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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
JULIANA TEIXEIRA FIQUER
BEM-ESTAR SUBJETIVO: INFLUÊNCIA DE
VARIÁVEIS PESSOAIS E SITUACIONAIS EM AUTO-
RELATO DE AFETOS POSITIVOS E NEGATIVOS
São Paulo
2006
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JULIANA TEIXEIRA FIQUER
BEM-ESTAR SUBJETIVO: INFLUÊNCIA DE
VARIÁVEIS PESSOAIS E SITUACIONAIS EM AUTO-
RELATO DE AFETOS POSITIVOS E NEGATIVOS
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo, como parte dos
requisitos para obtenção do grau de Mestre em
Psicologia
Área de Concentração: Psicologia Experimental
Orientadora: Prof
a
. Titular Emma Otta
São Paulo
2006
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Fiquer, Juliana Teixeira.
Bem-estar subjetivo: influência de variáveis pessoais e situacionais
em auto-relato de afetos positivos e negativos / Juliana Teixeira Fiquer;
orientadora Emma Otta. -- São Paulo, 2006.
143 p.
Dissertação (Mestrado Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Experimental) – Instituto
de Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Felicidade 2. Ambientes urbanos 3. Depressão 4.
Desenvolvimento humano 5. Aprovação social 6. Diferenças
sexuais (humanos) I. Título.
BJ1481-1486
JULIANA TEIXEIRA FIQUER
BEM-ESTAR SUBJETIVO: INFLUÊNCIA DE
VARIÁVEIS PESSOAIS E SITUACIONAIS EM AUTO-
RELATO DE AFETOS POSITIVOS E NEGATIVOS
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Psicologia.
Área de Concentração: Psicologia Experimental.
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
Dissertação defendida e aprovada em ____/____/____
Aos meus pais, João e Maria José, que
com carinho e simplicidade me
apoiaram nos momentos de desamparo
e me ensinaram o significado da
gratidão e da felicidade.
AGRADECIMENTOS
À Emma, minha querida orientadora, por me ensinar o que significa fazer ciência, por ser a
maior incentivadora desta dissertação, e pela amizade e carinho que demonstrou ter por mim
nos anos de convivência.
Aos anônimos 487 Participantes desta pesquisa, que forneceram informações para que esta
dissertação pudesse existir.
Ao Paulo Sérgio Boggio, por criar condições para que parte desta pesquisa pudesse ser
realizada no contexto hospitalar, e pela amizade desenvolvida ao longo do mestrado.
Aos colegas Márcia Melhado, Marina Rocha, Leandro Nascimento e Gabriela da Silva,
pela colaboração na coleta do material para a pesquisa.
À Professora Vera Silvia Raad Bussab e à Professora Renata Plaza Teixeira por suas
leituras e valiosas sugestões feitas ao projeto de qualificação.
À Professora Patrícia Izar e à Doutora Yumi Gosso pela disponibilidade em participar como
suplentes da banca de qualificação e de defesa da dissertação.
Ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, pela oportunidade de realização
do curso de mestrado.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pela concessão da bolsa de
iniciação científica e mestrado e pelo apoio financeiro para a realização desta pesquisa.
A Todos do Serviço de Eletroconvulsoterapia do IPq/FMUSP, pela amizade, convívio e
trabalho dedicado à realização de parte desta pesquisa.
Ao Giuliano Mega, pelo carinho, apoio e companhia em momentos difíceis.
Aos meus tios Moíses dos Santos Carneiro e Maria da Conceição Teixeira, por me
apoiarem de forma carinhosa em tudo que faço e pela prontidão em me ajudar em momentos
importantes.
À minha única irmã, Beatriz Teixeira Fiquer, pela amizade e incentivos.
Ao meu pai, João Roberto Fiquer, que mesmo diante de muitas dificuldades, confiou em
mim e investiu nos meus estudos.
À minha mãe, Maria José Teixeira Fiquer, pela força, pelo colo, pelo amor incondicional, e
pelo ensinamento de que os sonhos que trazemos dentro de nós são sempre dignos e possíveis
de serem realizados.
"Felicidade é ter algo o que
fazer, ter algo que amar e
algo que esperar."
Aristóteles
RESUMO
FIQUER, J. T. Bem - Estar Subjetivo: Influência de Variáveis Pessoais e Situacionais em
Auto-Relato de Afetos Positivos e Negativos. 2006. 145 f. Dissertação (Mestrado)
Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
O objetivo do Estudo 1 foi comparar auto-relatos de afetos positivos e negativos de homens e
mulheres de diferentes grupos etários (jovens, adultos, meia-idade e idosos), habitantes de
quatro cidades brasileiras. Aplicou-se a Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS) a
uma amostra composta por habitantes de São Paulo/capital (N = 84), de Socorro-SP (N = 85),
de João Pessoa-PB (N = 80) e de Salvador-BA (N = 82). Os resultados foram analisados
através de ANOVA. Encontrou-se efeito principal significativo de cidade e idade para afetos
positivos e negativos. Habitantes de São Paulo apresentaram escores mais baixos de afetos
positivos em comparação com habitantes das demais cidades e escores mais elevados de
afetos negativos em comparação com habitantes de Socorro. Os idosos apresentaram escores
mais elevados de afetos positivos e mais baixos de afetos negativos que os adultos e os
jovens. Finalmente, foi encontrado efeito de interação sexo x idade. Mulheres adultas
relataram mais afetos negativos que homens adultos, enquanto na velhice as mulheres
ultrapassaram os homens quanto aos escores de afetos positivos. Os resultados obtidos estão
de acordo com as previsões feitas pela teoria da seletividade socioemocional, segundo a qual
o bem-estar aumenta com a idade em função de uma melhor regulação de emoções. A
presente pesquisa mostra que relatos de afetos positivos e negativos podem ser modulados por
gênero em faixas etárias específicas. O conflito maternidade x emprego é um grande fator de
estresse e pode contribuir para os resultados obtidos. O objetivo do Estudo 2 foi verificar até
que ponto o padrão de resultados de Desejabilidade Social (DS) replicaria o padrão de
resultados obtido para a PANAS através da aplicação da Escala de Desejabilidade Social de
Crowne e Marlowe (1960) a uma amostra de participantes (N = 115) com distribuição por
sexo e idade semelhante a do primeiro estudo. Foi encontrado efeito principal significativo de
idade, com os idosos apresentando escores mais elevados de DS que pessoas mais jovens, mas
não foi encontrada diferença significativa de gênero para os escores de DS. Estes dados
indicam que os resultados do Estudo 1 não podem ser inteiramente atribuídos à influência de
DS. O objetivo do Estudo 3 foi comparar auto-relatos de Afetos Positivos e Negativos de
pacientes deprimidos e de pessoas sem depressão. A amostra clínica foi constituída por
homens e mulheres de meia-idade (14 homens e 27 mulheres), diagnosticados com Transtorno
Depressivo Maior, provenientes do Instituto de Psiquiatria de um hospital público. A amostra
não clínica foi a mesma utilizada no Estudo 1, constituída por homens e mulheres também de
meia-idade, habitantes da cidade de São Paulo. O grupo com depressão apresentou escores de
afetos negativos mais altos e de afetos positivos mais baixos em comparação com o grupo
controle. Concluímos que a PANAS é um instrumento sensível para a diferenciação de
estados de ânimo patológicos e não patológicos.
Palavras-chave: Felicidade. Desenvolvimento Humano. Ambientes Urbanos. Diferenças
Sexuais (Humano). Aprovação Social. Depressão.
ABSTRACT
FIQUER, J. T. Subjective Well-being: The influence of personal and environmental
factors in reports of positive and negative affects. 2006. 145 f. Thesis (Master) Instituto
de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
The objective of Study 1 is the comparison of reports of positive and negative affects
presented by men and women belonging different age groups (young, adult, middle-aged and
elderly) and different locations. People from four brazilian cities were subjected to a
questionnaire the Positive and Negative Affect Scale (PANAS) and the results were
analyzed through ANOVA. The resulting sample is composed of a mixture of questionnaires
answered by 84 people from São Paulo-SP, 80 people from João Pessoa-PB, 85 people from
Socorro-SP, and 82 people from Salvador-BA. We have found city and age to be of high
relevance to both positive and negative affect levels. The inhabitants of São Paulo scored
lower with respect to positive affects than the inhabitants of the other three cities. The
inhabitants of São Paulo also scored higher in negative affects than the inhabitants of Socorro.
Elderly people scored higher in positive affects and lower in negative affects than both adults
and young people. Lastly, we found an interaction between sex and age. Adult women
reported larger quantities of negative affects than men of the same age. Elderly women, on the
other hand, scored higher with respect to positive affects than men at that same age. The
observed results are in accordance with what is predicted by the socioemotional selectivity
theory, which dictates that well-being increases with age due to changes that favor emotional
stability. Our research shows that the effects of gender on positive and relative affect reports
are also related to age. The maternity vs. job conflict represents an important source of stress
that may have contributed to these results. The objective of Study 2 is to check whether Social
Desirability (SD) can replicate the patterns of results that we obtained for PANAS in Study 1.
To that extent, we applied the Social Desirability Scale of Crowne and Marlowe (1960) to a
randomly selected sample of 115 individuals with sex and age distributions that resembled the
distributions of our first study. We found evidence that SD scores were related to age, with
elderly people reporting higher scores of SD than younger people. However, we found no
statistically relevant evidence that gender could influence SD scores. This data points toward
the fact that the results we observed in Study 1 cannot be completely explained by SD
influence. The objective of Study 3 is to compare reports of positive and negative affects in
depressive and non-depressive individuals. The clinical sample is composed of middle-aged
men and women (14 men and 27 women) who had been previously diagnosed with Major
Depression. The non-clinical sample was the same we used in Study 1, which is also
composed of middle-aged men and women who reside in the city of São Paulo. Individuals
belonging to the depression group scored higher and lower with respect to negative and
positive affects, respectively, than the individuals belonging to the non-depressive group. We
were able to establish that PANAS is indeed an adequate instrument for distinguishing
between depressive and non-depressive emotional states.
Keywords: Happiness. Adult Development. Urban Environments. Human Sex Differences.
Social Approval. Major Depression.
SUMÁRIO
I) CAPÍTULO 1 ........................................................................................... 01
1. INTRODUÇÃO GERAL: Fundamentação teórica do Estudo da
Felicidade e do Bem-estar.............................................................................. 01
1.1 Considerações Gerais............................................................................... 02
1.2 Teorias filosóficas sobre a felicidade ...................................................... 03
1.3 Teorias psicológicas sobre a felicidade ................................................... 08
1.4 O conceito de Bem-Estar Subjetivo......................................................... 11
II) CAPÍTULO 2 ......................................................................................... 18
ESTUDO 1
1. INTRODUÇÃO: Influência de idade, gênero e ambiente sobre relatos
de estados de ânimo..................................................................................... 18
1.1 Idade e bem-estar..................................................................................... 18
1.2 Gênero e bem-estar.................................................................................. 23
1.3 Ambiente e bem-estar.............................................................................. 27
2. OBJETIVO............................................................................................... 34
2.1 Hipóteses.................................................................................................. 34
2.2 Relevância Prática do Estudo................................................................... 35
3. MÉTODO................................................................................................. 36
3.1 Participantes............................................................................................. 36
3.2 Material.................................................................................................... 38
3.3 Procedimento........................................................................................... 39
4. CARACTERIZAÇÃO DAS CIDADES................................................. 41
4.1 São Paulo – SP......................................................................................... 41
4.2 Socorro – SP............................................................................................. 45
4.3 João Pessoa – PB...................................................................................... 47
4.4 Salvador – BA.......................................................................................... 50
4.5 Síntese...................................................................................................... 52
5. RESULTADOS......................................................................................... 54
5.1 Afetos Positivos....................................................................................... 54
5.2 Afetos Negativos...................................................................................... 57
5.3 Satisfação com a Vida.............................................................................. 61
5.4 Satisfação com a Cidade.......................................................................... 63
6. DISCUSSÃO............................................................................................. 66
III) CAPÍTULO 3......................................................................................... 80
ESTUDO 2
1. INTRODUÇÃO: Desejabilidade Social como variável correlata de
auto-relatos de afetos..................................................................................... 80
2. OBJETIVO............................................................................................... 84
2.1 Hipóteses.................................................................................................. 84
2.2 Relevância Prática do Estudo................................................................... 84
3. MÉTODO................................................................................................. 86
3.1 Participantes............................................................................................. 86
3.2 Material ................................................................................................... 86
3.3 Procedimento........................................................................................... 87
4. RESULTADOS......................................................................................... 88
4.1 Desejabilidade Social............................................................................... 88
4.2 Afetos Positivos e Negativos................................................................... 89
5. DISCUSSÃO............................................................................................. 91
IV) CAPÍTULO 4 ........................................................................................ 95
ESTUDO 3
1. INTRODUÇÃO: Influência de Humor Depressivo em Relatos de
Estado de Ânimo............................................................................................ 95
2.OBJETIVO................................................................................................ 102
2.1 Hipótese................................................................................................... 102
2.2 Relevância Prática do Estudo................................................................... 102
3. MÉTODO................................................................................................. 103
3.1 Participantes ............................................................................................ 103
3.2 Material ................................................................................................... 103
3.3 Procedimento........................................................................................... 104
4. RESULTADOS ....................................................................................... 105
4.1 Afetos Positivos....................................................................................... 105
4.2 Afetos Negativos...................................................................................... 106
4.3 Índice de Equilíbrio de Afeto................................................................... 107
4.4 Satisfação com a Vida.............................................................................. 108
5. DISCUSSÃO............................................................................................. 111
V) EM CONCLUSÃO ................................................................................ 114
VI) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................... 117
VII) ANEXOS............................................................................................... 135
I ) CAPÍTULO 1
1. INTRODUÇÃO GERAL: Fundamentação teórica do Estudo da
Felicidade e do Bem-estar
“Penetrai bem profundo em toda a vida humana. Embora todos a vivam, não muitos a
conhecem.”
Goethe
A idéia da presente pesquisa foi sugerida por um número temático do American Psychologist,
de janeiro de 2000, dedicado à felicidade e ao funcionamento humano ótimo. Um resultado
recorrentemente apresentado em vários artigos deste número é a influência favorável de
estados emocionais positivos sobre a saúde das pessoas, o que pode se dar através de
diferentes mecanismos, tais como: efeito direto sobre a fisiologia, especialmente o sistema
imunológico, recursos psicológicos engendrados por estados emocionais positivos, motivação
de comportamentos relevantes para a saúde. O objetivo da dissertação foi investigar relatos de
estados de ânimo positivos e negativos em relação à idade, aonero e ao tipo de cidade em
que a pessoa vive. Observações complementares foram feitas sobre a possível influência de
desejabilidade social e de humor deprimido sobre os relatos de estado de ânimo. No Estudo 1,
uma amostra de habitantes das cidades de São Paulo, Socorro, João Pessoa e Salvador,
distribuídos igualmente por sexo e idade (jovens, adultos, meia- idade e idosos) responderam
a uma versão adaptada da escala de afetos PANAS (Positive Affect Negative Affect Scale).
No Estudo 2, uma amostra de habitantes da cidade de Socorro (distribuídos de maneira
equivalente ao Estudo 1 quanto a sexo e idade) respondeu a uma escala de Desejabilidade
Social (Escala de Desejabilidade Social de Marlowe & Crowne, 1960). No Estudo 3, uma
1
amostra de pacientes com diagnóstico psiquiátrico de depressão leve/moderada proveniente
do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (IpQ/HC-FMUSP) respondeu a mesma versão adaptada da escala
de afetos PANAS utilizada no Estudo 1.
1.1 Considerações Gerais
Na filosofia, na literatura e nas artes em geral, há uma longa tradição de conceber a vida como
uma tragédia. Sófocles, em Oedipus at Colonus, disse: Not to be born is, past all prizing,
best”.
1
Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas, escreveuNão tive filhos,
não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Woody Allen classificou a
vida em dois tipos: aquela que é horrível e aquela que é apenas infeliz. Segundo o matemático
e filósofo inglês Bertrand Russell (1872-1970), a maioria das pessoas é infeliz.
A Psicologia durante muito tempo também deu mais ênfase a questões relacionadas à doença
do que à saúde (DIENER, 1984; MYERS, 2000). O bem-estar foi em larga medida ignorado,
enquanto a infelicidade foi explorada em profundidade. Uma busca eletrônica no
Psychological Abstracts revelou desde 1887 um total de 8.072 artigos sobre raiva e 70.856
sobre depressão, enquanto apenas 851 sumários mencionavam alegria, 2.958 felicidade e
5.701 satisfação com a vida. Todavia, uma mudança de ênfase pode ser identificada na
trajetória profissional de alguns psicólogos, como é o caso de Martin Seligman, que na década
de 70 publicou Helplessness: On depression, development, and death e na década de 90
publicou Learned optimism: how to change your mind and your life.
Pesquisas recentes têm mostrado que as pessoas têm uma visão muito mais otimista da vida
do que supunham os filósofos, escritores e artistas. Solicitados a escolher a face que melhor
1
“Não nascer é melhor, apesar de todos os prazeres.”
2
expressava seu sentimento em relação à vida, nove em 10 habitantes de Detroit escolheram
faces que expressavam alegria (MYERS; DIENER, 1995; MYERS, 2000). Em outra pesquisa
(BLACK; MCCAFFERTY, 1998), quando solicitados a indicar a pessoa que consideravam
mais feliz, os participantes responderam: Oprah Winfrey (23%), Bill Gates (7%), o Papa
(12%), Chelsea Clinton (3%), si mesmo (49%) e não sei (6%).
1.2 Teorias filosóficas sobre a felicidade
O termo Felicidade” é proveniente do latim ‘felicitas’, que vem de ‘Felix’: algo ditoso,
afortunado, feliz. Num sentido amplo é a ausência de todo o mal e a vivência plena do bem.
Em geral, um estado de satisfação devido à própria situação no mundo (ABBAGNANO,
1970). A felicidade foi muitas vezes vinculada ao espírito religioso, ao estar com Deus
como no conceito de Nirvana, da religião hindu – à tranqüilidade interior (STINGEL, 2003).
No budismo, a felicidade é associada à paz de espírito resultante da prática de uma vida ética,
virtuosa (CLARK et al., 2006). Segundo Dalai Lama (2000), muitos dos problemas da vida
moderna como crimes, relações abusivas, suicídio, guerras - são problemas essencialmente
éticos, uma conseqüência da realização de desejos egoístas e do descaso e desrespeito em
relação ao próximo. A disciplina ética, que envolve o cultivo de virtudes como o amor, a
compaixão, a paciência e a tolerância seria o meio pelo qual os atos humanos (pensamentos,
ações, desejos) estariam voltados ao bem-estar comum, minimizando fontes de sofrimento,
maximizando paz/harmonia e resultando em felicidade.
No Velho Testamento a felicidade centra-se na aquisição dos bens mais elementares como
comer, beber e viver em família, que são bens obtidos através do temor a Deus
2
, que leva os
2
Exemplos da relação entre o temor a Deus e a aquisição de elementos que oferecem felicidade estão no Livro
dos Salmos, capítulos 36 e 111, e no Livro de Eclesiástico, capítulo 1, versículos 11 à 40.
3
homens a praticar atos justos.no Novo Testamento, a felicidade está nas bem-aventuranças
prometidas por Jesus
3
. Ainda no âmbito religioso, Santo Agostinho (354-430) descreveu a
felicidade tendo por fim a sabedoria, a aproximação da verdade absoluta, ou seja, de Deus.
Em sua visão, vinculou o cristianismo à tradição filosófica grega (valendo-se das idéias de
Platão e Plotino) afirmando que a única razão do homem para filosofar era a de atingir a
felicidade. Ainda que as verdades da não sejam demonstráveis, considerava benéfico o uso
da razão para demonstrar o acerto de se crer nelas, que sustentava ser necessário
compreender para crer e crer para compreender (PESSANHA, 2002). Tomás de Aquino (1225
- 1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a
definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual”.
No campo da filosofia, um dos primeiros pensadores a se interessar pela investigação do que
seria a felicidade foi o filósofo Demócrito de Abdera (460 - 370 a.C.). Sugeriu que uma vida
feliz seria uma vida agradável, não em função das coisas que uma pessoa possui, mas sim pela
maneira como as pessoas felizes reagem às circunstâncias presentes em suas vidas
(TATARKIEWICZ, 1976). Ou seja, a felicidade seria uma propriedade da alma humana que
se refletiria na maneira positiva das pessoas reagirem a eventos cotidianos, não sendo,
portanto, algo a ser procurado em bens exteriores. Na Teoria do Comportamento que
formulou, Demócrito também destacou a importância dos princípios de prazer e dor como
determinantes da felicidade. A maneira positiva dos indivíduos reagirem diante de distintas
situações seria aquela voltada ao prazer e à minimização do desprazer, conduta esta possível
através das capacidades de discernimento e de julgamento do valor dos diferentes tipos e
graus de prazeres e desprazeres (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1974). Demócrito enfatiza
que o prazer e a dor poderiam ser mensurados, e portanto julgados, através de movimentos
3
Exemplos das bem-aventuranças prometidas por Jesus estão no Evangelho Segundo São Lucas, capítulo 4,
versículos 14 à 21, e no Evangelho Segundo São João, capítulo 14.
4
mecânicos ou de posições de equilíbrio da psique, que permitiriam ao homem agir de forma
equilibrada e prazerosa em todas situações de decisão.
Sócrates (470 - 399 a.C.), filósofo contemporâneo de Demócrito, definiu como a chave para a
felicidade o “conhecer-se a si mesmo”, salientou a introspecção como o meio que leva o
homem a tomar consciência de sua própria ignorância e a aprender a bem pensar para bem
viver (BICKHOUSE; SMITH, 1987). O bem viver está relacionado à prática da virtude, que é
adquirida com a sabedoria. Desta forma, se é feliz quando se é moralmente bom. Para
Sócrates a filosofia seria o caminho a ser utilizado pelas pessoas para adquirirem maior
sabedoria, e, por conseguinte, a verdadeira felicidade (PADOVANI; CASTAGNOLA, 1974).
Platão (428-347 a.C.), discípulo de Sócrates, relacionou a felicidade à ação moral. Em suas
reflexões ético-políticas presentes na República”, definiu que a verdadeira felicidade residia
na forma de existência consagrada ao conhecimento do Bem. O Bem representaria o
verdadeiro ideal humano de viver da maneira mais semelhante a Deus (SANTOS, 2001).
Platão referia-se à felicidade utilizando preferencialmente a palavra grega “makaría”, que
significa virtuoso. Evidenciava que a felicidade não era algo que dependia apenas de atos
concretos humanos, mas também de um envolvimento com um plano mais profundo: o plano
das Idéias imutáveis e eternas, também conhecido como o “mundo inteligível”. O mundo
inteligível seria alcançável através do afastamento da materialidade do mundo, e da
aproximação dos domínios dos sentidos, da inteligência, da arte e das virtudes humanas
(LOBO, 1979).
Aristóteles (384-322 a.C.) concluiu que mais do que qualquer outra coisa, homens e mulheres
buscam a felicidade. Ela é procurada por si mesma, enquanto todas as outras metas como a
5
saúde, a beleza, o dinheiro, o poder são valorizadas somente porque se espera que tragam a
sensação de felicidade. Em “Ética a Nicômaco”, Aristóteles enfatiza que a vida boa reside na
virtude e na busca de um bem supremo, e que a felicidade é “a atividade virtuosa”, algo a ser
exercitado, e não possuído como uma disposição. Diferenciou três tipos de felicidade: uma de
um nível inferior que remete à simples idéia de que o prazer traz felicidade; uma de um nível
intermediário em que a felicidade está relacionada com o sentimento de ser bem-sucedido; e
uma de um nível mais elevado que remete à felicidade produzida por uma vida contemplativa.
Aristóteles, diferentemente de Platão, empregava a palavra grega “eudaimonia” para referir-se
à felicidade, enfatizando o sentido de se ter um bem, sorte e prosperidade A eudaimonia teria
um caráter permanente, denotando um sucesso geral na vida (MARÍAS, 1989).
A procura de uma felicidade compatível com as condições humanas, através do conhecimento
da Natureza, deu origem em fins do século IV a.C. a uma escola filosófica denominada
Epicurismo. Epicuro (341-270 a.C.) identificou a felicidade com tipos específicos de prazer.
A felicidade estaria em prazeres que duram, em princípio, a vida inteira; tranqüilos; que
indicam primordialmente a ausência de dor. Por outro lado, os prazeres momentâneos,
fugazes, não lhe pareciam muito valiosos. Considerava que prazeres intensos,
demasiadamente vivos e violentos, não são duradouros, e com freqüência terminam mal,
deixando um rastro de melancolia e dor (MARÍAS, 1989). O sofrimento deveria ser evitado
ao máximo, exceto nos casos em que acarretasse um futuro prazer bem maior, ou seja, deveria
ser aceito com coragem todo sofrimento do qual resultasse um prazer maior ou um alívio
compensador. Ao mesmo tempo, todos prazeres dos quais decorressem sofrimentos ou
aborrecimentos maiores deveriam ser evitados (LOBO, 1979).
6
No século XIX, surge o movimento filosófico intitulado Utilitarismo, que associa a felicidade
à busca de prazer e evitação de dor. Destaca-se neste movimento o filósofo inglês Jeremy
Bentham (1748-1832)
4
, estabelecendo um cálculo para a felicidade, um sistema destinado a
confrontar os prós e contras das eventuais ações humanas, em vista da melhor resultante
possível delas. Achava que os homens deveriam promover, na medida do possível, situações
em que a quantidade ou intensidade do prazer superasse a do sofrimento, proposta bastante
semelhante à feita por Epicuro mais de dois mil anos. Para Bentham, os homens eram
propensos ao egoísmo, por isso, para obrigar cada qual a lutar pela própria felicidade, sem
lesar os outros, afirmava a necessidade de sanções estruturadas com inteligência, dentro de
um sistema penal cuidadosamente elaborado e aplicado (LOBO, 1979).
Arthur Schopenhauer (1788-1860), também durante o século XIX, apresenta uma concepção
bastante pessimista sobre a felicidade humana. Partilha da visão de que o mundo não é regido
por um conjunto perfeitamente coerente de leis racionais, mas por uma vontade irracional e
natural, sem qualquer origem divina ou antropomórfica (PADOVANI; CASTAGNOLA,
1974). Desta forma, o homem, assim como as demais coisas do mundo, seria apenas a
objetivação de tal vontade irracional, também denominada de “vontade universal”, que não
tem consciência e nem meta. Para o filósofo, a vontade universal provoca nos homens
necessidades, desejos conscientes, que nunca atingem plenamente seus propósitos. Os desejos
e necessidades humanos têm apenas dois caminhos: ou são alvo de uma satisfação temporária
e parcial que visa apenas o alívio, ou não são satisfeitos e trazem sofrimento, o que sentencia
a impossibilidade da verdadeira felicidade humana (LOBO, 1979).
4
J. Bentham citou: “Nature has placed mankind (...) under the control of two sovereign masters, pain and
pleasure. It is for them alone to point out what (…) we shall do.” (Sir. Leslie Stephen, 1950, p. 237). (“A
natureza colocou a humanidade (...) sob o controle de dois mestres supremos, a dor e o prazer. É apenas deles o
papel de nos mostrar o que (...) devemos fazer”).
7
A felicidade também foi associada mais intensamente à prosperidade econômica e a
qualidades do Estado por alguns pensadores. Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels
(1820-1895), por exemplo, defendiam que uma sociedade voltada aos interesses coletivos, à
justiça, igualdade e prosperidade é que asseguraria a satisfação de necessidades e bem-estar
aos indivíduos. Julgavam que a felicidade e/ou o bem-estar do ser humano estariam presos aos
proventos materiais advindos do trabalho, visto que a posse de bens daria mais conforto à
vida humana.
1.3 Teorias psicológicas sobre a felicidade
Wilson (1967), numa tentativa de integração das diferentes concepções de felicidade,
classificou as teorias psicológicas sobre felicidade em: télicas, prazer e dor, de atividade,
teorias de “cima para baixo” (up-down) e de “baixo para cima” (down-up), associacionistas e
de julgamento.
Segundo as teorias télicas, a satisfação de necessidades causa felicidade e a insatisfação
persistente destas causa infelicidade. As necessidades seriam universais para alguns autores
(MASLOW, 1970) e diferentes entre os indivíduos para outros (MURRAY, 1938;
SCHULTZ; SCHULTZ, 2001). Em suas pesquisas, Diener (1984) encontrou algum apoio
para a idéia de que as pessoas vivenciam felicidade quando necessidades particulares são
satisfeitas.
Segundo as teorias de prazer e dor, eles estão intimamente relacionados (TATARKIEWICZ,
1976). Um indivíduo tem objetivos ou necessidades na medida em que algo falta em sua
vida. Assim, um estado de carência ou privação é um precursor da felicidade e quanto maior é
a carência, maior é a alegria ao se atingir o objetivo.
8
Enquanto as teorias télicas associam a felicidade a certos estados terminais, as teorias de
atividade consideram que a felicidade é um subproduto da atividade humana. De acordo com
Scitovsky (1976), o importante é o movimento em direção a objetivos e a luta para atingi-los,
mais do que a real obtenção dos objetivos buscados. Um tema freqüente nas teorias de
atividade é a redução de felicidade associada a uma atitude auto-centrada
(CSIKSZENTMIHALYI; FIGURSKI, 1982) e está de acordo com a idéia popular de que
concentrar-se em obter felicidade pode ter efeito contrário ao desejado. Segundo essa
abordagem, deveríamos nos concentrar em atividades importantes e a felicidade decorreria
como um subproduto não pretendido. A formulação mais explícita da relação entre atividade e
bem-estar é a teoria do fluxo (CSIKSZENTMIHALYI, 1975): as atividades são prazerosas
quando o desafio está ajustado ao nível de habilidade da pessoa. Se a atividade é fácil demais
ocorre tédio. Por outro lado, se é difícil demais resulta em ansiedade. Uma experiência
prazerosa de fluxo resultará quando uma pessoa está envolvida numa atividade que demanda
concentração, em que suas habilidades e o desafio da tarefa são aproximadamente
correspondentes.
Teorias de “cima para baixo” (top-down) (DIENER, 1984) podem ser diferenciadas de teorias
de “baixo para cima” (bottom-up) (HEADY; VEENHOVEN; WEARING, 1991; DIENER,
1984). Para as últimas, a felicidade é simplesmente a soma de muitos pequenos prazeres. Por
outro lado, para as teorias de “cima para baixo”, existe uma tendência geral para vivenciar as
coisas de forma positiva e essa tendência influencia as interações momentâneas do indivíduo
com o mundo, ou seja, uma pessoa experimenta prazeres porque é alegre e não vice-versa.
Nessa visão, a causação ocorre de elementos de ordem superior para níveis inferiores ou mais
elementares (DIENER, 1984). Por exemplo, segundo Demócrito, como destacado
9
anteriormente, uma vida feliz o depende de fortuna ou de contingências externas, mas
também e, em maior grau, da maneira de pensar de um homem. O importante não é o que um
homem tem, mas como ele reage àquilo que possui (TATARKIEWICZ, 1976, p.29).
As teorias associacionistas são baseadas em memória, condicionamento ou princípios
cognitivos. A abordagem cognitiva está relacionada com redes associativas na memória.
Bower (1981) mostrou que as pessoas lembram de acontecimentos que são afetivamente
congruentes com seu estado emocional atual. A pesquisa sobre redes de memória sugere que
as pessoas poderiam desenvolver uma rica rede de associações positivas e uma rede mais
limitada e isolada de associações negativas. Nessas pessoas, mais eventos ou idéias
disparariam idéias e afetos alegres. Assim, uma pessoa que tem uma rede positiva bem
desenvolvida estaria predisposta a reagir a um maior número de eventos de forma positiva.
Condicionamento e redes de memória podem funcionar sem intervenção consciente explícita.
No entanto, algumas evidências de que uma pessoa pode dirigir conscientemente as suas
associações afetivas. Fordyce (1977) mostrou que uma tentativa consciente para reduzir
pensamentos negativos pode aumentar a felicidade.
Segundo as teorias de julgamento a felicidade resulta de uma comparação entre algum padrão
e as condições atuais. Se as condições atuais excederem o padrão, resultará felicidade.
Segundo a teoria da comparação social, outras pessoas são usadas como padrão. Se uma
pessoa estiver melhor que outras, estará satisfeita ou feliz (CARP; CARP, 1982). Na teoria de
adaptação (BRICKMAN; COATES; JANOFF-BULMAN, 1978) a vida passada de uma
pessoa é usada para estabelecer o padrão. Se a vida atual exceder esse padrão, a pessoa
provavelmente estará feliz. Quando ocorrem pela primeira vez, os eventos podem produzir
10
felicidade ou infelicidade dependendo de serem bons ou maus. No entanto, com o tempo, eles
perdem seu poder de evocar afeto.
1.4 O conceito de Bem-Estar Subjetivo
Segundo Wilson (1967) pouco progresso teórico foi feito na compreensão da felicidade e de
seus determinantes desde os gregos antigos. Csikszentmihalyi (1992) concorda com Wilson e
contrapõe este pequeno avanço com o enorme progresso teórico feito pela humanidade no
domínio da compreensão do mundo físico, das estrelas e dos átomos. Comparativamente, é
singelo o desenvolvimento do campo de estudo das emoções positivas e da felicidade.
Após a Segunda Guerra Mundial o conceito de felicidade e/ou bem-estar passou a servir como
objeto de estudos quantitativos sistemáticos (CAMPBELL, 1976). O Pós-Guerra revelou que
algumas pessoas bem-sucedidas e auto-confiantes tornaram-se incapazes e desanimadas
uma vez que a guerra removera todos os seus suportes sociais –, enquanto outras pessoas
mantiveram sua integridade e capacidade de lidar com o caos circundante (SELIGMAN;
CSIKSZENTMIHALYI, 2000). Diante de tal discrepância, o interesse por pesquisas voltadas
à investigação de recursos/fatores que fossem responsáveis pelo bem-estar e pela qualidade de
vida aumentou, tanto na Europa como nos Estados Unidos.
Os estudos empíricos do bem-estar humano que se relacionam à elucidação dos elementos
presentes no processo de constituição de uma boa vida foram desenvolvidos a partir de duas
perspectivas filosóficas distintas (RYAN; DECI, 2001). A primeira perspectiva, chamada de
hedonismo, iguala o bem-estar à sensação de prazer ou de felicidade (KAHNEMAN et al.,
1999). Concebe que o bem-estar/felicidade de uma pessoa compreende as mais diversas
experiências de prazer e desprazer (ex. prazer corporal, prazer emocional, desprazer corporal,
11
desprazer emocional) além de julgamentos subjetivos a respeito de bons e maus elementos da
vida (KUBOVY, 1999; RYAN; DECI, 2001). Ainda que existam muitas maneiras de se
avaliar o prazer/dor num contínuo da experiência humana, a maioria dos psicólogos
hedonistas tem utilizado o construto de Bem-Estar Subjetivo (Subjective Well-Being (SWB))
para avaliação de felicidade e bem-estar geral (DIENER; LUCAS, 1999).
A segunda perspectiva, denominada eudaimonismo, concebe que o bem-estar é mais do que a
felicidade em si (WATERMAN, 1993), é algo que envolve a atualização de potenciais
humanos. Segundo esta concepção, nem toda a realização de desejo resulta em bem-estar,
visto que mesmo que haja a produção de prazer, muitas conseqüências podem não ser
benéficas para as pessoas e, portanto, não promovem bem-estar. Para os eudaimonistas, o
bem-estar ocorre quando as atitudes e atividades da vida das pessoas estão em congruência
com valores morais (WATERMAN, 1993). Aristóteles, por exemplo, considerava que a
felicidade hedonista é um ideal vulgar, que concebe os homens como miseráveis seguidores
de desejos. Em concordância com o ponto de vista aristotélico, Ryff e Singer (1998, 2000)
recentemente descreveram o bem-estar como “a luta pela perfeição que representa a
realização de um verdadeiro potencial humano” (RYFF, 1995, p.100). Fromm (1981)
argumentou que o viver bem requer discernimento entre: as necessidades (desejos) que são
importantes apenas subjetivamente - cuja satisfação apenas oferece um prazer momentâneo -,
daquelas necessidades que são próprias da natureza humana - cuja realização conduz ao
crescimento humano e à produção da eudaimonia, ou bem-estar.
As evidências mais recentes denotam que o bem-estar é provavelmente melhor conceituado
como um fenômeno multidimensional que inclui aspectos tanto da concepção hedonista como
da eudaimonista (RYAN; DECI, 2001). Compton e colaboradores (1996), por exemplo,
12
investigaram a relação entre 18 indicadores de bem-estar e saúde mental, identificando dois
fatores como relevantes: um que refletia o conceito hedonista de Bem-Estar Subjetivo, e o
outro – crescimento humano – mais próximo da definição eudaimonista de bem-estar.
Neste contexto, parte dos pesquisadores tem realizado estudos considerando a contribuição
prática e teórica de ambas perspectivas. Diener, Scollon e Lucas (2003), por exemplo, fazem
uso do construto de Bem-Estar Subjetivo (BES), levando em conta as limitações da visão
hedonista, principalmente aquelas que dizem respeito ao fato de que 1) as pessoas, de maneira
geral, não têm como finalidade única uma vida com prazeres imutáveis e constantes, sem
qualquer tipo de qualificação moral; 2) as pessoas precisam ter seus sentimentos de felicidade
justificados e; 3) às vezes as pessoas podem sacrificar situações de momentâneo prazer por
outras que valorizam mais
5
.
Bem-Estar Subjetivo, em linhas gerais, é o termo psicológico amplamente empregado na
literatura como sinônimo de felicidade. Entretanto, alguns autores recomendam sua utilização
no lugar do termo felicidade, pela diversidade de conotações associadas a este último
(EDDINGTON; SHUMAN, 2005), e pelo fato do BES salientar a avaliação feita pelo próprio
indivíduo sobre sua vida, e o uma avaliação feita por especialistas (DIENER; SCOLLON;
LUCAS, 2003).
O BES compreende avaliações cognitivas das pessoas a respeito de suas vidas (que incluem
julgamentos relacionados à satisfação com a vida) e avaliações afetivas (relacionadas ao
humor e às emoções), como sentimentos positivos e negativos (DIENER, 1984). Pessoas
5
Kim-Prieto (2002), em estudo feito com estudantes asiáticos residentes na Ásia e nos EUA, demonstrou a
tendência dos participantes de optarem por tarefas/atividades que contavam com a aprovação dos pais, ou que
estavam relacionadas à sensação de auto-realização futura, ao invés de optarem por atividades que eram descritas
como engraçadas e pessoalmente mais agradáveis.
13
relatam Bem-Estar Subjetivo elevado quando estão satisfeitas com suas condições de vida,
sentem freqüentemente emoções positivas e experimentam pouco freqüentemente emoções
negativas. Ao contrário, pessoas que relatam Bem-Estar Subjetivo baixo se apresentam
insatisfeitas com a vida, experimentam pouca alegria e freqüentemente tem emoções
desagradáveis, como tristeza ou raiva (DIENER et al., 1997).
O BES é composto por vários componentes, que incluem: satisfação global com a vida;
contentamento com domínios específicos da vida; presença freqüente de afetos positivos
(emoções e humor agradáveis) e relativa ausência de afetos negativos (emoções e humor
desagradáveis). Dentre os afetos positivos pode-se discriminar elação, contentamento, afeição,
orgulho, alegria e êxtase e, dentre os negativos, culpa, vergonha, tristeza, ansiedade, irritação,
temor, estresse, depressão e inveja. A satisfação com a vida pode se referir à satisfação com a
vida atual, satisfação com o passado e com o futuro. Os domínios da satisfação são compostos
por trabalho, família, lazer, saúde, finanças, o próprio self e o grupo social no qual o indivíduo
está inserido (EDDINGTON; SHUMAN, 2005).
Justifica-se o estudo do BES pelo fato dele: a) ter se mostrado um bom indicador de
benefícios relacionados à saúde, e talvez até de longevidade (DANNER et al., 2001); b)
consistir numa medida de avaliação da qualidade de vida da população em diferentes
sociedades, quando considerado em conjunto com indicadores socioeconômicos (DIENER;
SCOLLON; LUCAS, 2003); c) ser um construto que apresenta relativa estabilidade em
diferentes situações (DIENER; LARSEN, 1984; DIENER; LUCAS, 2000) e ao longo da vida
(COSTA; MCCRAE, 1988; MAGNUS; DIENER, 1991), mesmo diante de mudanças
momentâneas de pensamento, planos, assim como outros fatores transitórios que podem afetar
o julgamento da satisfação com a vida de um indivíduo (SCHWARZ; STRACK, 1991).
14
Magnus e Diener (1991) verificaram que escores de satisfação com a vida apresentavam
coeficientes de estabilidade de 0,58 num período superior a quatro anos. Mesmo quando
métodos diferentes eram utilizados para avaliar satisfação com a vida (ex. auto-relatos ou
relatos de informantes) a estabilidade foi alta (r = 0,52). Da mesma forma, pesquisas
revelaram a estabilidade ao longo do tempo de escores de afetos positivos e negativos.
Watson e Walker (1996) encontraram, em estudo feito com uma amostra de estudantes,
coeficientes de estabilidade entre 0,36 e 0,46 para ambos os tipos de afetos (positivos e
negativos) durante um período de seis a sete anos. Numa amostra adulta, o coeficiente de
estabilidade encontrado foi de 0,50 para um período de seis anos (COSTA; MCCRAE, 1988).
Para alguns autores, a estabilidade do BES estaria associada ao fato do construto ser
influenciado por fatores estáveis da personalidade, que, portanto, não se alteram facilmente
diante de diferentes circunstâncias e ao longo do tempo (EDDINGTON; SHUMAN, 2005;
DIENER; LUCAS, 2000; DIENER, SCOLLON; LUCAS, 2003).
Os afetos positivos e negativos considerados por alguns autores as bases para o julgamento
de BES (FRIDJA, 1999; KAHNEMAN, 1999) são componentes avaliados em separado,
dada a possibilidade de independência entre eles, sugerida por Bradburn desde 1969. Através
de demonstrações em que emoções positivas e negativas separavam fatores que eram
influenciados por variáveis distintas, Bradburn considerou a felicidade como um equilíbrio
entre ambos os tipos de afetos (RYFF; KEYES, 1995). A possibilidade de independência
entre afetos sugere que a felicidade não seria unidimensional, e que afetos positivos e
negativos necessitam ser mensurados separadamente, visto que não constituem polaridades
extremas de um contínuo único de afetividade/emoções (DIENER; SCOLLON; LUCAS,
2003).
15
Uma característica adicional da avaliação dos componentes afetivos do Bem-Estar Subjetivo é
a avaliação da experiência emocional através da freqüência, ao invés da avaliação por meio da
intensidade das emoções. Isto porque a freqüência da experiência emocional tem se mostrado
mais importante para a avaliação do bem-estar médio de uma pessoa do que a intensidade
(DIENER; SCOLLON; LUCAS, 2003). Razões empíricas e teóricas são oferecidas por
diversos autores. Diener e colaboradores (1991), por exemplo, destacam que os processos que
conduzem a emoções positivas intensas conduzem também a emoções negativas intensas, o
que possibilita um cancelamento recíproco do efeito das emoções distintas. Adicionalmente,
as experiências emocionais muito intensas são raras, e eventos pouco freqüentes não
costumam alterar os níveis médios de bem-estar. As medidas baseadas em freqüência também
apresentam características psicométricas melhores (DIENER et al., 1991). Os relatos de
intensidade podem significar diferentes coisas para as pessoas numa avaliação, o que
dificilmente ocorre com relatos relativos à freqüência. Em concordância com essa afirmação
estão os trabalhos de Thomas e Diener (1990) e Schimmack e Diener (1997), que, por meio
de estudos relacionados à precisão da revocação de emoções, verificaram que os participantes
lembravam melhor de informações de freqüência em comparação com as de intensidade.
Tendo em vista a definição dada acima de Bem-Estar Subjetivo, assim como a possibilidade
desse construto ser influenciado tanto pela avaliação de recursos subjetivos dos indivíduos
(ex. sensação de ser valorizado, estimado, percepção de capacidade para receber e dar suporte
social) como por indicadores sociodemográficos (características objetivas), tais como: idade,
gênero, educação, renda, status marital e diversidade cultural (GUISINGER; BLATT, 1994;
CSIKSZENTMIHALYI, 1999; PATRICK; COTTRELL; BARNES, 2001), os capítulos a
seguir desta dissertação serão dedicados à investigação da possível influência de algumas
16
destas variáveis sobre o relato de estado de ânimo, e, por conseguinte, sobre o BES das
pessoas. O capítulo 2 tratará da influência das variáveis idade, gênero e ambiente sobre relatos
de estado de ânimo. O Capítulo 3 será dedicado ao estudo da possível influência de
desejabilidade social sobre os relatos de estado de ânimo de homens e mulheres, nas
diferentes faixas etárias. E, finalmente, o Capítulo 4 focalizará relatos de estados de ânimo de
pacientes depressivos.
17
II ) CAPÍTULO 2
ESTUDO 1
1. INTRODUÇÃO : Influência de idade, gênero e ambiente sobre relatos de
estados de ânimo
“E no final das contas, não são os anos em sua vida que contam.
É a vida nos seus anos.”
Abraham Lincoln
1.1 Idade e Bem-estar
Diferentes teorias levam a previsões diversas a respeito da relação de bem-estar com idade:
segundo a teoria de “set-point” a idade tem um efeito irrelevante sobre o bem-estar, segundo a
perspectiva de indicadores sociais o bem-estar diminui com a idade, e segundo a teoria da
seletividade socioemocional, aumenta.
A teoria do “set-point” (TELLEGEN et al., 1988) propõe a existência de diferenças
individuais hereditárias quanto à tendência para sentir afetos positivos e negativos e,
conseqüentemente, para avaliar bem-estar. O que conta é a personalidade, sendo o efeito da
idade irrelevante. Alguns autores assinalam que a dimensão de afetos positivos está
relacionada com extroversão, enquanto afetos negativos estão relacionados com neuroticismo
(COSTA; MCCRAE, 1980; TELLEGEN, 1985). A junção de afetos positivos/traços de
extroversão e afetos negativos/ traços de neuroticismo, neste caso, refletiria dois sistemas
subjacentes da personalidade responsáveis pelas diferenças encontradas em comportamento e
afetos entre indivíduos (TELLEGEN, 1985).
18
Os proponentes da teoria do set-point têm feito uso de gêmeos como sujeitos de suas
pesquisas (SEGAL, 1990; STRELAU, 1998). A extroversão e o neuroticismo são os traços
mais pesquisados em genética comportamental através de vários instrumentos (ex: EASI
Temperament Survey; Multidimensional Personality Questionary (MPQ), Eysenck
Personality Questionnaire). A Tabela 1 mostra diversos estudos comparativos de gêmeos
monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ) (criados juntos ou separados) que indicam a
importância da influência exercida pela genética na determinação do traço neuroticismo
extroversão. A correlação de traços de extroversão e neuroticismo é estatisticamente maior
entre gêmeos MZ do que entre gêmeos DZ.
Tabela 1 Correlações de traços de Extroversão e Neuroticismo em gêmeos monozigóticos
(MZ) e dizigóticos (DZ) observadas em diferentes estudos
Estudo Tamanho da
Amostra
Correlação
Extroversão Neuroticismo
MZ DZ MZ DZ MZ DZ
Eaves, Eysenck e Martin (1989) 303 172 0,51 0,20 0,46 0,07
Loehlin e Nichols (1976) 481 312 0,60 0,24 0,52 0,24
Martin e Jardine (1986) 1799 1103 0,52 0,17 0,50 0,23
Health e col. (1992) 453 362 0,39 -0,04 0,35 0,10
Jang, Livesley e Vernon (1996) 123 127 0,55 0,23 0,41 0,18
Riemann, Angleitner e Strelau (1997) 600 304 0,56 0,28 0,53 0,13
(Baseado em LOEHLIN, 1992)
19
Na perspectiva de indicadores sociais, variáveis sociodemográficas, como idade, gênero,
status marital e renda, são responsáveis pelas diferenças existentes entre as pessoas, quanto ao
seu nível de felicidade ou bem-estar (RYFF, 1989; 1995). Por exemplo, as pessoas mais
jovens (e/ou com maior poder aquisitivo e/ou casadas) seriam mais felizes que as mais velhas
(e/ou com menor poder aquisitivo e/ou solteiras, viúvas, divorciadas), pela maior
disponibilidade de recursos físicos, psicológicos e materiais.
A idéia de declínio de bem-estar durante o envelhecimento encontra apoio em dados
referentes à relação de aumento de idade e diminuição da prática de atividades agradáveis
(ARGYLE, 1987). Um estudo de Lewinsohn e MacPhillamy (1974), realizado com uma
amostra americana, revelou queda na freqüência média de práticas de atividades prazerosas e
de contentamento entre idosos. Por outro lado, Bradburn (1969) e Diener, Sandvik e Larsen
(1985) encontraram declínio tanto para afetos positivos como para afetos negativos com o
aumento da idade.
Aumento de idade está relacionado com maior aparecimento de doenças em geral. Segundo os
dados da General Household Survey de 1980, a porcentagem de pessoas com doenças
crônicas aumenta de 22% (entre 14 e 44 anos) para 51% (entre 65 e 74 anos) e 60 % (para 70
anos ou mais). O número de dias por ano de atividade diária restrita em função de algum tipo
de patologia e o número de consultas médicas também apresentam aumento similar com o
avanço da idade. Simultaneamente, ocorrem quedas na satisfação com a vida sexual e na
atratividade física após a idade adulta (ARGYLE, 1987), o que acaba por reforçar a hipótese
de diminuição de bem-estar ao longo da vida.
20
Uma previsão oposta à de indicadores sociais é feita pela teoria da seletividade
socioemocional, segundo a qual as emoções são mais bem reguladas à medida que as pessoas
ficam mais velhas, o que proporcionaria maior bem-estar (CARSTENSEN, 1995;
CARSTENSEN; TURK-CHARLES, 1994). Pode-se considerar que tal bem-estar envolve
diferentes componentes: afetos positivos, (ausência de) afetos negativos e satisfação com a
vida de forma geral (MROCZEK; KOLARZ, 1998). As pessoas mais velhas tenderiam a
maximizar os afetos positivos e a minimizar os negativos, o que se daria através da adaptação
aos eventos da vida e às alterações vivenciadas em contextos sociais.
Ryff (1989) computou um índice de equilíbrio de afeto, subtraindo afetos negativos de
positivos, que usou para comparar pessoas jovens, de meia-idade e idosas. Encontrou que os
jovens eram menos felizes do que as pessoas de meia-idade e idosos. Em outro estudo, Rossi
e Rossi (1990) demonstram que ambos os afetos declinam com o aumento da idade, sendo tal
declínio mais forte em relação aos afetos negativos.
O possível efeito positivo de idade sobre felicidade e satisfação com a vida tem sido explicado
também pela baixa discrepância entre as aspirações e realizações dos idosos, o que indica
maior ajustamento a situações da vida (ARGYLE, 1987). Pessoas jovens têm expectativas
grandiosas para o futuro e baixa realização na proporção idealizada de suas metas
(CAMPBELL; CONVERSE; RODGERS, 1976). Haveria um processo de acomodação às
coisas como elas são durante o envelhecimento humano. Argyle (1987) considera que este
processo seria mais fácil para aqueles indivíduos com baixa escolaridade, dada a menor
chance de desenvolvimento de altas expectativas na juventude que a instrução parece
implementar.
21
Alterações em fontes de felicidade durante o ciclo de vida seriam também responsáveis pelas
mudanças na experiência de bem-estar e satisfação ao longo do desenvolvimento. Num estudo
de Veroff, Doiuvan e Kulka (1981), por exemplo, jovens constituíram o grupo etário mais
otimista a respeito do futuro. Avaliaram relacionamentos sociais (ex. casamento, família,
amigos e filhos) como fontes importantes de felicidade e infelicidade. Preocupações
econômicas, materiais, trabalhistas, também foram apontadas como importantes. entre
idosos, foi dada maior importância para a saúde do que para dinheiro, trabalho e aceitação
social. Os idosos revelaram maior autoconfiança do que os jovens para lidar com problemas
com os quais se deparavam, apresentaram grande senso de perspectiva, e se mostraram menos
preocupados com problemas de maneira geral, ainda que relatassem menos otimismo e
euforia.
Neri (2001a) destaca que, ainda que a velhice apresente maior incapacidade para desempenho
de atividades instrumentais da vida diária, não impedimento para o funcionamento
cognitivo e emocional ótimo. Os idosos seriam capazes de ativar mecanismos de
compensação para enfrentar perdas em funcionalidade (ex. por meio de recursos tecnológicos,
apoio social e psicológico, controle sobre o comportamento de outras pessoas), resultando em
estratégias compensatórias de natureza emocional, que permitiriam a manutenção de
equilíbrio e qualidade de vida.
Velhice bem-sucedida tem sido associada com habilidades sociais por vários autores
(HOUSE; LANDIS; UMBERSON, 1988; COCKERMAN, 1991; FREIRE, 2000; NERI,
2001b; CARNEIRO; FALCONI, 2004). Indivíduos socialmente habilidosos seriam capazes
de desempenhar menos tarefas indesejáveis, além de desenvolver e manter relacionamentos
mutuamente benéficos e sustentadores (BEDELL; LENNOX, 1997; DEL PRETTE; DEL
22
PRETTE, 1999). Contando com suportes sociais as pessoas idosas se sentiriam mais amadas
e seguras para lidar com problemas de saúde e de auto-estima (CICIRELLI, 1990), resultando
num maior bem-estar psicológico e social (CARNEIRO; FALCONI, 2004) e a mesmo no
aumento do tempo de vida (FRUTUOSO, 1999). Ramos (2002), contudo, destaca que o mero
aumento nas relações sociaiso é suficiente para se garantir bem-estar na velhice. Apenas o
suporte social oferecido num contexto de padrões de trocas igualitárias (o ato de receber
suporte dos outros e, ao mesmo tempo, oferecer algo em troca) seria responsável por trazer
benefícios psicológicos. Interação com trocas igualitárias maximizaria sentimentos de auto-
valorização e de controle pessoal em idosos e minimizaria sentimentos relacionados à
dependência/falta de autonomia e à inabilidade para retribuir ajudas recebidas.
1.2 Gênero e bem-estar
A relação entre idade e bem-estar pode ser modulada por gênero. White e Edwards (1990)
verificaram que mulheres com menos de 55 anos avaliavam-se como menos felizes do que
homens. Argyle (1987), em contrapartida, destaca que existem evidências de que enquanto os
homens tornam-se mais felizes com o decorrer do tempo, efeito oposto ocorre entre as
mulheres. Mroczek e Kolarz (1998) encontraram uma relação em U invertido entre idade e
afeto positivo apenas para mulheres. Uma relação linear positiva simples caracterizou a
relação entre idade e afeto positivo para os homens.
Existem também pesquisas que indicam não ocorrer diferença entre homens e mulheres
quanto à sensação de bem-estar e freqüência de afetos. Um estudo britânico realizado com
3.077 adultos, questionados a respeito de quanto tempo tinham se sentindo satisfeitos com as
coisas no dia anterior, não apresentou nenhum tipo de alteração nas respostas de freqüência
em função de gênero (WARR; PRAYNE, 1982).
23
Watson (2002) encontrou que homens e mulheres relatam níveis idênticos de felicidade e
afetividade positiva. Em uma análise de 169.779 respondentes de 16 nações, Inglehart (1990)
encontrou que 80% dos homens e 80% das mulheres entrevistadas disseram que estavam
“razoavelmente satisfeitos” com a vida. Watson e Clarck (1994) compararam relatos de
estado de ânimo de homens e mulheres através da aplicação da PANAS em versão
expandida
6
. Não encontraram diferenças significativas entre homens e mulheres nas escalas
de afeto positivo e negativo, concluindo que as experiências afetivas de homens e mulheres
podem ser similares.
Türküm (2005), em estudo recente realizado na Turquia, encontrou que o bem-estar estava
associado a otimismo, status marital e ocupação, porém não encontrou contribuição
significativa na variação de bem-estar em função de variáveis demográficas como educação e
gênero. Mediante tais resultados concluiu que a somatória de pesquisas que buscam investigar
a relação bem-estar e gênero e os resultados diversificados encontrados não permitem, ainda,
predições seguras. A existência de estudos recentes que pontuam a existência de diferenças
em termos de gênero para estados de ânimo (WALEN; LACHMAN, 2000), e de outros que
relatam a inexistência de um efeito significativo de gênero sobre o bem-estar levam, para o
autor, a uma inconsistência de achados que demonstra a necessidade de mais pesquisas na
área (TÜRKÜM, 2005).
Mesmo diante da falta de um amplo consenso de resultados entre os estudos voltados à
exploração do efeito específico de gênero sobre relatos de estado de ânimo, há um predomínio
na literatura nacional e internacional de dados referentes a menor bem-estar e satisfação com
a vida entre mulheres em comparação com homens de mesma faixa etária. Pinquart e
6
PANAS – X: Positive and Negative Affect Schedule – Expanded Form.
24
Sorensen (2001), por exemplo, sintetizaram - por meio de uma meta-análise - achados de 300
estudos empíricos relacionados a diferenças na satisfação com a vida, felicidade, auto-estima,
sentimento de solidão e saúde subjetiva entre homens e mulheres de idade adulta tardia (late
adulthood). Encontraram que mulheres relataram significativamente menor BES e
apresentaram auto-conceito menos positivo que os homens em todas as medidas. Resultado
semelhante foi observado entre jovens requisitados a preencher questionários relacionados a
otimismo e experiência de afetos: as mulheres apresentaram os maiores níveis de afetos
negativos (BEN-ZUR, 2003).
Relatos mais baixos de estado de ânimo positivo entre as mulheres foram associados por
alguns autores ao fato delas sofrerem mais de sintomas relacionados à depressão do que os
homens (GURIN; VEROFF; FELD, 1960; DUNNEL; CARTWRIGHT, 1972; GOLDBERG,
1978; WARR; PRAYNE, 1982). Num estudo realizado com 3.056 pessoas com idade entre
55 e 85 anos, Sonnenber et. al (2000) encontraram que mulheres americanas apresentam
prevalência aproximadamente duas vezes maior de depressão do que os homens. Resultado
semelhante foi encontrado num estudo brasileiro voltado para a análise da prevalência de
Distúrbios Psiquiátricos Menores (DPM) na cidade de Pelotas - RS, em que mulheres entre 20
e 69 anos apresentaram uma prevalência 62% maior de DPM do que homens de mesma faixa
etária (COSTA et al, 2002). A diferença em função de gênero é encontrada também em
idades mais precoces. Meninas entre 16 e 18 anos apresentam níveis significantemente mais
altos de humor deprimido e ansiedade em comparação com meninos de mesma idade
(CASPER; BELANOFF; OFFER, 1996). Elas relatam mais eventos da vida estressantes, e
ainda que recebam maior suporte social dos pais, relatam menor bem-estar físico e emocional
que o sexo oposto (BURKE; WEIR, 1978). Segundo a Youth Risk Behavior Survey de 1999,
realizada com uma amostra de 964 meninas e 852 meninos adolescentes, provenientes de
25
escolas selecionadas randomicamente nos Estados Unidos, além das meninas apresentarem
mais indicadores negativos de bem-estar físico e mental, observa-se um aumento entre elas de
envolvimento em comportamentos sexuais de risco e de drogadição (anteriormente mais
comuns em homens), tais como: início de consumo de álcool e de cigarro em idade mais
precoce, aumento do número de cigarros fumados por dia e maior freqüência da prática de
dirigir veículos sob efeito de álcool (LIGHT, 2000).
O maior número de sintomas psiquiátricos entre mulheres foi explicado por Reskin e
Converman (1985) como uma conseqüência da vida feminina ser mais estressante que a
masculina. As mulheres, para estes autores, estão mais expostas a fatores relacionados a
desemprego e a baixos salários, em comparação com os homens. O conflito maternidade x
emprego também seria um fator de estresse. Tavris e Offir (1977) descreveram a posição das
mulheres casadas como uma “dupla-jornada”, já que quando se tornam donas-de-casa acabam
se isolando e ficando insatisfeitas; e quando saem de casa para trabalhar, sofrem o conflito
entre as demandas do emprego e as da casa. A prestação de cuidados a pessoas idosas (como
pais, sogros e marido), que geralmente fica sob responsabilidade de mulheres de meia-idade e
idosas, pode ser considerada também um fator de estresse na vida das mulheres (NERI,
2001a), que sobrecarregadas pelo papel de cuidadoras tendem a apresentar menores índices de
satisfação, felicidade e, conseqüentemente, saúde mental.
Contudo, apesar das evidências destacadas acima, a prevalência de sintomas psiquiátricos
menores entre mulheres e a possibilidade delas apresentarem menor BES deve ser
considerada com cautela. Existem indícios de que parte desta diferença encontrada em alguns
estudos entre os sexos se pelo fato das mulheres reconhecerem mais rapidamente que têm
um problema psiquiátrico ou emocional, e, por conseguinte, procurarem mais prontamente
26
ajuda diante de sinais tênues de depressão ou perda de bem-estar (VERBRUGGE, 1976;
KESSLER; PRICE; WORTMAN, 1981). Essa diferença na prontidão de reconhecimento de
sintomas e busca de ajuda foi enfatizada por alguns autores como um resultado de pressões
sociais: sintomas de doença mental, como ansiedade e depressão, costumam ser mais aceitos
socialmente em mulheres (HAMMEN; PETERS, 1978; COCKERHAM, 1981).
1.3 Ambiente e bem-estar
Variáveis situacionais podem influenciar o sentimento de bem-estar das pessoas. Sociólogos,
economistas e psicólogos, que têm se dedicado a estudos comparativos de BES entre
habitantes de diferentes países, averiguaram a existência de padrões nacionais e culturais em
relatos de estado de ânimo (MYERS, 2000; FREY; STUTZER, 2002; PUGNO, 2003).
Parte das diferenças encontradas em relatos de BES entre nações foi associada ao grau de
riqueza dos países (DIENER; DIENER; DIENER, 1995; VEENHOVEN, 1991;
INGLEHART, 1990). Alguns estudos encontraram que pessoas de nações de PIB (Produto
Interno Bruto) elevado tendem a relatar maior BES do que aquelas provenientes de países
mais pobres (DIENER; SUH, 1999).
Diener, Diener e Diener (1995) encontraram correlação de 0,58 entre produto interno bruto
per capita de 55 nações e seus níveis de bem-estar. A correlação entre poder aquisitivo per
capita em nações e BES foi r = 0,61. Veenhoven (1991) encontrou uma alta correlação de
0,84 entre renda das nações e relatos de bem-estar. Em concordância com tais achados, Gallup
(1976) relatou existência de forte correlação entre renda nacional e satisfação com a vida.
27
Economistas associaram a relação maior PIB/maior bem-estar às oportunidades que
habitantes de países desenvolvidos podem ter de criar uma vida desejável (DIENER; SUH,
1999). A produção abundante de mercadorias e serviços permitiria que as pessoas
selecionassem aqueles bens que mais necessitam e querem. A maior satisfação das
necessidades humanas levaria, por conseguinte, ao aumento da sensação de bem-estar
(DIENER; SUH, 1999; DIENER; DIENER; DIENER, 1995).
Sociedades de países desenvolvidos tendem a apresentar distribuição mais equilibrada de
renda/recursos e melhores indicadores sociais, tais como: baixos índices de criminalidade,
maior expectativa de vida para a população, maior preservação de direitos humanos
(DIENER, 1995). Diener e Diener (1996) encontraram que em países mais ricos os níveis de
escolarização são elevados, mais alimento, mais médicos por número de habitantes,
distribuição de renda mais igualitária e maior paridade entre sexos. Encontraram, ainda, que
tais fatores apresentam alta correlação positiva com BES (DIENER; SUH, 1999).
Similarmente, Veenhoven (1996) encontrou forte correlação entre igualdade social e BES.
Diener, Diener e Diener (1995) encontraram que indicadores de direitos humanos tinham
correlação de 0,48 com níveis médios de bem-estar e que o grau em que nações podiam
satisfazer necessidades biológicas básicas correlacionava-se em 0,52 com a média de BES dos
países.
O desenvolvimento econômico de países pode ter efeitos que vão além da maior qualidade de
vida material/física de seus habitantes. Diener e Suh (1999) observaram que pessoas
provenientes de nações ricas apresentavam-se mais satisfeitas com a vida doméstica e
trabalho, assim como relatavam maior satisfação com seus amigos e com a liberdade que
tinham, em comparação com respondentes de nações menos desenvolvidas. Destacaram duas
28
explicações alternativas: 1) A satisfação com a vida material se estende de tal maneira que faz
com as pessoas fiquem satisfeitas com outras áreas de suas vidas (ex: relacionamentos
interpessoais); 2) As características adicionais observadas em nações desenvolvidas, como
maior igualdade, levam a maior satisfação em áreas não materiais.
Todavia, existem países que apresentam índices inesperadamente altos ou baixos de satisfação
com a vida em relação ao seu poder aquisitivo (DIENER, 2000). Em um levantamento
mundial realizado pelo Word Values Study Group, por exemplo, respondentes de diferentes
nações tiveram sua satisfação com a vida avaliada através da questão: “Quão satisfeito você
está com sua vida, como um todo, nos dias atuais?”. As opções de resposta variavam de 1
(insatisfeito) à 10 (satisfeito) e o PPP (Purchasing Power Parity) ou a paridade de poder
aquisitivo poderia variar de 0 à 100. Como mostra a Tabela 2, países como Brasil, Chile e
Argentina foram exemplos de nações que apresentaram escores maiores de satisfação com a
vida do que aqueles previstos em função da renda per capita que possuem. Em contrapartida,
países do leste europeu apresentaram índices inferiores do que era previsto (DIENER, 2000;
DIENER; DIENER, 1995).
Japão, China, Índia e Nigéria também apresentaram índices de satisfação com a vida
contrários ao que seria esperado pela renda que possuem: enquanto o Japão apresentou alta
renda e BES relativamente baixo, China Índia e Nigéria não apresentaram BES extremamente
baixo, como seria esperado pelo PIB (DIENER, 2000; DIENER; DIENER; DIENER, 1995).
29
Tabela 2 Escores médios de satisfação com a vida e renda entre algumas nações
selecionadas a partir de um levantamento mundial (World Value Survey 1981-1994)
País Satisfação com a Vida
(1-10)
Poder Aquisitivo
(0-100)
Bulgária 5.03 22
Rússia 5.37 27
Bielorússia 5.52 30
Letônia 5.70 20
Romênia 5.88 12
Estônia 6.00 27
Lituânia 6.01 16
Hungria 6.03 25
Turquia 6.41 22
Japão 6.53 87
Nigéria 6.59 6
Coréia do Sul 6.59 39
Índia 6.70 5
Portugal 7.07 44
Espanha 7.15 57
Alemanha 7.22 89
Argentina 7.25 25
China 7.29 9
Itália 7.30 77
Brasil 7.38 23
Chile 7.55 35
Noruega 7.68 78
Finlândia 7.68 69
Estados Unidos 7.73 100
Holanda 7.77 76
Irlanda 7.88 52
Canadá 7.89 85
Dinamarca 8.16 81
Suíça 8.36 96
(Baseado em DIENER, 2000)
Além de fatores políticos e culturais, divergências relacionadas a expectativas/ metas de vida
podem ser fatores relevantes para o BES de diferentes povos (DIENER, 2000; DIENER;
SUH, 1999). Por exemplo: os baixos escores de satisfação com a vida vistos no Japão, assim
como os altos índices de suicídio, alcoolismo e neuroticismo que o país apresenta (ARGYLE,
1987), foram considerados por Diener (2000) uma conseqüência da configuração da
sociedade japonesa, que além de ser extremamente regrada, ter fortes pressões para
resignação/harmonia, apresenta expectativas/metas de vida muito altas entre seus membros. Já
30
os escores elevados de BES da China, Índia e Nigéria, seriam uma conseqüência do aumento
de renda que essas nações vêm apresentando somada a expectativas mais baixas das pessoas
em relação àquilo que necessitam para ter uma boa vida (DIENER, 2000).
evidências de que a felicidade não aumentou regularmente ao longo dos anos em nações
com aumento contínuo de renda per capita (MYERS, 2000). Os Estados Unidos, por exemplo,
desde a Segunda Guerra Mundial obteve enorme aumento de renda, contudo, não teve
alteração correspondente em indicadores de BES (DIENER; SUH, 1997; SAMUELSON,
1995).
Diener e Suh (1999) sugerem que supridas as necessidades básicas, aumento de renda e, por
conseguinte, de recursos materiais entre habitantes de um dado país podem não influenciar
mais o BES das pessoas. Pugno (2003) propôs que progresso tecnológico gera mais bens de
consumo e em alguma medida as pessoas substituem bens relacionais por bens materiais e em
vez de aproveitarem o lazer possibilitado pelo progresso tecnológico, dedicam a maior parte
do seu tempo ao trabalho.
Adicionalmente, as pessoas diferem marcadamente nas diferentes sociedades ao escolherem
fatores que consideram ser relevantes para a avaliação de bem-estar (DIENER, 2000;
ARGYLE, 1987). Hofstede (1980) propôs uma dimensão cultural bastante ampla denominada
‘individualismo-coletivismo’ como forma de descrever melhor os estilos de cultura e a
possível influência deles sobre as avaliações de bem-estar. Sociedades ou culturas
individualistas, como os Estados Unidos, são aquelas que destacam a independência dos
indivíduos e de seus pensamentos, escolhas e sentimentos (SHIMMACK et al., 2002). Em
contraste, em sociedades ou culturas coletivistas, como a Índia, a ênfase está na
31
interdependência do indivíduo com outras pessoas, os indivíduos são mais inclinados a
sacrificar seus desejos em função das vontades e necessidades do grupo (HOFSTEDE, 1980;
KASHIMA et al., 1995; MARKUS; KITAYAMA, 1991; TRIANDIS, 1995).
A sensação de liberdade mostrou-se um preditor mais forte de satisfação com a vida em
culturas individualistas (OISHI et al., 1999). Entre os coletivistas o seguimento de normas
sociais, respeito e harmonia interpessoal é que foram os itens mais valorizados para uma vida
satisfatória (ROZIN, 1999; SUH et al., 1998; DIENER; SUH, 1999).
O próprio conceito de Bem-Estar Subjetivo parece ser mais saliente para um tipo de cultura
do que para outro (DIENER; SUH, 1999). Em uma amostra internacional de estudantes,
alunos provenientes de sociedades individualistas deram significativamente maior
importância ao conceito BES para avaliação da qualidade de vida do que respondentes vindos
de sociedades coletivistas, que provavelmente dão maior importância a deveres e obrigações
sociais do que a sentimentos agradáveis particulares (TRIANDIS, 1995).
Suh et al. (1998) observaram que pessoas de diferentes culturas diferem até mesmo na
confiança que depositam em seus sentimentos para julgar a própria satisfação com a vida.
Quando estão decidindo quão satisfeitos são, pessoas de nações individualistas acham natural
consultar seus afetos. As sensações/sentimentos de emoções agradáveis são utilizados como
preditores razoáveis de satisfação com a vida ou bem-estar nessas sociedades. Pessoas de
nações coletivistas, em contrapartida, quando estão decidindo quão satisfeitas são, tendem a
consultar normas de quando devem se sentir satisfeitas e são inclinadas a considerar a
apreciação social da família e de amigos na avaliação de suas vidas.
32
Diferentes culturas podem variar quanto aos níveis de suporte social (DIENER, 2000).
Extensas famílias de sociedades coletivistas são mais propensas a interferir na vida das
pessoas, mas também podem providenciar grande suporte social em períodos conturbados. Da
mesma forma, poucas pessoas em sociedades coletivistas realizam ou buscam seus próprios
desejos, mas também são poucos os que necessitam cuidar de si sozinhos, sem nenhum tipo
de apoio. Diante dos custos e benefícios de cada cultura, Helgeson (1994) concluiu que o
bem-estar psicológico ótimo de uma população seria a resultante de um equilíbrio entre a
orientação voltada ao self e aquela voltada aos outros.
33
2. OBJETIVO
O objetivo do Estudo 1 foi comparar auto-relatos de Satisfação com a Vida e de Afetos
Positivos e Negativos de homens e mulheres de diferentes grupos etários (jovens, adultos,
meia-idade e idosos), habitantes de quatro cidades brasileiras (São Paulo, Socorro, Salvador e
João Pessoa). Foram selecionadas cidades com características bastante distintas (tanto em
termos de dimensões territoriais, dimensões populacionais e PIB diferentes), que poderiam
estar associadas a diferenças em qualidade de vida. São Paulo é a maior cidade brasileira,
localizada no sudeste do país, capital do estado de São Paulo, e de acordo com dados do
último censo tem uma população de 10.435.546 habitantes e PIB de R$ 140.066.059,00.
Socorro é uma cidade do interior do estado de São Paulo com uma população de 32.704
habitantes e PIB de R$ 209.373,00. Salvador, capital do estado da Bahia, situa-se no Nordeste
do país com 2.443.107 habitantes e PIB de R$ 10.982.528,00. João Pessoa, capital do estado
da Paraíba, também situada no Nordeste do país, tem 597.934 habitantes e PIB de R$
3.094.538,00.
2.1 Hipóteses:
1) Conforme prevê a teoria de indicadores sociais, que relaciona aumento de idade à
perda de recursos físicos, materiais e psicológicos, esperava-se que as pessoas mais
velhas relatassem menos Afetos Positivos, mais Afetos Negativos e menor Satisfação
com a Vida que pessoas mais jovens.
2) Em concordância com a ligeira tendência observada na maioria dos estudos sobre
Bem-Estar Subjetivo e gênero, esperava-se que os homens apresentassem mais Afetos
Positivos, menos Afetos Negativos e maior Satisfação com a Vida do que as mulheres
de mesma faixa etária.
34
3) Considerando a literatura existente sobre a possível relação entre Bem-Estar Subjetivo
e PIB, esperava-se que habitantes das cidades com maior PIB (São Paulo e Salvador)
apresentassem mais relatos de Afetos Positivos, menos relatos de Afetos Negativos e
maior Satisfação com a Vida do que habitantes de cidades com menor PIB (João
Pessoa e Socorro).
2.2 Relevância Prática do Estudo
Considera-se que a principal relevância prática deste trabalho centra-se no fato do bem-estar
ser entendido como uma medida de qualidade de vida, sendo, portanto, a compreensão de seus
determinantes pessoais e situacionais relevante para orientação de políticas públicas voltadas
à área de saúde mental da população brasileira.
35
3. MÉTODO
3.1 Participantes
A amostra foi composta por 84 habitantes da cidade de São Paulo/capital (43 homens e 41
mulheres), 85 habitantes de Socorro-SP (41 homens e 44 mulheres), 80 habitantes de João
Pessoa-PB (40 homens e 40 mulheres) e 82 habitantes de Salvador-BA (42 homens e 40
mulheres). Nas quatro cidades os participantes foram distribuídos em quatro grupos etários:
jovens (1419 anos), adultos (20 – 39 anos), meia-idade (4059 anos) e idosos (idade igual
ou maior a 60 anos), conforme discriminado nas Tabelas 3, 4, 5 e 6.
Tabela 3 Distribuição da amostra de participantes (N) em função de faixa etária e sexo na
cidade de São Paulo
Faixa Etária Sexo N
Jovem Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Adulto Feminino
Masculino
Total
11
12
23
Meia-Idade Feminino
Masculino
Total
10
11
21
Idoso Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Total Feminino
Masculino
Total
41
43
84
36
Tabela 4 Distribuição da amostra de participantes (N) em função de faixa etária e sexo na
cidade de Socorro
Faixa Etária Sexo N
Jovem Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Adulto Feminino
Masculino
Total
14
10
24
Meia-Idade Feminino
Masculino
Total
10
11
21
Idoso Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Total Feminino
Masculino
Total
44
41
85
Tabela 5 Distribuição da amostra de participantes (N) em função de faixa etária e sexo na
cidade de João Pessoa
Faixa Etária Sexo N
Jovem Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Adulto Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Meia-Idade Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Idoso Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Total Feminino
Masculino
Total
40
40
80
37
Tabela 6 Distribuição da amostra de participantes (N) em função de faixa etária e sexo na
cidade de Salvador
Faixa Etária Sexo N
Jovem Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Adulto Feminino
Masculino
Total
10
11
21
Meia-Idade Feminino
Masculino
Total
10
11
21
Idoso Feminino
Masculino
Total
10
10
20
Total Feminino
Masculino
Total
40
42
82
3.2 Material
Os participantes responderam a um questionário que incluía informações sócio-demográficas
(como idade, sexo, estado civil), avaliação de afetos positivos e negativos, avaliação da
satisfação em relação à própria vida, além de inferência sobre a satisfação em relação à vida
de seus melhores amigos e de algumas figuras públicas brasileiras (quatro femininas e quatro
masculinas) incluindo artistas, políticos e esportistas (ex. Soares, Guga). Foi utilizada a
versão da Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS) adaptada por Mroczek e Kolarz
(1998), que inclui uma lista de seis afetos positivos (alegre, de bem com a vida, feliz, calmo,
satisfeito, cheio de vida) e seis afetos negativos (triste, nervoso, incomodado, sem esperança,
tudo é uma obrigação, inútil), avaliados quanto à freqüência ( 1 = nunca a 5 = tempo todo)
com que foram sentidos durante os últimos 30 dias (Anexo A). Especificando esta escala de
tempo procurou-se evitar respostas relacionadas a situações e contextos imediatos.
38
Optou-se neste estudo pela utilização da PANAS (WATSON, 1988) por ela avaliar Afetos
Positivos e Negativos e por ter se mostrado um instrumento estável em vários estudos com
amostras representativas da população em geral em teste e re-teste com intervalos de seis
meses (STINGEL, 2003). A versão adaptada, avaliada por Mroczek e Kolarz (1998) como
sendo eficiente para a avaliação dos estados de ânimo, foi selecionada por se mostrar mais
breve para ser respondida (com 12 itens ao invés dos 22 itens da escala original).
Para avaliação de satisfação com a vida foi usada a Escala de Faces Esquemáticas (Anexo B)
variando de muito alegres a muito tristes de Andrews e Withey (1976) e adaptada por Myers
(2000) acompanhadas da pergunta: “Qual das faces expressa melhor o que você sente sobre
sua vida como um todo?”. Foi solicitado também que os participantes escolhessem a face que
melhor expressava o que imaginavam que seu (sua) melhor amigo(a) sentia e o que
imaginavam que algumas figuras públicas sentiam em relação às suas vidas como um todo.
Para fins de análise, foi atribuído um valor (numa escala de 1 a 7) às faces, sendo o maior
valor atribuído à face mais sorridente, indicando maior satisfação em relação à vida.
3.3 Procedimento
Os participantes foram selecionados ao acaso e abordados em locais públicos (ex. praças,
parques, feiras, praias, supermercados) por um de quatro entrevistadores previamente
treinados, que os convidava a responder individualmente um questionário, referente a uma
pesquisa em desenvolvimento no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O
próprio participante foi responsável pelo preenchimento de seu formulário, exceto nos casos
de pessoas idosas, que apresentavam dificuldades de preenchimento. Nesse caso, ficava a
cargo do entrevistador ler os itens e anotar as respostas dadas. Explicações relativas a
39
perguntas ou itens do questionário foram oferecidas caso fossem solicitadas pelos
participantes. Os dados obtidos foram posteriormente tabulados em planilhas eletrônicas
(Excel) e analisados estatisticamente com auxílio do programa SPSS versão 13.0.
A coleta de dados foi realizada entre 2003-2005. Primeiramente, foram coletados dados na
cidade de Socorro no período de Janeiro de 2003 a Fevereiro de 2003. Em seguida foram
coletados os dados da cidade de João Pessoa em Maio de 2003, da cidade de São Paulo no
período de Dezembro de 2003 a Março de 2004 e, finalmente, da cidade de Salvador em Maio
de 2005.
O delineamento da presente pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética do Instituto de
Psicologia da USP. O termo de consentimento encontra-se em anexo (Anexo C).
40
4. CARACTERIZAÇÃO DAS CIDADES
Através de consulta ao banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE 2001/2004) foi feita uma caracterização dos municípios utilizados no presente estudo
com a finalidade de uma melhor contextualização das amostras populacionais pesquisadas.
4.1 São Paulo - SP
A cidade de São Paulo (Anexo D), fundada em 1554, é a capital do estado de São Paulo.
Conforme mostra a Figura 1, São Paulo está localizada na região Sudeste do Brasil - região de
clima subtropical (temperaturas médias anuais de 20º C) - caracteriza-se por ser a cidade mais
populosa do Brasil e a mais rica da América do Sul (ainda que revele grandes disparidades
sócio-econômicas entre seus habitantes). Apresenta um Produto Interno Bruto (PIB) de
R$140.066.059,00 e densidade demográfica de 6.521,74 hab./km2.
41
Figura 1. Mapa de localização em território nacional das cidades utilizadas na pesquisa
A Tabela 7 apresenta dados referentes às dimensões territoriais da metrópole São Paulo e aos
valores absolutos da população residente masculina e feminina com mais de 10 anos de idade.
Do total de pessoas residentes na cidade com 10 anos ou mais, 8.319.381 são alfabetizadas
(99,5%). 94,0 % dos habitantes são residentes de área urbana, enquanto 5,9 % são residentes
de área rural.
42
Tabela 7 – Valores de área territorial e de tamanho populacional do município de São Paulo
Área da unidade territorial (km2)
1.523
Pessoas residentes - 2001
10.434.552
Homens residentes (com mais de 10 anos) - 2001
4.106.513
Mulheres residente (com mais de 10 anos) - 2001
4.620.804
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Computando o número da população feminina dividido pelo número da população masculina
(Mulheres/Homens = 4.620.804/4.106.513), encontrou-se um índice de 1,1, o que denota um
ligeiro predomínio de mulheres na população paulista.
Para levantamento de um indicador de proporção de uniões e separações conjugais, foi
dividido o número de divórcios e separações judiciais pelo número de casamentos
(17.613/51.117), o que resultou num índice de 0,34. Logo, a cada cem casamentos registrados
durante o período de um ano, ocorrem 34 registros de separação na cidade de São Paulo.
A Tabela 8 mostra a distribuição dos habitantes da capital paulista em função de renda
mensal. O número de pessoas com algum rendimento na cidade de São Paulo é de 5.398.667
(61,85% da população de residentes com mais de 10 anos de idade), enquanto 3.328.650
habitantes (38,15%) não possuem rendimento. Dentre os paulistas que apresentam alguma
renda mensal, existem diferenças salariais em função de gênero: as mulheres apresentam
renda média mensal avaliada em R$ 881,12 enquanto os homens apresentam renda média
mensal de R$ 1.423,99
7
.
7
O rendimento médio mensal dos paulistas, sem distinção em função de sexo, foi avaliado em R$ 1.175,52.
43
Tabela 8 Distribuição do número absoluto e relativo (%) de habitantes do município de São
Paulo em função de renda mensal
Habitantes
Renda Mensal n %
até 1 salário mínimo
8
510.498 9
mais de 1 a 2 salários mínimos 909.290 17
mais de 2 a 3 salários mínimos 863.224 16
mais de 3 a 5 salários mínimos 1.054.122 20
mais de 5 a 10 salários mínimos 1.116.318 21
mais de 10 a 20 salários mínimos 558.277 10
mais de 20 salários mínimos 386.938 7
Total 5.398.667 100
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Adicionalmente, foi calculado um índice de proporção entre o número de óbitos e
nascimentos de pessoas (73.215/202.076), registrados no período de um ano para a cidade de
São Paulo. O valor do índice encontrado foi de 0,36, o que indica que a cada cem
nascimentos, ocorrem 36 mortes no município.
Em relação a mortes causadas por violência interpessoal, a cidade de São Paulo é a quarta
capital mais violenta do país, ficando atrás apenas de Recife, Cuiabá e Porto Velho
(BOCACCINA, 2004). Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) o índice de
homicídios da capital paulista é de 58,5 mortes por 100 mil habitantes.
4.2 Socorro - SP
8
O valor do salário mínimo foi determinado pelo Governo Brasileiro em 01/04/2006 como sendo R$ 350,00.
Todavia, em 2001, quando o levantamento salarial foi feito pelo IBGE, o salário mínimo correspondia a R$
180,00, passando para R$200,00 em 2002, R$240,00 em 2003, R$ 260,00 em 2004 e R$300,00 em 2005.
44
A cidade de Socorro (Anexo D), fundada em 1829, é uma pequena estância hidromineral
localizada no interior do estado de São Paulo, junto à Serra da Mantiqueira, a uma distância
de 135 Km da capital paulista (Figura 1). A cidade, que faz divisa com o sul do Estado de
Minas Gerais, tem clima ameno-seco (temperaturas que variam no verão de 25º C a 34º C e
no inverno de C a 15º C) e uma população constituída, em sua maioria, por descendentes
de imigrantes italianos. As principais atividades econômicas da cidade são o turismo, a
agricultura e a produção e comércio de malhas. Apresenta um Produto Interno Bruto (PIB) de
R$ 209.373,00 e densidade demográfica de 73 hab/km2.
A Tabela 9 apresenta dados referentes às dimensões territoriais da cidade interiorana e aos
valores absolutos da população residente masculina e feminina com mais de 10 anos de idade.
Do total de pessoas residentes na cidade com 10 anos ou mais, 25.344 são alfabetizadas
(90,0%). 64,1% dos habitantes são residentes de área urbana, enquanto 35,8% são residentes
de área rural.
Tabela 9 – Valores de área territorial e de tamanho populacional do município de Socorro
Área da unidade territorial (km2)
448
Pessoas residentes - 2001
32.704
Homens residentes (com mais de 10 anos) - 2001
13.922
Mulheres residentes (com mais de 10 anos) - 2001
13.982
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
45
Computando o número da população feminina dividido pelo número da população masculina
(Mulheres/Homens = 13.982/13.922), encontrou-se um índice de 1,0, o que denota
similaridade na proporção de homens e mulheres na população socorrense.
Para levantamento de um indicador de proporção de uniões e separações conjugais, foi
dividido o número de divórcios/separações judiciais pelo número de casamentos (81/176), o
que resultou num índice de 0,46. Logo, a cada cem casamentos registrados durante o período
de um ano, ocorrem 46 registros de separação em Socorro.
A Tabela 10 mostra a distribuição dos habitantes de Socorro em função de renda mensal. O
número de pessoas com algum rendimento na cidade de Socorro é de 19.367 (69,40% da
população de residentes com mais de 10 anos de idade), enquanto 8.537 habitantes (30,6%)
não possuem rendimento. Dentre os socorrenses que apresentam alguma renda mensal,
existem diferenças salariais em função de gênero: as mulheres apresentam renda média
mensal avaliada em R$ 410,96 enquanto os homens apresentam renda média mensal de R$
632,00
9
.
Tabela 10 Distribuição do número absoluto e relativo (%) de habitantes do município de
Socorro em função de renda mensal
9
O rendimento médio mensal dos socorrenses, sem distinção em função de sexo, foi avaliado em R$ 540,36.
46
Habitantes
Renda Mensal n %
até 1 salário mínimo 4.832 25
mais de 1 a 2 salários mínimos 5.559 29
mais de 2 a 3 salários mínimos 2.683 14
mais de 3 a 5 salários mínimos 2.896 15
mais de 5 a 10 salários mínimos 2.296 12
mais de 10 a 20 salários mínimos 811 4
mais de 20 salários mínimos 290 1
Total 19.367 100
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Adicionalmente, foi calculado um índice de proporção entre o número de óbitos e
nascimentos de pessoas (257/431), registrados no período de um ano. O valor do índice
encontrado foi de 0,59, o que indica que a cada cem nascimentos, ocorrem 59 mortes no
município.
Quanto à relação de mortes causadas por violência interpessoal, a cidade de Socorro apresenta
um índice de homicídios da ordem de 5,9 mortes por 100 mil habitantes.
4.3 João Pessoa - PB
A cidade de João Pessoa (Anexo E), fundada em 1585, é a capital do estado da Paraíba.
Localizada no litoral da região Nordeste do Brasil, entre o Rio Paraíba e o Oceano Atlântico,
apresenta clima tropical úmido com temperatura média anual de 26º C (Figura 1). É a terceira
cidade mais antiga do Brasil e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a segunda
capital com mais área verde no mundo
10
. As principais atividades econômicas são a pesca, o
turismo e a extração de caju e coco. Apresenta um Produto Interno Bruto (PIB) de R$
3.094.538,00 e densidade demográfica de 2.770,54 hab./km2.
10
A Primeira capital com mais área verde no mundo é Paris, na França.
47
A Tabela 11 apresenta dados referentes às dimensões territoriais de João Pessoa e aos valores
absolutos da população residente masculina e feminina com 10 anos de idade ou mais. Do
total de pessoas residentes na cidade com 10 anos ou mais, 434.878 são alfabetizadas
(88,43%). 100% dos habitantes são residentes de área urbana.
Tabela 11 Valores de área territorial e de tamanho populacional do município de João
Pessoa
Área da unidade territorial (km2)
210
Pessoas residentes - 2001
597.934
Homens residentes (com mais de 10 anos) - 2001
225.609
Mulheres residentes (com mais de 10 anos) - 2001
266.146
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Computando o número da população feminina dividido pelo número da população masculina
( Mulheres/Homens = 266.146/225.609), encontrou-se um índice de 1,2, o que denota um
ligeiro predomínio de mulheres na população de João Pessoa.
Para levantamento de um indicador de proporção de uniões e separações conjugais, foi
dividido o número de divórcios/separações judiciais pelo número de casamentos
(1.207/3.124), o que resultou num índice de 0,40. Logo, a cada cem casamentos registrados
durante o período de um ano, ocorrem 40 registros de separação em João Pessoa.
A Tabela 12 mostra a distribuição dos habitantes de João Pessoa em função de renda mensal.
O número de pessoas com algum rendimento na cidade é de 290.294 (59,0% da população de
residentes com mais de 10 anos de idade), enquanto 201.464 habitantes (41,0%) não possuem
48
rendimento. Dentre os habitantes que apresentam alguma renda mensal, existem diferenças
salariais em função de gênero: as mulheres apresentam renda média mensal avaliada em R$
564,17 enquanto os homens apresentam renda média mensal de R$ 796,75
11
.
Tabela 12 Distribuição do número absoluto e relativo (%) de habitantes do município de
João Pessoa em função de renda mensal
Habitantes
Renda Mensal n %
até 1 salário mínimo 86.316 30
mais de 1 a 2 salários mínimos 75.282 26
mais de 2 a 3 salários mínimos 32.133 11
mais de 3 a 5 salários mínimos 32.708 11
mais de 5 a 10 salários mínimos 34.384 12
mais de 10 a 20 salários mínimos 18.651 6
mais de 20 salários mínimos 10.820 4
Total 290.294 100
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Adicionalmente, foi calculado um índice de proporção entre o número de óbitos e
nascimentos de pessoas (4.169/13.348), registrados no período de um ano. O valor do índice
encontrado foi de 0,31, o que indica que a cada cem nascimentos, ocorrem 31 mortes no
município.
Quanto à relação de mortes causadas por violência interpessoal, a cidade de João Pessoa
apresenta um índice de homicídios da ordem de 31,9 mortes por 100 mil habitantes.
4.4 Salvador - BA
11
O rendimento médio mensal dos habitantes de João Pessoa, sem distinção em função de sexo, foi avaliado em
R$ 684,75.
49
A cidade de Salvador (Anexo E), fundada em 1549, é a capital do estado da Bahia. Localizada
no litoral da região Nordeste do Brasil, apresenta clima tropical com temperaturas que variam
de 24º C a 35º C (Figura 1). É a terceira cidade mais populosa do Brasil (após São Paulo e Rio
de Janeiro). Caracteriza-se pela grande diversidade étnica e cultural da população que é
constituída por descendentes de brancos, de negros africanos, de pardos e de indígenas
12
. As
principais atividades econômicas estão relacionadas com o turismo, com a atividade
comercial atacadista e com a atividade de importação e exportação de produtos regionais,
como cacau e fumo. Apresenta um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 10.982.528,00 e
densidade demográfica de 3.245,71 hab./km2.
A Tabela 13 apresenta dados referentes às dimensões territoriais de Salvador e aos valores
absolutos da população residente masculina e feminina com 10 anos de idade ou mais. Do
total de pessoas residentes na cidade com 10 anos ou mais, 1.920.998 são alfabetizadas
(94,70%). 99,95% dos habitantes são residentes de área urbana, enquanto 0,05% são
residentes de área rural.
Tabela 13 – Valores de área territorial e de tamanho populacional do município de Salvador
Área da unidade territorial (km2)
707
Pessoas residentes - 2001
2.443.107
Homens residentes (com mais de 10 anos) - 2001
938.942
Mulheres residentes (com mais de 10 anos) - 2001
1.089.435
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
12
Segundo dos dados divulgados pelo IBGE no censo demográfico de 2000, 23% da população de Salvador é de
cor branca, 20,4 % de cor negra, 54,8% de cor parda, 0,3% de cor amarela e 0,8% de origem indígena.
50
Computando o número da população feminina dividido pelo número da população masculina
(Mulheres/Homens = 1.089.435/938.942), encontrou-se um índice de 1,2, o que denota um
ligeiro predomínio de mulheres na população de Salvador.
Para levantamento de um indicador de proporção de uniões e separações conjugais, foi
dividido o número de divórcios/separações judiciais pelo número de casamentos
(2.073/8.913), o que resultou num índice de 0,23. Logo, a cada cem casamentos registrados
durante o período de um ano em Salvador, ocorrem 23 registros de separação.
A Tabela 14 mostra a distribuição dos habitantes de Salvador em função de renda mensal. O
número de pessoas com algum rendimento na cidade de Salvador é de 1.175.945 (58,0% da
população de residentes com mais de 10 anos de idade), enquanto 852.433 habitantes (42,0%)
não possuem rendimento. Dentre os habitantes que apresentam alguma renda mensal, existem
diferenças salariais em função de gênero: as mulheres apresentam renda média mensal
avaliada em R$ 553,17 enquanto os homens apresentam renda média mensal de R$ 849,20
13
.
Tabela 14 Distribuição do número absoluto e relativo (%) de habitantes do município de
Salvador em função de renda mensal
Habitantes
Renda Mensal n %
até 1 salário mínimo 340.621 29
mais de 1 a 2 salários mínimos 299.139 25
mais de 2 a 3 salários mínimos 137.688 12
mais de 3 a 5 salários mínimos 145.867 12
mais de 5 a 10 salários mínimos 137.726 12
mais de 10 a 20 salários mínimos 71.723 6
13
O rendimento médio mensal dos soteropolitanos, sem distinção em função de sexo, foi avaliado em R$ 705,84.
51
mais de 20 salários mínimos 43.181 4
Total 1.175.945 100
Fonte: IBGE, Base de Informações Municipais - Malha Municipal Digital 2001
Adicionalmente, foi calculado um índice de proporção entre o número de óbitos e
nascimentos de pessoas (16.142/44.139), registrados no período de um ano. O valor do índice
encontrado foi de 0,36, o que indica que a cada cem nascimentos, ocorrem 36 mortes no
município.
Quanto à relação de mortes causadas por violência interpessoal, a cidade de Salvador
apresenta um índice de homicídios da ordem de 11,8 mortes por 100 mil habitantes.
4.5 Síntese
Densidade Demográfica, Educação e Urbanização
A cidade com mais habitantes por quilômetro quadrado é São Paulo, seguida por Salvador,
João Pessoa e Socorro. Também é a cidade de São Paulo que apresenta o maior número de
pessoas alfabetizadas, seguida por Salvador, Socorro e João Pessoa. Em relação à
urbanização, João Pessoa destaca-se por apresentar 100% de seus habitantes residentes em
área urbana. A segunda cidade utilizada na pesquisa mais urbanizada é Salvador, seguida por
São Paulo e Socorro.
Relação casamento/divórcio
Os dados do IBGE revelam que é na cidade de Socorro que se encontram os maiores índices
de separações conjugais registradas, seguida por João Pessoa, São Paulo e Salvador.
52
Relação PIB/renda mensal
A cidade com maior PIB é São Paulo, seguida por Salvador, João Pessoa e Socorro. Os
salários médios mais elevados se apresentam na mesma ordem entre as cidades. Diferenças
nos valores do salário médio em função de gênero existem nas quatro cidades: as mulheres em
todas localidades têm renda mensal significativamente inferior a dos homens, sendo a
discrepância maior encontrada na cidade de São Paulo, seguida pelas cidades de Salvador,
João Pessoa e Socorro. É na cidade de Socorro que se observa a menor porcentagem de
pessoas que não têm rendimento mensal, seguida por São Paulo, João Pessoa e Salvador.
Violência Interpessoal
São Paulo é a cidade que apresenta maior ocorrência proporcional de homicídios na
população, seguida pela cidade de João Pessoa, Salvador e Socorro.
53
5. RESULTADOS
5.1 Afetos Positivos
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito principal significativo de faixa
etária (F
3,299
= 4,677, p < 0,01) e de cidade (F
3,299
= 13,376, p < 0,01) sobre os escores médios
de afetos positivos.
A Tabela 15 apresenta os resultados de comparações post hoc para cidade fornecidos pelo
teste Tukey. É possível verificar claramente que os escores médios de afetos positivos o
significativamente mais baixos para São Paulo (Média = 19,6) em comparação com as demais
cidades (p < 0,001), que não se diferenciaram (Médias entre 22,8 e 24,1).
Tabela 15- Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre cidades
para Afetos Positivos
Cidade N Subconjuntos
1 2
São Paulo 84 19,6
Salvador 82 22,8
Socorro 85 23,2
João Pessoa 80 24,1
A Tabela 16 apresenta os resultados de comparações post hoc para faixa etária. Verifica-se
que foram formados dois sub-conjuntos. Num deles, com escores mais elevados de afetos
positivos está a faixa etária dos idosos (Média = 23,9), e no outro, com escores
significativamente mais baixos estão os adultos (Média = 21,4) e os jovens (Média = 21,6). O
teste de Tukey não diferenciou os participantes de meia-idade nem do sub-conjunto dos
idosos, nem do sub-conjunto formado pelos adultos e jovens.
54
Tabela 16 - Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre faixas
etárias para Afetos Positivos
Faixa etária N Subconjuntos
1 2
Adulto 88 21,4
Jovem 80 21,6
Meia-idade 83 22,8 22,8
Idoso 80 23,9
A Figura 2 mostra os escores dios de afetos positivos em função de faixa etária e de
cidade. Como se pode verificar, em todas as cidades os idosos foram os que tiveram escores
mais altos de afetos positivos e os adultos e jovens, os escores mais baixos. Não houve
interação significativa entre faixa etária e cidade (F
9,299
= 0,522, p = 0,859).
10
12
14
16
18
20
22
24
26
Jovem Adulto Meia-Idade Idoso
Idade
Escores Médios
São Paulo
Socorro
Salvador
João Pessoa
Figura 2. Escores médios de Afetos Positivos em função de idade e cidade.
55
Não foi encontrado efeito principal significativo de sexo (F
1,299
= 0,028, p = 0,867), mas a
interação entre sexo e idade (F
3,299
=2,989, p < 0,05) foi estatisticamente significativa. A
Figura 3 ilustra o efeito de interação. Aplicando o teste post hoc de Tuckey verificou-se que
dois subconjuntos foram formados para as mulheres e um conjunto homogêneo para os
homens (Tabelas 17 e 18). É na velhice que as mulheres ultrapassam os homens quanto aos
escores de afetos positivos.
10
15
20
25
30
Jovem Adulto Meia-Idade Idoso
Idade
Escores médios
Feminino
Masculino
Figura 3. Escores médios de Afetos Positivos em função de sexo e idade.
Tabela 17 - Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD comparando-se faixas etárias
quanto a Afetos Positivos na amostra feminina
Faixa etária N Subconjuntos
1 2
Adulto 45 20,5
Jovem 40 21,8
Meia-idade 40 22,3 22,3
Idoso 40 25,0
Tabela 18 - Conjunto formado pelo teste Tukey HSD comparando-se faixas etárias quanto a
Afetos Positivos na amostra masculina
56
Faixa etária N Subconjuntos
1
Adulto 40 21,4
Jovem 43 22,3
Idoso 40 22,8
Meia-idade 43 23,2
A interação tripla sexo x idade x cidade não foi significativa (F
9,299
= 1,243, p = 0,268).
5.2 Afetos Negativos
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito principal significativo de faixa
etária (F
3,298
= 7,535, p < 0,001) e de cidade (F
3,298
= 3,325, p < 0,05) sobre os escores médios
de afetos negativos.
A Tabela 19 apresenta os resultados de comparações post hoc para cidade pelo teste de
Tukey. É possível verificar claramente que os escores médios de afetos negativos foram
significativamente mais altos em São Paulo (Média = 13,5) em comparação com Socorro
(Média = 11,7) (p < 0,01). Salvador e João Pessoa situaram-se em posição intermediária
(Médias = 12,3 e 12,4).
Tabela 19 - Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre cidades
em relação a Afetos Negativos
57
Cidade N Subconjuntos
1 2
São Paulo 84 13,5
João Pessoa 80 12,4 12,4
Salvador 82 12,3 12,3
Socorro 84 11,7
A Tabela 20 apresenta os resultados de comparações post hoc para faixa etária pelo teste de
Tukey. Verifica-se que foram formados três sub-conjuntos. Num deles, com escores mais
elevados de afetos negativos está a faixa etária dos jovens (Média = 13,8), e no outro, com
escores significativamente mais baixos, está a faixa etária dos idosos (Média = 11,2). No sub-
conjunto intermediário estão situados os participantes de meia-idade, claramente
diferenciados dos jovens, e os adultos, claramente diferenciados dos idosos.
Tabela 20 - Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre faixas
etárias em relação a Afetos Negativos
Faixa etária N Subconjuntos
1 2 3
Jovem 79 13,8
Adulto 88 13,0 13,0
Meia-idade 83 11,8 11,8
Idoso 80 11,2
A Figura 4 mostra os escores médios de afetos negativos em função de faixa etária e de
cidade. Como se pode verificar, em todas as cidades os idosos foram os que tiveram escores
mais baixos de Afetos Negativos e os adultos e jovens (com exceção de um ponto discrepante
para os adultos de João Pessoa), os escores mais altos. Não houve interação significativa entre
faixa etária e cidade (F
9,298
= 1,138, p = 0,335).
58
5
7
9
11
13
15
17
Jovem Adulto Meia-Idade Idoso
Idade
Escors Médios
São Paulo
Socorro
Salvador
João Pessoa
Figura 4. Escores médios de Afetos Negativos em função de idade e cidade.
Não foi encontrado efeito principal significativo de sexo (F
1,298
= 0,883, p = 0,348), mas um
efeito marginalmente significativo de interação entre sexo e idade (F
3,298
= 2,121, p < 0,10). A
Figura 5 ilustra o efeito de interação. Aplicando o teste post hoc de Tuckey verificou-se que
dois subconjuntos diferentes foram formados para as mulheres e para os homens (Tabelas 21
e 22). Enquanto para os homens os jovens se distinguem claramente das outras faixas etárias
por apresentarem mais altos escores de afetos negativos, as mulheres adultas comparam-se às
jovens quanto aos elevados escores de afetos negativos em comparação com as idosas,
situando-se a meia-idade em posição intermediária.
59
5
7,5
10
12,5
15
Jovem Adulto Meia-Idade Idoso
Idade
Escores médios
Feminino
Masculino
Figura 5. Escores médios de Afetos Negativos em função de idade e sexo
Tabela 21 - Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD comparando-se faixas etárias
quanto a Afetos Negativos na amostra feminina
Faixa etária N Subconjuntos
1 2
Adulto 45 14,0
Jovem 39 13,6
Meia idade 40 11,9 11,9
Idoso 40 11,0
Tabela 22- Conjunto formado pelo teste Tukey HSD comparando-se faixas etárias quanto a
Afetos Negativos na amostra masculina
Faixa etária N Subconjuntos
1 2
Jovem 40 14,1
Adulto 43 12,0
Meia idade 43 11,6
Idoso 40 11,3
A interação tripla sexo x idade x cidade não foi significativa (F
9,298
= 0,741, p = 0,671).
5.3 Satisfação com a Vida
60
A Tabela 23 mostra as correlações encontradas entre avaliações de satisfação com a vida e
qualidade de vida na cidade, afetos positivos e negativos para o conjunto dos participantes.
Encontrou-se correlação positiva significativa entre os escores de afetos positivos e a
avaliação de satisfação com a própria vida (r = 0,14, p < 0,01), a satisfação atribuída ao
melhor amigo(a) (r = 0, 26, p < 0,001) e a qualidade de vida na cidade em que se habita (r =
0,36, p < 0,001). Satisfação atribuída a figuras públicas foi a medida que menos se
correlacionou com as demais.
Tabela 23 - Correlação entre escores de afetos positivos, afetos negativos, satisfação com a
própria vida, satisfação atribuída ao melhor amigo e a figuras públicas e a qualidade de vida
da cidade
1 2 3 4 5 6
1. Afetos positivos - -0,61** 0,14** 0,26*** 0,10 0,36***
2. Afetos negativos - -0,18*** -0,20*** -0,09 -0,23***
3. Satisfação com a própria vida - 0,14** 0,06 0,05
4. Satisfação atribuída ao amigo - 0,05 0,19**
5. Satisfação atribuída a figuras
públicas
- 0,14**
6. Qualidade de vida na cidade -
* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001
O teste de Análise de Variância (ANOVA) não revelou efeitos significativos de faixa etária
(F
3,299
= 1,628; p = 0,183), sexo (F
1,299
= 0,220; p = 0,640) e cidade (F
3,299
= 0,383; p = 0,765)
sobre os escores médios de satisfação com a vida atribuídos a si mesmo.
O teste de Análise de Variância (ANOVA) o revelou efeito principal de idade, sexo ou
cidade para a satisfação atribuída ao amigo. Contudo, a ANOVA revelou efeito significativo
de interação tripla entre cidade, gênero e idade (F
1,299
= 4,124; p < 0,05) para a satisfação
atribuída ao amigo. Conforme mostra a Tabela 24, análises subseqüentes através de teste t
revelaram diferença entre os sexos apenas na cidade de Socorro para as faixas etárias jovem (t
= 2,546; gl = 18; p < 0,05), adulta (t = 3,200; gl = 22; p < 0,01) e meia-idade (t = 2,673; gl =
61
19; p < 0,05). As mulheres socorrenses jovens e de meia-idade atribuíram valores inferiores
de satisfação com a vida aos seus amigos, quando comparadas com homens socorrenses de
mesma faixa etária. Na idade adulta, por sua vez, foram elas que atribuíram maior satisfação
ao amigo em comparação com os homens adultos.
Tabela 24- Escores médios de satisfação atribuída pelos participantes ao melhor amigo, em
função de sexo, faixa etária e cidade
Cidade
Feminino Masculino
Jovem Adulto Meia-
Idade
Idoso Jovem Adulto Meia-
Idade
Idoso
Socorro 6,1* 6,6** 5,6* 5,5 6,7* 5,6** 6,5* 6,3
São Paulo 5,4 6 5,1 5,2 6,2 5,4 6 5,4
João Pessoa 6,2 6,2 5,9 6,2 6,2 6 6,6 6,2
Salvador 6,2 5,0 6,5 5,9 6,5 6,1 5,8 6,1
*p<0,05; **p<0,01
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito principal significativo de cidade
(F
3,283
= 5,659; p < 0,01) para a satisfação média atribuída a personalidades públicas. A Tabela
25 apresenta os resultados de comparações post hoc para cidade fornecidos pelo teste de
Tukey. Verifica-se que foram formados dois subconjuntos. Num deles, com os escores médios
mais baixos de satisfação com a vida atribuídos a personalidades públicas está a cidade de São
Paulo (Média = 5,2), e no outro, com escores significativamente mais altos estão as cidades de
Socorro (Média = 5,6) e João Pessoa (Média =5,6). O teste de Tukey não diferenciou a cidade
de Salvador nem do sub-conjunto de São Paulo, nem do sub-conjunto formado por Socorro e
João Pessoa.
62
Tabela 25 Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre cidades
para a satisfação com a vida atribuída a personalidades públicas
Cidade N Subconjuntos
1 2
São Paulo 80 5,2
Salvador 82 5,3 5,3
Socorro 84 5,6
João Pessoa 68 5,6
5.4 Satisfação com a Cidade
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito principal significativo de idade
(F
3,229
= 4,943; p < 0,01) e de cidade (F
3,229
= 21,698; p < 0,001) sobre os escores médios de
satisfação com a cidade em que se vive.
A Tabela 26 apresenta os resultados de comparações post hoc para idade pelo teste de Tukey.
É possível verificar claramente que os escores médios de satisfação com a cidade foram
significativamente mais altos entre as pessoas de meia-idade (Média = 5,8) e idosos (Média =
5,8) em comparação com os jovens (Média = 5,2). Adultos situaram-se em posição
intermediária (Média = 5,4).
Tabela 26 Sub-conjuntos formados pelo teste de Tukey HSD para comparações entre faixas
etárias em relação aos escores médios de satisfação com a cidade em que se vive
Faixa Etária N Subconjuntos
1 2
Jovem 75 5,2
Adulto 86 5,4 5,4
Meia-Idade 77 5,8
Idoso 76 5,8
A Tabela 27 apresenta os resultados de comparações post hoc para cidade pelo teste de
Tukey. Verifica-se que foram formados três sub-conjuntos. Num deles, com escores mais
63
baixos de satisfação com a cidade, está a cidade de São Paulo (Média = 4,7), e no outro, com
escores significativamente mais elevados está a cidade de João Pessoa (Média = 6,3). No sub-
conjunto intermediário estão situadas as cidades de Salvador (Média = 5,7) e Socorro (Média
= 5,7), claramente diferenciadas de São Paulo e João Pessoa.
Tabela 27 Subconjuntos formados pelo teste Tukey HSD para comparações entre cidades
em relação aos escores médios de satisfação com a cidade em que se vive
Cidade N Subconjuntos
1 2 3
São Paulo 80 4,7
Salvador 82 5,7
Socorro 84 5,7
João Pessoa 68 6,3
A Figura 6 mostra os escores médios de satisfação com a cidade em função de faixa etária e
de cidade. Como se pode verificar, foi o município de São Paulo que apresentou entre jovens
e adultos os mais baixos escores de satisfação com a cidade. Por outro lado, enquanto os
escores de satisfação com a cidade tendem a decair na meia-idade em Socorro, João Pessoa e
Salvador, em São Paulo observa-se efeito inverso: os escores de satisfação apresentam notável
aumento. Comparando-se com a meia-idade, a faixa etária idosa apresenta um aumento dos
escores de satisfação muito semelhante nas quatro cidades. Não houve interação significativa
entre faixa etária e cidade (F
9,299
= 1,240; p = 0,270).
0
1
2
3
4
5
6
7
Jovem Adulto Meia-Idade Idoso
Idade
Escores Médios
Socorro
o Paulo
João Pessoa
Salvador
64
Figura 6. Escores Médios de Satisfação com a cidade em que se vive em função de idade e
cidade
65
6. DISCUSSÃO
Ao nos voltarmos à literatura relativa ao bem-estar, encontramos pesquisas internacionais que
têm investigado a relação entre a experiência de afetos e idade. Dentre esses trabalhos, temos
o de Ryff (1989) que destaca o fato do índice de equilíbrio de afetos (afetos positivos menos
afetos negativos) aumentar à medida que as pessoas envelhecem. Os jovens seriam menos
felizes do que pessoas de meia-idade e idosas. Rossi e Rossi (1990) encontraram, num estudo
feito com população de 19 a 92 anos, que tanto afetos positivos como negativos declinam com
o aumento da idade, sendo tal declínio maior para a freqüência de afetos negativos. Diener,
Sandvik e Larsen (1985) não encontraram diferenças quanto à freqüência de afetos. Relatam
apenas ter verificado menor intensidade de afetos em grupos de maior idade.
A observação dos relatos de estado de ânimo e de satisfação com a vida nas diferentes faixas
etárias realizada na presente pesquisa demonstrou que as pessoas idosas relatam maior
freqüência de afetos positivos e menor freqüência de afetos negativos quando comparadas
com adultos e jovens, resultado semelhante ao encontrado no estudo de Ryff (1989).
Adicionalmente, ao contrário do que Rossi e Rossi (1990) afirmaram, em nossos resultados
não encontramos efeito de atenuação afetiva global associado ao envelhecimento: a atenuação
encontrada restringiu-se à dimensão negativa. Desta forma, consideramos que nossos
resultados estão de acordo com as previsões feitas pela teoria da seletividade socioemocional,
descrita por Cartensen (1995) e Cartensen e Turk-Charles (1994), segundo a qual o bem-estar
aumenta com a idade em função de uma melhor regulação de emoções. Segundo essa
perspectiva, o aumento da freqüência de afetos positivos e a queda da freqüência de afetos
negativos que observamos entre idosos poderia ser explicada pelo fato das pessoas mais
velhas apresentarem uma maior adaptação aos eventos da vida e às alterações vivenciadas em
66
contextos sociais. Os idosos seriam mais efetivos em selecionar ou lidar com situações de
maneira a maximizar afetos positivos e minimizar afetos negativos, uma maneira positiva de
reagir aos eventos da vida muito semelhante àquela exposta pelo filósofo Demócrito como
forma de se atingir a felicidade.
Consideramos que nossos resultados, que apóiam a idéia de uma maior adaptação dos idosos
aos eventos da vida, poderiam ser explicados em termos de um aperfeiçoamento de
habilidades sociais adquiridas com a maturidade. Assim como Del Prette e Del Prette (1999),
Neri (2001b) e Carneiro e Falconi (2004) destacaram, a habilidade social promove o
desenvolvimento e a manutenção de relacionamentos benéficos e sustentadores para o
indivíduo, que auxiliam numa velhice bem-sucedida. Nossa hipótese é que à medida que
vamos envelhecendo vamos também aperfeiçoando nossas habilidades sociais. As habilidades
sociais mais aperfeiçoadas, por sua vez, auxiliariam o idoso a desenvolver relacionamentos
interpessoais benéficos, que oferecem maior segurança e amparo para o enfrentamento de
problemas. O suporte social, desta forma, auxiliaria o idoso a ter condutas mais adaptativas
diante das circunstâncias da vida, resultando em mais afetos positivos e menos afetos
negativos (maior Bem-Estar Subjetivo).
Além do aperfeiçoamento da habilidade social e do conseqüente desenvolvimento de maiores
e mais fortes redes de apoio ao longo da vida, existe a hipótese de que a melhor adaptação dos
idosos às circunstâncias da vida seja resultado de um maior ajustamento entre suas aspirações
e suas realizações. Segundo Argyle (1989), os jovens teriam expectativas muito grandiosas
para o futuro e uma baixa realização de suas metas, o que causaria frustração e
descontentamento. Pessoas mais velhas, por sua vez, se acomodariam mais diante dos fatos da
vida, idealizariam menos seu futuro, diminuindo a discrepância entre seus planos/expectativas
67
e as metas atingidas. Essa hipótese de Argyle também seria cabível para a interpretação de
nossos resultados. De fato, além de encontrarmos que os idosos são aqueles que apresentam
mais afetos positivos e menos afetos negativos em comparação com outras faixas etárias,
encontramos que os jovens são os que apresentam os mais altos escores médios de afetos
negativos e um dos mais baixos escores médios de afetos positivos. São também eles que
estão menos satisfeitos com as cidades em que vivem. Parece viável considerar que a
idealização e preocupação com o futuro mais típica dos jovens somada à sensação de
frustração com metas não atingidas torne o momento presente de suas vidas menos atrativo ou
satisfatório, causando decréscimo nos relatos positivos de estado de ânimo e aumento de
relatos de descontentamento com o lugar em que estão.
A interpretação dos dados referentes à relação idade e bem-estar apresentada nesta
dissertação, contudo, deve ser acompanhada de algumas observações quanto à metodologia
utilizada, descritas a seguir.
Existem na literatura dados que dizem respeito à elevada freqüência de doenças afetivas na
terceira idade, como a depressão (STELLA et al., 2002). Pesquisas indicam prevalência entre
2 a 14% da doença entre idosos que vivem em comunidades (EDWARDS, 2003), chegando a
30% de prevalência entre idosos residentes de instituições (PAMERLEE et al., 1989). Lazaeta
(1994) também destaca o alto nível de estresse da vida do idoso, devido a fatores como o
declínio biológico/perda de autonomia e a falta de definição sócio-cultural de atividades em
que o idoso pudesse se perceber útil e alcançar reconhecimento social. Estes dados estão em
evidente contradição com nossos resultados e conclusões, que apresentam um ângulo
extremamente positivo do envelhecimento. Consideramos que isto se relaciona aos lugares
escolhidos para a aplicação dos questionários no presente estudo. A aplicação dos
68
questionários foi realizada em ambientes públicos como parques, praças, espaços interativos
de supermercados e praias. Portanto, nossa amostra de idosos foi constituída por pessoas com
autonomia, que saem, fazem compras, vão a parques, interagem com outras pessoas, assim
como pessoas de faixas etárias mais novas. Nossa amostra não compreendeu idosos
debilitados em função de doenças graves, enclausurados em instituições ou em outras
situações dramáticas. Por conseguinte, o local da entrevista pode ter servido como um fator de
seleção de idosos ativos, o debilitados, uma amostra diferente das que são comumente
usadas em estudos epidemiológicos ou de avaliação institucional. Logo, nossa interpretação
de que o envelhecimento humano apresenta-se como um processo vivenciado de maneira
positiva pelas pessoas deve ser considerado à parte de perdas dramáticas (por exemplo,
internação institucional, perda completa de autonomia) que não foram avaliadas na presente
pesquisa.
Adicionalmente, ainda que tenhamos favorecido a teoria da seletividade emocional, como
explicação para a relação encontrada entre idade e experiência afetiva, podem ser
apresentados argumentos contrários. Não descartamos, por exemplo, a possibilidade de
influência de componentes hereditários na determinação do bem-estar das pessoas, conforme
indica a perspectiva do set-point (TELEGGEN, 1989; COSTA; MCCRAE, 1980). A
verificação de causalidade entre bem-estar e traços de personalidade não foi foco da presente
pesquisa. As escalas aplicadas não envolviam avaliações de traços de funcionamento
emocional dos participantes que nos autorizassem a confirmar ou refutar a previsão do set-
point. Da mesma forma, consideramos que não podemos desconsiderar algumas das previsões
feitas pela teoria de indicadores sociais (RYFF, 1995). Ainda que tenhamos verificado que
aumento da idade não tem relação negativa com bem-estar e satisfação, pesquisas adicionais
69
necessitam ser feitas em relação a outros indicadores, como a importância do status marital e
da renda, que não foram foco de um severo controle experimental em nosso estudo.
A presente pesquisa mostra que relatos de afetos positivos e negativos podem ser modulados
por gênero em faixas etárias específicas: em nosso estudo mulheres adultas tenderam a
apresentar mais afetos negativos do que homens de mesma faixa etária e apresentaram mais
afetos positivos do que eles na faixa etária idosa.
Diferenças sexuais situando mulheres em situação de maior risco de desordens depressivas e
de ansiedade são reconhecidas e uma explicação biológica possível enfatiza a função dos
hormônios reprodutivos no estabelecimento e na exacerbação dos distúrbios (ex: BLEHAR,
1995). Brincat et al. (1984) e Roca (1999), por exemplo, constataram que mulheres em
perimenopausa e pós-menopausa demonstram melhora significativa de queixas depressivas
após o uso de estrógenos quando comparadas com grupos controle. Não descartamos em
nossa pesquisa, portanto, a possibilidade de parte das diferenças encontradas nos relatos
femininos de afetos positivos e negativos ter relação com alterações hormonais.
A tendência observada em nosso estudo para a faixa etária adulta, das mulheres apresentarem
mais afetos negativos que os homens, está de acordo com o resultado de diversas pesquisas
voltadas à investigação da relação bem-estar e gênero que enfatizam a presença de menor
Bem-Estar Subjetivo entre mulheres (BEN-ZUR, 2003; WHITE; EDWARDS, 1990;
BURKE; WEIR, 1978). A meta-análise realizada por Pinquart e Sorensen (2001), é um bom
exemplo desses estudos. Os autores encontraram, através dos achados de 300 estudos
empíricos relacionados à felicidade e nero, que as mulheres apresentam auto-conceito
menos positivo e menos relatos de Bem-Estar Subjetivo quando comparadas com homens,
70
resultado coerente com a maior freqüência de afetos negativos encontrada em nosso estudo
para as mulheres adultas.
Consideramos que a maior freqüência de afetos negativos relatada pelas mulheres adultas de
nossa amostra pode ser explicada em partes pela hipótese levantada por Reskin e Converman
(1985) de que a vida da mulher tende a ser mais estressante que a vida dos homens, visto que
elas estão mais expostas a fatores negativos como desemprego e salários baixos. De fato,
nossa consulta ao banco de dados do IBGE, relacionado ao rendimento mensal obtido por
homens e mulheres nas quatro cidades utilizadas na pesquisa, revelou que em todas as
localidades as mulheres ganham menos que os homens. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
as mulheres ganham em média R$ 542,03 a menos por mês do que os homens. Ao mesmo
tempo, o banco de dados do IBGE revela que é cada vez maior o número de mulheres chefes-
de-família no Brasil (GRABOIS, 2006). Consideramos que salários baixos associados à
responsabilidade cada vez maior pelo sustento da família podem ser fatores estressantes e
prejudiciais à qualidade de vida das mulheres, ajudando a explicar o aumento de afetos
negativos observado entre elas no presente estudo.
Porém, como foi dito anteriormente, não podemos considerar que a explicação de baixos
salários e desemprego entre mulheres seja uma hipótese que justifique por completo nossos
dados de mais afetos negativos entre o sexo feminino na faixa etária adulta. Isto porque,
considerando que tais problemas também devem ocorrer entre mulheres mais jovens e mais
velhas, seria de se esperar que as mulheres das demais faixas etárias de nossa pesquisa
(jovens, de meia-idade e idosas) também relatassem mais afetos negativos quando
comparadas com os homens das demais faixas etárias (jovens, de meia-idade e idosos), o que
não ocorreu. A explicação que nos parece mais plausível, neste caso, é que as mulheres
71
adultas além de sofrerem com a questão dos baixos salários e da responsabilidade pelo
sustento familiar, estão, adicionalmente, num período de suas vidas em que o conflito entre
vida familiar versus vida profissional está mais acirrado. Conforme Tavris e Offir (1977)
destacaram, o conflito maternidade x emprego é um grande fator de estresse, que as
mulheres acabam ficando numa posição de dupla-jornada: ou se tornam donas-de-casa
insatisfeitas pelo isolamento e pela falta de reconhecimento social, ou saem de casa para
trabalhar e ficam divididas entre as demandas do emprego e as da casa. A hipótese de Tavris e
Offir (1977) torna-se condizente como explicação de nossos dados quando notamos que as
mulheres adultas de nossa amostra têm idades entre 20 e 39 anos, o período mais comum para
a inserção no mercado de trabalho/ formação profissional e constituição familiar.
Em contrapartida - num sentido completamente oposto ao observado entre as mulheres
adultas de nosso estudo e às colocações de Argyle (1987) de que os homens se tornariam mais
felizes com o decorrer do tempo enquanto as mulheres se tornariam mais infelizes
encontramos que na faixa etária idosa as mulheres apresentam mais afetos positivos que os
homens. Diante deste resultado, levantamos a hipótese de que, passadas as questões
conflituosas da fase adulta (salários baixos x responsabilidade pelo sustento familiar; emprego
x maternidade), as mulheres desenvolvem maior habilidade para lidar com situações
problemáticas e elaborar vivências difíceis. Dessa maneira, as situações conflituosas mais
precoces funcionariam como situações de aprendizagem para adaptação e superação de
circunstâncias aflitivas da vida para as mulheres mais velhas.
Além da questão do aprendizado a partir de experiências aflitivas, gostaríamos de destacar,
ainda, que as mulheres também apresentam atitudes bastante peculiares de auto-cuidado que
talvez possam ajudar no incremento da experiência afetiva positiva nas fases mais tardias do
72
desenvolvimento. Mulheres idosas freqüentemente cuidam dos netos e da casa, o que lhes
confere um papel social relevante. Procuram mais por tratamentos psicológicos que homens
(SANTOS et al, 1993; ENÉAS et al, 2000), além de contar mais com ambientes informais de
apoio social. Estas atitudes podem atuar como formas terapêuticas de alívio de estresse,
ajudando no aumento de afetos positivos e, talvez, no aumento do tempo de vida delas que é
em média 7,8 anos maior que o tempo de vida dos homens
13
(ARGYLE, 1989; IBGE 2004).
A presente pesquisa revelou que além de variáveis pessoais, como gênero e idade, variáveis
situacionais, como a cidade em que se vive, podem influenciar o auto-relato de afetos
positivos e negativos. Em nosso estudo observamos que os habitantes da cidade de São Paulo
relatam menos afetos positivos que habitantes das cidades de Salvador, Socorro e João
Pessoa. Também são os habitantes da capital paulista que apresentam os maiores escores
médios de afetos negativos quando comparados com habitantes das outras três cidades (ainda
que diferença significativa tenha sido encontrada apenas entre os escores de afetos negativos
de São Paulo e Socorro).
Ao contrário da tendência observada por Diener, Diener e Diener (1995), Veenhoven (1991),
Gallup (1976) e Inglehart (1990) de que maior Bem-Estar Subjetivo/maior satisfação com a
vida estão associados a maior riqueza/maior Produto Interno Bruto (PIB) nos diferentes
países, em nosso estudo os maiores escores de afetos positivos e os menores escores de afetos
negativos foram claramente encontrados nas cidades com menor PIB: foi Socorro, a cidade
utilizada na pesquisa com menor PIB, que apresentou os menores escores de afetos negativos,
e foi João Pessoa, a segunda cidade com menor PIB utilizada na pesquisa, que apresentou os
maiores escores de afetos positivos. Os escores de satisfação com a cidade em que se vive
13
A expectativa de vida da mulher brasileira é de 72,6 anos, enquanto a do homem brasileiro é de 64,8 anos (In:
IBGE 2001/2004).
73
também apresentaram um padrão oposto ao que seria de se esperar a partir do PIB das
cidades. São Paulo, a cidade utilizada na pesquisa com maior PIB, além de ser o município
que apresentou os menores escores de afetos positivos e os maiores escores de afetos
negativos, foi o município que apresentou os menores escores de satisfação da população com
a cidade.
Consideramos que este conjunto de resultados, contrário à perspectiva de que o PIB é um
indicador positivo de bem-estar, está diretamente relacionado com o fato do PIB não servir
como um indicador exato da qualidade de vida da população nas cidades avaliadas. Conforme
Diener e Suh (1999) destacam, o PIB relaciona-se positivamente com o bem-estar relatado
quando implica num aumento de oportunidades para a população de criar uma vida desejável,
e esse padrão não é necessariamente o observado nas cidades que selecionamos. Por exemplo,
os dados do IBGE e da Organização Mundial da Saúde demonstram que São Paulo, a cidade
com maior PIB e com os valores mais elevados de renda mensal da população, é também a
cidade que apresenta os maiores índices de violência interpessoal. Segundo Bocaccina (2004)
a capital paulista é uma das cidades mais violentas do mundo, com índices de homicídio
inferiores apenas a lugares como Medellín e Cali (na Colômbia), Cidade da Guatemala (na
Guatemala) e San Salvador (em El Salvador). Sala (2004) destaca, mediante os índices
criminais de São Paulo, que a violência interpessoal repercute de maneira a dificultar a
convivência humana na capital paulista, que a violência, acompanhada do medo que
desperta, acaba levando à perda do espaço público de convivência e à busca de estratégias
individuais de segurança que isolam os indivíduos uns dos outros, causando queda na
qualidade de vida da população.
74
Além dos maiores índices de violência interpessoal observados em São Paulo, vale lembrar
que os mais elevados valores de renda mensal da população da capital paulista não implicam,
necessariamente, em mais pessoas recebendo maiores quantias de dinheiro do que nas outras
cidades. Os dados do IBGE revelam que grande parcela da população paulista (38,15%) não
possui rendimento algum, o que destaca o problema da concentração de renda e, por
conseguinte, da desigualdade social fenômeno que potencializa ainda mais a criminalidade
(OLIVEIRA, 2006) e minimiza o bem-estar. Desta forma, inclinamo-nos a dizer que os
maiores escores de afetos negativos, os menores escores de afetos positivos e a menor
satisfação com a cidade, observados na presente pesquisa entre habitantes da cidade de São
Paulo, refletem o impacto de indicadores sociais negativos na vida dos paulistas, tais como a
desigualdade social/concentração de renda e a violência.
Quando consideramos, porém, que os piores relatos de estado de ânimo dos paulistas podem
ser devidos ao impacto negativo de indicadores sociais na qualidade de vida, como a
desigualdade social e a violência, resta a dúvida do porquê que as cidades de Salvador e João
Pessoa diferenciaram-se da capital paulista apresentando relatos superiores de afetos positivos
e de satisfação com a cidade. Isto porque Salvador, por um lado, é a cidade que apresenta
dentre as quatro cidades selecionadas na pesquisa - o maior número de pessoas na população
(com mais de dez anos de idade) sem nenhum rendimento mensal, dado sugestivo de elevada
concentração de renda e desigualdade social, assim como ocorre em São Paulo. João Pessoa,
por outro lado, apresenta o segundo maior índice de homicídios na população dentre as quatro
cidades utilizadas na pesquisa (perdendo apenas para São Paulo), além de ter o segundo maior
número de pessoas sem rendimento mensal (perdendo apenas para Salvador), dados também
sugestivos de elevada concentração de renda e de violência interpessoal na cidade paraibana.
Desta forma, supomos que, além do impacto de indicadores sociais negativos presentes num
75
município, a experiência afetiva de uma população também pode ser influenciada por outras
características do local, tais como o estilo cultural.
Segundo Hofstede (1980) dois estilos culturais gerais podem ser usados para classificar
diferentes sociedades: um estilo individualista, em que a ênfase da cultura es na
independência/liberdade dos indivíduos, e um estilo coletivista, em que a ênfase da cultura
está na interdependência do indivíduo com outras pessoas. A tendência individualista parece
ser uma resposta adaptativa a comunidades urbanas grandes e anônimas e a uma economia
comercial, enquanto a tendência coletivista parece ser uma resposta adaptativa a pequenas
comunidades face-a-face e a uma economia mais voltada à subsistência (KELLER et al,
2002). Levando em conta a classificação proposta por Hofstede (1980), consideramos
plausível que a cidade de São Paulo apresente uma sociedade mais individualista que as
demais cidades analisadas no presente estudo. São Paulo é a maior e mais populosa cidade
brasileira, e assim como Oliveira (2005) assinala, quanto maior é uma cidade, mais as pessoas
são estranhas umas às outras, mais intenso e saliente é o anonimato, e maior é o predomínio
de condutas individualistas sobre condutas coletivistas. A minimização de condutas voltadas
para as necessidades e interesses grupais resulta num empobrecimento de redes sociais de
apoio. Acreditamos que mediante situações problemáticas (como as situações de pobreza,
violência), observadas na capital paulista, a falta de maiores redes de apoio social intensifica a
sensação de desamparo e solidão dos indivíduos, levando ao declínio de estados de ânimo
positivos e ao aumento de estados de ânimo negativos na população. Essa idéia do declínio da
experiência afetiva positiva na cidade de São Paulo ser acentuada pela ausência de fortes
redes de apoio social está de acordo com as observações feitas por Andersen (2001) e Diener
(2000) de que, se por um lado o individualismo pode servir de base para a liberdade e para a
76
democracia, por outro lado, ele pode servir de base para o egoísmo, relações superficiais e
solidão, resultando em menor bem-estar.
Por conseguinte, consideramos que, ainda que as cidades de Salvador e João Pessoa tenham
também indicadores sociais bastante negativos, a cultura nordestina mais voltada aos
interesses grupais/coletivos acaba for fornecer aos indivíduos redes de apoio social mais ricas
diante de circunstâncias atribuladas, minimizando a sensação de solidão/desamparo, e
resultando em relatos de estado de ânimo mais positivos dos indivíduos em comparação com
os paulistas da capital. Já em relação à cidade de Socorro, ainda que esteja situada próxima da
capital paulista e compartilhe muitos traços culturais com a metrópole, acreditamos que
também apresente características culturais mais coletivistas em comparação com São Paulo.
Socorro é uma cidade interiorana pequena, de baixa densidade demográfica, o que facilita a
formação de redes de apoio social maiores e mais estáveis. Em cidades pequenas as pessoas
estão mais próximas entre si: se conhecem melhor, se encontram mais, conversam mais,
interferem mais umas na vida das outras, o que intensifica o contato, a formação de laços
relacionais e, portanto, intensifica o suporte social que a comunidade oferece aos indivíduos
diante das atribulações da vida, auxiliando os indivíduos a minimizar afetos negativos e a
manter maiores freqüências de afetos positivos, conforme observamos na análise de nossos
dados.
Questão Teórica da Dissociação de Afetos
Os estudos relacionados aos componentes de estados afetivos da experiência colocam a
questão da independência relativa entre afeto positivo e negativo. Por exemplo, Kammann,
Farry e Herbison (1982) encontraram relações inversas entre afeto positivo e negativo, ou
seja, aumento de um estava associado à redução do outro. Por outro lado, Bradburn (1969),
77
em seu trabalho clássico sobre a estrutura do bem-estar psicológico e sobre a felicidade,
distinguiu afetos positivos de afetos negativos. Ryff (1989) encontrou que respostas sobre
funcionamento positivo não predizem respostas a questões sobre funcionamento negativo,
sendo que as duas dimensões também parecem ter correlatos diferentes, ou seja, afeto positivo
e negativo são dimensões distintas do bem-estar.
A análise de dados da presente pesquisa revelou relativa dissociação entre as duas dimensões:
afetos positivos e afetos negativos. Os idosos denotaram vivenciar mais afetos positivos e
menos negativos quando comparados com jovens e adultos, o que equivaleria a dizer que os
dois afetos seriam dependentes, que variam inversamente. Todavia, quando relacionamos a
freqüência de experiência de afetos para os tipos de cidade, observa-se que, ainda que o
resultado obtido entre as cidades de São Paulo e Socorro seja bidimensional (São Paulo
denota aumento de afetos negativos e diminuição de afetos positivos em relação à cidade
interiorana), o resultado encontrado na comparação de afetos positivos e negativos entre São
Paulo e as demais cidades (João Pessoa e Salvador) é unidimensional: são os escores de afetos
positivos que em média são significativamente inferiores na capital paulista.
Os resultados relativos à interação sexo e idade também apresentaram efeito unidimensional.
Mulheres adultas apresentaram maior freqüência de afetos negativos do que homens de
mesma idade, não havendo nenhuma diferença significativa, neste caso, com a freqüência de
afetos positivos. as mulheres idosas, ao contrário das mulheres adultas, apresentaram mais
afetos positivos quando comparadas com homens de mesma idade, não havendo alteração
quanto à afetividade negativa.
78
Em vista de tais resultados, conclui-se que relativa dissociação entre as duas dimensões
afetivas em questão, como apontaram Ryff (1985) e Bradburn (1969). Levantamos a hipótese
de que a satisfação de vida, que é maior à medida que há predomínio de afetos positivos sobre
os negativos, é influenciada tanto por uma relação complementar entre afetos positivos e
negativos (uma dimensão aumenta na proporção em que a outra diminui), como por um efeito
unidimensional (apenas um dos afetos aumenta ou diminui em freqüência), o que enfatiza a
necessidade de que instrumentos que se propõem a avaliar o funcionamento humano ótimo
sejam construídos de maneira a levar em consideração a manifestação de ambas dimensões.
79
III ) CAPÍTULO 3
ESTUDO 2
1. INTRODUÇÃO: Desejabilidade Social como variável correlata de auto-
relatos de afetos
“ Falar muito de si mesmo pode ser também um modo de se esconder.”
Nietzsche
Dados e medidas obtidos através de auto-relato podem ser influenciados por desejabilidade
social (DS) (BALLARD, 1992), que pode ser definida como: “uma necessidade de aprovação
e aceitação social e a crença de que tal necessidade pode ser alcançada por meio de
comportamentos aceitos como apropriados culturalmente” (CROWNE; MARLOWE, 1964, p.
109).
Parte dos estudos relacionados à possível influência de DS em auto-relatos tem sido
desenvolvida dentro de áreas da psicologia responsáveis pelo recrutamento profissional em
Organizações, que desde os anos 80 têm utilizado medidas de avaliação de traços de
personalidade como preditores de desempenho individual no emprego e de outros
comportamentos importantes relacionados ao trabalho (SMITH; ELLINGSON, 2001). A
possibilidade de distorções de respostas por meio de mentiras ou respostas desejáveis
socialmente em contextos variados (ex. seleção profissional) fez com que muitos
pesquisadores reafirmassem tradicionais objeções a tais mensurações baseadas em inventários
de personalidade e comportamento (SMITH; ELLINGSON, 2001).
80
Com o objetivo de avaliar possíveis vieses ligados ao desejo de aceitação social de
examinandos de testes de personalidade e estados de ânimo, Crowne e Marlowe (1960; 1964)
construíram uma escala de desejabilidade social (The Marlowe-Crowne Social Desirability
Scale) de 33 itens. Encontraram que indivíduos que apresentam alta DS tendem a buscar
aprovação de outras pessoas através de comportamentos vistos como bem-aceitos
socialmente. Para tanto, costumam negar traços ou comportamentos indesejáveis na cultura e
admitir apenas aqueles bem vistos.
Nederhof (1985) verificou que pessoas com altos escores de DS são menos propensas a
responder questões a respeito de si mesmas de forma a refletir aspectos desfavoráveis quando
comparadas com pessoas com baixos escores. Beehr (1983) encontrou relação significativa
entre alta DS e aumento de relatos de eventos positivos/declínio de relatos de eventos
negativos.
Em estudo realizado com 76 pacientes abstinentes de uso de heroína, altos escores de
desejabilidade social mostraram-se associados a menos relatos de desejo de retomada de
consumo da droga (MARISSEN et al., 2005)
A influência de DS sobre auto-relatos pode variar em função do contexto motivacional.
Schmit e Ryan (1993), por exemplo, observaram que em situações em que não
conseqüências positivas ou negativas associadas ao relato apresentado e nem são dadas
instruções de maneiras mais corretas de se dar as respostas, as pessoas não são tão incitadas a
distorcer suas respostas do que em contextos que se tem claros motivos para fazer distorções
(ex. uma situação de procura por emprego). Da mesma forma, McCrae e Costa (1983)
relataram que a utilização de respondentes voluntários em pesquisas pode propiciar resultados
81
diferentes daqueles obtidos entre respondentes inseridos em meios de seleção
profissional/recrutamento, dado o grau dissimilar de motivação para distorção de auto-
apresentação nos dois contextos.
Diener e Suh (1999) observaram que as pressões sociais de situações específicas influenciam
o relato subjetivo de mais ou menos felicidade, produzindo, assim, escores viesados de BES.
Sudman, Greeley e Pinto (1967) encontraram que as pessoas relatavam maiores níveis de
felicidade quando as respostas eram anotadas por entrevistadores do que quando elas próprias
preenchiam o questionário. Moum (1996) observou que pessoas jovens tendiam a relatar
menor depressão em entrevistas do que em questionários auto-administrados, enquanto
respondentes mais velhos não demonstraram qualquer diferença entre as formas de relato.
King e Buchwald (1982), por outro lado, não encontraram influência da maneira de relatar
respostas (entrevista versus auto-preenchimento) sobre os escores de Bem-Estar Subjetivo
obtidos.
A auto-apresentação favorável pode assumir diversas formas. A tendência à modificação da
própria imagem de forma culturalmente aceita é um aspecto de uma complexa matriz de
fatores, motivos e padrões de comportamento que influenciam escolhas de como se apresentar
e agir no meio social (ANDREWS; MEYER, 2003). Paullhus (1990) propôs que a
desejabilidade social é constituída por dois componentes: a auto-apresentação para si mesmo,
uma concepção extremamente positiva de si próprio, e a auto-apresentação para os outros,
forma de auto-apresentação planejada para criar uma impressão favorável nas outras pessoas e
influenciar o seu julgamento.
82
Para Chen et al. (1997), alguns termos utilizados em escalas de afetos estão mais propensos a
serem associados a valores de aprovação e desaprovação social. Muitas pessoas, por exemplo,
podem o gostar de utilizar palavras como “inútil” ou “desprezível” para se auto-
descrever/avaliar, o que pode promover viés em dados obtidos.
De acordo com Edwards (1953) duas razões possíveis podem ser consideradas para a relação
positiva entre probabilidade de endossar uma resposta e o valor de desejabilidade.
Primeiramente, respondentes podem endossar respostas baseados em como se sentem. Nesse
caso, os traços/afetos avaliados pelos itens relacionados com favorável auto-apresentação
(afetos positivos) podem ser apenas mais prevalentes na cultura do que aqueles indicados e
avaliados pelos itens relacionados a uma auto-apresentação menos favorável (afetos
negativos). Por conseguinte, a maioria das pessoas tenderia a endossar mais itens referentes a
afetos positivos, desejáveis, e menos itens relacionados a afetos negativos, indesejáveis. Outra
possibilidade poderia ser que os respondentes conscientemente ou inconscientemente
endossem itens mais desejáveis em função de almejarem aparentar traços, atitudes, mais
positivas.
Gotlib e Meyer (1986) especularam a possibilidade das pessoas terem limiares diferentes para
endossar itens de afetos positivos e negativos. Seria possível, por exemplo, que pessoas com
alta DS reportassem sentimentos de irritabilidade no trabalho apenas quando expostas a
situações extremamente indesejáveis, enquanto pessoas com baixa DS relatariam sentimentos
de irritabilidade em condições menos extremas.
83
2. OBJETIVO
No Estudo 1 constatamos que aumento da freqüência de afetos positivos em relação à
freqüência de afetos negativos estava associado ao aumento da idade. O objetivo do Estudo 2
foi verificar até que ponto o padrão de resultados de Desejabilidade Social replicaria o padrão
de resultados obtido para a Escala de Afetos Positivos e Afetos Negativos (PANAS) através
da aplicação da Escala de Desejabilidade Social de Crowne e Marlowe (1960) a uma amostra
de participantes com distribuição por sexo e idade semelhante a do primeiro estudo.
2.1 Hipóteses
1) Se idosos relataram maiores escores de afetos positivos e menores escores de afetos
negativos que pessoas de faixas etárias mais jovens e isto é motivado por desejos mais
intensos de aprovação e aceitação social, espera-se que pessoas idosas apresentem
maiores escores de desejabilidade social (DS) em comparação com pessoas mais
jovens.
2) O mesmo raciocínio vale para o efeito de interação entre idade e gênero encontrado no
Estudo 1 para relatos de afetos positivos e para relatos de afetos negativos. As
mulheres idosas relataram mais afetos positivos que os homens idosos e os homens
adultos relataram menos afetos negativos que as mulheres adultas. Esperava-se que
homens adultos apresentassem maiores escores de DS que mulheres adultas, assim
como mulheres idosas apresentassem maiores escores de DS que homens da faixa
etária idosa.
84
2.2 Relevância Prática do Estudo
Considera-se que a principal relevância prática deste trabalho centra-se no fato de que o
conhecimento de variáveis que possam influenciar resultados obtidos em escalas de afetos
(ex. desejabilidade social) é de essencial importância para a realização de futuras pesquisas
que assegurem resultados confiáveis relacionados a estados de ânimo e qualidade de vida.
85
3. MÉTODO
3.1 Participantes
Uma amostra de 115 pessoas distribuídas em função de faixa etária e sexo, conforme
discriminado na Tabela 28, respondeu uma escala sobre Desejabilidade Social. Todos os
participantes eram habitantes da cidade de Socorro (interior de São Paulo).
Tabela 28 – Distribuição da amostra de participantes (N) em função de faixa etária e sexo
Faixa Etária Sexo N
Jovem Feminino
Masculino
Total
16
15
31
Adulto Feminino
Masculino
Total
20
10
30
Meia-Idade Feminino
Masculino
Total
13
13
26
Idoso Feminino
Masculino
Total
13
15
28
Total Feminino
Masculino
Total
62
53
115
3.2 Material
Utilizou-se a Escala de Desejabilidade Social Marlowe-Crowne (CROWNE; MARLOWE,
1960), traduzida para o português a partir do original em inglês (Anexo F). Esta tem sido
uma escala amplamente utilizada para avaliar desejabilidade social (MOORMAN;
PODSAKOFF, 1992). Ela contém 33 afirmações verdadeiro-falso e os participantes devem
86
assinalar uma das duas alternativas para cada um dos itens. Escores elevados indicam alta
desejabilidade social ou necessidade de aprovação.
3.3 Procedimento
Foi utilizado basicamente o mesmo procedimento da aplicação da PANAS (Estudo 1). Os
participantes foram abordados em locais públicos por uma pesquisadora previamente treinada,
que os convidou a participar de uma pesquisa em desenvolvimento no Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo. O próprio participante foi responsável pelo preenchimento de
seu questionário, exceto nos casos de pessoas idosas, que apresentavam dificuldades de
preenchimento. Nesse caso, ficava a cargo do entrevistador ler os itens e anotar as respostas
dadas. Explicações relativas a itens da escala foram oferecidas caso fossem solicitadas pelos
participantes. Os dados obtidos foram posteriormente tabulados em planilhas eletrônicas
(Excel), analisados estatisticamente com ajuda do programa SPSS versão 13.0 e comparados
com os resultados obtidos no Estudo 1 de relatos de estados de ânimo em diferentes faixas
etárias na cidade de Socorro.
A coleta de dados com a escala de DS na cidade de Socorro foi realizada no período de Junho
de 2004 a Julho de 2004.
87
4. RESULTADOS
4.1 Desejabilidade Social
Aplicando-se um teste de Análise de Variância 2 (sexo) x 4 (idade) aos resultados obtidos na
amostra em que se aplicou a Escala de Desejabilidade Social, verificou-se efeito principal
estatisticamente significativo de idade (F
3,107
= 6,374, p < 0,001). Comparações post hoc pelo
teste de Tuckey mostraram dois subconjuntos (Tabela 29), um deles formado pelos
participantes jovens e adultos e outro formado pelos idosos. Os participantes de meia-idade
colocaram-se numa posição intermediária e não se diferenciaram nem de um subconjunto
nem do outro. Constata-se que os idosos foram aqueles com escores médios mais elevados de
desejabilidade ou aprovação social, enquanto os jovens e adultos foram aqueles com escores
mais baixos.
Tabela 29 - Escores médios indicativos de desejabilidade social distribuídos em função de
faixa etária em dois subconjuntos pelo teste de Tuckey HSD
Faixa etária N Subconjuntos
1 2
Jovem 31 16,6
Adulto 30 17,2
Meia idade 26 18,7 18,7
Idoso 28 21,7
A ANOVA não revelou efeito significativo de sexo sobre os escores desejabilidade social
(F
3,107
= 2,415, p = 0,121), ainda que os escores médios de DS dos homens (19,3 ± 0,6) tenham
sido algo superiores aos escores das mulheres (18,0 ± 0,6). A ANOVA também não revelou
88
efeito significativo de interação entre idade e sexo para os escores de DS (F
3,107
= 2,013, p =
0,117).
4.2 Afetos Positivos e Negativos
A aplicação de ANOVA 2 (sexo) x 4 (idade) aos resultados obtidos na amostra da cidade de
Socorro em que se aplicou a PANAS mostrou efeito principal estatisticamente significativo
de idade para os afetos específicos: “cheio de vida” (F
3,76
= 3,968, p < 0,01) e “nervoso” (F
3,76
= 2,871, p < 0,05). Comparações post hoc revelaram que as pessoas idosas e de meia-idade
consideraram-se mais cheias de vida que os jovens e adultos (p < 0,05). Os idosos relataram
ainda menor nervosismo que as pessoas de meia-idade (p < 0,05) (Tabela 30).
Tabela 30 Média (M) e erro padrão (EP) dos afetos que indicaram diferença em função de
idade na PANAS aplicada na cidade de Socorro.
Afeto Idade M EP
NERVOSO Jovem
Adulto
Meia-Idade
Idoso
2,7
2,7
2,9
2,1
0,2
0,2
0,2
0,2
CHEIO DE VIDA Jovem
Adulto
Meia-Idade
Idoso
3,7
4,1
4,5
4,6
0,2
0,2
0,2
0,2
A ANOVA revelou também efeito principal significativo de sexo para os afetos “satisfeito”
(F
1,76
= 5,347, p < 0,05), “extremamente feliz” (F
1,76
= 5,106, p < 0,05) , “triste” (F
1,76
= 5,265,
p < 0,05) e “sem esperança” (F
1,76
= 4,029, p < 0,05). Como mostra a Tabela 31, os homens
relataram com maior freqüência do que as mulheres os afetos “satisfeito” e “extremamente
feliz”. As mulheres, por sua vez, relataram com maior freqüência que os homens os afetos
“triste” e “sem esperança”.
89
Tabela 31 Média (M) e erro padrão (EP) dos afetos que indicaram diferença em função de
sexo na PANAS aplicada na cidade de Socorro.
Afeto Sexo M EP
TRISTE Feminino
Masculino
2,1
1,6
0,2
0,2
SEM ESPERANÇA Feminino
Masculino
1,7
1,3
0,1
0,1
EXTREMAMENTE Feminino
FELIZ Masculino
3,3
3,8
0,2
0,2
SATISFEITO Feminino
Masculino
3,6
4,1
0,2
0,2
90
5. DISCUSSÃO
A análise de dados realizada neste estudo revela que a desejabilidade social (DS) pode
contribuir parcialmente para a interpretação dos resultados relativos à Escala de Afetos
Positivos e Negativos (PANAS).
Encontramos, no Estudo 1, que diferenças em relatos de estado de ânimo na PANAS estavam
associadas à faixa etária: os idosos se auto-apresentaram como mais cheios de vida que jovens
e adultos e como menos nervosos que pessoas de meia-idade na amostra que respondeu a
PANAS na cidade de Socorro. No Estudo 2, observamos que diferenças em desejabilidade
social estavam similarmente associadas à faixa etária: foram os idosos que tiveram escores de
desejabilidade social mais elevados que os jovens e adultos na amostra socorrense que
respondeu a Escala de Marlowe-Crowne (1960). As pessoas de meia-idade também
apresentaram escores de desejabilidade social mais baixos que os idosos, embora a diferença
não tenha sido significativa estatisticamente.
Estes achados, de que são os idosos que mais se preocupam com a aceitação social e que mais
relatam estados de ânimo positivo, estão em concordância com as especulações feitas por
Beehr (1983) a respeito da possibilidade de alta DS estar associada a aumento de relatos de
eventos da vida positivos e declínio de relatos de eventos negativos. Da mesma forma,
encontramos concordância com os estudos de Crowne e Marlowe (1964), Edwards (1959),
Ballard (1992), Chen et al. (1997) e Nederhof (1985) que encontraram que pessoas com altos
níveis relatados de DS endossam com maior freqüência itens socialmente favoráveis de
conduta/sentimentos, quando comparados com pessoas com níveis menores de DS.
91
A possibilidade de viés no levantamento de afetos positivos/negativos de pessoas com alta
desejabilidade social aumentar à medida que as pessoas envelhecem, revelada pela presente
pesquisa, suscita indagações. Não achamos que o resultado obtido para a PANAS em função
de faixa etária deva ser esgotado pela justificativa do viés causado por desejabilidade social.
Mesmo que o relato de alegria/jovialidade/felicidade seja em parte representado/posado para
causar uma impressão positiva no interlocutor, podemos imaginar que ele seja capaz de causar
sentimentos e pensamentos positivos (DAMÁSIO, 2003). No livro de Damásio (2003)
intitulado Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos”, o autor faz
referência à peça teatral e ao filme O rei e eu” de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein.
Anna, que foi ao Sião para ensinar as crianças do rei, convence o seu próprio filho e
convence-se a si mesma de que assobiar uma melodia feliz transformará o medo em
confiança: Quando engano as pessoas de quem tenho medo, engano a mim mesma”.
Também podemos lembrar o filme A vida é bela”, de Roberto Benigni (1997). Durante a
Segunda Guerra Mundial, um pai e seu filho são enviados para um campo de concentração. O
pai busca transformar os horrores da guerra numa gincana procurando fazer com que o garoto
continue acreditando que a vida pode ser bela. Ao procurar enganar o filho, o pai, apesar de
ciente de todos os problemas à sua volta, poderia estar em certa medida criando um clima
mais protetor para si mesmo. Algo similar poderia estar acontecendo com os nossos idosos,
que ao buscarem uma auto-apresentação favorável diante dos outros acabam entrando no
próprio enredo, como uma profecia auto-realizadora.
Adicionalmente, as alterações na necessidade de aprovação/aceitação social ao longo da vida
podem estar associadas com o desenvolvimento de habilidades sociais importantes para o
envelhecimento sadio (FREIRE, 2000; NERI 2001b). Talvez a maior preocupação com a
auto-imagem que é apresentada socialmente, o zelo com uma auto-apresentação favorável,
92
seja um meio pelo qual é possível aos idosos se aproximarem de outras pessoas, criarem mais
laços emocionais, que auxiliam numa velhice bem-sucedida. Conforme destacamos no Estudo
1 da presente dissertação, a maior habilidade social leva o indivíduo ao desenvolvimento e
manutenção de relacionamentos interpessoais benéficos (BEDELL; LENNOX, 1997; DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 1999), que atuam como fatores de amparo e proteção diante de
circunstâncias conturbadas da vida. Os idosos, que são alvo de muitas perdas (por exemplo,
perdas em funcionalidade pela saúde debilitada, perdas de cônjuges e amigos), usariam como
estratégias compensatórias suas habilidades sociais para o enriquecimento das redes de apoio
social, que tem forte valor emocional. A apresentação de uma imagem favorável de si faria
parte da estratégia de fortalecimento das redes de apoio sociais, que atuam na manutenção de
equilíbrio e de qualidade de vida entre idosos (NERI, 2001a), o que seria condizente com os
relatos positivos de estados de ânimo vistos na PANAS na terceira idade. Logo, pode ser que
os relatos positivos de experiência afetiva encontrados na terceira idade, num primeiro
momento, sejam uma estratégia para maior aceitação social e fortalecimento de redes de apoio
oferecidas pelo meio em que o idoso está inserido, porém, num segundo momento, podem
refletir sensações positivas reais resultantes de uma vida com mais
vinculações/relacionamentos interpessoais, e com menos vivências negativas de solidão,
isolamento, desamparo e, portanto, com menos infelicidade.
Ao nosso ver, contudo, o dado de maior desejabilidade social entre idosos ainda tem que ser
tratado com cautela. Não podemos desconsiderar que o procedimento utilizado para a
aplicação de escalas tanto no Estudo 1 como no Estudo 2 da presente pesquisa pode ter
influenciado os dados de desejabilidade social e de afetos positivos e negativos obtidos entre
idosos. Muitos dos idosos de nossa amostra tinham dificuldades no preenchimento dos
questionários (muitos não enxergavam direito, outros tinham dificuldade em entender a forma
93
que deveriam responder às perguntas e itens), de maneira que solicitavam e necessitavam de
auxílio do entrevistador para o preenchimento tanto de itens da PANAS como da escala de
Desejabilidade Social. O fato de ter sido o entrevistador que anotou as respostas dadas por
diversos idosos pode ter influenciado o relato dessas pessoas em ambas escalas. Conforme
Sudman, Greeley e Pinto (1967) destacaram, as pessoas tendem a relatar maiores níveis de
felicidade quando as respostas são anotadas por entrevistadores do que quando são elas
próprias que preenchem seus questionários. Desta forma, pode ser que parte dos idosos de
nossa pesquisa, que tiveram seus questionários preenchidos pelos entrevistadores, tenham se
sentido mais expostos e tenham sentido maior necessidade de apresentar uma imagem
favorável, o que repercutiu em escores mais elevados tanto de estado de ânimo positivo como
de desejabilidade social.
Finalmente, falta-nos ressaltar que o padrão de resultados referente à relação entre gênero dos
participantes e desejabilidade social não foi compatível com os resultados relativos à
diferença entre homens e mulheres na PANAS aplicada em Socorro. Portanto, os resultados
do Estudo 1 não podem ser inteiramente atribuídos à influência de Desejabilidade Social.
94
IV ) CAPÍTULO 4
ESTUDO 3
1. INTRODUÇÃO: Influência de Humor Depressivo em Relatos de Estado
de ânimo
“Chorar é diminuir a profundidade da dor.”
William Shakespeare
O presente estudo foi realizado como parte de um projeto de pesquisa mais amplo
desenvolvido no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (IpQ-HC/FMUSP), pela equipe chefiada pelo Dr. Sérgio Paulo
Rigonatti
14
e integrada por Paulo Sérgio Boggio
15
, para a avaliação dos efeitos terapêuticos de
uma técnica de estimulação transcraniana de corrente contínua (ETCC) de baixa intensidade
(técnica não invasiva e indolor de estimulação) em pacientes com depressão maior, em
comparação com tratamento com fluoxetina e com um grupo placebo de controle. Os dados
coletados utilizados para a confecção deste capítulo são provenientes da aplicação da Escala
PANAS nos pacientes desse estudo maior durante a primeira entrevista clínica deles, quando
não haviam sido submetidos ainda a nenhuma das formas de tratamento (estimulação cerebral
ou farmacoterapia).
14
Diretor do Serviço de Tratamentos Biológicos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP
15
Professor de Neurociências da Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorando do Programa de
Neurociências e Comportamento do IPUSP, sob orientação da Profa. Maria Teresa Araújo Silva
95
Os parágrafos a seguir apresentam uma breve definição do transtorno depressivo maior e uma
revisão de alguns estudos voltados às bases biológicas da afetividade positiva e negativa e ao
impacto do humor depressivo sobre relatos de estado de ânimo.
A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns com distribuição universal,
constituindo um grande problema de saúde pública (LIMA et. al, 2004). Por se tratar de um
quadro tão comum, Seligman (1975) denominou a psicopatologia de “resfriado da
psiquiatria”. Estima-se que 15 a 20% dos adultos, em qualquer ponto de suas vidas, vão sofrer
de níveis significativos de sintomatologia depressiva, e que pelo menos 12% da população
mundial apresentará depressão grave o suficiente para solicitar algum tipo de tratamento
(FENNELL, 1997).
A quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV)
define o Episódio Depressivo Maior como a presença de cinco ou mais sintomas depressivos
durante um período mínimo de duas semanas. Tais sintomas são: humor deprimido ou perda
de interesse e prazer por quase todas as atividades; alterações no apetite ou peso; diminuição
de energia; sentimentos de desvalia ou culpa, dificuldades de raciocínio (prejuízo em funções
ligadas ao pensamento, concentração e tomada de decisões); distúrbios de sono e na atividade
psicomotora e pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida. Também podem
ocorrer episódios de irritabilidade aumentada e prejuízos significativos no funcionamento
social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo (DSM-IV).
Episódios depressivos ocorrem com freqüência duas vezes maior em mulheres do que em
homens (DSM-IV). Diferenças sexuais em expressividade e controle emocional podem ajudar
96
a explicar porque as mulheres têm mais depressão que os homens. As mulheres são mais
expressivas emocionalmente enquanto os homens suprimem melhor exibições emocionais que
as mulheres (HALL, 1984; RIGGIO, 1986). As mulheres são mais tendentes a amplificar seus
afetos ruminando sobre seus estados depressivos e as possíveis causas destes estados,
enquanto os homens quando estão deprimidos são mais tendentes a se engajar em
comportamentos de distração, como uma estratégia de controle emocional (NOLEN-
HOEKSEMA, 1987). Estas diferenças criam um fator de risco para a depressão para as
mulheres, independentemente da causa original da depressão (PEREZ; RIGGIO, 2003).
Déficits que ocorrem na depressão relacionados à comunicação verbal e não-verbal
acompanham ficits de comportamento social/interacional, que podem prejudicar o quadro
clínico. Segrin e Abranson (1994) destacaram que os déficits em comportamento social
podem atuar como perpetuadores de processos depressivos, visto que eliciam reações
negativas dos outros e resultam em elevado estresse interpessoal e em falta de suporte social
para o indivíduo, o que está diretamente relacionado com persistência e recorrência de
depressão (BROWN; HARRIS; HEPWORTH; ROBINSON, 1994).
A depressão pode ser vista como uma adaptação entre o organismo e o meio em que ele
está inserido. Numa revisão de algumas das possíveis causas da depressão, Solomon (2002)
destaca a ligação entre desenvolvimento da depressão e o estresse crônico ao qual os
indivíduos estão submetidos nas sociedades modernas. Um dado sugestivo dessa ligação é a
constatação de que as taxas de depressão tendem a ser baixas em sociedades de caça ou em
sociedades puramente agrícolas, enquanto são bastante elevadas em sociedades industriais, e
ainda mais altas em sociedades em transição. Para o autor, enquanto num ambiente
selvagem/natural os animais tendem a sofrer uma situação de perigo momentânea e logo
97
resolvem (sobrevivendo ou morrendo), nas sociedades modernas, inversamente, um
aumento de situações estressantes que tornam crônicos estados afetivos de sobressalto,
angústia e preocupação, o que pode causar depressão. Solomon (2002) complementa a
discrepância entre o ambiente natural e o das sociedades modernas dizendo: Animais
selvagens não assumem empregos dos quais se arrependem, não se forçam a interagir
calmamente ano após ano com quem não gostam, não brigam pela custódia do filho (p.
354). Esta afirmação de Solomon (2002) é discutível, já que muitas espécies vivem em grupos
sociais com rígidas hierarquias de dominância. Um macho rhesus subordinado passa anos da
sua vida convivendo com um macho alfa e evitando situações de confronto, a tal ponto que
Hinde (1976) propõe que se use a expressão ‘hierarquia de subordinância’ no lugar de
‘hierarquia de dominância’. Algum grau de depressão do subordinado poderia ser adaptativo.
Nesse (1990; 2000) destaca que a depressão pode ter um valor na adaptação do indivíduo. Ela
pode atuar forçando o desligamento das pessoas de uma situação cujo objetivo é infrutífero ou
impossível e do qual a pessoa não consegue se desprender. Assim, pessoas que perseguem
objetivos com excessiva tenacidade e não conseguem desistir de vínculos obviamente
imprudentes em função de grandes investimentos emocionais feitos, deprimiriam como uma
forma do organismo baixar o ânimo e impor limites à persistência.
Em contrapartida, a psiquiatria biológica e a neurociência consideram o humor depressivo
(aumento de afetividade negativa e/ou diminuição de afetividade positiva) como resultado de
anormalidades funcionais em determinadas regiões cerebrais (LIMA et al, 2004). Estudos
comparando pacientes depressivos com controles normais têm comprovado que depressivos
apresentam maior ativação da área pré-frontal direita (WATSON, 2002; FLOR-HENRY,
1976; FLOR-HENRY; KOLES, 1980; MYSLOBODSY; HORESH, 1978; ROEMER et al.,
98
1978). Em concordância com estes resultados, Davidson (1992) e Tomarken e Keener (1998)
demonstraram que pessoas felizes tendem a apresentar maior atividade no córtex pré-frontal
esquerdo do que na área pré-frontal direita.
Schafer, Davidson e Saron (1983), utilizando medidas de EEG, constataram que depressivos
apresentam ativação frontal anterior direita, enquanto não depressivos apresentam pouca
assimetria hemisférica ou ativação frontal anterior esquerda. O mesmo foi encontrado por
Perris e Monakhov (1979). Em ambos os estudos medidas de EEG em localizações
posteriores não discriminaram depressivos e não-depressivos. Watson et al. (1995)
encontraram aumento de sintomas depressivos após lesão anterior esquerda do córtex pré-
frontal e interpretaram que esta região participa de um circuito subjacente ao afeto positivo,
que quando lesada resulta em déficits na capacidade para vivenciar afeto positivo, uma das
características da depressão.
Além do ponto de vista biológico, a depressão também tem sido vislumbrada sob o aspecto
cognitivo e comportamental. A teoria cognitiva da depressão de Aaron Beck (BECK, 1967;
1983) propõe que as manifestações emocionais e comportamentais da depressão são
produzidas e mantidas por uma avaliação negativa do ambiente e de si próprio. A avaliação
negativa seria uma resultante de distorções automáticas e de cunho negativo que pacientes
deprimidos tendem a fazer das informações do ambiente, o que resulta numa maximização de
aspectos negativos de situações da vida, inclusive identificando, por vezes, o que é positivo
como neutro ou negativo (LIMA et. al, 2004).
A depressão pode ser desencadeada por eventos do dia-a-dia, principalmente aqueles de
conotação negativa (MCGUFFIN; KATZ; BEBBINGTON, 1988). Diante da visão negativa
99
de si próprio, do ambiente e de seu futuro, o paciente deprimido percebe-se como inferior,
inadequado, indesejado e incapaz. O ambiente em que está é considerado hostil e seus
recursos como insuficientes para mudar seu futuro, o que leva ao conseqüente
desenvolvimento de desesperança (LIMA et. al, 2004).
Características emocionais e comportamentais da depressão podem ser percebidas em
medidas de qualidade de vida. A freqüente insatisfação social, física e emocional, própria do
quadro depressivo, está associada a baixos escores de bem-estar (BROACHED et al., 1990;
COOKE et al., 1996; LEHMAN, 1983; PYNE et al., 1997).
Medidas de Qualidade de Vida Subjetiva
16
provenientes tanto de estudos comunitários
(GOLDNEY et al., 2000), como de estudos em cuidado primário (primary care) (ORMEL et
al., 1999) são particularmente pobres entre pacientes depressivos (KUEHNER; BUERGER,
2005). Os escores de pacientes depressivos chegam a ser, em alguns casos, inferiores aos
escores de pacientes com condições médicas crônicas maiores (por exemplo, graves
problemas cardiovasculares) (HAYS et al., 1995; BONICATTO et al., 2001), sendo os mais
baixos escores associados aos casos de sintomatologia depressiva mais severos (KOIVUMA-
HONKANEN et al., 2001; LASAVIA et al., 2002; PYNE et al., 2003).
Além de menores escores de satisfação com a qualidade de vida, pacientes depressivos
também relatam ter mais problemas interpessoais. Lam et al. (2003) encontraram que
depressivos demonstram uma percepção mais negativa de seus relacionamentos interpessoais
quando comparados com controles. De forma similar, Holahan et al. (2004) encontraram que
16
Subjective Quality Of Life (QOL) é um construto que descreve a percepção subjetiva das pessoas sobre sua
saúde física, psicológica, funcionamento social e qualidade de vida geral (BULLINGER, 2003).
100
pacientes depressivos relatam receber menor apoio/suporte familiar que indivíduos não
depressivos.
Desvios em equilíbrio de afetos positivos e negativos também são observados. Garamoni e
colaboradores (1991) encontraram, numa amostra de 39 pacientes com depressão maior e 43
controles, que equilíbrio entre afetos positivos e negativos em auto-relatos estava
inversamente relacionado à severidade de sintomas depressivos mensurados nas escalas de
depressão Beck e Hamilton. Quanto maior a severidade dos sintomas, maior a freqüência de
afetos negativos sobre os positivos.
Alterações no quadro depressivo são acompanhadas por alterações em relatos subjetivos de
qualidade de vida. Kuehner e Buerger (2005) e Papakostas et al. (2004) encontraram, através
de avaliações realizadas após tratamento, que pacientes sem remissão de sintomas relatavam
percepções mais negativas da própria qualidade de vida quando comparados com pacientes
com remissões parciais ou totais de sintomas. Melhora do quadro depressivo também se
mostrou associada a relatos de melhora de auto-estima e bem-estar social (MANN et al.,
2004).
101
2. OBJETIVO
O objetivo do Estudo 3 foi comparar auto-relatos de Satisfação com a Vida e de Afetos
Positivos e Negativos de pacientes deprimidos e de pessoas sem depressão. A amostra clínica
foi constituída por homens e mulheres de meia-idade (40-59 anos), habitantes da cidade de
São Paulo, diagnosticados com Transtorno Depressivo Maior, provenientes do Instituto de
Psiquiatria do HCFMUSP. A amostra o clínica foi a mesma utilizada no Estudo 1,
constituída por homens e mulheres também de meia-idade, habitantes da cidade de São Paulo.
2.1 Hipótese:
1) Considerando as características do quadro depressivo, esperava-se que o grupo de
pacientes com depressão relatasse mais Afetos Negativos, menos Afetos Positivos e
menor Satisfação com a Vida em comparação com o grupo controle.
2.2 Relevância Prática do Estudo
Do ponto de vista de relevância prática, a compreensão de alterações nas dimensões afetiva
(afetos positivos e negativos) e cognitiva (avaliação da satisfação com a própria vida) do
bem-estar na depressão pode auxiliar profissionais da área da saúde a compreender melhor o
transtorno e, por conseguinte, a encontrar melhores formas de tratamento. Adicionalmente, a
identificação de relatos típicos de pacientes deprimidos na PANAS permite que a escala sirva
como um instrumento de auxílio diagnóstico e/ou de avaliação da eficácia de tratamentos
utilizados na área da saúde mental.
102
3. MÉTODO
3.1 Participantes
A amostra clínica foi composta por 41 pacientes (14 homens e 27 mulheres), de meia-idade
(40-59 anos), habitantes da cidade de São Paulo, recrutados para uma pesquisa no Instituto de
Psiquiatria do HC-FMUSP, com diagnóstico de depressão maior unipolar de intensidade
leve-moderada, que não estavam sob efeito de nenhum tratamento antidepressivo por pelo
menos dois meses. O diagnóstico de depressão unipolar foi obtido através de entrevista clínica
semi-estruturada, baseada em critérios diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria
(SCID-DSM-IV) (American Psychiatric Association). A intensidade leve-moderada da
depressão foi definida pela aplicação da escala de Hamilton de 21 itens (escores entre 14-20
para depressão leve e escores entre 21-25 para depressão moderada) (Anexo G).
A amostra não-clínica, proveniente do Estudo 1, foi composta por 21 habitantes da cidade de
São Paulo/capital (11 homens e 10 mulheres) de meia-idade.
3.2 Material
Os participantes da amostra clínica responderam a mesma Escala de Afetos Positivos e
Negativos (PANAS) e de Faces Esquemáticas utilizada no Estudo 1, para avaliação de afetos
positivos e negativos, avaliação da satisfação em relação à própria vida, além de inferência
sobre a satisfação em relação à vida de seus melhores amigos.
103
3.3 Procedimento
Após os participantes receberem o diagnóstico de depressão maior unipolar leve-moderada
em entrevista de 30 minutos com um psiquiatra e/ou neuropsicólogo previamente treinados,
no Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP, eles foram convidados por uma psicóloga a
responder individualmente um questionário referente a uma pesquisa em desenvolvimento no
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. O próprio participante foi responsável
pelo preenchimento de seu formulário. Explicações relativas a perguntas ou itens do
questionário foram oferecidas caso fossem solicitadas pelos participantes. Os dados obtidos
foram posteriormente tabulados em planilhas eletrônicas (Excel), analisados estatisticamente
com auxílio do programa SPSS versão 13.0 e comparados com os resultados obtidos no
Estudo 1 de relatos de estados de ânimo de pessoas de meia-idade na cidade de São Paulo.
O delineamento da presente pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética para Análise de
projetos de Pesquisa (CAPPesq) da Diretoria Clínica do Hospital das Clínicas e da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (Protocolo de Pesquisa n.º 1057/04). A coleta de
dados foi realizada no período de Agosto de 2005 a Dezembro de 2005.
104
4. RESULTADOS
4.1 Afetos Positivos
Para efeitos de análise as duas amostras de participantes foram divididas em dois grupos. Os
respondentes com diagnóstico de depressão maior unipolar foram classificados de “grupo
depressão”, enquanto os respondentes provenientes do Estudo 1 foram classificados de “grupo
controle”. O teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito significativo de grupo
(F
1,57
= 65,817, p < 0,001) sobre os escores médios de afetos positivos. Como mostra a Figura
7, participantes do grupo depressão apresentaram escores dios de afetos positivos
significativamente mais baixos (Média = 12,5) em comparação com os participantes do grupo
controle (Média = 20,5).
0
5
10
15
20
25
Depressão Controle
Grupo
Escores Médios
Figura 7. Escores médios de Afetos Positivos em função de grupo
105
A ANOVA não apresentou efeito significativo da variável sexo (F
1,57
= 0,112, p = 0, 739) nem
de interação entre sexo e grupo (F
1,57
=1,833, p = 0,181) para os escores médios de afetos
positivos.
4.2 Afetos Negativos
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito principal significativo de grupo
(F
1,57
= 41,268, p < 0,001) sobre os escores médios de afetos negativos. Como mostra a
Figura 8, participantes do grupo depressão apresentaram escores médios de afetos negativos
significativamente mais altos (Média = 18,5) em comparação com os participantes do grupo
controle (Média = 12,3).
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Depressão Controle
Grupo
Escores Médios
Figura 8. Escores médios de Afetos Negativos em função de grupo
A ANOVA não apresentou efeito significativo da variável sexo (F
1,57
= 0,001, p = 0, 992) nem
de interação entre sexo e grupo (F
1,57
=0,001, p = 0,992) para os escores médios de afetos
negativos.
106
4.3 Índice de Equilíbrio de Afeto
Para a observação em conjunto da discrepância de Afetos Positivos e de Afetos Negativos que
existe entre os dois grupos (depressão e controle), calculou-se o Índice de Equilíbrio de Afeto
de Ryff (1989), que consiste na subtração do total de afetos negativos do total de afetos
positivos. Aplicou-se, então, uma ANOVA 2 (grupo) x 2 (sexo) tendo como variável
dependente o Índice de Equilíbrio de Afeto (IEA). A ANOVA revelou efeito principal de
grupo (F
1,57
= 69,884, p < 0,001). A Figura 9 mostra que o predomínio da freqüência de afetos
negativos sobre a freqüência de afetos positivos é evidente para o grupo depressão, tornando o
IEA negativo (Média = -5,9). Já o grupo controle apresenta resultado inverso: é o predomínio
da freqüência de afetos positivos sobre a freqüência de afetos negativos que é clara, tornando
o IEA positivo (Média = 8,2).
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
Grupos
IEA
Figura 9. Valores médios do Índice de Equilíbrio de Afeto (IEA) obtidos para o grupo
controle (barra branca) e para o grupo depressão (barra negra)
107
4.4 Satisfação com a vida
Um teste de Análise de Variância (ANOVA) revelou efeito significativo de grupo (F
1,57
=
47,262, p < 0,001) sobre os escores médios de avaliação de satisfação com a própria vida.
Como mostra a Figura 10, os participantes do grupo depressão apresentaram escores médios
inferiores de satisfação com a vida (Média = 3,5) em comparação com os participantes do
grupo controle (Média = 5,6). Os grupos não se diferenciaram significativamente, contudo,
em relação à satisfação atribuída ao amigo (F
1,57
= 1,253, p = 0,268). O escore médio de
satisfação com a vida atribuído ao amigo foi 5,2 para o grupo depressão e 5,5 para o grupo
controle.
0
1
2
3
4
5
6
Depressão Controle
Grupo
Escores Médios
Figura 10. Escores médios de Satisfação com a própria Vida em função de grupo
108
A ANOVA não apresentou efeito significativo da variável sexo (F
1,57
= 0,019, p = 0, 892) e
nem de interação entre sexo e grupo (F
1,57
=1,172, p = 0,680) para os escores de satisfação
com a vida.
A Tabela 32 mostra as correlações encontradas entre avaliações de satisfação com a vida,
afetos positivos e afetos negativos para o grupo controle. Encontrou-se correlação positiva
significativa entre os escores de afetos positivos e a avaliação de satisfação com a própria vida
(r = 0,54, p < 0,05). Satisfação atribuída ao amigo não apresentou nenhuma correlação com as
demais medidas obtidas.
Tabela 32 - Correlação entre escores de afetos positivos, afetos negativos, satisfação com a
própria vida e a satisfação atribuída ao melhor amigo para o grupo controle
1 2 3 4
1. Afetos positivos - -0,49* 0,54* 0,34
2. Afetos negativos - -0,35 -0,13
3. Satisfação com a própria vida - 0,02
4. Satisfação atribuída ao amigo -
* p < 0,05
A Tabela 33 mostra as correlações encontradas entre avaliações de satisfação com a vida,
afetos positivos e afetos negativos para o grupo depressão. Encontrou-se correlação positiva
significativa entre os escores de afetos positivos e a avaliação de satisfação com a própria vida
(r = 0,52, p < 0,01). Diferentemente do grupo controle, o grupo depressão apresentou
correlação positiva significativa entre os escores de afetos positivos e a satisfação atribuída ao
melhor amigo (r = 0, 33, p < 0,05).
109
Tabela 33 - Correlação entre escores de afetos positivos, afetos negativos, satisfação com a
própria vida e a satisfação atribuída ao melhor amigo para o grupo depressão
1 2 3 4
1. Afetos positivos - -0,51** 0,52** 0,33*
2. Afetos negativos - -0,47** -0,08
3. Satisfação com a própria vida - 0,28
4. Satisfação atribuída ao amigo -
* p < 0,05, ** p < 0,01
110
5. DISCUSSÃO
A análise de resultados do presente estudo revelou que pacientes deprimidos relatam maior
freqüência de afetos negativos, menor freqüência de afetos positivos e menor satisfação com a
vida quando comparados com indivíduos sem depressão de mesma faixa etária e residentes da
mesma cidade. Estes resultados estão de acordo com a vasta literatura nacional e internacional
relacionada à psicopatologia. Garamori e colaboradores (1991), por exemplo, encontraram
que maior severidade do quadro depressivo se relacionava com aumento de afetos negativos e
declínio de afetos positivos. Segundo o DSM-IV, a depressão engloba tanto o aumento de
afetos negativos como culpa, sentimento de desvalia e inutilidade, como a diminuição de
afetos positivos tais como entusiasmo/animação, satisfação e euforia.
Consideramos que os dados revelados pela PANAS referentes à freqüência de afetos positivos
e negativos, que distinguiram claramente o grupo de indivíduos sem depressão (controle) do
grupo clínico depressivo, servem para salientar o valor da escala como um instrumento
sensível para a captação de humor patológico. A sensibilidade da PANAS para diferenciar
relatos de pessoas que estão bem de pessoas com doenças afetivas é um indicador positivo
para sua utilização como instrumento de auxílio diagnóstico e/ou para avaliação da eficácia de
tratamentos realizados no campo da saúde mental.
Diener (1984) destacou que o estudo do Bem-Estar Subjetivo (BES) compreende tanto
avaliações cognitivas das pessoas a respeito de suas vidas (que incluem julgamentos
relacionados à satisfação com a vida), como avaliações afetivas (relacionadas ao humor e às
emoções/sentimentos). Esta interpretação está de acordo com a proposta cognitiva de Beck
(1967; 1963) de que as alterações emocionais e comportamentais da depressão podem ser
111
produzidas e mantidas por distorções cognitivas automáticas de cunho negativo que o
indivíduo depressivo tende a fazer das informações do ambiente. Talvez o fato das pessoas
depressivas em nosso estudo avaliarem suas vidas como menos satisfatórias e felizes seja
resultado de distorções negativas perceptivas da depressão.
Conforme descrevemos resumidamente na introdução deste estudo, as causas que originam a
distorção cognitiva negativa do meio e os estados subjetivos de tristeza na depressão podem
ser explicadas de diferentes formas. Poderíamos citar aqui, por exemplo, a probabilidade dos
depressivos de nossa amostra sofrerem de anormalidades funcionais cerebrais (super-ativação
do córtex pré-frontal direito), como salienta a neurociência (WATSON, 2002; SCHAFER;
DAVIDSON; SARON, 1983). Também poderíamos dizer que nossos pacientes depressivos
podem ter sido submetidos a situações exacerbadas de preocupação, angústia, etc, que
resultaram num estado de estresse crônico e desencadearam a depressão, como destaca
Solomon (2002). O fato é que não nos sentimos aptos para, com segurança, definir o que de
fato promove o surgimento do quadro depressivo, já que a busca causal da depressão não foi o
foco deste estudo.
O que podemos dizer é que a diferença entre a patologia afetiva depressiva e o estado de
ânimo normal fica bastante clara quando retomamos a análise que fizemos a partir do Índice
de Equilíbrio de Afetos (IEA) (RYFF, 1989), que consistiu na subtração da freqüência de
afetos negativos da freqüência de afetos positivos apresentadas na PANAS. Enquanto a
amostra de pessoas sem depressão (que era proveniente de São Paulo) apresentou IEA
claramente positivo (prevalência de afetos positivos sobre os negativos), a amostra constituída
pelos pacientes depressivos (também constituída por paulistas) apresentou IEA marcadamente
negativo (prevalência de afetos negativos sobre os positivos). No Estudo 1 desta dissertação
112
encontramos que eram exatamente os habitantes da cidade de São Paulo que relatavam os
menores escores de Afetos Positivos e os maiores escores de Afetos Negativos, quando
comparados com habitantes de outras cidades (a saber, Socorro, João Pessoa e Salvador). O
que notamos é que mesmo sendo a amostra paulista aquela que relata menor bem-estar no
Estudo 1, ela ainda assim apresenta escores inquestionavelmente maiores de bem-estar
quando comparada com o grupo de depressivos. Isto indica que mesmo em ambientes que
parecem ser mais hostis, como a cidade de São Paulo, a diferença entre o estado de ânimo
normal e o depressivo/patológico é visível. O estado de ânimo normal, conforme podemos
notar, é predominantemente positivo. Mesmo com a marginalidade, criminalidade,
desigualdade social, etc, os escores afetivos dos paulistas não deprimidos revelam um estado
afetivo mais inclinado para a alegria e para a satisfação, o que está em concordância com a
idéia de que as pessoas, quando não estão doentes, tendem a ser mais felizes do que infelizes
(MYERS, 2000).
113
V ) EM CONCLUSÃO
1) No Estudo 1, aumento de idade mostrou-se relacionado com relatos de estado
de ânimo mais positivos, conforme prevê a teoria da seletividade
socioemocional, que associa envelhecimento a uma melhor regulação de
emoções. Os idosos de nossa amostra relataram mais Afetos Positivos e menos
Afetos Negativos que jovens e adultos.
2) O Estudo 1 também revelou que gênero pode influenciar relatos de Afetos
Positivos e Negativos em faixas etárias específicas. As mulheres adultas
relataram mais afetos negativos que homens de mesma faixa etária. Na
velhice, as mulheres relataram mais afetos positivos que os homens idosos.
3) Finalmente, no Estudo 1 verificamos que maior Produto Interno Bruto (PIB)
dos municípios não teve relação com maiores relatos de bem-estar da
população. Os habitantes de São Paulo/capital, a cidade utilizada na presente
pesquisa com maior PIB, foram os que apresentaram os mais baixos escores
de Afetos Positivos quando comparados com os habitantes de Socorro, João
Pessoa e Salvador. Foram também os paulistas que apresentaram escores mais
114
elevados de Afetos Negativos quando comparados com os habitantes de
Socorro.
4) No Estudo 2, maior desejabilidade social mostrou-se associada à faixa etária.
Os idosos foram os que apresentaram maiores escores de desejabilidade social
quando comparados com jovens e adultos, um padrão de resultados
semelhante ao observado na Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS),
aplicada no Estudo 1, em que idosos relataram mais Afetos Positivos e menos
Afetos Negativos que jovens e adultos. Todavia, não foi encontrado efeito de
gênero sobre os escores de desejabilidade social. O padrão de resultados
referente à relação entre gênero dos participantes e desejabilidade social não
foi compatível com os resultados relativos à diferença entre homens e
mulheres na PANAS, aplicada no Estudo 1, o que indica que os resultados do
Estudo 1 não podem ser inteiramente atribuídos à influência de Desejabilidade
Social.
5) No Estudo 3, por fim, pacientes com depressão relataram mais Afetos
Negativos, menos Afetos Positivos e menor Satisfação com a Vida em
comparação com um grupo controle, o que serve como um indicador favorável
de que a PANAS é um instrumento sensível para a diferenciação de estados de
ânimo patológicos e não patológicos.
115
116
VI ) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1994.
134
VII) ANEXOS
135
ANEXO A
Questionário com Informações Pessoais e Escala de Afetos Positivos e Negativos
(PANAS) adaptada por Mroczek e Kolarz (1998)
DADOS PESSOAIS
IDADE: ______________________________________________________________
GRAU DE ESCOLARIDADE: ____________________________________________
ESTADO CIVIL: _______________________________________________________
TEM FILHOS, QUANTOS? ______________________________________________
É SEGUIDOR (A) DE ALGUMA RELIGIÃO, QUAL E COM QUE FREQÜÊNCIA?
______________________________________________________________________
QUAL SEU PAÍS E CIDADE DE ORIGEM? _________________________________
ESCALA DE ATITUDES
Responda as opções da questão abaixo com as seguintes alternativas
1- nunca
2- pouco freqüentemente
3- algumas vezes
4- a maior parte do tempo
5- todo o tempo
DURANTE OS ÚLTIMOS 30 DIAS, COM QUAL FREQÜÊNCIA VOCÊ SE SENTIU:
Tão triste que nada o (a) deixava animado (a)? __________
Nervoso (a) ? __________
Incomodado (a)? __________
Sem esperança? __________
Que tudo era uma obrigação? __________
Desprezível ou inútil? __________
Alegre ou Jovial? __________
De bem com a vida? __________
Extremamente feliz? __________
Calmo (a) ? __________
Satisfeito (a) ? __________
Cheio (a) de vida? __________
136
ANEXO B
Escala de Faces Esquemáticas para Avaliação de Satisfação com a Vida de Andrews e
Withey (1976), adaptada por Myers (2000)
Pense nas pessoas a seguir. Assinale com um “X” a face que melhor expressa como você
imagina que elas se sentem em relação à vida delas como um todo.
PESSOAS
Xuxa
Silvio
Santos
Fernanda
Montenegro
Jô Soares
Romário
Fátima
Bernardes
Guga
Marta
Suplicy
Seu (a)
melhor
amigo (a)
Você
mesmo (a)
Qual das seguintes faces expressa o que você acha da cidade em que vive? O que mais te
agrada e mais te incomoda nela?
O que mais me agrada na cidade ...______________________________________________
O que mais me incomoda na cidade ... ___________________________________________
O quê poderia torna- lo (a) mais feliz mediante a sua vida? ___________________________
137
ANEXO C
Termo de Consentimento
Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa em andamento no Instituto de
Psicologia da USP sobre estados de ânimo e suas possíveis variações.
A participação é voluntária e anônima e o seus dados individuais serão mantidos em sigilo,
pois o que interessa neste estudo são os dados do grupo como um todo, ou seja, a publicação
dos dados não incluirá informações que permitam qualquer tipo de identificação do
participante.
Respeitando o procedimento padrão ético em pesquisas, pedimos que você assine este termo
de consentimento. Caso não deseje participar, sinta-se à vontade para não assinar este
documento. Mesmo assinando, você poderá a qualquer momento desistir de participar da
pesquisa.
Caso tenha dúvidas, você pode solicitar maiores informações no momento da coleta de
dados ou através do endereço eletrônico: te[email protected] (falar com Juliana
Teixeira Fiquer - responsável pela pesquisa).
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
--
Eu, _____________________________________ fui informado dos procedimentos da
pesquisa acima, tendo sido esclarecido em relação aos objetivos da mesma. Sei que poderei
solicitar mais informações ou mudar minha decisão se assim o desejar, tendo me certificado
de que os dados coletados são confidenciais e sujeitos à retirada de meu consentimento de
participação em qualquer momento da pesquisa.
São Paulo, _____de ____________ de 200___.
_______________________________________
Assinatura do colaborador
138
ANEXO D
Fotos das Cidades de São Paulo e Socorro
São Paulo - Capital
Socorro - SP
139
ANEXO E
Fotos das Cidades de Salvador e João Pessoa
Salvador- BA
João Pessoa - PB
140
ANEXO F
Escala de Desejabilidade Social Marlowe-Crowne (CROWNE; MARLOWE, 1960),
traduzida para o português
17
Leia cada item a seguir e decida quando a afirmação é verdadeira (V) ou falsa (F) para
expressar sua maneira de agir e reagir.
1- Antes de votar, eu investigo intensamente as qualificações de todos os candidatos (V)
2- Eu nunca hesito em deixar minhas coisas para ajudar alguém que está com problemas (V)
3- Às vezes tenho dificuldade para dar continuidade ao meu trabalho se não estiver
estimulado (F)
4- Eu nunca senti grande antipatia por alguém (V)
5-Algumas vezes tenho dúvidas a respeito de minha capacidade para ser bem-sucedido na
vida (F)
6- Algumas vezes me sinto ressentido(a) quando não consigo realizar as minhas coisas (F)
7- Sempre sou cuidadoso(a) com a maneira de me vestir (V)
8- As maneiras que tenho à mesa em casa o tão boas quanto as que tenho quando estou
comendo em um restaurante (V)
9- Se eu pudesse entrar num cinema sem pagar e tivesse certeza de que não seria visto,
provavelmente eu o faria (F)
10 - Algumas poucas vezes eu desisti de fazer alguma coisa porque achei que não tinha
habilidade (F)
11- Algumas vezes gosto de fofocar (F)
12- Houve momentos em que senti vontade de me rebelar contra pessoas em posições de
autoridade, mesmo sabendo que elas estavam certas (F)
13- Não importa com quem estou falando, sempre sou um bom ouvinte (V)
14- Eu consigo me lembrar de ter fingido estar doente para fugir de alguma coisa (F)
17
A escala foi apresentada aqui com as respostas de Verdadeiro (V) e Falso (F) que pontuam DS para cada item.
141
15- Houve ocasiões em que tirei vantagem de alguém (F)
16- Sempre estou disposto(a) a admitir quando cometo um erro (V)
17- Sempre tento por em prática aquilo que prego (V)
18- Eu não encontro dificuldade para me relacionar com pessoas agressivas ou atrevidas (V)
19- Algumas vezes tento me vingar em vez de perdoar e esquecer (F)
20- Quando desconheço alguma coisa, não admito (V)
21- Sou sempre educado(a), mesmo com pessoas que são desagradáveis (V)
22- Às vezes eu realmente insisto para que as coisas saiam do meu jeito (F)
23- Houve ocasiões que senti vontade de quebrar as coisas (F)
24- Eu não conseguiria me imaginar deixando outra pessoa ser punida por coisas erradas
que eu tivesse feito (V)
25- Eu nunca me ofendo quando me pedem para retribuir um favor que alguém tenha me
feito (V)
26- Eu nunca fiquei entediado(a) quando as pessoas expressaram idéias muito diferentes das
minhas (V)
27- Eu nunca faço uma viagem longa sem verificar as condições de segurança do meu carro
(V)
28- Houve momentos em que tive um pouco de inveja da sorte dos outros (F)
29- Eu quase nunca senti vontade de repreender alguém (V)
30- Algumas vezes fico irritado(a) quando as pessoas me pedem favores (F)
31- Eu nunca me senti punido(a) sem motivo (V)
32- Algumas vezes eu penso que as pessoas tiveram o que mereceram quando têm um
contratempo (F)
33- Eu nunca disse propositalmente algo que ferisse os sentimentos de alguém (V)
142
ANEXO G
Escala de Hamilton para Avaliação de Depressão (HAM-D 21 itens)
Nome do paciente______________________________________________________
Entrevistador: _____________________________________________________________________
Data: ____/____/____
1) Humor depressivo (tristeza, desesperança, desamparo, inutilidade)
0- ausente
1- sentimentos relatados somente se perguntados
2- sentimentos relatados espontaneamente, com palavras
3- comunica os sentimentos não com palavras, mas com expressão facial, postura, voz e tendência ao choro
4- o paciente comunica quase que exclusivamente esses sentimentos, tanto em seu relato verbal como na
comunicação não-verbal
2)Sentimentos de culpa:
0- ausente
1- auto-recriminação, acha que decepcionou outras pessoas
2- idéias de culpa ou ruminações de erros ou ações pecaminosas (más) no passado
3- paciente acha que a doença atual é uma punição (castigo). Delírio de culpa
4- ouve vozes que o acusam ou denunciam e/ou tem alucinações visuais ameaçadoras
3)Suicídio:
0- ausente
1- acha que não vale a pena viver
2- deseja estar morto ou pensa em uma possível morte para si
3- idéias ou atitudes suicidas
4- tentativas de suicídio
4)Insônia inicial:
0- sem dificuldades para iniciar o sono
1- queixa de dificuldade ocasional para iniciar o sono, ou seja, mais que meia hora
2- queixa de dificuldade para iniciar o sono todas as noites
5)Insônia intermediária:
0- sem dificuldade
1- queixa de agitação e perturbação durante a noite
2- acorda durante a noite – qualquer saída da cama (exceto por motivos de necessidade fisiológica)
6)Insônia tardia:
0- sem dificuldade
1- acorda durante a madrugada, mas volta a dormir
2- não consegue voltar a dormir se levantar da cama durante a noite
7)Trabalho e atividades:
0- sem dificuldades
1- pensamentos e sentimentos de incapacidade, fadiga ou fraqueza, relacionados a atividades, trabalho ou
passatempos
2- perda de interesse em atividades, passatempos ou trabalho, quer relatado diretamente pelo paciente, quer
indiretamente por desatenção, indecisão ou vacilação (sente que precisa se esforçar para o trabalho ou outras
atividades)
3- diminuição no tempo gasto em atividades ou queda de produtividade. No hospital, o paciente ocupa-se por
menos de três horas por dia em atividades (trabalho hospitalar ou passatempos) com exceção das tarefas
rotineiras da enfermaria
143
4- parou de trabalhar devido à doença atual. No hospital, sem atividades, com exceção das tarefas rotineiras
da enfermaria, ou se não consegue realizá-las sem ajuda
8) Retardo (lentificação do pensamento e da fala, dificuldade de concentração, diminuição da atividade motora):
0 - pensamentos e fala normais
1 - lentificação discreta à entrevista
2 - lentificação óbvia durante à entrevista
3 - entrevista difícil
4 - estupor completo
9)Agitação:
0 - nenhuma
1 - inquietação
2 - mexe as mãos, cabelos etc.
3 - movimenta-se bastante, não consegue permanecer sentado durante a entrevista
4 - retorce as mãos, rói as unhas, puxa os cabelos, morde os lábios
10)Ansiedade psíquica:
0 - sem dificuldade
1 - tensão e irritabilidade subjetivas
2 - preocupa-se com trivialidades
3 - atitude apreensiva aparente no rosto ou na fala
4 - paciente expressa medo sem ser perguntado
11)Ansiedade - somática:
Concomitantes fisiológicos da ansiedade, como:
GI: boca seca, flatulência, indigestão, diarréias, cólicas, eructações
CV: palpitação, cefaléias
Respiratórios: hiperventilação, suspiros
Ter de urinar freqüentemente
Sudorese
0 - ausente
1 - duvidoso ou trivial: sintomas menores, relatados quando questionados
2 - leve: paciente descreve espontaneamente os sintomas, que não são acentuados ou incapacitantes
3 - moderado: mais do que 2 sintomas e com maior freqüência. São acompanhados de estresse subjetivo e
prejudicam o funcionamento normal
4 - grave: numerosos sintomas, persistentes e incapacitantes na maior parte do tempo, ou ataques de pânico
quase diariamente
12) Sintomas gastrointestinais – somáticos:
0 - nenhum
1 - perda de apetite, mas come sem necessidade de insistência
2 - dificuldade para comer se não insistirem
13)Sintomas somáticos gerais:
0 - nenhum
1 - peso em membros, costas ou cabeça; dor nas costas, na cabeça ou nos músculos. Perda de energia e
fatigabilidade
2 - qualquer sintoma bem caracterizado e nítido
14) Sintomas Genitais – (como perda de libido, distúrbios menstruais):
0 - ausentes
1 - leves ou infreqüentes: perda de libido, desempenho sexual prejudicado
2 - óbvio e graves: perda completa do interesse sexual
15) Hipocondria:
0 - ausente
1 - auto-observação aumentada (com relação ao corpo)
2 - preocupação com a saúde
144
3 - queixas freqüentes, pedidos de ajuda etc.
4 - delírios hipocondríacos
16) Perda de Peso (desde o início da doença ou da última avaliação)
0 - sem perda de peso ou perda de peso NÃO causada pela doença atual
1 - perda de peso provavelmente causada pela doença atual. Perda de menos de meio quilo
2 - perda de peso definitivamente causada pela doença atual. Perda de meio quilo ou mais
17)Crítica (Conseqüência da doença):
0 - reconhece estar deprimido e doente OU não estar deprimido no momento
1 - reconhece estar, mas atribui a causa à alimentação, ao clima, ao excesso de trabalho, a um vírus, à
necessidade de descanso etc.
2 - nega estar doente
18) Variação Diurna:
A. Anote se os sintomas o piores de manhã ou à noite. SE NÃO HOUVER variação diurna, marque
nenhuma:
Sem variação ou não deprimido no momento
pior pela manhã
pior a tarde/à noite
B. Quando presente, anote a gravidade da variação:
0 - nenhuma
1 - leve
2 - grave
19) Despersonalização e Desrealização (como sensação de irrealidade a idéias niilistas)
0 - ausentes
1- leves
2 - moderadas
3 - graves
4 - incapacitantes
20)Sintomas Paranóides:
0 - nenhum
1 - desconfiado
2 - idéias de referência
3 - delírios de referência e perseguição
21)Sintomas Obsessivos e Compulsivos:
0 - nenhum
1 - leves
2 - graves
Escore total HAM-D – 21 itens: ___________
Em geral, escores abaixo de 10 são considerados muito leves para a inclusão de pacientes em estudos com
medicamentos. Na prática se aceita que escores acima de 25 pontos identificam pacientes gravemente
deprimidos; entre 21 e 25 pontos, pacientes moderadamente deprimidos, e entre 14 e 20, pacientes levemente
deprimidos
145
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