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Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
P-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Faculdade de Psicologia
Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade
AUTOCONFIANÇA, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E TENSÕES EM PORTADORES DE CÂNCER DE
PRÓSTATA AVALIADAS POR MEIO DA TÉCNICA DE RORSCHACH E ESCALA DE QUALIDADE
DE VIDA
ANA CRISTINA AZAMBUJA TOFANI
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
em Psicologia Social e da Personalidade
Orientador: Prof. Dr. Cícero E. Vaz
Porto Alegre
Janeiro de 2006
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2
DEDICATÓRIA
Para meu Pai,
Inspirador deste trabalho
Para minhas filhas,
Representantes de amor e dedicação
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3
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, fizeram
parte dessa conquista, em especial:
- Ao Prof. Dr. Cícero Emídio Vaz, pela orientação neste trabalho e modelo de dedicação e
profissionalismo;
- Ao Grupo de Pesquisa “Técnicas Projetivas, Personalidade e Cultura”, pelo apoio e
aprendizagem;
- À Martina Marcondes de Carvalho pela dedicação, carinho, auxílio e empenho em suas
contribuições;
- À Juliana Iglesias por seu carinho e auxílio nas contribuições;
- Ao Dr. Rodolfo Coutinho Radke pela colaboração no início do Projeto;
- Ao Dr. Dante Sica Lee e sua equipe do Hospital de Câncer pela colaboração durante a
coleta de dados;
- Aos participantes da pesquisa;
- Ao Prof. João Feliz de Moraes pelo auxílio no levantamento estatístico;
- Ao Dr. Newton Barros pelo incentivo e empréstimo da sua Dissertação;
- À minha família e meus amigos pelo apoio emocional e compreensão.
Obrigada
4
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................
07
1. PROJETO DE PESQUISA....................................................................................
09
1.1. OBJETIVOS........................................................................................................ 11
1.2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................... 12
1.2.1. Câncer de próstata...........................................................................................
12
1.2.2. Sexualidade Masculina....................................................................................
13
1.2.3. Qualidade de Vida............................................................................................
15
1.2.4. Portadores de câncer e condições psicológicas .............................................
16
1.2.4.1. Depressão....................................................................................................... 19
1.2.4.2. Ansiedade.......................................................................................................
21
1.2.4.3. Frustração......................................................................................................
21
1.2.4.4. Confiança........................................................................................................
22
1.2.4.5. Estresse...........................................................................................................
22
1.3. PROBLEMA........................................................................................................
23
1.4. HIPÓTESES DE PESQUISA.............................................................................
23
1.5. MÉTODO.............................................................................................................
23
1.5.1. Delineamento da Pesquisa...............................................................................
23
1.5.2. População..........................................................................................................
23
1.5.3. Amostra.............................................................................................................
23
1.5.4. Instrumentos.....................................................................................................
24
1.5.4.1. Técnica de Rorschach....................................................................................
24
1.5.4.2. Escala QV - Qualidade de Vida....................................................................
25
1.6. Procedimentos......................................................................................................
25
1.7. PLANO DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS...................................
25
1.8. CRONOGRAMA.................................................................................................
26
1.9. ORÇAMENTO....................................................................................................
27
REFERÊNCIAS ........................................................................................................
28
ANEXOS.....................................................................................................................
31
Escala sobre Qualidade de Vida................................................................................
31
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.........................................................
35
5
2. ARTIGO TEÓRICO: Câncer de Próstata, sentimento de impotencia e
fracasso ante os cartões IV e VI do Rorschach……………………………………
37
2.1. Câncer de Próstata……………………………………………………………..
39
2.2. Diagnóstico clínico e condições psicológicas…………………………………..
2.3. Sexualidade, poder e psiquismo……………………………………………….
39
42
2.4. Rorschach: Cartões IV e VI…………………………………………………...
47
2.5. Método……………………………………………...…………………………..
2.6. Resultados e Discussão…………………………………………………………
48
49
2.7. Considerações Finais…………………………………………...………………
54
2.8. Referências……………………………………………………………………...
56
3. ARTIGO TEÓRICO: Câncer de próstata, qualidade de vida e condições
emocionais...................................................................................................................
59
3.1. Câncer de Próstata, Diagnóstico e Prevalência……………………….............
61
3.2. Sexualidade Masculina……………………………………………………........
65
3.3. Qualidade de Vida……………………………………………………………...
66
3.4. Condições Emocionais………………………………………………………….
68
3.5. Considerações finais…………………………………………………………..
77
3.6. Referências……………………………………………………………………...
80
4. ARTIGO EMPÍRICO: Depressão, Ansiedade, Qualidade de Vida e a
Técnica de Rorschach em Pacientes com Câncer de Próstata..………………….
86
4.1. Depressão e Ansiedade…………………………………………………………
90
4.2. Sexualidade Masculina, Trabalho e Qualidade de Vida……………………..
93
4.3. Objetivos e hipótesis……………………………………………………………
96
4.4. Método…………………………………………………………………………..
96
4.4.1. Amostra……………………………………………………………………….
96
4.4.2. Instrumentos………………………………………………………………….
97
4.4.3. Procedimento…………………………………………………………………
97
4.5. Resultados e Discussão…………………………………………………………
98
4.6. Conclusões………………………………………………………………………
103
Referências…………………………………………………………………………..
105
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………….
113
6
APRESENTAÇÃO
Qualidade de Vida é uma expressão muito utilizada em nosso meio. Para conceituá-
la é importante ter alguns parâmetros desde os mais objetivos até os mais subjetivos.
Constituíram-se objetivos deste trabalho investigar características de personalidade de
pacientes portadores de câncer de próstata por meio do Rorschach e a qualidade de vida
desses pacientes. A pesquisa teve como amostra 30 pacientes com câncer de próstata,
Grupo de observação, e 30 não pacientes, homens sem este diagnóstico configurando o
Grupo controle. O Projeto, após a aprovação pela Comissão Científica da Faculdade de
Psicologia, pelo Comitê de Ética e Pesquisa da PUCRS e pela Comissão Científica e de
Ética em Pesquisa da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA)
foi executado nas dependências do Hospital de Câncer de Porto Alegre.
Estão sendo apresentados nesta Dissertação em formato de artigos:
- Cópia do Projeto
- Cópia da Carta de Aprovação do Comitê de Ética
- Resultados da pesquisa
Como resultados da pesquisa, foram elaborados três artigos, dois teóricos e um
empírico. Os três artigos estão sendo apresentados com a formatação segundo as normas de
cada periódico. Eis os artigos:
a) “Câncer de próstata, sentimentos de impotência e fracasso ante os Cartões IV e
VI do Rorschach”, encaminhado à Revista Interamericana de Psicologia (RIP); Autores:
Ana C. A. Tofani (principal) e Cícero E. Vaz (segundo autor).
b) “Câncer de próstata, qualidade de vida e condições emocionais” a ser
encaminhado à Revista PSIYCHÊ; Autores: Ana C. A. Tofani (principal) e Cícero E. Vaz
(segundo autor). Nesse estudo teórico os autores contextualizam o câncer de próstata,
7
diagnóstico e tratamento, abordando conceitos e estudos sobre qualidade de vida e sobre
condições emocionais, que foram avaliadas através da técnica de Rorschach (sistema
Klopfer) e um questionário de qualidade de vida.
c) “Depressão, ansiedade, qualidade de vida e a técnica de Rorschach em pacientes
com câncer de próstata”; Autores: Ana C. A. Tofani (principal) e Cícero E. Vaz (segundo
autor). É feito estudo comparativo e correlacional com base em dados empiricos dos
instrumentos Rorschach e algumas questões da Escala de Qualidade de Vida (QV) entre
pacientes, homens com câncer de próstata (n=30) e não pacientes, homens (n=30) sem este
diagnóstico. Foram utilizados o teste U de Mann-Whitney para diferença de médias entre
os dois grupos, e o coeficiente W de Correlação de Pearson. Os resultados apontaram os
seguintes resultados: homens portadores de câncer de próstata apresentam indicadores de
auto-estima diminuída, ansiedade e depressão elevadas em comparação com os não
pacientes; foi encontrada correlação entre depressão como traço de personalidade avaliada
por meio do Rorschach e as questões pertinentes ao bem estar físico e emocional do QV.
Palavras-Chave: Rorschach; Qualidade de vida; Câncer de próstata; Depressão;
Ansiedade.
Área – CNPQ: 7.00.00.00-0 Ciências Humanas
Sub-área – CNPQ: 7.07.00.00-1 – Psicologia - Preocupação com a saúde
8
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação
Faculdade de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Mestrado em Psicologia Social e da Personalidade
QUALIDADE DE VIDA, AUTOCONFIANÇA, DEPRESSÃO, ANSIEDADE E
CAPACIDADE PARA ENFRENTAR TENSÕES EM PORTADORES
DE CÂNCER DE PRÓSTATA
PROJETO DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Ana Cristina Azambuja Tofani
Projeto de dissertação para obtenção do
Grau de Mestre em Psicologia
Área de concentração: Psicologia Social e da Personalidade
Orientador: Prof. Dr. Cícero E. Vaz
Porto Alegre
Novembro de 2004
9
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA P. 11
2. OBJETIVOS P. 11
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA P. 12
3.1. Câncer de próstata
P. 12
3.2. Sexualidade Masculina
P. 13
3.3. Qualidade de Vida
P. 15
3.4. Portadores de câncer e condições psicológicas
P. 16
3.4.1. Depressão P. 19
3.4.2. Ansiedade
P. 21
3.4.3. Frustração
P. 21
3.4.4. Confiança
P. 22
3.4.5. Estresse
P. 22
4. PROBLEMA
P. 23
5. HIPÓTESES DE PESQUISA
P. 23
6. MÉTODO
P. 23
6.1. Delineamento da Pesquisa
P. 23
6.2. População
P. 23
6.3.Amostra P. 23
6.4. Instrumentos
P. 24
6.4.1. Técnica de Rorschach
P. 24
6.4.2. Escala QV - Qualidade de Vida
P. 25
6.5. Procedimentos
P. 25
7. PLANO DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
P. 25
8. CRONOGRAMA
P. 26
9. ORÇAMENTO
P. 27
REFERÊNCIAS
P. 28
ANEXOS
P. 31
Escala sobre Qualidade de Vida P. 31
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido P. 35
10
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
Nos últimos anos, em função de nosso trabalho como psicóloga clínica, temos
atendido pacientes portadores de câncer. Na maioria dos casos a procura de atendimento
tem se dado por encaminhamento médico.
O câncer surge quando as células de alguma parte do corpo começam a crescer
sem controle, e usualmente assume forma de tumor. Os diferentes tipos de câncer podem
comportar-se de maneiras diferentes e respondem a distintos tratamentos, segundo a
National Comprehensive Câncer Network ( 2001).
O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais freqüente no sexo masculino
no Brasil. No passado, muitos destes casos eram diagnosticados tardiamente e os pacientes
morriam em pouco tempo.
Os assuntos relacionados com a sexualidade preocupam muito aos pacientes que
sofrem de câncer de próstata, e segundo a NCCN (2001) algumas sugestões podem ajudar
os homens a enfrentar este momento e buscar apoio em outras pessoas.
A entrada da Psicologia na área de saúde, segundo Gimenes (1994) ocorreu
formalmente por volta do século XX com o trabalho de Sigmund Freud nos seus “Estúdios
sobre la histeria” (1893-95). Este trabalho destaca que muitos dos sintomas físicos dos
pacientes possuem relação com aspectos emocionais.
O reconhecimento da interação entre aspectos físicos e psicológicos conduziu ao
desenvolvimento de abordagens multidisciplinares para o manejo das manifestações dos
pacientes oncológicos. Isto porque com o avanço tecnológico fundamentalmente da
medicina, houve um aumento da expectativa do tempo de vida. Atualmente uma
preocupação cada vez maior com a qualidade de vida do paciente oncológico. Isso pode
ser entendido a partir de numerosos fatores, tais como: o aumento da sobrevida, a maior
disponibilidade de medicação específica, a redução de intervenções excessivamente
técnicas ou agressivas, os recursos da medicina paliativa e o advento da psicologia da
saúde (Veit, Chwartzmann e Barros, 1998).
A qualidade de vida envolve questões subjetivas, tais como a satisfação com a vida
e a diminuição do sofrimento e da dor física, psíquica, social e espiritual. Isto depende da
história de vida, características de personalidade e situação da doença, descritos pelo
próprio paciente. Os fatores envolvidos neste conceito tomam como base o conceito de
saúde ditado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) Segundo a OMS (1990), saúde é
o completo bem-estar físico, psíquico e social, ocorrendo conjuntamente, e não apenas a
ausência da doença ou enfermidade. A saúde não é uma qualidade da pessoa, mas é uma
qualidade de vida, na qual é necessário assumir uma forma própria e peculiar de viver.
Tendo em vista aspectos psicológicos e câncer da próstata, pretendemos neste
trabalho fazer uma avaliação da personalidade de pacientes portadores desta doença,
enfocando autoconfiança, depressão, ansiedade e capacidade para enfrentar situações
tensionantes.
2. OBJETIVOS
2.1. Efetuar um estudo sobre a qualidade de vida e as condições internas que os
pacientes portadores de câncer de próstata mobilizam para enfrentar a depressão e estresse.
2.2 Efetuar um levantamento quanto a condições de personalidade e qualidade de
vida do paciente portador de câncer da próstata.
2.3 Efetuar um estudo de correlação entre os indicadores de qualidade de vida dos
pacientes portadores de câncer de próstata e suas condições de personalidade.
11
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Câncer de próstata
O câncer de próstata é uma neoplasia maligna (câncer), do tipo adenocarcinoma em
95% dos casos, que nasce nos dutos prostáticos. A próstata é uma glândula que contribui
com sua secreção para a constituição do sêmen, e depende dela o mecanismo de contenção
urinária. Por fora da próstata existem feixes nervosos e de vasos sanguíneos responsáveis
pela ereção. Sendo assim o tratamento cirúrgico ou radioterápico pode comprometer a
ereção, por lesão dos feixes nervosos, ou levar à incontinência urinária em graus variados
(Sarkis, 2003). A biópsia do câncer de próstata é um procedimento diagnóstico invasivo e
doloroso, segundo Eisenberger (2004), que pode necessitar ser repetido. Isto talvez
explique porque alguns homens retardam estas intervenções.
Com base nas estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de
próstata é o segundo tumor maligno mais freqüente no sexo masculino no Brasil. Segundo
Sadi e Wroclawski (2003) no passado, a maioria dos casos eram diagnosticados em uma
fase tardia da doença e quase todos os pacientes morriam em pouco tempo. A partir de
1988 com a utilização do antígeno prostático específico (PSA), a mortalidade destes
pacientes parece declinar, e o tratamento selecionado adequadamente pode aumentar a
sobrevida e a qualidade de vida destes pacientes. A Sociedade Brasileira de Urologia em
comunhão com a Associação Americana do Câncer (ACS) e com a Associação Americana
de Urologia (AUA) recomendam o toque retal associado à dosagem plasmática do antígeno
prostático específico (PSA) após os 50 anos de idade para o diagnóstico precoce deste
tumor. Rosenblatt (2002) destaca a importância de abordar os fatores prognósticos, o
estadiamento do câncer, as controvérsias e alternativas do tratamento para poder decidir
entre as opções de tratamento.
Pesquisas recentes apontam que descrições detalhadas dos possíveis tratamentos
para o câncer de próstata tendem a minimizar os riscos ou os efeitos colaterais associados
ao tratamento. Deutsch (2004) escreve no seu periódico que a Dra. Ângela Fagerlin (PhD)
pesquisadora da universidade de Ann Arbor, encontrou em apenas 44 publicações das 500
investigadas, as quatro opções de tratamento aos homens com câncer de próstata (espera,
cirurgia, radioterapia e hormonioterapia). Enfatiza que os esclarecimentos médicos são
indispensáveis, mesmo que os pacientes recebam materiais educacionais, pois alguns
destes materiais não descrevem os efeitos negativos do tratamento, e os pacientes
necessitam toda a informação para fazer a sua escolha.
As necessidades mais comuns dos pacientes com este diagnóstico são os medos em
relação à disseminação da doença, preocupação com as pessoas próximas e com as
mudanças na sensibilidade sexual (Lintz,2004).
O tratamento do câncer de próstata afeta a masculinidade e muitos homens se
tornam impotentes durante o mesmo, mas segundo Simkins (2002) os sobreviventes
valorizam a qualidade de vida possível como conseqüência deste tratamento. Bokhour
(2002) aponta modificações na qualidade de intimidade sexual, na interação com as
mulheres, nas fantasias e na percepção de sua masculinidade.
Pinheiro (2003) realizou um levantamento e concluiu que o crescimento de número
de casos novos do câncer de próstata está ocorrendo pelo diagnóstico mais precoce.
Estudos apontam diferenças na qualidade de vida e ajustamento social de pacientes
portadores de câncer de próstata e suas esposas. Detectaram que o estresse é mais forte no
período da cirurgia, e que no período pós-cirúrgico vai diminuindo após 1 ano,
principalmente quando há uma intervenção de suporte ao estresse do casal (Thornton,
Perez e Meyerowitz, 2004). Thornton (2002) destaca ainda em sua dissertação, a
12
importância de incluir nas pesquisas a evolução do casal observando os eventos negativos
e o stress mobilizados, bem como suas conseqüências.
A tendência do homem é não encarar abertamente seu fim da vida. Uma ocasião
em que esta consciência ocorre é quando sua vida está ameaçada por uma doença. O fato
de um paciente ser informado que é portador de câncer, o conscientiza de sua finitude.
Para muitos pacientes, esta é uma doença fatal, mesmo com um número crescente de curas
reais ou de remissões significativas (Moraes, 1994).
O diagnóstico de câncer é freqüentemente acompanhado de depressão, que é
traduzida pelo fato de o paciente não conseguir manter uma atitude de aceitação interior.
Como não consegue negar a doença, vê-se obrigado a reconhecer que tem um câncer,
deprimindo-se diante dos acontecimentos, que pode ser no início da doença, ou surgir após
a cirurgia e outros tratamentos, onde em cada momento lhe é exigida nova readaptação
(Moraes, 1994).
Durante o 40º Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, o mais
importante da área no mundo, que ocorreu em junho de 2004 em New Orleans (EUA),
foram apresentados dois estudos que revelaram um medicamento adotado na
quimioterapia, capaz de reduzir em 24% o risco de morte nos portadores de câncer de
próstata. Esta medicação é adotada com sucesso no combate a tumores de mama e
pulmão. Uma das pesquisas contou com a participação do brasileiro Dr. Mário
Eisenberger, médico da conceituada instituição Johns Hopkins, de Baltimore. Em termos
práticos foi descoberto que em média é possível ganhar mais dois meses de vida, e que o
medicamento foi eficaz para os doentes que não respondem mais a uma terapia à base de
inibidores de hormônios (uma das formas utilizadas para combater o câncer de próstata).
Bock (2004) escreve que embora o resultado não pareça um grande avanço para a ciência é
um passo importante, pois é o primeiro estudo que mostra que a quimioterapia pode
aumentar a sobrevida desses pacientes, o que é significativo, conforme o Dr. Eisenberger (
Revista Isto É, 2004).
3.2 Sexualidade masculina
A sexualidade masculina está influenciada por uma série de mitos, modelos
culturais e falta de informação que faz com que uma das atividades mais prazerosas do
homem se encontre perturbada. O conhecimento da realidade e a informação clara podem
ajudar a viver muitos momentos agradáveis e a melhorar uma relação de um casal alterada,
ou evitar uma disfunção sexual.
Encontramos muito mais publicações sobre sexualidade feminina do que sobre a
masculina, o que pode levar a pensar que é mais fácil ser homem em nossa sociedade em
relação ao sexo. Em geral se pensa que a sexualidade feminina é misteriosa e complicada,
e que os genitais masculinos são a essência da simplicidade, pois parece que toda a
sexualidade está concentrada em um lugar, seu órgão genital.
Na 33ª Conferência (1932), Freud coloca que a distinção entre masculino e
feminino não é uma distinção psicológica, pois quando se diz “masculino”, geralmente
quer se dizer “ativo”, considerando que a célula sexual masculina é ativamente móvel e sai
em busca da célula feminina, que espera passivamente. Este é o modelo da conduta sexual
dos indivíduos durante o coito. Entretanto na mesma conferência Freud refere que as
mulheres podem demonstrar atividade em diversos sentidos, desde a amamentação de um
bebê, mas complementa referindo que a influência dos costumes sociais compelem as
mulheres a uma situação passiva.
No Proyeto de psicologia de 1895, Freud afirmava que a tendência humana é a
busca do prazer e a evitação do desprazer. Em Más allá del principio de placer (1920)
13
Freud propõe um dualismo pulsional: pulsões de vida (que englobam as pulsões sexuais e
as de autoconservação) e pulsões de morte (ligadas a morte e destruição).
A simbolização do falo segue vigente em nossa cultura machista e obcecada pelo
poder. Kaplan (1986) refere que a fórmula é ereção= macho= viril = homem exitoso =
desejado pelas mulheres = admirado por todos os homens, e pobres dos que algum dia
falham (p.16).
Algumas influências psíquicas fazem com que o homem adulto perca sua
capacidade de resposta sexual. Masters e Johnson (1979) referem que a perda de interesse
no coito criada por aborrecimentos na relação é um dos fatores mais constantes: a rotina, a
escassa capacidade de variações dentro do relacionamento e o descuido pessoal aos poucos
interferem no desejo do homem, que trata de procurar mulheres mais jovens, ou satisfazer-
se com práticas masturbatórias. Além disto as preocupações econômicas num meio
altamente competitivo, a necessidade de trabalhar muitas horas, sem o descanso
correspondente, o stress e a fadiga vão minando tanto psicológica quanto organicamente
um homem, tornando mais difícil o acesso a sua vida erótica. Outros aspectos como os
excessos de ingestão de álcool, as enfermidades mentais e físicas diminuem as capacidades
eretivas e levam ao temor ao desempenho.
