Download PDF
ads:
Elen Soraia de Menezes
DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA: O OLHAR DO
ADOLESCENTE SOBRE A PREVENÇÃO DAS DST/AIDS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
ESCOLA DE ENFERMAGEM
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
Elen Soraia de Menezes
DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA: O OLHAR DO
ADOLESCENTE SOBRE A PREVENÇÃO DAS DST/AIDS
Dissertação de Mestrado apresentado na
Escola de Enfermagem da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Orientadora: Profª Drª Matilde M.M.
Cadete
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem da UFMG
2007
ads:
2
Menezes, Elen Soraia de.
M543d Da informação à formação para a autonomia [manuscrito] : o olhar do
adolescente sobre a prevenção das DST/aids / Elen Soraia de Menezes. –
2007.
97 f. : il., tabs., graf.
Orientadora: Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete.
Área de concentração: Ciências da Saúde.
Linha de pesquisa: Fenomenologia.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola
de Enfermagem.
Bibliografia: f. 82-91.
Anexos: f. 92-97.
1. Aids (Doenças) – Teses. 2. Doenças sexualmente transmissíveis –
Teses. 3. Síndrome de imunodeficiência adquirida – Prevenção e controle –
Teses. 4. Educação sexual para adolescentes – Teses. 5. Educação em
saúde – Teses. I. Cadete, Matilde Meire Miranda. II. Universidade Federal de
Minas Gerais. Escola de Enfermagem. III. Título.
NLM: WC 503
3
DEDICATÓRIA
Ao meu amigo e amado marido Bruno que soube,
compreeensivamente, renunciar à minha presença para
que eu pudesse realizar este trabalho, por ser,
freqüentemente, um bálsamo para minhas aflições e por
iluminar, com seu sorriso largo, os meus dias mais
cinzentos.
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora Matilde, por ter sido meu fio condutor neste trabalho, um exemplo de
educadora, pelas palavras ditas na graduação que marcaram minha vida, quando me chamou
até sua sala para “dar-me colo” porque percebeu minha carência.
À Escola Dona Diva de Oliveira, principalmente à Diretora Sônia e à Orientadora Jussara por
me receberem de braços abertos.
Aos Sujeitos desta pesquisa por me permitirem entrar em seus mundos-vida e se revelarem a
mim de uma forma tão carinhosa e receptiva.
Ao PEAS por instigar minha reflexão e por levar ao encontro dos Sujeitos.
Aos membros do NUPEPE, pela acolhida e pelos ensinamentos. Às Professoras Alda Martins,
Roseni Sena, Marília Alves e Sônia M. Soares por se mostrarem disponíveis na confecção de
artigos, pelo exemplo de humildade, luta e sabedoria.
A Deus e toda Sua equipe de benfeitores por me proporcionarem paz, saúde e energia para a
consecução deste trabalho.
Aos meus avós Rita e Elpídio, assim como à FUMP por me ajudarem financeiramente, num
momento de tanta escassez ,que foi minha graduação. À CAPES pela bolsa do mestrado.
À minha mãe Altair Rosa de Menezes que cuidou de mim e, principalmente, de minha
alimentação nos momentos em que as vinte e quatro horas do dia eram poucas para tanto
trabalho. Ao meu pai, Durval Teles de Menezes que, apesar dos percalços de sua vida e de
todas suas dificuldades pessoais, fez de seus filhos, pessoas de bem e “destituídos de
modéstia”, sempre instigado e sustentado pela força descomunal e inabalável de minha
mãe.
À minha amiga e irmã Élida, educadora que tanto vejo se angustiar com as contradições de
sua profissão, também por ter sido em minha infância, meu modelo de beleza e feminilidade.
Ao seu marido Umberto que se mostrou um verdadeiro irmão em todos esses anos de
convívio.
Às amigas: Fernanda e Virgínia, companheiras de trabalhos e viagens; Letícia que é alegre até
no nome e por me acolher inúmeras vezes em sua casa, carinhosamente, poupando-me do
desgaste das viagens; Ana Paula Espínola pela acolhida e por nunca me deixar-cair no
esquecimento e à Tiana muito conhecida, mas que durante o mestrado, se revelou uma
grande amiga. A todos os colegas do mestrado, principalmente Hosana e Terezinha, que me
acompanharam num momento de angústia, e também à Gisele Fráguas.
Ao meu amigo, irmão e às vezes, filho adotivo Wesley, assim como todos os sobrinhos e
sobrinhas pelo simples fato de existirem e tornarem minha vida mais feliz.
5
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................................. 07
SUMMARY.............................................................................................................................08
1- INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 09
2- REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................... 15
2.1- A adolescência........................................................................................................... 16
2.2- Sexualidade na Adolescência.................................................................................... 17
2.3- DST/aids...................................................................................................................... 21
2.4- Educando para a Autonomia...................................................................................... 24
3- PERCURSO METODOLÓGICO................................................................................ 31
3.1- A escolha da Abordagem............................................................................................ 32
3.2- O que é Fenomenologia.............................................................................................. 33
3.3- Os momentos da Fenomenologia................................................................................ 33
3.4- O Contexto do Estudo.................................................................................................. 35
3.5- A Busca dos Depoimentos......................................................................................... 36
3.6- Os Momentos da Análise.......................................................................................... 38
3.7- Trabalhando os Dados............................................................................................. 39
3.7.1- Análise Ideográfica................................................................................................... 39
Entrevista 1 – Amanda.......................................................................................................... 41
Entrevista 2 – Débora............................................................................................................. 42
Entrevista 3 – Roberta............................................................................................................ 43
Entrevista 4– Bozo................................................................................................................. 44
Entrevista 5 – Lucas............................................................................................................... 45
Entrevista 6 – Carla................................................................................................................ 46
Entrevista 7 – Gabriela.......................................................................................................... 47
Entrevista 8 – Kikas............................................................................................................... 48
Entrevista 9 – Patrícia........................................................................................................... 49
Entrevista 10_ Maria Eduarda............................................................................................... 50
Entrevista 11 – Anderson....................................................................................................... 51
Entrevista 12– José ............................................................................................................... 52
Entrevista 13 – Yasmim........................................................................................................ 53
Entrevista 14 – Diego............................................................................................................ 54
3.7.1- Análise nomotética..................................................................................................... 55
4- ANÁLISE COMPREENSIVA DOS DEPOIMENTOS................................................ 57
4.1- Ser-aí-no-mundo-com DST/aids.................................................................................. 60
4.1.1- Pensando na aids: sofrimento,doença e morte.......................................................... 61
4.1.2- Prevenção consciente : ponderando sobre os próprios atos...................................... 64
4.2- Cuidando para viver melhor (cogitare-cogitatus)........................................................ 67
4.2.1- Cuidado consigo mesmo: evitando sofrimentos futuros........................................... 68
4.2.2- Cuidado com o outro: o desvelo e a solicitude em sensibilizar (transmitir
6
conhecimentos)........................................................................................................................ 71
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 76
6- REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 82
7- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................ 88
ANEXOS.............................................................................................................................. 92
7
RESUMO
Este estudo surgiu a partir de minha experiência, como enfermeira, na rede pública de saúde.
Além disso, senti-me provocada pelo Programa Educacional Afetivo Sexual- PEAS e pelo
cotidiano com os adolescentes na Escola Estadual Dona Diva de Oliveira, onde trabalhei
como voluntária. Assim, com o objetivo de compreender o sentido que os adolescentes
atribuem às informações a respeito das DST/aids, fui ao encontro deles e, através desta
pesquisa, de caráter qualitativo e abordagem fenomenológica, lhes dirigi a seguinte questão
norteadora: Conte para mim, qual o sentido que você dá/atribui às informações acerca das
DST/aids, na sua vida afetiva do dia-a-dia. Os quatorze depoimentos obtidos permitiram,
após várias leituras, construir duas categorias abertas e suas respectivas sub categorias: ser-
aí-no-mundo-com DST/aids, pensando na aids como sofrimento, doença e morte;
prevenção consciente, ponderando sobre os próprios atos; cuidando para viver melhor
(cogitare-cogitatus), cuidado consigo mesmo, evitando sofrimentos futuros; cuidado com o
outro: a solicitude em sensibilizar (transmitir conhecimentos), e o desvelo. Para a
compreensão do vivido pelos adolescentes, fundamentei minha análise em filósofos
existencialistas cujas obras tratam de liberdade, corporeidade, cuidado, sofrimento e morte.
Embasei-me, também, em teóricos da educação, saúde e enfermagem e, ainda, em estudiosos
da adolescência e da sexualidade. Os depoimentos aqui contidos podem aguçar nos
educadores, pais e profissionais de saúde, a compreensão da necessidade de se voltar para o
ser adolescendo um olhar mais atento, cuidadoso e holístico, principalmente, em relação às
questões como sexualidade, educação para a saúde, educação como ferramenta formadora de
cidadãos livres e conscientes de suas escolhas, dialogicidade, respeito e ética, e assim,
instigar-lhes a busca de novos caminhos e parcerias para esse trabalho árduo. Além do mais,
o presente estudo denuncia a urgência de se implantarem e implementarem programas
voltados para esses sujeitos, reconhecendo nos mesmos e nos profissionais que participam de
sua formação pessoas dignas de respeito e reconhecimento.
Palavras-chave: AIDS, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Educação Sexual do
Adolescente, Educação em Saúde.
8
ABSTRACT
This study came out from my experience as a nurse in the Public Health Services. Besides
that, I was provoked by the Programa Educacional Afetivo Sexual- PEAS and by the daily
activities with the adolescents in the Escola Estadual Dona Diva de Oliveira, where I worked
as a volunteer. So, with the objective to understand the sense the adolescents attribute to the
information about the DST/ AIDS, I went to meet them through this search, qualitative in
character and phenomenologic in treatment. I asked them the directional question: Tell me
which sense you give/attribute to the information about the DST/AIDS in your daily affective
life? The fourteen statements obtained permitted, after several readings, the construction of
two open categories and their respective sub-categories: being in the world with DST/aids,
thinking about AIDS as suffering, disease and death; as well as, conscious prevention,
considering the own acts; taking care to live better(cogitare-cogitatus), self consciousness,
avoiding future sufferings; care of others: solicitude in sensitizing ( transmitting knowledge)
and zeal. To understand what the adolescents live, I founded my analysis on existentialist
philosophers, whose workers deal with liberty, body, care, suffering and death. I also based
myself on education, health and nursery theorists ,as well as adolescence and sexuality
researchers. The statements presented in this study might stimulate educators, parents and
health workers to comprehend that it is necessary to look at the adolescent in an attentive,
careful and holistic manner, mainly concerning to subjects such as: sexuality, health
education, education as a way to form citizens free and conscious to do their own choices,
dialectics, respect and ethics, stimulating their looking for new ways and partnerships for this
hard work. Besides that, the present study denounces the urgency to implant and to
implement programs which can take those subjects in account. This would make to
understand the adolescents and the professionals that take part in their formation as people
who deserve respect and acknowledgment.
Key-words: Acquired Immune Deficiency Syndrome-AIDS, Sexually Transmitted Disease-
STD, Adolescent Sexual Education, Education in Health.
9
1- INTRODUÇÃO
10
1- INTRODUÇÃO
Desde o ano de 2000, venho trabalhando como enfermeira, na rede pública de saúde, tendo
experimentado o cotidiano de atendimento à população em várias unidades/centros de saúde.
Posteriormente, em 2003, assumi a coordenação das Ações Básicas de Saúde de Divinópolis
e, neste mesmo ano, participei de uma capacitação oferecida pelo grupo ODEBRECHT -
Programa Educacional Afetivo Sexual - PEAS, direcionado para o adolescente, tendo como
foco a sexualidade e sua inter-relação com outros temas da vida cidadã e como objetivo
fornecer aos educadores que pretendem trabalhar esta abordagem com adolescentes,
subsídios para reflexões e discussões. Germinou aí, meu interesse de estudo e de atenção por
essa faixa etária.
A partir de buscas e de aprofundamento na literatura pertinente à adolescência percebi que
nenhum outro grupo etário tem mais energia, mais potencialidades e abertura para a
mudança, de maneira geral, do que os adolescentes. Chamou-me, sobremaneira a atenção, a
vontade que esses têm de viver e de construir um mundo melhor, de transgredir e de
questionar, de mostrar a onipotência que campeia seu mundo e, ao mesmo tempo, de sentir-
se protegido e amado. Senti-me identificada com seus anseios e seus desejos. Vi, nesta fase
do desenvolvimento humano, um momento privilegiado para a formação do cidadão.
Durante esta minha trajetória pela saúde pública, notei que dificilmente o adolescente
procura os serviços públicos de saúde, suscitando, assim, interrogações acerca desse
fenômeno. Com isso, várias questões foram levantadas e, dentre elas, se a falta de
operacionalização de programas voltados para o adolescente é constitutiva da ausência deles
nos postos de saúde, como se pode verificar no município de Divinópolis.
Cabe registrar que embora se tenha tentado sensibilizar profissionais e gestores da área da
saúde para a prática e o incentivo na implantação de programas do Ministério da Saúde
voltados para os adolescentes, o resultado é ainda inexpressível, vago.
Além do mais, pude perceber certo paradoxo nas falas dos profissionais tanto da saúde
quanto da educação em relação aos jovens. grande preocupação com eles e várias
tentativas, muitas vezes pontuais e assistemáticas, de colaborar para sua formação, porém
não se consegue efetivar uma ação coerente, eficaz e, conseqüentemente, os esforços
11
costumam ser insuficientes. A frustração gerada por esta situação é coincidente com a
demonstrada pelos pais os quais informam não saber mais o que fazer com a educação de
seus filhos, como agir com eles para estabelecer uma comunicação e uma relação de
confiança onde ocorra o “encontro” e a troca entre ambos. Enfim, um sentimento de
impotência de grande parte das pessoas que trabalham e convivem com adolescentes no que
tange à sua formação e, principalmente, em relação à sexualidade.
Acreditamos que a educação seja a grande chave para estas questões, não a educação
simplista, tecnocrata, cientificista e, sim, aquela baseada no ser humano e voltada para ele
enquanto um todo, pautada na cidadania e no respeito às diferenças.
Também pude verificar as incoerências de um sistema que se pretende universal e equânime,
que informa investir uma fortuna no tratamento de doentes de aids e, no entanto, não oferece
em quantidade nem em qualidade o condom para os usuários o que vai ao encontro da fala de
Maakaroum, citado por Diógenes e Varela (2003) de que os serviços de saúde centram-se
meramente nos aspectos curativos, não considerando a necessidade de envolver o
adolescente em atividades de educação e prevenção de doenças.
No meu local de trabalho observei, também, que o governo tem um discurso alijado de sua
prática uma vez que tenta propagar a relevância do uso do condom no tocante à prevenção do
contágio pela via sexual, mas não oferece condições para sua aquisição. Não toma medidas
necessárias como o tabelamento de seu valor comercial, o que é um grande entrave para sua
aquisição em uma população extremamente carente financeiramente. Demonstra, nas
entrelinhas, uma face ideológica quando suas justificativas se enveredam para os prejuízos
econômicos, para o país, de um indivíduo limitado pela doença em plena fase produtiva de
sua vida. Paradoxalmente, não investe de forma maciça e preventiva nos futuros
trabalhadores que hoje são adolescentes, nem busca sensibilizar de forma contundente seus
profissionais para a relevância do trabalho com esta parcela da sociedade.
Por outro lado, nunca se teve tanto acesso à informação como atualmente: televisão, internet,
celulares, livros, revistas, rádios... mundo globalizado. No entanto, ouvindo os adolescentes
no meu trabalho, falar sobre as DST/aids, tive a sensação de que repetiam uma fórmula
matemática decorada para se fazer o vestibular. Demonstram que têm acesso às informações,
12
mas continuam compartilhando agulhas, engravidando sem prévio planejamento e se
contaminando pelas DST e pela aids.
Ariès (2003) declara que talvez precisemos de mais algum tempo ainda para analisar, de
forma mais segura, o que nos ocorre atualmente, uma vez que vivemos uma ausência de
ideais da juventude, existindo um vácuo, e os jovens o têm preenchido com a moda, com as
drogas e com a religiosidade. Vivemos a fragmentação do ser humano, a produção em série,
a especialização em detrimento do todo, a globalização.
Nunes (2000) informa que a maioria dos adolescentes contaminados pelo HIV com os quais
trabalhava, sabia ser necessário o uso do preservativo para evitar a aids, mas, de acordo com
seus relatos, não o faziam pelo incômodo ou pela falta de hábito.
A partir desta reflexão, algumas questões emergiram e circundam meu agir enquanto
profissional da saúde e educadora como, por exemplo, a da humanização, do respeito ao
sujeito enquanto exercício da cidadania, da construção da identidade dos jovens num mundo
de fragmentação, violência e contradições e da educação enquanto fomentadora da formação
dos adolescentes.
Pesquisas realizadas por Nunes (2000) e Souza (2001) com adolescentes mostraram que cada
vez mais, eles se contaminam com aids e DST apesar do número de informações a esse
respeito ter crescido paralelamente. Diante desta situação, outros questionamentos surgiram:
Como os adolescentes têm acessado essas informações? Até que ponto elas estão
conseguindo atingir seus objetivos, ou seja, sensibilizar e educar o adolescente para o sexo
seguro? Que significado têm para os adolescentes as informações veiculadas pela mídia,
tanto escrita quanto falada? Elas têm encontrado eco ou se perdem no vazio?
Mesmo diante de um arsenal de informações, os adolescentes continuam se contaminando.
Pode-se imaginar a crise gerada na família e no próprio adolescente quando diante de uma
imensidão de possibilidades de se vivenciar uma trajetória saudável, “normal”, ele recebe um
diagnóstico de soropositividade, por exemplo? Talvez tenha que adiar, alterar ou cancelar
alguns planos para o futuro. Ele provavelmente pensará como ficarão daí para frente os
namoros, a amizade, os planos de constituir uma família, se seaceito socialmente ou se
sofrerá
preconceitos, se poderá se abrir com os amigos a respeito da doença, quanto tempo
13
de vida lhe resta. O convívio com a morte anunciada também pode ser para ele fonte de
maiores problemas emocionais de difícil superação.
De um modo geral, percebe-se que o ser humano não encara a morte como um
fenômeno natural e inevitável, ela é geralmente atribuída a um fator externo ou
ligada a uma catástrofe. A possibilidade de confronto com a própria morte pode
desencadear uma série de problemas emocionais em uma pessoa, que
inconscientemente, desenvolve mecanismos de defesa para superar o medo da
mesma. (CHAGAS, 2001, p.107)
Não deve ser fácil para o adolescente ver cair por terra parte de seus planos, perceber-se
diante do inexorável, do aumento palpável da probabilidade de óbito ou de agravos de difícil
superação física, emocional e social. Soma-se aos conflitos inerentes da idade mais um: o
estigma social, além do medo da morte, das doenças oportunistas, a necessidade de conviver
com o uso diário de medicamentos que geram fortes efeitos colaterais, de realizar mudanças
bruscas no processo de formação de sua sexualidade, que também é crítico... descobrir a
sexualidade e descobrir-se com aids.
No que tange à saúde blica, uma pessoa portadora de uma doença transmissível é um elo
na corrente da cadeia epidemiológica, o que é agravado pelo caráter assintomático de
algumas DST e pela janela imunológica do HIV. Por outro lado, há os sentimentos de
invulnerabilidade e onipotência, a ideação mágica do adolescente entre outras características
peculiares e temos um indivíduo altamente vulnerável. Segundo Ayres, Calazans e França
Júnior (1999),
os adolescentes podem ser considerados um segmento populacional de
elevada vulnerabilidade, especialmente num país com a estrutura social do Brasil, onde as
ações programáticas voltadas para o grupo são precárias ou inexistentes.
Para Saito (2001) a conscientização desse grupo, que se pressupõe iniciante quanto às
práticas sexuais, pode modificar sensivelmente, nos próximos anos, os dados
epidemiológicos atuais e a velocidade da infecção pelo HIV, tanto quanto das DST em geral,
reduzindo suas incidências.
Enfim, nesse emaranhado de indagações, de constatação e de estudo, percebi várias
incoerências e entraves que me angustiaram, sentimento este que compartilho com outros
profissionais, educadores e pais, mas também pude pensar em outras tantas possibilidades
que me conduziram a querer desenvolver esta pesquisa.
14
Espero provocar os profissionais da saúde e da educação para uma reflexão quanto à
urgência de um cuidar mais humanizado e holístico, de uma educação para a cidadania,
pautada pelo respeito e pela ética, que se preocupe com a felicidade dos indivíduos e a
formação de uma sociedade mais justa e igualitária. Uma educação que seja significativa
para o adolescente, que lhe permita transformar a informação em conhecimento e atitudes e
que, portanto, materialize o saber em agir consciente. E, ainda, poder contribuir com
informações novas para a sensibilização dos profissionais educadores e da saúde quanto à
importância de se implantar e implementar programas específicos para os adolescentes.
Diante disso, este trabalho tem o objetivo de compreender o significado que os adolescentes
atribuem às informações recebidas sobre as DST/aids no seu processo de formação.
15
2- REVISÃO DA LITERATURA
16
2- REVISÃO DA LITERATURA
O presente capítulo não busca trazer uma revisão profunda acerca da adolescência, da
sexualidade, das DST/aids e nem de educação, mas sim, tecer alguns comentários sobre esses
dois universos que se imbricam fortemente, num tempo e espaço existenciais. Procurarei,
neste estudo, focar mais o tema educação uma vez que minha intencionalidade é a formação
do adolescente no sentido de se tornar sujeito cidadão de sua própria vida.
2.1 - A adolescência
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004) o período da adolescência se estende
dos 10 aos 19 anos.
Para a psicanálise, a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano pelo que
apresenta características próprias como o espírito contestador, desejo de experimentação do
inusitado, conflito geracional, tendência grupal, necessidade de fantasiar, pensamento
mágico, crise de identidade, necessidade de auto-afirmação através da transgressão de
normas, curiosidade, intensidade emocional.
A adolescência é uma etapa evolutiva peculiar do ser humano. Nela culmina
todo processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. Por isso, não podemos
compreender a adolescência estudando separadamente os aspectos biológicos,
psicológicos, sociais ou culturais. Eles são indissociáveis e é o conjunto de suas
características que confere unidade ao fenômeno da adolescência. (OSÓRIO,
1992, p.10).
O conceito de puberdade pertence ao conceito de adolescência, porém não deve ser
confundido com ele e é definido pelas modificações físicas caracterizadas por crescimento
esquelético, alterações na composição hormonal e amadurecimento sexual.
Para Aberastury e Knobel (1998), nesta fase tão peculiar da vida dos seres humanos, ocorrem
transformações de ordem física que geram no adolescente outras transformações emocionais
e ele vive um luto devido à perda do corpo infantil, acompanhado do luto pelos pais da
infância e o luto pela identidade infantil. Ele deverá elaborar estas perdas aprendendo a
conviver com este novo corpo que será fonte de descobertas; ora lhe trará vergonha e então,
ele tenta escondê-lo; ora lhe trará orgulho e ele procura exibi-lo. Morrem os pais ideais e
17
surgem os reais aos quais ele irá contestar. E muitas vezes o adolescente não saberá como se
comportar, se como adulto ou como criança, neste sentimento de ambivalência, ele entra em
uma crise de identidade.
Neste período, ocorrem também transformações cognitivas. Gradativamente, o pensamento
se transforma de maniqueísta, mágico, animista, artificialista e finalista para relativista,
lógico, racional, abstrato com capacidade de relacionar variáveis diversas. Nesse turbilhão de
transformações, surgem nos adolescentes, sentimentos conflituosos, às vezes, paradoxais
como dúvidas e certezas se alternando, radicalismos, onipotência, impunidade, ansiedade,
imediatismo (supervaloriza o presente, minimiza o futuro). Em busca da satisfação dos seus
desejos, age sem planejamento e irrefletidamente, segundo Baleeiro et.al.(1999).
Tiba (2005) vem nos elucidar que algumas dessas características encontram explicação na
fisiologia do amadurecimento do córtex pré-frontal. Essa área do cérebro se desenvolve até
os vinte a vinte e cinco anos de idade, sendo responsável pelo planejamento de longo prazo,
controle emocional e pelo senso de responsabilidade. Disso, podemos concluir que, os
adolescentes não são simplesmente rebeldes sem causa ou se opõem aos pais aleatoriamente,
tampouco são radicais e imediatistas por pura ansiedade, trata-se, também, de uma
imaturidade fisiológica. Essa descoberta científica, relativamente recente, de que o cérebro
não completa o seu crescimento na infância, o que era consenso, é ainda pouco difundida, o
que explica também a baixa compreensão por parte dos pais e educadores das atitudes dos
adolescentes, que não raro, são interpretadas como falta de respeito e educação.
2.2- Sexualidade na adolescência
Quando se pretende abordar a sexualidade humana em uma mensagem educativa para
adolescentes, qualquer visão parcial como os binômios sexo-reprodução ou sexo-prazer se
tornam inadequados, conforme ensinamentos de Chauí (1998); Baleeiro et.al.(1999), uma
vez que o ser humano é um todo que não pode ser fragmentado, e também, considerando a
integralidade no cuidado como preconiza o Sistema Único de Saúde- SUS.
No período pré-freudiano, pensava-se que a sexualidade manifestava-se apenas na
puberdade. A psicanálise veio revelar que existe uma sexualidade infantil e que ela se
18
manifesta de forma diferente dos adultos e que a maioria dos vínculos entre os seres
humanos tem origem, ainda que indireta, de natureza sexual.
Todos os seguimentos da sociedade transmitem explícita ou implicitamente, normas de
conduta relacionadas à sexualidade. Os meios de comunicação têm influenciado as pessoas
significativamente neste sentido, na atualidade.
As discussões sobre repressão sexual iniciam-se no século XIX quando passou a representar
um problema de saúde saindo do âmbito anteriormente restrito aos teólogos e juristas.
Na visão ainda das autoras anteriormente citadas, no ser humano, o sexo não é vivido como
instinto. A etimologia da palavra sexo é seccionar, separar. É importante que se diferenciem
os conceitos de sexo e sexualidade. O primeiro está contido no segundo. Sexo é considerado
o ato sexual em si mesmo e sua definição está bastante ligada à biologia no que tange à
reprodução, relaciona-se com as características genitais e extragenitais que distinguem entre
si macho e fêmea, e com a cópula. O sexo onde cada um preocupa-se somente com o próprio
prazer pode levar às anomalias de comportamento. Assim, ele pode ser comprado ou até
tomado (coação, violência sexual).
A sexualidade não se confunde com um instinto, nem com um objeto (parceiro)
nem com um objetivo (união dos órgãos sexuais no coito). Ela é polimorfa,
polivalente, ultrapassa a necessidade fisiológica e tem a ver com a simbolização
do desejo. Não se reduz aos órgãos genitais (ainda que estes possam ser
privilegiados na sexualidade adulta) porque qualquer região do corpo é
susceptível de prazer sexual, desde que tenha sido investida de erotismo na vida
de alguém, e porque a satisfação sexual pode ser alcançada sem a união genital.
( CHAUÍ, 1998, p.14-15)
Segundo Goldenson; Anderson
(1989), Baleeiro et.al.(1999), Loyola; Cavalcanti (1990), a
genitalidade é a capacidade de concentrar excitação sexual nos órgãos genitais e sexualidade
é troca, talvez seja a mais íntima forma de comunicação entre as pessoas e nela residem
sentimentos fortes e importantes para o ser humano. Incluem emoções, fantasias, símbolos e
dimensões da vida social. Integram aspectos biopsicossociais, culturais relacionados com a
conduta sexual.
19
Para Merleau-Ponty (1999), a sexualidade é algo que tem seu sentido na totalidade da
experiência humana, é uma intencionalidade original, uma forma de ser que segue o
movimento geral da existência, e em que está engajada toda a vida das pessoas.
Nesse sentido, os adolescentes integram uma cultura dentro de outra cultura e também criam
suas próprias regras para exercer sua sexualidade que está se iniciando e passando por um
período de experimentações, de tateamento, exemplificado pelo “ficar”. Muitas vezes, os
adultos têm dificuldade de compreender e, conseqüentemente, de respeitar estas regras que
se colocam como algo novo, gerando neles uma insegurança.
O fato de não saber lidar com a sexualidade dos adolescentes costuma provocar uma
constante vigília dos pais e demais educadores. A sociedade como um todo, comumente, se
opõe ao exercício da sexualidade dos adolescentes (muitas vezes de forma velada), segundo
Baleeiro et. al. (1999), e isto pode gerar um entrave no canal de comunicação entre ambos
dificultando-lhes o intercâmbio de idéias e o acesso dos adolescentes às formas de prevenção
e cuidados necessários para quem tem vida sexual ativa, ficando o processo educativo a
desejar.
O conflito entre o desejo de manter relações sexuais e a proibição velada dos
adultos provoca nos adolescentes sentimentos de culpa e angústia...Tais
sentimentos podem interferir na prática do sexo protegido. Quando têm
dificuldade de assumir conscientemente a intenção de manter relações sexuais,
é mais provável que os jovens deixem de se prevenir contras as DST e a
gravidez. (BALEEIRO et al., 1999, p. 191)
Historicamente, de acordo com o que nos contam Foucault (2005), Loyola; Cavalcanti
(1990), vemos que a sexualidade se expressa como um produto social, ou seja, suas
orientações variam de acordo com o conhecimento científico disponível e os valores que
regem determinada sociedade (aquilo que é e o que não é aceito ou permitido numa
determinada época).
Na antigüidade, quando o homem vivia da agricultura e da recria de animais, era apreciável
ter uma grande família, pois além da mão-de-obra para o trabalho, as tribos maiores tinham
supremacia sobre as menores. Nessa época, surgiram os rituais de incentivo ao sexo-
reprodução que variavam segundo cada povo.
20
Na Grécia antiga, o sexo-prazer foi muito explorado. Era destinado aos homens e às heteras
(profissionais do sexo refinadas) e muito diferenciado do sexo-reprodução que era
vivenciado pelas esposas que, raramente, teriam prazer sexual.
A religião judaico-cristã considerava o erotismo uma forma animal e egoísta de sexualidade.
Também reforçou a idéia grega de dicotomia do sexo, enfatizando o amor espiritual e
suportando a idéia de sexualidade com finalidade reprodutiva. Herdeiros da cultura judaico-
cristã reproduzimos a culpa em relação ao prazer sexual, o que é marcante nas questões de
gênero, e algumas variantes do sexo, criando-se tabus sexuais que são tão explícitos em
nossa sociedade causando, não raro, distúrbios comportamentais e a infelicidade de muitos.
Como vemos, desde os primórdios, a sexualidade é ampla, abrangente, difusa e complexa.
Devemos, portanto, cuidar em não minimizá-la e, também, se mostra relevante o papel do
educador (família, escola, profissionais de saúde). Para o sujeito atingir a maturidade sexual,
onde possa obter dela uma fonte de prazer e realização pessoal, é preciso quebrar
paradigmas, tabus profundamente enraizados em nossa sociedade, um pouco de
autoconhecimento, muito respeito pelo outro e por si mesmo e, ainda, uma profunda
capacidade de aceitação da subjetividade alheia. Desta forma, também a sociedade é
beneficiária dos comportamentos individuais saudáveis, conscientes, uma vez que se evitam
repressões, intolerâncias e conflitos geradores de distúrbios.
Nas sociedades contemporâneas, com as crises geradas pela globalização e pelo capitalismo
desenfreado, existe uma tendência a procurar resolver os conflitos pela via mais curta,
lançando-se mão de recursos imediatos, mais fáceis e externos para o mal estar e as
angústias, segundo Baleeiro et.al.(1999). Algumas pessoas, então, buscam práticas como o
consumo de drogas, sexualidade como um vale tudo, inclusive o desrespeito ao outro e a si
mesmo, que revelam o vácuo interior, o desequilíbrio emocional e espiritual. É importante
que isto seja considerado com zelo pelos profissionais de saúde que pretendem nortear o seu
cotidiano com os adolescentes pela integralidade do cuidado, assim como dos demais
educadores.
21
2.3 - DST/aids
Para Belda Júnior (1999) as DST são infecções causadas por microrganismos, podendo ser
transmitidas exclusiva, principal ou eventualmente por via sexual. Podem ser transmitidas
por relações homo ou heterossexual.
Segundo esse mesmo autor, a maioria das DST são infecções do aparelho genital; algumas
se manifestam como a hepatite B e a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - sida ou aids
(são sistêmicas) e outras podem ser transmitidas por outras formas além da sexual como a
hematogênica e a vertical que é a da mãe para o feto.
A subnotificação das DST é um problema sério para o sistema público de saúde porque não
se a devida importância e, portanto, não são criados programas e estratégias eficientes
para o combate a essas enfermidades. A OMS faz uma estimativa de que mais de dezesseis
mil pessoas se infectem pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), a cada dia e que
cerca de dois milhões morrem mundialmente a cada ano no mundo, em conseqüência da
infecção, de acordo com Santos (2001).
Com o surgimento da aids, as DST, que estavam sendo controladas, começaram a se tornar
novamente motivo de atenção na saúde pública, devido à maior disseminação e à resistência
aos antibióticos que os agentes etiológicos vêm adquirindo.
A aids foi descoberta em 1981, nos Estados Unidos. O Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV) foi isolado na França em 1982 e identificado como agente etiológico da doença, um
retrovírus da família lentivírus. No Brasil, em 1982, foi identificado pela primeira vez, e em
estudos retrospectivos, foi reconhecido como tendo ocorrido em 1980. (Chagas, 2001;
Santos, 2001).
Após a infecção, ocorre uma diminuição progressiva da atividade e da quantidade dos
linfócitos CD4, o que leva a um comprometimento da imunidade celular. A transmissão se
dá por via sexual, sanguínea, aleitamento ou parto (transmissão vertical), em linhas gerais. A
doença é chamada síndrome porque apresenta uma série de sinais e sintomas;
imunodeficiência, porque ataca o sistema imunológico dos indivíduos e adquirido porque é
causada por um agente externo que é o vírus HIV. Estando o organismo imunodeprimido,
22
este é alvo para doenças oportunistas que são aquelas que, geralmente não acometem as
pessoas quando seu sistema imunológico está competente porque este impede a ação dos
hospedeiros, de acordo com Chagas (2001), Santos (2001), Belda Júnior (1999), Baleeiro
et.al.(1999).
Sabe-se que até o momento a única possibilidade de controle da transmissão
sexual do HIV, está restrita às medidas de controle do comportamento sexual.
Dentre estes, o uso do preservativo tem-se constituído fator chave para a
proteção contra o risco de transmissão do HIV. (GUIMARÃES; FERRAZ,
2001, p. 96)
Santos (2001, p.127) afirma que “o desconhecimento inicial sobre as formas de transmissão
da doença, criou fantasias e informações contraditórias.”
De início, inclusive, havia até dentre a comunidade científica, o entendimento de que havia
grupos de risco:
O conceito de “grupos de risco” gerou pânico e preconceito contra as pessoas
identificadas como potencialmente transmissoras, além de permitir aos demais
indivíduos que se considerassem fora de perigo, não adotando as medidas
preventivas necessárias (o uso de preservativo nas relações sexuais, por
exemplo). (FIGUEIREDO, 2003, p.41)
Nesse contexto, dentre os grupos de risco destacavam-se, principalmente, os homossexuais,
os profissionais do sexo e os usuários de drogas ilícitas.
Após a identificação do HIV na comunidade Gay na década iniciada em 1980,
foram constatados também alguns sintomas típicos da Aids em usuários de
drogas injetáveis e prostitutas. A isto se deveu a construção da imagem de que
todos os indivíduos que contraíram o HIV e/ou desenvolveram Aids pertenciam
a segmentos marginalizados pela sociedade e representavam comportamentos
desviantes. (GUIMARÃES; FERRAZ, 2001, p.94)
Isso explica, em parte, os discursos ideológicos, conservadores sobre sexualidade, ligados à
moral, religiosidade que marcaram a trajetória histórica da aids e seu caráter estigmatizante.
Portanto, socialmente, segundo Guimarães e Ferraz (2002), a soropositividade, além de
representar uma doença que afeta drasticamente a identidade da pessoa, confere-lhe o status
de marginal.
23
Estigma é uma construção social, eminentemente de natureza relacional
legitimada pelo olhar do outro... sob certas circunstâncias e em determinados
momentos, instala-se um desvio que, por sua vez, é acompanhado de acusação,
isolamento, rejeição, redução do espaço socioeconômico e da cidadania do
estigmatizado. Além disso, sempre que possível, adotam-se contra ele
(estigmatizado) corretivos e punições.(GUIMARÃES; FERRAZ, 2002, p.78-
79)
Os estigmas, tabus, preconceitos, pequena capacidade e liberdade de tomada de decisão
pessoal, falta de comunicação, formação deficitária dos indivíduos, sistemas de saúde inaptos
colaboram para o agravamento dessas doenças uma vez que contribuem para a disseminação
das mesmas, sendo então não só um problema de saúde, mas também social.
A contínua associação do HIV com promiscuidade sexual, desorganização
familiar, uso de drogas, todas dimensões do viver constantemente associadas a
“desvios incuráveis”, pode explicar os desafios que permanecem na
organização do atendimento aos portadores (PAIVA et al., 2002, p.4)
Várias tentativas de se identificar pessoas como potencialmente transmissoras foram feitas
utilizando o conceito de grupos de risco. Posteriormente, passou-se para comportamento de
risco até chegar ao termo vulnerabilidade.
Segundo Alves citado por Ayres, Calazans e França Júnior (1999), o termo vulnerabilidade
foi tomado da advocacia internacional pelos Direitos Universais do Homem e designa grupo
de indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na promoção, proteção ou garantia de
seus direitos de cidadania, e atualmente é utilizado na saúde para definir o quanto o
indivíduo está exposto ao risco de contrair SIDA e
...pode ser resumido como o movimento de considerar a chance de exposição
das pessoas ao adoecimento como uma resultante de um conjunto de aspectos
não apenas individuais mas também coletivo, contextuais, que acarretam maior
suscetibilidade `a infecção e ao adoecimento, e de modo inseparável, maior ou
menor disponibilidade de recursos de todas as ordens para se proteger de
ambos. (AYRES; CALAZANS; FRANÇA JÚNIOR, 1999, p.51)
Podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que os adolescentes são um grupo muito
vulnerável e colaboram para essa constatação, os sentimentos de onipotência, desejo de
experimentação do desconhecido, desejo de transgredir normas, impetuosidade, imediatismo,
susceptibilidade às pressões grupais, dificuldade de acesso aos serviços públicos,
pensamento mágico, carência de oportunidade de participação social, o pequeno poder de
negociação do uso da camisinha, dentre outros.
24
2.4 - Educando para a Autonomia
A educação assumiu diferentes papéis ao longo da história como de individualidade, depois
coletividade, função social, militar, opressora, libertadora, direcionada para o conhecimento
técnico-científico como única verdade, assumiu caráter religioso e depois laico, em alguns
momentos exaltava a guerra, em outros a paz, a liberdade, a democracia. Em todos os
momentos, foi determinada pela história e pelos homens sendo um produto deles para eles
mesmos nas futuras gerações, de acordo com vários autores como Manacorda (2004),
Gadotti (2003), Saviani (2005), Silva, R.M.C.R.A; Silva, M.A e Pereira. E.R. (2005)
Em linhas históricas gerais, segundo Silva, R.M.C.R.A; Silva, M.A e Pereira. E.R (2005),
herdamos da educação da Grécia antiga, o modelo de educação liberal e individualista. Os
gregos tinham como ideário o desenvolvimento intelectual; no topo, estava a filosofia, a
doxa contra a episteme. Havia certa liberdade política. os homens livres tinham acesso à
educação. No período homérico, ela tinha um ideal prático. Licurgo organizava o Estado e a
educação em Esparta. O Estado mantinha extremo controle governamental sobre a educação.
A educação objetivava que as pessoas alcançassem um nível de perfeição física, coragem e
obediência às leis. O ideal ateniense era Paidéia.
Sócrates utiliza, como forma de se chegar ao conhecimento ou educar, a ironia da doxa para,
com a maiêutica, levar as pessoas a se darem conta de seus erros. Platão utiliza a dialética.
Aristóteles fundou o Liceu e utilizava os silogismos como uma lógica formal, segundo
Aranha e Martins (2003); Silva, R.M.C.R.A, Silva, M.A e Pereira (2005).
Pesquisando, ainda, o caminhar pela história, vê-se que em Roma, a educação era baseada
nos direitos e deveres dos cidadãos que tinham uma mentalidade prática, e a família tinha um
papel importante, sendo que a mulher era uma autoridade dentro da família. Educava-se pela
imitação, aprendia-se fazendo o que se tinha que fazer. A educação primitiva romana era
dada no lar e depois nas escolas elementares (Ludi); seus mestres eram os ludi magisters.
Após a conquista do território grego, esta cultura passa a influenciar, sobremaneira, a
educação em Roma, de acordo com Silva, M.A; Silva, R.M.C.R.A e Pereira, E.R. (2005).
Manacorda (2004) faz uma descrição histórica da educação onde nos conta que: na Idade
Média, houve um gradual desaparecimento da escola clássica e a formação da escola cristã.
25
Torna-se tarefa dos sacerdotes ensinar, esta mais tarde foi transferida para os scholasticus ou
magischola e depois, aos mestres livres que ensinavam aos leigos. Nesta época o “dizer” e o
“fazer” estão claramente separados. Do costume hebraico, o cristianismo herdou uma
obsessiva memorização e repetição e lançou mão de uma novidade: todos devem ser se não
cultos, pelo menos aculturados. O saber culminava na teologia.
Ainda segundo este autor, durante os anos 1300 e 1400, o nascimento da literatura em vulgar
(italiano) simboliza a chegada do mundo moderno, a educação cavalheiresca chega ao fim.
Surge nesta época o humanismo que desloca o eixo das atenções do divino para o humano, o
que é decisivo para a mudança do conceito de formação dos homens. No decorrer dos dois
próximos séculos a preocupação em se educar gira em torno da produção. É nessa época que
nasce o ideal utópico escolástico, com Thomas Morus, embora ainda muito prudente. Mais
tarde, Comenius propõe discutir a reforma de toda a condição humana e alerta para a não
separação do problema da cultura e da educação do problema da política e da religião, de
forma utopicamente ambiciosa. Adentrando nos anos 1700, tem-se que a principal causa de
abandono das escolas eram as punições. Educar humanamente torna-se o grande objetivo da
educação moderna. Na Alemanha, as escolas diminuem o lugar do latim e aumentam o das
ciências.
Com Rosseau, segundo Silva, M.A., Silva, R.M.C.R.A e Pereira (2005), a mudança do
eixo educacional do mestre para o discípulo. Ele considerava a educação como um processo
natural, resultante dos instintos e não deveria ser uma imposição externa. Ele simplificou o
processo educativo, pois considerava que, em contato com a natureza, a educação poderia
ocorrer de uma maneira simples e feliz. Leva em consideração as tendências pessoais do
educando e trabalha com o lúdico.
Na época da Revolução Francesa, vinha-se firmando, na Inglaterra, o ensino monitoral, onde
adolescentes instruídos diretamente pelo mestre, ensinavam outros adolescentes. Durante
este período, Pestalozzi tentou unir o homem natural à realidade histórica, re-introduzir a
ginástica, introduzir a música como um meio saudável de educação física e intelectual. Os
anos 1800 deram a vez a uma pedagogia social com os utopistas socialistas que acreditavam
que uma sociedade mais justa e igualitária se faria apenas através de uma boa instrução.
