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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ASPECTOS LOGÍSTICOS DO ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PAULISTA:
TRECHO USINA-PORTO DE SANTOS
BRUNO POMPEU CORRÊA DA COSTA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
ASPECTOS LOGÍSTICOS DO ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PAULISTA:
TRECHO USINA-PORTO DE SANTOS
Bruno Pompeu Corrêa da Costa
Defesa de Mestrado apresentado
ao Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de São
Carlos, como parte dos requisitos
para a obtenção do título de
Mestre em Engenharia de
Produção.
Orientador (a): Profa. Dra. Maria Rita Pontes Assumpção
Agência Financiadora: CAPES/MEC
SÃO CARLOS - SP
2007
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
C837aL
Costa, Bruno Pompeu Corrêa da.
Aspectos logísticos do escoamento do açúcar paulista :
trecho usina-porto de Santos / Bruno Pompeu Corrêa da
Costa. -- São Carlos : UFSCar, 2007.
165 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Logística empresarial. 2. Operações logísticas
portuárias. 3. Comércio exterior. 4. Setor sucroalcooleiro. I.
Título.
CDD: 658.5 (20
a
)
~-1'
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
Rod Washington Luis, Km 235 - CEPo
13565-905- São Carlos - SP - Brasil
Fone/Fax: (016) 3351-8236 /3351-8237/3351-8238 (ramal: 232)
Email:
FOLHA DE APROVAÇÃO
Aluno(a): Bruno Pompeu Corrêa da Costa
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DEFENDIDA E APROVADA EM 28/02/2007 PELA
COMISSÃO JULGADORA:
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ProF DraMaria Rita Pontes As umpção
Orientador(a) PGEP/UFSCar
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Pro . . Edemilson NógueVa
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PPGN/UNISANTOS
DEDICATÓRIA
“Pai Nosso
Que estais no céu
Santificado seja o Vosso Nome
Venha a nós o Vosso Reino
Seja feita a Vossa Vontade
Assim na Terra como no Céu
O Pão nosso de cada dia nos dai hoje
Perdoa-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a quem nos têm ofendido
E não nos deixeis cair em tentação
Mas livrai-nos do mal
Amém”
e Obrigado!
AGRADECIMENTOS
¾ À Profa. Maria Rita pela orientação e amizade;
¾ Ao Prof. Léo Robles pela co-orientação na cidade de Santos;
¾ Aos meus queridos Pais, Carlos Westone e Ecléia Pompeu, muito
obrigado por tudo, sempre;
¾ À minha amada esposa, Fabiana, por todas as nossas conquistas.
¾ Aos meus melhores amigos, porque velejar é imprescindível.
RESUMO
Esta dissertação trata dos aspectos logísticos da cadeia terrestre e
portuária de escoamento do açúcar paulista pelo Porto de Santos. A problemática desta
pesquisa considera as transformações políticas e econômicas resultantes da
desregulamentação do setor sucroalcooleiro, datadas do início da década de 90, e da
concessão dos serviços portuários na metade daquela década. Este novo ambiente
institucional possibilitou a ocorrência de novas formas organizacionais para a
coordenação das operações logísticas para exportação de commodities sucroalcooleiras
(açúcar e álcool) pelos portos brasileiros. Estudos multi-casos de cunho qualitativo
compõem a estratégia de pesquisa. As unidades de análise são compostas pelos
seguintes pares: i) terminais portuários açucareiros e a indústria sucroalcooleira paulista;
ii) terminais portuários e as trading companys agrícolas que operam no mercado
internacional de commodities. Os resultados servirão para a descrição dos processos e a
análise das relações envolvidos naquela cadeia logística, conforme: i) formas de
relacionamento entre os atores centrais, segundo as transações na cadeia de escoamento
do açúcar; ii) processos logísticos, considerando o grau de controle sobre os recursos e
competências (se desenvolvidos internamente ou terceirizados); iii) operações logísticas
nos terminais açucareiros santistas, segundo as diferenças na prestação de serviços que
agreguem, ou não, valor à carga embarcada. Estes resultados respondem à questão de
pesquisa: quais são os condicionantes (sob o ponto de vista de aspectos comerciais) que
interferem na organização e infra-estrutura disponibilizada para a logística de
escoamento para exportação do açúcar paulista? A construção de um modelo teórico
que associe a gestão da logística integrada aos fundamentos de comércio exterior guia
as linhas de argumentos, norteando a coleta e levantamento de dados e constatações
empíricas. O objeto de análise é o elo usina-porto, observando as estratégias comerciais
e de operações da logística para o mercado internacional da commoditie açúcar.
Palavras-chave: Logística integrada. Operações logísticas portuárias.
Comércio Exterior. Exportações de açúcar.
ABSTRACT
Addressees the systematization of logistical and commercial aspects of
São Paulo’s sugar exports through Santos Port facilities. Local political and economical
liberal transformations – that took place by the beginning of 90’s – had seen Estate
assets being given to private investments (both in agricultural and port operations). As a
result, this new institutional environment allowed the occurrence of hybrids corporate
structures to coordinate logistical sugar and alcohol-ethanol exports from inland
facilities to the Santos port. The main question is how this adaptation interferes on infra-
structural and operational logistics management derived from new transactions within
international sugar mayor traders. The main units of analysis are: i) São Paulo’s state
sugar producers (industrial plants) and port logistics providers; ii) port logistics
providers and food trading companies. Results shall foster the comprehension on
logistical process and relations amongst the three main actors across the sugar plants-
port facilities chain. There are three goals to be achieved: i) identify the total extent of
logistical domain across sugar’s distributional channels via port of Santos; ii) how
logistical assets and processes are developed or provided within those actors; iii)
describe the difference among Santos’ port operations service providers, in relation
value-added competitive basis. Theoretical framework blends logistics and supply chain
management with foreign trade prospects as a guideline to collect data and empirical
evidences. This works’ object is the São Paulo sugar plants-port of Santos facilities
logistics chain.
Key-words: Logistics management. Port logistics operations. Foreign
trade. Sugar exports.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1.1 MODELO ESQUEMÁTICO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DAS OPERAÇÕES GLOBAIS..........................5
FIGURA 2.1 MODELO DE GESTÃO PORTUÁRIO BRASILEIRO.......................................................................18
FIGURA 2.2 PRINCIPAIS PARTICIPANTES DE UMA TRANSAÇÃO DE LOGÍSTICA INTERNACIONAL. ...............31
FIGURA 2.3 MODELO DE CARTA DE CRÉDITO (LETTER OF CREDIT L/C). ...............................................40
FIGURA 3.1 MODELO DAS QUATRO FORÇAS GLOBAIS...............................................................................44
FIGURA 3.2 BARREIRAS À LOGÍSTICA INTERNACIONAL. ...........................................................................45
FIGURA 3.3 RELAÇÃO DE RISCO-RETORNO NAS OPERAÇÕES GLOBALIZADAS...........................................56
FIGURA 3.4 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAIS..........................................................................59
FIGURA 3.5: SISTEMA LOGÍSTICO................................................................................................................68
FIGURA 3.6 ATIVIDADES DO CICLO BÁSICO DE ATIVIDADES DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA..............................72
FIGURA 3.7 NECESSIDADES DE INFORMAÇÕES LOGÍSTICAS......................................................................73
FIGURA 3.8 FUNCIONALIDADE DA INFORMAÇÃO......................................................................................76
FIGURA 3.9 A PIRÂMIDE DE FATORES-CHAVE QUE SUSTENTAM O JIT. .....................................................78
FIGURA 4.1: ACESSOS FERROVIÁRIOS AO PORTO DE SANTOS......................................................................85
FIGURA 5.1 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS PORTUÁRIOS À MONTANTE E JUSANTE NA CADEIA
LOGÍSTICA DE ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PELO PORTO DE SANTOS
..................................................108
FIGURA 5.2 FLUXOGRAMA DO ESCOAMENTO DE AÇÚCAR PELO MODELO “FOB-ESTIVADO”..................113
FIGURA 5.3 FLUXOGRAMA DO ESCOAMENTO DE AÇÚCAR PELO MODELO “DDP”...................................115
FIGURA 5.4 PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS DE ESCOAMENTO DO AÇÚCAR
PARA EXPORTAÇÃO
. ........................................................................................................................134
FIGURA 5.5 INTERFACES DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO COM OS PROCESSOS LOGÍSTICOS DE
ELEVAÇÃO DO AÇÚCAR................................................................................................................135
FIGURA 6.1: ESTÁGIOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS PARA OS CASOS “A”, “B” E
“C”..................................................................................................................................................148
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1 PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AÇÚCAR (JAN-SET 2006) ...........19
TABELA 2.2 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR E ÁLCOOL PELOS PORTOS E TERMINAIS
BRASILEIROS
1998 A 2003 (NAVEGAÇÃO DE LONGO CURSO). .........................................................21
TABELA 2.3: EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR, A GRANEL E ENSACADO, PELO PORTO DE SANTOS
(2000 2006)....................................................................................................................................24
TABELA 2.4 EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR DE CANA, EM BRUTO, DE 2000 A 2003 (US$ 1000 FOB).........25
TABELA 2.5 PRINCIPAIS PARTICIPAÇÕES NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA (JAN-NOV 2006). ..........27
TABELA 4.1: CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS RELATIVAS POR MODAL DE
TRANSPORTE
*....................................................................................................................................80
TABELA 4.2 ESTRUTURA DE CUSTO DE CADA MODAL...............................................................................81
TABELA 4.3 FRETES FERROVIÁRIOS NO ESTADO DE SÃO PAULO - PERÍODO DE 27/08/2005 A 23/09/2005.
..........................................................................................................................................................87
TABELA 4.4 FRETES RODOVIÁRIOS DE AÇÚCAR (SACAS DE 50KG) PERÍODO DE 27/08/2005 A
23/09/2005........................................................................................................................................87
TABELA 4.5 FRETES RODOVIÁRIOS DE AÇÚCAR A GRANEL - PERÍODO DE 27/08/2005 A 23/09/2005.......88
TABELA 4.6 COMPARATIVO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL CARGA GERAL (AÇÚCAR
ENSACADO
) 2003............................................................................................................................92
TABELA 4.7 COMPARATIVO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL AÇÚCAR A GRANEL
(2003). ..............................................................................................................................................93
TABELA 4.8 MOVIMENTAÇÃO TOTAL DE AÇÚCAR POR SAFRAS, EM TONELADAS, PELO PORTO DE SANTOS.
..........................................................................................................................................................98
TABELA 5.1 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO REALIZADOS.....................................................................107
TABELA 5.2 CAPACIDADES ESTÁTICAS DE ARMAZENAGEM PARA AÇÚCAR A GRANEL, EM TONELADAS, NO
TRECHO USINA PORTO
......................................................................................................................123
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS
GRÁFICO 2.1 MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR A GRANEL NOS PORTOS BRASILEIROS (EM TONELADAS). ......22
GRÁFICO 2.2 MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR ENSACADO NOS PORTOS BRASILEIROS (SACOS DE 50 KG).....23
GRÁFICO 4.1 PREÇOS / TARIFAS PORTUÁRIAS PARA MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR ENSACADO (2003)......95
GRÁFICO 4.2 PREÇOS/TARIFAS PORTUÁRIAS PARA MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR A GRANEL (2003). .......96
GRÁFICO 4.3 CONSIGNAÇÃO MÉDIA PARA O AÇÚCAR A GRANEL (2003). .................................................97
GRÁFICO 4.3 EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DE EMBARQUE DO AÇÚCAR A GRANEL PELO PORTO DE SANTOS
(1993 2002)..................................................................................................................................100
GRÁFICO 4.4 CUSTOS DE EMBARQUE DO AÇÚCAR ENSACADO PELO PORTO DE SANTOS (1993 2002)..101
GRÁFICO 4.5 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO NACIONAL DE AÇÚCAR (1973-2003).......................................102
GRÁFICO 4.6 EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR, A GRANEL E ENSACADO, PELO PORTO DE SANTOS EM TONEADAS
(1990 1999)..................................................................................................................................103
QUADRO 2.1 COMPARAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS OPERADORES LOGÍSTICOS COM PRESTADORES DE
SERVIÇOS LOGÍSTICOS TRADICIONAIS
................................................................................................34
QUADRO 2.2 TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADE E CUSTOS ENTRE EXPORTADOR E IMPORTADOR..38
QUADRO 3.1 CATEGORIAS DE DECISÕES NA ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES LOGÍSTICAS..............................52
QUADRO 3.2 CLASSIFICAÇÃO DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS................................................65
QUADRO 3.3 QUESTÕES OPERACIONAIS DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA............................................................70
QUADRO 5.1 ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO E GARGALOS LOGÍSTICOS DO MODAL FERROVIÁRIO NO
TRECHO USINA PORTO DE
SANTOS...................................................................................................127
QUADRO 5.2 CASOS DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO LOGÍSTICA NO TRECHO USINA-PORTO DE SANTOS. ...138
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
ADM – Archer Daniels Midland
ANTAQ – Agência Nacional dos Transportes Aquaviários
B/L – Bill of Lading (Conhecimento de embarque marítimo)
CNI – Confederação Nacional da Indústria
CRM – Customer Relationship Management
ERP – Enterprise Resource Planning
ETA – Estimated Time at Arrival
FAPESP – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo
FMS – Flexible Manufacturing Systems
IAA – Instituto de Açúcar e Álcool
SAG – Setor agroindustrial
JIT – Just-in-Time
LIS – Logistical Informational System
L/C – Letter of Credit (Carta de Crédito)
MDIC – Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior
MPS – Master Production Scheduling
MRP – Manufacturing Requirements Planning
RBV – Resource-Based-View
SIFRECA – Sistema de Informações de Fretes
TQM – Total Quality Management
TEAG – Terminal de açúcar do Guarujá
TEAÇU – Terminal de açúcar
UDOP – União das Destilarias do Oeste Paulista
UNICA – União da Indústria da Cana-de-Açúcar
USDA – United States Department of Agriculture
VHP – Very high polarization
VVHP – Very very high polarization
SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO.......................................................................................................................1
1.1 - JUSTIFICATIVA ......................................................................................................................2
1.2 - OBJETIVO DO TRABALHO E QUESTÃO DA PESQUISA...............................................................3
1.3 - MODELO TEÓRICO ................................................................................................................4
1.4 - ESTUDO DO MÉTODO.............................................................................................................7
1.5 - ESTRATÉGIA DE PESQUISA.....................................................................................................8
1.6 - LEVANTAMENTO E COLETA DE DADOS ..................................................................................9
1.7 - ESTUDOS DE CASO...............................................................................................................10
1.7.1 Modelo de questionário.................................................................................................11
1.8 - ESTRUTURA DO TRABALHO.................................................................................................12
2 - CONDIÇÕES SISTÊMICAS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AÇÚCAR ..14
2.1 - DESREGULAMENTAÇÃO DO SAG CANAVIEIRO....................................................................14
2.2 - DESREGULAMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS .......................................................16
2.3 - PANORAMA DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AÇÚCAR ..................................................19
2.3.1 Competitividade produtiva e logística paulistas............................................................24
2.4 - NEGOCIAÇÃO DO AÇÚCAR NO MERCADO INTERNACIONAL ..................................................28
2.5 - OPERAÇÕES E AGENTES DO COMÉRCIO EXTERIOR PARA EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR.............30
2.5.1 Indústria sucroalcooleira ..............................................................................................32
2.5.2 Trading companies........................................................................................................32
2.5.3 Operadores logísticos X prestadores de serviços de logística.......................................33
2.5.4 Despachantes Aduaneiros .............................................................................................35
2.5.5 Armadores .....................................................................................................................36
2.5.6 Termos Internacionais de Comércio..............................................................................36
2.5.7 Formas de pagamento...................................................................................................39
3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: LOGÍSTICA...............................................................42
3.1 - ATUAÇÃO DA LOGÍSTICA EM ESCALA INTERNACIONAL .......................................................43
3.1.1 Conceito de estratégia de operações.............................................................................48
3.1.2 Formulação das estratégias de operações logísticas....................................................50
3.2 - CONTROLE DOS RECURSOS E ATIVIDADES LOGÍSTICAS........................................................55
3.2.1 Estratégias de canais de distribuição internacionais....................................................58
3.2.2 Contribuições da Visão Baseada em Recursos (Resource Based View – RBV) ............61
3.2.3 Terceirização das operações logísticas.........................................................................63
3.3 - GESTÃO (PROGRAMAÇÃO E CONTROLE) DAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS ................................67
3.3.1 Gestão da cadeia de suprimentos..................................................................................67
3.3.2 Gestão da logística integrada........................................................................................71
4 - ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PARA EXPORTAÇÃO .................................................79
4.1 - ANÁLISE DA INFRA-ESTRUTURA NO TRECHO USINA-PORTO DE SANTOS..............................80
4.1.1 Modais de transporte.....................................................................................................80
4.1.2 As vias de acesso ao Porto de Santos............................................................................83
4.1.3 Custos rodoviários e ferroviários..................................................................................87
4.1.4 Transporte marítimo......................................................................................................88
4.2 - COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS..........................................90
4.2.1 Análise da concorrência extra-portuária......................................................................91
4.2.2 Análise da concorrência intra-portuária.......................................................................97
5 - ANÁLISE DOS ESTUDOS MULTI-CASOS...................................................................105
5.1 - APRESENTAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO............................................................................105
5.2 - RELAÇÕES COMERCIAIS ....................................................................................................110
5.3 - PROCESSOS GERENCIAIS....................................................................................................120
5.3.1 Análise do controle de estoques no trecho usina-porto de Santos...............................120
5.3.2 Análise dos modais rodoviário e ferroviários no trecho usina-porto de Santos..........125
5.3.3 Manuseio e movimentação do açúcar para embarque................................................131
5.4 - SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA GESTÃO DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS.........................132
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................141
6.1 - O CASO “B”.......................................................................................................................150
6.2 - CASOS “A” E “Z”. .............................................................................................................150
6.3 - OS CASOS “C” E “Y”.........................................................................................................151
6.4 - LIMITAÇÕES, TENDÊNCIAS E PERSPECTIVAS......................................................................152
6.5 - CONCLUSÕES ....................................................................................................................154
A -
REFERÊNCIAS..................................................................................................................156
B - ANEXO – MODELO DE QUESTIONÁRIO...................................................................160
1 - INTRODUÇÃO
No período compreendido pelas décadas de 1960 a 1980, o Governo
brasileiro subsidiou a produção e exportação de açúcar por meio de inúmeras ações. Por
exemplo, pela criação do Instituto de Açúcar e Álcool (IAA), do Programa Nacional de
Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalsucar, de 1971) e do PROÁLCOOL.
Contudo, no início da década de 1990 houve a saída do Estado – ou
desregulamentação – daquele setor e a respectiva abertura comercial brasileira ao
mercado internacional. Como resultado, houve uma nova dinâmica para o setor
agroindustrial (SAG) canavieiro, estendida até a atualidade. O Estado passou, então, a
não mais interferir na fixação de cotas de produção e exportação de açúcar e álcool,
tampouco nos preços da cana, nem nos preços internos ou de exportação desses
produtos (FAPESP, 2003).
Concomitantemente à desregulamentação setorial, outra ganhava escopo:
a privatização dos serviços portuários no Brasil. O advento da Lei de Modernização dos
Portos (lei nº. 8.630 de 25 de fevereiro de 1993) dispôs, então, sobre o regime de
exploração dos portos e das instalações portuárias, visando estimular a livre-
concorrência no setor das operações de serviços portuários (SILVA e PORTO, 1999).
Este estudo delimita sua análise a partir da desregulamentação da
economia brasileira na década de 1990 até os dias atuais. Com um novo ambiente
institucional à frente, tanto o SAG da cana-de-açúcar, quanto o sistema portuário
brasileiro passaram a enfrentar novos desafios para o suprimento do açúcar ao mercado
internacional. Como, por exemplo, as usinas paulistas se organizaram para exportar o
açúcar sem a ingerência estatal? A análise desse período – por meio de um corte
2
histórico do tipo longitudinal – denota como aqueles processos de desregulamentação e
privatizações interferem no processo para exportação do açúcar paulista.
Atores centrais desta nova dinâmica (problemática), os terminais
portuários, as usinas de açúcar e álcool e as empresas comerciais exportadoras (trading
companies) são observados à luz de teorias que direcionem a compreensão de seus
relacionamentos logísticos e comerciais pós-desregulamentações.
1.1 - Justificativa
A relevância deste estudo está relacionada à vitalidade e grande projeção
externa do agronegócio brasileiro. Este representou, em 2003, 33,8% do PIB, 37% dos
empregos e 44% das exportações do País (ABAGRP, 2003). Neste contexto, o
complexo produtor de açúcar e álcool (commodities sucroalcooleiras) possui grande
importância para a economia nacional. Por exemplo, a participação do valor das
exportações de açúcar sobre o valor total da pauta de exportações brasileiras
correspondeu a 3,47% (1,35 US$ bilhão) no ano de 2003 (UDOP, 2003).
Líder das exportações mundiais de açúcar desde o início da década de
1990, o Brasil destina a maior parte dessas vendas (61%) para os seguintes países:
Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã (Oriente Médio); Nigéria, Egito e Marrocos
(África); destaque para a Rússia, principal importadora (Europa Oriental) e os EUA
(ASSUMPÇÃO, 2004).
A escolha do trecho usina-porto de Santos como objeto deste estudo
deve-se a dois fatores. Primeiro, pela liderança das usinas do Estado de São Paulo tanto
em volume de produção (60%) como em valor das exportações (58%) nacionais do
3
açúcar (dados com base no ano de 2003) (RADAR COMERCIAL, 2005). Segundo,
pelo papel de destaque daquele porto para a cadeia logística sucroalcooleira. Além de
maior porto da América Latina, é considerado como a maior plataforma de exportação
de açúcar do mundo (CODESP, 2005).
Estes são alguns dos fatores que suportam a competitividade do açúcar
paulista, frente às demais regiões produtoras (Estados do Nordeste, Centro-Oeste e
outros do Sudeste). Os mesmos dados denotam a importância de ter-se a integração do
processamento industrial da cana-de-açúcar com o escoamento da produção para
exportação; onde os portos assumem posições cada vez mais estratégicas, especialmente
após a desregulamentação do setor portuário.
1.2 - Objetivo do trabalho e questão da pesquisa
Tem-se como objetivo central a descrição dos processos e a análise das
relações envolvidas na cadeia logística – terrestre e portuária – de escoamento do açúcar
paulista pelo porto de Santos. Os aspectos comerciais são tratados conforme interfiram
nos aspectos logísticos configurados para o trecho analisado.
Os objetivos secundários prevêem as seguintes análises sobre o trecho
usina-porto de Santos:
Formas de relacionamento entre os atores centrais, segundo as
transações na cadeia de escoamento do açúcar;
Processos logísticos, segundo o grau de controle sobre os recursos
e competências (se desenvolvidos internamente ou terceirizados);
4
Operações logísticas nos terminais açucareiros santistas, segundo
as diferenças na prestação de serviços que agreguem, ou não, valor
à carga embarcada.
A operacionalização da problemática remete à seguinte questão de
pesquisa: quais condicionantes (sobre os aspectos comerciais) interferem na
organização e infra-estrutura definidas para a logística de escoamento do açúcar paulista
pelo Porto de Santos?
Como pressuposto ao problema de pesquisa, afirma-se que a
configuração dos aspectos comerciais e estratégicos condiciona a estrutura e
organização do sistema logístico no trecho usina-porto de Santos para o escoamento do
açúcar paulista.
A revisão bibliográfica, por sua vez, fornece os argumentos para
manipular as variáveis e atingir os resultados esperados (ALVES, R., 1995).
1.3 - Modelo Teórico
Segundo Thiollent (1997), a competência do pesquisador perfaz a
percepção dos aspectos reais de um modo que seja relevante em função de determinado
propósito científico, que só pode ser definido à luz de uma teoria. Esta, por sua vez,
conduz o pesquisador ao estabelecimento da ordem, em resposta à problemática
observada.
A fundamentação teórico-conceitual desta abordagem encontra respaldo
nos princípios de gestão da logística global dados por Dornier et al (2000). Este propôs
5
um modelo com três pólos que compõem a gestão da logística global, a saber,
integração geográfica, setorial e funcional (Figura 1.1).
A compreensão da relação entre essas três áreas fundamenta: a análise
dos arranjos corporativos entre os atores da cadeia produtiva do açúcar; e o seu
respectivo escoamento para a venda internacional. Segundo o autor, “a integração destas
áreas assume diferentes configurações, dependendo de como os fatores ambientais –
correspondentes às três formas de integração do modelo – afetam as empresas
envolvidas” (DORNIER et al, 2000: 52).
Gestão das
operações
logísticas globais
Integrão setorial Integração funcional
Integração geográfica
praça portuária
Logística
local
Logística
global
Planejamento
e controle do
fluxo de
cargas e
informações
Coordenação eficaz de
negociações com foco
nos clientes.
EXPORTADOR
IMPORTADOR
Fonte: Dornier et al (2000; 53), adaptado.
FIGURA 1.1 MODELO ESQUEMÁTICO DOS PRINCÍPIOS BÁSICOS DAS OPERAÇÕES
GLOBAIS
.
A integração geográfica tem aumentado sua importância diante da
globalização produtiva. As empresas atuam em redes mundiais com ramificações em
diferentes locais ou regiões do mundo. Alguns exemplos são: a expansão das compras
6
(suprimento) em escalas globais; a coordenação das atividades de unidades produtivas
em diferentes continentes; e vendas em múltiplos mercados.
A integração funcional prevê a coordenação não apenas do fluxo físico
para movimentação de materiais e produtos para atendimento ao mercado, mas também
a integração do conhecimento (informações) necessário no processo de
desenvolvimento de novos produtos e nas campanhas promocionais. Para tal, a
coordenação de negociações entre os diferentes atores envolvidos é importante para a
eficácia do todo.
Em teoria, a integração setorial considera que cada ator participante da
cadeia produtiva e de suprimento do produto não aja individualmente em sua parte do
sistema do fluxo de materiais e de produto. Seguindo esse modelo, empresas líderes
diversificam suas atividades na logística global para coordenação de suas operações,
visando:
Otimização do fluxo de produtos;
Adequação da gama de produtos para atender a demanda.
Assim, o uso deste modelo, como aporte teórico conceitual, oferece
condições para análise da questão de pesquisa.
O desenvolvimento multidisciplinar desse construto teórico-conceitual
guiou a escolha do método mais adequado para a coleta de dados, visando a obtenção
dos resultados apresentados.
7
1.4 - Estudo do método
Segundo Chalmers (1995:28), “a dedução trata da derivação de leis e
teorias em busca de explicações e previsões acerca do fenômeno estudado”. O presente
estudo assume essa postura, considerando que o modelo teórico orienta a dedução
lógica sobre o resultado do relacionamento entre as variáveis consideradas na questão
da pesquisa.
A essência do estudo de caso está na tentativa de lançar luz sobre um
processo de tomada de decisão: por que foram tomadas, como foram implementadas?
Trata-se de um método que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu
contexto de vida real, especialmente quando suas fronteiras entre fenômeno e contexto
não estão bem claras (YIN, 1994). Entende-se que os objetivos deste estudo estão em
conformidade com esse método.
Yin (1994) ainda enumera três definições acerca dos estudos de casos: i)
cooperam com situações em que existam uma quantidade maior de variáveis em
detrimento dos dados disponíveis; ii) fazem uso de múltiplas fontes de evidência; iii)
beneficiam-se de desenvolvimentos teóricos prévios para guiar a coleta e análise de
dados. O mesmo autor pontua que os estudos de caso podem ser baseados em mix de
evidências, tanto quantitativas quanto qualitativas – como o faz este estudo,
combinando a interpretação de dados empíricos com informações inter-pessoais
extraídas por meio de entrevistas não-estruturadas.
Quanto às estratégias de pesquisas, Yin (1994) descarta sua classificação
em modo hierárquico, pois, quando combinadas, elas não se anulam. Por exemplo, é
possível realizar uma pesquisa do tipo survey com um estudo de caso, ou uma pesquisa-
ação após um levantamento do survey.
8
O questionário tipo survey, por exemplo, é utilizado neste estudo como
prévia às entrevistas semi-estruturadas. Visa à otimização do tempo de resposta dos
entrevistados, não prevendo relações de causa-efeito ou freqüência das respostas entre
os mesmos. Por outro lado, o método da pesquisa-ação não é adequado, dado que o
pesquisador não tem autonomia para interferir nas soluções que as empresas dão ao
problema de escoamento do açúcar para exportação.
1.5 - Estratégia de pesquisa
Em atenção aos objetivos previamente apresentados, esta pesquisa
assume uma abordagem qualitativa, ora de cunho exploratória – conduzida pela revisão
bibliográfica – ora descritiva, pautada pelos resultados do método de estudos multi-
casos.
As unidades de análise são compostas por dois pares dos seguintes
atores: i) os terminais açucareiros santistas e as usinas paulistas; ii) aqueles e as trading
companies instaladas no Brasil.
Os terminais santistas são comuns a ambas as abordagens em razão do
papel central que cumprem no objeto de estudo. São responsáveis pela interface
logística e comercial entre o suprimento do açúcar (usinas) e a distribuição (tradings)
para os importadores.
Para tanto, observa-se a cadeia logística terrestre e portuária para
escoamento do açúcar do ponto de vista dos grandes grupos sucroalcooleiros paulistas,
que façam uso dos serviços portuários prestados pelos terminais.
9
Pretende-se contribuir para o pouco conhecimento sobre as práticas de
operações logísticas voltadas para o comércio exterior entre os atores da problemática –
dado o caráter recente de seus acontecimentos (novo ambiente institucional). Foca-se,
portanto, na análise das operações e dos recursos logísticos que diferentes terminais
dispõem para prestar seus serviços àquela cadeia logística. Observam-se como esses
serviços possam se refletir em capacidade de competição entre os grupos empresariais
sucroalcooleiros paulistas.
A coordenação da presente estratégia de pesquisa mostra-se útil para a
análise da dinâmica dos atores envolvidos. Contudo, o método de múltiplos estudos de
caso traz algumas restrições inerentes, principalmente pela impossibilidade de
generalizações. Sendo assim, a validade externa deste estudo pode ocorrer pela
replicação do modelo teórico da exportação do açúcar para outras commodities,
ampliando seu escopo de uso.
1.6 - Levantamento e coleta de dados
Os instrumentos de coleta de dados são: questionário estruturado e
entrevistas abertas. O levantamento dos dados utilizou amostragem não probabilística,
qual seja intencional. Selltiz et al. (1965) acredita que isto não afeta os resultados, pois
as principais vantagens da amostragem não probabilística são conveniência e economia
– vantagens que podem superar os riscos existentes em não usar a amostragem
probabilística.
A coleta de dados, pautada pelo modelo teórico, abarca aspectos
exploratórios e descritivos. A fase exploratória é orientada pelo levantamento
10
bibliográfico (livros, revistas científicas, artigos, teses e outros) para identificação de
parâmetros e pontos críticos sobre as estratégias logísticas e comerciais para a
exportação do açúcar paulista. Esta etapa consolida a validade interna (constructo) do
modelo teórico.
Paralelamente, o conteúdo descritivo da pesquisa relata como a
intervenção do pesquisador na coleta de dados em pesquisa de campo auxilia na busca
por respostas com base em dados qualitativos.
De acordo com Vianna (2001, p.123):
“Na pesquisa qualitativa são analisadas situações a partir de seus dados
descritivos, buscando identificar relações, causas, efeitos, conseqüências e
outros aspectos considerados necessários à compreensão da realidade
estudada e que, geralmente envolve múltiplos aspectos”.
Esta última fase da pesquisa fornece subsídios para a apresentação e
análise dos resultados dos estudos de caso.
1.7 - Estudos de caso
O complexo portuário santista possui cinco terminais para embarque do
açúcar: sendo 1 (um) deles o cais público; e os demais de uso privativo. Em comparação
aos demais granéis sólidos (grãos em geral, minério-de-ferro), o açúcar tem-se mantido
como a principal carga granelizada em volume anual de movimentação naquele porto.
(CODESP, 2005).
Os estudos de caso buscam validar informações para a descrição das
relações logísticas e comerciais dos terminais santistas com as unidades produtoras, por
11
um lado, e com as tradings por outro. A parte exploratória da coleta de dados
complementou os argumentos teóricos para fundamentar a análise dessas relações,
conforme as metas estabelecidas pelos objetivos deste trabalho.
Os estudos de caso realizados abarcam ao menos três terminais
açucareiros que, agregados à outras evidências in loco junto às usinas do interior
paulista, conformaram a parte descritiva desta pesquisa.
As empresas abordadas pelos estudos de caso são as seguintes:
i. Três terminais portuários santistas;
ii. Duas usinas produtoras do Estado de São Paulo;
iii. Uma trading company do setor agrícola, brasileira, sediada na
cidade de São Paulo.
1.7.1 Modelo de questionário
As questões para levantamento dos dados junto àqueles grupos
empresariais foram elaboradas de acordo com os objetivos estabelecidos. De acordo
com Mattar (1994), as questões de pesquisa são indagações amplas que, para serem
respondidas, exigem a colocação de um conjunto de perguntas específicas no
questionário. No conteúdo dos questionários constam:
Características gerais das empresas;
Fatores determinantes do mercado de atuação;
Grau de atuação no comércio internacional;
12
Práticas para gestão da logística terrestre no trecho usina-porto de
Santos;
Recursos e competências utilizadas pelas empresas para
coordenação na exportação de açúcar;
Processos e procedimentos para a venda ao comércio internacional;
Investimentos realizados em instalações para a cadeia logística de
escoamento do açúcar: equipamentos para operações logísticas na
origem e destino.
1.8 - Estrutura do Trabalho
Após a apresentação da problemática da dissertação, bem como da
questão da pesquisa, dos seus objetivos e dos quadros conceitual e metodológico para a
análise, este trabalho adota a seguinte estrutura.
O segundo capítulo aborda as condições sistêmicas das exportações
brasileiras de açúcar: marcos regulatórios; panorama das exportações paulista e nacional
de açúcar; as transações de commodities em bolsas de valores; e os principais agentes
das transações internacionais do açúcar.
A revisão teórica está concentrada no terceiro capítulo. Dividido em três
partes, desenvolve: i) conceitos e estratégias de operações logísticas; ii) o uso de
recursos e competências logísticas como fatores de competitividade – segundo a teoria
da Visão Baseada em Recursos (Resource Based View – RBV), da terceirização das
operações logísticas e o uso dos canais de distribuição internacionais; iii) e a gestão da
13
cadeia de suprimentos e logística integrada aplicadas à lógica do escoamento do açúcar
no trecho usina-porto.
O quarto capítulo destaca os componentes das operações logísticas ao
longo do trecho usina-porto de Santos (a infra-estrutura rodoviária e ferroviária
paulistas). Assim como a concorrência intra e extra-portuária santistas.
A análise dos estudos de caso ocorre no quinto capítulo. Apresentam-se
os resultados sobre as seguintes análises: as relações logísticas; o controle dos recursos
e processos; e o planejamento e controle do escoamento do açúcar no trecho usina-
porto, do ponto de vista da gestão integrada da informação logística.
O último capítulo traz as considerações finais, seguido das referências
bibliográficas e anexos.
14
2 - CONDIÇÕES SISTÊMICAS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE
AÇÚCAR
Este capítulo compõe-se de cinco partes que exploram as condições
sistêmicas das exportações brasileiras de açúcar.
As duas primeiras tratam da desregulamentação econômica iniciada pelo
governo brasileiro na década de 1990, que estabeleceu dois marcos regulatórios para o
setor sucroalcooleiro nacional. O primeiro, setorial, criando um novo ambiente
institucional para a produção e exportações de produtos do SAG da cana-de-açúcar. O
segundo, operacional, referente ao controle das operações portuárias e retro-portuárias
(respectivamente, áreas primárias e secundárias alfandegadas). Novos desafios foram
impostos ao suprimento do açúcar brasileiro ao mercado internacional.
A terceira parte apresenta o panorama das exportações brasileiras de
açúcar, com ênfase na competitividade produtiva e logística paulistas no trecho usina-
porto de Santos.
A quarta parte explora a dinâmica das negociações do açúcar no mercado
internacional, perfazendo a formação dos preços em bolsas de valores e as transações
inerentes a commodities agrícolas.
O último tópico apresenta as principais operações e os agentes do
comércio exterior envolvidos direta ou indiretamente nas exportações de açúcar.
2.1 - Desregulamentação do SAG canavieiro
Quanto ao primeiro ambiente institucional, o Estado passou, então, a não
mais interferir na fixação de cotas de produção e exportação de açúcar e álcool;
15
tampouco nos preços da cana, nem nos preços internos ou de exportação desses
produtos (FAPESP, 2003). Logo, o SAG canavieiro viu-se obrigado a criar novas
estratégias, articulando-se com outros atores sociais.
Essas estratégias dependem da capacidade de negociação com outros
atores locais e regionais. Nesta medida, criam-se instituições para representações
setoriais naquele espaço institucional, como a União da Agroindústria Canavieira de
São Paulo – ÚNICA (FAPESP, 2003).
Esta dissertação parte do pressuposto que o mesmo ocorra nas esferas
comercial e logística, respectivamente: para a coordenação de estrutura para venda e
negociação das commodities sucroalcooleiras no mercado externo; e na posse ou
terceirização de recursos logísticos para o escoamento desses produtos no trecho usina-
porto.
No curto espaço de uma década, o SAG da cana-de-açúcar defrontou-se
com o problema de desenvolver capacidades para competir no mercado internacional de
açúcar, tendo que optar por estratégias de operações logísticas que melhor se
adequassem aos seus interesses.
Como resultado, grupos de usinas brasileiras que visavam o mercado
internacional do açúcar passam a coordenar operações logísticas e comerciais para
apoio às exportações. As usinas submeteram-se ao aprendizado sobre os procedimentos
necessários às transações da logística internacional – que antes da desregulamentação
tinham estas operações subsidiadas e executadas pelo aparato estatal. Inclusive viram-se
obrigadas a assumir os custos necessários para a produção e distribuição do açúcar
(ASSUMPÇÃO, 2001).
16
Por outro lado, o enfraquecimento do papel do Estado – nas esferas de
produção e exportações do SAG da cana-de-açúcar – reforçou o desempenho dos portos
brasileiros como fator primordial para a competitividade do açúcar nacional no
comércio internacional.
2.2 - Desregulamentação das operações portuárias
Neste segundo plano institucional, o gap existente entre a infra-estrutura
portuária (com guindastes, gruas e equipamentos obsoletos) e o desenvolvimento
alcançado por outros segmentos da economia brasileira, em especial o agronegócio, foi
um dos principais pleitos à modernização portuária brasileira. Assim, em 25 de
fevereiro de 1993 entrou em vigor a Lei nº 8.630, dispondo sobre o regime de
exploração dos portos e das instalações portuárias, visando estimular a livre-
concorrência no setor portuário.
O principal intuito dessa reforma portuária foi reformular o modelo de
controle centralizado vigente até a extinção da Portobrás, em 1990, como exposto por
CAIXETA-FILHO e MARTINS (2001), quando ocorre:
Criação de Conselhos de Autoridade Portuária, instituídos em cada
porto organizado ou no âmbito de cada concessão;
Fomento da concorrência entre terminais (intraporto) e entre portos,
por meio do arrendamento de instalações e de terminais, em portos
públicos, a empresas privadas, assim como da permissão para
operação de carga de terceiros por parte de terminais privados;
17
Transferência da operação de movimentação de carga para
operadores portuários privados;
Transformação das Companhias Docas em administradores da
infra-estrutura portuária (das instalações de uso comum);
Descentralização da gestão pública do setor, mediante a
estadualização e a municipalização de portos por meio de
delegação, por meio de convênios.
A reforma em questão definiu dois tipos de portos: o Porto Organizado,
cujo tráfego e operações portuárias estejam sob a jurisdição de uma Autoridade
Portuária; e a instalação Portuária de Uso Privativo exclusivo ou misto, explorado por
pessoa jurídica de direito público ou privado, dentro ou fora da área do Porto
Organizado (CAIXETA-FILHO e MARTINS, 2001).
A Figura 2.1 sintetiza a dinâmica atual desse modelo de gestão portuária
por meio de um fluxograma esquemático.
O porto organizado passou a ser dirigido por duas instituições: i) o
Conselho de Autoridade Portuária (CAP) e ii) a Administração Portuária. Existem 46
portos públicos no Brasil (incluindo portos secos e terminais hidroviários) (ANTAQ,
2004).
O Conselho de Autoridade Portuária (CAP) é composto por um
colegiado de representantes do Poder Público, dos Operadores Portuários, dos
Trabalhadores Portuários e Usuários dos Serviços Portuários com amplas competências
funcionais (por exemplo, homologação dos valores das tarifas portuárias e cumprimento
das normas de defesa ambiental).
18
TERMINAIS
DE USO
PRIVATIVO
AGENTES E
ARMADORES
CONTRATOS
X
TARIFAS
USRIOS
PREÇOS
ÓRGÃOS
AMBIENTAIS
RECEITA
FEDERAL
TERMINAIS
DE USO
PRIVATIVO
PORTO ORGANIZADO
Administração Portuária
e
Conselho de Autoridade
Portria - CAP
ANTAQ
Fonte: ANTAQ (2004).
FIGURA 2.1 MODELO DE GESTÃO PORTUÁRIO BRASILEIRO.
A Administração Portuária é exercida pela União ou pela unidade
concessionária (com as funções de fixação dos valores e arrecadação das tarifas
portuárias, principalmente). Esta providência resultou na perda do poder de monopólio
de movimentação e armazenagem de mercadorias na área do porto e do cais público,
passando a ser possível a concorrência entre operadores portuários privados.
O Porto/Terminal de Uso Privativo (TUP), exclusivo ou misto, adquire
poder de arrendatário de instalações portuárias mediante autorização do Ministério
competente, que analisa individualmente a parte processual dos requerimentos. A lei
10.233/2002 estabeleceu a Agência Nacional dos Transportes Aquaviários – ANTAQ
como órgão regulador, normatizador e fiscalizador das entidades existentes dentro da
área denominada Porto Organizado. Uma de suas principais funções é a concessão de
exploração, ou construção e exploração de terminais de uso privativo mediante
cumprimento de inúmeras exigências processuais (ANTAQ, 2004).
19
A edição da Lei 8.630/93 tornou possível aos proprietários de terminais
de uso privativo movimentar cargas de terceiros nas suas instalações, além da
obrigatoriedade de movimentação de cargas próprias. Na ocorrência das duas
modalidades (carga de terceiro e própria) tem-se a exploração na modalidade mista.
Existem 87 (oitenta e sete) terminais de uso privativo autorizados no Brasil, embora
muitas das concessões não tenham se efetivado (ANTAQ, 2004).
O advento deste marco regulatório permitiu a expansão de atividades e
competências essenciais da produção de açúcar para as operações portuárias, até então
reguladas pelo Estado.
2.3 - Panorama das exportações brasileiras de açúcar
O Brasil lidera as exportações mundiais de açúcar desde a década de
1990. A Tabela 2.1 apresenta o ranking dos cinco principais destinos das exportações
brasileiras de açúcar:
T
ABELA 2.1 PRINCIPAIS DESTINOS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AÇÚCAR
(JAN-SET 2006)
DESTINOS T US$/FOB
PREÇO MÉDIO
(US$/TON)
RÚSSIA
3.568.281 1.053.549.387
265,25
NIGÉRIA
962.924 305.062.115
316,81
EMIR. ÁRABES
940.161 322.474.073
343
IRÃ
868.853 287.009.937
330,33
EGITO
815.728 253.033.020
310,19
TOTAL
14.623.746 4.824.862.870
329,23
Fonte: UNICA (2006).
20
O setor sucroalcooleiro nacional apresenta produtos bastante
competitivos no mercado internacional devido aos seus baixos custos de produção.
Situam-se entre 5,5 a 7,5 centavos de Dólar por libra/peso (o equivalente a R$0,36 a
R$0,485 por quilo), correspondentes à diferença dos custos de produção entre as
unidades mais eficientes e as menos eficientes (USDA, 2003).
Esta vantagem comparativa é alvo de barreiras tarifárias como forma de
resguardar economias locais incapazes de atingir a eficiência produtiva brasileira.
O comércio internacional de produtos agrícolas apresenta tendência de
ainda manter-se pautado em políticas protecionistas. Estas incluem o aumento na
concessão de subsídios, a imposição de tarifas e cotas de importação, ainda que tenha
havido avanços para dar fim a tais práticas. A colocação do açúcar brasileiro no
comércio internacional ainda enfrenta restrições tarifárias, até mesmo junto ao Mercosul
(ASSUMPÇÃO, 2004).
Em âmbito nacional, apresenta-se uma análise entre diferentes portos
brasileiros. Abrange as operações tanto para carga geral (açúcar ensacado) como para
granéis sólidos (açúcar a granel), ou ambos nas mesmas instalações portuárias e retro-
portuárias. Portos de outros Estados que concorrem com o açúcar escoado por Santos
são abordados para efeito de comparações, destacando-se a movimentação nos portos de
Paranaguá e Maceió.
Os dados da tabela 2.2 abrangem a movimentação dos portos e terminais
brasileiros que exportaram açúcar e álcool no período de 1998 a 2003. A partir do ano
de 2004, a fonte desses dados ocultou a indicação da natureza das cargas movimentadas
pelos portos nacionais, dificultando a análise dos anos subseqüentes nesta análise
comparativa.
21
Os dados da tabela 2.2 são ilustrados pelos gráficos 2.1 e 2.2,
respectivamente, referentes à movimentação de açúcar a granel e ensacado nos portos
brasileiros.
TABELA 2.2 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR E ÁLCOOL PELOS PORTOS E
TERMINAIS BRASILEIROS
1998 A 2003 (NAVEGAÇÃO DE LONGO CURSO).
VOLUME EMBARCADO (açúcar em toneladas e álcool em m³)
PORTO/TERMINAL
CALADO
1998 1999 2000 2001 2002 2003
NATAL – RN
10 a 11.5m
Açúcar ensacado
72.211 51.334 80.457 60.042
CABEDELO – PB
8,5 a 9,5m
Álcool
37.380 32.517 52.986 90.532
RECIFE PE
6,5 a 12m
Açúcar a granel
358.555 404.688 286.355 548.881 349.002 309.874
Açúcar ensacado
– – 82.179 76.909 176.354 125.464
SUAPE – PE
14m
Açúcar ensacado
15.834 63.985 41.788 13.643
MACEIÓ AL
10m
Açúcar demerara
818.460 827.777 823.269 1.297.105 1.196.796 1.250.362
Açúcar (ensacado)
28.000 24.000 14.000 46.000 260.000 225.831
Álcool hidratado
115.000 103.000 114.000 76.000 114.000 163.034
SANTOS SP
8 a 13m
Açúcar (granel)
1.401.894 2.966.568 2.229.708 3.096.320 3.869.468 4.525.175
Açúcar (sacaria)
1.225.202 2.008.285 2.657.279 2.041.959
PARANAGUÁ PR
8 a 9m
Açúcar (granel)
2.128.760 2.407.355 1.062.798 2.194.812 2.194.248 1.420.774
ITAJAÍ SC
10,5m
Açúcar e preparações*
(ensacados)
106.993 203.308 52.206 185.950 127.002 25.750
IMBITUBA – SC
8,5 a 13m
Açúcar ensacado
– – 30.910 6.171 70.068
* Utilizadas em amostras que não são soluções, mas misturas que podem precisar de preparações
especiais, tais como remoção de sólidos suspensos.
Fonte: ANTAQ (2005a).
22
A capacidade de movimentação de açúcar ensacado está presente em
mais portos que o açúcar a granel. O Porto de Santos, mesmo neste tipo de carga,
apresenta maior movimentação que os demais portos brasileiros.
Os Portos de Santos e de Paranaguá são os de maior movimentação de
açúcar a granel, seguido pelo Porto de Maceió (gráfico 2.1). Os dois primeiros têm
capacidade de atracação de navios maiores que o terceiro, devido ao maior calado –
distância vertical entre a superfície da água e a parte mais baixa do navio. Portos com
restrições de calado dificultam a entrada e saída de navios com carga total, que incorrem
em atrasos de até doze horas para a seqüência das operações na maré alta (preamar).
O Porto de Maceió, até 2004, exportou apenas o açúcar tipo Demerara,
pois apenas a partir daquela safra que as usinas alagoanas passaram a produzir o açúcar
tipo VHP – “Very High Polarization" (ASSUMPÇÃO, 2004).
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
3.000.000
3.500.000
4.000.000
4.500.000
5.000.000
1998 1999 2000 2001 2002 2003
TONELADAS
RECIFE - PE
MACEIÓ - AL
SANTOS - SP
PARANAGUÁ - PR
Fonte: ANTAQ (2005a).
GRÁFICO 2.1 MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR A GRANEL NOS PORTOS BRASILEIROS (EM
TONELADAS
).
23
O Gráfico 2.2 denota o crescimento da participação do Porto de Maceió
na movimentação de açúcar ensacado em detrimento da movimentação apresentada no
Porto de Recife. Os Portos do Estado de Santa Catarina passaram a ter maior
movimentação em 2002, sendo que o Porto de Itajaí apresenta uma queda na
movimentação em razão do melhor desempenho dos portos concorrentes nos estados
nordestinos.
0
25000
50000
75000
100000
125000
150000
175000
200000
225000
250000
275000
1998 1999 2000 2001 2002 2003
TONELADAS
NATAL – RN
RECIFE - PE
SUAPE – PE
MACEIÓ - AL
ITAJ - SC
IMBITUBA – SC
Fonte: ANTAQ (2005a).
Notas: os dados de movimentação do Porto de Santos não são apresentados para facilitar a visualização
dos demais portos.
GRÁFICO 2.2 MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR ENSACADO NOS PORTOS BRASILEIROS
(SACOS DE 50 KG).
Atualmente, o porto de Santos possui cinco terminais especializados no
processamento e exportação de açúcar e vigora como a maior plataforma de exportação
de açúcar do mundo. O conjunto daqueles terminais açucareiros tem capacidade para
exportar até 20,2 milhões de toneladas anuais (CODESP, 2005).
24
A Tabela 2.3 ilustra o balanço das exportações de açúcar por esse porto
entre os anos 2000 a 2006, considerando o montante da movimentação do tipo a granel
e ensacado.
TABELA 2.3: EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR, A GRANEL E ENSACADO,
PELO
PORTO DE SANTOS (2000 2006).
(*) Total acumulado no ano referente apenas ao açúcar a granel, valores do ensacado não computados.
Fonte: CODESP (2007).
Segundo estimativas da CODESP – Companhia Docas do Estado de São
Paulo – o escoamento do açúcar pelo cais do Porto de Santos será de 14 milhões de
toneladas até o fim do ano corrente. Caso a previsão se confirme, as exportações de
açúcar pelo cais santista terão atingido o crescimento de 235% em apenas sete anos.
(CODESP, 2007).
2.3.1 Competitividade produtiva e logística paulistas
Antes da desregulamentação dos setores econômico e portuário, as
exportações de açúcar e álcool eram exclusivamente feitas pelos estados nordestinos. A
Lei de Modernização dos Portos concedeu à iniciativa privada a exploração de serviços
retroportuários e portuários resultando, principalmente, na melhoria da prestação destes
serviços na baixada santista.
MERCADORIA 2000 2001 2002 2003 2004 2005 (*) 2006 (*)
AÇÚCAR 4.172.354 6.538.251 8.026.029 8.321.930 10.825.987 9.451.484 10.313.188
25
No curto espaço de quase duas décadas, o Estado de São Paulo se
destacou no processo “autônomo” de entrada no mercado internacional do açúcar.
Diferencia-se entre os principais Estados produtores por sua maior capacidade produtiva
e pela matriz de transportes privilegiada (estradas de rodagem, vias férreas, o Porto de
Santos e seus acessos).
A produção paulista de cana, álcool e açúcar constituem mais da metade
da produção brasileira (58%; 59% e 61%, respectivamente). Apenas em relação à região
Sudeste se obtém números ainda mais significativos: 88 % da produção de cana-de-
açúcar e 89% e 90% do álcool e do açúcar produzido no Brasil (ASSUMPÇÃO, 2004).
Nas demais regiões, destacam-se o Paraná, com 8% da produção nacional
de cana, representando 99,7% da produção Sul. Na região Nordeste, Alagoas participa
com 8,7% da produção nacional de cana, concentrando 99,7% da produção daquela
região. Esse Estado produz 55,7% do açúcar nordestino e responde por 10% da
produção nacional de açúcar (ASSUMPÇÃO, 2004).
Os dados da Tabela 2.4 analisam os valores (US$/FOB) das exportações
de açúcar de cana, em bruto, provenientes dos Estados do Paraná, Alagoas e São Paulo
em relação ao total exportado pelo Brasil no período 2000-2003.
TABELA 2.4 EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR DE CANA, EM BRUTO, DE 2000 A 2003 (US$
1000 FOB).
Exportações
Ano
Paraná Alagoas São Paulo
Sub-total (%)
São Paulo
Brasil
2000 - 167.499
411.018 53,9 761.491
2001 152.512 270.510
759.666 54,2 1.400.827
2002 128.550 175.580
690.234 62,1 1.111.343
2003 172.739 227.247
791.358 58,6 1.350.039
Fonte: RADAR COMERCIAL (2005).
26
Mesmo considerando os dois maiores Estados exportadores das regiões
Sul (Paraná) e Nordeste (Alagoas), o Estado de São Paulo desponta como líder em
valores de exportação de açúcar de cana, em bruto. As usinas paulistas foram
responsáveis, na média, por 57,2% dos valores totais exportados pelo Brasil no período
analisado.
Além de responder por mais da metade do retorno financeiro em vendas
externas, a região Centro-Sul (liderada pela produção paulista) também concentra a
maior parte dos investimentos em novas unidades e na expansão da produção.
Na safra de 2003/04, foi registrada a atuação de 320 unidades
processadoras de cana-de-açúcar no Brasil, das quais 226 encontram-se no Centro-Sul e
as demais no Norte-Nordeste (UNICA, 2006).
A concentração dos investimentos na região centro-sul se repete no
âmbito dos terminais portuários. O Gráfico 2.3 demonstra a participação nos
investimentos realizados (1993-2001) em terminais privativos, por regiões do País,
desde o início das adesões aos contratos de arrendamento (Lei nº. 8.630/93).
3,98%
10,48%
17,43%
0,63%
67,48%
NORTE NORDESTE CENTRO-OESTE SUDESTE SUL
Fonte: ANTAQ (2005b).
Gráfico 2.3 – Investimentos realizados desde os contratos de adesão (1993-2001).
27
Nota-se que a maior parcela refere-se aos portos da região Sudeste, com
67,48% do total de R$1.120.987 aplicados pelo setor privado, até o ano de 2001
(ANTAQ, 2005b).
Os investimentos estão, igualmente, em conformidade com a liderança
das regiões Sul e Sudeste na participação dos saldos positivos da balança comercial,
cujos portos movimentam 75% das cargas brasileiras via navegação de longo curso
(entre o Brasil e outros países) (ANTAQ, 2005b).
O Porto de Santos assume papel de destaque para as condições sistêmicas
do comércio exterior brasileiro, especialmente para as exportações de açúcar.
A Tabela 2.5 destaca a participação do Porto de Santos com 26,4% de
toda a movimentação comercial brasileira para o exterior – com referência ao período
de janeiro a novembro de 2006.
TABELA 2.5 PRINCIPAIS PARTICIPAÇÕES NA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA (JAN-
NOV 2006).
PARTICIPAÇÃO NA
BALANÇA COMERCIAL
US$* %
1 - SANTOS/SP 55,3 26,4
2 - VITÓRIA/ES 16,1 7,7
3 - PARANAGUÁ/PR 11,6 5,5
4 - ITAGUAÍ/RJ 9,8 4,7
5 - RIO DE JANEIRO/RJ 9,5 4,5
6 - RIO GRANDE/RS 9,2 4,4
7 - ITAJAÍ/SC 6,6 3,1
8 - SÃO LUIZ/MA 6,3 3
9 - ARATÚ/BA 5 2,4
10 - SÃO SEBASTIÃO/SP 4,3 2
10 - SÃO FRANCISCO/SC 4,3 2
*EM BILHÕES
Fonte: CODESP (2007).
28
O tópico seguinte aborda a natureza das transações de commodities
agrícolas; assim como os principais procedimentos e agentes componentes das
exportações nacionais de açúcar.
2.4 - Negociação do açúcar no mercado internacional
Segundo Azevedo (1997), o grande desafio da comercialização dos
produtos agroindustriais é a conciliação de uma demanda relativamente instável com
uma oferta agrícola que flutua sazonal e aleatoriamente, porque dependente de safras
agrícolas de outras regiões produtoras dispersas mundialmente.
Assim, alguns mecanismos de comercialização desses produtos foram
desenvolvidos, como: i) o mercado de futuros, cujo papel é a redução da incerteza
quanto às oscilações dos preços desses produtos; ii) os contratos de longo prazo, mais
preocupados com a qualidade e regularidade do suprimento de insumos; iii) e os
mercados de opções de compra e venda – que diferem do primeiro em dar o direito, mas
não a obrigação, de vender ou comprar o produto a um determinado preço mediante o
pagamento de um prêmio (AZEVEDO, 1997; MARQUES, 2003).
Esses mecanismos devem ser vistos como uma espécie de seguro contra
a queda de preços (para produtores) ou elevação nos custos dos produtos (para os
compradores). Nestas situações, é comum o ato de assumir uma posição de segurança
no mercado de futuros contra flutuações de preços e câmbios no mercado físico pelas
operações de hedging (AZEVEDO, 1997).
Os produtos negociados sob essas operações são denominados
commodities por atender, principalmente, aos seguintes fins:
29
Padronização de qualidade, definição de quantidade, pontos de
entrega e data para encerramento dos negócios: permitem a oferta
pública (pregões) das mercadorias sem a necessidade de sua
presença física durante a negociação;
Ponto de entrega: local de entrega física da mercadoria caso haja
interesse das partes – deve ser explícito no contrato para que as
partes calculem os custos de transporte (e outros custos associados)
caso haja entrega efetiva;
Padronização dos contratos: possibilita a todos participantes a
revenda e recompra dos contratos – a Bolsa de futuros torna-se
apenas garantidora/formadora dos preços, sendo a entrega física
negociada com os clientes finais.
Idealmente, a transação é efetivada pelo exato preço do dia
correspondente na Bolsa. Entretanto, existe uma diferença nos preços devido a
transportes, impostos, concorrência local e outras variáveis determinantes para a base
dos preços.
Este comportamento é explicado pela diferença entre os preços nos
mercados físicos e futuro.
No primeiro tipo de mercado, os preços praticados são para entrega
imediata (mercado spot), enquanto que nos mercados futuros, os preços são para entrega
em uma data futura. “À medida que se aproxima a data do vencimento do contrato, estes
30
dois valores tendem a se aproximar, diferindo apenas por questões de transporte,
impostos, etc” (MARQUES, 2003). Segundo este autor, menos de 2% dos negócios
transacionados em mercados futuros são concretizados com a entrega física da
mercadoria – os demais são de cunho especulativo.
No Brasil, a formulação dessa base dos preços dos lotes de açúcar ocorre
com a emissão do Registro de Venda no SISCOMEX, a ser detalhada mais adiante.
Os preços do açúcar no mercado internacional formam-se através de dois
mecanismos: um fundamentado nas safras por países, na demanda mundial, e nos
volumes de exportações e estoques mundiais; o outro é influenciado pelo movimento de
fundos (portfolios ou carteiras de investimento). O primeiro tem nas bolsas de Nova
York e de Londres como principais pontos de fechamento de contratos (BELING,
2004). No Brasil, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) é, atualmente, a única
onde são realizados negócios com futuros agropecuários, classificando-se como a sexta
maior do mundo (MARQUES, 2003).
Em geral, para o setor sucroalcooleiro brasileiro, o fechamento dos
contratos no mercado futuro ocorre, em média, com um ano de antecedência à
concretização da entrega do produto, qual seja no início da safra, sendo referência para
o planejamento da produção.
2.5 - Operações e agentes do comércio exterior para exportação de açúcar
As operações de comércio exterior apresentam uma miríade de
procedimentos contratuais (i.e. cartas de crédito), burocráticos (i.e. despachos
31
aduaneiros) e logísticos (gestão do fluxo físico e de informações, contratação de
afretamentos) que devem ser administrados conjuntamente.
A Figura 2.2 ilustra a complexidade dessas operações, incluindo os
fluxos de produtos (linhas contínuas) e de informações (linhas pontilhadas).
AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIIS
ESTRANGEIRAS
BANCOS ESTRANGEIROS
AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS
BANCOS DOMÉSTICOS
COMPRADORES
ESTRANGEIROS
TRANSPORTADORES
INTERNOS ESTRANGEIROS
PORTOS OU TERMINAIS
ESTRANGEIROS
PORTOS OU TERMIAIS
DOMÉSTICOS
TRANSPORTADORES
INTERNOS
FACILITADORES DE
EXPORTAÇÃO
VENDAS DOMÉSTICAS
Fonte: Lambert e Stock (1998: 672).
FIGURA 2.2 PRINCIPAIS PARTICIPANTES DE UMA TRANSAÇÃO DE LOGÍSTICA
INTERNACIONAL
.
As transações para exportação do açúcar, em especial, envolvem os
seguintes atores: i) a indústria sucroalcooleira paulista (produtores da commodity); ii) as
trading companies que operam no mercado internacional de commodities; iii) os
operadores de serviços logísticos (como alguns portuários); iv) despachantes aduaneiros
para as commodities agrícolas; v) e o armador, agente econômico do transporte
32
marítimo. Os três primeiros são os atores que participam diretamente do escoamento do
açúcar no trecho usina – Porto de Santos.
As principais entidades econômicas envolvidas naquelas transações
internacionais são descritas a seguir. Também são apresentados os termos internacionais
do comércio internacional, ou INCOTERMS (International Comercial Terms) que
definem direitos e deveres entre as partes da negociação internacional, assim como as
formas de pagamento associadas à mesma.
2.5.1 Indústria sucroalcooleira
No cenário pós-desregulamentação, as usinas optam entre duas formas de
exportação: i) direta, pela qual o exportador conduz todo o processo de exportação,
desde os primeiros contatos com o importador até a conclusão da operação de vendas;
ii) indireta, quando a empresa utiliza os serviços de uma outra, cuja função é encontrar
compradores, para os seus produtos, em outros mercados (requerendo a participação de
uma empresa mercantil – trading company) (MDIC, 2005).
2.5.2 Trading companies
As trading companies são especializadas em procurar compradores para
os produtos, sendo responsáveis por todo ou pela maior parte do processo de
exportação, incluindo documentação, transporte terrestre e/ou inter-oceânico e
conhecimento de normas e regras do governo estrangeiro. As operações efetuadas por
tradings caracterizam-se, principalmente, por (MDIC, 2005):
33
Exportação de produtos de diferentes fornecedores de forma
consolidada;
Necessidade de menor capital de giro, devido às operações casadas;
Estoques que permitam regularidade de fornecimento;
Atuação em diversos mercados.
A colocação do açúcar brasileiro no mercado externo passa
necessariamente por essas tradings, que detêm os poderes de acesso aos mercados não-
tradicionais (que não se refiram aos Estados Unidos, União Européia e Japão),
principais países compradores do açúcar brasileiro.
2.5.3 Operadores logísticos X prestadores de serviços de logística
No trecho usina-porto de Santos, o escoamento de açúcar para
exportação conta com prestadores de serviços logísticos que atuam: no transporte
rodoviário e ferroviário; em estações de transbordo desde as regiões produtoras; e nas
operações portuárias, responsáveis pela elevação do açúcar no cais.
Os prestadores de serviços logísticos podem ser classificados como
tradicionais e não-tradicionais, este último referente aos operadores logísticos.
Robles (2001) destaca que o processo de transformação empresarial – de
prestador de serviços tradicionais a operador logístico integrado – se faz de forma
diferenciada e descontinuada. “O mercado mostra-se em evolução, tanto com os
prestadores de serviços, que vem incorporando novas habilitações, como nas empresas
contratantes, que vem se adaptando a uma abrangência maior das atividades
terceirizadas” (2001; 45).
34
Ao se pensar em serviços de logística integrada, deve-se avaliar a
complexidade dos serviços e o grau de comprometimento do prestador dos serviços
logísticos com o resultado final almejado pelo contratante.
Robles (2001), citando Fleury (1999), apresenta o operador logístico
como “um fornecedor de serviços logísticos integrados, capaz de atender a todas ou
quase todas as necessidades logísticas de seus clientes, de forma personalizada”
(FLEURY, 1999 apud ROBLES, 2001; 44).
O Quadro 2.1 apresenta uma síntese das principais características entre
ambos os agentes de serviços logísticos:
QUADRO 2.1 COMPARAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DOS OPERADORES LOGÍSTICOS
COM PRESTADORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS TRADICIONAIS
PRESTADOR DE SERVIÇOS
TRADICIONAIS
OPERADOR LOGÍSTICO INTEGRADO
Serviços genérico - commodities Serviços sob-medida, personalizados
Tende a se concentrar numa única atividade
logística; ex: transporte ou armazenagem
Oferece múltiplas atividades de forma integrada;
transporte, gerenciamento de inventário, sistemas,
armazenagem, etc
Contratante objetiva mitigação do custo
específico da atividade contratada
Objetivo é reduzir os custos totais da logística,
oferecendo melhor serviço e mais flexibilidade para
atendimento.
Contratos com duração de curto a médio prazos
(1 a 2 anos)
Contratos de serviços tendem a ser de longo prazo (2 a 5
anos)
Conhecimento limitado e especializado
(transporte, embalagem, etc)
Exigem capacitação ampla em planejamento
logístico;assim como de operação
Contratos apresentam tempo relativamente
menores em negociações
Negociações para contratos tendem a ser mais
demoradas
Acordos mais simples e custo de mudança
relativamente baixos
A complexidade dos acordos levam a custos de mudança
mais altos
Fonte: (RAZZAQUE & CHENG, 1998:91 apud ROBLES, 2001:45)
Ambos os agentes de logística ganham espaço e relevância no cenário
pós-desregulamentação pela crescente demanda por seus serviços prestados de apoio ao
escoamento do açúcar pelos portos brasileiros.
35
2.5.4 Despachantes Aduaneiros
Os despachantes aduaneiros cumprem duas funções críticas: i) viabilizar
a liberação do produto nas alfândegas; ii) e tratar da documentação necessária para os
embarques internacionais (LAMBERT e STOCK, 1998).
No Brasil essas operações são processadas por meio do Sistema
Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX. Este é um instrumento administrativo
que integra as atividades de registro, acompanhamento e controle das operações de
comércio exterior, mediante fluxo único, computadorizado, de informações. São
usuários deste sistema todos aqueles que realizam ou intervêm no processamento das
operações de comércio exterior (exportadores, importadores, órgãos governamentais,
despachantes, tradings nacionais) (MDIC, 2005).
Por este sistema, os exportadores (ou seus representantes legais)
formulam eletronicamente os Registros de Exportação, Registros de Venda, Registros
de Crédito, além da solicitação de despacho aduaneiro.
No caso das exportações de açúcar, a emissão do Registro de Venda
(RV) é relevante por conter o registro das bases de comercialização das commodities,
assegurando ao exportador e importador o direito de manter as condições da negociação
inalteradas até a efetivação do embarque.
As principais informações contidas no RV são: descrição da mercadoria,
nome do importador, data da venda, prazo de extensão (validade da RV), porto de
embarque, país de destino, período de embarque, peso líquido (toneladas) e o preço
unitário FOB (US$/t).
36
2.5.5 Armadores
O armador é a pessoa jurídica estabelecida e registrada com a finalidade
de realizar o transporte marítimo, local ou internacional, por meio de operação de
navios, que explora determinadas rotas e se oferece para transportar cargas de todos os
tipos de um porto para outro.
O armador não precisa necessariamente ser proprietário de todos os
navios que opera e pode se utilizar de navios afretados (frete integral) de terceiros para
compor sua frota.
Atuam como agentes logísticos no transporte marítimo de cabotagem
(realizado ao longo da costa brasileira), longo curso (entre os portos brasileiros e outros
países), ou de “feeder service” (transbordo de cargas de um navio “mãe” para outro
menor) (SILVA & PORTO, 1999).
2.5.6 Termos Internacionais de Comércio
Tratam das regras que definem direitos e obrigações das partes,
indicando em que local e momento se encerram as responsabilidades do vendedor e
iniciam as responsabilidades do comprador. As condições constam nos contratos de
compra e venda, ou outro documento que formalize o negócio, como o Registro de
Venda, específico para commodities.
Atualmente, 13 (treze) termos são aprovados pela Câmara de Comércio
Internacional – CCI (com base na publicação nº 560 – INCOTERMS 2000).
Os 13 INCOTERMS são os seguintes:
37
1. EXW: Ex-Works (a partir do local de produção).
2. FCA: Free Carrier (livre no transportador).
3. FAS: Free Alongside Ship (livre no costado do navio).
4. FOB: Free on Board (livre a bordo).
5. CFR: Cost and Freight (custo e frete).
6. CIF: Cost, Isurance and Freignt (custo, seguro e frete).
7. CPT: Carriage Paid to (transporte pago até).
8. CIP: Carriage and Insurance Paid to (transporte e seguro pagos até).
9. DAF: Delivered at Frontier (entregue na fronteira).
10. DES: Delivered Ex-Ships (entregue no navio).
11. DEQ: Delivered Ex-Quay (entregue a partir do cais).
12. DDU: Delivered Duty Unpaid (entregue direitos não pagos).
13. DDP: Delivered Duty Paid (entregue direitos pagos).
O Quadro 2.2 sintetiza todos os termos com indicações das obrigações e
riscos para os exportadores (E) e importadores (I).
Estas modalidades são úteis para a descrição dos relacionamentos
comerciais entre as usinas paulistas, as tradings agrícolas instaladas no Brasil e os
operadores portuários santistas na exportação do açúcar. Duas das prováveis
modalidades utilizadas entre aqueles atores são descritas a seguir:
EX-WORKS (na fábrica ou local designado): representa o mínimo
de obrigações para o exportador que entrega a mercadoria ao
38
comprador no estabelecimento de origem; cabem ao comprador
todas as despesas e riscos, desde o recebimento até o destino final.
FOB (free on board – livre a bordo): todas as providências e custos
necessários para a colocação da mercadoria a bordo do navio
ocorrem por conta do exportador, tais como a preparação e
embalagem da mercadoria, obtenção dos documentos para
embarque, transporte e seguro desde a fábrica até o local do
embarque e despesas portuárias (capatazia, armazenagem, taxas de
desembaraço alfandegário no porto de origem);
QUADRO 2.2 TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADE E CUSTOS ENTRE
EXPORTADOR E IMPORTADOR.
Serviços
EXW FCA FAS FOB CFR CIF CPT CIP DAF DES DEQ DDU DDP
Embalagem
E
E E
E
E E E E E E E E E
Carregamento
I
E E
E
E E E E E E E E E
Frete doméstico
na origem
I
E E
E
E E E E E E E E E
Desembaraço na
Exportação
I
E E
E
E E E E E E E E E
Frete Internacional
I
I I
I
E E E E E E E E E
Seguro
Internacional
I
I I
I
I E I E * * * * *
Desembaraço na
Importação
I
I I
I
I I I I I I I I E
Impostos na
Importação
I
I I
I
I I I I I I I I E
Frete doméstico
no destino
I
I I
I
I I I I I I I E / I E / I
Ponto crítico
Armazém
na
origem
Primeiro
transpor-
tador
Ao
longo
do
costado
do
navio
Amurada
do navio
Primeiro
transpor-
tador
Primeiro
transpor-
tador
Fronteir
a
A bordo
do
navio
no
destino
No
cais de
destino
Local
deter-
minado
no
destino
Local
deter-
minado
no
destino
Características
Grupo E
Origem
Grupo F
Transporte principal
não pago
Grupo C
Transporte principal pago
Grupo D
Destino
Ι
= Importador E = Exportador
= Facultativo para o exportador
Fonte: Silva e Porto (1999; 142).
39
O Capítulo 5 lança mão desse aporte teórico para analisar quais dentre
essas modalidades ocorrem com maior freqüência nas negociações de compra e venda
do açúcar no mercado internacional.
2.5.7 Formas de pagamento
A modalidade de pagamento é influenciada pelas condições de mercado e
pelo grau de confiança entre as partes. É estabelecida nos contratos de compra e venda
internacional, ou equivalente.
A carta de crédito (Letter of Credit – L/C) é a modalidade que oferece
maiores garantias, condicionadas pelo recebimento contra o atendimento a todas as
exigências por ela convencionadas, para quaisquer produtos. A Figura 2.3 ilustra sua
dinâmica.
A carta de crédito define os termos e condições para financiamento da
produção atrelada à exportação: valor do crédito, prazo de validade para embarque da
mercadoria, prazo de validade para negociação do crédito, porto de embarque e de
destino, discriminação da mercadoria, quantidade, embalagem, permissão ou não para
embarques parciais e para transbordo, conhecimento de embarque, faturas, entre outras
exigências (MDIC, 2005).
Segundo Lambert e stock (1998; 700), “a documentação internacional é
muito mais complexa do que a doméstica porque cada país possui suas próprias
especificações e requisitos”. A carta de crédito, por exemplo, exige precisão absoluta,
pois erros podem resultar em atrasos de embarque ou penalidades.
40
1) Vendedor pede ao
comprador a abertura
da Carta de Crédito
L/C
2) Comprador pede ao
banco para abrir a
L/C de acordo
com os termos
da venda
4) O bando do vendedor
acrescenta confirmação
(garante o pagamento
ao vendedor) ou somente
avisa o vendedor
sobre a abertura da L/C
5) Vendedor efetua o
embarque e apresenta
a documentação ao
banco de acordo
com a L/C
6) O banco do vendedor
examina e aprova a
documentação, que
será enviada ao
banco por correio
ou courrier
7) O banco do comprador
examina e aprova a
documentação. Uma
vez aprovada, debita
o comprador e transfere
a quantia ao banco
do vendedor
3) As a aprovação da
linha de crédito, o
banco do comprador
notifica o banco do
vendedor
8) No recebimento dos
fundos, o banco credita
na conta do vendedor
(se a L/C for confirmada,
o banco do vendedor
deve pagá-lo após
o item 6)
Fonte: Lambert e stock (1998: 675).
FIGURA 2.3 MODELO DE CARTA DE CRÉDITO (LETTER OF CREDIT L/C).
Dentre a documentação que compõem os termos descritos na L/C, o
conhecimento de embarque marítimo (Bill of Lading – B/L) – caso a opção de frete seja
marítima – ganha destaque entre os outros documentos por servir às seguintes funções
(MDIC, 2005):
Servir como recibo de entrega da carga ao transportador;
Evidenciar um contrato entre a companhia marítima e o usuário;
Representar um título de propriedade da mercadoria (transferível e
negociável), em posse do comandante do navio no período de
trânsito;
41
Uma vez embarcada e verificada pelo o armador (status denominado
Clean on Board” – livre à bordo), a carga segue para o porto de destino enquanto as
cópias negociáveis da B/L são repassadas ao exportador/embarcador para que as
apresente ao banco e receba o valor estipulado pela carta de crédito, também chamada
de crédito documentário (L/C).
O capítulo seguinte apresenta a revisão teórica acerca dos fundamentos
da logística que nortearam o desenvolvimento e conclusão deste trabalho.
42
3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: LOGÍSTICA
Esta revisão bibliográfica compõe-se de três partes ambientadas à gestão
da cadeia logística de exportação do açúcar no trecho usina-porto de Santos.
A primeira apresenta os principais desafios e barreiras da globalização
econômica para a gestão da logística internacional. Para tanto, abrange o estudo do
modelo estratégico da logística de operações em escala global: evolução do conceito da
estratégia corporativa; e análise do modelo de formulação de estratégias das operações
logísticas globais.
Em seguida, são apresentados alguns modelos teóricos sobre diferentes
graus de inserção das empresas no mercado global, abordando diferentes canais de
distribuição internacionais como estratégia logística. A posse ou contratação de
competências logísticas no trecho usina-porto é guiada por fundamentos teóricos como
a Visão Baseada em Recursos (Resource Based View – RBV).
Encerra-se este capítulo com a revisão bibliográfica sobre a gestão
(programação e controle) das operações logísticas para o objeto de estudo. Para tanto,
são revisados os fundamentos da gestão da cadeia de suprimentos, da logística
integrada, dos ciclos de operações e das filosofias JIT (Just-in-Time) e LIS (Logistical
Informtational System) aplicadas à gestão das operações logísticas em escala
internacional.
43
3.1 - Atuação da logística em escala internacional
Segundo Dornier et al. (2000), dois fatores tem sido preponderantes para
o aumento da complexidade e importância da gestão dos fluxos na logística global.
O primeiro fator refere-se à intensificação do comércio internacional,
devido a abertura econômica e pela formação e crescimento dos blocos econômicos
(Mercosul, Nafta, União Européia). O segundo fator deve-se às novas características dos
fluxos globais. Estes necessitam de soluções flexíveis e rápidas para lidar com a
intensificação do tráfego, a conseqüente sobrecarga da capacidade da infra-estrutura em
muitas áreas e com o crescimento dos fluxos de retorno associados às preocupações
com o meio-ambiente.
Dornier et al. (2000) afirma que “a vasta maioria de fabricantes hoje
possui alguma forma de presença global – por meio de exportações, alianças
estratégicas, joint-ventures, ou como parte de uma estratégia comprometida com a
venda em mercados estrangeiros ou localização de plantas no exterior”. As empresas
são levadas a atuarem globalmente e devem preparar-se para tal. (DORNIER et al.,
2000; 140).
Lambert e Stock (1997), por sua vez, apontam o caso dos Estados
Unidos, em contínua mudança para uma economia baseada em tecnologias e serviços
(distribuindo ou contratando a produção mundialmente), cujas empresas sabem
claramente que a logística internacional se tornará a parte mais importante da função da
distribuição física. “Os desafios enfrentados pelos sistemas logísticos globalizados
variam muito de região para região, sendo absolutamente críticos nas atividades de
produção e de marketing em níveis globais” (BOWERSOX e CLOSS, 2001: 150).
44
Para Bowersox e Closs (2001; 154), “à medida que o comércio
internacional aumenta as necessidades logísticas também aumentam, em função de
cadeias de suprimento mais longas, de maior incerteza e com mais documentação”.
Mesmo que os princípios logísticos sejam semelhantes em ambas as esferas doméstica e
internacional, os ambientes operacionais são mais complexos (maior incerteza) e mais
caros (maiores níveis de serviço) para a última.
A incerteza decorre de distâncias maiores, de ciclos de atividades mais
longos e de menor conhecimento do mercado. Assim, os custos e graus de
complexidade são indicados por quatro “D’s”: i) Distância; ii) Documentação; iii)
Diversidade de cultura; e iv) Demanda de clientes (BOWERSOX e CLOSS; 2001).
Empresas que buscam expandir sua participação internacional devem
avaliar o equilíbrio de forças que as encorajam e as barreiras a serem transpostas para
desenvolverem capacidades logísticas com algum grau de inserção global.
No que tange o equilíbrio das forças que encorajam a internacionalização
das empresas, Dornier et al. (2000) propõe um modelo conceitual que engloba os
maiores fatores e forças motrizes por trás do processo de globalização (figura 3.1).
Fonte: Dornier et al. (2000: 144).
FIGURA 3.1 MODELO DAS QUATRO FORÇAS GLOBAIS.
45
A Figura 3.1 ilustra os detalhes de cada componente (forças) do modelo
descrito. Foge do escopo desta seção analisá-los particularmente, pois o objetivo aqui é
considerar a coletividade dos fatores, ou driving forces, que impelem as empresas a
organizarem operações globalizadas.
O desenvolvimento de capacidades logísticas depende do balanço
conjuntural entre os custos de transposição de barreiras à logística global e as forças que
impelem as empresas a atuarem no comércio internacional. A Figura 3.2 ilustra esta
concepção criada por Bowersox e Closs (2001).
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 129).
FIGURA 3.2 BARREIRAS À LOGÍSTICA INTERNACIONAL.
A análise dessas barreiras auxilia na compreensão dos problemas
decorrentes do aumento da complexidade e incerteza no gerenciamento da logística
globalizada (BOWERSOX e CLOSS, 2001).
MERCADOS E
CONCORRÊNCIA
Entrada
Informação
Formação de Preço
Concorrência
BARREIRAS
FINANCEIRAS
Previsão
Deficiências
Institucionais
CANAIS DE
DISTRIBUIÇÃO
Infra-estrutura
Restrições de
comércio
BARREIRAS À
LOGÍSTICA
INTERNACIONAL
GERENCIAMENTO
DA LOGÍSTICA
GLOBALIZADA
VANTAGENS
POTENCIAIS
DO COMÉRCIO
INTERNACIOANAL
SUCESSO NAS
OPERAÇÕES
INTERNACIONAIS
46
Mercados e concorrência
Dificuldades de entrada limitam o acesso aos mercados com
barreiras legais e físicas às importações: a União Européia, por
exemplo, exige o estabelecimento de instalações de produção ou
meios de distribuição próprios antes do acesso ao seu mercado;
Ainda há pouca informação coordenada a respeito de exigências de
importação e de documentação entre os países: o não cumprimento
de exigências locais pode retardar ou até inviabilizar embarques,
uma vez que a documentação é crítica nos transportes
internacionais;
A formação de preços internacionais é fortemente influenciada
pelas taxas de câmbio e pelas tarifas alfandegárias. Estas
constituem custos adicionais nas fontes de suprimento estrangeiras
e estão sujeitas a mudanças inesperadas, mudando bruscamente a
direção do fluxo e volume de comércio;
Barreiras financeiras
A incerteza financeira, aliada à incerteza institucional, dificulta o
planejamento financeiro da produção, acarretando a necessidade de
manutenção de maiores estoques, maiores tempos de transporte e,
consequentemente, mais recursos financeiros para operar no
mercado globalizado;
47
Canais de distribuição
Dificuldades na padronização de infra-estruturas nos canais de
distribuição abrangem diferenças nos equipamentos, no manuseio
de materiais, nas instalações portuárias e de armazenagem, e em
sistemas de informação;
O aumento dos custos e tempo decorre da falta de padronização,
uma vez que as mercadorias acabam sendo manuseadas de diversas
formas conforme as restrições de cada operação logística ao longo
de sua trajetória até o cliente estrangeiro;
Diferenças nos sistemas de informação (como diferentes padrões de
EDI – Electronic Data Interchange), por sua vez, dificultam a troca
de documentos e informações, reduzindo a visibilidade e
confiabilidade das operações logísticas;
Acordos bilaterais de comércio, que limitam quantidades ou
exigem condições especiais para importação, aumentam a
complexidade da logística globalizada.
Em todos os casos, mudanças na estrutura desse ambiente internacional
(representado pelas “forças” e “barreiras”) ameaçam todas as estratégias estabelecidas
pelas empresas (ANDREWS, 1996).
48
3.1.1 Conceito de estratégia de operações
O tratamento teórico formal dado à estratégia corporativa teve início nos
anos 1960, nas figuras de Henry Mintzberg, Kenneth Andrews e Wickham Skinner
(pioneiro em abordar a manufatura como “elo perdido” na estratégia corporativa).
Mintzberg (1996) propôs cinco definições para estratégia, sendo um
marco na tentativa de se abranger as concepções do termo. Segundo o mesmo,
“estratégia pode ser entendida como plano de ações, táticas, padrões comportamentais,
posicionamento nos negócios e perspectiva de objetivos de longo-prazo da organização”
(MINTZBERG, 1996: 13).
Em essência, todas as estratégias são abstrações ou modelos ideais que
vislumbram resultados futuros positivos, independentemente das motivações
originárias. Os recursos que parecem ser táticos hoje podem não ser estratégicos
amanhã.
Andrews (1996: 43), por sua vez, compreendia a estratégia corporativa
como “um padrão de decisões na firma que determina e revela seus objetivos ou
propósitos (...) produzindo as principais políticas e planos para atingir metas”. Segundo
o mesmo autor, as inter-relações entre um conjunto de objetivos e políticas são
responsáveis pela cristalização de soluções no ambiente de atuação da firma. Para tanto,
esta deve realizar uma vigilância sistemática das mudanças e condicionantes ambientais
as quais quaisquer organizações estariam suscetíveis.
Já na década de 1980, o pensamento estratégico de Porter (1996) ganhou
evidência com seu modelo das cinco forças competitivas, focando a estratégia como um
posicionamento de ataque e defesa em relação aos concorrentes em busca das vantagens
competitivas no mercado. Porter (1996: 68) definiu que “a essência da estratégia é
49
escolher o que não fazer (...) senão a estratégia seria algo prescindível”. Estas escolhas
exigem compatibilidades entre as atividades da empresa, para que a estratégia se torne
diferenciadora e sustentável.
Nas duas últimas décadas (1990-2000) várias incursões tecnológicas
consolidaram o ainda vigente paradigma da estratégia de manufatura. A incessante
otimização da manufatura com novas técnicas gerenciais como: Just-in-time (JIT);
gestão da qualidade total (total quality management – TQM) e os sistemas flexíveis de
manufatura (flexible manufactruing systems – FMS) incrustaram o papel estratégico da
manufatura no direcionamento dos negócios das firmas. No entanto, também
alimentaram um crescimento tanto no volume quanto na complexidade das atividades
logísticas: produtos devem ser movidos de diferentes origens internacionais para
mercados cada vez mais difusos (DORNIER et al., 2000: 81).
Wickham Skinner foi pioneiro em sugerir a conexão da manufatura com
a estratégia corporativa. Segundo o mesmo, “a manufatura faz parte do conceito
estratégico que relaciona as forças e recursos da empresa às oportunidades do mercado”
(SKINNER, 1969: 15). Cada estratégia gera tarefas específicas na manufatura que, por
sua vez, geram trade-offs que devem ser levados em consideração pela alta gerência.
Traçando um paralelo com esse autor, Wheelright definiu que “a estratégia de
manufatura consiste em padrões de decisões em áreas centrais das operações
produtivas” (WHEELRIGHT,1984: 79).
Slack et al. (2002; 87) em seu manual de administração da produção
define estratégia como “o padrão global de decisões e ações que posicionam a
organização em seu ambiente e têm o objetivo de fazê-la atingir seus objetivos de longo
prazo”. O autor trata o conceito da estratégia de produção separando seu conteúdo de
50
seu processo, mas ressalta que as organizações devam trabalhar com ambas partes de
maneira concomitante.
No que tange seu conteúdo, são quatro as perspectivas sobre estratégia da
produção: i) top-down “de cima para baixo”) – o que a empresa deseja que as operações
façam; ii) bottom-up (“de baixo para cima”) – o que a experiência diária sugere que as
operações deveriam fazer; iii) exigências do mercado – o que o posicionamento de
mercado requer que as operações façam; iv) e recursos de operações – resource-based
view (visão baseada em recursos) – o que os recursos de operações podem fazer.
Já o processo da estratégia de produção abarca métodos para produção
de decisões específicas de “conteúdo”. Slack et al. (2002) adverte que as quatro
perspectivas, se vistas de forma isolada, não refletem uma visão geral da complexidade
do que seja a estratégia de produção.
As contribuições dos autores apresentadas neste tópico são
complementares, porque em cada firma as competências distintivas, recursos e valores
organizacionais são combinados de forma única e original. “Diferenças entre firmas são
tão numerosas quanto diferenças entre os indivíduos” (ANDREWS, 1996: 49).
3.1.2 Formulação das estratégias de operações logísticas
Neste tópico, a análise das estratégias corporativas é transposta para o
plano do gerenciamento dos sistemas logísticos.
Dornier et al. (2000: 84) fundamenta essa abordagem: “logística e
operações não podem ser relegados a uma função tática de curto prazo, mas devem ser
considerados como elemento facilitador crítico para atuação global da empresa”.
51
Segundo esse autor, a conexão da gestão das funções de operações
logísticas com a estratégia corporativa da organização, assim como de outras áreas
funcionais, é crítica para o sucesso de longo prazo da empresa.
Portanto, a estratégia de operações logísticas “deve englobar todas as
atividades críticas de operações logísticas da empresa, fornecendo-lhe um sentido de
unidade, direção e propósito” (DORNIER et al., 2000: 93). Este estudo entende o
campo das estratégias de operações logísticas da seguinte maneira:
Padrão de decisões coerente, unificado e integrativo;
Determina e revela o propósito das atividades de operações
logísticas de organização em termos dos objetivos de longo prazo
da empresa, programas de ação e prioridades de alocação de
recursos;
Procura suportar ou atingir uma vantagem sustentada de longo-
prazo ao responder adequadamente às oportunidades e ameaças no
ambiente da empresa.
Dornier et al (2000) propõem um modelo que transforma as atividades
críticas de operações logísticas em categorias de decisões analíticas, estabelecendo doze
categorias de decisões decompostas em frações descritivas (quadro 3.1).
Os mesmo autores entendem que “o padrão coletivo de decisões nessas
áreas determina as capacidades estratégicas da função de operações logísticas”
(DORNIER et al. 2000: 94). Trade-offs ocorrem, sendo que alguns objetivos são
escolhidos em detrimento de outros visando a satisfação das prioridades competitivas
52
definidas pela empresa. A questão está em decidir quais capacidades ou recursos
estratégicos serão mais úteis para a empresa.
As doze categorias de decisões são separadas em dois grandes blocos:
decisões estruturais e decisões infra-estruturais. As últimas têm impacto irreversível de
longo prazo, sendo os “tijolos” dos sistemas de operações logísticas. Já as primeiras
englobam procedimentos e sistemas de controle alternativos, como funções mais táticas
de decisões contínuas que não requerem alto investimento de capital.
QUADRO 3.1 CATEGORIAS DE DECISÕES NA ESTRATÉGIA DE OPERAÇÕES LOGÍSTICAS.
INFRA-ESTRUTURA ESTRUTURA
ESTRUTURA INFRA-ESTRUTURA
Fonte: Dornier et al. (2000; 95), com adaptações.
53
Com base no modelo de Dornier et al (2000) é possível direcionar quais
elementos das categorias de decisão são mais importantes para a definição dos critérios
de desempenho da firma. Esses critérios podem ser classificados como ganhadores ou
qualificadores de pedidos. Os primeiros são considerados pelos consumidores como
razões-chave para compra final; os últimos não são os principais determinantes do
sucesso competitivo, mas possuem outras relevâncias.
Dornier et al. (2000) ressalta que a seleção de um critério ganhador –
combinação única das prioridades custo, qualidade, rapidez, confiabilidade e
flexibilidade – não seja o mais importante. Como a empresa define esse critério
ganhador no contexto de seu sistema logístico, sim, é mais importante. Pois os
elementos estruturais e infra-estruturais do processo decisório de cada empresa
manifestam-se de maneira única e resultam em estratégias de operações logísticas
específicas.
Por exemplo, decisões sobre o grau de integração vertical das empresas
geram impactos diferenciados sobre a confiabilidade do fornecedor e na qualidade e
custo dos produtos. Assim a empresa deve analisar esses fatores particularmente e
gerenciar suas operações logísticas da forma mais eficiente para atingir os canais de
distribuição mais adequados.
Na esfera competitiva, esses critérios de desempenho selecionados – em
resposta às preferências dos clientes e às manobras da concorrência – definem, em
última instância, as necessidades de seu sistema de operações e logística. Dornier et al.
(2000: 92) exemplifica que “se o critério ganhador para uma empresa é qualidade de
produto, os clientes provavelmente estariam dispostos a esperar a disponibilidade do
produto devido a sua elevada lealdade”.
54
Notam-se similitudes entre o método descritivo de Dornier et al. (2000) e
os princípios de estrutura e controle da logística internacional, dados por Harrison e
Hoek (2003: 145), a saber:
O controle sobre os fluxos logísticos tem de ser centralizados para
otimizar os custos;
O controle e a gestão do serviço prestado aos clientes têm de ser
localizados;
A terceirização tem de ser coordenada em nível global;
Os sistemas de informação logística têm de ser globais, vinculando
os sistemas de logística organizados globalmente aos sistemas de
atendimento ao cliente, por sua vez, organizados localmente.
Estes princípios norteiam as decisões de uma estratégia global pela
racionalização da obtenção de fontes de suprimento, produção e distribuição. São
também utilizados para determinar o equilíbrio adequado entre as cadeias de suprimento
global e localizada, com base em decisões sobre onde investir em instalações fabris,
onde obter sub-contratações e onde estabelecer instalações de consolidações
(HARRISON e HOEK, 2003).
Assim, pode-se definir como a empresa (no caso, os grupos
sucroalcooleiros paulistas) estabelece seus critérios competitivos no contexto de seu
sistema logístico em diferentes escalas de atuação internacional.
O resultado final de uma estratégia bem-sucedida conduz a organização a
avanços em termos de produtos ou processos, suportando as necessidades da empresa
melhor que as funções de operações e logística dos principais concorrentes. Zela, por
55
exemplo, não somente pela redução de custos nos transportes, mas também pela
coordenação das informações sobre os serviços logísticos (qualidade), assim como o
gerenciamento das capacidades e competências para sua realização (produtividade)
(DORNIER et al., 2000).
Assim, a gestão eficiente das operações logísticas de apoio ao
escoamento de açúcar incorpora estratégias corporativas que decidem:
A escolha do canal de distribuição internacional mais adequado;
A busca por recursos e competências distintivas;
O desenvolvimento ou terceirização de recursos e processos
logísticos.
As bases teóricas da terceirização ou posse da gestão logística ao longo
do trecho usina-porto são revisadas, associando-se ao desempenho da cadeia logística
estudada.
3.2 - Controle dos recursos e atividades logísticas
Segundo Lambert e stock (1997; 682) “a organização e administração
apropriadas da função logística são importantes tanto internacional quanto localmente”.
Neste contexto, o caso do escoamento de açúcar paulista pelo porto de
Santos não é exceção. As mudanças decorrentes da construção de um novo ambiente
institucional no setor agroindustrial da cana-de-açúcar forçaram as usinas a reestruturar
sua organização logística, criando novas soluções para alcançar o mercado externo com
estratégias próprias de entrada no mercado internacional.
56
Bowersox & Closs (2001; 136) colocam que “a visão globalizada da
empresa determina a forma como o gerenciamento da logística trata as operações
internacionais” e, em seguida, apresentam os estágios que uma empresa pode trilhar
para abrir-se a operações internacionais.
A Figura 3.3 associa o risco-retorno das operações logísticas e comerciais
ao grau de internacionalização (entrada no mercado externo - estágios) das atividades
das empresas.
RISCO - RETORNO
RELACIONAMENTO
DISTANTE
ATIVIDADE
INTERNA DE
EXPORTAÇÃO
OPERAÇÕES
DESNACIONALIZADAS
OPERAÇÕES
EM PAÍS
ESTRANGEIRO
OPERAÇÕES COM
CONHECIMENTO
GENUINAMENTE
LOCAL
ESTÁGIO 1
ESTÁGIO 2
ESTÁGIO 4
ESTÁGIO 3
ESTÁGIO 5
Fonte: Bowersox & Closs (2001; 136).
FIGURA 3.3 RELAÇÃO DE RISCO-RETORNO NAS OPERAÇÕES GLOBALIZADAS.
No primeiro estágio a empresa tem contrato com distribuidor
internacional que serve um país ou região, para distribuição de seus produtos. Neste
caso a empresa doméstica, provavelmente com pouca ou nenhuma experiência
internacional, vende ou consigna seus produtos a um especialista internacional
(geralmente uma trading company). Este aceita a responsabilidade de receber pedidos,
57
prover transporte internacional, completar documentações, coordenar a comercialização,
administrar estoques, faturamentos e dar suporte aos produtos.
O viés positivo desse posicionamento é a redução dos riscos associados
às vendas internacionais e às operações da logística global, não sendo necessários o
desenvolvimento de relacionamentos comerciais com os importadores. Por outro lado,
reduz-se a margem de contribuição da empresa doméstica, que também não tem o
controle logístico e tampouco conhece o mercado de seus produtos. É também o
importador o responsável pela logística interna para colocação do produto no meio em
que será exportado.
No segundo estágio a empresa doméstica, internaliza a logística interna
para exportação, adiantando capacitação de conhecimento sobre o comércio exterior,
por meio de assistência especializada em atividades de marketing, vendas e serviço ao
cliente, uma vez exportado o produto. Há um relativo aumento de margem de
contribuição para a empresa, que passa a investir no desenvolvimento de habilidades
para coordenar e gerenciar o transporte, podendo ou não ater-se ao preparo da
documentação internacional.
O terceiro estágio é caracterizado pelo desenvolvimento de operações
locais para comércio de seus produtos em países estrangeiros, quando a empresa
doméstica pode realizar operações de marketing/vendas, produção e distribuição,
sediadas no país de origem com apoio de terceiros no país destino.
No quarto estágio as operações internacionais são ainda mais
desnacionalizadas, instituindo-se práticas comerciais nos países destinos, requerendo
contratação de executivos, operadores logísticos e distribuidores locais.
58
No quinto e último estágio é criada uma matriz regional para
supervisionar a coordenação das operações descentralizadas em diferentes países, uma
vez que as fontes de suprimento e as decisões de marketing estão dispersas globalmente.
Cada estágio demanda decisões estratégicas de modo a capacitar a
empresa ao longo dos graus de atuação globalizada.
Este aporte teórico norteia a proposta de descrição dos processos e a
análise dos relacionamentos logísticos ao longo do escoamento do açúcar no trecho
analisado. Uma vez que não se sabe até que ponto (ou grau) aquelas operações estejam
globalizadas.
Pautando-se por esta relação risco-retorno, a escolha assertiva do canal
de distribuição para o mercado internacional torna-se crucial. O item a seguir apresenta
possíveis canais que podem ser adotados para gestão das transações logísticas
internacionais.
3.2.1 Estratégias de canais de distribuição internacionais
Uma vez iniciado o processo de entrada no mercado externo, faz-se
necessário adotar um canal de distribuição internacional que vincule a comercialização
do açúcar ao mercado externo.
Segundo Lambert e Stock (1998: 671), “as empresas que entram no
mercado internacional possuem quatro alternativas estratégicas de canal de
distribuição”: i) exportação; ii) licença; iii) joint-ventures; iv) propriedade (Figura 3.4).
59
RISCOS DA ESTRATÉGIA
ALTOBAIXO
BAIXO
ALTO
GRAU DE CONTROLE DOS RECURSOS LOGÍSTICOS E DE MARKETING
EXPORTAÇÃO
EXPORTÃO
LICENCIADA
JOINT-VENTURE
PROPRIEDADE
Fonte: ilustração elaborada pelo autor.
FIGURA 3.4 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO INTERNACIONAIS
A primeira alternativa é a forma mais comum de distribuição para as
empresas que entram no mercado internacional. Requer o mínimo de conhecimento
sobre mercados estrangeiros, pois a empresa doméstica contrata os serviços de um
agente de transporte de carga internacional, um distribuidor, um despachante aduaneiro
ou uma trading para executar as funções de logística e marketing (negociação e venda
externa). Oferece menos riscos:
i. Não requer investimentos com instalações adicionais;
ii. Expõe-se minimamente às incertezas políticas de alguns ambientes;
iii. Não é difícil retirar-se do mercado estrangeiro se os incentivos de
lucro não forem suficientes.
60
Por outro lado, possui acesso mais restrito a alguns mercados e depende
muito da capacitação dos intermediários do produto exportado.
A segunda opção, de licença, permite que uma empresa licenciada
(doméstica) utilize os recursos de distribuição de sua licenciadora (estrangeira). Ao
contrário da exportação, a licença permite maior controle da empresa doméstica sobre o
processo de distribuição do produto. Ademais, não requer grandes desembolsos de
capital (risco menor) e confere maior flexibilidade de negociação da mercadoria.
Entretanto, não é possível desfazer o acordo rapidamente, havendo um risco grande do
licenciado absorver o know-how transferido pelo licenciador, tornando-se um futuro
concorrente.
A terceira alternativa, joint-venture, permite maior controle dos mercados
internacionais. Ocorre quando a empresa local pode não querer estabelecer uma fábrica
ou outra instalação em um mercado estrangeiro optando, portanto, pela sociedade
financeira que a coloca em termos de maior paridade com a empresa estrangeira. A
gerência local poderá exercer controle significativo sobre a distribuição de seus
produtos. Contudo, o risco é mais alto e a flexibilidade é mais baixa à empresa
doméstica, devido à posição estabelecida pela empresa estrangeira.
Pela quarta e última opção, a propriedade integral de uma subsidiária
estrangeira, oferece à empresa doméstica o mais alto grau de controle sobre as
estratégias internacionais de marketing e logística. Esta posse integral direta no mercado
estrangeiro permite maior eficiência com relação ao preço pela supressão dos custos de
transporte incorridos nas movimentações entre as plantas domésticas e no exterior. Por
outro lado, a empresa perde flexibilidade pelo comprometimento de longo prazo com o
mercado estrangeiro, além de não poder descartar instalações e equipamentos fixos
61
facilmente. Há também o risco do governo estrangeiro nacionalizar os bens da empresa
– caso raro que deve, contudo, ser levado em consideração antes da alocação de
investimentos.
Existem, igualmente, os agentes do comércio exterior, ou as organizações
que viabilizam a operacionalização desses canais (capitulo 2).
Para cada estratégia de canal, os vários elementos componentes de uma
transação logística internacional podem variar consideravelmente. Portanto, “somente
após uma análise completa de cada estratégia de entrada no mercado é que a empresa
deve decidir sobre um método de envolvimento internacional” (LAMBERT e STOCK,
1998; 676,677).
3.2.2 Contribuições da Visão Baseada em Recursos (Resource Based View –
RBV)
Para empresas produtoras de commodities agrícolas visando o mercado
internacional, a formulação e implementação de estratégias de operações logísticas
globais têm se mostrado críticas para sustentação de sua competitividade.
Especialmente quando os concorrentes possuem tecnologia e desempenho de produtos
equivalentes, como o caso das usinas brasileiras, produtoras das commodities açúcar e
álcool.
Olavarrieta e Ellinger (1997: 560) estabelecem que “o gerenciamento
eficiente da logística pode resultar em vantagens competitivas para a empresa, desde
que o projeto do sistema logístico seja orientado para atender às necessidades dos seus
62
clientes”. Logo, a empresa deve desenvolver competências sustentáveis para gestão de
suas operações logísticas.
Contudo, antes que decisões sejam tomadas, os pontos fortes e fracos da
empresa devem ser compreendidos em conjunto com seus recursos disponíveis (além
daqueles em uso). A estrutura, o comportamento e a cultura da organização delimitam,
invariavelmente, o que a mesma deseja fazer e o que realmente possa fazer
(ANDREWS, 1996).
A Visão Baseada em Recursos (Resource-based Theory – RBV) advoga
que a empresa sustenta sua competitividade em função dos recursos que dispõe para sua
atuação e pela capacidade de usá-los de forma efetiva (OLAVARRIETA e ELLINGER,
1997).
A empresa deve desenvolver capacitações distintivas (core capabilities)
por meio de processos de aprendizado, treinamento e outros, evitando que seja imitada
por suas concorrentes (OLAVARRIETA e ELLINGER, 1997). Esses autores destacam
a importância dos ativos logísticos, uma vez que o valor do produto entregue ao cliente
final está associado à capacidade logística para distribuí-lo.
Por exemplo, as usinas que estabelecem alianças com tradings para
atuação logística nos canais de escoamento para exportação; ou que adotem estruturas
específicas que lhes permitam aprender os procedimentos e regras do comércio
internacional, estão em vantagem sobre aquelas que não o fazem.
As capacidades logísticas são baseadas em (OLAVARRIETA e
ELLINGER, 1997):
i. Rotinas e processos organizacionais;
ii. Conhecimento tácito ou explícito;
63
iii. São difíceis de serem observadas e copiadas, por serem fruto da
trajetória tecnológica da firma.
Além desses fatores provenientes de construção social, existem os ativos
físicos que resultam de investimentos em capital ou pela escolha correta de parceiros
que detenham os recursos complementares para a prestação de serviços logísticos.
Associado a esses recursos logísticos há o desenvolvimento de outras competências para
atuação no comércio exterior, relacionadas às transações comerciais de venda e
tramitação de documentação para exportação (OLAVARRIETA e ELLINGER, 1997).
O item seguinte aborda a lógica da terceirização dos sistemas logísticos,
auxiliando na elaboração dos perfis e possíveis razões de terceirização dos serviços
logísticos ao longo do trecho usina-porto de Santos.
3.2.3 Terceirização das operações logísticas
A grande vantagem da terceirização das operações logísticas é a
possibilidade de otimizar o desempenho logístico pela especialização nestes serviços
logísticos por parte dos operadores. Da parte dos prestadores de serviços há a
possibilidade de ganhos de escala em suas atividades. Esta perspectiva tem firmado a
tendência de associação de fornecedores, produtores e intermediários comerciais com
empresas prestadoras de operações logísticas (ASSUMPÇÃO, 2004).
Dornier et al. (2000) relata um rápido crescimento na indústria de
serviços logísticos terceirizados dos operadores logísticos, ou Third party logistics
(3PL). Segundo esse autor, a terceirização das operações de frete, estocagem,
64
preparação de pedido, entrega final e demais serviços logísticos, em muitos casos, reduz
custos e aumenta os níveis de serviço com a melhoria em flexibilidade e gestão de
estoques. A natureza desses serviços prestados combina serviços físicos (armazenagem
e transporte) e gerenciais, com princípios da logística integrada.
Harrison e Hoek (2003) destacam que, hoje, a terceirização é um dos
elementos mais significativos da internacionalização, estendendo-se para além da
fabricação de componentes (contract manufacturing – “manufatura por contrato”) até as
atividades não centrais, como o atendimento aos clientes.
Dentre as alternativas que empreendem a terceirização, as parcerias, por
exemplo, permitem às empresas compreender melhor as necessidades uma da outra para
se alinharem de uma maneira mais coordenada, evitando fricções e identificando
oportunidades que agregam valor com sua aplicação. “Trabalhar em parceria com outras
empresas ao longo da rede ajuda a identificar e resolver problemas potenciais antes que
elas aconteçam” (HARRISON e HOEK, 2003; 146).
O Quadro 3.2 demonstra que quanto maior o grau de complexidade e
customização de serviços logísticos requeridos pela empresa, mais complexas serão as
atividades gerenciais destes serviços, requerendo também integração de armazenagem e
transporte, em base contratual.
Os riscos associados à terceirização estão diretamente relacionados ao
grau de visibilidade que o contratante possui sobre o fluxo de materiais (estoques e
demanda). Assim, “a contratação de serviços externos para logística requer que e a
empresa desenvolva funções de controle baseadas no fluxo de dados” (DORNIER et al.,
2000; 318).
65
QUADRO 3.2 CLASSIFICAÇÃO DE PROVEDORES DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS.
SERVIÇOS LOGÍSTICOS
CONTRATUAIS FÍSICOS
-TRANSPORTADOR CONTRATUAL
DEDICADO;
-ARMAZENAGEM DEDICADA
LOGÍSTICA CONTRATUAL
INTEGRADA
- ARMAZENAGEM E TRANSPORTE
INTEGRADOS;
-GESTÃO INTEGRADA DE
TRANSPORTADORES E MODAL.
SERVIÇOS BÁSICOS
- TRANSPORTE COMUM;
-ARMAZÉMBLICO.
SERVIÇOS LOGÍSTICOS
CONTRATUAIS DE GESTÃO
- GESTÃO DO TRÁFEGO;
- GESO DO ARMAZÉM;
- GESO DA iMPORTÃO
E EXPORTÃO.
BAIXO
BAIXO ALTO
ALTO
SERVIIÇOS DE
GESTÃO
SERVIIÇOS
FÍSICOS
COMPLEXIDADE E CUSTOMIZAÇÃO
COMPLEXIDADE E CUSTOMIZAÇÃO
Fonte: Dornier et al. (2000; 317).
Segundo Christopher (1997), as decisões estratégicas precisam ser
tomadas centralmente, incluindo-se o monitoramento e controle do desempenho dos
operadores logísticos. A resposta às questões “por que” e “quando” terceirizar é baseada
em quatro dimensões:
i. Necessidades da empresa (a logística é uma competência básica?);
ii. Valores tangíveis (há vantagens mensuráveis para externalizar estas
atividades?);
iii. Comprometimento da gerência (é uma decisão estratégica que
demanda a criação de estrutura de controle? Qual é a importância
estratégica para a empresa e quais são as decorrências desta
decisão?);
iv. Capacidade do operador (existe qualificação para execução do
serviço?).
66
A resposta a estas questões é baseada na importância da logística sobre a
atividade econômica da empresa e indica o posicionamento que a empresa terá na
distribuição de seus produtos.
Dornier et al. (2000: 642) conclui que “o uso de um operador externo
para executar as operações logísticas não significa abandonar totalmente o interesse e a
responsabilidade pela logística”.
Feita a escolha pela terceirização, a empresa contratante deve
desenvolver e monitorar indicadores de desempenho (como qualidade do serviço, a
quantidade e os custos dessas operações) que zelem pela velocidade, confiabilidade e
simplicidade no compartilhamento de informações para a correção de problemas,
visando, por fim, a melhoria contínua nos níveis de serviços prestados ao cliente final.
Princípios básicos no projeto dessas medidas são apresentados para que
se melhor capture o valor adicionado pelo operador logístico e minimizados possíveis
pontos de fricção entre as partes (DORNIER et al., 2000):
Uso de linguagem comum entre todos participantes do sistema
logístico;
Uso de dados precisos;
Coerência entre as diversas medidas (medidas diferentes levam a
objetivos diferentes);
Uso simples e eficiente das medidas;
Participação conjunta dos diferentes membros do sistema logístico
na definição dos indicadores logísticos.
67
Decisões acerca do controle dos recursos logísticos, tais como
desenvolvimento interno ou terceirização, devem ser apoiadas pelas estratégias de
operações logísticas.
Logo, a alternativa à ausência de recursos logísticos estratégicos e
críticos internamente à empresa determina o seu engajamento em parcerias, assim como
na definição de alianças com outras empresas mais capacitadas nessas atividades (a
exemplo da terceirização do sistema logístico). “O esforço de se encontrar ou criar uma
competência/capacidade que seja verdadeiramente distintiva pode conter a chave para o
sucesso atual ou para desenvolvimentos futuros (inovações) das empresas”
(ANDREWS, 1996: 49).
3.3 - Gestão (programação e controle) das operações logísticas
Esta sessão trata dos aspectos operacionais que organizam e coordenam
os recursos logísticos ao longo do trecho usina-porto para o escoamento do açúcar
paulista.
A fundamentação teórica à gestão desses recursos logísticos no trecho
analisado insere-se no campo geral da logística integrada, por sua vez inscrita no
contexto mais amplo da gestão das cadeias de suprimento.
3.3.1 Gestão da cadeia de suprimentos
Segundo Harrison e Hoek (2003; 27) “a tarefa logística de gerenciamento
de fluxo de materiais e do fluxo de informações é parte importante da tarefa mais geral
68
de gestão da cadeia de suprimento”. Esta gestão está relacionada a todo processo de
suprimento de matérias-primas, fabricação, embalagem e distribuição para o
consumidor final por meio do transporte, processamento de pedidos e gestão de
estoques.
Segundo Assumpção (1997), a logística é um processo produtivo criado
em função da gestão de fluxos que se adequem às restrições de custos da corporação. A
otimização desse fluxo deve garantir o mínimo custo de produção possível.
A Figura 3.5 ilustra a composição do sistema logístico que serve a três
áreas centrais: suprimento, apoio à produção e distribuição física.
A logística atua integrando essas áreas, gerenciando simultaneamente os
fluxos físicos e de informações no percurso dos diversos canais logísticos
(paralelamente às transações comerciais), que prestam serviços tanto à montante
(fornecedores) quanto à jusante (clientes).
SUPRIMENTO
AQUISIÇÃO DE
MATERIAS
APOIO À
PRODUÇÃO
DISTRIBUIÇÃO
FÍSICA
CANAIS DE
DISTRIBUIÇÃO
FORNECEDORES
CLIENTES
FLUXO FÍSICO
FLUXO DE INFORMAÇÕES
TRANSAÇÕES COMERCIAIS
TEMPO
Fonte: Assumpção (1997: 141), com adaptações.
FIGURA 3.5: SISTEMA LOGÍSTICO.
69
A dimensão tempo define o prazo que leva para se produzir algo,
passando-se pelas várias etapas entre um extremo e outro da cadeia de suprimentos,
servindo de medida da rapidez do atendimento à demanda final, uma vez que o conceito
de fluxo baseia-se nessas medidas de tempo (HARRISON e HOEK, 2003).
Dornier et al. (2000) definem que o pacote total de serviços logísticos é
resultado de uma seqüência lógica de passos intermediários, onde o prazo total de
entrega dos itens (prazo logístico) compreende a soma dos tempos intermediários de
entrega das diferentes entidades de trânsito envolvidas em determinada cadeia. “Assim,
a qualidade dos relacionamentos entre diferentes funções e partes determina o
desempenho geral da logística” (DORNIER et al., 2000; 42).
O apoio à manufatura se dá pelo gerenciamento de estoque em processo,
à medida que este flui entre as fases de fabricação, disponibilizando em tempo hábil o
que, quando e onde os produtos são fabricados.
O suprimento inclui todos os tipos de compras e organização de
materiais, peças e produtos acabados dos fornecedores onde e quando necessários.
A distribuição física é responsável pela movimentação de produtos
acabados para entrega aos clientes. É parte integrante do processo de marketing por
vincular um canal de distribuição a seus clientes, garantindo as estratégias de venda com
entregas no tempo e espaço dos clientes (BOWERSOX e CLOSS, 2001). (quadro 3.3).
Enquanto o canal de distribuição se ocupa dos aspectos mercadológicos
(gera e estimula a demanda), o canal logístico coordena as operações do fluxo logístico,
servindo de suporte ao primeiro (ASSUMPÇÃO, 1997).
70
QUADRO 3.3 QUESTÕES OPERACIONAIS DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA.
DISTRIBUIÇÃO FÍSICA – Fornecimento de serviços ao cliente
Ciclos de atividades: Recebimento e processamento de pedidos posicionamento
de estoques, armazenagem, manuseio e transporte dentro de um canal de
distribuição;
Co-responsável pelo planejamento na formação de preços, níveis de serviço ao
cliente, padrões de entrega e apoio ao ciclo de vida;
Objetivo central: ajudar na geração de receita com níveis estrategicamente
desejados de serviço ao cliente, ao menor custo total.
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 46), adaptado.
Segundo Bowersox e Closs (2001), o fato dos ciclos de atividades de
distribuição física vincular um canal de distribuição aos seus clientes os torna mais
sujeitas ao erro do que as atividades de apoio à produção e de suprimento. Logo, os
mesmos autores propõem três ações para reduzir a variância operacional da distribuição
física e simplificar as transações respectivas, atentando para o modo como os clientes
fazem seus pedidos (transmissão de pedidos):
1. Realizar esforços para aperfeiçoar a correção das projeções da
demanda;
2. Adotar programas de coordenação do gerenciamento de pedidos
(com uso de sistemas de informação) com os clientes, para reduzir
a incerteza ao máximo (maior visibilidade);
3. Projetar os ciclos de atividades da distribuição física da maneira
mais flexível e ágil possível (mais simples e eficientes).
71
Segundo Assumpção (1997; 163), “a estratégia de distribuição física é
escolhida conforme a estratégia de negócios da empresa e dos resultados de análise de
compensação (trade-offs) entre custos de distribuição (transporte e processamento de
pedidos) e custos de armazenagem”. Logo, a estratégia da empresa define o nível de
serviço para atendimento ao cliente.
3.3.2 Gestão da logística integrada
Este estudo não comporta uma análise dos processos logísticos da cadeia
de abastecimento agroindustrial da cana-de-açúcar como um todo (do plantio à
exportação). Apreende, sim, a importância dos ciclos de atividades logísticas como
questões-chave no gerenciamento eficaz (a contento) e eficiente (otimização) da
logística de exportação do açúcar.
Bowersox e Closs (2001: 54) afirmam que a análise da integração
logística, em termos de ciclos de atividades, fornece uma perspectiva básica da
dinâmica, das interfaces e das decisões que devem ser combinadas para a criação de um
sistema operacional. “A estrutura dos ciclos de atividades é a base para a
implementação da logística integrada”.
Destacam-se três pontos para a compreensão da arquitetura do projeto e
controle operacional dos sistemas logísticos integrados (BOWERSOX & CLOSS,
2001):
1. O ciclo de atividades é a unidade fundamental para a análise de
funções logísticas;
72
2. A estrutura de ciclos de atividades em nós (elos) e vínculos (físicos
e informacionais) é basicamente a mesma, quer nos ciclos de apoio
à manufatura, à distribuição física, ou ainda ao suprimento.
Entretanto, há diferenças nos mecanismos específicos de controle
entre esses ciclos;
3. Independentemente da complexidade e estrutura do sistema
logístico, interfaces e processos de controle essenciais devem ser
identificados e avaliados como combinações de ciclos individuais
ao se buscar a integração dos processos.
Segundo Bowersox e Closs (2001), os ciclos de atividades abrangem
desde o processamento de pedidos dos clientes à entrega final das mercadorias (figura
3.6). Quando interligados, proporcionam a disponibilidade de produtos de maneira
econômica e em tempo hábil – influenciando diretamente no desempenho de marketing
e das vendas.
PROCESSAMENTO
DE PEDIDOS
SEPARAÇÃO
DE PEDIDOS
TRANSMISSÃO
DE PEDIDOS
TRANSPORTE DO PEDIDO
(MERCADORIA)
PEDIDO DO
CLIENTE
ENTREGA AO
CLIENTE
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 57).
FIGURA 3.6 ATIVIDADES DO CICLO BÁSICO DE ATIVIDADES DA DISTRIBUIÇÃO FÍSICA.
73
Além de impulsionar o ciclo de atividades, o processamento de pedidos
também reflete “a fonte real de informação para apoio às adaptações dos planos de
produção e de necessidade de materiais e produtos, sincronizando previsão de demanda
e oferta de produtos” (ASSUMPÇÃO, 1997; 162).
Uma das formas de equalização das dissonâncias entre a demanda e a
oferta de produtos é a existência de estoques nas interfaces. Quando comprometidos
com a distribuição física e, se corretamente posicionados, representam (potencialmente)
o valor máximo de agregação de valor ao cliente pelo processo logístico (BOWERSOX
e CLOSS, 2001).
A Figura 3.7 conjuga, por um lado, os aspectos operacionais e, por outro,
os de planejamento e coordenação (base da arquitetura do sistema de informação
logística).
OBJETIVOS
ESTRATÉGICOS
RESTRIÇÕES DE
CAPACIDADE
NECESSIDADES
LOGÍSTICAS
NECESSIDADES
DE FABRICAÇÃO
POSICIONAMENTO
DE ESTOQUE
PROJEÇÕES
GERENCIAMENTO
DE PEDIDOS
PROCESSAMENTO
DE PEDIDOS
OPERAÇÕES DE
DISTRIBUIÇÃO
TRANSPORTE E
EXPEDIÇÃO
SUPRIMENTO
NECESSIDADES
DE SUPRIMENTO
GERENCIAMENTO
DE ESTOQUE
OPERAÇÕES
PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 47).
FIGURA 3.7 NECESSIDADES DE INFORMAÇÕES LOGÍSTICAS.
74
Ambos os aspectos ocorrem de maneira concomitante, sendo interligados
pelas projeções de demanda que resultam em formas particulares de posicionamento e
gestão de estoque.
Na produção, os planos derivam de necessidades logísticas e,
normalmente, resultam em posicionamento de estoque. Assim, se estabelece um
cronograma das necessidades de estoque que, por sua vez, orientam o plano mestre de
produção (MPS – Master Production Scheduling) e o planejamento das necessidades de
produção (MRP – Manufacturing Requirements Planning).
Ritzman e Krajewiski (2004) propõem três estratégias de fabricação,
todas tendo como objeto o controle de estoques em diferentes níveis, associados às
demandas específicas por volume e variedade diferentes para cada produto:
1. Estratégia de produzir para estoque: utilizada por empresas
industriais que mantêm itens em estoque para entrega imediata,
minimizando os prazos de entrega aos clientes. É viável para
produtos padronizados com grandes volumes e previsões de
demanda razoavelmente precisas. Empresas desse ramo podem
optar pela produção em massa, pois possuem ambiente estável e
previsível, executando tarefas repetitivas bem definidas, visando
qualidade consistente e custos baixos;
2. Estratégia de montagem por encomenda: aborda a fabricação de
produtos customizados a partir de relativamente poucos conjuntos e
componentes após o recebimento dos pedidos dos clientes.
Prioridades competitivas: customização e prazo de entrega rápido.
75
O processo industrial concentra-se na criação de quantidades
apropriadas de estoque para os processos de montagem. Estocar o
produto final é economicamente proibitivo. Em um extremo dessa
estratégia está a customização em massa, por meio da qual os
processos flexíveis da empresa geram produtos e serviços
customizados em grandes volumes a preços razoavelmente baixos.
Para tanto, sua utilização implica em adiar até o último momento
possível a tarefa de diferenciar um produto ou serviço para um
cliente específico;
3. Estratégia de fabricar por encomenda: comumente utilizada por
fabricantes que elaboram produtos de acordo com as especificações
dos clientes em pequenos volumes e com altíssima flexibilidade
nos processos. Prioridade competitiva: alto grau de customização e
alta qualidade, segundo os parâmetros estabelecidos pelo cliente.
Assumpção (1997) sustenta que o uso de tecnologias de informação e de
comunicação (códigos de barras, Electronic Data Interchange – EDI, sistemas
Intranet), assim como as novas filosofias para gestão pela filosofia JIT – Just in Time,
contribui, em boa medida, para a viabilização da integração entre os aspectos
operacionais e de planejamento do sistema logístico.
Segundo Bowersox e Closs (2001; 176), “o sistema de informação é a
conexão das atividades logísticas para a criação de um processo integrado”.
76
Esta integração é composta por quatro níveis de funcionalidade das
informações que conformam um corpo maior chamado LIS – Logistical Informational
System (Sistema de Informação Logística) (Figura 3.8).
Formulação
de alianças
estratégicas
Desenvolvimento e
aperfeiçoamento de
capacitações e oportunidades
Análise do serviço ao cliente
focada e Baseada no lucro
Progamação e roteamentode veículos
Gerenciamento e níveis de estoque
Configurão de redes / instalações
Integrão vertical versus terceirização
Mensuração Financeira Mensuração do serviço ao cliente
Custo Mensurão da produtividade
Gerenciamento de Ativos Mensurão da qualidade
Entrada de pedidos Expedição
Alocação de estoque Formão de preço e emissão de faturas
Separação de pedidos Pesquisa entre os clientes
PLANEJAMENTO
ESTRATÉGICO
ANÁLISE DE
DECISÃO
CONTROLE
GERENCIAL
SISTEMA
TRANSACIONAL
Fonte: Bowersox e Closs (221; 177).
FIGURA 3.8 FUNCIONALIDADE DA INFORMAÇÃO.
O sistema de informação logística deve incorporar seis princípios de
funcionalidade. Estes devem apoiar, adequadamente, tanto o planejamento e
coordenação, como as operações da empresa (BOWERSOX e CLOSS, 2001). Os
princípios são:
77
1. Disponibilidade (realizar as operações em tempo hábil, monitorar o
status de pedidos e estoques);
2. Precisão (consistência e confiabilidade na troca de informações);
3. Atualização (feedback rápido de informações aos níveis
gerenciais);
4. Exceções (aperfeiçoamento do sistema);
5. Flexibilidade (adaptação às necessidades dos clientes);
6. Formato adequado (padronização das informações).
O sistema de informação logístico oferece visibilidade para o
planejamento e coordenação das operações para o escoamento do açúcar pelo Porto de
Santos. O pensamento enxuto (JIT), por sua vez, oferece agilidade para o controle das
operações, como o recebimento, armazenagem e embarque nos terminais açucareiros.
Aplicado à logística, o JIT pode ser concebido como uma pirâmide de
fatores-chave (Figura 3.9) que se concentram em demora mínima e estoque mínimo, que
podem resultar tanto em ciclos virtuosos (redução de atrasos diminuem estoques), como
viciosos (o contrário do anterior) (Harrison e Hoek, 2003).
O topo da pirâmide indica uma capacidade plena de produzir e entregar
de acordo com a demanda. Os níveis subjacentes sustentam a realização do JIT. A
simplicidade e visibilidade estão associadas aos sistemas de informação utilizados para
programar e controlar os processos logísticos.
78
JUST IN–TIME
ATRASO ESTOQUE
MÍNIMO NIMO
DEFEITOS TEMPO DE INATIVIDADE
MÍNIMOS MÍNIMO
SIMPLICIDADE E
VISIBILIDADE
1
2
3
4
5
NÍVEL 1
NÍVEL 2
NÍVEL 3
6
Fonte: Harrison e Hoek (2003; 190).
FIGURA 3.9 A PIRÂMIDE DE FATORES-CHAVE QUE SUSTENTAM O JIT.
A seguir, apresenta-se a análise da infra-estrutura disponível para o
escoamento do açúcar para exportação no trecho usina-Porto de Santos: as vias de
escoamento; os modais de transporte; e as operações logísticas nos terminais
açucareiros. Este último ponto apresenta a análise comparativa da concorrência intra-
porto (entre os terminais açucareiros santistas) e extra-porto, com referência ao
desempenho operacional e aos custos portuários.
79
4 - ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PARA EXPORTAÇÃO
A partir da década de 1990, o tráfego marítimo mundial aumentou
vertiginosamente. Ocorreram investimentos tecnológicos para suprirem a crescente
demanda por recursos logísticos com maior capacidade de carga por veículo de
transporte (navios graneleiros e porta-contêiner, por exemplo); e com aumento na
velocidade de deslocamento com menor consumo de energia (RODRIGUES, 2001).
A concorrência internacional, por outro lado, aumentou a exigência por
eficiência e qualidade no atendimento ao mercado de cargas marítimas, associadas às
diferentes estratégias comerciais globais. Houve o aperfeiçoamento no uso do contêiner,
por exemplo, dando novo fôlego à cadeia logística de transporte multimodal; (SILVA &
COCCO, 1999).
Estes progressos resultaram na redução do tempo de permanência dos
navios nos portos. Também resultaram na possibilidade de maior oferta ao suporte
logístico por sistemas multimodais no transporte inter-continental, levando empresas de
navegação marítima (de atuação global) a mudarem o foco dos seus negócios: do
transporte porto-a-porto, para o transporte porta-a-porta (RODRIGUES, 2001).
Coutinho e Ferraz (1994) destacam a condição de competitividade dos
portos na economia de um país e, particularmente, no sucesso das empresas nacionais.
Segundo aquele autor, os portos são “os principais aglutinadores da intermodalidade
logística, conjugando sistemas rodoviários, ferroviários, hidroviários, dutoviários e, até
mesmo, aeroportuários” (1994; 145). Assim, quanto mais eficiente e efetivo forem as
atividades portuárias, mais vantagens trará para a nação.
80
No Brasil, apenas com a promulgação da Lei 8.630/93 houve respaldo
legal para os investimentos privados (nacionais e estrangeiros) em operações portuárias.
4.1 - Análise da infra-estrutura no trecho usina-Porto de Santos.
Em função do objeto de pesquisa, explora-se a infra-estrutura disponível
para o escoamento do açúcar pelo porto de Santos.
4.1.1 Modais de transporte.
Integrantes da infra-estrutura de transportes, os modais rodoviários,
ferroviários, aeroviários, hidroviários (marítimo e fluvial) e dutoviários são
responsáveis pela movimentação de produtos de um local de origem até determinado
destino. A Tabela 4.1 apresenta as principais características operacionais desses modais.
TABELA 4.1: CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS RELATIVAS POR
MODAL DE TRANSPORTE
*.
Características
Operacionais
Ferroviário Rodoviário Aquaviário Dutoviário Aéreo
Velocidade (tempo de
movimentação)
3 2 4 5 1
Disponibilidade (capacidade
de atender qualquer
origem/destino)
2 1 4 5 3
Confiabilidade (possibilidade
de alteração da programação)
3 2 4 1 5
Capacidade (tamanho da
carga)
2 3 1 5 4
Frequência (quantidade de
movimentações programadas)
4 2 5 1 3
Total 14 10 18 17 16
(*) a menor pontuação indica melhor classificação.
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 291)
81
Além desta função básica, os meios de transporte podem armazenar
temporariamente as cargas (estoque em trânsito) conforme melhore o desempenho ou
custo total para satisfazer os clientes (BOWERSOX e CLOSS, 2001).
Acrescentam-se às características operacionais dos modais, suas
respectivas estruturas de custo para, então, se obter um conjunto de fatores que
direcionem a escolha por vantagens e desvantagens de um modal em detrimento do
outro para movimentação de determinadas cargas.
Os dois primeiros modais sombreados (Tabela 4.2) referem-se àqueles
que disputam os fretes de açúcar internamente (trecho usina-porto) e, o seguinte, ao
modal (marítimo) que movimenta a maior parte das exportações brasileiras do mesmo
produto.
TABELA 4.2 ESTRUTURA DE CUSTO DE CADA MODAL.
Fonte: Bowersox e Closs (2001; 291).
Dois princípios fundamentais regem as operações e o gerenciamento do
transporte: a economia de escala e a economia de distância.
MODAL ESTRUTURA DE CUSTOS
Altos custos fixos (locomotivas, terminais, vias férreas)
Ferroviário
Custo variável baixo (percursos confiáveis)
Custos fixos baixos (rodovias construídas e mantidas com fundos públicos)
Rodoviário
Custo variável médio (combustível, recapagem, reparos)
Custo fixo médio (navios e equipamentos de tração)
Aquaviário
Custo variável baixo (capacidade para transportar grande tonelagem)
Custo fixo mais elevado (direitos de acesso, controle ambiental, construção e
manutenção)
Dutoviário
Custo variável mais baixo (custo de mão-de-obra sem grande expressão)
Custo fixo baixo (aeronaves, manuseio do sistema de carga)
Aéreo
Alto custo variável (combustível, segurança, mão-de-obra, manutenção)
82
A primeira é obtida com a diminuição do custo de transporte por unidade
de peso com cargas maiores, uma vez que as despesas fixas de movimentação podem
ser diluídas por volume de carga proporcional maior. A segunda é caracterizada pela
diminuição do custo de transporte por unidade de distância. Distâncias mais longas
permitem que a despesa fixa seja distribuída por mais quilômetros, resultando em
menores taxas por quilômetro percorrido (BOWERSOX e CLOSS, 2001).
Estes conceitos são aplicados ao máximo no transporte das commodities
agrícolas, em especial nos granéis sólidos, por seu baixo valor agregado associado a
grandes quantidades de carga – caso do açúcar.
Para a movimentação dos granéis sólidos, a estrutura de custo do
transporte ferroviário (se eficientemente operado) poderá ter custos unitários reduzidos
para movimentações que envolvam grandes quantidades de cargas. Em relação ao
transporte rodoviário – sempre uma opção de porta a porta – o ferroviário apresenta
baixa flexibilidade, pela sua função de servir a rotas pré-determinadas. Com relação ao
transporte fluvial, em condições semelhantes de carga e distância, um conjunto de
barcaças consome menos da metade do combustível requerido por um comboio
ferroviário, por exemplo (CAIXETA-FILHO, 2005).
Como uma das atividades mais importantes nos escopo de atuação da
logística, a escolha dos modais não devem ser compreendidos apenas por suas
vantagens e desvantagens operacionais (custos do frete, tempo médio de entrega, perdas
e danos, tempo em trânsito, entre outras variáveis) isoladamente. O desempenho dos
mesmos dependerá de fatores externos, como tipo de embalagem a acondicionar,
veículo e vias utilizadas, sistemas de informação gerenciais disponíveis e a forma de
contrato pactuado entre as partes (CAIXETA-FILHO, 2005).
83
A definição acerca da matriz de transportes de um país interfere no
desempenho dos modais por sua infra-estrutura e perfil de uso.
Para o setor sucroalcooleiro paulista, a escolha entre os modais
rodoviários e ferroviários para o transporte do açúcar é estrategicamente importante,
uma vez que as usinas do oeste-paulista (principal região produtora do Estado) distam,
em média, 380 quilômetros do Porto de Santos. O açúcar da principal região produtora
do Estado de Alagoas percorre, aproximadamente, 88 quilômetros até o porto de Maceió
(COSTA e ASSUMPÇÃO, 2005).
Por outro lado, o diferencial do Porto de Santos quanto à eficiência
operacional frente aos demais portos brasileiros é um dos fatores que suportam a
competitividade do açúcar paulista, frente às demais regiões produtoras (Estados do
Nordeste, Centro-Oeste e outros do Sudeste) (ASSUMPÇÃO, 2004).
4.1.2 As vias de acesso ao Porto de Santos.
Além das estradas de rodagem que atravessam o Estado de São Paulo e
acessam a cidade de Santos pelas rodovias Anchieta e Imigrantes, o corredor de
exportação ferroviário sudeste (conhecido como “corredor de Santos”) servem como
principais vias de escoamento do açúcar paulista.
As ferrovias que atravessam o Estado de São Paulo e se encontram em
Santos são: a Ferrovia Centro Atlântica (FCA); e o Sistema Brasil Ferrovias, esta
composta pelo Ferronorte, que entronca na Ferroban e Novoeste (ABAGRP, 2003). Em
2006 o sistema Brasil Ferrovias foi adquirido pelo grupo ALL – América Latina
Logística.
84
Atualmente há três diferentes acessos ferroviários para a circulação de
cargas no Porto de Santos. Na área portuária convergem cargas de três ramais distintos.
Estes são afunilados nos ramais internos (margens direita e esquerda), que concorrem
com o trânsito rodoviário (passagens de nível), agravado, ainda pela falta de espaço para
manobras (AMORES, 2005).
O primeiro é composto por linha de bitola larga da MRS logística, cujo
trajeto perfaz a região metropolitana leste da Grande São Paulo – pela superposição de
linhas com os trens urbanos da CPTM – e a transposição da Serra do Mar por sistema de
cremalheira. O intercâmbio com o porto, na margem direita, é realizado no pátio da
mesma operadora, fronteiriço ao cais do Saboó.
O segundo acesso se dá via bitola larga da ALL, que transpõe a Serra do
Mar com linha dupla em simples aderência, após contornar a região metropolitana da
capital paulista sem interferência com os trens suburbanos (linha vermelha, figura 4.1).
A conexão com a zona portuária ocorre no mesmo pátio operado pela MRS. Já o
intercâmbio entre ambas as concessionárias ocorre, anteriormente, no pátio do Perequê.
Utilizando o mesmo ramal de bitola larga da ALL para transposição da
Serra do Mar, o terceiro acesso atravessa todo o conglomerado urbano de Santos e São
Vicente, em bitola estreita, para chegar diretamente ao pátio do estuário do porto de
Santos (linha verde da Figura 4.1). Entre os demais acessos, este é o de menor
capacidade operacional, em virtude do conflito do tráfego rodoviário com o tecido
urbano.
85
Fonte: ANTT (2005).
FIGURA 4.1: ACESSOS FERROVIÁRIOS AO PORTO DE SANTOS.
Para o acesso aos terminais de embarque ferroviário nas margens direita
e esquerda do porto, a maioria das cargas passa pelas linhas sob concessão da MRS
Logística, que constituem a chamada “ferradura de Santos” (contorno em azul da Figura
4.1) (ABAGRP, 2003).
Uma vez percorrido este trecho, o controle das operações ferroviárias
(abastecimento, apartações e remoções) no porto de Santos é de responsabilidade da
Portofer (controlada pelo grupo ALL), cujos serviços são ilustrados pela linha marrom
em ambas as margens.
86
As linhas férreas que servem à margem direita atendem os terminais
açucareiros ali situados, a saber: Teaçu 1, Teaçu 2, Teaçu 3, T-33, e ADM. Na margem
esquerda as linhas atendem ao TEAG (Terminal de açúcar do Guarujá) para açúcar a
granel.
Há dois anos, Robles e Guerise (2005) constataram que as vias de acesso
ao porto de Santos sofriam com o tráfego gerado e atraído de caminhões e de veículos
ferroviários, que afetavam operadores, usuários e a comunidade e cidades
circunvizinhas (Santos – Margem direita, Cubatão – Estuário e Guarujá – Margem
esquerda). Nos períodos de safra e de aumento dos volumes de exportação, a situação se
agravava.
A pouca disponibilidade de áreas de estacionamento de caminhões
(abarrotamento do trânsito de acesso aos cais) e as restrições de armazenagem
intermediária nas áreas primárias e secundárias (retroportuárias) do porto acentuava a
visão de incapacidade do escoamento de cargas por aquele porto (ROBLES e
GUERISE, 2005).
A falta de espaço físico para manobras de veículos e vagões permanece
conflituosa naquele porto. Entretanto, tem-se conhecimento que a chegada de veículos
com destino aos terminais açucareiros deixou de ser aleatória, passando a ser controlada
pela gestão logística daqueles terminais, conforme suas capacidades de recebimento
para o respectivo embarque das cargas. O capítulo seguinte retoma este ponto com a
apresentação dos resultados dos estudos de caso.
87
4.1.3 Custos rodoviários e ferroviários.
Além da distância geográfica natural das usinas paulistas até o porto de
Santos, esses problemas de infra-estrutura de transporte e acessos ao porto de Santos
agravam a estrutura de custos do escoamento do açúcar.
Em relação aos custos associados a esses fretes, o transporte ferroviário
tem-se mostrado mais competitivo que o rodoviário para aqueles produtos. A Tabela 4.3
apresenta valores com distâncias médias compatíveis àquelas com origem no Estado de
São Paulo.
TABELA 4.3 FRETES FERROVIÁRIOS NO ESTADO DE SÃO PAULO - PERÍODO DE
27/08/2005 A 23/09/2005.
Produto Distância Média (Km) R$/t R$/t.Km Variação
açúcar (ensacado) 497 21,00 0,0423
açúcar (granel) 538 37,63 0,0699
Fonte: SIFRECA (2005).
Apesar de não refletirem distâncias exatamente iguais às anteriores, os
custos dos fretes rodoviários mostram-se superiores em relação aos ferroviários, tanto
para o açúcar ensacado, quanto para o granel. As Tabelas 4.4 e 4.5 sustentam esta
diferença, como apontada por Caixeta-Filho (2005) anteriormente.
TABELA 4.4 FRETES RODOVIÁRIOS DE AÇÚCAR (SACAS DE 50KG) PERÍODO DE
27/08/2005 A 23/09/2005.
Origem UF Destino UF R$/t R$/t.Km Variação
Maracaí SP Santos SP 52,25 0,1035
Pirassununga SP Santos SP 50,75 0,1894
Fonte: SIFRECA (2005).
88
TABELA 4.5 FRETES RODOVIÁRIOS DE AÇÚCAR A GRANEL - PERÍODO DE 27/08/2005
A
23/09/2005.
Origem UF Destino UF R$/t R$/t.Km Variação
Adamantina SP Santos SP 64,50 0,1021
Colina SP Santos SP 62,00 0,1354
Lucélia SP Santos SP 63,00 0,1075
Morro Agudo SP Santos SP 60,00 0,1379
Sertãozinho SP Santos SP 57,00 0,1454
Fonte: SIFRECA (2005).
Observa-se que o custo de frete rodoviário do açúcar a granel é inferior
ao ensacado (50 kg).
4.1.4 Transporte marítimo.
Os serviços de transporte no longo curso podem ser contratados em dois
formatos (SILVA & PORTO, 1999):
Os serviços tipo “liners”, pautados por rotas regulares; a maioria
dos navios “liners” opera com carga geral (especialmente
contêineres) em larga escala, com navios porta-contêineres ou
mega-cargueiros.
Os serviços tipo “tramp”, sem regularidade com relação às rotas,
freqüências e tarifas de frete. Estas são estabelecidas diretamente
pelas condições do mercado de frete; sendo que seu afretamento é
89
feito por viagem, comparando-se a um carreteiro no transporte
rodoviário. A maioria dos navios “tramp” opera com granéis
sólidos (graneleiros), com baixos custos operacionais, por
transportarem grandes volumes de baixo valor agregado.
Além destes, existem os serviços marítimos tipo “industrials”
(industriais), referentes às frotas de navios pertencentes à empresa ou grupo, que
atendam à rotas definidas por seus proprietários (por exemplo, frota de navios da
Petrobrás S.A).
No transporte marítimo do açúcar brasileiro, a contratação dos serviços
tipo tramp predomina quase integralmente. Esses serviços refletem as rotas marítimas
das exportações brasileiras do açúcar. Países como Estados Unidos e União Européia –
além de imporem barreiras tarifárias ao açúcar brasileiro – aplicam restrições à
atracação desses navios em seus portos; seja por leis anti-terroristas (como o ISPS code)
e ambientais (que proíbem a atração de navios sem casco-duplo).
O contrato de afretamento deste transporte marítimo é denominado
charter party, que define as responsabilidades com relação aos serviços portuários.
Segundo o mesmo, prevalece a regra geral de que cabe aos donos das mercadorias, ou
aos afretadores do navio, a contratação e o pagamento do manuseio a bordo (estiva) e
em terra (capatazia) tanto no carregamento quanto na descarga do navio. Sob a
responsabilidade dos armadores ficam apenas os serviços e as despesas de entrada e
saída dos navios (ANTAQ, 2004).
Quando operam com o açúcar, esses contratos de afretamento utilizam o
modelo do Sugar Charter Party, cuja última versão data de 1999. Neste estão descritas,
90
por exemplo, as cláusulas que implicam em pagamento de multas ao embarcador por dia
de atraso no embarque do açúcar (demurrage); assim como o crédito em prêmio
(despatch) ao embarcador, caso o embarque do açúcar se efetive antes do prazo previsto
no contrato. O pagamento ou premiação são definidos pelo laytime (tempo de estadia)
do navio. Trata-se da contagem total do tempo, desde o momento em que o navio chega
à barra (canal de acesso ao porto) até a hora em que sai.
Em 2005, o valor médio diário do demurrage para o açúcar ensacado era
de US$ 6.000,00 e de US$ 20.000 para granel (proporcionais ao porte e custos do
navio). Já o despatch corresponde, em média, à metade do valor que seria pago por
demurrage (COSTA & ASSUMÇÃO, 2005).
4.2 - Comparação do desempenho das operações portuárias.
Para avaliação das atividades portuárias de exportação do açúcar é
apresentada, a seguir, uma análise comparativa das operações logísticas portuárias de
apoio (recepção, armazenagem e embarque) à exportação do açúcar a granel e ensacado.
São analisados os terminais do porto de Santos com operações tanto para carga geral
(açúcar ensacado), como para granéis sólidos (açúcar a granel), ou ambos na mesma
instalação industrial.
Portos de outros Estados que concorrem com o açúcar escoado por
Santos são abordados para efeito de comparação (concorrência extra-portuária).
Destaca-se, igualmente, a concorrência intra-portuária no cais santista para exportação
de açúcar.
91
4.2.1 Análise da concorrência extra-portuária.
Segundo o Sistema de Desempenho Operacional da ANTAQ (2005b), é
possível comparar o desempenho na exportação de açúcar (granel e ensacado) dos
principais portos brasileiros, com base em duas variáveis:
a. Indicadores de desempenho operacional;
b. Custos portuários.
Este estudo da ANTAQ considera a média das operações portuárias
ocorridas durante todo o ano, apresentando os resultados de acordo com os tipos de
cargas predominantes em cada porto e o tráfego marítimo da região.
Os indicadores de desempenho operacional abrangem os seguintes
critérios comparativos (ANTAQ, 2005b):
Consignação média;
Prancha média de atendimento;
Tempo médio de espera para atracação;
Atendimento ao tráfego.
A consignação média mede a quantidade de carga movimentada por
navio. O indicador prancha média de atendimento indica a produtividade no
atendimento à carga, representando a capacidade de elevação de açúcar nos navios
atracados naquele porto. O tempo médio de espera representa, como o nome indica, o
tempo médio em horas gasto em espera para atracação. O atendimento ao tráfego indica
92
o percentual da carga ou produto que cada terminal ou conjunto de berços atende para
movimentação de açúcar em relação à movimentação dos demais produtos também
atendidos.
As Tabelas 4.6 e 4.7 demonstram o desempenho operacional da
exportação de açúcar (granel e ensacado) entre o porto de Santos e seus principais
concorrentes para o ano de 2003.
É somente a partir de 2003 que o Porto de Vitória (ES) surge nas
estatísticas da ANTAQ com movimentação de açúcar ensacado. Os Portos de Natal
(RN), Recife (PE), Santos (SP) e Imbituba (SC) já constam das estatísticas daquela
agência nos anos anteriores. Com exceção do Porto de Santos, todos os portos da Tabela
4.6 possuem terminais totalmente dedicados à movimentação do açúcar ensacado.
TABELA 4.6 COMPARATIVO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL
CARGA GERAL
(AÇÚCAR ENSACADO) 2003.
481.453,7013.75310055.0124Imbituba
------Transchem
------Corex
642.903,0021.945451.141.16052Teaçu 3
------Teaçu 2
1011.288,9011.40814342.23530Teaçu 1
------CARGILL
77821,110.160411.046.510103
Caís Público
(M.Direita)
Santos
------Múltiplo Uso
------Corex
Paranaguá
291.217,5010.439100135.71013Vitória
0932,812.89910077.3966Recife
211.061,2015.33210045.9953Natal
AÇÚCAR EM SACOS
ht/diat.%t.u.
Tempo
Médio de
Espera
Produti-
vidade
Consignação
Média
Atendimento
ao Tráfego
Qtd.
Movimen-
tadas
Frequência
de Navios
2003 (Jan. a Dez.)
PRODUTO
PORTO
TERMINAL
Obs: os terminais sem dados de referência não disponibilizaram seus valores no ano de referência,
segundo informações da fonte.
Fonte: ANTAQ (2005b).
93
O Porto de Santos leva desvantagens em relação aos demais portos nos
quesitos tempo médio de espera e consignação média, a menos o terminal TEAÇU 3,
que se destaque pela maior produtividade média por embarque diário.
Apesar desta desvantagem, o Porto de Santos é o que apresenta maior
freqüência de navios para movimentação de açúcar ensacado, sendo que os terminais
TEAÇU 2, Cargill e Corex (Corredor de Exportação) não apresentaram, em 2003,
movimentação neste tipo de carga.
O Cais Público santista é o mais concorrido quanto à freqüência de
navios, embora sua produtividade seja bem inferior aos demais terminais privativos. No
Porto de Santos, a movimentação de açúcar ensacado no cais público – se comparada à
movimentação de outros produtos – só é inferior à do TEACÚ 3. Este terminal se
destaca nos dados de consignação média e produtividade, sendo o terminal santista que
menos tempo de espera apresenta para atracação.
T
ABELA 4.7 COMPARATIVO DOS INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL
AÇÚCAR A GRANEL
(2003).
1079.915,4024.65110147.9056COREX
Paranaguá
3813.165,5032.404522.333.08972Teaçu 2
598.838,0029.20516700.91124Corex
209.369,2035.719331.464.49641Cargill
Santos
06.003,7014.702100249.94217
Term.
Açucareiro
Recife
AÇÚCAR
ht/diat.%t.u.
Tempo
Médio de
Espera
Produti-
vidade
Consignação
Média
Atendimento
ao Tráfego
Qtd.
Movimen-
tadas
Frequência
de Navios
2003 (Jan. a Dez.)
PRODUTO
PORTO
TERMINAL
Fonte: ANTAQ (2005b).
94
O açúcar a granel é, majoritariamente, movimentado por terminais
privativos. Destacam-se o TEAÇU 2 em quantidade movimentada e produtividade; e o
da Cargill por apresentar mais eficiência nas operações por seus dados de consignação
média e menor tempo de espera para atracação.
O terminal da Cargill dedica 1/3 de sua capacidade para movimentação
do açúcar a granel, enquanto que o TEAÇU 2 apresenta 52% de seu tráfego com este
tipo de produto. O braço portuário da ADM tem operações com açúcar a granel nos
Portos de Santos e Paranaguá.
A análise dos custos portuários, segundo o sistema de desempenho da
ANTAQ, abrange a movimentação de açúcar tanto ensacado e a granel. Os Gráficos 4.1
e 4.2 apresentam os custos portuários das operações nos terminais dos portos de Natal,
Recife, Vitória, Santos e Paranaguá (PR).
Para cada tipo de açúcar foram identificados os navios que
movimentaram estas cargas com base no ano de 2003 (medidas em toneladas para
granéis sólidos e para a carga geral).
Foram levantados os preços correspondentes aos valores médios
cobrados em 2003 para o atendimento aos navios. Nestes valores foram observadas: as
despesas de entrada e saída das embarcações nos portos; os preços cobrados pela
movimentação das cargas – que contempla as despesas com o uso da mão-de-obra; e as
taxas portuárias, incluindo também o uso de equipamentos e de manuseio das cargas
(ANTAQ, 2005b).
Observa-se que as tarifas portuárias são mais caras nos portos públicos
do sudeste para movimentação do açúcar ensacado. Já os preços dos serviços de
manuseio são consideravelmente maiores nos portos do Nordeste e de Paranaguá,
95
relativamente ao dos terminais de Santos. Pelo Gráfico 4.1, verifica-se que o TEAÇU 3
é o porto que apresenta custos mais competitivos para embarque de açúcar ensacado.
0
5
10
15
20
25
30
Natal Recife Vitória Teaçu 1 Teaçu 3 Cais público Corex Múltiplo Uso
Natal Recife Vitória Santos Santos Santos Paranaguá Paranaguá
R$
PREÇOS 2003 (*) em R$ PÚBLICOS TARIFAS PORTUÁRIAS (2)
PREÇOS 2003 (*) em R$ PRIVADOS MANUSEIO (3)
PREÇOS 2003 (*) em R$ PRIVADOS ENTRADA E SAÍDA
PREÇOS 2003 (*) em R$ PRIVADOS SUB-TOTAL
PREÇOS 2003 (*) em R$ TOTAL SUB-TOTAL
R$/t
(*) valores médios;
(2) As despesas com atracação estão incluídas no item "manuseio";
(3) Inclui as despesas com defensas/amarradores e taxa de atracação.
Fonte: ANTAQ (2005b).
GRÁFICO 4.1 PREÇOS / TARIFAS PORTUÁRIAS PARA MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR
ENSACADO
(2003).
Para o açúcar a granel (Gráfico 4.2), destaca-se que os terminais ADM,
Cargill, Teaçu 2 e Teaçu 3 possuem as tarifas mais competitivas entre os demais
terminais, assim como custos de manuseio e entrada e saída (serviços ao armador) mais
equilibrados, denotando ambiente de forte concorrência intra-porto.
96
0
2
4
6
8
10
12
Recife ADM
(T38/39)
Cargill Teaçu 2 Teaçu 3 Múltiplo
Uso
Corex
Santos Santos Santos Santos Paranaguá Paranaguá
R$
MANUSEIO TARIFAS PORTUÁRIAS
ENTRADA E SAÍDA TOTAL (R$)
R$/t
Fonte: ANTAQ (2005b).
GRÁFICO 4.2 PREÇOS/TARIFAS PORTUÁRIAS PARA MOVIMENTAÇÃO DE AÇÚCAR A
GRANEL
(2003).
Destaca-se que entre os terminais analisados, os de uso privativo
(excetuando-se os terminais de Recife e de Múltiplo Uso de Paranaguá) são mais
competitivos em todos os aspectos na movimentação de açúcar a granel.
A movimentação de açúcar a granel requer equipamentos e controle de
processos específicos, quais sejam, o uso de moegas rodo-ferroviárias para recepção,
esteiras e ship loaders para o embarque. A ausência desses equipamentos tecnologias
encarece o manuseio e as tarifas para movimentação desse tipo de carga (como é o caso
de Recife).
O Gráfico 4.3 cruza os dados de desempenho operacional com os preços
portuários.
97
CONSIGNAÇÃO MÉDIA (t/navio)
0
5.000
10.000
15.000
20.000
25.000
30.000
35.000
40.000
Recife ADM
(T38/39)
Cargill Teaçu 2 Teaçu 3 Múltiplo
Uso
Corex
Recife Santos Santos Santos Santos ParanaguáParanaguá
toneladas / navi
o
CONSIGNAÇÃO MÉDIA (t/navio)
Fonte: ANTAQ (2005b).
GRÁFICO 4.3 CONSIGNAÇÃO MÉDIA PARA O AÇÚCAR A GRANEL (2003).
Este gráfico sugere que os terminais que operem com recursos logísticos
especializados possuem os melhores índices de consignação média, como é o caso dos
terminais da ADM, Cargill e Teaçu 2, todos operando no Porto de Santos.
4.2.2 Análise da concorrência intra-portuária.
O complexo portuário santista possui cinco terminais privativos (TUP) e
o cais público para escoar a produção do açúcar. O conjunto desses cinco terminais
especializados na movimentação de açúcar – Teaçu 1 (Grupo Nova América), Teaçu 2
(Cosan), Teaçu 3 (Copersucar), T-33 para ensacado e TEAG para granéis
(Cargill/Crystalsev) e ADM, somadas ao cais público, tornam o complexo santista a
maior plataforma de exportação desse produto no mundo. Com exceção dos terminais
Teaçu 1 e 3, os demais não movimentam exclusivamente açúcar.
98
Ademais, o açúcar mantém-se como a principal mercadoria escoada pelo
mesmo porto. No total acumulado para 2005 (janeiro a outubro), essa carga teve
aumento de 3,7% em relação ao mesmo período de 2004 (CODESP, 2005). A Tabela
4.8 apresenta a movimentação de açúcar (granel e ensacado) naqueles terminais
açucareiros.
TABELA 4.8 MOVIMENTAÇÃO TOTAL DE AÇÚCAR POR SAFRAS, EM TONELADAS, PELO
PORTO DE
SANTOS.
Movimentação total de açúcar por safra – toneladas
2002/2003 2003/2004
2004/2005
Teaçu 1 (Nova América)
915.468 17% 716.166 8% 946.911 13%
Copersucar
927.534 17% 2.297.821 24% 158.0167 21%
Cosan
1.508.672 28% 2.913.452 31% 198.9509 27%
Cargill/Crystalsev
1.366.191 25% 2.391.791 25% 2.140.434 29%
Outros
706.657 13% 1.127.253 12% 780.403 10%
Total
5.424.521 100% 9.446.483 100% 7.437.424 100%
Movimentação total de açúcar granel – toneladas
2002/2003 2003/2004
2004/2005
Teaçu 1 (Nova América)
303.906 9% 107.634 2% 205.307 4%
Copersucar
0 0% 1.406.212 20% 836.505 16%
Cosan
1.508.672 43% 2.913.452 41% 1.989.509 39%
Cargill/Crystalsev
1.366.191 39% 2.062.153 29% 1.744.270 34%
Outros
314.565 9% 681.302 10% 342.561 7%
Total
3.495.168 100 7.170.753 100% 5.140.199 100%
Movimentação total de açúcar ensacado - toneladas
2002/2003 2003/2004
2004/2005
Teaçu 1 (Nova América)
611.562 25% 608.532 24% 719.561 28%
Copersucar
927.534 38% 891.609 36% 743.662 29%
Cosan
0 0% 329.638 13% 407.712 16%
Cargill/Crystalsev
497.925 21% 225.484 9% 250.979 10%
Outros
390.257 16% 445.951 18% 437.842 17%
Total
2.427.278 100% 2.505.380 100% 2.548.204 100%
Fonte: Robles e Guerise (2005).
O terminal da Cargill/Crystalsev lidera a movimentação total de açúcar
pelo porto de Santos com 29% das cargas na safra 2004/05. Este saldo de exportações
99
considera as exportações dos dois terminais da Cargill/Crystalsev: um para açúcar
ensacado na margem esquerda; e outro para granel na margem direita do porto de
Santos.
O terminal da Cosan lidera a movimentação de açúcar a granel, com 39%
dessas cargas. Os terminais da Copersucar e Nova América disputam a liderança das
exportações de açúcar ensacado por pequena margem, 28% e 29%, respectivamente.
Os gráficos 4.3, 4.4 demonstram a diminuição dos custos de embarque do
açúcar. O gráfico 4.5 demonstra a evolução do volume exportado de açúcar pelo Porto
de Santos. Nota-se que, a partir de atuação dos terminais sucroalcooleiros, há mudança
tanto no custo quanto no volume embarcado. Estes terminais acentuaram a participação
de usinas no comércio internacional das commodities sucroalcooleiras.
A redução dos custos portuários para embarque do açúcar nesse porto
representa um dos principais fatores (senão o mais importante) para se aferir os ganhos
competitivos com a concessão daquelas atividades à iniciativa privada.
Os Gráficos 4.3 e 4.4 apresentam, respectivamente, a gradual redução
dos custos (US$/t) de embarque do açúcar a granel e ensacado pelo porto de Santos no
período de 1993 a 2002.
A composição desses custos portuários refere-se apenas a parte de infra-
estrutura portuária terrestre, ou seja, às tarifas cobradas pela CODESP (autoridade
portuária) que incluem: a parte de mão-de-obra avulsa (capatazia e estiva do OGMO); e
os serviços de recepção, armazenagem e elevação (embarque) do açúcar, cobrados pelos
terminais privativos (operador logístico).
100
0
10
20
30
40
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
US$
Preço Mínimo
Preço Máximo
US$/t
Fonte: dados obtidos em pesquisa de campo (Santos – SP).
GRÁFICO 4.3 EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DE EMBARQUE DO AÇÚCAR A GRANEL PELO
PORTO DE SANTOS (1993 2002).
A este conjunto de serviços também se dá o nome de “tarifas de
mercado” para embarque dos produtos. Portanto, excluem-se: a remuneração do
terminal; o agenciamento marítimo; o despacho aduaneiro; o transporte terrestre até o
porto; a armazenagem na origem; tampouco a parte do transporte marítimo.
Em 1993, antes da privatização do sistema portuário nacional, o custo de
embarque do açúcar a granel (Gráfico 4.3) variava entre US$ 35,00/t e US$ 36,00/t no
porto de Santos. Com os investimentos privados nos terminais de açúcar os preços
caíram gradualmente ao patamar de US$ 12,00/t a US$ 10,50/t (mínimo).
A tendência para os embarques do açúcar ensacado é semelhante.
Conforme atesta o Gráfico 4.4, os custos declinaram de US$ 40,00/t para o patamar de
US$ 17,00/t em 2002.
101
0
10
20
30
40
50
1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
US$
Preço Mínimo
Preço Máximo
US$/t
Fonte: dados obtidos em pesquisa de campo (Santos – SP).
GRÁFICO 4.4 CUSTOS DE EMBARQUE DO AÇÚCAR ENSACADO PELO PORTO DE
SANTOS (1993 2002).
Em ambos os casos, a redução dos custos é explicada, principalmente,
pela adoção contínua da mecanização, automação das atividades nos terminais
privativos e pelo aumento da capacidade de processamento para grandes volumes de
exportação.
A partir do ano de 1991, os embarques de açúcar pelos portos brasileiros
retomaram o viés de crescimento, que se estendeu ao longo de toda aquela década
(inclusive para a atual década de 2000). Este incremento é explicado por dois fatos: i) a
saída do Estado na regulamentação do setor sucroalcooleiro; ii) a retomada dos preços
no mercado internacional e o respectivo aumento da produção nacional de açúcar,
conforme ilustra o Gráfico 4.5 (ASSUMPÇÃO, 2004).
102
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
Milhões de Toneladas
73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03
Safras
Fonte: Assumpção (2004).
GRÁFICO 4.5 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO NACIONAL DE AÇÚCAR (1973-2003).
A saída do Estado na regulamentação do setor sucroalcooleiro –
associada à desregulamentação dos serviços portuários – gerou alguns impactos já
descritos anteriormente.
No contexto das exportações de açúcar pelo porto de Santos, o Gráfico
4.6 aponta o salto dos embarques desse produto a partir de 1997. Crê-se que este
desempenho foi gerado e sustentado, principalmente, pelas operações dos terminais
privativos.
Entre o período de 1991 até 1997 as exportações de açúcar foram
realizadas majoritariamente pelo cais público santista (gráfico 4.6). A natureza dessas
operações remete às origens do porto de Santos; intensiva em mão-de-obra (arbitrada
pelos sindicatos) e de baixa tecnologia dos equipamentos. Até hoje são utilizados os
guindastes de bordo dos navios ou os equipamentos de terra (gruas) para içamento da
carga até os porões do navio, onde os sacos de açúcar são estivados um após o outro.
103
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
7000000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
toneladas
SACOS
GRANEL
TOTAL
Fonte: CODESP (2005)
GRÁFICO 4.6 EXPORTAÇÕES DE AÇÚCAR, A GRANEL E ENSACADO, PELO PORTO DE
SANTOS EM TONEADAS (1990 1999).
Um fator que encarece o custo do embarque do açúcar ensacado é a
estiva: 6 horas de trabalho avulso com 20 homens custam R$2.000,00 + 71,961% de
encargos trabalhistas + vale refeição + vale transporte + 50% adicional (se for noturno)
+ 150% (adicional se for domingo e noturno). Segundo dados de pesquisa de campo, a
estiva portuária, contratada pelo Porto Público, qual seja, não privativo, tinha práticas de
boicote da operação de estiva nos terminais privativos – obrigatoriamente escalados por
decisão judicial em favor do sindicato dos estivadores do porto de Santos.
Com a desregulamentação portuária, os embarques no cais público
concorreram com os terminais privativos.
No caso dos terminais açucareiros (privativos), a concorrência se deu a
partir de 1998, quando os primeiros arrendamentos resultaram em projetos e obras de
modernização daquelas infra-estruturas portuárias. A participação desses terminais é
evidenciada no Gráfico 4.6, quando o volume das exportações salta do patamar de 2,5
104
milhões de toneladas para sete milhões em 1999 (atualmente situando-se em 11 milhões
de toneladas anuais).
Estes resultados destacam que a concorrência entre os terminais santistas
fomenta a competitividade do corredor de exportação do açúcar paulista. A queda dos
custos de elevação está diretamente associadas à concorrência intra-portuária.
Este capítulo encerra a parte exploratória do estudo, referente à revisão
bibliográfica e empírica de dados. O capítulo seguinte apresenta e analisa os estudos de
caso.
105
5 - ANÁLISE DOS ESTUDOS MULTI-CASOS
Esta seção conforma a proposição central deste estudo em descrever os
processos e analisar as relações na cadeia logística terrestre e portuária de escoamento
do açúcar pelo porto de Santos.
As relações comerciais e logísticas são analisadas sob a ótica das
transações na cadeia de escoamento do açúcar no trecho usina-porto, quanto à forma e
propósito de arranjos organizacionais construídos entre os atores centrais da dinâmica.
Os processos logísticos são analisados do ponto de vista do grau de
controle sobre os seguintes recursos logísticos: fretes rodo e ferroviário; armazenagem
no interior e na retro-área portuária; e as próprias instalações e operações portuárias.
As operações logísticas portuárias são descritas segundo as diferenças na
prestação de serviços que agreguem, ou não, valor à carga embarcada. Analogamente,
são descritos os sistemas de informação que as diferentes empresas dispõem como
suporte à programação e controle do escoamento do açúcar pelo porto de Santos.
Com base na revisão bibliográfica prévia, explora-se a realidade do
objeto de pesquisa e sua linearidade, ou não, com as bases teóricas referenciais. Por
exemplo, ver-se-á como o uso de recursos e relações logísticas configuram-se como
capacidade de competição entre os terminais açucareiros santistas.
5.1 - Apresentação dos estudos de caso.
A análise dos estudos de caso baseia-se em dados empíricos e
informações coletadas em campo por meio de entrevistas abertas – antecedidas por
106
questionários semi-estruturados – durante o período de setembro de 2005 a abril de
2006.
Os estudos de caso abarcam 3 dos principais terminais açucareiros
santistas, duas grandes usinas do centro-oeste paulista – principal região produtora
daquele Estado – e uma trading company brasileira que faz intermediação na venda do
açúcar no exterior. A Tabela 5.1 sintetiza as características gerais dos mesmos.
Não é possível generalizar a atuação comercial e logística das usinas
paulistas na exportação de açúcar. Como se relacionam com seus parceiros comerciais e
controlam os processos logísticos ao longo do trecho usina-porto de Santos lhes é
particular, compreendidas isoladamente, caso a caso. Este problema é contornado ao se
focar na atuação das usinas associadas ou cooperadas, que seguem as diretrizes
estabelecidas por suas instituições representativas.
A descrição e análise dos processos e relações logísticas dos casos
estudados se dão por três conjuntos de casos. A Figura 5.1 os apresenta partindo do
ponto de vista dos terminais “A”, “B” e “C” sobre como prestam serviços que
agreguem, ou não, valor a carga embarcada.
Os esforços de programação e controle do sistema logístico são
centralizados nas operações portuárias para embarque do açúcar em conformidade com
os volumes, especificações e prazos estipulados nos contratos entre as usinas e as
tradings agrícolas instaladas no Brasil. Os operadores logísticos portuários possuem
papel central nestas transações.
107
TABELA 5.1 SÍNTESE DOS ESTUDOS DE CASO REALIZADOS.
Estudos
de caso
Atividade
econômica
Local das
entrevistas
Foco das atividades para exportação de açúcar
A
Terminal
portuário
açucareiro
Santos - SP,
margem direita
Braço logístico portuário (terminal de uso privativo misto) de grupo de 3 (três usinas) na região de Assis - SP.
Capacidade de armazenagem retroportuária de 1.100.000 sacas de 50 kg e 160.000 mil toneladas de açúcar a
granel; capacidade de embarque, respectivamente, 5 a 6.000 t/dia de ensacado e 50 a 72.000 t/dia a granel;
B
Terminal
portuário
açucareiro
Santos - SP,
margem direita
Operadora portuária de granéis vegetais pertencente a grupo de usinas da região de Piracicaba (SP). A capacidade
estática do terminal portuário é de 215 mil toneladas de grãos (açúcar ou soja) a granel; embarca 40 mil toneladas
de açúcar a granel no período de 24 horas. Lidera o volume de exportações de açúcar a granel do porto de Santos.
C
Terminal
portuário
açucareiro
Santos - SP,
margem esquerda
Fruto de uma joint-venture entre grupo de nove usinas da região de Ribeirão Preto (SP). Possui um terminal em
cada margem do porto de Santos: à esquerda – Guarujá – possui o TEAG para movimentação exclusiva de açúcar
a granel e soja; à direita o T-33, especializado na movimentação de açúcar ensacado.
X
Usina Cooperada Pradópolis - SP
Uma das três maiores usinas do País; produz 462.000 t/ano de açúcar exclusivamente para exportação (100%
VVHP); embarque direto e transbordo ferroviário na própria planta; possui dois armazéns dedicados, uma para
110.000 t açúcar granel, e outra de 90.00 t para big-bags; todos embarques são realizados pelo terminal portuário
açúcareiro da cooperativa (31 usinas em São Paulo) em Santos.
Y
Usina Associada
e Representante
Comercial
Sertãozinho – SP
Usina de grande porte, membro de associação comercial de 9 (nove) usinas sediada em Ribeirão Preto - SP; o
conjunto das usinas possui capacidade de armazenagem de 180 mil toneladas de açúcar a granel (VHP) para
exportação, podendo alcançar 250 mil toneladas ao todo; embarque preferencial da produção por 2 terminais
açucareiros (um à granel, outro ensacado) respectivamente nas margens esquerda e direita do Porto de Santos,
frutos de uma joint-venture com multinacional alimentícia para compartilhar operações portuárias.
Z
Trading
Company
brasileira
São Paulo – SP
Braço comercial do grupo de 3 (três usinas) na região de Assis - SP. Embora pertença ao mesmo grupo detentor do
terminal “A”, é considerada unidade distinta de negócio, ainda que exerça atividades complementares à exportação
de açúcar.
Fonte: elaborado pelo autor.
.
108
Os comentários inseridos nas barras horizontais correspondem ao perfil
da atuação de cada terminal; como se relacionam e prestam seus serviços a seus
clientes. As legendas interpretam: i) o grau de controle sobre os recursos logísticos e de
marketing; ii) os possíveis canais de distribuição internacional vinculados à estratégia
de venda externa do açúcar; iii) e a dinâmica de triangulação entre os casos,
representada pela seta interligada.
A
B
C
•PRIORIZA JOINT-VENTURE (EMPRESAY”)
ATENDE À TERCEIROS;
AÇÚCAR ENSACADO E A GRANEL;
• DESCARGA RODO-FERROVIÁRIA.;
• EMBARQUE MECANIZADO.
• PARCERIA COM TRADINGS
ESTRANGEIRAS;
APOIA VENDAS INTER-TRADING;
LINE-UP DE NAVIOS PADRÃO;
•ATENDE DEMAIS TRADINGS.
TRADING PRÓPRIA;
APOIA VENDA DIRETA NO DESTINO;
LINE-UP DE NAVIOS DIFERENCIADO;
•ATENDE DEMAIS TRADINGS.
TRADING PRÓPRIA (EMPRESA “Z”);
APOIA VENDAS INTER-TRADING;
LINE-UP DE NAVIOS PADRÃO;
•ATENDE DEMAIS TRADINGS.
• PRIORIZA ORIGEM PRÓPRIA;
ATENDE À TERCEIROS;
• APENAS AÇÚCAR A GRANEL;
• DESCARGA RODO-FERROVIÁRIA;
• EMBARQUE MECANIZADO.
• 94% ATENDIMENTO A TERCEIROS;
• ATENDE ORIGEM PRÓPRIA;
AÇÚCAR ENSACADO E A GRANEL;
• DESCARGA RODO-FERROVIÁRIA;
• EMBARQUE MECANIZADO.
A
MONTANTE JUSANTE
LEGENDA:
GRAU DE CONTROLE SOBRE OS
RECUROS LOGÍSTICOS/MARKETING
CADEIA LOGÍSTICA INTERNA DE ESCOAMENTO DO AÇÚCAR
SERVIÇOS LOSTICOS
SUPRIMENTO
DISTRIBUIÇÃO/
VENDAS
TRIANGULAÇÃO: TERMINAIS PORTUÁRIOS,
USINAS E TRADINGS ESTUDADAS
TERMI NAL
TERMI NAL
TERMI NAL
Fonte: elaborado pelo autor.
FIGURA 5.1 PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS LOGÍSTICOS PORTUÁRIOS À MONTANTE E
JUSANTE NA CADEIA LOGÍSTICA DE ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PELO PORTO DE SANTOS
À montante ocorre o suprimento por parte das usinas, correspondente ao
envio do açúcar das unidades produtoras até o porto, que deve ser recebido e
armazenado para consolidação de carga para o embarque. Já o embarque do açúcar
109
satisfaz a demanda de atendimento à fila de navios, ou line-up, viabilizando a
distribuição do produto por parte das tradings importadoras no exterior.
O Terminal “A” está inserido em um contexto de maior controle sobre os
recursos da cadeia logística interna por seu grupo corporativo. Além do terminal próprio
(logística portuária), o grupo produz (usinas associadas) e comercializa o açúcar
(trading “Z”).
À montante, 94% dos serviços prestados pelo terminal “A” dedicam-se a
terceiros, que podem ou não atrelar a venda do produto à trading do mesmo grupo. A
jusante, o terminal cumpre sua obrigação de colocar a carga contratada a bordo do navio
afretado pela trading importadora, mesmo que a negociação não tenha sido efetivada
por sua própria trading. Quando afretados, os navios transportam apenas um tipo de
carga em todos os seus porões; quando são fretados, podem receber cargas fracionadas,
de naturezas diferentes por porão.
O Terminal “B”, à montante, presta serviços dedicados às usinas do
grupo sucroalcooleiro do qual faz parte. Possui um perfil de movimentação exclusiva de
açúcar a granel, o que difere dos demais terminais.
O grupo em questão estende o controle de recursos logísticos e de
marketing apenas até o terminal, uma vez que não possui trading própria. Neste caso há
uma parceria com grandes tradings internacionais que buscam, na origem, o
fornecimento confiável do grupo que detém aquele terminal. Tem-se conhecimento que
uma trading agrícola européia é acionista daquele terminal, com 10% de participações.
Logo, os serviços logísticos daquele terminal estão majoritariamente definidos com
compradores garantidos, baseados em contratos de longa duração.
110
O terminal “B” pode, ademais, prestar seus serviços a outras usinas que
tenham vinculado sua carga à tradings diferentes.
Já o terminal “C” é fruto de uma joint-venture entre a entidade comercial
“Y” e multinacional alimentícia com larga experiência em embarques de commodities
agrícolas no País. Esta parceria prevê o compartilhamento das operações portuárias no
terminal “C”, que passou a priorizar o atendimento às usinas daquela entidade comercial
sem, contudo, deixar de embarcar a carga de seus clientes antigos. A experiência
internacional do terminal “C” junto aos mercados de afretamento marítimo possibilita
uma formação diferenciada do line-up de navios naquele terminal.
O caso “X” foi considerado à parte dos três grupos econômicos
anteriores. Este caso integra um grupo de usinas cooperadas, cuja instituição
representativa (cooperativa) detém um terminal açucareiro em Santos, responsável pelo
embarque da produção de todo o grupo sucroalcooleiro. Contudo, a administração do
terminal cooperado recusou-se a participar deste estudo, alegando sigilo industrial.
Logo, os dados referentes ao caso “X” dizem respeito apenas à estratégia de suprimento
do açúcar até o terminal cooperado.
O tópico a seguir analisa as transações da cadeia logística de escoamento
para exportação do açúcar pelo Porto de Santos, segundo a dinâmica de triangulação
apresentada na Figura 5.1.
5.2 - Relações comerciais
As tradings agrícolas, os terminais portuários e as usinas estão
interligados nas transações para venda do açúcar no mercado externo.
111
Há uma diferença conceitual entre as tradings agrícolas registradas no
Brasil e aquelas estrangeiras. A primeira intermedia a venda do açúcar para a segunda,
tratando do fornecimento desse produto conforme os prazos e condições assumidos nos
contratos com a última. Na maioria das modalidades de venda, a trading estrangeira
trata das operações de distribuição final do açúcar nos mercados consumidores externos.
A trading “Z”, brasileira, apresenta-se como uma prestadora dos
seguintes serviços:
Serviços de financiamento para produção agrícola ou às operações
logísticas: pré-pagamento, fechamento de contratos, análise de
riscos;
Serviço logístico: da porta da usina ao terminal portuário do grupo,
ou até o destino final;
Serviço de operações financeiras: Fee (taxa) de comercialização
por ajustes e operações em nome do cliente no mercado financeiro.
A trading “Z” negocia diversos tipos de açúcares, como o VHP, VVHP o
refinado granulado e o cristal 150 e 100 de cor ICUMSA. O VHP e o VVHP são
produtos tipo exportação a granel, substitutos do antigo padrão Demerara, enquanto os
açúcares refinados granulado e cristal são embalados em sacas de 50 ou de 1.000kg (big
bags).
O portfolio de clientes da trading “Z” está dividido em dois grandes
grupos: i) referentes a usinas do seu mesmo grupo, que utilizam o próprio canal
logístico e comercial (produção-negociação-embarque); ii) usinas que não pertencem ao
112
grupo e decidem qual combinação de serviços contratarão: os serviços logísticos e/ou as
opções de financiamentos oferecidos para apoio às vendas do açúcar.
A trading “Z” declara como presta seus serviços para a maior
exportadora de açúcar ensacado individual (não-associada) do Estado de São Paulo:
“Este cliente é uma usina bem sólida, possui duas unidades e dificilmente se
consegue agregar os outros itens de serviço na comercialização do açúcar. No
item logística, ela tem sua própria estrutura, tem volume para isso. Entramos
apenas com a questão comercial, nem pré-pagamento ela quer. Fica restrito
às operações de trading. O nosso grupo é aberto a tudo isso, qualquer
modalidade que seja interessante para as usinas.”
O relacionamento entre usinas e tradings agrícolas registradas no Brasil
pode incorporar uma gama variada de serviços comerciais e logísticos. Muitas vezes, os
produtores de açúcar comprometem safras vindouras com o financiamento solicitado às
tradings. Nesta situação, estas usinas têm relacionamento distante com o comprador
estrangeiro, estando sujeitas a risco baixo, mas também baixa remuneração.
Por outro lado, a natureza das relações à jusante – entre a trading “Z” e
as estrangeiras – é pautada pela concentração do mercado na distribuição final, em
poder das grandes multinacionais alimentícias e suas trading companies.
Cerca de 90% das negociações da trading “Z” são de tipo “inter-trading”,
qual seja, a venda internacional do açúcar se dá pela negociação com a trading
estrangeira, importadora e distribuidora final do açúcar. A predominância dessa
transação é devido a trading “Z” ainda não possuir estrutura de clientes finais bem
desenvolvida como as tradings estrangeiras possuem.
O desenvolvimento de clientela internacional necessita expertise em
diferentes culturas, acesso a mercados consumidores em outros países e no afretamento
marítimo. Tradings estrangeiras possuem escala de trabalho mundial, com contratos de
113
afretamento anuais ou possuem frotas própria. A trading “Z” exemplifica as
dificuldades no afretamento de navios tipo bulk cargo (carga granelizada):
“São navios com capacidade, no mínimo, de 14.000 ton para ensacado e
45.000 ton para granel. Deve existir uma escala para poder fazer esse tipo de
trabalho com eficiência. Eventualmente podemos afretar um navio para fazer
uma carga específica, mas a nossa competitividade no afretamento é muito
diferente dessas tradings que já tem essa experiência. É um mercado muito
restrito”.
Em virtude dessas barreiras à entrada – tanto de desenvolvimento do
mercado para distribuição final como do afretamento de navios – a trading adota,
predominantemente, o formato “inter-trading” de venda, cuja principal modalidade
INCOTERMS é o FOB.
A falta de experiência no afretamento marítimo internacional, assim
como o acesso limitado aos mercados consumidores finais condiciona a atuação da
trading “Z” nos mercados internacionais. A Figura 5.2 ilustra a atuação da trading “Z”
que utiliza a modalidade FOB aplicada ao escoamento do açúcar.
PORTO DE
ORIGEM
PORTO DE
DESTINO
FRETE RODOVIÁRIO OU
FERROVRIO
ELEVAÇÃO DA
CARGA
AFRETAMENTO DO ARMADOR;
AGENCIAMENTO MATIMO;
DESPACHO ADUANEIRO
TRADING REGISTRADA
NO BRASIL (INTERMEDIÁRIA)
FOB ESTIVADO
TRADING REGISTRADA
NO BRASIL
USINA
BRASILEIRA
DISTRIBUIDOR
ESTRANGEIRO
(TRADING
AGRÍCOLA
INTERNACIONAL)
TRADING ESTRANGEIRA - IMPORTADORA
Fonte: elaborado pelo autor.
FIGURA 5.2 FLUXOGRAMA DO ESCOAMENTO DE AÇÚCAR PELO MODELO “FOB-
ESTIVADO”.
114
Neste modelo (figura 5.2), a responsabilidade do embarcador (própria
usina ou representante comercial, neste caso a trading “Z”) se estende até o porão do
navio. O entrevistado da trading “Z” convenciona chamar esta modalidade de “FOB
estivado”, uma vez que a responsabilidade do embarcador se encerra com a carga
colocada à bordo e propriamente estivada, às custas do terminal de origem. A
responsabilidade de colocar o navio na barra (canal de acesso ao porto) e os custos de
atracação é assumida pela trading estrangeira.
A trading estrangeira agencia os navios e comunica a trading
fornecedora (brasileira) sobre o período em que se dará o embarque (geralmente com 10
dias de antecedência). A programação da janela portuária (período de embarque) e do
momento ETA (Estimated time at arrival – dia estimado de atracação) é repassada para
a CODESP, que gerencia a entrada e saída do navio com auxílio da praticagem (pilotos
marítimos). O terminal açucareiro tem seu line-up atualizado com as mesmas
informações e se prepara para abastecer o navio.
Conforme a Figura 5.2 procura demonstrar, o embarcador estende suas
obrigações até a murada do navio, assumindo maiores riscos sobre a operação,
aumentando seu poder de barganha para negociar os custos logísticos de exportação.
Neste caso, uma usina não-associada que não opte por desenvolver hnow-how logístico,
e tampouco possua capital de giro para arcar com os custos operacionais da logística
para embarque, pode terceirizar os três serviços prestados pela trading “Z”. A maior
parte da atuação da trading “Z” se dá desta forma.
Por outro lado, a menor parte das transações da trading “Z” ocorre no
formato “mini-trading”, quando a venda do açúcar é direta para clientes finais. Neste
caso, o acondicionamento do açúcar é feito em containeres. Neste padrão, a modalidade
115
declarada é definida conforme a transferência de responsabilidades e custos entre
exportador e importador.
A Figura 5.3 ilustra um caso cuja modalidade definida foi “DDP”. Nesta
situação o açúcar – embalado em sacas de 50 kg – é acondicionado em containeres
ainda nas dependências da usina.
USINA
BRASILEIRA
PORTO DE
ORIGEM
PORTO DE
DESTINO
DISTRIBUIDOR
ESTRANGEIRO
(TRADING
AGRÍCOLA
INTERNACIONAL)
FRETE RODOVIÁRIO OU
FERROVIÁRIO
ELEVAÇÃO DA
CARGA
AFRETAMENTO DO ARMADOR;
AGENCIAMENTO MARÍTIMO;
DESPACHO ADUANEIRO
TRADING REGISTRADA
NO BRASIL (INTERMEDIÁRIA)
EX-WORKS
TRADING REGISTRADA
NO BRASIL
“DDP
Fonte: elaborado pelo autor.
FIGURA 5.3 FLUXOGRAMA DO ESCOAMENTO DE AÇÚCAR PELO MODELO “DDP”.
Na modalidade “DDP”, o açúcar é entregue ao comprador (no caso, uma
trading agrícola registrada no Brasil) no estabelecimento do vendedor (usina). Cabe à
trading brasileira arcar com todas as despesas e riscos desde o recebimento da
mercadoria no local designado até o destino final (país de destino). O produtor apenas
fornece o açúcar à entidade econômica responsável por todos os procedimentos de
internacionalização da carga (trading). Já no modelo “FOB estivado”, o produtor pode
arcar com as despesas de transporte e contratação do terminal para o embarque do
açúcar.
116
As principais diferenças na escolha desta estrutura logística de
escoamento do açúcar (Figura 5.3) em relação à anterior (Figura 5.2) são: i) o volume
da carga; ii) o valor agregado da carga; iii) o acesso ao mercado externo.
Primeiro, as escalas produtivas das negociações “inter-tradings” (FOB
estivado) inviabilizam o acondicionamento da carga em contêineres. Seus canais
logísticos estruturam-se em função das características dos mercados de fretes
rodoviários, ferroviários e marítimos para o transporte do açúcar em grandes
quantidades (a granel e ensacado) com freqüências regulares. As escalas mínimas
eficientes (EME) dos terminais portuários especializados na movimentação de açúcar
também dependem de alto giro de estoque para embarques sucessivos.
Logo, em operações “DDP” a trading “Z” faz uso de um canal logístico
diferente, não sendo embarcado em terminais açucareiros, e sim em terminais
especializados no embarque de contêineres. Nesta modalidade o conteiner é utilizado
como agente da multimodalidade, da usina até o local designado pelo importador.
O açúcar exportado em contêineres, com destino final conhecido possui
maior valor agregado. Segundo a trading “Z” essas cargas são mais elaboradas,
possuindo cor, granulometria e qualidade diferenciadas. Incluem-se os açúcares do tipo
“orgânico”, cujo manejo ambiental do plantio à produção possui certificação
internacionalmente reconhecida. Para a trading “Z”, a remuneração final dos serviços
neste tipo de carga justifica os maiores custos e riscos assumidos em relação à
modalidade que a exime de responsabilidades apenas após o embarque da carga.
O acesso ao destino final no exterior está relacionado ao perfil de atuação
da trading – nesse caso, do grupo sucroalcooleiro que a detem; e não somente com a
modalidade de exportação escolhida pela usina que demanda o serviço de embarque do
117
açúcar. As usinas que pertencem ao grupo econômico do terminal “A” e da trading “Z”
representam apenas 6% da movimentação do açúcar exportado no terminal do mesmo
grupo. O restante da carga movimentada pelo seu terminal (“A”) é de terceiros.
As usinas deste grupo econômico atuam intensamente no mercado
brasileiro de alimentos, tendo marca líder de açúcar refinado e cristal, junto com outros
de seus produtos derivados do leite e sucos de frutas, distribuídos por meio de estrutura
própria. O posicionamento estratégico do grupo na cadeia logística de escoamento do
açúcar é de prestador de serviços logísticos e comerciais.
A oferta integrada destes serviços busca a maximização de agregação de
valor aos seus clientes. Segundo funcionário da trading “Z”, uma usina cujo principal
negócio é a produção de açúcar, deve ter o serviço logístico – que implica em grandes
investimentos de capital – prestado por outra empresa ou unidade de negócio.
O grupo econômico o qual as empresas “A” e “Z” são pertencentes
possui estrutura organizacional interna para atuarem na logística terrestre e portuária da
cadeia de escoamento para exportação do açúcar (terminal “A”). Já a trading “Z”
confere ao grupo o know-how para atuação no elo interno (brasileiro) de consolidação
de cargas para a cadeia de distribuição internacional do açúcar.
“A trading tem um papel importante para fechar o domínio da cadeia toda
que nós temos. Somadas à produção e o terminal em Santos, temos o domínio
da cadeia interna brasileira. A tendência do setor é ter consolidação de cargas
(originação-fob) interna, ou por grupos com força suficiente para dominar a
cadeia de ponta a ponta ou, principalmente, com parcerias estratégicas que
permitam dominar a cadeia, com expertises focadas em cada elo da cadeia.”
O termo “originação” se refere ao fato daquelas estruturas não terem
conhecimento dos clientes finais no exterior; são fornecedores de açúcar em escalas
mundiais. Apesar do desenvolvimento destas estruturas, o grupo ainda não possui os
118
recursos logísticos e comerciais para conhecimento dos clientes finais no exterior. Já
para as exportações de açúcar orgânico, o mesmo grupo está adquirindo esse
conhecimento, quando pode atuar na logística de porta-a-porta (modalidade “DDP”).
O diretor da trading “Z” aposta que o elo de distribuição/entrega no
destino ainda não seja dominado pelos brasileiros:
Desconheço uma operação de usina, de exportação, que ultrapasse o FOB
estivado, de navio fechado. Difícil. E quando surgem avanços, este se dá em
operações de parcerias, como a (empresa “Y”) que tem uma parceria com
(terminal “C”) que estão montando uma refinaria na Síria em conjunto, com
um empresário sírio”.
Foge dos propósitos deste trabalho mapear as ramificações internacionais
da distribuição do açúcar. Sabe-se, contudo, que o acesso a esses mercados é facilitado
pela união de competências, sejam fusões, joint-ventures ou parcerias. É o caso da joint-
venture realizada entre a entidade comercial “Y” e o terminal “C”.
Em 1998 a entidade comercial “Y” identificou uma oportunidade de
arrendar um lote portuário em Santos, uma vez que 70% de seu faturamento equivalente
em volume dependiam do mercado externo.
Inicialmente aquela associação buscou uma parceria com um operador
logístico já instalado em Santos para transformar a área arrendada (margem direita) em
um terminal para granéis agrícolas. Houve, entretanto, uma disputa de prestação dos
serviços portuários entre as empresas “Y” e “C”. O principal cliente da empresa “Y” era
a multinacional alimentícia proprietária do terminal “C” (margem esquerda), que
passaria a concorrer diretamente com o novo terminal de uso misto.
A acirrada competição dividiria os volumes embarcados entre ambos os
terminais; além dos demais que, à época, começavam a operar. Houve o risco do
119
terminal não alcançar a escala mínima de operação, gerando multas previstas no
contrato de arrendamento.
A proposta de parceria (joint-venture) entre os terminais dos grupos
econômicos detentores do terminal “C”, por um lado, e da entidade comercial “Y”, por
outro, foi então aprovada com a respectiva reestruturação acionária das partes.
Investimentos na ordem de US$ 10 milhões em cada um dos terminais resultaram na
especialização para movimentação de açúcar ensacado (margem direita) e a granel
(margem esquerda), configuração existente até hoje.
Como resultado, o Terminal “C” teve a garantia do fornecimento estável,
confiável e em grandes volumes, consolidados pela associação com a entidade
comercial “Y”. Com isto a empresa “Y” obteve acesso privilegiado aos mercados
consumidores estrangeiros, por meio dos canais de distribuição internacional
consolidados pela multinacional agrícola controladora do terminal “C”.
Entretanto, a contrapartida para se organizar uma estrutura logística e
comercial totalmente integrada – como apresentada pelo representante da trading “Z” –
são os elevados investimentos necessários para internalizar essas transações.
Dados empíricos revelam que tal estrutura não se mostrou viável para a
grande maioria das 178 (valor aproximado) usinas paulistas e para a quase totalidade
das 393 usinas e destilarias brasileiras (ASSUMPÇÃO, 2004).
Estas continuam dependendo de terceiros para a venda de seus produtos
no mercado internacional e para realização de suas operações logísticas para exportação.
O desenvolvimento de competências com recursos logísticos próprios para o
escoamento da produção de açúcar, a curto prazo, demonstrou ser inviável sem o
investimento de elevados recursos de capital.
120
5.3 - Processos gerenciais
Em ambos os modelos de exportação apresentados nas figuras 5.2 e 5.3, a
trading “Z” atua como intermediária para venda no mercado internacional. Deve-se
ressaltar que a trading pode assumir diferentes posições contratuais conforme a natureza
da negociação feita nas bolsas de valores de commodities agrícolas.
A trading brasileira pode figurar como exportadora, dependendo dos
termos acordados com o fornecedor do açúcar (no caso da modalidade FOB estivado).
O terminal “A”, portanto, não distingue a posição comercial adotada pelas partes,
prestando serviços logísticos para a usina como exportadora, assim como para a trading
“Z” como exportadora ou dona da carga.
A lógica da descrição dos processos logísticos de escoamento do açúcar
segue a orientação teórica dos sistemas produtivos: input-produção-output e
suprimento-produção-distribuição, esta, por sua vez, segundo os pressupostos da
logística integrada.
Nesta pesquisa, os terminais açucareiros santistas assumem a posição
central de produção, como prestadores de serviços logísticos a ambos os extremos da
cadeia interna de escoamento do açúcar. No item seguinte, os processos logísticos são
descritos desde a saída das usinas até o embarque nos terminais açucareiros.
5.3.1 Análise do controle de estoques no trecho usina-porto de Santos
Por se tratar de um processo cuja chegada de açúcar se dá continuamente,
com alto grau de padronização e baixos custos de operações, a estratégia de produzir
para estoque é adotada quase integralmente pelas usinas do setor.
121
A regulação do estoque de açúcar para embarque ocorre em três
momentos na cadeia logística interna de escoamento do açúcar:
i. No interior das usinas (origem);
ii. Em entrepostos para armazenagem e transbordo para ferrovias;
iii. Nas áreas retro-portuárias, onde são formados estoques tipo
buffer” (pulmão) para garantirem os volumes a serem embarcados
(destino).
Face à demanda internacional, atualmente as usinas produzem o açúcar
entre sete e oito meses do ano (abril-novembro) e o exportam ao longo de doze meses.
Os preços da entre safra são geralmente maiores, onde há o potencial ganho em relação
aos custos operacionais.
Dois dos casos abordados ilustram diferentes estratégias de regulação de
estoques para exportação do açúcar a granel.
O primeiro caso relata a gestão dos estoques entre origem e destino no
contexto da joint-venture entre a empresa “Y” e o terminal “C”. Já o segundo caso
(usina “X”) diz respeito ao suprimento de açúcar a granel exclusivamente via terminal
cooperado.
Quando produzidos com o mesmo padrão de qualidade, o açúcar a granel
para exportação dispensa segregação em armazéns ou áreas separadas. Trata-se de uma
vantagem logística que resulta em agilidade na gestão de estoques entre usina e porto.
O terminal “C” recebe os carregamentos de sua parceira de joint-venture
e os armazenam em um mesmo lote, ou pool de exportação, segregando apenas as
variedades VHP da VVHP.
122
O recebimento do açúcar proveniente das usinas é coordenado por um
sistema de acompanhamento de qualidade para cumprimento das datas previstas de
embarque. A programação de recebimento considera a possibilidade de chuvas, sendo a
capacidade de embarque maior que a de recebimento. O terminal é essencialmente um
transbordo de açúcar para o navio. Sua função não é a estocagem, mas de consolidação.
A carga passa alguns dias, muitas vezes apenas um dia estocada.
Tem-se uma programação puxada pelo terminal açucareiro, coordenada
por um escritório em São Paulo responsável pelo relacionamento comercial e logístico
com as usinas (fruto da joint-venture) e os exportadores (demais fornecedoras). O
respondente do Terminal “C” resume essas operações:
“O escritório em São Paulo informa a quantidade pra cada usina, dependendo
das exportações e dos navios. A usina tem que cumprir a entrega nas
condições solicitadas da chegada do navio; e o cadenciamento para o produto
chegar aqui no Guarujá é definido conforme nosso limite de capacidade
operacional. Então a liberação é feita por quantidade de caminhões, de
vagões; as usinas não enviam sem o OK dessa parte logística, senão se cada
um mandar o açúcar como quiser vira uma bagunça, atrapalha a cidade.”
No caso desta joint-venture, ambas as partes se preocupam em manter a
freqüência e cadência do escoamento para o terminal “C” conforme a programação
logística acertada previamente. O suprimento confiável dessas cargas garante o sucesso
das operações portuárias, quanto a ter-se volume para embarque quando o navio atracar
no berço do terminal. Gargalos e intempéries podem ocorrer ao longo do trecho usina-
porto, assim a manutenção de estoques de segurança em armazéns intermediários, ou
mesmo na origem dão fôlego aos pulmões de armazenagem portuária.
A tabela 5.2 apresenta as capacidades estáticas de armazenagem dos
casos “X” e “Y” em três estágios, incluindo o total – caso se considere todo o trecho
123
usina-porto de Santos em um dado momento. Observam-se as diferentes estratégias de
suprimento do açúcar para seus respectivos terminais de embarque.
TABELA 5.2 CAPACIDADES ESTÁTICAS DE ARMAZENAGEM PARA AÇÚCAR A GRANEL,
EM TONELADAS
, NO TRECHO USINA PORTO.
ARMAZENAGEM
GRANEL
ORIGEM
USINAS
ENTREPOSTO/TRANSBORDO DESTINO/PORTO
TOTAL
(toneladas)
USINA "X" 220.000 60.000 190.000 470.000
EMPRESA "Y" 120.000 120.000 110.000 350.000
Fonte: dados coletados pelo autor em pesquisas de campo.
Além da capacidade de armazenagem na origem, a empresa “Y” opera
com terminais de transbordo rodo-ferroviário e armazenagem nas cidades de São
Joaquim e São José do Rio Preto (SP). São armazenadas 120.000 toneladas integradas
com transbordo para o modal ferroviário nas próprias instalações. O gerente de logística
daquela empresa justifica sua estratégia:
“Além do fato de carregarmos o estoque tentamos, por outro lado, minimizar
esse custo usando a folga, o delta de ganho que a ferrovia nos dá para
compensar em parte os custos operacionais do terminal de estoque
intermediário”.
No caso da usina “X”, 100% de sua produção anual estimada em 460.000
toneladas (açúcar VVHP) são destinadas à exportação via terminal cooperado. No
interior das instalações da usina é realizado o transbordo ferroviário direto (usina-porto),
sem translados internos. Justifica-se a estratégia de armazenar uma quantidade menor
(60.000 toneladas) em entrepostos intermediários terceirizados, servindo apenas em
situações de estrangulamento logístico.
124
Extraem-se alguns fatores competitivos que podem diferenciar aquelas
duas empresas (“X” e “Y”) em relação aos concorrentes, que não detenham as mesmas
capacidades e recursos logísticos para escoamento do açúcar:
9 Busca pela regularidade no escoamento do açúcar, especialmente a
granel, até os terminais portuários;
9 Flexibilidade para atender picos de demanda assim como
disponibilidade de açúcar suficiente para abastecimento em
períodos de entre-safra;
9 Integração do transporte ferroviário nos pontos de armazenagem,
visando maior agilidade e menores custos totais de escoamento.
Estas estratégias são para o escoamento do açúcar a granel. A grande
maioria das usinas não dispõe de capacidade de armazenagem. O representante da
trading “Z” compreende esta situação como uma deficiência sistêmica do País:
“O Brasil não tem essa estrutura de armazenagem organizada para essa
finalidade, os armazéns estão dentro das unidades produtoras, numa
capacidade limitada, o que expõem o Brasil a algum risco, porque tem que
escoar a produção ao longo da safra senão não tem onde armazenar, hoje essa
é a realidade”.
Entretanto, os investimentos na ampliação da capacidade de
armazenagem ao longo da cadeia logística terrestre e portuária podem ser inócuos, se
sua capacidade de gestão das informações logísticas também não for desenvolvida. A
informação logística possui papel central para a regulação de níveis de estoques entre
origem e destino, na visão de logística integrada.
125
5.3.2 Análise dos modais rodoviário e ferroviários no trecho usina-porto de
Santos.
A escolha do modal para o escoamento do açúcar até o porto de Santos
está associada ao tipo de embalagem do produto e à rede rodo-ferroviária de acesso. No
caso do açúcar ensacado foram relatados poucos casos de utilização da malha
ferroviária para este fim, predominando o uso de caminhões bi-trens e carretas para seu
escoamento.
Os açúcares tipos VHP e VVHP foram desenvolvidos para serem
escoados a granel para exportação. Segundo os entrevistados, este tipo de açúcar oferece
inúmeras vantagens logísticas sobre o ensacado. As principais são:
9 Armazenagem em “pools”, não segregados – quando fabricados
com o mesmo padrão de qualidade, como VHP ou VVHP;
9 Elimina os custos relativos às embalagens (50kg – R$ 1,60 e big
bags – até R$ 65,00 por embalagem);
9 Reduz o uso intensivo de mão-de-obra, empregando equipamentos
mecanizados e automatizados para descarga, armazenagem e
embarque;
9 Otimiza o uso dos modais de transportes rodoviário, ferroviário e
marítimo por deslocar maior quantidade com mesmos
equipamentos e gastos energéticos;
9 Maior agilidade tanto no transbordo (rodovia-ferrovia ou armazém-
ferrovia) como nos embarques.
126
Após o recebimento do açúcar a granel, desembarcado de caçambas de
caminhões e de vagões, sua movimentação no terminal exige equipamentos que
transitam em pisos de concreto até o embarque nos porões de navios. O açúcar a granel
será refinado no destino final, quando então será embalado na região de consumo com
as marcas e línguas locais.
O desenvolvimento de infra-estrutura para manuseio e movimentação do
açúcar a granel, característica comum aos terminais analisados, só foi possível depois da
“granelização” do escoamento do açúcar a partir da usinas.
A usina “X” investiu em dois armazéns com capacidades para até
220.000 toneladas de açúcar a granel. O carregamento dos vagões ocorre ao lado desses
armazéns, em moegas rodo-ferroviárias equipadas com sistemas automatizados de
esteiras transportadoras e elevadores de caneca que retiram o produto dos armazéns
diretamente para os vagões.
Esta usina apresenta a estratégia mais agressiva de escoamento do açúcar
a granel entre os casos estudados, com o maior índice de utilização do modal
ferroviário. Ela é servida pelo desvio de um dos ramais da ALL que conectam o interior
paulista ao porto de Santos. Neste caso, é possível prestar o serviço de transbordo rodo-
ferroviário para outras usinas cooperadas, ou até mesmo para usinas não-cooperadas.
A estação de transbordo é um valioso recurso logístico que faz
diferenciação competitiva entre as usinas. Trata-se de um facilitador logístico para o
escoamento do açúcar a granel para exportação pelo Porto de Santos. O Quadro 5.1
apresenta uma síntese das principais características para escoamento do açúcar a granel
com uso do modal ferroviário.
127
QUADRO 5.1 ESTRATÉGIAS DE UTILIZAÇÃO E GARGALOS LOGÍSTICOS DO MODAL FERROVIÁRIO NO TRECHO USINA PORTO DE SANTOS.
Empresa “Y” Usina “X” Terminal “A” Terminal “B” Terminal “C”
Estratégias de
utilização
do modal
ferroviário
- Escoa 25% da produção
(meta de 30% à 40%);
- Integrou armazenagem na
origem com transbordos
ferroviários estações
intermediárias.
- Destino com instalações
dedicadas à descarga de
vagões.
- Possui contrato de 450
mil/ton com a FCA (entre
200-250 efetivos);
- Escoa 85% a 87% da
produção (meta 100%
nos próximos anos);
- Transbordo integrado
na própria usina,
remessa direta;
- Destino com
instalações dedicadas
à descarga de vagões.
- Leasing de vagões e
locomotivas com a
ALL (460.000
toneladas);
- Iniciou operações de
descarga com vagões em
07/2006 (sem valores
referenciais);
- Possui moegas ferroviárias
integradas com
armazenagem e embarque;
- Opera com bitolas métrica e
larga;
- Vagões são abastecidos
/entregues pela
Portofer/ALL;
- Apenas 5% da carga
recebida por este modal;
- Possui moegas ferroviárias
integradas com
armazenagem e embarque;
- Opera com bitolas métrica
e larga;
- Vagões são abastecidos
/entregues pela
Portofer/ALL;
- Recebe 20% da carga via ferrovia;
- Possui moegas ferroviárias
integradas com
armazenagem e embarque;
- Opera com bitolas métrica e larga;
- Vagões são abastecidos/
entregues pela Portofer/ALL;
Gargalos e
problemas
logísticos
associados
- Falta de espaço físico em
Santos;
- Transit-time” longo;
- Infra-estrutura muita cara;
- Transit-time de 9
dias (contra 12 dias no
passado);
- Falta de locomotivas;
- Lentidão em Santos;
- Montante dos investimentos
com lenta recuperação;
- Difícil integração entre
setores público-privado em
curto prazo para
investimentos conjuntos
- Lentidão disponibilidade de
vagões para os terminais;
- Baixa oferta de vagões de
fundo cônico;
- Transit-time” longo;
- Mudança de ramais e
passagens de nível.
- Choque das safras de açúcar e soja
entre abril e maio resulta
em baixa oferta de vagões para os
clientes do terminal;
.
Fonte: dados coletados em pesquisas de campo, quadro elaborado pelo autor.
128
Os terminais “A”, “B” e “C” utilizam para recepção do açúcar, via
ferrovia e rodovia, sistemas automatizados similares para descarga e armazenagem da
carga. O terminal “A” tem armazém que permite descargas simultâneas de até quatro
vagões tipo hopper (fundo cônico) e dois caminhões caçambas ou graneleiros. Esta obra
demandou cerca de R$ 90 milhões de reais, acelerando as operações de armazenagem e
embarque com açúcar a granel.
Os problemas para uso do modal ferroviário para escoamento do açúcar
para exportação refletem a falta investimentos para aumento do número de vagões e
locomotivas, assim como em infra-estrutura (trilhos e passagens de nível). Os
entrevistados indicaram um tempo excessivo de trânsito desde a origem (estações de
transbordo e terminais – transit-time), da baixa oferta de vagões na sobreposição de
safras agrícolas e da falta de espaço físico em Santos para ampliação da infraestrutura
ferroviária.
Alguns grupos sucroalcooleiros investiram em ativos, como vagões,
locomotivas ou estrutura de trilhos. É o caso da usina “X” e sua cooperativa que, além
de possuir contrato com a Ferrovia Centro Atlântico (FCA) para carregamento de
460.000 toneladas anuais, prevê investimentos no formato de leasing para compra de
vagões específicos para o transporte do açúcar a granel. A posse de equipamentos para
carregamento (vagões) é outro recurso específico valoroso para a competitividade na
exportação de açúcar.
Estes recursos logísticos para escoamento do açúcar, via ferrovia, são
importantes. Porque, além de permitir custos operacionais menores, o controle de um
recurso logístico escasso e de difícil replicação (dificuldade para investimento), faz com
129
que estes grupos obtenham vantagens no mercado de fretes, especialmente quando as
safras de açúcar e soja se sobrepõem entre os meses de abril e maio.
Apesar dos problemas relatados pelas empresas abordadas, a escolha do
modal ferroviário está em crescimento relativamente aos investimentos no modal
rodoviário. As principais vantagens operacionais destacadas foram:
9 Custos de 10 a 15% menores em relação ao frete rodoviário;
9 Contratação do frete em acordos de médio a longo prazo;
9 Linearidade e cadência no escoamento ao longo de todo o ano.
Os estudos de caso relatam o gradual crescimento do modal ferroviário
como opção menos custosa, quando a distância a ser percorrida for maior ou igual a 350
km. Segundo o entrevistado da usina “X”:
“A ferrovia é muito procurada para contratos duradouros; já em nível de
mercado spot ela às vezes fica mais cara do que o caminhão, porque é um
crescimento da demanda muito rápido, tem poucos vagões, poucas máquinas.
O que tem não é suficiente”.
A contratação dos fretes rodoviários e ferroviários está subordinada a
problemas relacionados à sazonalidade agrícola e a arbitrariedade do valor de fretes
ofertados quando a demanda cresce. Daí o afretamento ferroviário se encarece.
Os estudos de caso apontam que os modelos de contratação dos fretes
ferroviários estão sendo discutidos. Há tendência de definição de termos que
estabeleçam maior comprometimento dos prestadores de serviço / concessionárias que
exploram as ferrovias da Região Sudeste do Brasil.
130
Já os fretes rodoviários são terceirizados sobre uma vasta gama de
prestadores de serviços (transportadoras), sendo menos críticos os problemas de
afretamento em época de grande demanda do serviço de carga. O Gerente de logística
do Terminal “C” exemplifica o perfil de contratação dos fretes para açúcar a granel no
trecho usina-porto de Santos:
“Todos preferem embarcar pelo vagão, é mais em conta, é mais vantajoso e é
um volume de descarga maior se você tem condições. Já com os caminhões a
disputa é muito grande com o mercado de fretes, e o açúcar granel precisa de
muito caminhão caçamba, e ninguém pensa em adquirir frota própria, a
grande maioria terceiriza. Não é o core business da empresa, é um mercado
muito difícil... o transporte rodoviário brasileiro está se depreciando e não
consegue se renovar”.
Os riscos associados a terceirização do frete forçam os contratantes
(usinas ou tradings) a desenvolverem sistemas de controles e medidas de desempenho
que lhes dêem visibilidade dos serviços prestados. Atrasos na chegada dos vagões ao
destino, assim como a subtração de cargas no modal rodoviário interferem diretamente
nas questões operacionais dos terminais portuários.
Uma iniciativa de controle desses serviços terceirizados refere-se à
triagem inicial de caminhões com destino ao Porto de Santos nos
estacionamentos/pátios geridos pela iniciativa privada, nas imediações de Cubatão.
Assim como as estações de transbordo rodo-ferroviário no interior, estes
pátios de triagem são facilitadores logísticos. Estes pátios visam desafogar o trânsito e
os conflitos urbanos na baixada santista e no Guarujá, conforme apontou o tópico 4.1.2
anteriormente.
Os terminais “puxam” a programação de saída dos veículos do pátio de
triagem, controlando a chegada dos caminhões, conforme sua capacidade de recepção,
131
evitando filas e gargalos no Porto. Este sistema de controle do tráfego de cargas
rodoviárias com destino ao cais santista é utilizado por todos os terminais abordados
neste trabalho. Os entrevistados afirmaram que a adoção do controle logístico da
chegada de cargas rodoviárias aos seus terminais é recente, em média, com três anos
desde a sua implantação.
5.3.3 Manuseio e movimentação do açúcar para embarque.
A descarga da carga ensacada no terminal “A” não é unitizada e nem
mecanizada (uso de paletes e empilhadeiras). A operação de descarga de produto
ensacado é manual, para a qual a empresa contrata cerca de 300 “saqueiros”. A
operação dos saqueiros tem suporte mecânico para facilitar a orientação do saco de
açúcar para a esteira transportadora.
A descarga de açúcar a granel no Terminal “A” é realizada em dois
armazéns específicos para esse produto, identificados como IV e XIX.
O primeiro armazena até 50.000 toneladas por meio de uma moega
rodoviária interligada por esteiras transportadoras e um elevador de canecas que
realizam a armazenagem automaticamente.
Já o armazém XIX tem capacidade de armazenagem para 120.000
toneladas de açúcar granel e está equipado com 2 moegas rodo-ferroviárias, 2
tombadores de bi-trens, dois elevadores de caneca – para armazenagem – com
capacidade de 1.000 t/hora cada e outros dois elevadores para os embarques, com
capacidade de 1.5000 t/hora cada.
132
O embarque do açúcar no navio, por sua vez, pode ser realizado por três
ship loaders (carregadores de navios) até os porões.
O açúcar (a granel e ensacado) é levado aos ship loaders por meio de
correias transportadoras. Dois dos ship loaders contam com 11,07 metros de vão livre e
abastecem o navio por meio de um tobogã.
Já o equipamento para granel realiza os carregamentos por meio de um
tubo em aço inoxidável, com capacidade de embarque de até 3.000 ton/horas em navios
com até 125 mil DWT (dead weight ton). Trata-se de uma medida internacional que
representa o deslocamento total do navio. Inclui o peso da tripulação, passageiros,
provisões, água, combustíveis e a carga embarcada, excluindo-se o peso do casco do
navio (WIKIPEDIA, 2007).
5.4 - Sistemas de informação para gestão das operações portuárias.
A gestão da informação logística aplicada dos terminais açucareiros
permite visibilidade no percurso da carga, entre origem e destino, e tem o suporte de
sistemas de informação para programação e controle (gestão) do escoamento do açúcar.
São descritos dois dos casos desta análise: as empresas associadas por joint-venture (Y e
X) e o terminal “A”.
A entidade comercial “Y” integra um grupo de nove unidades produtoras
da região de Ribeirão Preto, cada qual com diferentes perfis de atuação e diferentes
padrões de qualidade do açúcar: do atendimento ao mercado interno ao
comprometimento integral da produção com o mercado externo.
133
A comercialização do açúcar é feita de um a dois anos antes da produção,
por meio de contratos com tradings. A programação da produção do açúcar é ajustada
conforme as necessidades contratuais. Desta forma, a programação da safra de cana-de-
açúcar e das usinas e destilarias é baseada no atendimento destas necessidades
contratuais, antecipadamente estipuladas pela trading exportadora, seguindo a seguinte
dinâmica:
1. A entidade comercial “Y” faz uma programação para atender aos
contratos de exportação;
2. A informação é transmitida para suas usinas associadas que
definem suas necessidades para a safra vindoura;
3. Há um processo de feedback entre usina e empresa “Y” que dura
cerca de dois meses, para ajuste da programação de safra;
4. À medida que a colheita e moagem da cana avançam, as usinas
suprem a demanda mensal de escoamento para o porto,
balanceando suas operações de produção de açúcar e álcool.
As usinas associadas recebem as chamadas mensais para remessa do
açúcar para o terminal açucareiro. O controle do fluxo e freqüência da expedição do
açúcar em cada usina é determinado pela capacidade do Terminal “C” em atender: i) aos
volumes para embarque; ii) às especificações do tipo de açúcar; iii) e prazos estipulados
nos contratos entre as usinas e as tradings agrícolas instaladas no Brasil.
A entidade comercial, em sua sede em Ribeirão Preto / interior de São
Paulo, negocia com as tradings e as usinas, centralizando o controle da expedição com
134
seu terminal santista (joint-venture com o terminal “C”). Coordena-se, dessa forma, o
carregamento para o porto com uma cadência determinada.
A figura 5.4, mostra os pontos de controle dos sistemas logísticos desde o
carregamento na usina até o embarque no navio. A Figura 5.5 ilustra as interfaces dos
sistemas logísticos no escoamento do açúcar, centralizados nos terminais açucareiros e
em função das operações portuárias para embarque do açúcar.
Os terminais portuários possuem papel central na triangulação entre
tradings e usinas; podendo, desta forma serem reconhecidos como operadores
logísticos, no sentido amplo de seu conceito, especialmente como “propulsores” da
logística integrada no trecho usina-porto de Santos.
ORIGEM: USINA
PLANTA DO
EMBARCADOR
FRETE RODOVIÁRIO OU
FERROVIÁRIO
ELEVAÇÃO DA
CARGA
TERMINAL / PORTO
DE CARREGAMENTO
PRAZO DE
ARMAZENAGEM
CAPACIDADE DE
ENTREGA
TEMPO DE VIAGEM DEMANDA
FREQUÊNCIA
DE EXPEDIÇÃO
LINE – UP
(FILA DE NAVIOS)
ATENDIMENTO À
JANELA PORTRIA
GESTÃO DO FLUXO EM TEMPO REAL
TEMPO TOTAL DAS OPERAÇÕES PORTUÁRIAS
10 DIAS ANTES DA CHEGADA DO NAVIO
ESTIVAGEM:
3 OU 4 DIAS
COEFICIENTE DESEGURANNÇA:
6 DIAS
FLUXO DE INFORMAÇÕES
Fonte: Robles e Guerise (2005), com alterações.
FIGURA 5.4 PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS DE
ESCOAMENTO DO AÇÚCAR PARA EXPORTAÇÃO
.
135
Em geral, nos contratos firmados entre os terminais portuários e seus
clientes, há cláusula estabelecendo compromisso de aviso com 10 dias de antecedência,
em média, da chegada do navio. Esta cláusula permite o terminal programar e iniciar a
operação de “puxar” o açúcar para garantir volume para elevação e embarque da carga
no navio, quando estiver atracado.
São freqüentes alterações na programação de envio do açúcar pelas
usinas (freqüência de expedição do açúcar), devido a: chuvas que inviabilizam o
descarregamento e embarque no navio – que ocasionam filas de espera para descarga
dos caminhões; quebras dos veículos nas estradas ou outros eventos menos corriqueiros
que causam atraso no embarque da carga.
Os ciclos de pedidos seguem o fluxo inverso ao escoamento físico do
açúcar entre a origem e o destino (usina e terminal açucareiro). Ao longo de todo esse
percurso os sistemas de informação realimentam e reiniciam os processos logísticos,
descritos na Figura 5.5.
CICLO DE
OPERAÇÕES
PORTUÁRIAS
PROGRAMAÇÃO
DO ENVIO DE CARGAS
(USINAS)
“PUXAR” AS CARGAS
CONFORME LINE-UP
DE NAVIOS
FORMAÇÃO DE LOTES
PARA EXPORTAÇÃO
ESTOQUE TIPO
“PULMÃO”
CONTROLE AUTOMATIZADO
DO VOLUME A SER
EMBARCADO
ATENDIMENTO AO LINE-UP
(FILA DE NAVIOS)
EM TEMPO HÁBIL
EMBARQUE DO AÇÚCAR
FEED-BACK ÀS
USINAS
Início
Fonte: elaborado pelo autor.
FIGURA 5.5 INTERFACES DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO COM OS PROCESSOS
LOGÍSTICOS DE
ELEVAÇÃO DO AÇÚCAR.
136
No caso da figura 5.5, os sistemas de informação seguem a filosofia JIT
(just-in-time) para a programação dos ciclos de operações logísticas: otimizam o uso dos
recursos pela agilidade dos processos (demora mínima) e pela programação “puxada”
(estoque mínimo).
O Terminal “A”, por exemplo, utiliza os sistemas de informação – ERP
(enterprise resource planning) com módulo CRM (customer relationship management)
para suportar a programação de envio de cargas, conforme a necessidade de volume a
ser embarcado (atendimento à janela portuária) programada pelas tradings que afretam
os navios.
A armazenagem retro-portuária, por sua vez, é estratégica, funcionando
como um “pulmão” (buffer) para continuidade nas operações de embarque. O açúcar é
estocado nos armazéns, porém a carga sobre rodas também pode ser computada, seja ela
em trânsito, no estacionamento próximo ao Porto ou em filas.
O terminal “A” gerencia suas operações logísticas portuárias mantendo
contato permanente (on-line) com seus clientes. Aquele operador portuário personaliza
o atendimento a seus clientes. O sistema empregado permite a programação da
freqüência de escoamento da carga de diversos clientes ao mesmo tempo.
Trata-se de um banco de dados do sistema corporativo da ORACLE
(ERP-CRM intranet), no qual cada cliente possui uma senha de acesso. O sistema
acompanha, em tempo real, os seguintes passos: trânsito – estacionamento –
trânsito/terminal – fila – sobre-rodas/usina-navio – embarcado/usina-porto –
embarcado/usina-navio.
137
Assim, há visibilidade do percurso do açúcar desde a origem até o
destino, registrando-se o histórico de toda operação de chegada da carga, podendo
programar as operações de embarque do navio.
O objetivo do planejamento é garantir que a capacidade de embarque seja
sempre maior que a capacidade estática de armazenagem, aumentando o giro de
estoques dos armazéns retroportuários. A programação de envio de carga das usinas,
idealmente, prevê uma única “tombada” do açúcar nas esteiras para envio aos ship-
loaders de embarque direto no navio. Esta estratégia de processamento condiz com o
pensamento enxuto de estoque mínimo (programação pull – “puxada”).
Há controle da carga operada no terminal, desde a saída do caminhão da
usina até a sua chegada ao porto, quando o mesmo é liberado para descarregar, junto à
recepção do terminal. Este sistema de rastreabilidade da carga permite gerar dados sobre
o percurso e ocorrências no trajeto, que geram estimativas de tempo da chegada do
caminhão. Esta estimativa considera a aleatoriedade de eventos que podem causar
atrasos, prevendo-se 1 (um) dia, normalmente, principalmente à quebra de caminhões
no percurso usina-porto. Este sistema também controla a quantidade carregada na usina,
evitando-se a subtração de cargas no trecho usina-porto.
O Quadro 5.2 resume as principais características acerca da escolha,
aplicação e freqüência de ajustes que os sistemas de informação fornecem à gestão da
logística integrada no trecho usina-porto de Santos.
138
QUADRO 5.2 CASOS DE GESTÃO DA INFORMAÇÃO LOGÍSTICA NO TRECHO USINA-PORTO DE SANTOS.
Gestão da
Informação
Logística
Empresa “Y” Usina “X” Terminal “A”
Terminal
“B”
Terminal “C”
Coordenação e
centralização
logística
- Concentrado:
escritório na cidade de
Ribeirão Preto (SP)
- Concentrado: escritório em
São Paulo (SP)
- Parte em Santos, parte em São Paulo
(SP) via trading própria;
Não
divulgado
- Concentrado: Genebra –
Suíça;
- Escritório regional em
São Paulo (SP);
Sistema de TI
empregado
- E-mail e telefone;
- SAP-ERP: saldos diários de
todas unidades cooperadas.
- ERP com módulo de CRM;
- Acompanhamento on-line
pelos clientes.
Não
divulgado
- “Sem sistema”;
- E-mail e telefone;
Freqüência da
programação de
escoamento
- Mensal, com ajustes
quase diários.
- Mensal, com base em Curva
de escoamento
para todas unidades cooperadas.
- Personalizada para cada cliente;
Não
divulgado
- Diária, conforme
determinações do
escritório em São Paulo;
Fonte: elaborado pelo autor, dados coletados em pesquisas de campo.
139
A chegada de caminhões e vagões ao Terminal “A” é controlada pela
triagem das notas fiscais trazidas, quando, então, são lançadas no sistema ERP, dando
início ao processo de recepção da carga. A média de espera do caminhão, desde o pátio
de triagem até a descarga é de 8 a 9 horas, sendo que a estadia do motorista vence na 24ª
hora de espera, quando o terminal paga adicional de frete ao caminhoneiro.
A agilidade nas operações do terminal representa agregação de serviço às
usinas, evitando custos por pagamento de adicionais, por esperas além das 24 horas
previstas.
Nos casos “Y” e “C” há um controle compartilhado do fluxo de
informações entre seus respectivos escritórios. O monitoramente das operações
logísticas ao longo do trecho usina-porto se dá mensalmente com ajustes diários,
quando necessários.
Quando questionado sobre o gerenciamento de informações com a
central logística em São Paulo, o representante do Terminal “C” afirmou:
“Não temos sistema, é feito por contato direto mesmo, email, telefone.
Temos alguns sistemas de controle do que está embarcando de algumas
usinas, o que está em trânsito. Esse controle informa no dia-a-dia o que foi
embarcado, descarregado para termos uma noção do fluxo e do trânsito entre
usina-terminal”.
Em outra situação, a usina “X” relatou que raramente entra em contato
direto com o terminal cooperado em Santos. Sua visibilidade dos processos logísticos
no trecho usina-porto é apoiada pela curva de escoamento que lhe é enviada via sistema
SAP-ERP (on-line) mensalmente pelo escritório central em São Paulo.
Este escritório, à semelhança dos casos anteriores, centraliza as
informações logísticas daquele grupo cooperado.
140
“Recebemos a programação com uma curva de escoamento para álcool e para
açúcar; como durante a safra nós temos o fator clima, fator demanda e outros
problemas, vamos ajustando essa curva de escoamento durante os meses
acompanhando o “realizado versus previsto”. ajustamos o percentual de
envio do açúcar para o porto acima ou abaixo e vamos fazendo as correções”.
O uso de sistemas de tecnologia da informação se mostra difundido em
diferentes níveis entre os casos expostos no Quadro 5.2. Algumas daquelas empresas
possuem uma trajetória tecnológica mais desenvolvida que as demais.
Devido à variedade de clientes, sendo a maioria não-associados ao grupo
econômico do terminal “A”, a padronização das informações recebidas pelo sistema
ERP-CRM do terminal é dificultada. Foi relatado o caso de um cliente (maior usina
exportadora individual paulista) que remetia notas fiscais e relatórios datilografados e
enviados via fax ao terminal. Somente então os dados eram compilados e integrados ao
sistema ERP-CRM.
Este tópico encerra a parte descritiva deste estudo. As considerações
finais apresentam um balanço dos pontos mais relevantes, agregando outras questões
não menos importantes, como as restrições à conclusão deste trabalho.
141
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação teve como questão básica de pesquisa, determinar os
condicionantes (do ponto de vista dos aspectos comerciais) que interferem na
organização e infra-estrutura definidas para a logística de escoamento do açúcar paulista
pelo Porto de Santos.
Definiu-se como estratégia e método de pesquisa para respondê-la,
estudo de multi-caso com coleta de dados em campo, por meio de entrevistas semi-
estruturadas. Todas essas se deram com representantes em nível de Gerência e Direção
Geral das empresas. Os cinco estudos de caso referem-se a grandes grupos
sucroalcooleiros paulistas, sendo todos referência nacional e internacional na produção
e exportação das commodities sucroalcooleiras.
Os processos logísticos e comerciais de escoamento do açúcar se
estendem do interior ao litoral paulista e foram descritos e analisados neste estudo. Estas
ações foram estruturadas em três aspectos:
i. Formas de relacionamento entre os atores centrais, segundo as
transações comercias na cadeia de escoamento do açúcar;
ii. Processos logísticos, segundo o grau de controle sobre os recursos
e competências (se desenvolvidos internamente ou terceirizados);
iii. Operações logísticas nos terminais açucareiros santistas, segundo
as diferenças na prestação de serviços que agreguem, ou não, valor
à carga embarcada.
142
As unidades de análise foram compostas por dois pares dos seguintes
atores: i) os terminais açucareiros santistas e as usinas paulistas; ii) aqueles e as trading
companies instaladas no Brasil. A pesquisa apontou para o potencial dos terminais
açucareiros santistas como centros de agregação de valor na cadeia logística de
escoamento do açúcar paulista.
Esta dissertação teve como contexto a desregulamentação da economia
brasileira na década de 1990 que conformou um novo ambiente institucional ao setor
produtivo nacional. Particularmente, tanto o setor agroindustrial (SAG) da cana-de-
açúcar, quanto o sistema portuário brasileiro passaram a enfrentar novos desafios para a
distribuição do açúcar no mercado internacional.
Em pouco mais de uma década a cadeia logística terrestre e portuária do
escoamento do açúcar foi construída pela especialização em atividades que antes não
competiam às usinas.
Estas passaram a responsabilizar-se pela exportação de açúcar. Desta
forma sucedeu-se a integração setorial, quando as usinas avançaram à jusante,
investindo em terminais portuários e retro-portuários próprios. Alguns grupos de usinas
passaram a realizar prestação (ou execução) de serviços logísticos e comerciais para
exportação de açúcar. Respectivamente, houve a incorporação das atividades portuárias
e de negociações internacionais (tradings registradas no País).
A Lei de Modernização dos Portos (nº. 8.630/93) permitiu a exploração
dos serviços portuários pela iniciativa privada, resultando na especialização dos
terminais para prestação destes serviços. Foi dada a condição básica para a maior
integração geográfica entre os portos brasileiros e os mercados estrangeiros.
143
O setor sucroalcooleiro nacional, em especial o paulista, deparou-se com
a necessidade profissionalizar a gestão desse conjunto de procedimentos e transações
comerciais para garantir o suprimento de suas commodities ao mercado internacional.
Pelo pressuposto da integração funcional, algumas formas de associação
e parcerias no trecho usina-porto de Santos foram desenvolvidas para garantir o volume
de açúcar disponibilizado no mercado internacional. Entre essas associações tem-se:
Negociação, com uma trading company, das modalidades e
condições para exportação junto às usinas (“FOB”, “DDP” e
outras);
Terceirização das operações logísticas para seu escoamento até o
porto de Santos, atrelado à venda de açúcar pela trading que
assumisse os custos associados;
Parcerias entre tradings e usinas em terminais de embarque de
açúcar.
A escolha assertiva das parcerias, em muitos casos, permitiu que as
usinas evitassem manter estruturas específicas para o comércio de seus produtos no
mercado internacional, não desenvolvendo capacidades logísticas para exportação. Estas
parcerias permitiram a algumas usinas avançarem na obtenção de estruturas para o
comércio de seus produtos no mercado internacional, algumas desenvolvendo
capacidades logísticas para exportação. As usinas que não o fizeram ficaram
dependentes de terceiros para suas atividades no comércio internacional.
O estudo descreveu as formas de relacionamento entre os atores da
cadeia de escoamento do açúcar. Os terminais portuários açucareiros possuem papel
144
central na triangulação entre tradings e usinas; sendo reconhecidos como operadores
logísticos, pela oferta de múltiplas atividades de forma integrada (recepção,
armazenagem e embarque do açúcar). Assim, os terminais de açúcar têm dois tipos de
clientes do ponto de vista logístico: as usinas e as tradings instaladas no Brasil.
Estes terminais centralizam as informações, coordenando as atividades de
escoamento do açúcar desde a saída das usinas até a chegada na data estipulada pela
trading para embarque. Os esforços de programação e controle do escoamento do
açúcar convergem para as operações portuárias para embarque do açúcar.
As usinas têm diferentes formas para escoamento do açúcar para
exportação – em função da forma como o açúcar é comercializado – destacando-se os
seguintes:
9 Usina não-associada entrega açúcar na porta da planta à trading
estrangeira (EX-WORKS);
9 Usina não-associada tem o açúcar orgânico retirado na planta, em
contêineres, pela trading brasileira (DDP);
9 Usina não-associada contrata frete (trecho usina-porto), trading e
terminal para escoar sua produção (FOB estivado);
9 Usina associada utiliza canal logístico próprio para escoar sua
produção: contrata frete terrestre, utiliza trading e terminal
portuário próprio (FOB estivado);
145
A última opção demanda grande aporte de capital para montagem de
infra-estrutura e investimento em ativos humanos para conhecimento a ser usado no
planejamento, programação e controle das operações. É o caso dos grandes grupos
sucroalcooleiros, detentores de ativos logísticos que lhes permitem o controle dos
processos de escoamento do açúcar.
A obtenção de recursos logísticos estratégicos se torna um fator chave
para que se determine o engajamento das empresas em parcerias e alianças com outras
mais capacitadas.
A terceirização de atividades logísticas complexas para o escoamento do
açúcar justifica os casos de alianças estratégicas, como a joint-venture entre grupo de
usinas associadas e trading de atuação internacional. As usinas que estabelecem alianças
com tradings para atuação nos canais de escoamento para exportação; ou que adotem
estruturas específicas que lhes permitam aprender os procedimentos logísticos com
parceiros estão em vantagem sobre aquelas que não o fazem.
A obtenção dessas capacidades logísticas é decisão da estratégia
corporativa, quando também é traçada trajetória para aquisição do conhecimento tácito
no desenvolvimento de habilidades por meio das parcerias estabelecidas. Estas parcerias
podem se dar pelo compartilhamento das operações portuárias – recepção,
armazenagem e embarque do açúcar, assim como nas atividades das tradings
associadas, para conhecimento do mercado internacional.
A teoria da visão baseada em recursos (Resource Based View - RBV)
destaca o caráter competitivo de recursos e competências logísticas distintivas em escala
global, oferecendo suporte teórico sobre diferentes tipos de controle sobre os mesmos.
146
As usinas que estabelecem terminais têm necessidade de desenvolver
competências logísticas distintivas: i) rotinas e processos organizacionais e ii)
conhecimento tácito ou explícito para controle das operações.
A grande vantagem da terceirização das operações logísticas é a
possibilidade de otimizar o desempenho pela especialização nestes serviços por parte
dos operadores, com possibilidade de ganhos de escala em suas atividades. Esta
perspectiva tem firmado a tendência de associação de fornecedores, produtores e
intermediários comerciais com empresas prestadoras de operações logísticas.
Isto foi observado nos casos analisados, principalmente referente a
atividades retroportuárias, que demandam grande montante de capital para
investimento:
i. Grupo econômico que estendeu suas atividades com a instalação de
terminal (caso “A”) para embarque de açúcar e atuação como
trading (caso “Z”) no Brasil;
ii. Grupo de usinas associadas (caso “Y”) que estabelece parceria
(joint-venture) com trading estrangeira para compartilhamento de
operações portuárias (caso “C”) para embarque do açúcar;
iii. Grupo econômico com várias usinas que também instala terminal
(caso “B”) e estabelece contratos com tradings internacionais para
colocação de seu açúcar no mercado internacional.
147
Conforme configuram suas relações comerciais, os terminais “A”, “B” e
“C” agregam valor à carga embarcada seguindo diferentes estratégias competitivas:
9 O terminal “A” dedica a maior parte de seus serviços logísticos a
terceiros, usinas não-associadas, que demandaram o
desenvolvimento de sistemas de informação dedicados (ERP-
CRM). A flexibilidade e confiabilidade do sistema de informação
do terminal “A” permitem a prestação de seus serviços logísticos
de forma diferenciada. Neste caso, o maior nível de serviço é
percebido pelos clientes como agregação de valor à carga, pois ao
contratarem previamente o terminal para safras vindouras garantem
custos diferenciados na elevação de suas cargas.
9 O terminal “B” especializou-se na movimentação de açúcar a
granel. Ocupa uma posição mais estável, confiando no
fornecimento das usinas de seu grupo e cumprindo acordos fechado
em parceria com tradings agrícolas européias.
9 O terminal “C” possui a vantagem de controlar um recurso
logístico a mais que seus concorrentes: a seqüência, freqüência
destino dos navios que atracam em seu berço. A experiência
internacional nos mercados de afretamento marítimo e o domínio
dos destinos finais (por sua trading multinacional) possibilitam
uma formação diferenciada do line-up em seu terminal. Este
148
controle configura-se como vantagem competitiva difícil de ser
replicada, uma competência distintiva, agora desfrutada pela
empresa “Y”.
A capacitação logística habilita as os terminais estudados a interferirem
tanto na formulação de preços quanto nos ganhos competitivos dos produtos para o
mercado internacional.
Bowersox e Closs (2001) e Lambert e stock (1998) associam o risco-
retorno das operações logísticas e das transações comerciais ao grau de
internacionalização (estratégia de entrada no mercado externo - estágios) das empresas.
A inserção e respectiva evolução das usinas paulistas no cenário internacional das
exportações de açúcar foram analisadas sob a ótica daqueles autores. A Figura 6.1
ilustra esta análise.
RISCO - RETORNO
ESTÁGIO 1
ESTÁGIO 2
ESTÁGIO
4
ESTÁGIO 3
ESTÁGIO
5
RELACIONAMENTO
DISTANTE
ATIVIDADE
INTERNA DE
EXPORTÃO
OPERÕES COM
CONHECIMENTO
GENUINAMENTE
LOCAL
OPERÕES
EM PAÍS
ESTRANGEIRO
OPERÕES
DES-
NACIONALIZADAS
“A”
“B”
“C”
“C”
“A”
“C”
Fonte: Bowersox e Closs (2001), com adaptações.
FIGURA 6.1: ESTÁGIOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES LOGÍSTICAS PARA
OS CASOS
“A”, “B” E “C”.
149
Após as desregulamentações setoriais, as usinas paulistas iniciaram sua
inserção no mercado internacional pelo primeiro estágio.
A venda do açúcar, a logística de consolidação interna e sua distribuição
final no exterior eram, em grande parte, realizadas por um especialista internacional,
como as tradings agrícolas multinacionais. Nesta situação, a modalidade “Ex-WORKS”
configurava um relacionamento distante da exportação, de baixo risco e reduzida
margem de contribuição para as usinas. Além de dependerem muito da capacitação das
tradings estrangeiras como intermediárias, as usinas tinham seus custos logísticos de
exportação do açúcar arbitrados por aquelas tradings.
No passo seguinte, as operações logísticas permaneceram internas,
mas incorporaram procedimentos que situaram as usinas no segundo estágio. Neste
caso, os recursos logísticos se estenderam até as atividades portuárias com a construção
e gestão dos terminais açucareiros. Houve o desenvolvimento de habilidades para a
coordenação dos aspectos logísticos e de comércio exterior para o escoamento do açúcar
para exportação. Neste caso, configurou-se a modalidade “FOB” estivado com um
relativo aumento de remuneração para as usinas paulistas pela agregação da logística
terrestre e portuária (pela posse ou terceirização).
Os processos logísticos e as relações comerciais entre os atores centrais
deste estudo foram, então, configurados como uma triangulação para suprimento do
açúcar (ensacado, a granel ou em containeres) ao mercado internacional. A análise dos
estudos de caso apresentou diferentes estratégias de atuação das tradings brasileiras e
dos terminais açucareiros junto às usinas.
150
6.1 - O caso “B”.
O grupo econômico que consolida apenas o açúcar a granel das usinas
associadas e/ou de terceiros e embarca em terminal próprio, “B”, encontra-se no
segundo estágio de internacionalização das operações logísticas. Aquele grupo adotou
uma estratégia de distribuição internacional mais estável, de baixo risco. Estruturou-se
no fornecimento do açúcar pelas usinas de seu grupo e cumprindo acordos fechados em
parceria com tradings agrícolas européias na modalidade FOB estivado.
6.2 - Casos “A” e “Z”.
Para as vendas do açúcar a granel e ensacado no formato “inter-trading”,
o grupo econômico detentor do terminal “A” e da trading “Z” posiciona-se, igualmente,
no segundo estágio.
Apesar de não possuir o destino final garantido por parcerias
estrangeiras, aquele grupo diminuiu os riscos para a distribuição internacional do açúcar
pela consolidação das cargas de um grande número de usinas não-associadas, principais
clientes do terminal “A”. Por outro lado, na distribuição internacional do açúcar
orgânico em containeres (DDP), o mesmo grupo avança para o quarto estágio. Nesta
situação, o grupo desenvolve operações com conhecimento genuinamente local, com o
apoio de terceiros, para atuação no mercado europeu de mistura de ingredientes nas
indústrias alimentícias.
151
Esta negociação dispensa a intermediação das tradings estrangeiras e
oferece maiores riscos ao sucesso da estratégia de distribuição internacional, possuindo
maior rentabilidade face ao maior valor agregado da carga.
6.3 - Os casos “C” e “Y”.
As exportações de açúcar a granel e ensacado originadas pela joint-
venture entre a entidade comercial “Y” e o terminal “C” avançaram do segundo para o
quarto estágio. Há conhecimento da instalação de uma refinaria desta joint-venture na
Síria, onde o grupo multinacional que controla o terminal “C” já possuía operações com
conhecimento genuinamente local. O açúcar consolidado pela entidade comercial “Y”
poderá ser destinado para aquela refinaria, onde seria beneficiado localmente.
Trata-se de uma estratégia de distribuição internacional de maior risco e
menor flexibilidade entre os demais casos estudados. Por outro lado, a posição de
paridade com a parceira internacional permite o aprendizado de rotinas e processos
organizacionais que conferem maior controle da gerência local (brasileira) sobre a
distribuição de seus produtos.
A mesma joint-venture desenvolveu estrutura semelhante para o
escoamento do álcool combustível para exportação. A entidade comercial “Y” destina
parte da produção de álcool de suas usinas para uma instalação no Caribe. Esta unidade
recebe álcool hidratado e o transforma em álcool anidro para abertura de acesso ao
mercado norte-americano (sem sobretaxas alfandegárias).
Nesta situação, a relação risco-retorno é um pouco menor em relação ao
refino do açúcar na Síria, posicionando no terceiro estágio de internacionalização das
152
operações logísticas. O controle dos recursos logísticos fora do País de origem não
visaria a comercialização local (Caribe), e sim o processamento e nova consolidação
para reexportação ao mercado norte-americano.
6.4 - Limitações, tendências e perspectivas
Este trabalho apresentou a evolução dos aspectos logísticos para o
escoamento do açúcar no trecho usina-porto de Santos. As principais dificuldades
encontradas ao longo do levantamento e coleta de dados são descritas a seguir.
As empresas-alvo eram sondadas por meio de contato telefônico ou via
e-mail, quando o pesquisador solicitava o preenchimento do questionário (vide anexo B)
para triagem inicial dos dados. A minoria das empresas abordadas retornou o
questionário preenchido. Deste grupo de respondentes, alguns receberam o pesquisador
em suas instalações industriais (casos “A”, “B”, “C”, “X” e “Y”), onde transcorreram as
entrevistas abertas, por sua vez, registradas em fitas tipo “K-7” com a anuência dos
respondentes.
Em apenas um desses casos o representante da empresa não permitiu
visitas ao chão-de-fábrica (terminal “C”) devido à falta de tempo hábil, uma vez que a
visita ocorreu em época de pico de safra. Ademais, o mesmo reservou-se o direito de
não responder a algumas das perguntas como, por exemplo, sobre a utilização das
ferramentas de TI para gestão das informações logísticas entre o terminal e seus
clientes. O respondente do terminal “B” esquivou-se da mesma pergunta. Por outro
lado, o representante do terminal “A” detalhou e ilustrou sua resposta, apresentando o
sistema ORACLE para gestão das informações logísticas de seu terminal (Quadro 5.2).
Na região metropolitana da Grande São Paulo, apenas uma trading
brasileira participou deste estudo (caso “Z”). Com exceção deste caso, as demais
tentativas de contatos com tradings agrícolas foram frustradas pela dificuldade de
acesso às suas gerências e pela falta de tempo para a concessão de entrevistas.
Por esses motivos, o item 5.2 analisa a sistemática das transações
comerciais entre usinas, tradings e terminais portuários, fundamentalmente, com base
153
no resultado das entrevistas com as empresas “A” e “Z”, pertencentes ao mesmo grupo
sucroalcooleiro.
No porto de Santos, apenas um dos terminais açucareiros abordados
negou-se a participar deste estudo. O terminal portuário da cooperativa de usinas, da
qual a empresa “X” faz parte, recusou-se a fornecer quaisquer informações a respeito de
suas operações logísticas. A negativa sucedeu-se para o acesso à suas instalações
portuárias, quando alegaram possível quebra de sigilo industrial com a divulgação dos
resultados desta pesquisa.
Apesar de pertencer ao mesmo grupo sucroalcooleiro desse terminal, a
usina “X” concedeu entrevista e visita em suas instalações físicas, proibindo o acesso e
registros fotográficos em determinadas áreas. As informações coletadas na ocasião
referiram-se apenas aos aspectos operacionais e rotina logística da usina como, por
exemplo, o carregamento do açúcar para o terminal portuário de seu grupo.
As dificuldades encontradas ao longo das pesquisas de campo definiram
algumas lacunas que motivam estudos futuros, a saber:
9 Inserção e respectiva evolução das usinas dos demais estados
brasileiros no cenário internacional das exportações de açúcar,
segundo o modelo risco-retorno de Bowersox e Closs (2001).
Especialmente dos estados de Alagoas e Paraná, respectivamente,
segundo e terceiro maiores exportadores do País;
9 Análise complementar sobre o uso das ferramentas de TI para o
planejamento e controle do escoamento do açúcar no trecho usina-
porto. A recusa dos casos “B” e “C” em compartilhar dados nesse
tocante denota o caráter estratégico da gestão da informação como
um recurso logístico distintivo e estratégico para aquelas empresas;
9 Análise dos aspectos logísticos do escoamento do álcool
combustível no trecho usina-porto, associando-se à vertente
econômica de expansão do consumo mundial de fontes de energia
limpas e renováveis para as próximas décadas. Focar questões
154
operacionais como o transporte (rodoviário e dutoviário),
armazenagem e capacidade produtiva das usinas paulistas para
suprir a demanda internacional e competir com os produtores norte-
americanos;
No âmbito deste trabalho, deve-se observar que a cobertura geográfica
de todas as usinas brasileiras é minimizada se reconhecidos a representatividade do
Porto de Santos e da produção paulista para exportação do açúcar brasileiro.
6.5 - Conclusões
Em resposta à questão de pesquisa afirma-se que os aspectos comerciais
afetam a configuração do sistema logístico de escoamento do açúcar paulista pelo porto
de Santos. As formas como os atores centrais se relacionam reportam-se às estruturas
societárias e comerciais assumidas entre os mesmos.
Conforme a estrutura e organização das relações comerciais para
exportação do açúcar, configuram-se diferentes estratégias de uso dos recursos
logísticos para garantir o volume de embarque acertado no contrato de venda/posição
entre tradings brasileiras e estrangeiras em bolsas de commodities.
Usinas, terminais portuários e tradings, em vantagem competitiva,
desenvolvem capacitações distintivas quanto ao uso dos recursos e competências
logísticas no trecho usina-porto. Estas, por sua vez, podem ser utilizadas como
potenciais fontes de agregação de valor pela sua posse ou contratação. Para a grande
maioria das usinas paulistas, a segunda estratégia está mais alinhada com os objetivos
de baixo custo, de risco moderado e confiabilidade no sucesso das operações logísticas
até o embarque da carga.
155
No corrente período pós-desregulamentações, usinas, tradings e
terminais portuários relacionam-se em novas bases competitivas.
O papel que aqueles terminais cumprem no novo ciclo das exportações
de açúcar das usinas paulistas extrapola suas funções logísticas básicas. Passa,
igualmente, a integrar as estratégias de comercialização internacionais, interferindo
positivamente na redução de custos e, conseqüentemente, da competitividade do açúcar
brasileiro.
156
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YIN, R. K. Case study research – design and methods. 2. ed. London: Sage, 1994.
160
B - ANEXO – MODELO DE QUESTIONÁRIO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
Dep. de Engenharia de Produção
Pesquisador: Bruno Pompeu Corrêa da Costa
Questionário – “Escoamento do açúcar para exportação pelo porto de Santos”
Tema/objetivo: análise das relações e descrição dos processos logísticos para o
escoamento do açúcar paulista pelo porto de Santos.
Objeto: trecho usina-porto de Santos.
INSTRUÇÕES GERAIS:
- Preencher os itens seguintes e comentar aqueles que forem assim solicitados;
- Os comentários são livres, sem restrições quanto à sua forma e extensão;
- Tempo estimado de preenchimento, 20min;
1 – Aspectos logísticos
1.1. Operações e infra-estrutura logística para exportação do açúcar:
¾ A usina é responsável pelo controle, execução e monitoramento das operações e
infra-estrutura logística para exportação de açúcar?
Sim ( ) Não ( )
¾ Se a resposta anterior for negativa, favor ir para seção 1.2.
- Qual empresa é contratada para tais fins?
- Qual é a extensão das atividades logísticas dessa empresa contratada? (favor marcar a
opção mais adequada à usina)
Todas operações logísticas usina-porto ( ) Apenas transporte usina-porto ( )
Apenas operações retroportuárias ( )
Apenas operações de embarque e despacho aduaneiro da carga no porto ( )
- Qual o custo por tonelada de açúcar?
161
¾ Tipo do açúcar escoado por Santos (favor marcar com um X as possíveis respostas):
- VHP ( ) - VVHP ( ) - Cristal ( )
- Demarara ( ) - Outros ( )
¾ Volume exportado/embarcado nas últimas safras:
tipo 2004/05 2003/04 2002/03 2001/02 2000/01
¾ Participação (%) da quantidade exportada na mesma safra , respectivamente, à
granel e ensacado:
2004/05 2003/04 2002/03 2001/02 2000/01
saco
granel
¾ Modais de transporte usina-porto (favor marcar as possíveis respostas):
- Rodoviário ( ) Frota própria? Sim ( ) Não ( ) Se não, informar qual empresa
realiza a operação:
- Ferroviário ( ) Frota própria? Sim ( ) Não ( ) Se não, informar qual empresa
realiza a operação:
- Hidroviário ( ) Frota própria? Sim ( ) Não ( ) Se não, informar qual empresa
realiza a operação:
¾ Transbordo da carga no porto de Santos:
- A própria usina realiza o transbordo? Sim ( ) Não ( )
- Se não, qual empresa realiza o serviço: -Custo:
¾ Armazenagem retroportuária:
- Possui armazenagem própria? Sim ( ) Não ( )
- Se não, qual empresa realiza o serviço?
- Custo:
162
¾ Movimentação do açúcar para embarque:
- Possui sistema de movimentação próprio (esteiras, ship loaders)? Sim ( ) Não ( )
- Se não, qual empresa realiza o serviço?
- Custo
1.2. Gestão da logística para exportação do açúcar: controle das operações logísticas:
¾ Transporte usina-porto (favor destacar a situação atual):
Frota própria ( ) Uso compartilhado (cooperadas)( ) Terceirizado (tradings) ( )
¾ Transbordo (favor destacar a situação atual neste e nos demais ítens):
- Instalações próprias (controle total) ( )
- Parcerias e sociedades (contratos de serviço logístico) ( )
- Completa terceirização (contratos comerciais / tradings) ( )
- Produtividade/capacidade das moegas: Alta ( ) Média ( ) Baixa ( )
- Caso não se utilize moegas, informar outra tecnologia alternativa de transbordo
empregada:
¾ Armazenagem
- Capacidade de estocagem: Alta ( ) Média ( ) Baixa ( )
- Informar capacidade em valores absolutos (ton):
¾ Movimentação portuária (embarque do açúcar)
- Faz uso de esteiras? Sim ( ) Não ( )
- Faz uso de ship loaders? Sim ( ) Não ( )
- Qual é a capacidade de embarque ton/horas?
- Custo:
163
¾ Terminal portuário:
- Uso privado ( ) - Uso público ( )
- Informar o nome e local do terminal utilizado no porto de Santos:
- Qual o calado (profundidade) no cais?
- Custo médio de movimentação/embarque de 1ton de açúcar no porto de Santos?
- Força de trabalho empregada:
Funcionários treinados ( ) Funcionários terceirizados ( )
¾ Custos portuários indiretos: atrasos no embarque (demurrage, chuvas), greves e
paralisações, gargalos logísticos (longos períodos de espera, filas de caminhões);
- Extremamente problemáticos ( ) - Alarmantes ( ) - Pouco relevantes ( )
- Comentar algumas soluções criadas pela usina ou operador logístico contratado para
contornar esses problemas:
2 – Aspectos comerciais:
2.1. Estratégias de canais de escoamento para exportação: favor marcar a alternativa
mais semelhante a estratégia adotada atualmente.
¾ Exportação: contratação dos serviços de empresas comerciais exportadoras
(tradings) – baixo controle sobre as operações de exportação ( )
¾ Licença: uso dos mecanismos de distribuição da empresa licenciadora
(estrangeira) por parte da licenciada em território nacional – controle
intermediário sobre as operações de exportação ( )
¾ Joint-ventures: sociedade financeira entre empresas nacional e estrangeira para
operações de exportação (logística e comerciais) ( )
¾ Propriedade: a propriedade integral oferece o mais alto grau de controle sobre
as estratégias internacionais de marketing e logística. ( )
2.2. Negociações internacionais: gestão das ferramentas do comércio exterior
- A usina realiza as negociações internacionais ? Sim ( ) Não ( )
164
- Como? (favor marcar a alternativa mais adequada)
- Empresa de consultoria / representação comercial contratada/ corretor ( )
- Trading ( )
- Ddepartamento comercial da usina ( )
- Outra forma ( ) qual?
- Informe a empresa comercial (trading) em que a usina é associada:
¾ Prospecção de mercados (favor marcar as alternativas correspondentes à
situação atual);
- Câmaras de comércio ( ) - Contatos diretos ( )
- Tradings ( ) - Outras formas ( ) quais?
- Participa da BMF ? Sim ( ) Não ( )
¾ Formação de preços: FOB, CIF (INCOTERMS), monitoramento da bolsa de
valores.
- Departamento exclusivo/próprio? Sim ( ) Não ( )
- Caso não, qual empresa é contratada?
¾ Formas de contrato/pagamento internacional:
- Remessa direta ( ) - L/C (carta de crédito) ( ) - Outras formas ( ) quais?
¾ Desembaraço e despacho aduaneiro;
- Departamento exclusivo/próprio? Sim ( ) Não ( )
- Caso não, qual empresa é contratada?
2.3. Financiamento para exportação
¾ Tipos de financiamento:
165
Pré-embarque ( ) Pós-embarque ( ) Sem financiamento ( ) Outros ( )
¾ Instituições financiadoras;
- Privadas ( ) - Governamentais ( )
- Citar o nome(s) da(s) instituição(ões) escolhidas:
¾ Programas de fomento à exportação:
- A usina participou ou ainda participa de algum desses programas Sim ( ) Não ( )
- Caso sim, citar o nome e ano do programa:
- Qual foi a linha de financiamento utilizadas para apoio à exportação:
¾ Formas de financiamento:
- Financiamento da Safra? Sim ( ) Não ( )
- Parcialmente financiada? Sim ( ) Não ( )
- Outras formas de financiamento ( ) quais?
Fim do questionário
Obrigado
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