Parece necessário preservar a ilusão de que o homem não tem dúvidas, perguntas
ou preocupações sexuais, e que foi educado para não se permitir expressar seus
sentimentos. Kaplan (1986) destaca alguns mitos que influem na sexualidade masculina:
alguns homens transformam o sexo em obrigação como tantas outras que possuem na sua
vida diária, ao invés de vê-lo como uma maneira através da qual duas pessoas se
relacionam, e tratam de ter o maior prazer possível com a rigidez de seu pênis e orgasmos
alcançados. Esta preocupação leva a altos graus de ansiedade que pode até bloquear a
resposta sexual.
Um segundo mito refere que os homens têm aprendido que o sexo é de sua
responsabilidade. Este mito provém de duas velhas idéias sobre a natureza da
masculinidade: “ser homem significa ser líder e ativo” e “um verdadeiro homem necessita
pouco ou nada de uma mulher, tanto em termos de informação como de estimulação”
(Kaplan, 1986. p.36). Em contraposição com este mito o autor refere que a atividade sexual
com uma companheira é por definição algo compartilhado com ela, e não é real que o
homem deva fazer tudo sozinho. também o mito de que o homem sempre quer e está
disposto a uma relação sexual, sendo permitido somente às mulheres o direito de não
aceitar a relação. Diante disto não parece permitido que um homem queira somente um
carinho, um abraço, sem que isto seja um caminho para uma relação sexual. Parece ligar-se
a estes aspectos o mito de que sexo significa somente penetração, assim a ereção é a
“estrela do show sexual” (p.40), caso não ocorra o homem não se sente bem. É difícil em
nossa cultura conceber o sexo como algo relaxado, com interrupções, descanso, risos,
enfim como algo agradável e menos ansiogênico.
Leitzmann et al. (2004) realizaram um estudo para examinar a associação
entre a frequência da ejaculação e os possíveis riscos de subseqüente câncer de próstata.
Este estudo foi realizado através de questionários com 29342 homens no período de
fevereiro de 1992 até janeiro de 2000 na Harvard School of Public Health. Os resultados
sugerem que a freqüência de ejaculação pode estar associada à diminuição da
possibilidade de câncer de próstata; existem outras questões que devem ser pesquisadas
tais como: idade, história familiar, doenças venéreas, fumo e alimentação. Por outro lado
os pesquisadores envolvidos sugeriram como hipótese alternativa que a redução da
ejaculação é um risco para o câncer de próstata pela retenção de secreções carcinogênicas.
Outra hipótese implica na repressão da sexualidade num período em que houve muita
liberação sexual.
14
Visando conhecer as influências do gênero no enfrentamento do tratamento do
câncer, Gianini (2004) realizou um estudo e analisou o processo de enfrentamento de
homens com ncer de próstata e mulheres com câncer de mama. Neste estudo obteve os
seguintes resultados: os homens mostraram dificuldades em reconhecer e expressar seus
sentimentos quanto ao diagnóstico, para muitos destes pacientes a saúde ainda é vista como
“coisa feminina” (p.4). Muitos homens se sentiram isolados, impossibilitados de partilhar
seus medos, exceto com pessoas que também estivessem fazendo os mesmos tratamentos;
demonstraram maior dificuldade de lidar sozinhos com suas limitações físicas, de suportar
a interrupção brusca de suas atividades, de perder o papel de provedor da família. O
sofrimento emocional dos homens refere-se às limitações físicas, à diminuição da
capacidade de ereção, cansaço, fadiga e a retirada dos testículos, responsável pela
produção do hormônio masculino (testosterona), que inibe o crescimento do tumor, mas
que também interfere na ejaculação. Nos homens, os tratamentos quase invariavelmente
acarretam os conhecidos riscos da incontinência e da impotência que atingem a essência da
masculinidade. Observa ainda o autor que nos processos sociais, os homens são cobrados
para que assumam seus problemas de forma mais ativa, pois grandes manifestações
emocionais poderiam impossibilitar suas ações.
3.3 Qualidade de vida
Qualidade de vida envolve questões subjetivas. O que é valorado por uma pessoa
pode não ser por outra, e isso está relacionado com a sua história de vida, características de
personalidade e a situação atual. Quando falamos de qualidade de vida estamos diante de
um termo difícil de ser operacionalizado, que envolve aspectos como a satisfação com a
vida, além da diminuição do sofrimento e da dor, tanto física como psíquica, social e
espiritual. Certamente não cabe ao profissional decidir o que é importante para cada
paciente, pois é a própria pessoa que tem os melhores recursos para falar de sua história e
suas necessidades. Pacientes com sintomas controlados retomam a sua dignidade como
seres humanos, mesmo quando próximos à morte (Kovács, 1998).
Uma forma qualitativa de avaliação e mensuração de qualidade de vida é feita por
intermédio da própria história do sujeito, a qual nos apontará quais os aspectos de sua vida
que foram mais alterados pela doença, pelo seu avanço e pelos sintomas. Uma cuidadosa
monitorização destes aspectos sem dúvida facilitará uma melhor atenção àquilo que o
paciente considera como sofrimento. É pedido que o paciente fale de sua vida, desde que
recebeu o diagnóstico, deixando que se expresse à vontade. É importante facilitar a
comunicação das informações que os pacientes trazem no sentido de utilizar os próprios
termos descritivos para acessar o que eles definem e dão significado em sua própria vida.
Estas questões funcionam como um fio condutor e nos interessa principalmente a
maneira como o sujeito se expressa, podendo perceber a sua subjetividade ou forma de
compreender a vida, e o que é importante neste estágio de sua vida, sendo portador de uma
doença de prognóstico que pode ser ruim.
A qualidade de vida do paciente vai depender de suas esperanças, expectativas e a
realidade que enfrenta, segundo Barros (1996). O autor referiu que as dimensões que
integram o conceito são de difícil mensuração, e que um método confiável e consistente
para medir qualidade de vida deveria basear-se em informações advindas dos próprios
pacientes e não de seus médicos e enfermeiros. Nos casos oncológicos a medida da
qualidade de vida demonstra diferenças de resposta dos pacientes frente a tipos específicos
de câncer para avaliar o alívio dos sintomas e os benefícios da intervenção terapêutica.
Assim, o autor validou uma escala que leve em consideração a qualidade de vida de uma
forma global, (Anexo 1) que será utilizada neste trabalho.
15
Em seu trabalho com dois grupos diferentes de pacientes, Lepore (2003) observou
comportamentos positivamente mais saudáveis em busca de qualidade de vida nos
pacientes que receberam intervenção e discussão em grupo, diferentemente do grupo de
pessoas que só receberam intervenção.
Johansson et al. (2004) realizaram um estudo que levantou um ponto interessante
sobre o tratamento imediato, principalmente a remoção cirúrgica da próstata, indicando
que a sobrevivência prolongada não é a única consideração, porque a qualidade de vida é
uma edição importante. Outro estudo que destaca o impacto do tratamento na qualidade de
vida do paciente é o estudo de Potosky et al.(1999), onde os autores apontam que devem
ser avaliados os efeitos da cirurgia ou da radioterapia sobre as funções urinárias e sexuais.
Ellen Giarelli (2003) sugere em seu periódico que os serviços de enfermagem são
necessários depois da hospitalização para auxiliar o paciente e os cuidadores mais
próximos, principalmente a esposa, para lidar com os efeitos físicos e emocionais da
cirurgia de próstata. Isto se deve porque as esposas também se encontram despreparadas, e
este suporte facilita a adaptação do casal.
Pesquisas realizadas na Bahia e em São Paulo indicaram que o
acompanhamento emocional auxiliou muitos pacientes a lidarem com o impacto do
diagnóstico e a capacidade de reação diante do mesmo, ansiedades, depressão,
desesperança e melhoraram sua qualidade de vida (Macedo Filho, 1998; Veit,
Chwartzmann e Barros, 1998). Alguns trabalhos destacam os benefícios que os
pacientes obtém ao aprenderem a lidar com suas emoções e procurarem preservar
qualidade em sua vida (Macedo Filho, 1998; Bispo, 1998; Veit, Chwartzmann e Barros,
1998; Campos, 1998). No que tange a fatores tensionantes, Chochinov (2001) refere que
a psicoterapia tem demonstrado que auxilia na redução do estresse psicológico e dos
sintomas depressivos, além de melhorar a qualidade de vida.
3.4 Portadores de câncer e condições psicológicas
É recente o interesse pela investigação das relações existentes entre fatores
emocionais e a incidência e evolução do câncer. Esta abordagem vêm fornecendo subsídios
psicológicos para a prevenção, adaptação emocional e social do indivíduo nas diferentes
etapas de tratamento oncológico. Diante disto, o radioterapeuta americano Carl Simonton
(1987) observou que pacientes com um mesmo diagnóstico e prognósticos médicos tinham
evoluções diferentes, pois uns viviam mais do que outros. Percebeu que aqueles pacientes
que evoluíram melhor tinham em comum o desejo de não querer morrer por ter, por
exemplo, um projeto inacabado em andamento e que os prendia à vida. A observação de
que pacientes com um mesmo diagnóstico e prognóstico médicos tinham evoluções
diferentes, (uns vivendo mais, outros vivendo menos), levou o radioterapeuta americano
Simonton ( in Carvalho, 1994) a se perguntar sobre o fato.
Pacientes que se mostraram deprimidos, com profunda apatia e com uma atitude de
desistência diante da vida evoluíram pior. Entre estes, Carvalho (1994) refere que
Simonton observou que alguns afirmavam querer viver, mas adotavam atitudes
contraditórias em relação a esta afirmação, mantendo hábitos e estilos de vida pouco
saudáveis. Os pacientes que evoluíram melhor tinham como característica achar que de
alguma forma podiam influenciar o curso de suas doenças. Adotavam uma atitude muito
mais ativa em relação às suas vidas, em relação à doença e aos tratamentos médicos. Eram
pessoas mais participativas e não viam o processo de cura como algo a que devessem se
submeter passivamente, mas como algo que podiam participar de forma ativa. O autor
observou então que aspectos de personalidade e estados emocionais influenciavam sobre
condições físicas e que era necessário considerar o indivíduo como um todo.
16
A doença é uma experiência e uma metáfora, uma mensagem que precisa ser
ouvida e dissipada.(Rodrigues e Braga, 1998). Quando os pacientes se conectam com seus
sentimentos, reconhecendo-os e aceitando-os, e quando percebem que podem lidar com
emoções como o medo, podem desenvolver maior auto-confiança, quebrando o ciclo da
depressão e desesperança, aumentando assim sua capacidade de lidar consigo diante das
situações que enfrentam em sua vida.
Pensamentos e sentimentos não provocam e nem curam o câncer (LeShan, 1992),
mas os sentimentos afetam a química do organismo (que afeta o desenvolvimento ou a
regressão do tumor), assim como a química do corpo afeta os sentimentos, pois o estresse
interfere. Enfim, todos os aspectos do ser humano interagem e se influenciam
mutuamente. A escuta e a continência (holding) são imprescindíveis mesmo diante de um
pedido para morrer (pela dor, abandono, etc).
Elisabeth Kubler-Ross em sua obra “Sobre a morte e o morrer” (1969) aponta cinco
estágios pelos quais passa o doente desde o diagnóstico até a morte:1) Negação e
isolamento: como “Não pode ser comigo”; “não tenho nada”. 2) Raiva: quando a negação
não é mais possível surgem sentimentos de raiva e revolta. “Por que eu? Esta raiva pode
estar relacionada à impotência e à falta de controle da própria vida. 3) Barganha: estratégia
do paciente tentando certo acordo para adiar um desfecho inadiável. 4) Depressão:
momento do contato efetivo com a doença e as suas perdas do corpo, das finanças, da
família, do emprego, do lazer. Tirar o paciente do seu processo de enlutamento pode
perturbar o seu processo, pois o procedimento mais adequado parece ser o de facilitar a sua
expressão. 5)Aceitação: os pacientes que viveram a sua doença e receberam apoio nos
estágios anteriores podem chegar a uma aceitação.
Embora nem todos os pacientes passem por todos os estágios até a aceitação nem
os vivenciam sempre na ordem descrita, a autora apontou a importância de se perceber que
os pacientes têm necessidades diferentes nos vários estágios da doença e que temos que
aproximar os olhos e ouvidos do corpo de nosso paciente e não das máquinas.
Destacamos aqui que os membros da família, principalmente os cuidadores mais
próximos ao receberem o diagnóstico de uma doença grave, passam pelos mesmos estágios
que o paciente, e a forma de enfrentamento vai depender da estrutura de cada um e da
relação entre eles. É freqüente surgir perda em vida, luto antecipado, ambivalência de
sentimentos, impotência, culpa e tentativa de reparação.
O paciente oncológico, angustiado pelo medo da morte, fica voltado para si mesmo
ou utiliza mecanismos psicológicos de defesa, que tem uma dupla finalidade: lutar contra a
angústia desencadeada diante da ameaça da doença e estabelecer uma nova maneira de
relacionamento com o meio e consigo mesmo (Moraes, 1994).
Em geral o primeiro mecanismo de defesa é a negação, que se neste momento
procurar auxílio, a psicoterapia terá como meta auxiliá-lo a aceitar a realidade, e iniciar o
tratamento propriamente dito. Inicialmente a negação pode ser uma crosta protetora, mas
se persistir por longo período enfraquece o relacionamento e impede o paciente de assumir
uma atitude mais responsável. Podem ocorrer mecanismos relacionados a uma postura
onipotente, com atuações maníacas intercalados por momentos de depressão. O terapeuta
pode propor-se a ajudar o paciente a perceber estas oscilações e vivenciar uma depressão
profunda por se dar conta de seu estado, partindo depois para uma elaboração da situação,
podendo propor-se a seguir com uma vida de qualidade. Afetivamente em geral os
pacientes ficam mais sensíveis, permitem que suas emoções apareçam e se relacionam de
maneira mais genuína com seus familiares. Ribeiro (1994) aponta ainda que nas sessões
quando os ressentimentos são trabalhados podem causar alívio para o paciente. Muitos
pacientes fazem uso da sublimação e outros quando a situação física permite passam a
17
ajudar voluntariamente outros pacientes ou a fazer uma prestação de serviço social,
sentindo-se úteis para os outros, referem sensação de bem-estar e conforto.
Cada um de nós tem um universo muito rico, repleto de dor, alegria, esperança,
tristeza, medo, orgulho, solidão, relacionamentos, isolamento, ódios, amores e tudo o mais
que artistas, escritores e poetas nos dizem fazer parte da condição humana.
A ausência de uma saída para cargas emocionais intensificadas afeta o corpo da
pessoa, segundo LeShan (1994). A perda de um relacionamento vital geralmente
antecede o desenvolvimento de uma malignidade fatal. O paciente de câncer possui maior
quantidade de emoções do que é capaz de expressar.
Mastrovito (in LeShan,1994), psiquiatra do Memorial Sloan-Kettering Cancer
Center, em Nova York, estudou um grupo de mulheres com câncer e descobriu que essas
pacientes possuíam um elevado grau de “autocontrole emocional, idealismo e senso de
responsabilidade”. Estas características são tidas como virtudes, quando no contexto
apropriado, mas até uma virtude pode ser levada a extremos. Se a responsabilidade e o
autocontrole forem rigidamente mantidos, em detrimento da expressão de sentimentos
verdadeiros, uma parte do eu é negada. Quando as tensões não são liberadas e a raiva é
reprimida, podem tornar-se mais fortes. Sabemos que isso acontece no desenvolvimento
de úlceras. Será que podemos negar a possibilidade de que isso também aconteça no
desenvolvimento do câncer ? (Leshan, 1994)
Silvermar (in LeShan,1994), da Harvard Medical School, observa que quando a
raiva, a tristeza ou a preocupação não encontram uma válvula de escape, acabam afetando
o corpo, e se houver uma tendência latente para desenvolver um câncer, a incapacidade
para expressar seus sentimentos irá atingir o corpo em algum ponto vulnerável.
LeShan (1994) diz que atualmente se torna cada vez mais claro que as explicações
físicas –meio ambiente, infecções ou genética- não oferecem uma resposta global; um
número cada vez maior de médicos e psicólogos busca informações adicionais com relação
à influência do estresse, da personalidade, das emoções. Observou ainda que parecia haver
uma correspondência geral entre o ritmo de desenvolvimento do câncer e o tempo
transcorrido desde que o indivíduo perdera o senso de significado da vida, representado por
um relacionamento vital.
A intervenção psicológica apresenta-se como um recurso que amplia os limites de
ação no atendimento das necessidades que surgem em cada momento da trajetória do
paciente: desde a situação de diagnóstico, passando por tratamentos que podem ou o
resultar em cura, chegando às situações posteriores de adaptação do paciente ou da família
às seqüelas concretas ou subjetivas com que se deparam. A família é um organismo
essencialmente dinâmico em que a doença de um de seus membros altera seu
funcionamento. A notícia de que um ente amado sofre de câncer pode produzir um grande
impacto, por isso indica-se que além de focar a atenção na ajuda à pessoa doente, haja
também a indicação de se atentar para os efeitos do trauma do diagnóstico sobre outros
membros da família (Veit, Chwartzmann e Barros,1998).
A ênfase do trabalho em equipe multiprofissional com o paciente oncológico deve
ser colocada no conforto, na dignidade e no auto-respeito do paciente, bem como propiciar
a ele o direito de receber explicações a respeito de sua doença, participando ativamente das
decisões quanto ao seu tratamento. Assim os pacientes não temerão o isolamento, o
abandono e a rejeição, mas ficarão confiantes na honestidade e na habilidade dos
profissionais, e com a certeza de que se algo puder ser realizado com eles, será em
conjunto, respeitando as deliberações. Não podemos esquecer que o paciente tem uma
percepção do que está acontecendo com ele e com as pessoas a sua volta. O que ele
precisa é de pessoas que possam lhe dar afeto e apoio nestes momentos difíceis de sua
vida.
18
A teoria psicanalítica, diz Ribeiro (1994), nos auxilia a fazer uma leitura da
situação da história do paciente e da família e algumas intervenções interpretativas. A
compreensão do momento como um todo e das emoções incluindo as do terapeuta são
imprescindíveis. Os aspectos transferenciais e contratranferenciais deverão guiar nossas
intervenções e nossa atuação. Os imprevistos são inúmeros como nas análises, e as
interrupções podem se dar por morte. As fantasias de morte, por exemplo, podem estar
presentes em várias pessoas e refletirem uma percepção da realidade.
Na sua dissertação Simkins (2002) destacou o efeito positivo dos grupos de
discussão entre pacientes, como uma possibilidade de escoamento das angústias que o
tratamento e as suas conseqüências mobilizam.
O psicólogo em sua atividade propõe-se a auxiliar o paciente e sua família quanto
as suas angústias de negação ou evitação do diagnóstico; compartilhar o sofrimento
ficando ao lado do paciente, algumas vezes até em silêncio, num momento que pode ser de
desespero e confusão para que este possa enfrentar a sua realidade; possibilitar que o
paciente se conecte com seus temores gradualmente, expressando suas fantasias através das
palavras, para que possam ser trabalhadas; refletir junto ao paciente sobre a qualidade de
suas relações com os outros e consigo próprio; auxiliar os pacientes a encontrarem recursos
internos e a valorizarem aspectos que até então estavam despercebidos; trabalhar suas
expectativas de recuperação e em relação ao seu futuro; auxiliar o paciente a participar
ativamente de seu tratamento; auxiliar o paciente a encontrar atividades significativas em
sua vida e adotar hábitos mais saudáveis; auxiliar pacientes e familiares a lidarem com os
diversos sentimentos e emoções mobilizadas, principalmente a depressão; trabalhar o
temor da morte, tendo em vista que embora possa ser inevitável, raramente encontra o
doente ou a família preparados; e principalmente enfocar o trabalho com o paciente na
preservação de qualidade de vida.
Nuzzo e Chiari (1987) escrevem um artigo que se baseia na literatura psicológica
do câncer como uma tentativa de fazer um esboço para entender o processo de câncer
através de uma interpretação particular em termos de culpa e papel das perdas na vida
destas pessoas. Entendem a repressão e a negação como mecanismos atribuídos à
hostilidade e constrição. A relação entre constrição e câncer é uma tentativa explicativa
tendo como referência o sistema científico biológico (imunológico). Quanto à hipótese da
perda relacionada à depressão, revisaram autores do século XVIII e XIX e encontraram a
melancolia e a tristeza como antecedentes do câncer. Encontraram também pesquisas
contemporâneas que enfatizaram o papel da depressão imediatamente após uma separação
de uma pessoa significativa ou uma perda de objetivo de vida. Citam um estudo que
descreve que o paciente oncológico tem um padrão centrífugo de relação familiar, onde a
precoce individuação, o mútuo isolamento e a distância de uns membros de outros é a
regra. Noutro estudo revisado referem personalidade específica e características defensivas
nos pacientes oncológicos, cujas hipóteses são que os pacientes com câncer perderam a
consciência de suas próprias necessidades ocultas e de seus desejos.
3.4.1 Depressão
A depressão pode ser definida como um estado afetivo doloroso, desprazeroso,
provocado às vezes pela perda de um objeto, frustração, fracasso, etc., segundo Valls
(1995). Nas ocasiões em que está se realizando o trabalho de luto, qualquer objeto que
recorde em algo o objeto perdido reativa a saudade deste. Se a saudade aumenta e a
realidade mostra a impossibilidade de satisfação, produz-se a dor psíquica.
Kaplan e Sadock (1984) definem a depressão como a uma emoção humana
normal, a um sintoma clínico e a um grupo de síndromes ou perturbações. O termo
“depressão tem diferentes significados em vários campos científicos, tais como
19
neurofisiologia, farmacologia, psicologia e psiquiatria”(p.316). Para o psicólogo,
depressão refere-se a qualquer decréscimo no desempenho cognitivo, perceptivo ou motor.
A depressão é uma das doenças mais comuns a que os seres humanos estão
sujeitos. Paradoxalmente é, provavelmente, o sintoma mais freqüente negligenciado e,
mesmo quando reconhecido, é provavelmente o sintoma isolado mais incorretamente
tratado na prática clínica. Sentimentos de tristeza, desapontamento e frustração são
acompanhamentos normais da condição humana, e o limite entre humor normal e
depressões anormais permanece indefinido.