Nesse período, surgem as escolas infantis e o renascimento da educação física como parte
26
da formação do homem, seguindo o ideário grego antigo. uma expansão da instrução, de
acordo com Manacorda (2004).
O contexto do mundo atual impõe um grande desafio aos educadores: a formação de sujeitos
com habilidades para transformar informação em conhecimento e conhecimento em ações
geradoras de alguma forma de bem estar para si mesmo ou para a sociedade num futuro que
se mostra incerto.
Entendemos como formação aqui, o preparo para a vida futura através de uma educação
que possibilita aos sujeitos fazer uso da ética e de sua autonomia enquanto capacidade de
decidir o que é bom, estando comprometido com seu bem estar e dos outros na perspectiva
da cidadania, que lhe proporcione a capacidade reflexiva, que seja um processo de
cooperação intelectual, afetiva e criativa, ou seja, que lhe ofereça as ferramentas necessárias
para a tomada consciente de decisões: “Educar é substantivamente formar” (FREIRE, 2005,
p.33)
Adorno (2003) acredita que uma sociedade democrática necessita de emancipação das
subjetividades e isto é possível quando se tem a autonomia, portanto, uma educação deve
formar pessoas autônomas.
Autonomia refere-se a capacidade que tem o ser humano de decidir o que é
bom, o que é seu bem estar, de acordo com seus valores, expectativas,
necessidades, prioridades e crenças próprias. A pessoa autônoma é aquela que
tem liberdade de pensamento, livre de coações internas ou externas, para
escolher entre as alternativas que lhe são apresentadas. (SANTOS, 2001, p.131)
A imensa gama de informações que são passadas com uma velocidade cada vez maior e com
complexidade também crescente, exige desses sujeitos uma elaborada forma de apreensão e
capacidade de relacioná-las, interagir com elas para que possa delas extrair o conteúdo
explícito e implícito. No entanto, não basta que o sujeito tenha um acúmulo de informações;
é preciso que ele tenha a capacidade de acessá-los, correlacioná-los numa atitude crítica e
reflexiva para que possa decidir qual a melhor opção para sua vida.
É neste ambiente complexo e tenso que o papel da educação tem destaque. É ela que fornece
os instrumentos para a elaboração das informações adquiridas, para que elas se transformem
27
em conhecimento e que estes tomem parte nas suas práticas cotidianas, auxiliando as pessoas
em sua busca para a felicidade, que é o fim maior de todos os homens e mulheres.
Assim, “especificamente humana a educação é gnosiológica, é diretiva, por isso política, é
artística e moral, serve-se de meios, de técnicas, envolve frustrações, medos, desejos...”
(FREIRE, 2005, p.70)
Numa outra acepção de educação, encontramos também que:
A educação é possível para o homem porque este é inacabado e sabe-se
inacabado. Isto leva-o a perfeição. A educação, portanto, implica uma busca
realizada para um sujeito que é o homem. O homem deve ser o sujeito de sua
própria educação. Não pode ser objeto dela. (FREIRE, 2005, p.27)
Segundo Gonçalves (1994), a educação envolve o homem estando voltada para sua
totalidade. O fenômeno da educação está presente em todas as sociedades humanas,
fundamenta-se na necessidade de formar as gerações mais novas, transmitindo-lhes seus
conhecimentos, seus valores e crenças, abrindo-lhes possibilidades para novas realizações.
Como processo, radica-se nas formas concretas de existir e pensar das diferentes épocas
históricas. É uma prática na qual pretende-se atuar sistematicamente sobre indivíduos e
grupos sociais, com a intenção de possibilitar a formação de sua personalidade e sua
participação ativa na sociedade.
Sob a ótica de Becker (2003), a educação é um equipar-se para o mundo, e evidencia que a
aptidão para orientar-se é impensável sem adaptações e ao mesmo tempo impõe-se a
necessidade de manter suas qualidades pessoais. Para ele a adaptação o deve conduzir a
perda da individualidade em um conformismo uniformizador.
que se refletir, ainda, que a educação tem várias dimensões e entre elas destacamos a
utópica e a ambígua. Oscila entre o pólo da concretude, daquilo que cremos ser o homem
numa tendência existencial e o que pensamos que o homem deveria ser, assumindo o lado
essência e que, segundo Suchodolsky, citado por Gonçalves (1994), a superação destas duas
tendências é encontrada na definição do homem como práxis, que possui uma essência
histórica e se configura em sua existência concreta.
28
A dimensão ambígua da educação visa o homem como ele é sem, no entanto, abandonar o
plano ideal do dever-ser, tem aderência com o pensamento merleaupontiano da ambigüidade
do ser humano como intencionalidade, como consciência e corpo. É natural que a educação
como produto de um ser ambíguo, também o seja.
Posso dizer, também, que, sendo o homem um ser-no-mundo, a educação visa não a pessoa
apenas, mas ela em todas as suas relações com este mundo, em constante movimento. Dessa
forma, atua na formação cotidiana de homens e mulheres.
Diversas leituras acerca de educação salientam que um dos ideais da educação é formar o
homem para ser verdadeiro, livre, ser com-os-outros na justiça, na verdade e na liberdade.
Estas são modos de ser à priori, transcendentais que emergem da práxis humana.
Para Gadotti (2003), a educação não é apenas uma reflexão sobre, mas uma práxis,
essencialmente, um ato, e seus obreiros devem se preocupar com a integração de que nos fala
Paulo Freire, através da qual os homens têm acesso à dignidade de “pessoa” que não se
diminui, não se reduz nem se resigna a simplesmente estar no mundo. Diz, ainda, que a
destruição, no sentido de decifração do essencial ensinado por Heidegger, é tarefa da
filosofia da educação, uma destruição cheia de amor pelo outro e pela verdade; entende a
educação como conscientização e como prática consciente da democracia.
Saviane (2005), Gadotti (2003) e Freire (2005) apontam para a necessidade de uma educação
para a transformação da sociedade. Consideram-na um processo que atua na formação do
homem. Através da visão de homem como práxis, como um ser- no- mundo, afirmam que
não podemos pensá-lo fora de sua relação com o mundo. A educação como uma ação
essencialmente humana, não pode visar o indivíduo separado da sociedade.
Freire (2005) entende que o processo educativo se através da comunicação e propõe uma
pedagogia dialógica, pautada na democracia, no respeito pelos saberes dos educandos, no
saber ouvir, falar e silenciar, como vemos a seguir.
A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a
irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a
quem se comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado.
(FREIRE, 2005, p.38)
29
Nessa lógica de pensar, há um resgate do respeito e da valorização do outro:
... não é falando aos outros de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os
portadores da verdade a ser transmitida aos demais que aprendemos a escutar,
mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta
paciente e criticamente o outro, fala com ele mesmo que em certas condições
precise falar a ele... o educador que escuta aprende a difícil lição de transformar
seu discurso ...em uma fala com ele (FREIRE, 2005, p.113)
Desta forma, a educação entendida por Paulo Freire tem como alguns de seus princípios: a
responsabilidade, a exaltação da liberdade e da autonomia, e a ética, uma vez que ele
considera os determinantes de vida dos educandos para que se possa trabalhar de uma forma
contextualizada ao mesmo tempo em que tenta buscar no universo vocabular dos educandos,
os temas a serem abordados, considerando ainda, a identidade cultural deles. É também uma
educação do amor, da estética, da alegria e da esperança, da rebeldia, da não conformação.
Além do mais, é pautada na criticidade, na curiosidade. Acredita na possibilidade da
mudança e rejeita a discriminação dos oprimidos pelo sistema.
No que concerne à autonomia, temos que:
A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é vir a ser...
é nesse sentido que uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em
experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em
experiências respeitosas da liberdade. ( FREIRE, 2005, p.107)
Para Freire, a curiosidade é um fator de grande relevância no processo educativo como se
pode observar: “O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição, as emoções, a
capacidade de conjecturar, de comparar, na busca de perfilização do objeto ou do achado de
sua razão de ser.” (FREIRE, 2005, p.88)
Na perspectiva da criticidade, os fins da educação estão comprometidos com a formação do
homem e com a transformação da sociedade.
Um dos papéis da educação é também orientar os seres humanos para a vida real, em que o
desenvolvimento da personalidade se de forma integrada com a transformação da
sociedade, segundo Gonçalves (1994).
30
Idealmente, a educação deveria propiciar a todos os sujeitos oportunidades de crescimento
pessoal, condições de participar de forma ativa do processo de construção social, com a
finalidade de bem estar.
Ainda para Gonçalves (1994), uma educação transformadora busca promover a liberdade
pessoal, o autoconhecimento, a capacidade de compreender a si mesmo a seu mundo,
desvelando as mútuas relações que são condicionadas.
Gadotti (2003) referencia que devemos tomar a educação como questão, como fenômeno no
sentido fenomenológico, isto é, “mostrar-se e esconder-se”, implicando fazer do
desenvolvimento desta questão não uma linha diretiva e provisória.
Pensando a educação pautada nessas concepções anteriormente descritas, pondero se o ser
adolescendo poderá caminhar para a autonomia e fazer da informação conhecimento e
mudança de atitudes que o levem ao exercício de um existir saudável.
31
3- PERCURSO METODOLÓGICO
32
3- PERCURSO METODOLÓGICO
3.1 - A escolha da abordagem
Para compreender o significado que os adolescentes atribuem às informações recebidas
sobres as DST\aids no seu processo de formação, optei por uma abordagem qualitativa que:
...é capaz de incorporar a questão do SIGNIFICADO e da
INTENCIONALIDADE como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas
sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua
transformação, como construções humanas significativas. (MINAYO, 2004, p.10)
Para Gamboa (1997), a pesquisa qualitativa tem seu foco no sujeito, comando do intérprete,
que é o pesquisador, que assim, assume a sua subjetividade. Portanto, é um método
compreensivo, que reconhece a parcialidade do pesquisador e trabalha com a hermenêutica,
interpretando os fenômenos, recuperando os sentidos de temas polissêmicos dentro dos
horizontes de compreensão.
Por entender que pesquisar qualitativamente é percorrer, com rigor metodológico, um
caminho que me leve ao meu objetivo de compreensão do fenômeno que estudo, e que a
minha subjetividade, enquanto pesquisadora é considerada, acredito que a escolha do
percurso metodológico deve estar em consonância com minha visão de mundo.
Após estudar algumas abordagens de pesquisa, optei pela fenomenologia, uma vez que ela
aborda o conhecimento como um retorno à essência coisa mesma) fora de toda a
conceituação, e salienta que o ser conhecente tem uma consciência intencional; trabalha os
significados, aquilo que na essência significa para o sujeito que o vive; transcende tanto o
objeto como o sujeito pensante.
Acredito, também, que, para abordar a temática sexualidade com adolescentes, tendo em
vista todas as crises, ambivalências e dilemas pelos quais ele passa, devo procurar
aproximar-me de seu mundo-vida, proporcionando um encontro intersubjetivo entre mim e
os sujeitos da minha pesquisa, pois para Cadete (1994), como ciência do homem, a
fenomenologia se preocupa com a compreensão do individual, com a intersubjetividade,
onde a verdade é a verdade do ser.
33
3.2 - O Que é Fenomenologia
Segundo Capalbo (1998), a fenomenologia surgiu na Alemanha, no século XX, com o
matemático Edmund Husserl, durante uma crise no mundo do conhecimento científico.
Considerado o pai da fenomenologia, Husserl a define como ciência descritiva das essências
da consciência e de seus atos, segundo Martins, Boemer e Ferraz, (1990). Também a entende
como um “modo de apreender e enunciar os fenômenos referentes à realidade e que se
manifestam por si mesmos” (SALVADOR, 2001, p.23) e que é uma volta ao mundo da
experiência como nos diz Domingos (2003). Para ele, segundo Capalbo (1994), voltar às
coisas nelas mesmas, é uma tentativa para se chegar ao fenômeno, às coisas vividas, livre de
preconceitos ou de pressupostos interpretativos. Para Husserl, “a fenomenologia pretende
ser, em seu cerne, a filosofia fundamentada no dinamismo intencional de uma consciência
aberta, que se dirige para algo, para o mundo.” (PAULA, 2001, p.18)
Santana (2003, p.28) atesta que “a fenomenologia é uma ciência descritiva que procura
desvelar o significado que não está manifesto nas aparências” e tem como um de seus
princípios básicos a intencionalidade da consciência. Para Bicudo (1994), é um pensar a
realidade de modo rigoroso e o que a caracteriza é o modo pelo qual esse pensar age para
essa meta. Assim, os procedimentos são inseparáveis do fenômeno interrogado e do
pesquisador. Neles, estão presentes algumas concepções que dizem da interpretação do
mundo como: fenômeno, realidade, consciência, essência, verdade, experiência, a priori,
categoria, intersubjetividade. Para Heidegger (2001), é a busca do sentido do ser-no-mundo,
desvelados pela linguagem onde momentos de discurso e de silêncio dos sujeitos, ambos
repletos de significados em sua essência.
3.3 - Os Momentos da Fenomenologia
A fenomenologia se faz em três momentos distintos, mas entrelaçados, postos a seguir:
descrição, redução ou epoché e compreensão. Vale afirmar, mais uma vez, que esses
momentos não se desenham e se fazem de forma seqüencial, linear, mas se permeiam e se
circularizam em movimentos de idas e vindas. Seu objetivo é apreender a essência do
fenômeno.
34
A descrição é o primeiro momento da trajetória fenomenológica e visa descrever a
experiência vivida, sem refletir sobre ela, sendo, portanto uma descrição ingênua. “A
descrição é o relato de quem sabe alguma coisa para alguém que não sabe” (MARTINS;
BOEMER; FERRAZ ,1990, p.145).
Ainda para esses autores, deve-se ter um rigor metodológico, descrevendo a situação tal
como ela se mostra e respeitar a linguagem dos sujeitos sem interferências, para se chegar à
essência do fenômeno que deve ser situado sem trabalhar com o fato.
Nesse sentido, o pesquisador descreve o que foi encontrado como o comportamento dos
sujeitos, o ambiente, as circunstâncias e o que mais for relevante no ato de escuta. Para
Capalbo (1994), é pela descrição que se alcança a essência dos fenômenos.
A descrição se configura, pois, como o momento de compartilhamento entre sujeito e
pesquisador. Para Husserl, conforme nos conta Capalbo (1994), os sujeitos se mostram ao
pesquisador tal como eles são, quando há uma empatia; aí, o corpo se manifesta e se
estabelece uma comunicação também pela linguagem.
O segundo momento da trajetória fenomenológica, a redução, é aquele em que o
pesquisador, perplexo diante do fenômeno, faz novas leituras mais atentas das descrições,
buscando extrair a essência dele, por meio da identificação de unidades de significado que
são as falas que têm o sentido expresso pelos sujeitos e respondem às questões formuladas
pelo pesquisador.
Segundo Dartigues (2000), em um determinado momento, chega-se àquilo que não se pode
retirar do fenômeno sem que ele sofra destruição e isto, provavelmente, é sua essência. A
redução se faz através de um esforço de pensamento sobre o fenômeno buscado e não através
de manipulações.
É a “epoché”, o colocar “entre parênteses”, o “ir-as-coisas-mesmas” o destacamento do
fenômeno “em suspensão”, a retirada de teorias que o expliquem, que possam influenciar os
questionamentos do pesquisador, nos dizeres de Paula (2001); Salvador (2001).
35
Aqui, o pesquisador se afasta de princípios, teorias e preconceitos que possam influenciar
seus questionamentos. “É desta maneira que o fenômeno situado se ilumina e se desvela para
o pesquisador” (MARTINS; BOEMER; FERRAZ, 1990, p.145).
A compreensão consiste em mostrar as facetas do fenômeno numa tentativa de especificar o
essencial da descrição e da redução de forma interpretativa, de desvelar o velado. É uma
tentativa de detectar o significado do fenômeno, de explicitação de sua essência.
Na compreensão fenomenológica, há uma retomada das teorias e dos conhecimentos sobre o
fenômeno. Aqui, o pesquisador sintetiza as unidades de significado para estruturar o seu
trabalho em categorias. É uma análise reflexiva do vivido, que não pode ser definido, mas
apenas descrito.
3.4 - O Contexto do Estudo
Retomando o que foi exposto na introdução deste trabalho, me inquieta o crescente número
de adolescentes que se contaminam pelas DST/aids, não obstante o também crescente acesso
às informações relativas à sua prevenção. Esta inquietação me acompanha de longa data que
eu não consigo precisar, porém, evidenciou-se no contato com os adolescentes em meus
locais de trabalho e, mais ainda, quando participei do PEAS e pude perceber que eu dividia
minhas preocupações com outros educadores e com pais.
Desde a minha capacitação no PEAS, venho desenvolvendo um trabalho voluntário em uma
escola estadual de uma região carente da periferia de Divinópolis, local onde resido, que tem
como público discente os alunos de quinta a oitava séries, do ensino fundamental, chamada
Dona Diva de Oliveira. Os critérios de inclusão para as escolas participarem do programa
PEAS eram: ter professores capacitados pelo programa, apoio das direções, profissionais
voluntários e discentes na faixa etária entre 10 e 19 anos e que manifestassem o desejo de
participar do grupo de alunos PEAS e cujos responsáveis os autorizassem. Quando o número
de alunos candidatos era superior ao considerado adequado pelo grupo de educadores, fazia-
se uma seleção de acordo com os critérios adotados pelo grupo de profissionais voluntários,
em cada escola. Foi nesse espaço que me inseri como voluntária e pude vivenciar,
cotidianamente, o mundo da adolescência e a filosofia do PEAS.
36
Desenvolvi minha pesquisa neste cenário e como sujeitos participantes, convidei os
adolescentes desta escola, chamados alunos PEAS, que participam das atividades desse
programa, sendo que todos se encontravam, aleatoriamente, na faixa etária entre treze e
dezesseis anos. Existia entre os sujeitos uma pequena diversidade de vivências relacionadas à
sexualidade: alguns ainda não tinham tido nenhuma experiência de incursão na vida sexual,
outros namoravam ou “ficavam” e nenhum havia passado pela maternidade ou
paternidade. Quanto à iniciação sexual em si, nada foi questionado a eles, por uma questão
de respeito a sua privacidade, e nem citado voluntariamente pelos mesmos . No que tange ao
grau de maturidade, percebi uma relativa homogeneidade. Todos demonstravam claramente
a presença de características marcantes da adolescência, mas pude perceber, entre eles,
algumas diferenças de personalidade como maior descontração em uns e timidez em outros.
3.5 - A Busca dos Depoimentos
O reconhecimento da instituição assim como alguns contatos com os adolescentes foram
realizados antes mesmo do início da pesquisa, momento em que pude estabelecer vínculos
com os adolescentes e com as pessoas que habitam a referida escola. Minayo (2004)
considera importante que pesquisador e seus sujeitos tenham uma aproximação onde serão
criados uma afetividade e fortalecidos os compromissos estabelecidos entre eles.
Por se tratar de menores legais, solicitei aos adolescentes sua participação e autorização de
divulgação dos resultados em eventos técnico-científicos, bem como aos seus responsáveis a
autorização da participação do adolescente.
Portanto, em atendimento aos aspectos éticos legais, conforme Resolução 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisa com seres humanos, foram feitos Termos
de Consentimento Livre e Esclarecido para os adolescentes e seus pais ou responsável legal
(Anexos I e II) onde estão evidenciadas situações para a proteção das pessoas envolvidas
nesta pesquisa. Nestes termos constam o objetivo da pesquisa e o anonimato para a
preservação das identidades dos sujeitos e sigilo das informações obtidas. Nesse sentido,
solicitei a cada entrevistado que criasse um nome fictício para si mesmo, com o qual ele não
pudesse ser identificado por ninguém, e utilizei esses codinomes em seus respectivos
discursos. Assim,os adolescentes/pais que permitiram a participação livre e espontaneamente
37
nesta investigação, assinaram o termo de consentimento. Antes, porém, foi obtida da diretora
da escola, a autorização para que lá se constituísse no cenário deste estudo (Anexo III).
Após o aceite do convite e autorização dos sujeitos, pais e adolescentes, agendei um encontro
em local que garantia a privacidade do adolescente, onde lhe questionei a respeito das
informações recebidas por ele sobre a prevenção das DST/aids e como ele as vivencia no seu
cotidiano. Assim, a obtenção dos discursos foi iniciada com a seguinte interrogativa:
“Conta para mim, o sentido que você dá/atribui às informações acerca de DST / aids
na sua vida afetiva do dia a dia”
As respostas a esta única pergunta, que caracteriza a entrevista não estruturada e eleita como
o instrumento de coleta de dados utilizado nesta investigação, foram gravadas,
posteriormente, transcritas e lidas com o intuito de identificar e interpretar as idéias
principais e categorizá-las.
Por sua natureza interativa, a entrevista permite tratar de temas complexos que
dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questionários,
explorando-os em profundidade. ... nas entrevistas não estruturadas, o
entrevistador introduz o tema da pesquisa, pedindo que o sujeito fale um pouco
sobre ele, eventualmente inserindo alguns tópicos de interesse no fluxo da
conversa. (ALVES MAZZOTTI, GEWANDSZNAJDER, 2000, p.167).
A quantidade de sujeitos a serem pesquisados não é definida à priori, na pesquisa qualitativa.
No presente trabalho, o número de sujeitos entrevistados foi definido quando notei que os
temas dos discursos se tornaram repetitivos e invariantes, o que é demonstrativo do
desvelamento do fenômeno.
Dos vinte alunos PEAS que havia no momento da coleta dos dados, quinze foram
entrevistados, sendo nove moças e seis rapazes. Posteriormente, um dos rapazes solicitou
que suas falas não fossem utilizadas, pedido este que foi acatado de imediato, ficando a
pesquisa com um total de quatorze sujeitos.
38
3.6- Os Momentos da Análise
Após a coleta dos discursos, estes foram transcritos no mesmo dia para aproveitar as
sensações que ficaram da conversa e ter maior clareza na transcrição.
