Download PDF
ads:
ANA CLAUDIA PEDROSA DIAS
A PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR SOBRE
PROMOÇÃO DA SAÚDE REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA SAÚDE SUPLEMENTAR
BELO HORIZONTE
ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFMG
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ANA CLAUDIA PEDROSA DIAS
A PERCEPÇÃO DO TRABALHADOR SOBRE
PROMOÇÃO DA SAÚDE REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA SAÚDE SUPLEMENTAR
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Escola
de Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais, para a obtenção do título de
Mestre em Enfermagem.
Orientadora: Dra. Marília Alves
BELO HORIZONTE
ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFMG
2007
ads:
Dias, Ana Cláudia Pedrosa
D541p A percepção do trabalhador sobre promoção da saúde realizada
pelo enfermeiro na saúde suplementar/Ana Cláudia Pedrosa Dias.
Belo Horizonte, 2007.
77f.
Dissertação.(mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais.
Escola de Enfermagem.
Área de concentração: Saúde e Enfermagem
Orientadora: Marília Alves
1.Promoção da saúde/tendências 2. Planos de assistência de saúde aos
trabalhadores 3.Enfermeiras 4.Prática profissional 5.Prevenção de
doenças 6.Atenção primária à saúde/tendências I.Título
NLM: WY 101
CDU: 616-083
Ao meu filho Marcelo que, na sua inocência de criança, quantas vezes solicitou por
atenção que lhe foi privada por esta longa caminhada. Obrigada, por sua presença
sempre tão afetuosa!
AGRADECIMENTOS
A Deus, por sua divina intercessão...
A minha mãe, Dona LOURDES, quanta atenção, quanta paciência, quantas palavras
de carinho e esperança.
Ao meu pai, Sr. NATALINO, suas palavras de força e sabedoria me deram a
determinação de que tanto precisei.
Às minhas irmãs, ADRIANA, ANDRÉA e JULIANA, pela amizade e apoio
incondicionais.
À Doutora MARÍLIA ALVES, pela orientação, estímulo e carinho. Que pessoa
maravilhosa!
À diretoria da Goodlife Saúde, em especial ao Sr. UBIRAJARA, pelo apoio e
confiança, sem os quais não seria possível a realização deste projeto.
A todos os meus amigos e familiares que, em algum momento, estiveram presentes
me apoiando e estimulando.
RESUMO
O conhecimento do trabalho do enfermeiro em ações de promoção na saúde
suplementar, segmento tradicionalmente voltado para ações centradas no modelo
médico centrado, é relevante para a profissão, dada a ampliação da sua atuação em
programas de prevenção e promoção da saúde, além de ser um importante campo
profissional que se abre. Este estudo teve como objetivos identificar a percepção dos
trabalhadores associados a um plano de saúde suplementar sobre o atendimento
realizado por enfermeiras no próprio local de trabalho, bem como a dos trabalhadores
sobre ações voltadas para a promoção da saúde e a prevenção de doenças. Optou-se por
realizar um estudo de caso de natureza qualitativa em duas empresas, clientes de uma
operadora de saúde suplementar, nas quais foi implantado um programa de promoção da
saúde, pela operadora, conduzido por enfermeiras. A coleta de dados foi realizada por
meio de entrevistas com dez trabalhadores inseridos no programa e os resultados foram
submetidos à análise de conteúdo. Os resultados mostram que aceitação do
enfermeiro na realização de ações de promoção da saúde, pelos trabalhadores, embora
com alguma desconfiança, por não estarem sendo atendidos por médicos. As ações são
percebidas inicialmente como cobrança e fiscalização do cumprimento das orientações
recebidas, tendo em vista que, antes, não as seguiam. Este estudo mostra, também, que o
trabalhador reconhece o trabalho do enfermeiro, às vezes como auxiliar do médico e
outras como um profissional em quem pode confiar. No entanto, conhece pouco a
capacidade do enfermeiro para atuar de forma autônoma em programas dessa natureza,
vinculando seu trabalho ao cumprimento de orientações médicas. Quanto às ações de
promoção da saúde e prevenção de doenças, mostram-se sensibilizados com os cuidados
disponibilizados a si próprios, como empregados da empresa, e às suas famílias,
esforçando-se por seguir as orientações e mostrar resultados positivos aos enfermeiros.
Percebe melhoria, no que diz respeito ao acesso ao serviço e sente-se cuidado.
Estabelece comparação com outros planos de saúde que teve e reconhece essa
experiência como inovadora, a qual se traduz em benefícios para ele mesmo. Por outro
lado, essa estratégia da operadora poderá auxiliar na melhoria da qualidade de vida dos
usuários e possibilitar o alcance de seus objetivos de reduzir os custos assistenciais,
decorrentes de intervenções onerosas, em casos de adoecimento
.
ABSTRACT
Understanding a nurse’s role in promoting health for health insurance, a
segment traditionally related to healing based on a medical model, is relevant for the
profession particularly considering the extended role of a nurse in prevention programs
and health promotion programs. In addition, it serves as an important field open to
nurses. This study is concerned with identifying the perception of employees, linked to
a health insurance plan, regarding nurses’ services at a specific job location. Second,
this study is concerned with understanding the perception of these employees with
regard to the promotion of health and the prevention of diseases. Qualitative case
studies were conducted in 02 (two) companies that were clients of a health insurance
company. A health promotion program was implemented by the insurance company and
conducted by the nurses. The data collected included interviews with 10 workers
involved in the program. The results were submitted to content analysis. The results
show that the workers accept the nurse in actions related to health promotion, although
there is some suspicion as to why they are not being treated by doctors. The actions are
initially perceived as being the supervision of orders received, keeping in mind that not
all were followed. This study also shows that employees know little about a nurse’s
capacity to act autonomously in programs of such nature, therefore associating a nurse’s
function with following doctor’s orders. With regard to actions related to health
promotion programs and disease prevention programs, employees show they are
sensitive to the care given to them, as employees of the company, and to their families.
Hence they make an effort to follow the orientations given to them and to show positive
results to the nurses. The employees perceive an improvement with regard to the access
to service and they feel taken care of. In addition, they compare this experience with
other health plans they have had and recognize this experience as being innovative,
which can be seen as benefits for the employee. On the other hand, this strategy taken
by the company can help improve the quality of life of the users and help reach the
objectives of reducing costs related to assistance, resulting from costly interventions in
cases of sickness.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 1
2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 8
3 PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS E SUA RELAÇÃO
COM A SAÚDE SUPLEMENTAR................................................................................. 9
4 CAMINHO METODOLOGICO................................................................................. 25
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 29
5.1 CATEGORIA 1: O papel do enfermeiro na promoção da saúde ............................. 30
5.2 CATEGORIA 2: Percepção dos trabalhadores sobre ações de promoção da saúde no
ambiente de trabalho....................................................................................................... 41
5.2.1 SUBCATEGORIA: Ações de promoção da saúde como controle das doenças ... 41
5.2.2 SUBCATEGORIA: percepção dos trabalhadores diante dos cuidados de si
próprios e da família....................................................................................................... 46
5.2.3 CATEGORIA 3: Abordagem inovadora de atenção à saúde ................................ 54
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 60
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 63
ANEXOS........................................................................................................................ 67
1
1- INTRODUÇÃO
cerca de oito anos, um plano de saúde identificou, por meio de
resultados favoráveis, tanto financeiros quanto de melhora de vida, que a promoção da
saúde e a prevenção de doenças seriam o diferencial que possibilitaria o aumento da
qualidade dos serviços prestados. O objetivo do plano era o de fidelizar seus usuários a
médicos parceiros credenciados, baixando custos assistenciais com a monitorização
contínua destes usuários.
Ao longo dos últimos oito anos, essa visão foi se ampliando e várias formas
de promover saúde foram utilizadas, sempre com o foco nos titulares do plano. Estes, na
grande maioria, eram trabalhadores formais, visto tratar-se de um plano de saúde com
contratos corporativos, ou seja, empresariais. Em meados do ano de 2005, várias
análises sinalizaram para a necessidade de estender as ações de promoção da saúde para
os dependentes dos trabalhadores, ou seja, seus familiares, ampliando a cobertura para
toda a família e, conseqüentemente, proporcionando mais tranqüilidade para o
trabalhador.
A empresa operadora do plano de saúde assumiu a posição de que o
profissional mais adequado para realizar ações de promoção da saúde e prevenção de
doenças seria o enfermeiro. Assim, reformulou o programa de promoção da saúde, antes
realizado por médicos, colocando-o sob a coordenação de uma enfermeira, e com os
atendimentos aos trabalhadores também realizados por enfermeiras, na empresa que
trabalham. Em sua jornada de trabalho, fazem avaliação de grau de riscos, orientações e
monitorização contínua dos usuários participantes do programa, por meio da consulta de
enfermagem, além de visitas domiciliares para os familiares. Porém, as ações de
2
promoção da saúde, pouco valorizadas nos serviços de saúde suplementar geralmente,
centrados na cura de doenças, além de realizadas por enfermeira, geraram reações
diversas, assim como diferentes níveis de aceitação por parte dos trabalhadores,
tradicionalmente acostumados ao modelo médico, centrado, curativo e medicamentoso,
chamado modelo biomédico.
O modelo biomédico de atenção à saúde gera custos financeiros altos para o
usuário que, em última instância, paga a conta. Além disso, esse modelo separa o
indivíduo doente de suas pessoas mais estimadas, inicia o tratamento somente após a
instalação dos quadros agudos da doença, ou seja, após o adoecimento do indivíduo,
trazendo sofrimentos desnecessários, quando grande parte das doenças que acometem a
população pode ser evitada com programas de promoção da saúde e prevenção de
doenças. Ações de promoção evitam o sofrimento decorrente das doenças, reduzem
custos e proporcionam melhoria da qualidade de vida da clientela.
Considerando-se as vantagens das ações de promoção e prevenção, algumas
empresas suplementares de saúde, com o objetivo de diminuir gastos com complicações
ou diminuição do uso de seus serviços, buscando melhorar a qualidade, reduzir os
custos do atendimento aos pacientes, além de auxiliar sistemas de atendimento médico a
alcançar níveis satisfatórios de resultados, segundo Cardoso (2005), investem em ações
de promoção de saúde incentivados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS).
A ANS, órgão do Ministério da Saúde que regulamenta as operadoras de
saúde suplementar, como planos de saúde e seguradoras, tem por finalidade
institucional promover a defesa do interesse público na assistência suplementar à saúde,
regular as operadoras setoriais - inclusive quanto às suas relações com prestadores e
3
consumidores - e contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde no país. A ANS
foi criada pela lei 9.961/2000 (BRASIL, 2005a), que estabelece a sua estrutura
organizacional, a competência dos seus órgãos, as atribuições dos dirigentes e as demais
diretrizes para a sua atuação. Por meio da Resolução Normativa 94, de março de 2005, a
ANS passou a incentivar a adoção de programas de promoção da saúde e prevenção de
doenças, como meio de melhorar a qualidade de vida dos usuários dos planos de saúde,
bem como reduzir a utilização dos serviços de consultas, internações e cirurgias,
reduzindo, conseqüentemente, os custos com essas ações de saúde (BRASIL, 2005c).
Nesse sentido tem sido possível observar que programas de promoção da
saúde na saúde suplementar têm sido especialmente dirigidos a trabalhadores de
empresas cliente, são considerados altamente eficientes do ponto de vista do mercado e
constituem um dos elementos estratégicos centrais no sentido de equilibrar a crescente
espiral de gastos com assistência médico-hospitalar nas empresas (CZERESNIA,
2003b).
A promoção da saúde em saúde suplementar é comumente usada em países
da América do Norte que, comprovadamente, são eficazes na promoção da saúde e
prevenção de doenças dos trabalhadores, gerando, conseqüentemente, uma redução
significativa dos custos para as operadoras e as empresas contratantes. O caso do
Canadá, país que possui vasta experiência nesse campo de atuação, é comumente citado
como experiência mundial bem sucedida.
Algumas operadoras de saúde suplementar no Brasil realizam programas
de promoção da saúde com resultados positivos. Como exemplo, podemos citar a
AMIL, com os programas Amil Qualidade de Vida e Total Care; a Unimed, com o
Unibaby e a Goodlife com o Viva Bem. Algumas filiais de empresas norte-americanas
4
também desenvolvem programas de promoção da saúde em filiais brasileiras, como a
Ford Motor Company, a Gessy Lever e a IBM, entre outras. Algumas empresas
brasileiras, como a Petrobrás, também possuem programas com a mesma finalidade.
Assim, percebe-se que esse é um conceito que vem crescendo também no Brasil e, com
isso, abrindo um novo campo de atuação para o enfermeiro. Seu papel passa a ser
essencial nesse novo processo, tendo em vista que em seu processo de formação
desenvolve habilidade e capacidade em gerenciamento e promoção da saúde, cada vez
mais reconhecidas e valorizadas pelo mercado de trabalho, tanto no setor público quanto
privado.
No entanto, a avaliação da saúde pessoal, dos fatores de risco e a estimativa
do risco de o trabalhador desenvolver uma doença crônica é um processo complexo,
tendo em vista que, em uma população empresarial, existe, além dos fatores de risco
ocupacionais no ambiente de trabalho aos quais estão expostos todos os trabalhadores,
também os fatores sociais particulares de cada indivíduo.
No entanto, a cultura do atendimento por meio de consultas médicas,
valoriza o tratamento medicamentoso que foi introjetado nos hábitos de vida como
eficaz no combate a doenças. Além disso, pouco conhecimento sobre as
possibilidades de não ficar doente, ou seja, adotar ações de promoção e prevenção,
evitando a doença. Há, portanto, uma cultura de que os serviços de saúde, em qualquer
nível e local, são organizados, principalmente, para curar doenças. Essa crença
generalizada traz algumas dificuldades para a implantação de programas de natureza
preventiva, considerando que a população tem uma idéia introjetada do modelo
medicamentoso e médico centrado.
5
A postura dos trabalhadores diante de uma avaliação que objetiva a
promoção e a prevenção fica clara quando se observa, em algumas circunstâncias, a
insatisfação dos trabalhadores ao sair de uma consulta de enfermagem na saúde
suplementar sem requisição de exames ou prescrição de medicamentos. Parece haver
um condicionamento de que o serviço existe para realizar tratamento de doenças e não
para intervenções promotoras de saúde, as quais os trabalhadores julgam desnecessárias.
Para Paim, citado por Alves (2004), a abordagem de um “novo” modelo em
uma empresa tradicionalmente centrada no modelo antigo de atenção à saúde,
hegemônico e medicamentoso, agora com ações de promoção, prevenção e assistência,
pode causar conflitos que interferem nas ações de promoção à saúde. Este modelo,
resultante de uma combinação complementar e, ao mesmo tempo antagônica, do
modelo médico assistencial privatista e do modelo assistencial “sanitarista”, dicotomiza
assistência e prevenção.
