Download PDF
ads:
0
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
EDSON BÜNDCHEN
COMPETÊNCIAS GERENCIAIS EM AÇÃO - O Caso do Banco do Brasil
Biguaçu-SC
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
EDSON BÜNDCHEN
COMPETÊNCIAS GERENCIAIS AÇÃO – O Caso do Banco do Brasil
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título
de
Mestre em Administração pela
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Educação de Biguaçu-SC
Orientador: Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto
Biguaçu-SC
2006
ads:
2
EDSON BÜNDCHEN
COMPETÊNCIAS GERENCIAIS EM AÇÃO – O Caso do Banco do Brasil
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre e aprovada pelo
Curso de Administração da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu-
SC.
Área de Concentração: Organizações e Sociedade
Biguaçu, SC, 17 de Agosto de 2006.
Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto
UNIVALI – Centro de Educação de Biguaçu-SC
Orientador
Prof. Dr.Anielson Barbosa da Silva
UnP – Universidade Potiguar
Membro
Prof. Dra. Christiane Kleinübing Godoi
UNIVALI – Centro de Educação de Biguaçu-SC
Membro
Prof. Dr. Miguel Angel Verdinelli
UNIVALI – Centro de Educação de Biguaçu-SC
Membro
3
Dedico este trabalho à minha esposa Daliane, pelo
incentivo, pelo apoio e pela compreensão. Sem ela, este
sonho não seria realizado. Dedico também este trabalho às
minhas filhas amadas, Bruna e Fernanda, que, durante o
tempo de ausências constantes, suportaram a situação e
compreenderam-na. Por fim, dedico este trabalho aos
meus pais (in-memorian) Bruno e Hanelore, que, mesmo
silenciosamente, deram-me forças para acreditar que este
projeto seria possível.
4
AGRADECIMENTOS
Ao amigo, professor e primeiro orientador, Anielson Barbosa da Silva, pela dedicação,
pela paciência e pela atenção dispensadas à minha formação. Seu apoio e incentivo foram
fundamentais para que este trabalho fosse realizado.
Ao meu orientador, professor Carlos Ricardo Rossetto, pela orientação segura, clara e
firme, com contribuições valiosas para a qualidade deste trabalho.
Aos professores do Curso de Mestrado em Administração da Univali, de modo
particular à professora Christiane Kleinübing Godoi, com a qual consegui experimentar o
sabor do verdadeiro debate de idéias em sala de aula.
Aos meus colegas de Mestrado, em especial ao Anselmo Arlotta, Cristina Pereira
Vecchio Balsini, Élvis Silveira Martins, João Roman Neto, Jucelino Jorge Ferraz e Simplício
Meurer, pelo convívio amigo e solidário.
Aos meus colegas de trabalho, Luis Ricardo Minsky, Rubens Friedeman, Elimar
Drehmer, Edson Ricardo Scolari, e Milton Laforga, pela colaboração e pelo apoio nas sessões
dos grupos de discussão, etapa preliminar e fundamental para a realização deste estudo.
Ao colega de trabalho e amigo, Juarez Domingos Vidotto, pelo incentivo, pela
orientação e troca de idéias durante meus estudos, além da colaboração nas sessões dos
grupos de discussão.
A todos os colegas da Agência Setor Público, de Florianópolis-SC, pela compreensão
e pela colaboração, principalmente durante as minhas ausências para freqüentar as aulas no
Campus de Biguaçu-SC.
À Djeovana Dias Scoz e ao Fernando Henrique Ferraz Pereira da Rosa, pela
colaboração na aplicação dos questionários, na revisão dos trabalhos e nas análises
estatísticas.
Aos colegas gerentes de agências do Banco do Brasil, que se dispuseram a responder
aos questionários, possibilitando a realização deste trabalho.
A todos aqueles que, de uma forma ou de outra, colaboraram com este trabalho, e que
não estão aqui nominalmente citados.
Obrigado, enfim, a Deus, por ter me dado saúde e disposição suficientes para levar até
o fim este estudo, que é muito mais do que um curso, é a realização de um sonho.
5
Antes do compromisso, a hesitação, a oportunidade de
recuar, a ineficiência permanente. Em todo o ato de
iniciante (e de criação) uma verdade elementar cujo
desconhecimento destrói muitas idéias e planos
esplêndidos: no momento em que nos comprometemos de
fato, a providência também age. Ocorre toda a espécie de
coisas para nos ajudar, coisas que de outro modo nunca
ocorreriam. Toda uma cadeia de eventos emana da
decisão, fazendo vir a nosso favor todo tipo de encontros,
de incidentes e de apoio material imprevistos, que
ninguém poderia sonhar que surgiria em seu caminho.
Começa tudo o que possas fazer, ou que sonhas poder
fazer. A ousadia traz em si o gênio, o poder e a magia.
GOETHE
6
THE
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo principal identificar as competências gerenciais mais
importantes na atuação dos gerentes de agência do Banco do Brasil. A pesquisa, de caráter
descritivo e exploratório, foi dividida em duas partes: em sua fase qualitativa, por intermédio
de entrevistas em grupo, levantou-se um conjunto de 27 competências gerenciais divididas em
três blocos: sociais, técnicas e de negócio. Na fase quantitativa, elaborou-se um questionário
para mensurar o grau de importância e de encorajamento, na percepção dos gerentes de
agência do Banco, das 27 competências gerenciais. A amostra foi constituída por 425 gerentes
de agências níveis 1, distribuídos por todo o País, de três pilares negociais: varejo, atacado e
governo, dos quais 248 responderam à pesquisa. Realizou-se análise descritiva e inferencial,
buscando-se associações de interesse entre os graus de importância e encorajamento, tanto do
ponto de vista individual quanto em categorias de competências. Das 27 competências
avaliadas, somente uma foi considerada pouco importante. Foi verificado que os graus de
importância atribuídos pelos gerentes às competências, quer individual, quer em categorias,
sempre superou os respectivos graus de encorajamento. A análise descritiva concluiu que as
competências sociais receberam os maiores escores, em relação às competências técnicas e de
negócio, tendência confirmada pela análise inferencial, o que permite extrapolar o resultado
para toda a população. Não se conseguiu associar o nível de escolaridade, formação
acadêmica, gênero, idade e tempo de Banco com o resultado das agências. O estudo
conseguiu associar, de forma marginal e positiva, o bloco de competências sociais com os
resultados das agências. Foi ainda identificado que as competências descritas
espontaneamente pelos gerentes coincidiram com aquelas constantes no questionário,
havendo forte predominância de competências associadas ao fortalecimento e trabalho em
equipe. Os resultados apontam para a necessidade de o Banco priorizar o desenvolvimento
das competências sociais, uma vez que o estudo sinalizou que estas foram consideradas as
mais importantes para o trabalho dos gerentes e, também, puderam ser positivamente
correlacionadas com o desempenho das agências.
7
ABSTRACT
The main objective of this work was to identify the key management competencies
required of Bank of Brazil branch managers. The research, which was of the descriptive,
exploratory type, was divided into two parts: In the qualitative phase, group interviews
yielded a set of 27 management competencies, which were divided into three blocs: Social,
technical and business. In the quantitative phase, a questionnaire was designed, to measure the
importance and encouragement attributed by branch managers of Bank, to the 27 management
competencies. The sample consisted of 425 level 1 branch managers, throughout the country,
in three business sectors: retail, wholesale and government. Of this total, 248 replied to the
questionnaire. A descriptive and inferential analysis was carried out, to determine links of
interest between the levels of importance and encouragement, both from the individual point
of view, and in terms of categories of competencies. Of the 27 competencies evaluated, only
one was considered as being of little importance. It was observed that the level of importance
attributed to the competencies, by the managers, whether individually or in categories, was
always higher than the respective levels of encouragement. The descriptive analysis
concluded that the social competencies were given the highest scores, compared with the
technical and business competencies, a trend which is confirmed by the inferential analysis,
which enables the result to be extrapolated for the entire population. It was not possible to link
level of education, academic training, gender, age and length of time at the Bank, with the
results for the agencies. The study did manage to link, in a marginally positive way, the bloc
social competencies with the results for the branches. It also identified that the competencies
described spontaneously by the managers coincide with those included in the questionnaire,
and that there was a strong prevalence of competencies related to strengthening team work.
The results indicate a need for the Bank to prioritize the development of social competencies,
since the study suggested that these skills were considered the most important for the
managers' work, and they were also positively correlated with the branches’ performance.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Balanço Patrimonial de uma organização do conhecimento------------------------ 024
Figura 02 Estratégia, competências organizacionais e competências individuais------------ 032
Figura 03 Classificação das competências organizacionais em diferentes níveis------------ 034
Figura 04 Três dimensões da competência -------------------------------------------------------- 040
Figura 05 Competência Individual: moldura dinâmica ------------------------------------------ 052
Figura 06 Contexto de atuação do gerente--------------------------------------------------------- 064
Figura 07 Mapa estratégico -------------------------------------------------------------------------- 094
Figura 08 Gráfico de barras do nível de escolaridade (Q29)------------------------------------ 097
Figura 09 Gráfico boxplot da média dos placares pelo tipo de agência ----------------------- 099
Figura 10 Gráfico boxplot da idade (anos) pelo nível de escolaridade ------------------------ 102
Figura 11 Graus de importância para os grupos de competências------------------------------ 117
Figura 12 Diagramas de dispersão e correlação para os índices de graus de importância
por bloco de competências-------------------------------------------------------------- 118
Figura 13 Graus de encorajamento para os grupos de competências -------------------------- 120
Figura 14 Diagramas de dispersão e correlação para os índices de graus de encorajamento
por bloco de competências--------------------------------------------------------------- 121
Figura 15 Diagrama de dispersão: competência de negócios ----------------------------------- 123
Figura 16 Diagrama de dispersão: competência social------------------------------------------- 124
Figura 17 Diagrama de dispersão: competência profissional ----------------------------------- 124
Figura 18 Boxplot da concordância por bloco de competência--------------------------------- 125
Figura 19 Diagramas de dispersão para os índices de concordância--------------------------- 126
Figura 20 Efeito da média dos placares no índice de importância das competências
sociais--------------------------------------------------------------------------------------- 130
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 Diversos níveis de competências organizacionais ---------------------------------- 035
Quadro 02 Concepção taylorista/fordista x perspectiva da economia do saber -------------- 037
Quadro 03 Exemplos de composição de competência------------------------------------------- 041
Quadro 04 Qualificação versus competência------------------------------------------------------ 045
Quadro 05 Modelo de competências de David McClelland ------------------------------------ 054
Quadro 06 Exemplo de agregação das competências por categorias -------------------------- 054
Quadro 07 Exemplo de descrição de competência sob a forma de referenciais
de desempenho--------------------------------------------------------------------------- 055
Quadro 08 Dimensões da competência------------------------------------------------------------- 056
Quadro 09 Mitos e realidade sobre o trabalho do gerente--------------------------------------- 058
Quadro 10 Mitos e verdades mais comuns sobre as funções do gerente ---------------------- 060
Quadro 11 Exemplos de categorização de competências gerenciais--------------------------- 070
Quadro 12 Competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agência -
preliminar -------------------------------------------------------------------------------- 082
Quadro 13 Competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agência -
pós-refinamento------------------------------------------------------------------------- 085
Quadro 14 Padrões de associação entre importância e encorajamento com o placar
das agências ------------------------------------------------------------------------------ 127
Quadro 15 Agências com média dos placares igual a zero-------------------------------------- 128
Quadro 16 Agência com média de placares igual a 100 ----------------------------------------- 128
Quadro 17 Competências sugeridas pelos gerentes ---------------------------------------------- 132
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Número de gerentes de agência nível 1, por região---------------------------------- 075
Tabela 02 Localização de gerentes por pilar negocial ------------------------------------------- 077
Tabela 03 Número de gerentes do Banco do Brasil por nível de agência--------------------- 077
Tabela 04 Média, desvio-padrão e tamanho amostral para questões segundo o grau
de importância ---------------------------------------------------------------------------- 104
Tabela 05 Média, desvio-padrão e tamanho amostral para questões segundo o grau
de encorajamento------------------------------------------------------------------------- 106
Tabela 06 Média (desvio-padrão) para competências segundo o grau de
encorajamento e importância----------------------------------------------------------- 108
Tabela 07 Média e desvio-padrão para competências segundo o grau de
encorajamento e importância segmentado pelo tipo de agência ------------------- 108
Tabela 08 Tabela de freqüências para as notas dadas à importância de cada questão------- 110
Tabela 09 Tabela de freqüências para as notas dadas ao encorajamento de cada questão-- 112
Tabela 10 Comparação da importância das 10 questões com maiores escores--------------- 114
Tabela 11 Comparação da importância das 10 questões com menores escores-------------- 115
Tabela 12 Comparação do encorajamento das 10 questões com maiores escores ----------- 116
Tabela 13 Comparação do encorajamento das 10 questões com menores escores----------- 116
Tabela 14 Média, desvio-padrão e tamanho amostral para as questões, segmentado
por competências, segundo o grau de importância ---------------------------------- 129
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------------- 013
1.1 Justificativa--------------------------------------------------------------------------------------- 015
1.2 Objetivos------------------------------------------------------------------------------------------ 017
1.2.1 Objetivo geral ------------------------------------------------------------------------------------ 017
1.2.2 Objetivos específicos---------------------------------------------------------------------------- 018
1.3 Estrutura do trabalho---------------------------------------------------------------------------- 018
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA---------------------------------------------------------- 020
2.1 O conhecimento nas organizações ------------------------------------------------------------ 020
2.2 Aprendizagem nas organizações -------------------------------------------------------------- 025
2.3 Competências e estratégia - elementos de um mesmo construto ------------------------- 029
2.4 Perspectiva estratégica das competências organizacionais -------------------------------- 033
2.5 Competências individuais: evolução do conceito e definições---------------------------- 036
2.6 Competências individuais: categorias e modelos ------------------------------------------- 053
2.7 O papel gerencial -------------------------------------------------------------------------------- 058
2.8 Competências gerenciais: modelos, categorias e abordagens ---------------------------- 065
3 METODOLOGIA ----------------------------------------------------------------------------- 073
3.1 Tipo de pesquisa--------------------------------------------------------------------------------- 073
3.2 Estratégia de pesquisa--------------------------------------------------------------------------- 074
3.3 População e amostra----------------------------------------------------------------------------- 075
3.3.1 População----------------------------------------------------------------------------------------- 075
3.3.2 Amostra ------------------------------------------------------------------------------------------- 078
3.4 Coleta de dados ---------------------------------------------------------------------------------- 078
3.4.1 Levantamentos preliminares ------------------------------------------------------------------- 078
3.4.2 Construção e validação do questionário ------------------------------------------------------ 083
3.4.3 Pré-teste ------------------------------------------------------------------------------------------- 088
3.4.4 Aplicação dos questionários-------------------------------------------------------------------- 088
3.4.5 Análise dos dados-------------------------------------------------------------------------------- 089
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ------------------------------------------------------------ 091
4.1 Contexto da pesquisa---------------------------------------------------------------------------- 091
4.1.1 A indústria bancária----------------------------------------------------------------------------- 091
4.1.2 O Banco do Brasil – aspectos históricos, características atuais e estrutura ------------- 093
12
4.2 Perfil sócio-demográfico dos gerentes-------------------------------------------------------- 095
4.2.1 Perfil univariado--------------------------------------------------------------------------------- 096
4.2.2 Caracterização pelo tipo de agência ---------------------------------------------------------- 098
4.2.3 Caracterização pelas média dos placares----------------------------------------------------- 100
4.2.4 Caracterização de associações de interesse ------------------------------------------------- 101
4.3 Análise descritiva ------------------------------------------------------------------------------- 102
4.3.1 Grau de importância das competências gerenciais ----------------------------------------- 103
4.3.2 Grau de encorajamento das competências gerenciais-------------------------------------- 105
4.4 Análise Inferencial ------------------------------------------------------------------------------ 113
4.4.1 Grau de importância das competências ------------------------------------------------------ 113
4.4.2 Grau de encorajamento das competências--------------------------------------------------- 115
4.4.3 Predominâncias entre os blocos de competências ------------------------------------------ 117
4.4.4 Diferenças entre os graus de importância e de encorajamento---------------------------- 123
4.4.5 Padrões de associação entre importância e encorajamento com o placar das
das agências-------------------------------------------------------------------------------------- 127
4.4.6 Padrões de associação entre importância e encorajamento e os dados biográficos
dos respondentes --------------------------------------------------------------------------------- 131
4.5 Análise dos dados qualitativos das questões abertas---------------------------------------- 131
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES------------------------------------------------- 134
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------- 139
APÊNDICES------------------------------------------------------------------------------------ 148
Apêndice A - Levantamento preliminar de dados ------------------------------------------ 148
Apêndice B - Resultados das entrevistas em grupo---------------------------------------- 149
Apêndice C - Questionário utilizado na pesquisa------------------------------------------- 154
Apêndice D - Gráficos: caracterização demográfica --------------------------------------- 158
Apêndice E - Tabelas: caracterização demográfica----------------------------------------- 169
Apêndice F - Tabelas: análise descritiva ----------------------------------------------------- 170
13
1 INTRODUÇÃO
As tradicionais noções de qualificação profissional, centradas nos modelos
taylorista/fordista, o oferecem mais o suporte necessário para o atual ambiente de
complexidade e mudanças enfrentado pelas organizações (COSTA, 2004; BOTERF,
2003; RUAS, 2005). Nesse quadro, a moderna concepção de competência individual pode
significar uma alternativa ao conceito de qualificação profissional, uma vez que sugere
melhores possibilidades de dialogar com situações de instabilidade, fluidez e incertezas
(FLEURY; FLEURY, 2001; LÊ BOTERF, 2003; ZARIFIAN, 2001).
Esse novo conceito de competência assume poder de decisão, influência e
participação nas questões estratégicas da empresa, quando se refere à capacidade da pessoa de
assumir iniciativas e ir além das atividades prescritas. A incorporação dessa noção mais
dinâmica, flexível e estratégica das competências, ao tempo em que esvazia a noção de
competência enquanto recurso (SVEIBY, 1998) e qualificação (ROPÉ; TANGUY, 1997),
reforça as abordagens de “evento” (ZARIFIAN, 2001), “competência em ação” (LÊ
BOTERF, 2003), e “entrega” (DUTRA, 2004). Esses três conceitos, em oposição ao
instrumentalismo mecanicista contido nas visões tradicionais de competência, emergem como
uma nova moldura que sustenta a abordagem das competências individuais, permitindo maior
plasticidade na gestão das competências no âmbito das organizações.
Assim, emergindo desse contexto de afirmação de um novo conceito de competência
individual, percebe-se que o papel gerencial adquire maior relevo pois, em última instância,
cabe ao gerente executar as ações que traduzem as estratégias corporativas em resultados,
mobilizando, para tanto, as competências gerenciais específicas e sintonizadas com o contexto
no qual atua (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999; BÜNDCHEN 2003; SILVA; GODOI,
2003).
Entretanto, o caráter mais dinâmico das competências e sua indissociável relação com
o contexto no qual ocorrem as ações propriamente ditas, não esgotam o assunto. Ao
contrário, a partir dessa maior amplitude de abordagem, surgem variadas alternativas para
decompor, segmentar, estratificar, categorizar e aprofundar a análise a partir dos elementos
constitutivos da competência.
14
Sob essa perspectiva menos rígida e mais inclusiva, Fleury e Fleury (2001) sugerem a
categorização das competências em sociais, técnicas e de negócio que, de modo sistêmico,
entrelaçam-se com toda a empresa: as competências de negócio estão relacionadas à
compreensão do negócio, seus objetivos na relação com o mercado, clientes e competidores,
assim como com o ambiente político e social; as competências técnico-profissionais são
específicas para certas operações, ocupações ou atividades e, finalmente, as competências
sociais são aquelas necessárias para interagir com pessoas, como, por exemplo, comunicação,
negociação, mobilização para mudança, sensibilidade cultural e trabalho em times.
Desse modo, assumindo o caráter e a importância estratégicos das competências
individuais, é também indispensável admitir a necessidade de materializar esse novo
significado. Para tanto, além das várias tentativas de categorizações, torna-se necessário
desenvolver um ambiente que incentive e encoraje o desenvolvimento de competências
alinhadas com a nova realidade das organizações, sendo preciso conceituá-la também como
“um entendimento prático de situações que se apóia em conhecimentos adquiridos e os
transforma na medida em que aumenta a diversidade das situações” (ZARIFIAN, 2001).
Por conseguinte, sendo o gerente o elemento de ligação entre as expectativas
organizacionais para a consecução dos resultados de um lado, e, de outro, as competências
individuais como um novo elo que amplia as tradicionais noções de qualificação profissional,
torna-se possível vislumbrar a valorização das competências em nível gerencial como um
modo unificador de se analisar o trabalho dos gerentes. Nessa visão, o presente estudo busca
identificar as competências gerenciais requeridas para a atuação dos gerentes e, como, na
percepção destes, essas competências são mais ou menos importantes e de que modo a
Instituição as encoraja e as desenvolve. Objetiva-se, com isso, oferecer subsídios para as
políticas de capacitação dos funcionários do Banco, além de contribuir para o debate teórico
sobre as competências gerenciais, assunto que tem merecido crescente atenção da
Comunidade Acadêmica.
15
1.1 Justificativa
A função gerencial tem instigado diversos autores a investigar minuciosamente o
trabalho do gerente, principalmente em razão de um contexto de maior diversidade e
complexidade, fenômenos que tornam a gestão mais difícil e, portanto, carente de novas
abordagens. Desse modo, o número considerável de perspectivas em que a atuação do
gerente pode ser estudada, pode acolher o enfoque das competências, notadamente as
dinâmicas (LÊ BOTERF, 2003; RUAS, 2005; ZARIFIAN, 2001) como elemento aglutinador
de uma perspectiva que também inclua a estratégia organizacional (FLEURY; FLEURY,
2001).
Nessa perspectiva de investigação do trabalho dos gerentes e tendo em vista a conexão
existente entre as competências e a estratégia organizacional como elementos de um mesmo
construto (COSTA, 2004), adquire relevância a sugestão de conhecer, com maior
profundidade, como agem os formuladores e praticantes da estratégia (GLEGG et al, 2004;
WHITTINGTON, 2004; WILSON; JARZABKOWSKY, 2004). Neste estudo, portanto, a
identificação das competências gerenciais requeridas para o trabalho dos gerentes vai além da
procura por uma lista genérica de atributos desejáveis. Busca, sim, uma conexão entre o
pensar e o agir estratégicos, mediado pela ação gerencial a partir de competências que
incorporem as especificidades do trabalho do gerente, fugindo-se, entretanto, da abstração
exagerada e evitando-se o empiricismo descritivo demasiado.
Carvalho (1998) e Paiva, Esther e Pires (2004), são alguns dos autores que entendem
haver necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema competências. Esses autores
indagam: quais são as competências gerenciais requeridas para atuar no atual contexto?
Haverá um conjunto de competências gerenciais adequado? Que novas competências estão
sendo exigidas dos gerentes para gerenciar uma força de trabalho em grande parte não
preparada para dar o salto de qualidade e produtividade necessários? Será possível identificar
algumas competências comuns aos gerentes de alto desempenho? Tentar responder a essas
questões, prossegue Carvalho (1998), constitui um grande desafio, o de compreender o
multifacetado papel do gerente e as responsabilidades a ele cometidas para, a partir daí,
buscar identificar quais as competências que ele precisa adquirir e desenvolver.
16
Com a mesma preocupação dos autores antes citados, Brandão (1999), Guimarães et al
(2001), sugerem que pesquisadores poderiam se dedicar ao mapeamento de competências
relevantes a outros segmentos profissionais, propósitos e contextos organizacionais, à
identificação de estímulos e barreiras ao desenvolvimento e compartilhamento de
competências, ou à investigação das efetivas relações existentes entre as dimensões das
competências.
Dutra (2004), por seu turno, argumenta que as diversas trajetórias profissionais
requerem conjuntos singulares de competências. Desse modo, continua o autor, para cobrar
dos gerentes resultados diferentes em relação a trabalhos técnicos, por exemplo, seria
necessário mapear competências específicas para determinados grupos profissionais. Com
uma visão semelhante àquela preconizada por Fleury e Fleury (2001), Zarifian (2001) e Dutra
(2004), acrescentam que a identificação das competências individuais precisa estar vinculada
ao intento estratégico da organização, pois é a partir dos objetivos da empresa que se torna
possível e necessário alinhar os pólos relativos à estratégia e à gestão de pessoas.
Do ponto de vista teórico, por outro lado, possíveis reflexões sobre a atuação do
gerente sob o enfoque das competências gerenciais e sua influência no contexto da estratégia
organizacional poderão subsidiar pesquisas mais aprofundadas sobre o tema, contribuindo
assim para o conhecimento mais abrangente sobre a função gerencial. A incorporação da
perspectiva das competências gerenciais como fonte potencial para a análise da atuação dos
gerentes pode sugerir ainda que, mais do que um modismo, a consolidação das competências
gerenciais representa uma maior possibilidade de participação das pessoas na gestão das
estratégias organizacionais (DUTRA, 2004).
Esse estudo também pode proporcionar contribuições de ordem prática, uma vez que o
tema, sob análise, apresenta-se como mecanismo para administrar estrategicamente recursos
humanos. Além disso, dentre as diversas propostas de categorizações sugeridas por diferentes
autores, a opção pelo modelo de competências sociais, técnico-profissionais e de negócio de
Fleury e Fleury (2001), pode indicar um vasto campo para exploração de outras categorias
que busquem ampliar o enfoque das competências individuais, em oposição à tradicional e
envelhecida noção de qualificação profissional.
17
Também a partir deste estudo, os resultados obtidos podem orientar os gerentes nos
processos de auto-desenvolvimento e gestão de suas carreiras. Casos aprofundados por meio
de estudos complementares, também podem orientar ações de gestão do desempenho
profissional, recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento de gestores. Além disso,
a presente pesquisa poderá contribuir para a melhoria da efetividade da ação gerencial, com
reflexos positivos para a organização estudada e também para a sociedade.
Intenta-se, então, considerando-se a importância das competências gerenciais na
atuação dos gerentes no contexto das organizações, responder à pergunta: existe congruência
entre as competências gerenciais valorizadas pelos gerentes e aquelas encorajadas pela
Empresa? É de interesse, também, saber quais competências são requeridas para o trabalho
do gerente e como estas são valorizadas pelos gerentes e encorajadas pela Empresa, uma vez
que a gestão das unidades constitui-se de fato numa tarefa a um tempo trabalhosa,
complexa e cooperativa, requerendo dos agentes envolvidos competências gerenciais
específicas para sua atuação (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999; BÜNDCHEN 2003;
DURAND, 1998; FLEURY; FLEURY, 2001; GREEN, 2000; BOTERF, 2003; SILVA;
GODOI, 2003; ZARIFIAN, 2001).
1.2 Objetivos
1.2.1. Objetivo geral
Investigar quais são as competências gerenciais requeridas para a atuação dos gerentes
de agência do Banco do Brasil e como estas vêm sendo valorizadas pelos gerentes e
encorajadas pela Empresa.
18
1.2.2 Objetivos específicos
- Identificar as competências gerenciais requeridas para a atuação dos gerentes e
classificá-las de acordo com as categorias sugeridas por Fleury e Fleury (2001);
- Mensurar, na percepção dos gerentes, a importância e o grau de encorajamento
institucional das competências gerenciais pesquisadas;
- Avaliar, a partir da medida acima, o grau de importância e de encorajamento das
competências, considerando as competências sociais, técnicas e de negócio e os
resultados das agências;
- Buscar associações entre os blocos de competências, sociais, técnicas e de negócio
com o desempenho das agências.
1.3 Estrutura do trabalho
Esta dissertação está disposta em 5 capítulos. O primeiro deles foi reservado para a
introdução do tema da pesquisa, sendo composta pela justificativa teórica que embasou o
trabalho, os objetivos geral e específicos. No segundo capítulo, é estabelecido um espaço
para o debate teórico em torno dos principais conceitos que cercam a noção de competência,
de modo especial as competências individuais e gerenciais. Nesse capítulo, é reconhecido que
o conhecimento, a aprendizagem, a vinculação de competências e estratégia, as competências
organizacionais e individuais, o papel gerencial e as competências gerenciais representam, de
fato, elementos de um mesmo construto. Busca-se, também, compreender a evolução da
noção de competência, de uma visão mais mecanicista e taylorista, para uma abordagem mais
orgânica e dinâmica. Para tanto, a revisão bibliográfica conta com a participação de diversos
autores, dentre os quais destacam-se Nonaka (1997), Senge (1998), Sveiby (1998), Brandão
(1999), Drucker (2001), Fleury e Fleury (2001), Zarifian (2001), Lê Boterf (2003), Quinn et al
(2004) e Dutra (2004). Abordam-se ainda, alguns modelos e categorias de competências
individuais e gerenciais, na tentativa de obter-se uma melhor compreensão do tema e
possibilitar maior aplicabilidade ao conceito competência, ainda longe de ser plenamente
entendido em toda a extensão que o conceito emana.
19
O terceiro capítulo trata da metodologia utilizada para a realização deste estudo.
Apresenta-se o tipo e a estratégia de pesquisa, busca-se informar onde o estudo é
desenvolvido, com uma contextualização que traz alguns aspectos da indústria bancária e do
Banco do Brasil. Também é tratada a questão que envolve a população e a amostra da
pesquisa, os aspectos envolvidos na coleta de dados, os levantamentos preliminares, a
construção e validação dos questionários, a realização do pré-teste, e, por fim, a aplicação dos
questionários.
No quarto capítulo, realiza-se a discussão e a análise dos dados da pesquisa. Faz-se,
primeiramente, uma explanação sobre a caracterização demográfica dos respondentes, por
intermédio do perfil univariado. Em seguida, abordam-se as caracterizações pelos tipos de
agência, Atacado, Governo e Varejo e pela média dos resultados apresentados pelas agências.
Logo após, procede-se à análise descritiva, onde se procura, considerando-se os escores
médios das competências, avaliar o grau de importância e de encorajamento de cada
competência pesquisada. A análise inferencial verifica se algumas hipóteses de interesse
conseguem sustentação estatística , visando a realizar inferências sobre toda a população. A
análise qualitativa das competências verifica as competências expostas livremente pelos
respondentes nos questionários, objetivando-se, assim, averiguar se é possível incluir novas
competências à relação daquelas constantes na pesquisa.
Por fim, no quinto capítulo, são apresentadas as conclusões extraídas do presente
estudo, além de algumas recomendações de caráter prático. Por ser o estudo das
competências, de forma especial àquelas relacionadas ao trabalho do gerente, ainda objeto de
grande discussão e carente de uma abordagem uniforme ou consensual quanto aos seus
propósitos e aplicações, entende-se que novos estudos podem vir a contribuir para o
enriquecimento do debate e aprofundamento e compreensão do tema. Nessa linha, acredita-se
que o estudo das competências sociais pode ensejar uma nova perspectiva para trabalhos que
procurem associar as competências gerenciais ao desempenho das organizações, por exemplo,
uma vez que o presente estudo conseguiu associar a preferência por competências sociais aos
resultados das agências do Banco.
20
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Estudar competências requer, antes de tudo, reconhecer e contextualizar o ambiente de
grandes e constantes mudanças que permeiam o mundo em geral e o universo organizacional
em particular. Sem esse cuidado, perde-se a oportunidade de se constatar a gradual evolução
de conceitos e dos contornos que determinados termos adquirem ao longo do tempo. Assim,
abordar o tema competências, remete a atenção para assuntos como “conhecimento nas
organizações”, “aprendizagem nas organizações”, “dimensão estratégica das competências”,
competências organizacionais”, “competências individuais”, “papéis gerenciais” e
“competências gerenciais”. Esses assuntos serão explorados a título de ilustração e
contextualização, pois são elementos indissociavelmente vinculados à idéia de competência.
As competências individuais, por sua vez, receberão uma revisão bibliográfica mais
aprofundada por manterem íntima relação com as competências gerenciais, objeto deste
estudo.
Isto posto, a fundamentação teórica dos temas acima mencionados tem a pretensão de
permitir o encadeamento natural da questão principal deste estudo que é a atuação do gerente
sob a perspectiva das competências gerenciais, sua importância, grau de encorajamento e
importância estratégica.
2.1 O conhecimento nas organizações
O conhecimento passou a ser um elemento vital no mundo organizacional e sua gestão
eficiente tem se constituído num desafio ainda longe de ser dominado (FLEURY;
OLIVEIRA, 2001; FREITAS, 2002; NONAKA, 1997; SENGE, 1998; SVEIBY, 1998). Em
última instância, esses autores afirmam que as principais respostas aos grandes desafios
gerenciais do presente e do futuro se concentram na capacidade e na competência individual e
coletiva para atender a um mercado altamente exigente e dinâmico.
21
Nessa linha, pode-se afirmar que o conhecimento é um ativo estratégico da
organização. Segundo Davenport e Prusak (1998), as empresas se diferenciam com base no
que sabem e na maneira pela qual criam novos conhecimentos. Assim, o conhecimento
constitui, em muitos casos, a própria organização, como numa universidade, por exemplo.
Portanto, prosseguem os autores, investir em conhecimento significa potencializar as chances
de sucesso da organização, na medida em que este afeta diretamente todas as áreas da
empresa e, dado o avanço da sociedade do conhecimento, tende a ser cada vez mais
estratégico e fundamental para a própria sobrevivência organizacional.
