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de l’individu, de l’esprit, de l’intelligence, de l’âme (...)”.
15
Nesse sentido, se o estudo do
latim ocupava “le centre” da formação, os textos escolhidos para serem explicados,
traduzidos, memorizados, imitados e emulados como modelos eram aqueles considerados
como formadores de virtudes – a coragem, a justiça, a moderação, a honestidade, a
abnegação, dentre outras.
16
Entre os autores estudados nessas escolas, Chervel destaca que
predominavam os antigos: Ovídio, Virgílio, Tito-Lívio, Cícero, dentre outros. Os alunos
decoravam trechos desses autores que se tornavam modelos para suas futuras composições;
tratava-se de fazer “l’élève s’imprégner des principes de la langue classique” e,
simultaneamente, imbuí-lo de princípios estéticos e éticos.
17
Enfim, essa educação visava a
formar um indivíduo partícipe de um limitado grupo que
par la pratique des textes et des auteurs, par le contact avec des civilisations
fondatrices, par l’exercice de la traduction, de l’imitation et de la composition, a
acquis le goût, le sens critique, la capacité de jugement personnel et l’art de
s’exprimer oralement et par écrit conformément aux normes reçues.
18
Na primeira metade do século XX, Max Fleiusss afirmou ter sido Varnhagen
educado nas humanidades. Fleiuss não indicava as razões que o haviam levado a tal
afirmação, mas provavelmente tinha em mente a compreensão do que significava, no século
XIX, o estudo de retórica. Provavelmente era por isso também que, segundo Fleiuss,
Varnhagen crescera estudando os clássicos da língua portuguesa, que teriam moldado seu
estilo.
19
Varnhagen declarara sua formação em línguas e na retórica. Poder-se-ia afirmar
15
CHERVEL e COMPÈRE, 1997, p. 9. O texto de Chervel introduz um número especial da revista Histoire
de l’Éducation, dedicado a estudos sobre as humanidades clássicas, na França. Um outro número da mesma
revista foi dedicado ao ensino espanhol, do século XVI ao XIX – período correspondente àquele que, segundo
Chervel, as humanidades dominaram o ensino secundário francês. Nesse número, Jean-Louis Guereña faz um
apanhado dos trabalhos sobre a construção das disciplinas no ensino secundário espanhol, no século XIX, e
também aborda a questão do ensino das humanidades. Cf. GUEREÑA, 1998, p. 57-87.
16
Segundo Chervel: “Pour qu’une littérature soit considerée comme formatrice, il faut qu’elle comporte des
leçons morales ou civiques et qu’elle mette en scène des comportements dignes d’être imités”. Cf.
CHERVEL, 1997, p. 10.
17
CHERVEL e COMPÈRE, 1997, p. 11. Para Chervel: “L’éducation classique, c’est donc aussi une
formation de l’esprit que tend à développer un certain nombre de qualités, la clarté dans la pensée et dans
l’expression, la rigueur dans l’enchaînement des idées et des proportions, le souci de la mesure et de
l’équilibre, l’adéquation aussi juste que possible de la langue à l’idée. Pour y parvenir, les élèves sont soumis
à toute une panoplie d’exercices, oraux e écrits”. Cf. CHERVEL e COMPÈRE, 1997, p. 14.
18
CHERVEL e COMPÈRE, 1997, p. 6.
19
Segundo Fleiuss: “(...) [Varnhagen] floresceu no estudo de humanidades e familiarizou-se bastante com os
classicos portuguezes, cujos moldes lhe contornaram o estylo dogmatico e frio, contemporaneo do de
Alexandre Herculano e Rebello da Silva”. Cf. FLEIUSS, 1930, p. 412. Clado Lessa também afirmava que
Varnhagen estudara “humanidades” sem, contudo, apresentar maiores explicações para sua afirmativa. Cf.
LESSA, 1954, vol. 223, p. 98.