Os pacientes de câncer apresentam uma incidência de depressão maior do que a
população geral, segundo Carvalho (2002). O autor adota como referência os critérios do
DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais Edição), mas
com algumas adaptações. Os sintomas perda de peso, distúrbios de sono, fadiga ou perda
de energia e diminuição da habilidade de pensar ou de se concentrar perdem a
especificidade nos pacientes de câncer, pois estes podem ser desencadeados por outras
causas devido à doença e não à depressão. O autor coloca que nestes pacientes a perda de
peso deve ser substituída pela presença de aspecto deprimido, a insônia pode ser
substituída pela diminuição dos contatos sociais, a fadiga substituída por sentimentos de
autopiedade ou pessimismo, e ainda a diminuição de concentração ou habilidade de pensar
ser substituída por perda de reatividade e dificuldade de se animar. A dor é um elemento a
ser considerado ao se fazer diagnóstico psiquiátrico, e é sempre recomendável que a dor
seja removida antes de firmar este tipo de diagnóstico. Alguns pacientes podem apresentar
quadro de depressão em função dos próprios tratamentos quimioterápicos ou com
costicosteróides. Pacientes de câncer que apresentam depressões freqüentes tem maior
possibilidade de terem tido episódios depressivos na juventude. Outro ponto destacado
pelo autor quanto à instalação da depressão ou seu agravamento é a fragilidade de uma
rede social de apoio, já que pessoas com estrutura psíquica frágil, em geral têm dificuldade
em estabelecer uma rede de apoio significativa.
Alguns pacientes por não quererem ser um peso para a família, não partilham seus
sentimentos, aumentando o isolamento e a depressão. Em geral os homens apresentam
maior isolamento social do que as mulheres, além da preocupação com inabilidade para o
trabalho.
A depressão também aparece quando o paciente recebe o diagnóstico, segundo
Moraes (1994), pois alguns pacientes não conseguem aceitá-lo, e não conseguindo negar a
doença, vêem-se obrigados a reconhecê-la, deprimindo-se diante dos acontecimentos. Pode
aparecer no início da doença ou surgir após a cirurgia e outros tratamentos, exigindo a
cada momento novas readaptações.
Chochinov (2001) refere que a depressão clínica é relativamente comum e
freqüente em pacientes com câncer, mas é uma minoria que se torna clinicamente
deprimido. Em seu artigo, o autor revisa informações básicas para auxiliar a identificar
riscos de uma depressão maior, inclusive riscos de suicídio. O autor ainda aponta que
tristeza é uma emoção normal e esperada nos pacientes de câncer, que aos poucos o
acomodando suas circunstâncias de saúde com o suporte familiar e dos amigos, e através
das várias opções de tratamento podem reestabelecer algum senso de equilíbrio. Entretanto
pacientes que experienciam depressão clínica ou uma ndrome depressiva experimentam
uma variedade de sintomas físicos e psíquicos que enfraquecem as capacidades funcionais
e ocupações sociais. Os fatores que aumentam o risco dos pacientes oncológicos
desenvolverem depressão clínica são: história de depressão com dois ou mais episódios
durante sua vida e pacientes que tem na família história de depressão ou suicídio.
Pacientes com dor severa são mais propensos à depressão do que pacientes com
pouca dor, segundo Spiegel (1994). O autor aponta que a depressão pode ser uma
20
amplificação da experiência de dor, pois a dor afeta a qualidade de vida e diminui o senso
de controle do paciente, tornando-o mais vulnerável e menos capaz de receber e beneficiar-
se com o suporte familiar e dos amigos.
3.4.2 Ansiedade
A ansiedade pode ser definida como um estado emocional desagradável no qual
existem sentimentos de perigo iminente, caracterizado por inquietação, tensão ou
apreensão, segundo Kaplan e Sadock (1984). A causa é geralmente um conflito
intrapsíquico inconsciente ou não reconhecido. A ansiedade está associada a um padrão
característico de descarga do sistema nervoso autônomo, envolvendo índice de respiração
alterado, marcha cardíaca aumentada, palidez, secura na boca, suor aumentado e distúrbios
musculoesqueléticos, envolvendo tremor e sensações de fraqueza.
Hall, Lindzey & Campbell (2000) comentam que a dinâmica da personalidade é
em grande extensão governada pela necessidade de gratificar as próprias necessidades por
meio de transações com objetos no mundo externo. O ambiente provê o organismo faminto
com alimento, e o sedento com água. Além de seu papel como fonte dos suprimentos, o
mundo externo desempenha um outro papel importante como moldador do destino da
personalidade. “O ambiente contém regiões de perigo e insegurança; ele pode ameaçar
assim como satisfazer”(p.60). Sabe-se que sentir medo é uma reação costumeira do
indivíduo à ameaça externa de dor e destruição com as quais não está preparado para lidar.
A pessoa ao ser ameaçada, normalmente é uma pessoa envolvida pelo sentimento de medo.
“Esmagado pela estimulação excessiva que não consegue controlar, o ego é inundado pela
ansiedade”(p.60). Neste sentido os autores referem que quando a ansiedade é despertada, a
pessoa é levada a fazer algo, como fugir da região ameaçadora, inibir o impulso perigoso
ou obedecer à voz da consciência.
Naturalmente as ligações entre as emoções e as reações corporais são difíceis de ser
estudadas pelos métodos científicos tradicionais, contudo os seres humanos sempre
tiveram esta consciência. Já dizia Galeno, médico grego do século II, que o surgimento do
câncer era atribuído a uma progressão da melancolia. um século, Sir James Paget (in
LeShan, 1994) referiu que são tão freqüentes os casos em que a ansiedade profunda, a
esperança adiada e o desapontamento são rapidamente seguidos pelo crescimento e
aumento do tumor, que não podemos duvidar que a depressão mental seja um poderoso
complemento para as outras influências que favorecem o desenvolvimento da formação
cancerosa. Essas idéias foram esquecidas, pois os métodos físicos de tratamento
progrediram rapidamente.
Chochinov (2001) refere que cada um de nós experiencia profundas emoções em
resposta ao tratamento de uma doença como o câncer. As implicações e incertezas deste
diagnóstico podem intensificar emoções. O choque ou descrença encontrada na descoberta
do tumor fica associado com sintomas como ansiedade, tristeza, irritabilidade, perda do
sono e distúrbios no apetite. Em geral os pacientes oncológicos expressam vários medos,
que incluem medo da inabilidade, da perda prévia de posição ou função ocupada,
dependência ou perda do controle e medo de perder a vontade de viver. Alguns pacientes
preocupam-se que as coisas irão se tornar intoleráveis, que poderão ser abandonados pelos
outros e temem antecipar o curso de sua morte. Entretanto depois de várias semanas
muitos pacientes experienciam uma certa condição de resolução para enfrentar a doença.
3.4.3 Frustração
De modo geral se entende que frustrar se refere ao sentimento causado pelo
fracasso de não ter obtido a satisfação. No texto “Introducción del narcisismo”( 1914),
Freud refere que a pessoa pode adoecer em função da frustração. E em seu trabalho “El
21
porvenir de una ilusión” (1927) o autor faz uma distinção entre frustração (como
insatisfação), proibição (como ocorre a frustração), e privação (estado emocional). É
inerente à condição humana.
Zimerman (2001) refere que o termo pode ter duas significações opostas em
psicanálise, mas que são complementares. A primeira sob a forma de privação, que pode
ocorrer, e que também é necessária para a estruturação do desenvolvimento. A segunda se
refere à frustração repetitivamente inadequada, que é um fator fortemente desestruturante.
3.4.4 Confiança
Quando as situações de conforto e as pessoas responsáveis por tais confortos
tornam-se familiares e identificáveis para o bebê, ele atinge um estado de aceitação de que
essas pessoas podem ausentar-se por um momento, que caracteriza o que Erikson (1985)
descreveu como confiança básica. Esta é uma realização social que o bebê vai adquirindo
uma confiança interna, que com o passar do tempo leva-o a confiar em si mesmo
(autoconfiança).
3.4.5 Estresse
Em o Novo Dicionário Aurélio (1986), encontramos que o termo estresse se refere
ao conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e
outras, capazes de perturbar-lhe a homeostase. Gimenes (1994) refere que o conceito de
estresse surge na literatura oncológica para explicar diferenças individuais no aparecimento
e desenvolvimento do câncer, pois uma multiplicidade de situações estressantes que
fazem parte do estilo de vida do indivíduo (sobrecarga física e emocional no dia-a-dia,
perdas, hábitos alimentares, fumo, consumo de drogas, etc). Chochinov (2001) aponta que
manifestações iniciais de respostas de estresse agudo podem ser esperadas no diagnóstico
inicial ou mesmo durante o tratamento do paciente com câncer.
Amaral (1994) destaca que o estresse, o desamparo, traços de personalidade e o
estilo de vida estariam levando a uma queda do sistema imunológico, fazendo com que
este não consiga evitar o crescimento desordenado do câncer. A autora refere pesquisas
citadas por Simonton que observa que veis elevados de estresse emocional aumentam a
suscetibilidade a doenças, pois o estresse pode vir a aumentar a produção de células
anormais, quando o corpo se encontra menos capacitado a destruí-las.
Carvalho (2002) refere que o apoio social é um modulador do estresse e é
importante no processo de ajuste psicológico.
Atualmente pesquisadores acreditam que as células cancerígenas estão quase que
constantemente presentes em todos nós, mas que em circunstâncias normais, nosso sistema
imunológico contra o câncer encontra e destrói essas células anormais, impedindo seu
crescimento ou disseminação. A questão é saber quais são as circunstâncias anormais que
podem impedir o sistema imunológico de realizar o seu trabalho. Qual o mecanismo físico
do corpo que é suficientemente influenciado pelos fatores psicológicos, formando uma
ligação entre as emoções e o colapso do sistema imunológico contra o câncer ? As
pesquisas atuais apontam para o sistema endócrino e os hormônios que ele produz.
Sabemos que determinados hormônios afetam o crescimento e a disseminação do câncer.
Também sabemos que fatores psicológicos, como situações de estresse, podem alterar o
equilíbrio hormonal. LeShan (1994) refere que seus pacientes com câncer foram afetados
por um padrão de estresse extraordinariamente consistente.
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4. PROBLEMA
Como se apresentam as variáveis autoconfiança, depressão, ansiedade e a
capacidade para enfrentar situações tensionantes na vida, em pacientes portadores de
câncer da próstata?
5. HIPÓTESES DE PESQUISA
Objetivando responder ao problema formulado, efetuaremos um estudo
comparativo entre homens portadores de câncer prostático (CP) e homens sem esta
disfunção, formulando as seguintes hipóteses de trabalho:
H0 Homens portadores de CP se assemelham aos homens sem esta disfunção
quanto aos indicativos de autoconfiança.
H1 Homens portadores de CP apresentam indicativos de autoconfiança diminuída
em índice maior do que os homens sem esta disfunção.
H02 Homens portadores de CP se assemelham aos homens sem esta disfunção
quanto aos indicativos de depressão.
H2 Homens portadores de CP apresentam indicativos de depressão em índice maior
do que os homens sem esta disfunção.
H03 Homens portadores de CP se assemelham aos homens sem esta disfunção
quanto aos indicativos de ansiedade.
H3 Homens portadores de CP apresentam indicativos de ansiedade em índice maior
do que os homens sem esta disfunção.
H04 Homens portadores de CP se assemelham aos homens sem esta disfunção
quanto aos indicativos de baixa capacidade para enfrentar situações tensionantes.
H4 Homens portadores de CP apresentam indicativos de baixa capacidade para
enfrentar situações tensionantes em índice maior do que os homens sem esta disfunção.
6. MÉTODO
6.1 Delineamento da Pesquisa
Essa pesquisa trata de um estudo quantitativo comparativo quanto à qualidade de
vida de pacientes portadores de câncer de próstata considerando os recursos (condições
internas) e pacientes sem este diagnóstico.
6.2 População
A população a ser estudada constitui-se de pacientes portadores de câncer de
próstata que estejam em atendimento num hospital-escola de Porto Alegre.
6.3 Amostra
Na fase de preparação do projeto, foi feito um levantamento no local da futura
realização da pesquisa quanto ao número de pacientes com câncer de próstata, em
atendimento ambulatorial nos meses de março a setembro no período de 1992 a 2001. É
que o período previsto para a execução da pesquisa será de março a setembro de 2005.
Foram consultados o relatório de Azevedo, Motta e Osanai correspondente ao período
1992 até 1996, e o levantamento de 1997 a 2001 está sendo feito sob a coordenação de
Alice Medeiros Zelmanowicz. O número de pacientes portadores de câncer de próstata que
23
procuraram o ambulatório do hospital-escola em Porto Alegre, neste período foi de 1972
casos. O ano em que houve maior procura foi o de 2001, com um total de 340 pacientes
que procuraram atendimento. O Setor hospitalar não teve condições de informar os dados
precisos quanto à procura nos anos de 2002 e 2003.
A pesquisa será executada de março a setembro de 2005. A estimativa é que de
março a setembro de 2005 (7meses) haja uma demanda de 198 pacientes. Partindo desta
estimativa, serão avaliados 15% - percentual que consideramos razoável - da população,
198 portadores de câncer de próstata, que vierem a procurar o ambulatório no período de
março a setembro de 2005. Não foi possível contar com os dados da procura durante os
anos de 2002 e 2003. Razão pela qual foi feita a opção de tomar como referência para a
estimativa, o número de 198 paciente com câncer de próstata nos meses de março a
setembro de 2001.
A amostra se constituirá, portanto, de dois grupos de sujeitos:
Grupo 1 com 30 homens portadores de câncer de próstata, idade de 40 a 80 anos,
sem outra moléstia orgânica ou psíquica e
Grupo 2 constituído de 30 homens sem o diagnóstico de câncer de próstata e outra
moléstia orgânica ou psíquica.
O pareamento entre os sujeitos do grupo 2 com o grupo 1 se fará por faixa etária,
estado civil e condições sócio-econômicas.
6.4 Instrumentos
6.4.1 Técnica de Rorschach. O psicodiagnóstico de Rorschach foi elaborado por
Hermann Rorschach em 1918 na Suíça. É uma técnica de avaliação projetiva construída
para identificar a estrutura da personalidade da pessoa e o funcionamento de seus
psicodinamismos. O sistema de classificação adotado neste estudo foi o de Bruno Klopfer,
com adaptação de Vaz (1997). A técnica consiste em interpretar formas fortuitas
(Rorschach, 1978). Nesta técnica é possível avaliar como são organizadas e estruturadas as
percepções projetivas do sujeito diante de estímulos, as manchas de tinta. Este instrumento
procura avaliar, no sentido geral, alguns aspectos dinâmicos e a estrutura da personalidade,
entre os quais: as condições afetivo-emocionais, o controle geral, a natureza e liberação
dos impulsos emocionais, a capacidade de relacionamento interpessoal, a maneira de a
pessoa conviver com seus conflitos, suas frustrações e sua ansiedade, sua autoconfiança e
sentimentos depressivos (Vaz, 1997).
A interpretação dos dados do Rorschach é realizada a partir das respostas que são
classificadas em localizações, determinantes, conteúdos e fenômenos especiais. Os
determinantes são a expressão do modo como o examinando estabelece a relação entre o
mundo externo e seu mundo interno. As localizações dizem respeito ao modo como a
pessoa percebe racionalmente a realidade. Os conteúdos sofrem maior influência do meio
em que o sujeito está inserido. Os fenômenos especiais e seu significado simbólico, nos
cartões possuem uma avaliação qualitativa, que podem ser integrados aos dados
quantitativos.
Eis as variáveis do Rorschach e sua freqüência que serão utilizadas para o estudo
comparativo entre os dois grupos (Hipóteses alternativas 1, 2 , 3 e 4) de sujeitos são as
seguintes:
a) O determinante Cor Acromática (FC’, C’F, C’) como indicador de depressão;
b) O aumento do tempo de reação no cartão V como indicativo de baixa
autoconfiança;
c) A freqüência de espaço em branco (S), Determinantes sombreado radiológico
(Fk, kF, k) e Sombreado perspectiva e profundidade (FK, KF, K) para avaliar a
ansiedade e capacidade para enfrentar situações tensionantes.
24
6.4.2 Escala QV - Qualidade de Vida. Será utilizada a escala de Ferrel, Wisdom e
Wiezl (1989) traduzida, adaptada para a língua portuguesa e validada por Barros (1996),
com o nome Escala QV. A escala é constituída de 23 questões com quatro opções de
resposta e 2 questões adicionais com cinco opções de resposta. Apresenta itens
relacionados a aspectos físicos, psicológicos e sociais e um (1) especificamente
relacionado à crença religiosa.
6.5 Procedimento
O estudo será realizado em um Hospital de Câncer de Porto Alegre, onde foi
feito contato com a equipe responsável pelos setores de oncologia e pesquisa. O Projeto de
Pesquisa também foi encaminhado à Comissão Científica e de Ética em Pesquisa da
ISCMPA, procedimento indispensável para a realização do trabalho.
Depois da aprovação do projeto pelo Comitê de Ética e Pesquisa e adotadas as
normas legais, será agendado junto ao ambulatório, dias e horários em sala disponível para
se proceder a avaliação dos sujeitos.
a) Procedimento com os portadores de câncer na próstata, Grupo 1. Será
encaminhada uma carta convite pessoal a todos os sujeitos portadores de câncer de
próstata, que estejam em atendimento médico na instituição, para participar de um trabalho
de pesquisa. No primeiro contato individual, após o sujeito ter recebido a carta-convite,
ser-lhe-ão explicados os objetivos da pesquisa, assim como também serão solicitadas sua
permissão, concordância e colaboração na pesquisa. Cada sujeito terá plena liberdade para
aceitar ou não participar da pesquisa. Será explicado também ao sujeito que após os
contatos individuais com todos os que receberam a carta convite serão sorteados
aleatoriamente 30 dentre todos os que compareceram e aceitaram participar do trabalho,
sujeitos
Após a escolha dos 30 sujeitos serão combinados dia e horário da avaliação, que
será realizada individualmente nas dependências do hospital. Será aplicado primeiramente
o Rorschach e logo depois o questionário pela própria pesquisadora
b)Procedimento com os não portadores de câncer de próstata, Grupo 2. Serão
contatados homens sem câncer da próstata, para pareamento com o Grupo 1 quanto a:
idade - de 40 a 80 anos, estado civil - casados, condições sócio-econômicas, bairro (de
preferência morando no mesmo bairro). Os contatos preliminares serão feitos por telefone.
Cada sujeito terá plena liberdade para aceitar ou não participar da pesquisa. Após a escolha
dos 30 sujeitos serão combinados dia e horário da avaliação, a ser realizada
individualmente. Será aplicado primeiramente o Rorschach e logo depois o questionário
de QV pela própria pesquisadora.
c) Critério para exclusão de sujeitos para pesquisa: pacientes portadores de outra(s)
moléstia(s) orgânica(s) ou psíquica(s).
7. PLANO DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Será feito estudo comparativo sobre os dados do Rorschach entre os dois grupos de
sujeitos da pesquisa, Grupo 1 de sujeitos com câncer de próstata, Grupo 2 de sujeitos
sem este diagnóstico. As variáveis do Rorschach, objetos do estudo comparativo, são
respostas de cor acromática (FC’, C’F, C’) no que tange à depressão; aumento do tempo de
reação no cartão V quanto à autoconfiança; freqüência de espaço branco (S), sombreado
radiológico (Fk, kF, k), sombreado perspectiva e profundidade (FK, KF, K) no que diz
25
respeito à ansiedade e capacidade para enfrentar situações tensionantes. Para este estudo
fica prevista a Análise de Variância com nível de significância, para aceitação, de .05.
Será feito estudo de correlação (Pearson) entre os itens da Escala QV com os dados
do Rorschach que indicam autoconfiança, depressão, ansiedade e capacidade para suportar
situações tensionantes. O nível de significância escolhido é também .05.
8. CRONOGRAMA
MÊS/ANO
2004 2005 2006
ATIVIDADES
M
J
J
A
S
O
N
D
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
J
F
M
Revisão de Literatura
Redação do projeto
Revisão e Entrega do Projeto
Avaliação do Comitê de Ética
Contato com os Locais de
aplicação
Aplicação no Hospital
Processamento dos dados
Análise dos dados
Redação final
Entrega da dissertação
Defesa
26
9. ORÇAMENTO
Material Permanente Unidades Preço Unitário Preço Total
Cartões da Técnica de Rorschach 1 R$ 380,00 R$ 380,00
Cronômetro 1 R$ 80,00 R$ 80,00
Despesa com a compra de Livros 20 R$ 40,00 R$ 800,00
Computador Pentium IV 2.4 GHz 1 R$ 2700,00 R$ 2700,00
Impressora Cannon Bublejet 1 R$ 240,00 R$ 240,00
Total de Material Permanente R$ 4200,00
Material de Consumo Unidades Preço Unitário Preço Total
Folhas de Papel A4 1500 R$ 0,02 R$ 30,00
Folhas de Papel Almaço 60 R$ 0,06 R$ 3,60
Protocolos da Técnica de Rorschach 40 R$ 1,00 R$ 40,00
-Cartucho de Impressora 4 R$ 50,00 R$ 200,00
Disquetes 10 R$ 1,00 R$ 10,00
Canetas 10 R$ 0,50 R$ 5,00
Borrachas 5 R$ 0,20 R$ 1,00
Lápis 10 R$ 0,25 R$ 2,50
Copias Xerox folha A4 3000 R$ 0,15 R$ 450,00
Despesas de transporte 3000 de gasolina R$ 1,90 R$ 570,00
Total do Material de Consumo R$ 1312,1
Total do Orçamento R$ 5512,1
As despesas com a realização da pesquisa serão por conta da pesquisadora.
27
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30
ANEXOS
Anexo 1. Escala QV (Barros 1996) -Escala sobre Qualidade de Vida
Data: Profissão:
Religião:
Estado Civil:
Nº: Renda Familiar:
Idade: Escolaridade:
Sexo:
Estamos interessados em saber algo sobre você e sua saúde. Para cada pergunta
assinale apenas uma resposta que sirva para o seu caso. Haverá sigilo de nossa parte.
Obrigado por responder.
1) Você tem dificuldade de se acostumar com sua doença?
( ) muita dificuldade
( ) média dificuldade
( ) pouca dificuldade
( ) nenhuma dificuldade
2) A doença atrapalha a sua vida?
( ) atrapalha muitíssimo
( ) atrapalha muito
( ) atrapalha um pouco
( ) não atrapalha
3) Você está preocupado com sua doença?
( ) estou muito preocupado
( ) estou preocupado
( ) estou um pouco preocupado
( ) não estou preocupado
4) Você está satisfeito com sua vida?
( ) nunca estive satisfeito com minha vida
( ) estou nada satisfeito
( ) estou pouco satisfeito
( ) estou satisfeito
( ) estou muito satisfeito
5) Você sente dor?
( ) sinto dor insuportável
( ) sinto muita dor
( ) sinto pouca dor
( ) não sinto dor
31
6) Você tem enjôo?
( ) tenho enjôo sempre
( ) tenho enjôo quase sempre
( ) tenho enjôo às vezes
( ) nunca tenho enjôo
7) Você tem vômitos?
( ) tenho vômitos sempre
( ) tenho vômitos quase sempre
( ) tenho vômitos às vezes
( ) não tenho vômitos
8) Seu intestino funciona bem?
( ) meu intestino funciona muito mal
( ) meu intestino funciona mal
( ) meu intestino funciona mais ou menos
( ) meu intestino funciona muito bem
9) Como está o seu paladar? (gosto pela comida)
( ) meu paladar está muito ruim
( ) meu paladar está mais ou menos
( ) meu paladar está bom
( ) meu paladar está ótimo
10) Você tem apetite?
( ) não tenho apetite
( ) tenho pouco apetite
( ) tenho apetite normal
( ) tenho muito apetite
11) Você se cansa facilmente?
( ) me canso sempre
( ) me canso seguido
( ) me canso às vezes
( ) nunca me canso
12) Você está preocupado com coisas que deixou de fazer (na família, no trabalho, em
casa)?
( ) estou muito preocupado
( ) estou um pouco preocupado
( ) ás vezes me preocupo
32
( ) não estou preocupado
13) Você continua a fazer as coisas que gosta?
( ) nunca mais fiz as coisas que gosto
( ) às vezes faço as coisas que gosto
( ) continuo fazendo as coisas que gosto
( ) faço mais seguido que antes as coisas que gosto
14) Você tem dificuldade de se acostumar ao tratamento?
( ) muita dificuldade
( ) média dificuldade
( ) pouca dificuldade
( ) nenhuma dificuldade
15) O tratamento atrapalha sua vida?
( ) atrapalha muitíssimo
( ) atrapalha muito
( ) atrapalha um pouco
( ) não atrapalha
16) Você se sente útil? (com serventia)
( ) me sinto nada útil
( ) me sinto um pouco útil
( ) me sinto útil
( ) me sinto muito útil
17) Você está satisfeito com sua aparência?
( ) nunca estive satisfeito
( ) não estou satisfeito com minha aparência
( ) estou mais ou menos satisfeito com minha aparência
( ) estou satisfeito com minha aparência
18) Após a doença, como ficou o seu sono?
( ) meu sono está muito ruim
( ) meu sono está ruim
( ) meu sono está mais ou menos
( ) meu sono está bom
19) Quanta atenção você recebe?
( ) não recebo atenção
( ) recebo pouca atenção
( ) recebo atenção normal
( ) recebo muita atenção
33
20) Após a doença, como ficou sua atividade sexual?
( ) não tenho atividade sexual
( ) tenho interesse, mas nào tenho atividade sexual
( ) tenho pouca atividade sexual
( ) minha atividade sexual está normal
( ) minha atividade sexual aumentou
21) Você é capaz de realizar suas tarefas pessoais (higiene, vestir-se)?
( ) não sou capaz de realizar minhas tarefas
( ) sou capaz de realizar algumas tarefas
( ) sou capaz de realizar quase todas minhas tarefas
( ) sou capaz de realizar todas minhas tarefas
22) Sua força física está:
( ) muito diminuída
( ) pouco diminuída
( ) está normal
( ) estou mais forte
23) Você está preocupado com os gastos com seu tratamento?
( ) estou muito preocupado
( ) estou preocupado
( ) estou um pouco preocupado
( ) não estou preocupado
24) Quanto carinho você recebe?
( ) não recebo carinho
( ) recebo pouco carinho
( ) recebo carinho normal
( ) recebo muito carinho
25) Após a doença, como ficou sua crença religiosa?
( ) nunca tive crença
( ) tenho pouca crença
( ) minha crença está normal
( ) minha crença aumentou
34
Anexo 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Prezado participante:
Sou estudante do curso de Pós-graduação da Faculdade de Psicologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Estou realizando uma pesquisa sob
supervisão do professor Cícero E. Vaz, cujo objetivo é efetuar um estudo sobre a qualidade
de vida e as condições internas que os pacientes portadores de câncer de próstata
mobilizam para enfrentar a depressão e o estresse.
Sua participação envolve: uma entrevista breve; um questionário sobre qualidade de
vida; um teste psicológico (Rorschach) que o trata nem de acertos nem de erros,
contendo figuras sobre que você irá falar livremente; a duração total é de aproximadamente
1 hora e 30 minutos.
A participação nesse estudo é voluntária e se você decidir não participar ou quiser
desistir de continuar em qualquer momento, tem absoluta liberdade de fazê-lo.
Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será mantida no mais
rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam identificá-lo.
Mesmo não tendo benefícios diretos em participar, indiretamente vo estará
contribuindo para a compreensão do fenômeno estudado e para a produção de
conhecimento científico.
Quaisquer dúvidas relativas à pesquisa poderão ser esclarecidas pela pesquisadora
fone (51) 32226269 ou pelo seu orientador Dr. Cícero E. Vaz, fone 3320 3633 ramal 220.
Atenciosamente,
Ana Cristina Azambuja Tofani Dr. Cícero E. Vaz
Matrícula: 04190521-7 Professor Supervisor/Orientador
Local e data:
Consinto em participar deste estudo e declaro ter recebido uma pia deste
termo de consentimento.
_____________________________
Nome e assinatura do participante
______________________________
Local e data
35
ARTIGOS RESULTANTES DA PESQUISA
36
I. ARTIGO TEÓRICO: CÂNCER DE PRÓSTATA, SENTIMENTO DE
IMPOTÊNCIA E FRACASSO ANTE OS CARTÕES IV E VI DO RORSCHACH
Ana C. A. Tofani
Mestranda em Psicologia e Membro Aspirante Graduada da SPPA
Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre
Cícero E. Vaz
Professor Titular da Faculdade de Psicologia
Pesquisador de Produtividade em Pesquisa do CNPq
SINOPSE
Câncer de próstata, sentimento de impotência e fracasso ante os cartões IV e VI do
Rorschach
Este artigo apresenta um estudo sobre sentimentos de impotência e fracasso com
base em dados empíricos extraídos dos cartões IV e VI da técnica de Rorschach, aplicado
em 25 pacientes com ncer de próstata, em atendimento ambulatorial, num hospital de
câncer. O Rorschach foi aplicado nas dependências do próprio hospital, após
consentimento livre e esclarecido dos pacientes e aprovação do Comitê de Ética do
estabelecimento hospitalar. Os resultados permitem concluir que, por se tratar de um órgão
que afeta a sensibilidade sexual masculina, a depressão e o sentimento de impotência estão
presentes em todos os pacientes, mesmo naqueles em que a enfermidade possa ser
temporária.
Palavras-chave: Rorschach; câncer de próstata; sexualidade; depressão.
ABSTRACT
Prostate Cancer, feelings of impotence and failure before cards IV and V of
Rorschach technique
A study on the feelings of impotence and failure, based on empirical data extracted
from cards IV and V of the Rorschach technique, was carried out with 25 prostate cancer
patients in a specialized cancer hospital. Rorschach was applied inside the hospital after
both the patients’ free and conscious consent and the approval of the hospital’s Ethics
Committee. The results allowed us to conclude that depression and impotence are feelings
that are present in all patients, even in those whose impotence may be temporary, since the
prostate is an organ that affects sexual male sensibility.
Key Words: Rorschach; prostate cancer; sexuality; depression.
SIPNOSIS
Cancer de apróstata, sentimiento de impotencia y fracaso frente a las tarjetas IV y VI
del Rorschach
Un estudio ha sido hecho sobre sentimientos de impotencia y fracaso basado en datos
empíricos extraidos de las tarjetas IV y VI de la técnica de Rorschach, aplicada en 25
pacientes con cancer de apróstata atendidos en policlinica de un hospital de cancer. El
Rorschach fue aplicado en el propio hospital luego de libre y claro consentimiento de los
37
pacientes y aprobación del Comité de Ética del hospital. Los resultados permiten concluir
que, por tratarse de un órgano que afecta la sensibilidad sexual masculina, la depresión y el
sentimiento de impotencia están presentes en todos los pacientes, hasta en los que la
impotencia puede ser temporaria.
Palabras clave: Rorschach; cancer de apróstata; sexualidad; depresión.
CÂNCER DE PRÓSTATA
O câncer surge quando as células de alguma parte do corpo começam a crescer sem
controle e, usualmente, assumem forma de tumor. Segundo a National Comprehensive
Cancer Network, os tipos de câncer podem comportar-se de maneiras diferentes e
respondem a distintos tratamentos (NCCN, 2001).
No Brasil, de acordo com o INCA (2004), o câncer de próstata é o segundo tumor
maligno mais freqüente no sexo masculino. No passado, muitos destes casos eram
diagnosticados tardiamente e, por isso, os pacientes morriam em pouco tempo.
A próstata é uma glândula exclusiva dos homens, situada logo abaixo da bexiga, de
aparência e volume muito semelhante a uma castanha. É responsável pela produção de boa
parte do líquido seminal. Com o envelhecimento, essa glândula está sujeita a duas
condições: aumento benigno (HPB hiperplasia prostática benigna) e câncer de próstata.
Este, em muitos países, corresponde à segunda causa de morte. Gomes (2003) destaca que,
além da idade, devem ser considerados os fatores genéticos, raciais e de alimentação.
DIAGNÓSTICO E DEPRESSÃO
O diagnóstico de câncer da próstata pode ser feito a partir de dois exames básicos:
(1) o toque retal, para avaliar o volume da glândula e a presença de nódulos suspeitos, e (2)
o PSA (Prostatic Specific Antigen). Os temores mais freqüentes em pacientes com este
diagnóstico relacionam-se com a disseminação da doença e com as mudanças na
sensibilidade sexual (Lintz et al., 2004). Os assuntos relacionados com a sexualidade
preocupam muito aos pacientes que sofrem de câncer de próstata e, segundo a NCCN
(2001), algumas sugestões podem ajudar os homens a enfrentar este momento e a buscar
apoio em outras pessoas.
O tratamento do câncer de próstata afeta a masculinidade e contribui para que
muitos homens se tornem impotentes, mas, segundo Simkins (2002), os sobreviventes
valorizam a qualidade de vida possível como conseqüência deste tratamento. Bokhour et
38
al. (2002) aponta modificações na qualidade de intimidade sexual, na interação com as
mulheres, nas fantasias e na percepção de sua masculinidade.
Os pacientes com câncer apresentam uma incidência de depressão maior que a
apresentada pela população geral (Carvalho, 2002). O autor em destaque adota como
referência os critérios do DSM-IV (Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos
Mentais, 4. ed.), mas com algumas adaptações. Os sintomas aqui representados por perda
de peso, distúrbios de sono, fadiga ou perda de energia e diminuição da habilidade de
pensar ou de se concentrar perdem a especificidade nos pacientes com câncer, pois podem
ser desencadeados por outras causas devido à doença e não pela depressão. O autor
comenta que, nestes pacientes, a perda de peso deve ser substituída pela presença de
aspecto deprimido; a insônia pode ser substituída pela diminuição dos contatos sociais; a
fadiga, substituída por sentimentos de autopiedade ou pessimismo, e ainda, a diminuição
de concentração ou habilidade de pensar, por perda de reatividade e dificuldade de se
animar.
A dor é um elemento a ser considerado ao se fazer diagnóstico psiquiátrico, e é
sempre recomendável que ela seja removida antes de firmar este tipo de diagnóstico.
Alguns pacientes podem apresentar quadro de depressão em função dos próprios
tratamentos quimioterápicos ou com costicosteróides. Pacientes com câncer que
apresentam depressões freqüentes têm maior possibilidade de ter tido episódios
depressivos na juventude. Outro ponto destacado pelo autor correspondente à instalação da
depressão ou de seu agravamento é a fragilidade de uma rede social de apoio, que
pessoas com estrutura psíquica frágil, em geral, têm dificuldade em estabelecer uma rede
de apoio significativa.
A informação ao paciente de que ele é portador de câncer, o conscientiza de sua
finitude. O diagnóstico da doença é freqüentemente acompanhado de depressão, traduzida
pelo fato de o paciente não conseguir manter uma atitude de aceitação interior. Como não
consegue negá-la, vê-se obrigado a reconhecer que tem um câncer, deprimindo-se no
início da doença, ou durante o tratamento (Moraes, 1994). As implicações e incertezas
deste diagnóstico, em geral, intensificam emoções, e o choque ou descrença encontrada na
descoberta do tumor, segundo Chochinov (2001), estão associados a sintomas de
ansiedade, tristeza e irritabilidade.
39
SEXUALIDADE PODER E PSIQUISMO
Em Proyeto de psicologia, de 1895, Freud afirmava que a tendência humana é a
busca do prazer e a evitação do desprazer. Nos Três ensayos de teoria sexual (1905),
afirmou que a pulsão representa o conceito de algo que é limite entre o somático e o
psíquico, sendo que a parte psíquica foi denominada libido. Em Pulsiones y destinos de
pulsión (1915), Freud aponta que toda pulsão solicita a existência de quatro fatores: fonte
(necessidades pessoais e de sobrevivência); força (quantidade de excitação que tende à
descarga); finalidade (descarga de excitação para conseguir o retorno a um estado de
equilíbrio psíquico, segundo o princípio da constância) e objeto (o que é capaz de
satisfazer ou minimizar o estado de tensão interna proveniente das excitações do corpo).
Além dos fatores citados, as pulsões possuem como características o deslocamento
de uma zona corporal para outra, ou seja, de sua meta; a substituição de umas às outras, ao
passarem energia de uma pulsão para outra; a compulsão à repetição e às transformações.
Estas transformações incluem sublimações, mecanismos defensivos do ego e
ansiedade. No início da vida, as pulsões são unicamente de autoconservação, visando à
satisfação de necessidades essenciais (alimentação, amor e amparo) e, num segundo
momento, estas se tornam independentes das pulsões sexuais, que se destinam à satisfação
dos desejos libidinais e visam à preservação da espécie.
Em Más allá del principio de placer (1920), Freud propõe um dualismo pulsional:
pulsões de vida (que englobam as pulsões sexuais e as de autoconservação) e pulsões de
morte (ligadas à morte e à destruição). A libido passou a ser conceituada com energia,
vindo não somente da pulsão sexual, mas da pulsão de vida. No Esquema del psicoanálisis
(1938), o mesmo autor refere que outro ponto a destacar é que as duas pulsões básicas
produzem efeito de uma contra a outra, ou combinam-se entre si. Assim, o ato de comer é
uma destruição do objeto com a meta última da incorporação; o ato sexual, uma agressão
com o propósito da união mais íntima. Para Freud, “sexual” é um termo amplo, que não se
refere exclusivamente à função genital, pois abarca as atividades instintivas que se
manifestam de diversas formas e que têm por objetivo a obtenção de prazer.
Na 33ª Conferência (1932), Freud comenta que a distinção entre masculino e
feminino não é uma distinção psicológica, pois, quando se diz “masculino”, geralmente se
quer dizer “ativo”, considerando que a célula sexual masculina é ativamente móvel e vai
em busca da célula feminina, que espera passivamente. Este é o modelo da conduta sexual
dos indivíduos durante o coito.
40
Na obra de Freud, encontramos referências à figura do pai desde o período inicial
quando, num primeiro momento, referia um pai real sedutor e, num segundo momento, um
pai produto da fantasia, isto quando descrevia a etiologia da histeria. Nos Tres ensayos de
teoría sexual (1905), Freud ampliou o conceito de sexualidade, reconhecendo seu valor em
todas as realizações humanas. Inicialmente, a mãe é percebida como primeiro objeto de
amor por ser a fonte de alimento, prazer e vida; o pai assume um papel fundamental no
desenvolvimento psicossexual, na vigência do complexo de Édipo. A tarefa mais
importante do pai é a interdição do incesto. Para o menino, o pai que era um objeto de
identificação, é ao mesmo tempo um rival, quando este tenta se apropriar do primeiro
objeto de amor, a mãe. Em Totem y tabu (1913), o autor aponta as raízes arcaicas da
proibição do incesto real, e descreve que, em sociedades primitivas, a violação deste era
castigada. No caso do tabu, o contato proibido não deve ser entendido num sentido
exclusivamente sexual, mas num sentido de afirmar-se, de obter o controle, estando a
serviço da afirmação do sujeito no grupo. Uma boa relação com a mãe favorece a
vinculação futura com o pai.
Em 1938, Freud escreveu, em Moisés y la religión monoteísta, que o pai é um líder
de massas, que representa o grande, e descreve que, na humanidade, existe a necessidade
de uma autoridade que possa ser admirada. Este é um anseio pelo pai, pois muitas
características admiradas nos grandes homens são características paternas. É um misto de
admiração e terror. O pai deveria, na realidade, permitir que seu filho assumisse uma
posição viril.
A simbolização do falo segue vigente em nossa cultura machista e obcecada pelo
poder. Kaplan (1986) refere que a fórmula é ereção = macho = viril = homem exitoso =
desejado pelas mulheres = admirado por todos os homens, e pobres dos que falham. O
autor ainda destaca alguns mitos que influem na sexualidade masculina. Alguns homens,
por exemplo, transformam o sexo em obrigação como tantas outras que possuem na sua
vida diária, ao invés de vê-lo como uma maneira pela qual duas pessoas se relacionam, e
tratam de ter o maior prazer possível com a rigidez de seu pênis e orgasmos alcançados.
Esta preocupação leva a altos graus de ansiedade que podem até bloquear a resposta
sexual.
Um segundo mito refere que os homens têm aprendido que o sexo é de sua
responsabilidade. Este mito provém de duas velhas idéias sobre a natureza da
masculinidade: “ser homem significa ser líder e ativo” e “um verdadeiro homem” necessita
pouco de uma mulher, tanto em termos de informação como de estimulação (Kaplan,
41
1986). Em contraposição a esse mito, o autor refere que a atividade sexual com uma
companheira é, por definição, algo compartilhado com ela, e não é real que o homem deva
fazer tudo sozinho.
também o mito de que o homem sempre quer e está disposto a uma relação
sexual, sendo permitido somente às mulheres o direito de não aceitar a relação. Diante
disso, não parece permitido que um homem queira somente um carinho, um abraço, sem
que isso seja um caminho para uma relação sexual. Parece ligar-se a esses aspectos o mito
de que sexo significa somente penetração. Assim, a ereção é a “estrela do show sexual”.
Caso não ocorra, o homem não se sente bem. É difícil, em nossa cultura, conceber o sexo
como algo relaxado, com interrupções, descanso, risos, enfim, como algo agradável e
menos ansiogênico.
Quando a sexualidade masculina não é devidamente abordada, pode comprometer a
saúde do homem, revelando dificuldades, principalmente em relação à promoção de
medidas preventivas (Gomes, 2003). O autor cita um estudo realizado por Goldenberg, em
1991, com homens intelectualizados da classe dia urbana brasileira. Este estudo aponta
para tensões diante do padrão de masculinidade tradicionalmente construído, nele existindo
marcos vigentes para a afirmação da identidade masculina, como a iniciação sexual com
prostitutas, a negação do homossexualismo, referência constante a um determinado padrão
de comportamento sexual masculino, desejo de corresponder às expectativas sociais, em
especial dos amigos e das mulheres, além do temor de serem questionados quanto a sua
masculinidade e ao seu poder.
A masculinidade não é algo dado, segundo Ramos (2000), mas algo que
constantemente o homem procura conquistar. Damatta (1997) aponta que a construção da
masculinidade é atravessada por pontos carregados de inseguranças provocadas
principalmente pelo medo do homossexualismo e da impotência. Gomes (2003) também
refere que, na construção da identidade masculina, pode estar embutido, de forma
contraditória, justamente o não cuidar de si, porque ser homem para alguns é ser alguém
que é poderoso e imbatível.
Visando conhecer as influências do gênero no enfrentamento do tratamento do
câncer, Gianini (2004) realizou um estudo e analisou o processo de enfrentamento de
homens com câncer de próstata e mulheres com câncer de mama. Neste estudo, obteve os
seguintes resultados: os homens mostraram dificuldades em reconhecer e expressar seus
sentimentos quanto ao diagnóstico (para muitos a saúde ainda é vista como “coisa
feminina”); muitos deles se sentiram isolados, impossibilitados de partilhar seus medos,
42
exceto com pessoas que também estivessem fazendo os mesmos tratamentos;
demonstraram, também, maior dificuldade de lidar sozinhos com suas limitações físicas, de
suportar a interrupção brusca de suas atividades e de perder o papel de provedores da
família.
O sofrimento emocional dos homens refere-se às limitações físicas, à diminuição da
capacidade de ereção, ao cansaço, à fadiga e à retirada dos testículos, responsável pela
produção do hormônio masculino (testosterona), que inibe o crescimento do tumor, mas
que também interfere na ejaculação. Os tratamentos nos homens, quase invariavelmente,
acarretam os conhecidos riscos da incontinência e da impotência que atingem a essência da
masculinidade. Observa ainda Gianini (2004) que, nos processos sociais, os homens são
cobrados para que assumam seus problemas de forma mais ativa.
Quando os pacientes liberam seus sentimentos, reconhecendo-os e aceitando-os, e,
quando percebem que podem lidar com emoções, como o medo, podem desenvolver maior
autoconfiança, quebrando o ciclo da depressão e da desesperança, aumentando, assim, suas
condições de enfrentar o sofrimento (Carvalho, 1994).
Kübler-Ross (1994), em sua obra Sobre a morte e o morrer, aponta cinco estágios
pelos quais passa o doente desde o diagnóstico até a morte: (1) Negação e isolamento:
como “não pode ser comigo”; “não tenho nada”. (2) Raiva: quando a negação não é mais
possível, surgem sentimentos de raiva e revolta (“por que eu?”). Esta raiva pode estar
relacionada à impotência e à falta de controle da própria vida. (3) Barganha: estratégia do
paciente, tentando certo acordo para adiar um desfecho inadiável. (4) Depressão: momento
do contato efetivo com a doença e as suas perdas do corpo, das finanças, da família, do
emprego, do lazer. Tirar o paciente do seu processo de enlutamento pode perturbar o seu
processo, pois o procedimento mais adequado parece ser o de facilitar a sua expressão. (5)
Aceitação: os pacientes que viveram a sua doença e receberam apoio nos estágios
anteriores podem chegar a uma aceitação.
Em geral, o primeiro mecanismo de defesa utilizado pelo paciente é a negação.
Inicialmente, a negação pode ser uma crosta protetora, mas, se persistir por longo período,
ela enfraquece o relacionamento e impede o paciente de assumir uma atitude mais
responsável. Podem ocorrer mecanismos relacionados a uma postura onipotente, com
atuações maníacas intercaladas por momentos de depressão.
Sabe-se que sentir medo é uma reação costumeira do indivíduo à ameaça externa de
dor e destruição, com as quais não está preparado para lidar. “Esmagado pela estimulação
excessiva que não consegue controlar, o ego é inundado pela ansiedade” (Hall, Lindzey e
43
Campbell, 2000, p. 60). Neste sentido, os autores referem que, quando a ansiedade é
despertada, a pessoa é levada a fazer alguma coisa, como fugir da região ameaçadora, de
inibir o impulso perigoso ou de obedecer à voz da consciência.
De modo geral, entende-se que frustração é um sentimento de fracasso por não ter o
homem obtido a satisfação desejada. A frustração é inerente à condição humana. Para
Zimerman (2001), este termo pode ter duas significações opostas em psicanálise, mas que
são complementares. A primeira que pode ocorrer sob a forma de privação, também é
necessária para a estruturação do desenvolvimento. A segunda se refere à frustração
repetitivamente inadequada, que é um fator fortemente desestruturante.
Klopfer (1957), estudando as condições psicológicas nos portadores de câncer,
encontrou uma simbiose entre o paciente portador desta doença e a própria doença.
Considerou o tipo de câncer, a idade do paciente e sua personalidade para relacionar à
velocidade do desenvolvimento da doença nos pacientes. Observou, a partir do uso do
Rorschach, que os pacientes mais desligados de sua realidade tinham um câncer de
evolução mais lenta, enquanto que os pacientes mais dedicados à sua condição e
conectados à sua realidade sofriam mais. Além disso, apontou que pacientes que já
possuíam um ego frágil utilizavam suas defesas para dar uma sustentação ao ego e,
portanto, não sobraria energia para lutar contra a doença.
RORSCHACH: CARTÕES IV E VI
O Rorschach, como assim é conhecido, consiste numa técnica projetiva
desenvolvida por Hermann Rorschach, médico, nascido em Zurich, em 1884. A técnica por
ele desenvolvida experimentalmente e apoiada em pesquisas consiste em apresentar aos
pacientes 10 cartões com manchas de tinta escura (I, IV, V, VI e VII) coloridas (cartões II,
III, VIII, IX e X). Foi publicada em 1918. A partir daí inúmeros estudos têm sido feitos,
podendo-se afirmar que, a técnica de Rorschach como instrumento projetivo é
intensamente reforçado por um sistema quantitativo de apuração dos dados e avaliação da
personalidade, permitindo ao mesmo tempo avaliar elementos psicodinâmicos do
examinando. Além de traços de personalidade, podem também ser avaliada a condição
intelectual do sujeito, a ansiedade básica e situacional, a depressão, bem como as
condições afetivo-emocionais, o controle geral, a capacidade de suportar frustrações e
conflitos, impulsos, instintos, reações emocionais e nível de aspiração (Vaz, 2001).
Foram escolhidos como foco do estudo os cartões IV e VI. O cartão IV é
44
considerado o representativo da autoridade, do poder; nele podem aparecer as
identificações do sujeito com a figura representativa da autoridade. A mancha é compacta,
de cor preta muito densa, dando a idéia de algo pesado, formando uma base bastante
espalhada para a esquerda e para a direita, sendo que, nessas extremidades, o preto assume
aspecto de sombreado. Normalmente, o tempo de reação é prolongado, o que quer dizer
não se tratar de um estímulo simples para o examinando. Minkoska (citado por Vaz, 1997)
sintetiza bem e em poucas palavras as características deste cartão, quando diz que “é
qualquer coisa de ameaçador, de terrível, de impenetrável, de misterioso [...] grande, preto,
sombrio, maciço” (p.112). Vaz acrescenta que “a altura e a largura da base com esse quê
de maciço e preto, lembram austeridade e superioridade, desencadeando sentimentos de
angústia, medo da autoridade paterna, transformação de agressão em submissão e
arrependimento, impotência (...)” (Vaz, 1997 p. 112), são os sentimentos que ele desperta
em algumas pessoas. Respostas localizadas no eixo da mancha podem ser interpretadas
como indicativo de mobilização de angústia de caráter sexual.
O aspecto físico pode provocar a impressão geral de disforia, o que, em pessoas
com dificuldades de relacionamento ou de aceitação da autoridade paterna ou representada,
constitui-se fator de perturbação. O cartão IV representa, simbolicamente, a relação do
examinando com a figura representativa de autoridade (Portuondo, 1973; Vaz, 1997).
O cartão VI é, segundo alguns autores (Mucchielli, 1968; Portuondo, 1973; Vaz,
1997), interpretado, simbolicamente, como a representação da sexualidade. A área superior
da mancha assemelha-se ao pênis, o que facilita as associações fálicas, que podem ser
rapidamente reprimidas. A rejeição desse cartão, comentários depreciativos, críticas,
colocação da mão sobre a parte inferior para verbalização de conteúdo localizado na área
superior, ou o inverso, são sinais indicativos de dificuldades quanto à sexualidade.
DADOS EMPÍRICOS
O estudo tem por base dados empíricos extraídos dos cartões IV e VI do Rorschach
- sistema Klopfer - aplicado em pacientes portadores de câncer de próstata. Participaram da
pesquisa 25 pacientes portadores desta doença, situados na faixa etária de 48 e 83 anos,
com maior concentração entre 62 e 74 anos em atendimento ambulatorial num hospital de
câncer de Porto Alegre. Após ter sido aprovado o projeto de pesquisa pela Comissão de
Ética do Hospital e tomadas as devidas providências relativamente aos cuidados para com
os pacientes (convite pessoal, termo de consentimento esclarecido e informado), foi feita a
aplicação do Rorschach nas dependências do próprio hospital.
45
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Freud, ao analisar o sonho, como linguagem simbólica, atribuía-lhe um caráter não
universal e não estereotipado, devido a dimensões culturais e individuais do paciente. Este
cuidado também deve ser considerado pelo leitor para a compreensão adequada dos
“recortes” feitos da técnica de Rorschach, estudados nos cartões IV e VI.
Um dos recortes que se destaca é a masculinidade, que é um conceito que, em
várias culturas, vem sendo impregnado de padrões de exigências sociais, que uma vez
internalizados funcionam como registros, que fazem com que o homem passe a exercer
papéis culturais por ele assumidos: poderoso, salvador, protetor e provedor. A técnica
projetiva do Rorschach veio sustentar os achados literários.
O percentual de respostas globais (28G/55R=50%) é superior a 30%, o que sugere
fuga, fantasia e visão prejudicada da realidade, uma vez que o índice clínico esperado seria
de 20% a 30% (Vaz, 1997). As respostas de detalhe comum (D) apresentam um índice de
10% (6D/55R=10%) e o índice esperado seria de 40% a 55%; o percentual, no caso, é
inferior a 40%, o que é comum ocorrer em pessoas com senso de realidade objetiva
prejudicada, em pessoas ansiosas e com dificuldades de estabelecer diferenciação sobre o
óbvio, quer por motivos de ordem racional, quer por perturbação de ordem emocional.
Seria de se esperar como normal um percentual de 10% a 17% de detalhe raro (dr), que
indica capacidade para se ligar a pequenas coisas, ao simples do quotidiano. Neste grupo, o
percentual é muito superior a 10% (21dr/55R=38%), sugerindo excentricidade (Vaz,
1997). Destaca-se o fato de serem homens preocupados com a doença, e que, em muitos
momentos, precisam “fugir” da realidade objetiva, ficando, conforme Sousa (1982),
impedidos de funcionar com a atividade sintetizadora, ao ser referir às respostas globais,
detalhe comum e incomum dentro do índice normal no Rorschach. O aumento do número
de respostas globais, associado à diminuição de detalhes comuns, é um indicativo de
prejuízo na percepção objetiva da realidade. Portuondo (1976) acrescenta que o número
elevado de detalhes raros é um indicador de depressão.
Entende-se, assim, a necessidade, nesses pacientes, de alguns mecanismos de
defesa para o enfrentamento da doença, que aparecem no Rorschach pela presença de
sombreado radiológico (Fk). A pessoa, diante de uma situação tensionante, fica ansiosa, e,
para se defender, usa a intelectualização como mecanismo de ajustamento (Vaz, 1997).
Esta é uma defesa que consiste em priorizar o uso do pensamento e de elaborações
abstratas para não fazer contato com os afetos e suas fantasias inconscientes. Portuondo
46
(1973) comenta que esta é uma forma de expressar os conflitos emocionais sem os viver
realmente. Outra defesa utilizada pelos pacientes, associada à idéia de mutilação, foi a
negação durante o inquérito, de resposta dada na fase da aplicação. Conforme Passalacqua
e Gravenhorst (1988), isto corre em pessoas com intensa “ansiedade de castração”, e que
tentam negá-la.
O grupo apresenta várias respostas relacionadas à sexualidade, que podem ser
indicadoras de conflitos com a própria sexualidade, de medo e angústia frente à
genitalidade. Homens com verbalizações contendo símbolos sexuais femininos, com certa
perplexidade, podem sofrer de retraimento sexual por angústia (Passalacqua e Gravenhorst,
1988). Associado a isso, observa-se alto índice de conteúdos anatômicos (oito no cartão IV
e cinco no VI), que, segundo Portuondo (1973, 1976), podem ser entendidos como uma
forma patológica de expressar a libido, como inadequada tentativa de sublimar os impulsos
sexuais, ou, simplesmente, um deslocamento desta para a preocupação corporal. O câncer
de próstata é uma doença agressiva, principalmente quando o tratamento é iniciado
tardiamente, que contribui para o paciente voltar-se para si mesmo, mobilizado em relação
à sexualidade e revisando sua vida para que possa enfrentá-la diante desta nova
contingência. Pode-se levantar a hipótese de que as angústias relacionadas a fatos reais se
ampliem para o temor de perder o controle das situações e o medo de tornar-se
sexualmente impotente.
Os 25 participantes da pesquisa não verbalizaram nenhuma resposta com o
determinante movimento animal (FM). A ausência de FM pode ocorrer, segundo Vaz
(1997), em pessoas sem iniciativa, ou altamente deprimidas e defensivas. Passalacqua e
Gravenhorst (1988) referem que a ausência de movimento animal está associada à
repressão intensa de tudo que está ligado às necessidades instintivas. Referem as autoras
que é um fenômeno especial encontrado em homens que passam por períodos de
impotência. No grupo em estudo, elevada preocupação com a possibilidade da perda da
“potência” no sentido global e, diante disso, apresentam-se inibidos, como se sentindo
fracassados, retraídos individual e socialmente, e sem conseguir manifestar afeto.
O determinante que mais aparece é a forma pura, ou seja, o somatório de F+, F- e
F±, interpretado como a expressão lógica, racional e intelectual da percepção, como a
expressão do controle geral que a pessoa tem sobre seus dinamismos psíquicos, instintos,
reações afetivo-emocionais e impulsivas (Vaz, 1997). Neste grupo, o percentual de F está
acima de 50% no cartão IV (19F/30R=63%) e no cartão VI (15F/25R=60%), o que pode
ser entendido como um esforço dos sujeitos em manter o controle. O percentual de F+ é
47
uma das variáveis mais consistentes para indicar se o pensamento gico está ou não
sofrendo interferência de ordem afetivo-emocional. É esperado um índice padrão F+%
maior ou igual a 80%. “Quando o percentual de F+ diminui numa pessoa intelectualmente
bem dotada, é sinal de que sofre interferências de fatores afetivos, especialmente estados
depressivos ou constritivos” (Serebrinski. In: Vaz, 1997). Pessoas com psicose,
esquizofrenia, transtorno neurótico, ansioso ou depressivo, apresentam percentual de F+
inferior a 80. Levando em consideração a freqüência de F+, em relação ao somatório de F,
nos cartões IV (13F+=68%; 6F± =32%) e VI (10F+=67%; 4F±=27% e 1F- =7%), nota-se
que a freqüência percentual média é inferior a 80, o que pode ser interpretado como
indicador de depressão nestes homens (não havia diagnostico prévio de esquizofrenia,
psicose ou transtornos no grupo de pacientes).
Os pacientes deste estudo possuem diferenças quanto ao prognóstico e formas de
tratamento médico, histórias e projetos de vida. O medo de lidar com os impulsos gera
inibição, fazendo com que eles procurem fugir de sua realidade, ou entrando em depressão
e aumentando o nível de ansiedade. Pode-se dizer que a impotência causada pela doença
ou pelos tratamentos, mesmo que transitória, é vivenciada, assim como a castração ou a
própria morte para os homens, que parecem desvitalizados.
As respostas com conteúdos verbalizados como preto e/ou cinza são interpretadas
como tendência de a pessoa para evitar estímulos que possam lhe mobilizar reações
emocionais e sentimentos. As cores acromáticas (FC’, C’F e C’) “expressam depressão
como traço de personalidade e não apenas reações depressivas transitórias, tipo depressão
situacional”, conforme Vaz (1997, p. 94). Quando o índice FC’ é menor que C’F+C’,
especialmente se houver a presença de C’ (pura), pode tratar-se de depressão crônica.
Portuondo (1973, 1976) aponta que respostas de C’ indicam certa cautela afetiva e ânimo
deprimido. Ele relaciona as respostas de cor acromática com as tendências autodestrutivas
relacionadas com pulsões de morte. Para este autor, C’ indica pânico, C’F indica temor e
FC’ seria a inquietude. Além disso, observam-se, pelas proporções dos dados do cartão IV
(1FC’<3C’F+1C’) e do cartão VI (2FC’>1C’), indicadores de retraimento reforçados por
outros elementos do Roschach, como choque de reação por dilatação, indicando
sentimento de incapacidade, de menos-valia e depressão acentuadamente grave; choque de
duração em pessoas tímidas, inseguras (Vaz, 1997); rejeição de cartão (Sousa, 1982). Há,
ainda, sinais de inibição e sentimentos de fracasso nos cartões IV e VI pelo choque ao
cinza e, no cartão VI, pela presença de conteúdo sexual, segundo Sousa (1982).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos permitem várias ponderações. Em pacientes com câncer de
próstata, estão fortemente presentes, nos cartões IV e VI do Rorschach, os sentimentos de
impotência e fracasso relacionados à sexualidade e ao papel de poder. Associados a esses
sentimentos, estão presentes, nesses pacientes estudados, a depressão, a diminuição da
capacidade de produção, assim como dificuldades de ajustamento e de adesão ao
tratamento.
A tendência à fuga de sua realidade objetiva para um retraimento narcísico, é fator
sentido pelo paciente como necessário para o enfrentamento da doença e dos tratamentos
indicados. Verifica-se a diminuição da capacidade de funcionamento do pensamento lógico
e de bloqueio dos processos associativos, com interferência nas condições afetivo-
emocionais.
O sentimento de impotência repercute como uma ferida na vida dos pacientes com
câncer de próstata. Embora haja uma evolução da Medicina em termos de possibilidades de
tratamento, observa-se que, por se tratar de um órgão que afeta a sensibilidade sexual
masculina, o sentimento de impotência está presente em todos os pacientes testados,
mesmo naqueles com impotência transitória.
A título de sugestão, convém destacar que esses pacientes necessitam de um espaço
em que suas angústias sejam trabalhadas. Seria adequada, além do tratamento orgânico,
uma intervenção com suporte afetivo-emocional.
AGRADECIMENTO
Os autores agradecem a:
Martina Marcondes de Carvalho, Bolsista de Iniciação Científica (BIC) do CNPq
Juliana Porciúncula, monitora da disciplina de Técnicas Projetivas
pela colaboração na classificação e tabulação dos dados do Rorschach.
49
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Endereços dos autores
Ana Cristina A. Tofani
Rua Dr. Florêncio Ygartua, 53 conj. 202
90.430-010 – Porto Alegre, RS
Cícero E. Vaz
Av. Lajeado, 969 ap. 301
90.460-110 – Porto Alegre, RS
51
II ARTIGO TEÓRICO: CÂNCER DE PRÓSTATA, QUALIDADE DE VIDA E CONDIÇÕES
EMOCIONAIS
Ana Cristina Tofani
Cícero E. Vaz
Periódico: REVISTA PSICHÊ
RESUMO
O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais freqüente no sexo masculino no
Brasil. A evolução dos métodos de diagnóstico tem possibilitado avanços importantes.
Vários estudos mostram preocupação masculina com a sexualidade e com a qualidade vida
que poderá ser preservada e as limitações diante dos possíveis tratamentos. Este artigo visa
conceituar câncer de próstata, qualidade de vida e condições emocionais, e fundamentar
que uma doença como o câncer afeta na qualidade de vida e bem-estar físico e emocional
das pessoas.
Palavras-chave: Câncer de Próstata; Sexualidade Masculina; Qualidade de Vida e
Condições Emocionais.
ABSTRACT
The prostate cancer is the second most frequent malign tumor in the masculine sex in
Brazil. The diagnostic assessment methods have made important advances possible.
Several studies show masculine concern with sexuality and the quality of life that could be
preserved and with the limitations for possible treatments. This article aims the study
concept of prostate cancer, quality of life and emotional conditions, and point out that a
disease like cancer affects the quality of life and physical and emotional well being of
persons;
Key words: Prostate Cancer; Masculine Sexuality; Quality of Life; Emotional Conditions
52
Câncer de próstata, diagnóstico e prevalência
Parece que o homem latino-americano tem aos poucos se preocupado com a
prevenção; nos últimos anos a cultura do sintoma tem cedido espaço à cultura da saúde.
Vem aumentando o número de homens preocupados com saúde e com qualidade de vida,
apesar de alguns serem impelidos pelas companheiras a procurar o urologista, conforme
palavras de Cláudio Telöken (2005), coordenador do Serviço de Urologia da Santa Casa de
Misericórdia em Porto Alegre.
O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais freqüente no sexo masculino
no Brasil (INCA, 2004), e também é a segunda causa de morte em muitos países; segundo
Narod (1999) o aumento acentuado na incidência dos casos nos EUA nas últimas duas
décadas pode ser atribuído à introdução da dosagem sérica do PSA (antígeno prostático
específico) e a conscientização da população masculina em submeter-se a exames de
rotina. No passado, muitos destes casos eram diagnosticados tardiamente e os pacientes
morriam em pouco tempo. Para Gronberg (2003), além dos programas de rastreamento e
do emprego do PSA, houve uma redução na taxa de mortalidade por doença cardiovascular
(permitindo idade mais avançada aos indivíduos), talvez devido à influência de fatores
ambientais, dietéticos ou outros ainda não identificáveis.
A próstata é uma glândula exclusiva dos homens, situada logo abaixo da bexiga, de
aparência e volume muito semelhante a uma castanha. É responsável pela produção de boa
parte do líquido seminal. Com o envelhecimento a próstata está sujeita a duas condições:
aumento benigno (HPB- hiperplasia prostática benigna) e câncer de próstata.
Segundo Hanahan e Weinberg (2000) toda a neoplasia maligna é uma doença
genética. Por este aspecto filhos de portadores de câncer de próstata são orientados a
iniciar a avaliação a partir dos 40 anos. Gomes (2003) e Wroclawski e Ortiz (2003)
53
destacam que além da idade e da genética, devem ser considerados os fatores raciais e a
alimentação. Os autores concordam que um aumento progressivo da presença da
doença, de acordo com a faixa etária; homens com pai ou irmão com câncer de próstata
tem triplicadas as chances de desenvolverem a doença; parece haver relação entre dietas
ricas em gordura animal e maior risco de câncer. Por outro lado, alguns alimentos parecem
ter um efeito protetor contra o câncer de próstata: licopeno (presente principalmente no
tomate), selênio, betacaroteno, zinco e vitamina E. O tecido da próstata é vulnerável à
oxidação, que acaba por danificá-lo. Pode ser esta a razão pela qual os tomates, que contém
um forte anti-oxidante, podem ser saudáveis para a próstata. Giovannucci (1993) publicou
um estudo apontando redução para 21% do risco de desenvolvimento de câncer de próstata
nos consumidores de tomate, especialmente após o cozimento; o autor constatou risco
aumentado do desenvolvimento de câncer avançado de próstata nos grandes consumidores
de gordura.
O diagnóstico pode ser feito a partir de alguns exames tais como: 1- o toque retal,
que avalia o volume da glândula e a presença de nódulos suspeitos. O aumento da próstata
se faz lentamente e os primeiros sintomas demoram a aparecer. Quando os sintomas
urinários se manifestam e o diagnóstico é tumor maligno, é grande a probabilidade deste
ter aumentado de tamanho e se espalhado para outras partes do corpo (Wroclawski e Ortiz,
2003). Daí a importância do toque retal mesmo que o homem esteja se sentindo bem e não
apresente problemas urinários 2- PSA (Prostatic Specific Antigen), ou seja, Antígeno
Específico da Próstata, que é uma substância (glicoproteina) produzida pela próstata com
função de liquefazer o men. A dosagem é feita no sangue, e seus valores normais são de
0 a 4 ng/ml. Esta dosagem tende a se alterar todas as vezes que doença de próstata,
principalmente um câncer. Catalona (1994) e Partin, Yoo, Carter & Pearson (1993) alertam
que valores acima de 4 ng/ml podem significar câncer de próstata; e quando o PSA supera
54
o valor de 10 ng/ml, a possibilidade de existir neoplasia é de cerca de 55%, estando
indicada a biópsia trans-retal ( I Consenso Brasileiro – Câncer de Próstata- 1998).
Em 1980 Papsidero e cols correlacionaram a presença do PSA elevado em homens
com câncer de próstata, mas foi em 1986 com sua introdução clínica, que o PSA tornou-se
o mais importante marcador tumoral disponível na Medicina, utilizado no rastreamento,
diagnóstico, estagiamento e seguimento dos pacientes com câncer de próstata. Os autores
esclarecem que este é um marcador próstato-específico, não câncer-específico. Segundo o
NCI (2005) a aprovação do “Food and Drug Administration” em 1986 foi o marco para a
iniciação do uso do PSA, e já no início da década de 1990 a incidência de câncer de
próstata começou a declinar.
A evolução dos métodos de diagnóstico tem possibilitado avanços importantes na
detecção precoce de neoplasias. Carvalhal (2004), bem como Gann e Han (2005)
destacam a importância dos dados pré-operatórios como o PSA, o estagiamento local e o
Gleason da biópsia prostática, que permitem ao médico predizer as chances de a doença
estar confinada ao órgão (e portanto possivelmente curável) e quando existem metástases
linfonodais. O sistema Gleason é usado na prática para a graduação histológica, o qual
valoriza o padrão glandular e a relação entre as glândulas e o estroma; é dada uma nota
para o padrão primário e uma nota para o padrão secundário (ex. 2+3), sendo observado
que as neoplasias mais diferenciadas tem grau baixo, de 2 a 4 e as mais indiferenciadas
apresentam graus maiores, de 8 a 10 (Epstein, Walsh, Carmichael, 1994).
Os autores também apontam que a evolução de cnicas de analgesia, durante um
bloqueio prostático podem permitir a obtenção de mais fragmentos para a biópsia
(observando que depende do volume da glândula e da condição de analgesia do paciente).
Nos casos de tratamento cirúrgico de neoplasias de próstata também houve progressão a
partir da técnica da prostatectomia radical anatômica por Walsh. A incontinência urinária,
55
após esta intervenção persiste em cerca de 8% dos pacientes após 18 meses da cirurgia. O
problema de maior prevalência, segundo Catalona (1999), é a incapacidade da manutenção
da potência sexual após a prostatectomia radical, devendo neste caso serem considerados
fatores tais como: a idade do paciente, a experiência do cirurgião e a preservação dos
feixes vasculonervosos (preservação bilateral ou unilateral). Diante das complicações que
interferem na potência e na continência urinária, Walsh, Marschke, Ricker & Burnett
(2000) realizaram um estudo com 62 pacientes com o uso de um vídeo intraoperativo que
permite identificar variações arbitrárias que possam ocorrer.
Canto (2001) referiu estudos realizados sobre a fisiopatologia de uma possível
regeneração da inervação lesada. Entretanto, em nossa realidade a disfunção erétil pós-
prostatectomia radical tem sido contornada com o uso de medicação por via oral ou mesmo
de colocação de próteses penianas. Schover, Fouladi, Warneke, Neese, Klein, Zippe &
Kupelian (2004) realizaram um estudo com um grupo de 1188 homens com disfunção
erétil em função do câncer de próstata e confirmaram a necessidade de uma intervenção
para modificar as crenças negativas dos homens que precisam ser auxiliados e mesmo os
que precisam de medicação para retomar a autoconfiança.
Pesquisas recentes apontam que descrições detalhadas dos possíveis tratamentos
para o câncer de próstata tendem a minimizar os riscos ou os efeitos colaterais associados
ao tratamento. Deutsch (2004) escreveu no seu periódico que a Dra. Ângela Fagerlin (PhD)
pesquisadora da universidade de Ann Arbor, encontrou em apenas 44 publicações das 500
investigadas, as quatro opções de tratamento aos homens com câncer de próstata (espera,
cirurgia, radioterapia e hormonioterapia). Enfatiza que os esclarecimentos médicos são
indispensáveis, mesmo que os pacientes recebam materiais educacionais, pois alguns
destes materiais não descrevem os efeitos negativos do tratamento, e os pacientes
necessitam toda a informação para fazer a sua escolha. Neste sentido Risko, Fleischmann,
56
Molnar, Schneider, & Varady (1996) apontam também a importância da influência da
relação médico-paciente na decisão da intervenção e tratamento.
As necessidades mais comuns dos pacientes com este diagnóstico são os medos em
relação à disseminação da doença, preocupação com as pessoas próximas e com as
mudanças na sensibilidade sexual (Lintz, 2004). Os assuntos relacionados com a
sexualidade preocupam muito aos pacientes que sofrem de câncer de próstata, e segundo a
NCCN (2001) algumas sugestões podem ajudar os homens a enfrentar este momento e
buscar apoio em outras pessoas.
Sexualidade masculina
Existem mais publicações sobre sexualidade feminina do que sobre a masculina, o
que pode levar ao entendimento de que é mais fácil ser homem em nossa sociedade em
relação ao sexo. Passa-se no imaginário das pessoas a idéia de que a sexualidade feminina
é misteriosa e complicada, e que os genitais masculinos são a essência da simplicidade,
pois parece que toda a sexualidade está concentrada em um lugar, seu órgão genital.
Freud (1923) no texto La organización genital infantil salienta que desde a infância
o menino valoriza o pênis, por ser um órgão do corpo que se excita facilmente, que se
modifica e é muito rico em sensações. É notável, arremata o autor, a pouca atenção que a
criança à outra parte dos genitais masculinos, o pequeno saco e seus conteúdos; e
exemplifica que, com o que ouve nas análises parece que os genitais masculinos não
incluem alguma coisa além do pênis. Descreve que ao completar o desenvolvimento, na
época da puberdade, a polaridade sexual coincide com masculino e feminino. O masculino
reúne o sujeito, a atividade e a posse do pênis, o feminino assume o objeto e a passividade.
A vagina é então estimada como abrigo do pênis, torna-se herdeira do ventre materno.
57
Neste sentido Mota (1996) destaca que os homens aprendem a valorizar a atividade
sexual como algo que legitima sua identidade masculina; ser homem é desempenhar o
papel de quem domina e “penetra”. Clarke (2002), após o Congresso Mundial sobre
Envelhecimento Masculino, descreveu em seu artigo que o único ponto de preocupação
masculina é a questão sexual. A autora referiu que os médicos salientam que homens em
geral são menos preocupados com saúde do que as mulheres, e que homens de todas as
idades desejam ereções melhores, e que este é um aspecto que os leva à consulta médica.
Harrod (2003) publicou um comentário no JAMA sobre sua experiência pessoal de
convivência por 10 anos com um câncer de próstata. Relatou que nos 6 primeiros anos teve
qualidade de vida em muitos níveis, mas nos últimos anos de vida sofreu com a evolução
da doença até ocorrer seu óbito. Seu comentário destaca que a perda de libido provocada
pelo câncer de próstata foi um sofrimento que ele não pôde prever. Passou a invejar a
capacidade de sentir desejo, que outros homens possuíam. Além disto, deu-se conta de que
a sexualidade masculina é excessivamente genital no seu foco, o que lhe causou grande
impacto pensando sobre o quanto havia perdido, o quanto sua esposa lhe dizia e ele não
valorizava sobre a importância do toque, da presença de um com o outro, da divisão de
sentimentos... Diante deste insight o autor descreveu como se considerou insensível, foi
com o auxílio de sua esposa, familiares, amigos, médicos e grupos realizados no hospital
que enfrentou a fase final e terminal da doença.
Ao estudar o tratamento de câncer de próstata, qualidade de vida e sexualidade
masculina, Robinson (in Haley 2003), tendo como base pesquisa realizada na universidade
de Calgary e no Tom Baker Câncer Centre destaca: os homens ao serem informados que
estão com câncer de próstata ficam ansiosos e resistem à idéia de procurar o atendimento
apropriado, levados pelo medo de perder a qualidade de vida que vinham tendo;
demonstram preocupações com a sexualidade; os homens devem receber informações
58
sobre os possíveis tratamentos e serem auxiliados na tomada de decisões.
A disfunção erétil é definida como uma consistente inabilidade para atingir ou
manter uma ereção suficiente para a performance sexual satisfatória. Johannes, Araujo,
Feldman, Derby, Kleinman & McKinlay (2000) realizaram um estudo com 1700 homens
(847 sem disfunção erétil) e observaram que a prevalência de disfunção erétil aumenta com
a idade e está associada a condições crônicas médicas e tratamentos como diabetes,
hipertensão e doenças do coração. Os autores observaram ainda que a disfunção erétil têm
incidência menor em homens de status socioeconômico elevado e de vel educacional
também elevado; imaginam que o nível educacional propicia condições médicas, e que é
mais comum problemas para atingir o orgasmo do que disfunção erétil neste nível
educacional.
Qualidade de vida
Qualidade de vida envolve questões subjetivas (Saunders, 1991; Kovács, 1998). O
que é valorado por uma pessoa pode não ser por outra, e isso está relacionado com a sua
história particular, características de personalidade e a situação atual. É um termo difícil
de ser operacionalizado, pois além do pressuposto comunicação médico-paciente, envolve
aspectos gerais de satisfação com a vida, diminuição do sofrimento e da dor, quer física
quer psíquica, social e espiritual (Kovács, 1998). Hodgson (1999) concorda com esta
colocação e acrescenta que na dimensão psicológica de qualidade de vida uma
preocupação com a perda da função no lar, com as finanças, com o aumento de dor, perda
do controle e vulnerabilidade.
Uma forma qualitativa de avaliação e mensuração de qualidade de vida é feita por
intermédio da própria história do paciente, a qual pode apontar quais os aspectos que foram
59
mais alterados pela doença. Uma cuidadosa monitorização destes aspectos sem dúvida
facilitará uma melhor atenção àquilo que o paciente considera como sofrimento, como dor.
Johansson, Andren, Andersson & Dickman (2004) realizaram um estudo no qual
referem à remoção cirúrgica da próstata, indicando que a sobrevivência prolongada não é a
única preocupação dos pacientes, em relação à qualidade de vida; eles se preocupam com a
vida integral, ou seja, uma expectativa de vida integrada sob o ponto de vista físico,
psíquico e social.
São muitas opções de tratamento para o câncer de próstata, dependendo do estágio,
e nestas situações é fundamental a participação do paciente e de seus familiares,
considerando expectativas e preferências. Pentz (2002) destaca em seu artigo que os
homens que possuem um bom suporte social ficam mais capacitados a suportar as perdas
associadas ao câncer do que outros homens. Yan (2000) refere que um paciente pode optar
por ter menos anos de vida, mas manter sua potência sexual por mais tempo. Para
Rosenfeld, Roth, Gandhi & Penson (2004) a qualidade de vida (QV) é um aspecto
importante, sob o ponto de vista psicológico e não apenas físico. O estudo desses autores
realizado com 341 homens em atendimento ambulatorial, e aprovado pelo Memorial
Sloan_Kettering Câncer Center, aponta uma relação direta entre a doença câncer de
próstata em estágio avançado e qualidade de vida pobre dos pacientes com câncer de
próstata.
Carvalhal, Smith, & Ramos (1999) referem uma piora na qualidade de vida ligada à
incontinência urinária e à impotência sexual. Há também o impacto do tratamento com
radioterapia sobre as funções urinárias e sexuais na qualidade de vida do paciente
conforme Potosky, Harlan, Stanford & Gilliland (1999). Tem sido consenso geral que o
conhecimento dos dados de sobrevida, as taxas de complicações e as respostas ao
tratamento pelos sintomas não representam um valor suficiente para avaliar o impacto da
60
doença e seu tratamento. Na avaliação da QV do paciente deve-se considerar como ele se
sente física, psicológica e socialmente antes e após o tratamento. A impressão do médico
nem sempre condiz com a do paciente, segundo Macdonagh (1996). A longo prazo os
pacientes não ficam totalmente satisfeitos em saber que ficarão livres da doença, eles
querem saber se a qualidade de vida ficará afetada (Litwin, McGuigan, & Spall (1999) ;
McCammon, Kolm, Main, F. (1999).
Existe na literatura, conforme Howard (2004), maior inquietude dos pesquisadores
quanto aos aspectos físicos (incontinência e disfunção erétil) do que quanto aos aspectos
psicológicos (ansiedade, constrangimentos e auto-retraimento), no que tange ao câncer de
próstata. Para ele o lazer constitui-se um aspecto fundamental na qualidade de vida dos
pacientes. A qualidade de vida do paciente vai depender de suas esperanças, expectativas e
a realidade que enfrenta, diz Barros (1996).
Condições emocionais
O câncer continua sendo uma doença misteriosa, em termos de comunicação e
relacionamento médico-paciente. Receber esse tipo de diagnóstico mobiliza muitos
sentimentos no paciente que não estava preparado para ouví-lo. A tendência do homem é
não encarar abertamente o fim de sua vida. O comunicado do médico ao paciente
informando-lhe que ele é portador de câncer, o conscientiza de sua finitude. Para
muitas pessoas na realidade, esta é uma doença fatal, mesmo que se leve em consideração
ser crescente o número de curas reais ou de remissões significativas (Moraes, 1994).
O paciente oncológico, angustiado pelo medo da morte, volta-se para si mesmo ou
utiliza mecanismos psicológicos de defesa, tendo em vista lutar contra a angústia
desencadeada diante da ameaça da doença e estabelecer uma nova maneira de
relacionamento com o meio e consigo mesmo (Moraes, 1994). O paciente entra em
61
depressão, e segundo a autora, a depressão pode aparecer no recebimento do diagnóstico;
alguns pacientes não conseguem aceitá-lo, e não conseguindo negar a doença, vêem-se
obrigados a reconhecê-la, deprimindo-se diante dos acontecimentos. A depressão pode se
manifestar após a cirurgia e outros tratamentos, exigindo a cada momento, novas
readaptações.
A inserção da Psicologia na área da saúde, segundo Gimenes (1994) ocorreu
formalmente por volta do século XX com o trabalho de Sigmund Freud nos seus “Estúdios
sobre la histeria” (Freud, 1893-95). Este trabalho destaca que muitos dos sintomas físicos
dos pacientes possuem relação com os aspectos emocionais.
A não liberação de cargas emocionais intensificadas afeta o corpo da pessoa,
segundo LeShan (1994). O paciente de ncer é altamente vulnerável ao sofrimento diante
de uma perda afetiva. Tem sido constatado que a perda de um relacionamento afetivo
geralmente antecede o desenvolvimento de uma malignidade fatal; o paciente de câncer
geralmente tem dificuldades de expressar as emoções (LeShan, 1994). O autor observa que
quando a raiva, a tristeza ou a preocupação não encontram uma válvula de escape, esses
sentimentos afetam o corpo, e se houver uma tendência latente para desenvolver um
câncer, a incapacidade para expressar seus sentimentos irá atingir o corpo em alguma parte
vulnerável.
Torna-se cada vez mais claro (LeShan, 1994) que as explicações físicas - meio
ambiente, infecções ou genética - não oferecem uma resposta global; um número cada vez
maior de médicos e psicólogos busca informações adicionais com relação à influência do
estresse, da personalidade, das emoções. Observou ainda que parecia haver uma
correspondência geral entre o ritmo de desenvolvimento do câncer e o momento em que o
indivíduo perde o senso de significado da vida.
62
O conceito de estresse (Gimenes, 1994) surgiu na literatura oncológica para
explicar diferenças individuais no aparecimento e desenvolvimento do câncer, pois há uma
multiplicidade de situações estressantes que fazem parte do estilo de vida do indivíduo
sobrecarga física e emocional no dia-a-dia, perdas, hábitos alimentares, fumo e consumo
de drogas.
Relacionando condições psicológicas e câncer Amaral (1994) destaca que o
estresse, o desamparo, traços de personalidade e estilo de vida estariam levando a uma
queda do sistema imunológico, contribuindo assim para o crescimento desordenado da
doença. A autora faz referência a resultados de pesquisas realizadas por Simonton em que
se constatou que níveis elevados de estresse emocional aumentam a suscetibilidade do
indivíduo ao adoecer.
Essas afirmativas reforçam o pressuposto do homem integral. A doença é uma
experiência e uma metáfora, uma mensagem que precisa ser ouvida e dissipada (Rodrigues
e Braga, 1998). Quando os pacientes se conectam com seus sentimentos, reconhecendo-os
e aceitando-os, e quando percebem que podem lidar com emoções ante o medo, podem
desenvolver maior autoconfiança, quebrando o ciclo da depressão e desesperança,
aumentando assim sua capacidade de lidar consigo diante das situações que enfrentam na
vida. Pensamentos e sentimentos não provocam e nem curam o câncer (LeShan, 1992),
mas os sentimentos afetam a química do organismo, assim como a química do corpo afeta
os sentimentos, ou seja, todos os aspectos do ser humano interagem e se influenciam.
Diante disto, a escuta e a continência (holding) são imprescindíveis no apoio a estes
pacientes.
O trabalho em equipe multiprofissional com o paciente oncológico deve ter como
focos o conforto, a dignidade e o respeito ao paciente, bem como propiciar a ele o direito
de receber explicações sobre a doença e participação ativa das decisões quanto ao seu
63
tratamento. Assim, ele não temerá o isolamento, o abandono e a rejeição, tornando-se
confiante na honestidade e na habilidade dos profissionais.
A teoria psicanalítica, diz Ribeiro (1994), auxilia ao psicólogo na compreensão da
história do paciente, da família e de algumas intervenções interpretativas. A compreensão
do momento como um todo e das emoções, incluindo as do profissional são
imprescindíveis. Os aspectos transferenciais e contratranferenciais deverão guiar as
intervenções e atuação do psicólogo e dos demais componentes de equipe multidisciplinar.
As fantasias de morte, por exemplo, podem estar presentes em várias pessoas e refletirem
uma percepção da realidade.
Alguns pacientes, por não quererem ser um peso para a família, não partilham de
seus sentimentos, aumentando o isolamento e a depressão. Em geral os homens, como
pacientes oncológicos, são mais susceptíveis ao isolamento social, mais vulneráveis a
preocupações e inabilidades para o trabalho do que as mulheres. Pacientes com dor severa
são mais propensos à depressão do que pacientes com pouca dor, segundo Spiegel (1994).
A depressão, diz o autor, pode ser uma amplificação da experiência de dor; a dor afeta a
qualidade de vida e diminui o senso de controle do paciente, tornando-o menos capaz de
receber ajuda e de se beneficiar do suporte da família e dos amigos.
A relação entre as reações emocionais e as corporais não é fácil ser estabelecida
com precisão pelos métodos científicos tradicionais. Galeno, médico grego do século II,
“atribuía o surgimento do câncer a uma propensão à melancolia” (LeShan, 1994, p. 75).
um século, Sir James Paget (in LeShan, 1994) referiu que são freqüentes os casos em
que a ansiedade profunda, a esperança adiada e o desapontamento contribuem para o
crescimento e aumento do tumor.
Chochinov (2001) refere que cada um de nós experiencia profundas emoções em
resposta ao tratamento de uma doença como o câncer. As implicações e incertezas deste
64
diagnóstico podem intensificar emoções. O choque ou descrença encontrada na descoberta
do tumor fica associado a sintomas como ansiedade, tristeza, irritabilidade, perda do sono
e distúrbios no apetite. Em geral os pacientes oncológicos são vulneráveis a vários tipos de
temor, como medo da inabilidade operacional, da perda prévia de posição ou função
ocupacional, da perda do controle, de se tornarem dependentes e de perderem a vontade de
viver. Dale (2004) alerta para os elevados índices de ansiedade de homens com este
diagnóstico, destacando que a psicoterapia diminui sensivelmente estes indicadores.
A ansiedade pode ser definida como um estado emocional desagradável no qual
existem sentimentos de perigo iminente, caracterizado por inquietação, tensão ou
apreensão, segundo Kaplan e Sadock (1984). “O ambiente contém regiões de perigo e
insegurança; ele pode ameaçar assim como satisfazer” (Hall Lindzey & Campbell 2000, p.
60). A causa é geralmente um conflito intra-psíquico inconsciente ou não reconhecido. A
ansiedade, continuam os autores, está associada a um padrão característico de descarga do
sistema nervoso autônomo, envolvendo índice de respiração alterado, marcha cardíaca
aumentada, palidez, secura na boca, suor aumentado e distúrbios músculo esqueléticos,
envolvendo tremor e sensações de fraqueza.
Os pacientes passam por estágios de negação e isolamento, raiva, barganha e
depressão até a aceitação, como descreve Kubler-Ross (1994); e têm necessidades
diferentes nos vários estágios da doença. Chochinov (2001) refere que a depressão clínica
é relativamente comum e freqüente em pacientes com câncer, mas é uma minoria que se
torna clinicamente deprimida. Em seu artigo, o autor revisa informações básicas para
auxiliar a identificar riscos de uma depressão maior, inclusive riscos de suicídio. Para o
autor a tristeza é uma emoção normal e esperada nos pacientes de câncer, que aos poucos
vão acomodando suas circunstâncias de saúde com o suporte da família e dos amigos, e
através das várias opções de tratamento podem reestabelecer algum senso de equilíbrio.