Uma definição operacional do termo conhecimento separa dados, informações e
conhecimento. Essa separação é importante para compreender que o conhecimento é uma
mistura fluida de experiência, valores, contexto compartilhado e discernimento especializado
que fornece uma estrutura para avaliar e incorporar novas experiências e informações
(DAVENPORT; PRUSAK, 1998).
Para Boff e Abel (2005), o conhecimento como recurso emergiu diante da chamada
“nova economia” e sustenta-se em três pressupostos básicos:
1 - Os ativos de conhecimento de uma empresa possuem mais valor do que seus ativos
físicos;
2 - Os produtos vendidos pelas empresas estão impregnados de conhecimento e o
valor do produto reside no conhecimento neles embutidos;
3 - O conhecimento utilizado pelas empresas é gerado pelos trabalhadores de
conhecimento, que utilizam suas competências individuais para desenvolver
estratégias, sistemas de gestão, tecnologias e outros recursos.
Para Spender (2001), sob um enfoque complementar, o termo conhecimento deve
estender-se além das patentes ou do conhecimento incorporado nos artefatos humanos e
envolver o ato de conhecer revelado na solução de problemas e nas práticas produtivas de
indivíduos e grupos na organização. A incorporação mais clara da importância do indivíduo
no contexto da organização do conhecimento, reforça aquilo que Sveiby (1998) defende
como sendo a parte invisível do balanço patrimonial, formado pela competência dos
empregados. Sob esse enfoque, investir na competência dos empregados eleva o patrimônio
intelectual da empresa e, portanto, do seu valor.
22
Drucker (2001), na condição de precursor da importância do conhecimento nas
organizações, por seu turno, sustentava que as mudanças no ambiente do trabalho e o aumento
da competição entre as empresas fez emergir uma valorização cada vez maior da criatividade,
flexibilidade, iniciativa e da capacidade de tomar decisões por parte dos funcionários. É
também de Drucker (2001) a criação do termo “trabalhador do conhecimento”, numa alusão
ao indivíduo que emergia de uma grande transformação social, ocorrida a partir de profundas
mudanças tecnológicas e de comportamento.
Sobre o chamado “trabalhador do conhecimento” cunhado por Drucker (2001); Boff e
Abel (2005) acrescentam:
O trabalhador do conhecimento é um profissional fundamental para viabilizar a criação e a
transferência do conhecimento nas empresas. Por trabalhador do conhecimento entende-se todo
o profissional que utiliza a informação como insumo, combina-a com seu conhecimento
individual e gera nova informação como produto de sua atividade. Hoje, é possível classificar
muitos profissionais como trabalhadores de conhecimento, em diversos níveis de
especialização. Por isso, uma melhor compreensão de quem é esse profissional, quais
competências o diferenciam do trabalhador tradicional e que recursos eles utilizam no
desenvolvimento de suas tarefas são aspectos importantes para indicar os caminhos para
potencializar sua capacidade produtiva.
Entretanto, Drucker (2001) alerta que as capacidades são importantes, porém não
suficientes, uma vez que todos os trabalhadores devem estar prontos para um processo de
transformação, onde desaprender antigos hábitos será tão importante quanto aprender novos
conhecimentos e que diferentes papéis organizacionais devem ser aprendidos. Sendo assim,
esse autor assegura que o trabalhador do conhecimento é um profissional da informação cuja
função é selecionar informações relevantes, processá-las e integrá-las com o seu
conhecimento e experiência, entregando como resultado uma informação nova, melhorada, na
forma de um produto ou serviço.
Depreende-se das palavras de Drucker (2001), que a gestão do conhecimento nas
organizações assume um caráter dinâmico, diretamente relacionado com as mudanças no
contexto onde estão inseridas as empresas. Nesse quadro, é possível antecipar que as mesmas
influências que atingem o conhecimento organizacional como um todo, interferem também
nas competências individuais e, por conseqüência, nas competências gerenciais.
23
Assim, espera-se uma certa plasticidade das competências de modo a incorporar as
mudanças provocadas pelo ambiente externo e interno, impondo novos comportamentos aos
trabalhadores, de modo mais profundo aos gerentes, uma vez que estes absorvem uma carga
maior de responsabilidades diante das mudanças.
O conhecimento nas organizações foi também objeto de uma primorosa e metafórica
abordagem por parte de Morgan (1996), que, visualizando a organização como um cérebro,
indaga como se podem planejar sistemas que sejam capazes de aprender de maneira
semelhante ao órgão que nos permite pensar? Para o autor, a resposta talvez esteja na criação
de organizações que consigam aprender e auto-organizar-se da mesma forma que o cérebro.
Para tanto, sugere alguns princípios de planejamento holográfico onde:
- O todo esteja em cada parte;
- Sejam criadas conexão e redundância;
- Sejam criadas especialização e generalização;
- Seja criada capacidade de auto-organização.
Muito embora Morgan (1996) afirme que a organização holográfica na prática não seja
um sonho impraticável, a auto-organização depende de importantes mudanças de atitudes e
valores, das crenças e suposições existentes e que ainda permeiam grande parte das
organizações ocidentais. Entretanto, enfatizar-se a importância da atividade sobre a
passividade, da autonomia sobre a dependência, da flexibilidade sobre a rigidez, da
colaboração sobre a competição, da abertura sobre o fechamento e da prática democrática
frente a crença autoritária, pode representar uma “mudança de personalidade” com profundos
reflexos na forma da organização interagir interna e externamente.
24
Sveiby (1998), por sua vez, foi quem primeiro propôs incluir o conhecimento como
um dos elementos do balanço de uma empresa. A experiência com a empresa sueca Skandia,
atraiu a atenção internacional, uma vez que a iniciativa de relacionar os ativos intangíveis da
empresa, ou seja, o seu capital intelectual, era algo inédito até então. A figura 1, mostra como
seria um balanço de uma organização do conhecimento.
Figura 1 - Balanço patrimonial de uma organização do conhecimento
Fonte: Sveiby (1998)
É possível perceber, após a discussão acima, que a gestão do conhecimento nas
organizações cria um novo prisma sob o qual se busca compreender e abordar a execução do
trabalho. Essas emergentes condições colocam o indivíduo num plano mais relevante, e isso
não acontece por acaso. As mudanças impulsionadas por um ambiente instável também
sugerem que a atuação das pessoas nas organizações passa pela qualificação dos indivíduos
mas não pára por aí. A variação e a inconstância criam os contornos que alçam a adaptação
como um mecanismo de sobrevivência, influenciando e modificando a velocidade com que as
ações são empreendidas e sugerindo que somente aqueles com disposição para o aprendizado
continuado terão seus espaços preservados.
A nova riqueza: Ativos Intangíveis
Ativos Tangíveis
Aspectos Financeiros
Visíveis
Ativos Intangíveis
Aspectos Financeiros
Invisíveis
Dívida de Curto Prazo
Empréstimo de Longo Prazo
Patrimônio Visível aos Acionistas
Patrimônio Invisível aos
Acionistas
Obrigação
Visível
Invisível
Recursos Financeiros em Espécie
Contas a Receber
Computadores, Espaço de
Escritório
Estrutura Externa
Estrutura Interna
Competência do Pessoal
25
É nesse contexto, portanto, que o conceito do aprendizado nas organizações inaugura
uma nova fase na gestão e no desenvolvimento das pessoas dentro das organizações e afeta a
capacidade de competição das organizações por intermédio de sua íntima vinculação com a
estratégia organizacional.
A partir dessa observação, assume-se que o aprendizado nas organizações é elemento
essencial para a vitalidade das competências, uma vez que sem o aprendizado, não haveria
possibilidade de adaptação às mudanças, bem como a própria dinâmica das competências
ficaria comprometida. Desse modo, pretende-se mostrar como a aprendizagem está
intimamente ligada ao conceito de valorização e enriquecimento das competências,
notadamente as gerenciais, que necessitam de constante aprimoramento.
2.2 Aprendizagem nas organizações
O campo do conhecimento que estuda a aprendizagem é extremamente vasto e
permeia muitas disciplinas não sendo, portanto, a intenção deste trabalho buscar um
aprofundamento sobre o tema, nem explorar as diversas correntes e formas que norteiam o
assunto. A intenção é focalizar a aprendizagem naquilo que afeta o desenvolvimento de
competências, com ênfase para as competências de caráter gerencial e que interferem
diretamente na estratégia da organização.
Nessa perspectiva, Bitencourt (2004) identifica, na literatura que trata da
aprendizagem organizacional, muitas divergências quanto ao modo como ocorre o
aprendizado. Especificamente no que tange ao desenvolvimento de competências, a autora
informa que a aprendizagem nessa área pode ser considerada uma resposta às mudanças
enfrentadas pelas empresas, onde se busca elevar a capacidade de aprender continuamente a
partir das experiências organizacionais e a traduzir esses conhecimentos em práticas que
contribuam para um melhor desempenho.
26
Essas conclusões de Bitencourt (2004) valorizam, não apenas a identificação das
competências mais importantes para o trabalho dos gerentes, mas também a mensuração do
grau de encorajamento dessas mesmas competências, fato que dá especial relevo para as
práticas de aprendizagem e desenvolvimento gerencial. Um outro motivo que torna necessário
valorizar e conhecer alguns aspectos da aprendizagem organizacional é o contexto bastante
dinâmico no qual estão inseridos os gerentes, situação que proporciona a rápida erosão dos
conhecimentos adquiridos e requer um constante aprendizado.
Ratificando as argumentações de Bitencourt (2004), Oderich (2005) informa que a
aprendizagem organizacional é uma proposta que vem sendo abordada por muitos autores e
acrescenta haver uma lacuna entre o potencial de recursos desenvolvidos e o desempenho
propriamente dito. Nessa avaliação, estaria havendo um descompasso entre o investimento
em capacitação e treinamento e conversão em desempenho abaixo do desejado pelas
organizações. Essa constatação pode ser importante na medida em que se entende a utilização
das competências gerenciais como mecanismo de mediação entre as expectativas da empresa
e a entrega (DUTRA, 2004) pelos detentores das competências.
Considerando esse quadro de variadas abordagens, Antonello (2004) afirma que os
programas de desenvolvimento gerencial devem considerar a natureza evolutiva, dinâmica e
processual da formação de competências gerenciais, sendo que a perspectiva de
desenvolvimento de recursos humanos deve ser amparada pelos processos de aprendizagem
organizacional.
Antonello (2004), também assevera que a vantagem competitiva não repousa na
singularidade do perfil de competências, mas no fato de ser tão difícil obtê-las. Essa
afirmação da autora, reforça a importância de se criar um contexto favorável ao aprendizado,
uma vez identificadas quais são as competências a serem desenvolvidas. Nessa perspectiva, a
autora entende que o processo de aprendizagem e desenvolvimento gerencial envolve e exige
a interlocução de diferentes áreas de conhecimento. Entretanto, existem duas lacunas entre as
expectativas geradas nas iniciativas de formação e o que efetivamente é desenvolvido em
termos de competências. É importante notar que essa lacuna pode estar associada com o
gap apontado por Oderich (2005) quando assinala haver um descompasso entre o
investimento na formação de competências e o desempenho apresentado pelos gerentes e
pelas organizações.
27
A primeira dificuldade apontada por Antonello (2004) é o impacto restrito dos
programas de treinamento e formação convencionais sobre o desenvolvimento de
competências. A segunda barreira é a falta de compartilhamento, no âmbito da organização,
das competências desenvolvidas com pares de trabalho ou grupos específicos.
No estudo desenvolvido por Antonello (2004), buscou-se identificar e analisar as
possíveis contribuições e articulações sistematizadas de processos de aprendizagem formais e
informais no desenvolvimento de competências gerenciais. As conclusões da autora apontam
para uma grande diversidade de formas a partir das quais os indivíduos podem adquirir as
suas competências, realçando a importância crítica da aprendizagem informal. Dentre as
várias formas de aprendizagem gerencial, a autora destaca, na conclusão da sua pesquisa:
- Experiência anterior: atividades fora do trabalho que auxiliaram os gerentes a
aprender e a desenvolver competências;
- Experienciar: exposição a situações difíceis onde houve a necessidade de aprender
diante do inusitado, do acidental e do aprendizado por obrigação;
- Reflexão: processo de questionamento pessoal ou grupal sobre o processo de
aprendizado, antes e depois das atividades desenvolvidas;
- Auto-análise: o auto-conhecimento como forma de aprender sobre si mesmo;
- Observação-modelo: os colegas como modelos de comportamento. Nesse caso, a
observação contribui para a formação das competências por intermédio de
comparações de papéis, atitudes e desempenhos;
- Feedback: ênfase na importância de buscar o feedback deliberadamente e de praticar a
escuta cuidadosa como forma de aprendizado;
- Mudança de perspectiva: a rotatividade no desempenho de funções como elemento
estimulador na formação de novas competências;
- Mentoria: pessoas de dentro ou de fora da organização influenciam a formação e o
desenvolvimento das competências dos gerentes;
- Interação e colaboração: o trabalho de equipe como forma de incrementar o
processo de aprendizagem;
- Cursos e treinamentos: formas tradicionais e importantes no papel de
desenvolvimento do indivíduo e capacitação profissional;
28
- Informal: forma de aprendizagem bastante valorizada pelos gestores e que denota a
importância do local de trabalho e das práticas de trabalho como elementos
fundamentais do aprendizado gerencial;
- Aprendizagem pela articulação entre teoria e prática: a necessidade de articular
verbal e oralmente as teorias interferem e influenciam positivamente o aprendizado.
Em outro trabalho recente, que trata da aprendizagem de gerentes, com enfoque no
desenvolvimento de competências, Bündchen e Silva (2005), sugerem quatro alternativas,
conforme abaixo:
- Aprendizagem presencial: nessa modalidade existe uma troca intensa de informações
e experiências e é bastante tradicional na maioria das organizações;
- Aprendizagem mediada por tecnologias: forma de aprendizagem em franca
ascensão, onde são utilizados a intranet corporativa, vídeos, TV corporativa e
Universidades Corporativas, vídeo conferências e outros mecanismos;
- Trilhas de desenvolvimento profissional: modelo onde o próprio participante
participa da construção das trilhas, onde são definidas as áreas do conhecimento que
precisam ser desenvolvidas para a geração das competências;
- Aprendizagem coletiva: compartilhamento do conhecimento em grupos virtuais ou
presenciais visando à disseminação do conhecimento entre os gestores.
Essas conclusões e formas de aprendizagem (ANTONELLO, 2004; BÜNDCHEN;
SILVA, 2005) guardam alguma similaridade com a construção das competências defendidas
por Boterf (2003). Este autor acredita que as competências são formadas a partir de três
eixos bem definidos: as interações sociais do indivíduo; sua formação acadêmica e as suas
experiências no trabalho. Assim, ser competente é, acima de tudo, a soma de experiências
variadas, onde convergem não somente um fator isolado, mas variados fatores que,
contextualizados, forjam a competência do profissional. A formação da competência será
tratada com maior profundidade na seqüência desse estudo, quando da explanação sobre
competências individuais e gerenciais.
29
As considerações acima repercutem diretamente sobre o trabalho dos gerentes e,
portanto, sobre suas competências. Sendo assim, a aprendizagem organizacional não pode ser
separada de qualquer abordagem que vise a identificar, desenvolver ou avaliar as
competências gerenciais pois, em suma, a dinâmica do ambiente simplesmente transformou
os dois temas num único corpo cuja eventual dissociação pode tornar precária as intervenções
sobre esse assunto.
Conforme será visto a seguir, é também possível compreender as competências a partir
de outras abordagens. Uma delas parte do pressuposto de que a estratégia da organização
pode ser diretamente influenciada pela qualidade dos seus recursos, incluída a capacidade
das pessoas. Existe, nesse caso, uma relação elementar e vital entre o conceito de
competência e sua influência na estratégia da empresa, podendo gerar vantagem competitiva
(PORTER, 1989) para a empresa que tiver os melhores recursos.
2.3 Competências e estratégia – elementos de um mesmo construto
A relação entre competências e estratégia pode começar a ser tratada a partir da
compreensão de que, uma das formas que as empresas possuem para competir, é investir nos
seus recursos, inclusive humanos. A visão baseada em recursos resource based view of the
firm - hoje largamente aceita, encontra amparo nos estudos desenvolvidos por Rumelt (1991)
e Teece et al (1997) que entendem que os recursos exclusivos e valiosos mantidos
internamente e não por posições simples das indústrias externas é que conferem o verdadeiro
diferencial para que as organizações possam competir e vencer. Rumelt (1991) apresentou
uma conclusão que ficou famosa: que os fatores da indústria, tais como a concorrência,
clientes, fornecedores e produtos substitutos costumavam explicar 9% a 16% das variações
em lucro, contra 44% a 46% para os fatores específicos da empresa, a exemplo das
competências dos funcionários. Esse raciocínio baseado em recursos foi estendido pelo
argumento de Teece et al (1997) para “capacidades dinâmicas”. As indústrias, segundo esses
autores, estão se movendo rápido demais, os limites são fluidos demais, para que a estrutura
tradicional da indústria se aplique. O que importa agora, não são apenas os recursos dados,
mas a capacidade de aperfeiçoá-los e desenvolvê-los continuamente.
30
Os argumentos de Rumelt (1991) e Teece et al (1997), mesmo longe de serem
hegemônicos, demonstram como os recursos internos da firma, abrangendo os recursos
humanos, incluídas as capacidades e competências dos trabalhadores, podem ser fatores
que contribuem para o bom desempenho da organização.
Com a incorporação das competências na órbita do tema estratégia, é preciso
esclarecer que o assunto estratégia é tratado por diversos autores sob múltiplos ângulos,
enfoques e de modo não uniforme, conforme é possível verificar na confrontação das escolas
de posicionamento Porter (1989) e da resource based view of the firm , Rumelt (1991) e
Teece et al (1997). Essa profusão de abordagens e acalorados debates acadêmicos, entretanto,
não impede que se busque uma definição para aquilo que seja estratégia. Mintzberg (2003) é
um dos mais influentes pensadores a tratar do tema. Este autor argumenta que estratégia é
uma dessas palavras que inevitavelmente definimos de uma forma, mas freqüentemente
usamos de outra. A estratégia, para Mintzberg (2003), poderia ser vista como um padrão,
por exemplo, um comportamento consistente ao longo do tempo. Também admite a estratégia
como um plano, ou seja, olhando para a frente, para o futuro.
Para esse autor, ambas as definições parecem ser válidas: as organizações
desenvolvem planos para o seu futuro e também extraem padrões do seu passado. Chama a
isso de estratégia pretendida e estratégia realizada. O mesmo autor, em outro momento,
definiu a estratégia como um processo de artesanato. Neste raciocínio, Mintzberg (2003),
defende que a imagem artesanal capta melhor o processo pelo qual as estratégias eficientes
acontecem. Nessa visão, o estrategista, dentro de uma lógica incremental e processual, deve
cuidar do seu ofício, assim como um ceramista. Nessa metáfora de Mintzberg (2003), os
gerentes são artesãos e a estratégia é sua argila. E, se forem realmente artesãos, trarão para
seu trabalho, um conhecimento igualmente íntimo do material que tem em suas mãos.
Com a mesma cautela de Mintzberg (2003), Whittington (2002) afirma que a estratégia
é importante e remete o gerente para quatro perspectivas radicalmente diferentes quando das
escolhas por determinado caminho. Para esse autor, mais do que escolher o caminho clássico,
evolucionário, processual ou sistêmico, a efetividade depende de se entender o contexto e
jogar segundo as regras locais. Não há, desse modo, a melhor estratégia.
31
À luz, então, da perspectiva processual e incremental de Mintzberg (2003) e da cautela
quanto às possibilidades de escolha preconizadas por Whittington (2002), nota-se que a
perspicácia do gerente adquire força, possibilitando-lhe escolhas mais adequadas a partir de
um quadro referencial mais amplo e isso está relacionado com as competências individuais,
uma vez que estas possibilitam ao indivíduo agir com maior assertividade dentro de
determinado contexto.
Autores brasileiros, tais como Fleury e Fleury (2004), também buscam vincular os
conceitos de competências com as estratégias das organizações. Para esses autores, o conceito
de competência organizacional tem suas raízes na abordagem da organização como um
portfólio de recursos resource based view of the firm. Nessa visão, considera-se toda a
empresa como um conjunto de recursos: físico, financeiro, intangível, organizacional, cultural
e humano. Com base nesses pressupostos, continuam os autores, a definição das estratégias
competitivas devem começar por um entendimento profundo das possibilidades estratégicas
dadas pelos recursos da organização, aí incluídos os recursos humanos.
A abordagem de Fleury e Fleury (2004), alinha-se com o pensamento de Rumelt
(1991) e Teece et al (1997) em contraposição ao modelo de Porter (1996). Neste modelo, o
enfoque se sobre o posicionamento estratégico, em que a análise parte da indústria e do
entendimento da posição competitiva desta frente aos demais competidores. O foco não são
os recursos internos da organização, mas o mercado e seus competidores.
Hamel e Prahalad (1990), defendem que a competitividade de uma organização é
determinada pela inter-relação dinâmica entre as competências organizacionais e a estratégia
competitiva. Nesta visão, existe um processo de retro-alimentação, uma vez que as
competências são formadas a partir de recursos, e as estratégias são formadas a partir de
grupos de recursos, ou competências essenciais (FLEURY; FLEURY, 2004).
Tanto Hamel e Prahalad (1990), quanto Rumelt (1991) e Teece et al (1997), autores
que sustentam a resource based view of the firm –, admitem que a construção de uma
estratégia competitiva depende de fatores internos à firma, incluídos os fatores humanos.
Nesse caso, sendo as competências individuais fatores humanos por excelência, depreende-se,
com naturalidade, haver estreita relação entre a estratégia organizacional e as competências
como elementos de um mesmo construto.
32
Assim, falar de estratégia é falar de capacidades, de competências, de ação humana.
Não haveria, então, como dissociar um termo do outro, tornando as competências parte
integrante da estratégia organizacional, fazendo parte de sua gênese e não podendo dessa se
libertar sem comprometer a sua integridade e plenitude.
Desse modo, assumir que as competências dos indivíduos e da organização guardam
estreita relação com as estratégias organizacionais, posiciona o indivíduo como elemento
indissociável nesse contexto e confere maior importância aos trabalhos que buscam verificar
quais as competências que mais impactam a estratégia das organizações. É muita clara a
interconexão entre a estratégia e as competências, conforme pode ser observado na Figura 2:
Figura 2 - Estratégia, competências organizacionais e competências individuais
Fonte: Fleury; Fleury (2001)
individuais
33
É possível observar, a partir da análise da Figura 2, que a aprendizagem medeia todas
as interconexões entre a estratégia e as competências. A partir daí, pode-se inferir que o
aprendizado adquire caráter vital para que competências e estratégia se aproximem e se
interpenetrem.
As competências organizacionais, por seu turno, estão também inseridas dentro do
contexto geral das competências. Conforme será visto adiante, é importante compreender,
dentro de uma visão estratégica das competências, o papel que é exercido pelas competências
organizacionais, uma vez que estas influenciam diretamente a capacidade que as empresas
têm de competir.
2.4 Perspectiva estratégica das competências organizacionais
De acordo com Ruas (2004), a competência organizacional é associada a elementos da
estratégia competitiva da organização e é muito menos difundida do que a dimensão
individual de competência. A noção de competência organizacional, prossegue o autor,
passou a ser explorada a partir do conceito de core competence (HAMEL; PRAHALAD,
1990). Para estes autores, uma competência essencial é um conjunto de habilidades e
tecnologias que permite a uma empresa oferecer determinado benefício aos clientes. O
exemplo da miniaturização dos produtos da Sony é amplamente citado como uma
competência essencial clássica, por incorporar e atender a todos os critérios defendidos por
Hamel e Prahalad (1995).
O trabalho de Hamel e Prahalad (1990), a propósito, sustenta que para se constituir
uma competência essencial, deve-se atender a três critérios de validação: a) contribuição
decisiva para agregar valor aos produtos e percepção desse valor pelos clientes, b) ser
expansível para outros mercados, negócios ou produtos e, c) deve ser de difícil imitação.
Essas pré-condições estabelecidas pelos autores, tornam a construção de competências
essenciais bastante difícil. Essa dificuldade tem a ver com a necessidade de ruptura de
padrões estabelecidos e que muitas vezes impedem as empresas de promover mudanças
mais profundas na sua maneira de atuar.
34
Então, sendo a criação de competências essenciais uma tarefa difícil, quais seriam os
elementos ou decisões que poderiam permitir às empresas acesso a elas? Sobre essa questão,
Hamel e Prahalad (1995) tentam responder ao assegurar que é preciso muita energia
intelectual e determinação para desenvolver respostas sólidas às seguintes questões que
necessitam de respostas conclusivas: que novas competências específicas da organização
terão que ser criadas? Que novos conceitos e produtos deverão ser lançados? Que novas
alianças precisam ser formadas? Que novos programas de desenvolvimento devem ser
protegidos? Que iniciativas de regulamentação de longo prazo devem ser buscadas? Para os
autores, essas perguntas não tem sido satisfatoriamente respondidas. Talvez isso ajude a
explicar porque é tão difícil construir uma genuína competência essencial e que atenda a todos
os pré-requisitos para a sua existência.
Se as dificuldades são grandes, o prêmio também poder ser diretamente proporcional
àquelas organizações que conseguirem êxito na tentativa de construir uma competência
essencial em determinado setor. Isso, conforme Ruas (2004), resulta numa possibilidade
concreta de fortalecer a competitividade das organizações por intermédio daquilo que ele
classifica como competências excepcionais. A Figura 3, ajuda a entender melhor a
classificação de competências organizacionais em diferentes níveis de competitividade.
Figura 3 - Classificação das competências organizacionais em diferentes níveis
Fonte: Ruas (2005)
Competências
Organizacionais
Seletivas:
Diferenciam a
organização no
espaço de
competição onde
ela atua,
contribuindo para
uma posição de
liderança, ou quase,
nesse mercado.
(Diferenciadoras)
Competências
Organizacionais
Essenciais
(core competence):
Diferenciam a
organização no
espaço de
competição
internacional,
contribuindo para
uma posição de
pioneirismo nesse
mercado.
(Excepcionais)
Competências
Organizacionais
Básicas:
Contribuem
decisivamente para
a sobrevivência
da organização
no médio
prazo.
(Sobrevivência)
35
Hamel e Prahalad (1990) estabeleceram um marco ao afirmar que as competências
essenciais são as portas para as oportunidades futuras. Contudo, eles alertam para a
necessidade de explorar de forma criativa a competência, o que remete a atenção para o
trabalho exercido pelas lideranças, gerentes e trabalhadores que, de fato, são os artífices na
implementação de qualquer mudança na organização.
Do mesmo modo que as competências essenciais situam-se no nível mais estratégico
das organizações, sendo normalmente associadas às decisões emanadas do alto escalão e
abrangendo grandes corporações, outros conceitos também passaram a ser estudados. Muitos
deles, procuram posicionar a competência organizacional em níveis que permitem a inclusão
das pequenas e médias organizações e sem as barreiras, quase intransponíveis, apresentadas
por Hamel e Prahalad (1995) para a criação de uma autêntica competência essencial.
Nesse sentido, assim como Ruas (2004), Fleury e Fleury (2004), também se propõem a
definir os vários níveis de competências organizacionais a partir do trabalho de Mills et al
(2002), conforme o Quadro 1:
Competências essenciais
Competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são a
chave para a sobrevivência da empresa e centrais para a sua estratégia.
Competências distintivas
Competências e atividades que os clientes reconhecem como
diferenciadoras
de seus concorrentes e que provêem vantagens competitivas.
Competências organizacionais
ou das unidades de negócios
Competências e atividades-
chave, esperadas de cada unidade de negócios da
empresa.
Competências de suporte
Atividade que é valiosa para apoiar um leque de competências.
Capacidades dinâmicas
Capacidade de uma empresa de adaptar as suas competências pelo tempo. É
diretamente relacionada aos recursos importantes para a mudança.
Quadro 1Diversos níveis das competências organizacionais
Fonte: Fleury e Fleury (2001)
Essa estratificação mais abrangente das competências organizacionais permite
visualizar, com maior amplitude, os possíveis benefícios de se buscar a construção de
diferenciais ancorados nas competências organizacionais. Um bom exemplo pode ser
extraído das chamadas competências das unidades de negócio.
36
Sem invalidar o conceito das competências essenciais, situadas num plano mais
estratégico das organizações, essas competências envolvem as atividades-chave das unidades
de negócio, geralmente dispersas geograficamente e influenciadas por ambientes diversos
daquele que afeta a matriz. Nesse caso, a proximidade com a realidade local, as necessidades
dos clientes e de outros atores podem proporcionar bons elementos para adaptar a estratégia
corporativa, valendo-se da capacidade de adaptação e flexibilidade como instrumentos vitais
para reforço da competência essencial.
É importante ressaltar, a partir da observação das definições sobre competências
organizacionais, que referidas competências dependem da ação das pessoas, estando,
portanto, intimamente ligadas ao desenvolvimento de competências individuais e das
condições dadas pelo contexto (FLEURY; FLEURY, 2004). Essa inter-relação entre as
competências organizacionais e as competências individuais é uma das características que o
conceito de competência essencial inclui, porém não o único.
A seguir, o trabalho passa a enfocar as competências individuais que, estando
inseridas no contexto da gestão do conhecimento e da aprendizagem, vai merecer um
tratamento mais aprofundado devido à sua estreita relação com o universo das competências
gerenciais, objeto principal deste estudo.
2.5 Competências individuais: evolução do conceito e algumas definições
Segundo Brandão (1999), na idade Média, a expressão “competência” pertencia
essencialmente à linguagem jurídica, significando a faculdade atribuída a alguém ou a uma
instituição para apreciar e julgar certas questões. Os juristas declaravam que determinada
corte ou indivíduo era competente para dado julgamento ou para realizar certo ato. Por
extensão, o termo veio a designar o reconhecimento social sobre a capacidade de alguém
pronunciar-se a respeito de um assunto específico. Mais tarde, passou a ser utilizado de forma
mais genérica, principalmente na linguagem empresarial, para qualificar o indivíduo capaz de
realizar determinado trabalho.
37
Hoje, o termo “competência” continua sendo objeto de múltiplas denominações, usos
e tentativas de conceituações. Dutra, Hipólito e Silva (1998), argumentam que, ao tentar
responder a essa questão, entra-se num terreno minado, tal é a diversidade de interpretações
do termo ao longo dos últimos trinta anos. Contudo, segundo esses autores, a tentativa vale a
pena, pois o conceito tem a faculdade de clarificar aspectos nebulosos sobre a gestão de
pessoas, tais como: carreira profissional x achatamento da estrutura organizacional,
desempenho x desenvolvimento x potencial, eqüidade salarial, dimensionamento de quadro,
entre outros.
Boterf (2003), por sua vez, ilumina a abordagem das competências ao sugerir que
existem dois modelos de competência que interferem nas práticas de gestão. O modelo “A”, é
herdado das concepções tayloristas e fordistas e tem no sujeito da ação um operador que age
conforme o prescrito. No modelo “B”, que cresce em importância na medida da escalada da
economia de serviço, o profissional competente é aquele que vai além do prescrito. O Quadro
2 permite verificar as principais características dos dois modelos.
Modelo “A”
(Concepção taylorista/fordista)
Modelo “B”
(Perspectiva da economia do saber)
Operador Ator
Executar o prescrito Ir além do prescrito
Executar operações Executar ações e reagir a acontecimentos
Saber fazer Saber agir
Adotar um comportamento Escolher uma conduta
Malha estreita para identificar a competência Malha larga para identificar a competência
Gerenciamento pelo controle Gerenciamento pela condução
Finalização sobre o emprego Finalização sobre a empregabilidade
Quadro 2 - Concepção taylorista/fordista x perspectiva da economia do saber
Fonte: Le Boterf (2003)
É possível então, considerando os dois modelos propostos por Lê Boterf (2003),
reconhecer também duas grandes abordagens conceituais acerca do estudo das competências.
A primeira, de acordo com Dutra (2004), teria iniciado em 1973, quando David McClelland
propôs, de forma estruturada, conceituar competência, na busca de uma aproximação mais
efetiva para os testes de seleção de pessoal.
38
Rapidamente, prossegue Dutra (2004), o conceito foi ampliado para dar suporte a
processos de avaliação e para orientar ações de desenvolvimento profissional.
Boyatzis (1982), é outro expoente na estruturação do conceito que, a partir da
caracterização das demandas de determinado cargo na organização, procura fixar ações ou
comportamentos efetivos esperados.
Essa abordagem, muito embora esteja inserida num contexto de maior
complexidade, poderia ainda ser classificada como instrumental, mais associada, portanto, ao
modelo de concepção taylorista/fordista e ainda desprovida, dos elementos agregados, duas
décadas mais tarde, por Zarifian (2001), Le Boterf (2003) e Dutra (2004), que conferem ao
conceito competência elementos de maior dinamicidade, contextualização e entrega.
Essa segunda interpretação, portanto, passa a associar o conceito de competência à
idéia de agregação de valor e entrega, dentro de determinado contexto e de forma
independente do cargo. Desse modo, parte-se de uma visão de competência associada mais a
aspectos de qualificação vinculada à função, para a idéia de competência em ação (LE
BOTERF, 2003). Nessa perspectiva, torna-se mais importante ir além do prescrito, isto é,
não atentar somente para aquilo que está padronizado e decodificado, mas mover-se na
direção do novo, do imprevisto, do não estruturado e, então, nesse contexto de ambigüidade e
incerteza, entregar os resultados esperados pela organização.
