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KÊNIA DE CASTRO MACEDO
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO LEVE
E ANÁLISE DE FATORES ASSOCIADOS À FRATURA DE CRÂNIO
E LESÃO INTRACRANIANA
FACULDADE DE MEDICINA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
BELO HORIZONTE
2006
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KÊNIA DE CASTRO MACEDO
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO LEVE
E ANÁLISE DE FATORES ASSOCIADOS À FRATURA DE CRÂNIO
E LESÃO INTRACRANIANA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Ciências da Saúde.
Área de Concentração: Saúde da Criança e do Adolescente
Orientador: Prof. Eugênio Marcos de Andrade Goulart
FACULDADE DE MEDICINA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
BELO HORIZONTE
2006
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Macedo, Kênia de Castro
M141c Características clínicas e epidemiológicas de crianças e adolescentes com
traumatismo cranioencefálico leve e análise de fatores associados à fratura
de crânio e lesão intracraniana/Kênia de Castro Macedo. Belo Horizonte, 2006.
112f.
Dissertação.(mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade
de Medicina.
Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente
Orientador: Eugênio Marcos de Andrade Goulart
Co-orientadora: Fabiana Maria Kakehasi
1.Trauma craniocerebral/classificação 2.Trauma craniocerebral/epidemiologia
3.Trauma craniocerebral/complicações 4.Fraturas cranianas/complicações
5.Hemorragia intracraniana traumática/complicações 6.Evolução clínica
7.Radiografia/tendências 8.Fatores de risco 9.Criança I.Título
NLM: WS 340
CDU: 616.8-053.2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Reitor
Prof. Ronaldo Tadeu Pena
Vice-Reitora
Profª. Heloisa Maria Murgel Starling
Pró-Reitor de Pós-Graduação
Prof. Jaime Arturo Ramirez
Pró-Reitor de Pesquisa
Prof. Carlos Alberto Pereira Tavares
FACULDADE DE MEDICINA
Diretor
Prof. Francisco José Pena
Vice-Diretor
Prof. Tarcizo Afonso Nunes
Coordenador do Centro de Pós-Graduação
Prof. Carlos Faria Santos Amaral
Chefe do Departamento de Pediatria
Profª. Cleonice de Carvalho Coelho Mota
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DE SAÚDE - ÁREA DE
CONCENTRAÇÃO EM SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Coordenador
Prof. Joel Alves Lamounier
Colegiado
Prof. Francisco José Pena
Prof. Joel Alves Lamounier
Prof. Eduardo Araújo de Oliveira
Profª. Ivani Novato Silva
Prof. Marco Antônio Duarte
Prof. Marcos Borato Viana
Profª. Regina Lunardi Rocha
Prof. Roberto Assis Ferreira
Miguir Terezinha Vieccelli Donoso (representante discente)
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a dissertação intitulada
“CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E EPIDEMIOLÓGICAS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO LEVE E ANÁLISE
DE FATORES ASSOCIADOS À FRATURA DE CRÂNIO E LESÃO
INTRACRANIANA”, apresentada em sessão pública por KÊNIA DE CASTRO
MACEDO, aluna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde Área de
Concentração Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais, para obtenção do título de Mestre em Ciências da
Saúde, realizada em 28/06/2006.
___________________________________________________________________
Prof. Eugênio Marcos de Andrade Goulart / Universidade Federal de Minas Gerais
Orientador / Presidente da Comissão
___________________________________________________________________
Prof. Alexandre Rodrigues Ferreira / Universidade Federal de Minas Gerais
___________________________________________________________________
Prof. Arnaldo Prata Barbosa / Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ao meu amor Renato, pelo carinho, compreensão e apoio.
À Ieda e Cezário, meus queridos pais e mais dedicados professores.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Eugênio Marcos de Andrade Goulart, pela orientação e por sempre me receber
com um sorriso e um abraço, tornando o trabalho menos árduo.
À Fabiana Maria Kakehasi, que co-orientou este trabalho, por toda sua disponibilidade,
amizade e paciência.
À Alice Cordeiro Franco, Alberlúcio Esquirio Pessoa, Maurício Fonseca Cunha, Nina Rosa
Aparecida Felizardo Murta e Priscila Carla Salles, alunos e ex-alunos da Faculdade de
Medicina da UFMG, que participaram deste trabalho como voluntários e o fizeram com
seriedade e responsabilidade.
À Maria Luíza L. Silva, médica radiologista do Hospital de Pronto Socorro João XXIII,
pela revisão das tomografias computadorizadas de crânio.
Ao Sérgio Diniz Guerra, pelo exemplo e incentivo.
Ao Luís Fernando Andrade de Carvalho, pelo apoio.
Aos funcionários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística do Hospital de Pronto
Socorro João XXIII, pela boa vontade e presteza.
Às crianças que participaram deste estudo e aos seus responsáveis.
Aos médicos pediatras, neurologistas e neurocirurgiões do pronto atendimento do Hospital
de Pronto Socorro João XXIII.
SUMÁRIO
Página
LISTAS ........................................................................................................................ 11
Lista de tabelas ........................................................................................................ 11
Lista de figuras ........................................................................................................ 14
Lista de gráficos ....................................................................................................... 15
Lista de siglas e abreviaturas .............................................................................. 16
RESUMO .................................................................................................................... 17
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 19
2 REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................... 21
2.1 Epidemiologia do traumatismo cranioencefálico ............................. 21
2.2 Mecanismos de trauma .............................................................................. 22
2.3 Sinais e sintomas após traumatismo cranioencefálico leve ........... 23
2.4 Fratura de crânio em crianças e adolescentes com TCE leve:
diagnóstico, complicações e fatores associados .............................................. 27
2.5 Lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve:
diagnóstico, complicações e fatores associados .............................................. 29
2.6 Acompanhamento e evolução clínica de crianças e adolescentes
com TCE leve ............................................................................................................ 34
2.7 Considerações finais ................................................................................... 37
3 OBJETIVOS ....................................................................................................... 39
3.1 Objetivo geral ............................................................................................... 39
3.2 Objetivos específicos .................................................................................. 39
4 METODOLOGIA ............................................................................................ 40
4.1 Critérios para revisão da literatura ..................................................... 40
4.2 Descrição do estudo .................................................................................... 40
4.3 Definições ....................................................................................................... 41
4.3.1 Criança e adolescente ......................................................................................... 41
4.3.2 Idade e faixas etárias .......................................................................................... 41
4.3.3 Mecanismo de trauma ........................................................................................ 41
4.3.4 Veículo ............................................................................................................... 41
4.3.5 Região Metropolitana de Belo Horizonte ......................................................... 41
4.3.6 Escala de Coma de Gasgow ............................................................................... 42
4.3.7 Traumatismo cranioencefálico ........................................................................... 43
4.3.8 Traumatismo cranioencefálico leve, moderado e grave .................................... 43
4.3.9 Fratura de crânio ................................................................................................ 43
4.3.10 Fratura de base de crânio ................................................................................... 44
4.3.11 Fratura em crescimento ..................................................................................... 44
4.3.12 Lesão intracraniana ............................................................................................ 45
4.3.13 Contusão cerebral e hematoma intraparenquimatoso ........................................ 45
4.3.14 Hematoma extradural ........................................................................................ 45
4.3.15 Hematoma subdural .......................................................................................... 46
4.3.16 Hemorragia subaracnóide ................................................................................. 46
4.3.17 Pneumoencéfalo ................................................................................................ 47
4.3.18 Hematoma de escalpo ....................................................................................... 47
4.3.19 Trauma contuso de crânio ................................................................................. 47
4.4 Hospital onde o estudo foi desenvolvido ........................................... 48
4.5 População ...................................................................................................... 48
4.5.1 Tamanho da amostra ......................................................................................... 48
4.5.2 Critérios de inclusão .......................................................................................... 51
4.5.3 Critério de exclusão ........................................................................................... 51
4.5.4 Seleção dos pacientes ........................................................................................ 51
4.6 Coleta de dados ........................................................................................... 52
4.6.1 Intra-hospitalar .................................................................................................. 52
4.6.2 Após a alta hospitalar ........................................................................................ 53
4.6.3 Instrumentos de coleta de dados ....................................................................... 54
4.7 Análise estatística ...................................................................................... 55
4.8 Aspectos éticos ............................................................................................ 56
5 RESULTADOS.................................................................................................. 57
5.1 Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes vítimas de TCE
leve .............................................................................................................................. 57
5.2 Mecanismos de trauma ............................................................................ 59
5.3 Sinais e sintomas que surgiram após o trauma ................................ 61
5.4 Ocorrência de fratura de crânio e lesão intracraniana ................. 63
5.5 Evolução clínica durante a permanência hospitalar ...................... 66
5.6 Evolução clínica na primeira semana após o trauma ..................... 67
5.7 Comparação dos laudos das tomografias feitos pelo neurologista
versus radiologista: análise de confiabilidade ............................................... 69
5.8 Avaliação da associação de fatores clínicos e epidemiológicos
com a ocorrência de fratura de crânio ............................................................ 69
5.9 Avaliação da associação de fatores clínicos, epidemiológicos e
presença de fratura de crânio com a ocorrência de lesão intracraniana
......................................................................................................................................... 73
5.10 Avaliação da validade da radiografia de crânio como teste
diagnóstico de lesão intracraniana .................................................................. 78
6 DISCUSSÃO ...................................................................................................... 80
7 CONCLUSÃO ................................................................................................... 93
8 SUMMARY ........................................................................................................ 95
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 97
10 ANEXOS ............................................................................................................. 105
10.1 Anexo A .......................................................................................................... 105
10.2 Anexo B .......................................................................................................... 106
10.3 Anexo C ......................................................................................................... 107
10.4 Anexo D ......................................................................................................... 109
10.5 Anexo E ......................................................................................................... 110
11
LISTAS
Lista de tabelas Página
TABELA 1 - Resumos de estudos retrospectivos realizados em crianças e adolescentes
com TCE leve, critérios de inclusão dos pacientes e freqüência de sinais e sintomas
encontrados ...................................................................................................................... 25
TABELA 2 - Resumos de estudos prospectivos realizados com crianças e adolescentes
vítimas de TCE leve, moderado e grave, atendidas consecutivamente em departamento
de emergência e freqüência de sinais e sintomas encontrados ........................................ 26
TABELA 3 - Resumos de estudos realizados em crianças e adolescentes de até 18 anos
de idade com TCE leve e freqüência dos tipos de lesão intracraniana encontrados em
cada um deles ................................................................................................................... 30
TABELA 4 - Resumos de estudos realizados com pacientes na faixa etária pediátrica,
vítimas de TCE, e seus resultados quanto a fatores associados à ocorrência de lesão
intracraniana .................................................................................................................... 32
TABELA 5 - Resumos de estudos que apresentaram resultados de análise multivariada
para fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças e adolescentes
com TCE ..................................... ..................................................................................... 33
TABELA 6 - Escala de Coma de Glasgow tradicional e modificada para crianças
menores de cinco anos de idade ....................................................................................... 42
TABELA 7 - Freqüência absoluta e relativa dos diagnósticos registrados nas fichas de
atendimento médico do Hospital de Pronto Socorro João XXIII em pacientes de zero
a 12 anos e 11 meses de idade, no período de 30 dias consecutivos, BH, mar./2004 ...... 50
TABELA 8 – Número estimado de pacientes entre zero e 12 anos e 11 meses de idade
atendidos no Hospital de Pronto Socorro João XXIII com diagnóstico de TCE leve,
com base em pesquisa retrospectiva ................................................................................ 50
TABELA 9 – Atendimentos por TCE leve no setor de pediatria do pronto socorro do
Hospital João XXIII segundo a cidade de ocorrência do trauma, BH, mar./2004 a
fev./2005 ........................................................................................................................... 57
TABELA 10 – Freqüência da ocorrência dos diversos mecanismos de trauma em
pacientes vítimas de TCE leve, divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005.... 59
12
TABELA 11 – Freqüência da ocorrência dos diversos tipos de quedas em pacientes
vítimas de TCE leve, divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005 .................. 60
TABELA 12 - Freqüência dos sinais e sintomas registrados em 932 crianças e
adolescentes após TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005 ................................................ 61
TABELA 13 - Distribuição dos hematomas de escalpo de crianças e adolescentes
vítimas de TCE leve, quanto à topografia no crânio, BH, mar./2004 a fev./2005 ........... 62
TABELA 14 - Topografia das lesões em outros segmentos corporais, associadas ao
TCE leve em crianças e adolescentes, BH, mar./2004 a fev./2005 .................................. 63
TABELA 15 Freqüência dos sintomas pesquisados apenas nas 566 crianças e
adolescentes com idade igual ou superior a três anos, após TCE leve, BH, mar./2004 a
fev./2005 ........................................................................................................................... 63
TABELA 16 - Descrição dos resultados das radiografias e tomografias computadoriza-
das de crânio realizadas em crianças e adolescentes com TCE leve, BH, mar./2004
a fev./2005 ....................................................................................................................... 64
TABELA 17 - Distribuição das fraturas diagnosticadas à tomografia computadorizada
de crânio em crianças e adolescentes com TCE leve, quanto ao segmento do crânio
acometido, BH, mar./2004 a fev./2005 ........................................................................... 65
TABELA 18 - Descrição do tempo de observação e permanência hospitalar, em horas,
de crianças e adolescentes vítimas de TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005 ................. 66
TABELA 19 - Sintomas de crianças e adolescentes vítimas de TCE leve na primeira
semana após o trauma, BH, mar./2004 a mar./2005 ........................................................ 67
TABELA 20A - Comparação dos laudos tomográficos efetuados pelo neurologista
ou radiologista, considerando o diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e
adolescentes com TCE leve, BH, jun./2004 a fev./2005 ................................................. 69
TABELA 20B – Comparação dos laudos tomográficos efetuados pelo neurologista
ou radiologista, considerando o diagnóstico de fratura de crânio em crianças e
adolescentes com TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005 ................................................ 69
TABELA 21 - Freqüência de sinais e sintomas nas crianças e adolescentes vítimas de
TCE leve, divididas em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de fratura de
crânio à radiografia e/ou à tomografia computadorizada, BH, mar/2004 a fev/2005 ...... 70
TABELA 22 - Estudo da associação de fatores clínicos e epidemiológicos com a
ocorrência de fratura de crânio em crianças e adolescentes vítimas de TCE leve –
Análise univariada ............................................................................................................ 71
13
TABELA 23 – Fatores associados à ocorrência de fratura de crânio em crianças e
adolescentes com TCE leve – Análise multivariada ........................................................ 73
TABELA 24 - Freqüência dos sinais e sintomas nas crianças e adolescentes vítimas de
TCE leve, divididas em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de lesão
intracraniana à tomografia computadorizada de crânio, BH, mar./2004 a fev./2005 ........ 74
TABELA 25 - Estudo da associação de fatores clínicos, epidemiológicos e fratura de
crânio com a ocorrência de lesão intracraniana em crianças e adolescentes vítimas de
TCE leve – Análise univariada ......................................................................................... 75
TABELA 26 - Fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças e
adolescentes com TCE leve – Análise multivariada, incluindo fratura de crânio ........... 77
TABELA 27 - Fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças
e adolescentes com TCE leve – Análise multivariada, excluindo fratura de crânio .......... 78
TABELA 28A Dados utilizados no cálculo da validade da radiografia de crânio
como teste diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE
leve, tendo como padrão ouro a tomografia computadorizada de crânio, BH, mar./2004
a fev./2005 ........................................................................................................................ 79
TABELA 28B Dados utilizados no cálculo da validade da fratura de crânio
como preditor do diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com
TCE leve, tendo como padrão ouro a tomografia computadorizada de crânio BH, mar.
/2004 a fev./2005 .............................................................................................................. 79
TABELA 29 Resumos de estudos realizados em crianças e adolescentes vítimas de
TCE, destacando-se a proporção de indivíduos submetidos a exames de imagem e a
freqüência de fratura de crânio e lesão intracraniana considerando o total de cada
amostra.............................................................................................................................. 84
14
Lista de figuras Página
FIGURA 1 - Exemplos de fratura de crânio em crianças com TCE: (a) fratura linear
diagnosticada por meio de radiografia simples de crânio, em perfil (seta); (b) fratura
com afundamento diagnosticada por meio de tomografia computadorizada de crânio
com “janela” óssea (seta)................................................................................................... 44
FIGURA 2 - Exemplos de lesões intracranianas diagnosticadas à tomografia compu-
tadorizada de crânio: (a) tomografia normal; (b) hematoma intraparenquimatoso (seta
branca superior), hematoma extradural (seta branca inferior), hemorragia subaracnóide
(seta preta superior) e hematoma subdural (seta preta inferior) ........................................ 46
FIGURA 3 - Tomografia computadorizada de crânio mostrando duas pequenas imagens
de pneumoencéfalo (setas) ................................................................................................ 47
FIGURA 4 - Hematoma extradural de desenvolvimento tardio após TCE leve, em
criança de nove anos de idade: (a) tomografia de crânio normal, realizada menos de
seis horas após o trauma; (b) tomografia de crânio evidenciando hematoma
extradural (seta), realizada seis dias após o trauma .......................................................... 68
15
Lista de gráficos Página
GRÁFICO 1 - Atendimentos por TCE leve no setor de pediatria do pronto socorro do
Hospital João XXIII segundo a idade, BH, mar./2004 a fev./2005 ................................. 58
GRÁFICO 2 - Distribuição de pacientes vítimas de TCE leve quanto ao gênero,
divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005 ..................................................... 58
GRÁFICO 3 - Freqüência dos tipos de lesões intracranianas identificados nas
tomografias computadorizadas de crânio de crianças e adolescentes vítimas de TCE
leve, BH, mar./2004 a fev./2005 ...................................................................................... 65
16
Lista de siglas e abreviaturas
AAP- American Academy of Pediatrics
ACS- American College of Surgeons
CID 10- Classificação Internacional de Doenças - Décima Revisão
DATASUS- Departamento de Informação e Informática do SUS
ECG- Escala de Coma de Glasgow
FHEMIG- Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais
FIG- figura
GRAF- gráfico
LIC - lesão intracraniana
SAME- Serviço de Arquivo Médico e Estatística
SIH/SUS- Serviço de Informações Hospitalares do SUS
SUS- Sistema Único de Saúde
TAB- tabela
TCC- tomografia computadorizada de crânio
TCE - traumatismo cranioencefálico
fev. - fevereiro
mar. - março
jun. - junho
17
RESUMO
Neste estudo objetivou-se descrever o perfil epidemiológico de crianças e
adolescentes vítimas de traumatismo cranioencefálico (TCE) leve, caracterizando-as quanto
aos mecanismos de trauma, presença de sinais e sintomas, ocorrência de fratura de crânio e
lesão intracraniana (LIC) e evolução clínica durante a permanência hospitalar e na primeira
semana após o trauma; identificar fatores associados à LIC e à fratura de crânio e avaliar a
validade da radiografia de crânio como teste diagnóstico de LIC, tendo a tomografia
computadorizada de crânio como padrão ouro. Trata-se de pesquisa do tipo coorte,
prospectiva e observacional, realizada com 932 pacientes de zero a 12 anos e onze meses de
idade, vítimas de TCE há menos de 24 horas e admitidas no Hospital de Pronto Socorro
João XXIII de Belo Horizonte com pontuação na Escala de Coma de Glasgow (ECG) igual
a 14 ou 15. Os dados foram coletados no período de março de 2004 a março de 2005, por
meio de entrevistas realizadas durante o atendimento hospitalar e após a alta, e registrados
em questionários padronizados. O TCE leve ocorreu principalmente devido a quedas, mais
freqüentemente em lactentes e pré-escolares do sexo masculino. Os sintomas mais relatados
foram sonolência (64,7%), hematoma de escalpo (63,7%), cefaléia (53,3% daqueles com
três anos de idade ou mais), irritabilidade (38,2%) e vômito (32,2%). Realizou-se exames
de imagem em 93,3% dos pacientes, sendo 69,5% submetidos apenas à radiografia de
crânio, 9,3% apenas à tomografia computadorizada de crânio e 14,5% a ambos. Um
número significativo de pacientes evoluiu com fratura de crânio (7,6%) e/ou LIC (3%).
Foram internados 6,9% dos pacientes, com tempo médio de permanência hospitalar de 56
horas, entretanto apenas quatro pacientes necessitaram neurocirurgia e não ocorreram
óbitos. Na primeira semana após o trauma, os principais sintomas relatados foram cefaléia
(24,1%), irritabilidade (15,6%) e sonolência (10,9%). Em um paciente foi diagnosticado
hematoma extradural após a alta hospitalar, com resolução espontânea. Após regressão
logística, os fatores associados à ocorrência de LIC foram fratura de crânio, pontuação na
ECG igual a 14, presença de lesão em outros segmentos corporais e confusão mental
momentânea. Quando o fator fratura de crânio foi excluído da análise multivariada,
hematoma de escalpo e sinais de fratura de base de crânio também apresentaram associação
18
com LIC. Na presença de algum destes sintomas, sugere-se a realização de tomografia
computadorizada de crânio. Os fatores associados à ocorrência de fratura de crânio foram
idade inferior a um ano, hematoma de escalpo, sinais de fratura de base de crânio,
pontuação na ECG igual a 14 e vômito. A fratura à radiografia de crânio apresentou
sensibilidade de 60% e valor preditivo negativo de 90% para o diagnóstico de LIC, índices
inadequados para que este exame seja utilizado como teste de triagem.
19
1 INTRODUÇÃO
Por traumatismo cranioencefálico (TCE) entende-se qualquer agressão de ordem
traumática que acarrete lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo,
crânio, meninges, encéfalo ou seus vasos (Diament e Cypel, 1996). O TCE pode ser
classificado em leve, moderado ou grave de acordo com a pontuação na Escala de Coma de
Glasgow (Teasdale e Jennett, 1974). Esta escala é um meio prático de monitorizar
alterações no nível de consciência das vítimas de trauma, baseada na abertura dos olhos e
nas respostas verbais e motoras. A pontuação mais baixa possível é três e a mais alta é 15.
Há divergências na literatura quanto à definição de TCE leve. O Colégio Americano
de Cirurgiões (American College of Surgeons, 2004) classifica o TCE como leve quando o
paciente obtém pontuação na ECG igual a 14 ou 15
à admissão. Para a Academia
Americana de Pediatria (American Academy of Pediatrics, 1999) define-se o paciente como
vítima de TCE leve quando há estado de consciência normal ao exame inicial, sem
anormalidade ou déficit neurológico e sem evidência física de fratura de crânio. autores
que empregam o termo TCE leve em crianças com pontuação na ECG de 13 a 15 e ainda há
aqueles que apenas classificam como leves os pacientes com pontuação na ECG igual a 15.
Esta variação no conceito é prejudicial à comparação entre os estudos e ao atendimento dos
pacientes vítimas deste tipo de trauma. Na maior parte das instituições especializadas em
trauma do nosso país, os neurocirurgiões e pediatras utilizam a definição de TCE leve
adotada pelo ACS.
O TCE responde por 75% a 97% das mortes por trauma em crianças, sendo um dos
principais desafios da saúde pública na infância e na adolescência (Guerra et al, 1999).
Estatísticas internacionais mostram que mais de 500.000 atendimentos de urgência são
realizados anualmente devido a TCE nesta faixa etária (Schutzman e Greenes, 2001; REED
et al, 2005). Pacientes com TCE leve respondem por 80 a 90% destes atendimentos e
podem apresentar lesões ósseas ou encefálicas, embora em menor freqüência que nos casos
classificados como moderados ou graves (Murgio et al, 2001). No Brasil, o número de
crianças e adolescentes vítimas de TCE é pouco conhecido.
20
A incidência de fratura de crânio em crianças e adolescentes com TCE leve varia de
5 a 29% nos diversos estudos, sendo a maior parte fraturas do tipo linear. A importância do
diagnóstico da fratura de crânio é muito discutida na literatura e está relacionada
principalmente com sua associação com lesões intracranianas (Mitchell et al, 1994; Lloyd
et al, 1997; Quayle et al, 1997; Murgio et al, 2001). As lesões intracranianas podem ocorrer
em 3 a 7% dos pacientes sintomáticos que se apresentam neurologicamente normais e
algumas necessitam abordagem cirúrgica (Quayle, 1999). Mesmo quando não desenvolvem
lesão intracraniana, pacientes com TCE leve podem apresentar sintomas somáticos,
cognitivos, emocionais e comportamentais por períodos variáveis e relatos de casos que
permanecem com seqüelas por meses ou anos (Goldstein, 1991; Kieslich et al, 2002;
Korinthenberg et al, 2004). Até o momento divergências na literatura quanto aos fatores
clínicos e epidemiológicos associados à ocorrência de fratura de crânio e lesão
intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve. Isto leva à realização de grande
número de radiografias e tomografias computadorizadas de crânio, o que aumenta os custos
com o atendimento e os riscos relacionados a exposição à radiação.
O TCE leve é, portanto, um dos principais motivos de procura por atendimento
médico de urgência em crianças e adolescentes, pode levar a lesões de alta morbi-
mortalidade e até o momento não consenso sobre os fatores clínicos e epidemiológicos
associados à pior prognóstico. Este estudo apresenta contribuições importantes para o
esclarecimento das questões ainda existentes sobre o tema.
21
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Epidemiologia do traumatismo cranioencefálico
O TCE é uma das lesões mais comuns na infância e uma das principais causas de
morte por trauma em países desenvolvidos. No Reino Unido estima-se que cerca de
500.000 crianças de até 16 anos são atendidas anualmente com TCE em departamentos de
emergência e aproximadamente 50.000 são internadas (Reed et al, 2005). As estatísticas
americanas quanto à assistência ao TCE em crianças são ainda mais alarmantes, com
600.000 atendimentos por ano em departamentos de emergência, cerca de 95.000
internações e 7.000 óbitos (Quayle, 1999; Schutzman e Greenes, 2001).
Estatísticas nacionais evidenciam que em 2003 as causas externas de morbidade e
mortalidade provocaram 21.516 óbitos de crianças e adolescentes entre zero e 19 anos de
idade em todo o país. As lesões por causas externas foram a principal causa de óbitos entre
um e 19 anos de idade, chegando a representar 45% das fatalidades entre 10 e 14 anos e
75% entre 15 e 19 anos. Concentraram-se na região sudeste 45% dos casos
(DATASUS/Óbitos por causas externas).
A obtenção de dados sobre morbidade por causas externas tendo como referência a
natureza da lesão é uma tarefa difícil em nosso país. Por meio do Sistema de Informações
Hospitalares (SIH/SUS) são obtidos dados dos pacientes internados pelo sistema público de
saúde, o qual é responsável por 80% da assistência médico-hospitalar prestada à população
brasileira (Levcovitz et al, 1993, citado por Koizumi et al, 2000). Habitualmente não existe
meio de registro informatizado padronizado para atendimentos de pronto socorro. A falta
de registros disponíveis sobre estes atendimentos subestima a importância da morbidade
por causas externas, uma vez que grande parte das vítimas não necessita internação.
Quando tomamos o TCE como referência a tarefa torna-se ainda mais difícil, pois na lista
de morbidades da Classificação Internacional de Doenças - cima Revisão (CID10)
existem vários códigos nos quais esta lesão pode estar incluída, como os de hemorragia
intracraniana, fratura do crânio ou ossos da face, fratura do pescoço, tórax ou pelve, fratura
envolvendo múltiplas regiões do corpo, trauma do olho e da órbita e traumatismo
intracraniano, além dos que abordam lesões de tecidos moles (DATASUS/Morbidade
22
hospitalar do SUS por causas externas). Respeitadas as limitações dos dados do SIH/SUS,
Koizumi e cols (2000) estimaram 12% de incidência de TCE nas vítimas residentes e
internadas na rede hospitalar do Município de São Paulo, sendo 20% menores de 10 anos
de idade. Estes autores também calcularam a mortalidade por TCE em nível populacional,
incluindo todas as faixas etárias, de 26 a 39/100.000 habitantes.
A análise da morbidade por causas externas no Brasil deve ser avaliada por meio de
estudos específicos que incluam tanto pacientes internados quanto os que recebem alta após
atendimento inicial no serviço de urgência. Em pesquisa prospectiva realizada na cidade de
Campinas/São Paulo, 74% das crianças e adolescentes com lesões por causas externas,
atendidas em pronto socorro, eram vítimas de traumatismos (Baracat et al, 2000). Outro
estudo prospectivo, realizado em Ipatinga/Minas Gerais, encontrou 85% de traumatismos
entre pacientes com lesões por causas externas que haviam sido internados (Gaspar et al,
2004). Grande parte destes pacientes apresentou TCE associado, entretanto esta proporção
não foi especificada. Recentemente, Martins e cols (2005) realizaram em Londrina/Paraná
um estudo retrospectivo de 8854 pacientes menores de 15 anos com lesões por causas
externas. A incidência de traumatismos foi de 93% entre os que receberam alta após
atendimento no pronto socorro e de 77% entre os internados. O TCE foi a principal lesão
fatal entre pacientes internados. O segmento cabeça e pescoço foi afetado em 35% de todos
os pacientes. Não foram encontrados estudos realizados no Brasil especificamente com
crianças atendidas em pronto socorro vítimas de TCE.
Nas últimas décadas, estudos realizados com crianças vítimas de TCE em diversos
países mostraram que maior incidência no sexo masculino e que 70 a 90% são
classificados como TCE leve (Harwood-Nash et al, 1971; Mitchell et al, 1994; Roddy et al,
1998; Simon et al, 2001). A média de idade varia de acordo com os critérios de inclusão em
cada estudo, mas tende a ser menor nos casos leves (Schunk et al, 1996; Murgio et al,
2001).
2.2 Mecanismos de trauma
A lesão encefálica traumática pode ser conseqüente a forças de contato violentas ou
a movimento de rápida aceleração ou desaceleração da cabeça. No atendimento ao paciente
23
com TCE, é importante resgatar informações pormenorizadas da fase que antecede o
trauma, como local e mecanismo causal. Assim pode-se inferir o potencial de provocar
lesões mais ou menos graves de acordo com a quantidade de energia envolvida e transferida
para os tecidos (Glasgow e McGovern, 2000, ACS, 2004)
Os mecanismos de trauma descritos em crianças com TCE leve são diversos e a
freqüência de cada um deles varia de acordo com a idade e com o ambiente em que elas
vivem. As quedas são a principal causa, responsáveis por 31 a 50% dos casos (Mitchell et
al, 1994; Schunk et al, 1996; Roddy et al, 1998; Simon et al, 2001; Spencer et al, 2003).
Shane e Fuchs (1997) encontraram 91% de quedas em lactentes menores de um ano,
mostrando que em crianças mais jovens a freqüência é ainda maior. Colisão automobilística
com o passageiro dentro do veículo, atropelamento de pedestre, acidente envolvendo
ciclista, agressões (lesões intencionais) e acidente relacionado à prática de esportes têm
maior ocorrência em escolares e adolescentes, entretanto também são causas de trauma de
crânio em crianças menores (Harwood-Nash et al, 1971; Mitchell et al, 1994; Roddy et al,
1998; Quayle, 1999; Simon et al, 2001; Murgio et al, 2001). Outro mecanismo comum é o
trauma contuso com objeto estático ou em movimento, este menos relacionado à idade.
2.3 Sinais e sintomas após traumatismo cranioencefálico leve
Crianças com TCE leve podem ser assintomáticas, apresentar lesões de superfície
ou uma série de sintomas clínicos. Cefaléia, vômito e lesões de superfície, como hematoma
ou laceração em escalpo, são queixas freqüentes. A cefaléia pode ter intensidade leve a
forte e ser transitória ou persistente. Os vômitos, muito comuns em crianças devido ao
comprometimento vestibular transitório, podem iniciar-se imediatamente ou horas após o
trauma, ocorrendo em episódio único ou múltiplos. Os hematomas são coleções sanguíneas
subcutâneas, subgaleais ou subperiostais que variam de muito pequenos a extensos, chegam
a atingir mais de uma região topográfica do crânio e podem ou não estar localizados sobre
fraturas (Diament e Cypel, 1996). Outros sintomas comuns são náusea, tonteira,
irritabilidade, sonolência e, menos freqüentemente, déficit neurológico focal, confusão
mental, convulsão, amnésia e breve perda de consciência (Schunk et al, 1996; Murgio et al,
2001). Alguns sintomas são de diagnóstico difícil em crianças. Para identificar, por
24
exemplo, cefaléia ou amnésia depende-se inteiramente da cooperação do paciente e este
algumas vezes ainda não aprendeu a falar ou está muito assustado para fazê-lo. A confusão
mental é avaliada no ambiente hospitalar por meio da ECG; a crise convulsiva, perda de
consciência e déficit neurológico também podem ser prontamente identificados pela equipe
médica. Entretanto, estas alterações podem ocorrer antes da chegada da criança ao hospital
e os familiares algumas vezes apresentam dificuldades para descrevê-las, outras
simplesmente não as identificam.
Nos diversos estudos realizados com crianças timas de TCE leve, a freqüência
relatada de cada sintoma apresenta grande variação. Isto ocorre devido às diferenças nos
critérios de inclusão, que podem selecionar pacientes com sintomas mais ou menos graves.
A TAB 1 mostra alguns estudos retrospectivos realizados em crianças e adolescentes com
TCE leve, seus critérios de inclusão e a freqüência encontrada dos sinais e sintomas. Nos
estudos descritos nesta tabela, verifica-se grande freqüência de sintomas como perda de
consciência, vômitos e convulsão, entretanto estes sintomas provavelmente foram os
motivos de internação ou solicitação de tomografia computadorizada de crânio para os
pacientes. A incidência real dos sinais e sintomas poderia ser avaliada em estudos
prospectivos que incluíssem todas as crianças e adolescentes atendidas nos departamentos
de emergência vítimas de TCE, independente da necessidade de internação ou extensão da
propedêutica. A TAB 2 mostra a freqüência dos sinais e sintomas encontrados em dois
estudos com estas características, realizados com crianças e adolescentes vítimas de TCE
leve, moderado ou grave. Sabe-se que 70 a 90% destes pacientes apresentavam TCE leve,
mas pacientes com TCE moderado e grave apresentavam-se mais sintomáticos.
25
TABELA 1 – Resumos de estudos retrospectivos realizados em crianças e adolescentes com TCE leve, critérios de inclusão dos pacientes e freqüência de
sinais e sintomas encontrados
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Autor / data Número de Pontuação Critérios Período de Sinais e sintomas
país pacientes na ECG de inclusão estudo
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Michell, 1994 401 13 a 15 Internados Julho de 1988 38,4% perda de consciência,
USA TCE isolado a dezembro de 1990 34% vômitos,
3 a 17 anos 24% letargia,
21% lesão de escalpo,
16% cefaléia,
7,5% amnésia,
4,5% convulsão e
3,5% déficit focal.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Schunk, 1996 313 15 Fizeram TCC* Um ano (1992) 38% sonolência,
USA zero a 18 anos 35% vômitos,
30% cefaléia,
26% perda de consciência,
22% irritabilidade,
20% confusão mental,
20% amnésia e
8% convulsão.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Roddy, 1998 62 15 TCC normal Junho de 1992 50% perda de consciência.
USA TCE isolado a junho de 1995
zero a 15 anos
Spencer, 2003 197 15 TCC normal Quatro anos 63% perda de consciência,
USA < 13 anos consecutivos 36% cefaléia,
26% náusea,
22% vômito,
21% sonolência,
18% convulsão e
6% confusão mental.
________________________________________________________________________________________________________________________________
*TCC= Tomografia computadorizada de crânio
26
TABELA 2 Resumos de estudos prospectivos realizados com crianças e adolescentes vítimas de TCE leve, moderado e grave, atendidas
consecutivamente em departamento de emergência e freqüência de sinais e sintomas encontrados
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Autor / data Número de Pontuação Critérios Período Sinais e sintomas
país pacientes na ECG de inclusão de estudo
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Murgio, 2000 4690 3 a 15 Atendimentos 1996 a 1998 33% vômitos,
Argentina consecutivos em DE* 24% cefaléia,
zero a 15 anos 19% sonolência,
11% amnésia,
2% convulsão e
10% outros.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
Dalt, 2005 3806 3 a 15 Atendimentos Janeiro de 1996 13,2% vômito,
Itália consecutivos em DE* a dezembro de 1997 8,9% cefaléia,
zero a 16 anos 3,7% sonolência persistente,
2,8% perda de consciência,
2% amnésia,
0,6% convulsão,
0,3% alteração neurológica,
0,2% sinais de fratura de base.
_________________________________________________________________________________________________________________________________
** DE= departamento de emergência, o mesmo que pronto socorro
27
Os sinais e sintomas das crianças com TCE leve demandam tratamento clínico em
poucas ocasiões. Pode ser necessário, por exemplo, o uso de analgésicos quando há cefaléia
persistente, fluidoterapia venosa nos casos de desidratação secundária a mitos de
repetição ou sutura de lesões de escalpo. A maior importância da ocorrência de sinais e
sintomas nestes pacientes está em sua possível associação com fratura de crânio ou LIC,
estas últimas as verdadeiras responsáveis pela morbidade e mortalidade resultantes deste
tipo de trauma.
2.4 Fratura de crânio em crianças e adolescentes com TCE leve:
diagnóstico, complicações e fatores associados
A fratura de crânio é o comprometimento da tábua interna e/ou externa do osso do
crânio, ou afastamento franco dos bordos das suturas cranianas. Pode ser linear,
cominutiva, com afundamento ou diastática e atingir a abóbada ou a base do crânio. Em
crianças com TCE leve a incidência de fratura de crânio varia amplamente nos diversos
estudos (5 a 29%), o que pode ser devido aos diferentes critérios de inclusão e à proporção
de pacientes submetidos a exames de imagem (Harwood-Nash et al, 1971; Mitchell et al,
1994; Lloyd et al, 1997; Murgio et al, 2001; Reed et al, 2005).
As fraturas que ocorrem em crianças e adolescentes com TCE leve são em sua
maioria lineares (70 a 90%) e atingem preferencialmente o osso parietal (Harwood-Nash et
al, 1971; Mitchell et al, 1994; Shane e Fuchs, 1997; Greenes e Schutzman, 1997). Este tipo
de fratura de crânio, isoladamente, não representa risco à criança (Quayle, 1999). Uma
complicação rara e a longo prazo (dois a seis meses após o trauma) é a chamada fratura em
crescimento ou cisto leptomeníngeo, que surge por proliferação de tecido entre suas bordas
e é típica de lactentes ou de fraturas diastáticas. Esta complicação algumas vezes demanda
tratamento cirúrgico (Muhoen et al, 1995; Diament e Cypel, 1996; Assis, 2005). As fraturas
de base (16 a 25%) e com afundamento do crânio (7,6 a 10%) são menos freqüentes
(Mitchell et al, 1994; Schunk et al, 1996). As primeiras localizam-se principalmente no
andar anterior (fronto-etmoidal, fronto-esfenoidal) e na porção petrosa do osso temporal.
Elas podem ocasionar fístula liquórica quando associadas a laceração de dura-máter, e
também lesões em nervos cranianos, mais comuns em I, II, III,VI, VII e VIII. Geralmente
28
estão associadas a hematoma retroauricular ou palpebral, rinorragia, rinorréia ou otorragia,
os chamados sinais de fratura de base. As fraturas com afundamento de crânio são aquelas
em que há depressão de uma área óssea. Este fragmento pode atingir e lesar as meninges ou
tecido cerebral, sendo necessária elevação cirúrgica em algumas ocasiões. Em
determinados casos a simples palpação do crânio pode apontar o diagnóstico de fratura com
afundamento.
O primeiro exame de imagem disponível capaz de realizar o diagnóstico de fratura de
crânio foi a radiografia simples. Inicialmente muita importância foi atribuída às fraturas de
crânio nas vítimas de TCE, sendo comum a realização de radiografias em praticamente todas
as crianças atendidas nos departamentos de emergência dos hospitais. Como a maior parte
destes exames mostrava resultados normais, o uso irrestrito da radiografia de crânio em
pacientes com TCE foi colocado em discussão e estudos foram realizados a fim de
identificar fatores associados à fratura de crânio. Em estudo prospectivo de 1500 crianças,
adolescentes e adultos que haviam sido submetidos à radiografia devido a TCE, encontrou-
se associação entre fratura de crânio e perda de consciência ou amnésia por tempo maior que
cinco minutos, vômito, déficit neurológico focal, sinais de fratura de base e nível rebaixado
de consciência (Bell e Loop, 1971). Posteriormente outros autores realizaram estudos
semelhantes na faixa etária pediátrica, sendo encontrada associação entre fratura de crânio e
hematoma ou laceração de escalpo e idade inferior a um ano (Mitchell et al, 1994; Quayle et
al, 1997; Shane e Fuchs, 1997).
Outro tema discutido na literatura é a associação entre fratura de crânio e lesão
intracraniana. Harwood-Nash e cols (1971), em estudo retrospectivo de 4465 pacientes de
zero a 14 anos vítimas de TCE, não encontraram associação entre fratura e lesões
intracranianas (diagnosticadas nas cirurgias ou em necropsias) e desaconselharam a
internação de pacientes assintomáticos, mesmo quando havia diagnóstico de fratura.
Posteriormente, com o advento da tomografia computadorizada de crânio na década de 70,
tornou-se possível a detecção precoce de lesões encefálicas como hemorragias agudas,
compressões e/ou herniações. Várias outras pesquisas foram realizadas utilizando-se a TCC
para diagnóstico precoce de LIC, tendo demonstrado que a presença de fratura de crânio está
significativamente associada à ocorrência de lesão intracraniana (Schunk et al, 1996; Lloyd
et al, 1997; Quayle et al, 1997, Simon et al, 2001; Dunning et al, 2004).
29
O principal objetivo do médico que acompanha crianças com TCE leve é identificar
precocemente aquelas que apresentam LIC. Entretanto, como a radiografia é um exame mais
disponível e com menor custo financeiro, muitos médicos baseiam-se na associação entre
fratura de crânio e lesão intracraniana para utilizá-la como método de triagem,
encaminhando à TCC aqueles que apresentam fraturas. Esta é uma prática passível de
críticas, pois cerca de 50% das LIC podem ocorrer na ausência de fraturas (Quayle et al,
1997). Com objetivo de avaliar a validade da radiografia de crânio como teste diagnóstico de
LIC, tendo a TCC como padrão ouro, Lloyd e cols (1997) realizaram estudo prospectivo de
883 pacientes de 2 meses a 16 anos de idade, vítimas de TCE leve, moderado e grave, dos
quais 151 haviam sido submetidos tanto a radiografia de crânio quanto a TCC. Seus
resultados mostraram que a fratura teve sensibilidade de 65% e valor preditivo negativo
(VPN) de 83%. O estudo de Murgio e cols (2001), citado, apresenta dados que nos
permitem calcular uma sensibilidade de 51% e VPN de 49% para a fratura de crânio como
preditiva de LIC. Recentemente Simon e cols (2001), realizaram estudo retrospectivo de 569
pacientes menores de 16 anos com TCE leve (ECG 14 ou 15) por mecanismo de trauma
significativo (queda maior que 6 metros ou maior que três vezes a altura da criança, colisão
de veículo, agressão e atropelamento). Todos os pacientes haviam feito TCC e a fratura de
crânio teve sensibilidade de 54% e VPN de 90% como preditiva de LIC. Estes autores
desaconselharam o uso da radiografia como ferramenta de triagem porque além da presença
de fratura ter baixa sensibilidade em detectar casos de LIC, a ausência da fratura não
descarta a presença de LIC (baixo VPN).
2.5 Lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve:
diagnóstico, complicações e fatores associados
O termo lesão intracraniana refere-se ao comprometimento de estruturas localizadas
dentro da calota craniana, ou seja, as meninges, tecido cerebral ou seus vasos. Elas ocorrem
em 2 a 7% dos pacientes sintomáticos que se apresentam neurologicamente normais após
TCE (Quayle, 1999). Em pacientes com anormalidades neurológicas esta incidência é maior.
Os tipos de LIC descritos em crianças com TCE leve são hemorragias subdurais,
extradurais, subaracnóideas, intraparenquimatosas, contusões encefálicas, pneumoencéfalo e
30
até edema cerebral. A freqüência das lesões varia muito nos diversos estudos, podendo
inclusive ocorrer mais de um tipo de lesão no mesmo paciente. NA TAB 3 estão
apresentados alguns estudos realizados em pacientes de até 18 anos de idade com TCE leve
e a freqüência encontrada de cada tipo de LIC. Nestes estudos o pneumoencéfalo não foi
considerado lesão intracraniana.
TABELA 3 - Resumos de estudos realizados em crianças e adolescentes de a18 anos de idade com
TCE leve e freqüência dos tipos de lesão intracraniana encontrados em cada um deles
_________________________________________________________________________________________
Autor, data N* / Desenho Pontuação Freqüência Freqüência dos tipos
país na ECG ** de LIC (%) de LIC (%)
_________________________________________________________________________________________
Schunk, 1996 151 15 4% Contusão 33%,
USA Retrospectivo hematoma extradural 28%,
hemorragia subaracnóide 22% e
hematoma subdural 17%.
Mandera, 1999 166 13 a 15 83% Contusão 31%,
Polônia Retrospectivo hematoma extradural 22%,
hematoma subdural 22%,
edema cerebral 9% e
hematoma intracerebral 6%.
Simon, 2001 429 14 a 15 14% Contusão 35%,
USA Retrospectivo hemorragia subaracnóide 31%,
hematomaextradural 22% e
hematoma subdural 19%.
_________________________________________________________________________________________
* N= número de pacientes submetidos a TCC em cada estudo.
** A pontuação na ECG utilizada para classificar o paciente como portador de TCE leve variou nos três
estudos descritos
31
As LIC podem levar a comprometimento neurológico grave, seqüelas funcionais e
até mesmo ao óbito, demandando procedimentos neurocirúrgicos em alguns casos. A grande
freqüência de LIC em pacientes com TCE moderado e grave justifica a realização de
tomografia computadorizada de crânio em todos os pacientes vítimas destes tipos de trauma.
Quando se trata de TCE leve, os custos com exames desnecessários seriam altíssimos se
houvesse utilização irrestrita da tomografia, pois o número de pacientes é muito maior e a
incidência de LIC muito reduzida. Cabe aos médicos responsáveis pelo atendimento ao
paciente com TCE leve a tarefa de selecionar aqueles com maior risco de LIC e que por isto
deveriam ser submetidos a este exame. Habitualmente indica-se realização de TCC para
crianças com história de trauma não acidental, com distúrbio de coagulação sanguínea e,
como a presença de fratura de crânio está associada à ocorrência de LIC, em todos os
pacientes que apresentam fraturas. Entretanto, conforme exposto anteriormente, a ausência
de fratura não exclui o comprometimento intracraniano, o que justifica a identificação de
outros fatores clínicos e epidemiológicos associados à lesão intracraniana.
Nas últimas décadas muitos autores procuraram identificar estes fatores, entretanto
até o momento não consenso na literatura sobre o tema. Isto provavelmente ocorre pela
heterogeneidade dos estudos quanto ao desenho, critérios de inclusão, definições dos termos,
tamanho de amostras, variáveis pesquisadas e análise estatística. Na TAB 4 são descritas as
características de alguns estudos e seus resultados quanto aos fatores associados à ocorrência
de LIC.
32
TABELA 4 - Resumos de estudos realizados com pacientes na faixa etária pediátrica, vítimas de TCE, e
seus resultados quanto a fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana
Autor / data N* Idade ECG Desenho/ Associação com ocorrência de LIC
país (anos) análise Sim o
________________________________________________________________________________________
Greenes, 1999 188 < 2 3-15 Prospectivo Idade < 3 meses, Perda de consciência,
USA Univarida letargia, vômito,
fontanela abaulada, irritabilidade,
hematoma de escalpo. ECG < 15.
Haydel, 2003 175 5 a 17 15 Prospectivo Vômito e trauma Cefaléia,
USA Univariada acima da clavícula. intoxicação,
convulsão,
amnésia e
nenhuma faixa etária.
Lloyd, 1997 156 < 16 3-15 Prospectivo Fratura de crânio e Idade < 2 anos.
Inglaterra ** Univariada presença de pelo menos
um sintoma neurológico.
Ratan, 2001 260 - 3-15 Retrospectivo - ECG e
Índia Univariada perda de consciência.
Reed, 2005 39 1 a 14 3-15 Retrospectivo Sonolência, Vômito.
USA Univariada perda de consciência e
ECG <15.
Schunk, 1996 313 < 18 15 Retrospectivo Fratura de crânio. Idade < 2 anos,
USA Univariada convulsão,
perda de consciência,
confusão mental,
cefaléia,
vômito,
sonolência,
irritabilidade e
amnésia.
_______________________________________________________________________________________
* N= número de pacientes incluídos no estudo que foram submetidos à TCC.
** Os autores consideraram sintomas neurológicos: cefaléia, mito, náusea, sonolência, irritabilidade,
amnésia, déficit focal, tonteira, ECG < 15 e sinais de fratura de base.
Estudos realizados com pacientes vítimas de TCE na faixa etária pediátrica e que
apresentam análise multivariada para fatores associados a LIC são menos comuns. Eles
concordam quanto à associação entre fratura de crânio e LIC, entretanto apontam resultados
distintos quanto a fatores clínicos. Na TAB 5 são descritos alguns destes estudos.
33
TABELA 5 Resumos de estudos que apresentaram resultados de análise multivariada para fatores
associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE
Autor / data N*/ Idade Pontuação Fatores associados à ocorrência de LIC
país desenho (anos) na ECG
________________________________________________________________________________________
Quayle, 1997 321 < 18 3-15 - Fratura de crânio (OR 92,4 IC 95% 10,8-793);
USA Prospectivo - déficit neurológico focal (OR 63,2 IC 95%
4,7-846);
- convulsão (OR 19,2 e IC 95% 1,5-243).
Simon, 2001 569 < 16 14-15 - Fratura de crânio (RR 4,3 e IC 95% 3-6,2);
USA Retrospectivo - lesão de tecidos moles crânio-faciais
(RR 11,3 e IC 95% 7,1-14,3).
Dalt, 2005 79 < 16 3-15 - Perda de consciência,
Itália ** Prospectivo - cefaléia prolongada,
- sonolência persistente,
- ECG <15,
- déficit neurológico focal,
- hematoma de escalpo,
- depressão óssea palpável,
- sinais de fratura de base,
- vômito e
- amnésia.
* N= número de pacientes incluídos no estudo que foram submetidos à TCC
** Os autores não informaram o odds ratio e IC 95% dos fatores associados a LIC na análise mulivariada
Dunning e cols (2004) realizaram uma meta-análise a fim de identificar fatores
associados à ocorrência de LIC em crianças e adolescentes com TCE leve, baseados nos
trabalhos disponíveis até aquele momento. Mais de mil referências foram encontradas, 34
enquadravam-se nos critérios estabelecidos para inclusão no estudo, mas apenas 16
publicaram dados que poderiam ser utilizados na meta-análise. No total foram analisados
22.420 pacientes, com idade entre zero e 18 anos, com avaliação de presença de fratura de
crânio, cefaléia, mito, déficit neurológico focal, convulsão, perda de consciência e
pontuação na ECG < 15. Os dados de outros fatores não apresentavam consistência
apropriada nos estudos para justificar sua extração. Foi feita estimativa do risco relativo
(RR) de cada um dos sete fatores e encontrada associação significativa entre hemorragia
intracraniana e déficit neurológico focal (RR 9,43; IC 95% 2,9-30,8), fratura de crânio (RR
6,1; IC 95% 3,36-11,2), perda de consciência (RR 2,23; IC 95% 1,2-4,16), ECG < 15 (RR
5,5; IC 95% 1,6-19) e convulsão (RR 2,8; IC 95% 0,9-9). Os autores destacaram a grande
34
heterogeneidade entre os estudos e que outros fatores clínicos potencialmente úteis na
identificação de LIC não puderam ser adequadamente avaliados.
2.6 Acompanhamento e evolução clínica de crianças e adolescentes com
TCE leve
Tradicionalmente crianças e adolescentes com TCE leve que apresentam fratura de
crânio são internadas e permanecem em observação hospitalar por 24 a 48 horas, mesmo
quando não LIC. Esta conduta pode estar baseada em estudos que indicaram
hospitalização para todos os pacientes com fratura de crânio secundária a TCE (Rosenthal e
Berman, 1989; Chan et al, 1990). Entretanto, estudos mais recentes mostraram que o
diagnóstico isolado da fratura de crânio tem pouco significado para a evolução do paciente,
mesmo em lactentes. Greenes e Schutzman (1997) realizaram estudo retrospectivo de 101
pacientes menores de dois anos de idade, internados com diagnóstico de presença de fratura
de crânio e ausência de LIC. O tempo médio de internação hospitalar foi de um dia. Duas
crianças realizaram cirurgia: uma delas fez drenagem de hematoma subgaleal infectado e a
outra foi submetida a elevação de fratura com afundamento. Nenhum paciente apresentou
deterioração clínica durante a hospitalização e todos receberam alta neurologicamente
normais. Os autores concluíram que lactentes com fratura de crânio isolada podem receber
alta para serem observados no domicílio, exceto quando há outros fatores clínicos que
motivem a internação ou quando se trata de afundamento cirúrgico.
A presença de LIC é um critério de hospitalização amplamente aceito, mesmo
quando não indicação cirúrgica inicial, pois pode ocorrer deterioração clínica nas
primeiras horas ou dias após TCE. Por outro lado, a ausência de LIC na TCC inicial em
crianças com ECG 15 e exame neurológico normal é considerado um critério de alta por
vários autores. Nos seguintes estudos foi avaliada a evolução clínica de pacientes com estas
características, não sendo encontradas complicações significativas. Schunk e cols (1996)
analisaram 300 crianças e adolescentes com ECG 15 após TCE, ausência de déficit
neurológico focal e que haviam recebido alta com TCC inicial normal. Verificaram que
apenas três haviam retornado ao hospital, um com cefaléia e os outros dois com vômitos
persistentes. Nenhum havia apresentado LIC. Roddy e cols (1998) revisaram prontuários de
35
62 crianças menores de 15 anos que tinham ECG 15, exame neurológico inalterado e TCC
inicial normal, mas história positiva para amnésia ou perda de consciência. Verificaram que
a média do tempo de permanência hospitalar foi 1,2 dias e que todas mantiveram ECG 15
até a alta. Spencer e cols (2003) revisaram os prontuários de 197 crianças menores de 13
anos com ECG 15, exame neurológico normal e TCC sem alterações. A média do tempo de
internação foi 2,9 dias, tendo sido prolongada pela presença de lesões em outros segmentos
corporais. Três pacientes apresentaram cefaléia persistente e dois tiveram vômitos de
repetição, entretanto não ocorreram complicações graves. Recentemente Geijerstam e
Britton (2005), após revisão da literatura, afirmaram que há forte evidência científica de que
pacientes com TCE leve e TCC normal possam receber alta com segurança. Entretanto, de
acordo com a literatura disponível até o momento não critérios de alta seguros para
pacientes assintomáticos que não foram submetidos à TCC.
Os sintomas somáticos, cognitivos, emocionais e comportamentais que podem se
desenvolver após TCE dos mais variados níveis de gravidade, inclusive leves, são
conhecidos como síndrome pós-concussão, ou ndrome pós-traumática. Em crianças, os
sintomas mais freqüentes após TCE são cefaléia, tonteira, distúrbios de atenção, memória,
sono, aprendizado e concentração, fadiga, instabilidade emocional, ansiedade e medo. Eles
usualmente não persistem por tempo prolongado, têm etiologia multifatorial e não podem
ser previstos por investigações neurológicas, como eletroencefalogramas (Goldstein, 1991;
Souza et al, 1999; Korinthenberg et al, 2004). Diversos autores acompanharam crianças
com TCE leve por semanas a meses, encontrando incidências variáveis destes sintomas e
uma boa evolução clínica. Alguns relataram complicações como fraturas em crescimento
em lactentes, mas o surgimento de LIC raramente é citado (Mitchel et al, 1994; Shane e
Fuchs, 1997; Greenes e Schutzman, 1999; Quayle et al, 1997; Dalt et al, 2005).
Crianças que sofreram outros tipos de lesões traumáticas leves também podem
apresentar sintomas por período prolongado após o trauma, entretanto eles parecem ser
mais persistentes nos casos de TCE. Necajauskaite e cols (2005) acompanharam, durante
um ano, 102 pares de pacientes. Nesta coorte, o grupo de casos era constituído por crianças
e adolescentes de quatro a 16 anos de idade vítimas de TCE leve e o grupo controle de
crianças da mesma faixa etária que tinham sofrido outros tipos de lesões, como abrasões ou
torções de membros. Tanto os casos quanto os controles apresentaram sintomas durante o
36
período estudado. Não houve diferença entre casos e controles quanto à prevalência e
flutuações relacionadas à época de ocorrência de irritabilidade, medo, problemas de
aprendizado, sono, memória e distúrbio de atenção. Quanto à cefaléia, sua prevalência foi
maior no período logo após o trauma no grupo de casos, mas com o passar do tempo se
igualou à do grupo controle. Um estudo semelhante, realizado por Ponsford e cols (2001)
com crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade, avaliou impacto da orientação precoce
dos responsáveis pela criança, quanto ao surgimento de sintomas pós-traumáticos na
evolução destes pacientes. Neste estudo, 61 crianças com TCE leve foram avaliadas com
uma semana e com três meses após o trauma e 58 crianças com TCE leve apenas três meses
após o trauma. Elas foram comparadas a dois grupos controles (N= 45 e N= 47) com
características semelhantes e vítimas de lesões ósseas ou de tecidos moles. Foram
estudados o comportamento e ajuste psicológico pré-trauma, sintomas pós-concussão,
atenção, velocidade e processamento de informação e memória. Os responsáveis pelas
crianças com TCE leve avaliadas uma semana após o trauma receberam, na ocasião do
primeiro atendimento, material com orientações sobre os sintomas associados ao TCE leve
e sugestões de conduta. As crianças que foram vistas apenas três meses após não receberam
este material. Os autores relataram que crianças com TCE leve apresentaram mais sintomas
que os controles na primeira semana, entretanto sem prejuízo neuropsicológico. Para a
maior parte delas, os sintomas se resolveram até o terceiro mês de seguimento. O grupo que
não foi visto na primeira semana e que não recebeu o material com orientações relatou mais
sintomas e apresentava maior ansiedade três meses após o trauma.
Um evento raro em crianças e que tem sido associado ao TCE leve por alguns
autores, quando feita avaliação retrospectiva, é o acidente vascular isquêmico (AVC).
Kieslich e cols (2002) relataram oito casos de crianças de dois a sete anos de idade nas
quais paresias, tremores e outros déficits iniciaram-se minutos ou poucos dias após o
trauma, sendo identificada lesão isquêmica em TCC ou ressonância magnética (RM). A
maior parte destas crianças permaneceu com algum grau de seqüela por meses ou anos.
Shafer e Fuchs (2003) relataram outros cinco casos de crianças de um a seis anos de idade,
três retornaram ao estado neurológico normal em poucos meses e os outros dois
permaneceram com seqüelas leves. A susceptibilidade de algumas crianças a estes eventos
permanece inexplicável, entretanto fatores genéticos e ambientais podem estar envolvidos.
37
2.7 Considerações finais
O TCE leve é uma das principais causas de procura por atendimento pediátrico de
urgência em diversos países. No Brasil é necessária a realização de estudos específicos para
quantificar a magnitude do problema, pois o número de crianças e adolescentes vítimas de
TCE leve que procuram pronto atendimento ou são internadas em hospitais é pouco
conhecido. Além disso, o esclarecimento dos mecanismos de trauma envolvidos e das
características demográficas e clínicas destas crianças e adolescentes podem contribuir para
a implantação de programas de prevenção e para melhorias no atendimento, reduzindo
possíveis seqüelas e minimizando custos.
De acordo com a literatura disponível até o momento, pode-se afirmar que o
diagnóstico isolado de fratura craniana não apresenta riscos agudos para crianças e
adolescentes com TCE leve, exceto quando afundamento com indicação cirúrgica. A
identificação da fratura tem importância por sua associação com LIC, entretanto isto não
justifica a realização de radiografia de crânio em todos os pacientes. A baixa sensibilidade e
o baixo valor preditivo negativo da radiografia de crânio contra-indicam o uso deste exame
como teste de triagem para o diagnóstico de LIC. Em crianças menores de dois anos, nas
quais os sintomas clínicos são mais difíceis de serem identificados, justifica-se a realização
de radiografias de crânio principalmente quando grandes lacerações ou hematomas em
escalpo. Em crianças maiores não há consenso sobre quando indicar a radiografia de crânio.
O diagnóstico isolado de fratura não deve motivar a internação hospitalar de crianças
assintomáticas, entretanto é necessário um acompanhamento ambulatorial pela possibilidade
de surgimento de fraturas de crescimento, especialmente em lactentes.
Até o momento persiste na literatura o dilema quanto aos fatores clínicos associados
à ocorrência de LIC em crianças e adolescentes com TCE leve. Os mais prováveis são
déficit neurológico focal, pontuação na ECG < 15, história de perda de consciência e
convulsão, entretanto sabe-se que a ausência destes sinais e sintomas não exclui a presença
de LIC. Pelo receio de não identificar parte dos pacientes com LIC, em alguns serviços as
equipes indicam realização de TCC em grande número de indivíduos com TCE leve e, em
outros, o tempo de observação hospitalar é prolongado. Considerando a quantidade de
crianças e adolescentes que são vítimas de TCE leve diariamente, as duas abordagens
38
provocam aumento importante dos gastos e não garantem a identificação precoce de todos
os casos de LIC. Assim, para melhorar o atendimento e reduzir custos, ainda são necessários
estudos que avaliem a associação entre fatores clínicos e LIC e possibilitem a implantação
de protocolos. Outro fator que demanda maiores estudos é a conseqüência a médio e longo
prazo da ocorrência de TCE leve em crianças e adolescentes.
39
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Descrever o perfil epidemiológico das crianças e adolescentes vítimas de traumatismo
cranioencefálico leve e caracterizá-las quanto aos mecanismos de trauma, presença de
sinais e sintomas, ocorrência de fratura de crânio e lesão intracraniana e evolução clínica
durante a permanência hospitalar e na primeira semana após o trauma.
3.2 Objetivos específicos
- Avaliar associação de fatores clínicos e epidemiológicos com a presença de fratura
de crânio;
- Avaliar associação de fatores clínicos, epidemiológicos e presença de fratura de
crânio com a ocorrência de lesões intracranianas;
- Avaliar a validade da radiografia de crânio como teste de triagem no diagnóstico de
lesão intracraniana, tendo a tomografia computadorizada de crânio como padrão ouro.
40
4 METODOLOGIA
4.1 Critérios para revisão da literatura
A revisão da literatura foi realizada inicialmente em fevereiro de 2004, com
atualização durante o período de coleta e análise dos dados e finalizada em março de 2006.
Realizou-se pesquisa bibliográfica de artigos indexados pelo MEDLINE
(www.nlm.nih.gov), utilizando inicialmente o termo “mild head injury”com os seguintes
limites: título e/ou resumo, idade entre zero e dezenove anos e data de publicação nos
últimos cinco anos. Em seguida considerou-se os termos “skull fracture” e “brain injury”,
separadamente, com os mesmos limites. Paralelamente, selecionou-se artigos no LILACS,
utilizando como descritores “trauma craniocerebral” e “fraturas cranianas” e com limitação
do tempo de publicação também a cinco anos.
Os artigos foram obtidos na íntegra no portal CAPES, via site
www.medicina.ufmg.br, ou pelo site www.bireme.br ou através da Biblioteca da Faculdade
de Medicina da UFMG. Várias referências bibliográficas dos artigos inicialmente
pesquisados foram integradas à revisão pela sua relevância, mesmo quando publicadas
mais de cinco anos. No portal CAPES foram consultados resumos de teses e dissertações
brasileiras.
4.2 Descrição do estudo
Esta é uma pesquisa do tipo coorte, prospectiva e observacional, realizada com
crianças e adolescentes vítimas de traumatismo cranioencefálico, com estado de
consciência normal ou levemente alterado, atendidas no Hospital de Pronto Socorro João
XXIII, durante doze meses consecutivos.
41
4.3 Definições
4.3.1 Criança e adolescente
O termo criança refere-se ao indivíduo com idade entre zero e nove anos e o termo
adolescente àqueles na faixa etária entre dez e dezenove anos (Ferreira et al,1998).
4.3.2 Idade e faixas etárias
Do nascimento até onze meses e 29 dias de idade, os pacientes foram referidos neste
estudo como menores de um ano. A partir de um ano, suas idades foram relatadas sempre
através de números inteiros, até 12 anos. Assim, para um paciente de três anos de idade
compreende-se que se encontra na faixa entre três anos e três anos, onze meses e 29 dias.
Utilizou-se quatro faixas etárias: menores de um ano, entre um e quatro anos, entre
cinco e nove anos e entre dez e 12 anos de idade. Estes limites foram baseados naqueles
encontrados no DATASUS (http://tabnet.datasus.gov.br.).
4.3.3 Mecanismo de trauma
Processo ou ação que ocasionou a lesão, resultando em impacto direto do crânio
com forças violentas ou movimento de rápida aceleração ou desaceleração da cabeça
(Diament e Cypel, 1996). É uma informação importante no acompanhamento do paciente,
uma vez que quanto maior a energia envolvida no trauma, maior a possibilidade de resultar
em lesões graves. São exemplos de mecanismos de trauma as quedas e colisões entre
veículos. Ressalta-se que o traumatismo pode ser intensional ou acidental.
4.3.4 Veículo
Neste estudo o termo veículo refere-se a automóvel de passeio, ônibus, caminhão,
caminhonete ou moto.
4.3.5 Região Metropolitana de Belo Horizonte
Engloba as cidades de Belo Horizonte, Baldim, Betim, Brumadinho, Caeté, Capim
Branco, Confins, Contagem, Esmeraldas, Florestal, Jaboticatubas, Juatuba, Ibirité, Igarapé,
Itaguara, Itatiaiuçú, Lagoa Santa, Mário Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima,
Nova União, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Sabará, Santa
42
Luzia, São Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Rio Acima, Rio Manso, Sarzedo,
Taquaraçú de Minas e Vespasiano (http://www.der.mg.br/html/mapa_rodoviario)
4.3.6 Escala de Coma de Glasgow
A ECG é um meio prático de monitorizar alterações no nível de consciência em
indivíduos vítimas de trauma, baseado na abertura dos olhos e nas respostas verbais e
motoras. É usada como medida objetiva da gravidade do trauma cranioencafálico. Doentes
que abrem os olhos espontaneamente, obedecem a comando e encontram-se orientados,
recebem a pontuação total de 15 pontos. Doentes que apresentam flacidez muscular, não
abrem os olhos ou falam apresentam a pontuação mínima de três pontos (ACS, 2004). Os
critérios para a pontuação estão apresentados na TAB 6, sendo importante que em casos de
assimetria direita/esquerda seja utilizada a melhor resposta.
TABELA 6 - Escala de Coma de Glasgow tradicional e modificada para crianças menores de cinco anos
de idade*
______________________________________________________________________________________________________________
Pontuação Adultos e crianças Lactentes e crianças
atribuída 5 anos de idade < 5 anos de idade
________________________________________________________________________________________
Abertura Ocular Abertura Ocular
4 Espontânea Espontânea
3 A estímulo verbal A estímulo verbal
2 A estímulo doloroso À estímulo doloroso
1 Não há resposta Não há resposta
________________________________________________________________________________________
Resposta Verbal Resposta Verbal
5 Orientado Balbucia, fala palavras ou sentenças
compatíveis com sua idade
4 Confuso Chora, mas é consolável
3 Palavras desconexas Chora ao estímulo doloroso
2 Sons não compreensíveis Gemidos, grunhidos à dor
1 Não há resposta Não há resposta
________________________________________________________________________________________
Resposta Motora Resposta Motora
6 Obedece a comando Movimentação espontânea
5 Localiza estímulo doloroso Localização ou retirada ao toque
4 Flexão normal (retirada à dor) Flexão normal (retirada à dor)
3 Flexão anormal (decorticação) Flexão anormal (decorticação)
2 Extensão anormal (descerebração) Extensão anormal (descerebração)
1 Não há resposta Não há resposta
_________________________________________________________________________
* Adaptada das referências: Teasdale e Jennett, 1974; ACS, 2004; The British Paediatric Neurology
Association, 2006.
43
4.3.7 Traumatismo cranioencefálico
Qualquer agressão de ordem traumática que acarrete lesão anatômica ou
comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges, encéfalo ou seus vasos
(Diament e Cypel, 1996).
4.3.8 Traumatismo cranioencefálico leve, moderado e grave
O Colégio Americano de Cirurgiões classifica o TCE como leve quando o paciente
apresenta pontuação na ECG (TAB. 1) igual a 14 ou 15 ao exame inicial, independente da
presença ou ausência de sinais ou sintomas. Doentes com traumatismo cranioencefálico e
pontuação na ECG de nove a 13 são classificados como moderados e aqueles com
pontuação de três a oito são designados como graves (ACS, 2004).
No decorrer deste texto quando utilizada a expressão TCE leve referimo-nos a este
conceito, o qual é aplicado pela equipe médica do setor de emergência do Hospital de
Pronto Socorro João XXIII durante o atendimento a pacientes de todas as faixas etárias.
4.3.9 Fratura de crânio
Comprometimento da tábua interna e/ou externa do osso do crânio, ou afastamento
franco dos bordos das suturas. Classifica-se a fratura de calota do crânio em linear ou
estrelada, com afundamento (quando o aspecto superior de um dos bordos da fratura situa-
se sob o aspecto inferior do outro bordo) ou diastática (com afastamento dos bordos)
(Diament e Cypel, 1996; ACS, 2004). Pode ser diagnosticada pela radiografia ou pela
tomografia computadorizada de crânio com “janela” óssea, conforme ilustrado na FIG 1.
44
(a) (b)
FIGURA 1 – Exemplos de fratura de crânio em crianças com TCE: (a) fratura linear diagnosticada por
meio de radiografia simples de crânio, em perfil (seta); (b) fratura com afundamento diagnosticada por
meio de tomografia computadorizada de crânio com “janela óssea” (seta).
