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tolerantes com os alunos e tenderem a considerá-los “em prejuízo” (e conseqüentemente,
casos) mais facilmente. Nos E.U.A., portadores de TDAH são considerados elegíveis para
serviços especiais de educação que lhes dão algumas vantagens escolares, o que pode ter
aumentado a entrada de crianças em tratamento (34). Por outro lado, sendo estes recursos
limitados, os professores também podem evitar sugerir o diagnóstico, caso os serviços
especiais estejam lotados.
2.11 Avaliação de Comorbidades:
Diferentes condições clínicas, como transtorno de conduta, transtornos cognitivos,
transtorno opositor desafiante, depressão, transtorno bipolar e ansiedades podem mimetizar
e confundir o diagnóstico, alterando as taxas de prevalência se não especificamente
abordados e discriminados (36). Este problema pode ser mais evidente quando escalas
estruturadas são aplicadas por entrevistadores sem treinamento clínico, sem avaliar as
comorbidades especificas. As estimativas das comorbidades também variam com o tipo de
instrumento de medida utilizado para sua determinação.
2.12 Variações Culturais: Cultura Latino-Americana:
Pineda et al (45) avaliaram a prevalência de TDAH em uma amostra de 341 escolares
entre 4 e 17 anos na Colômbia, encontrando 17,1% de indivíduos com o transtorno, sendo
9,4% combinados, 6,7% desatentos e 1% hiperativos. Crianças dos estratos sócio-
econômicos inferiores foram duas vezes mais afetadas que as dos mais altos. Outro estudo
venezuelano apresentou uma estimativa de 10,15% de prevalência, com 394 escolares entre
3 e 13 anos, sendo 7,61% do subtipo combinado, 0,51% desatentos e 2,03% hiperativos
(46). Em ambos os estudos, as taxas em meninos foram mais altas do que em meninas
(21,8% para 10,9% e 7,1% para 3,05%, respectivamente).
No Brasil, Guardiola et al, (59) avaliaram 484 indivíduos em escolas públicas e privadas
de Porto Alegre, encontrando uma prevalência de 18% utilizando o DSM-IV, mas sem
informações dos pais. Cerca de 25% dos meninos e 11% das meninas foram considerados
positivos para o transtorno. A estimativa foi reduzida para 3,5% quando se associou critério
neuropsicológico ao DSM-IV (entretanto, este critério não faz parte da definição psiquiátrica
atual do transtorno). Também em Porto Alegre, Rohde et al (57) avaliaram em escolas
públicas 1013 adolescentes de 12 a 14 anos, utilizando o DSM-IV e um ponto de corte de 70
ou menos na escala CGAS (58) como definidor de prejuízo. Cerca de 5,8% dos
adolescentes apresentaram o transtorno, com uma comorbidade de 47,8% para transtorno
de conduta e opositor-desafiante. Dos casos identificados, 52,2% foram do subtipo
combinado, 34,8% do desatento e 13% de hiperativo/impulsivo. Vasconcelos et al (47)
avaliaram 403 crianças de baixa renda de 6 a 15 anos em uma única escola pública de
Niterói (RJ), sem avaliar de forma sistemática as comorbidades. Encontraram uma
prevalência total de 17,1%, distribuídos em 39,1% do subtipo desatento, 37,7% de
combinado e 23,2% de hiperativo/impulsivo. Dias et al.(60) validaram o Questionário
Abreviado de Conners (48) para professores em uma amostra de 979 crianças em escolas
públicas de João Pessoa, encontrando uma prevalência de 4,1% para meninos e 1,8% para
meninas naquele grupo. Em outro estudo de Andrade et al. (61) em uma amostra de 116
adolescentes infratores entre 12 e 19 anos, os achados de TDAH foram muito mais
expressivos: 54% apresentaram o transtorno, além de diversas outras comorbidades.
Merece destaque o fato de que 93% destes infratores nunca foram tratados para qualquer
transtorno psiquiátrico.
2.14 Critérios para Adultos: