excomunhão para quem, sem sentença episcopal, repudiasse sua mulher
e se casasse com outra.
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Dessa forma, a questão do casamento e divórcio passou a ser
matéria de competência exclusiva dos tribunais eclesiásticos, bem como
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Interessante mencionar que o poder da Igreja era tal que a partir da bula Unan
Sanctam, editada pelo papa Bonifácio VIII (1294 a 1303), o poder temporal passou a
ser confiado ao imperador pelo Papa, sob controle da Igreja. Assim, a Igreja Católica
Apostólica Romana os sagrava e podia excomungá-los, mas o Papa não podia exercer
o poder temporal. Mas, houve reação à essa determinação: o reinado de Felipe IV, da
França, foi marcado por diversos desentendimentos com a Igreja Católica, que tiveram
início em 1296, quando o Papa Bonifácio VIII publicou um documento no qual
declarava que as propriedades da Igreja seriam isentas de quaisquer obrigações
seculares. Felipe contestou, argumentando que, se a Igreja não pagasse tributos à
França, então a França também não pagaria tributos à Igreja. Imediatamente, Felipe IV
proibiu a remessa de dinheiro ou produtos franceses à Igreja. Solicitou também a
criação de um conselho para analisar as denúncias de heresia e corrupção por parte
de Bonifácio e chegou a prender o bispo de Palmiers, Bernard Saisset, sob a acusação
de traição. Por causa disso, Bonifácio decidiu excomungar o rei. Um dia antes da
publicação do documento de excomunhão na Catedral de Alagna, onde Bonifácio
residia, os emissários de Felipe invadiram o palácio e mantiveram o Papa em cárcere
privado, saqueando sua residência e o agredindo fisicamente. Bonifácio foi salvo três
dias depois pelos habitantes de Alagna, mas não resistiu e morreu em Roma um mês
depois, aos 86 anos. A eleição de Clemente V, que transferiu a sede do papado para
Avignon (França), em 1307, e anulou a excomunhão decretada por Bonifácio e selou a
vitória de Felipe IV. (COMBY, Jean. Para ler a história da igreja: das origens ao
século XV. São Paulo: Loyola, 1993. p. 174). O papado permaneceu em Avignon até o
ano de 1377. Ao todo sete papas estabeleceram sua residência em Avignon. Gregório
XI se propôs a mudar sua sede para Roma, fazendo-o no início de 1377, mas faleceu
no ano ano seguinte. Apesar de um terço dos cardeais que compunha o conclave ser
de origem francesa e de haver uma preferência dessa nacionalidade e voltasse a
Avignon, estes se dividiram sobre qual francês eleger. Além disso, estavam em Roma
e sujeitos ao clamor da população. Assim, escolheram um napolitano erudito,
administrador experiente, austero em sua moral e zeloso pela reforma, mas arrogante,
Urbano VI, o qual se recusou a voltar a Avignon, repreendendo publicamente os
cardeais. Mas, alguns cardeais eram de sangue nobre e se ressentiram com o Papa, a
quem consideravam de origem humilde. Poucos meses depois esses cardeais
abandonaram Roma, declarando que a eleição de Urbano VI se dera por intimidação
por parte da população romana e, portanto, era ilegal, requerendo sua renúncia e
denunciando-o como apóstata e anticristo. A maioria francesa do colégio de cardeais
elegeu outro papa, um príncipe aparentado do rei da França, que assumiu com o nome
de Clemente VII, estabelecendo-se em Avignon. Espanha, França, Escócia e parte da
Alemanha apoiaram Clemente VII, enquanto que a Itália, a maior parte da Alemanha,
Inglaterra, Escandinávia, Bohemia, Polônia, Flandres e Portugal apoiavam Urbano VI.
Para solucionar o problema da cisma, foi realizado em Pisa, em 1409, um concílio com
os cardeais de Avignon e de Roma que elegeram um novo papa, João XXIII. Mas, os
outros dois não renunciaram, ficando a Igreja com três papas. Outro concílio, muito
maior, foi realizado em Constancia (1414 a 1418), o qual colocou fim ao cisma,
elegendo como ppa Oddone Colinna, membro de uma antiga família romana, que
tomou o título de Martin V (LATOURETTE, Kenneth Scott. História do cristianismo. 3
ed. Casa Bautista de Publicaciones, 1976).