4.3.10 Fratura de base de crânio
São fraturas identificadas na base do crânio, habitualmente por meio da tomografia
computadorizada com “janela óssea”. Ocorrem principalmente no andar anterior (fronto-
etmoidal, fronto-esfenoidal) e na porção petrosa do osso temporal. Causam freqüentemente
fístula liquórica, quando associadas a laceração de dura-máter, e lesões em nervos
cranianos, mais comumente I,II,III,VI, VII e VIII. São sinais clínicos de fraturas de base de
crânio: equimose periorbital (olhos de guaxinim), equimose retroauricular (sinal de Battle),
rinorragia, otorragia e stula liquórica através do nariz (rinorréia) ou do ouvido (otorréia)
(Diament e Cypel, 1996; ACS, 2004).
4.3.11 Fratura em crescimento
Fratura craniana em que há laceração da dura-máter subjacente, permitindo pulsação
do líquor ou herniação de meninges com conseqüente proliferação de tecido entre as bordas
da fratura. É típica de lactentes ou de fraturas diastáticas, sendo identificadas de dois a seis
meses após o trauma (Diament e Cypel, 1996; Assis, 2005).
45
4.3.12 Lesão intracraniana
Neste estudo, o termo lesão intracraniana refere-se às seguintes lesões: hematoma
extradural, hematoma subdural, hematoma intraparenquimatoso, hemorragia subaracnóide
traumática e pneumoencéfalo.
4.3.13 Contusão cerebral e hematoma intraparenquimatoso
As contusões cerebrais são áreas de lesão tissular com componente necro-
hemorrágico que podem ocorrer em todo o cérebro, sendo mais freqüentes na superfície
cortical e na substância branca superficial. Decorrem de aceleração e desaceleração
angulares do cérebro dentro da abóbada craniana, ou ainda de traumatismo direto por
fratura com afundamento. Variam de tamanho de milímetros a muito maiores. Podem ser
absorvidas, dando lugar à gliose, outras vezes podem ter efeito expansivo pelo edema
secundário no tecido subjacente ou aumentar e coalescer resultando em hematoma intra
parequimatoso (Diament e Cypel, 1996; ACS, 2004; Marshall, 1997). Na tomografia
computadorizada de crânio estas lesões são vistas como áreas de maior atenuação
radiográfica, como ilustrado na FIG 2.
No presente estudo utilizou-se o termo hematoma intraparenquimatoso para áreas de
lesão tissular intraparenquimatoso de qualquer dimensão, não sendo utilizado o termo
contusão cerebral.
4.3.14 Hematoma extradural
Também chamado hematoma epidural, descola progressivamente a dura-máter da
tábua óssea interna, localizando-se fora da dura-máter, mas dentro do crânio. Na tomografia
computadorizada é visto como imagem tipicamente de forma biconvexa ou lenticular (FIG
2). Resulta habitualmente da laceração de uma artéria meníngea, entretanto pode ocorrer
devido à ruptura de um seio venoso importante ou de um sangramento diplóico. É mais
comum na região temporal, por fratura de crânio com ruptura da artéria meníngea média.
Quando não relacionado a lesões parenquimatosas, é de melhor prognóstico que os
hematomas subdurais (Diament e Cypel, 1996; ACS, 2004).
46
4.3.15 Hematoma subdural
Lesão resultante do sangramento de veias corticais, as quais são particularmente
frágeis próximas ao seio sagital superior. O hematoma subdural localiza-se sob a dura-
máter e pode recobrir toda a superfície do hemisfério cerebral. Associa-se freqüentemente a
lesões encefálicas como lesão axonal difusa e contusão. Na tomografia computadorizada é
visto como imagem que acompanha o contorno do crânio (FIG 2) (Diament e Cypel, 1996;
Marshal, 1997; ACS, 2004).
4.3.16 Hemorragia subaracnóide
Sangramento causado pela ruptura dos vasos subaracnóides, sendo o sangue
geralmente limitado ao espaço do líquido céfalo-raquidiano, entre a pia-máter e a aracnóide
(FIG 2) (Diament e Cypel, 1996).
(a) (b)
FIGURA 2 – Exemplos de lesões intracranianas diagnosticadas à tomografia computadorizada de
crânio: (a) tomografia normal; (b) hematoma intraparenquimatoso (seta branca superior), hematoma
extradural (seta branca inferior), hemorragia subaracnóide (seta preta superior) e hematoma subdural
(seta preta inferior).
47
4.3.17 Pneumoencéfalo
Refere-se à presença de ar em região intracraniana, habitualmente associado à
fratura de crânio. Na tomografia computadorizada é visto como imagem hipodensa intensa,
bem delimitada, geralmente próxima ao osso (FIG 3).
FIGURA 3 – Tomografia computadorizada de crânio mostrando duas
pequenas imagens de pneumoencéfalo (setas)
4.3.18 Hematoma de escalpo
Neste estudo utilizou-se este termo para designar lesão do envoltório da cabeça,
com sangramento subcutâneo, subgaleal ou subperiostal, de qualquer dimensão,
profundidade ou localização. Por exemplo, tanto um pequeno hematoma subcutâneo quanto
um grande hematoma subgaleal foram classificados apenas como hematoma de escalpo.
4.3.19 Trauma contuso de crânio
No presente estudo este termo foi utilizado para lesão por objeto contundente, por
queda de objetos sobre a cabeça ou choque com objeto estático enquanto o indivíduo estava
em movimento.
48
4.4 Hospital onde o estudo foi desenvolvido
Este estudo foi realizado no Hospital de Pronto Socorro João XXIII, uma das
unidades da FHEMIG, situado em Belo Horizonte, Minas Gerais. Referência no
atendimento ao politrauma, grandes queimados, intoxicações graves e situações clínicas ou
cirúrgicas que envolvam risco iminente de vida. O horário de atendimento é 24 horas por
dia, nas seguintes especialidades médicas: Cirurgia Geral, Clínica Médica, Pediatria,
Neurologia, Neurocirurgia, Ortopedia, Cirurgia Plástica Reparadora, Cirurgia e
Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais, Otorrinolaringologia, Medicina Intensiva,
Anestesiologia, Cirurgia Cardiovascular, Oftalmologia, CTI e UTI
(www.fhemig.mg.gov.br).
O Hospital de Pronto Socorro João XXIII é o maior centro especializado em
pacientes vítimas de trauma do estado de Minas Gerais. São atendidos pacientes de todas as
classes econômicas e sociais, sem distinção, através do SUS, provenientes tanto da região
metropolitana de Belo Horizonte como de cidades e estados vizinhos. Muitos deles vêm
encaminhados pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU).
O atendimento de urgência e emergência do Hospital de Pronto Socorro João XXIII
é dividido em setores, denominados “ambulatórios”. Segundo norma estabelecida pela
instituição, cabe aos pediatras o atendimento aos pacientes com faixa etária entre zero e
doze anos e onze meses. Aqueles pacientes com idade superior a 13 anos são encaminhados
para avaliação e atendimento nos ambulatórios de adultos.
4.5 População
4.5.1 Tamanho da amostra
Buscou-se no banco de dados do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME)
do Hospital de Pronto Socorro João XXIII o número total de crianças e adolescentes
atendidas anualmente com traumatismo cranioencefálico leve. Verificou-se que neste banco
de dados há registro apenas dos diagnósticos de pacientes que haviam sido internados.
49
Entretanto, grande parte das vítimas de traumatismo craniencefálico leve não necessita
internação hospitalar, o que inviabiliza a utilização desta casuística como base para o
cálculo da amostra do presente estudo.
Embora este estudo se destine, portanto, a uma população de número não
predefinido, optou-se por fazer algumas projeções sobre o número potencial de
participantes do estudo e a respectiva precisão de estimativas e comparações que pudessem
ser calculadas com base num determinado tamanho da amostra. Utilizou-se para isto as
fichas de atendimento médico que são preenchidas para todos os pacientes avaliados no
pronto socorro e posteriormente arquivadas no SAME. Por meio da revisão sistematizada
destas fichas, tornou-se possível o registro dos diagnósticos dos pacientes atendidos no
Hospital de Pronto Socorro João XXIII, incluindo os que foram ou não internados.
Realizou-se pesquisa retrospectiva, com análise de todas as fichas de atendimento
médico geradas no Hospital de Pronto Socorro João XXIII durante trinta dias consecutivos
(período diurno e noturno) (Macedo et al, 2006). Foram selecionadas as fichas referentes a
pacientes na faixa etária entre zero a doze anos e onze meses de idade e transcritos em
impresso padronizado a idade, sexo e diagnóstico de cada criança ou adolescente (ANEXO
A). Naquelas em que o diagnóstico descrito era traumatismo cranioencefálico, procedeu-se
a classificação da gravidade de acordo com a pontuação na ECG obtida ao exame inicial
em:
- traumatismo cranioencefálico leve: pontuação igual a quatorze ou quinze;
- traumatismo cranioencefálico moderado: pontuação de nove e treze;
- traumatismo cranioencefálico grave: pontuação menor ou igual a oito.
Como resultado desta pesquisa, verificou-se que um total de 2.620 pacientes nesta
faixa etária foram atendidos no Hospital de Pronto Socorro João XXIII no período revisado.
Destacaram-se vinte grandes grupos de diagnósticos, sendo o mais freqüente lesão óssea
e/ou muscular em membros (27%), seguido do traumatismo cranioencefálico leve (21,1%).
A freqüência de pacientes com traumatismo cranioencefálico moderado ou grave foi de
0,7%. Estes e os demais diagnósticos registrados estão listados em ordem decrescente de
freqüência na TAB 7. Muitos pacientes apresentavam mais de um diagnóstico
simultaneamente. A opção “outros” agrupa os diversos diagnósticos observados em apenas
um paciente nesta população.
50
TABELA 7 - Freqüência absoluta e relativa dos diagnósticos registrados nas fichas de atendimento
médico do Hospital de Pronto Socorro João XXIII em pacientes de zero a 12 anos e 11 meses de idade,
no período de 30 dias consecutivos, BH, mar./2004
Freqüência Diagnóstico
Absoluta Relativa
Lesão óssea e/ou muscular em membros superiores ou
inferiores
708 27 %
TCE leve (ECG 14 ou 15)
552 21,1 %
Lesão corto-contusa, necessitado sutura ou não
410 15,6 %
Diagnóstico clínico, não secundário a causas externas
392 14,9 %
Corpo estranho em narina ou ouvido
198 7,6 %
Outras intoxicações*
87 3,3 %
Corpo estranho em sistema digestivo (do esôfago ao reto)
77 2,9 %
Lesão em face (exceto olhos), incluindo cavidade oral
65 2,5 %
Queimaduras
62 2,4 %
Lesão em tórax
52 2,0 %
Retorno agendado
52 2,0 %
Lesão em abdome
43 1,7 %
Encaminhado para realização de exame complementar
22 0,8 %
Picada de escorpião
18 0,7 %
TCE moderado ou grave (ECG 3 a 13)
18 0,7 %
Trauma oftálmico
15 0,6 %
Trauma em coluna vertebral
13 0,5 %
Intoxicações por medicamentos
12 0,4 %
Corpo estranho em traquéia ou brônquio
5 0,2 %
Acidente ofídico
2 < 0,1 %
Outras
22 0,8 %
Sem informação
3 0,1 %
Total
2620 -
* Intoxicações por substâncias diversas, plantas e reação a picadas de insetos
Com base na observação da ocorrência do diagnóstico de TCE leve em 552
pacientes (média de 18 por dia), pode-se estimar o atendimento de 6.716 indivíduos com
este diagnóstico no período de um ano (TAB 8).
TABELA 8 - Número estimado de pacientes entre zero e 12 anos e 11 meses de idade atendidos no
Hospital de Pronto Socorro João XXIII com diagnóstico de TCE leve, com base em pesquisa
retrospectiva
Atendimentos
feitos em 30 dias
N° médio de
atendimentos/dia
Estimativa de atendi-
mentos em 365 dias*
Pacientes com diagnóstico de TCE leve
552 18,4 6.716
Pacientes com outros diagnósticos
2.068 68,9 25.148
Total de pacientes
2.620 87,3 31.864
* Supõe que as possíveis diferenças de número de pacientes por diagnóstico que ocorram durante os meses
sejam uniformizadas durante o ano.
51
O cálculo do total de pacientes a serem incluídos neste estudo foi realizado por meio
do programa Epi Info (disponível no www.cdc.gov/epiinfo/), considerando-se um universo
de estudo de 6.716 pacientes (número aproximado de crianças e adolescentes de zero a
doze anos e onze meses atendidos com TCE leve no Hospital de Pronto Socorro João XXIII
no período de um ano). Como vários fatores com incidências diferentes neste tipo de
paciente seriam avaliados, a freqüência esperada do evento aplicada no cálculo foi 50%.
Desta forma obteve-se o maior tamanho de amostra necessário. Foi empregada precisão de
+ 3% e nível de confiança de 95%. Encontrou-se um tamanho adequado da amostra igual a
921 indivíduos.
4.5.2 Critérios de inclusão
Para serem selecionados para participar da pesquisa, os pacientes tinham que
preencher os seguintes critérios:
a) idade entre zero e doze anos, onze meses e 29 dias
b) história de traumatismo cranioencefálico menos de 24 horas antes da
admissão no Hospital de Pronto Socorro João XXIII
c) pontuação igual a 14 ou 15 na Escala de Coma de Glasgow (tradicional ou
modificada para a idade), no primeiro exame realizado por médico à admissão
no Hospital de Pronto Socorro João XXIII.
4.5.3 Critério de exclusão
a) crianças ou adolescentes que, a qualquer momento durante seu atendimento no
Hospital de Pronto Socorro João XXIII, apresentaram instabilidade
hemodinâmica, independente de sua etiologia.
4.5.4 Seleção dos pacientes
Na previsão de inclusão de um total de 921 indivíduos no período de doze meses,
calculou-se que no mínimo 19 pacientes deveriam ser admitidos no estudo a cada semana.
52
Com o intuito de manter a proporção de pacientes em dia útil e final de semana e prevendo
possíveis perdas, optou-se pela coleta dos dados em todas as segundas-feiras, quartas-feiras,
sextas-feiras e sábados, com inclusão de seis indivíduos por dia. A admissão no estudo
ocorreu entre primeiro de março de 2004 e 28 de fevereiro de 2005, incluindo-se os
feriados de Carnaval, Semana Santa, Natal e Ano Novo, dentre outros.
A cada plantão de doze horas no Hospital de Pronto Socorro João XXIII (primeiro
turno de sete às dezenove horas e segundo turno de dezenove às sete horas do dia seguinte),
as fichas de atendimento médico de todos os pacientes que preenchiam os critérios de
inclusão foram numeradas de acordo com a ordem de chegada. Selecionou-se três pacientes
por plantão de doze horas, com critério de fichas de números alternados (por exemplo:
números dois, quatro e seis). A seleção de fichas de números alternados foi realizada com
objetivo de reduzir vícios como, por exemplo, evitar a inclusão de indivíduos vítimas do
mesmo acidente, e na tentativa de englobar um período maior dos turnos, com traumas
ocorridos no fim da tarde e durante a madrugada.
Quando o indivíduo selecionado não concordava em participar da pesquisa,
passava-se à ficha numerada seguinte. Nos plantões em que menos de seis pacientes
preencheram os critérios de inclusão, foram selecionados três pacientes com fichas de
atendimento de números não alternados.
4.6 Coleta de dados
4.6.1 Intra-hospitalar
Realizou-se entrevista com o responsável pela criança ou adolescente, durante seu
atendimento no pronto socorro. Antes de iniciá-la, apresentou-se ao responsável e ao
paciente (quando este era maior que sete anos de idade) os objetivos, procedimentos, riscos
e benefícios da pesquisa, sendo esclarecidos o caráter de livre participação e o sigilo dos
dados de identificação. Após terem compreendido e havendo concordância em participar do
estudo, era assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO B) pelo
responsável (ou testemunha, em caso de analfabetismo) e pelo paciente (quando este era
53
maior que sete anos de idade e alfabetizado). Uma cópia do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido era destinada ao responsável pelo paciente.
Os entrevistadores foram médicos pediatras plantonistas do setor de urgências e
emergências do Hospital de Pronto Socorro João XXIII e alunos de graduação da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (quinto e sexto anos),
após terem recebido treinamento específico, visando a uniformização dos dados coletados.
O atendimento médico ao paciente foi realizado de maneira habitual, pelos pediatras
e neurologistas plantonistas do setor de emergência, não tendo sofrido interferência da
pesquisa. Não houve padronização de condutas, uma vez que o protocolo de atendimento a
crianças e adolescentes vítimas de TCE leve do hospital em questão não é seguido por
todas as equipes.
Os exames de imagem (radiografias e tomografias computadorizadas de crânio)
foram solicitados pelos médicos que atenderam aos pacientes, quando estes os julgavam
necessários, e analisados pelos neurologistas e/ou neurocirurgiões que se encontravam de
plantão no setor de emergência na ocasião do atendimento.
Acompanhou-se cada paciente desde a admissão no pronto socorro até alta
hospitalar ou transferência para a enfermaria, com registro dos resultados de exames, sinais
e sintomas clínicos que surgiram no decorrer do período de observação e procedimentos
cirúrgicos. Em todos os casos de transferência para a enfermaria realizou-se posterior
revisão dos prontuários.
Grande parte das tomografias computadorizadas de crânio realizadas pelos pacientes
incluídos no estudo foram gravadas. Estas imagens foram analisadas e laudadas por uma
médica radiologista especialista em trauma. O laudo feito pelo neurologista e/ou
neurocirurgião, na ocasião do atendimento ao paciente, não foi informado à radiologista.
4.6.2 Após a alta hospitalar
Realizou-se contato telefônico com os familiares de cada paciente incluído no
estudo, para nova entrevista. Este contato foi feito por um único pesquisador e estabelecido
a partir do oitavo dia após o trauma. Quando não era possível o contato com o responsável
pela criança ou adolescente na primeira tentativa, novas ligações telefônicas eram
54
realizadas. O período para obter contato com sucesso foi limitado a 30 dias após o trauma,
para reduzir possíveis vícios de memória.
Os familiares foram questionados sobre fatos ocorridos com as crianças ou
adolescentes durante os primeiros sete dias após o trauma.
A data limite para coleta destes dados foi 30 de março de 2005, quando ocorreu o
último contato telefônico.
4.6.3 Instrumentos de coleta de dados
Utilizou-se dois diferentes questionários padronizados para coleta dos dados. O
primeiro (ANEXO C) foi empregado durante a permanência do paciente no pronto socorro,
sendo registrados:
- dados demográficos: nome, endereço, sexo, idade, cidade de ocorrência do trauma;
- mecanismo de trauma;
- uso de equipamento de proteção individual;
- presença de sintomas antes ou durante a observação hospitalar: perda de
consciência, náuseas, vômitos, irritabilidade, sonolência, convulsões, amnésia, confusão
mental momentânea e cefaléia. Os três últimos foram pesquisados apenas em maiores de
três anos de idade devido às dificuldades inerentes à anamnese da criança pequena;
- sinais ao exame físico: pontuação na Escala de Coma de Glasgow, hematoma de
escalpo, sinais de fratura de base de crânio, déficit neurológico focal, abaulamento de
fontanela, anisocoria e presença de lesões em outras partes do corpo;
- realização de radiografia de crânio: presença de fraturas, tipo e localização;
- realização de tomografia computadorizada de crânio: presença de lesão
intracraniana (ou fratura), tipo e localização;
- dados da permanência intra-hospitalar: observação no ambulatório do pronto
socorro, internação na enfermaria, na unidade de tratamento intensivo ou transferência a
outro hospital;
- dados do tratamento: necessidade de craniotomia ou craniectomia;
- desfecho: data e hora da alta ou do óbito.
55
O segundo questionário padronizado (ANEXO D) foi utilizado na entrevista
realizada por telefone, com os responsáveis pelo paciente. As variáveis pesquisadas foram:
- sintomas: perda de consciência, náuseas, vômitos, irritabilidade, sonolência,
convulsões, confusão mental ou cefaléia. Os dois últimos apenas em maiores de três anos
de idade;
- necessidade de retorno não agendado ao Hospital de Pronto Socorro João XXIII;
- procura por atendimento em outro hospital;
- realização de novos exames de imagem;
- ocorrência e motivo de internação, cirurgia neurológica ou óbito.
Para laudar as tomografias computadorizadas de crânio que haviam sido gravadas, a
radiologista utilizou parte do primeiro questionário padronizado, a qual especifica os tipos e
localizações das fraturas de crânio e lesões intracranianas encontradas (ANEXO C).
4.7 Análise estatística
Utilizou-se o programa Epi Info (disponível no www.cdc.gov/epiinfo/), para
construção do banco de dados e para análise estatística. Para o estudo da distribuição de
freqüência foi empregado o teste Qui-quadrado com correção de Yates e, quando
necessário, o teste exato de Fisher. Para comparação entre médias foi empregada a análise
de variância e, quando os dados não apresentavam distribuição gaussiana, foi aplicado o
teste de Kruskal Wallis para comparação entre medianas. Para as medidas de associação
(sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo) foi
calculado o intervalo de confiança a 95% pelo método de Fleiss Quadrático.
A contribuição independente dos fatores associados a lesões intracranianas foi
acessada por meio de análise multivariada pelo método da regressão logística, uma vez que
não foi analisado neste momento o tempo de ocorrência dos eventos. O modelo inicial
incluiu todas as variáveis com valor p 0,25. Outros modelos foram construídos a partir do
resultado do primeiro. A contribuição independente dos fatores associados a fraturas de
crânio foi acessada de modo semelhante. A análise estatística multivariada foi realizada
utilizando o pacote estatístico SPSS versão 13.0 (Chicago, USA).
56
Considerou-se o valor de 5% (p< 0,05) como limiar de significado estatístico.
Para o estudo de concordância entre dois observadores foi empregado o coeficiente
Kappa.
4.8 Aspectos éticos
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação
Hospitalar do Estado de Minas Gerais com o Parecer nº 211, pela Câmara do
Departamento de Pediatria FM/UFMG com o Parecer nº 27/04 e pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais com o Parecer nº ETIC 326/04
(ANEXO E).
57
5 RESULTADOS
Foram incluídas no estudo 932 crianças e adolescentes durante os 12 meses em que
precedeu-se a coleta de dados.
5.1 Perfil epidemiológico de crianças e adolescentes vítimas de TCE leve
Cidade de ocorrência do trauma:
O trauma ocorreu em Belo Horizonte em 71,7% dos casos, em cidades da região
metropolitana em 24,4% e em outras cidades mineiras em 3,9% (TAB 9 ).
TABELA 9 - Atendimentos por TCE leve no setor de pediatria do pronto socorro do Hospital
João XXIII segundo a cidade de ocorrência do trauma, BH, mar./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________
Cidade Nº de pacientes por cidade (%)
________________________________________________________________________________
Belo Horizonte 668 (71,7)
Sabará 54 (5,8)
Santa Luzia 50 (5,4)
Ribeirão das Neves 36 (3,9)
Contagem 34 (3,6)
Ibirité 14 (1,5)
Vespasiano 11 (1,2)
Pedro Leopoldo 6 (0,6)
São José da Lapa 5 (0,5)
Carmópolis, Congonhas, Nova Lima, Oliveira, 3 (0,3)
Rio Acima e Santo Antônio do Amparo
Pompeu, Barão de Cocais, Betim, Confins, 2 (0,2)
Esmeraldas, Matozinhos e Nova Serrana
Brumadinho, Caeté, Conselheiro Lafaete, Corinto, Dores 1 (0,1)
do Indaiá, Entre Rios de Minas, Guanhães, Itabira,
Itaverava, Lagoa Santa, Lagoa da Prata, Martinho Campos,
Nova Era, Ouro Branco, Ouro Preto, Paraopeba, Santana do
Riacho, São Gotardo, Sarzedo e Várzea da Palma
Sem Informação 1 (0,1)
________________________________________________________________________________
58
Distribuição dos pacientes quanto à idade:
O mais jovem foi admitido com dez dias de vida e o mais velho aos doze anos, onze
meses e 29 dias. A idade em anos revelou média de 4,8, desvio-padrão de + 3,5, mediana
de 4,2 e moda de 0,8 anos (GRAF 1). Quanto à classificação em crianças e adolescentes,
89,2% eram crianças e 10,8% adolescentes.
