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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CONTRIBUIÇÕES DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE
COOPERATIVAS POPULARES DA UNOCHAPECÓ PARA A
PROPOSTA DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA EM
EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR
SOLIDÁRIA
Ana Paula Granella Zarpelon
Porto Alegre, 2007
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Ana Paula Granella Zarpelon
CONTRIBUIÇÕES DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE
COOPERATIVAS POPULARES DA UNOCHAPECÓ PARA A
PROPOSTA DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA EM
EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR
SOLIDÁRIA
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduão em
Administração da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em
Administração.
Orientadora: Profa. Rosinha da
Silva Machado Carrion
Porto Alegre, 2007
CONTRIBUIÇÕES DA INCUBADORA TECNOLÓGICA DE
COOPERATIVAS POPULARES DA UNOCHAPECÓ PARA A
PROPOSTA DE GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA EM
EMPREENDIMENTOS DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
ANA PAULA GRANELLA ZARPELON
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do grau de Mestre em Administração,
área de concentração Organizões, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-
Graduão em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Prof. Ângela Beatriz Scheffer Garay
Prof. Janaina Macke
Prof. João Luiz Becker
Prof. Rosinha da Silva Machado Carrion
Porto Alegre, 10 de abril de 2007.
Orientadora: Prof. Rosinha da Silva Machado Carrion
Aluna: Ana Paula Granella Zarpelon
2
“De todas as horas que gastei
De todos os abraços que não dei
Resta o saldo positivo
De ter cumprido o objetivo.
No plano estratégico da minha vida
Cumpri mais uma etapa
E parto confiante para as demais.
Renovada as forças,
Oxigenado o pensamento,
Liberta das amarras da ignorância,
Posso olhar o futuro que quero dar aos meus filhos
E vê-lo pleno de oportunidades”.
(Elaine Páscoa Lavall, 2003)
3
Aos meus pais, Nauro e Terezinha, amor incondicional e
doutores em sabedoria.
Ao Wilson, Carolina e Mateus, os grandes amores da minha
vida. Vocês acreditaram em mim e mesmo nos momentos
mais difíceis estavam lá, transmitindo coragem, força e
amor.
AGRADECIMENTOS
4
Primeiramente a Você que me possibilitou chegar até aqui, e que tenho certeza, sempre
esteve presente. Obrigado meu Deus!
A minha família, sempre acompanhando e incentivando. Ao meu esposo Wilson e meus
filhos Carolina e Mateus. Com certeza, sem vocês isso não teria sido possível. As minhas irmãs,
Maria Teresa e Marta, sempre um ombro onde recostar a cabeça e um abraço forte para
acalentar ou comemorar. Ao tio Luiz, pela sua preciosa contribuição, conhecimento utilizado
para ajudar os outros.
Aos colegas de mestrado, parceiros de muita aprendizagem, principalmente para a vida,
que, com o calor da amizade, nunca me deixaram sentir só. Em especial, Alexandre Angonezi,
Joel, Leandra, Leonita, Lílian, Rogério e Sandra Andres.
Aos mestres que, abdicando de profissões mais glamurosas, dedicam-se a ensinar,
fazendo-o com tal paixão e apego, anonimamente, como só os grandes de espírito podem fazer.
Dentre esses, quero agradecer a professora Rosinha, minha orientadora, pela sua paciência,
dedicação e valorosas contribuições que engrandeceram o trabalho. À professora Evania
Schneider, sempre presente e pronta a contribuir. Ao inesquecível professor Becker, alguém que
aprendi a respeitar e admirar, pelas suas palavras, pela sua presença e pela sua participação
nessa minha árdua jornada.
Aos técnico-administrativos da UFRGS e UNIVATES que sempre estiveram prontos a
auxiliar, conseguindo realizar o milagre da aproximação de Chapecó (SC) com Porto Alegre
(RS) e Lajeado (RS).
Ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UNOCHAPECÓ, em especial ao professor
Vilmar, pelas suas contribuições e ao professor Sady, que além de amigo tornou-se um mestre
para mim.
À ITCP que possibilitou a realização do estudo. Quero, em nome da professora Adriana,
agradecer a todos os professores que integram o grupo. Agradeço também aos acadêmicos que
participam, de forma muito especial ao Leonardo e a Fernanda, os quais generosamente
disponibilizaram os empreendimentos que coordenavam para que a pesquisa fosse realizada.
Aos integrantes dos empreendimentos Cooperunião, Coopersol e grupo de tricô e crochê
- Criarte, que se dispôs a participar da pesquisa, entendendo a relevância de sua contribuição
para o estudo.
A todos que contribuíram para essa dissertação, meu muito obrigado!
5
RESUMO
Sob a expressão Economia Popular Solidária reúne-se o conjunto de práticas de geração de
trabalho e renda, organizadas de modo associativo, que teriam em comum a colaboração, a
vivência solidária e o humano como razão de ser da vida em sociedade. Como proposta tais
práticas esposam a melhoria da qualidade de vida, a autonomia, o reconhecimento e a satisfação
das necessidades materiais, sem que ocorra, entretanto, a submissão do humano à lógica do
capital. É neste cenário que se situa a presente dissertação, que teve por objetivo investigar, se,
e em que medida, os projetos de geração de trabalho e renda - desenvolvidos por técnicos e
professores da ITCP - Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade
Comunitária Regional de Chapecó, em Chapecó, no estado de Santa Catarina contribuíram
para a melhoria das condições de vida de trabalhadores de empreendimentos, identificados com
o Movimento da Economia Popular e Solidária. Entre os principais fatores que se buscou
investigar com a realização da presente dissertação, tem-se: flutuações na renda; percepção dos
trabalhadores solidários em termos de ganhos e perdas decorrentes da adesão à proposta
solidária e ao modo associativo de produção; desejo de permanência e/ou de desligamento face
à possibilidade de ingresso no mercado formal de trabalho; características dos processos de
trabalho e de gestão, bem como do modo como o tomadas decisões relativas à admissão,
desligamento, partilha dos resultados. Para tal foi realizada pesquisa de tipo exploratório-
descritiva, quali-quantitativa, apoiada em observação participante, consulta às fontes de dados
secundários, entrevistas o-estruturadas e questionário aplicado por sistema de amostra por
conveniência aos integrantes de três dos empreendimentos solidários pesquisados. A análise dos
dados revelou flutuação na renda mensal dos participantes após a intervenção, apresentando
uma diferença de R$57,93 a maior, essa renda se mostrou variável. Dos pesquisados, 73%
afirmam que sua vida está melhor depois da intervenção, 71% entendem que o empreendimento
lhesa garantia dos princípios de Economia Solidária e 51% responderam que não deixariam
o empreendimento, mesmo diante da possibilidade de ingresso no mercado formal de trabalho.
Quanto à participação no processo de gestão, a pesquisa apresentou que 52% dos associados
participam no momento de decidir como será a partilha do excedente (sobra) e 68% afirmam
que são utilizados os princípios de Economia Solidária na decisão. Na decisão da remuneração,
41% dos associados participam sempre e 53% responderam que os princípios são observados.
Com relação ao processo decisório na admissão e afastamento de associados, o índice de
participação apresentado foi de 52% (na admissão) e 46% (no afastamento). Os respondentes
indicaram que os princípios são respeitados na admissão (61%) e no afastamento (55%). A
divisão do trabalho é decidida com a participação de 47% dos associados e 69% identificaram
que essa divisão é feita com base nos princípios. Essa dissertação possibilitou avaliar os
princípios de gestão dos empreendimentos, analisando a participação dos associados. Verificou
também o conhecimento dos membros dos empreendimentos (grupos) sobre os princípios de
Economia Popular Solidária e identificou quais foram as contribuições que a ITCP
proporcionou a esses empreendimentos (grupos).
Palavras-chave: Economia Solidária, Incubadora Tecnológica de Economia Solidária,
Qualidade de Vida, Autogestão.
6
ABSTRACT
Under the Solidary Popular Economy expression the set of practical of generation of work and
income is congregated, organized in associative way, that would have the contribution in
common, the solidary experience and the human being as reason of being from life in society.
As proposal such practical marry the improvement from quality of life, the autonomy, the
recognition and the satisfaction of the material necessities, without that it occurs, however, the
submission of the human being to the logic of the capital. It is in this scene that if points out the
present dissertation, that had for objective to investigate, if, and where measured, the projects of
work generation and income - developed for technician and professors of the ITCP - Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares of Universidade Comunitária Regional de Chapecó, in
Chapecó, the state of Santa Catarina - had contributed for the improvement from the conditions
of life of workers of enterprises, identified with Moviment of the Popular and Solidary
Economy. Between the main factors that if it searched to investigate with the accomplishment
from present dissertation, it is had: fluctuations in the income; decurrent perception of the
solidary workers in terms of profits and losses of the adhesion to the proposal solidary and the
associative way of production; disconnection and/or permanence desire face to the possibility of
ingression in the formal market of work; characteristics from management and work processes,
as well as in the way as are taken relative decisions to the admission, disconnection, allotment
from results. For such research of exploratory-descriptive type was carried through, qualitative-
quantitative, supported in participant comment, consults to the sources of secondary data, not-
structuralized interviews and questionnaire applied for system of sample for convenience to the
integrant ones of three from searched solidary enterprises. The analysis of the data after
disclosed to fluctuation in the monthly income of the participants the intervention, presenting a
difference from R$57,93 the greater, this income if it showed variable. Of the searched ones,
73% affirm that its life is better after the intervention, 71% understand that the enterprise gives
the guarantee to them of the principles of Solidary Economy and 51% had answered exactly
that they would not leave the enterprise, ahead from possibility of ingression in the formal
market of work. How much to the participation in the management process, the research
presented that 52% of the associates participate at the moment to decide as (surplus) will be the
allotment of the excess and 68% affirm that the principles of Solidary Economy in the decision
are used. In the decision from remuneration, 41% of the associates always participate and 53%
had answered that the principles are observed. With relation to the power to decide process in
the admission and removal of associates, the presented index of participation was of 52% (in the
admission) and 46% (in the removal). The respondents had indicated that the principles are
respected in the admission (61%) and the removal (55%). The division of the work is
determined with the participation of 47% of the associates and 69% had identified that this
division is made on the basis of the principles. This dissertation made possible to evaluate the
principles of management from enterprises, being analyzed the participation of the associates. It
also verified the knowledge of the members of the enterprises (groups) on the principles of
Solidary Popular Economy and identified which had been the contributions that the ITCP
provided to these enterprises (groups).
Key-words: Solidary Economy, Technological Incubadora of Solidary Economy, Quality of
Life, Self Management.
7
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Gênero dos entrevistados.........................................................................................61
Gráfico 2 – Faixa etária dos entrevistados..................................................................................62
Gráfico 3 – Gênero e faixa etária dos entrevistados...................................................................63
Gráfico 4 – Renda mensal antes da intervenção.........................................................................64
Gráfico 5 – Renda fixa ou variável.............................................................................................64
Gráfico 6 – Renda mensal atual..................................................................................................65
Gráfico 7 – Renda fixa ou variável.............................................................................................66
Gráfico 8 – Deixaria o trabalho?.................................................................................................67
Gráfico 9 – Deixaria o trabalho x gênero x faixa etária..............................................................68
Gráfico 10 – Não deixaria o trabalho x gênero x faixa etária.....................................................69
Gráfico 11 – Motivo pelo qual deixaria o trabalho.....................................................................71
Gráfico 12 – Motivo pelo qual não deixaria o trabalho..............................................................72
Gráfico 13 – O que acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento)?...................74
Gráfico 14 – A vida está melhor ou pior do que antes da intervenção?......................................75
Gráfico 15 – Melhor x gênero x faixa etária...............................................................................76
Gráfico 16 – Pior x gênero x faixa etária....................................................................................77
Gráfico 17 – Motivo pelo qual a vida está melhor do que antes da intervenção........................79
Gráfico 18 – Motivo pelo qual a vida está pior do que antes da intervenção.............................81
Gráfico 19 – Quem define como vai ser a partilha do excedente?..............................................82
Gráfico 20 – Como é feita a partilha do excedente?...................................................................84
Gráfico 21 – Quem define como será a remuneração?...............................................................85
Gráfico 22 – Como se decide qual a remuneração que cada um vai receber?............................87
Gráfico 23 – Quem define sobre a admissão?.............................................................................88
Gráfico 24 – Quem define sobre o afastamento?........................................................................88
Gráfico 25 – Como se decide sobre a admissão de novos membros?.........................................90
8
Gráfico 26 – Como acontece o afastamento de algum membro?................................................92
Gráfico 27 – Quem define sobre a divisão do trabalho?.............................................................93
Gráfico 28 – Como é feita a divisão do trabalho?.......................................................................95
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Comparativo entre renda mensal antes e depois da intervenção..............................65
Quadro 2 – Motivo pelo qual deixaria o trabalho.......................................................................70
Quadro 3 – Motivo pelo qual não deixaria o trabalho................................................................72
Quadro 4 – O que acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento)?.....................73
Quadro 5 – Motivo pelo qual a vida está melhor do que antes da intervenção...........................78
Quadro 6 – Motivo pelo qual a vida está pior do que antes da intervenção................................80
Quadro 7 – Como é feita a partilha do excedente?.....................................................................83
Quadro 8 – Como se decide qual a remuneração que cada um vai receber?..............................86
Quadro 9 – Como se decide sobre a admissão de novos membros?...........................................89
Quadro 10 – Como acontece o afastamento de algum membro?................................................91
Quadro 11 – Como é feita a divisão do trabalho?.......................................................................94
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................13
1.1 OBJETIVOS .................................................................................................................... 14
1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 14
1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 14
2 HISTÓRICO DA ITCP..........................................................................................................15
3 REVIO DA LITERATURA..............................................................................................19
3.1 MUDANÇA NO MUNDO DO TRABALHO ............................................................... 19
3.1.1 Desemprego ........................................................................................................ 22
3.1.2 Exclusão social ................................................................................................... 23
3.2 A EPS – ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA COMO PROJETO ALTERNATIVO
PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E GERAÇÃO DE TRABALHO E
RENDA ......................................................................................................................... 26
3.3 IDENTIFICAÇÃO/APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DA EPS ............................... 29
3.3.1 Significado do termo ......................................................................................... 29
3.3.2 Princípios de economia solidária e características desses empreendimentos
........................................................................................................................... 30
3.3.3 Economia popular solidária no Brasil ............................................................ 31
3.4 PROJETOS AUTOGESTIORIOS ............................................................................. 31
3.5 ENTIDADES DE APOIO À ECONOMIA SOLIDÁRIA ............................................... 33
3.6 PROPOSTA FILOSÓFICA DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA ..................... 35
3.6.1 Valorização do trabalho sobre o excedente .................................................... 36
3.6.2 Remuneração .................................................................................................... 37
3.6.3 Processo decisório ............................................................................................. 38
3.6.4 Divisão do trabalho .......................................................................................... 39
3.7 DESAFIOS DA ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA .............................................. 40
3.7.1 Principais desafios ............................................................................................ 40
3.7.2 Políticas públicas .............................................................................................. 43
4 MÉTODOLOGIA...................................................................................................................45
4.1 TIPO DE ESTUDO ........................................................................................................ 45
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ....................................................................................... 46
4.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ........................ 47
4.4 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................................. 50
11
4.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................... 50
5 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS....................................................52
5.1 VISÃO GERAL DO PROGRAMA ITCP DA UNOCHAPECÓ ................................... 52
5.2 APRESENTAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS UTILIZADOS NO ESTUDO DE
CASO ............................................................................................................................ 56
5.3 PESQUISA DE CAMPO ................................................................................................ 58
5.3.1 Caracterização dos empreendimentos e entrevistados .................................. 59
5.3.2 Renda mensal dos entrevistados ...................................................................... 61
5.3.3 Entendimento dos entrevistados sobre empreendimento solidário .............. 65
5.3.4 Proposta filofica de economia popular solidária ......................................... 79
5.3.4.1 Valorização do trabalho sobre o excedente ........................................ 79
5.3.4.2 Remuneração ...................................................................................... 82
5.3.4.3 Processo decisório .............................................................................. 84
5.3.4.4 Divisão do trabalho ............................................................................ 90
6 CONCLUSÕES.......................................................................................................................94
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................101
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO........................................................................................104
12
1 INTRODUÇÃO
A região oeste de Santa Catarina (SC) caracteriza-se por seu potencial agro-industrial,
mas não são apenas as agroindústrias que caracterizam a região. Merece destaque a agricultura
familiar desenvolvida nas pequenas propriedades familiares. A colonização de origem européia
contribuiu decisivamente para implantação da agricultura familiar diversificada, base histórica
da economia regional.
O município de Chapecó, situado na mesorregião oeste catarinense, é considerado o
principal pólo comercial e industrial da região. O oeste de SC com destaque para a cidade de
Chapecó e região tem sofrido as conseqüências da reestruturação produtiva em escala
mundial. Caracterizada como uma região predominantemente agrícola, com destaque para as
agroindústrias de suínos e aves, Chapecó também vem enfrentando a diminuição do emprego
formal, que se relaciona, entre outros motivos, com a evasão do complexo agro-industrial para o
centro-oeste do país.
Frente ao desemprego, às transformações no mercado de trabalho, às dificuldades de
inserção no mesmo, inúmeras alternativas têm sido criadas tanto no campo, quanto na cidade,
na busca da sobrevivência. Como exemplo pode-se citar: pequenos negócios de caráter familiar,
grupos de produção, grupos de produção agrícola, cooperativas, empresas autogestionárias,
comércio ambulante, coleta e reciclagem de lixo, hortas comunitárias, entre outras,
caracterizadas como iniciativas de Economia Solidária, popular, de solidariedade, social,
alternativa, etc.
Por considerar a importância e relevância desta discussão no amplo universo dessas
iniciativas, e tendo como objetivo contribuir para o desenvolvimento social e econômico
regional, a UNOCHAPECÓ - Universidade Comunitária Regional de Chapecó desenvolveu um
programa de intervenção econômica e geração de trabalho e renda, a ITCP Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares.
A criação e implementação da ITCP da UNOCHAPE foram iniciativas estratégicas
na perspectiva da concretização dos eixos orientadores do seu processo de desenvolvimento,
especialmente no que diz respeito à sua inserção no processo de desenvolvimento regional.
O impacto de tal iniciativa se dá, acima de tudo, porque coloca a universidade, seus
profissionais e seus alunos em contato direto com as demandas e iniciativas dos setores
populares mais marginalizados da sociedade. Este contato com tais demandas, por sua vez, além
de um apoio direto às iniciativas de geração de trabalho e renda dessa população, é uma
oportunidade ímpar de formação de profissionais abertos e minimamente capacitados a
responder a oportunidades ocupacionais que têm surgido em proporção crescente no seio da
crise econômica e do desemprego que tem se registrado nas últimas décadas.
Sendo a ITCP um programa de intervenção econômica e geração de trabalho e renda,
pergunta-se: o apoio prestado pela ITCP da UNOCHAPECÓ às cooperativas e
empreendimentos, identificados com o Movimento da Economia Popular e Solidária, está
contribuindo para a geração de trabalho e renda dos trabalhadores dessas organizações?
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo geral
Investigar se o apoio prestado pela UNOCHAPECÓ às cooperativas e
empreendimentos, identificados com o Movimento da Economia Popular e Solidária, está
contribuindo para a geração de trabalho e renda assim como para a melhoria das condições de
vida dos trabalhadores dessas organizações.
1.1.2 Objetivos específicos
a) verificar se após o início da assessoria prestada pela ITCP houve flutuação na renda
dos integrantes dos empreendimentos por ela apoiados e, nesse caso, qual o sentido
dessa flutuação;
b) investigar se os trabalhadores identificam mudanças em suas vidas associadas ao
fato de estarem atuando de modo associativo, e descrevê-las;
c) investigar os princípios de administração subjacentes às práticas de gestão da
produção e de pessoas nas cooperativas (empreendimentos) assessoradas pela ITCP
UNOCHAPECÓ.
14
2 HISTÓRICO DA ITCP
1
O primeiro contato com a idéia da criação de uma incubadora tecnológica de
cooperativas populares ocorreu em 1999, quando uma professora do Serviço Social da
UNOCHAPECO participou do Encontro Universitário para a Criação de Incubadoras
Tecnológicas de Cooperativas Populares. Esse encontro ocorreu no Rio de Janeiro e foi
promovido pela UNITRABALHO (rede universitária de ensino, pesquisa e extensão sobre
trabalho) e a COPPE/UFRJ - Coordenadoria de Pesquisa e s-Graduação em Engenharia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O foco central do encontro foi o debate sobre o tema Economia Solidária e a
apresentação e discussão de experiências pioneiras, visando compreender qual era o papel da
universidade no apoio aos setores marginalizados da sociedade, os quais estão à margem do
mundo do trabalho.
Dentro desta perspectiva, um grupo de professores da UNOCHAPE ligados ao
cleo local da UNITRABALHO passou a discutir o tema e a possibilidade da criação de uma
incubadora. Essa discussão prolongou-se por dois anos, devido principalmente às dificuldades
estruturais para a criação de um grupo de trabalho que conseguisse desenvolver o projeto e
dificuldades financeiras, por parte da universidade, para manter um projeto dessa natureza. É
importante ressaltar que a UNOCHAPECÓ é mantida, quase que exclusivamente, dos recursos
das mensalidades.
A UNOCHAPECÓ, sendo uma entidade de natureza comunitária, filantrópica, dentro da
perspectiva do público não estatal, tem limitadores na sua capacidade de investimentos próprios
para projetos que não são auto-sustentáveis. Porém, tem com isso o potencial para realizar ações
e projetos via convênios e parcerias com ONGs Organizações Não Governamentais,
organizações comunitárias e com o poder público.
No ano de 2002, atendendo ao Edital 01/2001 da FUNCITEC - Fundação de Ciência e
Tecnologia, um grupo de professores conseguiu a aprovação de um financiamento para a
implantação de uma incubadora tecnológica de cooperativas populares.
O recurso recebido, somado às condições existentes na UNOCHAPECÓ, possibilitou
a capacitação de uma equipe de trabalho e o financiamento dasões da incubadora por um ano.
O primeiro passo para a criação da ITCP da UNOCHAPE foi a capacitação de sua
equipe de trabalho. Capacitação essa que ocorreu de setembro de 2002 a abril de 2003. A
1
Informação construída com base no artigo do professor Poli (2004) e no Projeto da ITCP.
15
capacitação abordou aspectos conceituais de Economia Solidária e a rede de incubadoras,
sempre descrevendo a realidade do oeste catarinense. Num segundo momento, a capacitação
tratou da formação e gestão de cooperativas autogestionárias, capacitação que ficou a cargo da
ANTEAG - Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas Autogestionárias. Num
último momento, foram trabalhados aspectos metodológicos de trabalho com grupos populares,
visto que o público participante era formado por profissionais e alunos de diferentes cursos.
Faz-se importante salientar que essa capacitação contou com a presença de
representantes das principais entidades locais que já atuavam na área, contribuindo, assim, para
a aproximação das entidades e para apresentação de experiências.
A elaboração final do projeto da ITCP ocorreu durante o processo de capacitação, sendo
que em 07 de maio de 2003 o projeto ITCP foi aprovado pelo CONSUN - Conselho
Universitário da UNOCHAPECÓ.
Como programa permanente de extensão da UNOCHAPECÓ, a ITCP tem a missão de
contribuir para o desenvolvimento social e econômico regional. Possui a finalidade de apoiar
iniciativas como cooperativas e associações de produtores, auxiliar na formulação e execução
de políticas públicas e fortalecer o cooperativismo popular como meio para a geração de
trabalho e renda. Objetiva contribuir para o desenvolvimento social e econômico regional, a
partir da realidade e do debate sobre os princípios e a ação da Economia Solidária, articulando-
se com outros segmentos para elevar a qualidade de vida e ampliar a cidadania. Com isso,
pretende apoiar iniciativas de economia solidária, sejam elas cooperativas, associações de
produtores ou outras formas de organização econômica autogestionárias e auxiliar na
formulação e execução de políticas públicas.
Além do objetivo de fortalecer o cooperativismo popular como meio da geração de
trabalho e renda, através de assessoramento junto aos empreendimentos de Economia Solidária,
a ITCP também objetiva contribuir com a formação de profissionais identificados com as
condições de vida dos segmentos excluídos do mercado de trabalho. A Incubadora é formada
por uma equipe multidisciplinar. Para cada empreendimento que a incubadora assessora ou faz
o processo de incubação, forma-se um grupo com professores, acadêmicos e técnico-
administrativos. Além disso, possui convênio feito com prefeituras e outras instituições de
fomento.
A ITCP é um programa que tem por finalidade a inserção de atores marginalizados
economicamente no sistema formal de economia, a partir da organização para o trabalho e, nas
comunidades, conquistar a cidadania, bem como construir um novo espaço de produção
16
acadêmica inter/multidisciplinar, tanto no campo do ensino quanto no campo da pesquisa e da
extensão.
Os principais objetivos da ITCP são:
a) fortalecer o cooperativismo popular (e outras formas de Economia Solidária), como
meio para geração de trabalho e renda e para a organização da comunidade e de
grupos socialmente excluídos visando a ampliação da cidadania e da participação
popular;
b) assessorar empreendimentos de Economia Solidária em processo de formação, desde
a apresentação da demanda e pelo período necessário a sua consolidação (de acordo
com a avaliação da equipe de incubação), através da prestação de serviços de
consultoria e realização de atividades formativas de capacitação para autogestão;
c) aqueles empreendimentos não contemplados com o processo de incubação poderão
receber, mediante demanda dos interessados, atividades de capacitação de caráter
eventual e emergencial, sem caracterizar o processo de incubação propriamente dito;
d) serviços de consultoria/assessoria em áreas técnicas como: jurídica, social, contábil,
administrativa, econômica, etc.;
e) promover a capacitação das organizações associativas e apoiar diferentes formas de
cooperação, auxiliando-as nos processos de gestão e inserção de seus produtos e
serviços no mercado;
f) promover e apoiar iniciativas de intercooperação entre os empreendimentos de
Economia Solidária da Região, especialmente aqueles assistidos pela Incubadora e
por outras entidades parceiras;
g) colaborar para a articulação e ação de outros atores sociais da Região, vinculados ao
projeto de desenvolvimento da Economia Solidária, através de assessorias, troca de
experiências e outras formas de intercâmbio;
h) assessorar a formulação e a execução de políticas públicas de apoio e de fomento à
Economia Solidária em função de demandas dos poderes públicos;
i) incentivar e possibilitar iniciativas e espaços de reflexão, na comunidade e na
universidade, sobre os valores éticos, culturais e políticos que formam o movimento
da Economia Solidária e suas iniciativas;
j) possibilitar à universidade a interação com segmentos excluídos do mercado de
trabalho e com as entidades que atuam na promoção do desenvolvimento social e
17
econômico regional, através do oferecimento de espaços alternativos de formação
profissional a acadêmicos e profissionais dos mais diferentes cursos de graduação e
pós-graduação da universidade, em campos de estágio curriculares e
extracurriculares, atividades complementares e outras formas de intervenção junto
aos empreendimentos atendidos pela incubadora;
k) desenvolver atividades de pesquisa, ensino e extensão voltados à Economia
Solidária nas diversas áreas do conhecimento e nas diversas temáticas relacionadas à
viabilização e consolidação das iniciativas de Economia Solidária, incentivando
articulações inter/multidisciplinares para este fim;
l) contribuir para o debate teórico-metodológico sobre a incubação de cooperativas
populares, através da participação e interação ativa da ITCP na Rede Universitária
de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares;
m) incentivar o máximo intercâmbio teórico-prático entre a UNOCHAPECÓ e outras
instituições de ensino superior e entidades vinculadas ao movimento da Economia
Solidária no Brasil e no exterior.
A área de atuação da ITCP é a Região Oeste de Santa Catarina, tendo como público-alvo
as comunidades populares que estejam organizadas ou querendo se organizar de forma
autogestionária, através de cooperativas populares, associações de produtores, grupos informais
etc.
18
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 MUDANÇA NO MUNDO DO TRABALHO
O mundo globalizado, mais aberto e receptivo, trouxe consigo mudanças fundamentais
no mundo do trabalho. O impacto do processo de globalização trouxe, principalmente para o
Brasil, o crescimento do desemprego, a redução do emprego formal e a exclusão social. Singer
(1998) define como responsável pela retomada do processo de globalização econômica, após a
Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos, capitaneando outros países também vencedores
na guerra.
Os Estados Unidos, ao fim dos anos 60, desfrutava de grande hegemonia, possuía
elevados níveis de produção, consumo, produtividade e salários. Fato esse que não ocorria com
outros países, ainda em recuperação de um s-guerra. Com a injeção de recursos, oriundo dos
Estados Unidos, na Europa e Japão, logo as diferenças foram eliminadas e a hegemonia
econômica se consolidou, fortificando os países de Primeiro Mundo.
Após 1970, o Primeiro Mundo abriu espaço para os produtos originários dos países do
Terceiro Mundo, injetando capital para que esses pudessem implantar seus parques industriais e
abastecerem os países de Primeiro Mundo. O Brasil foi um dos países que se beneficiou com tal
fato, na época chamada de “Milagre Econômico”. Porém, aquilo que foi benefício tornou-se um
problema, pois ocorre o choque do petróleo e conseqüentemente o endividamento dos países, e
sua dependência econômica dos países de Primeiro Mundo.
Paralelamente assiste-se à progressiva internacionalização econômico-financeira, dando
origem ao processo que passa a ser conhecido por globalização. Para Dupas (1999) globalização
nada mais é do que, a partir da década de 80, a economia capitalista internacionalizando-se de
forma cada vez mais intensa.
O processo de globalização buscava a reorganização da divisão mundial do trabalho. Os
países industrializados conseguiam maior produção com menor custo e mão-de-obra mais
especializada. Essa o-de-obra passou a se organizar e criar lutas de classe, motivadas pela
insatisfação de um trabalho monótono e alienante. Para amenizar o problema, grandes indústrias
foram transferidas para as periferias e grandes parques fabris na Europa e América do Norte
foram desativados, causando desemprego em massa. Isso gerou empobrecimento de cidades e
regiões inteiras.
O processo de importação e exportação mexe com a questão emprego. A exportação
gera ocupação e a importação tende a eliminar postos de trabalho, ou transferi-los para países
onde os produtoso industrializados.
A movimentação do capital e as cadeias produtivas se deslocando provocam a
desestabilização dos salários, afirma Dupas (1999). Como conseqüência, cresce a disparidade
de renda, sendo que a pobreza, o desemprego e o subemprego engrossam a exclusão social. Tal
fato gera, segundo Singer (1998), o desemprego estrutural, pois aqueles trabalhadores que
perdem suas atividades não têm acesso aos novos postos de trabalho, ou muitas vezes as novas
ocupações não lhes dão garantia de compensações e direitos que as leis vinham garantindo.
Dupas (1999) afirma que o desemprego estrutural é a incapacidade progressiva de geração de
emprego formal em quantidade e qualidade adequadas.
Cabe aqui trazer a definição apresentada por Carrion et al. (2004) sobre desempregado
estrutural e conjuntural. Para os autores, desempregado estrutural é o trabalhador que foi
excluído de forma permanente do mercado de trabalho. Já o desempregado conjuntural é aquele
cuja exclusão foi conseqüência de processos de reestruturação de capital.
A supressão de empregos diretos e postos de trabalho para eliminar custo direto de mão-
de-obra, estratégia essa realizada pelos programas de reengenharia, ou reestruturação, como
mais tarde foi chamado, assim também como aquisições e fusões de empresas ou deslocamento
das sedes sociais e filiais, acarretaram, segundo Chevalier e Dure (apud TORRÊS, 2000), corte
também no quadro de pessoal altamente qualificado, com uma grande bagagem de experiência e
muitos anos de empresa.
A principal preocupação desses novos modelos de empresa era dedicar-se a sua
atividade fim, deixando de exercer as atividades complementares, ou seja, passando a comprar
essas atividades no mercado. Assim, os pequenos empresários, trabalhadores autônomos,
cooperativas, etc., passam a desenvolver essas novas atividades. Isso demanda o rompimento do
posto de trabalho (emprego formal) para o surgimento da ocupação informal.
Esse tipo de ocupação deixa de oferecer ao trabalhador garantias e direitos habituais,
mas consegue oferecer à empresa contratante mão-de-obra semiqualificada e excelente redução
no custo dos serviços oferecidos. Torrês (2000, p. 35) defende que:
Nessas condições, o setor informal continua a oferecer mão-de-obra barata
abundante e semitreinada para as empresas formais quando essas necessitam
reforçar seu quadro de pessoal, não como mão-de-obra temporária, mas também
como mão-de-obra das empresas subcontratadas, que as empregam em condições
precárias e à margem das regulamentações básicas.
20
É interesse das empresas reduzirem o trabalho estável, contratando trabalhadores
temporários, eventuais e aprendizes. Toma forma, então, a terceirização, ou seja, a substituição
de empregos permanentes (normalmente formalizados) por prestadores autônomos de serviços.
Dupas (1999) afirma que esse momento abriu espaço para empresas menores que prestam
serviço a custos mais baixos – terceirizações, franquias e informalização.
Deve-se considerar que uma das características da economia informal é a não existência
de vínculo empregatício. Mas para Icasa e Tiriba (apud CATTANI, 2003), na Economia
Popular o ter vínculo empregatício não quer dizer que existe ganância ou descaso do
empregado, mas, sim, uma racionalidade que busca negar a relação patrão-empregado, ou seja,
a lógica da não hierarquia.
Toledo (apud TORRÊS, 2000) exemplifica diversas atividades que podem ser
consideradas informais: pessoas que fazem transações clandestinas, movimentando dinheiro e
não estando legalmente registrados ou recolhendo impostos (vendedores ambulantes,
guardadores e limpadores de carro); as microempresas de uma única pessoa ou que possuem
apenas um funcionário, o qual não está registrado, conseqüentemente não fazendo recolhimento
das contribuições sociais; empregadas domésticas e similares; até grandes, médias e pequenas
empresas, quando efetuam contratação de mão-de-obra precária ou efetuam venda sem emissão
de nota fiscal; os profissionais autônomos ou liberais que prestam serviço e recebem salário sem
fornecer recibo. O autor considera, diante dessa exposição, que muitas atividades consideradas
informais possuem divergência das atividades formais, porém, ao mesmo tempo, estão
articuladas com as atividades inseridas no setor formal da economia. Dupas (1999) denomina
essa categoria de “conta própria”.
Conceitualmente, segundo Carleial et al. (2004), a informalidade agrega,
predominantemente, aqueles trabalhadores por conta própria/autônomos, os pequenos
empresários e seus empregados, em alguns casos até os trabalhadores sem carteira de trabalho
assinada e os empregados domésticos, pois os mesmos são pagos pela renda e não pelo capital.
Tais mudanças acarretam a flexibilização do trabalho, pois, se por um lado as empresas
contratam a prestação dos serviços complementares, por outro ainda mantêm em seus quadros
funcionais, como trabalhadores estáveis, aquele que são considerados de difícil substituição,
seja por questão de qualificação ou de experiência.
[...] faz-se necessário o acionamento de mecanismos de complementação de renda e
de busca de alternativas profissionais que cada vez mais passam pela descoberta de
nichos de mercado e pelo auto-empreendimento ou pelo exercício de profissões
liberais fora das estruturas formais existentes [...] (GENTILI; FRIGOTTO, 2001, p.
52).
21
Dupas (apud COSTA; CARRION, 2005), defende que o emprego tornou-se
progressivamente cada vez mais flexível, precário e desprovido das garantias de estabilidade
que são factíveis dos trabalhos associados ao padrão convencional.
A precarização sofrida com tais mudanças exclui parte dos trabalhadores do gozo de
seus direitos legais, que passam a receber apenas pelo montante de serviço prestado. Isso é,
segundo Singer (1998), a pura demonstração de que o trabalho nada mais é do que uma troca, a
qual através de um contrato, o patrão compra a força de trabalho ou a capacidade de produzir do
empregado.
3.1.1 Desemprego
O desemprego é assunto de muita preocupação e discussão, inclusive
internacionalmente. As pessoas, diz Singer (1998), necessitam de algo que lhes proporcione
sustento, o que o autor denomina de “ocupação”, e não necessariamente um emprego. Para ele,
emprego deve ser bom, ou seja, oferecer pagamento, estabilidade, possibilidade de carreira,
seguro-desemprego, seguro contra acidentes, doenças, velhice e morte.
Para Dupas (1999), o conceito de “ocupação” sofreu fortes alterações, apresentando um
trabalho mais flexível, precário e conseqüentemente desprovido de garantias que estavam
associadas ao padrão convencional.
As revoluções industriais, mesmo aumentando a produtividade, causaram desemprego
tecnológico, onde muitos trabalhadores foram substituídos por máquinas. A mais marcante de
todas foi a Terceira Revolução Industrial, a qual melhorou a produtividade não nas
indústrias, mas, sobretudo, na prestação de serviços, principalmente naquelas que trabalham
com informações. Uma das grandes mudanças trazidas por essa revolução foi o auto-
atendimento, onde atividades que eram desempenhadas por funcionários passaram a ser
desenvolvidas pelo próprio usuário (cliente).
Essa revolução afeta profundamente a forma de se trabalhar, pois aqueles trabalhadores
que realizavam trabalhos rotineiros, dos quais não era exigido muito conhecimento, e nem a
necessidade de pensar (decidir), são, com certeza, substituídos por quinas, que passam a
desempenhar a atividade com maior rapidez e menor custo. Gentili e Frigotto (2001) defendem
que a crescente necessidade de produtividade buscada pelas empresas implica na transferência
das habilidades físicas e mentais dos homens às máquinas.
22
Outro fator que, segundo Torrês (2000), também deve ser levado em consideração é o
saber empírico, pois os trabalhadores se sentem inibidos para tentar acessar ao mercado de
trabalho convencional, uma vez que esse conhecimento, para algumas empresas, é
discriminatório. Gentili e Frigotto (2001, p. 56) acreditam na importância da qualificação para
gerar não só o trabalho, mas uma vida mais digna, conforme relatam:
Não se trata apenas de qualificar para o trabalho em si, mas para a vida na qual
também se insere o trabalho, com uma flexibilidade e um alcance suficiente para
enfrentar o emprego, o desemprego e o auto-emprego e para circular com
desenvoltura em meio a muitas idades” de tecnologia, com a possibilidade de
entender e usar as máquinas mais modernas e de fazer em face de suas inúmeras
conseqüências na vida social e pessoal.
É importante lembrar que, mesmo assim, com todo esse quadro que se apresenta,
continua existindo lugar para aqueles trabalhadores com maior qualificação, pois a
microeletrônica gera novos postos de trabalho. Mas novamente ocorre a precarização do
trabalho, pois enquanto alguns trabalhadores adaptam-se a essa mudança, aumenta o número de
pessoas que passam a ter como principal atividade procurar trabalho.
Para Gentili e Frigotto (2001), uma vez sendo excluído do mercado formal e privado de
todos os benefícios sociais que estão associados ao emprego e à contribuição, o sujeito está
literalmente desempregado.
A taxa de desemprego da População Economicamente Ativa (PEA) tem crescido de
forma considerável nos últimos anos, segundo Carrion et al. (2004). Em 1994 subira a cerca
de 5%, foi para 9% em 2000, 13% em 2003 e 20% em muitas regiões metropolitanas em 2004.
Os autores salientam, ainda, que os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios do
IBGE, de 1999, demonstraram que dos cerca de 72 milhões de brasileiros ocupados, apenas 26
milhões (37% da PEA) possuíam contrato de trabalho, sendo que 46 milhões trabalhavam na
informalidade.
3.1.2 Exclusão social
O termo exclusão social, ressurgido na França no início dos anos 70, trás, segundo
Santos, Holanda e Araújo (1999), uma forma de denominar os trabalhadores que se encontram
em desemprego prolongado (há mais de um ano). Singer (1998) também defende essa idéia
quando se posiciona dizendo que a pessoa que está muito tempo sem trabalho, fatalmente
será atingida pela exclusão social.
Existem muitas formas de exclusão social. Sendo assim, pode-se afirmar que
dificilmente uma pessoa poderá ser considerada totalmente excluída. Porém Singer (1998)
23
alerta que nos países de Terceiro Mundo existe um tipo de exclusão que é considerada
fundamental, a exclusão econômica. Uma vez excluídas economicamente, as pessoas serão
automaticamente excluídas de outras redes sociais.
No Brasil, segundo Singer (1998), a exclusão se como premissa, pela falta de renda
adequada, principalmente levando em consideração cor, gênero, região, escolaridade e emprego
formal, ou seja, os socialmente excluídos são formados por aqueles excluídos das principais
fontes de renda, considerando a posição de classe. Santos, Holanda e Araújo (1999) também
reforçam essa teoria quando alertam que o empobrecimento identificado pelos indicadores
sociais tem acarretado o crescimento da injustiça social, fator, segundo eles, predominante para
a exclusão social.
Muitos se excluem por fatores individuais. Singer (1998) assim considera aqueles que
não estão qualificados para o mercado, ou que não estão dispostos a migrar para onde suas
qualificações teriam espaço, ou porque optam por o ceder em suas prioridades, às quais
fazem com que eles prefiram ficar ociosos, à margem do relacionamento econômico e social
normal.
Opostos a essa visão, ainda segundo o autor, existem os fatores estruturalistas, onde se
considera o desemprego não voluntário, ou seja, a exclusão se dá principalmente pela dinâmica
das empresas ou outras estruturas de renda, as quais atuam diretamente sobre a oferta de
trabalho.
Excluídas são aquelas pessoas que se encontram estigmatizadas socialmente.
Corroborando com essa visão, Santos (1994), acredita que a exclusão social está relacionada
com a desigualdade, sendo que, para o autor, a desigualdade é um fenômeno sócio-econômico e
cio-cultural das civilizações. A exclusão, também dentro da visão de Santos, Holanda e
Araújo (1999), sofre a intervenção de aspectos sociais, econômicos e políticos.
No Brasil o processo de exclusão é resultante da discriminação econômica, cultural,
política e étnica, por isso, para Sposati (apud WANDERLEY, 1997, p.78),
[...] isto é, uma impossibilidade de poder partilhar o que leva à vivência da privação,
da recusa, do abandono e da expulsão inclusive, com violência, de um conjunto
significativo da população, por isso, uma exclusão social e não pessoal. Não se trata
de um processo individual, embora atinja pessoas, mas de uma lógica que está
presente nas várias formas de relações econômicas, sociais, culturais e políticas da
sociedade brasileira. Esta situação de privação coletiva é que se está entendendo por
exclusão social. Ela inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não
acessibilidade, não representação pública.
Para Schilling (apud SANTOS; HOLANDA; ARAUJO, 1999), os legalmente excluídos
dos direitos trabalhistas (trabalhadores sem carteira assinada) são um tipo marcante de excluído
24
no Brasil. Os autores afirmam ainda, que em determinados momentos da história brasileira, ter
um trabalho de carteira assinada, era uma garantia de se manter longe da pobreza e
conseqüentemente da exclusão social.
Pobreza é a incapacidade de satisfazer necessidades básicas, sendo para Dupas (1999), o
foco da exclusão social naquele país que não consegue fornecer as condições mínimas de
sobrevivência dos cidadãos.
Dentro desse conceito, considera-se o participante do mercado de trabalho informal
como excluído, pois ganha a vida em ocupações precárias com atividades sazonais ou
clandestinas. Torrês (2000) também compactua dessa lógica quando analisa que a mão-de-obra
terceirizada, o qual permanece no mercado informal de trabalho, também sofre exclusão das
garantias da legislação trabalhista em vigor.
Dupas (1999) reforça a afirmativa, quando analisa que o trabalhador que passou do setor
formal para o informal, sua renda diminuída, somada a um novo e forte temor com relação
ao futuro e a proteção social.
Carleial et al. (2004) apontam que a Economia Solidária abre espaço para que a
sociedade batalhe suas próprias formas de superar a exclusão social.
25
3.2 A EPS ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA COMO PROJETO
ALTERNATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL E GERAÇÃO DE
TRABALHO E RENDA
Como discutido anteriormente, com as mudanças ocorridas no mundo do trabalho,
com o aumento do desemprego, a redução do emprego formal, a terceirização e a precarização
do trabalho, muitos trabalhadores buscam e encontram outras opções de trabalho em
empreendimentos solidários.
Para Harel (apud TORRÊS, 2000), as comunidades locais são as primeiras atingidas
diretamente pelo desemprego, principalmente o de longa duração. Por isso, o autor entende que
somente essas comunidades é que têm condições de criar redes necessárias para manter o
desempregado em atividade. Isso é possível através da identificação de soluções inovadoras
com base no emprendedorismo social.
Essa dimensão vai possibilitar a cada cidadão ou grupo tornar-se sujeito ativo de seu
próprio desenvolvimento. Macke e Carrion (2004) deixam claro que na perspectiva de gestão
social privilegia-se a Visão da Comunidade, a qual propõe a construção coletiva de soluções,
incorporando a pluralidade de saberes reunidos na comunidade. A Economia Solidária, sendo
concebida dessa forma, vai contribuir na construção de alternativas de desenvolvimento social e
sustentável.
Desenvolvimento local, para Paulo de Jesus (apud CATTANI, 2003), é um processo que
mobiliza pessoas e instituições a fim de gerar oportunidades de trabalho e renda. É um esforço
localizado, visando a que as pessoas se articulem de forma a descobrir atividades para melhorar
a produção e comercialização de bens e serviços que visem melhorar as condições de vida das
pessoas daquele local, sempre valorizando e ativando os potenciais e recursos locais.
Segundo Carrion e Lopes (2004), o desenvolvimento local é um processo que tem por
eixo a inclusão social; por sustentação a intensa participação da sociedade civil; e por meta o
fortalecimento econômico e o desenvolvimento social. É a busca do objetivo, objetivo esse que,
segundo Macke e Carrion (2004), não seria viável caso o desenvolvimento local não existisse,
pois a sua presença mobiliza a cooperação espontânea. E, também, quando um grupo é marcado
pela confiança interpessoal, torna-se mais capaz de realizações do que os outros.
A Economia Solidária é um projeto que visa o desenvolvimento promovendo, para as
pessoas e as comunidades, condições (recursos e ferramentas) para a produção e distribuição de
bens, de tal forma que sejam suficientes para atender às necessidades de desenvolvimento
26
genuinamente sustentável. Portanto, para Singer (2002), essa construção solidária depende
principalmente da população, a qual terá que se disponibilizar a aprender e experimentar,
aderindo a princípios de igualdade, solidariedade e democracia, sabendo que essas serão as
novas regras da vida cotidiana.
Essa análise de Singer leva a entender que a principal regra para os projetos de
Economia Solidária terem sucesso é estarem inseridos em projetos locais de desenvolvimento.
Devem estar sintonizados e articulados com a realidade econômica, social, cultural e ambiental,
ou seja, a interação entre a Economia Solidária e as necessidades de desenvolvimento local.
França Filho e Laville (2004) também reforçam dizendo que a marca da economia
popular é nunca perder de vista a realidade local e as formas recíprocas para a elaboração de
atividades econômicas, ou seja, para os autores, a economia popular tem como base a prática da
solidariedade familiar e/ou comunitária.
Essa nova forma de empreendimento, dito solidário, proporciona melhora na qualidade
de vida, não somente para aqueles que trabalham diretamente nos empreendimentos, mas para a
comunidade e o local onde a mesma está inserida.
O desenvolvimento local passa a ser, então, um espaço territorial privilegiado para
articulações setorias, onde as interdependências e soluções podem, estar mais
próximas dos agentes envolvidos: poder público, empresas comerciais, empresas
sociais, agências integradoras do desenvolvimento socioeconômico e os excluídos
sociais e do mercado de trabalho [...] (TORRÊS, 2000, p. 43).
A Economia Solidária funda, segundo França Filho e Laville (2004), uma vontade
empreendedora, a qual não é movida pela rentabilidade do capital investido, mas, sim, pelo
interesse de exercer uma profissão em comunidade e ajuda mútua, onde produtos e serviços são
propostos visando atender as demandas reais, expressas localmente.
Torrês (2000) também reconhece, em suas colocações, a participação comunitária para
que ocorra um desenvolvimento local eficaz, onde as comunidades estejam adaptadas a
programas nacionais e internacionais, programas esses que não sejam promovidos pelo
assistencialismo, baseados em caridade ou políticas-populistas.
Toda essa discussão e preocupação com a Economia Solidária e o desenvolvimento
local levam ao questionamento: quais são as possibilidades reais de geração de trabalho e renda
para a população?
Dal Ri (1999) explora a discussão dessas possibilidades quando apresenta a economia
popular como atividades formais e informais, as quais o realizadas, geralmente, no contexto
doméstico e comunitário, geradas por fortes laços culturais e relações de parentesco e, também,
27
por relações entre vizinhos. Relações essas que não deixam de lado a motivação pela
maximização dos lucros, não o lucro do mercado, mas o lucro social, onde as pessoas poderão
satisfazer suas necessidades cotidianas de forma auto-sustentável.
A forma autogestionária de produção, segundo Carrion (2003), está embasada nas
propriedades coletivas, no interior das quais pessoas reunidas por laços de solidariedade
privilegiam as necessidades humanas ao capital, na distribuição do excedente. “[...] o que
caracteriza a EP é sua condição de estar voltada para promover o sustento do grupo (experiência
associativa) em geral, sem a presença de mercantilização do trabalho, com uma racionalidade
produtiva submersa nas relações sociais” (DAL RI, 1999, p. 80).
Korten (apud TORRÊS, 2000) aborda que empresas de economia social são
cooperativas ou organizações comunitárias. Assim, as formas de empreendimentos de
Economia Solidária (organizações coletivas) mais comuns são: cooperativas de produção e
serviço, associações de produção e serviço, grupos de produção e empresas augestionárias.
“[...] Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos,
dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à
produção por conta própria individual ou coletivamente [...]” (SINGER, 1998, p. 138).
Para isso, é necessário conhecer as propostas de Economia Solidária, com seus
princípios e características. Os princípios norteando a construção de instrumentos e políticas
econômicas, com vistas à consolidação de empreendimentos comprometidos com as lutas
democráticas e populares, de modo a promover a reintegração à vida produtiva de trabalhadores
marginalizados.
28
3.3 IDENTIFICAÇÃO/APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA DA EPS
3.3.1 Significado do termo
O termo solidariedade
2
é jurídico e tem origem do latim solidus, ou seja, solidariedade é
tornar sólida uma relação ou um compromisso.
A palavra economia tem origem grega, onde ecos significa casa e monos significa
gestão, ou seja, gestão da casa. Deste modo, o termo casa pode ser um empreendimento, igreja,
sindicato, uma casa familiar, uma rua, uma cidade, um país ou até quem sabe o planeta. Enfim,
pode representar muitas coisas.
O termo ecos pode ser também corpo. Associando todas essas informações, pode-se
concluir que Economia Solidária é a arte de fazer gestão de todos esses possíveis lugares que,
direta ou indiretamente, fazem parte da vida das pessoas.
Dentro dessa linha de raciocínio, Economia Solidária é a relação que as pessoas
estabelecem dentro do processo de produzir e consumir. Essas relações devem estar alicerçadas
na responsabilidade e comprometimento no bem viver de todos os envolvidos nesse processo.
Em Quebec Canadá, no Encontro Internacional sobre Globalização da
Solidariedade, realizado de 9 a 12 de outubro de 2001, através da Declaração de Lima, elabora-
se uma definição de Economia Solidária.
A economia solidária apóia-se na cooperação, divisão e ação coletiva. Ela coloca a
pessoa humana no centro do desenvolvimento econômico e social. A solidariedade
na economia repousa em um projeto econômico, político e social ao mesmo tempo,
que conduz a uma nova maneira de fazer política e de estabelecer as relações
humanas baseada no consenso e na forma de agir do cidadão (DECLARAÇÃO DE
LIMA, 2005).
Percebe-se que a Economia Popular Solidária é um processo em construção. Para
Carrion e Lopes (2004), o significa apenas mais uma alternativa de trabalho e renda para
aquela parte da população que está com dificuldade de se inserir no mercado formal de trabalho,
mas sim uma estratégia da dimensão humana do trabalho. Os autores ainda apresentam que esse
tipo de economia tem no seu arcabouço valores como solidariedade, distribuição igualitária do
trabalho e dos excedentes, tendo como princípio político a autogestão.
A Economia Popular Solidária é um instrumento de políticas blicas descentralizadas
voltadas não para a geração de renda e emprego das pessoas, mas também como forma de
2
Informação construída com base na Dissertação de Mestrado de Valmor João Umbelino (2000).
29
reconhecimento da sociedade civil organizada com um novo ator social (CARRION;
ANDERSSON, 2005).
3.3.2 Princípios de economia solidária e características desses empreendimentos
Em junho de 2003, a III Plenária Nacional da Economia Solidária, após debate em 18
estados brasileiros, aprovou a Carta de Princípios, na qual foram aprovados os princípios da
Economia Solidária:
a valorização social do trabalho humano,
a satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade
tecnológica e da atividade econômica,
o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa
economia fundada na solidariedade,
a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza, e
os valores da cooperação e da solidariedade (FÓRUM DE ECONOMIA
SOLIDÁRIA, 2007).
As principais características dos empreendimentos de Economia Solidária, segundo
apresentado pela ITCP da USP (2006), são:
posse coletiva de meios de produção e distribuição;
gestão democrática;
repartição do excedente anual (sobras);
capital (cota-parte) não é remunerado.
Ainda existe outra forma de apresentar essas características:
a) socialização dos meios de produção e do produto do trabalho;
b) exercício democrático do poder;
c) gestão autônoma e participativa;
d) integração entre a vida econômica, social e espiritual;
e) desalienação do trabalho;
f) busca do desenvolvimento integral ampliação das oportunidades de realização dos
indivíduos.
Pelos princípios e características apresentadas, percebe-se que a articulação dos grupos
aparece em torno da criação de empregos, o empreendimento de Economia Solidário associa-se
a novas formas de trabalho e geração de renda. No Brasil, esses empreendimentos o uma
realidade.
30
3.3.3 Economia popular solidária no Brasil
As transformações ocorridas no modelo mundial de desenvolvimento econômico e
social provocaram, também no Brasil, profundas alterações no mercado de trabalho. As
principais mudanças foram: redução da utilização de o-de-obra na indústria, a terceirização,
o aumento das atividades informais, o aumento da linha de pobreza e a redução da ocupação nas
atividades agrícolas.
Nesse contexto de transformações, com a redução do emprego formal, crescimento da
informalidade, além da desarticulação dos sindicatos em função da redução do mero de
trabalhadores, a busca por novas alternativas deu-se, inicialmente, através de reações a casos
pontuais que visavam à manutenção dos empregos. As primeiras iniciativas aconteceram com o
envolvimento de sindicatos lutando pelos operários ameaçados de desemprego. Posteriormente,
os trabalhadores mobilizaram-se para construir outras formas associativas de trabalho.
O ressurgimento da Economia Solidária, no Brasil, segundo Singer e Souza (2000), é
resultante dos desempregos em massa que iniciaram em 1981 e que foram extremamente
agravados com a abertura do mercado interno às importações, a partir de 1990. Nasce, assim, da
organização de grupos que visavam enfrentar problemas locais, elaborando atividades
econômicas, tais como: cooperativas de produção e serviços, grupos de produção e associações
de serviços. Esses grupos, em sua maioria, tinham base popular e eram regidos por princípios de
solidariedade e democracia.
Até hoje, são essas as bases e os princípios que norteiam a EPS no Brasil. Segundo
França Filho e Laville (2004, p. 164), “São muitas vezes, iniciativa de um grupo de pessoas que
habitam um mesmo bairro, portanto compartilham uma situação de vida e preocupações que são
comuns”.
Nos anos 90, surgem as empresas de autogestão, iniciativa essa onde os trabalhadores
passam a assumir a responsabilidade de conduzir de forma democrática e solidária a empresa
sem patrão.
3.4 PROJETOS AUTOGESTIONÁRIOS
31
A autogestão é um processo em criação. Não é algo pronto, mas é algo construído no
dia-a-dia, como conquista. É um processo onde o trabalho e a relação entre as pessoas devem
ser capazes de resgatar o dimensionamento humano, tornando-os sujeitos que produzem e
decidem. Ela visa superar as diferenças entre os que simplesmente decidem e os que
cumprem ordens sem saber de mais nada. É o poder da decisão das pessoas que trabalham para
ter autonomia.
Autonomia significa superar interferências externas nas decisões de quem produz.
São milhares de trabalhadores resgatando auto-estima e cidadania que, hoje, detém
em suas mãos os meios de produção e o próprio destino. Não mais como operários
em construção. São cidadãos brasileiros construindo a autogestão e garantindo o
sustento de milhares de famílias (ANTEAG, 2000, p. 7).
São práticas fundadas em relações sociais de solidariedade e cooperação, mudando as
relações econômicas, sociais e culturais. Elas se contrapõem às relações baseadas na
competição destrutiva, tornando as pessoas protagonistas e beneficiárias de seus próprios
resultados econômicos, sujeitos da sua história.
A constituição de um empreendimento autogestionário requer, necessariamente,
informações e conhecimento conjunto os trabalhadores. É necessário que:
[...] a educação e a preparação do trabalhador passem a integrar o processo de
autogestão. Não adianta apenas ter um conjunto de trabalhadores com vocação,
interesse e vontade, se não pode dotá-los de instrumentos para competir no mercado,
e de conhecimento para que possam utilizar as ferramentas de gestão (ANTEAG,
2000, p. 95).
A autogestão, como mencionado anteriormente, é um processo em permanente
construção onde o trabalho e a relação interpessoal deve conseguir resgatar o dimensionamento
das pessoas como sujeitos ativos e criativos do seu próprio desenvolvimento, sujeitos esses que
produzem e decidem.
Trazem práticas de uma nova organização social e ecomica, rompendo com o
individualismo, a competição e a acumulação. São pessoas construindo uma nova forma de se
organizar para sobreviver, produzir e distribuir os resultados igualmente.
Os laços que cercam essas pessoas o de solidariedade e cooperação, laços esses que
buscam gerar um novo princípio de instrumentos e políticas econômicas, voltado para um
projeto político diferenciado para a sociedade, estruturado no desenvolvimento social,
comprometido com as lutas democráticas e populares.
Os empreendimentos autogestionários recebem apoio de muitas entidades de Economia
Solidária.
32
3.5 ENTIDADES DE APOIO À ECONOMIA SOLIDÁRIA
Existem diversas entidades de Economia Solidária, que apóiam e atuam com os
empreendimentos. Podem ser as mais variadas instituições (públicas e de sociedade civil) que
trabalham com incubação, crédito, comercialização, redes, estudos, grupos de pesquisa, etc.
O universo da economia solidária no Brasil encontra-se, nesse momento, em pleno
processo de estruturação, haja vista a criação recente, no Governo Lula, da
Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAE), ligada ao Ministério do
Trabalho, assim como vários processos de organização dos Fóruns estaduais de
economia solidária e das redes de iniciativas [...] (FRANÇA FILHO; LAVILLE,
2004, p. 150).
Carrion et al. (2004), também apontam a importância da atividade a ser desenvolvida
pela SENAE, cujo objetivo é coordenar, acompanhar e apoiar programas municipais e estaduais
de Economia Solidária, assim como outras atividades que estejam estruturadas nesse modelo,
conquistando dessa forma a integração aos processos de desenvolvimento local, regional e
urbano.
Singer e Souza (2000) e França Filho e Laville (2004) apresentam importantes
organizações que surgiram no intuito de apoiar e fomentar as iniciativas de Economia Solidária.
As entidades de apoio à Economia Solidária, segundo Singer (2002), difundem, entre aqueles
trabalhadores sem trabalho, os princípios necessários para um empreendimento cooperativista e
o conhecimento básico, que é necessário para a criação de qualquer empreendimento solidário.
Os pilares de sustentação da Economia Popular Solidária, na visão de Carrion et al.
(2004) e Carrion (2003), está baseada na CUT – Central Única dos Trabalhadores; ANTEAG -
Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresa de Autogestão; ADS Agência de
Desenvolvimento Solidário; Unitrabalho; e ITCPs - Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas
Populares; o poder blico de governos e prefeituras petistas, ainda organizações como a igreja
Católica e a Evangélica de Confissão Luterana, agências internacionais de fomento como a
RITAS e a MISERIA e as ONGs – Organizações Não-Governamentais.
a) ANTEAG Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresa de
Autogestão
Nasceu a partir de um trabalho pioneiro em autogestão que foi realizado com os
trabalhadores da empresa de Calçados Makerly no ano de 1991. A partir dessa data engajou-se
33
em diversos outros projetos que se consolidaram com a criação formal da Associação em 1994,
durante o I Encontro Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão.
A ANTEAG realiza projetos que promovem a autonomia dos trabalhadores na sua
organização econômica e social. Ela é, também, uma entidade de representação autônoma e
independente, ou seja, independente de órgãos governamentais ou aparelhos para-estatais.
b) RITAS
É uma entidade ligada a CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Essa
entidade desde 1980 financiava milhares de pequenos projetos, os quais se denominavam
PACS – Projetos Alternativos Comunitários. O principal foco é trabalho e renda para moradores
pobres, das periferias ou da zona rural, que se unem de forma associativa. Os valores
disponibilizados aos empreendimentos são provenientes da ajuda caritativa das comunidades de
fiéis da Igreja Católica.
c) MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
É um movimento social de intensa atuação, que se empenha, segundo Singer e Souza
(2000), para que moradores do campo organizem-se a fim de integrar à economia através da
obtenção de terras que tenham sido mantidas improdutivas (latifúndios). O maior destaque
desse movimento é a capacidade de organização, extrapolando o espaço local e indo além das
reivindicações específicas.
Essa frente de luta influenciou o cenário político nacional, criando, em 1989 e 1990 o
SCA – Sistema Cooperativista de Assentados, o qual está dividido em cooperativas de produção
agropecuária, de prestação de serviços e de crédito.
d) ITCPs - Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares
Voltadas à organização de empreendimentos comunitários, as ITCPs foram criadas pela
COPPE/UFRJ com apoio da FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos e do Banco do Brasil.
Como decorrência do grande movimento da Ação da Cidadania contra a Fome, a
Miséria e Pela Vida, que mobilizou milhões de pessoas entre 1992 e 1994, surgiram
também em meados da década de 1990 as Incubadoras Tecnológicas de
Cooperativas Populares (ITCP), que pertencem a universidades e se dedicam à
organização da população mais pobre em cooperativas de produção ou de trabalho,
às quais dão pleno apoio administrativo, jurídico-legal e ideológico na formação
política, entre outros (SINGER; SOUZA, 2000, p. 25).
34
Em 1998, foi lançado o PRONINC - Programa Nacional de Incubadora de Cooperativas,
para ampliar o número de incubadoras nas universidades e, a partir de 1999, foi criada a rede de
incubadoras vinculada à Fundação Unitrabalho.
As ITCPs, como mencionado anteriormente, são entidades universitárias, por isso são
multidisciplinares, integradas por professores, alunos e funcionários pertencentes às mais
diferentes áreas do saber dentro das universidades. O seu objetivo é atender grupos
comunitários que pretendem se organizar e trabalhar em conjunto.
e) ADS – Agência de Desenvolvimento Solidário
Fruto do trabalho da CUT Central Única dos Trabalhadores, foi criada em 1999.
Resultou de uma parceria com a Unitrabalho e o DIEESE Departamento Intersindical de
Estudos Estatísticos, Sociais e Econômicos. Ela difunde conhecimento sobre Economia
Solidária para lideranças sindicais e militantes de entidades de fomento de Economia Solidária,
através de cursos de pós-graduação. Mobiliza, dessa forma, sindicatos para apoiarem a
Economia Solidária e se empenha na criação de cooperativas de crédito, visando a estabelecer
uma rede nacional de crédito solidário.
Das iniciativas de finanças solidárias, surgem os bancos populares, os quais, em sua
maioria, são cooperativas de crédito que proporcionam microcrédito para organizações
coletivas populares, desde que sejam pequenas iniciativas.
Os autores apresentam ainda a participação de um mero muito efetivo de ONGs. As
organizações têm estreitado relações com os poderes públicos, principalmente as prefeituras
municipais petistas.
3.6 PROPOSTA FILOSÓFICA DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
A Economia Solidária, como mencionada anteriormente, surge em contraposição à
exploração do trabalho humano e como uma nova alternativa de organizar as relações sociais e
as relações de trabalho. Para a Economia Solidária, o ser humano é sujeito e finalidade da
atividade econômica. Dessa forma, criam-se relações econômicas e sociais pautadas na
colaboração solidária, onde o valor central é o trabalho, o saber e a criatividade humana.
Autogestão é a propriedade coletiva dos meios de produção e a participação efetiva dos
membros no processo de gestão. Isso significa dizer que o empreendimento pertence aos
35
trabalhadores, ou seja, eles possuem a autonomia com relação aos meios de produção e as
decisões quanto à gestão do empreendimento, desde o que, como, quando e para quem produzir
e vender, até a divisão dos resultados. Sejam eles positivos ou negativos.
Esses empreendimentos são voltados para um projeto de desenvolvimento sustentável e
solidário, usando a lógica da inclusão social. Por isso, faz-se necessária a participação de todos
no processo de decisão (gestão do empreendimento), seja nas reuniões ou assembléias, como
nas ações do dia-a-dia do empreendimento. Deve-se levar ainda em consideração a auto-
sustentabilidade ambiental, ou seja, responsabilidade e comprometimento com as gerações
futuras através da preservação do meio ambiente.
Dentro dessa lógica, a Economia Popular Solidária está pautada nos princípios de gestão
que visam à valorização do trabalho sobre o excedente, a remuneração capaz de gerar vida
digna, o processo decisório autogestionário e a divisão do trabalho sem hierarquia.
Para Albuquerque (apud CATTANI, 2003), o conceito de autogestão tem um caráter
multidimensional, além de, segundo o autor, dimensão de caráter social, econômico, político e
técnico, por isso é muito mais que uma simples modalidade de gestão.
Para se saber se um empreendimento é mesmo de Economia Popular Solidária, é
diagnosticar se ele vive, no dia-a-dia, esses princípios de gestão. Singer (2002) defende que a
Economia Solidária é uma alternativa superior, pois esses princípios de gestão visam, segundo o
autor, proporcionar àqueles que a adotam, uma vida melhor, o que o significa somente a
possibilidade de consumir mais com menos consumo de esforço produtivo, mas de melhorar o
relacionamento com todas as pessoas; conquistar a liberdade de escolher um trabalho que
proporcione satisfação; autonomia do processo de decisão, com participação plena; e,
principalmente, o fato de sentir segurança de que não será desamparado por seu grupo ou sua
comunidade.
3.6.1 Valorização do trabalho sobre o excedente
O valor central da Economia Solidária é o trabalho, o saber e a criatividade humana e
não o capital e sua propriedade. Os empreendimentos que praticam a Economia Solidária
devem, segundo Grade e Aued (2003), negar a separação entre trabalho e os meios de produção,
pois quando o capital e trabalho são fundidos o capital é de quem trabalha. Ou seja, quando não
existe a separação entre trabalho e os meios de produção, a propriedade deve ser dividida de
forma igual entre todos os trabalhadores.
36
Com relação às sobras que os empreendimentos têm anualmente, o destino das mesmas,
segundo Grade e Aued (2003), será também decidido em Assembléia. Garante-se uma parte
para um fundo que visa a assistência técnica, educacional e social, que deverá beneficiar os
cios e poderá beneficiar também seus familiares, a outra parte pode ir para novos
investimentos, para capital de giro, para reserva de capital, benefícios sociais e coletivos e
finalmente para serem distribuídos entre os cios. Lembrando sempre que quem toma essa
decisão é a Assembléia.
Esses fundos podem ser divisíveis ou o. O fundo divisível visa a ampliação do
patrimônio do empreendimento, sendo que, quando o sócio sair, terá o direito de receber a sua
parte, devidamente corrigida. O fundo indivisível pertence ao empreendimento como um todo.
Isso garante que o mesmo seja preservado da descapitalização.
A proposta da Economia Solidária é proporcionar uma melhor distribuição de renda e
assim reforçar o desenvolvimento local sustentável e a participação de todas as pessoas nos
resultados da atividade econômica no âmbito local.
A dimensão econômica para Albuquerque (apud CATTANI, 2003, p. 20), “[...] são
processos de relações sociais de produção, que se definem sobre práticas que privilegiam o fator
trabalho em detrimento do capital [...]”. Com a valorização do trabalho sobre o excedente, ou
seja, o trabalho sendo mais valorizado que o capital, será possível uma partilha mais equilibrada
e conseqüentemente uma equidade na remuneração.
3.6.2 Remuneração
Um empreendimento de Economia Solidária não visa, segundo Grade e Aued (2003), a
maximizar lucro, mas sim quantidade e qualidade de trabalho. Ainda segundo os autores, se o
capital não é remunerado, não existe lucro, logicamente os sócios não recebem salário, mas
retiradas. A retirada será definida de acordo com a receita obtida. A decisão de como serão as
retiradas, se oscios receberão de forma igual ou não, é decidido em Assembléia.
Para Gaiger (apud CATTANI, 2003, p. 125), “[...] os benefícios são repartidos entre os
associados e não se restringem aos ganhos monetários imediatos, a difusão dos
empreendimentos tende a gerar um efeito direto sobre a distribuição de renda e da propriedade,
ao mesmo tempo em que incide sobre as relações da comunidade em geral [...]”.
37
A definição do valor das retiradas varia de empreendimento para empreendimento.
Alguns optam por retiradas iguais, entendendo que, de certa forma, os trabalhos e as
responsabilidades são iguais, ou quase. Outros entendem que deve haver diferença, visando à
que, racionalmente, o empreendimento se beneficie da mão-de-obra mais qualificada,
mantendo-a ativa na organização e, conseqüentemente, gerando ganhos maiores para o
empreendimento.
É muito importante que não seja confundida retirada com sobra, pois sobra é o valor que
ficou disponível após o pagamento de todas as contas devidas pelo empreendimento.
Para Albuquerque (apud CATTANI, 2003, p. 20), a remuneração, num empreendimento
autogestionário, “[...] deve ser percebida como resultado de um processo capaz de engendrar
ações e resultados aceitáveis para todos os indivíduos e grupos que dela dependem [...]”. A
remuneração recebida, num empreendimento autogestionário, deve ser capaz de gerar vida
digna ao trabalhador. Sendo que Singer (2002) defende que usufruir vida digna é ter liberdade
de escolha, ter autonomia e participação plena no processo de decisão.
3.6.3 Processo decisório
A gestão da Economia Solidária é pautada na participação de todos no processo, de
modo a exercitarem a democracia, ou seja, o exercício do poder coletivo. Dessa forma, segundo
Singer e Souza (2000), as decisões tendem a ser mais assertivas, pois contam com a
contribuição das experiências das pessoas. Em contrapartida o mais demoradas, pois é
necessário que todos sejam ouvidos, ou pelo menos aqueles que têm interesse em participar.
Nesse tipo de gestão, todos devem exercer o direito de dar a sua opinião, criticar,
argumentar e decidir. Dessa forma, é possível a existência da transparência, da solidariedade e
do interesse social combinado com os interesses individuais. É a Assembléia a instância onde
acontece a reunião dos associados para que haja discussões e sejam tomadas as principais
decisões.
É importantíssimo, nesse modo de gestão, que haja a comunicação para a troca de
informações e conhecimento. É necessário que os trabalhadores não só executem, mas pensem e
criem. A grande transformação, em todos os sentidos, acontece através da apropriação, por
parte das pessoas, do conhecimento, principalmente se esse ocorrer de forma coletiva. Não há
que se negar que saber é uma forma de poder.
É necessário que a informação sobre tudo o que acontece no empreendimento seja
democratizada, pois quanto mais pessoas tiverem acesso às informações, melhor será a
38
organização do empreendimento. Por isso, todos devem ter oportunidade de se apropriar do
conhecimento e que esse conhecimento individual se torne coletivo.
Dessa forma, é possível a verdadeira democracia econômica, onde os trabalhadores têm
a capacidade e o poder de decisão sobre tudo aquilo que acontece no empreendimento. Para
Grade e Aued (2003), num empreendimento todos têm o mesmo poder de decisão. A dimensão
política da autogestão deve defender o poder compartilhado.
[...] se fundamenta a partir de sistemas de representação cujos valores, princípios e
práticas favorecem e criam condições para que a tomada de decisões seja resultado
de uma construção coletiva que passe pelo poder compartilhado (de opinar e
decidir). De forma a garantir o equilíbrio de forças e o respeito aos diferentes atores
e papéis sociais de cada um dentro da organização [...] (ALBUQUERQUE apud
CATTANI, 2003, p. 20-21).
Nesse processo de decisão, que se chama autogestionário, ocorre a igualdade de
oportunidades: todos os trabalhadores participam das decisões, inclusive daquelas relativas à
divisão do trabalho.
3.6.4 Divisão do trabalho
Numa estrutura de Economia Solidária, as pessoas devem estar organizadas para
produzir ou prestar serviço, ou seja, as atividades a serem desenvolvidas devem estar
organizadas. A divisão do trabalho deve existir de acordo com a atividade que o
empreendimento faz e com a sua comercialização. Ela não deve existir como forma de
dominação de uns sobre os outros. Ou seja, cada um desempenhará uma função que atenderá o
coletivo.
Em qualquer empreendimento, as pessoas são diferentes, seja pelo fator idade, grau de
instrução, experiência ou outros. Com certeza, as atividades desenvolvidas também terão
características diferentes no seu grau de complexidade, na necessidade de esforço físico ou não,
se precisa ter ou não experiência, enfim, isso fará com que na organização da produção e da
administração se saiba combinar: direitos iguais para pensar e definir os rumos do
empreendimento, as diferenças individuais e as diferentes exigências que são impostas em
função do exercício da respectiva atividade.
Ao se definir a função que será desempenhada por cada membro do grupo, nunca se
deve esquecer que, além de competência, o necessárias a cooperação e a ajuda mútua,
levando sempre em consideração o desejo individual, de forma que seja combinado com o
desejo coletivo.
39
O capitalismo é o modo de produção em que os meios de produção e de distribuição,
assim como o trabalho, se tornam mercadorias, apropriadas privadamente. Os meios
de produção e distribuição tornam-se capital à medida que se concentram nas mãos
duma minoria, enquanto a maioria se limita à posse de sua capacidade individual de
trabalho (SINGER; SOUZA, 2000, p. 11).
A dimensão técnica possibilita, segundo Albuquerque (apud CATTANI, 2003, p.21),
“[...] uma outra forma de organização e de divisão do trabalho”. Sendo assim, a Economia
Solidária constrói uma proposta de divisão de trabalho sem hierarquia, ou seja, não existe
patrão, a divisão do trabalho ocorre de forma consensual e equilibrada, o que existe é a
organização para o trabalho.
Em última análise, a Economia Solidária tem como proposta filosófica a concepção de
que é possível criar um ser humano novo, dentro de um meio social em que cooperação e
solidariedade não é possível, como serão regras de comportamento e convívio, que
possibilitarão, segundo Singer (2002, p. 116), “[...] a igualdade de direitos e de poder de decisão
e a partilha geral de perdas e ganhos da comunidade entre todos os seus membros”.
3.7 DESAFIOS DA ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA
3.7.1 Principais desafios
Existem grandes desafios para as práticas da Economia Popular Solidária. Se conseguir
se manter isolada, no máximo a convivência com o capitalismo será pacífica. Se propiciar que o
desemprego seja atenuado, poderá ser bem recebida pelo capital. Mas, com certeza, os
empreendimentos de Economia Solidária não serão capazes de acabar com a miséria e a
desigualdade, pois não é possível imaginar que, com a proliferação dos empreendimentos de
Economia Solidária, num curto espaço de tempo seja possível tornar a economia hegemônica,
suprindo o poder do capital.
É necessário avançar nas práticas, ocupando e derrubando espaços do Estado, mudando
conceitos e bases para que seja possível fluir novas relações sociais. Deve-se constituir espaços
para que os trabalhadores fortaleçam o seu poder desenvolvendo projetos de cunho político,
democrático e popular solidário.
Sabe-se do sucesso dos diversos empreendimentos de Economia Solidária, porém é
ainda um grande desafio as possibilidades de expansão desses empreendimentos e que eles
mantenham os princípios fundamentais de Economia Solidária. Talvez o maior desafio hoje
enfrentado pela Economia Solidária seja o de gerar empreendimentos sustentáveis.
40
Um dos múltiplos desafios à sobrevivência dos empreendimentos, segundo Carrion,
Valentim e Hellwig (2006), é o desconhecimento dos princípios mais elementares de gestão
social. Por isso, os seus participantes não conseguem internalizar que o empreendimento é deles
e que existem muitas vantagens nisso. Ou seja, é a dificuldade de entender a nova situação, a
autogestão, onde são trabalhadores e patrão ao mesmo tempo. Os trabalhadores têm dificuldade
de assimilar o que são empreendimentos solidários.
Um fato que torna isso muito claro é que os trabalhadores não gostam da idéia de o
terem a carteira de trabalho assinada, pois, para a cultura dos trabalhadores, isso é um símbolo
de inclusão social. Tal fato foi mencionado anteriormente por Schilling (apud SANTOS;
HOLANDA; ARAÚJO, 1999).
Alguns trabalhadores afirmam que trabalhar em empreendimentos de Economia
Solidária, principalmente cooperativas, deve-se pela total falta de opção de emprego, e que sua
permanência nesse empreendimento é temporária, até que consiga arrumar alguma coisa
melhor, de preferência um emprego com carteira assinada, onde tenham todos os direitos. Tais
afirmações foram ouvidas pela pesquisadora, quando a mesma coordenava, como
representante da ITCP, o projeto da cooperativa Cooperunião.
Outros problemas enfrentados pelos empreendimentos são a disciplina, a hierarquia e a
participação dos associados. A falta de participação ou manifestação dos associados muitas
vezes tem a ver com o hábito que carregam do passado, onde nunca tiveram essa oportunidade,
ou até mesmo por acreditarem que a sua opinião o fará diferença ou pior, a questão de
decisão não ser problema deles.
Costa e Carrion (2005) apontam a autonomia dos trabalhadores como uma dificuldade
muito séria, pois muitas vezes nos empreendimentos reproduzem-se as situações anteriormente
vividas pelos trabalhadores, onde se tem a crescente separação entre o pessoal de administração
e o de produção, não se vivendo a situação de grupo economicamente solidário.
Dentro dessa ótica, acontece a divisão do trabalho de forma tradicional ainda sendo
mantida, comprometendo a gestão democrática e a disciplina, fato esse gerado pela
incompreensão, por parte de alguns trabalhadores, do que significa o trabalho de forma
cooperativa.
Outro desafio a ser transposto nos empreendimentos é a comum falta de instrução
formal dos seus membros, afetando principalmente aqueles que assumem cargos de direção. É
preciso reconhecer, segundo Costa e Carrion (2005), que os grupos de Economia Solidária
41
reúnem pessoas cujo conhecimento é negligenciado pelos padrões dios da sociedade,
caracterizando exatamente conhecimento diverso desse padrão cultural predominante.
Dessa forma, para que o empreendimento possa inserir-se num mercado competitivo é
necessário qualificar os seus associados dentro de conceitos técnico-organizacionais e de
questões mercadológicas, o que o é tarefa fácil. Por isso, a questão de educação nos
empreendimentos é um projeto de vida para seus associados. Essa necessidade é defendida por
Gentili e Frigotto (2001).
Para que se possa garantir que todos compreendam a autogestão como gestão
democrática, é necessário um trabalho permanente de incentivo à inteligência coletiva. Uma
metodologia muito utilizada para realizar esse trabalho é a do grande educador Paulo Freire “do
prático para o teórico, do teórico para o prático”, ou seja, deve-se sempre partir do universo
(contexto) em que o associado está inserido.
Estudo do Grupo de Pesquisa em Economia Solidária da UNISINOS, com base em
Gaiger (2005), apresenta os seguintes desafios da Economia Popular Solidária:
integração econômica entre Empreendimentos de Economia Solidária;
estruturas de escoamento, comercialização e troca;
espaços comuns de formação, debate e intercâmbio;
política de suportes financeiros;
geração e disseminação de tecnologias apropriadas;
alternativas adequadas à formalização dos Empreendimentos de Economia
Solidária.
Todas essas considerações demonstram que os empreendimentos de Economia Solidária
ainda estão extremamente frágeis no que tange às questões de relação e gestão dos mesmos. “É
necessário e urgente repensar-se a gestão desses empreendimentos, buscando-se formas mais
democráticas e transparentes de organização, que possibilitem a expressão das diferenças, das
singularidades dos sujeitos [...]” (TRAJANO; CARVALHO apud CATTANI, 2003, p. 175).
Carrion e Andersson (2005) apontam como debilidade a insuficiência de apoio e de
padrões gerenciais adequados.
Outro aspecto muito importante a ser abordado, quando se fala de desafios da Economia
Solidária, com base em Carrion, Valentim e Hellwig (2006), é a necessidade de reconhecimento
blico da importância das iniciativas da Economia Solidária, daí a necessidade, também, de
políticas públicas efetivas.
42
3.7.2 Políticas públicas
A idéia de cooperação, nos últimos anos, tem tido cada vez mais destaque tanto por
organismos internacionais, quanto em estudos e propostas de políticas por parte de órgãos
nacionais. Está acontecendo também a ampliação de estudos e propostas sobre novas formas de
gestão de políticas públicas para esta nova forma de produção caracterizada pela autogestão e
conseqüente cooperação.
É responsabilidade de a política blica cumprir, segundo Carleial et al. (2004), a
indispensável tarefa de promover o acesso de toda a sociedade, com igualdade, a direitos civis,
sociais e econômicos. É importante, para que isso seja passível de acontecer, que existam
grupos imbuídos de participação e de colaboração, voltados para gerar a sinergia público-
privada e a atitude de ação conjunta.
O Estado deve e tem o poder para construir e manter uma sociedade que viva em
processo de coesão e que esteja engajada na participação do seu desenvolvimento sócio-
econômico. Uma das formas para que o Estado possa promover isso é através da participação e
o diálogo aberto com a sociedade, principalmente com os integrantes das comunidades
regionais. Nessa visão, o Estado deve fortalecer as instâncias regionais e locais, oportunizando
que a sociedade, como um todo, participe da gestão pública. A própria Constituição Brasileira
garante essa participação.
Uma vez participando ativamente da gestão pública, a população terá também a garantia
de poder estar organizando-se de forma solidária e contando com o apoio do poder público.
Hoje, o povo brasileiro conquistou um importante espaço econômico solidário,
principalmente no que diz respeito ao apoio institucional e por parte das autoridades
governamentais. Isso teve sua maior ênfase, como comentado anteriormente, quando da
criação pelo Governo Lula da SENAE - Secretaria Nacional de Economia Solidária, secretaria
esta que está ligada ao Ministério do Trabalho. Essa atitude demonstrou a abertura de políticas
blicas efetivas, voltadas à Economia Solidária.
É necessário que sejam garantidas bases de sustentação para a Economia Solidária. As
mais importantes defendidas por Singer e Souza (2000) são as fontes financiadoras, as redes de
comercialização, a assessoria técnica e científica e o processo de formação contínua dos
trabalhadores. Consideram ainda de suma importância que haja apoio institucional e legal por
parte do governo.
43
Entendendo então que Economia Solidária é capaz de criar empreendimentos que
possibilitam o desenvolvimento local, regional, nacional, e porque o dizer mundial, Carleial
et al. (2004) apontam seis desafios para a política pública:
1º) a necessidade de redefinição de uma política visando à inclusão dos que estão
lutando nos movimentos sociais de Economia Solidária, pela sua sobrevivência na área urbana:
2º) que as empresas de Economia Solidária sejam incorporadas nos planos de
desenvolvimento regional;
3º) estabelecer claramente a prática cooperativa, para que se possa identificar claramente
a falsa cooperativa (fraude);
4º) estimular a demanda estatal nos diferentes níveis de ação governamental dos
produtos e serviços dos empreendimentos solidários;
5º) estimular e financiar um censo, a fim de identificar o volume de atividades solidárias
existentes;
6º) com base nos dados obtidos propor uma articulação mais forte entre os planos de
qualificação da força de trabalho com os planos de desenvolvimento espacialmente localizado.
44
4 MÉTODOLOGIA
4.1 TIPO DE ESTUDO
Essa pesquisa, com base no seu objetivo geral, foi exploratória, pois o que se pretendia
era investigar se a ITCP contribui para a geração de trabalho e renda, levando em consideração
os princípios de gestão da EPS - Economia Popular Solidária.
A pesquisa exploratória, segundo Gil (2002), proporciona uma maior familiaridade com
o problema. Para Richardson (1999), esse tipo de estudo deve ser utilizado quando se deseja
conhecer melhor um fenômeno e não se tem informação suficiente sobre ele.
Para definir qual seria o delineamento da pesquisa, foi necessário observar que
procedimentos seriam adotados para se efetuar a coleta de dados. Observando-se os
procedimentos de coleta que foram adotados e sabendo-se que, segundo Vergara (2000), um
tipo necessariamente não exclui o outro, utilizou-se o método de Estudo de Caso.
O estudo de caso é muito utilizado em estudos exploratórios, pois segundo Gil (2002),
ele é recomendável para proporcionar maior nível de profundidade, transcendendo o nível
puramente descritivo proporcionado pelo levantamento.
O tipo de abordagem utilizada foi quali-quantitativa, levando em consideração o
principal instrumento de coleta utilizado, o questionário, o qual possuía perguntas abertas e
fechadas.
Primeiramente utilizou-se a forma qualitativa, que, segundo Roesch (1999), o é
utilizada para avaliar resultados, mas para avaliação formativa. Dentro dessa mesma análise,
Diehl e Paim (2002) comentam que esse tipo de estudo possibilita que o pesquisador analise
como ocorreram as mudanças em determinados grupos. Essas mudanças são geradas de acordo
com a complexidade do problema, vendo-se que variáveis interferem no processo, entendendo a
forma de viver dos grupos. Conseqüentemente, entenderá o que determina o comportamento
dos indivíduos, objeto da análise.
Posteriormente, utilizou-se a técnica da análise de conteúdo, visando a sistematizar as
respostas obtidas, de tal forma que as mesmas pudessem gerar indicadores quantificáveis. Para
facilitar a análise de conteúdo, utilizou-se das categorias para que fosse possível esta55
45
belecer classificações e, com base nessas classificações, foi possível apresentar uma
análise quantitativa.
Sendo assim, foi necessário levar em consideração as diversas teorias existentes sobre o
assunto, pois, segundo Richardson (1999), é necessário que se reconheça que as diferentes
concepções teóricas terão implicações nas análises que serão obtidas ao final do estudo. Diehl e
Paim (2002) também chamam a atenção para que nesse tipo de estudo as informações sejam
analisadas à luz das teorias. A pesquisa bibliográfica foi imprescindível para que fosse possível
definir quais seriam as categorias e conseguir realizar a análise de conteúdo.
Utilizou-se também o levantamento, visto que foi feito contato direto com as pessoas
envolvidas, buscando, dessa forma, através de respostas escritas a questões predeterminadas,
obter informações com relação ao objetivo do estudo, para que posteriormente fosse possível
chegar às conclusões correspondentes a essas informações.
Gil (1999) entende que o levantamento é muito útil para estudo de opiniões. Diehl e
Paim (2002, p. 86) também corroboram com essa opinião quando dizem “[...] os levantamentos
tornam-se mais adequados para estudos descritivos que explicativos. São úteis para o estudo de
opiniões e atitudes [...]”.
4.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
População é um conjunto de indivíduos ou objetos que representam pelo menos uma
característica em comum. Com base em Richardson (1999, p. 157) “É um conjunto de
elementos que possuem determinadas características. Usualmente, fala-se de população ao se
referir a todos os habitantes de determinado lugar”.
A população, nesse estudo, é formada pelos integrantes dos 37 (trinta e sete)
empreendimentos que foram ou estavam sendo apoiados pela ITCP, desde a sua criação
(maio/2003) até o início da pesquisa de campo (fevereiro/2006).
A amostra tem o objetivo de garantir a representatividade da população, além de ser
uma prática barata, rápida e útil para o pesquisador. Seguindo as leis da probabilidade,
Richardson (1999) entende que dependendo da forma como se seleciona a amostra, a mesma
possuirá grande possibilidade de estar verdadeiramente representando a população.
A técnica de amostragem era adequada para esta pesquisa, primeiramente devido ao
mero razoável de empreendimentos que foram ou estavam sendo acompanhados pela ITCP,
46
que até fevereiro de 2006 eram 37 (trinta e sete). Deve-se ainda levar em consideração que
esses grupos possuem um número variável de participantes, assim tem-se a inviabilidade,
econômica e temporalmente, de aplicar a entrevista a toda a população.
Corroborando com o exposto, Beuren (2004) afirma que a decisão por efetuar o
levantamento com todos os sujeitos da pesquisa ou parte deles depende dos resultados
desejados, da viabilidade econômico-financeira e da dificuldade na coleta dos dados.
Como a ITCP não intensificou sua atuação em um único setor ou tipo de atividade e,
também, por entender que não existia, entre os empreendimentos assistidos, um que pudesse ser
considerado como mais relevante para a economia da região, definiu-se pelo método de Estudo
de Caso, onde os casos foram selecionados por amostra de conveniência.
A amostra definida por conveniência foi formada por 13 (treze) empreendimentos que
estavam sendo assessorados pela ITCP em 2006, sendo eles: Cooper Casa Nova; Cia. da
Beleza; Projeto CRIARTE; Coopersol Confecções; COOPERDEF; Mãos-de-Ouro;
Cooperunião São José; e os assentamentos localizados em: Curitibanos, Canoinhas, Fraiburgo,
Água Doce, Correia Pinto e São José do Cerrito.
Uma vez definido os empreendimentos a serem pesquisados, o questionário (Apêndice
A) pretendia-se aplicá-lo a todos os integrantes desses empreendimentos, mas devido à
“Limitações da Pesquisa”, que serão apresentadas posteriormente, realizou-se a pesquisa de
campo em apenas três empreendimentos: a Cooperunião, grupo esse que era coordenado pela
própria pesquisadora; a Coopersol; e um grupo de Tricô e Crochê que faz parte do Projeto
Criarte. Ou seja, trabalhou-se com uma amostra por conveniência.
4.3 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Na elaboração desse trabalho, foram utilizadas como técnicas de levantamento de dados
a pesquisa documental, o questionário, a entrevista não estruturada e a observação participante.
É importante ressaltar que cada técnica não foi utilizada de forma estanque, ou seja,
durante a realização da pesquisa as mesmas foram utilizadas simultaneamente ou até mesmo
uma servindo para complementar a outra.
O passo inicial na busca de informação deu-se através da pesquisa documental dos
empreendimentos que foram ou estavam sendo acompanhados pela ITCP, ou seja, através da
consulta as informações existentes nos arquivos físicos e digitais da ITCP. Essas informações
47
diziam respeito a todos os empreendimentos assistidos pelo Programa, desde a sua criação em
maio/2003.
Isso forneceu uma listagem de quais e como são os empreendimentos e que estratégias
de atendimento foram ou estavam sendo utilizadas. Pois, conforme Richardson (1999), a
pesquisa documental explora a análise de conteúdo e a análise histórica.
Para coletar dados primários, utilizou-se o questionário (Apêndice A), o qual possui 18
(dezoito) questões (perguntas abertas e fechadas). As questões buscam investigar a contribuição
da ITCP para a geração de trabalho e renda nos empreendimentos acompanhados, observados
os princípios de gestão da EPS. Visam também possibilitar a caracterização do processo
decisório, da partilha do excedente e a organização da produção adotada nos empreendimentos.
Antes de ser utilizado com os pesquisados, foi efetuado teste-piloto com o questionário.
Esse procedimento buscou garantir a qualidade do mesmo e certificar-se que estava
devidamente adequado para o objetivo que se propunha.
O questionário possibilitou a pesquisadora conhecer diferentes aspectos das experiências
dos empreendimentos, e se essas experiências provocaram algum tipo de mudança nas pessoas
que participaram delas. Pois, para Richardson (1999), o questionário propicia a descrição das
características de um grupo e quais são as variáveis envolvidas.
É importante salientar que a pesquisadora conversou com cada um dos pesquisados, em
grupo ou individualmente, orientando-os quanto ao preenchimento do questionário e dirimindo
qualquer dúvida possível, reforçando sempre que os mesmos eram livres em decidir se queriam
ou não responder o questionário.
Os questionários foram levados pelos pesquisados para serem entregues em datas pré-
determinadas. Porém alguns respondentes solicitaram que a pesquisadora auxiliasse no
preenchimento do questionário, lendo a pergunta e anotando a respectiva resposta.
Além da aplicação do questionário, utilizou-se a entrevista. O tipo de entrevista foi a não
estruturada, a qual serviu como ferramenta de apoio para o levantamento de informações,
possibilitando a minimização das resistências e envolvendo os entrevistados, conseguindo
proporcionar maior grau de participação.
Como nesse estudo não se deseja impor uma visãoconstruída da realidade, mas, sim,
conhecer a realidade, optou-se pela entrevista não estruturada. Que, segundo Richardson
(1999), possibilita saber o que ocorreu, como e por quê.
48
A pesquisadora procurou garantir que o entrevistado não se afastasse do assunto,
intervindo, caso necessário, para que esse mantivesse o foco e preservasse a espontaneidade.
Outra técnica utilizada na pesquisa foi a observação participante. Essa técnica
proporciona uma visão singular da própria realidade. Sua praticidade, porém, exige que se tenha
muito cuidado e discrição no momento de se efetuar as observações e no posterior relato das
mesmas. É importante ter claro que observar é mais do que simplesmente olhar. É ver e ouvir
fatos, aspectos, situações e informações que dizem respeito ao tema proposto.
A observação participante, propicia, segundo Marconi e Lakatos (2002), uma real
participação do pesquisador na comunidade ou grupo. Essa participação é o expressiva que o
pesquisador pode ser confundido como sendo um membro do grupo que está estudando.
Richardson (1999) destaca que o pesquisador, ao se utilizar da observação participante,
além de quase fazer parte do grupo, passa a ocupar um lugar físico e emocional para o mesmo.
Com a intervenção da pesquisadora através da observação participante, foi possível
dirimir dúvidas ou complementar informação obtida. É importante salientar que a pesquisadora
é integrante da ITCP e, conseqüentemente, quando da sua atuação no programa, está integrada
ao cotidiano de quase todos os empreendimentos.
Como a pesquisadora, de certa forma, é membro do grupo, não é uma estranha para eles.
Isso pode ter se tornado um viés, interferindo na coleta de informações. Tal fato será analisado
nas “Limitações da Pesquisa”.
É importante ressaltar que a pesquisa bibliográfica foi efetuada em todos os momentos
da pesquisa, visando a confrontar as informações coletadas com a teoria existente sobre o
assunto. Richardson (1999) reforça o uso dessa ferramenta, pois defende que a mesma torna
possível fazer uma reflexão das opiniões obtidas dos entrevistados e a sua contraposição com a
teoria utilizada.
Na prática, possibilitou que com as informações obtidas dos entrevistados, fosse feita a
análise de conteúdo e a criação de categorias de respostas, garantindo a consistência das
informações apresentadas. Posteriormente, possibilitou a respectiva análise e interpretação dos
resultados e as conclusões.
A pesquisa de campo foi realizada nos meses de fevereiro e março de 2006, e para
garantir que os entrevistados fossem mais espontâneos ao responder e possivelmente suas
informações fossem mais verdadeiras, optou-se por não identificá-los durante a apresentação da
análise e interpretação dos resultados.
49
4.4 ANÁLISE DE DADOS
Como o questionário possuía respostas abertas, utilizou-se a técnica da análise de
conteúdo. A análise de conteúdo, segundo Bardin (1977), é uma técnica utilizada visando a
sistematizar as respostas obtidas, de tal forma que as mesmas possam gerar indicadores
(quantificáveis ou não).
A análise de conteúdo auxilia para dar, ao pesquisador, solidez interpretativa. De acordo
com Richardson (1999, p. 243), ela Consiste em isolar temas de um texto e extrair as partes
utilizáveis, de acordo com o problema pesquisado, para permitir sua comparação com outros
textos escolhidos da mesma maneira”.
Para facilitar a análise de conteúdo, utilizou-se das categorias a fim de que fosse
possível estabelecer classificações. Para Richardson (1999), a análise por categoria, além de ser
a mais antiga, é a mais utilizada entre as diversas técnicas de análise de conteúdo existentes. A
categorização, segundo o autor, é a forma de classificar os elementos da pesquisa seguindo
determinados critérios, facilitando, dessa forma, a análise das informações.
Gil (2002) também apresenta a categorização como a organização dos dados, onde se
pode construir, com base no referencial teórico da pesquisa, um conjunto de categorias
descritivas.
Com o propósito de enriquecer a análise dos dados obtidos nessa pesquisa, outro recorte
utilizado foi a apresentação das respostas por idade e nero, possibilitando, dessa forma,
analisar se tais fatores interferem nas respostas.
4.5 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
O fator limitante, nesse trabalho, foi a impossibilidade de pesquisar a totalidade dos
empreendimentos. A primeira alteração deu-se à sugestão, feita pela própria coordenação da
ITCP, que os assentamentos não deveriam ser investigados, dada a distância geográfica, assim
como a necessidade de obter o consentimento do MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra, para a realização de entrevistas. Outra alteração decorreu do fato de somente três
empreendimentos, entre os quais a Cooperunião, se dispuseram a participar da pesquisa. Alguns
50
dos responsáveis por outros empreendimentos se demonstraram interessados, se prontificando a
receber o pesquisador, disposição esta que acabou, no entanto, não se efetivando.
Outro ponto que merece destaque é o fato da pesquisadora ter um envolvimento pessoal
com a situação, na medida em que trabalhava, via ITCP, com os empreendimentos cuja
realidade foi investigada. O fato de conhecer os empreendimentos e ter um envolvimento com
os mesmos pode auxiliar na coleta de informações, entretanto, pode ser um limitador no
desenvolvimento do trabalho. Considerando que a pesquisadora é professora da
UNOCHAPE e também coordenadora de um dos empreendimentos pesquisados, duas
situações podem ocorrer: primeiro pode ocorrer desconforto para os pesquisados fazendo com
que os mesmos não sejam fiéis ao responderem o questionário; e, em seguida, o fato dela ter
uma a relação direta, e de familiaridade com os empreendimentos contribui para alterar sua
percepção da realidade.
51
5 ANÁLISE E INTERPRETÃO DOS RESULTADOS
5.1 VIO GERAL DO PROGRAMA ITCP DA UNOCHAPECÓ
A ITCP, já no seu primeiro ano de funcionamento (2003), atuou em oito
empreendimentos, sendo sete em convênio com outras entidades e um próprio.
Do convênio com a APACO (Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste
Catarinense), desenvolveu-se:
Construção da Casa Colonial Rural;
Assessoria a Grupos de Cooperação Agrícola e Associações de Agricultores de
Seara (SC).
O convênio com a Prefeitura Municipal de Chapecó, através do Programa Empresa Mãe
(que é uma incubadora de cooperativas populares criada pela Prefeitura), resultou em quatro
projetos:
Horta Comunitária “Associação Vale das Hortaliças” do Distrito de Marechal
Bormann;
Horta Comunitária “Associação Horta Comunitária Goio-En” do Distrito de Goio-
En;
COTRAV (Cooperativa de Cortadores de Erva-Mate do Distrito de Marechal
Bormann);
ASTRAD (Associação de Trabalhadoras Domésticas, do bairro CAIC).
Através da solicitação da Prefeitura Municipal de Cordilheira Alta (SC), desenvolveu
um trabalho de assessoria à CORDALTA (Cooperativa Cordalta da Agroindústria de
Cordilheira Alta), uma cooperativa de comercialização de produtos agrícolas, industrializados
artesanalmente.
A COOPERUNO (Cooperativa União de Construção Civil e Serviços Gerais) do
Loteamento de Lajeado São José se caracterizou como um processo de incubação propriamente
dito, gerado e conduzido pela ação direta da ITCP. A demanda para esse projeto foi identificada
através do programa de extensão desenvolvido pelo curso de Serviço Social da
UNOCHAPE.
Esses empreendimentos envolveram diretamente em torno de quinhentas pessoas.
Existiam ainda outras entidades conveniadas: a AMOSC (Associação dos Municípios do
Oeste de Santa Catarina); o PAPEL (Programa de Apoio a Processos Participativos de
Desenvolvimento Local e Regional); e as Prefeituras Municipais da Região Oeste de Santa
Catarina.
Até o final do ano de 2005, outros empreendimentos foram sendo assistidos pela ITCP:
a) Cooperpão - Um empreendimento de panificadores, com grupos no Distrito de
Goio-En, no bairro Efapi, no bairro CAIC e na Linha Pinheirinho. A ITCP iniciou a
intervenção com 13 participantes, objetivando desenvolver projeto para captação de
recursos, assessoria na produção e comercialização e capacitação em Economia
Solidária e relações interpessoais.
b) Cooper Casa Nova - Empreendimento voltado à construção civil. Iniciada a
intervenção com a participação de 20 integrantes, o objetivo da intervenção foi
desenvolver o Estatuto Social; trabalhar para a construção da sede; auxiliar no
planejamento da entidade; e fornecer capacitação em Economia Solidária. Esse
empreendimento ainda é acompanhado pela ITCP.
c) Mãos-de-Ouro - Um grupo de mulheres que viviam do artesanato. A ITCP iniciou
sua intervenção em julho/2004, com a participação de 12 mulheres. O objetivo da
intervenção foi desenvolver um plano de negócios auxiliando no planejamento da
entidade; trabalhando as questões de contabilidade e custo; elaboração do Estatuto
Social; trabalhar para a construção da sede; e capacitação em Economia Solidária e
introdução à comercialização. Esse empreendimento ainda é acompanhado pela
ITCP.
d) Projeto CRIARTE - Iniciou a partir de um projeto aprovado pela Petrobrás, tendo
como objetivo a capacitação de 100 mulheres no segmento do artesanato. A ITCP
iniciou a intervenção em março/2005, com a participação de 118 mulheres. O
objetivo inicial foi a organização de oficinas de capacitação (em trabalhos manuais)
nos mais diversos tipo de artesanato; conseqüentemente a organização dos grupos
para a venda dos produtos e participação/exposição em feiras. Esse empreendimento
ainda é acompanhado pela ITCP.
e) Mulher Ativa - Empreendimento de confecção, situado no bairro Efapi. A ITCP
iniciou sua intervenção em junho/2004, com a participação de 9 mulheres. O
objetivo da intervenção foi desenvolver um plano de negócio, trabalhando produção,
53
comercialização, contabilidade, custos e levantamento de estoques, realizou também
capacitação em relações interpessoais.
f) Coopersol Confecções, antiga AGD Confecções - Empreendimento de confecção de
uniformes, agasalhos, camisetas, em geral. A ITCP iniciou a intervenção em
julho/2005, com a participação de 12 mulheres e o objetivo era capacitação em
cooperativismo e Economia Solidária, e todo o processo de incubagem para que
fosse possível a legalização para se tornar uma cooperativa.
g) Cesol - Central de Empreendimentos de Economia Solidária da Região Oeste de
Santa Catarina, agrega nove empreendimentos. A ITCP iniciou sua intervenção
objetivando a organização e fortalecimento dos empreendimentos.
h) Cia. da Beleza - Participavam do empreendimento 24 mulheres que prestavam
serviço de embelezamento pessoal, de forma autônoma. A ITCP iniciou sua
intervenção em maio/2004, com o objetivo de organizar o empreendimento e
capacitar em Economia Solidária, liderança e relações interpessoais. Esse
empreendimento ainda é acompanhado pela ITCP.
i) COOPERDERF - Cooperativa de Deficientes de Chape Empreendimento de
pessoas portadoras de deficiência. A ITCP iniciou sua intervenção com a
participação de 15 integrantes. O objetivo da intervenção foi criar na COOPERDEF
um cleo do Projeto CRIARTE, assim realizaram-se capacitações voltadas a
trabalhos manuais e artesanato. Esse empreendimento ainda é acompanhado pela
ITCP.
j) Coopervida - A ITCP iniciou sua intervenção em junho/2004, com a participação de
84 integrantes. A Coopervida era um empreendimento acompanhado pela Prefeitura
Municipal de Chapecó, que tinha como objetivo a prestação de serviços gerais. A
ITCP entrou nesse trabalho para capacitar o grupo em relações interpessoais.
k) Hortas Comunitárias - Sofreram intervenção durante o ano de 2004, com orientação
na área agronômica, como: coleta de solo para análise, atividades e recomendação
de plantio e manejo das culturas, compostagem, irrigação, controle de pragas e
doenças, erosão do solo, construção de estufa e estruturação da horta; trabalhou-se
tamm o processo de comercialização. Foram efetuados capacitações em Economia
Solidária, relações interpessoais, auto-estima, liderança e planejamento estratégico e
operacional da cooperativa. Essas atividades variaram de acordo com a necessidade
das seis hortas atendidas.
54
Horta Comunitária Linha Almeida, de Três Palmeiras – 15 participantes;
Horta Comunitária Vila Rica, da comunidade de Vila Rica – 6 participantes;
Horta Comunitária São Pedro, do bairro São Pedro – 5 participantes;
Horta Comunitária Vila Esperança, do bairro Efapi – 9 participantes;
Horta Comunitária “Associação Vale das Hortaliças” do Distrito de Marechal
Bormann – 10 participantes (mulheres);
Horta Comunitária “Associação Horta Comunitária Goio-En” do Distrito de Goio-
En – 3 participantes.
Em todos os empreendimentos percebeu-se uma atuação diferenciada da ITCP, devido à
diversidade de demanda. A Cooperunião e Coopersol passaram pelo processo de incubação. Os
demais empreendimentos receberam prestação de serviços de consultoria/assessoria e
capacitação. Essas intervenções podem ter sido de forma eventual, emergencial ou mantida por
mais tempo, variando conforme a necessidade de cada empreendimento e o acordo firmado com
a ITCP.
Os principais serviços de consultoria/assessoria prestados a esses empreendimentos
foram em áreas técnicas como: jurídica, social, contábil, administrativa, produtiva, econômica,
relações interpessoais etc.
A ITCP no ano de 2006 continuou atuando nos seguintes empreendimentos:
a) Cooper Casa Nova;
b) Cia. da Beleza;
c) Projeto CRIARTE;
d) Coopersol Confecções;
e) COOPERDEF;
f) Mãos-de-Ouro;
g) Cooperunião São José;
h) Assentamentos localizados em: Curitibanos, Canoinhas, Fraiburgo, Água Doce,
Correia Pinto e São José do Cerrito.
55
5.2 APRESENTAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS UTILIZADOS NO
ESTUDO DE CASO
Projeto CRIARTE – Profissionalização do Artesanato em Chapecó
Empreendimento realizado pela ITCP, através de financiamento do Programa
PETROBRÁS FOME ZERO.
O objetivo foi realizar capacitações voltadas a trabalhos manuais e artesanato,
introduzindo novos conhecimentos e tecnologias de produção, ações visando à constituição de
uma cooperativa ou grupo associativo, e desencadear ações voltadas ao marketing e
comercialização do que foi produzido, divulgando as ações.
A proposta era profissionalizar 100 mulheres que participavam de 84 grupos,
pretendendo-se viabilizar, posteriormente, a multiplicação de conhecimentos e habilidades
adquiridas.
Hoje o Projeto CRIARTE conta com aproximadamente 60 pessoas que participam mais
ativamente.
A intervenção ocorreu a partir de março/2005.
Foram estruturados sete núcleos de trabalho, atendendo no decorrer do projeto 118
pessoas, que assim se organizaram:
cleo do centro da cidade (nas dependências da ITCP): iniciado com 20 moradoras
de diversos bairros da cidade, representantes de grupos de mulheres e de associações
de artesãs existentes, decidiram se qualificar em várias atividades artesanais:
pintura em madeira, sabonetes e velas artesanais, trabalhos em palha, biscuit, fuxico,
confecção de bolsas e produção de bijuterias (estas fabricadas a partir do crochê e de
produtos naturais, especialmente sementes).
cleo do bairro Pinheirinho, composto inicialmente por 15 mulheres que se
especializaram na confecção de bijuterias, além de sabonetes e velas artesanais.
cleo do bairro Quedas do Palmital, iniciando com 18 mulheres, cujo foco foram
aulas de corte e costura voltadas à confecção industrial de camisetas, moletons,
pijamas, roupas infantis.
cleo do bairro Vila Páscoa, que começou com 22 mulheres, cujas atividades
centraram-se em aulas de pintura em tecido e emborrachado.
56
cleo 1 do Centro Espírita Bezerra de Menezes, composto por 15 mulheres de
vários bairros, que também optaram pelas aulas de pintura em tecido.
cleo 2 do Centro Espírita Bezerra de Menezes, constituído inicialmente por 13
mulheres de vários bairros da cidade, cujas aulas de tricô à mão foram as escolhidas.
cleo da COOPERDEF, formado por 15 pessoas com deficiência, que passaram a
trabalhar com confecção de chinelos e de arranjos feitos a partir de elementos da
natureza (folhas, pedaços de tronco etc).
A decisão pelas atividades de cada grupo partiu do interesse e motivação prévia de cada
participante, associada à análise de viabilidade futura de geração de renda.
Dos grupos atendidos através do Projeto CRIARTE fez parte dessa pesquisa o cleo 2
do Centro Espírita Bezerra de Menezes, com 6 participantes.
COOPERUNIÃO SÃO JOSÉ - Cooperativa União São José de Construção Civil e
Serviços Gerais
Constituída por 35 sócios, sendo 13 homens e 22 mulheres, localizada na Avenida
Leopoldo Sander em Chapecó/SC.
Este foi o primeiro trabalho de incubação realizado pela ITCP, o qual objetivou:
formação e capacitação em cooperativismo e empreendimento autogestionário,
acompanhamento do empreendimento desde a apresentação da demanda até a sua consolidação
(legalização) da cooperativa, prestação posterior de serviços de consultoria: jurídica, social,
contábil, administrativa, econômica etc.
A intervenção ocorreu de julho/2003 a dezembro/2005, quando a cooperativa cessou
suas atividades.
Apesar da cooperativa não estar mais em atividade, até o presente momento o foi
legalmente extinta.
O fato mais importante ocorrido durante o processo de intervenção foi que em
novembro/2003 foi realizado o ato de Fundação da COOPERUNO, sendo legalmente
constituída, pela Junta Comercial, em fevereiro/2004.
Coopersol Confecções
57
A Coopersol era uma microempresa em empreendimento de Economia Solidária, que
tinha o nome de AGD Confecções.
Depois de uma trajetória de 10 anos como microempresa, as mulheres participantes do
grupo (empresa), decidiram transformar a AGD numa cooperativa.
O processo de intervenção iniciou em julho/2005, com a participação de 12 mulheres,
oriundas de diversos segmentos da sociedade.
A expectativa do grupo era atingir o número de 20 mulheres para que fosse possível a
viabilização da cooperativa.
A Coopersol desenvolve atividade de confecções voltada especialmente para empresas
e colégios. Essa linha inclui camisetas, abrigos, calças, jaquetas e jalecos.
O objetivo da intervenção foi realizar capacitações voltadas para cooperativismo e
Economia Solidária, e também o processo de incubagem para que a mesma fosse legalizada e
se tornasse uma cooperativa, o que acabou se efetivando.
O ato de fundação ocorreu em dezembro/2005, sendo legalmente constituída, pela Junta
Comercial, em janeiro/2006. O quadro social é composto por 27 mulheres, mas apenas 12
atuam no empreendimento.
5.3 PESQUISA DE CAMPO
Como apresentado anteriormente, a pesquisa foi realizada com a Cooperunião; a
Coopersol; e um grupo de Tricô e Crocque faz parte do Projeto CRIARTE.
A Cooperunião (que ainda não foi extinta) possui 35 associados; a Coopersol possui 12
mulheres atuando na cooperativa; e o grupo de Tricô e Crochê possui 6 mulheres participando.
Conseqüentemente, foram distribuídos 53 questionários, dos quais 41 retornaram
respondidos, perfazendo um total de 77,36%. Esses questionários foram respondidos pelos
integrantes de cada grupo.
A seguir serão apresentadas as informações coletadas através da pesquisa de campo,
obtidas com a aplicação do questionário, apresentando, conseqüentemente, uma análise dessas
informações.
58
5.3.1 Caracterização dos empreendimentos e entrevistados
Dos três empreendimentos pesquisados dois são cooperativas populares, sendo que uma
desenvolve atividade de construção civil e serviços gerais e a outra confecção de uniformes,
agasalhos, camisetas, em geral.
O terceiro empreendimento é um grupo de artesanato, do Projeto CRIARTE, que
desenvolve a atividade de tricô e crochê.
Quanto ao gênero dos entrevistados, pode-se observar no Gráfico 1.
Gênero dos entrevistados
68%
32%
Feminino Masculino
Gráfico 1 - Gênero dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
Dos 41 entrevistados, 28 eram do sexo feminino (68%) e 13 eram do sexo masculino
(32%). Como pode se observar, mais da metade da amostra é do sexo feminino, pois as
atividades de confecção e tricô e crochê, nesse estudo, são desenvolvidos por mulheres. Apesar
da construção civil e serviços gerais parecer uma atividade que essencialmente é desenvolvida
pelos homens, dos 35 integrantes dessa cooperativa, apenas 13 são do sexo masculino.
Costa e Carrion (2005) esclarecem que esse indicativo de percentual alta do gênero
feminino nas atividades de Economia Popular Solidária é resultado dos traços fortes da
chamada sociedade patriarcal, uma vez que muitas das atividades produtivas são extensões do
trabalho doméstico, que nesse tipo de sociedade é atribuição exclusiva ou, na melhor das
hipóteses, predominantemente feminina.
Para que fosse possível analisar a idade dos respondentes adotou-se um agrupamento
por faixa etária, conforme apresentado no Gráfico 2.
59
Faixa etária dos entrevistados
39%
12%
39%
10%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Gráfico 2 - Faixa etária dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
A predominância dos entrevistados encontra-se entre duas faixas etárias: de 20 a 35 anos
e de 46 a 55 anos, ambas com 16 entrevistados (39%); outros 5 entrevistados possuem de 36 a
45 anos (12%); e 4 possuem acima de 55 anos (10%).
A primeira faixa etária destacada é um grupo mais jovem (de 20 a 35 anos), é uma
tendência que os jovens acreditem em opções diferenciadas de trabalho, estão mais propensos a
correrem riscos e normalmente seus compromissos financeiros são menores.
A segunda faixa etária (de 46 a 55 anos) é um dos grupos que mais tem sofrido com a
exclusão do mercado formal de trabalho. Muitas empresas, não preocupadas com a experiência
e o conhecimento acumulado, querem no seu quadro funcional, empregado “mais jovem”,
entendendo que ele está mais “aberto” para assimilar e se adaptar as novas tendências.
Relacionando a informação gênero com faixa etária, tem-se a seguinte informação,
conforme Gráfico 3.
60
Gráfico 3 - Gênero e faixa etária dos entrevistados
Fonte: Elaborado pela autora
Observa-se que das 28 mulheres entrevistadas, 12 estão na faixa etária de 20 a 35 anos
(43%) e 9 possuem de 46 a 55 anos (32%). Dos 13 homens entrevistados, 7 possuem de 46 a 55
anos (54%), e 4 possuem de 36 a 45 anos (31%).
Existe uma distribuição equivalente entre homens e mulheres dentro das duas faixas
etárias de maior incidência. Somam 16 entrevistados em cada uma. Porém ocorre uma inversão,
o número maior de mulheres está na faixa de 20 a 35 anos e o número maior de homens na faixa
de 46 a 55 anos.
5.3.2 Renda mensal dos entrevistados
Primeiramente analisou-se a renda mensal dos entrevistados antes da intervenção,
conforme pode ser visualizado no Gráfico 4.
Gênero e faixa etária dos entrevistados
43%
14%
32%
11%
31%
8%
54%
8%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Feminino Masculino
61
Renda mensal antes da intervenção
39%
22%
7%
0%
7%
3%
22%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
Até
R$260,00
De R$260,01
a R$520,00
De R$520,01
a R$780,00
De R$780,01
a R$1.040,00
De
R$1.040,01 a
R$1.300,00
Acima de
R$1.300,00
Não
responderam
Gráfico 4 - Renda mensal antes da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
Antes do processo de intervenção, 39% dos participantes possuíam uma renda mensal de
até R$260,00 (16 respondentes), seguido por 9 respondentes (22%) que recebiam mensalmente
de R$260,01 a R$520,00. Sendo assim, 25 dos 32 respondentes (61%) recebiam até R$520,00.
Nove entrevistados (22%) não responderam a essa pergunta.
Quanto à identificação da renda ser fixa ou variável, obteve-se a informação do Gráfico
5.
Renda fixa ou variável
19%
81%
Fixa Variável
Gráfico 5 - Renda fixa ou variável
Fonte: Elaborado pela autora
Dos 32 entrevistados que responderam a essa questão. Observa-se que 26 tinham renda
variável, ou seja, quase a maioria (81%).
Posteriormente os entrevistados responderam qual é a renda mensal atual, conforme
pode ser visualizado no Gráfico 6.
62
Renda mensal atual
27%
24%
23%
2%
2%
7%
15%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Até
R$260,00
De R$260,01
a R$520,00
De R$520,01
a R$780,00
De R$780,01
a R$1.040,00
De
R$1.040,01 a
R$1.300,00
Acima de
R$1.300,00
Não
responderam
Gráfico 6 - Renda mensal atual
Fonte: Elaborado pela autora
Percebe-se que houve flutuação na renda mensal dos entrevistados, aumentando a
mesma, sendo que os maiores índices salariais se dividiram em três faixas: 11 recebem até
R$260,00 mensais (27%); 10 recebem de R$260,01 a R$520,00 (24%); e 9 recebem de
R$520,01 a R$780,00 (23%). Seis entrevistados (15%) deixaram em branco essa questão.
Comparando o Gráfico 4 com o Gráfico 6, tem-se a seguinte informação:
Renda
Qtde.
antes
Qtde.
depois
Até R$260,00 16 11
De R$260,01 a R$520,00 9 10
De R$520,01 a R$780,00 3 9
De R$780,01 a R$1.040,00 0 1
De R$1.040,01 a R$1.300,00 3 1
Acima de R$1.300,00 1 3
o responderam 9 6
TOTAL 41 41
Quadro 1 - Comparativo entre renda mensal antes e depois da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
Percebe-se que houve um incremento na renda mensal após a intervenção. O número de
pessoas nas faixas de até R$260,00 e de R$1.040,01 a R$1.300,00 diminuiu, porém em todas as
demais faixas houve alterações significativas.
Uma forma de se comprovar essa afirmativa é fazendo o seguinte cálculo: imaginar que
o salário recebido seja o maior salário de cada faixa, então se multiplica pela quantidade de
pessoas que recebem cada salário, tem-se um total de R$15.080,00 antes da intervenção e
R$17.420,00 após a intervenção.
63
Dividindo os respectivos valores pelo total de pessoas que recebem, tem-se um salário
dio de R$486,45 antes da intervenção e R$544,38 após a intervenção, o que de certa forma
comprova que houve um aumento. Deve-se, ainda, levar em consideração que a faixa acima de
R$1.300,00 não foi utilizada para esse cálculo, sendo que antes da intervenção 1 pessoa estava
nessa faixa e depois da intervenção passou a ser 3 pessoas.
Cabe salientar que, quando se questionou o salário antes da intervenção, 9 pessoas não
responderam, e quando a pergunta foi sobre o salário atual, apenas 6 pessoas não responderam.
Ficou registrado (de próprio punho) no questionário de 3 respondentes, que os mesmos haviam
deixado a pergunta anterior em branco, porque só passaram a ter qualquer tipo de rendimento
após o processo de intervenção.
Com relação à renda atual ser fixa ou variável, tem-se a informação do Gráfico 7.
Renda fixa ou variável
14%
86%
Fixa Variável
Gráfico 7 - Renda fixa ou variável
Fonte: Elaborado pela autora
Observa-se que ainda existe uma predominância da renda variável, informação essa
respondida por 30 entrevistados (86%).
Essa variabilidade da renda é considerada normal, uma vez que os empreendimentos
pesquisados não optaram até o momento pela fixação de renda. Eles entendem que existe uma
variação importante no tipo de serviço que é prestado, e conseqüentemente do valor a ser
cobrado, assim torna-se difícil fixar valores.
Todos os empreendimentos pesquisados são “jovens”. Dessa forma, muitas definições
ainda não foram possíveis de serem tomadas, principalmente com relação a poder fixar uma
retirada para seus associados. Todos até o momento estão “formando” a sua clientela. Ou seja,
estão trabalhando conforme a demanda.
64
5.3.3 Entendimento dos entrevistados sobre empreendimento solidário
Para que um empreendimento de Economia Solidária possa servir para o fim que foi
criado, é necessário que os seus integrantes entendam a essência desse tipo de empreendimento,
o qual visa dotar os seus participantes de recursos e ferramentas para que possam trabalhar e se
tornarem auto-sustentáveis, ou seja, tenham o suficiente para atender as suas necessidades, com
mais qualidade de vida.
Ele não pode ser utilizado como sendo uma forma de ter trabalho e renda até que
apareça um emprego formal. Pois nesses empreendimentos as pessoas devem entender que são
ao mesmo tempo quem produz e quem gestiona, por isso a lógica é outra, tanto com relação a
direitos como deveres de cada integrante. Ou seja, os resultados e benefícios são proporcionais
ao desempenho e participação de cada um.
Para identificar o grau de envolvimento (comprometimento) dos entrevistados com o
empreendimento que pertencem, elaborou-se a pergunta 5 do questionário, a qual objetivou
saber se ele deixaria ou não o trabalho que faz hoje caso surgisse uma oportunidade de trabalhar
com carteira assinada.
Deixaria o trabalho?
49%
51%
Sim o
Gráfico 8 - Deixaria o trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora
Essa pergunta dividiu os respondentes 21 entrevistados (51%) o deixariam de
trabalhar no empreendimento, porém 20 entrevistados (49%) deixariam o empreendimento,
caso recebessem uma oferta de trabalho com carteira assinada.
65
Fica claro que quase metade dos entrevistados não está envolvida (comprometida) com
o empreendimento ao qual pertencem, ou estão participando apenas como forma de
temporariamente não ficarem sem trabalho e renda.
Achou-se importante relacionar essa informação com o gênero e respectiva faixa etária
do respondente.
No Gráfico 9 têm-se os 20 entrevistados que trocariam o trabalho no emprendimento por
uma possibilidade de emprego com carteira assinada.
Deixaria o trabalho xnero x faixa etária
31%
69%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Feminino Masculino
Gráfico 9 - Deixaria o trabalho x gênero x faixa etária
Fonte: Elaborado pela autora
A faixa etária que está mais propensa a isso está de 46 a 55 anos, tanto para as mulheres
como para homens. Sendo que no caso feminino representa 69% (9 respondentes) e no
masculino 100% (7 respondentes).
Entende-se que as pessoas nessa faixa etária estão sempre buscando uma maior
estabilidade, visto que a maioria tem responsabilidades profissionais e familiares mais
acentuadas. É importante ressaltar que essa faixa etária, conforme comentado na análise do
Gráfico 2, é a que sofre maior exclusão, tendo sérias dificuldades de se colocar no mercado
formal de trabalho. Por isso, quem tem uma atividade fixa e rentável, possui uma propensão a
se acomodar, e aqueles que não possuem, se receberem uma proposta, tendem a agarrá-la com
“unhas e dentes”.
No Gráfico 10 têm-se os 21 entrevistados que não trocariam o trabalho no
emprendimento por uma possibilidade de emprego com carteira assinada
66
Não deixaria o trabalho xnero x faixa etária
80%
16,5%
20%
67%
16,5%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Feminino Masculino
Gráfico 10 - Não deixaria o trabalho x gênero x faixa etária
Fonte: Elaborado pela autora
O maior índice, tanto mulheres como homens, que não deixariam o empreendimento por
um trabalho de carteira assinada estão na faixa etária de 20 a 35, sendo 80% das mulheres (12
respondentes) e 67% dos homens (4 respondentes).
Conforme comentado anteriormente, a análise que se pode fazer é que o jovem tem
muita aspiração empreendedora, sendo mais suscetível a correr riscos, pois em geral possui
menos compromissos financeiros que os mais velhos. Outro fator importante é a confiança que
deposita nos empreendimentos.
Outro dado interessante é os que possuem idade acima de 55 anos, que também se
manifestaram favoráveis a se manterem no empreendimento. Acredita-se que os mesmos ou
estão numa situação mais estável, tanto profissional como familiar, ou estão aposentados, ou
estão desempregados, daí sua opção por o deixar o empreendimento. Na pesquisa apareceu
nessa faixa etária 20% de mulheres (3 respondentes) e 17% de homens (1 respondente).
Os entrevistados justificaram o motivo de sua opção de resposta. Para que fosse possível
analisar as justificativas, procedeu-se o agrupamento das idéias, propondo categorias de análise.
A primeira proposta de categorias é referente aos 20 entrevistados que deixariam o
trabalho que fazem hoje se surgisse a oportunidade de trabalhar com carteira assinada.
a) Menciona Trabalho e renda
b) Menciona Direitos trabalhistas
c) Menciona Outras citações
As categorias definidas foram discutidas (teoricamente) principalmente quando da
apresentação dos principais desafios enfrentados pela Economia Solidária.
67
A distribuição por categorias está apresentada no Quadro 2.
MOTIVO PELO QUAL DEIXARIA O TRABALHO
Trabalho e renda Direitos trabalhistas Outras citações
Porque é um salário fixo (Respondente
04)
Quem vai pagar meus direitos quando
eu precisar? (Respondente 01)
Já nem participo direito (Respondente
17)
Para ter uma renda melhor
(Respondente 05)
Apesar de que as coisas lá fora não são
muito fácil (Respondente 03)
A cooperativa não arrumou serviço para
nós (Respondente 07)
Pelos direitos e profissão (Respondente
11)
Porque seria melhor (Respondente 38)
Aqui é só enrolação, trabalho a gente
tem que se virar (Respondente 15)
Apesar de estar bom, não tem nenhuma
garantia (Respondente 18)
É só arrumar um (Respondente 23)
Porque é mais seguro, mais se o salário
fosse em média R$780,00 (Respondente
24)
Pelos direitos e profissão (Respondente
20)
Até agora a ITCP não arrumou emprego
pra nós (Respondente 27)
Para poder me aposentar mais fácil
(Respondente 22)
Porque é bom trabalho com carteira
assinada e uma renda fixa (Respondente
37)
Porque eu teria meus direitos garantidos
(Respondente 29)
Por que seria uma oportunidade de ter
uma renda mensal (Respondente 39)
Porque é uma renda fixa e certa
(Respondente 40)
Porque eu preciso de dinheiro para
comprar comida e pagar contas, mas
quando tivesse horas vagas eu faria
tricô (Respondente 41)
Quadro 2 - Motivo pelo qual deixaria o trabalho
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de referências tem-se, em ordem decrescente: Trabalho e
renda – 10; Direitos trabalhistas – 07; Outras citações 03, apresentadas no Gráfico 11.
Motivo pelo qual deixaria o trabalho
50%
35%
15%
Trabalho e renda Direitos trabalhistas Outras citações
Gráfico 11 - Motivo pelo qual deixaria o trabalho
Fonte: Elaborado pela autora
Os resultados reforçam o o envolvimento (comprometimento) dos entrevistados com
o empreendimento ao qual pertencem. A metade, 50% (10 respondentes), está preocupada com
o trabalho e renda e 35% (7 respondentes) com os direitos trabalhistas. Isso confirma que os
68
mesmos ou estão totalmente desinformados sobre o que seja um empreendimento de Economia
Solidária ou estão querendo apenas tirar proveito momentâneo da situação.
A segunda proposta de categorias é referente aos 21 entrevistados que não deixariam o
trabalho que fazem hoje se surgisse a oportunidade de trabalhar com carteira assinada.
a) Menciona Acreditar num ideal (cooperação/união)
b) Menciona Esperança (perseverança)
c) Menciona Segurança (garantia/estabilidade)
d) Menciona Outras citações
As categorias definidas demarcam a essência de um empreendimento de Economia
Solidária, onde quem participa está disposto a viver de forma cooperativa e solidária, superando
diferenças, entendendo que o empreendimento é deles e que existem muitas vantagens nisso.
O agrupamento das idéias dos entrevistados gerou a distribuição por categorias,
apresentada no Quadro 3.
MOTIVO PELO QUALO DEIXARIA O TRABALHO
Acreditar num ideal
(cooperação/união)
Esperança (perseverança)
Segurança
(garantia/estabilidade)
Outras
citações
Acredito que na cooperativa ainda é
melhor (Respondente 02)
A gente sempre deve
perseverar (Respondente 08)
Apesar de difícil, aqui ainda estou
melhor que "lá fora" (Respondente
10)
Estou bem
melhor agora
(Respondente
16)
A vida comunitária sempre é melhor e
mais digna (Respondente 06)
Gostava, esperava que a
cooperativa desse certo
(Respondente 09)
Se quisermos podemos ter os
mesmos direitos de quem trabalha
com carteira assinada (Respondente
28)
Sem
justificativa
(Respondente
31)
Apesar das dificuldades acredito na
cooperativa (Respondente 13)
Que com a cooperunião
poderia render mais lucro
(Respondente 12)
Gestionamos o que é nosso, o
resultado do trabalho é partilhado
sem apropriação ou expropriação
(Respondente 33)
Acredito que todos unidos sempre
seremos melhores (Respondente 19)
Estou dentro até o fim
(Respondente 14)
Porque estou construindo o que é
meu (Respondente 34)
Apostamos na idéia da cooperativa
(Respondente 21)
Apesar de ir bem antes, acredito
que é possível mudar as pessoas e
a vida delas (Respondente 25)
A gente fundou isso aqui há 10 anos
e me sinto em casa e realizada
(Respondente 35)
Estamos apostando na idéia
(Respondente 26)
Meu pensamento é continuar
aprendendo o pouco que posso
(Respondente 36)
Não me sentiria bem deixando minhas
companheiras e o trabalho que eu gosto
(Respondente 30)
Porque é outra forma de trabalhar como
cooperada (Respondente 32)
Quadro 3 - Motivo pelo qual não deixaria o trabalho
Fonte: Elaborado pela autora
69
A quantidade de referências, pela ordem decrescente, ficou: Acreditar num ideal
(cooperação/união) 08; Esperança (perseverança) 06; Segurança (garantia/estabilidade) – 5;
Outras citações – 2, conforme Gráfico 12.
Motivo pelo qual não deixaria o trabalho
37%
29%
24%
10%
Acreditar num ideal (cooperação/uno) Esperança (perseverança)
Segurança (garantia/estabilidade) Outras citações
Gráfico 12 - Motivo pelo qual não deixaria o trabalho
Fonte: Elaborado pela autora
O Gráfico 12 apresenta que 37% (8 respondentes) apostam na cooperação e união; 29%
(6 respondentes) têm a esperança como principal fonte motivadora; e 24% (5 respondentes)
entendem que um empreendimento da Economia Solidária possui tantas ou mais vantagens que
um emprego formal.
Através das respostas à questão 6 do questionário, buscou-se avaliar o que o
entrevistado acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento). Houve 38
respondentes, 3 não responderam a essa questão.
Procedeu-se o agrupamento das idéias, propondo as seguintes categorias de análise:
a) Menciona Garante os princípios de EPS
b) Menciona Não garante os princípios de EPS
Buscou-se categorizar as respostas baseado na forma do entrevistado sentir se o
empreendimento que participa está ou não garantindo os princípios de Economia Solidária.
É importante lembrar que, de forma simples, os princípios de Economia Solidária o:
valorização social do trabalho, a satisfação plena das necessidades de todos, a mulher ocupando
(com dignidade) o seu espaço, o respeito à vida e ao meio ambiente, a cooperação e a
solidariedade.
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 4.
70
O QUE ACHA DE TRABALHAR EM UMA COOPERATIVA (OU EMPREENDIMENTO)?
Garante os princípios de EPS Não garante os princípios de EPS
Fui muito valorizada como pessoa, fui respeitada
(Respondente 02)
Aqui não vi vantagem nenhuma (Respondente 01)
Acho bom, a gente não pode escolher serviço. Gostaria muito
(Respondente 05)
Acho que só vi reunião, trabalho ninguém arrumou
(Respondente 03)
Ótimo, isso que é um trabalho digno (Respondente 06)
As mulheres nunca tem serviço, só os homens (Respondente
07)
Apesar de difícil, acho que vale a pena tentar (Respondente
08)
Trabalhando é a conta (Respondente 11)
Gostava, aprendi o que não sabia, fiquei empolgada
(Respondente 09)
Ninguém arruma trabalho. A gente é que tem que ir atrás
(Respondente 15)
Aqui me sinto mais seguro, ainda mais com a Universidade
(Respondente 10)
Detesto ficar fazendo reunião. Não vi dinheiro até agora
(Respondente 17)
Trabalhar numa cooperativa renderia mais lucro
(Respondente 12)
A cooperativa é muito insegura e não garante nenhum
direito (Respondente 18)
Sempre acreditei e acreditarei que as pessoas podem se
ajudar, é só querer (Respondente 13)
Trabalhando é a conta (Respondente 20)
Apesar de não atuar no trabalho, participo das reuniões, pois
acho muito importante (Respondente 14)
Não gostaria de trabalhar em uma cooperativa (Respondente
22)
Apesar de ser "sofrido" é mais garantido (Respondente 16)
A cooperativa é muito enrolada, só uns que tem serviço
(Respondente 23)
Acredito na união e trabalho do grupo (Respondente 19)
Disseram que é nós que temos que procurar serviço, então
pra que cooperativa? (Respondente 27)
Meus pais e eu somos sócios, todos acreditamos
(Respondente 21)
Continua...
Continuação...
O QUE ACHA DE TRABALHAR EM UMA COOPERATIVA (OU EMPREENDIMENTO)?
Garante os princípios de EPS Não garante os princípios de EPS
Eu acho que é bom porque a gente vê o resultado e vê o
capital crescendo (Respondente 24)
Eu poderia estar melhor sozinho, mas acredito que esse
grupo pode fazer a diferença (Respondente 25)
Tenho meu marido, eu e minha filha na cooperativa, tenho fé
que vai dar certo (Respondente 26)
Bom porque posso participar juntamente com os outros
cooperados das decisões do grupo (Respondente 28)
Olha eu trabalho em qualquer serviço desde que seja digno
(Respondente 29)
É muito bom, nós somos um grupo muito unido onde todos
podem falar, dar idéias e sugestões (Respondente 30)
A maneira como a pessoa é valorizada quanto ser humano
(Respondente 31)
Eu acho importante, queremos mudança (Respondente 32)
De todas as experiências vividas essa é a mais rica e
interessante (Respondente 33)
Eu acho muito bom, pois somos um grupo excelente
(Respondente 35)
É ótimo (Respondente 36)
Legal (Respondente 37)
Seria bom (Respondente 38)
Muito bom (Respondente 40)
Eu acho muito bom, porque assim uma ensina a outra
(Respondente 41)
Quadro 4 - O que acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento)?
Fonte: Elaborado pela autora
As referências ficaram assim distribuídas: Garante os princípios de EPS 27; Não
garante os princípios de EPS – 11, demonstradas através do Gráfico 13.
71
O que acha de trabalhar em uma cooperativa (ou
empreendimento)?
71%
29%
Garante os princípios de EPS Não garante os princípios de EPS
Gráfico 13 - O que acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento)?
Fonte: Elaborado pela autora
O Gráfico 13 apresenta que dos 38 respondentes 27 (71%) acreditam que trabalhar num
empreendimento garante os princípios de Economia Solidária e 11 (29%) acham que o
empreendimento não garante.
Apesar dos índices apresentados anteriormente, gerados por desconhecimento ou
insatisfação, 71% acreditam que um empreendimento é uma esperança de vida melhor, pois é
isso que garante os princípios de Economia Solidária.
Os 29% que discordaram, em sua maioria, nos seus relatos deixaram claro que somente
esperavam por trabalho, sem pensar em cooperação e solidariedade.
Na pergunta 7 do questionário, obteve-se uma avaliação dos entrevistados quanto a se
sua vida está melhor ou pior do que antes da intervenção, apresentado do Gráfico 14.
A vida esmelhor ou pior do que antes da
intervenção?
73%
27%
Melhor Pior
Gráfico 14 - A vida está melhor ou pior do que antes da intervenção?
Fonte: Elaborado pela autora
72
Conforme o Gráfico 14, dos 41 entrevistados 30 (73%) considera que a vida melhorou
após a intervenção e apenas 11 (27%) acreditam que piorou.
Mesmo com o resultado significativo apresentado no Gráfico 8, onde 49% dos 41
entrevistados responderam que deixariam o que fazem hoje caso recebessem uma proposta de
trabalho com carteira assinada, agora 73% (desses mesmos 41) admitem que a sua vida
melhorou após a intervenção.
Apesar de que para alguns participar de um empreendimento de Economia Solidária não
lhes dá garantia de segurança e estabilidade, foram obrigados a admitir que o empreendimento
no qual atuam hoje conseguiu lhes proporcionar uma melhor qualidade de vida.
Outro fator extremamente relevante nessa análise é que, conforme apresentado
anteriormente no Gráfico 6 e Quadro 1, houve uma melhora significativa na renda atual dos
entrevistados.
Com essa informação e os dados sobre gênero e faixa etária dos entrevistados, foi
possível aprofundar o estudo sobre aqueles que consideram que a vida es melhor e os que
consideram que a vida está pior.
No Gráfico 15 está apresentada a informação dos 30 respondentes que consideraram que
a vida está melhor.
Melhor x nero x faixa eria
54%
9%
23%
14%
25%
12,5%
12,5%
50%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
55%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Feminino Masculino
Gráfico 15 - Melhor x gênero x faixa etária
Fonte: Elaborado pela autora
Primeiramente aparece como destaque novamente as faixas etárias de 20 a 35 anos e de
46 a 55 anos, fato esse que apareceu quando analisado se o entrevistado deixaria ou não o
empreendimento.
73
A metade dos 30 entrevistados que responderam que a vida está melhor, tanto mulheres
como homens, estão na faixa etária de 20 a 35 anos, sendo 12 mulheres (54%) e 4 homens
(50%).
Se cruzar essa informação com a obtida no Gráfico 10, tem-se que o maior índice
daqueles que não deixariam o empreendimento estão na faixa etária de 20 a 35 anos, inclusive
apresentando o mesmo número de respondentes, 12 mulheres e 4 homens. Ocorre também com
os que estão na faixa etária acima de 55 anos, onde apresentou o mesmo resultado 3 mulheres e
1 homem, mudando, é claro, os respectivos percentuais, que no Gráfico 15 o 14% e 12,5%
respectivamente.
A faixa etária de 46 a 55 anos aqui se destaca como o segundo maior índice, com 5
mulheres (23%) e 2 homens (25%), apresenta novamente quase o mesmo índice para homens e
mulheres. Essa faixa não foi citada no Gráfico 10, o que leva a crer que muitos daqueles que
responderam que seriam capazes de sair do empreendimento por uma proposta de trabalho com
carteira assinada, reconhecem que a sua vida melhorou após a participação no empreendimento.
No Gráfico 16 estão apresentados os 11 entrevistados que acreditam que a vida ficou
pior após a intervenção.
Pior x nero x faixa eria
33%
67%
100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
De 20 a 35
anos
De 36 a 45
anos
De 46 a 55
anos
Acima de 55
anos
Feminino Masculino
Gráfico 16 - Pior x gênero x faixa etária
Fonte: Elaborado pela autora
82% dos respondentes estão na faixa etária de 46 a 55 anos, sendo 4 mulheres (67%) e 5
homens (100%). Aparece também 2 mulheres (33%) na faixa etária de 36 a 45 anos.
Essa informação comparada com a obtida no Gráfico 9, onde os entrevistados optaram
por deixar o empreendimento, tem-se a mesma faixa etária como destaque (de 36 a 45 anos), o
74
que diminuiu foi o número de respondentes, que para aquela situação eram 16 entre homens e
mulheres e aqui se apresentam apenas 9.
O que se pode concluir, como foi comentado anteriormente, é que muitos daqueles
que fariam a opção de deixar o empreendimento, hoje, o empreendimento está lhe
proporcionando uma vida melhor.
Nessa pergunta os entrevistados também justificaram o motivo de sua opção de resposta.
Então, para analisar as justificativas, procedeu-se o agrupamento das idéias, para aqueles que
responderam que a vida melhorou e para aqueles que responderam que a vida piorou.
Para os que responderam que a vida melhorou formou-se as seguintes categorias de
análise.
a) Menciona Realização (união/cooperação/aprendizagem/valorização)
b) Menciona Trabalho e renda
c) Menciona Outras
A categoria Realização buscou contemplar as idéias referentes a: valorização como
pessoa, união e cooperação entre o grupo, oportunidade de aprendizagem e conquista da
independência (não no aspecto financeiro, mas como condição de vida).
A distribuição por categorias, ficou constituída conforme mostra o Quadro 5.
MOTIVO PELO QUAL A VIDA ESTÁ MELHOR DO QUE ANTES DA INTERVENÇÃO
Realização
(união/cooperação/aprendizagem/
valorização)
Trabalho e renda Outras citações
Hoje sou vista como gente (Respondente 02)
Porque estou ganhando mais (Respondente
11)
Me sinto bem
(Respondente 38)
As reuniões proporcionavam troca de idéias
(Respondente 05)
Porque a cooperunião rendeu um trabalho
riquíssimo (Respondente 12)
É um meio de sentir
ocupada (Respondente
39)
Apesar de não ser fácil trabalhar com grupo,
acho que “chegaremos” lá (Respondente 06)
Estou trabalhando, e acho que melhorei como
“pessoa” (Respondente 13)
Porque a gente tira o
estresse e se alegra
conversando com as
amigas (Respondente
41)
Apesar de não ter arrumado trabalho, aprendi
muita coisa nova. Até curso fiz (Respondente
08)
Agora tenho serviço quase todo o dia
(Respondente 16)
Me apeguei com o grupo (Respondente 09)
Porque estou ganhando mais (Respondente
20)
Minha família até ficou mais unida
(Respondente 10)
Eu acho que a gente tem serviço mais
garantido (Respondente 24)
Sempre estou aprendendo coisas novas
(Respondente 14)
Hoje eu me sinto mais valorizada pelas
companheiras e meu salário melhorou
(Respondente 31)
Aqui todos participam e vivem juntos, acho que
isso é o que tem de melhor (Respondente 19)
Melhor, porque sempre fui dona de casa e
hoje tenho salário e me sinto independente
(Respondente 34)
Aprender a viver comunitariamente
(Respondente 21)
Eu era só dona de casa, escrava do lar, hoje
me sinto realizada, estar conquistando minha
independência (Respondente 35)
Estou apostando quase que minha vida nessa
75
participação e acho que vai dar certo
(Respondente 25)
Conversamos mais e aprendemos como é ser
cooperativa (Respondente 26)
Estou aprendendo e conhecendo pessoas que
sabem dar valor ao trabalho do grupo
(Respondente 28)
Eu faço o que eu gosto, é um sonho que eu
sempre tive e agora realizei (Respondente 30)
Porque trabalhar como cooperada eu me sinto
mais valorizada (Respondente 32)
Minha situação financeira não mudou, mas
estar junto com um grupo construindo
independência, construindo-se enquanto sujeito
é muito prazeroso (Respondente 33)
Consegui fazer novas amizades e aprendi
bastante coisas diferentes (Respondente 36)
Eu não sabia fazer tricô e hoje eu sei fazer
alguma coisa (Respondente 37)
Conheci muitas pessoas diferentes e aprendi
bastante coisa (Respondente 40)
Quadro 5 - Motivo pelo qual vida está melhor do que antes da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferência tem-se: Realização –18; Trabalho e renda 9;
Outras citações – 3, conforme Gráfico 17.
Motivo pelo qual a vida es melhor do que
antes da intervenção
60%
30%
10%
Realização (união/cooperação/aprendizagem/valorização) Trabalho e renda Outras citões
Gráfico 17 - Motivo pelo qual a vida está melhor do que antes da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
Sabe-se que o ser humano, desde os primórdios da civilização, lutou para garantir a sua
sobrevivência e do seu grupo. Isso significava atender as necessidades básicas.
As necessidades foram apresentadas pelo psicólogo americano Abraham Maslow, que as
definiu num conjunto de cinco necessidades: fisiológicas (básicas), segurança, afeto, estima e
auto-realização.
Os estudos identificaram que o homem só buscaria uma nova necessidade, respeitando a
seqüência apresentada, se tivesse satisfeito a anterior, mesmo entendendo que as mesmas
sempre continuarão a serem perseguidas, ou seja, o fato de satisfazer uma necessidade não a
excluirá.
76
Dentro desse contexto, tem-se que a primeira necessidade a ser satisfeita é a fisiológica
(básica), a qual pode-se dizer que hoje é garantida pela existência de renda (condições
financeiras).
Sendo os participantes dos empreendimentos de Economia Solidária pessoas que não
estão no mercado formal de trabalho, poderia se considerar que os mesmos buscariam, com
maior intensidade, satisfazerem as suas necessidades primárias.
Porém, no Gráfico 17, a categoria trabalho e renda ficou em segundo plano, com 9
inferências (30%), enquanto a categoria Realização
(união/cooperação/aprendizagem/valorização) apareceu com 18 inferências (60%).
Isso demonstra que aqueles que consideraram que a sua vida melhorou após a
intervenção, acreditam e estão vivendo os princípios de Economia Solidária.
Para aqueles que responderam que a vida piorou formou-se as seguintes categorias de
análise.
a) Menciona Falta garantia (renda/trabalho/alguns tem privilégio)
b) Menciona Obrigatoriedade de participação (reunião)
c) Menciona Outras citações
A distribuição por categorias ficou constituída conforme mostra o Quadro 6.
MOTIVO PELO QUAL A VIDA ESTÁ PIOR DO QUE ANTES DA INTERVENÇÃO
Falta garantia
(renda/trabalho/alguns tem
privilégios)
Reunião Outras citações
Porque não tem salário fixo (Respondente
04)
Antes pelo menos fica em casa, agora
tenho que vir em reunião
(Respondente 01)
Nem vou que é para não me
incomodar (Respondente 17)
Além de não arrumarem emprego, se não
"participa" ficam olhando de cara feia
(Respondente 07)
Perco mais tempo com reunião
(Respondente 03)
A gente não tem garantia nenhuma
(Respondente 18)
Podia tomar uma cerveja e tem que ir
em reunião (Respondente 15)
Continuo do mesmo jeito, ganhando a
mesma quantia (Respondente 22)
Dão serviço para aqueles "amigos deles"
(Respondente 23)
Dinheiro que é o bom, ainda não vi
(Respondente 27)
Quando eu estava trabalhando o pouco que
eu ganhava me ajudava muito
(Respondente 29)
Quadro 6 - Motivo pelo qual vida está pior do que antes da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferência tem-se: Falta garantia 7; Reunião 3; Outras
citações – 1, conforme Gráfico 18.
77
Motivo pelo qual a vida está pior do que antes da
interveão
64%
27%
9%
Falta garantia (renda/trabalho/alguns tem previlégios) Reunião Outras citações
Gráfico 18 - Motivo pelo qual a vida está pior do que antes da intervenção
Fonte: Elaborado pela autora
A falta de garantia teve 64% (7 respondentes). Essa garantia tem a ver com o fato de não
conseguirem imediatamente trabalho e renda, e por acreditarem que alguns do grupo o
privilegiados, e 3 respondentes (27%) se queixaram de ter que participar em reuniões.
Essas informações também apareceram no Quadro 4, onde se perguntou o que o
entrevistado achava de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento). Aqueles que não
estavam satisfeitos mencionaram a falta de trabalho, inclusive “alegando” que eles é que tinham
que ir atrás de trabalho; e as reuniões que era necessário participarem, tempo que preferiam
utilizar para outras coisas, principalmente lazer.
Fica claro que esse grupo ou não conseguiu assimilar o verdadeiro sentido do trabalho
solidário ou se nega a participar dessa forma. Singer (1998) deixa claro que essas pessoas estão
perdendo uma oportunidade de se reintegrar à vida produtiva por conta própria, de forma
individual ou coletiva, sempre com comprometimento e responsabilidade.
Talvez o desejo dessas pessoas fosse de assistencialismo, de certa forma ganhar as
coisas prontas, sem necessidade de terem que desprender dedicação, comprometimento,
esforço, vontade de experimentar e aprender.
Para corroborar com a pergunta 7, elaborou-se a pergunta 8, na qual o entrevistado
respondia se estava ciente ou não que a sua cooperativa (ou seu empreendimento) é apoiado(a)
pela UNOCHAPECÓ. Todos os 41 entrevistados responderam que sim, que tinham
conhecimento do acompanhamento feito pela ITCP ao seu empreendimento.
78
5.3.4 Proposta filosófica de economia popular solidária
Como apresentado na teoria, os empreendimentos, para que sejam voltados para o
projeto de Economia Solidária, devem permitir e garantir a participação de todos no processo de
decisão (gestão do empreendimento).
Singer (2002) defende que esses princípios de gestão devem garantir ao trabalhador uma
vida melhor, conquistando dessa forma o seu espaço de participação plena na vida do
empreendimento.
Dessa forma, analisaram-se os quatro princípios de gestão: valorização do trabalho sobre
o excedente; remuneração; processo decisório; e a divisão do trabalho. Tais princípios uma vez
utilizados no empreendimento confirmam que esse emprendimento é mesmo de Economia
Popular Solidária.
Na seqüência, será apresentada a avaliação de cada um desses princípios, dentro da
lógica do grupo entrevistado.
5.3.4.1 Valorização do trabalho sobre o excedente
A pergunta 10 possibilitou ao entrevistado identificar quem define como vai ser a
partilha do excedente, conforme Gráfico 19.
Quem define como vai ser a partilha do
excedente?
52%
14%
34%
0%
Todos participam sempre Todos participam algumas vezes
A diretoria se reúne e decide Outra alternativa
Gráfico 19 - Quem define como vai ser a partilha do excedente?
Fonte: Elaborado pela autora
Dos 41 entrevistados, 35 responderam, 6 devolveram essa questão em branco.
79
Pode-se observar pelo Gráfico 19 que um pouco mais da metade dos entrevistados (52%
- 18 entrevistados) responderam que todos participam da decisão sobre como será a partilha do
excedente; 34% (12 entrevistados) disseram que é a diretoria que decide; e 14% (5
entrevistados) identificaram que todos participam algumas vezes.
O resultado apresentado não é o ideal, pois ainda existe uma grande parcela 34%, 12 dos
35 entrevistados, que identificaram que a decisão e feita pela diretoria. É importante salientar
que dentro do princípio de gestão da valorização do trabalho sobre o excedente, é necessário
que os integrantes do empreendimento participem da decisão de como será feita a divisão do
resultado, seja ele positivo ou negativo.
A decisão o deve ser feita com a participação de parte dos associados ou somente a
diretoria decidindo, ela deve ser com a participação, sempre, de todos e deve ser realizada em
Assembléia.
Na pergunta 9, os 31 entrevistados responderam como é feita a partilha do excedente.
Procedeu-se o agrupamento das respostas, formando as categorias de análise.
a) Menciona Garante os princípios da EPS
b) Menciona Não garante os princípios da EPS
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 7.
COMO É FEITA A PARTILHA DO EXCEDENTE?
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Deve ser conforme cada um trabalha (Respondente 02) Se alguém partilhou eu não recebi (Respondente 01)
É repartido em partes iguais (Respondente 04) Nunca teve (Respondente 03)
Deve ser proporcional a participação de cada um
(Respondente 06)
Não há excedente (Respondente 05)
Conforme cada um desempenha sua tarefa (Respondente 08) Nós nunca tivemos dinheiro (Respondente 07)
Ia fica na cooperativa depositado e no final do ano o grupo
iria dividir proporcional (Respondente 09)
Se alguém dividiu foi com os outros (Respondente 15)
Quem trabalha bastante ganha bastante, quem trabalha pouco
tem que ganhar pouco (Respondente 10)
Mulher nunca viu dinheiro (Respondente 17)
Será proporcional ao que cada um produziu (Respondente
13)
Que eu saiba nunca sobrou nada (Respondente 18)
Cada um deve receber conforme se esforçou (Respondente
14)
Não tinha nenhum resultado (Respondente 22)
Igual para todos (Respondente 16) Não teve sobra (Respondente 23)
Deverá ser como diz no Estatuto, discutido em assembléia
(Respondente 19)
Primeiro tem que ter dinheiro para depois dividir
(Respondente 27)
Dividir entre os que tem direito (Respondente 21)
Com reunião de todos os cooperados (Respondente 24)
Continua...
Continuação...
COMO É FEITA A PARTILHA DO EXCEDENTE?
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
80
Se sobrar, deverá se avaliar quanto cada um produziu e
depois decidir no grupo separa o associado ou deixa na
cooperativa (Respondente 25)
Trabalhou tem direito, não trabalhou não tem (Respondente
26)
Quando há trabalho os resultados são divididos entre os
cooperados que trabalham (Respondente 28)
Era divido entre os membros da cooperativa (Respondente
29)
A partilha é feita de forma igual por horas trabalhadas
(Respondente 30)
Dividida a sobra conforme o tempo trabalhado (Respondente
31)
Trabalhamos com a partilha de horas. Pagamos as despesas e
repartimos as sobras (Respondente 32)
É feito controle administrativo e as sobras são partilhadas. A
hora trabalhada tem o mesmo valor para todos os
cooperados, independente do cargo ou função que exerce
(Respondente 33)
É contado as horas de cada uma e é dividido igual por hora,
tanto costureira como auxiliar (Respondente 35)
Quadro 7 - Como é feita a partilha do excedente?
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferências tem-se: Utilizando os princípios da EPS 21;
o utilizando os princípios da EPS – 10, conforme Gráfico 20.
Como é feita a partilha do excedente?
68%
32%
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Gráfico 20 - Como é feita a partilha do excedente?
Fonte: Elaborado pela autora
Mesmo com uma participação o integral das pessoas na decisão sobre a partilha do
excedente, Gráfico 19, 68% dos entrevistados (21 respondentes) identificaram que na partilha
do excedente são utilizados os princípios de Economia Solidária, os 32% (10 entrevistados) que
identificaram que não é utilizado o princípio, na verdade manifestaram-se dizendo que não
houve excedente, ou seja, o ocorreu partilha. Foram poucas, mas houve manifestações
dizendo que, se ocorreu partilha, eles não ficaram sabendo.
Cabe salientar que o valor central é o trabalho, o saber e a criatividade humana e não o
capital e sua propriedade. Se todos participarem da decisão sobre a partilha do excedente e o
81
trabalho for mais valorizado que o capital, será possível garantir uma partilha mais equilibrada,
sendo mais justa a distribuição da renda.
5.3.4.2 Remuneração
Na pergunta 12 o entrevistado identificou quem define como vai ser a remuneração,
conforme Gráfico 21.
Quem define como será a remuneração?
41%
17%
39%
3%
Todos participam sempre Todos participam algumas vezes
A diretoria se reúne e decide Outra alternativa
Gráfico 21 - Quem define como será a remuneração?
Fonte: Elaborado pela autora
No Gráfico 21 houve uma divisão bem significativa de quem define como será a
remuneração onde 41% (16 entrevistados) disseram que todos participam sempre; 39% (14
entrevistados) que é a diretoria quem decide; e 17% (6 entrevistados) que todos participam
algumas vezes. Ou seja, isso demonstra que a participação no processo de decisão não é efetiva.
Um empreendimento deve ser capaz de se organizar, produzir e remunerar seus
integrantes de forma justa. Cada empreendimento decide com será a retirada de seus associados,
se receberão de forma igual ou não. Por isso, é imprescindível que as pessoas estejam presentes
na hora de decidir como será a remuneração e não deixem isso para aqueles que estão na
coordenação do empreendimento ou que julgam que têm mais conhecimento sobre o assunto.
A remuneração deve ser capaz de gerar vida digna, que, segundo Singer (2002), é ter
liberdade de escolha, autonomia e participação plena no processo de decisão.
Na pergunta 11, os 32 entrevistados responderam como se decide qual a remuneração
que cada um vai receber. Procedeu-se o agrupamento das respostas, formando as categorias de
análise.
82
a) Menciona Utilizando os princípios da EPS
b) Menciona Não utilizando os princípios da EPS
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 8.
COMO SE DECIDE QUAL A REMUNERAÇÃO QUE CADA UM VAI RECEBER?
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Deve ser conforme o que trabalhou (Respondente 02) Nós mulheres nunca recebemos nada (Respondente 01)
Em assembléia (Respondente 04) Acho que nem sabem como fazer (Respondente 03)
Se houvesse renda comum seria dividida igualmente entre
todos em assembléia (Respondente 05)
O presidente paga do "jeito" dele (Respondente 06)
Um sempre queria mais que o outro, deveria ser proporcional
ao trabalho desenvolvido (Respondente 09)
Elas pagam como querem (Respondente 07)
O grupo se reúne e discute como será (Respondente 10) O pessoal não ajuda muito para decidir (Respondente 08)
Conforme a renda (Respondente 12) Deixam o presidente sozinho para decidir (Respondente 13)
É conforme trabalha (Respondente 14) No fundo quem decide é o presidente (Respondente 15)
Todos discutem para chegar num acordo (Respondente 19)
Acho que não tem muito critério, é conforme a cara da
pessoa (Respondente 16)
Por quantia trabalhada cada 30 dias (Respondente 22) Se tiver trabalho deve receber (Respondente 17)
É conforme desempenha, com base no que foi acertado com
o cliente (Respondente 25)
O pessoal mais sabido é que decide (Respondente 18)
Todos são convocados p/reunião e ali tomamos decisões e o
que cada um vai receber. Dentro da ordem de trabalho
(Respondente 28)
Não houve muita conversa (Respondente 21)
Nós nos reuníamos e conversávamos, pois éramos muito
unidos (Respondente 29)
Eu nem sei se recebo certo (Respondente 23)
É somado as horas trabalhadas e dividimos em preço por
horas (Respondente 30)
A diretoria se reúne e vão decidir o salário de cada
funcionário (Respondente 24)
Decidiu as sobras pelas horas trabalhadas (Respondente 31) Precisava discutir mais (Respondente 26)
Depende do que produzimos, quando temos mais trabalho
repartimos mais, quando temos menos trabalho repartimos o
que dá (Respondente 32)
Eles pagam o que querem (Respondente 27)
A definição é feita pelo resultado mensal (Respondente 33)
As sobras são partilhadas pela hora trabalhada (Respondente
34)
Quadro 8 - Como se decide qual a remuneração que cada um vai receber?
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferências tem-se, pela ordem decrescente: Utilizando os
princípios da EPS – 17; Não utilizando os princípios da EPS – 15, conforme Gráfico 22.
83
Como se decide qual a remunerão que cada
um vai receber?
53%
47%
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Gráfico 22 - Como se decide qual a remuneração que cada um vai receber?
Fonte: Elaborado pela autora
Essa análise também reforça que a decisão não está sendo feita de forma adequada, pois
um pouco mais da metade dos entrevistados (53% - 17 respondentes) dizem que os princípios
de Economia Solidária são utilizados quando se decide qual a remuneração que cada um vai
receber, 15 entrevistados (47%) acham que isso o ocorre, justificando inclusive que o
pagamento é feito de maneira extremamente aleatória, sem critérios, gerando no associado
vida se o mesmo está recebendo corretamente.
Quando o associado conhece o princípio, como demonstrado no Quadro 8, mas mesmo
assim não tem uma participação mais efetiva, com certeza estará correndo o risco de que a
remuneração não esteja sendo feita de forma justa. Somente a participação efetiva é que
garantirá a discussão e a decisão comum.
A proposta da Economia Solidária é proporcionar uma melhor distribuição de renda,
reforçando o desenvolvimento sustentável e a participação de todos nos resultados provenientes
da atividade econômica.
5.3.4.3 Processo decisório
Para que fosse possível analisar como se o processo decisório nos empreendimentos,
perguntou-se aos entrevistados sobre dois acontecimentos comuns no cotidiano dos mesmos, a
admissão e afastamento de associados.
O Gráfico 23 apresenta o resultado da pergunta: Quem define sobre admissão; e o
Gráfico 24 a pergunta: Quem define sobre o afastamento.
84
Quem define sobre a admissão?
52%
12%
36%
0%
Todos participam sempre Todos participam algumas vezes
A diretoria se reúne e decide Outra alternativa
Gráfico 23 - Quem define sobre a admissão?
Fonte: Elaborado pela autora
Quem define sobre o afastamento?
46%
15%
33%
6%
Todos participam sempre Todos participam algumas vezes
A diretoria se reúne e decide Outra alternativa
Gráfico 24 - Quem define sobre o afastamento?
Fonte: Elaborado pela autora
Achou-se mais conveniente fazer as análises dos dois gráficos juntos, pois existe quase
que um equilíbrio nos índices. A participação sempre de todos no processo de admissão contou
com 52% (17 entrevistados) e no afastamento 46% (15 entrevistados); a decisão sendo da
diretoria apareceu 36% (12 entrevistados) na admissão e 33% (11 entrevistados) no
afastamento. A participação esporádica (algumas vezes) para o caso de admissão foi de 12% (4
entrevistados) e 15% (5 entrevistados) nos afastamentos.
O resultado novamente demonstra a fragilidade da participação na gestão do
empreendimento. É preciso, no processo de decisão, garantir a transparência, a solidariedade e o
interesse social combinado com os interesses individuais. É através da participação na gestão do
empreendimento que as oportunidades de igualdades acontecem.
85
Nunca se deve esquecer que num empreendimento de Economia Solidária as pessoas
são as mãos que produzem e as cabeças que gestionam todo o empreendimento
Na pergunta 13, os entrevistados responderam como se decide sobre a admissão de
novos membros. Foram 28 respondentes. Procedeu-se o agrupamento das respostas, formando
as categorias de análise.
a) Menciona Utilizando os princípios da EPS
b) Menciona Utilizando, parcialmente, os princípios da EPS
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 9.
COMO SE DECIDE SOBRE A ADMISSÃO DE NOVOS MEMBROS?
Utilizando os princípios da EPS
Utilizando, parcialmente, os princípios
da EPS
Por assembléia (Respondente 05) Só se fizer curso (Respondente 01)
Tem que aguardar e fazer o curso, o grupo decide
(Respondente 06)
Tem que passar pelo curso que nós passamos (Respondente
02)
Acho que só se a gente deixar, discutido em reunião
(Respondente 07)
Só depois do curso (Respondente 03)
Pede para entrar e espera fazer o curso, depois o grupo de
reúne e chama (Respondente 08)
Tem que saber as mesmas coisas que nós (Respondente 10)
Se reúnem (Respondente 12)
Só depois que tiver sido capacitado pela ITCP (Respondente
13)
A ITCP capacitará, depois a gente decide (Respondente 14) Só com o curso feito (Respondente 16)
Tem que fazer reunião e curso, o grupo decide (Respondente
15)
Só depois de fazer a preparação (Respondente 17)
Se inscreve, faz a preparação (como nós) e a assembléia
decide (Respondente 19)
Quando tiver feito o curso (Respondente 18)
Com reunião de todos os cooperados, com votação da maioria
(Respondente 24)
Quando estão formado na cooperativa (Respondente 21)
Pede para participar, faz a preparação com a ITCP e depois a
assembléia decide (Respondente 25)
Com curso (Respondente 23)
Faz curso e espera ser chamado pelo grupo (Respondente 27) Depois de preparado (Respondente 26)
É convocada uma assembléia para que todos dêem sua opinião
sobre o assunto (Respondente 28)
Nós nos reuníamos e conversávamos entre os membros
(Respondente 29)
Todos os associados decidem junto e nós avaliamos a idéia de
cada um (Respondente 30)
Todos participam da decisão (Respondente 32)
Definimos algumas regras pelo próprio estatuto. Buscamos
pessoas que tenham afinidade com a proposta (Respondente
33)
Em grupo, alguém com formação e que conheça um pouco o
que é cooperativismo (Respondente 35)
Quadro 9 - Como se decide sobre a admissão de novos membros?
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferências tem-se, pela ordem decrescente: Utilizando os
princípios da EPS –17; Utilizando parcialmente os princípios da EPS –11, conforme Gráfico 25.
86
Como se decide a admissão de novos
membros?
61%
39%
Utilizando os princípios da EPS Utilizando parcialmente os princípios da EPS
Gráfico 25 - Como se decide sobre a admissão de novos membros?
Fonte: Elaborado pela autora
Apesar dos índices apresentados no Gráfico 23 (Admissão), o resultado quanto a como
se decide a admissão de novos membros, demonstra que o grupo tem um bom conhecimento
sobre os princípios de Economia Solidária, pois 61% (17 entrevistados) estão na categoria que
os princípios de Economia Solidária são utilizados e 39% (11 entrevistados) responderam que
os mesmos são parcialmente utilizados.
Considera-se uma avaliação positiva, pois não houve a identificação de não serem
respeitados os princípios de Economia Solidária. Os que identificaram que a utilização é
parcial, ficaram nessa categoria porque não mencionou, na sua justificativa, que é
imprescindível que o grupo se reúna para a tomada de decisão.
Na pergunta 15, os 31 entrevistados responderam como acontece o afastamento de
algum membro. Procedeu-se o agrupamento das respostas, formando as categorias de análise.
a) Menciona Utilizando os princípios da EPS
b) Menciona Não utilizando os princípios da EPS
c) Menciona Outras citações
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 10.
87
COMO ACONTECE O AFASTAMENTO DE ALGUM MEMBRO?
Utilizando os princípios da EPS
Não utilizando os princípios
da EPS
Outras citações
Depende do motivo da saída (Respondente 03)
Se quiser sair é difícil (Respondente
01)
Ninguém desistiu por enquanto
(Respondente 02)
Deveria ser em assembléia (Respondente 04)
Sai a hora que quer, não precisa dar
justificativa (Respondente 07)
Não teve (Respondente 29)
Combinado por todos (Respondente 05)
As mulheres se afastaram pela
demora de “aparecer” serviço
(Respondente 09)
Conforme estatuto (Respondente 06)
Se querer, ninguém vai prender
(Respondente 10)
Só como prevê o estatuto (Respondente 08)
Sai quando bem entender
(Respondente 15)
Com reunião (Respondente 12) É só pedir e pronto (Respondente 17)
Tem que justificar, aí o grupo decide
(Respondente 13)
Basta querer (Respondente 18)
Se quiser a gente avalia (Respondente 14)
Saíram por conta própria
(Respondente 22)
Pode sair, mas tem que cumprir a lei do grupo
(Respondente 16)
Se é para incomodar, melhor sair
(Respondente 23)
Tem que seguir o que diz o estatuto
(Respondente 19)
Ninguém pode prender ninguém
(Respondente 27)
Conforme o estatuto (Respondente 21)
Quando a pessoa não tem espírito de
cooperação e isso é difícil para o
grupo (Respondente 30)
Com reunião de todos os sócios da cooperativa
(Respondente 24)
Nunca afastamos ninguém que saiu,
foi por conta própria (Respondente
35)
Pede para sair, a gente avalia o que diz o
estatuto e decide em assembléia (Respondente
25)
O estatuto diz como é (Respondente 26)
Em assembléia geral e com a participação de
todos associados e coordenação (Respondente
28)
O grupo avalia se deve ou não o afastamento
(Respondente 31)
Algumas regras são estatutárias, outras poderão
ser criadas por regimento interno (Respondente
33)
Quadro 10 - Como acontece o afastamento de algum membro?
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferências tem-se, pela ordem decrescente: Utilizando os
princípios da EPS 17; Não utilizando os princípios da EPS 12; Outras citações 2,
conforme Gráfico 26.
88
Como aconte o afastamento de algum membro?
55%
39%
6%
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Outras citações
Gráfico 26- Como acontece o afastamento de algum membro?
Fonte: Elaborado pela autora
Com relação a quem decide o afastamento (Gráfico 24), o nível de conhecimento e
aplicabilidade dos participantes do empreendimento não está adequado.
O Gráfico 26 apresenta a seguinte informação com relação a como acontece o
afastamento: 55% (17 respondentes) entendem que os princípios são utilizados e 39% (12
respondentes) identificam que não. Pelas respostas do grupo que acredita que não são utilizados
os princípios de Economia Solidária, a maioria demonstra desconhecer quais sejam os
princípios a serem utilizados. Eles deixaram claro que acreditam que basta apenas que a pessoa
deseje se afastar do empreendimento, não sendo necessária nenhuma regra a ser seguida.
A participação no processo de decisão sobre o afastamento, apresentada no Gráfico 24,
onde se identifica que todas as formas de “quem decide” tiveram a sua incidência, ou seja, a
participação dos membros não é efetiva, com certeza gera um desconhecimento dos princípios
por parte dos mesmos.
Finalizando a análise do Processo de Decisão, foi possível identificar que os integrantes
do empreendimento ou não estão fazendo valer seu direito à participação ou, como identificado
na teoria, não participam (se manifestam) porque carrega do passado o estigma que não
tinham essa oportunidade, ou ainda por acharem que sua opinião o faz diferença, ou pior,
decidir não é problema deles.
No trabalho de pesquisa realizado por Carrion et al. (2004) em RECOOPERE, Curitiba
(PR), os entrevistados também demonstraram baixo interesse pelas Assembléias em que são
tomas as decisões.
89
Jamais se deve esquecer que o processo decisório é a alma do projeto solidário. A gestão
se através da participação em reuniões, assembléias e em todas as ações do dia-a-dia do
empreendimento, assim as pessoas estarão exercitando a democracia, o exercício do poder
coletivo.
Entenda-se democracia como a capacidade e o poder de decisão sobre tudo aquilo que
acontece no empreendimento.
Costa e Carrion (2005) defendem que um empreendimento autogerido, marcado por
valores de participação e cooperação, acaba com qualquer tipo de gestão, que tenha como
proposta legitimar a centralização do poder de decisão nas mãos de uma minoria intelectual.
5.3.4.4 Divisão do trabalho
As pessoas devem estar organizadas para produzir ou prestar serviço, cada um deve
desempenhar uma atividade que atenda ao coletivo. Nesse tipo de empreendimento, o existe
patrão, a divisão do trabalho deve ocorrer de forma consensual e equilibrada.
Na pergunta 18 o entrevistado identificou quem define sobre a divisão do trabalho,
conforme Gráfico 27.
Quem define sobre a divisão do trabalho?
47%
13%
37%
3%
Todos participam sempre Todos participam algumas vezes
A diretoria se reúne e decide Outra alternativa
Gráfico 27 - Quem define sobre a divisão do trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora
Novamente acontece uma divisão significativa das formas de decisão: 47% (18
entrevistados) acham que todos participam sempre; 37% (14 entrevistados) dizem que é a
diretoria; e 13% (5 entrevistados) relacionam que participam algumas vezes.
90
Mais uma vez demonstra que o membro do grupo omite-se na participação da decisão,
motivo esse que provavelmente causa tantas reclamações e desconfortos dos mesmos.
Alguns trabalhadores o m a compreensão do significado de trabalho de forma
cooperativa, fato esse gerado, muitas vezes, por manter a forma tradicional de divisão do
trabalho. Isso pode comprometer a gestão democrática e a disciplina.
Na pergunta 17, os entrevistados (36) responderam como é feita a divisão do trabalho
(quem vai fazer o quê). Procedeu-se o agrupamento das respostas, formando as categorias de
análise.
a) Menciona Utilizando os princípios da EPS
b) Menciona Não utilizando os princípios da EPS
Transcreveram-se as respostas dos entrevistados, citando-as dentro da respectiva
categoria de análise, conforme Quadro 11.
COMO É FEITA A DIVISÃO DO TRABALHO?
Utilizando os princípios da EPS Não utilizando os princípios da EPS
Sempre pediam quem podia e aí o grupo decidia
(Respondente 02)
Para nós não era muito justa (Respondente 01)
Cada um na sua profissão (Respondente 04) Conforme a "amizade" (Respondente 03)
Entre os sócios seriam divididas as tarefas (Respondente
05)
Existia um grupo que tinha algumas "preferências"
(Respondente 06)
É colocado a vaga, e se analisa os interessados
(Respondente 08)
Se tivesse trabalhado, talvez saberia (Respondente 07)
É bastante discutido no grupo (Respondente 10)
Nem todos eram avisados, dependia de quem "contratava" o
trabalho. Houve "ataque" ao trabalho dos outros, nem todos
eram avisados, tirando a oportunidade igual para todos.
(Respondente 09)
Conforme a habilidade de cada um (Respondente 12) Os mais "chegados" tem mais vez (Respondente 15)
O grupo se reúne e vê quem é a melhor pessoa para a
atividade (Respondente 13)
Eu muitas vezes não fui consultado (Respondente 18)
O grupo sempre decide junto (Respondente 14) Fazíamos o que o presidente mandava (Respondente 22)
Conforme a necessidade, vê quem se enquadra
(Respondente 16)
Tem vez que a gente nem fica sabendo (Respondente 23)
Vê, quem ta com vontade vai, discutem antes (Respondente
17)
O presidente ou qualquer um da diretoria (Respondente 24)
Todos os interessados se reúnem e decidem (Respondente
19)
Convidam aqueles que eles querem (Respondente 27)
Se fosse o caso o grupo julgava (Respondente 21)
Conforme o serviço, reúne o grupo e discute como se fará a
divisão das tarefas (Respondente 25)
Se necessita alguém, convoca o grupo e decide
(Respondente 26)
Nos reunimos e quando não há trabalho para todos, vão
trabalhar quem está disponível (Respondente 28)
Uns lavavam os vidros, outros as paredes, outros o chão
(Respondente 29)
Aqui todos trabalham juntos, ninguém escolhe serviço
(Respondente 30)
O grupo (Respondente 31)
Continua...
Continuação...
91
COMO É FEITA A DIVISÃO DO TRABALHO?
Utilizando os princípios da EPS Não utilizando os princípios da EPS
Quem tem mais habilidade do trabalho que se faz, assim se
distribui as tarefas. Mas temos oportunidade de
aprendermos tudo, se quisermos, depende dos momentos
quando estamos com mais serviço ou menos (Respondente
32)
Levamos em conta a necessidade, as diferentes habilidades
e a produtividade. Mas também, fazemos alternâncias
levando em conta as doenças provocadas por tarefas
repetitivas (Respondente 33)
O que cada um se habilita a fazer (Respondente 34)
Toda segunda-feira pela manhã a gente se reúne e distribui
as tarefas, o que for mais urgente (Respondente 35)
Faz por quem corta (Respondente 38)
Em grupo (Respondente 39)
Sim porque a gente gosta e quer aprender, conversando em
grupo (Respondente 41)
Quadro 11 - Como é feita a divisão do trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora
Em termos de quantidade de inferências tem-se, pela ordem decrescente: Utilizando os
princípios da EPS – 25; Não utilizando os princípios da EPS – 11, conforme Gráfico 28.
Como é feita a divisão de trabalho?
69%
31%
Utilizando os princípios de EPS Não utilizando os princípios de EPS
Gráfico 28 - Como é feita a divisão do trabalho?
Fonte: Elaborado pela autora
Apesar do bom índice 69% (25 entrevistados) estar na categoria de que são utilizados os
princípios de Economia Solidária para fazer a divisão do trabalho e somente 31% (11
entrevistados) acharem que não é utilizado, apareceu relatos sérios identificando que houve
manifestação de preferências quando da escolha para o trabalho, em detrimento de outros
companheiros e que alguns nem eram consultados sobre os serviços.
o se pode deixar de considerar que, nos empreendimentos, as pessoas são diferentes
(idade, grau de instrução, experiência etc.), mas, com certeza, as atividades a serem
desenvolvidas também são. Por isso, não é admissível haver preferências. É necessário saber
92
combinar os fatores. Nunca se deve esquecer que um bom trabalho se faz com competência,
mas é extremamente necessária a cooperação e ajuda mútua.
93
6 CONCLUSÕES
A partir dos objetivos propostos e do estudo de campo realizado, apresentam-se as
considerações finais, considerando que o propósito dessa pesquisa foi analisar se o apoio
prestado pela ITCP da UNOCHAPECÓ às cooperativas e empreendimentos, identificados
como o Movimento de Economia Popular e Solidária, está contribuindo para a geração de
trabalho e renda dos trabalhadores dessas organizações.
A princípio, a escolha dos empreendimentos, objeto desse estudo, deveria ser o mais
antigo e um em processo de extinção (ou extinto). Como uma das cooperativas atendia os dois
requisitos, definiu-se por fazer a pesquisa com todos os empreendimentos que receberam a
intervenção da ITCP. Mas, conforme justificado no item “Limitação da Pesquisa”, isso não foi
possível, viabilizando, dessa forma, somente três empreendimentos para serem pesquisados.
O estudo de caso foi realizado em duas cooperativas populares (uma de confecção e
outra de construção civil e serviços gerais) e um grupo de artesanato (tri e crochê),
totalizando 53 pessoas. Os questionários foram entregues a todos e respondidos no período de
fevereiro a março de 2006, sendo que retornaram 41 questionários (77,36%).
No grupo pesquisado houve predominância do sexo feminino, 68% dos entrevistados.
Quanto à faixa etária houve destaque para duas, de 20 a 35 anos e de 46 a 55 anos, sendo que no
total das mulheres pesquisadas o maior índice (43%) pertence à faixa etária de 20 a 35 anos, já
para os homens a incidência está na faixa etária de 46 a 55 anos (54%).
O primeiro objetivo da pesquisa: Verificar se após o início da assessoria prestada
pela ITCP houve flutuação na renda dos integrantes dos empreendimentos por ela
apoiados e, nesse caso, qual o sentido dessa flutuação, foi respondido através das
demonstrações gráficas, nas quais se percebeu que houve um aumento significativo na renda
dos participantes após a intervenção.
Através de uma simulação comparativa, obteve-se uma renda média mensal de
R$486,45 antes da intervenção e R$544,38 após. Inclusive três associados se manifestaram
respondendo que antes da intervenção não tinham renda.
A renda se mostrou variável, tanto antes da intervenção (81%), como depois (86%), o
que é considerado normal em empreendimentos de Economia Solidária, uma vez que não existe
salário e as pessoas recebem por aquilo que produzem e com base no desempenho (resultado)
dos serviços prestados pelo empreendimento.
94
Quando solicitado se os participantes deixariam o trabalho caso recebessem uma
proposta de trabalho com carteira assinada, 51% responderam que o deixariam. Outro dado
interessante é que 71% dos entrevistados consideram que trabalhar numa cooperativa (ou
empreendimento) garante os princípios de Economia Solidária, onde um dos principais é o
trabalho e renda. Ainda na pergunta se a vida está melhor ou pior do que antes da intervenção,
73% responderam que está melhor.
Com relação ao segundo objetivo: Investigar se os trabalhadores identificam
mudanças em suas vidas associadas ao fato de estarem atuando de modo associativo, e
descrevê-las, observou-se, como comentado anteriormente, que se recebesse uma proposta para
trabalhar com carteira assinada 51% não deixariam o empreendimento, alegando que eles têm
um ideal e estão seguindo, mesmo com as dificuldades, pois a união e a cooperação podem
superar mais facilmente os problemas. Responderam também que é bom saber que é “dono do
que é seu e que todos têm direitos iguais, sendo que a garantia dos direitos é o grupo que
constrói.
Os 49% que deixariam o empreendimento justificaram que os principais motivos o
renda e direitos trabalhistas, pois acreditam ser muito importante ter um salário fixo (certo) e
carteira assinada, reclamaram da falta de trabalho na cooperativa, que segundo os entrevistados
a cooperativa não arrumou trabalho para eles. Ficou claro que o percebem a garantia de
direitos no empreendimento e acreditam que no trabalho formal isso é certo.
Para poder responder também ao segundo objetivo da pesquisa, perguntou-se o que o
associado acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento), onde 71% responderam
que no empreendimento que estão os princípios de Economia Solidária são garantidos.
Justificaram sua resposta através de inferências como: mais valorização, trabalho digno,
desafio, aprendizagem, segurança, mais resultado (lucro), solidariedade/união (trabalho em
grupo), acreditar na proposta (esperança) e participação.
Com relação a estar a vida hoje melhor ou pior do que antes da intervenção, 73%
responderam estar melhor, uma vez que possui reconhecimento; existe participação; união e
solidariedade (trabalho em grupo); é possível a aprendizagem; acreditam na luta por um ideal; e
melhorou a renda, com conquista e garantia de trabalho, gerando independência.
Dessa forma, conclui-se que os respondentes acreditam que o trabalho em uma
cooperativa (ou empreendimento) é positivo, principalmente porque a mudança gerada na vida
dos mesmos foi significativa, levando em conta que 73% afirmam que sua vida está melhor
depois da intervenção e 71% entendem que o empreendimento lhes dá a garantia dos princípios
95
de Economia Solidária, os quais são: a valorização social do trabalho humano, a satisfação
plena das necessidades de todos, o reconhecimento do lugar fundamental da mulher, a busca de
uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza e os valores da cooperação e da
solidariedade.
Para responder ao terceiro objetivo: Investigar os princípios de administração
subjacentes às práticas de gestão da produção e de pessoas nas cooperativas
(empreendimentos) assessoradas pela ITCP UNOCHAPECÓ, utilizou-se a análise dos
princípios de gestão: valorização do trabalho sobre o excedente; remuneração; processo
decisório; e a divisão do trabalho.
Essa análise possibilita saber se os empreendimentos são ou não de Economia Solidária.
Quanto à Valorização do Trabalho Sobre o Excedente, no momento de decidir como
será a partilha do excedente (sobra) somente 52% participam sempre. Porém com relação a
como é feita a partilha do excedente, 68% responderam que o utilizados os princípios de
Economia Solidária, e dos 32% que responderam que os princípios não são utilizados, 6 dos 10
respondentes disseram que não houve excedente para ser partilhado.
Quanto à Remuneração, a participação total dos associados acontece em 41% dos casos
em 39% a diretoria é que decide.
A remuneração é um fator que varia de empreendimento para empreendimento, cada um
adota a forma que esteja mais adequada a sua realidade.
No caso da pesquisa, os resultados mostram que isso fica muito prejudicado, pois a
participação de todos é baixa, o que poderá acarretar num salário não muito justo.
Os próprios entrevistados relatam que não existe muito critério, ou a própria diretoria é
que decide, sem consultar o grupo. Existe inclusive a informação de não saber se está recebendo
corretamente.
Na pesquisa realizada por Carrion et al. (2004), em seis grupos que pertencem ao Fórum
Municipal de Economia Popular Solidária da Prefeitura de Cachoeirinha (RS), os entrevistados
relataram que, com relação à divisão de ganhos, o discurso democrático e participativo não
consegue ocultar a existência de hierarquia e privilégios, o que gera desconforto e insatisfação.
Na mesma pesquisa realizada pelos autores, porém na RECOOPERE, cooperativa de catadores
de resíduos sólidos em Curitiba (PR), os pesquisados responderam que o critério utilizado é a
produtividade individual.
Com relação ao Processo Decisório, no caso de admissão de associados, 52%
participam sempre da decisão. Com relação a como se decidem sobre a admissão de novos
membros, 61% disseram ser utilizado os princípios de Economia Solidária, os outros 39%
96
identificaram como ocorre o processo de admissão, apenas não mencionaram que além da
capacitação daqueles que querem ingressar, deve haver uma reunião (grupo) para decidir a
admissão.
O que se conclui é que existe o conhecimento dos princípios por parte de todos os
entrevistados (com relação à admissão), principalmente considerando que a maior preocupação
dos mesmos é que as pessoas antes de integrarem o grupo sejam capacitadas em Economia
Solidária. Tal preocupação é assinalada por Grade e Aued (2003), quando argumentam que é
necessário que novos sócios passem sempre por estágios probatórios.
Já no caso do afastamento de associados, 46% responderam que sempre participação
de todos no processo de decisão e 33% disseram que é a diretoria que decide.
Esse indicador não está muito adequado, porque ao comentar como acontece o
afastamento, 39% demonstraram não conhecer os princípios de Economia Solidária, sendo que
para eles basta que a pessoa deseje sair. É claro que não se admite a possibilidade do associado
não ter direito a sair de forma voluntária, porém deve haver uma justificativa mínima para tal e
uma reunião (grupo) para analisar a solicitação.
Informações importantes que apareceram nos relatos dos afastamentos é que as pessoas
que se afastaram dos empreendimentos foi por conta própria e que quando a pessoa não tem
espírito de cooperação isso se torna difícil para o grupo. É importante ressaltar essas
informações, pois na pesquisa realizada em Cachoeirinha (RS) por Carrion et al. (2004), esse
tipo de relato também se fez presente, quando os autores dizem que as saídas são narradas pelos
pesquisados como desligamentos voluntários, onde a origem seria a ausência de “perfil” para a
atividade solidária e autogestionária.
Tal fato também é apresentado por Costa e Carrion (2005), quando da realização da
pesquisa em dois grupos que pertencem ao Fórum Municipal de Economia Popular Solidária da
Prefeitura de Cachoeirinha (RS), onde os pesquisados dizem que a pessoa se desligou sozinha,
evidenciando que a saída é encarada naturalmente, como parte da vida.
Talvez isso tenha sido identificado na pesquisa pelo fato dos empreendimentos serem
jovens e em processo de estruturação, e os afastamentos (legais) ainda não ocorreram. Dessa
forma, não está muito claro para os associados quais deveriam ser os procedimentos corretos a
serem seguidos.
A Divisão do Trabalho é outra decisão que necessita ser feita de forma democrática,
garantindo assim que todos tenham oportunidade, dentro das suas possibilidades e habilidades
(qualificações) de trabalharem no empreendimento.
Na pesquisa, 47% participam sempre do processo de decisão, porém quanto a como é
feita a divisão do trabalho, 69% identificaram, pelas suas respostas, que são utilizados os
97
princípios de Economia Solidária. Porém 31% que disseram não ser utilizado os princípios
fizeram considerações rias, dizendo que a escolha para o trabalho é muito informal, dando
preferência para algumas pessoas, muitos até comentaram que por diversas vezes não foram
consultados quando da existência de um serviço.
No trabalho apresentado por Carrion et al. (2004), desenvolvido em Cachoeirinha (RS),
repete a mesma forma de divisão das tarefas relatada nessa pesquisa, em que os pesquisados
dizem que a divisão pode ser fruto do domínio de uma determinada técnica ou ainda arbitrada
por um líder mais forte que assume o controle da situação como um chefe.
O que se de observar foi a problemática na utilização dos princípios de gestão nos
empreendimentos. Essa informação ficou evidente pelas inferências feitas pelos pesquisados.
Ali apareceram situações como: decisões sendo tomadas de forma unilateral, muitas vezes
centralizadas na mão do presidente; desigualdade na divisão do trabalho e na remuneração,
onde alguns são privilegiados em detrimento de outros; o o acesso (transparente) das
informações do empreendimento, muitas vezes gerado pelo desinteresse dos próprios
associados; o fato de esperar que a cooperativa arrume trabalho, sem entender que ele é a
própria cooperativa; o desinteresse na participação das reuniões e momentos de discussão,
achando que isso é perda de tempo; e o desconhecimento de alguns princípios sicos de
gestão.
Isso demonstra que, se nem todos dominam com propriedade os princípios de Economia
Solidária, esse é um dos maiores desafios atuais desses empreendimentos. A informação da não
vivência prática dos princípios, como comentado anteriormente, informa sobre em que
medida os empreendimentos esposam os princípios associados à Economia Solidária.
Os resultados apresentados na pesquisa demonstraram a dificuldade, por parte dos
empreendimentos, na utilização dos princípios. Porém, deve-se levar em consideração que esses
empreendimentos são novos, ou seja, estão consolidando sua estrutura de funcionamento.
Entende-se que a apreensão inadequada dos princípios da ES, pelos empreendimentos, não
permite afirmar que não sejam empreendimentos de Economia Solidária, pois, quando se
aborda o tema Economia Solidária depara-se com uma situação guarda-chuva a qual encobre
uma pluralidade de situações onde se verifica a busca por solidariedade, em contraposição ao
individualismo.
Quando se aborda o tema Economia Solidária, depara-se com um conceito amplamente,
e porque não dizer, mundialmente utilizado, onde o seu âmago é a solidariedade, contrapondo-
se ao individualismo.
98
A Economia Solidária assume o papel de combate ao desemprego, através da inserção
social, comprometida no bem viver dos indivíduos. É o resgate da dimensão humana, tornando
os participantes sujeitos que produzem e decidem, decidir para ter autonomia, tornando-se
sujeito de sua história.
Se a Economia Solidária, como foi apresentada por alguns autores, é a arte de fazer
gestão de todos os espaços que fazem parte da vida das pessoas, isso a torna extremamente
complexa e frágil, diante da realidade que hoje se apresenta.
Por isso, ao finalizar, retoma-se a pergunta de estudo: O apoio prestado pela ITCP da
UNOCHAPECÓ às cooperativas e empreendimentos, identificados com o Movimento da
Economia Popular e Solidária, está contribuindo para a geração de trabalho e renda dos
trabalhadores dessas organizações?
Conclui-se que apesar do pouco tempo de atuação da ITCP desde a sua criação
(07/05/2003), até a realização da pesquisa (fevereiro e março/2006), quase três anos, pode-se
afirmar, através dos resultados apresentado pela pesquisa de campo, que a ITCP está
contribuindo para a geração de trabalho e renda dos trabalhadores nos empreendimentos por ela
acompanhados.
Finalmente, cabe à pesquisadora, tecer uma crítica a forma de atuação da ITCP. Pois,
apesar de entender que ela contribuiu para a geração de trabalho e renda o estudo evidenciou
que existe muita deficiência na gestão dos empreendimentos. Fato esse que com certeza deve
levar a ITCP a repensar sua atuação nas intervenções, criando uma forma mais eficaz de
desenvolver nos grupos os princípios de Economia Solidária e trabalhar para garantir que os
empreendimentos compreendam e vivam esses princípios.
Uma das principais considerações que pôde se chegar ao final desse estudo, é que,
tomando como exemplo a Cooperunião, a qual es em processo de extinção, as colocações
mais fortes dos entrevistados foram com relação a que muitos entendiam como responsabilidade
da cooperativa ou da própria UNOCHAPE conseguir trabalho. Deixando claro que em
momento nenhum assumiam isso como responsabilidade de todo o grupo. Outra informação
extremamente relevante é o fato de que o processo de decisão estava quase todo centralizado na
o da presidência. Fato esse que pode ter sido gerado por dois motivos: pela postura
hierárquica inadequada da presidência ou pelo próprio desinteresse no processo de participação
das decisões, por parte dos associados.
Por isso, se salienta que a ITCP não es cumprindo adequadamente o seu papel, uma
vez que não consegue garantir que os grupos por ela assessorados sigam, no seu processo de
99
gestão, os princípios da Economia Solidária. Sabe-se do desafio que se apresenta, porém a
Universidade é responsável por trabalhar para a geração de empreendimentos autogestionários
e, por isso, deve criar meios de garantir que os empreendimentos conheçam e vivam os
princípios.
Deseja-se finalizar esse trabalho com três frases retiradas da seção “Entre Aspas” da
Revista Reader’s Digest (1997): “Nenhum de nós é tão esperto quanto todos nós” (Phil Condit);
“A maior recompensa para o trabalho do homem não é o que ele ganha com isso, mas o que ele
se torna com isso” (John Ruskin); e “Sempre que se um emprendimento com sucesso, é
porque alguém antes tomou uma decisão destemida” (Peter Drucker).
100
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103
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO
APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO
Entrevistado(a): _____________________________________ Sexo: _________ Idade: ____
Local: _________________________________________________ Data: ____/____/____
1. Tipo de Empreendimento:
( ) Cooperativa Popular Data de Fundação: ____/____/____
( ) Associação
( ) Empresa Autogestionária
( ) Outro: _____________________________________________________________
2. Atividade(s) desenvolvida(s):
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
3. Qual era sua renda mensal antes da intervenção da ITCP UNOCHAPECÓ?
( ) Até R$260,00 ( ) De R$260,01 a R$520,00
( ) De R$520,01 a R$780,00 ( ) De R$780,01 a R$1.040,00
( ) De R$1.040,01 a R$1.300,00 ( ) Acima de R$1.300,00
A renda era: ( ) Fixa ( ) Variável
4. Qual é a sua renda mensal hoje?
( ) Até R$260,00 ( ) De R$260,01 a R$520,00
( ) De R$520,01 a R$780,00 ( ) De R$780,01 a R$1.040,00
( ) De R$1.040,01 a R$1.300,00 ( ) Acima de R$1.300,00
A renda é: ( ) Fixa ( ) Variável
5. Se surgisse a oportunidade de trabalhar com carteira assinada, você deixaria o trabalho que
faz hoje?
( ) Sim ( ) Não
Por quê? ________________________________________________________________
________________________________________________________________________
6. O que você acha de trabalhar em uma cooperativa (ou empreendimento)?
________________________________________________________________________
108
________________________________________________________________________
7. Você acha que a sua vida hoje está melhor ou pior do que antes?
( ) Melhor ( ) Pior
Por quê? ________________________________________________________________
________________________________________________________________________
8. Você sabia que a sua cooperativa (ou seu empreendimento) é apoiada(o) pela
UNOCHAPE?
( ) Sim ( ) Não
9. Como é feita a partilha do excedente (“resultados” financeiros do empreendimento)?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
10. Quem define como vai ser feita a partilha?
( ) Todos participam sempre
( ) Todos participam algumas vezes
( ) A diretoria se reúne e decide
( ) Outra alternativa. Explicitar: ____________________________________________
11. Como se decide qual a remuneração que cada um vai receber?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
12. Quem define como será a remuneração?
( ) Todos participam sempre
( ) Todos participam algumas vezes
( ) A diretoria se reúne e decide
( ) Outra alternativa. Explicitar: ____________________________________________
13. Como se decide sobre a admissão de novos membros?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
106
14. Quem define sobre a admissão?
( ) Todos participam sempre
( ) Todos participam algumas vezes
( ) A diretoria se reúne e decide
( ) Outra alternativa. Explicitar: ____________________________________________
15. Como acontece o afastamento de algum membro?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
16. Quem define sobre o afastamento?
( ) Todos participam sempre
( ) Todos participam algumas vezes
( ) A diretoria se reúne e decide
( ) Outra alternativa. Explicitar: ____________________________________________
17. Como é feita a divisão do trabalho (quem vai fazer o quê)?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
18. Quem define sobre a divisão do trabalho?
( ) Todos participam sempre
( ) Todos participam algumas vezes
( ) A diretoria se reúne e decide
( ) Outra alternativa. Explicitar: ____________________________________________
107
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