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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
ANGÚSTIA E FANTASIAS RELACIONADAS AO PACIENTE
CARDÍACO CIRÚRGICO
Dissertação de Mestrado
JOSSIELE FIGHERA
Profª. Drª. Maria Cristina Poli
Orientadora
Porto Alegre, junho de 2006
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
ANGÚSTIA E FANTASIAS RELACIONADAS AO PACIENTE
CARDÍACO CIRÚRGICO
JOSSIELE FIGHERA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da Faculdade de
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Mestre em Psicologia Clínica
Profª. Drª. Maria Cristina Poli
Orientadora
Porto Alegre, junho de 2006
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Jossiele Fighera
ANGÚSTIA E FANTASIAS RELACIONADAS AO PACIENTE
CARDÍACO CIRÚRGICO
COMISSÃO EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria Cristina Poli
Presidente
Profa. Dra. Bárbara de Souza Conte
Núcleo de Estudos Sigmund Freud
Profa. Dra. Liliane Seide Froemming
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
4
Ao meu noivo Guilherme, por todo
o apoio e carinho recebidos durante
esta caminhada.
5
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, professora Dra. Maria Cristina Poli, por aceitar uma iniciante na
psicanálise, incentivando a pesquisa e motivando a seguir sempre em frente, apostando na minha
capacidade e me ensinando a enxergar as coisas de uma outra maneira.
Às colegas de mestrado pela amizade, pelas conversas e pela receptividade em acolher
uma ‘estrangeira’ na cidade.
Aos professores e as secretárias do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, sempre
tão solícitos quando precisei de ajuda.
Às colegas do grupo de Pesquisa em Psicanálise Bruna Pinto, Carla de Barros Menegat,
Grasiela Cecatto, Maria Beatriz Tuchtenhagen, Maria de Lourdes Scarparo, Priscilla Cairoli e
Renata Beatriz da Silva por todo o companheirismo nesses anos tão importantes de nossas vidas.
À toda a equipe do Instituto de Cardiologia Fundação Universitária de Cardiologia do
Rio Grande do Sul, aos profissionais que compõe o grupo de preparação psicológica aos
pacientes cirúrgicos, a toda a equipe do Serviço de Psicologia Clínica, por terem me aceitado de
braços abertos, confiado no meu trabalho e me acolhido carinhosamente em sua sala.
Ao meu noivo, Guilherme, por me fazer seguir em frente quando minha vontade era de
parar, por me fazer pensar no futuro quando o presente não estava dando certo e por sempre estar
ao meu lado, mesmo que não fisicamente, nos momentos mais difíceis.
À minha família, que mesmo estando longe, incentivou e investiu em um sonho que agora
está se tornando realidade.
MUITO OBRIGADA
6
RESUMO
Foram elaborados dois artigos para a composição dessa dissertação de mestrado. O primeiro tem
como objetivo buscar, a partir dos fundamentos desenvolvidos por Freud e retomados por Lacan,
uma maior compreensão dos conceitos de angústia, fantasia e corpo em sua relação com
pacientes cardíacos cirúrgicos. Evidenciamos, ao longo deste trabalho, a importância da função
das fantasias como forma de conter a angústia dos pacientes em situação cirúrgica. Destacamos
também a questão do corpo e da imagem corporal, visto que esses pacientes são submetidos a
procedimentos agressivos e invasivos e têm seu corpo manipulado por uma equipe médica. São
apresentadas algumas pesquisas atuais que mostram algumas questões relevantes sobre o tema.
Entretanto, percebemos que ainda existem poucos trabalhos que utilizam o referencial
psicanalítico como uma tentativa de integrar conceitos da psicanálise com a cirurgia cardíaca. No
segundo artigo procuramos registrar as narrativas de pacientes cardíacos sobre a intervenção
cirúrgica em situação de internação hospitalar. Este entendimento ocorreu com base na realização
de entrevistas semi-dirigidas com os pacientes e na observação dos grupos de pacientes no
período pré e pós cirurgia cardíaca. Alguns elementos se destacaram nesta pesquisa: o período
pré-cirúrgico, a relação entre religiosidade e medicina, sintomas e fantasias, a hospitalização e o
sentimento de dependência, o período pós-cirúrgico e a Unidade Pós Operatória e a manipulação
do corpo e anestesia.
Palavras-chave: angústia; fantasias; imagem corporal; psicanálise; cirurgia cardíaca
Área conforme classificação CNPq:
7.07.00.00-1 (Psicologia)
Sub-área conforme classificação CNPq:
7.07.10.00-7 (Tratamento e Prevenção Psicológica)
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ABSTRACT
Two papers were elaborated to compose this Master’s dissertation. The first has as objective to
find, based on Freud beddings and retaken by Lacan, a better comprehension on anguish, fantasy
and body in its relation with cardiac surgical patients. Along the study, we evidenced the fantasy
importance as a way to contain the anguish in patients in surgical situation. It was also standed
out the body and corporal image issue, since these patients are submitted to aggressive and
invasive procedures and have his/her body manipulated by a medical staff. Some currency
surveys that show some relevant questions upon the subject are shown. However, we noticed that
there are few studies that use the psychoanalytical reference as a way to integrate the
psychoanalysis concepts with heart surgery. In the second paper we tried to register the
cardiopath patients narratives upon the surgical intervention in a hospital internment situation.
This understanding was based in semi-directed interviews with the patients and on patients’
groups’ observation in pre and post cardiac surgery. Some elements were standed out in this
research: the pre-surgery period, the relation between religiosity and medicine, symptoms and
fantasies, the hospitalization and the dependency felling, the post surgery period and the Post-
Surgery Unit and the body manipulation and anesthesia.
Key-words: anguish, fantasies, corporal image, psychoanalyze, cardiac surgery.
8
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO……………………………………………………………........…
1. PROJETO DE DISSERTAÇÃO DO MESTRADO: “Angústia e Fantasias
Relacionadas ao Paciente Cardíaco Cirúrgico”………………………………................
2. APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA PUCRS…......…
3. APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO INSTITUTO
DE CARDIOLOGIA - FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DE CARDIOLOGIA
DO RIO GRANDE DO SUL……………………………………………………....……
4. ARTIGO DE REVISÃO DE LITERATURA: “Corpo, angústia e fantasias: um
olhar da psicanálise sobre o paciente cardíaco cirúrgico”.………………………………....
5. ARTIGO EMPÍRICO: “O sujeito frente à cirurgia cardíaca: lidando com
o desconhecido”……………………………………………………………………………
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………….......………
ANEXOS……………………………………………………………………….........……
ANEXO A – Resolução nº 002/2004 do Programa de Pós-Graduação
em Psicologia………………………………………………………………………………
ANEXO B – Normas de publicação da Revista “Estudos de Psicologia”…………
ANEXO C – Normas de publicação da Revista “Psicologia: Ciência e
Profissão”……………………………………………………………………………………
9
Ponte Poesia
(Instituto do Coração: Ponte de Safena)
Na sala fria
a mesa branca e impessoal
rodeada de vultos brancos
e indefinidos
que cifravam em linguagem curta o exato início da cirurgia
Na horizontal
a nudez de minha intimidade
mostrava
a impotência de minha vontade
perante os profetas da sobrevivência
Na embriaguez da anestesia
pretendo avisar
- quando abrirem meu peito
e tiverem meu coração nas mãos
por favor
não deixem cair meus poemas pelo chão, pilheriando
sobre poetas e sentimentos
Sylvio de Barros Reis
Borrador
1982
10
APRESENTAÇÃO
Esta dissertação de mestrado está inserida no Grupo de Pesquisa em Psicanálise
coordenado pela Professora Doutora Maria Cristina Poli, na Linha de Pesquisa Intervenções em
Psicologia Clínica, no Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Esta é uma produção referente aos
estudos sobre “A Construção da Fantasia” do Grupo de Pesquisa em Psicanálise. Esse tema
surgiu do interesse em investigar as narrativas de pacientes cardíacos sobre a intervenção
cirúrgica, bem como a relação da angústia e da fantasia com a situação de doença e necessidade
de intervenção cirúrgica.
Tomamos como ponto de partida o referencial teórico de Freud e retomado por Lacan, em
que buscaremos uma maior compreensão dos conceitos envolvendo corpo, angústia e fantasias
em sua relação com pacientes cardíacos cirúrgicos. Especificamente, quando trata dos aspectos
psicológicos envolvendo a cirurgia cardíaca, baseia-se nas idéias de autoras como Romano
(1998/2001) e Ruschel (1989/1994/2000), que muitos anos trabalham e escrevem sobre o
assunto.
Para executar esta dissertação, se elaborou um projeto de pesquisa intitulado “Angústia e
Fantasias Relacionados ao Paciente Cardíaco Cirúrgico”, aprovado pela Comissão Científica da
Faculdade de Psicologia da PUCRS e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS. Também foi
avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Cardiologia Fundação
11
Universitária de Cardiologia do Rio Grande do Sul. A partir do projeto, foram elaborados dois
artigos a serem submetidos à publicação em periódicos científicos, de acordo com a Resolução n°
002/2004 de 25/03/2004 do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (anexo A), que refere a
exigência de elaboração de um artigo de revisão de literatura pertinente ao tema pesquisado e um
artigo empírico baseado nos resultados da pesquisa realizada.
O artigo de revisão da literatura é intitulado “Corpo, angústia e fantasias: um olhar da
psicanálise sobre o paciente cardíaco cirúrgico”. Será encaminhado com vistas à publicação na
revista “Estudos de Psicologia (Natal)” de classificação A pelo Qualis, sistema de avaliação de
periódicos da CAPES e indexado nas bases de dados PsycINFO (American Psychological
Association), LILACS (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da
Saúde), Sociological Abstracts (Cambridge Scientific Abstracts), PSICODOC (Colegio Oficial
de Psicologos/Universidad Complutense de Madrid), CLASE (Universidad Nacional Autónoma
de México), Red ALyC (Red de Revistas Científicas de América Latina y El Caribe), INDEXPSI
(CFP/PUCCAMP), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e
INDEXPSI – Periódicos. Nesse artigo, a revisão da literatura centra-se nos estudos desenvolvidos
por Freud e retomados por Lacan, no qual buscaremos uma maior compreensão dos conceitos
envolvendo corpo, angústia e fantasias em sua relação com pacientes cardíacos cirúrgicos.
Primeiramente, são apresentados e discutidos os conceitos de angústia e fantasias, que são dois
construtos importantes da psicanálise e que estão envolvidos com a questão da intervenção
cirúrgica, principalmente quando se fala em pacientes cardíacos, por toda simbologia
característica deste órgão. O texto também discute a questão do corpo como imagem corporal e
como corpo pulsional, baseado nas idéias de Freud e Lacan, bem como de outros autores
psicanalíticos. Após, o artigo aborda alguns aspectos do sujeito frente à cirurgia cardíaca, tais
como o adoecimento e a hospitalização. Na busca de material teórico para a elaboração deste
12
estudo, percebemos a escassez de trabalhos dentro do referencial psicanalítico sobre pacientes
cardíacos cirúrgicos.
O artigo empírico, intitulado “O sujeito frente à cirurgia cardíaca: lidando com o
desconhecido”, se encaminhado para a revista “Psicologia: Ciência e Profissão”, de
classificação A pelo Qualis e indexado nas bases de dados INDEXPSI - Periódicos e LILACS.
Nesse artigo procuramos registrar as narrativas de pacientes cardíacos sobre a intervenção
cirúrgica em situação de internação hospitalar. Nesse contexto, foi possível investigar alguns
aspectos referentes ao período pré e pós-operatório e ao processo de hospitalização. Esse
entendimento ocorreu com base na realização de entrevistas semi-dirigidas com os pacientes e na
observação dos grupos. Foram observados, durante um período de três meses, os grupos de
preparação psicológica de pacientes pe pós-cirurgia cardíaca, que ocorrem semanalmente no
hospital e possuem um caráter aberto. Também foram realizadas entrevistas com cinco pacientes,
no período pré e pós-operatório. Neste estudo, alguns elementos se destacaram: os aspectos do
período pré-cirúrgico, a relação entre religiosidade e medicina, sintomas e fantasias, a
hospitalização e o sentimento de dependência, o período pós-cirúrgico e a Unidade Pós-
operatória (UPO) e as questões relacionadas à manipulação do corpo e anestesia. Percebemos a
necessidade de incluir o pós imediato em função dos aspectos abordados pelos pacientes com
relação ao período em que permanecem na UPO, parecendo ser um período no qual o paciente
encontra-se muito vulnerável e regredido.
A partir do exposto, a dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica foi concluída
seguindo a proposta inicial apresentada no projeto de pesquisa, conforme havia sido encaminhada
e aprovada pela Comissão Científica e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS. No entanto,
os objetivos inicialmente propostos no projeto foram um pouco modificados em função do que
íamos analisando através da fala de cada um dos pacientes. Além disso, a observação dos grupos,
13
que a princípio funcionariam somente como um “apoio” com relação às entrevistas, acabaram
tornando-se, ao lado destas, elementos fundamentais para a análise dos dados. E isso a pesquisa
em psicanálise permite, pois é uma pesquisa a posteriori, em que os dados de uma pesquisa vão
sendo “descobertos” por meio da própria relação que se dá entre pesquisador e participante, tendo
o fator surpresa como essência.
14
1. PROJETO DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
15
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLÍNICA
Jossiele Fighera
ANGÚSTIA E FANTASIAS RELACIONADAS AO PACIENTE
CARDÍACO CIRÚRGICO
Projeto de pesquisa para a dissertação apresentado
ao Curso de Mestrado da Faculdade de
Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, como requisito para a obtenção
do Grau de Mestre em Psicologia Clínica
Profa. Dra. Maria Cristina Poli
Orientadora
Porto Alegre, novembro de 2005.
16
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………….……17
1.1 Angústia e Fantasia…………………………………………………….…..18
1.2 Aspectos Psicológicos Envolvendo a Cirurgia Cardíaca…..........................20
2 OBJETIVOS……………………………………………………………………….24
2.1 Objetivo Geral……………………………………………..………………24
2.2 Objetivos Específicos…………………………………………………...…24
3 QUESTÃO NORTEADORA……………………………………………………...25
4 MÉTODO…………………………………………………………………….……25
4.1 Opção Metodológica………………………………………………… …...25
4.2 Participantes…………………………………………………….…………26
4.3 Critérios de Inclusão e Exclusão…………………………………………..26
4.4 Instrumentos…………………………………………………………....…27
4.5 Procedimento de Coleta de Dados…………………………………...……27
4.6 Procedimento de Análise dos Dados………………………………...……29
5 PROCEDIMENTOS ÉTICOS………………………………………………..…...30
6 CRONOGRAMA…………………………………………………………….…...31
7 ORÇAMENTO……………………………………………………………………32
REFERÊNCIAS.....……………………………………………………....……….…...33
APÊNDICES…………………………………………………………………………..36
17
1 INTRODUÇÃO
Teoricamente, o adoecimento é sentido pelo paciente como uma ruptura no processo
normal de desenvolvimento, uma inadequação, um fenômeno indesejado que acomete o
indivíduo e é capaz de mudar tudo que ele havia estruturado até o momento. Além disso, o
adoecimento não acomete unicamente o paciente, e sim toda sua família e o círculo social em
que convive.
No caso da presente pesquisa, o adoecimento possivelmente traga consigo três agravantes:
primeiro, trata-se de pacientes cardíacos; segundo, pacientes com indicação cirúrgica e, terceiro,
o fato de que a internação hospitalar faz-se necessária.
Uma das hipóteses da pesquisa é que pelo fato de se tratar de adoecimento envolvendo o
coração tudo ganha maiores dimensões, e isso pode acontecer porque o órgão em questão é visto
pela nossa cultura como sendo o centro das emoções, dos sentimentos e da vida. Apesar de ser o
cérebro o que realmente indica a morte de um indivíduo, é o coração que no discurso social é
responsabilizado pelo fato. Embora existam doenças teoricamente mais graves e com pior
prognóstico do que as cardíacas, esta última parece ser a que desperta maior ansiedade nas
pessoas.
O segundo agravante - e hipótese de trabalho - diz respeito ao fato da pesquisa em questão
envolver pacientes cardíacos com indicação cirúrgica, o que geralmente desperta fantasias com
relação ao procedimento em si e ao período pós-operatório. Submeter-se a um procedimento
cirúrgico pode gerar medo e ansiedade, pois o paciente vê-se obrigado a enfrentar o
desconhecido, o novo, a perda de controle. Aliás, o próprio termo submeter-se ao evento
cirúrgico já implica em passividade, indicando a posição que o paciente ocupa no procedimento.
18
Em função disso surge o terceiro agravante em causa nesta pesquisa, que se refere ao fato
do procedimento requerer um período de internação hospitalar, o que pode contribuir para o
sentimento de ruptura com a vida diária e com a perda da autonomia do paciente. A internação
pode implicar uma rie de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando o processo de
despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de internação,
pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas que apresenta, e não mais
pela sua singularidade enquanto indivíduo.
A escolha de pacientes cardíacos com indicação cirúrgica justifica-se em função de todos
esses aspectos citados, onde fica claro a influência dos aspectos emocionais e do componente
subjetivo na maneira como esse paciente enfrentará e lidará com todo o processo. Além disso, de
acordo com Mello Filho (1997), a ansiedade provocada pela possibilidade de uma intervenção
cirúrgica pode afetar o paciente se este sentimento não é expresso e conscientizado.
1.1 Angústia e Fantasia
A obra freudiana destaca que a representação do sintoma corporal transcende a norma
anatômica. Paralelamente ao desenvolvimento biológico, estrutura-se no homem, a partir das
relações com seu semelhante, uma representação imaginária de seu corpo que o vincula também a
uma ordem cultural e lingüística (Volich, 2000). Considerando-se os objetivos desta pesquisa,
torna-se importante buscar conceituar angústia e fantasia, dois construtos da psicanálise que estão
envolvidos com a questão da intervenção cirúrgica, principalmente quando se fala em pacientes
cardíacos, por toda simbologia característica deste órgão.
A angústia é entendida, segundo a psicanálise, como algo vivenciado na ordem do
desprazer, sendo conceituada como "um estado de afeto provocado por um acréscimo de
excitação que tenderia ao alívio por uma ação de descarga" (Kaufmann, 1996, p. 36).
19
Estudos revelam que Freud lançou mão de duas teorias sobre a angústia. Conforme a
primeira teoria, a angústia decorria de um afluxo de excitações que não puderam ser
descarregadas, enquanto que na segunda teoria a angústia tinha como função indicar ao eu a
iminência de um perigo (Kaufmann, 1996).
A primeira teoria apresenta caráter "involuntário, automático, inconsciente, explicável
quando é instaurada uma situação de perigo análoga à do nascimento, que põe em risco a própria
vida do sujeito." a segunda teoria possui caráter "voluntário, consciente, que seria produzida
pelo eu, quando ameaçado por uma situação de perigo real" (Chemama, 1995, p. 14).