Para a análise dos discursos, segui os passos propostos por Martins e Bicudo (1989),
delineados a seguir:
De posse de cada entrevista, fiz, primeiro, uma leitura dela do princípio ao fim, com o
sentido aguçado, objetivando chegar ao seu sentido geral, detectando o que foi dito pelo
adolescente, sem a preocupação, ainda, de interpretar o seu conteúdo.
Após detectar/perceber o sentido geral sobre o que me foi dito, reiniciei as leituras das
descrições, agora de forma exaustiva. Este processo se deu várias vezes até o momento em
que eu conseguia apreender as unidades de significado, pela redução fenomenológica, onde
identifiquei o que é primordial do fenômeno, sendo essas unidades discriminações
percebidas pelo pesquisador de forma espontânea. Para proceder a esta etapa, estive atenta
para que julgamentos pré-concebidos, pressupostos, teorias a respeito do fenômeno, não o
contaminassem e a essência pudesse emergir das falas dos sujeitos.
Obtidas as unidades de significado, adentrei em cada uma delas para que eu pudesse
expressar o sentido que lhes foi atribuído pelos sujeitos, numa tentativa de traduzir a
linguagem ingênua dos adolescentes para um discurso articulado, cuidadoso, mas mantendo
a fidedignidade com os discursos originais.
Feito isso, agrupei as unidades de significado conforme suas semelhanças, do ponto de vista
de seu significado, para chegar ao que fosse comum e invariante nos relatos. Desta forma,
pude verificar as convergências, divergências e idiossincrasias, criando, por meio de insight
psicológico, as unidades temáticas. Estes temas sofreram uma nova redução para se chegar
às categorias abertas.
As categorias são chamadas abertas devido ao fato de que a análise dos fenômenos é
perspectival, podendo estes, então, sofrer outras interrogações, de forma que não se esgota.
39
Utilizei, para a sustentação da análise, estudiosos da adolescência, da educação e concepções
dos filósofos Merleau-Ponty, principalmente no que diz respeito à corporeidade e liberdade e
Heidegger, no tocante à morte e ao cuidado.
3.7- Trabalhando os Dados
Neste capítulo, apresento o modo como os dados foram analisados, conforme proposto,
também, por Martins e Bicudo (1989).
A primeira parte refere-se à análise individual ou ideográfica dos discursos onde estão
visíveis as descrições ingênuas dos sujeitos. Aqui, direcionei-me ao mundo-vida dos mesmos
numa relação empática onde se estabeleceu entre nós a intersubjetividade.
A segunda fase é a análise nomotética, mais ampla, com o intuito de se chegar às
generalidades, é o resultado das convergências, divergências e das idiossincrasias.
3.7.2- Análise Ideográfica
A análise ideográfica é a representação de idéias por meio de símbolos. É um momento em
que o pesquisador penetra no discurso do sujeito e assim, na esfera da intersubjetividade que
ocorre na leitura detalhada dos depoimentos, através de insights psicológicos, realiza o
processo de redução fenomenológica que leva à percepção das unidades de significados.
Uma vez obtidas as unidades de significado, o pesquisador transforma a linguagem ingênua
dos sujeitos em uma linguagem mais elaborada, formando assim, o discurso articulado.
Esta análise está mostrada em quadros subdivididos em três partes a seguir:
Na primeira parte, estão os discursos dos adolescentes na sua forma ingênua, original e na
íntegra.
Na segunda parte, estão as unidades de significado enumeradas com o respectivo número de
1 a 14, atribuído
ao sujeito a quem pertence, seguido de um outro numeral subscrito que
indica a ordem que estas unidades de significados foram encontradas nos discursos.
40
Na terceira parte, estão os discursos articulados que é a transformação da fala ingênua dos
sujeitos em uma linguagem psicológica do que destas falas eu compreendi, mantendo a
essência do que foi dito pelo adolescente.
Apresento, portanto, a seguir, os quadros ilustrativos do movimento das convergências, que
foram dispostos em colunas verticais.
41
Entrevista 1 – Amanda
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Bom...é....sobre as DST... eu acho
que... ah...como é que eu vou
falar?... precisa... tem muita
importância pra usar a camisinha,
né?... Pra...não ter a...as doenças...
e sobre a aids, não é?.
A aids também é importante usar
camisinha porque se não, se uma
pessoa tiver... você pode pegar
assim por feridas ou alguma
coisa. (sussurrado com sinais de
nervosismo: olha para os lados,
para baixo, e a mão no queixo
como quem espera pacientemente
algo surgir, suspira como se
preparando para uma tarefa que
exige grande esforço).
Ah... o sentido pra mim é assim
importante porque a gente vai
aprender mais com isso. e que ....
a importância da camisinha... e
que ... de tudo assim
(mexendo nas mãos, cutucando as
unhas, mordendo os lábios, o
demonstrava ansiedade, tensão e
forçar a fala que virá,
respectivamente )
(silêncio)
Sentido assim de eu...é....ta ciente
assim todo mundo assim...a usar a
camisinha, conscientiza
assim...todo mundo Porque tem
gente que faz besteira assim...
não pensa no que pode vir a ter a
aids ou as DST. Eu acho que é só.
É, conscientizar todo (enfática),
mundo sobre isso.
E1
1
Bom...é....sobre as DST... eu
acho que... ah...como é que eu
vou falar?... precisa... tem muita
importância pra usar a camisinha,
né?... Pra...não ter a...as doenças...
e sobre a aids, não é?.
E1
2
A aids também é importante
usar camisinha porque se o, se
uma pessoa tiver... você pode
pegar assim por feridas ou alguma
coisa
E1
3
o sentido pra mim é assim
importante porque a gente vai
aprender mais com isso e que .... a
importância da camisinha... e que
... de tudo assim...
E1
4
Sentido assim de eu...é....ta
ciente assim todo mundo assim...a
usar a camisinha, conscientiza
assim...todo mundo
E1
5
É, conscientizar todo mundo,
sobre isso
Afirma que é importante usar
camisinha como prevenção das
DST/aids.
Considera que o aprendizado adquirido
com as informações é relevante para
lidar com a realidade das DST/aids
além da possibilidade de conscientizar
as outras pessoas em relação a essas
doenças.
Afirma que a presença de feridas nos
órgãos genitais pode transmitir aids
durante as relações desprotegidas.
42
Entrevista 2 – Débora
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
(silêncio)
Assim... que é melhor prevenir
né? Pra não ter porque, né? ... é
ruim... depois... vão supor... eu
engravido seu filho vai ter aids,
vai ter um monte de doença e
não vai querer para o seu filho,
porque você quer um filho
saudável que não corra risco
nenhum...e... se engravidar
pode... cê tem que prevenir
É , que é melhor prevenir do que
remediar . Porque depois pega
aids, por exemplo, aids não tem
cura, aí cê vai ficar com aquela
doença o tempo todo não vai
poder ter filho, porque se tiver...
se ter filhos seu filho
também vai ter aids e não vai
poder fazer relação com alguém
também vai ter aids se você não
usar a camisinha ... eu acho
assim... (silêncio)
E2
1
Assim... que é melhor
prevenir né? Pra não ter porque,
né? ... é ruim... depois...
E2
2
vão supor... eu engravido
seu filho vai ter aids, vai ter um
monte de doença e não vai
querer para o seu filho, porque
você quer um filho saudável que
não corra risco nenhum.
E2
3
cê tem que prevenir
E2
4
É , que é melhor prevenir do
que remediar
E2
5
aids não tem cura, cê vai
ficar com aquela doença o tempo
todo
E2
6
não vai poder ter filho,
porque se tiver... se cê ter filhos aí
seu filho também vai ter aids
E2
7
e não vai poder fazer
relação com alguém
E2
8
alguém também vai ter aids
se você não usar a camisinha
Considera a prevenção melhor
opção que sofrer posteriormente
com as doenças.
Afirma que numa gestação com
HIV, a criança vai se infectar e
sofrer futuramente com a doença,
o que vai contra os sonhos dos
pais de ter uma criança saudável,
livre de risco de vida.
Reflete sobre a incurabilidade da
aids e na inevitabilidade de se
conviver com ela pelo resto da
vida tendo sido uma vez
infectado.
Prevê uma necessidade de
mudança de comportamento e dos
planos de vida para o sujeito
infectado pela aids afirmando que
ele não poderá mais ter filhos e
estará impossibilitado de manter
relações sexuais.
Afirma que numa relação sexual
desprotegida com um dos
parceiros tendo aids, o outro será
infectado.
43
Entrevista 3 – Roberta
Discurso do sujeito
Unidades de significado Discurso
articulado
(Silêncio... ficou olhando para os lados para as
paredes, punha os dedos na boca apertando-a como
numa tentativa de forçar a fala que demora a surgir.)
Não lembro agora...
(sorri como quem pede desculpas por não responder
de imediato, demonstra dificuldade em iniciar a fala)
O sentido...é importante porque... a gente precisa ser
informada sobre o que pode acontecer, como pode
acontecer... e pra prevenir... Para prevenção.
Um cuidado (Silêncio) ...um cuidado porque se você
tiver um... um dia...uma dessas doenças, você já vai,
não precisa ficar muito preocupada sem saber o
que que é... você vai saber como que você
pegou...ou como você pode... prevenir...e tentar fazer
o possível para não fazer de novo, né? O errado,
novamente.
(Silêncio)
Bom, o cuidado porque hoje em dia tem pessoas que
não são muitas bem informadas e acontecem delas
pegarem DST/aids ou outras doenças sexualmente
transmissíveis e fica deprimente, tenta se matar
porque não sabe o que que é, né? Não sabe se tem
cura ou não... eu acho isso. (Silêncio longo, sorria
desconsertada , demonstrava ansiedade olhando para
os lados, mordendo os lábios como querendo forçar
as palavras a surgirem, cutucando as unhas o que
parecia uma auto punição, uma hostilidade
inconsciente devido a demora em continuar falando).
Não, porque tipo assim... também.... repetindo o que
eu falei um pouco... cê... um exemplo cê... tipo... eu
peguei a doença e... eu sou uma pessoa informada-
como agora eu sou mesmo- e... eu vou procurar a
pessoa para me informar sobre o que pode e o que
não pode fazer, ela procura saber mais sobre a
doença... o que é a doença .
Agora, a pessoa não informada, o que acontecia
antigamente porque os pais não gostavam de dizer...
e... até se os filhos falassem a palavra sexo ou
sexualidade dentro...eles eram até...às vezes eles
levavam uma surra, né, como a gente estudou isso
uma vez aqui na sala... e além disso, eles eram
expulsos de casa antigamente, também. Agora, não.
Agora, você tem a livre e espontânea...como é que
fala...livre... para falar, perguntar como é que é como
previne e a pessoa antigamente quando tinha essa
doença enlouquecia, pensava que ia morrer que não ia
ter cura, que a vida acabou para ela, né? Mas hoje
é diferente, hoje tem uma perplexidade diferente,
né, mais aberta.
E3
1
O sentido...é importante
porque... a gente precisa ser
informada sobre o que pode
acontecer, como pode
acontecer... e pra prevenir...
E3
2
Para prevenção
E3
3
Um cuidado... um cuidado
porque se você tiver um... um
dia...uma dessas doenças,
você vai, cê não precisa
ficar muito preocupada sem
saber o que que é...
E3
4
você já vai saber como
que você pegou...ou como
você pode... prevenir... e
tentar fazer o possível para
não fazer de novo, né? O
errado, novamente.
E3
5
o cuidado porque hoje em
dia tem pessoas que não são
muitas bem informadas e
acontecem delas pegarem
DST/aids ou outras doenças
sexualmente transmissíveis e
fica deprimente, tenta se matar
E3
6
eu sou uma pessoa
informada- como agora eu sou
mesmo- e... eu vou procurar a
pessoa para me informar sobre
o que pode e o que não pode
fazer, ela procura saber mais
sobre a doença... o que é a
doença
E3
7
Agora, você tem a livre e
espontânea...como é que
fala...livre... para falar,
perguntar como é que é como
previne
E3
8
antigamente quando tinha
essa doença enlouquecia,
pensava que ia morrer que não
ia ter cura, que a vida acabou
para ela, né?
Considera
importante ter as
informações para
compreender os
mecanismos das
doenças e se
prevenir, isso leva
a uma reflexão
sobre os próprios
atos e traz
tranqüilidade.
Afirma que ter as
informações é
uma forma de
auto cuidado,
porque pela falta
delas as pessoas
se contaminam
por DST/aids e
sofrem suas
conseqüência
podendo levar a
depressão e até a
tentativa de
suicídio.
Declara que as
pessoas bem
informadas têm
maiores
condições de
evitarem
sofrimentos
futuros ou de
minimiza-los, são
mais livres, mais
autônomas em
relação a seus
atos e podem
influenciar
positivamente os
outros em suas
decisões.
44
Entrevista 4 – Bozo
Discurso do sujeito
Unidades de significado Discurso articulado
O sentido é que com essas várias
informações que eu ganhei até com o
próprio PEAS, né? Eu posso ta me
prevenindo posso ta prevenindo a garota
que for fazer ou não... como se diz,ou
até o homem mesmo, né? Tipo com a
coisa que você vai fazer... e com isso eu
vou poder ta me prevenindo até eu
mesmo, por exemplo, eu vou estar me
livrando de doenças,certas coisas que
doenças são sexualmente transmissíveis
e podem até levar à morte de uma
pessoa E não usar isso pra mim
mesmo, eu tento estar passando para as
pessoas que eu conheço e até mesmo
para as pessoas que eu não conheço
Eu tento, tipo assim, vamos supor que
eu to com uma dúvida... chegar a mim
querendo até mesmo desabafar com
alguma coisa, né? Eu tento estar
aconselhando essa pessoa, tendo estar
falando que quase todo mundo acha: ah
quatorze, tem certa idade não sabe das
coisas da vida... pelo contrário, sabem
algumas pessoas sabem amuito, mais
ou menos do que outras. E com essas
informações eu tento estar falando para
essas pessoas prevenir usando
camisinha prevenindo a ele ou o
parceiro ou a parceira na relação ali e eu
tento estar falando para o maior número
de pessoas que eu posso.
O significado é que nem eu falei, eu
pego essas informações que eu já recebi
até com o PEAS, com as reuniões que a
gente tem e tento passar pra outras
pessoas essas informações também que
são informações valiosas que podem
propiciar até que, que pode levar até à
morte da pessoa se não cuidar ... pode
prevenir isso tudo, não precisa ter essa
dor de cabeça tremenda, com essas
coisas (olhar vago, como se visualizasse
o sofrimento do qual se refere)
Tem que tomar um certo cuidado...
prevenindo né? Porque são coisas
banais e os banais, erros banais ali que
podem ser prevenidos, né?
E4
1
O sentido é que com essas
várias informações que eu ganhei
aí até com o próprio PEAS, né? Eu
posso ta me prevenindo
E4
2
posso ta prevenindo a garota
que for fazer
E4
3
eu vou poder ta me
prevenindo até eu mesmo, por
exemplo, eu vou estar me livrando
de doenças, certas coisas que
doenças são sexualmente
transmissíveis e podem até levar à
morte de uma pessoa
E4
4
eu tento estar passando para as
pessoas que eu conheço e até
mesmo para as pessoas que eu não
conheço
E4
5
Eu tento estar aconselhando
essa pessoa, tendo estar falando
E4
6
E com essas informações eu
tento estar falando para essas
pessoas prevenir usando camisinha
prevenindo a ele ou o parceiro ou a
parceira na relação ali
E4
7
tento passar pra outras pessoas
essas informações também que são
informações valiosas
E4
8
que podem propiciar até que,
que pode levar até à morte da
pessoa se não cuidar
E4
9
pode prevenir isso tudo, não
precisa ter essa dor de cabeça
tremenda, com essas coisas (olhar
vago, como se visualizasse o
sofrimento do qual se refere)...
E4
10
Tem que tomar um certo
cuidado... prevenindo
E4
11
Porque são coisas banais e os
banais, erros banais ali que podem
ser prevenidos
Afirma que, com as
informações que recebeu,
aprendeu a se prevenir, a
cuidar de si mesmo e da
parceira sexual, evitando
sofrimentos futuros.
Declara que algumas
DSTs podem levar a morte
Relata que tenta
sensibilizar as outras
pessoas para a necessidade
do uso do condom como
prevenção, o que considera
um cuidado mútuo na
relação sexual.
45
Entrevista 5 - Lucas
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Eu acho que a prevenção é muito
boa porque além de você estar se
prevenindo e ao próximo que
você vai se relacionar , você
previne a si também, né? E....
acho que também evita a gravidez
não desejada e as doenças mesmo
(silêncio)
E5
1
além de você estar se
prevenindo e ao próximo que
você vai se relacionar
E5
2
você previne a si também
E5
3
acho que também evita a
gravidez não desejada e as
doenças mesmo
Afirma que é bom estar cuidando,
prevenindo tanto a si mesmo
quanto ao parceiro além de evitar
a gravidez indesejada
46
Entrevista 6 - Carla
iscurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
É que a gente tem que... quando for
transar tem que usar a camisinha. Sempre
prevenir e.... porque tem algumas pessoas
que não sabem isso. É...é... que sem
camisinha...que quando sem camisinha é...
fica grávida, o bebê pode ter uma doença e
aí, às vezes, eles nem...eles nem querem o
filho. Eu acho que tem sempre que usar a
camisinha e que tem outros métodos
contraceptivos também que usa-se muito,
que fala-se muito no PEAS, eu acho isso
interessante do PEAS também.
(olha para mim e sorri, arqueia as
sobrancelhas como que pedindo desculpas
pelo silêncio).
Ah, o significado disso é que tem que ser
responsável pela...pelo que você está
fazendo , e... você tem que pedir a opinião
do outro... não seguir a opinião do outro
mas, você ter uma opinião, por ela na
balança e ver o que que você vai fazer da
sua vida, porque dependendo do que você
vai fazer você vai se dar mal.
(fala muito rápido, parece ansiosa,
mexendo gesticulando, torcendo os dedos
como quem tenta espremer uma fruta para
que lhe saia o suco, neste caso, espreme as
mãos para que saia a essência)
Eu acho que também é bom porque eu
posso ensinar para os meus filhos e...eles
ficarem mais atentos , quando for fazer
essas coisas (sorri desconsertada) e...
ah, eu acho que é isso aí. fica
informado e vai passar para os outros para
os outros, pros outros ficar passando pros
outros pra todos ficarem sabendo .Ah...
você transar sem camisinha, você...
é....pode pegar...doença
...engravidar...muitas adolescentes não
querem gravidez e deixam seu filho
jogado . Eu acho que você não pode fazer
isso, se você não quer uma gravidez não
desejada, você tem que usar a camisinha.
É, para passar para os outros o que eu
aprendi
E6
1
quando for transar tem que
usar a camisinha. Sempre
prevenir
E6
2
sem camisinha...que quando
sem camisinha é... fica grávida,
o bebê pode ter uma doença e aí,
às vezes, eles nem...eles nem
querem o filho
E6
3
Ah, o significado disso é
que tem que ser responsável
pela...pelo que você está fazendo
E6
4
porque dependendo do que
você vai fazer você vai se dar
mal
E6
5
Eu acho que também é bom
porque eu posso ensinar para os
meus filhos e...eles ficarem mais
atentos
E6
6
fica informado e vai
passar para os outros para os
outros, pros outros ficar
passando pros outros pra todos
ficarem sabendo
E6
7
Ah... você transar sem
camisinha, você... é....pode
pegar...doença
...engravidar...muitas
adolescentes não querem
gravidez e deixam seu filho
jogado .
E6
8
Eu acho que você não pode
fazer isso, se você não quer uma
gravidez não desejada, você tem
que usar a camisinha.
E6
9
É, para passar para os
outros o que eu aprendi
Afirma que é preciso usar
condom durante as
relações sexuais para
prevenção das DST/aids,
para evitar que haja uma
transmissão vertical de
doenças assim como a
gravidez não desejada.
Declara que o significado
das informações é que elas
levam as pessoas a
refletirem sobre os
próprios atos, devido às
conseqüências indesejadas
que esses podem ter.
Considera também que
tendo informações, pode-
se transmiti-los às outras
pessoas inclusive aos
próprios filhos e essas
pessoas passando para
outras, formando uma rede
de informações.
47
Entrevista 7- Gabriela
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Bom, pra mim é muito importante
porque eu to aprendendo como
lidar com a vida lá fora, com o
mundo e... é importante, eu acho
que pra todo mundo é importante,
saber sobre as doenças, sobre as
prevenções , como prevenir ...
como cuidar de si mesmo diante
de uma relação sexual
Ah... se prevenir...estar sempre
tomando remédio para não ter
uma gravidez não planejada...
olhar bem com... qual, qual,
qual... é o parceiro (silêncio) ... se
o parceiro é o ideal, ta olhando
sempre como quem que está
tendo relações.
Não, eu acho que é isso
mesmo. A gente tem que se
prevenir e se cuidar de tudo que...
o relacionamento, né? Pode nos
causar.
Porque se você se relaciona com
vários, então aí fica mais...meio
duvidoso, você pode pegar a
doença porque a pessoa pode
estar sadia por fora mas, a hora
que vai ver tem uma doença, pode
vim doenças mais graves, doenças
sem cura ....é isso...tem que fazer
programa com o que está fazendo
Prevenir sempre.
E7
1
Bom, pra mim é muito
importante porque eu to
aprendendo como lidar com a
vida lá fora, com o mundo
E7
2
é importante, eu acho que pra
todo mundo é importante, saber
sobre as doenças, sobre as
prevenções , como prevenir ..
E7
3
como cuidar de si mesmo
diante de uma relação sexual
E7
4
A gente tem que se prevenir e
se cuidar
E7
5
pode vim doenças mais
graves, doenças sem cura ...
E7
6
tem que fazer programa com
o que está fazendo .
E7
7
Prevenir sempre .
Considera que as informações a
ajudam a lidar com o mundo real
onde há o risco das DST/aids.