Portanto, a tendência, nesta última década, é de uma mudança no perfil da
saúde, com ações que priorizem a promoção da saúde e prevenção de doenças. Nesse
sentido, a formação do enfermeiro tem valorizado esta área. Promover saúde, para o
enfermeiro, é uma tentativa de diminuição da incidência de doenças típicas de países em
desenvolvimento que ainda castigam a população brasileira, além da busca por controle
dos fatores de risco de agravos do mundo moderno, como a hipertensão arterial,
diabetes, obesidade, entre outros. Alcançar níveis de aceitação da população para estas
ações de promoção é, na atualidade, um grande desafio para o enfermeiro e para os
serviços de saúde no interior das empresas.
Para isso, o enfermeiro pauta-se na educação para a saúde, como um
processo dialógico, formativo e transformativo, supondo uma transmissão e uma
6
aquisição de conhecimentos, além do desenvolvimento de competências, hábitos e
valores que constituem o conteúdo da educação (GAZZINELLI et al, 2006). A
educação em saúde supõe uma reprodução do saber e da cultura, além da produção de
novos saberes e de novas expressões culturais. Porém, segundo Gazzinelli et al (2006), a
dificuldade encontrada pelo enfermeiro nas ações de educação em saúde, pauta-se na
permanência ainda do modelo hegemônico na prática profissional, que preconiza a
adoção de novos comportamentos, como o parar de fumar, vacinar-se, ter melhor
higiene, entre outros, e de estratégias coletivas, como a comunicação de massa, cabendo
às pessoas, informadas sobre os riscos de adoecimento, a responsabilidade de adotar um
novo estilo de vida mais saudável. No entanto, segundo Gazzinelli et al (2006, p.30),
Desconsidera-se que no processo educativo lida-se com
histórias de vida, um conjunto de crenças e valores, a própria
subjetividade do sujeito que requer soluções sustentadas sócio-
culturalmente. As soluções provenientes do exterior muitas
vezes são incorporadas pelos “sujeitos” que passam a defender
os interesses dominantes, como mais medicalização, convênios
de saúde, construindo nova subordinação.
As diretrizes da Educação para a saúde ainda definem Educação em saúde
como “uma atividade planejada que objetiva criar condições para produzir as mudanças
de comportamento desejadas em relação à saúde” (BRASIL, 1980). Portanto,
subentende-se que a Educação em saúde tal como definida pelas diretrizes, tem como
intenção nítida reforçar padrões de saúde concebidos pelo governo para a população
(GAZZINELLI et al, 1996).
Nesse sentido, o conhecimento da atuação do enfermeiro em ações de
promoção da saúde na saúde suplementar, segmento tradicionalmente voltado para
ações curativas centradas no modelo biomédico, é relevante para a profissão,
7
considerando a possibilidade de ampliação dessa atuação e o aproveitamento de suas
habilidades e conhecimentos na educação para a saúde e em programas dessa espécie É
importante ressaltar que esse campo que se abre para o enfermeiro está em consonância
com as políticas de universalização da assistência e redução de quadros mórbidos que,
além do desgaste pessoal, são onerosos para os serviços de saúde. Por outro lado, as
habilidades do enfermeiro na promoção da saúde na saúde suplementar, especificamente
na saúde do trabalhador e de seus familiares, se tornarão inócuas se não tiverem boa
aceitação por parte dos usuários.
Assim, este estudo se justifica por buscar conhecer a aceitação dos
trabalhadores quanto às ações de promoção da saúde realizadas por enfermeiros, que
poderão auxiliar na elaboração de estratégias para a melhoria da qualidade de vida dos
usuários e redução de custos assistenciais decorrentes das intervenções, em casos de
adoecimento, evitando tratamentos onerosos, do ponto de vista financeiro, social e
emocional.
Torna-se importante, também, abordar a percepção do trabalhador em
relação à sua saúde, seus temores e expectativas, bem como em relação à mudança de
enfoque do modelo individual médico centrado, para ações de promoção da saúde
realizadas pelo enfermeiro. Essa percepção tem aplicação a curto prazo, se houver
necessidade de revisão dos planos de ação na empresa em que o estudo é realizado. A
médio prazo, pode ser utilizada para orientar planejamentos, focalizando as crenças e os
valores dos trabalhadores relacionados às intervenções de saúde e dos profissionais
necessários e adequados a cada tipo de intervenção, ampliando a compreensão dos
usuários.
8
2- OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram:
identificar a percepção dos trabalhadores associados a um plano de saúde
suplementar em relação ao atendimento realizado por enfermeiras no próprio
local de trabalho e extensivo às suas famílias, por meio de ações de promoção
da saúde e prevenção de doenças;
conhecer a percepção dos trabalhadores associados a um plano de saúde
suplementar a respeito das ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.
9
3- PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS E SUA
RELAÇÃO COM A SAÚDE SUPLEMENTAR
O termo promover, segundo Ferreira (1986), significa dar impulso,
fomentar, originar, gerar. De acordo com Leavell e Clark (1976), promover saúde
refere-se à adoção de medidas que não se dirigem a uma determinada doença ou
desordem, mas servem para aumentar a saúde e o bem-estar gerais. As ações de
promoção da saúde devem enfatizar a modificação das condições de vida e de trabalho.
A definição de promoção da saúde tem sido tema de discussão em várias
conferências internacionais. Três importantes conferências internacionais sobre o tema,
realizadas entre 1986 e 1991, em Otawa, em 1986, Adelaide em 1988 e Sundsval em
1991, estabeleceram as bases conceituais e políticas contemporâneas da promoção da
saúde (BUSS, 2004).
Um importante movimento que deu origem a discussões mais consistentes
no âmbito da promoção da saúde originou-se no Canadá. O movimento canadense de
promoção da saúde teve seu início na década de 70 do século passado, quando o então
ministro da saúde canadense, Marc Lalonde, publicou, em 1974, um documento no qual
introduzia a idéia de que uma abordagem estruturalista, ambiental e comportamental,
com mudanças no estilo de vida, poderia resultar em significativa redução da morbi-
mortalidade (SOUZA, 2004). A proposta da promoção da saúde, lançada pelo Relatório
Lalonde, serviu de base para a ampliação dos serviços e ações comunitárias, por meio
de uma medicina simplificada, mas socializada, propondo-se a combater os problemas
de saúde da parcela mais pobre da população. Neste Plano, ressalta a melhor relação
10
custo-efetividade das intervenções sobre os estilos de vida e sobre o meio ambiente
quando comparada à atenção curativa pelos serviços de saúde.
Segundo Becker (2001), Lalonde afirmava que, até aquele momento, a
maioria dos esforços da sociedade para melhorar a saúde, e a maior parte dos gastos em
saúde, se concentrava na organização do cuidado médico. Apesar disso, quando se
identificavam as causas principais de adoecimento e morte, no Canadá, verificava-se
que a sua origem estava nos três outros componentes do conceito de campo: a biologia
humana, o meio ambiente e o estilo de vida. O modelo canadense de promoção da saúde
tem como base a afirmação do social na determinação do processo saúde-doença, a
busca da superação do modelo biomédico e o compromisso com a saúde como um
direito da cidadania (CARVALHO, 2002).
Essa nova perspectiva desencadeou uma série de iniciativas pela
Organização Mundial de saúde (OMS), como a declaração de Alma Ata, em 1977,
enfatizando a atenção básica como recomendação chave e, em 1986, com a I
Conferência Internacional em Promoção da Saúde, resultando na Carta de Ottawa.
Segundo Buss (2004), a Carta de Ottawa define promoção da saúde como o
processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida
e saúde, incluindo maior participação no controle deste processo. Assume, ainda, que a
equidade em saúde é um dos focos da promoção da saúde, cujas ações objetivam reduzir
as diferenças no estado de saúde da população e no acesso a recursos diversos para uma
vida mais saudável (BUSS, 2004).
Após mais de quinze anos da divulgação da Carta de Ottawa, um dos
documentos fundadores do movimento de promoção à saúde, o termo associa-se a um
conjunto de valores relativos a vida, saúde, solidariedade, eqüidade, democracia,
11
cidadania, desenvolvimento, participação e parceria, entre outros (BUSS, 2004). Está
diretamente ligado a um esforço da comunidade para alcançar políticas que melhorem
as condições de saúde da população.
De acordo com Buss (2004), a Carta de Ottawa enfatiza que as ações
comunitárias serão efetivas se for garantida a participação popular na direção dos
assuntos de saúde, bem como o acesso total e continuo à informação e às oportunidades
de aprendizagem nesta área. O desenvolvimento de habilidades e atitudes pessoais
favoráveis à saúde em todas as etapas da vida encontra-se entre os campos de ação da
promoção à saúde. Para isso, é importante a educação para a saúde, seja ela no lar, na
escola, no trabalho ou em qualquer espaço coletivo. E, ainda,
A reorientação dos serviços de saúde na direção da concepção
da promoção à saúde, além do provimento de serviços
assistenciais, está entre as medidas preconizadas na Carta de
Ottawa. A carta preconiza também uma visão abrangente e
intersetorial, ao recomendar a abertura de canais entre o setor
saúde e os setores sociais, políticos, econômicos e ambientais.
A percepção de que tais mudanças devem ser acompanhadas
na formação dos profissionais de saúde também está presente
na declaração resultante dessa conferência (BUSS, 2004.
p.27).
Portanto, a carta de Ottawa aponta questões muito amplas como condições e
recursos fundamentais para a saúde, como paz, recursos sustentáveis, justiça social e
eqüidade.
Estratégias em prol de políticas públicas voltadas para a saúde, destacando-
se ações para políticas públicas saudáveis, eqüidade, acesso e desenvolvimento social,
além de acesso a bens e serviços promotores de saúde, foram recomendadas na
Conferência de Adelaide, realizada em abril de 1988, que manteve a direção
12
estabelecida pela Carta de Ottawa na promoção da saúde (BRASIL, 2001). A terceira
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Sundsvall, em 1991,
reafirmou e clarificou a relevância e o significado da promoção da saúde. Com o tema
Ambientes Favoráveis à Saúde, identificou muitos exemplos e abordagens para se criar
ambientes favoráveis e promotores de saúde, que podem ser usados por políticos e
governos, ativistas comunitários e outros setores da saúde e do meio ambiente. A
Conferência reconheceu que todos têm um papel na criação de ambientes favoráveis e
promotores de saúde (BRASIL, 2001).
A proposta de promoção da saúde concebe a saúde como produção social e,
dessa forma, abrange um espaço de atuação que extrapola o setor saúde, apontando para
uma articulação com o conjunto dos outros setores da gestão municipal e para o
estímulo à participação social (BRASIL, 2001). Um dos eixos básicos do discurso da
promoção da saúde é fortalecer a idéia de autonomia dos sujeitos e dos grupos sociais.
Promover saúde alcança uma abrangência muito maior que o campo específico da
saúde, incluindo o ambiente, atravessando a perspectiva local e global, além de
incorporar elementos físicos, psicológicos e sociais (CZERESNIA, 2004).
Candeias (1997) define promoção da saúde como uma combinação de
apoios educacionais e ambientais que visam atingir ações e condições de vida
conducentes à saúde. Ele se refere a determinantes ambientais, sociais e de saúde que
vão muito além do estudo do ambiente físico ou dos serviços médicos destinados à
população. Segundo Buss (2004), partindo de uma concepção ampla do processo saúde-
doença e de seus determinantes, a promoção da saúde propõe a articulação de saberes
técnicos e populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos
e privados, para seu enfrentamento e resolução. Segundo Souza (2004), a idéia de
13
promover saúde tem se tornado uma força vital no novo movimento de saúde pública,
em que ela é concebida também como um fenômeno social que diz respeito à qualidade
de vida e capital social.
Alguns autores têm definido promoção da saúde como um processo que se
diferencia da prevenção em alguns aspectos básicos. No entanto, mesmo para
profissionais da área, a diferença conceitual de prevenção de doenças e promoção de
saúde ainda não está muito clara. Compreender esses conceitos, e especificamente a
diferença entre eles, pode facilitar as ações desses profissionais na prática da promoção
da saúde.
A promoção da saúde implica um processo abrangente e contínuo, que
envolve prevenção, educação e a participação de diferentes setores da sociedade na
elaboração de estratégias que permitam a efetividade da educação para a saúde
(SOUZA, 2004). Assim, pode-se dizer que a promoção da saúde semais efetiva se
realizada coletivamente, tendo em vista que a educação para a saúde, fator essencial nas
ações nesse sentido, visa à mudança de comportamento e à adoção de estilos de vida
mais saudáveis. Por meio da promoção da saúde, grupos de indivíduos com risco
comum para o desenvolvimento de agravos à saúde podem ser formados e esses riscos
trabalhados de forma coletiva.
De acordo com Czeresnia (2005), uma pequena diferença entre
“prevenção” e “promoção” da saúde. Pequena porque as práticas em promoção, da
mesma forma que as de prevenção, fazem uso do conhecimento científico. A promoção
vem sendo entendida como um subproduto da prevenção, envolvendo condutas
individuais, como alimentar-se bem, fazer exercícios físicos e não fumar, ou ações
governamentais coletivas, como implantação de redes de saneamento básico, construção
14
de escolas, melhora de transportes coletivos, entre outros. Segundo a mesma autora, os
projetos de promoção da saúde valem-se igualmente dos conceitos clássicos que
orientam a produção do conhecimento específico em saúde-doença, transmissão e risco,
cuja racionalidade é a mesma do discurso preventivo Este é um fator que pode gerar
certa confusão e, até, uma inexistência de diferenciação entre promoção e prevenção,
mesmo porque os serviços de saúde não costumam exercer as duas práticas de forma
clara, elas, geralmente, são exercidas conjuntamente,
A idéia de promoção envolve a de fortalecimento da capacidade
individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos
condicionantes da saúde. Vai além de uma aplicação técnica e
normativa, aceitando-se que não basta conhecer o
funcionamento das doenças e encontrar mecanismos para seu
controle. Essa concepção diz respeito ao fortalecimento da
saúde por meio da construção de capacidade de escolha, bem
como à utilização do conhecimento com o discernimento de
atentar para as diferenças e singularidades dos acontecimentos
(CZERESNIA, 2004. p.47-48).
Para Lefevre e Cavalcante (2004), a promoção, para se diferenciar da
prevenção, caracterizaria uma intervenção ou conjunto de intervenções que,
diferentemente da prevenção, teria como horizonte ou meta ideal a eliminação
permanente ou, pelo menos, duradoura da doença, porque buscaria atingir suas causas
mais básicas e não apenas evitar que as doenças se manifestem nos indivíduos e nas
coletividades de indivíduos. Os indivíduos e as coletividades precisam ser tratados das
doenças e ser protegidos contra elas. A promoção da saúde, então, propõe que as
doenças sejam minimizadas, eliminadas do meio ambiente, das cidades, enfim, do meio
social. Assim, segundo Lefevre e Cavalcante (2004), com a promoção da saúde, os
indivíduos ficariam sem doença não porque as doenças foram, por meio do tratamento,
15
afastadas deles ou porque, pela prevenção, as doenças foram impedidas de chegar até
eles, mas porque foram, elas próprias, atacadas para serem erradicadas, eliminadas ou
minimizadas.
Lefevre e Cavalcante (2004, p.38-40) esquematiza a diferença entre
promoção e prevenção em dois grandes grupos: o primeiro referindo-se às estratégias
curativa e preventiva de enfrentar a doença e obter a saúde, e o segundo referindo-se às
estratégias da promoção da saúde, como colocado a seguir:
Estratégias curativas e preventivas:
as doenças sempre existiram e sempre existirão;
as doenças são estados alterados ou carenciais do organismo humano;
os estados carenciais e desequilibrados do organismo humano devem ser
enfrentados por profissionais de saúde;
os profissionais de saúde devem enfrentar as doenças nos indivíduos ou
evitar que essas doenças os atinjam, usando máquinas, produtos e
serviços baseados na ciência e na tecnologia;
com base em ensinamentos desses profissionais, os indivíduos leigos
devem se comportar de modo a evitar a presença da doença em seus
organismos;
para ter saúde, reobter saúde e se proteger das doenças é preciso
consumir produtos e serviços que ofereçam saúde e proteção contra as
doenças.
Estratégias de promoção da saúde:
16
as doenças sempre existiram e algumas, provavelmente, continuarão
existindo para sempre;
muitas doenças podem deixar de existir ou ter seus efeitos minimizados
para sempre;
muitas doenças são estados alterados ou carenciais do organismo
humano que têm como causas evitáveis:, comportamentos inadequados
e ou erros, desajustes, desequilíbrios na biologia do ser humano, no
meio ambiente natural e no meio ambiente social onde esses indivíduos
vivem;
doenças podem ser enfrentadas pelos indivíduos com vistas à sua
erradicação, com base em ensinamentos e informações técnicas, quando
eles indivíduos adotam, voluntariamente, um estilo de vida saudável;
doenças podem ser enfrentadas, com vistas à sua erradicação, por
intervenções ou conjunto de intervenções de natureza médico-sanitária
ou extra-sanitária, isto é, política, administrativa, gerencial, urbanística,
educacional, informativa, etc. (tendo sempre, neste caso, o setor de
saúde como indispensável retaguarda técnica, nos organismos humanos,
no meio ambiente natural e no meio social, visando atingir as causas
mais básicas das doenças).
A promoção da saúde busca modificar condições de vida para que sejam
dignas e adequadas, e aponta para a transformação dos processos individuais de tomada
de decisão para que sejam favoráveis à qualidade de vida e à saúde (Silveira, 2005). Por
outro lado, a prevenção, segundo Silveira (2005), orienta-se mais em direção às ações
17
de detecção, controle e enfraquecimento dos fatores de risco ou fatores causais de
grupos de enfermidades; seus focos são a doença e os mecanismos para atacá-la. A linha
divisória que separa a prevenção da promoção apresenta maior precisão no conteúdo
teórico que na prática. As práticas de promoção da saúde e prevenção de doenças fazem
uso do conhecimento cnico e científico da área da saúde, e os profissionais que a
utilizam, geralmente, estão envolvidos com as duas, com ações simultâneas de
promoção e prevenção.
Além da dificuldade em diferenciar ações de promoção da saúde e
prevenção de doenças, os profissionais da área de saúde estão, ainda, centrados em uma
cultura curativa de atenção a saúde. De acordo com Torres (2002), o desenvolvimento
da medicina no Brasil manteve a predominância de uma prática individual, com enfoque
curativo dos problemas de saúde e as dicotomias teoria-prática, psíquico-orgânico e
indivíduo-sociedade. Segundo Rizzotto (1999):
A ênfase na medicina curativa teve sua origem em conceitos
gerados na compreensão do “Normal e do Patológico”, em que
a doença aparece como uma “alteração quantitativa, para mais
ou para menos, dos fenômenos fisiológicos correspondentes
(p.44).
De acordo, ainda, com Rizzotto (1999), a hegemonia da medicina, presente
no campo da saúde, foi construída durante séculos, a partir de alguns processos que
deram legitimidade e poder a essa ciência,
Inicialmente isso se deu através da incorporação do saber
popular sobre as doenças e as curas ao nascente saber médico.
A introdução e consolidação da ótica positivista na medicina
como método que possibilitava a produção objetiva e neutra do
18
conhecimento, reforçou a posição dominante já exercida por
essa profissão no campo da saúde (RIZZOTTO, 1999, p.27).
A medicina, que havia se apropriado com exclusividade da milenar arte de
curar, foi se legitimando socialmente como a profissão que detinha o saber e o poder
dessa cura, se firmando como a verdadeira ciência da saúde, e os médicos seus legítimos
representantes. A estreita vinculação entre a concepção biologicista e o modelo
biomédico prossegue até hoje, apesar de essa abordagem ter se mostrado inadequada
para resolver inúmeros problemas de saúde, principalmente quando se trata de
problemas de saúde pública (RIZZOTTO, 1999). As intervenções individualizadas,
específicas, centradas no hospital e na medicina curativa desenvolveram uma
progressiva especialidade médica que levou a medicina a ações de cunho
predominantemente biológico. Assim, a lógica da medicina curativa manteve-se
hegemônica até os dias atuais, com um aumento progressivo das tecnologias,
encarecendo o sistema de saúde. Segundo Rizzotto (1999):
Não se pode desconsiderar que as atividades humanas sempre
foram mediadas pela tecnologia e que ela é necessária para o
desenvolvimento da humanidade. O que parece crucial é a
distorção que sofreu no campo da saúde, onde a tecnologia de
ponta é vista como a melhor ou única alternativa para a
melhoria da qualidade de saúde (p.43).
Segundo Koifman (2001), a medicina atual é oscilante quanto à questão da
doença e do sofrimento; o médico preocupa-se com o seu desempenho técnico e, em sua
formação, recebe informações ambíguas sobre o que valorizar nas queixas dos
pacientes. Em determinadas situações, a demanda do paciente se faz exclusivamente
pelos exames complementares, o que acaba por onerar o tratamento. O mesmo autor
19
afirma que a influência da tecnologia, exercida sobre o exame físico, repercute na
relação médico-paciente. Para Koifman (2001), a introdução da tecnologia na medicina
se insere em um processo mais amplo. Parece não haver espaço, nessa estrutura, para as
questões sociais, psicológicas e para as dimensões comportamentais das doenças. As
doenças passam a ser resultado ou de um processo degenerativo dentro do corpo ou de
agentes químicos, físicos ou biológicos que o invadem ou, ainda, da falha de algum
mecanismo regulatório do organismo. Portanto,
Partindo do princípio concernente a esse modelo, de que a
saúde e a vida saudável emergirão automaticamente da ciência,
os tratamentos médicos consistiriam em esforços para
reestruturar o funcionamento normal do corpo, para
interromper processos degenerativos, ou para destruir
invasores (KOIFMAN, 2001. p.54).
A abordagem reducionista do modelo biomédico não leva em conta os
problemas que interferem direta ou indiretamente na saúde, como os fatores sociais,
econômicos, do meio-ambiente, entre outros. A saúde envolve inúmeras variáveis
relativas ao indivíduo e ao meio em que ele está interagindo, portanto, este enfoque
reducionista de um modelo hegemônico precisa abrir espaço para uma abordagem mais
ampla. Os movimentos de promoção da saúde não se opõem a esse modelo, mas
procuram preencher uma lacuna e propõem uma abordagem em que a prevenção, o
tratamento das doenças e a mudança de comportamento, proporcionem a melhora da
qualidade de vida. Essa abordagem requer medidas de foro ambiental, econômico,
sócio-cultural e legislativo para sua efetivação (SOUZA, 2004).
Esta prática médica reducionista contribuiu para a fragmentação do
indivíduo, levando a um modelo médico centrado e hegemônico, que esteve sempre
20
muito presente nos usuários e prestadores de serviços no campo da saúde suplementar.
Pagar um plano de saúde para usá-lo quando houver a necessidade de um tratamento
médico é a visão que a maior parte da população possui sobre a saúde suplementar. O
avanço tecnológico dos recursos disponíveis, tanto na propedêutica como na terapêutica,
com custos cada vez mais elevados, projeta uma expectativa de inviabilização da prática
médica pelas operadoras de planos de saúde.
A realidade médica brasileira tem, hoje, dois sistemas de atendimento à
disposição da população: o sistema público, com a insuficiência de verbas ou
subaproveitamento dos recursos disponíveis e o sistema privado, suplementar, calcado
no modelo biomédico, curativo, baseado na doença e suas conseqüências. Segundo
Miranda (2003), na área privada da saúde, as operadoras de saúde vivem uma situação
que, com raras exceções, é quase falimentar. O modelo de assistência à saúde no Brasil
está focado na doença e não na saúde, gerando custos altos, onerando os sistemas de
saúde, tanto públicos quanto privados.
A definição de Plano Privado de Assistência à Saúde, também chamado de
Saúde Suplementar, segundo a Lei 9.656/98, é a prestação continuada de serviços ou
cobertura de custos assistenciais, a preço p ou pós-estabelecido, por prazo
indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde,
pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde,
livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou
referenciada, visando à assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral
ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou
pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor (BRASIL, 1998).
21
No Brasil, o setor de saúde suplementar é formado por: empresas que
operam os planos de saúde, prestadores de serviços de saúde, profissionais de saúde e
usuários dos serviços que são vinculados às empresas que operam os planos (BRASIL,
2005a). Essas empresas são classificadas em administradoras, cooperativas médica e
odontológica, odontologia de grupo, medicina de grupo, filantropia, de autogestão e
seguradoras (MACERA; SAINTIVE, 2004). Segundo dados do IBGE, este mercado
abrange mais de 38 milhões de usuários, ou cerca de 24,5% da população brasileira
(IBGE, 2000). Como um quarto dos brasileiros tem acesso aos serviços de saúde por
meio do setor de saúde suplementar, isso demonstra a importância que este setor
assume, diminuindo a demanda por atendimento via Sistema Único de Saúde,
desafogando a procura por serviços públicos de assistência à saúde.
O sistema de saúde suplementar é regulamentado pela Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS), que foi criada pela lei 9.961, de 28 de janeiro de 2000. A
ANS é um órgão do Ministério da Saúde de regulação, normatização, controle e
fiscalização das atividades que garantam a assistência suplementar à saúde (BRASIL,
2005a). De acordo com Czeresnia (2003a),
A finalidade institucional da ANS, segundo o artigo da lei
9.961, é promover a defesa do interesse público na assistência
suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais,
inclusive quanto às suas relações com prestadores e
consumidores, contribuindo para o desenvolvimento das ações
de saúde no País (pág.12).
Com este propósito, existem, atualmente, conjuntos de protocolos técnicos
que determinam formas de atuação, tempo de permanência hospitalar, custo médio de
despesas entre outros, que permitem estabelecer com segurança todos os procedimentos
22
médicos disponíveis para as mais diversas condições médico-cirúrgicas do universo
médico-terapêutico e propedêutico. De modo geral, pode-se dizer, segundo Macera e
Saintive (2004, p.06), que a regulação no campo de saúde suplementar atende a três
objetivos principais, que são: a) a manutenção da estabilidade do mercado segurador, o
que inclui a definição de padrões de entrada, operação e saída das empresas; b)
regulação das relações paciente-seguradora/operadora-provedor, tendo em vista os
problemas de assimetria de informações e c) maximização do bem-estar do consumidor,
garantindo maior justiça e eqüidade no acesso aos serviços de assistência médico-
hospitalar.
Uma atenção integral à saúde suplementar precisa garantir cobertura integral
aos beneficiários dos planos de saúde, envolvendo ações de prevenção, controle e
recuperação das doenças, assim como promoção da saúde. Nesse sentido, o incentivo a
ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, no âmbito da saúde suplementar,
corresponde à competência da ANS (CZERESNIA, 2003a). No entanto, a cultura
biomédica e o desconhecimento dos usuários geram um uso indiscriminado dos serviços
credenciados, seja consulta médica ou exames de baixa, média ou alta complexidade,
causando gastos relevantes para as operadoras e refletindo de forma negativa para a sua
estabilidade financeira. Devido a isso, a regulação das operadoras de planos de saúde
realizada pela ANS impede o aumento excessivo do custo assistencial médico que
acumula tecnologias.
Devido a isso, a ANS implantou uma resolução normativa, a RN 94, de 23
de março de 2005, que, baseada nas ações de promoção da saúde e prevenção de
doenças como alternativa para uma melhor qualidade de vida dos usuários de planos de
saúde, aliada a uma utilização mais criteriosa dos órgãos credenciados, dispõe sobre os
23
critérios para o diferimento da cobertura com ativos garantidores da provisão de risco
condicionada à adoção, pelas operadoras, de programas de promoção à saúde e
prevenção de doenças de seus beneficiários (BRASIL, 2006). Assim, a ANS aumenta os
prazos para a provisão de reserva técnica para as operadoras que implantarem
programas de promoção da saúde. A reserva técnica é uma obrigatoriedade que as
operadoras têm, de acordo com as normas da ANS, de prover uma reserva financeira de
50% de seu faturamento bruto, que garanta a assistência dos usuários na rede
credenciada, em caso de falência da empresa que opera o plano de saúde. Portanto,
A aproximação destes objetivos de melhoria das condições de
saúde e da qualidade de vida dos segurados e de redução dos
gastos com assistência médica de alto custo seria um desafio
para a ação regulatória do estado com a intenção de gerar
eficiência, responsabilidade e qualidade da atenção à saúde. O
desenvolvimento de programas de promoção da saúde e
prevenção de doenças no mercado poderia ser um campo
propício ao estabelecimento de estratégias cooperativas com os
agentes privados do setor saúde, harmonizando as metas de
regulação com orientações de eficiência (CZERESNIA, 2003a,
p.13).
Para Czeresnia (2003a), duas perspectivas apresentadas no discurso da
promoção da saúde e prevenção de doenças, que são a melhoria das condições de saúde
e da qualidade de vida e a conseqüente redução dos gastos com assistência médica de
alto custo, são um estimulo ao desenvolvimento de programas com este enfoque, que
convergem em benefícios de interesse público e do mercado. Nesse sentido, os
programas de promoção da saúde, na saúde suplementar, visam preencher uma lacuna
existente neste setor e propõem uma abordagem em que a prevenção, o tratamento das
doenças e a mudança de comportamento proporcionem a melhoria da qualidade de vida
24
e a conseqüente redução de custos para as operadoras de planos, seguindo uma
tendência mundial de promoção da saúde e prevenção de doenças.
25
4- CAMINHO METODOLOGICO
Optou-se pela realização de um estudo de caso descritivo de natureza
qualitativa, o qual permite um maior aprofundamento do objeto pesquisado com maior
flexibilidade na condução da pesquisa. Segundo Yin (2005), o estudo de caso é
preferido quando o tipo de questão de pesquisa é da forma “como” e “por que”; quando
o controle que o investigador tem sobre os eventos é muito reduzido ou quando o foco
temporal está em fenômenos contemporâneos, dentro do contexto de vida real. Portanto,
a opção pelo o estudo de caso facilitou a realização da pesquisa, que visava entender um
fenômeno social complexo e relativamente novo na saúde suplementar.
Segundo Minayo (1996), qualquer pesquisa social que pretenda um
aprofundamento maior da realidade não pode ficar restrita ao referencial apenas
quantitativo. Quando se trabalha com fenômenos sociais, trabalham-se significações,
motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores. Para a autora, esse conjunto de dados
qualitativos necessita de um referencial de coleta e de interpretação de outra natureza.
Nos estudos qualitativos em geral, e no estudo de caso em particular, o ideal
é que a análise esteja presente durante os vários estágios da pesquisa, pelo confronto dos
dados com questões e proposições orientadoras do estudo. Nesse sentido,
Basear-se em proposições teóricas referencial teórico é a
forma mais comum para se analisar as evidências de um caso. As
proposições podem fornecer a orientação teórica que
direcionará a análise do estudo. Isso ajuda a focalizar a atenção
sobre certos dados e a ignorar outros, além de auxiliar a
organizar o estudo como um todo e a definir explanações
alternativas a serem examinadas perguntas do tipo “como?” e
“por quê?” podem ser úteis para direcionar a análise do estudo
de caso (Yin, 2005, p.4),
26
A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas realizadas com dez
trabalhadores de duas empresas, nas quais foi implantado um programa de promoção da
saúde pela operadora da qual são clientes. A escolha das empresas se deu pela
implantação recente deste programa e pelo fato de as ações serem realizadas por
enfermeiras. A abordagem dos trabalhadores para participar do programa de saúde foi
feita em conjunto com o departamento de recursos humanos da empresa, que cooperou
na identificação dos trabalhadores, de acordo com seu potencial de risco para o
desenvolvimento de agravos à saúde, além das informações que o sistema operacional
da operadora disponibiliza da procura pela rede credenciada pelos trabalhadores e o uso
dos serviços pelos mesmos, sendo um critério de seleção para participar das ações de
promoção aquele trabalhador que usou o plano de saúde por várias vezes, ou está
“perdido” na rede credenciada, sem um médico referência. Esses trabalhadores foram
convidados e aceitaram participar do programa, passando, então, por freqüentes
avaliações da enfermeira, seguidas de orientações para a saúde, visando o autocuidado e
a melhoria da qualidade de vida, por meio de ações de promoção da saúde e prevenção
de doenças.
Uma das empresas participantes é uma multinacional, produtora de peças
automotivas, que possui cerca de 250 funcionários, cuja maior parte dos trabalhadores
do sexo masculino. O ambiente de trabalho é estressante, com produção em série e
atividades que levam a movimentos repetitivos, além do alto nível de ruído. A outra
empresa é uma transportadora que presta serviço a uma montadora de veículos, na qual
também predomínio de trabalhadores do sexo masculino, com funções sedentárias e
carga horária elevada, além de um alto nível de estresse. Em ambas as empresas, as
ações de promoção da saúde são realizadas por enfermeiras, com foco individual e
27
coletivo, estendendo a assistência aos familiares, também beneficiários do plano de
saúde. Os familiares, por uma questão operacional, não fizeram parte da pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa foram trabalhadores antes habituados somente às
rotinas dos programas de saúde do trabalhador, com uma assistência médica
individualizada, centrada em consultas médicas e que usavam o plano de saúde que a
empresa disponibiliza somente em casos agudos de doenças. Ao se inserirem no
programa de promoção da saúde, passaram por avaliações das enfermeiras que buscam
intervenções coletivas e individuais para o trabalhador e sua família. As ações
individuais realizadas nas empresas se por meio de consultas de enfermagem, com
base na educação para a saúde e monitorização das ações, e as intervenções coletivas
através de palestras e cursos. As intervenções aos familiares dos trabalhadores, também
beneficiários do plano de saúde, são realizadas no próprio domicílio.
Foram realizadas duas entrevistas de pré-teste com trabalhadores do plano
de saúde para ajuste e validação do roteiro de entrevistas. Em seguida foram realizadas
entrevistas com os dez trabalhadores que aceitaram participar da pesquisa e os critérios
de inclusão no estudo foram: estarem no programa há, pelo menos, seis meses, serem
atendidos e acompanhados por enfermeiras e submetidos a intervenções coletivas ou
individuais de promoção da saúde. A amostra foi definida obedecendo-se ao critério de
saturação, ou seja, encerraram-se as entrevistas quando nenhuma informação nova
estava sendo acrescentada. As entrevistas seguiram um roteiro e foram realizadas em
local reservado. Solicitou-se autorização para gravação e todos concordaram em assinar
o termo de consentimento livre e esclarecido, no qual explicita-se a garantia de sigilo
das informações. Posteriormente, as entrevistas gravadas foram transcritas na íntegra e
iniciada a análise. O termo de consentimento livre e esclarecido assinado obedece à
28
Resolução 196/96, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
UFMG, sob o número CAAE-0003.0.203.000-06.
Os dados foram submetidos à análise de conteúdo que, de acordo com
Minayo (1996), é a expressão mais comumente usada para representar o tratamento dos
dados de uma pesquisa qualitativa. Segundo Bardin (1977, p.42), a análise de conteúdo
pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição
do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção/recepção destas mensagens.
Para Minayo (1996), a análise de conteúdo parte de uma literatura de
primeiro plano para atingir um vel mais aprofundado, que ultrapassa os significados
manifestos. A autora afirma que a análise deve articular a superfície dos textos descrita
e analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis psicossociais,
contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem. No processo de
análise, o conteúdo das entrevistas, agrupado por unidades temáticas, passou a constituir
as categorias centrais.
No processo de análise, emergiram as categorias: 1) o papel do enfermeiro
na promoção da saúde; 2) a percepção dos trabalhadores sobre as ações de promoção no
ambiente de trabalho, que se subdividiu nas subcategorias ações de promoção da saúde
como controle de doenças e o sentimento diante dos cuidados de si próprios e da família
e 3) a abordagem inovadora de atenção à saúde.
29
5- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Visando compreender as expressões dos entrevistados sobre ações de
promoção da saúde realizadas por enfermeiras, torna-se importante uma breve
caracterização dos entrevistados. Esta caracterização é relevante, tendo em vista que a
maneira de pensar um determinado fenômeno guarda estreita relação com as
características pessoais e modos de viver de um determinado grupo.
TABELA I
Características dos entrevistados, Belo Horizonte, 2006
ENTREVISTADO
IDADE
SEXO
FUNÇÃO
ESTADO
CIVIL
FILHOS
E1 27 M Auxiliar de
almoxarife
Casado 01
E2 55 M Eletricista Casado 04
E3 53 F Operadora de
máquina
Casada 02
E4 50 M Técnico
operacional
Casado 03
E5 30 F Telefonista Solteira 01
E6 35 M Motorista Casado 0
E7 53 M Motorista Casado 03
E8 37 M Encarregado de
contabilidade
Casado 01
E9 67 M Supervisor de
recebimento
Casado 02
E10 34 M Soldador Casado 05
Fonte: Entrevistas
Os dados do Tabela 1 mostram que, dos dez entrevistados, somente um não
é casado, e nove têm filhos. A grande maioria é do sexo masculino e a faixa etária
compreendida entre 27 e 67 anos. Todos são trabalhadores formais, assalariados, que
têm baixa remuneração, ocupam cargos de menor privilégio na empresa, mas de grande
30
relevância para o processo de produção, e dependem do emprego para o sustento da
família. Esses trabalhadores demonstraram, no momento da entrevista, as dificuldades
que encontram em seu dia a dia em relação às condições sócio-econômico-culturais em
que estão inseridos. Dificuldades com moradia, educação, longas jornadas de trabalho,
pouco tempo de convívio com a família, enfim, demonstraram angústias que são
comuns entre eles e que influenciam sua capacidade de lidar com o cuidado e
desenvolvimento de agravos à saúde.
As entrevistas foram categorizadas após a análise de conteúdo. Segundo
Bardin (1977, p.117), a categorização é uma operação de classificação de elementos
constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento
segundo o gênero, com os critérios previamente definidos. A seguir são apresentadas as
categorias encontradas na análise das entrevistas:
5.1- CATEGORIA 1: O papel do enfermeiro na promoção da saúde
O enfermeiro que atua no âmbito da promoção da saúde preocupa-se,
essencialmente, em proteger e promover a saúde dos indivíduos. Depara-se, a todo o
momento, com a necessidade de desenvolver continuamente atividades de promoção da
saúde e prevenção de doenças, como, por exemplo, a educação para a saúde, que é uma
atividade essencial para a promoção. Contudo, promover e proteger a saúde de cada
cidadão e da comunidade não são tarefas fáceis, pois não dependem exclusivamente do
trabalho dos profissionais de saúde, mas também de outros fatores, como estilo de vida,
fatores sociais, econômicos, culturais e psicológicos. Nesse contexto, a saúde está
31
implícita em todos os aspectos da vida humana e é resultado do equilíbrio entre o
indivíduo e seu meio.
Na categoria ‘o papel do enfermeiro na promoção da saúde’ foi possível
identificar a percepção dos trabalhadores, segundo a qual as ações do enfermeiro
convergem para fiscalização, cobrança, ajuda psicológica e estímulo ao autocuidado,
embora alguns tenham relatado desconhecer o trabalho do enfermeiro. A cobrança é
explicitada nas falas a seguir:
...eu acho que eu vindo aqui com elas, elas vão me dar a
garantia de que o que eu fiz... fiscal, né? Fala que você está
fazendo não tá valendo não, puxa a orelha, a gente vai e faz
(E2).
...os puxões de orelha... fez com que eu ficasse mais atento,
desse mais atenção a saúde...(E4).
Os entrevistados mostram que foram orientados sobre o que fazer, mas,
como ainda não incorporaram as ações em seu cotidiano, necessitam do monitoramento
do enfermeiro. Como se trata de um processo educativo, que envolve mudança de
comportamento dos trabalhadores em relação à sua saúde, o enfermeiro necessita
desenvolver habilidades para conduzir o processo. A repetição das orientações deve ser
vista como natural, assim como o monitoramento. A atividade educativa está inserida no
contexto do cuidado de enfermagem. Para Freire (1993), é necessário que a educação
permita que o homem chegue a ser sujeito, construir-se como pessoa, tendo a
possibilidade de transformar sua história e a educação deve levar o sujeito a refletir
sobre seu meio, levando-o a tomar consciência de sua realidade para mudá-la. De
32
acordo com este mesmo autor, o homem, na sua relação com o meio, tem capacidade de
decidir e intervir sobre este. O enfermeiro, consciente de seu papel como educador,
necessita usar o processo de repetição das orientações, que é visto pelo entrevistado
como cobrança e fiscalização, para atingir o objetivo do autocuidado.
O enfermeiro orienta, ensina, indica os caminhos do cuidado à saúde,
permitindo ao sujeito cuidar de sua própria saúde, em vez de delegar o cuidado aos
profissionais de saúde. Ele deve estar sempre atento à integralidade de suas ações como
promotor da saúde e estimulador de ações de autocuidado e, para isso, o monitoramento
das ações é parte da rotina do serviço, como fica claro na fala abaixo:
...toda vez que elas vêm, elas falam comigo: está tomando o
remédio direitinho. Assim, elas estão sempre me puxando pro
meu lado, porque, às vezes, a gente, que é mãe, a gente se
esquece da gente, e cuida do filho, cuida do marido e esquece
da gente (E3).
Este depoimento também evidencia os múltiplos papéis que a mulher ocupa
na sociedade. Além do trabalho fora de casa, relata o seu papel de cuidadora no âmbito
doméstico, onde cuida dos filhos e do marido, esquecendo-se de cuidar de si própria. O
enfermeiro deve estar atento a essas questões, fazendo com que os trabalhadores se
lembrem que as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças necessitam ser
incorporadas como ações cotidianas. Segundo Freire (1993), toda ação educativa deve
ser planejada por meio de reflexão sobre o homem e sua realidade. O enfermeiro
necessita conhecer a realidade do sujeito antes de planejar as ações educativas, caso
contrário, corre o risco de suas orientações não serem seguidas e seu objetivo, no âmbito
da promoção da saúde, não ser atingido.
33
As ações de promoção da saúde e prevenção de doenças realizadas pelo
enfermeiro estão se tornando uma realidade cada vez mais presente, seja no atendimento
domiciliar, em empresas públicas e privadas e em outras instituições, deixando
transparecer as mudanças que têm dado um novo significado ao papel do profissional.
Muitas vezes, na promoção da saúde, a capacidade de escuta e as condutas de orientação
do enfermeiro levam o indivíduo a uma percepção de que estão recebendo ajuda
psicológica, como evidenciado a seguir:
...Eu acho que a gente conversar com o enfermeiro é bem mais
aconselhável do que conversar com outra pessoa que, às vezes,
não entende o nosso padrão... (E8).
Agora vai regularizando, né? Até a conversa que a gente tem
com a pessoa, a gente vai soltando os problemas da gente,
apesar que ela não tem nada a ver com isso, e a gente fica
enchendo a cabeça delas. Mas é bom você, não é?, você soltar
com uma pessoa assim, que eu sei que não vai comentar nada
com ninguém. Então, eu conto pra elas as minhas coisas, eu sei
que ali eu posso confiar (E3).
Eu senti mais liberdade pra abrir, não sei por que, mas eu tive
mais liberdade pra abrir, colocar os pontos de dúvidas que eu
tinha, e...., até mesmo, abrir minha relação de casamento de
todos os pontos, os problemas que eu estava tendo. Então, foi
uma espécie de um psicólogo que eu estava abrindo... (E1).
