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Tradicionalmente os estudos epidemiológicos e os ensaios clínicos desenhados para
avaliar resultados do tratamento da tuberculose com diferentes esquemas
terapêuticos estabelecem um tempo de mínimo de 12 meses a cinco anos de
acompanhamento, após a conclusão de um tratamento, para se detectar a maioria
das recidivas e, assim, avaliar a eficácia dos esquemas (COHN et al, 1990; COMBS
et al, 1990; AMARANTE et al,1993; MARTINEZ e HERNANDEZ, 1995; CHANG et
al, 2004, entre outros). No Brasil recomenda-se que os pacientes com recidiva em
período superior a cinco anos do tratamento anterior sejam notificados como casos
novos, para fins epidemiológicos (Tuberculose – guia de vigilância epidemiológica,
MS/FUNASA 2002: SBPT, II Diretrizes Brasileiras para Tuberculose, 2004).
No nosso trabalho, em se tratando de estudo retrospectivo com objetivos
específicos, o tempo de seguimento foi estendido aos onze anos cobertos pelo
estudo, porém sem acompanhamento sistemático dos casos segundo um protocolo
pré-estabelecido, sendo identificados os casos de recidiva diagnosticados por
demanda espontânea, ou encaminhados de outros serviços, daí não haver critérios
suficientes para confronto estatístico dos dados encontrados com aqueles citados na
literatura. Apesar dessas ressalvas, nosso estudo aponta para algumas evidências
que são objeto de discussão a seguir.
Os resultados encontrados em nosso material mostram que, entre os pacientes que
obtiveram cura no primeiro episódio, seis tiveram recidiva antes de completarem seis
meses após a alta; esses casos foram incluídos no grupo II devido ao critério
estabelecido para a separação dos grupos, mas representam 31,58% dos dezenove
casos de recidiva pós cura nos dois grupos. No grupo I, o intervalo médio entre os
episódios de TB foi de 32,3 meses; quatro pacientes (30,77%) sofreram recidiva
entre o 6º e o 12º mês após cura, e somente mais um caso (7,69%) reincidiu em 24
meses, os oito casos restantes (61,5% do grupo I) tiveram recidiva com intervalos
maiores, chegando, em um caso, a 87 meses. A maioria dos pacientes desse grupo,
portanto, teve recidiva após um longo intervalo livre de doença, fato que reduz a
chance de reativação endógena e aumenta a de re-infecção, segundo Canetti (1972)
e Styblo (1991). Mais recentemente, Sonnenberg e colaboradores (2001)
confirmaram, com estudo realizado em população de alto risco de infecção
tuberculosa e elevada incidência de infecção pelo HIV, que a reativação endógena