Conforme Garcia-Rosa (1984), é bastante claro que o corpo, segundo a teoria
psicanalítica, configura-se e é entendido como um corpo fantasmático e não meramente como um
corpo anátomo-fisiológico. Desde suas origens, o material das fantasias sempre foi muito
estudado pela Psicanálise, pois ela entende a fantasia como sendo importante para que o paciente
consiga lidar com os sentimentos de medo, tensão e desamparo que o invadem em momentos
como esses.
A teoria freudiana entende o mundo das fantasias como situado dentro de um quadro de
oposição entre o subjetivo e o objetivo, ou seja, o espaço da fantasia se entre um mundo
interior que tende à satisfação de seus instintos e necessidades pela via da ilusão e um mundo
exterior que impõe ao indivíduo os dados da realidade (Laplanche & Pontalis, 1993).
Seguindo com conceitos provenientes da teoria freudiana, fantasma ou fantasia, segundo
Chemama (1995), significa "representação, argumento imaginário, consciente (devaneio), pré-
consciente ou inconsciente, implicando um ou vários personagens, que coloca em cena um
desejo, de forma mais ou menos disfarçada" (p. 70 e 71)
Especificamente no caso de pacientes cardíacos com indicação cirúrgica, a fantasia faz-se
necessária para que o sujeito seja capaz de suportar tudo que está acontecendo, e qualquer que
20
seja o tipo de fantasia utilizada pelo paciente - por mais absurdas que possam parecer ao olhar da
equipe de saúde - foi a única saída que o paciente encontrou para manter um certo equilíbrio, o
que possibilita enfrentar a situação da melhor forma possível no momento.
Em um estudo realizado com 446 pacientes cardíacos cirúrgicos, Ruschel e Hoffman
(1989) observaram a formação de três grupos de fantasia. O primeiro grupo relaciona-se às
fantasias relacionadas ao período pré-operatório, onde os pacientes referem os sentimentos
ligados aos riscos de morte existentes antes da intervenção cirúrgica. O segundo grupo é
composto pelas fantasias ligadas ao momento da cirurgia, quando as maiores preocupações são
com relação a possibilidade de morrer durante a realização da cirurgia. O terceiro grupo é com
relação às fantasias relacionadas à fase pós-operatória, que são principalmente com relação aos
cuidados dos profissionais, aos aparelhos (como o tubo endotraqueal e sonda vesical) e com
relação à readaptação às atividades normais um tempo depois da saída do hospital.
Assim como as fantasias, é importante considerar que toda e qualquer doença - seja ela
mental, somática ou comportamental - apesar de seu caráter desviante e regressivo, é ainda uma
tentativa de estabelecimento de equilíbrio no organismo, que não foi capaz de enfrentar as
tensões internas ou externas às quais está submetido (Volich, 2000).
1.2 Aspectos Psicológicos Envolvendo a Cirurgia Cardíaca
A relação entre saúde orgânica e processos psicológicos tem sido foco de muitos estudos
na literatura ocidental. Desde a concepção aristotélica de entender o corpo como sendo a forma
da alma até chegar aos modelos atuais que determinam com maior clareza a relação entre
determinadas características psicológicas e doenças orgânicas, praticamente todos os modelos
propostos se preocupam com o papel desempenhado pelas emoções no que diz respeito à saúde,
21
seja por seu valor adaptativo, participando do surgimento das doenças, contribuindo para sua
permanência ou favorecendo seu agravamento (Iacovella & Troglia, 2003).
A relação da psicologia com a cardiologia já existe desde a Antigüidade, quando os
estados emocionais agudos eram diretamente relacionados com as manifestações do sistema
cardiovascular, porém, somente no século XIX é que a ciência começou a preocupar-se com
pesquisas envolvendo a relação mente/coração (Romano, 2001).
Particularmente nos casos de doenças que acometem o coração, centro motor da
circulação sangüínea, os efeitos de uma intervenção cirúrgica poderão ser exacerbados
justamente pelo reflexo de mitificações em torno do órgão - como o fato de considerá-lo o centro
de sentimentos, das emoções e sinônimo de vida (Romano, 1994). Complementando essa idéia,
Dolto (1988, p. 147) acredita ser "no coração que o ser humano situa simbolicamente seus
sentimentos de identificação, de confiança, de segurança passiva ou ativa e de trocas afetivas com
seu semelhante humano."
De acordo com Ruschel (1994), isso acontece em função da cultura na qual estamos
inseridos, o que faz com que a cirurgia cardíaca seja, muitas vezes, acompanhada de temores bem
mais significativos do que outros tipos de procedimentos mais graves. As fantasias e crendices
populares sobre a doença e também sobre a cirurgia cardíaca são muitas e podem interferir de
maneira intensa o modo como os pacientes a enfrentam.
A gravidade e o risco de vida implicados na maior parte das doenças cardiovasculares,
segundo Andreis e Leite (1999), são responsáveis por mobilizar o psiquismo, podendo com isso
causar efeitos que podem tanto expressar uma dificuldade de reorganização interna como
conduzir a possibilidade de crescimento pessoal.
De acordo com Bird (1978), na sua experiência como médico, é impressionante perceber
a qualidade das reações dos pacientes frente à cirurgia. Em situações como essas, as pessoas
22
tendem a mudar. Elas se refazem, refinam seu autocontrole, limitam suas percepções e
sentimentos, negam o perigo, aceitam o inevitável e conseguem, até mesmo, uma aparência de
satisfação. Com a ajuda dessa mudança interna, o paciente não se protege contra um medo e
sofrimento avassaladores, mas se entrega também a um papel mais passivo, cooperativo e
tratável. Por outro lado, o autor ressalva que ninguém deve se deixar enganar pela aparente
contenção emocional de um paciente cirúrgico, pois subjacente a esta expressão um grande
medo de todos os aspectos que envolvem a intervenção cirúrgica, como a dor, a anestesia, medo
de ficar desfigurado ou incapacitado e medo de morrer. Além disso, o medo da cirurgia tem uma
base concreta, na medida em que representa um procedimento invasivo e agressivo ao corpo.
Conforme Angerami-Camon (2002), mesmo sem a intenção de negar que o passado de
uma determinada pessoa irá influenciar não apenas em sua conduta, mas também em sua
recuperação física, ainda assim não está errado a afirmação de que a situação de hospitalização é
algo único enquanto vivência, não havendo a possibilidade de previsão anterior à sua própria
ocorrência.
No processo de adoecer, é como se o paciente tivesse um confronto entre o que havia
concebido para a sua vida anteriormente e a realidade que lhe é apresentada em termos de
concretude existencial. É como se a hospitalização fosse capaz de levar cada paciente a um
processo de revisão da própria vida . É como se de nada adiantasse as vivências anteriores ao
surgimento de uma determinada patologia e de sua hospitalização decorrente (Angerami-Camon,
2003).
Romano (1998) afirma que cada paciente traz suas próprias fantasias para a experiência
cirúrgica. Sendo assim, é necessário esclarecer que isto pode, de alguma maneira, afetar o modo
como será vivenciado esse processo e até mesmo suscitar questões que propiciarão ou não outras
reações psicológicas. Quaisquer que sejam estas fantasias, deve-se reconhecer o importante
23
significado que elas representam para o doente, a proporção e a influência que podem ter em toda
evolução e recuperação.
Com relação a isso, Ruschel, Daut e Santos (2000) afirmam que quando os aspectos
psicológicos não são considerados na situação de tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da
predisposição para complicações emocionais que prejudicam a convalescença, chegando a
intensificar, em algumas situações, a morbidade no período pós-operatório. Para essas mesmas
autoras, a cirurgia é uma experiência de muita ameaça na vida de qualquer pessoa, pois envolve
uma carga emocional característica. A forma como cada um enfrenta esse tipo de intervenção
poderá facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à vida normal.
O momento da internação, segundo as idéias de Cosmo e Carvalho (2000), é vivido de
forma extremamente dramática, não importando o tipo de cirurgia à qual o paciente será
submetido, mas sim o modo como o paciente vivencia esse momento.
Santos (2000) também refere-se a esse assunto quando diz que o ser humano submetido a
um procedimento cirúrgico passa por um período de grande estresse, devido às diversas agressões
tanto físicas quanto psicológicas a que é submetido.
Para Romano (1998), as principais fontes de ansiedade no período pré-operatório são: 1)
separação de casa, da família, de seu ambiente, de suas coisas; 2) o medo com relação à vida em
si e; 3) ser forçado a assumir o papel de doente e antecipar questões diretamente relacionadas
com o físico, tais como o ato cirúrgico, a dor e a perda do controle sobre si mesmo.
Em um estudo realizado por Jurkiewicz (2003) com pacientes no período que antecedeu à
cirurgia cardíaca, todos os sujeitos da amostra apresentaram histórico de vivência de perdas no
período anterior ao surgimento dos sintomas de doença cardíaca. Além disso, também foi
verificado que, durante o período de internação hospitalar, a proximidade com as vivências de
doença e terminalidade podem levar o sujeito a pensar sobre sua própria morte, e isso geralmente
24
remete o sujeito à lembrança da morte de outras pessoas que tenham algum significado especial
para ele.
Já em outro estudo feito com pacientes cardíacos cirúrgicos realizado durante os 18 meses
que se seguiram ao procedimento cirúrgico, Rabiner e Willner (1976), citados por Romano
(2001), encontraram que em cerca de 15% dos pacientes estudados existia algum tipo de sintoma
psiquiátrico, especialmente depressão, que não havia sido detectado enquanto o paciente estava
no hospital.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Esta pesquisa tem por objetivo registrar narrativas de pacientes cardíacos sobre a intervenção
cirúrgica.
2.2 Objetivos Específicos
Investigar a representação da cirurgia e da hospitalização no paciente;
Examinar a relação entre angústia e fantasia dos pacientes cardíacos sobre a doença e o
tratamento.
25
3 QUESTÃO NORTEADORA
Tendo em vista os objetivos acima citados, a questão norteadora desta pesquisa é a
seguinte: de que forma os pacientes cardíacos expressam a experiência de uma intervenção
cirúrgica?
4 MÉTODO
4.1 Opção Metodológica
A presente pesquisa caracteriza-se por seu caráter qualitativo, da qual a psicanálise é um
modelo próprio. Considerando-se os objetivos desta pesquisa, a metodologia escolhida parece ser
a mais adequada, pois permite uma melhor compreensão dos dados subjetivos dos participantes.
Trabalhar qualitativamente implica em entender/interpretar os sentidos e as significações
que a pessoa dá aos fenômenos que estão sendo pesquisados, e isso acontece por meio de técnicas
de observação ampla e entrevistas em profundidade, que são considerados instrumentos
necessários e suficientes para a coleta de dados. Além disso, a pesquisa qualitativa valoriza o
contato pessoal e os elementos do setting natural do sujeito (Turato, 2003).
A pesquisa de caráter qualitativo caracteriza-se pelo cunho essencialmente descritivo,
tendo como perspectiva principal a visão de processo. Os principais aspectos desse tipo de
pesquisa são com relação a importância dada ao ambiente e ao papel desempenhado pelo
pesquisador (Patton citado por Goldim, 2000).
A psicanálise é definida por Violante (2000) como sendo uma teoria do psiquismo, um
método de investigação do inconsciente e uma técnica terapêutica. Diferentemente da psicologia,
26
o termo psicanálise pressupõe ir além do comportamento e da consciência, indo em direção aos
aspectos inconscientes do sujeito.
A principal característica do pesquisador psicanalítico, de acordo com Caon (1994), é no
que se refere ao campo, ao objeto e ao método de pesquisa. O campo é o inconsciente; o objeto é
o enfoque ou perspectiva a partir de uma posição em que é colocado o pesquisador psicanalítico,
e o método é o procedimento pelo qual o pesquisador se movimenta pelas vias de acesso ao
inconsciente.
4.2 Participantes
Participarão desta pesquisa pacientes cardíacos adultos que serão submetidos a
procedimento cirúrgico, homens e mulheres. Esses pacientes estarão internados na Unidade
Cirúrgica do Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande do
Sul. As entrevistas serão realizadas com aproximadamente cinco pacientes, sendo que elas serão
realizadas em dois momentos distintos: uma no pré-cirúrgico e a outra no pós, num total de dez.
O número de entrevistados seguirá o critério de saturação (Muchielli, 1990). Essa saturação,
segundo o autor, aparece na pesquisa qualitativa ao fim de certo tempo, quando os dados que são
coletados deixam de serem novos, configurando-se uma estrutura comum sobre o fenômeno
estudado.
4.3 Critérios de Inclusão e Exclusão
Serão considerados critérios de inclusão o fato de ser um paciente adulto, portador de
doença cardíaca e que isubmeter-se a cirurgia de troca de válvula cardíaca e/ou valvuloplastia,
assim como cirurgia de revascularização do miocárdio.
27
Como critérios de exclusão serão considerados os pacientes transplantados e os que
tiverem limitados ao leito (este último é um critério de exclusão somente do grupo, podendo os
pacientes acamados participarem das entrevistas).
4.4 Instrumentos
Os instrumentos a serem utilizados nesta pesquisa serão observações dos grupos de
pacientes cardíacos cirúrgicos (que ocorrem semanalmente na instituição) e entrevistas semi-
dirigidas com os pacientes (em apêndice). Esses dois instrumentos são compatíveis com o
método psicanalítico, que dispõe dos mesmos para melhor compreender tanto os fenômenos
conscientes como os inconscientes que povoam o psiquismo humano.
4.5 Procedimentos de Coleta de Dados
Como procedimentos para a coleta de dados, o primeiro passo foi encaminhar uma cópia
do projeto de pesquisa ao Serviço de Psicologia Clínica da instituição, para em seguida enviar o
projeto ao Comitê de Ética e ao Comitê de Pesquisa da mesma.
Após receber o parecer favorável dos respectivos Comitês, será feito o contato com cada
paciente, quando serão esclarecidos os objetivos da pesquisa. Se houver a concordância do
participante, será lido o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Modelo para Entrevista
(em apêndice) e, após sanadas todas as dúvidas, solicitar-se-á sua assinatura para, desse modo,
dar início ao procedimento de coleta de dados da pesquisa.
A coleta de dados será dividida em três momentos: em um momento serão realizadas as
entrevistas semi-dirigida com os pacientes pré-cirúrgicos, em outro momento serão realizadas as
observações dos grupos e no terceiro momento serão realizadas entrevistas semi-dirigidas com os
pacientes no período pós-cirúrgico. A entrevista será dividida em dois momentos (pré e pós
28
cirúrgico) na tentativa de se fazer um entendimento total do processo, e não um conhecimento
fragmentado do período pré e pós cirúrgico. Esses momentos de pesquisa devem ser entendidos
como sendo complementares, não possuindo uma relação de causa e efeito devido a ordem que os
fatos acontecem. As entrevistas (em apêndice) serão realizadas individualmente, sendo,
posteriormente, transcritas e analisadas. As entrevistas com os pacientes pré e pós cirúrgicos
serão feitas no próprio quarto onde o paciente estará internado. No segundo momento (pós-
cirúrgico) as entrevistas serão menos dirigidas que no primeiro, pois ela está diretamente
relacionada com a maneira pela qual a primeira entrevista foi conduzida.
O objetivo das entrevistas será escutar o discurso dos pacientes a respeito da cirurgia e do
que ela representa em sua história de vida, onde serão analisadas as fantasias e a angústia dos
pacientes. As entrevistas serão gravadas em audioteipe, tendo em vista a fidelidade da pesquisa.
Asseguramos também a confidencialidade e o sigilo das entrevistas fornecidas, comprometendo-
nos a desgravar as fitas após a conclusão do estudo.
As observações dos pacientes serão realizadas no momento dos grupos de pacientes
cirúrgicos que são realizados e coordenados pelo Serviço de Psicologia da instituição. Estas
ocorrerão semanalmente, durante um período aproximado de três meses, onde será observado a
forma como os pacientes, inseridos em um grupo, falam sobre o procedimento cirúrgico. Após
cada observação, serealizado um registro por escrito tanto das expressões gestuais como da
fala desses pacientes. Para que essas observações sejam possíveis, será solicitada a autorização do
grupo perante a apresentação de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Modelo para
grupo (apêndice), onde caberá ao grupo delegar uma pessoa responsável por sua assinatura.
29
4.6 Procedimento de Análise dos Dados
A análise dos dados das entrevistas serão examinados à luz de conceitos como angústia e
fantasia tais como propostos pela teoria psicanalítica revisada, de modo a gerar um texto
reflexivo por parte da mestranda discutido à luz das teorização psicanalítica e da semelhança e
diferença entre este e outros estudos empíricos realizados. O registro das observações dos
grupos auxiliarão na geração do texto reflexivo. Tanto nas observações como na leitura das
entrevistas o olhar vai ser lançado em especial para indicativos de angústia e fantasias, que são as
categorias básicas de análise.
Para Silva (1996), existe pesquisa psicanalítica sempre que existir interpretação das forças
subjacentes a uma experiência, quer ela se apresente como uma relação entre pessoas ou em
relação a produções humanas. O fundamental é que se trate dessa busca da determinação
desconhecida, e não da representação convencional e gica passível de mensuração e
demonstração.
Tanto a psicanálise como a pesquisa clínica, para Sauret (2003, p.102),
não estão confinadas a um papel de exploração, de formulação de
hipóteses novas que caberia à abordagem experimental validar. Ao
contrário, o que numa dimensão universal - no que concerne ao sujeito da
fala - poderia ser verificado caso a caso, cabe ao psicanalista e ao
pesquisador que o acompanha desenvolver a gica que permite sustentar
resultados a partir do particular, levando em conta, ao mesmo tempo, as
exigências da ciência.
Em pesquisa psicanalítica, o autor deve assumir a posição de principal participante e essa
é uma condição que deve ser enfatizada como premissa básica da relação entre o mundo subjetivo
do autor e o mundo objetivo da realidade investigada (Iribarry, 2003).
30
5 PROCEDIMENTOS ÉTICOS
Todas as informações coletadas que possam identificar o paciente serão mantidas em
sigilo. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será estruturado em linguagem de fácil
entendimento para o paciente, contendo todas as informações necessárias à respeito da pesquisa.
Após esclarecidas todas as dúvidas e havendo a concordância do paciente em participar do
estudo, o mesmo assinará o Termo e ficará com uma cópia.
A resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (1996) sobre a pesquisa
envolvendo seres humanos ressalta alguns aspectos de extrema relevância que deverão ser
respeitados nestas circunstâncias, como o respeito aos valores sociais, culturais, morais, éticos e
religiosos no que concerne à adequação aos princípios científicos. Os resultados encontrados na
pesquisa serão posteriormente informados à instituição da qual os participantes fazem parte.
O artigo 32 do Código de Ética Profissional dos Psicólogos (2002), proposto pelo
Conselho Federal de Psicologia, refere que em todas as comunicações científicas ou divulgação
para o público dos resultados da pesquisa, o psicólogo deverá preservar tanto a identidade dos
participantes como da instituição onde a pesquisa foi realizada, salvo em casos de interesse
manifesto destes.
O início da pesquisa se dará mediante a autorização fornecida pelos Comitês de Ética
da PUCRS e do Instituto de Cardiologia - Fundação Universitária de Cardiologia do Rio Grande
do Sul.