Informa que é importante ter
informações sobre essas doenças
para saber como se prevenir e se
cuidar porque algumas delas são
graves e incuráveis. Conclui que,
devido a isso, é necessário refletir
sobre os próprios atos para evitar
sofrimentos futuros.
48
Entrevista 8 - Kikas
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
(silêncio)
Assim... pra mim é ajudar a
alguém a saber de tudo assim
porque isso vai me... no
futuro...vai me dar muitas coisas
boas, porque antes eu era meio
bobinha assim, sabe?
(sorri de sua própria
ingenuidade, que ficou para trás
reconhecendo-se mais madura ao
ponto de se auto-analisar e
perceber suas mudanças) Agora
eu sabendo de todas essas
doenças transmissíveis eu posso
me cuidar, entendeu?
(Pára e fica me olhando e
sorrindo discretamente como que
esperando, em silêncio, algum
retorno de sua fala)
É bom pra mim, para a minha
vida aqui e para a minha vida
fora , muito bom.
É porque antes eu não tinha noção
do perigo, hoje eu já tenho noção
do perigo pra mim... que se eu
não usar a camisinha além de eu
engravidar...posso pegar uma
doença sexualmente transmissível
como gonorréia, sífilis, esses trem
assim... agora eu sou bem
informada sobre isso.
Ai, o significado é que elas me
ajudou bastante assim, sabe?
Agora eu tenho a noção das
atitudes . Ah, foi bom. Sentido...
significativo mesmo em minha
vida assim de ser mais forte.
Como tipo assim... eu aprendendo
mais, isso para mim, por
exemplo, na hora de fazer sexo
assim, eu já sei o que eu tenho
que fazer e o que eu não tenho,
isso se torna mais previsível .
Ah... eu não tenho palavras.
(sorri como quem pede
desculpas).
Ai o que você sabe sobre as DST,
tem a noção delas além do
tratamento que pode ter, ce pode
prevenir mais.
E8
1
pra mim é ajudar a alguém a
saber de tudo
E8
2
porque antes eu era meio
bobinha assim, sabe?Agora eu
sabendo de todas essas doenças
transmissíveis eu posso me
cuidar, entendeu?
E8
3
É bom pra mim, para a minha
vida aqui e para a minha vida
fora , muito bom.
E8
4
É porque antes eu não tinha
noção do perigo, hoje eu já tenho
noção do perigo pra mim... que se
eu não usar a camisinha além de
eu engravidar...posso pegar uma
doença sexualmente transmissível
E8
5
Ai, o significado é que elas
me ajudou bastante assim, sabe?
Agora eu tenho a noção das
atitudes
E8
6
na hora de fazer sexo assim,
eu já sei o que eu tenho que fazer
e o que eu não tenho, isso se torna
mais previsível .
E8
7
ce pode prevenir mais
Declara que as informações a
ajudam a lidar com esse mundo
que apresenta o perigo de
contaminação pelas DSTs e de
uma gravidez não planejada.
Informa que, sendo informada,
passou a ponderar sobre os
próprios atos e aprendeu a se
prevenir contra as doenças, a
evitar uma gravidez, e a se cuidar.
Afirma que outro sentido é
ensinar aos outros o que conhece
sobre as DST/aids.
49
Entrevista 9 - Patrícia
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
(silêncio)
Nossa...
(silêncio, sorri para diminuir o
mal estar gerado pelo silêncio)
ai...
É.. eu acho que assim que... sobre
essas doenças aí, se for o ... se for
o (sorri nervosamente porque vai
iniciar uma fala sobre um assunto
que considera um tabu que é
sexo) caso das doenças, ? Eu
acho assim... tipo assim... na
transa se for fazer pergunta grave,
eu acho que tem que usar a
camisinha. (silêncio)
Eu acho que tem que cuidar bem.
Cuidar... tem que cuidar
bem...cuidar pra essas doenças
não pegar
(silêncio i as unhas o que
demonstra tensão, olha para cima
como se esperasse a resposta vir
do céu, em pedido de socorro e
fica pensativa)
Minha mãe mesmo fala comigo
sobre essas doenças, sabe... eu
falo com ela que ela pode ficar
despreocupada que eu não vou
fazer isso tão cedo, que é por aí...
eu falei com ela que só quando eu
casar...
(silêncio... pigarreia como que
tentando forçar o discurso...).
E9
1
se for o caso das doenças, né?
Eu acho assim... tipo assim... na
transa se for fazer pergunta grave,
eu acho que tem que usar a
camisinha
.
E9
2
Eu acho que tem que cuidar
bem. Cuidar... tem que cuidar
bem...cuidar pra essas doenças
não pegar
Relata que é preciso se usar o
condom durante as relações
sexuais, para se prevenir contra as
doenças. É preciso ponderar sobre
o que se está fazendo, cuidar de si
mesmo para não se contaminar.
50
Entrevista 10 - Maria Eduarda
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Bom, para mim, DST e aids
significa tipo que perigo. Sabe...
você tem que antes de você
conhecer uma pessoa, de você
ficar com uma pessoa, de você ter
relação com uma pessoa, você
tem que conhecer ela
muuuuuuuuuito, pra você saber se
ela tem a... a aids, e as DST em
geral são... pra mim, isso significa
perigo, tipo...ai...sabe... não é que
eu vou chegar de primeira e ir,
passar uma noite com uma
menina, não adianta a gente saber
tudo... se ela tem...isso pra não...
tipo de tomar
Ah... é importante... é muito
importante.
Sabe... e eu acho então que pra
mim, e eu passo para os meus
outros colegas também, para as
outras meninas, minha amigas
que é muito importante, porque
eu acho, de coração, muito
importante.
Pra mim DST e aids tem dois
lados: o lado importante que é o
lado que você deve saber o que
que é e tudo... e o lado do tomar
cuidado, entendeu? Você se
prevenir...tipo... essas coisas...
(silêncio e fica me olhando
esperando um feed back)
E10
1
para mim, DST e aids
significa tipo que perigo
E10
2
você tem que antes de você
conhecer uma pessoa, de você
ficar com uma pessoa, de você ter
relação com uma pessoa, você
tem que conhecer ela
muuuuuuuuuito, pra você saber se
ela tem a... a aids, e as DST
E10
3
não é que eu vou chegar
de primeira e ir, já passar uma
noite com uma menina, não
adianta a gente saber tudo... se ela
tem...isso pra não... tipo de tomar
cuidado .
E10
4
eu passo para os meus
outros colegas também, para as
outras meninas, minha amigas
E10
5
Pra mim DST e aids tem
dois lados: o lado importante que
é o lado que você deve saber o
que que é e tudo... e o lado do
tomar cuidado, entendeu? Você se
prevenir...tipo... essas coisas...
Considera que as DST/aids
oferecem um perigo e, por isso,
deve-se ficar atento, ponderar
sobre os relacionamentos sexuais,
ter o cuidado de conhecer a
pessoa com quem se relaciona
sexualmente ao ponto de saber se
ela tem essas doenças.
Declara que o importante das
DST/aids é ter informações de
como se prevenir e se cuidar.
Considera relevante, também,
transmitir essas informações para
os colegas.
51
Entrevista 11 Anderson
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
(silêncio)
Ah, é uma doença (aids) assim...
pra gente prevenir , não ter como
pegar elas que é uma doença
assim, que eu penso que não tem
cura.
(silêncio)
Igual eu já falei, é uma doença
pra gente prevenir pra gente não
pegar na relação sexual. Pra gente
prevenir pra gente não ter nenhum
risco da gente pegar. É uma
doença que até que pode até
matar, né? (engoliu em seco)
E11
1
Ah, é uma doença assim...
pra gente prevenir
E11
2
elas que é uma doença
assim, que eu penso que não tem
cura.
E11
3
É uma doença que até que
pode até matar, né? (engoliu em
seco)
Afirma que é preciso prevenir
contra a aids que é incuráveL e
pode levar ao óbito
.
52
Entrevista 12- José
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Na minha vida eu sempre tive
assim...instrução... os meus pais
esclareceram tudo. Nenhuma
pergunta assim que eu fiz... é ...
que eu já ouvi falar de muitos pais
assim.... que o filho pergunta
alguma coisa sobre isso, a
pessoa acha assim...uma falta de
respeito ta conversando sobre
aquilo com os pais... até mesmo a
menina chegar pro pai e perguntar
alguma coisa. Eu acho que...pra
mim não tem nada disso, o meu
pai... o meu pai e minha mãe, os
dois sempre me ajudaram nessa
parte, sempre... me instruíram,
sabe... assim de usar a
camisinha... nunca fazer... fazer
alguma coisa que eu não queria ...
Eu acho que são...são valores que
a pessoa tem que ter consigo, sabe
assim...para ter...para ela não
fazer... nada de errado para depois
mais na frente se arrepender disso
. Porque eu não sei se você viu o
teatro que eu fiz é...passado
abordava muito disso também, as
drogas...essas coisas... DST...por
isso que eu acho que se a pessoa
quer... se cuida, sabe... não to
falando pra não fazer não... se
quer, faz que é... a pessoa tem
que ter...tem que ter... a noção
que se ela fazer sem a camisinha,
ela pode ta tendo uma doença ,
não ela como o parceiro dela
também . Eu acho isso.
(silêncio)
Não mas eu penso que... o que eu
penso eu já te falei mas, eu acho
que é assim mesmo a pessoa tem
que ter a percepção de que o que
ela ta fazendo é errado . Ta
fazendo depois não vai... não tem
jeito da pessoa voltar atrás e se
arrepender, arrepender não vai
adiantar mais nada, vai ter
feito.
E12
1
Eu acho que são...são
valores que a pessoa tem que ter
consigo, sabe assim...para
ter...para ela não fazer... nada de
errado para depois mais na frente
se arrepender disso
E12
2
a pessoa tem que ter...tem
que ter... a noção que se ela fazer
sem a camisinha, ela pode ta
tendo uma doença não ela
como o parceiro dela também
E12
3
eu acho que é assim mesmo
a pessoa tem que ter a percepção
de que o que ela ta fazendo é
errado
E12
4
Ta fazendo depois não vai...
não tem jeito da pessoa voltar
atrás e se arrepender, arrepender
não vai adiantar mais nada, já vai
ter feito .
Afirma que as informações são
valores que as pessoas têm e que
utilizam para agir de forma que
não sofram futuramente.
Declara que o uso do preservativo
é um cuidado com o outro e
consigo mesmo, e é preciso
refletir sobre o que se faz para
evitar as conseqüências
irreversíveis dos próprios atos.
53
Entrevista 13 – Yasmim
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
(silêncio)...
Ai, deu branco
(sorri, arqueia as sobrancelhas
como pedindo uma resposta,
levanta os braços e deixa-os cair
sobre as pernas como quem
desiste do esforço, se entrega).
.Eu tenho que falar o significado
da aids das DST?
Segurança, né, a palavra. Porque
muitas vezes a minha mãe fala
para mim: o amor não é feito
sem a camisinha, tem que usar
porque DST e aids é doença, né?
E doença sem cura. Agora o
significado delas?
(grande silêncio ... arranha as
unhas sobre a mesa num sinal de
tensão e hostilidade inconsciente
como se estivesse cavando a
resposta, começa a ler um pedaço
caderno aberto sobre a mesa ao
lado como se fosse encontrar ali
alguma inspiração para o que iria
falar, pára e continua em grande
silêncio...)
As coisas que eu sei a respeito das
DST/aids me ajuda a prevenir .
Muita coisa... ta vendo, custa a
sair alguma coisa (se referindo à
sua fala, e sorri demonstrando
frustração e como quem pede
desculpas por não corresponder às
expectativas).
Porque eu vejo as pessoas
falando... eu acho que... o que
aconteceu com elas eu não quero
que aconteça comigo , então eu
previno
É um conselho, né? Tipo assim se
aconteceu com ela, para não
acontecer comigo. Acabou.
E13
1
DST e aids é doença, né? E
doença sem cura
E13
2
As coisas que eu sei a
respeito das DST/aids me ajuda a
prevenir
E13
3
Porque eu vejo as pessoas
falando... eu acho que... o que
aconteceu com elas eu não quero
que aconteça comigo
E13
4
então eu previno
Afirma que devido ao fato das
DST/aids serem doenças sem
cura, ela se previne para evitar
sofrer como outras pessoas já
sofreram, como uma forma de
auto cuidado.
54
Entrevista 14 Diego
Discurso do sujeito Unidades de significado Discurso articulado
Ah, que são doenças
transmissíveis, né, que tem que
tomar cuidado... usar camisinha ...
não ter... é, não ter... é... (sorri e
diz pensativo:) como é que eu vou
explicar? É, tem que tomar muito
cuidado, né? Para não pegar
doença... e...
(silêncio)
Ah, que se eu não tomar
cuidado... com essas doenças, né?
Eu posso até pegar uma doença
que não pode ser curada mais
(silêncio)
Que é uma doença que não pode
ser curada, né? Pode trazer muito
prejuízo, pode até matar ... eu
não posso... é... ter mais cuidado
na hora assim de fazer sexo.
(silêncio)
E14
1
Ah, que são doenças
transmissíveis, né? Que tem que
tomar cuidado... usar camisinha
E14
2
Ah, que se eu não tomar
cuidado... com essas doenças, né?
Eu posso até pegar uma doença
que não pode ser curada mais
E14
3
Que é uma doença que não
pode ser curada
E14
4
Pode trazer muito prejuízo,
pode até matar
E14
5
ter mais cuidado na hora
assim de fazer sexo
Afirma que as DSTs são doenças
perigosas, incuráveis podendo
levar à morte, portanto, é preciso
ter cuidado, prevenir-se usando
condons durantes as relações
sexuais, para não se contaminar
por elas
.
55
3.7.3- Análise nomotética
A análise nomotética é um momento em que o pesquisador, em profunda reflexão, busca
encontrar na estrutura de cada depoimento em particular, o que é comum aos demais,
passando do nível individual para o geral. Dessa forma, cria as convergências temáticas as
quais, através de novas reduções, vão originar um novo patamar de convergências mais
amplo que são as categorias abertas.
Para a análise geral dos discursos, cruzei entre si as oitenta e uma unidades de significado,
originando quatro unidades temáticas:
1- Pensando na aids: sofrimento, doença e morte.
2- Prevenção consciente: ponderando sobre os próprios atos.
3- Cuidado consigo mesmo: evitando sofrimentos futuros.
4- Cuidado com o outro: a solicitude em sensibilizar (transmitir
conhecimentos), e o desvelo.
Logo depois, essas unidades temáticas foram também cruzadas entre si, formando duas
categorias abertas, com suas respectivas subcategorias:
I - Ser-aí-no-mundo-com DST/aids
1- Pensando na aids: sofrimento, doença e morte.
2- Prevenção consciente: ponderando sobre os próprios atos
II - Cuidando para viver melhor (cogitare-ogitatus)
3- Cuidado consigo mesmo: evitando sofrimentos futuros
4- Cuidado com o outro: a solicitude em sensibilizar (transmitir
conhecimentos), e o desvelo.
A partir desse movimento de idas e vindas, construções e reconstruções, olhei atentivamente
para os discursos, sem, contudo, deixar de abstrair deles outros significados para além do
meramente visível e audível, uma vez que, para compreender o significado expresso pela
intencionalidade da consciência do ser em direção ao mundo, é preciso compreender suas
expressões faciais, seus gestos, suas atitudes principalmente quando elas contradizem as
falas ou na ausência dessas. “Sistema de potências motoras ou de potências perceptivas,
56
nosso corpo não é objeto para um ‘eu penso’: ele é um conjunto de significações vividas que
caminha para seu equilíbrio.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.212). Este mesmo autor, nos
dizeres de Freitas (2005), sugere que desenvolvamos um olhar que toca, apalpa e
esquadrinha porque, para ele, o mundo não é o pensado, é o vivido que se mostra no corpo-
sujeito.
Desta forma, utilizei os ensinamentos de Weil e Tampakow (1993) para analisar a linguagem
corporal eloqüente dos adolescentes, que estará descrita entre parênteses nos discursos dos
sujeitos. Segundo esses autores, o homem é programado para discernir, mas o hábito de
atentar para as ferramentas-símbolo, chamadas palavras, afastou-nos da percepção
consciente total do aqui e agora. Aqui, faço uma tentativa de resgate desse discernimento
como ferramenta para auxiliar-me a captar a essência que procuro desvelar.
57
4- ANÁLISE COMPREENSIVA DOS DEPOIMENTOS
58
4- ANÁLISE COMPREENSIVA DOS DEPOIMENTOS
Para compreender o sentido que os adolescentes atribuem às informações a respeito das
DST/aids, primeiramente precisei me relacionar com eles para criar um ambiente de
confiança onde pudesse haver um convívio que desse espaço à expressão de nossas
subjetividades e que essas se relacionassem.
Ao partir para as entrevistas, tive certo receio de que eles não quisessem se mostrar para mim
devido à característica melindrosa dos temas que permeiam o assunto bem como às próprias
características do adolescente como ser monossilábico. Assim, foi preciso criar o que Husserl
chamou de empatia, ou seja, um modo de nos relacionar que permitiu mútua troca,
comunicação e coexistência.
Muitas formas eles encontraram de permitir minha entrada em seu mundo. Lá, fui bem
recebida e as trocas foram significativas. Durante as entrevistas, pude perceber que meu
receio não tinha fundamentos, pois, os adolescentes me falaram com gestos, olhares,
sorrisos, sons, silêncios, respirações, quando as palavras eram poucas.
“... Não um movimento em um corpo vivo que seja um acaso absoluto em relação às
intenções psíquicas.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.130), assim, o ser-no-mundo, interage
com os outros que com ele com-vivem, desvelando sua subjetividade através da unidade
entre corpo e mente que se direciona ao mundo.
No gestual, o sujeito revela sua intencionalidade, sendo este corpo o local de construção de
sua existência “Mas eu não estou diante do meu corpo, estou em meu corpo, ou antes sou
meu corpo.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.208). Complementando, Boff (2004) afirma que
o corpo não é algo que o ser humano tem, e sim uma realidade que ele é.
Para Weil e Tampakow (1993), a vida é um fluxo constante de energia e a linguagem
silenciosa do corpo é a linguagem da vida que diz a verdade por ser completamente
inconsciente, tem um valor filogenético que remonta à pré-história e muitas vezes contradiz a
palavra falada. Esses autores apontam que a comunicação é um aspecto do comportamento
humano que não pode ser transmitido satisfatoriamente por meras palavras e que,
59
geralmente, o corpo fala de maneira mais eloqüente que elas uma vez que, quando em grupo,
nossa linguagem corporal anseia por afirmar o nosso eu.
Num segundo momento, busquei compreender o sentido do todo ao fazer a cuidadosa leitura
e exaustiva releitura das falas dos sujeitos. Aqui, pude perceber o quanto seus discursos eram
entrecortados por silêncios.
Segundo Beaini (1981), a primeira relação para com a linguagem é a de ouvir antes de falar,
o dizer silencioso do ser é a condição para todo o falar humano, e é através do des-
velamento, no dizer silencioso, que o ser se mostra ao homem. O ouvir e o silêncio são
momentos do discurso que possibilitam ao homem uma compreensão do que o ser lhe diz.
Ela afirma que, para Heidegger, o valor da linguagem encontra-se bem menos nas palavras
que no silêncio atencioso, rico de significação.
Observei também, que esses silêncios, muitas vezes, se faziam anteriormente ao início da
fala dos adolescentes o que, a princípio, imaginei ser uma tentativa de entendimento da
pergunta feita. Com as releituras, pude perceber que era algo mais profundo como que uma
busca interior à resposta, uma ponderação sobre aquele assunto, e depois, ficou claro que
esse silêncio era um ouvir a si mesmo, ouvir o ser, o qual depois se mostrava a mim, através
do adolescente, pela linguagem não verbal e pela fala seguida desse silêncio.
Acolhendo o silêncio, atingimos a essência da Linguagem, pois há uma
prioridade da Linguagem que nos é dirigida pelo ser sobre aquela que falamos,
visto que é o ser que propicia nosso falar acerca de tudo o que há. um dizer
silencioso do ser que antecede e origem a todo o falar humano, sendo a fonte
da palavra, apropria-se do homem, exigindo um comprometimento em forma de
resposta... A Linguagem apela o homem a calar-se, para que permaneça tento à
escuta do ser. (BEAINI, 1981, p.64)
À medida que fazia o caminho da identificação das unidades de significado até a elaboração
do discurso dos sujeitos, pude perceber claramente o quanto do mundo dos adolescentes eu
apreendia. Em cada uma das diversas vezes que retornei ao processo de redução dos
discursos, as falas como que saltavam do papel aos meus olhos, e as lembranças visuais e
sonoras surgiam a cada leitura, ficando gradativamente mais claro para mim, qual a
intencionalidade deles ao me colocar em contato com seu mundo-vida (lebensvelt), o que ia
possibilitando o desvelamento (alethéia) dos significados expressos por eles. Desta forma,
foi possível iniciar a análise compreensiva.
60
Organizei este tópico expondo cada categoria e em cada uma delas, usei a linguagem
articulada dos sujeitos acompanhados de suas respectivas falas nas unidades de significado
apreendidas.
4.1 - Ser-aí-no-mundo-com DST/aids
A compreensão do significado que os adolescentes atribuem às informações recebidas sobre
as DST/aids, no seu processo de formação, remete ao entendimento de como esses sujeitos se
relacionam com os outros no mundo onde vivem, o que perpassa a compreensão de sua
existência, do Ser adolescente. Desta forma, precisamos considerar que o existir
contemporâneo apresenta para todos o risco flagrante da contaminação pelas DST/aids,
assim, sempre que somos-com-o-outro, na atualidade, estamos sendo-com em um mundo-
com-DST/aids.
