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Cristalina Yoshie Yoshimura
Avaliação do potencial de cultivo e produção
de ágar de Gracilaria domingensis e de
Gracilaria caudata (Rhodophyta, Gracilariales) na
Enseada de Armação do Itapocoroy
(Penha, Santa Catarina)
São Paulo
2006
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2
Cristalina Yoshie Yoshimura
Avaliação do potencial de cultivo e produção de ágar
de Gracilaria domingensis e de Gracilaria caudata
(Rhodophyta, Gracilariales) na Enseada de Armação do
Itapocoroy (Penha, Santa Catarina)
Tese apresentada ao Instituto de
Biociências da Universidade de São
Paulo, como parte dos requisitos para
obtenção do Título de Doutor em Ciências,
na Área de Botânica.
Orientador: Dr. Eurico Cabral de Oliveira
Co-orientadora:Dra.Simone Rabelo Cunha
São Paulo
2006
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3
Ficha Catalográfica
Yoshimura, Cristalina Yoshie
Avaliação do potencial de cultivo e produção de ágar de
Gracilaria domingensis e de Gracilaria caudata (Rhodophyta,
Gracilariales) na Enseada de Armação do Itapocoroy (Penha,
Santa Catarina). 163 pp.
Tese (Doutorado) - Instituto de Biociências da Universidade
de São Paulo. Departamento de Botânica.
1. Gracilaria domingensis, G. caudata 2. cultivo, ágar
3. Maricultura
I. Universidade de São Paulo. Instituto de Biociências.
Departamento de Botânica.
Comissão Julgadora:
_________________________ ________________________
Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).
_________________________ ________________________
Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).
_________________________ _________________________
Prof. Dr. Eurico Cabral de Oliveira
Profa. Dra. Simone Rabelo Cunha
Orientador Co-orientadora
4
Agradecimentos
Este trabalho não teria sido realizado sem a colaboração de muitas pessoas e instituições, cujo
conhecimento e apoio foram imprescindíveis e aos quais não posso deixar de agradecer:
Ao Dr Eurico Cabral de Oliveira, pela orientação, pelo apoio e pelos abstracts.
À Dra Simone Rabelo Cunha, pela orientação, apoio e viabilização da estrutura para o trabalho
de campo.
Ao Instituto de Biociências da USP pela estrutura dos laboratórios.
Ao CTTMar/UNIVALI pela estrutura logística para a fase de cultivo.
Ao CNPq, pelo auxílio concedido.
Ao Rosário Petti pelo apoio e presteza no laboratório.
Aos Dr Adriano Marenzi e Dr Gilberto Manzoni por cederem espaço e viabilizarem a estrutura
de campo e no Laboratório de Tecnologia de Cultivo da UNIVALI.
Aos comparsas de triagens, Louisiane, Ivan e Jesus (Podicrê!) pela ajuda nos intermináveis
dias de triagem.
Ao pessoal de campo: Edinho, Renato, Erich (in memorian), Márcio, Robson, Tiago, Fafau,
Rodrigo, Luciano, Cláudia, Fé, Tati e a tantos que de alguma maneira ajudaram neste trabalho.
Às queridas Tereza e Zi, pelos cafezinhos, almoços e carinho em todos os momentos.
À Zenilda Bolzon, pelo incentivo.
À toda “família” LAM: Amanda, Bia, Cíntia, Danis, Guilherme, José, Lagosta, Leila, Lígia,
Luciana, Mari, Mônica, Natália e Rubén, pelo apoio.
Aos amigos Débora Cabral e Paulinho Horta pelos momentos agradáveis e principalmente pela
troca de “pensamentos”.
À Simone, por todas as horas de conversa e troca de idéias que fizeram parte deste trabalho,
também pela ética e competência profissional, paciência, correções, sugestões e apoio em
todos os momentos do desenvolvimento desta tese.
À Fungyi e Rose, amigas para TODAS as horas, pela ética, profissionalismo, apoio, aulas de
marketing, grande ajuda na discussão e elaboração deste trabalho e principalmente por serem
pessoas tão especiais.
Aos amigos manezinhos, companheiros para todas as horas, Cigano e Silvana.
À dona Kikinha e toda família, em especial às amigas e irmãs, Mika e Rie, pelo apoio,
compreensão, confiança e palavras de incentivo nos momentos mais necessários.
Ao Gladston, companheiro para todas as horas, pelo apoio incondicional e pela compreensão.
5
ÍNDICE
RESUMO GERAL......................................................................................................8
ABSTRACT ................................................................................................................9
CAPÍTULO I.............................................................................................................. 10
1 – PANORAMA INTERNACIONAL DO CULTIVO DE MACROALGAS .......11
2 – PANORAMA BRASILEIRO DO CULTIVO DE MACROALGAS ................ 14
3 – TÉCNICAS DE CULTIVO DE GRACILARIA.................................................. 16
4 – OBJETIVOS ....................................................................................................... 18
4.1 – OBJETIVOS GERAIS .......................................................................................... 18
5 – ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................... 18
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................20
CAPÍTULO II............................................................................................................25
RESUMO .................................................................................................................. 26
ABSTRACT .............................................................................................................. 27
1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................28
2 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 32
2.1 – O
S LOCAIS DE CULTIVO
.................................................................................... 32
2.2 – E
STRUTURA DE CULTIVO
................................................................................. 33
2.3 – O CULTIVO...................................................................................................... 34
2.4 – DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA G. DOMINGENSIS ......... 35
2.4.1 – Avaliação de diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo35
2.4.2 – Fixação das mudas às cordas de cultivo: técnicas de inserção e de
amarração .......................................................................................................... 35
2.4.3 – Diferentes espaçamentos entre mudas de G. domingensis nas cordas de
cultivo ................................................................................................................. 36
2.4.4 – Diferentes biomassas iniciais das mudas ................................................. 37
2.5 – A
VALIAÇÃO DO CULTIVO DE
G.
DOMINGENSIS AO LONGO DO PERÍODO
EXPERIMENTAL EM DIFERENTES DE PROFUNDIDADE E DE TEMPO DE CULTIVO
............. 37
2.6 – COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE G. DOMINGENSIS E G. CAUDATA
CULTIVADAS EM DIFERENTES PROFUNDIDADES E INTERVALOS DE TEMPO DE CULTIVO.. 38
2.7 – ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 38
3 - RESULTADOS....................................................................................................39
3.1 – DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA G. DOMINGENSIS ......... 39
3.1.1 – Avaliação de diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo39
3.1.2 – Fixação das mudas de G. domingensis às cordas de cultivo: técnicas de
inserção e de amarração..................................................................................... 42
3.1.3 – Diferentes espaçamentos entre mudas de G. domingensis nas cordas de
cultivo ................................................................................................................. 44
3.1.3.1 – Local 1 (Experimento novembro/2003)............................................. 44
3.1.3.2 – Local 2 (Experimento setembro/2003) .............................................. 47
3.1.4 – Diferentes biomassas iniciais das mudas (setembro/2004)....................... 49
6
3.2 – AVALIAÇÃO DO CULTIVO DE G. DOMINGENSIS AO LONGO DO PERÍODO
EXPERIMENTAL NO
L
OCAL
1
EM DIFERENTES PROFUNDIDADES E TEMPOS DE CULTIVO
52
3.2.1 – Cultivos com duração de uma semana ..................................................... 52
3.2.2 – Cultivos com duração de duas semanas................................................... 57
3.3 – AVALIAÇÃO DO CULTIVO DE G. DOMINGENSIS AO LONGO DO PERÍODO
EXPERIMENTAL NO LOCAL 2 EM DIFERENTES INTERVALOS DE PROFUNDIDADE E DE
TEMPO DE CULTIVO .................................................................................................. 62
3.3.1 – Cultivos com duração de uma semana ..................................................... 62
3.3.2 – Cultivos com duração de duas semanas................................................... 66
3.4 – COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE GRACILARIA DOMINGENSIS E
GRACILARIA CAUDATA CULTIVADAS EM DIFERENTES PROFUNDIDADES E TEMPOS DE
CULTIVO
.................................................................................................................. 71
4 – DISCUSSÃO ....................................................................................................... 75
4.1 – DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA DE CULTIVO PARA G. DOMINGENSIS ......... 75
4.2 – AVALIAÇÃO DO CULTIVO DE G. DOMINGENSIS AO LONGO DO TEMPO.................. 78
4.3 – COMPARAÇÃO DAS TAXAS DE CRESCIMENTO DE G. DOMINGENSIS E G. CAUDATA 79
5 – RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA UM BOM DESEMPENHO DO
CULTIVO .................................................................................................................80
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................81
CAPÍTULO III........................................................................................................... 86
RESUMO .................................................................................................................. 87
ABSTRACT .............................................................................................................. 88
1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................89
2 – MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 93
2.1 – AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DE ÁGAR DE G. DOMINGENSIS.... 94
2.2 – AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DE ÁGAR DE G. CAUDATA .......... 96
2.3 – COMPARAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS E G. CAUDATA EXTRAÍDO POR MEIO
DE DIFERENTES PROTOCOLOS.................................................................................... 96
2.4 – AVALIAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS EXTRAÍDO DE TALOS PROVENIENTES
DO BANCO NATURAL E DO CULTIVO (LOCAIS 1 E 2) AO LONGO DOS PERÍODOS
EXPERIMENTAIS
....................................................................................................... 96
2.5 – PROTOCOLO PARA A QUANTIFICAÇÃO DE 3,6-ANIDROGALACTOSE (MODIFICADO
DE MATSUHIRO, 1995 E SAITO, 1997) ................................................................ 97
2.6 – PROTOCOLO PARA QUANTIFICAÇÃO DE SULFATO (MODIFICADO DE SAITO, 1997)
............................................................................................................................... 97
2.7 – ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 97
3 - RESULTADOS....................................................................................................98
3.1 – AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DE ÁGAR DE G. DOMINGENSIS.... 98
3.2 – AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DE ÁGAR DE G. CAUDATA ........ 101
3.3 – COMPARAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS E G. CAUDATA EXTRAÍDO POR MEIO
DE DIFERENTES PROTOCOLOS
.................................................................................. 103
3.4 – AVALIAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS EXTRAÍDO DE MUDAS PROVENIENTES
DO BANCO NATURAL COLETADAS AO LONGO DO PERÍODO EXPERIMENTAL................ 105
3.5 – AVALIAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS EXTRAÍDO DE MUDAS PROVENIENTES
DO CULTIVO NO LOCAL 1 AO LONGO DO PERÍODO EXPERIMENTAL............................ 107
7
3.6 – AVALIAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS EXTRAÍDO DE MUDAS PROVENIENTES
DO CULTIVO NO
L
OCAL
2
AO LONGO DO PERÍODO EXPERIMENTAL
............................ 109
4 – DISCUSSÃO ..................................................................................................... 111
4.1 – AVALIAÇÃO DOS PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS 111
4.2 – AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS PARA EXTRAÇÃO DE ÁGAR DE G. CAUDATA ........ 118
4.3 – COMPARAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS E G. CAUDATA, EXTRAÍDO POR MEIO
DE DIFERENTES PROTOCOLOS.................................................................................. 119
4.4 – AVALIAÇÃO DO ÁGAR DE G. DOMINGENSIS EXTRAÍDO DE MUDAS PROVENIENTES
DO BANCO NATURAL E DOS CULTIVOS ..................................................................... 121
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 124
CAPÍTULO IV......................................................................................................... 130
1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 131
2 – SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS................................................... 132
ANEXO 1: DADOS AMBIENTAIS REFERENTES ÀS DATAS DOS
EXPERIMENTOS DE CULTIVO REALIZADOS DA ENSEADA DA
ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, FORNECIDOS PELO PROJETO OLHO
VIVO. ...................................................................................................................... 134
ANEXO 2: CAPÍTULO 15. AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE CULTIVO DE
GRACILARIA DOMINGENSIS (GRACILARIALES, RHODOPHYTA) NA
ENSEADA DE ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC: 211-226. . IN:
BRANCO, J. O. & MARENZI, A. W.C. (ORG.). BASES ECOLÓGICAS PARA
UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ESTUDOS DE CASO EM
PENHA, SC. EDITORA DA UNIVALI, ITAJAÍ, SC. .......................................... 140
ANEXO 3: TESTING OPEN-WATER CULTIVATION TECHNIQUES FOR
GRACILARIA DOMINGENSIS (RHODOPHYTA, GRACILARIALES) IN
SANTA CATARINA, BRAZIL. J. COASTAL RESEARCH (NO PRELO).......... 158
8
RESUMO GERAL
Inicialmente, os cultivos foram desenvolvidos empiricamente e voltados para a
produção de alimento humano. Mais tarde, com a descoberta da utilidade dos
ficocolóides, os cultivos passaram a ser realizados também para a produção de
biomassa para sua extração. Entretanto, sustentabilidade da indústria de macroalgas
reside em grande parte nos cultivos, uma vez que os bancos naturais não são
suficientes para atender a demanda crescente. Apesar do ágar estar presente nas
paredes celulares de espécies de Gracilaria, seu ágar não era explorado
comercialmente por apresentar características consideradas inadequadas pela
indústria. A descoberta de que a hidrólise alcalina dos grupos sulfato do ágar
aumentaria sua força de gel impulsionou a exploração comercial deste gênero. Assim,
espécies pertencentes ao gênero Gracilaria são cada vez mais empregadas para a
produção de ágar alimentício e a sua tem sido consideravelmente aumentada por meio
do desenvolvimento de técnicas de cultivo. Embora a explotação de macroalgas no
Brasil tenha se iniciado por volta de 1940, seu impacto social e econômico é reduzido.
Estudos sobre a viabilidade de cultivo de macroalgas foram realizados ao longo da
costa brasileira, com resultados positivos sobre o potencial de algumas espécies.
Apesar disso, o país ainda não possui cultivos de macroalgas em escala comercial.
Com base nestes antecedentes, o presente trabalho avaliou o desempenho do cultivo
no mar de Gracilaria domingensis e de G. caudata e caracterizou as propriedades do
seu ágar (rendimento e qualidade), na Enseada de Armação do Itapocoroy (Penha,
Santa Catarina). Os resultados mostraram que o sistema de cultivo testado para
ambas espécies é viável na Enseada. O ágar de G. domingensis extraído com CaCl
2
apresentou melhores rendimentos e teores de 3,6-anidrogalactose, enquanto a
extração com NaOH mostrou ser a mais adequada para G. caudata e ambas espécies
mostraram potencial como matéria-prima para extração de ágar alimentício.
9
ABSTRACT
Seaweed cultivation in the world began with empirical methodologies to propagate
some species utilized as food. Later on, with the discovery of a process to extract and
purify agar, it was soon realized that, because of the large volumes needed by a
growing industry this activity would only be sustainable if based on mariculture once
the natural beds were being depleted. Despite it was known that agar could also be
extracted from Gracilaria species, besides the traditional species of Gelidium, that
genus yielded a product with lower value. It was only after the discovery that an
alkaline treatment could remove part of the sulphate that reduced the gel strength, and
therefore improved the agar quality, that the commercial cultivation of Gracilaria
species really got momentum and developed continuously. Nowadays, most of the
agar produced in the world is based on Gracilaria spp. Although the exploitation of
seaweeds for agar production in Brazil started as early as 1940, up to now our
production is still very modest due to the limited biomass in the natural beds. Several
attempts to cultivate local Gracilaria spp. have been made, some of which with
promising results, but a real commercial mariculture never developed in Brazil so far.
Based on that we developed this project aiming at the development of viable
techniques to cultivate two species of Gracilaria common at the Enseada de Armação
do Itapocoroy (Penha, Santa Catarina): Gracilaria domingensis and G. caudata. We
also tested different protocols to better extract the agar from the selected species,
comparing their yields and quality. Our results show that with some adaptations of the
methodologies for cultivation and agar extraction utilized elsewhere it may be possible
to make this a viable alternative.
10
Capítulo I
Introdução geral
11
1 – PANORAMA INTERNACIONAL DO CULTIVO DE MACROALGAS
As macroalgas vêm sendo cultivadas séculos, com registros de atividades
de cultivo por volta de 1650 (OHNO & LARGO, 1998). Inicialmente, os cultivos foram
desenvolvidos empiricamente e voltados para a produção de alimento humano em
países com histórico no consumo de macroalgas marinhas como Japão, Coréia e
China (OOHUSA, 1993). Mais tarde, com a descoberta da utilidade dos ficocolóides
extraídos das macroalgas (ex. agaranas, carragenanas e alginatos), os cultivos
passaram a ser realizados também para a produção de biomassa para extração
destes ficocolóides. Atualmente, além destes usos, há também a utilização, em menor
escala, de macroalgas para outros fins, como fertilizantes e ração para animais,
embora esta biomassa em geral não seja proveniente de cultivos, uma vez que os
custos são considerados proibitivos para este tipo de utilização.
Assim, a biomassa algal para os mais diversos usos pode ter duas origens:
proveniente de bancos naturais, com a coleta sendo realizada diretamente nos bancos
ou nas praias (no caso das algas arribadas) e proveniente de cultivos. A
sustentabilidade da indústria de macroalgas reside em grande parte nos cultivos, uma
vez que os bancos naturais não são suficientes para atender a crescente demanda
que tem sido verificada nas últimas décadas, principalmente para a produção de
ficocolóides e para o uso na alimentação (CRITCHLEY, 1997; OLIVEIRA et al., 2000).
A Ásia é o maior mercado consumidor e é também o continente que mais
produz macroalgas, sendo a China o maior produtor (5.000.000 de toneladas úmidas,
representados principalmente por “kombu”, Laminaria japonica), seguido pela Coréia
do Sul (800.000 toneladas úmidas, 50% deste total representado por “wakame”,
Undaria pinnatifida) e pelo Japão (650.000 toneladas úmidas, sendo 75%
representado por “nori”, Porphyra spp.) (McHUGH, 2003). Os valores pagos por
tonelada seca destas macroalgas variam em torno de US$ 2.800 para kombu”, US$
6.900 para wakame” e US$ 16.000 para “nori” (McHUGH, 2003), atestando os altos
valores econômicos, especialmente desta última.
A movimentação financeira da indústria de macroalgas está estimada
atualmente em cerca de US$ 5,6 bilhões ao ano, sendo grande parte deste total
gerado pelos cultivos, principalmente de gêneros utilizados diretamente na
alimentação humana, como as algas pardas Laminaria e Undaria e a alga vermelha
Porphyra (WIKFORS & OHNO, 2001; McHUGH, 2003). Os maiores mercados
consumidores e produtores destes gêneros são os países asiáticos, notadamente
Japão, China e Coréia do Sul (CRITCHLEY, 1997). Entretanto, outros países também
12
vêm se destacando na produção comercial de macroalgas a partir de cultivos, como
Filipinas, Indonésia e Chile, embora nestes países a produção da biomassa algal
tenha como destino principal, a extração de seus ficocolóides (McHUGH, 2003). Além
disso, alguns países vêm desenvolvendo cultivos de espécies consumidas localmente
e embora não atinjam altos valores nem produções, comparáveis aos obtidos
naqueles países citados anteriormente, essas algas são importantes para movimentar
pequenos mercados, como é o caso de Cladosiphon okamuranus, cultivada e
consumida no Japão (TOMA, 1997) e de Caulerpa lentillifera, cultivada e consumida
nas Filipinas e no Japão (TRONO & TOMA, 1997).
Segundo WIKFORS & OHNO (2001), a base técnica para a mudança que
ocorreu nos últimos 50 anos da coleta em bancos naturais para o cultivo, passa em
geral pela sobre-explotação de alguns bancos, pelo aumento na demanda de matéria-
prima e também pelo avanço nas pesquisas científicas, que vieram esclarecer os
históricos de vida e as características fisiológicas e ecológicas de crescimento das
macroalgas marinhas de interesse econômico. Em vários casos, descobertas
científicas que possibilitaram avanços na aqüicultura de macroalgas marinhas não
foram motivadas por necessidades desta prática, mas por questões ecológicas ou
biológicas fundamentais (WIKFORS & OHNO, 2001). Por exemplo, Porphyra que teve
seu histórico de vida desvendado por K. Drew (DREW, 1954), o que permitiu o
desenvolvimento de técnicas adequadas para o cultivo desta importante macroalga
comestível, que atualmente movimenta cerca de US$ 1,5 bilhão só no mercado
japonês (McHUGH, 2003).
Assim, além da importância econômica e utilidade das macroalgas como
alimento, os polissacarídeos, extraídos da parede celular destes organismos também
passaram a apresentar importância, abrindo um novo horizonte na utilizão e
exploração das macroalgas marinhas. Destes polissacarídeos, ágar e carragenana
(extraídas de algas vermelhas) e alginato (extraído de algas pardas), são os
ficocolóides que possuem grande utilidade, especialmente nas indústrias alimentícia,
têxtil, de cosméticos, de papel, farmacêutica e de biotecnologia (JENSEN, 1993;
MATULEWICZ, 1996; McHUGH, 2003).
Apesar do ágar estar presente nas paredes celulares de espécies de Gracilaria
Greville, seu ágar não era explorado comercialmente por apresentar características
consideradas inadequadas pela indústria. Um avanço científico importante, que
impulsionou a exploração comercial deste gênero, foi a descoberta de que a hidrólise
alcalina dos grupos sulfato do ágar aumentaria sua força de gel (McHUGH, 2003). A
partir disso, muitos pesquisadores iniciaram trabalhos com espécies de Gracilaria
existentes em seus respectivos países, abordando aspectos fisiológicos, ecológicos,
13
técnicas e metodologias de cultivo e características do ágar, como seu rendimento e
sua qualidade, aumentando grandemente a quantidade de informações a respeito
deste gênero.
Entretanto, a indústria de ficocolóides apresenta altos e baixos em função da
concorrência com outros tipos de gomas, como aquelas de origem vegetal (goma
guar, LBG - locust bean gum e pectinas); de origem microbiana (goma xantana e
goma gelana); de origem animal (gelatina proveniente de pele e ossos de bovinos e
ovinos) e aquela artificialmente produzida (carboximetilcelulose CMC) (FURTADO,
1999). Desta forma, o mercado de ficocolóides é altamente dependente da produção e
do preço de outras gomas e por isso, a indústria está sempre buscando processos que
diminuam os custos de produção e/ou aumentem os rendimentos gerados por uma
dada espécie de macroalga.
Assim, espécies pertencentes ao gênero Gracilaria são cada vez mais
empregadas para a produção do ágar alimentício. Este gênero encontra-se
amplamente distribuído ao redor do mundo, com mais de 100 espécies descritas
(OLIVEIRA & PLASTINO, 1994). Sua grande importância econômica tem sido
fundamental na seleção de espécies a serem empregadas em sistemas de cultivo,
especialmente nos países em desenvolvimento, onde a renda per capita é baixa e a
mão de obra barata, permitindo a produção de biomassa algal por meio de cultivos a
custos mais reduzidos. A disponibilidade desta importante matéria-prima tem
aumentado consideravelmente tendo em vista o desenvolvimento crescente de
técnicas de cultivo (ARMISEN, 1995). Embora diversos países tenham realizado testes
para o cultivo de espécies deste gênero, até o momento poucos obtiveram tanto
sucesso nos cultivos em escala comercial, como Taiwan (SHANG, 1976; CHIANG,
1981), China (REN et al., 1984) e Chile (SANTELICES & UGARTE, 1987). Diferentes
abordagens metodológicas e espécies foram testadas ao redor do mundo, como por
exemplo, G. chilensis no Chile, cultivada geralmente, em fundos arenosos (OLIVEIRA
et al., 2000), G. gracilis na África, cultivada em estruturas suspensas (ANDERSON et
al., 2001) e G. tenuistipitata na China, cultivada em tanques (CHAOYUAN et al., 1993).
14
2 – PANORAMA BRASILEIRO DO CULTIVO DE MACROALGAS
Embora a explotação de macroalgas no Brasil tenha se iniciado por volta de
1940, o impacto social e econômico que tal atividade causa ainda é reduzido e está
restrito basicamente à região nordeste do país (OLIVEIRA, 1998). Estima-se que o
valor envolvido com o recurso “algas marinhas” no país não atinja US$ 10 milhões
anuais, sendo que 80% deste total corresponde ao valor das importações de algas e
produtos derivados e o restante, menos de US$ 2 milhões, corresponde à produção
nacional (OLIVEIRA & MIRANDA, 1998).
No litoral do Ceará, o cultivo de espécies de Gracilaria vem sendo realizado em
parceria com uma comunidade pesqueira, mostrando altas taxas de crescimento e
boas perspectivas para expansão (TEIXEIRA et al., 2002), sendo que a produção
deste cultivo es sendo comercializada, embora em pequena escala, para
indústrias nacionais de alimentos e de cosméticos (D. TEIXEIRA, com. pess.).
É relevante salientar que quanto à preocupação com a depleção dos bancos
naturais de espécies de Gracilaria, MIRANDA (2000) indicou que em alguns bancos do
litoral nordestino havia sinais claros de sobre-explotação, causado pelo manejo
inadequado.
LIMA et al. (1981) realizaram experimentos de cultivo de Gracilaria debilis
1
e G.
verrucosa no litoral do Rio Grande do Norte e obtiveram resultados promissores para
ambas, mostrando o grande potencial de crescimento em sistemas de cultivo em mar
aberto. Já nesta época, CÂMARA NETO (1987) mostrou preocupação com a depleção
dos bancos naturais existentes no litoral do Rio Grande do Norte, que já vinham sendo
explotados há mais de 10 anos, o que levou à realização de vários experimentos neste
estado, embora sem resultados muito promissores para o cultivo em escala comercial.
Mais recentemente, experimentos voltaram a ser realizados neste litoral, com cultivos
de G. caudata e de G. birdiae em estuários e em efluentes de cultivos de camarão
marinho, respectivamente, apresentando boas perspectivas para o crescimento das
algas em ambos sistemas testados (MARINHO-SORIANO et al., 2002a; b).
No litoral baiano, ACCIOLY & PAULA (2002) e ACCIOLY (2004) fizeram uma
análise de espécies de macroalgas vermelhas de importância econômica e
potencialmente importantes para cultivo e demonstraram a viabilidade de G. cornea e
de G. domingensis, selecionando a primeira como a melhor espécie para o sistema
testado.
1
A nomenclatura aqui citada respeita aquela apresentada nas publicações, sem atualizar eventuais
mudanças nomenclaturais.
15
No litoral de São Paulo, ASSAD-LUDEWIGS (1984) realizou experimentos de
cultivo em campo com G. cervicornis e G. verrucosa, demonstrando que G. verrucosa
possuía potencial para o cultivo em profundidade de até 4 m. OLIVEIRA et al. (1989)
testaram o cultivo em tanques de várias espécies de algas vermelhas, sendo três
agarófitas (G. verrucosa, G. chilensis e Pterocladiella capillacea) e quatro
carragenófitas (Gymnogongrus griffithsiae, Chondracanthus teedii, Hypnea
musciformis e Solieria filiformis). Dentre as espécies testadas, G. verrucosa mostrou
melhor crescimento, permanecendo em boas condições durante mais de sete meses
nos tanques, submetida a diferentes temperaturas. Embora os autores do trabalho
tenham concluído que este sistema não seria viável para um cultivo em escala
comercial, os experimentos demonstraram que G. verrucosa possuía um bom
potencial para cultivo.
Mais recentemente iniciou-se o cultivo de Kappaphycus alvarezii no litoral
sudeste e nordeste brasileiro, mas ainda não existem estimativas de produção nem de
valores movimentados por tal atividade (OLIVEIRA, 2005).
No litoral de Santa Catarina, CUNHA et al. (1999) avaliaram o crescimento e o
potencial de cultivo de G. caudata, G. domingensis e H. musciformis, espécies
abundantes no litoral norte deste estado. O cultivo no mar foi testado para G.
domingensis, apresentando altas taxas de crescimento e boas perspectivas para
maricultura. A partir destes resultados, PAZETO (2001) realizou experimentos de
cultivo com G. domingensis em balsa e no laboratório ao longo do ano, neste mesmo
local, demonstrando que as taxas de crescimento variaram entre 2,7 e 18,1 % dia
-1
,
corroborando os dados de CUNHA et al. (1999), de que a espécie possuía um grande
potencial para cultivo.
Apesar da existência de inúmeros estudos sobre a viabilidade de sistemas de
cultivo de macroalgas ao longo da costa brasileira e o registro de resultados positivos
sobre o potencial de cultivo, cabe salientar que no Brasil ainda não existem sistemas
de cultivo de macroalgas em escala comercial.
Um dos aspectos mais importantes ao se analisar a viabilidade do cultivo de
uma espécie, além da escolha da macroalga, é a seleção dos locais mais adequados
para o desenvolvimento para tal atividade. Em geral, espera-se que o local seja
conveniente para manter as estruturas de cultivo e que a espécie de interesse esteja
presente. Isso porque a presença indica que a espécie está bem adaptada às
condições hidrológicas do local, aumentando as chances do cultivo ser bem-sucedido,
como citado por LIMA et al. (1981) e OLIVEIRA & ALVEAL (1990), que afirmaram o
bom potencial para cultivo de linhagens de Gracilaria spp. selecionadas nos locais de
sua ocorrência natural. Ainda segundo LIMA et al. (1981), com relação à escolha do
16
local mais adequado ao cultivo, as características ambientais do local onde a espécie
será cultivada devem ser semelhantes àquelas encontradas em seu local de origem.
Problemas que poderão surgir com a aclimatação de uma espécie a um novo local,
baixas taxas de rendimento ou altas taxas de predação, por exemplo, podem
aumentar os custos ou mesmo inviabilizar o cultivo. Outros aspectos que devem ser
levados em consideração são o mercado consumidor que deve absorver esta
produção e os custos de transporte e de armazenagem do produto.
3 – TÉCNICAS DE CULTIVO DE
GRACILARIA
Em relação à metodologia empregada para cultivar Gracilaria em outros
países, na maioria dos experimentos realizados até o momento, o cultivo foi feito
levando-se em consideração a habilidade do gênero de se propagar vegetativamente.
Muitas vezes as linhagens mais produtivas são replicadas vegetativamente
propiciando uma seleção clonal. Apesar disso, em algumas situações, um cultivo
comercial não pode ser baseado somente em mudas fornecidas pelo banco natural,
devido ao risco de depleção do mesmo, sendo necessário desenvolver outras formas
de se obter biomassa para manter os cultivos. Desta forma, o cultivo a partir de
esporos mostra-se como uma alternativa viável, aumentando a biomassa disponível e
contribuindo para a variabilidade genética da espécie (ALVEAL et. al, 1997).
Evidentemente, tanto o cultivo a partir de esporos como os cultivos por propagação
vegetativa possuem vantagens e desvantagens (OLIVEIRA & ALVEAL, 1990), sendo
sugerida a utilização de ambas metodologias simultaneamente. Entretanto, antes do
investimento em cultivo por meio de esporos, que envolve mais tecnologia e custos,
faz-se necessário um estudo sobre a viabilidade de cultivo da espécie no local de
interesse, que pode ser efetuado a partir do cultivo de fragmentos.
Diversas formas foram testadas ao redor do mundo para cultivar Gracilaria a
partir de fragmentos: cultivos flutuantes, em balsas, gaiolas (GUANZON JR &
CASTRO, 1992) e long lines; cultivos semi-flutuantes, em balsas (LIMA et al., 1981;
RINCONES, 1989); cultivos fixos a determinada profundidade (SANTELICES et al.,
1993) ou com as mudas plantadas diretamente no sedimento e finalmente, cultivos em
tanques escavados em terra (CÂMARA NETO, 1987; MARINHO-SORIANO et al.,
2002b). Uma boa revisão sobre as diversas técnicas de cultivo pode ser encontrada
em OLIVEIRA et al. (2000).
No Brasil, CÂMARA NETO (1987) testou em tanques utilizados para o cultivo
de peixes, cordas de diferentes materiais para cultivar os talos de G. verrucosa (=G.
17
birdiae, E. OLIVEIRA, com. pess.) e G. cornea, em estruturas fixas ao substrato.
Nestes experimentos, as cordas de sisal e de nylon com mudas amarradas e as
cordas de polietileno com mudas inseridas na trama da corda de cultivo apresentaram
os melhores resultados, com taxas de crescimento variando entre 4 e 8 %.dia
-1
.
MARINHO-SORIANO et al. (2002b) testaram o cultivo semi-flutuante em pequenas
balsas, com talos de Gracilaria sp. inseridos na trama da corda de cultivo, em
efluentes de camarões e obtiveram taxas de crescimento variando entre 1,8 e 8,8
%.dia
-1
e uma produção estimada de 23,9 t.ha
-1
.ano
-1
em peso seco.
Outros experimentos têm testado a influência do espaçamento entre ramos e a
biomassa inicial a ser cultivada. SANTELICES et al. (1993) utilizaram diferentes
biomassas iniciais e espaçamentos entre as mudas de G. chilensis e concluíram que
baixas biomassas dispostas em pequenos intervalos cresceram mais do que mudas
com biomassas maiores e dispostas em espaçamentos maiores. Outros autores
também observaram resultados similares (GUANZON JR & CASTRO, 1992;
RINCONES, 1989), com taxas de crescimento mais altas em densidades mais baixas,
mas por outro lado, a produção foi maior nas densidades mais altas.
Como pode ser observado, diferentes técnicas de cultivo têm sido testadas
para espécies de Gracilaria, muitas das quais semelhantes às empregadas no cultivo
de Kappaphycus/Eucheuma (SMITH et al., 1984), baseando-se na propagação
vegetativa dos talos e fixação destes às cordas de cultivo. Com relação à maneira
como as mudas são fixadas às cordas de cultivo, duas formas têm sido citadas na
literatura: a técnica de amarração e a de inserção. No que diz respeito à disposição
das cordas, em geral, os cultivos de Gracilaria são planejados para serem realizados
em uma única profundidade (cultivos horizontais, fixos ou flutuantes) (SANTELICES et
al., 1993; ACCIOLY, 2004), entretanto alguns autores têm sugerido o cultivo vertical,
como forma de aumentar a produtividade dentro de uma dada área (WAKIBIA et al.,
2001).
18
4 – OBJETIVOS
4.1 – Objetivos gerais
1 - Avaliar o potencial de cultivo de Gracilaria domingensis e de Gracilaria caudata na
Enseada de Armação do Itapocoroy, Município de Penha, no Estado de Santa
Catarina.
2 Avaliar a quantidade (rendimento) e a qualidade (teor de 3,6-anidrogalactose e
sulfato) no ágar de Gracilaria domingensis e de Gracilaria caudata procedentes de
populações naturais e de cultivo.
5 – ÁREA DE ESTUDO
A Enseada de Armação do Itapocoroy localiza-se no Município de Penha,
Santa Catarina (26
o
47’S – 48
o
37’W, Fig. 1), caracterizando-se por ser uma região que
possui um padrão de ventos fracos durante a maior parte do tempo, com maior
freqüência de ventos provenientes de oeste, nordeste e sudoeste. Recebe
esporadicamente ondulações provenientes de leste, popularmente denominadas de
“lestadas”, sendo este o sistema mais energético que atua na dinâmica sedimentar da
enseada, danificando ocasionalmente as estruturas de cultivo de mexilhões. As
correntes na região apresentam normalmente valores inferiores a 0,1 m.s
-1
(SCHETTINI et al., 1999).
O Município de Penha é o maior centro de mitilicultura catarinense, cultivando
principalmente o mexilhão Perna perna e no ano 2000 produziu 3.500 toneladas de
mariscos o que correspondeu a 1/3 da produção nacional (MARENZI & BRANCO,
2006), sendo a Enseada de Armação do Itapocoroy um dos maiores parques de
cultivo do Município.
Esta enseada foi escolhida por apresentar várias características favoráveis tais
como: abundância de G. domingensis e de G. caudata, monitoramento semanal das
características físico-químicas da enseada, realizado pela Universidade do Vale do
Itajaí (UNIVALI), entrosamento entre a Universidade e a Associação de Maricultores,
aptidão natural de parte da população para maricultura e pelo apoio logístico fornecido
pelo Centro Experimental de Maricultura da UNIVALI (Campus V).
19
Figura 1: Localização geográfica da Enseada de Armação do Itapocoroy (Município de
Penha) no litoral norte do Estado de Santa Catarina, selecionada para os experimentos
de cultivo de espécies de Gracilaria.
20
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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25
Capítulo II
Cultivo de Gracilaria domingensis
e de Gracilaria caudata na Enseada de Armação do
Itapocoroy (Penha, Santa Catarina)
26
RESUMO
O gênero Gracilaria é hoje a principal fonte de matéria-prima para a produção de
ágar além de seu uso como alimento humano. O gênero está representado no Brasil
por cerca de vinte espécies, algumas com bom potencial para a maricultura e
utilização industrial. No entanto, apesar de várias tentativas de cultivo, não passamos
da escala piloto e ainda explotamos os bancos naturais. No litoral de Santa Catarina
ocorrem quatro espécies de Gracilaria, das quais as mais abundantes são G.
domingensis e G. caudata. Este trabalho procurou avaliar a viabilidade do cultivo
destas duas espécies testando várias alternativas metodológicas, tais como posição
dentro da enseada, profundidade, tempo de cultivo, técnicas de fixação das mudas
aos cabos de cultivo, espaçamento entre mudas e biomassa inicial. Os experimentos
foram feitos na Enseada de Armação do Itapocoroy, Município de Penha, Santa
Catarina. G. domingensis apresentou melhor desempenho de cultivo em
profundidades de até 2 m, em intervalos de 1 a 2 semanas de cultivo, com
espaçamento entre mudas maior que 5 cm e mudas de até 5 g, tanto através da
inserção como da amarração das mudas nas cordas de cultivo. As taxas de
crescimento relativo de G. domingensis e G. caudata ao longo de 4 semanas
demonstram que ambas espécies podem ser potencialmente cultivadas na enseada,
sendo que em condições climáticas apropriadas, com mar calmo e sem vento forte,
ambas mostraram crescimento similar, permitindo estimativas de produtividade
semelhantes àquelas recomendadas para cultivo do tipo familiar. O presente estudo
reúne informações originais e fundamentais que servirão de base para o
estabelecimento do cultivo de G. domingensis e G. caudata no litoral sul do Brasil,
indicando que através de metodologias adequadas ambas espécies apresentam
perspectivas favoráveis, pelo menos de um ponto de vista tecnológico, para se iniciar
um cultivo comercial.
27
ABSTRACT
The genus Gracilaria is today the main source of raw material for agar
production in the world, besides its utilization as human food. The genus is represented
in Brazil by around 20 species, some of that with good potential for mariculture and
industrial exploitation. Nevertheless, although several attempts to mariculture Gracilaria
in Brazil none succeed at a commercial level we still utilize natural populations as
source of raw material for the local industry. Four species of Gracilaria have been
identified in the Santa Catarina littoral, which G. domingensis and G. caudata are the
most abundant and promising ones. In this chapter we tested several methodological
approaches such as position in the bay, cultivation depth, time in the sea, attachment
techniques of the cuttings on the rope, number and initial biomass of cuttings per meter
of rope, aiming the development of a successful methodology to mariculture of both
species at Enseada de Armação do Itapocoroy, Penha Municipality, Santa Catarina
State. In general, G. domingensis presented better performance at cultivation depth up
to 2 m, for periods of 1-2 weeks in the sea, with distances between cuttings longer than
5 cm, with innocula up to 5 g and both tested attachment techniques of the cuttings.
The relative growth rates of G. domingensis and G. caudata for periods of four weeks
indicated that both species are potencial to be cultivated in the bay, and that with the
appropriate conditions of weather, calm sea and absence of strong winds, they showed
a similar performance and attained a productivity acceptable for small enterprises. This
study is one of the few works that evaluated the cultivation performance of G.
domingensis and G. caudata in the Brazilian Southern coast exhibiting that the
estabilished cultivation technologies as well as selected species could be utilized to
plan a pilot cultivation system aiming a commercial level.
28
1 – INTRODUÇÃO
As macroalgas marinhas são ecologicamente importantes por constituírem o
primeiro elo da cadeia trófica nos ambientes onde ocorrem e possuem importância
para o homem por serem utilizadas há séculos como fonte de alimento, ração animal e
fertilizantes (GRAHAM & WILCOX, 2000). Nos países com tradição na sua utilização
na alimentação, o cultivo das espécies consumidas logo se tornou uma necessidade,
fazendo com que a atividade se iniciasse de forma empírica, com registros que datam
do século XVII (HANISAK, 1998; OHNO & LARGO, 1998). Outra utilidade das
macroalgas marinhas para o homem refere-se aos seus ficocolóides. As agaranas e
carragenanas, extraídas de algas vermelhas, e os alginatos, extraídos de algas
pardas, são os ficocolóides que apresentam importância econômica, sendo utilizados
nas indústrias alimentícia, têxtil, de cosméticos, de papel, farmacêutica e de
biotecnologia (JENSEN, 1993; MATULEWICZ, 1996; McHUGH, 2003).
Levando-se em consideração todos os aspectos da exploração econômica
deste recurso marinho, a indústria de macroalgas gera cerca de US$ 6 bilhões/ano,
dos quais aproximadamente US$ 5 bilhões são representados por produtos
alimentícios para consumo humano (HANISAK, 1998). A Ásia é sem dúvida a maior
produtora, mas América do Sul e África vêm despontando na produção de macroalgas
marinhas para consumo humano e para a extração de ficocolóides (OLIVEIRA et al.,
2000; WIKFORS & OHNO, 2001).
A maior parcela da produção de macroalgas para consumo humano é
proveniente de cultivos, produzidos principalmente na China, Coréia e Japão. As algas
como um grupo representam a terceira maior produção em aqüicultura, após peixes de
água doce e moluscos (FAO, 2004), o que demonstra sua grande importância social e
econômica.
Dentre as macroalgas que apresentam importância econômica, encontra-se o
gênero Gracilaria Greville, cujas espécies são utilizadas para extração de ágar,
consumidas diretamente como alimento humano ou empregadas como ração para
animais cultivados (peixes, ouriços e moluscos) (AJISAKA & CHIANG, 1993; CHOW et
al., 2001). Este gênero é amplamente distribuído ao redor do mundo, com mais de 100
espécies descritas (OLIVEIRA & PLASTINO, 1994), sendo bastante avaliado em
sistemas de cultivos (OLIVEIRA et al., 2000), especialmente nos países em
desenvolvimento, onde esta atividade se apresenta como uma alternativa econômica
para as comunidades litorâneas.
29
Como os estoques naturais não são suficientes para manter níveis sustentáveis
de biomassa de Gracilaria, tanto para consumo direto como para matéria-prima para a
indústria de ficocolóides (OLIVEIRA et al., 2000), pesquisadores de vários países têm
desenvolvido diferentes técnicas para o cultivo de espécies deste gênero, com
metodologias que dependem tanto da espécie como do local escolhido para cultivá-la.
Embora o cultivo do gênero Gracilaria tenha sido testado em vários países até o
momento, somente alguns obtiveram sucesso nesta atividade e passaram para uma
escala comercial, especialmente na Ásia (China, Indonésia, Tailândia e Vietnam),
África (Namíbia) e América do Sul (Chile) (HANISAK, 1998; OLIVEIRA et al., 2000;
WAKIBIA et al., 2001). Das espécies cultivadas destacam-se G. tenuistipitata, G.
gracilis e G. chilensis (OLIVEIRA et al., 2000). O caso mais expressivo de sucesso do
cultivo de uma espécie de Gracilaria é sem dúvida, o do Chile, onde no ano de 2002
foram produzidas 126.183 toneladas de G. chilensis, sendo que o cultivo respondeu
por quase 57% deste total (ALVEAL, 2006).
Diferentes abordagens experimentais e/ou comerciais têm sido desenvolvidas para
o cultivo de Gracilaria (OLIVEIRA et al., 2000). Cultivos em laboratório podem
responder a questões fisiológicas, ecológicas e biológicas e também servir como meio
para selecionar linhagens com características de interesse econômico. Cultivos em
tanques, embora sejam extremamente produtivos, possuem custos muito elevados,
sendo indicados por alguns autores somente como forma de aumentar a biomassa de
uma linhagem de interesse (OLIVEIRA et al., 1989), servindo como ponte entre o
laboratório e o mar. Cultivos em “piscinas”, normalmente escavadas em regiões
estuarinas, são utilizados com sucesso em algumas partes do mundo, como na China
(OLIVEIRA & ALVEAL, 1990), contudo, tal sistema de cultivo não obteve sucesso no
Brasil. Cultivos no mar exigem menor investimento financeiro, quando comparados
aos sistemas de cultivos já mencionados, mas não permitem o controle de fatores
ambientais.
Segundo WESTERMEYER et al. (1993), a maior dificuldade do cultivo no mar
está exatamente em obter uma produção sustentável em um ambiente que muda
constantemente. As produtividades obtidas em diversos estudos mostram que, em
geral, os cultivos realizados no mar apresentaram valores mais baixos, quando
comparados a sistemas de cultivo em tanques e “piscinas” (OLIVEIRA & ALVEAL,
1990), mas tal produtividade é compensada pela menor necessidade de investimento
financeiro. Embora exista esta imprevisibilidade ambiental, o cultivo de diversas
espécies de macroalgas está bem estabelecido em muitos países, mostrando que a
atividade de maricultura de macroalgas pode ir além de uma fonte alternativa de
30
renda, uma vez que em vários casos tornou-se um dos ramos mais bem sucedidos da
maricultura mundial (FAO, 2004).
No litoral brasileiro estão presentes várias macroalgas de interesse econômico
e embora muitos experimentos tenham sido feitos, especialmente com espécies de
Gracilaria (LIMA et al., 1981; CÂMARA NETO, 1987; OLIVEIRA et al., 1989; CUNHA
et al., 1999; PAZETO, 2001; ACCIOLY & PAULA, 2002; MARINHO-SORIANO et al.,
2002a, b; TEIXEIRA et al., 2002; ACCIOLY, 2004), o país ainda não conta com
cultivos comerciais. Atualmente, alguns dos experimentos de cultivo que estão em
desenvolvimento no Brasil são bastante promissores, como o de G. cornea cultivada
em sistema aberto na Bahia (ACCIOLY, 2004), de G. birdiae cultivada em efluentes de
camarão no Rio Grande do Norte (MARINHO-SORIANO et al., 2002b) e de Gracilaria
sp. no Ceará (TEIXEIRA et al., 2002), demonstrando que o cultivo de macroalgas
marinhas pode se tornar uma alternativa para aumentar a renda de comunidades
pesqueiras litorâneas.
Gracilaria domingensis (Sonder ex Kützing) Dickie ocorre no litoral brasileiro
desde o Estado do Ceará até Santa Catarina (OLIVEIRA, 1977). Esta espécie possui
importância do ponto de vista econômico como alimento humano, já que tem sido
coletada esporadicamente e exportada para o mercado alimentício japonês
(OLIVEIRA, 1998). Embora esta espécie tenha sido testada no sistema de cultivo-
piloto no Estado da Bahia (ACCIOLY, 2004), e em estudos preliminares realizados em
Santa Catarina por CUNHA et al. (1999) e PAZETO (2001), a espécie ainda não teve
sua viabilidade de cultivo avaliada.
Gracilaria caudata J. Agardh distribui-se desde o Estado do Maranhão até
Santa Catarina (OLIVEIRA, 1977; BELLORIN, 2002). Apesar de ser coletada em
grandes quantidades no nordeste brasileiro para extração de ágar alimentício
destinado ao mercado nacional (OLIVEIRA & MIRANDA, 1998), existem poucas
informações sobre o cultivo desta espécie. Estudos realizados por ASSAD-
LUDEWIGS (1984) e por OLIVEIRA et al. (1989) e mais recentemente por MARINHO-
SORIANO et al. (2002a), mostraram que a espécie possui potencial para cultivo,
entretanto, não existem experimentos que avaliem a sua viabilidade de cultivo no sul
do Brasil.
Para a avaliação da viabilidade de produção de macroalgas em sistemas de
cultivos suspensos no mar, alguns aspectos importantes relacionados à metodologia
devem ser analisados, como por exemplo, a técnica para fixação das mudas às cordas
de cultivo, o tamanho das mudas e o espaçamento entre elas, selecionando aquelas
metodologias onde a relação custo/benefício é a melhor. Além disso, um aspecto
importante a ser avaliado diz respeito à utilização de metodologias que permitam
31
maximizar a produção dentro de uma área, como por exemplo, o aproveitamento da
coluna d’água (cultivos verticais), em oposição aos cultivos realizados em uma única
profundidade (cultivos horizontais). Outro aspecto que deve ser levado em
consideração é a influência das variações sazonais nas condições ambientais sobre
as taxas de crescimento e a produtividade do sistema de cultivo. Todos estes aspectos
são importantes quando se avalia a viabilidade de cultivo de uma espécie e a resposta
a estas diferentes abordagens metodológicas dependerá da espécie estudada e
também do local selecionado para a implantação do cultivo.
Além disso, como em qualquer atividade de aqüicultura, para que o cultivo de
macroalgas alcance sucesso é importante levar em consideração a qualidade
ambiental do local do cultivo, que a sustentabilidade econômica da atividade é
totalmente dependente das características ambientais. Outro aspecto importante é o
engajamento da comunidade local com tal atividade (ACCIOLY, 2004).
Assim, o cultivo de G. domingensis na Enseada de Armação do Itapocoroy,
litoral norte do Estado de Santa Catarina, foi planejado a partir dos estudos
preliminares desenvolvidos por CUNHA et al. (1999) e por PAZETO (2001), que
demonstraram que a espécie possuía um bom desempenho em cultivo. Além de G.
domingensis, G. caudata foi selecionada em função de sua possível utilização
econômica, sua presença na Enseada e pela falta de informações sobre o cultivo
desta espécie no litoral sul brasileiro.
A Enseada de Armação do Itapocoroy foi escolhida por apresentar algumas
particularidades, além da presença das duas espécies: grande produção de mexilhões
cultivados (por este motivo, é monitorada diariamente pelo Laboratório de Educação
Ambiental da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI), facilidades logísticas
oferecidas pelo Laboratório de Tecnologia de Cultivo (Campus V da UNIVALI),
localizado nesta Enseada e o engajamento da comunidade local com a maricultura.
Desta forma, este trabalho teve como objetivo geral avaliar o efeito de
diferentes condições e técnicas de cultivo sobre as taxas de crescimento de G.
domingensis e G. caudata cultivadas na Enseada de Armação do Itapocoroy, em dois
locais, tendo como objetivos específicos:
I – Avaliar diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo para G.
domingensis;
II Analisar diferentes técnicas e materiais de fixação das mudas de G. domingensis
às cordas de cultivo em três intervalos de profundidade;
III Testar diferentes espaçamentos entre mudas de G. domingensis nas cordas de
cultivo em três intervalos de profundidade;
32
IV Avaliar diferentes biomassas iniciais de G. domingensis em diferentes intervalos
de profundidade;
V Analisar as taxas de crescimento de G. domingensis ao longo do período
experimental em dois locais, em diferentes intervalos de profundidade e de tempo de
cultivo;
VI - Comparar as taxas de crescimento de mudas de G. domingensis e G. caudata
cultivadas em diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo.
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 – Os locais de cultivo
As algas foram coletadas em um banco natural raso, localizado na Ponta da
Cruz, na Enseada de Armação do Itapocoroy (Penha, SC; Fig. 1). Os experimentos de
cultivo foram realizados em dois locais na Enseada: Local 1 e Local 2. O Local 1 era
mais interno, próximo à praia e dentro da área de cultivo de mexilhões, menos sujeito
a ressacas e a correntes mais fortes. O Local 2 estava situado na porção externa da
Enseada, mais distante da praia, com pouca atividade de maricultura, caracterizando-
se por ser menos abrigado, quando comparado ao Local 1, e por isso mais sujeito a
ressacas, correntes mais fortes e “lestadas” (ventos fortes vindos de leste) (Fig. 1).
Os dados ambientais diários (direção e força do vento e condição do mar) para
a Enseada foram gentilmente cedidos pelo Laboratório de Educação Ambiental da
UNIVALI para o período de 05/09/02 a 19/03/04 (Anexo 1).
33
Figura 1: Localização geográfica da Enseada de Armação do Itapocoroy no litoral norte
do Estado de Santa Catarina, indicando a posição do banco natural e dos Locais 1 e 2 de
cultivo.
2.2 – Estrutura de cultivo
O cultivo de G. domingensis e G. caudata foi planejado para empregar a mesma
estrutura de long line utilizada no cultivo dos mexilhões, pelo fato de os maricultores
estarem habituados a lidar com este tipo de estrutura e também para otimizar o uso da
área, evitando conflitos na sua utilização. As cordas de cultivo de Gracilaria
constituíram-se em estruturas em forma de “U” com 3 metros de comprimento de cada
lado, com uma barra de ferro presa à parte inferior da corda, à qual foram fixados
anéis de chumbo, que auxiliaram na manutenção da submersão das cordas (Fig. 2).
Empregou-se o termo long line para designar cabos longos suspensos,
estrutura de cultivo utilizada para o cultivo de mexilhões. Como este termo é
tradicionalmente utilizado tanto por pesquisadores como por maricultores, optou-se por
sua manutenção neste trabalho. Cada long line foi constituído por uma corda de
aproximadamente 100 m de comprimento à qual foram amarradas diversas bóias,
responsáveis pela flutuabilidade da estrutura. As extremidades dos long lines foram
amarradas a poitas, que os mantiveram fixos em sua posição.
34

5, 10 ou
20 cm






5, 10 ou
20 cm





Figura 2: Estrutura utilizada nos cultivos. As cordas de cultivo de Gracilaria foram
amarradas ao long line, cuja flutuabilidade foi dada por grandes bóias. Nas cordas de
cultivo, tanto a profundidade máxima (2 ou 3 m) como o espaçamento entre as mudas (5,
10 ou 20 cm) variaram de acordo com o objetivo do experimento.
2.3 – O cultivo
Mudas saudáveis e sem estruturas de reprodução aparentes foram triadas,
limpas, secas em papel toalha e pesadas em balaa de precisão (0,001 g).
Utilizaram-se mudas de aproximadamente 10 cm de comprimento, com biomassa
inicial de 2 a 8 g por muda, dependendo da morfologia. Cada muda foi identificada e
fixada à corda de cultivo em posições previamente determinadas, utilizando-se as
técnicas de inserção ou de amarração.
As mudas foram cultivadas em intervalos de tempo de 1 a 4semanas, em
profundidades entre 0,2 e 3,0 m, com espaçamento de 5, 10 ou 20 cm entre cada
muda. Para facilitar as comparações dos experimentos, as mudas cultivadas foram
agrupadas em três intervalos de profundidade: entre 0,2 e 1,0 m, que será
referenciado no texto como “primeiro metro”; entre 1,2 e 2,0 m, que será referenciado
no texto como “segundo metro”; e entre 2,2 e 3,0 m, que será referenciado como
“terceiro metro”.
Seis cordas de cultivo foram preparadas para cada intervalo de tempo de
cultivo. Após o intervalo de tempo de cultivo, as cordas foram coletadas e procedeu-se
à limpeza das mudas, que depois foram secas com papel toalha e pesadas, com a
mesma metodologia utilizada no início do experimento.
35
2.4 – Desenvolvimento de tecnologia de cultivo para G. domingensis
2.4.1 – Avaliação de diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo
Este experimento foi realizado no Local 2 no período entre 05/09 e 03/10/02 (4
semanas), com o objetivo de se avaliar o efeito de diferentes intervalos de
profundidades e de tempo de cultivo sobre as taxas de crescimento de G.
domingensis. Para isso, 24 cordas foram preparadas com mudas inseridas na trama
da corda com espaçamento de 20 cm entre cada muda. Avaliaram-se 36 mudas no
primeiro metro de profundidade (0 a 1,0 m), 30 mudas no segundo (1,2 a 2,0 m) e 30
mudas no terceiro (2,2 a 3,0 m) para cada semana de cultivo. A cada semana seis
cordas sorteadas aleatoriamente foram coletadas e levadas ao laboratório para
proceder a triagem.
2.4.2 – Fixação das mudas às cordas de cultivo: técnicas de inserção e de
amarração
Este experimento foi realizado no Local 2 no período de 04/04 a 11/04/03, com o
objetivo de se avaliar o efeito de diferentes técnicas e materiais utilizados para a
fixação das mudas às cordas de cultivo sobre as taxas de crescimento de G.
domingensis cultivada em dois intervalos de profundidade. Para isso, foram avaliadas
duas técnicas (inserção e amarração, Fig. 3) e três tipos de materiais (fitilho, saco
plástico e fio de algodão). Foram preparadas 6 cordas de cultivo para cada
metodologia a ser testada (inserção, amarração com fitilho, amarração com saco
plástico e amarração com fio de algodão), com espaçamento de 20 cm entre cada
muda. Neste experimento, foram avaliadas 30 mudas no primeiro metro (0,2 a 1,0 m) e
30 mudas no segundo (1,2 a 2,0 m), para cada metodologia testada. As cordas de
cultivo foram dispostas aleatoriamente no long line. O tempo necessário para a
preparação das cordas de cultivo em cada metodologia foi cronometrado a fim de se
avaliar sua viabilidade em um sistema de cultivo.
36
A
B
A
B
Figura 3: cnicas de fixação das mudas de Gracilaria domingensis às cordas de cultivo.
A: Técnica de inserção; B: Técnica de amarração.
2.4.3 Diferentes espaçamentos entre mudas de G. domingensis nas cordas de
cultivo
Estes experimentos foram realizados com o objetivo de se avaliar o efeito de
diferentes espaçamentos entre mudas, em três intervalos de profundidade sobre as
taxas de crescimento de G. domingensis. A avaliação foi realizada no período de
27/11 a 04/12/03 no Local 1 e no período de 25/09 a 02/10/03 no Local 2. Por uma
impossibilidade logística para realizar este experimento nos dois locais
simultaneamente, optou-se pela realização da comparação entre os espaçamentos em
cada local separadamente.
Foram preparadas 6 cordas de cultivo para cada espaçamento testado: 5 cm
(E5), 10 cm (E10) e 20 cm (E20), os quais foram equivalentes a 20, 10 e 5 mudas por
metro linear de corda de cultivo, respectivamente (Fig. 4). As mudas foram cultivadas
em três intervalos de profundidade: 0,2 a 1,0 m (primeiro metro); 1,2 a 2,0 m (segundo
metro) e 2,2 a 3,0 m (terceiro metro). As cordas de cultivo foram dispostas
aleatoriamente no long line.
A avaliação do cultivo no Local 1 foi realizada por meio da análise de 30 mudas
em cada um dos três intervalos de profundidade para E20, 60 mudas para E10 e 120
mudas para E5. No Local 2 foram analisadas apenas 6 mudas no primeiro metro para
cada um dos três espaçamentos. No segundo e terceiro metros foram analisadas 60
mudas para E10 e 120 mudas para E5. O menor número de mudas analisadas no
primeiro intervalo de profundidade foi devido a alta taxa de epifitismo verificada nesta
época do ano.
37
E5 E10 E20E5 E10 E20
Figura 4: Aspecto das cordas de cultivo com diferentes espaçamentos entre as mudas
de Gracilaria domingensis. (E5: espaçamento de 5 cm entre mudas; E10: espaçamento
de 10 cm; E20: espaçamento de 20 cm).
2.4.4 – Diferentes biomassas iniciais das mudas
Este experimento foi realizado no Local 1, com duração de oito dias (01/09 a
09/09/03), com o objetivo de se avaliar o efeito de diferentes biomassas iniciais nas
taxas de crescimento de G. domingensis cultivada em três intervalos de profundidade.
Para isso, foram preparadas 6 cordas de cultivo para cada biomassa inicial (B2: 2 g;
B5: 5 g; B8: 8 g), com espaçamento de 20 cm entre cada muda. Neste experimento
foram avaliadas 30 mudas em cada um dos três intervalos de profundidade para cada
biomassa inicial testada. A disposição das cordas de cultivo no long line foi aleatória.
2.5 Avaliação do cultivo de
G. domingensis
ao longo do período experimental
em diferentes de profundidade e de tempo de cultivo
A avaliação do cultivo de G. domingensis foi realizada no Local 1 no período de
16/05/03 a 21/08/04 e no Local 2 no período de 05/09/02 a 21/08/04. Os experimentos
foram realizados com o objetivo de avaliar os efeitos de diferentes intervalos de
profundidade, tempo e locais de cultivo sobre as taxas de crescimento de G.
domingensis. Nesta fase, a mesma metodologia foi empregada em ambos locais em
todos os experimentos: as mudas foram cultivadas em três intervalos de profundidade
entre 0,2 e 3,0 m (primeiro, segundo e terceiro metros), inseridas nas cordas de
cultivo, com espaçamento de 20 cm entre cada uma, por intervalos de tempo de 1 e 2
semanas. Seis cordas de cultivo foram preparadas para cada semana de cultivo, que
foram sorteadas aleatoriamente no momento da coleta. Entre 25 e 50 mudas foram
avaliadas em cada um dos três intervalos de profundidade a cada semana.
38
2.6 Comparação das taxas de crescimento de G. domingensis e G. caudata
cultivadas em diferentes profundidades e intervalos de tempo de cultivo
Este experimento foi realizado no Local 1 com duração de 4 semanas (18/07 a
14/08/03) com o objetivo de se comparar as taxas de crescimento de G. domingensis
e G. caudata cultivadas simultaneamente em diferentes intervalos de profundidade.
Para isso, foram preparadas 24 cordas de cultivo para cada espécie, nas quais as
mudas foram inseridas com espaçamento de 20 cm entre cada uma. Para cada
espécie, foram avaliadas 30 mudas em cada intervalo de profundidade (primeiro,
segundo e terceiro metros). A disposição das cordas de cultivo no long line foi
aleatória. A cada semana de cultivo, seis cordas de cultivo para cada espécie foram
sorteadas aleatoriamente e retiradas do mar para análise.
2.7 – Análise dos dados
A partir dos dados obtidos para cada muda (peso inicial e final, em gramas),
calculou-se a Taxa de Crescimento Relativa (TCR, %.dia
-1
), utilizando-se a fórmula
(DAWES, 1998):
TCR (%.dia
-1
) = [(Pf Pi)/ Pi]/t x 100%, onde Pi= peso inicial (g), Pf = peso
final (g), t= intervalo de tempo entre as medidas (dias).
As comparações foram feitas de duas formas: a primeira, TCR Obtida, onde
todas as taxas, inclusive as negativas (mudas com perda de biomassa) foram
consideradas e a segunda, TCR Potencial, em que as taxas negativas foram
descartadas (somente as mudas que efetivamente cresceram foram consideradas).
Além destas taxas, foi calculado o percentual de mudas com perda de
biomassa em cada intervalo de profundidade, por meio da fórmula:
Percentual de mudas com perda de biomassa (%) = [(ni-nf) x 100%]/ni,
onde; ni= número inicial de mudas; nf= número final de mudas.
Outro parâmetro calculado foi a Produtividade Estimada (PE, dada em
tonelada.hectare
-1
.ano
-1
, em peso úmido), a partir da fórmula:
PE (t.ha
-1
.ano
-1
)= Produção de biomassa (tonelada) x número de cordas de
cultivo em um hectare x número de semanas (ano)
A produção de biomassa foi obtida por meio da média da produção das mudas
em cada intervalo de tempo do cultivo, convertida para tonelada. Para se calcular o
número de cordas de cultivo considerou-se que em um hectare poderiam ser dispostos
50 long lines com uma distância de 2 m entre cada um. Como em um long line seria
possível instalar 250 cordas de cultivo de Gracilaria, em um hectare poderiam ser
instaladas 12.500 cordas de cultivo. Caso a distância entre os long lines fosse
diminuída para 1,5 ou 1 m, o número de long lines em um hectare aumentaria,
39
possibilitando um aumento proporcional no número de cordas de cultivo dentro da
área de um hectare (18.750 e 25.000, respectivamente). Estes cálculos adicionais
foram feitos porque estas distâncias entre os long lines podem ser factíveis para o
cultivo de Gracilaria. O número de semanas foi 52, quando considerado o intervalo de
tempo de cultivo de 1 semana e 26, quando considerado o intervalo de tempo de
cultivo de 2 semanas.
Assim, a PE refletiu o incremento de biomassa (convertido em tonelada),
calculada para cada intervalo de profundidade em cada intervalo de tempo de cultivo
avaliado, dentro de um hectare em um ano.
Os dados foram analisados estatisticamente por meio de análise de variância.
(programa Statistica, versão 5.0). O teste a posteriori de Tukey foi aplicado quando foi
observada diferença significativa (p<0,05) (ZAR, 1999).
3 - RESULTADOS
3.1 – Desenvolvimento de tecnologia de cultivo para G. domingensis
3.1.1 – Avaliação de diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo
Neste experimento foi verificado que as mudas cultivadas junto à superfície da
água (0 m) apresentaram TCR negativas, evidenciando a grande probabilidade de
quebra dos talos. Por este motivo, esta profundidade foi excluída nos experimentos
posteriores e desta forma, a menor profundidade passou a ser 0,2 m.
As médias das TCR Obtidas para as mudas cultivadas durante 1 semana nos
dois primeiros metros de profundidade foram as mais elevadas (Fig. 5A), com valores
de 3,3 %.dia
-1
no primeiro metro de profundidade e 7,1 %.dia
-1
no segundo metro. Para
2 semanas de cultivo, (Fig. 5B), as taxas foram bastante baixas se comparadas
àquelas da primeira semana. para intervalos de tempo de 3 e 4 semanas, as TCR
Obtidas foram negativas em todas as profundidades testadas (Fig. 5C e D,
respectivamente).
A análise das TCR Obtidas para cada um dos intervalos de tempo
separadamente mostrou diferença significativa somente na primeira semana de cultivo
(p= 0,012), tendo as mudas cultivadas no segundo metro (entre 1,2 e 2,0 m) crescido
mais que aquelas cultivadas no terceiro metro (entre 2,2 e 3,0 m) de profundidade (p=
0,010). Para 2, 3 e 4 semanas de cultivo, as TCR Obtidas não mostraram diferenças
significativas entre as profundidades.
40
A comparação entre os intervalos de tempo de cultivo para uma mesma
profundidade restringiu-se às duas primeiras semanas de cultivo, nas quais ocorreram
TCR Obtidas positivas. As TCR Obtidas no segundo metro de cultivo foram
significativamente diferentes (p=0,000) entre os tempos de cultivo (1 semana e 2
semanas), não sendo detectada diferença significativa no primeiro e terceiro metros.
A fragmentação das mudas e a perda de biomassa foram observadas durante
o experimento. O percentual de mudas com perda de biomassa (biomassa final menor
que a inicial) aumentou conforme o tempo de cultivo, chegando a 100% de mudas com
perdas em 4 semanas (Tab. 1). Devido a esta fragmentação, as TCR Obtidas foram
mais baixas do que as TCR Potenciais (Fig. 5).
As médias mais elevadas (porém sem diferença significativa) das TCR
Potenciais foram observadas para mudas cultivadas durante 1 semana nos dois
primeiros metros de profundidade (Fig. 5A). Médias elevadas das TCR Potenciais
também foram observadas para 2 semanas de cultivo no primeiro metro de
profundidade (Fig. 5B) e para 3 semanas nos dois primeiros metros de profundidade
(Fig. 5C).
Comparando-se a duração do cultivo, não houve diferença significativa nas
TCR Potenciais, nem para o primeiro nem para o segundo metro de profundidade. No
terceiro metro, houve diferença significativa nas taxas entre 1 e 2 semanas de cultivo
(p= 0,043).
Comparando-se as TCR Potenciais das diferentes profundidades para cada um
dos intervalos de tempo separadamente, houve diferença significativa entre as
profundidades na primeira semana de cultivo (p= 0,000), sendo que apenas as mudas
cultivadas no segundo metro apresentaram TCR Potencial maior que aquelas
cultivadas no terceiro metro de profundidade (p= 0,013). Para duas semanas de cultivo
também houve diferença significativa entre as profundidades (p= 0,000), tendo as
mudas cultivadas no primeiro metro crescido mais que aquelas cultivadas no segundo
(p= 0,030) e terceiro metro de profundidade (p= 0,015). Para 3 e 4 semanas de cultivo
não houve diferenças significativas nas TCR Potenciais entre as profundidades.
41
A
-8
-4
0
4
8
12
16
Intervalo de profundidade(m)
TCR (%.dia
-1
)
0 ,2 - 1, 0
1, 2 - 2, 0 2,2 - 3,0
B
-8
-4
0
4
8
12
16
Intervalo de profundidade (m)
TCR (%.dia
-1
)
0,2 - 1,0 2 ,2 - 3,01, 2 - 2, 0
C
-8
-4
0
4
8
12
16
Intervalo de profundidade (m)
TCR (%.dia
-1
)
0 ,2 - 1,0 1, 2 - 2,0 2,2 - 3,0
D
-8
-4
0
4
8
12
16
Intervalo de profundidade (m)
TCR (%.dia
-1
)
0,2 - 1,0 1,2 - 2,0 2,2 - 3,0
Figura 5: Taxas de Crescimento Relativo (TCR, %.dia
-1
) Obtidas (barras pretas) e
Potenciais (barras cinzas) de Gracilaria domingensis cultivada durante 1 (A), 2 (B), 3 (C)
e 4 semanas (D) em três intervalos de profundidade.
Tabela 1: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa em intervalos de tempo de 1 a 4 semanas em três intervalos de profundidade.
Intervalos de
profundidade
1 semana 2 semanas 3 semanas 4 semanas
0,2 – 1,0 m 19,4 30,6 77,8 100,0
1,2 – 2,0 m
3,3 40,0 90,0 96,7
2,2 – 3,0 m
13,3 53,3 96,7 100,0
Com relação à produtividade estimada (PE), esta foi calculada somente para 1 e 2
semanas de cultivo (Tab. 2). Para um sistema de cultivo com long lines distanciados
em 2 m (12.500 cordas) e considerando a somatória de todos os intervalos de
profundidade, a PE integrada foi de 1,96 t.ha
-1
.ano
-1
para mudas cultivadas durante 1
semana e de 0,48 t.ha
-1
.ano
-1
para mudas cultivadas durante 2 semanas (Tab. 2).
Estas estimativas aumentam proporcionalmente ao aumento do número de cordas de
cultivo, podendo chegar a PE integrada de 3,92 t.ha
-1
.ano
-1
para mudas cultivadas
durante 1 semana e de 0,95 t.ha
-1
.ano
-1
para mudas cultivadas durante 2 semanas
(Tab. 2).
42
Tabela 2: Produtividade estimada (PE, t.ha
-1
.ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 e 2 semanas nos diferentes intervalos de profundidade.
PE 1 = distância de 2 m entre long lines; PE 2= distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 =
distância de 1 m entre long lines.
Tempo de
cultivo
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m 0,74 1,11 1,48
1,2 – 2,0 m 1,12 1,68 2,24
1 semana
2,2 – 3,0 m
0,10 0,15 0,20
Integrado 1,96 2,94 3,92
0,2 – 1,0 m
0,41 0,61 0,81
2 semanas
1,2 – 2,0 m
0,07 0,10 0,14
Integrado 0,48 0,71 0,95
3.1.2 Fixação das mudas de G. domingensis às cordas de cultivo: técnicas de
inserção e de amarração
Não houve diferença significativa nos valores das TCR, tanto para as Obtidas (5,5 a
8,9 %.dia
-1
) quanto para as Potenciais (8,3 a 10,6 %.dia
-1
), entre as diferentes técnicas
de fixação da alga à corda de cultivo para algas cultivadas no primeiro metro de
profundidade (Fig.6A). Apesar disto, houve uma tendência de menores valores para as
algas inseridas (Fig. 6A). No segundo metro de profundidade esta tendência de
menores valores foi ressaltada (Obtidas variando de 2,9 a 7,5 %.dia
-1
e Potenciais
variando de 6,2 a 9,0 %.dia
-1
) (Fig. 6B), e as algas inseridas na corda apresentaram
valores de TCR Obtidas significativamente menores que aquelas amarradas com fitilho
(FIT, p= 0,029) e saco plástico (SP, p= 0,014). (Figura 6B). Não foi observada
diferença significativa das TCR Potenciais no segundo metro.
A
0
4
8
12
16
INS FIT SP ALG
Método ou material utilizado
TCR (%.dia
-1
)
B
0
4
8
12
16
INS FIT SP ALG
Método ou material utilizado
TCR (%.dia
-1
)
Figura 6: Taxas de Crescimento Relativo (TCR, %.dia
-1
) Obtidas (barras pretas) e
Potenciais (barras cinzas) de Gracilaria domingensis cultivada durante 1 semana no
primeiro (A) e segundo metros de profundidade (B), cujas mudas foram inseridas (INS)
ou amarradas com diferentes tipos de materiais: FIT = fitilho; SP = saco plástico; ALG =
fio de algodão.
43
As mudas fixadas às cordas de cultivo por meio da técnica de amarração,
comparando qualquer um dos materiais (fitilho, saco plástico ou fio de algodão), foram
as que apresentaram menores percentuais de perda de biomassa, entre 6,7 e 16,7%,
quando comparadas àquelas fixadas pelo método de inserção (Tab. 3). A elevada
perda de biomassa pelas algas inseridas foi responsável pelos menores valores de
TCR para as algas fixadas por esta técnica (Fig. 6A e 6B).
Tabela 3: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana em dois intervalos de profundidade, cujas
mudas foram fixadas às cordas de cultivo com diferentes técnicas de fixação.
Intervalos de
profundidade
Inseridas Amarradas
Fitilho
Amarradas
Saco plástico
Amarradas
Fio de algodão
0,2 – 1,0 m
20,0 6,7 10,0 10,0
1,2 – 2,0 m 27,5 10,0 10,0 16,7
Neste experimento, a técnica de amarração, para qualquer um dos materiais
testados, proporcionou os valores mais elevados de PE (Tab. 4). Dentre estas, a PE
mais elevada foi observada para a técnica de amarração com algodão no primeiro
metro e para a técnica de amarração com fitilho no segundo metro (Tab. 4).
Em um sistema de cultivo com long lines distanciados em 2 m (12.500 cordas
de cultivo), com a técnica de inserção a PE integrada foi de 3,01 t.ha
-1
.ano
-1
(Tab. 4).
Para a técnica de amarração, tais estimativas aumentaram para valores próximos de 5
t.ha
-1
.ano
-1
com o mesmo número de cordas de cultivo aumentasse (Tab. 4). Tais PE
poderiam até dobrar caso o número de cordas de cultivo (PE 2 e PE 3), chegando a
6,02 t.ha
-1
.ano
-1
com a técnica de inserção e a aproximadamente 10 t.ha
-1
.ano
-1
para a
técnica de amarração (Tab. 4).
Em relação ao tempo médio necessário para preparar as cordas de cultivo,
com a técnica de inserção foram necessários, em média, 6 minutos para cada corda.
Com a técnica de amarração com fitilho e fio de algodão, o tempo médio foi de 13
minutos e com saco plástico foi de 11 minutos.
44
Tabela 4: Produtividade estimada (PE, t ha
-1
ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 semana em dois intervalos de profundidade, cujas
mudas foram inseridas ou amarradas às cordas de cultivo com diferentes tipos de
materiais. PE 1 = distância de 2 m entre long lines; PE 2= distância de 1,5 m entre long
lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Técnica ou
material
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
1,91 2,87 3,82
Inserida
1,2 – 2,0 m
1,10 1,65 2,20
Integrado 3,01 4,52 6,02
0,2 – 1,0 m
2,90 4,36 5,81
Amarrada com
fitilho
1,2 – 2,0 m
2,16 3,24 4,32
Integrado 5,06 7,60 10,13
0,2 – 1,0 m
2,82 4,23 5,64
Amarrada com
saco plástico
1,2 – 2,0 m
2,05 3,08 4,10
Integrado 4,87 7,31 9,74
0,2 – 1,0 m
2,97 4,46 5,94
Amarrada com
fio de algodão
1,2 – 2,0 m
1,83 2,75 3,67
Integrado 4,80 7,21 9,61
3.1.3 Diferentes espaçamentos entre mudas de G. domingensis nas cordas de
cultivo
3.1.3.1 – Local 1 (Experimento novembro/2003)
No Local 1, que é o mais abrigado, os melhores desempenhos de G. domingensis
foram observados, tanto para as TCR Obtidas como para as TCR Potenciais, para as
mudas espaçadas em 5 e 10cm (Fig. 7).
Nos primeiros dois metros, tanto para as TCR Obtidas como para as Potenciais,
não houve diferença entre as mudas cultivadas em diferentes espaçamentos (E5, E10
e E20). No terceiro metro, as mudas cultivadas no maior espaçamento (E20)
mostraram TCR Obtidas menores que as mudas cultivadas no menor espaçamento
(E5) (p= 0,036), contudo não foram observadas diferenças para as TCR Potenciais.
45
A
-4
-2
0
2
4
6
8
10
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
B
-4
-2
0
2
4
6
8
10
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
C
-4
-2
0
2
4
6
8
10
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
Figura 7: Taxas de Crescimento Relativo (TCR, %.dia
-1
) Obtidas (barras pretas) e
Potenciais (barras cinzas) de Gracilaria domingensis cultivada no Local 1 durante 1
semana (novembro/2003), cujas mudas foram cultivadas no primeiro (A), segundo (B) e
terceiro metros de profundidade (C), com espaçamentos de 5, 10 e 20 cm entre mudas.
Cerca de 18 a 40% das mudas apresentaram perda de biomassa para os três
espaçamentos testados (Tab. 5). No último intervalo de profundidade esses
percentuais foram mais altos que 30% para E10 e E20 (Tab. 5).
A PE para este experimento mostrou valores elevados para E5 e E10, enquanto
E20 apresentou valores mais baixos (Tab. 6). Em um sistema de cultivo com long lines
distanciados em 2 m (12.500 cordas), PE integrada calculada foi de 9,78 t.ha
-1
.ano
-1
para E5; 4,48 t.ha
-1
.ano
-1
para E10 e 0,97 t.ha
-1
.ano
-1
para E20 (Tab. 6). A PE
46
integrada de E5 (20 mudas por metro) foi 10 vezes o valor estimado para E20 (5
mudas por metro) e o dobro do estimado para E10 (10 mudas por metro). (Tab. 6).
Tabela 5: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana no Local 1 no mês de novembro/2003 em três
intervalos de profundidade. E5 = espaçamento entre mudas de 5 cm; E10 = espaçamento
entre mudas de 10 cm; E20 = espaçamento entre mudas de 20 cm.
Intervalos de
profundidade
E5 E10 E20
0,2 – 1,0 m
29,4 20,0 16,7
1,2 – 2,0 m 18,3 28,0 26,7
2,2 – 3,0 m
25,8 32,0 43,3
Tabela 6: Produtividade estimada (PE, t.ha
-1
.ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis, cultivada durante 1 semana no Local 1 em diferentes intervalos de
profundidade e espaçamentos durante o mês de novembro/2003. PE 1 = distância de 2 m
entre long lines; PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre
long lines.
Espaçamento
entre mudas
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
2,51 3,76 5,02
5 cm
1,2 – 2,0 m 3,54 5,31 7,08
2,2 – 3,0 m
3,74 5,61 7,47
Integrado 9,78 14,68 19,57
0,2 – 1,0 m
1,97 2,95 3,93
10 cm
1,2 – 2,0 m
1,39 2,08 2,77
2,2 – 3,0 m 1,13 1,69 2,25
Integrado 4,48 6,71 8,95
0,2 – 1,0 m 0,39 0,58 0,78 20 cm
1,2 – 2,0 m
0,58 0,87 1,17
Integrado 0,97 1,45 1,95
47
3.1.3.2 – Local 2 (Experimento setembro/2003)
No Local 2, que foi o local mais afastado da costa, a distância entre as mudas não
influenciou nas TCR (tanto Obtidas como Potenciais) em nenhuma das profundidades
testadas, não sendo observadas diferenças significativas (Fig. 8) e G. domingensis
mostrou desempenho semelhante para os três espaçamentos. Estes três
espaçamentos o mostraram diferenças significativas nas TCR Obtidas e Potenciais
em nenhuma das profundidades, apesar de haver uma tendência de valores mais
elevados para E20, tanto para TCR Obtida como Potencial (Fig. 8).
Poucas mudas apresentaram perda de biomassa neste experimento, chegando a
quase 17% no caso onde ocorreu a maior perda, tendo sido E5 no primeiro metro
aquele que apresentou este percentual de perdas (Tab. 7).
Com relação à PE, os valores estimados foram altos, com as estimativas mais
elevadas para E5 (Tab. 8). Em um sistema de cultivo com 12.500 cordas, a PE
integrada seria de 16,06 t.ha
-1
.ano
-1
para E5; 7,35 t.ha
-1
.ano
-1
para E10 e 5,02 t.ha
-
1
.ano
-1
para E20, com valores estimados mais altos para maiores números de cordas
de cultivo (PE 2 e PE 3) (Tab. 8). A estimativa de E5 (20 mudas por metro de corda)
foi pouco mais que o dobro da estimativa de E10 (10 mudas por metro de corda) e
pouco mais que três vezes o valor estimado para E20 (5 mudas por metro) (Tab. 8).
48
A
0
2
4
6
8
10
12
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
5 10 20
Espaçamento entre mudas (cm)
TCR (%.dia
-1
)
Figura 8: Taxas de Crescimento Relativo (TCR, %.dia
-1
) Obtidas (barras pretas) e
Potenciais (barras cinzas) de Gracilaria domingensis cultivada no Local 2 durante 1
semana (setembro/2003), cujas mudas foram cultivadas no primeiro (A), segundo (B) e
terceiro metros de profundidade (C), com espaçamento de 5, 10 e 20 cm entre mudas.
49
Tabela 7: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana no Local 2 (setembro/2003) em três intervalos de
profundidade. E5 = espaçamento de 5 cm entre mudas; E10 = espaçamento de 10 cm
entre mudas; E20 = espaçamento de 20 cm entre mudas.
Intervalos de
profundidade
E5 E10 E20
0,2 – 1,0 m 16,7 0,0 0,0
1,2 – 2,0 m
5,8 0,0 3,3
2,2 – 3,0 m
5,8 5,0 6,7
Tabela 8: Produtividade estimada (PE, t.ha
-1
.ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 semana no Local 2 em três intervalos de profundidade
em diferentes espaçamentos (setembro/2003). PE 1 = distância de 2 m entre long lines;
PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Espaçamento
entre mudas
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
0,37 0,55 0,73
5 cm
1,2 – 2,0 m 9,32 13,98 18,64
2,2 – 3,0 m
6,37 9,55 12,74
Integrado 16,06 24,08 32,11
0,2 – 1,0 m
0,44 0,66 0,88
10 cm
1,2 – 2,0 m
4,00 6,00 7,99
2,2 – 3,0 m 2,91 4,37 5,82
Integrado 7,35 11,02 14,69
0,2 – 1,0 m 0,64 0,96 1,27
20 cm
1,2 – 2,0 m
2,87 4,30 5,73
2,2 – 3,0 m
1,52 2,28 3,03
Integrado 5,02 7,53 10,04
3.1.4 – Diferentes biomassas iniciais das mudas (setembro/2004)
Os melhores desempenhos de G. domingensis foram observados tanto para as
TCR Obtidas quanto para as TCR Potenciais, para as mudas com biomassas iniciais
de 2 e 5 g nos dois primeiros metros (Fig. 9). No primeiro metro, B2 apresentou TCR
Obtida maior que B5 e que B8 (p= 0,000 para ambas comparações). No segundo
metro, B8 foi significativamente menor que B2, enquanto no terceiro metro não foi
observada diferença significativa entre as biomassas iniciais utilizadas. As TCR
Obtidas mais altas no primeiro metro de cultivo foram observadas para B2, enquanto
no segundo metro, B2 e B5 apresentaram valores próximos. B8 apresentou valores
baixos ou negativos em todas as profundidades testadas.
Com relação as TCR Potenciais, houve diferença significativa entre as
biomassas iniciais testadas dentro do primeiro (p= 0,012) e do segundo metros (p=
0,000). No primeiro metro, houve diferença entre B2 e B8 (p= 0,040) e no segundo,
50
houve diferença entre B2 e B8 (p= 0,001) e entre B5 e B8 (p= 0,007). As TCR
Potenciais mais altas no primeiro e no segundo metro de cultivo foram observadas
para B2 e B5, enquanto B8 apresentou os valores mais baixos nos três metros de
cultivo.
Com relação às mudas que apresentaram perda de biomassa, observou-se
percentuais mais elevados para mudas com biomassas iniciais maiores (Tab. 9). Os
percentuais menos elevados foram observados no segundo metro, independente da
biomassa inicial cultivada (Tab. 9).
A
-4
-2
0
2
4
6
8
10
2 5 8
Biomassa inicial (g)
TCR (%.dia
-1
)
B
-2
0
2
4
6
8
10
2 5 8
Biomassa inicial (g)
TCR (%.dia
-1
)
C
-4
-2
0
2
4
6
8
10
2 5 8
Biomassa inicial (g)
TCR (%.dia
-1
)
Figura 9: Taxas de Crescimento Relativo (TCR, %.dia
-1
) Obtidas (barras pretas) e
Potenciais (barras cinzas) de Gracilaria domingensis cultivada no primeiro (A), segundo
(B) e terceiro metros de profundidade (C), durante 1 semana no Local 1 com mudas de
diferentes biomassas iniciais (2, 5 e 8 g).
51
A PE mostrou valores mais elevados para B5 nos dois primeiros metros de cultivo
(Tab. 10). No último metro, a PE foi baixa para B5 (0,20 t.ha
-1
.ano
-1
) e nula para B2 e
B8, tendo sido também nula no primeiro metro de cultivo para B8 (Tab. 10). A PE
integrada para um sistema com 12.500 cordas foi de 4,10 t.ha
-1
.ano
-1
para B2; 6,98
t.ha
-1
.ano
-1
para B5 e apenas 2,59 t.ha
-1
.ano
-1
para B8 (Tab. 10).
Tabela 9: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana no Local 1 em três intervalos de profundidade e
com diferentes biomassas iniciais.
Intervalos de
profundidade
2 g 5 g 8 g
0,2 – 1,0 m
10,0 30,0 70,0
1,2 – 2,0 m
6,7 16,7 16,7
2,2 – 3,0 m
33,3 40,0 43,3
Tabela 10: Produtividade estimada (PE, t.ha
-1
.ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 semana no Local 1 em três intervalos de profundidade
e com diferentes biomassas inicias. PE 1 = distância de 2 m entre
long lines
; PE 2=
distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Biomassa
inicial
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
2,27 3,41 4,54
2 g
1,2 – 2,0 m
1,83 2,75 3,67
Integrado 4,10 6,16 8,21
0,2 – 1,0 m
3,49 5,24 6,99
5 g
1,2 – 2,0 m
3,29 4,93 6,57
2,2 – 3,0 m
0,20 0,31 0,41
Integrado
6,98 10,47 13,96
8 g 1,2 – 2,0 m
2,59 3,89 5,18
Integrado 2,59 3,89 5,18
52
3.2 Avaliação do cultivo de G. domingensis ao longo do período experimental
no Local 1 em diferentes profundidades e tempos de cultivo
3.2.1 – Cultivos com duração de uma semana
As taxas de crescimento de G. domingensis ao longo do período experimental
(maio/2003 a agosto/2004) foram muito variáveis (Fig. 10). As médias das TCR
Obtidas das mudas cultivadas durante 1 semana, no primeiro metro de profundidade
variaram de 0,6 (maio/2003) a 10,3 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig. 10A). No segundo
metro de profundidade as médias das TCR Obtidas ficaram entre –0,1 (maio/2004) e
9,3 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig. 10B) e no terceiro metro de profundidade, entre –1,3
(maio/2004) e 8,4 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig. 10C). No primeiro metro de
profundidade, as médias das TCR Obtidas foram positivas (Fig. 10A); no segundo
metro de profundidade, excetuando-se para o valor obtido em maio/2004, as médias
das TCR Obtidas foram positivas (Fig. 10B), sendo as taxas do primeiro metro mais
elevadas que aquelas do segundo metro. No terceiro metro, a maioria das médias das
taxas foi positiva, apesar dos baixos valores (Fig. 10C).
Embora tenham sido observadas diferenças significativas nas TCR Obtidas
entre alguns meses, não houve um padrão sazonal claramente definido para as taxas
de crescimento. Isto foi observado para todas as profundidades estudadas.
As TCR Potenciais das mudas cultivadas durante 1 semana foram muito
variáveis ao longo do período experimental (Fig. 11), apresentando um
comportamento semelhante ao observado para as TCR Obtidas. As médias das
mudas cultivadas no primeiro de profundidade metro de cultivo variaram entre 3,1
(novembro/2003) e 10,3 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig. 11). No segundo metro, as
médias das taxas ficaram entre 3,0 (agosto/2004) e 9,3 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig.
11B) e no terceiro metro, entre 1,9 (agosto/2004) e 8,4 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig.
11C).
Assim como observado para as TCR Obtidas, embora tenham sido observadas
diferenças significativas entre alguns meses, não foi possível determinar um padrão
sazonal na variação das TCR Potenciais ao longo do período experimental, em todas
as profundidades estudadas (Fig. 11).
53
A
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
B
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
C
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
Figura 10: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Obtidas (TCR Obtida,
%.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 1 semana no primeiro
(A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C) Local 1.
54
A
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
Figura 11: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Potenciais (TCR
Potencial, %.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 1 semana
no primeiro (A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C) no Local 1.
55
O percentual de mudas com perda de biomassa neste local mostrou, em geral,
valores menores que 30%, especialmente nos dois primeiros metros de profundidade
(Tab. 11).
A variação temporal da produtividade estimada (PE) no Local 1 encontra-se na
Tabela 12. Dos dez experimentos realizados neste local, para o intervalo de cultivo de
uma semana, nove experimentos tiveram a PE calculada, ou seja, a maioria dos
experimentos apresentou um saldo positivo. Destes, todos tiveram a PE avaliada para
o primeiro metro de profundidade, oito para o segundo intervalo de profundidade e
apenas quatro no último intervalo. Estes resultados traduzem a menor eficiência de
produção de biomassa no terceiro metro de profundidade.
Embora os valores de PE integrada tenham sido muito variáveis ao longo
período experimental, foi possível calcular produtividades acima de 5 t.ha
-1
.ano
-1
para
alguns períodos (maio/2003 e agosto/2004), chegando a 10,3 t.ha
-1
.ano
-1
(fevereiro/2004), mesmo na menor densidade de cordas (Tab. 12). Usando a maior
densidade de cordas, os valores máximos chegaram a 20,54 t.ha
-1
.ano
-1
(Tab. 12).
Tabela 11: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana no Local 1 ao longo de 2003/2004 em três
intervalos de profundidade.
Intervalos de profundidade
Data do
experimento
0,2 – 1,0 m 1,2 – 2,0 m 2,2 – 3,0 m
16/05/03
3,3 3,3
29/05/03 32,0 28,0 36,2
18/07/03
33,3 20,0 26,7
25/09/03
0,0 3,3 6,7
16/10/03
23,3 26,7 50,0
06/11/03 43,3 26,7 36,7
27/11/03
16,7 26,7 43,3
25/02/04
0,0 0,0 0,0
20/05/04
20,0 46,7 50,0
04/08/04 33,3 13,3 13,3
56
Tabela 12: Produtividade estimada (PE, t ha
-1
ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 semana no Local 1. PE 1 = distância de 2 m entre long
lines; PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Data do
experimento
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
2,86 4,29 5,72
1,2
2,0 m
2,30 3,44 4,59
16/05/03
Integrado 5,16 7,73 10,31
0,2 – 1,0 m
0,26 0,40 0,53
1,2
2,0 m
0,56 0,84 1,12
29/05/03
Integrado 0,82 1,24 1,65
0,2 – 1,0 m
1,35 2,03 2,70
1,2
2,0 m
1,15 1,72 2,30
2,2
3,0 m
0,37 0,55 0,73
18/07/03
Integrado 2,87 4,30 5,73
0,2 – 1,0 m
1,16 1,74 2,32
1,2
2,0 m
1,53 2,29 3,05
16/10/03
Integrado 2,69 4,03 5,37
0,2 – 1,0 m
0,80 1,20 1,60
1,2 – 2,0 m
1,09 1,63 2,18
2,2 – 3,0 m
0,70 1,05 1,40
06/11/03
Integrado 2,59 3,88 5,18
0,2 – 1,0 m
0,39 0,58 0,78
1,2 – 2,0 m
0,58 0,87 1,17
27/11/03
Integrado 0,97 1,45 1,95
0,2 – 1,0 m
3,85 5,77 7,69
1,2 – 2,0 m
3,43 5,15 6,86
2,2 – 3,0 m
2,99 4,49 5,99
25/02/04
Integrado 10,27 15,41 20,54
20/05/04 0,2 – 1,0 m 1,74 2,61 3,48
0,2 – 1,0 m
1,48 2,22 2,96
1,2
2,0 m
2,49 3,73 4,98
2,2
3,0 m
1,24 1,87 2,49
04/08/04
Integrado 5,21 7,82 10,43
57
3.2.2 – Cultivos com duração de duas semanas
As taxas de crescimento de G. domingensis cultivada durante 2 semanas ao
longo do período experimental (maio/2003 a agosto/2004) foram muito variáveis (Fig.
12). As médias das TCR Obtidas das mudas cultivadas durante 2 semanas, no
primeiro metro de profundidade variaram de –7,0 (novembro/2003) a 6,1 %.dia
-1
(maio/2003) (Fig. 12A). No segundo metro de profundidade as médias das TCR
Obtidas ficaram entre –6,9 (novembro/2003) e 4,0 %dia
-1
(maio/2003) (Fig. 12B) e no
terceiro metro, entre –7,7 (novembro/2003) e 2,3 %.dia
-1
(julho/2003) (Fig. 12C).
Em cada uma das profundidades testadas, houve diferença significativa para
as TCR Obtidas entre os meses (p= 0,000), mas, assim como para as mudas
cultivadas por 1 semana, não houve um padrão sazonal definido.
Excetuando-se o experimento de novembro/2003 no primeiro e no segundo
metros de profundidade, as médias das TCR Obtidas foram positivas (Fig. 12). No
terceiro metro de profundidade a maioria das médias das taxas foi negativa e, quando
apresentaram valores positivos, estes foram baixos (Fig. 12C). De maneira geral,
houve um decréscimo das TCR Obtidas com o aumento da profundidade (Fig. 12).
Assim como foi observado para as médias das TCR Obtidas, as médias das
TCR Potenciais gradualmente diminuíram do primeiro para o terceiro metro de
profundidade (Fig. 13). No primeiro metro de cultivo, as médias das TCR Potenciais
ficaram entre 3,4 (agosto/2004) e 12,9 %.dia
-1
(novembro/2003) (Fig. 13A). No
segundo metro, as médias variaram entre 2,9 (outubro/2003) e 14,8 %.dia
-1
(novembro/2003) (Fig. 13B) e no último metro, variaram entre 2,0 (maio/2004) e 4,3
%.dia
-1
(julho/2003) (Fig. 13C).
No primeiro metro de profundidade, os experimentos de maio/2003,
novembro/2003 e maio/2004 foram os que apresentaram as maiores TCR Potenciais e
não mostraram diferenças significativas entre estes. Os demais experimentos, que
mostraram valores mais baixos, não apresentaram diferenças significativas entre eles.
No segundo metro de profundidade, os mesmos experimentos citados acima
apresentaram os valores mais altos, com exceção de maio/2004, que não mostrou
diferença significativa também com as taxas observadas nos meses que apresentaram
as TCR Potenciais mais baixas. No último metro de profundidade, com exceção do
experimento realizado em julho/2003, não houve diferença nas TCR Potenciais entre
os meses. Apesar das diferenças de valores nas taxas entre alguns meses, não
observou-se um padrão sazonal definido para nenhuma das profundidades estudadas.
58
Os percentuais de mudas que perderam biomassa durante o período experimental
foram elevados nos experimentos realizados em novembro/2003 e maio/2004 (Tab.
13) o que correspondeu a um período com elevada freqüência de tempestades e
ressacas (Anexo 1). Nos demais experimentos, os valores observados não foram tão
elevados, mas foram superiores aos observados nos experimentos com duração de 1
semana.
A PE para os experimentos realizados no Local 1 para mudas cultivadas
durante 2 semanas encontra-se na Tabela 14. Dos seis experimentos realizados neste
local para o intervalo de cultivo de 2 semanas, cinco experimentos tiveram a PE
calculada, ou seja, dois terços dos experimentos apresentaram um saldo positivo.
Destes, todos tiveram a PE avaliada para o primeiro e segundo intervalos de
profundidade e apenas dois tiveram a PE avaliada no último intervalo (Tab. 14).
Embora as estimativas de produtividade sejam muito variáveis ao longo do ano,
foi possível obter, com a menor densidade de cordas, valores superiores 3 t.ha
-1
.ano
-1
em quatro experimentos (maio/2003, julho/2003, outubro/2003 e agosto/2004) e com
um máximo observado de 5,15 t.ha
-1
.ano
-1
em agosto/2004 (Tab. 14). Considerando-
se a máxima densidade de cordas, a máxima PE chega a 10,27 t.ha
-1
.ano
-1
(Tab. 14).
Tabela 13: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 2 semanas no Local 1 ao longo de 2003/2004 em três
intervalos de profundidade.
Intervalos de profundidade
Data do
experimento
0,2 – 1,0 m 1,2 – 2,0 m 2,2 – 3,0 m
16/05/03
3,0 30,0 -
18/07/03 20,0 20,0 26,7
16/10/03
10,0 10,0 40,0
06/11/03
96,7 96,6 -
20/05/04
43,3 53,3 73,3
04/08/04 36,7 13,3 20,0
59
A
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
B
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
C
-10
-5
0
5
10
15
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
Figura 12: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Obtidas (TCR Obtida,
%.dia
-1
) para mudas de
Gracilaria domingensis
cultivadas durante 2 semanas no primeiro
(A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C) no Local 1.
60
A
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
14
mar-03 mai-03 jul-03 set-03 nov-03 jan-04 mar-04 mai-04 jul-04 set-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
Figura 13: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Potenciais (TCR
Potencial, %.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 2 semanas
no primeiro (A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C) Local 1.
61
Tabela 14: Produtividade estimada (PE, t ha
-1
ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 2 semanas, no Local 1. PE 1 = distância de 2 m entre long
lines; PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Data do
experimento
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
2,66 3,98 5,31
1,2
2,0 m
1,20 1,81 2,41
16/05/03
Integrado 3,86 5,79 7,72
0,2 – 1,0 m
1,54 2,31 3,08
1,2
2,0 m
1,15 1,73 2,30
2,2
3,0 m
0,99 1,48 1,97
18/07/03
Integrado 3,68 5,51 7,36
0,2 – 1,0 m
1,99 2,98 3,97
1,2
2,0 m
1,12 1,68 2,25
16/10/03
Integrado 3,11 4,66 6,22
0,2 – 1,0 m
0,87 1,31 1,75
1,2
2,0 m
0,03 0,04 0,05
20/05/04
Integrado 0,90 1,35 1,80
0,2 – 1,0 m
0,66 0,99 1,31
1,2
2,0 m
3,08 4,62 6,15
2,2
3,0 m
1,40 2,10 2,80
04/08/04
Integrado 5,14 7,70 10,27
62
3.3 Avaliação do cultivo de G. domingensis ao longo do período experimental
no Local 2 em diferentes intervalos de profundidade e de tempo de cultivo
3.3.1 – Cultivos com duração de uma semana
As médias das TCR Obtidas para as mudas cultivadas durante 1 semana no
Local 2, avaliadas no período de setembro/2002 a agosto/2004, variaram de - 2,2
(maio/2003) a 5,7 %.dia
-1
(maio/2004) no primeiro metro de profundidade (Fig. 14A).
No segundo metro de profundidade as médias das TCR Obtidas ficaram entre -4,1
(maio/2003) e 7,1 %.dia
-1
(setembro/2002) (Fig. 14B) e no terceiro metro, as médias
variaram entre –2,9 (março/2003) e 3,5 %.dia
-1
(fevereiro/2004) (Fig. 14C).
No primeiro metro de profundidade somente três dos quatorze experimentos
mostraram médias das TCR Obtidas negativas; no segundo metro, 5 dos quatorze
experimentos realizados mostraram taxas negativas enquanto no terceiro metro, cinco
dos doze experimentos mostraram valores médios negativos (Fig. 14). De maneira
geral, houve uma tendência de redução nas médias das TCR Obtidas do primeiro para
o terceiro metro de profundidade.
Apesar de ter sido observada diferença significativa para as TCR Obtidas entre
os meses para todas as profundidades, (p= 0,000), não houve padrão sazonal
definido, da mesma forma que observado para o Local 1.
Assim como as médias das TCR Obtidas, aquelas das TCR Potenciais
gradualmente diminuíram do primeiro para o terceiro metro de profundidade (Fig. 15).
No primeiro metro, as médias das TCR Potenciais ficaram entre 2,2 (março/2003) e
8,4 %.dia
-1
(maio/2004) (Fig. 15A). No segundo metro de profundidade, as médias
variaram entre 1,8 (fevereiro/2003) e 7,7 %.dia
-1
(setembro/2002) (Fig. 15B) e no
terceiro, entre 1,8 (fevereiro/2003) a 4,7 %.dia
-1
(agosto/2003) (Fig. 15C). Não houve
tendência sazonal das TCR Potenciais em nenhuma das profundidades testadas,
apesar de variações dos valores de TCR entre os meses testados.
63
A
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
B
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
C
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
Figura 14: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Obtidas (TCR Obtida,
%.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 1 semana no primeiro
(A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C), no Local 2.
64
A
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
Figura 15: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Potenciais (TCR
Potencial, %.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 1 semana
no primeiro (A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C), no Local 2.
65
Os percentuais de mudas que apresentaram perda de biomassa durante o período
experimental encontram-se na Tabela 15. Embora muito variáveis, estes valores
ficaram abaixo de 50%, alcançando este percentual somente em cinco ocasiões. De
uma maneira geral, as perdas de biomassa no Local 2 foram superiores às perdas
observadas no Local 1.
Tabela 15: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 1 semana no Local 2 ao longo de 2002/2004 em três
intervalos de profundidades
Intervalos de profundidade
Data do
experimento
0,2 – 1,0 m 1,2 – 2,0 m 2,2 – 3,0 m
05/09/02 19,4 3,3 13,3
29/11/02
16,7 30,0 53,3
05/02/03
30,0 43,3 26,7
07/03/03
36,7 50,0 33,3
20/03/03
30,0 43,3 53,3
27/03/03
48,0 36,0 36,0
04/04/03
20,0 27,5 -
16/05/03
53,3 56,7 -
21/08/03 30,0 23,3 40,0
25/09/03
0,0 3,3 6,7
06/11/03
36,0 24,0 12,0
25/02/04
0,0 0,0 3,3
20/05/04 20,0 30,0 30,0
04/08/04
20,0 16,7 16,7
A PE para os experimentos realizados no Local 2 para mudas cultivadas
durante 1 semana encontra-se na Tabela 16. Dos quatorze experimentos realizados
neste local, dez tiveram a PE calculada, ou seja, mais de 80% dos experimentos
apresentaram um saldo positivo. Destes, nove tiveram a PE avaliada para o primeiro e
segundo intervalos de profundidade e sete tiveram a estimativa de produtividade
calculada no último intervalo de profundidade (Tab. 16).
Embora as estimativas de produtividade sejam muito variáveis ao longo do
período experimental, foi possível obter, para um sistema com 12.500 cordas, valores
de mais de 3 t ha
-1
ano
-1
em seis experimentos (abril, setembro e novembro/2003 e
fevereiro, maio e agosto/2004), com máximo chegando a até 5,4 t ha
-1
ano
-1
(Tab. 16).
Na maior densidade de cordas a estimativa chega a 10,8 t ha
-1
ano
-1
(Tab. 16).
66
Tabela 16: Produtividade estimada (PE, t ha
-1
ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 1 semana, no Local 2. PE 1 = distância de 2 m entre long
lines; PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Data dos
experimentos
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
0,74 1,11 1,48
1,2
2,0 m
1,12 1,68 2,24
2,2
3,0 m
0,10 0,15 0,20
05/09/02
Integrado 1,96 2,94 3,92
0,2 – 1,0 m 0,60 0,90 1,20
1,2
2,0 m
0,27 0,40 0,54
29/11/02
Integrado 0,87 1,30 1,74
05/02/03 0,2 – 1,0 m 0,08 0,13 0,17
0,2 – 1,0 m
1,91 2,87 3,82
1,2
2,0 m
1,10 1,65 2,20
04/04/03
Integrado 3,01 4,52 6,02
1,2 – 2,0 m
0,84 1,26 1,68
2,2
3,0 m
0,40 0,60 0,80
21/08/03
Integrado 1,24 1,86 2,48
0,2 – 1,0 m
0,64 0,96 1,27
1,2 – 2,0 m
2,87 4,30 5,73
2,2 – 3,0 m
1,52 2,28 3,03
25/09/03
Integrado 5,03 7,54 10,03
0,2 – 1,0 m
0,85 1,27 1,70
1,2 – 2,0 m
1,85 2,78 3,71
2,2 – 3,0 m
2,00 3,00 4,00
06/11/03
Integrado 4,70 7,05 9,41
0,2 – 1,0 m 1,75 2,63 3,50
1,2 – 2,0 m 1,68 2,52 3,36
2,2 – 3,0 m 1,41 2,11 2,82
25/02/04
Integrado 4,84 7,26 9,68
0,2 – 1,0 m
2,22 3,33 4,44
1,2 – 2,0 m
0,76 1,15 1,53
2,2 – 3,0 m
0,54 0,81 1,08
20/05/04
Integrado 3,52 5,29 7,05
0,2 – 1,0 m
1,96 2,93 3,91
1,2
2,0 m
1,68 2,52 3,36
2,2
3,0 m
1,75 2,63 3,50
04/08/04
Integrado 5,39 8,08 10,77
3.3.2 – Cultivos com duração de duas semanas
No Local 2, a maioria dos experimentos realizados mostrou valores negativos
para 2 semanas de cultivo (Fig. 16). Nos dois primeiros metros de profundidade,
somente três dos dez meses mostraram médias de TCR Obtidas positivas (Fig. 16A e
B) e no último intervalo de profundidade, somente um dos oito experimentos
67
realizados apresentou média positiva (Fig. 16C). Mesmo quando positivas, estas foram
muito baixas (Fig. 16C).
As médias das TCR Obtidas no primeiro metro de profundidade variaram de
6,1 (fevereiro/2003) a 4,1 %.dia
-1
(maio/2004) (Fig. 16A). No segundo metro as médias
ficaram entre -5,7 (novembro/2002) e 2,0 %.dia
-1
(maio/2004) e no terceiro metro,
entre –5,6 (novembro/2002) e 0,3 %.dia
-1
(maio/2004) (Fig. 16B e C, respectivamente).
A comparação das TCR Obtidas para este local ao longo do período experimental
mostrou diferença significativa para cada um dos três intervalos de profundidade
testados (p= 0,000 para cada uma das análises). Apesar disso, não foi possível
identificar um padrão sazonal para este local.
As médias das TCR Potenciais gradualmente diminuíram do primeiro ao último
metro de profundidade (Fig. 17). No primeiro metro, as médias das taxas ficaram entre
2,5 (maio/2003) e 7,0 %.dia
-1
(maio/2004) (Fig. 17A). No segundo metro as médias
variaram entre 0,9 (agosto/2004) e 6,4 %.dia
-1
(maio/2004) e no último metro de
profundidade, variaram de 0,4 (novembro/2002) a 4,5 %.dia
-1
(novembro/2003) (Fig.
17B e C, respectivamente).
A comparação das TCR Potenciais para este local ao longo do período
experimental mostrou diferença significativa para cada um dos três metros de
profundidade testados (p= 0,038 para o primeiro, p= 0,019 para o segundo e p= 0,020
para o último).
68
A
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
B
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
C
-20
-15
-10
-5
0
5
10
15
20
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Obtida (%.dia
-1
)
Figura 16: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Obtidas (TCR Obtida,
%.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 2 semanas no primeiro
(A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C), Local 2.
69
A
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
14
ago-02 out-02 jan-03 mar-03 jun-03 ago-03 out-03 jan-04 mar-04 jun-04 ago-04
TCR Potencial (%.dia
-1
)
Figura 17: Variação temporal das Taxas de Crescimento Relativo Potenciais (TCR
Potencial, %.dia
-1
) para mudas de Gracilaria domingensis cultivadas durante 2 semanas
no primeiro (A), segundo (B) e terceiro metros de profundidade (C), no Local 2.
Os percentuais de perda de biomassa neste local, para intervalo de cultivo de 2
semanas, mostraram-se bastante elevados, com a maioria dos experimentos
apresentando percentuais acima de 50% (Tab. 17). Estes valores são bastante
superiores aos observados para o Local 1, tanto para cultivos de 1 como de 2
semanas. São também superiores aos observados para cultivos de 1 semana neste
70
mesmo local. Estes valores que indicaram que este local seria pouco adequado para
cultivar G. domingensis por períodos de tempo mais longos.
Tabela 17: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis que apresentaram perda de
biomassa, cultivadas durante 2 semanas no Local 2 ao longo de 2002/2004 em três
intervalos de profundidade.
Intervalos de profundidade
Data do
experimento
0,2 – 1,0 m 1,2 – 2,0 m 2,2 – 3,0 m
05/09/02 30,6 40,0 53,3
29/11/02
93,3 96,7
04/12/02
80,0 76,7 66,7
05/02/03
90,0 76,7
30/04/03 33,3 43,3
16/05/03
86,7 83,3
21/08/03
53,3 80,0 90,0
06/11/03
80,0 83,3 73,3
20/05/04 26,7 40,0 56,7
04/08/04
86,7 96,7
A PE para os experimentos realizados no Local 2 encontra-se na Tabela 18.
Dos dez experimentos realizados neste local, para o intervalo de cultivo de 2 semanas,
apenas três tiveram a PE calculada, ou seja, menos de um terço dos experimentos
apresentaram saldo positivo. Estes três experimentos tiveram a PE avaliada para os
dois primeiros intervalos de profundidade e um no último intervalo.
As estimativas de produtividade foram muito variáveis e somente para o cultivo
de maio/2004 o valor foi acima de 2 t.ha
-1
.ano
-1
, para PE 1 (12.500 cordas de cultivo)
(Tab. 18).
71
Tabela 18: Produtividade estimada (PE, t ha
-1
ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis cultivada durante 2 semanas, no Local 2. PE 1 = distância de 2 m entre long
lines; PE 2 = distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 = distância de 1 m entre long lines.
Data dos
experimentos
Intervalos de
profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
0,2 – 1,0 m
0,41 0,61 0,81
1,2
2,0 m
0,07 0,10 0,14
05/09/02
Integrado 0,48 0,71 0,95
0,2 – 1,0 m
1,30 1,94 2,59
1,2
2,0 m
1,13 0,20 0,27
30/04/03
Integrado 1,43 2,14 2,86
0,2 – 1,0 m
1,33 2,00 2,67
1,2
2,0 m
0,77 1,16 1,54
2,2
3,0 m
0,11 0,17 0,23
20/05/04
Integrado 2,22 3,33 4,44
3.4 Comparação das taxas de crescimento de Gracilaria domingensis e
Gracilaria caudata cultivadas em diferentes profundidades e tempos de cultivo
G. domingensis e G. caudata apresentaram comportamentos bastante similares
com relação à profundidade e à duração do cultivo, não sendo possível observar
diferença significativa das TCR obtidas entre as duas espécies. Apesar disto, G.
caudata apresentou uma tendência TCR mais elevadas, no segundo e terceiro metro
de profundidade, em cultivos com duração de até 3 semanas (Fig. 18). Esta tendência
se deve, parcialmente, ao menor percentual de mudas com perda de biomassa para
esta espécie, como pode ser observado na Tabela 19.
Gracilaria domingensis apresentou médias de TCR Obtidas para variando entre
1,1 %.dia
-1
(4 semanas, primeiro metro de profundidade, Fig. 18A) e 4,7 %.dia
-1
(4
semanas, terceiro metro de profundidade, Fig. 18E). G. caudata apresentou médias de
TCR Obtidas variando entre 1,3%.dia
-1
(4 semanas, primeiro intervalo de profundidade
, Fig. 18A) e 5,0%.dia
-1
(3 semanas, segundo intervalo de profundidade, Fig. 18C). Os
valores de TCR Obtidas menos elevados para ambas espécies foram observados para
4 semanas de cultivo, no primeiro metro de profundidade (0,2 – 1,0 m).
Embora não tenha havido diferenças significativas nas TCR Obtidas entre os
tempos de cultivo, houve uma tendência de diminuição dos valores de TCR com o
aumento do tempo de cultivo para o primeiro metro. No segundo e terceiro metro
ocorreu o contrário, com aumento das TCR Obtidas com o aumento do tempo de
cultivo.
As médias das TCR Potenciais de G. domingensis variaram entre 3,3 (3
semanas de cultivo, no terceiro metro) (Fig. 18F) e 7,0 %.dia
-1
(4 semanas de cultivo,
72
no terceiro metro) (Fig. 18F). As médias das TCR Potenciais de G. caudata variaram
entre 2,6 (1 semana, no terceiro metro) (Fig. 18F) e 5,2 %.dia
-1
(2 semanas, no
segundo metro) (Fig. 18D).
Os percentuais de mudas de G. domingensis e de G. caudata que apresentaram
perda de biomassa nos diferentes intervalos de cultivo encontram-se na Tabela 19.
Em geral, G. domingensis apresentou maior número de algas com perda de biomassa
que G. caudata em todos os intervalos de profundidade e de tempo de cultivo. Os
maiores percentuais de perdas foram observados, em geral, para o primeiro metro de
profundidade e para 4 semanas de cultivo.
As PE para G. domingensis e G. caudata estão apresentadas na Tabela 20. G.
domingensis apresentou estimativas mais elevadas que G. caudata em todos os
intervalos de tempo de cultivo, em parte devido às diferenças nos valores iniciais de
biomassa, que foram de 2 a 4 g para G. domingensis e 1 a 3 g para G. caudata. Estas
diferenças de biomassas iniciais ocorreram devido à menor biomassa de G. caudata
para montagem do experimento. As maiores PE para G. domingensis ocorreram nos
cultivos com duração de 3 e 4 semanas, chegando a 5,4 t.ha
-1
.ano
-1
na menor
densidade de cordas e 10,7 t.ha
-1
.ano
-1
na maior densidade (Tab. 20). As maiores PE
para G. caudata ocorreram nos cultivos com duração de 2 e 3 semanas, chegando a
3,14 t.ha
-1
.ano
-1
na menor densidade de cordas e 6,2 t.ha
-1
.ano
-1
na maior densidade
(Tab. 20).
73
A
0
2
4
6
8
10
12
TCR Obtida (% dia
-1
)
B
0
2
4
6
8
10
12
TCR Potencial (% dia
-1
)
C
0
2
4
6
8
10
12
TCR Obtida (% dia
-1
)
D
0
2
4
6
8
10
12
TCR Potencial (% dia
-1
)
E
0
2
4
6
8
10
12
1 2 3 4
Intervalo de cultivo (semanas)
TCR Obtida (% dia
-1
)
F
0
2
4
6
8
10
12
1 2 3 4
Intervalo de cultivo (semanas)
TCR Potencial (% dia
-1
)
Figura 18: Taxas de Crescimento Relativo Obtidas (TCR Obtida, %.dia
-1
) e Potenciais
(TCR Potencial, %.dia
-1
) de Gracilaria domingensis (barras pretas) e G. caudata (barras
cinzas) cultivadas durante 1 a 4 semanas no primeiro (A, B), segundo (C, D) e terceiro
metro de profundidade (E, F), no Local 1.
74
Tabela 19: Percentual de mudas de Gracilaria domingensis e de G. caudata com perda de
biomassa, em intervalos de tempo de cultivo de 1, 2, 3 e 4 semanas em três intervalos de
profundidade.
Intervalos
de tempo
Intervalos de
profundidade
G. domingensis
G. caudata
0,2 – 1,0 m
33,3 6,7
1,2 – 2,0 m
20,0 10,0
1 semana
2,2 – 3,0 m 26,7 10,0
0,2 – 1,0 m
20,0 23,3
1,2 – 2,0 m
20,0 16,7
2 semanas
2,2 – 3,0 m
26,7 6,7
0,2 – 1,0 m 23,3 20,0
1,2 – 2,0 m
16,7 0,0
3 semanas
2,2 – 3,0 m
16,7 0,0
0,2 – 1,0 m 53,3 40,0
1,2 – 2,0 m
23,3 10,0
4 semanas
2,2 – 3,0 m
26,7 16,7
Tabela 20: Produtividade estimada (PE, t.ha
-1
.ano
-1
, peso úmido) de Gracilaria
domingensis em diferentes intervalos de tempo e de profundidade no Local 1. PE 1 =
distância de 2 m entre long lines; PE 2= distância de 1,5 m entre long lines; PE 3 =
distância de 1 m entre long lines.
Intervalos
de tempo
Profundidade
PE 1
(12.500 cordas)
PE 2
(18.750 cordas)
PE 3
(25.000 cordas)
G.domingensis
G.caudata
G.domingensis
G.caudata
G.domingensis
G.caudata
0,2 – 1,0 m
1,35 0,71
2,03 1,06
2,70 1,42
1,2 – 2,0 m
1,15 0,51
1,72 0,77
2,30 1,03
1 semana
2,2 – 3,0 m
0,37 0,60
0,55 0,89
0,73 1,19
Integrado
2,87 1,82
4,30 2,73
5,74 3,64
0,2 – 1,0 m
1,54 0,88
2,31 1,32
3,08 1,76
1,2 – 2,0 m
1,15 1,09
1,73 1,63
2,30 2,18
2
semanas
2,2 – 3,0 m
0,99 1,14
1,48 1,71
1,97 2,28
Integrado
3,68 3,11
5,52 4,66
7,36 6,22
0,2 – 1,0 m
1,61 0,85
2,41 1,28
3,22 1,71
1,2 – 2,0 m
2,07 1,24
3,11 1,87
4,15 2,49
3
semanas
2,2 – 3,0 m
1,14 1,02
1,71 1,53
2,29 2,03
Integrado
4,83 3,12
7,24 4,68
9,65 6,23
0,2 – 1,0 m
0,51 0,32
0,77 0,48
1,02 0,63
1,2 – 2,0 m
2,41 1,24
3,61 1,85
4,82 2,47
4
semanas
2,2 – 3,0 m
2,46 0,79
3,68 1,19
4,91 1,59
Integrado
5,38 2,35
8,06 3,52
10,75 4,69
75
4 – DISCUSSÃO
4.1 – Desenvolvimento de tecnologia de cultivo para G. domingensis
Um primeiro aspecto que deve ser levado em consideração quando se pensa
em empreendimentos de maricultura é a escolha de locais adequados para a espécie
em questão. Como exemplo, os locais selecionados para o cultivo de moluscos, um
dos grandes ramos da maricultura nacional, são enseadas e baías com mar calmo ao
mesmo tempo em que a circulação de água permita uma boa taxa de troca, condições
estas adequadas também para o cultivo de macroalgas.
Além disso, a viabilidade de cultivo para espécies de macroalgas depende
também da espécie alvo e diferentes abordagens metodológicas devem ser analisadas
visando a melhor produtividade do sistema.
Com este objetivo, este estudo avaliou diferentes tecnologias de cultivo, tais
como profundidade, tempo, técnica de fixação das mudas às cordas de cultivo,
espaçamento entre as mudas e biomassa inicial. Dentre estes experimentos, foi
verificado que as mudas cultivadas na superfície (0 m) estavam mais sujeitas à quebra
devido ao manejo do long line, resultando em TCR negativas. Por este motivo, esta
profundidade de cultivo foi excluída nos experimentos posteriores e sua utilização não
é recomendada neste sistema de cultivo para G. domingensis.
Em termos gerais, as médias das TCR Obtidas para G. domingensis foram
mais elevadas no primeiro e no segundo metro de cultivo, demonstrando que estas
profundidades foram as mais indicadas. Apesar do menor potencial de crescimento, o
terceiro metro pode também ser utilizado para o cultivo de G. domingensis,
particularmente nos meses de maior transparência da água. Mas, em termos de
custo/benefício (mão de obra e rendimento em biomassa), os dois primeiros metros
apresentam maior potencial.
Em situações de calmaria e de alta transparência, as estimativas de
produtividade considerando os três intervalos de profundidade, poderiam atingir os
valores sugeridos por SMITH et al. (1984), que reportaram uma produtividade de 5
t.ha
-1
.ano
-1
para G. domingensis cultivada em um sistema de cordas fixas entre
estacas presas a fundos arenosos, em uma área abrigada no Caribe. Tal
produtividade, segundo estes autores é indicada para um cultivo do tipo familiar.
Ao comparar a duração do cultivo observa-se que houve muita perda de
biomassa, particularmente a partir da segunda semana (acima de 30 %, ver Tab. 1).
Na primeira semana do cultivo, ocorreram dois dias de vento leste forte com mar bravo
76
(Anexo 1). Apesar da perda de biomassa neste período, as taxas de crescimento
ainda foram elevadas, variando de 1,4 a 7,1 %.dia
-1
(Fig. 5), sendo estes valores
semelhantes àqueles observados para outras espécies de Gracilaria em sistemas de
cultivo (Tab. 22).
As mudas cultivadas durante 2 semanas experimentaram, além dos 2 dias de
vento leste forte da primeira semana, mais um evento de vento leste de intensidade
moderada. As condições do mar para as mudas cultivadas durante 3 semanas foram
piores, que ficaram sujeitas no total a sete dias de vento leste com mar bravo. Esta
terceira semana de cultivo foi a que apresentou condições mais adversas e seu efeito
pôde ser observado também nas mudas cultivadas durante 4 semanas. Os resultados
obtidos neste experimento foram fortemente influenciados pelos eventos de lestadas”,
não refletindo o real potencial de cultivo de G. domingensis na Enseada e por este
motivo, intervalos de tempo de cultivo mais longos, de até 4 semanas foram testados
em outras ocasiões, mostrando resultados muito diferentes dos observados neste
experimento. Desta forma, em condições ambientais desfavoráveis, recomenda-se
que o intervalo de tempo seja de a 1 a 2 semanas.
SCHETTINI et al. (1999), entretanto, afirmam que o padrão para a Enseada de
Armação do Itapocoroy é de ventos fracos durante a maior parte do tempo, com
ventos provenientes principalmente do oeste, nordeste e sudoeste. Segundo estes
autores, esporadicamente pode ocorrer o fenômeno de “lestada”, que são as
ondulações provenientes de leste, sendo este o sistema mais energético que atua na
dinâmica sedimentar da Enseada, podendo até causar prejuízos às estruturas de
cultivo de mexilhões e estes eventos foram registrados na Enseada durante o período
experimental, de acordo com os dados do Anexo 1.
Um dos melhores exemplos de que em situações de calmaria, as algas podem
ser mantidas em campo pelo menos por um período de 4 semanas, pode ser
observado quando comparamos o desempenho de G.domingensis e G. caudata (Fig.
18, Tab. 19). Neste experimento, que ocorreu num período de calmaria, as taxas de
crescimento de G. domingensis aumentaram ao longo do tempo, o que se refletiu
diretamente sobre o rendimento em biomassa. Neste caso, a produtividade estimada
ao final de 4 semanas poderia superar 10 t.ha
-1
.ano
-1
.
Além de representar um ótimo
rendimento, o benefício também poderia ser visto como economia de mão de obra,
uma vez que a montagem do cultivo seria efetuada 1 vez e a manutenção em campo
ocorreria mensalmente.
O presente estudo apresenta-se como um dos poucos a comparar técnicas de
fixação das mudas às cordas de cultivo, tendo em vista que a maioria dos estudos
77
realizados com Gracilaria em sistemas de cultivo suspensos utilizou mudas inseridas
(HURTADO-PONCE, 1990; WAKIBIA et al., 2001; MARINHO-SORIANO et al., 2002a;
MARINHO-SORIANO, 2005), embora alguns estudos tenham utilizado a técnica de
amarração (ANDERSON et al., 2001).
Nossos resultados mostraram que ambas técnicas foram igualmente
adequadas para o primeiro metro de profundidade. No entanto, mudas amarradas
apresentaram melhor desempenho quanto às suas taxas de crescimento no segundo
metro de profundidade. Por outro lado, quando levado em consideração o tempo
necessário para preparar as cordas de cultivo, constatou-se que a técnica de
amarração necessitou de um esforço de cultivo muito maior, tanto na preparação das
cordas, como após a coleta para a limpeza destas, independente do material utilizado,
a qual levou praticamente o dobro do tempo necessário, se comparada àquela de
inserção.
Um aspecto importante para a utilização da técnica de inserção é o tipo de
corda a ser empregada, visto que aquelas fabricadas com materiais muito rígidos (e.g.
polipropileno) podem causar a fragmentação dos talos nos pontos de inserção. Tal fato
foi observado por SMITH et al. (1984), os quais cultivaram G. domingensis inseridas
na trama das cordas de cultivo e constataram que as mudas foram muito propensas à
fragmentação no ponto de inserção, o que poderia ser atribuído ao tipo de corda
utilizada. Contudo, em alguns dos nossos resultados os altos percentuais de perda de
biomassa não podem ser imputados ao material empregado para a inserção das
mudas, uma vez que o tipo das cordas utilizadas foi “fio de seda”. Outro aspecto a ser
considerado é a escolha do tipo de corda e da técnica de fixação das mudas devendo
ser levada em consideração a morfologia da espécie, a qual do ponto de vista do
manejo durante o cultivo pode apresentar-se mais suscetível à fragmentação.
Uma forma alternativa ao sistema de cultivo proposto seria cultivar G.
domingensis com as mudas inseridas na trama das cordas de cultivo no primeiro
metro e amarradas nos demais intervalos de profundidade, procurando desenvolver
um sistema mais produtivo para G. domingensis.
Visando sistemas de cultivo mais produtivos, outros aspectos importantes
devem ser levados em consideração, como o espaçamento entre mudas e a biomassa
inicial do sistema. Nossos resultados permitiram concluir que menores espaçamentos
entre mudas (5 e 10 cm) apresentaram melhores desempenhos, indicando ser estes
os mais apropriados para o sistema proposto. Embora espaçamento de 5 cm tenha
sido o mais produtivo, seu manejo foi o mais difícil, tendo em vista o pequeno espaço
existente entre as mudas, sendo necessário um cuidado maior para manipular as
cordas de cultivo para não fragmentar as mudas. Em espaçamento de 20 cm entre
78
mudas a produtividade estimada para G. domingensis, comparada às calculadas para
os outros espaçamentos, não se mostrou conveniente. Estes resultados diferiram do
observado por HURTADO-PONCE (1990), que não observou diferença entre 10, 15 e
20 cm entre mudas, indicando que qualquer um destes poderia fornecer altos
rendimentos.
Biomassas intermediárias (2 e 5 g) mostraram-se igualmente indicadas para o
sistema de cultivo em contrapartida àquelas de 8 g, as quais foram mais propensas à
fragmentação e conseqüente perda de biomassa.
Desta forma, nossos resultados mostraram que sistemas de cultivo mais
produtivos poderiam ser obtidos com menores espaçamentos entre mudas e
biomassas inicias menores que 5 g. Tais resultados coincidem com os apresentados
por SANTELICES et al. (1993), que observaram maior produtividade quando
cultivaram muitas mudas pequenas em espaçamentos menores, do que a obtida por
grandes mudas em espaçamentos maiores.
Todos os experimentos metodológicos discutidos até o momento visaram
estabelecer tecnologias de cultivo com os melhores desempenhos para G.
domingensis. Os resultados mostraram-se indicados para desenvolver um sistema de
cultivo do tipo familiar, com produtividades similares àquelas estimadas por SMITH et
al. (1984).
4.2 – Avaliação do cultivo de G. domingensis ao longo do tempo
As taxas de crescimentos de G. domingensis nos dois locais de cultivo
mostraram que tais valores variaram muito ao longo do tempo. Isso demonstra a
ausência de um padrão em suas taxas de crescimento ao longo do ano, não
importando o local e o intervalo de tempo de cultivo considerado. Provavelmente isso
seja conseqüência do hidrodinamismo que afetou os cultivos. As condições
hidrodinâmicas de curto prazo parecem ter maior influência sobre os cultivos do que
um padrão sazonal possa imprimir. Os dados apresentados nestes experimentos
corroboram WESTERMEYER et al. (1993), onde os autores afirmam que a maior
dificuldade do cultivo no mar está em obter uma produção sustentável em um
ambiente que muda constantemente.
Assim, mesmo que possa existir um padrão sazonal nas taxas de crescimento
de G. domingensis, tal fato foi mascarado pelas condições às quais os cultivos foram
expostos durante o período experimental. Embora não mostre um claro padrão
sazonal, os valores observados foram similares aos verificados para outras espécies
79
de Gracilaria mostrando que variações existem também em diversos sistemas de
cultivo (Tab. 21).
A mesma falta de padrão nas taxas de crescimento de G. gracilis e
Gracilariopsis sp. foi observada por WAKIBIA et al. (2001) na África do Sul, em um
sistema de cultivo suspenso em mar aberto, similar ao nosso. Estes autores não
observaram um claro padrão sazonal, mas diferenças de mês a mês.
Desta forma, tanto o Local 1 quanto o Local 2 são convenientes para o cultivo
para intervalos de 1 semana de cultivo. Para o intervalo de cultivo de 2 semanas, ao
contrário do que foi observado no Local 1, o Local 2 não parece ser conveniente, com
TCR Obtidas negativas em sua maioria, mostrando um desempenho muito baixo nos
cultivos.
Tabela 21: Taxas de crescimento relativo (TCR) para diferentes espécies de Gracilaria em
diferentes sistemas de cultivo (
a
TCR Potencial).
Espécie Técnica de cultivo País TCR (%.dia
-1
)
G. domingensis
1
Mar aberto, vertical Brasil, SC 1,8 – 10,5
a
G. domingensis
2
Mar aberto, horizontal Brasil, BA 4,52 a 10,04
Gracilaria sp.
3
Policultivo em tanques de camarões
Brasil, RN 1,8 a 8,8
Gracilaria birdiae
4
Mar aberto, horizontal Brasil, RN -1,8 a 4,5
Gracilaria sp. (=G.
caudata)
5
Mar aberto, vertical Brasil, SP 3,95 a 10,45
G. cornea
2
Mar aberto, horizontal Brasil, BA 7,50 a 12,10
G. cornea
6
Baía, horizontal Venezuela 1.4 a 2.5
G. chilensis
7
Estuário, horizontal Chile 1,8 a 4,6
G. parvispora
8
Laguna, tanque rede (policultivo) Havaí 4,6 a 10,4
G. gracilis
9
Mar aberto, vertical África do Sul 1 a 10
G. gracilis
10
Baía, horizontal Namíbia 0.84 a 4.15
G. tenuistipitata
11
Piscinas, tanque rede China 1,5 a 3,3
1
Presente trabalho;
2
Accioly (2004);
3
Marinho-Soriano et al. (2002b);
4
Marinho-Soriano (2005);
5
Assad-Ludewigs (1984);
6
Rincones (1989);
7
Santelices et al. (1993);
8
Nelson et al. (2001);
9
Anderson et al. (2001);
10
Dawes (1995);
11
Chaoyuan et al. (1993).
4.3 – Comparação das taxas de crescimento de G. domingensis e G. caudata
As condições climáticas no período deste experimento foram propícias para o
cultivo de G. domingensis e de G. caudata, com mar calmo a moderado e sem de
vento leste forte para a maior parte deste período (Anexo 1), condições estas
atestadas pelo ótimo desempenho de ambas espécies no cultivo.
Em condições climáticas apropriadas, com mar calmo e sem vento forte, os
resultados mostraram que as TCR Obtidas foram similares para ambas em cada
intervalo de profundidade, independente da duração do cultivo. Assim, do ponto de
80
vista de um possível cultivo comercial, G. domingensis e G. caudata podem ser
cultivadas.
Embora as taxas de crescimento não tenham apresentado diferenças, as
produtividades estimadas para G. domingensis foram mais elevadas, aumentando
conforme aumentou o tempo de cultivo. Para G. caudata, por outro lado, as
produtividades estimadas aumentaram somente até 2 semanas de cultivo. A partir de
então, os valores estagnaram em 3 semanas de cultivo e diminuíram para as mudas
cultivadas por 4 semanas, indicando o menor potencial de produção de G. caudata
para intervalos de tempo de cultivo mais longos, no sistema proposto. As causas para
essa queda nas taxas de G. caudata não são conhecidas, mas parecem ser respostas
intrínsecas da espécie, uma vez que as condições do mar eram calmas e estáveis e o
cultivo de G. domingensis nas mesmas condições mostrou um incremento nas taxas e
não uma queda, como observado para G. caudata.
5 – RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS PARA UM BOM DESEMPENHO DO CULTIVO
1 É interessante que se utilize mudas de até 5 g, pois mudas maiores tendem se
fragmentar. Mudas pequenas, de menos de 2 g devem ser evitadas.
2- O espaçamento entre mudas deve ser maior que 5 cm. Pouco espaço entre mudas
dificulta o manejo das cordas, muito espaçamento reduz o rendimento.
3 O cultivo deve ser realizado em até 2 m de profundidade para melhor
aproveitamento da coluna d’água.
3 - Evitar o cultivo junto à superfície, pois o manejo das cordas aumenta a
probabilidade de quebra nesta profundidade.
4 - Como o crescimento das algas está relacionado, entre outros fatores, à quantidade
de luz, é importante manter a estrutura de cultivo sempre limpa, pois o crescimento de
organismos incrustantes comuns nas áreas de cultivo aumenta o peso da estrutura,
fazendo com que toda a estrutura de cultivo afunde, conseqüentemente diminuindo a
produtividade do sistema.
5 - Em ocasiões de alta hidrodinamismo (ressacas, “lestadas”, etc) é recomendável
coletar toda a biomassa, pois é comum a quebra das mudas devido à grande energia
destes eventos.
81
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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86
Capítulo III
O ágar de Gracilaria domingensis
e de Gracilaria caudata
87
RESUMO
O gênero Gracilaria é hoje a principal fonte de ágar, especialmente aquele voltado
para o mercado de ágar alimentício. Este gênero tornou-se economicamente
importante após a descoberta de que o tratamento alcalino para a extração de ágar
aumenta a quantidade de 3,6-anidrogalactose ao mesmo tempo em que diminui o teor
de sulfato, fatos que contribuem significativamente para o aumento do poder de
gelificação do ficocolóide. Dentre as espécies de Gracilaria que ocorrem em Santa
Catarina as mais abundantes são G. domingensis e G. caudata, selecionadas como
objeto de nosso estudo. Neste capítulo, analisamos diferentes protocolos de extração
de ágar para as duas espécies mencionadas, tanto para material obtido das
populações naturais como cultivadas na Enseada de Armação do Itapocoroy (Penha,
Santa Catarina). Os resultados contemplam a extração de ágar nativo, pré-tratamento
alcalino a quente e a frio, pré-tratamento ácido, pré-tratamento ácido seguido da
adição de CaCl
2
e extração com CaCl
2
. G. domingensis apresentou maior rendimento
de ágar do que G. caudata em todos os protocolos comparados. Para G. domingensis,
o protocolo para a extração de ágar que apresentou melhores características
(rendimento, teor de 3,6-anidrogalactose e sulfato) foi aquele com CaCl
2
enquanto que
para G. caudata o pré-tratamento alcalino a frio com NaOH foi o mais apropriado.
Estes resultados sugerem a existência de diferença na composição do ágar destas
espécies, mostrando que condições ótimas de extração devem ser estudadas tanto
para G. domingensis como para G. caudata. Extrações com metodologias não
apropriadas poderiam levar à obtenção de géis de baixa qualidade, subestimação da
alga como matéria-prima para a extração de ágar e/ou limitações nas perspectivas de
diversificação de suas aplicações industriais. Este é um dos poucos trabalhos que
avalia diferentes condições para a extração de ágar de G. domingensis, demonstrando
que as metodologias mais utilizadas na literatura não foram as que mostraram
melhores rendimentos para esta espécie. Considerando o alto rendimento de ágar de
G. domingensis pode-se sugerir o potencial desta espécie como um recurso explotável
para a produção de ágar, especialmente para seu uso como ágar alimentício. As
características do ágar de G. domingensis avaliadas, embora tenham apresentado
diferenças significativas ao longo do período experimental, variaram dentro de uma
estreita faixa de valores, tanto para mudas provenientes dos cultivos como do banco
natural indicando que esta espécie pode ser coletada em qualquer época do ano.
88
ABSTRACT
The genus Gracilaria represents nowadays one of the most important sources of
agar, especially for food grade agar. This genus became economically important after
the discovery that alkaline treatment before agar extraction increases the amount of
3,6-anhydrogalactose and decreases the sulphate content, increasing its gelification
power. Among the species of Gracilaria found in Santa Catarina, G. domingensis and
G. caudata are the most abundant and promising for exploitation. In this chapter we
tested several protocols for agar extraction aiming to develop the best procedure for
both species, comparing material from the natural populations within ones obtained in
mariculture experiments. Among the protocols we include native agar extraction, hot
and cold alkaline pretreatment, acid pretreatment, acid pretreatment followed by CaCl
2
addition and CaCl
2
extraction. G. domingensis showed higher agar yield than G.
caudata in all compared protocols. For G. domingensis, the best protocol for agar
extraction was with CaCl
2
while for G. caudata cold alkaline pretreatment with NaOH
was most appropriate. These results suggest that there is a difference in the agar
composition, showing the need of particular protocols for both species. Without
appropriate extraction methodologies, gels of low quality and subestimation of the
seaweed as raw material for agar extraction could be obtained. This study is one of the
few works that evaluate different conditions of agar extraction for G. domingensis,
demonstrating that the most utilized methodologies recommended in the literature were
not the ones that gave the best results. Considering the high agar yields of G.
domingensis one can conclude that this species should be considered as an alternative
for agar production, especially for its use as food grade agar. The characteristics of G.
domingensis agar evaluated throughout the experimental period (2002/2004)
presented a narrow range of values, indicating that it can be exploited at any season of
the year.
89
1 – INTRODUÇÃO
Aos ficocolóides, polissacarídeos presentes nas paredes celulares de
praticamente todas as macroalgas marinhas, são atribuídas algumas funções
biológicas importantes e imprescindíveis para a adaptação das algas ao ambiente
marinho. Entre estas, manter a umidade quando expostas ao dessecamento em marés
baixas, manter a concentração celular interna em ocasiões de chuva, fortalecer e dar
flexibilidade à parede celular para resistir à ação das ondas e proteger as células de
agressões externas (KLOAREG & QUATRANO, 1988). Dentre estes polissacarídeos,
existem aqueles que possuem grande importância econômica, como o ágar, a
carragenana e o alginato, e que são responsáveis por uma indústria que atualmente
movimenta cerca de US$ 583 milhões/ano (HANISAK, 1998; McHUGH, 2003). Estes
ficocolóides são extraídos de algas vermelhas (ágar e carragenana) e de algas pardas
(alginato). Sua utilização está amplamente difundida na indústria alimentícia, de
cosméticos, de papel, têxtil, farmacêutica e de biotecnologia (JENSEN, 1993;
MATULEWICZ, 1996; McHUGH, 2003), atuando como espessantes, estabilizantes e
gelificantes por serem substâncias hidrossolúveis caracterizadas por reduzida
solubilidade em baixas temperaturas.
O ágar, extraído principalmente de espécies de Gracilaria e Gelidium, é um
ficocolóide que possui muitas aplicações, sendo utilizado principalmente na indústria
alimentícia e na área de pesquisa, por suas aplicações biotecnológicas. Na indústria
alimentícia, o ágar tem uso generalizado, onde se aproveitam suas propriedades
emulsificantes, estabilizantes e gelificantes, assim como sua alta resistência ao calor.
Devido ao seu baixo valor energético é empregado na elaboração de alimentos
dietéticos. Além disso, possui grande utilidade nas pesquisas biotecnológicas, sendo
empregado em géis utilizados na separação de eletrólitos em eletroforese, na
separação de moléculas, em técnicas de imunodifusão, em meios de cultivo
microbiológico e como suporte para a imobilização de células ou enzimas utilizadas
em biotecnologia (MATULEWICZ, 1996).
Os gêneros Gracilaria e Gelidium representam a maior parte da matéria-prima
utilizada na extração de ágar, embora pequenas quantidades de outros gêneros como
Gracilariopsis, Gelidiella, Pterocladia e Pterocladiella sejam coletados em bancos
naturais em várias partes do mundo (ACLETO, 1998; ALVEAL, 1998; SOUSA-PINTO,
1998; McHUGH, 2003).
Praticamente toda a matéria-prima utilizada para a extração comercial de ágar
de Gelidium provém de bancos naturais, principalmente da França (KAAS, 1998),
Indonésia (ISTINI et al., 1998), Coréia (SOHN, 1998), México (ROBLEDO, 1998), Chile
90
(ALVEAL, 1998), Portugal (SOUSA-PINTO, 1998) e Espanha (JUANES & SOSA,
1998).
Gracilaria, que atualmente representa uma das maiores fontes de ágar, foi
considerado um gênero impróprio para a produção deste ficocolóide, pois seu gel era
classificado como fraco. Entretanto, este gênero tornou-se economicamente
importante a partir dos anos de 1950, com a descoberta de que o tratamento alcalino
era capaz de aumentar sua força de gel, o que resultou no crescimento da indústria de
ágar, especialmente daquele voltado para o mercado de ágar alimentício (McHUGH,
2003).
O ágar pode ser definido como uma mistura complexa de polissacarídeos e
pode-se separá-lo em duas frações: agarose e agaropectina. A agarose é o
componente gelificante, enquanto que a agaropectina possui baixa capacidade de
gelificar. De forma simplificada, a agarose consiste de polissacarídeos com cadeias de
seqüências alternantes de unidades de
β
-D-galactose ligadas pela posição 3 e de
α
-L-
galactose ou seu 3,6-anidro derivado, ligadas pela posição 4 (MATULEWICZ, 1996).
Atualmente sabe-se que o ágar compreende na realidade uma família de
polissacarídeos (agaranas) e diferentes tipos podem estar presentes no ágar de uma
mesma espécie. Esta variedade de agaranas é dada pelos diferentes grupos
substituintes que ocupam algumas posições deste polissacarídeo e depende da
espécie de alga, da influência de fatores ambientais e de aspectos fisiológicos
(ASARE, 1980; BIRD, 1988; CHIRAPART & OHNO, 1993), bem como dos
procedimentos para sua extração (ARMISEN & GALATAS, 1987; McHUGH, 2003).
A análise química do ágar com relação aos monossacarídeos que o compõe e
dos grupos substituintes é utilizada para avaliar indiretamente a qualidade do ágar
(MATULEWICZ, 1996). Dentre os componentes do ágar, é citado na literatura que o
teor de 3,6-anidrogalactose e de sulfato estão relacionados à força que o gel
apresentará, sendo esta diretamente proporcional à quantidade de 3,6-anidrogalactose
e inversamente proporcional ao teor de sulfato (COSSON et al., 1995).
A mudança que o tratamento alcalino possibilita na molécula do ágar está
relacionada às unidades α-L-galactose-6-sulfato ligadas pela posição 4, que reagem
para dar origem às unidades de 3,6-anidro-α-L-galactose. Tal reação é uma
substituição nucleofílica na qual a hidroxila do C-3 reage com o C-6, formando um anel
de 3,6-anidro com a liberação do correspondente grupo fosfato, o que faz com que o
gel adquira maior dureza, embora este tratamento diminua a quantidade de ágar
extraído (MATULEWICZ, 1996).
91
O pré-tratamento alcalino a quente com NaOH, embora seja o mais comum,
não é o único citado na literatura para a extração do ágar a partir do gênero Gracilaria.
Outros métodos são citados, como por exemplo, a extração do ágar com pré-
tratamento alcalino (a quente ou a frio) com outras fontes de álcali ou com cloreto de
cálcio e extração com pré-tratamento ácido. Segundo DURAIRATNAM et al. (1990), os
ágares submetidos a estes métodos também podem apresentar uma melhoria na
qualidade.
De forma geral, a quantidade de sulfato em agaranas de Gracilaria está abaixo
de 10% (ARMISEN, 1995), enquanto que nas carragenanas este percentual é superior
a 20%, podendo chegar a 50% (CRAIGIE, 1990). O pré-tratamento alcalino, utilizado
tanto em agaranas como em carragenanas, normalmente aumenta a quantidade de
3,6-anidrogalactose, ao mesmo tempo que diminui o teor de sulfato, fato que contribui
significativamente para o aumento do poder de gelificação destes ficocolóides
(MURANO, 1995).
O tratamento alcalino expandiu o mercado para as espécies de Gracilaria, que
foram coletadas durante muito tempo em grande quantidade em vários países, tais
como Argentina, Chile, Indonésia, Namíbia e inclusive no Brasil (OLIVEIRA, 1998),
sendo que muitos destes países experimentaram os efeitos da sobre-explotação de
seus bancos naturais ocasionada pela grande demanda por Gracilaria.
No Chile, a sobre-explotação dos bancos nas décadas de 1970/1980 levou o
país a pesquisar meios de se cultivar G. chilensis (SANTELICES, 1989). Atualmente,
este país é o que mais contribui no mundo para a produção de Gracilaria cultivada. No
ano de 2002, 56% da sua produção (71.648 toneladas) foram provenientes dos
cultivos (ALVEAL, 2006). Mesmo com o desenvolvimento tecnológico, atualmente a
maior parte do fornecimento de Gracilaria ainda vem de bancos naturais e o
investimento em cultivo depende das flutuações de preço no mercado internacional
(McHUGH, 2003).
Com relação ao mercado de agarose existe um número pequeno de
processadores que podem produzir uma agarose purificada de alta qualidade para um
mercado igualmente pequeno, mas em crescimento, principalmente àquele voltado
para a utilização da agarose em aplicações biotecnológicas (McHUGH, 2003). Na
indústria farmacêutica o ágar tem sido usado muitos anos como um laxante suave.
Em orquidários, os géis de ágar são utilizados como substrato para o crescimento de
plântulas (McHUGH, 2003). Mas o maior mercado para o ágar sem dúvida é o
alimentício, que consumiu 6.930 toneladas no ano de 2001 (McHUGH, 2003), o que
correspondeu a 91% de todo o ágar produzido naquele ano.
92
É nesse mercado que se insere o ágar proveniente de espécies de Gracilaria.
Contudo, este disputa o mercado com outros hidrocolóides com utilizações industriais
semelhantes, como por exemplo, o CMC (carboximetilcelulose), LGB (locust bean
gum) e as gomas: arábica, guar, xantana e gelana. O preço e a demanda dependem,
por este motivo, da disponibilidade e do preço destas gomas concorrentes
(FURTADO, 2005). Em vista disso, a investigação de métodos alternativos de extração
de ágar, visando processos menos onerosos, pode contribuir para dar mais
competitividade a este ficocolóide.
Segundo BELLORIN (2002), no litoral catarinense ocorrem quatro espécies de
Gracilaria, G. caudata, G. domingensis, G. tepocensis e G. cervicornis. Destas, G.
domingensis é abundante em alguns locais, como na enseada de Armação do
Itapocoroy (Penha), nas praias do Estaleiro (Porto Belo) e da Velhinha (Florianópolis).
Em virtude da abundância na enseada de Armação do Itapocoroy e do seu potencial
econômico, o cultivo de G. domingensis foi analisado ao longo de três anos neste local
(Capítulo 2).
O litoral de Santa Catarina carece de estudos sobre as populações de
Gracilaria, assim como sobre as características do ágar das espécies presentes. O
único estudo realizado no litoral catarinense sobre o ágar de G. domingensis, na
enseada de Armação do Itapocoroy (PAZETO, 2001), avaliou o rendimento do ágar
nativo da espécie, indicando que este foi alto.
Até o momento existem poucos estudos realizados no Brasil sobre as
características do ágar de G. domingensis e de G. caudata, especialmente quando se
considera a região sul do país. Assim, este trabalho avaliou a quantidade (rendimento
percentual) e a qualidade de ágar (teor de 3,6-anidrogalactose e de sulfato) em G.
domingensis e G. caudata procedentes de bancos naturais e de cultivo. Os objetivos
específicos foram:
I Estabelecer um protocolo de extração de ágar para G. domingensis, visando a
obtenção de maior rendimento;
II – Avaliar diversos protocolos de extração de ágar para G. caudata;
III – Comparar o ágar de G. domingensis e G. caudata;
IV – Com base no protocolo selecionado (item I), verificar possíveis variações ao longo
do período experimental nas características do ágar, a partir de espécimes coletados
no banco natural e nos cultivos realizados no Local 1 (mais próximo à praia) e Local 2
(mais distante da praia) (Fig. 1).
93
2 – MATERIAIS E MÉTODOS
As coletas de biomassa para a extração de ágar foram realizadas na enseada de
Armação do Itapocoroy, localizado no município de Penha, Santa Catarina (26
o
47’S
48
o
37’W, Fig.1), diretamente nos bancos naturais ou nos cultivos realizados em dois
locais (Locais 1 e 2) dentro da enseada: Local 1, mais interno, próximo à praia e
dentro da área de cultivo de mexilhões e Local 2, situado na porção externa da
enseada, mais distante da praia (Fig. 1).
Figura 19: Localização da enseada de Armação do Itapocoroy no litoral norte de Santa
Catarina, indicando os bancos naturais (seta) e os Locais 1 e 2 de cultivo.
94
2.1 – Avaliação de protocolos para extração de ágar de G. domingensis
Para o estabelecimento de um protocolo padrão para a extração de ágar, talos
saudáveis de G. domingensis foram coletados no banco natural. Estes talos foram
triados, lavados em água doce, secos ao sol e depois em estufa a 60
o
C por 48 h. Após
este período, foram triturados e armazenados para posterior extração em laboratório.
Foram selecionados 19 protocolos de extração de ágar descritos na literatura
para espécies de Gracilaria, os quais foram testados em triplicata (réplicas de 10 g,
peso seco). A Figura 2 apresenta esquematicamente os protocolos seguintes:
1- Extração do ágar nativo (modificado de REBELLO et al., 1997 e MARINHO-
SORIANO et al., 1999);
2- Pré-tratamento alcalino a quente com NaOH 1, 3, 5, 7 e 10% e com KOH 1, 3, 5, 7,
e 10% (modificado de REBELLO et al., 1997).
3- Pré-tratamento alcalino a frio com NaOH 1 e 5% e com KOH 1 e 5% (modificado de
GERUNG et al., 1997);
4- Pré-tratamento ácido a frio com HCl 1% (modificado de DURAIRATNAM et al.,
1990);
5- Extração com CaCl
2
0,5 e 1% (modificado de DURAIRATNAM et al., 1990);
6- Pré-tratamento ácido a frio com HCl 1% seguido da adição de CaCl
2
0,5%
(modificado de DURAIRATNAM et al., 1990).
Os parâmetros obtidos em laboratório para comparação entre os protolocos
foram: rendimento percentual de ágar (em relação à biomassa algal seca utilizada),
quantidade de 3,6-anidrogalactose (%) e de sulfato (%) (em relação ao peso seco de
ágar).
Depois de selecionado o protocolo, os talos de G. domingensis coletados no
banco natural ou cultivados ao longo do período experimental foram submetidos a
esse protocolo de extração para que as comparações pudessem ser realizadas.
95
10 g alga + 300 mL água
2 h
escorrer
alga + 300 mL água
banho-maria 100°C
2 h
filtrar a quente
gelificar 24 h
congelar 24 h
secar a 65°C x 72 h
descongelar e escorrer
pesar o ágar
alga + solução alcalina
NaOH: 1, 3, 5, 7 e 10%
KOH: 1, 3, 5, 7 e 10%
banho-maria 80°C
2 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
escorrer
alga + solução alcalina
NaOH: 1 e 5%
KOH: 1 e 5%
2 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + solução ácida
HCl: 1%
1 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + 300 mL CaCl
2
0,5 e 1%
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + 300 mL CaCl
2
0,5%
alga + solução ácida
HCl: 1%
1 h
Ágar nativo
Pré-tratamento
alcalino a quente
Pré-tratamento
alcalino a frio
Pré-tratamento
ácido a frio
Tratamento
com CaCl
2
Pré-tratamento
ácido a frio + CaCl
2
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
escorrer escorrer escorrer escorrerescorrer
10 g alga + 300 mL água
2 h
escorrer
alga + 300 mL água
banho-maria 100°C
2 h
filtrar a quente
gelificar 24 h
congelar 24 h
secar a 65°C x 72 h
descongelar e escorrer
pesar o ágar
alga + solução alcalina
NaOH: 1, 3, 5, 7 e 10%
KOH: 1, 3, 5, 7 e 10%
banho-maria 80°C
2 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
escorrer
alga + solução alcalina
NaOH: 1 e 5%
KOH: 1 e 5%
2 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + solução ácida
HCl: 1%
1 h
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + 300 mL CaCl
2
0,5 e 1%
lavar por 12 h
pH 6,5 – 7,0
alga + 300 mL CaCl
2
0,5%
alga + solução ácida
HCl: 1%
1 h
Ágar nativo
Pré-tratamento
alcalino a quente
Pré-tratamento
alcalino a frio
Pré-tratamento
ácido a frio
Tratamento
com CaCl
2
Pré-tratamento
ácido a frio + CaCl
2
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
10 g alga + 300 mL água
2 h
escorrer escorrer escorrer escorrerescorrer
Figura 20: Esquema representativo dos procedimentos para a extração do ágar de Gracilaria domingensis e G. caudata por meio
de diferentes protocolos de extração.
96
2.2 – Avaliação de protocolos para extração de ágar de G. caudata
A avaliação do ágar de G. caudata foi realizada a partir de quatro protocolos de
extração com talos coletados no banco natural. A metodologia de coleta e preparação
do material para a extração do ágar foi a mesma descrita anteriormente para G.
domingensis. Cada protocolo de extração foi testado em triplicata (réplicas de 10 g,
peso seco), seguindo a mesma metodologia do esquema representado na Figura 2.
Os protocolos testados foram:
1- Extração com CaCl
2
0,5%;
2- Extração com CaCl
2
1%;
3- Pré-tratamento alcalino a frio com NaOH 0,1M;
4- Pré-tratamento alcalino a frio com KOH 0,1M.
2.3 Comparação do ágar de G. domingensis e G. caudata extraído por meio de
diferentes protocolos
A comparação de G. domingensis e G. caudata foi realizada com talos
coletados nos bancos naturais em julho/2003, seguindo a mesma metodologia do
esquema representado na Figura 2. Cada protocolo de extração foi testado em
triplicata (réplicas de 10 g, peso seco). Os protocolos utilizados foram:
1- Extração com CaCl
2
0,5%;
2- Extração com CaCl
2
1%;
3- Pré-tratamento alcalino a frio com NaOH 0,1M;
4- Pré-tratamento alcalino a frio com KOH 0,1M.
2.4 Avaliação do ágar de G. domingensis extraído de talos provenientes do
banco natural e do cultivo (Locais 1 e 2) ao longo dos períodos experimentais
A avaliação do ágar de G. domingensis ao longo do período experimental foi
realizada com talos provenientes do banco natural e dos locais de cultivo (Locais 1 e
2) (Fig. 1). As amostras provenientes do banco natural foram coletadas no período
entre setembro/2002 e agosto/2004. As amostras provenientes dos cultivos foram
coletadas no Local 1 no período entre agosto/2003 e setembro/2004 e no Local 2 no
período entre setembro/2003 e agosto/2004.
Apenas o protocolo de extração com CaCl
2
0,5%, selecionado no item 2.1, foi
utilizado a fim de se avaliar o rendimento e a qualidade do ágar de G. domingensis ao
longo do período experimental. As análises foram realizadas em triplicata (réplicas de
10 g, peso seco), com exceção da amostra coletada no banco natural no dia 19/05/04,
quando a biomassa coletada foi suficiente para apenas uma réplica.
97
2.5 Protocolo para a quantificação de 3,6-anidrogalactose (modificado de
MATSUHIRO, 1995 e SAITO, 1997)
Aproximadamente 24 ± 1 mg de ágar (peso seco) foram dissolvidos em 40 mL
de água Milli-Q em banho-maria a 80-85
o
C até sua completa dissolução (90 a 120
min). As amostras foram resfriadas em banho de gelo com água e o volume foi
completado para 50 mL com água Milli-Q (solução de trabalho). A seguir, foram
misturados 10 mL da solução de trabalho e 5 mL de água Milli-Q (dissolução da
amostra). Em um tubo Falcon foram pipetados 2 mL de água Milli-Q e adicionados: 0,5
mL de timol 5%, 5 mL de cloreto férrico 0,5% e 2 mL da dissolução da amostra. As
amostras foram homogeneizadas, aquecidas em banho-maria por 13 min a 80
o
C e
resfriadas em banho de gelo com água. Às amostras foram adicionados 10 mL de
etanol 98%. Após estes procedimentos, as amostras foram analisadas em
espectrofotômetro a 635 nm e suas absorbâncias registradas para se calcular a
quantidade de 3,6-anidrogalactose (%) utilizando-se curva de calibração.
2.6 – Protocolo para quantificação de sulfato (modificado de SAITO, 1997)
Amostras de ágar de aproximadamente 30 ± 1 mg foram umedecidas em 100 µL de
etanol 95%, seguidas da adição de 500 µL de HCl 0,5 N. As amostras foram
hidrolisadas em água fervente por 2 h. O volume foi completado com água Milli-Q até
atingir 10 mL. As amostras foram centrifugadas em 12.000 rpm durante 15 min em
temperatura ambiente para remover materiais em suspensão. Foram dissolvidos 2 mL
do sobrenadante em 18 mL de água Milli-Q e 2 mL de HCl 0,5 N. Após a adição de
HCl, as amostras foram levemente agitadas, seguindo-se a adição de 1 mL de solução
de cloreto de bário-gelatina. As amostras foram novamente agitadas, deixando-as à
temperatura ambiente por 30 min. Após este período, as absorbâncias das amostras
foram obtidas em espectrofotômetro a 550 nm. A partir das absorbâncias, a
quantidade de sulfato (%) foi calculada utilizando-se curva de calibração.
2.7 – Análise dos dados
Os dados foram analisados estatisticamente por meio de análise de variância
(Programa Statistica, versão 5.0) O teste a posteriori de Tukey foi aplicado quando
observada diferença significativa (p<0,05) (ZAR, 1999).
98
3 - RESULTADOS
3.1 – Avaliação de protocolos para extração de ágar de G. domingensis
Os filtrados obtidos após a extração do ágar nos pré-tratamentos alcalinos a quente
com NaOH (1, 3, 5, 7 e 10%), no pré-tratamento ácido e no ácido seguido de adição
de CaCl
2
não gelificaram, mesmo após 24 h à temperatura ambiente. Por esta razão,
não foi possível avaliar o rendimento e o teor de sulfato e de 3,6-anidrogalactose
destas amostras. Excetuando-se estas, as amostras dos demais protocolos de
extração gelificaram ou ficaram com consistência cremosa após 24 h à temperatura
ambiente.
Os rendimentos de ágar variaram entre 3,9 (KOH 1% quente) e 53,1% (CaCl
2
1%) (Fig. 3). Os protocolos que apresentaram rendimentos acima de 20% de ágar
foram aqueles submetidos à extração do ágar nativo (35,4%), com CaCl
2
0,5 e 1%
(49,5% e 53,1%, respectivamente) e com KOH 1 e 5% a frio (20,8% e 24,7%,
respectivamente).
A comparação entre os diferentes protocolos evidenciou diferenças
significativas entre eles (p= 0,000). Não houve diferença significativa entre as
amostras submetidas ao pré-tratamento alcalino a quente com KOH 3, 5, 7 e 10%,
assim como não houve diferença significativa entre as amostras submetidas ao pré-
tratamento alcalino a frio, com NaOH 1 e 5% (Tab.1). A amostra do pré-tratamento
alcalino a quente com KOH 1% apresentou rendimento de ágar menor do que os
apresentados pelas amostras submetidas ao mesmo protocolo de extração, mas em
concentrações mais altas (p<0,05).
99
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
Nativo
CaCl2 0,5%
CaCl2 1%
KOH 1% quente
KOH 3% quente
KOH 5% quente
KOH 7% quente
KOH 10% quente
NaOH 1% frio
NaOH 5% frio
KOH 1% frio
KOH 5% frio
Protocolo de extração
Rendimento de ágar (%)
Figura 21: Rendimento do ágar de Gracilaria domingensis extraído por meio de
diferentes protocolos.
Tabela 22: Valores estimados de p para o Teste de Tukey realizado para os rendimentos
percentuais do ágar de Gracilaria domingensis extraído por meio de diferentes
protocolos. Em negrito as amostras onde houve diferença significativa.
Protocolo de
extração
Nativo
CaCl
2
0,5%
KOH 1%
quente
KOH 3%
quente
KOH 5%
quente
KOH 7%
quente
KOH 10%
quente
NaOH 1%
frio
NaOH 5%
frio
KOH 1%
frio
KOH 5%
frio
Nativo
CaCl
2
0,5%
0,000
KOH 1% quente
0,000 0,000
KOH 3% quente
0,000 0,000 0,002
KOH 5% quente
0,000 0,000 0,001
1,000
KOH 7% quente
0,000 0,000 0,007
1,000 1,000
KOH 10%
quente
0,000 0,000 0,018
0,994 0,990 1,000
NaOH1% frio
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
NaOH 5% frio
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1,000
KOH 1% frio 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
KOH 5% frio
0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,005
CaCl
2
1%
0,000 0,013 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Os teores mais elevados de 3,6-anidrogalactose (Fig. 4) foram observados nas
amostras submetidas ao protocolo de extração com pré-tratamento alcalino a frio
(NaOH e KOH), onde os percentuais variaram entre 9,5 e 11,4%. os valores mais
baixos (4,0 a 5,0%) foram observados nas amostras submetidas ao pré-tratamento
alcalino a quente, nas concentrações de 3, 5, 7 e 10% de KOH (Fig. 4).
A comparação dos teores de 3,6-anidrogalactose mostrou diferença entre os
protocolos testados (p= 0,000). Não houve diferença significativa entre as amostras de
100
ágar nativo (8,8%) e as extraídas com CaCl
2
0,5 e 1% (8,6% e 7,9%, respectivamente)
e as submetidas aos pré-tratamentos alcalinos a frio (9,5 a 11,4%). Também não foi
observada diferença significativa entre as amostras do pré-tratamento alcalino a
quente com KOH 1 a 10% (4,0 a 6,5%).
A quantidade de sulfato presente no ágar das amostras (Fig. 4) variou entre 4,4
(KOH 3% a quente) e 11,4% (NaOH 5% a frio). Os valores mais elevados foram
observados nas amostras submetidas ao protocolo de ágar nativo (10,9%) e nos pré-
tratamentos alcalino a frio com as duas fontes de álcali (NaOH e KOH, 10,7 a 11,4%).
A comparação dos teores de sulfato mostrou diferença significativa entre os
protocolos testados (p= 0,000). Não houve diferença entre a amostra do ágar nativo e
aquelas extraídas com pré-tratamento alcalino a frio com as duas fontes de álcali,
assim como não foi observada diferença significativa entre as amostras obtidas por
meio dos demais protocolos de extração (CaCl
2
0,5 e 1% e pré-tratamentos alcalinos a
quente), que apresentaram teores menos elevados de sulfato (entre 4,4 e 7,3%). Não
foi observada diferença significativa entre as amostras submetidas ao pré-tratamento
alcalino a frio.
Dentre os protocolos avaliados, o de extração com CaCl
2
0,5% foi selecionado para
realizar as comparações ao longo do período experimental entre as amostras de G.
domingensis provenientes dos bancos naturais e dos cultivos, por apresentar alto
rendimento de ágar, teor intermediário de 3,6-anidrogalactose e de sulfato e por ter
apresentado um gel consistente.
101
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Nativo
CaCl2 0,5%
CaCl2 1%
KOH 1% quente
KOH 3% quente
KOH 5% quente
KOH 7% quente
KOH 10% quente
NaOH 1% frio
NaOH 5% frio
KOH 1% frio
KOH 5% frio
Protocolo de extração
(%)
3,6AG Sulfato
Figura 22: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato do ágar de Gracilaria
domingensis extraído por meio de diferentes protocolos.
3.2 – Avaliação de protocolos para extração de ágar de G. caudata
Nos protocolos de extração testados para G. caudata o rendimento percentual de
ágar variou entre 13,0 (CaCl
2
1%) e 22,9% (NaOH 0,1M) (Fig. 5). Os protocolos de
extração de ágar mostraram diferenças significativas entre si (p= 0,000). As amostras
extraídas com CaCl
2
0,5% (19,5%) e KOH 0,1M (19,3%) não mostraram diferença
significativa entre elas. O protocolo de extração com NaOH 0,1M mostrou rendimento
maior que os outros protocolos testados (p= 0,000), enquanto CaCl
2
1% foi menor que
CaCl
2
0,5% e KOH 0,1M (p= 0,000 para ambas comparações).
102
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
CaCl2 0,5% CaCl2 1% NaOH - frio KOH - frio
Protocolo de extrão
Rendimento de ágar (%)
Figura 23: Rendimento de ágar de Gracilaria caudata submetida a diferentes protocolos
de extração.
Após a análise da quantidade de 3,6-anidrogalactose, observou-se que os
teores variaram entre 9,4% na amostra extraída com CaCl
2
0,5% e 15,2% na amostra
extraída com CaCl
2
1% (Fig. 6). A comparação entre os teores de 3,6-anidrogalactose
das amostras submetidas aos diferentes protocolos mostrou diferença significativa (p=
0,000). As amostras extraídas com álcali (NaOH e KOH) apresentaram teores
intermediários (12,5 e 12,8%, respectivamente) e não houve diferença significativa
entre estas amostras. A amostra extraída com CaCl
2
0,5%, por outro lado, apresentou
teor menor que as outras amostras (p= 0,000 em todas as comparações) e CaCl
2
1%
apresentou teor maior que NaOH 0,1M e KOH 0,1M (p= 0,000 para ambas
comparações).
Os teores de sulfato destas amostras variaram entre 0,3 (CaCl
2
1%) e 4,2%
(CaCl
2
0,5%) (Fig. 6). O teor de sulfato de CaCl
2
0,5% (4,2%) foi maior que CaCl
2
1%
(0,3%, p= 0,000) e NaOH (1,5%, p= 0,000). Não houve diferença significativa entre a
amostra CaCl
2
1% e as amostras alcalinas (NaOH 1,5% e KOH 2,6%), entre KOH
e NaOH, assim como entre KOH e CaCl
2
0,5%.
Assim, o protocolo que apresentou o rendimento de ágar mais elevado para G.
caudata foi o de extração a frio com NaOH 0,1M. Em relação ao teor de 3,6-
anidrogalactose, o protocolo que apresentou o valor mais elevado foi o CaCl
2
1%.
para o conteúdo de sulfato, a extração com CaCl
2
1% foi a que apresentou o valor
menos elevado.
103
0
2
4
6
8
10
12
14
16
CaCl2 0,5% CaCl2 1% NaOH - frio KOH - frio
Protocolo de extração
(%)
3,6AG Sulfato
Figura 24: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato do ágar de Gracilaria caudata
extraído por meio de diferentes protocolos.
3.3 Comparação do ágar de G. domingensis e G. caudata extraído por meio de
diferentes protocolos
O rendimento de ágar de G. domingensis submetida aos diferentes protocolos
de extração variou entre 29,2 (NaOH 0,1M) e 53,1% (CaCl
2
1%) e entre 13 (CaCl
2
1%)
e 22,9% (NaOH 0,1M) para G. caudata (Fig. 7). A comparação entre as duas espécies
submetidas aos diferentes protocolos mostrou diferença significativa (p= 0,000). O
rendimento de G. domingensis foi sempre maior que o observado para G. caudata,
quando comparado o mesmo protocolo (p= 0,000 em todas as comparações).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
GD CaCl2
0,5%
GC CaCl2
0,5%
GD CaCl2
1%
GC CaCl2
1%
GD NaOH
frio
GC NaOH
frio
GD KOH frio
GC KOH frio
Protocolo de extração/Escie
Rendimento de ágar (%)
Figura 25: Rendimento do ágar de Gracilaria domingensis (GD) e G. caudata (GC)
extraído por meio de diferentes protocolos.
104
Os teores de 3,6-anidrogalactose de G. domingensis variaram entre 7,9 (CaCl
2
1%)
e 12,3% (KOH 0,1M) e de G. caudata entre 9,4 (CaCl
2
0,5%) e 15,2% (CaCl
2
1%) (Fig.
8). A comparação entre as duas espécies submetidas aos diferentes protocolos
mostrou diferença significativa (p= 0,000).
À exceção da extração com CaCl
2
1%, em que G. domingensis apresentou teor
de 3,6-anidrogalactose menor (7,9%) que G. caudata (15,2%) (p= 0,000), não houve
diferença significativa entre as quantidades de 3,6-anidrogalactose apresentadas pelas
espécies quando comparado o mesmo protocolo.
Os percentuais de sulfato do ágar de G. domingensis variaram entre 4,9 (CaCl
2
1%)
e 11,7% (NaOH 0,1M) e de G. caudata entre 0,3 (CaCl
2
1%) e 4,2% (CaCl
2
0,5%) (Fig.
8). Os teores de sulfato de G. domingensis foram sempre mais altos que os
observados para G. caudata, quando comparados no mesmo protocolo (p= 0,000 em
todas as comparações).
Assim, o protocolo que apresentou o rendimento mais elevado de ágar para G.
domingensis foi o de extração com CaCl
2
1% e para G. caudata foi o de pré-
tratamento alcalino a frio com NaOH 0,1M (Fig. 8). Em relação ao teor de 3,6-
anidrogalactose, o protocolo que apresentou o valor mais elevado para G.
domingensis foi o de pré-tratamento alcalino frio com KOH e para G. caudata foi o de
extração com CaCl
2
1% (Fig. 8). com relação ao teor de sulfato, para ambas
espécies o protocolo com valor menos elevado foi o de extração com CaCl
2
1% (Fig.
8).
0
2
4
6
8
10
12
14
16
GD CaCl2
0,5%
GC CaCl2
0,5%
GD CaCl2
1%
GC CaCl2
1%
GD NaOH
frio
GC NaOH
frio
GD KOH frio
GC KOH frio
Protocolo de extrão/Espécie
(%)
3,6AG Sulfato
Figura 26: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato no ágar de Gracilaria
domingensis (GD) e G. caudata (GC) extraído por meio de diferentes protocolos.
105
3.4 Avaliação do ágar de G. domingensis extraído de mudas provenientes do
banco natural coletadas ao longo do período experimental
O rendimento percentual de ágar das amostras coletadas no banco natural de G.
domingensis variou muito ao longo do período de coleta (2002, 2003 e 2004) (Fig. 9).
O valor mais baixo de rendimento foi obtido em 23/03/04 (29,0%) e o mais elevado foi
obtido em 04/08/04 (50,8%), sendo observada uma tendência de aumento nos
rendimentos de ágar entre o inverno e a primavera do período experimental, com a
maioria das amostras mostrando rendimentos superiores a 35,0% (Fig. 9).
A comparação dos rendimentos ao longo do período de coleta apresentou diferença
significativa (p= 0,000). Por conta dessa variabilidade nos valores, os teores de ágar
apresentaram diferenças significativas entre os meses estudados (Tab. 2), mas não foi
possível observar um padrão sazonal para os teores de ágar e desta forma, a
tendência observada não foi confirmada estatisticamente.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
set-02 out-02 dez-02 fev-03 abr-03 jun-03 ago-03 out-03 dez-03 fev-04 abr-04 jun-04 ago-04
Mês do coleta
Rendimento de ágar (%)
Figura 9: Rendimento de ágar de Gracilaria domingensis (extração com CaCl
2
0,5%)
coletada no banco natural (anos 2002, 2003 e 2004).
106
Tabela 23: Valores estimados de p para o Teste de Tukey realizado para os rendimentos
percentuais de ágar de Gracilaria domingensis (extração com CaCl
2
0,5%) coletada no
banco natural entre os anos 2002 e 2004. Em negrito, as amostras onde houve diferença
significativa.
Coleta
17/09/02
14/11/02
10/02/03
23/03/03
01/06/03
20/07/03
01/08/03
25/09/03
10/02/04
23/03/04
19/05/04
07/07/04
04/08/04
17/09/02
14/11/02
0,000
10/02/03
0,081 0,398
23/03/03
0,000
1,000 0,079
01/06/03
0,707
0,027
0,976
0,003
20/07/03
0,001
1,000 0,688 0,978 0,076
01/08/03
0,953
0,007
0,784
0,001
1,000
0,021
25/09/03
0,279 0,130 1,000
0,018
1,000 0,300 0,986
10/02/04
0,000
0,637
0,004
0,986
0,000
0,354
0,000 0,001
23/03/04
0,000 0,097 0,000 0,458 0,000 0,035 0,000 0,000 0,994
19/05/04
0,006
1,000 0,670 1,000 0,162 1,000 0,072 0,385 0,991 0,714
07/07/04
0,924
0,009
0,839
0,001
1,000
0,027
1,000 0,993
0,000 0,000
0,085
04/08/04
1,000
0,000 0,022 0,000
0,345
0,000
0,690 0,091
0,000 0,000 0,002
0,622
31/08/04
0,979
0,005
0,692
0,001
1,000
0,015
1,000 0,965
0,000 0,000
0,057 1,000 0,782
A quantidade de 3,6-anidrogalactose nas amostras foi muito variável ao longo do
período analisado, sendo o valor mais elevado observado em 10/02/03 (10,1%) e o
menos elevado em 10/02/04 (5,2%) (Fig. 10). Valores menos elevados foram
detectados no período entre 23/03/2003 e 23/03/04 (entre 5,2 e 5,6%) (Fig. 10).
Apesar disso, não foi possível observar um padrão na variação ao longo dos anos do
teor de 3,6-anidrogalactose para as mudas provenientes do banco natural. A
comparação dos teores de 3,6-anidrogalactose ao longo do período de coleta mostrou
diferença significativa entre as amostras (p= 0,000). A análise de variância reflete esta
grande variabilidade nos percentuais obtidos (Tab. 3), evidenciando as muitas
diferenças significativas entre as amostras analisadas.
Os percentuais de sulfato apresentaram teores entre 6,9 (19/05/04) e 11,1%
(04/08/04) (Fig. 10). A comparação entre os teores de sulfato ao longo do período de
coleta mostrou diferença significativa (p= 0,000).
O teor de sulfato da amostra de 04/08/04 (11,2%) foi significativamente maior
que a amostra de 17/09/02 (7,3%, p= 0,002), de 10/02/03 (8,2%, p= 0,030), de
23/03/03 (7,9%, p= 0,013), de 23/03/04 (7,43%, p= 0,003), de 31/08/04 (7,5%, p=
0,004) e de 19/05/04 (6,9%, p= 0,029).
107
0
2
4
6
8
10
12
14
16
set-02 out-02 dez-02 jan-03 mar-03 mai-03 jun-03 ago-03 out-03 nov-03 jan-04 mar-04 abr-04 jun-04 ago-04 set-04
Mês do coleta
(%)
3,6AG Sulfato
Figura 10: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato no ágar de Gracilaria
domingensis extraído com CaCl
2
0,5%, coletada no banco natural (anos: 2002, 2003 e
2004).
Tabela 24: Valores estimados de p para o Teste de Tukey realizado para os valores
percentuais de 3,6-anidrogalactose em Gracilaria domingensis (extração com CaCl
2
0,5%) coletada no banco natural (anos: 2002, 2003 e 2004). Em negrito, as amostras onde
houve diferença significativa.
Coleta
17/09/02
14/11/02
10/02/03
23/03/03
01/06/03
20/07/03
01/08/03
25/09/03
10/02/04
23/03/04
19/05/04
07/07/04
04/08/04
14/11/02
1,000
10/02/03
0,625 0,984
23/03/03
0,003 0,000 0,000
01/06/03
0,005 0,001 0,000
1,000
20/07/03
0,910 1,000 1,000
0,000 0,000
01/08/03
0,002 0,000 0,000 1,000 1,000 0,000
25/09/03
0,001 0,000 0,000
1,000 1,000
0,000
1,000
10/02/04
0,004 0,001 0,000
1,000 1,000
0,000
1,000 1,000
23/03/04
0,003 0,000 0,000
1,000 1,000
0,000
1,000 1,000 1,000
19/05/04
1,000 1,000 0,937 0,075 0,115 0,993 0,072
0,047
0,066 0,088
07/07/04
0,998 0,803 0,133
0,027
0,053 0,346
0,026 0,014 0,032 0,035
1,000
04/08/04
0,785 0,266
0,018
0,189 0,315 0,061 0,179 0,105 0,179 0,232 0,978 0,999
31/08/04
1,000 1,000 0,803
0,001 0,003
0,978
0,001 0,001 0,002 0,002
1,000 0,984 0,604
3.5 Avaliação do ágar de G. domingensis extraído de mudas provenientes do
cultivo no Local 1 ao longo do período experimental
Os teores de ágar de G. domingensis variaram entre 32,0 (27/05/04) e 45,2%
(08/09/04) ao longo dos anos analisados (Fig. 11) e não apresentaram um padrão no
período monitorado. Na maioria das amostras, o rendimento foi menor que 40,0% e
somente em quatro (15/08/03, 26/02/04, 03/03/04 e 08/09/04) dos dezesseis
experimentos de cultivo realizados, este rendimento foi ultrapassado (Fig. 11).
108
A comparação dos rendimentos de G. domingensis neste local ao longo do período
de coleta mostrou que houve diferença entre os meses analisados (p= 0,000). A
amostra 08/09/04 (45,2%) foi maior que as amostras 07/04/04 (33,9%, p= 0,000),
27/05/04 (32%, p= 0,000) e 12/09/04 (33,3%, p= 0,000). Houve diferença também
entre as amostras 03/03/04 (43,6%) e 27/05/04 (32,0%, p= 0,000).
A quantidade de 3,6-anidrogalactose variou entre 5,5 (12/09/04) e 7,2% (12/08/04)
(Fig. 12). Não houve diferenças significativas no teor deste açúcar entre os diferentes
períodos de coleta. Assim como para o rendimento de ágar, não foi possível observar
um padrão sazonal na variação de 3,6-anidrogalactose neste local.
Os teores de sulfato ao longo dos anos 2003 e 2004 variaram entre 6,4
(setembro/2004) e 11,8% (agosto/2003) (Fig. 12). A comparação entre os teores de
sulfato ao longo do período de coleta mostrou que não houve diferenças entre as
amostras, nem padrão em seus teores ao longo do período monitorado.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
jul-03 set-03 out-03 nov-03 jan-04 fev-04 abr-04 mai-04 jul-04 ago-04 out-04
Mês do cultivo
Rendimento de ágar (%)
Figura 11: Rendimento percentual do ágar de Gracilaria domingensis extraído com CaCl
2
0,5%, cultivada no Local 1 (anos: 2003 e 2004).
109
0
2
4
6
8
10
12
14
16
jul-03 ago-03 out-03 nov-03 dez-03 fev-04 mar-04 abr-04 jun-04 jul-04 ago-04 set-04
Mês do cultivo
(%)
3,6AG
Sulfato
Figura 12: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato no ágar de Gracilaria
domingensis extraído com CaCl
2
0,5%, cultivada no Local 1 (anos: 2003 e 2004).
3.6 Avaliação do ágar de G. domingensis extraído de mudas provenientes do
cultivo no Local 2 ao longo do período experimental
Os valores percentuais de rendimento de ágar para G. domingensis cultivada no
Local 2 variaram entre 25,3 (25/09/03) e 48,8% (22/08/04) (Fig. 13). A comparação
dos rendimentos de G. domingensis neste local ao longo do período de coleta mostrou
que houve diferença entre os meses analisados (p= 0,000), embora não seja possível
identificar um padrão ao longo do período monitorado. Diferente do que foi observado
no Local 1, a maioria dos experimentos no Local 2 mostrou rendimentos superiores a
40,0% (Fig. 13).
Excetuando-se o experimento de 25/09/03 (o único que apresentou rendimento
de ágar abaixo de 30%), algumas diferenças significativas foram observadas: 27/05/04
(34,9%) apresentou rendimento menor que os de 26/02/04 (48,5%), 02/06/04 (45,5%)
e 22/08/04 (48,8%, p= 0,000 para todas as comparações); o experimento de 02/04/04
(38,4%) apresentou valores menores que aqueles de 22/08/04 (48,8%, p= 0,000).
110
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
set-03 out-03 nov-03 dez-03 jan-04 fev-04 mar-04 abr-04 mai-04 jun-04 jul-04 ago-04 ago-04
Mês do cultivo
Rendimento de ágar (%)
Figura 13: Rendimento de ágar em Gracilaria domingensis extraído com CaCl
2
0,5%,
cultivada no Local 2 (anos: 2003 e 2004).
Os teores de 3,6-anidrogalactose variaram entre 5,2 (25/09/03) e 8,1% (26/02/04)
(Fig. 14). A comparação nos teores de 3,6-anidrogalactose ao longo do período de
coleta mostrou que houve diferença significativa entre as amostras (p= 0,044),
entretanto, o teste de Tukey mostrou que não houve diferença entre as amostras ao
longo do período experimental.
Os percentuais de sulfato variaram entre 6,5 (02/06/04) e 11,0% (02/04/04)
(Fig. 14). A comparação entre os teores de sulfato ao longo do período de coleta
mostrou que não houve diferença entre as amostras.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
set-03 out-03 nov-03 dez-03 jan-04 fev-04 mar-04 abr-04 mai-04 jun-04 jul-04 ago-04 ago-04
Mês de cultivo
(%)
3,6AG Sulfato
111
Figura 14: Percentual de 3,6-anidrogalactose e de sulfato do ágar de Gracilaria
domingensis extraído com CaCl
2
0,5%, cultivada no Local 2 (anos: 2003 e 2004).
4 – DISCUSSÃO
4.1 – Avaliação dos protocolos para extração do ágar de G. domingensis
A comparação dos diferentes protocolos de extração mostrou que os rendimentos
mais baixos de ágar (até mesmo nulos) foram obtidos nos pré-tratamentos alcalinos a
quente ou ácidos. Tais resultados sugeriram que estes protocolos não foram indicados
para extrair o ágar de G. domingensis, incluindo aquele de pré-tratamento alcalino a
quente com NaOH, amplamente citado na literatura para extrair o ágar de espécies de
Gracilaria (ASSAD-LUDEWIGS, 1984; DURAIRATNAM, 1987; APONTE-DIAZ &
CASTRO, 1989; LEVY et al., 1990; HURTADO-PONCE, 1992; OROSCO et al., 1992;
ISTINI et al., 1994; REBELLO et al., 1997). Além deste, o protocolo de pré-tratamento
alcalino a quente com KOH, utilizado para extrair carragenana, mostrou os
rendimentos de ágar mais baixos dentre aqueles obtidos, sugerindo ser também pouco
adequado para G. domingensis.
O fato dos filtrados obtidos após a extração no pré-tratamento alcalino a quente
com NaOH não terem gelificado indicaram que a temperatura utilizada foi elevada
demais para a extração do ágar de G. domingensis ou que o tempo de extração (2h)
foi longo demais. Segundo MURANO (1995), temperaturas muito elevadas e/ou
extrações demoradas (mais de 2h), particularmente no caso de pré-tratamentos
alcalinos acarretam degradação da molécula do polissacarídeo. No entanto,
HURTADO-PONCE (1992), ao testar a extração alcalina do ágar de espécies de
Gracilaria em 3 tempos de extração diferentes, concluiu que existia dependência entre
tempo de extração e a espécie.
O mesmo resultado foi observado para os pré-tratamentos ácidos, onde os
filtrados não gelificaram. A degradação pode ter ocorrido parcialmente no pré-
tratamento alcalino a quente com KOH em todas as concentrações testadas, já que os
rendimentos obtidos foram os mais baixos dentre os protocolos testados. A
temperatura de 80
o
C utilizada no pré-tratamento alcalino não foi adequada para extrair
o ágar de G. domingensis, sendo necessário testar este protocolo em temperaturas
mais baixas para verificar se em condições diferentes de extração alcalina com NaOH,
o rendimento seria maior.
Para VILLANUEVA et al. (1997), as condições de extração devem ser testadas
levando-se em consideração que as condições ótimas (temperatura, concentração do
112
álcali e tempo de extração) são exclusivas para cada espécie. Segundo estes autores,
tais testes poderiam levar a resultados diferentes daqueles na literatura,
especialmente no caso de espécies caracterizadas por produzirem géis de baixa
qualidade.
Este pode ser o caso para G. domingensis, que atualmente é explotada no
litoral do nordeste brasileiro para sua utilização como alimento humano (OLIVEIRA,
2006), sendo seu ágar considerado de baixa qualidade. O presente estudo é um dos
poucos trabalhos que avaliou diferentes condições para a extração de ágar de G.
domingensis, demonstrando que os protocolos mais utilizados na literatura não foram
os que mostraram melhores rendimentos para esta espécie. Assim, de acordo com
VILLANUEVA et al. (1997), a otimização dos protocolos com melhores resultados
avaliados no presente estudo, podem levar a produção de ágar alimentício a partir de
G. domingensis.
O pré-tratamento alcalino a frio (CHIRAPART & OHNO, 1993; GERUNG et al.,
1997) e o protocolo de extração com CaCl
2
(DURAIRATNAM et al., 1990), por outro
lado, embora tenham sido pouco testados para outras espécies de Gracilaria,
mostraram rendimentos muito superiores aos pré-tratamentos alcalinos a quente para
G. domingensis. Nestes casos, além do bom rendimento de ágar (15,4 a 24,7% para
os pré-tratamentos alcalinos a frio e 49,5 a 53,1% na extração com CaCl
2
), estes
protocolos também geraram bons teores de 3,6-anidrogalactose (9,5 a 11,4% para os
pré-tratamentos alcalinos a frio e 7,9 a 8,6% na extração com CaCl
2
).
Estas observações levam-nos a sugerir que o ágar extraído de G. domingensis
possui características distintas de outras espécies e por este motivo, para extraí-lo e
obter rendimento e qualidade mais elevados, métodos diferentes daqueles
normalmente utilizados para as espécies cilíndricas de Gracilaria devem ser testados,
o que poderia ratificar o proposto por VILLANUEVA et al. (1997).
Nos pré-tratamentos alcalinos a quente, a temperatura escolhida para este trabalho
foi de 80
o
C, uma vez que, segundo CHIRAPART & OHNO (1993) e ISTINI et al.
(1994), esta confere maior rendimento e assegura a manutenção das propriedades
físicas do ágar extraído de Gracilaria, embora a literatura cite diferentes temperaturas
para realizar a extração (DURAIRATNAM & SANTOS, 1981; OROSCO et al., 1992;
CHIRAPART & OHNO, 1993).
CHIRAPART & OHNO (1993) discutiram a influência da temperatura sobre o
rendimento de ágar, a força do gel e sua viscosidade e concluíram que embora a
temperatura mais baixa (70
o
C) tenha possibilitado o maior rendimento, a temperatura
intermediária (80
o
C) foi a que mostrou melhor qualidade de gel, pois possibilitou um
113
aumento na força do gel e assim, os autores recomendaram esta temperatura para
extrair o ágar de Gracilaria sp.
Os rendimentos de ágar obtidos neste trabalho por meio dos diversos
protocolos de extração mostraram valores similares ou superiores àqueles
encontrados na literatura para diferentes espécies de Gracilaria (Tab. 4), embora seja
necessário levar em consideração as diferentes metodologias de extração utilizadas
por seus autores. O rendimento do ágar nativo de G. domingensis obtido foi similar
aos valores observados para a mesma espécie no Rio Grande do Norte e na
Venezuela. Contudo, outras espécies apresentaram rendimentos mais baixos que G.
domingensis (Tab. 4).
Portanto, considerando os altos rendimentos de ágar de G. domingensis
extraídos através de diferentes protocolos no presente estudo, é possível afirmar a
potencialidade desta espécie como um recurso explorável para a produção de ágar,
especialmente para seu uso como ágar alimentício.
114
Tabela 25: Rendimentos de ágar nativo e extraído por meio do pré-tratamento alcalino a
quente para espécies de Gracilaria.
Espécie
Rend. (%)
Nativo
Rend. (%)
Alcalino
Local
Referência
G. domingensis
35,4 3,91-8,28 SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis
15,44-24,69
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis
49,54-53,08
b
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 19,27a 22,88
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 12,97-19,50
b
SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 28 a 36 37 – 46
b
RN, Brasil Durairatnam et al. (1990)
G. domingensis 29 a 31 15 a 27 Venezuela Aponte-Diaz & Castro (1989)
G. aff. verrucosa 28 a 33 15 a 19 SP, Brasil Assad-Ludewigs (1984)
G. edulis 28,2 a 44,2
17,1 a 29,1 RN, Brasil Durairatnam (1987)
G. cerviconis 11 a 20 RN, Brasil Marinho-Soriano et al. (2001)
G. gracilis 14 Brasil Rebello et al. (1997)
G. firma 23,5 Filipinas Araño et al. (2000)
G.edulis 10,6 a 24,2
14,1 a 21,3 Malásia Orosco et al. (1992)
G. tikvahiae 21 a 22 7,6 a 11,9 EUA Bird & Hinson (1992)
G. blodgettii 24 a 26 8,4 a 10,2 EUA Bird & Hinson (1992)
a
Pré-tratamento alcalino a frio;
b
Extração com CaCl
2
No pré-tratamento alcalino a quente com KOH, os valores encontrados de
rendimento de ágar para G. domingensis (entre 3,9 e 8,3%), foram baixos quando
comparados àqueles da literatura. A grande maioria dos estudos utilizou NaOH em
diversas concentrações e temperaturas (geralmente acima de 70
o
C) e o rendimento de
ágar das diversas espécies de Gracilaria ficou entre 15 e 40% (HOYLE, 1978a, b;
ASSAD-LUDEWIGS, 1984; DURAIRATNAM, 1987; APONTE-DIAZ & CASTRO, 1989;
LEVY et al., 1990; HURTADO-PONCE, 1992; OROSCO et al., 1992; REBELLO et al.,
1997).
Ainda é pouco claro como as diferentes formas de álcali (NaOH e KOH)
utilizadas nos pré-tratamentos poderiam afetar o rendimento de ágar. No entanto, para
G. domingensis, a extração a quente aparentemente foi mais prejudicial do que é
reportado para outras espécies de Gracilaria citadas na literatura, onde o rendimento
de ágar variou de 15 a 40% (Tab. 4). Tal afirmação pode ser corroborada pelos
resultados do pré-tratamento alcalino a frio, onde os rendimentos de ágar e teores de
3,6-anidrogalactose mostraram-se mais altos do que os observados no pré-tratamento
alcalino a quente, indicando que em temperaturas mais baixas (menores que 80
o
C) a
qualidade do gel pode ser melhorada. Poucos trabalhos foram realizados com pré-
tratamento alcalino a frio ou temperatura de pré-tratamento mais baixa (GERUNG et
al., 1997; CHIRAPART & OHNO, 1993) e o rendimento obtido por estes autores variou
com a espécie estudada.
115
Existem outros protocolos de extração citados na literatura que utilizaram
soluções alcalinas diferentes, que não as obtidas por meio de hidróxido
(DURAIRATNAM et al., 1990; PRICE & BIELIG, 1992) como foi o caso do protocolo de
extração com CaCl
2
(nossos dados). No presente estudo, o rendimento médio de ágar
extraído com CaCl
2
para G. domingensis foi de 49,5% na concentração de 0,5% e de
53,1% na concentração de 1%. Estes valores foram superiores aos observados por
DURAIRATNAM et al. (1990) para a mesma espécie e mesma metodologia no Rio
Grande do Norte (37% e 46%), o que sugere diferenças intraespecíficas, uma vez que
a espécie estaria sujeita a diferentes pressões ambientais nestes dois locais.
Apesar de ser conhecido que tanto o rendimento como as propriedades físicas
e químicas do ágar podem mudar de acordo com fatores ambientais e fisiológicos para
uma mesma espécie, os teores de 3,6-anidrogalactose de G. domingensis observados
por DUCKWORTH et al. (1971) (37,8%) foram muito altos, próximos ou mesmo
superiores aos observados para espécies que são conhecidas por produzirem um gel
de alta qualidade como G. verrucosa e G. pseudoverrucosa, acima de 30% (Tab. 5).
Embora o rendimento de ágar de G. domingensis tenha sido bastante similar
ou mesmo superior ao observado para outras espécies (Tab. 4), o mesmo não pode
ser dito dos teores de 3,6-anidrogalactose obtidos no presente trabalho (3,96 a
11,39%), os quais foram inferiores àqueles observados para outras espécies (Tab. 5).
O teor de 3,6-anidrogalactose aceito pela indústria está acima de 15% e os valores
observados indicaram que G. domingensis possui de fato um gel considerado que
pode ser considerado fraco pela indústria, que o teor de 3,6-anidrogalactose tem
relação direta com a força do gel (MURANO, 1995; MATULEWICZ, 1996).
Dos protocolos testados no presente trabalho, os percentuais mais elevados de
3,6-anidrogalactose foram observados nos pré-tratamentos alcalinos a frio e na
extração com CaCl
2
, mas sem diferença significativa em relação ao teor obtido do ágar
nativo. Este fato também foi observado por DUCKWORTH et al. (1971), que
analisaram o teor de 3,6-anidrogalactose e de sulfato no ágar nativo e no tratado com
solução alcalina em G. domingensis do Caribe, não observaram diferenças nestes
teores, embora o teor de 3,6-anidrogalactose fosse muito mais elevado do que o
observado no presente estudo. Segundo estes autores, isso ocorreu provavelmente
porque sulfato não estaria presente no C-6 da molécula de L-galactose e por isto os
teores não teriam se alterado. Para que o tratamento alcalino seja efetivo, é
necessário que o sulfato esteja presente no C-6 da molécula de L-galactose, pois é
este que irá reagir com o carbono 3.
No caso do estudo de DUCKWORTH et al. (1971), como o teor de sulfato não
se alterou após o tratamento alcalino, os autores concluíram desta forma, que o sulfato
116
não estaria presente no C-6 da molécula. Apesar de não termos constatado diferença
significativa nos teores de 3,6-anidrogalactose entre as amostras do ágar nativo e das
amostras extraídas por meio do pré-tratamento alcalino a frio, observamos que houve
um aumento no teor de 3,6-anidrogalactose de cerca de 20% em relação às amostras
de ágar nativo. Por este motivo, é necessário que o pré-tratamento alcalino em
temperaturas mais baixas que 70
o
C seja testado.
Tabela 26: Percentuais de 3,6-anidrogalactose (3,6-AG) em ágar nativo e extraído por
meio de pré-tratamento alcalino a quente em espécies de Gracilaria.
Espécie 3,6-AG (%)
Nativo
3,6-AG (%)
Alcalino
Local Referência
G. domingensis 8,84 3,96-6,52 SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 9,46-11,39
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 7,93-8,64
b
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 12,47-12,78
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 9,44-15,18
b
SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 37,8 37,8 Caribe Duckworth et al. (1971)
G. pseudoverrucosa 28,2 a 34,4 36,6 a 37,8 Cana Whyte & Englar (1980)
G. verrucosa 31,5 38,3 Cana Whyte & Englar (1980)
G. chorda 28,3 41,3 Canadá Whyte & Englar (1980)
G. tikvahiae 20,2 a 27,8 EUA Bird et al. (1981)
G. tikvahiae 20,3 a 27,3 27,4 a 31,4 EUA Bird & Hinson (1992)
G. blodgettii 24,7 32,4 EUA Bird & Hinson (1992)
G. arcuata 15,3 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. salicornia 13,9 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. blodgettii 15,1 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. firma 28 Filipinas Araño et al. (2000)
Gracilaria sp. 25 Filipinas Araño et al. (2000)
G. chorda 29 33,5 Japão Orosco et al. (1991)
Gracilaria sp. 29,6 a 36,2 Israel Friedlander & Zelikovitch (1984)
a
Pré-tratamento alcalino a frio;
b
Extração com CaCl
2
.
Os teores de sulfato encontrados nas amostras de G. domingensis submetidas
aos diferentes protocolos de extração foram altos (4,44 a 11,37%), quando
comparados àqueles encontrados na literatura (Tab. 6). Embora tenham sido
elevados, estes teores apresentam-se dentro daqueles descritos para o ágar para o
gênero Gracilaria (< 10%, ARMISEN, 1995). Os altos teores de sulfato dificultam a
formação das hélices que se formam conforme ocorre a gelificação, deixando estas
hélices instáveis, diminuindo a força do gel. Por este motivo, os tratamentos alcalinos
são empregados para diminuir a quantidade de sulfato nas moléculas, fazendo com
que o gel adquira maior dureza. O tratamento alcalino possibilita a substituição
nucleofílica na qual a hidroxila do C-3 reage com o C-6 da unidade -L-galactose-6-
sulfato do ágar, formando a unidade de 3,6-anidro- -L-galactose, fazendo com que o
117
gel adquira maior dureza ao diminuir os grupos sulfato em C-6. Os resultados
indicaram que o pré-tratamento alcalino a quente foi capaz de diminuir o teor de
sulfato, fazendo com que aquela substituição ocorresse. O pré-tratamento alcalino a
frio, por outro lado, não alterou a quantidade de sulfato na molécula, mostrando ser
ineficiente. Por outro lado, a extração com CaCl
2
apresentou, da mesma forma como
ocorreu no pré-tratamento alcalino a quente, uma diminuição no teor de sulfato,
mostrando ser um método eficiente para catalisar tal reação.
Tabela 27: Percentuais de sulfato em ágar nativo e extraído por meio de pré-tratamento
alcalino a quente em espécies de Gracilaria.
Espécie Sulfato (%)
Nativo
Sulfato (%)
Alcalino
Local Referência
G. domingensis 10,92 4,44 a 7,18 SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 10,74-11,37
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. domingensis 4,94-7,30
b
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 1,48-2,55
a
SC, Brasil Presente trabalho
G. caudata 0,34-4,24
b
SC, Brasil Presente trabalho
G, domingensis 6,0 4,7 Caribe Duckworth et al. (1971)
G. pseudoverrucosa 3,54 a 6,13 3,05 a 3,85 Canadá Whyte & Englar (1980)
G. verrucosa 3,99 2,62 Cana Whyte & Englar (1980)
G. chorda 4,48 2,24 Canadá Whyte & Englar (1980)
G. tikvahiae 0,9 a 3,7 EUA Bird et al. (1981)
G. tikvahiae 2,5 a 3,5 2,4 a 3,7 EUA Bird & Hinson (1992)
G. blodgettii 2,3 2,1 EUA Bird & Hinson (1992)
Gracilaria sp. 0,8 Filipinas Araño et al. (2000)
G. firma 3 Filipinas Araño et al. (2000)
G. arcuata 5,2 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. salicornia 4,2 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. blodgettii 5,3 Filipinas Calumpong et al. (1999)
G. chorda 3,9 0,8 Japão Orosco et al. (1991)
Gracilaria sp. 0,8 a 2,0 Israel Friedlander & Zelikovitch (1984)
a
Pré-tratamento alcalino a frio;
b
Extração com CaCl
2
.
Embora outras análises sejam necessárias para uma avaliação mais precisa da
qualidade e das características físicas do ágar de G. domingensis, nossos resultados
indicaram que o protocolo de extração com CaCl
2
produz um gel com melhores
características. Avaliações químicas devem ser consideradas, investigando as
substituições que podem ter ocorrido na molécula do dissacarídeo durante este
processo, o que pode resultar em características que melhorem a qualidade do gel de
G. domingensis, conforme o sugerido por VILLANUEVA et al. (1997). Além disso,
segundo HURTADO-PONCE (1992), refinamentos da metodologia de pré-extração
poderiam melhorar a textura de géis fracos e desta forma, diversificar suas aplicações
industriais.
118
Assim, de acordo com os resultados obtidos para o rendimento de ágar, teor de
3,6-anidrogalactose e de sulfato, o protocolo que mostrou melhores valores (alto
rendimento, alto teor de 3,6-anidrogalactose e baixo teor de sulfato) foi o de extração
com CaCl
2
em ambas concentrações.
4.2 – Avaliação de protocolos para extração de ágar de G. caudata
A comparação dos quatro diferentes protocolos de extração testados para G.
caudata apresentou rendimentos de ágar bastante variáveis (entre 13,0 a 22,9%),
sendo o maior aquele observado no pré-tratamento alcalino a frio com NaOH. Tais
resultados corroboraram dados da literatura, onde os autores indicaram altos
rendimentos de ágar (entre 15 e 25%) nos pré-tratamentos alcalinos para o mesmo
gênero (ASSAD-LUDEWIGS, 1984; DURAIRATNAM, 1987; APONTE-DIAZ &
CASTRO, 1989; LEVY et al., 1990; HURTADO-PONCE, 1992; OROSCO et al., 1992;
ISTINI et al., 1994; REBELLO et al., 1997).
Embora os rendimentos de ágar de G. caudata tenham apresentado valores
razoáveis, quando comparados com espécies de alto valor comercial, como G.
verrucosa (Tab. 4), existe a possibilidade de se incrementar estes valores, com a
extração de ágar por outras metodologias, como o pré-tratamento alcalino a quente,
que é o normalmente utilizado para espécies de Gracilaria de talo cilíndrico, como é o
caso de G. caudata.
ASSAD-LUDEWIGS (1984) realizou a extração do ágar nativo de G. aff. verrucosa
(= G. caudata, E. C. OLIVEIRA, com. pess.) coletada no litoral norte de São Paulo, a
qual mostrou rendimentos de ágar entre 28 a 33% ao passo que o pré-tratamento
alcalino a quente produziu percentuais entre 15 a 19%. Embora não tenhamos
realizado extração do ágar nativo e o pré-tratamento alcalino utilizado tenha sido a frio,
os rendimentos de ágar com pré-tratamento alcalino foram bastante similares aos
observados no litoral paulista por ASSAD-LUDEWIGS (1984).
Ao analisar os parâmetros disponíveis (rendimento de ágar, teor de 3,6-
anidrogalactose e de sulfato), os protocolos de pré-tratamento alcalino foram os mais
indicados para G. caudata de Santa Catarina. Testes adicionais com outros protocolos
de extração, como o de pré-tratamento alcalino a quente, podem mostrar dados
diferentes, uma vez que seu talo é cilíndrico, característica de espécies mais
interessantes economicamente (OLIVEIRA et al., 2000) e cujo ágar é tradicionalmente
extraído por meio desta metodologia.
Apesar de ser coletada em grandes quantidades no nordeste brasileiro para
extração de ágar alimentício (OLIVEIRA, 1998) para o mercado nacional (OLIVEIRA &
MIRANDA, 1998), poucas informações acerca da qualidade do ágar de G. caudata
119
do litoral brasileiro, sendo o presente estudo um dos poucos a comparar diferentes
protocolos de extração e a analisar os teores de 3,6-anidrogalactose e de sulfato,
indicadores da qualidade do ágar.
Os teores de 3,6-anidrogalactose dos ágares de G. caudata obtidos por meio
dos diferentes protocolos mostraram-se baixos (entre 9,44 e 15,18%), quando
comparados a outras espécies de Gracilaria, embora tenham alcançado percentuais
semelhantes à espécies comerciais das Filipinas (CALUMPONG et al., 1999) (Tab. 5).
Da mesma forma, os teores de sulfato obtidos apresentaram valores semelhantes
àqueles observados para outras espécies de Gracilaria com potencial econômico (Tab.
6).
Os resultados apresentados para G. caudata mostraram que esta espécie
possui um ágar economicamente viável, visto que seu rendimento e teores de 3,6-
anidrogalactose e sulfato foram semelhantes àqueles observados para espécies
explotadas comercialmente nas Filipinas (CALUMPONG et al., 1999), embora outros
testes, acerca dos protocolos de extração e da qualidade do gel das populações do sul
do Brasil sejam necessários para confirmar seu potencial econômico.
Analisando os resultados obtidos, o protocolo que apresentou melhor
rendimento de ágar e teor intermediário de 3,6-anidrogalactose e de sulfato foi o de
extração com NaOH. O protocolo que apresentou o teor mais elevado de 3,6-
anidrogalactose foi justamente aquele que mostrou o rendimento mais baixo. Por estes
motivos, a seleção do protocolo com pré-tratamento alcalino a frio com NaOH parece
ser o melhor, dentre os protocolos avaliados. Entretanto, avaliações de pré-
tratamentos alcalinos a quente, com variações das condições de extração, para as
populações do sul do Brasil se fazem necessárias.
4.3 Comparação do ágar de G. domingensis e G. caudata, extraído por meio de
diferentes protocolos
Gracilaria domingensis apresentou rendimento de ágar superior a G. caudata,
independente do protocolo de extração em questão, indicando que em relação ao
rendimento de ágar, G. domingensis foi a mais produtiva. Entretanto, o desempenho
dos protocolos de extração apresentou um padrão inverso para as duas espécies: os
protocolos que apresentaram melhor rendimento para G. domingensis indicaram o pior
desempenho para G. caudata, afirmando a necessidade de se realizar mais testes
com esta espécie. O protocolo que apresentou o maior rendimento para G.
domingensis foi CaCl
2
1%, o qual mostrou o menor rendimento para G. caudata. Por
outro lado, o protocolo com maior rendimento para G. caudata (NaOH) foi o que
120
apresentou o menor rendimento para G. domingensis, o que demonstrou que as duas
espécies possuem ágares com características químicas distintas.
Embora não tenha sido observada diferença significativa entre as espécies (com
exceção da extração com CaCl
2
1%, quando houve diferença entre elas), os teores de
3,6-anidrogalactose de G. caudata apresentaram-se mais elevados que os observados
para G. domingensis. Apesar disso, os teores observados para ambas espécies foram
baixos se comparados a outras espécies de Gracilaria (Tab. 5). Por outro lado, os
percentuais de sulfato foram mais elevados para G. domingensis, em todos os
protocolos testados, tendo sido superiores àqueles apresentados por outras espécies
(Tab. 6). Para G. caudata, os teores observados foram comparáveis aos obtidos por
outras espécies, mantendo-a entre aquelas com potencial econômico para a produção
de ágar. De fato, G. caudata tem sido explotada no litoral do nordeste brasileiro como
fonte de ágar (OLIVEIRA & MIRANDA, 1998) enquanto G. domingensis tem sua
utilidade como alimento (OLIVEIRA, 2006).
Comparando as duas espécies para os mesmos protocolos de extração de ágar,
observou-se que G. domingensis apresentou sempre maior conteúdo de ágar que G.
caudata. Notou-se ainda que houve uma grande influência da metodologia de extração
de ágar empregada nos rendimentos e também nas características químicas
observadas. Além disso, não houve diferenças significativas nos teores de 3,6-
anidrogalactose para ambas espécies, indicando que os teores deste açúcar podem
ser aumentados com a concomitante diminuição dos teores de sulfato. Assim, de
acordo com HURTADO-PONCE (1992) e VILLANUEVA et al. (1997), cada espécie
pode produzir um ágar diferente conforme a metodologia empregada para a extração
do ficocolóide, e faz-se necessário, por isto, testar os diferentes protocolos para obter
aquele que produz o ágar com as melhores características, dentro das possibilidades
da espécie, para a região em questão, visto que existem diferenças intraespecíficas
regionais.
Embora tenha sido possível obter altos teores de ágar para G. domingensis por
meio da extração com CaCl
2
, outros testes, como o pré-tratamento alcalino a quente
em temperaturas mais baixas, poderiam trazer novas informações sobre o ágar desta
espécie. Como os resultados obtidos para G. domingensis em relação aos vários
protocolos de extração foram inversos aos observados para G. caudata, é
recomendável testar vários protocolos diferentes para a extração de ágar desta última,
buscando um melhor conhecimento de seu potencial como produtora de ágar.
Embora G. domingensis seja explotada para utilização na alimentação humana, os
resultados mostraram que o ágar desta espécie pode ter utilidade na indústria
alimentícia, quando extraído por meio de protocolos alternativos, pouco utilizados para
121
extração de ágar deste gênero, como foi o caso da extração com CaCl
2
e como
recomendaram VILLANUEVA et al. (1997). Para estes autores, a otimização do
tratamento alcalino (com relação à temperatura, concentração do álcali e o tempo de
extração) deve ser feita para espécies de agarófitas, especialmente aquelas
caracterizadas por produzirem ágar de baixa qualidade, uma vez que este
procedimento pode torná-las mais atraentes do ponto de vista comercial.
Apesar dos baixos valores de 3,6-anidrogalactose observados, tanto para G.
domingensis como para G.caudata, estes foram próximos aos de ágares utilizados
para fins alimentícios, o que sugere que ambas apresentam potencial para tal
utilização, sendo igualmente boas candidatas. Além disto, as variações observadas no
rendimento e na qualidade do ágar em função da metodologia de extração
demonstraram claramente a necessidade de avaliação dos protocolos para definição
do potencial da alga como produtora do ficocolóide. Certamente testes de novos
protocolos de extração e pré-tratamentos, poderão indicar potenciais melhorias na
qualidade do ágar das espécies estudadas.
4.4 Avaliação do ágar de G. domingensis extraído de mudas provenientes do
banco natural e dos cultivos
A ausência de sazonalidade para os teores de ágar de G. domingensis coletada
tanto em bancos naturais como nas duas áreas de cultivo, se refletiu também nos
teores de 3,6-anidrogalactose e de sulfato. Apesar da ausência de variação observada
neste trabalho os dados corroboraram as observações de alguns autores (e.g.:
HOYLE, 1978a; MARINHO-SORIANO et al., 2001) que justificaram que fatores locais
como disponibilidade de nutrientes e hidrodinâmica (BIRD, 1988; MARINHO-
SORIANO & BOURRET, 2003), assim como variações destes em curta escala
temporal, muitas vezes poderiam mascarar tais variações sazonais. Por outro lado,
vários outros reportaram variações sazonais para o rendimento e para a qualidade do
ágar (e.g.: PRICE & BIELIG, 1992; VILLANUEVA et al., 1999; MARINHO-SORIANO &
BOURRET, 2003).
Em G. bursa-pastoris da França os picos nos rendimentos de ágar foram
obtidos no verão (MARINHO-SORIANO, 2001), ao passo que esta mesma espécie no
Havaí não mostrou uma variação sazonal (HOYLE, 1978a). O ágar nativo de G.
cornea foi analisado no México e os autores afirmaram que houve um claro padrão
sazonal no rendimento de ágar, cujos teores aumentaram a partir da estação seca até
a chuvosa, diminuindo até a estação fria, quando o rendimento foi mínimo (FREILE-
PELEGRÍN & ROBLEDO, 1997). MARINHO-SORIANO & BOURRET (2003) discutiram
a relação existente entre os rendimentos de ágar de duas espécies (G. gracilis e G.
122
bursa-pastoris) e as estações do ano na França e concluíram que ambas mostraram
variação no rendimento de ágar de acordo com as estações, com maiores valores, em
geral, no verão e na primavera, os quais coincidiram com os maiores valores de
temperatura e salinidade. No litoral nordeste brasileiro, MARINHO-SORIANO et al.
(2001) mostraram que G. cervicornis não apresentou um padrão sazonal definido, com
rendimento de ágar variando entre 11 e 20%, mas com a média mais alta na estação
seca (verão) e Hydropuntia cornea (=G. cornea), embora tenha apresentado teores
mais altos que a espécie anterior (entre 29 e 41%), com um pico no mês de junho, não
mostrou um padrão sazonal nos rendimentos obtidos. No litoral paulista, ASSAD-
LUDEWIGS (1984) verificou que o rendimento de ágar de G. verrucosa (=G. caudata)
variou entre 22,3 e 32,1%, com o máximo no verão.
Embora em nosso estudo não tenha sido possível estabelecer um padrão
sazonal para as amostras dos cultivos, nas amostras do banco natural notou-se uma
tendência de aumento nos rendimentos de ágar entre o inverno e a primavera para os
três anos analisados. Contudo, essa tendência não resultou em uma diferença
significativa em relação aos demais meses de coleta.
A tendência sazonal nos teores e na qualidade do ágar geralmente é atribuída
a variações nas taxas de crescimento, com maior rendimento e qualidade nos
períodos de menores taxas de crescimento (LOBBAN & HARRISON, 1997). Como as
taxas de crescimento de G. domingensis na Armação do Itapocoroy não apresentaram
sazonalidade definida (vide Capítulo 2), certamente este é um fator que está
relacionado à ausência de sazonalidade também para rendimento do ágar. Este fato,
juntamente com a elevada variabilidade temporal observada, permitem sugerir que
outros fatores que não a sazonalidade estejam definindo tanto as taxas de
crescimento, como o rendimento e a qualidade do ágar de G. domingensis na
Armação do Itapocoroy.
O rendimento de ágar no banco natural variou entre 29,0 e 50,8%, com a
maioria dos meses apresentando rendimentos superiores a 35%. Quanto ao
rendimento obtido das amostras do cultivo no Local 1, o percentual variou entre 32,0 e
45,2% ao longo do período experimental e o rendimento percentual no Local 2 ficou
entre 25,3 e 48,8%, com a maioria dos meses apresentando rendimentos superiores a
40%. Apesar de haver diferenças significativas entre estes valores, os teores de ágar
dos três locais apresentaram-se bastante semelhantes.
O rendimento de ágar no banco natural variou entre 29,0 e 50,8%, com a
maioria dos meses apresentando rendimentos superiores a 35,0%. No Local 1, o
percentual variou entre 32,0 e 45,2% ao longo do período experimental, enquanto no
Local 2 ficou entre 25,3 e 48,8%, com a maioria dos meses apresentando rendimentos
123
superiores a 40%. Apesar de haver diferenças significativas entre eles, os teores de
ágar dos três locais apresentaram-se bastante semelhantes, quando comparados
simultaneamente. Os altos rendimentos de ágar e a ausência de padrão sazonal para
G. domingensis indicaram que tal espécie pode ser coletada em qualquer época, sem
que isso acarrete em uma diminuição nos rendimentos do ficocolóide. Esta
informação, em conjunto com a observação da ausência de sazonalidade para as
taxas de crescimento (Capítulo 2), reforça a idéia de G. domingensis poder ser
explotada ao longo de todo o ano na enseada de Armação do Itapocoroy.
O mesmo foi observado para os teores de 3,6-anidrogalactose nas amostras
dos três locais, que apresentaram quantidades semelhantes: no banco natural (5,49 a
7,22%), no Local 1 (5,25 a 8,12%) e no Local 2 (5,2 e 10,06%). Apesar de variarem
em uma faixa bastante estreita, estes teores não se apresentaram dentro do
considerado para o ágar comercial, acima de 15%. Embora estes teores sejam
considerados baixos para sua utilização na extração de ágar, como foi sugerido por
VILLANUEVA et al. (1997), a otimização das condições de extração podem resultar
em ágares com melhor qualidade.
Os teores de sulfato foram elevados (acima de 6%), embora seja citado na
literatura que teores de até 10% de sulfato são comuns em espécies de Gracilaria.
Neste contexto, o pré-tratamento alcalino poderia aumentar o teor de 3,6-
anidrogalactose e diminuir o de sulfato, caso o sulfato do ágar de G. domingensis
esteja ligado ao C-6 da -L-galactose, embora, como já citado anteriormente, testes de
tratamento alcalino a quente em temperaturas amenas sejam necessários para testar
tal hipótese. Os resultados obtidos permitiram concluir que não houve influência das
condições do cultivo nos Locais 1 e 2 nas características do ágar extraído,
rendimentos percentuais, teores de 3,6-anidrogalactose e de sulfato ao longo do
período experimental.
124
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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130
Capítulo IV
Considerações Finais
131
1 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os resultados deste trabalho, podemos concluir, com relação ao
cultivo de Gracilaria domingensis na Enseada da Armação do Itapocoroy, que:
O melhor desempenho de G. domingensis, em termos de taxas de crescimento e
rendimento em biomassa, ocorre em profundidades de até 2 metros.
A manutenção da alga nas estruturas de cultivo por mais de 2 semanas só é viável
em situações de mar muito calmo. Em situações de mar agitado, a perda de
biomassa é elevada, tornando o cultivo inviável.
O espaçamento entre as mudas não afeta as taxas de crescimento, mas distâncias
menores que 5 cm dificultam o manejo da corda, aumentando a possibilidade de
fragmentação das algas.
Como as taxas de crescimento são inversamente proporcionais à biomassa da
muda, e além disto mudas maiores estão mais sujeitas à fragmentação, mudas
com mais de 5 g não devem ser utilizadas. Entretanto, mudas muito pequenas
resultam em pouco ganho de biomassa no período de cultivo, devendo, portanto
ser evitadas.
A variabilidade dos fatores ambientais em curta escala de tempo determina as
taxas de crescimento e o rendimento em biomassa, mascarando qualquer padrão
sazonal que possa ocorrer.
Com relação à comparação entre Gracilaria domingensis e Gracilaria caudata,
podemos concluir que:
Ambas espécies apresentam comportamento similar quanto às taxas de
crescimento relação à profundidade e ao tempo de cultivo.
As taxas de crescimento e o rendimento em biomassa são bastante similares entre
ambas, evidenciando igual potencial de cultivo, apesar de G. caudata ser menos
abundante nos bancos naturais da região.
Considerando os resultados, podemos concluir, com relação às características
do ágar de Gracilaria domingensis e de G. caudata procedentes de populações
naturais e dos cultivos na Enseada da Armação do Itapocoroy (Penha, SC), que:
Os protocolos mais adequados para a extração de ágar de Gracilaria domingensis
foram os com CaCl
2
em ambas concentrações (0,5 e 1%).
O protocolo mais adequado para a extração de ágar Gracilaria caudata foi o de
pré-tratamento alcalino a frio com NaOH.
132
G. domingensis apresentou maior rendimento de ágar do que G. caudata em todos
os protocolos comparados.
As respostas de rendimento de G. caudata aos diferentes protocolos, que foram
inversas às respostas apresentadas por G. domingensis, indicam diferenças na
composição dos géis, sugerindo-se estudos posteriores.
O teor de ágar de G. domingensis foi elevado ao longo de todo o ano, apesar dos
baixos teores de 3,6-anidrogalactose.
Apesar da variabilidade observada, não houve padrão sazonal definido para os
teores de ágar, nem para 3,6-anidrogalactose ou sulfato.
2 – SUGESTÕES PARA ESTUDOS FUTUROS
É importante, para a avaliação do potencial de cultivo de algas no Estado, verificar
o desempenho das algas em áreas de menor hidrodinamismo que a Enseada de
Armação do Itapocoroy. Vários parques de cultivo de moluscos no Estado ocupam
áreas de baixo hidrodinamismo e baixa taxa de renovação da água. Tal
característica pode ser favorável tanto pela redução da fragmentação dos talos,
como pela maior concentração de nutrientes geralmente observada nestas áreas,
em função do cultivo de moluscos e do elevado tempo de residência da água.
A elevada variabilidade observada para Gracilaria domingensis, tanto na
morfologia, como nas taxas de crescimento e no grau de epifitismo, evidencia a
necessidade de se investir na seleção de linhagens, que certamente deverá
incrementar o potencial desta espécie para o cultivo.
Gracilaria caudata apresenta um potencial de crescimento similar ao observado
para Gracilaria domingensis, devendo ser investigada com maior detalhamento.
Os bancos naturais de Gracilaria domingensis e de Gracilaria caudata no litoral
centro-norte catarinense são pequenos para sustentar a implantação e
manutenção de cultivos em escala comercial. O desenvolvimento do cultivo por
meio de esporos é uma necessidade, e deve ser uma das metas para estudos
futuros. Neste aspecto, a região parece ser bastante favorável, uma vez que
ambas espécies apresentam elevada freqüência de plantas cistocárpicas.
O rendimento e a qualidade do ágar de G. domingensis podem ser avaliados em
extrações alcalinas em temperaturas mais baixas que 70
o
C.
Outros protocolos de extração para G. caudata, além daqueles realizados no
presente trabalho podem ser testados, em diferentes condições de extração.
133
Anexos
134
ANEXO 1: DADOS AMBIENTAIS REFERENTES ÀS DATAS DOS EXPERIMENTOS
DE CULTIVO REALIZADOS DA ENSEADA DA ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY,
FORNECIDOS PELO PROJETO OLHO VIVO.
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
05/09/02
06/09/02
07/09/02
08/09/02
09/09/02
10/09/02
11/09/02
12/09/02
13/09/02
14/09/02
15/09/02
16/09/02
17/09/02
18/09/02
19/09/02
20/09/02
21/09/02
22/09/02
23/09/02
24/09/02
25/09/02
26/09/02
27/09/02
28/09/02
29/09/02
30/09/02
01/10/02
02/10/02
03/10/02
CALMO
MODERADO
FORTE
FORTE
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
MODERADO
FORTE
CALMO
MODERADO
MODERADO
FORTE
FORTE
FORTE
MODERADO
CALMO
FORTE
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
MODERADO
CALMO
FORTE
MODERADO
FORTE
NORDESTE
NORDESTE
SUL
SUL
SUL
LESTE
LESTE
SUL
SUDESTE
SUL
SUL
OESTE
SUL
LESTE
LESTE
SUL
OESTE
LESTE
LESTE
SUDESTE
LESTE
NORDESTE
NORDESTE
LESTE
NORDESTE
SUL
SUL
LESTE
LESTE
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
BRAVO
BRAVO
BRAVO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
BRAVO
BRAVO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
MODERADO
BRAVO
MODERADO
29/10/02
30/10/02
31/10/02
01/11/02
02/11/02
03/11/02
04/11/02
05/11/02
06/11/02
07/11/02
08/11/02
09/11/02
10/11/02
11/11/02
CALMO
FORTE
FORTE
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
FORTE
FORTE
MODERADO
MODERADO
FORTE
FORTE
FORTE
NORDESTE
SUL
SUDESTE
SUL
NORDESTE
LESTE
SUL
SUL
SUL
LESTE
LESTE
LESTE
LESTE
OESTE
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
BRAVO
BRAVO
135
Continuação...
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
12/11/02
CALMO LESTE CALMO
05/02/03
06/02/03
07/02/03
08/02/03
09/02/03
10/02/03
11/02/03
12/02/03
13/02/03
14/02/03
15/02/03
16/02/03
17/02/03
18/02/03
19/02/03
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
FORTE
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
CALMO
MODERADO
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
SUL
SUL
NORDESTE
NORDESTE
SUL
OESTE
LESTE
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
07/03/03
08/03/03
09/03/03
10/03/03
11/03/03
12/03/03
13/03/03
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
20/03/03
21/03/03
22/03/03
23/03/03
24/03/03
25/03/03
26/03/03
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
27/03/03
CHUVA FORTE
28/03/03
29/03/03
30/03/03
31/03/03
01/04/03
02/04/03
CALMO
MODERADO
FORTE
FORTE
MODERADO
MODERADO
SUL
NOROESTE
NORDESTE
SUL
SUL
SUL
BRAVO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
04/04/03
05/04/03
06/04/03
07/04/03
08/04/03
09/04/03
10/04/03
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
SUL
NORDESTE
OESTE
SUL
LESTE
LESTE
SUL
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
136
Continuação...
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
30/04/03
01/05/03
02/05/03
03/05/03
04/05/03
05/05/03
06/05/03
07/05/03
08/05/03
09/05/03
10/05/03
11/05/03
12/05/03
13/05/03
14/05/03
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
FORTE
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
OESTE
SUDOESTE
SUL
SUL
SUL
SUDESTE
OESTE
OESTE
OESTE
SUL
SUDOESTE
SUDESTE
SUDESTE
SUDESTE
SUL
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
BRAVO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
16/05/03
17/05/03
18/05/03
19/05/03
20/05/03
21/05/03
22/05/03
23/05/03
24/05/03
25/05/03
26/05/03
27/05/03
28/05/03
29/05/03
30/05/03
31/05/03
01/06/03
02/06/03
03/06/03
04/06/03
05/06/03
06/06/03
07/06/03
08/06/03
09/06/03
10/06/03
11/06/03
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
FORTE
MODERADO
CALMO
FORTE
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
NORTE
NORDESTE
SUDOESTE
SUL
SUL
NOROESTE
NORDESTE
NORDESTE
OESTE
OESTE
OESTE
OESTE
SUL
OESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
SUL
SUL
SUL
SUL
SUL
SUL
OESTE
NOROESTE
NORDESTE
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
BRAVO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
137
Continuação...
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
17/07/03
18/07/03
19/07/03
20/07/03
21/07/03
22/07/03
23/07/03
24/07/03
25/07/03
26/07/03
27/07/03
28/07/03
29/07/03
30/07/03
31/07/03
01/08/03
02/08/03
03/08/03
04/08/03
05/08/03
06/08/03
08/08/03
09/08/03
10/08/03
11/08/03
12/08/03
13/08/03
14/08/03
MODERADO
FORTE
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
FORTE
CALMO
MODERADO
MODERADO
FORTE
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
SUL
LESTE
LESTE
NORDESTE
SUL
SUL
NORDESTE
SUDOESTE
NOROESTE
SUL
SUL
SUL
OESTE
SUL
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
OESTE
NORDESTE
SUL
NORDESTE
OESTE
NORDESTE
SUDESTE
SUDOESTE
SUDOESTE
NOROESTE
MODERADO
BRAVO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
21/08/03
22/08/03
23/08/03
24/08/03
25/08/03
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27/08/03
28/08/03
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30/08/03
31/08/03
01/09/03
02/09/03
03/09/03
04/09/03
05/09/03
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
FORTE
FORTE
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
NORDESTE
NOROESTE
NORDESTE
SUDOESTE
SUDOESTE
SUDESTE
SUL
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
NORTE
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
BRAVO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
138
Continuação...
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
06/09/03
07/09/03
08/09/03
09/09/03
10/09/03
11/09/03
12/09/03
13/09/03
14/09/03
15/09/03
16/09/03
17/09/03
18/09/03
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
SUL
NORDESTE
NORDESTE
NORDESTE
OESTE
SUDOESTE
NORDESTE
SUDOESTE
SUDOESTE
SUDESTE
SUDESTE
NORDESTE
SUL
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
25/09/03
26/09/03
27/09/03
28/09/03
29/09/03
30/09/03
01/10/03
02/10/03
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
FORTE
SUDOESTE
SUDOESTE
LESTE
LESTE
NORDESTE
NORDESTE
SUDOESTE
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
16/10/03
17/10/03
18/10/03
19/10/03
20/10/03
21/10/03
22/10/03
23/10/03
24/10/03
25/10/03
26/10/03
27/10/03
28/10/03
06/11/03
07/11/03
08/11/03
09/11/03
10/11/03
11/11/03
12/11/03
13/11/03
14/11/03
FORTE
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
FORTE
CALMO
FORTE
MODERADO
SUL
NORDESTE
SUDOESTE
SUL
LESTE
LESTE
SUDOESTE
LESTE
LESTE
SUL
SUL
NORDESTE
NORDESTE
LESTE
OESTE
NORDESTE
LESTE
NORDESTE
LESTE
OESTE
LESTE
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
BRAVO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
BRAVO
MODERADO
139
Continuação...
Data do
experimento
Força do vento Direção do vento Condição do mar
15/11/03
16/11/03
17/11/03
18/11/03
19/11/03
20/11/03
FORTE
FORTE
MODERADO
FORTE
FORTE
FORTE
LESTE
LESTE
LESTE
OESTE
OESTE
SUDOESTE
BRAVO
BRAVO
BRAVO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
27/11/03
28/11/03
29/11/03
30/11/03
01/12/03
02/12/03
03/12/03
04/12/03
CALMO
CALMO
CALMO
MODERADO
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
NORDESTE
SUDESTE
OESTE
LESTE
NORDESTE
SUL
LESTE
SUDOESTE
MODERADO
CALMO
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
CALMO
11/02/04
12/02/04
13/02/04
14/02/04
15/02/04
16/02/04
17/02/04
18/02/04
19/02/04
20/02/04
21/02/04
22/02/04
24/02/04
25/02/04
26/02/04
27/02/04
CALMO
MODERADO
MODERADO
FORTE
FORTE
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
CALMO
FORTE
MODERADO
CALMO
CALMO
CALMO
LESTE
LESTE
LESTE
LESTE
SUL
NORDESTE
LESTE
LESTE
SUL
SUL
SUDESTE
SUDESTE
SUL
NORDESTE
NORDESTE
BRAVO
BRAVO
MODERADO
BRAVO
MODERADO
MODERADO
MODERADO
BRAVO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
28/02/04
29/02/04
01/03/04
02/03/04
03/03/04
CALMO
MODERADO
CALMO
MODERADO
FORTE
SUL
SUL
NORDESTE
NORDESTE
SUL
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
CALMO
140
ANEXO 2: CAPÍTULO 15. AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE CULTIVO DE
GRACILARIA DOMINGENSIS (GRACILARIALES, RHODOPHYTA) NA ENSEADA
DE ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC: 211-226. . IN: BRANCO, J. O. &
MARENZI, A. W.C. (ORG.). BASES ECOLÓGICAS PARA UM DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL: ESTUDOS DE CASO EM PENHA, SC. EDITORA DA UNIVALI,
ITAJAÍ, SC.
CAPÍTULO 15
AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE DE CULTIVO DA ALGA VERMELHA
GRACILARIA DOMINGENSIS
(GRACILARIALES, RHODOPHYTA) NA
ARMAÇÃO DO ITAPOCOROY, PENHA, SC
Cristalina Yoshie Yoshimura
1,2
; Simone Rabelo Cunha
1
; Eurico Cabral de
Oliveira
2
1- Centro de Ciências da Terra e do Mar, Universidade do Vale do Itajaí. Rua Uruguai, 458.
Itajaí, SC, 88.302-202. 2 - Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de
São Paulo. Rua do Matão, 277, Cidade Universitária, São Paulo, SP, 05580-970.
ABSTRACT
Macroalgae cultivation is a need nowadays as the production based on natural beds
does not attend the growing demand. The integrated cultivation is ecological and economically
interesting because it is possible to exploit two resources (animals and macroalgae) and the
seawater quality gets better, once the macroalgae act as biofilters, absorbing nutrients released
by the animals metabolism. The aim of this work was to test cultivation techniques for Gracilaria
domingensis (Kützing) Sonder ex Dickie at Armação do Itapocoroy, where there is a large
mussel cultivation ground, comparing cultivation time at two selected sites inside the bay: one
inner, close to the mussel cultivation and another one, outer, far from the mussel cultivation.
These sites were subject to different environmental conditions. The cultivation rope was a “U”
shaped structure, with attached sinkers to an iron bar in order to keep th structure submersed.
Thalli were cultivated from 20 to 200 cm depth, during one and two weeks. In the inner site the
results showed higher values for Relative Growth Rates (RGR, % day
-1
) and for Yield (%, from
the initial biomass) for one (10.58
±
6.51 % day
-1
in Mar/2004 and 65.45
±
40.73% in Feb/2004,
respectivelly) and two cultivation weeks (20.21 ± 14.61 % day
-1
and 113.69 ± 125.14% in
Feb/2004, respectivelly) than at the outer site for one (6.75 ± 3.83 % day
-1
in Feb/2004 and
46.26 ± 42.61% in Mar/2004, respectivelly) and two cultivation weeks (5.98 ± 4.68 % day
-1
in
Feb/2004 and 27.42
±
32.20% in Mar/2004, respectivelly). Despite the variability in the results, a
seasonal pattern was not observed. G. domingensis presented good cultivation potential, mainly
in the inner site, with high RGRs and yields for one and two cultivation weeks. In the outer site,
141
the results showed that the cultivation is viable only for one cultivation week. In longer
cultivation time, the thalli fragmentation is very high, decreasing the cultivation viability for this
site.
Key Words:
Gracilaria domingensis, integrated cultivation, seaweed.
INTRODUÇÃO
Historicamente, o interesse no cultivo de macroalgas iniciou-se após o
colapso de bancos naturais, em uma tentativa de manter a explotação deste
recurso ecológica e economicamente viável (Norambuena, 1996; Oliveira et al.,
2000; Anderson et al., 2001a). Como a demanda por biomassas de macroalgas
é crescente e os bancos existentes nem sempre são suficientes para atender
ao mercado, os cultivos tornaram-se a alternativa sustentável para suprir esta
demanda. O cultivo de macroalgas propicia a produção, em um espaço
concentrado, de biomassa de boa qualidade, em conformidade com os padrões
exigidos pelo mercado.
Com a crescente demanda de mercado, as macroalgas constituem-se
hoje numa importante fonte de renda para vários países, como é o caso do
Chile, atualmente o maior produtor mundial de Gracilaria cultivada, cuja
produção foi de aproximadamente 34.000 toneladas secas entre os anos de
1994 e 1995, cerca de 68% da produção mundial (Zemke-White & Ohno,
1999).
Dados de importações de macroalgas e seus ficocolóides (alginato, agar
e carragenana) no ano de 1994 mostram que o Brasil importou
aproximadamente 1.029 toneladas a um valor de US$ 13 milhões. A
quantidade de ágar importada foi de 48 toneladas a um preço médio de US$ 27
kg
-1
(Oliveira, 1998). No Brasil, a única empresa que produz ágar está
localizada no estado da Paraíba, com uma produção mensal de
aproximadamente 7 toneladas de ágar do tipo alimentício, vendido no mercado
interno ao preço médio de US$ 25 kg
-1
. Para isso, a empresa processa cerca
de 80 toneladas de algas secas, coletadas principalmente em bancos naturais
localizados no litoral do Ceará (Oliveira & Miranda, 1998).
Segundo Oliveira e Miranda (1998), não indícios de sobre-explotação
em bancos de macroalgas do nordeste brasileiro. Apesar disso, a única
142
empresa que explora este recurso no litoral nordestino, localizada na Paraíba,
processa algas coletadas no Ceará, indicando talvez, a sobre-explotação dos
bancos localizados na Paraíba.
Cultivos comerciais de macroalgas ainda não existem no Brasil.
Experimentos de cultivos em escala piloto foram realizados ou se encontram
em andamento (Câmara Neto, 1987, Berchez & Oliveira, 1990, Teixeira et al.,
2002. Yoshimura et al. (no prelo)), visando a melhoria na qualidade de vida de
comunidades pesqueiras, que vêem no cultivo de macroalgas uma fonte
alternativa de renda (Accioly, 2004).
Para se lograr sucesso na atividade de cultivo de macroalgas, algumas
perguntas devem ser respondidas antes do início de um cultivo em escala
comercial. O primeiro aspecto é bastante óbvio, que é a demanda por uma
espécie. Outro aspecto chave é a existência de bancos naturais próximos aos
locais onde se pretende introduzir o cultivo, o que pode viabilizá-lo, pelo menos
em curto prazo. O terceiro aspecto é a avaliação do local onde se pretende
realizar as atividades de cultivo, que deve ter condições físicas e hidrológicas
adequadas, como por exemplo, proteção de ventos e ressacas e boa
circulação de água. Além disso, a existência de uma comunidade que tenha
vocação para lidar com maricultura é importante, uma vez que o fator humano
muitas vezes pode inviabilizar esta atividade. Finalmente, depois de todos
estes aspectos serem avaliados, a tecnologia do cultivo deverá ser investigada.
Assim, a forma como as mudas serão presas às cordas de cultivo, em que tipo
de corda, em que profundidade a espécie pode ser cultivada naquele local,
quais as épocas são mais favoráveis e quais podem ser desfavoráveis ao
cultivo são aspectos que devem ser avaliados para a implantação do cultivo de
algas.
Além do enfoque de tecnologia de produção, uma outra questão
importante a ser considerada é a preservação dos bancos naturais existentes,
de modo que o cultivo não leve à sua depleção. Desta forma, o
desenvolvimento de técnicas adequadas de cultivo pode se constituir numa
importante ferramenta para a manutenção dos estoques naturais.
Um problema enfrentado nas áreas de cultivos intensivos de moluscos,
crustáceos ou peixes é a grande concentração de indivíduos, o que aumenta
os riscos de eutrofização, devido ao excesso de nutrientes na coluna d’água,
143
resultantes do metabolismo destes organismos cultivados (Costa-Pierce, 1996).
Além das conseqüências diretas da eutrofização, existe o risco de ocorrência
de florações, que podem ser de macro ou de microalgas. No caso das
macroalgas, estas florações podem ocasionar problemas relacionados ao
turismo e à navegação, enquanto que no caso das microalgas, as florações
podem ser de espécies potencialmente tóxicas, acarretando em prejuízos ainda
maiores à atividade de maricultura. O cultivo de macroalgas pode se constituir
em uma importante ferramenta de controle da eutrofização, pois podem atuar
como eficientes biofiltros, retirando da coluna d’água parte destes compostos
nitrogenados liberados pelos animais cultivados (Nelson et al., 2001),
diminuindo a possibilidade de ocorrência de florações indesejáveis. Em locais
com grande disponibilidade de nutrientes, como nas áreas de cultivo de
animais, as macroalgas, além de contribuir para a melhoria da qualidade
ambiental, geralmente apresentam elevadas taxas de crescimento (Chow et al.,
2001; Nelson et al., 2001) e altos rendimentos de ágar (Troell et al., 1997).
O município de Penha, onde se localiza a Armação do Itapocoroy,
possui um dos maiores parques de cultivo de moluscos marinhos de Santa
Catarina, especialmente do mexilhão Perna perna e no ano de 2002 foi
responsável pela produção de 31% do total de mexilhões cultivados no estado,
cuja produção foi de 8.641 toneladas (Radaelli, I. S., EPAGRI, com. pess.,
2004).
Uma grande quantidade de macroalgas arribadas é observada nas
praias da enseada de Armação do Itapocoroy, formando em algumas épocas,
tapetes de 30 cm de altura. Esta biomassa acaba apodrecendo, constituindo-se
em um problema para o munipio, uma vez que existem gastos relacionados à
coleta desta biomassa nas praias e, além disso, algumas destas praias são
visitadas por turistas. Segundo Morand & Briand (1996), o crescimento
excessivo de macroalgas pode ser uma resposta em ambientes eutrofizados e
em geral as espécies associadas a estes eventos são oportunistas, de
crescimento rápido e em geral, foliáceas. Como solução para este problema,
Merrill (1996) propõe que em locais onde estes eventos de acúmulo de
macroalgas nas praias ocorrem repetidamente, se cultive espécies de valor
econômico, diminuindo a probabilidade de proliferação de outras espécies de
144
macroalgas sem valor econômico e desta forma, a eutrofização, que em
princípio seria um problema, torna-se um aliado nos cultivos de macroalgas.
A espécie Gracilaria domingensis (Kützing) Sonder ex Dickie (Oliveira,
1977) é uma macroalga utilizada diretamente como alimento humano (Oliveira,
1998) e também como fonte de ágar (Durairatnam et al., 1990), um
polissacarídeo amplamente utilizado na indústria alimentícia como agente
gelificante. Além do apelo econômico, esta macroalga ocorre na enseada da
Armação do Itapocoroy (Cunha et al., 1999), indicando que a espécie é bem
adaptada ao local, o que sugere um bom potencial para cultivo.
É neste cenário que o cultivo de macroalgas na Armação do Itapocoroy
apresenta-se como uma questão de interesse, uma vez que, além da presença
de G. domingensis na área, do grande parque de cultivo de moluscos marinhos
ainda em expansão e da existência da aptidão natural da comunidade para
lidar com a maricultura, o cultivo de macroalgas pode contribuir para a melhoria
da qualidade ambiental neste local, e também constituir em uma fonte de renda
extra aos maricultores. Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo
geral avaliar a viabilidade de cultivo de G. domingensis na Armação do
Itapocoroy e como objetivos específicos, comparar sazonalmente o
crescimento e o rendimento em biomassa em dois locais com diferentes
características físicas e hidrológicas, por períodos de uma e duas semanas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os experimentos de cultivo basearam-se na propagação vegetativa, uma
vez que este deve ser o primeiro método a ser testado. A partir desta avaliação
será possível verificar a viabilidade do cultivo desta espécie.
Os experimentos de cultivo foram realizados em dois locais na enseada
de Armação do Itapocoroy. O mais interno, denominado “Dentro”, localizou-se
mais próximo da costa e dos cultivos dos mexilhões, em um local abrigado de
ventos e ondulações mais fortes. O mais externo, denominado “Fora”,
localizou-se mais afastado da costa e dos cultivos de mexilhões, sendo esta
área mais sujeita às variações na ondulação e nas condições de vento. Os
145
experimentos foram realizados em maio, julho, agosto e novembro de 2003 e
em fevereiro e março de 2004.
Para avaliar as taxas de crescimento relativo e o rendimento percentual,
foram coletados talos de G. domingensis, saudáveis e sem cistocarpos. Estes
talos foram triados para retirada de epibiontes e epífitas, numerados, secos
com papel toalha, pesados e presos às cordas de cultivo.
As cordas de cultivo consistiram de estruturas em “U”, com uma barra de
ferro e chumbos afixados horizontalmente na porção inferior, de modo que a
estrutura se mantivesse verticalmente mergulhada na água (Fig. 1). O cultivo
foi realizado de 20 a 200 cm de profundidade, procurando-se desta forma
utilizar ao máximo a coluna d’água. O espaçamento no long line entre as
cordas de cultivo foi de 50 cm. Os talos foram inseridos na trama das cordas de
cultivo, com espaçamento de 10 ou 20 cm entre eles e mantidos no mar por
uma ou duas semanas. Após o período de cultivo, as plantas foram retiradas,
limpas, secas e pesadas individualmente.
A partir dos valores obtidos, calculou-se as taxas de crescimento relativo
(TCR, % dia
-1
) e os rendimentos percentuais por semana, em termos de ganho
de biomassa (%, em relação à biomassa inicial) para cada talo.
O rendimento em biomassa é apresentado de duas formas: o primeiro,
chamado de rendimento obtido foi calculado levando-se em consideração todos
os talos cultivados, inclusive aqueles que apresentaram diminuição no peso.
Desta forma, os valores de rendimento obtido podem ser positivos ou
negativos, dependendo da perda ou ganho de biomassa durante o tempo de
cultivo. O segundo, chamado de rendimento potencial, foi calculado excluindo-
se aquelas plantas que apresentaram diminuição na biomassa durante o
período de cultivo. Tanto os rendimentos obtidos como os rendimentos
potenciais foram apresentados como percentual em relação à biomassa inicial.
As taxas de crescimento relativo (TCR) foram calculadas como
porcentagem diária de crescimento utilizando-se a fórmula de crescimento
linear (Dawes, 1998): TCR (% dia
-1
)= ((Pf Pi)/ Pi) x 100/t, onde Pi = peso
inicial, Pf = peso final, t = intervalo de tempo em dias. As taxas de crescimento
foram calculadas com base nas plantas que apresentaram incremento em
biomassa durante o período de cultivo, e por isto, referem-se a taxas potenciais
de crescimento das plantas.
146
As comparações das taxas de crescimento e rendimento em biomassa
foram efetuadas utilizando-se análise de variância.
Figura 1: A estrutura de cultivo utilizada, consistindo de uma corda com uma barra de ferro e
chumbos afixados horizontalmente na porção inferior, para manter a estrutura mergulhada.
Estas estruturas foram amarradas no long line, com espaçamento de 50 cm entre cada uma.
RESULTADOS
Dentro da enseada, as taxas de crescimento relativo variaram entre 4,59
± 2,58 % dia
-1
(julho/03) e 10,58 ± 6,51 % dia
-1
(março/04) para plantas
cultivadas durante uma semana e entre 4,57 ± 3,15 % dia
-1
(julho/03) e 20,21 ±
14,61 % dia
-1
(fevereiro/04) para plantas cultivadas durante duas semanas
(Fig.2). Fora da enseada, os valores variaram entre 3,32 ± 2,58 % dia
-1
(agosto/03) e 6,75 ± 3,83 % dia
-1
(fevereiro/04) para algas cultivadas por uma
semana e entre 2,75 ± 2,17 % dia
-1
(maio/03) e 5,98 ± 4,68 % dia
-1
(fevereiro/04) para algas cultivadas por duas semanas (Fig.3). As plantas
cultivadas dentro da enseada apresentaram maiores valores de taxas de
crescimento em todos os experimentos realizados, sendo que as plantas
coletadas após uma semana de cultivo, em geral, apresentaram maiores taxas
do que as coletadas após duas semanas de cultivo. Apesar das diferenças
apresentadas, não foi possível observar um padrão sazonal e por isto, dados
de fatores ambientais, como temperatura, salinidade e transparência e dados

10 ou
20 cm





10 ou
20 cm




147
químicos, como quantificação de compostos nitrogenados, não foram utilizados
para correlacionar com os dados obtidos.
0
5
10
15
20
25
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
TCR (% dia
-
1
)
A
0
5
10
15
20
25
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
TCR (% dia
-
1
)
B
Figura 2: Taxas de crescimento relativo (TCR, média
±
desvio padrão) para plantas cultivadas
dentro da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano. (A) Uma
semana; (B) Duas semanas.
0
5
10
15
20
25
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
TCR (% dia
-
1
)
A
0
5
10
15
20
25
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
TCR (% dia
-
1
)
B
Figura 3: Taxas de crescimento relativo (TCR, média
±
desvio padrão) para plantas cultivadas
fora da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano. (A) Uma
semana; (B) Duas semanas.
O rendimento obtido (% por semana, em relação à biomassa inicial)
dentro da enseada variou entre 11,76 ± 55,28 % (novembro/03) e 65,45 ±
40,73 % (fevereiro/04) para plantas cultivadas durante uma semana e entre
1,34 ± 48,07 % (março/04) e 113,69 ± 125,14 % (fevereiro/04) para plantas
cultivadas durante duas semanas (Fig. 4). As plantas cultivadas por uma
148
semana fora da enseada apresentaram desde perdas de 15,75 ± 38,28%
(maio/03) até ganhos de 46,26 ± 42,61 % (março/04). Quando cultivadas por
duas semanas neste local, as algas apresentaram desde perdas de 22,04 ±
22,78 % (maio/03) até ganhos de 27,42 ± 32,20 % (março/04) para o intervalo
de cultivo de duas semanas (Fig. 5).
-
50
0
50
100
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Obtido (% semana
-
1
)
A
-
50
0
50
100
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Obtido (% semana
-
1
)
B
Figura 4: Rendimento obtido em biomassa (%, média ± desvio padrão) para plantas cultivadas
dentro da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano. (A) Uma
semana; (B) Duas semanas.
Comparando-se o percentual de plantas que apresentou aumento de
biomassa dentro e fora da enseada (Tab. 1), foi observado um maior
percentual de plantas cultivadas com aumento de biomassa dentro da
enseada, o que indicou que o local mais protegido é mais adequado ao cultivo
desta espécie. Quando a comparação é feita entre os períodos de cultivo, o
intervalo de cultivo de uma semana mostrou percentuais mais altos de plantas
com aumento de biomassa, indicando que cultivos neste intervalo de tempo
produzem maior biomassa, sendo desta forma, mais rentáveis.
149
-
50
0
50
100
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Obtido (% semana
-
1
)
A
-
50
0
50
100
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Obtido (% semana
-
1
)
B
Figura 5: Rendimento obtido em biomassa (%, média ± desvio padrão) para plantas cultivadas
fora da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano. (A) Uma
semana; (B) Duas semanas.
Tabela 1: Percentual de plantas que apresentaram incremento em biomassa nos
experimentos realizados, de acordo com o tempo de cultivo, dentro e fora da enseada.
Data dos
experimentos
Dentro
1 semana
Dentro
2 semanas
Fora
1 semana
Fora
2 semanas
Maio/03 96,7 70 45 15
Julho/03 73,3 80 - -
Agosto/03 - - 73,3 35
Novembro/03 65 3,33 70 16,7
Fevereiro/04 93,7 87,7 89,5 24,6
Março/04 75,4 37,7 87,7 82,5
Quando foram excluídas da análise as plantas que apresentaram perda
de biomassa, o rendimento potencial (por semana) foi calculado. Os valores
dentro da enseada variaram entre 27,54 ± 15,48 % (julho/03) e 84,65 ± 52,10
% (março/04) para mudas cultivadas durante uma semana e entre 29,73 ±
20,46 % (julho/03) e 134,19 ± 119,83 % (fevereiro/04) para plantas cultivadas
durante duas semanas (Fig. 6). Fora da enseada os valores variaram entre
16,87 ± 12,88 % (maio/03) e 56,96 ± 31,70 % (março/04) para talos cultivados
por uma semana e entre 16,53 ± 13 % (maio/03) e 44,86 ± 35,13 %
(fevereiro/04) para plantas cultivadas durante duas semanas (Fig. 7).
150
0
30
60
90
120
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Potencial (% semana
-
1
)
A
0
30
60
90
120
150
mai/03
jul/03
set/03
out/03
dez/03
fev/04
abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Potencial (% semana
-
1
)
254
B
Figura 6: Rendimento potencial em biomassa (%, média ± desvio padrão) para plantas
cultivadas dentro da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano.
(A) Uma semana; (B) Duas semanas.
0
30
60
90
120
150
mai/03 jul/03 set/03 out/03 dez/03 fev/04 abr/ 04
Data dos experimentos
Rendimento Potencial (% semana
-1
)
0
30
60
90
120
150
mai/03 jul/03 set/03 out/03 dez/03 fev/04 abr/04
Data dos experimentos
Rendimento Potencial (%)
Figura 7: Rendimento potencial em biomassa (%, média
±
desvio padrão) para plantas
cultivadas fora da enseada em diferentes intervalos de cultivo, em diferentes épocas do ano.
(A) Uma semana; (B) Duas semanas.
DISCUSSÃO
A macroalga Gracilaria domingensis apresentou um bom potencial de
cultivo no sistema testado para o local mais abrigado, com elevadas taxas de
crescimento e alto rendimento em biomassa nos intervalos de cultivo testados.
Fora da enseada, o cultivo se mostrou viável somente para uma semana de
cultivo, pois em intervalos de cultivo mais longos a fragmentação dos talos,
devido a hidrodinâmica, compromete a viabilidade do cultivo.
151
Houve grande variabilidade tanto nas taxas de crescimento quanto nos
rendimentos em biomassa dentro de um mesmo experimento. Isto
provavelmente se deveu à fragmentação ou mesmo à perda de talos inteiros
durante os experimentos, principalmente quando as condições meteorológicas
não foram favoráveis à sua manutenção nas cordas de cultivo. Por este fato, ao
se cultivar esta espécie, é interessante que o maricultor tenha especial atenção
às condições do tempo, principalmente se o cultivo for realizado nas áreas
mais externas da enseada, onde condições de maior hidrodinâmica podem
acarretar em maiores perdas de biomassa.
A ausência de um padrão sazonal nas taxas de crescimento e nos
rendimentos em biomassa sugere que o cultivo de G. domingensis pode ser
realizado em qualquer época do ano na Armação do Itapocoroy. G. gracilis
cultivada em sistemas abertos na África do Sul (Anderson et al. 1996;
Anderson et al. 2001b) também apresentou ausência de um padrão sazonal
nas taxas de crescimento (3 a 10 % dia
-1
), o que pode indicar uma ausência de
padrão sazonal de crescimento para este gênero. Entretanto, esta ausência de
padrão pode também ser conseqüência da fragmentação dos talos ou mesmo
a perda de talos inteiros, interferindo fortemente nos resultados, impedindo a
observação da sazonalidade. Por exemplo, G. chilensis cultivada em uma
região estuarina, mostrou crescimento mais elevado durante o verão (2,5 a 5,2
% dia
-1
) e menor durante o inverno (0,6 a 1 % dia
-1
) (Santelices et al. 1993).
Estes resultados mostram que em locais mais protegidos, onde a
hidrodinâmica não é um fator limitante na produção de biomassa, é possível
observar um padrão sazonal.
Os rendimentos em biomassa para algas cultivadas por uma semana,
com exceção do experimento realizado em maio/03 fora da enseada, tanto
dentro como fora da enseada, mostraram valores positivos de Rendimento
obtido, apesar dos valores observados fora da enseada em geral serem mais
baixos do que os observados dentro da enseada. Por outro lado, os
Rendimentos obtidos para duas semanas de cultivo foram na maioria dos
casos negativos nos experimentos realizados fora da enseada, enquanto que
dentro da enseada os valores sempre foram positivos, o que mostrou o baixo
potencial para o cultivo de G. domingensis, fora da enseada em intervalos de
tempo mais longos. Os resultados obtidos fora da enseada provavelmente são
152
reflexos da sua localização, pois este local está mais sujeito às influências de
ressacas e ondulações mais fortes, o que resultou em uma maior quebra de
talos.
Como foi mencionado, os Rendimentos obtidos dentro da enseada
foram sempre positivos, mesmo em condições adversas de hidrodinâmica,
quando muitos talos fragmentaram, o que mostra que neste local a produção
em biomassa é grande, suficiente para compensar tais perdas. A produtividade
neste local fica ainda mais evidente quando se observa o Rendimento potencial
(excluindo-se as algas que apresentaram perda de biomassa), mostrando o
quanto este sistema pode ser ainda mais produtivo caso as quebras de talos
sejam minimizadas. Ao contrário do observado fora da enseada, o intervalo de
cultivo de duas semanas também mostrou ser produtivo dentro da enseada,
mesmo considerando que um maior percentual de plantas apresentou perda de
biomassa do que no intervalo de uma semana de cultivo.
As TCRs obtidas no presente trabalho (4,6 a 20,2 % dia
-1
) são
comparáveis às obtidas em outros locais e outros tipos de sistemas de cultivos,
considerados produtivos (Quadro 1. Em um sistema similar ao testado no
presente trabalho, Anderson et al. (2001b) observaram valores muito variáveis
e em alguns casos, valores mais baixos do que os observados por nós. Ao
cultivar G. chilensis em estuário, Santelices et al. (1993) observaram valores
mais baixos, enquanto que G. parvispora cultivada em um sistema de
policultivo mostrou valores similares aos observados no presente trabalho,
demonstrando que o potencial de cultivo de G. domingensis na Armação do
Itapocoroy é grande, que G. chilensis foi cultivada em área de estuário, onde
a quebra provocada pelo hidrodinamismo é menor do que a observada no
presente trabalho e G. parvispora foi cultivada em um sistema de policultivo,
otimizando as condições de cultivo com as habilidades fisiológicas da espécie.
153
Quadro 1: Taxas de crescimento relativo (TCR) obtidas para diferentes espécies de Gracilaria
cultivadas com diferentes técnicas.
Espécie Técnica de cultivo País TCR (% dia
-1
)
G. domingensis
1
Mar aberto, vertical Brasil 4,6 a 20,2
G. gracilis
2
Mar aberto, vertical África do Sul 1 a 10
G. gracilis
3
Baía, horizontal Namíbia 0.84 a 4.15
G. cornea
4
Baía, horizontal Venezuela 1.4 a 2.5
G. chilensis
5
Estuário, horizontal Chile 1,8 a 4,6
G. tenuistipitata
6
Piscinas, tanque rede China 1,5 a 3,3
G. parvispora
7
Laguna, tanque rede (policultivo) Havaí 4,6 a 10,4
1
Presente trabalho;
2
Anderson et al., 2001b;
3
Dawes, 1995;
4
Rincones Leon, 1989;
5
Santelices
et al., 1993;
6
Chaoyuan et al., 1993;
7
Nelson et al., 2001.
Dentro da enseada, na maioria dos experimentos realizados, e fora da
enseada, em poucas ocasiões, foram observados talos esbranquiçados, com
perda de pigmentação especialmente nas regiões apicais. Segundo Correa
(1996), este fato pode estar associado a substâncias muito oxidantes
produzidas pelas próprias algas em resposta a estresse fisiológico. Ainda
segundo o autor, no caso de doenças causadas por ataques de bactérias ou
fungos, não é possível saber se a ausência da doença é dada por mecanismos
de defesa da macroalga ou pela falta de patogenicidade no patógeno. Este
aspecto seria importante no caso de cultivo de uma espécie, pois indivíduos
resistentes a estes ataques poderiam ser selecionados e desta forma, diminuir
a probabilidade de ocorrência destas doenças.
Entretanto, como no momento da coleta nos bancos naturais, tomou-se
cuidado para escolher somente plantas sadias para iniciar os experimentos,
muito provavelmente o branqueamento observado deve-se a respostas
fisiológicas de estresse das plantas cultivadas dentro da enseada. Apesar das
plantas cultivadas fora da enseada terem apresentado menor crescimento e
rendimento em biomassa, neste local, poucas plantas foram observadas com
sinais de branqueamento, sugerindo que algum fator desencadeia esta reação
nas plantas cultivadas dentro da enseada.
Os experimentos realizados mostraram ainda que epífitas e epibiontes
ocorrem ao longo de todas as estações do ano, entretanto, algumas
observações podem ser salientadas. Em intervalo de cultivo de uma semana,
em geral observou-se somente a presença de um filme de diatomáceas e
cianobactérias, um pequeno acúmulo de sedimento e uns poucos talos de
154
Polysiphonia sp. Somente em uma ocasião foi observado um talo de Ulva sp.,
em contraponto ao que é amplamente observado em outros locais, onde Ulva
sp. parece ser uma das epífitas mais comuns nos cultivos de Gracilaria
(Buschmann & Gómez, 1993, Svirski et al., 1993). Em intervalos de cultivo mais
longos que uma semana, a presença e a abundância de Polysiphonia sp. é
cada vez maior, especialmente nas profundidades menores, enquanto que
duas espécies de hidrozoários ocorrem em abundâncias variáveis,
principalmente nas maiores profundidades.
Com relação ao tempo de cultivo, constatou-se que quanto mais longo é
o intervalo, maior é a presença de epífitas e epibiontes. Se associado a este
problema soma-se a maior probabilidade de fragmentação de talos em
intervalos mais longos, conclui-se que para G. domingensis cultivada na
Armação do Itapocoroy, o tempo de cultivo não deverá ultrapassar 2 semanas,
com a utilização das técnicas testadas no presente trabalho, uma vez que a
produtividade é maior e a qualidade da biomassa produzida é melhor.
Conhecer os mecanismos envolvidos na interação epífita/epibionte-alga é
importante para melhorar a capacidade de manejo pelos maricultores, que
estes organismos podem afetar significativamente a produção de espécies
cultivadas, como sugerido por Buschmann & Gómez (1993).
Uma importante estratégia para otimizar o cultivo é a seleção de
linhagens. No cultivo em campo é possível selecionar plantas com as
características desejadas, que podem ser altas taxas de crescimento, baixo
grau de epifitismo, resistência ao branqueamento, entre outras características.
Estas plantas podem ser propagadas vegetativamente nos cultivos, como foi
feito no presente trabalho, gerando uma biomassa importante, a qual pode
também ser utilizada para cultivos a partir de esporos, que é outra estratégia
utilizada para otimizar um cultivo (Alveal et al. 1997).
Entretanto, a etapa de seleção de linhagens deve ser implementada
somente quando os cultivos estiverem implantados, uma vez que a
manutenção das plantas saudáveis e viáveis em condições de laboratório é
mais difícil e a propagação e a resposta das plantas em campo é mais simples
e rápida.
É importante que se utilize long lines separados para o cultivo de G.
domingensis e de mexilhões, pois o manejo dos long lines de mexilhões pode
155
acarretar na quebra das mudas de G. domingensis, diminuindo a produtividade
do cultivo da macroalga. Além disso, conforme os mexilhões crescem, as
mangas ficam mais pesadas, afundando a estrutura de cultivo. Como os
resultados anteriores mostraram que G. domingensis cresce bem em até 2m de
profundidade (Yoshimura et al, 2004), é importante que as cordas de cultivo
fiquem mais próximas à superfície, que como organismos fotossintetizantes,
a produtividade das macroalgas depende da irradiância. Entretanto, a
proximidade com o cultivo de mexilhões é interessante para o cultivo de G.
domingensis pela disponibilidade dos nutrientes, e desta forma um sistema de
cultivo onde macroalga e mexilhão sejam cultivados em estruturas diferentes
em um mesmo local parece ser o mais indicado.
Como foi mencionado, outras espécies de interesse econômico ocorrem
no local e experimentos de cultivo podem ser realizados com as mesmas
técnicas deste trabalho ou com técnicas diferentes, a fim de se avaliar sua
viabilidade.
CONCLUSÕES
- G. domingensis pode ser cultivada durante todo o ano na Armação do
Itapocoroy, tanto dentro como fora da enseada.
- Os talos de G. domingensis podem ser cultivados de 20 a 200 cm de
profundidade.
- O cultivo pode ser realizado com duração de uma e duas semanas de cultivo
dentro da enseada.
- O cultivo fora da enseada é viável somente com duração de uma semana,
pois com duração maior a fragmentação causada pela hidrodinâmica é muito
intensa.
- Quanto maior o intervalo de cultivo, maior é a probabilidade de quebra dos
talos e a presença de epibiontes e epífitas.
156
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CTTMar, Centro de Ciências Tecnológicas da
Terra e do Mar da UNIVALI e ao Instituto de Biociências da Universidade de
São Paulo, pela estrutura disponibilizada para a realização deste trabalho.
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158
ANEXO 3: TESTING OPEN-WATER CULTIVATION TECHNIQUES FOR
GRACILARIA DOMINGENSIS (RHODOPHYTA, GRACILARIALES) IN SANTA
CATARINA, BRAZIL. J. COASTAL RESEARCH (NO PRELO)
Testing open-water cultivation techniques for Gracilaria domingensis
(Rhodophyta, Gracilariales) in Santa Catarina, Brazil
YOSHIMURA, C. Y.; CUNHA, S. R. and OLIVEIRA, E. C. 2003. Testing open-water cultivation techniques for
Gracilaria domingensis (Rhodophyta, Gracilariales) in Santa Catarina, Brazil. Journal of Coastal Research, SI 39
(Proceedings of the 8th International Coastal Symposium), pg – pg. Itajaí, SC – Brazil, ISSN 0749-0208
The aim of this work was to develop field techniques to cultivate Gracilaria domingensis, a red algae that has been
used as food, feed for marine animals and especially for agar production, in association with mussel cultivation. The
experiments were done at Armação do Itapocoroy Bay, Penha, Santa Catarina State, Brazil, where there is an
extensive commercial mariculture of the mussel Perna perna. The rationale behind this work is that the production of
this seaweed, besides constituting an additional cash-crop for the fishermen that farm mussels, would also contribute
to improve the water quality by absorbing excess nutrients, mainly nitrogen and phosphorous compounds, released by
the mollusks. Different systems to attach seaweed pieces to suspended ropes placed within the mussel farms were
tested. Depth, growth period and location, inside and outside the bay, were also tested. Production was assessed
through weight variation every week for four weeks. Results indicated that G. domingensis growth rates may be
considered high in comparison with other red seaweed cultivated elsewhere, reaching up to 10 % day
-1
. It was
concluded that the cultivation of G. domingensis is technically feasible in the mussel cultivation grounds inside and
outside the bay, using the first two meters depth, inserting plants into the strand of the rope, and harvesting is more
productive if made at intervals not longer than 15 days, although its economic viability is pending on further studies.
ADDITIONAL INDEX WORDS: Gracilaria
domingensis, open-water cultivation, vertical cultivation, Brazil
Introduction
Gracilaria species are utilized as human food in Japan (Ohmi, 1958), Hawaii (Hoyle, 1978; Abbott, 1988) and in
the Philippines, and they are also used to feed marine cultivated animals (e.g. abalone) in Taiwan (Chiang, 1981) and
Israel (Neori et al., 1998). However, its major economic importance is as a source of agar (Oliveira et al., 2000). As
the natural beds of Gracilaria and other commercial agarophytes, namely Pterocladiella, Pterocladia and Gelidium
are limited and in some cases overexploited, cultivation is the only alternative to supply a growing demand and
sustainable production (Oliveira et al., 2000).
Integrated cultivation of macroalgae and mollusks, fishes or shrimps is being attempted in several places
(Buschmann et al., 1996; Chopin et al., 1999; Chow et al., 2001; Ellner et al., 1996; Krom et al., 1995; Neori, 1996;
Neori et al., 1996; Neori et al., 1998; Qian et al., 1996). In these systems, excess feed animal excrements produce a
great quantity of dissolved nutrients that can cause eutrophization and degradation of the environment. It is well
known that macroalgae act as biofilters, absorbing nitrogen and phosphorous compounds, and improving the water
quality. On the other hand, because of the high nutrients availability in animal cultivation grounds, macroalgae
present high growth rates.
The farming of the mussel Perna perna reached a significant scale in Santa Catarina State, amounting to about US$
1.5 millions per year (Poli & Littlepage, 1998). Mussel farming is also very important socially in Santa Catarina,
where over 700 farms are in activity having produced 8,641 ton in 2002 (G. Manzoni, pers. comm., 2003). However,
this accelerated growth has been a cause for concern, since there are indications that the production has exceeded the
carrying capacity in some areas (Suplicy, 2000). Thus, the integrated cultivation of the macroalgae Gracilaria
domingensis in mussel farms could represent a potential alternative to the expansion and diversification in the
mariculture activities in Santa Catarina State. Besides improving the water quality it could yield an additional cash
crop to the fishermen engaged in mariculture.
The aim of this work was to adapt a cultivation technique that would make viable the cultivation of the agar
producing macroalga Gracilaria domingensis integrated with mussel mariculture in Santa Catarina State.
Methods
The experiments were done in the Armação do Itapocoroy Bay, Penha, Santa Catarina State, Brazil (26
o
47’S -
48
o
37’W), where there is a large cultivation park of the mussel Perna perna.
The algae were collected at rocky shores near the mussel cultivation grounds and cleaned from epiphytes. The
algae were cut in pieces of about 2 g, labeled, weighed and inserted into the cultivation ropes 20 cm from each other.
The ropes were placed at two different sites: inside the bay (near to intensive mussel cultivation) and outside the bay
(far from intensive mussel cultivation). The ropes were placed vertically, so the plants were kept at depths ranging
from 20 to 200 cm.
Growth rates were evaluated weekly over four weeks, based on variation in the fresh weight of each plant. Twenty-
four ropes were placed at each site and at the end of every week, six ropes were collected from the inside site and six
from the outside site. Although the individual growth rates were obtained, for the purpose of comparison, thalli
placed from 20 to 100 cm depth were grouped into the first meter (1 m) whereas those kept from 120 to 200 cm depth
were grouped into the second meter (2 m).
159
To establish the best way to attach the algae to cultivation ropes, four types of attachment were tested: 1) inserted
into the strands of the rope (IS); 2) tied using hard plastic strings (HP); 3) tied using soft plastic bag strings (SP); and
4) tied using cotton strings (CO). The algae were attached to the cultivation ropes 20 cm from each other (six
replicates each treatment) and cultivated at depths ranging from 20 to 200 cm (grouped into 1 m and 2 m cultivated
plants, as explained above), outside the bay, for 1 week.
Relative Growth Rate (RGR, % day
-1
) of each plant was estimated for thalli that presented increase of biomass
during cultivation time, according to the linear equation of growth (Dawes, 1998):
RGR= (((Wf - Wi)/ Wi)/ t)*100 (Equation 1)
Where: Wi= initial fresh weight (g), Wf= final fresh weight (g), t= cultivation time (days).
The total increase of biomass, at the end of each cultivation period was estimated for each rope, at each depth,
represented as percentage of initial biomass (averaged for all replicates in each treatment). Negative yield values were
obtained when many plants were lost.
The relative growth rates and biomass yield inside and outside the bay were compared at 1 m and 2 m, different
cultivation time (one to four weeks) and different types of attachment to the ropes (IS, HP, SP, CO) using ANOVA
and the posteriori test of Tukey HDS.
Results
The averaged growth rates observed inside the bay (from 7.84 to 11.34 % day
-1
; Tables 1 and 2) were always more
than twice the values observed outside the bay (from 2.48 to 3.71 % day
-1
; Tables 3 and 4).
Comparing both sites in one-week cultivation, the plants cultivated inside the bay presented growth rates
significantly higher than plants cultivated outside the bay for the first meter as well as for the second meter depth
(p<0.01 for both comparisons).
At the end of the second week of cultivation the growth rates of plants cultivated inside the bay were similar to
outside (p>0.08), for both 1 and 2 m depth. However, the total yield per rope was much smaller at the outside site
because many thalli were lost, despite high growth rates being obtained (Tables 1 to 4).
If one compares the number of losses at the two sites, with one week of cultivation, losses of plants were not a
great problem at this site, even in longer periods of cultivation (only one plant was lost for each depth inside the bay;
Tables 1 and 2). On the other hand, during the first cultivation week, more than a half of the plants were lost outside
the bay, and these numbers sharply increased with cultivation time, resulting in the loss of all plants in the fourth
week (Tables 3 and 4).
Plants cultivated inside the bay also could be kept into the sea and even grown for longer periods (4 weeks; Tables
1 and 2) than plants cultivated outside the bay (2 weeks; Tables 3 and 4).
Biomass yields measured inside the bay were always positive (Tables 1 and 2), meaning that there was higher
biomass production than losses. This pattern was not observed outside the bay (Tables 3 and 4), where there were
negative biomass yields at all the cultivation times and depths tested.
In the first meter inside the bay, there was an increase in the biomass yields with cultivation time but it was
proportionally higher in the first and second cultivation weeks. In the second meter at this site, the biomass yields
were lower than in the first meter, but the same pattern for the first meter was observed, with proportionally higher
biomass yields in the first two cultivation weeks.
The biomass yields outside the bay were always negative, showing that the losses were greater than the biomass
production. The biomass losses increased with cultivation time and were higher in the second meter than in the first.
Comparing the different depths, despite the tendency to higher growth rates in the first meter, there were no
significant differences between the two depths tested. The only exception was for the algae tied by cotton strings,
where the first meter presented growth rates significantly higher than the second meter (Tables 5 and 6).
Comparing the different ways to attach the algae to ropes, the tied plants presented higher averaged growth rates
than the inserted ones, but these differences were not significant (Tables 5 and 6). As occurred in the later
experiment, the growth rates decreased with depths (Tables 5 and 6) but these differences were not significant either.
Tied plants also presented a lower number of losses than the inserted plants and the number of losses usually was
higher in the first meter than in the second for all treatments tested (Tables 5 and 6).
The biomass yield in this experiment showed no significant differences among the treatments for plants cultivated
at 1 m depth. However, the biomass yields of plants inserted into the ropes in the second meter depth were
significantly lower than the biomass yields of plants tied with soft plastic bag strings (p= 0.03).
Table 1: Growth rates of plants cultivated inside
the bay, at 1 m depth for each cultivation time. NI:
initial number of plants; NL: number of lost plants
during the interval; biomass yield is the average of
gains (+) or losses (-) of biomass during the
interval; and growth rate as average and standard
deviation.
Time NI NL Biomass yield
during interval
(%)
Growth rate
(% day
-1
)
160
1 week 30 1 + 40.36 9.12 ± 4.74
2 weeks
30 9 + 73.95 10.54 ± 6.75
3 weeks
30 9 + 90.55 8.54 ± 7.40
4 weeks
30 12 + 121.39 11.34 ± 13.82
Table 2: Growth rates of plants cultivated inside
the bay, at 2 m depth for each cultivation time.
See codes in Table 1.
Time NI NL Biomass yield
during interval
(%)
Growth rate
(% day
-1
)
1 week 30 1 + 36.46 7.84 ± 4.06
2 weeks
30 9 + 45.50 8.12 ± 4.90
3 weeks
30 11 + 73.61 9.87 ± 7.07
4 weeks
30 14 + 73.25 9.53 ± 9.50
161
Table 3: Growth rates of plants cultivated outside
the bay, at 1 m depth for each cultivation time.
See codes in Table 1.
Time NI NL Biomass yield
during interval
(%)
Growth rate
(% day
-1
)
1 week 30 16 - 7.70 3.71 ± 2.84
2 weeks
30 26 - 23.16 2.48 ± 1.69
3 weeks
30 30 - 86.96 -
4 weeks
30 30 - 98.47 -
Table 4: Growth rates of plants cultivated outside
the bay, at 2 m depth for each cultivation time.
See codes in Table 1.
Time NI NL Biomass yield
during interval
(%)
Growth rate
(% day
-1
)
1 week 30 17 - 23.16 3.01 ± 2.31
2 weeks
30 25 - 38.00 2.97 ± 2.67
3 weeks
30 29 - 78.27 -
4 weeks
30 30 - 94.61 -
Table 5: Growth rates of plants cultivated outside
the bay, at 1 m depth for each attachment type. NI:
initial number of plants; NL: number of lost plants
during the interval; growth rate. IS: inserted into
strand; HP: tied with hard plastic strings; SP: tied
with soft plastic bag strings; CO: tied with cotton
strings.
Attachment
type
NI NL Biomass
yield
during
interval (%)
Growth rate
(% day
-1
)
IS 40 8 + 40.13 8.26 ± 5.12
HP 30 2 + 56.56 9.38 ± 5.05
SP 30 3 + 55.87 10.17 ± 4.81
CO 30 3 + 57.08 10.63 ± 4.20
Table 6: Growth rates of plants cultivated outside
the bay, at 2 m depth for each attachment type.
See code in Table 5.
Attachment
type
NI NL Biomass
yield during
interval (%)
Growth rate
(% day
-1
)
IS
40 11 + 17.37 6.22 ± 4.52
HP
30 3 + 46.92 8.31 ± 4.60
SP
30 3 + 49.19 8.96 ± 4.02
CO
30 5 + 29.65 7.18 ± 3.45
162
Table 7: Comparative table of averaged growth
rates for different species cultivated under different
techniques.
Species Cultivation
Technique
Country
Growth rate
(% day
-1
)
G.
domingensis
1
Vertical Brazil 2.48 to
10.63
G. gracilis
2
Vertical South
Africa
1 to 10
G. gracilis
3
Horizontal
Namibia 0.84 to
4.15
G. cornea
4
Horizontal
Venezuela 1.4 to 2.5
1
Present work;
2
Anderson et al., 2001;
3
Dawes,
1995;
4
Rincones Leon, 1989.
Discussion
Despite the variability of the results, it was found that Gracilaria domingensis growth rates as well as biomass
yields were high enough to become economically interesting. Biomass yields of about 40% in one week of cultivation
are very attractive, indicating good perspectives for the cultivation of G. domingensis at this site. The observed values
are even more attractive when compared to other studies and species of Gracilaria (Table 7).
The low biomass yields achieved outside the bay compared to that observed inside in the cultivation depth and time
experiments, was probably a consequence of surge storms that occurred just after the beginning of the experiments.
The area inside the bay is more protected and even during the storms, the loss of plants was not a problem. As the
area outside the bay is much more exposed to waves, during the storms the algae could be broken and lost, which
resulted in negative biomass yields in the experiments of cultivation depth and time. Despite this, very high biomass
yields were attained at this same site in the attachment types experiment, in which no surge storms occurred and
biomass yields reached 57% in one week. Growth rates in this experiment were also very high, ranging from 6.2 to
10.6 % day
-1
. These results indicated very good potential for cultivation of G. domingensis inside the Armação do
Itapocoroy Bay, as well as outside the bay.
The influence of surge storms was also decisive in selecting the cultivation time. After 1 week of cultivation, the
probability of breaks or losses of the plants strongly increased. In all experiments comparing cultivation time, best
biomass yields could be achieved if the algae were planted and harvested every week. An increase in harvesting
frequency also improves the yield by decreasing the probability of thallus fragmentation.
A comparison of the different ways tested to attach the thalli to cultivation ropes showed some variability, but the
differences were not significant, at least for the first meter depth. Inserting plants into ropes is faster compared to
other ways to attach the plants, which is an advantage because it requires less labor and no expense with strings.
Another advantage is that because it is faster, plants suffer less desiccation stress.
Seaweed cultivation around the world is usually carried out by attaching the thalli to horizontal ropes near the sea
surface (e.g. Dawes, 1995; Rincones Leon, 1989). In the case of G. domingensis, as it can tolerate a large range of
irradiances (Dawes, 1995; Weller & Cunha, 2003) it is possible to cultivate it in vertical ropes which allows a better
exploitation of the water column and a higher yield per area. This is confirmed by our experiment that shows high
growth rate up to 2 m depth, giving good yields.
Similarly to our results for G. domingensis, Anderson et al. (2001) found values for G. gracilis ranging from 6 to 7
% day
-1
at 1 m depths and from 4.5 to 6 % day
-1
at 2 m depths in an upwelling site in South Africa. Comparison of
these results demonstrates the good perspectives for G. domingensis cultivation in Santa Catarina State.
Conclusions
The long line system used in Perna perna cultivation seems to work well also for the cultivation of Gracilaria
domingensis. This is highly advantageous since the structures already exist and the integrated cultivation of algae
could represent a good alternative to increase the fishermen’s earnings.
We have shown that the cultivation of G. domingensis is technically feasible in the mussel cultivation grounds
inside and outside the Armação do Itapocoroy Bay, using the first two meters depth, inserting plants into the strand of
the rope, and harvests should be made every week.
Acknowledgements
CYY thanks CNPq for a scholarship (140038/02) and for financial support and laboratory facilities provided by the
Department of Botany of the IB/USP and CTTMar – UNIVALI.
163
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