Download PDF
ads:
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Departamento de Química
Programa de Pós-Graduação em Química
“Deposição atmosférica de espécies químicas em Ribeirão Preto,
uma importante cidade canavieira do estado de São Paulo”
Cidelmara Helena Coelho
Dissertação apresentada à
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Mestre em Ciências, Área: Química
RIBEIRÃO PRETO - SP
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
Departamento de Química
Programa de Pós-Graduação em Química
“Deposição atmosférica de espécies químicas em Ribeirão Preto,
uma importante cidade canavieira do estado de São Paulo”
Cidelmara Helena Coelho
Orientadora: Profa. Dra. Maria Lúcia Arruda de Moura Campos
Dissertação apresentada à
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Mestre em Ciências, Área: Química
RIBEIRÃO PRETO – SP
2007
ads:
FICHA CATALOGRÁFICA
Coelho, Cidelmara Helena
Deposição atmosférica de espécies químicas em Ribeirão
Preto, uma importante cidade canavieira do estado de São
Paulo. Ribeirão Preto, 2007.
74 p. : il. ; 30cm
Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto/USP – Área de concentração:
Química.
Orientadora: Maria Lúcia Arruda de Moura Campos.
1. Água de chuva. 2. Cátions majoritários. 3. COD.
4.
Metais traços. 5. Fluxos.
DEDICATÓRIA
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu o tivesse o
amor, eu não seria nada. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento
de todos os mistérios e de toda a ciência, se não tivesse o amor, eu não seria nada”
I Coríntios 13, 1-2.
Dedico esta dissertação aos meus queridos pais, Paulo e Edy, que sonharam
o meu sonho e, mais que sonhar, fizeram todo o possível, mediante as inúmeras
dificuldades que enfrentamos, para torná-lo realidade, acreditando na minha
capacidade mais do que eu mesma.
Aos meus irmãos Alessandra, Paulo e Robson, que sempre estiveram
presentes, mesmo quando fisicamente ausentes.
A vocês, todo o meu reconhecimento e gratidão.
AGRADECIMENTOS
“Tudo é do PAI!
Toda honra e toda a Glória,
É dele a vitória alcançada em minha vida.
Tudo é do PAI!
Frederico Cruz
Agradeço a Deus pela oportunidade que me foi concedida e por ter me
sustentado quando vacilei e me levantado quando caí. Os caminhos não são fáceis
e a estrada é longa, mas ao final desta etapa da jornada sou melhor do que fui antes
de iniciá-la.
A Profa. Dra. Maria cia Arruda de Moura Campos, por sua orientação,
paciência e compreensão, tornando-se uma orientadora amiga, que me ensinou
muitas coisas e deu inúmeras oportunidades de crescimento.
A Profa. Dra. Raquel Fernandes Pupo Nogueira, e suas alunas Patrícia Dametto
e Jeane Francisco, pela colaboração no desenvolvimento deste trabalho, com as
medidas de COD.
Ao Prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira e seus alunos, Rita, Ângelo, Alexandre,
que me auxiliaram nas medidas de absorção atômica em forno de grafite.
Aos meus queridos avós, Judite e Orlando, e minhas tias, Nilva e Elisete, que me
receberam em sua casa com todo carinho.
À minha tia Dinah, pela preocupação e carinho.
À minha amiga Mariana Rizzi Guzzo, por compartilhar comigo as alegrias e
dificuldades desta jornada.
À minha cunhada Fabíola, meu tio Cido e meu primo Tiago, pela consideração e
amizade.
Aos companheiros de grupo que iniciaram esta caminhada comigo, Adriana,
Rodrigo e Fernando.
Aos novos membros do grupo, Eduardo e Tahuana, que me auxiliaram no final
desta etapa.
Aos companheiros de laboratório, Amanda, Andréia, Dora, Eliana, Karina,
Leandro e Ulisses pela convivência harmoniosa.
Ao Valdir, pela disponibilidade e grande ajuda na absorção atômica em chama.
Ao Emerson e à Lâmia, pela paciência e disponibilidade em me ajudar com
problemas burocráticos.
A todos os funcionários, técnicos e professores que ajudaram na minha
formação, tornando possível a realização deste trabalho.
Às amigas Kátia e Renata, pela paciência e boa companhia na moradia.
A todos os amigos, novos e antigos, que fazem parte de mim e do que sou hoje.
À CAPES pela bolsa concedida para a realização deste trabalho.
À FAPESP pelo financiamento do projeto de pesquisa (processo 2003/01532-4).
viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix
LISTA DE TABELAS ...................................................................................................x
LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................... xii
RESUMO...................................................................................................................xiii
ABSTRACT .............................................................................................................. xiv
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................15
2. PARTE EXPERIMENTAL...................................................................................24
2.1. SÍTIO DE AMOSTRAGEM .....................................................................24
2.2. AMOSTRAGEM .....................................................................................25
2.3. PURIFICAÇÃO DE REAGENTES..........................................................26
2.4. LAVAGEM DE MATERIAL, FILTRAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE
AMOSTRAS .........................................................................................................26
2.5. EQUIPAMENTOS E ANÁLISES QUÍMICAS..........................................28
2.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS ..............................................................33
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................35
3.1. ESPÉCIES MAJORITÁRIAS ...................................................................35
3.2. METAIS TRAÇOS: Cd, Pb, Cu, Zn e Al ..................................................53
3.3. ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA) ..............................60
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................64
5. PLANEJAMENTO FUTURO ..............................................................................69
REFERÊNCIAS.........................................................................................................70
APÊNDICE.................................................................................................................74
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Esquema de coleta, filtração, armazenamento e análises realizadas em
amostras de água de chuva coletadas em Ribeirão Preto.VRC = voltametria de
redissolução catódica; EAAET = espectroscopia de absorção atômica com
atomização eletrotérmica...........................................................................................31
Figura 2. Distribuição dos eventos de chuva de Ribeirão Preto em faixas de
pH...............................................................................................................................35
Figura 3. pH versus condutividade das águas de chuva de Ribeirão Preto. A
curva foi adicionada visualmente...............................................................................39
Figura 4. Correlação linear obtida entre as concentrações de COD e a
condutividade em amostras de água de chuva coletadas em Ribeirão Preto...........39
Figura 5. Concentrações de COD medidas em amostras de água de chuva em
Ribeirão Preto de julho de 2004 a dezembro de 2006...............................................41
Figura 6. Concentrações de K+ e Na+ determinadas em água de chuva de
Ribeirão Preto. Os números de algumas amostras estão indicados..........................46
Figura 7. Concentrações de Ca2+ e Mg2+ determinadas em água de chuva de
Ribeirão Preto. Os números de algumas amostras estão indicados..........................47
Figura 8. Voltamogramas de pulso diferencial obtidos para água ultrapura
usando 20 µmol L
-1
de oxina e 0,01 mol L
-1
de tampão borato (concentrações finais)
após 2 minutos de pré-concentração em -1 V, com três adições de cobre de 0,50
nmol L
-1
, 1,50 nmol L
-1
e 3,50 nmol L
-1
. A concentração de cobre determinada foi de
0,79 nmo L
-1
...............................................................................................................53
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Média aritmética (MA) ± desvio padrão, concentrações mínimas e
máximas e médias ponderadas pelo volume (MPV) ± desvio padrão de pH,
condutividade, k, S cm
-1
), COD mol L
-1
) e cátions majoritários mol L
-1
),
medidos em amostras de água de chuva de Ribeirão Preto; o número de amostras
analisadas está entre parênteses..............................................................................36
Tabela 2. Comparação dos valores de pH (médios) obtidos nas chuvas de
Ribeirão Preto com os de outros locais do Brasil......................................................37
Tabela 3. Comparação das concentrações médias de cátions majoritários
observadas na água de chuva de Ribeirão Preto com as médias obtidas em outras
regiões do país..........................................................................................................51
Tabela 4. Fluxos anuais de deposição úmida de íons majoritários (mmol m
-2
ano
-1
)
52
Tabela 5. Concentrações individuais, médias e desvios padrões (S) de cobre
(nmol L
-1
) obtidos para o branco de reagentes contendo apenas (1) água ultrapura
(sistema Milli-Q – Millipore), oxina e tampão e (2) quando adicionado também de HCl
e NH
4
OH. 54
Tabela 6. Cobre dissolvido em amostras de chuva de Ribeirão Preto em nmol L
-1
.
Concentração de cobre para alíquotas individuais, dia aritmética, desvio padrão
(S) e desvio padrão relativo (RS) ..............................................................................55
Tabela 7. Média Aritmética (MA) ± desvio padrão, Média Geométrica (MG),
Média ponderada pelo Volume (MPV) ± desvio padrão, em nmol L
-1
, das
concentrações dos metais Cd, Pb, Cu, Zn e Al, medidas em água de chuva em
Ribeirão Preto. O número de amostras analisadas encontra-se entre parênteses,
sendo o mesmo para MPV
geral
, MA e MG..................................................................56
xi
Tabela 8. Concentrações médias, em nmol L
-1
, de metais traços em água de
chuva, obtidas em diferentes partes do mundo. O número de amostras, quando
fornecido, está entre parênteses...............................................................................57
Tabela 9. Fluxos de deposição por via úmida, em mg m
-2
ano
-1
..........................59
Tabela 10. Matriz de relevância das componentes principais obtidas para 82
amostras de água de chuva de Ribeirão Preto .........................................................61
Tabela 11. Matriz de relevância das componentes principais obtidas para 65
amostras de água de chuva de Ribeirão Preto .........................................................62
Tabela 12. Programa de aquecimento utilizado para determinação simultânea
de Pb e Cd nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto. Medidas para Pb
utilizaram lâmpadas de catodo oco, i = 10 mA e λ = 283,3 nm. Medidas para Cd
utilizaram lâmpada de descarga sem eletrodo, i = 230 mA e λ = 228,8 nm.
Realização de 4 injeções de 20 µL de amostra, para cada replicata, a uma
temperatura de 20 ºC ................................................................................................74
Tabela 13. Programa de aquecimento utilizado para determinação de Zn nas
amostras de água de chuva de Ribeirão Preto, utilizando lâmpada de descarga sem
eletrodo, i = 250 mA, λ = 213,9 nm, com injeção de 5 µL de amostra a uma
temperatura de 20 ºC ................................................................................................75
Tabela 14. Programa de aquecimento utilizado para determinação simultânea
de Cu e Al nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto utilizando lâmpadas de
catodo oco. Medidas de Cu utilizaram i = 10 mA e λ = 324,8 nm. Medidas de Al
utilizaram i = 4 mA e λ = 309,3 nm. Injeção de 20 µL de amostra, para cada
replicata, a uma temperatura de 20 ºC......................................................................75
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
CI Carbono Inorgânico
COD Carbono Orgânico Dissolvido
COT Carbono Orgânico Total
CT Carbono Total
EAAET Espectroscopia de Absorção Atômica com Atomização Eletrotérmica
FE Fator de Enriquecimento
LD Limite de Detecção
MPV Média Ponderada pelo Volume
PC Componente Principal
PCA Análise de Componentes Principais
VRC Voltametria de Redissolução Catódica
xiii
RESUMO
Amostras de água de chuva foram coletadas no campus da USP Ribeirão
Preto (RP) de agosto de 2002 a dezembro de 2005. Cerca de 84% (n=127) das
amostras apresentaram excesso de acidez, com pH médio de 5,12. Não se
observou sazonalidade no pH de acordo com o período de safra da cana. As
concentrações médias ponderadas pelo volume (MPV, em µmol L
-1
): K
+
3,9 (n=175),
Na
+
2,1 (n=172), Ca
2+
5,0 (n=175) e Mg
2+
1,8 (n=168), observadas em RP, bem
como seus fluxos de deposição por via úmida, foram ligeiramente mais elevadas que
aquelas encontradas em chuvas de regiões com características semelhantes. As
concentrações destes cátions foram sazonais, com um aumento no período de safra,
sendo que a maior diferença foi observada para o íon K
+
, indicando a sua importante
fonte na queima de biomassa. A sazonalidade do íon Ca
2+
aponta para a importância
das atividades agrícolas, intensificadas no período de safra, na emissão deste cátion
para a atmosfera. Observaram-se boas correlações lineares entre as concentrações
de Na
+
e K
+
(0,67626) e de Na
+
e Ca
2+
(0,77822), indicando a possibilidade de
emissões pirogênicas e a ressuspensão do solo serem fontes de emissão de Na
+
. A
MPV de carbono orgânico dissolvido (COD) encontrada em RP foi mais elevada que
na Amazônia, onde também intensa queima de biomassa, porém seus fluxos por
via úmida em ambas as regiões foram similares (0,42 molCm
-2
ano
-1
). As
concentrações de COD em RP apresentaram correlações lineares significativas com
K
+
(0,70341) e com Ca
2+
(0,61638), apontando para a queima de biomassa e
ressuspensão do solo como fontes importantes de emissão de carbono orgânico
para a atmosfera. As concentrações de COD nas chuvas de Araraquara foram ainda
maiores que em RP, indicando pronunciadas fontes locais naquela cidade. As MPV
(nmol L
-1
) de Cd 0,54 (n=56), Pb 3,02 (n=94) e Cu, 19,9 (n=98), encontradas nas
chuvas de RP foram semelhantes a regiões urbanas e industriais do hemisfério
norte, enquanto a concentração de Al (448 nmol L
-1
, n=126) foi menor, e a de Zn
(405 nmol L
-1
, n=120) apresentou-se dentro das faixas de concentrações relatadas
nestes locais. Com exceção de Cd, os demais metais analisados (Pb, Cu, Zn e Al)
também apresentaram concentrações significativamente maiores (P=0,05) nas
chuvas durante o período de safra, indicando que a queima de biomassa e as
atividades agrícolas podem aumentar a emissão destes metais para a atmosfera de
RP. A correlação linear significativa entre Pb e Ca
2+
(0,53845), indica a participação
da ressuspensão do solo no aporte atmosférico de Pb em RP, enquanto a ausência
de correlação linear entre Zn e K
+
(0,20182) parece indicar a presença de outras
fontes significativas de Zn para a atmosfera de RP, além da queima de biomassa. O
cálculo do fator de enriquecimento demonstra que Cd, Zn, Pb e Cu estão
enriquecidos com relação ao solo na chuva de RP, sugerindo que estes podem ter
fontes antrópicas locais e / ou distantes. A análise preliminar de componentes
principais não esclareceu o peso das diferentes fontes de emissão atribuídas neste
trabalho.
Palavras-chave: água de chuva, cátions majoritários, COD, metais traços, fluxos
xiv
ABSTRACT
Rain water samples were collected based on events at the University of São
Paulo - campus Ribeirão Preto - from August 2002 to December 2005. About 84%
(n=127) of the samples had excess of acidity, with an average pH of 5.12. There was
no correlation between the pH values and the sugar cane harvest period. The
Volume Weighed Means (VWM, in µmol L
-1
) for K
+
3.9 (n=175), Na
+
2.1 (n=172),
Ca
2+
5.0 (n=175) and Mg
2+
1.8 (n=168), and their wet fluxes in RP were slightly
higher than those reported to regions with similar characteristics. The concentrations
for these cations were seasonal, with higher values during the harvest period. The
largest difference was observed for K
+
, indicating its important source in the biomass
burning activity. The seasonality showed for Ca
2+
is probably related to the higher soil
resuspension during the more intense agricultural activities. A good linear correlation
observed between Na
+
and K
+
(0.67626) and between Na
+
and Ca
2+
(0.77822),
suggest that Na
+
may have important pirogenic as well as soil dust sources. The
VWM for Dissolved Organic Carbon (DOC) in RP was higher than that reported for
rainwater in the Amazon region (where the biomass burning is also intense);
however, the wet fluxes from both sites were very similar (0.42 mol C m
-2
ano
-1
).
