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ajudar voluntariamente outros pacientes ou a fazer uma prestação de serviço social,
sentindo-se úteis para os outros, referem sensação de bem-estar e conforto.
Cada um de nós tem um universo muito rico, repleto de dor, alegria, esperança,
tristeza, medo, orgulho, solidão, relacionamentos, isolamento, ódios, amores e tudo o mais
que artistas, escritores e poetas nos dizem fazer parte da condição humana.
A ausência de uma saída para cargas emocionais intensificadas afeta o corpo da
pessoa, segundo LeShan (1994). A perda de um relacionamento vital geralmente
antecede o desenvolvimento de uma malignidade fatal. O paciente de câncer possui maior
quantidade de emoções do que é capaz de expressar.
Mastrovito (in LeShan,1994), psiquiatra do Memorial Sloan-Kettering Cancer
Center, em Nova York, estudou um grupo de mulheres com câncer e descobriu que essas
pacientes possuíam um elevado grau de “autocontrole emocional, idealismo e senso de
responsabilidade”. Estas características são tidas como virtudes, quando no contexto
apropriado, mas até uma virtude pode ser levada a extremos. Se a responsabilidade e o
autocontrole forem rigidamente mantidos, em detrimento da expressão de sentimentos
verdadeiros, uma parte do eu é negada. Quando as tensões não são liberadas e a raiva é
reprimida, podem tornar-se mais fortes. Sabemos que isso acontece no desenvolvimento
de úlceras. Será que podemos negar a possibilidade de que isso também aconteça no
desenvolvimento do câncer ? (Leshan, 1994)
Silvermar (in LeShan,1994), da Harvard Medical School, observa que quando a
raiva, a tristeza ou a preocupação não encontram uma válvula de escape, acabam afetando
o corpo, e se houver uma tendência latente para desenvolver um câncer, a incapacidade
para expressar seus sentimentos irá atingir o corpo em algum ponto vulnerável.
LeShan (1994) diz que atualmente se torna cada vez mais claro que as explicações
físicas –meio ambiente, infecções ou genética- não oferecem uma resposta global; um
número cada vez maior de médicos e psicólogos busca informações adicionais com relação
à influência do estresse, da personalidade, das emoções. Observou ainda que parecia haver
uma correspondência geral entre o ritmo de desenvolvimento do câncer e o tempo
transcorrido desde que o indivíduo perdera o senso de significado da vida, representado por
um relacionamento vital.
A intervenção psicológica apresenta-se como um recurso que amplia os limites de
ação no atendimento das necessidades que surgem em cada momento da trajetória do
paciente: desde a situação de diagnóstico, passando por tratamentos que podem ou não
resultar em cura, chegando às situações posteriores de adaptação do paciente ou da família
às seqüelas concretas ou subjetivas com que se deparam. A família é um organismo
essencialmente dinâmico em que a doença de um de seus membros altera seu
funcionamento. A notícia de que um ente amado sofre de câncer pode produzir um grande
impacto, por isso indica-se que além de focar a atenção na ajuda à pessoa doente, haja
também a indicação de se atentar para os efeitos do trauma do diagnóstico sobre outros
membros da família (Veit, Chwartzmann e Barros,1998).
A ênfase do trabalho em equipe multiprofissional com o paciente oncológico deve
ser colocada no conforto, na dignidade e no auto-respeito do paciente, bem como propiciar
a ele o direito de receber explicações a respeito de sua doença, participando ativamente das
decisões quanto ao seu tratamento. Assim os pacientes não temerão o isolamento, o
abandono e a rejeição, mas ficarão confiantes na honestidade e na habilidade dos
profissionais, e com a certeza de que se algo puder ser realizado com eles, será em
conjunto, respeitando as deliberações. Não podemos esquecer que o paciente tem uma
percepção do que está acontecendo com ele e com as pessoas a sua volta. O que ele
precisa é de pessoas que possam lhe dar afeto e apoio nestes momentos difíceis de sua
vida.