17
35
49
48
50
67
58
86
71
85
98
123
145
0
20
40
60
80
100
120
140
160
<1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Idade em anos
Número
de
pacientes
GRÁFICO 1 - Atendimentos por TCE leve no setor de pediatria do pronto
socorro do Hospital João XXIII segundo a idade, BH, mar./2004 a fev./2005
Distribuição dos pacientes quanto ao gênero:
Houve predomínio do gênero masculino (62,6%), com relação masculino:feminino
de 1,67:1. Quando divididos em faixas etárias, a proporção de pacientes do gênero
masculino aumenta conforme aumenta a idade (p = 0,0002) (GRAF 2).
76,2
68
57,6
54,5
42,4
32
23,8
45,5
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
<1 ano 1 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 12 anos
Faixas Etárias
% de
pacientes
MASCULINO FEMININO
GRÁFICO 2- Distribuição de pacientes vítimas de TCE leve quanto ao
gênero, divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005
59
5.2 Mecanismos de trauma
Os mecanismos de trauma relatados foram queda, atropelamento de pedestre,
acidente com ciclista (atropelamento ou queda), acidente de automóvel (passageiro de
veículo envolvido em acidente), vítima de agressão, relacionado a práticas de esportes,
trauma contuso e desmoronamento. Não houve relato de ferimentos por armas de fogo ou
armas brancas. As quedas representam 79% do total de pacientes e foram o principal
mecanismo de trauma nas quatro faixas etárias (TAB 10). Quatro pacientes apresentaram
mais de um mecanismo de trauma simultaneamente. A proporção de quedas diminui com o
aumento da faixa etária, com significado estatístico (p < 0,0001).
TABELA 10 – Freqüência da ocorrência dos diversos mecanismos de trauma em pacientes vítimas de
TCE leve, divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005
_____________________________________________________________________________________
Faixas etárias Mecanismos de trauma (%)
(anos) ________________________________________________________________________
Queda Acidente Trauma Atropelamento Acidente de Prática de Outros
com ciclista contuso de pedestre automóvel esportes
_____________________________________________________________________________________
< 1 133 0 10 2 1 0 0
1 a 4 331 10 18 14 4 1 0
5 a 9 217 36 16 27 8 5 2
10 a 12 55 16 11 7 4 8 0
Total 736 (79) 62 (6,6) 55 (5,9) 50 (5,4) 17 (1,8) 14 (1,5) 2 (0,2)
______________________________________________________________________________________
Descrição dos tipos de queda:
Os tipos de queda relatados foram: da própria altura, de menos de um metro de
altura (cama, sofá, mesa ou cadeira), de laje, do colo de adulto, de escada, de árvores, de
barranco, de andadores, de janelas, de muros, de bancos, varandas, redes, balanços,
brinquedos diversos, animais em movimento ou não e carrinho de bebê (TAB 11). Quatro
pacientes sofreram mais de um tipo de queda simultaneamente.
Do total de quedas, a mais freqüente foi da própria altura (24,7%). Quando
divididas de acordo com as faixas etárias, as quedas de própria altura continuaram sendo o
60
principal tipo de queda entre cinco e nove anos (35%) e entre dez e doze anos (49%). Nos
menores de um ano, o tipo de queda mais relatado foi de menos de um metro de altura
(49%), e na faixa de um a quatro anos a queda de escada (29%).
TABELA 11 – Freqüência da ocorrência dos diversos tipos de quedas em pacientes vítimas de TCE
leve, divididos por faixa etária, BH, mar./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________________
Faixas etárias Tipos de quedas (%)
(anos) ____________________________________________________________________________
Própria Menos de Escada Laje Colo de Andador Árvore Barranco Outras
altura 1 metro adulto
________________________________________________________________________________________
< 1 8 67 13 1 29 11 0 1 7
1 a 4 73 70 96 24 9 0 1 6 52
5 a 9 76 23 30 31 5 0 6 0 46
10 a 12 27 2 5 10 0 0 2 2 7
Total 184 (24,7) 162 (21,9) 144 (19,5) 66 (8,9) 43(5,8) 11 (1,5) 9 (1,2) 9 (1,2) 112(15)
________________________________________________________________________________________
Uso de Equipamento de proteção individual:
Dos mecanismos de trauma relatados pelos pacientes de nossa amostra, estaria
indicado o uso de equipamentos de proteção individual em ciclistas e passageiros de
veículos. Destes, 6,3% (5/79) fizeram uso e 89,9% (71 / 79) não o fizeram. Em 3,8% (3/79)
dos casos não foi possível obter esta informação. O tipo de proteção foi em 100% dos casos
o cinto de segurança. Nenhum paciente estava com assento adequado para a idade, quando
transportado em automóvel, e nenhum ciclista usava capacete.
Tempo entre o momento do trauma e a admissão hospitalar:
A diferença entre a hora da admissão e a hora do trauma variou de menos de uma
hora a 23 horas. Sessenta por cento chegaram ao hospital em até 3 horas. O tempo médio
foi de 3,5 horas, com desvio-padrão de + 4,7 e mediana de 2 horas.
61
5.3 Sinais e sintomas que surgiram após o trauma
Dos 932 pacientes, 914 (98,1%) apresentaram ao menos um sinal ou sintoma após o
trauma. As freqüências dos sinais e sintomas relatados em pacientes de todas as faixas
etárias estão expostas na TAB 12. Sonolência e hematoma de escalpo foram
respectivamente o sintoma e sinal mais freqüentes, ocorrendo em percentual muito maior
que os demais.
TABELA 12 - Freqüência dos sinais e sintomas registrados em 932 crianças e adolescentes
após TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005
_________________________________________________________________________
Sinal ou sintoma Freqüência absoluta e relativa (%)
_____________________________________________
Presença Ausência Sem Informação
_________________________________________________________________________
Sonolência 603 (64,7) 329 (35,3) -
Hematoma de escalpo 594 (63,7) 337 (36,2) 1 (0,1 )
Irritabilidade 356 (38,2) 576 (61,8) -
mito 300 (32,2) 630 (67,6) 2 (0,2)
Náusea 241 (25,9) 689 (73,9) 2 (0,2)
Lesão outros segmentos 155 (16,6) 777 (83,4) -
Corporais*
Perda de consciência 110 (11,8) 817 (87,7) 5 (0,5)
Sinais de fratura de base 79 (8,5) 852 (91,4) 1 (0,1)
de crânio
Pontuação na ECG igual a 14 31 (3,3) 899 (96,5) 2 (0,2)
Convulsão 14 (1,5) 917 (98,4) 1 (0,1)
Déficit neurológico focal 0 931 (99,9) 1 (0,1)
adquirido após trauma
Presença de pelo menos 914 (98,1) 18 (1,9) -
um dos sinais ou sintomas
_________________________________________________________________________
* exceto escoriações
62
Entre os 594 pacientes com hematoma de escalpo, alguns apresentaram hematomas
extensos que envolviam mais de uma região do crânio por contiguidade ou hematomas
bilaterais. De acordo com a topografia no crânio, os hematomas de escalpo foram muito
mais freqüentes na região frontal (TAB 13). Cinqüenta e dois pacientes os apresentaram em
duas regiões do crânio simultaneamente: parietal + occipital (19/52)), parietal + frontal
(12/52), frontal +occipital (9/52), parietal + temporal (7/52) e frontal + temporal (5/52). Um
paciente apresentou hematoma em três regiões do crânio simultaneamente: parietal +
occipital + temporal.
TABELA 13 - Distribuição dos hematomas de escalpo de crianças e adolescentes vítimas
de TCE leve, quanto à topografia no crânio, BH, mar./2004 a fev./2005*
_____________________________________________________________________
Região do Freqüência de hematoma de escalpo
crânio _________________________________________
Absoluta Relativa (%)
_____________________________________________________________________
Frontal 330 55,6
Occipital 150 25,3
Parietal 128 21,5
Temporal 40 6,7
_____________________________________________________________________
* Inclui pacientes com hematoma em mais de uma região do crânio
Foram pesquisados o momento de ocorrência do primeiro vômito e o número de
episódios. Entre os pacientes que vomitaram, o primeiro episódio ocorreu dentro de
sessenta minutos após o trauma em 51,7% (155/300) e após este período em 48,3%
(145/300). O número de vômitos variou de um a quinze, com média de 2,9, desvio padrão
de + 2,1, mediana 2 e moda 1. Mais de 50% dos pacientes que vomitaram apresentaram
apenas um ou dois episódios.
Observou-se lesões em outros segmentos corporais em 155 pacientes. As lesões
músculo-esqueléticas em membros foram duas ou mais vezes mais freqüêntes que as
torácicas, abdominais, cervicais e faciais (TAB 14). Dezoito destes pacientes apresentaram
lesões em duas regiões simultaneamente: músculo-esquelética + abdominal (5/18),
músculo-esquelética + facial (5/18), músculo-esquelética + torácica (3 /18), músculo-
esquelética + cervical (3/18), torácica + facial (1/18) e torácica + cervical (1/18). Um
paciente apresentou lesões em três regiões simultaneamente: músculo-esquelética +
cervical + torácica.
63
TABELA 14 - Topografia das lesões em outros segmentos corporais, associadas ao TCE
leve em crianças e adolescentes, BH, mar./2004 a fev./2005*
_________________________________________________________________________
Segmento Freqüência das lesões associadas ao TCE leve
corporal _____________________________________________
Absoluta Relativa (%)
_________________________________________________________________________
Músculo-esquelética em mebros 90 58
Facial 45 29
Torácica 15 9,7
Abdominal 13 8,4
Cervical 12 7,7
_________________________________________________________________________
* Inclui pacientes com lesão em mais de um segmento corporal simultaneamente
Entre os sintomas pesquisados apenas em pacientes com idade igual ou superior a
três anos, destacou-se a cefaléia, que ocorreu em mais de 50% dos casos (TAB 15).
TABELA 15 - Freqüência dos sintomas pesquisados apenas nas 566 crianças e adolescentes
com idade igual ou superior a três anos, após TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005
______________________________________________________________________________
Sintoma Freqüência absoluta e relativa (%)
__________________________________________________
Presença Ausência Sem Informação
______________________________________________________________________________
Cefaléia 302 (53,3) 257 (45,4) 7 (1,3)
Confusão mental momentânea 81 (14,3) 475 (83,9) 10 (1,8)
Amnésia 66 (11,6) 492 (86,9) 8 (1,4)
______________________________________________________________________________
Entre os pacientes com cefaléia, 88% (266/302) apresentaram melhora após terem
sido medicados com analgésico comum (dipirona ou paracetamol) ou espontaneamente. Os
demais permaneceram com cefaléia durante o período de observação, sendo classificada
como persistente.
5.4 Ocorrência de fratura de crânio e lesão intracraniana
Aproximadamente 93% dos pacientes foram submetidos a exames de imagem
(870/932). A propedêutica limitou-se a apenas radiografia de crânio em 69,5% (648/932), a
apenas tomografia computadorizada de crânio em 9,3% (87/932) e 14,5% (135/932) dos
pacientes foram submetidos aos dois tipos de exames.
64
A imensa maioria das radiografias de crânio foi interpretada como normal (93%).
Entre as fraturas de crânio diagnosticadas à radiografia, a maior parte era linear (89%),
tendo ocorrido apenas cinco fraturas com afundamento.
Entre as tomografias computadorizadas de crânio, 72% não mostraram alterações,
23% evidenciavam fratura (51/222) e 12,6% apresentavam lesão intracraniana (28/222).
Em 7,7% (11/222) das tomografias de crânio ocorreram simultaneamente fratura e lesão
intracraniana (TAB 16).
TABELA 16 - Descrição dos resultados das radiografias e tomografias computadorizadas
de crânio realizadas em crianças e adolescentes com TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005
____________________________________________________________________________
Radiografias de crânio Freqüência
N= 783 Absoluta Relativa (%)
____________________________________________________________________________
Normais 728 93
Alteradas* 55 7,0
- Fratura linear 49 6,3
- Fratura com afundamento 5 0,6
- Diastase de sutura 3 0,4
___________________________________________________________________________
Tomografias computadorizadas de crânio Freqüência
N = 222 Absoluta Relativa
___________________________________________________________________________
Normais 160 72
Alteradas 62 28
- Somente fratura 34 15,3
- Somente LIC 11 5,0
- Fratura + LIC 17 7,7
___________________________________________________________________________
* duas radiografias evidenciavam mais de um tipo de alteração simultaneamente
Entre as 51 tomografias que evidenciaram fraturas, mais de um segmento do crânio
foi acometido concomitantemente em 20 casos. Considerando-se cada segmento afetado
como uma fratura distinta, diagnosticou-se 68 fraturas. Destas, 82,3% eram lineares
(56/68), 11,7% acometeram base de crânio (8/68) e 5,9% com afundamento (4/68). A
região do crânio mais afetada nas fraturas diagnosticadas à tomografia foi a parietal. Na
TAB 17 estão descritas as freqüências das lesões ósseas em cada região do crânio.
65
TABELA 17 - Distribuição das fraturas diagnosticadas à tomografia computadorizada de
crânio em crianças e adolescentes com TCE leve, quanto ao segmento do crânio acometido,
BH, mar./2004 a fev./2005
___________________________________________________________________________
Segmento do Freqüência de fraturas
crânio _______________________________________________
Absoluta Relativa (%)
___________________________________________________________________________
Parietal 28 41
Frontal 21 31
Occipital 11 16,2
Temporal 7 10,3
Sem informação 1 1,5
___________________________________________________________________________
Algumas tomografias apresentaram mais de um tipo de lesão intracraniana
simultaneamente, tendo sido diagnosticadas 34 lesões distintas em 28 exames. A lesão
intracraniana mais freqüente foi hematoma extradural agudo (10/28), seguida por
hemorragia subaracnóide traumática (9/28), hematoma intraparenquimatoso (7/28),
pneumoencéfalo (7/28) e hematoma subdural agudo (1/28) (GRAF 3).
HSDA
3%
HEDA
29%
HIP
21%
PE
21%
HSAT
26%
HSDA= Hematoma subdural agudo; HEDA= Hematoma extradural
agudo; HIP= Hematoma Intraparenquimatoso; PE= Pneumoencéfalo;
HSAT= Hemorragia Subaracnóide Traumática
GRÁFICO 3 - Freqüência dos tipos de lesões intracranianas
identificados nas tomografias computadorizadas de crânio de
crianças e adolescentes vítimas de traumatismo cranioencefálico
leve, BH, mar./2004 a fev./2005
66
5.5 Evolução clínica durante a permanência hospitalar
Noventa e três por cento das crianças e adolescentes receberam alta após o
atendimento no pronto socorro. Entre os que foram internados, 62,5% (40/64)
permaneceram na sala de observação pediátrica do pronto socorro, 31,2% (20/64) foram
encaminhados à enfermaria pediátrica do próprio hospital e 6,3% (4/64) foram transferidos
a outro hospital.
O tempo de observação (em relação ao momento do trauma) e o tempo de
permanência hospitalar (em relação ao momento da admissão) estão sintetizados na TAB
18, através de medidas de tendência central e de variabilidade.
TABELA 18 - Descrição do tempo de observação e permanência hospitalar, em horas, de crianças e
adolescentes vítimas de TCE leve, BH, mar./2004 a fev./2005
______________________________________________________________________________________
Variação Média DP Moda Mediana
______________________________________________________________________________________
Tempo de observação, desde a ocorrência do trauma até a alta hospitalar
No total da
amostra (N= 932) 1 – 238 11,1 + 19,5 4 6
Nos pacientes não 1 – 38 7,5 + 5,9 4 5
internados (N= 868)
Nos pacientes 8 – 238 60,2 + 49,5 46 42,5
internados (N= 58 *)
Tempo de permanência hospitalar, desde a admissão hospitalar até a alta
No total da < 1 – 237 7,7 + 19 2 3
amostra (N= 932)
Dos pacientes não < 1 – 37 4 + 3,8 2 3
internados (N= 868)
Dos pacientes 7 – 237 56,3 + 48,5 21 36
internados (N= 58 *)
_____________________________________________________________________________________
* Excluídos os transferidos para outro hospital
Os motivos de internação hospitalar foram presença de fratura de crânio e/ou lesão
intracraniana em 90% dos casos (57/64). Entre os pacientes internados, 44% apresentavam
LIC, 46% tinham apenas fratura de crânio e 10% permaneceram no hospital devido a lesões
67
em outros segmentos corporais ou à persistência de sintomas clínicos. Quatro pacientes
foram submetidos a neurocirurgia, três deles craniotomia para drenagem de hematoma
intracraniano e um deles elevação de fratura de crânio com afundamento. Nenhum dos
vinte e nove pacientes que tinham apenas fratura de crânio apresentou piora clínica ou
desenvolveu LIC durante a internação. Não foram descritos óbitos nesta população.
5.6 Evolução clínica na primeira semana após o trauma
O contato telefônico foi realizado com sucesso em 77% dos pacientes (717/932). A
ocorrência de perda no seguimento era esperada, pois a ausência de telefone na residência
ou vizinhança não foi um critério de exclusão no estudo, visto que geraria vício de seleção
da amostra. Os demais motivos de insucesso no contato após a alta foram a inexistência do
número telefônico informado ou não resposta à chamada.
O sintoma mais freqüente na primeira semana após o trauma foi cefaléia, seguido de
irritabilidade, sonolência e vômito (TAB 19).
TABELA 19 - Sintomas de crianças e adolescentes vítimas de TCE leve na primeira
semana após o trauma, BH, mar./2004 a mar./2005
_______________________________________________________________________
Sintoma Freqüência absoluta e relativa (%)
___________________________________________
Presença Ausência
_______________________________________________________________________
Em pacientes de todas as faixas etárias (N= 717)
Irritabilidade 112 (15,6) 605 (84,4)
Sonolência 78 (10,9) 639 (89,1)
Vômito 39 (5,4) 678 (94,6)
Náusea 12 (1,7) 705 (98,3)
Perda de consciência 3 (0,4) 714 (99,6)
Convulsão 2 (0,3) 715 (99,7)
Em pacientes com três anos de idade ou mais (N= 448)
Cefaléia 108 (24,1) 340 (75,9)
Confusão mental momentânea 6 (1,3) 442 (98,7)
_______________________________________________________________________
Novo atendimento hospitalar foi relatado por 62 pacientes, sendo apenas 22,6%
(14/62) deles devido a sintomas relacionados ao TCE leve. Onze crianças repetiram exames
68
de imagem: cinco fizeram nova radiografia de crânio e seis realizaram nova tomografia.
Não houve relato de internações ou óbitos.
Apenas uma criança apresentou hematoma extradural de surgimento tardio.
Tratava-se de paciente do sexo feminino, nove anos de idade, com história de queda da
própria altura. Na ocasião do primeiro atendimento, foi admitida no hospital com pontuação
na Escala de Coma de Glasgow igual a 14, com confusão mental por cerca de uma hora,
além dos seguintes sinais e sintomas: náusea, três episódios de vômitos, sonolência,
hematoma de escalpo e cefaléia. Foi submetida à radiografia e à tomografia
computadorizada de crânio durante a observação hospitalar, ambos com resultados normais.
A alta ocorreu seis horas após o trauma, com a criança assintomática. Devido à reincidência
de vômitos e cefaléia, a criança repetiu a tomografia de crânio seis dias após o trauma.
Neste segundo exame foi diagnosticado hematoma extradural, apresentando sinais de
reabsorção. A paciente foi observada no domicílio e evoluiu com desaparecimento dos
sintomas (FIG 4).
Por meio de pesquisa realizada no banco de dados do SAME, verificou-se que
nenhum dos 215 pacientes não encontrados por telefone havia sido internado no Hospital
de Pronto Socorro João XXIII na primeira semana após o trauma.
(a) (b)
FIGURA 4 - Hematoma extradural de desenvolvimento tardio após TCE leve, em criança de nove anos
de idade: (a) tomografia de crânio normal, realizada menos de seis horas após o trauma; (b) tomografia
de crânio evidenciando hematoma extradural (seta), realizada seis dias após o trauma.
69
5.7 Comparação dos laudos das tomografias feitos pelo neurologista
versus radiologista: análise de confiabilidade
Por meio do coeficiente Kappa calculou-se o grau de concordância entre o
diagnóstico tomográfico feito pelos neurologistas (ou neurocirurgiões) no momento do
atendimento e o laudo posteriormente realizado pela médica radiologista.
Quanto ao achado de lesão intracraniana, o coeficiente Kappa foi 68%, com
concordância observada de 93% e esperada de 78%. Quanto ao achado de fratura de crânio,
o coeficiente Kappa foi 48%, com concordância observada de 86% e esperada de 73%. Os
dados utilizados no cálculo estão apresentados nas TAB 20A e TAB 20B.
TABELA 20A - Comparação dos laudos tomográficos efetuados pelo neurologista ou radiologista,
considerando o diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve, BH,
jun./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________________
Radiologista Coeficiente Kappa
________________________________________________________________________________________
LIC* presente LIC ausente
Neurologista
LIC presente 9 6 68%
LIC ausente 1 86
________________________________________________________________________________________
*LIC= lesão intracraniana
TABELA 20B - Comparação dos laudos tomográficos efetuados pelo neurologista ou radiologista,
considerando o diagnóstico de fratura de crânio em crianças e adolescentes com TCE leve, BH,
mar./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________________
Radiologista Coeficiente Kappa
________________________________________________________________________________________
Fratura presente Fratura ausente
Neurologista
Fratura presente 9 8 48%
Fratura ausente 6 78
________________________________________________________________________________________
5.8 Avaliação da associação de fatores clínicos e epidemiológicos
com a ocorrência de fratura de crânio
70
As 870 crianças e adolescentes que haviam sido submetidas a radiografia e/ou
tomografia computadorizada de crânio foram divididas em dois grupos, o primeiro
constituído pelos 71 pacientes que apresentaram fratura de crânio e o segundo pelos 799 em
que não havia fratura. A média de idade dos pacientes com fratura foi 3,36 (DP 3,27) e a
dos que não tiveram fratura foi 4,83 (DP 3,43). Esta diferença foi estatisticamente
significativa (p < 0,001). A relação sexo masculino:feminino foi menor entre os pacientes
com fratura (1,15:1) que entre pacientes sem fratura (1,73:1). A freqüência dos sinais e
sintomas em cada um destes grupos está apresentada na TAB 21.
TABELA 21 - Freqüência de sinais e sintomas nas crianças e adolescentes vítimas de TCE leve,
divididas em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de fratura de crânio à radiografia e/ou
à tomografia computadorizada, BH, mar./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________________
Sinal ou sintoma Grupo 1 Grupo 2 Sem
(com fratura) (sem fratura) informação
________________________________________________________________________________________
Sintomas pesquisados em pacientes de todas as faixas etárias (n= 870)
Hematoma de escalpo 82,8% (58/70) 64% (512/799) 1
Sonolência 70,4% (50/71) 65,3% (522/799) -
Vômito 52% (37/71) 31,5% (251/797) 2
Irritabilidade 45% (32/71) 37,4% (299/799) -
Náusea 34,3% (24/70) 25,7% (205/798) 2
Sinais de fratura de base de crânio 19,7% (14/71) 7,9% (63/798) 1
Lesão em outros segmentos corporais* 16,9% (12/71) 15,5% (124/799) -
Perda de consciência 11,4% (8/70) 12,3% (98/796) 4
Pontuação na ECG igual a 14 9,8% (7/71) 2,9% (23/798) 1
Convulsão 4,2% (3/71) 1,4% (11/798) 1
Sintomas pesquisados apenas em maiores de três anos de idade (n= 523)
Cefaléia 58,6% (17/29) 55,6% (271/488) 6
Confusão mental momentânea 27% (8/29) 14,4% (70/486) 8
Amnésia 24,1% (7/29) 11,7% (57/487) 7
________________________________________________________________________________________
* exceto escoriações
Após análise univariada, observou-se associação estatisticamente significativa entre
fratura de crânio e idade inferior a um ano, vômito, hematoma de escalpo, sinais de fratura
de base de crânio e pontuação na ECG igual a 14. Nenhum dos mecanismos de trauma
isoladamente estabeleceu associação significativa com a presença de fratura de crânio (p >
0,05). Na TAB 22 estão descritos os fatores estudados quanto à associação com fratura de
crânio, com os respectivos valores de p.
71
TABELA 22 - Estudo da associação de fatores clínicos e epidemiológicos com a ocorrência de fratura
de crânio em crianças e adolescentes vítimas de TCE leve – Análise univariada
________________________________________________________________________________________
Fratura de crânio Valor p
Sim Não
________________________________________________________________________________________
Idade < 1 ano 25 116 < 0,001 *
> 1 ano 46 683
Vômito Sim 37 251 < 0,001 *
Não 34 546
Hematoma Sim 58 512 0,002 *
de escalpo Não 12 287
Sinais de fratura Sim 14 63 0,002 *
de base do crânio Não 57 735
Pontuação na ECG Quatorze 7 23 0,008 **
Quinze 64 775
Confusão mental Sim 8 70 0,06 **
momentânea Não 21 416
Amnésia Sim 7 57 0,07 **
Não 22 430
Convulsão Sim 3 11 0,10 **
Não 68 787
Gênero Masculino 38 506 0,13 *
Feminino 33 293
Náusea Sim 24 205 0,15 **
Não 46 593
Irritabilidade Sim 32 299 0,25 *
Não 39 500
Sonolência Sim 50 522 0,46 *
Não 21 277
Cefaléia Sim 17 271 0,89 *
(persistente ou não) o 12 217
Lesão em outros Sim 12 124 0,89 *
segmentos corporais Não 59 675
Perda de Sim 8 98 0,97 *
consciência Não 62 698
________________________________________________________________________________________
* Teste Qui quadrado com correção de Yates
** Teste Exato de Fisher
72
Para realização da análise multivariada pelo método de regressão logística utilizou-
se como variável resposta a presença de fratura e como variáveis independentes os fatores
que apresentaram valor p 0,25 na análise univariada: vômito, náusea, irritabilidade,
convulsão, hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base, presença de lesões em
outra parte do corpo, idade menor que um ano, confusão mental momentânea e amnésia.
Todas estas variáveis são categóricas.
No primeiro modelo foram analisadas as variáveis pesquisadas em crianças de todas
as faixas etárias: mito, náusea, irritabilidade, convulsão, hematoma de escalpo, ECG 14,
sinais de fratura de base, presença de lesões em outra parte do corpo e idade inferior a um
ano. Cinco destas nove variáveis apresentaram associação com significado estatístico após
regressão logística: vômito, hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base e
idade menor que um ano. Elas tiveram OR > 1, com intervalo de confiança a 95%
excluindo a unidade, mostrando que a presença destes fatores está associada a maior
ocorrência de fratura de crânio (TAB 23). As interações biologicamente possíveis entre
estas variáveis são: idade menor que um ano e sinais de fratura de base; idade inferior a um
ano e ECG 14; idade menor que um ano hematoma de escalpo; idade menor que um ano e
vômito; sinais de fratura de base e ECG 14; sinais de fratura de base e hematoma de
escalpo; sinais de fratura de base e vômito e ECG 14 e vômito. Estas interações também
foram testadas e não foram significativas na regressão logística.
No segundo modelo foram incluídas as variáveis confusão mental momentânea e
amnésia, as quais haviam sido pesquisadas apenas em pacientes com três anos de idade ou
mais. O tamanho da amostra foi reduzido devido à exclusão de todos os pacientes menores
de três anos. Neste modelo as variáveis que apresentaram significado estatístico foram as
mesmas do primeiro modelo: vômito, hematoma de escalpo, ECG 14 e sinais de fratura de
base (TAB 23).
73
TABELA 23 - Fatores associados à ocorrência de fratura de crânio em crianças e adolescentes
com TCE leve – Análise multivariada
_________________________________________________________________________________
Modelos e variáveis Valor p OR IC 95%
_________________________________________________________________________________
Modelo 1: crianças de todas as faixas etárias*
Idade inferior a um ano 0,000 5,31 2,92-9,65
Presença de sinais de fratura de base 0,000 3,98 1,98-8,00
Presença de hematoma de escalpo 0,000 3,70 1,88-7,28
Pontuação na ECG igual a 14 0,011 3,65 1,35-9,89
Presença de vômito 0,000 3.40 1,96-5,88
Modelo 2: crianças com três anos de idade ou mais**
Presença de sinais de fratura de base 0,000 8,26 3,43-19,89
Presença de vômito 0,001 4,49 1,86-10,85
Pontuação na ECG igual a 14 0,006 3,65 1,35-9,89
Presença de hematoma de escalpo 0,019 3,55 1,23-7,24
_________________________________________________________________________________
* variáveis incluídas no modelo completo: vômito, náusea, irritabilidade, convulsão, hematoma de
escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base, presença de lesões em outra parte do corpo e idade menor
que um ano. Amostra: 858 pacientes.
** variáveis incluídas no modelo completo: vômito, náusea, irritabilidade, convulsão, hematoma de
escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base, presença de lesões em outra parte do corpo, confusão
mental momentânea e amnésia. Amostra: 505 pacientes.
5.9 Avaliação da associação de fatores clínicos, epidemiológicos e
presença de fratura de crânio com a ocorrência de lesão intracraniana
Os pacientes que realizaram tomografia computadorizada de crânio (222) foram
divididos em dois grupos. O primeiro constituído pelos 28 pacientes que apresentaram LIC
à TCC e o segundo pelos 194 pacientes que não tiveram diagnóstico de LIC. A média de
idade dos pacientes com LIC foi 5,94 (DP 3,1) e a dos pacientes sem LIC de 5,1 (DP 3,7),
não apresentando diferença significativa. A relação sexo masculino:feminino foi menor
74
entre os pacientes com LIC (1,15:1) quando comparada à de pacientes sem LIC (1,73:1). A
freqüência dos sinais e sintomas em cada grupo está apresentada na TAB 24.
TABELA 24 - Freqüência dos sinais e sintomas nas crianças e adolescentes vítimas de TCE leve,
divididas em dois grupos de acordo com a presença ou ausência de lesão intracraniana à tomografia
computadorizada de crânio, BH, mar./2004 a fev./2005
________________________________________________________________________________________
Sinal ou sintoma Grupo 1 Grupo 2 Sem
(com LIC) (sem LIC) informação
________________________________________________________________________________________
Sintomas pesquisados em todos os pacientes (n= 222)
Sonolência 85,7% (24/28) 76,8% (149/194) -
Hematoma de escalpo 81,5% (22/27) 60,8% (118/194) 1
Fratura de crânio* 67,8% (19/28) 26,8% (52/194) -
Vômito 60% (17/28) 55,6% (108/194) -
Náusea 50% (14/28) 42% (81/193) -
Irritabilidade 39,3% (11/28) 36,1% (70/194) -
Perda de consciência 33,3% (9/27) 26% (50/192) 3
Sinais de fratura de base de crânio 32% (9/28) 11,3% (22/194) -
Lesão em outros segmentos corporais** 32% (9/28) 12,9% (25/169) -
Pontuação na ECG igual a 14 21,4% (6/28) 9,8% (19/193) 1
Convulsão 7,1% (2/28) 4,6% (9/194) -
Sintomas pesquisados apenas em maiores de três anos de idade (n= 143)
Cefaléia 68% (15/22) 58,7% (71/121) -
Confusão mental momentânea 45% (10/22) 27,3% (33/121) -
Amnésia 36% (8/22) 29% (35/120) 1
________________________________________________________________________________________
* diagnosticada à TCC ou à radiografia de crânio
** exceto escoriações
Após análise univariada, observou-se associação estatisticamente significativa entre
as seguintes variáveis e a ocorrência de lesão intracraniana: fratura de crânio, sinais de
fratura de base e presença de lesões em outros segmentos corporais. Na TAB 25 estão
descritos os fatores estudados quanto à associação com lesão intracraniana, com os
respectivos valores de p. Nenhum dos mecanismos de trauma isoladamente estabeleceu
associação significativa com a presença lesão intracraniana (p > 0,05). Pacientes na faixa
etária entre cinco e nove anos apresentaram significativamente mais LIC que os pacientes
das outras faixas etárias (p= 0,016).
75
TABELA 25 - Estudo da associação de fatores clínicos, epidemiológicos e fratura de crânio com a
ocorrência de lesão intracraniana em crianças e adolescentes vítimas de TCE leve – Análise univariada
________________________________________________________________________________________
Lesão Intracraniana Valor p
Sim Não
________________________________________________________________________________________
Fratura de crânio Sim 19 52 < 0,001 *
Não 9 142
Sinais de fratura Sim 9 22 0,007 **
de base do crânio Não 19 172
Lesão em outros Sim 9 25 0,020 *
segmentos corporais Não 19 169
Hematoma Sim 22 118 0,06 *
de escalpo Não 5 76
Pontuação ECG Quatorze 6 19 0,10**
Quinze 22 174
Confusão mental Sim 10 33 0,14 *
momentânea Não 12 88
Idade < 1 ano 2 37 0,18 **
> 1 ano 26 157
Sonolência Sim 24 149 0,41 *
Não 4 45
Gênero Masculino 15 123 0,43 *
Feminino 13 71
Cefaléia Sim 15 71 0,54 *
Não 7 50
Náusea Sim 14 81 0,55 *
Não 14 112
Perda de consciência Sim 9 50 0,57 *
Não 18 142
Convulsão Sim 2 9 0,63**
Não 26 185
Amnésia Sim 8 35 0,67*
Não 14 85
Vômitos Sim 17 108 0,70*
Não 11 86
Irritabilidade Sim 11 70 0,90*
Não 17 124
________________________________________________________________________________________
* Teste Qui quadrado com correção de Yates
** Teste Exato de Fisher
76
Na análise multivariada utilizou-se como variável resposta a presença de lesão
intracraniana, ou seja, um ou mais dos seguintes achados à TCC: hematoma subdural,
hematoma extradural, hematoma intraparenquimatoso, hemorragia subaracnóidea ou
pneumoencéfalo. Como variáveis independentes, foram estudados os fatores que
apresentaram valor p 0,25 na análise univariada: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais
de fratura de base, presença de lesões em outra parte do corpo, fratura de crânio, confusão
mental momentânea e idade inferior a um ano.
No primeiro modelo foram analisadas as variáveis pesquisadas em crianças de todas
as faixas etárias: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base, presença de
lesões em outros segmentos corporais, fratura de crânio e idade inferior a um ano. Após
regressão logística, as variáveis associadas à maior ocorrência de LIC foram: presença de
lesões em outros segmentos corporais, fratura de crânio e ECG 14. A variável idade inferior
a um ano apresentou OR < 1, sugerindo que este fator esteja associado à menor ocorrência
de LIC (TAB 26). Foram testadas duas interações biologicamente possíveis: idade inferior
a um ano e fratura de crânio e ECG 14 e fratura de crânio. Ambas foram não significativas
na regressão logística.
No segundo modelo incluiu-se a variável confusão mental momentânea, a qual
havia sido pesquisada apenas em pacientes com idade igual ou superior a três anos. O
tamanho da amostra foi bastante reduzido pela exclusão dos pacientes menores de três anos.
Neste modelo as variáveis associadas à maior ocorrência de LIC foram apenas fratura de
crânio e confusão mental momentânea, ambas com OR >1 (TAB 26).
77
TABELA 26 - Fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças e
adolescentes com TCE leve – Análise multivariada, incluindo fratura de crânio
_________________________________________________________________________________
Modelos e variáveis Valor p OR IC 95%
_________________________________________________________________________________
Modelo 1: crianças de todas as faixas etárias*
Presença de fratura de crânio 0,000 8,60 3,38-21,86
Presença de lesões em tórax, 0,022 3,31 1,18-9,27
abdome, membros, cervical ou face
Pontuação na ECG igual a 14 0,046 3,37 1,02-11,09
Idade inferior a um ano 0,017 0,07 0,01-0,63
Modelo 2: crianças com três anos de idade ou mais**
Presença de fratura de crânio 0,000 20,48 6,47-64,81
Confusão mental momentânea 0,034 3,56 1,09-11,56
_________________________________________________________________________________
* variáveis incluídas no modelo completo: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base,
presença de lesões em outra parte do corpo, fratura de crânio e idade menor que um ano. Amostra:
220 pacientes.
** variáveis incluídas no modelo completo: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base,
presença de lesões em outra parte do corpo, fratura de crânio e confusão mental momentânea
Amostra: 143 pacientes.
Dois outros modelos foram criados incluindo-se apenas os dados clínicos:
hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base, presença de lesões em outra parte
do corpo, idade menor que um ano e confusão mental momentânea. A variável fratura de
crânio foi excluída por se tratar de informação dependente da realização prévia de exame de
imagem. No primeiro deles (modelo três) avaliou-se os fatores clínicos pesquisados em
crianças de todas as faixas etárias: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base,
presença de lesões em outros segmentos corporais e idade inferior a um ano. Apenas ECG
14, hematoma de escalpo e presença de lesões em outros segmentos corporais apresentaram
associação significativa com a presença de LIC (TAB 27). No outro modelo (número
quatro) acrescentou-se a variável confusão mental momentânea, o que limitou a análise a
crianças com idade igual ou superior a três anos, diminuindo o tamanho da amostra. Apenas
o fator sinais de fratura de base apresentou-se associado à presença de LIC (TAB 27).
78
TABELA 27 - Fatores associados à ocorrência de lesão intracraniana em crianças e adolescen-
tes com TCE leve – Análise multivariada, excluindo fratura de crânio
_________________________________________________________________________________
Modelos e variáveis Valor p OR IC 95%
_________________________________________________________________________________
Modelo 3: crianças de todas as faixas etárias*
Hematoma de escalpo 0,028 3,29 1,13-9,53
Presença de lesões em tórax, 0,043 2,79 1,03-7,53
abdome, membros, cervical ou face
Pontuação na ECG igual a 14 0,031 3,48 1,12-10,8
Modelo 4: crianças com três anos de idade ou mais**
Sinais de fratura de base de crânio 0,016 3,52 1,26-9,83
_________________________________________________________________________________
* variáveis incluídas no modelo completo: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base,
presença de lesões em outra parte do corpo e idade menor que um ano. Amostra: 220 pacientes.
** variáveis incluídas no modelo completo: hematoma de escalpo, ECG 14, sinais de fratura de base,
presença de lesões em outra parte do corpo e confusão mental momentânea. Amostra: 143 pacientes.
5.10 Avaliação da validade da radiografia de crânio como teste
diagnóstico de lesão intracraniana
A validade da radiografia de crânio como teste diagnóstico de lesão intracraniana
foi estudada com dados provenientes dos 135 pacientes que haviam sido submetidos tanto
à radiografia quanto à tomografia computadorizada de crânio. A tomografia de crânio foi
utilizada como padrão ouro. A prevalência de lesão intracraniana neste subgrupo foi de
14,8% (20/135). A presença de fratura à radiografia de crânio teve sensibilidade 60% (IC
95% 36,4-80%), especificidade 62,3% (IC 95% 53,1-71,3%), valor preditivo positivo
21,8% (IC 95% 12,2-35,4%) e valor preditivo negativo 90% (IC 95% 80,7-95,3%) como
teste diagnóstico de lesão intracraniana (TAB 28A).
Quando considerados os 222 pacientes que fizeram tomografia (acrescentando 87
pacientes submetidos somente à tomografia de crânio), a prevalência de lesão intracraniana
reduziu-se a 12,6% (28/222). Neste grupo verificou-se a validade da presença de fratura de
crânio como preditor do diagnóstico de lesão intracraniana, sendo encontrada sensibilidade
67,9% (IC 95% 47,6-83,4%), especificidade 73,2% (IC 95% 66,3-79,2%), valor preditivo
79
positivo 26,8% (IC 95% 17,3-38,8%) e valor preditivo negativo 94% (IC 95%: 88,6-
97,1%) (TAB 28B).
TABELA 28A Dados utilizados no cálculo da validade da radiografia de crânio como teste
diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve, tendo como padrão ouro a
tomografia computadorizada de crânio, BH, mar/2004 a fev/2005
________________________________________________________________________________
Tomografia computadorizada de crânio*
Positiva Negativa Total
______________________________________________________________________________________
Fratura à Sim 12 43 55
radiografia de crânio Não 8 72 80
Total 20 115 135
________________________________________________________________________________________
* Considerada positiva quando há qualquer um dos tipos de lesão intracraniana
TABELA 28B – Dados utilizados no cálculo da validade da fratura de crânio como preditor do
diagnóstico de lesão intracraniana em crianças e adolescentes com TCE leve, tendo como padrão ouro a
tomografia computadorizada de crânio BH, mar/2004 a fev/2005
________________________________________________________________________________
Tomografia computadorizada de crânio*
Positiva Negativa Total
________________________________________________________________________________________
Fratura à Sim 19 52 71
radiografia ou o 9 142 151
tomografia de crânio
Total 28 194 222
________________________________________________________________________________________
* Considerada positiva quando há qualquer um dos tipos de lesão intracraniana
80
6.0 DISCUSSÃO
Características das crianças e adolescentes vítimas de TCE leve
O TCE leve é uma das principais causas de procura por atendimento médico de
urgência não somente em serviços de pronto atendimento hospitalares, mas também em
postos de saúde, consultórios e clínicas particulares. Apesar de sabidamente freqüente, o
número de crianças e adolescentes vítimas de TCE leve em nosso país é pouco conhecido.
Para ter acesso a este número seriam necessárias melhorias nos registros de atendimentos
de urgência, com informatização dos dados. Não foi intuito deste estudo quantificar
pacientes atendidos com este tipo de trauma. Nosso objetivo principal foi descrever as
características das crianças e adolescentes vítimas de TCE leve. O esclarecimento dos
dados epidemiológicos, sinais e sintomas clínicos, tipos e resultados de exames de imagem
realizados, tempo de permanência hospitalar, procedimentos cirúrgicos e evolução clínica
antes e após a alta é um passo essencial para o planejamento de ações preventivas e para a
melhoria do atendimento. No Hospital de Pronto Socorro João XXIII, onde o estudo foi
realizado, a definição de TCE leve adotada é a pontuação na ECG igual a 14 ou 15 ao
exame inicial, conforme estabelecido pelo Colégio Americano de Cirurgiões no Manual de
Suporte Avançado de Vida no Trauma (ACS, 2004). Assim, nossos resultados referem-se a
crianças e adolescentes vítimas de TCE que apresentam esta faixa de pontos na ECG, ao
exame inicial.
A média de idade das crianças e adolescentes com TCE varia nos diversos estudos
de acordo com os critérios de inclusão de cada um, mas parece ser mais baixa nos casos de
TCE leve (Mitchell et al, 1994; Schunk et al,1996; Simon et al, 2001). Murgio e cols
(2001), em estudo prospectivo recente, realizado com 4690 pacientes de zero a 15 anos de
idade e TCE de todas as gravidades, atendidos consecutivamente em departamentos de
emergência de cinco países, relataram que 77% eram menores de três anos. Quando
selecionados apenas os pacientes com pontuação na ECG igual a 14 ou 15, 92% eram
menores de três anos. Em nosso estudo foram incluídos apenas pacientes com pontuação na
ECG igual a 14 ou 15 e a idade máxima foi limitada a 12 anos 11 meses e 29 dias, como
esclarecido na metodologia. A média de idade foi de 4,8 (DP + 3,5), a mediana de 4,2 anos,
81
e a proporção de crianças menores de três anos foi de 40%, confirmando a predominância
de crianças mais jovens nos casos de TCE leve.
As lesões por causas externas são mais comuns em crianças e adolescentes do sexo
masculino (Baracat et al, 2000; Gaspar et al, 2004). Quando selecionados apenas casos de
TCE esta predominância se mantém e é maior em crianças mais velhas. Greenes e
Schutzman (1999) estudaram prospectivamente 608 crianças de zero a dois anos de idade
com TCE de todas as gravidades e 57% eram do sexo masculino. Palchak e cols (2004), em
estudo prospectivo de 2043 crianças e adolescentes de zero a 18 anos com TCE de todas as
gravidades, encontraram 65% de meninos e 35% de meninas. Neste estudo 91% dos
pacientes apresentavam TCE leve. Estudos que incluíram apenas crianças e adolescentes
com TCE leve também registraram maior freqüência do sexo masculino, variando de 61 a
68% (Mitchell et al, 1994; Schunk et al, 1996; Roddy et al, 1998, Spencer et al, 2003). No
presente estudo houve predominância do sexo masculino (62,6%), com relação
masculino:feminino de 1,67:1, à semelhança dos estudos anteriores. Além disto
demonstrou-se aumento significativo da proporção do sexo masculino com a progressão da
idade (GRAF 2).
Os mecanismos de trauma que levam ao TCE leve também variam de acordo com
os critérios de inclusão em cada estudo, sendo muito relacionados à idade. As quedas são a
principal causa de trauma especialmente em crianças menores. Outros mecanismos como
atropelamentos de pedestres ou ciclistas e colisão entre veículos ocorrem na maior parte
das vezes em escolares e adolescentes (Quayle,1999). Mitchell e cols (1994) estudaram
retrospectivamente 401 pacientes de três a 17 anos, com ECG 13 a 15 à admissão,
encontrando 50% de quedas. No estudo de Schunk e cols (1996), realizado com 318
crianças de zero a 18 anos com ECG 15 após TCE, 48% dos pacientes apresentaram
quedas. Posteriormente Shane e Fuchs (1997) avaliaram 102 lactentes menores de 13 meses
de idade, com diagnóstico de fratura de crânio secundária a TCE e que haviam chegado
acordados ao hospital, relatando 91% de quedas. Estudos de lesões por causas externas na
faixa etária pediátrica realizados no Brasil mostram que as quedas são uma importante
causa de acidentes também em nosso meio. Baracat e cols (2000) estudaram
prospectivamente 3214 crianças de zero a 14 anos de idade, atendidas em departamento de
emergência vítimas de acidentes. Os traumatismos foram responsáveis por 74% do total de
82
atendimentos e tiveram como causa principal as quedas (67,1%). As regiões topográficas
mais afetadas nos pacientes que tiveram quedas foram os membros (44,7%) e o crânio
(40,7%). Quando avaliados apenas indivíduos menores de um ano, a ocorrência de TCE
secundário a quedas aumentou para 62%. Recentemente Martins e cols (2005) realizaram
estudo retrospectivo de 8854 pacientes menores de 15 anos vítimas de acidentes por causas
externas e relataram que as quedas foram a principal causa entre os que receberam alta após
atendimento inicial no pronto socorro e entre as internações não fatais.
Em nosso estudo as quedas também foram responsáveis pela maior parte dos casos
(79%). A TAB 10 mostra a distribuição dos pacientes quanto aos mecanismos de trauma,
divididos por faixas etárias. Entre lactentes com idade inferior a um ano, 92% apresentaram
quedas (133/145), um resultado muito semelhante ao de Shane e Fuchs (1997), relatado
anteriormente. Verifica-se também redução significativa na proporção de quedas à medida
que aumenta a faixa etária, chegando a 54% em pacientes de 10 a 12 anos (55/101), o que
confirma que em crianças com TCE leve as quedas são ainda mais freqüentes em pacientes
mais jovens. Na TAB 11 descreve-se a distribuição dos tipos de quedas divididos por faixas
etárias. O tipo mais freqüente na população total foi queda da própria altura. Em lactentes
menores de um ano e em crianças de um a quatro anos de idade os tipos de queda mais
freqüentes foram respectivamente de objetos com menos de um metro de altura (como sofá,
cama, mesa, cadeira e carrinho de bebê) e de escadas. Estes tipos de quedas são
potencialmente evitáveis com o acompanhamento da criança por um adulto responsável e
bem orientado quanto aos cuidados que devem ser tomados dentro de casa para prevenção
de acidentes.
Entre os demais mecanismos de trauma, atropelamento ou queda de ciclista,
atropelamento de pedestre, passageiro de veículo envolvido em aciedente e traumas
relacionados à prática de esportes foram mais freqüentes em escolares e adolescentes. Os
traumas contusos foram distribuídos com menor discrepância entre as faixas etárias (TAB
10). Estes resultados concordam com os de outros estudos (Mitchel et al, 1994; Roody et
al, 1998; Murgio et al, 2001). Os mecanismos de proteção individual foram utilizados em
apenas 6,3% dos casos em que estavam indicados e nenhum ciclista usava capacete no
momento do acidente. A ausência do uso de capacete pelos ciclistas também foi observada
por outros autores em trabalhos recentes (Pereira et al, 2000; Gaspar et al, 2004).
83
Após TCE leve as crianças e adolescentes podem ser assintomáticas ou apresentar
sinais ou sintomas diversos. A freqüência de cada um deles varia nos diversos estudos de
acordo com os critérios de inclusão, como descrito nas TAB 1 e TAB 2. Analisando estas
tabelas vemos que, por exemplo, a freqüência de perda de consciência variou de 26 a 63%
nos estudos que incluíram apenas crianças submetidas a TCC (Schunk et al, 1996; Roddy
et al, 1998; Spencer et al, 2003). Quando incluídos somente pacientes internados,
independente da realização de TCC, a proporção de perda de consciência encontrada foi de
38,4% (Mitchell et al, 1994). Quando avaliados todos os pacientes atendidos em
departamentos de emergência, entre eles crianças com TCE leve, moderado ou grave,
independente da necessidade de internação ou propedêutica realizada, a proporção de perda
de consciência foi de 2,8% (Dalt et al, 2005). Outros sintomas também apresentaram
importantes variações de freqüência, como irritabilidade, cefaléia e vômito.
Acreditamos que a incidência de sinais e sintomas encontrada nos pacientes do
presente estudo aproxima-se melhor da realidade das crianças e adolescentes com TCE
leve, pois ele apresenta algumas importantes vantagens sobre os estudos anteriores: 1)
todos os nossos pacientes apresentavam TCE leve; 2) o acompanhamento do paciente
durante sua permanência no hospital assegurou o registro fiel dos sinais e sintomas e
minimizou a perda de informação; 3) sintomas de difícil ou improvável identificação em
crianças pequenas (cefaléia, confusão mental momentânea e amnésia) somente foram
pesquisados em pacientes com três anos de idade ou mais. Embora não se tenha incluído a
totalidade dos paciente atendidos no período, utilizou-se uma amostra de pacientes de
número previamente calculado, selecionada de forma a representá-la adequadamente.
A TAB 12 mostra a freqüência de sinais e sintomas nos pacientes desta amostra. Os
mais comuns foram sonolência (64,7%) e hematoma de escalpo (63,7%), freqüências bem
elevadas comparando com estudos apresentados anteriormente. Irritabilidade (38,2%),
vômitos (32,2%) e náuseas (25,9%) também apresentaram freqüências diferentes em outros
estudos (Mitchel et al, 1994; Schunk et al, 1996; Murgio et al, 2001; Spencer et al, 2003).
Perda de consciência, sinais de fratura de base e convulsões, que são os fatores geralmente
associados a maior gravidade pelos clínicos, ocorreram com freqüências de 11,8%, 8,5% e
1,5% respectivamente, bem menores que nos estudos que selecionam pacientes com TCC
e/ou internados (Mithell et al, 1994; Schunk et al, 1996; Roddy et al, 1998; Spencer et al,
84
2003) e maiores que as apresentadas no estudo de Dalt e cols (2005). As incidências de
cefaléia (53%) e amnésia (11,6%) também foram maiores em nossa amostra que nos
estudos de Murgio e Dalt, mas somente representam crianças e adolescentes com três anos
de idade ou mais (Murgio et al, 2000; Dalt et al, 2005). As lesões em outros segmentos
corporais (exceto escoriações) associadas ao TCE ocorreram em 16,6% dos casos. A região
topográfica mais acometida foi membros inferiores e superiores (58%). Isto provavelmente
é reflexo do grande número de pacientes que apresentaram quedas, uma vez que os
membros são o segmento corporal mais lesado neste tipo de trauma (Baracat et al, 2000).
Pacientes com TCE podem ser submetidos a exames de imagem para diagnóstico de
fraturas de crânio e lesões intracranianas. A freqüência destas lesões em crianças e
adolescentes com TCE varia nos diferentes estudos de acordo com os critérios de inclusão,
número de pacientes que realizam exames e com os motivos de solicitação dos mesmos. Na
TAB 29 comparamos nossos resultados, quanto à proporção de pacientes que realizaram
radiografia e/ou tomografia computadorizada de crânio e quanto à freqüência de fraturas à
radiografia e de lesões intracranianas, com os de outros autores que incluíram em seus
estudos pacientes com TCE de todas as gravidades.
TABELA 29 Resumos de estudos realizados em crianças e adolescentes vítimas de TCE, destacando-
se a proporção de indivíduos submetidos a exames de imagem e a freqüência de fratura de crânio e
lesão intracraniana, considerando o total de cada amostra
________________________________________________________________________________________
Autor / data N Faixa etária/ ECG % com exames % de fratura % de LIC
país desenho de imagem à radiografia
________________________________________________________________________________________
LLoyd, 1997 883 Zero a 16 anos 3 a 15 Radiografia em 98,5% 19% 2%
Inglaterra Prospectivo TCC em 18%
________________________________________________________________________________________
Andronikou, 175 Zero a 13 anos 3 a 15 Radiografia em 39% 24% 31%
2003 Retrospectivo TCC em 100%
África do Sul
________________________________________________________________________________________
Reed, 2005 1535 Um a 14 anos 3 a 15 Radiografia em 22% 3,5% 0,3%
USA Retrospectivo TCC em 1%
________________________________________________________________________________________
Macedo, 2006 932 Zero a 12 anos 14 e 15 Radiografia em 84% 6% 3%
Brasil Prospectivo TCC em 24%
________________________________________________________________________________________
85
Esta tabela mostra que a proporção de realização de exames de imagem nos
pacientes do presente estudo foi alta, mesmo quando comparada à de estudos que incluem
pacientes com TCE de maior gravidade. Neste estudo, apenas pequena proporção das
radiografias de crânio mostrava fratura (7%), totalizando 6% da população. Considerando
tanto diagnósticos radiográficos como tomográficos, 7,6% desta população apresentava
fraturas de crânio. Assim, o número de radiografias realizadas foi muito maior do que o
necessário. A fratura linear foi o tipo mais freqüente e o osso parietal o mais acometido, o
que concorda com achados de outros autores em pacientes com TCE leve (Mitchell et al,
1994; Shane e Fuchs, 1997).
As LIC são as verdadeiras responsáveis pelo prognóstico dos pacientes com TCE.
Neste estudo elas foram diagnosticadas em 12,6% das tomografias e, considerando a
amostra total, foram encontradas em 3% dos pacientes. Comparando à literatura disponível
até o momento, este é um percentual compatível. Outros estudos de crianças e adolescentes
com TCE relataram de 1,3 a 19% de incidência, sendo maior naqueles que selecionaram
apenas pacientes que realizaram TCC ou internados (Chan et al, 1990; Hahn e Mclone,
1993; Davis et al, 1995; Loroni et al, 1996; Quayle et al, 1997; Wang et al, 2000; Simon et
al, 2001). O tipo de LIC mais freqüente no presente estudo foi hematoma extradural (36%),
seguido por hemorragia subaracnóide (32%) (GRAF 3). Outros autores encontraram
resultados distintos, destacando-se as contusões encefálicas (incluídas neste estudo no
conceito de hematoma intraparenquimatoso) como principal tipo de LIC em crianças e
adolescentes com TCE leve (Greenes e Shutzman, 1999; Mandera et al, 2000; Andronikou
et al, 2003).
Quanto à permanência hospitalar, apenas 7% dos nossos pacientes foram
internados, sendo que a grande maioria recebeu alta após o exame inicial no pronto
atendimento (868/932). Isso confirma que o número de crianças e adolescentes vítimas de
TCE em nosso meio é imensamente maior que o informado na divisão de morbidade por
causas externas do DATASUS. Entre os pacientes internados, nenhuma das crianças com
fratura isolada apresentou piora clínica ou teve diagnóstico de LIC durante a permanência
hospitalar. Isto sugere que as crianças com fratura de crânio e TCC inicial sem lesão
intracraniana podem ser acompanhadas no domicílio, sem prejuízo ao prognóstico. Este
resultado concorda com os de outros autores que consideram que crianças e adolescentes
86
com pontuação na ECG igual a 15, sem déficit neurológico focal e ausência de LIC na TCC
inicial não precisam ser internados (Schunk et al, 1996; Roddy et al, 1998; Spencer et al,
2003).
Apesar da freqüência de LIC ter sido relativamente alta nesta amostra (3%), apenas
três pacientes (0,3%) necessitaram abordagem cirúrgica do hematoma intracraniano. Um
paciente foi submetido à elevação de fratura com afundamento, aumentando assim a
proporção de lesões cirúrgicas para 0,4%. Isto concorda com resultados de outros autores,
que relatam de 0% a 1% de procedimentos cirúrgicos em crianças e adolescentes com TCE
leve (Schunk et al, 1996; Spencer et al, 2003; Haydel e Shembekar, 2003). No presente
estudo não ocorreram óbitos, entretanto alguns autores relatam desfecho fatal em crianças
vítimas de TCE leve. Recentemente Arbogast e cols (2005) revisam os prontuários de 321
lactentes menores de 48 meses que haviam tido óbito após TCE e relataram que 1,9% (seis
crianças) apresentavam pontuação na ECG 13 a 15 à admissão hospitalar.
Quanto à evolução clínica na primeira semana após o trauma, os sintomas mais
comumente encontrados nesta população foram cefaléia (24,1%), irritabilidade (15,6%) e
sonolência (10,9%), considerados sintomas leves. Poucos apresentaram sintomas
alarmantes como perda de consciência, convulsão e confusão mental momentânea, mas
todos os pacientes evoluíram bem (TAB 19). Uma única criança apresentou LIC após a
alta, sendo observada no domicílio e havendo resolução espontânea da lesão. Apesar destes
dados referirem-se apenas aos pacientes nos quais conseguimos contato telefônico, o fato
de nenhum dos demais terem sido internados no Hospital João XXIII durante a primeira
semana após o trauma provavelmente indica que eles também evoluíram clinicamente bem.
Comparando-se com outros estudos que avaliaram a ocorrência de sintomas nos primeiros
dias a semanas após TCE, a síndrome pós-concussão, nota-se que estes sintomas se
apresentam em incidências variáveis, entretanto os autores concordam que o surgimento de
LIC é raro e que habitualmente há boa evolução clínica (Mitchell et al, 1994; Schunk et al,
1996; Shane e Fuchs, 1997; Greenes e Shutzman, 1999; Quayle et al, 1997; Greenes e
Shutzman, 1999; Dalt et al, 2005).
87
Fatores associados à fratura de crânio
As fraturas de crânio ocorrem na minoria dos pacientes com TCE leve (Miotchell et
al, 1994; Murgio et al, 2001; Reed et al, 2005). A identificação de fatores clínicos ou
epidemiológicos associados a estas lesões tem sido objeto de pesquisa, pois pode diminuir a
realização desnecessária de radiografias de crânio, reduzindo gastos e lesões secundárias à
exposição à radiação. Alguns autores relatam associação entre hematoma ou laceração de
escalpo e fratura de crânio, principalmente em lactentes menores de um ano (Mitchell et al,
1994; Quayle et al, 1997; Shane e Fuchs, 1997). Lloyd e cols (1997), em estudo de 883
pacientes de dois meses a 16 anos vítimas de TCE leve, moderado ou grave, encontraram
associação significativa entre presença de fratura de crânio e idade inferior a dois anos.
Estes autores não encontraram associação entre vômitos ou outros fatores e fraturas. No
presente estudo, por meio de análise multivariada, confirmou-se a associação de fratura de
crânio com hematoma de escalpo (OR 3,44; IC 95% 1,79-6,59) e idade inferior a um ano
(OR 5,12; IC 95% 2,86-9,15), entretanto a presença de mito (OR 3,19; IC 95% 1,87-
5,44), pontuação na ECG igual a 14 (OR 3,2; IC 95% 1,23-8,71) e sinais de fraturas de base
de crânio (OR 3,77; IC 95% 1,89-7,53) também foram associados à ocorrência de fratura de
crânio (TAB 23). Estes dois últimos são freqüentemente relatados como associados à
ocorrência de LIC e serão discutidos posteriormente. Na presença de fatores associados
tanto à fratura de crânio como à LIC pode-se dispensar a realização de radiografia, estando
indicada a TCC como exame inicial.
Fatores associados à lesão intracraniana
A identificação de fatores associados a LIC tem sido objeto de estudo de vários
autores, entretanto até o momento não consenso. Nas TAB 4 e TAB 5 estão descritos
alguns destes estudos e seus resultados. A presença de fratura foi identificada como
associada à ocorrência de LIC por vários destes autores (Lloyd et al, 1997; Schunk et
al,1996; Quayle et al, 1997; Dalt et al, 2005). Os resultados foram mais conflitantes quanto
aos sinais e sintomas clínicos. No estudo de Quayle e cols (1997), quando excluída da
análise multivariada a variável fratura de crânio, os fatores associados a LIC foram sinais
88
de fratura de base de crânio (OR 12 e IC 2,1-67,1), déficit neurológico focal (OR 7,1 e IC
95% 1,7-28,8) e ECG < 15 (OR 3,3 e IC 95% 1,3-8,3). Na meta-análise de Dunning e cols
(2004) os fatores associados a hemorragia intracraniana foram, além de fratura de crânio,
déficit neurológico focal, perda de consciência, ECG < 15 e convulsão. Haydel e cols
(2003) relataram que todos os pacientes com LIC apresentaram pelo menos um dos
seguintes sintomas: cefaléia, vômito, intoxicação, amnésia, convulsão e evidência física de
trauma acima da clavícula. Entretanto, no estudo de Greenes e Shutzman (1999) 48% das
lesões intracranianas ocorreram em crianças assintomáticas. Simon e cols (2001)
salientaram que em seu estudo quase metade dos pacientes com LIC não apresentava
fratura e que muitos eram assintomáticos, sugerindo que houvesse uma política liberal do
uso de TCC mesmo na ausência destes fatores.
A importância da presença de sintomas na identificação de LIC foi estudada
também por Brown e cols (2003), que revisaram os arquivos de 110 crianças de até 10 anos
de idade que haviam sido submetidas à neurocirurgia de LIC por TCE. Em todos os casos
havia relato de algum sintoma, entretanto nenhum sintoma específico esteve presente em
todos os pacientes. O mais freqüente (85%) foi estado mental alterado (ECG < 15). A
associação de perda de consciência e/ou amnésia com LIC foi questionada por Palchak e
cols (2004) em estudo de 801 pacientes menores de 18 anos com TCE de todas as
gravidades. Eles somente encontraram associação entre estes sintomas e LIC quando
vinham acompanhados de outros sintomas.
Recentemente, um grande estudo multicêntrico (realizado em 21 hospitais norte-
americanos), prospectivo, envolvendo pacientes com TCE de todas as gravidades, de todas
as faixas etárias e que tiveram TCC como parte de sua avaliação no departamento de
emergência, foi desenvolvido por Mower e cols (2005). Participaram desta coorte 13.728
pacientes, sendo identificados fatores associados à ocorrência de LIC por meio de análise
multivariada. Baseados em seus resultados, os autores construíram um modelo no qual a
presença de fratura ou estado de consciência alterado (ECG < 15) ou déficit neurológico
focal ou vômitos persistentes ou hematoma de escalpo ou alterações de comportamento ou
coagulopatia ou idade maior que 65 anos apresentou alta sensibilidade na identificação de
LIC (98,3%; IC 95% 97,2-99,0) e a ausência destes fatores excluiu LIC com alto VPN
(99,1%; IC 95% 98,5-99,5). Posteriormente, Oman e cols (2006) avaliaram a validade deste
89
modelo para identificar LIC em crianças e adolescentes de zero a 18 anos. Eles
selecionaram 1666 pacientes desta faixa etária dentro do grupo original e verificaram que,
considerando a presença de pelo menos um dos sintomas descritos, o modelo teve
sensibilidade de 98,6% (IC 95% 94,9-99,8) e VPN de 99,1% (IC 95% 96,9-99,9) na
identificação de LIC. Quando selecionado o subgrupo com idade inferior a três anos, a
sensibilidade e VPN foram ambos de 100% (IC 95% 86,3-100 e IC 95% 78,2-100
respectivamente).
No presente estudo, por meio de análise de regressão logística (TAB 26), mostrou-
se que presença de fratura de crânio (RR 8,60; IC 95% 3,38-21,86) e pontuação na ECG
igual a 14 (RR 3,37; IC 95% 1,02-11,09) estão isoladamente associados à ocorrência de
LIC, o que concorda com a maior parte dos estudos descritos anteriormente. Estes fatores
justificam a realização de TCC em pacientes vítimas de TCE leve, mas a ausência deles não
exclui a possibilidade de LIC. Não encontramos associação significativa de LIC com dois
sintomas muito valorizados pelos médicos e temidos pelos familiares: a perda de
consciência e crise convulsiva. Em alguns dos estudos descritos anteriormente esta
associação também não foi encontrada. Em nosso estudo, apesar de prospectivo, na maior
parte das vezes a perda de consciência ou convulsão não foi presenciada por médico, sendo
informada pelo familiar. Este fato pode ter comprometido os resultados. O déficit
neurológico focal é outro fator freqüentemente associado à LIC por diversos autores,
entretanto, como este sintoma não foi observado na população estudada, tal associação não
pôde ser avaliada.
Outros fatores associados à ocorrência de LIC neste estudo foram presença de
lesões em outros segmentos corporais (RR 3,31; IC 95% 1,18-9,27) e confusão mental
momentânea (RR 3,56; IC 95% 1,09-11,56). Em algumas pesquisas citadas anteriormente
os autores não encontraram associação significativa entre LIC e estes fatores, em outras não
os incluíram como variáveis na análise estatística.
No presente estudo, idade inferior a um ano foi associada à LIC, entretanto não
representou risco e sim proteção para esta lesão (RR 0,07; IC 95% 0,01-0,63). Apesar de
nenhum mecanismo de trauma específico ter sido associado a LIC em nosso estudo, a
incidência de mecanismos que envolvem maior energia (colisão de automóveis, acidentes
com ciclistas ou atropelamento de pedestres) foi maior entre escolares e adolescentes. Este
90
fato pode explicar a menor ocorrência de LIC em faixas etárias mais jovens. Lloyd e cols
(1997), em estudo descrito anteriormente, apresentaram resultados semelhantes e
afirmaram que crianças com idade inferior a dois anos têm maior risco de fratura de crânio
e menor risco de LIC.
O tema idade foi abordado em estudo realizado recentemente por Muñoz-Sánchez e
cols (2005), com pacientes de todas as faixas etárias, vítimas de TCE leve (ECG 14 ou 15)
e que apresentavam fratura de crânio. O objetivo dos autores foi avaliar se a idade tem
influência no risco de LIC, em pacientes com fratura. Após regressão logística, idade maior
que 14 anos foi significativamente associada a LIC (OR 12,2; IC 3,9-38,3) e, comparado
com as crianças menores de 14 anos, o risco de LIC foi 13 vezes maior na faixa etária de 14
a 54 anos e 16 vezes maior acima de 54 anos de idade. Assim os autores demonstraram que
adultos com fratura têm maior risco de LIC que crianças com fratura. Como não
subdividiram as crianças menores de 14 anos em faixas etárias, a comparação com nossos
resultados ficou prejudicada.
No presente estudo, quando excluiu-se a variável fratura de crânio da análise
multivariada (TAB 27), além de ECG 14 e presença de lesões em outros segmentos
corporais, dois fatores associados à ocorrência de LIC por outros autores apareceram com
significado estatístico: hematoma de escalpo e sinais de fratura de base de crânio. Neste
caso, idade inferior a um ano e confusão mental momentânea passaram a ser fatores não
significativos. Este modelo aproxima-se da realidade do atendimento no departamento de
emergência onde, ao exame inicial, usualmente não há informação sobre presença ou
ausência de fratura de crânio. Isto depende da realização de um exame de imagem.
Validade da radiografia de crânio como teste diagnóstico de lesão intracraniana
Conforme discutido anteriormente, este e outros estudos demonstraram que fratura
de crânio é um fator associado à ocorrência de LIC. Entretanto, a utilização da radiografia
de crânio como teste de triagem na identificação de pacientes com LIC é uma prática
passível de críticas, pois até de 50% das LIC podem ocorrer na ausência de fraturas (Quayle
et al,1997). Isto significa que se a realização de TCC fosse vinculada apenas à presença de
fratura à radiografia de crânio, cerca de metade dos pacientes com LIC não seriam
91
diagnosticados. Além disto, assumir este exame como teste de triagem implica em realizá-
lo em todos os pacientes atendidos, o que para crianças e adolescentes com TCE leve
envolve milhares de pacientes por ano, com custos exorbitantes.
Na população estudada, 84% dos pacientes foram submetidos à radiografia de
crânio, o que sugere que no Hospital João XXIII este exame esteja sendo utilizado como
teste de triagem. A ausência de fratura em 93% destas radiografias reflete o grande número
de pacientes expostos à radiação desnecessariamente e os gastos que poderiam ser evitados
caso houvessem critérios bem definidos para a sua solicitação. Entre os 135 pacientes que
realizaram tanto radiografia como tomografia de crânio, 40% dos que apresentavam LIC
não tinham fraturas à radiografia (TAB 28A). A habilidade da radiografia de crânio em
identificar corretamente pacientes que tiveram LIC (sensibilidade) foi 60% (IC 95% 36,4-
80%) e a de identificar corretamente aqueles que não tiveram LIC (especificidade) foi
62,3% (IC 95% 53,1-71,3%). Encontrou-se 40% de resultados falso-negativos, índice
claramente inaceitável para um teste de triagem. O valor preditivo positivo (proporção de
indivíduos com LIC entre todos os que tiveram radiografia com fratura) foi de apenas
21,8% (IC 95% 12,2-35,4%) e seria menor caso todos os 783 pacientes submetidos à
radiografia de crânio tivessem também realizado TCC, porque provavelmente a prevalência
de LIC seria mais baixa. O valor preditivo negativo (capacidade da radiografia em predizer
ausência de LIC através da ausência de fratura) foi de 90% (IC 95% 80,7-95,3%), o que
significa que 10% das LIC não seriam detectadas. Assim, estes resultados indicam que a
radiografia de crânio não deveria ser utilizada como teste de triagem para LIC em crianças
com TCE leve.