De acordo com os entrevistados, o enfermeiro é um profissional com o qual
é mais “aconselhável” falar de sua vida e de seus problemas, pois ele tem a capacidade
de entender suas subjetividades, sua maneira de viver. Eles relatam confiança no
profissional e liberdade para se abrir e, portanto, uma possibilidade de falar de suas
questões mais íntimas, esclarecer dúvidas ou simplesmente falar. Essa parece uma
34
conquista importante do enfermeiro em relação a outros profissionais de saúde, ou seja,
a possibilidade de fazer uma escuta qualificada e favorecer a formação de nculo
usuário-profissional. O enfermeiro é capaz de entender todos os gestos, expressões,
posturas, olhares, às vezes muito mais pronunciados do que a própria fala. A qualidade
das relações interpessoais nas estruturas de saúde depende de voltar a atenção ao não
verbal e prestar mais atenção às pessoas de forma inteira (SILVA, 1998). É preciso
aprender a estar com as pessoas e a prestar mais atenção nelas, a escuta é importante
para o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro, e a capacidade de comunicação
exerce influência direta sobre os indivíduos, tornando possível a manifestação e a
exteriorização do que se passa na vida interior (L. FILHO et al., 1997).
Assim, a postura do enfermeiro, associada à confiança do trabalhador,
parece-nos um elemento facilitador da implementação de programas e ações de
promoção da saúde.
A percepção de ajuda psicológica se estende para além dos problemas de
saúde do trabalhador, incluindo os conflitos que existem com seus familiares mais
próximos que, na realidade, fazem parte de sua vida e sua compreensão é essencial para
a melhoria da qualidade de vida, como verificado abaixo:
Muito interessante ajuda psicológica, atendimento pra gente se
abrir com elas, ter tempo e... colocar a família da gente no
meio, abrir todos os campos (E1).
Essa percepção de ajuda psicológica, por parte do enfermeiro, contribui para
desenvolver uma confiança do trabalhador no profissional, facilitando o processo de
35
orientação para o autocuidado, considerando que a confiança é uma base importante
para a formação de vínculo.
A orientação é reconhecida e seguida pelos entrevistados, quando os
problemas extrapolam a esfera de atuação do enfermeiro, como no caso de conflitos
familiares. Mas, o papel do enfermeiro no incentivo ao autocuidado é percebido pelos
trabalhadores, que seguem suas recomendações, reafirmando confiança no profissional
que passa a ter mais possibilidade de intervir na realidade de saúde do trabalhador.
...por exemplo, remédio pra pressão... elas, por exemplo,
fizeram aquela rotina. Duas vezes por semana tinha que estar
aqui, medindo minha pressão...Fez com que eu me
conscientizasse mais...(E4).
... eu não sabia que eu tinha hipoglicemia quando eu fui
atendida, quando eu comecei a passar muito mal, e a
enfermeira desconfiou e eu fui ao médico... (E5).
... me incentivou a procurar um médico, né? que eu não tava
procurando (E7).
As falas evidenciam que havia problemas de saúde que, antes da atuação do
enfermeiro, não tinham sido diagnosticados ou não recebiam, a devida importância, do
ponto de vista curativo e muito menos no âmbito da promoção e da prevenção. As
orientações que são transmitidas ao trabalhador geram a procura por médicos para
diagnóstico e tratamento, e um seguimento por parte da equipe de saúde, levando ao
autocuidado.
De acordo com a Conferencia Internacional de Promoção da Saúde de
Santafé de Bogotá (BRASIL, 2001), promover saúde é impulsionar a cultura da saúde,
modificando valores, crenças, atitudes e relações que permitam chegar tanto à produção
36
quanto ao usufruto de bens e oportunidades para facilitar opções saudáveis. A promoção
da saúde do trabalhador visa o autocuidado, mas, para isso, é necessário que ele crie a
cultura de cuidar de sua própria saúde.
A essência profissional do enfermeiro está no cuidar, mas suas atribuições
vão além de cuidados restritos ao paciente no leito. Porém, uma boa parte da população
reconhece o papel do enfermeiro atribuído ao cuidar, principalmente no âmbito
hospitalar, desconhecendo seu papel como sujeito que promove saúde. As falas a seguir
expressam essa percepção:
...é muito relativo, né?...evidente, se fosse uma coisa mais, né?
Pressão é grave, claro, mas eu não levei, assim, a questão de
não ser um médico, ser uma enfermeira... (E4).
...e sim elas dando um auxílio pra gente ou caso elas não
tenham condições de dar um diagnóstico... uma indicação pra
um local com especialista...(E6).
O fato de não ser atendido por um médico e sim por uma enfermeira deixa
claro o valor social das profissões, a forte influência do modelo biomédico pautado na
doença e, ainda, o limite do trabalho do enfermeiro. Para Rizzotto (1999), a hegemonia
da medicina foi construída durante culos, a partir da incorporação do saber popular
sobre as doenças e as curas pelo saber médico. Segundo a autora, a medicina se
apropriou com exclusividade da milenar arte de curar e foi se legitimando socialmente
como a profissão que detinha o saber e o poder da cura. Os entrevistados percebem o
enfermeiro como um profissional capaz de mostrar um caminho para o tratamento, com
indicação de médicos especialistas. Reconhecem a importância do atendimento, mas
como um primeiro passo para a busca por tratamento médico; não têm conhecimento de
37
que os enfermeiros são profissionais articuladores das equipes de saúde que promovem
a interação com os demais profissionais da área, conquistando visão ampliada das ações,
sejam elas em instituições hospitalares, em centros de saúde ou em espaços menos
tradicionais, como órgãos públicos, onde atuam na formulação de políticas de saúde ou
em empresas privadas, nas quais trabalham focalizando a saúde dos trabalhadores.
Torna-se importante ressaltar que os enfermeiros recebem, em sua formação
acadêmica, fundamentação teórica e prática voltada para as mais diversas áreas de
atuação. Porém, percebe-se que um desconhecimento do processo de formação do
enfermeiro, por parte dos sujeitos da pesquisa:
Enfermeira, enfermeiro seria o quê? O auxiliar de médico, acho
que tem esse suporte também pra clínica, mas acho que seria
mais ideal o médico (E2).
Assim, porque ela não é formada, né? Igual os outros médico é,
então, elas pode adiantar aí pra gente (E7).
Enfermeira também precisa dum suporte médico, né? Ela
sozinha, ela precisa estudar, com médicos, né? no início do
curso pra vocês. Não?(E2).
Para os entrevistados, a enfermeira não tem estudo suficiente para atuar de
forma autônoma, respeitando os limites das profissões e sua formação é suficiente para
agir sempre dependendo do médico. Demonstram, ainda, a visão tradicional de que
enfermeira é ajudante de médico, que não pode agir de forma independente e que sua
atuação está pautada no cumprimento de ordens médicas. Segundo Rizzotto (1999), a
medicina se firmou, ao longo da história, como a verdadeira ciência da saúde, e os
médicos os seus legítimos representantes. As outras profissões que compõem a equipe
de saúde se tornariam auxiliares no processo de tratamento e cura, considerando que os
38
médicos são responsáveis por elas, dominam o saber e têm o poder de definir as
diretrizes e o trabalho em saúde.
Em relação à enfermagem, essa visão biomédica pode ser explicada pela
história da profissão no Brasil, que foi voltada para o sistema hospitalocêntrico, e
subordinada à visão curativa da medicina. De acordo com Rizzotto (1999), na origem
do ensino de enfermagem no Brasil, na escola Anna Nery, mais de 60% das disciplinas
teóricas eram dadas por médicos, reforçando, portanto, o modelo biomédico.
As falas evidenciam o desconhecimento não da formação do enfermeiro,
mas também da amplitude de sua atuação. Barbosa et al. (2004) afirmam que a atuação
da enfermagem no contexto brasileiro acontece, na maioria das vezes, sem que as
pessoas percebam o que realmente esses profissionais desenvolvem e qual é o seu
potencial para implantação, manutenção e desenvolvimento de políticas de saúde, tanto
em âmbito curativo quanto preventivo. A enfermagem tem sido eixo importante, senão
o principal, na implementação de políticas de saúde que tenham como objetivo uma
assistência de qualidade.
O modelo biomédico de atenção à saúde continua fortemente presente entre
os trabalhadores, que procuram assistência médica quando há o adoecimento. No Brasil,
o trabalho médico curativo sempre foi quantitativamente superior à atenção primária. A
estreita vinculação entre a concepção biologicista e o modelo biomédico prossegue até
hoje, apesar de essa abordagem ter se mostrado inadequada para resolver inúmeros
problemas de saúde, principalmente quando se tratam de problemas de saúde pública
(RIZZOTTO, 1999). Isso fica explicitado na fala abaixo:
39
Mas, no caso de alguma doença, assim, aí, lógico, tem que ser o
médico, né? (E2).
Dimensionar o âmbito de atuação das diversas categorias parece difícil para
o entrevistado. Nem toda doença necessita de médico, embora a visão corrente seja a de
que o médico resolve todos os casos de doenças. Há, portanto, uma hierarquia, em cujo
topo está o médico, podendo o enfermeiro ser responsável por coisas mais simples.
O desconhecimento do papel do enfermeiro na promoção da saúde, aliado à
cultura do modelo biomédico, gera certo desconforto no trabalhador, ao ser atendido por
um enfermeiro. O trabalhador espera pela consulta médica, pelo pedido de exame, pela
prescrição de medicamentos e, quando se vê diante de um atendimento com ações
voltadas para a promoção da saúde feita por enfermeira, se sente constrangido, como é
percebido nas falas dos entrevistados:
A questão desse acompanhamento, mesmo por ser enfermeiro,
né?, poderia, no caso, porque não é médico, exatamente um
médico, é, não sei, eu acho que, por ser enfermeiro, é fácil, né?
Se o plano tiver possibilidade de estar colocando um médico e
uma enfermeira pra ta fazendo esses acompanhamentos,
melhor, é lógico... (E4).
De certa forma a gente se sente constrangido, né? Porque a
gente tem, geralmente, a gente é atendido por um médico...
(E8).
As falas reforçam, novamente, o papel subalterno do enfermeiro. Os
entrevistados se sentem constrangidos, diminuídos por serem atendidos por uma
enfermeira e explicitam o desejo da presença do médico como garantia de qualidade da
atenção. No âmbito da promoção da saúde, o enfermeiro ocupa espaço fundamental,
40
pois é capaz de reconhecer os problemas, as situações de saúde/doença e de intervir
neles, como promotor da saúde integral do ser humano. Mais uma vez, a cultura do
modelo biomédico dificulta a percepção do trabalhador quanto à importância do papel
do enfermeiro na promoção da saúde.
Nesse sentido, de acordo com Rizzotto (1999, p.42), “a medicalização da
sociedade levou a uma restrição da autonomia das pessoas para se autocuidarem, a tal
ponto que praticamente qualquer ousadia em tratar os problemas de saúde sem a
orientação médica é condenada.” Além do constrangimento de serem acompanhados
por uma enfermeira, os entrevistados sentem que o plano de saúde está fazendo
economia em não colocar um médico para fazer os atendimentos, o que não deixa de ser
verdade, assim como o é o fato do enfermeiro ser um profissional mais adequado para
as ações de promoção da saúde. Para Barbosa et al. (2004), o enfermeiro tem uma
posição privilegiada porque confere unidade ao processo de trabalho e integra as ações
da enfermagem às ações dos demais profissionais.
As percepções explicitadas mostram que os trabalhadores ainda
desconhecem o real papel do enfermeiro nas ações promotoras da saúde e valorizam o
modelo centrado na figura do médico e a cultura curativista dominante. Os
trabalhadores desconhecem a formação do enfermeiro como agente não fiscalizador
das ações de saúde, mas como um importante sujeito na promoção da saúde e prevenção
de doenças. Há, ainda, um longo caminho a percorrer até a consolidação das políticas de
saúde do país, pois implica em processos educativos e mudança de comportamento da
população e dos profissionais.
41
5.2- CATEGORIA 2: Percepção dos trabalhadores sobre ações de promoção da
saúde no ambiente de trabalho
A segunda categoria aborda a percepção dos trabalhadores sobre as ações de
promoção da saúde no ambiente de trabalho. A categoria foi dividida em duas
subcategorias, a primeira abordando as ações de promoção da saúde como controle das
doenças e a segunda, a percepção dos trabalhadores diante dos cuidados de si próprios e
da família.
5.2.1- SUBCATEGORIA: Ações de promoção da saúde como controle das doenças
Na primeira subcategoria, foi analisada a percepção dos trabalhadores
quanto ao monitoramento, ao alerta e ao controle das ações de saúde em seu ambiente
de trabalho, como fica explícito nas falas abaixo,
Os puxões de orelha, você ta entendendo, fez com que eu ficasse
mais atento, desse mais atenção à saúde. Eu, por exemplo, ah,
remédio pra pressão, remédio pra pressão que nada. Elas, por
exemplo, fizeram aquela rotina (E4).
A importância, pra mim, eu acho que é mais puxão de orelha
mesmo, né? Que a gente desvia mesmo, não tem jeito. Eu acho
que dificilmente, se eu encontrar uma pessoa que segue ali na
risca dieta. Então, os puxões de orelha, pra poder jogar a gente
de novo na linha (E2).
...falaram que pra eu cuidar, tal e coisa, tira a pressão, pressão
tava um pouco alta, não sei o quê, tem que ter mais cuidado,
mas, a gente esquece da saúde (E9).
42
Os “puxões de orelha” tão freqüentes nas falas se referem ao papel do
enfermeiro de orientar repetidas vezes sobre o autocuidado e sobre o seguimento das
orientações. O entrevistado sabe que necessita do medicamento, mas o seu uso se
torna rotina a partir das várias abordagens que a enfermeira faz em seu local de trabalho,
tomando como base a educação para a saúde, que considera o ser humano sujeito da
construção de sua autonomia, na busca de bem estar, como melhoria da qualidade de
vida (MERHY e ONOCKO, 1997). O entrevistado sabe da importância do autocuidado
para uma melhor qualidade de vida e reconhece que nem sempre segue as orientações
que recebe. Portanto, afirma que as constantes abordagens são importantes, pois
direcionam para o cuidado com a sua própria saúde.
Reconhecer-se como o principal responsável por sua saúde é um passo
importante para levar ao autocuidado, como explicitado pelo seguinte entrevistado:
Apesar de que o primeiro a preocupar com minha saúde tem
que ser eu realmente, né? Mas, aí, o pessoal realmente cobrou,
procurou orientar também nesse sentido (E8).
O trabalho cotidiano do enfermeiro é importante no que diz respeito ao
reconhecimento, por parte do trabalhador de que é responsável por sua saúde, embora
seja um processo lento. Os trabalhadores reconhecem a importância de se preocupar em
preservar uma boa saúde e colocam que, durante o atendimento, a enfermeira se
preocupou em orientá-los quanto aos comportamentos necessários. Ter uma boa saúde
como objetivo é um passo importante para cuidar dela e, parece-nos, que os
trabalhadores vêm incorporando esse valor,
43
O importante é essa cobrança e a minha saúde em si que é o
objetivo maior, e cuidar dela. Porque, hoje em dia, do jeito que
ta aí, a gente já vai chegando numa certa idade e tem que
realmente cuidar mesmo, principalmente na parte arterial, na
parte de pressão alta, hipertensão (E8).
A promoção da saúde ainda está relacionada ao controle de doença
instalada, o que nos remete à importância do controle de doenças e não dos riscos de
adoecer. Percebe-se também que, à medida que se envelhece, aumentam os riscos de
desenvolver agravos que podem levar a complicações e seqüelas com conseqüente
diminuição da capacidade produtiva e da qualidade de vida. Os trabalhadores
reconhecem essa fragilidade do corpo humano e demonstram a preocupação em se
cuidarem, principalmente no aspecto cardiovascular, atribuindo às ações de orientação
da enfermeira na promoção da saúde, um sentido de monitoramento permanente.
Segundo Czeresnia (2003a), ao longo das duas ou três últimas décadas, conseguiu-se
demonstrar que a grande maioria dos problemas de saúde que afeta a população é, na
maioria das vezes, passível de prevenção e, ainda, que vem ocorrendo significativa
diminuição de mortalidade por doenças coronarianas e cerebrovasculares, como
evidências desta afirmação.
O ritmo acelerado de trabalho e o excesso de carga horária são grandes
vilões no combate às doenças, pois os trabalhadores, ao se dedicarem por muitas horas
ao trabalho, cuidam menos da saúde, como é colocado pelo entrevistado,
Teve importância sim, no aspecto de cobrança de, às vezes, a
gente descuida um pouco em relação à saúde. Porque a gente ta
acostumado no ritmo de trabalho hoje, que é bem acelerado,
né? (E8).
44
Percebe-se que a intensificação do trabalho é um fator que exige esforços
maiores da enfermeira em estar repetindo orientações e cobrando resultados dos
cuidados com a saúde por parte dos trabalhadores. Assim, o ritmo de trabalho acelerado,
o excesso de horas extras e a cobrança das empresas por produtividade podem levar o
trabalhador a se esquecer de cuidar de sua saúde ou não cuidar dela por passar a maior
parte de seu tempo absorvido pelo trabalho. Nesse sentido, programas de promoção da
saúde desenvolvidos na empresa por planos de saúde aumentam as possibilidades dos
trabalhadores de se cuidarem e terem uma melhor qualidade de vida no trabalho
(CZERESNIA, 2003a).
Os trabalhadores percebem que o atendimento do enfermeiro conduz à
identificação da necessidade do cuidado à saúde, pois, além da repetição das orientações
e do monitoramento contínuo, cria estratégias para o controle das doenças.
O importante, me incentivou a procurar um médico, né?, que eu
não tava procurando (E7).
Ajudam, ajudam muito, porque eu parei de passar mal,
entendeu? As meninas me deram as orientações, eu sigo
corretamente a alimentação (E5).
De uns tempos pra eu melhorei demais. Não sei se porque,
assim, a gente pensa que a gente vai ter uma outra entrevista
com elas, a gente quer mostrar que a gente melhorou, a gente
quer mostrar que a gente ta, né? Então, eu to sentindo assim,
sabe?, eu acho muito legal (E3).
Destaca-se, nos relatos, a necessidade de orientações simples e convincentes
que criam a necessidade, nos trabalhadores, de mostrarem resultados positivos para o
45
enfermeiro. A vigilância parece exercer grande importância no controle de doenças
entre eles.
A promoção da saúde acontece por meio da educação para a saúde, que é
uma estratégia da promoção. As ações de promoção da saúde se revertem em
resultados positivos significativos se ações educativas ocorrerem simultaneamente, com
a participação da enfermeira e do trabalhador. Quando essa sintonia acontece, é
perceptível a melhora no estilo e na qualidade de vida, como colocado pelos
entrevistados, que sentiram a mudança em sua situação de saúde. Ao seguirem as
orientações, tiveram os sintomas reduzidos ou eliminados e se sentiram estimulados ao
perceberem que a melhora ocorreu devido ao seu próprio esforço. Sentem-se, ainda,
motivados a mostrar à enfermeira os resultados positivos em sua saúde e reconhecem a
importância das constantes cobranças e alertas feitas pela enfermeira. Assim, o cuidado
passa a ser feito com o trabalhador e não somente para o trabalhador. Resultados
positivos em promoção de saúde devem levar em conta a participação do principal
interessado:
Eu não entendo desse negócio direito não, mas é igual mesmo
eu tava te falando, sabe? Incentiva a pessoa, né? (E7).
Os trabalhadores percebem que, seguindo as orientações da enfermeira,
podem diminuir os riscos de agravamento de uma doença, como relatado a seguir,
De aumentar o risco de doenças mais graves, aumentar o risco
de proliferar mais a doença, né? Evitar ela antes que ela possa
aumentar o grau de gravidade na gente, na vida da gente (E10).
46
Acho importante porque previne realmente uma doença maior,
né? Posteriormente, uma doença que até possa não ter cura (E5).
Bem interessante, porque você possa até mesmo estar expondo
doenças que possam ta ocorrendo com você no seu trabalho...
Ajuda a gente nisso mesmo, com conselhos, orientando a gente
mesmo (E1).
Os entrevistados relacionam as ações de saúde na empresa com as doenças
já existentes, em termos de possibilidade de agravamento, mas também como prevenção
de futuros quadros mórbidos. Parece que, aos poucos, está sendo internalizada a noção
de prevenção de doenças e promoção da saúde.
Nessa perspectiva, mudanças de estilo de vida ou comportamentos relativos
a alimentação, exercícios físicos, fumo, drogas, álcool e conduta sexual são reafirmadas
nas estratégias de promoção da saúde propostas pela enfermeira por meio de orientações
e aconselhamentos. Além disso, resgata-se a compreensão do papel fundamental das
condições gerais de vida sobre a saúde (CZERESNIA, 2003b). A promoção da saúde
se concretiza com a mudança de comportamento para estilos de vida saudáveis. Nesse
sentido, a enfermeira torna-se um profissional indispensável para educar, no sentido de
promover saúde melhorando as condições de vida do trabalhador.
5.2.2- SUBCATEGORIA: percepção dos trabalhadores diante dos cuidados de si
próprios e da família
Na segunda subcategoria, o trabalhador demonstra o sentimento de estar
sendo cuidado em seu local de trabalho e a importância da extensão desse cuidado para
a sua família. Ser atendido em seu local de trabalho é um facilitador para desenvolver as
ações de saúde, como se pode perceber nas falas abaixo:
47
Na verdade, eu percebo de forma mais direta, né? Porque a
gente, às vezes, não teria condições de estar deslocando pra
poder ir em outro lugar pra fazer essa entrevista (E8).
...uma das vantagens é que ta vindo até a gente. ‘Cê’ não tem
que deslocar, ir no hospital, né?, pra resolver alguma coisa
nesse sentido. Então, vem até a gente... (E2).
Um dos grandes problemas que os trabalhadores enfrentam para cuidar de
sua saúde é relacionado ao deslocamento até os serviços que, geralmente, estão abertos
nos horários de trabalho e as empresas não os liberam, a não ser que apresentem
quadros agudos. Assim, a necessidade de que as ações de saúde estejam mais próximas
do trabalhador são colocadas por eles, que sentem dificuldade em se ausentar do
trabalho para buscar o atendimento e o deslocamento para outro local fora de seu local
de trabalho impossibilitaria as ações de promoção da saúde. Ausentar-se do trabalho
significa, para a empresa, queda na produção, com conseqüente diminuição nos lucros.
Assim, o trabalhador é inibido e, interromper suas tarefas até mesmo para ir ao médico.
Portanto, a importância do atendimento realizado no local de trabalho é expressada
pelos trabalhadores como uma importante estratégia do plano de saúde que gera
satisfação e um sentimento de proteção com o acesso facilitado:
Eu acho bom isso porque aí a gente não perde tempo. Não
precisa estar pedindo o chefe da gente pra sair e coisa e tal e
eles mesmos já sabem, eles mesmo mandam a gente, né? Então,
a gente pode ficar mais à vontade (E7).
48
A pressão para manter a produção gera, no trabalhador, o medo de se
ausentar do trabalho e do que seu chefe poderá pensar ou fazer, o medo da punição.
Assim, torna-se comum trabalhar doente, sem procurar assistência médica, gerando
maiores riscos à saúde e dificuldade no controle das doenças existentes. A ocorrência de
distúrbios físicos e psíquicos entre trabalhadores está relacionada a determinadas formas
de organização da produção e do trabalho, bem como às condições físicas e objetivas
em que este trabalho é executado (MORAES et al., 1995). Ser atendido em seu local de
trabalho, em comum acordo com sua chefia, traz tranqüilidade para o trabalhador, que
se sente mais à vontade para cuidar da sua saúde. Além disso, o trabalhador pode criar
outras prioridades que o desviam do cuidado à sua saúde, ao ter que conciliar trabalho,
família e estudo. A proximidade do atendimento em seu local de trabalho tem sido um
elemento facilitador para as ações de saúde, resultando em maior acesso, cobertura e
acompanhamento dos progressos, no que se refere ao autocuidado e ao controle dos
riscos, mantendo a força de trabalho hígida, mais satisfeita, além de menores custos para
o plano de saúde.
Olha, essa intervenção dela vem pra ajudar bastante, porque,
às vezes, você fica até mesmo com preguiça de estar indo no
médico. Você não tem tempo de ir no médico. Você tem uma
carga horária, você é casado, você tem que trabalhar, você
chega em casa, eu, por exemplo, tenho que estar com meu filho
pra minha esposa ir pra escola. Então, esse contato mais
próximo de estar indo na empresa (E1).
O trabalhador coloca suas dificuldades de se ausentar do trabalho para
procurar assistência médica. A fala do trabalhador deixa claras as múltiplas funções que
os sujeitos possuem em sua vida diária, mostrando, também, que, atualmente, os papéis
49
desempenhados em casa, como cuidar dos filhos e estudar, se alternam, ficando o
homem cuidando da casa e do filho, enquanto a mulher estuda, o que antes não era tão
comum. também a expressiva carga horária no trabalho que, aliada às atividades
domésticas com a família, dificulta o empenho do trabalhador no cuidado com a saúde.
Quando as ações de saúde são oferecidas em seu local de trabalho, torna-se um
facilitador para o cuidado, além da satisfação diante da disponibilidade de orientações,
quando sentir necessidade.
Quando houver necessidade de especialistas, a indicação de locais mais
próximos de sua residência ou trabalho também é um facilitador para a procura do
cuidado.
...igual especialistas, localidades que eles podem atender a
gente mais próximo, entendeu? E, caso não houver, a gente
possa entrar em contato pra elas indicar o mais fácil, um local
mais perto assim (E6).
Em alguns casos, a dificuldade de procurar atendimento médico, para si ou para
familiares, é explicito, diante da realidade de cada um no seu dia-a-dia, seja em casa ou
no trabalho. Nesses casos, estender o atendimento para a família traz segurança para os
trabalhadores.
Acho bom, né? Que, pelo menos, chega, uma orientação pra
gente no decorrer do atendimento delas aqui e, se possível, né?,
elas dão orientação familiar também. Igual no meu caso, por
exemplo, que ficaram de comparecer em casa por causa da
gravidez da minha esposa. Foram, auxiliaram tudo direitinho
sem nenhum problema, conforme o que me prometeram aqui
(E6).
50
Ah, tipo assim, é uma coisa que é pra mim, não pra mim
diretamente, mas pra minha família em si. No caso, foi
importante, e ta sendo importante... (E4).
Percebe-se, pelos relatos, que confiança por parte dos trabalhadores em
relação às promessas feitas e cumpridas pelas enfermeiras. Nesse sentido, parece-nos
estar havendo fortalecimento do vínculo do trabalhador com o serviço de saúde, diante
do comprometimento da enfermeira na extensão de cobertura à família, como
preconizado pelas políticas de saúde vigentes no país.
Segundo Czeresnia (2003a), as propostas de promoção da saúde privilegiam
ações educativas voltadas para indivíduos, famílias e grupos. Portanto, ações de
promoção da saúde realizadas para os trabalhadores devem se estender para os
familiares, buscando o cuidado da família e a tranqüilidade do trabalhador, que percebe
a importância desse atendimento, resgatando a melhoria das condições gerais de vida e
de saúde, de si mesmo e de seus familiares. Muitas vezes, a ausência do cuidado com a
saúde está diretamente relacionada a fatores socioeconômicos que dificultam o acesso
ao serviço de saúde, reforçando a importância da extensão do atendimento para a
família do trabalhador, como colocado na fala abaixo,
Ah! A importância é que evita, né? Igual eu falei pra você, evita
a gente precisar ir no médico antes de saber a causa, né? No
caso, nós, que temos 5 meninos, fica difícil pra ficar deslocando
pra ir no médico. Não tem carro, né? (E10).
Condições socioeconômicas desfavoráveis constituem uma barreira
importante na procura por ações de saúde, sejam elas curativas ou preventivas. Nesse
sentido, o trabalhador procura, nas ações de promoção da saúde implementadas pela
51
empresa para trabalhadores e familiares, o estabelecimento de uma relação que lhes
permita o acesso ao serviço, bem como uma redução de seu sofrimento, preocupações e
problemas, pois reconhece seus limites financeiros e a pouca disponibilidade de tempo
para procurar serviços de saúde. Assim, espera que o conjunto das ações de saúde
propostas e ao qual se submete possa trazer benefícios e maior facilidade de acesso aos
serviços de saúde, para ele e sua família.
O sentimento de estarem sendo cuidados, de que alguém se importa com sua
saúde e de sua família foi a percepção que os trabalhadores inscritos no programa de
promoção da saúde da empresa expressaram nas entrevistas. O atendimento
individualizado que a enfermeira disponibiliza para cada um deles é reconhecido como
na fala a seguir:
Então, é por meio dessas conversas com elas, e teve uma vez
que é justamente no dia que me pegaram e que eu fui me
abrindo e elas me aconselharam. E eu te falo mesmo que mudou
muito mesmo, cem por cento, ta? Que eu consegui enxergar
uma luz nas escuras, que o problema tava comigo. Eu tinha que
melhorar, eu tinha que me dedicar mais pra mim. A gente se
abriu, na família e no trabalho, houve uma melhoria constante,
cada vez melhor, cada vez melhorando (E1).