DOC concentrations were well correlated with K
+
(0.70341) and Ca
2+
(0.61638),
suggesting that the biomass burning as well as soil dust can be important sources of
organic carbon to the atmosphere. DOC concentrations in rainwater from Araraquara
were even higher than those for RP, showing a high local source of organic carbon.
The VWM (nmol L
-1
) for Cd 0.54 (n=56), Pb 3.02 (n=94) and Cu 19.9 (n=98) found in
the rainwater from RP were similar to urban and industrialized regions of the
Northern Hemisphere, while for Al (448 nmol L
-1
, n=126) it was lower, and for Zn (405
nmol L
-1
, n=120) the VWM was within the range reported for such areas. Except for
Cd, all the other metals measured (Pb, Cu, Zn and Al) also showed higher
concentrations (P=0.05) in rainwater samples during the harvest period, suggesting
that biomass burning and intensive agricultural activities can increase these species
concentrations in the atmosphere. The significant linear correlation between Pb and
Ca
2+
(0.53845) indicates that soil inputs can be of relevance for Pb atmospheric
inputs in RP. On the other hand, the absence of linear correlation between Zn and K
+
(0.20182) seems to indicate the presence of other important sources for Zn to the
atmosphere besides biomass burning. The calculated Enrichment Factor showed
that Cd, Zn, Pb and Cu are anomalously enriched in RP rainwater in relation to soil,
suggesting these metals may have antroprogenic local sources as well as distant
ones. The preliminary statistical analysis of principal components did not clarify the
weight of the different sources of emission attributed in this work.
Keywords: rainwater, major ions, DOC, trace metals, wet fluxes
1. INTRODUÇÃO
A atmosfera é um compartimento onde ocorrem diversos processos químicos
e físicos, sendo que a dinâmica dos mesmos é bastante complexa, envolvendo
processos como a emissão, transformação química, transporte e deposição de
substâncias químicas.
Muitas são as atividades antrópicas que agem como fonte de matéria
orgânica, metais, gases e material particulado para a atmosfera, como por exemplo,
a queima de biomassa, processos de combustão a altas temperaturas, queima de
combustíveis fósseis, entre outras. Essas atividades apresentam um impacto nos
ciclos globais e regionais de muitos elementos, porém, ainda são escassos os
conhecimentos sobre as possíveis conseqüências dessas alterações no clima, no
ciclo hidrológico, no solo, e na saúde humana (DEBOUDT; FLAMENT; BERTHO,
2004).
INTRODUÇÃO
16
A remoção das substâncias emitidas para a atmosfera pode ocorrer por
processos diretos, deposição seca e deposição úmida, e um processo indireto, o
qual se refere às reações químicas, as quais conduzem à transformação de uma
dada substância química em outra diferente (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2004).
Nos processos de remoção, transformação e dispersão de substâncias emitidas
para a atmosfera devem-se considerar ainda os fatores meteorológicos como
ventos, temperatura, umidade relativa, intensidade da radiação solar, intensidade da
chuva, entre outros, os quais apresentam um papel importante nestes processos
(HU; BALASUBRAMANIAN; WU, 2003; SHAH; SHAHEEN; JAFFAR, 2006). Os
processos secos envolvem a deposição de substâncias químicas nas superfícies,
como solo, água, vegetação, edificações.
A água da chuva tem um importante papel na remoção de substâncias
solúveis e insolúveis da atmosfera, sendo que a determinação da sua composição
química enriquece o entendimento da dispersão local e regional de contaminantes
atmosféricos e seu potencial impacto nos ecossistemas (MOULI; MOHAN; REDDY,
2005; KULSHRESTHA et al., 2003). Neste contexto, melhorar nossos
conhecimentos sobre os processos químicos que ocorrem na atmosfera é de
interesse tanto para a preservação do meio ambiente como para a saúde pública.
A deposição úmida é caracterizada por dois processos (BERNER; BERNER,
1996):
"Rainout": a remoção de espécies atmosféricas está associada com processos
que ocorrem nas nuvens.
"Washout": as espécies químicas o removidas da atmosfera por arraste durante
o percurso das gotas de chuva.
Considerando exclusivamente o equilíbrio com o CO
2
gasoso presente na
INTRODUÇÃO
17
atmosfera, a água de chuva deveria apresentar um valor de pH ao redor de 5,6
(BERNER; BERNER, 1996; FLUES et al., 2002; KULSHRESTHA et al., 2003).
Todavia, mesmo em regiões não poluídas podem-se encontrar valores de pH ao
redor 5,0, variando como função da eficiência de “lavagem” (washout) da atmosfera
pela água de chuva, e também das emissões naturais de ácidos carboxílicos. Além
disso, atmosferas altamente poluídas podem apresentar chuvas com pH próximo de
5,6, se ocorrer a presença de espécies alcalinas juntamente com as ácidas.
A presença de substâncias contendo enxofre na chuva foi relatada por Robert
Boyle no início do século XVII sendo que no século XIX Robert Smith associou o
aumento da acidez da água de chuva com emissões antrópicas (ROCHA et al.,
2003). Hoje se sabe que a acidez da água de chuva está associada,
predominantemente, à presença de ácidos fortes, como sulfúrico e nítrico, e ácidos
orgânicos como acético e fórmico, originados da oxidação de compostos de enxofre,
nitrogênio e carbono (hidrocarbonetos), provenientes principalmente da queima de
combustíveis fósseis (ROCHA et al., 2003; MIRLEAN; VANZ; BAISCH, 2000).
Tanto a deposição úmida como a deposição seca contribuem para causarem
os efeitos comumente associados à chuva ácida, sendo alguns exemplos a corrosão
de materiais, os efeitos diretos à saúde humana que ocorrem através da inalação de
partículas ou gases ácidos, individualmente ou combinados. Os gases ácidos o
potencialmente perigosos para o trato respiratório, podendo causar dificuldade para
respirar e tornar as pessoas mais susceptíveis a bronquites e pneumonias. Efeitos
indiretos da deposição ácida resultam da ingestão de alimentos ou água
contaminados. A mobilização de metais pesados por águas acidificadas aumenta o
risco de exposição a alimentos contaminados como, por exemplo, peixe fresco
(LONGHURST et al., 1993). A extensão com que a deposição ácida afeta a biota de
INTRODUÇÃO
18
uma área depende da composição do solo e das rochas no local. Solos com menor
capacidade de neutralização da acidez, como granito ou quartzo, são mais
fortemente afetados (BAIRD, 2002).
Os cátions majoritários dissolvidos em água de chuva são derivados
principalmente de partículas no ar. As fontes naturais de Na
+
, Mg
2+
, Ca
2+
e K
+
na
chuva são marinha (aerossóis de sais marinhos), terrestre (solo, poeira, emissões
biológicas) e fontes antrópicas (industrial e queima de biomassa). O Na
+
é o cátion
dominante em áreas onde a chuva está sob influência marinha, enquanto o Ca
2+
é o
cátion dominante em chuvas continentais (BERNER; BERNER, 1996).
As razões entre íons podem ser usadas para comparar a composição das
chuvas com aquela dos sais marinhos ou da crosta terrestre. Usando as bem
conhecidas concentrações de espécies químicas na água do mar, a contribuição de
íons derivados de sais marinhos para a precipitação pode ser determinada
assumindo-se que todo Na
+
(espécie de referência) e a quantidade proporcional de
outros íons, são derivados de sais marinhos. Na Bacia Amazônica, onde a poluição
é mínima, a poeira do solo é baixa, e os ventos que prevalecem vêm do Oceano
Atlântico, mesmo a 2000 km do mar, foram encontradas razões iônicas nas chuvas
locais próximas à proporção dos sais marinhos, demonstrando o eficiente transporte
a longa distância (BERNER; BERNER, 1996).
A contribuição de sais marinhos para Ca
2+
em chuvas continentais é muito
pequena, já que a razão Ca/Cl em sais marinhos é apenas 4% da razão Na/Cl. Os
íons Ca
2+
vêm principalmente da dissolução de CaCO
3
de partículas do solo. CaCO
3
dissolve-se na chuva para formar HCO
3
-
e Ca
2+
. Deste modo a acidez da chuva
pode ser neutralizada pelo CaCO
3
presente na poeira do solo, produzindo CO
2
e
ânions ácidos. O Ca
2+
na chuva também pode vir de CaSO
4
da poeira do solo e
INTRODUÇÃO
19
raramente de CaCl
2
, mas nenhuma destas fontes neutralizará a acidez. Fontes
antrópicas de Ca
2+
para a chuva também podem ser a indústria de fabricação de
cimento, queima de combustíveis e de biomassa (BERNER; BERNER, 1996). O
carvão contém cerca de 0,4% de Ca
2+
e 3% de S, mas os elementos são geralmente
separados no ar depois da queima, uma vez que Ca
2+
aparece na cinza e cai na
chuva próximo a fonte, enquanto o S é liberado como gás SO
2
e se dispersa sobre
uma grande área (BERNER; BERNER, 1996).
muitas origens possíveis para o K
+
não marinho na chuva continental,
incluindo (1) dissolução de partículas do solo; (2) K
+
contido em fertilizantes, o qual
contribui para o K
+
das partículas do solo; (3) pólen e sementes; (4) aerossóis
biogênicos; e (5) queima de biomassa, particularmente em áreas tropicais. A
importância relativa destas fontes varia fortemente de local para local (BERNER;
BERNER, 1996). Visto que o K
+
está presente no citoplasma de plantas, estas ao
serem queimadas liberam grandes quantidades de partículas enriquecidas com este
elemento, o mesmo pode ser utilizado como traçador de queima de biomassa em
locais onde esta atividade é intensa (ANDREAE, 1983).
Processos antrópicos como atividades industriais, queimas de combustíveis
fósseis e biomassa estão relacionados com o acréscimo de metais como Pb, Cd, Zn
e Cu, para a atmosfera (DEBOUDT; FLAMENT; BERTHO, 2004). Estes metais
podem provocar efeitos adversos no ambiente e na saúde humana, dependendo de
sua biodisponibilidade e toxicidade em vários compartimentos ambientais. Durante
as últimas três décadas numerosos estudos foram realizados para avaliar o destino
e o comportamento destes metais no ambiente, tanto quanto seus efeitos ambientais
(PACYNA; PACYNA, 2001).
INTRODUÇÃO
20
Muitos metais traços estão presentes em várias matérias-primas, tais como
combustíveis fósseis e minérios de metais, tanto quanto em produtos industriais.
Alguns metais traços evaporam inteiramente ou parcialmente de matérias-primas
durante a produção a altas temperaturas de bens industrializados, queima de
combustíveis, incineração de lixo municipal ou industrial, entrando no ar ambiente
com os gases de exaustão. Emissões de outros compartimentos ambientais (aterros,
lagoas de esgoto, entre outros) também podem resultar na entrada de metais traços
na atmosfera. Depois de emitidos para a atmosfera os metais traços estão sujeitos
ao transporte em massas de ar e a migração através dos ecossistemas, o que causa
perturbação de seus ciclos biogeoquímicos não apenas em uma escala local, mas
também em escala regional e até mesmo global (PACYNA; PACYNA, 2001).
Podem-se encontrar locais onde as concentrações de metais são maiores
que aquela esperada, mas isso pode ocorrer devido ao fato de o solo destes locais
ser originado de rochas com uma concentração anormal de certos metais
(ALLOWAY; AYRES, 1993). Emissões de metais traços durante várias atividades
humanas, principalmente em partículas finas, são aceitas como sendo a maior causa
do aumento de suas concentrações na atmosfera. Para se estimar a contribuição de
uma fonte para um metal na atmosfera é comum calcular-se o fator de
enriquecimento, utilizando-se uma espécie de referência cuja fonte seja bem
específica. O Al e Fe são comumente utilizados para inferir a contribuição do solo.
Existem algumas aproximações envolvidas no cálculo do fator de enriquecimento, e
este deve ser considerado como uma indicação da ordem de magnitude da
contribuição do solo (CHESTER, 1990). Muitos metais podem ser localmente
enriquecidos como também podem mostrar enriquecimento em escala regional ou
global. O transporte a longas distâncias pelas massas de ar de contaminantes
INTRODUÇÃO
21
resulta no enriquecimento das concentrações de metais longe das regiões fontes,
por exemplo, no Ártico (PACYNA; PACYNA, 2001).
A deposição de metais traços em áreas que rodeiam fontes de emissões,
tanto quanto na rota de deposição durante o transporte, tem alcançado níveis que
em certas regiões ultrapassam o máximo valor permitido em solos e águas naturais.
Depois de entrarem nos ambientes aquáticos e terrestres os metais traços podem se
acumular em solos. O consumo de metais traços por organismos aquáticos e
terrestres e o metabolismo deles podem levar a bioacumulação de certos metais
traços no ambiente (PACYNA; PACYNA, 2001). Compreender possíveis
perturbações biogeoquímicas de metais traços é de crucial interesse porque muitos
desses elementos são potencialmente tóxicos para a vida marinha e terrestre acima
de certos níveis de concentração (DEBOUDT; FLAMENT; BERTHO, 2004).
O carbono orgânico dissolvido (COD) é um importante componente de águas
atmosféricas, sendo que suas concentrações podem ser maiores que aquelas dos
ácidos nítrico e sulfúrico combinados (KIEBER et al., 2002; WILLEY et al., 2000). Um
dos mais significativos aspectos da geoquímica do COD na troposfera é o seu
importante papel na remoção de carbono não completamente oxidado da atmosfera,
por deposição úmida (WILLEY et al., 2000) além da complexação com metais
presentes na atmosfera, mantendo-os na forma dissolvida (SPOKES; CAMPOS;
JICKELLS, 1996; MIGLIAVACCA et al., 2004). A remoção do carbono orgânico da
atmosfera pela chuva tem um importante papel no ciclo global do carbono e deve ser
considerada juntamente com outros parâmetros em modelos de aquecimento global
(KIEBER et al., 2002). A queima de biomassa pode aumentar a concentração de
COD na atmosfera e, desta forma provocar mudanças no ciclo biogeoquímico do
carbono.
INTRODUÇÃO
22
A composição química da água de chuva varia de local para local, de região
para região devido à influência de fontes locais (KULSHRESTHA et al., 2003). Para
se avaliar os processos químicos que ocorrem na atmosfera é necessário quantificar
e investigar as possíveis fontes das substâncias aportadas, em conjunto com
possíveis correlações entre elas, para que se torne possível traçar um panorama
regional.
O estado de São Paulo apresenta 3.084.752 ha plantados com cana-de-
açúcar, o que corresponde a 53% de toda a área plantada no país, sendo que a
microrregião Geográfica de Ribeirão Preto, composta por 16 municípios e com uma
área total de 6.008 km
2
, apresenta cerca de 51% desta área destinados ao plantio
de cana de açúcar, correspondendo a aproximadamente 10% da área plantada no
estado de São Paulo (IBGE 2005). A queima da palha de cana-de-açúcar, feita
antes da colheita, é uma prática ainda comum na região (cerca de 70%), pois tem o
objetivo de facilitar a colheita manual. Como discutido por Lara et al. (2001), são
queimadas aproximadamente 20 toneladas de folhas por hectare de cana-de-açúcar
plantada. Essa queima emite uma variedade de substâncias químicas para a
atmosfera durante os sete meses de safra de cada ano. Considerando que a região
de Ribeirão Preto é essencialmente canavieira, e que grande parte da palha da
cana-de-açúcar é queimada, é de grande importância estimar o aporte das diversas
espécies químicas na atmosfera da região e avaliar como os processos atmosféricos
são influenciados pela queima da palha.
Existe relativamente pouca informação disponível sobre a química da
atmosfera de áreas tropicais e subtropicais quando comparadas à áreas
temperadas. Algumas pesquisas em áreas tropicais têm sido realizadas em áreas
urbanas (FORNARO; GUTZ, 2003; AL-MOMANI; YA’QOUB; AL-BATAINEH, 2002;
INTRODUÇÃO
23
MIGLIAVACCA et al., 2005; MIRLEAN; VANZ; BAISCH, 2000), em regiões
canavieiras (LARA et al., 2001; ALLEN; CARDOSO; da ROCHA, 2004), entre
outras. Sob este cenário, a proposta do presente estudo é caracterizar a composição
química da água de chuva em Ribeirão Preto, quantificar os fluxos de deposição
úmida de espécies metálicas, matéria orgânica dissolvida e íons majoritários em
Ribeirão Preto e procurar identificar suas fontes para a atmosfera da região.
2. PARTE EXPERIMENTAL
2.1. SÍTIO DE AMOSTRAGEM
A cidade de Ribeirão Preto situa-se no nordeste do estado de São Paulo, à
313 km da capital, a uma altitude de 518 m com latitude 21º 10’ 42’’e longitude 47°
48’ 24". O clima da cidade é tropical com verão chuvoso e inverno seco, sendo 25 ºC
a temperatura média de verão e 19 ºC a temperatura média de inverno, com volume
de chuva anual de 1481,3 mm (média histórica 70 anos).
Ribeirão Preto faz limite com as cidades de Guatapará, Cravinhos,
Jardinópolis, Serrana, Dumont, Sertãozinho e Brodósqui. Algumas das principais
cidades do interior de São Paulo, como Araraquara, São Carlos, Barretos, Bauru,
Franca, Limeira, Campinas, São José do Rio Preto, e de Minas gerais, Uberaba,
Uberlândia, entre outras, se encontram em um raio em torno de 200 km de Ribeirão
Preto.
PARTE EXPERIMENTAL
25
2.2. AMOSTRAGEM
De agosto/2002 a dezembro/2005 foram coletadas amostras de água de
chuva, na forma de eventos, no campus da USP de Ribeirão Preto, as quais foram
divididas em períodos, a saber: 1) período de entressafra, que vai de novembro a
março e 2) período de safra, que vai de abril a outubro. Esta divisão foi feita
considerando-se, além dos índices pluviométricos, o período de queimada da palha
da cana-de-açúcar, que ocorre predominantemente no período de seca.
Para a coleta das amostras de chuva inicialmente utilizou-se um coletor
manual, consistindo de funil plástico (25 cm de diâmetro) acoplado, por meio de um
encaixe de teflon, a um frasco de polietileno de alta densidade coberto com capa
plástica, sendo aberto no início de cada evento de chuva e fechado imediatamente
após o término da chuva. As amostras coletadas desta forma foram destinadas à
determinação de metais traços e, posteriormente, um outro sistema de coleta,
idêntico a este, foi montado para coleta de amostras destinadas à determinação de
íons majoritários, pH e condutividade.
A partir de 12/06/2004, quando se passou a coletar também amostras para
determinação de COD, iniciou-se a utilização de coletor automático construído nas
oficinas do campus da USP de Ribeirão Preto (BALBO; RODRIGUES; CAMPOS,
2005). Este coletor se abre com o início da chuva e se fecha ao final do evento
(sistema de resistências elétricas que acionam a abertura do coletor quando
molhadas e acionam o seu fechamento quando secam). No sistema automático são
colocados um funil de vidro, com 23 cm de diâmetro, para coleta de amostras
destinadas à determinação de COD e o outro de polietileno para amostras
destinadas à determinação de íons majoritários, pH e condutividade (
Figura 1
).
PARTE EXPERIMENTAL
26
2.3. PURIFICAÇÃO DE REAGENTES
O HCl e o NH
4
OH utilizados nas análises foram purificados por destilação
isotérmica (CAMPOS; BENDO; VIEL, 2002). Para a padronização dos reagentes
purificados utilizaram-se soluções de HCl previamente padronizado com solução de
Na
2
CO
3
e solução de NaOH previamente padronizada com solução de HCl.
2.4. LAVAGEM DE MATERIAL, FILTRAÇÃO E ARMAZENAMENTO DE
AMOSTRAS
Todos os frascos e funis utilizados na coleta e armazenagem de chuva foram
cuidadosamente lavados para remoção de resíduos. Os frascos e funis de polietileno
de alta densidade para a coleta e armazenamento de amostras destinadas à
determinação de íons majoritários, pH e condutividade foram lavados com água
corrente, detergente comercial diluído e escova. A seguir foram enxaguados e
completamente imersos em solução de detergente comercial 2% por cinco dias;
foram então abundantemente enxaguados com água corrente, água desionizada e
água ultrapura (sistema Milli-Q – Millipore). Cada frasco foi tampado, embalado
individualmente em saco plástico limpo e um grupo de cerca de cinco frascos foi
agrupado em um saco plástico maior. Os funis de coleta também foram
armazenados em sacos plásticos.
Os frascos e funis de polietileno de alta densidade utilizados para coleta e
armazenamento de amostras destinadas à determinação de metais traços foram
submetidos ao mesmo processo de lavagem anterior, sendo que após o enxágüe
com água desionizada foram submersos em ácido nítrico 5 mol L
-1
em recipiente
plástico com tampa por no nimo cinco dias; a seguir foram enxaguados
PARTE EXPERIMENTAL
27
exaustivamente com água desionizada e com água ultrapura (sistema Milli-Q
Millipore); Estes frascos foram embalados em sacos plásticos individuais e
agrupados em saco plástico maior (CAMPOS; BENDO; VIEL, 2002).
Os frascos e funis de vidro, utilizados na coleta e armazenamento de
amostras destinadas à determinação de carbono orgânico dissolvido (COD) foram
lavados com água corrente, detergente comercial diluído e escova, sendo
enxaguados exaustivamente com água corrente e com água desionizada; a seguir
foram imersos em reagente de Fenton (1 mmol L
-1
Fe(NH
4
)
2
(SO
4
)
2
.6H
2
O e 100 mmol
L
-1
H
2
O
2
), contido em recipiente de vidro tampado com vidro de relógio, onde
permaneceram por no mínimo 2 horas, ao término das quais foram enxaguados à
exaustão com água desionizada e água ultrapura (sistema Milli-Q – Millipore) e
guardados em recipiente plástico revestido com papel alumínio.
Todas as amostras foram filtradas dentro de um período de no máximo 24
horas após a coleta. Amostras para determinação de íons majoritários / pH /
condutividade e de metais traços foram filtradas em sistema de polietileno de 25 mm
de diâmetro, previamente lavados da mesma forma que os frascos de coleta,
utilizando membranas de filtração de acetato de celulose porosidade de 0,45 µm
(Whatman ou Millipore). No caso das amostras destinadas à determinação de íons
majoritários, pH e condutividade, primeiramente foi filtrada uma alíquota de 30 mL de
água ultrapura (sistema Milli-Q – Millipore), seguida por pelo menos 10 mL de
amostra, dependendo do volume de chuva, os quais foram desprezados, e somente
então a amostra filtrada foi armazenada, sendo estocada a -18 ºC até a análise.
Para filtração das amostras destinadas à determinação de metais traços, para
limpeza da membrana, inicialmente foram filtrados 30 mL de HCl 1 mol L
-1
, seguidos
por 30 mL de água ultrapura (sistema Milli-Q – Millipore) e cerca de 30 mL de
PARTE EXPERIMENTAL
28
amostra, os quais foram desprezados. Então se filtrou a amostra de chuva que foi
acidificada até pH ~ 2 com HCl previamente purificado e padronizado; esta amostra
permaneceu estocada a -18 ºC até a análise (CAMPOS; BENDO; VIEL, 2002).
Amostras para determinação de COD foram filtradas em sistema de aço
inoxidável, pré-lavado com reagente de Fenton, utilizando microfibras de vidro
borosilicato sem resina ligante (Millipore AP40), com diâmetro de 25 mm,
previamente calcinadas em mufla a 550 ºC por 5 horas (KAPLAN, 1994).
Inicialmente filtrou-se uma alíquota de 100 mL de água ultrapura (sistema Milli-Q
Millipore), seguida por uma alíquota de pelo menos 10 mL de amostra, as quais
foram desprezadas. A amostra filtrada foi então armazenada. A boca do frasco de
armazenagem foi recoberta com fita de Teflon do tipo “veda-rosca”, tampada com
batoque e fechada com tampa plástica com rosca. Este frasco foi recoberto com
papel alumínio e acondicionado dentro da geladeira por no máximo 7 dias até a
análise (WILLEY et al., 2000; DAMETTO; NOGUEIRA; CAMPOS, 2004).
2.5. EQUIPAMENTOS E ANÁLISES QUÍMICAS
O pH de cada amostra foi medido usando um pHmetro da marca Micronal
(modelo B 474) com eletrodo combinado de vidro e sensor de temperatura. Para a
calibração, duas soluções padrões com pH 4,00 e 7,00 foram utilizadas. Foi utilizada
solução de HCl ~ 1,0 x 10
-4
mol L
-1
previamente padronizada para corrigir o desvio
produzido pelo potencial de junção líquida na determinação do pH de soluções com
baixa força iônica (DURST; DAVISON; KOCH, 1994). A resolução da medida foi de
0,01 unidade de pH. A condutividade foi medida com condutivímetro digital da marca
Metler Toledo, modelo SevenEasy, com sensor de condutividade e compensação
automática de temperatura, apropriado para amostras de baixa condutividade(InLab
PARTE EXPERIMENTAL
29
720).
Foi utilizado na determinação dos íons majoritários um espectrofotômetro de
absorção / emissão atômica em chama, da marca Shimadzu, modelo AA680, tendo
como combustível a mistura ar comprimido/acetileno. As análises de Na
+
e K
+
foram
realizadas por espectroscopia de emissão, em 589,0 e 766,5 nm respectivamente,
enquanto para determinação de Mg
2+
e Ca
2+
utilizou-se a técnica da absorção
atômica, nos comprimentos de onda 285,2 e 422,7 nm, respectivamente. Os
padrões para construção das curvas analíticas foram preparados pela diluição de
solução estoque 1000 ppm (Across) de cada um dos metais. O equipamento foi
programado para realizar três aspirações para cada medida, tanto de padrões como
de amostras.
As análises das concentrações de carbono orgânico dissolvido (COD) foram
realizadas no Instituto de Química da UNESP Araraquara em colaboração com a
Profa Dra Raquel F. P. Nogueira. Foi utilizado um analisador de carbono do tipo
TOC Shimadzu 5000 A. Foram construídas curvas de calibração com padrão de
ftalato de potássio para determinação de carbono total (CT) e de carbono inorgânico
(CI), sendo o carbono orgânico total (COT) a diferença entre CT e CI. Como as
amostras de chuva foram previamente filtradas é feita a determinação da
concentração do carbono orgânico dissolvido (COD). Foram transferidas alíquotas
de amostra para béquers devidamente cobertos com filme de alumínio, de onde
foram aspiradas para o analisador, programado para fazer três injeções em cada
etapa (CT e CI).
Para a determinação de metais traços utilizou-se a técnica de espectroscopia
de absorção atômica com atomização eletrotérmica em forno de grafite (EAAET),
equipamento modelo SIMAAS-6000 (Perkin Elmer) equipado com amostrador
PARTE EXPERIMENTAL
30
automático e empregando corretor de fundo por efeito Zeeman longitudinal inverso.
As curvas analíticas foram construídas com padrões preparados pela diluição de
soluções estoque (Merck) dos metais de interesse e acidificados com o mesmo HCl
purificado utilizado nas amostras. Tanto para a elaboração da curva analítica como
para as amostras, o equipamento foi programado para realizar três medidas e
fornecer a média como resultado. Os metais Pb e Cd foram determinados
simultaneamente, sendo realizadas 4 injeções antes da atomização devido à baixa
concentração destes metais nas amostras. Em cerca de metade das amostras foi
utilizada uma solução de 0,5% de NH
4
H
2
PO
4
e 0,03% de Mg(NO
3
)
2
como
modificador químico e na outra metade das amostras o modificador químico utilizado
foi uma solução de 5 mg L
-1
de Pd e 2 mg L
-1
de Mg. O uso de diferentes
modificadores químicos nestas medidas deveu-se tão somente à disponibilidade de
um ou de outro, sem qualquer relação com o desempenho de ambos. As
determinações de Cu e Al também foram realizadas simultaneamente, sem a
necessidade de utilizar qualquer modificador químico. Os programas de
aquecimentos utilizados, foram escolhidos tendo como base a literatura da área,
otimizados pelo grupo do prof. Dr. Pedro Vitoriano de Oliveira, do Instituto de
Química da USP São Paulo, onde as medidas foram realizadas. Para muitas
amostras a técnica de espectroscopia de absorção atômica com atomização
eletrotérmica em forno de grafite não foi capaz de detectar o íon Cu e nestes casos
estas amostras foram analisadas por voltametria de redissolução catódica (VRC)
adsortiva com adição de padrão. O sistema voltamétrico utilizado é composto de
potenciostato Autolab tipo III, sistema Metrohm 663 VA Stand, com eletrodo de
gota pendente de mercúrio, eletrodo de referência de Ag/AgCl e eletrodo auxiliar de
carbono vítreo; e interface Autolab IME (GPES), controlados por computador. As
PARTE EXPERIMENTAL
31
amostras foram irradiadas com luz ultravioleta por 4 horas para destruição de
complexos organo-metálicos estáveis (CAMPOS et al., 2001). Uma alíquota de 10
mL de amostra irradiada foi inicialmente neutralizada com NH
4
OH 7,8 mol L
-1
, e
foram adicionados 100 µL de H
3
BO
3
1,0 mol L
-1
e 100 µL do ligante oxina 2,0 x 10
-3
mol L
-1
(CAMPOS; van den BERG, 1994). O tempo de pré-concentração variou de 1
a 5 minutos, de acordo com a qualidade do pico obtido. As condições voltamétricas
utilizadas foram: pulso diferencial, amplitude do pulso de 50 mV, velocidade de
varredura de 20 mV s
-1
, potencial de adsorção e de deposição -1 V, potencial inicial
de - 250 mV e potencial final de - 600 mV.
PARTE EXPERIMENTAL
32
Coletor Automático 1
Coletor Automático 2
Sistema de Polietileno
Filtração: acetato de celulose 0,45 µm
HCl até pH ~ 2
Armazenamento: -18 ºC
EAAET
Cd, Pb, Cu, Zn, Al
VRC
Cu
Sistema de PolietilenoSistema de Vidro
Filtração: fibra de vidro Millipore
AP40
Armazenamento: geladeira (máx.
7 dias)
Combustão a alta
temperatura
COD
pH e
condutividade
K, Na, Ca, Mg
Absorção /
Emissão Atômica
Chuva
Filtração: acetato de celulose 0,45 µm
Armazenamento: -18 ºC
Coletor Automático 1
Coletor Automático 2
Sistema de Polietileno
Filtração: acetato de celulose 0,45 µm
HCl até pH ~ 2
Armazenamento: -18 ºC
EAAET
Cd, Pb, Cu, Zn, Al
VRC
Cu
Sistema de PolietilenoSistema de Vidro
Filtração: fibra de vidro Millipore
AP40
Armazenamento: geladeira (máx.
7 dias)
Combustão a alta
temperatura
COD
pH e
condutividade
K, Na, Ca, Mg
Absorção /
Emissão Atômica
ChuvaChuva
Filtração: acetato de celulose 0,45 µm
Armazenamento: -18 ºC
Figura 1. Esquema de coleta, filtração, armazenamento e análises realizadas em amostras de água de chuva coletadas em Ribeirão
Preto.VRC = voltametria de redissolução catódica; EAAET = espectroscopia de absorção atômica com atomização eletrotérmica.
PARTE EXPERIMENTAL
33
2.6. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados foram separados entre período de safra da cana-de-açúcar, de
abril a outubro, e período de entressafra, de novembro a março. Esta divisão
sazonal também contempla os períodos de chuva e de seca, desta forma pode-se
avaliar a influência da queimada da palha da cana-de-açúcar na composição
química da água de chuva coletada em Ribeirão Preto.
O volume de chuva influencia a sua composição química, sendo que volumes
maiores tendem a serem mais diluídos. Essa dependência do volume de chuva
requer o uso da média ponderada pelo volume (MPV) nos cálculos das
concentrações médias sazonais e gerais.
A média ponderada pelo volume é calculada realizando-se o somatório da
concentração de cada amostra multiplicada pelo volume desta amostra e dividindo-
se o resultado pela soma de todos os volumes (equação 1):
=
=
=
n
i
n
i
Vi
CiVi
MPV
1
1
Ci = concentração encontrada no evento
Vi = volume coletado no evento
(equação 1)
O desvio padrão da média ponderada pelo volume também foi calculado
(equação 2; HU; BALASUBRAMANIAN, 2003):
( )
2
1
2
1
1
2
1
2
1
)(
=
=
= =
nVi
CiViCiVin
SD
n
i
n
i
n
i
MPV
Ci = concentração medida no evento
Vi = volume coletado no evento
(equação 2)
Foi calculada a média geométrica das concentrações obtidas, visando facilitar
a comparação com resultados relatados desta forma (equação 3):
PARTE EXPERIMENTAL
34
(
)
n
n
CCCMG
/1
21
=
(equação 3)
Para determinação do Limite de Detecção (LD) para os metais por EAAET
foram realizadas 10 injeções do branco de reagentes, sendo calculado como 3
vezes o desvio padrão da média () dividido pelo coeficiente angular, B, da curva de
calibração (equação 4; MILLER; MILLER, 1989):
B
LD
σ
3
=
(equação 4)
O fator de enriquecimento (FE) para os metais traços com relação ao solo foi
calculado conforme a equação 5 (CHESTER, 1990), sendo utilizado Al como
espécie de referência.
solosolo
chuvachuva
solo
AlM
AlM
FE
][][
][][
=
[
M] = concentração de metal traço
[Al] = concentração de Al (metal de referência)
(equação 5)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. ESPÉCIES MAJORITÁRIAS
As determinações de pH na água de chuva de Ribeirão Preto foram
realizadas de setembro de 2002 a dezembro de 2005, somando 157 amostras.
Destas, aproximadamente 84% apresentaram pH menor que 5,5, com uma média
ponderada pelo volume (MPV) de 5,12 (
Tabela 1
). Visto que o pH da água em
equilíbrio com o CO
2
atmosférico é 5,60, estes resultados demonstram que a grande
maioria dos eventos de chuva em Ribeirão Preto tem um excesso de acidez (
Figura
2
).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
36
Tabela 1. Média aritmética (MA) ± desvio padrão, concentrações mínimas e máximas e
médias ponderadas pelo volume (MPV) ± desvio padrão de pH, condutividade, k, S cm
-1
),
COD (µmol L
-1
) e cátions majoritários (µmol L
-1
), medidos em amostras de água de chuva de
Ribeirão Preto; o número de amostras analisadas está entre parênteses
pH k COD K
+
Na
+
Ca
2+
Mg
2+
MA
5,05
(157)
17,4
(157)
433 ± 582*
(164)
6,5 ± 14
(175)
3,7 ± 6,2
(172)
8,2 ± 13,0
(175)
2,9 ± 4,8
(168)
Mínimo 3,71 2,15 28 0,18 0,14 0,12 0,07
Máximo 6,71 110 17000 99 41 85 32
MPV
geral
5,12 10,9 282 ± 24*
3,9 ± 0,5
2,1 ± 0,2
5,0 ± 0,5
1,8 ± 0,2
MPV
safra
5,09
(64)
14,7
(64)
447 ± 52*
(65)
7,6 ± 1,2
(70)
3,4 ± 0,4
(68)
8,6 ± 1,2
(71)
3,1 ± 0,4
(66)
MPV
entressafra
5,14
(93)
8,81
(93)
201 ± 24
(99)
1,8 ± 0,2
(105)
1,3 ± 0,1
(104)
2,9 ± 0,4
(104)
1,1 ± 0,1
(102)
* Médias calculadas excluindo o valor máximo (17000 µmol L
-1
) e que serão discutidas
adiante.
3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0
0
10
20
30
40
50
60
de Eventos
pH
2,6%
8,3%
38,9%
33,8%
11,5%
3,2%
1,9%
Figura 2. Distribuição dos eventos de chuva de Ribeirão Preto em faixas de pH.
Os pHs médios obtidos para águas de chuva de diversas regiões do Brasil
estão mostrados na
Tabela 2
para facilitar a comparação. Na cidade de Rio Grande,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
37
no sul do Brasil, o pH da água de chuva variou de 3,6 a 7,8, sendo que as primeiras
parcelas de chuva apresentaram os valores mais baixos de pH, caracterizando o
fenômeno de “washout” (MIRLEAN; VANZ; BAISCH, 2000). Em estudos realizados
no Lago Calado, na Amazônia Central, Williams, Fisher e Melack (1997),
encontraram uma fraca correlação entre a soma da concentração dos íons [NO
3
-
],
[SO
4
2-
] (comumente as maiores fontes antrópicas de espécies ácidas) e [Cl
-
] versus
[H
+
], indicando que apenas uma porção destes íons pode ter contribuído para a
acidez da chuva e, portanto a acidez pode ter sido largamente derivada de outras
fontes como ácidos orgânicos biogênicos. Em uma região urbana como a cidade de
São Paulo, os ácidos orgânicos de baixa massa molecular como acético e fórmico
provenientes da queima de combustível automotivo, foram apontados como fontes
relevantes de acidez na água de chuva (FORNARO; GUTZ, 2003). O pH médio da
chuva avaliado em São Paulo se assemelha a regiões da Amazônia.
Tabela 2. Comparação dos valores de pH (médios) obtidos nas chuvas de Ribeirão
Preto com os de outros locais do Brasil
Local pH (nº de amostras)
Ribeirão Preto
*
5,1 (157)
Bragança Paulista
a
4,4
Campinas
a
4,5
Piracicaba
a
4,5
Santa Maria da Serra
a
4,4
Lago Calado (Amazônia)
b
4,7 (95)
São Paulo
c
4,8 (52)
Serra do Navio
d
5,1(107)
Rio Grande, RS
e
3,6 – 7,8
*
este trabalho
b
WILLIAMS; FISHER; MELACK, 1997
d
FORTI et al., 2000
a
LARA et al
., 2001
c
FORNARO; GUTZ, 2003
e
MIRLEAN; VANZ; BAISCH, 2000
RESULTADOS E DISCUSSÃO
38
A análise de aerossóis atmosféricos em Araraquara revelou um aumento
médio de até cerca de 400% na concentração de espécies ácidas como SO
2
, HCl e
HNO
3
durante o período de safra da cana-de-açúcar, o que foi atribuído à maior
queima de biomassa no período (ALLEN; CARDOSO; da ROCHA, 2004). Na região
da bacia do Rio Piracicaba (SP) a acidez média da água de chuva variou entre 4,4 e
4,5 nos 4 sítios de amostragem (
Tabela 2
), sendo estes valores similares àqueles
encontrados em regiões mais industrializadas, onde a acidez está fortemente
relacionada com atividades antrópicas (LARA et al., 2001). Os autores discutem que
no sítio de amostragem de Bragança Paulista, a associação encontrada entre COD
e H
+
sugere que emissões biogênicas de matéria orgânica poderiam ser uma fonte
significativa de acidez nesta região. em Campinas, que é a área mais
industrializada e urbanizada na bacia, observou-se uma alta correlação entre H
+
e
SO
4
2-
e NO
3
-
, sugerindo que enxofre e nitrogênio têm um importante papel na
acidificação da chuva nesta parte da bacia. Finalmente, Lara et al. (2001), colocam
que a queima da palha da cana-de-açúcar parece exercer o controle principal na
química atmosférica dos sítios de amostragem de Piracicaba e Santa Maria da Serra
que o cidades muito semelhantes quanto ao cultivo de cana-de-açúcar, à região
de Ribeirão Preto. A concentração hidrogeniônica média das chuvas de Piracicaba é
cerca de 5 vezes maior que aquela encontrada em Ribeirão Preto. Outro ponto
importante é que em Ribeirão Preto a influência da queima da palha da cana-de-
açúcar no pH da água de chuva não foi observada, uma vez que os pHs no período
de safra (5,14) e entressafra (5,09) foram muito similares (
Tabela 1
). Talvez a maior
ressuspensão do solo causada pelas atividades agrícolas na época da safra possam
ter contribuído para neutralizar parte da acidez da chuva. Outro ponto a ser
considerado é que Ribeirão Preto tem uma frota automotiva de cerca de 263 mil
RESULTADOS E DISCUSSÃO
39
veículos (DENATRAN), desta forma o pH das chuvas pode estar sob forte influência
da queima de combustíveis fósseis durante todo o ano, que libera espécies ácidas
como SO
2
e NO
x
para a atmosfera (BERNER; BERNER, 1996; ROCHA; ROSA;
CARDOSO, 2004).
Nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto foram medidas
condutividades entre 2,15 e 110 µS cm
-1
(
Tabela 1
) sendo que a maioria das
amostras (74,5%) teve a condutividade abaixo de 20 µS cm
-1
. A correlação entre pH
e condutividade mostra que os menores valores de pH foram obtidos em amostras
cujos valores de condutividade eram mais elevados quando comparados aos demais
(
Figura 3
), sendo este comportamento similar ao que foi observado na chuva da
cidade do Rio Grande, onde a condutividade variou entre 4 e 39 µS cm
-1
(MIRLEAN;
VANZ; BAISCH, 2000). Este resultado demonstra que, ao contrário do observado
para diversas regiões costeiras (VIEL, 2001), os íons derivados de espécies ácidas
exercem grande influência sobre a condutividade das águas de chuva nesta região.
Visto que o íon H
+
apresenta uma condutividade bastante elevada, é plausível que a
variação no pH se correlacione com a condutividade das amostras de chuva.
Neste trabalho também foi observado que as maiores condutividades foram
encontradas naquelas amostras onde as concentrações de COD foram as mais
elevadas, indicando que espécies orgânicas podem influenciar na quantidade de
íons presentes na atmosfera de Ribeirão Preto. Este fato é verificado pela
significativa correlação linear (0,82718) existente entre as medidas de COD e
condutividade (
Figura 4
).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
40
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110
4
5
6
7
pH
κ
κκ
κS cm
-1
)
Figura 3. pH versus condutividade das águas de chuva de Ribeirão Preto. A curva foi
adicionada visualmente.
0 20 40 60 80 100 120
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
CODmol L
-1
)
κ
κκ
κS cm
-1
)
Figura 4. Correlação linear obtida entre as concentrações de COD e a condutividade
em amostras de água de chuva coletadas em Ribeirão Preto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
41
Com o objetivo de avaliar se espécies orgânicas ácidas contribuem
significativamente na diminuição do pH da chuva, foi realizada a correlação linear
entre COD e concentração de H
+
. Esta correlação apesar de significativa para 95%
de confiança (0,41885) foi relativamente fraca.
As concentrações de COD encontradas nas chuvas de Ribeirão Preto
variaram em três ordens de magnitude, isto é, de 28,2 a 17000 µmol L
-1
(
Tabela 1
). A
Figura 5
mostra a concentração de COD nas águas de chuva de Ribeirão Preto
coletadas de julho de 2004 a dezembro de 2006, totalizando 165 eventos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
42
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
17000
jul s out nov dez jan f mar a m j j set out nov dez j fev mar abr j j a set out nov dezm
2004 2005 2006
29-04
34-04
40-05
49-05
53-05
39-06
42-06
47-06
COD (µmol L
-1
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
17000
jul s out nov dez jan f mar a m j j set out nov dez j fev mar abr j j a set out nov dezm
2004 2005 2006
29-04
34-04
40-05
49-05
53-05
39-06
42-06
47-06
COD (µmol L
-1
)
Figura 5. Concentrações de COD medidas em amostras de água de chuva em Ribeirão Preto de julho de 2004 a
dezembro de 2006.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
43
A elevada concentração de COD na chuva 29-04 (19/07/2004;
Figura 5
)
poderia ser justificada pelo período de estiagem de 7 dias (que poderia levar a
acumulação de espécies orgânicas na atmosfera) e pequeno volume de chuva (29
mL), o que caracteriza um processo de lavagem da atmosfera (washout). Porém o
aumento na concentração de COD nas chuvas a partir do evento número 32-04
(15/09/2004) não pode ser justificado devido ao longo período de estiagem (57 dias)
porque nos eventos subseqüentes ocorridos com diferença de poucos dias, a
concentração de COD continuou a subir. Os volumes de chuva dos eventos de
número 30-04 a 34-04 de setembro de 2004 foram: chuva 30-04 (320 mL); chuva 31-
04 (14,0 mL); chuva 32-04 (200 mL); 33-04 (30 mL) e 34-04 (190 mL). O evento 32-
04, mesmo apresentando um volume cerca de 14 vezes maior que o evento 31-04,
apresentou uma concentração de COD aproximadamente 2 vezes maior; o mesmo
comportamento sendo observado em relação aos eventos 33 e 34-04 caracterizando
a elevada concentração de matéria orgânica presente na atmosfera. A amostra 40-
05 apresentou um pico de COD que também não pode ser justificado nem pelo
período de estiagem (7 dias) e nem pelo volume de amostra (163,2 mL), tendo em
vista que o evento subseqüente (chuva 41-05) ocorreu 5 dias depois e apresentou
um volume ainda menor (64,8 mL) e baixa concentração de COD. No caso da
amostra 49-05 (98 mL) foram 3 dias de estiagem antes do evento. A concentração
de COD de cerca de 17000 µmol L
-1
na amostra 47-06 é notável, sendo que o
volume do evento foi de 980 mL. A possível contaminação da amostra não deve
justificar este resultado tendo em vista que picos igualmente elevados foram
observados para Ca
2+
e K
+
nesta amostra (ORLANDO, E. A., informação verbal)
1
.
Este tipo de análise aliada ao baixo coeficiente de correlação linear entre o número
1
Informação fornecida por ORLANDO em janeiro de 2007.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
44
de dias de estiagem e a concentração de COD na amostra (r = 0,18618), assim
como o volume de chuva e COD (r = 0,013685) sugerem que as elevadas
concentrações de COD nas amostras o estão necessariamente relacionadas ou
com o pequeno volume da amostra ou com o tempo de estiagem, mas
provavelmente com a emissão pirogênica de carbono orgânico.
As concentrações médias de COD em Ribeirão Preto relatadas na
Tabela 1
não incluem o resultado obtido na amostra 47-06 (17000 µmol L
-1
) visto que este
valor foi bastante atípico, o qual deslocaria a média aritmética de 433 para 534 µmol
L
-1
e a média ponderada pelo volume de 282 para 555 µmol L
-1
, diminuindo a
representatividade do valor médio.
Williams, Fisher e Melack (1997), relatam resultados médios ponderados pelo
volume de COD em água de chuva de 159 µmol.L
-1
(Lago Calado – Amazônia
Central), o que corresponde a cerca de três quartos da média ponderada pelo
volume obtida neste trabalho (282 µmol L
-1
,
Tabela 1
). Lara et al. (2001), relatam
médias de concentrações de COD em água de chuva de 50,8 µmol.L
-1
em
Campinas, 58,8 µmol.L
-1
em Bragança Paulista, 76,6 µmol.L
-1
em Santa Maria da
Serra e 94,4 µmol.L
-1
em Piracicaba, valores também muito menores que o
encontrado na chuva de Ribeirão Preto. na microrregião de Araraquara, onde o
cultivo de cana-de-açúcar ocupa aproximadamente 186.000 ha, a MPV para COD
em amostras de chuva coletadas por cerca de um ano entre 2005/2006 foi de 412
µmol L
-1
(FRANCISCO, J., informação pessoal)
2
, sendo este valor mais elevado que
o encontrado em Ribeirão Preto. O tio de amostragem em Araraquara é localizado
muito próximo à rodovia Washington Luis, onde um tráfego intenso de
automóveis e caminhões, que podem contribuir com emissão de substâncias
2
FRANCISCO, J. Mensagem recebida por cidelmara@yahoo.com.br em 16 de janeiro de 2007.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
45
orgânicas devido à combustão incompleta dos combustíveis. Outro ponto a ser
considerado é a produção de laranja, visto que a região é responsável pela
exportação de 70% do suco concentrado do Brasil, e neste município se localiza a
maior empresa do país na produção de suco cítrico (PREFEITURA DE
ARARAQUARA).
Considerando que a média histórica de chuva em Ribeirão Preto (últimos 70
anos) de 1481,3 mm (SCARPARI, M. S., informação pessoal)
3
, o fluxo de COD
calculado foi de 0,42 mol C m
-2
ano
-1
. Este resultado é muito similar ao fluxo
calculado na Amazônia (0,4 mol C m
-2
ano
-1
; WILLIAMS; FISHER; MELACK, 1997)
onde também grande queima de biomassa, sinalizando para uma importante
fonte local de emissão. Para águas de chuva marinhas / costeiras o fluxo de COD
são bem inferiores, variando de 0,05 a 0,2 mol C m
-2
ano
-1
(WILLEY et al., 2000).
A faixa de concentração para K
+
na água de chuva de Ribeirão Preto variou
de 0,18 a 99 µmol L
-1
, seguida de perto pelo Ca
2+
, que variou de 0,12 a 85 µmol L
-1
,
enquanto as concentrações de Mg
2+
e Na
+
tiveram as concentrações máximas em
torno de 30-40 µmol L
-1
(
Tabela 1; Figuras 6
e
7)
. É interessante notar que a faixa de
concentração de Ca
2+
no solo mundial (de 700 a 500 x 10
3
mg kg
-1
) é cerca de 10
vezes mais elevada que a de K
+
(de 80 a 37 x 10
3
mg kg
-1
; SPARKS, 2003),
enquanto que nas águas de chuva coletadas em Ribeirão Preto se observaram
concentrações próximas destes íons.
As concentrações médias calculadas para todos os cátions analisados são
menores no período de entressafra que no período de safra, quando existe uma
maior queima de biomassa e atividades agrícolas mais intensas na região. No
período de safra (abril a outubro) a concentração média de K
+
foi cerca de quatro
3
SCARPARI, M. S. Mensagem recebida por cidelmara@yahoo.com.br em 25 de janeiro de 2007.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
46
vezes maior que a concentração média no período de entressafra (novembro a
março;
Tabela 1
), coincidente com o que foi observado em águas de chuva da região
de Piracicaba (LARA et al., 2001). Pelas
Figuras 6
e
7
é possível observar que todos
os picos de concentração dos cátions majoritários medidos em água de chuva de
Ribeirão Preto apareceram em períodos de safra. Ainda que novembro esteja
classificado como entressafra neste trabalho, sabe-se que é o final do período de
safra e que ainda podem ocorrer queimadas, que em menor escala. Na Bacia do
Rio Piracicaba o aumento da concentração de K
+
foi atribuído à queimada de
biomassa no período de safra, com suporte na associação de K
+
e Cl
-
que podem
ser emitidos durante a combustão de biomassa na forma de KCl (LARA et al., 2001).
É importante ressaltar que durante o período de safra as usinas de açúcar e álcool
utilizam o bagaço da cana como combustível, o que contribui para elevar a
concentração das espécies biogênicas na atmosfera. Kulshrestha et al. (2003),
verificaram um aumento na concentração de K
+
antes de um evento de chuva com
pH menor que 5,6, associando os baixos pHs às emissões biogênicas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
47
Figura 6. Concentrações de K
+
e Na
+
determinadas em água de chuva de Ribeirão Preto. Os números de algumas
amostras estão indicados.
0
20
40
60
80
100
120
5
15
25
35
45
K
Na
0
10
20
30
40
29-04
34-04
59-04
40-05
46-05
48-05
49-05
K
Na
K
+
mol L
-1
)
0
20
40
60
80
100
120
5
15
25
35
45
K
+
Na
+
0
10
20
30
40
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
jan
jan
fev
fev
fev
fev
fev
fev
fev
fev
mar
mar
mar
mar
mar
mar
abr
abr
mai
mai
mai
jul
jul
ago
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
jan
jan
jan
mar
mar
mar
abr
abr
abr
abr
abr
abr
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
jul
jul
jul
jul
jul
jul
set
set
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
fev
fev
fev
fev
mar
mar
mar
mar
mar
mar
mar
abr
abr
abr
mai
mai
jun
jun
jul
jul
jul
set
set
set
set
set
set
set
set
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j jul s out nov dez jan f mar a m j j set out nov dez
2002 2003 2004 2005
29-04
34-04
59-04
40-05
46-05
48-05
49-05
K
+
Na
+
Na
+
mol L
-1
)
0
20
40
60
80
100
120
5
15
25
35
45
K
Na
0
10
20
30
40
29-04
34-04
59-04
40-05
46-05
48-05
49-05
K
Na
K
+
mol L
-1
)
0
20
40
60
80
100
120
5
15
25
35
45
K
+
Na
+
0
10
20
30
40
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
jan
jan
fev
fev
fev
fev
fev
fev
fev
fev
mar
mar
mar
mar
mar
mar
abr
abr
mai
mai
mai
jul
jul
ago
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
jan
jan
jan
mar
mar
mar
abr
abr
abr
abr
abr
abr
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
jul
jul
jul
jul
jul
jul
set
set
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
jan
fev
fev
fev
fev
mar
mar
mar
mar
mar
mar
mar
abr
abr
abr
mai
mai
jun
jun
jul
jul
jul
set
set
set
set
set
set
set
set
out
out
out
out
out
out
out
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
nov
dez
dez
dez
dez
dez
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j jul s out nov dez jan f mar a m j j set out nov dez
2002 2003 2004 2005
29-04
34-04
59-04
40-05
46-05
48-05
49-05
K
+
Na
+
Na
+
mol L
-1
)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
48
Figura 7. Concentrações de Ca
2+
e Mg
2+
determinadas em água de chuva de Ribeirão Preto. Os números de algumas
amostras estão indicados.
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
5
10
15
20
25
30
35
Ca
Mg
71
29-04
34-04
40-04
59-04
40-05
46-05
53-05
Ca
Mg
Ca
2+
mol L
-1
)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
5
10
15
20
25
30
35
Ca
2+
Mg
2+
0
mar
mar
mar
mar
mar
mar
dez
dez
dez
jan
jan
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
abr
abr
mai
out
out
nov
nov
nov
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j s out nov dez jan f mar a m j set out nov dez
0
mar
mar
mar
mar
mar
mar
dez
dez
dez
dez
jan
jan
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
jul
jul
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
abr
abr
mai
out
out
nov
nov
nov
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j jul s out nov dez jan f mar a m j set out nov dez
71
29-04
34-04
40-04
59-04
40-05
46-05
53-05
Ca
2+
Mg
2+
Mg
2+
mol L
-1
)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
5
10
15
20
25
30
35
Ca
Mg
71
29-04
34-04
40-04
59-04
40-05
46-05
53-05
Ca
Mg
Ca
2+
mol L
-1
)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0
5
10
15
20
25
30
35
Ca
2+
Mg
2+
0
mar
mar
mar
mar
mar
mar
dez
dez
dez
jan
jan
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
abr
abr
mai
out
out
nov
nov
nov
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j s out nov dez jan f mar a m j set out nov dez
0
mar
mar
mar
mar
mar
mar
dez
dez
dez
dez
jan
jan
mai
mai
mai
mai
jun
jun
jun
jul
jul
nov
nov
nov
dez
dez
jan
jan
abr
abr
mai
out
out
nov
nov
nov
dez
dez
2002 2003 2004 2005
o nov d jan fev mar a m j as out nov d j m abr m j jul s out nov dez jan f mar a m j set out nov dez
71
29-04
34-04
40-04
59-04
40-05
46-05
53-05
Ca
2+
Mg
2+
Mg
2+
mol L
-1
)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
49
Foi feito um levantamento das concentrações de cátions majoritários em
outras regiões do Brasil, com o objetivo de contextualizar os resultados obtidos em
Ribeirão Preto (Tabela 3). No Lago Calado (AM) é sugerido que a composição da
água de chuva é primariamente influenciada por aerossóis marinhos e emissões
biogênicas terrestres (WILLIAMS; FISHER; MELACK, 1997). Na Ilha Grande (RJ), o
cátion Na
+
foi considerado exclusivamente de origem marinha, sendo que K
+
, Ca
2+
e
Mg
2+
foram principalmente atribuídos aos aerossóis marinhos e também aos
aerossóis solúveis originados da vegetação da Ilha Grande e Serra do Mar (de
SOUZA et al., 2006). Em Aceguá (região de Candiota, RS, localizado a 57 km da
usina termoelétrica de carvão Presidente Médici), para o lculo do fator de
enriquecimento com relação à água do mar, o Na
+
foi considerado como elemento
de referência. Cerca de 5% dos íons Ca
2+
e K
+
e 50% de Mg
2+
foram atribuídos à
origem marinha,
sendo que Ca
2+
e Mg
2+
foram associados a partículas do solo. A
origem do K
+
foi atribuída principalmente à queima de biomassa, incluindo a prática
para limpeza de áreas para plantio e a palha de arroz, a qual é abundante na região
(MIGLIAVACCA et al., 2004). As maiores concentrações de cátions majoritários
agrupadas na Tabela 3 foram observadas nas chuvas da cidade de Figueira (sítio de
amostragem localizado em uma região rural nas imediações de uma usina
termelétrica de carvão, na região nordeste do Paraná), onde a presença dos cátions
K
+
, Ca
2+
e Mg
2+
foi atribuída principalmente à ressuspensão de material particulado
do solo e ao uso de fertilizantes, sendo que o sódio adsorvido na cinza resultante do
processo de queima do carvão é apontada como uma provável fonte de Na
+
para a
atmosfera local (FLUES et al., 2002). Já em São Paulo, que é um grande centro
urbano, foi sugerido que os cátions Ca
2+
, Mg
2+
e K
+
podem estar associados
principalmente à ressuspensão de poeira de solo, assim como às atividades da
RESULTADOS E DISCUSSÃO
50
construção civil (LEAL et al., 2004). A composição da água de chuva na Bacia
Hidrográfica Guaíba (região urbana no Rio Grande do Sul, onde existem diversas
fontes antrópicas de substâncias para a atmosfera como veículos, refinaria de
petróleo, complexo de indústria petroquímica, estações termelétricas de carvão,
entre outras) é semelhante àquela encontrada em São Paulo, diferindo de Ribeirão
Preto principalmente quanto às concentrações de Na
+
observadas.
Por meio da análise de componentes principais Lara et al. (2001), sugerem
algumas fontes qualitativas de espécies químicas para a atmosfera da Bacia do rio
Piracicaba, a saber: (1) influência da poeira do solo associada com Ca
2+
e Mg
2+
; (2)
queima de biomassa, mais especificamente queima da palha de cana-de-açúcar,
associada com K
+
e Cl
-
; (3) emissões industriais, referentes à H
+
com significante
correlação com SO
4
2-
e NO
3
-
; (4) ácidos orgânicos, com COD correlacionado com
H
+
. Para o tio de Piracicaba, a queima da cana-de-açúcar domina a variabilidade
dos dados, seguida pelos íons presentes na poeira do solo, como Ca
2+
e Mg
2+
. Na
Serra do Navio (AP), utilizando-se a análise de componentes principais, sugere-se
que K
+
e Mg
2+
podem ser associados a fontes biogênicas, além do que no período
de seca K
+
também é associado à queima de biomassa (FORTI et al., 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
51
Tabela 3. Comparação das concentrações médias de cátions majoritários observadas
na água de chuva de Ribeirão Preto com as médias obtidas em outras regiões do país
K
+
Na
+
Ca
2+
Mg
2+
µmol L
-1
Ribeirão Preto, SP
*
3,9 2,1 5,0 1,8
Bragança Paulista, SP
a
2,5 2,3 0,6
Piracicaba, SP
a
2,9 2,7 2,7 1,2
Santa Maria da Serra, SP
a
3,5 4,5 3,9 1,15
Campinas, SP
a
3,4 2,7 1,9 0,7
São Paulo,SP
b
2,6 15 5,3 2,5
Serra do Navio, AP
c
4,7 17 13 9,5
Lago Calado, AM
d
0,8 2,4 1,2 0,5
Bacia Hidrográfica Guaíba, RS
e
2,8 11 4,2 1,9
Aceguá, RS
f
3,3 5,9 2,7 1,2
Figueira, PR
g
10 35 16 6
Ilha Grande, RJ
h
7,1 142 4,6 20
*
este trabalho
c
FORTI et al., 2000
f
MIGLIAVACCA et al., 2004
a
LARA et al., 2001
d
WILLIAMS; FISHER; MELACK, 1997
g
FLUES et al., 2002
b
LEAl et al., 2004
e
MIGLIAVACCA et al., 2005
h
de SOUZA et al., 2006
Na região de Ribeirão Preto se buscou avaliar a utilização de íon K
+
como
traçador de queima de biomassa, o que se mostrou bastante viável devido à clara
sazonalidade observada. Tendo em vista a também evidente sazonalidade nas
concentrações de COD, a avaliação da correlação entre ambos se torna um
parâmetro bastante útil na confirmação de fontes.
Para os eventos destacados na
Figura 5
houve uma correspondência entre o
aumento da concentração de COD e o aumento da concentração de K
+
e Ca
2+
(
Figuras 6 e 7
), parecendo indicar que tanto a queima de biomassa como a
ressuspensão do solo apresentam grande influência nas concentrações de COD em
Ribeirão Preto. A correlação linear entre a concentração de COD e de K
+
foi de
0,70341 e entre COD e Ca
2+
foi de 0,61638, o que parece sinalizar que as chuvas de
Ribeirão Preto se apresentam sob a influência da queimada de palha da cana-de-
açúcar e também da ressuspensão do solo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
52
Em Ribeirão Preto Na
+
mostrou uma correlação linear significativa com K
+
(0,67626), e também com Ca
2+
(0,77822), indicando que Na
+
pode ser de fonte
pirogênica e também de ressuspensão do solo. Este fato é distinto do que foi
observado em Araraquara para o material particulado atmosférico, onde Na
+
não se
correlacionou com K
+
ou Ca
2+
, sendo levantada a hipótese de Na
+
ser principalmente
de origem marinha (ALLEN; CARDOSO; da ROCHA, 2004).
Baseado na média histórica do volume de chuvas em Ribeirão Preto (1481
mm) foi possível calcular os fluxos de deposição anuais médios dos tions
majoritários por via úmida. O maior fluxo foi de Ca
2+
, seguido em ordem decrescente
por K
+
, Na
+
e Mg
2+
(
Tabela 4
). O fluxo de deposição por via úmida em Ribeirão Preto
para Ca
2+
apresentou-se 2,5 vezes maior que em Piracicaba e 1,8 vezes maior que
em Santa Maria da Serra, sítios de amostragem também com elevada atividade
canavieira e com o índice pluviométrico anual (1200 a 1500 mm) similares a Ribeirão
Preto. Em relação a K
+
e Mg
2+
, os fluxos de deposição destes cátions em Ribeirão
Preto foram cerca de 2 vezes maiores sendo que para Na
+
o fluxo em Ribeirão
Preto foi similar à Piracicaba e cerca de dois terços daquele de Santa Maria da
Serra (
Tabela 4
).
Tabela 4. Fluxos anuais de deposição úmida de íons majoritários (mmol m
-2
ano
-1
)
K
+
Na
+
Ca
2+
Mg
2+
Ribeirão Preto 5,8 3,1 7,4 2,7
Piracicaba, SP
a
3,2 3,0 3,0 1,3
Santa Maria da Serra, SP
a
2,9 4,9 4,2 1,3
Lago Calado, AM
b
2,3 6,7 3,3 1,3
Hyderabad, Índia
c
3 5 7 1,5
Al-Hashimya, Jordânia
d
1,2 9,3 17,4 1,9
Pq Kruger,África do Sul
e
13,3 20 6,4 3,4
*
este trabalho
b
WILLIAMS; FISHER; MELACK, 1997
d
AL-MOMANI; YA’QOUB; AL-
BATAINEH, 2002
a
LARA et al., 2001
c
KULSHRESTA et al., 2003
e
MPHEPYA et al., 2006
RESULTADOS E DISCUSSÃO
53
Em Ribeirão Preto pode-se observar uma deposição anual por via úmida de
Ca
2+
menor que em Al-Hashimya (índice pluviométrico anual de cerca de 200 mm),
na Jordânia, onde a origem deste elemento foi atribuída à influência do próprio solo
da região e do deserto do Saara, sendo que a deposição úmida de Ca
2+
estimada foi
maior que a deposição seca (AL-MOMANI; YA’QOUB; AL-BATAINEH, 2002). A
deposição por via úmida de Na
+
em Ribeirão Preto apresentou-se próxima àquela de
regiões brasileiras como Piracicaba e Santa Maria da Serra, enquanto foi cerca de
dois terços daquela relatada para Hyderabad (índice pluviométrico anual de 900
mm), na Índia, onde este cátion é atribuído à origem marinha. A deposição de K
+
por
via úmida em Ribeirão Preto apresentou-se aproximadamente metade daquela
observada no Parque Kruger, região de savana da África do Sul (precipitação anual
entre 600 a 900 mm ano) e onde é intensa a queima de biomassa no período de
seca.
3.2. METAIS TRAÇOS: Cd, Pb, Cu, Zn e Al
A análise de traços requer um controle muito rigoroso de contaminações e, a
fim de verificar a eficiência dos métodos de purificação de reagentes e manuseio de
todos os materiais, foram avaliados brancos de regentes por voltametria de
redissolução catódica (
Tabela 5
). Os resultados obtidos apresentam-se bastante
satisfatórios sendo que a média do branco contendo HCl e NH
4
OH não é
significativamente diferente do branco contendo apenas o ligante e o tampão (teste t,
P = 0,05). Desta forma, pode-se realizar a acidificação e a posterior neutralização
das amostras de água de chuva com segurança para a análise de Cu por
voltametria. Não foi necessário corrigir os valores de concentração das amostras
RESULTADOS E DISCUSSÃO
54
analisadas, pois as concentrações de cobre nos brancos de reagentes estiveram
dentro do desvio padrão do método.
Tabela 5. Concentrações individuais, médias e desvios padrões (S) de cobre (nmol L
-1
)
obtidos para o branco de reagentes contendo apenas (1) água ultrapura (sistema Milli-Q
Millipore), oxina e tampão e (2) quando adicionado também de HCl e NH
4
OH.
Branco de Reagentes
[Cu]
alíquotas individuais
[Cu]
média
±
S
1: água ultrapura
+
oxina
+
H
3
BO
3
0,79; 1,0; 0,18
0,66
±
0,43
2: (1)
+
HCl e NH
4
OH 1,20; 0,20; 1,28; 1,29
0,99
±
0,53
A
Figura 8
ilustra a boa resolução dos voltamogramas obtidos durante a
análise de um branco de reagentes sendo o menor sinal inferior a 0,5 nA.
-0,2 -0,3 -0,4 -0,5 -0,6
-0,5
-1,0
-1,5
-2,0
-2,5
i (nA)
E (V)
zero de adição
+ 0,50 nmol L
-1
Cu
+ 1,50 nmol L
-1
Cu
+ 3,50 nmol L
-1
Cu
Figura 8. Voltamogramas de pulso diferencial obtidos para água ultrapura usando 20
µmol L
-1
de oxina e 0,01 mol L
-1
de tampão borato (concentrações finais) após 2 minutos de
pré-concentração em -1 V, com três adições de cobre de 0,50 nmol L
-1
, 1,50 nmol L
-1
e 3,50
nmol L
-1
. A concentração de cobre determinada foi de 0,79 nmo L
-1
.
As amostras de chuva analisadas por voltametria de redissolução catódica
apresentaram concentrações de Cu entre 1,5 e 20,5 nmol L
-1
e a maioria delas
apresentou um baixo desvio padrão relativo (
Tabela 6
). A amostra 61-04 foi a que
apresentou o maior desvio padrão relativo entre as medidas, isto é, 42 %, o que é
RESULTADOS E DISCUSSÃO
55
esperado para concentrações tão baixas. Para as demais amostras analisadas o
desvio padrão relativo máximo foi de 11%, o que demonstra a boa repetibilidade das
medidas.
Tabela 6. Cobre dissolvido em amostras de chuva de Ribeirão Preto em nmol L
-1
.
Concentração de cobre para alíquotas individuais, média aritmética, desvio padrão (S) e
desvio padrão relativo (RS)
amostra
n
o
[Cu] valores individuais
nmol L
-1
Média
nmol L
-1
S
RS
(%)
38-04 11,1 11,00 11,0 0,04 0,3
39-04 5,35 6,05 4,93 5,4 0,57 10
41-04 3,07 2,68 2,9 0,28 9,6
42-04 7,03 6,87 7,0 0,11 1,6
46-04 1,54 1,80 1,7 0,18 11
61-04 3,43 1,74 1,78 2,3 0,96 42
62-04 16,3 17,6 15,51 16,5 1,07 6,5
63-04 9,64 8,86 9,30 0,55 6,0
66-04 19,9 20,09 21,48 20,5 0,87 4,2
67-04 4,21 4,16 4,20 0,04 0,8
10-05 1,45 1,53 1,43 1,50 0,05 3,6
12-05 3,81 3,45 3,6 0,25 7,0
19-05 3,78 3,58 3,7 0,14 3,8
Foram calculados os limites de detecção (LD, 3
σ
) alcançados por absorção
atômica com atomização eletrotérmica, sendo estes: Cd 0,11 nmol L
-1
, Pb 1,64 nmol
L
-1
, Cu 4,25 nmol L
-1
, Zn 18,7 nmol L
-1
e Al 161 nmol L
-1
. As médias das
concentrações obtidas na análise de branco dos reagentes em relação a estes
metais em oito ocasiões distintas foram 0,40, 2,50, 9,59 e 68 nmol L
-1
para Cd, Pb,
Zn e Al, respectivamente. No caso do Cd e Pb, as concentrações destes metais no
branco estão próximas do limite de detecção e da média de Cd e Pb nas amostras, o
que pode levar a uma grande variabilidade nos resultados obtidos.para Zn e Al, a
concentração do branco de reagentes foi tipicamente 10% e 20%, respectivamente,
daquela obtida nas amostras, sendo que o controle de contaminação foi considerado
RESULTADOS E DISCUSSÃO
56
adequado para estes metais. No caso do Cu a análise do branco foi realizada
apenas por voltametria, como discutido anteriormente.
Foram realizadas as análises de metais em amostras de água de chuva
coletadas a partir de agosto de 2002 até dezembro de 2005. O número restrito de
amostras analisadas para Cd (56), se deve ao fato de muitas delas estarem abaixo
do LD do método (
Tabela 7
).
Tabela 7. Média Aritmética (MA) ± desvio padrão, Média Geométrica (MG), Média
ponderada pelo Volume (MPV) ± desvio padrão, em nmol L
-1
, das concentrações dos metais
Cd, Pb, Cu, Zn e Al, medidas em água de chuva em Ribeirão Preto. O número de amostras
analisadas encontra-se entre parênteses, sendo o mesmo para MPV
geral
, MA e MG
Cd Pb Cu Zn Al
MA 0,49 ± 0,52
3,85 ± 5,09
21,9 ± 30,9
447 ± 521
732 ± 932
MG 0,33 2,38 9,6 196 393
MPV
geral
0,54 ± 0,13
(56)
3,02 ± 0,38
(94)
19,9 ± 3,7
(98)
405 ± 53
(120)
448 ± 36
(126)
MPV
safra
0,55 ± 0,17
(37)
3,45 ± 0,68
(34)
17,2 ± 5,2
(47)
616 ± 103
(52)
556 ± 136
(56)
MPV
entressafra
0,50 ± 0,15
(19)
2,79 ± 0,47
(60)
22,0 ± 5,3
(51)
268 ± 54
(68)
377 ± 45
(70)
Apenas para Cd a concentração média ponderada pelo volume na água de
chuva não apresentou diferença estatística (95% de confiança) entre os períodos de
safra e entressafra. A sazonalidade observada em relação aos demais metais
sinaliza para uma intensificação na emissão dos demais metais em Ribeirão Preto
no período de safra, o que pode estar relacionado com a maior queima de biomassa
e também à maior ressuspensão do solo neste período.
A
Tabela 8
traz as concentrações médias para os diversos metais analisados
em água de chuva em diferentes partes do mundo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
57
Tabela 8. Concentrações médias, em nmol L
-1
, de metais traços em água de chuva,
obtidas em diferentes partes do mundo. O número de amostras, quando fornecido, está
entre parênteses
Cd Pb Cu Zn Al
Ribeirão Preto* 0,54 (56)
3,0 (94) 20 (98) 405 (120) 448 (126)
Cap Gris-Nez
a
0,89 (34)
9,7 (33) 11 (34) 237 (35)
Stillpond
b
0,44 2,9 17 138 1111
New Castle
c
2,2 6,3 21 390 904
Al-Hashimya
d
105 (19) 130 (19) 156 (19) 18810 (19)
14297 (19)
Bacia Hid. Guaíba
e
107 453 626
Singapura
f
2,9 16 88 111 683
Aceguá, RS
g
31 433 265
*
este trabalho
d
AL-MOMANI; YA’QOUB; AL-BATAINEH, 2002
a
DEBOUDT; FLAMENT; BERTHO, 2004
e
MIGLIAVACCA et al., 2005
b
KIM; SCUDLARK; CHURCH, 2000
f
HU; BALASUBRAMANIAN, 2003
c
PIKE; MORAN, 2001
g
MIGLIAVACCA et al., 2004
No tio de amostragem Al-Hashimya, uma das mais industrializadas cidade
da Jodânia, foram observadas concentrações médias de metais muito maiores que
aquelas encontradas nos demais sítios de amostragem comparados, sendo estas
atribuídas, exceto para Al, a fontes antrópicas.
As concentrações de Cd obtidas em Ribeirão Preto apresentam-se da mesma
ordem de magnitude daquela observadas em Cap Gris-Nez, uma região costeira da
França, onde as amostras foram coletadas na zona rural sem uma significativa fonte
local de poluição atmosférica, e em Stillpond, região estuarina na Baía de
Chesapeake nos Estados Unidos. Fontes industriais parecem ter baixa influência em
Ribeirão Preto visto que a concentração de Cd foi menor que em regiões industriais
como Singapura e New Castle, no golfo do Maine nos Estados Unidos, o qual está
situado a favor dos ventos do Vale do Rio Ohio, uma região bastante industrializada,
e com áreas urbanas densamente povoadas no leste dos Estados Unidos (
Tabela 8
).
A concentrações médias de Pb e Cu encontradas nas chuvas deste trabalho
RESULTADOS E DISCUSSÃO
58
se aproximam das chuvas de regiões dos Estados Unidos com influência marítima,
Stillpond, e industrial, New Castle, (
Tabela 8
). É sugerido que a concentração de Pb
na chuva de Singapura é principalmente derivada do uso de gasolina aditivada com
chumbo em alguns países da região e também à incineração de lixo (
Tabela 8
).
Ribeirão Preto apresenta ainda concentração média de Cu semelhante àquela
encontrada na região sul do Brasil, Aceguá, e está dentro do intervalo de
concentrações obtido em chuvas do Mediterrâneo (entre 20 e 50 nmol.L
-1
; GUIEU et
al., 1997). Em Aceguá foi sugerido que a matéria orgânica encontrada na água de
chuva (em concentrações acima de 0,4 mmol L
-1
) poderia complexar o metal e,
portanto retê-lo na forma dissolvida na água da chuva. A concentração média de Cu
medida em Singapura é aproximadamente 4 vezes maior que aquela medida em
Ribeirão Preto. Sendo que em Singapura este metal foi associado à queima de
combustíveis fósseis, que incluem refinarias de petróleo, incineradores, usinas
termoelétricas, entre outros. Na Bacia Hidrográfica de Guaíba, com concentração de
Cu 5 vezes maior que em Ribeirão Preto, é relatado que as emissões de uma usina
termelétrica de carvão e indústria de o apresentaram uma forte influência na
concentração deste metal.
A concentração média de Zn nas chuvas de Ribeirão Preto está da mesma
ordem de magnitude que aquelas observadas em Cap Gris-Nez, Stillpond e New
Castle, (
Tabela 8
). Em Singapura é sugerido que Zn esteja associado a processos de
combustão a altas temperaturas, como em Al-Hashimya.
Em relação ao Al, pode-se observar que a concentração dia deste metal
nas chuvas de Ribeirão Preto é intermediária entre as médias observadas na Bacia
Hidrográfica Guaíba e Aceguá, onde é sugerido que existe a influência de fontes
antrópicas e de solo. Em Ribeirão Preto, devido à relativamente baixa atividade
RESULTADOS E DISCUSSÃO
59
industrial, a ressuspensão do solo pode ter uma importância local relevante na sua
emissão para a atmosfera, ainda que este metal esteja presente na planta e pode
ser emitido durante a queima da palha.
Neste trabalho não se observou correlação significativa entre as
concentrações de Zn e K
+
, diferentemente do que foi encontrado na Serra do Navio
no período de seca, sendo associada à queima de biomassa (FORTI et al., 2000). O
fato de Al e Pb apresentarem correlações significativas com Ca
2+
(0,50 e 0,54,
respectivamente), tendo o solo como a maior fonte provável de Ca
2+
, pode indicar
que a ressuspensão do solo, contribui de forma significativa para o aporte destes
metais na atmosfera de Ribeirão Preto. Em relação ao Cu, não foram observadas
correlações significativas com qualquer uma das demais espécies analisadas.
Os fluxos de deposição por via úmida de metais em Ribeirão Preto foram
comparados com duas regiões urbanas norte americanas e uma região
industrializada da Jordânia (
Tabela 9
).
Tabela 9. Fluxos de deposição por via úmida, em mg m
-2
ano
-1
Cd Pb Cu Zn Al
Ribeirão Preto 0,09 0,93 1,87 39,2 17,9
Lewes
a
0,04 0,39 0,49 1,9 15,8
Stillpond
a
0,05 0,51 0,48 3,0 17,8
Al-Hashimya
b
0,95 1,54 0,65 89,2 20,4
*
este trabalho
a
KIM; SCUDLARK; CHURCH, 2000
b
AL-MOMANI; YA’QOUB; AL-BATAINEH, 2002
Os fluxos de metais em Ribeirão Preto superaram as regiões dos Estados
Unidos, sendo que o fluxo de Cu supera até mesmo região altamente industrializada
como na Jordânia. O elevado índice pluviométrico em Ribeirão Preto comparado
com as outras localidades aqui discutidas pode ser o responsável pelo maior fluxo
de deposição na região. Nota-se que mesmo para Al, que apresentou uma
RESULTADOS E DISCUSSÃO
60
concentração média menor em Ribeirão Preto que em Stillpond, o fluxo em Ribeirão
Preto foi maior (
Tabelas 8 e 9
). A importância do volume de chuvas em Ribeirão
Preto se torna ainda mais evidente quando se observa que em Al-Hashimya, onde
as concentrações de todos os metais medidos foram bem maiores (
Tabela 8
), porém
os fluxos para algumas espécies foram similares (
Tabela 9
). É interessante notar que
apesar das concentrações de metais encontradas nas águas de chuva de Ribeirão
Preto terem sido relativamente baixas, a deposição por via úmida dos mesmos
apresenta-se comparável a locais com intensa atividade industrial.
O fator de enriquecimento (FE) foi calculado para os metais traços na água de
chuva de Ribeirão Preto tendo por base as médias globais destes metais no solo
(SPARKS, 2003) e considerando que Al tem origem exclusivamente no solo. As
espécies mais enriquecidas foram Cd e Zn, com fatores de enriquecimento de 5829
e 3645, respectivamente, seguidas por Cu, com FE de 494 e Pb com FE de 396.
Mesmo apresentando-se em concentrações relativamente baixas nas chuvas de
Ribeirão Preto, o Cd observado é predominantemente de origem antrópica. O
elevado enriquecimento de metais na água de chuva de Ribeirão Preto indica a
importância das fontes locais como a intensa queima de biomassa, no caso de
metais nutrientes como Zn e Cu, como também possíveis fontes na queima de
combustíveis fósseis. Fontes destes metais na indústria local e de regiões
industrializadas como a de Campinas também podem levar ao enriquecimento
destes na água de chuva.
3.3. ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS (PCA)
Foi realizada uma análise preliminar dos dados utilizando a análise de
componentes principais (PCA), utilizando o software EinSight, com a finalidade de
RESULTADOS E DISCUSSÃO
61
investigar com maior critério estatístico as possíveis fontes das espécies químicas
medidas na água de chuva de Ribeirão Preto. Foi necessário escolher um conjunto
reduzido de amostras para o tratamento, visto que nem todas as amostras foram
analisadas em relação a todas as espécies. As espécies químicas utilizadas nos
cálculos também foram limitadas por este fato.
O primeiro conjunto escolhido se constituiu de 82 amostras, coletadas entre
julho de 2004 e dezembro de 2005, distribuídas entre safra e entressafra (
Tabela 10
).
Tabela 10. Matriz de relevância das componentes principais obtidas para 82 amostras de
água de chuva de Ribeirão Preto
Variáveis PC 1 PC 2 PC 3
Condutividade 0,0302 0,0482 0,4298*
K
+
0,0243 0,0846 -0,2252
Na
+
0,0087 0,0346 0,0176
Ca
2+
0,0261 0,9937* 0,0008
Mg
2+
0,0106 0,0307 -0,0363
H
+
0,0186 -0,0030 0,8732*
COD 0,9986* -0,0301 -0,0236
% de variância 97,1 2,8 0,1
* valor considerado relevante
A componente principal 1 (PC 1) pode explicar aproximadamente 97% da
variabilidade dos dados, sendo que COD se apresentou como a única variável que é
influenciada por esta componente. Este resultado foi surpreendente pois se
esperava uma influência relevante também para o K
+
, devido à marcante
sazonalidade destas espécies quando há maior queima de biomassa, ou até mesmo
com Ca
2+
, devido à ressuspensão do solo. As demais componentes principais
apresentaram-se pouco significativas, visto que juntas explicam apenas 2,9% da
variabilidade dos resultados. A componente principal 2 (PC 2) teve um peso alto em
relação ao Ca
2+
, o que poderia caracterizar a influência da ressuspensão do solo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
62
Finalmente, a variância da componente principal 3 (PC 3) é tão baixa que não tem
importância relevante, ainda que tenha apresentado elevados pesos para H
+
e em
menor extensão para a condutividade, podendo ser associada à queima de
combustíveis fósseis.
Na tentativa de investigar melhor a contribuição do solo, foi tomado um novo
conjunto de amostras incluindo Al, considerando-se os mesmos critérios utilizados
anteriormente. O conjunto obtido apresentou-se composto de 65 amostras, sendo
que cerca de 35% das amostras foram coletadas ao longo do ano de 2004 e 65%
durante 2005 (
Tabela 11
), estando bem distribuídas dentro dos períodos de safra e
entressafra.
Tabela 11. Matriz de relevância das componentes principais obtidas para 65 amostras de
água de chuva de Ribeirão Preto
Variáveis PC 1 PC 2 PC 3
Condutividade 0,0126 0,0200 0,0394
K
+
0,0071 0,0199 0,0891
Na
+
0,0030 0,0056 0,0344
Ca
2+
0,0233 -0,0241 0,9936*
Mg
2+
0,0035 0,0073 0,0302
H
+
0,0097 0,0131 -0,0129
COD 0,3175* 0,9474* 0,0123
Al 0,9478* -0,3174 -0,0298
% de variância 88,97 10,36 0,65
* valor considerado relevante
Como se pode verificar, a componente principal 1 (PC 1) explica
aproximadamente 89% da variabilidade dos dados e tem um peso relevante para Al
e em menor extensão para COD, podendo caracterizar a influência do solo nas
amostras. É importante lembrar que Al é um micronutriente essencial para as plantas
e que durante a combustão da folha da cana este pode ser disponibilizado e
RESULTADOS E DISCUSSÃO
63
dissolvido na água de chuva. A componente principal 2 (PC 2) explica cerca de 10%
da variação dos dados, sendo relevante somente para COD, o que pode significar a
influência da queimada nas amostras analisadas. a componente principal 3 (PC
3) teve uma variância tão baixa que não tem importância relevante, mesmo tendo
um peso elevado para Ca
2+
.
Mesmo com este novo conjunto de resultados não foi possível atribuir com
maior segurança as fontes mais relevantes das espécies analisadas na água de
chuva de Ribeirão Preto. Talvez, no futuro, a análise de um número maior de
espécies possa contribuir para que os resultados se mostrem mais conclusivos.
4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aproximadamente 84% (n= 127) das amostras de chuva de Ribeirão Preto
apresentaram pH abaixo de 5,5, concordante com resultados relatados para regiões
com características similares. Não foi observada sazonalidade nas dias de pH
dos períodos de safra e entressafra, indicando que uma possível contribuição de
espécies orgânicas ácidas pela queima de biomassa pode ser mascarada pela
influência da emissão de gases ácidos pela frota automotiva de Ribeirão Preto.
As maiores condutividades se apresentaram associadas às maiores
concentrações de H
+
e de COD demonstrando a influência de íons derivados de
espécies ácidas e também de espécies orgânicas na composição iônica das chuvas
de Ribeirão Preto.
O elevado valor da média ponderada pelo volume das concentrações de COD
(282 µmol.L
-1
) foi surpreendente quando comparada com regiões onde elevada
queima de biomassa, como a Amazônia e a região de Piracicaba, além de
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
65
apresentar uma sazonalidade marcante. Observou-se um fluxo de deposição de
COD de 0,42 mol C m
-2
ano
-1
, muito próximo ao da Amazônia, 0,4 mol C m
-2
ano
-1
.
Estes resultados indicam uma importante fonte local de COD provavelmente devido
à queima da palha da cana-de-açúcar no período de safra. Porém não se pode
descartar possíveis fontes distantes de COD e fontes devido à ressuspensão do solo
e a queima de combustível fóssil. Os maiores picos de concentrações de COD
encontrados nas amostras de água de chuva o se correlacionaram nem com o
volume do evento nem com o número de dias de estiagem, sugerindo que a emissão
pirogênica de carbono orgânico modula as concentrações de carbono orgânico na
chuva.
A concentração média ponderada pelo volume de K
+
nas amostras de água
de chuva de Ribeirão Preto foi ligeiramente maior quando comparada às
concentrações obtidas em localidades de características similares. A utilização de
íon K
+
como traçador de queima de biomassa em Ribeirão Preto se mostrou
bastante viável devido à clara sazonalidade observada, sendo que no período de
safra sua concentração média ponderada pelo volume foi cerca de quatro vezes
aquela apresentada no período de entressafra.
A correlação significativa encontrada entre as concentrações de Na
+
e K
+
e
também de Na
+
e Ca
2+
, nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto sugere
que Na
+
pode ser de origem pirogênica e de ressuspensão do solo, sendo que a
concentração média ponderada pelo volume de Na
+
na água de chuva de Ribeirão
Preto se manteve próxima às de outras localidades de características semelhantes.
As concentrações médias ponderadas pelo volume de Ca
2+
e Mg
2+
nas
amostras de chuva deste trabalho foram similares a cidade de São Paulo e maiores
quando comparadas com outras regiões também localizadas no interior do Brasil,
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
66
além de serem bem correlacionadas entre si. A indústria regional de cerâmica deve
contribuir para a emissão destas espécies para a atmosfera porém a sazonalidade
bem definida observada aponta para uma importante fonte local, que pode ser
atribuída à ressuspensão do solo pelas atividades agrícolas.
Tanto as concentrações do íon K
+
como de Ca
2+
apresentaram uma boa
correlação linear com as concentrações de COD, 0,70341 e 0,61638,
respectivamente, sugerindo que tanto a queima de biomassa como a ressuspensão
do solo influenciam a concentração de COD na água de chuva de Ribeirão Preto.
O índice pluviométrico anual de Piracicaba e Santa Maria da Serra é próximo
ao de Ribeirão Preto, porém os fluxos de deposição úmida dos cátions majoritários
analisados neste trabalho são maiores que aqueles encontrados nestas cidades,
evidenciando possíveis fontes em toda a região no entorno de Ribeirão Preto. Vale
apontar que o bagaço da cana é utilizado como combustível nas usinas e indústrias
da região, o que também contribui para elevar a concentração na atmosfera de
espécies derivadas da queima de biomassa.
Dos metais traços analisados somente Cd não apresentou diferença
estatística entre a concentração média ponderada pelo volume no período de safra e
entressafra. A queima de combustíveis fósseis é uma importante fonte de metais
traços para a atmosfera em regiões urbanas e industrializadas, porém, neste
trabalho, o aumento na concentração de Pb, Cu, Zn e Al na época de safra indica
que a queima de biomassa e atividades agrícolas modulam o aporte destes metais
para a atmosfera de Ribeirão Preto.
As concentrações médias ponderadas pelo volume de Cd, Pb e Cu nas
amostras de água de chuva de Ribeirão Preto apresentaram-se semelhantes
àquelas observadas em sítios em regiões urbanas e industrializadas do hemisfério
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
67
norte, sendo que a concentração média de Cu é semelhante também àquela
encontrada próximo a uma usina termelétrica no sul do Brasil. Não foram
observadas correlações lineares de Cd e Cu com nenhuma das demais espécies
analisadas, sendo que o cálculo do fator de enriquecimento demonstra que na
atmosfera de Ribeirão Preto Cd e Cu encontram-se bastante enriquecidos com
relação ao solo, podendo ter origem em fontes distantes.
A boa correlação linear encontrada entre as concentrações de Pb e Ca
2+
nas
águas de chuva de Ribeirão Preto pode indicar que a ressuspensão do solo participa
de maneira significativa para o aporte de Pb na atmosfera local, todavia não
aparenta ser a única fonte, tendo em vista que este metal encontra-se enriquecido
na atmosfera de Ribeirão Preto quando comparado ao solo.
O Zn encontra-se bastante enriquecido na atmosfera de Ribeirão Preto em
relação ao solo, além de não ser observada a sua correlação linear com K
+
. Isto
sugere que em Ribeirão Preto, além da queima de biomassa, existem outras fontes
importantes de Zn para a atmosfera, incluindo fontes distantes.
Nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto, a concentração média
ponderada pelo volume de Al foi menor que às observadas em algumas regiões
urbanas e industriais dos Estados Unidos e Europa. A correlação significativa
observada entre as concentrações de Al e Ca
2+
sugere que a ressuspensão do solo
é fonte principal deste metal para a atmosfera de Ribeirão Preto e, portanto, sua
utilização como elemento de referência para o cálculo do FE parece viável.
Os elevados fluxos de deposição úmida de metais traços calculados para
Ribeirão Preto evidenciam a importância do alto índice pluviométrico da cidade para
o aporte destes metais na forma dissolvida, pois mesmo apresentado concentrações
CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
68
médias de metais traços menores que outras regiões, os fluxos de deposição em
Ribeirão Preto foram maiores.
A análise de componentes principais, utilizada para uma análise preliminar
dos resultados obtidos, separou Al e COD como sendo influenciados por duas
componentes distintas, as quais foram atribuídas como origem principal o solo e as
queimadas, respectivamente. Porém, nem a componente 1 (Al / solo) ou a
componente 2 (COD / queimadas) apresentou um peso significativo para as demais
espécies químicas no conjunto analisado, o que dificultou a atribuição das fontes de
emissão com maior segurança.
5. PLANEJAMENTO FUTURO
A fim de melhor caracterizar a composição química da atmosfera de Ribeirão
Preto planeja-se analisar ainda os ânions Cl
-
, SO
4
2-
e NO
3
-
, assim como os fluxos de
deposição. A determinação da concentração de metais traços por voltametria
também deve ser implementada, visando analisar aquelas amostras para as quais a
o limite de detecção alcançado por absorção atômica com atomização eletrotérmica
não se mostra suficientemente baixo.
Os dados meteorológicos, como trajetórias das parcelas de ar e emissão de
CO
2
por queimadas, devem ser avaliados com relação à influência de fontes na
água de chuva de Ribeirão Preto.
A análise multivariada dos resultados deve ser melhor explorada, tendo em
vista uma diminuição das lacunas existentes no conjunto de dados e um aumento no
número de variáveis para a caracterização da água de chuva de Ribeirão Preto.
REFERÊNCIAS
ALLEN, A. G.; CARDOSO, A. A.; da ROCHA, G. O. Influence of sugar cane burning on
aerosol soluble ion composition in Southeastern Brazil. Atmospheric Environment, v. 38, p.
5025-5038, 2004.
ALLOWAY, B. J.; AYRES, D. C. Inorganic pollutants. In: _____. Chemical principles of
environmental pollution. Edição. Londres: Blackie Academic & Profissional, 1993. p.
109-191.
AL-MOMANI, I. F.; YA'QOUB, A. R. A.; AL-BATAINEH, B. M. Atmospheric deposition of
major ions and trace metals near an industrial area, Jordan. Journal of Environmental
Monitoring, v. 4, p. 985-989, 2002.
ANDREAE, M. O. Soot carbon and excess fine potassium - long-range transport of
combustion-derived aerosols. Science, v. 220, p. 1148-1151, 1983.
BAIRD, C. A química da poluição do ar na troposfera. In: _____. Química Ambiental.
Edição. Porto Alegre: Bookman, 2002. p. 107-176.
BALBO, V. R.; RODRIGUES, F. S.; CAMPOS, M. L. A. M. Construção de equipamentos de
baixo custo para coleta de chuva e tratamento de amostras. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE QUÍMICA, 28., 2005, Poços de Caldas. Resumos... Poços
de Caldas: Sociedade Brasileira de Química, 2005.
BERNER, E. K.; BERNER, R. A. Rainwater and atmospheric chemistry. In: _____. Global
Environment: water, air and geochemical cycles. New Jersey: Prentice Hall, 1996. p. 62-
101.
REFERÊNCIAS
71
CAMPOS, M. L. A. M.; BENDO, A.; VIEL, F. C. Métodos de Baixo Custo para Purificação de
Reagentes e Controle da Contaminação para a Determinação de Metais Traços em Águas
Naturais. Química Nova, v. 25, p. 808-813, 2002.
CAMPOS, M. L. A. M.; MELLO, L. C.; ZANETTE, D. R.; SIERRA, M. M. S.; BENDO, A.
Construção e otimização de um reator de baixo custo para a fotodegradação da matéria
orgânica em águas naturais e sua aplicação no estudo da especiação química do cobre por
voltametria. Química Nova, v. 24, p. 257-261, 2001.
CAMPOS, M. L. A. M.; van den BERG, C. M. G. Determination of copper complexation in
seawater by cathodic stripping voltammetry and ligand competition with salicylaldoxime.
Analytica Chimica Acta, v. 284, p. 481-496, 1994.
CHESTER, R. The transport of material to the oceans: the atmospheric pathway. In: _____.
Marine geochemistry. 1º Edição. Londres: Unwin Hyman, 1990. p. 106-111.
DAMETTO, P. R.; NOGUEIRA, R. F. P.; CAMPOS, M. L. M. Estudo da descontaminação de
vidraria utilizada na determinação de carbono orgânico dissolvido em água de chuva. In:
CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNESP, 26., 2004, Marília. CD Rom...
Marília: Congresso de Iniciação Científica da UNESP, 2004.
DEBOUDT, K.; FLAMENT, P.; BERTHO, M. L. Cd, Cu, Pb and Zn concentrations in
atmospheric wet deposition at a coastal station in Western Europe. Water, Air, & Soil
Pollution, v. 151, p. 335-359, 2004.
DENATRAN. Disponível em: http://www.denatran.gov.br/Frota_03.htm
de SOUZA, P. A.; de MELLO, W. Z.; MALDONADO, J. Composição química da chuva e
aporte atmosférico na ilha grande, RJ. Química Nova, v. 29, p. 471-476, 2006.
DURST, R. A.; DAVISON, W.; KOCH, W. F. Recommendations for the electrometric
determination of the pH of atmospheric wet deposition (acid rain). Pure & Applied
Chemistry, 66, p. 649-658, 1994.
FLUES, M.; HAMA, P.; LEMES, M. J. L.; DANTAS, E. S. K.; FORNARO, A. Evaluation of the
rainwater acidity of a rural region due to a coal-fired power plant in Brazil. Atmospheric
Environment, v. 36, p. 2397-2404, 2002.
FORNARO, A.; GUTZ, I. G. R. Wet deposition and related atmospheric chemistry in the São
Paulo metropolis, Brazil: Part 2 – contribution of formic and acetic acids. Atmospheric
Environment, v. 37, p. 117-128, 2003.
FORTI, M. C.; MELFI, A. J.; ASTOLFO, R.; FOSTIER, A. H. Rainfall chemistry composition
in two ecosystems in the northeastern Brazilian Amazon (Amapá State). Journal of
Geophysical Research, v. 105, p.28895-28905, 2000.
GUIEU, C.; CHESTER, R.; NIMMO, M.; MARTINS, J. M.; GUERZONI, S.; NICOLAS, E.;
MATEU, J.; KEYSE, S. Atmospheric input of dissolved and particulate metals to the
northwestern Mediterranean. Deep Sea Research, v. 44, p. 655-674, 1997.
HU, G. P.; BALASUBRAMANIAN, R. Wet deposition of trace metals in Singapore. Water, Air
& Soil Pollution, v. 144, p. 285-300, 2003.
HU, G. P.; BALASUBRAMANIAN, R.; WU, C.D. Chemical characterization of rainwater at
Singapore. Chemosphere, v. 51, p. 747-755, 2003.
REFERÊNCIAS
72
IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/ em download/estatística/produção
agrícola/produção agrícola municipal/2005
KAPLAN, L. A. A field and laboratory procedure to collect, process, and preserve freshwater
samples for dissolved organic carbon analysis. Limnology and Oceanograpy, v. 39, p.
1470-1476, 1994.
KIEBER, R.J.; PEAKE, B.; WILLEY, J.D.; AVERY, G.B. Dissolved organic carbon and
organic acids in coastal New Zealand rainwater. Atmospheric Environment, v. 26, p. 3557-
3563, 2002.
KIM, G.; SCUDLARK, J. R.; CHURCH, T. M. Atmospheric wet deposition of trace elements
to Chesapeake and Delaware Bays. Atmospheric Environment, v. 34, p. 3437-3444, 2000.
KULSHRESTHA, U. C.; KULSHRESTHA, M. J.; SEKAR, R.; SASTRY, G. S. R.;
VAIRAMANI, M. Chemical characteristics of rainwater at an urban site of south-central India.
Atmospheric Environment, v. 37, p. 3019-3026, 2003.
LARA, L. B. L. S.; ARTAXO, P.; MARTINELLI, L. A.; VICTORIA, R. L.; CAMARGO, P. B.;
KRUSCHE, A.; AYERS, G. P.; FERRAZ, E. S. B.; BALLESTER, M. V. Chemical composition
of rainwater end anthropogenic influences in the Piracicaba River Basin, Southeast Brazil.
Atmospheric Environment, v. 35, p. 4937-4945, 2001.
LEAL,T. F. M.; FONTENELE, A. P. G.; PEDROTTI, J. J.; FORNARO, A. Composição iônica
majoritária de águas de chuva no centro da cidade de São Paulo. Química Nova, v. 27, p.
855-861, 2004.
LONGHURST, J. W. S.; RAPER, D. W.; LEE, D. S.; HEATH, B. A.; CONLAN, B.; KING, H. J.
Acid deposition - a select review 1852-1990 .2. effects on materials and health - abatement
strategies and programs. Fuel, v. 72, p. 1363-1380, 1993.
MPHEPYA, J. N.; GALY-LACAUX, C.; LACAUX, J. P.; HELD,G.; PIENAAR, J. J.
Precipitation Chemistry and Wet Deposition in Kruger National Park, South Africa. Journal
of Atmospheric Chemistry, v. 53, p. 169-183, 2006.
MIGLIAVACCA, D.; TEIXEIRA, E. C.; PIRES, M.; FACHEL, J. Study of chemical elements in
atmospheric precipitation in South Brazil. Atmospheric Environment, v. 38, p. 1641-1656,
2004.
MIGLIAVACCA, D.; TEIXEIRA, E. C.; WIEGAND, F.; MACHADO, A. C. M.; SANCHEZ, J.
Atmospheric precipitation and chemical composition of an urban site, Guaiba hydrographic
basin, Brazil. Atmospheric Environment, v. 39, p. 1829-1844, 2005.
MILLER, J. C.; MILLER, J. N. In: _____. Statistics for analytical chemistry. 2
ª
Edição.
Chichester: Ellis Horwood Limited, 1989.
MIRLEAN, N.; VANZ, A.; BAISCH, P. Níveis e origem da acidificação das chuvas na região
do Rio Grande, RS. Química Nova, v. 23, p. 590-593, 2000.
MOULI, P. C.; MOHAN, S. V.; REDDY, S. J. Rainwater chemistry at a regional
representative urban site: influence of terrestrial sources on ionic composition. Atmospheric
Environment, v. 39, p. 999-1008, 2005.
PACYNA, J. M.; PACYNA, E. G. An assessment of global and regional emissions of trace
metals to the atmosphere from anthropogenic sources worldwide. Environmental Reviews,
v. 9, p. 269-298, 2001.
REFERÊNCIAS
73
PIKE, S. M.; MORAN, S. B. Trace elements in aerolsol and precipitation at New Castle, NH,
USA. Atmospheric Environment, v. 35, p. 3361-3366, 2001.
PREFEITURA DE ARARAQUARA. Disponível em: http://www.araraquara.sp.gov.br
ROCHA, F. R.; da SILVA, J. A. F.; LAGO, C. L.; FORNARO, A.; GUTZ, I. G. R. Wet
deposition and related atmospheric chemistry in the Sao Paulo metropolis, Brazil: Part 1.
Major inorganic ions in rainwater as evaluated by capillary electrophoresis with contactless
conductivity detection. Atmospheric Environment, v. 37, p. 105–115, 2003.
ROCHA, J. C.; ROSA, A. H.; CARDOSO, A. A. Química da atmosfera. In: _____
.Introdução à Química Ambiental. Porto Alegre: Bookman, 2004. p. 65-102.
SHAH, M. H.; SHAHEEN, N.; JAFFAR, M. Characterization, source identification and
apportionment of selected metals in tsp in an urban atmosphere. Environmental Monitoring
and Assessment, v. 114, p. 573-587, 2006.
SPARKS, D. L. In _____. Environmental Soil Chemistry. Edição. Amsterdan: Academic
Press, 2003.
SPOKES, L. J.; CAMPOS, M. L. A. M.; JICKELLS, T. D. The role of organic matter in
controlling copper speciation in precipitation. Atmospheric Environment, v. 30, p. 3959-
3966, 1996.
VIEL, F. C. Avaliação da especiação química de cobre nas águas de chuva de
Florianópolis e magnitude da sua deposição utilizando a voltametria de redissolução
catódica. 2001. 70f. Dissertação (Mestrado em Química) Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2001.
WILLIAMS, M. R.; FISHER, T. R.; MELACK, J. M. Chemical composition of rain in the central
Amazon, Brazil. Atmospheric Environment, v. 31, p. 207-217, 1997.
WILLEY, J. D.; KIEBER, R. J.; EYMAN, M. S.; AVERY, G. B. Rainwater dissolved organic
carbon: Concentrations and global flux. Global Biogeochemical Cycles, v. 14, p. 139-148,
2000.
APÊNDICE
APÊNDICE A Programas de aquecimento utilizados nas medidas das
concentrações de metais traços por absorção atômica com atomização
eletrotérmica
Tabela 12. Programa de aquecimento utilizado para determinação simultânea de Pb e
Cd nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto. Medidas para Pb utilizaram lâmpadas
de catodo oco, i = 10 mA e λ = 283,3 nm. Medidas para Cd utilizaram lâmpada de descarga
sem eletrodo, i = 230 mA e λ = 228,8 nm. Realizão de 4 injeções de 20 µL de amostra,
para cada replicata, a uma temperatura de 20 ºC
Etapa
T (ºC)
Rampa de Tempo Tempo de Espera Fluxo do gás Gás
1 130 10 15 250 N
2 500 10 10 250 N
3 1800 0 5 0 N
4 2200 1 3 250 N
Tabela 13. Programa de aquecimento utilizado para determinação de Zn nas amostras
de água de chuva de Ribeirão Preto, utilizando lâmpada de descarga sem eletrodo, i = 250
mA, λ = 213,9 nm, com injeção de 5 µL de amostra a uma temperatura de 20 ºC
Etapa
T (ºC)
Rampa de Tempo Tempo de Espera Fluxo do gás Gás
1 130 10 15 250 N
2 500 10 5 250 N
3 2000 0 3 0 N
4 2400 2 3 250 N
Tabela 14. Programa de aquecimento utilizado para determinação simultânea de Cu e Al
nas amostras de água de chuva de Ribeirão Preto utilizando lâmpadas de catodo oco.
Medidas de Cu utilizaram i = 10 mA e λ = 324,8 nm. Medidas de Al utilizaram i = 4 mA e λ =
309,3 nm. Injeção de 20 µL de amostra, para cada replicata, a uma temperatura de 20 ºC
Etapa
T (ºC)
Rampa de Tempo Tempo de Espera Fluxo do gás Gás
1 110 10 25 250 N
2 130 5 10 250 N
3 800 10 5 250 N
4 2400 0 5 0 N
5 2450 1 3 250 N
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo