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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade
Silvani Botlender Severo
A TRANSDIALÓGICA NA INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO A SAUDE:
A ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE E A SAÚDE DA ORGANIZAÇÃO
Dissertação apresentada como
requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Psicologia
Social.
Prof. Dr. Nedio Seminotti
Orientador
Instituição Financiadora
CAPES
Porto Alegre, 2006
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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade
Silvani Botlender Severo
A TRANSDIALÓGICA NA INTEGRALIDADE DA ATENÇÃO A SAUDE:
A ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE E A SAÚDE DA ORGANIZAÇÃO
Comissão Examinadora:
______________________________
Prof. Dr. Nedio Seminotti
Presidente
PPGP – PUCRS
______________________________
Prof. Dra. Helena Beatriz Kochenborger Scarparo
PPGP – PUCRS
______________________________
Prof. Dra. Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza
PPGE – PUCRS
Porto Alegre, 2006
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Dedico a meus filhos
Marco, Marcelo e Joana
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Prof. Dr. Nedio Seminotti a co-operação e confiança neste processo de
aposta e tradução deste percurso.
Agradeço aos co-participantes do Grupo de Pesquisa Processos e Organizações dos
Pequenos Grupos” pelos momentos de reflexão e discussão, importantíssimos para a
realização deste estudo.
Agradeço a professora Valdemarina Bidone de Azevedo e Souza e a professora Helena
Beatriz Kochenborger Scarparo pela co-operação neste processo de re-aprendizagem.
Agradeço aos colegas de mestrado pelo compartilhamento de nossas buscas e
inquietações frente a este processo de pesquisa.
Agradeço a todos os trabalhadores em saúde/usuários com quem já dialoguei e aprendi a
ser/fazer/pensar a saúde - no trabalho, nos fóruns e reuniões, na pesquisa, nos conselhos de
direitos, nas conferências, nos cursos.
A VERDADE
A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a
verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a
porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais
bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou
conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)
Ser sujeito é o cúmulo do egoísmo e do
altruísmo. (Hadj Garùm O’Rin)
Onde estava o id. Deve advir o eu (Freud).
Paradoxo: a objetividade só pode vir de
um sujeito (Morin, 2002c).
RESUMO
A presente dissertação discute a ativação da integralidade em equipes multiprofissionais
na saúde coletiva no Sistema Único de Saúde - SUS, a partir de questionamentos advindos da
prática da pesquisadora enquanto trabalhadora/gestora em saúde, apoiada na revisão da
literatura sobre esta área de conhecimento.
Os textos produzidos por trabalhadores/pesquisadores na saúde coletiva foram
entrelaçados com os estudos da complexidade a partir de Edgar Morin e da lógica
transdisciplinar de Basarab Nicolescu. A discussão foi organizada em torno da
interdependência entre Sujeito e Coletividade na construção da política pública em saúde e na
compreensão dos paradoxos na ação coletiva dos trabalhadores no desafio de integrar as
formações disciplinares à exigência na prática de processos inter/transdisciplinares.
A pesquisa foi realizada junto à equipe multiprofissional de um Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) em uma cidade da região metropolitana no Estado do Rio Grande do
Sul. Este é um serviço substitutivo ao modelo hospitalocêntrico, proposto pela Reforma
Psiquiátrica, a partir das diretrizes da Saúde Coletiva. Caracterizou-se como pesquisa
experimental qualitativa onde os dados coletados aconteceram através da observação
participante e sistemática dos registros em diário de campo e a consulta a documentos. O foco
principal da observação foi em quatro reuniões da equipe multiprofissional, que foram
gravadas e transcritas.
A dissertação é composta por dois capítulos. A primeira parte contextualiza a prática
complexa e transdisciplinar em saúde na reorientação do modelo assistencial com ênfase na
integralidade da atenção, unida à compreensão da noção de Sujeito trabalhador aberto à
alteridade e a intersubjetividade. A segunda é a tradução do percurso metodológico
caracterizado como transdialógico que uniu a recursividade entre os dados coletados e a
lógica da pesquisadora. O estudo desvelou a coexistência de duas lógicas que organizam os
processos de trabalho na saúde: a lógica da doença/lógica disciplinar e a lógica da
integralidade/lógica transdisciplinar revelam a questão de que o diálogo entre ambas pode ser
viabilizado pela inclusão do Sujeito Terceiro Termo Incluído nos pares de contraditórios.
Palavras-chave: Integralidade, Transdisciplinaridade, Equipes Multiprofissionais,
Reforma Psiquiátrica, Saúde Coletiva, Sujeito, Política Pública,
Transdialógica
ABSTRACT
This dissertation discusses the activation of comprehensiveness in multi-professional
teams of collective health of Sistema Único de Saúde – SUS, from questions derived from the
practice of this researcher as a health worker/manager, supported by literature on this area of
knowledge.
The texts produced by workers/researchers in collective health were intertwined both
with studies of complexity according to Edgar Morin and with the transdisciplinary logic
proposed by Basarab Nicolescu. The discussion was organized around the interdependence
between Subject and collectivity in the construction of health public policy and the
understanding of paradoxes in the collective action of workers when challenged to integrate
disciplinary formations with the requirement of inter/transdisciplinary processes in their
practice.
This research was carried out with the multi-professional team of a Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) in a city in the metropolitan area in Rio Grande do Sul. This Center is a
substitute service to the hospital-centered model, proposed by the psychiatric reform from the
guidelines of Collective Health. It is characterized as an experimental, qualitative research
whose data were collected through participative observation, recordings in the field book, and
consultation of documents. The focus of observation consisted of four meetings of the multi-
professional team, which were recorded and transcribed.
This dissertation consists of two chapters. The first part contextualizes the complex and
transdisciplinary practice in health in the reorientation of the assisting model with emphasis
on comprehensiveness of attention, together with the understanding of the notion of worker
Subject opened to otherness and intersubjectivity. The second part is the translation of the
methodological route characterized as transdialogical that joined the recurrence between data
collected and the researcher’s logic. The study showed the coexistence of two logics
organizing the work processes in health: the logic of illness/disciplinary logic and the logic of
comprehensiveness/transdisciplinary logic reveal the issue that the dialogue between both
logics may be viable through the inclusion of the Third Term Included Subject in the
contradictory pairs.
Key Words: Comprehensiveness, Transdisciplinarity, Multi-Professional Teams,
Psychiatric Reform, Collective Health, Subject, Public Policy,
Transdialogic.
SUMÁRIO
RESUMO .......................................................................................................................... 6
ABSTRACT ...................................................................................................................... 7
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 10
INTEGRALIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE EM EQUIPES
MULTIPROFISSIONAIS NA SAÚDE COLETIVA ................................................... 12
O Paradoxo na Saúde Coletiva e a Integralidade da Atenção ..................................... 12
Complexidade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade ................................... 15
Equipes Multiprofissionais e a Noção de Sujeito em Morin ........................................ 25
O SUJEITO E A COLETIVIDADE – UM CAMINHO TRANSDIALÓGICO
NA SAÚDE COLETIVA ................................................................................................. 31
Política Pública em Saúde e a Integralidade da Atenção ............................................. 31
Complexidade e a Integração dos Saberes .................................................................... 33
O Sujeito e a Equipe Multiprofissional .......................................................................... 35
O CAPS na Reforma Psiquiátrica – O Contexto Político-Social e Local .................... 36
CAMINHO TRANSDIALÓGICO – Um Método Recursivo e Auto-Eco-
Organizador....................................................................................................................... 37
Traduzindo a Lógica da Pesquisadora ........................................................................... 40
DIÁLOGOS TRANSDIALÓGICOS – Desvelando Contradições .............................. 47
Lógica da Doença/Lógica Disciplinar & Lógica da Integralidade/Lógica Trans-
disciplinar .......................................................................................................................... 49
(IN) CONCLUSÕES ........................................................................................................ 55
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 58
ANEXOS ........................................................................................................................... 62
Anexo I – Fragmentos Retirados das Quatro Reuniões de Equipe............................. 63
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1 – O Paradoxo da Integração Disciplinar ............................................................. 24
Fig. 2 – Representação dos Níveis de Realidade ........................................................... 34
Fig. 3 – Esquema Ilustrativo de Sistema Sujeito/ Coletividade - Política Pública .... 42
Fig. 4 – Dinâmica Recursiva e Organizacional ............................................................ 43
INTRODUÇÃO
Esta dissertação é uma aposta frente às incertezas. Um presente de um “Eu” para um
“nós” e de um “nós” para um “Eu”. Uma escrita coletiva de um “Eu” pesquisadora e de um
“Eu” orientador. Além dessas duas, é uma das possíveis traduções das lógicas de muitos
Sujeitos que, no trabalho em saúde, no grupo de pesquisa, na pesquisa, na família e no social,
compuseram o tecido complexo deste trabalho.
Esta escrita também representa um ponto de intersecção entre as experiências vividas na
dimensão pessoal/profissional. Unimos tenras lembranças da infância que continham a visão
sistêmica, as perguntas existenciais da adolescência, com os diversos questionamentos da vida
adulta e, no exercício da psicologia, com a sensibilidade para os processos de grupo. Neste
percurso, alicerçamo-nos na teoria da complexidade de Edgar Morin e na lógica
transdisciplinar de Basarab Nicolescu para aprofundarmos a compreensão/explicação dos
estudos e conhecimentos oriundos das práticas e saberes produzidos nas intervenções em
saúde coletiva.
No primeiro capítulo, “Integralidade e Transdisciplinaridade em Equipes
Multiprofissionais na Saúde Coletiva”, encontram-se transcritos os estudos advindos dos
questionamentos da pesquisadora como trabalhadora e gestora em saúde. As exigências na
reorientação do modelo assistencial no Sistema Único em Saúde – SUS para a atenção
integral gera entre os trabalhadores da saúde um fazer complexo. Ao trabalhar em equipes
multiprofissionais como um todo para minimizar os processos fragmentadores/
especialistas, os trabalhadores experimentam dificuldades em integrar seus saberes
disciplinares com uma prática que exige processos interdisciplinares e uma lógica
transdisciplinar.
11
O segundo capítulo, intitulado “O Sujeito e a Coletividade Um Caminho
Transdialógico na Saúde Coletiva” é a tradução metodológica da trajetória percorrida pela
pesquisadora na interação com o objeto. Traduz as experiências transdisciplinares de inclusão
da pesquisadora como Terceiro Termo Incluído (T) nos processos dialógicos entre os
participantes da pesquisa.
A busca de compreensão da ativação da integralidade, desde os primeiros rascunhos e
esquemas, trazia o questionamento sobre quais Sujeitos podem interdisciplinarizar e realizar
práticas integrais por meio do trabalho coletivo em equipes. Foi um trabalho de desvelamento
e de exercício da pesquisadora em “posicionar-se no centro de seu mundo”. Foi através do
“‘Eu’ que é o ato de ocupação deste espaço egocêntrico” e do “‘eu’ que é a objetivação do ser
que ocupa este espaço” que a pesquisadora pôde distinguir-se, diferenciar-se e reunificar-se
(Morin, 2002c) no processo da pesquisa.
Percorremos espaços entre o paradigma cartesiano/mecanicista/racionalista e o
paradigma da complexidade, indo da distinção dual até a unidualidade. Nesse caminho
metodológico, houve contradições, rupturas, novas organizações pela abertura às incertezas,
ficando a permanência de um “Eu” subjetivo diante da impermanência do “eu” sujeito
objetivado e dos seus papéis no contexto.
Enfim, esta é a transcrição de um caminho investigativo recursivo e auto-eco-
organizador que se transformou num ciclone de subjetivações por meio de novas organizações
na pesquisadora e em sua relação com o objeto de pesquisa. Convidamos os leitores a
percorrerem esta dissertação ocupando o seu espaço egocêntrico para dialogarem com os
autores.
INTEGRALIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE EM
EQUIPES MULTIPROFISSIONAIS
NA SAÚDE COLETIVA
O Paradoxo na Saúde Coletiva e a Integralidade da Atenção
Existe um contexto paradoxal no campo da saúde. Nele ocorre a inter-relação entre
diferentes conceitos e diferentes lógicas, como saúde pública e saúde coletiva, saúde e
doença, normal e patológico, Sujeito e coletivo, Sujeito e objeto, pensamento e ação, teoria e
prática, concreto e abstrato, determinantes sociais e fatores de ordem subjetiva e biológica,
atribuição institucional de responsabilidade e autonomia profissional, disciplina e
transdisciplina.
Diversos pensadores e pesquisadores em saúde buscam compreender o trabalho coletivo
em equipes multiprofissionais neste conjunto sistêmico e complexo do Sistema Único de
Saúde SUS (Campos, 1997, 1998, 2000, Cecílio, 1997b, Paim, Almeida Filho, 1998, 2000,
Peduzzi, 1998, 2001, Schraiber et al., 1999) e as diferentes formas de relação e integração
disciplinar (Azevedo e Souza et al., 2006, D’Ambrosio, 1997, Fazenda, 2002, Jantsch,
Bianchetti, 2002, Iribarry, 2003, Japiassu, 1976, Nicolescu, 2001, 2003, 2005, Pombo, 2005,
Sommerman, 2006). Essas distintas formas de relacionamento entre as disciplinas geram
diferentes processos e organizações no trabalho entre os profissionais.
Nosso objetivo é refletir sobre o desafio de integrar as intervenções técnicas realizadas
no atendimento aos usuários cidadãos atendidos pelo SUS –, que gera a necessidade de
ações simultaneamente interdependentes e autônomas entre os trabalhadores que compõem as
equipes multiprofissionais. Concomitantemente, existem as formações disciplinares de cada
especialista e os diferentes paradigmas de saúde e doença observados por cada um dos
trabalhadores (Ceccim, 1998, Coelho, Almeida Filho, 2002, Pinheiro, 2001).
13
Essa situação paradoxal emerge a partir do tensionamento entre o desafio da
integralidade (Cecílio, 2001, Fagundes, 2003, 2006, Mattos, 2001, 2004, Pinheiro, Luz, 2003,
Pinheiro, Mattos, 2004), o trabalho em equipes multiprofissionais e a exigência de um
processo interdisciplinar que produza ações/conhecimentos/emergências transdisciplinares em
saúde coletiva (Paim, Almeida Filho, 1998, 2000, Passos, Barros, 2000, Spink, 2003).
Embora o termo geralmente utilizado no campo da saúde “equipes multiprofissionais”
conduza a um pensamento sobre o agir lado a lado, refletimos sobre os processos de trabalho
interprofissionais nas relações de interação e integração entre as disciplinas e entre os
trabalhadores. Este trabalho em equipes na área da saúde é uma estratégia coletiva que visa
minimizar o intenso processo de especialização que tem caracterizado as práticas em saúde na
contemporaneidade (Campos, 1997, 1998, 2000, Iribarry, 2003, Peduzzi, 1998, 2001).
Atualmente, são reconhecidos como profissionais de saúde pela Resolução 287/1998 do
Conselho Nacional de Saúde os assistentes sociais, biólogos, biomédicos, profissionais de
educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos,
médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Na
interação entre diferentes profissionais, Peduzzi (2001), por meio de um levantamento
bibliográfico, observou a predominância da abordagem estritamente técnica. Nela, a atividade
de cada área profissional é apreendida como conjunto de atribuições, tarefas ou atividades no
qual a articulação dos trabalhos especializados não é problematizada.
Essa prática segmentada que aparece no processo de trabalho interprofissional das
equipes vem colidir com a possibilidade da integralidade, um dos princípios orientadores do
SUS. A integralidade, como uma diretriz e também como um conceito central na construção
do SUS, quer significar a organização do fazer profissional, a organização do processo de
trabalho e da política pública em saúde (Mattos, 2001, 2004). Política pública traduzida como
14
um sistema co-operativo entre Sujeitos na realização de diretrizes e ações coletivas
organizadas por lógicas voltadas para a garantia dos direitos sociais (Paim, Teixeira, 2006).
Nessa dimensão, a subjetividade e a intersubjetividade (Azevedo, 2002, Campos, 2000,
Sá, 2001, Schraiber et al., 1999) podem ser efetivamente aplicadas, tanto do ponto de vista de
conceito quanto da perspectiva de cuidado e escuta em relação ao trabalhador e à população
em geral (Cecílio, 2001, Pinheiro, Luz, 2003, Pinheiro, Mattos, 2004). A integralidade
implica uma recusa ao reducionismo e à objetivação dos sujeitos e uma afirmação da abertura
para o diálogo (Silva Junior, 1998).
Essa proposta associa-se à significação das práticas científicas na pós-modernidade.
Tradicionalmente, a ciência necessitou decompor o conjunto em seus elementos básicos, em
um processo analítico, gerando um olhar que dissocia os contextos históricos, ecológicos,
políticos, culturais dos fenômenos estudados. Desse modo, fragmenta-se o próprio objeto de
estudo em diferentes partes a serem analisadas isoladamente. Na prática da saúde coletiva, a
integralidade, a visão sistêmica/complexa e o modelo de atenção psicossocial propiciam a
dialógica entre as contradições e a emergência de um Sujeito complexo. “A concretização de
um sistema integral o passa, portanto, pela aplicação exclusiva dos saberes disciplinares
existentes, mas pela construção incessante de práticas eficazes” (Pinheiro e Luz, 2003, p.23).
A construção de tais práticas dá-se, necessariamente, no âmbito da saúde coletiva,
expressão que é uma invenção tipicamente brasileira, surgida em fins da década de 1970, na
perspectiva de constituir um paradigma que permitisse uma articulação entre as diferentes
instituições do campo da saúde (L’Abbate, 1997, 2003). Quanto à distinção entre saúde
pública e saúde coletiva, vê-se que, na segunda, são considerados e incorporados no processo
saúde-doença-intervenção-cuidado os determinantes sociais práticas em saúde como
práticas sociais, a participação e controle social dos usuários e a integração entre saberes
técnicos e populares. Enquanto que na “pública”, o Sujeito tende a ser descontextualizado e o
15
adoecimento individualizado (Campos, 1997, 2000, Canesqui, 1995, Ceccim, 1998, Cecílio,
1997a, Mattos, 2001, 2004, Paim, Almeida Filho, 1998).
A partir dessa perspectiva, o processo saúde-doença começou a ser problematizado
como produção social. Essa idéia difere da abordagem baseada unicamente em sinais e
sintomas sicos e refere-se à processualidade do pensar-sentir-querer humanos, incluindo a
expressão de processos vividos, contextualizados nas condições físicas, sociais, ambientais,
culturais e econômicas, entre outras. No entanto, esse contexto de práticas integrais e de
produção de saúde no fazer/ser coletivo caracteriza-se por um território marcado por tensões
de naturezas epistemológicas, institucionais e, no âmbito das relações interpessoais, por
relações de poder nas práticas profissionais. As tensões dão-se, também, em decorrência da
difícil demarcação de fronteiras e da interação entre elas Ciências Humanas e Sociais,
Ciências Administrativas e Econômicas, Planejamento em Saúde, Ecologia e Saúde
Ambiental, Epidemiologia, etc. (Paim, 2000).
Desde essa perspectiva passaram também a ser relevantes os estudos sobre
planejamento (Testa, 2004) e os modelos de gestão na política e nos estabelecimentos de
saúde, com o reconhecimento do papel central dos profissionais nessas organizações como,
por exemplo, a gestão colegiada, (Campos, 1998) na busca de novos dispositivos
institucionais de valorização das subjetividades (Campos, 1997, Cecílio, 1997b, Mattos, 2001,
2004, Pinheiro e Luz, 2003, Pinheiro, Mattos, 2004).
Complexidade, Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade
Trata-se, pois, de um contexto pautado pela complexidade. Está transversalizado pelas
construções de cada disciplina e de cada saber seja popular ou acadêmico e pela idéia
persistente da dificuldade de diálogo entre os diferentes atores envolvidos no processo.
16
Essa dificuldade dialógica é resultante de um pensamento simplificador incapaz de
conceber a conjunção do uno e do múltiplo, do elo inseparável entre o observador e a coisa
observada, anulando a diversidade (Morin, 2003). No pensamento complexo, no tecer junto,
somos remetidos ao sistêmico, aos processos circulares, ao hologramático, à auto-eco-
organização, às incertezas e aos emergentes - qualidades que nascem no nível do todo, pela
organização que liga o sistema. No primeiro pensamento, há a perspectiva do erro pela
racionalização (a doença da razão); no segundo, o erro é compreendido como contradição
(Morin, 2000, 2001, 2002a, b, 2003, 2005a, b), isto é, como um espaço de construção.
Para Morin (2002a, p.93-96) existem sete princípios que nos auxiliam a compreender a
complexidade: a) Princípio da recursividade organizacional, que liga o conhecimento das
partes ao conhecimento do todo; b) Princípio “hologrâmico”, em que a parte está no todo,
assim como o todo está inscrito nas partes; c) Princípio do circuito retroativo, em que a causa
age sobre o efeito e o efeito age sobre a causa, modificando-a, gerando um novo efeito
(retroação auto-reguladora); d) Princípio do circuito recursivo, em que os produtos e os
efeitos são produtores e causadores daquilo que os produz; e) Princípio da
autonomia/dependência entre Sujeito/indivíduo/ambiente (auto-eco-organização); f) Princípio
dialógico união entre ordem e desordem gera novas organizações (idéias e ações
antagônicas, complementares ou concorrentes formam novas sínteses); g) Princípio da
reintrodução do conhecimento em todo conhecimento, revelando o problema cognitivo
central: da percepção à teoria científica, todo conhecimento é uma reconstrução/tradução feita
por uma mente/cérebro em uma cultura e época determinadas.
Para pensar a complexidade é necessária uma mudança do olhar sobre o nosso próprio
entendimento pela inteligência da complexidade” na religação dos saberes (Morin, 2000).
Uma inteligência que integre dificuldades empíricas e lógicas e compreenda que o que “nos
17
circunda está inscrito em nós” e que o podemos “separar o mundo que conhecemos das
estruturas de nosso conhecimento” (Morin in Schnitman, 1996).
Assim, o paradigma da complexidade que une ordem, desordem e auto-eco-organização
na divergência com o paradigma cartesiano e da subseqüente fragmentação disciplinar
orienta-nos à transdisciplinaridade que foi considerada um novo campo de saber, distinto da
multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade, primeiramente, por Jean Piaget, em 1970, no
encontro Interdisciplinaridade Ensino e Pesquisa nas Universidades”, na Universidade de
Nice, na França.
Nicolescu (2005) afirma que Piaget manteve somente o significado “através” e “entre”
do prefixo latino trans, devido ao fato de que, na época, o significado “além” representaria
um impacto no clima intelectual. Então, em 1985, ele propôs a inclusão de “além das
disciplinas”. Esse autor, ancorado nos estudos da física quântica, pensa que “além das
disciplinas” expressa a inclusão do Sujeito e a interação Sujeito-Objeto.
Ao longo dos tempos, muitos são os autores e os estudos referentes ao tema, sendo que
data marcante foi 1994, quando realizado o I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade,
Convento de Arrábida, Portugal. Edgar Morin, Basarab Nicolescu e Lima de Freitas
escreveram a “Carta da Transdisciplinaridade”: “A transdisciplinaridade não procura o
domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as
atravessa e as ultrapassa” (art. 3º).
No II Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, ocorrido em 2005, no Espírito
Santo, Brasil, por meio da “Mensagem de Vila Velha/Vitória”, os participantes do evento
reiteraram a premência em desenvolver a atitude, a pesquisa e a ação transdisciplinar,
evitando conceber a transdisciplinaridade como uma hiperdisciplina.
18
Morin, conversando com Basarab Nicolescu sobre complexidade e
transdisciplinaridade, em transcrição de Badescu (2001), afirma que a dialógica é justamente
o terceiro incluído. O terceiro incluído é a viga mestra da obra do físico e filósofo Stéphane
Lupasco, criador de uma lógica energética que coloca o dinamismo contraditório na própria
natureza e estrutura do lógico. Seguindo esse princípio, o diálogo entre trabalhadores expressa
diferentes lógicas sobre saúde e políticas públicas, e as contradições resultantes dessas
interações necessitam ser integradas na ação transdisciplinar. Assim, a transdisciplinaridade
supõe a possibilidade de não haver prevalência de uma única lógica, mas sim a integração dos
saberes, a partir de três axiomas (Nicolescu, 2001, 2005):
Axioma Ontológico: há, na natureza e em nosso conhecimento da natureza, diferentes
níveis de realidade do objeto e, correspondentemente, diferentes níveis de percepção
do Sujeito;
Axioma Lógico: a passagem de um nível de realidade para outro é verificada pela
lógica do terceiro termo incluído, que se distingue da lógica clássica:
Tabela 1: Comparação entre Lógica Clássica e Lógica Transdisciplinar
Axioma da Complexidade: a estrutura da totalidade dos níveis de realidade ou
percepção é uma estrutura complexa: cada nível é o que é, porque todos existem ao
mesmo tempo.
A partir desse entendimento, há, conseqüentemente, uma distinção entre o
conhecimento disciplinar e o transdisciplinar:
Lógica Clássica Lógica Transdisciplinar
O axioma da identidade: A é A O axioma da identidade: A é A
O axioma da não-contradição: A não é não-A O axioma da não-contradição: A não é não-A
O axioma do terceiro excluído: não existe um
terceiro termo que é ao mesmo tempo A e não-A
O axioma do Terceiro Termo Incluído (T): A, não-A e T
no mesmo momento do tempo.
19
Conhecimento Disciplinar Conhecimento Transdisciplinar
In vitro: diz respeito a, no máximo, um nível de realidade.
In vivo: interessa-se pela dinâmica gerada pela ação de
vários níveis de realidade ao mesmo tempo.
Objeto
externo: conhecimento voltado à efetividade e
dominação do mundo exterior, Sujeito e Objeto o
separados.
Correspondência entre o Objeto (externo) e o Sujeito
(interno), inseparáveis. Harmonização entre o espaço
exterior da efetividade e o espaço interior da afetividade.
Conhecimento como forma acabada, numa mentalidade
limitada e antiga.
Compreensão como unificação do saber com o ser
humano, como ele é assimilação constante, processo
evolutivo sem fim.
Inteligência analítica
uma parte, não há atenção para o todo complexo ou para
relações entre as partes. Orientada ao poder e à posse
. O
Sujeito se apropria do Objeto do conhecimento e o utiliza
para ter poder.
Nova inteligência, que privilegia o equilíbrio entre
mente, sentimentos e corpo. Orientada para a
perplexidade e o compartilhamento. O Sujeito é seu
conheciment
o e o utiliza para compartilhar e estar em
paz.
Lógica binária
: o raciocínio segue uma linha lógica sem
contradições, influenciado pelo comportamento linear. O
mundo é mais complexo que isso.
Lógica do terceiro incluído: três axiomas que se
multiplicam em infinitos julgamentos, sem a necessidade
de eliminar contradições. É a unificação do sim e do não.
Exclusão de valores: suposta neutralidade do conhecimento.
Inclusão de valores
: conhecimento não é neutro, pode
voltar-se contra o ser humano; clara opção humanista.
Tabela 2: Comparação entre Conhecimento Disciplinar e Conhecimento Transdisciplinar
Fonte: Nicolescu, 2003
Na complexidade e no conhecimento transdisciplinar a compreensão humana transcende
a explicação. A explicação responde às questões intelectuais e objetivas das coisas anônimas
ou materiais. A compreensão humana comporta um conhecimento de sujeito a sujeito onde há
uma identificação com o outro ego alter e que se torna alter ego. Sendo intersubjetiva
inclui, necessariamente, um processo de empatia, de identificação e de projeção (Morin,
2002d). Para o autor, a compreensão vai além da explicação.