Pelo relato, percebe-se que o trabalho realizado na empresa pela enfermeira
vai além de execução decnicas, abordando o sujeito em seu contexto de vida e
trabalho. O entrevistado relata que os atendimentos o conduziram a se perceber como
ator principal na resolução dos seus problemas. A partir do momento que conseguiu,
com a ajuda da enfermeira, visualizar os problemas que lhe causam incômodo, a busca
pela solução começou a ficar mais clara. A capacidade de escuta do enfermeiro parece
ter sido determinante para que esse trabalhador visualizasse saídas para os problemas
52
mais vivenciados. Torna-se importante ressaltar que o cuidado de enfermagem contém,
em sua estrutura, relações sociais específicas, visando ao entendimento de necessidades
humanas que podem ser definidas sob o ponto de vista biológico, psicológico e social
(CERVO e RAMOS, 2006).
A sensação de segurança e de valorização, pelo fato de o plano de saúde
corporativo ter adotado estratégias mais próximas a uma realidade, é explicitada pelos
entrevistados que se sentem acolhidos em suas necessidades cotidianas. um
reconhecimento de que as ações colocadas em prática pelo plano de saúde facilitam a
aderência ao programa de promoção da saúde,
Eu achei, como se diz assim, é, satisfatória, vamos dizer assim,
certo? São poucos planos que têm esse pessoal te
acompanhando, né? Principalmente elas que me atenderam
aqui, pegaram meu histórico, me atenderam. Depois, é, dentro
do meu histórico, tiveram na minha casa, tiveram com minha
esposa em relação à alimentação... Pressão, é, stress, né? Essas
coisas, eu achei muito importante, muito interessante (E4).
E esse programa de saúde foi uma coisa assim, né? Eu, como
fui chamada pra participar dele, eu achei que foi uma coisa
muito importante. Assim como se o convênio tivesse preocupado
com o meu bem-estar, com a minha saúde, entendeu? E isso,
pra gente que é funcionário da empresa, é sempre bom saber,
né? Tem uma pessoa que está interessada, né?(E3).
...bom, ótimo, muito ótimo seria todas as empresas fazerem isso,
né? E isso é muito importante, muito importante para nós
(E10).
...a importância é de grande valor... que alguém tá preocupando
com a saúde da gente. Isso significa muito pra gente... São
pessoas valorizando pessoas... (E4).
53
O sentimento de estar recebendo cobertura do plano de saúde melhora a
auto-estima e facilita o vínculo com a empresa, que é a patrocinadora dessas ações.
Nesse sentido, programas de promoção da saúde especialmente dirigidos a
trabalhadores de empresas têm sido considerados altamente eficientes, do ponto de vista
do mercado e constituem um dos elementos estratégicos centrais no sentido de
equilibrar a crescente espiral de gastos com assistência médico-hospitalar nas empresas
(CZERESNIA, 2003a). Para os trabalhadores, a preocupação que a empresa e o plano
de saúde têm com sua saúde e sua família, independente da motivação que ambas têm
para a realização desse tipo de programa, é altamente positiva. Os trabalhadores relatam
sentimentos de valorização e consideram o programa de promoção da saúde importante
e interessante. Com a ampliação do cuidado para a família, os entrevistados consideram
as ações de promoção da saúde uma renovação no mercado de plano de saúde.
...e achei mais interessante ainda que, além de ser uma coisa
promovida aqui dentro do meu setor de trabalho, ainda o
pessoal ir na minha casa... orientar minha esposa, minhas
filhas, meu filho. Então, não sei, eu acho que é importante isso,
é uma renovação, ou seja, uma coisa nova, né?, dentro do
mercado de plano de saúde (E4).
Essa renovação apontada pelo entrevistado emerge da proposta de atenção
integral na saúde suplementar, envolvendo ações de prevenção, controle e recuperação
das doenças, assim como de promoção da saúde dos beneficiários dos planos de saúde.
Esse novo modelo de atenção à saúde na saúde suplementar é sentido pelos
trabalhadores como uma opção de cuidado de sua saúde e da sua família. Segundo
Malta (2005, p.22), propostas alternativas de modelagem dos serviços de saúde têm que
incorporar outros saberes e práticas em saúde e, nesse sentido, aposta-se que a produção
54
em saúde deve operar tecnologias de trabalho voltadas para uma atenção mais cuidadora
e produtora de novas relações, buscando construir serviços de saúde centrados nos
beneficiários e em suas necessidades. Nesse sentido, o programa oferece ao trabalhador
disponibilidade de atenção à saúde, percebido como uma segurança pelo entrevistado
que, pouco acostumado a disponibilidades dessa natureza, manifesta sentimento de
segurança diante da proposta,
...as meninas me falaram que o que eu precisasse eu poderia
comunicá-las. Eu acho isso interessante dentro de um plano de
saúde... Se você sentir alguma coisa, você liga e eles estão
prontos pra te atender... (E5).
5.2.3- CATEGORIA 3: Abordagem inovadora de atenção à saúde
A terceira categoria mostra como os trabalhadores percebem as ações de
promoção da saúde como inovadoras, criando oportunidades para cuidarem de sua
saúde dentro de uma abordagem preventiva. Os entrevistados percebem essas ações
como inovadoras no âmbito da saúde do trabalhador, especialmente sendo
implementada por um plano de saúde,
...mas, é uma coisa nova, eu acho, nova porque eu já, desde que
eu era menino, meu pai tinha convênio médico. Comecei a
trabalhar também, toda vida eu trabalhava e tinha convênio
médico. Eu nunca trabalhei numa empresa que tinha convênio
médico que fazia esse trabalho (E4).
olha, eu vejo assim, que é uma coisa nova, né? Que, no
primeiro momento, assusta a gente, uma pessoa disposta a te
ajudar, te prevenir de doenças e, ao mesmo tempo, eu vejo que é
uma coisa super boa, super interessante... (E5).
55
Programas de promoção da saúde têm sido especialmente dirigidos a
trabalhadores de empresas e são considerados altamente eficientes, sob o ponto de vista
do mercado. Segundo Czeresnia (2003a), esses programas constituem um dos elementos
estratégicos centrais no sentido de equilibrar a crescente espiral de gastos com
assistência médico-hospitalar nas empresas. Os trabalhadores percebem esses
programas como inovadores por serem estratégias recentes, ainda não praticadas por
todos os planos de saúde. Como tudo que é novo pode causar algum tipo de receio, não
é diferente a atitude dos trabalhadores; quando se mostram, inicialmente, ficam
assustados com o programa, especialmente por sentirem que estão sendo cuidados, que
a enfermeira está disponível para ajudá-los a cuidar de sua saúde. As falas dos
entrevistados evidenciam a experiência com vários planos de saúde, mas que em
nenhum deles participaram de programas de promoção da saúde.
...eu trabalhei com outros planos de saúde. Eu nunca tinha
visto assim um programa desses dentro de um plano de saúde...
(E5).
...plano de saúde que eu tive, cinco, nunca tive um
acompanhamento desses... (E1).
A aceitação do programa de promoção da saúde com a disponibilidade da
enfermeira fica evidente quando comparam o plano de saúde atual com outros com os
quais tiveram experiência. Assim, o novo parece estar sendo incorporado como uma
experiência positiva. De acordo com Czeresnia (2003a), o aspecto central desses
programas é a perspectiva que trazem de efetiva diminuição dos gastos das empresas
com assistência médica e o incentivo delas a programas de promoção da saúde pode
articular-se com os planos de saúde a elas vinculados, trazendo, além da diminuição dos
56
gastos, melhor qualidade de vida para os trabalhadores. A perspectiva de uma ação
inovadora traz também a visão de uma oportunidade de estar sendo cuidado e
valorizado, como é percebido no depoimento a seguir:
...é um acompanhamento de saúde, certo? Então, é importante
demais... (E4).
eu acho que, nossa!, o programa de saúde é uma coisa muito
importante (E3).
No entanto, o conforto decorrente do sentimento de estar sendo cuidado tem
gerado acomodação, mesmo quando necessitam de tratamentos especializados. Alguns
trabalhadores mostram certa resistência em procurar tratamentos médicos quando
necessário, vendo, nos programas de promoção da saúde, uma oportunidade de se
cuidarem sem necessidades de outras intervenções médicas ou hospitalares. Essa atitude
coloca em risco sua saúde, pois o programa de promoção realizado por enfermeiras em
seu local de trabalho não cobre todas as necessidades do trabalhador, principalmente em
casos agudos ou de acompanhamento de quadros mórbidos já existentes.
Olha, essa experiência que eu estou tendo, ela está sendo legal.
Essa ajuda que a gente tem, ela é bem melhor do que do que
tratamento médico. Não sou muito de médico não, não sou
muito fã de hospital, não sou não (E1).
Isso, pra mim, é bom. Pelo menos, a maioria das vezes, a gente
vê as pessoas correndo atrás e não eles vindo até você. Pra mim
é até bom, igual essa é a primeira vez que isso acontece... A
gente fica até satisfeito, entendeu?... (E6).
Na realidade, os programas de promoção visam reduzir a necessidade do
acompanhamento médico ou internações, mas não os exclui como possibilidade, quando
57
necessário. No entanto, as experiências dos trabalhadores, quando necessitam de
serviços de saúde e hospitais, nem sempre são positivas e envolvem o sentimento de ser
apenas mais um a ser atendido. Segundo Malta (2005), os serviços de saúde devem
buscar outros campos de saberes e práticas em saúde, além de configurar novas formas
de organização da atenção que sejam anti-hegemônicas. Portanto, levar programas de
saúde para as empresas, com ênfase na promoção da saúde, leva para os trabalhadores a
oportunidade de terem uma alternativa para cuidarem de sua saúde, ao mesmo tempo
que faz com que sintam-se valorizados.
Mas, a dicotomia entre tratamento médico e ações de promoção da saúde é
explicitada pelos trabalhadores, que ainda mantêm presente a cultura do modelo
biomédico. No entanto, para a entrevistada cujo depoimento é transcrito a seguir, fica
claro que necessita de ações de promoção e curativas como complementares:
Oh, eu acho que, sem o tratamento médico, no meu caso, nos
meus problemas, eu não vou a lugar nenhum. Se eu não tiver
tomando meus medicamentos, porque é uma coisa que o medico
mesmo falou: ‘você vai ter que tratar pelo resto da vida’.
Mas tem o outro lado da importância de eu estar desabafando,
de eu estar, entendeu?, tendo a oportunidade. Eu acho, assim,
as duas coisas vão caminhar juntas. As duas coisas vão fazer
parte da minha vida, no dia-a-dia (E3).
Para essa entrevistada, as ações de promoção da saúde precisam caminhar
junto com as ações curativas, deixando claro a importância que o tratamento médico
tem na sua saúde. Segundo Rizzotto (1999), o trabalho médico sempre foi
quantitativamente superior em relação à atenção primária; os esforços técnicos e
científicos concentraram-se no combate e na cura das doenças orgânicas, com o objetivo
de suprimir as manifestações sintomáticas e restituir a normalidade e o funcionamento
58
perfeito ao organismo. Para Rizzotto (1999), isso levou a uma preponderância das
intervenções curativas, em relação aos outros níveis de atenção à saúde. No entanto,
apesar da cultura biomédica predominar ainda entre os trabalhadores, a entrevistada
reconhece a importância das ações de promoção da saúde e a oportunidade que o
programa traz para o controle de seus problemas de saúde.
Apesar da forte influência do modelo curativo, a percepção do trabalhador
sobre a importância da prevenção para manter a saúde fica explícita na fala transcrita a
seguir:
Eu acho que, a partir do momento que existe a prevenção, essa
promoção, você também vai diminuir o tratamento médico,
certo? Então, eu acho que é tipo uma cadeia, né? Uma coisa
puxando a outra. Acho que a partir do momento que existe a
prevenção, o tratamento médico quase que se reduz... Se você
chegou ao ponto de precisar de um tratamento médico, você
não fez a prevenção (E4).
Os dois são importantes, né? Mas as ações preventivas são
melhores. São melhores porque evita de aumentar o risco de
doenças mais graves, de proliferar mais a doença, né? Evitar
ela antes que ela possa aumentar, né?, aumentar o grau de
gravidade na gente, na vida da gente (E10).
O trabalhador tem a esperança de que as ações de saúde consigam melhorar
sua vida e espera que, prevenindo as doenças, não necessite de tratamentos médicos.
Para Cecílio (1994), o trabalhador espera que o conjunto das ações de saúde ao qual se
dispõe a se submeter lhe traga benefícios; a sua grande expectativa é ade que as ações
de saúde sejam efetivas e o satisfaçam. Portanto, ele tem consciência de que a falta da
prevenção pode levar ao adoecimento ou ao agravamento da doença e,
conseqüentemente, ao tratamento médico.
59
As ações de promoção da saúde e prevenção de doenças são reconhecidas
pelos trabalhadores como fatores importantes para manter a saúde, juntamente com as
ações médicas curativas, que devem ser complementares, como pode se constatar nos
depoimentos transcritos a seguir:
acho que a importância dela, ela tem um significado, né? É
instruir a gente também pras coisas que a gente, às vezes, nem
tem conhecimento, né? Então, vem trazer esse conhecimento pra
gente, é desenvolvendo mais a parte da gente em relação à
saúde... O tratamento médico, aí, é mais profundo, eu acho,
né? Que não vai alertar, vai tentar corrigir realmente...
Acho que trabalha os dois juntos (E2).
Os dois são importantes, cada um numa parte separado, né? Ou
seja, promoção da saúde que ta, realmente, que ta buscando
meios, buscando formas de melhorar, né? E o tratamento
médico em si já é a conclusão, né? A outra parte, acho que é
onde se completa... (E8).
Os trabalhadores mostram que conseguem diferenciar ações preventivas de
ações curativas e dão importância às duas, em seu contexto de vida. A idéia de
promoção e prevenção envolve a capacidade individual e coletiva para lidar com a
multiplicidade dos condicionantes da saúde (FREITAS, 2004), enquanto que a
concepção curativista é mediada pela tecnologia, necessária para o desenvolvimento da
humanidade (RIZZOTTO, 1999). Portanto, a colocação dos entrevistados quanto à
importância das duas formas de atenção à saúde é coerente, desde que haja uma
mediação entre a procura por uma e por outra, buscando nas ações de promoção da
saúde o caminho para a mudança comportamental e para o autocuidado.
60
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo abordou a percepção dos trabalhadores sobre um programa de
promoção da saúde e prevenção de doenças de uma operadora de saúde suplementar e
operacionalizado por enfermeiras, junto aos beneficiários do plano de saúde.