Essa última abordagem, de acordo com Silva e Godoi (2003), posiciona o indivíduo
como unidade de análise privilegiada e ponto de partida dos estudos de competência e
aprendizagem além de, conforme Dutra (2004), explicar melhor a realidade que observamos
nas empresas, embora Boterf (2003) alerte para a coexistência com o modelo
taylorista\fordista, ainda muito presente nas organizações.
Se dois modelos coexistem, um, mais associado ao padrão mecanicista e fordista e,
outro, mais coerente com os pressupostos de uma administração orgânica e flexível, é porque
as organizações ainda estão em uma fase de transição.
39
Nesse ambiente, portanto, mais do que tentar impor uma determinada linha de
abordagem das competências sobre outra, é necessário compreender em que circunstâncias
podem-se traduzir os conceitos de modo mais efetivo, levando-se em conta as características
idiossincráticas que diferenciam as organizações em seus diversos contextos e realidades.
Feita a ponderação acima, pode-se avançar um pouco mais para se compreender
melhor como o conceito de competência, na sua natureza mais interna, vem sendo abordado
por estudiosos do assunto.
Nesse sentido, vale resgatar um conceito tornado clássico e que possui feições mais
associadas com o modelo taylorista\fordista de gestão, proposto por Durand (1998), que
propõe um modelo de competência ancorado em três dimensões – conhecimentos, habilidades
e atitudes – englobando aspectos cognitivos, técnicos, sociais e afetivos relacionados ao
trabalho. Neste caso, competência se refere ao conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes interdependentes e necessários à realização de certo propósito. Nessa estruturação de
competência, Durand (1998) destaca o conhecimento como uma série de informações
assimiladas e estruturadas pelo indivíduo, que lhe permitem “entender o mundo”, ou seja, o
saber que a pessoa acumulou ao longo da vida. A habilidade, por seu turno, está relacionada a
saber fazer algo ou à capacidade de aplicar e fazer uso produtivo do conhecimento adquirido,
ou seja, de instaurar informações e utilizá-las em uma ação, com vistas ao atingimento de um
propósito específico. Por fim, a atitude, terceira dimensão da competência, se refere a
aspectos sociais e afetivos relacionados ao trabalho.
40
A Figura 4, adaptada de Ruas (2001), esclarece as três dimensões da competência,
ressaltando a maneira integrada como ela é formada.
Figura 4 - Três dimensões da competência
Fonte: Adaptado de Ruas (2001)
Valendo-se da mesma estrutura conceitual de competência proposta por Durand
(1998), Bittencourt (2004) assinala que as competências derivam de um processo contínuo e
articulado de formação e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes em que o
indivíduo é responsável pela construção e consolidação de suas competências. Também a
partir das interações com outras pessoas no ambiente de trabalho, continua Bittencourt (2004),
além das relações familiares e outros grupos sociais, será possível o aprimoramento da
capacitação pessoal adicionando, dessa forma, valor às atividades da organização. Na
argumentação de Bittencourt (2004), emergem dois conceitos que serão vistos mais adiante: o
processo de interação (SANDBERG,1996) e a incorporação da agregação de valor à
organização por intermédio das competências (FLEURY; FLEURY, 2001).
SABER
(conhecimento)
Conhecimento do ambiente
Conhecimentos gerais e teóricos
Conhecimentos operacionais
SABER FAZER
(habilidades)
Experiência profissional associada
SABER SER/AGIR
(atitudes)
Atributo profissional
Atributo social
41
Ruas (2005), por sua vez, sustenta que são muitas as possibilidades de agregar e
classificar as competências, não existindo, em princípio, condições teóricas ou técnicas para
dizer que uma é mais correta do que outra. São as circunstâncias e as condições da
organização na qual a noção de competências será aplicada, bem como o objetivo dessa
aplicação, que nortearão a escolha da abordagem mais adequada. O Quadro 3, antecipa os
exemplos de composição de competências para, em seguida, desenvolvê-los com maiores
detalhes.
Parry Durand Lê Boterf Harvey Sveiby
Traços de
Personalidade
Conhecimento Conhecimento Conhecimento Conhecimento
explícito
Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade Habilidade
Estilos e
Valores
Atitudes Atitudes Capacidade Experiência
Competências
-
Recursos
fisiológicos
-
Julgamento de
valor
-
-
Recursos do
ambiente
-
Rede social
Quadro 3 - Exemplos de composição de competência
Fonte: Adaptado de Ruas (2004)
Sveiby (1998) assegura que a competência é composta por elementos mutuamente
dependentes. Para esse autor, o conhecimento explícito envolve o conhecimento dos fatos e é
adquirido principalmente pela informação, quase sempre pela educação formal. A habilidade,
por sua vez, é a arte de “saber fazer”. Envolve uma proficiência prática física e mental e é
adquirida sobretudo por treinamento e prática. Inclui o conhecimento de regras de
procedimento e habilidades de comunicação. A experiência, por seu turno, é adquirida
principalmente pela reflexão sobre erros e sucessos passados. O julgamento de valor são
percepções daquilo que o indivíduo acredita estar certo. Os julgamentos, continua Sveiby
(1998), agem como filtros conscientes e inconscientes para o processo de saber de cada
indivíduo. Finalmente, a rede social é formada pelas relações do indivíduo com outros seres
humanos dentro de um ambiente e uma cultura transmitidos pela tradição.
42
Dentro dessa mesma perspectiva de integração e interdependência dos elementos que
compõe a competência, Green (2000), citando o modelo KSAO (knowledge/ skill/ ability/
other), desenvolvido por Harvey (1991), destaca que o conhecimento reflete as informações
específicas necessárias para realizar as tarefas de um cargo/trabalho e é tipicamente adquirido
através da educação formal, do treinamento no trabalho e da experiência profissional. A
habilidade, por sua vez, requer proficiência na utilização de ferramentas e equipamentos no
trabalho. Essa habilidade, prossegue Green (2000), pode ser adquirida através do ambiente
educacional ou ser aprendida no trabalho de maneira informal.
A capacidade é conceituada como uma forma de inteligência, orientação espacial e
tempo de reação. Capacidades, relata Green (2000), são geralmente mensuradas por testes
que fornecem estimativas do grau que a pessoa possui de uma capacidade específica
necessária para realizar uma tarefa de um cargo/trabalho. O último elemento do modelo
KSAO, diz respeito a outras características necessárias para se realizar um trabalho. Essa
categoria inclui habilidades de desempenho, atitudes, personalidade e outras características
pessoais necessárias.
Com uma visão diferente de Sveiby (1998) e Green (2000) acerca da interdependência
dos elementos que compõem a competência do indivíduo, Boterf (2003) acrescenta um
processo chamado por ele de “dupla instrumentalização” dos recursos a combinar. A
instrumentalização se daria a partir de dois grandes blocos de recursos: recursos pessoais e
recursos do seu meio. Para Boterf (2003), a instrumentalização dos recursos pessoais é
incorporada, isto é, está no próprio indivíduo, por intermédio do “saber fazer”, “aptidões ou
qualidades” e “por experiências acumuladas”. a instrumentalização dos recursos do meio é
objetivada, pois é constituída de máquinas, instalações materiais, informações e redes
relacionais. A competência então, argumenta o autor, se baseia nessa dupla
instrumentalização, sem, contudo, se confundir com ela, uma vez que a competência é a
faculdade de usar essa instrumentalização de maneira pertinente. Em outras palavras, a
competência seria constituída, de um lado, pelo conhecimento, habilidade e atitudes (recursos
pessoais) e, de outro, pelos recursos fisiológicos e do ambiente (recursos do meio),
combinados e mobilizados pelo indivíduo para a realização de determinada tarefa de maneira
pertinente.
43
Na composição da competência proposta por Durand (1998), os conceitos de
conhecimento, habilidades e atitudes se aproximam bastante daqueles sugeridos por Sveiby
(1998) e Green (2000). Também como esses autores, Durand (1998) reconhece nos três
elementos da competência, hoje tornados clássicos na literatura que aborda o estudo das
competências, a necessidade de interdependência entre as dimensões. Nessa linha, reforçando
a noção de interdependência, um bom exemplo seria a expressão de determinada habilidade
pelo indivíduo em certa circunstância. Nesse caso, presume-se que o indivíduo conheça
princípios e técnicas específicas. Da mesma forma, a adoção de determinado comportamento
no trabalho exige das pessoas, de modo geral, o domínio, não apenas de conhecimentos, mas
de habilidades e atitudes apropriadas.
Um exemplo de abordagem mecanicista das competências pode ser encontrado em
Green (2000). Esse autor enfoca as competências como recursos, que podem ser acionados
em determinadas situações e dependem das necessidades do gerente. A competência é tratada
por Green (2000) como solução. Essa tendência é nítida quando analisamos as palavras do
autor: “um sistema de recursos humanos pode utilizar competências para deixar claro quais
ações precisam ser tomadas para que um trabalho seja bem feito” (GREEN, 2000). A visão
instrumental do conceito exposto por Green (2000), também é percebida quando ele define
competências individuais sob a ótica dos praticantes de recursos humanos: “uma competência
individual é uma descrição escrita de hábitos de trabalho mensuráveis e habilidades pessoais
utilizadas para alcançar um objetivo de trabalho” (GREEN, 2000). É importante ressaltar,
porém, que a linha que divide a visão mais instrumental ou taylorista\fordista, da perspectiva
da economia do saber, é sombreada e permite que conceitos se interpenetrem. Nesse sentido, a
idéia de um continuum que vai do mecanicista ao orgânico, defendida no trabalho de
Lawrence e Lorsch (1973), permite uma comparação com a divisão proposta por Boterf
(2003), já que este último também assume que existe uma migração entre a concepção
taylorista para a perspectiva da economia do saber, sem haver, entretanto, o predomínio
absoluto de um sobre o outro, dando também a idéia de uma continuidade.
44
Assumindo-se que existe uma transição que permeia as noções de competências, numa
espécie de linha evolutiva que vai do mecânico para o orgânico ou da concepção taylorista
para a economia do saber, pretende-se fazer a transição para a segunda fase dentro da
abordagem do conceito de competências. Nessa etapa evolutiva do uso do termo
“competência”, percebe-se que surgem mais claramente os pressupostos descritos por Lê
Boterf (2003), e por outros autores da chamada “escola francesa”.
Assim, do ponto onde Green (2000) concluiu sua visão de competência, Perrenoud
(1999) parte para compor a chamada representação procedimental, ou saber-fazer. Todo
saber-fazer, diz Perrenoud (1999), é uma competência, porém, uma competência pode ser
mais complexa, aberta, flexível do que um saber-fazer e estar articulada com conhecimentos
teóricos. Então, concluiu Perrenoud (1999), um saber-fazer pode funcionar como recurso
mobilizável por uma ou mais competências de nível mais alto. O confronto entre a visão de
Perrenoud (1999) e Green (2000) permite distinguir a diferença entre uma
competência\recurso (DURAND, 1998; GREEN, 2000), das competências “dinâmicas” ou
“em ação” (LÊ BOTERF, 2003; PERRENOUD, 1999; ZARIFIAN, 2001).
Essa “evolução” do conceito, decorre, segundo Ruas (2005), de uma atmosfera que
realça a importância do conhecimento para as organizações e de mudanças econômicas,
sociais e tecnológicas. Ruas (2005), prossegue justificando que a crescente instabilidade da
atividade econômica, a baixa previsibilidade da relação das empresas com seus mercados e a
intensificação de estratégias de personalização são elementos visíveis no plano estratégico,
mas que afetam a configuração dos níveis tático e operacional das empresas. Desse modo,
argumenta Ruas (2005), a migração de um modelo de trabalho estável e previsível para outra
forma mais fluida e diferenciada, reforça a noção de competência, especialmente no setor de
serviços.
45
Assim como Lê Boterf (2003) se vale de dois modelos para evidenciar as diferenças
entre a abordagem taylorista\fordista, da abordagem da perspectiva da economia do saber,
Ruas (2005), aponta, no Quadro 4 abaixo, os indicadores de qualificação e competência como
dois pólos que representam essa evolução no tratamento da questão envolvendo a abordagem
da competência.
Qualificação Competência
Relativa estabilidade da atividade econômica
Baixa previsibilidade de negócios e atividades
Concorrência localizada Intensific
ação e ampliação da abrangência da
concorrência
Lógica predominante: indústria (padrões)
Lógica predominante: serviços (eventos)
Emprego formal Relações de trabalho informais
e crise dos
sindicatos
Organização do trabalho com base em cargos
definidos e tarefas prescritas e programadas
Organização do trabalho com base em metas,
responsabilidades e multi-funcionalidades
Foco no processo
Foco nos resultados
Baixa aprendizagem Alta aprendizagem
Quadro 4 - Qualificação x competência
Fonte: Ruas (2005)
Numa primeira tentativa de definição do conceito, amparada pelo modelo da
“economia do saber” de Boterf (2003), apela-se para Drejer (2000), que enuncia uma
competência como um “sistema de tecnologia, de pessoas, da organização formal, da cultura e
das interações entre esses elementos”. A tecnologia, prossegue Drejer (2000), consiste nos
sistemas físicos ou ferramentais (maquinários, softwares, bancos de dados, entre outros); as
pessoas podem ser consideradas os pontos focais do desenvolvimento das competências; a
organização formal envolve os sistemas gerenciais (sistemas de planejamento e controle,
recompensa, canais de comunicação, hierarquia, tarefas) que influenciam as ações das
pessoas; a cultura integra a organização informal que influencia as pessoas, na medida em que
institucionalizam normas e visões compartilhadas que orientam as atividades.
46
A descrição de Drejer (2000) coloca as pessoas como os elementos mais importantes
no desenvolvimento de competências, até porque o autor percebe a competência como um
sistema e as pessoas são as engrenagens que o fazem funcionar adequadamente. Assim, na
visão desse autor, não se pode encarar as competências como estáveis, mas dinâmicas,
definição essa, como será visto mais adiante, que sustenta a argumentação de ampla gama de
teóricos, especialmente aqueles vinculadas à chamada “Escola Francesa” (LÊ BOTERF,
2003; PERRENOUD, 1999; ROPÉ; TANGUY, 1997; ZARIFIAN, 2001).
Nessa perspectiva de competências dinâmicas, Zarifian (2001) afirma que a
competência não se limita a um estoque de conhecimentos teóricos e empíricos detidos pela
pessoa, nem se encontra encapsulada na tarefa. A competência, segundo o autor, é a
inteligência prática de situações que se apóiam sobre os conhecimentos adquiridos e os
transformam, adquirindo mais força, na medida em que aumenta a complexidade das
situações. Essa definição mais dinâmica das competências, argumenta Zarifian (2001),
representa o âmago da competência, uma vez que revela a relação prática do indivíduo com a
situação profissional e como ele enfrenta essa situação.
Nesse contexto, Zarifian (2001) começa a construir uma definição de competência,
assumindo que é preciso integrar no conceito várias dimensões e, por conseguinte, várias
formulações. A competência é “o tomar iniciativa”, é “o assumir responsabilidade” do
indivíduo diante de situações profissionais com as quais de depara.
Nessa conceituação, o autor ressalta que se vislumbra aquilo que muda,
fundamentalmente na organização do trabalho; o recuo da prescrição, a abertura de espaço
para a autonomia e a automobilização do indivíduo. Nessa definição de Zarifian (2001),
determinadas palavras assumem importância por si mesmas: a) assumir resulta de um
procedimento pessoal do indivíduo, que aceita assumir uma situação de trabalho e ser
responsável por ela; b) tomar iniciativa: é uma ação que modifica algo que existe, que
introduz algo novo, que começa alguma coisa, que cria; c) assumir responsabilidade: mais do
que executar ordens, responsabilidade significa assumir em pessoa os riscos pela avaliação da
situação, pela iniciativa que pode exigir e pelos efeitos que vão decorrer dessa situação; d)
sobre situações: representa o espaço de tempo e o contexto no qual os eventos ocorrem.
47
Para dar idéia de dinamicidade e plasticidade ao conceito de competência, e
desestabilizar o esquema de trabalho industrial clássico, Zarifian (2001) sugere a noção de
“evento”. O evento significa que a competência não pode mais ser enclausurada em
definições prévias de tarefas a executar em um determinado posto de trabalho. Sob a égide do
evento, prossegue o autor, a competência consiste em fazer frente a situações de maneira
pertinente e com conhecimento de causa. A competência, nesse caso, é propriedade
particular do indivíduo, e não do posto de trabalho.
Uma visão semelhante ao conceito de “evento” proposto por Zarifian (2001) é
proposta por Ruas (2005). O referido autor afirma que o protagonista do trabalho, além de
saber fazer, deve apresentar, em muitos casos, a capacidade de identificar e selecionar o como
fazer a fim de se adaptar à situação específica que enfrenta.
Essa noção de competência, não apenas como um conjunto de qualificações que o
indivíduo detém, mas como resultado da aplicação dessas qualificações no trabalho, é também
corroborada por Ropé e Tanguy (1997). Essas autoras afirmam que um dos aspectos
essenciais da noção de competência é que esta não pode ser compreendida de forma
dissociada da ação. No mesmo enfoque, Stroobants (1997) argumenta que uma boa
possibilidade de definir uma competência é justapor a palavra “saber” a uma ação ou a um
verbo de ação. Falar-se-á, segundo o autor, em “saber agir”, “saber transformar” e de “saber-
de-perícia”.
Portanto, continua Stroobants (1997), essas competências, supostamente mais reais do
que as capacidades oficialmente reconhecidas, mais eficazes do que os saberes formais,
definem-se também por oposição aos saberes escolares. Esses conhecimentos tácitos parecem
poder ser adquiridos somente no local do trabalho.
Boterf (2003), na mesma linha de pensamento, acrescenta que as competências
somente acontecem quando em ação, ou seja, quando o indivíduo se vale de suas capacidades
para resolver determinada situação. Essa abordagem de Boterf (2003), incorpora a
capacidade do profissional competente de saber administrar a complexidade, de saber
comportar-se com efetividade diante do inusitado, do imprevisto, do não programado.
48
A complexidade então, lembra Boterf (2003), não deve ser confundida com
dificuldade. Enquanto esta representa as capacidades do sujeito para enfrentar uma situação,
que está relacionada com os recursos de que dispõe para enfrentar e, com sua capacidade,
mobilizá-los em ações pertinentes, aquela diz respeito às características objetivas de uma
situação ou de um problema. Assim, o nível de complexidade se impõe aos sujeitos. A
competência de um profissional, então, na visão de Boterf (2003), pode ser traduzida por
sua capacidade de “navegação” na complexidade, levando em conta o campo de forças e as
imposições diversas. O profissional, desse modo, deve “pilotar” ou administrar mais em
função das balizas do que de planos pré-estabelecidos. Tendo em mente essa noção de
profissionalismo competente, Lê Boterf (2003), assim resume o saber administrar:
- saber agir com pertinência;
- saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto profissional;
- saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogêneos;
- saber transpor;
- saber aprender e aprender a aprender;
- saber envolver-se.
Do mesmo modo que Lê Boterf (2003), Sandberg (1996), também se afasta das
premissas que regem a abordagem das competências por intermédio dos seus atributos. Esse
autor argumenta que as competências não podem ser reduzidas a uma lista externa de
atributos relacionados ao trabalho. Ao contrário, prossegue Sandberg (1996), o
desenvolvimento de competências precisa ser compreendido com base nas práticas
organizacionais, focalizando sua análise no enriquecimento de experiências e vivências.
Nessa perspectiva, Sandberg (1996), argumenta que as competências são construídas a
partir da interação entre as pessoas no trabalho, privilegiando a questão da
complementaridade, não se limitando a um determinado perfil idealizado de gestor, nem a
listas de atributos, mas que se traduzem em práticas gerenciais articuladas.
49
Também dentro da perspectiva de dinamismo e mobilização de saberes (LÊ BOTERF,
2003; ZARIFIAN, 2001), Perrenoud (1999), informa que uma competência nunca é a
implementação “racional” pura e simples de conhecimentos, de modelos de ação, de
procedimentos. Muito embora admita os muitos significados do termo, esse autor prefere
avançar e tentar conservar uma definição explícita para a palavra competência.
Antes, porém, Perrenoud (1999) se propõe a afastar aquilo que chama de “pistas
falsas” que não estariam acrescentando muito para a compreensão dos problemas. A primeira
noção de competência criticada por Perrenoud (1999) é aquela que associa o termo para
expressar objetivos em termos de condutas observáveis; a segunda definição refere-se à
oposição existente entre competência e desempenho e a terceira conceituação criticada é
aquela que aponta a competência como uma faculdade genérica, uma potencialidade de
qualquer mente humana. Tais definições, prossegue Perrenoud (1999), são aceitáveis como
versões da noção de competência, porém incompletas quando se persegue uma definição mais
adequada do termo.
Coerente com a desconfiança que nutre acerca de definições mais apressadas da noção
de competência, Perrenoud (1999) avança lentamente na construção do conceito. Para esse
autor, a primeira tentativa arrisca dizer que a noção de competência orquestra um conjunto de
esquemas. Um esquema, continua Perrenoud (1999), é uma totalidade constituída, que
sustenta uma ação ou operação única, enquanto uma competência com uma certa
complexidade envolve diversos esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, que
suportam inferências, antecipações, transposições analógicas, generalizações, apreciação de
probabilidades, estabelecimento de um diagnóstico a partir de um conjunto de índices, busca
das informações pertinentes, formação de uma decisão, etc.
Mais adiante, ainda na sua busca por uma definição do termo competência, Perrenoud
(1999) informa que, no estágio de formação, uma competência passa por raciocínios
explícitos, decisões conscientes, inferências e hesitações, ensaios e erros. Esse funcionamento,
prossegue Perrenoud (1999), pode automatizar-se gradativamente e constituir-se, por sua vez,
de um esquema complexo, em um componente estável.
50
Referindo-se aos trabalhos anteriores de Boterf (1994 e 1997), Perrenoud (1999)
argumenta que, muito embora o conceito de mobilização seja uma idéia fundamental no
estudo das competências, ele pode causar confusão, na medida em que a mobilização de
recursos cognitivos não é a expressão de um “saber fazer” específico que seria chamado de
“saber mobilizar”, e, menos ainda, de um “procedimento da mobilização” codificado.
Mesmo alinhado com o conceito de “competência em ação” de Boterf (2003),
Perrenoud (1999) alega que, no processamento de uma situação complexa, talvez a
mobilização de diversos recursos cognitivos não seja uma invenção totalmente espontânea e
original, pois ela passa por uma série de operações mentais que atualizam esquemas e, às
vezes, aplicam métodos.
Para Perrenoud (1999), uma competência também pode funcionar como um recurso,
mobilizável por competências mais amplas. Assim, uma competência pressupõe a existência
de recursos mobilizáveis, mas não se confunde com eles, pois acrescenta-se aos mesmos ao
assumir sua postura em sinergia com vistas a uma ação eficaz em determinada situação
complexa. mais do que a simples soma dos recursos mobilizados, pois ocorre uma junção
que extrapola sua simples união aditiva.
Como pode se concluir daquilo que foi visto até aqui, a visão da chamada “escola
francesa” de abordagem à noção de competência, proporcionou formas de tratar o assunto
sob diferentes perspectivas. Para Fleury e Fleury (2004), por exemplo, a noção de
competência normalmente aparece associada a verbos e expressões como: saber agir,
mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber aprender, saber engajar-se,
assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Desse modo, prosseguem os autores, as
competências agregam valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo.
Esse autores buscam incorporar, no estudo das competências, a questão da estratégia,
entrelaçada com a aprendizagem. Essa abordagem mais inclusiva, é denotada na definição
que Fleury e Fleury (2001) dão para o conceito de competência: “um saber agir responsável e
reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades,
que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”.
51
Ao atribuir à competência valor econômico à organização, os autores, acrescentam
uma dimensão ausente nas definições de Zarifian (2001), Perrenoud (1999) e Lê Boterf
(2003), pois assumem o caráter estratégico da competência, associado a uma idéia ampliada
do conceito. Vale notar, então, que o resultado ou a entrega da mobilização de determinada
competência, dentro da lógica capitalista, acrescenta valor econômico à organização uma vez
entendido que as competências estão vinculadas à estratégia da organização e, deste modo,
compreendem a idéia de diferenciação ou vantagem competitiva por intermédio do
desenvolvimento dos recursos internos das empresas.
Nessa perspectiva, Dutra (2004), introduz uma idéia que agrega uma outra importante
dimensão à competência, que é o conceito de “entrega”. Sob essa ótica, as pessoas atuam
como agentes de transformação de conhecimentos, habilidades e atitudes em competência
entregue para a empresa. A competência entregue pode ser caracterizada como agregação de
valor ao patrimônio de conhecimentos da organização. O autor destaca que é preciso entender
que a agregação de valor é algo que a pessoa entrega para a organização de forma efetiva, ou
seja, que permanece mesmo quando a pessoa sai da organização. Assim, a agregação de valor
não se resume a atingir metas de faturamento ou produção, mas melhorar os processos e
introduzir tecnologias. Não se resumir, contudo, a atingir metas, não significa abdicar de
atingi-las, ou seja, o conceito de entrega pressupõe que a efetividade de determinada
competência precisa ser autenticada pela entrega das metas, porém não se resumo a isso.
Assim, seria mais competente, por exemplo, o funcionário que melhora os processos a
ponto de inibir as falhas, em contraposição àquele que é capaz de executar um conserto com
maior rapidez. O foco, nesse caso, está voltado para uma atitude proativa e contextualizada,
menos mecanicista e mais orgânica, portanto. Extrapolando o conceito para a indústria
bancária, por exemplo, pode-se pressupor que mais competente seria o funcionário capaz de
cumprir as metas de vendas estabelecendo uma relação duradoura com os clientes, em
detrimento de um processo baseado somente nas necessidades do próprio funcionário em
cumprir as suas metas pessoais. A fidelização do cliente, portanto, pode atestar que a
competência foi exercida na sua plenitude, uma vez que conseguiu melhorar a relação entre o
Banco e seu cliente, mediada pelo exercício competente do processo de venda, não se
esgotando, porém, num simples ato de venda, mas na construção de um relacionamento de
longo prazo.
52
A partir da análise da Figura 5, pode-se visualizar, em síntese, de que modo a
compreensão da noção competência está inserida no contexto em que ocorre. Temos, como
elementos precedentes, a instabilidade, a complexidade e um ambiente repleto de mudanças
que fomentam a noção da competência dinâmica. No centro, aparece a competência do ponto
de vista endógeno, ou seja, a partir dos seus fatores constitutivos, como o conhecimento, a
habilidade e a atitude do ator envolvido no processo. Em torno desse núcleo, no seu aspecto
exógeno, aparecem a formação acadêmica, as experiências sociais e as experiências
profissionais do indivíduo como elementos formadores da competência.
No mesmo construto, porém assumindo o caráter dinâmico das competências em
oposição à visão do cargo ou tarefa – aparecem elementos como a articulação, a combinação e
a mobilização, todos convergindo para a idéia de ação, ou seja, a partir desses fatores, a
competência passa a ganhar vida e não mais ser prescrita a exemplo de uma bula. A montante,
surgem a avaliação, a validação e o conceito de entrega, todos eles ratificando a necessidade
da competência representar algo efetivo, vinculado, de alguma forma, à noção de entrega .
Figura 5 - Competência individual: moldura dinâmica
Fonte: Elaborado pelo autor
Instabilidade
Mudanças constantes
Aumento da complexidade
Avaliação
Validação
Entrega
53
Dessa forma, a moldura dinâmica das competências oferece, de modo bastante
didático, a oportunidade de se entender o conceito competência a partir de uma visão
inclusiva, dinâmica e que se opõem a idéia da competência encapsulada na tarefa (LE
BOTERF, 2003).
Considerou-se até aqui as competências no plano individual, na sua dimensão mais
interna, confrontando-se diferentes pontos de vista acerca de possíveis definições para o
termo. O objetivo, no item a seguir, é aprofundar o entendimento sobre a noção de
competência, agora sob a análise das diversas categorias e modelos que são usadas para
estratificar e segmentar sua feição mais externa, ou seja, aquela que emerge quando a
competência se insere no ambiente e pode ser classificada à luz de alguma padronização
conceitual.
2.6 Competências individuais: categorias e modelos
Vários autores sugerem modelos, categorias ou modos diferentes de classificar e tornar
as competências individuais objeto de manipulação para compreensão ou uso. A necessidade
de agregação em categorias é tratada por Mintzberg (2003) como uma necessidade para nos
ajudar a entender um mundo complexo. Desse modo, prossegue o autor, precisamos agregar,
mesmo cientes de suas limitações. Admitindo, então, a necessidade de categorizar para
melhor compreender, acrescenta-se a possibilidade de trabalhar as competências o sentido de
permitir sua observação em ação, como é o caso da descrição de competências sob a forma de
referenciais de desempenho, ou como recursos ou dimensões de competência (CARBONE et
al, 2005; SANTOS, 2001).
54
No livro, Competence at work, Spencer e Spencer (1993), por exemplo, debatem
acerca das 20 competências propostas por McClelland. O Quadro 5, apresenta, de um modo
fácil de visualizar, esse modelo de competências:
Realização
e Ação
Ajuda e
Serviço
Impacto e
Influência
Gerenciais
Cognitivas
Auto-
Gerencia-
mento
Orientação para
realizações ou
empreendimentos
Compreensão
inter-pessoal
Impacto e
Influência
Desenvolvimento
de pessoas
Capacidade
analítica
Auto-
Controle
Qualidade e
Ordem
Orientação
para o cliente
Consciência
organizacional
Direção Pensamento
conciso e
síntese
Auto-
confiança
Iniciativa Rede de
relacionamentos
Trabalho em
Equipe
-
Expertise Flexibilidade
Busca de
informações
-
Liderança
-
-
Mentalidade
de negócio
Quadro 5 - Modelo de competências de David McClelland
Fonte: Spencer e Spencer (1993)
Uma outra maneira de classificar as competências é através da categorização,
ordenando-as de modo a refletir certas qualidades, ênfases ou enfoques. Nesse caso, a
categorização parte da competência integral, ou seja, já incorporada dos seus elementos
constitutivos para envolver o indivíduo com toda a empresa, em uma perspectiva sistêmica
(FLEURY; FLEURY, 2001).
Woodruf
Fandt American Society For
Training And Developments
Fleury e Fleury
Fundamentais Interacionais cnicas cnicas
Diferenciais De solução de
problemas
Negócios De negócio
-
De capacitação
Inter-pessoais Sociais
-
Comunicação Intelectuais
-
Quadro 6 - Exemplos de agregação das competências por categorias
Fonte - Ruas (2005) com adaptações
55
Autores como Dutra (2004), Fleury e Fleury (2000) e Ruas (2005), sugerem que a
compreensão das competências está inserida em um contexto maior. Isoladamente, alertam
esses autores, as competências têm pouco valor. É preciso integrá-las dentro da estratégia
organizacional de modo a obter coerência no gerenciamento das ações estratégicas, evitando a
falta de coordenação e fugindo de ações isoladas e de caráter fortuito. Nessa linha, Fleury e
Fleury (2001) concordam que, ao definir uma estratégia, a empresa deve ter perfeito
entendimento das competências essenciais que possui e das necessárias competências para
cada função. O permanente aprimoramento dessas competências renova as escolhas
estratégicas da organização e tende a ser virtuoso, concluem os autores.
Diferentemente da composição de competências, que se ocupa em separar a
competência em partes constitutivas, e da agregação das competências por categorias que
enfoca mais as externalidades das competências, Santos (2001), conforme descrito no Quadro
7, descreve as competências sob a forma de referenciais de desempenho:
Competência Descrição (referenciais de desempenho)
Orientação para
resultados
Implementa ações para incrementar o volume de negócios;
Avalia com precisão os custos e benefícios das oportunidades negociais;
Utiliza indicadores de desempenho para avaliar os resultados alcançados;
Elabora planos para atingir as metas definidas.
Trabalho em equipe Compartilha com seu grupo os desafios a enfrentar;
Mantém relacionamento inter-pessoal amig
ável e cordial com os membros de
sua equipe;
Estimula a busca conjunta de soluções para os problemas enfrentados pela
equipe;
Compartilha seus conhecimentos com os membros da equipe.
Quadro 7 - Exemplo de descrição de competências sob a forma de referenciais de desempenho
Fonte - Santos (2001)
56
Existem também, outras formas de descrever os recursos ou dimensões da
competência, ou seja, os conhecimentos, habilidades e atitudes que se pressupõem necessários
para que a pessoa possa apresentar determinado desempenho no trabalho, conforme mostra o
Quadro 8, a seguir:
Dimensões da
Competência
Descrição
Conhecimentos Princípios de contabilidade e finanças;
Produtos e serviços ;
Princípios de relações humanas.
Habilidades Aptidão para operar computadores periféricos e outros recursos tecnológicos;
Habilidade para argumentar de maneira convincente.
Atitudes Predisposição para a tomada de iniciativa;
Respeito à privacidade do cliente;
Predisposição pata aprimorar-se constantemente.
Quadro 8 - Dimensões das competências
Fonte: Durand (1998) com adaptações
Diferentemente das abordagens vistas anteriormente, Authier (2003) propõe um
modelo denominado “árvore de conhecimentos” visando a capturar o conjunto de
competências em determinada organização. Semelhante ao conceito de “entrega” proposto por
Dutra (2004), Authier (2003) destaca a relação entre aquilo que os indivíduos disponibilizam
ou seja, as suas competências e aquilo que a empresa demanda em relação ao que foi
disponibilizado e as formas de aprimoramento das riquezas desse conjunto. Nessa
representação, a base de conhecimentos é representada pelo tronco e cada galho representa as
competências especializadas, ou seja, os domínios e especialidades de cada funcionário da
organização. Segundo Authier (2003), se houver um desenho de toda a grade de problemas e
um mapa com as competências de cada funcionário, será possível reuni-los para a construção
de um resultado comum.
Percebe-se ampla variedade de conceitos e abordagens, demonstrando que ainda não
existe uma agregação que permita uma padronização na categorização das competências. Por
outro lado, essa riqueza de abordagens, permite uma adaptação melhor dos conceitos às
diferentes realidades de contextos e das próprias organizações.
57
É necessário existir, quando da escolha por determinada categoria de competências,
um profundo conhecimento da realidade da organização e das políticas de pessoal vigentes de
modo a adequar, da melhor forma possível, a categoria que melhor se harmonize ao contexto
e à situação da empresa.
Fleury e Fleury (2001), por exemplo, sugerem a categorização das competências em
técnico-profissionais, de negócio e sociais, com as descrições abaixo:
- competências técnico-profissionais: competências específicas para certa operação,
ocupação ou atividade, como, por exemplo, desenho técnico, conhecimento do
produto, finanças;
- competências de negócio: competências relacionadas à compreensão do negócio, seus
objetivos na relação com o mercado, clientes e competidores, assim como com o
ambiente político e social; exemplo: conhecimento do negócio, orientação para o
cliente;
- competências sociais: competências necessárias para interagir com pessoas, como por
exemplo, comunicação, negociação, mobilização para mudança, sensibilidade cultural,
trabalho em times.
Ponderando-se a categorização de Fleury e Fleury (2001), percebe-se que, para
empresas de serviço, inclusive bancos, esse modelo consegue abarcar as três principais
dimensões das competências usualmente definidas para as diversas categorias funcionais.
Após abordar algumas questões envolvendo a gestão do conhecimento nas
organizações, as competências organizacionais e sua estreita ligação com a estratégia das
empresas, além de repassar alguns modelos que sustentam a estrutura interna e externa das
competências, pretende-se iniciar a seguir uma análise do papel gerencial, uma vez que as
competências gerenciais são, em última instância, elementos que condicionam, dão base e
repercutem no trabalho exercido pelos gerentes. Entender, desse modo, em qual contexto
operam os gerentes e de que forma esse contexto influencia o desenvolvimento e a
mobilização das competências, a partir do papel gerencial, é o objetivo do item abaixo.
58
2.7 O papel gerencial
Em 1975, Henry Mintzberg, então professor na Faculdade de Administração da
McGill University, em Montreal, Canadá, foi agraciado com o prêmio McKinsey Award da
Harvard Business Review pelo artigo “ The Manager’s Job; Folklore and Fact ”, onde
demonstra, por intermédio da discussão de quatro mitos sobre o trabalho do gerente, que as
tradicionais noções de administração preconizadas por Fayol, estavam muito distantes da
realidade do dia-a-dia dos executivos pesquisados.
Existem, quatro mitos sobre o trabalho do gerente que não resistem ao exame
minucioso dos fatos (MINTZBERG, 1975):
Mito Realidade
Primeiro Mito: o executivo é um
planejador sistemático e reflexivo.
Realidade: os executivos trabalham num ritmo inexorável e
suas
atividades se caracterizam pela brevidade, variedade e
descontinuidade. Eles também estão firmemente orientados para
a ação, não apresentando inclinações para atividades de reflexão.
Segundo Mito: o verdadeiro executivo
não executa tarefas de rotina.
Realidade: além de se ocupar com exceções, o trabalho
administrativo envolve a execução de uma série de deveres
rotineiros, incluindo rituais e cerimônias, negociações e
processamento de pequenas informações que ligam a
organização ao seu meio ambiente.
Terceiro Mito: os principais executivos
necessitam de informações agregadas,
que podem ser melhor obtidas através de
um sistema formal de informações
gerenciais.
Realidade: os executivos preferem mídia verbal, principalmente
telefonemas e reuniões.
Quarto Mito: a administração é, ou pelo
menos está se transformando
rapidamente, em ciência e profissão.
Realidade: os programas dos executivos, para organizar o
tempo, processar informações, tomas decisões e outras coisas
mais – permanecem trancados em suas cabeças.
Quadro 9Mitos e realidades sobre o trabalho do gerente
Fonte: Mintzberg, 1975
59
Apesar de espelhar alguns aspectos que influenciam o trabalho dos gerentes de hoje,
as constatações de Mintzberg (1975), passam longe do atual estágio de complexidade e
instabilidade a que são submetidos os gestores do século XXI. Muito mais do que ontem, o
trabalho do gerente ficou refém de uma dinâmica que potencializou os mitos de Mintzberg
(1975). Essa conclusão fundamenta-se, dentre outros, na espetacular ascensão das
telecomunicações, fenômeno que encurtou as distâncias e transformou o trabalho e a vida dos
gerentes.
A disponibilização de ferramentas de gestão mais modernas e adequadas ao trabalho
do gerente, associadas à globalização e à explosão das modernas tecnologias de comunicação,
repercutem, então, diretamente sobre os quatro mitos assinalados por Mintzberg (1975). A
internet, por exemplo, afeta diretamente o processo de busca e troca de informações do
gerente atual. Se, de um lado existe a compressão do tempo com o encurtamento dos prazos
para a tomada de decisão, de outro também se oferecem mais rápidas respostas em termos de
informações agregadas.
Contudo, é preciso reconhecer que, sob alguns aspectos, não apenas continuam atuais
as restrições ao trabalho sob o desenho clássico de Fayol, como, em alguns casos, ocorreu
sensível aumento das dificuldades enfrentadas pelos gerentes, corroborando as críticas de
Mintzberg (1975), fruto do aumento da complexidade e incerteza no campo organizacional.
Essa crescente pressão sobre a atuação dos gerentes torna cada vez mais importante
reconhecer o cenário, as limitações e as reais possibilidades para uma ação mais efetiva dos
mesmos.
Mais recentemente, Mintzberg (2001) argumenta que a literatura que aborda o trabalho
gerencial continua enfatizando o trabalho do gerente de modo fragmentado, em detrimento da
complexa gama de atividades que cerca a ação desses trabalhadores. Existe uma imagem
distorcida da realidade, que vê a função gerencial como algo sistemático e cuidadosamente
controlado.
Da mesma forma que Mintzberg (2001), Motta (1999) também explora as contradições
sobre a função gerencial. Os dois autores convergem para a idéia de que o senso comum, que
o trabalho do gerente como estável, está distante da realidade vivida pelos gerentes no seu
trabalho diário.
60
Essa função é mais desordenada e fragmentada do que previsível e sistematizada,
conforme pode ser comprovado pelo Quadro 10, que trata dos mitos e verdades acerca do
trabalho do gerente, muito semelhante ao contido no artigo seminal escrito por Mintzberg, em
1975.
Mitos Verdades
Pessoa com status, autoridade e poder. Toma
decisões rápidas, analisa informações e supera
obstáculos. Confiante e seguro. Sucesso das
decisões.
Pessoa com status às vezes duvidoso; poder e
autoridade dependente de injunções contínuas e de
informações obtidas de várias maneiras. Negocia
assuntos diversos, ganhando e perdendo. Tenso,
nervoso e incerto quant
o ao resultado das decisões.
Atuação baseada em ações ordenadas e
planejadas, num processo decisório
acentuadamente racional e impessoal.
Atuação baseada em ações desordenadas e inter
mitentes. Processo decisório marcado também por
decisõ
es intuitivas e influenciadas por lealdade
pessoais e comunicações verbais face a face.
Preocupação prioritária com políticas, diretrizes
e desenvolvimento futuro da organização
Preocupação prioritária com operações atuais e
soluções de problemas prementes.
Trabalho programado, com algumas fases
previsíveis e problemas antecipados para
enfrentar contingências e superar dificuldades.
Trabalho não programado, em grande parte
imprevisível. Enfrentamento constante de
contingências e de problemas desconhecidos.
Instrumentos de trabalho: objetivos, planos,
programas, metas, resultados e prazos.
Instrumentos de trabalho: surpresas, problemas, sustos
e contingências.
Reúne-
se para planejar e resolver problemas.
Reúne-se para discutir as dificu
ldades das rotinas e
debater temas na presunção de que poderá haver
problemas.
Recebe informações fundamentais para a decisão
através de relatórios de assessores, memorandos
internos, impressos de computadores e
informações orais em reuniões programadas.
Recebe informações fundamentais através de um
sucessivo e variado número de contatos pessoais, por
comunicação verbal, telefonemas, bate-
papos
informais e em reuniões de última hora.
Comportamento formal e contemplativo. Comportamento informal e interativo.
Trabalha com sistematização, afinco e
profundidade em um número reduzido de tarefas
e informações mais importantes para a tomada de
decisão.
Trabalha assistematicamente, de forma superficial e
intermitente em um grande número de tarefas
exercendo funções diferentes no que se refere a cada
tarefa.
Trabalho prospectivo, de médio e longo prazos,
orientado para soluções e integrado as diversas
áreas da organização.
Trabalho restritivo, de curto prazo, orientado a
problemas e fragmentado no
que se refere às diversas
áreas de organização.
Quadro 10 - Mitos e verdades mais comuns sobre as funções do gerente
Fonte: Motta (1999)
61
As dificuldades para a incorporação de papéis pré-concebidos, linearmente delineados
e colocados à disposição dos gerentes como produtos em uma prateleira, prontos para serem
consumidos, talvez estejam na raiz de uma abordagem que não encontra mais condições de
sobreviver. Sendo assim, pode-se conceber que novas alternativas precisam ser exercitadas a
fim de facilitar ou possibilitar um trabalho mais efetivo por parte dos gerentes.
Nessa perspectiva de mudança, Motta (1999) proclama que os gestores de hoje
enfrentam dilemas que os remetem a cenários plenos de complexidade, incertezas e
insinuações de toda ordem, requerendo novas habilidades e atitudes originais frente a um
processo contínuo de mudanças.
Para este autor, tradicionais modelos de gestão talvez não comportem mais a solução
para resolver problemas emergentes. Capacidades individuais e organizacionais poderão se
tornar obsoletas rapidamente, exigindo da empresa comportamentos inéditos, posturas
inovadoras e criativas em contraposição ao conservadorismo e à acomodação.
A tarefa dos gerentes, então, longe de ser fácil, é um exercício de constante vigilância
teórica e prática, configurando a um tempo intuição e razão, na tentativa às vezes em
vão de compreender e agir de modo a ajustar as organizações ao contexto permeado pela
diversidade e incerteza (MOTTA, 1999).
Nesse sentido, Silva e Godoi (2003), assinalam que o retorno do conceito de trabalho
ao trabalhador, engendrado pela lógica da competência como propriedade particular do
indivíduo, e não mais do posto de trabalho, posiciona o indivíduo como unidade de análise
privilegiada e ponto de partida dos estudos de competências e aprendizagem.
Incorporar, então, o conceito de competência individual ao espectro do trabalho
gerencial, pode insinuar que a amplitude, a complexidade, a ambigüidade e a incerteza picas
da função gerencial, podem ser melhor compreendidas e estudadas a partir do abandono das
funções clássicas de Fayol, assumindo que não é possível mais prescrever aquilo que deve ser
feito e antes sim ter a capacidade de navegação sob condições cada vez mais precárias e
inconstantes.
62
Sob essa perspectiva, pode-se inferir que uma competência importante passa a ser a
capacidade de percepção e de observação. Num mundo onde predominam a instabilidade e a
fluidez decorrentes de uma lógica que valoriza a velocidade e a busca de resultados cada vez
mais audaciosos, o gerente precisa ter a capacidade de compreender as diversas situações nas
quais está inserido. Nesse caso, saber captar os sinais passa a ser tremendamente valioso em
períodos de incerteza.
O ambiente de diversidade e complexidade tem, de acordo com Paiva, Esther e Pires
(2004), instigado diversos autores a detalharem o trabalho do gerente. Assim, o número
considerável de perspectivas em que a atuação do gerente pode ser estudada, pode acolher o
enfoque das competências, notadamente as dinâmicas, como elemento aglutinador de uma
perspectiva que inclua também a estratégia organizacional (FLEURY; FLEURY, 2001).
Do mesmo modo que Motta (1999), Bitencourt (2004) afirma que a ação gerencial
deve estar vinculada ao negócio da empresa e que, para o seu desenvolvimento, precisa
considerar a perspectiva dinâmica que hoje envolve as organizações, requerendo posturas de
educação continuada e não limitada à construção de um perfil ideal.
Esse perfil ideal, aliás, aproxima-se mais da visão de Sveiby (1998) e difere bastante
do modelo de competência individual necessário para fazer frente ao ambiente dinâmico de
hoje, mais sintonizado com o conceito de competência em ação (LÊ BOTERF, 2003).
Outra importante contribuição sobre o papel do gerente nas organizações é oferecida
por Boog (1991). Para esse autor, o gerente é o personagem que garante a operação
empresarial, o que implica realizar, equilibradamente, o potencial de resultados, de pessoas e
de inovação. Contudo, ressalta Boog (1991), o que se na realidade brasileira é uma
valorização bastante grande da habilidade técnica, em detrimento das habilidades sociais e
conceituais.
63
Sem estabelecer o confronto entre o folclore/fato (MINTZBERG, 2001) e o
mito\verdade (MOTTA, 1999), Boog (1991) chama a atenção para a instabilidade no trabalho
gerencial. Contudo, alerta Boog (1991), o exagero da dimensão instabilidade pode levar a
organização ao caos. A tarefa de gerenciar, portanto, conclui o autor, é de tamanha
complexidade que reduzi-la a uma visão unilateral traz como conseqüência uma percepção
verdadeira, mas parcial da realidade. Uma ótica adicional que favorece o entendimento é ver
o gerente como balanceador de demandas conflitantes, dinâmicas e multi-polarizadas.
No contexto de atuação do gerente, além da dimensão da complexidade, dualidade e
instabilidade, outro aspecto é também explorado pela literatura que trata da função gerencial:
a dimensão estratégica do trabalho gerencial. Nesse sentido, Wilson e Jarzabkowski (2004)
mencionam a estratégia baseada em atividades como oportunidade de se estudar o que
acontece quando as estratégias são colocadas em prática, ou seja, de que modo os indivíduos,
especialmente os gerentes, contribuem para esse processo? Esse agir estratégico, prosseguem
os autores, implica em colocar as decisões em ação, para mobilizá-las de forma que o
movimento estratégico possa ser identificado e entendido.
64
A Figura 6, adaptada de Hipólito (2000), ajuda a compreender melhor o contexto no
qual operam os gerentes. A delimitação do campo de atuação gerencial mostra o sujeito da
ação (gerente), situado dentro de um nível de atuação operacional, atuando localmente,
respondendo pela condução de atividades, situando-se num nível alto de padronização,
estruturação e rotina, coletando informações e agindo com baixo nível de autonomia. Essa
compreensão da delimitação do espaço no qual opera o gerente, permite também iniciar a
análise do contexto onde serão mobilizadas as competências gerenciais.
Eixo do
desenvolvimento
Nível de
atuação
Abrangência
da atuação
Escopo de
responsabilidade
Nível de
estruturação
das
atividades
Tratamento
da
informação
Autonomia
e grau de
supervisão
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Figura 6 - Contexto de atuação do gerente
Fonte: Hipólito (2000)
Whittington (2004) também enfatiza o trabalho do gerente como um importante objeto
de estudo. Para esse autor, a preocupação com a prática social, ou seja, o interesse por algo
que as pessoas fazem, pode deslocar o nível de análise para uma perspectiva gerencialista,
buscando compreender as atividades atuais daqueles que praticam a estratégia.
Estratégica
Tática
Operacional
Internacional
Nacional
Regional
Local
Organização
Várias
Unidades
de negócios
Unidades
de negócio
Área
Atividades
Baixo nível de
padronização,
estruturação e
rotina
Alto nível de
padronização,
estruturação e
rotina
Decide /
Responde
Participa da
decisão
Análise e
recomenda
Sistematiza /
Organiza
Coleta
Alto nível de
autonomia
Baixo nível de
autonomia
VI
V
IV
III
II
I
65
Preocupado com a função do gerente, Whittington (2004) sugere que se pergunte qual
é o trabalho envolvido ao se fazer a estratégia? Quais as habilidades envolvidas? Como esse
trabalho está organizado e quais as suas implicações? Na verdade, finaliza Whittington
(2004), quaisquer que sejam as atividades e o resultado da organização, os gestores ainda
precisam de ferramentas e habilidades adequadas para realizar o seu trabalho.
O deslocamento gradual do foco da qualificação profissional para o conceito de
competência individual, está sintonizado com uma preocupação cada vez maior das
organizações em gerir estrategicamente seus recursos humanos. Nesse contexto, as
competências gerenciais podem ser uma alternativa para melhorar a atuação dos gerentes,
uma vez que são eles que, em última análise, traduzem em ação, as estratégias
organizacionais..
2.8 Competências gerenciais: modelos, categorias e abordagens
O estudo das competências gerenciais vem recebendo crescente atenção de teóricos e
pesquisadores. O escopo das pesquisas também é amplo e variado, refletindo a diversidade de
abordagens que cerca o tema, incluindo: desenvolvimento de competências gerenciais
(BONN, 2001; ORNOFF, 2002; WESTER, 1998); competências gerenciais como fonte de
desempenho superior nas organizações (ABRAHAM et al, 2001; RICHARDSON;
THOMPSON, 1995) e competências gerenciais em diferentes contextos (ANDERSON;
PULICH, 2002; HOGG, 1993).
Nesse cenário multifacetado, Oderich (2005), recorda que as competências estão
presentes em diferentes níveis organizacionais. As competências gerenciais, na observação da
autora, estariam contidas numa seqüência que se inicia com as competências organizacionais,
passando pelas competências funcionais, dentro de uma perspectiva de inter-relações e inter-
funcionalidades.
66
Para Ruas (2005), as competências gerenciais constituem uma instância fundamental
nos processos de mudança, tendo em vista o papel da liderança, exercendo também uma
importante função na mobilização de outras funções, como por exemplo, das competências
organizacionais. Sob esse enfoque, a noção de competência aparece como uma forma
renovada de pensar o papel e o desempenho das organizações.
Assim como Boterf (2003), Ruas (2005) assinala que o conceito de competência
constitui-se na própria ação e não existe antes dela. Não existe competência no vazio, mas
apenas competência no ato. Ser competente então, pode significar executar aquilo que foi
planejado, por exemplo. Para Ruas (2005), as competências gerenciais são aquelas que
colocam os projetos organizacionais e funcionais em ação.
A partir daquilo que é preconizado por Ruas (2005), o trabalho de pesquisa
desenvolvido por Daólio (2004) fornece informações e reforça a tese de que as competências
gerenciais são excelentes condutores da estratégia organizacional. Nesse caso, interessa saber
quais competências os gerentes colocam em ação e com qual intensidade no ambiente de
trabalho. O autor codificou mais de 1400 entrevistas, a partir da seguinte estruturação:
a) Competências mobilizadoras: competências que movem os profissionais à ação nos
ambientes de trabalho. Seus motivos, preocupações, interesses, necessidades;
b) Competências Táticas: como as pessoas agem para que as coisas aconteçam, ou para
que as outras pessoas aceitem suas idéias e sejam mobilizadas para a ação? Quais suas
estratégias de atuação, persuasão e convencimento?
c) Competências trazidas na bagagem: conjunto de características pessoais, modos de
ser e de se comportar perante a vida;
d) Competências aprendidas/ferramentas: posturas e atitudes que a pessoa aprendeu
na escola, na vivência e experiência.
67
Na mesma linha defendida por Daólio (2004), Cripe e Mansfield (2003) sugerem três
grandes blocos de competências para potencializar o desempenho de gerentes: competências
de relacionamento com pessoas; competências relacionadas com negócios e competências de
autogestão. Os autores afirmam que uma gestão de desempenho eficaz deve integrar
planejamento de desenvolvimento profissional com planejamento do negócio. As pessoas,
avaliam Cripe e Mansfield (2003), são o centro do modelo de desenvolvimento, sendo as
competências apenas parte de todo o sistema de desempenho dos indivíduos.
Uma proposta mais abrangente é oferecida por Quinn et al (2004), que posicionam as
competências gerenciais num quadro de valores competitivos. Os autores sugerem oito papéis
de liderança, com três competências por papel. Desse modo, é possível situar os diversos
papéis e competências gerenciais em quatro grandes modelos: modelo das metas racionais;
modelo dos processos internos; modelo das relações humanas e modelo dos sistemas abertos.
Nessa perspectiva, é possível acompanhar o contínuo espaço-tempo de competências
gerenciais alinhadas com o desenvolvimento da teoria da administração, percebendo que
existe uma evolução das competências que acompanha o ciclo histórico da teoria da
administração, sugerindo que as competências contribuíram para a consolidação das diversas
fases da construção da teoria administrativa. Para uma melhor compreensão e devido à
importância da proposta de Quinn et al (2004), será efetuado um breve resumo dos oito papéis
gerenciais constantes do modelo.
- Papel de mentor: nesse papel, espera-se que o gerente seja prestativo, atencioso,
sensível, receptivo e justo. Ao desempenhá-lo, o gerente deve escutar, apoiar as
decisões legítimas e expressar apreciação e reconhecimento. Os empregados são
considerados recursos importantes a serem compreendidos, valorizados e
desenvolvidos. O gerente ajuda-os nos seus planos de desenvolvimento individual,
além de proporcionar-lhes oportunidades de treinamento e cultivo de competências.
No papel de mentor, o administrador deve também demonstrar um alto grau de
autoconsciência, e levar em consideração a influência exercida por seus atos, como
gerente, sobre os de seus subordinados. As competências gerenciais vinculadas a esse
papel são: compreensão de si mesmo e dos outros, comunicação eficaz e
desenvolvimento dos empregados;
68
- Papel de facilitador: o papel de facilitador se concentra no relacionamento entre o
administrador e seu grupo de trabalho. Nesta função, o gerente fomenta o esforço
coletivo, cria coesão e moral e administra os atritos inter-pessoais. O facilitador usa
algumas das mesmas competências do mentor, tais como a escuta e a empatia e
sensibilidade às necessidades alheias. Neste papel, as competências são: construção
de equipes, uso da tomada participativa de decisões e administração de conflitos;
- Papel de monitor: a função do monitor refere-se à atenção do gerente a questão do
controle interno como, por exemplo, a gestão de processos essenciais, a fim de
assegurar que haja consistência. A função do monitor diz respeito à consolidação e
criação de continuidade. As competências vinculadas a esse papel são: administração
de informações por meio do pensamento crítico, administração da sobrecarga de
informações e a administração dos processos essenciais;
- Papel do coordenador: o papel do coordenador compreende a coordenação do
trabalho de dois ou mais empregados, grupos ou unidades de trabalho que funcionam
de maneira independente. No mundo atual, os coordenadores com freqüência tem de
conjugar grupos de organizações trabalhando também de modo autônomo. Como
coordenador, a atribuição do gerente é cuidar para que o trabalho transcorra com
tranqüilidade e as atividades sejam realizadas conforme sua importância relativa, com
um mínimo de atrito entre os indivíduos, grupos e unidades de trabalho. As
competências gerenciais relacionadas com esse papel são: gerenciamento de
projetos, planejamento do trabalho e gerenciamento multifuncional;
- Papel de diretor: o papel de diretor, sob muitos aspectos, reflete a essência da
definição que muitos especialistas atribuem à liderança. As competências atribuídas
para esse papel são: desenvolvimento e comunicação de uma visão, estabelecimento
de metas e objetivos e planejamento e organização;
69
- Papel de produtor: este papel complementa o papel de diretor. Sua representação
eficaz manifesta-se tanto nos líderes gerenciais pessoalmente “produtivos”
motivados, autônomos e comprometidos – quanto no ambiente por ele criado para seus
subordinados e colegas – o qual, por sua vez, deixa-os motivados, autônomos e
comprometidos. As competências presentes nesse papel são: trabalho produtivo,
fomento a um ambiente de trabalho produtivo e administração do tempo e do estresse;
- O papel de negociador: o gerente negociador apresenta idéias e negocia-as com
eficácia. O desafio do negociador é contribuir para que as pessoas enxerguem os
benefícios das suas idéias por intermédio de habilidades específicas de persuasão e
auto-confiança. As competências dominadas por este papel são: construção e
manutenção de uma base de poder, negociação de acordos e compromissos e
apresentação de idéias;
- Papel de inovador: o foco deste papel reside na capacidade de adaptação e resposta
ao ambiente externo. O inovador usa da criatividade, do gerenciamento das
transformações e transições organizacionais, além de proporcionar aos gerentes uma
oportunidade única de afirmar o valor de cada empregado dentro do contexto da
empresa. São competências vinculadas a este papel: convivência com a mudança,
pensamento criativo e gestão da mudança.
Uma outra fonte importante para a pesquisa de competências gerenciais é o trabalho
desenvolvido por Spencer e Spencer (1993). Estes autores propõem uma matriz de
competências profissionais voltadas para executivos, gerentes e empregados das organizações
do futuro. O Management Charter Initiative (1997) oferece também uma matriz de
competências pessoais relevantes para o desempenho eficaz dos “papéis-chave” da gerência.
70
O Quadro 11, abaixo, resume as categorizações das competências gerenciais propostas
por alguns autores. A classificação das competências em diferentes agrupamentos, permite
uma melhor visualização das várias formas de se abordar um mesmo assunto e denota
também a complexidade que envolve a matéria.
Daólio Cripe & Mansfield Quinn et al Fleury e Fleury
Competências
mobilizadoras
Competências de
relacionamento com
pessoas
Papel de mentor e
facilitador
Competências
de negócio
Competências
Táticas
Competências
relacionadas com
negócios
Papel de monitor e
coordenador
Competências
Técnicas
Competências
trazidas na bagagem
Competências de
autogestão
Papel de diretor
produtor
Competências
Sociais
Competências
aprendidas /
ferramentas
-
Papel de negociador
e inovador
-
Quadro 11 - Exemplos de categorização de competências gerenciais
Fonte: O autor
Considerando a gama de propostas que visam a tornar mais efetiva a atuação dos
gerentes por intermédio de competências gerenciais específicas, Motta (1999) alerta para a
necessidade de tornar todos os gerentes dirigentes de alto nível. O autor atribui esta nova
realidade à complexidade do mundo organizacional moderno, que tem modificado dimensões
clássicas de gestão e substituído formas antes rígidas e precisas por formas ambíguas e
flexíveis. Assim, o aprendizado da gerência deve incluir um conjunto de conhecimentos
comuns a todos que exercem a função gerencial ou pretendem exercê-la. Sem fazer menção
ao termo competência, Motta (1999), aponta para quatro grandes blocos de conhecimentos a
serem dominados pelos gestores: estratégia, racionalidade administrativa, liderança e
habilidades inter-pessoais e processo decisório.
Como é possível perceber nas descrições de modelos e competências gerenciais
citados acima, o assunto ainda suscita dúvidas e apresenta grande diversidade de abordagens.
Ruas (2005), por exemplo, menciona uma série de observações empíricas sobre as
competências gerenciais.
71
Para esse autor, o conceito ainda apresenta grande prolixidade e redundância, sendo o
uso do termo ainda usado de maneiras formais e informais. Também ficou constatada a
dificuldade de aplicar a noção de competência em práticas que exigem mais objetividade.
Além disso, Ruas (2005), demonstra que , excetuando-se as atividades vinculadas à gestão de
pessoas, a aplicação formal da noção de competência apresenta ainda uma baixa divulgação e
utilização.
Por outro lado, Ruas (2005) também se propôs a pesquisar por que a noção de
competência atraía a atenção junto às organizações. Resumidamente, as conclusões desse
autor foram: a noção de competência é atrativa porque representa uma ação efetiva e
legitimada no ambiente do trabalho. Essa nova perspectiva, acrescenta o autor, tem
contribuído para que se repense o que é realmente importante para “fazer acontecer” uma
atividade ou atingir um objetivo. A partir dessa visão, alguns dos chamados atributos
atitudinais que causam impacto direto no “fazer acontecer”, como disponibilidade, desejo,
compartilhamento, passam a ser tão ou mais valorizados do que atributos mais tradicionais
associados à formação acadêmica, por exemplo. Um segundo elemento de atração à noção de
competência individual reside na flexibilidade e na adaptabilidade nela intrínseca. Essa
tendência se observa, de maneira mais ou menos intensa, nos bancos, nas instituições de
educação, na cadeia automobilística e até mesmo na construção civil.
Considerando a extensa gama de opções representada por diversos modelos e
categorias de competências, todas objetivando uma melhor apreensão da riqueza do conceito
por intermédio de categorizações, aquele que melhor demostra condições de servir a este
estudo é o modelo proposto por Fleury e Fleury (2001), dividindo as competências em sociais,
técnicas e de negócio.
72
Mesmo sendo arbitrária, assim como é arbitrária a categorização ou escolha de
modelos de competências e admitindo-se as limitações intrínsecas a este tipo de escolha, a
opção pelo modelo de Fleury e Fleury (2001) pode ser justificada. Como primeira justificativa
surge o contexto no qual está inserido o Banco do Brasil. Neste contexto, a abordagem que
incorpora a segregação das competências gerenciais em sociais, técnicas e de negócio,
permite abarcar grande parte do escopo no qual operam os negócios bancários propriamente
ditos. A atividade bancária em si, assim como de resto as atividades comerciais, tem nas
interações sociais, espelhadas nas competências sugeridas por Fleury e Fleury (2001), grande
parte de suas referências em termos de ação humana propriamente dita.
Um segundo ponto que pode ser recuperado para suportar a escolha de Fleury e Fleury
(2001) repousa na idéia de que as competências técnicas e de negócio conseguem capturar as
interações sociais de caráter mais vinculado aos fins. Em outras palavras, referidas
competências têm estreita vinculação com a forma como ocorre a interação negocial entre o
banco e seus clientes, admitindo que são necessários conhecimentos técnicos e de negócio
para viabilizar a sobrevivência da Organização no mercado.
Referido modelo, portanto, será utilizado para a distribuição das competências
gerenciais a serem avaliadas, conforme metodologia descrita a seguir.
73
3 METODOLOGIA
A seguir, são exibidos os aspectos metodológicos do presente trabalho, o que engloba
o delineamento da pesquisa, a estratégia utilizada, bem como a contexto envolvendo a
população, amostra, local onde foi realizada, os métodos e técnicas de coleta de dados e o
tratamento e a análise dos dados.
3.1 Tipo de pesquisa
Este estudo possui bem delimitadas duas etapas ou fases que permitem uma dupla
classificação quanto ao tipo de pesquisa. Na primeira fase, de caráter qualitativo, foram
conduzidas sessões de “entrevistas em grupo”, com o objetivo de levantar, preliminarmente,
um conjunto de competências gerenciais a serem submetidas à apreciação da amostra da
pesquisa. Esta técnica também é denominada de entrevista focalizada em grupo e foi
utilizada, por exemplo, em 1988, nos EUA, para estabelecer a melhor estratégia das eleições
presidenciais (ROESCH, 1995). Entrevistas em grupo também têm sido usadas para validar
as respostas de questionários quantitativos e podem ser utilizadas nas pesquisas de caráter
acadêmico. A técnica permite e incentiva o debate no grupo, conferindo um papel de
destaque para o moderador, a quem cabe assegurar o debate de todos os tópicos, incentivar a
participação de todos e controlar o tempo das sessões. Em trabalhos com as características
das entrevistas em grupo, Merrian (1998), Roesch (1995), Schwandt (2000) e Valles (1997)
destacam ser fundamental o papel desempenhado pelo pesquisador.
No momento seguinte, o estudo pode ser classificado como uma pesquisa quantitativa
com delineamento descritivo e exploratório. Descritivo porque os elementos manipulados são
de caráter tipicamente objetivos e se busca saber em que proporção os pesquisados têm certa
opinião ou característica. Esse enfoque procura fatos descritivos visando a obter massa de
informações necessárias para a ação ou predição. Pesquisas descritivas não respondem bem
ao porquê, embora possam associar certos resultados a grupos de respondentes.
74
Foi ainda exploratório, pois os resultados da pesquisa poderão também fornecer
subsídios para a geração de hipóteses a posteriori, dentro de uma pesquisa com delineamento
metodológico mais específico e rigoroso (ROESCH, 1995). Nesse caso, não existem
hipóteses preditivas (ante factum), nem perguntas específicas formuladas a priori, havendo
interesse naquelas de maior valor preditivo.
3.2 Estratégia de pesquisa
Este trabalho pode ser caracterizado como um estudo de caso. A estratégia de estudo
de caso tem sido amplamente utilizada na pesquisa acadêmica. Como vantagem dessa
alternativa, pode-se citar a possibilidade de estudar os fenômenos ou processos dentro do seu
contexto, explorar fenômenos com base em vários ângulos, além de combinar vários métodos
de coleta de dados como a entrevista e o questionário. Yin (2001) certifica que o Estudo de
Caso contribui grandemente para a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais,
sociais e políticos. Já Stake (1994), acrescenta que a atratividade dos estudos de caso para os
pesquisadores reside na possibilidade de uma maior generalização.
No tocante à generalização, Yin (2001), com uma visão diferente, enfatiza que os
estudos de caso seriam generalizáveis enquanto proposições teóricas e não como populações
ou universos. Apesar de alertar para os perigos da falta de rigor na pesquisa por intermédio
do Estudo de Caso, Yin (2001) assegura que essa estratégia é uma forma distintiva de
investigação empírica, portanto de grande utilidade no contexto das pesquisas em ciências
sociais. Na visão de Roesch (1995), o estudo de caso visa a desenvolver conhecimento
teórico na área de administração, embora também possa ser útil na definição de políticas ou
planos. Outra vantagem dessa estratégia de pesquisa é o aprofundamento de algumas questões
em situações mais realistas.
75
3.3 População e amostra
3.3.1 População
De acordo com Marconi e Lakatos (2005), a população ou o universo a ser investigado
diz respeito ao conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma
característica em comum. Barbetta (2003) complementa esclarecendo que a população
constitui-se em um conjunto de elementos passíveis de serem mensurados, com respeito às
variáveis que se pretende levantar. Tendo em vista os objetivos desta pesquisa, bem como as
condições para a sua realização, optou-se pela realização de uma amostragem não
probabilística, intencional e por tipicidade. Nesse caso, a amostra é construída sem a escolha
aleatória dos entrevistados, mas considerando as características dos mesmos (ROESCH,
1995), englobando todos os gerentes de agência lotados em unidades nível 1, perfazendo um
total de 425 respondentes, distribuídos por todo o território nacional, conforme Tabela 1.
Tabela 1 - Número de gerentes de agência nível 1, por região
Região Geográfica Número de Gerentes
Centro Oeste 47
Nordeste 47
Norte 22
Sudeste 222
Sul 87
Total 425
Fonte: Banco do Brasil – Posição em 19.07.05
A escolha por nível de agência facilitou a distribuição dos questionários e a
comunicação com os entrevistados, além de conferir, presumivelmente, maior confiabilidade
aos dados, tendo em vista a maior qualificação profissional dos respondentes.
76
No presente estudo, observaram-se algumas condições favoráveis à realização de uma
amostra não probabilística: a) o acesso aos gerentes a serem ouvidos foi relativamente fácil,
uma vez existirem canais de comunicação modernos e ágeis para a entrega dos questionários
de pesquisa; b) existe uma segmentação das agências por nível de responsabilidade,
complexidade operacional , negocial e importância estratégica para o Banco. A importância
das agências é expressa por uma escala numérica, de 1 a 5, sendo as de número 1, as mais
importantes. Essa estratificação das agências permite um recorte específico visando a ouvir
somente os gerentes de agência lotados em agências de maior complexidade. c) o perfil dos
gerentes pesquisados também pôde contribuir para limitar as fontes de invalidade externa ,
uma vez que esses gerentes são aqueles que, por terem recebido maior carga de treinamento e
capacitação interna e possuírem maior experiência na função gerencial, podem acrescentar à
pesquisa um diferencial qualitativo que também assegura maior grau de validade aos
resultados.
Outra informação de interesse para a presente pesquisa é a estrutura das agências onde
estavam lotados os gerentes de agência. Para tanto, importa esclarecer como estão
segmentadas as agências do Banco em todo o país. A criação dos pilares negociais foi fruto
de uma reestruturação organizacional ocorrida no Banco do Brasil em 2002, e que resultou
numa nova arquitetura, composta por três grandes segmentos negociais: atacado, governo e
varejo.
O pilar atacado atende as médias e as grandes empresas, e é composto atualmente por
70 agências nos principais centros econômicos do País; O pilar governo responde pelo
atendimento aos entes públicos, aí inclusas as três esferas do Poder Executivo, do Legislativo
e do Judiciário. Para atender a esse mercado, o Banco do Brasil possui, atualmente, 45
agências nas principais cidades do País; Por fim, o pilar varejo responsável pelo atendimento
das pessoas físicas, além das micro e pequenas empresas e dos mercados atacado e governo
nas regiões ainda não assistidas por aqueles pilares. Hoje, são mais de 3.000 pontos de
atendimento de varejo espalhados por todo o território nacional.
77
A demonstração da configuração dos pilares faz-se importante para este trabalho na
medida em que se objetiva verificar se existe alguma competência ou bloco de competências
predominante em determinado pilar do Banco. A Tabela 2, demonstra a localização dos
gerentes por pilares negociais ¹.
Tabela 2 - Localização dos gerentes por pilar negocial (todos os níveis)
Pilar Negocial Número de Gerentes
Pilar varejo 3512
Pilar atacado 70
Pilar governo 45
Total 3827
Fonte: Banco do Brasil - Posição em19.07.05
¹ Pilar Negocial: denominação do segmento de clientes estratificados pelo Banco dentro do processo de
segmentação mercadológica ocorrida em 2002
A Tabela 3, mostra a distribuição dos gerentes, no Banco do Brasil, por nível de
agência. Os veis de agência refletem a complexidade da agência, considerando-se, para
tanto, aspectos como estrutura física e tecnológica, potencial de mercado e número de
clientes encarteirados. Nessas agências, a nomeação do gerente geral é alçada da Diretoria
da Empresa e o processo de seleção inclui, além de diversas certificações internas, entrevista
de seleção específica para o cargo.
Essas características envolvendo os gerentes de agências níveis 1 foram
preponderantes para a escolha de uma amostragem não aleatória, uma vez que o objetivo da
pesquisa era ouvir a camada de gerentes situada no topo da hierarquia para a função.
Tabela 3 - Número de gerentes do Banco do Brasil por nível de agência
Fonte: Banco do Brasil - Posição em 19.07.05
Tipo de Agência Número de Gerentes
Nível 1 425
Nível 2 685
Nível 3 1.275
Nível 4 1.001
Nível 5 441
Total 3.827
78
3.3.2 Amostra
De uma população total de 3827 gerentes, 425 compuseram a amostra não
probabilística e 248 responderam aos questionários, representando 60% do total de
questionários encaminhados. Recomenda-se, em pesquisas com o formato desta, um número
mínimo de 5 respondentes por variável dependente (27 variáveis X 5 = 135 questionários).
Nesse caso, obteve-se um retorno de 60% dos questionários respondidos, ou seja, 248
questionários de um total de 425 remetidos. Obteve-se, então, o número necessário para
conferir validade e robustez teórica à pesquisa (425 X 32% = 136 questionários)
(BARBETTA, 2003).
O bom nível de respostas deveu-se, dentre outros, aos seguintes fatores:
- Carta de apresentação do questionário incentivando os gerentes a responderem,
destacando-se a importância do tema para o Banco, especialmente no desenvolvimento
das competências gerenciais;
- Facilidade de devolução dos questionários por intermédio do malote interno do Banco;
- Não haver a necessidade de identificação por parte dos respondentes;
3.4 Coleta de dados
3.4.1 Levantamentos preliminares
O Banco do Brasil definiu em 2005 um conjunto de competências fundamentais e
gerenciais inseridas em um novo modelo de avaliação de desempenho. As competências
estão assim estruturadas:
79
Competências Fundamentais:
- Presta atendimento com cortesia e agilidade, considerando as expectativas do cliente
(interno e externo) e as orientações do Banco;
- Colabora com os colegas de trabalho a fim de concretizar os objetivos do Banco em
um clima de harmonia;
- Demonstra iniciativa para solucionar problemas e aprender continuamente;
- Demonstra conhecimento dos produtos e serviços relacionados à estratégia de sua área
de atuação;
- Identifica e aproveita oportunidades para o Banco, analisando o ambiente interno e
externo;
- Comunica-se (por escrito e oralmente) de forma clara, objetiva e acessível ao
interlocutor;
- Identifica riscos na realização das atividades sob sua responsabilidade e implementa
ações adequadas;
- Opera sistemas e aplicativos de informática para realizar com agilidade e qualidade
seus serviços;
- Organiza suas atividades para realizá-las no tempo previsto, possibilitando a
continuidade do processo de trabalho;
- Direciona suas ações, levando em consideração os impactos sociais, ambientais e
econômicos e os princípios de responsabilidade socioambiental adotados pelo Banco.
Competências Gerenciais
- Estimula a participação dos funcionários nas decisões da equipe, incentivando o
diálogo, a troca de idéias e o compartilhamento de conhecimentos;
- Mobiliza os esforços das pessoas para propósitos comuns, estimulando o
comprometimento com as estratégias, os resultados e os princípios de responsabilidade
socioambiental do Banco;
- Orienta a atuação da equipe, fornecendo as informações necessárias para a realização
do trabalho e comunicando suas expectativas sobre o desempenho das pessoas;
- Promove o desenvolvimento profissional dos membros da equipe, valorizando suas
competências e oferecendo oportunidades de capacitação e feedback freqüente;
- Adota medidas preventivas e corretivas para a melhoria contínua da saúde e da
qualidade de vida de sua equipe.
80
O enfoque dado pelo Banco, do ponto de vista das competências gerenciais, resume-
se a cinco competências que devem ser expressas por todos os gerentes, abrangendo as
perspectivas “comportamento organizacional” e “sociedade” do Balanced Scorecard, modelo
de gestão estratégica concebido por Kaplan e Norton (1997), cujos pressupostos são adotados
pelo Banco do Brasil. As demais competências consideradas na avaliação dos gerentes são
comuns a todos os funcionários, sendo chamadas de competências fundamentais.
Presente nesse quadro, onde se percebe um número reduzido de competências
gerenciais afetas a todos os cargos de gerência, buscou-se mapear as competências gerenciais
a serem posteriormente submetidas à avaliação dos gerentes participantes desta pesquisa.
Inicialmente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica contemplando a realidade bancária, bem
como acerca de outros estudos envolvendo a identificação de competências gerenciais,
genéricas, individuais e profissionais, com amplo espectro e observando realidades diversas
com o objetivo de alargar a base conceitual do estudo das competências.
Foram utilizadas bibliotecas nacionais, o EBSCO Preview, a Universidade Corporativa
do Banco do Brasil, artigos do ENANPAD, o Pro-quest, além de livros e revistas nacionais e
internacionais. Além disso, Carbone et al (2005) sugerem que a pesquisa documental e
bibliográfica também englobe o conteúdo da missão da empresa, da sua visão de futuro, os
objetivos e outros documentos relativos à estratégia organizacional.
Essa análise de conteúdo da estratégia organizacional objetivou identificar categorias,
descrever objetivamente o conteúdo das mensagens e distinguir indicadores que permitiram
fazer inferências a respeito de competências relevantes para a concretização dos objetivos da
organização.
Após essa investigação preliminar, optou-se pela utilização da técnica denominada
“entrevista em grupo” (GUIMARÃES et al, 2001; LODI, 1991; ROESCH, 1995; SANTOS,
2001) para a coleta de dados de pessoas-chave do Banco. Essa técnica é bastante utilizada no
mapeamento de competências. Geralmente é aplicada para cotejar a percepção dos
entrevistados com os dados apurados na análise documental, visando a identificar as
competências relevantes para a organização.
81
De acordo com Lodi (1991), o entrevistador seleciona as pessoas a serem entrevistadas
entre aquelas que possuem maior conhecimento da estratégia, dos negócios, dos produtos, dos
processos e da cultura da organização. Depois, formula um roteiro de perguntas e agenda as
entrevistas.
Ao iniciar as entrevistas, prossegue Lodi (1991), o entrevistador deve expor aos
participantes os objetivos do trabalho e a importância de suas colaborações, bem como
garantir anonimato para quaisquer declarações, dando caráter pacífico e cooperativo à
entrevista.
Para o mapeamento de competências, a discussão realizada pelo grupo deve ser
transcrita e analisada, visando a identificar as competências mencionadas pelos entrevistados
como relevantes para a organização. Foram convidados a participar 05 gerentes de agência, e
01 gerente de contas do Banco do Brasil, identificados e selecionados por critério de
acessibilidade e perfil. Essa amostra preliminar foi intencional. Para Richardson (1999), as
amostras intencionais podem satisfazer as necessidades da pesquisa desde que haja um bom
julgamento sobre as qualidades dos entrevistados. Nesse caso, o perfil dos entrevistados
necessariamente deveria contemplar experiência gerencial acima de dez anos, formação
superior em nível de pós-graduação e disponibilidade de tempo para participar das entrevistas.
As entrevistas foram realizadas nos dias 16.05.05, 08.06.05 e 15.06.05, e tiveram
duração média de 02 horas cada uma, perfazendo um total de 06 horas dedicadas ao processo
de levantamento preliminar de competências gerenciais. Orientou-se pelo roteiro de
implementação descrito no Apêndice A, tendo sido registradas as principais notas do encontro
que permitiram compilar as competências destacadas pelos gerentes participantes do grupo de
discussão, conforme Apêndice B.
Após o processo de entrevista em grupo, que contemplou a revisão de pesquisa
bibliográfica sobre competências, além do cumprimento de todos os passos sugeridos pela
técnica, foi possível discriminar 46 competências gerenciais para a atuação dos gerentes,
conforme Quadro 12. Nesse quadro, as competências são apresentadas do modo como foram
traduzidas pelo grupo entrevistado, sem as adaptações necessárias para a construção do
questionário.
82
O processo de escolha das competências pelo grupo entrevistado não buscou levantar a
freqüência absoluta nem a freqüência relativa das respostas, uma vez que a intenção era
construir um grupo preliminar de competências gerenciais para posterior filtragem e
refinamento pelo pesquisador.
Indicadores de Competências
1. Flexibilidade; 24. Desenvolver relacionamentos;
2. Entendimento inter-pessoal; 25. Estabelecer rede de informações;
3. Fortalecimento da equipe; 26. Procurar informações em múltiplas fontes;
4. Facilitação de propósitos; 27. Dividir os processos em tarefas e atividades;
5. Assumir responsabilidade pessoal para fazer
as coisas acontecerem;
28. Influenciar o clima organizacional;
6. Agir com segurança e sem hesitações diante de
desafios;
29. Demonstrar autoconfiança;
7. Assumir papel de liderança ao tomar uma iniciativa; 30. Capacidade de negociação;
8. Compreender como a organização interage com os
clientes;
31. Gerenciar recursos escassos;
9. Definir metas e ações para atingi-las; 32. Gerenciar conflitos;
10. Estar atento às oportunidades que surgem para
alcançar as metas;
33. Orientação ao clientes;
11. Filtrar as informações necessárias; 34. Parcerias com clientes;
12. Adequar a linguagem à situação e ao ouvinte; 35. Dar autonomia aos outros\delegar;
13. Ouvir com atenção; 36. Construir relacionamentos de colaboração;
14. Manter as pessoas informadas sobre planos
e processos;
37. Conhecer técnicas\ferramentas de planejamento;
15. Definir com clareza os objetivos e metas a
serem esperados;
38. Iniciativa;
16. Comunicar de forma a gerar entusiasmo; 39. Eficácia\efetividade;
17. Encorajar e estimular os outros; 40. Perspicácia;
18. Estimular o planejamento das ações;
19. Utilizar técnicas de planejamento;
41. Auto-desenvolvimento;
42. Integrar-se a diferentes contextos sociais;
20. Manter o foco no resultado; 43. Conhecer princípios de estratégia;
21. Monitorar a qualidade e o andamento do trabalho; 44. Conhecer produtos e serviços;
22. Definir metas para si e para os outros; 45
. Conhecer o ambiente em que o Banco do Brasil
atua;
23. Apresentar-se positivamente; 46. Conhecer rotinas e processos.
Quadro 12 - Competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agência (preliminar)
Fonte: Pesquisa do autor
83
3.4.2 Construção e validação do questionário
Para a elaboração do questionário, as 46 competências sugeridas pelo grupo
entrevistado foram enquadradas conforme a categorização proposta por Fleury e Fleury
(2001) em três perspectivas distintas: competências sociais, competências técnicas e
competências de negócio. Não obstante a existência de muitas categorizações sugeridas por
diversos autores, optou-se pela categorização de Fleury e Fleury (2001), devido ao melhor
enquadramento com os objetivos da pesquisa, especialmente naquilo que se refere à realidade
dos gerentes de agência, onde são preponderantes os aspectos vinculados às questões técnicas,
sociais e de negócio, bastante evidenciadas no dia-a-dia dos gestores.
Outro fator considerado, foi a possibilidade de associar mais facilmente os conceitos
atribuídos pelos gerentes (importância e encorajamento) com a categorização de Fleury e
Fleury (2001), de modo especial no que se refere à predominância ou não de determinada
categoria. Referidos autores também vinculam as competências ao intento estratégico,
elemento também considerado quando da realização das entrevistas em grupo para a definição
das competências mais relevantes.
Após essa classificação, o quadro ficou assim definido: 17 competências sociais; 11
competências técnicas e 18 competências de negócio. Para a efetivação do processo de
classificação, comparou-se cada competência (análise semântica) com as definições sugeridas
por Fleury e Fleury (2001), conforme abaixo:
- Competências de negócio: competências relacionadas à compreensão do negócio, seus
objetivos na relação com o mercado, clientes e competidores, assim como com o
ambiente político e social;
- Competências técnico-profissionais: competências específicas para certa operação,
ocupação ou atividade;
- Competências sociais: competências necessárias para interagir com pessoas, como, por
exemplo, comunicação, negociação, mobilização para mudança, sensibilidade cultural
e trabalho em times.
84
Além desse processo de confrontação dos significados das competências com a
categorização proposta por Fleury e Fleury (2001), procurou-se evitar, conforme sugerem e
Brandão e Bahry (2005):
a) ambigüidades, como, por exemplo, “implementa modelos de gestão bem sucedidos em
outras organizações”. Essa redação é ambígua e pode gerar dúvidas;
b) irrelevâncias e obviedades como, por exemplo, “coordena reuniões que são
marcadas”;
c) duplicidades, como, por exemplo, “soluciona problemas de forma criativa e original;
d) abstrações, como, por exemplo,” pensa o inédito, sugerindo idéias que resolvam
divergências”;
e) a utilização de verbos que não expressem uma ação concreta.
Na mesma linha de Brandão e Bahry (2005), Bruno-Faria e Brandão (2003), indicam
que, para obter boas descrições de competências, é importante observar:
a) utilizar verbos que expressem uma ação concreta, ou seja, que representem
comportamentos observáveis no trabalho;
b) submeter as descrições à crítica de pessoas-chave da organização, visando identificar
possíveis inconsistências e inadequações;
c) realizar validação semântica das competências descritas, visando garantir que todos os
funcionários compreendam o comportamento descrito.
85
Realizada a análise semântica das competências, executada a separação conforme a
categorização sugerida por Fleury e Fleury (2001) e observadas as recomendações de Brandão
e Bahry (2005) e Bruno-Faria e Brandão (2003), chegou-se ao Quadro 13, composto por
vinte e sete competências gerenciais, distribuídas entre três categorias (sociais, técnico-
profissionais e de negócio), com nove competências em cada categoria.
Indicadores de competências em três perspectivas distintas
1- Suportar pressões e adaptar-se a situações e contextos variados;
2- Investir no fortalecimento da equipe;
3- Tornar claros para a equipe os objetivos a serem atingidos;
4- Adaptar a linguagem à situação e ao ouvinte;
5- Ouvir os interlocutores com atenção;
6- Manter as pessoas informadas sobre planos e processos;
7- Comunicar-se de modo a gerar entusiasmo;
8- Apresentar-se positivamente (estado de espírito);
Competências
Sociais
9- Desenvolver relacionamentos com clientes e colegas.
10- Utilizar técnicas de planejamento estratégico;
11- Monitorar a qualidade e o andamento dos serviços;
12- Conhecer técnicas de negociação;
13- Gerenciar conflitos;
14- Fazer escolhas a partir de recursos escassos;
15- Delegar atividades de trabalho;
16- Conhecer os produtos e serviços do Banco do Brasil;
17- Acionar pessoalmente rotinas e processos operacionais;
Competências
Técnico-profissionais
18- Utilizar método para conduzir reuniões de trabalho.
19- Compreender como a Agência interage com os clientes;
20- Manter-se atento às oportunidades negociais;
21- Focalizar a atenção nos resultados financeiros;
22- Desenvolver uma rede de informações estratégicas;
23- Procurar informações em várias fontes;
24- Orientar as ações pelas necessidades dos clientes;
25- Estabelecer parcerias com os clientes;
26- Integrar-se e participar dos eventos na comunidade (cidade);
Competência de
Negócios
27-Pesquisar sobre os costumes e tradições que afetam a comunidade e os
clientes.
Quadro 13 - Competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agência
(Pós refinamento\adaptação categorização Fleury e Fleury (2001))
Fonte: Pesquisa do autor
86
Concluída a fase de definição das competências a serem pesquisadas, partiu-se para a
construção do questionário de pesquisa. Marconi e Lakatos (2005) alertam para a importância
da correta construção do instrumento de coleta de dados como elemento fundamental para
uma boa coleta de dados. Para Richardson (1999), as perguntas ou questões constituem-se na
essência do questionário e não se pode negligenciar o conteúdo das mesmas, a forma de
redigi-las, a seqüência de sua apresentação no instrumento, o tipo de escala a utilizar e a
forma de obtenção das respostas.
Para a avaliação do grau de importância de cada uma das 27 competências pelos
gerentes pesquisados, optou-se pela utilização da escala de Likert. A escolha é coerente com
o método de coleta de dados utilizado via entrevista em grupo ou focalizada (ROESCH,
1995), uma vez que para as duas situações recomenda-se gerar afirmações ou declarações
relacionadas a atitudes a partir da experiência do pesquisador e da sua equipe, de conversas
com entendidos, de pesquisas exploratórias e discussões de grupo focalizadas. As escalas
somatórias para medir atitudes propostas por Rensis Likert, em 1932, compreendem uma série
de afirmações relacionadas com o objeto pesquisado. A cada célula de resposta é atribuído
um número que reflete a direção da atitude do respondente em relação a cada afirmação. Para
cada afirmação, deverão ser atribuídos graus de favorabilidade e desfavorabilidade,
utilizando-se de termos ajustados às necessidades e objetivos da pesquisa. Para Pereira
(1999), a escala de Likert tornou-se um paradigma da mensuração qualitativa, sendo
largamente aplicada, por ter a sensibilidade de recuperar conceitos aristotélicos da
manifestação de qualidades: reconhecer a oposição entre contrários; reconhecer gradientes; e
ainda reconhecer situações intermediárias.
No presente estudo, serão avaliados os graus de importância e encorajamento em
relação às competências gerenciais submetidas ao escrutínio dos gerentes pesquisados. Para a
avaliação do grau de importância das competências gerenciais, foi utilizado o seguinte
conjunto de termos para averiguar a atitude dos gerentes com relação à importância das
competências:
87
1) nada importante
2) muito pouco importante
3) pouco importante
4) importante
5) muito importante
6) extremamente importante
Para efeito da mensuração do grau de encorajamento do Banco em relação às
competências gerenciais, também será utilizada a escala Likert, com a escala abaixo:
1) discordo totalmente
2) discordo muito
3) discordo
4) concordo pouco
5) concordo muito
6) concordo totalmente
Determinados os itens a serem pesquisados e escolhida a escala para medir a
percepção dos gerentes com relação à importância das competências e o grau de
encorajamento das mesmas pelo Banco, formatou-se a primeira versão do questionário. Ao
final do questionário, elaborou-se uma questão aberta, de modo que o respondente pôde
manifestar-se quanto à alguma competência não sugerida para avaliação no questionário.
Além disso, foram elaboradas questões para obter informações sobre dados sócio-
demográficos dos entrevistados.
88
3.4.3 Pré-teste
Segundo Marconi e Lakatos (2005), a realização do pré-teste possibilita ao
pesquisador verificar a existência de possíveis falhas, inconsistência ou complexidade das
questões; ambigüidade ou linguagem inacessível; perguntas supérfluas ou que causam
embaraço ao respondente, se as questões obedecem a determinada ordem ou se são muito
numerosas, dentre outras. Barbetta (2003), acrescenta a não variabilidade das respostas como
uma possível falha a ser corrigida quando da aplicação do pré-teste.
O pré-teste do questionário foi realizado em duas etapas distintas. A primeira,
seguindo as orientações de Pasquali (1997), teve por objetivo analisar os vários aspectos
quanto à pertinência e à suficiência para a consecução dos objetivos da pesquisa (análise de
conteúdo) a qual foi cumprida com a colaboração de 5 especialistas na área de recursos
humanos do Banco do Brasil. A segunda, teve por objetivo uma análise do instrumento,
visando a verificar se o enunciado, a escala e os itens do instrumento são inteligíveis aos
respondentes e permitem o tratamento estatístico dos dados a serem colhidos (BARBETTA,
2003; MARCONI; LAKATOS, 2005). Para tanto, foram ouvidos 60 gerentes de agência,
todos lotados no Estado de Santa Catarina, em agências níveis 2 , 3 , 4 e 5. Nesse sentido,
vale lembrar que Marconi e Lakatos (2005) recomendam que o pré-teste deve ser aplicado em
populações com características semelhantes, mas nunca naquela que será alvo de estudo.
3.4.4 Aplicação dos questionários
A distribuição e o recolhimento dos questionários foram executados por intermédio
do malote interno do Banco do Brasil. Esta possibilidade conferiu bastante agilidade e
segurança à distribuição e ao recolhimento dos questionários. Também permitiu acompanhar
o efetivo recebimento dos questionários pelos respondentes, fato que contribuiu para o bom
nível de retorno verificado.
89
Para Marconi e Lakatos (2005), alguns fatores influenciam positivamente no retorno
dos questionários: o patrocinador, a forma como o questionário é apresentado, a extensão, o
tipo de carta que o acompanha, as facilidades de preenchimento e sua de
volução pelo correio.
Nesta pesquisa, além dos fatores citados por Marconi e Lakatos (2005), pode-se acrescentar
como incentivo às respostas, a facilidade de comunicação do pesquisador com os
respondentes, o reforço às respostas por meio do correio interno via INTRANET e SISBB e o
fato de o Banco do Brasil passar a adotar a avaliação por competências, fato que deve ter
despertado maior interesse dos respondentes pelo assunto. Na aplicação do questionário foi
utilizado o método de comunicação “não-disfarçado” (MATTAR, 1996).
Nesse método de comunicação, permite-se total transparência quanto aos propósitos da
pesquisa e os temas sobre os quais está sendo questionado. Também foram expostos aos
respondentes o objetivo e a relevância da pesquisa para o Banco do Brasil, a importância de
sua colaboração, bem como garantido o anonimato.
Os dados foram obtidos por meio da cooperação voluntária do respondente, sem
qualquer desvantagem para ele, respeitando-se o seu direito de privacidade e garantindo-lhe
que as informações por ele prestadas não seriam utilizadas para outra finalidade
(RICHARDSON, 1999).
3.4.5 Análise dos dados
A análise estatística descritiva dos dados coletados e a elaboração dos gráficos
ilustrativos foram realizadas com o auxílio dos gráficos Boxplot. A referida ferramenta
gráfica é amplamente utilizada para resumir o perfil univariado de uma variável contínua, ou
ainda comparar o comportamento de uma variável contínua entre vários grupos, ou de acordo
com os níveis de uma variável discreta.
90
A estatística descritiva foi importante para realizar a análise entre as percepções dos
gestores acerca da importância das competências gerenciais e dos respectivos graus de
encorajamento das mesmas pelo Banco entre os diferentes segmentos de agências. Para tanto,
foram verificadas e comparadas entre si, eventuais diferenças de percepção dos gestores
quanto à importância e ao encorajamento das competências pesquisadas, separadas por
categorias – Técnico-profissionais, Sociais e De negócio (FLEURY; FLEURY, 2001).
Para a verificação de eventuais correlações entre a importância atribuída às
competências gerenciais e seus respectivos graus de encorajamento pelo Banco e a
categorização das competências proposta por Fleury e Fleury (2001), foi utilizada a análise
inferencial. Nesse caso, foram verificadas eventuais correlações envolvendo: correlação total
entre a importância e o encorajamento de todas as competências pesquisadas e a correlação
parcial das agências (Varejo, Atacado e Governo) entre a importância e o encorajamento das
competências pesquisadas em cada pilar/segmento.
Por fim, no que diz respeito ao tratamento dos dados nominais coletados por
intermédio das perguntas dos questionários, foi realizada uma análise para categorização das
respostas, com o objetivo de identificar competências importantes para os respondentes, mas
que deixaram de ser contempladas no questionário.
91
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Contexto da pesquisa
A seguir, a título de contextualização, será feita uma breve retrospectiva da indústria
bancária, desde os primórdios até os dias atuais, enfatizando-se as origens, as tendências, bem
como as mudanças reservadas para o papel ocupacional no perfil do bancário do amanhã.
Logo após, por ser este um Estudo de Caso, será dedicado um espaço para descrever um
pouco da história, das características atuais e da estrutura do Banco do Brasil.
4.1.1 A indústria bancária
A origem dos bancos confunde-se com a própria moeda, sobretudo quando esta
começou a ser negociada em cima de bancos de madeira nos mercados da Antigüidade.
Estudos arqueológicos comprovam a existência de atividades bancárias na Babilônia e na
Fenícia. Tais atividades decorriam das dificuldades de transporte que faziam com que muitos
negociantes confiassem aos “banqueiros” a incumbência de efetuar pagamentos e cobranças
em lugares distantes. Na Grécia, os primeiros centros bancários conhecidos foram Delfos e
Éfeso e estavam ligados aos templos religiosos, que funcionavam como lugares seguros para
aqueles que quisessem guardar seus tesouros. Mais tarde, a partir do século IV a.C, surgem
os banqueiros laicos. Em Roma, no século II a.C, as operações bancárias eram privilégio de
uma determinada categoria de cidadãos, denominados publicanos. na Idade Média, a
atividade bancária deixou de existir até o século XI, quando ressurgiu em estreita ligação com
o desenvolvimento do comércio. Judeus, lombardos e os membros da Ordem dos Templários
destacaram-se na nova atividade. A extraordinária expansão do comércio no Renascimento e
no século XVII foi responsável pelo aparecimento dos primeiros grandes banqueiros. Foi
também nesse século que os bancos passaram a emitir dinheiro (SANDRONI, 1989).
92
No Brasil, de acordo com Fortuna (2002), o modelo bancário foi trazido pelo Império
inspirado na experiência européia. Neste modelo, entendiam-se como atividades básicas de
um banco as operações de depósitos e empréstimos. Outros serviços praticamente inexistiam.
Fortuna (2002) afirma ainda que as verdadeiras transformações ocorridas no sistema bancário
brasileiro aconteceram após a metade do século XX, de modo especial decorrentes das
transformações provocadas pelo progresso e pela euforia do pós-guerra. Para Acorsi (1992),
o desenvolvimento do sistema financeiro nacional deu-se apenas a partir da reforma bancária
de 1964, através da Lei nº 4.595, de 31.12.64.
O processo de globalização, a abertura econômica, a revolução tecnológica e das
comunicações provocaram, em seu conjunto, uma transformação muito intensa da atividade
bancária no Brasil. Na visão de Fortuna (2002), essa mudança colocou os bancos nacionais
em condições de competir com os bancos estrangeiros, especialmente no que se refere à
automação bancária.
A enorme influência da tecnologia na atividade bancária tem indicado o modo como as
instituições financeiras irão se comportar no futuro e também desenhado um novo perfil para
o bancário de amanhã (BRANDÃO, 1999). Como principais tendências da indústria bancária
do futuro, despontam uma aproximação maior com os clientes por intermédio de terminais de
auto-atendimento, agências menores e localizadas estrategicamente, parcerias com
correspondentes bancários, utilização maciça da internet, acirramento da concorrência,
surgimento de novos produtos e serviços, aumento da complexidade dos mercados e maior
internacionalização dos mercados (BANCO DO BRASIL, 2005). Por outro lado, o
profissional bancário terá que incorporar maior flexibilidade e capacidade de adaptação, além
de desempenhar um trabalho mais próximo da consultoria e orientação especializada aos
clientes. Para Brandão (1999), o novo perfil do profissional bancário que emerge desse
contexto em transformação, desponta de um modelo de gestão que possibilite o
desenvolvimento de competências adequadas ao novo cenário, não somente possibilitando um
processo adaptativo ao novo profissional bancário, mas também a geração de vantagem
competitiva para a empresa por intermédio da gestão das competências.
93
4.1.2 O Banco do Brasil – aspectos históricos, características atuais e estrutura
Fundado em 1808, pelo então Príncipe Regente, Dom João VI, o Banco do Brasil foi o
primeiro Banco oficial brasileiro cuja razão para a sua criação foi a escassez de moeda
corrente e a necessidade de se proporcionar fundos para a manutenção da Coroa Portuguesa
no Brasil. Em 1906, a Empresa passou a operar na condição de economia mista, de capital
aberto, tendo o Estado como acionista principal, perfil acionário que se conserva até hoje.
Até janeiro de 1986, o Banco do Brasil desempenhou atividade típica de autoridade
monetária, quando, por decisão do Conselho Monetário Nacional CMN, foi suprimida a
Conta Movimento que colocava o Banco na posição privilegiada de banco co-responsável
pela emissão de moeda. O fim da Conta-Movimento foi um marco para a empresa. A partir de
1986, o Banco do Brasil passou a focar mais as necessidades do mercado bancário, uma vez
que perdera o instrumento que lhe conferia sustentação independente da geração de resultados
operacionais positivos.
Essa nova postura do Banco, entretanto, não ocorreu sem sobressaltos. Para competir,
o Banco do Brasil precisou implementar mudanças profundas, que implicavam desde a
ruptura com padrões e comportamentos consolidados ao longo do tempo, muitos deles
baseados numa estrutura burocrática e pouco flexível, até uma ampla reestruturação da rede
de agências. Esse trauma representado pelo fim da Conta-Movimento, porém, despertou a
Organização para o aproveitamento de novas oportunidades que surgiam no mercado bancário
nacional, sob um ambiente de extremada competição, inclusive com o ingresso de grandes
bancos internacionais.
94
Atualmente, o Banco do Brasil é um conglomerado financeiro que opera
comercialmente no Brasil e no exterior. A figura abaixo, possibilita uma visão sintética do
mapa estratégico da Empresa, estruturado de acordo com as perspectivas do Balanced
Scorecard.
