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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ENFERMAGEM
Moelisa Queiroz dos Santos
A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
convivendo com os sentimentos no cotidiano do Cuidado
Salvador
2006
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UFBA
EE
2006
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Moelisa Queiroz dos Santos
A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
convivendo com os sentimentos no cotidiano do Cuidado
Dissertação apresentada ao programa de Pós
Graduação da Escola de Enfermagem da
Universidade Federal da Bahia-UFBA como
requisito para obtenção do grau de mestre, na
área de concentração O Cuidar em
Enfermagem.
Orientador Prof. Dr. Álvaro Pereira
Salvador
2006
UFBA – Biblioteca da Escola de Enfermagem
S237
Santos, Moelisa Queiroz dos
A enfermagem e o paciente com dor torácica: convivendo com os
sentimentos no cotidiano do cuidado. Salvador:EEUFBA,2006.
72f. + anexos.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) EEUFBA,2006.
Orientador: Prof. Dr.Álvaro Pereira
1. Enfermagem em cardiologia 2.Dor torácica. 3. Relação
enfermeiro paciente 4. Enfermeiro – emoções I. Título
CDU:616.12-083
Moelisa Queiroz dos Santos
A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
convivendo com os sentimentos no cotidiano do Cuidado
Dissertação apresentada ao programa de Pós Graduação da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia-UFBA, como requisito para
obtenção do grau de mestre, na área de concentração O Cuidar em Enfermagem.
Aprovada em 29 de dezembro de 2005
Prof. Dr. Álvaro Pereira___________________________________________
Doutor em Enfermagem,
Professor da Escola de Enfermagem da UFBA.
Profª Drª Valmira dos Santos_____________________________________________
Doutora em Enfermagem,
Professora da Escola de Enfermagem da UNIT.
Profª Drª Josicélia D. Fernandes____________________________________
Doutora em Enfermagem,
Professora da Escola de Enfermagem da UFBA
“Sei que meu trabalho é uma gota no
oceano. Mas sem ele, o oceano seria
menor”.
Madre Tereza de Calcutá
Dedico este trabalho a minha família,
que demonstrou compreensão, carinho
e paciência durante o processo de
construção deste estudo, em especial a
minha mãe Isa Maria pelo amor
dedicado em toda a vida.
Ao prof. Dr. Álvaro Pereira, pela
compreensão, disponibilidade,
motivação e auxílio nos momentos de
angústia e com seu conhecimento fez-
me conhecer os caminhos da
sensibilidade, direcionando os passos
para a construção desta dissertação.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
A todas as flores com quem compartilho o mesmo jardim, em especial aquelas que de
alguma forma contribuíram para o desenvolvimento dessa dissertação;
A profa. Dra. Valmira dos Santos pela luz trazida na Teoria dos Sentimentos;
A profa. Dra. Fernanda Mussi pela disponibilidade, reconhecimento e incentivo, pelas
contribuições durante o processo de qualificação;
A profa. Dra. Josicélia Dumet, pela grande contribuição durante o processo de
qualificação;
Aos amigos Emerson e Ana Carina pelos momentos de cumplicidade, carinho e
descontração vividos durante o curso de Mestrado;
Ao prof. Dr. José Lucimar Tavares, sempre presente nos meus caminhos em pesquisa;
Ao Programa de Pós Graduação da Escola de Enfermagem e todos os seus membros,
pela seriedade, competência e compromisso com conhecimento, contribuindo para formação
de um Cuidado mais humano.
RESUMO
A percepção do processo psicoafetivo exige uma abordagem integral do enfermeiro, através
envolvimento, sensibilidade e compromisso com o outro em quanto ser humano. O trabalho
teve como objetivos conhecer a percepção da(o)s enfermeiras(o)s sobre as emoções dos
pacientes com dor torácica na vivência de trabalho em unidades de tratamento intensivo de
cardiologia e identificar nos cuidados de enfermagem prestados aos pacientes com dor
torácica, em unidades especializadas em cardiologia, aqueles relacionados às necessidades
emocionais. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo, desenvolvido em um hospital
filantrópico da Cidade de Salvador-Ba, durante o segundo semestre de 2005. Utilizou-se
como técnica para a coleta de dados a História Oral Temática e a entrevista semi-estruturada
gravada. Os dados foram categorizados através da análise de conteúdo temática e teve como
referencial a Teoria dos Sentimentos de Heller (1993). Os discursos de onze enfermeiros
foram agrupados em seis grandes temas: o trabalho em cardiologia, identificando o fascínio
tecnológico como influenciador na escolha pela cardiologia e a satisfação profissional
relacionada ao status inerente ao domínio de tecnologias, e ainda o conflito entre as
dimensões objetivas e subjetivas que envolvem o “emaranhado tecnológico”; a dor e
angústia, reconhecendo a dor torácica como do tipo opressiva, de forte intensidade e
angustiante, relacionando as diversas formas de manifestação da dor com os determinantes
sociais, em destaque as diferenças na expressão entre os gêneros; os sentimentos de quem
cuida, revelando o comportamento do enfermeiro direcionado para o não envolvimento
enquanto relação humana, valorizando as ações instrumentais, mesmo diante de alguns
sentimentos que vivencia durante a dor do outro; percepção dos sentimentos pelos
enfermeira(o)s, foram citados como manifestações mais freqüentes dos sentimentos as
expressões faciais de dor e medo, além de modificações na fala e atitudes corporais;
sentimentos relacionados ao momento da dor, foram relacionados de acordo com a
classificação de Heller (1993): o medo da morte vinculado ao comprometimento cardíaco, a
ansiedade relacionada ao risco de vida e à indefinição do que pode vir a acontecer diante de
um problema no coração; cuidando dos sentimentos, destacam os cuidados de enfermagem
que estão direcionados a atender as necessidades emocionais do paciente com dor torácica:
Deixar o paciente informado sobre o que está acontecendo com ele, o seu prognóstico, ações
que serão desenvolvidas, possibilidades terapêuticas e diagnósticas, além do conhecimento
das limitações e condução da vida após o evento coronariano. Assim o caráter comunicativo
do cuidado se destaca dentre todas as ações e para isto faz uso do diálogo e também do modo
não verbal - o toque. Os pressupostos do estudo foram comprovados com a análise dos dados:
os enfermeiros reconhecem a importância do atendimento das necessidades emocionais na
medida em que atribuem como valor entre nove e dez para o grau de importância, a tecnologia
continua sendo a prioridade das ações de enfermagem e em algumas situações as relações
intersubjetivas continuam sendo delegadas ao plano secundário dos cuidados de enfermagem,
embora sejam identificadas como a ação mais efetiva no atendimento às necessidades
emocionais.
Palavras chave: 1. Enfermagem em cardiologia 2.Dor torácica. 3. Relação enfermeiro-
paciente 4. Enfermeiro – emoções
ABSTRACT
The perception of the trial psicoaffective demand an integral approach of the nurse, requires
involvement, sensibility and commitment with another in as much as be a human. The work
had like objectives know the perception the about the emotions of the patients with thoracic
pain in the experience of work in units of intensive handling of cardiology and identify us
take care of nursing lent to the patients with thoracic pain, in units specialized in cardiology,
those related to the emotional needs. Treats-itself of a descriptive, qualitative study,
developed in a philanthropic hospital of the City of Salvador-Ba, during the second semester
of 2005. Utilized itself as technique for the collects of facts the Thematic Oral History with
the use of interview is structured recorded. The facts were categorized across of the analysis
of thematic content, understanding his three phases, subsequently submitted the analysis
having like referential the Theory of the Feelings of Heller (1993). The talks of eleven nurses
were grouped in six big subjects: the work in cardiology, identifying the fascinating
technological as influenced in the choice by the cardiology and the professional satisfaction
related to the inherent status to the domain of technologies, and still the conflict between the
subjective and objective dimensions that involve the “entangled technological”; the pain and
anguish, recognising the thoracic pain like of the oppressing kind, of fortress diverse forms
of manifestation of the pain with the social determinants, in highlight the differences in the
expression between the kinds; the feelings whose take care, revealing the behavior nurse
directed for the not human relation while involvement, valuing the even faced with some,
instrumental actions feelings that the pain of another, feel the need will give to maintain the
auto-control; perception of the feelings by the, feelings the facial manifestations of pain and
fear, in which they the look, beyond modifications in the speaks and corporal attitudes;
feelings related to the moment of the pain, were related according to the classification of
Heller (1993) : the fear of the death linked to the cardiac compromise, to the anxiety related to
the risk of life and to the undefining than it can come happen faced with they take care of
nursing that are directed it attend the emotional needs of the patient with thoracic pain :
Leave the patient informed about what is happening with him, their prognostic, actions that
will be developed, therapeutic possibilities and diagnostics, beyond the knowledge of the
limitations and conduction of the life after the coronary event . Like this the communicative
character of him take care is detached in which all the actions and for this does use of the
dialogue and also of the not verbal way - the touch. The budgets of the study were verified
with the analysis of the facts: the nurses recognize the importance of the service of the
emotional needs in the measure in that attribute like value between nine and ten for the rank
of importance, the technology continues being the priority of the actions of nursing and in
some situations the intersubjectives relations continue being delegated to the secondary plan
of him take care of Cash in the service to the emotional needs.
Key Works: 1. Cardiology Nurse’s 2.Thoracic pain. 3. Patient-nurse relation 4. Nurse –
emotions
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
2. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A DOR 16
2.1. A DOR TORÁCICA 18
3. BUSCANDO AS INTERFACES ENTRE O CUIDADO HUMANIZADO E O
TECNOLOGIZADO 21
3.1.A INTERSUBJETIVIDADE DO CUIDADO E A RAZÃO SENSÍVEL 24
4. A FUNDAMENTAÇÃO NA ‘TEORIA DE LOS SENTIMIENTOS’ 29
4.1. SENTIMENTOS IMPULSIVOS 31
4.2. OS AFETOS 32
4.3. SENTIMENTOS ORIENTATIVOS 33
4.4. EMOÇÕES 35
4.5. CARÁTER EMOCIONAL E A PERSONALIDADE EMOCIONAL 36
5. TRAJETO METODOLÓGICO 38
5.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO 38
5.2. A HISTÓRIA ORAL 39
5.3.CAMPO DE ESTUDO 40
5.4.SUJEITOS DO ESTUDO 41
5.5..ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA 41
5.6.COLETA DE DADOS 42
5.7. O INSTRUMENTO 43
5.8. O PRÉ-TESTE 43
5.9.ANÁLISE DOS DADOS 44
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 46
6.1. O TRABALHO EM CARDIOLOGIA 46
6.2. DOR E ANGÚSTIA 48
6.3. OS SENTIMENTOS DE QUE CUIDA 53
6.4. A PERCEPÇÃO DAS EMOÇÕES PELOS ENFERMEIROS 55
6.5. SENTIMENTOS RELACIONADOS COM O MOMENTO DA DOR 58
6.6 CUIDANDO DOS SENTIMENTOS 62
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 66
REFERÊNCIAS
ANEXOS
11
1. INTRODUÇÃO
O avanço econômico vivido a partir do século XIX propiciou uma diminuição
importante da mortalidade materna e por doenças infecto-contagiosas como a tuberculose, a
pneumonia e a diarréia. Com o aumento da expectativa de vida, a exposição aos fatores de
risco para as doenças coronarianas se tornou mais intensa. Somente após a Segunda Guerra
Mundial, por volta de 1960, as doenças do aparelho circulatório se firmaram como a principal
causa de morte nas capitais brasileiras (LOTUFO,1996).
Ainda hoje, a doença cardiovascular consiste numa importante causa de mortalidade
no mundo inteiro, principalmente devido a mudanças nos hábitos de vida, com o uso de
produtos industrializados, com o tabagismo, a urbanização e o sedentarismo; nas últimas
décadas, porém, segundo Santos (2001), houve, nos países desenvolvidos, um progressivo
declínio da taxa de mortalidade, contrariamente ao que vem ocorrendo nos países
subdesenvolvidos, onde o índice de mortalidade por doenças cardiovasculares permanece em
crescimento.
A extensão territorial do Brasil bem como sua diversidade socioeconômica e cultural
têm influenciado, de forma significativa, no perfil de saúde-doença de cada região. Mas as
doenças cardiovasculares são, entre todas as causas, a principal causa de morbimortalidade
em todas as regiões do país (SANTOS,2001).
Santos et al (2001), em um estudo baseado nas informações do programa DATASUS
do Ministério da Saúde, analisaram a tendência de mortalidade por doença isquêmica do
coração no Brasil e concluíram que o risco para esta patologia ainda se mantém alto em todo o
país, acompanhando a tendência mundial: índices em queda nas regiões mais desenvolvidas e
em ascensão nas menos desenvolvidas.
No entendimento de Mansur (2000), a progressiva redução da mortalidade por
Insuficiência Coronariana (ICO) no Brasil, em especial nas regiões mais desenvolvidas, sendo
ainda, contudo, alta a sua prevalência, deve-se à melhoria das condições socioeconômicas e
ao controle dos fatores de risco. Ademais, o autor considera que o maior conhecimento da
fisiopatologia da ICO também permitiu progressos no tratamento cirúrgico, farmacológico e
nas técnicas de reperfusão coronariana, influenciando no aumento da sobrevida e na redução
da mortalidade intra-hospitalar.
Mesmo que de forma muito precária na rede pública, tendo que enfrentar,
freqüentemente, longas filas para receber atendimento, um maior número de pessoas
12
consegue, atualmente, ter acesso a um serviço especializado de cardiologia. Nas regiões
urbanas, principalmente em hospitais privados, o indivíduo já pode contar com unidades
equipadas com tecnologia de ponta para o tratamento das doenças coronárias e com
profissionais altamente qualificados: Unidade de Dor Torácica (UDT), Unidade Coronariana
(UCO) e Unidade de Tratamento Intensivo Cardiovascular (UCV).
A Síndrome Coronariana Aguda (SCA), de acordo com Bassan (2000), manifesta-se
principalmente por dor torácica, havendo ou não outros sintomas associados. A evolução
clínica da SCA pode apresentar complicações graves como Infarto Agudo do Miocárdio
(IAM), isquemia refratária ou necessidade de revascularização de urgência, que, quando não
solucionadas no tempo necessário e de forma adequada, podem levar o indivíduo à morte.
O trabalho das enfermeiras nessas unidades de alta complexidade exige um
conhecimento técnico apurado, principalmente no atendimento de pacientes com diagnóstico
de doença coronariana. Para Meltzer (2001) os principais objetivos do trabalho das
enfermeiras que atuam com estes pacientes são evitar complicações e devolver-lhes a sua
máxima capacidade funcional, tanto física quanto emocional. A autora determina como
responsabilidade dos enfermeiros: avaliação contínua do estado clínico do paciente por meio
de monitorização hemodinâmica e eletrocardiográfica; observação à beira do leito; detecção
da presença de complicações; tratamento de emergência e ressuscitação; conhecimento e
acompanhamento de procedimentos diagnósticos; apoio emocional; coleta e registro dos
dados; atividades educativas.
Dentro das unidades hospitalares, o paciente é visto, com freqüência, apenas como
uma patologia a ser tratada, e o objetivo do trabalho profissional de enfermagem tem-se
restringido ao aperfeiçoamento das tecnologias para a cura, e não para o cuidado, que é o
ideal da profissão. O cuidado ultrapassa os limites da cura, que se destina apenas à eliminação
da doença. O cuidado com o paciente é definido por Leninger (1988) como “fenômenos
relacionados com o comportamento de prestação de auxílio, apoio ou capacitação, para um
indivíduo ou por outro indivíduo (ou grupo), com necessidades evidentes ou antecipadas de
melhorar ou aperfeiçoar uma condição ou vida humana”. Nesse sentido, para esta autora a
cura pressupõe o cuidado, mas este não depende daquela (GEORGE, 1993).
A presença de equipamentos e de processos tecnológicos exerce fascínio e influência
sobre todos que prestam cuidados, levando-os, com freqüência, a privilegiarem a técnica em
detrimento de outras dimensões do ser humano. O domínio tecnológico é fundamental quando
a vida do paciente está em risco; um suporte avançado de tratamento coronariano é, por
exemplo, indispensável. Não devem ser a doença e a tecnologia, entretanto, o foco de atenção
13
do profissional de saúde, e, sim, o ser humano que necessita de cuidados. A supervalorização
do contexto tecnológico no tratamento de pacientes sob cuidados intensivos pode acarretar um
distanciamento do enfermeiro em relação ao doente, o que descaracterizaria o objetivo
principal das ações de enfermagem — o cuidado.
Segundo Casate (2005), humanizar o cuidado é valorizar a afetividade e a
sensibilidade, construindo umas relações saudáveis com o paciente, compartilhando saber,
poder e experiência vivida. Num cuidado humanizado, é necessário muito mais do que o
atendimento às necessidades fisiológicas do dia-a-dia. O cuidado envolve a percepção do
sofrimento do paciente e também dos seus familiares, o auxílio à pessoa doente e à sua família
nas horas mais difíceis de dor, de perda, sobretudo no caso de uma doença que afeta o
coração, um órgão que simboliza a vida.
O contato do enfermeiro com o paciente, à beira do leito, favorece um relacionamento
de proximidade e confiança entre eles, permitindo a detecção de eventos que venham
interferir na recuperação do doente, incluindo os aspectos emocionais, que podem
desencadear respostas fisiopatológicas do aparelho cardiovascular ou efeitos semelhantes.
Alguns valores socioculturais não podem ser ignorados: o coração recebe a conotação
simbólica de uma máquina que abriga a vida e os sentimentos humanos.
Durante a graduação, no desenvolvimento de estágios curriculares e extracurriculares
em unidades de cardiologia, ainda sem muito contato com a unidade de tratamento intensivo e
muito preocupada com o desempenho técnico do enfermeiro na prevenção de complicações,
acompanhei os pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca, experiência que resultou na
elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem, intitulado:
Cirurgias Cardiovasculares - Complicações no Pós-Operatório Imediato (SANTOS, 2001).
Atuando como enfermeira assistencial de Unidade Coronariana e Unidade de Dor
Torácica, a competência técnica deixou de ser o principal foco do meu trabalho, passei a
identificar que as emoções estavam presentes, de forma ainda mais intensa, na dor dos
pacientes e que a maioria dos profissionais, na sua rotina de trabalho, pouco dava atenção a
elas. Comecei a compreender que um silêncio, uma lágrima ou um sorriso poderiam significar
um pedido de ajuda ou até mesmo uma forma de dizer que era preciso mais do que técnica.
Muitas vezes, o que não se manifestava verbalmente era visto através da pressão arterial
descontrolada, das diversas formas de alteração da freqüência e ritmo cardíaco, da
precordialgia recorrente, da impaciência com a equipe, entre outros sinais.
14
A percepção, além do que a tecnologia pode revelar por meio da monitorização
multiparamétrica e seus alarmes, passou a ser um dos meus objetivos de cuidado, o que me
despertou o desejo de estudar como os enfermeiros convivem com os sentimentos no seu
cotidiano de trabalho, em especial quando cuidam de pacientes com dor torácica.
Para maior compreensão do cotidiano do enfermeiro que trabalha em unidades
especializadas de atendimento ao paciente cardiológico, acredita-se que ainda se faz
necessário saber como ele cuida do paciente com dor torácica e se para estes profissionais os
sentimentos do indivíduo cuidado são valorizados. Neste sentido, questiono: Como os
enfermeiros percebem os sentimentos do paciente que sente dor torácica e cuidam deles?
Com base na experiência de enfermeira assistencial de cardiologia, parte-se do
pressuposto de que o enfermeiro, apesar de reconhecer a importância do atendimento às
necessidades emocionais dos pacientes, dá, no conjunto das suas ações cotidianas, pouca ou
nenhuma atenção a elas, concentrando suas ações no manuseio rigoroso da tecnologia,
atribuindo ao cuidado não técnico um caráter secundário. O cuidado humano — fundamental
para o reequilíbrio físico, emocional e espiritual — é preterido nesse processo de cuidar/
cuidado.
Na busca pelo atendimento humanizado, espera-se, com o trabalho que ora se
apresenta, contribuir com um diagnóstico sobre a situação das intervenções na dimensão
psicosocial e estabelecer análises que possam colaborar para o redirecionamento das práticas
de enfermagem nas unidades especializadas de cardiologia, tendo em vista a importância do
desenvolvimento e aperfeiçoamento do enfermeiro na área relacional.
A relevância deste estudo justifica-se pelo fato de que é necessário conhecer e
compreender o que os enfermeiros consideram importante no atendimento ao paciente com
dor torácica e como estes profissionais lidam com os sentimentos neste contexto. É possível
que tal conhecimento e compreensão favoreçam o desenvolvimento de um cuidado
efetivamente mais humanizado, buscando minimizar os possíveis efeitos danosos das
emoções sobre a evolução do quadro clínico.
Nessa perspectiva, foram estabelecidos para este estudo os seguintes objetivos:
1. Conhecer a percepção dos enfermeiros sobre os sentimentos dos pacientes com
dor torácica, na vivência de trabalho em unidades de tratamento intensivo de cardiologia.
2. Identificar, nos cuidados de enfermagem prestados, em unidades especializadas
em cardiologia, aos pacientes com dor torácica, aqueles relacionados às necessidades
emocionais.
15
Este trabalho foi dividido em cinco capítulos: o primeiro capítulo consiste numa breve
reflexão introdutória sobre a dor; o segundo busca as interfaces entre o cuidado humanizado e
o tecnologizado; o terceiro trata da ‘Teoria de los Sentimientos’; o quarto, da metodologia, e o
quinto, da análise dos dados e dos resultados da pesquisa.
16
2. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A DOR
Somente nos dois últimos séculos, a dor passou a ser estudada mais profundamente e
hoje é mundialmente definida pela Associação Internacional para Estudo da Dor (1993) como
“uma experiência desagradável, sensitiva ou emocional, associada com lesão real ou potencial
dos tecidos ou descrita em termos de tal lesão...”.
Brawn e Brawn Filho (2004) entendem a dor como uma conseqüência sensorial
imediata da ativação do sistema nociceptivo, traduzindo-se em um pedido de socorro, uma
espécie de alarme desencadeado pelos sistemas protetores do indivíduo. Estes autores
destacam dois importantes componentes da dor: 1) componente nociceptivo ou sensorial, que
compreende a sensação dolorosa, conseqüência da transmissão dos estímulos lesivos pelas
vias nervosas até o córtex cerebral; 2) componente afetivo ou reativo, que modela o conhecido
sofrimento associado à dor, relacionando-a com a causa, o momento e a experiência do
paciente, que podem variar em razão da sua relação com numerosos fatores psicológicos, os
quais podem modificar a sensação dolorosa.
A dor não pode ser entendida, desta forma, apenas como uma alteração biológica; ela
envolve aspectos multidimensionais, sofrendo influência das relações socioculturais e afetivas
de cada indivíduo, o que a torna uma experiência subjetiva. Para Sarti (2001) não apenas o
sentimento, mas também a expressão da dor são regidos por códigos culturais, constituídos
pela coletividade, que sanciona as formas de manifestação dos sentimentos, que, por sua vez,
constituem-se numa forma de linguagem.
De acordo com a forma de manifestação, Pimenta (1998) classifica a dor em aguda ou
crônica. Relaciona a dor aguda a afecções traumáticas, infecciosas ou inflamatórias,
geralmente desaparecendo após a cura da lesão, cuja delimitação têmporo-espacial é precisa,
ocorrendo respostas neurovegetativas associadas, no sentido de alertar o organismo sobre a
agressão, como, em caso de taquicardia, a hipertensão, a ansiedade e a agitação interligadas.
A dor crônica, por outro lado, não desaparece após a cura da lesão nem funciona como sinal
de alarme para o organismo, raramente ocorrendo respostas neurovegetativas associadas ao
quadro álgico; ela se apresenta mal limitada no tempo e no espaço e freqüentemente pode ter,
como resposta emocional, ansiedade e depressão.
Biologicamente, o estímulo doloroso se processa no sistema nervoso, que funciona
percebendo variações e estímulos ambientais, fazendo sua análise e organizando respostas de
ordem física e psíquica para lidar com a situação deparada.
17
Márquez (2004) e Pimenta (1998), considerando a fisiologia, afirmam que o estímulo
doloroso é transformado em potencial de ação do nervo sensitivo, captado perifericamente
pelos receptores para dor (nociceptores). O processo de transdução sofrido pelo estímulo
doloroso nos nervos periféricos provoca a liberação de substâncias químicas conhecidas como
algogênicas (prostaglandinas, citicininas, histaminas, leucotrienos etc.). Tais substâncias
excitam as terminações nervosas livres, chamadas nociceptores, gerando potencial de ação e
despolarizando a membrana neuronal, de modo que o impulso elétrico é conduzido pelas
fibras nervosas até o cordão medular. Chegando à medula espinhal, a informação dolorosa é
levada para o tronco cerebral, tálamo, estruturas do sistema límbico e áreas corticais, por meio
de fibras aferentes organizadas nos feixes ascendentes, principalmente o neoespinotalâmico
(sensibilidade do tipo discriminativa, neurossensorial) e o polioespinotalâmico (dimensão
afetiva). Diversos neurotransmissores estão envolvidos na transmissão da informação
dolorosa ao sistema nervoso central, entre eles a substância P, ácido aspartâmico e glutâmico.
Em linhas gerais, entende-se que,
(...) no sistema reticular do tronco cerebral, são atribuídas as respostas de fuga ou
ataque que estão presentes nos quadros dolorosos; no tálamo a informação dolorosa
é localizada espacialmente e projetada em estruturas do sistema límbico e cortical.
Das conexões do impulso doloroso com estruturas do sistema límbico é atribuído a
dor o caráter emocional de sofrimento, além de desagradável. Esta ampla
representação da dor (...) resulta na interpretação completa do fenômeno doloroso
nos seus domínios sensitivo-descriminativo, afetivo-motivacional e cognitivo-
avaliativo e na ampla gama de respostas envolvidas neste processo. (PIMENTA,
1998, p.287)
Existe um sistema descendente, segundo Márquez (2004), que interfere no limiar da
dor, chamado Sistema Supressor de Dor, que é capaz de interferir nas estruturas do corno
posterior da medula, levando à modulação da dor. Este sistema, conforme Pimenta (1998), é
continuamente ativado por estímulos discriminativos, que alcançam o sistema nervoso central
durante as atividades de vida diária, pela dor e por aspectos emocionais e cognitivos, ainda
desconhecidos. A dor advém do desequilíbrio entre os sistemas nociceptivo e supressor de
dor. Nesse sentido,
Cada indivíduo define a dor a partir das suas experiências traumáticas anteriores.
Sem dúvida, trata-se de uma sensação em uma ou mais partes do corpo que é
sempre desagradável e, conseqüentemente, supõe uma experiência emocional.
Estudos recentes demonstram que a dor é uma experiência emocional, tem origem
num estímulo físico e sempre é modificado pela mente, tendo Aristóteles a definido
como o ‘estado da alma’. Não devemos isolar a dor do paciente. A falta de
esperança, a ansiedade, a incerteza da trajetória fazem com que o sofrimento da
18
pessoa seja total e influencie, decisivamente, na intensidade da dor. (ARRUDA,
1997, p.176)
O conhecimento da fisiologia da dor facilita a compreensão das emoções envolvidas
no processo. A passagem do estímulo doloroso pelo sistema límbico é responsável, segundo
Campos (1992), pela mediação do processo emocional. A forma como o indivíduo expressa
sua dor para o profissional de saúde engloba valores socioculturais, exigindo uma análise
profunda e multidimensional por parte de todos que estão envolvidos no processo de cuidado
e cura.
A avaliação da dor — sua origem e magnitude para o indivíduo — é significativa para
que se possam implementar medidas analgésicas adequadas. Assim, a dor deve ser
investigada de acordo com a sua localização, tipo, duração, freqüência, sintomas associados,
fatores desencadeantes, agravantes e atenuantes. Para Pimenta (1998, p.288) devem ser
considerados ainda “os fatores que concorrem para sua manifestação, a exemplo do estado
emocional do doente, além dos aspectos da história familiar relacionados à expressão e
manejo da dor, e também as atitudes, crenças e valores do doente e da família frente ao
quadro álgico”.
2.1. A DOR TORÁCICA
A dor torácica é a mais freqüente manifestação da Síndrome Coronariana, e a sua
avaliação deve ser prioritária desde a sala de emergência, para que as doenças de maior
morbimortalidade sejam rapidamente identificadas. Segundo Bassan (2000), destacam-se
como principais causas da dor torácica: o infarto agudo do miocárdio e a angina instável, a
dissecção aguda da aorta e a embolia pulmonar. A dor torácica é caracterizada conforme sua
causa e localização.
Bassan (2000) descreve os mecanismos regionais de dor torácica, classificando-a em:
dor com origem na parede torácica; dor com origem nos pulmões e pleura; dor com origem no
coração e pericárdio; dor de origem esofágica e de fontes gastrintestinais; dor de origem
psicopatológica.
Estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo de investigar as manifestações da
SCA e a melhor forma de estabelecer diagnósticos diferenciais. O CASS (Coronary Artery
19
Surgery Study) (1981) apud Bassan (2000) apresentou uma classificação de dor torácica
voltada para o diagnóstico da doença coronária, que é dividida em quatro tipos:
definitivamente anginosa, provavelmente anginosa, provavelmente não anginosa e
definitivamente não anginosa.
A dor torácica definitivamente anginosa, de acordo com o CASS (1981) apud Bassan,
(2000), é definida como dor/desconforto retroesternal ou precordial, geralmente precipitada
pelo esforço físico, que pode irradiar para a mandíbula, ombro ou face interna do braço, com
duração de alguns minutos; é aliviada pelo repouso ou uso de nitrato em menos de dez
minutos. A dor provavelmente anginosa é caracterizada como aquela que tem a maioria das
características da dor definitivamente anginosa. A dor provavelmente não anginosa tem
poucas características da dor definitivamente anginosa, e a dor definitivamente não anginosa
não tem nenhuma das características da dor anginosa, principalmente com relação ao esforço
físico.
Panju et al (1998) e Hutter et al (2000) apud Bassan (2000) descrevem a dor torácica
na Síndrome Coronariana Aguda como uma dor, ou desconforto, ou queimação, ou sensação
opressiva localizada na região precordial, ou retroesternal, com irradiação para ombro e/ou
braço esquerdo, braço direito, pescoço ou mandíbula, acompanhada freqüentemente de
sudorese, náuseas, vômitos ou dispnéia.
A dor torácica de origem cardíaca é causada por redução importante e súbita do fluxo
arterial coronariano, que pode evoluir para estados de gravidade variados, que incluem o
infarto agudo do miocárdio e morte súbita, exigindo de todos os profissionais envolvidos no
processo de cuidado e cura não só pronto atendimento das complicações como também
discernimento na implementação de ações, evitando aquelas que possam desencadear a dor e
suas complicações.
A internação hospitalar em unidades especializadas, como as UCVs e UCOs,
decorrente da dor torácica, pode também desencadear sofrimento emocional, o que para
Araújo (2003) está vinculado ao medo da morte, da invalidez, do desconhecido, da solidão, da
depressão e da angústia. Sensações consideradas potencializadoras de muito estresse e
geradoras de ansiedade são capazes de comprometer o quadro clínico instalado, podendo não
só agravar o prognóstico como também dificultar o sucesso do plano terapêutico assistencial
adotado, pois a dor e a doença não se separam do seu significado.
Márquez (2004) defende que a emoção torna a dor uma experiência multidimensional,
complexa e subjetiva, particular de cada indivíduo, pois ela sofre influência das dimensões
sensoriais, afetivas, interpretativas e comportamentais.
20
Os profissionais que cuidam do doente com dor interferem decisivamente no campo
de significações que constituirá para ele esta experiência. A forma como quem cuida reage
diante da dor e das suas manifestações influenciará na própria reação do paciente ao
tratamento, porque se está diante de uma relação em que se enfrentam dois mundos de
significação, o do profissional de saúde e o do paciente e sua família, ambos qualificando esta
experiência, ainda que de formas e perspectivas diversas.
Campos (1992) destaca que as emoções são fenômenos sentidos como internos e
exteriorizados sob forma de sinais somáticos ou comportamentais. Afirma ainda que o
Sistema Límbico, onde se inclui o hipotálamo, que coordena as diversas funções
neurovegetativas, inclusive as funções cardiovasculares, é considerado como a sede das
emoções. Desta forma, as situações de ansiedade — no caso aqui tratado geradas pela dor
torácica, pela simbologia do coração e pelo internamento nas unidades especializadas —
podem estimular, por meio do hipotálamo, a liberação de catecolaminas e corticosteróides; o
efeito destas substâncias sobre o aparelho cardiovascular mostra-se significante, haja vista a
elevação da freqüência cardíaca e da pressão arterial, o aumento do débito cardíaco, do
consumo de oxigênio e da excitabilidade cardíaca, alterações na atividade plaquetária, entre
outros. Para o autor a exposição, por tempo prolongado, a esses fatores pode provocar
arritmias, aterosclerose coronária, isquemia ou necrose miocárdica e insuficiência cardíaca.
21
3. BUSCANDO AS INTERFACES ENTRE O CUIDADO HUMANIZADO E O
TECNOLOGIZADO
As reflexões sobre o cuidar/cuidado e suas implicações no processo de saúde e doença
vêm-se constituindo numa preocupação constante dos enfermeiros. Segundo Benner (1989)
apud Arruda (1997), o cuidado é um processo mais complexo do que a cura. É importante
estabelecer as diferenças entre cuidar, cuidado e cuidado profissional de enfermagem. Veja-
se:
Cuidar inclui atos facilitadores de melhoria da condição humana; cuidado engloba as
atividades que requerem habilidade e afeto, e cuidado profissional de enfermagem
inclui aqueles comportamentos cognitivos e culturalmente aprendidos, técnicas e
processos para melhorar ou manter a saúde no viver ou morrer (LENINGER apud
ARRUDA, 1997, p.158).
Waldow (1998) considera que o cuidado deve ser entendido como um conjunto de
comportamentos e ações que envolvem conhecimento, valores, habilidades e atitudes,
empreendidas pela equipe de enfermagem no sentido de favorecer as potencialidades das
pessoas para manter ou melhorar a condição humana no processo de viver ou morrer.
Entende-se o cuidado como razão existencial da enfermagem, devendo ele ser realizado de
forma profissional, permitindo que o processo de cuidar seja uma relação de troca entre quem
cuida e quem é cuidado. A humanização precisa de ser fomentada por meio de ações voltadas
para o indivíduo, considerando seus aspectos biológicos, psicossociais, espirituais, e não
somente para os procedimentos técnicos e patologias. Cuidar envolve compromisso com o
outro, implica ajuda, e, para sua realização, é fundamental:
a) conhecer, ou seja, saber de que o outro necessita e como podemos ajudá-lo nesse
processo; b) compreender que não podemos cuidar apenas por hábito mas, sim, que
devemos ser capazes de aprender a partir de experiências anteriores, mantendo ou
modificando nosso comportamento de modo a poder aprimorar a forma de ajuda,
identificando-nos naquele determinado momento ou situação devemos ‘recuar ou
avançar’; c) ter paciência para deixar o outro crescer em seu próprio ‘ritmo’ e
‘maneira’, criando possibilidades para o outro e para a própria pessoa que cuida; d)
ter confiança e coragem para confiar, deixando o outro livre para arriscar-se de
acordo com a sua própria capacidade; e) ter humildade, dispondo-se a aprender
mais sobre e com o outro e sobre si mesmo e sobre aquilo que o cuidado
compreende; f) ter esperança, acreditando nas possibilidades enquanto ‘expressão
da plenitude do presente, um presente vivo’ e evitando que o desespero aja contra a
coragem e interfira na vitalidade do ser; g) ter coragem face a incerteza e a perda de
‘ segurança dos pontos de referência familiares’ já que não podemos prever em
quem ou em que o outro e nós vamos nos transformar. (MAYEROFF apud
ARRUDA, 1997, p.163)
22
O cuidado técnico destinado aos pacientes em estado crítico e vivenciado nas unidades
coronarianas e de tratamento intensivo exige enfermeiros com conhecimento específico,
voltado para ações de maior complexidade, alta tecnologia e também para o tratamento
efetivo das condições patológicas encontradas. O enfermeiro de unidade especializada precisa
investir no aprendizado da manipulação dos equipamentos, buscando rapidez, precisão e
qualidade na realização de técnicas e no preparo de drogas novas e de alto custo.
Segundo Barbosa (1999), o ambiente tecnológico impõe muitos desafios para a
enfermagem, fazendo-se necessário entender que o uso da tecnologia pode transformar as
experiências de percepção humana e, como tal, exige uma habilidade para unificar as
dimensões objetivas e subjetivas do processo de cuidar. Walters (1995) diz que o corpo vivido
não pode ser deixado de lado, pois as experiências não podem ser tecnologicamente
monitoradas.
No que se refere ao mundo da tecnologia avançada, afirma Waldow (1998) que o
cuidado humanizado e personalizado freqüentemente vem sendo substituído pelas máquinas.
Ações como afago, aperto de mão, oferecimento de apoio e suporte ou mesmo o olhar
carinhoso e amigo parecem, assim, não ser mais necessários. A máquina passou a cuidar do
paciente, o enfermeiro dedicando-se fundamentalmente ao manuseio dela, em busca de
precisão e de agilidade nas respostas às demandas terapêuticas e de resolutividade na cura,
esquecendo-se do ser humano à sua beira, no leito.
Paim (1977) entende que a maneira como se atende às demandas emocionais
influencia no sucesso das intervenções humanas, pois, quando o paciente tem bem cuidadas as
suas emoções, consegue recuperar-se mais facilmente.
Santo (1985) afirma que a importância do enfermeiro no atendimento às necessidades
emocionais do paciente consiste na identificação de sinais e sintomas, intervindo e
contribuindo efetivamente para o equilíbrio do indivíduo. Para Cordeiro et al (1986) o apoio
psicológico prestado ao cliente deve ser contínuo e individualizado, feito por meio da escuta,
do toque, de orientações e explicações, no intuito de privá-lo de situações geradoras de
estresse.
No contexto da cientificidade, são inquestionáveis as contribuições do suporte vital
trazido pela tecnologia e o seu reflexo sobre o avanço nas possibilidades diagnósticas e
terapêuticas. Desmistificando o essencialismo da tecnologização pregado pelos profissionais
de enfermagem nas unidades de terapia intensiva, Mussi (2000) chama a atenção para o fato
de que este processo se traduz numa assistência despersonalizada, estando o cuidado centrado
apenas na tecnicidade e cientificidade, desconsiderando as relações intersubjetivas e
23
promovendo a racionalização dos sentimentos. A pessoa doente assume, então, o papel de
pessoa passiva, incapaz de participar do seu tratamento.
O ambiente hospitalar, em especial as emergências, unidades de cuidados
especializados e intensivos, tem-se mostrado agente estressor potencial, devido ao freqüente
contato com outros pacientes oscilando entre os estados mais ou menos graves e até à
vivência de situações emergenciais e de morte. Tal situação é vista por Koizumi et al (1979)
como causadora de reações psicológicas como medo, ansiedade, insegurança, sentimentos
estes que podem até anular os efeitos benéficos da terapia intensiva. Outro aspecto
determinante na recuperação do paciente é o significado do internamento em unidades de
tratamento intensivo: imagina-se que, nelas, o paciente está sempre entre a vida e a morte.
A efetividade do cuidado depende da relação entre o enfermeiro e o paciente, a qual
deve ser constante, na tentativa de também minimizar os efeitos nocivos da ação tecnológica
sobre o indivíduo afetado. Para Arruda (1997) interagir é um ato inerente ao processo de
cuidar, e confortar implica a troca de energia, informações, sentimentos, conhecimentos,
ações e reações entre seres humanos.
Atender às necessidades e expectativas das pessoas internadas em unidades
especializadas é um grande desafio, porquanto encontrar o equilíbrio entre as relações
intersubjetivas e a alta complexidade das técnicas invasivas tem-se mostrado uma tarefa
desafiadora. Contudo, o enfermeiro deve engajar-se para vencer os desafios que lhe são
apresentados, considerando sempre o paciente um ser único, que apresenta fragilidade
emocional inerente à percepção da doença como fator de gravidade, ao sentimento da dor e à
própria necessidade do cuidado técnico apurado. As máquinas e os procedimentos técnicos
não devem superar a relação humana; a tecnologia é para servir de instrumento e não de base
no atendimento ao ser humano fragilizado pela doença. O cuidar pode não deixar de ser
tecnologizado, mas é imprescindível que ele seja essencialmente humano.
É necessário que o enfermeiro aprofunde seus conhecimentos e refine sua competência
relacional; que ele mergulhe nas emoções, angústias e temores do ser doente; que faça brotar
os sentimentos, aflorar a compaixão, indo em busca da beleza e valor dos gestos, da energia
do toque ou afago no ouvir atento do dito e do não dito, na compreensão e incerteza das
palavras poucas. Tal conduta do enfermeiro lhe dá motivação, fá-lo aperfeiçoar a relação com
seus parceiros — cliente e colegas —, cultivando a cumplicidade, a parceria, a troca, a
solidariedade de base, esta que Maffesoli (1984) denominou societal
1
.
1
Societal é um termo da microsociologia do quotidiano que pode ser usado para dar destaque às relações
interpessoais orgânicas, unidas por uma espécie de “cimento social”, que tem como fundamento o “estar junto
24
Faz-se necessária a construção de instrumentos que possibilitem ao enfermeiro
articular o pensar e o sentir com o fazer, num novo processo de enfermagem que valorize não
só o corpo dos doentes, mas, sobretudo, suas emoções. Para tal é necessário um mergulho na
subjetividade humana de quem tem dor e de quem construiu, no seu imaginário, uma vida
sem doença e a morte como o fim.
3. 1. A INTERSUBJETIVIDADE DO CUIDADO E A RAZÃO SENSÍVEL
O trabalho da enfermagem com ênfase em tecnologias valoriza o ser humano integral,
ampliando a adoção/criação de composições tecnológicas adequadas à complexidade vital
humana.
Segundo Mandú (2004, p.5.), deve-se criar um espaço relacional que ultrapasse o
saber-fazer científico tecnológico, valorizando saberes que se distinguem da universalidade
das ciências e técnicas, “como um saber preocupado, ao assistir, com o outro, em sua
totalidade”. A Assistência Integral descrita pelo autor reconhece a importância dos contextos,
cenários familiares, processos culturais, intersubjetividades, relações de poder, considerando
as peculiaridades das necessidades e as perspectivas e interesses dos sujeitos envolvidos.
A intersubjetividade, ou inter-relação, manifesta-se como história relacional vivida,
intercomunicação, conhecimento, valores, crenças, emoções, desejos, temores, perspectivas e
projetos, ampliando os horizontes da assistência à saúde para além da cura e prevenção, na
direção do alívio dos sofrimentos das pessoas (MERHY, 2000).
O cuidado integral não pode ser desconectado da inter-relação entre o enfermeiro e o
paciente, uma vez que o propósito dos cuidados de enfermagem não deve ser apenas a cura,
mas o auxílio ao indivíduo na sua recuperação e o estímulo à prática do autocuidado,
considerando que, segundo Mandú (2004, p.13), os modos de agir e cuidar em saúde não se
desvinculam do universo cultural e psico-emocional dos sujeitos. Muito mais do que isso, o
enfermeiro deve-se lembrar de que cada indivíduo reage, de modo particular, ao processo de
saúde doença, traduzindo valores, projeções e comportamentos associados a emoções e
comigo aqui e agora”. As relações interpessoais orgânicas se opõem às relações tipicamente mecânicas, que se
caracterizam por ações racionais designadas pelo termo ‘social’, muito próprias do mundo moderno
tecnologizado.
25
sentimentos que representam um modo sociocultural e psico-afetivo, de acordo com a sua
própria vida.
O cuidado é um pacto tácito, que engloba habilidades de afeto, comunicação e
aceitação do outro, da sua cultura e valores, muito mais do que o cuidado profissional, que se
restringe aos comportamentos cognitivos, às habilidades técnicas para lidar com a saúde no
processo de viver ou morrer. A excelência do cuidar caracteriza-se pela
comunicação/interação, pela troca de energia, informações, conhecimentos, sentimentos,
ações e reações entre seres humanos (ARRUDA; MARCELINO, 1997). O cuidado em
enfermagem é uma espécie de compromisso mais profundo que o formal e padronizado pelos
profissionais; aquilo que não se encontra nos protocolos da assistência, porque é da dimensão
subjetiva e sensível, que implica um compromisso ético-pessoal com aquele com quem se
buscou significado nas ações, encontrando-se, além da resposta física, emoção como resultado
nas intervenções. O cuidado excelente é, pois, aquele em que, além do atendimento às
demandas físicas do ser/cliente, presta-se atendimento às suas demandas emocionais.
O “cuidar bem” requer uma comunicação expressiva, significativa e de
compromisso de pessoa a pessoa, é uma relação transpessoal entre paciente-
enfermeira que implica manifestar emoções, sentimentos e encontrar significados no
encontro, valorizando o que pode ser observado, percebido, sentido e imaginado
(RIVEROS, 2003)
Esse cuidado compõe a base dos valores humanísticos, que parecem estar sendo re-
significados no conjunto de prioridades e intervenções dos profissionais de unidades
intensivas.
O atendimento aos indivíduos nas unidades de tratamento intensivo traz um problema
de saúde evidente a ser resolvido, que pode ser desencadeado ou agravado por problemas
emocionais, aos quais não se costuma dar muita importância. Muito preocupado em “salvar
vidas”, o enfermeiro acaba centrando-se na manifestação biológica e relegando a dimensão
psico-afetiva ao segundo plano; porém, na medida em que se pensa num ser humano integral,
deve-se entender que :
A dimensão psico-afetiva, que não se descola da biológica e sociocultural, faz parte
da história de vida, do desenvolvimento da individualização, e nela se
elabora/reelabora. Na construção do eu interior encontram-se sentimentos
conscientes e inconscientes, de prazer, satisfação, tristeza, frustração, ressentimento,
culpas, necessidades; imagens de si, que modelam a vida, sua produção/reprodução
26
e modos de nela se colocar, intimamente relacionados aos comportamentos em
saúde. (MANDÚ, 2004, p.9)
A relação terapêutica efetiva entre o enfermeiro e o indivíduo que necessita de cuidado
só se estabelecerá com a prática de cuidados individualizados que considerem os valores,
crenças e significados. Conhecer o que o paciente pensa e sente poderá facilitar o
entendimento da relação que ele estabelece com a equipe de saúde, da forma como reage ao
internamento hospitalar, de como encara o seu tratamento, bem como da percepção de fatores
que sejam agravantes e atenuantes do processo a saúde-doença.
Aproximar-se do indivíduo permitirá ao enfermeiro o planejamento de ações que
realmente atendam às necessidades das pessoas envolvidas, para que elas extrapolem o limite
da cura, reequilibrando-se plenamente. É preciso que se ultrapasse a barreira estabelecida
entre “o profissional dono do saber” e o “paciente” para que o tratamento tenha sucesso.
O primeiro passo para a aproximação entre os sujeitos envolvidos no processo de
cuidado é o estabelecimento de um diálogo concretizando a relação intersubjetiva, na medida
em que este, como meio tecnológico básico, pode resgatar a dimensão corporal subjetiva.
O diálogo repõe o lugar do aprendizado conjunto, da troca, do contato corporal, da
sensibilização, do lúdico, do estético, do ético na mobilização de conhecimentos e
práticas mediados pelos componentes afetivo-emocional, físico-corporal e
cognitivo, envolvendo ciência e arte. Também o diálogo, em si, é emancipador e
deve se constituir não só em um meio mas, ainda, em um fim da prática em saúde,
porque valoriza os sujeitos, reafirma outras formas de relação entre poderes
distintos, quebra hierarquias e restaura o sentido da totalidade corporal. (MANDÚ,
2004, p.16)
O diálogo, segundo Mandú (2004), estabelece-se na escuta, na interpretação dos
significados contextuais e subjetivos presentes na comunicação, nas palavras, no tato, nos
gestos. Para ela a palavra não é um mediador exclusivo, deve ser agregada ao não verbal
como expressão dos profissionais e clientela. A busca dos significados deve ser um dos
objetivos do diálogo estabelecido, cujo grande desafio, segundo a mesma autora, é descobrir
onde está o sentido do saber, do sentir e da vivência para o outro, entendendo suas linguagens,
valorizando o conhecimento intelectivo e afetivo, a intuição e a sensibilidade do outro.
Para vivenciar a completude desse cuidado é necessário aprimorar a sensibilidade
muito mais do que as sensações. A sensibilidade foi rechaçada na modernidade porque só
poderia ser identificada de modo subjetivo, e, assim, os sentidos foram aprimorados e
27
instrumentalizados de forma técnica e profissional, passando a ser reconhecidos pelo seu
caráter objetivo, mensurável, o que satisfazia o cartesianismo médico, modelo que restringiu a
capacidade dos profissionais de avaliar as manifestações subjetivas dos sofrimentos do
indivíduo doente, deixando escapar os sentimentos não mensuráveis em detrimento da
tradição da clínica, pautada em métodos de inspeção, ausculta, palpação, dentre outros tantos
que foram incorporados como prioritários para forjar evidências frente aos sintomas da
patologia.
Pereira (1999) considera que, na enfermagem, a expressão da sensibilidade se dá
durante o atendimento a necessidades que requerem o ouvir, o sentir, o perceber e o
participar dos problemas e emoções da pessoa doente. Sem dúvida, são estes os instrumentos
de investigação da sensibilidade de que a enfermagem dispõe para estudar as mazelas psico-
afetivas da sua clientela, intervindo para solucioná-las.
Para Hall (1987) todo homem pode perceber as mais leves alterações emocionais, por
meio da intuição e sensibilidade, que são mais desenvolvidas em uns do que em outros.
A percepção fundamentada na cientificidade é para Santo (1985) uma necessidade
crescente da disciplina enfermagem e vem sofrendo influência de vivências, conhecimentos,
valores éticos e pessoais.
A sensibilidade se mostra como o elo entre o não dito e o sentido, expressando-se
segundo Pereira (1999), pela sensação abstrata ou intuitiva que toca o ser humano. Para usar a
sensibilidade como instrumento de cuidado, é preciso considerá-la como “elemento central no
ato do conhecimento”, em sintonia com a “sensibilidade social difusa”, pois isto faz parte da
experiência do vivido (Maffesoli,1998, p.189).
Pereira (Op. cit) considera que, na enfermagem, a sensibilidade se desenvolve com o
refinamento profissional, no cotidiano, na medida em que a percepção se torna mais apurada e
se estabelece uma relação de proximidade com a pessoa que está sendo cuidada. A
experiência profissional torna a relação intersubjetiva repleta de emoções. A sensibilidade,
então, por meio do toque, da voz, opera transformações, o conhecimento técnico-científico
cedendo lugar aos sentimentos.
Compartilhar os momentos de emoção, dor, sofrimento e de vitórias aproxima os
sujeitos envolvidos no cuidado e, embora isto não seja valorizado por muitos profissionais
que optam pelo ‘não envolvimento’, como muitas vezes é aconselhado no meio acadêmico,
parece claro que o sucesso terapêutico não pode ser conseguido de outra forma, esta que
28
está pautada no valor holístico, na conexão, na interdependência, no respeito a
eqüidiversidade, portanto contempla a razão, a ciência, não se pautando no
dualismo, exclusivismo como forma racional. Cuidar na perspectiva da inteireza,
implica não apenas conhecer e fazer , mas uma forma que envolva o existir na sua
integração e completude, respeitando toda subjetividade, sentimento, mistério,
magia, imaginário da vida. O respeito pelo ser. (URASAKI, 2000, p. 126-127)
29
4. A FUNDAMENTAÇÃO NA ‘TEORIA DE LOS SENTIMIENTOS’
Encontrou-se, na ‘Teoria de los Sentimientos’, de Agnes Heller (Heller, 1993), o
respaldo teórico para analisar, no processo de cuidar/cuidado do trabalho de enfermagem, os
sentimentos envolvidos, fruto das relações do indivíduo enquanto ser social, relacionando os
sentimentos e pensamentos com a homeostase orgânica, sob uma perspectiva filosófica e
socioantropológica.
Heller (1993) considera que a identificação do sentimento se dá conjuntamente com a
sua interpretação e compreensão; é fato que o conhecimento não altera a qualidade do
sentimento, mas é indispensável para que seja tomada a conduta adequada. Para a autora o
processo social vivido durante o desenvolvimento humano é fundamental para o entendimento
dos sentimentos, que ocorre antes mesmo da verbalização.
O homem se relaciona com o mundo e os aspectos dessa relação são: interiorização,
objetivação,e auto-expressão. As potencialidades do homem se diferenciam e ao
mesmo tempo se reintegram, conforme se forma e se desenvolve o sujeito. Durante
esse processo de diferenciação e reintegração, o homem aprende a sentir. (...) é fato
que o que o homem sinta não é algo adquirido, mas cada sentimento particular está
relacionado de algum modo com a aprendizagem, ou é claramente aprendido.
(HELLER, 1993, p.144)
Segundo Sawara (2000), atualmente, há grande diversidade no uso dos conceitos de
emoção, sentimento e afetividade, mesmo na Psicologia. Uns os consideram como sinônimos,
outros distinguem emoção de sentimento, ligando a primeira ao orgânico e ao instinto e a
segunda ao racional e ao simbólico. Heller (1993) apud Sawara (2000) distingue emoção de
sentimento:
a emoção é o afeto que irrompe na relação imediata e é momentânea, breve, centrada
em objetos ou imagens que interrompem o fluxo normal da conduta de alguém,
provocando modificações corpóreas e comportamentais, facilmente constatáveis. O
que não significa que seu conteúdo seja elaborado na situação. Ele tem história,
depende da memória e dos outros das relações. Nas emoções do instante, aglutinam-
se instantaneamente as frustrações e os desgostos acumulados que a vida nos
reservou, que julgamos que ela ainda nos reservará. Sentimento é a emoção sem
prazo, com longa duração, que não se refere a coisas (objetos ou idéias) específicas.
É o tom emocional que caracteriza a forma como me coloco no mundo. (SAWARA,
2000, p.12)
30
Heller (1993) concebe os sentimentos como um fenômeno de transformação
indispensável ao indivíduo e centrado na consciência, que, por sua vez, é condicionada
socialmente. Desta forma, os sentimentos são regulados por costumes e ritos sociais de tal
maneira que o maior limite de intensidade aceito e determinado socialmente não deveria
superar o limite tolerado pela homeostase biológica, considerando que sempre existe um
limite orgânico que varia de um indivíduo para indivíduo. Nessa perspectiva, Vital (1996)
afirma que
Somos conscientes da sabedoria do corpo, conhecemos os segredos da homeostasia
biológica e observamos, então que os impulsos como a sede, a fome, a dor física nos
fazem sentir que a homeostasia biológica interfere muito nesses sentimentos, por
mais primários que sejam. Isto implica nos ‘signos’ de que a homeostasia biológica
mantém o equilíbrio e está presente em todos os animais. No homem, o surgimento
do ‘sentimento impulsivo’ apresenta-se dentro de certos limites, com determinações
sociais. A regulação das homeostasias antropológicas e sociais trata de manter um
contexto social, no qual adquirimos atitudes a cerca do trabalho, habilidade de
manejar os objetos num sistema de costumes e normas. (VITAL, 1996, p.9)
Heller (1993) aponta como categorias básicas para a homeostase social e
antropológica a preservação do sujeito e sua expansão (Ego), que variam de acordo com a
estrutura social. Uma terceira função homeostática é também citada pela autora: o sentimento
de regulação da tensão, visto como condição geral para nosso pensamento e ação.
O sentimento se expressa diretamente por meio da linguagem verbal, também da
gestual e, de forma indireta, ao esclarecer ao outro seus próprios sentimentos. A expressão do
sentimento varia muito de acordo com a sociedade, com o nível sociocultural das pessoas.
Sentir significa estar envolvido em algo. O sentimento nos direciona na preservação
e extensão do nosso organismo social (nosso Ego). Nossos sentimentos se
expressam: dão a informação fundamental sobre o que realmente somos. Um
homem sem sentimentos é inimaginável. (HELLER, 1993, p.78)
Na ‘‘Teoria de los Sentimientos’’, Heller (1993) reconhece a dificuldade de
estabelecer uma classificação perfeita para os sentimentos, tendo em vista o seu caráter
heterogêneo. Estabelece, então, uma classificação antropológica, partindo de uma pré-
concepção filosófica, por considerá-la como a essência do homem.
(...) minha classificação é a seguinte: sentimentos impulsivos, afetos, sentimentos
orientativos, emoções em sentido estrito (sentimentos cognoscitivo-situacionais),
sentimentos de caráter e personalidade, predisposições emocionais. (HELLER,
1993, p.85)
31
4.1. SENTIMENTOS IMPULSIVOS
A autora defende que os impulsos se diferenciam no processo de crescimento e propõe
alguns pontos fundamentais na sua distinção: 1) os impulsos funcionam como sinal de alerta
de que alguma coisa no organismo não está bem; 2) os sinais de alerta são, então,
direcionados para a própria pessoa e não para os outros, não possuindo função comunicativa;
3) são impulsos necessários à preservação biológica da espécie e, com exceção do impulso
sexual, são também indispensáveis para preservação do organismo individual; 4) os impulsos
não diminuem com o hábito; 5) a satisfação de um impulso não pode substituir a satisfação de
outro; 6) os impulsos são sinais de uma necessidade, tendo eles que serem satisfeitos; 7) é
socialmente determinada a forma pela qual os impulsos serão satisfeitos; 8) a redução do
impulso é uma necessidade social e se relaciona a um fator biológico: a homeostase orgânica.
Pode-se citar como impulsos a fome, a sede, o cansaço. Para Heller (1993) sobre estes
e outros impulsos é que se podem basear os afetos, sentimentos cognoscitivo-situacionais e
sentimentos orientativos. Considera ainda que cada sentimento se constitui em uma ‘síndrome
particular’ e que não existem impulsos que se satisfaçam da mesma forma.
Na descrição dos impulsos, a autora faz uma consideração importante sobre a dor
corporal, embora não a classifique como impulso, correlacionando-a intimamente com eles.
Diz que Wittgenstein, filósofo contemporâneo, diferencia a ‘dor corporal’ da ‘dor mental’,
considerando a ‘dor corporal’ uma transição entre percepção e emoção. Na ‘Teoria de los
Sentimientos’, a dor corporal é, então, relacionada aos impulsos por: 1) ser para o organismo
um sinal de que algo não está bem; 2) os sinais de dor se dirigirem ao organismo social; 3) o
sentimento de dor ser indispensável para a preservação da espécie e do indivíduo; 4) a dor não
diminuir com o hábito; 5) o sentimento de dor não poder ser detido por uma implicação
heterogênea; 6) agir-se para reduzir ou parar a dor; 7) o sentimento de dor induzir a sua
regulação e redução.
Apesar de estabelecer tantos elos com os impulsos, Heller (1993) não classifica a dor
como impulso, embora considere ambos transitórios, por acreditar em que:
1. O sentimento de dor (a diferente dos impulsos) é expressivo, se expressa em
gritos, expressões faciais, modulações na voz. Por tanto, os sinais de dor corporal
são comunicativos. São sinais que não só significam busca da solução, mas também
ajuda. As expressões de dor corporal são em parte idênticas com as de dor mental
(por exemplo a queixa). E essa identidade parcial de expressões de ser a razão (ou
32
uma das razões) de que nos refiramos a ambos como dores. 2. A dor corporal não se
satisfaz, senão quando cessa. (HELLER, 1993, p.92)
O processo de aprendizagem permite que o indivíduo passe a perceber, localizar a dor
e dar importância à verbalização do sentimento. Para Heller (1993) a capacidade de
localização precisa da dor é essencial para a homeostase, estando a caracterização da dor
como mais ou menos intensa intimamente relacionada à sua expressão. Pode-se acompanhar,
de diversas formas, a manifestação da dor, em especial da dor torácica, que está relacionada
ao coração, símbolo da vida.
4.2. OS AFETOS
Os afetos são considerados por Heller (1993) como categoria de sentimentos de grande
importância. Ele acredita em que os impulsos descritos anteriormente são diferentes dos
afetos, porém alguns podem estar intimamente ligados a eles. O autor afirma: “na nossa vida
emocional os impulsos que têm um papel mais importante são aqueles sobre os quais se
levantam os afetos, incluindo as emoções mais complexas.” (HELLER, 1993, p.94)
Os pontos comuns entre os afetos descritos na ‘Teoria de los Sentimientos’ são: 1) a
presença de um estímulo; 2) a expressão e a comunicação; 3) todos os afetos fazem parte do
caráter social, apresentam caráter universal, mas as expressões podem modificar-se como
conseqüência de outras emoções, podendo ser interpretadas de diversas formas, por meio das
emoções cognoscitivo-situacionais do receptor; 4) as expressões de afetos não são induzidas,
sendo, portanto, espontâneas; 5) o objeto que provoca o afeto não é específico, a menos que o
afeto seja construído sobre um impulso; 6) o afeto pode vir acompanhado de tensão; 7)
contrariamente aos impulsos, o afeto pode diminuir com o passar do tempo; 8) é possível
diminuir o afeto na medida em que a pessoa se afasta do objeto causador; 9) o afeto está
sempre conectado a uma fantasia; 10) um afeto pode reprimir outro afeto; 11) um objeto de
afeto pode reprimir outro; 12) os afetos são contagiosos; 13) os afetos não são necessidades.
A distinção entre os afetos e sentimentos cognocitivo-situacionais se deve ao fato de que, nas
emoções cognoscitivas, não se percebem as expressões dos afetos.
Entre os diversos afetos descritos por Heller (1993), será aqui destacado o medo,
certamente o mais freqüente dos afetos presentes em pacientes coronariopatas. Segundo a
33
autora, é importante distinguir medo de susto; este é um reflexo que pode desencadear o
sentimento de impacto, ao qual se chama de medo.
O medo é considerado, na teoria abordada, um dos afetos mais expressivos, e o afeto
medo, que é provocado por um estímulo presente, por um objeto que se sabe que é perigoso
ou por um objeto desconhecido. O medo direcionado ao futuro, ao passado não é um afeto, é
uma emoção; entretanto, em algumas situações, o medo emoção pode transformar-se em
medo afeto.
Sawara (2000, p.8) explica que:
No medo, condensam-se todos os possíveis perigos, meus e de minha família, classe
e nação, presentes, passados, bem como os futuros, sem rosto, que nos angustiam.
Por exemplo, a emoção de medo é o que sinto frente a um perigo eminente. O
sentimento de medo é o que caracteriza minha identidade: sou um homem medroso.
O afeto medo pode ter sua formação em duas fontes: a informação sobre o que é
perigoso e a experiência individual.
A ansiedade é destacada por Heller (1993) como um tipo particular de medo,
caracterizado pelo que se teme. Em linhas gerais, a ansiedade pode ser classificada como um
medo sem objeto; a autora defende, porém, que a ansiedade tem um objeto: uma pessoa
ansiosa não é capaz de perceber claramente o significado da maioria dos estímulos,
atribuindo-lhes perigo, tendo medo de tudo. Vários determinantes sociais provocam os
estímulos desencadeadores de ansiedade.
4.3 – SENTIMENTOS ORIENTATIVOS
Os sentimentos orientativos são sentimentos afirmativos ou negativos a respeito de
qualquer aspecto da vida, guiados pelas objetivações sociais, incluindo a ação, o pensamento
e o juízo. Heller (1993) relaciona-os principalmente aos sentimentos orientativos na ação
direta, no trabalho e na atividade cotidiana em geral, aos sentimentos orientativos no pensar,
aos sentimentos orientativos nos contatos interpessoais, aos sentimentos orientativos em
relação ao senso comum e aos sentimentos orientativos do contato.
34
Os sentimentos orientativos na ação direta, no trabalho e na atividade cotidiana em
geral agrupam ações que se relacionam com a realização de um determinado objetivo. Estes
sentimentos são geralmente sentimentos internos.
Os sentimentos orientativos, afirmativos e negativos, dificilmente resultam do
processo cognoscitivo no sentido exato da palavra, uma vez que sempre são os sentimentos
internos deste processo. Os sentimentos orientativos desempenham o papel mais importante
no pensamento que resolve problemas. A intuição mostra-se como um sentimento afirmativo.
Nas relações interpessoais, os sentimentos orientativos são importantes,
principalmente nos contatos e relações. Como diz Heller (1993, p.113), “impossível manter a
homeostase social do homem em meio às relações sociais complexas sem sentimentos
orientativos nos contatos humanos”. O tato é descrito pela autora como um importante
sentimento no desenvolvimento das relações sociais.
O senso comum guia o gosto dos indivíduos que pertencem a uma sociedade. O papel
dos sentimentos afirmativos e negativos destaca-se na objetivação de valores mais elevados.
O sentimento moral exige a aquisição de objetos de valor e certas experiências e tem uma
importante função social, principalmente nos casos de uma hierarquia fixa de valores.
O amor e o ódio não pertencem à mesma família dos sentimentos orientativos,
estando, não obstante, intimamente relacionados com eles. Relacionam-se com os sentimentos
orientativos porque sua função social é de orientação. De acordo com Heller (1993, p.116), “o
amor é um sentimento afirmativo a respeito de uma outra pessoa como personalidade, o ódio
um sentimento negativo em relação a outra pessoa como personalidade(...)”. Amor e ódio
diferem dos demais sentimentos orientativos porque não são acontecimentos sentimentais,
mas, sim, disposições emocionais.
Os sentimentos impulsivos, os afetos e os sentimentos orientativos são
acontecimentos do sentimento. A categoria de disposição sentimental vai julgar um
papel central no caso das emoções. (...) chamamos de disposições sentimentais os
sentimentos que podem originar os acontecimentos sentimentais mais heterogêneos,
(...) conseqüência todos ele das disposições sentimentais. (...) só podemos falar de
disposições emocionais se a duração for mais ou menos prolongada.
(HELLER,1993,p.117)
35
4.4. EMOÇÕES
As emoções são também tratadas por Heller (1993) como sentimentos cognoscitivo-
situacionais. Elas estão presentes em todas as culturas, de forma particular. Comparando as
emoções com os outros sentimentos, afirma a autora que
Os sentimentos impulsivos e os afetos sempre existiram e permaneceram
essencialmente idênticos ao longo da existência da humanidade; e o papel dos
sentimentos orientativos se incrementa com o enriquecimento das relações humanas.
No entanto não podemos supor que todas as emoções que existem atualmente
existiam necessariamente no futuro, nem sequer no que diz respeito as emoções que
de alguma forma haviam existido em todas as culturas, ou na maior parte delas.”
(HELLER,1993,p.120)
As emoções são tratadas por Heller como acontecimentos sentimentais ou como
disposições sentimentais, algumas emoções caracterizadas de ambas as formas. Os pontos
comuns entre as emoções descritos são: 1) nem todas as emoções são dispensáveis na
preservação biológica da espécie e do indivíduo, na reprodução social da espécie humana ou
na homeostase social do indivíduo; 2) as emoções são sempre cognoscitivas e situacionais,
percebidas por meio de sinais; 3) toda intenção de subdividir a emoção falha precisamente
pela sua natureza heterogênea e idiossincrática; 4) a diferenciação das emoções é, ao mesmo
tempo, a acumulação de nossa riqueza humana; 5) todo conceito emocional é, na realidade,
uma categoria, um agrupamento infinito de emoções específicas e qualitativamente distintas.
São descritos na ‘Teoria de los Sentimientos’ sete tipos fundamentais de medo: o
medo por perigos futuros, emoção que pode transformar-se em afeto; o medo como um
sentimento referente à incerteza de resultados, construído sobre o afeto referente ao
desconhecido, ao estranho; o medo como preocupação, o qual raramente se transforma em
afeto; o medo como sentimento indesejável; o medo ideológico, traduzido no temor a Deus,
por exemplo, ou numa disposição emocional para enfrentar um ideal, podendo ela se tornar
um afeto; por fim, o medo existencial, medo da morte.
É preciso distinguir o medo como afeto do medo existencial. Aquele se dá exatamente
antes da morte ou quando alguém se defronta com ela. Este é uma disposição sentimental,
embora não haja nenhuma pessoa que o sinta constantemente. Segundo Heller (1993, p.127),
36
o medo existencial tem duas formas: o medo da nossa própria morte e o medo da morte do
outro.”
4.5. CARÁTER EMOCIONAL E A PERSONALIDADE EMOCIONAL
As pessoas têm muitos tipos de sentimentos impulsivos, afetos e emoções, em diversas
ocasiões, porém isto não tem relação direta com o que Heller (1993) chamou de Caráter
Emocional e Personalidade Emocional. Os sentimentos impulsivos não podem chegar a
constituir-se em componentes do caráter ou personalidade emocional. A autora ressalta que,
se alguém esteve durante muito tempo em estado de inanição, isto não significa que o
sentimento de fome tenha-se convertido em parte orgânica de seu caráter. Só podem
incorporar-se ao caráter os sentimentos e as emoções que se tenham produzido como
conseqüência da experiência da fome, a exemplo do desprezo pelos bem alimentados, da
simpatia pelos pobres, do sentimento de inferioridade, entre outros.
Tanto o caráter emocional quanto a personalidade emocional são hábitos sentimentais.
Todo sentimento de personalidade é um sentimento de caráter, mas nem todo sentimento de
caráter é um sentimento de personalidade. O caráter emocional é um conceito desprovido de
valor; a personalidade emocional, por outro lado, é um conceito valorativo. Todos os hábitos
sentimentais a que se aplicou a categoria bem e mal pertencem à personalidade emocional.
Em suma, os hábitos do sentimento que pertencem ao caráter sentimental não se vinculam à
personalidade sentimental.
Heller (1993) destaca os seguintes pontos na relação caráter e personalidade
emocional: 1) ainda que os processos sentimentais característicos do temperamento não
pertençam à personalidade emocional, o fato de que os sentimentos de uma pessoa possam ser
mais superficiais ou mais profundos e a tendência a serem mais superficiais em certos
aspectos caracterizam a personalidade emocional; 2) todo hábito emocional específico pode
conduzir a uma predição avaliativa; 3) a forma como a pessoa canaliza normalmente seus
afetos pode também conduzir a uma predição avaliativa e pertence à personalidade
emocional; 4) a relação com as expressões emocionais pode levar a uma predição valorativa e
pertence à personalidade emocional.
Os sentimentos da personalidade, uma vez formados, permitem que o indivíduo sinta e
reaja de forma semelhante, em determinadas situações, o que não significa que, em todos os
37
momentos, seus sentimentos e condutas sejam absolutamente iguais, afinal a combinação de
outros fatores pode interferir, de forma positiva ou negativa, nesse processo, sem falar que os
hábitos emocionais podem-se transformar.
38
5. TRAJETO METODOLÓGICO
5.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO
Estudar como os enfermeiros percebem as emoções dos clientes com dor torácica em
unidades de cardiologia e como lidam com ela é algo complexo, porque muito subjetivo.
Assim, o estudo aqui proposto tem uma natureza qualitativa, exigindo uma abordagem
metodológica que ultrapassasse a aparência do discurso, de forma a ampliar a compreensão de
significações.
Os dados obtidos na pesquisa empreendida, de caráter exploratório, são descritos e
analisados com base na ‘Teoria de los Sentimientos’ (Heller, 1993). A técnica para a coleta de
dados foi a história oral temática.
Para Triviños (1987) o estudo descritivo se mostra como ferramenta capaz de delinear,
com precisão, os fenômenos de uma realidade. Segundo Richardson (1989), um estudo
exploratório objetiva conhecer as características de um fenômeno, procurando explicar suas
causas e conseqüências. No que se refere à abordagem qualitativa, ele afirma:
Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a
complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir
no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de
profundidade, o entendimento das particularidades do comportamento dos
indivíduos. (RICHARDSON, 1989, p. 68 )
Minayo (1998), a seu turno, diz que “a pesquisa qualitativa compreende os valores
culturais e as representações de determinado grupo sobre temas específicos”, buscando
analisar os “significados e a intencionalidade das ações e relações humanas”.
39
5.2. A HISTORIA ORAL
A história oral é definida por Meihy (1996) como forma de captar as experiências de
pessoas que estejam dispostas a falar sobre sua vida. Tem como base a entrevista, sendo muito
importante o recurso do aparelho para gravação.
Para Alberti (1990) “a história oral é um método de pesquisa que privilegia a
realização de entrevistas com pessoas que participaram de, ou testemunharam,
acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma de se aproximar do objeto de
estudo”. A aplicação do método de história oral, segundo Meihy (1996), ocorre em três
tempos complementares: a gravação, a confecção do documento escrito e a análise.
De acordo com Camargo (1987), a história oral permite a visão do todo, obtida pelo
testemunho dinâmico da realidade social e pelo confronto entre a experiência vivida e os
questionamentos do entrevistador.
A entrevista, na verdade, é, para Meihy (1996), uma das etapas da história oral,
subdividida em pré-entrevista, entrevista e pós-entrevista. A pré-entrevista consiste no contato
prévio, quando o projeto deve ser explicado ao sujeito, denominado colaborador na história
oral, para que ele fique ciente do tema da gravação, estabelecendo um ambiente de confiança.
Recomenda-se que a realização da gravação seja de acordo com a conveniência do
entrevistado, em local livre de interferências, evitando processos longos e exaustivos. A
entrevista propriamente dita consiste nas perguntas feitas pelo entrevistador e nas respostas
dadas pelo entrevistado. A pós-entrevista é a etapa em que se realizam os agradecimentos,
além da leitura do documento pelo entrevistado, que poderá autorizar ou não sua utilização e
análise.
Segundo Meihy (1996), após a gravação dos textos, procede-se à sua transcrição,
passando-os da modalidade falada para a modalidade escrita da língua, sempre com a
preocupação de preservar o sentido original do discurso. Recomenda-se ocultar, na versão
final do documento, as perguntas do narrador/entrevistador.
A história oral, de acordo com Meihy (1996), divide-se em três categorias distintas: a
história oral de vida, tradição oral e história oral temática. O presente estudo está
fundamentado na história oral temática, definida pela autora (1994) como uma abordagem
sobre algum assunto específico, vinculada ao testemunho sobre questões externas, objetivas,
factuais e temáticas. A opção por este método se deu em função da expectativa de que, nas
histórias contadas pelos enfermeiros, fosse possível descobrir como eles vêm cuidando dos
40
sentimentos dos pacientes com dor torácica internados em unidades de tratamento em
cardiologia e evidenciar a evolução da percepção dos cuidados emocionais prestados.
5.3. CAMPO DE ESTUDO
A pesquisa teve como cenário as unidades especializadas de tratamento cardiológico
com suporte intensivo de um hospital de referência em cardiologia da cidade de Salvador,
capital baiana, abarcando a Unidade de Dor Torácica, a Unidade Coronariana e a Unidade de
Tratamento Intensivo Cardiovascular, num total de 32 leitos intensivos destinados ao cuidado
especializado em cardiologia, incluindo o atendimento clínico, pós-cirúrgico e o atendimento
após procedimentos hemodinâmicos.
As unidades que fizeram parte deste estudo contam com equipe médica e equipe de
enfermagem especializadas, auxiliares e técnicos de enfermagem, psicólogos e assistentes
sociais. O processo tecnológico de monitorização, ressuscitação e suporte invasivo está
presente em todas as unidades, sendo também do domínio da enfermagem a manipulação dos
equipamentos.
Martins e Farias (2002) atribuem às unidades de tratamento intensivo o objetivo de
reduzir a mortalidade pela provisão de cuidados e observação individualizada e integral de
acordo com as necessidades do cliente.
Segundo Meltzer (2001), as Unidades Coronarianas são unidades de tratamento
especializadas, qualificadas e destinadas a proporcionar um ótimo cuidado para pacientes com
infarto agudo do miocárdio ou com suspeita de tê-lo. A Unidade de Dor Torácica, situada na
emergência, surgiu como local de cuidados pré-coronários, para estratificar os pacientes com
dor torácica, seguindo modelos sistematizados de atendimento, com seleção dos que
necessitam de ser encaminhados para a unidade coronariana e/ou laboratório de
hemodinâmica e com garantia de uma avaliação eficaz às pessoas com média ou baixa
probabilidade de síndrome coronariana aguda.
41
5.4. SUJEITOS DO ESTUDO
As unidades reúnem 40 enfermeiros assistenciais. Por tratar-se de um estudo
qualitativo, optou-se por entrevistar 30% apenas destes enfermeiros, considerando ainda o
critério de saturação dos dados, conforme proposto pela história oral.
Entrevistaram-se quatro enfermeiros de cada uma das três unidades especializadas em
cardiologia, totalizando 12 profissionais, uns somente do diurno, outros com escala de
trabalho durante o dia e a noite. Acreditou-se em que as particularidades de cada turno
pudessem interferir, de alguma maneira, na forma como os enfermeiros cuidam dos seus
pacientes.
Entre os 12 enfermeiros que participaram da pesquisa, apenas dois eram do sexo
masculino, os outros 10 eram do sexo feminino, uns e outros com idade entre 27 e 37 anos.
Todos os profissionais entrevistados, com tempo mínimo de dois anos e máximo de sete anos
de trabalho na unidade, possuem especialização, apenas um deles, porém, em cardiologia;
nove têm especialização em terapia intensiva, e um em administração hospitalar.
5.5. ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Após o registro no Sistema Nacional sobre Ética em Pesquisa Envolvendo Seres
Humanos (SISNEP), o estudo foi submetido à apreciação do comitê de Ética do campo de
estudo (ANEXO A), e, somente após a sua aprovação, os sujeitos foram entrevistados
(ANEXO B).
Foram garantidos aos participantes o anonimato e a reprodução fiel das informações
recebidas, bem como considerados os direitos éticos e legais, com base na resolução 196/96
sobre pesquisa envolvendo seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde.
Feitos os esclarecimentos necessários aos profissionais selecionados para a entrevista,
eles assinaram o termo de consentimento, atestando as informações recebidas e autorizando a
entrevista (ANEXO C). Apenas um enfermeiro da unidade de emergência solicitou a não
publicação do seu discurso, alegando motivos pessoais. Por considerar-se o critério de
saturação, preferiu-se não substituí-lo, sendo reduzido para 11 o número de enfermeiros
entrevistados.
42
5.6. A COLETA DE DADOS
Antecederam a coleta de dados dois encontros com os profissionais de enfermagem
selecionados, nos quais foram esclarecidos os objetivos do estudo e solucionadas todas as
dúvidas sobre a pesquisa.
Cada participante, antes do depoimento, escolheu o nome de uma flor pela qual seria
identificado. As flores escolhidas pelos sujeitos envolvidos foram essas: alecrim, cravo, flor
do campo, gérbera, hortênsia, lírio, margarida, orquídea, rosa, tulipa e violeta.
A coleta de dados ocorreu em um único momento, agendado previamente, de acordo
com a disponibilidade dos enfermeiros, em local escolhido por eles a fim de proporcionar-lhes
uma maior privacidade. Todos os profissionais tiveram como escolha para a coleta de dados o
próprio hospital, devido à dupla jornada de trabalho. Entrevistadora e entrevistados
acomodaram-se sempre numa sala separada da unidade, a entrevista decorrendo com
tranqüilidade e sem interrupções.
Richardson (1989) entende que a entrevista é utilizada na pesquisa qualitativa por
penetrar na complexidade do problema, permitindo uma relação estreita entre as pessoas.
Ludke e André (1986) apud Vital (1996) entendem a entrevista como um dos instrumentos
básicos para a coleta de dados, com obtenção de informações autênticas.
Meihy (1994) afirma que a história oral depende de entrevistas com pessoas que
estejam em pleno gozo das suas faculdades mentais e mostram-se disponíveis para dar
depoimentos independentemente de pagamento ou outros benefícios materiais. O autor diz
ainda que a utilização do guia de entrevista é fundamental na realização da história oral
temática, uma vez que é peça essencial na aquisição de detalhes.
Para a definição do número exato de entrevistas a serem feitas considerou-se o critério
de saturação. Segundo Alberti (1990), o ponto de saturação é determinado pela repetição na
construção das narrativas.
43
5.7. O INSTRUMENTO
Realizou-se a coleta de dados com a ajuda de um roteiro, típico da entrevista semi-
estruturada, e de um gravador, sem o qual a transcrição detalhada dos depoimentos não seria
possível.
A entrevista semi-estrutura serve à história oral temática na medida em que, segundo
Tourneir (1996), evita que o entrevistado fique totalmente livre e afaste-se do tema tratado.
Nesse sentido, torna-se imprescindível a elaboração criteriosa do roteiro da entrevista, o qual
para Alberti (1990) é um instrumento de apoio ao pesquisador durante a entrevista.
O roteiro elaborado (ANEXO D) está dividido em duas partes: a primeira relaciona-se
com dados de identificação, e a segunda contempla uma pergunta central relacionada à
história de trabalho do profissional na área de cardiologia e os outros questionamentos
concernentes aos objetivos específicos.
A pergunta central do instrumento de coleta, Conte-me a sua história profissional
nesta unidade especializada em cardiologia, teve como intenção a caracterização da história
profissional de cada sujeito participante. Os demais questionamentos objetivam identificar
como o enfermeiro percebe as emoções do seu paciente e como lida com elas: Como você
vem cuidando dos pacientes com dor torácica? De que forma os sentimentos estão
presentes no seu cotidiano de trabalho? Quais os sentimentos que você percebe com
maior freqüência nos pacientes com dor torácica? Como você percebe estas emoções?
Qual o grau de importância que você atribui ao atendimento às necessidades emocionais
pelo enfermeiro? Dentro da sua rotina de trabalho, como você procura atender às
necessidades emocionais dos pacientes com dor torácica?
5.8. O PRÉ-TESTE
Para efeito de validação, operatividade e fidedignidade do instrumento deste estudo
(LAKATUS E MARCONI, 1990), optou-se pela realização de um pré-teste (ANEXO E) com
Banca composta por enfermeiras com mais de cinco anos de experiência na área de
tratamento intensivo e/ou docentes que ensinam a disciplina de cardiologia em cursos de
graduação e pós-graduação em enfermagem.
44
Foi solicitado aos avaliadores no pré-teste um parecer sobre as questões apresentadas
no roteiro de entrevista. Eles fizeram uma crítica apurada ao roteiro,sugerindo alterações que
contribuíram para seu refinamento e, conseqüentemente, para o bom desenvolvimento da
pesquisa.
5.9. ANÁLISE DOS DADOS
A análise dos dados ocorreu de forma categorial, com base na técnica de Análise de
Conteúdo Temática, que, segundo Minayo (1994, p.209), “consiste em descobrir os núcleos
de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma
coisa para o objetivo analítico visado” e que, na pesquisa qualitativa, “denota os valores de
referência e os modelos de comportamento presentes no discurso”. Para esta autora as
categorias de análises deverão emergir no confronto de leituras exaustivas, na subjetividade
dos discursos e na oralidade dos depoentes selecionados.
A análise de conteúdo possui essencialmente três finalidades: uma finalidade
“heurística”, na medida em que a busca da descoberta ocorre no próprio material coletado,
uma de “administração de provas” e outra de “ampliação da compreensão do contexto e dos
significados”. (MINAYO, 1998, p.198)
O que se percebe nas técnicas de análise de conteúdo é uma crescente preocupação com
o aprofundamento da investigação, ultrapassando os significados manifestos. Para maior
aproximação com o objeto de estudo,optou-se pela análise de conteúdo temática.
Minayo (1998) divide a análise temática operacionalmente em pré-análise, exploração
do material e interpretação dos resultados obtidos.
Na pré-análise, faz-se uma leitura exaustiva do material coletado, organizado de acordo
com a exaustividade, a representatividade, a homogeneidade e a pertinência (critérios de
validação), formulam-se hipóteses e objetivos, além de determinar-se a unidade de registro, a
unidade de contexto, os recortes, a forma de categorização, a modalidade de codificação e os
conceitos teóricos que orientarão a análise.
A exploração do material consiste essencialmente na codificação dos dados, feita por
meio do recorte do texto, que se dá de acordo com as unidades de registro já definidas na pré-
análise, na escolha da regra de contagem destas unidades e na categorização dos dados
(ANEXO F).
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Num terceiro momento da análise temática, os dados obtidos na pesquisa são descritos
e interpretados, seguindo uma análise qualitativa, e não puramente quantitativa.
46
6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Serão, nesta seção, apresentados os resultados da pesquisa desenvolvida, que teve
como propósito conhecer a percepção dos enfermeiros sobre as emoções dos pacientes com
dor torácica na vivência de trabalho em unidades de tratamento intensivo de cardiologia e
identificar, nos cuidados de enfermagem prestados a estes pacientes, aqueles relacionados às
necessidades emocionais.
Durante a análise das histórias, não se perceberam diferenças significativas entre os
discursos dos enfermeiros que trabalham durante o dia e daqueles que trabalham durante a
noite; durante a discussão dos resultados não utilizei, por conseguinte, esse critério para a
categorização dos dados.
Da leitura exaustiva das falas dos enfermeiros entrevistados depreenderam-se seis
grandes temas de destaque: o trabalho em cardiologia; dor e angústia; os sentimentos de
quem cuida; a percepção dos sentimentos pelos enfermeiros; sentimentos relacionados
ao momento da dor e cuidando dos sentimentos.
Buscou-se em Agnes Heller (1993), na Teoria de los Sentimentos, uma fundamentação
teórica para a análise e discussão dos resultados.
6.1. O TRABALHO EM CARDIOLOGIA
As unidades especializadas em cardiologia exigem da enfermagem um papel decisivo
no sentido de agilizar os procedimentos diagnósticos e terapêuticos, incorporando à sua rotina
de trabalho o manuseio de equipamentos de monitorização cardio-respiratória, procedimentos
invasivos altamente complexos.
Barbosa (1999, p.20), em uma análise sobre as unidades de tratamento intensivo, diz
ser muito importante para o enfermeiro “o conhecimento e desenvolvimento de habilidades
para o manuseio do instrumental tecnológico(...) uma vez que os aparelhos e equipamentos
constituem-se numa fonte de manutenção e recuperação da vida dos clientes críticos”.
Abordando a história profissional dos enfermeiros das unidades de cardiologia, pôde-
se perceber, no seu discurso, o encantamento e a satisfação com o trabalho desenvolvido
nestas unidades, como se nota na fala de Cravo e de Orquídea.
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(...) desde o começo, desde o meu quarto semestre da faculdade, eu
disse que eu ia fazer cardiologia. Só que eu via as coisas de uma
maneira mais técnica, até mesmo porque eu via assim:[...] dentre as
várias especialidades, a área que mais se desenvolvia, com rapidez
maior, era a cardiologia. Então eu achava isso muito interessante, é
uma coisa muito tecnicista. CRAVO
Cardiologia foi uma área que eu sempre fui fascinada (...) eu adoro
trabalhar com cardiologia e essa combinação cardio e terapia
intensiva é perfeita..ORQUIDEA
A Unidade de Tratamento Intensivo é o local onde os enfermeiros fazem
procedimentos técnicos e invasivos muito complexos, com a ajuda de equipamentos de alta
tecnologia, precisando os profissionais de serem especializados para tanto. Isto resulta na
percepção do enfermeiro intensivista, até mesmo por seus colegas de outras áreas, como o
dono do saber.
A tecnologia em saúde, segundo Barbosa (1999), repercute na enfermagem, na
intensidade do cuidado, uma vez que os padrões de trabalho sofrem influência dos constantes
avanços tecnológicos.
No processo de cuidado em unidades cardiológicas, onde a ameaça à vida se dá pelo
possível comprometimento do mais valorizado órgão do corpo humano, com o intuito de
controlar e manter as funções vitais, o processo instrumental e tecnológico acaba por ser a
maior preocupação do enfermeiro, como se evidencia na transcrição de fala abaixo:
A minha entrada na (...) se deu muito em função de eu vindo desde a
faculdade me identificando com cardiologia, e também a necessidade,
que eu achava que enfermeira tinha que ser de UTI. Enfermeiro tinha
que passar pela UTI porque ele precisava aprender determinados
procedimentos. FLOR DO CAMPO
Observou-se, nas entrevistas, que os enfermeiros sentem imenso prazer em trabalhar
em unidades de cardiologia, tendo grande afinidade com a área de atuação e grande fascínio
pela tecnologia com a qual lidam na sua prática profissional.
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Como cardiologia sempre foi uma coisa que me chamou a atenção,
então eu achei ótimo e fiquei super feliz quando soube que eu tinha
sido indicada. ROSA
(...) o que eu gosto realmente é cardiologia. TULIPA
(...) comecei a trabalhar com cardiologia, sempre foi a área que eu
mais gostei, mais me identifiquei e trabalhei nisso. ALECRIM
Outros fatores, a exemplo da experiência familiar, podem ainda motivar o trabalho em
unidades especializadas Na tentativa de entender e resolver o processo de adoecimento e
agravamento de um ente querido, o enfermeiro acaba decidindo-se por uma dada área.
Eu tinha muita vontade de trabalhar em cardiologia porque eu tinha
parentes com problema em cardiologia. LIRIO
A satisfação profissional pode ser relacionada às condições de trabalho, às habilidades
técnicas, às relações de poder e ao status profissional.
6.2. DOR E ANGÚSTIA
A dor torácica aparece nos depoimentos acompanhada de sentimentos diversos, o que
torna a sua percepção e análise extremamente complexa. A preocupação com o imediatismo e
a agilidade para intervenção precoce ganha lugar de destaque, tamanho é o significado da dor
em cardiologia. Este é o principal sintoma de sofrimento coronariano; não se deve, porém, em
sua intervenção, tratar apenas a sua causa física. Tratá-la deve ser a prioridade, mas também
os cuidados emocionais com o paciente são importantes, haja vista a forte influência das
emoções na manutenção e agravamento do quadro álgico. A abordagem integral do ser
humano é, sem dúvida, a melhor estratégia para o alcance da saúde e melhor adaptação do
indivíduo à sua condição de vida.
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O conhecimento das características da dor típica de doença coronariana, associado à
experiência profissional, auxiliam o enfermeiro no direcionamento das suas ações. A dor é um
sinal de que algo não está bem com aquele indivíduo, precisando ele de ser tratado tanto fisica
como psicologicamente.
Heller (1993) não considera a dor um sentimento impulsivo, mas uma síndrome
particular, principalmente pelo seu caráter comunicativo. A vivência da dor torácica traz para
o indivíduo uma carga de outros sentimentos relacionados à própria sensação dolorosa, que é
uma vivência significativa, sobretudo para quem mobiliza afetos e emoções, acentuada pela
consciência de que todo esse processo pode resultar na falência do coração. Daí o paciente
sentir-se sufocado, faltar-lhe o ar, ficar apreensivo, angustiado, perder o controle da
consciência, às vezes desfalecer, entre outros.
A dor torácica foi descrita pelas enfermeiras como de forte intensidade, sufocante,
angustiante, algumas vezes acompanhada de sintomas característicos de comprometimento
cardiovascular, como a dispnéia, a sudorese e uma sensação de desfalecimento. Veja-se:
Esse paciente chega muito ansioso, às vezes sudoreico, com aquela
dor no peito, que dizem que é sufocante. Eu nunca senti, mas dizem
que é um aperto, é muito sufocante (...) o paciente com dor torácica
ele chega com uma sudorese, uma dispnéia. HORTENSIA
(...)porque eles descrevem a dor como tão forte, que eles têm medo da
dor ir tomando e levar à morte. MARGARIDA
Muitos sentem a dor muito forte.VIOLETA
(...)no momento da dor, todos relatam que é uma dor insuportável, é
uma coisa angustiante, opressiva, que sufoca. Então no momento em
que eles mais ficam angustiados é no momento da dor. ROSA
A angústia é acompanhada de desconforto físico, ansiedade, aperto, pressão e
inquietude. É descrita como sendo parte de um sentimento doloroso de alerta psíquico diante
de uma ameaça ou de um perigo indeterminado, caracterizando-se pela sudorese, dispnéia,
aceleração do ritmo cardíaco e vertigem apresentados.
50
Alguns autores diferenciam angústia de ansiedade, sendo a primeira de ordem psíquica
e a segunda de ordem etiologia somática. Heller (1993) não faz tal diferenciação, mas
aprofunda-se no entendimento da ansiedade, que será posteriormente mais discutida neste
trabalho.
A dor se expressa por si mesma, entretanto o comportamento do indivíduo frente ao
quadro álgico também sofre influências socioculturais.
Toda experiência individual inscreve-se num campo de significações coletivamente
elaborado. As experiências vividas pelos indivíduos, seu modo de ser, de sentir ou
de agir serão constitutivamente referidos à sociedade à qual pertencem. Ainda que
traduzido e apreendido subjetivamente, o significado de toda experiência humana é
sempre elaborado histórica e culturalmente, sendo transmitido pela socialização,
iniciada ao nascer e renovada ao longo da vida. (SARTI, 2001, p.3)
Os pacientes se utilizam de diferentes formas para expressar a dor que sentem,
algumas vezes preferindo não a revelar. A seguir, depoimentos a respeito:
Quando o paciente diz que está sentindo dor é diferente. Tem
pacientes que estão sentindo dor e continuam olhando para você da
mesma forma de quando você chegou ao início do plantão que ele te
olhou pela primeira vez. Outros fazem aquela força de apertar a mão,
uma vez um quase esmaga a minha mão, outros começam a gritar,
tocam a campainha por segundo apesar de você fazer a medicação.
FLOR DO CAMPO
Muitas vezes o paciente não se queixa de dor; às vezes fica guardando
a dor com medo de você intervir com alguma coisa, não quer te
preocupar... quando ele fala que está com dor é porque já está
ultrapassando os limites. ALECRIM
A diferença entre os gêneros foi, ao longo da história humana moderna, construída
socialmente, sobretudo nas culturas urbanas ocidentais, judaico-cristãs. O ideal de homem
nesta cultura é o de resistência, de sucesso, devendo ele ser preparado para a luta, e isto
significava vencer o medo, resistir a todo tipo de sofrimento. As exigências viris de posse e
poder, a necessidade de ser assertivo e competitivo sexualmente mantiveram esses homens
muito preocupados com seu desempenho. O que se vê é que “os padrões de comportamento
que os qualificam como homens se aproximam dos exigidos das máquinas” (NOLASCO, p.
21)
51
Esses padrões também estão presentes na forma como o homem manifesta seu
sofrimento e expressa sua dor. O homem, até pouco tempo, era obrigado a reprimir suas
sensações e emoções, e isto ocasionou uma série de problemas de relacionamento. Mousse
(1997) apud Pereira (1999) atribui ao poder e à honra os valores com os quais mais os
homens se importam na sociedade moderna. Somente nos meados do século XX, diante da
falência da virilidade moderna, o homem volta a importar-se com os valores sensíveis. Um
grupo de “novos” homens que emergiu do movimento masculino nos Estados Unidos, na
década de 80, começa a reivindicar um reconhecimento, cada vez maior, de sua autonomia
emocional, deixando o sexo de ser o único operador em torno do qual se organiza a
representação masculina, passando a sensibilidade e a satisfação emocional a serem os eixos
constituintes dela.
Pereira (1999) atribui o resgate da sensibilidade do homem moderno à revalorização
do coração, dos sentimentos. Renasce, então, “o homem sensível que passa a valorizar a
intimidade, os sonhos, desejos, cumplicidade, companheirismo, amizade no casamento, que se
comporta de modo mais afetuoso e é também mais exigente na satisfação de suas emoções”
(PEREIRA,1999, p.94)
A desconstrução do homem duro (BADINTER, 1993) que está atrelado ao modelo de
masculinidade hegemônica, e a emergência do homem sensível, que foi considerado pela
autora como um homem mole porque expõe seus sentimentos, chora, reconhece seus fracassos
e seus medos, passam por um processo de incorporação lenta nas sociedades patriarcais.
Mesmo diante de toda evolução na expressão de sua sensibilidade, ainda se observa,
no conjunto da sociedade, muita diferença no comportamento de homens e mulheres,
sobretudo na forma de expressão do sofrimento, da dor e dos componentes emocionais, como
se constata nos relatos abaixo.
Tem uns que ficam ali com dor, que está suando frio, sentindo dor
mesmo, mas são mais fortes, não exteriorizam mesmo até por questão
de formação... e se for homem pior ainda, que tem toda aquela coisa
que não pode ser fraco, quando tem um paciente do sexo masculino
que sente dor no peito e se entrega às emoções dele deixa
transparecer... de fato eles pedem desculpa por terem sido fracos e
você diz não, que nada. MARGARIDA
Depende muito do paciente, se é homem ou mulher...FLOR DO
CAMPO
52
Existem mil fatores que interferem nessa dor, a idade, o gênero. Para
mim tudo isso está voltado. Mulheres sentem mais dor do que os
homens, ou não... você tem que avaliar todos esses fatores e o
momento do paciente, a questão emocional dele, principalmente por
estar dentro de uma UTI confinado, com um monte de gente,
vivenciando um processo patológico que para ele às vezes é
desconhecido...Será que alguém chegou lá e disse você tem isso... seu
prognóstico, suas condições de vida são essas e seu tratamento é esse.
ORQUÍDEA
A avaliação da dor pela(o) enfermeira(o) exige, ainda, uma forma de mensuração da
sua intensidade, o que é muito relativo pelo seu caráter subjetivo. No entanto, diversas escalas
têm sido utilizadas para facilitar a avaliação da dor. As mais comuns são as escalas numérica,
de categorias de palavras, visual analógica e quantitativa não numérica.
Pimenta (1998, p.292) afirma que
a avaliação da experiência dolorosa não é um procedimento simples, compreende
avaliar as características da queixa álgica, que inclui início, localização, padrão de
instalação, duração, intensidade, qualidades sensitivas e afetivas, fatores de melhora
ou piora; além de considerar “ as respostas físicas e emocionais a dor e os fatores
culturais e psíquicos que possam estar envolvidos na apreciação e expressão da
sintomatologia dolorosa.
Os enfermeiros participantes da pesquisa mostram-se atentos às características da dor
e aos sintomas que se lhe associam, utilizando escalas para avaliação da sua intensidade.
As dores no peito que os nossos pacientes geralmente sentem são: dor
no pós-operatório (...)É mais esporádica a dor no peito não cirúrgica,
(...) alguns chegam assintomáticos e outros pouco sintomáticos e a
gente vai trabalhando isso, questionando essa dor, geralmente a gente
pede uma nota de zero a dez. TULIPA
Primeiro eu tento avaliar algum fator que vá interferir, gerando essa
dor. A gente tem que ver também se não é uma dor psicológica, às
vezes é uma paciente extremamente ansiosa, que tenta chamar a
atenção, sugerindo dor. Pode ser uma dor porque quer atenção, está
se sentindo carente, confinada dentro de uma UTI e utiliza a dor para
chamar a atenção dos funcionários. Agora quando o paciente chama
relacionando a uma dor torácica, eu tento ver se é compressiva, se
53
estende para dorso, quando começa, quando termina, se tem duração.
È complicado também a gente avaliar limiar de dor, por mais que
diga de zero a dez é preciso ter uma escala com parâmetros dessa
numeração, porque dez para ele pode ser um para o outro, então cada
um tem o seu limiar de dor. ORQUÍDEA
Nos relatos obtidos na investigação, há sempre a caracterização da dor torácica como
de forte intensidade, angustiante, estando a sua manifestação intimamente relacionada com
valores, crenças e preconceitos de gênero, construídos socialmente.
Os enfermeiros, apesar de estarem instrumentalizados para mensurar a dor e a
angústia, têm dificuldade em fazê-lo quando tratam de pacientes do sexo masculino, que têm
receio em demonstrar a dor que sentem. Há, inquestionavelmente, diferenças de sentimentos
em relação à crise da dor na população do gênero masculino.
6.3. OS SENTIMENTOS DE QUEM CUIDA
No tratamento do paciente com dor no peito, os sentimentos envolvidos são tanto dele
como do profissional que o cuida. A demonstração de afeto é uma forma de atenção para com
o indivíduo que está recebendo cuidados, é, na opinião de Silva (1998), reflexo da
solidariedade, do compromisso com o outro.
Na pesquisa, os enfermeiros falaram de suas emoções no cotidiano do seu trabalho.
Destacam-se, a seguir, os momentos mais interessantes:
A forma como alguns pacientes falam me dá uma angústia, a
depender de como ele vai relatar essa dor, a gente até sofre por eles.
ORQUÍDEA
A princípio eu ficava um pouquinho assim... junto com a ansiedade de
saber que tinha que fazer tudo aquil, eu ficava muito ansiosa, mas
depois eu percebi que não há necessidade disso(...)como se eu fosse o
paciente, é aquilo que a gente tem que tentar fazer, se colocar do lado
e como se fosse o paciente, como ele está se sentindo como ele
gostaria de ser tratado. HORTENSIA
54
O enfrentamento da situação crítica de salvar uma vida, ou um coração que corre risco,
desperta, no enfermeiro, angústia e ansiedade. Um conhecido ditado sobre a doença arterial
coronariana, “tempo é músculo”, faz com que a agilidade e a presteza do atendimento ao
paciente com dor torácica sejam o foco principal das ações de enfermagem, principalmente
nas unidades de emergência.
Os profissionais de saúde, de maneira geral, costumam fugir de um maior
envolvimento com o paciente.
(...)a gente, enquanto profissional, foge muito da questão de se
envolver com o doente. Não se é porque você está preocupado em
resolver logo o problema dele que você sabe que é um problema
grave e que ele pode morrer (...) e aí aqui na unidade de emergência
a gente esquece um pouco dessa questão emocional, eu percebo muito
isso. VIOLETA
(...)a gente aprende desde a faculdade a tentar controlar as emoções
da gente e não se envolver muito com o paciente, então eu sempre
procuro de certa forma fazer isso. Porque eu sou uma pessoa muito
sensível ROSA
Mesmo procurando manter a tão ensinada distância profissional, o envolvimento com
a pessoa que está sendo cuidada não deixa de existir. Alguns enfermeiros conseguem
reconhecer os seus sentimentos e os assumem, porém sentem a necessidade de manter o
controle das suas emoções, preocupados em transmitir segurança para o paciente.
(...) a gente, na hora da crise da angina, você não pode deixar de
certa forma suas emoções interferirem, porque o paciente espera de
você uma segurança. Ele sim pode se dar “o luxo” de ficar abalado,
mas nós não. Por mais que a gente se sensibilize, a gente não pode
deixar transparecer isso, então a gente tem que se controlar,
controlar suas emoções para dar um apoio a ele. Aquela questão:
nós, profissionais da área de saúde, temos sempre que transparecer
aquela segurança, por isso que nós somos taxados de profissionais
frios, mas não é questão de frieza, não quer dizer que a gente não
sinta, não sofra com o paciente, é que a gente não pode exteriorizar
isso para ele, porque a gente sabe que isso vai prejudicá-lo.
MARGARIDA
55
Para Heller (1993) as ações cotidianas do trabalho seguem sentimentos orientativos
específicos, que são construídos com base no que é aprendido e nas experiências adquiridas.
Os sentimentos orientativos ajudam o enfermeiro a planejar e executar o cuidado ao paciente.
O compromisso ético do enfermeiro é salvar vidas, mantendo uma relação
estreitamente profissional com o paciente, sem expressões de afetividade.
Alguns enfermeiros entrevistados confessaram que a vivência da dor na lida com o
paciente acabou por despertar neles angústia e ansiedade, dentre outros, acentuando-se a
necessidade de manter o autocontrole, procurando ser indiferentes aos seus próprios
sentimentos.
6.4. A PERCEPÇÃO DAS EMOÇÕES PELOS ENFERMEIROS
A sensibilidade é, sem dúvida, um dos principais aliados dos enfermeiros para a
percepção dos sentimentos que aparecem no momento do cuidado. Silva (1998, p.77) diz que
o cuidado integral inclui “amenizar dúvidas, ansiedades e medos dos seres cuidados”. A
autora não deixa de reconhecer a dificuldade de cumprir com este cuidado integral, haja vista
o contexto de sofrimento e dor.
A dor torácica tem sido percebida pelos enfermeiros como mobilizadora de sensações
e emoções intensas, agravadas pelo consciência do risco de estar sofrendo um infarto agudo
do miocárdio, considerando o seu alto grau de comprometimento orgânico e a letalidade.
Tendo em vista toda simbologia que envolve o coração, é comum, nas unidades de
cardiologia, os pacientes ficarem mais sensíveis e emotivos.
(...) pelo fato de se estar falando em coração, as pessoas tendem a
ficar mais sensíveis. Eu sempre coloco dessa forma: rim você tem
dois, braço você tem dois, coração você só tem um (...) Então as
pessoas, até por uma questão de vivência do que a gente aprende
desde criança, as emoções estão centradas no coração das pessoas,
então se dá uma importância muito grande. CRAVO
(...)o coração é o dono de tudo em tese. FLOR DO CAMPO
56
(...) tem um problema no coração, que é o órgão que todos nós temos
a idéia que o coração é o órgão principal do organismo e realmente
é. Esse órgão pode ter alguma coisa séria, pode parar (...). TULIPA
Geralmente esses pacientes com dor no peito, no coração, a gente
percebe que existe uma fragilidade muito grande. Ali é o ponto de
tudo, de todo organismo. O paciente sente assim... se ele sente dor no
coração... é diferente se ele sente de dor na perna, porque eles acham
que ali é o centro de tudo, o coração é o centro de tudo, se parar ali,
pára tudo. A dor na perna não, ele pode ficar sem uma perna, sem um
braço. GÉRBERA
A percepção dos sentimentos humanos durante o processo saúde-doença envolve o
dito e o não dito. Heller (1993) revela que a maioria dos sentimentos se expressam por meio
ora da linguagem verbal, ora da linguagem não verbal, ora por ambos ao mesmo tempo.
A observação e a sensibilidade, na prática de enfermagem, consistem no principal
instrumento de trabalho. A partir delas, é possível inteirar-se do estado do paciente, tanto do
estado físico como do estado emocional, intervindo, sempre que necessário, para sua
melhoria.
A observação do paciente, pela expressão corporal, pela fala, pelas
perguntas, pelos sintomas da dor, pelos momentos em que essas dores
acontecem. CRAVO
No hospital a observação é o carro chefe. Às vezes o paciente não
fala, mas você com a clínica consegue associar o que ele está
querendo passar. HORTENSIA
Varia a forma como cada paciente expressa sua dor e como cada profissional a
percebe. Segundo análise de Heller (1993), a expressão dos sentimentos é variável, depende
de cada pessoa, da intensidade e do valor social que eles tenham.
Às vezes eu percebo que aquele paciente está meio retraído (...)cada
um tem sua forma de demonstrar que está com aquele emocional
abalado. ROSA
57
Existe um perfil de cada paciente.Existem aqueles pacientes que
exteriorizam mais, que são mais... deixam realmente transparecer,
que quando estão com dor no peito ficam realmente dependentes,
pede para segurar a mão... Tem uns não que ficam ali com dor, que
estão suando frio, sentindo dor mesmo, mas são mais fortes, não
exteriorizam mesmo. MARGARIDA
Os sinais a que os enfermeiros entrevistados estão atentos para conhecer o estado dos
pacientes são os que seguem:
(...) como ele me fala, do que ele está dizendo para mim. Até mesmo
você sente a maneira como ele está falando,quando está fazendo o
ECG às vezes você sente o paciente meio trêmulo, certa inquietude,
você vê a respiração ofegante, você vê apertando o lençol (...) às
vezes você vai dar a medicação, a veia está cá em cima e ele aperta a
mão ou fica olhando o tempo todo o que você está fazendo (...) A
gente percebe, na passagem de plantão vai passando leito a leito, isso
é muito importante, já vai olhando o paciente e ele te olha meio
diferente e você percebe que ele não está te achando bonita, ele quer
dizer alguma coisa. Eu acho que é o sétimo sentido, o oitavo sentido,
eu não sei ... FLOR DO CAMPO
Eu percebo essas emoções ou pelo discurso ou por face, face de dor,
através da observação e do discurso também. ORQUÍDEA
Eu percebo medo, ansiedade, olhando nos olhos deles.TULIPA
O rosto, a voz também mudam. GÉRBERA
Tão importante quanto identificar os sentimentos que emergem do cuidado é valorizá-
los, buscar o seu real significado, no sentido de auxiliar os pacientes a recuperar o seu
equilíbrio. A resolução dos problemas físicos não anulará o efeito destes sentimentos sobre o
organismo, já que os sentimentos armazenam-se sob forma de memória e podem-se constituir
posteriormente em sentimentos orientativos. Aí, entra em jogo a homeostase, tão defendida
58
por Heller (1993), a qual incorpora não só os aspectos biológicos, mas os antropológicos e
sociais.
A reflexão sobre a percepção dos sentimentos trazida pelos enfermeiros que
participaram do estudo aqui apresentado leva a considerar-se a observação e a sensibilidade
como seus principais instrumentos de trabalho.
6.5 – SENTIMENTOS RELACIONADOS COM O MOMENTO DA DOR
A dor possui como resposta emocional mais freqüente a ansiedade e, em se tratando de
dor torácica, o medo da morte.
Meltzer (2001) assevera que a sensação eminente de morte associada à dor intensa, a
chegada ao hospital e os olhares de angústia dos familiares são, a princípio, os temores
vividos pelos pacientes. O estresse emocional se acentua com o enfrentamento da tecnologia:
a monitorização cardíaca, a oxigenoterapia, medicações venosas, entre outros.
Ainda mais aqui com a monitorização o tempo todo, o oxigênio que se
coloca, ficam super-assustados. O monitor cardíaco é pra matar um...
eu percebo como a pessoa fica..VIOLETA
(...)às vezes você vai dar a medicação, a veia está cá em cima e ele
aperta a mão ou fica olhando o tempo todo o que você está fazendo.
Qando tem oportunidade, fica o tempo todo controlando a pressão lá
em cima(no monitor), ou chama você, toca a campainha, ansiedade,
ansiedade demais!FLOR DO CAMPO
A dor torácica pode ocorrer de forma súbita, o que torna o processo emocional
imediato, impedindo a elaboração de uma resposta emocional adequada, dificultando a
manutenção do equilíbrio emocional. Meltzer (2001) aponta como respostas emocionais
previsíveis a ansiedade e, associada a ela, a perspectiva de morte súbita.
O medo da morte está presente em situações entendidas pelo indivíduo como
ameaçadoras e funciona como um mecanismo de defesa. Os enfermeiros indicaram, na sua
entrevista, o medo da morte como a principal manifestação emocional no momento em que os
indivíduos sentem a dor torácica.
59
Expectativa e medo... ele não sabe o que está acontecendo... e a
expectativa pelo que vai acontecer com ele a partir daquele momento
e o medo porque é tudo novo (...) é medo do que possa acontecer,
porque ele sabe a gravidade. HORTENSIA
Heller ( 1999) considera o medo como um dos sentimentos mais expressivos.
Classifica-o de duas formas: como um afeto ou como uma emoção. O medo iminente da
morte vivenciado pelos pacientes quando sentem a dor torácica é considerado um afeto, por
tratar-se de um estímulo presente cujo estímulo percutor é a dor torácica. O afeto medo é
construído a partir de um outro sentimento, a dor, classificada por Heller (1993) como um
sentimento que pertence à mesma família dos impulsos.
Segundo o filósofo existencialista Heidegger, citado por Mondim (1983), a morte
pertence à estrutura fundamental do homem; ela não é uma possibilidade distante, mas
constantemente presente. Este filósofo afirma ainda que a morte não é uma possibilidade que
ocorre no decurso da vida, mas que acompanha o homem desde o seu nascimento
Oliveira (2001, p.80), investigando a solidão no cotidiano da pessoa idosa e apoiando-
se no referencial de Heidegger, descobriu que, neste grupo em especial, as pessoas encaram a
morte como
um fim para a existência de sua tristeza e não como possibilidade própria do modo
de ser da autenticidade. Esperá-la é viver na perspectiva do descanso, da interrupção
da vida e por sua transcendência, uma expectativa freqüente de alcançar a Deus.
Nas unidades de cardiologia, quando o paciente é acometido pela dor torácica, o medo
da morte assume um caráter ainda mais acentuado, porque é muito comum ele já ter perdido
um familiar ou amigo por causa de doença coronariana. Como se lê em Silva (2004), “Os
medos nascidos com a vivência da morte de outra pessoa podem ter o efeito de aumentar os
medos da minha própria morte”. Associado ao medo da morte, há ainda o medo do
“indesejável prospecto de sofrer, de tornar-se dependente e fraco, perdendo a dignidade.”
Sentem ansiedade no momento da dor.Eles ficam muito ansiosos, às
vezes até angustiados. ROSA
Eu percebo uma angústia muito grande, ele fica angustiado com
aquela dor.(...) Angústia, ansiedade, você sente, outros falam mesmo
60
verbalizam: ah eu estou me sentindo muito angustiado, fica aqui perto
de mim que eu estou sentindo que vou morrer.FLOR DO CAMPO
A ansiedade é considerada por Heller (1993) um tipo particular de medo que está
relacionado à incerteza do significado de um estímulo, entendendo-o como perigoso. Pode ser
acompanhada de repercussões características do quadro ansiogênico, como taquicardia,
elevação dos níveis pressóricos, aumento da freqüência respiratória, agitação, irritabilidade,
dispnéia, dentre outros, que podem agravar o comprometimento cardíaco. Desta forma, a
ansiedade do paciente deve ser tratada, favorecendo a sua recuperação.
A dor no peito sinaliza o risco iminente de morte ou a aquisição de seqüelas. Assim,
após o evento coronariano, sempre fica no paciente um sentimento de incerteza quanto à sua
saúde, à sua vida.
No momento em que ele sente a dor torácica, eu percebo nele o medo,
medo do desconhecido, sem saber o que está acontecendo com ele.
ORQUÍDEA
(...) a gente sente aquela interrogação na hora em que a gente vê o
paciente, aquele medo, aquela ansiedade dele...LIRIO
Insegurança, a dor incomoda muito, insatisfação (...) Ou é
insegurança, ou é medo, ou é a dor que está incomodando, ou é medo
do que pode vir a acontecer. O medo do que vai acontecer. Eu acho
que ele desconhece o que está acontecendo com ele e o que vai
acontecer depois. GÉRBERA
Defende-se aqui que os diagnósticos de dor, ansiedade e medo, devido ao seu caráter
complicador na recuperação dos pacientes coronariopatas, não devem ser menosprezados.
Tais diagnósticos são reconhecidos internacionalmente, desde a publicação da Taxonomia I
de NANDA (North American Nursing Diagnosis), como sendo de domínio da enfermagem.
Este trabalho não teve por objetivo aprofundar a análise, utilizando a Taxonomia
NANDA. A fundamentação teórica escolhida, a Teoria dos Sentimentos (HELLER, 1993),
traz classificações que podem ser facilmente aplicadas às definições estabelecidas por
NANDA no que se refere à dor, à ansiedade e ao medo como diagnósticos de enfermagem.
61
Sentiu-se, todavia, neste momento, a necessidade de, utilizando-a, justificar o plano dos
sentimentos como domínio da enfermagem.
Os profissionais entrevistados defenderam a importância do atendimento às
necessidades emocionais dos pacientes com dor torácica. De zero a dez, eles foram indicando
o grau de importância atribuído a este atendimento. O valor mínimo atribuído foi oito, e o
máximo, dez:
De zero a dez, oito ou nove pelo menos é o grau de importância para
as emoções. CRAVO
De zero a dez, nove. Muito importante, tudo faz parte da assistência.
ROSA
O grau de importância é dez porque o contato maior é nosso mesmo.
LÍRIO
Eu acho importante e de zero a dez... ele tem que valorizar isso em
paciente cardíaco... em torno de dez mesmo. MARGARIDA
Eu acho que se existe uma nota de zero a dez eu acho que eu dou dez.
FLOR DO CAMPO
(...)de zero a dez eu dou nove para o atendimento às necessidades
emocionais... não vou dar dez porque no setor que eu trabalho é
importante, mas dez seria o extremo da importância, sem desmerecer
o outro lado... melhora muito a questão da assistência, nove é uma
nota boa.VIOLETA
De zero a dez eu acho que eu, como enfermeira, acho que é nove, tem
que valorizar as emoções. ORQUÍDEA
(...)de zero a dez eu dou nove para a importância.TULIPA
De zero a dez eu daria nove, é muito importante cuidar das emoções.
HORTENSIA
A partir do exposto, entende-se que o trabalho em cardiologia permite ao enfermeiro
perceber e relacionar os sentimentos manifestos durante o quadro de dor torácica. Os
sentimentos mais freqüentes neste quadro, de acordo com os enfermeiros participantes deste
62
estudo, são o medo da morte, vinculado ao comprometimento cardíaco, e a ansiedade,
relacionada ao risco de vida e à possibilidade de seqüelas em caso de sobrevivência.
6.6 – CUIDANDO DOS SENTIMENTOS
Os cuidados de enfermagem precisam ter como objetivo o atendimento às necessidades
do indivíduo, buscando otimizar o enfrentamento do processo saúde-doença. A dimensão
instrumental do cuidado está, conforme Silva (1998, p.76), “diretamente ligada ao fazer com
habilidade e conhecimento, ao fazer com qualidade e competência, ao saber fazer”; este
“demonstra ter como meta a independência e um viver com melhor qualidade”.
O cuidado deve transcender a técnica com que é feito. Para Barbosa (1999), o cliente
deve ser visto a partir de sua existência; o enfermeiro deve estar atento à expressão de
sentimentos e necessidades emocionais de quem ele cuida, muitas vezes despercebidos nas
unidades intensivas. O cuidar não deve ficar restrito à utilização do conhecimento racional,
técnico e científico, mas, sim, “voltado à essência, de autenticidade expressiva, levando em
consideração a singularidade e a valorização da intersubjetividade, tão relegada em função de
uma habitual e quase forçada prática mecanicista do cuidar em unidades especializadas”
(BARBOSA, 1999, p.30).
A gente vem cuidando dos pacientes que sentem dor torácica tanto do
ponto de vista técnico, assistência direta ao paciente na beira do leito
como é toda terapia intensiva, mas abordando também questões de
humanização, de contato com a família, de tentar amenizar, de
alguma forma, o sofrimento do paciente e de sua família. (...) CRAVO
Cabe aos enfermeiros, enquanto seres humanos e cuidadores, estabelecer ações com a
finalidade de levar ao paciente conforto tanto no aspecto físico como no aspecto psicoafetivo.
A humanização parece ser o melhor caminho para a enfermagem, que tem freqüentemente se
voltado para os cuidados físicos com o paciente, em detrimento dos cuidados emocionais. Os
enfermeiros que colaboraram com este estudo estão entre aqueles que vivenciam as emoções
dos pacientes e delas cuidam com dedicação.
63
Dialogar, conversar com o paciente, porque geralmente esse temor,
esse medo que aqui geralmente acontece, ele vem... ele surge de uma
dúvida. Então você cumprir com aquele papel de educador eu acho
que é uma das coisas mais importantes. CRAVO
Essa relação de explicar e esclarecer as dúvidas do doente melhora
muito a questão dele ficar mais tranqüilo e ver que não tem nada
demais (...) Eu tento esclarecer as dúvidas do doente, chegar junto,
minhas ações são por aí.(...) Questionar se tem alguma dúvida e
mostrar que a gente está aberto para explicar as coisas, tentar dar um
pouco de assistência quando ele solicita VIOLETA
Conversando, explicando o que está acontecendo com ele. Eu acho
que um paciente informado, ele é menos problemático, não sei se o
termo é esse, mas acho que ele contribui mais com o seu tratamento.
(...) porque eu gosto de me apresentar, explicar o processo (...) eu
gosto de fazer isso, para ele saber quem é que está cuidando dele,
explicar realmente o que está acontecendo com ele. ORQUÍDEA
Como enfermeira é um cuidado tanto terapêutico como humano, a
gente parar e conversar um pouquinho e procurar saber o que ele
está sentindo, por que está sentindo, por que está chorando
(...)TULIPA
Tento conversar, tento tranqüilizar, explicar um pouco sobre a
patologia (...)Passar para ele que é o momento que ele tem que mais
buscar o equilíbrio, a tranqüilidade, isso vai ajudar a dor melhorar.
Muitas vezes existe uma preocupação muito grande deles em como vai
ser depois da alta, como vai ser a vida dele. (...)Eu procuro conversar
muito, explicando, tirando as dúvidas. ROSA
Estabelecer um diálogo é fundamental para que sejam estimuladas as expressões dos
sentimentos e para que se possa estabelecer uma relação de confiança entre aqueles que
vivenciam o cuidado. Conversando com o paciente, o enfermeiro pode conhecê-lo melhor,
saber de seus medos, de suas dúvidas, esclarecer-lhe questões. O diálogo com o paciente cria
melhores condições para sua reabilitação.
A comunicação entre paciente e enfermeiro pode ser estabelecida não somente por
meio da linguagem verbal, mas também da linguagem gestual, do olhar, enfim, há várias
maneiras de expressar-se. A comunicação não verbal é apontada por Dell’Aqua (1998) como
uma possibilidade de o enfermeiro responder às necessidades emocionais no processo de
64
cuidado. Para Davis (1979) apud Dell’Aqua (1998) o próprio toque é uma maneira de
comunicar-se. Tocando o paciente, acariciando-o, o enfermeiro lhe transmite conforto,
demonstra-lhe amizade, o que o faz sentir-se amparado e protegido, ajudando muito no seu
tratamento.
O toque, também para FLOR DO CAMPO e HORTENSIA, deve fazer parte do
cuidado com o paciente.
A gente pega no paciente, pega no pé, pega no cabelo, fica ali mesmo
grudado e aí vão vendo os outros que a gente está aqui. Não vou dizer
que isso vá melhorar a dor do paciente, dependendo da dor, mas ele
sente que está sendo cuidado, não é só a medicação que eu estou
fazendo para dor. (...) Dando suporte emocional, chegando junto do
paciente. FLOR DO CAMPO
Chegar ao paciente e colocar o que está acontecendo com ele,
tentando sempre explicar de forma tranqüila, não passar aquela
gravidade. (...) Então a gente coloca de uma maneira simples para
ele(...) O toque também é muito importante.HORTENSIA
Quando o paciente se sente seguro no seu tratamento, equilibrando suas emoções com
o auxílio do enfermeiro, confiando na sua recuperação, ela acontece mais facilmente. Da
mesma forma pensam HORTÊNSIA e MARGARIDA:
(...) você tentar passar de forma firme para ele, não como se tivesse
demonstrando dúvida... é firme dizendo o que está acontecendo e se
mostrando disponível para ajudar, fazendo todos os procedimentos, e
se tiver alguma dúvida pode tirar... Diminuir a expectativa(...)É
importante que a gente observe, que a gente aja o mais rápido
possível e que a gente sempre fale de forma firme, dando segurança
para o paciente. HORTENSIA
A maior necessidade dele, assim o que ele precisa e espera da gente
como profissional é a segurança, otimismo. Porque ele já está ali bem
deprimido mesmo, cheio de interrogações. MARGARIDA
A dependência do paciente em relação aos profissionais de saúde em unidades
especializadas em cardiologia, principalmente quando são necessários a monitorização
65
cardíaca, a oxigenoterapia e o repouso absoluto, é muito grande. O estímulo, porém, ao
autocuidado, respeitando as limitações da patologia, é considerado relevante por
MARGARIDA:
Eu cuido sempre me colocando no lugar dele (...). Eu acho que você
tem que desenvolver suas técnicas deixando ele o mais independente
possível. Tudo bem que precisa de um repouso absoluto, mas você
não vai ficar dando um remedinho na boca. (...)Não deixar ele com
aquele sentimento de inutilidade, de dependência mais do que já está,
em cima de uma cama, tomando banho na cama, e isso limita
bastante. A técnica você tem que fazer com que ele participe. (...)
Como profissional que trabalha com paciente de cardiologia, você
tem que transmitir sempre otimismo. MARGARIDA
O cuidado técnico mais freqüente é o monitoramento das funções vitais, com a
utilização de recursos farmacológicos prescritos pelo médico, os quais diminuem a dor e
reduzem a ansiedade. Para GÉRBERA e LÍRIO a utilização de analgésicos e o diálogo são
indispensáveis no atendimento às necessidades emocionais dos pacientes.
(...) eu procuro aliviar a dor com remédios, conversas, explicações do
quadro dele, do que pode acontecer com ele, do procedimento que eu
vou fazer com ele naquele momento. GÉRBERA
(...)além do diagnóstico que a gente tem para acompanhar, a gente
tenta atender comunicando ao médico qual a medicação apropriada
para ser usada. (...) A gente tenta tratar vendo o quadro clínico dele e
aí a gente vai passando as informações para ele, a gente não esconde
nada e tenta passar da melhor forma para que ele se sinta bem e fique
mais tranqüilo. LIRIO
Deixar o paciente informado sobre o que está acontecendo com ele, sobre o seu
prognóstico, sobre os procedimentos médicos no seu tratamento, sobre como deverá conduzir
sua vida após o evento coronariano é fundamental para fazê-lo sentir-se mais seguro e
confortado, suas crises emocionais sendo amenizadas.
66
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da leitura dos discursos coletados em entrevistas semi-estruturadas feitas com
onze enfermeiros que trabalham há mais de dois anos em unidades especializadas de
cardiologia, estabeleceram-se seis temas, analisados com base na Teoria dos Sentimentos, de
Agnes Heller (1993). Através da análise desenvolvida, atingiram-se os objetivos deste estudo:
conhecer a percepção dos enfermeiros sobre os sentimentos dos pacientes com dor torácica na
vivência de trabalho em unidades de tratamento intensivo de cardiologia e identificar, nos
cuidados de enfermagem prestados aos pacientes com dor torácica em unidades especializadas
em cardiologia, aqueles relacionados às necessidades emocionais.
Quanto ao primeiro tema, o trabalho em cardiologia, os enfermeiros entrevistados
mostraram-se fascinados pela tecnologia, que inclusive os influenciou na opção por
cardiologia como especialização profissional. Admitiram também o conflito por que passam:
não se envolver afetivamente com o paciente é o que se aconselha de um lado; do outro lado,
a orientação para atender às necessidades emocionais, não só físicas, do paciente.
Na abordagem do segundo tema, dor e angústia, os enfermeiros identificaram a dor
torácica como do tipo opressiva, de forte intensidade e angustiante.
Abordando o terceiro tema, os sentimentos de quem cuida, constatou-se que o
comportamento dos enfermeiros participantes da pesquisa é muitas vezes caracterizado pelas
ações puramente instrumentais, evitando o envolvimento afetivo com o paciente, mesmo
quando ele se mostra muito ansioso e angustiado em decorrência da dor que sente. Tal
envolvimento é encarado como um ponto negativo na prática de enfermagem.
Quanto ao quarto tema, a percepção dos sentimentos pelos enfermeiros, os
profissionais entrevistados disseram que a percepção dos sentimentos e emoções dos
pacientes se dá por meio da observação e da sensibilidade, sendo as manifestações mais
freqüentes a de dor e medo, expressas na palavra, no grito, na face, no olhar, nos gestos
corporais. Vê-se que a presença do enfermeiro à beira do leito é, freqüentemente,
indispensável para atender bem ao paciente, percebendo as suas necessidades tanto físicas
como emocionais.
A abordagem do quarto tema, sentimentos relacionados ao momento da dor,
revelou os sentimentos que são percebidos pelos enfermeiros participantes da pesquisa no
cuidado com o paciente que sente a dor torácica: medo da morte, vinculado ao
comprometimento cardíaco, e ansiedade, relacionada ao risco de vida e à indefinição do que
67
pode vir a acontecer diante de um problema no coração. Para eles, a percepção da dor e dos
sentimentos a ela relacionados é de grande importância. Numa escala de zero a dez, o menor
valor atribuído à importância da referida percepção na prática de enfermagem foi oito, e o
maior, 10.
Quanto ao sexto e último tema, cuidando dos sentimentos, foi essa a principal ação
apontada pelos enfermeiros entrevistados para o atendimento às necessidades emocionais do
paciente com dor torácica: informar o paciente sobre o que está acontecendo com ele, sobre o
seu prognóstico, sobre os procedimentos, sobre as possibilidades terapêuticas e diagnósticas e
sobre suas limitações após o evento coronariano. Assim o caráter comunicativo do cuidado se
destacou dentre todas as ações e para isto faz uso do diálogo e também do modo não verbal -
o toque.
Os pressupostos deste estudo foram comprovados com a análise dos dados, tendo em
vista que os enfermeiros que fizeram parte da pesquisa reconheceram a importância do
atendimento às necessidades emocionais do paciente. O atendimento tecnológico, pelo que se
constatou, continua sendo a prioridade das ações de enfermagem, permanecendo as relações
intersubjetivas relegadas ao plano secundário.
Segundo Barbosa (1999), a enfermagem deve sempre reservar um momento para
atender às necessidades emocionais do paciente, que, quando mais tranqüilo e confiante,
recupera-se mais rapidamente. Assim, os profissionais de enfermagem não têm por obrigação
apenas cuidar dos problemas de ordem fisiológica, mas também daqueles de ordem
emocional.
Os enfermeiros serão mais felizes e farão mais felizes os seus pacientes quando
aceitarem como verdade o fato de que seus pacientes, antes de tudo, são seres humanos, e que
mais do que nunca precisam de toda ajuda que lhe puderem dar. E os enfermeiros podem e
devem ajudá-los muito, basta quererem.
68
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73
ANEXO A – SISNEP
74
ANEXO B – OFÍCIO PARA AUTORIZAÇÃO DE COLETA DE DADOS
Universidade Federal da Bahia
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação
Curso de Mestrado em Enfermagem
Salvador, de julho de 2005
Ilmª Sra. Enfª
MD Coordenadora de Enfermagem da Unidade
Prezada Senhora,
Venho através desta, solicitar a V.Sª, autorização para Moelisa Queiroz dos Santos,
aluna do Curso de Mestrado em Enfermagem, matriculada na área de Concentração O Cuidar
em Enfermagem, deste Programa de Pós Graduação, proceder levantamento de dados para
fins da sua Dissertação de Mestrado, cujo projeto intitula-se: “A ENFERMAGEM E O
PACIENTE COM DOR TORÁCICA: Convivendo com os sentimentos no cotidiano do
cuidado”, aprovado em de do corrente ano, pelo Comitê de ética desta conceituada
instituição.
Na certeza de vossa colaboração, subscrevemo-nos
Atenciosamente,
Moelisa Queiroz dos Santos
75
ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Universidade Federal da Bahia
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação
Curso de Mestrado em Enfermagem
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
I. DADOS SOBRE A PESQUISA
MESTRANDA: Moelisa Queiroz dos Santos
TELEFONE: 88939137/3329-1831
TITULO DA PESQUISA: A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
Convivendo com os sentimentos no cotidiano do cuidado
DURAÇÃO DA PESQUISA: 02 meses
II. REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO ENTREVISTADOR AO COLABORADOR
DA PESQUISA
OBJETIVO: conhecer a percepção da(o)s enfermeiras(o)s sobre os sentimentos dos
pacientes com dor torácica na vivência de trabalho em unidades de tratamento intensivo de
cardiologia e identificar nos cuidados de enfermagem prestados aos pacientes com dor
torácica, em unidades especializadas em cardiologia, aqueles relacionados às necessidades
emocionais.
JUSTIFICATIVA: Considero que a relevância deste estudo consiste no fato de que é
necessário conhecer e compreender o que a(o) enfermeira(o) considera importante no
atendimento ao paciente com dor torácica e como os componentes emocionais são percebidos
neste contexto.
SUJEITOS: Enfermeiros com mais de dois anos atuando em unidades especializadas de
cardiologia, que trabalham em um Hospital de referência em cardiologia da cidade de
Salvador/Ba.
METODOLOGIA: Os dados serão coletados através da entrevista semi-estruturada,
tendo a história oral temática com depoimento gravado como metodologia adotada. A análise
de dados terá como método a Análise de Conteúdo Temática.
BENEFÍCIOS: É possível que tal constatação favoreça ao desenvolvimento de um
cuidado efetivamente mais humanizado, buscando minimizar os possíveis efeitos danosos das
emoções sobre a evolução do quadro clinico.
RISCOS DA PESQUISA: sem risco.
76
III. ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO
SUJEITO DA PESQUISA
Aos profissionais de enfermagem que aceitarem participar da pesquisa será garantido:
1. Acesso a qualquer tempo, às informações sobre riscos e benefícios relacionados à pesquisa,
inclusive para diminuir eventuais dúvidas.
2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do
estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade ao seu trabalho na instituição.
3. Salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade.
IV. CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
NOME DA ENFERMEIRA_______________________________________________
ENDEREÇO___________________________________________________________
UNIDADE DE TRABALHO______________________________________________
TELEFONE________________ E-MAIL____________________________________
Declaro que fui informada da proposta de trabalho a ser realizada pela
enfermeira Moelisa Queiroz dos Santos, aluna do Curso de Mestrado da Escola de
Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, e aceito participar voluntariamente do
estudo, autorizando a utilização do conteúdo das minhas informações para fins
científicos, porém respeitando com sigilo absoluto as informações confidenciais,
conforme a Resolução 196/96 que regulamenta pesquisas com seres humanos.
Salvador, __________, de_____________2005
______________________________ ______________________________
Pesquisador Entrevistado
77
ANEXO D – INSTRUMENTO DE COLETA
Universidade Federal da Bahia
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação
Curso de Mestrado em Enfermagem
INSTRUMENTO DE COLETA
A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
Convivendo com os sentimentos no cotidiano do cuidado
Identificação:
Idade:
Tempo de trabalho na unidade:
Turno de trabalho:
I- Conte-me a sua história profissional nesta unidade de cardiologia
1.1- Como você vem cuidando dos pacientes com dor torácica?
1.2- De que forma os sentimentos estão presentes no seu cotidiano de trabalho?
1.3- Quais os sentimentos que você percebe com maior freqüência nos pacientes com
dor torácica?
1.4- Como você percebe estes sentimentos?
1.5- Qual o grau de importância que você atribui ao atendimento das necessidades
emocionais pelo enfermeiro?
1.6- Dentro da sua rotina de trabalho como você procura atender as necessidades
emocionais de pacientes com dor no peito?
78
ANEXO E – INSTRUMENTO DE VALIDAÇÃO DO PRÉ-TESTE
Universidade Federal da Bahia
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação
Curso de Mestrado em Enfermagem
INSTRUMENTO DE VALIDAÇÃO DO PRÉ-TESTE
A ENFERMAGEM E O PACIENTE COM DOR TORÁCICA:
Convivendo com os sentimentos no cotidiano do cuidado
Identificação:
Idade:
Tempo de trabalho na unidade:
1) Você achou este questionário fácil de responder?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
2) A ordem das questões está adequada?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
3) Houve exagero no número de questões?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
79
4) O vocabulário e acessível ou você teve alguma dúvida?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
5) A linguagem usada é acessível?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
6) As perguntas são superficiais?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
7) Alguma questão pode causar impacto ou constrangimento?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
8) Os dados recolhidos são válidos para esta pesquisa?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
9) As questões são inconsistentes com o estudo?
( )SIM ( )NÃO
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
10) Tem alguma questão que você gostaria de sugerir outra redação?
( )SIM ( )NÃO
80
JUSTIFIQUE_______________________________________________________
__________________________________________________________________
___________________________________________________
81
ANEXO F - ANÁLISE DE ENTREVISTAS
O TRABALHO EM CARDIOLOGIA
(...) desde o começo, desde o meu quarto semestre da faculdade, eu
disse que eu ia fazer cardiologia. Só que eu via as coisas de uma
maneira mais técnica, até mesmo porque eu via assim:[...] dentre as
várias especialidades, a área que mais se desenvolvia, com rapidez
maior, era a cardiologia. Então eu achava isso muito interessante, é
uma coisa muito tecnicista. CRAVO
Cardiologia foi uma área que eu sempre fui fascinada (...) eu adoro
trabalhar com cardiologia e essa combinação cardio e terapia
intensiva é perfeita..ORQUIDEA
A minha entrada na (...) se deu muito em função de eu vindo desde a
faculdade me identificando com cardiologia, e também a necessidade,
que eu achava que enfermeira tinha que ser de UTI. Enfermeiro tinha
que passar pela UTI porque ele precisava aprender determinados
procedimentos. FLOR DO CAMPO
Como cardiologia sempre foi uma coisa que me chamou a atenção,
então eu achei ótimo e fiquei super feliz quando soube que eu tinha
sido indicada. ROSA
(...) o que eu gosto realmente é cardiologia. TULIPA
(...) comecei a trabalhar com cardiologia, sempre foi a área que eu
mais gostei, mais me identifiquei e trabalhei nisso. ALECRIM
Eu tinha muita vontade de trabalhar em cardiologia porque eu
tinha parentes com problema em cardiologia. LIRIO
DOR E ANGÚSTIA
Esse paciente chega muito ansioso, às vezes sudoreico, com aquela
dor no peito, que dizem que é sufocante. Eu nunca senti, mas dizem
82
que é um aperto, é muito sufocante (...) o paciente com dor torácica
ele chega com uma sudorese, uma dispnéia. HORTENSIA
(...)porque eles descrevem a dor como tão forte, que eles têm medo da
dor ir tomando e levar à morte. MARGARIDA
Muitos sentem a dor muito forte.VIOLETA
(...)no momento da dor, todos relatam que é uma dor insuportável, é
uma coisa angustiante, opressiva, que sufoca. Então no momento em
que eles mais ficam angustiados é no momento da dor. ROSA
Quando o paciente diz que está sentindo dor é diferente. Tem
pacientes que estão sentindo dor e continuam olhando para você da
mesma forma de quando você chegou ao início do plantão que ele te
olhou pela primeira vez. Outros fazem aquela força de apertar a mão,
uma vez um quase esmaga a minha mão, outros começam a gritar,
tocam a campainha por segundo apesar de você fazer a medicação.
FLOR DO CAMPO
Muitas vezes o paciente não se queixa de dor; às vezes fica guardando
a dor com medo de você intervir com alguma coisa, não quer te
preocupar... quando ele fala que está com dor é porque já está
ultrapassando os limites. ALECRIM
Tem uns que ficam ali com dor, que está suando frio, sentindo dor
mesmo, mas são mais fortes, não exteriorizam mesmo até por questão
de formação... e se for homem pior ainda, que tem toda aquela coisa
que não pode ser fraco, quando tem um paciente do sexo masculino
que sente dor no peito e se entrega às emoções dele deixa
transparecer... de fato eles pedem desculpa por terem sido fracos e
você diz não, que nada. MARGARIDA
Depende muito do paciente, se é homem ou mulher...FLOR DO
CAMPO
Existem mil fatores que interferem nessa dor, a idade, o gênero. Para
mim tudo isso está voltado. Mulheres sentem mais dor do que os
homens, ou não... você tem que avaliar todos esses fatores e o
83
momento do paciente, a questão emocional dele, principalmente por
estar dentro de uma UTI confinado, com um monte de gente,
vivenciando um processo patológico que para ele às vezes é
desconhecido...Será que alguém chegou lá e disse você tem isso... seu
prognóstico, suas condições de vida são essas e seu tratamento é esse.
ORQUÍDEA
As dores no peito que os nossos pacientes geralmente sentem são: dor
no pós-operatório (...)É mais esporádica a dor no peito não cirúrgica,
(...) alguns chegam assintomáticos e outros pouco sintomáticos e a
gente vai trabalhando isso, questionando essa dor, geralmente a gente
pede uma nota de zero a dez. TULIPA
Primeiro eu tento avaliar algum fator que vá interferir, gerando essa
dor. A gente tem que ver também se não é uma dor psicológica, às
vezes é uma paciente extremamente ansiosa, que tenta chamar a
atenção, sugerindo dor. Pode ser uma dor porque quer atenção, está
se sentindo carente, confinada dentro de uma UTI e utiliza a dor para
chamar a atenção dos funcionários. Agora quando o paciente chama
relacionando a uma dor torácica, eu tento ver se é compressiva, se
estende para dorso, quando começa, quando termina, se tem duração.
È complicado também a gente avaliar limiar de dor, por mais que
diga de zero a dez é preciso ter uma escala com parâmetros dessa
numeração, porque dez para ele pode ser um para o outro, então cada
um tem o seu limiar de dor. ORQUÍDEA
OS SENTIMENTOS DE QUEM CUIDA
A forma como alguns pacientes falam me dá uma angústia, a
depender de como ele vai relatar essa dor, a gente até sofre por eles.
ORQUÍDEA
A princípio eu ficava um pouquinho assim... junto com a ansiedade de
saber que tinha que fazer tudo aquil, eu ficava muito ansiosa, mas
depois eu percebi que não há necessidade disso(...)como se eu fosse o
paciente, é aquilo que a gente tem que tentar fazer, se colocar do lado
e como se fosse o paciente, como ele está se sentindo como ele
gostaria de ser tratado. HORTENSIA
(...)a gente, enquanto profissional, foge muito da questão de se
envolver com o doente. Não se é porque você está preocupado em
resolver logo o problema dele que você sabe que é um problema
grave e que ele pode morrer (...) e aí aqui na unidade de emergência
a gente esquece um pouco dessa questão emocional, eu percebo muito
isso. VIOLETA
84
(...)a gente aprende desde a faculdade a tentar controlar as emoções
da gente e não se envolver muito com o paciente, então eu sempre
procuro de certa forma fazer isso. Porque eu sou uma pessoa muito
sensível ROSA
(...) a gente, na hora da crise da angina, você não pode deixar de
certa forma suas emoções interferirem, porque o paciente espera de
você uma segurança. Ele sim pode se dar “o luxo” de ficar abalado,
mas nós não. Por mais que a gente se sensibilize, a gente não pode
deixar transparecer isso, então a gente tem que se controlar,
controlar suas emoções para dar um apoio a ele. Aquela questão:
nós, profissionais da área de saúde, temos sempre que transparecer
aquela segurança, por isso que nós somos taxados de profissionais
frios, mas não é questão de frieza, não quer dizer que a gente não
sinta, não sofra com o paciente, é que a gente não pode exteriorizar
isso para ele, porque a gente sabe que isso vai prejudicá-lo.
MARGARIDA
A PERCEPÇÃO DAS EMOÇÕES PELOS ENFERMEIROS
(...) pelo fato de se estar falando em coração, as pessoas tendem a
ficar mais sensíveis. Eu sempre coloco dessa forma: rim você tem
dois, braço você tem dois, coração você só tem um (...) Então as
pessoas, até por uma questão de vivência do que a gente aprende
desde criança, as emoções estão centradas no coração das pessoas,
então se dá uma importância muito grande. CRAVO
(...)o coração é o dono de tudo em tese. FLOR DO CAMPO
(...) tem um problema no coração, que é o órgão que todos nós temos
a idéia que o coração é o órgão principal do organismo e realmente
é. Esse órgão pode ter alguma coisa séria, pode parar (...). TULIPA
Geralmente esses pacientes com dor no peito, no coração, a gente
percebe que existe uma fragilidade muito grande. Ali é o ponto de
tudo, de todo organismo. O paciente sente assim... se ele sente dor no
coração... é diferente se ele sente de dor na perna, porque eles acham
que ali é o centro de tudo, o coração é o centro de tudo, se parar ali,
pára tudo. A dor na perna não, ele pode ficar sem uma perna, sem um
braço. GÉRBERA
A observação do paciente, pela expressão corporal, pela fala, pelas
perguntas, pelos sintomas da dor, pelos momentos em que essas dores
acontecem. CRAVO
85
No hospital a observação é o carro chefe. Às vezes o paciente não
fala, mas você com a clínica consegue associar o que ele está
querendo passar. HORTENSIA
Às vezes eu percebo que aquele paciente está meio retraído (...)cada
um tem sua forma de demonstrar que está com aquele emocional
abalado. ROSA
Existe um perfil de cada paciente.Existem aqueles pacientes que
exteriorizam mais, que são mais... deixam realmente transparecer,
que quando estão com dor no peito ficam realmente dependentes,
pede para segurar a mão... Tem uns não que ficam ali com dor, que
estão suando frio, sentindo dor mesmo, mas são mais fortes, não
exteriorizam mesmo. MARGARIDA
(...) como ele me fala, do que ele está dizendo para mim. Até mesmo
você sente a maneira como ele está falando,quando está fazendo o
ECG às vezes você sente o paciente meio trêmulo, certa inquietude,
você vê a respiração ofegante, você vê apertando o lençol (...) às
vezes você vai dar a medicação, a veia está cá em cima e ele aperta a
mão ou fica olhando o tempo todo o que você está fazendo (...) A
gente percebe, na passagem de plantão vai passando leito a leito, isso
é muito importante, já vai olhando o paciente e ele te olha meio
diferente e você percebe que ele não está te achando bonita, ele quer
dizer alguma coisa. Eu acho que é o sétimo sentido, o oitavo sentido,
eu não sei ... FLOR DO CAMPO
Eu percebo essas emoções ou pelo discurso ou por face, face de dor,
através da observação e do discurso também. ORQUÍDEA
Eu percebo medo, ansiedade, olhando nos olhos deles.TULIPA
O rosto, a voz também mudam. GÉRBERA
SENTIMENTOS RELACIONADOS COM O MOMENTO DA DOR
Ainda mais aqui com a monitorização o tempo todo, o oxigênio que se
86
coloca, ficam super-assustados. O monitor cardíaco é pra matar um...
eu percebo como a pessoa fica..VIOLETA
(...)às vezes você vai dar a medicação, a veia está cá em cima e ele
aperta a mão ou fica olhando o tempo todo o que você está fazendo.
Qando tem oportunidade, fica o tempo todo controlando a pressão lá
em cima(no monitor), ou chama você, toca a campainha, ansiedade,
ansiedade demais!FLOR DO CAMPO
Expectativa e medo... ele não sabe o que está acontecendo... e a
expectativa pelo que vai acontecer com ele a partir daquele momento
e o medo porque é tudo novo (...) é medo do que possa acontecer,
porque ele sabe a gravidade. HORTENSIA
Sentem ansiedade no momento da dor.Eles ficam muito ansiosos, às
vezes até angustiados. ROSA
Eu percebo uma angústia muito grande, ele fica angustiado com
aquela dor.(...) Angústia, ansiedade, você sente, outros falam mesmo
verbalizam: ah eu estou me sentindo muito angustiado, fica aqui perto
de mim que eu estou sentindo que vou morrer.FLOR DO CAMPO
No momento em que ele sente a dor torácica, eu percebo nele o medo,
medo do desconhecido, sem saber o que está acontecendo com ele.
ORQUÍDEA
(...) a gente sente aquela interrogação na hora em que a gente vê o
paciente, aquele medo, aquela ansiedade dele...LIRIO
Insegurança, a dor incomoda muito, insatisfação (...) Ou é
insegurança, ou é medo, ou é a dor que está incomodando, ou é medo
do que pode vir a acontecer. O medo do que vai acontecer. Eu acho
que ele desconhece o que está acontecendo com ele e o que vai
acontecer depois. GÉRBERA
De zero a dez, oito ou nove pelo menos é o grau de importância para
as emoções. CRAVO
De zero a dez, nove. Muito importante, tudo faz parte da assistência.
ROSA
87
O grau de importância é dez porque o contato maior é nosso mesmo.
LÍRIO
Eu acho importante e de zero a dez... ele tem que valorizar isso em
paciente cardíaco... em torno de dez mesmo. MARGARIDA
Eu acho que se existe uma nota de zero a dez eu acho que eu dou dez.
FLOR DO CAMPO
(...)de zero a dez eu dou nove para o atendimento às necessidades
emocionais... não vou dar dez porque no setor que eu trabalho é
importante, mas dez seria o extremo da importância, sem desmerecer
o outro lado... melhora muito a questão da assistência, nove é uma
nota boa.VIOLETA
De zero a dez eu acho que eu, como enfermeira, acho que é nove, tem
que valorizar as emoções. ORQUÍDEA
(...)de zero a dez eu dou nove para a importância.TULIPA
De zero a dez eu daria nove, é muito importante cuidar das emoções.
HORTENSIA
CUIDANDO DOS SENTIMENTOS
A gente vem cuidando dos pacientes que sentem dor torácica tanto do
ponto de vista técnico, assistência direta ao paciente na beira do leito
como é toda terapia intensiva, mas abordando também questões de
humanização, de contato com a família, de tentar amenizar, de
alguma forma, o sofrimento do paciente e de sua família. (...) CRAVO
Dialogar, conversar com o paciente, porque geralmente esse temor,
esse medo que aqui geralmente acontece, ele vem... ele surge de uma
dúvida. Então você cumprir com aquele papel de educador eu acho
que é uma das coisas mais importantes. CRAVO
Essa relação de explicar e esclarecer as dúvidas do doente melhora
muito a questão dele ficar mais tranqüilo e ver que não tem nada
demais (...) Eu tento esclarecer as dúvidas do doente, chegar junto,
minhas ações são por aí.(...) Questionar se tem alguma dúvida e
mostrar que a gente está aberto para explicar as coisas, tentar dar um
pouco de assistência quando ele solicita VIOLETA
88
Conversando, explicando o que está acontecendo com ele. Eu acho
que um paciente informado, ele é menos problemático, não sei se o
termo é esse, mas acho que ele contribui mais com o seu tratamento.
(...) porque eu gosto de me apresentar, explicar o processo (...) eu
gosto de fazer isso, para ele saber quem é que está cuidando dele,
explicar realmente o que está acontecendo com ele. ORQUÍDEA
Como enfermeira é um cuidado tanto terapêutico como humano, a
gente parar e conversar um pouquinho e procurar saber o que ele
está sentindo, por que está sentindo, por que está chorando
(...)TULIPA
Tento conversar, tento tranqüilizar, explicar um pouco sobre a
patologia (...)Passar para ele que é o momento que ele tem que mais
buscar o equilíbrio, a tranqüilidade, isso vai ajudar a dor melhorar.
Muitas vezes existe uma preocupação muito grande deles em como vai
ser depois da alta, como vai ser a vida dele. (...)Eu procuro conversar
muito, explicando, tirando as dúvidas. ROSA
A gente pega no paciente, pega no pé, pega no cabelo, fica ali mesmo
grudado e aí vão vendo os outros que a gente está aqui. Não vou dizer
que isso vá melhorar a dor do paciente, dependendo da dor, mas ele
sente que está sendo cuidado, não é só a medicação que eu estou
fazendo para dor. (...) Dando suporte emocional, chegando junto do
paciente. FLOR DO CAMPO
Chegar ao paciente e colocar o que está acontecendo com ele,
tentando sempre explicar de forma tranqüila, não passar aquela
gravidade. (...) Então a gente coloca de uma maneira simples para
ele(...) O toque também é muito importante.HORTENSIA
(...) você tentar passar de forma firme para ele, não como se tivesse
demonstrando dúvida... é firme dizendo o que está acontecendo e se
mostrando disponível para ajudar, fazendo todos os procedimentos, e
se tiver alguma dúvida pode tirar... Diminuir a expectativa(...)É
importante que a gente observe, que a gente aja o mais rápido
possível e que a gente sempre fale de forma firme, dando segurança
para o paciente. HORTENSIA
A maior necessidade dele, assim o que ele precisa e espera da gente
89
como profissional é a segurança, otimismo. Porque ele já está ali bem
deprimido mesmo, cheio de interrogações. MARGARIDA
Eu cuido sempre me colocando no lugar dele (...). Eu acho que você
tem que desenvolver suas técnicas deixando ele o mais independente
possível. Tudo bem que precisa de um repouso absoluto, mas você
não vai ficar dando um remedinho na boca. (...)Não deixar ele com
aquele sentimento de inutilidade, de dependência mais do que já está,
em cima de uma cama, tomando banho na cama, e isso limita
bastante. A técnica você tem que fazer com que ele participe. (...)
Como profissional que trabalha com paciente de cardiologia, você
tem que transmitir sempre otimismo. MARGARIDA
(...) eu procuro aliviar a dor com remédios, conversas, explicações do
quadro dele, do que pode acontecer com ele, do procedimento que eu
vou fazer com ele naquele momento. GÉRBERA
(...)além do diagnóstico que a gente tem para acompanhar, a gente
tenta atender comunicando ao médico qual a medicação apropriada
para ser usada. (...) A gente tenta tratar vendo o quadro clínico dele
e aí a gente vai passando as informações para ele, a gente não
esconde nada e tenta passar da melhor forma para que ele se sinta
bem e fique mais tranqüilo. LIRIO
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