A análise das entrevistas mostrou que os trabalhadores ainda possuem uma
visão da medicina centrada na cura e participar de programas de promoção e prevenção
é uma nova realidade, que implica mudar a maneira de perceber as ações de saúde e,
para ter sucesso, necessita adesão dos trabalhadores. A lógica desse tipo de programa é
estabelecer o diagnóstico de uma doença ou dos riscos de adoecer, o mais precoce
possível, antes mesmo do aparecimento de sinais e sintomas. Os trabalhadores a
consideram como uma nova modalidade de cuidado, que os faz perceber que estão
sendo valorizados, desenvolvendo, portanto, um sentimento de estarem sendo cuidados
pela empresa e pelo seu plano de saúde.
Esta nova prática assistencial, voltada para a promoção da saúde e
prevenção de doenças, com acompanhamento sistemático do trabalhador, tem o objetivo
de reduzir custos assistenciais e melhorar a qualidade de vida. Isso porque, ao longo das
duas ou três ultimas décadas, conseguiu-se demonstrar que a grande maioria dos
problemas de saúde pública que afetam a população é, em sua maioria, passível de
prevenção.
Ações de promoção da saúde se tornam eficientes à medida que os
profissionais envolvidos orientem e estimulem os trabalhadores a mudar seu
comportamento para melhorar a qualidade de vida. No entanto, as mudanças de
comportamento dependem do conhecimento dos fatores de risco, dos hábitos
61
introjetados, da influência da cultura do grupo, do apoio de familiares e de amigos e da
orientação de profissionais de saúde. Essas intervenções requerem esforço
personalizado, capacidade de persuasão do trabalhador de acordo com sua singularidade
e disponibilidade de informação, além de grande persistência por parte dos profissionais
e trabalhadores das empresas, considerando-se que esse é um processo lento, cujos
maiores resultados serão alcançados a médio e longo prazos.
No entanto, um programa de promoção da saúde e prevenção de doenças
centrado no profissional enfermeiro e implementado por enfermeiras gera desconfortos
e uma reversão das expectativas, podendo ser interpretado apenas como redução de
custos. No entanto, programas dessa natureza, apesar de contrariarem as tradicionais
ações de saúde na saúde suplementar, são coerentes com as políticas de saúde colocadas
em prática no país e no mundo, como forma de reduzir custos, mas também como forma
de disponibilizar a tecnologia adequada, menos espoliante e mais eficaz para população
usuária.
Os trabalhadores, em algumas situações, identificam o enfermeiro como um
assistente do médico, cuja formação está aquém da formação do profissional médico, o
que dificulta o estabelecimento de confiança do trabalhador para com o trabalho da
enfermeira. Por outro lado, a capacidade de escuta que o enfermeiro desenvolveu em
sua formação, além da habilidade para realizar ações de promoção, como orientações
que conduzem para o autocuidado, é percebida pelos trabalhadores como uma forma de
cobrança e fiscalização, que os leva a cuidarem de sua saúde, evitando complicações
decorrentes de agravos.
O enfermeiro inserido em ações de promoção da saúde, seja em instituições
públicas ou privadas, terá de assumir uma postura de aprendizado contínuo e capacidade
62
de orientação dos sujeitos envolvidos no processo. O enfermeiro é um profissional que
possui formação e competência para desenvolver ações de promoção da saúde e
prevenção de doenças, e deve buscar desenvolver essas habilidades assumindo uma
nova postura em um campo que se expande a cada dia no setor de saúde suplementar.
Portanto, esse estudo mostra que ações de promoção da saúde e prevenção
de doenças realizadas por enfermeiros são percebidas, pelos trabalhadores, como uma
orientação para o autocuidado, para situações simples. No entanto, cabe ao enfermeiro
investir nesse campo de atuação, pois suas possibilidades de êxito são grandes, tanto em
termos de empregabilidade como na possibilidade de contribuir para a melhoria de
saúde da população e controle de fatores de risco, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida.
Outros estudos sobre o impacto das ações de promoção nas empresas,
relacionados aos comportamentos do sujeito que recebe informações adequadas de
forma sistemática, custos operacionais das empresas e dos planos de saúde, controles de
quadros mórbidos, absenteísmo e seus custos, satisfação dos trabalhadores e
comportamento da produtividade, podem ser importantes para a consolidação de
programas de promoção da saúde e prevenção de doenças e do trabalho do enfermeiro
nessa área.
63
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Vânia Sampaio. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da
Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface-
Comunicação, Saúde, Educação, v.9, n.16, p.39-52, set. 2004/fev.2005.
BARBOSA, Maria Alves; MEDEIROS, Marcelo; PRADO, Marinésia Aparecida;
BACHION, Maria Márcia; BRASIL, Virginia Visconde. Reflexões sobre o trabalho do
enfermeiro em saúde coletiva. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.6, n.1, 2004.
Disponível em: <www.fen.ufg.br>. Acesso em: 15 nov. 2006.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 229p.
BECKER, Daniel. No seio da família: amamentação e promoção da saúde no
Programa de Saúde da Família. 2001. 117p. (Mestrado)-Fundação Oswaldo Cruz,
Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro. 2001.
BRASIL. Ministério da Saúde. Ação educativa nos serviços básicos de saúde. Brasília:
Ministério da Saúde, 1980.
BRASIL. Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. Dispõe sobre os Planos de Assistência à
Saúde. Brasília, 1998.
BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da
Saúde, 2001. 112p.
BRASIL. Lei n. 9.961, de 28 de Janeiro de 2000. Cria a Agência Nacional de Saúde
Suplementar-ANS. Disponível em: <http://www.ans.gov.br>. Acesso em: 15 maio
2005a.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Duas faces da
mesma moeda: microrregulação e modelos assistenciais na saúde suplementar. Rio de
Janeiro: Ministério da Saúde, 2005b. 270p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
BRASIL. Resolução Normativa n.94, de 23 de março de 2005. Dispõe da criação de
programas de promoção à saúde e prevenção de doenças na saúde suplementar.
Disponível em: <http://www.ans.gov.br>. Acesso em: 15 maio 2005c.
64
BRASIL. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Legislação. Disponível em:
<http://www.ans.gov.br/portal/site/legislacao/legislacao_integra.asp?id_original=455>
Acesso em: 30 abr. 2006.
BUSS, Paulo Marchiori. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In:
FREITAS, Carlos Machado de; CZERESNIA, Dina. Promoção da saúde: conceitos,
reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2004. 174p.
CANDEIAS, Nelly Martins Ferreira. Conceitos de educação e de promoção em saúde:
mudanças individuais e mudanças organizacionais. Saúde Pública, v.31, n.2, p.209-
213, abr.1997.
CARDOSO, Alfredo. Prevenção está em alta. Revista Gestão Médica, v.1, n.2, p.18-
20, maio 2005.
CARVALHO, Sérgio Resende. Health promotion contradictions regarding the issues of
the subject and the social change. Ciência Saúde Coletiva, v.9, n.3, p.669-678,
July/Sept. 2002.
CECILIO, Luiz Carlos de Oliveira; MERHY, Emerson Elias; CAMPOS, Gastão
Wagner de Sousa; Inventando a mudança na saúde. São Paulo: Hucitec, 1994. 335p.
CERVO, Marcelli Cristina; RAMOS, Helena Ângela de Camargo. Conhecimento do
enfermeiro sobre sua atuação em saneamento básico no programa de saúde da família
em Guarapuava-PR. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.7, n.2, p.17-23, jun.
2006.
CZERESNIA, Dina. The concept of health and the difference between prevention and
promotion. Cadernos de Saúde Pública, v.15, n.4, p.701-709, Oct./Dec.1999.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php >. Acesso em: 27 set. 2005.
CZERESNIA, Dina. Ações de promoção à saúde e prevenção de doenças: o papel da
ANS. Brasília, 2003a. Disponível em <http://www.ans.gov.br>. Acesso em: 22 jun.
2005.
CZERESNIA, Dina. Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2003b. 176p.
FERREIRA, A.B.H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fonteira, 1986.
65
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 22.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1993.
FREITAS, Carlos Machado de; CZERESNIA, Dina. Promoção da saúde: conceitos,
reflexões, tendências. Rio de Janeiro: FioCruz, 2004. 174p.
GAZZINELLI, Maria Flávia Carvalho; REIS, Dener Carlos dos; MARQUES, Rita de
Cássia. Educação em saúde: Teoria, método e imaginação. Belo Horizonte: UFMG,
2006.
GODOY, Arilda Schimdt. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, v.35, n.3, p.20-29, maio/jun.1995.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa nacional
por amostra de domicílios. Acesso e utilização de serviços de saúde, 1998. Rio de
Janeiro: Ministério do Planejamento, 2000.
KOIFMAN, Lílian. O modelo biomédico e a reformulação do currículo médico da
Universidade Federal Fluminense. História Ciências Saúde, Manguinhos, v.8, n.1,
p.49-69, mar./jun. 2001.
L. FILHO, W.D.; LUNARDI, G.L.; PAULITSCH, F.S. A prescrição de enfermagem
computadorizada como instrumento de comunicação nas relações multiprofissionais e
intra equipe de enfermagem: relato de experiência. Revista Latino Americana de
Enfermagem. Ribeirão Preto, v.5, n.3, p.63-69, jul. 1997.
LEAVELL, S.; CLARK, E.G. Medicina preventiva. São Paulo: McGraw-Hill, 1976.
LEFEVRE, Fernando; CAVALCANTE, Ana Maria. Promoção de Saúde-a negação
da negação. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2004. 166p.
MACERA, Andréa Pereira. SAINTIVE, Marcelo Barbosa. O Mercado de Saúde
Suplementar no Brasil, out. 2004. Disponível em:
<http://www.fazenda.gov.br/seae/documentos/doctrabalho>. Acesso em: 26 abr. 2006.
MALTA, Deborah C. Qualificação da saúde suplementar: nova perspectiva no processo
de regulação. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Saúde
Suplementar, 2005.
MERHY, Emerson Elias. ONOCKO, Rosana. Agir em Saúde: um desafio para o
público. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1997. 385p.
66
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. 4.ed. São Paulo/Rio
de Janeiro: Hucitec-Abrasco, 1996. 269p.
MIRANDA, Cláudio da Rocha. Gerenciamento de custos em planos de assistência à
saúde. 2003.
MORAES, Lucio F. R. de. MARQUES, Antonio Luiz. KILIMNIK, Zélia M.
LADEIRA, Marcelo B. O trabalho e a saúde humana: uma reflexão sobre as abordagens
do stress ocupacional e da psicologia do trabalho. Cadernos de Psicologia, Belo
Horizonte, v.3, n.4, p.11-18, dez. 1995.
RIZZOTTO, Maria Lúcia Frizon. História da enfermagem e sua relação com a saúde
pública. Goiânia: AB, 1999. 112p.
SILVA, M.J.P. A importância da comunicação nos processos de qualidade. Revista
Nursing Brasil, n.1, p.20-26, jun. 1998.
SILVEIRA, L.S. Prevenção de doenças e promoção da saúde: diferenciais estratégicos
na conjuntura do mercado de saúde suplementar. Cadernos de Seguro: Teses,
Funenseg, RJ, v.10, n.26, 112p., 2005.
SOUZA, Elza Maria. Promoção da Saúde, epidemiologia social e capital social: inter-
relações e perspectivas para a saúde pública. Caderno de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v.20, n.5, set./out. 2004.
TORRES, C.H. Ensino de epidemiologia na Escola Médica: institucionalização da
epidemiologia como disciplina na faculdade de medicina da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. 2002. Dissertação (Mestrado)-Escola Nacional de Saúde Pública da
Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.
YIN, Robert K. Case Study Reserch: design and methods: tradução e síntese de
Ricardo Lopes Pinto. Disponível em: <http://focca.com.br >. Acesso em: 2 maio 2005.
67
ANEXOS
68
ANEXO 1
ROTEIRO PARA ENTREVISTA
NOME_______________________________________________________________
DATA DE NASCIMENTO_____/_____/_____ SEXO: M ( ) F ( )
ENDEREÇO:
Rua_________________________________________nº_________Bairro_________
SETOR DE TRABALHO NA EMPRESA____________________________________
FUNÇÃO_____________________________________________________________
CASADO: sim ( ) não ( ) FILHOS: sim ( ) quantos:______não ( )
1- O que você achou do atendimento feito por uma enfermeira?
2- Como você se sentiu ao ser atendido por uma enfermeira?
3- Que importância esse atendimento teve na sua saúde?
4- Para você, qual a importância de participar de programas de promoção da saúde?
5- O que você acha das ações voltadas para a promoção da saúde?
6- O que você acha mais importante: ações de promoção da saúde ou tratamentos
médicos?
7- Como você percebe as ações de promoção da saúde realizadas no seu ambiente de
trabalho?
69
ANEXO 2
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado a participar da pesquisa intitulada: A Percepção do
Trabalhador sobre Promoção da Saúde Realizada pela Enfermeira na Saúde
Suplementar, cujo objetivo é compreender a percepção dos trabalhadores frente a um
novo modelo de atenção à saúde, a promoção da saúde, realizada pelo enfermeiro.
A realização desse estudo poderá oferecer subsídios para a melhoria da qualidade de
vida dos trabalhadores e usuários de planos de saúde, através da implementação de
ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.
A pesquisa está sendo realizada por mim, Ana Cláudia Pedrosa Dias, enfermeira,
identidade n° M5 737 027, aluna do curso de mestrado da EEUFMG.
Sua participação é voluntária, sendo sua colaboração importante e necessária
para o andamento da pesquisa. Ela consiste em participar de uma entrevista, de forma
individual, que será gravada com sua autorização prévia, respondendo a um
questionário.
A você será garantido o anonimato, o sigilo das informações e da privacidade,
além da utilização dos resultados da pesquisa, exclusivamente para fins científicos,
visando uma melhor relação entre o enfermeiro que trabalha na promoção da saúde e o
trabalhador usuário de plano de saúde.
Caso concorde em participar, em qualquer momento você pode solicitar
informações ou esclarecimentos sobre o andamento da pesquisa, bem como desistir dela
e não permitir a utilização de seus dados, sem que haja nenhum prejuízo para você.
CONSENTIMENTO:
Eu, como entrevistado(a), afirmo que fui devidamente orientado(a) sobre o objetivo e a
finalidade da pesquisa, bem como da utilização dos dados exclusivamente para fins
científicos e sua divulgação posterior, sendo que meu nome será mantido em sigilo.
Nome do entrevistado(a):________________________________________________
Assinatura:____________________________________________________________
Data:_____/_____/_____
Pesquisadora: Ana Cláudia Pedrosa Dias
Endereço: Rua Carvalhais de Paiva, 310/202. Cidade Nova. Belo Horizonte-MG
CEP: 31170-340 Telefone: 31 3488-8251 – [email protected]
Assinatura______________________________________________________
Comitê de Ética da UFMG-COEP
Av. Antônio Carlos, 6627, Pampulha
Unidade Administrativa II, 2° andar, sala 2005
Belo Horizonte-MG
(31)3499-4592 – [email protected]
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo