto do estudante
(APÊNDICE 1) que seria um documento fictício de convocação para este fórum. Em seguida
distribuiria para os alunos uma folha contendo os eventos e as datas onde cada um seria
realizado, nos moldes do item 8 do texto do estudante. Analisaria e descreveria brevemente a
finalidade de cada uma das oficinas, conferências que devem ser entendidas como uma forma
de instrumentalizar os diferentes atores desta controvérsia para sua participação nas mesas-
redondas.
Os diferentes grupos poderão nesta ocasião preencher uma fixa de inscrição contendo
o nome do ator que desempenharão e as identificações de cada aluno pertencente ao grupo.
Esta folha poderá ser utilizada pelo professor para anotações do desempenho do grupo em
cada evento deste fórum e ao final servir de base para avaliação final do grupo. No APENDICE
2, apresentamos um modelo para esta ficha.
Como primeira tarefa do fórum, os grupos deverão levantar ou fabricar documentos que
possam respaldar suas propostas para apresentação das mesas-redondas. Nesta aula,
propomos que os grupos dêem continuidade aos trabalhos iniciados na aula anterior, ou seja,
desenvolvam um trabalho de pesquisa para construírem o perfil do ator da controvérsia e
posicionar-se sobre os temas que serão abordados nas mesas-redondas.
Deverão elaborar um documento apresentando a proposta que defenderão nas
respectivas mesas-redondas de que participarem. Trabalharão também no levantamento e
produção de documentos fictícios ou verdadeiros, que possam respaldar suas teses. Estes
documentos fictícios não podem ter um caráter conclusivo da controvérsia, pondo fim ao
debate como, por exemplo, a edição de uma lei que determina uma certa postura que
inviabilize a existência desta controvérsia. A validade de um documento fictício deverá ser
julgada pelo professor antes da mesa-redonda.
Seria desejável que esta aula fosse realizada no laboratório de informática da escola ou
em local onde os grupos possam acessar a rede de computadores.
Nesta tarefa de pesquisa e busca de argumentação, os grupos deverão estar
preocupados em verificar o perfil dos seus grupos opositores e também buscar argumentos que
possam contrariar suas teses. Deverão elaborar perguntas para os demais grupos participantes
da mesa-redonda e que estarão defendendo posições diferentes das suas. Deverão buscar e
72
evidenciar para os participantes que as suas propostas são melhores que as do seu grupo
adversário.
O professor poderia propor a leitura do item MESA-REDONDA do texto do aluno onde é
apresentado o seu mecanismo de funcionamento bem como os temas que serão abordados
pelos atores desta controvérsia.
Mesa Redonda 2:
Tema:
A criação e as atribuições que teriam uma possível Agência Reguladora
de controle de qualidade de imagem e da programação das redes de TV
abertas.
Atores que participarão da 2
a
mesa redonda:
4
o
Ator: APRT- Associação de Proprietários de Rede de Televisão
5
a
Ator: CNDC-Coletivo Nacional pela Democratização da Comunicação
6
a
Ator: Frente Nacional pela defesa da Ética, da Moral e da Família
Mesa-Redonda 1:
Tema:
Reserva de mercado e benefícios fiscais para produção dos
equipamentos eletrônicos necessários para a mudança do sistema para TV
digital.
Atores que participarão da 1
a
mesa redonda:
1
o
Ator: ABFE- Associação Brasileira de Fabricantes de Eletroeletrônicos
2
o
Ator: Apim - Associação do Pólo Industrial da Manaus
3
o
Ator: Frente Brasileira por uma TV digital democrática
73
VII.3- AULA 03: -OFICINA 1-
A FORMAÇÃO DA IMAGEM NA TV E SUA INSERÇÃO NO COMPLEXO SISTEMA
DE TELE-COMUNICAÇÕES
O professor deverá levar para a sala de aula um aparelho de TV que será aberto diante
dos alunos para desvendar os mistérios que estão por detrás desta caixa mágica. (poderá ser
um microcomputador velho).O professor esclarece aos estudantes que mesmo depois da
modificação do sistema de transmissão para o digital, a eletrônica interna das TV permanecerá
a mesmas. Haverá necessidade apenas de instalação de um conversor (Set Top Box), para
modificação do sinal digital para o analógico. Esclarece também que as modernas TVs de
plasma não possuem um tudo de imagem, sendo seu funcionamento diferente dos nossos
televisores tradicionais.
Os grupos deveriam ser motivados a levarem para aula um televisor velho (que não
necessitaria estar funcionando), que pode ser conseguido em uma oficina de TV ou em uma
oficina de conserto de computadores. Seria interessante que cada grupo pudesse ter o seu
próprio televisor e ferramentas básicas para que pudessem abri-lo e identificar seus
componentes internos.
O professor inicia a aula questionando:
Como esta caixa mágica pode transformar uma onda invisível em imagem e som?
1
o
passo: O professor insere a TV no complexo sistema de telecomunicações.
Com a motivação da transmissão da chegada do homem à Lua, descreve a viagem desta
imagem. (texto do aluno: Oficina I- A captação da imagem e sua transmissão até nossos
televisores)
A captação da imagem por filmadoras
A transmissão da imagem
A recepção do sinal e as partes da TV
2
o
passo: O professor convida os estudantes a abrirem o aparelho de TV. Cada grupo abre o
seu próprio aparelho.
3
o
passo: O professor desafia os estudante a encontrarem o fusível de entrada do aparelho,
que, quando queimado, não deixa o aparelho ligar. (Fala que muitos consertos de TV
74
consistem apenas na troca destes dispositivos, que custam poucos centavos e que alguns
técnicos simulam defeitos inexistentes para cobrarem mais de seus clientes).
4
o
passo: O professor identifica os principais componentes da televisão junto com os alunos.
Divide o televisor em 3 partes:
a)Os circuitos necessários para geração da alta tensão e interpretação dos sinais que chegam
da antena;
b)a bobina defletora (Chamada de YOKE) que se encontra no pescoço do tubo de imagens
(responsável pela deflexão do feixe eletrônico) e
c) o tubo de imagens (Tubo de raios catódicos).
5
o
passo: O professor descreve o funcionamento do tubo de raios catódicos e como se dá a
formação da imagem nestes tubos.
Explica a emissão termiônica.
Descreve como se processa a aceleração dos eletrons pelas grades de controle.
Explica que o deslocamento do ponto luminoso na tela devido a ação de uma força que atua
em cargas em movimento e explica como se dá a formação da imagem na TV (conforme as
explicações do texto para os estudante)
6
o
passo: Investigação das características da força magnética que atua nas partículas
carregadas em movimento.
Questiona aos alunos: Como podemos provocar força em uma carga em movimento?
Espera respostas: campo elétrico, força gravitacional e força magnética. Será que ímãs
(campos magnéticos) são capazes de exercer força em elétrons? Que tipo de força? Atraem?
Repelem?
Pede aos alunos que retirem o YOKE do pescoço do tubo de imagem e pergunta aos
estudantes o que acham que aconteceria se ligassem a TV agora?
É importante neste momento mostrar aos estudantes que o tubo de imagem é
alimentado por uma tensão de alguns milhares de volts através de um fio que é acoplado na
parte externa do tubo por uma “Chupeta” (pequeno adaptador coberto por uma capa de
borracha). Os alunos deverão ser informados que não poderão tocar nos componentes da TV
quando ela estiver ligada e principalmente na parte de alimentação de alta-tensão. É
importante destacar que, mesmo depois de desligado, o tubo de imagens permanece
energizado por alguns instante. Portanto, a parte a seguir deverá ser feita com muito cuidado e
75
sob orientação do professor. (Seria interessante que o professor pudesse orientar cada grupo
separadamente para ligar a TV.)
O professor liga a TV e os alunos devem observar a formação de um ponto luminoso na tela.
Seguindo as instruções do texto para os estudante, o professor tenta investigar se um ímã
pode desviar a trajetória do feixe de elétrons que atingem a tela da TV. Pede sugestões aos
alunos de onde colocar o ímã e o que acontecerá com a posição do ponto luminoso caso
coloque o ímã nesta posição. Geralmente os alunos afirmam que o ponto luminoso será atraído
na direção do ímã. O professor deve mostrar aos estudantes que o desvio não foi como
esperávamos. Investiga se há diferença da atração se trocarmos os pólos do ímã. E como
acontece para ímãs em forma de ferradura.
Depois de algum tempo, para que os estudante possam tentar criar um regra para descrição
deste comportamento, o professor apresenta a regra da mão direita, conforme o texto para os
estudantes, e mostra que com a sua utilização será capaz de prever como acontecerá o
deslocamento do ponto luminoso na tela.
Por último, os grupos realizam os exercícios propostos no final desta oficina. O professor
tenta estimular a realização destes exercícios como treinamento para uma competição de
“adivinhação” entre os grupos. Esta competição consistiria em que um determinado grupo
proporia colocar o ímã em uma posição no pescoço do tubo de imagens e os demais grupos
deveriam acertar para que direção se deslocaria o ponto luminoso na tela.
76
VII.4- AULA 04 : -OFICINA 2-
O MÓDULO DAS FORÇAS MAGNÉTICAS QUE ATUAM EM PARTÍCULAS
CARREGADAS EM MOVIMENTO NO INTERIOR DE CAMPOS MAGNÉTICOS.
Nesta aula, que é uma continuação da oficina 1, o professor tentará evidenciar para os
alunos como poderemos investigar de que variáveis dependerá a atuação desta força
magnética. Mais do que simplesmente apresentar e aplicar corretamente a equação
matemática expressa pelo produto vetorial F = qv x B, pretendemos mostrar aos nossos
estudantes as etapas de uma investigação científica, construindo estratégias de observação
que pudessem nos levar a conclusões quantitativas do comportamento desta força.
Primeiro devemos mostrar para os estudantes que a experimentação realizada em um
laboratório é fruto das idéias e intuições do pesquisador, indicando para eles que, antes mesmo
de propor determinada experimentação, devemos ter uma primeira idéia de como um
determinado fenômeno acontece, ou de que variáveis são relevantes para explicação deste
determinado fenômeno. A experiência servirá então para comprovar ou refutar esta nossa idéia
sobre o comportamento da natureza, conforme apresentamos em nosso referencial teórico.
No texto para os estudantes, apresentamos algumas variáveis e pedimos aos estudantes
que fizessem um exercício de intuição dizendo que variáveis influenciariam na força aplicada
às cargas em movimento. Depois tentamos mostrar que para a investigação destas variáveis
necessitaríamos de equipamentos mais sofisticados que pudessem por exemplo:
a)alterar a tensão aplicada ao tubo para modificação da velocidade das partículas.
b)dispositivos que possam acelerar partículas de massas e cargas diferentes, como o
espectrômetro de massa. Na TV, todas as partículas são elétrons e, portanto, possuem mesma
carga e mesma massa.
No entanto, esperamos que os alunos sejam capazes de verificar que com o nosso
dispositivo experimental poderão variar o valor do campo magnético (colocando ímãs de
diferentes poderes atrativos) e variar o ângulo entre os vetores velocidade e campo magnético.
Embora a velocidade das partículas também pudesse ser modificada, seria necessário alterar a
tensão de alimentação das placas e do tubo de imagens. No entanto, esta tarefa exigiria um
conhecimento prévio do projeto do circuito da TV que está sendo utilizado, além de sofisticado
conhecimento de eletrônica, que escapam aos objetivos deste trabalho.
77
O texto para os estudantes apresenta duas formas de atividade para avaliar a influência
do módulo do campo magnético e da posição relativa entre os vetores velocidade e campo
magnético.
Pelas dificuldades envolvidas no correto posicionamento dos ímãs, seria conveniente o
professor realizar uma experiência demonstrativa utilizando os pressupostos teóricos do
Laboratório Aberto, onde os alunos não sejam meros espectadores, mas que participem
ativamente da problematização de como efetuarão a tarefa experimental.
Como sugestão, o professor poderá utilizar um suporte para fixar os ímãs nas
experiências ou amarrá-los a um fio, de modo que a distância do ímã para o tubo de imagens
possa ser controlada e modificada facilmente.
Para a avaliação da influência da posição relativa dos vetores velocidade e campo
magnético, o ímã em forma de ferradura poderia estar também amarrado a um suporte que o
deixasse pender verticalmente de modo a poder girá-lo, como descrito no texto para os
estudantes.
A proximidade com o concurso vestibular poderá ser um agravante para aplicação deste
produto, pois a ansiedade dos estudantes poderia fazer com que rejeitassem a participação
neste tipo de atividade, postulando que este tipo de aula não contribuiria com sua preparação
para as provas de concursos. Tivemos então o cuidado de inserir em cada uma das oficinas
exercícios que foram retirados de concursos vestibulares de diferentes universidades, todas
tratando deste tema.
O professor poderá reservar os exercícios mais complexos para trabalhar com os
alunos que tenham por objetivo continuarem seus estudos nas áreas das ditas “ciências
exatas”.
78
VII.5- AULA 05: -MESA-REDONDA 1-
RESERVA DE MERCADO E BENEFÍCIOS FISCAIS PARA PRODUÇÃO DOS
EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS NECESSÁRIOS PARA A MUDANÇA DO
SISTEMA PARA TV DIGITAL.
As indicações de como será a organização da mesa-redonda bem como do seu
funcionamento estão descritos no texto para os estudantes.
Se o professor julgar conveniente, deverá convidar os alunos de outras turmas do
colégio para coordenarem os trabalhos da mesa. Deveria também ser convidado um
cronometrista que auxiliaria o coordenador da mesa nos tempos de fala de cada grupo e nos
sorteios que seriam necessários. É importante, no entanto, que estes estudanes convidados
sejam conhecedores dos conflitos e posições que serão apresentados nesta mesa, e das
regras que deverão seguir neste debate.
A sala de aula deveria tomar uma nova configuração de modo que os participantes dos
grupos que defenderão as idéias de cada Ator fiquem posicionados de frente para a platéia
que será composta pelos demais alunos da turma. A mesa do professor que servirá para o
coordenador da mesa redonda poderia ser colocada em uma das laterais da sala.
Para facilitar o sorteio e a ordem dos debates, os grupos deverão ser identificados por
números de 1 até 3, que seriam sorteados antes do início do debate pelo coordenador.
Para o início dos trabalhos, o tema abordado bem como a identificação de cada Ator da
controvérsia deverão ser fixados em cartazes ou escritos no quadro, de modo que todos os
participantes possam facilmente identificá-los.
Na primeira parte dos trabalhos, por ordem de sorteio, os grupos terão um tempo máximo de
5 minutos para sua apresentação e posicionamento em relação à controvérsia.
Em seguida haverá o confronto 1 , onde cada grupo sorteado fará pergunta para um outro
grupo sorteado, de tal modo que todos os grupos façam e respondam uma única pergunta.
Nesta etapa os grupos terão 1 minuto para pergunta e 2 minutos para sua resposta. Terão
ainda mais 1 minuto para comentarem as respostas dadas, primeiro o grupo que perguntou e
depois o grupo que respondeu.
79
No confronto 2, cada grupo, por ordem de sorteio, encaminhará uma pergunta a
outro grupo de sua livre escolha. Os grupos terão 1 minuto para pergunta, o grupo perguntado
terá 1 minuto para resposta, o perguntador terá mais 1minuto para análise da resposta e o
perguntado mais 1 minuto para suas considerações finais.
(Caso haja tempo disponível, poderá haver mais uma rodada deste confronto 2.)
O coordenador da mesa abrirá então inscrições para que o plenário formado pelos
alunos dos outros grupos também possam perguntar aos grupos participantes. O cronometrista
poderá organizar uma lista de inscritos para evitar tumultos.
O coordenador passará a palavra para que cada grupo faça suas considerações finais
e indiquem o voto em uma determinada posição. Cada grupo terá 1 minuto para esta etapa.
Ao final do debate os grupos, por ordem de sorteio, terão mais 2 minutos para suas
considerações finais.
A seguir o coordenador convida, por ordem de chamada da pauta do professor, os
participantes a votarem em uma proposta apresentada pelos grupos.
As cédulas dever estar preparadas previamente como mostrado no modelo abaixo:
A contagem dos votos deve ser feita pelo coordenador da mesa, que lerá os votos
para o cronometrista marcar no quadro a pontuação de cada grupo. Esta contagem deve ser
transparente de tal forma que todos os alunos possam acompanhar a apuração.
O coordenador anuncia o resultado final e convida os participantes para a próxima
mesa informando novamente a data e o tema a ser abordado.
CÉDULA PARA VOTAÇÃO:
1
o
) Qual a melhor proposta apresentada para esta controvérsia?
( )grupo N
o
1 ( )Grupo N
o
2 ( )Grupo N
o
3.
2
o
)Que grupo melhor defendeu suas propostas?
( )grupo N
o
1 ( )Grupo N
o
2 ( )Grupo N
o
3.
80
VII.6- AULA 06: -CONFERÊNCIA 1-
O CONFLITO DE INTERPRETAÇÃO SOB A NATUREZA DOS RAIOS
CATÓDICOS E A “DESCOBERTA” DO ELÉTRON
Esta conferência será proferida pelo professor e terá como objetivo apresentar aos
estudantes as controvérsias que surgiram ao longo dos anos para compreensão do que seriam
estas emanações provenientes dos catodos quando submetidos a uma alta-tensão.
Propomos iniciar esta aula apresentando as dificuldades tecnológicas para a construção
destes tubos de raios catódicos que estão relacionadas com a dificuldade de produção do
vácuo.
Para maior motivação da aula o professor poderá construir um gerador de alta-tensão
utilizando-se também de uma sucata de TV. Bastaria para isso desconectar a chupeta (eletrodo
que leva alta tensão aos tubo de imagens) e utilizá-la como ponto de alimentação de alta-
tensão do dispositivo que se deseja alimentar. O outro ponto de alimentação (o que seria o
negativo da ligação) deve ser ligado ao “chassi” da TV( armadura metálica no qual o tubo de
imagens fica preso). Este gerador é capaz de provocar o surgimento de arco entre dois pontos
metálicos pontiagudos não muito distantes. Poderá também ser utilizado para acender algum
tubo de raios catódicos, caso exista algum no laboratório da escola. Poderíamos improvisar um
destes tubos utilizando uma lâmpada queimada (sem filamento). Quanto maior a lâmpada,
melhor para a visualização do efeito. Pode-se utilizar este gerador para acender uma lâmpada
incandescente.
No texto para os estudantes é apresentada a evolução histórica sobre os conflitos de
interpretação sobre estes “raios catódicos”. Seria interessante que o professor pudesse
apresentar aos alunos que em outros momentos da história da ciência houve conflitos
semelhantes a este, como no caso da interpretação da luz como onda e partícula (dualismo
onda-partícula da luz). Mostrar aos alunos que estes conflitos denunciam que a ciência não é
construída de verdades absolutas descobertas por uma mente brilhante, mas que, muito pelo
contrário, é uma construção coletiva de pessoas que estão inseridas em uma sociedade e que
criam formas diferentes para interpretação destes fenômenos, dependendo das tecnologias e
teorias de que dispunham nesta sociedade.
81
No momento seguinte propomos fazer uma análise da experiência de J.J.Thomson, que
culminou com a determinação da relação carga /massa do elétron. No texto do estudante são
apresentados vários exercícios para serem realizados pelos estudantes. Resolvendo estes
exercícios os estudantes terão reconstruído a famosa experiência de Thomson.
Apresentaremos abaixo as resoluções dos exercícios propostos no texto dos estudantes:
Exercício 1:
a) Lançando-se uma partícula carregada negativamente no interior de um campo magné-
tico, conforme ilustração, represente o vetor força magnética que atuará na partícula e
diga como será seu desvio.
b)Utilização de duas placas planas metálicas para anular o desvio da partícula.
c)Para a determinação da velocidade teremos:
ME
FF =
qvb
qE
=
Exercício 2:
a) O valor da aceleração da partícula em função do campo elétrico, da carga e de sua massa.
maF
E
=
ma
qe
=
B
E
v =
m
qE
a =
82
b) O tempo gasto pelas partículas para emergirem das placas em função do comprimento x
1
destas placas e dos módulos dos campos elétrico (E) e magnético (B).
mas como sabemos
B
E
v
x
= , então
B
E
x
t
1
1
=
c) A deflexão vertical y
1
sofrida pela partícula ao emergir da região entre as placas.
2
001
2
1
attvyy
y
++=
2
11
2
1
= x
E
B
m
qE
y
2
2
1
2
1
2
1
E
xB
m
qE
y =
Exercício 3:
a) A expressão que fornece a componente vertical da velocidade da partícula ao emergir da
região entre as placas.
atvv
yy
+=
0
1
0 x
E
B
m
qE
v
y
+=
b) O tempo gasto até a partícula atingir a tela.
Depois de abandonar a região entre as placas a partícula entrará em MRU.
2
2
t
x
v
x
=
x
v
x
t
2
2
=
B
E
x
t
2
2
=
E
xB
m
q
y
2
1
2
1
2
1
=
x
x
v
x
t
t
x
v
1
1
1
1
=
=
11
x
E
B
t =
1
Bx
m
q
v
y
=
22
x
E
B
t =
83
c) A deflexão y
2
.
22
tvy
y
=
212
x
E
B
Bx
m
q
y =
Exercício 4: Conhecidos os valores da deflexão total D = y
1
+ y
2
, das distâncias x
1
e x
2
e dos campos elétrico e magnético, expresse a relação entre a carga e a
massa desta partícula.
21
yyD +=
E
xxB
m
q
E
xB
m
q
D
21
22
1
2
2
1
+=
+=
E
xxB
E
xB
m
q
D
21
22
1
2
2
+
=
E
xxBxB
m
q
D
2
2
21
22
1
2
21
22
1
2
2
2
xxBxB
ED
m
q
+
=
E
xxB
m
q
y
21
2
2
=
(
)
2
1
1
2
2
2
xxxB
ED
m
q
+
=
84
VII.7- AULA 07 : - MESA-REDONDA 2 -
CONTROLE DE QUALIDADE DE IMAGEM E DA PROGRAMAÇÃO DAS REDES DE
TV ABERTAS
As instruções para o funcionamento e realização da Mesa-Redonda 2 são as mesmas
já relatadas para Mesa-Redonda 1 (Aula 5).
Caso o professor tenha percebido, nos debates referentes à 1
a
mesa redonda, que de
alguma forma os tempos designados para cada uma das etapas da controvérsia não foram
adequados, poderá então fazer um ajuste, estipulando novos tempos para cada uma das
etapas desta nova atividade. O professor deverá ter o cuidado, no entanto, de comunicar
previamente aos grupos participantes desta mesa os novos tempos disponíveis para cada uma
das etapas.
VII.8- AULA 08: - AVALIAÇÃO DO TRABALHO -
APRESENTAÇÃO DAS REPORTAGENS SOBRE OS DEBATES
PROMOVIDOS NAS MESAS REDONDAS E A AVALIAÇÃO DO TRABALHO
DESENVOLVIDO
Propomos iniciar esta aula com a apresentação dos programas elaborados pela equipe
Jornalística de Cobertura do Fórum Nacional da TV e que seriam veiculados na programação
dos telejornais da Rede Educar de notícias. Após a apresentação dos vídeos, os participantes
desta 7
a
equipe (7
a
Equipe para cobertura jornalística do Fórum) fariam uma 1
a
análise crítica
do trabalho, procurando justificar o tipo de edição que adotaram na elaboração deste programa.
Num segundo momento o professor poderia fazer uma síntese de todo o trabalho e
apontar novamente a importância em percebermos que uma controvérsia não é
necessariamente um confronto do certo x errado”, mas o confronto de duas posições
diferentes resultantes do modo como vemos um problema e das formas diferentes que temos
para solucioná-lo.
Num terceiro momento, o professor poderia então passar a palavra para que os
componentes de cada grupo pudessem fazer uma análise crítica das posições do ator por eles
defendidos e dos argumentos utilizados para defender sua posição.
85
Neste momento os estudantes, individualmente, poderiam fazer uma análise crítica das
posições defendidas pelo grupo durante o Fórum e de suas posições pessoais, evidenciando
se de alguma forma as discussões realizadas neste trabalho contribuíram para modificação
e/ou reestruturação de suas posições pessoais sobre estes temas abordados.
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciarmos a elaboração deste trabalho, tínhamos como objetivo primeiro a pretensão
de colocar nossos esforços voltados para a produção de um material que fosse uma alternativa
viável para inserção no cotidiano da sala de aula e que pudesse se constituir como mais um
instrumento auxiliar aos professores no exercício de seu trabalho educacional.
A escolha do tema estaria relacionado, entre outros fatores, ao desafio de transformar
um assunto que julgamos de difícil abordagem e de elevado grau de especificidade, em um
conteúdo que pudesse despertar o interesse dos diferentes tipos de estudantes, e não apenas
dos alunos que se destinarão ao estudo das ciências exatas.
A constatação das dificuldades de encontrar materiais e metodologias experimentais
para abordagem deste tema nos motivou a pesquisar e estruturar as estratégias que
culminaram com a elaboração deste trabalho.
Na ocasião do desenvolvimento do nosso Produto Educacional, nos questionamos se
este tema tão específico relacionado ao estudo de forças magnéticas em partículas no interior
do campo magnético, deveria ser apresentado à totalidade dos estudantes do ensino médio.
Durante a elaboração deste trabalho, pudemos perceber mais claramente que o foco de nossa
atenção deve ser deslocado dos conteúdos para a forma de apresentação que efetivamente
devamos dar a um determinado conteúdo específico em nossa sala de aula. Assim a pergunta
que devemos fazer não apenas em relação a este conteúdo, mas em relação a qualquer
conteúdo específico, é: De que forma estes conteúdos serão apresentados em nossas salas de
aula?
Se a abordagem destinada à apresentação deste tema estiver apenas relacionado com
a preparação de um futuro cientista e que portanto serão indispensáveis o rigor conceitual e o
formalismo matemático, acreditamos que este tema não devesse estar incluído no programa
destinado aos estudantes do ensino médio. Mas se a este tema relacionarmos a análise da
modificação que a utilização desta tecnologia pode provocar, transformando as relações sociais
e o mundo do trabalho, acredito que este tema seja indispensável à formação dos estudantes
para o exercício pleno de sua cidadania.
87
Queremos com este trabalho nos alinhar com as diretrizes dos PCN, que apontam a
mudança do foco de nossa atenção dos conteúdos que serão abordados para a forma em que
deverão ser apresentados.
Esperamos assim que este trabalho seja uma contribuição não ao formalismo da
apresentação dos conceitos físicos em si, mas ao formato dispensado à sua abordagem.
88
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A
1
APÊNDICE 1:
PRODUTO EDUCACIONAL
(TEXTO PARA OS ESTUDANTES)
A
2
A tecnologia do desenvolvimento da televisão
influenciando e construindo nossa sociedade
O Homem; As Viagens.
O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Carlos Drummond de Andrade
“Em 20 de julho de 1969, presenciávamos uma das cenas mais emocionantes
proporcionadas pela ciência em todos os tempos. Em todo o mundo cerca de um bilhão de
pessoas assistiram pela televisão ao pouso do módulo lunar da Apollo 11, batizado de
"eagle"(águia), no solo de nosso satélite natural. Duas horas após o pouso, Neil Armstrong
saiu da nave e entrou para a história como o primeiro homem a pisar na Lua.”
Retirado do site: http://www.observatorio.ufmg.br/pas14.htm
Acesso em 20/07/2006.
A
3
1. A tecnologia da televisão construindo e transformando nossa
sociedade
A conquista do espaço pelo homem é sem dúvida um marco significativo para a história
da ciência. Imagine-se você vendo de sua casa pela televisão a imagem do homem chegando à
Lua. Talvez tão surpreendente quanto a viagem do homem ao espaço, foi o fato de milhares de
pessoas poderem assistir de seus televisores, dentro de suas casas, a este gigantesco passo dado
pelo homem.
Parece mágica. Como pode uma cena viajar pelo espaço vazio da Lua até a Terra? Como
o homem foi capaz de elaborar uma mecanismo para capturar imagem e som de uma cena e
transformá-la em ondas invisíveis, transportá-las pelo espaço, e enviá-las a milhares de lares ao
mesmo tempo? Como esta “caixa mágica” chamada televisão pode “interpretar” estas ondas
invisíveis e transformá-la novamente em imagem e som?
Independente da complexidade de seu funcionamento e da tecnologia envolvida em sua
fabricação, a TV ocupa hoje lugar de destaque em nossa sociedade. Na quase totalidade dos lares
brasileiros, mesmo nos mais pobres, a TV encontra-se em posição privilegiada. Pesquisas
recentes apontam que os brasileiros permanecem em média 3,0 horas diárias diante dos aparelhos
de TV.
Se sua eficácia na divulgação de uma informação é um fato inquestionável, este consenso
se desfaz, no entanto, quando é colocada a questão da imparcialidade na apresentação desta
informação. Um mesmo acontecimento poderá chegar ao público de inúmeras formas,
dependendo do tipo de edição a que será submetida esta imagem. Desta forma o poder de
persuasão dos meios de comunicação é uma realidade. No campo social a TV poderá contribuir
com a divulgação de determinado padrão de comportamento ou com seu aniquilamento. Servirá
para reforçar ou aniquilar um traço cultural de um povo. Politicamente poderá ser utilizada como
importante veículo de propaganda, influenciando na forma e na escolha de um governo, bem
como em sua aceitação ou rejeição.
Certamente seria difícil pensarmos nossa sociedade atual sem a presença de um televisor.
São milhares de pessoas, famílias, nações inteiras que, reunidas diante deste aparelho, assistem
desde programas de divertimento até fatos que podem modificar suas vidas. Através da TV,
A
4
presenciam acontecimentos históricos, assistem ao noticiário, à telenovela, a um filme, a um
desenho, a um programa de auditório, a uma entrevista, à imagem de uma conquista científica ou
simplesmente passam o tempo, sem muito se importar com aquilo a que se está assistindo.
Hoje, são milhares de escritores, jornalistas, atores, diretores, produtores, publicitários,
engenheiros, técnicos envolvidos diretamente no planejamento, produção, edição e transmissão
das imagens que alimentam nossa TV. São outros tantos milhares envolvidos indiretamente na
pesquisa, idealização e produção dos novos aparelhos de TV, que somos levados a comprar pela
propaganda veiculada em nossa própria TV.
Nesta atual sociedade de consumo, a televisão desempenha um papel fundamental, nos
impulsionando a querer adquirir novos produtos, sendo um dos motores principais desta nossa
atual sociedade de consumo. A propaganda de um produto, vinculada em horário nobre, leva
milhares de consumidores a desejar e comprar este produto, da mesma forma que a apresentação
de um padrão de comportamento poderá influenciar e modificar toda a forma de comportamento
de um povo. A TV, portanto, transforma, direciona e modifica o padrão de comportamento, o
modo de produção e os valores de toda uma sociedade.
2. O domínio da tecnologia da transmissão de imagem, um
marco para a sociedade contemporânea
Nem sempre problematizamos que, para assistirmos à TV em nossos lares, é necessário o
funcionamento de um complexo sistema tecnológico, resultado de anos de pesquisa científica, de
desenvolvimento tecnológico e do trabalho empreendedor de muitas pessoas.
O mecanismo de funcionamento de um aparelho de televisão bem como a história do seu
surgimento é um tema complexo que se relaciona com diferentes tecnologias que começaram a
ser desenvolvidas no século XIX e culminaram com a construção dos aparelhos de TV no século
XX.
Anterior à TV, o desenvolvimento do telégrafo, do rádio e do cinema foi importante
marco tecnológico na transformação da sociedade daquela época e serviu de base tecnológica
para o posterior desenvolvimento da televisão.
A
5
O cinematógrafo foi um instrumento construído em 1895 pelos irmãos Louis e Auguste
Lumière, que serviria de base para construção mais tarde dos primeiros projetores de cinema. Era
um aparelho destinado à animação de fotografias. No entanto, o cinema como expressão de uma
linguagem artística teria surgido mais tarde, quando em 1902, Georges Méliès abandona os
documentários e utiliza figurinos, atores, cenários e maquiagem na confecção de dois filmes:
Viagem à Lua e A Conquista do Pólo. A produção de um filme de cinema, embora tenha como
resultado a projeção de imagens e som, é bem diferente da televisão. A técnica desenvolvida para
produção de um filme de cinema consiste em retirarmos uma seqüência de fotografias de uma
determinada cena e depois projetá-la em uma tela com o auxilio de um conjunto de lentes
especiais. A velocidade de projeção destas fotos, ligadas ao fato de que a imagem da cena
gravada em nossa retina não se desfaz instantaneamente (persistência visual), nos dá a noção de
continuidade e de movimento.
Já o processo de transmissão e reprodução da imagem em uma TV é mais complexo, pois
exige a transformação da imagem da cena em corrente elétrica, que será transformada em ondas
eletromagnéticas e transmitas até a antena de nossa casa, onde será novamente transformada em
sinal elétrico e depois novamente em imagem e som pelo nosso televisor.
Portanto, para o surgimento desta nova tecnologia foi antes necessário, uma série de
domínios de outras tecnologias como:
A descoberta em 1873 de que o elemento químico selênio tinha a propriedade de
transformar energia luminosa em energia elétrica.
Esta propriedade foi fundamental para que mais tarde pudéssemos construir a câmara de
filmagens que tem a função de transformar a imagem de uma cena em sinal elétrico para
posteriormente ser transmitida.
O desenvolvimento teórico das equações do eletromagnetismo por Maxwell e a
produção em laboratório destas ondas eletromagnéticas por Hertz em 1892.
Após captadas pelas câmeras de TV e transformadas em sinal elétrico, este sinal é levado
até as antenas de transmissão e enviadas sob a forma de onda eletromagnética diretamente para
antena de nossas casas ou enviadas para um satélite de telecomunicações que reenviam estas
ondas para vários pontos da terra, inclusive para nossas antenas parabólicas.
O estudo de descargas elétricas no interior de tubos mantidos a baixa pressão, os
chamados tubos de raios catódicos.
A
6
A busca para interpretação de qual seria a natureza destes raios que eram emitidos do
catodo (os chamados raios catódicos) provocou uma grande controvérsia entre os físicos daquela
época. Os alemães liderados por Hertz acreditavam que estes raios eram ondas. Os físicos
ingleses liderados por Crookes afirmavam que estes raios eram constituídos de partículas. A
controvérsia teve fim quando, em 1897, o físico J. J. Thomson demonstrou que tais raios eram na
verdade feixe de elétrons e determinou a relação entre a carga e a massa destas partículas. Esta
comprovação ficou conhecida como sendo a descoberta do elétron.
O surgimento do aparelho de televisão está relacionado então a um longo trabalho de
pesquisa realizado em vários países e por diferentes pesquisadores. Ele é o resultado da
combinação destas e de outras diferentes tecnologias. Em 1924, John Logie Baird transmitiu
contornos de objetos a distância e, no ano seguinte, fisionomias de pessoas. Em 1926, proferiu
uma conferência no Royal Institution em Londres para a comunidade científica e assinou
contrato com a BBC para realização de transmissões experimentais. Neste mesmo período, o
russo Wladimir Zworykin patenteou o “ionoscópio”, invento que utilizava um tubo de raios
catódicos. Zworykin foi convidado pela RCA a participar da equipe que produziria o primeiro
tubo de televisão, chamado de “orticon” que passou a ser produzido em escala industrial em
1945.
Em março de 1935, inicia-se oficialmente a transmissão da TV na Alemanha e em
novembro deste mesmo ano na França. Em 1936, inaugura-se a estação regular da BBC em
Londres. Em 1938, as transmissões tiveram início na Rússia e em 1939 nos Estados Unidos. Em
setembro de 1950, inaugura-se a TV Tupi de São Paulo, pertencente ao jornalista Assis
Chateaubriand, com um sistema baseado no americano.
Oportunamente, voltaremos a detalhar melhor alguns aspectos históricos sobre o
surgimento das tecnologias que possibilitaram o surgimento da TV para facilitar nosso
entendimento sobre os conflitos e dificuldades que estiveram envolvidas no surgimento desta
nova tecnologia.
A
7
3. Atividade proposta para desenvolvimento em grupo: A
participação em uma controvérsia sobre a TV
Sempre que somos chamados a nos posicionar sobre um determinado assunto ou sobre
uma controvérsia, nossa posição vem impregnada de convicções, que foram construídas ao longo
dos anos, em nossas diferentes interações sociais. Quando procuramos estabelecer um “juízo de
valor” sobre determinado assunto, utilizamos “padrões de justiça”, que também foram uma
construção humana e social. A forma como pensamos, agimos, sentimos bem como as verdades
em que acreditamos e que defendemos, poderiam ser diferentes, caso tivéssemos vivido em
sociedades diferentes, com outros padrões de valores e comportamento. Assim a
“imparcialidade”, que comumente é invocada como requisito para um julgamento justo, será
sempre relativa, pois os atores que participam de uma controvérsia estarão previamente
impregnados de valores, idéias e necessidades que foram construídas e elaboradas em suas
diferentes interações sociais ao longo dos anos.
Portanto, devemos perceber que em nossa sociedade os grupos defensores ou detratores
de uma determinada idéia não possuem um “posicionamento imparcial”. Estes grupos criarão
argumentos na defesa de seus ideais, de seus interesses ou dos interesses dos grupos aos quais
estão ligados. Suas concepções filosóficas, políticas, educacionais, técnicas, religiosas,
econômicas dependerão entre outras coisas das vantagens que poderão obter para perpetuar suas
idéias, seu modo de vida ou a manutenção da subsistência sua e de seu grupo.
Defendemos, consciente ou inconscientemente, fatores que possam facilitar ou privilegiar
as nossas relações profissionais nesta sociedade. Nossas idéias, sonhos, formas de pensamento
são uma construção social, que dependerá das nossas relações com a sociedade à qual
pertencemos. Assim nosso modo de produção social e o mundo do trabalho no qual
particularmente estamos inseridos serão determinantes para solidificação das idéias que
defenderemos na construção e na determinação dos rumos de nossa sociedade.
Nesta parte de nossos estudos gostaríamos de propor aos nossos estudantes a criação de
uma controvérsia fictícia sobre a TV.
Como apresentamos anteriormente, a presença da TV foi determinante na construção da
sociedade atual, desde o desenvolvimento de novas tecnologias, geração de empregos,
A
8
influenciando nos padrões de consumo e comportamento, no acesso à informação, no domínio do
poder, na determinação de novos padrões morais, etc..
É justamente por esta grande inserção social que a utilização da tecnologia da TV em
nossa sociedade vem sendo alvo de controvérsia entre os diferentes grupos ou atores sociais.
Duramente criticada por grupos que creditam a ela os ditos “males da sociedade atual” é clamada
por outros como principal fator de democratização do acesso à informação pela sociedade.
Enquanto é apontada por uns como principal causadora da destruição de valores morais, que
desestruturam a sociedade provocando o aumento da violência e da criminalidade, é por outros
apontada como importante instrumento para o questionamento e transformação de rígidos
padrões de moralidade e na luta contra a impunidade e corrupção dos poderosos. Enquanto é
aclamada por uns como importante veículo de entretenimento da população e responsável pela
disseminação da arte e da cultura, por outros é acusada da disseminação de sonhos utópicos de
consumo que servem somente para a alienação do povo e perpetuação de um determinado padrão
de sociedade.
3.1. Motivação para criação da controvérsia
Em 29 junho de 2006 foi assinado um decreto presidencial que define o regime de
transição da televisão analógica brasileira para o sistema digital. Este decreto estabelece prazo de
10 anos para que toda transmissão terrestre no País seja digital. Nesse período, os sinais
analógico e digital serão transmitidos simultaneamente. O consumidor, caso decida desfrutar das
vantagens da nova tecnologia, deverá trocar de aparelho ou comprar um adaptador. Se não,
poderá continuar com a mesma tevê que tem hoje.
No mundo, existem atualmente três tipos de TV digital, sendo um
produzido nos Estados Unidos, outro no Japão e um terceiro na União
Européia.
No Brasil, o Governo decidiu realizar uma pesquisa para ter sua
própria tecnologia para a TV digital, com o objetivo de escolher o padrão
mais adequado à nossa realidade, uma vez que somos um País menos
desenvolvido.
Para isso, Governo, universidades e centros de pesquisa estão
analisando a melhor forma de desenvolver o Sistema Brasileiro de TV digital
A
9
em um processo que envolve vários outros setores da sociedade, como
indústrias, produtores de televisores e componentes e sociedade civil.
Contamos também com a sua análise, envie sua sugestão, crítica ou opinião
Retirado do site: http://www.mc.gov.br/tv_digital1.htm com acesso em
28/07/2006.
Em discurso durante a cerimônia de assinatura deste decreto o então Ministro das
Comunicações Hélio Costa afirmou:
Com essa decisão, ao invés de simplesmente comprarmos os direitos de
uma televisão digital, decidimos criar o Sistema Brasileiro de Televisão
Digital, com características brasileiras, um projeto não apenas para aqueles
que podem pagar por um serviço a cabo ou por satélite”.
Retirado do site: http://www.mc.gov.br/tv_digital1.htm com acesso em
28/07/2006.
Neste Decreto, cuja integra é apresentada em ANEXO I, é estabelecido em seu artigo 5
o
a
criação de um Fórum do SBTV-T.
§ 2
o
O Comitê de Desenvolvimento promoverá a criação de um Fórum
do SBTVD-T para assessorá-lo acerca de políticas e assuntos técnicos
referentes à aprovação de inovações tecnológicas, especificações,
desenvolvimento e implantação do SBTVD-T.
§ 3
o
O Fórum do SBTVD-T deverá ser composto, entre outros, por
representantes do setor de radiodifusão, do setor industrial e da comunidade
científica e tecnológica.
Decreto Presidencial n
o
5820 de 29 de julho de 2006.
Retirado do site: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Decreto/D5820.htm
Acesso em 28 se setembro de 2006.
A
10
3.2. Especificações e forma de atuação nesta controvérsia fictícia
Tendo como motivação a criação do “Sistema Brasileiro de TV Digital- SBTVD”, ainda
em fase de elaboração e a criação de um Fórum para discussão deste tema, propomos que nos
preparemos para realizar em nossa escola um “fórum fictício”, no qual trataríamos dos assuntos
controversos que nossa sociedade terá que decidir para a implantação da TV digital e de outros
temas que se relacionam diretamente com a inserção da TV em nossa sociedade.
Propomos então a simulação deste encontro, que seria organizado pelo Ministério das
Comunicações com o objetivo de promover um amplo debate sobre temas relacionados ao setor
de radiodifusão brasileiro (designação dada pelo Ministério das Comunicações aos serviços de
radio e TV abertas). As propostas levantadas neste “FÓRUM NACIONAL DA TV” serviriam de
base para a proposição de um nova legislação que seria enviada ao Congresso Nacional para
regulamentação e votação desta matéria.
Durante a realização deste fórum serão organizadas “mesas-redondas” onde serão
travadas as controvérsias nas quais os diferentes “atores” inscritos para participarem deste fórum
apresentarão e defenderão suas posições frente aos demais participantes. Para instrumentalizar os
participantes, serão promovidas “oficinas” e “conferências” que tratarão dos aspectos
tecnólogicos do funcionamento da TV, desde a criação e geração da imagem até sua reprodução.
Serão apresentados também os aspectos históricos da evolução desta tecnologia bem como os
conceitos físicos que são necessários ao entendimento do seu funcionamento.
Propomos que os estudantes participem deste fórum se dividindo em grupos, onde
assumirão o papel de um determinado ator social que participará defendendo sua posição nas
diferentes controvérsias que surgirão neste fórum. Estes grupos de estudantes devem se preparar
para participação de um debate público, procurando defender suas idéias com a apresentação de
documentos que possam respaldar sua argumentação. Estes documentos podem ser verídicos ou
fictícios (simulados pela própria equipe).
Serão apresentados dois eixos principais para iniciação dos trabalhos de pesquisa e
discussão das mesas-redondas.
O 1
o
Tema se relaciona com a produção dos equipamentos necessários para implantação
da TV digital.
A
11
O 2
o
tema se relaciona com a possibilidade de criamos uma instância responsável pelo
controle de programação das emissoras de TV.
Nesta atividade propomos um exercício no qual os grupos de alunos possam incorporar
os papéis de determinado “Ator Social” buscando entender suas concepções para defender seus
pontos de vista.
Propomos ainda que os grupos formados não adotem a defesa de um determinado ator por
afinidade com as idéias defendidas. Acreditamos que uma das riquezas desta atividade será o
exercício de posicionar-se frente a uma situação com o “olhar do outro”, ou seja, buscar
argumentação para defesa de teses que não sejam necessariamente as suas. Agindo assim,
entenderemos melhor o outro: seus argumentos, seus problemas, sua escala de valores.
Exercitaremos uma postura que deverá ser útil no entendimento e construção das nossas
diferentes interações sociais, inclusive de nossa vida pessoal. Poderemos ver mais claramente
que as posturas contrárias, que surgem em um conflito de idéias, podem estar ambas sustentadas
por razões legítimas, ligadas aos diferentes graus de valores que cada sujeito construiu ao longo
de sua vida. Aniquilando assim com a idéia primária de que qualquer confronto será um
enfrentamento do “certo x errado”; do “bem x mau”.
3.3. Convocação para participação do FÓRUM NACIONAL DA TV.
Documento Fictício N
o
1:
Edital de convocação do FÓRUM NACIONAL DA TV
O Ministério das Comunicações torna pública a convocação para o Fórum Nacional da
TV e convida as entidades públicas e privadas
de representatividade social a participarem deste
fórum, trazendo suas proposições para
subsidiar o Governo Federal nas decisões sobre este
tema e disponibilizar o conhecimento gerado no decorrer do mesmo para os diversos agentes
envolvidos Governo, emissoras, indústria, empresas de software
e de serviços e instituições
de pesquisa.
As teses apresentadas neste Fórum de debates com os diferentes setores da sociedade
organizada serão utilizadas de base para confecção de um projeto de lei que será encamin
hado
ao Congresso Nacional para normatização da legislação que trata desta matéria.
Neste fórum serão discutidos, entre outros temas relacionados a possíveis incentivos
fiscais, às industrias e centros de pesquisas nacionais para produção dos equipamentos
eletroeletrônicos necessários à implementação da TV digital e a criação de uma instância
governamental de controle da qualidade da programação das redes de TVs abertas.
MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES.
A
12
3.4. Participantes inscritos neste Fórum. Os atores desta controvérsia
Para participar deste fórum, inscreveram-se diferentes organizações que possuem
interesses específicos neste tema e que vislumbram que neste congresso encontrarão espaço para
defenderem suas propostas e tentar convencer os demais participantes do fórum e a sociedade em
geral das suas posições.
1
o
Ator: ABFE- Associação Brasileira de Fabricantes de Eletroeletrônicos
Esta é uma Associação Nacional de Fabricantes de produtos eletro-eletrônico. É
composta por empresas nacionais e estrangeiras, instaladas em todo o país e de todos os portes.
Possui importância estratégica como entidade de classe cujo objetivo é recuperar e capacitar o
setor para atuar no mercado globalizado e atrair novas indústrias que tenham interesse em fazer
do Brasil uma plataforma de produção e exportação de componentes eletro-eletrônicos.
Em relação à produção dos equipamentos necessários à implantação do SBTVD, defende
que o decodificador (set top box) que fará conversão de sinais na fase de transição da TV digital
deve ser considerado um bem de informática e, por isso, incluído entre os itens beneficiados pela
Lei de Informática para produção local.
Sendo assim, defende que o equipamento receberá benefícios fiscais como a redução do
Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no caso da produção local, como já acontece com
microcomputadores, notebooks e celulares. Esta associação defende que seja facultado às
empresas de todo o território nacional fabricar os decodificadores, e não apenas às indústrias
instaladas em Manaus.
2
o
Ator: Apim - Associação do Pólo Industrial da Manaus.
É uma associação formada pelas maiores indústrias de produção de equipamentos eletro-
eletrônicos instaladas em território nacional. Situadas na “Zona Franca de Manaus”, estas
indústrias se beneficiam dos incentivos fiscais para produção de equipamentos eletro-eletrônicos
nesta região.
Defendem a livre iniciativa e possuem o objetivo de contribuir tanto para desenvolver a
indústria de componentes já instalada, como atrair novos fornecedores para o País. Defendem
A
13
que o Pólo Industrial de Manaus tem apresentado saldo amplamente positivo. Apesar de a carga
tributária e de os encargos sociais no Brasil estarem entre os mais altos do mundo, o setor tem
conseguido se inserir no mercado internacional, confirmando sua competitividade. Outro ponto
importante é que o desenvolvimento de um pólo nacional de componentes pode dar condições à
indústria eletro-eletrônica de ampliar inclusive sua competitividade no mercado externo.
Estes fabricantes vislumbram um grande potencial de crescimento da indústria eletro-
eletrônica com a instalação do Sistema Brasileiro de TV Digital. Classificam os conversores (set
top Box) como parte da linha de áudio e de vídeo e que sendo assim só poderão receber
incentivos se fabricados em Manaus. Colocam-se contrários, portanto, aos que tentam definir
estes conversores como um bem de informática.
3
o
Ator: Frente Brasileira por uma TV Digital Democrática
Esta é uma frente representante de movimentos sociais e populares, organizações não-
governamentais, sindicatos e associações de classe. Com sua participação neste fórum,
pretendem, segundo eles, tornar o debate sobre a digitalização da radiodifusão brasileira
realmente público, democrático, amplo e transparente. Pretendem formular propostas acerca do
modelo de implantação e exploração dos serviços e das opções tecnológicas e econômicas mais
adequadas para o Brasil.
Defendem a necessidade de que o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD)
respeite os objetivos dispostos no Decreto 4.901 de 2003, que o criou, tais como a
democratização da informação e o aperfeiçoamento do uso do espectro de radiofreqüências, a
inclusão social, o desenvolvimento da indústria nacional e a garantia de um processo de transição
que não onere os cidadãos.
Defendem a democratização do acesso aos códigos tecnológicos, com a continuidade de
investimento público na estruturação de centros de treinamento tecnológico e investimento em
infra-estrutura das universidades públicas, para a continuidade do desenvolvimento de pesquisa
nestas áreas.
Defendem enfim um genuíno SBTVD, que seria construído a partir das inovações
produzidas pelos pesquisadores brasileiros com a utilização de recursos e financiamentos
públicos.
A
14
4
o
Ator: APRT- Associação de Proprietários de Rede de Televisão.
É uma associação formada por empresas privadas que detêm direitos de transmissão de
canais abertos. Entre seus objetivos, a APRT quer assegurar que todos tenham o direito de se
expressar livremente por meio de seus veículos de comunicação, além de zelar pela liberdade de
expressão de pensamento, propaganda e a plena liberdade de informação jornalística.
Esta associação afirma que a industria televisiva brasileira vem cumprindo
brilhantemente seu papel social, proporcionando entretenimento, cultura, educação e lazer às
diferentes camadas da sociedade brasileira. Vem gerando milhares de empregos direta e
indiretamente e tem conseguido destaque mundial pela qualidade de sua programação.
Segundo a APRT, a criação de qualquer tipo de organismo regulador ou controlador da
qualidade de programação viria a se transformar em uma nova edição da censura em nosso país,
que cercearia a liberdade de imprensa. Colocam-se, portanto, contrários a qualquer tipo de ação
governamental que tenha por finalidade a criação de agências reguladoras destinadas a controlar
a qualidade de programas vinculados aos canais abertos.
5
a
Ator: CNDC-Coletivo Nacional pela Democratização da Comunicação
É uma associação civil que atua para transformar a comunicação em um bem público e
efetivá-la como um direito humano fundamental para a realização plena da cidadania e da
democracia. Busca o fortalecimento da esfera pública e a ampliação radical da participação da
sociedade civil nos debates e decisões pertinentes à coletividade. Neste sentido, a comunicação
não pode ser entendida como um espaço apenas para especialistas.
Participando da construção das políticas públicas de Comunicação e subsidiando as
práticas dos movimentos sociais e da defesa do direito à comunicação, este coletivo espera
fortalecer o diálogo e a cooperação entre os que têm como objetivo a democratização da
informação nos meios de comunicação de nossa sociedade.
A CNDC propõe a criação de um organismo regulador que teria a função de controlar
desde a outorga das concessões até a qualidade dos programas vinculados a rede de TV de canais
abertos, exigindo dos concessionários pluralismo e equilíbrio, ausência de qualquer tipo de
discriminação, direito de resposta, além de estabelecer os parâmetros para veiculação de
publicidade.
A
15
6
a
Ator: Frente Nacional pela defesa da Ética, da Moral e da Família
Esta organização não-governamental é formada em sua maioria por famílias da classe
média brasileira que vem lutando contra a destruição e banalização dos valores Éticos e Morais
da Sociedade Brasileira.
Segundo esta organização, a televisão vem contribuindo significativamente para a
transformação dos costumes sociais. A invasão de nossos lares com uma programação
excessivamente violenta, fora dos padrões da moralidade, contribui como agente degradador das
famílias, que são as células da nossa sociedade. A destruição dos valores morais, éticos e
religiosos vem transformando o padrões de comportamento social e conseqüentemente gerando
um sociedade violenta e sem limites.
Defendem que a televisão é um meio de muita influência sobre a educação de nossas
crianças, já que quase todas têm acesso e passam uma média de 3 a 5 horas por dia em frente à
TV, onde acabam aprendendo comportamentos na maioria das vezes impróprios.
Defendem a reedição da censura como meio de policiar a programação dos canais
abertos, proibindo que programas com conteúdos de violência excessiva ou conteúdos
pornográficos possam entrar livremente no interior de nossos lares.
7
a
Equipe para cobertura jornalística do Fórum
(Equipe de Cobertura de Mídia Televisiva da Rede EDUCAR)
Consiste em uma equipe de um novo programa jornalístico que será exibido na TV
Universitária do Rio de Janeiro. Este programa esta inserido dentro de um projeto intitulado
Rede EDUCAR, que consiste em produção de programas jornalísticos confeccionados por alunos
dos diferentes centros de estudos para apresentarem projetos educativos em curso nestes mesmos
centros. Esta equipe terá como tarefa cobrir o Fórum Nacional da TV, divulgando boletins com
resumos, entrevistas e apresentar os pontos polêmicos defendidos pelos diferentes atores que
participarão deste Fórum.
A equipe deverá fornecer igualdade de tempo para a defesa e explanação de cada uma das
propostas que serão apresentadas neste fórum. No entanto, não deverá se esquivar de efetuar uma
análise crítica sobre as propostas e a atuação de cada um dos atores desta controvérsia.
A
16
Os participantes desta equipe terão que produzir pelo menos duas matérias para exibição
de um programa jornalísticos sobre os debates que irão ocorrer em cada uma das mesas-
redondas.
Na apresentação do último programa deverão fazer uma análise crítica dos trabalhos
desenvolvidos neste fórum.
4. As atividades a serem desenvolvidas durante a realização do
Fórum Nacional sobre a TV:
Oficinas:
OFICINA 1: O funcionamento de uma TV e sua inserção no complexo sistema de
Telecomunicações.
OFICINA 2: A descrição das forças magnéticas que atuam em partículas carregadas
no interior de campos magnéticos.
Conferências:
Conferência 1: O conflito de interpretação sob a natureza dos raios catódicos e a
descoberta do elétron.
Mesas-redondas:
Mesa-Redonda 1: Reserva de mercado e incentivos fiscais para produção dos
equipamentos eletrônicos necessários para a mudança do sistema para TV digital.
Mesa-Redonda 2: A criação e as atribuições que teriam uma possível Agência
Reguladora de controle da qualidade da imagem e da programação das redes de TV abertas.
Obs.: Poderão ser incluídas novas atividades neste fórum caso sejam levantados pelos estudantes
outros aspectos que gostariam de analisar sobre este tema, ou caso seu professor resolva
desenvolver este trabalho em colaboração com outros professores da escola.
A
17
Oficina 1:
A formação da imagem na TV e sua inserção no complexo
sistema de Telecomunicações
Material necessário:
Para a participação nesta oficina seria aconselhável que cada grupo pudesse adquirir um
televisor em uma oficina de sucata de TV ou um monitor de computador em uma oficina de
informática. Não é necessário que os equipamentos estejam funcionando. Os grupos deverão
estar munidos também das ferramentas necessárias para desmontar estes aparelhos. (Chave de
fenda grande e pequena, chave Philips, alicate, etc.).
Objetivos:
No trabalho desta oficina tentaremos:
1
o
) Localizar o televisor dentro do complexo sistema de telecomunicação.
2
o
)Identificar as principais partes do aparelho de TV.
3
o
)Descrever o funcionamento do Tubo de Imagens: conceituar a emissão termo-iônica e
descrever o mecanismo de aceleração dos elétrons.
4
o
)Descrever a atuação qualitativa (direção e sentido) da força magnética atuando em partículas
carregadas em movimento no interior de campos magnéticos.
Considerações teóricas:
A captação de uma imagem e sua transmissão até nossos televisores
Como foi possível no dia 20 de julho de 1969 um bilhão de pessoas assistirem ao mesmo
tempo aqui de nosso planeta Terra as imagens do homem chegando à Lua? Como pode uma
cena viajar pelo ar, da Lua até a Terra, e entrar pela antena de milhões de casas ao mesmo
A
18
tempo? Como um pequeno aparelho pode transformar esta informação invisível em imagem e
som?
Como já vimos, a TV é apenas uma da partes do complexo sistema de telecomunicações
que cotidianamente utilizamos. A imagem do homem chegando à Lua viajou aproximadamente
384.000 Km (distância da Terra à Lua) antes de ser captada por satélites “geoestacionário” que
orbitam ao redor de nosso planeta e têm a função de reenviar o sinal de TV para as antenas
parabólicas de nossas casas, ou pelas emissoras de TV que farão sua transmissão direta para
várias localidades.
Este sinal, que é uma onda eletromagnética, percorre toda esta distância muito
rapidamente. Sua velocidade é a da luz, ou seja, aproximadamente 300.000 km/s no vácuo.
Antes de prosseguir, calcule o tempo aproximado gasto por este sinal para ir da Lua até
nossa casa na Terra. (Faça os cálculos...).
A imagem da chegada do homem à Lua inicia-se quando uma câmara de TV adaptada na
cápsula espacial focaliza a cena. A luz passa por um conjunto de lentes que formam a objetiva da
câmera e projeta a imagem da cena em uma tela de material fotossensível existente no interior da
câmera.
Cada ponto desta tela é submetido a uma intensidade luminosa diferente. As variações de
luminosidade de cada região desta cena são transformadas em corrente elétrica modulada. Esta
corrente elétrica é encaminhada à antena da estação transmissora de TV e é lançada no espaço
sob forma de onda eletromagnética.
Fig 1 Esquema de transmissão da
imagem da Lua até a Terra.
A
19
Após ser captada e retransmitida pelo satélite de telecomunicações, estas ondas
eletromagnéticas atingem a antena de nossos televisores. Ainda na antena, a informação será
transformada novamente em corrente elétrica que, depois de processada pelos circuitos internos
da TV, reproduz na tela o fantástico momento da chegada do homem à Lua.
A forma com que a câmera consegue transformar uma imagem em uma informação
elétrica é muito semelhante ao que ocorre no interior da televisão, onde o sinal elétrico é
transformado novamente em imagem e som. Tentaremos primeiramente entender o mecanismo
de funcionamento interno da TV para posteriormente detalharmos o funcionamento da câmara
filmadora.
Fig 2 - Fotografia da pegada deixada pelo homem na Lua.
TV - Caixa mágica que transforma onda eletromagnética em imagem e som
Da Lua até a Terra a imagem da chegada do homem em nosso satélite natural fez uma
longa e complexa viagem. São muitos os componentes dessa transmissão: satélites, antenas,
ondas eletromagnéticas, entre outros. O término da viagem é de responsabilidade da TV - aquela
“caixa mágica” que é capaz de transformar uma informação invisível em cenas visíveis.
Gostaríamos que você juntamente com seu grupo abrisse o televisor, retirando a tampa da
parte traseira para que pudéssem ver os componentes que estão escondidos no interior desta
caixa mágica.
A
20
Para facilitar nosso estudo poderíamos dividir o televisor em 3 partes fundamentais:
A)Tubo de Imagens ou cinescópio, onde se forma a imagem da cena.
B)A bobina defletora chamada de YOKE, responsável em desviar a trajetória dos
elétrons.
C)Os circuitos eletrônicos da TV, responsáveis por alimentar de tensão e corrente elétrica
o tubo de imagens e a bobina defletora.
A) Tubo de Imagens ou cinescópio da televisão:
O cinescópio ou tubo de raios catódicos é um bulbo de vidro em cujo interior foi feito
vácuo. Possui um conjunto de eletrodos que recebe o nome de canhão e uma tela com a parte
interna revestida de um material fotoluminescente, que possui propriedade de emitir luz ao
receber o impacto de um feixe de elétrons.
Fig 3-A
Tubo de imagens ou
cinescópio
Fig 3 -B
Bobina Defletora ou
YOKE
YOKE acoplado ao
pescoço do tubo de
imagens.
A
21
fig. 4 componentes do cinescópio
O conjunto de eletrodos responsável por emitir, acelerar e focalizar o feixe eletrônico é o
canhão do tubo de raios catódicos. Este canhão possui um filamento destinado a aquecer o
catodo emissor de elétrons. Este tipo de emissão de elétrons é chamado de emissão termoiônica.
Como conseqüência da aplicação de calor ao condutor, alguns elétrons livres adquirem energia
cinética suficiente para se desprenderem do metal, permanecendo em constante agitação
enquanto houver a presença de energia. Esses elétrons que escapam ficam livres no espaço,
formando uma nuvem eletrônica em torno do metal.
Fig. 5 Mecanismo da emissão termo-iônica.
As grades de controle contidas no canhão são responsáveis por acelerar estes elétrons
livres em direção à tela. Através da variação da tensão entre as placas é feito o controle da
A
22
intensidade do fluxo de elétrons. Uma grade de focalização é responsável pela concentração do
feixe de elétrons de maneira a produzir apenas um pequeno ponto na tela.
A diferença de potencial entre as placas e a tela, da ordem de alguns milhares de Volts, é
responsável pelo último estágio de aceleração do feixe de elétrons. A tensão de polarização
aplicada às grades é obtida através da conexão entre os pinos da parte posterior do tubo e o
circuito da TV, enquanto a polarização da tela é feita por um recptáculo (“chupeta”) no cone do
tubo do televisor. (com a ajuda do seu professor procure identificar estes componentes).
B)A bobina defletora ou YOKE
É formada por dois pares de bobinas que são agrupadas de forma a gerarem campos
magnéticos perpendiculares quando percorridas por uma corrente elétrica, como mostrado na
figura 3-B. É facilmente identificada, pois fica acoplada ao pescoço do tubo de imagens.
Estas bobinas são formadas por um enrolamento de fios esmaltados, que, quando
percorrido por uma corrente elétrica, geram campos magnéticos perpendiculares em seu interior.
Elas são responsáveis por desviar o feixe de elétrons que irá “varrer” a tela do tubo de imagens
provocando deflexões horizontais e verticais no feixe eletrônico.
C)Os circuitos eletrônicos da TV
O funcionamento destes circuitos estão relacionados com a produção de tensões e
correntes elétricas que possam alimentar:
a) o tubo de imagem nos diferentes estágios de aceleração dos elétrons em direção à tela;
b) as bobinas defletoras para desviar o feixe de elétrons de modo a poderem incidir em
todos os pontos da tela do tubo de imagens.
Para que haja a formação da imagem na tela da televisão, o feixe de elétrons proveniente
do canhão deverá colidir com a tela da televisão, que é recoberta com material fluorescente. O
Identifique esta bobina e com o auxílio do professor retire-a do pescoço do tubo de
imagens. Mais adiante daremos maiores detalhes do seu funcionamento.
A
23
impacto dos elétrons contra esta tela formará pontos com diferentes luminosidades. Quanto mais
forte o impacto, maior será a emissão luminosa. Os elétrons, bombardeando cada ponto da tela
com maior ou menor intensidade, vão criando uma imagem com efeito semelhante à formação de
imagem no processo artístico chamado de pontilhismo. Se observarmos bem de perto, veremos
que a imagem da TV não é um contínuo e sim formada por pequenos pontos luminosos. Nas TVs
em cores a imagem é formada pela superposição das três cores primárias: o verde, o amarelo e o
vermelho. Três feixes de elétrons incidem simultaneamente e com diferentes intensidades nestas
cores. O efeito final é a percepção por nosso cérebro da formação de uma única cor, que é a
mistura destas cores primárias.
A bobina defletora YOKE é a responsável pelo desvio da trajetória dos elétrons de modo
que possam atingir todos os pontos da tela de imagens. Dizemos que o feixe eletrônico varre toda
a tela de forma semelhante ao que fazemos quando lemos um livro, percorrendo todas as linhas
de cima para baixo e da direita para a esquerda. Este processo de varredura dos elétrons por toda
a tela se repete 30 vezes por segundo. A superposição destes diferentes quadros formados por
pontos de luminosidades diferentes nos dá a impressão de continuidade e movimento. Em nosso
país adotamos um padrão de tela composta por 525 linhas por quadro. Esta freqüência de
varredura de 30 quadros por segundo está relacionada com a freqüência da tensão disponível em
nosso país, que é de 60 Hz. Em países onde a tensão elétrica possui freqüência de 50 Hz, como é
o caso da Argentina, e países da Europa o sincronismo da imagem é formado por 625 linhas por
quadro e 25 quadros por segundo.
Portanto, os circuitos elétricos que compõem nossa televisão deverão:
a)Alimentar de corrente elétrica as bobinas defletoras para que os elétrons possam varrer
toda a tela da televisão.
b)Alimentar a alta-tensão responsável pelo último estágio de aceleração dos elétrons.
c)Alimentar as grades do canhão eletrônico para que cada elétron atinja um determinado
ponto da tela com maior ou menor intensidade.
O funcionamento sincronizado destes elementos nos fornecerá a imagem da cena.
Realmente parece Mágica...
A
24
Determinação das características da força magnética que atuam em partículas
carregadas no interior de campos magnéticos
Quando ligamos uma TV que não possui sinal de imagem chegando a seus circuitos,
vemos uma tela completamente branca, que é resultado da varredura do feixe eletrônico desviado
pelo YOKE atingindo com igual intensidade toda a tela da TV.
O que você acha que aconteceria se retirássemos do pescoço do tubo o YOKE e
ligássemos o tubo? Pense e tente encontrar uma resposta antes de prosseguir.
Neste momento seria conveniente, com o auxílio de seu professor, acender (ligar) o tubo
de raios catódicos e observar seu funcionamento sem a presença da bobina defletora.
Você deve ter observado o surgimento de um ponto luminoso no centro da tela. Poderia
explicar por que isso ocorreu?
Temos agora então um feixe de elétrons emitidos pelo canhão eletrônico e indo colidir
com a tela da TV. Será que estes elétrons em movimento sofrem influência de um ímã da mesma
forma que um pequeno pedaço de ferro? O que você acha que aconteceria se aproximássemos
um ímã do pescoço do tubo? Dê um palpite antes de continuar.
Com o auxílio de seu professor aproxime um ímã do pescoço do tubo de imagens e veja o
que aconteceu com o ponto luminoso. Inverta a polaridade do ímã e realize novamente a
experiência.
Parece que, de alguma forma, o campo magnético do ímã interage com o fluxo de
elétrons, causando um desvio em sua trajetória. Se você aproximar o ímã do pescoço do tubo ao
longo de uma vertical, irá verificar que o deslocamento do ponto luminoso não se desloca
também em uma direção vertical. Podemos verificar então que os ímãs não atraem os elétrons em
movimento de modo semelhante à atração que provocam em pequenos pedaços de ferro, (como a
atração de limalhas de ferro que vão de encontro aos pólos magnéticos deste ímã).
Importante: Como vimos anteriormente, para o funcionamento do tubo de imagens
é necessário que ele seja alimentado por uma tensão da ordem de 20 KV. Portanto quando
ligamos a TV, algumas p
artes do seu circuito estarão energizadas com esta altíssima
tensão. Devemos ter cuidado especial em não retirarmos a chupeta que alimenta de alta
tensão o tubo de imagens. A tarefa de ligarmos a TV e todas as demais que serão aqui
apresentadas, deverão ser realizadas com o acompanhamento constante do professor.
A
25
Verifique agora o que acontece quando aproximamos do pescoço do tubo de imagens um
ímã em forma de ferradura.
Será que somos capazes de construir um “modelo” que explique este comportamento?
Será que somos capazes de “criar” uma forma de explicar ou pelo menos prever como ocorrerá
este desvio?
Pense e, em conjunto com seus colegas, tente criar um modelo que possa descrever o
deslocamento do ponto luminoso na tela, em função da posição em que colocamos o ímã.
Como sabemos das leis de Newton, para que haja uma mudança na direção do
movimento de uma partícula qualquer, é necessário que atue nesta partícula uma força, ou seja, a
presença do ímã fez surgir nesta carga em movimento uma força. Quando uma partícula
carregada eletricamente se movimenta em uma região onde exista um campo magnético surgirá
nesta partícula uma força comumente chamada de força magnética.
Sendo a força uma grandeza vetorial, tentaremos primeiramente investigar a direção e
sentido da atuação desta força. O módulo desta força será investigado em outra oficina.
Determinação da direção e sentido da força magnética.
Regra da mão direita
Um modelo que descreve a direção e o sentido desta força é dado pela regra da
mão direita. Posicionando a mão direita no sentido do movimento das partículas com cargas
positivas, conforme a ilustração, e girando-se a mão na direção do campo magnético, o dedo
polegar indicará o sentido da força magnética.
fig. 6 A mão dever ser colocada de tal modo que o vetor velocidade possa “girar para cima” do vetor campo
magnético.
A
26
Fig.7 Forças magnéticas atuando em cargas negativas (sentido contrário ao dado pela regra da mão direita).
Uma forma de representar esta mesma situação em um único plano é representando um
dos vetores pelo diagrama de flechas.
Fig. 8 convenção para representação do diagrama de flechas
Portanto, observador A poderá representar esta mesma situação utilizando
apenas o plano da folha, como mostrado na situação abaixo:
Obs.: Se a partícula estiver carregada
negativamente, o sentido da força
magnética será contrário ao dado pela
“regra da mão direita
”, como ilustra a
figura ao lado.
fig. 9- A
Vista em perspectiva do movimento de uma
carga no interior de campo magnético
fig. 9 B
Representação da mesma situação pela
diagrama de flechas
A
27
Exercícios:
1)Abaixo mostramos várias situações de cargas elétricas lançadas com velocidade v em
diferentes regiões onde atua um campo magnético B. Para cada caso, represente o vetor força F
que atuará nesta carga e represente uma possível trajetória para esta partícula. (Utilizamos a
convenção de flechas para indicar o campo magnético perpendicular ao plano do papel).
2) UFU(2004)Um objeto de massa M, carregado com uma carga positiva +Q, cai devido à ação
da gravidade e passa por uma região próxima do pólo norte (N) de um ímã, conforme mostra
figura a seguir.
De acordo com o sistema de eixos representado acima, assinale a alternativa que contém a
afirmativa correta.
a) O objeto sofrerá um desvio no sentido positivo do eixo y, devido à presença do campo
magnético na região.
b) O objeto cairá verticalmente, não sofrendo desvio algum até atingir o solo, pois campos
gravitacionais e magnéticos não interagem.
c) O objeto sofrerá um desvio no sentido positivo do eixo x, devido à presença do campo
magnético na região.
d) O objeto sofrerá um desvio no sentido negativo do eixo x, devido à presença do campo
magnético na região.
A
28
3)(UEL-2003) O tubo de imagem dos aparelhos de televisão possui um filamento que libera
elétrons por efeito termiônico. Esses elétrons são acelerados por campos elétricos em direção à
parte interna da tela, formando um feixe de elétrons que atravessa uma região de campo
magnético e que é defletido nas direções horizontal e vertical, proporcionando a varredura da
tela. No Brasil, a tela de TV é composta por 525 linhas por quadro, e a velocidade de varredura
do feixe eletrônico é de 30 quadros por segundo. Sobre a deflexão do feixe, é correto afirmar:
a) A deflexão vertical do feixe é provocada pela componente vertical do campo magnético.
b) A deflexão vertical do feixe é provocada pela componente vertical do campo elétrico.
c) A deflexão horizontal do feixe é provocada pela componente vertical do campo elétrico.
d) A deflexão horizontal do feixe é provocada pela componente vertical do campo magnético.
e) A deflexão horizontal do feixe é provocada pela componente horizontal do campo magnético.
4) (UFMG-1995)Um feixe de elétrons passa inicialmente entre os pólos de um ímã e, a seguir,
entre duas placas paralelas, carregadas com cargas de sinais contrários, dispostos conforme a
figura a seguir. Na ausência do ímã e das placas, o feixe de elétrons atinge o ponto O do
anteparo.
Em virtude das opções dos campos magnético e
elétrico, pode-se concluir que o feixe.
a) passará a atingir a região I do anteparo.
b) passará a atingir a região II do anteparo.
c) passará a atingir a região III do anteparo.
d) passará a atingir a região IV do anteparo.
e) continuará a atingir o ponto O do
anteparo.
5)(UFMG-2005)O tubo de imagem de um televisor está representado, esquematicamente, na
Figura I.
Elétrons são acelerados da parte de trás desse tubo em direção ao centro da tela. Quatro
bobinas - K, L, M e N - produzem campos magnéticos variáveis, que modificam a direção dos
elétrons, fazendo com que estes atinjam a tela em diferentes posições, formando uma imagem,
como ilustrado na Figura II. As
bobinas K e L produzem um
campo magnético na direção
vertical e as bobinas M e N, na
horizontal.
Em um certo instante, um
defeito no televisor interrompe a
corrente elétrica nas bobinas K e L
e apenas as bobinas M e N
continuam funcionando.
Assinale a alternativa em
que melhor se representa a imagem
que esse televisor passa a produzir
nessa situação.
A
29
Oficina 2:
O módulo das forças magnéticas que atuam em partículas
carregadas em movimento no interior de campos magnéticos
Material necessário:
Além do televisor e das ferramentas utilizadas na OFICINA 1, seria aconselhável que os
grupos estivessem munidos de diferentes ímãs em forma de barra e de ferradura.
Objetivos:
No trabalho desta oficina, tentaremos evidenciar a dependência que o módulo da força
magnética possui da velocidade da partícula, do valor do campo magnético e do ângulo formado
entre os vetores velocidade e campo magnético.
Considerações teóricas:
Como vimos anteriormente, quando uma partícula carregada eletricamente se movimenta
no interior de uma região de campo magnético, passa a atuar nesta partícula uma força que
possui direção e sentido dados pela “regra da mão direita”. Resta-nos ainda investigar que
variáveis influenciam no módulo desta força.
Seja uma partícula de carga “q” e massa “m” que é lançada com uma velocidade “v” no interior
de uma região que possui um campo magnético B” em uma direção que forma um ângulo θθ
entre os vetores velocidade e campo magnético, como mostra a figura. Como já verificamos
surgirá nesta carga uma força magnética cuja direção e sentido são determinados pela regra da
mão direita. Você seria capaz de desenhar este vetor na figura mostrada abaixo?
A
30
fig. 10 Partícula sendo lançada em uma região de campo magnético
Mesmo antes de realizar qualquer experiência, os cientistas em geral possuem uma “idéia
inicial” sobre um determinado comportamento da natureza. É em função destas idéias que eles
montam seus aparatos experimentais na tentativa de verificar se a hipótese que fizeram a priori
(antes de realizarem o experimento) encontram respaldo experimental.
Gostaríamos agora que você também desse o seu palpite: Qual das grandezas listadas
abaixo você acha que influencia no módulo da força magnética. Diga também se um aumento
dessa grandeza implicaria num aumento ou diminuição do módulo da força.
( )a intensidade do campo magnético B.
( )a carga elétrica da partícula q.
( )a massa da partícula m.
( )o valor da aceleração da gravidade g.
( )a velocidade da partícula v.
( ) o ângulo θ formado entre os vetores velocidade v e campo Magnético B.
Depois de ter uma idéia sobre o assunto, o cientista em geral inicia uma longa
investigação tentando verificar se suas idéias encontram respaldo experimental. Pense então em
que experiência poderia realizar para verificar se suas idéias estão boas.
Muitas das experiências que deveríamos realizar para respondermos a este
questionamento necessitariam de equipamentos sofisticados para que pudéssemos separadamente
modificar o valor de cada uma destas variáveis, mantendo as demais constantes e verificar se
houve um aumento do módulo desta força. (verificando, por exemplo, se houve uma maior
deflexão do ponto luminoso da tela).
No entanto, com o tubo de imagens do nosso televisor, podemos investigar
qualitativamente (sem realizar grandes medições) pelo menos duas destas grandezas. Você
A
31
poderia responder quais seriam estas duas grandezas que poderíamos modificar e que tipo de
experimentos poderíamos realizar?
a)Poderíamos variar o valor do Campo Magnético B?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
b) Poderíamos variar o valor a carga elétrica q da partícula?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
c) Poderíamos variar o valor a massa m da partícula?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
d) Poderíamos variar o valor da aceleração da gravidade g?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
e) Poderíamos variar o valor da velocidade v da partícula?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
f) Poderíamos variar o valor do ângulo θ formado entre os vetores velocidade v e campo
Magnético B?
( )sim ( ) não
JUSTIFICATIVA: ________________________________________________________
A
32
1
o
) Verificação da dependência que a força magnética tem do módulo do campo
magnético
Aproxime do pescoço do tubo de imagens dois ímãs, um com maior poder atrativo que o
outro (com maior campo magnético). Primeiro fixe em uma posição mais conveniente (com
auxílio de um suporte) o ímã de menor poder e verifique a deflexão que provocou no feixe de
elétrons. Retire este ímã do suporte e fixe o outro de maior poder atrativo. Cuide para que o 2
o
ímã fique fixo na mesma posição que estava o 1
o
e verifique também qual a nova deflexão do
feixe eletrônico.
fig. 11 Verificação que a força magnética possui do módulo do campo magnético
Você deve ter observado que, quanto maior o poder atrativo dos imãs, maior será a
deflexão do feixe eletrônico. Podemos afirmar então que, quanto maior o valor do campo
magnético que utilizamos em nossa experiência, maior será a deflexão do ponto luminoso, ou
seja, maior o valor da força aplicada a partícula que provocam o seu deslocamento.
2
o
) Verificação da dependência que a força magnética tem do módulo do ângulo
entre os vetores velocidade e campo magnético
F
B
A força magnética é proporcional
ao módulo do campo magnético.
A
33
Podemos também investigar se o ângulo θ formado entre os vetores velocidade v e campo
magnético B tem alguma influência no valor da força magnética que atua nesta partícula.
De forma semelhante ao realizado anteriormente, aproxime um ímã em forma de U do
pescoço do tubo, perpendicularmente ao fluxo de elétrons. Observe na tela o desvio causado na
trajetória do feixe. Gire o ímã, conforme a ilustração, de modo a diminuir o ângulo formado
entre o feixe e as linhas de força do campo magnético. Discuta o resultado com seus colegas e o
professor.
Fig. 12 Verificação da dependência que o módulo da força magnética possui do ângulo entre os vetores
velocidade de campo magnético
Como você observou, a maior deflexão se dá quando o ímã é posicionado
perpendicularmente ao fluxo, ou seja, quando as linhas de força do campo magnético formam um
ângulo de 90º com o fluxo de elétrons. Vemos então que o módulo da força magnética depende
do ângulo entre o vetor campo magnético e o vetor velocidade de cada partícula.
Fig. 13 - Quanto menor o ângulo entre os vetores velocidade e campo magnético menor será o
módulo da força magnética que atuará na partícula.
A
34
Note também que a força magnética será sempre perpendicular ao plano formado pelos
vetores velocidade e campo magnético.
Na verdade, os resultados experimentais mais rígidos nos mostram que a força magnética
depende do valor do seno do ângulo θ. Assim, quanto maior o valor do ângulo θ, maior será o
valor do sen θ e conseqüentemente maior será o valor da força magnética.
3
o
) Dependência que a força magnética tem da carga elétrica da partícula e de
sua velocidade velocidade
Embora não possamos realizar uma experimentação em nosso aparato, é verdade também
que o valor da carga q e da velocidade v da partícula também influenciam o valor da força
magnética, ou seja:
Quando maior a carga da partícula, maior será a força que surge nesta carga.
Quando maior a velocidade da partícula, maior será a força que surge nesta carga.
Poderemos verificar também que o valor da massa m e da aceleração da gravidade g não
influenciam o valor da força magnética.
A força magnética é proporcional
ao sen θ.
F senθθ
F
q
A força magnética é proporcional
ao valor da carga elétrica da partícula.
F
v
A força magnética é proporcional
ao valor da velocidade desta partícula.
A
35
Estes resultados podem ser organizados em uma única equação que descreve o módulo desta
força :
Exercícios:
1) (UFF- 1997)Sabe-se que as linhas de indução magnética terrestre são representadas,
aproximadamente, como na figura.
Partículas positivamente carregadas dos raios cósmicos aproximam-se da Terra com
velocidades muito altas, vindas do espaço em todas as direções. Considere uma dessas partículas,
aproximando-se da Terra na direção do seu centro, ao longo do caminho C (ver figura). Pode-se
afirmar que essa partícula, ao entrar no campo magnético da Terra,
a) será defletida para baixo, no plano da página
b) será defletida perpendicularmente à página,
afastando-se do leitor
c) não será defletida pelo campo
d) será defletida para cima, no plano da página
e) será defletida perpendicularmente à página,
aproximando-se do leitor
2)(FUVEST-1991) Raios cósmicos são partículas de grande velocidade, provenientes do espaço,
que atingem a Terra de todas as direções. Sua origem é, atualmente, objeto de estudos. A Terra
possui um campo magnético semelhante ao criado por um ímã em forma de barra cilíndrica, cujo
eixo coincide com o eixo magnético da Terra. Uma partícula cósmica P com carga elétrica
positiva, quando ainda longe da Terra, aproxima-se percorrendo uma reta que coincide com o
eixo magnético da Terra, como mostra a figura adiante. Desprezando a atração gravitacional,
podemos afirmar que a partícula, ao se aproximar da Terra:
a) aumenta sua velocidade e não se desvia de sua
trajetória retilínea.
b) diminui sua velocidade e não se desvia de sua
trajetória retilínea.
c) tem sua trajetória desviada para Leste.
d) tem sua trajetória desviada para Oeste.
e) não altera sua velocidade nem se desvia de sua
trajetória retilínea.
F = q. v. B . sen
θθ
Observe que o módulo da força magnética será máximo quando o ângulo
θ
for 90
o
e não haverá força atuando nesta partícula quando θ for 0
o
.
A
36
3) (Unesp-1993)A figura a seguir representa as trajetórias, no interior de um campo magnético
uniforme, de um par de partículas pósitron-elétron, criados no ponto P durante um fenômeno na
qual a carga elétrica total é conservada.
Considerando que o campo magnético é perpendicular ao plano da figura e aponta para o leitor,
responda:
a) Qual das partículas, I ou II, é o pósitron e qual é o elétron?
b) Explique como se obtém a resposta.
4) (CESGRANRIO-1990)Considere uma partícula carregada com carga elétrica q>0 e uma
região onde há um campo magnético uniforme, cujas linhas de campo estão orientadas
perpendicularmente a esta página e entrando nela. Suponha três situações (observe os esquemas):
(1) a partícula é colocada em repouso no interior do campo.
(2) a partícula é lançada paralelamente às linhas de campo.
(3) a partícula é lançada perpendicularmente às linhas de campo.
Assinale a opção que representa CORRETAMENTE o vetor força magnética Fm que agirá sobre
a partícula em cada caso.
5) (UFMG-97)Um elétron entra com uma
velocidade V em uma região onde existem
um campo elétrico E e um campo magnético
B vetorial uniformes e perpendiculares entre
si, como mostra a figura. A velocidade V é
perpendicular aos dois campos.
O elétron não sofre nenhum desvio ao cruzar
a região dos campos.
As forças elétrica, F
e
vetorial, e magnética,
F
m
vetorial, que atuam sobre o elétron, nessa
situação, são melhor representadas por
A
37
6)(UFPE-2004) Uma partícula de massa m = 20 mg e carga q = +400 µC em movimento circular
uniforme, na presença de um campo magnético uniforme B = 1,0 T, tem velocidade escalar v =
5,0 m/s. Considere que o movimento ocorre no vácuo e que a ação da força peso é desprezível
em relação à força magnética que atua na partícula. Calcule o raio, da trajetória circular, em
centímetros.
7) (Mackenzie-1998) Em trabalhos de Física
Nuclear, são utilizadas diversas partículas
elementares com inúmeras finalidades. Duas
destas partículas são:
- partícula alfa (q=+3,2.10
-19
C e m=6,7.10
-27
kg)
- partícula beta (q=-1,6.10
-19
C e m=9,1.10
-31
kg)
Quando uma partícula alfa e uma partícula beta
são disparadas separadamente com a mesma
velocidade, perpendicularmente às linhas de
indução de um mesmo campo magnético
uniforme, a figura que melhor representa as
trajetórias distintas dessas partículas é:
8) (UFRJ-1999)A figura ilustra o princípio de funcionamento do espectômetro de massa
utilizado para estudar isótopos de um elemento.
Íons de dois isótopos de um mesmo elemento, um de massa m
1
e outro de massa m
2
,
passam por um tubo onde há um seletor de velocidades. Assim, apenas os que têm velocidade v
0
conseguem penetrar numa região onde o há um campo magnético uniforme B, normal ao plano
da figura e apontando para fora. Sob a ação do campo magnético, os íons descrevem
semicírculos e vão se chocar com uma chapa fotográfica, sensibilizando-a. As marcas na chapa
permitem calcular os raios R
1
e R
2
dos respectivos semicírculos.
Suponha que, ao se ionizar, cada átomo tenha adquirido a mesma carga q.
a) Determine o sinal da carga q. Justifique sua resposta.
b) b) Calcule a razão m
1
/m
2
em função de R
1
e R
2
.
A
38
9)(UFRJ-2000)Uma onda eletromagnética atinge uma antena no instante em que um elétron nela
se move com velocidade v. As direções e os sentidos da velocidade v do elétron e dos campos
elétrico (E) e magnético (B) da onda, no ponto em que o elétron se encontra nesse instante, estão
indicados na figura a seguir com relação a um sistema de eixos cartesianos xyz.
a) Determine as direções e os sentidos das forças elétrica (Fe) e magnética (Fm) sobre o elétron
nesse instante.
b) Sabendo que o módulo da velocidade é v =1,0×10
6
m/s, E=3,0×10
2
V/m e B=1,0×10
-6
T,
calcule a razão F
e
/F
m
entre os módulos das forças elétrica (Fe) e magnética (Fm).
10)A figura mostra um dispositivo utilizado para medir a massa de íons, chamado espectrômetro
de massa. Um íon Na
+
, produzido na fonte F, é acelerado pela diferença de potencial U e
penetra num campo magnético com velocidade de 4,2 .10
4
m/s, perpendicular ao campo. O
íon descreve um semicírculo, incidindo numa chapa fotográfica, deixando nela uma marca.
Na figura observa-se que a marca é feita a 40 mm da abertura de entrada dos íons. A
intensidade do campo magnético é 5,0 . 10
-1
T, a carga elementar é 1,6. 10
-19
C.
Determine a massa do íon.
A
39
Conferência 1:
O conflito de interpretação sob a natureza dos raios catódicos e a
descoberta do elétron
A história do surgimento da TV se confunde com a evolução histórica dos tubos de raios
catódicos. O estudo das forças atuando em partículas no interior de campos magnéticos tem sua
origem vinculada ao estudo de descargas elétricas em gases rarefeitos, quando, em 1855,
o
alemão Heinrich Geissler, após desenvolver uma bomba de vácuo de mercúrio e resolver alguns
problemas técnicos envolvendo a soldagem de vidro e metais, constrói tubos de gases rarefeitos e
observa diferentes luminosidades obtidas em diferentes tipos de gases. Estes tubos ficaram
conhecidos como tubos de Geissler.
Mais tarde em 1858, Julius Plücker mostrou que tais raios podiam ser desviados pela
aproximação de campos magnéticos, ou seja, de alguma forma estes raios sofriam interação de
campos magnéticos. Em 1865, Johann Wilhelm Hittorf observou que, colocando-se um
obstáculo opaco diante do catodo (uma cruz-demalta), obtinha-se uma sombra na parede do
tubo, conclui então que estes raios catódicos viajam em linha reta e que, portanto, seriam uma
forma de luz, ou seja, uma radiação eletromagnética.
Fig. 14 A e B. -Dispositivos experime
ntais utilizado em laboratório didático para mostrar a “sombra” da cruz de
malta quando o tubo é alimentado com alta tensão
Fig. 14 - A
Fig. 14 - B
A
40
Em 1879, Sir William Crookes montou as experiências utilizando-se de tubos com
pressões baixíssimas (da ordem de 1 pascal). Refez as experiências anteriores e, utilizando-se de
uma ampola no interior da qual havia um espécie de torniquete que podia girar livremente,
verificou que o movimento ocorre toda vez que as pás do torniquete são atingidas por estes raios.
Conclui então que tais raios carregam momento linear e que, portanto, se tratavam de partículas,
e não ondas eletromagnéticas, como defendiam os físicos alemães.
Fig. 15 -Dispositivos experimentais utilizado em laboratório didático o movimento de rotação do
“torniquete” quando o tubo é alimentado com alta-tensão.
Estabeleceu-se uma grande controvérsia entre físicos alemães e ingleses. Os alemães
liderados por Hertz defendem que tais raios são ondas e os ingleses que são partículas.
A polêmica encerra-se com a célebre experiência de Joseph John Thomson, físico inglês
que colocou um ponto final na controvérsia quando em 1897, depois de realizar várias
experiências com tubos de raios catódicos de alto vácuo, demonstra que tais raios são na verdade
partículas com cargas elétricas negativas e determina a relação entre a carga e a massa destas
partículas( q/m ).
Segundo Thomson, em seu artigo do “Cathode Rays”, Philosofhical Magazine:
“As experiências discutidas neste artigo foram realizadas com o escopo
de se obter alguma informação sobre a natureza dos raios catódicos. Com
respeito a esses raios, as opiniões são as mais diversas; de acordo com a
maioria dos físicos alemães, eles surgem devido a algum processo no
éter..... ; um outro ponto de vista a respeito desses raios é que, longe de
serem etéreos, eles, na realidade, são totalmente materiais e deixam
A
41
traços de partículas carregadas negativamente. À primeira vista parece
que não deveria ser difícil fazer uma discriminação entre opiniões tão
distintas, contudo a experiência mostra que não é o caso. Assim entre os
físicos que estudaram mais profundamente o assunto, podem ser
encontrados defensores de ambas as teorias.”
fig. 16 - Imagem de J.J.Thomson trabalhando em seu laboratório.
figura retirada da internet em 27/08/2006 do endereço:
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/t/fotos/thomson.jpg
Mais tarde em 1909, Millikan, realizando experiências em gotículas de óleo aceleradas
por campo elétrico, demonstra que a carga elétrica é quantizada e determina o valor da menor
carga elétrica, ou seja, determina a carga elétrica do elétron.
A reconstrução das etapas da experiência de Thomson que culminaram com
a descoberta do elétron
Como não dispomos dos materiais necessários à realização da experiência realizada por
Thomson, propomos reconstruir, sob forma de exercício, as etapas desta experiência que
A
42
culminaram com a descoberta do elétron. Esta reconstituição será uma valiosa revisão sobre a
utilização de alguns conceitos de Mecânica, sobretudo o de lançamentos horizontais.
1
a
Etapa: Determinação da velocidade de lançamento dos elétrons
Em sua experiência, Thomson ajustou campos elétricos e magnéticos em um tubo de
raios catódicos de modo a não sofrerem desvios. Determinou assim a velocidade destas
partículas.
Exercício 1: Tentaremos reconstituir a etapa da experiência feita por Thomson, onde ele
determinou a velocidade do movimento das partículas.
a) Lançando-se uma partícula carregada negativamente no interior de um campo magnético,
conforme ilustração, represente o vetor força magnética que atuará na partícula e diga
como será seu desvio.
b) Para anular o desvio causado pela força magnética, Thomson utilizou um campo elétrico
uniforme. Este campo deverá criar uma força que atue sobre a partícula e que possua
mesmo módulo e direção, mas sentido contrário ao da força magnética. Discuta com
seus colegas e seu professor como poderíamos criar este campo elétrico utilizando duas
placas metálicas. Desenhe esta situação e diga qual o sinal da carga contida em cada
placa.
A
43
c) Ajustando-se estas forças para que não haja desvio da partícula, Thomson pôde calcular
sua velocidade. Determine esta velocidade em função dos módulos dos campos
magnético (B) e elétrico (E).
Desligando o campo magnético (B), Thomson mediu a deflexão das partículas na tela.
Esta deflexão é constituída de duas partes: y
1
no instante em que as partículas abandonam a
região entre as placas, e y
2
no instante em que as partículas atingem a tela.
Exercício 2: Conhecido o valor do módulo do campo elétrico (E) entre as placas e o
comprimento x
1
das mesmas, determine:
a) O valor da aceleração da partícula em função do campo elétrico, da carga e de sua massa.
b) O tempo gasto pelas partículas para emergirem das placas em função do comprimento x
1
destas placas e dos módulos dos campos elétrico (E) e magnético (B).
A
44
c) A deflexão vertical y
1
sofrida pela partícula ao emergir da região entre as placas.
Exercício 3: Após as partículas deixarem a região entre as placas, elas sofrem uma deflexão
adicional y
2
. Determine:
a) A expressão que fornece a componente vertical da velocidade da partícula ao emergir da
região entre as placas.
b) O tempo gasto até a partícula atingir a tela.
c) A deflexão y
2
.
A
45
Exercício 4: Conhecidos os valores da deflexão total D = y
1
+ y
2
, das distâncias x
1
e x
2
e dos campos elétrico e magnético, expresse a relação entre a carga e a
massa desta partícula.
De posse dos valores obtidos experimentalmente, Thomson determinou a relação q/m
para estas partículas. Repetindo a experiência, com diferentes gases nos tubos e diferentes metais
para o catodo, obteve sempre o mesmo valor para a relação q/m. Ele concluiu, portanto, que os
raios catódicos eram um constituinte universal de todos os átomos. Estas partículas ficaram
conhecidas como elétrons, um nome que já havia sido proposto algum tempo atrás por um físico
irlandês, Johnstone Stoney. Com seu experimento, Thomson pôs um fim na discussão sobre a
natureza destes raios. Muitas experiências foram feitas desde o tempo de Thomson para
determinar a razão q/m para o elétron. Todas elas envolviam o uso de campo elétrico e
magnético.
Em 30 de abril de 1897, Thomson apresenta na Royal Institution, seus resultados e
conclusões sobre a constituição corpuscular dos raios catódicos.O valor aceito atualmente para
esta razão em unidades do Sistema Internacional é:
q = 1,76 x 10
11
C/kg
m
A
46
A descoberta do elétron foi um primeiro passo na tentativa de criar um modelo que
explicasse a constituição da matéria. Anos mais tarde, em 1909, o cientista americano Robert
Millikan mediu a carga dessas partículas.
Utilizando-se de um pulverizador, borrifou gotas de óleo numa câmara transparente. Duas
placas metálicas planas, uma na parte de cima e outra na parte de baixo, criavam um campo
elétrico no interior desta câmara. Como as gotículas se eletrizavam ao serem borrifadas, o seu
movimento de queda eram perturbados pela presença do campo elétrico que acelerava ou
retardava a queda das gotas conforme o sinal da carga de cada uma delas. Millikan utilizou as
gotas negativas. Ajustando a voltagem entre as placas, retardava sua queda por ação de uma
força elétrica de sentido contrário a força gravitacional terrestre. Quando as duas forças se
igualavam, conseguia com que a gota “levitasse” no interior câmara; assim, determinava a carga
da gota em função de sua massa. Retirava a voltagem das placas e com análise de velocidade
limite de queda da gota determinava sua massa.
fig. 17- A - Imagem de Millikan
trabalhando em seu laboratório
Fig. 17-B - fotografia do dispositivo experimental
utilizado por Millikan
imagem do site:
http://www.markcasimer.com/content/binary/image002.
png
A
47
fig. 18 - Esquema mostrando a esperiencia de Millikan
retirada do site: http://honolulu.hawaii.edu/distance/sci122/Programs/p28/p281.gif
Depois de fazer a experiência para várias gotas diferentemente eletrizadas, pôde verificar
que todas elas possuíam uma carga que era um múltiplo inteiro de uma valor elementar, que só
poderia ser o valor da carga do elétron. Hoje o valor aceito para esta carga elementar é:
q = 1,6 . 10
–19
C
A
48
MesasMesas--redondas:redondas:
As mesas-redondas serão um momento em que os atores da controvérsia exporão suas
idéias e os argumentos utilizados para defender tal postura. As mesas-redondas se desenvolverão
seguindo sempre o seguinte procedimento:
Abertura:Abertura:
O coordenador da mesa abre a seção convidando os participantes de cada associação que
participarão da mesa a tomarem assento para exposição e defesa de suas idéias.
Apresentação das Idéias: Apresentação das Idéias:
Depois de o coordenador apresentar o tema da mesa-redonda, passa a palavra para cada
grupo de participantes. Os componentes deste grupo terão um tempo total de 5 minutos para
apresentarem suas posições.
Antes de iniciar a defesa de suas idéias, os grupos entregarão ao coordenador da mesa
duas cópias com os pontos que irão defender e as argumentações que serão apresentadas na
defesa de suas idéias. (O coordenador da mesa encaminhará uma das cópias ao coordenador da
equipe de reportagem da TV, que deverá se fazer presente em todos os eventos do congresso,
inclusive fazendo as imagens necessárias para seu trabalho de edição jornalística televisiva).
Confronto 1: Pergunta para grupo sorteadoConfronto 1: Pergunta para grupo sorteado
Os grupos participantes serão identificados por números de 1 a 3. O coordenador da mesa
sorteará o grupo que fará a pergunta e o que responderá. Assim todos os grupos farão uma
pergunta e responderão a outra.
Nesta etapa, os grupos terão 1 minuto para perguntar e 2 minutos responder às perguntas.
Os grupos terão mais um minuto para comentarem as respostas dadas, primeiro o grupo que
perguntou e depois o grupo que respondeu.
A
49
Confronto 2: Pergunta livreConfronto 2: Pergunta livre
Cada grupo participante terá liberdade para encaminhar a pergunta para outro grupo. O
coordenador da mesa deverá sortear a ordem de pergunta dos grupos.
Os componentes terão 1 minuto para pergunta; o grupo perguntado terá 1 minuto para
resposta; o perguntador terá um tempo de mais um minuto para análise da resposta; e o
perguntado mais 1 minuto para suas considerações finais.
Perguntas do Plenário:Perguntas do Plenário:
O coordenador da mesa abrirá para perguntas do plenário, deixando abertas as inscrições
para perguntas da platéia até completar o tempo reservado para esta parte.
É importante que seja organizada uma listagem de inscritos para que se evitem tumultos
de várias pessoas perguntando ao mesmo tempo. O coordenador poderá inscrever as pessoas que
desejarem perguntar e passar a palavra aos grupos que responderão as perguntas.
Considerações finais:Considerações finais:
Cada grupo terá um tempo total de mais 2 minuto para suas considerações finais e
indicarem a votação em sua proposta.
Votação:Votação:
O coordenador convida a todos os presentes a participarem de uma votação simulada
dando sua opinião pessoal sobre que grupo foi melhor da defesa de suas propostas e qual a
opinião pessoal de cada estudante sobre o tema abordado.
Divulgação dos resultados e encerramento:Divulgação dos resultados e encerramento:
Com a ajuda de poucos alunos, o coordenador apura o resultado da votação e anuncia o
resultado para os participantes da mesa.
Encera os trabalhos da mesa e relembra aos participantes a data e o tema da próxima
mesa.
A
50
MesaMesa--Redonda 1:Redonda 1:
Reserva de mercado e benefícios fiscais para produção dos equipamentos
eletrônicos necessários para a mudança do sistema para TV digital.
O 1
o
Tema para discussão desta mesa-redonda se relaciona com a produção dos
equipamentos necessários para implantação da TV digital, que devem movimentar cerca de
R$100 bilhões nos próximos 20 anos, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica (Abinee). Temos hoje no Brasil instalados cerca de 65 milhões de
aparelhos de TV (este número deve subir para cerca de 80 milhões depois da instalação da TV
digital, segundo dados do Ministério das Comunicações). Para que estes aparelhos recebam o
novo sinal digital, será necessário a utilização de conversores chamados “set top box”. Segundo
dados do grupo RF Telavo, existem cerca de 8.500 geradoras e transmissoras de TV no Brasil
que irão necessitar de moduladores para as transmissão deste novo sinal.
“Antes mesmo de iniciada, a fabricação destes conversores gera polêmica no
setor industrial. Isto porque o empresariado se divide entre aqueles que querem a
inserção do item nos benefícios da Lei da Informática e os que defendem a inclusão
do produto na categoria de áudio e vídeo, beneficiada se produzida em Manaus. A
ABIEE argumenta que o set top Box tem um processador interno, o que enquadra
como item de informática. Fabricantes de Manaus acham que o conversor faz parte
da linha de áudio e vídeo e só poderá receber incentivos se fabricado em Manaus.
Walter Duran, da Philips, acredita que as facilidades logísticas de Manaus dão
vantagem competitiva à produção e conseqüente redução de preços ao
consumidor.”
Retirado do site:www.dci.com.br
Acesso em 28/07/2006
Cada um dos atores desta mesa devem dar seu parecer sobre uma
possível reserva de mercado para fabricação destes componentes bem
como da proposição de incentivos fiscais que estariam associados à
produção específica destes equipamentos.
A
51
Mesa Redonda 2:
Controle de qualidade de imagem e da programação das
redes de TV abertas
O 2
o
tema para discussão nesta mesa redonda diz respeito ao controle da qualidade da
imagem e da programação dos canais abertos em nossa sociedade. Este tema se relaciona
intrinsecamente com outros como o direito à liberdade de imprensa e às novas formas de
reedição da censura em nossa sociedade. Em relação a este tema o Centro Brasileiro de
Mídia para Crianças e Adolescentes MIDIATIVA, que possui como missão promover o
pensamento crítico sobre a mídia e contribuir para a melhoria da qualidade da programação
televisiva e demais mídias eletrônicas, assim se coloca:
“Se a necessidade da regulação do rádio e da TV em sociedades onde o
acesso a diferentes fontes de informação é importante para o equilíbrio do jogo
democrático, relativizando o poder dos meios eletrônicos, no Brasil torna-se
algo imprescindível. A televisão está presente em 95% dos domicílios do país,
enquanto menos de 10% da população lê jornais. Nesse quadro, o poder da
televisão torna-se brutal e a regulação impõe-se. Não para censurar, mas para
equilibrar, ampliando a oferta de informações, num sistema capaz de oferecer
ao cidadão um leque de alternativas suficiente para quebrar o monopólio do
pensamento único. Organismos públicos são fundamentais para exercer esse
papel.”
Retirado do site:
http://www.midiativa.tv/index.php/midiativa/content/view/full/1500
Acesso em 26/08/2006
Cada um dos atores desta mesa devem dar seu parecer sobre a
criação de uma Agência Reguladora da Qualidade de Imagem e da
Programação das TVs Abertas bem como estabelecer suas atribuições,
finalidades e demarcar os limites de sua atuação.
A
52
APÊNDICE 2:
Ficha para identificação dos grupos
A
53
FÓRUM NACIONAL DA TV
Ficha de inscrição:
Componentes do Grupo
N
o
de Pauta:
Nome:
----------------------------------------------------------------------------------------
Ator Social: (__ ) Ator - ________________________________
________________________________
ESPAÇO DESTINADO AS OBSERVAÇÕES DO PROFESSOR SOBRE O
DESEMPEMHO DO GRUPO
A
54
Anexo 1
Decreto presidencial n
o
5.820 de 29 de junho de 2006
(Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T, estabelece diretrizes para a transição do
sistema de transmissão analógica para o sistema de transmissão digital do serviço de
radiodifusão de sons e imagens e do serviço de retransmissão de televisão, e dá outras
providências.)
retirado do site:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5820.htm
acesso em 26/08/2006
A
55
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 5.820, DE 29 DE JUNHO DE 2006.
Dispõe sobre a implantação do SBTVD-T, esta
belece
diretrizes para a transição do sistema de transmissão
analógica para o sistema de transmissão digital do
serviço de radiodifusão de sons e imagens e do
serviço de retransmissão de televisão, e dá outras
providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV,
combinado com o art. 223 da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei n
o
4.117, de 27 de agosto
de 1962, e na Lei n
o
9.472, de 16 de julho de 1997,
DECRETA:
Art. 1
o
Este Decreto dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital
Terrestre - SBTVD-T na plataforma de transmissão e retransmissão de sinais de radiodifusão de sons e
imagens.
Art. 2
o
Para os fins deste decreto, entende-se por:
I - SBTVD-T - Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre - conjunto de padrões tecnológicos a
serem adotados para transmissão e recepção de sinais digitais terrestres de radiodifusão de sons e
imagens; e
II - ISDB-T - Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial serviços integrados de
radiodifusão digital terrestre.
Art. 3
o
As concessionárias e autorizadas do serviço de radiodifusão de sons e imagens e as
autorizadas e permissionárias do serviço de retransmissão de televisão adotarão o SBTVD-T, nos termos
deste Decreto.
Art. 4
o
O acesso ao SBTVD-T será assegurado, ao público em geral, de forma livre e gratuita, a fim
de garantir o adequado cumprimento das condições de exploração objeto das outorgas.
Art. 5
o
O SBTVD-T adotará, como base, o padrão de sinais do ISDB-T, incorporando as inovações
tecnológicas aprovadas pelo Comitê de Desenvolvimento de que trata o Decreto n
o
4.901, de 26 de
novembro de 2003.
§ 1
o
O Comitê de Desenvolvimento fixará as diretrizes para elaboração das especificações técnicas
a serem adotadas no SBTVD-T, inclusive para reconhecimento dos organismos internacionais
competentes.
§ 2
o
O Comitê de Desenvolvimento promoverá a criação de um Fórum do SBTVD-T para
assessorá-lo acerca de políticas e assuntos técnicos referentes à aprovação de inovações tecnológicas,
especificações, desenvolvimento e implantação do SBTVD-T.
§ 3
o
O Fórum do SBTVD-T deverá ser composto, entre outros, por representantes do setor de
radiodifusão, do setor industrial e da comunidade científica e tecnológica.
Art. 6
o
O SBTVD-T possibilitará:
A
56
I - transmissão digital em alta definição (HDTV) e em definição padrão (SDTV);
II - transmissão digital simultânea para recepção fixa, móvel e portátil; e
III - interatividade.
Art. 7
o
Será consignado, às concessionárias e autorizadas de serviço de radiodifusão de sons e
imagens, para cada canal outorgado, canal de radiofreqüência com largura de banda de seis megahertz, a
fim de permitir a transição para a tecnologia digital sem interrupção da transmissão de sinais analógicos.
§ 1
o
O canal referido no caput somente será consignado às concessionárias e autorizadas cuja
exploração do serviço esteja em regularidade com a outorga, observado o estabelecido no Plano Básico
de Distribuição de Canais de Televisão Digital - PBTVD.
§ 2
o
A consignação de canais para as autorizadas e permissionárias do serviço de retransmissão
de televisão obedecerá aos mesmos critérios referidos no § 1
o
e, ainda, às condições estabelecidas em
norma e cronograma específicos.
Art. 8
o
O Ministério das Comunicações estabelecerá, no prazo máximo de sessenta dias a partir da
publicação deste Decreto, cronograma para a consignação dos canais de transmissão digital.
Parágrafo único. O cronograma a que se refere o caput observará o limite de até sete anos e
respeitará a seguinte ordem:
I - estações geradoras de televisão nas Capitais dos Estados e no Distrito Federal;
II - estações geradoras nos demais Municípios;
III - serviços de retransmissão de televisão nas Capitais dos Estados e no Distrito Federal; e
IV - serviços de retransmissão de televisão nos demais Municípios.
Art. 9
o
A consignação de canais de que trata o art. 7
o
será disciplinada por instrumento contratual
celebrado entre o Ministério das Comunicações e as outorgadas, com cláusulas que estabeleçam ao
menos:
I - prazo para utilização plena do canal previsto no caput, sob pena da revogação da consignação
prevista; e
II - condições técnicas mínimas para a utilização do canal consignado.
§ 1
o
O Ministério das Comunicações firmará, nos prazos fixados no cronograma referido no art. 8
o
,
os respectivos instrumentos contratuais.
§ 2
o
Celebrado o instrumento contratual a que se refere o caput, a outorgada deverá apresentar ao
Ministério das Comunicações, em prazo não superior a seis meses, projeto de instalação da estação
transmissora.
§ 3
o
A outorgada deverá iniciar a transmissão digital em prazo não superior a dezoito meses, contados
a partir da aprovação do projeto, sob pena de revogação da consignação prevista no art. 7
o
.
Art. 10. O período de transição do sistema de transmissão analógica para o SBTVD-T será de dez
anos, contados a partir da publicação deste Decreto.
§ 1
o
A transmissão digital de sons e imagens incluirá, durante o período de transição, a veiculação
simultânea da programação em tecnologia analógica.
§ 2
o
Os canais utilizados para transmissão analógica serão devolvidos à União após o prazo de
transição previsto no caput.
A
57
Art. 11. A partir de 1
o
de julho de 2013, o Ministério das Comunicações somente outorgará a
exploração do serviço de radiodifusão de sons e imagens para a transmissão em tecnologia digital.
Art. 12. O Ministério das Comunicações deverá consignar, nos Municípios contemplados no
PBTVD e nos limites nele estabelecidos, pelo menos quatro canais digitais de radiofreqüência com
largura de banda de seis megahertz cada para a exploração direta pela União Federal.
Art. 13. A União poderá explorar o serviço de radiodifusão de sons e imagens em tecnologia digital,
observadas as normas de operação compartilhada a serem fixadas pelo Ministério das Comunicações,
dentre outros, para transmissão de:
I - Canal do Poder Executivo: para transmissão de atos, trabalhos, projetos, sessões e eventos do
Poder Executivo;
II - Canal de Educação: para transmissão destinada ao desenvolvimento e aprimoramento, entre
outros, do ensino à distância de alunos e capacitação de professores;
III - Canal de Cultura: para transmissão destinada a produções culturais e programas regionais; e
IV - Canal de Cidadania: para transmissão de programações das comunidades locais, bem como
para divulgação de atos, trabalhos, projetos, sessões e eventos dos poderes públicos federal, estadual e
municipal.
§ 1
o
O Ministério das Comunicações estimulará a celebração de convênios necessários à
viabilização das programações do Canal de Cidadania previsto no inciso IV.
§ 2
o
O Canal de Cidadania poderá oferecer aplicações de serviços públicos de governo eletrônico
no âmbito federal, estadual e municipal.
Art. 14. O Ministério das Comunicações expedirá normas complementares necessárias à execução
e operacionalização do SBTVD-T.
Art. 15. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 29 de junho de 2006; 185
o
da Independência e 118
o
da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Helio Costa
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 30.6.2006
A
58
Anexo 2
Documentos para dar suporte as grupos participantes da mesa redonda 1
Atores participantes:
1
o
Ator: ABFE- Associação Brasileira de Fabricantes de Eletroeletrônicos.
2
o
Ator: Apim - Associação do Pólo Industrial da Manaus.
3
o
Ator: Frente Brasileira por uma TV digital democrática.
A
59
Documentos que serão distribuídos para os participantes da 1
a
mesa
redonda:
Documento 1 : Critério técnico adia negócios de R$ 100 bilhões de TV
digital - DCI - São Paulo,SP,Brazil.
Retirado do site:
http://www.abert.org.br/D_mostra_clipping.cfm?noticia=33151
acesso em 26/08/2006.
Documento 2 : O fato consumado da TV Digital.- Gustavo Gindre.
Retirado do site:
http://cartamaior.uol.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3043
acesso em 26/08/2006.
Documento 3 : TV digital dá vida nova ao pólo industrial de Santa Rita do
Sapucaí
Retirado do site:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=39721
acesso em 26/08/2006.
OBS.: A Equipe para cobertura jornalística do Fórum deverá receber um
cópia de todos os documentos relativos aos debates que aconteceram nesta
mesa redonda.
A
60
A
61
A
62
A
63
A
64
A
65
A
66
A
67
A
68
A
69
Anexo 3
Documentos para dar suporte as grupos participantes da mesa redonda 2
Atores participantes:
4
o
Ator: APRT- Associação de Proprietários de Rede de Televisão.
5
a
Ator: CNDC-Coletivo Nacional pela Democratização da Comunicação.
6
a
Ator: Frente Nacional pela defesa da Ética, da Moral e da Família.
A
70
Documentos que serão distribuídos para os participantes da 2
a
mesa
redonda:
Documento 4 : A necessidade do controle público da televisão -
Laurindo Leal Filho.
Retirado do site:
http://www.midiativa.tv/index.php/midiativa/content/view/full/1500
acesso em 26/08/2006
Documento 5 : CENSURA / TV - Eugênio Bucci
Retirado do site:
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/asp0801200394.htm
acesso em 26/08/2006
Documento 6 : A tesoura da família - Controle doméstico da programação
enseja debate sobre a TV.
Retirado do site:
http://www.igutenberg.org/atualchip.html
acesso em 26/08/2006
OBS.: A Equipe para cobertura jornalística do Fórum deverá receber um
cópia de todos os documentos relativos aos debates que aconteceram nesta
mesa redonda.
A
71
A
72
A
73
A
74
A
75
A
76
A
77
A
78
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA
CELSO SUCKOW DA FONSECA-CEFET/RJ
DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENADORIA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE
CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
DISSERTAÇÃO
A FÍSICA E A SOCIEDADE NA TV
Sidnei Percia da Penha
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO PROGRAMA DE PÓS-
GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
MESTRE EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA.
Data da defesa: 22/12/2006.
Aprovação:
___________________________________________
Deise Miranda Vianna, Dra.
___________________________________________
Paulo de Faria Borges , Dra.
___________________________________________
Marília Paixão Linhares, Dr.
_______________________________________
Daniel Guilherme Gomes Sasaki, Dr.
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