Figura 07 – Mapa Estratégico
Fonte: Banco do Brasil (2005)
Rentabilidade compatível
Com padrões do mercado
Desempenho auto-sustentável
Clientes Rentáveis
Desempenho auto-sustentável
Clientes Rentáveis
Principal banco
das empresas
brasileiras no País
e no exterior
Aumento da
participação
no mercado
de
derivativos
Liderança nos
mercados
Varejo,
Atacado e
Governo
Liderança no mercado de
crédito, financiamento do
comércio exterior e
agronegócio e no
mercado de capitais
Atendimento ao cliente
Principal banco repassador de
recursos
Soluções a partir
de atributos
valorizados pelos clientes
Responsabilidade
socioambiental
Processo de
cobrança do
crédito
Processo de
análise e
condução de
crédito
Soluções integradas
com disponibilidade,
conveniência e
segurança nos canais
Integração da
gestão de
risco
Processos
racionalizados e
automatizados
Controle e
compliance
Tecnologia,
logística e
segurança
bancária
Comportamento esperado
Desenvolvimento dos
funcionários
95
O Banco do Brasil detém atualmente mais de 3.800 agências distribuídas por todo o
território nacional, além de 30 agências localizadas no exterior.
No plano da estrutura organizacional, o Banco criou, em meados de 2002, uma nova
arquitetura, composta por três grandes pilares negociais, Atacado, Varejo e Governo, como
assinalado anteriormente.
O pilar Atacado atende às médias e grandes empresas, e é composto atualmente por
mais de 70 agências, localizadas nas principais cidades do País. O pilar Varejo responde pelo
atendimento às pessoas físicas e micro e pequenas empresas, com mais de 3.000 agências. O
pilar Governo atende às entidades governamentais, abrangendo o Executivo, o Legislativo e o
Judiciário.
4.2 Perfil sócio-demográfico dos gerentes
As variáveis sócio-demográficas consideradas na análise foram:
Nível de escolaridade (Q29): 1º. Grau, 2º. Grau, Superior incompleto, Superior
completo ou Pós-graduação;
Formação acadêmica (Q30): Administração, Contabilidade, Direito, Economia
ou Outros;
Sexo (Q31): masculino ou feminino;
Idade (Q32): idade em anos do gerente;
Tempo de Banco (Q33): tempo de banco em anos do gerente;
Média dos placares (Q34): média dos placares do Acordo de Trabalho da
Agência, nos últimos quatro semestres. Varia na faixa de 0 a 600;
Tipo da Agência: Governo, Atacado ou Varejo.
96
As variáveis resposta foram:
Grau de importância: dado a cada uma das 27 competências gerenciais
consideradas (Q01 a Q27);
Grau de encorajamento: dado pela organização a cada uma das 27
competências gerenciais (Q01 a Q27).
4.2.1 Perfil univariado
Nesta seção tem-se como objetivo traçar o perfil de cada variável, através de gráficos e
técnicas apropriadas.
Para as variáveis contínuas (Idade, Tempo de Banco e Média dos Placares)
confeccionaram-se gráficos de Boxplot, histogramas e gráficos quantil-quantil, que se
encontram no Apêndice D, Figuras 21 até 42. O gráfico de Boxplot (TUKEY, 1970) é uma
forma de caracterizar a dispersão e medida de centralidade da variável. O histograma
(MORETTIN; BUSSAB, 2004) é uma forma de caracterizar a distribuição de probabilidade
dos dados, e o gráfico quantil-quantil (CLEVELAND, 1993) permite comparar a distribuição
dos dados em relação à distribuição normal.
Analisando o perfil univariado da Idade, observou-se que a maioria dos gerentes está
na faixa dos 40 ao 50 anos, havendo uma leve tendência para gerentes com menos idade.
O perfil univariado de tempo de banco revela uma distribuição mais concentrada, com
a maior parte dos gerentes no intervalo entre 20 e 30 anos. alguns casos discrepantes para
baixo, como gerentes com menos de 10 anos de banco.
O perfil univariado da média dos placares revelou que a distribuição é razoavelmente
simétrica, centrada em torno de 450 pontos. Nota-se uma leve assimetria à esquerda, com
algumas agências tendo médias de placar razoavelmente altas em relação ao padrão global,
como aquelas com média de placar superior a 500.
97
Para caracterizar as variáveis discretas (Nível de Escolaridade, Formação Acadêmica,
Sexo e Tipo de Agência), temos gráficos de barras (Figuras 33 até 36) e as tabelas 13 até 16.
Através da análise da figura 08, observa-se que a maioria dos gerentes respondentes
tinham o grau de pós-graduação. O número de gerentes com titulação de 2º. Grau ou inferior
foi bem pequeno, e o restante se distribuiu de forma aproximadamente igual entre superior
completo e incompleto.
Figura 08 - Gráfico de barras do nível de escolaridade (Q29)
Fonte: Pesquisa do autor
Para a formação acadêmica, pode-se notar que formação predominante é
Administração, seguida por Direito. Essa questão (Q30) possui uma particularidade em
relação às outras demográficas, no sentido que é a única que permite mais de uma resposta
para cada participante. Na prática, 9,3 % dos respondentes (23 de 248) responderam que
possuem mais de um curso. Para realizar os cruzamentos de outras variáveis por essa questão,
foi preciso realocar esses respondentes para que tivessem somente uma resposta de curso.
Como eles representam uma pequena parcela do total, tomou-se um procedimento
relativamente simples: ao respondente é atribuído o curso que ele respondeu ter que tem a
maior predominância na população.
Assim, todos os respondentes que assinalaram o curso de Administração mais algum
outro, por exemplo, constam nos cruzamentos com outras variáveis como tendo formação
acadêmica somente em Administração. As outras possíveis combinações de cursos foram
tratadas de forma análoga.
98
Quanto ao sexo, nota-se que a população é majoritariamente masculina, e quanto ao
tipo de agências, observa-se que a maioria é do grupo Varejo, seguida por Atacado e
Governo.
4.2.2 Caracterização pelo tipo de agência
Uma preocupação de interesse é como o tipo de agência pode influenciar nas
características em estudo. Como forma de obter uma perspectiva do efeito do tipo de agência
nas variáveis resposta, estudou-se como o tipo de agência influencia as variáveis sócio-
econômicas e de caracterização das agências.
Nas figuras 35 até 37, e nas Tabelas 17 e 18, têm-se análises cruzando as variáveis
demográficas com o Tipo de agência.
Para a idade e o tempo de banco, não se observa uma influência relevante do tipo de
agência. Aparentemente, não diferenças de idade e tempo de banco para gerentes dos
diferentes tipos de agência.
para a média dos placares (figura 09) observa-se nitidamente que os valores médios
dos placares são maiores para agências do tipo Governo comparadas às agências do tipo
Varejo e Atacado. Observa-se ainda que a variabilidade da média dos placares é maior nas
agências do tipo Varejo em relação aos outros dois tipos, e também que as agências desse tipo
são as que têm os menores placares médios. Para este estudo, foram considerados os
resultados de quatro semestres: junho/03 a junho/05. O placar das agências é extraído com
base nos seus respectivos desempenhos semestrais, levando-se em conta seis perspectivas do
balanced scorecard: Resultado, Estratégia e Operações, Clientes, Processos Internos,
Comportamento Organizacional e Sociedade.
99
Cada perspectiva recebe, semestralmente, pesos diferenciados, considerando-se as
prioridades estratégicas da Organização. A soma total de pontos possíveis, num determinado
semestre, vai de zero a seiscentos, sendo que os pesos mais significativos, historicamente, têm
recaído nas perspectivas Resultado e Estratégia e Operações, esta última englobando diversos
produtos e serviços constantes do portfólio do Banco.
Figura 09 - Gráfico boxplot da média dos placares pelo tipo de agência (4 semestres)
Fonte: Pesquisa do autor
O fato de as agências Varejo terem apresentado maior variabilidade nos placares pode
estar associado a uma maior dispersão geográfica, situação que confronta as agências com
realidades econômico/sociais bastante distintas, além de sujeitarem-se a conjunturas
particularizadas como, por exemplo, a quebra de determinada safra agrícola, ou a eclosão de
uma crise em determinado segmento da economia regional, a exemplo do que atualmente
ocorre no setor moveleiro e têxtil.
As agências de Varejo também apresentaram os menores placares médios, em relação
às agências dos Pilares Atacado e Governo. Isso, possivelmente, pode estar relacionado com
a elaboração de orçamentos mais bem calibrados, ou seja, orçamentos que, dada à curva de
experiência a quem foram submetidas as agências de Varejo ao longo dos últimos anos, no
tocante à elaboração de orçamentos, estão mais condizentes e ajustados, de modo geral, do
que os orçamentos dos pilares Atacado e Governo, estes últimos ainda em fase de maturação e
ajustes, tendo em vista suas recentes existências.
100
É comum existir um afrouxamento maior na fixação de metas para agências recém
criadas, com o objetivo de facilitar possíveis adaptações ao longo dos primeiros semestres de
avaliação. Esta realidade pode ter beneficiado as agências dos pilares Atacado e Governo,
influenciando na obtenção de placares médios mais elevados em relação às agências de
Varejo. Porém, os resultados superiores obtidos pelos pilares Atacado e Governo podem estar
associados a outros fatores que não foram alvo desta pesquisa, podendo ensejar futuros
estudos onde se possa verificar se os desempenhos desiguais estão correlacionados com
algum tipo de fator, como por exemplo, os recursos humanos.
Além do fator relacionado à elaboração de orçamentos ajustados às realidades das
agências, pode-se acrescentar, ainda, o fato de as agências Governo possuírem orçamentos
com um portfólio mais reduzido em termos de produtos e serviços.
Por fim, nas Tabelas 19 e 20, observa-se que não parece haver diferença significativa
na distribuição dos níveis de sexo e nível de escolaridade para os três diferentes tipos de
agência (Governo, Atacado e Varejo). Essa distribuição homogênea entre os níveis de sexo e
escolaridade revela que o processo de seleção para os cargos de gerência nos pilares mais
novos Atacado e Governo são regidos pelos mesmos conjuntos de regras de caráter geral
praticados pela Organização no pilar Varejo, não sendo possível verificar a exigência de
maior rigor quanto a uma melhor qualificação acadêmica dos candidatos aos cargos de
gerência nos dois pilares tidos como de maior especialização.
4.2.3 Caracterização pelas médias dos placares
Nesta seção buscou-se verificar o efeito de associação entre as médias de placares das
agências e outras variáveis demográficas. Nas Figuras 29 até 31, estudou-se esse efeito.
Não se observa um padrão de associação forte entre as médias de placares para
nenhuma das variáveis consideradas, significando que o nível de escolaridade, sexo, idade e
tempo de banco dos gerentes, não tem influência aparente na média dos placares.
4.2.4 Caracterização de associações de interesse
101
Um outro tipo de caracterização considerada foi a de associação entre o nível de
escolaridade e a idade dos respondentes. Na Figura 10, abaixo, tem-se um gráfico de boxplot
da idade pelo nível de escolaridade (agrupado nos níveis: menor ou igual a superior
incompleto, superior completo e pós-graduação). Observa-se que, para essa amostra, a
distribuição da idade para pessoas com nível superior completo tem alocação ligeiramente
superior que a dos respondentes com nível de pós-graduação.
Uma análise inferencial desta comparação, através da técnica de ANOVA (NETER et
al, 1996), revela que o nível descritivo é de 0,15, e portanto, não se pode generalizar essa
conclusão para toda a população de gerentes. De qualquer forma, descritivamente, pode-se
observar que gerentes com pós-graduação tendem a ter média de idade menor que gerentes
com somente o superior completo.
Mesmo não havendo a possibilidade de generalizar as conclusões acima, cabem
comentários sobre possíveis causas desse resultado. Uma das possíveis causas pode estar
associada a um maior incentivo dado pelo Banco, a partir de meados dos anos 90, para que os
funcionários buscassem o seu autodesenvolvimento. Os incentivos eram traduzidos numa
maior pontuação em concorrências internas para ascensão profissional. A partir daquela
época, também, o Banco passou a ofertar aos funcionários, especialmente aos gerentes, acesso
a programas de MBA, em parcerias com Universidades de renome nacional. Nesse caso,
gerentes mais jovens tiveram a oportunidade de participar de cursos de pós-graduação, sejam
eles patrocinados pelo Banco ou custeados pelo próprio funcionário.
102
Efeito semelhante a este verificado no Banco do Brasil, ocorreu, de acordo com
Zarifian (2001), na França, quando as empresas passaram a exigir o diploma, fato que
aumentou, consideravelmente, o movimento de continuação dos estudos.
Figura 10 - Gráfico de boxplot da idade (anos) pelo nível de escolaridade.
Fonte: Pesquisa do autor
4.3 Análise descritiva
Para a análise descritiva, considerou-se um escore médio para cada questão, a fim de
descrever o seu comportamento individual, segundo as competências e tipos de agência. Nas
Tabelas 4 e 5 verificaram-se algumas características dos escores médios segundo a
importância e encorajamento, comentadas a seguir.
103
4.3.1. Grau de importância das competências gerenciais
Selecionando os três escores médios mais elevados percebe-se que, segundo a
importância, têm-se as questões 9 tornar claro para a equipe os objetivos a serem atingidos”,
4 manter-se atento às oportunidades negociais”e, 6 investir no fortalecimento da equipe”
com escores médios 5,77, 5,75 e 5,73 respectivamente. A análise das respostas revela que os
gerentes consideram mais importantes competências gerenciais diretamente vinculadas à
implementação das estratégias, ou seja, competências mais relacionadas com aspectos táticos
e operacionais, genuinamente afetos ao dia-a-dia de um gerente de agência.
É bom frisar que, do ponto de vista das atribuições da função de gerente de agência,
responder pela implementação dos planos operacionais para o atingimento dos resultados das
unidades congrega, a um só tempo, as três competências gerenciais mais valorizadas na
pesquisa.
Esse alinhamento pode indicar que os gerentes pesquisados conseguem traduzir suas
responsabilidades na linguagem das competências, fato que pode contribuir para o processo
de incorporação das competências como elementos dinâmicos na relação entre os resultados
esperados pela organização e as capacidades representadas na forma de competências
gerenciais.
104
A questão 23 foi aquela que obteve o maior desvio-padrão, além de receber a menor
média dentre todas as competências pesquisadas. Para os gerentes, executar pessoalmente
rotinas operacionais, parece não ser relevante nem condizente com a função.
Uma visão mais abrangente pode ser obtida através da Tabela 4:
Tabela 4 - Média, desvio-padrão e tamanho amostral para as questões segundo o grau de importância
Questões Média Dp n
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 5,77 0,47 246
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 5,75 0,46 244
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 5,73 0,48 247
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 5,59 0,59 247
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 5,56 0,63 248
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 5,52 0,62 247
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 5,48 0,64 246
Q24. Apresentar-se positivamente 5,46 0,67 248
Q18. Manter os funcionários informados 5,41 0,63 245
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 5,41 0,65 248
Q03. Suportar pressões e adaptar-se a situação 5,38 0,74 248
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 5,38 0,64 246
Q11. Gerenciar conflitos 5,38 0,64 245
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 5,37 0,66 247
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos serviços 5,30 0,69 248
Q17. Delegar atividades de trabalho 5,29 0,63 247
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 5,29 0,74 247
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 5,28 0,78 247
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 5,28 0,81 246
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 5,22 0,72 247
Q12. Adaptar a linguagem à situação 5,17 0,75 247
Q22. Integrar-se e participar de eventos 5,02 0,82 248
Q13. Procurar informações em várias fontes 4,99 0,79 248
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 4,96 0,76 246
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 4,79 0,82 247
Q25. Pesquisar sobre os costumes e tradições que afetam a comunidade e clientes 4,75 0,91 247
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 2,79 1,13 248
Fonte: pesquisa do autor
105
4.3.2 Grau de encorajamento das competências gerenciais
Segundo o encorajamento, têm-se as questões 20, “conhecer os produtos e serviços do
Banco”, 4 “manter-se atento às oportunidades negociais”e, 9 “tornar claro para a equipe os
objetivos a serem atingidos” com escores 5,09, 5,00 e 4,96 respectivamente. É interessante
notar que os desvios-padrão são menores para as questões que envolvem a importância. Isso
indica que a opinião dos respondentes é mais parecida quando se considera o grau de
importância.
Nota-se que, com exceção da competência 20, 4 e 9, os maiores escores recaíram
sobre as mesmas competências. Do ponto de vista dos respondentes, isso pode significar que
os gerentes percebem que existe o encorajamento institucional daquelas competências por eles
julgadas de maior importância. Há, neste caso, um alinhamento entre a importância atribuída
à determinada competência e, concomitantemente, a percepção de que essa mesma
competência é encorajada pela Instituição.
106
Para o Banco, esse resultado pode ser positivo, na medida em que estão sendo
encorajadas o desenvolvimento de competências para as quais os gestores atribuem maior
grau de importância. A Tabela 5 permite observar o conjunto de todas as competências:
Tabela 5 - Média, desvio-padrão e tamanho amostral para as questões segundo o grau de encorajamento
Questões Média Dp n
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 5,09 0,84 246
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 5,00 0,89 245
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 4,96 0,92 247
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 4,81 1,11 244
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos ser... 4,77 0,94 245
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 4,72 0,98 247
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 4,72 0,95 245
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 4,67 105 242
Q18. Manter os funcionários informados 4,64 0,96 246
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 4,61 1,01 247
Q24. Apresentar-se positivamente 4,57 0,98 245
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 4,57 1,10 247
Q17. Delegar atividades de trabalho 4,54 0,99 246
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 4,54 1,03 247
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 4,49 1,12 246
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 4,43 1,03 245
Q13. Procurar informações em várias fontes 4,41 1,01 247
Q11. Gerenciar conflitos 4,38 1,09 243
Q22. Integrar-se e participar de eventos 4,34 1,12 245
Q12. Adaptar a linguagem à situação 4,34 1,00 246
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 4,31 1,09 246
Q03. Suportar pressões e adaptar-se a situação 4,26 1,11 246
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 4,08 1,11 246
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 4,08 1,21 246
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 4,02 1,12 246
Q25. Pesquisar sobre os costumes e tradições que afetam a comunidade/clientes 4,00 1,16 246
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 3,54 1,23 247
Fonte: pesquisa autor
107
Com relação aos desvios-padrão serem maiores nas questões que envolvem o
encorajamento, é possível que essa percepção esteja influenciada por uma visão crítica em
relação às políticas da Organização no que tange ao desenvolvimento de determinadas
competências. Nesse caso, a percepção de que existe uma lacuna entre o grau de importância
de determinada competência e seus respectivos encorajamentos pela Instituição oferece amplo
espaço para a discussão de melhores formas de se buscar esse encorajamento, seja ele por
intermédio de melhores capacitações e treinamentos, seja por encorajamento representado por
novas formas de gestão.
Nas Tabelas 06 e 07 segmentaram-se os escores médios de cada questão pelas
categorias de competências. Uma característica importante que permanece é que os escores
médios das questões segundo o grau de importância são sempre maiores que os escores
médios das questões segundo o grau de encorajamento, e a relação dos desvios-padrão é o
inverso.
Entre os três escores médios mais elevados observados na Tabela 4, segundo o grau de
importância, dois pertencem à competência Social e um pertence à competência de Negócios.
Na Tabela 5, segundo o grau de encorajamento, os três escores mais altos são distribuídos
entre todas as competências. Para Fleury e Fleury (2001), as competências dos indivíduos
entrelaçam-se por toda a empresa, em uma perspectiva sistêmica. O pressuposto de uma
competência social é saber interagir com pessoas, como, por exemplo, comunicação,
negociação, mobilização para mudança, sensibilidade cultural e trabalho em equipe.
Empresas de serviço, como é o caso do Banco do Brasil, possuem nas interações sociais, aqui
traduzidas pela noção competência social, sua principal força e seu principal desafio.
Mais do que competências técnicas e de negócio, o predomínio das competências
sociais encontra-se alinhado com uma política de valorização do relacionamento interno e
externo, uma vez que pressupõe a valorização do contato como elemento importante para a
construção da fidelidade dos clientes e da mobilização dos funcionários para o atingimento
dos objetivos. Note-se que, na categorização proposta por Fleury e Fleury (2001), estão
excluídos outros elementos extrínsecos às competências em si, como, por exemplo, infra-
estrutura, tecnologia e outros recursos a serem mobilizados.
108
Esse esclarecimento é importante na medida em que, a partir dessa perspectiva, ganha
importância a atuação do gerente, uma vez que este assume a sua condição de ator do
processo, a partir, principalmente, da articulação, da mobilização e da combinação de um
repertório de conhecimentos, habilidades, atitudes e recursos apropriados a determinado
contexto e situação (LE BOTERF, 2003).
Tabela 6 - Média (e desvio-padrão) para as competências, segundo o grau de importância e encorajamento
Social Negócios Técnico/Profissional
Importância
5,49 (0,63) 5,23 (0,72) 4,98 (0,77)
Encorajamento
4,58 (1,02) 4,45 (1,07) 4,41 (1,05)
Fonte: O autor
Tabela 7 - Média e desvio-padrão para as competências, segundo o grau de importância e encorajamento
segmentado pelo tipo de agência
Tipo de
Agência
Social Negócios
Técnico/ Profissional
Média Desvio
Padrão
Média Desvio
Padrão
Média Desvio
Padrão
Importância
Atacado 5,44 (0,67) 5,16 (0,75) 4,91 (0,76)
Varejo 5,49 (0,63) 5,24 (0,71) 5,00 (0,78)
Governo 5,52 (0,59) 5,31
(0,68) 4,96 (0,73)
Encorajamento
Atacado 4,50 (1,05) 4,41 (1,14) 4,28 (1,09)
Varejo 4,56 (1,03) 4,41 (1,06) 4,41 (1,05)
Governo 4,76 (0,89) 4,73 (0,90) 4,55 (0,95)
Fonte: O autor
Na Tabela 6, percebe-se que a relação entre os escores médios das competências é
Social > Negócios > Técnico Profissional > , tanto para o grau de importância quanto para o
de encorajamento
A Tabela 7 indica que, para os três tipos de agência (Atacado, Varejo e Governo),
têm-se escores maiores para a competência Social e escores menores para a competência
Técnico Profissional. A mesma relação permanece para o encorajamento. A predominância
de escores maiores para as competências sociais, independentemente do tipo de agência,
reafirma a condição de empresas de serviços, caracteristicamente voltadas para a interação
intensa com o atendimento ao público externo.
109
Nesse caso, o processo de segmentação levado a efeito pelo Banco, não interfere,
fundamentalmente, na essência e na natureza dos serviços prestados do ponto de vista da
prestação de serviços. O que muda, de fato, é a especialização de determinados serviços para
segmentos específicos. Nessa perspectiva, poder-se-ia esperar, no caso nas agências Atacado
e Governo, maior valorização das competências Técnico-Profissionais e de Negócios, devido
ao maior grau de especialização dos funcionários lotados nessas unidades, fato que não
ocorreu. Isso pode estar relacionado com o processo de consolidação do novo modelo de
segmentação implementado pelo Banco e que não se afirmou na sua plenitude. Todos os
gerentes das agências de Atacado e Governo são egressos da Varejo, podendo residir uma
explicação para a uniformidade na preferência por competências sociais, independentemente
do pilar pesquisado.
110
Para compreender melhor a avaliação dos gerentes com relação aos graus de
importância e encorajamento das 27 competências pesquisadas, será feita uma comparação
entre as médias atribuídas às competências e a distribuição de freqüências destas, conforme
Tabela 8, abaixo:
Tabela 8 – Tabela de freqüências para as notas dadas à importância de cada questão
Notas Questões
1 2 3 4 5 6
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 0 0 0 13 75 159
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 0 0 7 29 98 113
Q03. Suportar pressões e adaptar-se a situação 0 0 4 26 90 128
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 0 0 0 3 54 187
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos serviços 0 0 2 26 116 104
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 0 0 0 4 59 184
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 0 0 2 18 113 114
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 0 0 3 34 115 95
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 0 0 0 5 46 195
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 0 0 5 61 118 62
Q11. Gerenciar conflitos 0 0 1 19 112 113
Q12. Adaptar a linguagem à situação 0 0 2 46 107 92
Q13. Procurar informações em várias fonte 0 1 4 60 114 69
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 1 0 5 30 98 112
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 0 0 0 19 91 136
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 0 1 1 33 103 109
Q17. Delegar atividades de trabalho 0 0 0 23 129 95
Q18. Manter os funcionários informados 0 0 0 19 106 120
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 0 0 0 22 109 115
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 0 0 1 14 87 145
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 0 0 1 15 77 155
Q22. Integrar-se e participar de eventos 0 0 9 54 107 78
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 35 61 94 43 10 5
Q24. Apresentar-se positivamente 1 0 0 14 100 133
Q25. Pesquisar sobre os costumes/tradições que afetam comunidade/clientes 2 1 14 72 109 49
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 0 2 9 75 115 46
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 0 0 1 19 106 122
Fonte: pesquisa do autor
111
Percebe-se que, do ponto de vista dos graus de importância, a predominância recai
sobre as notas 4, 5 e 6, com algumas competências recebendo um número expressivo de notas
6. As três competências que receberam um número maior de notas 6 foram: Q 09 – 195, Q
04 – 187, Q 06 – 184.
112
Quanto ao grau de encorajamento, a distribuição das notas demonstrou um
comportamento bastante diferente daquele verificado no grau de importância. As notas 4 e 5
foram as que mais predominaram. Também houve uma distribuição mais homogênea entre as
notas, denotando um maior grau de criticidade em relacão ao encorajamento das competências
pelo Banco.
Tabela 9 – Tabela de freqüências para as notas dadas ao encorajamento de cada questão
Notas Questões
1 2 3 4 5 6
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 0 5 19 68 101 52
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 6 9 29 87 88 27
Q03. Suportar pressões e adaptar-se a situação 3 13 35 96 64 35
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 2 0 11 44 113 75
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos serviços 0 3 21 63 101 57
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 2 7 21 62 97 53
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 4 5 20 46 98 71
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 0 12 31 75 94 33
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 0 3 11 59 94 80
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 5 18 38 98 66 21
Q11. Gerenciar conflitos 4 10 27 84 84 34
Q12. Adaptar a linguagem à situação 2 9 29 98 80 28
Q13. Procurar informações em várias fonte 1 13 22 88 94 29
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 3 10 26 58 105 45
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 3 11 29 66 93 44
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 7 18 47 80 65 29
Q17. Delegar atividades de trabalho 4 4 21 75 109 33
Q18. Manter os funcionários informados 1 4 21 76 99 45
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 0 10 22 68 102 45
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 1 0 9 39 115 82
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 1 7 25 86 81 47
Q22. Integrar-se e participar de eventos 4 10 37 75 85 34
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 20 21 74 83 36 13
Q24. Apresentar-se positivamente 0 6 28 73 97 41
Q25. Pesquisar sobre os costumes/tradições que afetam comunidade/clientes 9 17 40 99 62 19
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 8 17 37 98 72 14
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 1 6 16 67 104 53
Fonte: pesquisa do autor
113
4.4 Análise Inferencial
Nesta etapa do trabalho, verificam-se hipóteses de interesse sobre o conjunto de dados
e variáveis em estudo, buscando-se realizar inferências sobre toda a população.
4.4.1 Grau de importância das competências
Na Tabela 4, tem-se um resumo dos escores médios atribuídos às importâncias de cada
competência. Uma questão de interesse que pode ser abordada nesse contexto é a
identificação de quais questões diferem entre si na importância atribuída pelos respondentes.
Um meio de fazer isso é através da metodologia de testes de hipóteses baseados na
distribuição multinomial (AGRESTI, 2002), comparando pares de questões. Na Tabela 10
essas comparações, para as 10 questões com maiores escores médios. As caselas em vermelho
representam questões com diferenças significativas a 5% entre si. Como se pode notar, as 10
maiores questões no quesito importância diferem todas entre si, menos a Q20 e a Q06. O
resultado dessa análise revela, com exceção das questões Q20 e Q06, que as demais podem
ser generalizadas para toda a população.
Quando o cruzamento entre as competências, representadas na Tabela 10 sob a forma
de caselas, resultar em zero, significa que o nível descritivo do teste de hipóteses, que verifica
se as médias de importância são iguais para aquelas duas competências, tem um vel
descritivo muito baixo, evidenciando que as competências diferem entre si.
114
A análise da Tabela 10, permite também perceber que existe um padrão de respostas
único para as médias de importância para cada competência, revelando a preocupação dos
gerentes em responder às perguntas do questionário com critério.
Tabela 10 - Comparação da importância das 10 questões com maiores escores
Q9I Q4I Q6I Q1I Q21I Q20I Q15I Q24I Q18I Q27I
Q09I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q04I 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 0.09 0.01 0.00
Q06I 0.00 0.00 0.12 0.00 0.00 0.00 0.00
Q01I 0.00 0.03 0.00 0.00 0.01 0.00
Q21I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q20I 0.00 0.00 0.00 0.00
Q15I 0.00 0.00 0.00
Q24I 0.00 0.00
Q18I 0.00
Fonte: Pesquisa do autor
Na Tabela 11, repete-se a mesma análise, mas para as 10 questões com menores
importâncias. Nota-se o mesmo padrão da Tabela 10, com uma particularidade para a questão
23, que teve menor grau de diferença com as outras questões, mas isso se explica devido à alta
variabilidade associada à resposta dessa questão. Essa questão corresponde à execução de
rotinas operacionais pessoalmente, tendo esse comportamento sido observado também em
outros estudos (BRANDÃO, 1999). A propósito, a competência Q.23 “executar pessoalmente
rotinas operacionais” recebeu o menor escore médio dentre todas as competências
pesquisadas. Isso tanto do ponto de vista da importância quanto do encorajamento, com
escores médios de 2,79 e 3,54, respectivamente. Esse resultado pode denotar uma visão, por
parte dos gerentes, de que a execução pessoal de rotinas operacionais não é condizente com a
função gerencial. Ressalte-se que, mesmo não sendo desejável, em muitas agências com
estrutura funcional diminuta, esta é uma realidade verificada com freqüência.
115
O gerente, então, considerando os escores de importância e encorajamento da
competência Q.23, atribui à função gerencial aspectos mais estratégicos, distantes, portanto,
de questões operacionais em que se exige a participação direta e pessoal do gerente, naquilo
que ordinariamente se denomina “gestão mão-na-massa”.
Tabela 11 - Comparação da importância das 10 questões com menores escores
Q2I Q14I Q8I Q12I Q22I Q13I Q10I Q26I Q25I Q23I
Q02I 0.00 0.00 0.00 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 0.28
Q14I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.86
Q08I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.05
Q12I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.56
Q22I 0.00 0.00 0.00 0.00 0.41
Q13I 0.00 0.00 0.00 0.54
Q10I 0.00 0.00 0.04
Q26I 0.00 0.01
Q25I 0.54
Fonte: pesquisa do autor
4.4.2 Grau de encorajamento das competências
Nesta seção, repete-se a mesma análise das Tabelas 10, e 11, agora considerando o
grau de encorajamento em vez do grau de importância. Na Tabela 12 têm-se as comparações
para o grau de encorajamento das 10 questões com maiores escores, e na Tabela 13, para o
grau de encorajamento das 10 questões com menores escores.
Detectam-se diferenças entre quase todos os pares considerados, obtendo novamente
uma exceção para a questão 23, relacionada ao encorajamento de execução pessoal de rotinas
operacionais. Tem-se o mesmo caso do observado para a importância. Tal questão foi uma
das que apresentou uma das maiores variabilidades de resposta.
116
Os resultados das tabelas 10 a 13, indicam que os padrões de distribuição de resposta
para as competências mais e menos avaliadas, tanto no quesito importância, quanto
encorajamento, diferem razoavelmente entre si. Isso pode indicar que os padrões de resposta
para cada questão foram únicos para cada uma dessas questões, apontando na direção de que
o instrumento de pesquisa (questionário) foi preenchido de forma criteriosa pelos gerentes.
Tabela 12 Comparação do encorajamento das 10 questões com maiores escores
Q20E Q4E Q9E Q7E Q5E Q27E Q1E Q6E Q18E Q19E
Q20E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q04E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q09E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q07E 0.00 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00
Q05E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q27E 0.00 0.00 0.00 0.00
Q01E 0.00 0.00 0.00
Q06E 0.00 0.00
Q18E 0.00
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 13 Comparação do encorajamento das 10 questões com menores escores
Q11E Q22E Q12E Q2E Q3E Q10E Q16E Q26E Q25E Q23E
Q11E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.14
Q22E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.27
Q12E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.11
Q02E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.15
Q03E 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
Q10E 0.00 0.00 0.00 0.14
Q16E 0.00 0.00 0.70
Q26E 0.00 0.32
Q25E 0.14
Fonte: pesquisa do autor
117
4.4.3 Predominâncias entre os blocos de competências
Para estudar o comportamento do encorajamento e importância dados aos blocos de
competências, considerou-se a criação de um índice, que resume o comportamento do
indivíduo para cada bloco de competências.
O índice definido foi dado pelo escore médio do gerente nas 9 questões de cada bloco,
para importância e encorajamento respectivamente. Tem-se então 6 índices para cada
indivíduo: 3 para encorajamento e 3 para importância, sendo que dentro desses 3, tem-se um
para competências sociais, um para competências de negócios e um para competência
profissional.
Uma primeira abordagem para análise do comportamento desses índices é através do
seu perfil univariado, de acordo com cada bloco, como ilustrado na Figura 11 abaixo:
Figura 11 - Graus de importância para os grupos de competências
Fonte: Pesquisa do autor
Nota-se que, observando-se este perfil individual das competências, há um maior
escore de importância dado ao grupo de questões relacionados às competências sociais,
seguido pelas competências de negócios, e pelas competências profissionais. Esta tendência já
foi observada na análise descritiva, na seção 3, onde se discutiu a interpretação gerencial
dessas ordenações.
118
Na Figura 12, tem-se um gráfico que ilustra o perfil multivariado através de
pareamentos entre os blocos de competências. Este gráfico permite tanto estudar o grau e a
forma de associação dos índices de importância para as competências sociais, assim como
estudar sua dispersão univariada e conjunta, e identificar a força da correlação linear.
Observa-se uma relação positiva entre as importâncias para os três tipos de
competências, evidenciada pelas correlações positivas. Essa ausência de discrepância na
avaliação dos blocos de competências, pode revelar que a distribuição das 27 competências de
acordo com a categorização sugerida por Fleury e Fleury (2001) conseguiu capturar um certo
equilíbrio em termos das suas importâncias respectivas.
Isso pode ser razoável na medida em que o gerente, para ser competente na sua
função, necessita articular, mobilizar e combinar competências que, mesmo arbitrariamente
categorizadas dentro de determinada espectro, estão alinhadas ao trabalho gerencial de um
modo até certo ponto harmônico.
Figura 12 - Diagramas de dispersão e correlação para os índices de graus de importância por bloco de
Competências
Fonte: Pesquisa do autor
119
As tendências até aqui observadas são válidas apenas para a amostra de 248
respondentes. Através de comparações inferenciais, é possível verificar se essas tendências
podem ser generalizadas para a população.
Para realizar a análise inferencial destes dados utilizou-se a técnica de contrastes de
vetores de médias de populações normais multivariadas, com dimensão igual a três (HAIR et
al, 2005; JOHNSON; WICHERN, 1982; MARDIA, K.V., KENT, J.T e BIBBY, J.M, 1979).
Dessa forma, considera-se a estrutura de correlação dos dados e evita-se a inflação do erro
tipo I, que seria cometido ao utilizar-se testes univariados.
Através dessa metodologia, testou-se a hipótese de que o vetor de médias da variável
normal composta pelos índices dos três blocos de competências era constituído por valores
distintos ou iguais. Obteve-se a estatística T
2
= 7,14 e o nível descritivo de 3%. Concluí-se
assim que diferenças ao nível de significância de 5% dos graus de importância entre os
blocos de competências.
Para realizar a identificação de quais competências diferem entre si, procedeu-se com
testes normais bivariados para todos os pares de médias. Obteve-se diferença significativa
somente para as competências Profissional e Social, com importância maior dada para
competências sociais, conforme observado na Figura 11. Isso quer dizer que as tendências
descritivas observadas anteriormente, que colocavam as competências sociais com maior
importância do que as profissionais, se confirmam para a população toda.
120
Para os graus de encorajamento, procedeu-se com a mesma estratégia de análise. Na
Figura 13 tem-se o gráfico boxplot segmentado por bloco de competências. Nota-se que para
o encorajamento, não se aparentam diferenças entre os blocos.
Figura 13 - Graus de encorajamento para os grupos de competências
Fonte: Pesquisa do autor
121
Observando-se o padrão conjunto, na Figura 14, nota-se novamente associação
positiva entre os diferentes blocos de competências. Da mesma forma que ocorreu na análise
da importância atribuída aos blocos de competências, no encorajamento também se verifica
que, quanto maior o encorajamento atribuído a um bloco por um determinado gerente, maior
será o encorajamento atribuído aos outros dois blocos.
Figura 14 - Diagramas de dispersão e correlação para os índices de graus de encorajamento por bloco de
Competências
Fonte: Pesquisa do autor
Partindo para a análise de contrastes de médias em uma normal trivariada, tem-se a
estatística T
2
= 0,48 e o vel descritivo de 0,78. No vel de significância de 5 %, não se
rejeita a hipótese de igualdade do vetor de médias, concluindo que, para o encorajamento, não
há diferenças entre os blocos de competências.
Nota-se que resultados inferenciais diferentes são obtidos quando o mesmo teste é
realizado para os graus de importância. Quando se considera os graus de importância, concluí-
se que as competências sociais têm mais importância atribuída pelos gerentes do que as
competências profissionais. para o encorajamento nada se detecta para a população, apesar
de uma tendência ter sido observada descritivamente.
122
Uma possível explicação para isso é a maior variabilidade observada para os graus de
encorajamento do que para os graus de importância. Caracteriza-se uma primeira diferença
no comportamento dos graus de importância e encorajamento. Outro fato que merece ser
destacado, é que ao comparar-se o gráfico da Figura 14 com o gráfico da Figura 12 observa-se
que as correlações são mais altas entre os blocos de competências quando consideramos o
encorajamento. Além disso, a dispersão do índice de encorajamento é menor do que o de
importância.
Isso mostra que, apesar de entre si os respondentes apresentarem uma variabilidade
maior para encorajamento do que para importância, dentro de cada respondente a
concordância entre blocos de competências é maior para o encorajamento. Isso quer dizer que
os graus de encorajamento se comportam de forma mais uniforme entre os blocos de
competência do que os graus de importância. Isso pode indicar que a percepção dos graus de
encorajamento é mais uniforme entre os blocos de competência do que a importância
atribuída pelos gerentes.
Assim, quanto maior (ou menor) o valor que o respondente atribui ao grau de
encorajamento para um dado bloco de competências, maior (ou menor) valor terá o grau de
encorajamento que ele irá atribuir aos outros dois blocos. Este padrão também é válido para o
grau de importância, mas um pouco mais leve. Mesmo que, na média, os gerentes percebam
que as competências, seja individualmente, seja por blocos, sejam mais importantes do que
encorajadas, uma maior homogeneidade revelada pela correlação entre os blocos de
competência pendendo para o encorajamento, pode indicar que maior convicção quanto à
forma como a Organização vem implementando ações no sentido de encorajar e incentivar o
desenvolvimento de determinadas competências. No pólo oposto, uma menor uniformidade,
mesmo que pequena, quando se considerara o aspecto da importância dos blocos de
competências, talvez esteja relacionada com a grande diversidade de realidades e experiências
de trabalho por que passam os gerentes do Banco.
Nessa perspectiva, determinado contexto, pode influenciar mais fortemente a
percepção do gerente quanto ao grau de importância de determinada competência (o que afeta
o bloco como um todo) e não influenciar mais diretamente na avaliação do encorajamento
institucional daquela mesma competência.
123
4.4.4 Diferenças entre os graus de importância e de encorajamento
Uma forma de investigar melhor as diferenças entre importâncias e encorajamentos é
utilizar os índices definidos na figura 13, de forma a comparar as duas avaliações por bloco de
competência.
Nas Figuras 15, 16 e 17, têm-se diagramas de dispersão entre a importância e o
encorajamento segmentados por bloco, representados através dos índices definidos na figura
13.
Figura 15 - Diagrama de dispersão: competência de negócios
Fonte: Pesquisa do autor
124
Figura 16 - Diagrama de dispersão: competência social
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 17 - Diagrama de dispersão: competência profissional
Fonte: Pesquisa do autor
125
Através desses gráficos, observa-se que, para as competências sociais e de negócios , a
importância dada às competências é, em geral, maior que o encorajamento dado pela
organização. Para competências profissionais, certo equilíbrio entre encorajamento e
importância na visão dos profissionais entrevistados, conforme foi observado na análise
descritiva, na seção 3.
Os resultados obtidos até agora valem somente para essa amostra. Uma forma de obter
resultados inferenciais a esse respeito e poder generalizar para a população toda, é construir
um índice de concordância entre encorajamento e importância, de forma similar aos índices
construídos acima. Dessa forma, construiu-se um índice desse tipo, baseado em uma
ponderação da diferença entre a importância e o encorajamento, para cada respondente.
Obtiveram-se assim os gráficos das Figuras 18 e 19 para avaliar o comportamento dessa
concordância.
Figura 18 - Boxplot da concordância por bloco de competência
Fonte: Pesquisa do autor
126
Figura 19 - Diagramas de dispersão para os índices de concordância
Fonte: Pesquisa do autor
Pela análise dos gráficos, nota-se que, na média não se aparenta uma diferença grande
entre os blocos de competências, apesar de confirmar-se o fato de que, nessa amostra, as
competências profissionais têm um equilíbrio melhor de importância/encorajamento.
Um teste inferencial baseado na normal trivariada, obteve T
2
=1,39 e nível descritivo
= 0,50. Assim, concluí-se que a 5% não diferenças significativas entre importância e
encorajamento de acordo com as competências sociais que possam ser generalizadas para a
população.
127
4.4.5 Padrões de associação entre graus de importância e de encorajamento com o
desempenho das agências
Neste caso, é possível fazer a avaliação de tal importância através da metodologia de
análise de regressão múltipla, considerando como resposta um vetor constituído pelo conjunto
de índices para encorajamento e importância. Graficamente não se obteve um padrão forte de
associação para o perfil univariado dessas quantidades. Através da metodologia de regressão
multivariada, ajustou-se um modelo para importância e encorajamento.
Para importância obteve-se que uma associação marginal positiva (nível descritivo
10%) entre a média dos placares da agência e o bloco de competências sociais. No modelo
final ajustado, obtiveram-se os coeficientes associados às competências:
Sociais Negócios Técnica
Intercepto
4,89 4,63 4,89
Coeficiente da média dos placares
0,0013 0,0013 0,0001
Nível descritivo da média dos placares
10% 14% 83%
Quadro 14 - Padrões de associação entre importância e encorajamento com o placar das agências
Fonte: Pesquisa do autor
A primeira linha desse quadro indica o valor-base ajustado pelo modelo de
importância atribuída a cada bloco de competência, independente da média dos placares das
agências. A segunda linha indica o valor do coeficiente associado à média dos placares das
agências. Esse coeficiente indica a força do efeito da média dos placares na importância
atribuída a cada competência. Para cada acréscimo de uma unidade na média dos placares
das agências, um acréscimo na importância dada ao bloco de competências, de acordo
com o seu coeficiente.
128
Considere-se alguns exemplos para ilustrar, numericamente, esse efeito.
Pilar Sociais Negócios Técnicas
Média dos Placares 4,89 4,63 4,89
Quadro 15 – Agências com média dos placares igual a zero
Fonte: Pesquisa do autor
O quadro acima fornece os valores médios esperados para as importâncias atribuídas a
cada bloco de competências, para uma agência com média dos placares igual a zero.
Considere-se, agora, uma agência com média de placares igual a 100. Os valores médios
esperados para a avaliação de importância dada a cada bloco de competências serão dados
por:
Pilar Sociais Negócios Técnicas
Média dos placares
4,89 + 100*0,0013 4,63 + 100*0.0013 4,89 + 100*0,0001
5,02 4,76 4,90
Quadro 16 – Agência com média de placares igual a 100
Fonte: Pesquisa do autor
Assim, nota-se que, apesar de terem o mesmo valor-base, o acréscimo nas competências
sociais é maior do que nas competências técnicas e de negócio, sempre que houver um
aumento na média dos placares das agências.
A última linha do quadro de coeficientes indica os níveis descritivos do efeito da média
dos placares em cada uma das variáveis. Através dessa linha, percebe-se que o único efeito
estatisticamente significativo, ao nível de significância de 10% de média dos placares,
localiza-se no bloco das competências sociais, sendo passível de generalização por toda a
população.
129
O efeito descritivo nas competências técnicas foi o menor de todos. Na competência
de negócios obteve-se o mesmo efeito descritivo, mas sem poder de generalização, mesmo
que marginal. O valor do coeficiente associado às competências sociais (0,0013) para a
média dos placares, indica que a cada acréscimo de uma unidade no valor da média dos
placares, um acréscimo de 0,0013 unidades na média da importância dada às
competências sociais.
Nota-se que, para uma agência com placar 600 tem-se um acréscimo no índice de
importância dada às competências sociais de aproximadamente 0,8, enquanto em uma
agência com placar médio 300, esse acréscimo cai para aproximadamente 0,4.
O fato de poder se estabelecer uma associação marginal positiva entre a média dos
placares das agências e o bloco de competências sociais, pode sugerir que o desenvolvimento
de tais competências pode contribuir para a melhoria do desempenho das agências. A tabela
14, abaixo, permite visualizar as nove competências avaliadas pelos gerentes e seus
respectivos escores médios e desvios-padrão.
Tabela 14 - Média, desvio-padrão e tamanho amostral para as questões, segmentado por competências,
segundo o grau de importância
Competências Questões Média Dp N
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 5,77 0,47 246
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 5,73 0,48 247
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 5,56 0,63 248
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 5,48 0,64 246
Q24. Apresentar-se positivamente 5,46 0,67 248
Q18. Manter os funcionários informados 5,41 0,63 245
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 5,41 0,65 248
Q03.Suportar pressões e adaptar-se a situação 5,38 0,74 248
Social
Q12. Adaptar a linguagem à situação 5,17 0,75 247
Fonte: pesquisa autor
130
À guisa de reforço na análise do bloco das competências sociais, a Figura 20 enfatiza
as conclusões do parágrafo anterior. Por intermédio do modelo de regressão, determinou-se
que uma associação entre a média dos placares (variável contínua) e a importância dada
ao bloco de competências sociais. Caracterizou-se ainda que essa associação é linear, e
quantificou-se o grau dessa associação em 0.0013 unidades de importância dos blocos sociais
por acréscimo na média dos placares.
A Figura 20 denota ainda que a variação da média dos placares das agências afeta a
importância dada ao bloco de competências sociais, em toda a faixa de valores que a média
dos placares pode assumir (0 a 600). Desse modo, para uma agência com, por exemplo, 300
pontos de placar, haverá um acréscimo de aproximadamente 0,40 no grau de importância das
competências sociais. Para uma agência com placar de 600 pontos, esse acréscimo será da
ordem de 0,80. O raciocínio é análogo para outros valores de médias de placares. O padrão
global da Figura 20, reforça a observação de que, quanto maior a média dos placares, maior
será a média atribuída à importância das competências do bloco de competências sociais.
Figura 20 - Efeito da média dos placares no índice de importância das competências sociais
Fonte: Pesquisa do autor
131
O bloco das competências sociais também foi aquele que recebeu os maiores escores
médios do ponto de vista da importância das competências, quando da análise descritiva. A
associação da importância das competências sociais com os resultados das agências, pode
permitir ao Banco o fortalecimento desse bloco de competências com a intenção de
fortalecer-se competitivamente, dentro do pressuposto de que recursos internos da
organização, inclusos o conhecimento, as habilidades e as competências dos gerentes,
podem gerar certa vantagem competitiva à Organização.
Outra possibilidade, agora sob o aspecto acadêmico, é o aprofundamento do tema
através de pesquisas, com hipóteses lançadas a priori, que busquem confirmar ou refutar a
possibilidade de existir associação entre as competências sociais com o resultado produzido
pelas agências.
Para o encorajamento, nenhum padrão relevante foi encontrado através desta
metodologia para esta amostra.
4.4.6 Padrões de associação entre graus de importância e de encorajamento e os dados
biográficos dos respondentes
Para estudar os outros tipos de associações entre importância e encorajamento, pode-
se novamente utilizar a metodologia anterior, mas considerando outras variáveis explicativas.
Através destas análises, a principal diferença encontrada, significante a 5%, e válida tanto
para encorajamento quanto importância, é de que profissionais formados no curso de
Economia, tendem a ter opinião sobre importância e encorajamento menor que os
profissionais dos outros cursos.
4.5 Análise dos dados qualitativos das questões abertas
Nos questionários, os respondentes tiveram a oportunidade de expressar livremente
suas opiniões quanto à indicação de alguma competência relevante que fosse importante para
o trabalho do gerente.
132
Com isso, a intenção foi permitir enriquecer o trabalho, bem como capturar alguma
particularidade que tivesse passado despercebida durante as sessões das entrevistas em grupo.
Mais de 100 respondentes sugeriram algum tipo de competência gerencial considerada
importante. Depois de realizado o enquadramento semântico, foi possível agrupar as
competências conforme o quadro abaixo. Percebe-se que, de uma forma geral, houve uma
sobreposição entre as competências sugeridas e aquelas constantes nos questionários.
Talvez esse fenômeno tenha ocorrido devido à falta de clareza nos conceitos, não
permitindo, por parte do respondente, uma compreensão mais clara daquilo que se pretendia
dizer. Por outro lado, a sobreposição também pode revelar que as competências constantes
nos questionários tiveram uma dupla validação, uma quantitativa e outra qualitativa,
ensejando maior envergadura ainda às competências reveladas como importantes pelos
gerentes.
Competências Sugeridas Número de Votos
Investir no fortalecimento da equipe 18
Valorizar e incentivar o trabalho da equipe na busca de objetivos 16
Desenvolver relacionamentos com a equipe 10
Integrar-se e participar de eventos da comunidade (cidade) 5
Estabelecer contatos e/ou parcerias com clientes 4
Focar resultados financeiros 4
Acompanhamento e análise das tendências político-eleitorais 4
Planejamento 4
Comunicação, interação intensa entre as áreas 4
Manter equipe informada das ações 2
Transmitir entusiasmo e confiança 2
Capacidade de articulação interna e externa 2
Visão estratégica 2
Gerenciamento de conflitos 2
Criatividade 2
Quadro 17 Competências sugeridas pelo gerentes
Fonte: Pesquisa do autor
133
Chama a atenção o fato de 50% das competências sugeridas pelos gerentes
gravitarem em torno de duas competências com o primeiro e o terceiro maiores escores
médios na pesquisa quantitativa, quais sejam tornar claro para a equipe os objetivos a serem
atingidos” e investir no fortalecimento da equipe”. Essa ênfase que os gerentes atribuem à
competência de gerir equipes torna visível a importância atribuída à gestão participativa,
denotando uma preocupação dos gerentes em incluir e valorizar a equipe como forma de
melhorar a sua própria performance.
No próximo capítulo, são apresentadas as conclusões extraídas deste trabalho, também
algumas sugestões de ordem prática para o próprio Banco, bem como sugestões para estudos
mais aprofundados sobre as competências gerenciais, de modo especial àquelas relacionadas
com empresas envolvidas nas áreas de serviços, a exemplo dos bancos.
134
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar as competências mais importantes
para a atuação dos gerentes de agências níveis 1 do Banco do Brasil. Das 27 competências
descritas no questionário de pesquisa, 22 foram consideradas muito importantes, 4
importantes e apenas uma foi julgada pouco importante. Quanto ao encorajamento dessas
mesmas competências por parte do Banco, o resultado indica que, com exceção de apenas
uma competência, todas as outras vêm sendo encorajadas pela organização. Ao se comparar
graus de importância e encorajamento como blocos distintos, ficou evidenciado que o
encorajamento percebido pelos gerentes é inferior aos graus de importâncias atribuídos às
mesmas competências.
O primeiro objetivo específico previa a classificação das competências gerenciais
utilizadas pelos gerentes de acordo com as categorias sugeridas por Fleury e Fleury (2001).
Para esse fim, foram realizadas entrevistas em grupo que resultaram em 27 competências
divididas em três blocos, com 9 competências em cada bloco, estratificadas em sociais,
técnicas e de negócio. Essa categorização revelou-se, comparativamente a diversos outros
modelos, a mais adequada, especialmente por melhor se identificar com a natureza do
trabalho desenvolvido pelos gerentes de agência. Além disso, a análise estatística comprovou ,
por intermédio da metodologia de testes de hipóteses baseados na distribuição multinomial
(AGRESTI, 2002), que a estratificação mostrou-se válida, podendo ser generalizada para toda
a população.
O segundo objetivo específico do trabalho foi mensurar o grau de importância e de
encorajamento institucional das competências gerenciais pesquisadas. Do ponto de vista da
importância, os escores médios se revelaram superiores aos escores verificados no
encorajamento das competências. De modo geral, os gerentes acreditam que as competências,
quer isoladamente, quer em blocos, não recebem o apoio para desenvolvimento proporcional
as suas respectivas importâncias, indicando haver um “gap” entre a percepção dos gerentes
e os programas de encorajamento das competências gerenciais pelo Banco. Cabe à
Organização, nesse caso, procurar identificar as causas dessa dissonância na percepção dos
gerentes e providenciar uma priorização no desenvolvimento das competências apontadas
como mais importantes.
135
O terceiro objetivo específico foi avaliar o grau de importância e encorajamento das
competências gerenciais considerando as categorias sociais, técnicas e de negócio. A análise
descritiva mostrou, quanto à importância, existir predominância das competências sociais.
Essa conclusão foi ratificada pela análise inferencial, podendo ser estendida para toda a
população. A maior importância dada às competências sociais, ao tempo em que está
alinhada com a própria natureza interativa percebida no trabalho dos gerentes, possibilita
estudos mais avançados, visando testar se esse tipo de preferência acontece com outras
categorias profissionais, de modo especial aquelas vinculadas à prestação de serviços.
As principais limitações para a realização desta pesquisa não estiveram circunscritas a
aspectos metodológicos, nem à coleta e análise dos dados. A principal dificuldade esteve
vinculada ao próprio conceito daquilo que verdadeiramente pode ser considerado uma
competência, notadamente quando se busca uma síntese ou um nível de compreensão que
extrapole o meio acadêmico. Percebe-se que o conceito acerca do que é uma competência
ainda está muito longe da realidade das organizações. No próprio meio acadêmico, o termo
ainda recebe diferentes tratamentos, abordagens ou definições. Junto aos gerentes, a confusão
é ainda maior.
O termo competência ainda remete as pessoas à idéia de tarefa, saber fazer, de cargo,
de qualificação e outras definições ainda mais distantes da riqueza que o conceito pode
oferecer. Para tentar escapar a essas limitações, no momento de descrever as competências
para submetê-las ao escrutínio dos gerentes, empregaram-se verbos que denotassem ação,
movimento, combinação e mobilização, palavras que ganham relevo especial em diversos
textos que tratam da chamada “competência em ação”.
Outra limitação ocorrida na hora de descrever as competências foi a escolha da
amplitude envolvida na definição. Em outras palavras, uma amplitude muito estreita poderia
reduzir a competência a uma lista de atividades, não muito diferente das prescrições comuns
nas análises dos postos de trabalho. Uma amplitude muito larga, por outro lado, poderia
conduzir a competência a uma abstração exagerada, muito distante da realidade dos gerentes.
136
A aproximação, então, se deu muito mais com base em referências consagradas em
outros estudos, do que na construção de termos originais. Mesmo com esses cuidados, o
resultado da parte qualitativa das respostas, revelou que a compreensão dos conceitos, não foi
totalmente assimilada, ensejando sobreposições entre as competências constantes nos
questionários e aquelas exaradas de próprio punho pelos respondentes.
Outra limitação refere-se à extrapolação das conclusões deste estudo para populações
maiores ou diferentes do contexto envolvido nesta pesquisa. Os gerentes ouvidos pertenciam
todos a agências de nível 1, agências com estrutura e complexidade máximas, dentro dos
parâmetros utilizados pelo Banco. Desse modo, talvez as competências julgadas importantes
neste estudo não sejam as mesmas para gerentes lotados em agências onde, por exemplo, a
competência “executar pessoalmente rotinas operacionais” é uma realidade do dia-a-dia. A
propósito, essa foi a competência que recebeu o menor escore médio dentre todas as
competências pesquisadas.
O trabalho do gerente, a propósito, vem sendo objeto de muitos e variados estudos
sobre a realidade que cerca esses importantes atores organizacionais. Há grande convergência
na visão de que aquilo que realmente o gerente faz está bem longe do que é preconizado nos
manuais de administração. A fragmentação das atividades, a pressão constante de
subordinados, superiores e clientes, a incerteza e a ambigüidade, transformam o trabalho do
gerente numa experiência onde determinadas competências adquirem relevo especial. Esta
pesquisa identificou que as competências julgadas mais importantes estão relacionadas com
aspectos sociais, isto é, dizem respeito, fundamentalmente às interações humanas, e isso
certamente não interessa somente à Organização, mas ao próprio sujeito que, ao valorizar com
maior ênfase as competências sociais sinaliza a importância que estas possuem para o seu
bom desempenho. Também pode revelar que as competências técnicas e de negócio, muito
embora relevantes, não possuem a mesma força das competências sociais para responder às
demandas em uma empresa de serviços. Ainda com relação aos gerentes, a pesquisa
demonstrou que existe uma crescente qualificação acadêmica dos mesmos, espelhada num
expressivo número de gestores com pós graduação. Entretanto, muito embora se reconheça a
força do diploma, não foi possível estabelecer nenhuma correlação positiva entre a formação,
por exemplo, e os resultados produzidos pelas agências.
137
Acredita-se que as informações e os resultados decorrentes desta investigação sejam
úteis para o Banco do Brasil, tanto para a área de gestão de pessoas, quanto para sua estratégia
organizacional. Do ponto de vista do aperfeiçoamento de suas políticas de pessoal, o trabalho
pode fornecer subsídios para o desenvolvimento gerencial, de forma especial no que tange ao
aperfeiçoamento das atuais competências gerenciais, ainda carentes de uma discussão mais
abrangente e que permita incluir a visão dos próprios gerentes na construção dessas mesmas
competências. Sob o aspecto da competitividade da Organização, esta pesquisa também pode
contribuir na medida em que aponta a valorização das competências sociais como associadas
a um melhor desempenho por parte das agências. Caso houvesse, por parte do Banco, um
maior investimento no desenvolvimento e aperfeiçoamento do bloco das competências
sociais, poderia residir uma oportunidade para a construção de uma competência
organizacional importante, principalmente no atual estágio de grande competição no setor
bancário.
Nesse sentido, a valorização do trabalho dos gerentes deve ser um objetivo permanente
da área de recursos humanos do Banco, pois, como restou evidenciado ao longo deste
trabalho, as ambigüidades, incertezas e a complexidade que cercam a função gerencial,
requerem que este profissional receba um tratamento diferenciado, tanto do ponto de vista do
apoio permanente, quanto da formação continuada, mais especificamente para desenvolver
competências relacionadas às interações sociais.
Este estudo não conseguiu associar, de modo significativo, as variáveis demográficas,
tais como o nível de escolaridade, sexo, idade e tempo de Banco com o resultado apresentado
pelas agências. Uma associação verificada foi a de que os gerentes com pós-graduação
tendem a ser mais jovens do que os gerentes que possuem somente a graduação. Este
fenômeno pode estar ligado ao estímulo que a Empresa vem dando para a formação
continuada de seus executivos, principalmente nos últimos 10 anos.
A partir das conclusões precedentes e objetivando ao maior desenvolvimento de estudos
sobre competências gerenciais, notadamente em empresas de serviços, sugere-se a condução
de outras pesquisas, tais como:
138
- Estudo do impacto das competências sociais sobre o desempenho organizacional;
- Estudo sobre a influência de competências gerenciais específicas, tais como aquelas
diretamente vinculadas à gestão de equipes, por exemplo, sobre o desempenho
organizacional;
- Avaliação de competências gerenciais para outros segmentos de serviços, tomando-se
por base a categorização sugerida por Fleury e Fleury (2001);
- Estudo que busque identificar a percepção dos gestores quanto à importância e o
encorajamento das competências, partindo-se da hipótese de que haverá maior grau de
importância sobre o encorajamento;
- Estudo longitudinal que demonstre a incorporação do conceito “competência” no seio
das organizações como um modo unificador de superar as tradicionais noções de
cargo, tarefa e qualificação;
O presente estudo, mesmo considerando as dificuldades encontradas para a tradução
da competência na forma de conceitos que consigam exprimir toda a riqueza que o termo
adquiriu, pode oferecer contribuições para a continuidade dos estudos e dos debates
acadêmicos, o que não deixa de ser um modo incremental de se consolidar uma idéia, uma
noção ou um conceito. Sob o aspecto prático, esta investigação espera ter oferecido
informações que possam contribuir para a construção de diferenciais competitivos às
organizações amparados na competência de seus funcionários, especialmente os gerentes.
139
REFERÊNCIAS
ABRAHAM et al. Managerial competencies and the managerial performance appraisal
process. Journal of Management Development, v. 20, n. 10, p. 842-852, 2001.
ACCORSI, A. Automação bancária e seus impactos: o caso brasileiro. Revista de
Administração. São Paulo, v. 27, n. 4, p. 39-46, out/dez. 1992.
AGRESTI, A. Categorical data analysis. 2. ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2002.
ALDRICH, H. E.; PFEFFER, J. Organizations and environments. Ithaca: New York State,
School of Industrial and Labor Relations, Cornell University, 1976.
ANDERSON, P.; PULICH, M. Managerial competencies necessary in today’s dynamic
health care environment. Health Care Manager, Wisconsin, 2002.
ANSOFF, I. Estratégia empresarial. São Paulo: McGraw-Hill, 1977.
ANTONELLO, C. S. As formas de aprendizagem utilizadas por gestores no
desenvolvimento de competências. XXVIII ENANPAD, 2004.
AUTHIER, M. Problemas podem ajudar a unir as pessoas na empresa. São Paulo: Jornal
Valor Econômico, p. D3, 11 mar. 2003.
BANCO DO BRASIL S. A. Relatório da administração, 2005.
BARBETTA, P. A. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: Editora UFSC,
2003.
BEER, M.; EISENSTAT, R. A. Mudança Estratégica: realinhando a empresa para a
implementação da estratégia. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
BITTENCOURT C. C. A gestão de competências gerenciais e a contribuição da
aprendizagem organizacional. Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 44, n.1,
2004.
BOFF L. H.; ABEL M. Auto-desenvolvimento de competências: o caso do trabalhador de
conhecimento como especialista. Porto Alegre: Bookman, 2005.
BONN, I. Developing strategic thinking as a core competency. Management Decision,
MCB University, 2001.
140
BOOG, G. G. O desafio da competência. São Paulo: Editora Best Seller, 1991.
BOSSIDY, L.; CHARAN, R. Desafio: fazer acontecer. Rio de Janeiro: Negócio Editora,
2003.
BOYATZIS, R. The competent manager. United States: John Wiley Sons, 1982.
BRANDÃO, H. P. Gestão baseada nas competências: um estudo sobre competências
profissionais na indústria bancária. 1999, 158 f. Dissertação de Mestrado em Administração,
Universidade de Brasília, Brasília, 1999.
BRANDÃO, H. P.; BAHRY, C. P. Gestão por competências: métodos e técnicas para
mapeamento de competências. Revista do Setor Público, Brasília, v. 56, n. 2, abr/jun. 2005.
BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho:
tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo constructo? Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v. 41, n. 1, p. 08-15, jan/mar. 2001.
BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho.
In: WOOD JR. (Coord.). Gestão Empresarial: O fator humano. São Paulo: Atlas, 2002.
BRUNO-FARIA, M. F.; BRANDÃO, H. P. Gestão de competências: identificação de
competências relevantes a profissionais da Área de T e D de uma organização pública do
Distrito Federal. Revista de Administração Contemporânea, Rio de Janeiro, p.35-56, jul/set.
2003.
BÜNDCHEN, E. Gestão das competências individuais genéricas na agência setor público
do Banco do Brasil em Florianópolis. 2003, 85 f. Trabalho de conclusão do curso de
Bacharel em Administração, Universidade do Vale do Itajaí, Biguaçu, 2003.
BÜNDCHEN, E.; SILVA, A. B. Proposta de um plano de desenvolvimento de
competências individuais genéricas alinhado à estratégia empresarial. Revista de
Ciências da Administração, Florianópolis, v. 7, n. 13, p. 87-109, jan/jul. 2005.
BURNS, T.; STALKER, G. M. The management of innovation. London: Tavistock, 1961.
CARBONE, P. C. et al. Gestão por competências e gestão do conhecimento. Rio de
Janeiro: FGV, 2005.
CARVALHO, M. S. M. V. Gestão de competências: uma nova ? abordagem em recursos
humanos. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, set/out. 1998.
CHAKRAVARTHY, B. S. Adaptation: a promising metaphor for strategig management.
Academy of Management Rewiew, v. 7, n. 1, p. 33-34, 1982.
141
CHANDLER, A. D. Strategy and structure: chapters in the history of de american industrial
enterprise. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology Press, 1962.
CLEVELAND, W. S. Visualizing Data. Murray Hill: At & T Bell Laboratories, 1993.
COSTA, E. A. Gestão Estratégica. São Paulo: Saraiva, 2000.
COSTA, M. A. S. Gestão de pessoas por competências e administração estratégica: o caso
de uma empresa do pólo petroquímico de Camaçari Bahia. ENANPAD, XXVIII, Curitiba,
2004.
CRIPE, E. J.; MANSFIELD, R. S. Profissionais disputados. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
DAÓLIO, L. C. Perfis e competências. São Paulo: Érica, 2004.
DAVENPORT, T. H; PRUSAK. L. Working Knowledge. New York, NY: Harvard
Business Scholl, 1998.
DIMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. The iron cage revisited: institutional isomorphism
and colletive rationality ind organizational fields. American Sociological Review, v. 48, p.
147-160, 1983.
DREJER, A. Organizational learning and competence development. The Learning
Organizational, v. 7, n. 4, 2000.
DRUCKER, P. F. O melhor de Peter Drucker. São Paulo: Nobel, 2001.
DURAND, T. Forms of incompetence. Proceedings Fourth International Conference on
Competence-Based Management. Oslo: Norwegian School of Management, 1998.
DUTRA, J. C. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa
moderna. São Paulo: Atlas, 2004.
DUTRA, J. S.; HIPÓLITO, J. A. M.; SILVA, C. M. Gestão de pessoas por competências: o
caso de uma empresa do setor de telecomunicações. ENANPAD, XXII, 1998.
FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências.
2. ed. São Paulo: Atlas, 2001.
FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. C. C.. Alinhando estratégia e competências. Revista de
Administração de Empresas, São Paulo, v. 44, n. 1, 2004.
142
FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. C. C. Estratégias empresariais e formação de
competências. São Paulo: Atlas, 2000.
FLEURY, M. T. L.; OLIVEIRA, M. M. Gestão estratégica do conhecimento. São Paulo:
Atlas, 2001.
FORTUNA, E. Mercado financeiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.
FREITAS. I. A. Trilhas de desenvolvimento profissional: da teoria à prática. ENANPAD,
XXVI, 2002.
GALBRAITH, J. R. Organization design. Reading, MA: Addison-Wesley, 1977.
GHYCZY, T. V. et al. Clausewitz e a estratégia. Rio de Janeiro: Campus, 2002.
GLEGG et al. Pensando e agindo estrategicamente. Novos desafios para a análise
estratégica. Revista de Administração de Empresas, FGV, v. 44, n. 4, out/dez. 2004.
GREEN, P. C. Desenvolvendo competências consistentes. Rio de Janeiro: Qualitymark,
2000.
GUIMARÃES, T. A.; BORGES-ANDRADE, J. E.; MACHADO, M. S.; VARGAS, M. R.
M. Forecasting core competencies in R e D environment. R e D Management Rewiew,
Manchester, UK, v. 31, n. 3, p. 249-255, 2001.
HAIR et al. Análise multivariada de dados. Porto Alegre: Bookman, 2005.
HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro. Rio de Janeiro: Campus, 1995.
HAMEL, G.; PRAHALAD, C. K. The core competence of the corporation. Harvard
Business Review, p. 79-81, mai/jun. 1990.
HANNAN, M. T.; FREEMAN, J. H. The population ecology of organizations. American
Journal of Sociology. v. 82, p. 929-964, 1977.
HART, E. R. Mudança estratégica: reconfigurando os processos operacionais para a
implementação estratégica. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
HIPÓLITO, J. Competências e níveis de complexidade do trabalho como parâmetros
orientadores de estruturas salariais. In: Encontro Nacional dos Programas de Pós-
Graduação em Administração. Conferência, Florianópolis, 2000.
143
HOFFMANN, V. E. Processo de elaboração de estratégias organizacionais: evolução em
uma empresa industrial. Revista Alcance, p. 75-84, jan/jun. 1997.
HOGG, B. A. European managerial competences. European Business Review. v. 93, n. 2,
1993.
IDENBURG, P. J. Four styles of strategy development. In: Long Range Planning. Great
Britam, v. 26, n. 6, p. 132-137, 1993.
JOHNSON, R. A.; WICHERN, D.W. Applied multivariate statistical analysis. 2. ed. New
Jersey: Prentice Hall, 1982.
KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. A estratégia em ação. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
LAWRENCE, P. R.; LORSCH, J. W. As empresas e o ambiente. Petrópolis: Vozes, 1973.
BOTERF, G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre: Artmed,
2003.
LODI, J. B. A entrevista: teoria e prática. São Paulo. Pioneira, 1991.
MANAGEMENT CHARTER INITIATIVE. Management standars. London: MCI, 1997.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M.; Fundamentos de metodologia científica. São Paulo:
Atlas, 2005.
MARDIA, K.V., KENT, J.T. e BIBBY, J.M. ; Multivariate analysis. London: Academic
Press, 1979.
MARTIN, G.; STAINES, H. Managerial competences in small firms. The Journal of
Management Development, 1994.
MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing. São Paulo: Atlas, 1996.
MERRIAN, S. B. The design of qualitative research. In: Qualitative Research and Case
Study Applications in Education. São Francisco: Allyn and Bacon, p. 4-25, 1998.
MILES, R. E.; SNOW, C. C. Organizational strategy, structure and process. New York:
Mc Graw Hill, 1978.
MILLER, D. Environmental fit and internal fit. Organization Science, v. .3, n. 2, may.
1992.
144
MILLS, J. et al. Competing through competences. Cambridge: Cambridge University Press,
2002.
MINTZBERG, H. The Manager Job: Folklore and Fact. Harvard Business Review,
july/august, p. 44-53, 1975.
MINTZBERG, H. et al. Safári de estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2000.
MINTZBERG, H. et al. O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
MORETTIN, P. A.; BUSSAB, W. O. Estatística básica. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
MORGAN, G. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.
MOTTA, P. R. Gestão contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. Rio de Janeiro:
Record, 1999.
MOTTA, P. R. Transformação organizacional: a teoria e a prática de inovar. Rio de
Janeiro: Qualitymark, 1999.
NETER, J., KUTNER, M.H., NACHTSCHEIM, C.J e WASSERMAN, W. Applied linear
statistical models: regression, analysis of variance and experimental design. 4. ed.
Homewood: Richard D. Irwing, 1996.
NONAKA, I. et al. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
ODERICH, C. Gestão de competências gerenciais: noções e processos de desenvolvimento.
Porto Alegre: Bookman, 2005-10-03.
OLIVEIRA, L. C. P.; KUETEN, A. Planejamento estratégico nas pequenas empresas:
estudo de caso. SLADE, Anais, 2004.
ORNOFF, K. Developing strategic competencies: a starding point. Information Management
Journal, Prairie Village, 2002.
PAIVA, K. C. M.; ÉSTHER, A. B.; PIRES, A. C. R. Milícias, malícias e delícias da função
gerencial: o setor hoteleiro em foco. XXVIII ENANPAD, Curitiba, 2004.
PARRY, S. B. The quest for competence. Training, p. 48-56, jul. 1996.
PASQUALI, L. Psicometria: teoria e aplicações. Brasília: Editora da Universidade de
Brasília, 1997.
145
PEREIRA, J. C. R. Análise de dados qualitativos. São Paulo: Edusp, 1999.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva. Rio de janeiro: Campus, 1989.
QUINN, J. B. Strategy change: “logical incrementalism” sloan management review. v. 20,
p.7-21. Fall, 1978.
QUINN R. E. et al. Competências gerenciais: princípios e aplicações. Rio de Janeiro:
Campus, 2004.
R DEVELOPMENT CORE TEAM. R: A language and environment for statistical
computing. Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, Disponível em: http://www.R-project.org,
2005.
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
RICHARDSON, B.; THOMPSON, J. Strategy evaluation in powerful enviroments: a
multi-competence approach. Leadership & Organization Development Journal, v. 16, n. 4,
p. 17-25, 1995.
ROESCH, S. M. A. Projetos de estágio e de pesquisa em administração. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 1995.
ROPÉ, F.; TANGUY, L. Saberes e competências. Campinas: Papirus, 1997.
ROSSETTO, C. R. e ROSSETTO, A. M. O comportamento estratégico segundo a teoria
de Miles e Snow: o estudo multicaso em três empresas familiares na indústria da construção
civil setor de edificações. In: II Encontro de Estudos Sobre Empreendedorismo e Gestão de
Pequenas Empresas – EGEPE, 2001, Londrina: Anais do II EGEPE, v.1, 2001.
ROSSETTO, C. R. e ROSSETTO, A. M. O processo de adaptação estratégica segundo o
modelo de Thusman e Romanelli: um estudo de caso no setor de edificações. In: ENEGEP
2001, Salvador: Anais ENEGEP, 2001.
RUAS, R. Desenvolvimento de competências gerenciais e contribuição da aprendizagem
organizacional. In: FLEURY, M. T. L.; OLIVEIRA Jr. M. M. Gestão estratégica do
conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas,
2001.
RUAS, R. Gestão por competências: uma contribuição à estratégia das organizações. Porto
Alegre: Bookman, 2005.
146
RUMELT, R. How much does industry matter? Strategic Management Journal, p. 85-167,
1991.
SANDBERG, J. Human competence at work. Goteborg: BAS, 1996.
SANDRONI, P. Dicionário de economia. São Paulo: Best Seller, 1989.
SANTOS, A. C. O uso do método Delphi na criação de um modelo de competências.
Revista de Administração, São Paulo, v. 36, n. 2, p. 25-32, abr/jun. 2001.
SCHWANDT, T. A. Three epistemological stances for qualitative inquiry: interpretivism,
hermeneutics and social construcionism. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, W. S. Handbook of
Qualitative Research. London: Sage Publications, p. 189-210, 2000.
SENGE, P. M. A quinta disciplina. São Paulo: Best Seller, 1998.
SILVA, A. B.; GODOI, C. K. O processo de aprendizagem como balizador para o
desenvolvimento de um modelo de competências para uma empresa do setor elétrico. In:
27. Encontro Anual da ANPAD, 2003, Atibaia-SP. Anais...[CD-ROM].
SPENCER, L. M.; SPENCER, S. M. Competence at work: models for superior performance.
New York: John Wiley & Sons, 1993.
SPENDER, J. C. Gerenciando sistemas de conhecimento. São Paulo: Atlas, 2001.
STAKE, R. Case studies. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (eds). Handbook of Qualitative
Research. Thousand Oaks: Sage, 1994.
STROOBANTS, M. A visibilidade das competências. Campinas: Papirus, 1997.
SVEIBY, K. E. A nova riqueza das organizações. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
TEECE, D.; PISANO, G.; SCHUEN, A . Dynamic capabilities and strategic management.
Strategic Management Journal, p. 34-509, 1997.
THOMPSON, J. D. Organizations in action. New York: McGraw-Hill, 1967.
TUKEY, J. W. Exploratory Data Analysis. 1. ed. New York: Addison Wesley, 1970.
TUSHMAN, M. L.; ROMANELLI, E. Organizational evolution: a metamorphosis model of
convergence and reorientation. In: STAW, B. M.; CUMMINGS, L. L. (Eds). Research in
organizational behavior. Greenwich, CT: JAI Press, 1985.
147
TZU, S. A arte da guerra. Adaptação e prefácio de James Clavel. 23. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2000.
VALLES, M. S. Variedad de paradigmas y perspectivas em la investigación cualitativa
in: técnicas cualitativas de investigación social: reflexión metodológica y práctica profesional.
Madrid: Síntesis, p. 48-68, 1997.
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas,
1998.
WESTER, D. Developing managerial competence, developing corporate competence.
Human Resource Management Journal, v. 8, n. 2, 1998.
WHITTINGTON, R. Estratégia após o modernismo: recuperando a prática. RAE. Revista
de Administração de Empresas, FGV, v. 44, n. 4, out/dez. 2004.
WHITTINGTON, R. O que é estratégia. São Paulo: Thomson, 2002.
WILSON, D. C.; JARZABKOWSKI, P. Pensando e agindo estrategicamente: novos
desafios para a análise estratégica. Revista de Administração de Empresas, FGV, v. 44, n. 4,
out/dez. 2004.
YIN, R. K. Introdução. In: Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre:
Bookman, 2001.
ZARIFIAN, P. Objetivo competência. São Paulo: Atlas, 2001.
----------.O que é estratégia. São Paulo: Thomson, 2002.
148
APÊNDICE A - Levantamento preliminar de dados
ETAPAS:
- Planejamento
- Condução das entrevistas
- Análise dos dados
Planejamento:
1- Objetivos das entrevistas em grupo:
Selecionar as competências gerenciais utilizadas pelos gerentes de agência do Banco do
Brasil.
2- Quem serão os participantes das entrevistas em grupo?
As entrevistas terão a participação de seis funcionários, selecionados a partir do seguinte
perfil:
- Estejam exercendo a função de Gerente de Agência ou de Contas;
- Tenham mais de dez anos de experiência em cargos gerenciais;
- Que a amostra seja representativa dos três pilares negociais do Banco do Brasil,
Atacado, Varejo e Governo;
- Que a amostra reflita experiências gerenciais em agências com características urbanas
e rurais;
- Que possuam formação superior, com especialização e experiência compatíveis com
dinâmicas de grupo.
3- Local e Horário dos Encontros
As sessões das entrevistas em grupo serão realizadas na Agência Setor Público, de modo a
facilitar o deslocamento dos participantes. As sessões iniciar-se-ão às 18:30 h até às 20:30 h,
sendo realizadas três sessões.
149
APÊNDICE B - Resultados das entrevistas em grupo
No primeiro encontro, o pesquisador procedeu à abertura dos trabalhos, destacou os
objetivos da reunião e agradeceu a presença de todos os participantes. Em seguida, apresentou
uma síntese sobre a operacionalização da dinâmica dos trabalhos, especialmente sobre as
etapas que compõem esta ferramenta e a importância que se reveste a participação e o perfil
dos entrevistados. Logo após, falou sobre a justificativa da pesquisa a ser posteriormente
desenvolvida com foco nas competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agências
do Banco do Brasil.
O primeiro tema abordado pelo pesquisador contextualizou os objetivos do estudo, de
forma que todos os participantes soubessem quais os objetivos que estariam sendo buscados.
Num segundo momento, a formulação da estratégia corporativa do Banco do Brasil e seus
desdobramentos na atuação gerencial em nível de agências também foi debatida. A
explanação incluiu a visão e a missão da empresa, a estratégia corporativa, o plano diretor, os
planos de mercados, o orçamento, o acordo de trabalho, os planos táticos, missão e planos
operacionais nas agências, os planos de negócios em nível de clientes e a agenda de atividades
dos gerentes no seu trabalho diário. Desse modo, buscou-se estabelecer uma dinâmica que
permitisse a todos os participantes vislumbrar o conjunto de ações, ferramentas de gestão e
complexidade envolvidos no processo de elaboração e implementação das estratégias no
âmbito do Banco do Brasil.
As competências individuais e alguns textos que versam sobre a matéria também
tiveram espaço nas discussões do grupo. Num primeiro momento, procurou-se nivelar os
conhecimentos básicos sobre o tema. Para tanto, anteriormente à realização dos encontros, o
pesquisador distribuiu a todos os membros participantes o seguinte material para leitura
prévia: Alinhando Estratégia e Competência (FLEURY; FLEURY, 2004); Gestão de
Competências: uma nova (?) abordagem em recursos humanos (CARVALHO, 1998); A
Gestão de Competências Gerenciais e a Contribuição da Aprendizagem Organizacional
(BITTENCOURT, 2004). Mesmo longe de ser exaustivo em relação ao tema abordado na
pesquisa, os textos serviram para contextualizar melhor os participantes e permitiram
intervenções mais alinhadas e pertinentes com a expectativa do pesquisador.
150
Após breve discussão sobre os textos previamente distribuídos, o pesquisador, a título
de ampliação do tema, apresentou, em “power point”,os seguintes itens: competências
individuais e gerenciais. Para tanto, utilizou-se de resumos dos seguintes livros:
Desenvolvendo a Competência dos Profissionais (LÊ BOTERF, 2003); Gestão Estratégica do
Conhecimento (FLEURY; FLEURY, 2001) e Objetivo Competência (ZARIFIAN, 2001). A
abordagem dessas obras serviu para focar com maior precisão no objetivo do estudo,
esclarecendo questões relacionadas com o conceito de competência, especialmente quanto às
mudanças provocadas pelo aumento da complexidade das situações de trabalho.
Após a apresentação dos temas acima sintetizados, o pesquisador solicitou a
manifestação de todos os presentes acerca dos assuntos tratados. De modo geral, obteve-se
um entendimento básico que permitiu o seguimento das próximas etapas previstas no
planejamento do método. Após agradecer novamente a presença, a participação e o
engajamento de todos os presentes, o coordenador anunciou o próximo encontro, bem como a
pauta daqueles trabalhos.
Nos encontros seguintes, depois de todos os participantes terem recebido informações
básicas sobre o tema objeto do estudo, o pesquisador esclareceu o modo como seriam
conduzidas as reuniões. Para tanto, buscou-se observar, em linhas gerais e com as adaptações
necessárias ao contexto desse estudo, as orientações de Roesch (1995):
a) Cada participante relata a experiência de sua agência, não importando o quão similar
seja em relação aos outros;
b) Considera-se que não há respostas certas ou erradas;
c) É importante que apenas uma pessoa fale de cada vez, evitando-se, assim, conversas
paralelas;
d) Solicita-se que cada participante identifique-se toda vez que for iniciar um
comentário. Com algumas adaptações, também buscou-se observar as orientações
de Oliveira e Freitas (1998), notadamente quanto a: a) duração das sessões; b)
registro dos assuntos tratados; c) o papel do moderador; d) tamanhos do grupo de
discussão; e) escolha dos participantes f) conteúdo das entrevistas g) seleção do
local e coleta de dados; h) condução das sessões ; i) análise dos dados obtidos.
151
Com base num levantamento bibliográfico preliminar, foram disponibilizadas para o
trabalho cerca de 400 competências (individuais, gerenciais, específicas e genéricas) que
serviram de base para a primeira depuração. Essa primeira depuração foi executada pelo
pesquisador observando-se os objetivos do estudo e também visando a facilitar os trabalhos
das discussões em grupo.
Após a primeira depuração, restaram 180 competências (individuais, gerenciais,
específicas e genéricas) como matéria-prima para discussão pelo grupo. O processo de
depuração seguinte, agora com a participação dos membros do grupo, envolvia a seguinte
dinâmica: o pesquisador lançava no quadro (power point) a descrição da competência a ser
avaliada pelos participantes que, à luz dos critérios abaixo, julgavam aquela competência
pertinente ou não para os objetivos pretendidos: a) a competência reflete uma ação
efetivamente observada no trabalho do gerente de agência; b) a competência possui
importância no trabalho desempenhado pelo gerente; c) a competência está elaborada,
semanticamente, de modo claro e preciso. Com base então, nesses três critérios, e depois de
submetida à opinião de todos os presentes, caso a competência fosse unanimemente aprovada,
ela era registrada no quadro de competências preliminarmente aprovadas. As competências
que não obtinham a aprovação unânime eram registradas num quadro de competências para
análise posterior e, finalmente, aquelas competências reprovadas não eram registradas. Após o
final da primeira fase dessa depuração de competências, todas as competências que não
obtiveram aprovação unânime dos participantes foram novamente trazidas à discussão.
Mesmo assim, nenhuma dessas competências conseguiu aprovação nesse segundo estágio.
Desse modo, após o processo de discussão das competências importantes para a atuação dos
gerentes, restaram 47, abaixo discriminadas, na forma como foram avaliadas e aprovadas:
152
Competências gerenciais para a atuação dos gerentes de agência
(Resultado preliminar das entrevistas em grupo)
1. Assumir papel de liderança ao tomar uma iniciativa/decisão;
2. Flexibilidade;
3. Entendimento inter-pessoal;
4. Fortalecimento da equipe;
5. Facilitação de propósitos;
6. Assumir responsabilidade pessoal para fazer as coisas acontecerem;
7. Agir com segurança e sem hesitações diante de desafios;
8. Compreender como a organização interage com os clientes;
9. Definir metas e ações para atingi-las;
10. Estar atento às oportunidades que surgem para alcançar as metas;
11. Filtrar as informações necessárias;
12. Adequar a linguagem à situação e ao ouvinte;
13. Ouvir com atenção;
14. Manter as pessoas informadas sobre planos e processos;
15. Definir com clareza os objetivos e metas a serem esperados;
16. Comunicar de forma a gerar entusiasmo;
17. Encorajar e estimular os outros;
18. Estimular o planejamento das ações;
19. Utilizar técnicas de planejamento;
20. Manter o foco no resultado;
21. Monitorar a qualidade e o andamento do trabalho;
22. Definir metas para si e para os outros;
23. Apresentar-se positivamente;
24. Desenvolver relacionamentos;
25. Estabelecer rede de informações;
26. Procurar informações em múltiplas fontes;
27. Dividir os processos em tarefas e atividades;
28. Influenciar o clima organizacional;
29. Demonstrar autoconfiança;
30. Capacidade de negociação;
31. Gerenciar recursos escassos;
153
32. Gerenciar conflitos;
33. Orientação ao clientes;
34. Parcerias com clientes;
35. Dar autonomia aos outros/delegar;
36. Comunicação oral persuasiva;
37. Construir relacionamentos de colaboração;
38. Conhecer técnicas/ferramentas de planejamento;
39. Iniciativa;
40. Eficácia/efetividade;
41. Perspicácia;
42. Auto-desenvolvimento;
43. Integrar-se a diferentes contextos sociais;
44. Conhecer princípios de estratégia;
45. Conhecer produtos e serviços;
46. Conhecer o ambiente em que o Banco do Brasil atua;
47. Conhecer rotinas e processos.
A participação dos membros das entrevistas em grupo termina com a definição das 47
competências acima descritas. A continuidade do processo de depuração é de
responsabilidade do pesquisador e está descrita no corpo da metodologia do estudo.
154
APÊNDICE C - Questionário utilizado na pesquisa
Florianópolis (SC), 30 de Junho de 2005
Prezado colega,
O questionário em anexo busca identificar, de acordo com a sua experiência e
percepção, quais competências gerenciais você considera mais importantes para o seu
trabalho e qual é o grau de encorajamento das mesmas pelo Banco, no âmbito de sua agência.
A presente pesquisa é realizada dentro do Programa de Pós-Graduação da UNIVALI
Universidade do Vale do Itajaí, Campus de Biguaçu SC, com a finalidade de subsidiar a
elaboração de minha dissertação de Mestrado, sob a orientação do professor Dr. Carlos
Ricardo Rossetto.
Solicito a sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário,
analisando cuidadosamente cada item. Não é necessário identificar-se. Sua resposta é
anônima, mas é essencial que reflita exatamente o seu modo de pensar. Não existem respostas
certas ou erradas. Tudo o que preciso é da sua opinião.
Os resultados deste estudo poderão auxiliar o Banco em suas ações de treinamento e
desenvolvimento gerencial, visando a uma maior efetividade no trabalho dos gerentes, com
reflexos positivos para a Organização.
Agradeço, com sinceridade, o seu apoio, colocando-me à sua disposição para
quaisquer esclarecimentos por intermédio dos telefones (48)3239-3200 ou E-mail
bundchen@bb.com.br
Atenciosamente,
Edson Bündchen
Aluno de Mestrado em Administração – Univali.
155
1. NADA IMPORTANTE 4. IMPORTANTE
2. MUITO POUCO IMPORTANTE 5. MUITO IMPORTANTE
3. POUCO IMPORTANTE 6. EXTREMAMENTE IMPORTANTE
1. DISCORDO TOTALMENTE 4. CONCORDO POUCO
2. DISCORDO MUITO 5. CONCORDO MUITO
3. DISCORDO 6. CONCORDO TOTALMENTE
INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS GERENCIAIS
Abaixo, uma relação de competências gerenciais descritas de forma a denotar a
atuação do gerente. Ao responder ao questionário abaixo, procure avaliar a importância de
cada competência, bem como responder sobre o grau de encorajamento de cada uma delas
pelo Banco.
Para efeito desta pesquisa, pondere:
- Competência: “Combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes,
expressadas no desempenho profissional, dentro de determinado contexto ou estratégia
organizacional”.
- Encorajamento:: “Grau de estímulo proporcionado pelo Banco para a utilização e/ou
desenvolvimento de determinada competência”.
INSTRUÇÕES PARA O PREENCHIMENTO DO QUESTIONÁRIO:
Coluna do grau de importância:
POR FAVOR, ASSINALE UM NÚMERO DE UM A SEIS, NA ESCALA À DIREITA DE
CADA ITEM, A FIM DE INDICAR O GRAU DE IMPORTÂNCIA DE CADA UMA DAS
COMPETÊNCIAS SUGERIDAS DE ACORDO COM A ESCALA ABAIXO:
Coluna do grau de encorajamento:
POR FAVOR, ASSINALE UM NÚMERO DE UM A SEIS, NA ESCALA À DIREITA DE
CADA ITEM, A FIM DE INDICAR O GRAU DE ENCORAJAMENTO DE CADA UMA
DAS COMPETÊNCIAS SUGERIDAS DE ACORDO COM A ESCALA ABAIXO:
156
Competências Grau de Importância Grau de Encorajamento
1. Compreender como a Agência interage
com seus clientes.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
2. Utilizar técnicas de planejamento
estratégico.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
3. Suportar pressões e adaptar-se situações e
contextos variados
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
4. Manter-se atento às oportunidades
negociais.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
5. Monitorar a qualidade e o andamento dos
serviços.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
6. Investir no fortalecimento da equipe.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
7. Focalizar a atenção nos resultados
financeiros.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
8. Conhecer técnicas de negociação.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
9. Tornar claro para a equipe os objetivos a
serem atingidos.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
10. Desenvolver uma rede estratégica de
informações.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
11. Gerenciar conflitos.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
12. Adaptar a linguagem à situação e ao
ouvinte.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
13. Procurar informações em várias fontes.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
14. Gerenciar a partir de recursos escassos.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
15. Ouvir os interlocutores com atenção.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
16. Orientar as ações pelas necessidades
dos clientes.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
17. Delegar atividades de trabalho.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
18. Manter os funcionários informados
sobre planos e processos.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
19. Estabelecer parcerias com clientes.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
20. Conhecer os produtos e serviços do
Banco.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
21. Comunicar-se de modo a gerar
entusiasmo.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
22. Integrar-se e participar de eventos da
comunidade (cidade).
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
23.
Executar pessoalmente rotinas
operacionais.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
24. Apresentar-se positivamente (confiante,
otimista).
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
25. Pesquisar sobre os costumes e tradições
que afetam a comunidade e clientes.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões
de trabalho.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
27. Desenvolver relacionamentos com
clientes e colegas.
1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6
157
POR FAVOR, RESPONDA À QUESTÃO ABAIXO:
28. Existem outras competências gerenciais que você utiliza na sua atuação como gerente de
agência?
DADOS DO RESPONDENTE
POR FAVOR, INFORME SEUS DADOS PESSOAIS, ASSINALANDO COM UM “X” A
RESPOSTA QUE REPRESENTA SUA SITUAÇÃO ATUAL OU COMPLETANDO AS
LACUNAS COM AS INFORMAÇÕES SOLICITADAS:
29. Nível de escolaridade
- 1º Grau
- 2º Grau
- Superior incompleto
- Superior completo
- Pós-graduação
30. Formação acadêmica
- Administração
- Contabilidade
- Economia
- Direito
- Outro: ___________________(especificar)
- Não se aplica (caso não tenha curso superior completo)
31. Sexo
- Masculino
- Feminino
32. Idade_________anos
33. Tempo Banco: _______anos
34. Média dos placares do Acordo de Trabalho da Agência, nos últimos quatro
semestres:________pontos. (SISBB – ACORDO 05-02)
POR FAVOR, VERIFIQUE SE TODOS OS ITENS FORAM RESPONDIDOS.
MUITO OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO
158
Apêndice D – Gráficos: caracterização demográfica
Figura 21 - Painel de gráficos de caracterização demográfica da Idade (Q32).
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 22 - Histograma da idade, com alisamento pelo método de Kernel (linha azul)
Fonte: Pesquisa do autor
159
Figura 23 - Boxplot da idade
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 24 - Gráfico de quantil-quantil normal da idade
Fonte: Pesquisa do autor
160
Figura 25 - Painel de gráficos de caracterização demográfica do Tempo de Banco (Q33)
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 26 - Histograma do Tempo de Banco, com alisamento pelo método de Kernel (linha azul)
Fonte: Pesquisa do autor
161
Figura 27 - Boxplot do Tempo de Banco
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 28 - Gráfico de quantil-quantil normal do Tempo de Banco
Fonte: Pesquisa do autor
162
Figura 29 - Painel de gráficos de caracterização demográfica da Média dos Placares (Q34)
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 30 - Histograma da Média dos Placares, com alisamento pelo método de Kernel (linha azul)
Fonte: Pesquisa do autor
163
Figura 31 - Boxplot da Média dos Placares
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 32 - Gráfico de quantil-quantil normal da Média dos Placares
Fonte: Pesquisa do autor
164
Figura 33 - Gráfico de barras da Formação acadêmica (Q30)
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 34 - Gráfico de barras do Sexo (Q31)
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 35 - Gráfico de barras do Tipo de Agência
Fonte: Pesquisa do autor
165
Figura 36 - Gráfico boxplot da idade pelo tipo de agência
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 37 - Gráfico boxplot do tempo de banco pelo tipo de agência
Fonte: Pesquisa do autor
166
Figura 38 - Boxplot das médias dos placares pelo nível de escolaridade
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 39 - Boxplot das médias dos placares pela formação acadêmica
Fonte: Pesquisa do autor
167
Figura 40 - Boxplot das médias dos placares pelo sexo
Fonte: Pesquisa do autor
Figura 41 - Diagrama de dispersão da idade pela média dos placares
Fonte: Pesquisa do autor
168
Figura 42 - Diagrama de dispersão do tempo de banco pela média dos placares
Fonte: Pesquisa do autor
169
Apêndice E – Tabelas: caracterização demográfica
Tabela 15 - Freqüências observadas para cada categoria do nível de escolaridade
1º. Grau 2º. Grau Superior
incompleto
Superior completo
Pós Graduação
0 (0%) 3 (1%) 26 (11%) 24 (10%) 189 (78%)
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 16 - Freqüências observadas para cada categoria de formação acadêmica
Administração Contabilidade Economia Direito Outro N/A
114 (47%) 35 (14%) 33 (14%) 42 (17%) 40 (16%) 10 (4%)
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 17 - Freqüências observadas para cada sexo
Masculino Feminino
224 (92%) 19 (8%)
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 18 - Freqüências observadas para cada categoria de tipo
Varejo Atacado Governo
171 (69%) 45 (18%) 32 (13%)
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 19 - Tabela cruzada dos níveis de escolaridade com o tipo de agência
Nível de Escolaridade Varejo Atacado Governo
1º. Grau 0 0 0
2º. Grau 3 0 0
Superior incompleto 21 4 1
Superior completo 18 5 1
Pós-graduação 127 35 27
Fonte: pesquisa do autor
Tabela 20 - Tabela cruzada do sexo com o tipo de agência
Sexo Varejo Atacado Governo
Masculino 155 43 26
Feminino 13 1 5
Fonte: pesquisa do autor
170
Apêndice F – Tabelas: análise descritiva
Tabela 21 - Média, desvio-padrão e tamanho amostral para as questões, segmentado por competências,
segundo o grau de importância
Competências Questões Média Dp N
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 5,77 0,47 246
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 5,73 0,48 247
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 5,56 0,63 248
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 5,48 0,64 246
Q24. Apresentar-se positivamente 5,46 0,67 248
Q18. Manter os funcionários informados 5,41 0,63 245
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 5,41 0,65 248
Q03. Suportar pressões e adaptar-se a situação 5,38 0,74 248
Social
Q12. Adaptar a linguagem à situação 5,17 0,75 247
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 5,52 0,62 247
Q11. Gerenciar conflitos 5,38 0,64 245
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos ser... 5,30 0,69 248
Q17. Delegar atividades de trabalho 5,29 0,63 247
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 5,28 0,78 247
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 5,28 0,81 246
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 5,22 0,72 247
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 4,79 0,82 247
T. Profissional
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 2,79 1,13 248
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 5,75 0,46 244
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 5,59 0,59 247
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 5,38 0,64 246
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 5,37 0,66 247
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 5,29 0,74 247
Q22. Integrar-se e participar de eventos 5,02 0,82 248
Q13. Procurar informações em várias fontes 4,99 0,79 248
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 4,96 0,76 246
Negócios
Q25. Pesquisar sobre os costumes e tradições que afetam a
comunidade e clientes
4,75 0,91 247
Fonte: Pesquisa do autor
171
Tabela 22 - Média desvio-padrão e tamanho amostral para as questões, segmentado por competências,
segundo o grau de encorajamento
Competências Questões Média
Dp N
Q09. Tornar claro para a equipe os objetivos 4,96 0,92 247
Q27. Desenvolver relacionamento com clientes 4,72 0,98 247
Q06. Investir no fortalecimento da equipe 4,67 1,05 242
Q18. Manter os funcionários informados 4,64 0,96 246
Q24. Apresentar-se positivamente 4,57 0,98 245
Q21. Comunicação de modo a gerar entusiasmo 4,54 1,03 247
Q15. Ouvir os interlocutores com atenção 4,49 1,12 246
Q12. Adaptar a linguagem à situação 4,34 1,00 246
Social
Q03.Suportar pressões e adaptar-se a situação 4,26 1,11 246
Q20. Conhecer os produtos e serviços do banco 5,09 0,84 246
Q05. Monitorar a qualidade e o andamento dos ser.. 4,77 0,94 245
Q14. Gerenciar a partir de recursos escassos 4,57 1,10 247
Q17. Delegar atividades de trabalho 4,54 0,99 246
Q08. Conhecer técnicas de negociação. 4,43 1,03 245
Q11. Gerenciar conflitos 4,38 1,09 243
Q02. Utilizar técnicas de planejamento estratégico 4,31 1,09 246
Q26. Utilizar técnicas para conduzir reuniões 4,02 1,12 246
T. Profissional
Q23. Executar pessoalmente rotinas operacionais 3,54 1,23 247
Q04. Manter-se atento as oportunidades negociais 5,00 0,89 245
Q07. Focalizar a atenção nos resultados financeiros 4,81 1,11 244
Q01. Compreender como a Agência interage com os clientes 4,72 0,95 245
Q19. Estabelecer parcerias com os clientes 4,61 1,01 247
Q13. Procurar informações em várias fontes 4,41 1,01 247
Q22. Integrar-se e participar de eventos 4,34 1,12 245
Q10. Desenvolver uma rede estratégica de informações 4,08 1,11 246
Q16. Orientar as ações pelas necessidades dos clientes 4,08 1,21 246
Negócios
Q25. Pesquisar sobre os costumes e tradições que afetam a
comunidade e clientes
4,00 1,16 246
Fonte: Pesquisa do autor
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo