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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
PROPOSTA METODOLÓICA DE AVALIAÇÃO DO GRAU DE
SATISFAÇÃO DE POPULAÇÃO DE ÁREA URBANA. ESTUDO DE
CASO: BAIRRO ANTENOR GARCIA, MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS, SP.
Waldir José Gaspar
SÃO CARLOS - SP
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
PROPOSTA METODOLÓGICA DE AVALIAÇÃO DO GRAU
DE SATISFAÇÃO DE POPULAÇÃO DE ÁREA URBANA.
ESTUDO DE CASO: BAIRRO ANTENOR GARCIA,
MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS, SP.
Waldir José Gaspar
Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Ecologia e Recursos Naturais do
Centro de Ciências Biológicas e da
Saúde da Universidade Federal de São
Carlos como parte dos requisitos para
a obtenção do título de Doutor em
Ciências (Ciências Biológicas) na Área
de Concentração em Ecologia e
Recursos Naturais.
SÃO CARLOS – SP
2006
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária/UFSCar
G249pm
Gaspar, Waldir José.
Proposta metodológica de avaliação do grau de
satisfação de população de área urbana. Estudo de caso:
bairro Antenor Garcia, município de São Carlos, SP / Waldir
José Gaspar. -- São Carlos : UFSCar, 2007.
163 p.
Tese (Doutorado) -- Universidade Federal de São Carlos,
2006.
1. Ecologia. 2. Ecologia humana. 3. Planejamento urbano.
4. Qualidade de vida urbana. 5. Questão social. I. Título.
CDD: 574.5 (20
a
)
Orientador
Waldir José Gaspar
PROPOSTAMETODOLÓGICADE AVALIAÇÃODO GRAUDE SATISFAÇÃO
DE POPULAÇÃODE ÁREA URBANA.ESTUDODE CASO:BAIRRO ANTENOR
GARCIA,MUNICÍPIODE SÃO CARLOS,SP
Tese apresentada à Universidade Federal de São Carlos, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências.
Aprovada em O1 de Dezembro de 2006
BANCA EXAMINADORA
Presidente
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/,p;of.J)r:~jos,éEduardodos Santos
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Prof. D,I.José Robeq6 Verani
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Prof.'Dr.Jorgy,bishi
PPQCES/UFOCar
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"
1° Examinador
"
2° Examinador
3° Examinador
Examinador
I
Zezé, Murilo e Marcelo
(minha querida família)
AGRADECIMENTOS
Aos moradores do bairro Antenor Garcia – razão da elaboração deste
trabalho – pela confiança, compreensão e respeito nesses oito anos de contato;
Ao Programa de Pós Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da
UFSCar que acreditou na potencialidade deste trabalho. A toda a equipe da
secretaria – Beth, Graça, João, Madalena, Renata e Roseli pela gentileza no
atendimento, incluindo os colegas Osmar, Luiz e saudoso Ditão, pela amizade
cultivada;
Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. José Roberto Verani, Prof. Dr.
Jorge Oishi, Profa. Dra. Elisabete Maria Zanin, Prof. Dr. Yuri Tavares Rocha pela
honra que me concedem em participar da minha defesa;
Ao amigo Luiz Eduardo Moschini (Du), pela gentileza e presteza, tão
peculiares de seu caráter, na solução das minhas diversas dúvidas;
Aos amigos Jorge Oishi, Silvio Possa e Celso Carvalho pelas contribuições
nas discussões sobre tratamento estatístico dos dados e políticas governamentais
na área da saúde pública e atividades agrícolas;
Ao historiador Marco Antonio Leite Brandão (Marco Bala) pelas entrevistas e
disponibilização de material sobre a história do Município de São Carlos.
A amiga Carina Gonzaga pela ajuda na aplicação dos questionários.
Ao amigo Edson Francelino pela cooperação em vários momentos em que os
computadores resolviam “entrar em greve”;
A querida Andréa Petisco pelas discussões que envolveram planejamento urbano,
bem como ao amigo Edmilson Volpi pelas diretrizes no uso do programa ArcView
para confecção dos mapas;
Ao talentoso artista e amigo Antonio Carlos Rampazzo, que tão bem soube
expressar em traços as Variáveis do Grau de Satisfação do morador do bairro
Antenor Garcia, através da aquarela reproduzida neste trabalho;
Agradeço ao Mario Massayuki Akiyoshi, pela amizade recente repleta de
sabedoria sublime. Também agradeço ao amigo Glauco Figueiredo pelas críticas (às
vezes duras) nas diversas fases do trabalho.
Finalmente, meu agradecimento especial ao Prof. Dr. José Eduardo dos
Santos, meu orientador e amigo, que muito tem me ajudado nas mais diversas
formas.
O olhar do artista Antonio Carlo
s
Ram
p
azzo
RESUMO
Apesar das políticas públicas tratarem de fixar prioridades na avaliação do
desenvolvimento e na realização do bem-estar humano, este trabalho considera a
possibilidade em avaliar o grau de satisfação da população, com base nas
prioridades e indicadores sugeridos pela própria população. A questão assume
contornos extremos quando relacionada ao uso correto dos recursos públicos e do
insucesso de programas municipais destinados principalmente aos moradores
inseridos no espaço periférico urbano. A Avaliação do Grau de Satisfação da
população se apresenta como uma estratégia para avaliar os impactos produzidos
pelos investimentos – públicos ou privados – em projetos de desenvolvimento social.
Neste estudo foi considerada a população de um bairro periférico recente
(Loteamento Social Antenor Garcia), do município de São Carlos, SP, com
aproximadamente cinco mil habitantes. Com base nas respostas para uma única
pergunta aberta e sintética: “O que te agrada e incomoda no bairro em que vive?”,
foi elaborado um questionário com setenta e seis questões agrupadas em seis
variáveis: Habitação e Ambiente; Saúde; Educação e Lazer; Transportes; Segurança;
Social. Quanto à forma da escala do questionário adotou-se a do tipo LIKERT, com
referencial de OSGOOD, com respostas induzidas para “Discordo Totalmente” (DT);
“Discordo Parcialmente” (DP); “Sem Opinião” (SO); “Concordo Parcialmente” (CP)
ou “Concordo Totalmente” (CT). As medidas de consistência entre as correlações
foram feitas com base no coeficiente Alfa de CRONBACH, que resultaram em:
média a alta correlação (> 0,66), para análises internas às variáveis; e média
correlação (0,46), para análises inter-variáveis – função dos aspectos
correlacionados (ex. Segurança x Saúde). Os dados mostraram que a variável
Transportes foi a que apresentou menor grau de satisfação – provavelmente devido
a distância do bairro em relação ao centro da cidade de São Carlos. Enquanto que a
questão “iluminação do bairro” pertencente a variável Habitação e Ambiente foi
considerada a com maior grau de satisfação – provavelmente explicado pelo apelo à
segurança que os moradores desse bairro manifestam. Espera-se que esse trabalho
possa contribuir na aplicação dos recursos públicos, no tratamento do conflito entre
os interesses da população e o planejamento urbano, de modo a entender e atender
as reais necessidades dessas populações.
Palavras-chave: Grau de Satisfação. Bem-estar humano. Comunidade Urbana.
Planejamento Urbano. Estudo participativo. Questões sociais.
SUMMARY
Although public politics determine priorities in the evaluation of the development and
in the accomplishment of the human well-being, this work considers the possibility in
evaluating the degree of satisfaction of the population, based on the priorities and
indicators from the population perspective. The subject assumes extreme outlines
when related to the correct use of the public resources and of the failure of municipal
programs destined to the residents mainly inserted in the urban outlying space.
Evaluation of the degree of satisfaction of the population comes as a strategy to
evaluate the impacts produced by the investments - publics or private - in projects of
social development. In this study the population of a recent outlying neighborhood
(Social Division into lots Antenor Garcia), of the city of São Carlos, SP, with
approximately five thousand inhabitants, was considered. With base in the answers
for a single open and synthetic question: What does you like and unlike in the
neighborhood in what you live? ", a questionnaire with seventy six subjects contained
in six variables: Health; Social; Education and Recreation; Safety; Habitation and
Environment; and Transports, was elaborated. As for the form of the scale of the
questionnaire it was adopted of the type LIKERT, with referencial of OSGOOD, with
answers induced for “Totally Disagree” (DT); "Disagree Partially" (DP); "Without
Opinion" (SO); "Agree Partially" (CP) or “Totally Agree” (CT). The consistence
measures among the correlations were made with base in the coefficient Alpha of
CRONBACH, that resulted in: medium to high correlation (>0.66) for internal analysis
to the variables; and medium correlation (0.46), for inter-variable analysis - function
of the correlated aspects (e.g. Safety versus Health). The variable Transports were
the one that presented smaller degree of satisfaction - probably due to distance of
the neighborhood downtown of São Carlos. While the item “public illumination” which
belongs to the variable Habitation and Environment was the one with best degree of
satisfaction - probably due to the appeal of some of the aspects of safety manifested
by the habitants of this suburb. One expects that this methodology comes to
contribute to deal with the conflict between the interests of the population and the
urban planning, in way to understand and to assist the real needs of those
populations, in the application of the public resources.
Key-words: Degree of satisfaction. Human well-being. Urban Community. Urban
planning. Participatory urban appraisal. Social subjects.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................1
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA e CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA .........6
2.1. INTRODUÇÃO ...........................................................................................6
2.2. O MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS ..............................................................7
2.2.1. Breve histórico da urbanização .................................................10
2.2.2. Descrição do bairro Antenor Garcia ..........................................15
3. EMBASAMENTO TEÓRICO............................................................................23
3.1. SÍMBOLO NOVO PARA O CIDADÃO DA PERIFERIA............................28
3.2. A POBREZA VISTA PELOS POBRES.....................................................31
3.3. AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA DA POBREZA URBANA .........................37
3.4. CONCEITOS DE QUALIDADE DE VIDA .................................................40
3.5. INDICADORES SOCIAIS – PARA QUE SERVEM? ................................43
3.6. CONCEITOS E PARÂMETROS DE FELICIDADE E SATISFAÇÃO
PESSOAL ................................................................................................52
3.7. QUESTIONÁRIOS: FERRAMENTAS PARA APOIO À
PARTICIPAÇÃO DECISÓRIA..................................................................60
3.8. TRATAMENTO ESTATÍSTICO ................................................................70
3.8.1. Mensuração de atitudes..............................................................71
3.8.2. O “rebelde” dado qualitativo......................................................74
3.8.3. Interpretando escalas .................................................................76
3.8.4. Análise bidimensional – processamento de redução de
dimensionalidade ........................................................................78
3.8.5. Consistência dos dados alfa () de Cronbach .........................80
3.8.6. Análise multivariada....................................................................81
4. METODOLOGIA E PROCESSO......................................................................85
4.1. CONFECÇÃO E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS.............................85
4.2. ANÁLISE FATORIAL................................................................................89
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................................91
5.1. ANÁLISE ENTRE QUESTÕES DA MESMA VARIÁVEL..........................92
5.2. ANÁLISE ENTRE QUESTÕES DE DIFERENTES VARIÁVEIS.............112
5.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE ABORDAGENS ESTATÍSTICAS
ADICIONAIS ..........................................................................................124
5.4. ANÁLISE MULTIVARIADA DOS DADOS (ANÁLISE FATORIAL) .........126
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................133
7. REFERÊNCIAS..............................................................................................137
8. APÊNDICES ..................................................................................................144
9. ANEXOS 158
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.2.1 – Esboço Cartográfico sem escala do Município de São
Carlos no Estado de São Paulo. .............................................7
Figura 2.2.2 – Limites do município de São Carlos, área urbanizada,
rede hidrográfica e sub-bacias. ..............................................8
Figura 2.2.2.1 – Mapa de São Carlos situando o bairro Antenor Garcia
(sem escala)............................................................................16
Figura 2.2.2.2 – Panorâmica do bairro Antenor Garcia. Em detalhe
erosão devido às chuvas de 1999. .......................................17
Figura 2.2.2.3 – Habitação característica do bairro Antenor Garcia.............18
Figura 2.2.2.4 Faixa etária dos moradores do bairro Antenor Garcia
em março de 2006. .................................................................19
Figura 2.2.2.5 – Analfabetismo por idade e sexo em números
absolutos observados em 362 moradores do bairro
Antenor Garcia em março de 2006. ......................................20
Figura 2.2.2.6 Aspecto da vegetação de campo de cerrado na área
do bairro Antenor Garcia (detalhe de árvore atingida
por raio)...................................................................................21
Figura 2.2.2.7 – Vista aérea mostrando mata ripária ao longo do
córrego da Água Quente (à esquerda) e bairro
Antenor Garcia (à direita). .....................................................22
Figura 3.2.1 Proporção de negros na população brasileira nos
anos de 1976, 1986, 1996 e 2001...........................................32
Figura 3.5.1 – Fluxograma apresentando os 83 Indicadores
Ambientais Paulistanos (PIER).............................................49
Figura 3.6.1 Correlação entre Felicidade e Índice de
Desenvolvimento Humano (ISSP, 2002)...............................56
Figura 3.6.2 – Correlação entre Satisfação e Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH)...........................................57
Figura 3.6.3 Correlação entre Felicidade e Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH)...........................................58
Figura 3.6.4 – Mapa da Felicidade do Estado de São Paulo.......................59
Figura 3.8.3.1 – Exemplo de Medida de Grau de Satisfação da
população do bairro Antenor Garcia em relação ao
atendimento médico do Posto de Saúde Araci II. ...............77
Figura 5.1.1 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável TRANSPORTES. ..........99
Figura 5.1.2 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável SEGURANÇA. ............100
Figura 5.1.3 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável SAÚDE. Org: o
autor (2006)...........................................................................102
Figura 5.1.4 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável HABITAÇÃO E
AMBIENTE. ...........................................................................104
Figura 5.1.5 – Bairro Antenor Garcia e detalhe da mata a nordeste........105
Figura 5.1.6 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável EDUCAÇÃO E
LAZER. ..................................................................................107
Figura 5.1.7 – Questões que definem a intensidade do Grau de
Satisfação do morador do bairro Antenor Garcia, São
Carlos, SP, com relação à variável SOCIAL.......................110
Figura 5.1.8 Síntese do Grau de Satisfação ordenado por variável
para o morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos,
SP. 111
Figura 5.2.1 – Meios de transportes utilizados pelos moradores do
bairro Antenor Garcia. .........................................................113
Figura 5.2.2 Moradores que percebem os pequenos núcleos de
mata que contornam o bairro (Q13) e também
responderam que “cuidam” do meio ambiente (Q19).......114
Figura 5.2.3 – Arborização de rua no bairro Antenor Garcia. ..................115
Figura 5.2.4 – Moradores que preferem assistir televisão x
moradores que usam a calçada como área de lazer
na hora da novela ou do jogo. ............................................116
Figura 5.2.5 Percentual de respostas à pergunta sobre estar
satisfeito com o local em que vive (Q67) – bairro
Antenor Garcia. ....................................................................118
Figura 5.2.6 – Distribuição das respostas para a Questão “Você é
feliz?” (Q66) para os moradores do bairro Antenor
Garcia....................................................................................119
Figura 5.2.7 Percentual de respostas dos moradores analisadas
por sexo sobre a satisfação de morar no bairro
Antenor Garcia. ....................................................................120
Figura 5.2.8 – Respostas sobre percentual de felicidade divididas
por sexo no bairro Antenor Garcia.....................................120
Figura 5.2.9 Correlações entre percentual dos moradores que
estão satisfeitos com o local em que vivem (Q67)
com escolaridade (Q70) para o bairro Antenor Garcia. ....121
Figura 5.2.10 – Correlações entre percentual dos moradores que não
estão satisfeitos com o local em que vivem (Q67) e
escolaridade (Q70) para o bairro Antenor Garcia. ............122
Figura 5.2.11 – Correlação entre os moradores que responderam
que são felizes (Q66) e a idade média (Q69) para cada
faixa de escolaridade (Q70), no bairro Antenor Garcia.
.......................................................................................123
Figura 5.2.12 Moradores do bairro Antenor Garcia que concordam
e discordam que tenham poucos filhos, agrupados
por região de origem............................................................124
Figura 5.3.1 – Histograma representativo das respostas obtidas
com a aplicação do questionário no bairro Antenor
Garcia. (MS – Muito Satisfeito; PS – Parcialmente
Satisfeito; SO – Sem Opinião; PI – Parcialmente
Insatisfeito; MI – Muito Insatisfeito)....................................125
Figura 5.4.1 – Autovalores (Eigenvalues) para os questionários
aplicados no bairro Antenor Garcia. ..................................128
LISTA DE QUADROS
Quadro 1.1 – Exemplos do crescimento populacional em cidades para
países com diferentes Índices de Desenvolvimento
Humano (IDH).................................................................................2
Quadro 2.2.2.1 – Categorização dos moradores do bairro Antenor Garcia
por preferência religiosa.............................................................20
Quadro 3.2 – Dados da Taxa de Crescimento e Razão de Urbanização
da População Brasileira, 1991-2000...........................................27
Quadro 3.2.1 – Evolução Conceitual da Pobreza: Uma Síntese........................35
Quadro 3.3.1 – Abordagem Direta e Indireta da Pobreza...................................39
Quadro 3.5.1 Composição de indicadores na formulação de Índices
Temáticos.....................................................................................51
Quadro 3.6.1 – Índice Internacional de Felicidade em 2002 ..............................55
Quadro 3.7.1 – Oito degraus da escada da participação cidadã.......................65
Quadro 3.8.3.1 Medida de Grau de Satisfação no Atendimento Médico do
Posto de Saúde............................................................................77
Quadro 4.1.1 Número total de pessoas consultadas com a pergunta “O
que te agrada e incomoda no bairro em que vive?” e
respectivos Estados de origem..................................................85
Quadro 5.1 Questões contempladas no Questionário e que foram
analisadas em separado (Capítulo 5.2). ....................................91
Quadro 5.1.1 – Alfa () de Cronbach e Medida Média para todas as
questões utilizadas na matriz Grau de Satisfação da
população do bairro Antenor Garcia. ........................................92
Quadro 5.1.2 Relevância de cada questão na composição do Grau de
Satisfação do bairro Antenor Garcia. ........................................93
Quadro 5.1.3 Número de questões por variável e valor do Alfa () de
Cronbach calculados por variável, utilizadas na pesquisa
do Grau de Satisfação da população do bairro Antenor
Garcia ...........................................................................................96
Quadro 5.1.4 Número de respostas por Categoria para cada Questão
estudada e suas respectivas codificações entre -2 e +2 .........97
Quadro 5.1.5 – Questões recodificadas para a variável TRANSPORTES. .......97
Quadro 5.4.1 Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Teste de
Esfericidade de Bartlett (BTS)..................................................126
Quadro 5.4.2 Autovalores e porcentagem da variância total explicada
pelos fatores identificados na análise fatorial........................127
Quadro 5.4.3 – Matriz de componentes rotacionada para todas as
questões.....................................................................................129
Quadro 6.1 Seqüência de edição de medida de Grau de Satisfação em
relação aos Indicadores do Bairro Antenor Garcia. ...............135
LISTA DE SIGLAS
BTS – Bartllet Test of Sphericity
CAIC – Companhia da Agricultura, Imigração e Colonização
CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento
GEO – Global Environment Outlook
HIV – Human Immunodeficiency Virus
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IQV – Índice de Qualidade de Vida
IQVU – Índice de Qualidade de Vida Urbano
ISSP – International Social Survey Programme
KMO – Kayser-Meyer-Olkin Measure of Sampling Adequacy
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONU – Organizações das Nações Unidas
PIB – Produto Interno Bruto
PIER – Pressão; Impacto; Estado; Resposta
P. M. – Prefeitura Municipal
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
RDH – Relatório de Desenvolvimento Humano
RSBC – Revista Sociedades Brasileiras de Câncer
SPSS – Statistical Package for the Social Sciences (Programa Estatística)
WCED – World Commission on Environment and Development
WUF – World Urban Forum
WVS – World Values Survey
_________________________________________________________________
1
1. INTRODUÇÃO
“As pessoas são as verdadeiras riquezas das nações.” Esta afirmação,
apresentada no Relatório para o Desenvolvimento Humano de 2004
1
, só pode ser
considerada como verdade quando o cidadão for atendido em seu objetivo básico do
desenvolvimento, que é ampliar suas liberdades humanas, tanto na expressão de
suas percepções quanto na possibilidade de escolha de vida plena e criativa.
Apesar das políticas públicas tratarem de fixar prioridades na avaliação do
bem-estar humano, admite-se – objetivo deste trabalho – que também seja possível
avaliar o grau de satisfação da população por meio das prioridades das variáveis
elencadas pela mesma. A questão assume contornos extremos quando tratada no
ambiente urbano: Tanto em termos da dimensão que atingiu, mensurável por meio
do crescimento exponencial da população vivendo em cidades, como em relação às
questões de sustentabilidade e conceitos de qualidade de vida frente a um mundo
essencialmente urbano.
A urbanidade pode ser comprovada pela análise, dos 177 países que
constam do Segundo Relatório de Desenvolvimento Humano - PNUD (2004), quanto
ao crescimento urbano nos anos de 1975, 2002 e projeção para 2015, apenas a
Geórgia (97 no ranking IDH
2
) prevê redução de sua população urbana de 2,7
milhões (2002) para 2,4 milhões (2015). O Quadro 1.1 apresenta outros exemplos
comparativos de projeção de crescimento urbano.
As Nações Unidas estimam que, no ano de 2015, 48,7% da população dos
países em desenvolvimento (2.904 milhões) e 77,3% da população dos países
desenvolvidos (951 milhões) viverão em cidades. A população urbana mundial
cresceu muito rapidamente na primeira metade deste século, aumentando de 14%
no seu início para 29% em 1950. Entre 1950 e 2000, o número de pessoas que
viviam em cidades cresceu em 3,9 vezes, aumentando de 732 milhões para 2,86
bilhões
3
.
1
Relatório de Desenvolvimento Humano, 2004. Liberdade Cultural num Mundo Diversificado –
PNUD.
2
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.
3
United Nation: New York (2003). World Population Prospect.
_________________________________________________________________
2
No mundo desenvolvido, a população urbana era, em 1950, em torno de
52,5%, atingindo 71,8% em 2000. Por sua vez, nos países em desenvolvimento a
população urbana em 1950 era de apenas 17,9%, crescendo para 35,2% em 2000.
A explosão urbana tem um aspecto muito mais marcante no mundo em
desenvolvimento, onde aumentou em seis vezes nos últimos 50 anos, enquanto nas
regiões desenvolvidas apenas duplicou. Na década de 1990, a taxa anual de
crescimento da população urbana atingiu, algo em torno de 3,1% para os países em
desenvolvimento, ficando em 0,67% nos países desenvolvidos.
Quadro 1.1 – Exemplos do crescimento populacional em cidades para países
com diferentes Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).
População Urbana (milhões de pessoas)*
IDH País 1975 2002 2015*
1 Noruega 2,73 3,49 4,06
8 Estados Unidos 162,29 232,21 275,63
72 Brasil 66,16 145,17 178,57
94 China 161,44 488,18 694,14
127 Índia 132,21 294,91 401,34
177 Serra Leoa 0,62 1,83 3,05
* Calculado com base no 2004h. World Urbanization Prospects: The 2003 Revision. Department
of Economic and Social Affairs, Population Division. New York.
Org: o autor (2006)
Além da expansão das metrópoles, ocorre também o crescimento de cidades
pequenas e de médio porte que vem apresentando taxas sem precedentes. Mais
que simplesmente um fenômeno demográfico, a rápida urbanização é um dos
processos que mais afetam países em desenvolvimento. O resultado é uma
transformação radical na estrutura das cidades, acompanhada de complexas
mudanças sociais, econômicas e ambientais. O que nos leva a crer que o
crescimento das cidades é inevitável e irreversível.
_________________________________________________________________
3
No Fórum Internacional para a Pobreza Urbana, promovido pelo PNUD
(1997)
4
, foram apresentadas três características evidentes da pobreza, quando
analisadas mundialmente: a africanização da pobreza, a femilização da pobreza e a
urbanização da pobreza.
Em 1997, metade dos pobres existentes no mundo vivia em áreas urbanas.
Estes dados cresceram drasticamente, alcançando 90% na América Latina, 45% na
Ásia e 40% na África.
Analisando-se a questão da pobreza humana numa escala maior de tempo,
verifica-se que nos últimos cinqüenta anos ela tem diminuído mais que nos últimos
quinhentos
5
, chegando a reduzir em algumas áreas em quase todos os países.
Entretanto, sob o aspecto da concentração de renda no Brasil, apesar do
IBGE
6
modificar a classe de apresentação dos dados, verifica-se que em 2004 o
rendimento médio dos 10% mais ricos na população ocupada ainda era 16,2 vezes o
rendimento médio dos 40% mais pobres.
Sob esse aspecto, a política de proteção social e a política tributária são os
dois instrumentos mais importantes de ação utilizados pelo estado brasileiro para
alterar o perfil de distribuição de renda.
Nessa linha de raciocínio, o que se verifica é que a meta da erradicação da
pobreza no mundo, de um modo geral, configura-se como ideais que se banalizaram.
Exemplos de projetos sérios contra a miséria e pela vida, coordenado por Herbert de
Souza em 1995, ou Comunidade Solidária e os Programas Sociais “ofertados” pelo
governo federal na gestão 2001/2006, mostraram claramente que esta utopia virou
sonho ingênuo ou apenas clichês de campanha eleitoral.
Apesar de a imprensa oficial informar que o Brasil atravessa um momento de
forte estabilidade econômica, o que se observa é que a falta de mudanças
estruturais no processo de crescimento do país, aliada a falta de metas mais claras
e objetivas quanto às prioridades políticas brasileiras, resultam (salvo raras
4
Forum on Urban Poverty, Governance and Paricipation: Practical Approaches to Urban Poverty
Reduction. Disponível em: <http://magnet.undp.org/Docs/urban/urbpov.html>. Acesso em: 05 set.
2004.
5
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Human Development Report.
Disponível em CD ROM. New York, 1990.
6
IBGE/PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Disponível em:
<
www.ibge.gov.br> Acesso em: 15 set. 2006.
_________________________________________________________________
4
exceções) em descaso pelas condições de vida da sua população, principalmente
periférica urbana.
Em contrapartida, o que se observa, é a sociedade organizando maneiras de
sobrevivência própria que escapam ao domínio do planejamento do poder público.
Para tanto ela busca formas de apropriação e apreensão simbólica da qualidade do
espaço urbano vivido, como elemento de construção, comparação e representação
de suas necessidades básicas como cidadão.
A análise da qualidade do espaço urbano ocupado passa a ser a questão
primordial entre os organismos, inclusive internacionais. A satisfação ao elenco de
questões que traduzam a condição de bem estar para a população passa a ser a
chave para o sucesso de planos administrativos locais.
Quando analisadas as questões que direcionam o crescimento urbano
periférico em cidades de porte médio do Estado de São Paulo, incluindo fatores
conseqüentes da migração, observa-se que o conceito de grau de satisfação,
diferentemente do conceito de felicidade, pode estar mais afeto à população
satisfeita ou insatisfeita com as condições da infra-estrutura urbana.
Como forma de aferir os impactos produzidos pelos investimentos – públicos
ou privados – em projetos de desenvolvimento social em áreas carentes de estrutura,
este trabalho propõe uma abordagem metodológica para avaliar o GRAU DE
SATISFAÇÃO da população com base em um conjunto de variáveis obtidas por
meio dos próprios anseios dos moradores. Nesta pesquisa procurou-se identificar o
elenco de questões e o nível de importância das mesmas na perspectiva de traduzir
o grau de satisfação das pessoas na busca do bem-estar humano.
Dessa forma propõe-se a análise da melhoria das condições da infra-estrutura
urbana visando o atendimento às necessidades do ser humano dentro da sociedade
em que vive. Porém, o que se verifica é a grande dificuldade em se mensurar as
variáveis que definem o grau de satisfação de uma população, uma vez que a
satisfação é um fenômeno complexo e pode ter significado distinto para cada
indivíduo. Dessa forma, optou-se por mensurar as variáveis que os próprios
moradores julgaram pertinentes para o bairro em que moram, sendo necessária
portanto, a percepção das questões a cada variável que traz satisfação ou
insatisfação para os moradores entrevistados.
_________________________________________________________________
5
Para tratar dessas variáveis escolhemos um bairro mais periférico da cidade
de São Carlos, interior do Estado de São Paulo, onde a segregação, a discriminação,
a exclusão social e a degradação sócio-ambiental estão configuradas no cotidiano
de seus moradores.
_________________________________________________________________
6
2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA e CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA
2.1. INTRODUÇÃO
A cidade de São Carlos experimentou várias transformações étnicas,
principalmente devido aos diversos padrões econômicos impostos desde a época da
Corte Portuguesa com conseqüência fundamental na dinâmica da urbanização e
produção do “ambiente construído”. Aliada às características geomorfológicas da
região, verifica-se a produção de espaços cada vez mais segregados onde, de certo
modo, foi e continua sendo um atrativo para determinados grupos.
A tendência de crescimento da malha urbana tem sido variada e limitada, a
cada década, por diversos fenômenos. Desde a barreira da linha do trem,
reproduzindo o que comumente delimitam regiões em cidades de médio e pequeno
portes, até o desfavorecimento provocado pelas altas declividades ao sul/sudeste,
algumas vezes superiores a 15% (em decorrência das cuestas basálticas
secundárias do córrego da Água Quente), que limitam diversas formas de ocupação,
e pela rodovia SP-215, posicionada logo após, seguindo em direção ao município de
Ribeirão Bonito.
Toda a zona localizada a sul da linha férrea apresenta-se como um grande
bolsão de pobreza, desvalorizada devido à falta de infra-estrutura urbana, carência
de equipamentos públicos e com pouca possibilidade de expansão, decorrente da
sua situação geográfica natural.
São os moradores dessa região menos favorecida, ocupando loteamentos
irregulares implantados por especuladores imobiliários; onde se observa nitidamente
a substituição das restrições naturais por aquelas impostas pelo espaço modificado,
sem considerar o planejamento geográfico que este capítulo busca contextualizar,
tanto em seus aspectos técnicos quanto históricos.
Para uma melhor contextualização do bairro Antenor Garcia, procurou-se
analisar primeiramente o município de São Carlos, por seus aspectos geográficos e
históricos de sua urbanização.
_________________________________________________________________
7
2.2. O MUNICÍPIO DE SÃO CARLOS
O Município de São Carlos localiza-se na região centro-oriental do
Estado de São Paulo, a 230 km da capital, entre as coordenadas 47º 30' e 48º 30'
Longitude Oeste e 21º 30' e 22º 30' Latitude Sul, mais precisamente no final da
Serra do Itaqueri – prolongamento da Serra de Brotas (Figura 2.2.1). Tem altitude
variável, encontrando seu ponto mais elevado (900 metros) dentro do sítio urbano.
Figura 2.2.1 – Esboço Cartográfico sem escala do Município de São Carlos no
Estado de São Paulo.
Fonte: Volpi (2006)
Região de relevo acidentado e vales abertos no perímetro urbano, suas terras
fazem parte de duas grandes bacias de drenagem: 67% do território situado ao norte
pertencem à bacia hidrográfica do rio Grande e, os restantes 33% ao sul, situam-se
N
_________________________________________________________________
8
na bacia do rio Tietê (via rio Jaguaré-Guaçu) e afluentes, como rio Monjolinho e
ribeirão da Laranja-Azeda, ribeirão do Feijão, córregos da Água Fria e da Água
Quente (Figura 2.2.2).
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Distrito de
Santa Eudóxia
Distrito de
Água Vermelha
Figura 2.2.2 – Limites do município de São Carlos, área urbanizada, rede
hidrográfica e sub-bacias.
Fonte: Prefeitura Municipal de São Carlos
5 km
5 km
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_________________________________________________________________
9
O clima da região é ameno com transição de tropical quente com inverno
seco e verão chuvoso para tropical com verão seco e inverno úmido (TOLENTINO,
1967). A temperatura média anual é de 21,3 °C e a precipitação pluviométrica média
anual é de 1468 mm com predominância de chuvas de novembro a fevereiro. A
umidade relativa do ar é de 66%. É comum a presença de geadas uma ou duas
vezes por ano durante o inverno, principalmente nas partes mais altas. Os ventos
predominantes são de nordeste, seguidos aqueles de sudeste (EMBRAPA - CCPSE,
1999).
Devido à localização do município de São Carlos no contexto da Bacia do
Paraná, aí afloram formações geológicas caracterizadas por: formação Botucatu,
formação Pirambóia, formação Serra Geral, formação Bauru, e Sedimentos
Cenozóicos. Segundo BJORNBERG e TOLENTINO (1959), de maneira geral, as
características geológicas da região de São Carlos apresentam nas cotas mais
elevadas do Planalto São Carlos e de toda a chamada serra do Cuzcuzeiro, o
arenito da formação Bauru. Os fundos de vale dos rios de planalto e as extensas
áreas a leste e a oeste são ocupados por basalto da formação Serra Geral e, abaixo,
os arenitos da formação Botucatu e Pirambóia.
Segundo Santos et. al. (2004, p. 671), apenas 14,4% da área total do
município está ocupada com a vegetação natural que, consiste basicamente de
vegetação baixa e tortuosa sobre os solos arenosos denominada de “cerrado” e nos
solos mais ricos em nutrientes, vegetação florestal formada por matas estacionais
semidecíduas e matas ribeirinhas.
Num período de 35 anos verificou-se considerável crescimento demográfico,
com aumento da população em aproximadamente 2,4 vezes, já que em 1970 era de
85.425 habitantes. Sob esse aspecto, Cavalheiro (1991, p. 88) cita que, juntamente
com aumento da população sancarlense, houve um acréscimo de seus problemas
ambientais.
De um total de 1.141km² de área, o município conta com 70 km² de área
urbanizada. Sua população foi estimada em aproximadamente 214.786 habitantes,
dos quais 95% se concentram na área urbana (204.046 hab.) e 5% somam a
população rural (10.740 hab.), segundo projeção do IBGE para o ano de 2005 com
base no Censo realizado no ano de 2000 e contagens posteriores.
_________________________________________________________________
10
2.2.1. Breve histórico da urbanização
O conhecimento sobre o processo histórico de ocupação de espaços e
urbanização do município de São Carlos, desde sua fundação até o presente,
constitui base para a compreensão adequada das relações entre a dinâmica
socioeconômica de transformação do território e das condições ambientais vigentes
na cidade. Por meio dessa síntese procura-se associar lugares e hábitos, contidos
no repertório cultural dos moradores, para definição – tema deste trabalho – do
elenco de aspectos relacionados ao grau de satisfação da população do bairro
Antenor Garcia.
O burgo carlopolitano, finalmente denominado de cidade de São Carlos, à
margem do “picadão” de Cuiabá; teve sua data de fundação oficializada 100 anos
depois, somente em 4 de novembro de 1857, com a inauguração da Capela da
matriz
7
. Seu processo de formação, por volta de 1800, deu-se a partir da conjunção
de três sesmarias: do Monjolinho, do Pinhal e do Quilombo, e a expulsão dos índios
da tribo Guaianazes que, em suas andanças nômades, foram os primeiros
habitantes dessa região, originalmente conhecida como “campos ou sertões de
Araraquara”. Refere-se a essas tribos indígenas o fato de terem sido plantados
pinheiros que existiam nas proximidades da estação Conde do Pinhal, os quais
teriam dado o nome de Pinhal à sesmaria, e posteriormente o primeiro nome para a
povoação fundada em suas terras: São Carlos do Pinhal (CASTRO, 1916).
Posteriormente, a denominação da comarca, município e districto de paz de
São Carlos do Pinhal foi mudada para a de São Carlos pela lei n. 1158, de 26 de
dezembro de 1908.
Antes, a rota do ciclo do ouro (picadão) penetrava ao sul da área urbana da
cidade de São Carlos, seguindo em direção norte, paralelo à margem esquerda do
córrego Monjolinho até sua cabeceira, seguindo a oeste na direção da atual cidade
de Araraquara (KONDOR, 2001, p.97). Este ponto de passagem, beneficiava a
figura do tropeiro bem como dos contrabandistas de ouro
8
– um dos símbolos do
7
NEVES, Ary Pinto. Entrevista concedida a Waldir Gaspar em 29 fev.1996.
8
BRANDÃO, Marco Antonio Leite. Entrevista concedida a Waldir Gaspar em 27 jul. /2005. fita
cassete sonora (60 min).
_________________________________________________________________
11
brasão da cidade de São Carlos é uma montanha de ouro –, que o utilizavam como
ponto de parada para abastecimento e estrebaria.
A doação de terra de políticos e fazendeiros da época foi imperativa para a
expansão do núcleo urbano, que em 1858 contava com sete quarteirões localizados
ao sul do pátio da matriz e um desenho urbano na forma de tabuleiro de xadrez.
Quem dirigiu a formação deste município foram membros da família Arruda
Botelho, talvez a mais rica do Brasil da época
9
, participando de diversas fases da
economia que retrataram ou “serviram de reflexo” para todo o estado brasileiro,
como os ciclos da (i)cana-de-açúcar desde seu fornecimento para a Guerra do
Paraguai por meio de lingotes de rapadura; do (ii)gado, com o pastoreio
principalmente em solos menos férteis e do (iii)café, chegando a ostentar a fama de
principal nicho paulista. Em todas as fases esteve presente o negro escravo que,
independente de questões étnicas e raciais, sua introdução na região muito se
assemelha à trajetória de vida da população que hoje reside nos bairros situados ao
sul e sudoeste do município (Loteamento Antenor Garcia, Bairro Presidente Collor,
Bairro Cidade Araci, etc).
A região que poeticamente o historiador Ary Pinto das Neves denominou
como “cidade do sol”, para lembrar as bordas do planalto ocidental paulista como
“[...] último contraforte da larga rechã arenítico-basáltica meridional [...]” é a reserva
aqüífera do arenito guarani. O historiador comenta ainda que “[...] as terras são-
carlenses debruçam-se em linha de escarpas sinuosas, fendidas às vezes pelos
cursos d'água que descem para a depressão periférica circundante [...]seus fronts
escarpados, voltados para sudeste, formando curiosas figuras geológicas, mesas,
piões e cuscuzeiros, que os modernos geógrafos denominam morros testemunhos,
silentes sentinelas a contrastar vivamente com as áreas em torno.” (NEVES, 1983
p.01).
A dinâmica da urbanização da cidade foi determinada pelo predomínio da
economia cafeeira e, assim, o processo de produção do “ambiente construído” era o
espelho da acumulação de capital engendrado no café; capital que só era investido
nas cidades, porque elas se constituíam também como espaços privilegiados de
reprodução desse capital (DEVESCOVI, 1983, p.58).
9
Id, 27 jul. 2005.
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12
Foi com o cultivo do café, mas principalmente as características pedológicas
propícias para seu cultivo que o fazendeiro tornou-se barão, criando uma imagem
meio urbana, meio rural, tendo como um dos resultados marcantes a arquitetura
colonial típica de sua época.
Segundo o historiador Marco Antonio Leite Brandão, em 1820, 1830 e 1840 a
igreja registrou (batizou) os primeiros grandes grupos de escravos na região de São
Carlos, provenientes da região africana do Congo. Numa segunda fase, em
conseqüência ao novo “boom” do café (1860), após a Lei Eusébio de Queirós, o
município passou a receber escravos e filhos de escravos do Maranhão e interior da
Bahia.
Quando D. Pedro II visitou São Carlos em 1886, logo após a inauguração
da ferrovia em 1884, a região possuía uma das maiores taxas (25%) de
escravos do país, mais precisamente, segundo o relatório do presidente da
província de São Carlos, 3.880 negros, para uma população total de
aproximadamente 16.000 habitantes
10
.
Apesar da elite local não contar com nomes expressivos de abolicionistas,
após sua assinatura, em 1888, o que se verifica é que a população negra que até
então era essencialmente rural, passou a agrupar-se em núcleos urbanos. O próprio
fundador da cidade – Conde do Pinhal – por advertência do filho que estudava na
França, desde 1886/1887 passou a assalariar o trabalho de seus escravos em sua
fazenda.
Entretanto, a elite “escravocrata” preferia o escravo (entre 1876 e 1881
investiu-se grande fortuna na aquisição de aproximadamente 1 escravo por dia,
chegando perto de 2000 escravos) ao imigrante, o avanço da ferrovia auxiliou as
pressões do mercado internacional contra a escravidão. À medida que o negro
escravo era enviado cada vez mais para o interior do estado, pois seu preço subiu
muito após a assinatura da Lei do Ventre Livre (1850), sua mão de obra era
substituída pela do imigrante.
Após a abolição e o início do processo de contratação do negro, houve a
necessidade, por parte dos barões do café, de “esquecer e apagar a imagem” da
escravidão em suas terras. Paralelamente, a elite cafeeira precisou adaptar-se com
10
Id, 27 jul. 2005
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13
a substituição do capital escravo para a valoração da terra, da produção e do
trabalho.
Quanto à formação dos bairros, Neves (1984, p. 36) observa que, “[...] em
1891, a cidade comportava três bairros (Santa Cruz, Estação e Matriz), os quais
foram se conformando segundo a inserção de classe de população que aí se
instalava.”
Com o processo de instalação da ferrovia (1893) e a implantação do bairro
operário da Vila Prado, observa-se a expansão da cidade na direção sul. Bairros
como Vila Nery no quadrante leste da cidade, Vila Izabel, próximo ao Picadão de
Cuiabá, ocupado por negros advindos da Fazenda Pinhal, e Vila Pureza, situado na
região oeste, direcionaram a expansão da cidade no sentido leste e oeste.
Todos os loteamentos eram distantes da região central, caracterizando
bolsões intermediários de baixa densidade populacional.
Entre 1886 e 1930 vieram para residir em São Carlos cerca de 30 mil
imigrantes, sendo, em grande maioria (entre 18 e 20 mil) italianos. Nos primeiros
anos do século XX, vieram muitos espanhóis e poloneses.
São Carlos teve importância muito grande no processo de industrialização do
estado de São Paulo no século XX. Devido ao seu pioneirismo (comparando-se toda
a América Latina) na produção de energia elétrica e uma legislação municipal
incentivando a aquisição de terras para implantação de indústrias.
Inicialmente, com capital estritamente próprio dos imigrantes é que o
município entra no processo da industrialização.
Posteriormente, por meio da política de liberação de capital oficial de estado,
a Família Pereira Lopes implantou as primeiras indústrias voltadas para linha de
produção em massa (geladeiras e tratores), atraindo mão de obra de outras regiões
do estado. Com o processo de industrialização em curso no início do século XX e o
crescente aumento populacional assiste-se ao processo de transformação da cidade,
com a implantação de outros bolsões periféricos diversos e seus problemas
associados. A necessidade por habitação dessa classe operária fomentou na
burguesia industrial, investimentos em moradias de aluguel relativamente próximas
aos estabelecimentos industriais.
A partir de 1930, a Companhia da Agricultura, Imigração e Colonização (CAIC)
adquiriu grandes extensões de terras no entorno do município de São Carlos (parte
_________________________________________________________________
14
loteado e parte destinado para plantação de eucalipto), orientando o crescimento da
cidade. Devescovi (1985, p.80) comenta que o desemprego era a preocupação mais
evidente no final da década de 1930.
Contrariamente a outros municípios, observa-se que após o declínio da
cafeicultura, São Carlos voltou-se à atividade pecuária, e não para a agricultura. Sob
esse aspecto Dozena (2001, p.98) comenta que talvez seja “[...] condição
responsável pelo fato de que o fenômeno do ‘bóia-fria’ (os trabalhadores volantes na
agricultura) não atingisse proporções significativas em São Carlos, pelo menos até o
final da década de 1960, quando em outros municípios ele já vinha ocorrendo desde
a primeira metade dessa década.”
Em seguida, após 1940, foram implantados vários loteamentos mais
afastados para a população de baixa renda de forma precária, destituídos de infra-
estrutura mínima e serviços. O processo de construção da moradia nesses bairros
assumiu uma nova configuração, passando a ser pelo processo da auto-construção.
Devido à fase de transição da economia agro-exportadora para urbano-
industrial, conforme comentado anteriormente, os novos “capitalistas industriais”
foram os responsáveis pela forma de ocupação da malha urbana e características
de moradia (DEVESCOVI 1983, p.241). Dessa maneira, a distribuição de bens e
serviços e a implantação de infra-estrutura de então girava em torno da capacidade
monetária e aquisitiva dos consumidores reais ou potenciais.
A área central do município sofreu uma mudança de uso, passando de
espaço exclusivo de moradia dos senhores do café para abrigar atividades
comerciais, financeiras e de prestação de serviços, juntamente com moradia da
população de estrato social médio. “A burguesia local desloca-se para alguns
bolsões residenciais próximos à zona central e nas imediações da Santa Casa (zona
oeste), ocupando também os loteamentos da Vila Elizabeth (1949) e da Estância
Suíça (1957)” (KONDOR, 2001, p.102).
Sob o aspecto político após 1970, São Carlos sofreu as conseqüências por
não ter optado por uma cultura de racionalização e de separação entre aspectos
público e privado, gerando políticas populistas que possibilitaram a especulação
imobiliária pela ocupação (implantação) de forma indiscriminada de loteamentos
periféricos com conseqüentes agressões ambientais.
_________________________________________________________________
15
Em 31 anos, a área urbanizada do município cresceu 4,26 vezes, passando
de 24,12 km² (1970) para 102,89 km² (2001). Sua população, que era de 120 mil
habitantes em 1970, passou para 193 mil habitantes em 2001 (GASPAR, 2002). Um
dos fatores que contribuíram para o aumento dessa população urbana foi, em parte,
o êxodo dos trabalhadores rurais das lavouras do estado do Paraná com o
conseqüente afluxo desses trabalhadores para as áreas periféricas principalmente
na porção sul do município de São Carlos.
De certa forma, esta região está sofrendo as maiores conseqüências com os
diferentes processos de modificação de seu uso, podendo ser exemplificada por três
aspectos: a anuência dos órgãos governamentais quanto à implantação de um
distrito industrial exatamente na área de proteção ambiental do aqüífero guarani, a
implantação de empresas de mineração de areia com grande poder de degradação
(ambiental, visual, potencial turístico, etc), e os loteamentos em áreas arenosas para
esses grupos populacionais que passam a ser herdeiros de todas as seqüelas do
descaso ambiental.
Para Gaspar (2000), a degradação ambiental e o processo de implantação
desorientada de loteamentos (notadamente os destinados à população de baixa
renda) são temas complementares, particularmente devido à desorientação técnica
dos empreendedores (ou, na pior das hipóteses, devido à “desvios de conduta” por
parte destes).
Foi nesse período que se pode verificar a consolidação do processo de
segregação/exclusão social por meio da especulação imobiliária, que resultou na
implantação desses diversos bairros periféricos. Dentre eles, figuram-se os
moradores do loteamento Antenor Garcia que é o objeto deste estudo.
2.2.2. Descrição do bairro Antenor Garcia
Neste capítulo, apresentam-se algumas características que se mostram
pertinentes para a correta interpretação do estudo.
O bairro Antenor Garcia – nome do pai do dono das terras onde o bairro foi
implantado –, com aproximadamente 32 ha, situa-se no extremo mais distante do
centro da cidade de São Carlos (Figura 2.2.2.1).
_________________________________________________________________
16
Figura 2.2.2.1 – Mapa de São Carlos situando o bairro Antenor Garcia (sem escala).
Fonte: Gaspar (2000, p. 78)
O bairro foi implantado sobre um material inconsolidado proveniente da
decomposição do Arenito, em topografias variáveis de encostas, desde superfície
plana horizontal até terrenos de médio declive, gerando sérios problemas erosivos
locais (Figura 2.2.2.2).
N
_________________________________________________________________
17
Figura 2.2.2.2 – Panorâmica do bairro Antenor Garcia. Em detalhe erosão devido às
chuvas de 1999.
Fonte: o autor (fev. 1999).
A região teve um processo mais intenso de ocupação a partir de 1980, sem
nenhuma infra-estrutura instalada, com a distribuição de 30% de seus lotes.
Observa-se que neste processo de “doação”, para cada lote doado, intermeávam-se
dois lotes vazios. O processo se deu com a chegada de agricultores (cortadores de
cana-de-açúcar, apanhadores de laranja e catadores de frango empregados durante
a safra), basicamente de origem paranaense ou paulista, instalados em pequenas
moradias construídas pelo processo de mutirão e, paulatinamente, perdendo seu
vínculo com o campo, principalmente devido à mecanização da lavoura e à
conseqüente falta de emprego.
A análise sócio-econômica demonstra a instalação de uma população de
baixíssima renda, com habitações em situação precária, carente de serviços e infra-
estrutura, como rede de esgoto, rede de água, coleta de lixo, iluminação,
pavimentação, drenagem. A maioria das construções é de alvenaria de tijolo baiano
(oito furos) sem reboco e algumas são barracos de madeira, visivelmente precários
(Figura 2.2.2.3.
_________________________________________________________________
18
Figura 2.2.2.3 – Habitação característica do bairro Antenor Garcia.
Fonte: o autor (nov. 2006).
Parte dessa população periférica vive em condições de extrema pobreza, com
crianças trabalhando/brincando em depósitos de entulho, onde se concentra o maior
índice de portadores de HIV, bem como de gravidez precoce ou de criminalidade e,
o que é mais constrangedor, são esses os aspectos utilizados pela mídia de maneira
inadequada no sentido de depreciar a reputação do bairro (GASPAR; SANTOS,
2006, p.3).
De certa forma, a população é composta por pessoas sem qualificação
profissional, com baixo grau de escolaridade e com núcleos familiares de dois a três
filhos que passaram a buscar trabalho nos centros urbanos.
Em março de 2006, de um total de 1.600 lotes de (6 x 25)m, 64% estavam
ocupados, abrigando 5.760 habitantes. A densidade populacional na época,
considerando-se apenas os lotes ocupados era de 375 hab/ha, portanto de alta
densidade.
_________________________________________________________________
19
A Figura 2.2.2.4 apresenta a distribuição por faixa etária dos moradores do
bairro.
Figura 2.2.2.4 – Faixa etária dos moradores do bairro Antenor Garcia em março de
2006.
Org: o autor (mar. 2006)
A figura 2.2.2.5 presenta a divisão por faixa etária do total de analfabetos
dentre os 362 questionários aplicados no bairro Antenor Garcia, resultando em
16,35% da população.
Observou-se que em março de 2006 o bairro possuía quarenta e seis bares e
armazéns, resultando numa média de um bar para cada cento e vinte e cinco
habitantes ou vinte e dois lotes ocupados.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
(% POPULAÇÃO)
<14
15-24
25-34 35-44
45-54
65-74 >75
MULHERES
IDADE (anos)
HOMENS
55-64
_________________________________________________________________
20
Figura 2.2.2.5 – Analfabetismo por idade e sexo em números absolutos observados
em 362 moradores do bairro Antenor Garcia em março de 2006.
Org: o autor (mar. 2006)
Verificou-se também, o grande número de igrejas e templos (17), realçando o
misticismo, a necessidade de exercitar uma religiosidade (Quadro 2.2.2.1).
Quadro 2.2.2.1 – Categorização dos moradores do bairro Antenor Garcia por
preferência religiosa.
Preferência religiosa moradores %
Católicos
146 40,3
Evangélicos
108 29,9
Ausência de doutrina
93 25,7
Outras
8 2,2
Não sabe
7 1,9
Total
362 100,0
Org: o autor (set. 2004)
15-24
25-34
35-44
45-54
55-64
65-74
>=75
0
1
2
3
4
5
6
7
8
IDADE
Número de
pessoas
MULHERES
HOMENS
_________________________________________________________________
21
A contagem da vegetação arbórea/arbustiva presente ao longo das calçadas
em novembro de 2003 apresentou 779 árvores, quase que em sua totalidade da
espécie Bauhinia forficata (pata-de-vaca), observando-se 350 árvores/ha de calçada.
Numa escala menor, a vegetação, pouco presente na área de estudo, é
formada por campo de cerrado e cerrado, apresentando desde árvores de porte
médio, com cerca de 4m de altura, até pequenos arbustos. Seus galhos são
retorcidos e a vegetação herbácea, entre as árvores, ficando seca na época de
menor precipitação, propiciando focos de incêndios (Figura 2.2.2.6).
Figura 2.2.2.6 – Aspecto da vegetação de campo de cerrado na área do bairro
Antenor Garcia (detalhe de árvore atingida por raio).
Fonte: o autor (jan. 2004)
Em visita feita à área ao longo do córrego Água Quente, ainda se encontra presente
a vegetação ribeirinha, vegetação esta ausente em alguns locais devido à
implantação do bairro, conforme mostra a Figura 2.2.2.7.
4 m
_________________________________________________________________
22
Figura 2.2.2.7 – Vista aérea mostrando mata ripária ao longo do córrego da Água
Quente (à esquerda) e bairro Antenor Garcia (à direita).
Fonte: o autor (abr. 2001)
Córrego da Água
Quente
mata ri
p
ária
Antenor Garcia
_________________________________________________________________
23
3. EMBASAMENTO TEÓRICO
Face ao crescimento urbano exacerbado, e tendo como referência os
pressupostos da sustentabilidade
11
, hoje em dia considerados incontornáveis, devido
à necessidade de evoluir para um quadro de qualidade de vida urbana aceitável e
em harmonia com as expectativas da população, observa-se que os indicadores
sociais e as metodologias para sua formulação voltaram a integrar a agenda das
ciências sociais e a preocupação dos administradores públicos.
O interesse manifestado internacionalmente pela problemática da
sustentabilidade ou das regiões sustentáveis, tem subjacente a necessidade de
desenvolver sistemas de medição dos parâmetros de qualidade de vida dos
moradores dessas regiões.
Este conceito não pode ser aplicado de forma restrita a unidades geográficas
isoladas como cidades, por exemplo, já que, sob o aspecto ambiental, para
‘sustentar’ uma cidade, muitas vezes fornecendo recursos e recebendo resíduos,
sua abrangência é bem maior que aquela que suas fronteiras definem (RESS, 1992).
Entretanto, restringindo-se ao aspecto da urbanidade
12
, verifica-se que a
densidade populacional, principalmente nos países em desenvolvimento, propiciou o
acúmulo de uma superpopulação marginal, que, mesmo deixados à revelia, “[...] se
viram muito ocupados com os problemas prementes que diziam respeito à sua
sobrevivência [...]” e, de certa forma, aqueles que preferiram migrar para cidades
grandes “[...] tiveram de enfrentar como puderam a necessidade de inventar
empregos, lugares de moradia, transporte, saneamento, opções de lazer. Não se
saíram tão mal: mantiveram vivas as áreas centrais, desprezados por ocupantes
anteriores; construíram, de qualquer maneira, favelas em sítios impossíveis e
proibidos; foram para periferias e para cidades-novas e frentes pioneiras.” (SANTOS,
1988, p. 16).
Este fato é definido por Lefebvre em seu estudo no âmbito do planejamento
urbano como, a “produção de espaços urbanos”, em que, faz a distinção entre
11
De acordo com o conceito generalizado de sustentabilidade, o desenvolvimento deve viabilizar
soluções para os problemas presentes da população sem comprometer a capacidade das
gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Comissão Mundial de
Desenvolvimento do Meio Ambiente - WCED (1987).
12
Segundo dicionário Aurélio é a qualidade daquele que vive no ambiente urbano – cidade.
_________________________________________________________________
24
“natureza primeira” como a base geográfica, locus ou aspecto fundamental intocado
da natureza, e “natureza segunda” sendo a re-elaboração da natureza por meio do
trabalho ou conseqüência de sua prática social (LEFÈBVRE, 1974).
O aspecto marcante dessa “produção de espaços urbanos” é a segregação
social que se apresenta principalmente na ocupação desses espaços urbanos,
relegando às camadas menos favorecidas da população os espaços mais afastados
da integração urbana.
Santos (1996, p. 44) comenta que este fato não é exclusividade dos cidadãos
brasileiros, mas guardadas as devidas proporções referente às variáveis que a
integram, encontram equivalência em diversos países do mundo.
Ainda sob o aspecto da dinâmica de produção de espaços periféricos que,
segundo Kurz (2001, p.14), por vezes, confunde-se com a dinâmica de produção de
bens de consumo, o autor comenta que existe um marcante processo de
estratificação social, e conclui observando que o processo de ocupação urbano
periférico não se limita a intervir na natureza, porém, prefere, por vezes, “produzir
outra natureza”, na ânsia de se emancipar plenamente da mesma.
Sobre esse aspecto, em sua crítica cronológica sobre o caráter destrutivo do
complexo econômico-científico mundial, Robert Kurz ressalta que até meados do
século XX, a humanidade limitou-se a consumir a matéria existente na natureza cujo
caráter destrutivo “não era mais que um efeito secundário e indireto”. Após a
Segunda Guerra Mundial, quando a cultura da combustão capitalista ameaçava
extinguir as reservas naturais, a energia atômica assumiu o aspecto de produtor de
“outra natureza”, visando se “emancipar plenamente da natureza”. Essa mesma
lógica referente à base energética revela-se no plano da transformação de matérias-
primas, onde o emprego tecnológico da ciência no espaço econômico do capital
concentrou-se nas transformações físicas e químicas da produção industrial. No
‘agrobusiness’ da agronomia, passa a imperar o padrão industrial da linha de
montagem, com a produção de material biológico incidindo diretamente na produção
de animais e plantas (KURZ, 2001, op. cit, p.15).
Complementando o aspecto da produção de outra natureza, o autor observa
ainda que na terceira revolução industrial – da microeletrônica – o consumo
industrial de matéria inorgânica se esgotou como suporte de crescimento econômico:
“[...] a natureza orgânica, a própria vida, deve ser decomposta em seus elementos
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25
constitutivos e transformada para criar uma "outra biologia", independente da
evolução natural terrestre”.
Bernardes (2003, p. 25) aborda a questão da produção de espaços
salientando que o incremento técnico acumulativo vem intensificando o domínio
sobre a natureza, “[...] o que nos permite observar a substituição das restrições
naturais pelas restrições impostas pelo espaço modificado, eliminando qualquer
afirmação sobre determinismo geográfico.”
Qual a dinâmica da população diante da transformação do espaço?
Neste processo de desequilíbrio, a população suburbana eclode, modificando
o espaço, ampliando a assimetria da pobreza e exclusão social, ressaltando
características de integração com a cidade formal e de insustentabilidade urbana
13
.
Essa aglomeração urbana se reflete na oferta de serviços, de empregos e
qualidade de vida piorando o quadro de integração destas comunidades às regras
de nossa sociedade de consumo.
Mais que simplesmente um fenômeno demográfico, a rápida urbanização é
um dos processos que mais afetam as metrópoles de países em desenvolvimento. O
resultado é uma transformação radical na estrutura das cidades, acompanhada de
complexas mudanças sociais, econômicas e ambientais.
Sobre esse aspecto, urbanistas de cunho modernista apregoam a valorização
do espaço verde, porém, consideram o ambiente natural um “estorvo” (sic) a ser
vencido (FRANCO, 1997 p.36).
Compactuando dessa idéia, Le Corbusier, quando faz menção sobre a
seqüência e a ordem no eixo de referência no projeto urbanista comenta: “... a casa,
a rua, a cidade são pontos de aplicação do trabalho humano,... caso estejam em
desordem, nos travam, como nos trava a natureza, ambiente que combatemos todos
os dias...” (FRANCO, op. cit., p.40).
13
Urbanização sustentável é um processo contínuo, dinâmico e multi-dimensional, pois engloba
questões não só ambientais, mas também aspectos da sustentabilidade social, econômica e
político-institucional. Objetiva satisfazer características urbanas e rurais, admitindo os processos
de migração e crescimento urbano. Deve balizar o relacionamento do ser humano em vários
níveis: desde local, estendendo sua influência nas questões metropolitanas, regionais, nacionais
e globais. As políticas devem observar as relações econômicas e a dependência entre cidades e
zona rural, e inserir a realidade do crescimento urbano, da migração e das necessidades
humanas objetivas na administração dos processos. (WUF, 2002).
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26
Ao longo de todo o século XX, o Brasil produziu um continuado processo de
êxodo de sua população do campo para a cidade. A razão de urbanização da
população brasileira em 1940 era de 31,2%. Em 1980, este índice já alcançava
67,6%, atingindo em 2000, 81,2%. Este processo igualmente se faria acompanhar
por um processo intensivo de metropolitanização da população brasileira.
O Quadro 3.2 apresenta os dados de Evolução da Taxa de Crescimento e
Razão de Urbanização da População Brasileira ente os anos de 1991 e 2000.
Observa-se que entre o ano 1991 e o ano de 2000, a população brasileira
residente em cidades cresceu 24,3%, sendo que na região Norte este aumento
relativo chegou a 52,2%. Já a população concentrada no meio rural, no mesmo
período experimentou um declínio de 11,1% em todo o país, sendo que na região
Sul este declínio foi de 16,4%. Deste modo, a razão de urbanização da população
brasileira, no mesmo período, passou de 75,6% para 81,2%.
Criam-se assim, nas palavras de Milton Santos os “novos urbanos”, ou o bóia-
fria que vive na cidade, que “...muito raramente tem acesso ou participa dos
documentos finais, e ainda muito menos aos documentos de base que embasam o
planejamento do bairro onde vivem.” (SANTOS, 1996, p. 86).
A pauperização dessas populações como fruto de alteração de processos de
sistemas tradicionais de manejo ou políticas de produção, tem levado muitos
moradores a buscarem novas alternativas de sustento, engrossando o estrato social
inferior periférico urbano.
Sobre esse assunto, o estudo efetuado pela economista Sônia Rocha
divulgado pela Folha de São Paulo
14
revela, com base nos dados da PNAD - 2005
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), que a pobreza e a indigência no
Brasil são crescentemente fenômenos urbanos, mais especificamente de bairros
periféricos de cidades fora da influência das metrópoles.
No mesmo artigo, o jornal Folha de São Paulo comenta o estudo promovido
pelo CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), indicando que no
período entre 1995 e 2004 aumentou a dependência dos cidadãos brasileiros aos
programas sociais do governo (bolsa-família; vale-gás; vale-leite; entre outros).
14
ROCHA, S. Queda da pobreza é maior no campo que nas cidades. Folha de São Paulo, São
Paulo, p. A4, 1 de jan. 2006.
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27
Quadro 3.2 Dados da Taxa de Crescimento e Razão de Urbanização da
População Brasileira, 1991-2000.
Taxa de Crescimento da
População
Razão de
Urbanização da
População
Grandes
Regiões
Total,
1991-
2000
Urbana
1991-
2000
Rural
1991-
2000
Urbana
1991
Urbana
2000
Brasil 15,6% 24,3% -11,1% 75,6% 81,2%
Norte 28,6% 52,2% -5,4% 59,0% 69,9%
Nordeste 12,3% 27,9% -11,7% 60,7% 69,1%
Sudeste 15,4% 18,7% -8,7% 88,0% 90,5%
Sul 13,5% 23,9% -16,4% 74,1% 80,9%
Centro-
Oeste
23,4% 31,7% -12,5% 81,3% 86,7%
Fonte: Modificado de Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, baseado no
Censo Demográfico 1991 e 2000
Na visão de Cândido (1964, p.19), populações com modo de vida tradicional,
“[...] de regiões do interior Paulista, marcadas pela estreita ligação das
representações simbólicas e religiosas com a vida agrícola e aspectos da natureza
[...]” são, por necessidade de sobrevivência, “[...] obrigados a se deslocarem para
áreas de maior sustento.”
“Toda representação é uma imagem, um simulacro do mundo a partir de um
sistema de signos, ou seja, em última ou em primeira instância, toda representação
é um gesto que codifica o universo [...]” embora, nessa representação, “[...] conserve
sempre, no horizonte da sua expectativa, o desejo de esgotá-lo.” (FERRARA, 1997,
p.12)
Leff (2002, p. 159) abordando sobre a necessidade de utilizar conceitos
interdisciplinares na busca da construção de uma realidade homogênea, porém
multifacetada, comenta que: “[...] o questionamento inquisidor sobre o contexto
urbano a partir do olhar externo e estranho de outra pessoa [...]”, revelando os
efeitos que os símbolos produzem no cotidiano transformando a realidade, “[...] pode
levantar alguns problemas teóricos e gerar um processo de assimilação de novos
conceitos e metodologias de pesquisa [...]”
Sobre as representações simbólicas, Eliade comenta:
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28
[...] não é uma área exclusiva da criança, do poeta ou do desequilibrado;
ela é consubstancial ao ser humano; precede a linguagem e a razão
discursiva. O símbolo revela certos aspectos da realidade – os mais
profundos – que desafia qualquer outro meio de conhecimento. As imagens,
os símbolos e os mitos não são criações irresponsáveis da psique; elas
respondem a uma necessidade e preenchem uma função: revelar as mais
secretas modalidades do ser (ELIADE, 1991, p.10).
3.1. SÍMBOLO NOVO PARA O CIDADÃO DA PERIFERIA
A palavra "SÍMBOLO" origina-se do grego symbolon, um sinal de
reconhecimento. Na Grécia antiga, quando dois amigos se separavam, quebravam
uma moeda, um pequeno prato de argila, um anel, ou ainda a metade de uma
concha de madrepérola.
Quando o amigo ou alguém de sua família voltava, tinha de apresentar sua
metade. Caso ela combinasse com a outra metade, esse alguém teria
revelado sua identidade de amigo e tinha, assim, direito à hospitalidade
(DURAND, 1988, p. 45).
Diegues (2002, p. 62), comentando sobre os caiçaras do litoral sul
amazonense, onde o sincretismo religioso, no qual o elemento católico tradicional
era fundamental para o seu modo de vida, está sofrendo alterações em seu campo
simbólico. O contato mais estreito entre a maioria das comunidades tradicionais
caiçaras e o mundo urbano-capitalista, juntamente com a substituição crescente do
catolicismo sincrético pelo protestantismo fundamentalista são elementos
desintegradores do pensamento simbólico e mítico.
Historicamente, outro fato que consubstancia a modificação do conceito de
símbolo é a consolidação da palavra impressa em substituição ao texto não escrito,
com maior divulgação à partir da invenção da imprensa por Johann Gutemberg em
1450.
Apesar do ser humano buscar seus símbolos – gradativamente com menos
intensidade – assimilados no passado, paulatinamente a maneira de pensar passa a
agregar outros símbolos, necessários para a caracterização com o novo modo de
vida.
_________________________________________________________________
29
Exemplificando esse aspecto, a citação seguinte apresenta a postura
autoritária dos órgãos de conservação em relação à transferência dos caiçaras de
suas moradias “seculares” das Unidades de Conservação, tendo como
conseqüência sua descaracterização sócio-cultural:
Os custos sociais e ambientais dessas posturas têm se revelado
inumeráveis; tanto para contribuir com a elevação do quadro de miséria
que assola o país, como por destituir as populações de seus bens materiais
e simbólicos, levando-as a descaracterização sócio-cultural, e
conseqüentemente, a perda para a humanidade de todo um saber
patrimonial, acumulado e construído a partir de relações harmoniosas com
a natureza (CUNHA, 1993 apud DIEGUES, op. cit., p. 138).
O autor conclui que, apesar do trabalho relatar o efeito da implantação de
projetos em unidades de conservação, o fato de não levarem em conta as atividades
habituais para sobrevivência dos moradores tradicionais, parte considerável foi
obrigada a migrar, engrossando as favelas de inúmeras cidades.
Crespo (2003, p. 65) na busca da compreensão da percepção da natureza e
do meio-ambiente, em pesquisa de opinião realizada no Brasil nos anos 1991, 1997
e 2001, intitulada: O que o brasileiro pensa do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável, conclui que: O perfil do cidadão menos sensível às questões ambientais
tem mais chance de ser mulher, possuir no máximo o curso primário, ter mais de 50
anos e morar no interior ou nas periferias urbanas.
Com relação às vulnerabilidades urbanas (lixo, enchentes, deslizamentos de
encostas, assoreamentos, congestionamentos, contaminação de rios e corpos
d’água, etc), a pesquisa apresenta como dado interessante que “... cada vez mais os
brasileiros identificam no poder local, no bairro o locus onde os problemas
ambientais devem ser solucionados. A responsabilidade atribuída às prefeituras
cresceu de 30% em 1992 para 46% em 2001. A responsabilidade atribuída “a cada
um de nós“ estacionou em 36% (CRESPO, op. cit., p. 68).
Este raciocínio nos remete ao trabalho sobre Percepção Ambiental
desenvolvido por Ferrara (1993) em área urbana onde, ruas, avenidas, praças,
edifícios transformam-se em signos ou símbolos que, de certa forma, auxiliam na
compreensão do imaginário – contexto urbano. Em sua pesquisa, Lucrécia D’Alessio
_________________________________________________________________
30
Ferrara analisa a percepção ambiental, flagrada por meio dos índices urbanos que
povoam as fotos batidas pelos moradores de três bairros da cidade de São Miguel
Paulista (SP). Como conclusão aponta que a pesquisa de percepção é capaz de
flagrar signos que nos ajudam a ver de outro modo a nossa realidade, e comenta
que nos apresenta “uma espécie de alfabetização urbana em que os problemas
físicos e estruturais empalidecem ante a urgência de uma ação cultural que se
impõe ao desenho urbano e deve vetorizar a intervenção pública”.
A palavra percepção, utilizada nesse contexto pode ser representada pelos
símbolos ou mitos que as pessoas têm no imaginário, expressos por suas
manifestações. Os símbolos nos encantam pela sua sincronicidade e pela
simultaneidade que eles se apresentam; percebemos uma coincidência significativa
de acontecimentos com poucas probabilidades de acasos e que curiosamente nos
fazem ficar atentos, alertas às nossas atitudes. É com espontaneidade e
naturalidade que os símbolos se apresentam mobilizando na psique humana
consideráveis revelações de nosso mundo interno.
Usando-se o comentário do arquiteto e urbanista prof. Raymundo De
Paschoal
15
, procurando correlacionar questões da percepção ambiental com o modo
de vida do ser humano; “[...] ninguém melhor que o andarilho urbano que, através de
seus símbolos, abordam questões sobre as condições das calçadas da cidade de
São Paulo.”
Verifica-se que o enunciado pode ser visto como uma representação visível
de um mundo invisível. Observa-se que o interesse qualitativo, principalmente do
homem urbano, sobre questões (relações) que envolvam problemas ambientais,
passou a ocupar destaque na mídia após a divulgação do relatório mundial sobe o
estado do meio ambiente “Nosso Futuro Comum, 1982”. Este relatório, também
conhecido como relatório Brundtland consolida uma visão crítica do modelo de
desenvolvimento adotado pelos países industrializados e mimetizado pelas nações
em desenvolvimento, ressaltando a incompatibilidade entre os padrões de produção
e consumo vigentes nos primeiros e o uso racional dos recursos naturais e a
capacidade de suporte dos ecossistemas.
15
Professor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Entrevista ago. 2005.
_________________________________________________________________
31
Sobre as conseqüências do desenvolvimento insustentável da natureza, que
Robert Kurz
16
prefere chamar de “catástrofes sociais da natureza”, o sociólogo
comenta que o repasse dos custos no plano da concorrência, são deslocados para a
sociedade inteira, principalmente onerando a natureza e o futuro. “Essa
‘externalização’ dos custos aparece então, de um lado, como poluição do ar e da
água, lixiviação e erosão do solo, transformação destruidora das condições
climáticas, etc, e de outro como ‘desemprego’ e pobreza.”
3.2. A POBREZA VISTA PELOS POBRES
Assim como a maioria dos países em desenvolvimento, a sociedade brasileira
é marcada por grandes contradições no âmbito da exclusão social: analfabetismo,
desemprego, pobreza e marginalização, segregação étnica, de portadores de
necessidades especiais, de grupos etários e de gênero, distribuição desigual de
riquezas entre cidadãos e regiões, violência, etc. São aspectos que retratam as
diversas nuanças dessa segregação.
Dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD,
2005) quando analisam a distribuição de renda no país mostram que, 10% mais
pobre da população brasileira detêm apenas 0,7% da renda nacional, enquanto que
os 10% da população mais rica detêm 47% desses recursos.
O Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2004) apresenta
que o trabalho infantil, tanto no mundo como no Brasil, ainda persiste com números
alarmantes: De um total estimado de 200 milhões de crianças trabalhando no mundo
em várias atividades, a OIT acredita que 10 milhões de crianças trabalhem em
funções domésticas. O estudo calcula que, no Brasil, apenas em funções
domésticas, trabalhem 559 mil crianças
17
.
16
http://obeco.planetaclix.pt/rkurz108.htm. Cons. em 05 fev. 2006.
17 Um dos problemas mais graves é que, no caso do Brasil, o fenômeno chega a ser visto como
algo positivo por famílias que alegam que estão ajudando essas crianças, onde essas crianças
não são vistas como trabalhadoras, mas apenas como ajudantes, tornando seu envolvimento
supostamente aceitável. Embora reconheça o problema, o governo brasileiro não apresenta os
mesmos números do relatório da OIT, divulgando que, o número de meninos e meninas
trabalhando em funções domésticas é de 220 mil, já que não estariam sendo contabilizadas as
pessoas com 16 e 17 anos de idade. Brasil é acusado na ONU de violar direitos das crianças.
http://www.consciencia.net/2004/mes/05/infancia-onu.html. Jamil Chade, Agência Estado, 11 de
jun. 2004,
_________________________________________________________________
32
A situação do preconceito de raça, credo e gênero estão ainda longe de ser
resolvida. Apesar da proporção de negros na população brasileira permanecer
praticamente inalterada entre 1986 e 2001, conforme apresentado na Figura 3.2.1,
dados estatísticos do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA)
18
mostram
que, a renda per capita média dos negros em 2000 (R$ 162,75) correspondeu a
menos da metade do que ganhavam os brancos em 1980 (R$ 341,71, em valores
corrigidos).
As pesquisas mostram também que, em 1992, os brancos que trabalhavam
por contra própria recebiam em média R$ 309,42 — 66,7% a mais que os negros.
Em 1999, a diferença chegou a 100%: os brancos recebiam, em média, R$ 400
mensais e os negros, R$ 200 (ou seja, menos do que os brancos recebiam no início
da década de 90). Ao longo das duas décadas que separam os dados, a diferença
econômica entre os dois grupos se manteve praticamente inalterada.
Figura 3.2.1 – Proporção de negros na população brasileira nos anos de 1976, 1986,
1996 e 2001.
Fonte: Modificado de Combate ao Racismo e Superação das Desigualdades Raciais
IPEA/PNUD, Projeto BRA/01/013. Cons. 18 jan. 2006
18 http://www.pnud.org.br/projetos/pobreza_desigualdade/visualiza.php?id07=36, cons. 18 jan. 2006.
Proporção de negros
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Na população
total
Entre os 10%
mais pobres
Entre os 10%
mais ricos
1976
1986
1996
2001
_________________________________________________________________
33
Quanto aos aspectos sobre a violência contra a mulher, a Organização
Mundial da Saúde (OMS)
19
divulgou em 2002 que a violência responde por
aproximadamente 7% de todas as mortes de mulheres entre 15 e 44 anos no mundo
todo. Dados do PNUD (2003, op. cit.), apresentam que em média, uma em cada três
mulheres, em todo o mundo, foi vítima de violência em uma relação familiar.
Segundo alguns autores, dentre os principais fatores que resultam na pobreza
“endêmica” provavelmente, a má distribuição de renda
20
possa ser considerada
aquele que requer maior atenção.
No Quadro 3.2.1 são analisados os conceitos de pobreza mais discutidos na
literatura. Para sua confecção, houve a necessidade de identificar os elementos
constitutivos da pobreza, sejam eles recursos, “activos”
21
, necessidades ou
capacidades. Para tal, duas questões essenciais foram abordadas, conforme Pereira
(2001, p.4):
Qual o padrão de referência para identificar os pobres?
Quem deve definir os elementos que constituem a pobreza?
Para sua elaboração verifica-se que a primeira questão vem confrontar
diretamente a visão ‘absolutista’, na qual a definição de pobreza é independente do
quadro social, da visão ‘relativista’ que defende o contrário. A segunda questão tem
como ‘opostos’ os defensores da definição realizada por profissionais e os
defensores da definição realizada pelos próprios pobres.
A autora observa que quase todos os conceitos levam em consideração
diferentes tipos de recursos ou activos
22
, apresentando também, implicitamente,
19
Organização Mundial da Saúde (OMS), Sexual Violence Facts, disponível em
http://www.who.int/violence_injury_prevention/violence/globalcampaign/en/exualviolencefacts.pdf.
Cons. 12 fev. 2006.
20
Segundo Relatório de Desenvolvimento Humano de 2005: O Brasil é usado como exemplo para
se ressaltar que a má distribuição de renda agrava a pobreza http://www.pnud.org.br/rdh/. Cons.
17 jan. 2006.
21
Preferiu-se manter a palavra activo conforme escrita portuguesa européia. Embora nem sempre a
distinção seja feita, podemos considerar que, em grande parte da literatura da pobreza
normalmente quando se fala em recursos à disposição dos pobres consideram-se os próprios
fluxos (em numerário, bens e serviços) que lhes permitem satisfazer necessidades; quando se
fala em activos consideram-se todos os meios à disposição dos indivíduos, agregados familiares
ou comunidades que geram ou contribuem para aumentar esses fluxos ou outros benefícios que
contribuem para o bem-estar (PEREIRA, op. cit., p.2).
22
Na literatura sobre pobreza o significado atribuído a estes dois conceitos - activos e recursos -
não é uniforme. Em vários casos, são mesmo usados indiferentemente: “Os activos englobam um
conjunto de recursos tangíveis e intangíveis …”(PNUD, 1997: pág. 62). Em termos econômicos,
normalmente referem-se os recursos ou activos tangíveis, como por exemplo, terra, trabalho,
_________________________________________________________________
34
uma maior ou menor diversidade de necessidades. Um fator interessante nesta
evolução é que elementos antes considerados necessidades – a educação e a
saúde – passam a ser incluídos na análise da pobreza como disponíveis, como é o
caso da pobreza vista pelos pobres. Esta evolução enfatiza a liberdade dos pobres
levarem a vida que valorizam, melhorando o seu acesso aos disponíveis ou a
importância da “[...] criação das boas condições de vida pelos próprios pobres.”
(PEREIRA, 2001, op. cit.).
Observa-se também que apenas os pobres mencionam os aspectos
ambientais e de infra-estrutura na consideração de “activos” ou recursos.
capital físico, dos quais os indivíduos podem retirar um fluxo futuro de rendimento pela produção
e troca de bens e serviços (PNUD, 1997 Apud PEREIRA, op. cit).
____________________________________________________________________________________________________
35
Quadro 3.2.1 – Evolução Conceitual da Pobreza: Uma Síntese
Definição da pobreza
Conceitos
Dimensões
consideradas
Recursos ou
activos
considerados
Classificação
das
necessidades
consideradas
Padrão de
Referência
Quem
define
Nível de
identificação
da pobreza
Subsistência
Rendimento
(recursos no
sentido restrito).
Rendimentos
monetários.
Materiais,
somente as
físicas.
Absoluto.
Os
técnicos.
Subsistência
física
Necessidades
básicas
Necessidades
básicas.
Rendimentos
monetários e
em espécie;
bens e
serviços
públicos.
Materiais, físicas
e não físicas.
Absoluto.
Os
técnicos.
Nível de vida
adequado
Privação
relativa
Privação em
termos do
padrão de vida
comum na
sociedade.
Rendimentos
monetários e
em espécie;
activos físicos
e financeiros;
benefícios
associados ao
emprego; bens
e serviços
públicos.
Materiais,
essencialmente
não físicas.
Relativo.
Os
técnicos.
Condições de
vida que
permitam a
participação
social.
Abordagem
consensual
Privação de
necessidades
socialmente
percebidas.
Rendimento.
Materiais,
essencialmente
não físicas.
Relativo.
Os
indivíduos
em geral
incluindo
os pobres.
Padrão de
vida mínimo
aceitável.
Pobreza
como
privação de
Capacidades
Capacidades
(necessidades
funcionais).
Não se aplica.
Materiais, físicas
e não físicas.
Absoluto.
Os
técnicos
Capacidades
para obter um
nível de vida
adequado
____________________________________________________________________________________________________
36
Quadro 3.2.1 (cont.) – Evolução Conceitual da Pobreza: Uma Síntese
(Dis)
Empowerment
Acesso às bases
do poder
(recursos e
activos)
Espaço de
vida
defensável,
tempo
excedente,
conhecimento
e técnicas,
informação
adequada,
organização
social, redes
sociais,
instrumentos
de trabalho e
condições de
vida, recursos
financeiros.
Não se aplica.
Absoluto e
relativo.
Os
técnicos.
Poder social e
político para a
produção das
próprias
condições de
vida
A pobreza
definida pelos
“pobres”
Bem-estar
material; bem-
estar
psicológico;
infra-estrutura;
Activos físicos,
humanos;
sociais e
ambientais;
Vulnerabilidade.
Infra-estrutura;
Activos físicos,
humanos,
sociais e
ambientais.
Materiais e não
materiais.
Absoluto e
relativo.
Os pobres. Vários
Fonte: Modificado de PEREIRA (op. cit., p.4)
_________________________________________________________________
37
3.3. AVALIAÇÃO PARTICIPATIVA DA POBREZA URBANA
O trabalho encomendado pelo Banco Mundial à Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco (FADE, 2000) apresenta
a síntese de uma Avaliação Participativa da Pobreza no Brasil Urbano, baseado em
632 discussões e/ou entrevistas individuais com moradores de dez comunidades em
três cidades brasileiras: Recife, Santo André e Itabuna.
O trabalho de campo consistiu no levantamento de informações sobre três
conjuntos de questões:
Bem-estar e tendências na variação do bem-estar no tempo (com referência
a questões relativas à segurança, risco, vulnerabilidade, coesão social,
exclusão social, oportunidade e mobilidade, crime e conflito);
Problemas e prioridades;
Análise das instituições (por exemplo: confiança e avaliação da efetividade
das diversas instituições – governamentais, não-governamentais e
instituições de mercado).
Foi possível identificar fatores comuns no que se refere às questões de bem-
estar, qualidade de vida e condições de vida. Os indivíduos tendem a associar
pobreza e incapacidade, e relacionar bem-estar com segurança. A segurança é
correlacionada a uma variedade de fatores dentre os quais emprego e acesso a
fonte de renda fixa, acesso à comida, saúde e acesso aos serviços de saúde, além
de posse da terra e moradia.
O emprego fixo ou o acesso a relações de patronagem foram considerados
como fontes de segurança.
De uma maneira geral “[...] constatou-se que a pobreza não parece estar
associada diretamente com gênero ou velhice”.
Verificou-se que “... para a maioria das pessoas a insegurança aumentou,
sendo atribuído ao crescimento generalizado do desemprego, e a explosão da
violência e do crime.” Quanto a esse aspecto o relatório observou diferenças
marcantes entre homens e mulheres adultas, apresentando que: “Para os jovens, os
critérios utilizados compreendiam aspectos relativos à infra-estrutura e moradia,
posse de eletrodomésticos, automóveis e lazer.” Em contraste, observa-se que os
_________________________________________________________________
38
grupos de homens e mulheres adultas “[...] enfatizaram aspectos relativos à renda e
mercado de trabalho e condições financeiras de manter crianças nas escolas.”
Com relação às principais causas da pobreza “[...] houve um consenso em
torno do desemprego, juntamente com a falta de educação adequada e de
saneamento básico. Desigualdade da distribuição de renda e falta de investimentos
nas áreas de saúde e habitação foram também citados nos grupos de homens e
mulheres adultos, mas não nos grupos de jovens.”
Outra conclusão importante em relação à questão da pobreza e bem-estar foi
que “[...] muitos indivíduos empregados eram pobres [...]” comprovando que “[...] o
desemprego é maior entre os não-pobres.” (PNUD, 2003). Os relatos em muitos
grupos apontam também para a concentração de renda como causa da pobreza.
Com relação às instituições governamentais e um padrão de dependência em
relação ao governo “verificou-se um quadro de frustração e descrença”, fato este
também comprovado por Crespo (2003, p. 65, 72).
Em resumo o trabalho mostrou que os problemas mais importantes
enfrentados pelas comunidades referem-se, segundo as narrativas dos grupos, “[...]
ao desemprego e ao binômio violência/falta de segurança pública, falta de moradia e
de esgotamento sanitário, juntamente com a baixa qualidade dos serviços de saúde
[...]”
O Quadro 3.3.1 fornece uma maneira esquemática para representar a
pobreza, onde são detalhadas as influências das características da família e do
enquadramento sócio, econômico, político e institucional, e o acesso aos activos e a
capacidade de utilizá-los na “construção” das condições de vida (satisfação das
necessidades) (PEREIRA, 2000, p.50).
Correlacionar aspectos da condição de vida com os ‘activos’ requer a
elaboração de metodologia específica que englobe a preocupação manifestada
internacionalmente, pelos aspectos cotidianos, como: a aglomeração, a perifização,
a qualidade de vida, a felicidade, a religião, o grau de satisfação, a educação, dentre
outros. Essa abordagem leva os pesquisadores a elaborarem sistemas para a
medição destes parâmetros, principalmente no que diz respeito à qualidade de vida.
_________________________________________________________________
39
Quadro 3.3.1 – Abordagem Direta e Indireta da Pobreza
Fonte: Modificado de Pereira (2000, p. 50)
ACTIVOS
ENQUADRAMENTO
SOC. ECON. POL. INST.
NATURAIS
E FÍSICOS
Terra, água, etc
Habitação, infra-
estrutura, instrumentos
de trabalho,
ECONÔMICOS E
FINANCEIROS
Rendimento
Poupança
HUMANOS
Saúde, nutrição,
educação e
competências,
trabalho, etc
SOCIAIS E
POLÍTICOS
Laços e redes sociais,
Participação política,
etc
CONDI
Ç
ÕES DE VIDA
CARACTERÍSTICAS DO
AGREGADO FAMILIAR
Emprego
Conforto
Segurança pessoal
Liberdade de escolha
Participação na vida da
comunidade
Transporte
Consumo de bens duráveis
Água potável
Saúde
Vestuário
Habitação
Alimentação
Poder político
e social
_________________________________________________________________
40
3.4. CONCEITOS DE QUALIDADE DE VIDA
De acordo com Neri (1997, p. 7) a expressão qualidade de vida,
originária dos estudos de medicina sobre as chances de sobrevivência de recém-
nascidos, apareceu nos “Psychological Abstracts” em 1985, com 38 referências e no
contexto da psicologia no Brasil, somente em 1991, introduzido por Anita Liberalesso
Neri. A autora conceitua qualidade de vida na velhice como:
Um constructo multidimensional referenciado a critérios sociais normativos
e intrapessoais, a respeito das relações atuais, passadas e prospectivas
que o indivíduo maduro ou idoso faz de suas relações com o seu ambiente
(NERI, 1997, p. 7).
Pesquisadores da área do planejamento urbano (CARMO, 1993; BASSANI,
2001; JANUZZI, 2002, 2003; NAHAS, 2002), concordam que no final dos anos 1970,
o conceito de qualidade de vida era visto como referencial às avaliações de
desenvolvimento, incorporando aspectos concernentes à análise individual sobre
condições de vida, tais como grau de satisfação, senso de realização e nível de
felicidade.
“[...] a caracterização de uma boa qualidade de vida não se faz pela ausência
de doença, mas pelo bem-estar profissional, físico, emocional e social das pessoas.”
(LIPP, 1997, apud, BASSANI, 2001, p.50).
O conceito de qualidade de vida incorpora percepções da pessoa perante um
conjunto de sistemas do seu ambiente, aquele que tem uma imagem sobre valores e
crenças, possui uma história de vida e se defronta cotidianamente com o
desconhecido.
Bassani (2001, op cit, p. 50) exemplifica dizendo: “Um migrante que chega a
São Paulo, que vai viver em alguma favela, mas sente-se acolhido ali, passa a
trabalhar junto a algum ambulante e consegue comprar um aparelho de som e CD
de suas músicas prediletas, pode, por exemplo, não eleger como prioridade de
qualidade de vida na cidade as condições de moradia, mas, sim, a segurança para
trabalhar como ambulante ou o transporte mais eficiente para passar com os amigos
ou a namorada. ” Por outro lado, “[...] o profissional liberal, que foi obrigado a mudar
de sua casa ampla para um apartamento por ter sido assaltado e ter visto a vida de
sua família ameaçada, pode eleger a segurança, as condições de privacidade e
moradia como prioridades na avaliação de qualidade de vida em São Paulo.”
_________________________________________________________________
41
Salienta-se que, conforme comentado na Introdução deste trabalho (p.1),
mais uma vez, os aspectos sobre Percepção, abordados anteriormente, voltam a ser
utilizados como parâmetro de Qualidade de Vida ou do bem-estar do homem.
Santos (1996, p.12) analisando os aspectos do bem-estar do cidadão
brasileiro, comenta: “Em nenhum outro país foram assim contemporâneos e
concomitantes processos como a desruralização, as migrações brutais
desenraizadoras, a urbanização galopante e concentradora, a expansão do
consumo de massa, o crescimento econômico delirante, a concentração da mídia
escrita, falada, televisionada, a degradação das escolas...” e completa seu raciocínio:
“Em lugar de um cidadão formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de
usuário”.
Na década de 1990, foram lançadas diversas iniciativas de cunho
internacional com o intuito de desenvolver sistemas para medição de parâmetros de
monitoramento da qualidade do ambiente urbano, cabendo ressaltar que entende-se
como qualidade do ambiente urbano como a agregação de domínios objetivos
(aspectos da vida tangíveis) e subjetivos (sentimentos sobre a vida) habitualmente
quantificados pelas questões de satisfação e felicidade.
A seguir foram ressaltadas aquelas que se julgam ser as mais relevantes:
Projeto Cidades Sustentáveis (1993) pelo Grupo de Especialistas de
Ambiente Urbano da Comissão Européia, que culminou num relatório
formulando recomendações para integrar as considerações sobre ambiente
urbano na Europa com as políticas nacionais e locais;
Programa Cidades Sustentáveis (1990) pelo UNCHS (United Nations Centre
for Human Settlements – Habitat), destinado essencialmente a países em
desenvolvimento e reúne o know-how de diferentes regiões do mundo, no
sentido de fortalecer a capacidade de definir as questões ambientais mais
críticas e identificar instrumentos e mecanismos adequados para as tratar;
Projeto Cidade Ecológica (1993), pelo Grupo Ambiental em Questões
Urbanas da OCDE, visando identificar estratégias para o desenvolvimento
de políticas integradas e coordenadas que permitam a resolução eficiente
de problemas ambientais. O projeto visa equacionar questões urbanas
como transportes e infra-estruturas, produção e consumo de energia,
_________________________________________________________________
42
padrões de uso do solo e potencial para a renovação e desenvolvimento de
áreas urbanas e suburbanas;
Projeto Cidades Saudáveis (1991) pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), pretende envolver os municípios em várias regiões do mundo,
incluindo América do Norte, Europa, América Latina e África, num programa
de avaliação de um conjunto de variáveis ambientais relacionados à saúde
nas cidades, visando a melhoria da qualidade do ambiente urbano;
Programa Gestão Ambiental Urbana mantido pelo United Nations
Development Programme (UNDP) em conjunto com a UNCHS-Habitat e
pelo Banco Mundial, com a intenção de definir estratégias ambientais para
preparar e implementar planos locais em cidades selecionadas;
Agenda 21 Local é um projeto internacional do International Council of Local
Environmental Iniciative (ICLEI) que pretende desenvolver um quadro de
planejamento para o desenvolvimento local sustentável, colocando especial
atenção na aplicação e concepção de mecanismos de planejamento
ambiental, como consultas, auditorias, fixação de metas, monitoração para a
indentificação de opções e avaliação de interesses conflituosos e valores
implícitos no conceito da sustentabilidade.
Todos os sistemas de medição apontados geram uma lista de questões,
geralmente interpretadas como variáveis ou indicadores.
Segundo Kayano e Caldas (2001, p.12), a análise dessas variáveis permite,
por exemplo, construir um Índice de Qualidade de Vida do Bairro. No entanto, em
relação àquelas variáveis que realmente traduzem os anseios da população, o autor
faz as seguintes perguntas: Quais variáveis devem ser analisadas? A população
pode ou deve opinar sobre aquelas que realmente podem ser utilizadas para “medir”
sua “Qualidade de Vida?”.
Assim como na literatura médica está se formando consenso crescente
23
de
que a “qualidade de vida deve ser analisada pelo paciente e não pelo médico”, no
aspecto urbano, talvez, a participação mais efetiva da população na definição das
23
Qualidade de Vida de Idosos com Câncer de Próstata em Radioterapia, Patrícia Peres de Oliveira.
Artigo publicado na Revista Sociedades Brasileiras de Câncer (RSBC), Ano1 • Nº 1 1.º Trimestre
de 2004. ISSN 1679-9801 http://www.rsbcancer.com.br/rsbc_v_02/edicoes/01.pdf. Cons. 15 Ago.
2004.
_________________________________________________________________
43
variáveis que realmente devem ser analisados pelo poder público, pode manifestar o
grau de satisfação da população.
3.5. INDICADORES SOCIAIS – PARA QUE SERVEM?
Foi-se o tempo em que políticos e administradores públicos podiam
alardear suas realizações sem que se pudessem aferir o impacto que
haviam causado às coletividades que governavam (Keinert, R. C.)
24
.
Para pesquisa acadêmica, as variáveis ou o indicador social são o elo de
ligação entre os modelos explicativos da Teoria Social – aspectos do planejamento e
da geografia urbana – e a evidência empírica dos fenômenos sociais observados. É
um recurso metodológico, que informa algo sobre um aspecto da realidade social ou
sobre mudanças que estão se processando sobre sua quantificação (JANNUZZI
2003, p.15).
Em outras palavras, assim como se comparam imagens ou fotografias de
pessoas ou localidades, os indicadores podem ser definidos como a conclusão de
uma comparação entre fotografias de épocas diferentes ou de fotografias de uma
mesma época, porém de lugares diferentes.
Dessa forma, as variáveis ou os indicadores permitem acompanhar as
mudanças da qualidade de vida de determinado morador, família, bairro, município
ou país num determinado período; e também permite comparar regiões com perfis
semelhantes num mesmo período.
Jannuzzi (op. cit., p.25), conclui que existem indicadores simples e
compostos: Simples – descrevem imediatamente um determinado aspecto da
realidade (por exemplo o número de leitos de um hospital ou o número de matrículas
no primeiro grau em relação ao segundo). Compostos – agrupamento de indicadores
simples apresentados em um único número, estabelecendo um tipo de média entre
eles. Portanto é necessária certa “ponderação” ou predileção de um indicador sobre
o outro.
Conforme Oliveira (1997, p. 3), o conceito de indicadores sociais
25
e o
movimento que levou este nome tiveram origem nos Estados Unidos no final da
24
Prefácio Introdutório do livro Indicadores Sociais no Brasil – Conceitos, Fontes de Dados e
Aplicações. JANUZZI, P. de M., Editora Alínea, Campinas, SP – 2003, 141 p.
_________________________________________________________________
44
década de 1950, representando uma “[...] tentativa governamental de enfrentar a
situação social do país: a luta pelos direitos civis, a força crescente pelo movimento
dos negros e mulheres, greves, revoltas estudantis e, sobretudo, a evidência dos
bolsões de pobreza dentro da sociedade de opulência.”
Face à necessidade de acompanhamento das transformações sociais e
aferição dos impactos das políticas sociais, bem como a disparidade observada
entre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) – indicador até então usado para
‘medir’ o nível de desenvolvimento econômico de um país –, e as evidências de
crescentes de níveis de pobreza e aumento das desigualdades sociais, concluiu-se
que o uso deste indicador por si só, não era suficiente para ‘refletir’ as condições de
desenvolvimento social.
Tais dados confirmavam que o crescimento econômico devia ser encarado
como um meio e não um fim, mostrando que não existe um vínculo automático entre
o Produto Interno Bruto (PIB) de um país, ou PIB per capita (década de 1960) e o
desenvolvimento humano de seus habitantes.
Como exemplo, os dados comparativos do primeiro relatório das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Humano, apresentavam que enquanto o Sri Lanka
mostrava uma esperança de vida ao nascer de 71 anos e uma taxa de alfabetização
adulta de 87% com uma renda per capita de US$ 400,00, o Brasil com uma renda
per capita de US$ 2.020,00 apresentava uma esperança de vida ao nascer de 65
anos e 78% de alfabetização adulta. Na Arábia Saudita, onde a renda per capita era
de US$ 6.200,00 a esperança de vida era de apenas 64 anos e a taxa de
alfabetização adulta não passava de 55% (PNUD, 1990).
Paralelamente, diversos países da Europa e mesmo da América Latina
passaram a acompanhar iniciativas voltadas para a elaboração de outros
indicadores, buscando o estabelecimento de uma ligação entre sua construção e a
esfera política do planejamento governamental.
Financiados por instituições criadas em datas diferentes, como: a
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO); Organização
25
Definidos como indicadores da terceira vertente, isto é: levam em consideração aspectos
econômicos, qualidade de vida humana, sistema político, cultural e institucional para a construção
de indicadores de sustentabilidade e qualidade ambiental. (PNUMA. 2003)
_________________________________________________________________
45
Mundial para a Agricultura e Alimentação (FAO); Organização Internacional do
Trabalho (OIT); Organização Mundial da Saúde (OMS); Organização das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF); Comunidade Econômica Européia (CEE) e a
Divisão de Estatística das Nações Unidas, desde algumas décadas, pesquisadores
ligados ao planejamento governamental e universidades passaram a concentrar
imensos esforços com o intuito de desenvolver instrumentos de mensuração do bem
estar social, promovendo a construção de um sistema de indicadores na área social.
Segundo Abreu (2003, p. 4), “No início da década de 1960 no Brasil, depois
de um longo período de crescimento rápido, as pressões por redistribuição de renda
eram muito mais modestas do que as encontradas em 2003.”, e complementa
comentando “[...] sabia-se muito menos sobre a miséria do povo: a história dos
indicadores sociais era curta, a história dos índices de concentração de renda era
nula.”
As publicações “Toward a Social Report” e “Social Indicators”, elaboradas sob
encomenda do governo americano em meados dos anos 1960, representaram
marcos importantes no processo de construção de indicadores sociais na época,
inaugurando o que viria se chamar de “Movimento de Indicadores Sociais”, porém
“[...] verificava-se um ‘otimismo exacerbado’ com base nas possíveis orientações
que os Indicadores Sociais pudessem realizar no sentido de balizar as ações
governamentais da época, de modo a proporcionar níveis crescentes de bem estar
social.” (JANNUZZI, 2003, p.14).
Segundo Nahas (2002, p. 26), nos anos 1970, diversas críticas foram feitas
aos modelos de desenvolvimento mundiais, principalmente àqueles que se
pautavam apenas na representação numérica dos indicadores sociais, dentre elas a
concepção de uma visão individualista das questões sociais e o caráter arbitrário e
improdutivo de sua separação das características econômicas: “[...] o social deveria
ser visto como totalidade, como sistema.” Outra crítica foi a preocupação em se
desvincular questões sociais sob a ótica da visão reducionista de problemas
solucionáveis por ações corretivas do Estado.
Nesse panorama, a expressão “qualidade de vida” passa a dar maior
sustentação no processo de formulação das bases teóricas dos indicadores sociais:
“[...] prosperidade e conforto não asseguram, necessariamente ‘saúde e felicidade’;
ao contrário, algumas conseqüências do progresso material (poluição, erosão dos
_________________________________________________________________
46
serviços públicos, perda da intimidade pessoal, etc) prejudicam a qualidade de vida.”
(CARMO, 1993, p. 56).
A importância do tratamento estatístico de dados pode ser observada no
Relatório de Desenvolvimento Humano do ano de 2000, onde a ausência de
estatística pode ser tão reveladora quanto a sua existência. Como exemplo cita que
no governo militar argentino, na década de 1970, “[...] os estatísticos e economistas
argentinos foram os primeiros a desaparecer em 1976-1977 — o que de certa forma
revela o receio que o governo militar de então tinha do vazamento de dados” (RDH,
2000).
Na década de 1970, concomitantemente com a realização da primeira
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo –
Suécia, promoveu-se a Conferência de Estatísticos Europeus propondo a criação de
indicadores ambientais como forma de descrever e acompanhar as condições do
meio-ambiente, enquanto se pesquisava uma conceituação mais acabada para as
estatísticas ambientais (MUELLER, 1991 apud NAHAS 2002, p.28).
Porém, no início dos anos 1980, principalmente devido à crise que, de
maneira geral os países ocidentais estavam enfrentando, com a perda de autonomia
política dos governos locais em função de um quadro de integralização, o que se
percebeu, no campo da pesquisa dos indicadores sociais, foi que, o trabalho “sofreu
uma espécie de refluxo” (OLIVEIRA, 1997, p.5).
Na década de 1980, o que se observa no mundo é um aumento sem
precedentes da criminalidade, exclusão social e pobreza, aliado aos problemas de
infra-estrutura urbana, provocado pelo processo crescente de urbanização.
Economicamente, o que se verificou “[...] foi um quadro de estagnação do
crescimento econômico em cem países do mundo.” Nessa época, as políticas de
mercado passam a ser o principal critério de ascensão social para uma diminuta
classe média, em detrimento da massa de espectadores pobres, que sofriam com a
degradação ambiental e a precariedade nos serviços sociais e de infra-estrutura
urbana: Os aspectos globalizantes regem as relações de mercado. Envolto por essa
bruma, ao longo da década de 1990, vem à tona a necessidade de formular outros
indicadores sociais em conjunto aos ambientais, na expectativa de monitorar o
desenvolvimento das cidades.
Nesse aspecto, Santos (op. cit., p.133), apresenta sua linha de raciocínio:
_________________________________________________________________
47
Os próprios intelectuais ainda buscam as variáveis adequadas para
escrever essa pedagogia do urbano que codifique e difunda, em termos
didáticos e de maneira simples, o emaranhado de situações e relações
com que o mundo da cidade transforma o homem urbano em instrumento
de trabalho e não mais em sujeito, entretanto, todos os dados estão
praticamente em nossas mãos, para tentar reverter a situação (SANTOS,
1996, p.113).
No final da década de 1980, ao se incorporar o conceito de qualidade de vida
às novas experiências de formulação e implementação de políticas públicas
(Planejamento Local, Planejamento Participativo), a pertinência instrumental dos
Indicadores Sociais, paulatinamente passou a ser restabelecida, onde a própria
análise desses indicadores permitia, por exemplo, construir um “Índice de Qualidade
de Vida para o bairro” (KAYANO e CALDAS, 2001, p. 14).
Posteriormente (anos 1990), o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD - 1992), apresenta um novo indicador para mensurar o
desenvolvimento econômico e humano denominando-o: Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH). De certa forma ele surgiu como proposta de complementação ao
indicador econômico Produto Interno Bruto (PIB e PIB per capita). Na sua confecção
ele sintetiza quatro aspectos: expectativa de vida, taxa de alfabetização,
escolaridade e PIB per capita.
A intenção da proposta foi de apresentar num único número, um indicador
que não fosse cego aos aspectos sociais do desenvolvimento. Entretanto, tanto o
IDH, quanto o ICV construídos pela Fundação João Pinheiro, o IPRS (Fundação
Seade), o IDG (PNUD) e o IPH (PNUD), ‘são inadequados’ (sic) como medida de
desenvolvimento sustentável, pois não inserem questões ambientais na sua
formação (BRAGA et. al., 2003, p.8).
Outro conceito, apresentado em Stambul (Habitat II – 1996), possibilitou
ampliar a visão na formulação de indicadores com o intuito de avaliar e monitorar o
desenvolvimento urbano. Nessa ênfase, foi proposto o “Programa Internacional de
Indicadores Urbanísticos para Monitoramento de Assentamentos Urbanos”,
(BONDUKI, 1996, apud NAHAS, op. cit., p. 32).
O ANEXO A apresenta uma síntese comparativa entre alguns indicadores
sociais urbanos desenvolvidos nos anos 1990.
_________________________________________________________________
48
Verifica-se que, desde 1996 apenas o critério para elaboração dos
Indicadores do Mapa de Exclusão Social da Cidade de São Paulo passou a incluir a
questão da felicidade como um dos aspectos analisados.
Mais recentemente, dentre as propostas de construção de índices sintéticos
de sustentabilidade agregando aspectos sociais, ambientais e de desenvolvimento
sustentável, destaca-se o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI, 2005)
desenvolvido pela Universidade de Yale (YCELP)
26
e de Columbia (CIESIN)
27
, com
apoio do World Economic Forum
28
. Seu objetivo é analisar a estabilidade ambiental
ao longo do tempo, por meio de um ranking de países, valendo-se de um conjunto
de 76 indicadores
29
, dos quais 21 referem-se aos aspectos ambientais.
Com base nos resultados de 2005, os países com valores mais altos de ESI,
são aqueles com maiores possibilidades de apresentar melhores condições
ambientais. Os cinco países, em ordem decrescente são Finlândia, Noruega,
Uruguai, Suécia e Islândia – todos esses países possuem recursos naturais
significativos e baixas densidades populacionais. Por outro lado, aqueles que
ocupam as cinco mais baixas posições, em ordem decrescente são Uzbekistão,
Iraque, Turkmenistão, Taiwan, e Coréia do Norte. São países que enfrentam
problemas naturais de ordem geológica e geográfica mas, principalmente, com os
aspectos de ordem política. Dos 146 países analisados o Brasil ocupa a 11ª
colocação.
Em 2003 a Prefeitura Municipal de São Paulo (SP), confeccionou a matriz
(Matriz de Indicadores Ambientais Paulistanos), baseada no modelo GEO Cidades.
O modelo GEO cidades deriva do Projeto GEO (Global Environment Outlook),
iniciado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) em
1995. Seu objetivo é produzir a avaliação continuada dos problemas e fenômenos
urbano-ambientais paulistanos por meio da identificação e caracterização de
indicadores ambientais (Figura 3.5.1).
26
http://www.yale.edu/esi/. Cons 24 jan. 2006
27
http://www.ciesin.columbia.edu, Cons. 25 jan. 2006
28
http://www.weforum.org/. Cons. 24 jan. 2006
29
http://www.yale.edu/esi/c_variableprofiles.pdf. Cons. 25 jan. 2006
_________________________________________________________________
49
Figura 3.5.1 – Fluxograma apresentando os 83 Indicadores Ambientais Paulistanos
(PIER30).
Fonte: Modificado de GEO cidades de São Paulo (2003, p. 7)
30
Indicadores de Pressão sobre o meio ambiente se relacionam às atividades humanas e sua
dinâmica (ou seja, as causas dos problemas ambientais); de Impacto se referem aos efeitos
adversos à qualidade de vida, aos ecossistemas e à socioeconomia local; de Estado dizem
respeito às condições do ambiente que resultam dessas atividades; e, de Resposta revelam as
ações da sociedade no sentido de melhorar o estado do meio ambiente,bem como
prevenir,mitigar e corrigir os impactos ambientais negativos decorrentes daquelas atividades
(atuando, assim, diretamente tanto nos impactos quanto nas pressões e no estado do meio
ambiente). (GEO cidade de São Paulo, 2003, p. 4).
_________________________________________________________________
50
Metodologia semelhante ao modelo utilizado pela Prefeitura do Município de
São Paulo (GEO cidades, 2004), o Índice de Sustentabilidade Municipal proposto
por Braga et al (2003), é composto a partir de 4 índices temáticos
31
.
O Quadro 3.5.2 apresenta os indicadores utilizados para a composição de
três índices: de qualidade de vida humana, de pressão antrópica e de capacidade
político-institucional (BRAGA et. al., 2003).
Os autores concluem que a aplicação da metodologia para construção dos
índices de sustentabilidade, em parte dos 26 municípios formadores da bacia do rio
Piracicaba, mostrou-se uma ferramenta útil na avaliação ambiental dos padrões de
desenvolvimento e comparação entre municípios. Como resultado, observaram que
a grande maioria dos municípios apresentaram a característica de
‘insustentabilidade’, sendo 18% dos municípios considerados sustentáveis e
potencialmente sustentáveis quando os dados se referiam a 1991, e 16% para os
dados de 2000.
Kayano e Caldas (2001, p. 11) comentam que, para o Brasil, dentre os
motivos que justificam a tendência no uso de indicadores sociais, destacam-se pelo
menos três:
a) a exigência de organismos internacionais que financiam programas e
projetos em políticas públicas, e que precisam medir, de certo modo, o
desempenho dos referidos programas e projetos;
b) a necessidade de legitimar (com dados empíricos) tanto as políticas
governamentais quanto as denúncias por parte da sociedade civil, como
ocorreu no caso da Campanha contra a Fome no Brasil, que utilizou
indicadores produzidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA)
32
sobre níveis de pobreza e miséria; e
31
Qualidade de vida humana; Pressão antrópica; Capaciade político-institucional; e, Qualidade do
sistema ambiental (obtido através dos Índices de qualidade de Água nos períodos de seca e
chuva). (BARBOSA, 1997 apud BRAGA, op. cit., p.19)
32
No início de 1993 uma pesquisa divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas) mostrou que 9,2 milhões de famílias, ou 31,6 milhões de pessoas, passavam fome no
Brasil. Em abril, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, despertou um amplo movimento de
solidariedade lançando a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida, popularizada como a
Campanha contra a Fome.
_________________________________________________________________
51
Quadro 3.5.1 – Composição de indicadores na formulação de Índices Temáticos
Índices
Temáticos
Indicadores Composição dos indicadores
Qualidade da
Habitação
-Percentual de habitação sub-normais
-Índice de longevidade – IDH
Condições de
Vida
-Índice de educação – IDH
Renda - Índice de renda – IDH
- Índice de mortos em acidentes de trânsito
- Índice de mortos por doenças respiratórias
- Índice de mortos por doenças parasitárias
Saúde e
Segurança
Ambiental
- Índice de mortos por homicídios
- Índice de abastecimento de água
- Índice instalação sanitária
Qualidade de
Vida Humana
Serviços
Sanitários
- Índice de serviço de coleta de lixo
- Taxa de pressão populacional
- Densidade habitacional por cômodo
- Número de veículos per capita
Pressão Urbana
- Consumo energético urbano
Pressão
Industrial
- Intensidade energética industrial
- Densidade de lavouras e pastagens no município
- Taxa de crescimento médio de lavouras e pastagens
nos 10 últimos anos
- Intensidade energética rural
Pressão
agropecuária
- Proporção da área ocupada por matas e florestas
plantadas e área ocupada por matas e florestas
naturais nas propriedades agrícolas
Pressão
Antrópica
Cobertura
Vegetal
- Cobertura vegetal
- Autonomia fiscal
- Endividamento público
Autonomia
Político-
Administrativa
- Peso eleitoral
- Funcionários com nível superior
- Informatização
- Conselhos de política urbana e descentralização
Gestão Pública
Municipal
- Instrumentos de gestão urbana
- Conselho de meio ambiente
Gestão
Ambiental
- número de unidades de conservação municipais
- ONGs ambientalistas
- Participação política eleitoral
- Imprensa escrita
Capacidade
Político
Institucional
Informação e
participação
política
- Imprensa falada
Fonte: Adaptado de BRAGA: Índices de sustentabilidade municipal: o desafio de mensurar (2003, p.
20)
_________________________________________________________________
52
c) a necessidade de democratizar informações sobre as realidades sociais
para possibilitar a ampliação do diálogo da sociedade civil com o governo,
favorecendo um eventual aumento da participação popular nos processos
de formulação (e definição) de agendas, bem como de monitoramento e
avaliação de políticas públicas.
A cobrança crescente da sociedade civil por resultados visíveis que atestem o
correto uso dos recursos públicos e melhorem sua qualidade de vida; o limitado
sucesso de muitos programas; o desconhecimento dos efeitos e impactos
produzidos pelos investimentos realizados nas políticas públicas e nos programas e
projetos de desenvolvimento social, tem feito com que os governos, organizações
não governamentais, fundações de corporações públicas e privadas, principalmente
agências internacionais de fomento e os países doadores reivindiquem cada vez
mais a inclusão de metodologias de monitoramento e avaliação de processo,
resultados e impacto dos programas implementados.
Na América Latina, são raros os programas que aprofundam seus esforços
avaliativos, no sentido de mostrar efeitos e impactos. A maior parte deles restringe-
se apenas à descrição das discrepâncias entre o realizado e o programado, e entre
os recursos implementados e as coberturas alcançadas (CHUCHKOVA, 1994, p. 9).
3.6. CONCEITOS E PARÂMETROS DE FELICIDADE E SATISFAÇÃO PESSOAL
O que vem a ser felicidade
Toda explicação perde o valor...
É tão claro e simples que é verdade
Quando alguém diz que invade
A fronteira do amor.
Esse sentimento poderoso
É estado. é capital, é um país
E o que há de mais maravilhoso
É descobrir que, o tempo inteiro
Estava a um palmo do nariz
O Que Vem a Ser Felicidade
Composição: Orlando Morais
_________________________________________________________________
53
Não há na Terra quem não queira ser feliz.
Responder a pergunta: O que me faz feliz? Talvez seja aquilo que o homem
procura com maior veemência. ‘Medir’ o que faz o ser humano feliz talvez seja mais
difícil ainda. Entretanto, por mais difícil que seja medir a felicidade é preciso criar
condições para que se possa alcançá-la.
Thomas Jefferson incluiu o direito pela "busca da felicidade" na Declaração de
Independência dos Estados Unidos em 1776, em parte porque era seguidor do
filósofo e economista Jeremy Bentham
33
que, como representante do Iluminismo
inglês, entendia por felicidade um simples acúmulo de "utilidades”, mas
principalmente por acreditar que:
“[...] todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo criador de
certos direitos inalienáveis que, entre estes, estão a vida, a liberdade e a busca da
felicidade.”
Por ironia, Ho Chi Minh, o líder comunista do Vietnã do Norte, colocou o
trecho inicial da Declaração de Independência dos Estados Unidos – os homens
nascem livres e iguais e que tinham todo o direito de repudiar um governo que os
oprimia –, no preâmbulo da constituição vietnamita de 1947.
Dois séculos depois, enquanto a Catalunha debate a inclusão da mesma
frase em seu novo Estatuto de Autonomia, os pesquisadores continuam procurando
um instrumento para medir a felicidade como complemento aos indicadores como o
Produto Interno Bruto, por exemplo.
Em pesquisa sobre felicidade, Blanchflower e Oswald (2005) apontam para
uma nova proposta denominado “Índice de Felicidade Subjetivo”. Usando o exemplo
do povo americano que, desde 1970 mantêm-se “prostrado”, os autores comentam
que grandes riquezas não representam “compra adicional de felicidade”.
Em complementação ao Índice de Desenvolvimento Humano – 2005 (IDH)
34
,
onde a Noruega ocupa a 1ª, a Austrália 3ª e o Brasil a 63ª colocação no mundo, os
33
Para o utilitarista Bentham, o objetivo da política econômica era dar a maior felicidade ao maior
número de pessoas.
34
Criado para medir o nível de desenvolvimento humano dos países a partir de indicadores de
educação (alfabetização e taxa de matrícula), longevidade (expectativa de vida ao nascer) e
renda (PIB per capita). Seus valores variam de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1
(desenvolvimento humano total). Países com IDH até 0,499 são considerados de
desenvolvimento humano baixo; com índices entre 0,500 e 0,799 são considerados de
_________________________________________________________________
54
autores analisaram os dados de aproximadamente 50.000 pessoas de 35 países,
provenientes da aplicação de questionários aplicados em 2002 pelo Programa
Internacional de Estudo Social (ISSP)
35
, com a intenção de verificar sua correlação.
Dentre as perguntas do questionário, cinco delas, denominadas simplesmente
de indicadores de felicidade, foram utilizadas para a elaboração do Índice de
Felicidade para cada país:
Se você tiver que considerar sua vida de uma maneira geral, você dirá que
é feliz ou infeliz? (escala de 1 a 7);
Você está satisfeito com sua vida em família? (escala de 1 a 7);
Você está satisfeito com o seu trabalho? (escala de 1 a 7);
Para avaliar se você concorda ou não: Seu trabalho raramente é
estressante (escala de 1 a 5);
Qual a freqüência da sua felicidade nos últimos três meses? Você tem
voltado do serviço muito cansado para fazer as coisas que precisam ser
feitas? (escala de 4 pontos).
O processo de cálculo dos Índices de Felicidade é detalhado em Blanchflower
e Oswald (op. cit., p. 4), onde a escala do índice assume o valor 1 para
completamente infeliz e 7 para completamente feliz.
No Quadro 3.6.1, verifica-se que o Nível de Felicidade dos noruegueses é de
5,29, dos australianos é de 5,39 e dos brasileiros 5,42. Para os autores, o fato de o
Brasil apresentar um Nível de Felicidade maior que da Austrália, provavelmente está
na “insensatez” em se dar muito peso nas diferenças entre países, e relembram a
existência de dificuldades de “tradução exata da língua” (sic) quando da aplicação
do questionário.
De acordo com os autores, dentre diversas correlações apresentadas, a
Austrália se mostra um paradoxo, principalmente por estar na 3ª posição do
“ranking” pelo IDH, enquanto pelas suas análises assume a 12ª posição em
felicidade global, além de apresentar um baixo índice de satisfação no emprego.
desenvolvimento humano médio; e com índices maiores que 0,800 são considerados de
desenvolvimento humano alto. site: http://www.pnud.org.br/rdh - cons. 21 jan. 2006.
35
O ISSP é um programa anual continuado de colaboração internacional em pesquisas que
abordam tópicos sobre áreas da ciência social. Coordena pesquisas e executa projetos visando
metas numa perspectiva internacional, a partir de estudos nacionais individuais. Trinta nove
países são sócios do ISSP.
_________________________________________________________________
55
Outras correlações com o índice de Felicidade são apresentadas, como: o estado
civil, a educação, a taxa de desemprego/invalidez, etc.
Quadro 3.6.1 – Índice Internacional de Felicidade em 2002
Fonte: Modificado de Blanchflower e Oswald (2005, p.13-14)
País
Nível de
Felicidade
Felicidade
Familiar
Satisfação
no
Emprego
"Stress"
no
Trabalho
Indicador
de
Cansaço
Classifi-
cação
IDH
México 5,58 5,96 5,80 2,70 2,53 53
Irlanda do Norte 5,56 5,74 5,31 3,45 2,46 8
Japão 5,56 5,52 4,89 3,38 1,90 11
Áustria 5,54 5,80 5,51 3,55 2,07 17
Chile 5,54 5,81 5,16 3,07 2,89 37
Estados Unidos 5,52 5,67 5,34 3,25 2,71 10
Suíça 5,51 5,73 5,61 3,07 2,01 7
Nova Zelândia 5,48 5,60 5,14 3,49 2,48 19
Reino Unido 5,43 5,62 5,06 3,55 2,68 15
Brasil 5,42 5,31 5,11 2,82 2,68 63
Filipinas 5,40 5,61 5,33 3,21 2,41 84
Austrália 5,39 5,62 5,04 3,43 2,53 3
Irlanda 5,35 5,81 5,41 3,22 2,37 8
Dinamarca 5,35 5,76 5,42 3,06 2,39 14
Israel 5,32 5,71 5,19 3,15 2,81 23
Noruega 5,29 5,55 5,23 3,59 2,54 1
Chipre 5,29 5,54 5,36 3,63 2,27 29
Píses Baixos 5,28 5,50 5,12 3,30 2,42 12
Finlândia 5,26 5,43 5,12 3,41 2,30 13
França 5,26 5,33 5,07 3,68 2,64 16
Suécia 5,24 5,55 5,17 3,58 2,53 6
Espanha 5,24 5,48 5,05 3,23 2,70 21
Bélgica 5,20 5,47 5,22 3,52 2,40 9
Taiwan 5,19 5,38 4,96 2,99 2,13 85
Eslovênia 5,18 5,55 5,17 3,47 2,52 26
Antiga Alem. Or. 5,17 5,56 5,27 3,80 2,46 20
Portugal 5,15 5,44 5,17 3,10 2,47 27
República Che. 5,03 5,14 4,92 3,51 2,45 31
Antiga Alem. Oc. 5,02 5,50 5,14 3,83 2,34 20
Hungria 4,99 5,30 5,11 3,04 2,73 35
Polônia 4,97 5,37 4,94 3,09 2,75 36
Eslováquia 4,88 5,06 4,96 3,33 2,88 42
Lituânia 4,85 4,96 4,82 3,47 2,62 39
Rússia 4,83 4,99 4,89 2,88 2,82 62
Bulgária 4,53 4,88 4,75 3,04 2,86 55
Entrevistados 45.800 44.936 44.936 24.796 24.829
_________________________________________________________________
56
Entretanto, com base nos dados do World Values Survey (WVS)
36
, referentes
a 115.000 pessoas de 78 países, e do ISSP (2002), Leigh e Wolfers (2006)
37
fizeram
várias correlações usando Felicidade, Satisfação, PIB e o IDH, apresentado-as em
forma de gráficos.
Na figura 3.6.1, onde é apresentada a posição de alguns países na correlação
entre Nível de Felicidade e Índice de Desenvolvimento Humano IDH, extraídos do
Quadro 3.6.1. em contraposição aos comentários de Blanchflower e Oswald, Leigh e
Wolfers afirmam que “[...] apesar da Austrália não se figurar como um paradoxo [...]”
– título do trabalho – “[...] outros países se apresentam paradoxais”:
Figura 3.6.1 – Correlação entre Felicidade e Índice de Desenvolvimento Humano
(ISSP, 2002).
Fonte: Modificado de LEIGH e WOLFERS (2006, p. 4).
36
World Values Surveys (WVS) são uma série de pesquisas de opinião, com base em amostras
nacionais probabilísticas de grande N, conduzidas por uma equipe internacional de cientistas
sociais, sob a direção de Ronald Inglehart.
37
Os dados foram incluídos de duas ondas de pesquisas separadas: Dos 78 países, 12 (inclusive a
Austrália), foram analisados em 1995-97, enquanto 66 foram analisados em 1999-2000
(INGLEHART, 2005). Os WVS contêm questões sobre qualidade de vida, felicidade, satisfação, e
percepções que facilitam a análise do comportamento social.
_________________________________________________________________
57
Apesar de países como as Filipinas, Brasil, México e Chile, terem um elevado
nível de felicidade, apresentam índices relativamente baixos de desenvolvimento
humano, destoando-se por estarem situados bem acima da linha média de
regressão (Figura 3.6.1). Quando comparados com o bloco de países comunistas
anteriores ao Pacto de Varsóvia (Bulgária, Rússia, Lituânia, Eslováquia, Hungria,
Polônia, República Checa e Eslovênia), verifica-se que, apesar de apresentarem
IDH alto, mostram-se particularmente infelizes. Caso estes países da coligação do
bloco oriental sejam omitidos, a análise de regressão mostra um padrão diferenciado
(conforme linha tracejada Figura 3.6.1).
Com o intuito de verificar a dissimilitude entre os termos satisfação e
felicidade, Leigh e Wolfers (op. cit.) analisaram a diferença dos resultados entre
Satisfação e IDH (Figura 3.6.2) e Felicidade e IDH (Figura 3.6.3).
Figura 3.6.2 – Correlação entre Satisfação e Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH).
Fonte: Modificado de LEIGH e WOLFERS (2006, p. 7)
_________________________________________________________________
58
Pela análise comparativa das inclinações das linhas de regressão média das
Figuras 3.6.2 e 3.6.3, verifica-se que a correlação entre Felicidade e IDH é muito
menor do que a correlação entre Satisfação e IDH, sugerindo que existe uma
distinção importante entre Felicidade e Satisfação.
Figura 3.6.3 – Correlação entre Felicidade e Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH).
Fonte: Modificado de LEIGH e WOLFERS (2006, p. 8)
Os autores concluem que, além do uso dos indicadores consagrados na
literatura – Produto Interno Bruto per capita (PIB per capita) e Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), o indicador Índice de Felicidade (IF), pode ser
usado como referência para estudo de tomadas de decisões políticas.
Comparativamente, mostram que as correlações entre Satisfação e Produto Interno
Bruto per capita (PIB per capita) são positivas e muito maiores que as correlações
entre Felicidade e PIB per capita.
_________________________________________________________________
59
Nessa linha de raciocínio, com o intuito de propor o ‘Mapa da Felicidade para
o Estado de São Paulo’, as empresas Limite Consultoria e Pesquisas de Marketing e
Sampling Pesquisa de Mercado
38
, efetuaram uma pesquisa em março de 2004,
consultando 5.952 entrevistados distribuídos por todas as regiões do Estado.
Conforme apresentado na Figura 3.6.4, o estudo revelou que, das 11 regiões
mapeadas pela pesquisa, a cidade de São Paulo é aquela onde a população se
declara mais feliz. Cerca de 39% dos paulistanos se declararam muito felizes, um
índice 3 vezes maior do que a região do ABCD – periférica à cidade de São Paulo-,
que apresentou o menor índice de pessoas que se declararam muito felizes, com
13%.
Figura 3.6.4 – Mapa da Felicidade do Estado de São Paulo.
Fonte: Limite Consultoria e Pesquisas de Marketing e Sampling Pesquisa de
Mercado
A pesquisa aponta que, entre os moradores das grandes cidades, 25% se
disseram muito felizes, contra 22% dos habitantes dos municípios menores,
mostrando que o morador da grande cidade não é menos feliz que o morador de
38
Site: http://www.consumoemarcas.com.br cons. em 06 jan. 2006.
_________________________________________________________________
60
cidade pequena. Os que se consideram felizes somam 59% dos entrevistados nas
cidades grandes e médias e 57% nos municípios pequenos (Figura 6.7.5).
De maneira geral, o que se observa pela análise dos resultados é que o
antigo conceito que afirmava que a felicidade seria alcançada na aposentadoria,
com a compra de uma chácara no interior do estado, vivendo uma vida mais pacata
da própria terra, passa a não ser aceito pela sociedade atual. A pesquisa conclui
mostrando que as pessoas que se dizem mais felizes em geral são casadas,
cultivam muitas amizades e têm vida social intensa.
3.7. QUESTIONÁRIOS: FERRAMENTAS PARA APOIO À PARTICIPAÇÃO
DECISÓRIA
Em correspondência com o conceito de sustentabilidade
39
, principalmente por
meio das dimensões sociais e políticas, observa-se que, não há como planejar e
realizar intervenções a favor da preservação do meio ambiente, da manutenção da
saúde, das soluções de questões ecológicas ou da relação homem-natureza, sem
considerar as relações sociais como um todo.
Nessa linha de raciocínio, na qual se busca compreender a natureza ou o
ambiente, Capra (2003) observa que existem duas abordagens completamente
diferentes sobre sustentabilidade: Uma de cunho científico, que afeta o estudo da
matéria, correlacionando seus elementos fundamentais e procurando responder
questões pertinentes à quantificação. E outra de base filosófica, resultando no
estudo da forma, remetendo-nos aos conceitos de ordem e relações que envolvem a
qualidade.
Entretanto, independentemente do tipo de variável que se está trabalhando,
foi a partir da reflexão das relações do homem com a natureza, que se observou que
são as qualidades de suas atitudes sociais, política, econômica, ecológica, ética, etc,
que podem garantir ou não a sustentabilidade da sua própria espécie nos diferentes
ecossistemas que ocupou e em que passou a tomar parte.
39
Definido no Capítulo 3.: Embasamento Teórico.
_________________________________________________________________
61
Verifica-se que esta possível análise se aplica não só no que concerne a
preceitos conceituais, mas também na busca de variáveis e índices que traduzam
suas necessidades.
Dessa forma, extrapolando-se a seqüência lógica metodológica desse
conceito – homem/natureza - para a área urbana, no âmbito das políticas públicas,
observa-se que desde a implementação até a avaliação de programas
governamentais, uma vez definido o objeto de estudo, parte-se para a coleta de
dados e posteriormente a futura mensuração de seus atributos.
Dentre a série de dados possíveis de serem coletados, tais como o sexo, o
grau de escolaridade, as opiniões sobre impactos, o estado civil, etc refletem a
qualidade (ou atributo) do indivíduo pesquisado. Enquanto que, outros como a
quantidade de filhos, idade, distância entre a moradia e o local de trabalho, que
apresentam números como respostas, sendo resultantes de uma contagem ou
mensuração traduzem a quantificação do indicador. As variáveis do primeiro tipo são
definidas como qualitativas, e as do segundo tipo quantitativas.
No âmbito da pesquisa social qualitativa e quantitativa, Minayo (1994a, p. 22),
considera que a primeira se preocupa em responder questões que não podem ser
quantificadas, ou seja, trabalhando com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, não podendo ser reduzidos à
operacionalização de variáveis; por sua vez, a pesquisa quantitativa, trabalha com
dados matemáticos, passíveis de tratamento estatístico, apreendendo fenômenos
visíveis da região “ecológica, morfológica e concreta”.
E complementa dizendo que a metodologia para exploração dos aspectos que
compreendem questões sociais numa visão ampliada – ciências sociais e ciências
da natureza – observa que “[...] a pesquisa social é sempre tateante, mas, ao
progredir, elabora critérios de orientação cada vez mais precisos, “[...] a relação
entre o pesquisador e seu campo de estudo se estabelecem definitivamente.”
(MINAYO, op. cit., p.13).
Quanto ao objeto das pesquisas sociais, Minayo (1994b, p. 15) mostra que o
conjunto de observações é “essencialmente qualitativo” (sic), e observa que
“...mesmo que de forma incompleta, imperfeita e insatisfatória”, as pesquisas sociais,
conseguem fazer uma aproximação da suntuosidade que é a vida dos seres
humanos em sociedade.
_________________________________________________________________
62
Numa visão um pouco diferente, em trabalho sobre modelagem mental para
pesquisa educacional, Kurtz dos Santos (2000, p.6), observa que a quantificação
pode adicionar um entendimento significativo do comportamento do sistema que não
é fornecido pelos modelos qualitativos ou semiquantitativos. E complementa “[...] a
quantificação nem sempre pode ser atingida e alguns problemas possuem variáveis
que não podem ser quantificadas, como, por exemplo, as relacionadas a aspectos
sociais ou psicológicos.” Mesmo assim, apesar de alguns problemas serem difíceis
de se quantificar, o autor conclui que a simples tentativa, pode adicionar
considerável entendimento sobre o sistema.
Nessa mesma linha de raciocínio, (BUSSAB e MORETTIN, 2002, p. 9-11)
observam que, em algumas situações, pode-se atribuir valores numéricos às várias
qualidades ou atributos (ou eventos qualitativos) de uma variável qualitativa, num
processo de transformação de variáveis. Dessa forma, desde que o procedimento
seja passível de interpretação, procede-se à análise como se esta fosse quantitativa.
Segundo Pereira (2001, p. 21), “[...] o que se percebe é que a realização de
pesquisas qualitativas, por vezes, requer a renúncia à precisão das medidas, sendo
a representação aritmética de um evento qualitativo, uma estratégia para o
processamento e a análise dos dados.”
Salienta-se que a interpretação dos resultados requer do pesquisador um
retorno ao significado original de suas medidas. Observa-se que a necessidade da
aproximação no campo da antropologia, por vezes, deve-se à técnica de pesquisa
que se utiliza mais de dados qualitativos em suas abordagens, em contraposição à
sociologia que, de maneira geral, conclui suas análises pautadas em técnicas
quantitativas.
Sobre este tópico, embasado em aspectos filosóficos de Aristóteles
40
, Pereira
(2001, p. 52) faz referência ao trabalho de Werner Heisenberg de 1926 sobre o
Princípio da Incerteza e sua contribuição não apenas no desenvolvimento da
40
Nas suas Categorias, Aristóteles apresenta uma lista dos diferentes tipos de coisas que podem
afirmar-se a propósito de um indivíduo. Essa lista contém 10 artigos: substância, quantidade,
qualidade, relação, espaço, tempo, postura, vestuário, actividade e passividade. Faria sentido
dizer, por exemplo, que Sócrates era um ser humano (substância), que media 1,50 m
(quantidade), que era talentoso (qualidade), que era mais velho que Platão (relação), que vivia
em Atenas (espaço), que era um homem do século v a. C. (tempo), que estava sentado (postura),
que envergava uma capa (vestuário), que estava a cortar um pedaço de tecido (actividade) e que
foi morto por envenenamento (passividade). (PEREIRA (op. cit. p.23).
_________________________________________________________________
63
mecânica quântica como à filosofia da ciência, alertando o pesquisador sobre a
necessidade de incorporação da incerteza como estratégia de produção de
conhecimento, concluindo que: “... ao trabalhar com variáveis qualitativas, o
pesquisador estará eventualmente assumindo incertezas de medidas como: a
alocação de uma observação em uma dada categoria e a relação entre as
categorias[...]”.
E sintetiza sua referência com o exemplo de medidas sobre iluminação
pública onde, por restrições de leitura de equipamento, só consiga obter três valores
(categorias), como: escura, média e clara. Observa que “[...] as medidas poderiam
incorporar a incerteza sobre eventos onde os interesses seriam os valores
intermediários ou extremos, tais como fraca ou muito clara.” Complementando o
raciocínio, diz “[...] é de se esperar que os possíveis erros de medida sejam
aleatórios, ou seja, observações como fraca sejam reconhecidas ora como média e
ora como escura, e ao final espera-se que os erros se anulem.”
No exemplo da iluminação pública observa-se que, ao se atribuir códigos
numéricos (criação de escala) 1, 2 e 3 para as diferentes categorias escura, média e
clara, pode-se analisar as relações que tal ordem pode sugerir. Cabe ressaltar a
necessidade de maior observação nos possíveis erros sugeridos das relações
aritméticas resultantes, pois a criação de uma escala envolve o estabelecimento de
premissas de relações entre atributos, configurando rótulos numéricos arbitrados
pelo pesquisador. Por exemplo: a iluminação clara não equivale a três vezes a
iluminação escura, por outro lado, é concebível admitir que toda vez que a
iluminação cuja atribuição de ordem for de nível 3 sempre será superior a de nível 2
ou 1.
Julgou-se procedente reservar alguns parágrafos iniciais deste capítulo para
distinção entre variáveis qualitativas e quantitativas, antes de abordar o assunto
sobre elaboração e participação da população em questionários.
A heterogeneidade das condições de moradia no âmbito urbano, bem como a
percepção de que existem dimensões relevantes socialmente específicas, que
podem ser insuficientemente assumidas pelos técnicos quando de suas análises,
expõe a necessidade de uma abordagem mais específica - “ouvir o povo”. Não só no
que concerne a sua conceituação, mas também na busca de variáveis e índices que
traduzam suas necessidades.
_________________________________________________________________
64
A complexidade das formações societárias da atualidade impede que
qualquer razão humana individual se imponha e aponte arbitrariamente o que deva
ser executado por qualquer outro homem irrefletidamente. “Aos ditadores ainda de
plantão no mundo, bem como aos líderes de nações poderosas, há organizações
planetárias que declaram seus limites e cerceiam suas intenções pessoais.”
(GOMES, 2003)
41
.
Em outras palavras, não há soluções que apenas uma pessoa, um único
poder individualizado, consiga elaborar com tanta perfeição que as outras pessoas
envolvidas vão se obrigar a realizar como se fossem meros programas de
computador, robôs programados ou escravos. Exceto, ainda, em ações de fanatismo
ou de abuso de poder de grupos isolados, como em Madri
42
, quando os que
executam não pensam ou não podem realmente pensar no que estão fazendo, há
uma tendência crescente de o ser humano agir a partir do momento que entende a
“razão” da ação, os motivos, as justificativas e se deixa convencer por esses
esclarecimentos. Ao contrário, a ação pode ser de boa intenção, mas acaba
improdutiva socialmente.
Democracia, modelos circulares de gestão nas organizações, concepções
teóricas e ações concretas de agrupamentos humanos, poucos saberiam
dizer ao certo qual surgiu em primeiro lugar e qual veio por influência do
outro, mas seja por teoria ou por experiência vivida, os homens evoluem
seus sistemas sociais através da participação, pois ela é a própria
impulsionadora da evolução (GOMES, 2003, p. 5).
Necessidade de mão de obra disponibilidade, e problemas ambientais, por
vezes interagem em soluções apenas por que há interações humanas, profissionais
e técnica.
Sobre esse assunto, Arnstein (2002) deixou uma contribuição valiosa com
respeito a podermos analisar e auto-analisar até que ponto os esforços de uma
abordagem participativa num determinado sentido estão caminhando com qualidade
e dando seus frutos conforme o esperado. A tipologia proposta, conforme Quadro
41
Entrevista com o sociólogo Marcos Affonso Ortiz Gomes em 29 out. 2003.
42
Em 11 de março de 2004, um grupo de terroristas atentou contra vários trens próximos a Madri. O
número de vítimas atingiu quase 200 mortos e 1400 feridos.
http://www.clarin.com/diario/2004/03/12/i-00316.htm - cons. 07 fev. 2006
_________________________________________________________________
65
3.7.1, segue uma metáfora de “escada”, na qual “cada degrau corresponde à
amplitude do poder da população em decidir as ações e/ou programas” que a afetam.
Quadro 3.7.1 – Oito degraus da escada da participação cidadã.
8 Controle cidadão
7 Delegação de poder
6 Parceria
Níveis de poder cidadão
5 Pacificação
4 Consulta
3 Informação
Níveis de concessão
mínima de poder
2 Terapia
1 Manipulação
Não-participação
Fonte: Modificado de Arnstein (2002, p. 6)
Abaixo dos primeiros itens, considerados como não-participação, colocam-se
apenas as relações sociais da coerção verbal, da coerção violenta, da escravidão e
outras formas de domínio humano sobre outras pessoas e que ainda são notícias
freqüentes no nosso planeta.
Na interpretação de Gomes (op. cit., p.9), sobre a análise de dois dos oito
itens do Quadro 3.7.1, verifica-se com relação a Pacificação (5), que se posiciona
no último degrau no nível de concessão mínima de poder. O autor comenta: “Ela é
uma forma de inspiração na tentativa de tapar o sol com a peneira, se analisamos
sob um nível de sofisticação mais elevado de distribuição de poder entre os atores
sociais, contudo, é um estágio evoluído da sociedade contemporânea.” E
complementa dizendo:
Quando reivindicações ou exigências mais complexas são impostas e não
há condições ou vontade política institucional de atendê-las ou encaminhá-
las para centros de poder com maior autonomia de intervenção, procura-se
pacificar o grupo com doações ou soluções que não correspondem
exatamente às demandas colocadas, mas a algum valor que acaba
levando esse grupo a ficar em paz (GOMES, 2003, p. 9).
_________________________________________________________________
66
Observa-se que numa sociedade cada vez mais politizada e consciente dos
seus direitos como a brasileira, a pacificação tem sido uma maneira de concessão
de poder muito utilizada pelas organizações públicas e privadas. Por exemplo,
dentro e fora dos partidos políticos, das empresas, dos movimentos sociais, das
diferentes esferas de governo, etc., há uma prática de ceder alguma coisa sem uma
sintonia específica com a demanda ou com a necessidade apresentada pelo lado
mais fraco da correlação de forças e de poder.
Segundo Gomes (op. cit., p.11),no nível de maior sofisticação na escada da
abordagem participativa, o degrau Parceria (6), “[...] tem sido o mais apontado como
ideal, na grande maioria dos discursos recentes, nas mais diversas esferas de
relações sociais no Brasil da atualidade. Parceria pressupõe negociação de
objetivos comuns entre os atores que formam o conjunto parceiro.”
Este degrau pertence ao campo, chamado por Arnstein (op. cit., p. 11) “Níveis
de poder cidadão” pois aposta-se na habilidade de co-gestão e cooperação do
parceiro. Para isso, deve haver o respeito ao saber do outro, o diálogo e a empatia,
ou seja, o esforço em colocar-se no lugar do outro e procurar enxergar o mesmo fato
ou objeto por meio da sua visão, enfim, estabelecer campos de compreensão mútua.
Os frutos das iniciativas de prevenção nas áreas de segurança, meio
ambiente e saúde, respeitando as dimensões da sustentabilidade, são quase
sempre certos (GOMES, op. cit. p.12).
Não se pode ainda falar de uma tendência do desenvolvimento das
sociedades em direção a colocar outras formas de interação neste degrau tão alto
da escada da participação; contudo, temos de tomar consciência de que ele
representa uma possibilidade concreta no estabelecimento da abordagem
participativa e, para alguns casos de partilha elevada de responsabilidade, da
partilha também elevada de poder de decisão e de ação.
Para Gomes (op. cit. pg. 8), ao analisar a posição dos grupos envolvidos na
definição de metas observa:
Sem cooperação não há competitividade, esse tem sido o grande lema da
última década, bem como um forte dilema. Se isso pode ser considerado
como consolidado para que as organizações humanas alcancem seus
objetivos, especialmente nos resultados econômicos, no caso da
_________________________________________________________________
67
interseção das áreas de segurança, meio ambiente, planejamento urbano e
saúde, ela é condição ‘sine qua non’ para que os esperados resultados
mais consistentes apareçam (GOMES, 2003, p. 8).
Não se pode falar apenas de condições técnicas para que os conhecimentos
se entrelacem diante de problemas complexos. O aspecto da multi, inter e
transdisciplinaridade, apesar de ainda muito mal resolvido na formação acadêmica,
é questão crucial para obtenção de resultados duradouros.
Leff (2002) define o conceito de transdisciplinaridade, no âmbito da Educação
Ambiental como:
Um processo de intercâmbio entre diversos campos e ramos do
conhecimento científico, nos quais uns transferem métodos, conceitos,
termos e inclusive corpos teóricos inteiros para outros, que são
incorporados e assimilados pela disciplina importadora, induzindo um
processo contraditório de avanço/retrocesso do conhecimento,
característico do desenvolvimento das ciências (LEFF, 2002, p.83).
Comunidades têm seus “modus operante” diferenciados, de acordo com suas
especificidades, participando das necessidades características e culminando em
visões de mundo e objetivos próprios.
Dentro de certos padrões, para que a academia possa contribuir como
mediador ou indutor de conceitos e a sociedade como gerador de informações,
ambos exercendo seu papel de cidadania abarcados pela bruma do
desenvolvimento sustentável, pode-se elencar, com imparcialidade, variáveis que de
certa maneira, traduzam seus anseios.
Na medida em que se pretende entender o fantástico dinamismo real dos
agrupamentos, nos atendo a zonas urbanas consideradas como degradadas ou
aquelas lembradas apenas nos exemplos como “malsucedidas”, observa-se a
possibilidade do uso da abordagem participativa.
Não obstante, no caso do Brasil os resultados da pesquisa de opinião, assolar
os meios de comunicação principalmente em períodos eleitorais, nos países de
tradição democrática, são freqüentemente empregadas no processo de formulação
de políticas públicas, funcionando como consulta a população sobre diversos
assuntos de interesse público (CRESPO, 2003, p.65).
_________________________________________________________________
68
Verifica-se que, as atitudes e comportamentos presentes na sociedade
podem ser poderosas fontes de informação, medindo aqueles fenômenos
(socioculturais) afetos ao comportamento de seus atores.
O processo de formulação de políticas públicas, devidamente
contextualizadas histórico-sócio-culturalmente, é grandemente influenciado pela
percepção que os indivíduos têm da realidade (CUNHA e COELHO, 2003, p. 55)
Durand (1988) em sua análise sobre ‘A Imaginação Simbólica’ salienta que os
mitos não são exclusivos de populações indígenas, mas existem também nos países
do Terceiro Mundo, entre populações de caçadores, extrativistas, pescadores,
habitantes de florestas tropicais e agricultores itinerantes que vivem ainda
parcialmente afastados da economia de mercado, podendo ser definidas da seguinte
forma:
A consciência dispõe de duas maneiras de representar o mundo. Uma,
direta, na qual a própria coisa parece estar na mente, como na percepção
ou na simples sensação. A outra indireta, quando, por qualquer razão, o
objeto não pode apresentar-se à sensibilidade ‘em carne e osso’, como, por
exemplo, nas lembranças da nossa infância, na imaginação das paisagens
do planeta Marte. Em todos esses casos de consciência indireta, o objeto
ausente é reapresentado à consciência por uma imagem, no sentido amplo
do termo (DURAND, 1988, p. 14)
Quanto à análise e interpretação de dados, verifica-se na literatura, que tanto
uma quanto a outra deve ser encarada como algo indissolúvel e contidas num
mesmo movimento: o olhar atento para todas as fases da pesquisa, mas
principalmente na fase da abordagem participativa com a aplicação dos
questionários (coleta de dados).
Dentre as várias formas para a abordagem participativa, a marca primordial é
a flexibilidade e a criação de um ambiente de descontração, onde os métodos são
apenas meios que podem ser modificados, recriados e adaptados em cada situação
(GOMES op. cit., p. 29).
Dentre uma série de métodos utilizados mundialmente pelos pesquisadores
para obtenção de dados em campo, pode-se observar:
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69
Entrevistas estruturadas, não estruturadas e semi-estruturadas - Este
método está presente em inúmeras outras formas de pesquisas e
abordagens participativas. Consiste em estimular uma conversa informal,
descontraída, levantando informações de forma a não inibir o entrevistado e
nem tão pouco provocar um bombardeio de perguntas, mal dando tempo à
pessoa de respirar. Chama-se de “semi-estruturada”, porque a entrevista é
conduzida mediante roteiro de temas previamente construído, sem
perguntas formatadas;
Me agrada x me incomoda - Consiste em levantar junto aos presentes o que
agrada e o que incomoda no ambiente comunitário, que dizem respeito, por
exemplo, a como as pessoas percebem a atuação da administração pública.
As questões podem ser usadas para elicitar variáveis que poderão ser
incluídas num modelo (KURTZ DOS SANTOS, op. cit. p. 13);
Realidade e desejo - Consiste em estimular, provocar e questionar o ponto
de vista dos presentes, de modo exploratório, em relação aos temas do
roteiro. Levantam-se também as expectativas, as formas e os processos de
como realizá-lo;
Caminhada transversal - Caminhar dentro dos limites do entorno da
Unidade (região, bairro, cidade) com um grupo de moradores próximos e
representantes de outros atores sociais que quiserem acompanhar. Utiliza-
se o ambiente como estímulo para registrar as percepções do universo
cognitivo dos lugares, por meio de seus olhares e dos debates espontâneos
que surgem durante a caminhada.
Mapeamento participativo - A idéia é animar o grupo de interlocutores a
desenhar um mapa ou construir uma maquete (sem escala) que represente
o seu bairro.
Uma atitude importante do entrevistador, quando do desenvolvimento da
pesquisa, é ser “neutro” com respeito ao conteúdo da resposta bem como se
mostrar interessado nas possíveis idéias e opiniões que paralelamente forem se
mostrando presentes durante as entrevistas (FERRARA, 1993; BOSI, 2003;
SANT’AGOSTINO, 2001; GOMES, 2003;).
A participação, assim como a descentralização das decisões, tem se
mostrado como sendo o caminho mais adequado para se enfrentar os inúmeros
_________________________________________________________________
70
problemas de uma comunidade e na sua relação com os órgãos governamentais. “A
participação não deve ser vista meramente como um instrumento necessário para a
solução dos problemas, mas sim como uma necessidade do homem de se auto-
afirmar, de interagir em sociedade, de criar, de realizar, de contribuir” (GOMES, op.
cit., p.46).
A observação do cotidiano por meio da aplicação de questionários produzidos
pelos sujeitos da pesquisa implica diversidade tão grande que exige a criação de
representações visuais como gráficos, esquemas, tabelas e mapas, em
complementação dos modos narrativos.
Nesse ponto torna-se importante justificar o fato do investigador apresentar
premissas de juízo subjetivo, ou melhor: possíveis inconsistências entre atributos ou
correlações entre os mesmos pode remeter a adaptações de conhecimento do
objeto pesquisado, lembrando que é uma peculiaridade da mensuração em geral,
quer seja qualitativa ou quantitativa, assumir pertinência da relação entre os
atributos e sua representação numérica.
3.8. TRATAMENTO ESTATÍSTICO
Atribui-se a Galileu Galilei a afirmação de que se deve medir o mensurável e
transformar em mensurável o que, à primeira vista, não for. Nessa linha de raciocínio,
ao reduzimos os dados qualitativos – principalmente aqueles afetos às ciências
sociais – a indicadores de valor central, está-se buscando transformar conceitos
subjetivos, por vezes vagos, em rotinas metodológicas para tratamento das
incertezas dos dados.
Massad (apud PEREIRA, 2001, p.20), ao apresentar um arcabouço teórico
para o tratamento de dados lembra que: Frege em 1879 parte das incertezas
relativas aos dados qualitativos, o qual já em 1879 fornece uma realização parcial do
caluculus ratiocianator de Leibniz. Posteriormente, em 1905, Peirce afirmou que tudo
o que existe é contínuo, e esse contínuo governa o conhecimento. Anos mais tarde,
Russel, em 1923, afirmou que tanto os conceitos vagos como a precisão eram
características de linguagem, e não propriamente realidade. Lukasiewicz, em 1920,
deu o primeiro passo na direção de um modelo formal dos conceitos vagos, uma
nova lógica baseada em outros valores possíveis além do falso e verdadeiro apenas.
_________________________________________________________________
71
Ele concordava com Peirce que os conceitos vagos se originavam do
contínuo, e com Russel de que estes têm graus e números atribuídos que indicam
graus para cada particular conjunto contínuo. Zadeh, em 1964, estabeleceu o
problema dos conceitos vagos, contrariando Lukasiewicz e Black, ele estudou o
problema de conceitos vagos corretamente e detalhou os mecanismos da teoria dos
conjuntos nebulosos. A idéia principal de Zadeh era a noção de graus de pertinência,
de acordo com os quais um conjunto poderia ter elementos que pertenciam
parcialmente a ele. Assim, se assumirmos que X é o conjunto universo, o
subconjunto nebuloso A de
X
é associado com a função característica:
[
]
1,0x:
A
µ
geralmente chamada de função de pertinência. A idéia é que para cada X , µ
A
indique em que grau
X pertence a A.
De certa maneira, várias têm sido as tentativas de se tratar as incertezas dos
dados qualitativos. Dentre elas, pode-se utilizar a estratégia da transformação de
dados semi-parametrizada, ou melhor: redução da dimensionalidade das variáveis a
partir de transformações de dados qualitativos em parâmetros quantitativos
(PEREIRA, 2001, p. 21). Os capítulos seguintes buscam embasar teoricamente tais
transformações.
3.8.1. Mensuração de atitudes
O psicólogo quando analisa os objetivos pelos quais lutam indivíduos e
grupos – diferentemente do historiador – transfere o foco de sua atenção para o
indivíduo e sua reação a determinadas condições históricas, procurando identificar
as funções psicológicas mais ligadas à estabilidade e à mudança das instituições e
dos costumes. De certa forma está analisando sob qual ‘ponto de vista’ o indivíduo
está agindo, qual sua perspectiva e concepção dos problemas que enfrentam. A
esses fenômenos Asch (1971, p. 438) denominou com um termo impreciso e amplo
– atitude –, comentando que “[...] sua distribuição obedece a leis, pois é uma função
da participação no grupo ou da posição na classe social ou na casta.”
(3.8.1)
_________________________________________________________________
72
Pesquisas mostram
43
que quase todos os indivíduos são capazes de
classificar hierarquicamente o grau de importância ou de apreciação diante de
questões que fazem parte do seu cotidiano.
A verificação quantitativa da distribuição dessas opiniões em grupos e sua
relação com vários fatores é denominada por ‘mensuração de atitudes’ (ASCH, op.
cit., p. 448)
Simultaneamente às pesquisas, que definem as atitudes do entrevistado,
surgem as técnicas de organização de escalas.
Dentre as diversas escalas para obter índices de opinião, algumas
(THURSTONE, 1929; LIKERT, 1932; BOGARDUS, 1925; etc), foram chamadas de
racionais, pois foram planejadas para exprimir as reações dos indivíduos em função
de unidades iguais e um ponto zero. Dessa forma é possível estabelecer uma
afirmação quantitativa do grau de separação entre as escalas e um ponto em que
não se encontram atitudes discerníveis (ponto zero ou ponto médio), o qual não
assume o valor de nulidade, mas sim de posição entre eventuais códigos negativos
e positivos.
O fato de existir a oposição semântica, implícita na escala de Likert pela
presença do ponto médio, contribuiu para que Osgood (1969), em suas pesquisas
sobre o desenvolvimento de estratégias psicométricas desenvolvesse sua teoria do
diferencial semântico “The Measurement of Meaning”
44
.
O processo desenvolvido para construção de escala de atitudes de Likert,
contém certo número de afirmações isoladas, mas dispensa a avaliação por juízes –
tal qual Escala de Thurstone – usando em seu lugar uma técnica diferente para
selecionar afirmações. O entrevistado responde a cada afirmação, escolhendo uma
das cinco respostas: aprovo totalmente; aprovo parcialmente; sem opinião;
desaprovo parcialmente; desaprovo totalmente. A resposta a cada afirmação é uma
43
Por exemplo pesquisa sobre Felicidade no Estado de São Paulo apresentada no Capítulo 3.6.
44
Utilizando uma escala de sete pontos com categorização nos extremos da medida, Osgood
registrou impressões de pessoas sobre alguns conceitos que pretendia analisar. Esses conceitos
são apresentados numa seqüência vertical, em cada linha referia-se a um conceito e cada
extremo de linha levava um rótulo de significado oposto ao outro extremo. Após interligar os
pontos escolhidos por cada respondente, para cada conceito, pode-se analisar sua identificação
semântica, através da comparação entre as diferentes representações gráficas (OSGOOD, 1969,
apud. PEREIRA, op. cit., 65)
_________________________________________________________________
73
classificação quantitativa dos pontos, que vão de 1 a 5. Obtém-se a nota para toda a
escala somando-se os pontos obtidos em cada afirmação.
Dessa forma define-se o sentido e orientação da escala, sendo que a ordem
aritmética dos números não reflete, necessariamente, a ordem hierárquica dos
atributos. Assim, o uso dessa escala poupa o pesquisador de ajuizar relações entre
atributos e medidas, é claro que não o exime de assumir algumas premissas,
conforme comentado acima (BUSSAB e MORETTIN, 2002, pp. 14).
Asch (op. cit., p. 451) observa que escalas de atitudes nos dão informações
sociológicas, ou ‘quanto de certa atitude existe num indivíduo’, necessitando de
estudos de experiências e observação de funcionamento para solucionar questões
psicológicas. Observa também que o mesmo processo, medido em posições
diferentes da escala e em indivíduos diferentes, resulta em resultados semelhantes,
variando ao longo de uma mesma dimensão escalar
45
.
Historicamente, a grande vantagem do uso da escala de Likert reside no fato
de que ela tem a sensibilidade de recuperar conceitos de manifestação de
qualidades, principalmente na constatação da oposição entre os contrários, partindo
da verificação do gradiente de opiniões, levando-se em conta as possíveis situações
intermediárias e reconhecendo uma adequada relação entre a precisão – fineza com
que se realiza a medida e a acurácia – capacidade de representar bem o objeto
medido (PEREIRA, op. cit., p. 65).
Dentre os quatro tipos de escalas (nominal - mede atributos equivalentes;
ordinal – distinção em intensidades; intervalar – quantidades de intervalos de
atributos; e, proporcional – proporcionalmente em valores de escala), as últimas três
podem ser ser codificadas de forma que seus códigos representem as relações
hierárquicas entre as categorias. Para Frude (1987, p. 26) “[...] a codificação deve ter
alguma lógica e o investigador deve respeitá-la em todas as medidas que realizar
[...].”
Em contrapartida, determinados autores como Minayo (1994) ou
Macnaughton (1996) dentre outros, optam por afirmar que arbitrar valores ou
45
Riker (1949, apud. ASCH, 1971) demonstrou que a auto-avaliação, numa série de diferentes
atitudes, é tão precisa quanto os dados correspondentes da escala e os dois conjuntos de dados
têm uma correlação alta, produzindo essencialmente as mesmas distribuições.
_________________________________________________________________
74
códigos numéricos em pesquisas qualitativas, no campo das ciências sociais, não
consegue refletir o universo de valores possíveis do fenômeno estudado.
A realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com
toda a riqueza de significados dela transbordante. Essa mesma realidade é
mais rica que qualquer discurso que possamos elaborar sobre ela. Portanto,
os códigos das ciências que por sua natureza são sempre referidos e
recortados são incapazes de contê-la (MINAYO 1994b, p. 15).
Os artigos de Behague e Ogden (1996); Fitzpatrick e Boulton (1996); Britten
(1996), mas principalmente Pereira (2001), comentam a afirmação acima
salientando que, por vezes, a impropriedade das relações aritméticas dos códigos
não se refere à impossibilidade de atribuição de códigos, mas à incorreção dessa
atribuição de códigos na criação da escala. Em resumo, os autores afirmam que a
mensuração qualitativa é uma medida derivada, que não se realiza diretamente
sobre o fenômeno de interesse, mas sobre as manifestações desse fenômeno.
3.8.2. O “rebelde” dado qualitativo
“O dado qualitativo é uma forma de quantificação do evento qualitativo que
normatiza e confere um caráter objetivo à observação do pesquisador científico. É
uma estratégia de classificação de um fenômeno aparentemente imponderável que,
ao se fixar premissas de natureza ontológica (intrínseca) e semântica (signos), faz-
se o reconhecimento do evento, a análise de seu comportamento e suas relações
com outros eventos” (PEREIRA, op. cit., p.21).
Dessa forma, os dados qualitativos podem converter-se numa fórmula quase
quantitativa. Entretanto, por vezes, os dados são tão “rebeldes” a tratamentos
qualitativos que geram dificuldades em sua parametrização. Esse fato está
particularmente presente (conforme já comentado) nas ciências sociais e, em
algumas situações, cada vez mais prevalentes nos aspectos voltados para a
geografia, ecologia humana e saúde.
Assim, por exemplo, a análise clássica dos Indicadores Sociais de Qualidade
de Vida (Mapa de Exclusão Social – 1996; Indicadores IQVU de Belo Horizonte –
1996; Indicadores IDH ONU/PNUD – 1999 e Indicadores de Qualidade de Vida
_________________________________________________________________
75
publicados na Folha de São Paulo 1999/2000), baseada na adoção de símbolos
numéricos e premissas aritméticas para a sua representação – médias ponderadas
e gerais –, habilita o pesquisador a analisar o evento com a versatilidade dos
números e suas operações. O que se observa, na verdade, são dois momentos de
medida: um primeiro de classificação individual e um segundo de descrição de um
conjunto de observações.
Numa comparação genérica entre metodologias de análise de eventos
qualitativos, Greenhalg e Taylor comentam:
Pesquisa quantitativa deveria começar com uma idéia (normalmente
articulada como uma hipótese), e então, através de medidas, gerarem
dados que, dedutivamente permitiriam chegar à conclusão. Pesquisa
qualitativa, em contraste, começaria com uma intenção para explorar uma
área particular, coletaria 'dados' (observações e entrevistas), onde
gerariam idéias e hipóteses À partir destes dados pelo que é conhecido
como raciocínio indutivo (GREENHALG e TAYLOR, 1997, p. 742).
O princípio da suposta disputa entre a abordagem qualitativa (pesquisa
qualitativa) e quantitativa (análise dos dados) de eventos (objetos) qualitativos
parece residir particularmente nos conceitos de mensuração e objetividade. Se por
um lado, a análise de dados qualitativos se desqualificaria por se propor a medir o
imponderável, por outro, a pesquisa qualitativa seria desautorizada por seu
componente subjetivo.
Quanto a esse aspecto, Ferrara (2000, p. 24) observa que a estratégia da
pesquisa retira da realidade a flexibilidade da vida cotidiana para atribuir-lhe a
dureza da observação.
A relação tencionada entre demonstrar e interpretar recoloca a questão das
análises quantitativas e qualitativas como impossíveis de serem
operacionalizadas separadamente, visto que, dessa forma, acabam por
sugerir uma dimensão mecânica da realidade, seja quando a substituímos
por quadros estatísticos e números ou quando a travestimos com a
armadilha retórica do discurso (FERRARA, op. cit., p.25).
_________________________________________________________________
76
De certa forma, autores diversos (BUNGE, 1976; FERRARA, 2000; PEREIRA,
2001, dentre outros) concordam que a estratégia metodológica transforma a
realidade à partir de relações aparentemente preestabelecidas, de tal forma que um
determinado evento, uma vez contextualizado, passa a dar fundamento aos passos
da pesquisa.
Decodificar esses conhecimentos acumulados num ambiente urbano, por
vezes fragmentados e ilegíveis passa a ser o marco a ser alcançado. A essa
operação – reter e gerar informação sobre a cidade – Ferrara (1993, p. 18)
denomina como: percepção urbana.
3.8.3. Interpretando escalas
Para Pereira (op. cit., p. 67), mesmo que a escala de medida qualitativa seja
tratada como uma dimensão única, verifica-se que na verdade ela é
multidimensional, onde suas dimensões são funções das categorias de suas
respectivas escalas. Caso o pesquisador recorra às medidas de tendência central:
moda (para a escala nominal); moda e mediana (escala ordinal) e média, moda e
mediana (para a escala intervalar e proporcional), observa-se que, em alguns casos,
elas podem informar mal sobre o comportamento de fenômenos. O exemplo
seguinte aborda essa questão:
A Figura 3.8.3.1 esquematiza o resultado da avaliação da população do Bairro
Antenor Garcia em relação à presteza no atendimento médico no posto de saúde Dr.
Ernesto Pereira Lopes.
O que se quer medir é o grau de satisfação, mas, como se trata de um evento
qualitativo são medidas suas manifestações, cujas respostas ou opiniões podem ser
tratadas como uma escala ordinal. A melhor descrição do conjunto das observações
seria que “Ótimo” corresponderia à moda e à mediana, o que sugeriria que o grau de
satisfação da população seria, portanto ótimo. Freqüentemente, resultados dessa
natureza são apresentados – inclusive pela imprensa - como sendo 50% de ótimo a
bom e 50% de péssimo a ruim, implicando numa aceitação implícita de que bom
seja igual a ótimo e que péssimo seja igual a ruim. Ou que, metade da população do
bairro está descontente com a presteza no atendimento e, em contrapartida, a outra
metade está satisfeita com a agilidade no atendimento médico.
_________________________________________________________________
77
Figura 3.8.3.1 – Exemplo de Medida de Grau de Satisfação da população do bairro
Antenor Garcia em relação ao atendimento médico do Posto de
Saúde Araci II.
Fonte: Adaptado de Pereira (op. cit. , p. 68)
Tratando-se os dados da Figura 3.8.3.1 de forma escalar intervalar, obtêm-se
os valores conforme Quadro 3.8.3.1.
Os resultados agora indicam que, para o grau de satisfação para a questão
agilidade no atendimento médico do Posto de Saúde Dr. Ernesto Pereira Lopes,
existe uma tendência no sentido de ótimo, com uma intensidade de 7,5% (43% -
35,5%), num intervalo de 0 a 100%.
Quadro 3.8.3.1 – Medida de Grau de Satisfação no Atendimento Médico do Posto de
Saúde.
Categorias
de opinião
Freqüência
Categorias
de opinião
Freqüência
Categorias
de opinião
Freqüência
Ótimo 36% Ótimo 36% Ótimo 43%
Bom 14% ½Ótimo 14%
Ruim 29% ½Péssimo 29%
Péssimo 21% Péssimo 21% Péssimo 35,50%
Org: o autor (2006)
Atribuindo-se códigos que representem o diferencial semântico e sua
regularidade intervalar, foi possível obter-se igual valor, onde o sinal negativo ou
positivo indica apenas o sentido semântico da medida, conforme exemplificado:
Presteza no atendimento médico no
Posto de Saúde da Cidade Aracy II
Ótimo
36%
Bom
14%
Ruim
29%
Péssimo
21%
_________________________________________________________________
78
%5,7ou75,0
100
21x129x2/114x2/136x1
SatisfaçaodeGrau +=
+
=
Pereira (op. cit., p. 72) comenta as diferentes formas de interpretação
que se aplicam aos axiomas do cálculo probabilístico, apresentando principalmente
a clássica ou estocástica – onde o foco está na probabilidade de ocorrência de
diferentes formas de apresentação do evento (categorias), e a epistêmica – que
busca expressar numericamente graus de incerteza sobre o evento, ou mais
precisamente a tendência de comportamento do fenômeno estudado, ou ainda a
propensão de ocorrência de eventos.
3.8.4. Análise bidimensional – processamento de redução de
dimensionalidade
Um conjunto de dados pode ser analisado sob vários aspectos estatísticos,
em função das relações que o compõem. Fazem parte desse grupo: a análise
bidimensional que, dependendo da natureza das variáveis envolvidas, podem ser
chamadas de análises quantitativa-quantitativa, quantitativa-qualitativa e qualitativa-
qualitativa; e a análise de itens.
Relações com duas variáveis, são conhecidas por análise estatística
bidimensional (BUSSAB e MORETTIN, 2002, p. 69), cujo objetivo principal é
explorar relações (similaridades) entre as colunas onde, dependendo da natureza
das variáveis, qualitativa ou quantitativa, podem ser expressas na forma de: gráficos,
tabela de distribuição conjunta e medidas de associação.
Miles e Huberman (1984) recomendam o uso de representações visuais,
como gráficos ou esquemas para análises de dados qualitativos, de tal forma que
sobressaiam as diferentes categorias. Alertando que o fator decisivo na simplificação
do processamento e análise de variáveis qualitativas é, após a observação do objeto
– coleta de dados –, buscar a redução de sua dimensionalidade. Isto é, após
aferição dos resultados, utilizando-se diferentes medidas, concluir o estudo com uma
medida geral.
_________________________________________________________________
79
Como exemplo pode-se citar a estratégia de análise reduzida ao
comportamento das modas (categoria de maior ocorrência), possibilitando identificar
as variáveis de maior importância.
Pereira (op. cit., p 78) lembra que, as possibilidades de processamento estão
relacionadas ao tipo de variável categórica, ao tipo de medida e à estratégia de sua
codificação. A codificação de variáveis categóricas pode ser feita de forma que seus
códigos representem as relações hierárquicas e aritméticas entre as categorias,
respeitando-se alguma lógica em todas as medidas que forem realizadas.
Um dos processos de análise consiste em assumir medidas de atributos –
categorizadas pela escala de Likert (1932) – em intervalos regulares de cinco
categorias, denominado como “[...] fixação de premissa de escala proporcional para
processamento e análise [...]”.
Utilizando-se a teoria de Osgood (1969) sobre o diferencial semântico –
comentado no capítulo 6.9.1 – o autor propõe a codificação das cinco categorias,
passando pelo ponto médio com os valores -2; -1; 0; 1; 2, reservando-se a posição
“sem opinião” para corresponder a um zero absoluto (PEREIRA, op. cit., p. 81).
Em algumas situações podem-se atribuir de valores numéricos às várias
qualidades ou atributos (ou, ainda, classes) de uma variável quantitativa e
depois proceder-se à análise como se esta fosse quantitativa, desde que o
procedimento seja passível de interpretação (BUSSAB e MORETIN, 2002,
p. 10).
Dessa forma, conforme comentado anteriormente, o resultado final é a
redução da dimensionalidade, quer sejam das variáveis, do indicador ou do
fenômeno – índice – estudado (Grau de Satisfação, Impacto devido Decisão Política,
Nível de Felicidade, etc).
Para tanto, pode-se considerar a computação de um único indicador que
concilie as medidas de todas as variáveis, de tal forma que, estariam sendo
subdivididos em níveis de análise, onde o primeiro nível corresponderia a categorias
nominais (por exemplo os indicadores), e o segundo nível suas respectivas variáveis
ordinais (intensidade das categorias), levando-se em consideração as propriedades
da escala intervalar proporcional (PEREIRA, op. cit. p. 84).
_________________________________________________________________
80
A estratégia de redução de dimensionalidade de uma variável só é possível
mediante uma premissa de relações entre as categorias da variável.
3.8.5. Consistência dos dados alfa () de Cronbach
Um indicador é considerado bom quando todas as suas medidas integrantes
têm uma relação coerente entre si no esforço de medir o fenômeno estudado.
“...medidas coerentes de um mesmo objeto são aquelas que, embora o abordem sob
um aspecto específico, mantêm alguma relação entre si, já que mensuram o mesmo
objeto” (PEREIRA, op. cit. p. 86).
Dentre os métodos para medir a consistência ou a confiabilidade de um
indicador pode ser através do coeficiente Alfa (
) de Cronbach (1951).
O
de Cronbach pode ser entendido como um coeficiente de correlação ao
quadrado (R²) entre os valores observados e os valores verdadeiros de um
fenômeno estudado, trabalhando a relação entre covariâncias e variâncias internas
das medidas. “Quanto mais as variações entre as medidas do fenômeno, realizadas
pelas diferentes variáveis, superar as variações internas das variáveis
individualmente, melhor será o indicador e, quanto maior o número de variáveis
compondo o indicador, ‘melhor’ ele será.” (CRONBACH, op. cit., p. 298). A fórmula
de cálculo do
de Cronbach é:
var/cov)1(1
var/cov
+
=
k
k
α
Na qual:
k = Número de variáveis consideradas
cov = Média das covariâncias
var = Média das variâncias
Considerando-se o intervalo de valores possíveis entre (0 – 1), e a
complexidade do fenômeno que se busca medir, caberá ao pesquisador julgar se o
nível alcançado é satisfatório, bem como verificações internas do sentido de
orientação da variável. Caso ocorra correlações negativas (por exemplo, conforto do
(3.8.5.1)
_________________________________________________________________
81
transporte público e velocidade dos ônibus) o sentido de direção deverá ser mudado,
multiplicando-se por -1 (PEREIRA, op. cit. p. 87).
As verificações de consistência dos indicadores podem auxiliar na
identificação de variáveis que não se ajustam ao conjunto e cuja exclusão pode
calibrar melhor o desempenho do indicador.
A confiabiliade = grau de confiança (
“reliability”) é medida em termos do
coeficiente da variância dos valores verdadeiros pela variância dos valores
observados.
3.8.6. Análise multivariada
Análise fatorial é um nome genérico dado a uma classe de métodos
estatísticos multivariados (análise de múltiplas variáveis em um único
relacionamento ou conjunto de relações), cujo propósito principal é definir a estrutura
subjacente em uma matriz de dados. Genericamente, a análise fatorial visa analisar
a estrutura das inter-relações (correlações) entre um número grande de variáveis
obtidas, por exemplo, por meio da aplicação de questionários, definindo um conjunto
relativamente pequeno de dimensões latentes comuns, chamadas de fatores ou
simplesmente dimensões (HAIR, Jr. et al., 2005). Essas variáveis, em termos sociais,
podem estar de alguma maneira correlacionadas.
Por ser uma técnica de interdependência, na sua análise, todas as variáveis
são simultaneamente consideradas, cada uma correlacionada com todas as outras.
A apresentação dos resultados é feita pela composição linear das variáveis, sendo
possível observar o poder de explicação do conjunto inteiro de variáveis.
Com a análise fatorial, é possível identificar as dimensões separadas da
estrutura e então determinar o grau em que cada variável é explicada por cada
dimensão. Uma vez que essas dimensões e a explicação de cada dimensão estejam
definidas, os dois principais usos da análise fatorial – resumo e redução de dados –
podem ser obtidos.
Resumir os dados significa obter dimensões latentes, que uma vez analisadas
e interpretadas, descrevem os dados em um número muito menor de conceitos do
que as variáveis individuais originais. A redução dos dados é obtida pelo o cálculo
_________________________________________________________________
82
de escores para cada uma das dimensões latentes e na substituição das variáveis
originais por esses escores.
Segundo Hair, Jr et al. (op. cit., p. 91), se um número de variáveis é muito
grande, ou se há a necessidade de representar melhor um número menor de
conceitos, em vez de muitas facetas, a análise fatorial pode auxiliar na seleção de
um subconjunto representativo de variáveis ou mesmo na criação de novas variáveis
como substitutas das variáveis originais, e ainda mantendo seu caráter original, e
explica:
“Se tivéssemos que esboçar uma analogia com as técnicas de dependência,
seria no sentido de que cada variável observada (original) é uma variável
dependente que é uma função de algum conjunto latente de fatores (dimensões)
feitos eles próprios a partir de todas as outras variáveis.” E segue “[...] de maneira
recíproca, podemos olhar para cada fator (variável estatística) como uma variável
dependente que é uma função do conjunto inteiro de variáveis observadas.”
De maneira geral as técnicas analíticas fatoriais podem ser utilizadas sob dois
aspectos: segundo a perspectiva
exploratória – útil na busca da estrutura em um
conjunto de variáveis ou um método para redução de dados –, ou sob a ótica
confirmatória, onde o pesquisador tem preconcebido idéias sobre a real estrutura
dos dados, baseado em pesquisas anteriores ou suporte teórico. Neste caso podem-
se testar hipóteses envolvendo questões sobre agrupamento de variáveis ou o
número de dimensões (fatores) que devem fazer parte da análise.
Quanto às suposições na análise fatorial, Hair, Jr. et al. (op. cit., p.98)
comenta que, de um ponto de vista estatístico, os desvios da normalidade, da
homoscedasticidade e da linearidade aplicam-se apenas no nível em que elas
diminuem as correlações observadas, e complementa: “de fato, na análise fatorial,
um pouco de multicolinearidade é desejável, pois o objetivo é identificar conjuntos de
variáveis inter-relacionados.”
Entretanto, há a necessidade de verificar se a matriz de dados tem
correlações suficientes para justificar a aplicação da análise fatorial. Dentre os
diversos métodos (inspeção visual das correlações; correlações parciais; correlações
anti-imagem, etc), pode-se aplicar o
teste Kayser-Meyer-Olkin Measure of
Sampling Adequacy (KMO) (DILLON e GOLDSTEIN, 1984), que é um método
estatístico que analisa a matriz de correlação inteira. Ele fornece a probabilidade
_________________________________________________________________
83
estatística de que a matriz de correlação tenha correlações significantes
(consistência) entre pelo menos algumas variáveis. O índice obtido variando entre 0
e 1, pode assumir o valor 1 quando cada variável é perfeitamente prevista sem erro
pelas outras variáveis.
Apesar da bibliografia (KAYSER, 1974) interpretar valores na casa de 0,6
como sendo de adequação medíocre dos dados à análise fatorial, outros
pesquisadores (HAIR, Jr. et al., op cit., BORIN, 2006) consideram níveis de
intensidade acima de 0,5 ou 0,6 como sendo satisfatórios para análises que
abordem aspectos no âmbito social.
Outro teste que precede a análise fatorial com vistas à verificação de suas
premissas é o de
Bartllet Test of Sphericity (BTS) (HAIR, Jr. et al., op cit., p. 98),
que, conforme Zambrano e Lima (2004) serve para testar a hipótese nula de que a
matriz de correlação é uma matriz de identidade. Se essa hipótese nula se confirmar,
o uso do modelo de análise fatorial deve ser reavaliado.
Quanto à seleção do método de extração dos fatores (análise de fatores
comuns versus análise de componentes), depende inteiramente do objetivo do
pesquisador, sendo que na análise de componentes o objetivo principal é resumir a
maior parte da informação original (variância) a um número mínimo de fatores,
possibilitando inferir previsões. Por outro lado, a análise de fatores comuns é usada
para identificar fatores ou dimensões latentes que reflitam o que as variáveis têm em
comum. Segundo Hair, Jr. et al. (op. cit., p. 99), as dificuldades das análises de
fatores comuns têm levado para o amplo uso da análise de componentes. Pesquisas
empíricas demonstram que tanto a análise de fatores comuns quanto a análise de
componentes chegam a resultados essencialmente idênticos se o número de
variáveis exceder a 30 (VELICER e JACKSON, 1990).
Após a transformação de um grande conjunto de variáveis em fatores, há a
necessidade de se analisar o melhor critério de parada para a extração desses
fatores. Dentre os diversos critérios, o de percentagem de variância garante a
significância prática dos fatores determinados, onde: “[...] em ciências sociais, na
qual as informações são menos precisas, não é raro considerar uma solução que
explique 60% da variância total (em alguns casos até menos) como satisfatória.”
(HAIR, Jr. et al., op. cit., p. 102).
_________________________________________________________________
84
A interpretação dos dados envolve a rotação dos fatores, isto é, rotacionar os
eixos de referência dos fatores em torno da origem, procurando-se outras posições
para os dados. De certa forma, a solução de fatores rotacionados extrai fatores em
sua ordem de importância, onde o primeiro fator apresenta a maior parcela da
variância, e os seguintes, resultados da parcela residual dessa variância. A
redistribuição da variância busca um padrão fatorial mais simples e teoricamente
mais significativo para o conjunto de dados.
Dentre os processos ortogonais desenvolvidos para a simplificação de linhas
e colunas de matrizes fatoriais, o método VARIMAX tem sido bem sucedido como
uma abordagem analítica para a rotação de fatores (HOFFMANN, 1999). Verifica-se
que, sendo a intenção do pesquisador reduzir o número de variáveis para um
conjunto menor de variáveis, não obrigatoriamente correlacionadas, para uso
subseqüente em regressão ou outras técnicas de regressão, a solução ortogonal se
mostra mais interessante.
Na análise final interpretativa da matriz de componentes rotacionada
identificam-se as maiores cargas apresentadas para cada variável analisada,
identificando-se a comunalidade de cada variável. Nesta fase o pesquisador deve
definir quais critérios devem ser utilizados para identificar as variáveis que atendam
aos níveis de redução aceitáveis, levando-se em conta quais variáveis realmente
contribuem para a pesquisa.
_________________________________________________________________
85
4. METODOLOGIA E PROCESSO
4.1. CONFECÇÃO E APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIOS
Partindo-se da hipótese, que para avaliar o GRAU DE SATISFAÇÃO de um
indivíduo ou de uma população, melhor seria verificar, qual o elenco de questões
que (se resolvidas) as tornariam mais satisfeitas, optou-se por iniciar a pesquisa com
a aplicação de uma única pergunta:
O que te agrada e incomoda no bairro em que vive?
Para tanto, elegeu-se um bairro de formação muito jovem de nome Bairro
Antenor Garcia (aproximadamente 15 anos) da periferia da cidade de São Carlos –
SP, com a peculiaridade principal de ser habitado basicamente por cortadores de
cana-de-açúcar, apanhadores de laranja e catadores de frango.
A consulta inicial (aplicação da única pergunta) foi efetuada de forma aleatória
pelo bairro, em uma amostra total de 174 moradores, (Quadro 4.1.1).
Quadro 4.1.1 – Número total de pessoas consultadas com a pergunta “O que te
agrada e incomoda no bairro em que vive?” e respectivos Estados
de origem.
SP PR PE BA PB MT RJ MG SE
MULHERES 31 25 - 2 1 - 2 4 3 68
HOMENS 49 41 1 2 2 8 - 3 - 106
Total 80 66 1 4 3 8 2 7 3 174
%
46 38 0,5 2,3 1,7 4,6 1,2 4 1,7 100
Org: o autor (2006)
As respostas obtidas foram agrupadas em seis temas abrangentes,
resultando em seis Variáveis conforme apresentado no APÊNDICE A – Resumo dos
aspectos que agradam e incomodam os moradores do bairro Antenor Garcia
subdivididos em seis variáveis, que compreendem parâmetros relacionados ao bem
estar dos cidadãos do bairro: HABITAÇÃO E AMBIENTE; SAÚDE; EDUCAÇÃO E
LAZER; TRANSPORTES; SEGURANÇA e SOCIAL.
_________________________________________________________________
86
As respostas pertinentes a cada uma das seis Variáveis estabelecidas foram
reescritas e transformadas em questões afirmativas ou negativas, resultando em um
banco de dados denominado questionário abrangente, perfazendo um total de 76
questões (APÊNDICE B – Questionário abrangente para classificação das variáveis
do grau de satisfação no bairro Antenor Garcia em São Carlos).
A quantificação amostral além de basear-se na proposta de Sanathanan
(1972) considerando-se 5 categorias de respostas, também verificou o número total
de chefes de família, o total de casas no bairro (1.024 casas) e aqueles moradores
(excetuando) menores de 15 anos. Neste trabalho foi possível amostrar 365 pessoas
distribuídas aleatoriamente por todo o bairro que, no início da aplicação dos
questionários – setembro de 2004 – era constituído por 3.927 moradores. O ANEXO
B – Determinação do tamanho da amostra (A) considerando-se o tamanho da
população multinominal (N) com 5 categorias de respostas (k=5) apresenta o
resultado da proposta de Sanathanan (op. cit., p. 152).
A análise das respostas resultantes da aplicação do questionário abrangente
para o bairro Antenor Garcia, possibilitou “medir” a opinião ou a atitude (termo
utilizado em pesquisa de marketing) dos moradores do bairro em termos do grau de
concordância e discordância às questões então formuladas pelos próprios
moradores do bairro.
Entretanto, em todo processo de medida há a necessidade de se definir a
escala que se está trabalhando. Como estamos trabalhando com o componente
afetivo da atitude – já que o quê se quer avaliar é a satisfação do morador em
relação às qualidades das variáveis – optou-se pela construção de uma escala de
avaliação verbal.
Dessa forma, foram apresentadas aos moradores as opções de respostas,
desde o extremo mais favorável até o extremo mais desfavorável, pela identificação
e ordenação das categorias por meio de expressões verbais. O embasamento
teórico para construção desta escala, foi baseado na proposta de Osgood (1969)
denominada “Escala de Diferencial Semântico”, a qual foi parcialmente modificada
neste trabalho, em termos de não exibir aos entrevistados uma escala de valores
numéricos atrelada às categorias de respostas, bem como utilizar um número menor
que sete categorias de respostas para cada questão.
_________________________________________________________________
87
Com o intuito de incrementar a precisão na medição, facilitando ao
entrevistado uma melhor análise das nuanças pró ou contra a cada questão, optou-
se pela inclusão do referencial semântico na metodologia desenvolvida por Rensis
Likert (1932), conhecida como escala de Likert. Sua proposta compreende uma série
de afirmações relacionadas com o objeto pesquisado, onde os entrevistados são
solicitados não só a concordarem ou discordarem das afirmações, mas também a
informarem o seu grau de concordância/discordância.
Neste contexto, optou-se pela utilização de cinco categorias para respostas
às questões, variando entre Concordo Totalmente (CT); Concordo Parcialmente
(CP); Sem Opinião (SO); Discordo Parcialmente (DP) e Discordo Totalmente (DT)
(APÊNDICE B - Questionário abrangente para classificação das Variáveis do Grau
de Satisfação no bairro Antenor Garcia em São Carlos). Foram seguidas as
orientações de Mattar (1997, p. 202) que propõe a inclusão da opção neutra “Sem
Opinião” (ou “não tenho opinião formada a respeito”), quando da construção de
escalas, alegando que: “[...] os respondentes nunca devem ser forçados, sob pena
de obtermos respostas viesadas.”
Preliminarmente cada questão foi analisada isoladamente e correlacionado o
fato do morador concordar ou discordar da questão expressando seu maior ou
menor Grau de Satisfação. Aos vários níveis de concordância/discordância inseridos
em cada casela, foram atribuídos valores que refletem a direção da atitude do
entrevistado. Neste trabalho, usando-se as premissas de Bussab e Morettin (2002),
atribuiu-se valores (+2) para Muito Satisfeito: MS; (+1) para Parcialmente Satisfeito:
PS; (0) para Sem Opinião: SO; (-1) para Parcialmente Insatisfeito: PI, e (-2) para
Muito Insatisfeito: MI. A utilização desses valores propiciou o reprocessamento dos
dados e a redução da dimensionalidade.
A pontuação final para cada questão é a soma das atitudes dos entrevistados
vezes seus respectivos valores.
Fato importante para a técnica de aplicação do questionário abrangente foi a
proposta de inserção de questões elaboradas alternadamente de forma afirmativa e
negativa quanto aos seus assuntos (GOMES, 2004)
46
. Isto é, o questionário foi
composto por questões, ora de natureza afirmativa ora negativa, com as respectivas
46
Entrevista com sociólogo Dr. Marcos Affonso Ortiz Gomes, em out. de 2004.
_________________________________________________________________
88
opções de respostas categorizadas também invertidas (ora iniciavam com Concordo
Totalmente (CT) e em seguida por Discordo Totalmente (DT)). Dessa maneira foi
possível coibir o entrevistado em se influenciar pelo conteúdo das respostas às
questões anteriores.
O fato de existir questões alternadas (negativas e afirmativas) exigiu que, na
fase da análise das respostas, os níveis de concordância fossem operacionalizados
em forma de Grau de Satisfação.