Filiamo-nos, assim, à idéia de Almeida Filho (1997), que propõe que a concepção da
transdisciplinaridade deve passar por uma redefinição, baseando-se na possibilidade de
comunicação, não entre campos disciplinares (entidades míticas), mas entre agentes em cada
campo Sujeitos. Sujeitos que permitem o questionamento a partir do outro na interação
transdisciplinar, por meio do exercício da tolerância e do rigor científico. Depende de que
pensemos muito mais em intersubjetividade que em subjetividade, que consideremos, em
outras palavras, o caráter imediatamente relacional e irremediavelmente contingente de nossas
identidades e historicidade como indivíduos e grupos” (Ayres, 2001, p.68).
20
Esses estudos entendem que não campo científico mais justificadamente
transdisciplinar do que a saúde coletiva (Almeida Filho, 1997; Paim, Almeida Filho, 1998;
Passos, Barros, 2000, Spink, 2003). Contudo, na prática, as ões transdisciplinares revelam
contradições porque subvertem o “eixo de sustentação dos campos epistemológicos, graças ao
efeito de desestabilização tanto da dicotomia sujeito/objeto quanto da unidade das disciplinas
e dos especialismos” (Passos, Barros, 2000, p.76).
Nessa discussão, a partir de um processo dialógico, observamos que a contribuição da
transdisciplinaridade na questão da saúde coletiva e no princípio da integralidade é
paradigmática. É necessário que a saúde seja entendida como sistema (Moraes, 2004,
Vasconcelos, 2002) aberto, complexo e auto-eco-organizado. O sistema aberto, desde a ótica
tanto do Sujeito observador/conceptor/ator quanto do sujeito observado/concebido (Morin,
2002b), é caracterizado por diferentes níveis de realidade, percepções, idéias e conceitos.
Como decorrência, emerge a concepção da integração Sujeito-objeto e o entendimento de que
o Sujeito não pode ser capturado por uma única disciplina. É necessário lidar com as
contradições, em que níveis de realidade são privilegiados, respeitando-se a
multidimensionalidade e a multirreferencialidade dos contextos (Nicolescu, 2005). Nada
como desafios impostos pela vida (mundo empírico) para estimular sujeitos a reconhecerem
pontos de quebra ou de contradição em suas teorias” (Campos, 1998, p.864).
Essas reflexões colocam-nos frente à necessidade da ação/processo interdisciplinar nas
equipes multiprofissionais no SUS, pois, diante de um contexto complexo e multifacetado, o
processo de trabalho precisa da integração e diálogo entre diversos atores e seus saberes
disciplinares. É a ação modulando o saber e o fazer (Pinheiro, Luz, 2003).
Embora haja vários estudos sobre interdisciplinaridade, utilizaremos aqui o
entendimento de Pombo (2005). Para ela, trata-se de um fenômeno curioso, pois, apesar de
não haver um conceito de interdisciplinaridade relativamente estável, a palavra tem uma
21
utilização muito ampla e é aplicada em muitos contextos. Em sua busca de definição para a
integração entre os saberes, alerta para o fato de que temos quatro palavras semelhantes:
multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. A
interdisciplinaridade é compreendida como uma etapa de um processo contínuo:
Que inicia na pluri/multidisciplinaridade, supondo o pôr em conjunto, isto é,
profissionais trabalhando juntos, e o paralelismo de pontos de vista;
Avançando no processo para uma combinação, convergência e complementaridade,
ultrapassa a dimensão do paralelismo e caracteriza-se num processo interdisciplinar;
E, quando se aproxima de um ponto de fusão e unificação, nos conduz a uma
perspectiva holista.
Em relação a esta última definição, entendemos que o produto transdisciplinar,
resultante de um processo interdisciplinar, traz a emergência do terceiro incluído, ou seja, a
dialógica em que a fusão ou unificação não se traduz numa unidimensionalidade, mas na
abertura para um conjunto de níveis de realidade. Morin (2001) distingue complexidade de
holismo, pois este último procura a explicação no nível da totalidade, diferentemente do
princípio da recursividade organizacional em que o todo é maior e menor que a soma das
partes.
Assim, é no processo interprofissional dos grupos e na política pública em saúde que
observamos movimentos em direção aos processos interdisciplinares, revelando a
complexidade das relações humanas e da coletividade. É no processo grupal e nas relações
intersubjetivas que se desvelam as contradições, as rupturas e as possibilidades de reinvenção
e reforma de pensamento, manifestando a inseparabilidade entre Sujeito e objeto.
Nossas inquietações sobre esse trabalho complexo estão ancoradas nas experiências
profissionais e em alguns dados sobre o amplo uso e entendimento de que o trabalho em
equipes multiprofissionais é adequado ao campo da saúde coletiva (Peduzzi, 1998, 2001,
22
Schraiber et al., 1999). Em dezembro de 2006, no Brasil, é cadastrado o Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS) número mil (1000). Esses serviços operam por meio de equipes
multiprofissionais. Outra estratégia similar do SUS é o Programa Saúde da Família (PSF), no
qual o trabalho coletivo também acontece em equipes multiprofissionais na lógica da
integralidade da atenção, conjuntamente com as Equipes de Saúde Bucal (ESB) e do
Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS).
Até o final de 2005, o PSF atingiu o número de 24,6 mil equipes, a ESB chegou a 12,6
mil e um total de 208 mil agentes comunitários. As equipes são compostas, no mínimo, por
um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e seis agentes
comunitários de saúde. Quando ampliadas, contam ainda com: um dentista, um auxiliar de
consultório dentário e um técnico em higiene dental. Podemos estimar que somente esses três
programas envolvem um contingente de, aproximadamente, 350 mil trabalhadores. Cabe
ressaltar que os programas de DST/HIV/AIDS e da Saúde do Trabalhador também caminham
na construção de saberes interprofissionais na busca da integralidade no processo saúde-
doença-trabalho-cuidado-intervenção (Brasil, Ministério da Saúde, 2006).
Considerando o fato de que se proponha esta estratégia de trabalho em equipes como
um dispositivo de contemplar os processos interprofissionais o uma correspondente
discussão relativa a este método no sentido de desenvolver competências no trabalho coletivo.
Assim, discutimos aqui as práticas integrais na saúde mental coletiva, compreendendo que ela
se estende a outras temáticas na saúde que operam com equipes multiprofissionais na
reorientação do modelo assistencial e na reorganização dos serviços de saúde (Campos, 1998,
2000, Cecílio, 1997b, Paim, Almeida Filho, 1998, Pitta, 2001, Ribeiro, Motta, 1996).
Após 14 anos da Lei Estadual 9.716/1992 no Rio Grande do Sul, cinco anos da Lei
Federal 10.216/2001 e todos os investimentos/financiamentos na área, os trabalhadores
percebem dificuldades/potencialidades na mudança de orientação do modelo assistencial,
23
tendo a necessidade de superar lógicas que embasam o modelo hospitalocêntrico e
manicomial envolvendo, assim, o desenvolvimento de uma rede de cuidados progressivos
em saúde mental.
Nossa experiência de trabalho na saúde coletiva, especificamente na saúde mental,
contribui para o relato de que, nesse campo, há maior diversidade de profissões, agregando-se
a ele uma trajetória intensa de saberes e tecnologias advindas da Reforma Psiquiátrica e do
Movimento Sanitário na busca da integralidade das ações. Trabalhar com a “loucura” através
da atenção psicossocial exigiu a ruptura dos processos e olhares fragmentadores na atenção ao
usuário, mobilizando os trabalhadores na saúde mental a reorganizarem suas práticas.
Percebe-se que esta exigência em integrar subjetividades, projetos coletivos e serviços
organizados a partir de equipes multiprofissionais e seus processos inter/transdisciplinares
gera contradições, mal-estares e sofrimento psíquico aos trabalhadores (Sá, 2001). Este
contexto impulsiona a busca de novas tecnologias, contribuindo para que neste contexto haja
grande proliferação de saberes
Essa reflexão transversal entre teoria/prática e prática/teoria objetiva contribuir com
compreensões acerca do paradoxo vivenciado pelos trabalhadores em equipes
multiprofissionais na saúde coletiva, quando estes buscam integrar suas subjetividades e
formações disciplinares a um contexto complexo e interdisciplinar, numa prática de trabalho
que implica, necessariamente, a intersubjetividade.
A experiência de trabalho na saúde coletiva sugere que devemos buscar novas
estratégias e dispositivos que possam se configurar em práticas eficazes de humanização e
acolhimento aos trabalhadores em saúde que, considerando o princípio da integralidade,
revertam em melhoria na atenção integral ao usuário.
O desafio é compreender/explicar esse processo de circuito cognitivo-prático do qual
faz parte o trabalhador. Na intencionalidade de ativar o processo da integralidade, deparamo-
24
nos com a complexidade de integrar Sujeito-objeto, teoria-prática, saber-fazer, pessoal-
político, privado-público, local-global, individual-coletivo, sagrado-profano com a
permeabilidade entre as fronteiras disciplinares.
Com esse objetivo, descrevemos a seguir um esquema/diagrama que busca dar
visibilidade a nossa imagem/representação/lógica desse contexto complexo e dialógico de
interações, inter-relações e articulações entre elementos, concepções, teorias e paradigmas
relacionados à questão da integralidade e transdisciplinaridade na saúde coletiva, no trabalho
interprofissional dos trabalhadores no SUS.
Fig. 1 - O Paradoxo da Integração Disciplinar
O desafio da integralidade lança-nos ao “desafio da complexidade”. Esta encaminha-nos
a pensar que a integralidade exige que o Sujeito trabalhador exercite um processo de auto-
eco-organização. Esse movimento requer que o Sujeito trabalhador se conceba um Sujeito em
relações intersubjetivas e em situação de interdependência com o universo, com sua prática e
com a organização dos serviços e outros elementos do sistema.
A complexidade abre e desenvolve o diálogo entre interação, ordem, desordem e
organização, para conceber, na sua especificidade, em cada um de seus níveis, os fenômenos
25
físicos, biológicos e humanos. “Esforça-se por obter a visão poliocular ou poliscópica, em
que, por exemplo, as dimensões físicas, biológicas, espirituais, culturais, sociológicas,
históricas, daquilo que é humano deixem de ser incomunicáveis” (Morin, 2000, p.30).
Há uma coincidência entre o conhecimento-saber produzido no campo da saúde coletiva
e os estudos sobre a complexidade. Ambos vêm propondo a ênfase na necessidade de a
ciência resgatar sua capacidade de gerar sínteses diante da produção de um sujeito
fragmentado e dos desafios oriundos do processo de especialização (Almeida Filho, 1997;
Morin, 2000, 2001, 2002a, b, 2005a, b).
Equipes Multiprofissionais e a Noção de Sujeito em Morin
Os trabalhos em equipes multiprofissionais na saúde coletiva remetem à complexidade e
promovem experiências que exigem o encontro com as fronteiras disciplinares, com as
diferenças e com as vulnerabilidades dos agentes sociais. O trabalhador, na integração
disciplinar, oscila entre o “isolamento paranóico” e/ou a “fusão esquizofrênica” (Campos,
2000). Ou seja, desafiado pelas dificuldades nessa prática psicossocial, muitas vezes, o
trabalhador encontra-se num fazer/contexto confuso e desgastante, com polarizações que vão
desde atitudes/ações isoladas até uma sobreposição dos limites das disciplinas.
Este trabalho, na busca da integralidade nas ações, apresenta-se transversalizado pela
convivência entre diferentes paradigmas: reprodução de modelos e práticas de atenção
embasadas numa visão de Sujeito fragmentado, descontextualizado e unidimensional,
conjuntamente com os paradigmas das práticas integrais.
A construção da integralidade na atenção e da transdisciplinaridade nas equipes de
trabalho interprofissionais na saúde coletiva constitui sistema complexo, que entrelaça as
dimensões indivíduo e sociedade, a problemática da adesão e participação, bem como a
imbricação com os processos de mudança. É o resultado da interação entre os Sujeitos
26
trabalhadores, que trazem consigo suas crenças, valores, concepções de Sujeito, de mundo e,
conseqüentemente, de saúde (Coelho, Almeida Filho, 2002, Pinheiro, 2001).
Focamos nossa atenção nas interações entre os Sujeitos trabalhadores na equipe
multiprofissional. Para fazer essa reflexão entre, através e além da disciplina (transdisciplina)
no campo da saúde coletiva, entendemos que é necessária a noção de Sujeito complexo,
dialógico e relacional proposta por Morin (2002a) em relação à subjetividade, tanto do
trabalhador quanto daquele que necessita do cuidado em saúde.
Para Morin (2002a), a primeira definição de Sujeito é o egocentrismo – posicionar-se no
centro de seu mundo: “o ‘Eu’ ... é o pronome que qualquer um pode dizer, mas ninguém pode
dizê-lo em meu lugar. “Eu [je] sou eu [moi]” é uma fórmula utilizada por Morin para explicar
o princípio “logístico” de identidade em que: “Eu” [je] é o ato de ocupação do espaço
egocêntrico; “eu” [moi] é a objetivação do ser que ocupa esse espaço. Um “Eu” que ocupe o
centro de seu mundo para que a partir deste possa interagir e co-operar com os outros. “Eu
[je] sou [moi]” é o princípio que permite estabelecer, a um tempo, a diferença entre o “Eu”
(subjetivo) e o “eu” (sujeito objetivado) e sua indissolúvel identidade. Ou seja, a identidade
do sujeito comporta um princípio de distinção, de diferenciação e de reunificação.
Morin (2002a) leva-nos a pensar que um Sujeito que comporta em si, além do Eu”
subjetivo, um sujeito objetivado (eu), é um Sujeito em relação ou numa relação intersubjetiva
que pode se estabelecer nele com ele mesmo e, através dele, com o outro, a partir de si
mesmo. “‘Eu sou eu’ já traz uma dualidade implícita – em seu ego, o sujeito é potencialmente
outro, sendo ao mesmo tempo ele mesmo” (p.123). É na alteridade que ele pode comunicar-se
com o outro e reconstruir conceitos, idéias e práticas.
Então, podemos pensar, junto com o autor, que é a partir da alteridade, do Sujeito
complexo e intersubjetivo, que se viabiliza o trabalho coletivo e interprofissional nas equipes.
27
Esse fazer proporciona diálogos entre os Sujeitos disciplinares (especialistas), e a integração
disciplinar acontece em espaços emergentes pela transversalização dos saberes.
A equipe multiprofissional favorece a reflexão sobre o papel profissional e o processo
de trabalho no interior das instituições (L’Abbate, 1997) através dos espaços de diálogos e
percepções sobre as atividades e as dificuldades na integralidade das ões. Sujeitos e
disciplinas dialogando, com rigor e tolerância, sobre as distintas lógicas dos Sujeitos e das
disciplinas fazem emergir saberes/objetos transdisciplinares, tecidos a múltiplas mãos. A
reflexão acontece na comunicação entre os elementos percebidos separadamente que formam
o quebra-cabeça, através da interdependência entre o objeto do conhecimento e seu contexto,
as partes e o todo, as partes entre si (Morin, 2001).
A compreensão desse trabalho interdisciplinar e interprofissional, atravessado pelas
exigências de competências coletivas, de múltiplos desenhos institucionais e do trabalho em
equipe na resolução da tarefa, entende esse pequeno grupo como espaço privilegiado para o
exercício do princípio da integralidade.
Assim, a equipe multiprofissional, caracterizada e compreendida como pequeno grupo,
propicia aos seus integrantes a produção de interações, organizações e subjetivações. Esse
processo é facilitado pelo pequeno número de participantes entre oito e doze. Esse número
reduzido de pessoas possibilita que todos se vejam e ouçam simultaneamente e que, ao
mesmo tempo, se conheçam e reconheçam em seus modos de existência e nas diferenças e
semelhanças que entre eles (Seminotti, 2000; Seminotti, Cruz e Borges, 2004). Os
trabalhadores encontram, no pequeno grupo, um ambiente de fomento à emergência de
Sujeitos que, em relação aos outros Sujeitos, produzem formas de subjetivações (Alves e
Seminotti, 2005; Cardoso e Seminotti, 2005).
A discussão/reflexão da prática em saúde coletiva no pequeno grupo constrói um
caminho para que os trabalhadores se envolvam no processo de construção da integralidade.
28
Os trabalhadores necessitam preparar-se para oferecer, de forma conjunta, ões de
promoção, proteção, prevenção, tratamento e reabilitação (SUS). Para isso, eles precisam
refletir criticamente sobre seu processo de trabalho, viabilizando estratégias para o
reconhecimento de suas práticas integrais e uma abertura à educação permanente (Ceccim,
2005, Ribeiro, Motta, 1996). Essa estratégia reflexiva busca a articulação entre políticas de
educação e saúde, objetivando a aproximação entre a subjetividade e a prática dos
trabalhadores com o direcionamento de um Sujeito/Usuário contextualizado a partir de suas
necessidades sociais em saúde.
Entretanto, na fala de muitos trabalhadores, aparece a necessidade de estratégias de
cuidado ao cuidador: “nós cuidamos dos outros, mas quem cuida de nós?”. O trabalhador
percebe seu sofrimento diante da prática, mas, na maioria das vezes, não correlaciona a
fragmentação do processo de trabalho com as formações disciplinares e a concepção de
Sujeito separado do objeto, excluído do sistema. Se os trabalhadores percebem o desconforto
entre sua prática e seus conceitos com a realidade que vivenciam, abrem-se, com esse
estranhamento, espaços necessários para a incorporação de novos elementos constitutivos de
mudança (Ceccim, 2005).
Por meio da reflexão sobre o processo de trabalho, os Sujeitos trabalhadores viabilizam
estratégias coletivas de transformação do conhecimento e da prática profissional. Tal processo
reflexivo foi aludido por diversos autores. Na ação do sujeito: em Piaget (1978), como
pensamento lógico matemático; em Flavell (1979), como processos metacognitivos; em
Morin (2000, 2001, 2002a, 2003, 2005b), no pensamento do pensamento e na consciência
como emergência reflexiva que permite o retorno da mente a si mesma em circuito; em
Nicolescu (2001, 2005), na inclusão do Sujeito como Terceiro Termo Incluído. E na ação
coletiva: em Ceccim (2005), na proposta de educação permanente; em Barker e Domenici (in
Schnitman, 1999), mediação reflexiva; em Cappanari (2005), equipe reflexiva. É na
29
ação/reflexão sobre os processos grupais e coletivos que integramos o pensamento
cartesiano/racionalista e o complexo/transdisciplinar.
A discussão do trabalho em equipes revela-se importante se considerarmos que todo
ator tem uma visão específica da realidade. Isso porque um ator está imerso em uma cegueira
paradigmática, relacionada ao referencial que utiliza para enfrentar o mundo, ou seja,
ângulos da realidade que se desconhecem, e, no próprio conhecimento, temos zonas de
desconhecimento. Assim, o trabalho em equipes multiprofissionais é uma maneira de
considerar a visão dos outros, melhorando a qualidade da ação (Merhy, 1997; Spink, 2003).
É nesse processo grupal, interprofissional e interdisciplinar que a intercomunicação
entra nas relações humanas, construindo um mosaico caleidoscópico de vivências que nos
desafiam à complexidade (Morin, 2001). E essa complexidade, que se manifesta também na
vida coletiva do pequeno grupo, encontra formas de simplificação através dos organizadores
do grupo. Estes dão visibilidade ao processo do grupo de modo a poder observar, descrever e
analisar a complexidade inerente à equipe multiprofissional, promovendo, com isso, a
viabilidade desse trabalho (Seminotti, Borges, Cruz, 2004).
Na saúde mental coletiva, que é posta em prática por diferentes profissionais,
constituindo equipes multiprofissionais, o fazer oportuniza um contínuo processo reflexivo:
como realizar a atenção integral ao usuário a partir das diretrizes da Reforma Psiquiátrica?
Como realizar processos e práticas interprofissionais? Como trabalhar no intercâmbio com
outras disciplinas (especialidades) e interdisciplinarizar? Como estabelecer práticas que
contemplem o atendimento psicossocial e a articulação com a rede (governamental e não-
governamental) e ações intersetoriais? Como lidar com as frustrações advindas de uma prática
inovadora e com a reprodução de “métodos antigos” sob olhares de “novas tecnologias”?
Como adquirir independência e autonomia no processo de trabalho das equipes, mantendo a
interdependência com o sistema e com as diretrizes da integralidade da atenção (Campos,
30
1998)? Como realizar o cuidado ao cuidador e promover a saúde do trabalhador?
Neste momento, o leitor/trabalhador em saúde pode nos perguntar: como a
complexidade e a transdisciplinaridade podem resolver minhas questões/dúvidas/angústias no
fazer cotidiano da saúde?
Se a pergunta for feita, é um indicador de abertura para o diálogo, para o
questionamento, para pensar o pensamento, para aprender fazendo, para (re)aprender a
(re)aprender, para saber aprender. Esta abertura comporta a aceitação do desconhecido, do
inesperado e do imprevisível e desenvolve estratégias. A pergunta é um indício de uma
alteração paradigmática, e é possível que a equipe multiprofissional inicie a reflexão sobre seu
processo de trabalho dentro de uma perspectiva do isso e/ou aquilo, do certo e/ou errado.
Esse processo reflexivo, acreditamos, pode ser subsidiado pela lógica transdisciplinar e
pela observação das equipes multiprofissionais, apoiando-se nos princípios do método
proposto por Morin (2002a).
O entendimento da saúde como sistema aberto e complexo faz reverberar no trabalhador
a disponibilidade em tomar o conhecimento (formação disciplinar) como um instrumento de
aprendizagem centrada na invenção de estratégias e outras respostas aos desafios perante a
condição humana. Estratégia para Morin (2002b, p.250) “supõe a aptidão para empreender
uma ação na incerteza e para integrar a incerteza na conduta da ação; necessita de
competência, iniciativa e decisão”. Assim, não uma prescrição programática. uma
indicação de que o Sujeito trabalhador encontre, dentro de si, no outro e na relação, a sua
dimensão sapiens/demens, conviva com a saúde/doença de si e do outro e desvende suas
“brechas lógicas”, ou seja, suas contradições (Morin, 2001b, 2002b).
O SUJEITO E A COLETIVIDADE
UM CAMINHO TRANSDIALÓGICO NA SAÚDE COLETIVA
Política Pública em Saúde e a Integralidade da Atenção
Esta é a transcrição e tradução de um percurso investigativo que exercitou uma relação
complexa com o trabalhador em saúde a partir da noção de Sujeito, de Edgar Morin (2002a).
Alicerçamo-nos na interconexão entre os sete princípios do Método (Morin, 2002a, p.92) e a
lógica transdisciplinar (Nicolescu, 2001, 2005).
Os questionamentos geradores desta pesquisa advieram das experiências profissionais
em psicologia na política pública de saúde como trabalhadora e gestora em saúde mental,
compreendidas desde as lógicas de um sistema complexo (Morin, 2000, 2001, 2002a, b, 2003,
2005a, b, Vasconcellos, 2002, Moraes, 2004).
Circulamos entre teoria e prática para compreender o processo de ativação do princípio
da integralidade (art. 196, II, Constituição Federal de 1988; art. 7º, II da Lei 8080/1990
Sistema Único de Saúde - SUS) na ação transdisciplinar das equipes multiprofissionais na
saúde coletiva (Campos, 2000, L’Abbate, 2003, Paim, Almeida Filho, 1998). O organizador
central deste estudo são as discussões acerca da interdependência entre Sujeito e coletividade
na construção da política pública em saúde.
A organização do trabalho na saúde através das equipes multiprofissionais é uma
estratégia para minimizar o intenso processo de especialização nesse campo, o que tem
caracterizado as práticas na contemporaneidade (Campos, 1997a, b, 1998, Iribarry, 2003,
Peduzzi, 1998, 2001, Peduzzi, Anselmi, 2002).
A política pública de saúde no Brasil, decorrência do Movimento Sanitarista e da
Reforma Sanitária (Ceccim, 2005, Feuerwerker, 2005, Gallo et al., 1988, Lana, Gomes, 1996,
32
Paim, Teixeira, 2006), reorienta e enfatiza modelos de atenção integral nas ações dos
trabalhadores. O SUS presentifica-se na interconexão e interdependência entre as diretrizes e
ações de cada esfera de governo (federal, estadual e municipal). É um sistema
multidimensional que estabelece conexões com outras políticas públicas, integrando a
subjetividade do trabalhador em saúde com aspectos técnico-políticos de formação
profissional, modelos de gestão, planejamento, financiamento e ações intersetoriais (Ayres,
2001, Cecílio, 1997b, Campos, 1997a, b, 1998, Fagundes, 2003, 2006, Minayo, 2001,
Schraiber, Machado, 1997, Sá, 2001, Testa, 2004).
Na ativação do princípio da integralidade, existe uma situação paradoxal no campo da
saúde. contradições no cotidiano dos serviços, principalmente no que tange aos trabalhos
realizados por equipes multiprofissionais, diante da exigência de processos
inter/transdisciplinares. Os trabalhadores, na relação interprofissional, acessam suas distintas
formações disciplinares na realização das tarefas e encontram dificuldades na sua prática
coletiva. É necessária a integração de diferentes paradigmas, conceitos e lógicas sobre o
binômio saúde-doença (Coelho, Almeida Filho, 2002; Schraiber, Machado, 1997, Schraiber et
al., 1999).
Diversos autores estudam a integralidade como dispositivo de mudança do modelo
assistencial para a implantação de práticas eficazes (Cecílio, 2001, Fagundes, 2003, 2006,
Pinheiro, Luz, 2003; Pinheiro, Mattos, 2004) e como tecnologia de cuidado relevante para a
implantação e consolidação do SUS. A integralidade é compreendida como a organização do
fazer disciplinar/profissional, do processo de trabalho nas equipes e nos serviços e da política
pública em saúde (Mattos, 2001, 2004).
Diante das dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na reorientação do modelo
assistencial da doença à atenção integral (Ceccim, 2005, Campos, 1997a, b, Merhy, 1997,
Pitta, 2001), emerge a necessidade da reflexão sobre o cotidiano e os processos de trabalho.
33
Por meio do processo reflexivo, alguns trabalhadores podem romper as barreiras de suas
lógicas e abrir-se para a invenção de estratégias e dispositivos criativos (L’Abbate, 1997,
Ribeiro, Motta, 1996).
No processo reflexivo intersubjetivo entre os trabalhadores e trabalhadores/usuários,
pode ocorrer o diálogo entre múltiplos saberes (especialista, técnico, administrativo, do
usuário). Ao mesmo tempo, co-operam com relações lineares, com a dominância de um saber
em detrimento de outros, emergindo práticas autoritárias. A interação entre distintos
paradigmas que atravessam a rede de significados de cada Sujeito contrapõe-se à dificuldade
de diálogos e processos inter/transdisciplinares.
Assim, entendemos a Política Pública como propositora de mudanças paradigmáticas
por meio dos processos intersubjetivos e da compreensão dos sistemas complexos.
Concebem-se movimentos recursivos entre processos de subjetivação e transformações
socioculturais que podem revelar os elos que ligam o Sujeito à Coletividade.
Complexidade e a Integração dos Saberes
O trabalho em equipes possibilita processos interdisciplinares e transdisciplinares.
Interdisciplinarizar (Azevedo e Souza et al., 2006, D’Ambrosio, 1997, Fazenda, 2002,
Jantsch, Bianchetti, 2002, Iribarry, 2003, Japiassu, 1976, Nicolescu, 2001, 2005, Pombo,
2005, Sommerman, 2006) pode ser compreendido como uma forma de interação entre duas ou
mais disciplinas e diz respeito, geralmente, à transferência de métodos de uma disciplina a
outra.
Por outro lado, Pombo (2005) concebe as diferentes formas de integração disciplinar
como um processo progressivo que inicia na multi/pluridisciplinaridade, que é o pôr em
conjunto, passando para a interdisciplinaridade, que é a articulação entre os saberes, até
chegar à transdisciplinaridade, que pressupõe um ponto de fusão, de unificação dos saberes.
34
Nicolescu (2005) propõe o conceito de transdisciplina como uma lógica distinta da
lógica clássica com o qual nos identificamos.
Lógica Clássica Lógica Transdisciplinar
O axioma da identidade: A é A O axioma da identidade: A é A
O axioma da não-contradição: A não é não-A O axioma da não-contradição: A não é não-A
O axioma do terceiro excluído: não existe um
terceiro termo que é ao mesmo tempo A e não-A
O axioma do Terceiro Termo Incluído (T): A, não-A e T
no mesmo momento do tempo.
Tabela 3: Comparação entre Lógica Clássica e Lógica Transdisciplinar
A lógica transdisciplinar assemelha-se à lógica clássica nos dois primeiros axiomas,
entretanto, diferencia-se no Terceiro Termo Incluído (T). Para Lupasco, criador dessa lógica
(Badescu, Nicolescu, 2001), o T pode ser a dialógica e, para Nicolescu (2005), pode ser o
Sujeito.
Trata-se de um Sujeito que esaberto ao diálogo, pelo reconhecimento da convivência
de mais de um nível de realidade, onde não uma hierarquia piramidal expressa na relação
de poder de um sobre os outros. A hierarquia está vinculada às organizações do processo e às
emergências na circularidade entre o fazer individual e o coletivo.
Um nível de realidade é o conjunto de sistemas invariantes sob a ação de um número
de leis gerais” (Nicolescu, 2001, p.29), sendo que realidade, para esse autor, é “aquilo que
resiste às nossas experiências, representações, descrições, imagens ou formalizações
matemáticas” (p.28). “A objetividade só pode vir de um Sujeito” (Morin, 2002, p.80).
Fig. 2 – Representação dos Níveis de Realidade
Fonte: Nicolescu, 2002, p.51
35
Computamos a transdisciplinaridade como metodologia de pesquisa embasada em três
pilares (Nicolescu, 2001, 2005): os diferentes níveis de realidade do objeto e níveis de
percepção do Sujeito; a lógica do Terceiro Termo Incluído e a complexidade. A lógica
transdisciplinar está na gênese deste estudo e foi computada na lógica da pesquisadora numa
relação recursiva com o objeto pesquisado. Os diferentes níveis de realidade e níveis de
percepção são computados a partir das lógicas dos participantes e da pesquisadora em
processos de auto-eco-organização.
O Sujeito e a Equipe Multiprofissional
O Sujeito trabalhador em saúde, na sua relação multiprofissional de trabalho, depara-se
com situações complexas que exigem sua entrega à multiplicidade de lógicas e, ao mesmo
tempo, que cada indivíduo se posicione no centro de seu mundo: que ocupe seu espaço
egocêntrico (Morin, 2002a). Dessa forma, a intersubjetividade pode ser reconhecida e
integrada na alteridade como um elemento do sistema e como estratégia na realização das
tarefas coletivas, como, por exemplo, pela mediação reflexiva (Barker, Dominici, 1999), que,
na produção subjetiva entre os trabalhadores, gera novas estratégias e novas invenções.
Estratégia que é aberta e reorganiza o caos, que comporta a variabilidade, encontrando
recursos e desvios, operando regressos e afastamentos, enfrentando o imprevisto (Morin,
2002b).
Neste campo da saúde coletiva que é marcado por conflitos de naturezas
epistemológicas e de relações de poder entre os trabalhadores e suas respectivas lógicas
(Paim, 2000), o Sujeito, como um sistema aberto/fechado no exercício entre as fronteiras
disciplinares, com rigor científico e tolerância, pode interdisciplinarizar, realizar ações
intersetoriais e trabalhos em equipes.
É nas equipes multiprofissionais, no processo e organização desse pequeno grupo, onde
todos se conhecem e reconhecem em seus modos de existência e nas diferenças e semelhanças
36
que há na intersubjetividade entre eles (Seminotti, 2000; Seminotti, Borges e Cruz, 2004), que
a experiência reflexiva propicia o reconhecimento e a legitimação das lógicas singulares,
podendo viabilizar a integração dos saberes.
Este trabalho em grupo no campo da saúde coletiva é justificadamente transdisciplinar
(Almeida Filho, 1997; Passos, Barros, 2000). Exige um pensamento do contexto e do
complexo (Morin, 2002a). “Eu sou eu”, princípio logístico de identidade onde o Sujeito em
seu “ego é potencialmente outro, sendo ao mesmo tempo ele mesmo” (p.123). Sujeito produto
e produtor (auto-eco-organizado) que constrói sua autonomia nas relações de dependência,
pois sua liberdade está sujeitada ao outro e à coletividade (Morin, 2002). Sujeito capaz de
objetivar-se sem anular sua dimensão subjetiva. Distinção necessária no cuidado de si e ao
outro, possibilitada pela permanência da auto-referência ligada ao “Eu”.
Assim, tem-se um Sujeito (T), que oportuniza as emergências na inclusão/pertença ao
sistema complexo da saúde na política, nos serviços, nas equipes e no fazer profissional.
Um Sujeito (T) aberto à intersubjetividade. Na interdependência hologramática, onde a parte
está no todo e o todo inscrito nas partes, são produzidas novas lógicas de ação que
possibilitam o trabalho transdisciplinar na equipe.
O Sujeito (T) organiza o sistema pela dialógica entre os pares de contraditórios numa
triangulação, no mesmo momento do tempo (A, não-A e T): Sujeito /coletividade/T;
saúde/doença/T; público/privado/T; manicomiais/antimanicomiais/T, integrando-os na
unidualidade como complementares (Morin, 2002).
O CAPS na Reforma Psiquiátrica – O Contexto Político/Social e Local
Os Centros de Atenção Psicossocial CAPS (Portarias 336/2002 e 189/2002) são
serviços públicos substitutivos ao modelo hospitalocêntrico. A proposta de trabalho é o
atendimento intensivo e humanizado ao portador de sofrimento psíquico grave e a
constituição de redes cuidadoras (Brasil, 2004). Opõe-se ao sistema de isolamento e
37
institucionalização do “louco”. É um serviço onde os trabalhadores podem exercer o
acolhimento, a escuta e a significação de uma relação com o Sujeito usuário na perspectiva da
alteridade.
Neste universo em transformação a partir da política de Reforma Psiquiátrica, que tem
diretriz antimanicomial, processos de ordem/desordem, avanços/retrocessos e novas
organizações. Os trabalhadores nos CAPS realizam projetos e intervenções, muitas vezes, sem
o dimensionamento do sistema complexo do qual fazem parte. Sentimentos de impotência e
adoecimentos são gerados pelas frustrações de uma prática com fins teleológicos quando
trabalham na direção da cura/saúde mental, compreendida como organização de uma
desordem psíquica e ajustamento ao padrão estereotipado de normalidade. Em contrapartida,
apesar dos movimentos de contra-reforma, as lógicas antimanicomiais produzem novos
paradigmas nos processos de subjetivação de trabalhadores, usuários e na sociedade.
A equipe multiprofissional, objeto de pesquisa pertence a um CAPS localizado em
município da região metropolitana do Estado do Rio Grande do Sul, e é composta por:
psiquiatra, psicóloga, assistente social, terapeuta ocupacional, enfermeira, fonoaudióloga e
técnica de enfermagem – seis profissionais de nível superior e um funcionário de nível médio.
Participou também da pesquisa uma psicóloga que coordena a saúde mental do município. Os
trabalhadores da área administrativa, da portaria e da limpeza atendiam outros dois serviços
de saúde mental que se localizavam no mesmo espaço físico. O CAPS faz parte de uma rede
que inclui um hospital geral, a atenção básica e os serviços de saúde mental: “ambulatório”
em saúde mental, o CAPS e um centro de atendimento à criança e ao adolescente.
CAMINHO TRANSDIALÓGICO – Um Método Recursivo e Auto-Eco-Organizador
O delineamento da pesquisa propiciou a análise dos processos interativos e
interdependentes entre os participantes da pesquisa, as concepções e paradigmas que
percorrem o imaginário simbólico dessas relações entre/através/além dos Sujeitos, dos
38
Sujeitos-trabalho, dos Sujeitos-políticas públicas, juntamente com os aspectos facilitadores
e/ou dificultadores dessas práticas. Um olhar transversalizado sobre os processos recursivos,
de retro-alimentação e auto-eco-organização que caracterizam o fenômeno nas relações de
interdependência com o contexto.
Descrevemos abaixo os princípios do método (Morin, 2002a, p.93-96) para auxiliar a
compreensão/explicação dessa tessitura:
Princípio sistêmico ou organizacional, que liga o conhecimento das partes ao
conhecimento do todo;
Princípio “hologrâmico”, em que a parte está no todo, assim como o todo está inscrito
nas partes;
Princípio do circuito retroativo, em que a causa age sobre o efeito e o efeito age sobre
a causa, modificando-a, gerando um novo efeito (retroação auto-reguladora);
Princípio do circuito recursivo, em que os produtos e os efeitos o eles mesmos
produtores e causadores do que os produz;
Princípio da autonomia/dependência entre Sujeito/indivíduo/ambiente (auto-eco-
organização);
Princípio dialógico união entre ordem e desordem gera novas organizações; idéias e
ações antagônicas, complementares ou concorrentes formam novas sínteses;
Princípio da reintrodução do conhecimento em todo conhecimento, revelando o
problema cognitivo central: da percepção à teoria científica, todo conhecimento é uma
reconstrução/tradução feita por uma mente/cérebro em uma cultura e época
determinadas.
Na recursividade entre teoria/prática, conhecimento/desconhecimento do objeto
pesquisado, a palavra organização distinguiu-se e sustentou a produção de conhecimento a
partir de um Sujeito pesquisadora auto-eco-organizada, que estabeleceu movimentos de
39
retroações, recursividades e novas organizações com o objeto pesquisado, em consonância
com a teoria sistêmica.
Para Morin (2005a), as diversas definições de sistemas do século XVII incluíam a idéia
de que uma unidade global é constituída pela inter-relação entre as partes. Entretanto,
ancorado na concepção de Saussure (1931), acrescenta que, além da totalidade organizada e
da interconexão das partes em função de seu lugar nesse conjunto, é preciso ligar totalidade à
inter-relação pela idéia de organização. “A ordem era a noção que, aniquilando todas as
outras, tinha aniquilado também a idéia de organização” (Morin, 2005a, p.123). Resgata-se,
então, o aspecto dinâmico dos sistemas.
Assim, uma lógica organizadora que perpassa nossas discussões e que organiza a
relação sistêmica da pesquisadora enquanto observador/ator/conceptor/observado com o
objeto pesquisado e da circularidade entre outros papéis, como trabalhadora e gestora em
saúde: o Sujeito exerce o seu fazer a partir de suas lógicas, de um saber disciplinar, em um
processo individual e/ou grupal, reconstrói lógicas no processo interdisciplinar das equipes
lógicas que, recursivamente, podem se transformar em paradigmas. Estes são constituídos por
um certo tipo de relação lógica extremamente forte entre noções mestras, noções chave e
princípios chave (Morin, 2003).
Ratificando nosso exercício de um pensamento complexo, o delineamento de pesquisa a
partir dos sete princípios do todo proposto por Edgar Morin (2002) veio pelo exercício no
“conhecimento do conhecimento” e por um caminho metodológico através da atividade
pensante. Um percurso na integração de um Eu-Sujeito-pesquisadora: um caminho
transdialógico. O Sujeito (T) triangula o diálogo, como diz o prefixo “trans”: entre, através e
além de múltiplas lógicas. “O objetivo do todo, aqui, é ajudar a pensar por si mesmo para
responder ao desafio da complexidade dos problemas” (Morin, 2005, p.36).
40
Propomos a transdialógica, que é a inclusão do Sujeito (T) na dialógica entre os pares
de antagônicos, contraditórios e concorrentes. O exercício da dialógica encontra dificuldades
quando os Sujeitos dialogam a partir da lógica clássica, do terceiro excluído e dessa
separabilidade entre Sujeito e objeto. A intersubjetividade desde a transdialógica possibilita a
integração dos saberes pelo Sujeito (T) na escuta das lógicas singulares entre os trabalhadores
e trabalhadores/usuários.
Traduzindo a lógica da pesquisadora:
A coleta dos dados foi realizada através da observação participante (Anguera et. al.,
1995) no espaço físico do CAPS e em atividades externas realizadas com os trabalhadores. O
foco principal foram as quatro reuniões da equipe multiprofissional, que foram gravadas. Na
última, foi realizado um processo reflexivo com os trabalhadores, proposto pela pesquisadora.
Além das reuniões, a pesquisadora participou de visitas domiciliares e contato com o
Programa Saúde da Família, assembléia de usuários, reunião da Associação de Usuários,
reunião geral da saúde mental e das atividades cotidianas, como: atendimentos, oficinas,
almoços e conversas no cafezinho. Também foi utilizado o registro em diário de campo e a
consulta a documentos (projetos, textos, correspondências e atas das reuniões).
No processo reflexivo, foi traduzida à equipe multiprofissional a lógica da pesquisadora
acerca de um espaço transdialógico entre os participantes. Contextualizamos a integralidade
na Política Pública de Saúde remetida à idéia sistêmica e comentamos a proposta de
organização dos CAPS em modalidades de atendimento intensivo, semi-intensivo e não-
intensivo e seus respectivos financiamentos. Foi feita uma pergunta aos trabalhadores que
emergiu das observações sobre o seu fazer no serviço, unida ao objetivo de compreender a
ativação da integralidade: como acontece a organização do processo de trabalho neste CAPS?
41
A análise dos dados traduz os processos interdependentes entre os Sujeitos participantes
da pesquisa, pesquisadora e o contexto. Segue a organização dos dados para contemplar essa
tradução:
1º Passo – Transcrição das gravações das quatro reuniões.
2º Passo – Distinção de quatro sistemas.
Na análise dos dados percebemos que no sistema complexo da saúde, existem sistemas
que dialogam a partir de um conjunto de saberes e lógicas e em função de seus lugares nessa
totalidade. Nele o sistema Sujeito ocupa um lugar central na relação de interdependência com
outros sistemas coletivos. É um sistema multidimensional e multirreferencial, que institui a
auto-eco-organização a partir de lógicas que geram processos de trabalho, movimentos e
novas organizações, ou seja, um Sujeito que institui dinâmicas no sistema. Então,
discutiremos quatro sistemas compreendidos e explicados pela pesquisadora:
- Sistema Sujeito/Alteridade: na dinâmica do fazer profissional/disciplinar representa
a instância subjetiva de cada trabalhador em saúde na sua tarefa de trabalho. Uma tarefa
realizada em direção a outro Sujeito, na equipe e na atenção ao Sujeito usuário. “Os Sujeitos
se auto-organizam em relação a outros Sujeitos” (Morin, 2002, p.78).
- Sistema Sujeito/Outro Equipe: na dinâmica do fazer profissional/disciplinar
representa a intersubjetividade no processo interdisciplinar. Remete à inter-relação entre o
fazer profissional/disciplinar na interação com os outros trabalhadores constituintes da equipe
e suas distintas profissões/disciplinas. Traduz o processo interdisciplinar de um fazer
profissional sujeitado pela inter-relação entre os diferentes níveis de percepção do Sujeito e de
realidade do objeto e pela transversalização entre teoria e a prática.
- Sistema Sujeito/Nós Serviço: na dinâmica do fazer profissional/disciplinar, que,
além de intersubjetivo e interdisciplinar, também é intersetorial. Existe a relação com outros
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profissionais/atores de outros sistemas governamentais e não governamentais inseridos em
outras políticas públicas, como educação, assistência social e cultura. Sistema Sujeito articula-
se com o sistema serviço e referencia o pensamento ao conjunto representado pelas pessoas,
grupos, estrutura física e culturas institucionais.
- Sistema Sujeito/Coletividade Política Pública: na dinâmica do fazer
profissional/disciplinar, na intersubjetividade, na interdisciplinaridade, na intersetorialidade e
na coletividade. Política pública em saúde quando compreendida como um sistema permeável
em movimentos de abertura e fechamento. O Sujeito está na coletividade, assim como a
coletividade encontra-se representada no Sujeito, e uma transversalidade na
interdependência dos sistemas entre si. Conforme o esquema abaixo, compreendemos que a
Política Pública somente se concretiza através de Sujeitos (T) que instauram as instituições na
conjugação circular entre conhecimentos e ação. Entre o subjetivo e o político, há uma
recursividade nos modos de produção dos sistemas e modos de subjetivação. O sistema
Sujeito é contextualizado na cultura.
Fig. 3: Esquema Ilustrativo de Sistema Sujeito/ Coletividade - Política Pública
43
O sistema Sujeito/Alteridade é concebido no centro da reorganização e reorientação do
modelo de atenção à saúde, compreendendo-o, assim, como parte constituinte, produto e
produtor do sistema de saúde e da política pública. É um Sujeito sociohistórico que participa
da produção em saúde coletiva e constrói condições para ela.
Fig. 3: Dinâmica Recursiva e Organizacional
3º Passo: Análise dos Dados
Na tradução dos dados, a pesquisadora oscilou entre a lógica linear (temporal e
teleológica) e a transdialógica. Na linear, a interpretação pressupõe a sucessão no tempo a
partir da tríade hegeliana tese, antítese e síntese. Na transdialógica, tem-se o “aqui e agora”
da pesquisadora com o objeto pesquisado. Ocorre uma circularidade retroativa do observador
na sua observação, incluindo-se enquanto observado na sua concepção. também o
reconhecimento dos Sujeitos participantes enquanto Sujeitos (T) e da emergência da
inventividade e da criatividade de todos (Morin, 2003).
A análise compreendeu quatro níveis de realidade/percepção no processo de
organização dos dados.
44
1º Nível de Realidade/Percepção - Primeira Distinção: Inter-relações – Princípio da
Recursão Organizacional
Nas transcrições das reuniões, traduzimos nas falas dos trabalhadores a distinção entre
os quatro sistemas: Sistema Sujeito/Alteridade; Sistema Sujeito/Outro – Equipe; Sistema
Sujeito/Nós Serviço; Sujeito/Coletividade - Política Pública. Neste primeiro nível,
operacionalizamos a distinção das características que pertencem a cada sistema pela diferença
com os demais em uma dinâmica recursiva e organizacional. Após essa primeira distinção, na
sistematização das conversações em tabela de cada um dos sistemas, observou-se que o
Sistema Sujeito/Alteridade ficou sem anotações.
Percebemos, então, que o Sistema Sujeito/Alteridade o pode ser separado dos outros.
Emerge a contradição na lógica da pesquisadora, que, num primeiro momento, foi percebida
pela racionalização como erro por separar esse Sistema. Para Morin (2002d) a racionalização
é a doença da razão e é fechada; já a racionalidade é aberta. Num segundo momento, pela
racionalidade percebe-se que somente a partir da distinção desse Sistema em relação aos
outros é que houve possibilidade de unificação. Aqui aparece a diferença entre o paradigma
cartesiano/mecanicista, que separa e reduz, e o paradigma complexo, que distingue e une.
Abriram-se, assim, espaços para a criação de estratégias e movimentos de auto-eco-
organização por uma ruptura lógica: desde uma computação cognitiva (Morin, 2002a), que
acreditava separar o sistema Sujeito do objeto no processo de conhecimento, para uma nova
organização, que pressupõe modificações no imaginário da pesquisadora.
Em um primeiro momento, a lógica clássica/cartesiana opera na subjetividade da
pesquisadora e, após “uma emergência reflexiva, que permite o retorno da mente a si mesma,
em circuito”, emerge a qualidade do Sujeito, que é a consciência para Morin (2002, p.126). É
pela reflexão na ação que a pesquisadora se coloca em outro nível de realidade e se inclui
como um Sujeito (T) na interação com os dados. Dialogicamente, também se inclui a
percepção dos participantes como Sujeitos (T).
45
Nível de Realidade/Percepção - Segunda Distinção: Interações entre os Sistemas a
partir do Sistema Sujeito – Princípio Dialógico
Nesta segunda distinção, que é decorrência da primeira, um movimento de
reorganização na produção do conhecimento por um pensamento compreensivo/explicativo
dos dados a serem interpretados.
Pela observação, no mesmo momento do tempo (Nicolescu, 2001, 2005), da
pesquisadora Sujeito (T) com suas percepções na identificação com os participantes como
trabalhadora em saúde/gestora (A é A) e na sua distinção dos mesmos no sistema pelo papel
de pesquisadora (A não é não-A), ocorreu uma reorganização metodológica da pesquisa. É na
interação entre as partes dos sistemas e dos sistemas entre si que ocorrem novas produções e
emergências. Essas emergências são as qualidades do sistema (Morin, 2005).
Pelas emergências na observação das ações dos participantes da pesquisa, desvelou-se a
compreensão/explicação das práticas pelas lógicas subjacentes a elas. Surgiram dificuldades
na tradução dos dados pela interpretação analítica e/ou dialógica, revelando-se a abertura para
a focalização nas recursividades entre Sujeito e suas organizações, seja no fazer individual, na
equipe, no serviço e na política pública. Essa abertura preexistia na escolha do delineamento
da pesquisa.
O caminho transdialógico foi produzido e produziu a subjetividade da pesquisadora
diante desses impasses metodológicos e dessa abertura cognitiva para o desconhecido.
Ocorreu outra ruptura na lógica da pesquisadora quando se desvelou na ação a
inseparabilidade dinâmica entre as lógicas cartesiana e dialógica. Pensamos que, atualmente,
as dificuldades dos Sujeitos em operar dialogicamente a partir de conhecimentos estruturados
numa lógica cartesiana podem advir da não-percepção dessa coexistência e inseparabilidade.
Nossa racionalização cartesiana admite a complexidade na observação dos fatos. Contudo, é
através da experiência prática e a partir do Sujeito (T) na emergência reflexiva sobre ela que
podemos reformar o pensamento e unir o que está disjunto (Morin, 2002).
46
Nível de Realidade/Percepção - Terceira Distinção: Integração dos Sistemas
Princípio Hologrâmico ou Hologramático
Compreendemos a integração dos quatro sistemas a partir do princípio hologrâmico,
onde a parte está no todo, assim como o todo está inscrito nas partes (Morin, 2002a). O
trabalhador em saúde, na sua ação, revela sua pertença ao Sistema Sujeito/Política Pública
Coletividade no seu fazer profissional, no fazer da equipe ou do serviço. Da mesma forma,
nas discussões e proposições da política pública, encontram-se os saberes e conhecimentos
advindos dos Sujeitos trabalhadores nas suas práticas. Pensamos que, nessa integração,
emerge o Princípio da Incerteza trabalhado por Morin (2002a, p.126): “Eu falo, mas, quando
falo, quem fala? Sou ‘Eu’ quem fala? Será que, por intermédio do meu ‘eu’, é um nós que
fala?”.
Refletimos sobre a organização da saúde e a saúde da organização, em que Sujeitos
previamente organizados por conceitos e lógicas do fazer em saúde, no desafio da integração
entre os saberes, realizam ativações recursivas entre desorganizações e novas organizações no
processo de atenção integral ao Sujeito usuário. Essa recursividade entrelaça aspectos que
organizam o fazer profissional, a equipe, o serviço, a política pública e que produzem e
reproduzem aspectos saudáveis e não-saudáveis nesses sistemas.
4º Nível de Realidade/Percepção: Quarta Distinção – A Transdialógica
É a nossa leitura/tradução/reconstrução na reintrodução do conhecimento no
conhecimento para compreender a integração entre os sistemas Sujeito/Alteridade,
Sujeito/Equipe, Sujeito/Serviço e Sujeito/Política Pública, a partir de uma lógica
transdisciplinar. O exercício permanente da pesquisadora foi refletir sobre suas lógicas e suas
ações, como Sujeito (T), compreendendo que cada um dos Sujeitos (T) participantes também
ocupa esse lugar nos seus processos de auto-eco-organização.
47
DIÁLOGOS TRANSDIALÓGICOS – Desvelando contradições
Na organização dos quatro veis de realidade/percepção, compreendemos que os três
primeiros estão relacionados aos três princípios inicialmente revelados por Morin (1991):
Recursão Organizacional, Dialógico e Hologrâmico. Metodologicamente e numa tradução a
posteriori, fizemos essa integração.
Em 2002a, Morin reorganizou esses três princípios em sete, anunciados anteriormente.
Na compreensão de que esses três princípios incluem os outros, emerge a consciência de que,
na complexidade dos fatos, é impossível analisar os dados a partir de um único princípio.
Assim, refletimos sobre a dinâmica de organização e/ou desorganização de um Sujeito
que, sujeitado a um contexto, seja ele intrapsíquico, inter-relacional e/ou inter-institucional,
também sujeita o contexto a sua lógica um sofrimento psíquico, um mal-estar na submissão
e dificuldades no diálogo com outras lógicas, seja no fazer individual ou coletivo. Na
exigência de um olhar a si, ao outro e à coletividade, necessita integrar ou, pelo menos,
distinguir as lógicas que co-operam num determinado contexto.
No serviço pesquisado, a reunião de equipe, como espaço privilegiado de
transversalidades entre a teoria e a prática, acontece semanalmente. Num primeiro momento,
é realizada a organização da reunião, quando são agendados os assuntos gerais e os casos a
serem discutidos. Esse é o momento em que a organização do Sistema Sujeito/Outro - Equipe
interage e voz ao Sistema Sujeito/Alteridade na eleição dos assuntos e dos casos a serem
discutidos, dinamizando a circularidade entre estes dois e os outros sistemas - Sujeito/Nós
Serviço e Sujeito/Coletividade Política Pública. Esta dinâmica recursiva e sistêmica tem
como organizadores as lógicas da Reforma Psiquiátrica.
A agenda é realizada a partir de necessidades individuais e/ou coletivas que imprimem
uma dinâmica nesse processo intersubjetivo e interdisciplinar. Observou-se que, na reunião de
equipe no CAPS há um organizador que é a situação de “urgência” ou não, no atendimento ao
48
usuário, e como decorrência, surgem os questionamentos quanto aos critérios e procedimentos
na atenção. Entretanto, na maioria das vezes, a discussão não resulta em definições ou
encaminhamentos quanto à organização do processo de trabalho a partir de uma compreensão
complexa/sistêmica..
No contexto da quarta reunião, no processo reflexivo, objetivou-se a reflexão sobre a
dinâmica do processo de trabalho, na inclusão dos Sujeitos e suas lógicas, como operadores e
co-operadores na organização do serviço. A equipe comentou sobre suas dificuldades e
avanços na ativação da integralidade no serviço. Aparece na fala dos Sujeitos trabalhadores e
nas observações feitas pela pesquisadora que existe muito investimento em direção da
ativação da integralidade na atenção ao usuário. Também apareceram divergências entre os
participantes quanto aos conceitos do que é um CAPS, sobre formas de funcionamento do
serviço e relacionamentos com a rede de saúde.
Apesar destes investimentos, diálogos que o se integram na realização e
organização das tarefas devido aos diferentes conceitos e idéias dos trabalhadores. Existem
hiatos entre o Sujeito do discurso e a ação do Sujeito, seja no fazer individual ou no fazer
coletivo.
Após este momento de reflexão, a pesquisadora permaneceu na reunião de equipe,
observando que as discussões prosseguiram com os Sujeitos trabalhadores operando suas
tarefas pela lógica cartesiana, que não interliga as partes no todo, ficando “negada” a
organização e a interdependência entre os sistemas, e, assim, cada parte é vista
separadamente. Sem organização, não há possibilidade de desenvolver olhares e práticas
integrais. O sistema apresenta pouca mobilidade e com relações estereotipadas.
Surgiu, então, um impasse na lógica da pesquisadora traduzido por estes
questionamentos: como explicar a ativação da integralidade e como lidar com a impotência de
não encontrar a “cura” para os problemas da equipe? Após esta primeira racionalização, a
49
pesquisadora compreende esta outra contradição em sua computação lógica: estava operando
a partir da lógica clássica e olhando para a doença” da equipe. Utilizando as contradições
(“brechas lógicas”) enquanto espaço de construção (Morin, 2001b, 2002b), a pesquisadora
desvela a complexidade do contexto.
Lógica da Doença/Lógica Disciplinar e/ou Lógica da Integralidade/Lógica
Transdisciplinar
Observamos que coexistem no contexto do serviço e da equipe a co-operação de duas
lógicas. Nas bibliografias sobre a reorientação do modelo de atenção à saúde, existe alusão às
práticas orientadas pela doença, que devem ser modificadas para as práticas integrais. O que
fizemos nesta investigação foi traduzir e explicitar alguns elementos das lógicas subjacentes a
esses dois modelos.
Compreendemos/explicamos que a ativação da integralidade ocorre no processo de
unidualidade entre a lógica disciplinar/lógica da doença e a lógica transdisciplinar/lógica da
integralidade na organização do fazer profissional/disciplinar, na organização dos processos
de trabalho e na organização da política pública.
A lógica da doença é uma decorrência da lógica disciplinar e do paradigma cartesiano.
Está diretamente vinculada a uma visão dicotômica do mundo que traz em seu escopo a
separação entre Sujeito e objeto e os procedimentos reducionistas que desintegram o todo em
várias partes incomunicáveis entre si.
A lógica da integralidade, que exige um processo intersubjetivo e interdisciplinar para a
realização de ações transdisciplinares, é decorrência de um paradigma complexo. Trabalhar
em serviços públicos em saúde requer um olhar multidimensional, abertura às contradições e
rupturas nas lógicas advindas dos conhecimentos e formações disciplinares. É por meio das
interligações entre as partes, no trabalho em redes, na visão psicossocial e coletiva que o
50
trabalhador exercita a mudança de seu fazer profissional no trabalho em equipes.
Paradoxalmente, aí é que se encontram seus maiores desafios.
As situações oriundas dessa co-operação entre duas lógicas antagônicas, contraditórias,
concorrentes e complementares geram dissonâncias e desencontros entre os trabalhadores e
suas práticas. sofrimentos pela incomunicabilidade entre Sujeitos e pela própria
inconsciência frente a essa incomunicabilidade, pela não-percepção da disjunção e
contradição entre conceitos e idéias não referenciados a seus contextos.
O que parece angustiante no cotidiano dos trabalhadores é que mesmo aqueles que
aceitam a complexidade e exercitam o pertencimento aos sistemas oscilam entre as
possibilidades de criação e instituição de práticas integrais e a reprodução do modelo da
doença. Existem limitações no trabalho coletivo pela diferença entre as lógicas e pela
impossibilidade do trabalhador ocupar o seu lugar egocêntrico quando está identificado com o
“eu” sujeito objetivado. Ou seja, com a identificação com o doente e a doença, a equipe
também adoece.
Compreendemos que a reforma de pensamento e as mudanças nas organizações dos
processos de trabalho estão submetidas a um processo de abertura para a emergência reflexiva
que produzem estremecimentos nas lógicas e conhecimentos estruturados numa lógica
disciplinar. Esta tem como “conhecido” um produto final que, por vezes, é o próprio
adoecimento do trabalhador quando este não ultrapassa a percepção do “erro” e nem
reconhece as contradições.
No serviço pesquisado, evidenciaram-se, em diversos momentos, fatos e
acontecimentos que corroboram as práticas orientadas pelas duas lógicas em uma dinâmica
inseparável.
As contradições emergiram entre as falas e as ações dos trabalhadores: “não existe
diferença entre o psicólogo, o fonoaudiólogo, a pedagoga, a assistente social, o médico”;
51
“enquanto colega, não se procura fazer distinção entre as categorias... embora a coisa fica,
assim, um pouco centrada na psiquiatria”; “a gente estudou assim, aprendeu a trabalhar assim
e o ponto de partida é o psiquiatra”; toda semana tinha material para ler, de repente a gente
estava atendendo só crônicos, todos nós, foi uma mentalidade que a gente desenvolveu
enquanto CAPS”, “eu discordo de que esta equipe tem ainda aquela figura do psiquiatra como
um saber que define”; “eu me referi as situações de urgências ... porque a psiquiatra está com
a agenda cheia, não dá prá esperar até sexta” (Diário de campo - 4ª reunião de equipe).
Houve a defesa de que a relação entre os profissionais não está relacionada ao lugar que
cada um ocupa no sistema; entretanto, no fazer coletivo, o organizador do processo e do
serviço geralmente é a doença. Nos casos de urgências, o usuário é escutado e a consulta
psiquiátrica é agendada, sendo que o usuário a aguarda em casa. Assim, o psiquiatra é
colocado numa posição de saber/poder, pois, no imaginário dos trabalhadores, é quem detém
um saber sobre a loucura/cura e o controle dos riscos, seja ao usuário, seja ao profissional.
A reprodução da lógica reducionista (A é A, A não é não-A) aparece como uma
dificuldade apresentada pela equipe na ativação da integralidade, não havendo a possibilidade
de encontro entre trabalhador/trabalhador e/ou trabalhador/usuário. Um ocupa o lugar de
sujeito; o outro, o lugar de objeto, juntamente com os protótipos e estereótipos dessas
relações. A identificação e/ou a distinção ocorre pela doença, onde - profissional é
profissional, louco é louco -, então, logicamente, profissional o é louco. Não defendemos a
banalização do adoecimento psíquico, mas a aproximação entre as fronteiras pela inclusão de
um Terceiro Termo que seja ao mesmo tempo, profissional e louco. Pensamos que essas
dificuldades remetem à necessidade de os Sujeitos e os grupos manterem-se fechados para
lógicas que ameaçam sua identidade como sistemas (Seminotti et. al, 2006).
Existe também um comportamento que subtrai a possibilidade do diálogo entre as
lógicas expressadas pelos Sujeitos nas ações de suas especialidades/afazeres técnicos que é
52
não reconhecimento das distintas formações disciplinares. Um receio do fechamento nas
“gaiolas disciplinares” (D’Ambrosio, 1997), entretanto, é a partir desse conhecimento que o
profissional pode interdisciplinarizar. Evita-se a reprodução de modelos rígidos e
estereotipados (manicomiais), contudo, tangencia-se o o-cuidado pela inconsciência e
reprodução das lógicas que os produziram. Aqui se ancoram algumas críticas da contra-
reforma.
Concomitantemente, alguns trabalhadores exercitam movimentos recursivos na busca
do atendimento integral e psicossocial. Esse fazer é intenso e sistemático, orientado por uma
vontade responsável no tratamento humanizado. É uma tarefa hercúlea, pois esse caminho é
trilhado em sua própria subjetividade. É um Sujeito que, em sua circularidade dinâmica,
institui seus sistemas de referência e não-referência.
Optamos, por questões lógicas, o transcrever aqui passagens riquíssimas do material
coletado - por uma questão de espaço/tempo e pela compreensão de que as diversas
problemáticas enfrentadas pelos trabalhadores estão interligadas a essas duas formas de
organizações no processo de trabalho: a atenção à doença/lógica disciplinar ou às práticas
integrais/lógica transdisciplinar. Entretanto, encontra-se em anexo alguns fragmentos das
quatro reuniões de equipe (Anexo 1).
Relacionamos também, como resultados da pesquisa, as rupturas/integrações lógicas na
computação cognitiva da pesquisadora:
Inseparabilidade dinâmica entre a lógica disciplinar e a transdisciplinar práticas
estruturadas numa lógica clássica coexistem com práticas estruturadas numa lógica
transdisciplinar no fazer individual e/ou coletivo;
Inseparabilidade dinâmica do sistema Sujeito/Alteridade e os demais sistemas: na
análise dos dados, após a distinção dos sistemas, na identificação de cada um, não foi possível
separar o Sistema Sujeito dos demais;
53
Inseparabilidade dinâmica entre pesquisadora e Sujeitos participantes da pesquisa: a
concepção da pesquisadora enquanto observador/conceptor/ ator/observado possibilitou a
identificação e a distinção com os trabalhadores, seja como participante, trabalhadora, gestora
e pesquisadora, isto é, pelo lugar que ocupou no sistema;
Inseparabilidade dinâmica entre Sujeito e o Grupo; entre o Sujeito e a Coletividade:
na preparação da pesquisa, a pesquisadora no aprofundamento da noção de Sujeito e na lógica
transdisciplinar, oscilou entre pesquisar a equipe ou os Sujeitos; percebendo seus
questionamentos a partir da lógica clássica e dualista, ultrapassou o impasse pela
compreensão entre a recursividade organizacional entre Sujeito e o grupo/Sujeito e
coletividade;
Inseparabilidade dinâmica entre intersubjetividade e afetividade: pela compreensão
intersubjetiva um reconhecimento no outro e pelo outro; a pesquisadora pode reconhecer-
se na equipe e na pesquisa pela circularidade de afetos entre todos os Sujeitos participantes da
pesquisa.
A partir desta percepção de inseparabilidade, a pesquisadora compreende/explica que a
distinção entre Sujeito subjetivo (Eu) e sujeito objetivado (eu) acontece na ação e pelo lugar
que cada um ocupa no sistema. A reflexão na equipe necessita olhar para os processos
intersubjetivos entre os trabalhadores, pois é na ação de atender ao usuário e de trabalhar
coletivamente que podem perceber suas contradições e seus afetos. Principalmente, àqueles
ligados a xenofobia e ao etnocentrismo.
Também é possível explicarmos para compreendermos que a integralidade organiza a
ação transdisciplinar nas equipes multiprofissionais na saúde coletiva e que, recursivamente, a
transdisciplinaridade promove a integralidade e exige que os trabalhadores se subjetivem
enquanto Sujeitos (T).
54
E, sem nos furtarmos à teleologia, entendemos que, através do Sujeito (T), existe a
possibilidade de compor novas integrações lógicas. A pesquisadora enquanto Sujeito (T)
também atuou como mediadora on-line, exercendo a reflexão na ação do aqui e agora, que
possibilitou questionamentos sobre a organização centrada na doença.
Pensamos que os estudos sobre os processos de grupo possam contribuir para o
entendimento de que o trabalho na Equipe Reflexiva, na ação individual e/ou coletiva, possa
ser um espaço de construção de processos e tecnologias transdialógicas na ativação da
integralidade. rios estudiosos grupalistas e dos processos de integração entre os saberes
tangenciaram a idéia de que o grupo pode ser um dispositivo de interligação entre o Sujeito e
a Coletividade. Precisamos desenvolver estratégias que mobilizem os trabalhadores na
constituição dos grupos de trabalho, delimitando objetivos comuns e refletindo sobre as
lógicas subjacentes à tarefa a ser realizada (Azevedo e Souza et al., 2006, Fazenda, 2002,
Japiassu, 1976).
Assim, compreendemos que os aspectos facilitadores da ativação da integralidade nas
equipes multiprofissionais na saúde coletiva são os processos de reflexão transdialógica dos
trabalhadores sobre a organização das práticas e dos serviços, que possibilitam interações
saudáveis ao trabalhador e ao usuário e a reinvenção do cotidiano pela coletividade. Os
aspectos dificultadores desta questão são aqueles que suprimem os Sujeitos e a
intersubjetividade nas relações entre trabalhadores e trabalhadores/usuários; e que o
traduzem o pensamento sistêmico, do contexto e do complexo.
(IN) CONCLUSÕES
Este foi um estudo que se aventurou a encontrar respostas a um importante problema
vivido pelos trabalhadores na saúde coletiva. Quando necessitam trabalhar em equipes
multiprofissionais na reorientação do modelo de atenção integral à saúde, eles encontram
dificuldades em integrar seus saberes disciplinares com a necessidade de processos
interdisciplinares e a lógica transdisciplinar no cotidiano dos serviços.
A compreensão da ativação da integralidade, mote inicial desta dissertação, é um grande
desafio posto aos trabalhadores. Além das dificuldades de aplicação prática desta diretriz no
cotidiano dos serviços, evidencia-se que esta está interligada com as questões de gestão da
política pública e que delas é interdependente. Entretanto, por uma falta de entendimento
sistêmico do SUS, muitas cobranças e grande parte de responsabilização recaem sobre os
trabalhadores, que, em muitos momentos, estão cerceados em suas práticas por dificuldades
administrativas, de recursos humanos, infra-estrutura e de uma rede de cuidados.
A temática pesquisada é assunto complexo e contextualizado. O trabalho em equipes é
uma realidade neste momento de reorientação do modelo assistencial à saúde como um
dispositivo de integração dos diversos saberes existentes nos serviços e desenvolvimento de
tecnologias na realização de tarefas. Esse trabalho coletivo também se encontra afinado com a
proposta da saúde em que os processos de saúde/doença/cuidado são compreendidos na
interligação com as condições sócio-ambientais dos Sujeitos, exigindo olhares
multidimensionais e multirreferenciais.
Houve um momento de contradição na preparação da pesquisa. Esta foi projetada para
ser realizada em um pequeno grupo. Ao longo dos estudos, a pesquisadora oscilou entre
conceitos e noções sobre o Sujeito e sobre os processos grupais. Quando o Sujeito passou a
apresentar-se como uma questão de maior relevância, apareceram questionamentos como:
56
pode ser esta pesquisa concretizada com os Sujeitos e o com o grupo? Esse grupo existe?
Essa contradição expressou-se na pesquisadora pela reprodução da lógica cartesiana que
insiste em polarizar os pares de contraditórios. Ora o valor está no Sujeito, ora no
grupo/coletivo, revelando-se como cegueira paradigmática em relação aos diferentes níveis de
realidade e da inclusão do Terceiro Termo Incluído.
Durante este percurso, inúmeros questionamentos sobre as inter-relações entre os
saberes advindos da prática como profissional da saúde e os saberes produzidos na pesquisa
exigiram da pesquisadora um olhar/pensar reflexivo. Esse entrelaçamento contribui para o
exercício de ocupação do lugar egocêntrico, onde o “Eu” se distinguiu do “eu”
trabalhadora/gestora em saúde e do “eu” pesquisadora.
Assim, aconteceu um exercício de autoria, possibilitado pelo referencial teórico sobre a
complexidade e pela observação da integração entre a lógica cartesiana e a transdisicplinar.
Exercitou-se refletir sobre as atitudes ideológicas e xenofóbicas entres trabalhadores em saúde
quando pautados pela lógica clássica/cartesiana, que hipervaloriza e/ou segrega categorias
profissionais, grupos, Sujeitos.
Os movimentos recursivos entre as organizações na saúde e a saúde nas organizações é
decorrência das circularidades entre as possibilidades saudáveis e de adoecimento dos
trabalhadores que produzem a si, outros Sujeitos e as próprias instituições de saúde.
Observamos que a ambigüidade atual entre a lógica cartesiana e a transdisciplinar nos
serviços de saúde mental está representada pela discussão entre o ambulatório e o CAPS. Essa
distinção o está na nomenclatura dos serviços, mas sim na organização dos processos de
trabalho. Dito de outra forma pode haver equipes trabalhando a partir de uma visão
psicossocial no ambulatório e, num CAPS, com um modelo mais individualizado, sem
integrar as condições sociais nos atendimentos aos usuários e com posturas fragmentadoras e
excludentes.
57
E, mesmo que o trabalho com grupo seja uma estratégia recomendada e intensamente
utilizada nos programas e serviços em saúde, muitos profissionais o m conhecimentos
sobre os fundamentos básicos de como trabalhar em grupos. Esse fato gera ansiedades e
desconfortos. Em alguns casos, esses dispositivos podem ser confundidos com formas de
diminuição de filas e demandas. Atrelados à necessidade desses conhecimentos para a
qualificação nas intervenções, não se descartam os espaços de criatividade e invenção por
parte dos trabalhadores na realização de suas tarefas.
Na realização desta pesquisa, focalizamos nossa atenção sobre os processos de
pensamento e as formas como os trabalhadores organizam suas lógicas e propõem a
integralidade. Existem diversas referências sobre a reflexão nos processos de trabalho,
entretanto, observa-se que, na lógica cartesiana, há a anulação do Sujeito pelo Terceiro Termo
Excluído. Pensar exige um Sujeito. Coincidentemente, a etimologia da palavra “pensar” inclui
cuidar, curar ou tratar. Fica-nos um desafio: encontrar estratégias que propiciem ao
trabalhador que seu pensar como Sujeito (T) modifique sua ação individual e na equipe
multiprofissional, na direção da integralidade. É necessário “pensar no que fazem para fazer o
que pensam, buscando gerar novos mundos e novas vidas (Madres de Plaza de Mayo).
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ANEXOS
Anexo I – Fragmentos Retirados das Quatro Reuniões de Equipe
FRAGMENTOS RETIRADOS DAS QUATRO REUNIÕES DE EQUIPE:
Reunião 17/04/06:
“Eu proponho que a gente fale dos grupos de urgências”.
“Mas são pacientes de urgência e talvez não possam ir para oficinas”.
“Esse grupo surgiu em função das urgências e não oficinas”.
“Eu me proponho a fazer mais grupos; se a pessoa chega com urgência ela precisa de atendimento
imediato; ela joga nos grupos e pelo que eu entendo tem que ter grupo na 2ª e na 6ª”.
“Na próxima reunião ficam os laudos, grupos/ urgências”.
Reunião 24/04/06:
Apresentação de pesquisa CAP-SUL – nesta reunião aconteceu a apresentação de outra pesquisa
que seria realizada no local. Os assuntos foram relacionados a Política de Saúde Mental.
Reunião 08/05/06:
“Querem discutir as urgências?”.
“Quem sabe a gente fala das urgências também já”.
“Das urgências?”.
“Das urgências acho que tem que discutir critérios...”
“Coloco junto com urgências?”.
“Mas é grupo das urgências”.
“Terminamos?”.
“Não, urgências, grupos, critérios, capacitação”.
“Só assim, na minha opinião eu acho que vocês não precisam marcar ela como urgência, vocês
marcaram num horário de urgência”.
“Fora as urgências que a gente precisa discutir”.
“As urgências, acolher aqueles que estão chegando”.
“A idéia não é todas as urgências serem tratadas pelo CAPS?”.
“A idéia é essa, ela vai sendo acompanhada no grupo, foi o que nós combinamos nas urgências,
porque é urgência, a urgência deveria ter sido a escuta da urgência e não a urgência deveria ter ido
por outro caminho”.
“Como é que são as urgências da dependência química?”.
“As urgências de dependência química não é nós que fizemos, se não tiver ninguém e não sei o que
e aquele trololó, então”.
“Se tiver escrito urgência em cima”.
“E mandamos pro ambulatório, não vai mandar a pessoa embora, avalia a situação de urgência, mas
não que vai permanecer no CAPS”.
“Se ela ta bem, é só uma aderência, esses grupos estão enfocando a urgência”.
“Mas urgência é só quando é urgência, quando a pessoa está mal que precisa de uma avaliação
imediata, um acompanhamento”.
“Não, a questão é que urgência é urgência, os grupos tem a sua função.
“Eles fizeram pra mim, fizeram toda uma onda pra tentar atendimento de urgência, como não
conseguiram”.
Reunião 15/05/06:
Questionamento da pesquisadora aos trabalhadores: Como acontece o processo de trabalho neste
CAPS?
“. . . nós temos um serviço de escuta, onde na realidade a gente faz uma triagem, depois nós temos
uma equipe apesar de pequena, muito coesa, as coisas aqui são de maneira muito transparente, nós
trabalhamos de uma forma horizontal, isso eu acho fundamental, onde não existe diferença entre
psicólogo, o fonoaudiólogo, a pedagoga, a assistente social, o médico ...”
“ . . . a gente já tentou fazer uma atenção diária, agora a gente está tentando montar os grupos, a
gente ta assumindo todas as urgências, e a gente está tendo um outro olhar sobre esses pacientes da
urgência que estão chegando pra que eles sejam atendidos não só por mim psiquiatra, mas também
por toda a equipe que esteja atenta a esses pacientes novos e urgentes pra que a qualquer momento
que aconteça alguma coisa com eles, eles tenham retorno pra mim, pra novamente ser reavaliada a
medicação e ser devolvida pra equipe que vai continuar atendendo ele semanalmente, que não deixa
de ser uma forma, uma espécie, não digo uma atenção diária, mas um cuidado mais intensivo para
esses pacientes ...”
“ ... enquanto colegas se procura não fazer distinção entre as categorias no sentido, acho que é
muito mais uma questão pessoal, acho que as pessoas tem um respeito assim pelo trabalho dos
colegas ... embora eu veja que a coisa ainda fica assim um pouco centrada no psiquiatra no sentido
de estudar os casos e isso não é de agora, eu acho que a gente veio assim, que eu percebo que não é
só aqui”.
“ . . . na verdade a gente estudou assim, aprendeu a trabalhar assim, e o ponto de partida é o
psiquiatra e é óbvio em situações de urgência, de preferência ele é o primeiro a chegar, se ele não
está, bom o resto vai fazendo outras coisas e eu acho que na verdade e daí eu me coloco porque isso
também acontece comigo assim, as vezes a gente se sente insegura do que realmente pode estar
fazendo, sem ter digamos assim, as vezes por exemplo uma medicação que vai garantir que a pessoa
vai ficar em segurança, que ela não vai tentar besteira entende ...”
“ . . . eu acho que a gente começou assim como todo mundo, uma coisa muito nova, as pessoas que
estão desde o início, enfim indo nos cursos, lendo material, e a gente tinha assim logo no início
toda semana tinha material pra ler e ainda assim de repente a gente tava atendendo só crônicos,
todos nós, foi uma mentalidade que a gente desenvolveu enquanto CAPS, de atender só crônicos e,
principalmente crônicos, na verdade essa é parte da clientela, então agora a gente ta no processo de
rever isso e de rever também o nosso papel, a questão do perfil, quem é que é o usuário do CAPS
...”
“ . . . eu discordo um pouco no sentido de que esta equipe ainda tem aquela figura do psiquiatra
como um saber que define algumas coisas, eu vejo que essa equipe já rompeu com isso, não sei se
todos, mas eu vejo até nas discussões que a gente faz assim de casos ...”
“... nós sempre sinalizamos a grande importância também, e muitas vezes é imprescindível isso, a
abordagem do psiquiatra, as vezes é a primeira coisa que realmente tem que acontecer . . .”
“Eu queria colocar que eu me referi às situações de urgência ... tem algumas situações de urgência
que se a pessoa, se detectou urgência na escuta e só tem como marcar uma urgência em vez de ser
terça, pra sexta, porque a psiquiatra já tá com agenda cheia e na maneira como eu vejo a coisa não
tem porquê a pessoa esperar até sexta pra ter ela uma abordagem ou ela ta tão grave que o negócio é
mandar para o hospital se não dá pra esperar até sexta ou tem outras coisas que precisam ser feitas
até lá, como trabalhar a família, dizer que cuidados a família tem que ter ... eu queria deixar claro
que eu me referi a questão da urgência
, porque eu acho que a gente está se apropriando agora da
idéia de que a urgência é do CAPS, ela não é da psiquiatra, então, mas bem nesse sentido, de resto
com certeza até porque ela não está aí o tempo todo”.
“ainda fica um pouco em cima da psiquiatria nas questões da urgência, não do resto”.
“E quanto às urgências eu também vi um crescimento aqui no CAPS, de toda a equipe assim, que
como nós trabalhamos que essa é a pergunta que tu estás nos fazendo, a equipe assim, eu to aqui
três anos, e tanto na escuta como no atendimento de urgência, a equipe tá muito mais preparada e
muito menos assustada quando chega um paciente em urgência, uma tentativa de suicídio, uma
agitação psicomotora, enfim, qualquer caso de urgência”.
“realmente é quando precisa, as pessoas o estão mais se assustando com isso, a equipe está
sabendo melhor entender um risco de suicídio, risco de agressão, uma depressão profunda, uma
demência, enfim, casos que realmente necessitam uma urgência, coisa que a três anos atrás, era
qualquer coisa marca pra urgência, agora o pessoal sabe o que fazer, inclusive a gente já ta há horas
tentando marcar um dia que a gente vai conversar sobre isso pra mim falar mais algumas coisas
sobre urgências, riscos, medicações, enfim todas as coisas assim que eu puder contribuir pra equipe
prá ficar mais solidificado alguns conhecimentos psiquiátricos”.
“geralmente eles entram pela urgência e eu faço um primeiro atendimento e deixo pra equipe ficar
como cuidadora nos grupos de apoio assim, que vão cuidando, são grupos cuidadores que vão
olhando, tendo um olhar em cima desses pacientes, e a gente vai fazendo um feedback, uma troca
de idéias assim comigo e com eles, se melhorou, piorou, como é que ta indo, e a gente vai e se
precisa vem antes pra consulta, a gente reajusta a dose de medicação, alguma coisa assim, ou se
precisa uma abordagem terapêutica diferente
“Eu percebo assim que o nosso processo de trabalho no CAPS ele está mudando, mas acho que a
gente ta dentro aí dos princípios do SUS, dentro dos princípios da Constituição, acho que a gente
faz bem, a gente tem uma preocupação profissional, a gente tem uma preocupação no serviço, penso
que isso se dá pelas pessoas que estão aqui, porque na verdade assim, a gente pega junto, não tem o
responsável técnico, talvez isso realmente queira dizer alguma coisa, mas eu percebo que as pessoas
pegam juntas desde a parte burocrática do CAPS até o atendimento individual, percebe-se a
integralidade na equipe, nas reuniões de equipe a gente nota assim que a gente vai, volta e a gente
consegue fazer esse movimento assim, estamos com essa coisa nova da urgência, e já se sabia antes
também, mas de um modo diferente, era o paciente do CAPS que ficava mal, então a gente tratava
mais esses crônicos, isso é uma clientela bem diferente pra nós, penso que a gente ta se
movimentando talvez um pouco devagar, mas a gente tá conseguindo fazer isso, ta conseguindo
discutir em equipe, a organização da política de saúde ali talvez sim a gente deve um pouco, mas
acho que não se tem tempo pra tudo... mas acho que não se tem tempo pra tudo, na verdade essa
equipe, é uma equipe, mas ela tem profissionais que tem 10 horas, tem profissionais que estão, é
uma equipe pequena, se tu olhar bem, bem, ela não está como deveria estar, pra funcionar 8horas,
com atendimento integral. . . penso que a gente ta dentro disso aí, só com algumas coisas
evidentemente técnicas, tem que poder fazer aquele intensivo, semi-intensivo e não-intensivo”.
“ . . . acho que tem que ser investido alguma coisa na questão administrativa, porque a gente vai lá
na ponta desde a recepção, a gente faz trabalho burocrático, a gente anda, não fica ali só na salinha
atendendo, não se faz só isso, a gente faz muito aqui eu percebo assim, se não tiver ninguém na
recepção tu faz FAA, tu abre prontuário, tem muita coisa ainda bagunçada que é do trabalho
burocrático, é uma equipe que se empenha em fazer”.
“. . . Eu na verdade caí aqui como um pato, que eu não sabia e nunca tinha ouvido falar em CAPS
na minha vida, daí cheguei aqui e tal, fui ficando”.
“. . . nós estamos falando como diz ali, de uma reorientação do modelo assistencial, que a
gente costuma dizer que está centrada no médico, mas não é no médico é na doença”.
“Na doença, eu já falei isso várias vezes”.
“O plano de trabalho, na verdade, digamos assim talvez política, talvez usando a palavra
política assim, mas quais o os nossos objetivos, porque assim tem a legislação do CAPS que
diz mais ou menos o que fazer, só que cada lugar é um lugar, cada cidade é uma cidade, tem cidades
que tem mais recursos, tem cidades que tem menos recursos, não financeiros, mas cidade que
tem, por exemplo que a comunidade é por si é mais unida, isso facilita alguns grupos de
inserção, do próprio usuário ou até da gente na comunidade pra conseguir fazer uma troca”.
“. . . daí claro o plano individual do usuário de alguma maneira vai tangenciar isso, e eu
acho que isso faz falta, até porque a gente tem usuários que estão aqui bastante tempo, e até
porque se nós desligamos daqui aonde essa criatura vai, então pelo menos aqui ele está sendo
atendido, está olhado, até digamos assim a gente desvirtua um pouco o que é um CAPS, mas em
compensação o usuário está cuidado, está assistido”.
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