31
6 CRONOGRAMA
Data
_________
Atividade
Ago.
2005
Set.
2005
Out.
2005
Nov.
2005
Dez.
2005
Jan.
2006
Fev.
2006
Mar.
2006
Abr.
2006
Mai.
2006
Jun.
2006
Jul.
2006
Ago.
2006
Set.
2006
Out.
2006
Nov.
2006
Dez.
2006
Pesquisa
Bibliográfica
x x x x x x x x x x x x x x
Coleta dos
Dados
x x x
Análise dos
Dados
x x x x x x x x
Redação dos
artigos de
pesquisa
x x x x x x x x x
Defesa da
Dissertação
x
32
7 ORÇAMENTO
Itens a serem financiados
Especificações
Quantidade
Valor Unitário
R$
Valor
Total
R$
Fonte
Viabilizadora
(ver ao pé
da folha)
Folhas
Canetas
Cartuchos tinta impressora
Disquetes
Livros
Xerox de artigos e livros
Encadernações
Mini-fitas K-7
Transporte (passagens)
500
5
1
5
10
1000
5
3
48
0,024
1,00
100,00
2,00
30,00
0,10
4,00
5,00
0,90
12,00
5,00
100,00
10,00
300,00
100,00
20,00
15,00
43,20
4
4
4
4
4
4
4
4
4
1- Patrocinador
2- Agência de Fomento (Anexar comprovante)
3- Serviço
4- Pesquisador
5- Outros
33
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Psicólogo.
36
APÊNDICES
37
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - MODELO PARA
ENTREVISTA
Prezado(a) participante:
Sou psicóloga e estudante do curso de pós-graduação (Mestrado em Psicologia Clínica) na
Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estou
realizando uma pesquisa sob orientação da professora Dra. Maria Cristina Poli, que tem por
objetivo buscar uma maior compreensão das características dos pacientes cardíacos com
indicação cirúrgica, investigando o que a cirurgia representa na sua história de vida.
Para a realização desse trabalho, gostaríamos de solicitar a sua participação. Ela consistirá
em duas entrevistas, de aproximadamente 40 minutos cada, que serão feitas antes e depois do
procedimento cirúrgico. As entrevistas serão gravadas em audioteipe, tendo em vista a fidelidade
da pesquisa. Asseguramos também a confidencialidade e o sigilo das informações fornecidas,
comprometendo-nos a desgravar as fitas após a conclusão do estudo. Na publicação dos
resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas
todas as informações que permitam identificá-lo(a).
Esclarecemos que não lhe serão causados danos físicos, morais ou psicológicos, sendo
que nem a natureza dos dados fornecidos, nem a não participação na pesquisa acarretarão
implicações no seu atendimento. A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não
participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-
lo. Com a sua participação, você esta colaborando para que sejam desenvolvidos novos
conhecimentos científicos sobre o assunto.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora,
telefone 81882633 ou pela entidade responsável Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS, pelo
telefone 3320 3345.
____________________________ Porto Alegre, ________________de 2005.
Jossiele Fighera
CRP 07/13423
Matrícula: 05190466-2
____________________________ Porto Alegre, ________________de 2005.
Maria Cristina Poli
CRP 07/ 07070
Matrícula: 066795
Consinto em participar e declaro ter recebido uma cópia deste termo de consentimento.
______________________________ ____________________________
Nome e assinatura do participante Local e data
38
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - MODELO PARA GRUPO
Prezado(a) participante:
Sou psicóloga e estudante do curso de pós-graduação (Mestrado em Psicologia Clínica) na
Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estou
realizando uma pesquisa sob orientação da professora Dra. Maria Cristina Poli, que tem por
objetivo buscar uma maior compreensão das características dos pacientes cardíacos com
indicação cirúrgica, investigando o que a cirurgia representa na sua história de vida.
Para a realização desse trabalho, gostaríamos de solicitar a sua participação. Ela consistirá
no consentimento para que a pesquisadora possa observar o andamento do grupo de pacientes
cardíacos cirúrgicos que ocorrem no hospital semanalmente. Asseguramos a confidencialidade e
o sigilo das informações fornecidas. Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade
será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam
identificá-lo(a).
Esclarecemos que não lhe serão causados danos físicos, morais ou psicológicos, sendo
que nem a natureza dos dados fornecidos, nem a não participação na pesquisa acarretarão
implicações no seu atendimento. A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não
participar ou quiser desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-
lo. Com a sua participação, você esta colaborando para que sejam desenvolvidos novos
conhecimentos científicos sobre o assunto.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora,
telefone 81882633 ou pela entidade responsável Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS, pelo
telefone 3320 3345.
____________________________ Porto Alegre, ________________de 2005.
Jossiele Fighera
CRP 07/13423
Matrícula: 05190466-2
____________________________ Porto Alegre, ________________de 2005.
Maria Cristina Poli
CRP 07/ 07070
Matrícula: 066795
Consinto em participar e declaro ter recebido uma cópia deste termo de consentimento.
_____________________________ _____________________________
Nome e assinatura do participante Local e data
39
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PACIENTES NO
PERÍODO PRÉ-CIRÚRGICO
Nome:
Idade:
Profissão:
Estado Civil:
1) Como está sendo este momento?
2) Como foi a descoberta da doença?
3) Como foi saber sobre a necessidade da cirurgia?
4) Como que é estar internado em um hospital?
40
ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM OS PACIENTES NO
PERÍODO PÓS-CIRÚRGICO
1) Como está se sentindo após a cirurgia?
2) O que espera de sua vida a partir desse momento?
41
2. APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA PUCRS
42
43
3. APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO INSTITUTO DE
CARDIOLOGIA – FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO RIO GRANDE DO SUL
44
45
4. ARTIGO DE REVISÃO DE LITERATURA
CORPO, ANGÚSTIA E FANTASIAS: UM OLHAR DA PSICANÁLISE SOBRE O
PACIENTE CARDÍACO CIRÚRGICO*
* Este artigo será submetido à publicação na Revista “Estudos de Psicologia”. A apresentação do texto segue as
normas de publicação desta revista (em Anexo B).
46
CORPO, ANGÚSTIA E FANTASIAS: UM OLHAR DA PSICANÁLISE SOBRE O
PACIENTE CARDÍACO CIRÚRGICO
Corpo, ang. e fant.: psican. pac. card. cir.
Jossiele Fighera
Psicóloga pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e Mestranda em Psicologia
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CAPES, Brasil
Maria Cristina Poli
Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA). Doutora em
Psicologia pela Universi de Paris 13. Professora da Faculdade de Psicologia da PUC-RS e
coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psicanálise do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
Endereço para correspondência:
Jossiele Fighera: Caixa Postal 05 Santa Maria RS CEP 97001-970. Telefone: (55)
3226-1503. E-mail: [email protected]
Maria Cristina Poli: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga,
6681. Prédio 11, andar, sala 937. POA/RS. CEP 90619-900. Telefone: (51) 3320-3633. E-
47
CORPO, ANGÚSTIA E FANTASIAS: UM OLHAR DA PSICANÁLISE SOBRE O
PACIENTE CARDÍACO CIRÚRGICO
RESUMO
Os conceitos de angústia, fantasia e corpo vêm sendo estudados, de longa data, pela
psicanálise. A partir dos fundamentos desenvolvidos por Freud e retomados por Lacan,
buscaremos uma maior compreensão desses conceitos em sua relação com pacientes cardíacos
cirúrgicos. Evidenciamos, ao longo deste trabalho, a importância da função das fantasias como
forma de conter a angústia dos pacientes em situação cirúrgica. Destacamos também a questão do
corpo e da imagem corporal, visto que esses pacientes são submetidos a procedimentos
agressivos e invasivos e têm seu corpo manipulado por uma equipe médica. São apresentadas
algumas pesquisas atuais que mostram algumas questões relevantes sobre o tema. Entretanto,
percebemos que ainda existem poucos trabalhos que utilizam o referencial psicanalítico como
uma tentativa de integrar conceitos da psicanálise com a cirurgia cardíaca.
Palavras-chave: angústia; fantasia; corpo; cirurgia cardíaca.
48
BODY, ANGUISH AND FANTASIES: PSYCHOANALYSIS VIEW UPON SURGICAL
CARDIAC PATIENT
ABSTRACT
The concepts of anguish, fantasy and body have been studied through psychoanalysis for a long
time. Based on beedings developed by Freud and retaken by Lacan, we will search a better
comprehension on these concepts related to surgical cardiac patient. Along this study, we
evidenced the fantasies importance as a way to contain the patient’s anguish in surgical situation.
We also evidenced the body and corporal image issue, since these patients` are submitted to
aggressive and invasive procedures and have his/her body manipulated by a medical staff. Some
current researches are presented that show some relevant points upon the subject. However, we
also noticed that there are few studies that use the psychoanalytical reference as an attempt to
integrate psychoanalysis concepts with cardiac surgery.
Key-words: anguish; fantasy; body; cardiac surgery
49
INTRODUÇÃO
Os conceitos de angústia, fantasia e corpo vêm sendo estudados, de longa data, pela
psicanálise. A partir dos fundamentos desenvolvidos por Freud e retomados por Lacan,
buscaremos uma maior compreensão desses conceitos em sua relação com pacientes cardíacos
cirúrgicos. Especificamente quando trata dos aspectos psicológicos envolvendo a cirurgia
cardíaca, nos baseamos nas idéias de autoras como Romano (1998/2001) e Ruschel
(1989/1994/2000), que já há muitos anos trabalham e escrevem sobre o assunto.
Desse modo, o presente estudo tem como objetivo discutir a relação existente entre
angústia, fantasia e corpo na sua relação com pacientes cardíacos cirúrgicos adultos.
Inicialmente, buscamos conceituar e discutir angústia e fantasias, que são dois construtos
importantes da psicanálise e que estão envolvidos com a questão da intervenção cirúrgica,
principalmente quando se fala em pacientes cardíacos, por toda simbologia característica deste
órgão.
O texto também se dedica a discutir a questão do corpo como imagem corporal e como
corpo pulsional, baseado nas idéias de Freud e Lacan, bem como de outros autores psicanalíticos.
Após, o artigo aborda alguns aspectos relacionados ao sujeito frente à intervenção cirúrgica, tais
como o adoecimento e a hospitalização.
Sendo assim, demonstramos a importância da função das fantasias como forma de conter
a angústia dos pacientes em situação cirúrgica. Destacamos também a questão do corpo e da
imagem corporal, visto que esses pacientes são submetidos a procedimentos agressivos e
invasivos e têm seu corpo manipulado por uma equipe médica. Também demonstramos que a
cirurgia e a hospitalização são vividas pelo paciente como uma ruptura no seu processo de vida,
como um fenômeno indesejado que acomete e submete o indivíduo, sendo capaz de mudar tudo
50
que ele já havia estruturado até o momento. Além disso, este trabalho apresenta alguns resultados
de pesquisas realizadas sobre o tema.
ANGÚSTIA E FANTASIA
1. Angústia
Em seu livro “Inibições, Sintomas e Angústia”, de 1926, Freud coloca em causa a
segunda teoria da angústia, que é o que nos interessa neste artigo, pois é nela que ele retoma a
noção de trauma.
Nessa segunda teoria, Freud afirma que a angústia funciona como um sinal emitido pelo
eu logo que uma situação de perigo ameaça ocorrer, a fim de exigir sua evitação. Dessa forma, o
eu se sujeita à angústia e imagina a situação de perigo com o objetivo de restringir aquela
experiência aflitiva (experiência de “castração”) a uma mera indicação, a um sinal para possa se
defender, ou seja, provocar o recalque. Portanto, na segunda teoria, a angústia é anterior à
operação de recalque, e não o seu efeito.
Para Kaufmann (1996), na primeira teoria a angústia decorre de um afluxo de excitações
que não puderam ser descarregadas, enquanto que na segunda teoria a angústia tem como função
indicar ao eu a iminência de um perigo. A primeira teoria apresenta caráter "involuntário,
automático e inconsciente, explicável quando é instaurada uma situação de perigo análoga à do
nascimento." (Chemama, 1995, p. 14). na segunda teoria, a angústia possui caráter voluntário,
que seria produzida pelo eu como uma forma de preparação diante do perigo.
A constituição do eu começa no momento do nascimento e dura por toda a vida. Quando
nasce, o bebê emerge de um ambiente calmo e bruscamente é submetido a uma série de estímulos
que o inundam sem que exista um mínimo de proteção, pois não ainda no bebê um aparelho
capaz de proporcionar defesa a todos esses estímulos.
51
Fazendo um elo com o nosso tema de trabalho – angústia e fantasias em pacientes
cardíacos cirúrgicos torna-se importante lembrar que o ambiente hospitalar é um lugar onde o
psicanalista se depara com pessoas que estão diante de acontecimentos inesperados de suas vidas,
e que justamente por isso são capazes de destituir o sujeito do seu ancoramento significante. Em
função dessa destituição aguda que pode ocorrer em determinadas situações nesse contexto, os
acontecimentos se tornam traumáticos e, diante da falta de bordejamento significante, o sujeito é
imerso na angústia. Situações de perdas, seja por morte de pessoa querida, por acometimento de
doença ou por rompimento da imagem corporal, como nos casos de cirurgia, se caracterizam por
rupturas e descontinuidades, provocando a emergência de angústia. A partir disso, o sujeito tende
a se ressituar, reconstruir a sua realidade psíquica e a sustentação fantasística de sua vida (Moura,
2000).
No caso específico dos portadores de doenças cardíacas de nosso estudo, a descoberta da
doença se fez algum tempo principalmente no caso das valvulopatias sendo até então
tratada com medicação e acompanhamento médico. No entanto, diante da necessidade de ter que
fazer uma cirurgia cardíaca, quando não resta outra opção de tratamento, a angústia invade o
sujeito, que se vê diante de uma situação de desamparo e de perda de suas certezas.
Segundo Barbosa e Mendelssonh (1992), a cirurgia implica uma série de perigos e de
prejuízos reais como risco de morte, perda de partes ou de funções do corpo, ameaça de
invalidez, sofrimento e dor, além da expectativa quanto à capacidade técnica da equipe de saúde.
Considerando-se que em toda a intervenção cirúrgica está associado certo risco, todos esses
fatores poderão causar angústia tanto no paciente como na sua família. De outro modo, pode
ocorrer que pela confiança exagerada no cirurgião, o paciente e seus familiares passem a acreditar
e criar expectativas de que ele elimine todo o mal e promova a cura do paciente, como se ele
tivesse o controle da vida e da morte.
52
2. Fantasias
A teoria freudiana entende o mundo das fantasias como situado dentro de um quadro de
oposição entre o subjetivo e o objetivo, ou seja, o espaço da fantasia se entre um mundo
interior que tende à satisfação de suas pulsões e necessidades pela via da ilusão e um mundo
exterior que impõe ao indivíduo os dados da realidade (Laplanche & Pontalis, 1993). No entanto,
é importante destacar, como faz Poli (2005), que o termo fantasia não designa um desvio
enganoso de uma realidade factual. Segundo esta autora, “nada mais estranho à produção
psicanalítica do que a oposição entre uma verdade objetiva e uma falsidade subjetiva.” (p. 43).
Seguindo com conceitos provenientes da teoria freudiana, fantasma ou fantasia, segundo
Chemama (1995), significa "representação, argumento imaginário, consciente (devaneio), pré-
consciente ou inconsciente, implicando um ou vários personagens, que coloca em cena um
desejo, de forma mais ou menos disfarçada" (p. 70 e 71)
Para Fighera, Menegat e Poli (2006, p. 219),
a fantasia constitui, ao lado do conceito de inconsciente, o fundamento
tanto da teoria quanto da técnica e do método psicanalítico. Ela
fundamenta o pressuposto epistemológico da psicanálise, na medida em
que se apóia na concepção de "realidade psíquica". Mas é, além disso, um
preceito ético, pois visa à produção de sujeito, incluindo-o em uma
estrutura que a princípio lhe é estrangeira. Trata-se do processo de
subjetivação que a construção da fantasia permite.
A psicanálise, baseada na noção de inconsciente, parte do pressuposto de que não se pode
saber tudo, que não existe um saber total sobre o próprio sujeito ou sobre o Outro. E justamente
esse ponto de não-saber representa a fonte da eterna possibilidade de mudança para o homem,
53
pois ele nunca permanece estático. No entanto, esse ponto de não-saber também é fonte de
angústia, criando temor e incertezas. As fantasias surgem nesse ponto como ancoragens mais
seguras e como sendo pontos de certezas, e em função disso nem sempre são reconhecidas como
resultado da imaginação (Kruel, 1999).
Esse ponto de não-saber de que fala a psicanálise pode ser reportado ao que acontece com
os pacientes antes de uma cirurgia de grande porte, como é a cirurgia cardíaca. A intervenção no
corpo implica confrontar-se com um não-saber, mobilizando o temor frente ao desconhecido.
Esse “desconhecido” que é a cirurgia gera angústia, sendo justamente nesse ponto que surgem as
fantasias, com o importante papel de funcionar como um modo do sujeito se proteger do encontro
com o real não simbolizado, sendo um recurso psíquico de velamento dessa falta.
As fantasias são uma forma de estabelecimento de equilíbrio psíquico. Para Volich
(2000), isso também acontece com toda e qualquer doença – seja ela mental, somática ou
comportamental que, apesar de seu caráter desviante e regressivo, é ainda uma tentativa de
estabelecimento de equilíbrio no organismo que não foi capaz de enfrentar as tensões internas ou
externas às quais está submetido.
Especificamente no caso de pacientes cardíacos com indicação cirúrgica, o suporte da
fantasia faz-se necessário para que o sujeito seja capaz de suportar as rupturas e descontinuidades
na sua imagem corporal. O recurso à fantasia pode apresentar-se como a única saída que o
paciente encontrou para manter certo equilíbrio subjetivo, o que lhe possibilita enfrentar a
situação traumática.
A relação do paciente com o médico é um fator importante e que deve ser levado em
consideração nesse contexto de hospitalização e doença. De acordo com Coura (1996), o paciente
exprime fantasias inconscientes atualizadas na figura do médico. No entanto, essas fantasias não
poderiam ser ressituadas apenas como criações do paciente, pois o médico, de fato, pode exercer
54
um poder que influencie de forma direta no seu destino. Ele pode lhe indicar uma cirurgia ou uma
internação hospitalar, ou ainda comunicar o resultado de um exame cujo diagnóstico não seja
muito favorável. Isso significa, segundo este autor, que o médico pode efetivamente interferir no
corpo e no psiquismo do paciente, exercendo modificações na realidade e/ou no mundo externo
do doente, fazendo com que muitas das fantasias inconscientes do paciente adquiram uma
consistência material.
É importante ressaltar aqui a questão da transferência existente tanto na relação entre
médico e paciente como na relação entre psicanalista e analisando. Na psicanálise a transferência
assume importante papel nessas situações, sendo definida por Lacan (1964/1998, p. 165) como
“aquilo que manifesta na experiência a atualização da realidade do inconsciente, no que ela é
sexualidade.” Lacan ainda acrescenta afirmando que a transferência existe em todo lugar em que
haja um Sujeito Suposto Saber.
Na relação entre médico e paciente, o médico assume o papel de Sujeito Suposto Saber
sobre o corpo do paciente, mobilizando a transferência, mas não operando com ela. O médico
encarna essa posição de Sujeito Suposto Saber, pois ele precisa saber sobre o paciente, precisa
saber sobre esse corpo doente. Para Lacan (1964/1998), na transferência estão incluídos, juntos,
psicanalista e sujeito. Na situação de análise, o psicanalista também assume esta posição de
Sujeito Suposto Saber, mas, ao contrário do médico, ele possui a condição de operar com a
questão da transferência.
Existe, portanto, uma diferença fundamental entre a posição do médico e do
psicanalista/psicoterapeuta com relação aos seus pacientes. A situação médica promove o
tratamento do corpo físico, objetivando a sua cura. É um ato concreto (apalpar, ascultar) sobre
um corpo concreto. Já a função do psicanalista é tratar desse corpo e desse sintoma através da
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fala, intervindo na história do paciente e provocando efeitos terapêuticos por meio desse
atravessamento.
Coura (1996) comenta ainda que, embora o paciente racionalmente saiba que todos os
procedimentos que o médico faz visam curá-lo de sua doença, inconscientemente poderá ocorrer
uma eventual mobilização de representações evocadoras de medo, angústia ou desespero tanto
diante da doença quanto diante dos procedimentos realizados com o objetivo de curá-lo. Sendo o
médico o profissional concretamente presente (ou responsável) em tais procedimentos, este
profissional pode ficar confundido com o chamado perigo real (ou ameaça real) no psiquismo do
paciente.
Particularmente no caso de pacientes cirúrgicos, as fantasias têm a importante função de
conter a angústia avassaladora proveniente da realidade ameaçadora. A cirurgia cardíaca
caracteriza-se por ser uma intervenção de grande porte, na qual o corpo é manipulado, invadido e
controlado por uma equipe médica e suas aparelhagens técnicas – como a ventilação mecânica e a
circulação extra-corpórea. Além disso, a cicatriz no peito é a marca permanente de sua
realização. Especialmente nesses casos, a falta da função das fantasias deixaria o paciente à
mercê de uma angústia que provavelmente o impediria de submeter-se a tal procedimento.
Para Kruel (1999, p. 53), “as fantasias permeiam tudo o que o homem faz. Na prática de
preparação psicológica para cirurgia ou internação, ou após internação ou cirurgia de emergência,
o psicanalista colhe, através de seu método de escuta, as várias fantasias que se constroem.”
Cada sujeito entra no hospital para se submeter à cirurgia com uma estruturação psíquica
formada e com as experiências de vida que teve até esse momento, ou seja, traz sua própria
história para dentro desse ambiente. Sendo assim, conforme Romano (1998), é necessário
esclarecer que isto pode, de alguma maneira, afetar o modo como será vivenciado esse processo e
até mesmo suscitar questões que propiciarão ou não outras reações psicológicas. Quaisquer que
56
sejam estas fantasias, deve-se reconhecer o importante significado que elas representam para o
doente, a proporção e a influência que podem ter em toda evolução e recuperação.
A maneira como o paciente é tratado pela equipe do hospital é um fator importante para a
adaptação em sua nova condição. Reconhecer o significado das fantasias dos pacientes influencia
em todo o processo de preparação para a cirurgia, principalmente no período pós-operatório,
quando o paciente deve participar ativamente de seu processo de recuperação e, para isso, precisa
colaborar com a equipe e ter consciência de seu papel como agente de mudança.
Em um estudo realizado com 446 pacientes cardíacos cirúrgicos, Ruschel e Hoffman
(1989) observaram a formação de três grupos de fantasias. O primeiro grupo relaciona-se às
fantasias do período pré-operatório, quando os pacientes referem os sentimentos ligados aos
riscos de morte existentes antes da intervenção cirúrgica. O segundo grupo é composto pelas
fantasias ligadas ao momento da cirurgia, em que as maiores preocupações são com relação à
possibilidade de morrer durante a realização da cirurgia. O terceiro grupo refere-se às fantasias
presentes na fase pós-operatória, que são principalmente associadas aos cuidados dos
profissionais, aos aparelhos (como o tubo endotraqueal e sonda vesical) e com relação à
readaptação às atividades normais um tempo depois da saída do hospital.
IMAGEM CORPORAL E CORPO PULSIONAL
As questões relacionadas ao corpo sempre foram um desafio para a clínica psicanalítica,
pois o corpo sempre volta a interrogar o saber dos psicanalistas e o limite da psicanálise. Freud
toma como ponto de partida para o estudo de sua clínica o corpo da histérica, enquanto Lacan
retoma o corpo buscando instrumentalizar-se para operar com o real (Rodrigues, 2003).
A partir do conceito de pulsão, Freud coloca em evidência a diferença entre corpo
anatômico e corpo libidinal. Para a psicanálise, o corpo é a sede de conflitos pulsionais. Desse
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modo, falar sobre a abordagem psicanalítica do corpo significa se referir àquilo que a escuta do
analista reconhece enquanto um corpo cuja anatomia é construída a partir dos investimentos
libidinais mediatizados pela alteridade e pelos fantasmas/fantasias. No início de sua teorização,
Freud atribuiu aos orifícios do corpo o estatuto de zonas erógenas. Ele vai defender, em 1914,
que a erogeneidade é uma propriedade de todos os órgãos, sendo o corpo, como um todo,
recoberto por ela. Essa segunda versão da erogeneidade a descreve como generalizada a todo o
corpo e, em função disso, suscetível a aumentos e diminuições em cada uma de suas regiões
(Fernandes, 1999).
Ainda segundo esta autora, no início da vida do bebê as sensações corporais ocupam o
primeiro plano. As sensações causadoras de desprazer vão constituir uma demanda que é
expressa através do choro do bebê. A mãe responde a essa queixa apaziguando as sensações
corporais desagradáveis, como podem ser a fome, o frio, entre outros. Para que seja possível ela
escutar o corpo do bebê, interpretar os sinais de um corpo que não pertence mais ao seu e
nomear/responder a essa demanda, precisa haver um investimento da mãe no corpo dessa criança.
Esse investimento supõe que a mãe é capaz de transformar esse “corpo de sensações” em um
“corpo falado”.
O estado de desamparo original do bebê o coloca em uma posição de dependência
absoluta da figura materna. Na medida em que essa mãe investe libidinalmente nesse bebê, o
corpo da criança torna-se corpo erógeno. Ao nomear as partes do corpo ao bebê o mesmo passa a
ter um maior conhecimento sobre esse corpo, e essas condições vão contribuir para que, mais
tarde, a criança o conceba como unificado e como separado do corpo de sua mãe.
O corpo sempre foi objeto do discurso da ciência. A biologia e a medicina o consideram
como organismo biológico, como sendo o lugar das doenças, da saúde e de suas prevenções. A
definição de corpo dada pela medicina possui como traço comum o fato de o corpo somático ser
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considerado como uma máquina homeostática, que pode ser disposta em rias peças separadas.
o corpo de que trata a psicanálise é o corpo erógeno, pois a partir do momento em que o ser
humano é submetido à linguagem ela transforma o organismo vivo em corpo erógeno (Brant,
1999).
A ciência considera o corpo na sua dimensão biológica, “constituída de partes articuladas
e regradas por certos princípios funcionais de autoconservação. Esse corpo orgânico é dotado de
uma organização que não visa ao sujeito do inconsciente.” (Soares, 1999, p. 106). No entanto,
não se pode reduzir o corpo a um emaranhado de órgãos interligados entre si, pois esse corpo que
fala e diz de si requer seu deciframento no simbólico, e é nesse ponto que a psicanálise encontra
seu ponto de atuação dentro dos hospitais (Soares, 1999).
A psicanálise sublinha a erogeneidade do corpo e seu lugar na constituição do sujeito,
enquanto a medicina aborda o biológico, o orgânico. Mesmo partindo de referências tão
diferentes, tanto a medicina como a psicanálise têm objetivos semelhantes, que é trabalhar em
prol do paciente para minimizar seu sofrimento.
Lacan mostra que desde Freud existe uma diferença no olhar psicanalítico sobre o corpo,
que é muito diferente do olhar da medicina. Através dos fundamentos da prática analítica, fala e
linguagem, a teoria lacaniana aborda a questão do corpo de maneira essencialmente analítica e de
forma muito diferente do manejo feito por outros profissionais de saúde, como os médicos. Desse
modo, o analista toca o corpo e o sintoma por meio da palavra, intervindo sobre o inconsciente e
sobre a história, obtendo efeitos somáticos, pois na medida em que existe o atravessamento pela
fala, o corpo também é afetado (Cukiert & Priszkulnik, 2002).
Ainda segundo estas autoras, pode-se afirmar que a psicanálise entende o inconsciente e a
linguagem como seus constituintes fundamentais. Desse modo, qualquer abordagem que
59
considere o sujeito como puro organismo, desconsiderando o campo inconsciente e do desejo, faz
apenas uma leitura parcial do ser humano.
Em função disso, torna-se cada vez mais importante a presença de psicanalistas dentro do
ambiente hospitalar, visto que mesmo em um ambiente onde existe essa urgência em tratar do
corpo biológico, impera também certa urgência de ordem subjetiva. Dessa maneira, torna-se
necessário escutar o que esse corpo erógeno tem a dizer, ultrapassando os limites dos
procedimentos médicos convencionais.
Com relação a isso, Volich (2000) comenta que a obra freudiana destaca que a
representação do sintoma corporal transcende a norma anatômica. Paralelamente ao
desenvolvimento biológico, estrutura-se no homem, a partir das relações com seu semelhante,
uma representação imaginária de seu corpo que o vincula também a uma ordem cultural e
lingüística.
Conforme Garcia-Rosa (1984), é bastante claro que o corpo, segundo a teoria
psicanalítica, configura-se e é entendido como um corpo fantasmático e não meramente como
anátomo-fisiológico. Desde suas origens, o material das fantasias sempre foi muito estudado pela
psicanálise, pois ela entende a fantasia como sendo importante para que o paciente consiga lidar
com os sentimentos de medo, tensão e desamparo que o invadem em momentos como o de
hospitalização.
A própria construção da imagem corporal é uma construção fantasística, na medida em
que ela só existe a partir do Outro e se faz na relação com o outro. Durante o transcorrer da vida o
ser humano vai formando sua identidade, sendo a imagem corporal um dos principais traços que
se impõe como configuração da mesma. A imagem corporal revela-se durante o momento inicial
da constituição do sujeito, sofrendo transformações ao longo de sua vida. Para Freud (1923, p.
60
39) o eu é prioritariamente corporal, isto é, “o eu em última análise deriva das sensações
corporais, principalmente das que se originam na superfície do corpo.”
Para Cardoso (2004), as mudanças na imagem corporal e no papel desempenhado dentro
da família fazem com que o paciente cirúrgico assista ao seu próprio declínio, além das perdas
objetais. Corpo e tempo mesclam-se e interligam-se ao longo da vida. O sofrimento decorrente
de uma doença cardíaca vem informar que o coração, órgão cercado de simbologia, como bem
assinala Dolto, não está bem. A doença cardíaca alerta para o nosso despreparo em enfrentar o
desconhecido, pois é preciso lidar com um órgão que até então permanecia oculto dentro do peito
e com os pensamentos mágicos de ser um órgão invulnerável.
No caso do presente estudo, a doença cardíaca implica a realização da cirurgia, o que traz
consigo a relação com marcas reais e com as cicatrizes deixadas pela intervenção. Para Costa
(2003), a relação dos humanos com marcas e traços é bastante significativa, pois essa relação
situa ao menos dois pontos importantes: refere o sujeito como um objeto entre outros (separa,
ordena, descreve), bem como cria a realidade por onde o sujeito circula, sua relação aos outros e
aos objetos. Com relação a isso, Romano (2001) comenta que a cirurgia cardíaca ainda é
considerada por muitos como uma “cirurgia para executivos” (aspas da autora), o que identifica
o portador da cicatriz como pertencendo a determinado grupo, assim como acontece com o
portador de tatuagem.
Tanto a tatuagem como a cicatriz de uma cirurgia cardíaca têm essa função de identificar
o sujeito portador de determinada marca corporal. Cada uma dessas marcas é carregada de
sentido, de uma história subjetiva e individual, mas que é, de alguma forma, exteriorizada,
estando à mostra, na pele e no corpo.
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De acordo com Cardoso (2004), pesquisas realizadas com mulheres cardiopatas de
diferentes patologias e idades que serão submetidas à cirurgia cardíaca referem que a doença
propriamente dita, a cirurgia e as cicatrizes de tórax e pernas causam grande impacto na imagem
corporal. Além disso, foram verificadas diferenças individuais significativas perante tal situação,
na medida em que aquela marca tem um significado muito peculiar para cada uma das pacientes.
Algumas mulheres apresentam grande dificuldade em lidar com seu corpo alterado no período
pós-operatório, não conseguindo inclusive, olhá-lo diretamente. Não querem ver o corpo
“retalhado”, “castrado”, cicatrizado, maculado pela cirurgia. Atualmente, segundo esta autora,
observa-se que as cicatrizes dos membros inferiores vêm sendo causa de muita angústia por parte
das pacientes, pois muitas vezes elas tomam a extensão das duas pernas. Em contrapartida, a
cicatriz do peito pode indicar a condição de mártires, simbolizando que passaram por grande
sofrimento e, no entanto, resistiram a ele.
O SUJEITO FRENTE À CIRURGIA CARDÍACA
Em função da escassez de literatura em psicanálise sobre a cirurgia cardíaca, fizemos uma
tentativa de trazer dados existentes sobre o procedimento cirúrgico e, na medida do possível, ir
permeando com a teorização psicanalítica. Isso se torna viável pois a realização de uma cirurgia
cardíaca, como estamos vendo ao longo deste artigo, envolve questões já há muito tempo
estudadas pela psicanálise, como angústia, fantasias e imagem corporal.
Para Romano (2001), a relação da psicologia com a cardiologia existe desde a
Antigüidade, quando os estados emocionais agudos eram diretamente relacionados com as
manifestações do sistema cardiovascular. Porém, somente no século XIX é que a ciência
começou a preocupar-se com pesquisas envolvendo a relação mente/coração.
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De acordo com Romano (1994), particularmente nos casos de doenças que acometem o
coração, centro motor da circulação sangüínea, os efeitos de uma intervenção cirúrgica poderão
ser exacerbados justamente pelo reflexo de mitificações em torno do órgão como o fato de
considerá-lo o centro de sentimentos, das emoções e sinônimo de vida. Complementando essa
idéia, Dolto (1988, p. 147) acredita ser "no coração que o ser humano situa simbolicamente seus
sentimentos de identificação, de confiança, de segurança passiva ou ativa e de trocas afetivas com
seu semelhante humano."
Quando o adoecimento envolve o coração tudo ganha maiores dimensões, e isso pode
acontecer porque o órgão em questão é visto pela nossa cultura como sendo o centro das
emoções, dos sentimentos e da vida. Apesar de ser o cérebro o que realmente indica a morte de
um indivíduo, é o coração que no discurso social é responsabilizado pelo fato. Embora existam
doenças teoricamente mais graves e com pior prognóstico do que as cardíacas, esta última parece
ser a que desperta maior angústia.
Para Ruschel (1994), isso acontece em função da cultura na qual estamos inseridos, o que
faz com que a cirurgia cardíaca seja, muitas vezes, acompanhada de temores bem mais
significativos do que outros tipos de procedimentos mais graves. As fantasias e crendices
populares sobre a doença e também sobre a cirurgia cardíaca são muitas e podem interferir de
maneira intensa sobre o modo como os pacientes a enfrentam.
A gravidade e o risco de morte implicados na maior parte das doenças cardiovasculares,
segundo Andreis e Leite (1999), são responsáveis por mobilizar o psiquismo, podendo com isso
causar efeitos que podem tanto expressar uma dificuldade de reorganização interna como
conduzir a possibilidade de crescimento pessoal. Com relação à morte, Freud (1915/1987, p. 327)
fala sobre a ausência de representação psíquica, e ainda comenta:
63
De fato, é impossível imaginar a própria morte e, sempre que tentamos
fazê-lo, podemos perceber que ainda estamos presentes como
espectadores. Por isso, a escola psicanalítica pode aventurar-se a afirmar
que no fundo ninguém crê em sua própria morte, ou dizendo a mesma
coisa de outra maneira, que no inconsciente cada um de nós está
convencido de sua própria imortalidade.
Desde o nascimento somos obrigados a entender o caráter universal e irreversível da
morte, pois todos já passamos por experiências de perdas no decorrer de nossas vidas. No
entanto, conforme afirma Labaki (2001, p. 46), “quando o foco dessa evidência é a morte de si
próprio, ela deixa o campo da universalidade e fisga o sujeito ali onde ele se acreditava protegido,
vazio de dor, obrigando-o a encará-la como imposição que desafia sua potência elaborativa.”
Mais uma vez fica clara a questão referente à impossibilidade de representação da própria morte.
Em ocasiões nas quais o sujeito se depara com a questão da morte, mesmo quando
acontece de forma indireta, como no recebimento do diagnóstico de tratamento cirúrgico, ele é
invadido por dúvidas e medos com relação a todo o processo. Freud (1920/1987) define o termo
susto como um estado que invade o sujeito quando se depara com um perigo ao qual não estava
preparado. Já em Inibições, Sintomas e Angústia (1926/1987), Freud faz uma breve diferenciação
entre os termos angústia e medo. Para ele, a angústia possui relação direta com expectativa, pois é
angústia por algo, por alguma coisa. Além disso, possui também a qualidade de indefinição e
falta de objeto. Ainda segundo Freud, a palavra medo deve ser empregada no lugar de angústia
quando tiver encontrado um objeto específico que seja a fonte de perigo.
A indicação cirúrgica geralmente desperta fantasias com relação ao procedimento em si e
ao período pós-operatório. Submeter-se a um procedimento cirúrgico pode gerar medo e angústia,
pois o paciente vê-se obrigado a enfrentar o desconhecido, o novo, a perda de controle. Aliás, o
64
próprio termo “submeter-se ao evento cirúrgico” já implica passividade, indicando a posição que
o paciente ocupa no procedimento.
Conforme Angerami-Camon (2002), mesmo sem a intenção de negar que o passado de
uma determinada pessoa irá influenciar não apenas em sua conduta, mas também em sua
recuperação física, ainda assim não está errada a afirmação de que a situação de hospitalização é
algo único enquanto vivência, não havendo a possibilidade de previsão anterior à sua própria
ocorrência.
A internação hospitalar pode contribuir para o sentimento de ruptura com a vida diária e
com a perda da autonomia do paciente. A hospitalização pode implicar uma série de sentimentos
de desconforto, inclusive propiciando o processo de despersonalização, muito comum no
ambiente hospitalar e em grandes períodos de internação, pois o paciente passa a ser tratado em
função do quadro de sintomas que apresenta, e não mais pela sua singularidade enquanto
indivíduo. O processo de despersonalização implica em uma queda da imagem corporal e
desorganização do corpo erógeno.
Para Angerami-Camon (2003), no processo de adoecer, é como se o paciente tivesse um
confronto entre o que havia concebido para a sua vida anteriormente e a realidade que lhe é
apresentada em termos de concretude existencial. É como se a hospitalização fosse capaz de levar
cada paciente a uma necessidade de reafirmação subjetiva, a um reposicionamento do sujeito em
relação aos seus referentes simbólicos.
Essa concretude existencial pode ser interpretada como algo da realidade que não tem o
suporte da fantasia. O paciente se depara com a doença e com as limitações impostas por ela.
Precisa se adaptar a sua nova condição e, durante o período da internação hospitalar, é necessária
também a adequação às regras e rotinas da instituição, ficando o paciente então destituído do
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papel social que exercia até este momento, sendo obrigado a assumir uma posição temporária de
dependência.
Na maior parte dos casos a internação em hospital é algo que desestabiliza não o
paciente acometido pela enfermidade, mas também a sua família, já que nunca alguém se
encontra preparado para enfrentar a doença, a morte e o imprevisível. Em momentos como esse,
todas as certezas que o sujeito sustentava não são mais suficientes para responder aos seus
questionamentos (Mohallen & Souza, 2000).
A hospitalização desorganiza a relação do sujeito com a sua imagem corporal, na medida
em que esse sujeito torna-se um paciente cirúrgico, sendo constantemente manipulado por uma
equipe médica e tendo que lidar com aparelhos, sondas e curativos. A concretude da situação
implica na queda do véu da fantasia e, posteriormente, em sentimento de desamparo.
No hospital, o corpo erógeno constituído desde o momento do nascimento é tratado pela
equipe de saúde enquanto corpo natural, anatômico. É manipulado enquanto objeto, sendo
constituído sem o olhar do outro. As atenções estão voltadas para a cura do corpo, e no nosso
caso, especificamente no órgão cardíaco. Todas as questões de ordem subjetiva são deixadas em
suspenso, sendo o paciente tratado como um corpo doente que está ali para ser curado.
O momento da internação pode ser vivido de forma extremamente dramática, não
importando o tipo de cirurgia à qual o paciente será submetido e nem suas experiências
anteriores. Para Labaki (2001), os momentos de choque (seja por recebimento da notícia de
internação ou de intervenção cirúrgica) em que existe afeto em abundância parecem, de maneira
geral, pobres em pensamento e em elaboração. Diante da tragédia do recebimento da notícia,
nada vale como representação. Nesse momento, tudo parece irreal e destituído de valor. Ainda
segundo essa autora, “da perspectiva econômica, essa situação assemelha-se ao estado traumático
por invadir o psiquismo com um excesso de carga afetiva incontornável.” (p. 47)
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Com relação a isso, Ruschel, Daut e Santos (2000) afirmam que quando os aspectos
psicológicos não são considerados na situação de tratamento cirúrgico, poderá haver aumento da
predisposição para complicações emocionais que prejudicam a convalescença, chegando a
intensificar, em algumas situações, a morbidade no período pós-operatório. Para essas mesmas
autoras, a cirurgia é uma experiência de muita ameaça na vida de qualquer pessoa, pois envolve
uma carga emocional característica. A forma como cada um enfrenta esse tipo de intervenção
poderá facilitar ou não a completa recuperação e readaptação à vida normal.
Para Romano (1998), as principais fontes de angústia no período pré-operatório são: 1)
separação de casa, da família, de seu ambiente, de suas coisas; 2) o medo com relação à vida em
si e; 3) ser forçado a assumir o papel de doente e antecipar questões diretamente relacionadas
com o físico, tais como o ato cirúrgico, a dor e a perda do controle sobre si mesmo.
Em um estudo realizado por Jurkiewicz (2003) com pacientes no período que antecedeu à
cirurgia cardíaca, todos os sujeitos da amostra apresentaram histórico de vivência de perdas no
período anterior ao surgimento dos sintomas de doença cardíaca. Além disso, também foi
verificado que, durante o período de internação hospitalar, a proximidade com as vivências de
doença e terminalidade podem levar o sujeito a pensar sobre sua própria morte, e isso geralmente
remete o sujeito à lembrança da morte de outras pessoas que tenham algum significado especial
para ele.
Quando o sujeito depara-se com a necessidade da realização de uma cirurgia cardíaca
existe uma grande mudança na sua vida. O sujeito passa de uma posição de relativa
independência para uma posição de dependência e certa fragilidade, o que pode mobilizar
angústia quando ele se vê destituído de seu papel, de sua função. Várias outras questões também
estão implicadas nesse processo, como o medo da manipulação do corpo e os pontos de não-saber
presentes nessa situação desconhecida, e talvez por isso, assustadora.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da revisão da literatura e da discussão realizada, percebemos que o paciente
cardíaco cirúrgico é imerso, desde o momento do recebimento da notícia da necessidade da
cirurgia, em uma nova realidade que revela sua nova condição. O fato de transformar-se em um
paciente cirúrgico o destitui do papel que desempenhava até então. O sujeito é exposto a uma
nova realidade cercada de pontos de não-saber, de dúvidas e de desconhecimento, o que pode
acarretar grande angústia no paciente.
Observamos também que as fantasias surgem como uma forma de conter a angústia do
paciente cardíaco cirúrgico, na medida em que tenta reestabelecer e manter certo equilíbrio
subjetivo. De um modo geral, as fantasias dos pacientes cirúrgicos surgem como uma forma de
preencher a lacuna, a ruptura com o suporte fantasístico do corpo, permitindo que esse paciente
lide com a angústia frente à intervenção. Em momentos de angústia, dúvidas e medo frente à
procedimentos desconhecidos, as fantasias surgem como um ponto de segurança em uma vida
que está sendo inundada de incertezas.
A questão do corpo também é algo bastante presente neste tipo de cirurgia, pois o que está
implicado no “mexer no coração” vai muito além do que as modernas técnicas cirúrgicas podem
explicar. O coração é um órgão culturalmente impregnado de simbolismo, e o fato dele estar
doente e precisar de uma cirurgia pode despertar angústia e incertezas. Além disso, o paciente
tem seu corpo manipulado por uma equipe médica desconhecida e sofre procedimentos invasivos
e agressivos, deixando marcas na pele e na subjetividade de cada sujeito que passa por essa
experiência. O fato de passar por um período sob o efeito da anestesia também remete a falta de
controle sobre o corpo e sobre as questões de vida e morte, podendo também despertar angústia
em função de existir um outro desconhecido responsável por sua vida neste momento.
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Na busca de material teórico para a elaboração deste estudo, percebemos a escassez de
trabalhos dentro do referencial psicanalítico sobre pacientes cardíacos cirúrgicos. Existem muitos
trabalhos dentro da linha psicanalítica sobre os conceitos que nortearam essa pesquisa,
trabalhando teoricamente a angústia, as fantasias e a questão do corpo pulsional e imagem
corporal. No entanto, parece que ainda faltam trabalhos dentro da psicanálise contendo uma
ligação direta com as questões da área da saúde, principalmente quando se trata da relação com a
cirurgia cardíaca. Percebemos a necessidade de novas pesquisas que enfatizem a importância de
se considerar os aspectos psicológicos em pacientes que irão se submeter a procedimento
cirúrgico. Acreditamos que, a partir de futuras pesquisas, a inserção e o trabalho de psicanalistas
dentro das instituições de saúde torne-se uma realidade cada vez mais presente.
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72
5. ARTIGO EMPÍRICO
O SUJEITO FRENTE À CIRURGIA CARDÍACA: LIDANDO COM O
DESCONHECIDO*
* Este artigo será submetido à publicação na Revista “Psicologia: Ciência e Profissão”. A apresentação do texto
segue as normas de publicação desta revista (em Anexo C).
73
O SUJEITO FRENTE À CIRURGIA CARDÍACA: LIDANDO COM O
DESCONHECIDO
THE SUBJECT FACING THE CARDIAC SURGERY: DEALING WITH THE
UNKNOWN
Jossiele Fighera
Psicóloga pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e Mestranda em Psicologia
Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
Maria Cristina Poli
Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA), Mestre em
Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e Doutora em
Psicologia pela Universi de Paris 13. Professora da Faculdade de Psicologia da PUC-RS e
coordenadora do Grupo de Pesquisa em Psicanálise do Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Pós-Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ.
Endereço para correspondência:
Jossiele Fighera: Caixa Postal 05 Santa Maria-RS CEP 97110-970. Telefone: (55)
3226-1503. E-mail: [email protected]
Maria Cristina Poli: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Av. Ipiranga,
6681. Prédio 11, andar, sala 937. POA/RS. CEP 90619-900. Telefone: (51) 3320-3633. E-
74
O SUJEITO FRENTE À CIRURGIA CARDÍACA: LIDANDO COM O
DESCONHECIDO
THE SUBJECT FACING THE CARDIAC SURGERY: DEALING WITH THE
UNKNOWN
75
RESUMO
O adoecimento é sentido pelo paciente como uma ruptura no desenrolar da vida, uma
inadequação, um fenômeno indesejado que acomete o sujeito e é capaz de mudar tudo que ele
havia estruturado até o momento. Neste artigo, procuramos registrar as narrativas de pacientes
cardíacos sobre a intervenção cirúrgica em situação de internação hospitalar. Este entendimento
ocorreu com base na realização de entrevistas semi-dirigidas com os pacientes e na observação
dos grupos de pacientes no período pré e pós-cirurgia cardíaca. Alguns elementos destacaram-se
nessa pesquisa: o período pré-cirúrgico, a relação entre religiosidade e medicina, sintomas e
fantasias, a hospitalização e o sentimento de dependência, o período pós-cirúrgico e a Unidade
Pós-operatória e a manipulação do corpo e anestesia.
Palavras-chave: psicanálise; cirurgia; cardiologia; fantasias
ABSTRACT
Sickness is felt by the patient as a rupture in life development, an inadequate, a non-desirable
phenomenon that the person faces and is not able to change everything that was structured until
the moment. In this paper, we try to register the cardiopath patients’ narratives upon the surgical
intervention in hospital internment situation. This finding was obtained based on semi-directed
interviews with the patients and on patient’s group’s observation during pre and post surgery
period. Some elements were standed out in this research: the pre-surgery period, the relation
between religiosity and medicine, symptoms and fantasies, the hospitalization and the
dependency felling, the post surgery period and the Post-Surgery Unit and the body manipulation
and anesthesia.
Key-words: psychoanalysis; surgery, cardiology
76
Introdução
O adoecimento é sentido pelo paciente como uma ruptura no desenrolar da vida, uma
inadequação, um fenômeno indesejado que acomete o sujeito e é capaz de mudar tudo que ele já
havia estruturado até o momento. Além disso, o adoecimento não acomete unicamente o
paciente e sim toda sua família e o círculo social em que convive. Desse modo, a presente
pesquisa não diz respeito ao significado da doença em si, mas sim o que está implicado na
intervenção cirúrgica e no período de hospitalização.
Nesta pesquisa, o adoecimento traz consigo três agravantes: primeiro, trata-se de
pacientes cardíacos; segundo, pacientes com indicação cirúrgica e terceiro, o fato de que a
internação hospitalar faz-se necessária.
Pelo fato de se tratar de adoecimento envolvendo o coração tudo ganha maiores
dimensões, e isso pode acontecer porque o órgão em questão é visto pela nossa cultura como
sendo o centro das emoções, dos sentimentos e da vida. O segundo agravante diz respeito ao fato
de a pesquisa envolver pacientes cardíacos com indicação cirúrgica, o que geralmente desperta
fantasias com relação ao procedimento em si e ao período pós-operatório. Submeter-se a um
procedimento cirúrgico pode gerar medo e angústia, pois o paciente se obrigado a enfrentar a
perda da imagem corporal e a desorganização do corpo erógeno.
Em função disso, surge o terceiro agravante em causa nessa pesquisa, que se refere ao fato
do procedimento requerer um período de internação hospitalar, o que contribui para o sentimento
de ruptura com a vida diária e com a perda da autonomia do paciente. A internação pode implicar
uma série de sentimentos de desconforto, inclusive propiciando um processo de
despersonalização, muito comum no ambiente hospitalar e em grandes períodos de internação,
pois o paciente passa a ser tratado em função do quadro de sintomas que apresenta, e não mais
pela sua singularidade enquanto sujeito.
Procuramos, diante disso, registrar as narrativas de pacientes cardíacos sobre a
intervenção cirúrgica em situação de internação hospitalar. Nesse contexto, foi possível investigar
alguns aspectos referentes ao período pré e pós-operatório e ao processo de hospitalização. Esse
entendimento ocorreu com base na realização de entrevistas semi-dirigidas com os pacientes e na
observação dos grupos.
A presente pesquisa caracteriza-se por seu caráter qualitativo, da qual a psicanálise é um
modelo próprio. Considerando-se os objetivos, a metodologia escolhida parece ser a mais
77
adequada, pois permite uma melhor compreensão dos dados subjetivos dos participantes. Os
procedimentos realizados foram observações dos grupos de pacientes cardíacos cirúrgicos (que
ocorrem semanalmente na instituição e possuem um caráter aberto) e entrevistas semi-dirigidas
com os pacientes. Tanto as entrevistas como as observações são compatíveis com o método
psicanalítico, que dispõe dos mesmos para melhor compreender tanto os fenômenos conscientes
como os inconscientes que povoam o psiquismo humano.
Participaram das entrevistas cinco pacientes cardíacos adultos, no período pré e pós-
cirúrgico, sendo dois homens e três mulheres. Esses pacientes estavam internados na Unidade
Cirúrgica de um hospital na cidade de Porto Alegre. As entrevistas foram realizadas em dois
momentos distintos: uma no pré-cirúrgico e a outra no pós, num total de dez. O objetivo das
entrevistas foi o de escutar o discurso dos pacientes a respeito da cirurgia e do que ela representa
em sua história de vida.
Também foram realizadas doze observações dos grupos de pacientes cirúrgicos, que
acontecem na instituição e são coordenados pelo Serviço de Psicologia, além de contar com a
presença de outros profissionais, como fisioterapeutas, enfermeiras e nutricionistas. Estas
observações ocorreram semanalmente, durante um período de três meses, durante o qual se
investigou a forma como os pacientes, inseridos em um grupo, falam sobre o procedimento
cirúrgico. Após cada observação, foi realizado um registro por escrito tanto das expressões
gestuais como da fala desses pacientes.
No decorrer deste artigo, são apresentadas vinhetas das observações e também das
entrevistas. Todos os pacientes que participaram desse estudo são mencionados no texto por
nomes fictícios com o objetivo de manter o caráter sigiloso e preservar a identidade dos sujeitos.
Alguns elementos se destacaram nas entrevistas com os pacientes no período pré e pós-cirúrgico
e nas observações dos grupos de pacientes cardíacos cirúrgicos, tais como: o período pré-
cirúrgico, a relação entre religiosidade e medicina, sintomas e fantasias, a hospitalização e o
sentimento de dependência, o período pós-cirúrgico e a Unidade Pós-operatória e a manipulação
do corpo e anestesia. A seguir, esses aspectos serão detalhados.
O período pré-cirúrgico
Na doença cardíaca, muitas vezes os pacientes convivem com o diagnóstico e com os
sintomas da doença muitos anos. Não trataremos aqui, portanto, da maneira como o paciente
78
reagiu mediante a descoberta da doença. O que nos interessa nesse estudo é analisar a
repercussão do recebimento da notícia da realização da cirurgia, quando não existem mais
tratamentos a serem feitos, a não ser a intervenção cirúrgica.
O momento do recebimento da notícia da realização da cirurgia pode ser vivido de forma
extremamente dramática, não importando o tipo de cirurgia a qual o paciente será submetido e
nem suas experiências anteriores. Para Labaki (2001), os momentos de choque (seja por
recebimento da notícia de internação ou de intervenção cirúrgica) em que existe afeto em
abundância parecem, de maneira geral, pobres em pensamento e em elaboração. Diante da
tragédia do recebimento da notícia, nada vale como representação. Nesse momento, tudo parece
irreal e destituído de valor. Segundo essa autora, “da perspectiva econômica, essa situação
assemelha-se ao estado traumático por invadir o psiquismo com um excesso de carga afetiva
incontornável.” (p. 47)
Esse aspecto do choque diante do recebimento da notícia pode ser percebido, ao longo de
nossa pesquisa, tanto nos grupos observados quanto nas entrevistas realizadas. Em uma das
entrevistas, uma paciente, que vamos chamar aqui de Júlia, comenta sobre o contexto em que ela
ficou sabendo que teria que fazer a cirurgia. Ela fala que já tinha feito todos os exames
necessários, mas que a cirurgia seria realizada dali a vários meses em função de aspectos
burocráticos da instituição. No entanto, um dia ela recebeu um telefonema do hospital, no qual o
funcionário informava que havia uma vaga e que a cirurgia dela seria realizada em duas semanas,
causando um certo espanto na paciente, conforme o que ela relata: “Na hora que eu recebi a
ligação eu fiquei meio chocada. Tentei ser forte, mas desabei um pouco [...] Mas pra mim o
choque principal foi saber que eu vou ser serrada ao meio, assim sabe, uma coisa bem dramática
pra mim.”
No caso dessa paciente, talvez o choque pelo recebimento da notícia tenha sido ainda
maior em função do histórico de sua doença. Júlia descobriu que tinha problema em uma das
válvulas cardíacas quando tinha 14 anos, e desde então foi informada que deveria fazer um
tratamento “por toda a vida”. No entanto, como não apresentava sintomas, ela parou de fazer o
tratamento e seguiu sua vida sem acompanhamento médico, até que hoje, aos 46 anos, se
encontrou diante da perspectiva de intervenção cirúrgica. Parece que, pelo fato dela ter vivido
tantos anos postergando essa cirurgia, o choque pelo recebimento da notícia realmente abalou
suas certezas. Ela se viu diante de um abismo.
79
Ainda no que diz respeito à reação frente ao recebimento da notícia de que teria que fazer
a cirurgia, uma paciente comenta no grupo: “É a mesma coisa que botar água fria, depois quente,
depois fria de novo. aquele choque.” Talvez essa paciente tenha ficado tão chocada com o
recebimento da notícia que precisou recorrer a “estados físicos” para se fazer entender. A
angústia frente à necessidade cirúrgica pode ser tão ameaçadora que essa paciente não consegue
expressar seus sentimentos de outra forma, com outras palavras.
Isso nos remete ao conceito freudiano de trauma, conceito que aparece pela primeira vez
nas obras de Freud em Estudos sobre a histeria (1895/1995) quando fala sobre as pacientes
histéricas, como sendo relacionado com uma primitiva sedução sexual. A noção de trauma
remete, primeiramente, para uma concepção econômica, na qual o aparelho psíquico mostra-se
incapaz de liquidar as excitações segundo o princípio da constância. No entanto, a noção de
trauma assume maior valor em 1926, na teoria da angústia, quando Freud o reconhece como
representado pelas perdas precoces, como a perda do amor da mãe e de outras pessoas
significativas, ligando a ocorrência desses traumas psicológicos a um estado de desamparo.
A angústia, nos momentos que antecedem a cirurgia, pode desencadear uma clivagem,
como postula Freud em A divisão do ego no processo de defesa (1938/1988). Segundo ele, duas
reações contraditórias frente ao conflito constituem o ponto central do mecanismo de clivagem.
Em nossa pesquisa, isso pode ser visualizado através da díade: medo de que alguma coisa
aconteça versus a necessidade de se submeter à cirurgia em busca de uma melhoria na qualidade
de vida.
Essa questão da clivagem frente à necessidade de intervenção cirúrgica pode ser entendida
através da fala de uma paciente, Miriam, como vemos a seguir: “Mas eu me desesperei, eu não
queria fazer de jeito nenhum. Eu dizia que morria mas não fazia a cirurgia.” Miriam, uma senhora
de 64 anos, relata que o momento da notícia foi de grande sofrimento. No entanto, depois de uma
conversa com seu médico, ela entendeu que a cirurgia era a melhor coisa a ser feita naquele
momento, sendo a única opção para a melhoria em sua qualidade de vida. No momento da
entrevista pré-cirúrgica, Miriam parecia conformada com a sua decisão, referindo que era melhor
fazer a cirurgia enquanto “ainda dava tempo”.
Um outro fato que apareceu de forma bastante significativa, tanto nos grupos como nas
entrevistas, é no que diz respeito ao inesperado da notícia. A cirurgia é sempre um elemento
surpresa, mesmo quando os pacientes sabem sobre a sua doença e fazem o devido tratamento,
80
conforme relata a paciente, Acássia, em uma das entrevistas: “A gente nunca espera que a gente
ter que passar por uma cirurgia né...a gente sabe notícias de outros, mas parece que a gente
nunca vai precisar disso.”
A relação entre religiosidade e medicina
A religiosidade é um fato bastante presente na vida dos pacientes cardíacos cirúrgicos,
podendo funcionar como uma maneira do sujeito sentir-se mais seguro frente a tantas incertezas
desse novo universo. Além disso, a referência a Deus é feita sempre em sua relação com a figura
dos médicos, outra fonte de segurança nesse período, como pode ser visto através da fala de
Miriam: “Eu me entrego a Jesus, tenho orado de montão e falo com ele, peço ajuda, peço que ele
fique junto comigo, me cuidando, guiando as os dos médicos e que seja feita a vontade dele,
porque viver assim não adianta.”
Essa questão de que “Deus vai estar guiando as mãos dos médicos” é interessante, pois
nos faz pensar sobre que poderes esse paciente está delegando a esse médico. Para Moura (2003),
o médico é feito pelo reconhecimento do doente como sendo ele o responsável por curar a sua
dor, ou seja, é endereçado ao médico um pedido de ajuda, situando nele um Sujeito Suposto
Saber. Uma outra paciente participante do grupo comenta sobre a importância de ter fé, dizendo:
“A gente se entrega pra Deus e seja o que Ele quiser. Tem as mãos maravilhosas dos médicos
também, que Deus com certeza está guiando.”
De certa forma, os pacientes dessa pesquisa retratam os médicos como sendo os
“enviados” de Deus, como sendo seres que os vão protegê-los durante a cirurgia e devolver sua
saúde física. O médico aparece como uma figura mista entre o científico e o religioso, uma
fronteira entre ciência e religião.
Para Coura (1996), esse investimento mágico nos médicos é efetuado pelos pacientes e
pela população em geral quando são acometidos por alguma doença. Além disso, esse
investimento parece ignorar toda e qualquer racionalização científica que se queira impor ao
exercício da medicina, tendo seu correspondente, na pessoa do médico, no que o autor denomina
de “função sagrada”.
Com relação a isso, podemos nos remeter a Lévi-Strauss (1975) que, em seu texto O
feiticeiro e sua magia, fala sobre a eficácia de certas práticas mágicas. Segundo ele, a eficácia da
magia depende diretamente da crença da magia, sendo que esta se apresenta sob três aspectos
81
complementares. O primeiro aspecto refere-se à crença do feiticeiro na eficácia de suas técnicas.
O segundo aspecto diz respeito à crença do doente que ele cura no poder desse feiticeiro, e o
terceiro aspecto refere-se a confiança e às exigências da opinião coletiva.
Aqui, talvez possamos fazer uma relação do médico com a figura do feiticeiro, pois os
pacientes atribuem ao médico um poder tão grande quanto ao que os sujeitos atribuem aos
feiticeiros no texto de Lévi-Strauss. Os pacientes depositam uma confiança muito grande nos
médicos que vão operá-los, e geralmente referem que tem uma força divina – no caso, Deus – que
“guia a mão dos médicos” durante a cirurgia, assim como existe algum poder sobrenatural que
guia os feiticeiros durante seus rituais de magia e cura.
em seu texto A eficácia simbólica, Lévi-Strauss (1975) faz uma relação interessante
entre a figura do xamã e a do psicanalista. Para ele, o xamã promove a cura do paciente na
medida em que fornece ao doente uma linguagem através da qual se torna possível exprimir
estados não-formulados, sendo a passagem a esta expressão verbal que provoca o desbloqueio
dos processos fisiológicos que deram origem à doença. A função do psicanalista, por sua vez, é
tratar desse corpo e desse sintoma através da fala, intervindo na história do paciente e provocando
efeitos terapêuticos por meio desse atravessamento. Em todos esses casos a transferência ocupa
um poderoso lugar. Tanto o médico e o feiticeiro como o psicanalista e o xamã ocupam o lugar
que Lacan (1964/1998) denominou de “Sujeito Suposto Saber”.
Um outro fato muito interessante é que os pacientes que fizeram algum procedimento
cirúrgico, mesmo tendo sido realizado muitos anos atrás, buscam fazer a nova cirurgia no
mesmo hospital e, preferencialmente, com o mesmo médico. Um exemplo disso aconteceu em
um dos grupos, quando um paciente que hoje mora em uma cidade de outro Estado, disse que sua
maior alegria foi quando soube que o médico que o operou vinte anos atrás ainda trabalhava
no mesmo hospital. Além disso, ele comenta também: “Esse tipo de coisa a gente guarda, lembro
das coisas que eu senti há vinte anos atrás.”
Uma outra paciente, Miriam, relata que foi encaminhada para um hospital para fazer todos
os exames e, futuramente, a cirurgia. Porém, conta que desistiu de tudo em função da forma
como foi atendida pelo médico: “Eu não ia fazer uma cirurgia com um doutor que a gente não
pode nem fazer perguntas. Meus exames ficaram marcados, era pra eu ter feito a cirurgia
até...mas eu não quis, preferi fazer com o médico que eu já conhecia.”
82
Esse fato vai ao encontro do que afirmam Barbosa e Mendelssonh (1992), quando
referem que pode ocorrer que, pela confiança exagerada no cirurgião, o paciente e seus familiares
passem a acreditar e criar expectativas de que ele elimine todo o mal e promova a cura do
paciente, como se ele tivesse o controle da vida e da morte.
Mais uma vez ficamos pensando que poder é esse que o médico exerce e que lugar ele
ocupa no imaginário do paciente. Não é novidade que o médico ocupe o lugar que Lacan
denomina de “Sujeito Suposto Saber”, mas existe algo que transcende, pois existe uma carga de
confiança muito grande que é depositada nesse profissional, como dificilmente podemos ver em
outras situações e com outras categorias profissionais.
Sintomas e fantasias
Tanto através das observações nos grupos como nas entrevistas, foi possível percebermos
que existem diferenças significativas entre um paciente que apresenta sintomas da doença e outro
que não apresenta. O paciente sintomático parece aceitar melhor a necessidade da cirurgia, pois
convive com sintomas que causam prejuízos em todas as esferas de sua vida. Com relação a isso,
em um dos grupos, um senhor de aproximadamente 50 anos relata: “Minha vida sexual mudou
muito depois da doença. Quase não faço, e quando faço eu tenho que sentar na cama depois e
tenho uma sensação de que eu vou morrer.” Logo depois, ele ainda comenta: “Se eu tivesse uma
só chance de fazer a cirurgia eu faria...não deixava a chance escapar.”
Quando o paciente apresenta os sintomas e sofre em função deles, pode ser que a
aceitação da doença e da cirurgia torne-se mais compreensível, que sentem que alguma coisa
em seu corpo não vai bem e que a cirurgia pode ser a única maneira de curá-los e livrá-los da dor.
Ou seja, os pacientes que apresentam sintomas conseguem lidar com o evento traumático de uma
forma diferente daqueles que não apresentam.
No entanto, quando os pacientes são assintomáticos, eles não entendem o porquê da
necessidade de procedimento cirúrgico, chegando uma paciente a relatar: “eu poderia viver muito
bem o resto da minha vida sem essa operação.” Nos casos em que a doença cardíaca não causa
nenhum prejuízo aparente na vida do sujeito e que não aparece em sua forma mais “concreta”
parece ser mais difícil a aceitação da necessidade da cirurgia.
Em um dos grupos, por exemplo, uma paciente fala emocionada: “Eu recebi a
recomendação do meu médico pra fazer a cirurgia, mas às vezes eu fico pensando: será que eu
83
tenho mesmo que fazer essa cirurgia? Eu não sinto nada, me sinto bem, não tenho sintoma
nenhum, não sinto cansaço. Realmente não entendo porque tenho que fazer a cirurgia.” Nesse
momento, a paciente chora e se emociona muito, provocando certa comoção coletiva no grupo.
Nota-se que, a partir desse momento, todos os pacientes tentam tranqüilizar a paciente, falando
que também se sentiram assim, mas que agora conseguem entender como as coisas realmente
são. É um movimento coletivo interessante de tentar conter a angústia dessa paciente.
Mais uma vez fica claro que quando a doença cardíaca assume uma forma “silenciosa”,
ou seja, quando os pacientes não apresentam nenhum tipo de sintoma que esteja prejudicando o
andamento de sua vida e de suas atividades, fica mais difícil entender e aceitar a indicação
cirúrgica.
Com relação a isso, é importante salientar o papel das fantasias nesse período de
“entendimento dos sintomas”. No caso dos pacientes do nosso estudo, é o apoio no sintoma que
permite a construção das fantasias, ou seja, as produções fantasísticas ocorrem a partir dos
sintomas da doença. Dessa forma, apresentar sintomas pode fazer com que o paciente tenha uma
representação da doença e construa fantasias a seu respeito, sendo uma forma de conter a
angústia causada pelo recebimento da notícia de que terão que fazer a cirurgia. É o que podemos
observar na narrativa do senhor citado no primeiro parágrafo desse item, pois a doença implica
para ele uma diminuição de sua atividade sexual, o que demonstra que estar doente está associado
à perda de sua condição sexual, e a cirurgia aparece como possibilidade de restaurar esta
capacidade.
Por outro lado, quando o paciente é assintomático ele fica sem a representação da doença,
sendo talvez mais difícil produzir fantasias a partir da falta de sintoma. É preciso representar o
corpo doente para poder suportar a intervenção cirúrgica. Em umas das entrevistas, o paciente
Marcos comenta sobre o susto que ele levou ao saber que seus exames não estavam bons e que
ele teria que fazer a cirurgia. O fato de ele levar uma vida saudável, com bons hábitos e uma boa
qualidade de vida – livre de sintomas –levou-o a “desconfiar” do diagnóstico, como ele apresenta
em sua fala: “Quando eu levei meus exames pro meu médico e ele me disse o resultado [que não
estavam muito bons] eu disse pra ele: ‘mas será que esses exames não o de um velhinho que
tava na minha frente e também fez os exames? Será que não trocaram os exames?’ [...] Eu
sempre tive uma vida saudável, nunca senti nada.”. Essa fala pode estar indicando que o fato de
se deparar com a necessidade da cirurgia passa por uma constatação de seu envelhecimento.
84
Nesse caso, já existe um início de representação da fantasia, mas ainda de um jeito clivado, isto é,
pensar que a doença não é minha, mas sim do “outro” que também fez os exames.
Para Kruel (1999), a psicanálise parte do pressuposto de que não existe um saber total
sobre o próprio sujeito ou sobre o outro. Esse ponto de não-saber pode ser encarado de duas
maneiras: de um lado, representa a fonte da eterna possibilidade de mudança para o homem, pois
ele nunca permanece estático. Por outro lado, esse ponto deo-saber é fonte de angústia,
criando temor e incertezas. Desse modo, as fantasias surgem nesse ponto como ancoragens mais
seguras e como sendo pontos de certezas em uma vida que está sendo inundada de dúvidas e
angústia.
A hospitalização e o sentimento de dependência
A instituição hospitalar é um local caracterizado por sua assepsia, profissionais
especializados e rotinas muito bem estruturadas com o objetivo de manter o controle sobre o
paciente e sobre sua doença. O paciente, ao entrar no hospital, tem sua vida e seu corpo sob
controle: é controlada sua pressão, sua temperatura, sua alimentação, sua medicação e seus
hábitos. Em função de todo esse controle exercido, não sobra espaço para a subjetividade do
paciente.
O controle externo coloca o paciente num lugar de relação objetal primária. Ele tem que
suportar estar à mercê de uma equipe de profissionais que lida com seu corpo de uma forma
meramente objetal, sem subjetividade. Isto pode ser comparado ao estado de desamparo original
do bebê, que o situa em uma posição de dependência absoluta da figura materna. Na medida em
que essa mãe investe libidinalmente nesse bebê, o corpo da criança torna-se corpo erógeno. Do
mesmo modo, esse paciente precisa suportar estar no lugar de um bebê dependente, porém, sem o
olhar desejante dessa mãe e/ou dessa equipe.
De acordo com Foucault (1979), o hospital, como instituição terapêutica que conhecemos
hoje, é uma invenção do final do século XVIII. Antes disso, o hospital era essencialmente uma
instituição de assistência aos pobres, uma espécie de morredouro, um lugar onde morrer. As
pessoas que trabalhavam no hospital eram os religiosos e leigos, que estavam ali para fazer uma
obra de caridade. Até meados do século XVIII, hospital e medicina permaneceram
independentes.
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Ainda segundo esse autor, a reorganização do hospital ocorreu a partir de uma tecnologia
que pode ser chamada política. É a disciplina, sua introdução no espaço do hospital que vai
possibilitar sua medicalização. Portanto, é o deslocamento da intervenção médica e a
disciplinarização do espaço hospitalar que está na origem do hospital médico, como conhecemos
hoje. Esses dois fenômenos se ajustam com o surgimento de uma disciplina hospitalar que terá
por função assegurar “o enquadrinhamento, a vigilância, a disciplinarização do mundo confuso
do doente e da doença, como também transformar as condições do meio em que os doentes são
colocados.” (p. 108).
O paciente, ao ser hospitalizado, insere-se em um ambiente repleto de regras e rotinas
instituídas, as quais ele precisa se adaptar. No entanto, o que muitas vezes passa despercebido é
que o paciente é um ser dotado de subjetividade, que tem sua própria história de vida e que teve
sua rotina interrompida em função de ser hospitalizado e submeter-se ao procedimento cirúrgico.
Desse modo, em alguns casos, é complicado para o paciente adaptar-se a todo esse processo, que
para ele soa como novo e desconhecido. Conforme relata Marcos: “Está sendo um pouco enjoado
ficar aqui sem muita coisa pra fazer, só esperando o tempo passar e olhando pras paredes. Eu vou
ver se depois da cirurgia eu já posso ler jornal, pegar uns livros pra ler.”
Esse movimento de levar ao hospital objetos, como travesseiros e livros, pode estar
representando uma tentativa de o paciente colocar um pouco de subjetividade em um ambiente
onde ela não tem lugar. Esses objetos podem funcionar como um vínculo com a realidade “extra-
hospital”, como uma forma de dar continuidade a sua vida e de colocar um pouco de si naquele
ambiente tão cheio de neutralidade.
Para Estivalet (2000), na situação de hospitalização, a subjetividade do paciente é
excluída com o objetivo de não interferir no procedimento terapêutico. O discurso médico,
enquanto organizador do sistema hospitalar, categoriza os pacientes pela patologia, define
determinado número de leitos para cada doença, cria serviços cada vez mais especializados e
disciplina normas e rotinas na tentativa de constituir um saber de domínio sobre o corpo.
Em alguns casos, essa mudança de rotina pode provocar certa confusão no paciente,
decorrente da inversão de papéis sociais que pode acontecer na ocasião de hospitalização e,
principalmente, nos casos de pacientes cirúrgicos. Muitas vezes, o paciente possui uma vida
ativa, tem seu trabalho e outros compromissos, e, no momento em que é hospitalizado, precisa
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suspender as suas atividades e inserir-se em um contexto onde existem regras e rotinas a que ele
precisa sujeitar-se, perdendo assim muito de sua autonomia.
Com relação a isso, uma das pacientes, Júlia, comenta: “Eu sempre fui muito de querer
fazer tudo sozinha, de querer tomar conta de tudo, né, então essa pra mim é a pior parte. Saber
que eu vou ter que depender de alguém pra fazer as coisas, pra fazer comida, pra cuidar da casa,
então pra mim isso é o pior.” E complementa essa idéia falando: “Por ficar fora de casa, ficar
parada olhando pras paredes...o tempo não vai passar. Ao invés de dez, vai parecer que são trinta
dias. Essa questão de depender das enfermeiras pra tudo também incomoda, mais ainda do que
em casa, porque são pessoas que não conheço.”
Os entrevistados também parecem vivenciar a ida ao hospital como um abandono
sentimental do lar, que é sentido como um rompimento dos laços que indicavam segurança. Em
função disso, surge a necessidade de levar algum acompanhante ao hospital, na tentativa de
diminuir a sensação de abandono tanto de abandonar quanto de ser abandonado. Isso pode ser
analisado através das seguintes falas de Acássia e Joel, respectivamente: “Eu muito nervosa.
me sentindo meio perdida...acho que é porque eu longe de casa também” e “A minha
esposa trouxe também coisas pra bordar, ponto cruz, um monte de coisas, ela vai ficar todo o
tempo aqui comigo.”
O período pós-cirúrgico e a Unidade Pós-operatória (UPO)
O período pós-operatório é marcado, de alguma forma, por dois momentos distintos, cada
um com suas peculiaridades. O primeiro período é o pós-operatório imediato, no qual o paciente
permanece aproximadamente 48 horas na UPO, que é para onde ele é levado logo após o término
de sua cirurgia. Depois desse período, o paciente é levado para o quarto, onde ele permanece em
média por mais oito dias até a alta hospitalar. No quarto, o paciente começa a se movimentar,
pode contar com a presença dos familiares e começa a retomar a sua vida.
No hospital onde a presente pesquisa foi desenvolvida, a Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI) recebe o nome de Unidade Pós-operatória (UPO). A UPO, como qualquer outra
UTI, caracteriza-se pelos cuidados intensivos por parte da equipe e por um ambiente
caracteristicamente asséptico e, de certa forma, hostil. É nesse ambiente que o paciente acorda da
anestesia, ainda com o tubo, sondas e um pouco desorientado, conforme o relato de Joel: “Uma
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sensação meio estranha, eu me senti meio estranho perguntando assim onde é que eu tô, mas
depois passou.”