Outros autores avaliaram a validade da radiografia de crânio como teste de triagem
para LIC, encontrando resultados semelhantes. Lloyd e cols (1997) realizaram estudo
prospectivo de 883 pacientes de dois meses a 16 anos de idade, vítimas de TCE leve,
moderado e grave, dos quais 151 haviam sido submetidos tanto à radiografia de crânio
quanto à TCC. A radiografia de crânio teve sensibilidade de 65% e valor preditivo negativo
(VPN) de 83%, sendo contra-indicada como teste de triagem pelos autores. Simon e cols
(2001), em estudo retrospectivo recente de 529 pacientes menores de 16 anos submetidos a
TCC após TCE leve (ECG 14 ou 15), relataram que fratura de crânio teve sensibilidade de
54%, valor preditivo positivo (VPP) de 35% e VPN de 90%, concluindo que o diagnóstico
92
de fratura não deve ser utilizado como ferramenta de triagem para LIC. Em 1999, a AAP
recomendou que caso seja desejável um estudo de imagem em crianças com TCE leve
sintomáticas, TCC seria o exame indicado (AAP, 1999).
Limitações
No presente estudo, a coleta de dados referentes ao atendimento inicial das crianças
e adolescentes com TCE leve foi realizada durante o atendimento dos pacientes no
departamento de emergência, o que proporcionou grandes vantagens, entretanto predispôs o
estudo às seguintes limitações inerentes à rotina do Hospital do Hospital de Pronto Socorro
João XXIII: 1) não houve avaliação dos exames de imagem por médico radiologista
durante o atendimento; 2) não foi realizada revisão posterior das radiografias de crânio,
pois os pacientes as levam consigo após a alta; 3) algumas tomografias computadorizadas
de crânio não foram avaliadas posteriormente pela radiologista por dificuldades técnicas em
sua gravação, outras vezes por terem sido realizadas em outros serviços e levadas pelos
pacientes após a alta; 4) Adolescentes de 13 a 19 anos não foram incluídos no estudo pois,
no hospital onde foi realizado, o atendimento de urgência a pacientes desta faixa etária não
é realizado por pediatras.
93
7 CONCLUSÃO
Por meio deste estudo acessou-se as características epidemiológicas de crianças e
adolescentes com TCE leve. Elas foram habitualmente lactentes e pré-escolares menores de
cinco anos de idade. Houve prevalência do sexo masculino em todas as faixas etárias e a
proporção de meninos aumentou com a progressão da idade. As quedas foram o principal
mecanismo de trauma. Com o aumento da idade, a proporção de quedas diminuiu e outros
mecanismos, como os envolvendo ciclistas e passageiros de veículos, tornaram-se cada vez
mais freqüentes. Os tipos de queda mais comuns foram da própria altura e de menos de um
metro de altura. As quedas de escada e de laje ocuparam o terceiro e quarto lugar,
respectivamente. A utilização de equipamento de proteção individual adequado foi pouco
freqüente em passageiros de veículos envolvidos em acidentes e não ocorreu em ciclistas.
Estas informações contribuem para o planejamento de ações preventivas que poderiam
reduzir sensivelmente o número de casos de TCE leve em crianças e adolescentes.
Quanto às características clínicas, a maior parte desta população teve pontuação na
ECG igual a 15 e apresentou nas primeiras 24 horas após o trauma pelo menos um sinal ou
sintoma, sendo os mais freqüentes: sonolência, hematoma de escalpo, cefaléia,
irritabilidade e vômito. A imensa maioria dos pacientes foi submetida a exames de imagem,
principalmente radiografia simples de crânio, a qual não mostrou alteração na maior parte
das vezes. As tomografias computadorizadas de crânio foram realizadas em menor número
e o tipo de LIC mais freqüente foi hematoma extradural. Considerando todos os pacientes
da amostra, o diagnóstico de LIC ocorreu em 3% dos casos, entretanto apenas 0,4% foram
tratados cirurgicamente e não ocorreram óbitos. A maioria dos pacientes mantidos em
observação ou internados não apresentava LIC e todos tiveram boa evolução clínica.
Apesar do relato freqüente de sintomas na primeira semana após o trauma, LIC foi
diagnosticada após a alta em somente um paciente. Assim, estes resultados sugerem que,
uma vez excluída a presença de LIC, crianças e adolescentes com TCE leve podem ser
observados fora do ambiente hospitalar, mesmo quando há diagnóstico isolado de fratura de
crânio. Entretanto, na ocasião da alta, o médico deve orientar o responsável pelo paciente
quanto à possibilidade de persistência ou surgimento dos sintomas da síndrome pós-
concussão e quanto aos sinais de alerta para retornar com o paciente ao hospital.
94
Quanto ao diagnóstico da LIC, o presente estudo mostrou que pacientes vítimas de
TCE leve na faixa etária pediátrica, que apresentem fratura de crânio, pontuação na ECG <
15, lesões concomitantes em outros segmentos corporais ou confusão mental momentânea
deveriam ser submetidos à tomografia computadorizada de crânio. Quando não
informação sobre a presença ou ausência de fratura de crânio, os sinais de fratura de base
de crânio ou hematomas de escalpo também podem justificar a solicitação da tomografia
computadorizada. Outros estudos devem ser realizados para avaliar se a dimensão,
profundidade ou localização do hematoma estão associadas à ocorrência de LIC, uma vez
que no presente estudo tais características não foram consideradas na análise multivariada.
Como não foi encontrada associação entre LIC e perda de consciência ou convulsão,
pacientes com estes sintomas podem ser observados sem a realização imediata de
tomografia. Apesar de neste estudo nenhum paciente ter apresentado déficit neurológico
focal, sugere-se que na presença deste fator seja realizada tomografia computadorizada de
crânio, baseado em resultados de outros autores. A ausência destes sinais e sintomas não
exclui a possibilidade de ocorrência de LIC e não descarta a necessidade de observação do
paciente por médico ou adulto responsável, nas primeiras horas após o trauma.
Neste estudo observou-se associação entre presença de fratura de crânio e idade
inferior a um ano, hematoma de escalpo, sinais de fratura de base de crânio, pontuação na
ECG igual < 15 e vômito. Entretanto, não sugerimos a realização de radiografia de crânio
nos pacientes com estes sinais e sintomas, uma vez que o objetivo no acompanhamento
destas crianças e adolescentes é a identificação da LIC. Além disto, a presença de fratura à
radiografia de crânio apresentou sensibilidade e valor preditivo negativo inadequados para
ser utilizada como teste de triagem para o diagnóstico de LIC, tendo a tomografia
computadorizada de crânio como padrão ouro. Assim, quando há indicação de realização de
um exame de imagem em crianças e adolescentes vítimas de TCE leve, sintomáticas,
sugerimos que este exame seja a tomografia computadorizada de crânio.
95
8 SUMMARY
The purpose of this study was to describe epidemiological characteristics of children
and adolescents with minor head trauma (MHT), mechanisms of injury, signs and
symptoms, the presence of cranial fracture or intracranial injury, length of stay,
neurosurgical intervention and the symptoms on the first week after the trauma; to identify
factors associated to cranial fracture and intracranial injury (ICI), and to evaluate the
validity of skull radiograph as diagnostic testing for intracranial injury, with head computed
tomography as gold standard. A prospective, observational cohort, with 932 patients from
birth to 12 years and 11 months of age, victims of head trauma within 24 hours and
admitted at Hospital de Pronto Socorro João XXIII in Belo Horizonte with Glasgow Coma
Scale score of 14 or 15, was assembled. Data were collected from March/2004 to
March/2005, by interviews during hospital stay and by telephone after discharge, and
registered. MHT occurred predominantly due to falls, more often in male children, before
school age. The more frequently related symptoms were drowsiness (64.7%), scalp
hematoma (63.7%), headache (53.3% of the children over three years of age), irritability
(38.2%) and vomiting (32.2%). Ninety three percent of the patients underwent imaging
examinations, 69.5% had only skull radiograph, 9.3% only head computed tomography and
14.5% both examinations. A significant number of patients had cranial fracture (7.6%)
and/or ICI (3%). Were admitted at the hospital 6.9% of the patients, with median hospital
stay of 56 hours. However, only four patients underwent neurosurgical intervention and
there were no deaths. On the first week after trauma, the most frequent symptoms were
headache (24.1%), irritability (15.6%) and drowsiness (10.9%). One patient developed
extradural hematoma after hospital discharge, with spontaneous resolution. After logistic
regression, the factors associated to ICI were cranial fracture, Coma Glasgow Scale score
of 14, presence of injuries on other parts of the body and confusion. When cranial fracture
was excluded of the multivariate analysis, scalp hematoma and signs of basilar skull
fracture were also associated to ICI. At the presence of any of those symptoms, the patient
should be submitted to head computed tomography. The factors associated to cranial
fracture were age less then one year, scalp hematoma, signs of basilar skull fracture, Coma
Glasgow Scale score of 14 and vomiting. The presence of fracture on skull radiograph had
96
60% of sensitivity and 90% of negative predicted value to identify ICI and should not be
used as diagnostic testing.
97
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105
10 ANEXOS
10.1 Anexo A Questionário Padronizado para Coleta de Dados em
fichas de atendimento do Pronto Socorro do Hospital João XXIII
Pesquisa retrospectiva
Questionário Padronizado para Coleta Retrospectiva de Dados
Identificação:
Número do questionário: __________
Nome: ________________________________________________________________________________
Número de registro: ______________
Data do nascimento: ____/____/____ Data do atendimento: ____/____/____
Endereço: _____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
Gênero:
( ) 1- Feminino ( ) 2- Masculino
______________________________________________________________________________________
Diagnóstico feito no Pronto Socorro:
( ) 1- TCE leve (ECG14 ou 15)
( ) 2- TCE moderado ou grave (ECG 3 a 13)
( ) 3- Lesões de tecidos moles, tendo necessitado sutura ou apenas curativo
( ) 4- Lesões ósseas e/ou musculares em braços ou pernas
( ) 5- Lesões ósseas e/ou musculares em face (exceto olhos), incluindo cavidade oral
( ) 6- Lesões em olhos
( ) 7- Trauma em abdome, com lesão interna ou apenas externa
( ) 8- Trauma em tórax, com lesão interna ou apenas externa
( ) 9- Trauma em coluna vertebral
( ) 10- Corpo estranho em traquéia ou brônquio
( ) 11- Corpo estranho em ouvido ou narina
( ) 12- Corpo estranho em sistema digestivo (do esôfago ao reto)
( ) 13- Intoxicações por medicamentos diversos
( ) 14- Outras intoxicações (ingestão/inalação de substâncias, contato com insetos, aranhas, lagartas, etc)
Especificar: ___________________________________________________
( ) 15- Acidente ofídico
( ) 16- Acidente escorpiônico
( ) 17- Queimaduras
( ) 18- Diagnósticos não secundários a causas externas, puramente clínicos
( ) 19- Encaminhado apenas para realização de exame complementar
( ) 20- Retorno
( ) 21- Outros
Especificar: ____________________________________________________
( ) Sem informação (ficha em branco ou ilegível)
106
10.2 Anexo B - Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Departamento de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais.
Pesquisador Principal: Dra. Kênia de Castro Macedo. Telefone de contato: 031-32399317
Título do Projeto: Estudo Prospectivo dos Fatores Clínicos e Epidemiológicos Envolvidos no
Traumatismo Cranioencefálico Leve em Pediatria.
Seu filho está sendo convidado a participar deste estudo porque machucou a cabeça. Antes de decidir se deve
permitir ou não a participação do seu filho ou filha, gostaríamos de explicar o motivo desta pesquisa, como
ela pode ajudar as crianças e o que se espera da sua participação.
Sua participação é voluntária: Este termo de consentimento lhe informações sobre o estudo. Se você
entender e concordar, será solicitada sua assinatura e você receberá uma cópia. Se a criança já souber escrever
e concordar em participar, será solicitado que ela também assine. Lembre-se, a participação não é obrigatória.
Além disso, pode retirar a criança da pesquisa a qualquer momento.
Motivo do estudo: Descrever os sinais e sintomas que as crianças apresentam após este tipo de trauma e
relacioná-los com alterações que possam ocorrer hoje e nos próximos dias.
Procedimentos: Se você permitir a participação do seu filho neste estudo, você responderá a perguntas sobre
a saúde dele antes do trauma, como o acidente aconteceu e o que ele está sentindo. Daqui a uma semana,
entraremos em contato com você por telefone para que responda a perguntas sobre o estado de saúde do seu
filho.
Benefícios e Riscos: Este estudo vai ajudar a entender o que as crianças sentem depois que machucam a
cabeça. Com isto, poderemos avaliar melhor o tempo de observação hospitalar e a necessidade de realização
de exames complementares. Você não receberá nenhum benefício direto por participar. Nenhum risco é
previsto por seu filho estar participando de pesquisa.
Confidencialidade e Custos: Os dados de seu filho são confidenciais. A criança é identificada por um
número e as informações pessoais não serão liberadas. Não há nenhum custo para você.
Se você entendeu este Termo de Consentimento e concorda voluntariamente com a participação de seu
filho, por favor assine abaixo:
Voluntária: (mãe ou responsável pela criança)
Nome: _____________________________________________
Assinatura: __________________________________________ Data: ____/____/____
Criança: (caso tenha sete anos ou mais e saiba escrever)
Nome: _____________________________________________
Assinatura: __________________________________________ Data: ____/____/____
(Em caso de analfabetismo do responsável pela criança)
Testemunha 1: Testemunha 2:
Nome: _____________________________ Nome: __________________________________
Assinatura: ___________________________ Assinatura: _______________________________
Eu expliquei o propósito deste estudo à voluntária e à criança (se esta tem 7 anos de idade ou mais). Estou
certo de que eles entenderam o motivo, os procedimentos, riscos e benefícios deste estudo.
Nome do investigador: ___________________________________________________
Assinatura: ________________________________________ Data: ____/____/____
107
10.3 Anexo C - Questionário padronizado de coleta de dados em
pacientes vítimas de TCE leve, durante sua permanência no
departamento de emergência do Hospital de Pronto Socorro João XXIII
Questionário Padronizado para Coleta Prospectiva de Dados de Pacientes com TCE leve
Identificação
Número do questionário: ____________ Cidade onde ocorreu o trauma: ______________________
Nome: _________________________________________________ Registro: __________________
Data de nascimento: ___/___/___ Idade: ______ Sexo: ( )F ( )M
Data de admissão: ___/___/___ Hora: _____ Data do trauma:___/___/___ Hora: ______
Foi atendida em outro serviço após o trauma: ( ) 1-Sim ( ) 2- Não
Endereço: __________________________________________________________ Telefone: ______
História Pregressa
Doença Hematológica: ( )1- Sim ( )2-Não Se sim, qual:_____________
Doença neurológica/muscular: ( ) 1- Sim ( )2-Não Se sim, qual:_____________
Uso de medicamento no dia do trauma: ( )1- Sim ( )2-Não Se sim, qual:_____________
Mecanismo do Trauma
( )1- Queda ( )2- Atropelamento de pedestre
( )4- Ciclista (atropelamento ou queda) ( )8- Ocupante de veículo envolvido em acidente
( )16- Vítima abuso/espancamento ( )32- Relacionado a prática de esportes
( )64- Arma de fogo ( )128- Arma branca
( )256- Trauma contuso ( )99- Não relatado ( ) 512- Outro: ______
Se mecanismo de trauma = queda, favor completar
( )1- Queda da própria altura ( ) 2- Queda de cama, sofá, mesa, cadeira (< 1 metro)
( )4- Queda de laje ( )8- Queda do colo de adulto (+ 1,2 metro)
( )16- Queda de escada ( )32- Queda de árvore
( )64- Queda de barranco ( ) 128- Queda do voador
( ) 256- Outra: _____________ ( )99- Não relatado
Uso de equipamento de proteção
( )1- Capacete ( )2- Cinto de segurança
( )4- Air Bag ( )8- Assento adequado para a idade
( )16- Não fez uso ( )32- Não se aplica ( )99- Não relatado
Sintomas à admissão
Perda de consciência ( )1- Sim ( )2-Não Se sim, por quanto tempo: ______minutos
Vômitos ( )1- Sim ( )2- Não Número de episódios__________
- Se sim, tempo de início após o trauma:
( )1- imediatamente ou menos de 1 hora ( )2- após 1 hora ( )9- não relatado/não sabe
Náusea ( )1- Sim ( )2- Não
Irritabilidade ( )1- Sim ( )2- Não
Sonolência ( )1- Sim ( )2- Não
Confusão mental momentânea ( )1- Sim ( )2- Não ( )4- Não se aplica (menor de 3 anos)
Se sim, por quanto tempo: __________ minutos
Cefaléia ( )1- Sim ( )2- Não ( )4- Não se aplica (menor de 3 anos)
- Se sim, característica: ( )1- Persistente ( ) 2-
responde a analgésico comum ou melhora espontânea
Amnésia ( ) 1- Sim ( ) 2-Não ( )4- Não se aplica (menor de 3 anos)
Convulsão ( )1- Sim ( )2- Não - Se sim, tempo de início após o trauma: _____________________
Tipo: ( )1- focal ( )2- generalizada ( ) 9- não relatado
Exame Físico
Hematoma subgaleal ( )1- Sim ( )2- Não
- Se sim, localização: ( )1- parietal ( ) 2- occipital ( ) 4- temporal
( )8- frontal ( ) 16- Outro: ________ ( ) 9- não relatado
Escala de Coma de Glasgow _______
108
( )1- ECG 14 (AO_____ RV_____ RM _____) ( )2- ECG 15 ( )9- Não relatado
Sinais de fratura de base: ( )1- Sim ( )2- Não
Se sim favor circular o sinal manifestado:
(otorragia, otoliquorréia, rinoliquorréia, rinorragia, hematoma palpebral ou retro auricular)
Pupilas anisocóricas ( )1- Sim ( )2- Não
Ferida corto-contusa / escoriação em crânio ou face ( )1- Sim ( ) 2- Não
Déficit neurológico focal ( )1- Sim ( )2- Não Se sim, qual __________________________
Fontanela abaulada ( )1- Sim ( )2- Não ( )4- Não se aplica (fontanela fechada)
Traumas Associados ( )1- Sim ( ) 2- Não Não considerar escoriações
( )1- torácico ( ) 2- abdominal ( )4- cervical
( )8- músculo-esquelético ( ) 16- de face ( )32- outro: ___________
Exames complementares
( )1- Raio X de crânio ( ) 2- TC de crânio, motivo: _____________ ( )0- Não fez exame complementar
Achados à radiografia de crânio
Radiografia de crânio duvidosa ( ) 1- Sim ( ) 2- Não ( ) 9-Não fez radiografia de crânio
Interpretação da radiografia de crânio:
( )1- Fratura linear, local: ____________ ( )2- Afundamento, local: __________
( )4- Diastase de sutura, qual: __________ ( )8- Pneumoencéfalo, local: ___________
( )16- Corpo estranho, local: ____________ ( ) 32- Normal ( ) 99- Não se aplica
Achados à Tomografia Computadorizada de Crânio (Não preencher caso não tenha feito TCC)
Tomografia normal ( ) 1- Sim ( ) 2- Não ( ) 9- Não fez TCC
Hematoma subdural agudo ( ) 1- Sim ( ) 2- Não Se sim, local:
( ) 1- Parietal ( ) 2- Occipital ( ) 4- Temporal ( ) 8- Frontal ( ) 9- Não relatado
( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo
Hematoma extradural agudo ( ) 1- Sim ( ) 2- Não Se sim, local:
( ) 1- Parietal ( ) 2- Occipital ( ) 4- Temporal ( ) 8- Frontal ( ) 9- Não relatado
( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo
Hematoma intraparenquimatoso ( ) 1- Sim ( ) 2- Não Se sim, local:
( ) 1- Parietal ( ) 2- Occipital ( ) 4- Temporal ( ) 8- Frontal ( ) 9- Não relatado
( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo
Desvio da linha média ( )1- Sim ( )2- Não ( ) menor que 5 mm ( ) maior que 5 mm
Hemorragia subaracnóidea traumática ( ) 1- Sim ( ) 2- Não
Pneumoencéfalo ( ) 1- Sim ( ) 2- Não Se sim, local:
( ) 1- Parietal ( ) 2- Occipital ( ) 4- Temporal ( ) 8- Frontal ( ) 9- Não relatado
( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo
Fratura de crânio ( ) 1- Sim ( )2- Não
- Se sim: ( ) com afundamento ( ) sem afundamento ( ) Lado direito ( ) Lado esquerdo
Local: ( )1- Parietal ( )2- Occipital ( )4- Temporal ( )8- Frontal
( )16- Base de crânio ( )9- Não relatado
Sinais de edema encefálico ( )1- Sim ( )2- Não ( ) 1-bilateral/difuso ( ) 2-hemisférico
Evolução
Internação ( )1- Sim ( )2- Não
Se sim, local: ( )1- Enfermaria ( )2- UTI ( ) 3- Ambulatório 5 ( ) 4- Transferência para outro
hospital Motivo: _______________________________________
Fez cirurgia ( )1- Sim ( )2- Não
Se sim, qual: ( ) 1- Craniotomia ( )2- Craniectomia ( ) 3- Outra:________________
Óbito ( )1- Sim ( )2- Não
Data: ___/___/___ Hora: _______ Motivo:__________________________
Alta ( ) assintomático ( ) sintomático Data: ___/___/___ Hora: _________
Contato posterior: ______ 1- Com sucesso 2- Sem sucesso
109
10.4 ANEXO D - Questionário padronizado para coleta de dados por
meio de contato telefônico após a alta do Hospital de Pronto Socorro João
XXIII
QUESTIONÁRIO PADRONIZADO PARA COLETA DE DADOS POR CONTATO
TELEFÔNICO APÓS A ALTA
Identificação
Número do questionário: Data do contato: _____/____/_____
Nome: ________________________________________________
Data do trauma: ___/___/___ Data da alta do H. João XXIII: ___/___/___
Endereço: _____________________________________________ Telefone: ____________
______________________________________________________________________________________
Sinais ou Sintomas após a alta:
Desmaio ( ) Sim ( ) Não
Vômito ( ) Sim ( ) Não
Náusea ( ) Sim ( ) Não
Irritabilidade ( ) Sim ( ) Não
Sonolência ( ) Sim ( ) Não
Confusão mental ( ) Sim ( ) Não (apenas em maiores de três anos de idade)
Dor de cabeça ( ) Sim ( ) Não (apenas em maiores de três anos de idade)
Convulsão ( ) Sim ( ) Não
Coma ( ) Sim ( ) Não
Outro: Qual?_____________________
______________________________________________________________________________________
Retornou ao Hospital João XXIII: ( )Sim ( ) Não
Se sim, data: ___/___/___
______________________________________________________________________________________
Procurou outro hospital: ( )Sim ( ) Não
Se sim, data: ___/___/___ Qual hospital:________________________________
______________________________________________________________________________________
Realização de exames:
Radiografia de crânio ( )Sim ( ) Não
Tomografia de crânio ( )Sim ( ) Não
______________________________________________________________________________________
Internação: ( )Sim ( ) Não
______________________________________________________________________________________
Cirurgia: ( )Sim ( ) Não
Se sim, qual: _____________________________
______________________________________________________________________________________
Óbito: _____ ( )Sim ( ) Não
Se sim, data: ___/___/____
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