65
Entretanto pacientes que experienciam depressão clínica ou uma síndrome depressiva
experimentam uma variedade de sintomas físicos e psíquicos do enfraquecimento das
capacidades funcionais e ocupações sociais. Os fatores que aumentam o risco dos pacientes
oncológicos desenvolverem depressão clínica são: história de depressão com dois ou mais
episódios durante sua vida e pacientes que tem na família história de depressão ou suicídio
(Chochinov, 2001).
Klopfer (1957) estudando as condições psicológicas nos portadores de câncer, com
a técnica de Rorschach, encontrou simbiose entre o paciente com câncer e sua doença. Ou
seja, estabeleceu correlação entre a evolução da doença com o desenvolvimento da
personalidade. Observou que os pacientes mais desligados de sua realidade tinham um
câncer de evolução mais lenta, enquanto que os pacientes mais dedicados à sua condição e
conectados à sua realidade sofriam mais. Pacientes que possuíam um ego frágil
utilizavam suas defesas para dar sustentação ao ego, não sobrando energia para lutar contra
a doença.
Considerações finais
Pela revisão pode-se afirmar que foi drástico o aumento de câncer de próstata nos
últimos vinte anos, graças principalmente à utilização do PSA como um marcador
próstato-específico. Antes disso, os médicos dispunham do exame de toque retal, que
mobiliza o sentimento de masculinidade, quer pela posição do homem durante o exame,
quer pelo exame em si.
É compreensível a preocupação masculina quando algum sintoma na próstata
tendo em vista que esta é uma glândula que contribui com sua secreção para a constituição
do sêmen. Dentro dela passam os dutos ejaculadores prostáticos e a uretra, da qual
depende o mecanismo de contenção urinária. Pelo lado de fora da próstata se localizam
66
feixes nervosos e vasos sangüíneos responsáveis pela ereção. Diante disso, quando
câncer de próstata e é indicado o tratamento cirúrgico ou radioterápico; esse tratamento
pode lesionar os feixes nervosos e comprometer a ereção ou levar à incontinência urinária.
O comprometimento de ereção e a incontinência urinária mobilizam sentimentos de
impotência e fracasso nos homens. Mesmo que a impotência seja transitória, as fantasias e
temores dos pacientes refletem no enfrentamento do diagnóstico e tratamento indicado.
A partir do momento em que é identificado o câncer, a maior preocupação da
equipe multiprofissional passa a ser com a vida do paciente, a começar pela informação
adequada ao paciente sobre a doença em si, os riscos, o impacto da infertilidade temporária
ou permanente (esterelidade) e a incontinência urinária.
O aumento da expectativa de vida e a procura de uma longevidade com qualidade
têm desencadeado um interesse cada vez maior em identificar e tratar as doenças que
afetam os homens. A participação da psicologia nesta área da saúde passa a ser de um
trabalho em conjunto com o médico e a equipe oncológica, a partir do momento em que é
reconhecido que a etiologia e o desenvolvimento do câncer estão associados a fatores
psicológicos, comportamentais e sociais. Em alguns Centros de Tratamento de Câncer são
realizados grupos de suporte ao paciente e aos familiares com sugestões de estratégias tais
como ocupações e lazer para o enfrentamento da doença.
Observa-se que maior organização no sentido de ampliar o foco da doença do
paciente para os sintomas de ansiedade e depressão, tendo em vista que estes interferem
diretamente no enfrentamento do diagnóstico e dos tratamentos posteriores. As incertezas
deste diagnóstico intensificam emoções. A ansiedade que não pode ser controlada pelo ego
se expressa como um padrão de descarga pelo diagnóstico recebido e temores de como se
dará a evolução.
67
O gênero e a identidade masculina remetem a questões ligadas ao padrão de
comportamento sexual do brasileiro e suas repercussões sobre a sexualidade
diferentemente de região para região do país, de classe social para classe social, assim
como de um momento histórico para outro.
A definição de o quê é próprio da natureza humana tem sofrido modificações ao
longo das últimas décadas. Entretanto, persiste a concepção que ser homem em nossa
cultura está relacionado à idéia de atividade sexual intensa. Além das características
biológicas que promovem a diferença dos sexos, existe o nero, as características e as
significações sexuais que definem o que é ser masculino e feminino.
Estudos sobre comportamento sexual nas faixas etárias mais avançadas são
escassos e por vezes elucidam pouco, talvez porque por algum tempo a atividade sexual foi
socialmente aceita como uma característica do homem jovem. O ato da penetração ganha
importância e a ereção passa a ser considerada como desempenho obrigatório. A maioria
dos homens considera o desejo a partir do momento em que há ereção na relação. Entende-
se a partir desta posição que a identidade masculina dita um olhar dirigido por esta
premissa, impedindo que o homem possa desfrutar o prazer de estar em contato com outra
pessoa.
O câncer é uma das doenças que mais afeta a qualidade de vida, pois traz consigo o
estigma da morte incorporado à cultura humana. A qualidade de vida entendida como
relação entre domínios sicos, psicológicos e sociais que são influenciados pelas atitudes,
valores e saúde dos indivíduos. Então depende da capacidade que cada pessoa tem de
aceitar desconforto e limitações para ter satisfação na sua vida. Quando recebe este
diagnóstico o homem reage com medo de que, além de não ser curado, o câncer lhe
trazer sofrimento, humilhação, comprometimento físico e dor. A função sexual é
considerada por ele como fator essencial para a manutenção da qualidade de vida. A dor
68
causada por uma disfunção sexual parece ser mais incapacitante que os problemas físicos
relacionados às doenças crônicas, pois a satisfação com a vida sexual reflete na satisfação
com a vida de forma geral. A disfunção sexual compromete a auto-estima do indivíduo,
tendo como conseqüência tensões emocionais individuais e conjugais.
Embora haja muita coisa a ser descoberta sobre este assunto, pode-se afirmar que o
câncer afeta na qualidade de vida das pessoas. Uma abordagem mais atual considera o
homem em todos os níveis do ser humano, ou seja, aspectos físicos, psicológicos,
espirituais, relacionais e ambientais. Somente abordando o problema do câncer a partir do
ponto de vista da pessoa que tem a doença, poderão ser mobilizados recursos mais
adequados.
69
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75
III ARTIGO EMPÍRICO: DEPRESSÃO, ANSIEDADE, QUALIDADE DE VIDA E A TÉCNICA
DE RORSCHACH EM PACIENTES COM CÂNCER DE PRÓSTATA
Ana Cristina A. Tofani
Cícero E. Vaz
Periódico:
REVISTA BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA
RESUMO
Este trabalho procurou investigar características de personalidade de pacientes de
câncer de próstata por meio do Rorschach e da Escala de Qualidade de Vida (QV).
Participaram da pesquisa 60 homens com idades entre 48 e 83 anos divididos em dois
grupos. O grupo 1 foi composto por 30 pacientes com câncer de próstata, enquanto que o
grupo 2 foi constituído de 30 não pacientes. Para comparação dos dados entre os grupos foi
utilizado o teste U de Mann-Whitney para diferença de médias, e o coeficiente de
Correlação de Pearson entre as variáveis do Rorschach e algumas questões de bem-estar
físico e emocional da Escala de Qualidade de Vida (QV). Os resultados indicam que
portadores de câncer de próstata apresentam indicativos de autoconfiança diminuída, com
o aumento do sentimento de insegurança e da auto-percepção como homens, além de
impotentes, inúteis.
Destaca-se como característica de personalidade a depressão com prejuízo nos
processos de associação, no funcionamento do pensamento lógico e empobrecimento geral
de suas capacidades. As informações coletadas confirmam a necessidade do bom
relacionamento médico-paciente, especialmente no ato da comunicação do diagnóstico ao
paciente assim como nos próximos atendimentos.
Palavras-chave: Rorschach; Câncer de Próstata; Depressão; Ansiedade; Sexualidade
Masculina; Trabalho.
76
ABSTRACT
This work aimed to investigate personality characteristics of pacients with prostate cancer
by the use of the Rorschach and the Quality of Life Scale (QV). Sixty men has participated
of the research with ages from 48 to 83 years old, divided into two groups. Group 1 was
composed by thirty patients with prostate cancer, while group 2 was composed by thirty
non-patients. For the comparison of data between the two groups it was used the U of
Mann-Whitney test for the difference of mean study, and the Pearson Correlation
coefficient among the Rorschach variables and some questions of physical and emotional
well being of Quality of Life Scale (QV). The results point out individuals with prostate
cancer showed indicatives of diminished self-esteem, and increase of the feeling of
insecurity, and the self perception as men that are, beyond impotent, useless.
It is highlighted as a characteristic of personality the depression with prejudice in the
processes of association, in the functioning of logic thought, the general decrease of their
capacities. The data confirmed the necessity of a good doctor-patient relationship, specially
in the act of the communication about the diagnostic to the patient as well as in the next
meetings.
Key words: Rorschach; Prostate Cancer; Depression; Anxiety; Masculine Sexuality; Work.
77
O câncer de próstata é o segundo tumor maligno mais freqüente no sexo masculino
no Brasil.
1
2
Estudos de autópsia demonstram que 30% dos homens com mais de 50 anos
podem ter esse tipo de câncer, porém uma pequena porção desses tumores se torna
clinicamente significante. A seleção do tratamento para o câncer de próstata depende da
combinação de um número de fatores que incluem a idade do paciente, a expectativa de
vida, o estagiamento do câncer, a comorbidade, e a qualidade de vida que inclui aspectos
relacionados à incontinência urinária, potência sexual e estresse.
3
4
5
O câncer restrito à
próstata é progressivo quando não tratado, sendo grave e letal nos pacientes jovens ou com
tumores indiferenciados e com menor agressividade biológica nos pacientes idosos ou com
tumores bem diferenciados.
4
Entre as medidas preventivas ressalta-se o toque retal. Segundo dados do Instituto
Nacional do Câncer
1
, o homem tem um grande preconceito em relação ao toque retal.
Apesar de ser uma medida de baixo custo, esse procedimento se transformou num tabu
porque mexe com o imaginário masculino, não por falta de informações acerca da
efetividade desta medida, mas porque fazer o toque retal pode mobilizar no homem o medo
de ser tocado em “uma zona proibida”. Pode ser medo de dor física ou simbólica, ou medo
de ter ereção, entre outros. Mesmo que o homem não sinta dor, experimenta no mínimo o
desconforto físico e psicológico de estar sendo tocado.
No imaginário masculino a ereção pode estar associada ao prazer, e não consegue
imaginá-la como uma reação fisiológica. Com isto muitos homens temem a possibilidade
de a ereção ser interpretada por quem o toca como um indicador de prazer. Outro ponto é
que para o processo ser menos evasivo é necessário que o homem fique descontraído, neste
caso alguns homens temem ser interpretados que o toque nessa parte seja algo comum ou
prazeroso. Gomes
6
refere que mesmo para os homens que conseguem aceitar
78
racionalmente o toque retal, não pode ser descartada a possibilidade de essa situação lhes
causar constrangimentos conscientes.
A incidência de câncer de próstata triplicou no período de 1986-1996. O
desenvolvimento do antígeno prostático específico PSA permitiu a detecção precoce da
doença, aumentando a possível longevidade masculina.
7
O aumento da próstata se faz
lentamente. Os primeiros sintomas demoram a aparecer. Daí a importância do toque retal
mesmo que o homem esteja se sentindo bem e não apresente problemas urinários. O valor
normal do PSA é até 4ng/ml. Entretanto este valor deve ser ajustado à idade e ao volume
da glândula.
4
2
Tomar conhecimento do diagnóstico de câncer é um fato muito estressante para os
pacientes e seus familiares que podem ficar ansiosos, se deprimir, e se mostrarem
estressados.
8
9
Depressão e ansiedade
É recente o interesse pela investigação das relações existentes entre fatores
emocionais e a incidência do câncer de próstata e sua evolução. Dentre esses fatores
destacam-se a depressão e ansiedade. Freud
10
diz que o melancólico se singulariza por
diminuição de sua auto-estima e empobrecimento de seu ego. O sentimento de
inferioridade é o inverso da auto-estima; tem origem na perda de recursos internos e no
fracasso para reações compensatórias. É uma tentativa de restituir imaginariamente uma
representação de si mesmo identificada com o ideal para salvaguardar a auto-estima.
Bégoin
11
sugere que os sentimentos depressivos são sentidos como estando contidos nas
partes femininas da personalidade, porque são identificados com a mãe que contém a
ansiedade e depressão primitivas dos bebês.
79
Simonton
12
pesquisando em radioterapia observou que pacientes com um mesmo
diagnóstico e prognósticos médicos tinham evoluções diferentes, pois uns viviam mais do
que outros. Pacientes com melhor evolução manifestavam um desejo de não querer morrer
e uma espécie de projeto inacabado em andamento que os prendia à vida. Os que se
mostravam deprimidos, com profunda apatia e desistência diante da vida evoluíram
positivamente; alguns deles afirmavam querer viver, mas adotavam atitudes contraditórias
em relação a esta afirmação, mantendo hábitos e estilos de vida pouco saudáveis.
12
Os
pacientes que evoluíram melhor tinham como característica achar que de alguma forma
podiam influenciar o curso de suas doenças. Adotavam uma atitude muito mais ativa em
relação às suas vidas, em relação à doença e aos tratamentos médicos. Eram pessoas mais
participativas e não viam o processo de cura como algo a que devessem se submeter
passivamente, mas como algo de que podiam participar de forma ativa. Segundo o autor,
aspectos de personalidade e estados emocionais influenciavam sobre condições físicas do
paciente e que era necessário considerá-lo como um todo.
Para alguns autores existe relação entre repressão dos sentimentos e câncer, e
também a hipótese da perda relacionada à depressão.
13
14
Nuzzo e Chiari,
15
baseados em
revisão da literatura do século XVIII e XIX, comentam que a melancolia e a tristeza
antecedem a doença do câncer. Eles destacam a ênfase que pesquisas contemporâneas têm
dado ao papel da depressão sofrida imediatamente por uma pessoa após a separação de
outra muito querida, ou após a perda de um objetivo de vida.
Pennix, Guralnik, Pahor, Ferrucci, Cerhan, Wallace, & Havlik
16
realizaram um
estudo prospectivo por três anos em 4825 pessoas (1708 homens e 3117 mulheres) acima
de 71 anos e concluíram ser grande o risco de o câncer surgir correlacionadamente ao
humor deprimido, uma das características da depressão. Para os autores a depressão pode
aumentar a probabilidade de o homem desenvolver o câncer pela perda de atividade física,
80
consumo excessivo do álcool e desordens alimentares. O medo do diagnóstico de câncer
pode gerar ansiedade e depressão. Thomas & Weiss
17
referem que o ciclo ansiedade e
depressão intensificam a percepção de dor e de perda do controle.
Breitbart
18
destaca o valor do suporte terapêutico mesmo que como cuidado
paliativo nos casos de doença terminal, principalmente em função da depressão e do
sentimento de desesperança e inutilidade. A depressão é um sintoma freqüente em
pacientes de câncer avançado, em fase de cuidados paliativos, e necessitam
19
uma equipe
especializada para identificar o que é uma tristeza do que é uma doença depressiva.
Flaugher
20
aponta em sua dissertação os benefícios da música em casos de dor, ansiedade e
depressão nos indivíduos portadores de câncer.
Em estudo longitudinal, utilizando o Rorschach com 22 participantes, Belk
21
observou que os pacientes com câncer eram pessoas mais envolvidas interpessoalmente,
mais auto centradas e menos exatas em comparação com as participantes, sem câncer. A
autora destaca que o nível de estresse é elevado. Hartmann, Wang, Berg & Saether,
22
realizaram um estudo associando as variáveis do Rorschach com distúrbios depressivos,
em que foi possível identificar sérios déficits nas características de personalidade e na
cognição de indivíduos que possuíam o diagnóstico de depressão maior pelo DSM IV.
Como constructo da personalidade, a auto-estima age em estados emocionais
depressivos ou maníacos e constitui-se elemento fundamental na formação da identidade.
23
As expectativas de futuro estão diretamente influenciadas pelas oscilações de auto-estima.
A baixa auto-estima leva à autocrítica e rejeição severa, sentimento de inferiorização, auto-
reprovação, intensa idealização de um objetivo e maior sensibilidade a críticas, elogios e
necessidade de aprovação social.
23
Considerando aspectos de medidas preventivas Sunga et al.
5
escrevem sobre a
importância dos cuidados com os sobreviventes do câncer, observando a renovação dos
81
exames para controle médico e os efeitos colaterais dos tratamentos realizados
principalmente sobre a imagem corporal e a sexualidade.
A masculinidade conforme é vivida nas diferentes culturas, é algo que se constrói
ao longo do tempo. Os sinais de diminuição de virilidade que são decorrentes do declínio
da função testicular como diminuição da libido, queda do cabelo, perda de massa muscular
e vigor físico, insônia e nervosismo ocorrem pelo declínio de seu hormônio sexual
circulante e como conseqüência altera sua qualidade de vida.
24
Pesquisadores do Canadá,
25
estudaram 327 pacientes e concluíram que a insônia é
um sintoma frequentemente associado ao câncer de próstata, podendo ocorrer
independente da ansiedade e depressão, podendo ser influenciado pela presença de
sintomas físicos e psicológicos. Cukier
26
define o dormir como um estado produzido pelo
surgimento de uma pulsão de dormir, de caráter filogenético, cotidiano e alternante. É
semelhante ao regresso à vida intra-uterina que procura ausência de estímulos. O dormir,
cuja importância maior é restabelecer os ritmos intracorpóreos, é um processo eficaz que
permite criar as condições necessárias para restabelecer o mecanismo de alteração interna
anterior à ação específica.
Sexualidade masculina, trabalho e qualidade de vida
De modo geral, não se pode falar sobre os homens e sobre masculinidade sem
considerar o contexto sócio-cultural, educativo e a dinâmica inconsciente entre outras
variáveis. O bebê do sexo masculino tem que percorrer um trajeto de vida para completar
a formação de sua identidade. O menino passa por um trabalho psíquico para transformar
sua masculinidade anatômica em uma masculinidade psíquica para alcançar a
psicossexualidade masculina, assim como sua capacidade de trabalho.
82
No trabalho de “El creador literário y el fantaseo”, Freud
27
salienta que a maioria
dos seres humanos cria fantasias em épocas de suas vidas que são desejos ambiciosos e
servem à exaltação da personalidade.
Em 1930 referindo-se ao trabalho, Freud
28
escreveu “El mal estar en la cultura”,
que nenhuma outra técnica de condução de vida liga o indivíduo à realidade como a
insistência no trabalho, e que a possibilidade de deslocar sobre estes sentimentos
libidinosos, narcisistas e agressivos lhe conferem um valor indispensável para afiançar e
justificar a vida em sociedade. A atividade profissional pode promover uma satisfação
particular quando eleita livremente, ou quando são utilizadas sublimações.
Cukier
26
escreve sobre o trabalho ligado a uma forma genuína de tramitação
pulsional, esclarecendo que mesmo que falhe a inserção laborativa, o trabalho continua
toda a vida como alternativa para saídas criativas. O autor relaciona o trabalho ao poder, e
o trabalho psíquico deste ligado ao poder interior, que pode promover bem-estar. E, se
vinculado ao prazer de resgatar capacidades não desenvolvidas pode ser um processamento
pulsional que pode alcançar sua tramitação nos hobbies de acordo com os valores de cada
pessoa.
A diferença biológica entre os corpos masculino e feminino pode ser estudada
como uma diferença socialmente construída entre os gêneros e através da divisão de
trabalho. A natureza ativa do homem representada por seu corpo e por seus movimentos no
ato sexual lhe permitiu o direito de eleger-se como o dominador.
29
O significado atribuído
ao pênis no seu papel fertilizador, que carrega a força criativa e o poder assegura ao
homem a posição dominante em relação à mulher, extensiva às suas relações sociais. Neste
papel de dominador o homem tem que provar sua virilidade durante a vida de diversas
maneiras. A virilidade em seu sentido amplo é o que lhe honra e reconhecimento, mas
também está associada à agressividade. A autora pondera que para a construção deste
83
homem viril é necessário excluir o que possa ser visto como característica feminina; há,
portanto, uma luta constante para negar e rechaçar as vivências emocionais.
Foi realizada pesquisa homens com idade situada entre 48 e 83 anos, com maior
concentração entre 62 e 74, considerada faixa dos idosos. Moraes & Souza
30
realizaram um
estudo com 400 idosos e obtiveram como resultado que a saúde percebida (boa ou muito
boa) e crenças pessoais dadas à vida são fatores que influenciam o envelhecimento bem-
sucedido. Nesse trabalho os autores relatam que a desesperança e a depressão quando
presentes reduzem em 30% a qualidade de vida. Um dos resultados da análise dos dados
obtidos
31
sugerem que a dimensão psicológica e social influi na dimensão física de bem-
estar. Giacomoni
32
aponta o lazer e o trabalho como variáveis com elevada interferência no
bem-estar subjetivo. A longevidade é aumentada pela auto-percepção positiva.
3 3
Considerando a importância da qualidade de vida, alguns autores
34
escrevem sobre a
importância de que a detecção e o tratamento do ncer de próstata seja realizado sem
métodos invasivos. Litwin, McGuigan & Shpall,
35
descrevem que diante das opções de
tratamento o principal objetivo dos pacientes é preservar qualidade de vida. A atenção deve
ser sobre a qualidade e não sobre quantidade de vida.
31
36
A incontinência e a impotência
afetam significativamente a qualidade de vida dos pacientes portadores de câncer de
próstata.
37
Neste sentido Rosenfeld et al.
38
destacam que o estágio avançado de câncer está
associado a uma pobre qualidade de vida, esta associação não ocorre somente em função
da ansiedade e depressão, mas principalmente em função da incontinência urinária.
Muitos pacientes querem conhecer o prognóstico do caso e tomam as decisões
considerando a qualidade de vida.
39
40
Muitos fatores afetam o prognóstico tais como: tipo
e localização do câncer, estágio da doença, idade do paciente, saúde geral e resposta ao
tratamento do tumor.
84
Barros
41
afirma que as dimensões que integram o conceito são de difícil
mensuração, e que um método confiável e consistente para medir qualidade de vida
deveria basear-se em informações advindas dos próprios pacientes e não de seus médicos e
enfermeiros. Nos casos de pacientes oncológicos a medida da qualidade de vida
demonstra diferenças de resposta dos pacientes frente a tipos específicos de câncer para
avaliar o alívio dos sintomas e os benefícios da intervenção terapêutica. O autor validou
uma escala que leva em consideração a qualidade de vida de uma forma global.
Eventos associados ao câncer de próstata e o conseqüente tratamento da doença
provocam sintomas físicos que apresentam um impacto negativo na qualidade de vida.
42
OBJETIVO E HIPÓTESES
O objetivo desta pesquisa é efetuar um estudo sobre alguns aspectos da
personalidade, por meio da técnica de Rorschach, e qualidade de vida em pacientes
portadores de câncer de próstata (G1) comparativamente a um grupo controle (G2) com as
seguintes hipóteses alternativas de trabalho:
H1 - Homens portadores de portadores de câncer de próstata apresentam indicativos
de autoconfiança diminuída em índice maior do que os homens sem esta disfunção.
H2 - Homens portadores de câncer de próstata apresentam indicativos de depressão
em índice maior do que os homens sem esta disfunção.
H3 - Homens portadores de câncer de próstata apresentam indicativos de ansiedade
em índice maior do que os homens sem esta disfunção.
H4 - Homens portadores de câncer de próstata apresentam indicativos de baixa
capacidade para enfrentar situações tensionantes em índice maior do que os homens sem
esta disfunção.
85
MÉTODO
Amostra
É feito um estudo comparativo correlacional quanto a alguns aspectos da
personalidade e à qualidade de vida de pacientes portadores de câncer de próstata que
vinham, por ocasião da testagem, em atendimento num hospital-escola de Porto Alegre e
homens sem este diagnóstico.
A amostra se constituiu de dois grupos: Grupo 1 (G1) 30 pacientes, homens
portadores de câncer de próstata, idade de 48 a 83 anos, sem outra moléstia orgânica ou
psíquica e Grupo 2 (G2) com 30 homens, não pacientes, sem o diagnóstico de câncer de
próstata e outra moléstia orgânica ou psíquica. O pareamento entre os sujeitos do G2 com o
G1 se fez por faixa etária, estado civil e condições sócio-econômicas.
Instrumentos
a) Técnica de Rorschach. Para avaliar as condições de personalidade foi utilizado o
método de Rorschach. Trata-se de uma técnica projetiva elaborada por Hermann
Rorschach em 1918 na Suíça. O sistema de classificação adotado neste estudo foi o de
Bruno Klopfer, com adaptação de Vaz.
43
As variáveis do Rorschach e sua freqüência
utilizadas para o estudo comparativo entre os dois grupos (Hipóteses alternativas 1, 2, 3 e
4) de participantes são: determinante Cor Acromática (FC’, C’F, C’) como indicador de
depressão; aumento do tempo de reação no cartão V e perseveração de conteúdo como
indicativos de baixa autoconfiança; a freqüência de espaço branco(S); Determinantes
sombreado radiológico (Fk, kF, k) e Sombreado perspectiva e profundidade (FK, KF, K)
para avaliar a ansiedade e capacidade para enfrentar situações tensionantes.
86
b) Escala QV. Para avaliar aspectos da qualidade de vida foi utilizada a escala de
Ferrel, Wisdom e Wiezl
44
traduzida, adaptada para a língua portuguesa e validada por
Barros,
41
com o nome Escala QV. Esse instrumento é constituído de 23 questões com
quatro opções de resposta e 2 questões adicionais com cinco opções de resposta. Apresenta
itens relacionados a aspectos físicos, psicológicos e sociais e um (1) especificamente
relacionado à crença religiosa.
Procedimento
O projeto de pesquisa, após ser aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa e ter
atendido às normas legais, foi executado em um Hospital de Câncer de Porto Alegre. Foi
aplicado primeiramente o Rorschach em cada participante, e logo depois o questionário,
pela própria pesquisadora.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a aplicação dos instrumentos foi realizada a classificação das Localizações,
dos Determinantes e Conteúdos dos protocolos do Rorschach, aplicado em 30 pacientes
com câncer de próstata e 30 participantes sem este tipo doença. O trabalho de classificação
foi feito às cegas, sucessivamente por um primeiro e um segundo classificador,
devidamente treinado para essa tarefa, integrantes do Grupo de Pesquisa Personalidade,
Cultura e Técnicas Projetivas da PUCRS.
Na análise estatística foram utilizados, por meio do SPSS v 12.0, o teste U de
Mann-Whitney para diferença de médias entre os dois grupos, e o coeficiente de
Correlação de W de Pearson para o estudo correlacional quanto às variáveis do Rorschach
e algumas Questões da Escala de Qualidade de Vida.
87
Serão apresentados em seguida: os dados descritivos nas Tabelas 1A e 1B contendo
os elementos básicos gerais para o tratamento estatístico e o estudo sobre as 4 hipóteses
alternativas com a respectiva discussão, assim como as conclusões.
88
TABELA 1A
Estatística descritiva: Determinantes do Rorschach de pacientes com câncer de
próstata (n=30) e Grupo controle (n=30)
Grupos
C’,
C’F,
FC’
FC’ C’F C’
S
combinat
K +
KF +
FK
FK
Soma 24 6 10 8 13 11 5
Media ,80 ,20 ,33 ,27 ,43 ,37 ,17
DP 1,562
,484 1,155 ,907 ,971 ,615 ,461
Mínimo 0 0 0 0 0 0 0
Máximo
6 2 6 4 4 2 2
Pacientes com
câncer de
próstata
N 30 30 30 30 30 30 30
Soma 3 3 0 0 5 16 9
Media ,10 ,10 ,00 ,00 ,17 ,53 ,30
DP ,305 ,305 ,000 ,000 ,461 ,776 ,750
Mínimo 0 0 0 0 0 0 0
Máximo
1 1 0 0 2 3 3
Controle
N 30 30 30 30 30 30 30
Soma 27 9 10 8 18 27 14
Media ,45 ,15 ,17 ,13 ,30 ,45 ,23
DP 1,171
,404 ,827 ,650 ,766 ,699 ,621
Mínimo 0 0 0 0 0 0 0
Máximo
6 2 6 4 4 3 3
Total
N 60 60 60 60 60 60 60
TABELA 1B
Estatística descritiva: Fenômenos especiais do Rorschach de pacientes com câncer de
próstata (n=30) e Grupo controle (n=30)
Cartões mais rejeitados
Fenômenos
especiais
Grupos
Perseveração
Sent
Incapacidade
IV VI VII IX
Soma 29 41 6 6 6 6
Media ,97 1,37 ,20 ,20 ,20 ,20
DP 1,903 1,712 ,407 ,407 ,407 ,407
Mínimo 0 0
Máximo 6 5
Pacientes
com câncer
de próstata
N 30 30 30 30 30 30
Soma 1 18 2 4 4 3
Media ,03 ,60 ,7 ,13 ,13 ,10
DP ,183 ,968 ,254 ,346 ,346 ,305
Mínimo 0 0
Máximo 1 3
Controle
N 30 30 30 30 30 30
Soma 30 59 8 10 10 9
Media ,50 ,98 ,13 ,17 ,17 ,15
DP 1,420 1,432 ,343 ,376 ,376 ,360
Mínimo 0 0
Máximo 6 5
Total
N 60 60 60 60 60 60
89
1. Confirmou-se a hipótese alternativa: homens portadores de câncer de
próstata (G1) apresentam indicativos de autoconfiança diminuída em índice maior do que
os homens sem esta disfunção (G2). Observa-se que o G1 apresenta elevado número de
respostas com perseveração de conteúdo (media .97) em comparação com o grupo 2
(média ,03) conforme Tabela 2. Este fenômeno se caracteriza pela repetição do mesmo
conteúdo em três cartões sucessivos do Rorschach.
43
Passalacqua e Gravenhorst
45
e
Portuondo
46
47
observam que as pessoas deprimidas são levadas a este processo de
perseveração pela inércia de seu pensamento e limitações de seus interesses. As pessoas
ansiosas e deprimidas, segundo Sousa
48
expressam auto-depreciação e dúvida na
linguagem, pois estando bloqueados os processos associativos, eles pensam com
dificuldade e são vítimas de sentimentos de insuficiência e de inadequação intelectual.
Freud
10
e Caminha
23
ao descreverem a diminuição da auto-estima do deprimido referem
que o sentimento de inferioridade se origina na perda de recursos internos. Por outro lado,
aparecem, embora sem diferença estatística nos pacientes (G1), por isso não consta na
tabela, verbalizações com o fenômeno especial simetria, indicador de insegurança interna;
é a busca de uma realidade que lhe propicie segurança e auto-suficiência.
45
47
90
TABELA 2
Estatística comparativa: Sentimento de incapacidade e perseveração presentes nos pacientes com
câncer de próstata e nos participantes do grupo controle
Grupos N Média DP Sig
Pacientes
com câncer
de próstata
30 1.37 1,712 .05
Sentimento
de
incapacidade
Controle 30 .6 ,968
Pacientes
com câncer
de próstata
30 ,97 1,903 .01
Perseveração
Controle 30 ,03 ,183
2. Confirmou-se a hipótese alternativa: o Grupo 1 (G1) apresenta indicativos de
depressão em índice maior do que os homens sem esta disfunção. O determinante cor
acromática (FC’, C’F, C’), indicador de depressão, aparece no G1 em índice médio
superior ao do G2 (G1= .80 e G2= .10, Tabela 1A) com nível p= 0,000 conforme Tabela 3.
91
TABELA 3
Estatística comparativa: Espaço branco (S), Forma precisa (F+), Cor acromática
(FC´, C´F, C´) do Rorschach de pacientes com câncer de próstata (n=30) e nos
participantes do grupo controle (n=30)
S F+-
M+, M-,
M+-
C’, C’F,
FC’
C’F C’
M-
Whitney
U
401.500 365.000 244,000 351,000 390,0 405,0
Wilcoxon
W
866.500 830.00 709,000 816,000 855,0 870,0
Z -1.064 -1.264 -3,228 -2,097 -2,051 -1,761
Sig.
Bicaudal
.287 .206 ,001 ,036 ,040 ,078
As respostas em que a pessoa inclui o preto e/ou o cinza da mancha, consideradas
acromáticas, são classificadas como FC’, ou C’F, ou C’
49
50
46
47
51
48
43
conforme a
combinação com a forma, ou sem essa combinação. As respostas de cor acromática são
interpretadas
43
como “tendência de a pessoa evitar estímulos que possam mobilizar no
examinando reações emocionais e sentimentos para o mundo exterior” (p.94). Para
Portuondo;
47
Adrados
49
e Vaz
43
as respostas acromáticas indicam cautela afetiva e
depressão; Adrados
49
acrescenta ainda que estas respostas também m relação com
sentimentos de inferioridade, inadequação afetiva e ansiedade. Além disso, continua Vaz,
43
respostas de tipo FC’, C’F e C’ indicam depressão como traço de personalidade e não
apenas como reações depressivas transitórias. Pode ser considerado de bom prognóstico a
presença de 1FC´ num protocolo de Rorschach desde que o índice de F+ e M não seja
baixo, que FC´ não seja menor do que a soma C´F+C´ e não haja sentimentos de
incapacidade como fenômeno especial. Donde, pode-se inferir que a depressão presente no
grupo dos pacientes com próstata oncológica é comprometedora.
92
As respostas com F+% revelam o pensamento lógico em seu aspecto de precisão,
coerência e organização.
46
47
51
48
43
Segundo Klopfer
50
as respostas de forma revelam o
papel que o controle intelectual ou consciente desempenha no equilíbrio emocional total da
personalidade. Constata-se neste grupo correlação negativa entre F+ e as respostas
acromáticas (FC’, C’F, C’), conforme Tabela 4; ou seja, diminuição do funcionamento
adequado do pensamento lógico associado ao aumento da depressão como traço de
personalidade.
TABELA 4
Correlações entre condições depressivas (C´,C´F,FC´), Funcionamento do pensamento lógico (F+) e
Desempenho (Rorschach) de pacientes com câncer de próstata
C´,C´F,FC´ F+ Resposta
Coorelação de
Pearson
1 -,289(*) ,036
Sig. (unicaudal) . ,013 ,392
C´,C´F,FC´
N 60 60 60
Coorelação de
Pearson
-,289(*) 1 ,792(**)
Sig. (unicaudal) ,013 . ,000
F+
N 60 60 60
Coorelação de
Pearson
,036 ,792(**) 1
Sig. (unicaudal) ,392 ,000 .
Resposta
N 60 60 60
*Sig. 0.05
** Sig 0.01 .
Os dados obtidos nesta amostra confirmam a revisão da literatura quanto ao quadro
depressivo do paciente oncológico.
13
14
16
O elevado número de respostas com sentimento
de incapacidade indica que diante dos cartões as pessoas apresentam bloqueio do processo
associativo, são vítimas do sentimentos de incapacidade e de insegurança
43
chegando a
expressar verbalizadamente “não posso”, “não dá para falar nada nessa mancha”!
93
A disposição deprimida diminui o número de respostas de movimento humano
(M+, M-, M+-) e o número de respostas de cor cromática (FC) de boa qualidade (Tabela
3). Muitos autores
49
47
51
48
43
concordam com esta posição, pois as pessoas deprimidas
estão com a vida interior, a imaginação, a sensibilidade e a capacidade de relacionamento
sob controle constritivo. Pode-se dizer que elas se sentem seguras dentro de suas normas
de vida rigidamente estabelecidas num clima de monotonia em função da doença.
Klopfer
50
acrescenta que a falta de respostas de movimento humano indica repressão do
uso da imaginação.
3. Confirmou-se a hipótese alternativa: Homens portadores de câncer de próstata
apresentam indicativos de ansiedade em índice maior do que os homens sem esta
disfunção. O G1 apresenta espaço branco (S), indicativo de ansiedade situacional em
índice médio mais elevado que o G2 (G1= .43 e G2= .17); com nível de significância de p=
0,01 (Tabela 3, p.92).
O espaço branco é a expressão dos sentimentos de insegurança, de desprazer, da
tensão diante da barreira a ser transposta, é a expressão da ansiedade situacional do
examinando.
43
Adrados
49
referindo-se à estereotipia de respostas aponta esta como uma
proteção provocada pela ansiedade, porque às vezes, uma rigidez do pensamento, ao
mesmo tempo que bloqueia as potencialidades intelectivas, protege as relações
interpessoais, evitando uma conduta espontânea que poderia trair a fragilidade e ansiedade
interna.
4. Não se confirmou a hipótese alternativa: Homens portadores de câncer de
próstata apresentam indicativos de baixa capacidade para enfrentar situações
tensionantes em índice maior do que os homens sem esta disfunção. Era esperado que os
índices das respostas sombreado perspectiva (K, K+KF) aparecessem significativamente
mais elevado no G1 do que G2; os resultados médios K = .03 e .30 no G1 e no G2
94
respectivamente, K+KF = .37 e .53 no G1 e G2 respectivamente não indicam diferença
significativa
Chama atenção o fato de os pacientes portadores de câncer de próstata não estarem
trabalhando, ou porque haviam se aposentado ou porque se aposentaram em função da
doença. os homens do grupo controle trabalhavam. A revisão da literatura permite
afirmar que o trabalho liga o indivíduo à realidade, relaciona-se ao poder e tem sido um
indicador de qualidade de vida. Santos
52
descreve estudos em sua tese de que a ansiedade é
mais elevada em pessoas que não desenvolvem nenhum tipo de atividade com objetivos na
vida. Em sua pesquisa a autora constatou, no grupo de idosos com envelhecimento bem-
sucedido, ser baixa a incidência de depressão como traço de personalidade.
Foi encontrada correlação entre depressão como traço de personalidade avaliada
por meio do Rorschach e as questões pertinentes
- ao bem estar emocional do QV: 12 e 16
- ao bem estar físico do QV: Questões 5 e 8
No que diz respeito a depressão e bem-estar emocional da Escala de Qualidade de
Vida (QV) foi constatado que:
a) Existe correlação negativa entre a variável C´do Rorschach e a questão 12
que diz “Você está preocupado com coisas que deixou de fazer?”(Pearson -.270); e
correlação positiva entre a variável FC’ do Rorschach e a questão 16 que diz “Você se
sente útil?” (Pearson .267) conforme Tabela 5. Essas questões estão relacionadas a perdas
conforme revisões
10
13
14
referidas na fundamentação teórica. Os pacientes portadores de
câncer de próstata apresentam auto-estima diminuída, sentem-se pouco úteis, demonstram
sofrimento ao perderem o papel de provedores da família, principalmente por terem
interrompido a atividade de trabalho.
95
TABELA 5
Correlações entre as variáveis do Rorschach indicadoras de depressão (C´,C´F, FC´),
Perseveração e as Questões 12 e 16 (bem estar emocional) e 5 e 8 (bem estar físico)
da Escala de Qualidade de Vida
Bem estar emocional Bem estar físico
Rorschach QV Rorschach
QV Rorschach QV
Preocupação
com coisas que
deixou de fazer
Q12
Você se
sente útil
Q 16
C´, C´F,
Seu
intestino
funicona
bem Q 8
Perserveração
Você sente
dor Q 5
C´, C´F, C´
Coef Corr
Pearson
-270* 267* -321* 256*
Sig
(bicaudal)
.03 .03 .04 .04
b) Existe correlação positiva entre a presença do Fenômeno especial
Perseveração do Rorschach e a questão número 5 de QV “Você sente dor”? (Pearson .256)
e correlação negativa entre a variável C´do Rorschach e a questão 8 que diz “Seu intestino
funciona bem?” (Pearson .321) conforme Tabela 5. Observa-se na revisão
18
20
que a
depressão pode ser uma ampliação da experiência de dor, porque a dor afeta a qualidade de
vida, tornando o paciente mais vulnerável. Observa-se que quanto mais deprimido se sente
o paciente menos adequadamente funciona seu intestino, região simbolicamente ligada ao
prazer.
CONCLUSÕES
Os resultados encontrados na amostra em estudo, permitem concluirmos:
1. Homens portadores de câncer de próstata apresentam indicativos de
autoconfiança diminuída, com o aumento do sentimento de insegurança e da auto-
percepção como homens, além de impotentes, inúteis.
2. Destaca-se como característica de personalidade do portador de câncer de
próstata a depressão. Esse traço de personalidade acarreta prejuízo nos processos de
96
associação, no funcionamento do pensamento lógico e empobrecimento de suas
capacidades gerais.
3. As informações coletadas confirmam a necessidade do bom relacionamento
médico-paciente, especialmente no ato da comunicação do diagnóstico ao paciente assim
como nos próximos atendimentos.
97
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100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de saúde não é meramente a ausência de enfermidade, sua dimensão é
mais ampla, vinculada ao bem estar social e individual. A medicina moderna em acordo
com a definição de saúde da OMS está voltada para a qualidade de vida das pessoas.
Observa-se na atualidade uma busca frenética de satisfação, fugacidade de
relacionamentos, com uma hiper-sexualização que busca apenas o prazer e prescinde de
qualquer relação mais profunda. Nas marcas dessa cultura que busca a beleza, é proibido
ser feio, envelhecer e aceitar os sinais do tempo. Portanto, a sexualidade deve ser jovem,
dinâmica, elástica e a vida sexual dos idosos, em geral, é considerado um tema pouco
atraente e um alvo de menor interesse. Esta dimensão de que amor e sexualidade são
prerrogativas exclusivas da juventude podem levar a uma diminuição da auto-estima. Da
mesma forma que se sabe que existem modificações fisiológicas, psicológicas e sociais,
também se sabe que a sexualidade além de ser um fenômeno cultural e variável com o
grupo etário, tem uma dimensão pessoal e humana. A condição normal do envelhecimento
produz uma gradual diminuição da atividade sexual e uma possibilidade de inapetência
sexual.
Uma falha erétil antecipa o fracasso, produz ansiedade e depressão levando a uma
diminuição das sensações sexuais e uma alteração da fisiologia da ereção, que pode levar a
uma nova falha. Esta é uma possibilidade que pode ocorrer com homens que estejam com
saúde, sendo que nos portadores de câncer é uma possibilidade com maior chance de
ocorrer por todo o quadro. Nessa pesquisa ficou evidente que os homens com câncer
apresentam elevado nível de ansiedade e muitos indicadores de depressão, não apenas
funcional mas já como traço, como estrutura da personalidade.
O indivíduo deprimido apresenta um padrão de pensamento negativo em relação a
si próprio, em relação ao mundo e em relação ao futuro. São pensamentos em torno de
101
perdas e baixa auto-estima. Estas pessoas se consideram sem valor, indesejáveis e
desprezados por todos; o mundo é visto como sendo cheio de obstáculos, o futuro é incerto
e cheio de frustrações e sofrimentos. A crença central faz com que o indivíduo distorça
suas vivências, a conseqüência é a apatia, o não enfrentamento das situações, podendo
apelar para a fuga e a evitação, o pessimismo, a auto-depreciação e a crença de que vai
fracassar.
Os indivíduos ansiosos superestimam o perigo e subestimam sua capacidade de
enfrentamento diante de situações perigosas. Esta forma de pensar mantém a ansiedade e
prejudica o desempenho, aumentando assim o senso de vulnerabilidade e sensação de
perigo.
Durante a coleta de dados os pacientes do Hospital manifestaram satisfação e de
certa forma agradecimento pelo espaço oferecido para falarem dos sentimentos em relação
à doença. O grupo controle também se beneficiou com o espaço e ficou bastante destacado
que os homens que ainda não haviam procurado um urologista manifestaram que é
importante a prevenção.
Uma outra impressão que ficou na pesquisadora foi que o processo de aplicação dos
instrumentos já funcionava como uma intervenção.
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