Para comprovar que os dados podem ser interpretados como uma suposta
medida real do fenômeno estudado optou-se por medir a consistência ou
confiabilidade das diversas correlações entre as respostas, por meio do coeficiente
Alfa (
) de Cronbach (1951).
Dentre as várias opções de rotinas para o processamento dos dados e
verificação de sua consistência, decidiu-se pelo programa SPSS (Statistical Package
for the Social Sciences), versão 13.0 for Windows devido sua facilidade de manuseio,
bem como seu uso estar consagrado na área da Saúde Pública (PEREIRA, 2001).
Como as variáveis foram medidas por uma escala de Likert, assumiu-se que
os intervalos entre as categorias fossem regulares, como também a categoria Sem
Opinião (SO) pudesse corresponder a um zero absoluto, fixando-se assim uma
premissa de escala proporcional para processamento e análise.
Optou-se por apresentar suas informações começando-se com a a redução
de suas medidas sintéticas em forma de representações gráficas, de acordo com
Miles e Huberman (1984), dessa forma foi possível aglutinar e apresentar
47
os dados
dispersos das variáveis valorando as respostas entre +2 e -2.
Tais transformações resultam em valores negativos (negativo significando
Menor Grau de Satisfação) e positivos (positivo significando Maior Grau de
Satisfação). Para facilitar a visualização, buscando apresentar os valores máximos
possíveis de seus sentidos opostos, optou-se por utilizar a representação gráfica,
conforme Figuras mostradas no Capítulo 5.
47
Disponível em gasparhome@terra.com.br
_________________________________________________________________
89
4.2. ANÁLISE FATORIAL
Com o objetivo de verificar a possível existência de medidas de associação
entre as variáveis, uma vez que não existe relação de casualidade entre as mesmas
e visando analisar a correlação da matriz de dados por inteiro
48
, correlacionou-se os
valores ocupados em cada casela (desde Muito Satisfeito (MS) a Muito Insatisfeito
(MI)), efetuando-se a análise fatorial multivariada. Para tanto, foi utilizada a rotina
para redução de dados contida no programa Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 13.0 for Windows.
De acordo com Norusis (1994), o modelo matemático para análise fatorial é
semelhante a uma equação de regressão múltipla. Cada questão é expressa como
uma combinação linear de fatores que não são observados de fato. Em vez disso,
eles são rótulos para grupos de questões que caracterizam estes conceitos.
Normalmente, estes grupos de questões que constituem os fatores, são úteis por
caracterizar agrupamentos específicos e não são conhecidos com antecedência,
mas são determinados pela análise fatorial.
O primeiro passo foi verificar a adequação da análise fatorial, examinando a
matriz de correlação inteira, aplicando o teste
Kayser-Meyer-Olkin Measure of
Sampling Adequacy (KMO) (DILLON e GOLDSTEIN, op. cit., 1984) e do Teste de
Esfericidade de Bartllet (BTS) (HAIR et al., 2005, p. 98).
∑∑
+
∑∑
∑∑
=
jiji
ji
a
r
r
KMO
2
y
2
y
2
y
Onde r ij é o coeficiente de correlação simples entre questões i e j, e a ij é o
coeficiente de correlação parcial entre questões i e j. Se a soma dos quadrados dos
coeficientes de correlação parciais entre todas as questões é pequena quando se
compara à soma dos quadrados dos coeficientes de correlação simples, a medida
de KMO está perto de 1.
48
Disponível gasparhome@terra.com.br
(4.2.1)
_________________________________________________________________
90
O teste (BTS) identifica a presença de correlações entre as questões. Ele
fornece a probabilidade estatística de que a matriz de correlação tenha correlações
significativas entre, pelo menos, algumas das questões.
A existência de certos “fatores causais gerais” ressaltados por Gontijo e
Aguirre (1988), como os responsáveis pelas correlações observadas entre as
questões, pode gerar críticas por parte de alguns pesquisadores (PAZ, et. al.,
2006)
49
, principalmente considerando que muitas relações entre as questões são
provavelmente derivadas dos mesmos “fatores causais gerais”.
Como a seleção das relações entre as questões mais importantes é, em
maior ou menor medida, subjetiva, outras relações podem vir a ocorrer. Contudo,
salienta-se que o método da análise fatorial é uma ferramenta importante para a
definição de um padrão de relações específico.
49
Site: www.pucrs.br/eventos/3eeg/Artigos/m15t02.pdf, visitado em 20/07/2006.
_________________________________________________________________
91
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de 365 questionários aplicados, 362 puderam ser aproveitados na
sua totalidade, sendo que três foram descartados devidos à inconsistência dos
dados ou devido aos questionários serem respondidos em sua parcialidade ou
incompletos. O APÊNDICE C apresenta os lotes amostrados subdivididos por sexo
no bairro Antenor Garcia.
Com relação ao conjunto amostral, das 76 questões respondidas (questões
Q1 a Q76) apresentadas no APÊNDICE D – Tabela Completa com todas as
respostas dos moradores do bairro Antenor Garcia, 20 delas (Quadro 5.1) foram
analisadas em separado – Capítulo 5.2 –, quer sejam por se tratarem de questões
do tipo nominais (por exemplo: idade, sexo, religião, grau de instrução, presença de
felicidade, etc), ou por expressar assuntos que sugeriam análise específica.
Quadro 5.1 Questões contempladas no Questionário e que foram analisadas em
separado (Capítulo 5.2).
Q1 Essa casa é: Própria (P); Alugada (A); Emprestada (E); Ocupada (O).
Q8
Os moradores queimam constantemente o lixo por que; ( ) Lixeiro não é regular;
( ) É costume; ( ) Nem pensa no que está fazendo; ( ) Outro.
Q10
Tem gente que disse que o bairro não tem indústria ou serviço de emprego bom
porque as pessoas têm pouco estudo na escola; (DT), (DP), (SO), (CP), (CT).
Q12
É melhor ter uma praça com bastante árvores a uns 200 metros do que mais
árvores nas ruas; (CT), (CP), (SO), (DP), (DT).
Q21 Você tem poucos filhos; (DT), (DP), (SO), (CP), (CT).
Q32
O ensino no Antenor é "mais fraco”, por que eles dão muita liberdade, do que nas
escolas em que o ensino é “mais puxado“; (DT), (DP), (SO), (CP), (CT).
Q38
Qual a maneira que você utiliza para ir ao centro da cidade ou para o trabalho? ( )
A pé, ( ) Bicicleta, ( ) Carroça, ( ) Carro/Moto, ( ) Ônibus.
Q58
Roupa e comida do mês são compradas no centro da cidade; ( )Sim; ( )Só comida;
( ) Não sei; ( ) Só Roupa; ( ) Não; ( ) Cesta.
Q65 O quê você acha que a cidade pensa de você?
Q66 Você é feliz?
Q67 Você está satisfeito com o local em que vive?
Q68 Nome
Q69 Idade
Q70 Escolaridade
Q71 Tempo de residência
Q72 Cidade de Nascimento
Q73 Estado onde nasceu
Q74 Tempo de residência no bairro Antenor Garcia
Q75 Número de filhos
Q76 Religião
_________________________________________________________________
92
Foram utilizadas três metodologias para análise dos dados: Capítulo 5.1 –
Análise de questões de mesma variável à partir dos resultados do α (Alfa) de
Cronbach; Capítulo 5.2 – Análise entre questões de diferentes variáveis e
correlações com as questões nominais, onde verificou-se os aspectos sócio-
econômico-culturais (escolaridade, sexo, etc) para sua interpretação; e, Capítulo 5.4
– Análise multivariada dos dados.
5.1. ANÁLISE ENTRE QUESTÕES DA MESMA VARIÁVEL
As 56 questões remanescentes foram operacionalizadas em uma matriz com
56 colunas (questões) e 362 linhas (número de moradores amostrados), com as
manifestações (opiniões) de cada morador em suas respectivas caselas. O resultado
gerou uma tabela de respostas
50
desde Muito Satisfeito (MS); Parcialmente
Satisfeito (PS); Sem Opinião (SO); Parcialmente Insatisfeito (PI); Muito Insatisfeito
(MI).
A primeira análise da correlação, contemplando as respostas de todas as
questões, resultou em um valor para Alfa () de Cronbach de 0,459 (escala de 0 a 1),
conforme Quadro 5.1.1.
Quadro 5.1.1 – Alfa () de Cronbach e Medida Média para todas as questões
utilizadas na matriz Grau de Satisfação da população do bairro
Antenor Garcia.
Número de Questões 56
Alfa () de Cronbach
0,459
Média das Questões -4,29
Na perspectiva da generalização dos resultados considerando-se o universo
total, pode-se afirmar que o valor para Alfa () de Cronbach de 0,459 sugere que,
apesar de não ser um valor alto, 46,0% das questões são plenamente
correlacionáveis. Isto é, na análise do conjunto das seis variáveis com suas
50
Disponível em gasparhome@terra.com.br
_________________________________________________________________
93
respectivas questões, é plenamente justificável esperar valores relativamente baixos,
pois dificilmente seriam encontradas correlações entre agrupamentos de questões
que compõem, por exemplo, as variáveis TRANSPORTES com EDUCAÇÃO E
LAZER, ou SAÚDE com SEGURANÇA. Deve ser salientado que as questões foram
elencadas aleatoriamente, pela própria população, sem a preocupação de abordar
aquelas que se complementassem.
Analisando-se os resultados no aspecto da confiabilidade, pode-se entender o
de Cronbach como um coeficiente de correlação ao quadrado (R²) com uma
suposta medida real do fenômeno estudado. Então, o valor acima de 0,459 sugere
que, se estaria medindo 46,0% do universo de possíveis questões que sintetizam o
Grau de Satisfação da população do bairro Antenor Garcia, se comparado a um
valor padrão – “
gold standard” – intrínseco ao método.
A influência de cada questão na composição do de Cronbach pode ser
evidenciada na Quadro 5.1.2.
Quadro 5.1.2 – Relevância de cada questão na composição do Grau de Satisfação
do bairro Antenor Garcia.
Questões
Escala média se o
item for desprezado
Alfa () de
Cronbach se o
item for deletado
Q06 MORAR DE ALUGUEL -6,06 0,456
Q07 ILUMINAÇÃO DO BAIRRO -5,7 0,438
Q62 DEUS "ARRUMA" EMPREGO -5,51 0,448
Q64 MAIOR PROBLEMA DO BAIRRO É A FALTA
DE EMPREGO
-5,33 0,449
Q4 AUMENTO DE STATUS MUDANDO DE
BAIRRO
-5,32 0,45
Q49 TELEVISÃO COMO ÚNICO LAZER -5,27 0,463
Q51 MÍDIA PROMOVENDO VIOLÊNCIA -5,25 0,449
Q48 ESCOLA SUBSTITUINDO EDUCAÇÃO DOS
PAIS
-5,2 0,458
Q27 COMENTAR SOBRE ED. SEXUAL EM
FAMÍLIA
-4,94 0,466
Q31 FACILIDADE VAGA EM ESCOLA -4,93 0,454
Q29 ATENDIMENTO POSTINHO ANTENOR -4,9 0,442
Q30 ATENDIMENTO PRONTO SOCORRO
CENTRAL
-4,69 0,463
Q24 REMÉDIOS GRÁTIS -4,64 0,438
_________________________________________________________________
94
Questões
Escala média se o
item for desprezado
Alfa () de
Cronbach se o
item for deletado
Q46 USO DA CALÇADA COMO ÁREA DE LAZER -4,63 0,461
Q47 IGREJA SINÔNIMO DE LAZER -4,62 0,475
Q16 CORTAR MATA PARA ELIMINAR
ESCONDERIJO
-4,6 0,465
Q53 POLICIAMENTO -4,6 0,463
Q17 ORIENTAÇÃO TÉCNICA -4,58 0,473
Q52 PODER DOS BANDIDOS NO BAIRRO -4,56 0,438
Q56 PAIS BANDIDOS -4,55 0,453
Q18 COLETA SELETIVA NO BAIRRO -4,48 0,456
Q28 VIDA SAUDÁVEL -4,44 0,468
Q23 ATEND. MÉDICO POSTO SAÚDE ARACI II -4,43 0,432
Q34 EMPENHO DOS PROFESSORES -4,42 0,45
Q41 RENOVAÇÃO DA FROTA -4,39 0,442
Q03 PROCESSO UTILIZADO PELO MUTIRÃO -4,35 0,456
Q13 PERCEPÇÃO DA MATA -4,29 0,454
MÉDIA DAS QUESTÕES -4,29
Q50 SENSAÇÃO DE SEGURANÇA -4,29 0,421
Q55 AFETO FAMILIAR -4,26 0,451
Q05 CASA COM LAJE -4,22 0,457
Q20 AGENTES DE SAÚDE -4,13 0,432
Q42 PERCURSO DOS ÔNIBUS -4,12 0,456
Q15 CONVÍVIO COM ESGOTO À CÉU ABERTO -4,08 0,467
Q44 CONFORTO NOS ÔNIBUS -4,07 0,451
Q33 VIOLÊNCIA ENTRE ALUNOS -4,05 0,443
Q26 GRAVIDEZ PRECOÇE -3,92 0,445
Q09 IMPLANTAÇÃO DO BAIRRO -3,91 0,473
Q25 FRENQUÊNCIA AO DENTISTA -3,91 0,456
Q35 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR MAIS
IMPORTANTE QUE O ENSINO
-3,78 0,456
Q40 DISTÂNCIA DO BAIRRO -3,68 0,455
Q36 ANTIGAMENTE O ENSINO ERA MELHOR -3,64 0,431
Q54 PROMISCUIDADE E DROGAS ENTRE OS
BÓIAS-FRIAS
-3,6 0,452
Q45 PREÇO DO TRANSPORTE -3,53 0,454
Q60 QUANTIDADE DE IGREJAS -3,52 0,441
Q37 QUANTIDADE DE CRECHES NO ANTENOR -3,45 0,479
Q61 P.M. "ARRUMA" EMPREGO -3,42 0,429
Q19 CUIDADO AMBIENTAL -3,31
0,445
_________________________________________________________________
95
Questões
Escala média se o
item for desprezado
Alfa () de
Cronbach se o
item for deletado
Q59 PERMANECER NO BAIRRO MESMO
DISCRIMINADO
-3,21 0,473
Q14 QUANTIDADE DE ANIMAIS -3,07 0,473
Q63 PROGRAMAS SOCIAIS COMO SOLUÇÃO
PARA A SOBREVIVÊNCIA
-3,06 0,465
Q11 LIMPEZA PÚBLICA -2,93 0,467
Q57 QUANTIDADE DE BARES -2,82 0,454
Q43 TEMPO DE VIAGEM -2,7 0,466
Q39 VIAS DE ACESSO AO BAIRRO -2,68 0,458
Q2 OBRIGATORIEDADE COMPRA DO TERRENO -2,48 0,46
Q23 SIMPATIA POSTO SAÚDE ARACI II -2,42 0,445
Org: o autor (2006)
Comparando-se os valores da coluna “Escala média se o item for
desprezado”, com a medida “Média das Questões”, que é de -4,29 (Quadro 5.1.2),
pode-se verificar que as doze questões de maior contribuição na “definição” do Grau
de Satisfação são:
Q23 SIMPATIA POSTO SAÚDE ARACI II
Q2 OBRIGATORIEDADE NA COMPRA DE TERRENO;
Q39 VIAS DE ACESSO AO BAIRRO;
Q43 TEMPO DE VIAGEM;
Q57 QUANTIDADE DE BARES;
Q11 LIMPEZA PÚBLICA;
Q63 PROGRAMAS SOCIAIS COMO SOLUÇÃO PARA A SOBREVIVÊNCIA;
Q6 MORAR DE ALUGUEL;
Q7 ILUMINAÇÃO DO BAIRRO;
Q62 DEUS “ARRUMA” EMPREGO;
Q64 MAIOR PROBLEMA DO BAIRRO É A FALTA DE EMPREGO;
Q4 AUMENTO DE “STATUS” MUDANDO DE BAIRRO.
Q49 TELEVISÃO COMO ÚNICO LAZER
Essas questões podem ser consideradas como as de maior peso na
composição do Grau de Satisfação global do bairro, em que no caso de suas
_________________________________________________________________
96
ausências, acarretariam maior redução de seu resultado médio, pois ocupam as
condições extremas do Quadro 5.1.2.
De forma análoga, analisando-se isoladamente as questões que compõem
cada variável, obtêm-se resultados bem diferentes para o Alfa de Cronbach (Quadro
5.1.3). Dessa forma assume-se que seja possível extrair resultados das correlações
entre o conjunto de questões pertinentes a cada variável, pois todas as seis
variáveis apresentaram coeficientes de correlação ( de Cronbach) maiores que
66%.
Quadro 5.1.3 – Número de questões por variável e valor do Alfa () de
Cronbach calculados por variável, utilizadas na pesquisa do
Grau de Satisfação da população do bairro Antenor Garcia.
Legenda: CT= Concordo Totalmente; CP= Concordo
Parcialmente; SO= Sem Opinião; DP= Discordo Parcialmente; e,
DT= Discordo Totalmente).
Org: o autor (2006)
Nível 2
Variável
Habitação e
Ambiente
Variável
Saúde
Variável
Segurança
Variável
Social
Variável
Educação e
Lazer
Variável
Transportes
Nível 1
Grau de Satisfação
CT
CP
SO
DP
DT
CT
CP
SO
DP
DT
CT
CP
SO
DP
DT
CT
CP
SO
DP
DT
CT
CP
SO
DP
DT
CT
CP
SO
DP
DT
Nível 4
Nível 3
15
Questões
=0
,
66
7
Questões
=0
,
95
7
Questões
=0
,
95
10
Questões
=0
,
88
10
Questões
=0
,
94
7
Questões
=0
,
95
_________________________________________________________________
97
A seguir optou-se por detalhar o procedimento para obtenção do Grau de
Satisfação para a variável Transportes, bem como a apresentação em forma gráfica
dos valores assumidos para cada questão que compõem a variável. O Quadro 5.1.4
foi obtido contando-se as respostas
51
pertinentes a cada questão da valoração entre
-2 e +2.
Quadro 5.1.4 – Número de respostas por Categoria para cada Questão estudada e
suas respectivas codificações entre -2 e +2.
Q39 Q40 Q41 Q42 Q43 Q44 Q45
Código
Vias de
acesso ao
bairro
Distância
do bairro
Renovação
da frota
Percurso
dos ônibus
Tempo de
viagem
Conforto
nos ônibus
Preço
transp/
CT=+2
12 77 118 61 329 58 38
CP=+1
9 44 61 26 21 38 10
SO= 0
19 6 39 147 12 143 95
DP=-1
26 48 25 46 0 13 76
DT =-2
296 187 119 82 0 110 143
Total
362 362 362 362 362 362 362
Org: o autor (2006)
O Quadro 5.1.5 resume as proporcionalidades assumidas por cada Questão
para a variável TRANSPORTES. Com base na teoria de Osgood (1969)
recodificaram-se as respostas multiplicando-se cada casela do Quadro 5.1.4, pelos
seus respectivos códigos e dividindo-se pelo total da coluna. Na seqüência,
agruparam-se os valores obtidos, resultando no Quadro 5.1.5.
Quadro 5.1.5 – Questões recodificadas para a variável TRANSPORTES.
Variável TRANSPORTES
Q42 Percurso dos ônibus 0,172
Q41 Renovação da frota 0,094
Q44 Conforto nos ônibus -0,218
Q40 Distância do bairro -0,619
Q45 Preço do transporte -0,762
Q39 Vias de acesso ao bairro -1,616
Q43 Tempo de viagem -1,876
51
Disponível em gasparhome@terra.com.br
_________________________________________________________________
98
Os resultados evidenciam dois tipos de comportamento para as questões da
variável TRANSPORTES, isto é, um grupo de Questões (Q42 e Q41) com índices
muito baixos, porém positivos e outro (Q44; Q40; Q45; Q39; e, Q43), com índices –
numericamente – maiores e negativos.
Interpretando-se os resultados por meio de suas codificações, quanto maior
forem os resultados positivos, maior será o Grau de Satisfação do morador do bairro
do Antenor Garcia em relação à questão analisada. Por outro lado, quanto maior
(em módulo) for o resultado negativo menor o Grau de Satisfação (mais insatisfeito)
desse morador em relação à questão.
Dessa forma, a relação entre as questões se mostrou aparente: a questão
“Tempo de Viagem” (Q43) é quase nove vezes maior que a questão “Conforto nos
ônibus” (Q44), indicando que, apesar da população estar insatisfeita com as duas
questões, ela está mais insatisfeita com “Tempo de viagem dos ônibus” (Q43) do
que com o próprio “Conforto dos ônibus” (Q44), ou mesmo o “Preço do transporte”
(Q45). Observa-se também que, de todas as questões que compõem a variável
TRANSPORTES, a questão “Tempo despendido em viagens” (Q43) é a que deixa
os moradores mais insatisfeitos. Este resultado se repetiu em todas as análises,
conforme verificado ao longo desse capítulo, mostrando que a questão “Tempo de
viagem” (Q43) é aquela que gerou menor Grau de Satisfação (mais insatisfação) de
todas as 56 questões que compõem a pesquisa.
Quanto às questões relacionadas à variável TRANSPORTES que traduzem
um Grau de Satisfação positivo para a população “Percurso dos ônibus” (Q42) e
“Renovação da Frota” (Q41) são aquelas que se apresentam. Entretanto, observa-se
que, devida à intensidade de seus resultados numéricos (+ 0,172 e + 0,094
respectivamente), quando comparados aos valores numéricos do agrupamento
“negativo”, essas questões influenciam pouco ou muito pouco no Grau de Satisfação
dos moradores. Isso se deve, muito provavelmente por que os moradores do bairro
Antenor Garcia não usufruem desses aspectos, isto é: não foi renovada a frota –
enquanto o desenvolvimento da pesquisa –, bem como pouco, ou muito pouco
benefício foi obtido com a ampliação do percurso das linhas de ônibus para esses
moradores, resultando em pequeno aumento no Grau de Satisfação dos mesmos.
Por meio da Figura 5.1.1 é possível visualizar todas as freqüências de
ocorrências para a variável TRANSPORTES, contemplando os contrários obtidos
_________________________________________________________________
99
pela categorização das questões e evidenciando os destaques para as questões
“Tempo de viagem” (Q43) e “Vias de acesso ao bairro” (Q39).
Figura 5.1.1 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável TRANSPORTES.
Org: o autor (2006)
Usando-se dessa mesma metodologia foi possível gerar gráficos para as
demais Variáveis (SEGURANÇA, SAÚDE, HABITAÇÃO E AMBIENTE, EDUCAÇÃO
E LAZER, e SOCIAL). Optou-se por adotar a palavra insatisfação para as questões
que se posicionam do lado negativo (Menor Grau de Satisfação), e satisfação para
aquelas que se posicionam do lado positivo (Maior Grau de Satisfação) das Figuras.
A Figura 5.1.2 resume os resultados do gradiente do Grau de Satisfação para
a variável SEGURANÇA.
Q43 Tempo de viagem
Q39 Vias de acesso ao bairro
Q45 Preço do transporte
Q40 Distância do bairro
Q44 Conforto nos ônibus
Q41 Renovação da frota
Q42 Percurso dos ônibus
Variável: TRANSPORTES
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
%
%
-100
-75
-50 -25
0
50
25
75
100
_________________________________________________________________
100
Figura 5.1.2 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável SEGURANÇA.
Org: o autor (2006)
Verifica-se na Figura 5.1.2 que cinco das sete questões, que representam a
variável SEGURANÇA, resultaram em insatisfação para os moradores do bairro
Antenor Garcia, nessa ordem de intensidade: “Pais bandidos” (Q56); “Poder dos
bandidos no bairro” (Q52); “Policiamento no bairro” (Q53); “Promiscuidade, drogas e
álcool entre os bóias-frias” (Q54); e, “Mídia promovendo a violência” (Q51).
Observa-se que a questão “Mídia promovendo a violência” (Q51) foi a que
gerou maior insatisfação entre os moradores. Além disso, outra questão relevante é
a “Promiscuidade, drogas e álcool entre os bóias-frias” (Q54), revelando um aspecto
que por vezes passa despercebido pela sociedade, mas que merece maior atenção.
O nível de “Policiamento do bairro” (Q53) não é considerado adequado pelos
moradores, mesmo porque, acreditam que o “Poder dos bandidos no bairro” (Q52)
se iguala ao da segurança policial.
Apesar da questão “Pais bandidos” (Q56) ter sido elencada pelos moradores
do bairro Antenor Garcia como um dos aspectos imprescindíveis na definição da
variável SEGURANÇA, observa-se que os próprios moradores vêem a questão, com
Variável: SEGURANÇA
Q51 Mídia
p
romovendo a violência
Q54 Promiscuidade, drogas e
álcool entre os bóias-frias
Q53 Policiamento no bairro
Q52 Poder dos bandidos no bairro
Q56 Pais bandidos
Q50 Sensação de segurança
Q55 Afeto familia
r
-100
-25 0 25
50
75
100
-75
-50
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
% %
_________________________________________________________________
101
certo Grau de Insatisfação. Salienta-se a dificuldade em se abordar esse aspecto –
onde alguns pais do bairro Antenor Garcia foram apontados como bandidos pelos
próprios filhos.
Na análise da questão “Sensação de segurança” (Q50) dentro do próprio
bairro verifica-se que, para o morador do bairro Antenor Garcia, este aspecto não o
satisfaz nem o insatisfaz, podendo ser analisado como o morador não se sentindo
seguro nem inseguro no próprio bairro. Observa-se, segundo dados da polícia de
São Carlos, que o bairro Antenor Garcia abriga o maior número de ‘bandidos’ do
município.
A questão “Afeto familiar” (Q55), apesar de se apresentar praticamente nas
mesmas condições de nulidade da questão “Sensação de segurança” (Q50) quanto
à intensidade do Grau de Satisfação, foi englobada dentro da variável SEGURANÇA
por admitirmos ser uma das questões responsáveis e mais importantes no âmbito
sócio-educativo.
Observa-se que, das dez questões que compõem a variável SAÚDE, cinco
estão situadas do lado positivo do gráfico de Grau de Satisfação, sendo que essas
questões atingem valores mais expressivos que aquelas negativas.
Verifica-se que de todas as questões que traduzem a variável SAÚDE, a
questão “Simpatia no posto de saúde Araci II” (Q23) foi aquela que gerou o maior
Grau de Satisfação, fato que merece atenção especial, pois a simpatia dos
atendentes para com os moradores suplanta até o atendimento facultado pelos
médicos, conforme (Q22), (Q30), e (Q29).
O “Atendimento no postinho” (Q29) do bairro Antenor Garcia traz maior Grau
de Satisfação que o “Atendimento no pronto socorro” (Q30) da Avenida São Carlos e
o “Atendimento médico no posto de saúde da Araci II” (Q22), nessa ordem.
Analisando-se a Figura 5.3 verifica-se que a população está satisfeita com a
possibilidade de receber “Remédios grátis” (Q24), porém o fato da questão
apresentar uma intensidade relativamente baixa, provavelmente está afeta a
quantidade de moradores atendidos por esse serviço, bem como a quantidade de
remédios fornecidos.
A Figura 5.1.3 apresenta o gradiente do Grau de Satisfação para as questões
que compõe a variável SAÚDE:
_________________________________________________________________
102
Figura 5.1.3 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável SAÚDE.
Org: o autor (2006)
Quanto à série de cinco questões que se posicionam do lado negativo da
Figura 5.1.3, observa-se que “Comentar sobre educação sexual familiar” (Q27) é a
que traz menor Grau de Satisfação para os moradores (maior insatisfação).
Observa-se que, dos 362 questionários aplicados, 179 moradores preferem que a
escola aborde questões sobre educação sexual com seus filhos, sendo que 32
foram homens e 147 mulheres. Sabendo-se que o total de homens que
responderam o questionário foi de 111 e mulheres 251, conclui-se que:
Aproximadamente 29% dos homens e 59% das mulheres apresentam maior Grau de
Satisfação quando a escola “Comentar sobre educação sexual familiar” (Q27).
Enfatiza-se que a questão foi formulada dessa forma: “Não há necessidade de falar
sobre gravidez indesejada, preservativo, doença sexual ou AIDS com meus filhos,
pois a escola faz isso”.
Apesar das duas questões “Freqüência ao dentista” (Q25) e “Gravidez
Precoce” (Q26), apresentarem mesma intensidade de insatisfação (Figura 5.3),
observa-se que estas não assumem valores tão elevados se comparadas com
outras questões. Para a questão Q25, pode-se analisar que muito provavelmente o
Variável: SAÚDE
Q27 Comentar sobre educação
sexual familiar
Q25 Freqüência ao dentista
Q26 Gravidez precoce
Q20 Trabalho dos agentes de saúde
Q28 Importância de vida saudável
Q24 Remédios grátis
Q29 Atendimento postinho
Q23 Simpatia posto de saúde Araci II
Q22 Atendimento médico no posto de
saúde Araci II
-100
0
25
-75
-50
-25
50
75
100
Q30 Atendimento no pronto socorro
avenida
%
Menor Grau de Satisfação
Maior Grau de Satisfação
%
_________________________________________________________________
103
fato do morador do Antenor Garcia não usar o dentista preventivamente está aliado
ao hábito, mas principalmente às suas condições financeiras, daí a pequena
importância à questão. Quanto ao papel dos agentes de saúde no esclarecimento
da “Gravidez Precoce” (Q26) observa-se que, deve existir uma relação muito grande
com as questões “Comentar sobre educação sexual familiar” (Q27) na escola e
“Trabalho dos agentes de saúde” (Q20). Observa-se que os pais do bairro Antenor
Garcia acham que o papel desempenhado pelos agentes de saúde, quer seja no
aspecto da orientação sexual ou na agilização do atendimento médico, gera certa
insatisfação. Por outro lado, o fato do adolescente engravidar – apesar de gerar
insatisfação – mostra-se com um valor de pequena intensidade, conotando
preocupação em pequena parcela dos moradores, talvez devido aos aspectos
culturais com que o assunto é abordado na família.
Observa-se que segundo dados da Secretaria de Saúde de São Carlos (2005),
o bairro Antenor Garcia concentra (proporcionalmente) o maior número de
adolescentes grávidas do município.
A questão “Importância de vida saudável” (Q28) reflete o pensamento
generalizado do morador do bairro onde, o resultado pode ser analisado como
sendo mais importante o atendimento médico, exames e remédios à alimentação
saudável e exercícios diários direcionados. Esta questão talvez requeira melhor
atenção, pois grande parte dos moradores são bóias-frias, que passam a maior
parte do dia em atividades no campo na colheita da cana de açúcar ou apanhando
laranja.
A Figura 5.1.4 apresenta o gradiente do Grau de Satisfação para as questões
que englobam a variável HABITAÇÃO E AMBIENTE:
Numa análise global das questões que definem o Grau de Satisfação para a
variável HABITAÇÃO E AMBIENTE (Figura 5.1.4), observa-se a existência de três
grandes grupos:
Grupo I, assumindo valores crescentes de Grau de Satisfação, verifica-se
que a questão “Coleta seletiva no bairro” (Q18) apresenta o menor Grau de
Satisfação, provavelmente pela própria condição financeira do morador do bairro
Antenor Garcia, onde ele próprio é um reciclador e reaproveitador.
_________________________________________________________________
104
Figura 5.1.4 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável HABITAÇÃO E AMBIENTE.
Org: o autor (2006)
A questão “Percepção da mata” (Q13) apresenta subjetivamente a influência
que a pequena mata que circunda o bairro Antenor Garcia na porção nordeste
(Figura 5.1.5), poderia contribuir sobre os aspectos de melhoria das condições do
bairro e do próprio morador.
Observa-se que a intensidade do Grau de Satisfação para esta questão
apresenta-se muito pequena. Provavelmente a explicação pode ser encontrada
dentro da própria variável, considerando-se a questão “Cortar mata para eliminar
esconderijos” (Q16) que, de certa forma, para uma parcela significativa de
moradores, aumentaria em muito seu Grau de Satisfação.
Q6 Morar de aluguel
Q2 Impossibilidade de compra de terreno
Q11 Limpeza pública
Q19 Cuidado ambiental
Q14 Quantidade de animais no bairro
Q4 Aumentar status mudando de bairro
Q15 Convívio com esgoto a céu aberto
Q5 Casa com laje
Q3 Processo utilizado pelo mutirão
Q17 Orientação técnica construtiva
Q18 Coleta seletiva no bairro
Q13 Percepção da mata
Q9 Implantação do bairro
Q16 Cortar mata p/ eliminar esconderijos
Q7 Iluminação do bairro
Variável: HABITAÇÃO E AMBIENTE
-100
-25
0
-75 -50
25
50 10075
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
% %
I
II
III
_________________________________________________________________
105
Figura 5.1.5 – Bairro Antenor Garcia e detalhe da mata a nordeste.
Fonte: Imagem de satélite obtida através do programa GoogleEarth
site:http://earth.google.com. Cons. 17 jun. 2006.
Quanto à questão que analisa a forma como o bairro foi implantado –
“Implantação do bairro” (Q9) –, observa-se que este tópico acarreta um Grau de
Satisfação para aproximadamente 23% dos moradores, talvez devido à sua própria
origem que, na grande maioria, pela primeira vez passam a ser donos de um imóvel.
Em contrapartida, a questão “Orientação técnica construtiva” (Q17) no aspecto intra-
lote reproduz o descontentamento dos moradores que transferem a
responsabilidade da orientação construtiva para os órgãos públicos. Cabe lembrar
que a maior parte das moradias foi edificada pelo processo de auto-construção.
De todas as questões que traduzem a variável HABITAÇÃO E AMBIENTE, a
questão “Iluminação do bairro” (Q7) é a que produz a maior satisfação na análise do
Grau de Satisfação para os moradores do bairro Antenor Garcia.
Todas as questões pertinentes ao
Grupo II mostram menor Grau de
Insatisfação entre os moradores do bairro. O fato da questão “Processo utilizado
pelo mutirão” (Q3) estar relacionada de forma negativa pode ser analisado como um
resultado final (edificação) que, apesar de dotar o morador de um teto, impõe
_________________________________________________________________
106
dimensões e formas de distribuição de ambientes que desagradam aos moradores.
A questão “Orientação técnica construtiva” (Q17) complementa a análise desse
aspecto, onde não existe a participação do morador na decisão quanto ao projeto de
sua residência.
A questão “Casa com laje” (Q5), também se apresenta como um dos
aspectos que se apresentam no seguimento menor Grau de Satisfação (ou
insatisfação) da Figura 5.1.4, e sua explicação – embasada em questionamentos
adicionais no bairro – se deve principalmente às questões de conforto térmico.
Aquelas casas que possuem laje, não são cobertas por telhados, acarretando
aumento de temperatura interna das casas. No entanto, esse aspecto também foi
observado na grande maioria das casas do bairro cobertas por telhas de
fibrocimento ou cimento-amianto, no entanto o tempo para dissipação do calor é
mais rápido. Diversos moradores alertaram para maior segurança – caso haja
explosão de bujão de gás (sic) – se a cobertura for apenas com telhas ao invés de
laje.
Observa-se que o valor alcançado na Figura 5.1.4, para o Grau de Satisfação
(insatisfação), para a questão “Convívio com esgoto a céu aberto” (Q15) não foi
muito expressivo provavelmente devido à data de aplicação dos questionários, onde
boa parte do bairro contava com a rede de esgoto em funcionamento.
O
Grupo III insere as questões “Morar de aluguel” (Q6) e “Impossibilidade de
compra de terreno” (Q2), que apresentam os menores Graus de Satisfação para os
moradores do bairro Antenor Garcia para a variável HABITAÇÃO E AMBIENTE.
Apesar de aproximadamente 77% dos moradores possuírem casa própria (questão
Q1 do APÊNDICE D), verifica-se que o estigma da falta de moradia própria continua
sendo um aspecto marcante para os moradores do bairro.
As questões “Limpeza pública” (Q11), “Cuidado ambiental” (Q19) e
“Quantidade de animais no bairro” (Q14) podem ser analisadas em conjunto sob os
aspectos de condições de higiene urbana. Verifica-se pelo resultado da Figura 5.1.4
que os moradores estão muito insatisfeitos com essas questões. O que se observou
foi certo descaso por parte dos próprios cidadãos como também dos órgãos públicos
responsáveis pela limpeza pública do bairro.
A análise a respeito de vários moradores se mostrarem insatisfeitos com a
questão “Aumentar status mudando de bairro” (Q4), provavelmente pode estar
_________________________________________________________________
107
correlacionada com os moradores assumindo que essa atitude não vai modificar sua
condição econômica ou social, daí a insatisfação com a própria questão. Em
contrapartida, 22% dos moradores (APÊNDICE D) foram enfáticos na opção de
mudança de bairro como solução para ascensão.
A Figura 5.1.6 apresenta o gradiente do Grau de Satisfação para as questões
que englobam a variável EDUCAÇÃO E LAZER:
Figura 5.1.6 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável EDUCAÇÃO E LAZER.
Org: o autor (2006)
A análise da questão “Escola substituindo a educação dos pais” (Q48) para a
variável EDUCAÇÃO E LAZER, mostrando o maior Grau de Satisfação, traduz a
condição dos pais bóias-frias, que transferem para a escola – por meio da
permanência em período integral – a responsabilidade não só da educação, mas
também da segurança e da alimentação de seus filhos. Sobre o mesmo aspecto
VARIÁVEL: EDUCAÇÃO E LAZER
-100 0
50
75
100
Q49 Televisão como único lazer
Q37 Quantidade de creches no bairro
Q36 Antigamente o ensino era melhor
Q46 Uso de calçada como área de laze
r
Q47 Igreja sinônimo de laze
r
Q33 Violência entre alunos
Q34 Empenho dos professores
Q31 Facilidade de vaga em escola
-75 -50
-25
25
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
% %
Q
35 Alimentação escolar mais importante
que o ensino
Q
48 Escola substituindo educação
dos pais
_________________________________________________________________
108
observa-se que o morador do bairro Antenor Garcia também considera positivo a
questão “Facilidade de vaga na escola” (Q31), demonstrando que está mais fácil
conseguir vaga em escolas dos bairros vizinhos. Observa-se que este fato pode ser
observado para os alunos ingressantes no ensino fundamental, contrastando com
aqueles que necessitam de vaga de 5ª a 8ª séries também no ensino fundamental
ou no ensino médio.
Ainda situando-se na faixa maior Grau de Satisfação, porém com baixa
intensidade, a questão “Empenho dos professores” (Q34) demonstra para as
secretarias municipais e estaduais o pensamento conclusivo dos pais moradores do
Antenor Garcia, sobre a falta de motivação no processo de aprendizado para com
seus filhos.
Dentre aquelas questões que geraram para os moradores do bairro Antenor
Garcia, menor Grau de Satisfação (insatisfação) para a variável EDUCAÇÃO E
LAZER, a questão “Violência entre alunos” (Q33), merece atenção especial pela
dimensão que o problema possa estar assumindo
52
.
Analisando-se a questão “Alimentação escolar mais importante que o ensino”
(Q35) através do APÊNDICE D, verifica-se pela contagem direta que
aproximadamente 37% dos moradores acham que a maior importância da escola é a
alimentação fornecida aos seus filhos. Observou-se que, quando da aplicação dos
questionários nos finais de semana, grande parte dos moradores fazia apenas uma
refeição diária.
Comparando-se quais moradores apresentaram um menor Grau de
Satisfação (insatisfação) para a questão “Antigamente o ensino era melhor” (Q36),
com a questão “Escola substituindo a educação dos pais” (Q48), verifica-se que os
mesmos moradores foram os responsáveis pelo antagonismo. Esse fato expõe a
preocupação que os moradores apresentam com relação ao processo educacional
que seus filhos estão recebendo.
Uma parcela significativa entende que utilizar a “Igreja como sinônimo de
lazer” (Q47) apresenta um menor Grau de Satisfação. Mesmo aqueles que pensam
52
Entrevista com o diretor da Escola Arthur Natalino Deriggi, Professor Nilson Golçalves (set. 2005).
“Caso não haja um acompanhamento permanente, aproximando as famílias dos nossos alunos,
estamos fadados a perder para a escola do narcotráfico que é muito melhor aparelhada e com
resultados mais visíveis e ágeis.”
_________________________________________________________________
109
o contrário, concordam que há a necessidade de construir equipamentos de lazer no
bairro.
Ainda sobre esse aspecto foi verificado que a população analisa com menor
Grau de Satisfação (ou insatisfação) o fato da “Televisão como único lazer” (Q49),
bem como “Uso da calçada como área de lazer” (Q46), alertando aos órgãos
públicos a chance de mudar tal conceito por meio da implantação/manutenção de
parques, praças e atividades de lazer no bairro.
A questão “Quantidade de creches no bairro” (Q37) apresentando menor
Grau de Satisfação para boa parte da população demonstra a necessidade
premente de construção de ao menos uma creche no bairro. De acordo com dados
da Secretaria de Saúde do Município de São Carlos, em janeiro de 2005, o bairro
Antenor Garcia contava com aproximadamente 11% de sua população com idade
inferior a 5 anos.
A Figura 5.1.7 apresenta o gradiente do Grau de Satisfação para as questões
que englobam a variável SOCIAL:
Assim como existe uma esperança muito grande em que “Deus ‘arruma’
emprego” (Q62), observa-se que o nível de insatisfação em relação aos órgãos
públicos “P.M. ‘arruma’ emprego” (Q61), e aqui não se restringe apenas ao fato da
responsabilidade do emprego (mas está embutida toda a expectativa nos órgãos
administrativos), apresenta-se diametralmente oposto.
Fato curioso é a questão “Quantidade de igrejas” (Q60) resultando num
aspecto positivo, haja vista a proporção de igrejas no bairro (aproximadamente 1
templo/338 habitantes, em março de 2006).
De certa forma a proliferação de igrejas em áreas periféricas está diretamente
ligada à um “Deus” que promete melhorias aqui na terra, e não após a morte. A
confiança neste poder é maior que a depositada no poder público.
A decisão do morador do Antenor Garcia preferir “Permanecer no bairro
mesmo discriminado” (Q59) faz com que estes busquem outras maneiras para
exercer seus direitos de cidadania, inclusive apoiando candidatos ao governo
municipal do próprio bairro.
A questão “Quantidade de bares” (Q57) apresentou um menor Grau de
Satisfação (insatisfação muito grande) para boa parte da população. Observa-se que
em jan. de 2005 existia 1 bar/27 casas. Em boa parte dos casos observados, este
_________________________________________________________________
110
fato está aliado com a perda do emprego ou o período da entressafra do corte da
cana-de-açúcar ou colheita da laranja.
Figura 5.1.7 – Questões que definem a intensidade do Grau de Satisfação do
morador do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP, com relação à
variável SOCIAL.
Org: o autor (2006)
O fato da perda de emprego também se apresenta na questão “Maior
problema do bairro é a falta de emprego” (Q64), que se mostra como a preocupação
que gera muita insatisfação entre os moradores do bairro Antenor Garcia,
principalmente aqueles trabalhadores diaristas sem registro em carteira. Da mesma
maneira, observa-se por meio da questão “Programas sociais como única solução
para as necessidades” (Q63) que, apesar de todas as dificuldades que o morador do
bairro sofre, grande parte destes externa seu descontentamento preterindo essas
benesses em prol da garantia de emprego.
De forma conclusiva, a Figura 5.1.8, sintetiza o Grau de Satisfação ordenado
de forma decrescente para todas as variáveis elencadas pelos moradores do bairro
Antenor Garcia. Observa-se que a Variável SAÚDE é a que apresenta (ainda que
pequena) maior Grau de Satisfação.
Variável: SOCIAL
Q57 Quantidade de bares
Q61 P.M. "arruma" emprego
Q60 Quantidade de igrejas
Q59 Permanecer no bairro
mesmo discriminado
Q62 Deus "arruma" emprego
-100 -75
-50
-25 0
25 50
75 100
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
% %
Q6
4
M
a
i
or pro
bl
ema
d
o
b
a
i
rro
é
a
falta de emprego
Q6
3
P
rogramas soc
i
a
i
s
é
a so
l
ã
o
para as necessidades
_________________________________________________________________
111
Os valores foram calculados efetuando-se a somatória das questões para
cada variável, sofrendo em seguida um reescalonamento.
Todas as outras cinco variáveis, nessa ordem: SOCIAL; EDUCAÇÃO E
LAZER; SEGURANÇA; HABITAÇÃO E AMBIENTE; e, TRANSPORTES, resultaram
em menor Grau de Satisfação (insatisfação) para os moradores do bairro.
Figura 5.1.8 – Síntese do Grau de Satisfação ordenado por variável para o morador
do bairro Antenor Garcia, São Carlos, SP.
Org: o autor (2006)
Observa-se que a população não está sendo satisfatoriamente atendida em
termos das condições de infra-estrutura disponível no bairro Antenor Garcia,
inerentes às variáveis SOCIAL, EDUCAÇÃO E LAZER, SEGURANÇA, HABITAÇÃO
E AMBIENTE e, principalmente TRANSPORTES, exceto para a variável SAÚDE,
embora ainda não significativa na escala do Grau de Satisfação.
Grau de Satisfação ordenado por Variável
-100 -75 -50 -25 0 25 50 75 100
Menor Grau de Satisfação Maior Grau de Satisfação
% %
TRANSPORTES
HABITAÇÃO E AMBIENTE
SEGURANÇA
EDUCAÇÃO E LAZER
SOCIAL
SAÚDE
_________________________________________________________________
112
Esse aspecto é amplamente discutido em VILLAÇA (2001), citando os dois
fatores mais importantes que valorizam o espaço urbano como sendo a presença de
infra-estrutura urbana e a acessibilidade ao bairro.
Esse cenário, constatado no bairro Antenor Garcia através do resultado
observado quanto ao Grau de Satisfação, reflete parcialmente a falta de recursos e
de políticas públicas, direcionadas a melhorias de infra-estrutura urbana de bairros
com menor condição sócio-econômica.
5.2. ANÁLISE ENTRE QUESTÕES DE DIFERENTES VARIÁVEIS
Neste capítulo optou-se por complementar as análises iniciadas no Capítulo
5.1, estendendo as correlações para questões provenientes de diferentes variáveis,
visando subsidiar a prefeitura local em termos de um diagnóstico socioeconômico e
ambiental mais preciso em relação ao bairro Antenor Garcia, discutindo correlações
entre questões das diferentes variáveis que compõem o grau de satisfação.
Observa-se que das 56 questões, aquela que gerou maior Grau de Satisfação
para os moradores do bairro Antenor Garcia foi a questão “Iluminação no bairro” (Q7)
– Figura 5.1.4, mostrando, de certa forma, sua influência na sensação de segurança
dos moradores, conforme apresentado na questão “Sensação de segurança” (Q50)
– Figura 5.1.2.
Por outro lado, as questões que apresentam os menores Graus de Satisfação
para os moradores do bairro foram o “Tempo de viagem” (Q43) – Figura 5.1.1 e,
“Morar de aluguel” (Q6) – Figura 5.1.4. Aspectos estes peculiares de cidades de
porte médio a grande, onde a necessidade de moradia barata leva o morador para
áreas mais periféricas, tendo como conseqüência percursos extensos e maiores
gastos com transporte. Observa-se na Figura 5.2.1 que a maioria dos entrevistados
(80%) do bairro Antenor Garcia se utiliza do ônibus para se locomover. Observa-se
também que apenas 6% utilizam condução própria motorizada para se locomover.
A influência da distância do bairro quando confrontada com a dificuldade de
deslocamento, também pode ser verificada na preferência pelo “Atendimento no
pronto socorro da avenida” (Q30) em relação “Atendimento médico no posto de
saúde Araci II” (Q22) ambas da Figura 5.1.3. Muito provavelmente devido à
_________________________________________________________________
113
possibilidade do deslocamento ao pronto socorro (centro da cidade de São Carlos)
ser efetuado por ambulâncias.
A Figura 5.2.1 sintetiza os meios de transportes utilizados pelos moradores
entrevistados no bairro Antenor Garcia.
Figura 5.2.1 – Meios de transportes utilizados pelos moradores do bairro Antenor
Garcia.
Org: o autor (2006)
Salienta-se que, apesar do morador do bairro estar descontente com o preço
do transporte, ele se mostra praticamente duas vezes mais descontente com o
tempo despendido em transporte público (Figura 5.1.1).
Confrontando-se as questões “Importância de vida saudável” (Q28) – Figura
5.1.3; com as questões “Cuidado ambiental” (Q19), “Percepção da mata”(Q13) e
“Cortar mata para eliminar esconderijos” (Q16), extraídas da Figura 5.1.4, verificam-
se que todas apresentam posições contrárias ou muito sutis aos aspectos afetos a
preservação do ambiente, concorrendo (supostamente) para uma melhor qualidade
de vida.
A Figura 5.2.2 apresenta a distribuição espacial daqueles moradores que
responderam que, percebem os pequenos núcleos de mata que contornam o bairro
(Q13) e também responderam que “cuidam” do meio ambiente (Q19).
6%
80%
4%
9%
1%
carro/moto ônibus bicicleta bicicleta/à pé carroça
_________________________________________________________________
114
Figura 5.2.2 – Moradores que percebem os pequenos núcleos de mata que contornam o bairro (Q13) e
também responderam que “cuidam” do meio ambiente (Q19).
Org: o autor (2006)
_________________________________________________________________
115
Admite-se que este assunto mereça maior atenção dos educadores
ambientais do bairro, quer sejam nas escolas, nas organizações de bairro, ou até
nos templos e igrejas.
Apesar das ruas do bairro Antenor Garcia serem as mais arborizadas da
cidade de São Carlos (337 árvores/ha)
53
verifica-se que, para a questão “É melhor
ter uma praça com bastante árvores a uns 200 metros do que mais árvores nas
ruas” (Q12), aproximadamente 75% dos moradores – APÊNDICE D – concordam
totalmente ou parcialmente com essa afirmação (Figura 5.2.3).
Figura 5.2.3 – Arborização de rua no bairro Antenor Garcia.
Fonte: o autor (nov. 2006)
Apesar do autor concordar com o fatos das questões não serem excludentes,
dentre os 75% de moradores que responderam que preferem a construção de
praças ao plantio de mais árvores nas ruas, aproximadamente 44% concordam
parcialmente ou totalmente com a questão “Já que a mata ao lado dos córregos do
Antenor Garcia é usada como esconderijo de bandidos, é melhor cortá-la” (Q16).
53
Computadas apenas árvores situadas nas calçadas. Contagem efetuada em set. 2005,
_________________________________________________________________
116
Observa-se que, apesar dos lotes apresentarem dimensão de 150 m² (6 x
25m), bem como determinadas ruas no bairro possuírem mais que 300 metros de
extensão, os moradores se mostram mais preocupados com a distância do bairro
(Q43) e com a qualidade das “Vias de acesso ao bairro” (Q39) – ambas da Figura
5.1.1, do que com o desenho urbano ou a “Implantação do bairro” (Q9) – Figura
5.1.4, propriamente dito.
A Figura 5.2.4 apresenta os moradores que preferem utilizar a calçada como
área de lazer para conversar com os vizinhos, e aqueles que preferem assistir
televisão (Q46).
Figura 5.2.4 – Moradores que preferem assistir televisão x moradores que usam a
calçada como área de lazer na hora da novela ou do jogo.
Org: o autor (2006)
Lotes não amostrados
Preferem assistir televisão
Preferem usar a calçada para lazer
N
metros
300 300 600
_________________________________________________________________
117
Ainda sob o aspecto do desenho urbano, quando relacionado às mesmas
questões: “Uso de calçada como área de lazer” (Q46) ou “Igreja como sinônimo de
lazer” (Q47) – Figura 5.1.6 ou, de forma mais abrangente, todas as questões
pertinentes a variável EDUCAÇÃO E LAZER, observa-se que não foi aventada
(quando da elaboração do questionário) a falta de equipamentos de lazer como
parques e praças. Fato este muito observado quando da aplicação dos questionários,
principalmente quando o morador respondia a questão “Uso da calçada como área
de lazer” (Q46) – Figura 5.1.6.
A análise dos resultados das questões “Aumentar status mudando de bairro”
(Q4) – Figura 5.1.4 e “Permanecer no bairro mesmo discriminado” (Q59) – Figura
5.1.7 mostra que, o morador do bairro Antenor Garcia está começando a ter
consciência dos seus direitos como cidadão, mesmo que a questão “Visão da mídia
pelo morador do bairro” (Q51) – Figura 5.1.2 venha a colaborar de forma negativa
perante a sociedade sancarlense.
Correlacionando-se a questão “Comentar sobre educação sexual familiar”
(Q27) – Figura 5.1.3 com a questão “Sexo dos moradores” (Q71) – APÊNDICE D,
observa-se que dos 362 questionários considerados, 179 foram respondidos que se
sentiam Muito Insatisfeitos (MI) ou Parcialmente Insatisfeitos (PI) em comentar o
assunto, optando por não falar com as crianças sobre sexo, ou gravidez indesejada,
reservando para a escola esse papel. Desse total, verificou-se que, 32 foram
homens e 147 mulheres.
Correlacionando-se proporcionalmente homens e mulheres que opinaram por
não comentar com os filhos a questão sobre educação sexual (Q27), com o total de
pessoas que responderam o questionário divididas por sexo (Q71), correspondentes
a 111 homens e 251 mulheres, observa-se:
Aproximadamente 29% (32/111) daqueles que preferem não comentar as
questões sobre educação sexual familiar são homens e 59% são mulheres
(147/251).
Apesar de muitos acharem que o morador de áreas periféricas urbanas não
está satisfeito com o local em que vive, o resultado da aplicação dos questionários
para o bairro do Antenor Garcia mostra não ser tão simples a análise do seu
resultado. Do total de moradores que responderam a questão “Você está satisfeito
com o local em que vive” (Q67) – APÊNDICE D, aproximadamente 35%
_________________________________________________________________
118
responderam que sim, contra 28% que responderam não. Uma porcentagem de 9%
respondeu mais ou menos e, expressivamente, 28% responderam que não sabem
(Figura 5.2.5).
Figura 5.2.5 – Percentual de respostas à pergunta sobre estar satisfeito com o local
em que vive (Q67) – bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Comparando-se os resultados da Figura 5.2.5 com aqueles obtidos na
questão “Você é feliz” (Q66), apresentado na Figura 5.2.6, observa-se que,
aproximadamente 63% responderam que sim, contra 26% que responderam não.
Aproximadamente 8,0% responderam mais ou menos e os 3% restantes não sabem.
Apesar de 63% dos moradores entrevistados do bairro Antenor Garcia
responder que se consideram felizes, apenas 35% se julgam satisfeitos com o local
em que vivem. Por outro lado verifica-se um valor muito próximo entre aqueles que
responderam que não são felizes (26%) e não estão satisfeitos (28%), bem como
aqueles que estão mais ou menos felizes (8%) e mais ou menos satisfeitos com o
bairro (9%).
Fato curioso foi o resultado expressivo com relação àqueles moradores que
responderam que não sabem se estão satisfeitos com o bairro (28%), se comparado
àqueles que não sabem se são felizes (3%). Provavelmente esse conjunto de
Satisfeitos
Insatisfeitos
35%
28%
9%
28%
Mais ou menos
Não sabem
_________________________________________________________________
119
moradores, que têm uma opinião formada sobre sua felicidade, apesar de não
estarem satisfeitos com vários aspectos do bairro, viveram em condições mais
precárias (moradia, monetária, social, etc) que a atual.
Figura 5.2.6 – Distribuição das respostas para a Questão “Você é feliz?” (Q66) para
os moradores do bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Analisando-se as respostas segundo divisões por sexo, verifica-se pela
Figura 5.2.7 que, tanto as mulheres quanto os homens têm praticamente as mesmas
opiniões para a questão “Você está satisfeito com o local em que vive” (Q67). As
mulheres com 36% apresentam pequeno acréscimo em relação aos homens (34%)
no que diz respeito a satisfação com o bairro. No entanto, observa-se na mesma
Figura 5.2.7 que, uma porcentagem muito maior de homens (30%) em relação às
mulheres (10%), não sabe se estão satisfeitos com o bairro.
Essa mesma análise (segundo divisões por sexo) para a questão “Você é
feliz” (Q66), excluindo-se os moradores que responderam “mais ou menos felizes” e
“não sei”, observou-se que entre os homens entrevistados, 66% se declararam
felizes, enquanto 27% apontaram que são infelizes.
63%
26%
8%
3%
Felizes
Infelizes
Mais ou menos
Não sabem
_________________________________________________________________
120
Figura 5.2.7 – Percentual de respostas dos moradores analisadas por sexo sobre a
satisfação de morar no bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Quando comparados com os resultados das mulheres, os valores
(numericamente falando) são muito similares, sendo que 62% responderam que são
felizes contra 25% respondendo que são infelizes. Os homens se consideram mais
felizes do que as mulheres (Figura 5.2.8).
Figura 5.2.8 – Respostas sobre percentual de felicidade divididas por sexo no bairro
Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Correlacionando-se os moradores que responderam sim para a questão
“Você está satisfeito com o local em que vive” (Q67) com o nível de escolaridade,
por meio da questão “Escolaridade” (Q70), conforme apresentado na Figura 5.2.9,
10%
66%
27%
4%
3%
Felizes
Mais ou menos
Não sabem
Infelizes
Homens
62%25%
9%
4%
Mulheres
Mulheres
H
o
men
s
36%
27%
27%
30%
34%
29%
7%
Satisfeitos
Insatisfeitos
Mais ou menos Não sabem
_________________________________________________________________
121
observa-se que, de certa forma, moradores com maiores níveis de escolaridade
respondem que estão mais satisfeitos com o bairro, se comparados com aqueles
analfabetos.
Figura 5.2.9 – Correlações entre percentual dos moradores que estão satisfeitos
com o local em que vivem (Q67) com escolaridade (Q70) para o
bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Em contrapartida analisando-se aqueles que responderam que não estão
satisfeitos com o local em que vivem conforme Figura 5.2.10, verifica-se que
apresentam a distribuição dos dados muito semelhantes àqueles da Figura 5.2.9.
Entretanto, moradores com nível escolar básico (que somam 38% dos entrevistados),
estão mais satisfeitos com o bairro do que insatisfeitos.
0
5
10
15
20
Escolaridade
analfabetos
ensino
médio
básico
fundamental
(% dos moradores satisfeitos)
_________________________________________________________________
122
Figura 5.2.10 – Correlações entre percentual dos moradores que não estão
satisfeitos com o local em que vivem (Q67) e escolaridade (Q70)
para o bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Analisando-se os resultados da Figura 5.2.6, onde aproximadamente 63% dos
moradores responderam sim para a questão “Você é feliz” (Q66) e correlacionando-
se essa condição com o “Grau de escolaridade” (Q70) do APÊNDICE D, observa-se
que de 88% dos moradores em questão são alfabetizados. A Figura 5.2.11
apresenta – por grau de escolaridade e faixa etária - os moradores que responderam
que são felizes. Os números em parênteses indicam a idade média dos moradores
entrevistados, podendo ser observado que a média de idade diminui para faixas
mais avançadas de ensino.
0
5
10
15
20
analfabetos básico fundamental
ensino
médio
(% dos moradores insatisfeitos)
Escolaridade
_________________________________________________________________
123
Figura 5.2.11 – Correlação entre os moradores que responderam que são felizes
(Q66) e a idade média (Q69) para cada faixa de escolaridade (Q70),
no bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
A Figura 5.2.12 apresenta o resultado da questão (Q21) – APÊNDICE D –
sobre a quantidade de filhos. Dos 362 moradores entrevistados, 38% discordam
radicalmente que tenham poucos filhos, enquanto 24% concordam que deveriam ter
mais filhos. Observa-se que, daqueles que responderam que discordam que têm
poucos filhos, 83% são provenientes da região sul e sudeste do país. Enquanto, em
número proporcionalmente menor, aqueles moradores que admitem que têm poucos
filhos, 70% são provenientes da região sul e sudeste. Em síntese, verificou-se no
bairro Antenor Garcia, que os moradores provenientes da região nordeste do país
possuem mais filhos se comparados aos das regiões sul e sudeste.
(29 anos)
(30 anos)
(50 anos)
(40 anos)
0
20
40
60
80
100
Escolaridade
analfabeta básico
fundamental
ensino
médio
(% moradores felizes)
_________________________________________________________________
124
Figura 5.2.12 – Moradores do bairro Antenor Garcia que concordam e discordam
que tenham poucos filhos, agrupados por região de origem.
Org: o autor (2006)
5.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE ABORDAGENS ESTATÍSTICAS ADICIONAIS
Além das dificuldades inerentes aos dados experimentais, defrontou-se a
carência de ferramental computacional adequado para análise, podendo ser
exemplificado pela incapacidade do programa Microsoft Office Excel em processar
tabelas com mais de 6.500 linhas, uma vez que no atual trabalho, chegou-se a mais
de 20.000 respostas.
A fim de verificar o formato da distribuição dos dados foram elaborados
histogramas, os quais revelaram que os dados não seguiam a distribuição normal,
mas sim em forma de “U”, conforme Figura 5.3.1.
Outros
38%
Concordam
24%
Discordam
38%
61%
17%
22%
55%
15%
30%
SUDESTE
SU
L
NORDESTE
_________________________________________________________________
125
Figura 5.3.1 – Histograma representativo das respostas obtidas com a aplicação do
questionário no bairro Antenor Garcia. (MS – Muito Satisfeito; PS –
Parcialmente Satisfeito; SO – Sem Opinião; PI – Parcialmente
Insatisfeito; MI – Muito Insatisfeito)
Org: o autor (2006)
Mesmo procurando-se associar as repostas por meio das variáveis nominais
(sexo, idade, etc...), obteve-se o mesmo perfil em “U” indicando o processo de
obtenção de dados precisaria ser repensado de forma a não gerar padrões de
resposta.
Como as variáveis analisadas não possuíam distribuição normal, não foi
possível aplicar a análise de variância (ANOVA) para a comparação dessas
variáveis, uma vez que não existe sentido de cunho social para um valor médio das
respostas.
Embora a análise não paramétrica não dependa do tipo de distribuição
(podendo ser aplicada nesta pesquisa), observa-se que os resultados obtidos não
agregam nenhuma informação relevante, uma vez que apenas apresenta a
existência da relação entre as questões (variáveis), sem identificar seus
agrupamentos.
Dessa forma buscou-se outros métodos estatísticos para analisar a
quantidade de dados disponíveis no APÊNDICE D, procurando-se correlacionar
seus resultados com aqueles obtidos nos Capítulos 5.1 e 5.2. Dentre os métodos
MS
PS
SO
PI
MI
_________________________________________________________________
126
disponíveis optou-se por utilizar a correlação por meio da análise multivariada de
dados.
5.4. ANÁLISE MULTIVARIADA DOS DADOS (ANÁLISE FATORIAL)
Através do programa SPSS, conforme apresentado no Quadro 5.4.1, verifica-
se que o nível de intensidade (KMO) da relação entre todas as 56 variáveis (Quadro
5.1.2) foi de aproximadamente 0,6, considerado uma intensidade satisfatória (BORIN,
2006; HAIR, Jr. et al., 2005) para análise de aspectos de âmbito social, e indicando
que os dados originais são consistentes e permitem estabelecer a adequação da
análise fatorial ao conjunto de dados.
O teste de esfericidade de Bartlett (BTS) apresentou um valor elevado
monstrando-se significativo a 5% (p< 0,05), desta forma é improvável que a matriz
de correlação seja uma identidade, isto é, comprovando-se que as variáveis não são
correlacionadas, rejeitando-se deste modo a hipótese nula do teste. Sendo assim os
testes realizados permitem concluir que o conjunto de dados utilizado é adequado
ao emprego da análise fatorial.
Quadro 5.4.1 – Teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Teste de Esfericidade de
Bartlett (BTS).
Medida de adequação da amostra
Kaiser-Meyer-Olkin.
0,580
Chi-quadrado
aproximado
2777,521
Grau de
liberdade
1540
Teste de esfericidade
de Bartlett
p-valor ,000
Org: o autor (2006)
A proposta da aplicação da análise fatorial exploratória no conjunto das 56
questões foi descobrir quais eram as possíveis raízes latentes que sintetizavam os
anseios dos moradores do bairro Antenor Garcia, partindo-se do grupo de questões
definidas. Mesmo não havendo nenhuma dimensão se sobressaindo (Quadro 5.4.2),
_________________________________________________________________
127
é convencionado que autovalores maiores que 1 constituam dimensões importantes
(FERREIRA, Jr, 2004).
Quadro 5.4.2 – Autovalores e porcentagem da variância total explicada pelos fatores
identificados na análise fatorial
Dimensão Autovalor
Variância explicada
pelo fator (%) Variância acumulada (%)
1
3,38 6,03 6,03
2
2,82 5,04 11,07
3
2,15 3,83 14,91
4
1,83 3,26
18,17
5
1,80 3,21 21,38
6
1,65 2,94 24,32
7
1,62 2,90 27,21
8
1,55 2,77 29,98
9
1,53 2,74 32,72
10
1,46 2,61 35,33
11
1,41 2,53 37,86
12
1,37 2,44 40,30
13
1,33 2,37 42,66
14
1,28 2,28 44,94
15
1,22 2,18 47,12
16
1,18 2,11 49,23
17
1,16 2,07 51,30
18
1,14 2,04 53,34
19
1,11 1,98 55,31
20
1,05 1,88 57,19
21
1,03 1,83 59,03
22
1,00 1,79 60,82
Org: o autor (2006)
Apesar de verificar-se que seriam necessárias 22 dimensões para o processo
de classificação de todas as respostas (56), e tendo em vista que inexiste um modo
de estabelecer o número de fatores principais que devam ser extraídos, com base
na Figura 5.4.1: optou-se por analisar aquelas questões que melhor se associavam
às 4 primeiras dimensões (fatores), uma vez que a partir da quarta dimensão a
variação explicada pelo acréscimo de cada novo fator é muito pequena, e as
respostas passam a não apresentar uma diferenciação clara. Observa-se no Quadro
5.4.2 que o conjunto dos quatro fatores explica apenas 18,17% da variância total das
variáveis analisadas.
_________________________________________________________________
128
Figura 5.4.1 – Autovalores (Eigenvalues) para os questionários aplicados no bairro
Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Por meio do método de Rotação Varimax (HOFFMANN, 1999), maximizou-se
os valores da associação das variáveis com suas respectivas dimensões. No
Quadro 5.4.3 estão apresentadas as cargas fatoriais, ou os coeficientes de
correlação entre os fatores e cada uma das 22 variáveis, e suas respectivas
comunalidades para as quatro dimensões consideradas. Para melhor interpretação,
as cargas fatoriais com valores superiores a 0,600 encontram-se em negrito, valores
estes arbitrados como expressão de forte associação entre o fator e o indicador.
Os valores encontrados para as comunalidades, que demonstram a
capacidade explicativa conjunta dos quatro fatores em relação a cada questão,
mostram que, praticamente, todas as questões têm a sua variabilidade
significativamente captada e representada pelos fatores. Apesar das questões Q23 e
Q22, apresentarem comunalidades inferior ou próximo de 50%, ambas estão forte e
positivamente associadas ao segundo fator (F2), resultado que vai de encontro às
expectativas deste trabalho.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
0 2 4 6 8 101214161820222426283032343638404244464850525456
Fatores (ad.)
Autovalores (ad.)
_________________________________________________________________
129
Quadro 5.4.3 – Matriz de componentes rotacionada para todas as questões.
Matriz de Componentes Rotacionada
Dimensões (Fatores)
F1 F2 F3 F4 Comunalidades
Q50 1,22187
0,24458 0,27347 0,11623 0,75763
Q52 1,14537
-0,03713 0,20910 0,04583 0,69816
Q51 0,93378
-0,10480 -0,12975 -0,00760 0,59092
Q61 0,48694 0,20377 0,15459 0,12155 0,48277
Q7 0,37410 0,10181 0,02841 0,19771 0,30574
Q39 -0,22969 -0,08245 0,12756 0,01955 0,21344
Q24
0,01797
1,08977
0,16666 -0,07714 0,65760
Q29
0,10385
0,97448
-0,02945 0,28444 0,63106
Q23
-0,04513
0,66603
0,05195 0,17444 0,40349
Q22
0,22856
0,68415
-0,09149 0,44980 0,52102
Q64 0,16461 0,43071 -0,04470 0,00243 0,31266
Q34
-0,08965 0,07971
1,12969
-0,01947 0,66406
Q33
0,22648 0,01186
1,12962
-0,11797 0,67330
Q36
-0,00307 0,10273
0,85842 0,55237
0,65665
Q19 0,20922 0,23414 0,37493 -0,09743 0,28651
Q20
0,06210 0,23894 -0,02490
1,47876
0,80468
Q26
0,11059 0,11950 0,01417
1,16515
0,68411
Q53 0,27128 0,14958 0,34197 0,02726 0,67281
Q57 0,14632 0,09609 0,09883 -0,08950 0,37867
Q43 -0,01030 0,03001 -0,03108 0,00436 0,29344
Q63 -0,16302 -0,06516 0,06301 0,11718 0,29267
Q49 0,21421 0,03510 -0,15404 0,05404 0,59231
Q3 0,06394 0,01830 0,31576 0,39556 0,52440
Q2 -0,01266 -0,00887 0,04469 -0,00581 0,10032
Q17 0,01454 -0,01962 -0,08138 0,01929 0,79459
Q44 0,09075 -0,02633 0,13874 0,06128 0,39737
Q15 -0,37384 -0,01397 -0,03062 0,00374 0,55526
Q41 -0,11924 0,08787 0,09030 0,07668 0,82677
Q42 0,06550 0,01174 -0,23021 0,14024 0,45814
Q45 0,06317 0,21126 0,12199 -0,17357 0,46957
Q56 0,20226 0,03345 -0,09054 -0,10139 0,76224
Q55 -0,00339 -0,04989 0,33634 0,11867 0,70635
Q27 0,24587 -0,20365 0,17139 -0,45357 0,64817
Q11 -0,04136 0,01602 0,03937 -0,01144 0,31023
Q4 0,41521 0,32414 0,01657 -0,14264 0,63454
Q6 0,00595 0,03966 0,02421 0,01014 0,15546
Q13 0,08318 -0,02831 0,07865 0,20939 0,78360
Q16 -0,06514 -0,00903 0,09282 0,19600 0,86257
Q9 -0,13915 -0,10658 0,06447 -0,03615 0,74637
Q62 0,01935 0,18231 0,12030 0,09676 0,37724
Q35 0,06684 0,12562 -0,06650 -0,01572 0,78236
Q59 -0,49794 -0,13220 0,13024 0,05260 0,57105
Q28 0,09468 -0,18680 0,11133 -0,15191 0,78036
_________________________________________________________________
130
Matriz de Componentes Rotacionada – cont.
Dimensões (Fatores) cont.
F1 F2 F3 F4 Comunalidades
Q37 -0,02290 -0,42817 0,03834 -0,03120 0,49358
Q40 0,01346 -0,05202 0,05933 0,03426 0,84377
Q54 0,00819 0,16423 0,03764 -0,08011 0,29056
Q30 0,12234 0,03938 -0,13735 -0,17348 0,80602
Q60 -0,15262 -0,00935 -0,13614 0,20193 0,81881
Q18 0,22339 0,01741 0,03456 0,13357 0,89422
Q14 0,03206 -0,27717 0,03570 -0,01479 0,34430
Q47 -0,01798 -0,09365 0,00290 -0,13999 0,83032
Q48 0,02412 0,16362 -0,13806 -0,11433 0,81169
Q25 0,12560 0,05673 0,02745 0,12651 0,88776
Q5 0,02046 -0,02421 -0,02194 0,00441 0,93183
Q31 -0,00023 0,02468 -0,03844 0,04813 0,87452
Q46 0,01487 0,17280 0,01185 -0,02878 0,92829
Programa SPSS. Método de Extração: Análise de Componentes Principais. Método de
Rotação: VARIMAX com Normalização Kayser. Rotação convergiu após 20 interações.
Org: o autor (2006)
A análise fatorial revelou quatro grupos de questões afetas à: SEGURANÇA;
SAÚDE e EDUCAÇÃO, listados abaixo:
O primeiro fator (F1) encontra-se forte e positivamente correlacionado com as
questões Q50; Q52 e Q51:
Q50 A minha sensação como morador do bairro é que estamos num
lugar seguro;
Q52 Os “bandidos” que moram no Antenor Garcia são tão poderosos
que fazem com que os moradores mudem para outro lugar;
Q51 Os programas de rádio exageram quando comentam que o bairro
Antenor Garcia é o mais violento da região do Araci;
Todas as questões estão relacionadas ao aspecto da segurança do bairro,
sendo assim observa-se que o fator (F1) traduz como aspecto de maior importância
na correlação com o Grau de Satisfação dos moradores do bairro Antenor Garcia a
SEGURANÇA no bairro.
O segundo fator (F2) associa-se forte e positivamente com as questões Q24;
Q29; Q22 e Q23, que expressam o Grau de Satisfação com relação à variável
SAÚDE dos moradores do bairro Antenor Garcia:
_________________________________________________________________
131
Q24 Os remédios que os médicos receitam são conseguidos de graça
na farmácia postinho de Saúde da Rua 4, resolve bem a maioria
dos problemas do posto de saúde;
Q29 – O médico do de saúde da minha família;
Q22 Toda vez que precisou de médico foi possível ser atendido
rapidamente no posto de saúde da Aracy, pois tinha médico de
plantão;
Q23 Toda vez que foi atendida no posto de saúde da Aracy os
funcionários foram simpáticos e educados;
O fator (F3) apresenta correlação positiva e forte com as questões Q34;
Q33 e Q36, podendo ser interpretado como o fator EDUCAÇÃO representando o
terceiro aspecto em nível de preocupação na medida do Grau de Satisfação dos
moradores do bairro Antenor Garcia:
Q34 O ensino no Antenor é “mais fraco” porque as aulas não são bem
dadas e não motivam nossos filhos a aprender;
Q33 O ensino no Antenor é “mais fraco” porque os diretores e
professores têm medo da atitude dos alunos e são menos
enérgicos;
Q36 As escolas do lugar de onde você veio são melhores que as daqui
do Antenor, as crianças saiam mais bem preparadas;
E por fim o fator (F4), segundo a interpretação realizada com base nos
coeficientes de correlação entre o fator (F) e cada questão, está representado pelas
questões: Q20; Q26 e Q36, uma vez que essas questões se correlacionam positiva
e fortemente. Dessa forma observa-se novamente que aspectos afetos à SAÚDE e
EDUCAÇÃO estão presentes também num quarto nível de prioridade quando da
verificação do Grau de Satisfação dos moradores do bairro Antenor Garcia:
Q20 – Os agentes de saúde tornam mais rápido o atendimento médico;
Q26 – Todos na família vão ao dentista uma vez por ano;
_________________________________________________________________
132
Q36 As escolas do lugar de onde você veio são melhores que as daqui
do Antenor, as crianças saiam mais bem preparadas;
Salienta-se que, apesar da aparente incongruência entre as questões
pertinentes à SAÚDE (Q20 e Q26) com a questão (Q36) afeta à EDUCAÇÃO,
observa-se que o que está se analisando são as possíveis associações entre as
respostas dos moradores, e não seus temas correlatos.
Sendo assim, foi possível verificar quais questões estão associadas entre si,
isto é, aquela questão que satisfaz a um morador e também satisfaz ao grupo dos
três (F1, F3, F4) ou quatro (F1, F3, F4, e F2) respondentes.
Apesar de a análise fatorial mostrar que os principais fatores que traduzem o
Grau de Satisfação dos moradores do bairro Antenor Garcia sejam, (nessa ordem)
SEGURANÇA, SAÚDE e EDUCAÇÃO, ressalta-se que, devido à pequena aderência
obtida (18,17% da variância total explicada para os quatro fatores/dimensões
analisados) – Quadro 5.4.2, julga-se prudente aliar a essa metodologia a análise
realizada nos Capítulos 5.1 e 5.2.
_________________________________________________________________
133
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Espaço urbano, moradores, valores ambientais e gestão são os quatro fatores
que podem ser utilizados na interpretação deste trabalho. A análise conjunta e em
profundidade dos mesmos permite definir o Grau de Satisfação de populações
quanto aos aspectos de infra-estrutura urbana.
As informações quantitativas das estatísticas nacionais e internacionais sobre
as variáveis que definem o desenvolvimento humano – apesar de serem úteis como
estabelecimento de “medidas de ponto de partida” para definição de prioridades –
não mostram de forma explícita se as pessoas estão satisfeitas ou insatisfeitas com
a infra-estrutura e os equipamentos urbanos disponibilizados para as mesmas. De
modo geral, essas variáveis não são percebidas pela comunidade com relação aos
aspectos que envolvam o planejamento do ambiente urbano, principalmente quando
se trata de uma comunidade periférica carente, criando, inclusive, em algumas
situações, falsas expectativas daquilo que poderia ser modificado, no curto e médio
prazos.
Com a aplicação da proposta metodológica apresentada neste trabalho foi
possível verificar a percepção dos moradores por meio da análise do Grau de
Satisfação dos mesmos quanto às condições de infra-estrutura urbana do bairro em
que vivem.
A metodologia apresentada neste trabalho pretende sensibilizar os órgãos
governamentais para se criar instrumentos adequados para elaboração,
detalhamento e aferição de variáveis mais detalhadas que correlacionem a
qualidade de vida – como por exemplo na forma de um Grau de Satisfação – das
comunidades que usufruem dos serviços públicos:
Infelizmente mudanças levam tempo para ocorrer. Mudanças na forma de
perceber, bem como novas maneiras de entender e de agir, também
requerem tempo para se desenvolver. Competências, também necessitam
de tempo para se desenvolver, mudanças no seio das comunidades
necessitam de apoio dos vários níveis de governo, do setor privado local e
das corporações globais. (DUHL; HANCOCK, 1999).
_________________________________________________________________
134
Os resultados deste trabalho permitiram demonstrar que a implantação e a
condição de infra-estrutura urbana não é apenas uma simples questão de água,
esgoto, drenagem pluvial, habitação, energia elétrica, sistema viário, tratamento de
resíduos sólidos (lixo), transporte coletivo, comunicação, aspectos de saúde,
segurança e lazer; é tudo isto e mais a percepção de seus moradores a respeito da
condição desses serviços.
Desta forma pode ser constatado que este desafio não se responde com leis,
mas sim por meio do engajamento de um maior número de participantes locais (e
não, apenas, pesquisadores, ou órgãos públicos), num processo abrangente de
reflexão das reais causas da organização social relacionadas à noção de vida
comunitária e espaço habitado. Pesquisas avaliativas locais, de cunho perceptivo,
regularmente são capazes de flagrar os anseios dos moradores de bairros,
possibilitando analisar os problemas físicos e estruturais do desenho urbano. A
análise desses aspectos pode gerar conhecimento para sustentar e aprimorar
processos e vetorizar a intervenção pública.
Nessa ótica, a implementação da metodologia de avaliação participativa
apresentada neste trabalho pode favorecer a aglutinação crítica da sociedade, uma
vez que o processo avaliativo não se restringiu meramente a um exercício científico,
mas sim, buscou possibilidades de replicar experiências bem sucedidas, procurando
detectar, principalmente “porque um determinado projeto urbano colabora para
aumentar ou diminuir o Grau de Satisfação com relação a um bairro”.
A metodologia aplicada partindo de uma única questão: “O que te agrada e
incomoda no bairro em que vive?”, se mostrou bastante promissora para a obtenção
das Variáveis que contemplam a infra-estrutura urbana do bairro Antenor Garcia de
São Carlos, percebidas pelos seus moradores.
As Variáveis identificadas para a definição do Grau de Satisfação dos
moradores do bairro Antenor Garcia: SAÚDE, SOCIAL, EDUCAÇÃO E LAZER,
SEGURANÇA, HABITAÇÃO E AMBIENTE e TRANSPORTES (nesse gradiente),
são regularmente relatadas na bibliografia como integrantes de Indicadores de
Qualidade de Vida Urbana. Apenas a Variável SAÚDE, apesar de pequena
intensidade, se mostrou gerando maior Grau de Satisfação para os moradores do
bairro Antenor Garcia. Por outro lado, as Variáveis restantes resultaram em
insatisfação na análise das questões que as compõem, sendo que a Variável
_________________________________________________________________
135
TRANSPORTES foi aquela que gerou menor Grau de Satisfação entre os
moradores.
Como resultado prático observa-se que os moradores do bairro Antenor
Garcia não estão satisfeitos com os serviços públicos proporcionados aos mesmos.
Caso a Prefeitura Municipal de São Carlos tenha interesse em aumentar o Grau de
Satisfação dos moradores, poderia investir em melhorias na qualidade do transporte
público. Para o morador do bairro, a Variável TRANSPORTE foi definida por meio de
sete questões, onde o “Tempo de viagem” (Q43) foi a que gerou menor Grau de
Satisfação.
A análise fatorial efetuada com as 56 questões pertinentes a todas as
Variáveis, buscando associação entre as respostas, indicou que dentre os aspectos
de maior importância na definição do Grau de Satisfação para os moradores do
bairro Antenor Garcia estão (nessa ordem de importância) as Variáveis
SEGURANÇA, SAÚDE e EDUCAÇÃO.
Utilizando-se a premissa da regularidade entre intervalos, isto é, tratando-se
os dados numa escala intervalar (PEREIRA, 2001), foi constatado que o morador do
Bairro Antenor Garcia está
não está satisfeito com as condições do bairro em que
vivem. Cerca de 42% dos moradores se mostraram “Parcialmente a Muito
Insatisfeitos”; 39% estão “Muito a Parcialmente Satisfeitos” com os aspectos
abordados pelas Variáveis, enquanto que 9% dos moradores optaram por não
opinar (Quadro 6.1).
Quadro 6.1 – Seqüência de edição de medida de Grau de Satisfação em relação aos
Indicadores do Bairro Antenor Garcia.
Org: o autor (2006)
Pesos Freqüência
Muito Satisfeito (MS) 6545 32,29% 1
Parcialmente Satisfeito (PS) 2280 11,25% 0,5
MS a PS = 38,53%
Sem Opinião (SO) 1806 8,91%
Parcialmente Insatisfeito (PI) 2350 11,59% 0,5
Muito Insatisfeito (MI) 7289 35,95% 1
PI a MI = 41,75
Total 20270
_________________________________________________________________
136
A pesquisa trilhou os caminhos desejados, alcançando seus objetivos. Com
base na contextualização do município de São Carlos e do seu processo de
ocupação urbana, focou principalmente o grupo do estudo de caso - moradores do
bairro Antenor Garcia e suas interações com o município. Executou as etapas
metodológicas preconizadas para aplicação de questionários embasados em
autores específicos e na análise dos resultados. Por fim, executou três
procedimentos para correlacionar os dados obtidos e extrair resultados finais para o
GRAU DE SATISFAÇÃO.
_________________________________________________________________
137
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8. APÊNDICES
APÊNDICE A – Resumo dos aspectos que agradam e incomodam os
moradores do bairro Antenor Garcia subdivididos em
seis variáveis........................................................................145
APÊNDICE B – Questionário abrangente para classificação das
Variáveis do Grau de Satisfação no bairro Antenor
Garcia em São Carlos ..........................................................148
APÊNDICE C – Lotes amostrados subdivididos por sexo no bairro
Antenor Garcia .....................................................................156
APÊNDICE D TABELA Completa com todas as respostas dos
moradores do bairro Antenor Garcia .................................157
_________________________________________________________________
145
APÊNDICE A – RESUMO DOS ASPECTOS QUE AGRADAM E INCOMODAM OS
MORADORES DO BAIRRO ANTENOR GARCIA SUBDIVIDIDOS
EM SEIS VARIÁVEIS
(Entre parênteses número de respondentes)
HABITAÇÃO E AMBIENTE
Agrada: (25) Iluminação do bairro;
(8) Coleta de lixo freqüente;
(2) Possibilidade de compra de terreno barato;
(2) Ar mais puro que outros bairros;
(1) Arborização de rua; Escola próxima a área verde; Temperatura
mais amena; Visão privilegiada da planície; Arborização defronte
minha casa; A casa é minha.
Incomoda: (10) Muito mato nos terrenos;
(6) Quarteirões compridos
(4) Lixo em terreno baldio (ratos e moscas);
(3) Animais soltos com sarna; Hábito de queimar o lixo (mesmo tendo
coleta);
(3) Cheiro de esgoto;
(2) Esgoto à céu aberto na serra;
(2) Água pluvial clandestina na rede de esgoto
(2) Desleixo com as calçadas;
(1) Ricos trazem animais para morrerem no Antenor Garcia; Mata
usada como esconderijo de bandidos; Muito pernilongo; Falta
pulverização contra dengue; Faltam árvores frutíferas nas ruas,
Falta coleta seletiva no Bairro do Antenor Garcia; Água parada
devido projeto de vias mal feito; São-carlense não cuida do meio
ambiente; Lixão à céu aberto; Erosões e assoreamentos.
SAÚDE
Agrada: (3) Existe posto de saúde mesmo distante;
(2) Ótimos médicos
(1) Agente de saúde familiar
Incomoda: (4) Posto de saúde precário;
(3) Funcionários da P.M. poucos e péssimo atendimento;
(3) Difícil agendar consulta com urgência;
(2) Poucos médicos;
(2) Faltam remédios;
(1) Falta farmácia no bairro Antenor Garcia; Faltam dentistas grátis;
Muitos filhos por família; Erros nos diagnósticos médicos; Falta
banco de sangue no posto de saúde;
_________________________________________________________________
146
EDUCAÇÃO E LAZER
Agrada: (2) Alfabetização para a terceira idade;
(2) Ótima educação pois muita comida;
(1) Existência de muitas escolas (quis dizer vagas); Pessoas mais
velhas são mais educadas que os jovens.
(1) Campo de Futebol; Festas familiares; Calçada é distração.
Incomoda: (10) Falta praça e área de lazer;
(7) Difícil vaga no primeiro grau;
(2) Falta escola do segundo grau no Antenor Garcia;
(2) Campo de futebol sempre trancado;
(2) Falta educação e cultura para o povo;
(2) Escolas da Antenor Garcia são de nível inferior;
(1) Escolas do centro da cidade de São Carlos possuem diretores mais
rígidos; A direção tem medo dos alunos; Falta escola para a terceira
idade; São-carlense é mal educado; O povo de São Carlos é mal
educado se comparado ao Paranaense; Falta escola
profissionalizante no Antenor Garcia.
(1) Locais de forró inseguros; calçadas ocupadas por mesas de bares;
Faltam atividades orientadas para crianças e jovens;
Relacionamento superficial entre vizinhança.
TRANSPORTES
Agrada: (1) Asfalto em frente de casa
Incomoda: (5) Poucos ônibus
(5) Buracos nas vias/falta manutenção
(4) Faltam outros acessos ao bairro asfaltado
(4) Bairro muito longe
(3) Percurso do ônibus incorreto
(1) Implantação lombadas para diminuir velocidade; Veículos alta
velocidade; Falta terminal transbordo gratuito; Adaptar ônibus para
deficiente físico; Transporte muito caro; Qualidade dos ônibus.
SEGURANÇA
Agrada: (12) Boa vizinhança;
(11) Sossegado;
(5) Sentimento de segurança;
(1) Nunca fui assaltado; Antenor Garcia é mais seguro que o Bairro
Presidente Collor.
Incomoda: (6) Falta policiamento nas ruas;
(4) Falta segurança no Antenor Garcia;
(4) Medo da violência;
(3) Falta posto policial no Antenor Garcia;
(2) Bairro Antenor Garcia é mais perigoso que Água Vermelha – é
bairro dormitório de bandidos;
_________________________________________________________________
147
(2) Falta cultura familiar para com os adolescentes;
(1) Mídia mostra um bairro inseguro; Já fui assaltado; Barulhos e brigas
em bares; Lei do silêncio ou morte; Poucos apitos de guarda à noite;
Prostituição de crianças; Venda de segurança – quem pode paga;
Muitos bandidos nos bairros Antenor e Collor; Ponto de venda de
drogas; Falta casa de recuperação de drogados; Prostituição, álcool
e drogas entre bóias-frias.
SOCIAL
Agrada: (2) A existência de igrejas;
(2) A existência de creches
(2) Bem servido de comércio;
(2) Bom para vendas;
(1) Força de vontade do cidadão humilde (construir sua casa em finais
de semana); Honestidade no pagamento da classe pobre
Incomoda: (8) Discriminação;
(7) Falta de emprego;
(7) Falta de dinheiro;
(7) Falta de indústria no bairro
(3) Tudo muito caro;
(2) Falta asfalto nas ruas periféricas;
(2) Falta fiscalização da P.M. na limpeza pública;
(2) Excesso de terrenos baldios (necessário adensar);
(2) Faltam creches;
(1) Precariedade da rede de esgoto nas periferias do bairro
(vazamento e entupimento); Moradores não pagam associação do
bairro; Pouca água que é cortada aos domingos; Muitas crianças
por família; Poucos funcionários no Banco do Brasil da Cidade
Aracy; Excesso de paranaenses e baianos no bairro; Distante do
centro da cidade (onde os produtos são mais baratos); Falta
investimento no bairro; Muitos bares; Falta investimento em
comércio.
_________________________________________________________________
148
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO ABRANGENTE PARA CLASSIFICAÇÃO DAS
VARIÁVEIS DO GRAU DE SATISFAÇÃO NO BAIRRO
ANTENOR GARCIA EM SÃO CARLOS1
Este questionário é parte da pesquisa que está sendo desenvolvida no Programa de
Pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar. Todas as perguntas
se originaram dos comentários de 174 moradores, sobre o que lhes agradava e
incomodava no Bairro Antenor Garcia. Para responder a este questionário, após ler
a pergunta, o respondente deverá dizer sua “opinião” por meio das seguintes
afirmações: Discordo totalmente; Discordo parcialmente; Sem opinião; Concordo
parcialmente ou Concordo totalmente. Atentar para a ordem de algumas perguntas,
bem como questões que requerem outro critério para respostas.
HABITAÇÃO E AMBIENTE
1. Essa casa é:
2. O aluguel que os vizinhos pagam é barato, então não precisa comprar terreno e
nem construir casa;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
3. O mutirão não funciona mesmo porque as pessoas não ajudaram a construir as
casas do Antenor como deveriam;
4. A melhor solução para melhorar as condições da sua casa é mudar de rua ou
mudar de bairro;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
5. Casa com laje é mais moderna, mas dá um desconforto de calor que ninguém
agüenta;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
1
Indicadores temáticos obtidos através de levantamento exploratório sobre aspectos que agradam e
incomodam no ambiente comunitário.
Própria Alugada Emprestada Ocupada
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
_________________________________________________________________
149
6. Às vezes é melhor morar de aluguel numa casa boa, grande, bem baratinha, do
que numa casa simples da gente;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
7. As ruas do Antenor são bem iluminadas;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
8. Os moradores queimam constantemente o lixo;
( ) Lixeiro não é regular; ( )É costume; ( ) Nem pensa no que está fazendo;
( ) Outro______________________________________
9. Se pudesse mudaria a posição das ruas e o tamanho dos lotes;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
10. Tem gente que disse que o bairro não tem indústria ou serviço de emprego bom
porque as pessoas têm pouco estudo na escola;
11. O mato que cresce nos terrenos baldios contribui para diminuir o calor;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
12. É melhor ter uma praça com bastante árvores a uns 200 metros do que mais
árvores nas ruas;
13. A mata perto do Córrego da Água Quente contribui para melhorar todos os
aspectos do bairro;
14. O morador do Antenor cuida dos seus animais, inclusive os que estão soltos e
vieram do centro da cidade;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Sem
opinião
Discordo
parcialmente
Discordo
totalmente
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Sem
opinião
Discordo
parcialmente
Discordo
totalmente
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
Aqueles
que não
percebem
a mata
_________________________________________________________________
150
15. Já me acostumei com o esgoto correndo nas ruas em alguns lugares;
16. Já que a mata ao lado dos córregos do Antenor é usada como esconderijo de
bandidos, é melhor cortá-la;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
17. A tubulação de esgoto da rua é bem grande, portanto pode-se jogar a água de
chuva no esgoto;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
18. Não adianta montar um grupo para coleta seletiva no Antenor, quem quiser que
leve o material para o lixão;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
19. O morador do Antenor Garcia não cuida do meio-ambiente;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
SAÚDE
20. As agentes de saúde tornam mais rápido o atendimento médico;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
21. Você tem poucos filhos ( )
22. Toda vez que precisou de médico foi possível ser atendido rapidamente no posto
de saúde da Aracy, pois tinha médico de plantão;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
23. Toda vez que foi atendido no posto de saúde da Aracy, os funcionários foram
simpáticos e educados;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Sem
opinião
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Nunca viu
Aqueles
que não
percebem
a mata
_________________________________________________________________
151
24. Os remédios que os médicos receitam são conseguidos de graça na farmácia do
posto de saúde;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
25. Todos na família vão ao dentista uma vez por ano;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
26. O acompanhamento dos agentes de saúde junto a família ajudam a reduzir o
número de adolescentes grávidas;
27. Não há necessidade de falar sobre gravidez indesejada, preservativo, doença
sexual ou AIDS com meus filhos pois a escola faz isso;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
28. A minha saúde depende mais de atendimento médico, exames e remédios do
que de boa alimentação, exercícios físicos, casa com água encanada e esgoto;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
29. O médico do postinho de saúde da Rua 4, resolve bem a maioria dos problemas
de saúde da minha família;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
30. Toda vez que tenho um problema de saúde vou ao Pronto Socorro;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
EDUCAÇÃO E LAZER
31. Agora está mais fácil vaga na escola;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
32. O ensino no bairro Antenor é “mais fraco”, por que eles dão muita liberdade, do
que nas escolas que tem o ensino “mais puxado”;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
Concordo
totalmente
Concordo
parcialmente
Sem
opinião
Discordo
parcialmente
Discordo
totalmente
_________________________________________________________________
152
33. O ensino no bairro Antenor é “mais fraco” porque os diretores e professores têm
medo da atitude dos alunos e são menos enérgicos;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
34. O ensino no Antenor é “mais fraco” porque as aulas não são bem dadas e não
motivam nossos filhos a aprender;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
35. O mais importante na escola é a comida que dão para nossos filhos;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
36. As escolas do lugar de onde você veio são melhores que as daqui do Antenor,
as crianças saiam mais bem preparadas;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
37. De escola o Antenor já está bem servido, mas não há creches para as mães
trabalhadoras deixarem seus filhos;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
TRANSPORTES
“Comentário se o(a) morador(a) vai regularmente ao centro da cidade.”
38. Qual o maneira que você utiliza para ir ao centro da cidade ou para o trabalho?
A pé Bicicleta Carroça Carro Ônibus
39. Não há necessidade de asfaltar outras ruas de acesso que passam pelo Bairro
Antenor Garcia, assim o bairro fica mais calmo;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
40. Dos lugares onde costuma ir todo dia, sua casa ou o Bairro Antenor é;
MI Muito
longe
PI Mais ou
menos longe
Sem
opinião
PS Mais ou
menos perto
MS Muito
perto
41. O sistema de transporte coletivo melhorou com o passar do tempo principalmente
porque aumentou a quantidade de ônibus no horário de “pico”;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
Mesmo
jeito
Analfabeta
_________________________________________________________________
153
42. O sistema de transportes coletivo piorou por causa dos tipos de caminhos que os
ônibus estão fazendo;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
43. Deveriam tirar todas as lombadas e os ônibus deveriam correr mais para chegar
mais rápido nos lugares;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
44. Ficou mais fácil subir nos ônibus e são mais confortáveis;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
45. A qualidade melhorou e o preço do transporte é baixo;
EDUCAÇÃO E LAZER
46. Melhor que assistir televisão é se distrair conversando com a vizinhança na
calçada, mesmo na hora do jogo e da novela;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
47. Não precisa construir equipamentos de lazer (praça ou parque) porque é melhor
ir para a igreja;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
48. Meus filhos teriam uma educação melhor que eu poderia dar se permanecessem
nos equipamentos de lazer e recreação, aqui no bairro, fora do período da aula;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
49. É besteira gastar com outro tipo de lazer, pois já temos televisão em casa;
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
_________________________________________________________________
154
SEGURANÇA
50. A minha sensação como morador do bairro é que estamos num lugar seguro;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
51. Os programas de rádio exageram quando comentam que o bairro Antenor Garcia
é o mais violento da região do Aracy;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
52. Os “bandidos” que moram no Antenor Garcia são tão poderosos que fazem com
que os moradores mudem para outro lugar;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
53. Não adianta posto policial, pois os “bandidos” que dormem aqui são mais
espertos que a polícia;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
54. Existem vários casos de adultério, prostituição e uso de drogas entre os bóias-
frias (laranja, cana, frango);
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
55. Os pais e mães dos adolescentes do Bairro do Antenor são culpados pelos seus
filhos virarem bandidos porque nunca conversaram com eles e deram pouca
atenção e amor;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
56. Os pais e mães dos adolescentes do Bairro do Antenor são culpados pelos seus
filhos virarem bandidos porque a maioria é bandida também;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
SOCIAL
57. É bom que tenha muitos bares no Antenor Garcia pois tudo é mais barato;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
58. Roupa e comida do mês são compradas no centro da cidade;
Sim Só comida Não sei Só roupa Não/cesta
Desconhece
assunto
_________________________________________________________________
155
59. A solução contra a discriminação é mudar de bairro;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
60. Deveriam ser construídas mais igrejas no Antenor, de diversas religiões;
MS Discordo
totalmente
PS Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Concordo
parcialmente
MI Concordo
totalmente
61. Acho que a prefeitura agora vai ajudar a encontrar emprego;
MI Concordo
totalmente
PI Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Discordo
parcialmente
MS Discordo
totalmente
62. Religião_____________. Acho que Deus agora vai ajudar a encontrar emprego;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
63. Não precisa de oportunidade de trabalho para todos porque os programas sociais
já dão o que as pessoas precisam. (Exemplifique com duas famílias com mesmo
número de filhos, porém apenas uma recebendo benefícios);
MS Concordo
totalmente
PS Concordo
parcialmente
Sem
opinião
PI Discordo
parcialmente
MI Discordo
totalmente
64. Todos os problemas do Antenor (inclusive familiar) acabariam se o povo daqui
estivesse trabalhando;
MI Discordo
totalmente
PI Discordo
parcialmente
Sem
opinião
PS Concordo
parcialmente
MS Concordo
totalmente
65. O que você acha que a cidade pensa de você?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_______________________________________________________
66. Você é feliz?
67. Você está satisfeito com o local em que vive?
68. Nome________________________________________________________
Rua:_____________________________________________Número_________
69. Idade________________________________________________________
70. Escolaridade__________________________________________________
71. Sexo_________________________________________________________
72. Cidade de Nascimento_________________________73. Estado_________
74. Há quantos anos mora no Antenor Garcia____________________________
75. Número de Filhos_______________________________________________
76. Religião_______________________________________________________
Está empregado_____________Qual a renda____________________________
Caso não responda, refazer a pergunta:
“O que gostaria que a cidade pensasse...”
Optativa
___________________________________________________________________________________________________
156
APÊNDICE C – LOTES AMOSTRADOS SUBDIVIDIDOS POR SEXO NO BAIRRO ANTENOR GARCIA
Org: o autor (2006).
N
Lotes
Feminino
Masculino
Sem dados
(
metros
)
600
300
0
300
_________________________________________________________________
157
APÊNDICE D – TABELA COMPLETA COM TODAS AS RESPOSTAS DOS
MORADORES DO BAIRRO ANTENOR GARCIA
_________________________________________________________________
158
9. ANEXOS
ANEXO A – SÍNTESE COMPARATIVA ENTRE INDICADORES
SOCIAIS URBANOS NOS ANOS 1990 ................................162
ANEXO B – DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA (A)
CONSIDERANDO-SE O TAMANHO DA POPULAÇÃO
MULTINOMINAL (N) COM 5 CATEGORIAS DE
RESPOSTAS (K=5)...............................................................163
159
METODOLOGIA
INDICADORES DO
MAPA DA EXCLUSÃO
SOCIAL DA CIDADE DE
SÃO PAULO (dez. 1994 a
nov. 1995)
INDICADORES
DO MAPA DA
POBREZA DE
CURITIBA (1997)
INDICADORES ÍNDICE
MUNICIPAL
(INSTITUTO POLIS)
(1995)
INDICADORES DO MAPA
DA EXCLUSÃO SOCIAL
(1996)
INDICADORES IQVU
Belo Horizonte (1996)
INDICADORES
IDH ONU/PNUD
(1999)
INDICADORES
QUALIDADE
DE VIDA
(Folha de São
Paulo)
(1999/2000)
AUTONOMIA
.Renda do chefe de
família
.Chefe de família abaixo
da linha da pobreza (até
2SM)
.Oferta de emprego
.Concentração de
indigência adulta
.Concentração de risco
infantil
.% de chefes
com renda até 2
SM
.Renda média
.Chefes com até 2 SM
.Faixa Renda do chefe de
família
.Chefe de família abaixo da
linha de pobreza (sem
rendimentos)
.Chefe da família na linha da
pobreza (até 2 SM)
.Oferta de
emprego .População de rua
.Cesta Básica:
Economia de compra
possível
.PIB per capita .Poder
aquisitivo
.Trabalho
QUALIDADE DE
VIDA
.Qualidade ambiental
(acesso precário a água
lixo e esgoto)
.Densidade habitacional
.Concentração de
população e moradias
precárias
.Garantia de moradia
.Conforto do domicílio
(dormitório e banheiro)
.Crescimento
verticalizado
.Acesso a serviços
básicos: creche,
educação infantil,
fundamental e UBS
.Tempo de deslocamento
.Saneamento
básico, esgoto e
lixo
.Domicílios sem
canalização
interna)
.Densidade
domiciliar
.Domicílios
precários:
subnormais e
improvisados
.Acesso inadequado:
água, lixo e esgoto
.Densidade dimiciliar
.Cômodos
.Domicílios com até 03
cômodos
.Matrículas em pré-
escola
.Leitos /mil habitantes
.Qualidade ambiental (acesso
precário à água, lixo, esgoto)
.Densidade habitacional
.Concentração de população
e de moradias precárias
.Garantia de moradia.
.Conforto domiciliar
(dorm/banh)
.Acesso a serviços básicos:
creche, educação infantil,
fundamental e UBS
.Crescimento verticalizado
.Tempo de deslocamento
.Limpeza Urbana
(coleta de lixo, varrição
e capina)
.Saneamento (água,
esgoto)
.Energia elétrica
(fornecimento
domiciliar e iluminação
pública)
.Conforto acústico
.Qualidade do ar
(transporte
coletivo) .Área verde
.Disponibilidade de
habitação (área
construída por
habitante, sujeita a
IPTU)
.Conforto habitacional
(dormitório)
.Equipamentos: assist.
social, culturais,
artísticos, esport.,
saúde, segurança, pré-
escola, 1º e 2º grau
.Transporte coletivo
(acessos e conforto
dos veículos)
.Área por habitante de
equipamentos de
abastecimento
.Transito
160
.Segurança
habitacional (grau de
predisposição ao risco
geológico)
.Telefonia (rede
telefônica)
.Serviços de
comunicação (correio,
bancas de revistas e
telefones públicos)
.Serviços pessoais
(agências bancárias,
pontos de táxi e postos
de gasolina)
DESENVOL-
VIMENTO
HUMANO
.Anos de estudos dos
chefes de família
.Alfabetização precoce
.Alfabetização tardia
.Relação de matrícula no
ensino
fundamental/ensino
médio
.Reprovação escola
.Evasão escolar
.Mortalidade juvenil
.Longevidade
.Mortalidade na infância
.APVP
.Gravidez na
adolescência
.Violência
.Chefes com
instrução até o 1ª
série do
fundamental
.Taxa de
repetência de
alunos (1ª a 4ª
s.)
.Taxa de
abandono de
alunos (1ª a 4ª
s.)
.Mortalidade
infantil
.Coeficiente de
doenças
imunopreveníveis
.Crianças em domicílios
com chefes analfabetos
.Relação entre ensino
fundamental e médio
.Retenção - ensino
fundamental
.Mortalidade infantil
.Anos de estudo chefes de
família
.Alfabetização
precoce .Alfabetização tardia
.Relação matrícula ensino
fundamental/ensino médio
.Reprovação escolar
.Evasão escolar
.Mortalidade juvenil
.Mortalidade na infância
.Longevidade
.Violência
.Anos Potenciais de Vida
Perdidos
.Gravidez na adolescência
.Vigilância à saúde
(taxa de sobrevivência
até um ano e taxa de
nascidos com peso
normal)
.Segurança patrimonial
(ausência de roubo e
furtos de veículos,
moradias e
estabelecimentos)
.Segurança pessoal
(ausência de
homicídios, violações
de domicílios, estupros,
roubos, porte ilegal de
armas, atentados ao
pudor e lesões
corporais)
.Segurança no trânsito
.Esperança de
vida ao nascer
.Segurança
EQUIDADE
.Mulheres chefes de família
.Mulheres chefes de família
não alfabetizadas
.Média de anos de estudo de
mulheres chefes de família
.Mesmos
indicadores
deferenciando
sexo:
.Alfabetização
.Taxa de
matrícula
.PIB per capita
.Esperança de
vida ao nascer
161
DEMO-
CRACIA
.Relação vereador/população
local
.Número de Conselhos de
direitos e de defesa de
interesses por temática
CIDADANIA
FELICIDADE
.Pesquisa subjetiva sobre
representações
INDICADORES
.Compostos.
.Pesos iguais
.Polaridades e não
médias
.Padrão de inclusão social
.Compostos
.4 níveis de
carência (bairros
em condições
boas, razoáveis,
críticas e muito
críticas)
.3 índices:
condição dos
domicílios,
condição de
saneamento
básico e
condição social
dos moradores
.Compostos
.Índice Social Municipal
(ISM): 16 indicadores e
6 índices sintéticos
(renda, habitação,
ambiental,
alfabetização, saúde e
educação)
.Índice de Gestão
Municipal (IGM): % de
domicílios com coleta
de lixo inadequada, %
de crianças entre 4 e 6
anos matriculadas em
pré-escolas municipais
e coeficiente de
mortalidade infantil.
.Compostos
.Pesos iguais
.Polaridades e não médias
.Padrão de inclusão social:
escala referenciada aonde se
aloca por notas as incidências
percentuais das variáveis
.Compostos
.Pesos diferentes
.Oferta/Acessibilidade
aos Serviços
.Índice de Qualidade de
Vida Urbana
.Compostos
.Pesos iguais
.Média geral
.Índice de
Desenvolvimento
Humano
.Compostos
.Pontos
diferenciados
conforme
resposta
.Média
ponderada
.Índice de
Qualidade de
Vida
DESAGREGA-
ÇÃO
TERRITORIAL
.Distritos (96 - São Paulo)
.Área Censitária (93 -
Santo André) .Municípios
(30 - Região de
Piracicaba)
Bairro da cidade
(75)
.49 maiores municípios
brasileiros
.189 maiores municípios
brasileiros
.49 maiores municípios
do Estado de São Paulo
.Distritos (96 - São Paulo)
.Área censitária (93 - Santo
André)
.Municípios (30 - Região de
Piracicaba)
.Unidades de
Planejamento (81)
.Países (174)
.Municípios
(4491 - Brasil)
.Região da
Cidade de São
Paulo (centro,
norte, sul,
leste, oeste)
162
FONTES
PRINCIPAIS
.Censo IBGE 1991
.Secretarias Municipais
de Planejamento,
Educação, Saúde,
Assistência Social
.Secretaria de Assistência
e Desenvolvimento Social
do Estado de São Paulo
.PRODAIM - Programa de
Aperfeiçoamento de
Índices de Mortalidade
.Censo IBGE
1991
.Secretaria
Municipal da
Saúde
.Fundepar
.Companhia de
Urbanização de
Curitiba
.IBGE .IBGE/UNICEF .Censo IBGE 1991
.Secretarias Municipais de
Planejamento, Educação,
Saúde, Assistência
Social .Secretaria de
Assistência e
Desenvolvimento Social do
Estado de São Paulo
.PROAIM - Programa de
Aperfeiçoamento de Índices
de Mortalidade
.Censo IBGE
1991 .Cadastros
municipais (IPTU, ISS,
COPASA, CEMIG)
.Secretarias Municipais
.Censo IBGE
1991 (Brasil)
.Pesquisa de
opinião mensal
COMPOSIÇÃO
DO
ÍNDICE FINAL
.Composição do Iex
Autonomia, Iex Qualidade
de Vida, Iex
Desenvolvimento
Humano e Iex Equidade
formando o Iex final de
Exclusão Social
.Construção dos
Índices de
condição do
domicílio, do
saneamento
básico e
condição social
do morador
definindo a
Condição de
Pobreza
.Média entre 4 índices
sintéticos: renda,
alfabetização, habitação
e ambiental compondo
o Índice Municipal
.Cálculo do Índice de
Discrepância – IDI
.Composição dos Iex
Autonomia, Iex Qualidade de
Vida, Iex Desenvolvimento
Humano e Iex Equidade
formando o Iex Final de
Exclusão/Inclusão Social
.11 índices agregados
no Índice de Oferta
Local corrigido pela
acessibilidade,
produzindo o Índice de
Qualidade de Vida
Urbana
.Média geral dos
índices de renda,
educação e
saúde formando
o Índice de
Desenvolvimento
Humano
. Media
ponderada dos
9 índices
produzidos
compondo o
Índice de
Qualidade de
Vida
ANEXO A – SÍNTESE COMPARATIVA ENTRE INDICADORES SOCIAIS URBANOS NOS ANOS 1990
Fonte: modificado de Maricato
163
ANEXO B – DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA (A)
CONSIDERANDO-SE O TAMANHO DA POPULAÇÃO
MULTINOMINAL (N) COM 5 CATEGORIAS DE RESPOSTAS
(K=5)
Fonte: Adaptado de Sanathanan (1972)
N A N A N A
10 10 220 165 1200 425
15 15 230 171 1300 437
20 20 240 176 1400 448
25 25 250 182 1500 457
30 29 260 187 1600 466
35 34 270 192 1700 474
40 38 280 197 1800 482
45 43 290 202 1900 489
50 47 300 206 2000 495
55 51 320 216 2200 506
60 55 340 225 2400 516
65 60 360 233 2600 525
70 64 380 241 2800 533
75 68 400 249 3000 539
80 72 420 257 3500 554
85 76 440 264 4000 565
90 80 460 271 4500 574
95 83 480 278 5000 581
100 87 500 284 6000 593
110 95 550 300 7000 601
120 102 600 314 8000 608
130 109 650 327 9000 613
140 116 700 339 10000 617
150 123 750 351 15000 630
160 129 800 361 20000 637
170 136 850 371 30000 643
180 142 900 380 40000 647
190 148 950 389 50000 649
200 154 1000 397 75000 652
210 160 1100 412 100000 653
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