Para Souza e Barros (1999), apesar de todo o avanço tecnológico que o mundo tem
acompanhado nas últimas décadas, as UTIs, mesmo sendo essenciais para a recuperação da
saúde, ainda são um lugar mobilizador de muita angústia. Para essas autoras, enquanto o
aprimoramento tecnológico aparece a cada dia com mais aparelhos e exames, isto é, com uma
leitura orgânica sofisticada acenando para maiores possibilidades de vida, a subjetividade do
sujeito não encontra espaço nesse ambiente.
Talvez isso aconteça justamente em função do histórico cultural das UTIs, que eram vistas
antigamente como ante-salas da morte. Tanto os pacientes como seus familiares apresentam
muitas dúvidas com relação à UPO, perguntando exaustivamente à equipe tudo o que se refere a
esse período. Talvez isso ocorra também pelo fato que de, na UPO, os pacientes permanecem a
maior parte do tempo sozinhos, sendo o horário de visitas extremamente restrito. As fantasias
com relação ao que acontece com os pacientes na UPO podem estar escondendo uma angústia
muito grande por parte dos familiares, que não podem ficar junto com o paciente em um
momento tão delicado de sua recuperação.
Segundo Beyers e Dudas (1989), a experiência cirúrgica expõe o paciente a ambientes
estranhos e desconcertantes, equipamentos complexos, muitas pessoas diferentes e diversos
procedimentos estressantes e, em determinadas situações, constrangedores. Todos esses eventos
fazem com que o paciente se sinta vulnerável, inseguro e assustado, podendo até causar uma
perda temporária da identidade. Medo do desconhecido, da anestesia, da dor, incapacidade e
perda do controle e da morte, tudo isso afeta o estado emocional do paciente.
A perda de identidade, segundo os autores supracitados, é apenas uma das reações
possíveis em pacientes que permanecem certo período de tempo na UPO. Podem ocorrer também
confusões psíquicas desencadeadas pelo próprio ambiente, pois o paciente constantemente perde
a noção de tempo quando se encontra naquela unidade, como demonstram os relatos de Miriam:
“Quando eu me acordei eu não me lembro. Eu sei que uma hora eu tava sentada...mas eu
tinha voltado, porque eu me lembro, daí eu tava acordada. Lembro que me fizeram sentar, mas
eu achava que isso era no dia da cirurgia...mas não era, era no outro dia [...] Uma colega
minha de quarto disse que na UPO eu loquiei uma hora lá. Eu não sei que horas da noite,
depois elas me falaram que era duas e meia, três horas da noite, mas a gente ali não sabia se era
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dia, se era noite, o que era. Aquele movimento, aquela coisarada, né. E dizem que eu queria
saber do meu filho, perguntava sobre ele, dizia que queria ele ali.”
O trauma decorrente do período de internação na UPO pode causar uma ruptura da
imagem corporal, implicando na perda da condição erógena. Para Soares (2000), o paciente
internado em UTI nos faz pensar a questão da destituição, muitas vezes selvagem, de sua
realidade factual, decorrente da perda da própria imagem corporal, por se encontrar às vezes
intubado e vivenciando a castração no próprio corpo. Também podem ocorrer pequenas
alucinações, como no caso Acássia, que diz: “Eu ouvia vozes. Era como se eu tivesse
conversando normal, que eu acordava e não tinha ninguém. E não é que eu tivesse dormindo,
era só eu fechar os olhos e já começava a ouvir.”
O período pós-operatório, quando o paciente se encontra no quarto, é marcado por uma
diferença de atitude no que diz respeito às falas desses pacientes. Os pacientes entrevistados
estavam mais falantes na segunda entrevista, talvez porque seja mais tranqüilo falar sobre a
cirurgia depois de ter passado por ela. Contar a experiência é mais necessário do que pensar
sobre ela, antecipando o desconhecido – o que provavelmente cause angústia e desperte fantasias.
A palavra mais significativa nesta fase é “alívio”, pois todos os pacientes entrevistados
recorriam a ela para expressar o que estavam sentindo nesse período pós-intervenção cirúrgica,
como nos mostra o exemplo de Júlia: “Agora já passou e veio um alívio. Depois que passa é um
alívio.”
Manipulação do corpo e anestesia
No hospital, o corpo erógeno constituído desde o momento do nascimento é tratado pela
equipe de saúde enquanto corpo natural, anatômico. É manipulado enquanto objeto, sendo
constituído sem o olhar do outro. As atenções estão voltadas para a cura do corpo, e no nosso
caso, especificamente para o órgão cardíaco. Todas as questões de ordem subjetiva são deixadas
em suspenso, sendo o paciente tratado como um corpo doente que está ali para ser curado.
Com relação a isso, torna-se importante salientar a função do psicanalista no ambiente
hospitalar, pois ele atua em um momento de crise para o paciente e sua família, em que o sujeito
percebe-se destituído de suas funções e características. Para Soares (2000), o psicanalista, frente a
dor e o sofrimento do paciente, oferece sua presença-testemunha, permitindo que o lado de
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realidade humana possa ser acolhido, ouvido e articulado numa cadeia, para que seja elaborado
simbolicamente.
Em um momento no qual o paciente tem seu corpo manipulado por uma equipe
desconhecida e sofrendo procedimentos invasivos e agressivos, a presença de um profissional
habilitado para perceber o sujeito com todo seu aparato subjetivo é fundamental para um melhor
entendimento de tudo que está acontecendo em sua volta.
Com relação a isso, houve um momento interessante em um dos grupos. Surge uma
dúvida, coletiva, sobre se o coração é retirado do corpo durante a cirurgia ou não. A partir dos
questionamentos da equipe, os pacientes começam a falar que pensavam que o coração era
retirado, colocado em cima de uma mesinha e ali que era feita a cirurgia e os “reparos”
necessários. Fazem relação com a troca de peça de um carro, dizendo que se conserta a peça e
depois a coloca novamente no carro. É a clivagem que permite falar do próprio corpo como
objeto, caracterizando-se por ser um mecanismo defensivo necessário para que o paciente consiga
passar pela experiência da cirurgia.
Ainda com relação a esse assunto, uma questão levantada por um paciente pós é com
relação a tricotomia (raspar os pêlos do corpo antes da cirurgia). Ele relata que ao acordar na
UPO e se dar conta que estava sem pêlos no corpo e sem seu bigode ele perguntou em tom de
brincadeira para uma das enfermeiras: “Me cortaram o bigode, rasparam meus pêlos das pernas,
será que trocaram o meu sexo também?”
Isso pode estar demonstrando uma fantasia de castração muito importante em pacientes
cirúrgicos. Afinal, o que fizeram comigo enquanto eu não estava consciente? A manipulação do
corpo sem a autorização, sem estar consciente, o estado de perda de controle total: tudo isso gera
angústia no paciente. Eles perderam tantas coisas (a perda de algumas atividades, de comer o
que se gosta), que talvez fique a dúvida do que mais se tem a perder. Para Alberti (2002), toda
cirurgia é sempre vivida como castração, em uma situação na qual o paciente encontra-se
completamente assujeitado, muitas vezes sem o recurso para uma transferência apaziguadora. Em
função disso, a presença dos pais no caso de hospitalização de crianças e adolescentes torna-
se muito importante no momento pré-cirúrgico.
Todas essas questões colocadas pelos pacientes indicam a maneira como eles se portam
frente à situação de cirurgia cardíaca. A questão de como seus corpos são manipulados durante o
90
período em que estarão sem controle aparece repleta de muita angústia e cercada de fantasias
sobre o procedimento.
Para Sant’Anna (2001), sendo uma evidência que acompanha todo ser humano no
decorrer de sua vida, o corpo é, contudo, finito e sujeito a transformações nem sempre desejáveis
ou previsíveis. Para essa autora, são antigas as tentativas de minimizar os efeitos do que é
desconhecido nos corpos. Da religião à ciência, o desejo de manter o próprio corpo sob controle,
se possível desvendando-o exaustivamente, caracteriza a história de diversos povos e culturas.
A anestesia parece despertar sentimentos ambivalentes no paciente, pois ao mesmo tempo
que evita a dor, impede o exercício de controle sobre o próprio corpo, levando o paciente a
assumir uma posição passiva no processo. Uma paciente comenta sobre isso: “Eu fico
apavorada, dizem que os médicos esperam a gente dormir pra encher a gente de tubos...dizem
que quando a gente dorme enfiam tudo pra tudo quanto é lado...e daí quando a gente acorda
vontade de arrancar tudo aquilo que colocaram.”
O relato dessa paciente mostra as fantasias dos demais pacientes, a idéia de que enfiam
tubo pra tudo que é lado” refere um pensamento muito agressivo. A idéia de ser manipulado
pelos médicos gera um grande medo e muitas incertezas com o que vai ser feito com o corpo
enquanto eles estão dormindo.
Mieli (2002) escreve sobre as manipulações do corpo de natureza irreversíveis, afirmando
que a intervenção voluntária sobre o real do corpo se impõe, de um modo geral, como uma
“necessidade”. Segundo ela, uma manipulação voluntária irreversível como no caso de
tatuagens e cirurgias plásticas estéticas funcionam como uma tentativa de dar estabilidade a
uma forma que oscila. No entanto, ela faz uma relação com as manipulações causadas de modo
acidental ou por doença, como no caso de cicatrizes, referindo que essas marcas “podem se fazer
representantes de uma inscrição simbólica que solidifica a identificação narcísica, que celebra um
acabamento da imagem subjetiva.” (p. 23).
Considerações Finais
A partir das observações dos grupos de pacientes cardíacos cirúrgicos e das entrevistas
realizadas, podemos analisar algumas questões relacionadas ao paciente no período que
compreende o pré e o pós-cirurgia cardíaca. Através da leitura do discurso nesses diferentes
âmbitos, podemos compreender o lugar do sujeito no procedimento cirúrgico.
91
O período pré-cirúrgico caracteriza-se pelo inesperado. O recebimento da notícia da
necessidade da cirurgia é sentido pelo paciente como uma ruptura e descontinuidade, uma
situação traumática capaz de provocar incertezas e angústia, na medida em que o sujeito se
percebe diante do desconhecido e ameaçador. A cirurgia pode produzir uma clivagem psíquica,
pois ao mesmo tempo em que é uma ameaça de morte, é também muitas vezes a única
possibilidade de vida. A cirurgia aparece como um fator surpresa mesmo nos casos nos quais ela
é, de certa forma, esperada pelo paciente. Esse fato provavelmente reflita a idéia de que nunca
estamos preparados para enfrentar determinados eventos que despertem tantas incertezas e que
tenham uma relação tão direta com a nossa finitude.
A questão da religiosidade também esteve bastante presente na pesquisa. Muitos pacientes
referem que confiam em Deus e que Ele vai guiar a mão dos médicosdurante a cirurgia. Essa
crença pode estar indicando uma forma de os pacientes se protegerem contra a angústia da
ameaça de morte e de castração provocada pelo procedimento cirúrgico. Outro fato interessante é
com relação à confiança depositada na figura do médico, sendo evidenciada naqueles pacientes
que estão fazendo a cirurgia pela segunda vez (geralmente os pacientes de cirurgia de válvula
cardíaca) e que buscam fazer a cirurgia com o mesmo profissional. Essa confiança no médico é
um fenômeno difícil de se repetir com outras categorias profissionais, talvez em função dos
pacientes imaginarem seus cirurgiões como sendo os detentores do poder sobre a vida e a morte e
como salvadores, já que tiveram sucesso e reestabeleceram sua saúde na outra cirurgia.
Também percebemos como é grande a diferença com relação ao entendimento da doença
entre os pacientes que apresentam sintomas e os que não apresentam. Quando o sintoma interfere
na qualidade de vida do paciente, parece ser “mais fácil” entender a necessidade da cirurgia, pois
os pacientes sabem que ela é a única maneira deles recuperarem muitas de suas capacidades
perdidas com o início da doença. Já nos casos em que a doença cardíaca age de forma silenciosa e
o paciente não apresenta sintomas, ele fica sem a representação da doença, sendo talvez mais
difícil produzir fantasias a partir da falta de sintoma. É preciso representar o corpo doente para
poder suportar a intervenção cirúrgica.
Um outro tema presente diz respeito à hospitalização e o sentimento de dependência
decorrente. O hospital, com suas rotinas muito bem estruturadas, caracteriza-se por ser um lugar
no qual as pessoas vão para serem medicadas, tratadas e curadas de suas doenças, não havendo
espaço para a manifestação de subjetividade. Além disso, a cirurgia e a hospitalização provocam
92
nos pacientes um sentimento de dependência que não parece bem-vindo, visto que esses
pacientes levavam uma vida ativa e independente até entrarem no hospital. Esse sentimento de
dependência remete ao estado original de objeto, e a perda de controle sobre o próprio corpo
provoca angústia.
Com relação ao período pós-operatório, podemos dizer que ele é marcado, de certa forma,
por dois momentos distintos. O primeiro período refere-se ao pós-operatório imediato e
caracteriza-se por um estado de confusão, perda da identidade corporal e pequenas alucinações. O
trauma da cirurgia provoca uma ruptura na imagem corporal, e o fato de ter o corpo manipulado e
cercado de aparelhos implica na perda da condição erógena do corpo. Já no outro período do pós-
operatório, quando o paciente já se encontra no quarto, eles referem uma sensação de alívio por já
terem passado pela cirurgia, embora demonstrem certa preocupação com relação a sua
recuperação e com as mudanças em seus hábitos de vida.
A questão da manipulação do corpo também aparece com bastante freqüência na fala dos
participantes desta pesquisa. Ao entrarem no hospital, os pacientes têm seus corpos manipulados
pela equipe de saúde responsável por seu atendimento. Além disso, o momento da cirurgia
implica em perda de controle total sobre o próprio corpo, e, conseqüentemente, sobre a própria
vida, despertando angústia e suscitando fantasias a respeito do que essa equipe desconhecida irá
fazer com o corpo enquanto ele estiver sob o efeito da anestesia.
Esse estudo não pretende esgotar a discussão dos aspectos psíquicos relacionados com os
pacientes cardíacos cirúrgicos. Esperamos estar contribuindo para se pensar na questão da
qualificação do trabalho dos profissionais “psi” tanto no âmbito hospitalar como também nas
clínicas e consultórios privados, nos quais muitos pacientes cirúrgicos procuram tratamento e
cura para outras dores, além das físicas.
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94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da conclusão dessa dissertação de mestrado, é possível tecer algumas
considerações sobre os temas expostos no decorrer do trabalho.
Ao longo desta pesquisa, observamos que as fantasias surgem como forma de conter a
angústia do paciente cardíaco cirúrgico, na medida em que tenta restabelecer e manter certo
equilíbrio subjetivo. De um modo geral, as fantasias dos pacientes cirúrgicos surgem como uma
forma de preencher a lacuna, a ruptura com o suporte fantasístico do corpo, permitindo que esse
sujeito lide com a angústia frente à intervenção. Em momentos de angústia, dúvidas e medo
frente à procedimentos desconhecidos, as fantasias surgem como pontos de segurança.
Com relação a isso, é importante salientar a diferença apresentada entre os pacientes que
apresentam sintomas da doença e os que não apresentam, enfatizando o papel das fantasias nesse
período de “entendimento dos sintomas”. No caso dos pacientes do nosso estudo, é o apoio no
sintoma que permite a construção das fantasias, ou seja, as produções fantasísticas ocorrem a
partir dos sintomas da doença. Dessa forma, apresentar sintomas pode fazer com que o paciente
tenha uma representação da doença e construa fantasias a seu respeito, sendo uma forma de
conter a angústia causada pelo recebimento da notícia de que terá que fazer a cirurgia.
Percebemos que a questão referente à manipulação do corpo é mobilizadora de angústia,
aparecendo com bastante freqüência na fala dos participantes desta pesquisa. Ao entrarem no
95
hospital, os pacientes têm seus corpos manipulados pela equipe de saúde responsável por seu
atendimento. Além disso, o momento da cirurgia implica em perda de controle total sobre o
próprio corpo, e, conseqüentemente, sobre a própria vida, despertando angústia e suscitando
fantasias a respeito do que essa equipe desconhecida irá fazer com o corpo enquanto ele estiver
sob o efeito da anestesia.
Além disso, pensamos que a hospitalização também é um ponto interessante e que deve
ser investigado. Ao entrar no hospital, o corpo erógeno, constituído desde o momento do
nascimento, é tratado pela equipe de saúde enquanto corpo natural, anatômico. É manipulado
enquanto objeto, sendo constituído sem o olhar do outro. As atenções estão voltadas para a cura
do corpo, e no nosso caso, especificamente para o órgão cardíaco. Todas as questões de ordem
subjetiva são deixadas em suspenso, sendo o paciente tratado como corpo doente que está ali para
ser curado. O controle externo coloca o paciente num lugar de relação objetal primária. Ele tem
que suportar estar à mercê de uma equipe de profissionais que lida com seu corpo de forma
meramente objetal, sem subjetividade.
Apesar de termos encontrado e apresentado considerações significativas sobre o tema
proposto, algumas questões ainda permanecem em suspenso e ficam como sugestões para
próximas pesquisas. Umas delas é realizar a pesquisa no pós imediato, quando o paciente
encontra-se na Unidade Pós Operatória (UPO). Percebemos essa necessidade de incluir o pós
imediato em função dos aspectos abordados pelos pacientes com relação ao período em que
permanecem na UPO, parecendo ser um período no qual o paciente encontra-se muito vulnerável
e regredido.
Esperamos, com este estudo, estar contribuindo para se pensar na questão da qualificação
do trabalho dos profissionais “psi” tanto no âmbito hospitalar como também nas clínicas e
consultórios privados, nos quais muitos pacientes cirúrgicos procuram tratamento e cura para
96
outras dores, além das físicas. Com o avanço cada vez maior da medicina, hoje em dia, ao
contrário do que acontecia no passado, existe cirurgia para praticamente todas as doenças que
acometem o ser humano. Em função disso, o procedimento cirúrgico torna-se algo cada vez mais
freqüente na vida de todos nós, mas, mesmo assim, não deixa de ser ameaçador e causa de muita
angústia.
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ANEXOS
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ANEXO A
Resolução n° 002/2004 do Programa de Pós-Graduação em Psicologia
99
ANEXO B
Normas de Publicação da Revista “Estudos de Psicologia”
100
ISSN 1413-294X versão
impressa
ISSN 1678-4669 versão online
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
Objetivos e política editorial
Apresentação dos manuscritos
Procedimentos de submissão e avaliação dos
manuscritos
Direitos autorais
Endereço para encaminhamento
Objetivos e política editorial
A revista Estudos de Psicologia (Natal) publica trabalhos inéditos,
sejam resultados de pesquisa em Psicologia e áreas afins, artigos
teóricos e de revisão, comunicações, relatos de eventos científico-
profissionais e resenhas de livros de destaque. Uma seção é
dedicada a eventuais reimpressões de trabalhos de difícil acesso
e/ou traduções; outra a comunicações breves, destinada sobretudo a
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Apresentação dos manuscritos
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(c) o nome completo de cada autor,
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3. A Página do Resumo em Português deverá conter:
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(c) indicação de três a cinco palavras-chave em português, em
minúsculas, separadas por ponto-evírgula.
4. A Página do Resumo em Inglês (Abstract) deverá conter:
(a) título completo manuscrito em inglês;
(b) abstract (tradução do resumo para o inglês);
(c) indicação de três a cinco key words (tradução das palavras-
chave para o inglês), em
minúsculas, separadas por ponto-e-vírgula.
5. Os relatos de pesquisa, estudos teóricos e revisões críticas da
literatura não deverão exceder 25 páginas, incluindo o texto,
figuras, tabelas, referências bibliográficas, notas e anexos. Relatos
de experiência profissional e notas técnicas deverão ter, no
máximo, 15 páginas, e as resenhas, 5 páginas.
6. As referências bibliográficas deverão ser relacionadas
alfabeticamente, no final do texto, pelos nomes dos autores e
cronologicamente por autor, conforme normas da 5ª edição do
Publication Manual da American Psychological Association
(APA), de 2001 (pp. 215-281). Apresentamos exemplos de casos
mais comuns, para orientação, incluindo caracteres em itálico e
recuo de aproximadamente cinco espaços a partir da segunda linha,
em formatação que deve ser empregada nos manuscritos
submetidos à Revista:
102
6.1. Livros e obras tomados na íntegra:
Chauí, M. (1984). Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida.
São Paulo: Brasiliense.
Moura, M. L. S., & Correa, J. (1997). Estudo psicológico do
pensamento: de W. Wundt a uma Ciência da Cognição. Rio de
Janeiro: EDERJ.
Conselho Federal de Psicologia. (Org.). (1988). Quem é o
psicólogo brasileiro? São Paulo: Edicon.
6.2. Capítulos de coletâneas:
Frigotto, G. (1998). A educação e a formação técnico-profissional
fr
ente à globalização excludente e o desemprego estrutural. In L. H.
Silva (Org.), A escola cidadã no contexto da globalização (pp. 218-
238). Petrópolis: Vozes.
Grimm, L. G., & Yarnold, P. R. (1995). Introduction to
multivariate statistics. In L. G. Grimm & P. R. Yarnold (Orgs.),
Reading and understanding multivariate statistics (pp. 1-18).
Washington: American Psychological Association.
6.3. Artigos em periódicos científicos:
Mello, S. L. (1992). Classes populares, família e preconceito.
Psicologia USP, 3, 123-130.
6.4. Trabalhos não-publicados ou no prelo:
Rachi, K. (1990). Educação escolar brasileira: um reexame dos
estudos tendo por centro de análise a categoria de “contradição”.
Dissertação de mestrado não-publicada, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo.
Ades, C. (no prelo). A construção da teia geométrica enquanto
instinto: primeira parte de um argumento. Psicologia USP.
6.5. Trabalhos apresentados em eventos científicos e publicados
em anais:
Meneghini, R., & Campos-de-Carvalho, M. I. (1995). Áreas
circunscritas e agrupamentos seqüenciais entre crianças em creches
[Resumo]. In Sociedade Brasileira de Psicologia (Org.), XXV
Reunião Anual de Psicologia. Resumos (p. 385). Ribeirão Preto:
Autor.
6.6. Trabalhos apresentados em eventos científicos e não-
publicados:
Haidt, J., Dias, M. G., & Koller, S. (1991, fevereiro). Disgust,
disrespect and culture: moral judgement of victimless violation in
the USA and Brazil. Trabalho apresentado no Annual Meeting of
the Society for Cross-Cultural Research, Isla Verde, Puerto Rico.
6.7. Obra antiga e re-editada em data muito posterior e traduções:
Piaget, J. (1973). A linguagem e o pensamento da criança (3ª ed.,
103
M. Campos, Trad.). Rio de Janeiro: Fundo de Cultura. (Texto
original publicado em 1956)
Observação: no corpo do texto, a notação deve ser a seguinte:
Piaget (1956/1973).
6.8. Autoria institucional:
American Psychological Association (2001). Publication manual
(5ª ed.). Washington: Autor.
6.9. Comunicações pessoais:
Cartas, conversas (telefônicas ou pessoais) e mensagens de correio
eletrônico não devem ser incluídas na seção de Referências mas
apenas no texto, na forma iniciais e sobrenome do emissor e data
(S. L. Mello, comunicação pessoal, 15 de setembro de 1995).
6.10. Citações secundárias:
Quando for absolutamente inevitável, pode-se citar um texto
contido em outra publicação consultada, sem que o original tenha
sido consultado. Neste caso, deve-se citar na seção de Referências
apenas a obra consultada e no corpo do texto, indicar autores e
datas dos dois textos, conforme o exemplo: “Piaget (1932, citado
por Flavell, 1996)”.
7. As remissões bibliográficas sem a citação literal devem ser
incorporadas ao texto, entre parênteses, seguindo o padrão:
- até dois autores, sobrenome(s) e ano de publicação em todas as
citações;
- de três a cinco autores, o sobrenome dos autores é citado na
primeira inserção e, da segunda vez em diante, somente o do
primeiro autor seguido de “et al.” e ano de publicação;
- com seis autores ou mais, o sobrenome do primeiro autor seguido
de “et al.” e ano em todas as citações.
8. No caso de citação literal, o trecho deve aparecer entre aspas,
com indicação da(s) página(s) de onde foi(foram) retirada(s) logo
após a citação. Citações com mais de 40 palavras devem ser
colocadas em bloco separado, sem aspas, nem itálico, com recuo
com relação à margem esquerda de cinco espaços. Observar as
notações para apresentação de citações nas páginas 117-122 do
Publication Manual da APA.
9. As notas de rodapé devem restringir-se à complementação de
informações que, julgadas relevantes, não caibam na seqüência
lógica do texto. Notas bibliográficas devem ser evitadas.
10. As figuras e tabelas, elaboradas segundo os padrões definidos
pela APA (pp. 147-201), deverão vir em folha separada,
identificadas com título e número. No verso da folha, anotar apenas
104
o título completo do manuscrito. Indicar no corpo do texto o local
aproximado onde deverão ser incluídas. As tabelas e as figuras
devem ser apresentadas em preto e branco e não poderão exceder
o tamanho de 17,5 x 23,5 cm. Sugere-se a utilização dos softwares
Word for Windows e Excel – ou compatíveis – para a construção
das figuras/tabelas. No caso de utilização de fotografias e
ilustrações, solicita-se, ou o envio dos originais, ou cópias
digitalizadas em formato TIF não-comprimido, resolução de 1.200
dpi. O aproveitamento ficará, em ambos os casos, condicionado à
qualidade do material.
11. Qualquer material adicional considerado indispensável para a
compreensão do texto (questionários, protocolos de entrevista,
testes etc.) ou tabelas muito longas, devem ser apresentados em
Apêndice. Os apêndices devem ser apresentados em nova página,
identificados por letras maiúsculas (Apêndice A, Apêndice B etc.).
A numeração de cada tabela apresentada no apêndice deve ser
precedida pela letra identificadora do apêndice (Tabela A1, Tabela
C3 etc.). Para detalhes, consultar o Manual de Publicações da APA
(pp. 205-207).
12. Todo e qualquer manuscrito submetido à Revista deve ser
acompanhado de carta de encaminhamento assinada por todos os
autores, na qual estejam explicitados: a intenção de submissão e
eventual publicação pela revista; a categoria em que o trabalho
proposto se insere, conforme indicado acima (artigo teórico, relato
de pesquisa, resenha, etc.); a garantia de observação de
procedimentos éticos, quando aplicável; e afirmação de que o texto
não está sendo submetido simultaneamente a outro periódico.
13. No caso de estudos envolvendo seres humanos, será exigida,
nos termos das Resoluções 196/96 e 251/97 do Conselho Nacional
de Saúde, documento comprobatório da aprovação por parte de
Comissão ou Comitê de Ética da instituição na qual foi realizada a
pesquisa, quando da aceitação do manuscrito para publicação.
Procedimentos de submissão e avaliação dos manuscritos
Os manuscritos que se enquadrarem nas modalidades de trabalho
especificadas acima, passarão pelo seguinte procedimento
(representado graficamente na figura que consta da versão
publicada):
1. Verificação do manuscrito submetido à Revista, quanto ao
atendimento dos seguintes requisitos:
(a) carta de encaminhamento assinada pelos autores (item 12);
105
(b) página de rosto identificada, conforme item I.1;
(c) página do resumo em português (conforme item I.2);
(d) página do resumo em inglês (abstract), conforme item I.3;
(e) três vias impressas do manuscrito, em papel A4;
(f) referências bibliográficas (corpo do texto e lista ao final)
conforme normas da APA;
(g) número máximo permitido de páginas, incluindo referências,
tabelas, etc. (relatos de pesquisa, estudos teóricos e revisões
críticas, 25 páginas; relatos de experiência profissional e notas
técnicas, 15 páginas; e resenhas, 5 páginas), com texto em
entrelinhamento duplo, fonte Times New Roman, corpo 12;
(h) arquivo(s) em disquete;
Os originais não-qualificados não serão devolvidos, mas notificar-
se-á tal fato aos autores.
2. Encaminhamento para emissão de parecer por parte de membros
do Conselho Científico da revista e/ou consultores ad hoc.
3. Recepção dos pareceres, com recomendação para aceitação (com
ou sem modificações) ou recusa. Os autores serão notificados sobre
os pareceres com a maior brevidade possível (cópias integrais dos
pareceres serão enviados aos autores, preservadas as identidades
dos consultores).
4. No caso de aceitação para publicação, a Comissão Editorial
reserva-se o direito de introduzir pequenas alterações para efeito de
padronização conforme os parâmetros editoriais da Revista.
5. O processo de avaliação por parte de pares utiliza o sistema de
double blind review, preservando a identidade dos autores e
consultores. Por isso os autores deverão empregar todos os meios
possíveis para evitar a identificação de autoria do manuscrito.
6. A decisão final acerca da publicação ou não do manuscrito é
sempre da Comissão Editorial.
Direitos autorais
A aprovação dos textos implica a cessão imediata e sem ônus dos
direitos de publicação na revista Estudos de Psicologia, que terá a
exclusividade de publicá-los em primeira mão. O autor continuará,
não obstante, a deter os direitos autorais para publicações
posteriores. No caso de republicação dos artigos em outros
veículos, recomenda-se a menção à primeira publicação em
Estudos de Psicologia.
106
O autor principal do texto receberá cinco exemplares da edição em
que aquele foi publicado. Os originais não-publicados não serão
devolvidos.
Endereço para encaminhamento
O material para ser submetido à aprovação para publicação deverá
ser encaminhado para o seguinte endereço:
Revista Estudos de Psicologia – UFRN
Caixa Postal 1622
59.078-970 Natal RN
Tel. (084)215-3590 / 215-3588
Fax (084)215-3589
[Home] [Sobre esta revista] [Corpo editorial] [Assinaturas]
© 2001-2004 Estudos de Psicologia (Natal)
Caixa Postal 1622
59078-970 Natal RN Brasil
Tel.: +55 84 215-3590
Tel./Fax.: +55 84 215-3589
Fax: +55 84 211-9211
107
ANEXO C
Normas de Publicação da Revista “Psicologia: Ciência e Profissão”
108
INSTRUÇÕES AOS AUTORES
ISSN 1414-9893 versão impressa
Informações Gerais
Orientações editoriais
Tipos de texto
Apresentação dos trabalhos
Citações no texto
Referências
Endereço
Informações Gerais
A revista Psicologia: Ciência e Profissão é edi
tada pela autarquia
Conselho Federal e Conselhos Regionais de Psicologia e propõe-
se a publicar artigos à atuação/formação profissional do
psicólogo, ensino de Psicologia bem como manuscritos de
reflexão crítica sobre a produção de conhecimento na área. Tais
diretrizes são definidas pelos Conselhos e executadas pela
Comissão Editorial, formada por psicólogos indicados
regionalmente pelos Conselhos Regionais e um conselheiro do
CFP. Os artigos deverão ser de autoria de psicólogos,
estudantes de Graduação e Pós-Graduação e pesquisadores.
Orientações editoriais
Os artigos devem ser inéditos e seus originais serão submetidos
a exame pela Comissão Editorial, que poderá fazer uso de
consultores ad hoc, a seu critério, omitida a identidade dos
autores. Estes serão notificados da aceitação ou não dos
artigos. Os originais não serão devolvidos. Pequenas
modificações no texto serão feitas pela Comissão Editorial, mas
as modificações substanciais serão solicitadas aos autores. Os
artigos assinados expressam a opinião de seus autores. É
permitida a reprodução parcial dos artigos desde que citada a
fonte. Em síntese, o fluxo de artigos que chegam ao CFP é o
seguinte: 1) encaminhamento para dois pareceristas; 2)
encaminhamento do parecer para a Comissão Editorial para
decisão final; 3) informação para o autor: se recusado, se
aprovado ou se necessita de reformulações (neste caso, é
definido um prazo de 30 dias, findo o qual o artigo é
desconsiderado, caso o autor não o reformule); 4) para os
aprovados, encaminhamento para a composição e diagramação;
5) encaminhamento do texto diagramado e ilustrado para o
109
autor revisar (o prazo é de uma semana para retornar ao CFP);
6) publicação.
Tipos de texto
1. Estudos teóricos/ensaios - análises de temas e questões
fundamentadas teoricamente, levando ao questionamento de
modos de pensar e atuar existentes e a novas elaborações
(aproximadamente 20 laudas);
2. Relatos de pesquisa - investigações baseadas em dados
empíricos, recorrendo à metodologia quantitativa e/ou à
qualitativa. Neste caso, é necessário conter introdução, método,
resultados e discussão (aproximadamente 20 laudas);
3. Relatos de experiência profissional- relatos de experiência
profissional de interesse para as diferentes práticas psicológicas
(aproximadamente 15 laudas);
4. Comunicações - relatos breves de pesquisas ou trabalhos
apresentados em reuniões científicas/eventos culturais
(aproximadamente 10 laudas);
5. Ressonâncias - comentários complementares e réplicas a
textos publicados em números anteriores da revista
(aproximadamente 10 laudas).
Apresentação dos trabalhos
A apresentação dos artigos deve seguir a seguinte ordem de
preferência:
1. O original deve ser enviado ao CFP com uma carta de
encaminhamento assinada pelo autor (no caso de único) ou por
todos os autores (no caso de co-autoria), autorizando o
processo editorial e garantindo que todos os procedimentos
éticos exigidos foram atendidos.
2. Folha de rosto com o nome do(s) autor(es) contendo: a)
título em português; b) título em inglês; c) nome de cada autor,
seguido da afiliação institucional e titulação; d) endereço
completo para publicação e para envio de correspondência, fax,
telefone e endereço eletrônico (se disponível).
3. Folha de rosto sem o nome do autor, contendo apenas: a)
título em português (com no máximo 10 palavras); b) título em
inglês.
4. Resumo em português, com no máximo 150 palavras e
acompanhado de quatro palavras-chave.
5. Resumo em inglês (abstract), compatível com o resumo em
português.
6. Texto digitado em Times New Roman, fonte 12, espaço
110
1,5cm e margens de 2 cm. O texto deverá ser apresentado em
três vias em papel impresso e em disquete no formato Word for
Windows (.doc). Não deve conter no texto qualquer elemento
que identifique o(a) autor(a). (ex. Papel timbrado, rodapé com
o nome do autor, título de trabalho de pesquisa realizado etc.).
7. Anexos, apenas quando de fato sejam indispensáveis à
compreensão do texto. Devem comparecer no final do texto,
numerados na ordem de apresentação.
8. Figuras e tabelas devem incluir legendas e serem digitadas
separadamente em arquivo eletrônico.
Citações no texto
1. As notas não bibliográficas devem ser reduzidas a um
mínimo, ordenadas por algarismos arábicos e colocadas ao final
do artigo, antes das referências.
2. As citações de autores devem ser feitas por meio do último
sobrenome seguido do ano de publicação do trabalho. No caso
de transcrição na íntegra de um texto, a citação deve ser
acrescida da página citada;
3.
As citações de obras antigas e reeditadas devem ser feitas da
seguinte maneira: Franco (1790/1946);
4. No caso de citação de artigo de autoria múltipla, as normas
são as seguintes: a) até três autores - o sobrenome de todos os
autores é mencionado em todas as citações, usando "e" ou ";"
para separá-los. Utiliza-se o nome do autor em caixa alta
quando se encontra entre parênteses e em tamanho normal
quando se encontra no próprio texto. Veja exemplo: "O método
proposto por Siqueland e Delucia (1969)" mas "o método foi
inicialmente proposto para o estudo da visão (SIQUELAND;
DELUCIA, 1969).". b) quatro autores ou mais - no texto, desde
a primeira citação, somente o sobrenome do primeiro autor é
mencionado seguido da expressão "et al". Veja exemplo: "Como
analisam Rodrigues et al. (1988)" ou ainda "Para certos autores
(RODRIGUES et al)"; nas referências, todos os nomes são
relacionados.
Referências
Os títulos de livros, periódicos, relatórios, teses e trabalhos
apresentados em congressos devem ser colocadas em itálico.
1. Relatório Técnico
BIRNEY, A. J.; HALL, M. M. Early, identification of children with
written language disabilties. Washington, DC: National
111
Educational Association, 1981. (Relatório n. 81 - 1502).
2. Trabalho apresentado em congresso, mas não publicado
HAIDT, J.; DIAS, M. G.; KOLLER, S. (1991). Disgust, disrespect
and culture: moral judgement of victimless violation in the USA
and Brazil. Trabalho apresentado no Annual Meeting of the
Society for Cross-Cultural Research, Isla Verde, Puerto Rico.
3. Teses ou dissertações não publicadas
COSTA, L. A família descasada: interação, competência e estilo.
Estudo de Caso. 1989. Dissertação (Mestrado em Psicologia) -
Universidade de Brasília, Brasília.
4. Livros
CARNEIRO, T. Família: diagnóstico e terapia. Rio de Janeiro:
Zahar, 1983.
5. Capítulo de Livro
BLOUGH, D. S.; BLOUGH, P. (1977). Animal psychophysics. In:
HONING, W. K.; STADDON, J. E. (Org.). Handbook of operant
behavior. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1977. p. 514-539.
6. Artigo em periódico científico
COSTA JÚNIOR, A. L.; HOLANDA, A. F. Estágio em psicologia.
Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 16, n. 2, p. 4-9, 1996.
7. Obras antigas com reedição em data muito posterior
FRANCO, F. M. (1790). Tratado de educação física dos meninos.
Rio de Janeiro: Agir, 1946.
8. Obra no prelo
Respeitada a seqüência de ordem de nomes, é a última
referência do autor.
9. Autoria institucional
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-III-R, diagnostic
and statistical manual of mental disorder. 3rd ed. rev.
Washington, DC, 1988.
Em casos não previstos nos itens acima, consultar a versão
mais recente das normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT, NBR 6023, 2002).
Endereço
Conselho Federal de Psicologia.
112
SRTVN, Quadra 702. Edifício Brasília Rádio Center,
4º. Andar, conjunto 4024-A.
CEP 70719-900. Brasília. Distrito Federal.
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