...o mundo do ser-aí desvela os entes que não apenas se distinguem inteiramente
dos ‘entes-envolventes’ e das coisas, mas que também pelo seu próprio modo de
ser como ser-aí – estão ‘no’ mundo onde, ao mesmo tempo, são encontrados
dentro do mundo; entes que são ‘no’ mundo no modo de ser-no-mundo. Estes
entes não são jamais meros objetos ou entes-envolventes, ao contrário, são como é
o verdadeiro ser-aí que os desvela, são também e aí-com. (HEIDEGGER, 1981,
p.34)
Heidegger (2001) afirma que o ser-aí-com é uma característica essencial do ser-aí, sem a
qual a vida perderia o sentido para nós; é uma maneira de se relacionar e de viver que
significa ser junto, na presença do outro. É ainda, para Heidegger (1981), a forma como o ser
se relaciona, atua, sente, pensa, vive com seus semelhantes - o ser humano, e o que
possibilita o ser-aí-com é a circumundaneidade, ou seja, uma possibilidade de encontrar os
outros, de relacionar-se no âmbito da vizinhança, na cotidianeidade.
Neste contexto, os adolescentes discursaram sobre como as DST/aids se tornam presentes em
suas vidas, como elas se dão a conhecer a eles, e como eles são-com-os-outros e consigo-
mesmos no-mundo-com-DST/aids.
A seguir são apresentadas as subcategorias Pensando na aids: sofrimento, doença e morte e
Prevenção consciente : ponderando sobre os próprios atos.
61
4.1.3- Pensando na aids: sofrimento, doença e morte
Para melhor entendimento, enumero todas as unidades de significado que deram origem a
cada uma das subcategorias, assim, o leitor poderá, se desejar, lê-las nos respectivos quadros
dos discursos dos sujeitos que compõem a análise ideográfica. A letra seguida do numeral
corresponde ao sujeito entrevistado, e o numeral subscrito corresponde à ordem que esta
unidade de significado surgiu no discurso do mesmo adolescente. Aqui, elas são em número
de dezoito:
E 2
5,
E 2
6,
E 2
7,
E 3
8,
E 4
8,
E 4
9
,
,
E4
11,
E 6
2,
E 7
5,
E 8
4,
E 10
1,
E 11
2,
E 11
3,
E 12
4,
E 13
1,
E 14
2
, E
14
3,
E14
4.
O sofrimento é condição inerente ao ser e a perda é algo que todos os humanos vivenciam.
Até mesmo aqueles cuja vida está apenas começando têm a experiência da perda. Ao
nascer, o bebê perde o conforto, o calor e a segurança do útero materno, mas também, se
liberta de seus limites. Para Kübler-Ross (1998), os sofrimentos humanos são as próprias
respostas emocionais dos sujeitos a qualquer perda e Vasse (1999) acrescenta que o
sofrimento nos separa de nós mesmos, desde a origem, e essa divisão faz pairar a sombra da
morte; da separação surge o grito do nascimento que testemunha nosso desejo de sair dos
limites, de arrombá-los, de ex-sistir, de nascer.
Pude apreender dos depoimentos dos sujeitos que as DST/aids lhes remetem ao sofrimento o
qual os faz vacilar diante de suas convicções, diante de seu sentimento de onipotência.
Embora se sentir invulnerável seja uma característica do ser adolescente, em suas falas, eles
demonstraram que reconhecem sua vulnerabilidade quando optam por situações de risco
como uma relação sexual desprotegida e, a partir disso, concluem que há uma necessidade de
tomada de atitude mediante os perigos de ser-aí-no-mundo-com-DST/aids.
E8
4
É porque antes eu não tinha noção do perigo, hoje eu tenho noção do perigo pra
mim... que se eu o usar a camisinha além de eu engravidar...posso pegar uma doença
sexualmente transmissível
E10
1
para mim, DST e aids significa tipo que perigo
E14
2
Ah, que se eu não tomar cuidado... com essas doenças, né? Eu posso até pegar uma
doença que não pode ser curada mais
62
Braz; Fernandes (2001) consideram que durante a vida passamos por uma morte simbólica a
cada perda, o que é endossado por Vasse (1999) que diz que a perda de algo pelo sujeito é
sentida como a perda da vida. Acrescentam-se, ainda, os dizeres de Potter; Perry (1998) que
afirmam que para termos o sentimento de perda e morte basta nos sentirmos possuidores de
algo e depois, não mais o possuirmos e Andrade (2002) acrescenta que as perdas, não
precisam necessariamente ser reais, elas podem ser imaginárias.
Podemos inferir que dentre todas elas, a morte é considerada pelo homem ocidental, como a
maior perda que se pode ter, ela é o inexorável, a inviabilidade de toda as demais
possibilidades. Uma vez que percebemos a vida como abertura e a morte como o
encerramento, temos medo do não-ser. “A morte constitui ainda um acontecimento
medonho, pavoroso, um medo universal...” (KÜBLER-ROSS, 1998, p.17).
Embora o senso comum atribua à morte significações negativas como perda, ausência,
sofrimento, escuridão, e a vida seja percebida como seu contraponto, visões mais ampliadas
da morte a conceituam como parte fundamental do todo da vida, seu fechamento, conclusão.
Assim nos diz Heidegger (2001) que enquanto seres lançados no mundo, a presença está
entregue à responsabilidade de sua morte, uma vez que, morre-se continuamente durante o
tempo que ainda não deixou de viver, e Boff corrobora:
Através do corpo se mostra a fragilidade humana. A vida corporal é mortal. Ela
vai perdendo seu capital energético, seus equilíbrios, adoece e finalmente morre.
A morte não vem no fim da vida. Ela começa já no seu primeiro momento.
Vamos morrendo lentamente até acabar de morrer. A aceitação da mortalidade
da vida nos faz entender de forma diferente a saúde e a doença.
(BOFF, 2004,
p.143)
Observando-lhes a linguagem corporal (como quando engoliam em seco ou perdiam o olhar
no horizonte) enquanto falavam sobre essas enfermidades, e as próprias falas, percebi o
sentimento de angústia diante da imensidão inexplicável, do vazio da morte, já que eles
reconhecem as DST/aids como doenças graves que colocam as pessoas em proximidade
com sua finitude.
E4
8
que podem propiciar até que, que pode levar até à morte da pessoa se não cuidar.
E11
3
É uma doença que até que pode até matar, né? (engoliu em seco)
63
Para Boff (2004), a doença significa um dano à totalidade da existência do ser. O sofrimento
causado pela doença não se localiza em uma parte específica do doente e sim na vida, em
suas várias dimensões.
Em alguns fragmentos das falas dos adolescentes, percebi que eles temem as doenças não
apenas pela antevisão que ela lhes da morte, “essa nossa velha (des)conhecida”, mas
também, pelos sofrimentos que sua natureza pode infringir ao doente. O ser adolescente está
iniciando os seus empreendimentos para a vida e teme as DST/aids pela possibilidade que
essas lhe remetem de destruição de seus planos. Para Vasse (1999), o sofrimento pode ser
interpretado também como a condenação de nosso desejo infinito.
E2
7
e cê não vai poder fazer relação com alguém
E6
2
sem camisinha...que quando sem camisinha é... fica grávida, o bebê pode ter uma
doença e aí, às vezes, eles nem...eles nem querem o filho
E2
6
não vai poder ter filho, porque se tiver... se ter filhos seu filho também vai ter
aids
Percebi, também que, as doenças são vistas por eles como “pequenas mortes” (KUBLER-
ROSS, 1998), ou seja, tem o sentido da perda, é uma morte simbólica, e que, quando se trata
de doenças incuráveis e/ou estigmatizantes como as DST/aids, a dor da perda pode ser ainda
maior porque além dos sentimentos de impotência e revolta diante da situação irreparável,
ela pode vir carregada de culpa, de solidão decorrente da incompreensão, da intolerância.
E3
8
antigamente quando tinha essa doença enlouquecia, pensava que ia morrer que não ia
ter cura, que a vida acabou para ela, né?
E12
4
Ta fazendo depois não vai... não tem jeito da pessoa voltar atrás e se arrepender,
arrepender não vai adiantar mais nada, já vai ter feito
E14
4
Pode trazer muito prejuízo, pode até matar
E7
5
pode vim doenças mais graves, doenças sem cura
E4
9
pode prevenir isso tudo, não precisa ter essa dor de cabeça tremenda, com essas coisas.
(olhar vago, como se visualizasse o sofrimento do qual se refere)...
64
E4
11
Porque são coisas banais e os banais, erros banais ali que podem ser prevenidos
Algumas dessas asserções dos sujeitos nos remetem à fala de Boff (2004) para quem solidão
no lugar da solidariedade faz com que a morte seja vivenciada como salto e destruição da
vida. A solidão do lado de faz suscitar a idéia de solidão do lado de .. Então, ocorre o
medo e até o pavor de morrer.
4.1.2 -Prevenção consciente: ponderando sobre os próprios atos.
Esta unidade temática é constituída das cinquenta e uma unidades de significado:
E 1
1,
E 1
2,
E1
3
E 2
1,
E 2
3,
E 2
4,
E 3
1,
E 3
2,,
E 3
4,
E 3
6,
E 3
7,
E3
8,,
E 4
1,
E 4
2,
E 4
3,
E 4
6,
E 4
9,
E 4
10,
E 4
11,
E 5
1,
E 5
2,,
E 6
1,
E6
2,
E6
3,
E
6
4,
E 6
7,
E 6
8,
E 7
1
, E7
2,
E 7
4,
E 7
6,
E7
7,
E8
2,
E 8
4,
E 8
3
E8
5
E8
6,
E 8
7,
E 9
2,
E9
1,
E 10
1,
E 10
2,
E 10
5,
E 11
1,
E12
1,,
E 12
3,
E
12
4,
E 13
2,
E 13
4,
E 14
1,
E 14
5.
A efetiva prevenção, acessando as informações que se tem a respeito das doenças, é
possível quando fazem parte da formação dos sujeitos, uma vez que os possibilita usar a
liberdade de decidir e de participar na construção do seu futuro, de forma comprometida com
a ética e tendo em vista o próprio bem estar e, consequentemente, o bem estar coletivo. Para
falar de liberdade e futuro, recorro aos dizeres do filósofo:
“A própria noção de liberdade exige que nossa decisão se entranhe no porvir, que
algo tenha sido feito por ela, que o instante seguinte se beneficie do precedente, e
sem ser necessitado, seja pelo menos solicitado por este.” (MERLEAU-PONTY,
1999, p.586)
É perceptível que a quase totalidade dos discursos tratou do uso consciente da liberdade
como um investimento no futuro, considerando que o viver contemporâneo é marcado pela
ameaça das DSTs e da aids, principalmente. Isto foi revelado nos depoimentos que
demonstram que eles ponderam sobre seus atos e percebem a qualidade da vida futura como
como conseqüência destes.
E2
4
É, que é melhor prevenir do que remediar
65
E 4
9
pode prevenir isso tudo, o precisa ter essa dor de cabeça tremenda, com essas
coisas.
E6
4
porque dependendo do que você vai fazer você vai se dar mal
E8
3
É bom pra mim, para a minha vida aqui e para a minha vida lá fora , muito bom.
Depreende-se, assim, que a opção pelo do uso do preservativo é guiada pelas circunstâncias
do mundo em nosso tempo, portanto, feita de maneira consciente. As escolhas são
determinadas pelos conhecimentos e valores dos sujeitos, e estes, por sua vez, dependem de
sua formação.
E6
3
Ah, o significado disso é que tem que ser responsável pela...pelo que você está fazendo
E 8
2
porque antes eu era meio bobinha assim, sabe?Agora eu sabendo de todas essas
doenças transmissíveis eu posso me cuidar, entendeu?
Ao atribuírem o sentido de preservação da vida às informações a respeito da prevenção das
DST/aids pelo uso da camisinha, os adolescentes estão exercitando sua autonomia, porque
estão decidindo o que é bom para si mesmos. Isto demonstra que eles têm o que Freire
chamou de “dignidade de pessoa”; esses sujeitos não apenas estão no mundo, estão
transformando o mundo com suas reflexões que incidem diretamente em suas ações as quais,
por sua vez, são transformadoras da sociedade.
E3
7
Agora, você tem a livre e espontânea... como é que fala...livre... para falar, perguntar
como é que é como previne... E3
8...
antigamente quando tinha essa doença enlouquecia,
pensava que ia morrer que não ia ter cura, que a vida acabou para ela, né?
E6
1
quando for transar tem que usar a camisinha. Sempre prevenir
E 12
4
Ta fazendo depois não vai... não tem jeito da pessoa voltar atrás e se arrepender,
arrepender não vai adiantar mais nada, já vai ter feito.
Por outro lado, num primeiro momento, tamanha responsabilidade declarada em suas falas
pode suscitar a desconfiança dos adultos de que essas idéias possam não estar sendo
colocadas em prática pelos adolescentes. Cabe lembrar aqui que o primeiro passo para a ação
66
é sua idealização, o devaneio que se transforma em sonho, como ensinou Tiba (2005) e
acrescento que, em determinado momento, se transforma em prática que transcende na
práxis.
A coerência das falas com as atitudes pode se mostrar após um processo de tentativas e ser
obtido por sucessivas aproximações e transformar o que é apenas informação em mudança
de atitude, em sabedoria.
As asserções, a seguir, demonstram essa busca do exercitar o conhecimento e o que se diz.
E3
4
você já vai saber como que você pegou...ou como você pode... prevenir... e tentar fazer o
possível para não fazer de novo, né? O errado, novamente.
E 12
1
Eu acho que são...são valores que a pessoa tem que ter consigo, sabe assim...para
ter...para ela não fazer... nada de errado para depois mais na frente se arrepender disso
E 10
5
Pra mim DST e aids tem dois lados: o lado importante que é o lado que você deve
saber o que que é e tudo... e o lado do tomar cuidado, entendeu? Você se prevenir... tipo...
essas coisas..
Em sendo verdade que o adolescente ainda não consegue praticar o seu próprio discurso, ele
pelo menos demonstra em seus depoimentos que está construindo este caminho ao refletir e
ao ponderar sobre os próprios atos, numa busca de se orientar para a realidade do mundo.
E7
6
tem que fazer programa com o que está fazendo
E7
1
Bom, pra mim é muito importante porque eu to aprendendo como lidar com a vida
fora, com o mundo.
E6
3
Ah, o significado disso é que tem que ser responsável pela...pelo que você está fazendo
E8
5
Ai, o significado é que elas me ajudou bastante assim, sabe? Agora eu tenho a noção
das atitudes
E12
3
eu acho que é assim mesmo a pessoa tem que ter a percepção de que o que ela ta
fazendo é errado
“No modo de ser-cuidado ocorrem resistências e emergem perplexidades. Mas elas são
superadas pela paciência perseverante” (BOFF 2004, p
.96). A necessidade ou a quase
obrigatoriedade de se fazer uso de preservativos nas relações sexuais depois do início da
67
pandemia da aids, em certa medida, pode levar as pessoas a sentirem-se privadas de sua
liberdade. Porém,
...só posso deixar a liberdade escapar se procuro ultrapassar minha
situação natural e social recusando-me em primeiro lugar em assumi-la, em vez de, através
dela encontrar o mundo natural e humano.” (MERLEAU-PONTY, 1999, p.611).
Ao discursar sobre a prevenção das DST/aids, os adolescentes revelam que prevenir é uma
opção consciente, ditada pelas condições que permeiam o mundo onde e quando vivem. Eles
percebem o quanto são importantes escolhas em relação à sua liberdade de prevenir-se ou
não, relacionando-as assim, com o porvir. Nesse sentido, eles discorrem sobre o preparo para
a vivência do sexo, a escolha do parceiro e na maioria dos depoimentos, ponderam sobres
seus atos de forma responsável e ética.
E 10
2
você tem que antes de você conhecer uma pessoa, de você ficar com uma pessoa, de
você ter relação com uma pessoa, você tem que conhecer ela muuuuuuuuuito, pra você
saber se ela tem a... a aids, e as DST
E10
3
não é que eu vou chegar lá de primeira e ir, já passar uma noite com uma menina, não
adianta a gente saber tudo... se ela tem...isso pra não... tipo de tomar cuidado .
E 12
2
a pessoa tem que ter...tem que ter... a noção que se ela fazer sem a camisinha, ela
pode ta tendo uma doença não só ela como o parceiro dela também
E8
4
É porque antes eu não tinha noção do perigo, hoje eu tenho noção do perigo pra
mim... que se eu o usar a camisinha além de eu engravidar...posso pegar uma doença
sexualmente transmissível
Ao finalizar a análise das unidades de significado que compõem esta unidade temática,
percebo que vários objetivos da educação propostos por muitos de seus teóricos estão
presentes nas asserções dos adolescentes.
4.2 - Cuidando para viver melhor (cogitare-cogitatus)
Historicamente, no mundo como um todo, nas mais diversas épocas, o cuidado foi e é de
fundamental importância para os seres, não só os humanos, mas me arrisco a dizer que toda a
68
gama de seres existentes, necessita do cuidado para continuar sendo. Podemos ilustrar essa
relevância do cuidado citando a famosa e não menos maravilhosa Fábula de Higino, datada
do pré-cristianismo e que continua nos inspirando na atualidade porque nos fala do cuidado
que é nossa própria essência.
A palavra cuidar deriva, segundo Boff (2004), de cogitare-cogitatus que é o mesmo que
cura, cogitar, pensar, por atenção, mostrar interesse ou uma atitude de desvelo e de
preocupação, o que também vem a ser solicitude, diligência, zelo, atenção, bom trato.
Para Heidegger (2001), o cuidar é o modo como o Ser se relaciona com o outro na
circumundaneidade, e é este zelar que define o ser-aí, sendo sua essência, ou seja, o cuidado
é ontológico, nós somos o cuidado. Depreende-se disso que, para compreendermos o ser
humano em qualquer uma de suas dimensões, devemos nos remeter à dimensão do cuidado,
portanto, compreender o significado que os adolescentes atribuem às informações recebidas
sobre as DST/aids no seu processo de formação, perpassando os cuidados que esses sujeitos
dispensam a si mesmos e/ou aos outros.
Assim, as falas dos sujeitos conduziram-me à categoria que trata do cuidado como uma
forma de desvelo e solicitude que proporcionam um viver melhor, tendo sido subdividida em
duas subcategorias que tratam do cuidado consigo mesmo e com o outro, através das
asserções contidas em cada uma delas, a seguir.
4.2.2- Cuidado consigo mesmo: evitando sofrimentos futuros
As trinta e seis unidades de significado abaixo constituem esta subcategoria. E2
1,
E2
2,
E2
7,
E3
3,
E3
5,
E3
6,
E4
1
E4
3,
E4
9,
E4
10,
E5
1,
E5
3,
E6
2,
E6
4,
E6
7,
E7
1,
E7
3,
E7
4
E7
5,,
E8
2,
E 8
3,
E 8
4
E8
5,
E9
2,
E10
1,
E10
2,
E10
3,
E10
5,
E11
3,
E12
1,
E12
2,
E12
3,
E13
3,
E14
2,
E14
4,
E14
5
Ao discursar sobre o cuidado com a saúde do corpo na prevenção das DST/aids, os
adolescentes estão indo ao encontro das asserções de Heidegger, para quem nós somos o
cuidado e de Merleau Ponty que afirma que nós somos o corpo e ainda que, com a existência
recebemos uma maneira de ser, um estilo.
69
“a preocupação se comprova, pois, como uma constituição antológica da presença
que, segundo suas diferentes possibilidades, está imbricada tanto com o seu ser
para o mundo da ocupação quanto com o ser para consigo mesmo.”
(HEIDEGGER , 2001, p.174)
Cuidar é o modo como a pessoa se realiza no mundo, nos dizeres de Boff (2004). Depreende-
se disso que, mostrar qual sentido eles atribuem às informações a respeito das DST/aids, tem
um valor existencial pois é falar da forma como eles são-no-mundo, através do cuidado,
através de sua corporeidade, no estilo próprio de cada um. “...para si mesma a pre-sença é a
possibilidade de ser que está entregue à sua responsabilidade, é a possibilidade que lhe foi
inteiramente lançada. A pre-sença é a possibilidade de ser livre para o poder-ser mais
próprio.” (HEIDEGGER, 2001, p.199)
A preocupação primordial dos seres viventes é com a manutenção da própria vida, o que se
traduz por instinto de preservação da vida, então, é preciso cuidar para que ela se mantenha.
O cuidado permeia todas as nossas atitudes e relações. Enquanto ser-com-os-outros, fazendo
parte do “a gente”, o adolescente mostra que é importante para si cuidar de seus interesses,
o que afirma seus valores de dignidade da vida, preciosidade do próprio bem-estar. Assim,
o significado do cuidado consigo mesmo atribuído às informações sobre as doenças em
estudo, é também uma forma de perceber os seus direitos, de criar meios de promover o
seu crescimento, de preservação de sua integridade e identidade.
E 4
3
eu vou poder ta me prevenindo até eu mesmo, por exemplo, eu vou estar me livrando de
doenças, certas coisas que doenças são sexualmente transmissíveis e podem até levar à
morte de uma pessoa
E 7
1
Bom, pra mim é muito importante porque eu to aprendendo como lidar com a vida
fora, com o mundo
E 8
3
É bom pra mim, para a minha vida aqui e para a minha vida lá fora , muito bom
E7
3
como cuidar de si mesmo diante de uma relação sexual
E9
2
Eu acho que tem que cuidar bem. Cuidar... tem que cuidar bem...cuidar pra essas
doenças não pegar
E13
3
Porque eu vejo as pessoas falando... eu acho que... o que aconteceu com elas eu o
quero que aconteça comigo
70
Essas asserções pontuam, com clareza, que os adolescentes pensam o vir a ser e se
reafirmam cidadãos, com escolhas conscientes, além disso, se reconhecem seres factíveis às
vicissitudes da vida.
Isto posto, apreendi dos depoimentos, que o uso do preservativo se torna significativo para
eles por ter a finalidade de preservar o futuro de sofrimentos preveníveis, ou até mesmo
por possibilitar esse futuro, uma vez que a aids ainda não tem cura e não raro, leva à morte
precocemente.
E4
1
O sentido é que com essas várias informações que eu ganhei até com o próprio
PEAS, né? Eu posso ta me prevenindo
E7
5
pode vim doenças mais graves, doenças sem cura ...
E 8
5
Ai, o significado é que elas me ajudou bastante assim, sabe? Agora eu tenho a noção
das atitudes
E11
3
É uma doença que até que pode até matar, né? (engoliu em seco)
E12
3
eu acho que é assim mesmo a pessoa tem que ter a percepção de que o que ela ta
fazendo é errado
E14
4
Pode trazer muito prejuízo, pode até matar
A finalidade extrema do ser humano é a felicidade, e o sofrimento vem como um entrave ou
uma ameaça a este ideal. Embora não seja possível uma existência sem sofrimentos, na busca
da felicidade, os sujeitos querem ao menos ser saudáveis, estar livres da dor, amar e ser
amados, compreendidos e aceitos, realizar alguns projetos de vida (sonhos) como ter filhos,
por exemplo. Doenças estigmatizantes e/ou incuráveis como as DST/aids jogam por terra,
pelo menos em parte, a possibilidade de realização desses desejos. Além disso, o medo e a
tentativa de evitar sofrimentos futuros, através do cuidado consigo mesmo na forma da
prevenção, são vistos nas seguintes narrativas:
E 6
4
porque dependendo do que você vai fazer você vai se dar mal
E4
9
pode prevenir isso tudo, não precisa ter essa dor de cabeça tremenda, com essas coisas
(olhar vago, como se visualizasse o sofrimento do qual se refere)...
E2
1
Assim... que é melhor prevenir né? Pra não ter porque, né? ... é ruim... depois...
E2
7
e cê não vai poder fazer relação com alguém
71
E10
1
para mim, DST e aids significa tipo que perigo
Pude notar nos depoimentos, principalmente das meninas, que existe uma confusão entre as
informações sobre DST/aids (objeto da questão norteadora) e a gravidez não planejada, ou
até mesmo indesejada. Isso é, de certa forma, compreensível uma vez que o uso do
preservativo serve para prevenir a transmissão sexual da aids, assim como das DST, e é
também um método anticoncepcional de barreira muito difundido, ou pelo menos falado,
entre os adolescentes.
E2
2
vão supor... eu engravido seu filho vai ter aids, vai ter um monte de doença e não
vai querer para o seu filho, porque você quer um filho saudável que não corra risco nenhum.
E6
2
sem camisinha...que quando sem camisinha é... fica grávida, o bebê pode ter uma
doença e aí, às vezes, eles nem...eles nem querem o filho
E6
7
Ah... você transar sem camisinha, você... é....pode pegar...doença ...engravidar...muitas
adolescentes não querem gravidez e deixam seu filho jogado .
E5
3
acho que também evita a gravidez não desejada e as doenças mesmo
E8
4
É porque antes eu não tinha noção do perigo, hoje eu tenho noção do perigo pra
mim... que se eu o usar a camisinha além de eu engravidar...posso pegar uma doença
sexualmente transmissível
Embora esse enovelamento, essa miscelânea de conceitos demonstrados em alguns discursos
seja compreensível, é também preocupante, pois isso demonstra que as informações que os
adolescentes têm sobre DST/aids, ainda não foram bem processadas, não se tornaram
conhecimento/sabedoria o que sugere que a formação desses sujeitos esteja deficitária e
apontam para uma insuficiência para o auto cuidado na prevenção das doenças aqui
estudadas.
4.2.2 - Cuidado com o outro: o desvelo e a solicitude em sensibilizar (transmitir
conhecimentos)
A presente unidade temática é composta por vinte e três unidades de significado, a seguir
enumeradas: E 1
4
E 1
5,
E 2
2,
E 2
8,
E 3
5,
E 3
6,
E 3
7,
E 4
4,
E 4
5,
E 4
2,
E 4
6,
E 4
7,
E 5
1,
E 5
2,
E 5
3,
E 6
5,
E 6
6,
E 6
7,
E6
9,
E7
2
E 8
1,
E 10
4
E 12
2
72
Nas falas que compõem esta subcategoria, os adolescentes demonstraram, ao discorrer sobre
o sentido que atribuem às informações sobre as DST/aids, uma das mais fortes características
do ser adolescente: a necessidade grupal, que podemos relacionar com a possibilidade de ser-
aí-com sob a ótica de Heidegger (1981): uma forma de se relacionar, atuar, sentir, pensar,
viver com seus semelhantes, uma possibilidade de encontrar os outros na
circumundaneidade. Portanto, os sujeitos desta pesquisa percebem, significam as
informações sobre as DST/aids como uma maneira de ser-no-mundo-com-os-outros, uma
possibilidade de encontro, de intersubjeitividade.
E 4
4
eu tento estar passando para as pessoas que eu conheço e até mesmo para as pessoas
que eu não conheço
E 4
5
Eu tento estar aconselhando essa pessoa, tendo estar falando
Para estar em grupo, estar no mundo e na sociedade, para ser-no-mundo-com-os-outros o
adolescente percebe que é preciso cuidar de seus integrantes, numa atitude de desvelo que
também se mostra, na tentativa de sensibilizar o outro para a necessidade de se prevenir as
DST/aids. Aqui, eles demonstraram interesse ou uma atitude de preocupação, o que também
vem a ser solicitude, diligência, zelo, atenção com o outro.
E1
5
É, conscientizar todo mundo, sobre isso
E 4
6
E com essas informações eu tento estar falando para essas pessoas prevenir usando
camisinha prevenindo a ele ou o parceiro ou a parceira na relação ali
E 4
7
tento passar pra outras pessoas essas informações também que são informações
valiosas
E 6
5
Eu acho que também é bom porque eu posso ensinar para os meus filhos e...eles
ficarem mais atentos
E7
2
é importante, eu acho que pra todo mundo é importante, saber sobre as doenças, sobre
as prevenções , como prevenir ..
Em seus discursos, os sujeitos desta pesquisa, demonstraram que tentar sensibilizar o outro
para o uso da camisinha, prevenindo assim a disseminação das DST/aids, tem um sentido de
73
cuidado com o planeta, uma maneira de tornar esse mundo melhor para as futuras gerações
como uma responsabilidade inerente a cada indivíduo dentro da sociedade, formando uma
rede solidária. “Cuidar do outro é uma ação libertadora, sinérgica e construtora de aliança
perene de paz e amorização.” (BOFF 2004, p.139) Conforme podemos verificar nas
seguintes asserções:
E 1
4
Sentido assim de eu...é....ta ciente assim todo mundo assim...a usar a camisinha,
conscientiza assim...todo mundo
E 3
6
eu sou uma pessoa informada- como agora eu sou mesmo- e... eu vou procurar a pessoa
para me informar sobre o que pode e o que não pode fazer, ela procura saber mais sobre a
doença... o que é a doença
E 4
4
eu tento estar passando para as pessoas que eu conheço e até mesmo para as pessoas
que eu não conheço
E 5
1
além de você estar se prevenindo e ao próximo que você vai se relacionar
E 6
6
Cê fica informado e vai passar para os outros para os outros, pros outros ficar
passando pros outros pra todos ficarem sabendo
E10
4
eu passo para os meus outros colegas também, para as outras meninas, minha amigas
Essas falas acima encontram eco nos ensinamentos de vários autores, além dos anteriormente
citados, que também tratam o cuidado como um ato ecológico e de amor ao planeta, como
Tiba (2005) que afirma que quem não cuida do que tem pode perdê-lo, quem cuida, aprende
o sentido de respeito de preservar e melhorar o ambiente ocupado, de cuidar da sociedade,
para sair do local e pessoas (mundo), deixando-os melhores do que quando chegou e
Waldow (2001) para quem o cuidado pode ter um sentido mais amplo, uma forma de
expressão, de relacionamento com outro ser e com o mundo, é uma maneira de viver
plenamente.
Por outro lado, em algumas falas, o adolescente demonstra que tem pequena percepção
dessas informações como um benefício direto a si próprio, talvez porque se sinta
invulnerável, característica marcante da adolescência. Assim, os sentidos que ele atribui às
informações a respeito das DST/aids, referem-se em alguns discursos, muito mais ao cuidado
com o outro, relegando a segundo plano o cuidado consigo mesmo. Segundo Boff (2004,
74
p.139), “o “tu” está em anterioridade ao “eu”, e o fato de o “eu” existir no momento em
que o outro existe já foi estudada pela psicologia e pelos filósofos personalistas”.
E6
5
Eu acho que também é bom porque eu posso ensinar para os meus filhos e...eles ficarem
mais atentos
E6
6
Cê fica informado e vai passar para os outros para os outros, pros outros ficar
passando pros outros pra todos ficarem sabendo
E 6
9
É, para passar para os outros o que eu aprendi
E1
4
Sentido assim de eu...é....ta ciente assim todo mundo assim...a usar a camisinha,
conscientiza assim...todo mundo
E1
5
É, conscientizar todo mundo, sobre isso
E2
2
vão supor... eu engravido seu filho vai ter aids, vai ter um monte de doença e não
vai querer para o seu filho, porque você quer um filho saudável que não corra risco nenhum.
E2
8
alguém também vai ter aids se você não usar a camisinha
Esse descuido consigo mesmo, apreendido das narrativas acima citadas, pode também ser
entendido como um cuidado inautêntico conforme os ensinamentos heideggerianos, uma
forma de negligência.
Analisando de outra maneira, o cuidar do outro pode ser percebido como uma forma de
cuidar de si mesmo que no “a gente”, o outro pode não ser percebido como alguém
distinto do ser. No entanto, podemos ainda conceber essa indistinção entre outro e eu como
uma negação da possibilidade de se contaminar, como se o eu fosse a imagem do outro que
pode ser refletida (não se distingue), mas não pode ser tocada (pelas DST/aids) voltando,
circularmente, à questão da invulnerabilidade.
Podemos verificar, também, que uma preocupação dos sujeitos dessa pesquisa com o vir-
a-ser. Com aqueles que não podem reclamar seus direitos e tomam assim, de forma muito
ética, o papel de defensores desses “vir-a-seres”.
E 2
2
vão supor... eu engravido aí seu filho vai ter aids, vai ter um monte de doença e não
vai querer para o seu filho, porque você quer um filho saudável que não corra risco nenhum.
75
E6
7
Ah... você transar sem camisinha, você... é....pode pegar...doença ...engravidar...muitas
adolescentes não querem gravidez e deixam seu filho jogado
E6
5
Eu acho que também é bom porque eu posso ensinar para os meus filhos e...eles ficarem
mais atentos
Heidegger (1981) nos diz que o cuidar do outro tem o sentido de libertá-lo para si mesmo.
Quando as pessoas fazem, se propõem a fazer algo em comum, como cuidar e permitir ser
cuidado, elas se tornam ligadas de forma autêntica. Nos dois movimentos que orientam o
desvelo: de vista para trás, que é a consideração, e vista para frente, que é a paciência, o
outro se revela ao cuidador e se mostra livre para si mesmo, para fazer o que deve ser feito.
E 3
5
o cuidado porque hoje em dia tem pessoas que não são muito bem informadas e
acontecem delas pegarem DST/aids ou outras doenças sexualmente transmissíveis e fica
deprimente, tenta se matar
E 3
7
Agora, você tem a livre e espontânea...como é que fala...livre... para falar, perguntar
como é que é como previne
Prosseguindo nessa linha de raciocínio, no sentido do cuidar autêntico, a intencionalidade, do
cuidador, é tornar o outro livre para si mesmo, uma forma sublime de amor ao próximo que
também se traduz em solidariedade, no sentido de se condoer do sofrimento alheio e se
propor a amenizá-lo, como se percebe nas falas dos adolescentes, Busca-se evitar todo e
qualquer sofrimento, prevendo e prevenindo-se da possível contaminação pelas doenças
transmissíveis.
76
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
77
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando que a análise dos fenômenos sob a ótica da fenomenologia é perspectival,
podendo estes, então, sofrer outras interrogações de forma que não se esgotam, não tenho
aqui a intenção de concluir. O ser humano é um ser inacabado; está sempre se refazendo, re
construindo e se transformando bem como transformando o mundo ao redor, pois é um ser
de possibilidades. Nessa perspectiva, ele pode mudar a sua história de vida e projetar novos
rumos para o seu devir.
Com a intencionalidade aguçada para instigar os adolescentes, pais, educadores e
profissionais de saúde a uma reflexão profunda e sugerir/encontrar juntos algumas
estratégias e ações que possam cooperar na formação dos adolescentes, principalmente no
que tange à educação para a saúde e sexualidade, fui ao encontro deles para inquiri-los
acerca do significado que dão às informações recebidas sobre as DST/aids, no seu processo
de formação. Através da escuta atenta e da análise exaustiva de suas falas, percebi que os
sujeitos desta pesquisa se revelam sensibilizados para a prevenção das doenças em estudo,
que as informações que eles têm fazem parte de seus conhecimentos, que se mostram
cidadãos e arquétipos de suas histórias de vida.
Fala-se que o adolescente ainda não consegue praticar o seu próprio discurso, entretanto,
neste estudo, ele demonstra, em seus depoimentos, que está construindo este caminho ao
refletir sobre os próprios atos, numa busca de se orientar para a realidade do mundo.
Na tentativa de autoconhecimento, na busca da compreensão do mundo e de si mesmo, no
processo de desenvolvimento de sua personalidade integrada à transformação da sociedade,
conforme nos diz Gonçalves (1994), percebo que o ser adolescendo se faz cidadão ético,
responsável, ainda que muitas vezes seja difícil para ele assumir os cuidados consigo mesmo
e, na prática, ser coerente com suas falas. Pondero se esta inabilidade não seria devida, até
mesmo, a uma imaturidade biológica uma vez que, segundo Tiba (2005) a região posterior
do lobo frontal, responsável pelas emoções e planejamento a longo prazo irá completar
seu desenvolvimento por volta dos 20 aos 25 anos de idade.
78
Desvestida de todo e de qualquer preconceito, pude perceber, com grande alegria, que esses
adolescentes são mais responsáveis e éticos do que imaginamos. Eles mantêm suas
preocupações com o seu mundo adolescente, o que muitas vezes, numa atitude de
desrespeito com o seu momento, costumamos julgar como supérfluo, mas também, se
mostram ligados”, inquietos com o futuro da humanidade e querem, com toda sua energia e
vivacidade, contribuir para que ele seja melhor do que o encontraram.
Pondero se a maturidade, responsabilidade e ética reveladas não são uma conseqüência do
trabalho educacional feito com os mesmos através do programa do PEAS, por uma equipe
previamente preparada e disposta para esta empreitada. Se a resposta para esta interrogação
for positiva, isto traz uma esperança a mais já que demonstra que um investimento na
educação dos sujeitos pode surtir tão bons resultados.
A partir dessa dedução, é imprescindível que os profissionais da educação, que não estão
incluídos em programas vinculados à formação do aluno para a vivência de uma sexualidade
saudável, tentem se libertar do cumprimento conteudista das grades curriculares, e abram
espaços, nas escolas, para a discussão sobre temas que colaborem não apenas para o
currículo pré-definido, mas também e principalmente, que os auxilie no preparo para a vida
adulta, para a busca da felicidade e para escolhas conscientes.
Aqui faço um questionamento e em seguida o respondo: se o objetivo da educação é o
preparo dos sujeitos para a vida real, para o futuro, tendo em vista a felicidade e o bem estar
das pessoas e considerando a história, o contexto em que se vive, de que adianta ensinar
conteúdos se os sujeitos não estiverem preparados para o enfrentamento das questões
cotidianas mais simples, se eles tiverem que abandonar os sonhos mais corriqueiros e
naturais, se eles forem estigmatizados por uma doença fatal? Em nada resolve. Melhor seria
se usassem as salas de aula, os pátios e o tempo tentando preparar esses adolescentes para a
vida como ela é,dando-lhes subsídios para exercer sua liberdade e autonomia em prol de uma
vida mais justa e digna.
No cotidiano dentro da escola, sendo-com os educadores,pude notar que a grande maioria
está preocupada com os rumos que está tomando a educação. Eles desejam realizar um
trabalho digno, brilhante, querem sim dar sua contribuição à sociedade, se interessam pelos
alunos e sua formação, isso coaduna com as teorias de vários autores citados no início deste
79
trabalho como: Saviane (2005), Gadotti (2003) e Freire (2005) Gonçalves (1994), Adorno
(2003) e Becker (2003) que apontam para a necessidade de uma educação para a
transformação da sociedade através da integração, criticidade, dialogicidade, voltada para a
totalidade do ser, emancipadora das subjetividades e que não conduz a um conformismo
uniformizador considerando as individualidades.
Um destaque a ser pontuado é relativo ao pensamento de alguns pais que têm transferido e
cobrado da escola a responsabilidade total com a educação de seus filhos. Preparar para a
vida, para o vir-a-ser é uma tarefa imensa que precisa ser entendida como co-
responsabilidade, para tanto, sugiro formar uma rede de cuidadores/formadores: famílias,
educadores, profissionais de saúde, pois esse trabalho deve ser compartilhado, porém, não
transferido e jamais relegado.
Como nos dizeres de Freire (2005) a educação política, é artística e moral, envolve
frustrações, medos, desejos. Desta feita, penso que a mais árdua tarefa dos educadores seja
não esmorecer em seu desejo de formador de cidadãos livres, conscientes, responsáveis e
comprometidos, mas de acreditar no sucesso de seu trabalho ainda que muitas vezes ele
pareça utópico.
Em alguns momentos, dessa minha trajetória, temi pelos adolescentes, tendo percebido que
alguns deles revelaram confusões de conceitos, assim como a manutenção de mitos e de
preconceitos profundamente arraigados na sociedade.
A repressão sexual feminina ainda é presente, nas entrelinhas, o que coloca as meninas em
situação de maior risco uma vez que reduz as possibilidades de diálogo com os adultos que
circundam o seu mundo vida. Em contrapartida, vislumbro que num futuro próximo, não
haverá mais espaço para o machismo, pois o modo de ser cuidado (feminino) tende a ganhar
espaço no modo de ser trabalho (masculino), então, é melhor que estejamos preparados para
esse momento, que ensinemos aos jovens que homens e mulheres são diferentes, mas ambos
são merecedores de respeito e consideração e se completam.
Penso que, neste ponto, os adolescentes se tornam mais vulneráveis à contaminação porque
demonstram uma inaptidão em orientar suas ações. Angustio-me em refletir que eles correm
o risco de imaginar que ao usar outros métodos contraceptivos, que não o condom, estarão
80
também se protegendo de doenças, o que não é verdadeiro. Questiono se eles não estão mais
preocupados com evitar a gravidez do que se prevenir de doenças, não que não seja
importante adiar a maternidade para um momento que se julgue mais propício, é justo fazê-
lo, mas isso não pode relegar a um plano inferior a preocupação com a saúde.
Penso que uma vida nova num momento impróprio, por mais dissabores que possa trazer,
ainda traz algumas alegrias, em contrapartida, as doenças trazem perdas, perda da
identidade e da auto-estima devido ao estigma, da integridade física e às vezes da mental, da
possibilidade de realizar alguns sonhos, além de tornar o futuro ainda mais incerto.
Entendo que devemos também considerar, por outro lado, que as próprias condições que
permeiam o mundo-vida adolescente como o processo biopsicossocial de maturação e as
emoções que campeiam esse momento, deixam-no mais receoso de uma gravidez não
planejada, que lhe parece próxima e possível, do que da contaminação pelas DST/aids as
quais, para eles que ainda não atingiram a maturidade e têm o pensamento mágico, pode ser
considerada como algo distante, pertencente ao mundo dos adultos. Desta forma, cabe a nós
educadores,conhecedores desse processo, buscar formas mais efetivas de se abordar um tema
muito relevante mas que pode não ser considerado pelos adolescentes como pertinente à sua
realidade, portanto, pode não afetá-lo e sabemos que o pensar e o agir estão diretamente
relacionados com a intencionalidade da consciência.
Notei, quase sempre que estive com os adolescentes, que aqueles que se mostravam mais
preparados para o enfrentamento da vida real com todos os seus percalços, eram os mesmos
que recebiam em casa mais atenção, aqueles que eram ouvidos pelos familiares, que tinham
um espaço para o diálogo, que eram cuidados de forma autêntica. Isso vai ao encontro dos
ideais de Becker (2003) , para quem a educação é um equipar-se para o mundo.
Assim, percebo que os pais precisam se orientar mais em relação às mudanças que ocorrem
com seus filhos nas diversas fases de seu caminhar humano. Eles precisam também tentar se
atualizar e acompanhar, pelo menos em parte, as mudanças do mundo globalizado para não
serem pegos de surpresa que lhes parece tão estarrecedora. Entender as mudanças
fisiológicas, psicológicas e sociais pelas quais passam os adolescentes pode minimizar o
sofrimento e a angústia dos pais que, comumente, as confundem com falta de respeito, de
educação, rebeldia sem causa, ingratidão, entre outros. Ouvir os adolescentes, já não é mais o
81
bastante, é preciso auscultá-los, estar atentos às mensagens não ditas, respeitar o espaço, a
individualidade e a privacidade, e entender a liberdade (responsável) e a vivência da
sexualidade (consciente) como um direito deles.
A intolerância, por parte de alguns adultos quanto ao despertar do sexo nos jovens, pode
fechar as portas à comunicação, o que aumenta a vulnerabilidade destes, uma vez eles
tendem a se aconselhar com outras pessoas, às vezes tão ou mais despreparadas quanto eles
mesmos.
Estou convencida de que nós, profissionais de saúde, precisamos refletir mais sobre nossas
ações cotidianas e ousar, sempre que necessário e para o bem de nossos clientes. É preciso,
ainda, não nos prendermos às normas, rotinas e padronizações que, não raro, tolhem nossa
criatividade além de nem sempre atender aos objetivos que se propõem justamente por serem
inflexíveis, e nos aproximar das reais necessidades da população que está sob nossos
cuidados. Ao meu ver, esta libertação deve ser pautada na ética com o bem estar do cliente
que é a finalidade para a qual nos tornamos profissionais, do contrário, nada justifica tantos
anos de estudo, todo o aprendizado de técnicas e ciências e humanização.
É no modo de ser com o outro cliente ou educando, que se cuida, forma, educa, respeita, ou
não. A vida que teremos no futuro é reflexo dos cuidados que hoje temos com as pessoas
recebedoras de nossos cuidados e da educação que estamos lhes proporcionando.
Diante do exposto acima, e tendo em vista ser a adolescência um momento privilegiado para
o aprendizado para a formação de um cidadão comprometido com a ética e com o futuro do
planeta, é fundamental que os governantes repensem suas prioridades em saúde e que
implantem ou implementem programas voltados para esta faixa etária na perspectiva de ter
no futuro trabalhadores saudáveis, cidadãos felizes.
Um trabalho sério de prevenção feito com esses adolescentes hoje poderá nos auxiliar
sobremaneira em nossa luta contra os desastrosos dados epidemiológicos atuais que
demonstram a incrível velocidade com que a epidemia de aids e as DST se alastram na
população brasileira. Além do que são seres humanos merecedores de cuidados autênticos. O
estímulo, o respeito e a valorização dos profissionais também é ponto chave para a
consecução deste objetivo.
82
6- REFERÊNCIAS:
83
6- REFERÊNCIAS:
ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. A adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas,
1998. 92 p.
ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 190 p.
ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER F. O método nas ciências naturais e
sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 2000. 203 p.
ANDRADE, M. B. T. O morrer no hospital: vivências de enfermeiros. 2002. 86 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo:
Moderna, 2003. 439 p.
ARIÈS, P.; CHARTIER, R. (Org.)
História da vida privada, 3: da Renascença ao Século
das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 636 p.
AYRES, J. R. C. M.; CALAZANS, G. J.; FRANÇA JUNIOR, I. Vulnerabilidade do
adolescente ao Hiv/Aids. In: VIEIRA, E.; FERNANDES, M. E. L.; BAILEY, P.; MCKAY,
A. (Org.). Seminário gravidez na adolescência. São Paulo: Associação Saúde da Família,
1999. p. 97-109
BALEEIRO, M. C. et al. Sexualidade do adolescente: fundamentos para uma ação
educativa. Salvador: Fundação Odebrecht; Belo Horizonte: Secretaria de Estado da
Educação: Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, 1999. 320 p.
BEAINI, T. C. À escuta do silêncio: um estudo sobre a linguagem no pensamento de
Heidegger. São Paulo: Cortez, 1981. 111 p.
BECKER, H. Educação para quê? In: ADORNO, T. W. Educação e emancipação. 3. ed.
São Paulo: Paz e Terra, 2003. p. 139-154.
BELDA JÚNIOR, W. Doenças sexualmente transmissíveis. São Paulo: Atheneu, 1999.
225 p.
BICUDO, M. V.; ESPÓSITO, V. H. C. Pesquisa qualitativa em educação. Piracicaba:
Unimep, 1994. 233 p.
BOFF, L. Saber cuidar: ética do humano- compaixão pela terra. 11. ed. Petrópolis: Vozes,
2004. 199 p.
BRAZ, E.; FERNANDES, L. M. Buscando maneiras para o ensino sobre a finitude para
graduandos de enfermagem. Texto Contexto Enferm., Florianópolis, v. 10, n. 3, p. 138-151,
set/dez. 2001.
84
CADETE, M. M. M. Da adolescência ao processo de adolescer. 1994. 140 f. Tese
(Doutorado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1994.
CAPALBO, C. Abordando a enfermagem a partir da fenomenologia. Rev. Enferm. UERJ,
Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 70-76, maio, 1994.
CAPALBO, C. A enfermagem a partir de Edmund Huseerl e sua repercussão na área de
saúde. Rev. Enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 6, n.2, p. 415-419, dez, 1998.
CHAGAS, R. F. L. Bioética e confidencialidade em aids. In: SIQUEIRA, J. E.; PROTA, L.;
ZANCANARO, L. (Org.) Bioética: estudos e reflexões 2. Londrina: UEL, 2001. p. 101-124.
CHAUÍ, M. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida. 12. ed. São Paulo: Brasiliense,
1998. 236 p.
DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? 7. ed. São Paulo: Centauro, 2000. 172 p.
DIÓGENES, M. A. R.; VARELA, Z. M. V. Autocuidado da adolescência na vivência da
sexualidade. Rev. Nursing, v. 61, n. 6, jun. 2003.
DOMINGOS, S. R. F. A consulta ginecológica sob a ótica de adolescentes: uma análise
compreensiva. 2003. 132 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
FIGUEIREDO, M. S. L. Quadros iniciais das características psicossociais de portadores de
HIV. In: TURATO, E. R. (Org.). Psicologia da saúde: estudos clínico-qualitativos. Taubaté:
Cabral Ed. Liv. Universitária, 2003. cap. 3, p. 41-72.
FOUCAULT, M. A vontade de saber. In: FOUCAULT, M. História da sexualidade. 16.
ed. Rio de Janeiro: Graal, 2005. v. 1.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2005.148 p. (Coleção leitura).
FREITAS, M. E. A. Merleau-Ponty: filósofo da existência, do corpo, fenomenólogo da
percepção. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem da UFMG, 2005. 12 f. Mimeografado.
GADOTTI, Moacir. Educação e poder: introdução à pedagogia do conflito. 13. ed. São
Paulo: Cortez, 2003. 143 p.
GAMBOA, S. S. Quantidade-qualidade: para além de um dualismo técnico e de uma
dicotomia epistemológica. In: ______. Pesquisa educacional: quantidade-qualidade. o
Paulo: Cortez, 1997. cap. 3, p. 84-110.
GOLDENSON, R. M.; ANDERSON, K. N. Dicionário do sexo. São Paulo: Ática, 1989.
286 p.
GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir: corporeidade na educação. 3. ed. Campinas:
Papirus, 1994. 196 p.
85
GUIMARÃES, R.; FERRAZ, A. F. A interface aids, estigma e identidade: algumas
considerações. Rev. Min. Enferm., Belo Horizonte, v. 5, n. 1/2, p. 93-100, jan./dez. 2001.
GUIMARÃES, R.; FERRAZ, A. F. A interface aids, estigma e identidade: algumas
considerações. Rev. Min. Enferm., Belo Horizonte, v. 6, n. 1/2, p. 77-85, jan./dez. 2002.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. pt. 1.
HEIDEGGER, M. Todos nós... ninguém: um enfoque fenomenológico do social. São Paulo:
Moraes, 1981. 72 p.
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. 8. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 29
p.
LOYOLA, C.; CAVALCANTI, M. Ampliando o conceito de sexualidade. In:
CAVALCANTI, R. C. (Coord.). Saúde sexual reprodutiva: ensinando a ensinar. Brasília:
CESEX, 1990. p. 319-326.
M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 11ªed. São Paulo: Cortez, 2004. 382p.
MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 11ªed. São Paulo: Cortez, 2004. 382p.
MANACORDA, M. A. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 11. ed. São
Paulo: Cortez, 2004. 382 p.
MARTINS, J.; BICUDO, M. A. V. A pesquisa qualitativa em psicologia: fundamentos e
recursos básicos. São Paulo: Centauro, 2004.
MARTINS, J; BOEMER, M. R.; FERRAZ, C. A. A fenomenologia como alternativa
metodológica para pesquisa: algumas considerações. Rev. Esc. Enferm. USP. São Paulo, v.
24, n. 1, p. 139-147, abr.1990.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1999. 662 p.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 6. ed. São
Paulo: Hucitec, 2004. 269 p.
NUNES, M. J. A percepção do adolescente sobre a sua sexualidade frente às doenças
sexualmente transmissíveis/ aids. 2000. 146 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)
Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Child end adolescent helth and development.
2004. Disponível em: www.who.Int/child-adolescent-helath/OVERVEW/AHD/adl-aver.htm.
Acesso em: 13 nov. 2005.
OSÓRIO, L. C. Adolescente hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.103 p.
PAIVA, V. et al. Sem direito de amar? A vontade de ter filhos entre homens (e mulheres)
vivendo com HIV. Psicol. USP, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 105-133, 2002. Disponível em:
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=SO103- Acesso em: 19/07/05.
86
PAULA, A. F. Do outro lado do espéculo: o exame colpocitológico sob a ótica da mulher
que o vivencia. 2001. 134 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
POTTER, P. A.; PERRY, A. G. Grande tratado de enfermagem prática: clínica e prática
hospitalar. 3. ed. Salvador: Tempo, 1998. 99 p.
SAITO, M. I. Necessidades básicas de saúde. In: SÃO PAULO (SP). Secretaria de Estado da
Saúde. Comissão de Saúde do Adolescente. Adolescência e saúde. 3. ed. São Paulo:
Secretaria de Estado da Saúde, 2001. p. 77-86.
SALVADOR, M. Conviver com o filho portador de insuficiência renal crônica: um
estudo compreensivo fenomenológico. 2001. 99 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) –
Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
SANTANA, L. F. O cuidar de recém-nascidos graves: a percepção da equipe neonatal
(UTIN). 2003. 127 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
SANTOS, R. M. Vulnerabilidade das mulheres frente ao HIV/Aids. In: SIQUEIRA, J. E.;
PROTA, L.; ZANCANARO, L. (Org.) Bioética: estudos e reflexões 2. Londrina: UEL,
2001. p. 125-139.
SAVIANI, D. Escola e democracia. 37. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. 91 p.
SILVA, M. A.; SILVA, R. M.; COSTA, R. A.; PEREIRA, E. R. A educação romana:
influências na educação em enfermagem. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENFERMAGEM, 57., 2005, Goiânia. Anais. Goiânia: Associação Brasileira de
Enfermagem, 2005. CD-ROOM
SILVA, M. A.; SILVA, R. M.; COSTA, R. A.; PEREIRA, E. R. A influência de Rosseau na
educação: implicações na enfermagem. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENFERMAGEM, 57., 2005, Goiânia. Anais. Goiânia: Associação Brasileira de
Enfermagem, 2005. . CD-ROOM
SILVA, R. M.; COSTA, R. A.; SILVA, M. A.; PEREIRA, E. R. Concepção de homem e o
ideário pedagógico contemporâneo na saúde. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
ENFERMAGEM, 57., 2005, Goiânia. Anais. Goiânia: Associação Brasileira de
Enfermagem, 2005. . CD-ROOM
SILVA, R. M.; COSTA, R. A.; SILVA, M. A.; PEREIRA, E. R. A educação grega e as suas
influências na educação ocidental. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM,
57., 2005, Goiânia. Anais. Goiânia: Associação Brasileira de Enfermagem, 2005. . CD-
ROOM
SOUZA, V. A pessoa que pega a aids e não a aids que pega a pessoa: representações de
adolescentes sobre aids e as campanhas educativas para sua prevenção, 2001. 200 f.
(Mestrado em Enfermagem) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2001.
87
TIBA, I. Adolescentes: quem ama educa! 12. ed. São Paulo: Integrare, 2005. 301 p.
VASSE, D. O peso do real: o sofrimento. Rio de Janeiro: Revinter, 1999. 167 p.
WALDOW, V. R. Cuidado humano: o resgate necessário. 3. ed. Porto Alegre: Sagra
Luzzato, 2001. 202 p.
WEIL, P; TAMPAKOV, R. O corpo fala. São Paulo: Vozes, 1993. 288 p.
88
7- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
89
7- BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ABROMOVAY, M.; CASTRO, M.G.; SILVA, L. B. (Org.). Juventude e sexualidade.
Brasília: UNESCO, 2004. 428 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM. Adolescer: compreender, atuar e
acolher. Brasília: ABEN, 2001. 282 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Formação pedagógica em educação profissional na área
da saúde: enfermagem. 2. ed. Brasília, 2003. 4 v.
BRITO, F. L. O vivido da pessoa internada no centro de terapia intensiva. 2003. 152 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
CAMPOS, E. P. Quem cuida do cuidador: uma proposta para os profissionais de saúde. 2.
ed. Petrópolis: Vozes, 2005. 148 p.
CORRÊA, A. K. Fenomenologia: uma alternativa para pesquisa em enfermagem. Rev. Lat.
Am. Enferm., Ribeirão Preto, v. 5, n. 1, p.83-88, jan. 1997.
FREIRE, P. Educação e mudança. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2003. 79 p.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2005. 213 p.
GALASTRO, E. P. Concepção de planejamento familiar na visão dos homens e dos
profissionais que o vivenciam. 1999. 181 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)
Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1999.
GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas,
2000. 257 p.
GROSSI, E.; BORDIN, J. (Org). Paixão de aprender. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2001. 264
p.
GUEDES, C. C. Gravidez na adolescência: uma análise compreensiva. 1996. 174 f.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 1996.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. pt. 2.
HEILBORN, M. L. (Org.). Sexualidade: o olhar das ciências sociais. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1999. 206 p.
HUSSERL, E. Apresentação. In: ______. Investigações lógicas: elementos de uma
elucidação fenomenológica do conhecimento. São Paulo: Nova Cultural, 2000. 224p.
JAMERSON, F. A cultura do dinheiro: ensaios sobre a globalização. 2. ed. Petrópolis:
Vozes, 2001. 207 p.
90
LEVISKY, D. L. Adolescência: reflexões psicanalíticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
254 p.
MELLO, R. A. P. quem cuida é que sabe: o vivido pelo cuidador domiciliar da pessoa
com doença crônica. 2002. 92 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002.
OLIVEIRA, V. C. Anotações do enfermeiro no acompanhamento do crescimento e
desenvolvimento infantil: um estudo compreensivo. 2003. 141 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2003.
OLIVEIRA, Z. M. L. P. Vivenciando o parto humanizado: um estudo compreensivo
fenomenológico sob a ótica de adolescentes. 2001. 148 f. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2001.
OUTEIRAL, J.O. Adolescer: reflexões psicanalíticas sobre adolescência. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2002. 95 p.
PROST, A.; VINCENT, G. (Org.).
História da vida privada, 5: da Primeira Guerra aos
nossos dias. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 633 p.
RAMOS, F. R. S.; MONTICELLI, M.; NITSCHKE, R. G. (Org.). Projeto acolher: um
encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro Brasília: ABEN, 2000. 196 p.
(Caderno especial).
RIBEIRO, C. O significado de ser mãe de um filho cardiopata: um estudo
fenomenológico. 2004.145 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
RIBEIRO, L. B. Vivenciar a sexualidade: uma muralha a ser transposta pelas mulheres
soropositivas para o HIV. 2004. 157 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Escola de
Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
RODRIGUES, A. T. Sociedade, educação e vida moral. In: ______. Sociologia da
educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. cap. 2, p. 19-34.
SÁ, A. C. O cuidado do emocional em saúde. 2. ed. São Paulo: Robe, 2003. 142 p.
SILVA, M. J. P. O amor é o caminho: maneiras de cuidar. São Paulo: Loyola, 2002. 155 p.
SIQUEIRA, J. E.; PROTA, L.; ZANCANARO, L. (Org.) Bioética: estudos e reflexões 2.
Londrina: UEL, 2001. 354 p.
TIBA, I. Adolescência, o despertar do sexo: um guia para entender o desenvolvimento
sexual e afetivo nas novas gerações. São Paulo: Gente, 1994. 138 p.
TIBA, I. Ensinar aprendendo: como superar os desafios do relacionamento professor-aluno
em tempos de globalização. 14. ed. São Paulo:
Gente, 2002.
91
TIBA, I. Puberdade e adolescência: desenvolvimento biopsicossocial. 6. ed. São Paulo:
Ágora, 1986. 240 p.
TIBA, I. Sexo e adolescência. 10. ed. São Paulo: Ática, 1997. 96 p. (Princípios, 42)
TRIVINOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em
educação. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1987. 166 p.
VIORST, J. Perdas necessárias. 24. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2004. 335 p.
92
ANEXOS
93
ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
(
ADOLESCENTES)
Autorizo a enfermeira Elen Soraia de Menezes, a gravar entrevista comigo
para a pesquisa “DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA: O
OLHAR DO ADOLESCENTE SOBRE A PREVENÇÃO DAS DST/AIDS.”
Fui informado de que o objetivo desta pesquisa é compreender o significado
que os adolescentes atribuem às informações recebidas sobre DST\aids no seu processo de
formação, Declaro estar ciente de que minhas falas gravadas serão também transcritas e
analisadas e seus resultados serão utilizados somente para esta investigação e serão
divulgados em trabalhos de cunho técnico científico. Recebi a garantia de que meu nome não
será revelado e poderei pedir para sair desta pesquisa em qualquer momento sem nenhum
prejuízo para a minha participação nos grupos de educação sexual da escola.
Tendo recebido o endereço da pesquisadora, poderei, assim, a qualquer
momento, solicitar a mesma que não utilize minhas falas em sua pesquisa
_______________________________
Assinatura
Elen Soraia de Menezes- Mestranda
Contato com a pesquisadora:
Rua Itambé, n.295 apto 102, Bairro Ipiranga, Divinópolis MG
Telefones: 3214 6660 9951 4010
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG: (31) 34994592
94
ANEXO II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Senhores pais,
Venho solicitar-lhes a autorização para entrevistar seu filho para a pesquisa
cujo nome é: “DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA: O
OLHAR DO ADOLESCENTE SOBRE A PREVENÇÃO DAS DST/AIDS”.
Sou uma enfermeira capacitada pelo programa PEAS e desenvolvo com os
alunos desta Escola Municipal Dona Diva de Oliveira, algumas atividades que são
programadas junto aos professores, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde,
Secretaria Estadual de Educação e Superintendência de Ensino de Divinópolis e Fundação
ODEBRECHT.
A escolha desta escola se deu pelo fato da minha pesquisa escolher para
entrevistar adolescentes estudantes de Escolas PEAS como esta na qual seu filho estuda.
O objetivo desta pesquisa é compreender o significado que os adolescentes
atribuem às informações recebidas sobre DST\aids no seu processo de formação
De acordo com a Resolução 196\96 do Conselho Nacional de Ética em
Pesquisas, garanto-lhe que será mantido em sigilo (não será revelado) o nome de seu filho(a)
e as informações colhidas serão para uso somente desta pesquisa e a divulgação dos
resultados em trabalhos científicos.
Caso os senhores concordem que seus filhos participem desta pesquisa, favor
assinar este termo de consentimento:
Autorizo que os dados informados pelo (a) meu/ minha
filho(a)__________________________________________________________________, à
enfermeira Elen Soraia de Menezes para o trabalho intitulado “DA INFORMAÇÃO À
FORMAÇÃO PARA A AUTONOMIA: O OLHAR DO ADOLESCENTE SOBRE A
PREVENÇÃO DAS DST/AIDS sejam gravados, analisados e transcritos, e que os
resultados poderão ser divulgados em trabalhos científicos.
Fui informado que a identificação do sujeito da pesquisa, meu filho(a), será
mantida em absoluto sigilo para preservar sua privacidade e que, tendo o endereço e telefone
da pesquisadora, poderei a qualquer momento solicitar que dados não entrem na pesquisa,
desejo que será acatado de imediato pela pesquisadora.
95
________________________________________
Assinatura
Elen Soraia de Menezes- Mestranda
Rua Itambé, n.295 apto 102, Bairro Ipiranga, Divinópolis MG
Telefones: 3214 6660 9951 4010
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG: (31) 34994592
96
ANEXO III
Carta à Escola Estadual Dona Diva de Oliveira
Divinópolis, 01 de novembro de 2005
Ilma Sra Diretora:
Solicito sua autorização para utilizar o espaço da escola assim como o contato
com seus alunos para a realização da pesquisa: DA INFORMAÇÃO À FORMAÇÃO
PARA A AUTONOMIA: O OLHAR DO ADOLESCENTE SOBRE A PREVENÇÃO
DAS DST/AIDS”, que estou desenvolvendo como mestranda da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal de Minas Gerais, sob a orientação da professora doutora Matilde Meire
Miranda Cadete.
Venho informar-lhe que sou uma profissional capacitada pelo programa
PEAS da Fundação ODEBRECHT, e que a escolha desta escola se deu pelo fato dela
integrar o grupo de Escolas PEAS como esta da qual a senhora é diretora e, informo também,
que porque desenvolvo com o corpo discente desta escola algumas atividades que são
programadas junto ao seu corpo docente em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde,
Secretaria Estadual de Educação e Superintendência de Ensino de Divinópolis e Fundação
ODEBRECHT.
O objetivo desta pesquisa é compreender o significado que os adolescentes
atribuem às informações recebidas sobre DST/aids no seu processo de formação
Para a realização desta pesquisa optamos por, após um contato prévio com os
sujeitos e minha inserção no campo de pesquisa que é esta escola, fazer um estudo
qualitativo. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados serão entrevistas não
estruturadas, gravadas e posteriormente transcritas, analisadas e categorizadas. Para
preservar a identidade dos sujeitos seus nomes serão omitidos.
De acordo com a resolução 196\96 Do Conselho Nacional de Ética em
Pesquisas- CONEP- que normaliza as pesquisas envolvendo seres humanos, será solicitado
aos sujeitos, assim como seus responsáveis legais, seu consentimento para utilizar suas falas,
através da assinatura de um termo de consentimento livre e esclarecido, onde constarão os
termos para esta investigação, como a assunção de minha parte de preservação do sigilo
97
quanto ao nome dos participantes, bem como o restrito uso das informações para a pesquisa
e divulgação dos resultados em trabalhos de cunho científico.
Coloco-me à disposição da senhora para quaisquer esclarecimentos.
Antecipo os agradecimentos, certa de poder contar com sua colaboração.
Atenciosamente,
_____________________________
Elen Soraia de Menezes- Mestranda
Matilde Meire Miranda Cadete.- Orientadora
Contato com a pesquisadora:
Rua Itambé, n.295 apto 102, Bairro Ipiranga, Divinópolis MG
Telefones: 3214 6660 9951 4010
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo